Na edição anterior foi feita uma livre interpretação do Mito da Caverna.Já nesta edição haverá uma interpretação acadêmica, pois não podemos desconsiderar que a alegoria em Platão é instrumento para a reflexão filosófica. Partiremos novamente da narrativa do Mito, agora completa, e seguiremos com as possíveis interpretações feitas didaticamente por Giovanni Reale e Dario Antiseri no primeiro volume da História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. Vamos nos ater, então, à interpretação do Mito da Caverna, que podemos ler no livro VII de ARepública, de Platão. Imagine leitor, homens que vivam aprisionados numa caverna desde a infância - sem nunca terem tido contato com o mundo exterior - e que só tenham visto o que se projeta do mundo exterior nas paredes da caverna. Imagine que, imediatamente à frente da caverna, exista um muro e que por trás desse muro se movam homens carregando estátuas representando diversas coisas. IMAGINE, AINDA, que por trás desses homens, esteja acesa uma grande fogueira e que, no alto, brilhe o Sol. Tais homens conversam e suas vozes ecoam dentro da caverna. Assim, os prisioneiros da caverna nada poderiam ver e ouvir do mundo exterior senão sombras e ecos. Tais homens acreditariam, portanto, por nunca terem tido contato com nada diferente do que podem perceber dentro da caverna, que as sombras e os ecos eram a verdadeira realidade existente. Suponha, agora, que um dos habitantes da caverna consiga dela se libertar. Vagarosamente descobre que a realidade "conhecida" da caverna era ilusão e que àquilo a que se habituara a chamar de realidade não passava de sombra e eco do que agora, liberto, podia ver e ouvir. Compreenderia que estas, e somente estas, eram realidades verdadeiras. E que o Sol é a causa de se ver todas as coisas visíveis. Diversas interpretaçõe s são possíveis para o Mito da Caverna. A concepção política de Platão, voltasse à caverna para informar-lhes da realidade que vira no mundo exterior àquele confinamento sombrio. Conforme Antiseri e Reale.) será governado da melhor maneira e de modo mais equânime aquele Estado em que aquele que deve governar não tenha a ânsia de fazê-lo..) quando compreendida. conforme sua concepção. o mito se refere aos graus de conhecimento nas formas como ele se realiza (conhecimento das coisas sensíveis e o conhecimento das coisas inteligíveis) e nos dois graus em que essas espécies se dividem: a visão das sombras simboliza a imaginação (eikásia) e a visão das estátuas representa a crença (pístis). As sombras das estátuas na caverna simbolizam as aparências sensíveis. Platão refere-se.percebida quando o liberto volta à caverna. A passagem do mundo do sensível para a visão do mundo suprassensível é vida na dimensão do espírito (visão do bem/ contemplação do divino).. segundo Antiseri e Reale. o caráter ascético. Num terceiro aspecto. aos diversos graus em que a realidade é dividida. o muro representa a linha divisória entre a realidade sensível e a suprassensível. mas dele iriam descrer. A passagem da visão das estátuas para a visão dos objetos verdadeiros e para a visão do Sol. ainda. compadecido dos companheiros de prisão. " (.. antes de forma mediata e posteriormente imediata. Assim como a vida na plenitude da luz (fora da caverna) é a vida do espírito. As coisas verdadeiras situadas do outro lado do muro são representações simbólicas do ser verdadeiro e o Sol simboliza a idéia do bem. ele seria considerado prejudicial à ordem e seria condenado à morte. enquanto o contrário ocorre se os governantes têm ambição pelo poder " Platão "A idéia do bem (. se impõe à razão como a causa universal de tudo o que é bom e belo " Platão FINALMENTE. Por fim. por meio da narrativa.. o Mito da Caverna simboliza. Em uma segunda interpretação. místico e teológico do platonismo: a vida na dimensão dos sentidos e do sensível é a vida na caverna. tem a finalidade de esclarecimen to e libertação dos membros que lá estão SE DEPOIS de algum tempo tal homem. os seus companheiros de outrora o ouviriam. quatro são os possíveis sentidos do mito: Num primeiro possível sentido. lemos no Mito da Caverna a concepção política de Platão quando é mencionado o retorno do liberto à . simboliza a dialética em seus vários graus e a intelecção pura. É o conhecimento impactando num primeiro momento.o mito da caverna Enviado por SILVIAANDREA 19/11/2011 293 Palavras O MITO DA CAVERNA 1) O que é a caverna? R: A caverna é a condição que a humanidade encontra-se. desce à caverna com o intuito de libertar os que nela ainda vivem como escravos. mas dele se utiliza como instrumento para a produção de serviços destinados à realização do bem. acreditando e solidificando idéias oriundas de deduções. 5) O que é o mundo exterior? R: É o infinito conhecimento que está a disposição da humanidade e que basta ser explorado. 6) Qual o instrumento que liberta o prisioneiro que saiu da caverna e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? . É quando o homem aceita adquirir o saber. pois disso resulta o sentido de sua vida. cuja finalidade é o esclarecimento e a consequente libertação dos habitantes da caverna. que se abstendo de somente contemplar as idéias verdadeiras. aquele que "viu" o bem aspirará correr esse "risco". Interpretação . como o de ter de habituar-se de novo a "enxergar" no escuro. tal descida implicará em sacrifícios. o de colocar a própria vida em risco exposto à incompreensão e à ira dos demais homens. 4) O que é a luz exterior do sol? R: A luz do sol é o saber. para Platão. Tal retorno representa a atitude do filósofo-político. Todavia. Quem não fica na inércia. É sabido que. como ocorreu com Sócrates. ficando abismado com a realidade e só acostuma com a prática na busca do conhecimento daí familiariza-se com o aprendizado em querer o saber. 2) Que são as sombras das estatuetas? R: É o que o ignorante fantasia. o verdadeiro político não ama o poder. Contudo. readaptar-se aos costumes dos antigos companheiros e o maior de todos. 3) Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? R: É quem procura o saber.caverna. apresento uma forma reelaborada do mito. Na alegoria narra-se o diálogo de Sócrates com Glauco e Adimato. Para lembrar. aos poucos. E. é possível fazer uma reflexão extremamente . Com essa alegoria. Somente com a iniciativa da busca pelo conhecimento. Certo dia. solidariedade e honestidade. É perfeitamente possível relacionar a filosofia platônica. A tendência é a elaboração de reflexões aplicadas a diversas situações do cotidiano. com nossa realidade atual. Em nossos dias. um dos habitantes resolveu voltar-se para o lado de fora da caverna e logo ficou cego devido à claridade da luz. A história narra a vida de alguns homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna e ficavam voltados para o fundo dela. manipulação dos meios de comunicação e do sistema capitalista. etc. Assim o ser humano deveria procurar o mundo da verdade para que consiga atingir o bem maior para sua vida. adquirir e cultivar a sabedoria e a busca pela verdade. Platão utilizou a linguagem mítica para mostrar o quanto os cidadãos estavam presos a certas crendices e superstições. A partir desta leitura. Quando aplicada em sala de aula. amizade. “imagens” diferentes do que estava acostumado a “ver”. O primeiro é o mundo da imperfeição e o segundo encontraria toda a verdade possível para o homem. à política. sobretudo o mito da caverna.R: O instrumento que liberta o prisioneiro da caverna é busca pelo conhecimento e o que ele deseja libertar é com a socialização dessa sabedoria. muitas são as cavernas em que nos envolvemos e pensamos ser a realidade absoluta. 8)Porque os prisioneiros zombam. Ali contemplavam uma réstia de luz que refletia sombras no fundo da parede. É um dos textos mais lidos no mundo filosófico. em que o mundo sensível (a caverna) é comparado às situações como o uso de drogas. Platão divide o mundo em duas realidades: a sensível. cores. espancam e matam aquele que saiu da caverna? Justamente para Platão a ignorância cria ideias e deduções que como passar dos tempos tais idéias se concretizam em suas mentes e passam a tornar-se tão real a ponto de não deixar se quer abrir passagem para possibilidades de se adquirir novos conhecimentos e assumirem uma postura de que estavam equivocados. tal alegoria resulta em boas reflexões. direitos humanos. que podem aparecer como reflexões do mundo ideal. Ao materializar e contextualizar o entendimento desse mito é possível debater sobre o resgate de valores como família. no livro VII. Voltou para a caverna para narrar o fato aos seus amigos. foi escrito pelo filósofo Platão e está contido em “A República”.7) O que é a visão do mundo real iluminado? R: É a atmosfera que o homem se deixa entrar. vislumbrou outro mundo com natureza. Esse era o seu mundo. ou Alegoria da Caverna. e a inteligível (o mundo das ideias). O Mito da Caverna. desrespeito aos direitos humanos. mas eles não acreditaram nele e revoltados com a “mentira” o mataram. que se percebe pelos sentidos. ou seja sair da inércia ele se torna diferente e no processo de socializar ele é inferiorizado por ser minoria. Além disso.proveitosa e resgatar valores de extrema importância para a Filosofia. ajuda na formulação do senso crítico e é um ótimo exercício de interpretação de texto. Carneiro é professor de Filosofia e História Geral e do Brasil para Ensino Médio. A relevância e atualidade do mito não surpreende: muitas informações denunciam a alienação humana. *Pablo Fabiano B. criam realidades paralelas e alheias. Coautor do livro “Coisas da Filosofia e Fatos Sociais”. Editora Allprint . Mas até quando alguns escolherão o fundo da caverna? Será que é uma pré-disposição ao engano ou puro comodismo? O Mito da Caverna é um convite permanente à reflexão.