Curso Profissional (2013-2016) Disciplina: Português –Teste Final do Módulo 11 GRUPO I Lê com atenção o texto. CORVO Um só nome anda na boca de toda a gente. (Surge Morais Sarmento, que avança do fundo do palco.) Abre os braços no gesto dramático de quem faz uma revelação importante e inesperada. Começam a ouvir-se tambores ao longe, muito em surdina. MORAIS SARMENTO Senhores Governadores: onde quer que se conspire, só um nome vem à baila. CORVO O nome do general Gomes Freire d’Andrade! (Acende-se a luz que ilumina Beresford e o principal Sousa.) D. MIGUEL Senhores Governadores: aí tendes o chefe da revolta. Notai que lhe não falta nada: é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado… BERESFORD Trata-se dum inimigo natural desta Regência. PRINCIPAL SOUSA Foi Deus que nos indicou o seu nome. D. MIGUEL (Sorrindo) Deus e eu, senhores! Deus e eu… CORVO Mas, senhores, nada prova que o general seja o chefe da conjura. Tudo o que se diz pode não passar de um boato… D. MIGUEL Cale-se! Onde está a sua dedicação a el-rei, capitão? PRINCIPAL SOUSA Agora me lembro de que há anos, em Campo d’Ourique, Gomes Freire prejudicou muito a meu irmão Rodrigo! D. MIGUEL Se eu fosse a falar do ódio que lhe tenho… BERESFORD O marquês de Campo Maior tem razões para odiar a Gomes Freire… (…) PRINCIPAL SOUSA (Do púlpito) Os tambores entram em fanfarra e o palco enche-se de soldados. Meus filhos, meus filhos, a Pátria está em perigo! Os inimigos de Deus preparam, na sombra, a ruína dos vossos lares, a violação das vossas filhas, a morte d’el-rei! D. MIGUEL Portugueses: a hora não é para contemplações! Sacrifiquemos tudo, mesmo as nossas consciências, no altar da Pátria. PRINCIPAL SOUSA Morte aos inimigos de Cristo! D. MIGUEL Morte ao traidor Gomes Freire d’Andrade! (Apagam-se todas as luzes. As personagens ficam na penumbra agitando os braços e erguendo bandeiras no ar. Durante um espaço de tempo muito curto, ouvem-se os sinos e os tambores.) Luís de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar!, Areal Editores (adaptado e com supressões) Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem. 1. Contextualiza, na obra, o excerto transcrito, explicitando a sua relevância na ação. 2. Apresenta três traços caracterizadores de Principal Sousa, fundamentando-te no texto. 3. Indica de que forma se manifesta o tom exortativo no final do excerto, destacando dois dos seus efeitos. 4. As didascálias e as notas laterais assumem uma grande relevância nesta obra de Sttau Monteiro. 4.1. Expõe duas das funções de cada uma delas, considerando o segmento textual apresentado. GRUPO II Lê com atenção o seguinte texto. Se muita coisa era proibida à mulher, à diferença do homem, antes de 1974, o trabalho não só o era com certeza, embora a mulher casada só pudesse ter emprego com autorização do marido, o chefe de família, que, em qualquer momento, podia chegar junto do empregador da sua mulher e dizer-lhe: “– Despeça-ma, se faz favor”. 5 A Nação de Salazar não podia, por muito que lhe apetecesse, prescindir da mão de obra feminina, mais que não fosse por pressão dos empregadores, que necessitavam de braços mais baratos, e da realidade – mais um ordenado em casa, por pequeno que fosse, e era, significava não ter de optar entre comer e pagar a renda de casa. Nos campos, o braço da mulher sempre foi usado – e nem sempre nas tarefas mais leves, que não 10 dava aqui jeito algum aplicar a, de outro modo omnipresente, teoria do sexo fraco. A mulher do lavrador lavrava como o marido, ordenhava, arrancava batata, mondava arroz, ceifava, e empurrava o arado, com a mesma energia que os varões de Portugal. Talvez não rachasse lenha e abatesse pinheiros, talvez, mas, no trabalho assalariado, a camponesa era figura tão comum como a do operário agrícola e, na economia familiar, se diferença houvesse era mesmo a favor do trabalho feminino. 15 Na indústria, também não cabia na cabeça dos guardadores da moral proibir a esmagadora maioria feminina nos têxteis, por exemplo, desde que não chegassem muito alto nas chefias, ficando reservada para o empregador a tarefa de evitar o acesso da mulher a atividades consideradas masculinas. António Costa Santos, in Proibido, Editora Guerra & Paz, 2007 [texto adaptado e com supressões] 1. Seleciona a opção correta. 1.1. No primeiro parágrafo do texto, o enunciador destaca... a) a igualdade de géneros em termos laborais. b) a hierarquia de poder face à empregabilidade da mulher. c) a emancipação da mulher em termos laborais. d) o poder patronal face à mão-de-obra feminina. 1.2. O segmento textual, após o travessão (linha 7) até ao final do segundo parágrafo, apresenta como ideia principal uma realidade presente em Portugal durante a ditadura salazarista... a) a inferioridade da mulher relativamente ao homem. b) o contributo do ordenado da mulher para pagar a renda de casa. c) a importância da presença da mulher em casa para cumprimento dos afazeres domésticos. d) as dificuldades económicas das famílias. 1.3. O enunciado “ – Despeça-ma, se faz favor.” (linha 4) ilustra um ato ilocutório... a) assertivo. b) expressivo. c) diretivo. d) compromissivo. 1.4. Na expressão “Nação de Salazar” (linha 5), o autor utiliza uma... a) perífrase. b) comparação. c) hipálage. d) metáfora. 1.5. O vocábulo “empregador” (linha 3) é... a) um composto morfológico. b) um composto morfossintático. c) uma palavra derivada por prefixação. d) uma palavra derivada por sufixação. 1.6. Na frase “que necessitavam de braços mais baratos” (linha 6), com a palavra sublinhada o enunciador recorre a um processo de coesão... a) referencial (anáfora). b) lexical (meronímia). c) lexical (hiponímia). d) referencial (catáfora). 1.7. O conector “desde que” (linha 16) introduz uma ideia de... a) condição. b) consequência. c) tempo. d) causa. 2. Responde de forma correta aos itens apresentados. 2.1. Classifica a oração “por muito que lhe apetecesse”. (linha 5) 2.2. Indica a modalidade presente na frase “Talvez não rachasse lenha e abatesse pinheiros”. (linhas 12-13) 2.3. Identifica a figura de estilo presente na expressão “guardadores da moral”. (linha 15) GRUPO III Num texto de 120 a 180 palavras, apresenta a personagem que, na tua opinião, tem maior relevância, justificando convenientemente. COTAÇÃO GRUPO I A 1. ........................................................................................................................................ 25 pontos 2. ........................................................................................................................................ 25 pontos 3. ........................................................................................................................................ 25 pontos 4.1. ..................................................................................................................................... 25 pontos GRUPO II 1.1. ..................................................................................................................................... 5 pontos 1.2. ..................................................................................................................................... 5 pontos 1.3. ..................................................................................................................................... 5 pontos 1.4. ..................................................................................................................................... 5 pontos 1.5. ..................................................................................................................................... 5 pontos 1.6. ..................................................................................................................................... 5 pontos 1.7. ..................................................................................................................................... 5 pontos 2.1. ..................................................................................................................................... 5 pontos 2.2. ..................................................................................................................................... 5 pontos 2.3. ..................................................................................................................................... 5 pontos GRUPO III .......................................................................................................................50 pontos Total ________________ 200 pontos GRUPO I 1. O excerto dado para análise reporta-se ao momento em que Gomes Freire de Andrade será acusado como sendo um “traidor”, anunciando-se o preço que terá de pagar por isso: a condenação à morte. Este momento da ação é de extrema relevância, tanto por aquilo que o antecede como também por o que irá desencadear. Ora, o general, por ser um homem culto, “inteligente, idolatrado pelo povo” e um “estrangeirado”, constitui uma ameaça ao poder e é um dos revolucionários que não se conforma com a situação em que o país se encontra. Por esse motivo, é um “alvo a abater”. A decisão anunciada irá provocar reações de inconformismo e de revolta por parte dos que apoiam Gomes Freire de Andrade, principalmente Matilde, a sua companheira, que não irá desistir, prometendo continuar a sua luta e incentivando o povo a acompanhá-la. 2. Principal Sousa é uma das personagens da obra Felizmente Há Luar! que aparece como rosto do poder, como se pode comprovar com a leitura deste excerto, fazendo parte da reunião onde se decide o futuro de Gomes Freire de Andrade. Apresenta-se aqui como um indivíduo que justifica as más ações em nome de Cristo / Deus (“Foi Deus que nos indicou o seu nome.”), compactuando com um regime que condena inocentes em prol da manutenção dos seus cargos e respetivas regalias. O rancor é outra das suas características (“Agora me lembro de que há anos, em Campo d’Ourique, Gomes Freire prejudicou muito a meu irmão Rodrigo!”) assim como o falso patriotismo, percetível quando se serve do argumento “a Pátria está em perigo” para levar avante os seus interesses pessoais. 3. O tom exortativo no final do excerto resulta do discurso incitador de D. Miguel Pereira Forjaz e Principal Sousa. O recurso à frase exclamativa (“Meus filhos, meus filhos, a Pátria está em perigo!”), ao presente do conjuntivo (“Sacrifiquemos tudo […]”) e à repetição da expressão “Morte a …” dá corpo a uma linguagem que pretende persuadir um público (ignorante), o povo, a cumprir as ordens dos seus soberanos. Esta situação vai originar a perda de esperança na mudança de um grupo de populares, como o testemunha Manuel no início do Ato II; no entanto, a crescente tomada de consciência da injustiça praticada contra o general vai desencadear uma postura de revolta e inconformismo em Matilde, levando-a a tomar o lugar do seu “homem” espalhando o sentimento de esperança, pois “Felizmente Há Luar!”. 4.1. Como qualquer texto dramático, este apoia-se também na informação em didascália. Apresenta como particularidade o facto de comportar também um conjunto de notas laterais que completam as que acompanham as falas das personagens. Ora, relativamente às primeiras, elas fornecem informações, por exemplo, quanto à entrada e à saída de personagens – “(Surge Morais Sarmento, que avança do fundo do palco.)” – assim como quanto à iluminação, processo que permite destacar a participação das personagens – “(Acendese a luz que ilumina Beresford e o principal Sousa.)”. Já as notas à margem do texto proporcionam explicações precisas quanto à atuação das personagens (“Abre os braços no gesto dramático de quem faz uma revelação importante e inesperada.”) e dão conta da tensão dramática, percecionada, por exemplo, no som dos “tambores [que] entram em fanfarra”. GRUPO II 1.1. b); 1.2. d); 1.3. c); 1.4. a); 1.5. d); 1.6. b); 1.7. a). 2.1. Oração subordinada (adverbial) concessiva. 2.2. Epistémica / de probabilidade. 2.3. Ironia. GRUPO III (Resposta de caráter pessoal.)
Report "Mod 11 Teste Avaliacao Felizmente Ha Luar"