Monografia de Conclusão de CursoIdeologias nos Quadrinhos Infantis: Paralelos entre os Universos Disney e Turma da Mônica ______________________________ Marcelo Engster Curso de Comunicação Social Publicidade e Propaganda Santa Maria, RS, Brasil 2008 Ideologias nos Quadrinhos Infantis: Paralelos entre os Universos Disney e Turma da Mônica ________________________ por Marcelo Engster Monografia apresentada à Comissão de Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda Curso de Comunicação Social Publicidade e Propaganda Santa Maria, RS, Brasil 2008 Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas Curso de Comunicação Social A Comissão Examinadora abaixo assinada, aprova a Monografia Ideologias nos Quadrinhos Infantis: Paralelos entre os Universos Disney e Turma da Mônica Elaborada por Marcelo Engster Comissão Examinadora _____________________________________________ Prof. Dr. Orlando Fonseca Presidente/Orientador _____________________________________________ Prof. Mário Lúcio Bonotto Rodrigues _____________________________________________ Prof. João Luiz Roth _____________________________________________ Profa. Graciela Inés Pressas Areu (Suplente) Santa Maria, 30 de Janeiro de 2008 AGRADECIMENTOS Ao Papai e à Mamãe. Não por terem me posto no mundo. Muito pelo contrário. Agradeço sim, pelos anos que me sustentaram sem pedir quase nada em troca. Não sei por qual motivo, mas agora começaram a insistir com uma tal de independência. Era o que me faltava. Sério, eu preciso de pelo menos mais uma faculdade! Ao Ariel e à Manu pela companhia. Às famílias Engster e Sorgetz que, de uma maneira ou de outra, ajudaram na minha formação. Também agradeço aos resistentes à filosofia do Carpem Noctem (Ana Paula, Bruno C., Bruno K., Daniel, Frederico, Helô, Lucas, Marília, Ricardo, Richard, Silvinha e Vinícius). Foram uma agradável companhia nos Macondos, nos DCEs, nas insuportáveis Ballare e Absinto, nas Bodegas e nos xis do bigode. Agradeço à Silvia e à Marilia que firmemente agüentaram esse alemão teimoso. Mas como diria meu primo Adelton: “você até pode estar certo. Mas eu não estou errado.” À Ana Paula por nossas discussões políticas, morais e filosóficas que nunca chegavam a um ponto em comum, mas que sempre foram de grande valia. Aos meus patos no Texas Hold'em. Ao Richard pelo chimarrão e pela companhia pra assistir Dexter. Todos vocês ajudaram a repor minhas energias durante o cansaço da monografia. Agradeço à Mariane pela ajuda com o nada simpático Word. Ao Maninho pela colaboração na formação da minha paixão pelos gibis e pelo empréstimo de um dos livros fundamentais para a pesquisa. Às pessoas que, de boa alma, se prestam a escanear e compartilhar gibis pela internet, pois forneceram parte significativa do material usado na monografia. Ao Orlando pela indicação de Para Ler o Pato Donald, que mudou completamente os rumos da pesquisa. Por fim, a todos aqueles que por ventura eu tenha esquecido e que ajudaram na pesquisa. RESUMO Monografia de Conclusão de Curso Curso de Comunicação Social- Publicidade e Propaganda Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil Ideologias nos Quadrinhos Infantis: Paralelos entre os Universos Disney e Turma da Mônica Autor: Marcelo Engster Orientador: Prof. Dr. Orlando Fonseca Data e Local da Defesa: Santa Maria, 30 de janeiro de 2008. Esta monografia faz uma comparação entre os quadrinhos Disney e Turma da Mônica, procurando demonstrar suas visões de mundo Utiliza como base a obra Para Ler o Pato Donald de Ariel Dorfman e Armand Mattelart. O primeiro capítulo contém uma breve história das histórias em quadrinhos, a apresentação o livro base do estudo e uma descrição do corpus a ser explorado. No segundo são abordadas as assinaturas de roteiro e arte, a redundância presentes nesses gibis e a utilização do desenho em estilo cartum. A presença de progenitores e o modo de tratar o universo feminino são os temas do terceiro capítulo. No quarto, são apresentadas as “aventuras” e os preconceitos presentes quadrinhos da Disney e da Turma da Mônica. E, por último, são analisadas as idéias de consumo e trabalho assalariado destes quadrinhos. Ficou evidente que o processo de criação de histórias em quadrinhos que procuram atingir um grande número de leitores sofre influências tanto das ideologias de quem o produz como das exigências do mercado. Os quadrinhos Disney e Turma da Mônica, apesar de refletirem as ideologias e vivências de seus criadores, têm como fim último o comércio, necessitando se adaptar, em determinadas questões, às exigências do mercado. Palavras-chave: Quadrinhos; Ideologia; Turma da Mônica; Disney ..........................1 5....................................................20 O sistema de redundâncias ..........53 ANEXO 2 – Caramujo Canini ..........SUMÁRIO 1 2 INTRODUÇÃO ...............................36 6 TEMPO É DINHEIRO......................................................................................................................................................................................................................2 Papai.............................3 A Assinatura......................................................42 Sombra e água fresca ...........................10 Para Ler o Pato Donald.......................................................................15 LINHA DE PRODUÇÃO .............................42 6....................2 Viajando ................................................................................................................................23 O Cartum ...............................................................................................................................35 5.. by Ub Iwerks ......................32 5 AS AVENTURAS E OS PRECONCEITOS ...54 ANEXO 3 – Mickey Mouse.......................2 2.........................................56 ANEXO 5 – Árvore Genealógica dos Patos ...................20 3............... E NÃO É NECESSÁRIO TRABALHAR ...........................55 ANEXO 4 – Estilos de desenho em Disney................................................................................... 43 7 CONCLUSÃO ......................................28 Mamãe ...........................................50 ANEXO 1 – Assinatura Disney ..............................................................................58 ............................................................................................................................. a Walt Disney Comic.2 3.....................................................................................................1 6.....................2 Aquilo que a tudo compra ................................10 2...........25 4 PROGENITORES E UNIVERSO FEMININO ...........................................................................1 2...........................................................1 4.............1 3...............................3 3 Breve história dos quadrinhos....................................................................7 ASPECTOS DO INSTRUMENTAL TEÓRICO E METODOLÓGICO .............................................46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............14 Estudo Exploratório............................................28 4.............35 Estereotipados ........................................... representar. Passei a ler os de super-heróis. DC. e que representa o próprio Disney. dos universos Marvel. Minha paixão pelos quadrinhos começou no tempo em que era guri de chupeta e mamadeira. do destino como pai. o estudo das histórias em quadrinhos e suas representações. locais e épocas em que cada quadrinho tinha sido produzido. ocorre um fenômeno ainda mais interessante. EUA. Buscar informações sobre os autores. entre outros. ela busca retratar. Nestes pontos. Para Rafael Sampaio (2003. promover o consumo. aparecendo como propagandista da revista. Não são da Disney os quadrinhos infantis mais vendidos no país. Image. refletir.19). Em contrapartida. como Marvels. Esse posto pertence aos Estúdios Mauricio de Sousa com sua Turma da Mônica. Retratam sua concepção de mundo. p. tematizar os costumes e as regras da sociedade. que vive a mercê de dádivas superiores. principalmente com Turma da Mônica ou Disney. p. Para tanto. criar imagem. Temos a tendência a nos identificar com o imperfeito Donald.” afirmam Dorfman e Mattelart (1971. Passei então a procurar mais os quadrinhos classificados como Graphic Novels ou Underground. Cada vez mais velho. dono deste mundo. fui ampliando meu gosto por quadrinhos. Com a leitura de gibis de diversos países. em muito acrescentam à obra lida. estas são as principais características da Publicidade.7 1 INTRODUÇÃO “Talvez isso explique o êxito de Mickey nos EUA e Europa: é o chefe da tribo. informar o consumidor”. é o espião que Disney nos enviou. Para atingir seus objetivos a Publicidade necessita de mensagens visuais e/ou escritas. E isso com ampla vantagem. que encabeça os desfiles públicos na cidade de Disneylândia. é possível perceber diferentes visões da sociedade neles representadas. Iniciei pelos quadrinhos infantis. 120) em seu livro Para Ler o Pato Donald. recuperar uma economia. ainda que os programas televisionados e enviados pela metrópole sejam intitulados “Hora de Mickey” e “Clube de Mickey”. “Mudar hábitos. que. figurar. o dominante providencial. os costumes de sua comunidade ou país. No Brasil. Donald é o mais popular na América Latina. vender produtos. figurativizações e tematizações da sociedade só tem a . com Mickey. Aos poucos tive a oportunidade de ler revistas um pouco diferenciadas das que está acostumado. Porém. uma obra sectária. p. A partir das questões levantadas no livro de Dorfman e Mattelart decidimos fazer um paralelo entre os dois universos. até por se tratar de quadrinhos infantis. “Essa universalidade é. língua e costumes de seus inúmeros leitores. no entanto. Na introdução do livro Shazam!.” afirma Anselmo (1975. pois se por um lado aproxima as mentalidades num fundo comum de riso e bom humor. que geralmente possuem suas visões de mundo mais explícitas. Luis Gasca (1970) afirma “O comic popular. 37). Como corpus de estudo tinha escolhido a obra de maior representatividade dos quadrinhos alternativos estadunidenses. ou seja. política. uma espada de dois gumes. Eles abordam a questão da representação da sociedade pelos quadrinhos Disney. Porém. Será. Sabendo da importância maior dos quadrinhos da Turma da Mônica sobre os quadrinhos Disney no Brasil. resolvemos então confrontar os dois universos. Pronto. a partir das leituras recomendadas mudamos de idéia. barato. influi na cultura. somente as observações referentes às ideologias nos quadrinhos Disney. Ideologias essas um tanto quanto mascaradas. uma comparação entre Disney e Turma da Mônica. Primeiramente buscamos analisar um clássico dos quadrinhos adultos.8 complementar às pesquisas nestas áreas em publicidade. esquerdista. de Ariel Dorfman e Armand Mattelart. simples. Fritz. Para Ler o Pato Donald é um livro da década de setenta. por outro lado pode espalhar e difundir as ideologias de seu país de origem. procurando demonstrar as visões de mundo contidas nas histórias em quadrinhos delas e utilizando como base a obra Para Ler o Pato Donald. a partir destas premissas estava decidido o tipo de assunto a ser tratado neste Trabalho de Conclusão de Curso de Publicidade e Propaganda. universais. se consome portanto em grandes quantidades. modela seus gostos e suas inclinações. publicou-se e se publica. Ariel Dorfman e Armand Mattelart. o subtítulo da obra já demonstra seu enfoque: Comunicação de Massa e Colonialismo. radical. portanto. The Cat de Robert Crumb. . escrito por dois professores universitários Chilenos. antiimperialista e anticolonialista em seu bom e mau sentido” já observa Moya (1971) na introdução à edição brasileira. Não nos interessa aqui posição política alguma. parcial. O grande culpado disso foi o livro Para Ler o Pato Donald. “Este livro tem que ser portanto encarado como um panfleto.” Por se tratar de uma linguagem com imagem. os quadrinhos são de fácil percepção. que traz o histórias do personagem Zé Carioca. entrevistas com os artistas das duas editoras e biografias sobre Walt Disney e Maurício de Sousa. Por fim. a redundância presentes nesses gibis e a utilização do desenho em estilo cartum.9 Como corpus a ser analisado serão utilizadas todas as publicações de um mês das revistas em quadrinhos da Turma da Mônica. portanto. serão analisadas as idéias de consumo e trabalho assalariado destes quadrinhos. Para essa análise também serão utilizados livros sobre teoria dos quadrinhos. mais duas revistas da Disney do mesmo mês e a edição especial Mestres Disney – Renato Canini. O primeiro capítulo será introdutório à pesquisa. Além destas. será apresentado o livro base do estudo. serão apresentadas as “aventuras” e os preconceitos presentes quadrinhos da Disney e da Turma da Mônica. portanto será um estudo quanto às práticas de realização das histórias em quadrinhos. No quarto. abordadas as assinaturas de roteiro e arte. Após. por último. Para começar. Elas são comuns aos dois universos. No segundo serão abordadas questões referentes à produção dos quadrinhos. E. Serão. será feita uma descrição do corpus a ser explorado. Os outros quatro capítulos contemplarão a análise das obras. . A presença de progenitores e o modo de tratar o universo feminino serão os temas do terceiro capítulo. uma pequena história das histórias em quadrinhos. o Para Ler o Pato Donald. 1 Meios de Comunicação de Massa. quando os registros eram feitos através de pictogramas em cavernas. a um só tempo. onomatopéias. 38): as HQ são. quando a tiragem dos jornais determinava – e determina – o aumento das polpudas verbas publicitárias. No século XIX os jornais europeus e estadunidenses passaram a publicar caricaturas que eram acompanhadas de textos satirizando os políticos de sua época. tanto pode aparecer como legenda abaixo da imagem. de Richard Outcault. Os quadrinhos. p. p. quando este existe. pois. crenças através de seqüências de desenho já era sentida na pré-história. se adaptando aos meios em que poderiam ser registradas. a arte e o MCM que. Essa definição é muito ampla e dificulta um relatório sobre a história das histórias em quadrinhos pois a necessidade humana de representar acontecimentos.1 Breve história dos quadrinhos Para Mcloud (1995. lendas.10 2 ASPECTOS DO INSTRUMENTAL TEÓRICO E METODOLÓGICO 2. usando predominantemente personagens irreais. desenvolvem uma seqüência dinâmica de situações. 19) considera que “os comics nasceram do bojo de uma rivalidade jornalística (entre William Randolph Hearst e Joseph Pulitzer). . Para atingir sua finalidade básica – a rapidez da sua compreensão – as HQ lançam mão de símbolos. funcionariam como uma “novidade” para atrair mais leitores. códigos especiais e elementos pictóricos que lhes garantem uma universalidade de sentido.” Em 1885 surge uma das personagens mais significativa e. como em outros espaços a ele destinados ou em balões ligados por um apêndice à pessoa que fala (ou pensa). inaugurando assim um dos elementos mais marcantes dos quadrinhos. Neste capítulo usaremos a definição de Anselmo (1975. numa narrativa rítmica em que o texto. europeus na Idade Média). considerada a primeira das histórias em quadrinhos Yellow Kid. 1 Deste modo fica mais fácil achar um período em que surgem os quadrinhos. Algum tempo depois esses textos foram introduzidos em balões. histórias. 9) quadrinhos são “Imagens pictóricas e outras justapostas em seqüência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou a produzir uma resposta no espectador”. p. por vezes. Esse tipo de representação foi utilizada por diversas culturas (egípcios. Cirne (1972. p. as tiras passaram a ser distribuídas em revistas na década de trinta. Moya (1977. Em 1924 surge Little Orphan Annie. em 1938. 18). segundo alguns autores. surgiu o primeiro personagem fixo semanal. 14): “Durante a década de 1930. com suas caricaturas e charges dos políticos da era de Dom Pedro II.No Brasil. riquíssimo industrial que sempre protege a órfã Aninha No ano de 1929 é criado Mickey Mouse. A década de trinta é conhecida como a era dourada dos quadrinhos. dando margem ao aparecimento das histórias em quadrinhos e. 51).” . as “comic books”. teria introduzido na HQ uma nova tendência: a HQ que reflete claramente uma ideologia política (de extrema direita. publicadas mensalmente e continham histórias inéditas. No ocidente. as tiras do Yellow Kid já apresentavam balões. Segundo o editor da revista Pato Donald 70 Anos (2004. onde geralmente havia frases de conotação sarcástica sobre eventos políticos da época. de Nova Iorque. Publicadas no suplemento dominical do jornal. p. p. um domingo. Elas eram produzidas em larga escala. Surgiam. Mickey surgiu em desenhos animados e foi depois distribuído em tiras pela King Features. depois da quebra da Bolsa de Nova York. ao mesmo tempo ao termo “jornalismo amarelo”. no jornal World. por causa do camisolão do Menino Amarelo” comenta Moya (1996. Como principal característica. Foi renomeado pela Sra. Ainda pela Disney. suas figuras fetichistas em ícones gráficos. que também começou em um desenho animado. 43) comenta que essa é a era “em que surgiram alguns dos mais importantes personagens dos quadrinhos. assim. aparece o Pato Donald. neste caso).11 “Exatamente no dia 5 de maio de 1885. tira de Harold Gray. por Papai Warbucks. Anselmo (1975. merece destaque o trabalho do italiano Ângelo Agostini. a procura por histórias em quadrinhos começou a aumentar nos Estados Unidos. Relata: Gray. representada pela encarnação simbólica do capitalismo triunfante. Disney. p. a personagem usava um camisolão amarelo. motivo da idéia de massificação e visão cosmopolita dos heróis e sua mitologia. Na década de vinte surgem no Japão as primeiras revistas de histórias em quadrinhos. No começo era desenhado por Ub Iwerks e se chamava Mortimer. Esse gênero narrativo se tornou muito popular por ser uma forma barata de diversão”. para a imprensa sensacionalista. A revista Superman Quarterly Magazine surgiu em maio de 1939. Em um ano tinha alcançado a tiragem de 1. em 1934. as pessoas compravam o exemplar. Na década de cinqüenta a indústria dos quadrinhos sofreu grandes perdas e muitas editoras sumiram.000 cópias. aquela que viria a ser a mais importante publicação de quadrinhos do país. Durante quatorze semanas. O lançamento.000 exemplares. Scrooge voltou. torna-se independente. O ano de 1938 é um dos marcos dos quadrinhos. Segundo Christensen e Seifert A afirmação de que os crimes cometidos em quadrinhos eram copiados por crianças foi a base de uma grande parte do famosos livro de Whertam em 1954. lendo o encarte.. 104) relata que: Em 1934. 125) completa: A primeira história em que surgiu Uncle Scrooge era uma revista de Donald Duck intitulada Christmas on Bear Mountain. Tornou-se bimestral e a circulação foi para 1. Moya (1996. com capa desenhada por J. revolucionando a imprensa brasileira. adotando o título de Suplemento Juvenil. depois de diversas aparições na revista do Pato. o jornal carioca A Nação trazia um encarte em tamanho tablóide. sob o título Suplemento Infantil. p. A partir da décima quarta semana. 131) comenta: A publicação dobrou de circulação. Seduction of the Innocent. atiravam fora o exemplar principal e ficavam.12 No Brasil surge. p. em março de 1952. com a tiragem atingindo cerca de 360 mil exemplares semanais. depois de alguns números. uma quarta feira.300. do livro Seduction of the Innocent (Sedução do Inocente) do psicólogo Fredric Wertham em 1954 foi o maior golpe que os quadrinhos já receberam. criação de Jerry Siegel e Joe Shuster. encantados. em uma edição especial de Natal. Em 1947 é criado o Tio Patinhas por Carl Barks. Moya (1996. Carlos. É a partir dele que surgem os quadrinhos de super-heróis. no dia 14 de março. Moya (1996.. nos Estados Unidos da América. É nesse ano que aparece o Super-Homem. numa revista com seu nome. inspirado em um conto de Charles Dickens. Ele apresentava casos de delinqüência infantil nos quais cada acusado “admitia” que tinha se inspirado nos quadrinhos. p. . Sua primeira história como personagem-título foi Only a Poor Old Duck.400. 28). Um contrato com Deus era uma obra séria. “Embora tecnicamente uma coletânea de quatro contos. estes quadrinhos que tinham uma distribuição restrita. (sic) . 244) comenta que O código castrou com rigor a criatividade dos comics americanos nas três décadas seguintes e os jogou numa crise sem precedentes nos oito anos após a sua criação. Em 1970 é lançada a revista da Mônica. constituindo uma exploração sincera do potencial narrativo das histórias em quadrinhos. nos EUA. os quadrinhos independentes. 235) complementa “A principal alegação era de ”culpa por associação”. Seu livro Fritz. Eisner chamou sua criação de “graphic novel” (ou “romance gráfico”)” (sic) diz McCloud (2006. os chamados undergrounds . As vendas caíram de forma vertiginosa até o final da década de 50. Na década de sessenta começam a surgir. Will Eisner publica Um Contrato com Deus e outras Histórias de cortiço. Junior (2004. muitos menores acusados ou condenados liam quadrinhos. cria Mônica. No Brasil. p. Estes eram distribuídos sem a ajuda dos grandes estúdios e portanto sem passar pelo código de ética. p.13 Júnior (2004. Com temática adulta. Em 1978 é lançada a obra que mudou o modo como se viam os quadrinhos. com uma tiragem inicial de 200 mil exemplares. Alguns críticos chegaram a considerar os comic books como uma forma de imprensa decadente. isto é. baseada na experiência de vida de Will. condenada a desaparecer. Seu autor era o repórter Mauricio de Sousa. autoridades estadunidenses decretaram que as editoras de gibis deveriam criar um conjunto de normas a serem seguidas. personagem que viria a ser a principal do quadrinista.” Foram desastrosas as conseqüências para a indústria de quadrinhos. Foi então instituído o Comics Code Authority. Em 1963. conseguiram um grande sucesso. E continua: Apesar de sua origem bizarra a expressão pegou – e o mesmo ocorreu com a idéia. The Cat é considerado a primeira obra de quadrinhos do gênero adulto. p. Robert Crumb foi um dos autores que ajudaram neste processo. Preocupados com a “má” influência dos quadrinhos sobre as crianças. Cascão e Magali. Em formato de livro. Em 1972 é lançado o gibi Cebolinha e mais tarde Chico Bento. em 1959 surge na Folha da Manhã tiras do cão Bidu e de seu dono Franjinha. colados na paredes. acolhidos em plásticos e almofadas. O livro é uma análise de como a sociedade é representada nos quadrinhos Disney. McCloud (2006. superando a crise dos editores. Inicia-se uma nova era nos comics. os autores (1971. e por sua vez têm retribuído convidando os seres humanos a pertencer à grande família universal Disney. vários dentre os criadores mais vendidos abriram sua própria empresa e deram as costas às grandes editoras.2 Para Ler o Pato Donald A nossa pesquisa terá como base principal o livro Para Ler o Pato Donald. Os criadores da Image. em 1971 por Ariel Dorfman e Armand Mattelart. A obra foi escrita no período Allende no Chile. Sobre a importância dos gibis da Disney. Não do mocinho. 1988). 63) relata que: No início de 1992. 15) comentam que Além da cotização da bolsa. A empresa.14 A década de 1980 trouxe novas perspectivas para os quadrinhos de superheróis. Tal como no cinema. Watchmen (Alan Moore . p. aquém dos ódios e das diferenças e dos dialetos . Deste cenário nasce uma nova editora. em maior parte. É a consagração das miniséries. teve um sucesso colossal. o criador passou a dialogar de novo com o leitor. a Image Comics. Brigas entre artistas e editoras quanto aos direitos autorais. além das fronteiras e das ideologias. E a atual geração apoiou novamente a criatividade dos escritores e desenhistas. anexo) comenta que: Influenciado pelos mangá japoneses e os autores europeus. (sic) 2. fizeram surgir novas políticas nos contratos entre ambos. São desta época clássicos como Cavaleiro das Trevas (Frank Miller. que viam os direitos dos criadores como algo profundamente entrelaçado com as “aspirações mais elevadas” dos quadrinhos.1988) e V de Vingança (Alan Moore. 1985). em meio a um boom alimentado pela especulação gananciosa. mas desapontou os puristas. suas criações e símbolos se transformaram numa reserva inquestionável do acervo cultural do homem contemporâneo: os personagens têm sido incorporados em cada lugar. Sandman (Neil Gaiman. p. continuaram a produzir obras ao estilo do grande mercado. Moya (1996. 1985). o quadrinho agora é de autor. portanto entendemos ser necessário verificar exemplares atuais dos mesmos. Consideramos aqui que as representações apresentadas nos gibis são fruto da sociedade em que foram produzidos e não de uma máquina de colonialismo e alienação.3 Estudo Exploratório Por se tratar de um estudo comparativo consideramos importante delimitar um corpus a ser analisado. como desejam os autores do livro. ensina a respeitar a autoridade superior do pai. 2. como calculistas e amargurados (enquanto que Walt D. é feito sobre o viés marxista. consideramos que o livro Para Ler o Pato Donald faz uma válida análise sobre a representação da sociedade nos quadrinhos Disney. Serão abordadas aqui somente questões referentes a esses aspectos. que procurava provar que os quadrinhos influenciavam a delinqüência infantil e que quase acabaram com a indústria neste setor. permitindo por meio do entretenimento que se desenvolva a utopia política de uma classe” (1971. tem enfoque nas personagens Tio Patinhas e Pato Donald. o sr. Disney é inocente e reúne harmoniosamente todos em torno de colocações que nada têm a ver com os interesses partidários). como cultivadores da “ficção-marxista”. p. membros de uma elite envergonhada (enquanto Disney é o mais popular de todos). Por fim. amar seus semelhantes e proteger os mais fracos). Foram escolhidas revistas em quadrinhos da Turma da Mônica e algumas da Disney. p. é espontâneo e emotivo. A presente pesquisa não procura se posicionar politicamente perante os quadrinhos. 130). como subversivos da paz do lar e da juventude (enquanto W. escolhemos ainda . como agitadores políticos (enquanto o mundo de W. Segundo os autores “O imaginário infantil recobre todo o cosmos-Disney com banhos de inocência. porém.D. teoria importada de terras estranhas por “facínoras forasteiros” renhidas com o espírito nacional (porque o tio Walt está contra a exploração do homem e prevê a sociedade sem classes no futuro). Já na introdução Dorfman e Mattelart (1971. como arquicomplicados e enredadíssimos na sofisticação e refinamento (enquanto Walt é franco. faz rir e ri). como antipatrióticos (porque sendo internacional. 18) deixam claras suas posições. aberto e leal). O livro base desta pesquisa Para Ler o Pato Donald. Disney representa o melhor de nossas mais caras tradições autóctonas) e por fim. estaríamos também corroborando com as teorias de Frederic Whertam em seu Seduction of the Innocent. Porém. através da ironia: Os responsáveis do livro serão definidos como soezes e imorais (enquanto o mundo de Walt Disney é puro).15 O livro. Ao apoiarmos essa visão. Grande parte delas se passam nas casas ou arredores onde elas vivem. Portanto neste capítulo serão apresentadas as características do corpus a ser explorado. Em outras: Nimbus tenta fazer um castelo de cartas. no espaço. mais Tio Patinhas e Pato Donald da Disney. Ronaldinho Gaúcho também mora junto com as personagens principais da Turma da Mônica. Como especificado anteriormente o corpus a ser analisado é constituído de revistas de todos os títulos de quadrinhos da Turma da Mônica (Mônica. uma de suas histórias acontece em uma praia. Cebolinha. porém sempre envolvendo questões referentes ao meio em que estão inseridas as personagens. Além destes apresentados no corpus analisado. personagem Disney produzido para e no Brasil. A Turma do Penadinho está sempre em um cemitério. sendo as da Turma da Mônica todas número 10 e lançadas pela Editora Panini Comics. Além destas. na era dos dinossauros e o Astronauta. Floquinho deve cuidar da Maria Cebolinha. As revista da Turma da Mônica apresentam histórias com situações que ocorrem quase sempre no lugar onde as personagens moram. Chico Bento briga com sua namorada Rosinha. Mestres Disney – Renato Canini é uma edição especial de Abril de 2005. Chico Bento mora com seus amigos em algum lugar do interior. Os personagens principais vivem todos juntos no mesmo bairro. Magali fica vidrada em uma pizzaria. o Louco aparece no aniversário do Cebolinha. Magali. também pela Editora Abril. que vive em uma floresta. Mingau fica gripado. o porco Chovinista adota um filhote de gambá. porém. Chico Bento e Ronaldinho Gaúcho). Para um melhor entendimento de alguns pontos levantados nesta pesquisa consideramos ser relevante a descrição das revistas aqui analisadas. com histórias da personagem Zé Carioca. Em uma a Mônica precisa fazer com que seu cachorro Monicão não morda tudo o que aparece voando na sua frente. Piteco em algum lugar não especificado da pré-história e Papa-Capim na mata. As situações ocorridas nas histórias são as mais diversas. a Turma da Mônica ainda possui a Turma da Mata. Cascão tenta se livrar de uma mangueira furada que espirra água. ambos pela Editora Abril. todas do mesmo mês. a professora Dona Marocas faz de tudo para que Chico Bento consiga se concentrar na prova.16 utilizar uma edição com histórias de Zé Carioca. a Turma do Horácio. As . Foram escolhidas os gibis de Outubro de 2007. Dona Morta é encarregada de fazer dormir os filhos da Turma do Penadinho. foi escolhida ainda a edição especial Mestres Disney – Renato Canini. Cascão. Tio Patinhas número 507 e Pato Donald número 2351. Todas são assinadas pelo Maurício de Sousa. Além destes. não importando por quais perigos passariam para conseguir as tais plantas. existe um padrão extremamente rígido entre as histórias. Em nenhuma das revistas pertencentes à Turma da Mônica existem créditos especificando quem escreveu os roteiros e quem desenhou cada uma das histórias. índios (Papa-Capim e Jurema). Para as revistas da Disney consideramos ser importante especificar mais as características destas. casais (Turma do Penadinho. Por se tratar de poucas histórias. Anjinho e São Pedro). não é possível notar diferentes traços de desenho. a descrição aqui não se torna maçante. Pipa e Rolo). A revista Tio Patinhas número quinhentos e sete começa com a história Ouro Branco Cervino. uma menina cega (Dorinha). Donald e seu sobrinhos decidem. Também fazem parte das histórias os pais das personagens e alguns trabalhadores assalariados (professora. O estilo dos desenhos é igual. orientais (Nimbus e Do Contra). de seres pertencentes à tradição Cristã Católica (Padre Lino. porém sem especificar quem fez o quê. Piteco e sua namorada). É necessário fazer comparações com as analisadas na obra Para Ler o Pato Donald.17 histórias envolvendo a personagem Ronaldinho Gaúcho giram todas em torno do assunto futebol. aumentam em muito a produtividade destas. padeiro. levá-lo aos Alpes Suíços para um tempo de repouso. Tio Patinhas descobre uma planta que nasce no topo dos Alpes e que. então. obriga Donald e seus sobrinhos a subirem a montanha. Todas as personagens possuem “vestimenta” fixa. então. um mudo (Humberto). um deficiente físico (Luca) e afro-descendentes (Turma do Ronaldinho Gaúcho e Jeremias). Depois de consegui-las. Ele percebe nisso uma oportunidade de negócios e de ganhar dinheiro. a Turma da Mônica também tem como personagens um autista (André). Somente nos roteiros é possível verificar algumas diferenças de estilos. pois estas foram publicadas há mais de trinta anos e podem possuir diferenças em suas temáticas. sendo suas roupas as mesmas em todas as histórias. se consumida por vacas leiteiras. No editorial aparecem quais profissionais fazem parte do grupo que produziu as revistas. Para tanto faz . Patinhas. ele necessita instalar sua indústria para produzir leite. Lá. Nas revistas estudadas há a presença de adolescentes (Tina. entre outros). outros orientais (Hiro) e afro-descendentes (Turma do Pelezinho). Nela Tio Patinhas sofre de uma doença causada pela avidez por dinheiro. Tio Patinhas comenta “Desperdicei uma grana preta por nada. então. Observando o valor da foto.18 chantagens e parte para o jogo sujo para destruir quem está no caminho da fábrica. seu inútil! Mas isso não fica assim!”. Ele descobre.. então. Quando descobre. o Tio Patinhas faz qualquer coisa. Já em Patópolis. Durante a travessia os dois atravessam uma série de obstáculos. Tio Patinhas escolhe. até poluir a paisagem!” A indústria acaba não funcionando. Tio Patinhas acaba lucrando. Pato . caindo por fim em uma caverna. que a batalha deveria ser a travessia do Rio Peligroso. Então aparece o cirurgião dela e vende para o programa uma foto da pinta. rio este que Patinhas sabia conter tesouros escondidos. É o dia do Pato Donald pagar o aluguel de sua casa para Tio Patinhas. através dos gêiseres. Ele deve ir até Carpáccio e expulsar um inquilino de um Solar seu que também está há muito tempo sem pagar o aluguel. Pato Donald precisa. voltar para Carpáccio para se esconder de seu tio. utilizando gêiseres e cobertores. o leito coalha e vira um queijo gigante.. Pato Donald confunde o Solar e acaba expulsando a pessoa errada. Tio Patinhas aceita o empate no desafio com Patacôncio. Em dado momento Pato Donald comenta “Pra obter uma vantagem. então. Tio Patinhas é desafiado por Patacôncio para um duelo para ver qual dos dois era o maior explorador. que Tio Patinhas. por fim. através de seus sobrinhos. um meio de sair das cavernas. Em Pato Donald número dois mil trezentos e cinqüenta e um. Pato Donald decide virar um paparazzo. temos o título O Solar da Coruja. A história seguinte é Em Função do Jabá. O pato descobre. Tio Patinhas não desiste e acaba ganhando dinheiro tornando o queijo gigante numa atração turística. Mesmo praticando atos antiéticos. havia descoberto ouro no subsolo. porém ele não tem dinheiro algum. que na verdade é uma tatuagem com o nome do ex-namorado. Descobre-se. Nele uma mulher diz que tem uma pinta na língua que atrapalha sua carreira e que precisa ganhar o programa para ter dinheiro para uma operação de retirada da tal pinta. que uma famosa banda desapareceu perto do Pântano Negro e que ninguém tinha coragem de ir até lá atrás deles. porém Tio Patinhas não encontra o tesouro. O segundo título da revista Tio Patinhas é Milionários Exploradores . Tio Patinhas faz uma proposta para que seu sobrinho pague suas dívidas. Pato Donald está assistindo a uma espécie de reality show na televisão. enquanto estava na caverna. Lá encontram uma exploradora que estava desaparecida há mais de um ano. 19 Donald e os garotos decidem ir até o local. A edição Mestres Disney é toda dedicada ao roteirista e ilustrador Renato Canini. Em várias. Em todas as revistas. originalmente foram publicadas de 1971 a 1983. o assunto que está mais presente nas histórias são as dívidas do Zé Carioca. Nas outras. Ao voltar para a cidade com as fotos. Pato Donald vira garoto propaganda de um colchão. Na maioria delas Zé Carioca é um detetive ou ainda um super-herói (Morcego Verde). Donald aceita. são apresentados os créditos de quem fez os roteiros. ele viaja pelo interior do Brasil. encontram a banda. . além de uma especial de 2005. pois com elas ganharia muito dinheiro. Sem o dinheiro das fotos. Suas roupas mudam seguidamente. mas com a condição que ele divulgue as fotos só depois de 48 horas para que eles possam descansar mais um pouco. É possível notar a diferença de estilo nos desenhos de diferentes ilustradores. Lá. junto com seus sobrinhos. Os integrantes da banda relatam que estavam fugindo da fama e queriam um pouco de descanso. além de uma viagem no tempo e uma embaixo da terra. porém não fixa. as personagens possuem “vestimenta” característica. A assinatura de Disney e Maurício de Sousa é a causa de diversos problemas com seus roteiristas e artistas. depois de algumas peripécias. mas possuem um padrão. As duas revistas Disney apresentadas acima ainda contêm três pequenas histórias junto com as principais. Elas são uma reedição. também fundar uma banda. mesmo contendo a assinatura de Walt Disney. tira as fotos e propõe a seus sobrinhos aproveitarem também aquelas horas ali no pântano. Na edição especial Mestres Disney – Renato Canini são apresentadas 17 histórias da personagem Zé Carioca. Nas revistas Disney. A banda diz que topa. o pato descobre que a banda já tinha retornado e assinado um contrato milionário com a gravadora. os desenhos e a arte-final de cada história. Pato Donald briga com seus vizinhos por causa de duas árvores e Peninha se atrapalha em uma aula de alpinismo. Donald diz que mesmo assim vai querer tirar fotos. Porém. Pato Donald acaba decidindo. Em uma. uma versão mais charmosa de sua verdadeira assinatura. na verdade. Porém. por décadas. na 2 verdade. desenhando as capas de Pato Donald e Mickey..” Os quadrinhos da Disney. mesmo sendo produzidos em vários países. empregado que se notava nas histórias publicadas em jornais pelos syndicates (distribuidores). para. em geral. posteriormente. Álvaro de Moya (1987) no prefácio do livro Para Ler o Pato Donald comenta que O resto. não era grande desenhista. que mal conseguiam assinar a história” afirma Moya (1977. cujos criadores tinham força demais como autores. não passava de uma bem treinada cópia de uma cópia. . Ele. p. quando o gibi ou o personagem faz muito sucesso. quando solicitado a realmente assiná-la. em 1950. Brasil. “Essas histórias em gibis (cujos royalties pertenciam à editora) eram iniciadas por um escritor e um desenhista. impossibilitado de assinar minhas próprias histórias em quadrinhos. até desistir para sempre do desenho. 120) afirma que Disney fizera um de seus artistas (. São os chamados “fantasmas”. Geralmente.20 3 LINHA DE PRODUÇÃO 3. Walt mesmo.) criar um logotipo para a companhia baseado em sua assinatura. Outros roteiristas e desenhistas fazem os quadrinhos supervisionados pelo criador. 65). nunca se envolveu com os quadrinhos. Tinha muito orgulho dela e. Ele aponta questões trabalhistas como uma das razões desse sistema: “Os editores de comic books procuravam fugir à luta patrão vs. p.. foi trabalho de uma enorme legião de fantasmas (ghosts) aqui espalhada pelo mundo todo. tal como Rubens e Salvador Dali. 2 O Anexo 1 contém a verdadeira assinatura de Walt Disney e a usada pelos estúdios. sempre transformava em grande produção o que. E assinando “Walt Disney”.1 A Assinatura Um desenhista consegue em média fazer vinte páginas de uma revista em quadrinhos por mês. se desdobrar em mil e um desenhistas fantasmas. muitas vezes essas pessoas não levam créditos por seu trabalho. foram todos assinados por Walt Disney. o artista contrata uma equipe para ajudar a vencer a demanda. Legião da qual o signatário deste prefácio fez parte. nos inícios da Editora Abril em São Paulo. Nem mesmo a famosa assinatura dos estúdios era dele. Eliot (1995. porém. Esses diferentes estilos foram criando fãs. Esse Ub Iwerks era um membro da equipe e o verdadeiro desenhista do famoso camundongo”. Nem mesmo os principais personagens Disney foram criados por Walt. a só organizar os trabalhos e supervisionar sua equipe. apareceu Mickey Mouse. apenas Alice5 e o coelho Osvaldo6”. 98). 1995. .. quando Mickey surgiu.)” explica Eliot (1995. que buscavam saber quem realmente estava por trás deles. Irmãos Metralha. p. O grande responsável por esse movimento foi Malcom Willits.” A falta de créditos nos quadrinhos Disney era motivo de chacota em revistas de humor estadunidenses. que sempre surgia como Walt Dizzy (Tonto).. foi preciso que eu desistisse de desenhar para poder organizar e administrar a empresa. são criações de Carl Barks. Maga Patalójika e Patópolis. Alguns artistas burlavam essa dinâmica. causando grande sensação. que descobriu a identidade do artista na década de sessenta. 63): “Então.21 “Walt tratava seus animadores (. Professor Pardal. Moya (1987) é taxativo: “Disney criou.76) relata que Vítimas constantes dos ataques de Mad eram Walt Disney. Permaneciam em sua maioria anônimos (. Ele passou. 6 Osvaldo é uma série de desenhos animados curta metragens do fim da década de 1920. A introdução da revista Mestres Disney n° 5 conta que “É possível ver nos cenários estabelecimentos como “Cantina Canini”. 125) explica que “Ao montar seus próprios estúdios. Walt Disney precisou deixar de desenhar quando seu estúdio começou a ficar grande. comparações entre desenhos de diferentes artistas Disney. Moya (1977. drawn by Ub Iwerks4.. É o caso de Renato Canini. fã de Carl Barks. da década de 1920. Moya (1996. Mas sua marca registrada. tanto de enredo como de desenho. p. Tio Patinhas. então. 7 No Anexo 4. portanto. p. a Walt Disney cartoon. “Loteca Canini” e outros. e suas milhões de assinaturas espalhadas pelo mundo todo. que misturam uma atriz real com fundos de desenhos animados. são bastante perceptíveis nas histórias em quadrinhos da Disney7. em crítica ao exército internacional de ghosts (fantasmas) que redesenhavam seus personagens Diferenças de estilo. é um pequeno caramujo escondido no canto de algum quadrinho3”.) Ele significou a minha dispensa da produção. Walt relata (apud Eliot. entre outros. mais que artistas.. p. (.) como empregados... “Suas criações obtiveram um 3 4 Anexo 2 Anexo 3 5 Alice é uma série de curta metragens. 125). O resto dos gibis da Turma da Mônica quase não tem sua participação. p. Também são lançados álbuns e edições especiais com histórias de somente um autor. porém os desenhos seguem um padrão bem rígido.” afirma Maurício em entrevista ao site Side Effects. São do meu irmão. Para a página Beco das Imagens. O resto praticamente já não preciso de ver. Parece que os . alguma coisa errada. da legião de fantasmas de Disney no mundo todo. Renato Canini. E continua (1996. Maurício de Sousa aparece apenas como redator.” Nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica são perceptíveis algumas diferenças entre os estilos de roteiros. (sic) A criação de personagens ainda fica por conta de Maurício de Sousa. Márcio. Alguns artistas já são reconhecidos como Mestres Disney. O Louco e o Bugu. ele fala sobre o asunto: ”Há dois personagens na Turma da Mônica que não são criações minhas. surgindo da bruma do exército silencioso e invisível da imensa produção dos trabalhos Disney. Gottfredson.22 sucesso tão retumbante que os admiradores acabaram tirando-o da obscura situação a que Disney obrigava seus auxiliares” comenta Moya (1996. Em entrevista para o Universo HQ. Don Rosa. Romano Scarpa e no Brasil. E se houver alguma falha. 126): “Finalmente.” Hoje. As únicas histórias totalmente produzidas por ele são as do dinossauro Horácio. Renato Canini afirma: “É péssimo se "despersonalizar". eu vejo na versão publicada e aviso logo o responsável. porém sem indicação de qual história exatamente aquele artista fez. Todas as histórias dele são criadas e desenhadas por mim. e eles trabalham tão bem que eu só preciso de dar algumas orientações. p. um alcançava a notoriedade. até hoje. Maurício de Sousa ainda assina todas as histórias da Turma da Mônica. Para a página Side Effects. o quadrinista comenta: hoje tenho uma equipa. Mais ninguém mexe. aquele cachorrinho amarelo que aparece nas histórias do Bidu. só eu desenho. “É o único personagem que. Cavazzano. da época em que era um dos roteiristas das histórias. Os nomes dos roteiristas e desenhistas do estúdio são citados na última página de cada revista. todas as revistas Disney já vêm com os créditos devidamente incluídos. Desenhar personagens dos outros é horrível. entre eles Carl Barks. o momento inicial e o momento final são o mesmo. que passa a se identificar com determinado artista.” afirma Santos (2003). mas é algo que não há necessidade no meu pessoal. Help!” Maurício de Sousa. p. é uma exigência para aquelas que se enquadram no processo de cultura de massa. O mesmo acontece com o sistema de redundâncias. pág 80). Assim. Na mesma entrevista ele pega um gibi e mostra a ultima página tentando amenizar o problema: “Os nomes estão todos lá. 107) relatam que O protagonista de história em quadrinhos sai de sua rotina. nas minhas revistas isso não acontecerá. “É uma forma de cativar o leitor (e um marketing barato). convertido no descanso habitual do herói.2 O sistema de redundâncias Sobre os quadrinhos Disney. resolve-se na aventura ou na absurdez de sua vida cotidiana. pelo menos no meu estúdio. e retorna à placidez do repouso compensado. abastece outra aventura mais. Um artista tendo seu nome na frente de um personagem pode. o editor da revista explica que “Mesmo que a conclusão de uma trama indique uma reviravolta na vida . reclamar algum tipo de direitos sobre ele. Do repouso alcançado passa a próxima revista onde. assim como os syndicates estadunidenses. e o movimento é evidentemente circular. Assim. Como temos que "pagar o leite das crianças" que morra o "EU". a reiteração exagerada das mesmas características e cantilenas. crepita como fogos artificiais. para cúmulo. Dorfman e Mattelart (1971. Essa questão dos créditos não é problema. A trajetória da aventura mesma é. A produção de histórias em quadrinhos por equipe.” Deixar cada artista assinar sua própria história não é somente uma maneira de valorizar o trabalho dele. Claro que perderá na justiça. Ele (2003) deixa isso bem claro em uma entrevista para a página Universo HQ: Eu não farei isso e posso dar uma razão muito simples: copyright. Em Obras Completas de Carl Barks n°1 (2004. e a conseqüente assinatura ou não delas. mais tarde. 3. a formar fãs-clubes e a ter uma relação mais pessoal com as revistas e histórias.23 desenhistas do Mauricio de Sousa superaram essa fase. tem como desculpa os copyrights e os direitos trabalhistas para impedir que sua equipe assine suas revistas. e pelo que pagou o preço do fascículo – o prazer da não-estória. amado porque recorrente.. Se ela retomasse o Superman no ponto em que o havia deixado. o Superman teria dado um passo para a morte. o Superman pratica uma dada ação (desbarata. nesse ponto. o que já sabe. o que quer saber ainda uma vez. e ponto por ponto. A personagem Louco então comenta “O que tem de especial nisso? No ano passado. eram gibis diferentes. num subtrairnos à tensão passado-presente-futuro que nos retira para um instante. inicia-se uma nova estória. que nos deve levar de um ponto de partida a um ponto de chegada. e da qual os quadrinhos participam.).000 tiras dos PEANUTS nos últimos 22 anos. de massa: No âmbito de uma estória. Não havia conexão entre as histórias. Eu nunca pensei de devia ou não remeter o leitor ao episódio anterior. Das possíveis 10. uma quadrilha de gangsters). termina a estória. se é que uma estória é um desenvolvimento de eventos. 268): o leitor encontra continuamente. você também fez sete anos! No ano retrasado. eles retomam seus hábitos normais.. O atrativo deste esquema para o leitor também é explicado por Eco (1970. A sua estrutura repetitiva aparece como uma exigência do consumo em larga escala. .. Por outro lado. apenas 400 ou 500 contêm informação nova (. 257) diz ser essa uma característica dos quadrinhos comerciais. como se nada estivesse acontecido. ao qual jamais teríamos sonhado chegar. pág 80) explica que Eu simplesmente construí cada história e as finalizei com uma conclusão cômica. por exemplo.” Na mesma edição Carl Barks (2004. Sabe. 32) complementa relatando que a redundância nas histórias em quadrinhos é “nascida por força da engrenagem que movimenta os pilares da indústria cultural. na edição seguinte.. conseguiria.). né? Todo ano é assim!” Umberto Eco (1970. Na revista Cebolinha n° 10. p. Cirne (1972. No mesmo comic book.24 dos personagens. p. Um prazer em que a distração consiste na recusa do desenvolvimento dos eventos. p. iniciar uma estória sem mostrar que fora precedida por outra.. também! E no outro! No outro. Cebolinha está fazendo aniversário de sete anos. de certo modo. Todos continuam com a mesma idade.. subtrair o Superman à lei do consumo (. ou na semana seguinte. sem me preocupar se ela faria algum sentido. A criança tende. rosto arredondado.. Estas são as características mais marcantes das personagens da Turma da Mônica. É tudo muito próximo da vida real. que considerava seus únicos verdadeiros amigos” afirma Eliot (1995. a identificar-se com a brincalhona bestialidade dos animais” E continuam: “Constitui ainda um dos pontos onde a imaginação infantil pode desenvolver-se com maior liberdade criativa(.25 Eco (1970.3 O Cartum Quando criança. .. p. de fato. pág 264) denomina esse esquema de iterativo e explica seu fascínio sobre as crianças: “o mecanismo sobre o qual repousa o gozo da iteração é típico da infância. mas a estória que já conhecem e que lhes foi narrada várias vezes.). esboçando os mansos animais da fazenda. quase sempre desenhando com um pedaço de carvão em papel higiênico. p. olhos e orelhas grandes. apud AS OBRAS COMPLETAS DE CARL BARKS Vol 1. Elas são figuras humanas simplificadas. coloniza o conjunto das relações sociais animalizando-as e pintando-as (manchando-as) de inocência. Os personagens do universo Disney são todos animais com características humanas. Carl Barks (1975.) Os fãs que me escreviam cartas contavam que tinham vivido situações semelhantes àquelas pelas quais o velho Donald passou.. Essas características são comuns aos quadrinhos infantis.. portanto. e são as crianças que pedem para ouvir não uma nova estória. Era tudo o que precisava para passar uma hora livre. 2004) relata que Nunca pensei [em meus personagens] como patos que viviam num mundo de gente com cara de cachorro. 41) afirmam que através do antropomorfismo8 a natureza invade tudo. na fazenda onde morava. já sabe qual o tipo de história que irá encontrar nestas revistas. “(. Incluindo os da Turma da Mônica. por acaso. tinham aparência de patos (.. Cabeça achatada..” O leitor de quadrinhos Disney e Turma da Mônica. 3. Dorfman e Mattelart (1971. Eu os imaginava como seres humanos.) Walt improvisava. 27). cartunizadas. nariz pequeno e pés sem dedos9. Humanos que. o Cartum. É a maneira em que as pessoas mais se identificam no desenho. Através do Cartum é mais fácil transmitir uma idéia.” explica McCloud (1996. O Cartum possui características que facilitam a leitura e a identificação com o que está descrito. maior o potencial de seu alcance mercadológico.) quando entra no mundo do cartum.” É. E continua: “Nós não só observamos o cartum. mais pessoas ele pode descrever. passam uma sensação de juventude e inocência” afirma McCloud (1996.” relata McCloud (1996. o mundo dessa história parece pulsar com mais vida. ou a forma de pensamento que atribui formas ou características humana a deus. p. você vê a si mesmo. Através dele as crianças tem uma maior facilidade de identificação com as histórias.” “Outra coisa é a universalidade de imagem do cartum. Quanto mais pessoas se identificarem com o produto. p. dizem. os quadrinhos infantis podem facilmente transmitir uma ideologia. deuses. p. portanto. As linhas dos desenhos cartunizados aproximam as crianças dos quadrinhos. McCloud (1996. 31) comenta que “A capacidade que o cartum tem de concentrar nossa 8 Segundo o dicionário Aurélio: “tendência para atribuir.) as curvas e linhas abertas do Tio Patinhas. Além de facilmente identificável. 31). .. um ideal. Os quadrinhos infantis possuem o Cartum como uma de suas características base. p. p.. “(. de Carl Barks. o meio mais eficaz de fazer uma história em quadrinhos infantis. “(. todos possuem cinco dedos nos pés.. o cartum coloca-se no mundo dos conceitos” comenta McCloudd (1996. Com ele é possível fazer que nas histórias aconteçam ações irreais sem que haja necessidade de justificativa. p. Objetos inanimados podem assumir identidades separadas. Ou seja.” afirma McCloud (1996. O Cartum também facilita a imaginação dentro das histórias em quadrinhos. E explica: ”Quando o cartum é utilizado na história inteira. É a forma mais simples de repassar uma ideologia.. Quanto mais cartunizado é um rosto. 41). 126). Cartunizados. ou quaisquer outros entes naturais ou sobrenaturais.” 9 Os personagens da Turma do Chico Bento são exceção. Nós passamos a ser ele. isso não pareceria absurdo.26 “Simplificar personagens e imagens pode ser uma ferramenta eficaz de narrativa em qualquer meio de comunicação. 31). o Cartum possui como característica de aumentar o significado do que quer ser transmitido. de modo que se eles começarem a cantar. 36). “Ao trocar a aparência do mundo físico pela idéia da forma. o Cartum também é uma forma de facilitar a venda das histórias em quadrinhos. Ao reduzir uma imagem ao seu “significado” essencial.” As ideologias e formas de percepção do mundo representadas pelos cartuns de Disney e Turma da Mônica serão os temas abordados nos próximos capítulos desta pesquisa. mas se concentrando em detalhes específicos.” Continua (1996. tanto nos quadrinhos como no desenho em geral. 30): “Quando abstraímos uma imagem através do cartum. .27 atenção numa idéia é parte importante de seu poder especial. p. não estamos só eliminando os detalhes. um artista pode ampliar esse significado de uma forma impossível para a arte realista. Essa suspeita foi alimentada por várias outras pistas sobre sua origem que surgiram quando o FBI investigou o caso em troca de alguns serviços de Disney. tios. onde se aboliu todo o vestígio de um progenitor. É um universo de tios-avós. Sua principal participação era feita nos desenhos animados. Sua mãe era um tanto ausente e não defendia os filhos da violência do marido. geralmente gêmeos. Seu pai era extremamente violento. é reconhecida a influência de Walt Disney sobre todo o trabalho de seu estúdio.” “Eu não podia usar a morte ou qualquer coisa sexualmente sugestiva” comenta Carl Barks (1972. 2004) sobre seu trabalho nos estúdios Disney. A situação ficou ainda mais complicada quando Disney tentou se alistar no exército estadunidense para participar da Primeira Guerra Mundial. usando a força para ensinar disciplina. se dão por razões extra-sexuais. O surgimento de novos personagens. A única exceção são Banzé e Lobinho. Cada um dos primeiros cinco longa metragens dos estúdios (Branca de Neve. Walt precisou de sua certidão de nascimento. mesmo quando parentes. e estes. Mesmo não participando da criação das personagens e das histórias em quadrinhos. apud AS OBRAS COMPLETAS DE CARL BARKS Vol 3. p. Dorfman e Mattelart reiteram (1971. suas emoções ficavam mais evidentes. Surgiu então a suspeita de que era adotado. impera a arcaica proibição da tribo de casarem entre si. sobrinhos.1 Papai “A primeira coisa que salta aos olhos em qualquer destes relatos é o desprovimento permanente de um produto essencial: os progenitores. masculino ou feminino. que possuem relação pai-filho. primos. Bambi. E era ali que sua psicologia. Se parentes. p 26): “Neste páramo de clãs familiares. e também na relação macho-fêmea um eterno noivado” comentam Dorfman e Mattelart (1971. Dumbo e Fantasia) “refletia aspectos do tema maior e único de Disney: a santidade da família . Walt tinha uma relação complicada com seus pais. onde cada qual tem sua própria casa mas jamais um lar. de duplas de solitários. são sobrinhos. 25) sobre os quadrinhos Disney.28 4 PROGENITORES E UNIVERSO FEMININO 4. porém ela não foi encontrada e era bem possível que nunca tivesse existido. Pinóquio. Estas personagens. Nela aparecem todos os parentes dos patos.29 e as trágicas conseqüências quando ela é violada” afirma Eliot (1995. o pequeno animal da floresta que perde a mãe e é separado do pai. Podem ser criadas personagens que são filhas ou irmãs de outros personagens. p. O editor (2004. Ele procurou demonstrar toda a família Pato. da Turma do Penadinho. em Pinóquio. 216). em Dumbo” enumera Eliot (1995. 19): Nesses cinco filmes. porém. já morta (!). os pais aparecem em histórias do Chico Bento. Em abril do mesmo ano. Don Rosa fez algumas atualizações nela e a enviou para a aprovação de Barks em 31 de março de 1991. e o bebê elefante separado de sua verdadeira mãe. exteriorizadas pela perda ou ausência da figura dos pais. E continua (1995. na busca pela conquista da integridade espiritual. Todos as personagens principais e várias das secundárias possuem pais. o surgimento de novas personagens pode se dar por razões sexuais. do Rolo. o boneco de madeira que sonha em ser o verdadeiro filho de Gepetto. inclusive uma. de Fantasia. Uma tentativa de colocar parentescos mais próximos entre as personagens Disney foi feita por Carl Barks. No corpus estudado. A desconfiança de não ser filho verdadeiro de seus pais também marcou os filmes produzidos por Walt. irmã gêmea do Pato Donald e mãe de Huguinho. Na revista do Cebolinha tem uma história onde a irmã mais nova dele é a personagem principal. . pág 94) da revista Pato Donald 70 Anos relata que: Carl Barks esboçou a primeira árvore genealógica dos patos no início da década de 1950. o aprendiz em temerosa servidão em “O Aprendiz de Feiticeiro”. a 10 terceira e definitiva versão foi idealizada por ambos. O núcleo familiar é presença constante nos quadrinhos da Turma da Mônica. do Cebolinha. p. 18). Aqui. Zezinho e Luisinho. não são utilizadas nas histórias Disney. Diferente do universo Disney. . em última instância. todos os heróis de Disney começam com grandes “defeitos” de personalidade. Irmãos e irmãs também aparecem nos gibis. p. “São dignos de nota a filha adotiva abandonada no bosque. em Turma da Mônica existe a presença de progenitores. em Bambi. da Magali e do Ronaldinho Gaúcho. A procura por essa figura transforma-se. em Branca de Neve. “É uma relação contratual que toma a aparência de uma relação natural. demonstrações de carinho e lealdade têm uma presença marcante nos quadrinhos da Turma da Mônica..30 Mesmo não existindo a figura do pai.. É famoso. inclusive. mas. Nos quadrinhos Disney existe uma separação bem clara entre superiores e submissos. acaba por procurar o espírito de seu peixinho. a personagem comenta: “Gozado qui. Chico volta com sua namorada e diz “Ah. e rico. pois acabara de brigar com sua namorada Rosinha. O amor é excluído deste universo... porém é muito mais autoritária. o amor! Deixa o mundo mais colorido.. E Donald não encontra nada a dizer senão: “Er.”(sic). Oh-h Atos desinteressados. Asseguram: “o mundo inteiro está grato a ele. p. p.. Hummm. Vamos ver. si ocê tá no lugar mais bunito do mundo. a fama e a fortuna não são tudo na vida” – “Não? Que outra coisa resta?” Perguntam Huguinho. a natureza como causa de rebeldia (Não se pode dizer a um tio: “Você foi um mau pai”)” comentam Dorfman e Mattelart (1971. por sugestão de Penadinho. então. que descobriu ”um invento que mata o bichinho da maçã”. Por fim. Dorfman e Mattelart exemplificam (1971. Dentro destas relações não há atos de carinhos ou de lealdade.tudo fica cinza. Na revista Cascão n° 10. “Ser mais velho ou mais rico ou mais 10 Anexo 5 .. Não existem gestos desinteressados.. Dona Morte. Em Chico Bento n° 10 temos a história “Num era pra sê ansim” (sic). ocorrendo na figura do tio. com ajuda da Vida e do Destino.. o peixe da Dona Morte. inclusive... ele diz que irá reencarnar em outro bicho.” Donald responde acertadamente: “Bah! O talento. Sepultou-se. Quer dizer. o porquinho Chovinista se apaixona por um filhote de gambá e o adota como seu bichinho de estimação.. Zezinho e Luisinho em uníssono. i o coração im paz!”(sic). os temas principais de algumas histórias do corpus analisado..... Essas abordagens são. além do domínio econômico. 30): As criancinhas admiram um tio distante. Esta...... deixa a gente mais leve. Quem está abaixo deve ser obediente e quem manda exerce repressão física e moral. Quando ela encontra o peixinho. 29).quando num tá ca pessoa qui ocê gosta. Ela fica muito abatida. Nela Chico passa a história toda triste...sem gosto.. uma tirania que não assume sequer a responsabilidade de um nascimento.tudo fica sem cor. Em determinada parte. nos quadrinhos Disney ocorre a presença do poder paterno. fala: “Tudo bem! Não importa o bicho! Vou amá-lo como sempre amei!” Ainda nesta revista. morre. A caridade é recebida pelo destinatário com entusiasmo: ele consome. as personagens recebem ajuda de alguém . toda habilidade técnica. não podem crescer. aceita passivamente tudo o que puder mendigar. nunca sairão tampouco desta instituição pela via da evolução biológica.31 belo neste mundo dá imediatamente o direito de mandar nos menos “afortunados” comentam Dorfman e Mattelart (1971. 30). em um determinado momento. A falta de progenitores “(. Donald e os sobrinhos encontram uma cabana.” A subserviência nunca é contestada. As personagens da Turma da Mônica não têm nenhum manual para aprender o que devem fazer em cada situação. Essa característica. possuem um modo de. enquanto escalam os Alpes. toda a época. quando necessário. Basta seguir as instruções deste saber enlatado para sair de qualquer dificuldade. Elas nunca evoluem. Quando só a criatividade ou a inteligência não são suficientes para vencer as dificuldades. 34) afirmam que ele É o compêndio enciclopédico da sabedoria tradicional. todo comportamento. p. 30). Contém uma resposta para todo o espaço. Elas devem enfrentar sozinhas as situações novas com que se deparam. É o cúmulo de convenções que permite ao menino controlar o futuro e contê-lo para que não varie diante do passado. para que tudo seja necessariamente repetitivo. outro comenta: “Ufa! O manual está inteiro! Ainda bem! Salvamos a parte mais importante!”. Em outra parte... afirmando que por trás disso existe “.)também se liga com a gênese dos personagens: como não nasceram. Ou seja. Ninguém se queixa desta estrutura.. E continuam (1971. As personagens nunca envelhecem. Um dos sobrinhos pega o manual e diz: “De acordo com o manual. p. um mundo de permanentes privilégios e benefícios (por isso. deve-se mais ao já explicado esquema de redundâncias do que à presença ou não dos pais. Os sobrinhos de Donald. “aprender” algo novo que lhe seja útil. porém. p..” refletem Dorfman e Mattelart (1971. recebe. As personagens Disney não evoluem e não aprendem. Patinhas. toda data. Todos aceitam seus lugares e não são capazes de se revoltar contra o que lhes é imposto. porém. 31). p. é um abrigo situado na encosta oriental do cervino!”. Na revista Tio Patinhas n° 507. Nos quadrinhos da Turma da Mônica os personagens também nunca envelhecem nem evoluem. Dorfman e Mattelart (1971. o clube das mulheres da Patolândia sempre realiza obras sociais). É o Manual dos Escoteiros. p. p. O único poder que se lhe permite é a tradicional sedução. já se percebe um tratamento de destaque para as personagens femininas na Turma da Mônica. Essas personagens não têm o direito de se tornarem mães.) leva a termo com perfeição sua tarefa de humilde servidora (subordinada ao homem) e de rainha de beleza sempre cortejada (subordinada ao pretendente). O pesquisador Barcus realizou uma observação em histórias dominicais de março dos anos 1943. Esse episódio ocorreu logo após a morte da mãe de Disney. que não se dá senão sob a forma de coqueteira. Em vez disso. Esse estratagema também possibilita manter o universo de tios e sobrinhos. p.. 35). Anselmo (1975. As personagens masculinas são sempre solteiras. 84) afirma que um desses resultados foi que “O mundo das HQ dominicais norte-americanas é predominantemente um mundo . em detrimento das femininas. quase já completa.32 que saiba lidar com a situação. 149) relata que Walt ordenou que toda a filmagem. Assim. Magali como personagem principal e sua mãe como fonte de sabedoria. Disney deu maior ênfase ao desejo do pequeno boneco de madeira de se tornar um filho em carne e osso do bondoso velhinho que o havia criado. A solução foi pedir ajuda para sua mãe. Existe uma preferência por personagens masculinas. 4. Em Magali n° 10. na história em que ele briga com sua namorada. Eliot (1995. para superar seu drama ele conta com a ajuda do Destino e da Vida.. 1948.” explicam Dorfman e Mattelart (1971. Existe um caso em que Walt realmente atuou para a retirada de personagem feminina de uma obra de seus estúdios. sendo que as femininas não se deixam ter uma relação matrimonial. fosse descartada a favor de um novo texto que eliminasse qualquer menção à mulher do fabricante de bonecos Gepetto. 1953 e 1958 e chegou a alguns resultados. Foi no filme Pinóquio. Na revista Chico Bento n° 10. A predominância de personagens masculinas nos quadrinhos estadunidenses é uma característica das HQs produzidas nos anos em que surgiram os primeiros gibis de Walt Disney.2 Mamãe O universo masculino é predominante nos quadrinhos Disney. a personagem não sabe o que fazer com seu gato Mingau que está doente. A personagem feminina ”(. A personagem principal desse universo é uma menina. como Magali. Porém existe uma característica marcante nas histórias da Turma da Mônica que vão contra esses argumentos. E elas aparecem em várias histórias com participações bem marcantes. Maurício de Sousa foi questionado.” Maurício conta que achou a solução . Além dela existem outras que desempenham um importante papel nas histórias. Esse fato poderia demonstrar uma visão machista e de reforço aos poderes existentes dentro da sociedade. que aparecem em menor porcentagem. Outra diferença quanto aos quadrinhos Disney é a existência das mães. como homem. você não vai ganhar. Todos estão sujeitos a suas vontades. A Turma da Mônica demonstra sua relação com o universo feminino logo no título. você já tentou levar a melhor contra uma mulher? Nunca. depois que a mãe da personagem decide o que fazer com Mingau. Quase toda personagem tem mãe. Dona Morte e Dona Marocas. Inverte-se aqui a relação de poder predominante na sociedade brasileira. Magali comenta: “Nossa! As mães sabem tudo!”.33 masculino de idade média (72% dos personagens são homens). que estava doente. Tina. a Mônica. no colo e no coração. Punha nas historinhas as minhas lembranças de infância (não tão remotas naqueles tempos). É a excessiva força da Mônica. Através dela. Em Magali n° 10. são bem jovens ou bem idosas”. minhas brincadeiras. As mulheres. a personagem exerce um poder sobre os meninos. As primeiras histórias da Turma da Mônica não tinham personagens femininas. sobre a força da Mônica e respondeu: Personal Trainer. Em uma entrevista para o Bate Papo Uol (2007).(sic). temores e alegrias. Continua: “Mas como nunca tinha sido mulher. Além de que eu tenho uma filha chamada Mônica que não leva desaforo para casa e tinha tudo aquilo mesmo. ficava meio sem condições de falar pela boca de um personagem feminino. Maurício de Sousa (1996) relata que “Daí alguém da redação da Folha me lembrou de um detalhe que eu estava deixando passar despercebido: Cadê os personagens femininos nos seus quadrinhos? Cadê as mulheres?”. pelo internauta Personal Trainer. Admiro as mulheres com personalidade forte porque carregam os homens nos ombros. Grande parte das mães das personagens principais são donas de casa. opiniões. E explica: cheguei a uma conclusão "técnica": eu estava escrevendo até então sobre situações e emoções que eu conhecia bem. Pode ser o mais bombado e forte. Esta é uma característica dos quadrinhos estadunidenses que somente há pouco tempo vem se modificando. Desta maneira já é possível perceber. p.34 em casa. Mundo este bem explorado pelas personagens Disney.”Na medida em que constituíram um “clube do bolinha” nos EUA. explicar a razão do pouco aproveitamento de personagens femininas no universo Disney. já mulheres numa série de atitudes e emoções. diferentes maneiras de lidar com o mundo a sua volta. em parte. estavam me ensinando tudo o que me faltava. observando suas duas filhas: “Dei-me conta de que já podia criar personagens femininos com conhecimento de causa. 100).” Esta declaração de Maurício de Sousa pode. . entre os quadrinhos Disney e da Turma da Mônica. Aquelas duas crianças. os quadrinhos abriram mão da metade de seu poder potencial (e de seu público potencial) numa única facada” afirma McCloud (2006. Praticamente todos os artistas da editora são homens. necessita sair do seu espaço em algumas delas. “Carpáccio” e para um tal “Rio Peligroso” que. porém suas histórias se passam perto ou nos locais em que eles moram. concebida como um inferno. Cenários. as personagens Disney viajam para outros países. essas viagens acontecem para a Suíça. Ele. As outras duas ocorrem em locais fechados. Somente uma aventura não acontece nestas condições. Ronaldinho Gaúcho vai para a praia.” Para fugirem do caos urbano. Mesmo vivendo em locais urbanos. mar. na realidade. Nela. suas aventuras são na maioria dentro da cidade onde ele mora. Geralmente em locais pertos das residências das personagens. continentes ou até mesmo outros planetas. roupas e objetos . p. principalmente quando vai visitar seus primos distantes. enfatizam o caráter catastrófico e absurdo da vida urbana” comentam Dorfman e Mattelart (1971. em várias histórias eles procuram viajar para o campo. Em Tio Patinhas n° 507 e Pato Donald n° 2351. do corpus analisado. Já nos quadrinhos do Zé Carioca. Piteco em algum lugar da préhistória. episódio após o outro. os personagens Disney também procuram retornar à natureza. O personagem se enreda nos objetos.35 5 AS AVENTURAS E OS PRECONCEITOS 5. Pato Donald se desentende com seus vizinhos por causa de duas árvores que fazem sombras em demasiado. porém. para ilhas. E continuam: “A urbe está. Papa Capim na mata e Anjinho no céu não estão na cidade. acontecem no espaço urbano. sendo a primeira em uma casa e a outra em um estúdio de filmagem. porém. onde especificamente o homem perde o controle de sua própria situação. Chico Bento na roça. No corpus analisado. desertos. ao que tudo indica. 42). “É certo que uma boa proporção de historietas transcorre na cidade ou em habitações fechadas: estas. montanhas entre outros. Os quadrinhos da Turma da Mônica procuram escapar ao máximo de referências ao exato local em que suas histórias passam. se encontra em alguma floresta tropical.1 Viajando Além de serem antropomorfizados. Praticamente todas as histórias dos quadrinhos da Turma da Mônica. pouco menos da metade das histórias acontecem na cidade ou em locais fechados. Em uma delas. Os habitantes locais são ou primitivos. acostumado de tal forma. 62). p. as histórias procuram ser universais. Eram assim meio universais. Foi um dos motivos por que nossas primeiras estórias não eram tipicamente brasileiras. quando ele pega a vara. 1971 p. expandindo assim o alcance comercial da Turma da Mônica. Essas adversidades fizeram. O mesmo não ocorre com os quadrinhos Disney. era o que eu fazia. o pessoal dizia que só aceitava estória americana. não havia detalhes que as identificassem como uma produção brasileira. Porém. tem contato com tecnologias.36 têm o mínimo de identificação com seu país de origem. a Turma da Mônica “mais universal do que brasileiro – ou mais universal do que latino-americano. porém. explica que seus roteiros são inspirados em sua infância: “Está tudo no Chico Bento. mas que correm risco de extinção. Maurício de Sousa (apud Cirne. quase todas possíveis de acontecer com qualquer criança. Maurício de Sousa em entrevista para o UOL (2007).” A universalidade também é buscada no tipo de aventuras que as personagens vivem. Não havia nelas ambiente brasileiro. Dorfman e Mattelart fazem um guia de como devem ser os lugares que essas personagens devem visitar. As moradias são todas exóticas ou folclóricas. Alguns não têm cidade. que não aceitava material diferente. no máximo cabanas e os que . Elas podem estar acontecendo em quase qualquer país que tenha alguma semelhança com os elementos representados nelas. vai catar minhoca. bárbaros ou muito mais evoluídos. 5. O pessoal estava dirigindo material americano há 30 anos. vai para a beira do rio. Desta maneira. eu sentava numa bacia grande e ía remando com a mão até o lugar que teria peixe. as características dos locais e dos habitantes são sempre bem peculiares. segundo Cirne (1971.2 Estereotipados Estressados com o ambiente urbano. Quando a maré estava cheia.” Maurício de Sousa procura ser universal também ao tentar estereotipar o menos possível suas personagens. Nenhum deles. São histórias “simples”. as personagens Disney procuram fugir para outros lugares. 62) explica que o surgimento destas características também foi por questões comerciais: Em alguns lugares onde eu não me identificava. Essa característica contribui para que as histórias sejam facilmente assimiladas e lidas por mais pessoas. ” Quanto às qualidades morais destes nativos. ou bem pode seguir o pequeno selvagem-bom. Não existem fêmeas nesses locais. As crianças urbanas. portanto é fácil retirar suas riquezas. p. ingênuas. p. “Todos são iguais. 47). escolher as artimanhas. Dorfman e Mattelart (1971. Todos eles falam fluentemente a língua que as personagens Disney usam. escalar. Existem habitantes de todas as cores. No já citado estudo realizado por Barcus (cap. o pesquisador também coletou dados sobre como eram retratados os países estrangeiros nos quadrinhos estadunidenses no período dos primeiros gibis de Disney. confiantes. personagens principais desse universo. são inteligentes e astutas. 83) relata que Barcus chegou ao seguinte resultado: “Os países estrangeiros (.) são mostrados como regiões agrícolas em 80. despreocupadas. .37 possuem. Têm ataques de raiva quando são contrariados. Vivem em uma democracia-monarquia. alegres. obter recompensas.. Sua economia é de subsistência.. aplacá-los e até mesmo enganá-los. felizes. Anselmo (1975. p. porém. menos a branca.9% dos casos. dois projetos de infância por que modelar seu comportamento: pode escolher imitar os sobrinhos e outros pequenos e astutos. Afáveis. Eles são muito receptivos com os estrangeiros e facilmente enganáveis. p. sair primeiro. que é mais igual que os demais” completam Dorfman e Mattelart (1971. 47) comentam: São como crianças. Eles ou são gigantes ou pigmeus e se vestem em trapos ou como seus antepassados. somente homens. Dorfman e Mattelart (1971. menos o rei. Adultos esses quase sempre trapalhões ou com poucas capacidades intelectuais. 51) afirmam que Assim. Esses seres primitivos cantam e dançam para se divertir e qualquer artefato levado pelos turistas é usado como brinquedo. Por vezes elas se impõe perante os adultos. É muito fácil. ao pequeno leitor se abrem duas alternativas. que jamais se mexe nem ganha nada. Os selvagens representariam assim as verdadeiras crianças de Disney. 3. que para eles de nada servem. O turista cauteloso levará algumas quinquilharias e seguramente poderá trazer mais de uma jóia nativa. ganhar a competência. São desinteressados e generosos. ou elas estão em ruínas ou inservíveis. e portanto vencer adultamente.2). no entanto. Muitas vezes a solução encontrada para a exploração do tesouro é a entrada de uma companhia estrangeira que se encarrega do trabalho e paga uma comissão aos nativos. A mudança do nome. “Todos esses exemplos têm em comum alimentar-se de estereótipos internacionais. Em outras histórias. são vistos como magia pelos nativos. Dorfman e Mattelart (1971. Em muitas histórias. aproveitando todos os preconceitos superficiais e estereótipos acerca do país. não são apresentados por seus verdadeiros nomes. Donald e seus companheiros chegam a retirar o poder dos governantes que não se ajustam aos negócios do Tio Patinhas em suas terras. de recriar em quadrinhos os preconceitos existentes. pois não têm conhecimento suficiente. englobando todos esses lugares-comuns sociais. Isso se dá principalmente com países subdesenvolvidos. As personagens Disney também encontram alguma dificuldade para levar as matérias primas destes países subdesenvolvidos para os desenvolvidos. mas explora-a ao máximo. contêm tecnologias. Estes objetos inúteis.. mas sim por alguma denominação que faça referência a estes países. p. tornam-se valiosos objetos para aqueles. porque reconhecemos e fixamos o país de acordo com esta tipicidade grotesca. enraizados nas visões do mundo das classes dominantes . o chá etc). Os moradores dos países explorados. petrificando o embrião arquétipo.” comentam Dorfman e Mattelart (1971. Desta forma. as personagens Disney vão para outros países em busca de ouro ou especiarias e para conseguir estes materiais. permite Disneylandizá-los sem travas. o marfim. p.38 Os países visitados pelas personagens Disney. 55) complementam: Isto traduz as relações de truques que os primeiros conquistadores e colonizadores (na África. Ásia. 63). cria-se um meio de ridicularizar outros países. Dorfman e Mattelart (1971. numa relação entre colonizador e colonizado. América e Oceania) tiveram com os indígenas: troca-se o inútil produto da superioridade (européia ou norteamericana) e leva-se o ouro (as espécies. levam quinquilharias para a troca. p. não podem manufaturar suas matérias-primas. E continuam: “Disney não descobriu essa caricatura. que. 53) comentam que Não importa que o nome seja outro. em suas aventuras. Desta forma. que não conseguem entender seu funcionamento. porém. Desta maneira o mexicano está se autoconhecendo. autoconsumindo. algum tipo de comportamento. porém. os meios de transporte funcionam por força animal ou humana. Naturalmente. Eliot (1996. Embora na comunicação.” Os três casos encontrados no corpus analisado são Chico Bento. Suas aventuras se passam perto do ambiente onde moram. As cidades e as moradias são folclóricas e. 191) relata que no Brasil: O trabalho transcorreu sem transtornos até que alguém de sua equipe referiu-se a um dos animadores brasileiros como um “nativo”. Isto. não o fazem para outros locais muito diferentes daqueles em que eles vivem. Tio Patinhas resolve construir uma fábrica nos Alpes. Quando viajam. até que Walt pessoalmente pediu desculpas à parte ofendida. Essa viagem foi patrocinada pelo governo dos Estados Unidos e tinha como intenções fazer a política da boa vizinhança. às vezes.39 nacionais e internacionais. porém ela demora a ser erguida e ele então comenta “os construtores da minha fábrica parecem ter adotado o “ritmo suíço”. A visão de mundo das personagens Disney parece ser compartilhada por alguns dos artistas que produzem suas histórias. sobre se tentava não reproduzir estereótipos o quadrinista falou para a página Multirio: “Tentamos. que não pode deixar esta situação prototípica. A Turma da Mônica praticamente não viaja. dentro de um sistema que afiança sua coerência. e o pato “pensa”: “Vou fazer uma proposta! Japoneses adoram negociar!”. O incidente aborreceu os colaboradores locais e quase determinou a suspensão da filmagem de Você já foi à Bahia?. excetuando um trem. não impede que exista um ou outro estereótipo nas personagens de Maurício de Sousa. que implica ao mesmo tempo que o Peru não pode ser outra coisa. rindo de si mesmo. Perguntado. Em Tio Patinhas n° 507 as personagens viajam para a Suíça. o aprisionamento em seu próprio exotismo. com um desfecho positivo. Ronaldinho Gaúcho e Papa-Capim. . algum lugar comum seja necessário para se contar bem uma história. p. Walt Disney e alguns membros de sua equipe ganharam uma viagem para a América Latina. produzir dois desenhos animados com personagens latinas e afastar Walt dos problemas que ele vinha enfrentando com as greves em grande parte de seus estúdios. Em 1940.” E mais: A única maneira de um mexicano conhecer o Peru é através do preconceito.” Também aparece um personagem japonês. na montagem de um roteiro. demonstrando sua visão sobre as pessoas que vivem em zonas rurais. explica que “a polêmica foi durante a ditadura e queriam proibir. Essa questão já foi alvo de controvérsias. Exemplos disso são Luca. as personagens parecem estar sempre vestidas para alguma festa de São João. a vestimenta. em entrevista para a página Banda Desenhada (2007). Mas não podemos deixar de falar. “É farta di inducação sê isganado!”(sic) comenta o pai de Chico. Em Ronaldinho. Ainda para o site Multirio. A mãe de Chico Bento faz comida em um fogão a lenha enquanto que ele toma banho em um barril. Maurício comenta: Alguns temas são tratados de forma velada. De resto.). bah! Passou Perto” são alguns dos poucos exemplos e estão todos ligados ao modo do povo gaúcho falar.. enquanto que Jurema usa somente penas. Em entrevista para a página Multirio. Maurício de Sousa. “Comê ligero. A começar por seu linguajar. Grande parte das personagens de seu gibi também falam parecido.” Os estereótipos em Chico Bento. dos preconceitos (. A Maurício de Sousa Editora é uma empresa que procura passar uma imagem de politicamente correta. para que a revista não se torne pesada. “Deve di tê arguma coisa im qui eu seja mior qui os outro” (sic) diz a personagem na história “O Melhor de Todos”. porém são bem menos usuais. os estereótipos se concentram no modo de falar. Maurício falou . Já o índio Papa-Capim tem como característica forte. faiz mar pra saúde!”(sic) diz sua mãe. mudo. carregada de cores fortes de realismo. Ele veste apenas um pedaço de pano. porém. que necessita cadeira de rodas. e Humberto. Não há acesso a tecnologias.40 Chico Bento é o caso mais explicito. Dorinha. cega. “Como tu faz isso?”(sic) e “Mas. sem mastigá. forçar o uso do Português culto. às vezes. Para tanto cria personagens tentando incluir o máximo possível os diferentes tipos de pessoas que existem. E é ridículo porque há 25 milhões de pessoas que falam daquela forma no Brasil. A vestimenta das personagens é bem peculiar. na forma de fábulas.. Não há diálogos nas histórias do indiozinho no corpus analisado. Esta não é a proposta de nossas revistas. nem que seja de maneira indireta. O uso do chapéu de palha é quase obrigatório entre os meninos. Papa ainda anda sempre com um arco em mãos. não ficam somente na linguagem. 41 sobre esses personagens: “Justamente por entender que se pode educar por meio das histórias em quadrinhos.” Ainda quanto a estereótipo. resolvi criar personagens portadores de deficiência para exercitar a inclusão no meio dos nossos personagens. . Não queremos estigmatizálos. o que parece ficar mais marcado nos quadrinhos Disney é o do capitalista.” E continua: “Eles serão abordados e tratados como qualquer outro personagem. O da sociedade burguesa. então. não se satisfaz em ter perdido o melhor terreno e faz com que toda a tubulação de sua fábrica tenha que passar por dentro do hotel. p. O médico. Estão incluídos neste tudo a segurança. explica que a enfermidade “é uma crise de avidez por dinheiro! Doença muito comum entre os milionários! Aparece quando há excessiva avidez!” Tio Patinhas praticamente não tem limites para sua voracidade pela riqueza. sua capacidade de aquisição de tudo. então. o carinho dos demais.1 Aquilo que a tudo compra Existe. Dorfman e Mattelart (1971. Mesmo já tendo acumulado muito dinheiro. nas personagens Disney. Ele. o Tio Patinhas faz qualquer coisa. o amparo. porém o único local possível já está vendido para a construção de um hotel. Tio Patinhas descobre que pode ganhar dinheiro construindo uma fábrica para fazer queijo. Na mesma história em que fica doente. Donald diz: “Para obter uma vantagem. o direito de satisfazer-se com uma mulher e o entretenimento (em vista de que a vida é tão aborrecida). o prestígio. Nas revistas Tio Patinhas n° 507 e Pato Donald n° 2351. E NÃO É NECESSÁRIO TRABALHAR 6. a possibilidade de viajar. Pato Donald comenta: “Devia se envergonhar. 80) afirmam que O dinheiro é o fim último a que tendem os personagens porque concentra em si todas as qualidades do mundo.. Donald! É muito sentimental! Siga meu exemplo!” (sic). Tio Patinhas! Existem outros meios e o senhor sabe disso!”. Para começar. A única maneira de alcançar estas coisas é através do ouro. o repouso (as férias e o lazer). Tio Patinhas.. que passa então a simbolizar todas as bondades do universo. uma fixação pelo ouro. Tio Patinhas é. porém. o dinheiro. obviamente. Lá. E este ouro compra tudo.42 6 TEMPO É DINHEIRO. que é óbvio. Na história O Ouro Branco de Cervino o pato fica doente. o poder autoritário de mando. porque são adquiríveis. Ao ver o resultado das artimanhas do seu tio. o exemplo mais forte desta gana pela conquista financeira. Pato Donald e os sobrinhos viajam para a Suíça. Patinhas responde: “Você não entende nada de negócios. precisa se contentar com um terreno de difícil acesso. mais da metade das histórias tem como motivação o ouro. Ele precisa comprar um terreno. até poluir a paisagem!” . ele tem como única motivação de vida conseguir mais e mais ouro. ele. Todos eles podem ser alcançados dentro do espaço em que vivem as personagens. O processo produtivo é podado dos quadrinhos Disney. Cascão foge da água. Já o fim clássico das personagens Disney. Magali quer comer o máximo que puder. garantida pelo retorno à natureza. uma dependência do dinheiro. Cebolinha faz de tudo para fugir do Louco ou do Dudu. 6. desses objetos. é. lá se foram os meus trocados de fim de semana!”. Cebolinha quer conquistar o posto de dono da rua que pertence à Mônica. já que ocorreu em tempos remotos – à elaboração.2 Sombra e água fresca As relíquias encontradas por Tio Patinhas e seus comparsas em outras terras. a personagem compra alguns gibis para presentear uma criança e “pensa”: “Ai. Magali precisa cuidar de seu gato doente. Essa precisa se livrar das investidas do Cebolinha. existem ainda os objetivos mais clássicos das personagens da Turma da Mônica. sempre por antepassados distantes destes. Floquinho precisa cuidar de Maria Cebolinha. ainda que artesanal. São os fins característicos de cada personagem. “Nunca há. Cascão quer achar alguém para poder brincar ou somente escapar de qualquer gota de água. uma referência – e como poderia havê-la. No corpus analisado em somente uma história é citado o dinheiro. em suas histórias. Ronaldinho Gaúcho está sempre procurando jogar futebol tranqüilamente ou tentando quebrar seu recorde de embaixadinhas. Em O Filho do Rolo.” observam Dorfman e Mattelart (1971. . E quando o fazem é somente pela por necessidade de adquirir algum bem importante para o desenvolvimento da narrativa. portanto. nunca são produzidas pelos nativos. a fixação pelo dinheiro e pelo ouro. Não há. 74). Chico Bento quer reconquistar o amor de Rosinha. Além dos exemplos do corpus. Chico Bento e suas investidas contra a goiabeira de Nhô Lau. mas sim. Mônica tem que cuidar para que seu cão não morda tudo o que aparece voando.43 As histórias da Turma da Mônica praticamente não fazem referências ao dinheiro. p. em todo caso. Dona Morte é chamada para cuidar das crianças do Penadinho. Dona Marrocas move quase toda a comunidade para fazer com que Chico Bento consiga realizar uma boa prova. outros fins que desejam alcançar. novamente. As personagens da Turma da Mônica têm outros objetivos. p. é sempre o natural o elemento mediador entre o homem e a riqueza” relatam Dorfman e Mattelart (1971. ao aparecer. O trabalho. descobre que fracassou de forma retumbante. Dorfman e Mattelart (1971. 146). É através do esforço que se consegue o dinheiro para suprir as necessidades. 75) comentam: “A natureza já se encarregou de elaborar o material para que o ser humano o recolha. todos vendem. que produz objetos humanos e sociais como si fossem naturais. Há vagas em profusão na cidade fundada por Cronélius Patus e só não trabalha quem não quer – ou não precisa” relata o editor da revista Obras Completas de Carl Barks vol. 1 (2004. “Donald tenta se firmar em toda sorte de carreira profissional – de carteiro a fazedor de chuva. No universo Disney.” A grande produtora de riquezas é a natureza.) E. No gibi Cascão n° 10. cada vez que procura algum emprego.. . o personagem Zecão abre seu próprio negócio. 77). porém não faltam referencias a ele. todos consomem. retrato do perdedor numa comunidade em que o objetivo maior é o bolso cheio de dólares. Todos os pais das personagens infantis trabalham para sustentar o lar. Os quadrinhos da Turma da Mônica possuem uma relação mais realista com o trabalho e a produção de bens. E continuam: Ninguém trabalha para produzir no mundo de Disney. sempre há emprego para quem procura. p. sem necessidade de instrumentos de qualquer espécie. Mesmo sendo frustrado em todas as tentativas. quando representado no universo Disney. p. tradicionais táxis da China. 124). (. como uma etapa primitiva. Ele vira um puxador de riquixá. quando parece ter finalmente alcançado o sucesso. “Em Patolândia ou fora. mas nenhum destes produtos custou. Pato Donald é a personagem que mais sofre procurando seu ganha-pão. Donald encontra. p. de descascador de batatas a gerente de hotel” comenta o editor da revista Obras Completas de Carl Barks vol. é causa de frustrações. esforço algum. Não é um assunto recorrente. Todos compram.44 A extração das riquezas da terra também é facilitada. 3 (2004. busca a ascensão e a aceitação sociais por meio do trabalho. “Para Carl Barks. o desemprego passa longe da economia patopolense. E continua: O personagem.. A grande força de trabalho é a natureza. Essa situação.45 A revista que possui uma ligação mais forte com o trabalho é Chico Bento. O exemplo mais freqüente é o de alguém utilizando uma enxada. É comum aparecerem personagens no batente. possivelmente por questões da adoção do politicamente correto. Revistas mais antigas traziam Chico Bento trabalhando. parece ter sido excluída das novas histórias. . apud Anselmo. criados para “viverem” fora dos Estados Unidos. Maurício de Sousa afirma. ele (2003) relata que: “O Horácio. Na medida em que é uma arte chamada “popular”. em entrevistas. Artistas Disney. que estão mais ou menos esclarecidas ou fechadas em si mesmas. possui questões mais complicadas. da minha filosofia de vida e das minhas idéias. sofrem preconceitos de alguns artistas. Alguns personagens. em conseqüência de sua morte. p. Sousa relata que quando escreve roteiros. 87) afirma que a relação das histórias em quadrinhos com a realidade é bem complexa. mas os graus de transposição são muito desiguais. Em entrevista para o site Universo HQ. afirma que . Pelo contrário.46 7 CONCLUSÃO Coupérie (1970. completamente isolado de toda a tradição. p. É perceptível a influência de Walt na obra da empresa. Eliot (1996. em entrevista para o Universo HQ.” Os porém são sua ausência. demonstram ter desconhecimento de várias histórias produzidas por seus colegas em outros países. 172) afirma que “ficava cada vez mais claro a um crescente número de críticos que a insistência de Disney de criar em seus filmes um mundo perfeito para as crianças refletia. Tanto os quadrinhos Disney quanto os da Turma da Mônica parecem representar o tipo de ideologia das sociedades onde seus criadores e produtores se encontram. a história em quadrinhos é verdadeiramente uma testemunha do seu tempo e tudo pode ser encontrado nela.” O universo Disney. que suas personagens e histórias são inspiradas em pessoas e fatos de sua vida. Grande parte de suas personagens foi criada com características de parentes. Don Rosa (2003) sobre o Zé Carioca de Renato Canini. 1975. em quase todas suas entrevistas. o Bidu e o Jotalhão possuem muito da minha alma. nada mais que sua própria infância tenebrosa. segundo suspeitavam. Neles exponho todas as minhas preocupações. por sua vez. amigos e conhecidos seus. deixa transparecer muito do que ele pensa. Seus problemas de relacionamento com seus pais afetaram quase todos os filmes e personagens que ele teve influência. ela pode receber muito mais tradições e influencias que as artes “oficiais”. e a criação dos quadrinhos que é feita em separado em diversos países. No todo. O que importa é “compreender que a história em quadrinhos não é um fenômeno gratuito. Arthur Babbitt (apud Eliot. p. (. Sobre ele.)Mas o que me dizem é que ele é um vagabundo. Assim como soltar balão.. 1996. o do desenho de 1945. com certeza uma "pessoa" de boa índole. mas era capaz de identificar qualquer coisa errada em uma obra.47 a idéia que tenho feito nos últimos 40 anos é que ele é um desempregado. um dos mais importantes artistas de Disney. Ele abrasileirou a personagem. basicamente estratégias para atingir o público alvo das histórias em quadrinhos de Disney e Turma da Mônica.)Quero que vejam.. Assim. uma mudança. Eu estou relançando os meus primeiros quadrinhos e lá existem estas passagens "proibidas". Maurício parece ter orgulho de demonstrar suas conquistas de mercado e suas estratégias para tanto. um vagabundo adorável. Então há uma alteração. 120). Até a criação de algumas personagens 11 O Anexo 4 apresenta uma comparação entre o estilo de Don Rosa e o de Canini no desenho de Zé Carioca. Tirou dele as roupas de países frios e o vestiu com trajes mais leves. sempre curtindo a vida. que ele é apenas diferente do que já conhecem. Também ambientou melhor Zé Carioca dentro da favela em que morava. Sempre digo para o nosso pessoal. também. porém seu senso de organização e do processo produtivo de seus filmes era reconhecido. Mas continua lá porque é um trabalho quase jornalístico.. tenho uma grande equipe hoje. tive de criar uma versão própria do Zé Carioca que todos os americanos conhecem. realmente. porém.. de música.11 As histórias do Zé Carioca feitas por Canini são um bom exemplo das diferenças que existem entre os diversos artistas da Disney. Em entrevistas. Em entrevista para o site BOL. Não devemos mudar os hábitos e sim ir fazendo como caminha a humanidade. Com freqüência. Sousa (2007) confirma que O Cebolinha pintava muros. também não pode mais. mas era um grande organizador. Por isso. Mesmo a questão do politicamente correto parece se resumir apenas àquilo que seu leitor necessita. (. comenta: A verdade era que ele não tinha nenhum conhecimento da arte de desenhar. Todas essas representações da sociedade são. Maurício de Sousa deixa claro em suas entrevistas a influência da questão comercial em suas histórias. Walt era um artista de pouco prestígio. não sabia nada. de literatura. . não consigo formar uma opinião. não sabia o que procurava. que a Turma da Mônica não deve levantar uma bandeira e sim pegar a que está passando na hora. hoje não dá mais. O Nhô Lau dava tiros de sal. A estratégia de produzir as histórias Disney em diversos países é meramente uma forma de se aproximar com seu público. Ele procura adaptar elas para o que o seu público exige. necessitando se adaptar. ele abrirá caminho para o resto da turma. Houve um grande hiato de publicações e depois da metade da década de 1990 começaram a surgir novas obras. Quase todas as pesquisas publicadas sobre quadrinhos se referem aos produzidos no ocidente. ele comenta. No blog Pensadores Brasileiros. Mesmo assim. Fica evidente que o processo de criação de histórias em quadrinhos que procuram atingir um grande número de leitores sofre influências tanto das ideologias de quem o produz como das exigências do mercado. tem como fim último o comércio.. existe uma crítica ao livro12. Grande parte do material publicado no Brasil é dos anos 1970. Nos países em que estamos presentes com a turma da Mônica.blogspot. Já serão lançadas revistas com o Ronaldinho na Espanha e na Itália. Achamos importante ainda salientar as dificuldades na pesquisa com histórias em quadrinhos. porém 12 http://pensadoresbrasileiros. Dorfman e Mattelart realizaram sua obra Para Ler o Pato Donald em cima de gibis traduzidos. praticamente não existem obras sobre essas histórias em quadrinhos. p. Para Cirne (1971. que é o personagem universal. hoje. bem como a sua luta por uma lógica de consumo (a partir dos elementos condicionalizantes da estória importada.com/2007/10/para-ler-o-pato-donald-uma-das-obras. Os quadrinhos Disney e Turma da Mônica. em determinadas questões. e procurando superá-los através de uma criticidade ainda pouco definida) e pela profissionalização do desenhista nacional (. para o site Side Effects. Outro problema encontrado são as traduções realizadas nos quadrinhos Disney. 78) a Turma da Mônica é importante para os quadrinhos nacionais por sua riqueza informacional proporcionada por seus modelos criativos. Nos novos mercados. apesar de refletirem as ideologias e vivências de seus criadores. Muitas das questões levantadas quanto aos problemas de narrativa e comercialização dos gibis já foram superadas há muitos anos pelos HQs japoneses. Maurício de Sousa é reconhecido por seu trabalho para criar um grande estúdio e aplicar no Brasil as técnicas de produção dos grandes estúdios de HQs.. Sobre Ronaldinho Gaúcho. irá se ganhar o reforço do Ronaldinho.html .48 tem razões comerciais. às exigências do mercado.). Por insistência de Walt. bastante engraçada. a metalinguagem usada nesses gibis e o narcisismo de Walt e Maurício de Sousa. que “traduzia” os balões por conta própria. Junior (2004. gostaríamos de registrar que nossa pesquisa foi realizada seguindo os assuntos propostos por Dorfman e Mattelart e que. na minha opinião. no entanto. a empresa mudou o nome para o atual. durante o estudo. ainda era uma língua desconhecida para ele.” . O último assunto fica evidente ao sabermos que o conglomerado Walt Disney começou com a associação de dois irmãos. surgiram outros tópicos que poderão ser abordados em futuras pesquisas. p. ele desconversa comentando que “nunca fui eu que quis isso.” Por fim. Foram sempre idéias dos artistas. quando o dramaturgo Nelson Rodrigues era tradutor de histórias em quadrinhos para O Globo Juvenil: “o inglês. Em entrevista para o site Universo HQ. Já na Turma da Mônica é freqüente a aparição de Maurício de Sousa nas histórias em quadrinhos. inventar alguma história baseada nos desenhos. Muitos dos gibis enviados para fora dos Estados Unidos eram apenas os desenhos em preto e branco. E mesmo as HQs que vinham com o texto não são uma segurança de que passem exatamente o que havia escrito no original.49 ela se baseia em comparações entre as histórias demonstradas na obra chilena e as mesmas publicadas no Brasil. muitas vezes inventando histórias a partir do que os desenhos lhe sugeriam. Cabia às editoras locais. que criaram a Disney Brothers. Entre eles a predominância do ponto de exclamação nos textos das histórias da Disney e da Turma da Mônica. 63) relata que. que fui deixando rolar e se tornaram uma vertente. FERREIRA. ECO. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Wizard. CEBOLINHA. Rio de Janeiro. CASCÃO. Vozes. pág. São Paulo: Marco Zero. Marc. A Guerra dos Gibis.cfm>. Ariel e MATTELART. São Paulo: Perspectiva. Histórias em Quadrinhos. CANINI. 2004. 1972. Anos Terríveis. Moacy. [Entrevista disponibilizada em 2001. São Paulo: Panini/Mauricio de Sousa. Umberto. 2 ed. CIRNE. Centro de Ciências Sociais e Humanas. 10.1999.universohq. 10. São Paulo: Companhia das Letras. outubro 2007. 2001. JUNIOR. CHRISTENSEN. n. Petrópolis. DORFMAN. outubro 2007. Santa Maria. Rio de Janeiro. Zilda Augusta. 3 edição. Monografia (graduação em Ciências Sociais) – Universidade Federal de Santa Maria.com/quadrinhos/entrevista_cannini. FILHO. Observando relógios moles que sonham à meia noite: propostas para a observação das variações nos conteúdos ideológicos das histórias em quadrinhos de super-heróis. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Armand. A Linguagem dos Quadrinhos: O Universo Estrutural de Ziraldo e Maurício de Sousa. Walt Disney: o príncipe sombrio de Hollywood. Para Ler os Quadrinhos: da narrativa cinematográfica à narrativa quadrinizada. Acesso em: 25 nov. Mark. 1980. CHICO BENTO. Apocalípticos e integrados. Renato. 1975. . a Internet]. Gonçalo. 1971 ELIOT. n. Vozes. 7 fev. 38-43 CIRNE. 2007. outubro 2007. Petrópolis. Disponível em: <http://www. Aurélio Buarque de Holanda. Moacy. Paz e Terra. n. São Paulo: Panini/Mauricio de Sousa. Para Ler o Pato Donald: Comunicação de Massa e Colonialismo. Vozes. William e SEIFERT.50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANSELMO. 1997. Luiz Aristeu dos Santos. 1995. São Paulo: Panini/Mauricio de Sousa. 1971. Petrópolis. 10. br/quadrinhos/2004/entrevista_don_rosa. n.universohq. SANTOS. 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Report "Monografia Ideologias Nos Quadrinhos Infantis - Paralelos Entre Os Universos Disney E Turma Da Mônicar"