Módulo 4 Cartuchos

March 17, 2018 | Author: engenheiromateriais | Category: Projectiles, Ammunition, Gunpowder, Chemistry, Armed Conflict


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Módulo 4 – CartuchosApresentação do Módulo Cartucho é uma palavra de origem italiana (cartoccio) derivada da palavra latina “charta”, que significa papel. Um pouco de história... Embora possa parecer que não há relação para as armas de antecarga, os atiradores dos séculos XV e XVI, principalmente quando em ação militar, tinham o costume de levar, envolta em folha de papel, carga de pólvora suficiente para um disparo. Agiam assim com o objetivo de facilitar a recarga, agilizando o processo e diminuindo os riscos de uma carga excessiva, pois tinham a certeza de estarem utilizando a quantidade adequada de pólvora. Com o passar do tempo, esses atiradores não carregavam apenas a pólvora; passaram a colocar junto os projéteis, todos embrulhados no mesmo papel. Os princípios de facilitar a recarga, acelerar o intervalo de tempo entre os disparos e de conter a unidade completa de munição acabaram por dar origem aos cartuchos de armas de fogo de nossos dias. Um dos primeiros cartuchos a existir foram os cartuchos para os fuzis de agulha ou fuzil Dreyse, utilizados na Guerra do Paraguai. Nesse cartucho, embrulhado como num cilindro de papel, eram depositados o projétil, em contato com a sua base, a espoleta e, por último, a pólvora. Quando acontecia o disparo, a agulha percussora furava o papel, atravessava a camada de pólvora, chocava-se contra a espoleta detonando-a e iniciava a queima da pólvora. Logicamente, não se pode pensar em arma de fogo sem pensar na munição1 empregada nessas armas. Existem muitos tipos de cartuchos diferentes, com componentes diferentes e que se destinam a empregos distintos. Neste módulo, você estudará os cartuchos de armas de fogo e seus principais componentes. 1 A palavra “munição” é empregada como a designação genérica de um conjunto de cartuchos. Objetivos do Módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: Identificar os cartuchos de armas de fogo, seus componentes e emprego; Compreender a interação dos componentes durante o disparo. Estrutura do Módulo Aula 1 – Cartuchos Aula 2 – Projéteis de armas de fogo raiadas Aula 3 – Cartuchos de armas de alma lisa Aula 1 – Cartuchos 1.1. O que é um cartucho Cartucho é a designação genérica das unidades de munição utilizadas nas armas de fogo de retrocarga. Segundo o Decreto nº 3.665, de 20/11/2000, pode-se entender munição como: “artefato completo, pronto para carregamento e disparo de uma arma, cujo efeito desejado pode ser: destruição, iluminação ou ocultamento do alvo; efeito moral sobre pessoal; exercício; manejo; outros efeitos especiais” (art. 3º, inciso LXIV, anexo). 1.2. Modelos de cartucho Como existem diversos modelos de armas de retrocarga, logicamente existem diversos modelos de cartuchos, que variam no formato, na quantidade e tipo de seus componentes. Os cartuchos mais conhecidos e empregados hoje em dia são: Cartuchos para armas raiadas de percussão central; Cartuchos para armas raiadas de percussão radial; em alguns modelos. facilitando o manejo da arma e acelerando o intervalo em cada disparo. Além disso. lançadores de granadas que não têm projéteis e os cartuchos de manejo que não são dotados de espoleta ativa e pólvora. verifica-se a utilização de alguns componentes essenciais. o propelente projétil (pólvora) e o projétil. Apesar de algumas armas de fogo praticamente obsoletas (armas de antecarga) dispensarem o seu uso. como acontece com os cartuchos de festim. permite a padronização dos . Estojo O estojo é o componente que integra os demais elementos do cartucho. 1. Componentes do cartucho e suas funções Em quase todas as espécies de cartuchos. 1.Cartuchos para armas de alma lisa de percussão central.1. Especificamente. O estojo possibilita que todos os componentes necessários ao disparo fiquem unidos em uma peça. Estude a seguir as principais funções de cada um desses componentes.3. Cartucho espoleta pólvora Nota As diferenças entre os cartuchos devem-se ao emprego dado a eles. a espoleta. discos de papelão com finalidades específicas.3. utilizam-se ainda outros componentes. como a bucha e. para os cartuchos destinados às armas de alma lisa. como estojo o estojo. trata-se de um componente indispensável às armas modernas. Na prática. facilitando a extração e permitindo a recarga de munição – e estojos de alumínio (os cartuchos do tipo BLASER da CCI). a maioria dos estojos é construída em metais não ferrosos. papelão (espingardas). como plásticos (munição de treinamento e de espingardas). É um formato de estojo em desuso. ou seja. Alguns fabricantes produzem um ligeiro estreitamento na terça parte próxima à boca. como os cartuchos de calibre . sempre há uma pequena inclinação para facilitar a extração.38 SPL.40 S&W e . com o objetivo de garantir a inserção do projétil na altura correta do estojo.45 ACP. um de maior dimensão junto ao aro ou base. pelas características de se expandir. pois as armas modernas são construídas de forma a aproveitar as suas características físicas. não permitir o escape de gases pelas paredes da câmara e de recuperar em parte a forma original após cessar a pressão. com diâmetro menor na boca do que na base. seguido . Classificam-se os estojos. entre outros. Cônico ou tronco-cônico – O estojo tem o formato do corpo como um segmento de cone. não existe estojo totalmente cilíndrico. .3 x 48Rmm e 7 x 72Rmm. em relação à forma do corpo. o que permite conter grande quantidade de pólvora. 9.cartuchos e determina as dimensões das câmaras onde esses cartuchos são empregados Atualmente. principalmente o latão (liga de cobre e zinco) – dada a facilidade de ser trabalhado (trabalhabilidade). Nota Também são encontrados estojos semimetálicos construídos com a base metálica (geralmente latão) e o corpo em diversos tipos de materiais. Forma do estojo A forma do estojo é muito importante. como: Cilíndrico – O estojo possui diâmetro uniforme por toda sua extensão. é o caso da maioria dos estojos usados em armas de porte. próprio para alguns rifles antigos como os calibres 8 x 72Rmm. Garrafa – O estojo apresenta basicamente dois diâmetros. Com semiaro – Com ressalto de pequenas proporções e uma ranhura ou virola para encaixe do extrator. e é empregado em cartuchos com maior energia. Os tipos de formato de base mais empregados são: Com aro – Com ressalto na base (aro ou gola) que permite o travamento do estojo na arma. Sem aro – A base apresenta o mesmo diâmetro do corpo do estojo. É comumente utilizado em cartuchos de fuzis. tem apenas a ranhura ou virola para encaixe do extrator. que pode ser: Fogo circular – A mistura detonante é colocada no interior do estojo. como o calibre .40S&W. e detona quando este é amassado pelo percursor. caso do . Este aro tem por finalidade aumentar os pontos de apoio do cartucho na câmara. o que garante a percussão.62 x 39mm. 5.300 Winchester Magnum. fixada no centro . .de uma redução (estrangulamento) em formato cônico e de um diâmetro menor junto à boca que facilita a inserção de projéteis de pequeno diâmetro. Fogo central – A mistura detonante está disposta em uma espoleta.308 Winchester. a exemplo do . dentro do aro.32 Winchester Self Loading (Self Loading é apenas uma referência indicando que a arma é semiautomática). como a maioria dos calibres de pistola. Rebatido – A base tem diâmetro menor que o corpo do estojo. A sua forma define algum dos pontos de apoio do cartucho na câmara (headspace). como o . situado logo à frente dela. Cinturado – Apresenta um aro de maior diâmetro que a base. como o 7. Tipo de iniciação Outra forma de descrevermos um estojo é quanto ao tipo de iniciação.45 ACP.38 SPL e da maioria dos cartuchos destinados a revólveres. Ele determina como será a ação do extrator sobre o estojo percutido e facilita o carregamento.56 x 45mm e . Formato da base do estojo Outro aspecto importante sobre os estojos refere-se ao formato da base.41 Action Express. como o . ocorre a transformação abrupta do explosivo em gases. utilizados pelo Exército brasileiro durante a Guerra do Paraguai ou outros muito pouco comuns. Mistura iniciadora A mistura iniciadora de uma espoleta para cartucho é composta de materiais diversos.  Aglomerante. cuja iniciação se dá por percussão (choque violento). do início da década de 70 até a atualidade.  Materiais redutores. o que irá agir sobre os grãos do propelente causando agitação aquecimento e ignição. gera calor. com as funções específicas de:  Um explosivo iniciador.da base do estojo. com extraordinária rapidez (velocidade da ordem de 5000 m/s). chama e elevadas pressões. Trata-se basicamente de um explosivo e outros componentes depositados no fundo de um pequeno receptáculo metálico de latão (liga de cobre “Cu” e zinco “Zn”). tem por base o estifinato de chumbo (trinitroressorcinato de chumbo). Na detonação. Diversas composições desses materiais são utilizadas por diferentes fabricantes. como os de papel dos fuzis Dreyse.3. 1.2 Espoletas As espoletas têm por função iniciar a queima da pólvora (propelente).  Atritante.  Materiais oxidantes. utilizada pela Companhia Brasileira de Cartuchos. A composição mais comum. o qual gera a detonação desse explosivo. Composição estifinato de chumbo: . Nota Cabe lembrar que alguns tipos de estojos não foram citados por serem obsoletos.  Nitrato de bário. NO. NO2.  Alumínio em pó. não possuem uma espoleta como elemento distinto do cartucho. (www. em função da chama e calor gerado. Tipos de espoletas Mistura iniciadora nos cartuchos de fogo circular Os cartuchos de fogo circular. Trinitroressorcinato de chumbo. A percussão ocorre no choque do percutor contra a orla do estojo. CO2. na qual o cartucho se encontra alojado. vapores de chumbo metálicos. Sendo o gás formado. N2.22 LR. Durante o disparo. tem-se o elemento essencial para o funcionamento do motor e aceleração do projétil . deflagração Fonte: Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) a do propelente. a ignição da mistura iniciadora produz 40%2 em peso de gases e 60% em peso de partículas sólidas quentes. SO2.  Trissulfeto de antimônio.  Tetrazeno. comprimindo-a contra a parede posterior da câmara. vapor de água. entre outros.br ) 2 Pode até parecer pouca a transformação de apenas 40% em gás. liberando CO. A composição do estifinato de chumbo constitui-se em uma mistura estável à umidade e temperatura. cujo exemplo mais comum são os cartuchos de calibre . isso produz a detonação da massa explosiva e consequentement e. Neles a mistura iniciadora é depositada por um processo de centrifugação na base (orla do estojo).com.cbc. A composição química da mistura iniciadora à base de estifinato de chumbo produz aproximadamente 300 cm3 de gás por grama de mistura. sendo essa a grande diferença entre esses cartuchos e os cartuchos de fogo central. mas na queima da pólvora o percentual é apenas de 25 a 30 % e nos motores a explosão não passa de 12%. óxido de chumbo e de bário. com espessura. pode estar montada na espoleta (espoletas do tipo Boxer) ou encontrar-se montada no estojo (espoletas do tipo Berdan). semelhante a um copo. durante a percussão. No interior da cápsula. Como a bigorna pode estar montada quer no estojo. chama e calor resultantes da detonação da mistura iniciadora se dá através de orifícios chamados de eventos. As figuras representativas dos tipos de espoletas Boxer e Berdan foram extraídas do site da Companhia Brasileira de Cartuchos. geralmente confeccionada em latão. a Fonte: CBC transmissão para o interior do estojo onde se encontram o propelente. e o 2º. . por ser uma peça independente. gases. A bigorna é uma peça metálica. Fonte: CBC A bigorna. A percussão acontece em função do choque violento entre dois corpos: o 1º. cuja função é garantir a percussão. 4 ou mais. o percutor. Os eventos nas espoletas do tipo Boxer são um único orifício central de maior diâmetro e nas espoletas Berdan os eventos podem ser constituídos em dois (grande maioria dos casos). a bigorna. denominado de cápsula.Espoletas de fogo central As espoletas para cartuchos de fogo central são constituídas por um pequeno receptáculo de latão. parte integrante da arma. dureza e tamanho compatíveis ao tipo de arma e à pressão gerada pela detonação do explosivo. manufaturada através de estamparia. quer na espoleta. é depositada determinada quantidade de explosivos (escorva ou mistura iniciadora) que varia em função das características balísticas do cartucho e conforme a pressão gerada pela detonação deste. Com o aumento gradual do volume de confinamento do propelente em combustão. Obviamente. 1. No estudo da balística e das munições. esse aumento de pressão pode até acarretar a explosão da arma. pela característica da expansividade (inerente aos gases). mas o tempo necessário para a sua queima permite um aumento da pressão de forma gradual. A pressão atinge um valor máximo. o que só não ocorre por dois fatores: Fator 1 – A queima da pólvora não é instantânea. (A pressão é inversamente proporcional ao volume. acarretando um aumento de pressão.3. à medida que a pressão aumenta. quando queimam.) O projétil é acelerado durante todo o seu percurso pelo cano por causa da pressão exercida pela expansividade dos gases resultantes da queima do propelente. Pela característica de queimar progressivamente. geram em velocidade muito alta (da ordem de 400m/s) uma grande quantidade de gases. as pólvoras são chamadas de propelentes. sem que haja contato da punção de compressão e o material explosivo. os gases resultantes dessa queima.Após a transferência do explosivo para o fundo da cápsula da espoleta. ocupam um volume muito maior que o dos sólidos que o geraram. o que propicia o deslocamento do projétil através do cano. mais veloz deve ser a sua queima). As pólvoras possuem uma velocidade de queima muito alta. As pólvoras são misturas ou compostos químicos que. acarretando uma distribuição uniforme no fundo da cápsula. O tempo de queima será um dos principais critérios para definir em que tipo de arma será empregada determinada pólvora (quanto menor o comprimento do cano. Fator 2 – A pressão é exercida em todas as direções (princípio de Pascal) e. a pressão gerada diminui e mantém-se dentro dos limites para os quais a arma foi projetada.3 Propelentes (pólvora) Propelentes são substâncias que queimam de forma progressiva. a partir do qual começa a decair até a pressão . ela suplanta a força de engastamento do projétil ao estojo. chamado de pico de pressão. como a pólvora está acondicionada dentro de um cartucho. é colocada uma fina lâmina de papel que permite a compressão do explosivo. e a velocidade do projétil (vista na outra curva do gráfico) de 2. Existem dois tipos básicos de pólvoras: Tipo 1 – As negras ou com fumaça.000 libras por polegada ao quadrado.000 libras por polegada ao quadrado.700 pés por segundo. que são basicamente a mistura de 75% de nitrato de Pólvora negra . Note que logo após o disparo. Composição química das pólvoras.500 vezes a pressão mais usada em pneus de automóveis. mantendo os valores de pressão de projeto da arma dentro dos limites. A figura ao lado representa o gráfico de disparo de um cartucho de calibre . Nota Como os comprimentos dos canos variam de forma significativa das armas curtas raiadas para as armas longas raiadas.atmosférica local. temos a pressão exercida versus o comprimento do cano. em torno de 1. após a saída do projétil pelo cano. ou seja.30 Carbine. a velocidade de queima é fundamental para fornecer as características balísticas de velocidade e energia cinética ao projétil. a pressão na câmara é da ordem de 45. porque. Na primeira curva do gráfico. a pressão é de cerca de 12. o controle de tempo de queima é demasiadamente importante. Quando o projétil já se deslocou até a saída do provete de 25 polegadas de comprimento. ao possuir maior ou menor espaço de cano para a queima do propelente. e a sua produção é destinada a armas de antecarga. Pólvora propelente base dupla – Apresenta como principais compostos ativos a nitrocelulose e nitroglicerina. No disparo. O controle da velocidade de queima nesse tipo de propelente é exercido em função do tamanho dos grãos. que podem chegar até a 55% do peso de pólvora original. além de componentes químicos para sua estabilidade e controle de velocidade de deflagração.potássio. Nota A proporção acima apresenta pequenas diferenças dependendo dos fabricantes. 15% de carvão vegetal e 10% de enxofre. Tipo 2 – As pólvoras químicas ou pólvoras sem Pólvora de Base fumaça são assim chamadas dada a pequena Simples quantidade de fumaça gerada na sua queima quando comparadas às pólvoras negras. não sendo utilizada em cartuchos modernos. . dada a necessidade de pressões estabelecidas pela SAAMI para os calibres e demais características balísticas. esse tipo de pólvora gera uma grande quantidade de fumaça e grande quantidade de resíduos sólidos. a fogos de artifícios ou a outros fins pirotécnicos. Podem ser dividas em dois grandes grupos: Pólvora propelente de base simples – Constituída basicamente por nitrocelulose e componentes químicos para sua estabilidade e controle de velocidade de deflagração. o trabalho realizado pela munição – entendendo-se por trabalho a diferença de energia cinética transmitida –. . Os projéteis especiais. baixo ponto de fusão. 2. apresentam seu diâmetro ligeiramente maior que o diâmetro do cano da arma. é o elemento ideal para os projéteis de arma de fogo. Os projéteis podem ser divididos em três grupos distintos: Os projéteis de chumbo (projéteis nus). o projétil é. Dessa forma. que resulta em destruição ou dano tecidual. fácil trabalhabilidade e grande maleabilidade.. estude sobre cada um deles. Em todo o disparo. maior alcance máximo e útil e uma melhor performance aerodinâmica ante a resistência do ar. A parte do cartucho que foi ou que pode ser lançada através do cano.Aula 2 – Projéteis de armas de fogo raiadas 2. O que é um projétil Projétil. é devido à ação do projétil sobre o suporte do disparo.. Os projéteis jaquetados ou projéteis encamisados (total ou parcialmente). consiste em qualquer sólido – que pode ser ou foi lançado – abandonado ao seu movimento após ter recebido um impulso inicial. destinados a cartuchos de projéteis únicos para armas raiadas. ao se engajarem com o raiamento. pela conceituação física.1. sob a ação dos gases resultantes da queima do propelente. impedem o escape de gases e. que lhes garante maior estabilidade. Projéteis de chumbo O chumbo. por ser barato. de fácil obtenção.1. alto peso específico. A seguir. Para a balística forense. Os projéteis modernos. adquirem o movimento rotacional. chumbo endurecido com antimônio e/ou estanho – e contém todos os elementos de sua evolução. semelhantes às setas.tendo sido o material utilizado desde os primeiros informes de disparos de armas de fogo até os dias de hoje. nos cartuchos destinados a armas raiadas. a menor perda de gases. a função dessa graxa é diminuir a possibilidade de “chumbamento” do cano. verificam-se os seguintes formatos mais comuns: ogival. movimentos erráticos dos projéteis e problemas que advinham das características dos materiais. cone truncado e ponta plana – cada um com objetivos específicos. A parte cilíndrica é a responsável pelo engajamento dos projéteis com o raiamento do cano. O projétil do tipo esfera foi inicialmente a escolha natural. procurou-se resolver problemas quanto a sua trajetória. esse processo de fabricação apresenta vantagens. eles foram gradativamente sendo substituídos pelos projéteis de formato pontiagudo. resistência do ar. Embora os principais componentes dos projéteis de chumbo sejam o próprio chumbo. de diferentes durezas e. Os corpos dos projéteis destinados a armas raiadas são sempre cilíndricos e recebem uma graxa lubrificante colocada em canaletas apropriadas ou em áreas recartilhadas e aplicadas por pressão. consequentemente. a princípio. Em sua evolução. tais como: bom acabamento. canto vivo. Porém devido a problemas com o alcance útil 3e a resistência. Devido às suas características. Um projétil é fundamentalmente dividido em três partes: PONTA – CORPO – BASE Quanto à ponta os projéteis. Nota A estampagem é um processo de fabricação no qual o projétil é produzido através de corte e deformações em operação de prensagem a frio. o antimônio e o estanho. custo reduzido e alta 3 Os projéteis esféricos utilizados no início apresentavam alcance útil de cerca de 50 metros . banho ou por spray. de diferentes pontos de fusão. O moderno projétil é de liga de chumbo – isto é. podendo ser produzidos através de dois processos: estampagem ou fusão. os projéteis de chumbo são fabricados em diversas ligas. semicanto vivo. por ser a forma que apresentava. tais como a vedação correta dos gases da pólvora e a diminuição do atrito com o cano. obtendo maior dissipação da energia cinética e. 2. são mais resistentes. com a adição de projéteis de ponta oca e outras formas de projéteis expansivos. Os projéteis encamisados podem ter sua capa externa aberta na base e fechada na ponta (projéteis sólidos) ou fechada na base e aberta na ponta (projéteis expansivos). como os projéteis traçantes. Nos projéteis sólidos. cobre e zinco. Os projéteis expansivos destinam-se à defesa pessoal. cobre. Os projéteis expansivos podem ser classificados em totalmente encamisados (a camisa recobre todo o corpo do projétil) e semiencamisados (a camisa recobre parcialmente o corpo. conferindo o peso necessário e um bom desempenho balístico. maior capacidade lesiva. ao atingir um alvo. 2. O núcleo é constituído geralmente de chumbo praticamente puro. Os tipos de pontas são basicamente os mesmos que os anteriormente citados para os projéteis de chumbo. Projéteis especiais São projéteis desenvolvidos com finalidades específicas. destaca-se sua maior capacidade de penetração e alcance. logo.2. níquel e zinco. por causa do encruamento que sofrem. cobre. Os projéteis frutos desse processo.3. . Projéteis encamisados São projéteis construídos por um núcleo recoberto por uma capa externa chamada camisa ou jaqueta. pois. A camisa é normalmente fabricada com ligas metálicas como: cobre e níquel. são capazes de se deformar e aumentar seu diâmetro. deixando sua parte posterior exposta). zinco e estanho ou aço.produção. Nota Esse tipo de projétil teve seu uso proibido para fins militares pela Convenção de Haia em 1899. Considerando a grande quantidade de projéteis especiais e a impossibilidade prática de relacionar todos eles. até dos equipamentos de proteção balística. o que lhe garante um grande poder traumático. resulta em uma grande cavidade temporária e permanente depois de seu impacto contra tecidos biológicos. apenas alguns: Glaser – Este projétil. tem a sua jaqueta rompida em locais preestabelecidos. garante um menor atrito do projétil com o cano e menor quantidade de partículas de chumbo no ar. o que. além da expansividade normal de seu núcleo – em forma de cogumelo –. Além desse fato. maior expansão às pontas do que os outros tipos de revestimentos comumente utilizados nas camisas convencionais. com fins específicos. a seguir. da ordem de 2. você estudará. que. É constituído de camisa metálica. Black Talon – Esse projétil.incendiários. em muitos casos. e selado com teflon. A associação do náilon ao chumbo garante. em função da energia cinética resultante da elevada velocidade. . em primeiro lugar. entre outros. Nyclad – Trata-se de um núcleo revestido com náilon. Esses. a distâncias menores. em cujo interior são colocados um grande número de balins. resultando em uma munição de alta velocidade. associado à elevada velocidade e energia cinética que apresenta.92 gramas (45 grains) para os calibres . entre muitos outros. PMC Ultra Mag – Esse projétil é constituído unicamente de um cilindro oco de bronze. Bat – Este projétil associa uma pequena massa a uma altíssima velocidade e uma grande deformação com o único intuito de apresentar uma ação traumática instantânea. explosivos. além de apresentar reduzida possibilidade de ricochete. constituídos com núcleos especiais para garantir a perfuração. projéteis de borracha para controle de tumultos. se constituem em alguns exemplos de projéteis especiais. gerando pontas afiladas e cortantes capazes de causar um grande dano tecidual e dilacerações. comum à maioria dos projéteis expansivos. apresenta um grande dano tecidual. Armour Piercing e Metal Piercing – Trata-se de projéteis perfurantes. Compound Plastic – São projéteis com pequena massa. possui uma grande capacidade de transferência de energia cinética e remota possibilidade de transfixação.38 comuns. Pólvora. A seguir. incendiária.1. 5 3 . Fonte: CBC Esse sistema permite ao atirador o emprego adequado da munição para o fim esperado. Espoleta. Elementos essenciais dos cartuchos Os cartuchos destinados a armas de alma lisa apresentam os seguintes elementos essenciais: 2 1. traçante. Projéteis (projéteis singulares. Esse código abrange desde as munições comuns até o caso das munições perfurantes (fotografia ao lado). 5. Estojo. principalmente nos fuzis e metralhadoras. 1 4 3. Aula 3 – Cartuchos de armas de alma lisa 3. balins ou projéteis especiais). 4. estude sobre cada um deles.Muitos projéteis apresentam um código de cores para definir a sua utilização. munição de ponta mais pesada e munições para disparos de precisão (ETPT Match). armour piercing (AP). Buchas e discos de papelão. 2. Estojo Os estojos destinados às armas de alma lisa são confeccionados em diversos materiais. Foto1 Foto 2 O fechamento dos estojos pode ser do tipo orlado (foto 1). Fonte: CBC Nos cartuchos dotados de projéteis singulares (balote) o fechamento é orlado. com a função de aumentar a resistência e principalmente de formar o aro de travamento da câmara (headspace).1. Os estojos em papelão estão em desuso. sendo utilizados na recarga artesanal de munição. Nesses estojos. é necessário o emprego de um disco de papelão sobre essa carga. por permitirem um considerável número de recargas e um melhor fechamento. o que não acontece para o fechamento em estrela. Esses dois últimos geralmente apresentam uma base metálica. Para a utilização do fechamento orlado em cartuchos com carga de balins. é empregada uma bucha interna. Os estojos confeccionados em tubos de plástico. pois a absorção de umidade gera um aumento de volume. dificultando a sua introdução na câmara.1. plástico ou papelão. Normalmente os estojos confeccionados em tubo de plástico ou papelão apresentam uma base metálica (alta ou baixa). por não absorverem umidade. são os mais empregados atualmente.3. ou em estrela de 6 ou 8 pontas (foto 2). como metal (normalmente latão). devido ao custo de produção. . confeccionada em papel ou plástico para afixar o tubo à base. Os estojos metálicos. não são empregados na confecção de cartuchos comerciais. Pólvoras As pólvoras utilizadas nos cartuchos comerciais são de base simples (nitrocelulose).3. Espoletas As espoletas têm por função a iniciação do propelente (pólvora). chama e gases sobre os grãos do propelente agitam. associado a maior ou menor capacidade de expansão das buchas. As espoletas utilizadas em cartuchos destinados a armas de alma lisa são do tipo bateria. chama e gases. e a mistura iniciadora contida em um recipiente em formato de copo.2. causando a sua detonação. As espingardas apresentam pouquíssima resistência ao deslocamento dos projéteis (singular ou balins) quando comparadas às armas de alma raiada. a exemplo das pólvoras nos 216 e 219 da CBC.1. A ação do calor. Durante o acionamento do gatilho. o percutor comprime a mistura iniciadora contra a bigorna. dessa forma Fonte: CBC garante-se a percussão e uma montagem adequada.1.3. no qual se aloja a bigorna. A inexistência de raiamento faz com que os projeteis abandonem o cano rapidamente. aquecem e levam à queima do propelente. Nos estojos de cartuchos metálicos utilizados para recarga artesanal. Essas mesmas pólvoras são as utilizadas em revólveres. em formato de disco. possuem um copo externo. Esse fato. torna obrigatória a utilização de pólvoras de queima rápida nos cartuchos para armas de alma lisa. o que gera calor. . que passam para o interior do estojo onde se encontra a pólvora através de orifícios chamados eventos. o que irá gerar uma grande quantidade de gases e a expulsão da carga de balins. 3. do mesmo modo daquelas utilizadas em armas curtas. as espoletas empregadas são do tipo Berdan. A utilização desse copo externo deve-se à pouca resistência da base metálica do estojo e da bucha interna. faz-se necessário utilizar pólvoras de queima rápida e. por exemplo.50mm de diâmetro. As pólvoras utilizadas em espingardas apresentam pequenos valores de densidade gravimétrica4 e também menor tempo de queima. de carga lacrimogênea e de efeito moral. balotes: um único projétil de chumbo de diâmetro equivalente ao calibre da espingarda. acontece um disparo de espingarda e a vedação não é boa. 3. de menor densidade gravimétrica. São destinadas às armas longas raiadas pela necessidade de maior espaço para sua queima. ainda. Projéteis ou balins Os projéteis ou balins (chumbos) utilizados para carregar cartuchos variam normalmente de 1. Essas armas permitem a colocação de maior quantidade de propelente (em peso) para um mesmo volume do estojo. Nota As pólvoras que apresentam maior densidade gravimétrica são as que apresentam maior tempo de queima (queima mais lenta).4.1.25 a 5. Os balins são designados por números ou letras e cada número ou letra indica um diâmetro nominal específico. sendo usados. Quando. A numeração é arbitrária e não segue o mesmo critério nos diversos países.Nota A empresa Condor utiliza pólvora negra na produção de cartuchos dotados de projéteis de borracha. O critério adotado pela Companhia Brasileira de Cartuchos é o mostrado a seguir: 4 É o parâmetro que indica qual a quantidade de pólvora em peso que pode ser colocada em uma mesma unidade de volume . logo. de forma que se possam atingir as altas velocidades previstas para os projéteis dessas armas. 5. tanto na câmara quanto no cano durante o deslocamento da carga de balins. como papel. ao se expandirem. não permitindo o escape de gases oriundos da queima da pólvora e fazendo. podem definir o calibre da arma utilizada. É comum a utilização de discos de papelão na utilização de buchas prensadas para separar a bucha dos grãos de pólvora e ainda para separá-la da carga de balins. ou com a função de tampa nos cartuchos de fechamento orlado. quando encontrados em locais de crime ou na área lesionada. Isso se a munição for estocada em condições adequadas. dessa forma. 3. As buchas e os discos de papelão. As buchas são constituídas de diversos materiais. ou seja.2. Buchas As buchas apresentam a função de. papelão. é de cerca de 5 (cinco) anos. feltro ou buchas pneumáticas (plásticas). serragem e parafina (prensadas). Vida útil dos cartuchos guardados na embalagem original Segundo a Companhia Brasileira de Cartuchos.1. protegido de raios diretos . cortiça. com que a distribuição da energia seja uniforme sobre a carga de balins. selarem o cano. em local bem ventilado. armazenados em sua embalagem original. a vida útil de cartuchos marca CBC.Fonte: CBC 3. Realizam ainda a tarefa de manter a pressão em nível adequado. verifica-se a utilização de alguns componentes essenciais como o estojo. iluminação ou ocultamento do alvo. espoleta. Finalizando. inciso LXIV. cujos critérios de avaliação não são tão rígidos. pode-se entender munição como: “artefato completo. pólvora. Em quase todas as espécies de cartuchos. mesmo que a velocidade média de uma série de 10 tiros esteja 5% abaixo do valor médio de fabricação. Os cartuchos mais conhecidos e empregados hoje em dia são: cartuchos para armas raiadas de percussão central. mas progressiva. anexo). Os projéteis podem ser divididos em três grupos distintos: os projéteis de chumbo (projéteis nus). Na maioria das munições militares. o propelente (pólvora) e o projétil. manejo. projéteis (projéteis singulares. das características balísticas da munição. cartuchos para armas raiadas de percussão radial e cartuchos para armas de alma lisa de percussão central. o cartucho é considerado ainda em condições de uso. de 20/11/2000. ao redor de 15ºC. 3º. Segundo o Decreto nº 3. Após os cinco anos. também lenta. A umidade relativa do ar ideal para a conservação dos cartuchos é de 40 a 60%. cujo efeito desejado pode ser: destruição.. a espoleta. o projétil é a parte do cartucho que foi ou que pode ser lançada através do cano sob a ação dos gases resultantes da queima do propelente. exercício. pronto para carregamento e disparo de uma arma. você estudou que: Cartucho é a designação genérica das unidades de munição utilizadas nas armas de fogo de retrocarga. os projéteis jaquetados ou projéteis encamisados (total ou parcialmente) e os projéteis especiais. a vida útil dos cartuchos CBC pode ser prolongada de 3 a 4 vezes. resultando numa deterioração. Se a temperatura for mantida uniforme. Para a balística forense. efeito moral sobre pessoal.. inicia-se um processo lento de decomposição da pólvora.do sol e à temperatura ambiental normal (20 a 25ºC). Os cartuchos destinados a armas de alma lisa apresentam os seguintes elementos essenciais: estojo. Neste módulo. outros efeitos especiais” (art. balins ou projéteis .665. Esse percentual é aumentado para munições destinadas ao uso civil. especiais) e buchas e discos de papelão. . papel. feltro ou buchas pneumáticas (plásticas). cortiça. papelão. prensadas (serragem e parafina).
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