Ministerio Criativo
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Ministério Criativo Henri NouwenNOUWEN, Henri; Ministério criativo, tradução Marília Peçanha. Brasília, DF: Palavra, 2008. p. 127-133. A espiritualidade do ministério (Página 127) Se há alguma frase no Evangelho que expressa de uma forma muito concentrada tudo o que eu tentei dizer nos cinco capítulos deste livro, é aquela dita por Jesus aos seus apóstolos no dia antes de sua morte: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos" (João 15.3). Para mim estas palavras resumem o sentido de todo o ministério cristão. Se o ensino, a pregação, o cuidado pastoral individual, a organização e a celebração são atos de serviço que vão além do nível da expertise profissional, é precisamente por causa desses atos que os ministros são chamados a dar suas vidas por seus amigos. Há muitas pessoas que por meio de um longo treinamento atingiram um alto nível de competência em termos de compreensão do comportamento humano, mas há poucos que estão desejosos de dar suas vidas por outros e fazer de sua fraqueza uma fonte de (Página 128) criatividade. Para muitos indivíduos, treinamento profissional significa poder. Mas ministros, que tiram suas vestes para lavar os pés de seus amigos, são impotentes, e seu treinamento e formação têm o objetivo de torná-los capazes de enfrentar suas próprias fraquezas sem medo e tornarem-se disponíveis para outros. É exatamente essa fraqueza criativa que dá ao ministério seu impulso. O ensino torna-se ministério quando os professores se movem para além da transferência de conhecimento e estão desejosos de oferecer sua experiência de vida aos seus alunos de modo que a ansiedade paralisante pode ser eliminada e um novo insight libertador pode surgir. A pregação toma-se ministério quando os pregadores vão além de "contar uma história" e permitem que sua mais profunda intimidade interior esteja disponível aos seus ouvintes para que possam receber a Palavra de Deus. O cuidado individual toma-se ministério quando aqueles que desejam ajudar vão além do equilíbrio cuidadoso de dar e receber com um desejo de arriscar suas próprias vidas e permanecer fiéis ao sofrimento de irmãos e irmãs, mesmo quando isto coloca em risco seu próprio nome e reputação. Organização toma-se ministério quando os organizadores se movem para além de seu desejo por resultados concretos e olham para o mundo com uma firme esperança de uma total renovação. E celebração torna-se ministério quando os celebrantes vão além dos limites dos rituais protecionistas para uma aceitação obediente da vida como uma dádiva. Embora nenhuma dessas tarefas de serviço possa jamais ser cumprida sem preparação cuidadosa e competência provada, nada disso pode ser chamado ministério quando esta competência não é firmada no compromisso radical de dar sua própria vida a serviço de outros. Ministério significa uma tentativa constante de por sua própria busca por Deus, com todos os momentos de dor e alegria, desespero e esperança, à disposição daqueles que querem se juntar a esta busca, mas não sabem como fazê-lo, Por isso, ministério de . modo algum é um privilégio. Ao contrário, é o âmago da vida cristã. Nenhum cristão é um cristão sem ser um ministro. Há muito mais formas de ministério do que as cinco que discuti neste livro, (Página 129) que geralmente enchem a vida diária do ministro ordenado ou do sacerdote. Mas qualquer que seja a forma que o ministério cristão torne, a base é sempre a mesma: dar e sua vida por seus amigos. Mas por que dar sua vida pelos amigos? Há apenas uma resposta para esta pergunta: dar uma nova vida. Todas as funções do ministério são vivificantes, Não importa se a pessoa ensina, prega, aconselha, planeja ou celebra, o objetivo é sempre abrir novas perspectivas, oferecer uma nova abordagem, dar nova força, romper as cadeias da morte e destruição, e criar uma nova vida que pode ser confirmada. Em resumo, fazer com que a própria fraqueza se torne criativa. Assim, se um homem quer ser um ministro, deixe-o ser feliz em fazer de sua própria fraqueza seu orgulho de modo que o poder de Cristo esteja sobre ele... porque quando ele é fraco, então ele é forte (cf. Paulo em 2 Coríntios 12.9-10). Mas embora ninguém possa viver e continuar vivendo sem precisar deste ministério, parece que para muitas pessoas expostas aos crescentes potenciais destrutivos de nosso mundo e que têm visto a mais impiedosa e cruel aniquilação da vida durante sua própria história, o cristianismo não parece ser capaz de oferecer este indispensável ministério. Quando ouvem sobre a vida de Jesus e seus apóstolos, imaginam o que aquela história tem a ver com a era de poder sobrenatural. Quando lhes contam que suas vidas têm um papel significativo na grande história da humanidade, na qual a redenção por meio da morte de Cristo se torna cada vez mais visível, eles, de fato, não vêem muito mais do que uma escalada crescente de guerra, pobreza, crueldade e uma destruição insensível de seu meio ambiente. Quando são confortados com a idéia que sua vida não é final e que irão encontrar sua continuação em um mundo depois deste, sua pergunta é se há muito aqui que justifique uma continuação e se faz sentido pensar sobre uma nova vida em um futuro vago quando mesmo as palavras "amanhã: "próximo ano", e "mais tarde" estão perdendo seu significado em um mundo que pode matar não Somente a nós mas também a própria história. (Página 130) Talvez a crise, aparente do ministério cristão esteja diretamente relacionada ao fato que na idade moderna estamos expostos a tantas experiências e idéias assustadoras e profundamente contrastantes que raramente temos qualquer raiz significativa no passado ou alguma expectativa para o futuro. Robert Jay Lifton fala de um "sentido mundial de ... desvio histórico", o qual descreve como uma "quebra no sentido de conexão que os homens sentiram por muito tempo com os símbolos nutritivos e vitais de sua tradição cultural - símbolos que revolvem ao redor da família, sistemas de idéias, religião e o ciclo da vida em geral". ("Protean Man" [O homem protéico], Partisan Review, 1968, p. 16) Mas se nossa era atômica - que é capaz de destruir não somente indivíduos e famílias mas culturas inteiras e suas histórias, países inteiros e suas chances por reconstrução - tem feito com que muitas pessoas percam a confiança no ministério cristão, a pergunta então é se nós temos realmente compreendido o que significa hoje dar a tua vida por seus amigos. Talvez tenhamos que olhar além da igreja institucional para compreender as reais implicações deste chamado, porque palavras tais como "concentração", "meditação", e "contemplação" são usadas novamente hoje com grande reverência por milhares de jovens que nunca pensarão em ir à igreja ou consultar um ministro cristão. De modos variados, eles tentam romper por meio de sua confusão e inquietação para encontrar no centro de sua própria experiência algo que possa fazê-los atingir além de sua própria consciência limitada. Eles estão experimentando novos métodos de relacionarem-se uns com outros, novas maneiras de comunicação não-violenta, novas abordagens para a experiência de unidade e união, novos meios de cuidado mútuo e novas tentativas para celebrar suas vidas. Emprestam símbolos não somente da tradição cristã mas tentam ampliar sua sensibilidade pelos estímulos naturais e artificiais tais como drogas e álcool. Eles lêem, cantam, e professam experimentar uma nova sensação de liberdade. (Página 131) Não é exagero dizer que, enquanto as igrejas se tornam cada vez .mais vazias, ano após ano, novas formas de ministério estão sendo procuradas na periferia do cristianismo, e aquele ensino, pregação, cuidado, planejamento e celebração estão surgindo de novas formas nas catacumbas de nossas modernas cidades. No meio de nosso mundo caótico temos nos tornado cada vez mais conscientes da ameaça permanente de total destruição e clamamos desesperadamente por uma nova "espiritualidade" que capacita a raça humana a chegar a um acordo com sua busca por significado. Esta nova espiritualidade é descrita por Lifton como "o caminho da transcendência experimental- da busca do senso de imortalidade do modo que os místicos sempre fizeram, por meio das experiências psíquicas de grande intensidade que tempo e morte são, na verdade, 'eliminados'" (op. cit., p. 27). É doloroso perceber que muito poucos ministros são capazes de oferecer a tradição mística rica do cristianismo como uma, fonte de renascimento para a geração que busca urna nova vida no meio dos escombros de uma civilização vacilante. Talvez nossa própria autoconsciência, medo de rejeição e preocupação com as brigas entre igrejas nos impede de ser livres para experimentar o transcendente Espírito de Deus, que pode renovar nossos corações e também nosso mundo. Talvez ainda não estejamos prontos para dar uma orientação tão necessária aos milhares que se engajam em arriscadas experimentações com os poderes do invisível. Talvez nós mesmos tenhamos perdido contato com esses poderes e somente podemos qualificar as histórias das catacumbas corno estranhas, perigosas, ou como sinais de imaturidade. Mas eu receio que os muitos erros óbvios, as falhas e experimentos ininteligíveis nos ceguem ao fato que por baixo de tudo isso há um profundo desejo por uma nova perspectiva, nova compreensão e mais do que tudo, nova vida. Se eu puder confiar em meus próprios sentimentos e limitadas experiências com os jovens estudantes, parece que estamos nos aproximando de um período de busca crescente por espiritualidade (Página 132) que é a experiência de Deus neste exato momento de nossa existência. Quando há tão pouco no passado para nos agarrarmos e tão pouco no futuro para vermos, a realidade que pode dar sentido à vida de alguém deve ser experimentada aqui e agora. Um estudante de vinte e um anos, que considerava sua igreja completamente irrelevante para suas necessidades mas que estava buscando desesperadamente por um sentido em sua vida, disse para mim: "Nós tentamos as drogas, mas não funcionou; tentamos sexo mas também não funcionou; a próxima coisa será o suicídio - nos próximos anos você verá o número de suicídios subir vertiginosamente". A única resposta possível para isto parece ser redescobrirmos o poder transcendente da vida espiritual pela qual somos capazes de nos mantermos fortes mesmo quando estivermos rodeados por ideologias instáveis; por estruturas religiosas, sociais e políticas esfaceladas; e uma constante ameaça de' guerra e total destruição. Pode ser extremamente difícil para nós na era moderna nos sentirmos próximos de Jesus de Nazaré, que viveu em outro mundo; pode ser ainda mais difícil olhar adiante para o dia de sua volta; mas mais do que tudo pode ser possível experimentarmos o Espírito de Cristo como um Espírito vivo que torna possível romper as fronteiras de nossa existência aprisionada e nos fazer livres para trabalhar por um novo mundo. Mas este caminho da experiência transcendental é um caminho que exige ministério. Chama homens e mulheres que se afastam assustados da preparação cuidadosa, sólida formação e treinamento qualificado, mas que ao mesmo tempo são livres o bastante para romper as fronteiras das disciplinas e especialidades na convicção que o Espírito se move além da capacidade profissional. Chama cristãos que estejam desejosos de desenvolver sua sensibilidade à presença de Deus em suas vidas, tanto quanto nas vidas dos outros, e a oferecer suas experiências como uma forma de reconhecimento e liberação dos outros seres humanos. Chama por ministros no sentido verdadeiro, que dão suas próprias vidas por seus amigos, ajudando-os a distinguir entre os espíritos (Página 133) construtivos e destrutivos e torná-los livres para a descoberta do Espírito de Deus - doador da vida no meio deste mundo louco. Chama por fraqueza criativa. © 2008 Editora Palavra Originally published in the U.S.A. under the title: Creative Minitry Copyright © 1971 by Henri J. M. Nouwen Revisions copyright © 2003 by the Estate of Henri J. M. Nouwen Published by permission of Doubleday a division of Random House, Inc, Impressão Imprensa da Fé, SP 1·Edição brasileira Janeiro de 2008 Todas as citações bíblicas foram extraídas da NVI - Nova Versão Internacional. da Sociedade Bíblica Internacional, Copyright ©2001, salvo indicação em contrário. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzi da sem o consentimento prévio, por escrito, dos editores, exceto para breves citações, com indicação da fonte. Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos Os diretos reservados pela Editora Palavra CLN 201 Bloco C Subsolo CEP 70832-530 Brasília - DF Tel: (61) 3213-6975 www.editorapalavra.com.br CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ N81m Nouwen, Henri J. M., 1932-1996 Ministério criativo / Henri Nouwen ; tradução Marília. Peçanha. - Brasília, DF : Palavra, 2008. Tradução de: Creative ministry ISBN 978-85-60387-17-5 1. Teologia pastoral 2. Vida cristã. I. Título. 07-4558. CDD:253 CDU: 253 06.12.07 004553 04.12.07
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