Módulo.2

March 31, 2018 | Author: Paulo Poft | Category: Greek Mythology, Prometheus, Athena, Philosophical Science, Science


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Módulo II ­ MitoUm mito[5] é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder etc.). A  palavra  mito  vem  do  grego,  mythos,  e  deriva  de  dois  verbos:  do  verbo  mytheyo  (contar,  narrar,  falar  alguma  coisa  para  outros)  e  do  verbo  mytheo  (conversar,  contar,  anunciar,  nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público,  baseada,  portanto,  na  autoridade  e  na  confiabilidade  da  pessoa  do  narrador.  Essa  autoridade  vem  do  fato  de  que  ele  ou  testemunhou  diretamente  o  que  está  narrando  ou  recebeu  a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados. Quem narra o mito? O poeta­rapsodo[1]. Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita­se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele  veja  a  origem  de  todos  os  seres  e  de  todas  as  coisas  para  que  possa  transmiti­la  aos  ouvintes.  Sua  palavra  ­  o  mito  ­  é  sagrada  porque  vem  de  uma  revelação  divina.  O  mito  é,  pois, incontestável e inquestionável. Registre­se que a origem do mundo e de tudo o que nele há também já foi objeto de narrativas mitológicas. Veja­se, por exemplo: a. Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre de relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais deuses: os titãs (seres semi­ humanos e semidivinos), os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com um humano), os humanos, os metais, as plantas, os animais, as qualidades, como quente­frio, seco­ úmido, claro­escuro, bom­mau, justo­injusto, belo­feio, certo­errado etc. A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados. Tomemos um exemplo da narrativa mítica: b. Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual, nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida. c. Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo. Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre as forças divinas, ou uma aliança entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens. O poeta Homero, na Ilíada, que narra a guerra de Troia, explica por que, em certas batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos,  gênese. que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas. os deuses. ela nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia? Respostas dadas: A primeira delas foi dada no fim do século XIX e começo do século XX. Afrodite. como qualquer outro povo. mulher do general grego Menelau. espécie). enciumadas. A cada vez. Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias. o rei dos deuses. A Filosofia. A teogonia é. a cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo. Como o mito narra. roubou uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os humanos. é. o fogo é essencial. A caixa de Pandora). alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. os seres divinos. diz­se que são cosmogonias e teogonias. que a Filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos. pois com ele se diferenciam dos animais. Dizia­se. foi uma rivalidade entre as deusas. nascimento a partir da concepção sexual e do parto. quer dizer: geração. quando reinava um grande otimismo sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do homem. fizeram­no raptar a grega Helena. a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas. eternamente. aliava­se com um grupo e fazia um dos lados ­ ou os troianos ou os gregos ­ vencer uma batalha. a partir de seus pais e antepassados. uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas de transformações e repetições das coisas; para isso. oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a deusa do amor. quer dizer mundo ordenado e organizado. ao nascer. quando os estudos dos antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e sentir de uma sociedade. gênero. Teogonia é uma palavra composta de gonia e theós. portanto. o uso do fogo pelos homens? Para os homens. Assim.alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. do interior dos próprios mitos. . por exemplo. dizia­se que os gregos. como uma racionalização deles. aliás. porque tanto passam a cozinhar os alimentos. devorassem seu fígado) e os homens também foram castigados (cf. A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar. Zeus. então. Cosmos. a narrativa da origem dos deuses. a iluminar caminhos na noite. Gonia. Um titã. Encontrando as recompensas ou os castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece. descendência. Por isso. Elas apareceram em sonho para o príncipe troiano Paris. Vemos. ficava com um dos partidos. como já vimos. sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente. a se aquecer no inverno. acreditavam em seus mitos e que a Filosofia nasceu. Prometeu. mais amigo dos homens do que dos deuses. e isso deu início à guerra entre os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina. vagarosa e gradualmente. que em grego significa: as coisas divinas. quanto podem fabricar instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra. como já dissemos. As outras deusas. fazer nascer e crescer) e do substantivo genos (nascimento. gerar. d. A causa da guerra. A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX. uma cosmologia. portanto. portanto. C.  percebendo  as  contradições  e  as  limitações  dos  mitos. às técnicas e . com isso. econômicas. que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança. temos ainda um último a solucionar: o que tornou possível o surgimento da Filosofia na Grécia no final do século VII e no início do século VI a. ao contrário. explicação que o mito já não podia oferecer; 4. As viagens marítimas. os fatos importantes que se repetem. que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias). mas da razão. lógica e racional; além disso. e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras.3 A invenção da moeda. terrestres (plantas. assim.  As  viagens  produziram  o  desencantamento  ou  a desmistificação do mundo. no presente e no futuro (isto é. Ponto e Gaia; a Filosofia fala em céu. que é a mesma em todos os seres humanos. habitados por outros seres humanos e que as  regiões  dos  mares  que  os  mitos  diziam  habitados  por  monstros  e  seres  fabulosos  não  possuíam  nem  monstros  nem  seres  fabulosos. uma nova capacidade de abstração e de generalização; 4.1. a exigir uma explicação sobre sua origem. A Filosofia. com predomínio do comércio e do artesanato. Assim. O mito falava em Urano. mas uma troca abstrata. mar e terra. uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes. longínquo e fabuloso; voltando­se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. ou água. titãs e heróis eram. seco. as coisas são como são. mas exige que a explicação seja coerente. homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. numa explicação inteiramente nova e diferente. 2) O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas. na totalidade do tempo). fabulação e coisas incompreensíveis. a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo.4 O surgimento da vida urbana. uma capacidade de abstração nova ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível; 4. portanto. que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses. isto é.  consideram­se  as  duas  respostas  exageradas  e  afirma­se  que  a  Filosofia. ao contrário. Resolvido esse problema. revelando. que passou. quente e frio. A Filosofia. A invenção do calendário. no passado. transformando­as numa outra coisa. sociais. A Filosofia explica o surgimento desses seres por composição. por quem e para quem os mitos foram criados; além disso. revelando. fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes.2. não admite contradições. não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica. combinação e separação dos quatro elementos ­ úmido. O mito narra a origem dos seres celestes (os astros). explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais. como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. terra. na verdade. 3) O mito não se importava com contradições. políticas e históricas que permitiram o surgimento da Filosofia? Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da Filosofia na Grécia: 4. temos algumas diferenças entre filosofia e mito: 1) O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial.? Quais as condições materiais.  foi  reformulando  e  racionalizando  as  narrativas míticas. com o fabuloso e o incompreensível. A Filosofia. no que tange as diferenciações entre mito e filosofia. fogo e ar. preocupa­se em explicar como e por que.Atualmente. dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e troca. o surgimento de uma classe de comerciantes ricos. ao contrário. as horas do dia. animais. que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano.  valorizando o humano. A ideia de um pensamento que todos podem compreender e discutir. O surgimento de um espaço público. Com a polis. Sai da caverna. revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização. a discussão. a persuasão e a decisão racional. cuja entrada permite a passagem da luz exterior. diferentemente de outras escritas ­ como os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses ­ supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita. transmitidos. e no primeiro instante fica totalmente cego pela luminosidade do sol.5. nem locomover­se. A política. uma vez que a escrita alfabética ou fonética. favorecendo um ambiente em que a Filosofia poderia surgir; 4. um poeta­vidente. valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o discurso ou a palavra filosófica. isto é. como decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer alguma coisa. discussão e deliberação humana. persuadi­los a tomar uma decisão proposta por ele. seres humanos ali vivem acorrentados. com a qual seus olhos não . mãe das Musas. Essa poderosa crítica à condição dos homens. mas a ideia dela. sem poder mover a cabeça para a entrada. todos nós estamos condenados a ver sombras a nossa frente e tomá­las como verdadeiras. Desde seu nascimento. que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso. forçados a olhar apenas a parede do fundo. e sem nunca terem visto o mundo exterior nem a luz do sol. Os prisioneiros julgam que essas sombras são as próprias coisas externas e que os artefatos projetados são os seres vivos que se movem e falam. que guiavam o poeta) uma iluminação misteriosa ou uma revelação sobrenatural. Um dos prisioneiros. Neste. ser públicos. uma das mais poderosas metáforas imaginadas pela filosofia.  O Mito da Caverna narrado por Platão no livro VII do Republica é. é fundamental para a Filosofia. 2. que todos podem comunicar e transmitir. fazendo com que as coisas que se passam no mundo exterior sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro. diferente daquele que era proferido pelo mito. que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da Filosofia: 1. comunicados e discutidos. inspirou e ainda inspira inúmeras reflexões pelos tempos afora. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões e escala o muro. A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas. Para o filósofo. tomado pela curiosidade. Por trás do muro. O aspecto legislado e regulado da cidade ­ da polis ­ servirá de modelo para a Filosofia propor o aspecto legislado. geração após geração. de tal modo que surge o discurso político como a palavra humana compartilhada. discuti­la com os outros. A invenção da política. em qualquer tempo. talvez.aos conhecimentos. regulado e ordenado do mundo como um mundo racional. que. Acima do muro. animais cujas sombras são projetadas na parede da caverna. como a do calendário e a da moeda. o pensamento. que recebia das deusas ligadas à memória (a deusa Mnemosyne. a cidade política. ao contrário. A invenção da escrita alfabética. isto é. como diálogo. 3. para descrever a situação geral em que se encontra a humanidade. mulheres. o que dela se pensa e se transcreve; 4. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados. mas que procuram. surge a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião. escrita há quase 2500 anos. dizia aos homens quais eram as decisões dos deuses que eles deveriam obedecer.6. uma réstia de luz exterior ilumina o espaço habitado pelos prisioneiros. ensinados. pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras de homens. decide fugir da caverna.  Encanta­se.  que  interpreta  o  mito  como  exposição platônica do conceito da verdade. do poeta grego Hesíodo. Por isso.  Somos  os prisioneiros. A luz que ele vê é a luz plena do ser. para produzir a "faísca" do conhecimento verdadeiro pela "fricção" dos modos de conhecimento. doou aos homens o fogo e os ensinou as técnicas para acendê­lo e mantê­lo. A dialética. dolorosa. a dialética faz a alma ver sua própria essência ­ conhecer ­ vendo as essências (ideia) ­ o objeto do conhecimento ­. dois movimentos: o de ascensão (a dialética ascendente).  afirma  o  filósofo  alemão  Martin  Heidegger. O Mito da Caverna apresenta a dialética como movimento ascendente de libertação do nosso olhar que nos libera da cegueira para vermos a luz das ideias. O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. As sombras são as coisas sensíveis que tomamos pelas verdadeiras. mas apenas ensinar a procurá­las. agora forçada a abandonar a luz e a felicidade. que vai da imagem à crença ou opinião. conhecimento da verdade. Os grilhões são nossos dogmas. Deseja ficar longe da caverna e só voltará a ela se for obrigado.  o  que  é  muito  mais  difícil  do  que  habituar­se  à  luz. princípio incondicionado de todas as essências.C. No mito. tanto porque é a visibilidade plena porque é a causa da visibilidade de todo o mundo inteligível.  é  o  mundo  sensível  onde  vivemos. Os olhos foram feitos para ver; a alma. isto é.  também  o  retorno  será  penoso. um esforço para concretizar seu fim forçando um ser a realizar sua própria natureza. para conhecer. finalmente. descrito na Carta Sétima.  Essa  história  é apresentada na obra Os Trabalhos e os Dias.  o  prisioneiro  será desajeitado. é uma atividade exercida contra uma passividade. o bem. uma imposição terrível à alma libertada. assim o bem permite à alma conhecer. não só ilumina todas as outras. Os anos despendidos na criação do instrumento para sair da caverna são o esforço da alma. não será acreditado por eles e correrá o risco de ser morto pelos que jamais abandonarão a caverna. Há. à fulguração da ideia. porque o caminho era íngreme e a luz  ofuscante. ver as próprias coisas. Conhecer é um ato de libertação e iluminação. Zeus. desde Mênon.  a  origem  de  todas  as  tragédias  humanas. forçando­a a abandonar o sensível pelo inteligível. vira apenas sombras. assim. O  Mito  da  Caverna  nos  ensina  algo  mais. tem a felicidade de. que consiste em praticar com outros o trabalho para subir até a essência e a ideia. para contar o que viu e libertar os demais. O instrumento que quebra os grilhões e faz a escalada do muro é a dialética. preconceitos. enfureceu­se . A  caverna.  A  réstia  de  luz  que  projeta  as  sombras  na  parede  é  um  reflexo  da  luz  verdadeira  (as  ideias)  sobre  o  mundo  sensível. habitua­se à luz e começa ver o mundo.estão acostumados; pouco a pouco. A dialética é a técnica liberadora dos olhos do espírito. mas é também a ideia suprema. O relato da subida e da descida expõe como dupla violência necessária: a ascensão é difícil. Platão dissera que não é possível ensinar o que são as coisas. destacamos alguns aspectos: A ideia do Bem. não saberá mover­se nem falar de modo compreensível para os outros.  pois  será  preciso  habituar­se  novamente  às  trevas. A luz é a meditação entre aquele que conhece e o aquilo que se conhece. o soberano dos deuses.  com  ela.  diz  Platão. correspondente ao sol. Os primeiros estão destinados à luz solar; a segunda. deslumbra­se. quase insuportável; o retorno à caverna. Desse ensaio. torna todas as outras visíveis para o olho do espírito. Mas descreve também o retorno do prisioneiro para ensinar aos que permaneceram na caverna como sair dela. nossa confiança em nossos sentidos e opiniões. Aquele que contemplou as ideias no mundo inteligível desce aos que ainda não as contemplaram para ensinar­lhes o caminho.  De  volta  à  caverna. A violência é libertadora porque desliga a alma do corpo. é conhecimento da ideia do bem. que viveu no século VIII a. como toda a técnica.  num  ensaio  intitulado  "A  doutrina  de  Platão  sobre  a  verdade". descobrindo que. Assim como o sol permite aos olhos ver. O retorno à caverna é o diálogo filosófico. isto é. A filosofia. desta para a matemática e desta para a intuição intelectual e à ciência; e o de descensão (a dialética descendente). Assim como a subida foi penosa. em sua prisão. Prometeu. que ilumina o mundo inteligível como o sol ilumina o mundo sensível. descobrindo seu parentesco com elas. deus cujo nome em grego significa "aquele que vê o futuro". Outra  narrativa  antiga  é  a  “Caixa  de  Pandora”  que  é  um  mito  grego  que  narra  a  chegada  da  primeira  mulher  à  Terra  e.   juntamente  com  a  arte  de  seduzir  os  corações  por  meio  de  discursos  insinuantes.  concedeu­lhe  a  capacidade  de  falar. Logo. acentuando sua beleza. Na Grécia antiga. pois o conhecimento leva o homem a enxergar a realidade e. montada sobre uma coroa de ouro. na medida em que ela parece catalisar a culpa pelos males da humanidade. que criasse uma mulher que fosse perfeita e que a apresentasse à assembleia dos deuses. desse modo. de São Paulo. era uma maneira de ver o mundo. Numa delas. não resisitindo à curiosidade. assolam a humanidade e que tornam miserável a existência dos homens. ela recebeu o nome de Pandora. teremos uma outra construção da imagem da mulher que lhe confere características negativas. Os mitos formavam. de questionar suas incoerências. Hefesto a conduziu pessoalmente aos deuses e todos ficaram admirados; cada um lhe deu um dom particular. e é graças a ela que os homens conseguem enfrentar todos os males e não desistem de viver. essencialmente. que explicava praticamente todos os elementos de sua cultura. que também não aceitasse nada vindo de Zeus. tem versões diferentes. porque o segredo do fogo deveria ser mantido entre os deuses. como trata a Bíblia Sagrada. mas sim a falsidade. ordena a Hefesto. Pandora. Além disso. Uma leitura sob a ótica da ideologia que perpassa o texto permite­nos compreender que a fúria de Zeus pode ser atribuída ao fato de que ao poder dominante sempre interessa a alienação dos dominados. ele e Pandora não quiseram receber a caixa e recomendou a seu irmão. nessa outra narrativa. e a deusa da persuasão ornaram seu pescoço com colares de ouro. Finalmente. por exemplo. mas um vaso. deixou aprisionada na caixa a Esperança. abriu a caixa e de lá escaparam todos os males que. Epimeteu. em suma. deusas da beleza. a deusa da sabedoria e da guerra. Por isso. A curiosidade. o poder de sedução e a beleza da mulher formam uma imagem de pouca confiança e a apresentam ao mundo dentro de uma complexa dualidade – desejada e temida pelos males que poderá causar. diz Fernando Segolin. o presente de Hermes não é a capacidade de seduzir. vestiu essa mulher com uma roupa branquíssima e adornou­lhe a cabeça com uma guirlanda de flores. sensualidade e poder de destruição para o homem. a partir de então. o mensageiro  dos  deuses. um sistema complexo. mostram como os mitos sofriam modificações à medida que eram narrados.  Depois  que  todos  os  deuses  lhe  deram  seus presentes. Eles estavam organizados num conjunto coerente. dotado de conhecimento. Fala­se. Epimeteu. Entretanto. ficou encantado com a beleza de Pandora e a tomou como esposa. A importância de compreendermos tal metáfora reside. que em grego quer dizer "todos os dons". aliás. Atena. a Esperança chega a escapar da caixa. na condição de entendermos que a memória que constrói a imagem da mulher é pautada por fato que culminam em uma imagem complexa. Zeus lhe entregou uma caixa bem fechada e ordenou que ela a levasse como presente a Prometeu. uma criatura alada que estava prestes a voar que é a única forma por meio da qual os homens podem suportar todo mal que se abateu sobre eles. para os gregos daquele tempo. torna­se crítico e. Essas variações. o homem. O conteúdo relata­nos o modo como os gregos compreendiam a natureza feminina.com esse ato. como a arte de tecer. de explicá­lo e compreendê­lo. Hermes. indesejável ao poder dominante. Se pensarmos na versão do Pecado Original. professor de Literatura da Pontifícia Universidade Católica (PUC). deus do fogo e das habilidades técnicas. Atena lhe ensinou as artes que convêm ao seu sexo. Afrodite lhe deu o encanto. Ao fechá­la. . é importante ressaltar essa "familiaridade" das pessoas com os deuses. ainda. As Cárites. diante desta. que despertaria o desejo dos homens. Esse mito. que não era uma caixa o que Pandora levava. lógico; em termos amplos. cujo nome significa "aquele que reflete tarde demais". amedrontada diante do que via. como muitos outros.     C ­ C) da teogonia. São Paulo. 2000. Unidade 1.  Tais  narrativas  tinham  grande  aceitabilidade  pelo  povo  grego  sendo  que  estes. a imagem da mulher – dominada – em função da memória que a define frágil e dependente do homem – uma vez descrita por ele. pelo  menos  num  primeiro  momento.  escutavam  e  aceitavam  como  verdades  incontestáveis”.    D ­ D) do mito  E ­ E) da cosmogonia. não poderia ser constituída de elementos capazes de desfazer a relação de dominação entre ambos.   [1] É o nome dado a um artista popular ou cantor que. ia de cidade em cidade recitando poemas. A Filosofia.   Exercício 1: Exercício 1 “Na  Grécia  Antiga  utilizava­se  de  narrativas  para  explicar  o  surgimento  e  o  porquê  de  determinadas coisas  ou  situações.Sob a mesma perspectiva. [5]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia.  . Capítulo 1 Origem da Filosofia da autoria de Marilena Chauí. Editora Ática. na antiga Grécia. sendo o homem – dominante – em função da memória que o define como um ser dotado de força e coragem. podemos dizer que.    B ­ B) da epistemologia.  O  texto em questão sintetiza a utilização:     A ­ A) da filosófica.  terrestres (plantas.  não  exige  que  a explicação seja coerente. III. IV.  com  o  fabuloso  e  o  compreensível. A  Filosofia. I. não da razão. Ponto e Gaia; a Filosofia fala em céu. quente e frio. no presente e no futuro (isto é. A  Filosofia.  O  mito  se  importava  com  contradições.Comentários: Essa disciplina não é ED ou você não o fez comentários  Exercício 2: Exercício 2 Considere as assertivas abaixo e assinale a alternativa que contenha assertivas que são incorretas.  O  mito  narrava  a  origem  através  de  genealogias  e  rivalidades  ou  alianças  entre  forças  divinas sobrenaturais e personalizadas.  longínquo  e fabuloso; voltando­se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. as coisas são como são.  ao  contrário. O mito narra a origem dos seres celestes (os astros). A Filosofia. preocupa­se em explicar como e por que. animais. .  combinação  e  separação  dos  quatro elementos ­ úmido.  O  mito  pretendia  narrar  como  as  coisas  eram  ou  tinham  sido  no  passado  memorial. no passado. A  Filosofia  explica  o  surgimento  desses  seres  por  composição. seco. II.  admite  contradições. como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. lógica e racional; a autoridade da explicação vem da pessoa do filósofo.  não  só  porque  esses eram traços próprios da narrativa mítica.  explica  a  produção  natural  das  coisas  por  elementos  e  causas  naturais  e impessoais. mar e terra. ou água. ao contrário. na totalidade do tempo). homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto.  ao  contrário. O mito falava em Urano. terra. fogo e ar.  fabulação  e  coisas  incompreensíveis. II ­ As sombras são as coisas sensíveis que tomamos por verdadeiras. V ­ O Mito da Caverna apresenta a dialética como movimento ascendente de libertação do nosso olhar que nos libera da cegueira para vermos a luz das ideias. III ­ Os grilhões são os nossos dogmas. podemos dizer que estão corretas as assertivas: I ­ A Caverna. preconceitos. IV ­ O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo.    .  Comentários: Essa disciplina não é ED ou você não o fez comentários  Exercício 3: Exercício 3 Ao interpretarmos o Mito da Caverna.  A ­ a) Apenas a I;    B ­ b) Apenas a II;    C ­ c) Apenas a I e a IV;     D ­ d) Apenas a II e a IV;    E ­ e) Apenas a I e a III. é o mundo sensível onde vivemos.   A ­ A) Apenas a I.    B ­ B) Apenas a II. segundo Platão. nossa confiança em nossos sentidos e opiniões.     C ­ C) aqueles que a ouviam recebiam de bom grado as narrativas proferidas.    E ­ E) Todas estão corretas.  Comentários: Essa disciplina não é ED ou você não o fez comentários  Exercício 4: Exercício 4 A respeito da narrativa mítica na sociedade grega é correto afirmar:     A ­ A) aqueles que a ouviam não recebiam de bom grado as narrativas proferidas.    E ­ E) o narrador sempre havia presenciado os fatos que narrava. tendo em vista que confiavam no narrador por ser esse considerado um escolhido dos deuses.    D ­ D) embora as narrativas míticas tivessem sido reveladas por revelações divinas eram sempre passíveis de contestação.C ­ C) Apenas III e IV.  Comentários: Essa disciplina não é ED ou você não o fez comentários  Exercício 5: .    D ­ D) Apenas IV e V.    B ­ B) aqueles que a ouviam recebiam de bom grado as narrativas proferidas. tendo em vista que o narrador era um deus.     B ­ B) cosmogonia.  Dentre  essas  questões  encontra­se  a  narração  da  origem.  Comentários: Essa disciplina não é ED ou você não o fez comentários  Exercício 6: Exercício 6 A  narrativa  sobre  o  nascimento  e  a  organização  do  mundo.  .      C ­ C) genealogia    D ­ D) aporia.    E ­ E) sofismo.  a  partir  de  forças  geradoras  (pai  e  mãe) divinas denomina­se:   A ­ A) teogonia.Exercício 5 As  narrativas  mitológicas  sempre  procuraram  explicar  as  mais  variadas  questões  que  atormentavam os  serem  humanos.    D ­ D) aporia.    B ­ B) cosmogonia    C ­ C) genealogia.    E ­ E) sofismo.  Qual  é  o  nome  das narrativas mitológica que tinham por objeto explicar a origem as coisas?   A ­ A) teogonia. Comentários: Essa disciplina não é ED ou você não o fez comentários  .
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