Mia Couto_ _À Porta Da Modernidade, Há Sete Sapatos Sujos Que Necessitamos Descalçar_ - Por Dentro Da África

March 28, 2018 | Author: sarizacaetano | Category: Mozambique, Africa, Zambia, Youth, Ethnicity, Race & Gender


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1/6/2014Mia Couto: "À porta da modernidade, há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" - Por dentro da África Faça sua busca aqui... HOME ESPECIAIS REPORTAGENS EXCLUSIVAS 5 GALERIAS POLÍTICA CIÊNCIA VÍDEOS NEGÓCIOS QUEM SOMOS CULTURA ESPORTE RECEBA NOSSA NEWSLETTER MEIO AMBIENTE BRASIL-ÁFRICA CONTATO ARTIGOS PESQUISAS PROJETOS ARTIGOS · CULTURA · NOTÍCIAS Mia Couto: “À porta da modernidade, há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar” agosto 28, 2013 at 2:09 am Rio – “Os sete sapatos sujos” é um artigo do escritor moçambicano Mia Couto que compartilha as suas impressões acerca do futuro da África e do mundo, destacando que mais do que gente preparada para dar respostas, necessitamos de capacidade para fazer perguntas. À porta da modernidade, o autor nascido na Beira e vencedor do Prêmio Camões deste ano, afirma que é preciso tirar os sete sapatos sujos. Vale a pena reservar alguns minutos para a leitura! (Extraído do Vertical N° 781, 782 e 783 de Março 2005) - Oração de Sapiência na abertura do ano letivo no ISCTEM “Os sete sapatos sujos” Começo pela confissão de um sentimento conflituoso: é um prazer e uma honra ter recebido este convite e estar aqui convosco. Mas, ao mesmo tempo, não sei lidar com este nome pomposo: “oração de sapiência”. De propósito, escolhi um tema sobre o qual tenho apenas algumas, mal contidas, ignorâncias. Todos os dias somos confrontados com o apelo exaltante de combater a pobreza. E todos nós, de modo generoso e patriótico, queremos participar nessa batalha. Existem, no entanto, várias formas de pobreza. E há, entre todas, uma que escapa às estatísticas e aos indicadores numéricos: é a penúria da nossa reflexão sobre nós mesmos. Falo da dificuldade de nós pensarmos como sujeitos históricos, como lugar de partida e como destino de um sonho. DESTAQUES Tatah Mentan: “O povo africano precisa de batismo ideológico pan-africanista para embarcar na segunda onda de libertação” 26 de maio de 2014 Os muitos credos unidos em solidariedade às religiões de matrizes africanas 22 de maio de 2014 Para juiz, candomblé e umbanda não são religiões. Posição da Justiça provoca debates e mobilizações 19 de maio de 2014 ESPECIAIS Falarei aqui na minha qualidade de escritor tendo escolhido um terreno que é a nossa interioridade, um território em que somos todos amadores. Neste domínio ninguém tem licenciatura, nem pode ter a ousadia de proferir orações de “sapiência”. O único segredo, a única sabedoria é sermos verdadeiros, não termos medo de partilhar publicamente as nossas fragilidades. É isso que venho fazer, partilhar convosco algumas das minhas dúvidas, das minhas solitárias cogitações. Começo por um fait-divers. Há agora um anúncio nas nossas estações de rádio em que alguém pergunta à vizinha: diga-me minha senhora, o que é que se passa em sua casa, o seu filho é chefe de turma, as suas filhas casaram muito bem, o seu marido foi nomeado director, diga-me, querida vizinha, qual é o segredo? E a senhora responde: é que lá em casa nós comemos arroz marca…(não digo a marca porque não me pagaram este momento publicitário). VÍDEOS Por dentro da África - Apresentação Seria bom que assim que fosse, que a nossa vida mudasse só por consumirmos um produto alimentar. Já estou a ver o nosso Magnifico Reitor a distribuir o mágico arroz e a abrirem-se no ISCTEM as portas para o sucesso e para a felicidade. Mas ser- se feliz é, infelizmente, muito mais trabalhoso. Lembrança de Lusaka 0:00 / 2:58 No dia em que eu fiz 11 anos de idade, a 5 de Julho de 1966, o http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 1/11 1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade.Por dentro da África Presidente Kenneth Kaunda veio aos microfones da Rádio de Lusaka para anunciar que um dos grandes pilares da felicidade do seu povo tinha sido construído. Algumas nações africanas podem justificar a permanência da miséria porque sofreram guerras. Vale a pena perguntarmo-nos: o que está acontecer? O que é preciso mudar dentro e fora de África? Estas perguntas são sérias. O que é que nos separa desse futuro que todos queremos? Ter futuro custa muito dinheiro. a miséria. Contudo. Desde 1957. Todavia. A fome. Joaquim Chissano é o sétimo desses presidentes. tudo isso nós partilhamos com o resto de África. Felizmente. Hoje. A maior parte destes condenados são jovens e representam exactamente a alavanca com que poderíamos remover o peso da miséria. com diferenças bem sensíveis. Mas a Zâmbia nunca teve guerra. E esse é ainda um caminho de gerações. Na década de 60. nem continuar a atirar poeira para ocultar responsabilidades.199 pessoas curtiram Por dentro da África. as doenças. África não está só perdendo o seu próprio presente: está perdendo o chão onde nasceria um outro amanhã. pesam sobre Moçambique ameaças que são comuns a todo o continente. O nosso continente está repleto de casos idênticos. Kaunda tinha lançado um apelo para que cada zambiano contribuísse para construir a Universidade. de marchas falhadas. as conquistas da liberdade e da democracia que hoje usufruímos só serão definitivas quando se converterem em cultura de cada um de nós. os netos dos camponeses zambianos continuam sofrendo de fome. Não podemos iludir as respostas. Camponeses deram milho. Um país de gente analfabeta juntou-se para criar aquilo que imaginavam ser uma página nova na sua história. esperanças frustradas. se pode comparar o nosso vizinho com aqueles dois países da Ásia. os nossos netos deixarão de passar fome. A mensagem dos camponeses na inauguração da Universidade dizia: nós demos porque acreditamos que. Hoje o único tempo que para eles existe é o futuro dos outros. Para esse trágico número. os zambianos vivem hoje pior do que viviam naquela altura. Generalizou-se entre nós a descrença na possibilidade de mudarmos os destinos do nosso continente. Quarenta anos depois. FACEBOOK Por dentro da África Curtir 211. Os números são aterradores: 90 milhões de africanos morrerão com SIDA nos próximos 20 anos. Acabamos recentemente de presenciar uma dessas diferenças. não faltariam outros exemplos. pescadores africanos 11 de maio de 2014 ofertaram pescado. há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" . a Zâmbia é uma nação com poderosos recursos minerais. Entretanto. nem de perto nem de longe. http://www. Temos que reconhecer e ter orgulho que o nosso percurso foi bem distinto. Infelizmente. Não falava de nenhuma Documentário conta a trajetória de rally que cruzou cinco países marca de arroz. funcionários deram dinheiro. Mas é muito mais caro só ter passado. Moçambique terá contribuído com cerca de 3 milhões de mortos. Parece um detalhe mas é bem indicativo que o processo moçambicano se guiou por outras lógicas bem diversas. para os camponeses zambianos não havia futuro. Não podemos aceitar que elas sejam apenas preocupação dos governos. fazendo isto. Uns meses antes. estamos vivendo em Moçambique uma situação particular. Alguns países podem argumentar que não possuem recursos. A resposta foi comovente: dezenas de milhares de pessoas corresponderam ao apelo.pordentrodaafrica. Antes da Independência. De quem é a culpa deste frustrar de expectativas? Quem falhou? Foi a Universidade? Foi a sociedade? Foi o mundo inteiro que falhou? E porque razão Singapura e Malásia progrediram e a Zâmbia regrediu? Plug-in social do Facebook Falei da Zâmbia como um país africano ao acaso. Quer dizer. apenas seis entre 153 chefes de estado africanos renunciaram voluntariamente ao poder. a Zâmbia beneficiava de um Produto Nacional Bruto comparável aos de Singapura e da Malásia. Na realidade.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 2/11 . Ele agradecia ao povo da Zâmbia pelo seu envolvimento na criação da primeira universidade no país. do apartheid. Reproduzi num jornal nosso um texto desse economista que é um apelo veemente para que os africanos renovem o olhar que mantém sobre si mesmos. Há muito que venho defendendo que o maior factor de atraso em Moçambique não se localiza na economia mas na incapacidade de gerarmos um pensamento produtivo. Mas eu pergunto-vos: digam-me. Mas parte da responsabilidade sempre morou dentro de casa. O seu território era a ausência. os da outra raça. conceitos e preconceitos. É verdade que os outros tiveram a sua dose de culpa no nosso sofrimento. mais escolas. de tudo e de todos. 40 anos depois da Independência continuamos a culpar os patrões coloniais por tudo o que acontece na África dos nossos dias. os da outra geografia. Estamos todos nós estreando um combate interno para domesticar os nosso antigos fantasmas. quem está a convidar os europeus para assim procederem. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico. Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 3/11 . há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" .1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade. Lamento dizer-vos que isto não passa de uma ilusão. crenças. não somos nós? (fim da citação) http://www. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Estamos sendo vítimas de um longo processo de desresponsabilização. Onyeani. enfim. do imperialismo. Agora. Os culpados estão à partida encontrados: são os outros. Não podemos continuar a mendigar. Ninguém está disposto a abdicar daquilo que tem. Eu contei sete sapatos sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Se quisermos algo temos que o saber conquistar. Falo de uma nova atitude mas a palavra deve ser pronunciada no plural. mais escolas. mais hospitais. com a justificação que nós também queremos o mesmo. Se não mudarmos de atitude não conquistaremos uma condição melhor. os africanos foram estudados como um caso clínico. Tudo isso é necessário. de fórmulas e de receitas já pensadas pelos outros. Essa coisa tem um nome: é uma nova atitude. Primeiro. mais projectos económicos. Um pensamento que não resulte da repetição de lugares comuns. Choramos e lamentamos. Há um tempo atrás fui sacudido por um livro intitulado Capitalist Nigger: The Road to Success de um nigeriano chamado Chika A. Haverá muitos. Os nossos dirigentes nem sempre são suficientemente honestos para aceitar a sua responsabilidade na pobreza dos nossos povos. são ajudados a sobreviver no quintal da História. Às vezes me pergunto: de onde vem a dificuldade em nós pensarmos como sujeitos da História? Vem sobretudo de termos legado sempre aos outros o desenho da nossa própria identidade. o seu tempo estava fora da História.Por dentro da África Os desafios são maiores que esperança? Mas nós não podemos senão ser optimistas e fazer aquilo que os brasileiros chamam de levantar. Mas para mim. E pensamos que o mundo nos deve qualquer coisa. Permitam-me que leia aqui um excerto dessa carta. A pergunta crucial é esta: o que é que nos separa desse futuro que todos queremos? Alguns acreditam que o que falta são mais quadros. O pessimismo é um luxo para os ricos.pordentrodaafrica. Esta lavagem de mãos tem sido estimulada por algumas elites africanas que querem permanecer na impunidade. tudo isso é imprescindível. do colonialismo. Outros acreditam que precisamos de mais investidores. ousado e inovador. Queixamo-nos até à náusea sobre o que os outros nos fizeram e continuam a fazer. há uma outra coisa que é ainda mais importante. Acusamos os europeus de roubar e pilhar os recursos naturais de África. mas não seremos construtores de futuro. O primeiro sapato – a ideia que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre vítimas Nós já conhecemos este discurso. sacudir a poeira e dar a volta por cima. meus irmãos e minhas irmãs. os africanos foram negados. Menos nossa. os da outra etnia. pois ela compõe um conjunto vasto de posturas. A culpa já foi da guerra. lamentamos e choramos. mais hospitais. Caros irmãos: Estou completamente cansado de pessoas que só pensam numa coisa: queixarse e lamentar-se num ritual em que nos fabricamos mentalmente como vítimas. Depois. Ninguém nos deve nada. Poderemos ter mais técnicos. nesse caso. Vale a pena debatermos. ainda explicamos os fenómenos positivos e negativos. muitas vezes longínquo e invisível. Nunca ou quase nunca se vê o êxito como resultado do esforço.” Eu aposto que.pordentrodaafrica. Pode-se culpar alguém desse ressurgimento? Não. desse tempo em que não se era dono de si mesmo. E dizemos: Que alguém rouba porque.1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade. como se espreitasse uma oportunidade histórica para se relançar no nosso quotidiano. Mas já poucos aceitarão que os africanos possam ser produtores de ideias. Nós próprios nos encarregamos dessa descrença. coitados.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 4/11 . A equipe desportiva ganha. Produziu futebolistas. com o fim do monopartidarismo. a empresa tem lucros. O patrão. O que explica a desgraça mora junto do que justifica a bemaventurança. coitado. meus amigos. As causas do que nos sucede (de bom ou mau) são atribuídas a forças invisíveis que comandam o destino. nem sequer simbolicamente. Os debates sobre as “autenticas” identidades são sempre escorregadios. E a palavra “boa sorte” quer dizer duas coisas: a protecção dos antepassados mortos e protecção dos padrinhos vivos. ciência e pensamento é estranha mesmo para muitos africanos. Não é preciso que os outros desacreditem. a obra de arte é premiada. Mas nós estamos criando uma sociedade que produz desigualdades e que reproduz relações de poder que acreditávamos estarem já enterradas. de ética e de modernidade. tem um salário insuficiente (esquecendo que ninguém. ninguém mais queria ser cabrito. Tudo isso se aceita. Infelizmente olhamo-nos mais como consumidores do que produtores. Há os que dizem que se trata de uma herança da escravatura. O ditado diz. Todos conhecemos o lamentável uso deste aforismo e como ele fundamenta a acção de gente que tira partido das situações e dos lugares. como é por exemplo a formiga. Hoje. “o cabrito come onde está amarrado”. As insónias do presidente poderão nascer não de maus espíritos mas de uma certa má consciência. Mas a intolerância não é apenas fruto de regimes. tem salário suficiente) Que o político abusou do poder porque. essas praticas são antropologicamente legitimas A desresponsabilização é um dos estigmas mais graves que pesa sobre nós. Ate aqui o continente produziu recursos naturais e força laboral. há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" . terminaria a intolerância para com os que pensavam diferente. Foi como se nunca tivesse realmente morrido. na tal África profunda. sim. O sucesso deve-se à boa sorte. neste mundo. africanos de Norte a Sul. tudo isso reside no domínio daquilo eu se entende como natureza”. É fruto de http://www. Terceiro sapato – o preconceito de quem critica é um inimigo Muitas acreditam que. Já é triste que nos equiparemos a um cabrito. A ideia de que África pode produzir arte. coitado. Imaginemos que o ditado muda e passar a ser assim: “Cabrito produz onde está amarrado. é pobre (esquecendo que há milhares de outros pobres que não roubam) Que o funcionário ou o polícia são corruptos porque. dançarinos. Ou pela ausência de destino. do trabalho como um investimento a longo prazo. todos a conhecemos. Para alguns esta visão causal é tida como tão intrinsecamente “africana” que perderíamos “identidade” se dela abdicássemos. Mas ao mesmo tempo continuamos olhando para nós mesmos com benevolência complacente: Somos peritos na criação do discurso desculpabilizante. nestes provérbios de conveniência nunca nos identificamos como os animais produtores. o funcionário foi promovido? Tudo isso se deve a quê? A primeira resposta. Segundo sapato – a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho Ainda hoje despertei com a notícia que refere que um presidente africano vai mandar exorcizar o seu palácio de 300 quartos porque ele escuta ruídos “estranhos” durante a noite. se não poderemos reforçar uma visão mais produtiva e que aponte para uma atitude mais activa e interventiva sobre o curso da História. O palácio é tão desproporcionado para a riqueza do país que demorou 20 anos a ser terminado. de uma forma dominante. O episódio apenas ilustra o modo como.Por dentro da África Queremos que outros nos olhem com dignidade e sem paternalismo. escultores. matamos o antigo patrão. era responsável pelo nosso destino. Uma das formas de tratamento que mais rapidamente emergiu de há uns dez anos para cá foi a palavra “patrão”. Mas também é sintomático que. com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 5/11 . não é uma língua mas um vocabulário de pacotilha. substituído pela agressão pessoal. Toda essa herança não ajuda a que se crie uma cultura de discussão frontal e aberta. Aquele que é jovem. tendo-nos sido dito: só saem daí quando tiverem feito os hinos. E realmente lá nos comportamos mais ou menos bem. empregados. a certo momento. No dia seguinte recebíamos uma espécie de pequeno dicionário dos termos politicamente incorrectos. vamos mantendo designações que são realmente pejorativas como as de mulato e de monhé. piscina… num momento em que tudo isso faltava na cidade. Na letra de um dos hinos lá estava reflectida essa tendência militarizada. Foi o fim do mundo. assim. Esta relação entre o poder e os artistas só é pensável num dado quadro histórico. Esse sentimento de desobediência adolescente era o nosso modo de exercermos uma pequena vingança contra essa disciplina de regimento. É uma língua simples uma espécie de crioulo a meio caminho entre o inglês e o português. Vozes indignadas de protesto se ergueram e o meu pobre amigo teve que interromper sem entender bem o que se estava a passar. há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" . Nos anos pós-independência. Herdamos da sociedade rural uma noção de lealdade que é demasiado paroquial. todos éramos militantes. Hoje assistimos. Essa herança deu-nos um sentido épico da história e um profundo orgulho no modo como a independência foi conquistada. este hino que nos canta como um só povo. Nessa residência na Matola havia comida. uma cor de alma. todos tínhamos uma só causa. Estavam banidos da língua termos como cego. E havia tantos chefes. não tem voz nem visibilidade. essa aproximação metafórica a que já fiz referência: Somos soldados do povo Marchando em frente Tudo isto tem que ser olhado no seu contexto sem ressentimento. falou de mercado negro. Existe uma variedade de demónios à disposição: uma cor política. Afinal. Na realidade. magro.1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade. gordo. a hesitações sobre se devemos dizer “negro” ou “preto”. Como se o problema estivesse nas palavras. em si mesmas. etc… Nós fomos a reboque destas preocupações de ordem cosmética. enquanto nos entretemos com essa escolha. por inércia. o bolo passa a ser comestível. Quarto sapato: a ideia que mudar as palavras muda a realidade Uma vez em Nova Iorque um compatriota nosso fazia uma exposição sobre a situação da nossa economia e. essa tarefa surgia como uma honra e um dever patriótico. O universo rural é fundado na autoridade da idade. foi assim. A forma como recebemos a tarefa era indicadora dessa disciplina: recebemos a missão. a nossa alma inteira vergava-se em continência na presença dos chefes.Por dentro da África culturas. uma cor de pele. Recomendo-vos fortemente uns tantos termos como. A mesma marginalização pesa sobre a mulher. Basta diabolizar quem pensa de modo diverso. Há toda uma geração que está aprendendo uma língua – a língua dos workshops. Estamos reproduzindo um discurso que privilegia o superficial e que sugere que. O que é certo é que nós aceitámos com dignidade essa incumbência. confesso nós estávamos fascinados com tanta mordomia e ficávamos preguiçando e só corríamos para o piano quando ouvíamos as sirenes dos chefes que chegavam. uma origem social ou religiosa diversa. Esse desencorajar do espírito crítico é ainda mais grave quando se trata da juventude. Era um momento de grandes dificuldades …e as tentações eram muitas. mudando a cobertura. fomos requisitados aos nossos serviços. por exemplo: http://www. surdo. aquele que não casou nem teve filhos. Há neste domínio um componente histórico recente que devemos considerar: Moçambique nasceu da luta de guerrilha. Mas a luta armada de libertação nacional também cedeu. Muito do debate de ideias é. é o resultado da História. Essa herança não ajudou a que nascesse uma capacidade de insubordinação positiva. Basta saber agitar umas tantas palavras da moda para falarmos como os outros isto é. unido por um sonho comum. que nasceu a Pátria Amada. No início da década de 80 fiz parte de um grupo de escritores e músicos a quem foi dada a incumbência de produzir um novo Hino Nacional e um novo Hino para o Partido Frelimo. O curioso é que. Nos primeiros dias. a ideia de que o povo era uma espécie de exército e podia ser comandado por via de disciplina militar. por exemplo. Faço-vos agora uma confidência. para não dizermos nada. esse não tem direitos. e a mando do Presidente Samora Machel fomos fechados numa residência na Matola.pordentrodaafrica. Estamos menos dispostos quando a injustiça é praticada contra os outros. Estamos vivendo num palco de teatro e de representações: uma viatura já é não um objecto funcional. A arrogância e o exibicionismo não são. numa verdadeira obsessão promocional.boa governação . tudo isso parece sugerir uma coisa: a aparência passou a valer mais do que a capacidade para fazermos coisas. Em lugar de acções sugerem-se novos estudos.à forma aviltante como são tratados muitos dos trabalhadores . Tomaram-se medidas imediatas e isso foi absolutamente correcto. esta religião que se podia chamar viaturolatria atacou desde o dirigente do Estado ao menino da rua.aos maus tratos infligidos às crianças Ainda há dias ficamos escandalizados com o recente anúncio que privilegiava candidatos de raça branca. A nossa pobreza não pode ser motivo de ocultação. O termo é curioso: “compatível”. “Mas esse. É triste que o horizonte de ambições seja tão vazio e se reduza ao brilho de uma marca de automóvel. a nossa etnia. Quem deve sentir vergonha não é o pobre mas quem cria pobreza. Outro segredo para fazer boa figura nos workshops é fazer uso de umas tantas siglas. Um miúdo que não sabe ler é capaz de conhecer a marca e os detalhes todos dos modelos de viaturas. como se pretende. em si mesma. Hoje o que somos é medido pelo espectáculo que fazemos de nós mesmos. Criou-se a ideia que o estatuto do cidadão nasce dos sinais que o diferenciam dos mais pobres.violência contra as viúvas .1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade. Cito aqui uma possível frase de um possível relatório: Os ODMS do PNUD equiparam-se ao NEPAD da UA e ao PARPA do GOM.awarenesses ou accountability . há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" . o cartão de visitas cheio de requintes e títulos.parcerias sejam elas inteligentes ou não . Esta doença.desenvolvimento sustentável . Contudo.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 6/11 . senhor Mia. o nosso grupo. O carro converteu-se num motivo de idolatria. Muitas das instituições que deviam produzir ideias estão hoje produzindo papéis. Recordo-me que certa vez entendi comprar uma viatura em Maputo. Em lugar de soluções encontram-se problemas. a nossa religião. o senhor necessita de uma viatura compatível”. Quinto sapato – A vergonha de ser pobre e o culto das aparências A pressa em mostrar que não se é pobre é. Refiro-me em particular à: . pelo modo como nos colocamos na montra. O CV.violência domestica (40 por cento dos crimes resultam de agressão domestica contra mulheres. Porque um workshopista de categoria domina esses códigos.Por dentro da África . áreas onde o crime permanece invisível.pordentrodaafrica. Sou de um tempo em que o que éramos era medido pelo que fazíamos. numa espécie de santuário. a bibliografia de publicações que quase ninguém leu. É um passaporte para um estatuto de importância.comunidades locais Estes ingredientes devem ser usados de preferência num formato “powerpoint. uma fonte de vaidades. São emanações de quem toma a embalagem pelo conteúdo. Persistem em Moçambique zonas silenciosas de injustiça. http://www. Vivemos hoje uma atabalhoada preocupação em exibirmos falsos sinais de riqueza. esse é um crime invisível) . emanações de alguma essência da cultura africana do poder. Sexto Sapato – A passividade perante a injustiça Estarmos dispostos a denunciar injustiças quando são cometidas contra a nossa pessoa. Para bom entendedor meia sigla basta. existem convites à discriminação que são tão ou mais graves eTraduzir que aceitamos como sendo naturais e inquestionáveis. um atestado de pobreza. Quando o vendedor reparou no carro que eu tinha escolhido quase lhe deu um ataque. atafulhando prateleiras de relatórios condenados a serem arquivo morto. É urgente que as nossas escolas exaltem a humildade e a simplicidade como valores positivos. uma fábrica de cidadania activa. O resultado é que a produção cultural nossa se está convertendo na reprodução macaqueada da cultura dos outros. É dentro deste universo que circulam convites e os acessos a oportunidades. o fim da vida. Entram por uma caixa mágica chamada televisão. Nasce do http://www. Estamos copiando as cerimónias de final do curso a partir de modelos europeus de Inglaterra medieval. Criam uma relação de virtual familiaridade. uma nação que chega primeiro. Esse “bairro” das 60 000 pessoas é hoje uma nação dentro da nação. interessa-nos um futuro que não nos venha desenhado como um receita financeira. Este apelo à imitação cai como ouro sobre azul: a vergonha em sermos quem somos é um trampolim para vestirmos esta outra máscara. Esse número poderá. Nós somos também carpinteiros dessa construção e só nos interessa entrar numa modernidade de que sejamos também construtores. Estamos lidando com jovens e com aquilo que deve ser um pensamento jovem. com vestidos compridos. Um outro exemplo. o casamento. Necessitamos de inventar os nossos próprios pontos cardeais. Como e quem decide quem fica de fora? É aceitável. Estamos dançando a valsa. dançando nos braços de Janet Jackson. Será que tudo estava bem? Eu não sei se todos estão a par de qual é a tiragem do jornal Notícias. Mas os efeitos de discriminação e exclusão destas práticas sociais devem ser pensados e não podem cair no saco da normalidade.pordentrodaafrica. que a vida de um milhão e meio de cidadãos esteja nas mãos de um pequeno grupo técnico? Sétimo sapato . Moçambique não precisa apenas de caminhar.Por dentro da África Tomemos esse anúncio do jornal e imaginemos que ele tinha sido redigido de forma correcta e não racial. há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" . A bússola dos outros não serve. O futuro da nossa música poderá ser uma espécie de hip-hop tropical. O que os vídeos e toda a sub-indústria televisiva nos vem dizer não é apenas “comprem”. não nasce sozinho.A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros Todos os dias recebemos estranhas visitas em nossa casa. A Universidade deve ser um centro de debate. nós necessitamos de uma geração capaz de questionar a técnica. Aos poucos passamos a ser nós quem acredita estar vivendo fora. pergunto. Somos marcados por rituais de transição: o nascimento. Esse pensamento não se encomenda. uma forja de inquietações solidárias e de rebeldia construtiva. A minha mensagem é simples: mais do que uma geração tecnicamente capaz. Casamonos de véus e grinaldas e atiramos para longe da Julius Nyerere tudo aquilo que possa sugerir uma cerimónia mais enraizada na terra e na tradição moçambicanas. o fim da adolescência. Necessita de descobrir o seu próprio caminho num tempo enevoado e num mundo sem rumo. da deflorestação. Mais do que gente preparada para dar respostas. Não podemos treinar jovens profissionais de sucesso num oceano de miséria. A Universidade não pode aceitar ser reprodutor da injustiça e da desigualdade. Interessa-nos um passado que não esteja carregado de preconceitos. que troca entre si favores. num baile de finalistas que é decalcado daquele do meu tempo. fértil e produtivo. A secundarização das línguas moçambicanas (incluindo da língua portuguesa) e a ideia que só temos identidade naquilo que é folclórico são modos de nos soprarem ao ouvido a seguinte mensagem: só somos modernos se formos americanos. Estamos administrando anti-retro-virais a cerca de 30 mil doentes com SIDA. Isso significa que cerca de um milhão quatrocentos e cinquenta mil doentes ficam excluídos de tratamento. que vive em português e dorme na almofada na escrita. nos próximos anos. Mas a modernidade não é uma porta apenas feita pelos outros. o mapa dos outros não ajuda. Uma juventude capaz de repensar o país e o mundo. mas a erosão das nossas culturas é ainda mais preocupante. Falei da carga de que nos devemos desembaraçar para entrarmos a corpo inteiro na modernidade. chegar aos 50 000.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 7/11 . São 13 mil exemplares. o destino da nossa culinária poderá ser o MacDonald’s. Há todo um outro convite que é este: “sejam como nós”. Eu olho a nossa sociedade urbana e pergunto-me: será que queremos realmente ser diferentes ? Porque eu vejo que esses rituais de passagem se reproduzem como fotocópia fiel daquilo que eu sempre conheci na sociedade colonial.1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade. Trata-se de uma decisão com implicações éticas terríveis. necessitamos de capacidade para fazer perguntas. Por que geografia restrita circulam as mensagens dos nossos jornais? Quanto de Moçambique é deixado de fora ? É verdade que esta discriminação não é comparável à do anúncio racista porque não é não resultado de acção explícita e consciente. Mesmo se aceitarmos que cada jornal é lido por 5 pessoas. temos que o numero de leitores é menor que a população de um bairro de Maputo. Falamos da erosão dos solos. Falei na tiragem mas deixei de lado o problema da circulação. O nosso corpo social tem a uma história similar a de um indivíduo. Por dentro da África debate. nos anos 60. Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias. Aos poucos se torna claro. sem dúvida. Ou melhor. a droga. Se um país não possuir estratégias viradas para a produção de soluções profundas então todo esse investimento não produzirá a desejada diferença. O continente investiu na criação de novas capacidades. Tags: africa mia couto Moçambique ANTERIOR Bombardeio provoca fuga da República Democrática do Congo para Burundi PRÓXIMA Seun Kuti: “Meu pai trouxe um novo olhar e uma nova interpretação para a música africana” http://www. Mas a auto-estima não pode ser construída apenas de materiais do passado. temos que acreditar nas nossas capacidades. Temos que gostar de nós mesmos. A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós. Hoje. Saberemos como já soubemos antes conquistar certezas que somos produtores do nosso destino. Se as capacidades de uma nação estiverem viradas para o enriquecimento rápido de uma pequena elite então de pouco valerá termos mais quadros técnicos. Não foi apenas a Zâmbia a ver na educação aquilo que o naufrago vê num barco salvavidas. depois. dançando entre a visão romantizada (ela é a seiva da Nação) e uma condição maligna. com verdade e com coragem. professores e pais. Mas esse apelo ao amor-próprio não pode ser fundado numa vaidade vazia. só por si.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 8/11 . um ninho de riscos e preocupações (a SIDA. É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só os setes mas todos os sapatos que atrasam a nossa marcha colectiva. A vida.pordentrodaafrica. o que já muitos sabíamos. Eles arriscaram-se e saltaram a fronteira do medo para terem possibilidade de estudar. fomos também empobrecidos por nós próprios. Nós também depositamos os nossos sonhos nessa conta. nos ensina a termos aquilo que não queremos. A questão é esta: fala-se muito dos jovens. Fala-se pouco com os jovens. O fascínio pela educação como um passaporte para uma vida melhor estava presente um universo em que quase ninguém podia estudar. Até 1940 o número de africanos que frequentavam escolas secundárias não chegava a 11 000. Na realidade. Mas nós fizemos parte dessa História. o desemprego). É verdade que é preciso sentir que temos raízes e que essas raízes nos honram. resultados importantes. há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" . fomos empobrecidos pela História. nós. a miséria de uma nação. a situação melhorou e esse número foi multiplicado milhares e milhares de vezes. que mais quadros técnicos não resolvem. também estamos à procura de respostas. falase com eles quando se convertem num problema. Entre a escola e a vida resta-nos ser verdadeiros e confessar aos mais jovens que nós também não sabemos e que. da informação aberta e atenta ao que de melhor está surgindo em África e no mundo. só existe um modo de nos valorizar: é pelo trabalho. Ele confessou que ele mesmo e muitos dos que. A juventude vive essa condição ambígua. Alguns acreditam que vamos resgatar esse orgulho na visitação do passado. porém. Numa sessão pública decorrida no ano passado em Maputo um já idoso nacionalista disse. Com o novo governo ressurgiu o combate pela autoestima. Mas a força de superarmos a nossa condição histórica também reside dentro de nós. Essa restrição era comum a toda a África. A escola é um meio para querermos o que não temos. Porque a verdade é uma: antes vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros. E esse investimento produziu. numa espécie de narcisismo fútil e sem fundamento. É preciso que saibamos aceitar esta condição sem complexos e sem vergonha: somos pobres. Ou melhor. fugiam para a FRELIMO não eram apenas motivados por dedicação a uma causa independentista.1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade. da pesquisa inovadora. Isso é correcto e é oportuno. pela obra que formos capazes de fazer. Por dentro da África RELACIONADOS Médicos Sem Fronteiras: Tratamento na Suazilândia previne transmissão de HIV entre mãe e filho setembro 30.pordentrodaafrica. Os outros farao a sua tsmbem. 2013 General brasileiro comandará missão da ONU na RDC Rio de Janeiro: Instituto Ori ministrará cursos sobre cultura africana Um jogo pela preservação: Yao Ming denuncia massacre de elefantes e rinocerontes abril 25. 2013 fevereiro 9. SEXUAL E PSICOLOGICAMENTE POIS MUTILA E MACULA HOMENS E MULHERES NEGROS . BEM POR ISSO EXISTIU ESCRAVIDÃO ATÉ POUCO TEMPO NO BRASIL. 2014 setembro 18. mostrou-nos os esqueletos que vivem na inconsciencia de cada mocambicano. PATRIMONIAL. MAS ISSO NÃO IMPEDIU QUE TODO DIA EU SEJA DESCRIMINADA E TRATADA DE FORMA QUE SEMPRE ME LEMBRE QUE SOU CONSIDERADA DE FORMA INFERIOR PELOS PERVERSOS QUE SE DIZEM DONOS DO PODER E POR ISSO ACHAM QUE O CONTROLE DO MUNDO ESTA EM SUAS MÃOS E QUE ELES NÃO ABREM ESPAÇOS PARA NOSSO POVO NEGRO. 2013 PROFILE or Name Email Not published Website 2+ = nove Comment Post It Quero receber as notícias do Por Dentro da África na minha conta de e-mail! 5 Replies 5 Comments 0 Tweets 0 Facebook 0 Pingbacks Last reply was 1 day ago Khataza View 1 day ago Mia Couto falou. POIS APESAR DAS LEIS QUE DIZEM NOS PROTEGER AINDA SOMOS ESCRAVOS DO SISTEMA CAPITALISTA QUE NOS IMPEDE DE PROSPERAR . POIS SEI QUE O LADO FINANCEIRO FALIDO EM UM PAIS CAPITALISTA É UM DOS PIORES SAPATOS SUJOS QUE EXISTE.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 9/11 . há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" .PELA SIMPLES COR DA PELE E NOS TRATAM COMO SE FOSSEMOS MEROS ANIMAIS FALANTES . MORADIA. MORAL. Responder Rosane Francisca Nunes da Silva View 2 days ago PARABÉNS ! PELO MARAVILHOSO E BEM COMENTADO ARTIGO DOS SETE SAPATOS SUJOS . Facamos a nossa parte. Responder http://www. EU TIVE ACESSO A TODA EDUCAÇÃO . ALIMENTAÇÃO EM ABUNDANCIA . MUITO EMBORA NÃO CONCORDO COM TUDO.ASSOCIADO A UM RACISMO CRIMINOSO QUE NOS VIOLENTA DIARIAMENTE FÍSICA. CRIADOS PARA USO E ABUSO DOS PERVERSOS E DESALMADOS INVASORES DO UNIVERSO.1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade. http://www. Todos os direitos reservados. Márcia Eçer Responder Site Oficial Air France airfrance. Artigos RECEBA NOSSA NEWSLETTER TAGS CONHEÇA MAIS africa agricultura angola apartheid Nome: brasil Brasil-África cabo verde Seu nome continente africano crianças cultura Sobrenome: direitos humanos Seu sobrenome Egito eleições etiópia FAO fome guerra guine bissau hiv libia Lula Mali Mandela E-mail: meio ambiente mia couto Seu endereço de e-mail Moçambique MSF mulher Mursi Nelson Mandela Nigéria primavera árabe prêmio quênia RCA Enviar onu RDC refugiados república centro-africana saúde somália sudão sudão do sul T PI África do Sul HOME ESPECIAIS GALERIAS VÍDEOS QUEM SOMOS RECEBA NOSSA NEWSLETTER CONTATO © Copyright 2013 Por dentro da África.br 1000 destinos no mundo Reserve sua passagem online. há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" .1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade.Por dentro da África luciano View 1 month ago gosto das vossas noticias.com.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 10/11 . Um abraço. Adaptação de tema: Benigno Design. Um projeto de comunicação da Transpira. Responder Chrislainbien View 1 month ago Estou satisfeito de ler esta pagina é bom saber para ter novidades nos debates Prover também o jornal para que os outros descobre Responder Márcia Noélia Eler View 4 months ago Muito obrigada pela oportunidade de poder receber os artigos e noticias que vocês elaboram.pordentrodaafrica. pordentrodaafrica. há sete sapatos sujos que necessitamos descalçar" .Por dentro da África http://www.1/6/2014 Mia Couto: "À porta da modernidade.com/cultura/mia-couto-a-porta-da-modernidade-ha-sete-sapatos-sujos-que-necessitamos-descalcar#ixzz33DnRHn77 11/11 .
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