EducaçãoMetodologia Científica ou a dor e a delícia de aprender a ler e escrever na graduação. Por Josélia Gomes Neves In http://www.partes.com.br/educacao/metodologia.asp Josélia Gomes Neves[1] Resumo: O presente texto refere-se a uma reflexão elaborada a partir das experiências vivenciadas em função do desenvolvimento da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica ministrada na educação superior. Trata de sistematizar importantes referenciais verificados ao longo deste processo no que diz respeito às relações de acadêmicas e acadêmicos com este campo do conhecimento. Pretende ainda possibilitar a avaliação da prática pedagógica, uma vez que os aspectos evidenciados poderão ser compartilhados e ainda se constituir em pistas valiosas para o aperfeiçoamento do trabalho docente, enquanto tematização da prática. Palavras-chave: Humano. Metodologia Científica. Práxis Pedagógica. Conhecimento As propostas atuais de formação de professores e professoras (FREIRE, 1991; FERREIRA, 2003; PERRENOUD, 2000; CONTRERAS, 2002), vêm evidenciando a importância de se assegurar progressivamente nas instituições de ensino, locais específicos para aperfeiçoamento da prática pedagógica. Um dos referenciais proposto a esse respeito, é a formação continuada, que pode se viabilizar de várias formas, tais como: inserção docente em programas de pósgraduação lato sensu – as especializações ou strito sensu– relativo aos cursos de mestrado e doutorado, a instalação de grupos de estudo no local de trabalho, a participação em eventos relacionados à área de atuação – âmbito local ou nacional e outras situações em que o professor ou a professora tenha oportunidade de refletir sobre o trabalho pedagógico que realiza com os seus alunos e alunas. Consideramos particularmente a tematização da prática - momento em Nesta perspectiva. se aproxima de uma situação em que o trabalho docente é analisado. 36). compreender melhor a teoria. nos propomos a compartilhar neste artigo. é de hábito. melhorar suas leituras – conhecer novas técnicas de estudo. A atualização da prática pedagógica requer a construção de novos conhecimentos até para dar conta de responder e interpretar os desafios da realidade presente. a palavra ‘amor’ muda de sentido no contexto religioso e no contexto profano. . aprender a fazer pesquisa. desafios e desejos que vêm se manifestando em nosso fazer na sala de aula com discentes dos mais variados cursos.que o professor ou a professora se debruça sobre o objeto de estudo em questão que é o seu fazer pedagógico no cotidiano da sala de aula. Para ter sentido a palavra necessita do texto. indagações são respondidas e intervenções são produzidas. Temos muito claro que o desafio maior é o de organizar os saberes. Logo no início da disciplina. perguntas. de que: O conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente. considerações. mas há também que se considerar a permanente revisão destes saberes. saber escrever bons textos e sobretudo. explicá-lo. como Pedagogia. da educadora. objetivo prioritário da tarefa do educador. É preciso situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido. Direito e Administração. entendido aqui neste texto como as redes lançadas para capturar aquilo que denominamos mundo: para racionalizá-lo. o que está sendo satisfatório e o que é preciso mudar na reflexão sobre a prática. Desse modo. e o texto necessita do contexto no qual se enuncia. solicitarmos dos acadêmicos e acadêmicas que registrem por meio de uma produção escrita as suas expectativas quanto a disciplina Metodologia da Pesquisa Científica. p. O parâmetro desta avaliação é sem dúvida a aprendizagem dos alunos e alunas. na perspectiva apontada por MORIN (2001. que é o próprio contexto. Pensamos que a reflexão formalizada neste artigo. e uma declaração de amor não tem o mesmo sentido de verdade se é enunciada por um sedutor ou um seduzido. os resultados desta consulta têm sido muito interessantes: manifestam o interesse de compreender a ciência. o correspondente relatório de pesquisa. o debate e a produção escrita. Elegemos como recurso metodológico para fazer a disciplina acontecer. os métodos e técnicas. as partes que compõe um trabalho dessa natureza. estudo do tipo etnográfico (ANDRÉ. a ABNT e as NBR. como a pesquisa participante (EZPELETA. pesquisa-ação (THIOLLENT. a relação com outros temas de estudo das demais disciplinas. fazer uso do dicionário para compreender melhor o vocabulário e esquematizar as idéias em um quadro proposto. (POPPER. 2004). a tarefa apresentada era: ler um texto.dominá-lo. a resenha. A maioria dos/as discentes realizou a tarefa apresentando dificuldades comuns como: sublinhar excessivamente o texto. Nossos esforços são no sentido de tornar as malhas da rede mais estreitas. o projeto de pesquisa (GIL. pesquisa e redação com embasamento científico elaborados segundo as técnicas da ABNT. Considerando as necessidades de aprendizagens postas. ROCKWELL. Numa das atividades diagnósticas. 61) Nosso objetivo principal ao ministrar esta disciplina é o de apresentar instrumentos necessários para a realização de trabalho de pesquisa objetivando a construção do conhecimento dos acadêmicos e acadêmicas de forma a favorecerlhes uma leitura e escrita mais eficiente. 1995) e história oral (BOM MEIHY. fichamento e o resumo (MEDEIROS. propomos como conteúdos a serem discutidos e apropriados. os seguintes: a importância da leitura. quase todas as linhas dos parágrafos. 2000). sublinhar palavras e expressões relevantes. 1972. a leitura prévia dos textos metodológicos. as técnicas para elaboração dos trabalhos de graduação.1986). isto é. a apresentação de trabalhos. por meio de atividades individuais e coletivas. observadas em uma determinada turma. p.1994). acabando . Discutimos a apresentação em portifólio das várias abordagens da pesquisa e que situação é mais adequada a sua utilização. o trabalho de campo (SEVERINO. 2002). 2003). a produção do artigo científico. de uma forma mais ou menos elaborada. mistura de letras maiúsculas com minúsculas. iniciais de frases com letras minúsculas. com vistas a importância de se fazer estes tipos de correções – esta situação trata-se de uma prática herdada na escola básica onde a concepção é de que o texto é feito para o/a professor/a corrigir.por comprometer a validade desta técnica. e que sobretudo. no sentido de procurar ajudar os acadêmicos/as a ajustar seus conhecimentos com base nas contribuições da Metodologia Científica. Caso verifique inadequações – como alunos/as que sublinham todo o texto – então. uma vez que não basta memorizar as ações ou as . através da realização de tarefas em pequenos grupos. Isso requer uma atenção por parte do/a professor/a no sentido de identificar como os alunos/as estudam. O que temos procurado viabilizar em nossas aulas é a criação de situações de aprendizagem que privilegiem a interação. já construíam procedimentos pessoais de estudo. levem em conta o hábito de localizar informações para resolver os problemas apresentados. atividades em sala com o nosso acompanhamento. Outros problemas verificados diziam respeito aos erros gramaticais: a não acentuação das palavras. quando sabemos que o produtor do texto deve ser também o seu revisor. Verificamos que neste percurso. que referiu-se a de forma foi fragmentada – necessitando de mais dados para compreensão dos enunciados ou ainda informações muito extensas e repetitivas. O conteúdo da disciplina Metodologia Científica pode ser classificado como conceitual e procedimental. é necessário fazer intervenções no intuito da adoção de procedimentos mais adequados. Nossa intervenção foi no sentido de alertar para a necessária revisão do texto. organizamos temáticas de estudo. durante e após o processo de produção. avaliando se os resultados de tais práticas são eficientes e de fato contribuem para a sua aprendizagem. De posse destas informações. outro problema esquematização das idéias que foram apresentadas. Entendemos que há necessidade de considerar que o conteúdo de Metodologia Científica deve ser de conhecimento e domínio de todos os professores e professoras. que num curto espaço de tempo os alunos aprendam tudo isso. realizar as etapas . é que temos propiciado espaços onde os alunos e alunas. montar um trabalho exigido na graduação considerando as normas da ABNT. O desenvolvimento progressivo das competências relacionadas ao ler e escrever que nossos alunos e alunas precisam dar conta de construir no percurso da graduação. que ensine como fazer um resumo. a exercitação constante. é preciso fazer uso deste conhecimento com freqüência e a descontextualização – saber aplicar em outras situações que se apresenta como necessidade (ZABALA. 2001). bem como. artigo. monografia. têm se apresentado como uma carga horária correspondente a 40. produzir esquemas e resumos. cabe a mim orientá-lo nesta tarefa e não responsabilizar única e exclusivamente o professor ou professora de Metodologia como se esta atividade fosse responsabilidade apenas dele/a. Tradicionalmente o status da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica nas faculdades brasileiras. pois se quero que meu aluno ou aluna produza um artigo. resenha. têm oportunidade de realizar atividades num processo experimental a partir dos textos das outras disciplinas. como o exercício de sublinhar textos. Espera-se deste professor ou professora que ensine os alunos e alunas a qualificar sua forma de estudo – estudar cada vez mais e melhor. fazendo em um contexto pleno de significados. fichamento. entre outros.que comporta o saber fazer – para isso as condições de aprendizagem são: a reflexão sobre a ação que o sujeito está fazendo.normas da ABNT sem uma construção de sentidos. pois é preciso compreender sua lógica de funcionalidade. Tendo claro esta questão. enfim. que os/as alunos/as aprenderão a fazer. 60 ou 80 horas avaliada como o suficiente para comportar todas as aprendizagens relacionadas ao conhecimento dos trabalhos em formato acadêmicos exigidos na graduação. mas . não é objetivo de apenas uma disciplina ou de um professor. Entretanto. Considerações Finais Avaliamos que muitas são as dificuldades de aprendizagem para os acadêmicos e acadêmicas na disciplina de Metodologia Científica. considerando o modelo adotado na escolarização básica. só podem ser assegurados pela impessoalidade. objetivando a interpretação e a explicação da realidade. basta uma leitura na produção de dissertações e teses brasileiras mais recentes. Entretanto. eu penso.deve ser um compromisso de todos e todas que como Edgar Morin (2001). pois permite a compreensão da necessidade do ser humano produzir perguntas e respostas relacionadas às dúvidas e questionamentos postos. a pura reprodução das fontes. o que nega expressões como o meu trabalho. ou mesmo por causa da prática insuficiente de leitura e capacidade de construção interpretativa. Seja em função da idéia equivocada que têm da pesquisa. uma contribuição que avalio como fundamental nesta questão é o trabalho coletivo entre os docentes no sentido de fazer as regulações necessárias contribuindo para o avanço do saber em estudo. tem a compreensão que o conhecimento deve ser transversal. que acaba por isso mesmo negando o processo de autoria. Muitos autores e autoras (ANDRADE. . em nossa opinião – escritos na primeira pessoa do singular ou do plural. é a reflexão sobre a inconstância do conhecimento. Um dos grandes méritos desta disciplina. 2002) permanecem com a concepção de que a objetividade nos trabalhos científicos. essa orientação de cunho positivista que pressupõe como condição de cientificidade a neutralidade através do distanciamento na descrição e análise da relação sujeito e objeto. a meu ver. vem ultimamente sendo revista e questionada. 1995. É comum os alunos e alunas terem um conceito de verdade absoluto. interrogam o meu fazer e certamente tem me ajudado a ensinar melhor. . quando não conseguimos escrever nenhuma linha. Aprender e ensinar Metodologia Científica. Referências Bibliográficas: ANDRADE. é algo que se torna inevitável. então de solicitar um artigo científico. BOM MEIHY. 2002. constitui-se num aspecto fantástico que se traduz na sua própria inconclusão do ser. na idéia do provisório. S. solicitar dos alunos e alunas algo que não fazemos. E. não pode se limitar a uma atividade distanciada da práxis pedagógica. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. Que legitimidade temos. não temos intimidade com a publicação? Questões como esta dialogam cotidianamente com a minha prática. ed. 6. senão nosso papel em sala de aula será apenas o de exigir o cumprimento de normas que não compreendemos. São Paulo: Papirus. amanhã podemos refutá-lo. Neste sentido. uma única referência. Isso nos remete ao campo da produção das explicações e das verdades. ed. o conhecimento que hoje nós validamos. M.das coisas e dos fenômenos. 2002. C. pois não podemos ensinar o que não sabemos. Manual da História Oral. como por exemplo. ANDRÉ. No processo de leituras e debates a desconstrução destas idéias. 4. o exercício da reflexão escrita. M. Paulo Freire (1997) coloca que como docentes nós não podemos ajudar os alunos e alunas a superarem suas ignorâncias se não superamos permanentemente a nossa. A. D. de. Etnografia da Prática Escolar. o que não aprendemos. São Paulo: Loyola. J. M. São Paulo: Atlas. de. bem como. Metodologia do Trabalho Científico. K. José. A. 1986. 2003. J. A lógica da pesquisa científica. 2004. E. São Paulo: Cortez. Naura Syria Carapeto. J. ed. São Paulo: Atlas. ed. 1972. 2003. PERRENOUD. Os sete saberes necessários à educação do futuro. ____________ . São Paulo: Cortez. 21. FREIRE. São Paulo: Cultrix. A autonomia dos professores. São Paulo: Paz e Terra. 2001. 5. Paulo. São Paulo: Cortez. 1991. J: ROCKWELL. Porto Alegre: Artmed. A. MORIN. São Paulo: Cortez. 3. Dez novas competências para ensinar. EZPELETA. SEVERINO. Como elaborar projetos de pesquisa. ed. Edgar. B. São Paulo: Cortez. . 2000. FERREIRA. São Paulo: Atlas. MEDEIROS.CONTRERAS. Pedagogia da Autonomia: educativa. 1997. Pesquisa Participante. saberes necessários à prática GIL. 2000. ed. C. A educação na cidade. Redação Científica: a prática de fichamentos. POPPER. resumos e resenhas. Formação Continuada e gestão da educação. 2003. 4. Philippe. São Paulo: Cortez. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo:Cortez. Antoni. ZABALA. A prática educativa: como ensinar. shiva.br . ed. [1] Professora Assistente da Universidade Federal de Rondônia – Campus de JiParaná. 6.com. Rondônia.THIOLLENT. Porto Alegre: Artmed. Especialista em Psicopedagogia e Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. 1994. 2005. 1998. M.ro@uol. Brasil.
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