Maurílio T-L. Penido

March 17, 2018 | Author: Gustavo S. C. Merisio | Category: Teresa Of Ávila, Experiment, Neoplatonism, Thomism, Delusion


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MAURÍLIO T-L.PENIDO BIO 1 http://www.pucsp.br/fecultura/textos/fe_razao/17_padre_maurideo.html Padre Maurílio Teixeira-Leite Penido: palavras precisas, para penetrar a verdade Bruno Tolentino Primeiro grande filósofo do Brasil e um de seus mais finos teólogos, o padre Maurílio Teixeira-Leite Penido nasceu em Petrópolis em 1895 e foi educado em Paris, Roma e Suíça, de 1906 a 1921. Autor cedo celebrado no meio intelectual europeu, em especial no “entre deux guerres”, até hoje seus textos enriquecem o currículo do ensino de filosofia em inúmeras universidades do Velho Mundo, notadamente Louvain e Friburgo, onde se doutorou e exerceu o magistério entre 1927 e 1938. A redação penidiana primou sempre pela clareza, pela lógica e comunicabilidade da frase, sem prejuízo da elevação das idéias. De seus textos salta de imediato o pensamento do escritor, sem nada de rígido, pesado, monótono ou difuso. De quando em vez, alguns toques de poesia, e uma quase imperceptível, fina ponta de ironia, no que se revelava mais próximo do seu amado e reverenciado Machado de Assis, talvez, do que de Bossuet ou Maritain. De fácil compreensão, conquanto exaustivamente metódico no desenvolvimento das idéias, Penido jamais publicava o que quer que fosse sem antes redigi-lo várias vezes, nunca menos de três, a julgar pelos manuscritos que dele se conhecem. Quando em 1938 o Cardeal Leme, instado por Alceu de Amoroso Lima, seu fiel admirador, convidou-o a organizar e ocupar a Cátedra de Filosofia da recém-fundada Universidade do Distrito Federal, Padre Penido transferiu-se para o Brasil, onde viveria por mais três frutuosas décadas, sem jamais amoldar-se ao gosto local da superficialidade e do improviso. Mas ele mesmo não se privava de ironizar essa peculiar qualidade sua: “Nota Baruzi como um dos traços fundamentais de São João da Cruz o horror à dispersão. É, infelizmente, o único ponto em que me assemelho ao Santo. [...] A irremediável logorréia de que sofrem os povos de cultura mediterrânea acumula comparações, amontoa epítetos, muitas vezes com arte, quase nunca com acribia. É tão mais fácil deixar-se arrebatar pelo entusiasmo, em vez de averiguar, com minúcia, até que ponto cada vocábulo traduz a realidade objetiva. Afinal de contas, não passam de palavras, sons vazios, e tempo perdido. A acribia, ao contrário, é uma virtude. Horror ao vago, ao impreciso, esforço constante por atribuir o maior rigor possível à expressão; trabalho penoso e árido que não seduz a imaginação, menos ainda a afetividade; trabalho compensador, todavia, porquanto contribui a imunizar contra o erro, a penetrar a verdade”. À paixão da veracidade, sua nota dominante, o estilo penidiano agregava aquela segurança e atratividade nem sempre encontrada em tantos escritores ilustres. Saudando seu segundo livro, Le Rôle de l’Analogie en théologie dogmatique (Felix Alcan, Paris, 1931), Benoit Lavaud escrevia: “...é um raro mérito, cuja ausência muitas vezes deploramos em obras de resto excelentes e luminosas, saber unir, à segurança e à precisão, a elegância sóbria do estilo, e, quando necessário, um pouco de humor”. Cinco anos mais tarde, Jacques Maritain acabava de consagrar o autor, cujo terceiro livro, Dieu dans le Bergsonisme (Desclée de Brouwer, Paris, 1936) não hesitava em considerar magistral, sem descuidar de louvar-lhe o estilo: “Com uma apresentação literária impecável e pura, o livro é daqueles que se lêem com apaixonado interesse”. Ao que acrescentava Gustave Thibon: “...se aproveitamos sem reservas a clareza das distinções e das sínteses operadas (é porque) o estilo está à altura do pensamento. Seu autor atingiu um grau de nitidez e de riqueza que poucos escritos filosóficos possuem”. Não há como ser exagerada a urgência de uma atenção renovada à riqueza e à profundidade de uma obra sem par entre nossos compatriotas, e em tantos aspectos pioneira, obra que tanto honrou o nome do país no exterior quanto enriqueceu as mais altas instâncias do saber, coisa tão escassamente cultivada entre nós. Neste primeiro esboço de apresentação ao leitor daquele brasileiro que se constituiu num marco do mais alto teor de nosso pensamento, nos limitamos a informar os que dela não se inteiraram ainda (e por quê?) de um fato capital para o desenvolvimento da filosofia moderna, e certamente um dos mais eletrizantes duelos filosóficos no mundo europeu do novecentos. Trata-se do trabalho de crítica profunda e detalhada com que nosso conterrâneo, com dois livros e alguns ensaios em revistas especializadas, efetivamente virou pelo avesso, senão a reputação, certamente a crescente e derrapante influência de um dos mais ilustres, originais e celebrados filósofos do século XX, Henri Bergson. Ao publicar o acima citado Dieu dans le Bergsonisme na Paris de 1936, Penido não imaginava que aquele seu terceiro livro dele faria instantaneamente uma celebridade européia. Afinal, voltava a um velho assunto, abordava pela segunda vez o pensamento do notável filósofo, verdadeira coqueluche já então por quase meio século. Ademais, ao fazê-lo já quarentão, julgava severamente seus primeiros ensaios sobre um tema que apaixonava os melhores espíritos da época. Alheio ao fato, por si só raríssimo, de que sua aguda tese para o doutorado de filosofia em Friburgo, La méthode intuitive de M. Bergson: un essai critique (Felix Alcan, Paris, 1918) havia sido recebida na mais ilustre casa de saber da Europa com a classificação “summa cum laude”, Penido escrevia em 1936: “Tendo outrora consagrado um livro inteiro a este exame interior do bergsonismo, cremos não ignorar o que foi feito. Não obstante confessamos ingenuamente não ter desejo algum de recomeçar. Essa espécie de exercício parece-nos permitido na extrema juventude – era o nosso caso –, ou aos historiadores da filosofia. Mas tais exercícios tornam-se rigorosamente impossíveis a quem quer discutir como filósofo. Como filósofo, não como diletante”. A Editora da PUC-RS iniciou em 2000 a publicação das obras completas de padre Maurílio Teixeira-Leite Penido com: Deus no bergsonismo. Introdução e tradução de Dom Odilão Moura, OSB. BIO 2 http://www.aquinate.net/portal/Tomismo/Tomistas/padre-penido.php O Teólogo da Analogia: Pe. Maurílio Teixeira-Leite Penido [02/11/1895-23/06/1970] Vida: Maurílio Teixeira-Leite Penido [Abbé Penido ou Pe. Penido] é um filósofo e teólogo católico brasileiro, conhecido como ‘Teólogo e Apóstolo da Liturgia’. Ele é o mais famoso teólogo tomista brasileiro. Ele nasceu numa família nobre no Sudeste do Brasil, Petrópolis, Rio de Janeiro no dia 2 de Novembro de 1895. Quando morreu o seu pai, mudou-se para Paris com a sua mãe, em 1906. Foi lá que completou sua edução primária e secundária. Recebeu também na Universidade de Paris formação humanista. Em 1914 Penido foi para um Seminário Francês em Roma. Em Junho de 1915 ele finalizou o seu bacharelado em Filosofia Escolástica na Pontifícia Universidade Gregoriana. Em Pe. M.-L. T. Novembro de 1915 se muda para a Suiça. Foi para lá atraído pelos estudos tomistas levados a cabo por eminentes tomistas dominicanos Penido na Universidade de Friburgo. Em 1918 recebe o título de Doutor em Filosofia. Foi ordenado sacerdote em 1922 e em 1928 recebe o Doutorado em Teologia com a tese Le Rôle de l’Analogie en Théologie Dogmatique na Universidade de Friburgo. De 1928 até 1938 lecionou nesta mesma Universidade. Durante este período publicou a sua mais famosa obra:Le Rôle de l’Analogie en Théologie Dogmatique [Vrin, Paris, 1931]. É também desta época: Dieu dans le Bergsonisme [Desclée de Brower, Paris, 1936] e La conscience religieuse [Téqui, Paris, 1936]. Em 1938 Pe. Penido retorna ao Brasil por convite de Alceu Amoroso Lima e vai viver na cidade do Rio de Janeiro, em Copacabana. Em 1939 torna-se professor da Universidade do Distrito Federal [Universidade do Brasil]. Passado alguns anos aparece a obra O Corpo Mistico, um comentário sobre a Encíclica de Pio XII Mystici Corporis Christi, onde critica a postura extremista do movimento litúrgico no Brasil, a partir da segura doutrina tomista. Em 1954 torna-se professor do Seminário São José do Rio de Janeiro. Em 1958 se aposenta, depois de um período de licença, da Universidade do Brasil. Nesta época, apesar da grave situação de saúde piorada pelo mal de Parkinson, ele ainda dá aulas e assistência espiritual às irmãs carmelitas. Pe. Penido morre por volta das 11:00 horas da manhã do dia 23 de Junho de 1970, no Seminário São José do Rio de Janeiro. Pensamento: O elemento mais importante de sua filosofia e especulação teológica é a sua interpretação da doutrina tomista da analogia aplicada às questões teológicas. É bem certo que ele parte de um ponto de vista que depende muito da interpretação e uso que Caetano faz da analogia tomista. Em sua obra Le Rôle de l’Analogie en Referências: La Méthode intuitive de M. Maritain. 26 (1924) 137-163/Conversion. in La vie spirituelle 8 (1932) 35-54/Psychologie Religieuse. inETL. Aperçus Psychologique sur son Mysticisme. 8 (1930) 305-316/Cur non Spiritus Sanctus a Patre Deo genitus. 2 (1942) 913-929/A Transformação da alma em Deus pelo amor. Para ele a analogia é a chave central e universal sem a qual seria impossível entender a metafísica e as especulações teológicas. 10 (1935) 398-430/ Gloses sur la Procession d'Amour dans la Trinité in ETL. 22 (1933) 357372/Reflexions sur la Théodicee Bergsonienne. ao mesmo tempo tradicional e moderno. 1918/Les attributs de dieu d'apres Maimonides. in RevThom. Phenomenologie et Théologie. Paris/Felix Alcan. 39 (1934) 103108/Cajetan et notre connaissance analogique de Dieu. Neste sentido sua doutrina joga um papel importante nas análises teológicas. in NV. Por esta razão não raro é denominado o 'teólogo da analogia' entre os pares. in Vozes. 45 (1939) 665-674/Aspectos Psicológicos da Conversão. pela mística até à teologia dogmática. 24 (1939) 172-179/Prélude Grec à la théorie psychologique de la Trinité in RevThom. 1 (1941) 4051/Misticismo e Iluminismo. 39 (1935) 149-192/Marie de l'incarnation. Henry Bergson. in Rev. in RevThom. in Vozes. inRNP. in Études Carmeutaines. in NV.Théologie Dogmatique ele supõe a interpretação de Caetano e a defende. Penido estruturou um pensamento pautado no uso da analogia que se aplica desda a metafísica. passando pela psicologia religiosa. in REB. in RevTom. 8 (1931) 5-16/Le Rôle d’Analogie en Théologie Dogmatique. O Corpo Místico. 1936/La Conscience Religieuse. 7 (1932) 249-279/Sur L'intuition naturelle de Dieu in RSPhTh. Influenciado por São Tomás. 1936. Sua contribuição para a história da analogia no tomismo é muito importante entre os tomistas como Mandonnet. 14 (1935)33-68/Dieu dans le Bergsonisme. 20/Gracê et Folie. 1 (1943) 480. in 2 (1942) 319-331. in REB. pelo pensamento de Newman e pela espiritualidade de São João da Cruz./La Racine Philosophique de la Religion. REB. Paris/Pierre Téqui.501/A Liturgia do Advento. Petrópolis/Vozes. 3 (1943) 318-330/O testemunho dos Mártires. 37 (1932) 195-225/La Morale et la Religion Bergsoniennes. in REB. Paris/Desclée de Brouwer. 29/O Amor em Deus. in Études Carmelitaines. in A Ordem (1933). 9 (1934) 13-26/Sur le Probléme Historique de la Philosophie Chrétienne. 1931 /Une Théorie Pathologique de L'Ascetisme. in NV. Bergson.. in REB. Ele professa mediante o uso da analogia um tomismo vivo e dinâmico. 1944/Les Trois Plans de la Psychologie Religieuse. 36 (1930) 508-527/La Valeur de aa Théorie Psychologique de la Trinité. Journet e muitos outros. Paris/Vrin. Thom. in RevTom. 1 (1941) 438-457/O Problema do Puro Amor. subconscience et surnaturel. 26. in Divus Thomas. Escola de Esperança. Pe. 38 (1933) 424-452/ O Problema da Filosofia Cristã. 21 (1932) 549-561/Une Nouvelle Démonstration de l'existence de Dieu in La Vie lntellectuelle. 1 (1943) 725- . 22 (1937) 1-5/Nature de critique textuelle Thomiste ( 1938). 1994. II (1951) 535-563. in REB. 7 (1949) 385-400/Filosofia bergsoniana de guerra e paz. A mesma índole da filosofia desperta nos seus cultores profundo interesse por todas as manifestações do espírito. 5 (1945) 233-263/Em torno do liturgicismo. O Mistério dos Sacramentos. in REB. in: Presença Filosófica 4-7 (1975) 186-194. Edições Loyola. Petrópolis/Vozes. Teólogo e Apóstolo da Liturgia/Rio de Janeiro. corpo místico. in NV (1949)/A crise da fé. 5 (1945) 482-494/As duas conversões 2 (1945) 357-390/Leibniz e o inconsciente cognitivo. Gilson Silveira. O Mistério da Igreja.br/drupal/node/494 Não pode o filósofo digno do nome permanecer indiferente em presença do misticismo. Gilson Silveira. D. Vozes. N 1 (1949)/Quem é membro da Igreja? in REB. O Mistério de Cristo. 23. 1949. São Paulo/Edições Paulina. 1969. de Newman. 1989. in 3 (1946) 423-437/O Cardeal Newman. discernimento filosófico da experiência mística. in Vozes. (2) Secondary literature: Odilão Moura. in NV (1948). in NV (1948)/La Conversion de Newman au Catholicisme.738/A meditação anselmiana sobre o verbo eterno. Liturgicismo e piedade litúrgica. in REB. in Vozes. O Padre Penido. nh. Tomismo Hoje/São Paulo. 1946. 412 (1944) 818-830/Newman e a evolução do dogma católico. Petrópolis/Vozes. in Verbum. 1995. Verbum. 1946]/O Itinerário Místico de S. [A Função da Analogia em teologia Dogmática. in REB. Como pois ignorar esses homens cuja vida parece retirar-se do corpo para concentrar-se no ápice dum espírito cuja chama arde e se dilata ao ponto de consumir a própria carne? . in Rev. Tricontinental Editora Ltda. 1954. La Premiere Conversion de Newman. in REB. João da Cruz. TEXTOS O DISCERNIMENTO FILOSÓFICO DA EXPERIÊNCIA MÍSTICA http://permanencia. fil. 1952. em Pe. 2 (1944) 742- 758/O corpo místico. 3 (1943) 856-888/O 1 (1944) 228-248/Ascese e 1 (1944) 613-624/O Cristo total. in: Presença Filosófica 4-7 (1975) 201-205.org. in Verbum. Introdução ao pensamento de Penido. Petrópolis/Vozes. Padre Penido: Vida e pensamento/Petrópolis. 412 (1944) 517-540/O sacerdócio dos fiéis. Deus pensado e Deus vivido. m Vozes. Fernando Arruda Campos. 341-343. Penido. Petrópolis/Vozes. Itineraire de Newman au Catholicisme. OSB. Petrópolis/Vozes. dignos de admiração e inveja? Mais ainda. na Alemanha R. na França H. . Os fatos são obrigados a se amoldar à férrea rigidez do sistema. De bom grado optam por uma existência feita de contínuas privações. Outros. apresentando embora semelhanças mais ou menos superficiais? Um estudo diferencial completo da experiência mística ultrapassa de muito o âmbito dum artigo de revista. Como poderia o filósofo permanecer indiferente. como fortemente documentou Henri Bremond. senão é mister interpretar. Adotaremos aqui uma atitude de incondicional respeito aos fatos. Justificam tão estranha conduta apelando sempre a uma experiência misteriosa e divina de que seriam favorecidos. Hocking. Na França do XVII século. fora de qualquer religião — em meios e épocas tão distantes. quando até sólidos burgueses sentem-se-lhes abalar o granítico materialismo? Verdade é que o filósofo quase nunca tem alma acolhedora. perseguidores de quimeras — ou então homens privilegiados. James e. de tendência psicologista. Alguns. para que o incêndio logo se alastrasse. encaram o misticismo com simpática e até com franca admiração. despertam imitadores. por vezes. na melhor das hipóteses serão os místicos considerados qual desasados pré-filósofos procurando às apalpadelas e a muito custo aquelas luzes que uma "filosofia do espírito" qualquer intelectualismo idealista lhes proporcionaria sem maior esforço. ateia-se acolá. sobretudo. inebriada pelo matematismo filosófico de Descartes. formam adeptos. bastou que em Lisieux faiscassem centelhas místicas. subjuga. pela arte geométrica de Le Notre e de Mansard. pelo contrário.Tudo quanto atrai. trazem aos homens candente mensagem. suscitam vastos movimentos espirituais. Iluminados. O desejo de ser objetivo levará necessariamente o filósofo a empreender um trabalho de discernimento: essas experiência denominadas místicas. Restringiremos pois a pesquisa a dois pontos atualmente mais controvertidos. E a chama perdura e se renova através das vicissitudes do tempo. a vida até. não raro abraçam a pobreza. Otto. Todavia. ou. Entre os místicos. nem devem os fatos sofrer um tratamento dialético que os esvazie de toda especificidade. não basta constatar. de pendor racionalista. não convém a uma interpretação correta pautar-se por teorias pré-concebidas. apressam-se em identificar os místicos aos dementes e não mais cogitam no assunto. Afigura-se-nos quase pueril o negar ou refutar uma experiência. assim na América os dois filósofos de Harvard: W. Aos recalcitrantes nega-se até mesmo o direito de existir: são friamente desconhecidos. afetam uma atitude protetora na qual entra não pouco desdém. na mesma França sufocada pelo cientificismo que se jactava de apagar as estrelas. Donde as atitudes diversas — e por vezes desconcertantes — dos filósofos em face do fenômeno místico. essencialmente diferentes. renunciando a um esplêndido isolamento. eis que se acendem em cada província inúmeros focos de misticismo. a dor. porque mais obscuros: procuraremos discernir filosoficamente1a experiência mística cristã do misticismo patológico e do misticismo neo-platônico. muitos há que.E. pensadores de índole empirista. Em compensação. Bergson. fanáticos. que surgem no seio de religiões tão diversas — e até. por vezes preferem a morte antes que renunciar àquele mundo arcano no qual vivem. em disponibilidade. o prazer. serão porventura manifestações da mesma atividade. para quem mais vale um fato do que um argumento. W. Mais tarde. eles desprezam-no: a riqueza. Sem dúvida. a glória. fascina os outros homens. Sufocada aqui. a perseguição. em 1852. O pouco que conseguia ganhar (6 vinténs diários) partilhava-o ainda com outros pobres. assumiremos como "hipótese de trabalho" que eles são reais — ao menos como vivências psicológicas. João da Cruz. de pai industrial. Incapaz de resolver as dificuldades inerentes à vida social. Seguiremos um método decididamente a posteriori: não partiremos de considerações teóricas sobre a natureza e ainda menos sobre o valor dos respectivos fenômenos. Algumas dessas teorias são incontestavelmente desprovidas de qualquer valor. que não passaria de uma queda na inconsciência. de idéias de perseguição. aos da grande Teresa de Ávila. a mesma experiência fundamental. assimilável a uma crise de epilepsia ou à embriaguez profunda. Perderíamos tempo aduzindo testemunhas concordes de nossos místicos. com extraordinária minúcia. e outros fenômenos estranhos. períodos de depressão com absoluta imobilidade. Entretanto. Igualmente desprovida de valor é a opinião corrente entre os leigos consoante a qual o misticismo consistiria em visões. Devido às doenças recebeu instrução relativamente deficiente (para pessoa de sua classe social em França). alucinações. a observação. vindo Madeleine em terceiro lugar. indagaremos tão somente se apresentam caracteres diferenciais. alguns filósofos hão apresentado os nossos místicos como adeptos — conscientes ou não — do neoplatonismo ou. O doutor cristão da mística.Com efeito. duma doente designada pelo pseudônimo de Madeleine. segundo o qual o elemento constitutivo do misticismo seria o "êxtase". do outro lado. e. pelo menos. gênio muito impressionável. têm sustentado que é. Madeleine fugiu. utópico. Madeleine nasceu no norte a França. levitações. que apresentava fenômenos místicos comparáveis. pintava agradavelmente.. observáveis pelo filósofo. muito emotivo. que já tivemos ocasião de resumir2 pelo que não voltaremos aqui sobre o assunto. tornou-se enfermeira benévola de mulheres cancerosas. Tudo isso entremeado de alucinações. desapareceu! Durante quase um quarto de século procuram-na debalde os parentes. pretendia seguir o ideal de S. Que coisa havia sucedido? Madeleine fora acometida pelo que Janet denomina "a mania da ilha deserta". Infância excepcionalmente doentia. esteve em dificuldades . Bem mais digna de nota é a teoria de Pierre Janet. escrúpulos torturantes. lia Pascal. exarou do iluminismo sob todas as formas. A partir dos onze anos apresentou fenômenos nevropáticos caracterizados: obsessões. por exemplo. prosseguida durante 22 anos. tremenda sentença condenatória. com os fenômenos místicos dos maiores santos cristãos. Aos 19 anos Madeleine partiu para a Alemanha a fim de ser professora numa família e. tão evidente é a questão para qualquer conhecedor dos fatos. O casal procriou quatro filhos. Reduzida a um resumo esquelético. segundo Janet. Misticismo e Loucura A índole patológica da experiência mística foi inúmeras vezes afirmada por psicólogos e psiquiatras. exprimia-se muito bem por escrito. Mais tarde declarava: "Se a miséria matasse. que se vêm cristalizar nas fórmulas de Plotino. de mãe nervosa.. profecias. de fato. Francisco de Assis. exaltado. por eles observados. Escreveu cartas ao Presidente da República francesa. eu não existiria mais". Tentaremos portanto averiguar se o delírio místico. durante 20 anos viveu não só na pobreza como na completa miséria. Fosse embora o êxtase o que sustenta Leuba. conhecia várias línguas. Semelhante tese só pode ser sustentada por ignorância ou por má fé. João da Cruz. sonhadora. religiosíssima. S. o misticismo filosófico. a anamnese apresenta-se como segue. I. em todo o caso é absolutamente falso constituir ele o âmago do misticismo cristão. o misticismo cristão são outras tantas experiências irredutíveis ou não. a de James Leuba. Na ponderosa obra De l'angoisse à l'extase. alguns alienistas incautos têm identificado certos delírios de coloração religiosa. Para justificar-se aos próprios olhos. e nas de S. o mestre do Collège de France refere. Felizmente este estado lamentável só se prolongava pelo espaço de dois ou três dias. o êxtase. de menor duração. Rompido esse equilíbrio. na verdade. interrogava constantemente Janet. etc. indiferença. já que todos os diagnósticos haviam sempre sido desencontrados. Resistiu quanto pôde. quer psíquicos. Ao lado da inércia motora. sem que as respostas lograssem satisfazê-la. mas simplesmente desinteresse absoluto pela ação.. a sobrenaturalidade de sua missão junto ao Papa e lhe assegurasse que subiria ao céu. Por fim. notava-se atividade afetiva enorme e sempre otimista. A psicose evoluía por grandes crises apresentado fases diversas e podendo prolongar-se por vários meses.. sem reagir aos estímulos externos. O ponto de partida era um esta de equilíbrio precário. O misticismo de Madeleine compreendia fenômenos quer físicos. onde entrou para o serviço do Dr. suplicava que lhe encontrassem um diretor de consciência o qual discerniria a autenticidade de seu misticismo. Em vez da inquietude.. Madeleine interpretava esse fato como sendo o da "levitação" e como um começo de "assunção". inchavam-se-lhe os pés. sempre sob a fiscalização de Janet. constitutivos do delírio místico de Madeleine. com agitação intensa: Madeleine corria à polícia para denunciar conspirações. 2o. assistia pela imaginação a cenas de assassínio e de canibalismo. periodicamente anunciava que os pés não mais pousavam sobre a terra e que ela estava prestes a subir como um balão. agravou-se consideravelmente durante o inverno de 1892 e 1893. durante a noite. de quase normalidade. Para fazer a entre de seus trabalhos de costura. Viveu ainda 14 anos. (Donde o título da obra: De l'angoisse à l'extase). perturbada a normalidade. Com espanto percebeu que em conseqüência da contração dos músculos. e faleceu piedosamente em 1918. A . Sobrevinha enfim o delírio sob uma dupla forma. tornavam-se violáceos e sobremodo doídos. Madeleine entrava no que ela denominava "estado de tentação". acreditando-se no inferno desesperava-se e sofria os tormentos dos réprobos. afinal capitulou: pelo espaço de quatro anos lá foi de hospital em hospital até que enfim os facultativos declararam tratar-se de "moléstia nervosa". serviçal. seguia-se-lhe o delírio inverso: a consolação. nem paralisia. Janet. A extática conservava-se em absoluta imobilidade. Madeleine mantinha-se. nem anestesia. a contração muscular que obrigava a doente a se ter nas pontas dos pés. Ao cabo de 7 anos. demonstrando profundo abatimento. o mais prolongado de todos. dedicando-se a uma irmã tuberculosa. sentada. a ação exterior era extremamente reduzida. Sofria das pernas. qual dançarina de Ópera. As manifestações somáticas eram: 1o. o que a Madeleine denominava "estigmas" e comparava às chagas de S. da dúvida. imóvel. não passavam. Queria a todo o transe peregrinar a Roma para ser elevada ao Céu em presença de Sua Santidade. lançando-lhe água fira. por três vezes foi encarcerada. profetizava catástrofes privadas e públicas. A dificuldade de locomoção que desde criança sentira. sacudindo-a. tudo parecialhe vazio. À tentação seguia-se a secura. de pequenas bolhas que ao arrebentar deixavam correr um pouco de serosidade misturada com sangue. venceu-a a moléstia. de crises cardíacas. colocando-lhe sinapismos. No delírio de beatitude. Francisco. começava a caminhar sobre as pontas dos pés. via-se Madeleine obrigada a caminhar longas horas patinhando na neve. dolorosa e feliz. a inércia. então. Exigia um diretor e de antemão dele duvidava.com a polícia. Internaram então a Madeleine no hospício da Salpêtrière. a apatia. Não havia. muito religiosa. Madeleine permanecia em torpor completo.. nada lograva interessá-la. sentia tédio. Dúvidas e escrúpulos de toda espécie acometiam a doente. etc. de um desvio do tórax. A primeira era uma psicose melancólica ansiosa. pobremente. regressou para junto da família. e cuidando de várias crianças. no entanto. tendo melhorado. Em vão as enfermeiras procuravam despertála. Muito mais complexos e interessantes os fenômenos psíquicos. os sentimentos desencadeiam-se com instantaneidade e força enormes. a doente passava por inquietações e dúvidas. como era de prever. Ao contrário. Suponhamos uma baixa maior de tensão e o "estado" psicastênico tranformar-se-á em "delírios psicastênico". o grau ínfimo na escala das tendências. em conseqüência de uma queda da tensão psicológica (p. seria uma regressão ao "estágio de agitação difusa" que ocupa. Como interpretar esse delírio místico? Janet explica-o. O psicastênico vive na dúvida. Pouco a pouco tudo se acalmava e Madeleine voltava ao quase equilíbrio primitivo. em vez de tentar vencê-las — são outras tantas manifestações evidentes de psicatenia. segundo está mais ou menos atento. Ao êxtase. não consegue deliberar corretamente nem por termo à deliberação. — Pelo contrário. Madeleine dirigia a capricho suas divagações. contraste afetivo que todavia não deve fazer olvidar a unidade da psicose: é como o direito e o avesso do esmo processo. Imaginava compreender todos os mistérios da religião. sem progredir (p. pelas hesitações infinitas. apresentava duas formas antagônicas: tortura e beatitude. na "tentação" esta incapacidade se revelava sob forma de ansiedade. na "secura" sob forma de inércia. de perfeita felicidade. senão graus da mesma depressão mais ou menos profunda. vivendo uma série de histórias fictícias.. a abulia. segundo Janet. Tais graus são determinados pelo número maior das funções superiores alteradas e pelo lugar que ocupam na hierarquia. ouvia revelações estupendas. que apresentava as mesmas características. com esta diferença que.ex. o débil mental) quer por ter decaído a um nível mais baixo. acalmava-se no otimismo da consolação. etc. Não é de surpreender que torrentes de júbilo. Sobreveio então uma nova baixa de tensão psíquica e Madeleine caiu no que ela denominava "estado de tentação" seguida pelo "estado de secura" que nada mais eram senão um fenômeno psicastênico acentuado. o delírio de interpretação é um perturbar-se das tendências superiores. um papel simpático. sentia-se até divinizada: "Je suis Dieu!" exclamava. porém. embora mais atenuadas. em função de suas teorias psicológicas. apesar de tão variadas. Paralisa-se desta feita toda e qualquer deliberação e reflexão. explicar-seiam quer por se ter o indivíduo detido a nível inferior.. recebia inúmeras provas de amor. Na psicastenia. segundo Janet. Tal era o caso de Madeleine. o desejo de direção. falta entretanto a apreciação correta dos fatos empíricos. e resultará uma série de afirmações absolutas e contraditórias. o mórbido ascetismo que a levava a privar-se. das funções deliberativas.ex. para encetar outro ciclo análogo. à primeira vista. lhe inundassem a alma. já se vê. não faz a mínima dúvida: os escrúpulos que a atormentavam. produzem-se contínuas oscilações da tensão psíquica. não por virtude. nos quais representava. caía na inércia. as convicções mudarão em conseqüência. Que desde a infância tenha vivido num estado de psicastenia mais ou menos pronunciada. dos quais ela e Deus eram os dois protagonistas. necessita de alguém que delibere e decida por ele. sem controle algum. na apatia. O ciclo deste misticismo patológico pode pois resumir-se em sete fases: partindo de um estado subnormal. ao despertar. as funções conservadas e exageradas. A aparência tão diversa revestida pelas doenças mentais vir-lhes-ia simplesmente dessas diferenças de nível na depressão psíquica. caracterizado pela incapacidade de decisão e logo de ação. nada seriam. levando-a ao êxtase beatificante. Variáveis como são os fatos. verifica-se a perturbação das tendências médias. Com efeito. Todas as deficiências e doenças mentais. estas. soçobrava no desespero e na tortura. o paranóico). atordoado pelos escrúpulos. Até mesmo no mas normal dos indivíduos. repentina viravolta a soerguia. o qual. Distingue oito níveis mentais hierarquizados e admite a passagem de um a outro seja no sentido do progresso. mais precisamente. por exemplo. de coloração religiosa. a tendência a fugir das dificuldades. tomando uma resolução firme. volta logo ao nível habitual. Procurava compensar esta debilidade refugiando-se num mundo imaginário que não lhe oporia resistências. uma baixa contínua e acentuada provoca doenças mentais. senão por incapacidade de gozar. numa e noutra fase . ativo. seja no do regresso. seguia-se o estado de consolação. Nova queda de energia mental e Madeleine retrocedia do estado psicastênico ao delírio psicastênico. de romances. Acreditava-se uma grande santa. O ataque de epilepsia. revertia ao estado inicial. Um indivíduo que normalmente se encontra no "estágio experimental" (vértice da hierarquia) desce um degrau e se estabiliza no "estágio racional": as funções lógicas não só permanecem intactas como até se exageram. durante o somo a queda é profundo.doente vivia uma série de romances interiores. posteriormente. Resta-lhe apenas um recurso: a fuga. de vontade. un génie. un esprit de simplicité qui triomphe des complications. et la santé moyenne de l'esprit. la fermeté jointe à la souplesse. publicada quatro anos após o livro de Janet. Tão patente a diferença que foi reconhecida até por um psicólogo notoriamente anti-religioso como Henri Delacroix. na demência. entre o amor desalentado e o amor satisfeito. Assim Madeleine reclamava um coração amigo no qual se expandiria. de inclinações. Elle se manifeste par le gôut le l'action. não houvesse ele generalizado o que observara num só caso e afirmado que todo misticismo não passa de uma das variedades de delírio psicastênico. il y a en eux une logique constructive. que nem sempre corresponderiam às de Madeleine. Il y a pourtant une santé intellectuelle solidement assise. nouv vivons dans un état d'équilibre instable. que nada tem a ver com a psicose. entretanto fugiu de casa para viver solitária. Embora tivesse ele escrito as suasÉtudes d'histoire et de psychologie du mysticisme no intento confessado de encontrar uma explicação puramente naturalística do misticismo. lamenta não conseguir realizar esse ideal e não o consegue. psiquiatra não-católico. o misticismo em si. sem ter força para travá-las com indivíduos de carne e osso. une expansion réalisatrice. certos casos peculiares de misticismo acompanhados (e não constituídos) por tal ou tal manifestação patológica4. mister é distinguir cuidadosamente três classes de fenômenos: 1 o. insurgiu-se entretanto contra a pretensão de assimilar os grandes místicos aos loucos: "Si les grands mystiques n'ont pas échappé aux tares névropathiques qui stigmatisent les organismes exceptionnels. não apenas como católico — pois assim deprecia os nossos maiores santos — senão também como psicólogo — pois a teoria patológica não corresponde à realidade dos fatos. N'est-ce pas précisément ce que nous trouvons chez les mystiques dont nous parlons? Et ne pourraient-ils pas servir à la définition de la robustesse intelectuelle ?"3 Sen os objetassem que Delacroix e Bergson. enfin un bon sens supérieur. que parodiam o misticismo. como fraco que é. precisa adorar e ser adorado. as psicopatias. enquanto que ao delirar. ora a deliciava. Quercy. estudando a obra do mestre francês. Pensamos em não trair o pensamento de Janet. baixando ainda mais a tensão psíquica. identificandolhe as experiências. procura amparao. fugiu novamente e asilou-se na loucura. Só teríamos que louvar e nos instruir. a doente oscilava entre sentimentos desoladores e consoladores. 3o. ela dirigia. Certes. como melhor lhe saiba. o enredo dos desvairados romances. donde a necessidade de afeição que o crucia. com os quais forçosamente entraria em conflito. pôde enfim realizar no delírio as aspirações afetivas até então frustradas. on se demande comment ils ont pu être assimilés à des malades.deparamos com afirmações categóricas: "Madeleine está no Céu — Madeleine está no inferno. Madeleine está divinizada — Madeleine está possessa". Repetidamente comparou Madeleine a Santa Teresa. qui est l'essentiel". viveu doravante um romance divino no qual Deus ora a maltratava. ao resumirmos numa frase a psicologia de Madeleine: ela sonhava e delirava. por ser demasiado débil para viver normalmente. todas essas relações sentimentais que houvera desejado. carecem de autoridade. Henri Bergson escreveu no mesmo sentido: "Quand on prend à son terme l'évolution intérieure des grands mystiques. est chose malaisée à definir. le discernement prophétique du possible et de l'impossible. numa palavra. já como esposo. Deus lhe aparecia já como mestre. exceptionnelle. Ao nosso ver. Madeleine conseguiu realizar. . pela imaginação e a afetividade. por não serem psiquiatras. porquanto lhe falta a tensão psíquica necessária ao estabelecimento dessa relações afetivas. porque o psicastêncio. Rejeitamos a assimilação. na sua obra L'hallucination. en un mot. dotados de caráter próprio. qui se reconnait sans peine. consagrou à Santa Teresa longo e exaustivo estudo. chegando a conclusões que põem em relevo a perfeita sanidade mental da grande mística. responderiamos que P. comme d'ailleurs celle du corps. la faculté de s'adapter et de se réadapter aux circonstances. 2o. profecias de cataclismas. prova tão pouco contra os místicos. ad usum Delphini.. — Teria ela expurgardo o próprio manuscrito antes de passá-lo a limpo? Mesmo isso seria uma prova evidente de sanidade mental. em absurdos. averiguamos em seguida o superior talento da espanhola e a mediocridade intelectual da francesa. harmonizam-se sempre com as preocupações do momento. para que Santa Teresa pudesse ela própria expurgar as suas obras. procura escapar à dificuldade graças a um expediente pouco digno de tão grande psicólogo: lemos Santa Teresa. demonstra sólido bom-senso. Fácil é retrucar que o Cours de Philosophie Positive não foi composto durante o internamento do filósofo. ao delirar. o que não o impediu de ser profundo pensador. pretende ele. Madeleine lera a autobiografia de Santa Teresa de Ávila. para falar como Janet. nenhuma obra de gênio saiu até agora dum hospício. Les grâces d'oraison.Que certos doentes parodiem os místicos. as atividades exteriormente constatáveis de Madeleine e de Santa Teresa. ao passado. estas lhe refletem o delírio. foi reproduzido fototipicamente e cada qual tem o meio de averiguar a perfeita concordância entre o texto hodierno e o que escreveu Teresa. apresentam uma característica notável: a finalidade. Com efeito. perita na auto-crítica. A própria Madeleine. humour cintilante. O epistolário de Santa Teresa — além de constituir uma obra prima literária — longe de encerrar idéias delirantes. Quercy. possuímos alguns manuscritos da santa. haja friamente feito desaparecer de suas obras passagens que julgasse delirantes. quanto as imitações patológicas de Napoleão provam contra o grande corso. Santa Teresa escreveu todas as obras em plena "crise mística". quando Janet lhe fazia recordar a pretensa "assunção" de outrora. teria sido a primeira a denunciar como ilusório o seu misticismo. Não devem pois surpreender certas similitudes aparentes entre o místico e o nevropata. como também a obra do Padre Poulain. Devemos confrontar as atitudes. etc. não aparecem como parasitas ou corpos estranhos que venham perturbar ou interromper o fluxo da vida psíquica. 5 Os devaneios de Madeleine não apresentam nenhum desses característicos. como explicá-las? As visões. pondera Bergson. O único critério psicológico que nos permitirá discernir um do outro é o exame comparativo dos respectivos "comportamentos". pelo contrário. Ora. tão leal e sincera. denúncias de conspirações). ainda. Em primeiro lugar. podemos justamente fazer a prova do não expurgo. queixa-se de ser perseguida pela maçonaria etc. ligam-se naturalmente ao presente. conserva-se na biblioteca do Escorial. por exemplo. — E as visões. Torna-se inacreditável que ela. Possuímos cartas de Teresa. como possuímos cartas de Madeleine escritas nas mesmas condições. já se vê: escreve ao presidente da republica denunciando conluios. o original da autobiografia. Teresa conhecia o misticismo mórbido. relata à própria irmã festins canibalescos aos quais haveria assistido. como muito bem observou o Dr. em idéias indiscutivelmente delirantes (p. receava a ilusão e por isso reclamava insistentemente o controle dos sábios de seu tempo. para verificar se coincidem ou se diferem. Entretanto. do plagiado. Comparando os escritos de ambas. já que só um homem normal pode discriminar entre afirmações delirantes e as sensatas. reproduziu o que a impressionara nos escritos da grande carmelita. Que saibamos.ex. são imediatamente utilizáveis porque se unem estreitamente à ação. tendo melhorado e deixado o hospício. arguta diplomacia. A essa hipótese opõem-se duas razões peremptórias. Os escritos de Madeleine abundam e superabundam em incoerências. ria-se: "Est-ce possible que c'est moi que disais des bêtises pareilles?" Espantava-se justamente porque cessara o delírio. Ora. no caso de Santa Teresa. e Janet é demasiado inteligente para não haver percebido a diferença. Mais. . diferença de valor intelectual não equivale a diferença quando à sanidade mental. escritas em plena "crise mística". Nada de semelhante em Santa Teresa. temos que supor que as tivesse redigido em estado delirante e corrigido uma vez verificado o retorno à normalidade. Por conseguinte. o que Madeleine escreve de melhor dá a impressão do já lido. em edições expurgadas. ao futuro. descreveu até mesmo os falsos êxtases. quem sabe o que conteriam os originais? Por nossa vez podemos perguntar: o que se não lograria provar lançando mão de tais argumentos? Aliás. Bem ao contrário. Janet apressa-se em nos relembrar que Auguste Comte também esteve num hospício. avec un grand nombre d'autres malades. fundou trinta conventos. de fugir para a "ilha deserta" e asilar-se no sonho. j'ai remarqué que beaucoup de ces malades vivant ensemble plusieurs mois. tentou uma retirada estratégica e. si ce n'est avec moi. a esterilidade social. cujos feitos e ditos não podem controlar. Teresa desenvolveu uma atividade fora do comum. On peut observer cette impuissance sociale particulière. dans un dortoir commum. Madeleine externou a maior indiferença. o social. predizia triunfos. malgré ces bonnes dispositions. Bien mieux. diplomacia. n'a conservé des relations avec personne. sentindo quão precária era sua posição. Agitava-se. porém. Conquistou amizades e provocou dedicações extremadas em todas as classes sociais. Sofresse Santa Teresa de delírio psicastênico e deveríamos nela observar idêntico "comportamento". de formar e conservar relações. Longe de ser inerte. Sobre ste ponto Janet resume-se da seguinte maneira: "L'observation de Madeleine nous montre de toutes les manières son impuissance d'action sociale. Dirigiu com tato. en remarquant que Mdeleine est restée pendant sept ans en relation constante. mas existe um outro equilíbrio. muito serviçal por natureza. Ora. mas apesar das insistências de Janet. très suggestibles. é a fecundidade do invento. lhe anunciaram a morte lamentável dum seu cunhado que deixava a família em condições angustiosas. que vai tornar ainda mais claro o diagnóstico discriminativo. De coração ótimo. durante os anos de loucura. voltando logo após à enfermaria." Eh bien.Desta primeira confrontação resulta que Teresa gozava de equilíbrio intelectual e Madeleine encontrava-se num estado de desequilíbrio patente. Madeleine n'a jamais eu d'amies dans la salle. se recolhesse à solidão claustral. e muito. verdadeiramente espantosa — ainda mais para uma mulher daqueles tempos. por exemplo. celles-ci étaient des femmes jeunes pour la plupart. como pedra de toque da sanidade mental... a pobrezinha. Janet. Ribot chega até a afirmar que o critério último para distinguir o inventor de gênio daquele que sofre dum delírio de imaginação. très nerveuses. observaríamos a inatividade social que em Madeleine se notara.. Comparemos pois os comportamentos sociais de Madeleine e de Santa Teresa: Janet afirma que o traço característico da atitude exterior de Madeleine é o desinteresse pela ação. energia. que cumprisse as ordens divinas. Il n'en a absolument rien été et Madeleine n'a jamais eu l'ombre d'une influence sur aucune de ces pauvres femmes. très faciles à influencer et je craignais un peu au début. Acreditava piamente que Deus lhe ordenava a ida a Roma para ver o Papa. de manter uma atividade adaptada às circunstâncias. para cobri-la. avaient formé entre elle des relations affectueuses quei ont survécu à leur séjour à l'hôpital. Imersa na mais completa introversão. perturbava-se e se paralisava. leurs misères physiques m'affectent autant que leurs misères morales!. elle disait souvant de ses compagnes: "Je les aime profondément. coisas. houve-se como arrematada egoísta. porém logo que se tratava de passar à decisão e ainda mais à execução. sobremodo pelo pensamento. Elle le reconnaìssat elle-même. — Reformou não só as freiras como os frades carmelitas. Quando. exatamente o contrário averiguamos. Cette impuissance des psychasthéniques à faire des camarades et des amis.. que afinal lhe ordenaram as autoridades eclesiásticas. Madeleine n'était pas dépourvue de sentiments affectuex. salvo uma vez quando de olhos fechados deitou a correr pelo pátio do hospício.. idêntica incapacidade de tomar iniciativas e decisões. à conserver des relations avec d'autres. não tomava a menor parte nos sofrimentos alheios. proclamava a sua missão — mantinha-se entretanto na inércia absoluta. não dava um passo nesse sentido. substituía o agir por estéril jogo de imagens e sentimentos. est tout à fait caractéristique". ao meio.. senão entre os mais doutos e os mais graduados de Espanha. exerceu profunda influência não só em meios conventuais. falava de força e de amor. dignas de um grande estadista. Bastava que se lhe propusesse uma resolução a tomar para provocar intermináveis obsessões. vencendo as mais prementes dificuldades materiais e enfrentando as mais decididas oposições. por não convir que estivesse sempre uma religiosa a errar por montes e por vales. et après avoir quitté l'hôpital. Afirmou em primeiro lugar que Santa Teresa é personagem muito antiga e provavelmente lendária. Viajava tanto. valeu-se de dois expedientes. Parecia desejar muitas. numa palavra. negociações laboriosas e delicadas. . Falava. a sua adaptabilidade às circunstâncias. Recusava-se com obstinação a prestar o mínimo serviço. que Madeleine ne fut le point de départ d'une petite épidémie de délire religieux. Os psiquiatras insistem sobre a importância básica da conduta em sociedade. entretanto. Só retornou à atividade social ao cessar o delírio místico. longe de ser inativo. Aqui e ali. era fonte de ação. suas atividades de reformadora. Paulo. pelo que lhe assistia autoridade ímpar. com grande vivacidade e abundância de detalhes. Aqui e ali constatamos um movimento de fuga para um mundo invisível que é a verdadeira pátria. . inevitável. a técnica preparatória de simplificação e de renúncia que escoima a alma de toda impureza. o famigerado Dionísio Aeropagita. II. considerado então discípulo direto de S. sem que sejamos obrigados a fazer um cego ato de fé nas declarações de Teresa. foram os escritos de um neo-platônico. até mesmo as visões tinham em grande parte a finalidade de regular e dirigir-lhe a atividade exterior. Aqui e ali averiguamos a existência duma intuição inefável que une o místico a Deus. Da pura dependência literária. longe de ser um pobre destroço humano. "de tempos em tempos" que Madeleine se revelou socialmente incapaz. Tão diversas as fenomenologias do misticismo de Teresa e do delírio de Madeleine. É inútil multiplicar exemplos. puderam desenvolver uma atividade normal". a dependência literária não deve demasiado impressionar. Plotino e São João da Cruz Muitíssimo mais laborioso para o filósofo discriminar a experiência religiosa neoplatônica do misticismo cristão. aguilhoado pelo desejo de Deus. os místicos cristãos utilizaram não raras fórmulas e expressões neo-platônicas e as narrativas que nos deixaram de suas experiências. uma semelhança indeterminada entre ambas as experiências místicas. Nessas condições. levando-a ao limiar da experiência beatificante. Aqui e ali se nos depara idêntico itinerário: o esforço de introversão. argúem eles. utilizar expressões plotinianas equivale tão pouco a desposar o plotinismo quanto o aproveitamento das noções aristotélicas de "matéria e forma".Ingenuamente perguntaremos por que Santa Teresa pertencia à história quando Janet a classificava entre os dementes. Adita ainda Janet: "esses indivíduos místicos não passaram a vida em êxtases. segundo as próprias declarações de Janet: "les extases de Madeleine sont assez rares et n'occupent que deux ou trois jours de tems en temps". O místico. Prova sobeja encontraremos no livro das "Fundações". longe de aquietar-lhe as ânsias. observamos o despontar duma sede do Absoluto que não logram estancar nem a contemplação longínqua através de conceitos abstratos. bem mais. Outros indícios. Em Santa Teresa. demasiado evidente a irredutibilidade. pois o manancial. parecem indicar afinidade mui profunda. que parece de todo impossível afirmar-lhes a identidade substancial: demasiado profunda é a oposição. muito ao contrário. não foi apenas por dois a três dias. foi durante todos os sete anos passados na Salpêtrière. Além de que. nem mesmo a mera presença de Deus. Sem dúvida. foi um dos gênios que mais honraram a nossa espécie. despreza todo e qualquer gozo finito porque este. e se tornava subitamente lendária quando se lhe provava a sanidade mental? Retrucaremos outrossim. Esquece-se o ilustre mestre que tampouco Madeleine passara a vida inteira em êxtase. o misticismo. "substância e acidente" confere uma índole peripatética à doutrina católica dos Sacramentos. ao ponto que certos intérpretes são levados a considerar as diferenças como superficiais apenas. que fontes históricas abundantíssimas e controladíssimas permitem reconstituir a atividade social da santa. Ora. Com efeito. ambas as vivências parecem apresentar vários pontos de contato. a morada do Pai. anela um contato direto e vivido. Plotino. Por isso a infiltração de fórmulas neo-platônicas em nossa mística tornava-se fatal. no qual nossos místicos medievais e modernos se abeberaram. porém nunca uma identidade. confirmado isto pelo próprio Janet repetidamente. poderemos deduzir no máximo. terminada a crise. exige a posse e a fruição. exacerbá-las-ia ainda mais. por vezes recordam as descrições plotinianas. no qual a Santa relata. cuja alma é toda inteira penetrada pela beleza. deixa subsistir intacto o pensamento que é pura apreensão do objeto sem percepção do sujeito pensante. "Inflamada pelo ardor celeste. ligeira. de sujeito pensante e de objeto pensado. (VI. 9. em nada contribui à contemplação. não mais existe aquele que vê e aquele que é visto. como se houvesse feito coincidir o próprio centro com o centro universal". 34. senão Ele" (VI. tem realmente asas. VI. inteiramente inebriados de néctar. toda idéia distinta) ignore até que é ele quem contempla e.. ignore tudo (primeiro dispondo a alma. obra da iniciativa divina. que ele vê. não o vê no sentido de distinguí-lo de se mesmo. (VI. sem saber que a possui" (V. VI. "Alguns. e ela não o pode. sai-lhe ao encontro quando se apresenta e vê não mais ela. 22. como saída de si para perder-se no objeto (IV. visão da mente: "a vida ideal é ato da inteligência: por esse ato. VI. 9. Longe de ser aideísmo vazio. 7. "Retire-se do mundo exterior. V..3). e que não logra atingir qualquer conhecimento abstrato. é hiperconsciente: de tal forma concentra-se o espírito em Deus. ele o vislumbra graças a uma iluminação repentina e fugaz. a alma cobra forças.Não estranha pois. Não existe então objeto visto e luz que faz ver. o gáudio. cf. não são meros espectadores. Não há negar o caráter profundamente intelectualista do sistema de Plotino. não há mais distinção possível enquanto Ele está presente. (VI. vívida. sem saber como. 6) isto é. de tal forma o apreende e assimila. 9. Pouco valeria a essas alturas. não se volte às coisas de fora. Procura a Deus. como Plotino e João da Cruz as descrevem. tomemos ambas as experiências.17. o êxtase é inconsciente. fazem um só. como não há inteligência e inteligível: existe pura luz que dá origem à inteligência e ao inteligível" (VI.36).7 e 8. A alma não mais sente o corpo. 9. na primeira. enquanto que a união mística sanjoanense revela-se qual convívio de mútuo amor. a felicidade.3.V. após ter-se unido a Deus e com Ele convivido. 10). A visão ao aproximar-se da luz não descobre um objeto diverso dela mesma. a vista aguçada penetra o objeto em si mesmo. e consciência como conhecimento de si. possui a coisa. E o amor? O amor. exteriores um ao outro. de ordem intelectiva. ao contemplar. Temos aqui um misticismo especulativo. não têm medida. Mas. "O objeto. Uma vez conquistada a intuição suprema. estende-se o pensamento até Aquele no qual existe. fruto do humano labor. entre o conteúdo e a expressão? Não seria idêntica vivência que ora se cristaliza em fórmulas neo-platônicas. 8. como objeto do conhecimento de objeto. 10. 34). que mesmo um erudito como J. 8. O êxtase religioso que lhe serve de ápice e de coroa é uma intuição estreitamente intelectual ou — como tantas vezes declara o próprio filósofo6 — uma "visão". 31). sob forma de desejo. ele tem um conteúdo positivo: é pura luz. vá anunciar aos outros o que é essa união". erguido pelo fluxo que se alteia. 5. "A alma vê subitamente (Deus) nela aparecer. "Abandonando todo conhecimento racional. que se esquece de si. a . não mais diz que é homem ou ser animado ou qualquer coisa que seja: contemplar tais objetos destruiria a uniformidade desse estado. Realizado esse esforço.7). 7. Sem dúvida Plotino adianta que tal visão se processa "sem pensamento" (o que levou alguns a interpretar-lhe o êxtase como queda na inconsciência) porém essa negação atinge tão somente o pensamento que comporta "alteridade" (VI. Na segunda acepção. concentre-se totalmente no íntimo. nem quer. de representar-se um sujeito e um objeto. Por óbvio e patente fosse o contraste. com ele se identificou.31 etc). 7. e procuremos penetrar-lhes o âmago. cf. no misticismo. nenhum intermediário entre ambos. não são mais dois. 7. distinção explícita. 7. 11). alteia-se. cf. (V. para Plotino. vê repentinamente. O vidente tornou-se um outro. Unido inteiramente ao objeto. não é mais ele mesmo. a coisa avistada é a própria luz. opor a metafísica pagã de Plotino à filosofia e à teologia cristãs de João da Cruz. Aquele Deus que é procurado pelo sábio. Carregado então pela onda da inteligência. Plotino leva-nos pois a distinguir entre consciência. através da trabalhosa ascensão dialética. percebemos que o êxtase plotiniano é uma visão solitária e despersonalizada. deu o primeiro impulso à ascensão e sustenta-lhe as diversas fases. o amor. despertas. Baruzi haja aproximado Plotino e João da Cruz ao ponto de não deixar entre ambos senão diferenças acidentais. a experiência é formalmente. O "extase" aparece não só etimológica senão realmente. 8. deixaria entretanto subsistir uma dúvida importuna: não haveria que distinguir. 7. 1). depois repelindo. em compensação. recompensa do labor filosófico. ora em termos cristãos? Afim de reduzir tanto quanto possível a parte de conjectura e de controvérsia. até um objeto superior" (VI. o sábio por fim consegue alcandorar-se no cume donde descortinará. ou. sobre todos os seres. força sombria. posse. na sua concreção individual. "Con suma estimación (Dios) te ama.7. às virtudes". dá origem aos deuses. Deus é fonte suprema do desejo. agita-se. porque Deus lho disse. e o "Deus-amigo-meu" de S. 9. o amor tende a identificar-se com o objeto para nele se perder. Galgando à custa de penosos esforços a escala ascendente dos seres. mas esse conhecimento brota do amor. o amor nela desponta". 7. lib. no. (VI. discriminadora que trava relações pessoais com este ou aquele homem. VI. "A alma recebe um influxo do alto. Não deixa de ser significativo o fato de o místico grego ter preferido o simbolismo da Luz. não é de maravilhar se desfruta tal poder de atração para nos fazer regressar dos caminhos erradios a fim de nele encontramos o descanso. O Uno plotiniano permanece não só o grande Solitário. 7. (VI. Luminosa por essência. impele o espírito criado como primeira causa eficiente e última causa final. alçando-se de purificação em purificação. enquanto o amor é impulso cego. porque nunca da Dios sabiduria mística sin amor. sem embargo. "Aquele que a alma persegue.. (VI. que tal iniciativa divina não ultrapassa o plano cósmico. 7.9). O misticismo sanjoanense comporta. pois que segundo Plotino. 22). a inteligência culminará na fulguração do raio. concentrar as forças do intelecto e distender a intuição metafísica até ultrapassar os limites do humano (VI. noturna. Quando o conhecimento de fé se torna experiência. João da Cruz. Sobrelevada até ao cume. todavia. essa atividade cósmica do Deus-criador não é aquela ação seletiva. dom pessoal de Deus. logo sobre todas as almas. contente de se achar perto dele. convívio. O Deus de Plotino age incessantemente sobre o mundo que dele emana. 34). pois é o amor que constitui a mesma experiência. como cria necessariamente. certo conhecimento de Deus. a mínima resposta. Ao grito de desejo de Plotino. nunca o Amigo que lhe oferta o próprio amor. ali se detém. à justiça. todos os crentes seriam místicos). Donde o êxtase é uma experiência unilateral. pues el mismo la infunde " (Noche oscura. a um tempo. sabemos portanto que a experiência surge dentro da fé. João da Cruz sabe que tem a Deus por Amigo. porém. o amor apreende-o de certo. quando o Deus de Aristóteles em face do desejo da inteligência que movimenta o céu supremo.alma imóvel. Esse bem ao qual se une. a simples vida de fé não é ainda vida mística (assim sendo. Seria de certo inexato asseverar que Deus não desempenha papel algum nessa mística.. cap. 23) "Se a alma vive é porque vida mais sublime lhe foi ao encontro. ele é "sabiduria amorosa. mas como às escuras. cujo mínimo vestígio comove. e . 31 e 34). na vida mística cabe ao amor completa primazia sobre o intelecto.9 e 10) a visão do ser divino. o Doutor místico di-lo e o repete. de longe em longe e num rápido lampejo (VI. inclusive a do místico. Descreve belamente Plotino a exuberância dos sentimentos que alvoroçam o visionário (I. Deus. sem dúvida. Segundo S. João da Cruz. o aguilhão do desejo a incita. 2). Ama o bem porque desde o início foi por Ele impelida a amá-lo" (VI. O amor parece ter por ofício. nas próprias expressões do Santo. escolha. senão o inexorável Silencioso. Segundo Plotino. O neo-platônico contempla aquele Uno donde lhe vem o ser. ele é superior a tudo". à beleza. 12. de certo. fruição. 2. se assim podemos nos expressar. De modo algum há livre intervenção. deve-o tão somente ao amor. 6. 7. sem exprimi-lo ou traduzi-lo: contenta-se com tê-lo presente e dele fruir. 7. do Objeto de tão ardente afeto. com ele vive. no entanto. Sabemos. 31). sublimando-se de simplificação em simplificação. 9. permanece tão indiferente ante o espírito que o contempla. Tudo dele vem. qual causa primeira. longe de captar o objeto para torná-lo translúcido e reproduzi-lo no espírito. responde o eterno silêncio! Ao passo que S. não registra. à caridade. graça ao contato com o Uno. E assim há um verdadeiro abismo entre o "Deus-fonte-do-ser" de Plotino. Mas o Deus de Plotino não reage. que dá luz à inteligência. muito pelo contrário. É de notar. assim atua necessariamente. que somente a fé — radicada na parte intelectiva na alma — nos faculta atingir a Deus. e o místico espanhol o simbolismo da Noite. "En la unión y transformación de amor. As metáforas de "esponsais" e de "núpcias" místicas. y lleva su memoria de divinas noticias. 9. eis o verdadeiro conselho a dar. ni con mucho. porém é necessário não mais olhar e. no sin gran júbilo tuyo: yo soy tuyo y para ti. (I. dedica-lhe os três livros da "Subida del Monte Carmelo". S. lib. hasta que Dios lo hace en el passivamente por médio de la purgación de la dicha noche". porque ya está solo y desnudo de obras contrarias y peregrinas inteligencias. por mais rigorosa seja ela. senão esta se comunica ao homem por misericórdia. 8). Que é pois essa viagem. 4). onde formula exigências radicais no tocante à purificação da alma. m. conviene a saber: su entendimento a las divinas inteligencias. ninguém tampouco a ela adquire o mínimo direito: sendo convívio de mútuo amor. nunca logrará alçar a alma acima do estado de "começante". con este su rostro lleno de gracias y diciéndote en esta unión suya. é para Plotino uma exigência que requer apenas para ser satisfeita. cancion 3. ali está nosso Pai. Donde a absoluta gratuidade da vida mística. porquanto já está presente a todas as coisas (V. (Cantico. 9. canción 34/35 verso 3). a pátria é o lugar donde viemos. restarão sempre resquícios de defeitos que labor humano algum conseguiria desarraigar. en que está sola con Dios. 8. Mais significativo ainda é o fato asseverar que todos os homens podem conquistar a visão mística. João da Cruz encarece igualmente o esforço pessoal de preparação. Nenhum autor é mais alheio ao quietismo. 9. 11). A misticidade faz parte integrante da própria natureza humana. porque también está ya sola y vacía de otras imaginaciones y fantasias". El la guia y mueve y levanta a las cosas divinas. 7). 7. y asi cada uno vive en el otro y el uno es el otro y entrambos son uno por transformacion de amor" (Cantico espiritual. João da Cruz. patenteiam que se travam livres relações de mútuo amor. (Noche oscura. I. canción XI (XII) verso 5). 7 a alma sente. essa fuga? Não a realizaremos com os pés: eles nos levam sempre de uma terra a outra. 5). 6. verso 1. de místico incipiente. a mesma purificação passiva já é experiência do divino. vive o trabalho divino em si mesma. sente-se invadida por Deus que a arrebata desprendendo-lhe as atividades espirituais do respectivo objeto natural para fixá-las sobre um objeto sobrenatural: "En esa soledad que el alma tiene de todas las cosas. Já que a intervenção divina na experiência mística de Plotino não ultrapassa aquela moção geral com que a causa primeira faz passar da potência ao ato todos agentes criados. por assim dizer. Plotino ensina explicitamente que é a alma quem sobe: Deus não vem. obrada na alma pelo próprio Deus. sozinho ele foge ao encontro do divino solitário (VI. el uno da posesión de si al otro y cada uno se deja y da y trueca por el otro. que tal purificação não basta. Pelo próprio esforço. para S.. . para S. puede. y su voluntad mueve libremente al amor de Dios. nunca del todo. despertar enfim essa faculdade que todos possuem e poucos utilizam". não se produz de maneira natural e. guinda-se o sábio ao alto da rude encosta. requer a livre iniciativa de Deus que eleva a si quem Ele quer por amigo. culpe-se a si mesmo (VI. VI. Enquanto para Plotino o êxtase beatificante é posterior à purificação.. trocar essa visão por uma outra. João da Cruz. y gusto de ser tal qual soy para ser tuyo y para darme a ti" (Llama de amor viva. mostrándosete en estas vías de sus noticias Él mismo alegremente. contudo. tampouco há que preparar carruagem ou navio. 6). ao terminar a purificação ativa. "Por más que el principiante en mortificar en sí se ejercite todas estas suas acciones y passiones. segue-se que a preparação será tão unilateral quanto a experiência mesma. Esse desejo de Deus que ambos desvendam no coração humano. fatal . porque ja está sola y libre de otras afecciones. "Fujamos para a pátria amada. Donde a insistência do Santo sobre a purificação "passiva". nosso esforço de purificação. cerrados os olhos. Ninguém conquista a experiência mística cristã. 5.igualándote consigo. é somente um anseio cujo objeto está absolutamente fora do alcance da criatura. se alguém não o consegue. n. cap. Como que corrigindo a frase acima citada sobre a "vinda" de Deus. O homem não se eleva até a vida divina. Mantém. 12. centelha descaída no seio da matéria mas que. para Plotino será principalmente lógica (ascensão pelos degraus do ser. que nos ministra a teologia. porquanto nos artistas e nos inventores apresentam-se. Todavia.Les deux sources de la morale et de la religion. alevanta o homem até si. Paulo. Esta é conhecedora do que seja misticismo autêntico. A introversão dialética. não perdeu a natureza: aguarda. (1. 9. do próprio eu e de suas operações. porque dispõe dum ponto fixo de referência. 11. que S. mars 1939). o capítulo. por tal. A inquietude mística seria pois o refluxo natural do não menos natural fluxo criador das coisas. 243. . Ennéades. Se bem Plotino não haja explicitamente desposado o panteísmo (antes. p. 8. "Deus aí está. quer investigando-lhes a fase preparatória e as implicações metafísicas. como será ele transposto? que o contato possível entre os incomensuravelmente distantes? como logrará o débil esforço humano vencer a descontinuidade entre os seres em presença? A esses angustiosos quesitos. 1941). 4. y es Dios el que la guia en esta soledad". cabem apenas duas respostas positivas. 7 vols. João da Cruz será antes de tudo purificação moral: desapegar-se das coisas.Donde as orientações divergentes da própria purificação ativa: esta. No êxtase a alma retornaria à pureza inicial da emanação divina. a transcendência divina! Torna-se contudo concebível a mística "naturalista". presente a quem o pode tocar. 3. 6. certos de seus textos parecem excluí-lo). pois que este há de considerar a experiência mística dum ângulo diverso. VI. na realidade. agora.c. 2. as implicações metafísicas de ambas as experiências. Soçobra. Paris.De Plotino.). ausente para quem disso é incapaz" (VI. Bréhier. como um estudo teológico de Deus não inutiliza a meditação filosófica sobre o Ser supremo.O fato de as visões dos santos revestirem às vezes aparências alucinatórias não é de impressionar. assim a teologia mística não tornará casso o investigar do filósofo. verificamos que tanto Plotino quanto João da Cruz têm um altíssimo conceito da Transcendência divina — até Plotino acentua a doutrina ao ponto que o Uno parece quase esvair-se em o nada. 1924 a 1938.Deixaremos de parte as considerações históricas e aquelas. fá-lo-ia simultaneamente dar com o mesmo Deus que já ali se encontrava em estado de latência (V.No trabalho "Misticismo e Iluminismo". fazendo descobrir ao homem seu autêntico eu. 1. 1. V. unificação da multiplicidade interna). João da Cruz nos leva a constatar novamente — embora a um nível muito superior — outra heterogeneidade. 7). que nosso esforço a liberte. inmediatamente se las emplea Dios en lo invisible y divino. na verdade. texte etabli et traduit par E. O ápice do espírito humano seria. por uma estranha contradição. 34). 7. cativa. Nessa perspectiva. deparamos com diferenças tão profundas entre o êxtase plotiniano e a união sanjoanense que só podemos concluir em favor dum rigoroso discernimento de ambos. uma centelha faiscada pelo foco incriado de luz. Quer perscrutando-lhes a estrutura. utilizaremos a seguinte edição: Plotin. num ímpeto de misericordiosa e incompreensível condescendência. 5. 6. Les Belles Lettres. não raro sob um mecanismo alucinatório. 5. A confrontação do "comportamento" de Madeleine com o de Santa Teresa nos forçou a afirmar irremediável contraste entre os respectivos psiquismos. comunicando-lhe uma participação da vida divina: é a solução "sobrenaturalista" cristã. Em nossas referências os três algarismos designam respectivamente a Enéade.Estudamos um desses casos no artigo Grâce et folie (Etudes Carmelitaines. VI 5. João da Cruz viveu experimentalmente no seu misticismo. o tratado. Uma segunda resposta apresenta-nos o panteísmo: o homem logra atingir a Deus porque já o tinha em si mesmo. 4. deixando de parte as diferenças) e psicológica (introversão. 1. para deixar livre caminho à invasão divina: "luego que el alma desembaraza estas potencias y las vacia de todo lo inferior y de la propriedad de lo superior. pelo contrário. para S. 11. suscita qualquer experiência mística dificílimo problema: infinito o caminho. A primeira ensina que Deus. 3. Investigando. (Publicação da Comissão Permanente de ação social. todavia somente o panteísmo poderia alicerçar-lhe a mística. muito mais preciosas. a comparação entre as experiências místicas de Plotino e de S. desapropriar-se. 2. S. idéias e descobertas que nada têm de delirantes. dejandolas a sola sin ello. amortecimento da sensibilidade. por fim. pertence à ordem dos acidentes.7. para S. A graça. em verdade. tornava-se fonte de operações divinas. Outra coisa é divinização. para o segundo. por sua vez. João da Cruz. porém. A diferença provém de que para o primeiro o misticismo é constituído pelo êxtase enquanto. obteríamos uma nova resposta. cedo ou tarde (mais cedo do que tarde!). logo conhecer-lhes o por quê e o como. ele deseja entendê-las e entendê-las o melhor possível. que tentaria aprofundar a precedente. conquanto exata. que um progresso na intelecção. Trindade. em última análise. no sentido pleno da palavra. Tão profundo entretanto é este significado. ao contrário. um principiante em teologia sobre o sentido do "vivo jam non ego". A diferença reside tão somente no grau de intensidade. 20). o teólogo não ignora sem dúvida que. por mínimo que seja. que vem propor ao teólogo um dos problemas mais interessantes e mais árduos que lhe possam solicitar a sagacidade. Portanto. Com efeito. Interrogando. será obrigado a se deter diante do mistério insondável. de maneira que esta vida divina. nem esta segunda resposta.. Uma simples elevação ou ordenação da vida humana ao nível do divino. 7. porque não existe talvez passagem das Epístolas que expresse mais ao vivo a alma do Apóstolo e possa também propor à nossa imitação mais sublime ideal de vida. não constitui. o Apóstolo não alude apenas àquela união com Cristo que é comum a todos os fiéis.br/drupal/node/495 Uma das palavras que mais amiúde citamos.É de notar também que para Plotino a experiência é rápida. A esta dificuldade. TRANSFORMAÇÃO DA ALMA EM DEUS PELO AMOR http://permanencia. outra coisa divinização como transformação do humano em divino. participação à vida divina que. intermitente e parece não comportar graus. divinizando-a. Repetição plenamente justificada. porém. assim a alma do Apóstolo. Ora. este legado do primeiro dos grandes escolásticos. no que tem de mais íntimo — a Trindade — torne-se objeto a ser contemplado e possuído pela nossa inteligência e pela nossa vontade. acidental e destinado a cessar apenas a vida mística se aprofunde e estabilize. explicitando o "como" da participação à vida divina pela graça. que. aquela centelha incriada que.org. pois. S. O teólogo com efeito — por felicidade e desdita sua! — não se contenta de repetir as sentenças bíblicas. mas a uma especial transformação em Cristo. transformação da vida humana em vida divina. acredita. atinge o seu completo desenvolvimento no cenícola. nem mesmo de crê-las cegamente. é a mesma vida sobrenatural que. sua função é elevar e ordenar nossa alma à vida profunda de Deus. mercê da qual não só Cristo nele vivia — como vive nos demais fiéis — mas ainda Paulo não mais vivia. constitui um antegozo daquela visão na qual conhecemos o Senhor como dEle somos conhecidos. Paulo não era cristão ordinário. o que não se verifica de todos os fiéis. Fides quaerens intellectum. não é supérfluo recordá-lo quando assistimos a tantas tentativas para transformar a ciência teológica em uma mistura de exegese." (Gal. vivia sobrenaturalmente pela graça de Cristo. segundo Mestre Eckart. Todavia. iniciada no batismo. por sua própria freqüência. satisfaz plenamente.. responderia sem dúvida o aprendiz teólogo que. nos unem desde já — se bem incoativamente — à vida da SS. o êxtase lhe é extrínseco. como o corpo de Paulo vivia naturalmente pela alma de Paulo. é o "vivo ergo jam non ergo. não parece aclarar o caso particular de S. obteríamos sem dúvida a boa resposta seguinte: a vida é princípio intrínseco de operações. vivit vero in me Christus. Fides quaerens intellectum. a ser o lema de todo teólogo digno desse nome. repetição. 2. ela os comporta e pode-se tornar permanente no estádio da "união transformante". de patrística e de história dos dogmas. talvez algo tenha empanado o brilho do texto e vedado o seu significado mais profundo. por uma relação de conhecimento e de amor. Explicar-nos-ia o futuro teólogo que participar da divindade não consiste em partilhar-lhe a essência. a inteligência iluminada pela fé e a vontade inflamada pela caridade. Paulo. Deve ser considerada pura quimera aquela partícula da natureza divina. deve continuar mesmo no século vigésimo. ao movimentar-lhe as potências. Interrogando em seguida um aluno mais adiantado no estudo da ciência sagrada. porque sendo de ordem geral. brilharia no ápice de nossa mente. como participação ao divino. . particularmente claro: "o matrimônio espiritual é um estado muito superior ao desposório.. significava que apesar de viver. não apenas metafórica mas propriamente falando. além do texto acima. 1)." (Cântico. vivit vero in me Christus" porque.. delineado na inteligência pelas verdades da fé. que esta terceira resposta vem suscitar uma nova e embaraçante questão: como se processa.. na união e transformação de amor. consumado o matrimônio espiritual entre Deus e a alma. de maneira que sua vida e a a vida de Cristo eram uma só vida. na medida em que lograremos perceber como o amor consegue transformar no ser amado o ser que ama. João da Cruz. Entretanto. o que é único é o amor ("em um só espírito e amor de Deus") sobre cujo plano se processa a transformação. Paulo que nos preocupa. era mais divina do que humana. no qual a vida da graça chegara ao máximo compatível com a condição de viageiro. portanto. pelo perfeito amor de Cristo por Paulo e de Paulo por Cristo. e na vontade pelo fogo da caridade. graças à união afetiva. Não é de espantar. afirmando que ela se encontra . pode-se dizer. o meio formal de atingirmos a maior perfeição acessível ao viageiro. De acordo. É óbvio que a transformação mística não se processa sobre o plano da essência. muitos outros. porque os místico de todos os tempos e de todas as escolas insistem de comum acordo sobre a inefabilidade e a transcendência de sua experiência. Realizamos um novo e importante progresso. desvendou na sua vigorosa plenitude o texto de S. permanecem "duas naturezas". Paulo ao dizer: "vivo autem jam no ego. De início. ao transformar os amigos. S. Poderíamos aduzir. Eis. porque é uma transformação total no Amado. primeiro e principal mandamento. responder e quiçá tampouco saberia o seu professor. torna-os a tal ponto semelhantes que cada qual. tal é a doutrina constante de S. a sua vida não era sua. Cristo.. Vislumbraremos. seja o instrumento da nossa deificação. Felizmente um Doutor da Igreja respondeu por nós.mas cristão perfeitíssimo. por certo. Que haja transformação. porém. são duas naturezas em um só espírito e amor de Deus. resta saber como o amor pode realizar obra tão assombrosa. que a sua vida humana houvesse sido como que transformada na vida de Cristo Deus. Logo. união pela qual a alma torna-se divina e Deus por participação. Com efeito. estrofe 11. à questão: "como se processa a transformação da vida humana da alma em vida divina de Cristo". afirmando "vivo. Surge uma quinta pergunta: admitido que a transformação da alma em Deus se processe pelo amor. nem tampouco a alma e Deus se fundem em uma só essência. bastará citar mais um apenas. verso 5). Donde resulta com evidência que o "vivo ego jam non ego" não deve ser interpretado apenas como uma sublime exclamação proferida num arroubo de entusiasmo. Embaraçante quesito. como expressão da pura verdade: transformação da vida humana de Paulo na vida divina de Cristo. quanto é possível nesta vida. prossegue o Doutor Místico: "o semblante do Amado tão fiel e vivamente se retrata na vontade quando existe união de amor. dois pontos parecem fora de toda dúvida: 1o. João da Cruz. porém não vivo eu". já que ele estava transformado em Cristo. É o que quis dar a entender S." (Cântico. digo. mas sim Cristo nele. estr. ao qual tentaremos esboçar uma resposta. um dá posse de si ao outro e assim cada um vive no outro. um é o outro e ambos são um só pela transformação de amor. é o outro e ambos são um só. estamos agora em medida de responder: a alma se transforma pela união de amor. que é verdade dizer que o amado vive no amante e o amante no amado. desaparece pois todo e qualquer perigo de panteísmo porquanto a substância da alma não se torna divina. a santa e insaciável curiosidade do teólogo não se dá ainda por apagada. pela união de amor. na mesma medida vislumbraremos algo da transformação da alma em Deus. Por isso adianta que não vivia ele. mas deve ser aceito no sentido mais próprio e mais forte das palavras. esta transformação? À quarta pergunta o aluno de teologia não saberia. v. concretamente. Depois de explicar como a alma santa tem o seu Amado. 27. com efeito. É compreensível aliás que o amor de Deus acima de todas as coisas. O amor. ao contrário. a. Como bem explica S. Comportam-se em tudo como se comportaria ele. O mais egocêntrico dos amantes. com espanto e por vezes escândalo de quem não consegue elevar-se acima da carne e do sangue. inclinação. A inteligência se apodera da coisa. os quereres aos do amigo. o vestuário até. q. do fundador. seja pelo dom (amor desinteressado ou "puro") seja pela posse (amor egocêntrico ou de concupiscência)1. 28. Max Scheller e Henri Bergson. Donde. 2). Daí certas simpatias súbitas e. todavia algo lobrigar — embora pouco e obscuro — é sempre preferível a nada saber. Tomás. Quais serão as conseqüências do movimento de "êxtase". esse viver no objeto amado significa não se contentar com a posse superficial e exterior. que se manifestará pela mobilização completa de suas energias em prol do amigo. E se nos atrai é porque existe certa conformidade entre aquele bem e o que desejamos — talvez secretamente — como podendo levar nosso ser a uma perfeição maior. nos atrai. sed contra 2) esta saída de si — este "êxtase" diria o Areopagita — não deve ser entendido fisicamente. os gostos. subjugado pelos atrativos do bem exterior a ele. o ser amado está em nós. Relembremos os grande movimentos religiosas: em torno do profeta. pois. I-IIae. o freqüente recurso às imagens nupciais. É igualmente claro que o amor místico não é amor sensual nem mesmo amor espiritual de ordem natural. por exemplo. (Sto. pelo amor somos forçados a sair de nós para ir ter com o próprio objeto e a ele nos juntar. por hipótese. partilhando-lhe as alegrias e as agruras. Em se tratando do amor egocêntrico. A inteligência é justamente a função que nos permite apoderar-nos dos seres para reiterá-los em nós. já que Sto. d. da processão do Espírito Santo. que no amigo gozamos e nele sofremos. Como se vê. adotam-lhe as concepções. a. provoca ressonâncias em toda a nossa psique.. como objeto de contemplação. presa nossa. do reformador. como princípio de uma atividade cujo termo será a união real com a coisa e não com uma simples idéia. O "êxtase" consiste na inclinação imanente para um objeto real precisamente enquanto ele existe fora de nosso espírito. aquele que só almeja gozar do objeto amado. Agostinho) eis o que constitui a presença do amado no amante. fascinado. 2o. 2. começou entretanto por ser dominado. pela tendência a se identificar de mais a mais com ele. 1. isto é. à primeira vista. Por amor pelo Mestre. com maioria de razão a análise da união afetiva natural poderá ministrar-nos uma analogia — imperfeita. na ordem afetiva. Se. reproduzindo-lhe a vida. como. Pela inteligência possuímos a semelhança mental do objeto em nós. por longínqua que fosse. Num e noutro caso. a não ser a transformação moral.acima de tudo quanto dizer e pensar se possa. operada sob o influxo de uma personalidade eminente do passado ou do presente? Dois grandes filósofos contemporâneos. fazendo-os viver em nosso espírito. colocaram em especial relevo este papel criador e renovador das personalidades de elite. consciente ou subconscientemente. em se tratando da amizade perfeita que. na evolução moral da humanidade. dizia Sto. surgem as figuras dos discípulos que só anseiam por plasmar a sua personalidade à semelhança daqueles que amam. q. O que é a conversão. como se o amor fosse uma espécie de fluído emanado da pessoa e indo ao encontro do objeto. nos escritos dos autores espirituais. um bem que nos convenha. Apenas percebido. alguém votar a uma pessoa cuja imensa superioridade moral ele reconhecer? Será o mais absoluto dom de si. A idéia é a coisa presente em nós na ordem representativa. Impulso. de tal modo nos identificamos com o bem ou o mal do amigo. no amor desinteressado. inexplicáveis. atração (pondus amoris. a amizade virtuosa. e desperta na nossa vontade um impulso que para ele nos inclina. quem ama vive naquele que ama. 1. a fim de a ele ulteriormente nos unir. A união afetiva natural Por que amamos? Porque tal bem concreto nos alicia. conformando as idéias. este nos faz vibrar. porém fecunda — do amor místico. os afetos. a compreensão plena de tão elevado assunto está fora do alcance do teólogo. nos seduz. Sem embargo. como conquista nossa. as normas de conduta. Boaventura (I Sent. mas a coisa se apodera da vontade. mas procurar um gozo cada vez mais profundo e total. Ao contrário. Agostinho não se pejou de buscar no amor uma imagem. 10. Mesmo deixando . a presença afetiva muito difere da presença das coisas na nossa inteligência. Sair de si é ainda submeter-se a um longo trabalho de simplificação interior. assim como vivemos naquilo que amamos. a força transformadora do amor. v. cândida. tendo por objeto a suma amabilidade: Deus uno e trino. Faltando o laço afetivo. podemos acrescentar até que. ao ponto de afugentar uma lembrança sequer que se não refira a Deus. para torná-lo mais profundo e forte: o misticismo . é certamente sair de si para se perder no Amado. estr. v. simples. um contato que atinja o eu profundo do paciente. mas simplesmente porque são modos de sentir e de pensar daqueles que nos são caros? Um psiquiatra americano. mesmo dos bens que mais legitimamente se possui.de lado o influxo desses indivíduos excepcionais. v. é evidente. Estará. tinge-lhe todas as atividades. que se dedicou à nobre tarefa de reeducar meninos delinqüentes. como poderia sinceramente chamar a Deus "Amado". Amar a Deus de verdade consiste em não se contentar com algo que não seja Deus. Hartwell. aos poucos. heróico. Todo este esforço ascético. ele torna-se um incêndio imenso e devorador. a alma deixa a meditação discursiva que lhe é natural. Este "sair de si" — tão fácil de se dizer e tão árduo de se praticar — dá um sentido positivo a tudo quanto no itinerário místico é aparentemente negativo. 3. o místico só anseia por sair de si para em Deus ser perder. Assim. fazendo-lhe entrega de sua alma com todas as suas atividades. conformando e configurando todas as energias da alma ao Amado. 3. embebe. nada querendo fora de Deus. e se a identificação é tanto mais estreita quanto mais profundo é o amor. tudo Lhe reservando. podemos antever que o amor místico levará ao auge esta tendência. muito insiste. assim esta alma (que não só tem amor por Deus mas é amor de Deus) vive em Deus muito mais do que no próprio corpo (Cântico. Quantos modos de pensar e de sentir abraçamos. os mais impecáveis raciocínios. persegue uma só finalidade: sair de si para consumar o dom magnífico do amor. na verdade. não já pelo seu intrínseco valor. ao ponto de negar uma parcela sequer de amor ao que não seja Deus. que apresenta no comum dos fiéis. Eis por que o místico embevecido de amor tornar-se alheio a tudo quanto é terreno. e pelo amor vive em Deus. 3). 1). visando desligar as energias psíquicas de seus objetos habituais. porque são as concepções e norma de um amigo no qual o menino confia. ao tratar com Deus. § 6). transformada em amor. nada desejando a não ser Deus. verifica-se que os mais eloqüentes apelos. porém. e. 9. O que mais necessitamos para progredir é calar-nos junto de Deus quanto aos apetites e às palavras. são tão pouco eficazes como as setas que o selvagem atiraria contra o sol. obtêm-se em compensação radicais transformações na mentalidade e na conduta socialmente inadaptadas2. O ato de caridade perde. de nada gozando a não ser de Deus. Renunciar não só ao pecado que é fruto do egoísmo. como quem abre os olhos a fim de olhar com amor (Llama. que invade a alma inteira e banha. ao ponto de recusar um pensamento sequer ao que não seja para Deus. mas por simples sugestão ativa. quem não estivesse todo inteiro nEle perdido. sobre a necessidade de estabelecer entre o psiquiatra e a criança uma relação de pessoa a pessoa. como ainda desapropriar-se de todo o criado. no volume no qual enfeixou algumas de suas experiências. porquanto é o afeto mais total e veemente que conceber se possa. Samuel D. enfim. em busca duma contemplação intuitiva que é atenção cheia de afeto. porquanto em cada novo ato de amor repercute o eco dos atos anteriores. não tendo coração para si mesmo nem para coisa alguma fora dEle? (Cântico. na vida quotidiana. nos casos mais graves. espaçado. pertinaz. II. que impele quem ama a se identificar com o ser amado. Estabelecido este laço. transformada em Deus? Podemos sem dúvida responder que não mais a si pertence: é propriedade de Deus. de maneira que este aceite as concepções e as normas de conduta que o médico lhe inculcar. estr. não mais pelo valor objetivo que possam ter. nem mesmo pensando em querer o que Deus não quer. este caráter isolado. porque a língua que Deus melhor entende é o silêncio de amor 3. 8. estr. Inflamado por esta chama. O amor assimilante do místico por Deus Se tal é a força assimiladora do amor. podemos verificar a cada passo. Esta alma encontra-se. para mobilizá-los em prol do amor. Porque. que esta vida em Deus revestirá crescente intensidade. entretanto. é Deus que a transforma.longe de ser estático é perene movimento do amor a mais amor. João da Cruz uma aplicação deste princípio à união mística. não tornará divinos os atos humanos. Encontramos na pena de S. não faça o necessário para a ela se comunicar. a alma ama a Deus mas não sabe nem tem meio algum de saber se Deus corresponde a este amor. como não ama coisa alguma fora de si mesmo. Para isso não é suficiente que a alma viva em Deus. de maneira menos negativa. v. Aclarando ainda mais o seu pensamento. por seu lado. Ele ama pois a alma em si. tudo. o que nela mereceu amor. urge a intervenção de um novo fator: o amor de Deus pela alma. torna-a assim graciosa e agradável a Ele mesmo. corrige-se e afirma que. do que determinar positivamente o que ela é. O princípio metafísico-teológico que domina a matéria. estr. Não ama pois as coisas pelo que são nelas mesmas. envolta nas trevas do mistério. este amor. removemos os obstáculos e este Amor que estava à porta irrompe e submerge a alma qual torrente impetuosa. Estas considerações permitem-nos dar maior exação ao nosso conceito de união mística. João da Cruz. imitação. o que ela não é. por essência. ele infunde a bondade nos objetos por ele amados: as criaturas não são queridas de Deus porque são boas. III. pelas suas virtudes. 3. 4. Haverá por certo assimilação. O sol está muito pronto a entrar desde a manhã em vosso aposento apenas abristes as janelas. Donde. conquistara o Esposo. que é . é impossível que Deus. se a sua fé e o seu amor puderam cativas o Amado é por tê-la Ele contemplando com amor. dez. Em outras palavras: a alma foi por Deus amada. conquanto faça viver a alma em Deus. est. para ser nosso. Tal é a conduta do Deus que vela sobre Israel. elas são boas porque Deus lhes quer bem. é a não-passividade do amor em Deus. na estrofe 23. ativo. A um tempo conforta a nossa fraqueza e envergonha a nossa tibieza. fasc. pelas seguintes palavras: "Em Deus. Muito mais poderemos dizer. que o leitor atribuísse a Deus menos do que Lhe pertence. na mística cristã o amor é essencialmente mútuo. não iluminar um espaço sereno onde não encontra obstáculos. p. Apesar de tudo. "Quando uma alma tudo fez quanto dela dependia. indaga o insaciável teólogo. O Apóstolo como que insinuava destarte o caráter eminentemente ativo do amor divino. Concluímos que não é a alma que se transforma. como sói acontecer quantas vezes a inteligência humana procura perscrutar diretamente a ação divina. Pré-requisito indispensável: como poderia Deus ocupar verdadeiramente um coração que de tudo não estivesse desprendido? Apenas. Também não escreveu S. Deus está pois tão disposto a penetrar nas almas. Paulo que ele vivia em Cristo. o amor é. 924). porém. Apenas requer que Lhe abramos as janelas. (Llama. porém. como o mesmo amor pelo qual se ama ( Cântico. O amor transformante de Deus pelo místico Enquanto na mística neoplatônica. "transformação". Ele não dorme. parecia resultar da conjunção de dois movimentos: um. temendo. Tentamos expressar. pelo menos no segredo do silêncio. não haverá. isto é. o Doutor Místico acrescenta: Deus. que afastemos os obstáculos. mas ao contrário tornou-se amável porque Deus a amou. Deus tudo dá. Tal qual a descrevíamos até agora. Não sem motivo empregam pois os místicos as metáforas nupciais a fim de indicar a reciprocidade do dom. para Deus amar a alma é colocá-la de certo modo dentro de si mesmo. não em virtude de sua prévia amabilidade. consigo. 3. 23. é amando-as que Deus as torna amáveis" (REB. porque tudo ama para si e o amor tem razão de fim. Deus o procura com infinitamente mais amor. foi a graça e o valor que dEle recebera. v. a alma narra como. isto é. ascendente. é ainda necessário que Deus viva na alma. A esta alma que Lhe deu tudo. Se o Santo procura Deus com amor. mas entra na alma absolutamente destacada de todas as criaturas e a cumula de seus tesouros. em trabalho anterior. ela. este princípio. 3). Ele mesmo. 1942. A fim pois de manter toda a sua força ao termo empregado por S. Nas estrofes 21 e 22 do Cântico Espiritual. propriamente falando. de certo. Como. como se processa esta transformação da criatura pelo amor divino? A resposta permanecerá. § 9). o meditar sobre este amor divino que bate à porta de nosso coração esperando apenas que nós lha abramos. negativamente. como o sol num aposento". igualando-a a si. ao raio de sol. é mesmo mais impossível do que. mas sim que Cristo nele vivia. assim nada ama diversamente de si. Assim é que a graça mística simplifica e sublima o mecanismo das atividades psíquicas do homem. sobretudo que tendo Deus a iniciativa poderá a onipotência de seu abissal amor absorver a alma com maior eficácia e força do que uma torrente de fogo lograria fazer evaporar uma gota de orvalho da manhã (Cântico. Tiago. há um só movimento que parte do amor infinito. sob a dependência da sensibilidade. descendo do Pai das Luzes. para Deus. que é amor de Deus à procura do homem. Sendo o amor de Deus pela criatura essencialmente generoso. 22. Se a amizade humana pode atingir tal intensidade. o segundo consiste no próprio dom. "In hoc est caritas: non quasi nos dilexerimus Deum. Assim é que S. incompreensível. o teólogo. O entendimento. o sair de si. ao modo divino. amar a alma é. no caso de S. estr. 2a. segundo os quais a alma deve ser reduzida ao estado de autômata. qual será então a estreiteza da união entre Deus e a alma. sua vontade é a vontade de Deus. não só a mente ultrapassa a ordem discursiva para se tornar intuitiva. Eis por que a esposa falando ao Esposo. post te curremus. vive do próprio amor pela qual Deus se ama 5. 3). é porque esta desce e quer ser cativada (Cântico. João da Cruz ensina: "A alma não pode exercer as virtudes nem adquiri-las sozinhas sem a ajuda de Deus. sem embargo nada disso pode ser recebido sem a capacidade e a ajuda da alma. mas esta mesma intuição se processa sem imagens. S. Passividade todavia que nada tem a ver com a inércia dos montanistas ou dos quietistas. este pondus amoris que o místico experimenta e que. Insistem os místicos romanos e flamengos sobre esta transformação da inteligência movida pela graça. identificar-lhe as operações às suas. e não pode deixar de ser. procede já duma iniciativa divina: o Senhor mostra-se primeiro e lhe sai ao encontro. Eis porque os místicos descrevem com tanto vigor a "passividade" da alma em face de Deus4. da Bondade primeira por suas miseráveis criaturas. descendente. v. o primeiro é como que preparatório. por sua vez. sed quoniam ipse prior dilexit nos" (I Jo 4. podemos afirmar de início que. registrando mecanicamente a moção divina." para expressar que se o impulso para o bem deve vir de Deus somente (trahe me). Entretanto. o "êxtase" da alma. torna-se divino. fá-las escapar ao modo humano de agir para elevá-las.. com grande esforço lobriga nessas sublimes trevas algumas verdades que conserva com carinho. para Deus. v. absorvida pela ação do divino amor que a atrai e chama a si. João da Cruz as traduz por graciosa comparação: se a ave de vôo baixo consegue apresar a águia real de vôo altíssimo. Psicologicamente. de silêncio? Balbuciando. transformada. dar-se à alma significa. 10). que só guardava lembranças das criaturas. estr. cheio de paz. narram os Santos as suas inefáveis experiências. portanto.amor do homem à procura de Deus. neste sentido. 21. mas tampouco Deus as produz sozinho na alma sem ela. 22). ao fazêla Deus reclinar sobre seu peito. mas diz: "corremos ambos" porquanto constitui obra conjunta de Deus e da alma (Cântico. fruto deste: o homem não ascende senão porque Deus o chama e atrai. sua memória é a memória de Deus. toda a vida interior acha-se sobreelevada. A vontade. Em uma palavra. na medida do possível. que outrora agia segundo seu modo natural. o faz subir até Deus. de ternura. infundir-lhe a própria vida divina. nos Cantares. Conquanto seja verdade que toda graça excelente e todo dom perfeito vem do alto. A memória enfim. suas delícias são as delícias de Deus. Pelo contrário. em compensação. doravante age pela virtude da luz divina e. outro. Estas palavras do discípulo amado. "O entendimento da alma é entendimento de Deus. dois movimentos convergentes. ao penetrar mais fundo no problema verificamos que aquele movimento já é. atingindo sem intermediários a realidade divina. redação. invencível. é causado pela investida do amor divino que a impeliu. na realidade. que dantes amava de um amor natural e rastejante. chamando-as a partilhar sua vida. 4). disse: "trahe me. estr. como acreditávamos. Esta inclinação. A sua substância . gratuito. dispositivo. Como descrever a transformação que na alma se opera. o ato de correr não é privativo do Esposo ou da esposa. Não há. comunicar-lhe os seus tesouros. os verdadeiros místicos insistem sobre a cooperação da alma que age vitalmente sob o influxo da graça. no dizer de S. sem idéias até.. agora só recorda os anos eternos cantados por Davi. Narra a Escritura que tão estreito afeto unia Jônatas a Davi que conglutinou-lhes as almas. Esta comunicação de vida parecenos revestir um duplo aspecto. adquire afetos divinos. transformada agora. Paulo. sintonizada com Ele. por mais sublime seja ele. (Cântico. provoca. Hartwell. 1). E se porventura sentimo-nos a uma distância quase infinita deste amor transformante. Como as águas frescas atraem o veado ferido e alterado. 3. oferecem-se as três pessoas divinas como objeto direto de experiência. 3o. ela experimenta que Ele é sábio e onipotente porque O sente amá-la com sabedoria e poder. ela "acha-se transformada numa chama de amor. 4. que seu Esposo é bom. E qual é o meio formal. mas na ordem experimental e do amor. 6). porquanto o amor divino que tão generosamente se dá. Comentando as palavras de S. porque a alma não se pode transformar substancialmente nEle. estr.D. 12. porque sente que Ele a ama com infinita bondade. mas por Deus mesmo. portanto. v. vol. sabe também que Ele é santo. a alma ama Deus em Deus. não vedes que. e não por mostrar-se Deus generoso para com a alma (Llama. experimentando este amor. absorvendo-se no divino amor que se dá com soberano poder. sicut et me dilexisti" significa: dando aos discípulos o mesmo amor do que ao Filho. assim o nosso amor se for generoso. v.Samuel D. estr. sentences et maximes de Saint Jean de la Croix docteur de l'Église. estr. 27). pelo Espírito Santo. estr. 26. New York. v. misericordioso. a alma ama a Deus não por ela mesma. A caridade dos Santos atinge. 6). pois. pois não é o conhecimento de Deus. 5. na fecundidade de suas processões. João (17. 2. permaneceis miseráveis e baixos. mas pela união e transformação do amor. todavia. 6. junho de 1943) 1. quam ad hoc eum propria ratio possit ducere". q. Trindade. À alma assim harmonizada. que nos dá a posse de Deus. 1. não porém duma maneira natural como ao Filho. por exemplo. na simplicidade de seus atributos. 3. estr. mas sigamos corajosamente o conselho do santo Doutor: "é importantíssimo para a alma muito se exercitar no amor" ( Llama. verdadeiro. 2. 38. Chevallier. Paris. Através deste mesmo amor. como o Padre e o Filho se amam (Que o amor com que me amaste esteja neles. (Revista Eclesiástica Brasileira. não será pois supérfluo frisar mais uma vez que esta dupla comunicação (dos atributos divinos e da vida trinitária) não se processa sobre o plano entitativo. sendo-Lhe unida. ama enfim a Deus pelo que é em si mesmo.Na alma mística. 6. o que significa: neste amor que é indissoluvelmente de Deus que o dá e da alma que o vive.Convém aliás notar que ambos os amores encerram o elemento de posse e o elemento de dom.não é substância de Deus. v. procurando grandezas e glórias. 5. porque descobre todas estas perfeições no amor que ela experimenta (Llama. a visita divina. e que eu também esteja neles. o Filho não pedia ao Pai que os santos fossem uma só coisa essencial e naturalmente como o são o Padre e o Filho. 4. puro.253. 38. fasc. que fazeis e de que vos ocupais? Vossas pretensões são baixezas e misérias a vossa opulência! Ó deplorável cegueira dos olhos de vossa alma! Sois cegos para tamanha luz e surdos para tão grandes vozes. 23) explica o Doutor místico que o "dilexisti eos. 1).Sto. justo. 2. só a predominância de um ou de outro diferencia os dois afetos. (1-2ae. Tomás resume a doutrina nas seguintes palavras: "Magis in Deum homo potest tendere per amorem passive quodammodo ab ipso Deo attractus. 5). tornai-vos ignorantes e indignos de tantos bens?" (Cântico. 1). constante. 3. imediatamente. estr. delicado. 2o. Les avis.O panteísmo constitui o perigo máximo para o misticismo. obterá com que Deus se apresse em vir abeberar-se na fonte do nosso coração (Cântico. ad 4). o Filho e o Espírito Santo lhe são comunicados" 6. não nos deixemos desalentar. v. forte. n. 1. Jo 17. Exclama o Doutor Místico: "Ó almas criadas para estas grandezas e para elas chamadas. a alma experimenta os diversos atributos divinos. o Filho e o Espírito Santo. ela experimenta. participa a alma da vida da SS. o amor reveste três qualidades: 1 o. do mesmo modo que dizendo: "ut sint unum sicut et nos unum sumus". 6). A VISIBILIDADE DA IGREJA . v. mas que fossem um pela união de amor. ela é Deus por participação" (Llama. 1933. v. mas sim o amor. Deus comunica então a sua vida profunda. 3. nEle estando absorvida. a. porquanto só o amor chama. 1931. 3. o veículo deste dom supremo? Ainda e sempre o amor. 2. reflete todos os atributos da divindade. como o Padre e o Filho são um pela unidade de amor. Fifty-five "bad" boys. 3. na qual o Padre. estr. ardente. o Padre. explicando a metáfora “Corpo”. venha o “Lumen in cœlo” aclarar a doutrina do “Pastor angelicus”. assim como é impossível reduzir o homem apenas ao corpo ou apenas à alma. esse sobrenatural não reside. Motivo pelo qual as Sagradas Letras tão freqüentemente rezam ser a Igreja um Corpo. dotado de vida sobrenatural. intérpretes e mensageiros da realidade. escutada pelo ouvido. ela se manifesta. a estreita conjunção de ambos. sem que seja possível separá-los. bem assim nutre e faz frutificar as vides da cepa que unidas lhe permanecem. assim também é essencial à constituição da Igreja unirem-se estreitamente o elemento espiritual e o material. material. Logo ao princípio. por ser Corpo de Cristo.br/drupal/node/496 Por três vezes a Encíclica se refere à visibilidade da Igreja. em si. Enfim. Semelhantemente. Assim. (E. Prosseguindo. 43. é a Igreja governada visivelmente pelo Papa e pelos Bispos (E. Afirma a doutrina católica que essa visibilidade é essencial à Igreja. cita dois trechos da Encíclica de Leão XIII Satis cognitum1 e por duas outras vezes se refere ao mesmo documento. aclarando o qualificativo “místico”. de todo invisível. 34. vegeta. litúrgicas. se encontram entremeados. os meios normais e principais pelos quais ela se comunica são exteriores. transparece. 18). fonte de santidade. antes a pessoa humana requer. pois pertence-lhe à própria constituição5. o outro externo.Por sua vez a fé. Procuremos pois explicar Pio por Leão. Mais adiante. a esses pediu que lhes acolhessem os ensinamentos e lhes obedecessem ao governo. 37). a saber os sacramentos administrados segundo determinados ritos.http://permanencia. a pessoa divina de Cristo. um olhar. Dois princípios ou elementos constituem a pessoa humana. Nada mais interior ao homem que a graça. Jesus Cristo encarregou os Apóstolos e seus sucessores perpétuos de instruir e reger os povos. visível. Não só distinguimos o corpo animado do corpo inanimado ou cadáver. atuosa. percebemos através de simples atitudes corporais? Um sorriso. instituição sobrenatural fundada por Cristo. lhe é nativa. nunca esses laços mútuos de direitos e de deveres se poderiam ter formado e mantido sem o recurso aos sentidos. num santuário misterioso e inatingível. o poder espiritual e invisível de iluminar as . Enfim. se atentarmos no fim supremo que colima e nas causas mais íntimas de sua santidade. todavia. condenando desta feita a oposição moderna entre a Igreja da caridade (invisível e divina) e a Igreja jurídica (visível e humana) (E. deve transparecer pela profissão externa 3.org. todavia enquanto encarnada. um. sem prejuízo do governo invisível de Cristo. interno. porque “a Deus nunca ninguém o viu” (Jo. A missão espiritual de ensinar. Leão XIII serve-se de dois pontos de referência para esclarecer a doutrina da Igreja: a nossa pessoa humana. Por ser Corpo. imanente ao espírito. O poder de santificar. 3 e 25). por vezes mui recônditos. ao tratar da “Cabeça” do corpo eclesiástico inculca que. espiritual. porquanto ela nem é um cadáver nem um puro espírito. 54. ensina que a Igreja é por essência visível e condena os erros do protestantismo antigo. manifesta-se exteriormente pelos ritos sacramentais e pelo culto. se traduz e manifesta no exterior pelo movimento e pela ação dos membros. morais. O que está em jogo é a visibilidade da Igreja enquanto divina. Ora. denominado “Igreja Católica”. ela será externa e necessariamente invisível. o aspecto sobrenatural da Igreja é. Essa última frase de Leão XIII põe a descoberto o âmago da questão: está em jogo a visibilidade da Igreja precisamente comoorganismo sobrenatural. Guarda-a e sustentaa Jesus Cristo pela virtude que lhe influi. mas se considerarmos ao contrário os membros que a compõem e os meios que nos encaminham até os dons espirituais. É de notar que a nossa Encíclica. o Corpo de Cristo 4. por ministros adrede escolhidos.Nossa alma enquanto espírito é invisível. espiritual e invisível. podem ser mais reveladores do que um fluxo de palavras. ele anima as atividades visíveis da Igreja. Como nos seres animados. nos homens de carne e osso que a integram. incomunicável. um bater de pálpebras. é por demais evidente para ser negado. I. o princípio da vida. senão o Corpo de Cristo. os Apóstolos só a puderam exercer por meio das palavras e atos que os sentidos percebiam. será a Igreja de certo espiritual. também é visível a existência dum corpo social dotado de instituições jurídicas. visível: o corpo. gerou a fé no íntimo das almas 2. ao fixar essa verdade de fé. 30). para ser constituída. completa a doutrina sobre a essência da Igreja e de novo se refere à visibilidade. ela é viva. Sem embargo. se torna visível através das atividades do corpo por ela promovidas. Leão XIII mostra como na contextura da Igreja o elemento interno. assim na Igreja o princípio de vida sobrenatural se patenteia pelos atos que ele dele dimanam. Que ela seja visível. mas ainda quantos pensamentos. A voz exterior. ela é visível. invisível: a alma. invisível e escondido. invisível e o externo. assim o sobrenatural. pode-se dizer da Igreja. Reflitamos nos prodígios que a cada instante opera o Espírito Santo — Alma incriada da Igreja — nos invioláveis refolhos dos corações. veja claramente que ali existe algo de milagroso. 7. A Igreja é um mistério de fé. Símile mais adaptado. os que fantasiam uma Igreja abscôndita e irreconhecível. por ser Cristo exemplar da Igreja (E. 54. A evidência vem pois desabrochar num ato de fé. 7.no entanto. louvando-lhe embora a força de coesão social ou a virtude educativa. Constatar a intervenção divina. se o milagre tornava crível a afirmação de Jesus que Ele era Filho de Deus. invisível em si. e a nós escapam as profundezas abismais que as ondas recobrem. uma visível e outra invisível. e multiplicar-se. se revela na Igreja pelas manifestações da vida cristã que da graça dimanam e se expressam nas atividades do corpo eclesiástico. quanto o erro do naturalismo. quais sinais visíveis da seiva invisível que animava o Corpo Místico. a humana visível 8. procurando com intenção reta. torna evidentemente crível o que dela não vemos. de O Corpo Místico. antes Cristo é uno. assim também a verdadeira Igreja não é o Corpo Místico de Cristo. é o Corpo quase diáfano de um Deus escondido e incompreensível” 11. tendo Deus decretado salvarem-se os homens pela Igreja. “Laboram em profundo e pernicioso erro. aberta e cotidianamente. como é primário no homem 7. A visibilidade essencial da Igreja não suprime a fé. Por isso mesmo. Segundo a doutrina católica o elemento espiritual é primário na Igreja. como a alma. se nele só se considera a natureza humana e visível (segundo queriam os fotinianos e nestorianos) ou só a natureza divina (como o queriam os monofisitas). já que o milagre mostra “como com o dedo de Deus a missão sobrenatural e o sobrenatural múnus da Igreja” (E. era ela crível: objeto de fé e não de ciência. regida por forte disciplina e provida de ritos externos. estatuindo que a Igreja é um milagre permanente. em conseqüência. em compensação não fazia de modo algum penetrar os arcanos dessa filiação divina. Na bela expressão de um grande eclesiólogo: “A Igreja é a morada viva. embora de meridiana clareza. 23. À pessoa humana como termo de comparação adita Leão XIII. se revela através do corpo que ela organiza. Afirmar a visibilidade essencial do homem não é manter que o principal no homem seja o corpo. (Cap. assim na Igreja o mistério transparecendo ao exterior é pouca coisa. a sua força e a sua vida dos dons sobrenaturais 9. e o Concílio Vaticano. a pessoa de Cristo subsistindo em duas naturezas: a divina invisível. prolongamento de Cristo. Mas. ao presenciarem os milagres de Jesus. 47. professamos no Símbolo. Os sinais evidenciam tão-somente que o mistério da Igreja merece certamente a nossa fé. 25). a pureza das virgens. que faz da Igreja evanescer num mistério inacessível. na citada Encíclica. por exemplo: a estrutura jurídica. senão porque aquilo que nela há de visível deriva a sua natureza própria. com certeza. como também os que a consideram apenas qual instituição humana. 41. 34). O mesmo. anima a Igreja revela-se no exterior apenas o bastante para que todo homem. crescer. Assim como — ensina Leão XIII — Cristo não é todo. devemos aceitá-lo. O dogma da visibilidade essencial da Igreja 6não significa — como caluniam os protestantes — que para os católicos o principal seja a parte exterior. A vida sobrenatural que. justifica-a. o poder espiritual e invisível de reger as almas patenteia-se externamente pelas instituições jurídico-sociais. e que só a fé atinge obscuramente. que na Igreja só percebe o lado exterior. que a Igreja haure a sua vida do mesmo Deus”10. pregadores e apologetas apontaram a constância dos mártires. suprimam a fé. sentencia o Pontífice. dizem os teólogos. fundamentando-a os israelitas de vontade reta. ensinou que a vida visível da Igreja manifesta-se como realidade divina. crê-lo. nem dotada de sinais. não porém enriquecida pelo constante afluxo de graça divina. Absolutamente não. interna e abscôndita.inteligências com a doutrina revela-se extremamente pela pregação. Leão XIII condena. 16). invisível em si. não é ainda entender o sobrenatural. Aliás. Desde os mais primitivos tempos. constituído por duas naturezas e subsistindo em duas naturezas. Publicado originalmente como artigo na Revista Eclesiástica Brasileira) . “Creiona Santa Igreja Católica”. pouquíssima mesmo. 49. Como do oceano apenas avistamos a superfície que os ventos agitam. proporcionalmente. tornava-se imprescindível que eles pudessem discernir. entretanto. a caridade dos fiéis. tanto o erro do protestantismo. faz viver. Novo erro seria contudo imaginar que esses “sinais”. onde está a Igreja precisamente enquanto meio de salvação. entendendo por aí que aquilo que da Igreja vemos. são “notas de credibilidade”. exclamava: “Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou seu povo” (Lc. atestando. em face das riquezas incompreensíveis de Cristo que se recatam no íntimo. outra espiritual. onde estava há 1500 anos? Precisou Cristo esperar 16 séculos para que aparecesse a Igreja verdadeira?” retrucavam os heresiarcas. 31 seg. em data de 29 de junho de 1895. 5. assim não o é o lado humano e visível da Igreja. A Alma criada é efeito e fruto da alma incriada. agora. se bem que só pelo batismo será posteriormente agregado ao Corpo da Igreja. Para os protestantes “liberais” e os “modernistas” só importa o “sentimento religioso” do qual todo o resto é apenas cristalização. 9.A heresia da invisibilidade da Igreja data do século IV. Porém. Erro afim. (Dezinger. Um Chefe ou Cabeça. questões 134.). Fixemos pois alguns pontos de terminologia. aos sinais ou notas que permitem discernir a verdadeira Igreja: unidade. uma carnal. do lado traspassado de Cristo (E. Revue catholique pour la Suisse Romande. poder-se-ia entender da visibilidade “material” — volta à carga. — o que. quando os donatistas ensinavam que a Igreja é a sociedade dos justos tão-somente. vida espiritual profunda.Mais uma vez desponta a verdade básica que já procuramos aclarar: a Igreja prolongamento de Cristo. 4. em rigor dos termos. segue-se que a verdadeira Igreja só é visível aos olhos de Deus. que a Igreja é antes de tudo caridade. etc. graça. Na Igreja distinguimos em primeiro lugar um elemento interno que denominamos Alma. (Dezinger 485). quem é predestinado. 3. na recepção dos sacramentos. 6. Bem mais. por exemplo. o invisível e o visível: a palavra. como da conjunção do corpo e da alma resulta uma só pessoa humana. 8. catolicidade. o Corpo à Cabeça. (E. quando polemizavam com os protestantes dissidentes.1. 162). assim a união do elemento interno e do externo constitui uma só Igreja militante. pelo menos quando polemizavam com os católicos que os apertavam com a importuna questão? “Se vossa igreja protestante é verdadeira. apostolicidade. então. 1940. externo. depreende-se da doutrina de nossa Encíclica. o dos fraticelos. foi. 5. que tem fé e amor de Deus) pertence já à Alma da Igreja. 8. 10.Charles Journet. Como a humanidade de Cristo não é coisa acidental. a pobreza de nossas comparações humanas obrigou os teólogos a darem sentidos diversos à mesma imagem. 6. ao elemento invisível e interno. Como só Deus sabe quem é justo. a Encíclica após haver afirmado que a Igreja é o Corpo. os pastores. no segundo. É por serlhe o Exemplar. enquanto o “Corpo Místico de Cristo” designa o conjunto. foi repristinada no século XV por Wiclett e Huss. 3.Rom 10. o que só se pode entender da visibilidade “formal”. humana e visível. aparece claramente. corporificação — inevitável. L’Église Mystérieuse et Visible (Nova et veter. 1.A transcendência. 631. por exemplo. 54. 135. que a expressão “Corpo da Igreja” designa o elemento visível. O vocábulo “Corpo”. pois a fonte da graça é o Espírito Santo. (Dezinger 629. 2091). 4. encareciam eles a visibilidade das igrejas luterana e calvinista. 7.Sobre a unidade da Igreja. 14). Corpo e Alma da Igreja. que só Deus conhece a verdadeira Igreja. 25 seg. em contraposição à Cabeça que é Cristo. No primeiro caso opõe-se o Corpo à Alma. 11. e precisa que a Igreja é visível como Corpo Místico de Cristo (E 48. . 10: “É necessário crer de coração. logo “algo de concreto e visível” (E 26. sem dúvida. a irredutível originalidade da Igreja tornam impossível o descreve-la por um só conceito.Por esse motivo. para obter a justiça e confessar pela boca para obter a salvação”.É esse um dos trechos da Encíclica Satis cognitum citado por nosso texto. denominamos Corpo e que consiste na profissão externa da fé. 9. distinguindo duas igrejas. podemos dizer. em contraposição à Alma. 39. 632). 48).Que o elemento invisível seja o principal na Igreja. portador da graça invisível. visível-invisível. 2. na Idade Média. 7. isto é. pelo qual entendemos os princípios sobrenaturais mercê dos quais a Igreja vive e atua. revestidos de autoridade invisível e divina. humanos e visíveis. Distinguimos em seguida um elemento externo que. p. divino-humano. devia ter um prolongamento ou corpo divino-humano. pretendendo que a Igreja é a assembléia dos predestinados. 10. do Cardeal Gásparri. que o catecúmeno fervoroso (isto é. Donde surge não pequena confusão entre os leigos. santidade. segundo a qual a Igreja nasceu no Calvário. no governo eclesiástico. 11. invisível e visível.). que na Igreja se entretecem o divino e o humano. porém de valor secundário e cuja instituição não remonta a Cristo. invisível-visível.Rom 10.Alude Leão XIII. Entende-se facilmente. menos ainda por uma só metáfora. a um tempo Deus e homem. 17: “A fé vem da pregação e a pregação da palavra de Cristo”. não reveste o mesmo significado segundo falamos no “Corpo da Igreja” ou no “Corpo Místico de Cristo”. (Consultar sobre essas distinções o Catecismo Católico. 377). Assim o ensinaram abertamente Lutero e Calvino. 2. — Feita a distinção entre a Alma e o Corpo da Igreja.
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