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March 23, 2018 | Author: Aline Brasil | Category: Scientific Method, Science, Methodology, Higher Education, Knowledge


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METODOLOGIA E PESQUISA DO TRABALHO ACADÊMICO: DO DESAFIO À PRÁTICAMaria Ângela Sena Rabelo Conhecer, meu senhor, é saber quê. E o quê. Não é só constatar. Pois sim. Constatar qualquer um constata. Basta olhar, sentir, apalpar. Pode-se tocar o mundo com os olhos ou ver com os dedos pelo só observar. Fácil. Conhecer dessa forma é captar o 'por fora de tudo'. O que está fora das plantas, do homem, da sociedade, do Estado, das palavras. A ciência diz que precisa conhecer. Quer saber, pois, o "por dentro" ou "para além" do por fora. Por isto, as causas, a essência. Já disse: o concreto por detrás do aparente, a regularidade no irregular, a identidade na diferença. Isto, Senhor, são caminhos do conhecimento sábio. Neidson Rodrigues A Metodologia Científica, acoplada ao currículo básico de cursos superiores, é a disciplina que aborda o problema da natureza do conhecimento e do método científico. Mas é, sobretudo, um desafio para educadores e acadêmicos, em vista dos objetivos a que se propõe. Afinal, segundo Ruiz (1996), "os cientistas já estão trabalhando com o intuito de promover o avanço da ciência para a humanidade; os estudantes ainda estão trabalhando para o crescimento da sua ciência". Ambos, no entanto, devem trabalhar cientificamente. Na visão do referido autor, ao estudante compete obedecer princípios estabelecidos pela metodologia científica e adquirir, não só a capacidade de conhecer as conclusões que lhe são transmitidas, mas a habilidade de reconstituir, de refazer as diversas etapas do caminho percorrido pelos cientistas. Não seria por demais a exigência dessa necessidade de percorrer o caminho trilhado pelos cientistas? Ora, se considerarmos que os trabalhos desenvolvidos pelos alunos têm um caráter didático e, como tal, são valiosos meios de aprendizagem, pois ensinam, exercitam, treinam e capacitam o estudante a refazer, cientificamente, caminhos já percorridos, a resposta será negativa. E tais atividades serão, afinal, parte de um processo que possibilita ao aluno observar o fato, explorá-lo criticamente, estabelecer hipóteses, problematizar a realidade, investigar fontes, situando-o, concretamente, no plano da pesquisa científica. Mas Metodologia Científica é sobretudo um desafio porque é a disciplina que procura atender às expectativas em relação ao que é oferecido aos alunos no curso de Metodologia Científica e o que se espera do desempenho deles na produção de trabalhos científicos e "uma grande variedade de rótulos na classificação dos mesmos" (SALOMON, 1973). A tarefa é aprender a pôr ordem nas próprias idéias e ordenar os as orientações básicas para elaboração de trabalhos científicos em nível de graduação: • • • • técnicas de leitura. 56 dados. pode parecer por demais complicado ou pomposo o procedimento que se deve seguir. Isso. de modo que o acadêmico possa perceber a necessidade prática (ou pragmática?) daquela "matéria" que parece restrita ao campo da normalização pura e simples? Em que lugar se situa a interdisciplinaridade? Essas questões. Explica-se: afinal. Colocado dessa forma. se não considerarmos também. suscitam uma reflexão crítica para toda e qualquer prática. em tese. o que inclui as normas da ABNT. mesmo "esquecidos" ao longo do curso. no mais puro estilo São Tomé. para a produção de trabalhos científicos ou acadêmicos é. Mas não o seriam suficientes para a aquisição de hábitos exigidos pela pesquisa científica que. "fazer apenas uma pesquisa" (atividade que. então. n. É certo e a prática tem nos mostrado isso. também a avaliação desses trabalhos se perfaz de forma metódica. Os trabalhos correspondem às expectativas? Ou menos: atendem a um mínimo de organização ou de sistematização do pensamento? E. a exigência dos procedimentos ditos metodológicos ou científicos é posta em xeque. devem orientar o aluno durante todo o período acadêmico. a qual esse artigo procura corresponder. quando o aluno deveria. o qual se pode burlar (e muitos. em termos práticos. 55-59. que os alunos se ressentem diante de uma exigência intelectual mais rigorosa. no universo escolar e/ou acadêmico tem se devotado à reprodução pura e simples. 1º semestre de 2003. e a tendência é que os "hábitos" sejam diluídos e. Daí. Metodologia e pesquisa do trabalho acadêmico: do desafio à prática. de forma bem concisa. nos procedimentos racionais e lógicos seguidos pelo homem na busca de solução ou soluções para um problema qualquer que afete seu conhecimento. visando à sua elaboração sistemática. muitas vezes. nas demais disciplinas. obviamente. 13. muitos o tentam) com o mais ingênuo empirismo que. Maria Ângela Sena. Divnópolis. a disciplina parece restrita ao primeiro semestre do curso. sendo assim. uma experiência de trabalho metódico – que implica uma atividade racional. . leva os RABELO. quem sabe.Revista da FADOM. por exemplo. 13. seriam esses os procedimentos considerados fundamentais para o hábito de lidar com os trabalhos acadêmicos. o propósito da disciplina de auxiliar os demais professores na orientação e na avaliação dos trabalhos propostos aos alunos. elaboração de trabalhos universitários. equivocadamente. n. A saber. técnicas de estudo e apontamento. evidentemente limitando-se à questão da manipulação do conhecimento segundo os pressupostos da referida metodologia. podem ser relacionadas. Em verdade – e em grande parte – resistem mesmo a ela. a inevitável normalização preceituada pela Metodologia Científica. no cotidiano da escola e no contexto da prática educativa. referência Bibliográfica. No entanto. tida como "rigorismo" apenas. desarticulada de qualquer componente crítico). E. p. no que toca ao corpo docente. Revista da FADOM. n.] Sob essa perspectiva. então.. à pecuária ou à culinária e. Para além disso. desenvolva seu espírito crítico e de discernimento. seja elaborado com teores mínimos de atitude científica. se une aos objetivos de um curso superior em que o processo escolar está um tanto quanto restrito ao treinamento profissional (aquisição de habilidades) e não especificamente a uma pedagogia para eclosão das potencialidades e competências que se requer no ensino fundamental e médio – e. a planejamentos e a desenvolvimento de pesquisa. transformar em prática "administrativa burocrática" um trabalho que. Diríamos que o universitário já está quase em condições de ser um autodidata na universidade.15). segundo o mesmo autor: Cumpre que o universitário não transfira a outrem ou a circunstâncias externas a responsabilidade sobre seus êxitos ou fracassos na vida estudantil. aprenda a raciocinar segundo os padrões de correção lógica. p. evidentemente. na formação cultural e acadêmica do aluno não está em jogo apenas a acumulação de informações e o domínio de certas habilidades. n. tirar maior proveito do tempo dedicado a aulas. sem se ater à qualidade do ensino e. em sua Metodologia Científica nos propõe examinar essas "diretrizes aptas a instrumentar o universitário para que possa. Ruiz (1996. Metodologia e pesquisa do trabalho acadêmico: do desafio à prática. Maria Ângela Sena. e pode estar certo de que chegará a grandes alturas na subida para as honras e responsabilidades da cultura em nível superior. mas a capacidade de manipular e operar o real. adote uma forma correta de conduta em sua vida de estudo. a seu empenho em crescer culturalmente. pois o que se persegue é a profissionalização (LIMA.Revista da FADOM.. o saber sistematizado. Assuma a responsabilidade de seu curso. como regras semelhantes que se aplicam. espera-se. discipline sua mente à luz de diretrizes já fartamente confirmadas pela existência. 1986). ou simplesmente. honradas as exceções. E no estágio de um curso superior. a leituras. o sentido disso é óbvio: afinal. em suma. ou em pragmatismos (mal) resolvidos na seguinte questão: de que isso me serve e para que tanta exigência? Sob esse prisma. 13. "obedecer" um procedimento para o trabalho "dar certo". firme hábitos adequados a seu propósito de crescimento cultural. p. a Metodologia Científica pode ser vista como mero adestramento ou disciplinação. seria então pedir demais aos nossos acadêmicos que assumam uma atitude científica ao manipular o conhecimento – aqui entendida como uma curiosidade saudável com que se buscam as evidências para uma base sólida do conhecimento? Portanto. que percebam a Metodologia Científica não apenas como um conteúdo a mais. . 13. em qualquer situação. bastaria. a reuniões de grupos. a somente acreditar ou levar em consideração algo que esteja amparado em evidências claras. uma vez que. 1º semestre de 2003." E. por exemplo. Esse fato. por conseguinte. 57 "acadêmicos". ao nível dos acadêmicos formados pelas instituições de ensino superior no Brasil. mas como ações e/ou procedimentos aplicados ao real. ou simples codificação de normas que presidem a confecção de um simples artigo. Revista da FADOM. aí RABELO. Divnópolis. estão em questão o treinamento. 55-59. a apreensão de conteúdos. E que a utilização da Metodologia Científica possa contribuir para isso [. o "senso" da cientificidade do processo educativo. ao adentrar o universo acadêmico do curso superior. Afinal. 13. marcada pela rubrica do "certo" ou "errado". adequadamente. Essa práxis. por sinal". A perspectiva é. o estado daquele que evita o senso comum. numa formação de base. por conseqüência. portanto. não como conteúdo específico – pois correria o risco de se tomar "mais um" e "muito cansativo. um pensamento coerente. RABELO. deve permear a formação/orientação dos educadores. justamente porque é sujeito e agente dela e pode. 1º semestre de 2003. 55-59. os conhecimentos ali adquiridos ganham aplicação prática para o acadêmico nas demais disciplinas com que lida. com prontidão. Sobretudo. Divnópolis. interdisciplinar. alterá-la e transformá-la para além do mundo acadêmico e de suas "exigências". Maria Ângela Sena. (Por falar nisso. que permitam aos alunos. a Língua Portuguesa e apontam embasamentos teóricos para as abordagens dos conteúdos e as estratégias utilizadas na prática. por parte dos educadores. quão incisivo é o desafio de explicar o que seja "método científico" para um aluno que chega ao curso superior. mais apto a corresponder. n. a apreensão e a construção próprias de novos conhecimentos. . o mais cedo possível. através da linguagem escrita. ressentimos. à tutela de seu próprio conhecimento e. não deve reduzir a avaliação a fórmulas preestabelecidas de textos. que o trabalho implique numa reflexão crítica da parte dos envolvidos – educandos e educadores – e reflexão crítica supõe exercício permanente de uma "atitude filosófica". parece inexistir. Daí. antes. isto é. as idéias prontas. entendemos. resta concluir que as "exigências" postas pela Metodologia Científica não se reduzem ao seu próprio universo. mas utilizá-la como forma de instigar ao aperfeiçoamento da produção acadêmica. por exemplo.) Essa evidência nos sugere que. sem saber empregar. senão familiarizado com um mínimo de organização dos dados da realidade. normas de concordância e apresentar. Metodologia e pesquisa do trabalho acadêmico: do desafio à prática. É preciso que o acadêmico perceba que seus trabalhos "fazem sentido" para aquele que o avalia – e esse .Revista da FADOM. aliada ao investimento qualitativo na formação e no aperfeiçoamento profissional. Justamente para que o aluno. seja a Metodologia Científica aplicada e difusa na prática educativa desde o ensino fundamental. sob o ponto de vista de um leitor crítico. 13. a reprodução e se dedica a uma problematização conseqüente da realidade e dos dados que a compõem. E a avaliação aqui não se reduz ao simples gesto de penalizar a desconformidade segundo essa ou aquela regra. por exemplo. p. possa estar. de sua formação. 58 sim. portanto. Mas é justamente esse fator que não deve prescindir da avaliação criteriosa que os demais professores devam dedicar aos trabalhos produzidos pelos alunos. Mas que se o faça a partir do conhecimento e da aplicação das respectivas metodologias que orientam as demais disciplinas como. n. Revista da FADOM. Metodologia e pesquisa do trabalho acadêmico: do desafio à prática. São Paulo: Cortez. p. n. Belo Horizonte: Interlivros. São Paulo: Atlas. Neídson. 1º semestre de 2003. 1996. Revista da FADOM. 55-59. Metodologia científica – guia para eficiência nos estudos. para não filósofos. Filosofia.. Lauro de Oliveira. 19-30. Délcio Vieira. Redação inquieta. RABELO. 1998. Maria Ângela Sena. . jul/ago 1986. 2000. Como fazer uma monografia. Educação e a lei dos três estados ou a cientificidade do processo educativo. Divnópolis. Revista Pedagógica. 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERNARDO. RUIZ. SALOMON. n. 1973. João Álvaro.Revista da FADOM.. Belo Horizonte: Formato. 13. RODRIGUES. 13. Gustavo. LIMA.
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