Moesch

March 25, 2018 | Author: Rafael Pantarolo Vaz | Category: Science, Knowledge, Sociology, Tourism, Economics


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A origem do conhecimento, o lugar da experiência e da razão na gênese do conhecimento do Turismo Marutschka Moesch1Resumo: Este artigo discorre domínio material e conceitual do Turismo- tese, o objeto da ciência, através dos conhecimentos sistematizados por autores da área e por organismos oficiais de caráter mundial. Analisamos a fragilidade destas teorias de indução empírica, e a atitude positivista onde ocorre uma explícita subordinação do imaginário pela observação do fato. Reconstruímos a epistemologia interna estabelecendo uma crítica ao domínio conceitual- antítese, aos métodos e fundamentos utilizados no ensino do Turismo como um campo disciplinar: o empirismo, o funcionalismo, e o sistemismo. A nova síntese é permeada pelas regras analíticas da teorização enraizada,que nos leva a uma epistemologia derivada, onde a relação de sujeito/objeto reconstróise organicamente e de forma complexa, estabelecendo-se o domínio da psicogênese e sociogênese do conhecimento turístico, recuperando os valores humanos no discurso científico do Turismo. Palavras-chave: Epistemologia do turismo. Teoria da complexidade, Teorias do turismo. Introdução A implicação epistemológica para a construção de uma teoria do Turismo, sob uma concepção interdisciplinar, requer a superação de paradigmas fossilizados em muitos discursos acadêmicos, institucionais e profissionais. Revisitar as teorias do Turismo a partir das novas práticas sociais deste fenômeno não é compromisso exclusivo dos pesquisadores e educadores dos cursos da área, no Brasil: esta preocupação epistemológica deve recair, também, sobre consultores e políticos que atuam no setor, cujos discursos eufemísticos apontam números grandiosos, sem se ater ao papel dos SUJEITOS consumidores e produtores envolvidos e todas as implicações que este fenômeno complexo estabelece. O saber de Turismo não é linear. Não há evolução, mas “revolução”, progredindo por reformulações, por refusões em seu corpo teórico, por retificações de seus princípios básicos. É assim que ele marcha em direção a um saber sempre mais objetivável, jamais inteiramente objetivo. A Ciência não é uma leitura da experiência a partir do concreto. Fundamentalmente, consiste em produzir, com a ajuda de abstrações e de conceitos, o objeto a ser conhecido. Ela constrói o seu objeto próprio pela destruição dos objetos da percepção comum. Seu progresso não se faz por acumulações, ou seja, novas verdades que vem a justapor-se ou sobrepor-se às já estabelecidas. O Turismo nasceu e se desenvolveu com o capitalismo. A cada avanço capitalista, há um avanço do Turismo, e a cada crise do capitalismo ocorre novas refusões no turismo. A partir de 1960, Turismo explodiu como atividade de lazer, envolvendo milhões de pessoas e transformando-se em fenômeno econômico, com lugar garantido no mundo financeiro internacional. Um fenômeno que 1 Doutora em Comunicação e Turismo Universidade de São Paulo, pesquisadora e professora Mestrado em Turismo da UnB/DF. E-mail: [email protected] 1 pois as evidencias objetivas e os interesses sobre a produção do conhecimento se estabelecem na trilogia pesquisa. mas sim. Retomar historicamente os conceitos que expressaram o Turismo é colocar a crítica no contexto da produção social do conhecimento existente. conseqüentemente.progresso.) é uma conceituação simplificada. estudos de demandas. pois o objetivo é de uma elaboração teórica. dos 2 . reconhecido menos pela capacidade de o dominar e transformar”. pois estabelece as condições de objetividade dos conhecimentos científicos. Compreender é arriscar-se a uma linguagem elaborada sobre o sentido e a maneira pela qual os saberes turísticos se estruturam. Segundo SANTOS (2009) “o determinismo mecanicista é o horizonte certo de uma fo rma de conhecimento que se pretende utilitário e funcional. As relações do contexto histórico após segunda guerra mundial e o crescimento dos fluxos turísticos determinam o reducionismo em seu tratamento epistemológico. como instâncias do fenômeno social observado. A reflexão epistemológica impõe aos próprios pesquisadores os instrumentos de conhecimento dos quais as ciências dispõem. utilizamo-nos da teorização enraizada (grounded theory) . reflexão com vista a superar as crises revendo a pertinência dos conceitos.atinge esta expansão tem gerado análises. Os estudos passam então a ser recheados de índices estatísticos como: projeções de crescimento. diagnósticos para subsidiarem planos e projetos em nível macro e micro visando à diminuição das diferenças regionais. natureza teórica do conhecimento científico moderno. tanto no âmbito dos órgãos oficiais. Historicamente. que mesmo enraizada na realidade empírica não se constitui em sua descrição. Os casos empíricos aí observados não são considerados em si mesmos. está no tráfego das pessoas. as abordagens do turismo restringiram-se a perspectiva econômica. das teorias e dos métodos diante das problemáticas que são objeto de suas investigações.d. onde é possível observar e medir com “rigor”. de custo-benefício entre produção e consumo se reduzido às informações e sistemáticas sobre seu setor produtivo as quais são passíveis de regularidade em sua observação e análise. enfatizando o volume aparente de um fenômeno de dimensões qualitativas e quantitativas bem mais complexas e pouco analisadas.tecnologia. para identificar as estruturas e regularidades do fenômeno turístico. A própria definição da Organização Mundial do Turismo (s. a definição do conceito de turismo desde 1911. como dos setores produtivos e de algumas academias. estudos e pesquisas. estudos de viabilidade econômica de investimentos. Para este exercício ensaístico de caráter dialético e hermenêutico. O que implica em pesquisar em que condições eles foram produzidos e podem ser considerados válidos. deixando de ser uma preocupação secundária em termos teóricos. os fundamentos. até então utilizados. Ao buscar construir uma Epistemologia Social do Turismo almeja-se fundamentar um corpo de conhecimentos com entidade teórica particular. pois nem como disciplina o classifica. iniciando uma busca de sentido. O recorte desta investigação problematiza os limites no tratamento do objeto de conhecimento − o fenômeno turístico. esses ensaios não têm a preocupação de uma reflexão sobre os princípios. examina igualmente as relações que as ciências estabelecem entre as teorias e os fatos. Portanto o que vem a ser estruturante no fenômeno turístico? Considerar que só há interesse setorializado é decidir permanecer para sempre no domínio da linguagem restrita. com o modo de produção dos conhecimentos turísticos. A hipótese que move este estudo está sob a perspectiva de que o não rompimento epistemológico destes autores pré-paradigmáticos imobilizou o entendimento da complexidade do objeto estudado. demarcados pela verificação estatística. O que remete a uma ruptura epistemológica com os autores préparadigmáticos no entendimento sobre a utilidade de uma ciência do Turismo. Pelo contrário. A base desta investigação está na busca do sentido do que é o fenômeno turístico. buscando a construção de um conhecimento turístico interdisciplinar abarcando sua complexidade. objeto construído. o principal nódulo das divergências sobre o Turismo como ciência. impõe uma ruptura epistemológica. Os primeiros ensaios teóricos no campo do Turismo visam romper com os pressupostos empiristas. a partir de um conceito de ciência empírica sob a perspectiva da simplicidade e da regulação. Banhados pelo pós-positivismo e pela lógica kantiana. Pois. pois há enorme divergência na compreensão do que venha a ser seu objeto científico. 3 . Alçamo-nos da sociologia compreensiva de Michel Maffesoli e da teoria da complexidade de Edgar Morin.modos de observação e de experimentação. dentro da complexidade de suas relações práticas. de um lado. a validade da ciência turística. A incompletude das teorias do Turismo propostas mobilizou esta pesquisa na direção de uma Epistemologia Social do Turismo. não é adequadamente tratado sob o olhar especializado disciplinar. e pelo determinismo econômico. até então. O que requer profundos questionamentos sobre sua episteme. aceitar a totalidade da existência do objeto é abrir-se a uma pesquisa e a um debate em uma linguagem elaborada. quanto mais esforços epistemológicos empreendem para verificar a possibilidade de o Turismo vir ser uma ciência. mas ser um meio para se atingir o fim cognitivo. sustentáveis e conseqüentemente humanas. numa lógica da descoberta quanto numa lógica da prova. propõem-se como disciplina de indagação e de questionamento sobre a maneira como se deve conhecer o objeto. no estudo particular − o Turismo − por um lado. portanto requer uma ruptura epistemológica nas concepções deterministas até então consagradas. na esperança de que isto contribua para tornar as práticas sociais. Arriscar-se a uma linguagem elaborada sobre a lógica do Turismo no seu sentido mais amplo é uma das etapas do construto de uma episteme. O objetivo de uma ruptura epistemológica não é de dar uma série de respostas. mais responsáveis. já que esta não deve ter um fim em si mesmo. Sobre o lugar de uma epistemologia social do turismo A epistemologia social do Turismo assim concebida situa-se. de imediato. quando se trata de códigos restritos. pois devemos superar os discursos institucionais e acadêmicos fossilizados. O método necessário a este projeto deve apreender a ciência como um processo vivo e não como produto seqüencial.1. nos quais o objeto do Turismo nem sequer tem consistência para ser uma disciplina. da intuição à apreensão intelectual. Partindo que a prática científica não se reduz a uma seqüência de operações. o termo "lógica" recobre o estudo da maneira pela qual os saberes humanos se estruturam. de procedimentos necessários e imutáveis. e a construção e reconstrução do processo de conhecimento. pois a forma é formadora! Dentro do campo paradigmático da teoria da complexidade o modelo é uma construção metodológica que se operacionaliza em dois momentos o da construção e reconstrução da estrutura do objeto. os mesmos permaneceram na axiomatização ultrapassa a conceitualização que vai da imagem concreta ao conceito abstrato. Dentro da perspectiva de FOUREZ (1997). mas de fornecer outros métodos de pensamento que não os das ciências naturais. portanto. e as "pesquisas" assim apreendidas freqüentemente em pequenos estudos estatísticos sobre os mais insignificantes assuntos. O modo de produção do conhecimento interessalhe tanto quanto seus procedimentos de validação. Entende-se ser esta propositura sobre a forma do fenômeno turístico o que não permitiu avançar em sua episte. assim para buscarmos uma ciência do Turismo devemos ir muito alem da construção de uma metodologia. o que é um desafio. Ao não aliar sujeito-objeto em seus estudos. a exemplo das analises dos autores da área epistemológica do Turismo e suas reproduções bibliográficas que tem uma formação extremamente aprimorada. e formação alguma quanto à utilização das tradições relativas ao código elaborado. implica pesquisar 4 . o que faz da metodologia científica uma simples tecnologia. de protocolos codificados. Muitos vivem sem jamais deixar o nível do código restrito. Ignorá-lo é nos tornar cegos. antes de tudo.em que condições eles podem ser considerados como válidos. na qual a parte está no todo e o todo está na parte. dominando os anteriores. exceto os seus próprios pressupostos. segundo a qual os números estatísticos do Turismo constroem uma motivação comportamental. ou seja. numa recursão organizacional. surdos. simultaneamente. no fundo. ser um método crítico. uma vez que. é preciso aprender. sem absolutizar um novo discurso. e nos conhecermos conhecendo. Temos necessidade de nos pensarmos pensando. refúgio do estudo do Turismo numa lógica identitária. São duas fases indissociáveis do processo do conhecimento. produzida e produtora. unicamente por que não conseguem usar os instrumentos de medida. sem dúvida é porque já entrou na menopausa epistemológica. Uma pesquisa epistemológica do Turismo tem significação apenas para aqueles a quem a história e as decisões humanas colocam uma questão sem querer impor esta questão a todos. como o tratamento dado pela Organização Mundial do Turismo (OMT) quanto à cientificidade do Turismo. dos truques da profissão. condenam sua ciência à esterilidade epistemológica. Construir uma teoria que dê conta das práticas turísticas deve ser uma conquista interdisciplinar. que em grego. das técnicas. a exemplo de TRIBE (1997). significa "a ciência do saber". pensar. E quando os conhecimentos do Turismo se deixam subjugar pelos aparelhos administrativos e organizacionais das instituições e do Estado. insensíveis. Um método crítico que critique tudo. Aqueles que se recusam a tratar de problemas importantes e interessantes. que considera a maneira pela qual os saberes se organizam. Esse domínio corresponde ao que se chamou por vezes também como filosofia da ciência. a saber. Saber pensar significa indissociavelmente saber pensar o pensamento. ou as contínuas preocupações dos órgãos públicos em medir por indicadores exógenos os processos complexos de implantação se suas políticas públicas. Para MORIN (2000) o problema do método é ligar a crítica à autocrítica. em que a cada momento é. Evidentemente aqui não é negada a importância dos instrumentos de medida das Ciências Humanas. qualquer método que mereça esse nome deve. o que impõem a necessidade histórica de superá-lo como modelo explicativo. para os fatores em jogo. a saber. Para além dos métodos. O princípio de identidade é o sustentáculo da razão imperial. 5 . A Ciência do Turismo não teria história sem o Turismo entendido como atividade industrial sem seu reducionismo determinista como indústria. ver e. O que parece contestável é a pretensão de se conhecer os fenômenos apenas pelos instrumentos metodológicos. sem olfato e sem paladar. quer dizer o seu próprio sistema de confiança e de racionalização. a epistemologia. das receitas. como se eles constituíssem o único meio que essas disciplinas possuem para o ingresso na cientificidade e a eliminação da subjetividade. mas a nebulosa demarcação do elemento industrializado nos chamados recursos que fornecem as experiências. a do Turismo. determinarão o conteúdo e o método da mesma. se não para determinar suas causas. que a indústria do Turismo não é um setor único identificável da economia. como demarcar as fronteiras da Ciência do Turismo? Sobre este ponto são as posições epistemológicas que. do ponto de vista histórico e metodológico. assim várias publicações afirmam que há uma indústria do Turismo. o tempo e o espaço. Diversos argumentos e estruturas relacionados à epistemologia do Turismo foram propostos. em sua construção. As doutrinas. Uma historiografia evolutiva das grandes descobertas científicas não é o suficiente para o construto de uma epistemologia. ainda se conflitam. mas sim para determinar as estruturas reais de sua produção. o estudo das condições sociais e econômicas. históricas e ideológicas das ciências. embora não deva se reduzir a nenhuma dessas dimensões. rejeitada a idéia de que o estudo do Turismo com autonomia 6 . administrativo e governamental. mas múltiplas indústrias estão envolvidas. Clara abordagem econômica. ainda não foi produzida uma definição única de indústria do Turismo que tenha conseguido reconhecimento geral. ela consiste em uma releitura do mundo utilizando o modelo que se colocou. na tentativa de análise do envolvimento econômico. Ao construir um fato observável − o Turismo. A primeira posição considera que o Turismo é uma indústria. Cabe a essa epistemologia integrar. de caráter empírico. que uma indústria no sentido literal do termo nunca se materializou. como de resto a maioria das "provas" que encontramos nos manuais científicos. Aqui entendido na forma kantiana como o mundo como nós o experimentamos. colocando-os como recursos de uso mercantil. O Turismo como indústria é a manifestação da técnica que domina a natureza. a natureza enquanto algo que deve ser dominado pela humanidade. analisar a produção empírica de um saber turístico não abarca a totalidade de um projeto de "explicação" cujo objeto não é a sucessão dos conhecimentos científicos sobre o Turismo. concentrando-se principalmente sobre o debate da disciplina-domínio. o construtor de teorias deve saber aplicar a teoria das categorias. que fundamentam a teoria que se quer elaborar. outras. colocamo -nos à prova da observação. Nessa posição fica claro a similaridade quanto à humanização da natureza. Se toda a ciência funciona num setor cuja definição assegura a pertinência de suas proposições. Ademais a teoria geral do conhecimento. Por outro lado. A segunda posição defende o Turismo como um fenômeno. neste caso.A epistemologia proporciona os pressupostos gerais em que se apoiara a criação de uma teoria particular. Assim. com o propósito de que esta seja consistente com os pressupostos de seu desenvolvimento. serviços e felicidades para a formulação de um sistema de Turismo separa a sua parte industrial e não industrial. está também sobre a dependência dos preconceitos. cultura). em que o protagonista é o sujeito. pois. mas não é o real. O real do Turismo é uma amálgama na qual tempo.epistemológica. imprimem às nossas ações e percursos que são característicos tanto dos obsessivos como dos cientistas. Existe. estados mentais. dos perversos como dos artistas. do orgânico ou do físico. p. imaginário. o país. das recordações ou dos fatos de uma viagem. Pode tratar-se de uma paisagem ou de um grupo de turistas. é um caso raro. ficam esclerosadas e transformam-se”. Considera o objeto da ciência do Turismo como algo produzido na história humana. O objeto encontra-se num ambiente investigado por um sujeito. Quanto mais é desenvolvida a inteligência geral. devendo ser compreendido quando estudado na sua processualidade. Não se nega a 7 . Existe uma relação entre objeto e o sujeito que não é apenas explicativa pelo método. É por isso que a realidade é incrivelmente diferente segundo as épocas e as culturas. E o que há para conhecer só o pode ser sob forma de uma representação. religião. de saber. o meio. inclusive as condições culturais e sociais. não o fato científico em si mesmo. ou seja. maior é a sua capacidade de tratar os problemas especiais. das crenças. ver em que meio nascem levantam problemas. 115) “é preciso ecologizar as disciplinas. economia. Trata-se de uma representação do mundo exterior orientada para certo fim. Daí esse objeto que é apreendido por diversas vias (simbólico e imaginário) e que nunca se torna real. Bastará dizê-lo e descobrir verdadeiramente? Tudo depende: se o real é dado imediatamente e não por processo complexo de mediação. união da poesis e do pragmatismo. do imaginário ou do social. tecnologia. das ideologias. seja como produtor ou consumidor da prática social turística. diversão e ideologia são partes de um fenômeno pós-moderno. isso é. Porém. A terceira posição privilegia o objeto da ciência do Turismo. ele próprio existente num ambiente particular (a família. de um resort ou de museu. o conhecimento do real revela-se realizável à primeira vista. Segundo MORIN (2000. mas uma realidade é o fruto de um conhecimento. espaço. comunicação. Daí a segunda vertente da primeira distinção relativa aos níveis de conhecimento. Todo mundo exterior representa aquilo que se designa comumente por uma única palavra: o real. de uma praia ou de um luau. etc. levar em conta o que lhes é contextual. E essa representação está sobre influência de questões ou de hipóteses erguidas pela ciência. A realidade é sempre a nossa representação do mundo exterior. dos mitos. algo de conhecido. ao mesmo tempo em que depende de uma cultura singular. a língua. o que LACAN define como sendo realidade. portanto de forma dialética e interdisciplinar. diversão. de conceitualização do mundo exterior que é pessoal. O objeto já não é algo apreensível e definível por si só. Segundo ARGUELLO (1994). O terceiro conjunto aborda a epistemologia interna da ciência. o humanismo e o Turismo como expressão da paz entre 8 . contrapondo-se à concepção histórica sobre sistemas fechados. Legislação Turística.contingência material do Turismo em sua expressão econômica. assim entendido. cultural e tecnologicamente construídos. Geografia Turística. pela intencionalidade. Lazer e Animação. orgânico. fundamental para a compreensão do fenômeno turístico como prática social. Pesquisa Turística. Trata-se de teorias que fazem críticas ao domínio conceitual. Utilizando a classificação de PIAGET (1983) sobre os quatro conjuntos de problemas relativos às ciências em geral propõem-se um percurso de construção metodológica para a epistemologia do Turismo. A interação seria mais do que buscar as ciências isoladamente. na teoria. todas as partes do sistema interagem. na busca do elo perdido entre prosa e poesia. elaborados por essa ciência sobre o seu ou os seus objetos. complexo. Economia Turística. os problemas dos fundamentos. Hospitalidade. isto é. mas ela ocorre historicamente. a serem irrigados com o desejo de um sujeito biológico: sujeito objetivado. a exemplo: teorias compensatórias funcionalistas do Turismo. Gerenciamento de Organizações de Turismo. imaginários e necessidade de diversão. se transformará paulatinamente na prática de uma teoria. Desenvolvimento e Planejamento Turístico. Turismo Rural. Esta hiperespecialização impede de ver o global — o sistema turístico — (que ela fragmenta em parcelas). por ser humana. com o conjunto dos objetos sobre os quais ela incide. É na unidade da dialética fundamental entre a teoria e a prática que nasce a epistemologia social. conteúdo material do objeto. O sistema turístico.o sujeito turístico — (que ela dilui). Em Turismo se deveria integrar o sujeito (turista e seus fluxos). a qual. Assim a teoria adquire uma estrutura efetiva de prática material. e subjetivado em ideologias. o complexo. Trata-se aqui das abordagens disciplinares do Turismo: Marketing Turístico. a sociedade/ comunidade (encontro turístico) e o espaço turístico onde ocorrem os fixos como objetos de estudo. quer dizer. Comunicação Turística. O problema turístico deve ser estudado em sistemas. Turismo Ecológico. Tratar-se-ia de estudar o fenômeno turístico segundo os sistemas em que ele se insere e se constitui numa complexa trama de elementos e interações. em espaços e tempos diferenciados. A Epistemologia Social do Turismo é a teoria de uma prática. entre outros. bem como o essencial. O retalhamento das disciplinas torna impossível apreender “o que é tecido junto”. O segundo conjunto diz respeito ao problema das teorias quer dizer o conjunto de conceitualizações ou de conhecimentos sistematizados. ou seja. ao mesmo tempo em que a prática está. O primeiro conjunto é identificado como domínio material de uma ciência. é um sistema aberto. sendo possível desenvolver teorias a partir das suas interações. calculista e calculador: e as disciplinas humanas seriam científicas. estaria substituído por um olhar frio. objetivo. o objeto a ser conhecido. Sujeito. O quarto conjunto trata do problema do sujeito e do objeto no conhecimento constituído. com a ajuda de abstrações e de conceitos. Ideologia. ao partirmos da concepção metodológica de que o objeto não pode dissociar-se do sujeito. chegando mesmo a estabelecer-se entre eles uma dialética complexa. A instauração da Ciência do Turismo na ordem da objetividade não pode reduzir-se a um puro conhecimento dos dados. por refusões em seu corpo teórico. Torna-se imprescindível uma decisão de ordem metodológica. A Ciência não é uma leitura da experiência a partir do concreto. rompendo ao olhar de narciso. Na Ciência sob o paradigma da complexidade não há evolução. O recorte conceitual proposto em trabalho anterior. Ela constrói o seu objeto próprio pela destruição dos objetos da percepção comum. as teorias da alienação e o Turismo como objeto de consumo massivo. Imaginário e PósModernidade. ou seja. É nessa direção que as teorias do Turismo não avançam.os povos. É assim que ela marcha em direção a um saber sempre mais objetivável. mercadológica) das evidências sobre o saber turístico. Espaço. do papel do sujeito no conhecimento. Diversão. os objetos das disciplinas humanas teriam ingressado no domínio dos fatos. contrapomo-nos a continuar a pesquisar o Turismo como objeto disciplinar. Apresenta-se a dificuldade em definir de uma maneira simples o objeto da ciência do Turismo. Fundamentalmente. É o conjunto das relações entre o sujeito e o objeto. Trata-se de ver como a constituição da ciência do Turismo tornou-se possível. Ao escaparem à ordem dos valores e das significações. a formulação teórica do seu objeto e sua explicitação conceitual. por exigências de rigor metodológico. e a concepção sistêmica do Turismo. mas “revolução”. marca um posicionamento intelectual de resistência à submissão da realidade filistina (econômica. novas verdades vindas a justapor-se ou sobrepor-se às já estabelecidas. através da reconstrução das categorias Economia. escrupuloso. progredindo por reformulações. Comunicação. e expressos numa linguagem o quanto possível formalizada. consiste em produzir. Tempo. arrastando o pensamento do Turismo sobre ele mesmo. analisados segundo os procedimentos da verificação experimental. revela o domínio da epistemologia derivada da ciência. Pois. O saber de Turismo não é linear seu progresso não se faz por acumulações. jamais inteiramente objetivo. por retificações de seus princípios básicos. Tecnologia. porque a idéia do conhecimento objetivo inclui o reconhecimento do caráter ilusório da experiência imediata e vivida. que fascinado por sua própria beleza. 9 . como resposta pessoal aos apelos da transcendência humana. O ato de receber um visitante é enraizado no código da tradição. objeto de investigação mal definido. porque pretende figurar no processo histórico. A amplitude do objeto desafia o entendimento humano. Em síntese qual é a dificuldade a resolver? O que está para ser desvelado sobre o objeto de conhecimento do Turismo? A razão da não construção de uma teoria do Turismo está na má compreensão do domínio do objeto turístico. O estudo do Turismo assume então um estatuto ontológico. ou melhor. O ser humano é movimento. o que é mais íntimo. presença. desde o termo Turismo de raiz cartesiana e empirista. e conseqüente assimilação insuficiente dos conhecimentos adquiridos. simultaneamente. Tampouco o conceito de hospitalidade cai do céu: é uma construção ligada a uma cultura determinada historicamente. Trata-se do ponto de partida do ato completo do pensamento. Está em nós e interage conosco. comunicação. nomadismo que se faz representar historicamente pelo tipo de deslocamento. sociais. até a estrutura na qual a dialética e as complexidade predomina é necessário fazermos um corte epistemológico. oferecendo-lhe o que é mais precioso. esse objeto que. é exterior a nós. Encontra seu dinamismo enraizado numa experiência ontológica do nomadismo e anseio de superação. é necessário venerar o viajor errante. ou seja. Para a construção de uma epistemologia social do Turismo assumir um estatuto ontológico porque pretende figurar no processo histórico. que tenha em conta o sujeito e o encontro. (de raiz cartesiana e empirista). está na intencionalidade dos pesquisadores em indagar. O Turismo como uma "ciência social" tem condições de auto justificar-se cientificamente a partir de uma teorização própria. deslocamento que se expressa determinado pelas condições econômicas. desde a atividade econômica/industrial. na intencionalidade para o deslocamento. suporta mal o isolamento do sujeito em relação ao seu objeto. A mulher e o homem são sujeitos nômades. portanto. O conceito de "Turismo" não é dado de uma vez por todas. O Turismo é uma prática social da vida humana. se reconhece a primazia do intencional e do sentido sobre o meramente econômico e produtivo. no ir e vir. A falta de reflexão sobre o que desvelar. No código da hospitalidade.O turismo não é algo dado. o sujeito na sua totalidade. até a Ciência do Turismo. nas quais a dialética e a complexidade predominam e. Encontra-se ligado às culturas. tecnológicas e 10 . preparada para o chamamento mais radical (que exige uma opção fundamental) que nos orienta para a superação de sua determinação como coisa econômica apenas. Uma historiografia não abarca a totalidade de um projeto de "explicação" cujo objeto não é a sucessão dos conhecimentos científicos sobre o Turismo. o nômade pósmoderno − o turista. ou reencontrar a natureza. motivado pelo imaginário arcaico de reviver o passado. em si. em sua forma sistêmica na ordem da compensação diante das diferenças do desenvolvimento regional. embora não deva se reduzir a nenhuma dessas dimensões. históricas e ideológicas das ciências. Formas matriciais. produção e transformação dos conhecimentos científicos e bem assim as condições institucionais que as tornam possíveis.ideológicas de cada tempo histórico. como uma forma de lazer em movimento. através do deslocamento autônomo. Deslocamento de superação criativa e humanizadora. assim. ou mesmo reencontra-se em sua humanidade. ou seja. com e para as ciências. A busca de estruturas mutáveis no fenômeno turístico permite em sua epistemologia histórica ver ressurgir sempre e outra vez renovadas. como um direito ao descanso do trabalho. uma epistemologia ao jeito da arqueologia foucaultiana. assim. ao lado da via régia da razão. ou de práticas rotineiras e impactadoras. Num ponto ou noutro. cabe a essa epistemologia integrar. emergindo sob nossos olhos. A epistemologia é a filosofia de. que estuda a emergência. complexa. Esta mudança de paradigma propõe um corte epistemológico: de uma atividade econômica o Turismo passa para uma prática social. funcionalista. O nomadismo é totalmente antiético em relação à forma de estado moderno. pois se constrói como experiência nômade da pós-modernidade. pura. pois ambas baseiam-se na parte econômica da totalidade de seu objeto. coisas arquivelhas. o encontro. recheado de contradições como requer um fenômeno das ciências sociais. Para determinar as "leis" reais de sua produção. em sua construção o estudo das condições sociais econômicas. A história nos mostra que a domesticação está na passagem do nomadismo ao sedentarismo. onde. mas criadora acima de tudo de fluxos e encontros. Uma ciência social. tendo como objeto próprio inaudível o nomadismo. aflora outra disciplina. devemos reconhecer que nenhuma disciplina em Ciências Humanas é. Por conseguinte. o deslocamento. que determinará suas causas de existência. como nos incita MAFFESOLI (1994). no estudo atual. que só com uma nova sensibilidade teórica. Mesmo que se faça. rompe as fronteiras desses estados políticos e tecnocráticos. temos que romper o caráter apenas utilitário. em. desde. existe um mundo da paixão. Cada vez que uma observação não concorda 11 . A produção do conhecimento turístico tem o caráter socialmente determinado. arquétipos. ou. explicitador de novas estruturas brotadas do cotidiano. uma história dos discursos que privilegiam sempre uma história conceitual. O Turismo pode ser percebido e estudado como ciência autônoma. em uma história humana e em um mundo em permanente transformação. portanto nenhum subsistema assim identificado. O trabalho do investigador se inscreve nos esquema de ação do sujeito. complementaridade. No sistema turístico. Estão organizados em função de um tecido de sustentação que serve de sustentação das diversas estruturas do sistema. comanda por um momento a suspensão de qualquer juízo. O Turismo mesmo é um fenômeno perceptível e cognoscente. dando. da experiência. os subsistemas não estão dispostos ao acaso. É importante observarmos que já há registro das preocupações sobre a sistematicidade de uma Teoria do Turismo (o esforço de dar conta do tema amplamente). no doutrinarismo. inserimo-nos em algo maior. A formulação de um problema tem a sua origem no trabalho do investigador. como em toda a organização viva. social e econômico) pode ser apreendido senão em sua totalidade e de forma orgânica. mas pouca é a ação investigativa que gere a sua objetivação (esforço de tratar a realidade assim como ela é. modificar as regras de interpretação da observação e descrever diferentemente o que vemos. segundo o pensamento complexo de MORIN (2001). essa é para MORIN (2001) a patologia contemporânea do saber. e até mesmo. A patologia moderna do espírito está na hipersimplificação que a torna cega perante a complexidade do real. da cultura de cada um. sobre o real 12 . transformador (e re-criador) das situações objetivas. gênese ao seu objeto sob novas concepções. que não pode ser explicado por nenhuma lei simples e. no idealismo. determinação e recursividade. do saber acumulado bem como da observação. ambiental. Um pensamento mutilador conduz necessariamente a ações mutiladoras. não observamos simplesmente o que queremos ver. compromisso metodológico de dar conta da realidade) propriamente dita. é sempre possível. é rompermos com a simplicidade na forma de pensar o objeto do Turismo. e na racionalização que encerra o real num sistema de idéias coerente. pode constituir-se num fator ativo. em suas relações de completude. precede as tentativas de solução deste. A exemplo é uma constatação banal que tem conseqüências não banais: o sistema turístico é mais que a soma das partes – seus subsistemas − que o constituem. Um todo é mais que a soma das partes que o constituem. Ora estes não estão independentes do meio. A segunda etapa diz respeito à definição da dificuldade que pressupõe um controle do problema. seja. mesmo que estes conhecimentos simples nos ajudem a conhecer as propriedades do conjunto. mais do que modificar a teoria. assim. de uma unidade sintética em que cada parte contribui ao conjunto. a exemplo do SISTUR de BENI (1998) (cultural.com uma teoria. ou. A primeira etapa da complexidade proposta na construção da epistemologia social do Turismo. mas parcial e unilateral. Em suma. Assim um dado objetivo da realidade histórico-social do Turismo. o imaginário ou outras categorias que lhe forem pertinentes. Trata-se de uma segunda fonte de conhecimentos. evitando a contradição performativa. que permite pensar os problemas do deslocamento – nomadismo e do sedentarismo . percorrido de forma nodal pela comunicação e pela informação. vamos estruturando em torno de um sistema próprio. sua prática social. quer dizer dos conhecimentos adquiridos e elaborados ao longo dos séculos. Os inúmeros estudos sobre o Turismo não atingiram os objetivos previsíveis. relaciona-se com a explicação sugerida. Não se trata de jogar fora o paradigma cartesiano. porque esta etapa decisiva na investigação foi escamoteada ou simplesmente negligenciada. Com base em noções vagas relativas ao deslocamento humano. mas refletir sobre outras contribuições em nossas práticas de conhecimento sobre o turismo. determinado pelo tempo e espaço. Talvez esta hipótese explique porque somente a partir da segunda metade dos anos 1970 é que serão considerados os estudos particulares do Turismo. conjugando objeto. Uma disciplina científica nasce como uma nova maneira de considerar o mundo e essa nova 13 .interesse de uma discutibilidade (propriedade da coerência no questionamento. conjugando a crítica e autocrítica) sobre o tema no meio acadêmico. exige uma nova práxis. A ausência da identificação clara e não ambígua do problema é um dos erros mais freqüentes na redação de relatórios de investigação. Os defensores da objetividade sentir-se-ão incomodados com esta perspectiva. em que se ativeram principalmente dando nascimento à disciplina do Turismo. constituindo um salto no desconhecido. A terceira etapa do ato de reflexão. de uma epistemologia. Está mesmo na base de da acumulação do saber. método e a prática histórica.o encontro entre visitantes e visitados. O que requer novos questionamentos e não a manutenção nos discursos prescritivos. com uma nova referência. criando uma tecnologia intelectual. Sentimos que está aqui o grande desafio do ensino e da pesquisa em Turismo. nos fluxos e fixos da hospitalidade. teoria. ao imaginário do sujeito turístico. mas levanta um problema para quem queira ver e evitar o amadorismo científico ou a falsa representação científica diante de uma neutralidade impossível e uma objetivização sempre desafiadora. o espaço e o tempo. mas ela faz parte do processo de conhecimento e situa-se no ponto de partida de uma investigação. Estes conhecimentos que se impõem alimentam a nossas possibilidades de investigação. A minha opinião não constitui uma prova. Como avançarmos na sua compreensão relacionando as diferentes partes de sua constituição em um todo orgânico? A realidade deste fenômeno. um novo saber-fazer. O Turismo bem da verdade (e todas as disciplinas fazem o mesmo) irá definir o que são para ele o nomadismo e o sedentarismo. a ordem/organização com a desordem. e realiza sua autoprodução. Está presente aí uma maneira de "reestruturar" o objeto de conhecimento turístico. O sistema não é uma qualidade intrínseca da coisa em si. ao mesmo tempo realiza a auto-eco-organização e a sua auto-eco-produção. na revolução de uma disciplina. Materializamos o desejo de estarmos no mundo deslocando-nos. 2. (2001) por ser complexo. econômicas e sociais de uma época. p. sujeito (observador) e objeto (sistema observado). do mesmo modo. numa concepção cartesiana o Turismo é dividido em três campos de entendimento a partir de sua definição. Conforme MORIN (2001) o princípio da auto-eco-organização tem valor hologramático. o ecossistema. Há momentos em que a evidência de um "paradigma científico" é colocada em questão. está presente em nosso espírito. 199. articulando organicamente e recursivamente o uno e múltiplo. assim como a qualidade da imagem hologramática está ligada ao fato de que cada ponto possui a quase totalidade de informação do todo. Caminhando para uma conclusão provisória Tradicionalmente. Dentro do sistema turístico aberto e orgânico. como diz HEIDEGGER (1958 apud HAMBURGER. pois nos permite a alteralidade. isto só será possível após termos escolhido um ponto de vista preciso para descrever o Turismo. a energia. uma disciplina científica não é definida pelo objeto que ela estuda. ele é construído por ela. a viagem permite experienciar o conhecimento da parte do cosmo. portanto antes da existência da própria disciplina. senão uma atitude ou apreciação de cada um sobre o objeto de estudo. nos obriga a unir noções que se excluem no âmbito do princípio da simplificação/redução. Em outros termos. técnicas e holísticas. na forma de um holograma. que são segundo LEIPER (1979) definições econômicas. de certa maneira o todo é o todo que nós somos parte.1998): “a ciência não atinge mais do que aquilo que seu próprio modo de representação já admitiu anteriormente como objeto possível para si". se auto-organiza. os fatores psicossomáticos e os fatores ambientais ganham um espaço cada vez maior. Ou. o todo e as partes. é preciso encontrar uma definição do que é o Turismo. O sistema turístico como sistema vivo. O objeto de uma disciplina não existe. Hoje. o paradigma-sistema de MORIN. que 14 . Na construção do objeto da ciência do Turismo. mas pelo que ela determina. É. ele mesmo. integrado a um sistema eco-organizador. pois ele está envolvido em um ambiente externo que se encontra.maneira se estrutura em ressonância com as condições culturais. Para construir uma "ciência do Turismo". que esse objeto pode variar. uma eco-organização de nossa posição hologramática. ou seja. coberto de subjetividades. a destruição ambiental e sua preservação. paradoxalmente. Considerar que só há interesse setorializado é decidir permanecer para sempre no domínio da linguagem restrita.propicia a sua dinâmica é humana. advindos de um entendimento complexo sobre uma prática social que se dissemina de forma diferenciada. explicitadores de uma estética diante da busca do prazer. utilizando a categoria de MAFFESOLI (2001). Avançar sobre o saber-fazer direciona uma nova agenda para os estudos turísticos. assim como o sedentarismo. para uma melhor atuação dos profissionais e comunidades receptoras. que pressupõem o deslocamento do(s) sujeito(s). em temas como a motivação. a espaços cada vez mais unos. o qual denominaremos de nomadismo pós-moderno. as necessidades. a hospitalidade e a inospitalidade. aceitar a questão global da existência é abrir-se a uma pesquisa e a um debate em uma linguagem elaborada. Pelo contrário. A conjugação dos tempos vivenciais diferenciados. também é pura relação humana. as territorializações e a desterritorialização. em um mundo que se globaliza. A crise no estatuto do saber científico. a globalização e a turistificação. a comunicação intercultural e a hibridização cultural. o impacto cultural e social. para aprofundar as causas que gestaram um fazer-saber no Turismo. a homogeneização e a diversidade. Uma epistemologia do Turismo envolve cuidados teóricos. abre um espaço analítico qualificado. as diferenças suportáveis. em praias massificadas ou em bucólicos recantos rurais. Se almejarmos novas práticas turísticas sustentáveis necessitamos uma nova práxis turística. favorecendo a convivência física entre as pessoas e a vivência com intensidade das inter-relações. que é o momento do encontro. causada pela era pós-moderna. sendo a energia que permite a dinâmica do sistema turístico orgânico de forma hologramática. o prazer. os localismo e regionalismos. se desejamos uma nova estática para o Turismo em nossas localidades necessitamos uma nova ética nas relações estabelecidas entre os que recebem e os que querem ser recebidos. possibilitador de afastamentos simbólicos do cotidiano. a aprendizagem. portanto. para nossa construção teórica é o deslocamento-encontro. requer novas reflexões e teorias explicativas. Assim. em tempos e espaços produzidos de forma objetiva.Pois o Turismo é um campo de práticas histórico-sociais. a construção de não-lugares e os ecoslugar. assim denso de invariantes conceituais permitindo um movimento axiomático. o tempo atemporal e o espaço virtual. na base de 15 . as trocas culturais. a partir de subjetividades infinitamente diversas e de vivências múltiplas dos sujeitos que as praticam. iniciando uma busca de sentido. juntamente aos demais temas da pesquisa acadêmica contemporânea. a cidadania e o terrorismo o que permite uma posição de relevância. Já o imaginário é o desejo projetivo que impulsiona este deslocamento. senão um saber-fazer. H.1997. Espanha: Gedisa. 47. MAFFESOLI. tipicamente metodológica.Mário Carlos. Edgar. RJ.d. A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética das ciências.Petrópolis:Vozes. Michel. Ao trabalhar a questão epistemológica interdisciplinar. Rio de Janeiro: Forense.Boaventura de Sousa dos. 1997. Sabedoria e Ilusões de filosofia. 5. Metodologia científica em ciências sociais. v. Porto Alegre: Sulina. 1997.Verdade e Método.1994 BENI. FOUREZ.]. p. HAMBURGER. 2001 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE TURISMO (OMT). Gerard. São Paulo: Atlas. The indiscipline of Tourism. 1979. o que vem a ser uma virtude. Rio de Janeiro: Record. seria possível abrir mais opções de foco. do conhecimento dialético diante da análise da realidade turística. ______. Madrid. 6. A epistemologia genética. o que defendo por representar a minha postura ideológica em relação ao projeto de investigação. 638-657. a busca do sentido. n. 390-407. Anuario de estadísticas del turismo. 2001. Pedro. Great Britain Pergamon. no conjunto em que estiver inscrita. O saber turístico é e será objeto de desconstrução. ______. The framework of tourism towards a definition of tourism. PIAGET. O conhecimento pertinente é aquele capaz de situar qualquer informação em seu contexto e. ed. 2009 TRIBE.nossa investigação. Criar uma ciência do Turismo significa buscar dar conta da complexa multiplicidade do que é humano. MOESCH. Filosofias e Ciências Hoje. Annals of tourism research . LEIPER.G. Carlos. MORIN. para o trabalho sindical. and the tourist industry . Jean. O estudo do Turismo requer um questionamento sistemático de tudo que existe. Introducción al pensamiento complejo. Adriano (org). numa recursão organizacional. 1983. Marutschka Martini. Contribuições da Interdisciplinaridade para a ciência. e do que se quer fazer. 16 . São Paulo: Universidade Estadual Paulista. simultaneamente. 1988. Problemas de Psicologia genética. produzido e produtor. e o todo está na parte (DEMO: 1995). 1998. Referencias ARGUELLO. Ed.1998. em que a parte está no todo. A produção do saber turístico. Annals of Tourism Research. 2001. Vozes. Construir uma teoria que dê conta das práticas turísticas. O método três. Sobre o nomadismo: vagabundagens pós-modernas. Lisboa: Fragmentos. Neil. O tempo das tribos – o declínio do individualismo nas sociedades de massa. São Paulo: Contexto. deve ser uma conquista interdisciplinar. São Paulo: SENAC. in Nogueira. 4. Análise estrutural do turismo. John. SANTOS. DEMO. do fazersaber turístico. O conhecimento do conhecimento. turist. Great Britain: Pergamon. em que cada momento é. p. 1999. 24. está à segunda escolha. São Paulo: Abril Cultural. GADAMER. Petrópolis. Rio de Janeiro: Bertrand. contextualizando e englobando. ______.São Paulo: Cortez. v. para a educação. 1995. [s. Ciência com consciência. Um discurso sobre as ciências. 1. se possível. Jean. 2002. v.
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