Maria_Vilhena_p627-649 O Preste João

March 18, 2018 | Author: Val Gouveia | Category: Crusades, Ethiopia, Portugal, Council Of Chalcedon, Byzantine Empire


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O PRESTE JOÃO mito, literatura e históriapor Maria da Conceição Vilhena* 1. A lenda do Preste João foi divulgada na Europa no tempo da 1ª. cruzada, em finais do séc. XI. A necessidade de aliados favoreceu a crença, entre os cruzados, de que iriam receber o auxílio de um poderosíssimo soberano, vindo da Ásia, e que atacaria o Islão pelas costas. Ora começara então a circular uma mensagem dirigida ao imperador Manuel Coménio, de Bizâncio, que alimentava tal esperança. Era uma carta enviada por alguém cuja grandeza assumia duas dimensões: uma sagrada, relacionada com o divino, a outra secular, em conjugação com o mais alto poder na terra - o Preste João era um rei - sacerdote cristão, um misterioso soberano, suserano de muitas dezenas de vassalos. Tão misterioso, que o seu reino se situara sucessivamente na Mesopotâmia, na China, nas Índias, na Arábia, na África Ocidental e, finalmente, na Etiópia. Nesses tempos, os conhecimentos geográficos eram ainda muito deficientes. De esta célebre Carta foi conhecida uma versão em latim, a que se atribui a data de 1165, aproximadamente; e que foi traduzida para francês, em verso, por um clérigo que assinou Roau d’Arundel. Trata-se de um texto feérico, fantástico e maravilhoso, em que abundam as mais apetecíveis riquezas e os mais variados monstros. Terra de amazonas e centauros, homens anfíbeos, homens com cabeça de cão, liliputianos e gigantes, unicórnios e aves sanguíneas, leões vermelhos e verdes, enfim, tudo o que * Departamento de Línguas e Literaturas Modernas, Universidade dos Açores. ARQUIPÉLAGO • HISTÓRIA, 2ª série, V (2001) 627-650 627 MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA uma imaginação fértil pode criar. A que se juntam águas de fontes miraculosas; rios que nascem no Paraíso Terreal; pedras preciosas valiosíssimas e em abundância, no fundo dos rios; palácios maravilhosos, milhares de cavaleiros, comida para toda a gente, bem-estar e felicidade. Fantástico e maravilhoso, hipérbólico e exótico, numa deliciosa amálgama. Numa tentativa de regresso a um mundo paradisíaco. Desta Carta, são conhecidas uma centena de versões manuscritas, em diversas línguas, cada uma aí intercalando o que lhe parecia mais conveniente. Por isso, no reino do Preste João, além de ouro e pedras preciosas, há a famigerada pimenta, fonte de um comércio enriquecedor. À procura da pimenta se arriscava a vida por mares tenebrosos. A terra do Preste João não podia ser só luxo, mas também ocasião de bons negócios. Se é certo que os cruzados respondem ao descalabro das suas investidas com um sopro de profetismo, também é certo que os seus senhores não descuram os interesses materiais. 2. O texto francês da Carta encontra-se em colectâneas de Literatura Francesa Medieval e é considerado como um “romance cortês”. Com efeito, o Preste João aparece-nos aí com o esplendor e a grandeza dos heróis da canção de gesta, que, mais brandos e mais requintados, passam depois para o romance cortês: Alexandre da Macedónia, Heitor, Eneias, Carlosmagno ou o rei Artur e os seus cavaleiros. La Lettre du Prêtre Jean revela um fascínio pelo Oriente misterioso, idêntico ao que se encontra na canção de gesta Pélerinage de Charlemagne: aquele mundo feérico onde até os arados são de ouro e prata, onde o marfim, o mármore, as gemas, se encontram em profusão. Tudo é luxo, grandeza, esplendor.É assim o palácio do imperador de Constantinopla, onde foi recebido Carlosmagno; é assim o palácio do Preste João. Igualmente se assemelham os animais fabulosos, os frescos exóticos e os milhares de cavaleiros ao serviço do imperador. O romance cortês, na 2ª. metade do séc. XII, corresponde a uma evolução da classe social, em que, ao ideal cavaleiresco, se associa o gosto pelo requinte, pelo prazer e pelo conforto. O Ocidente quer o apoio militar do Preste João; mas, nesta carta, não o retrata como um guerreiro furioso, rude e sanguinário: Mostra-no-lo, sim, num universo pleno de maravilhas e doçuras. A Carta é um texto literário, composto de acordo com os cânones de então. A esta primeira versão francesa (tradução em francês contemporâneo por André Chastel), outras se seguiram, com alterações. O Pe. 628 3. Domingos Maurício.Tomé. Doutro modo. pai de D. lembrando ao rei de França que deve condená-los à morte. segundo a notícia anónima De adventu patriarchae Indorum ad urbem sub Calixto papa secundo. Afonso Henriques. Ora Calixto II (1119 . começaram os templários a ser vítimas de ódios e perseguições. História da Cartografia Portuguesa. todavia. designaria padre ou sacerdote. próximo de Edessa. divulgada através da carta apócrifa. Pelo que Filipe o Belo (1285 . XIII. A Calixto II se atribui a autoria de uma parte do Liber 629 . pois. mais tarde. vol. no referido artigo. 1969). Poderemos. o termo francês arcaico preste (actual prêtre) tivesse sido substituído pelo vocábulo que. no seu artigo A ‘Carta do Preste João’ das Índias. uma vez que era frequente a prática das interpolações. através das versões francesas da carta apócrifa. As circunstâncias políticas de então terão proporcionado e favorecido a elaboração da lenda. Calixto II elevou Santiago de Compostela. Sabemos. apresenta uma versão.1124) era Guy de Borgonha. ao ser a carta traduzida para outras línguas.1314) decidiu extinguir a ordem. fundada em 1199. livreiro de Paris entre1483 e 1506. que visitara.O PRESTE JOÃO Domingos Maurício. a sé episcopal.257 e segs. foi inicialmente bem vista por papas e reis. uma potência financeira assustadora. quando Guy era arcebispo de Vienne (França). que supõe ser de meados do séc. e é mesmo bem possível que os portugueses a tenham conhecido desde cedo. A Ordem dos Templários. sobretudo por parte dos reis. Urraca de Castela. irmão de Raimundo que desposara D. Depois de sagrado papa. processo que decorreu entre 1307 e 1312. Em 1108. podemos calcular a sua data aproximada. esteve de visita na corte de Leão. que ela foi conhecida no nosso País (Armando Cortesão. mas que foi impressa à volta de 1488. nessas línguas. I. Este Papa terá recebido a visita de um prelado indiano chamado João. Segundo o Pe. ofereceu a este santuário o seu Codex Calixtinus. porque se teria mantido a designação de Preste? Seria lógico que. pois a origem da lenda está ligada ao Papa Calixto II.. sobretudo. atribuir a esta versão uma data de finais do séc. XIII. porém. Trata-se de uma edição francesa de Antoine Caillaut. p. Pela alusão odiosa que nela se faz aos Templários. e sendo acusada de práticas imorais e desmedida ambição. Todavia é sempre difícil fazê-lo.Tendo-se tornado. que terá falado de conversões e milagres acontecidos junto ao túmulo de S. e. Henrique. era portanto primo do Conde D. Podemos supor que a divulgação da lenda se fez. os portugueses parece não terem dado importância à célebre carta. também devem ter tido contactos em cortes espanholas. no tempo em que os navios dos cruzados bordejavam as costas ibéricas. Foi por estes contactos que os cantares de amor à “maneira proençal” e os lais de França entraram na literatura portuguesa. que sabemos terem ido em peregrinação a Jerusalém. Rapports entre le Portugal et la Provence. ou por esta versão da Carta. XVI da Crónica dos Feitos da Guiné. É certo que o Preste João não figura na nossa literatura medieval. Ponta Delgada. sob a epígrafe “Da Índia e dos milagres”.Henrique. ou através de notícias orais. em 1442. De tal modo o misterioso personagem andava ligado à Ásia que. é bem possível que alusões tenham sido feitas. vemos que os mentores de tal empresa tiveram conhecimento. 1984). No cap. Rolando e Oliveiros passaram a protagonistas do nosso romanceiro popular.”. em latim. M. o encarregara de ir à “terra dos Negros”. Pela leitura das obras sobre os descobrimentos. quando em 1540 o Pe. num manuscrito trecentista. Daí as várias referências à “costa da Guiné até aos índios” que se encontram em documentos do séc. esses embaixadores andarilhos da cultura e da bisbilhotice. Nela se relatam.. em África. desde cedo. Todavia. Além disso. como em todas as outras versões. 630 . o Preste João seria não só o senhor da Etiópia. e que personagens como Carlosmagno. para lá de Jerusalém. e puderam ter convivido com os trovadores portugueses.C..Henrique. ao enviar Antão Gonçalves. e que colhesse notícias das “Índias e da terra do Preste João se ser pudesse”. Os portugueses procuravam o Preste João desde o Infante D. incluído nos códices alcobacenses. Porém. Azurara diz que o Infante D. Estando Calixto II tão ligado à Galiza. Francisco Álvares publicou o relato das suas andanças pela Etiópia. também eram transmissores de notícias os trovadores. Além dos membros da Igreja. as maravilhas da corte do Preste João. 4. convencidos de que o iam encontrar na costa atlântica. Os seus territórios são muito extensos e compreendem mesmo a Índia.MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA Jacobi. onde se contam os milagres realizados pelo apóstolo Tiago. citando-o logo no começo “Presbiter Johannes potentia et virtude Dei. que frequentavam cortes e palácios. Luis de Albuquerque refere-se a uma versão da dita carta. como seus animadores. Muitos dos trovadores provençais tomaram parte nas cruzadas. onde os provençais vinham frequentemente e chegaram até a passar anos (Cf. mas também das Índias.Vilhena. da lenda relativa ao rei-sacerdote. XV. em Espanha e Portugal. a um potencial aliado. Lucas. As Cruzadas. pregaram por toda a parte” (Marcos. Segundo os Evangelhos e as Epístolas. documento apócrifo que também deve ter contribuído para a divulgação da lenda. mais tarde. Aliás Jerusalém.. alguns escritores situam-no em Edessa. Ora é da tradição que Tomé se dirigiu para a Ásia e terá cristianizado a Índia e a China.VI.Tomé. situadas a oriente. a ocidente do Ganges. era já um ponto de encontro e convívio de muitos povos e raças. sendo a versão latina do séc. E eles. Falaremos um pouco dessas comunidades cristãs dos primeiros tempos. tanto Judeus como prosélitos. Pedro. e o Ocidente começou então a experimentar os prazeres do luxo e do requinte. a Frígia e a Panfíbia. pregar o Evangelho a toda a criatura (. refere-se às muitas gentes. e. 16. falando as mais variadas línguas. Foi aí que Marco Polo o situou. 631 . 1-11).O PRESTE JOÃO ainda o relacionou com a Índia. Cretenses e Árabes”. daí uma certa confusão entre a Etiópia e a Índia. outros em Meliapor. No mapamúndi dos Bórgias (1410). e os que habitam a Mesopotâmia. a Judéia e a Capadócia. na Índia. e Medos. por elas estarem de certo modo ligadas à formação e divulgação da lenda do Preste João. e os vindos de Roma. a Abissínia é a Índia Média. É que os ainda deficientes conhecimentos geográficos não permitiam estabelecer uma fronteira precisa entre a África e a Ásia.Verdadeira Informação das Terras do Preste João das Índias. ainda antes da evangelização. ao relatar a descida do Espírito Santo. escritas em siríaco. Tiago e Judas Tadeu) ficaram-nos cartas destinadas a algumas das comunidades que iam fundando..Tomé chamado por um rei parto. terá avançado depois pela Índia. situadas na actual Turquia. Nos mapas do séc.). XIII esta confusão permanece. na Mesopotâmia. desde o seu início. o Ponto e a Ásia. figura uma Índia Etiópica. que aí se encontravam: “Partos. 5. e Elamitas. tendo partido. Quanto ao seu túmulo. João. S. 14-20). situada para os lados da Núbia. na Macedónia. As Actas de S. que é vizinha de Cirene. De cinco dos apóstolos (Paulo. ao dar o título à obra . no Peloponeso e na Frígia (Ásia Menor). De S. surgiram as Actas de S. e na Imago Mundi (1410) os etíopes são chamados índios. Cristo deu ordem aos apóstolos para deixarem a sua terra e irem evangelizar todos os outros povos: “Ide por todo o mundo. Porém.Tomé não se conhece carta alguma. o Egipto e várias partes da Líbia.Tomé. foram depois traduzidas noutras línguas. para Marco Polo. Nos Actos dos Apóstolos (2. que terá evangelizado. Nelas se afirma ter sido S. haviam permitido contactos culturais muito significativos. em concílios. até à região de Madrasta. sob a direcção de um patriarca intitulado Católico. no concílio da Calcedónia. são condenados os iconoclastas. são condenados os monofisitas. em 482.MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA Essas comunidades. e. Logo. E foi assim que. a sua doutrina permaneceu em Edessa. em 325. se começaram a condenar tais desvios. É também num concílio da Calcedónia que. fora acusado de heresia. À igreja nestoriana se deveu a cristianização das tribos mongóis Ongut. condenava a heresia ariana. Naiman e Kerait. Em 431. Foi ao longo da “rota da seda” que o Nestorianismo exerceu a sua actividade misssionária. e de Nestórius se ter exilado para os desertos da Líbia. passou ao Malabar e fixou-se em Ceilão e Coromandel. por causa da sua doutrina sobre as duas pessoas existentes em Cristo. em Niceia. foi condenado Nestórius. A opulenta Edessa foi a capital do principado cristão. Era um baluarte contra o Islão. no tempo dos Abássidas de Bagdade.Tomé. Nestorius (380 . tal como a Igreja Copta do Egipto ou a Igreja Jacobita da Síria. É esta a data apontada pelos actuais investigadores da História do Cristianismo. como sendo a da chegada a Xian. aquando do edito de Zenão. por aquelas regiões. A estela 632 . afastaram-se um tanto da ortodoxia cristã e nelas se desenvolveram heresias. aos poucos.451). a comunidade cristã mais florescente era realmente a dos Nestorianos. XII teria uns 200 bispados que agrupavam dezenas de milhões de fiéis. está atestada a fundação de comunidades cristãs a partir de 635. Apesar da condenação. fundado por Godofredo de Bulhão. em 784. Quanto à China. no séc. e alargado pela Índia e China. patriarca de Alexandria. através da escola de Edessa. todavia. chegou ao golfo Pérsico. coadjuvado por Atanásio (295 . desde cedo. estando esta atestada historicamente desde o séc. mas em 1144 foi tomada e saqueada pelos turcos seljúcidas. no concílio de Éfeso. O seu apogeu situa-se entre 750 e 1258. abandonaram a sua fé. patriarca de Constantinopla de 428 a 431. então capital do Império do Centro. o imperador Constantino. Entrou em decadência e os Nestorianos. de Alopen.IV. espalhado na Mesopotâmia e na Pérsia. de que hoje ainda existem reminiscências. que se admite terem sido fundadas por S. No tempo em que surgiu a lenda do Preste João.373). o Nestorianismo alargou-se pela Pérsia. em 1099. Passou pela Tartária. após a conquista de Jerusalém. o primeiro religioso nestoriano no país. Em 451. o Nestorianismo. Aí se constituíu em igreja independente. em chinês e em siríaco. Notícias que eram deturpadas e encorpadas de forma a darem peso de verdade à necessidade que a Europa cristã sentia de um apoio vindo daquelas regiões. sem dúvida. Como já atrás dissemos. no Ocidente. as quais imaginava ricas e poderosas. estabelecimento e doutrina dos Nestorianos. Não em consonância doutrinal. sultão seljúcida de Korasan. se sabia da sua existência.III. o fundador do império Kara Khitay. com o avanço do Islão pelo Mar Vermelho e a conquista da Síria e Egipto em 632-642. p. a busca. e dependia do patriarca de Alexandria. a quem competia nomear os bispos abexins. Os bizantinos e sírios consideravam-no cristão e identificaram-no como sendo o Preste João. relatando. Foi seu vencedor Yeh-lu Ta-Shib. a tartárica e a abexim.O PRESTE JOÃO encontrada em Xian em 1625. A lenda do rei-sacerdote assenta ainda noutros factos históricos.IX . no séc. II. a chegada. as múltiplas perso- 633 .299). 7. Elas eram realmente em grande número. e que as crónicas chinesas declaram budista. em 1627. Esta comunidade era o fruto da missionação do sírio Fromentius. situado na Ásia Central. perto de Samarcanda. Mantinham uma comunidade em Jerusalém e costumavam ir em peregrinação à Terra Santa e ao Monte Sinai. mercadores. Na comunidade abexim do reino de Axum (Etiópia Central). A forma de cristianismo seguida era a da Igreja copta (monofisismo ou jacobismo). estas comunidades estariam igualmente assustadas com a força do Islão. Irmãs na fé. do tempo da dinastia Tang (Cf. ao tempo Atanasius. o Cataio Negro. em 9 . Daí a hesitação. com muitos vassalos e muitas riquezas. que fora o seu primeiro bispo. aventureiros. havia sido adoptado o grego. como língua oficial. Podemos reuni-las em três grupos: a indiana. VIII. missionários e peregrinos. é datada do séc. até ficar inacessível nos séc. a lenda do Preste João terá tido como ponto de partida a existência de comunidades cristãs no Oriente. in Monumenta Serica. e igualmente estariam interessadas numa aliança com os irmãos do Ocidente. 6. Foi um facto a derrota de Sandjar. Aí permaneceram uns dois séculos.1141. vol. XI a XV. e pelo ano 1000 terão desaparecido. Porém. entre 280 e 330. O homem ideal para ajudar os cristãos teria de ser. Notícias vagas e fantasiosas sobre estas comunidades chegaram a Roma. na batalha de Qatwan. mas aceitando-se. Descoberta de uma Cruz de Ferro. a Abissínia entrou num período de isolamento crescente. pelo que. trazidas por viajantes. um herói guerreiro cristão vencedor de batalhas. O bispo de Gabala (na Síria). de religião budista.XI 1145. junto do seu túmulo. porém Gur-Khãn não era cristão. não só terá sido o primeiro estado cristão do mundo. que em 1141 venceu o sultão Sanjar? Assim se supôs. em 1122. À versão em latim tem-se-lhe 634 . A derrota que estes turcos seljúcidas haviam sofrido em 1141.Tomé. Falou então de um grande senhor. ora na Ásia. e que tivera mesmo a intenção de libertar Jerusalém. descendente de um dos Magos. Profecias relacionadas com Edessa (caída nas mãos dos turcos seljúcidas no ano anterior). A mais antiga notícia. havia-lhes sido infligida pelo rei dos Kara-Khitay (Cataio. Estava presente o bispo Otto von Freisingen que ouviu toda esta história e a registou na sua Crónica. em 18 . em 1144. sobre o Preste João. chegara à corte pontifícia de Calixto II. Será ele o Gur-Khãn. um arcebispo das Índias. da qual o inimigo não se apoderará para sempre. rei dos Qara Khitay. como o seu rei Abgar V teria mantido correspondência com Cristo. para o subtrair às perseguições dos judeus. chamado João. e o nome do Preste João começa a ser divulgado como o de um salvador com quem os cristãos podem contar. Tratava-se de um rei-sacerdote. falou de profecias segundo as quais esse rei-sacerdote esmagaria definitivamente o Islão. que havia alcançado uma retumbante vitória sobre os medos e persas. a que estavam ligadas algumas estórias cristãs. um bispo sírio de Gabala. como referia o prelado de Gabala. É pouco depois desta data que começam a circular pela Europa as traduções da carta apócrifa dirigida ao imperador bizantino Manuel Coménio (1143-1180). mas de origem francesa. de quem se começava a falar por forma vaga e misteriosa. ora na África. Referiu os muitos milagres que fazia S. após a tomada de Edessa pelos infiéis. foi dada em Viterbo. Em 1144 fora a tomada de Edessa pelos turcos seljúcidas. cujo império se estendia a leste da Pérsia e da Arménia. e não por um suposto rei cristão. Edessa ficou assim ornada de uma aura mítica: cidade bendita. e falou da conversão de muitos soberanos indianos. Como atrás referimos. na corte do Papa Eugénio III. A emoção é grande. poderosíssimo. China). cristão nestoriano.MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA nalidades que o Preste João vai incarnar. explícita e pormenorizada. Estas notícias e outras do género eram divulgadas por peregrinos chegados à Terra Santa: para “além da Arménia e da Pérsia” haveria um rei cristão poderosíssimo. após quase meio século de domínio franco. a quem teria oferecido asilo. que vinha pedir auxílio ao Ocidente. que teria sido o Preste João. por Hugo. 323 a. XIII. Gengis-Khan (1155 . que queria ser instruído no verdadeiro catolicismo. budistas. judeus e cristãos. há no seu reino povos canibais. venceu muitas guerras. Parece ter sido o próprio Filipe o encarregado de levar a carta. Supõe-se que uma versão em alemão terá sido enviada a Frederico Barba Roxa (1152 1190). entusiasmados com a conquista de Constantinopla e a fundação do Império Latino em 1204.IX .1177. a 27 . 8. 635 .O PRESTE JOÃO atribuído a data aproximada de 1165. Cresce a esperança numa empresa plenamente redentora. Então. Ao ser preparada a 5ª. Gengis-Khan não defendia ou praticava qualquer religião.). que confinava com a Pérsia e o Afganistão. Este povo escondido está para lá do mar Cáspio. unificou as tribos mongóis e conquistou uma parte da China. o populus absconsus desde Alexandre Magno. (356 . No regresso falou ao papa num certo Preste João da Índia.1226). C. de quem alguns textos falam como rex Judaeorum é um filho do Preste João. por Cristiano. Enérgico. que virá salvar o seu povo. hinduistas. e a lenda continua a entusiasmar o Ocidente. De acordo com as fantasias da Carta. arcebispo de Mogúncia (1165-1183). mas desconhece-se o que lhe veio a suceder. Gengis-Khan atingia o Cáspio e era o flagelo do Islão.. fundador do império dos Tártaros. Filipe insiste para que o papa lhe escreva. por conveniência.1221). Alexandre III envia uma mensagem àquele “caríssimo filho em Cristo o célebre e magnífico Rei das Índias e Santíssimo Preste”. e que gostaria de ter uma igreja em Roma e um altar em Jerusalém. e seria certamente judeu. astucioso e cruel. Por isso o imperador Francisco II e os pontífices procuraram o seu relacionamento. e que são por isso muito úteis na guerra. e foi a partir desta data que o clérigo Roau d’Arundel fez a mais antiga versão em francês. o que não era exacto. que devoram os mouros. É também por esta data que Filipe. médico particular de Alexandre III (1159-1181). Gengis-Khan foi o terror dos cristãos e muçulmanos. audaz. Por esta data. Cruzada (1217 . mas apenas era tolerante com todas. Constou ser cristão. muçulmanos. e crê-se que David. rei das duas Índias. O seu reino. Chega-se ao séc. admitindo no seu império.Também Tiago de Vitry.. terá ido em peregrinação a Jerusalém e aí contactado com abexins. o espírito dos cristãos entra numa exaltação de profetismo. bispo de Acre (+_ 1221) se refere a um David. 1221. que seria o próprio Preste João e que virá salvar a Cristandande. era o mais vasto do tempo e recebia a vassalagem dos soberanos turcos. .. A sua localização vai do Gram Cataio à África.. ser identificado com o mítico reisacerdote Preste João. Marco Polo (1271 .. Chamava-se Uang-Khan. um rei da Geórgia que defendia as “Portas de Ferro” contra os tão detestados povos de Gog e Magog. É arménio.MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA O Gengis-Khan não podia. o que sucedeu noutros lados. 314. em luta contra o Islão.1247). também o Preste João das Índias foi confundido com David.. 636 ..1256) por S. é um herói da Tartária..... o Preste João situa-se. Em Portugal era conhecido.. . aproximadamente. Luis.. mas era grande o interesse em conseguir com ele uma aliança.... é sempre poderosíssimo e cristão. Não se sabia quem era..... qualquer que seja a sua identidade.. sobre a tenção entre João Baveca e Pero d’Ambroa (com o nº..1296) refere esse Uang-Khan.. mas que.. rei de França.. Joan Baveca e Pero d’Ambrõa ar departiron logo no Gran Can. toma-se a decisão de tentar contactar o Preste João. Nada nos diz que fosse..la terra de Jerusalen que diziam que sabian mui ben..... e João Piano del Carpine é encarregado da missão.. Dada a vastidão territorial da Índia e a indefinição dos seus limites.. onde quer que reine.. o rei-sacerdote incarnou diferentes personalidades.. portanto uma trintena de anos depois da morte de Gengis Khan. na edição de Rodrigues Lapa): Sobre que ouveron de pelejar Joan Baveca e Pero d’Ambrõa? sobre .... nem onde se situava o seu reino maravilhoso. Falava-se então na conversão de um rei turco-mongol. é imperador das Índias. pois há um Gran Khan que aparece referido nas nossas Cantigas de Escárnio e Maldizer. Mas... Também poucos anos depois. entre nós.... nos mais variados pontos geográficos. soberano a quem todos prestam vassalagem e que é falado em todo o mundo...... Guilherme de Rubruk é encarregado de idêntica missão (1253 .. Levado pela imaginação fértil de então.. pois. teria passado a chamar-se Presbyter Johan. Podemos citar a cantiga de Pedro Amigo de Sevilha. depois do baptismo.. Como já dissemos. pois. e pelejaron sobr’ esto de pran. A esta cantiga é atribuída a data de 1260. No Concílio de Lião (1245 . confundido com o Preste João. que se teria convertido após ter ganho uma batalha. onde se lê: “Núbia. havia-se perdido o reino latino de Jerusalém. Finalmente situam-no na Etiópia. por entre os coptas do Egipto. país dos cristãos do Preste João. e ensinava como se poderia atravessar o seu território. O ideal dos cruzados torna-se frus- 637 . o que provoca um recrudescimento do interesse da Europa pelo Preste João. o Preste João. existia no reino do Preste João). por vezes de báculo e mitra.O PRESTE JOÃO 9. XIV e XV. Há um erro geográfico. a África é limitada ao sul pelo “Mare ethiopiae”. desde o séc. como sucede no portulano de Marino Sanuto. e com a 7ª. É uma ideia que. cujo império vai das proximidades do estreito de Cádis para sul.1254). É certo que. Pelo que. perde-se Antioquia. XII. onde existiam dois mosteiros abexins.Também aparece em portulanos e cartas dos séc. em 1244. Num planisfério anónimo da primeira metade do séc. sempre que algum falecia era necessário enviar uma embaixada ao Egipto. XIII e XIV. surgem algumas obras sobre aquele país. em 1324. O portulano catalão da Biblioteca de Florença (1433) tem. XV. Além disso. nada se conseguiu recuperar. Como a nomeação de prelados era sempre feita pelos patriarcas coptas de Alexandria e pelos sultões do Cairo. que são negros por natureza”. a última. aos quais competia ordenar o clero abexim. misturada com muita fantasia e estórias bíblicas. bispo de Coulão. Em 1268. Guilherme Adam preocupa-se com a maneira de destruir os sarracenos. esses lugares eram sempre ocupados por monges egípcios. até ao rio do Ouro”. senhor dos Índios. em 1270. havendo. como faz na sua obra o dominicano Jourdan de Séverac. na parte oriental a seguinte legenda: “Nesta região reina um grande imperador. Organiza-se uma nova cruzada. É então que se começa a identificar o lendário Preste João com aquele soberano. nos séc. mas a terra do Preste João está cada vez mais próxima da verdadeira situação da Abissínia. A seguir há uma legenda. para que as tropas do Ocidente pudessem juntar-se às do imperador etíope. referências a peregrinações a Jerusalém. cruzada (1248 . nas suas frequentes peregrinações a Jerusalém. O facto deste país ser cristão foi o motivo que lhe permitiu quebrar um pouco o isolamento em que se encontrava. forneciam notícias suas ao Ocidente. segundo a Carta. no Malabar. mas os resultados colhidos são nulos. por aí haver espalhados jacobitas e nestorianos. se vai repetir em várias outras obras de então. e na parte oriental estão representados três homens com cabeça de cão (o que. Os contactos eram ainda reforçados pela presença de muitos monges abexins em conventos egípcios. Eram os monges que. o Papa Sisto VI recebe uma missão vinda igualmente da Abissínia. vem uma nova embaixada etíope que é recebida em Nápoles. tal como esta o desejava desde já há algum tempo. com uma proposta de aliança contra o Islão. esse número baixou para 42. Este povo poderoso deveria ser o do Preste João. uma embaixada do negus Yetshaque. em 1309. Poucos anos depois. Marino Sanuto. rei de Aragão e Nápoles. Zara Jacob (1434 . No séc. deste modo. após contactos entre o Papa e o Patriarca de Alexandria. em 1481. é em Bolonha que são recebidos os enviados do Preste João. XII. e.1451 o imperador etíope enviou uma 638 . chega a Veneza uma embaixada enviada por este rei. E os contactos sucedem-se. No entanto o mito do Preste João continua a alimentar as esperanças dos ocidentais: “O mito é o nada que é tudo”. Também Afonso V. XV intensificam-se então as relações com a Etiópia. maiores motivos existiam para a procura do reisacerdote em terras africanas. “povo poderoso que possui cinco reinos. e. sugerido pelo dominicano Guilherme Adam. em que interviriam os etíopes cristãos. com a última grande invasão mongol (1336 . onde teriam o auxílio dos “cristãos negros da Núbia e das outras regiões do Alto Egipto”..1405). chegam a Florença alguns delegados etíopes da comunidade de Jerusalém. no entanto Guilherme Adam não deveria conhecer a carta apócrifa do séc. Foi também Yetshaque que enviou uma embaixada ao duque de Berry. em que o próprio Preste diz ter sob o seu poder 72 reinos (na versão seguinte. Com os membros da embaixada vão para a Etiópia alguns artistas italianos. em 1291. 10.1478) corresponderam-se mesmo com o Papa e com Afonso V de Aragão. no reinado do negus David I (1382 . no seu Liber Secretorum Fidelium Crucis. David I havia transformado a luta contra o Islão numa guerra santa. Vinham tomar parte no concílio. Ora. e.1411)). Também em 1450 . também em francês. em 1441. Em 1402.). em 1408. pelo que deseja um bom relacionamento com a Europa cristã. haviam ficado arruinadas definitivamente as comunidades cristãs da Ásia Central. em 1317. planeia o desembarque dos cruzados no Egipto.. Depois da queda de S. os quais atacariam por terra.MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA tração. Outros imperadores. Os primeiros emissários de Roma chegaram à corte etíope em 1316. E. em 1427. Em 1450.1468) e Baeda Maryam (1468 . incluindo o país a que se chama Núbia”. João de Acre. o desalento dos cristãos leva-os a sugerirem a intervenção da Etiópia cristã. recebe. Era tentador o plano de bloqueio ao Mar Vermelho. conde de Barcelos. chamado Jorge Sur. E em Portugal. deve ter trazido preciosas informações. Todavia. atingindo Choa entre 1430 e 1432. com riquezas fabulosas. de 1460. genoveses ou catalães agora começavam a conhecer. Santo Isidoro de Sevilha. resultante certamente de informações pormenorizadas. de 1375 1380. de quem se diz ter vindo de Roma. continua a crer-se na existência de homens com cabeça de cão ou com quatro olhos. animais fantásticos e águas miraculosas. filho natural de D. XV. fornecidas pelos delegados etíopes ao concílio de Florença. Pedro. e talvez também pelos monges da comunidade de Jerusalém. e no mapa de Fra Mauro. ou por membros das embaixadas. Contudo. eram grandes os progressos feitos na cartografia: no atlas catalão. porque os interesses comerciais tinham muito peso. os conhecimentos geográficos relativos ao Nilo eram os mesmos dos séculos anteriores. Afonso esteve em Veneza.1449). na cartografia.O PRESTE JOÃO embaixada ao rei de Aragão. de quem se dizia ter percorrido as sete partidas do mundo. Pedro (1392 . duque de Coimbra. com mensagens para o negus. quem mais informações deve ter fornecido sobre aquela parte do mundo ainda tão mal conhecido. e em 1452 assinalamos a presença de um abexim. 11. Afonso. alguns mensageiros são enviados à Etiópia. saíu de Portugal em 1418. O Infante D. Era difícil deixar morrer o mito. foi antes o seu irmão D. Entretanto. Foi um dos membros dessa embaixada que se separou do grupo e veio a Portugal. começa a notar-se um maior rigor nas anotações. O mundo maravilhoso que se descreve na carta apócrifa. Como o interesse nestes contactos era recíproco. De França. João I. por volta de 1410. e tanto viajou que Gomes de Santo 639 . de acordo com o saber de Edrise. No regresso de Jerusalém. designando-o por “embaixador do Preste João”. foi acolhido com muita honra e. Faz-lhe referência um documento da Chancelaria do nosso D. Em 1482. Porém. XVI as navegações portuguesas puderam impor novos conhecimentos geográficos e o desfazer de muitas lendas. é agora a sua vez de também enviar uma embaixada ao reino do Preste João. o que se passava então? D. Só no séc. Sisto VI. após ter recebido uma embaixada no ano anterior. D. venezianos. Só então o Senegal deixou de ser um braço do Nilo. Depois de Marco Polo. fora em peregrinação à Terra Santa. para citar apenas os mais notáveis. nada tinha a ver com aquele que os navegadores portugueses. partem emissários do Duque de Berry. Pompónio Mela e Paulo Osório. no planisfério catalão de meados do séc. Afonso V. dessa viagem. deverá ter confundido o rei africano Ogané com o Preste João.1495). pela rectaguarda. O Ogané devia ser o senhor de terras ao 640 . D. situado a vinte luas de jornada para o nascente. deu a uma sua obra o seguinte título: Livro (ou Auto) do Infante D. Deste modo. um dos doze que o acompanharam. Visitou os Lugares Santos e veio de novo ao Cairo.MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA Estêvão. como se este país fosse banhado pelo Atlântico. até aos países nórdicos. Daí partiu para lugares incertos de onde só se têm vagas notícias. Depois atravessou o Mediterrâneo e visitou a Europa. porque persistia a confusão entre a Índia e a Etiópia. E Duarte Pacheco Pereira (1460? . do Cairo seguiu para babilónia. Portugal. poderia proteger os navegadores europeus dos ataques do Islão. ou melhor. pois era o reino cristão que. Em Maio de 1428 está em Roma. Os negros de Benim falavam do reino de Ogané. João II. é através da África Ocidental que se procura obter informações sobre o reino do Preste João. de onde regressa a Veneza. Uma aliança com o Preste João seria cada vez mais desejável. após um tão longo deambular. Pedro de Portugal. em seguida esteve no Egipto. o qual andou as sete partidas do mundo. D. Pedro tomou a direcção da ilha do Chipre e seguiu o itinerário dos cruzados. e o mar Vermelho torna-se a estrada comercial que leva aos portos do Oriente. por se crer poder lá chegar seguindo o rio do Ouro. passou pelo golfo de Lepanto. mas com a Guiné. o que impede o acesso ao mar Negro. com a terra dos homens negros da carapinha.1533) estava convencido de que o Senegal era o princípio dos etíopes e que a Etiópia baixa ocidental descia pela costa até ao Cabo da Boa Esperança. Aragão e as repúblicas italianas continuavam a tentar uma tão promissora aliança. Foi recebido pelo sultão turco Amurat II em Patras. Henrique mandara conquistar “as praias de Guiné de Nubia e Etiópia”. A confusão agora não era com a Índia. que o infante D. visitou Constantinopla e talvez uma parte da Ásia. Inteligente e culto. Afonso V refere. regressou a Alexandria e ao Cairo. o que correspondia aproximadamente a 250 léguas (para cima de 1000 Km). quantas informações valiosas não terá fornecido ao “irmão navegador”?! Em 1453 é a tomada de Constantinopla. e nesse mesmo ano está de volta a Portugal. D. por meados do séc. Contudo o Preste João continuava a reinar em local duvidoso. numa carta régia. XV. após ter enviado emissários à procura de informações. Aí lhe oferecem o livro de Marco Polo e mapas de terras longínquas. (1455 . Depois de quatro ou cinco anos pela Europa. Em 1454. Decidiu ir às terras do Preste João e partiu em direcção à Palestina. Pero da Covilhã e Afonso de Paiva. e. ao defrontarem-se com o poderio muçulmano no Mar Vermelho. Desembarcaram em Melinde e lá permaneceram até que. Não regressou. faz-se uma terceira tentativa. 12.5). conviveu com o pintor veneziano Nicola Bianca Leone. comparariam essas palavras com as locais. na primeira viagem à Índia. com Sid Mohamed. casou e teve filhos. prosseguem os esforços para encontrar o Preste João. As desilusões sucediam-se. enviando João Gomes e João Sanches. por não ter conseguido que o soberano o autorizasse a regressar. João II esperava contactar o Preste João que lhe enviou uma carta: “Ordenou mais El . na armada de Tristão da Cunha.O PRESTE JOÃO sul do Egipto. mas deu notícias ao rei. Depois de terem verificado que a Abissínia não se situava na costa ocidental da África. João II envia então dois homens com melhor preparação. Um parentesco vocabular seria um sinal de proximidade geográfica. chegam os portugueses à Índia e encontram a força do Islão por aí bem estabelecida. XVI. todavia maior era a perseverança dos monarcas portugueses. para ser utilizada pelos descobridores portugueses: ao atingirem terras na costa africana. perdeu todo o seu significado. logo que foi dobrado o Cabo da Boa Esperança.rei com o mesmo Marcos que trasladasse uma carta pera trez ou quatro vias. João II fizera-lhe um inquérito linguístico. Depois de muitas andanças. o fabuloso reino não chegava ao mar. de onde não mais voltou. mas ficava no “interior das terras”. os portugueses começaram então a procurar atingi-la pela costa oriental e pelo mar Vermelho. aí 641 . e assim tentariam perceber se estavam próximos ou longe das terras do Preste João. no sentido de formar uma lista das palavras mais correntes da língua etíope. Segundo notícias colhidas por Vasco da Gama. Em 1498. Esta pesquisa. Aprendeu a falar e a escrever o abexim. de novo surge a necessidade de uma aliança com o lendário rei-sacerdote. em 1508. c. Lucas Marcos era um monge abexim que se encontrava em Roma e viera a Portugal. Segundo João de Barros (Década I. O trajecto a seguir é agora através do mar Vermelho. fez fortuna. que saíram de Santarém a 7-V-1487. de tal modo D. em 1506. No séc. a qual mostrava ser dele Marcos enviada ao Preste João”. Depois de ter enviado dois frades que só chegaram a Jerusalém e regressaram sem trazer as desejadas informações. livro III. D. Afonso de Paiva morre no Cairo e Pero da Covilhã chega à Abissínia em 1494. D. porém. Por isso. graves perigos e maiores peripécias. sobretudo por saberem exprimir-se em árabe . muçulmano recém-convertido. Não regressam a Portugal. e também Afonso V de Aragão havia tido uma visão estratégica semelhante `a de Afonso de Albuquerque. Por isso deseja este Vice - 642 . segundo informou o Preste João na sua carta a D. que muito se interessou por Portugal. tendo escrito imediatamente cartas para Veneza. que os faz seguir caminho e lhes entrega cartas em arábico e em português. pela mão de Mateus. 297. e. Manuel. a dar a notícia. sobretudo ao saber do bom acolhimento feito pelo rei a Mateus. com pequenas alterações. O que parece ser certo é que era branco. rainha regente. À chegada a Lisboa os seus agressores fugiram e D. Sobre a Maneira de Destruir os Sarracenos. Sobre a identidade de Mateus. Mais ainda: era o tempo de Helena.. 1521) e no Códice de Alcobaça. por uma carta a Afonso de Albuquerque. há várias versões: arménio. Afonso de Albuquerque retoma um projecto que vinha já de alguns séculos atrás: desviar o curso do Nilo para aniquilar o Egipto. Manuel. Esta carta encontra-se. como um enviado do Céu. na Carta das Novas que vieram a el Rey Nosso Senhor do Descobrimento do Preste Johã (Lisboa. Manuel por “seu irmão” e propõe-lhe ajuda por terra. 98. cunhado do imperador etíope. juntamente com a bula Consecravimus more maiorum. contra os infiéis. A rainha Helena trata D. em Fernão Lopes de Castanheda. Diremos muito resumidamente que Mateus foi considerado como um espião e embusteiro pelos oficiais do barco que o trouxe. O seu nome etíope era Abraão. seu embaixador. e que enviou uma carta ao nosso rei D. foi agredido fisicamente. a primeira mensagem autêntica do Preste João chegara às mãos de D. porque o Preste João era um elemento importante na realização dos seus planos! Tinham falhado as intrigas para boicotar os projectos expansionistas tanto do rei como do Vice-Rei. casado e acompanhado pela esposa e uma sua dama de companhia. que chega a Lisboa em Fevereiro de 1514. mas não podemos aqui referi-las por não caberem no âmbito deste trabalho. mas sabe-se que João Gomes chegou à Abissínia. Castela e Roma. Igualmente exultante de alegria ficou Afonso de Albuquerque. São muito interessantes as peripécias relativas `a viagem de Mateus. de Damião de Góis. Leão X oferece-lhe então a “Rosa de Ouro” que envia em 1-V–1514.. nº. agora. culta e piedosa.MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA chega Afonso de albuquerque. cristão egípcio. É de 1317 a Obra de Guilherme Adam. cristão. de 16-XII-1512. cap. de meia idade e de porte distinto. Manuel recebeu-o com todas as honras. posto a ferros e roubado. Manuel! Já na posse de informações sobre a constituição geográfica do país. na Crónica de D. Manuel. Livro III. Surgem problemas e atribulações. A Portugal coube a honra de difundir pela Europa as primeiras notícias autênticas sobre as terras do 643 . foi depois mandada ao papa Adriano VI. Lopo Soares de Albergaria. riqueza e felicidade.Jerusalém seria libertada . sucessor de Afonso de Albuquerque. reorganiza . imaginado e procurado desde o séc. João III (Cf. na companhia de Mateus. de Lisboa em 1515. Diogo Lopes Sequeira. Realizado este projecto. Entusiasmado.e. intitulada Epistola Super foedere cum Presbytero Ioanne. Estava finalmente bem localizado esse mítico país do Preste João.I). como embaixador ao Preste. para desviarem as águas do Nilo. o embaixador etíope Mateus e o Pe. com prática do corte de levadas através das serranias. as grandezas apregoadas pela carta apócrifa do séc. Na sua armada seguem o septuagenário Duarte Galvão. o poderio português tendia a fixar-se mais a Oriente. Nesse sentido. o Preste João teria todo o poder em terra. 1521). em 1513. Dela se fez uma versão latina. João III. em 1520. XII. no folheto Legatio Magni Indorum Imperatoris Presbyteri Ioannis. foi traduzida em francês. Anais de D. com águas miraculosas. Francisco Álvares. Rodrigo de Lima. Persistia o ideal de cruzada . vol. e no mesmo ano. era traduzida e publicada em Roma. pois. ad Emanuelem Lusitaniae Regem. pouco depois. a embaixada ao Preste João. após a conquista de Goa e Malaca. Paradoxalmente. Finalmente tinha-se chegado ao país das maravilhas. ao receber D. sai. XII. chefiada por D. alargar-se-ia a fé e o império. Manuel a notícia de que a embaixada enviada ao Preste João. morre Duarte Galvão. a qual. chega à “terra ambicionada” em 1521. poderio. por via marítima. Nesse ano de 1521. que a rainha Helena enviara a D.Manuel nomeara o velho cronista Duarte Galvão. D. Frei Luis de Sousa. e Portugal manteria a sua superioridade no mar. O sucesso e o interesse por estas notícias foi tal. Manuel. entrara finalmente na “terra procurada”. Anno Domini MDXIII. E a relíquia do Santo Lenho. e tudo isto é causa de demoras. como oferta de D. pela aliança ao mítico Preste João. Damião de Góis referiu a vinda do embaixador Mateus. que sucede a Lopo Soares de Albergaria. ouro e pedras preciosas. o que lhe permitiria o domínio do comércio das especiarias. em 1522. foi publicada então a Carta das Novas que vieram a El . este projecto fora elaborado num momento em que. a quem levaria um rico presente.O PRESTE JOÃO Rei que lhe sejam mandados homens da ilha da Madeira. tão sonhado.Rei Nosso Senhor do Descobrimento do Preste João (Lisboa. Também em Lisboa. que. Ele é. Tomé. seu sucessor espiritual na comunidade cristã da Índia. Apensa ao opúsculo da Carta das Novas. Durante estes anos (partida de Lisboa em 1513 e chegada a Abissínia em 1521) deteriora-se o presente riquíssimo enviado por D. Faremos agora uma análise ao nome desta personagem lendária. Manuel. Francisco Álvares dá-nos conta de como foram recebidos pelo Preste João. afinal. já é mais problemático. Verdadeira Informação das terras do Preste João das Índias (1540). Mais 644 .MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA Preste João. De “ Preste João” como título e não antropónimo se deu conta Francisco Álvares : visitou uma igreja onde jaz um “Preste João” . trasladado para siríaco.liu Ta-che. Igualmente foi publicada a carta que a rainha Helena enviara a D. título usado pelos descendentes de Ye . 13. Preste não oferece qualquer dificuldade: trata-se de uma forma derivada do latim eclesial presbyter. Entretanto a embaixada portuguesa permanece no país do Preste João. Todavia dele constava algo muito importante: um mapa . Estava “firmada a sacrossanta aliança da nossa Fé”.mundi. francamente inferior. no anno de mil e quinhentos e quatorze. que. um discípulo de S. Alguns autores têm pretendido derivar o siríaco Juhanan de Jur .Tomé. Francisco Álvares descreve como decorreram os seis anos que aí permaneceu. diz sempre o Preste João. nem se chamava “João”. forma que existia igualmente na língua castelhana. No livro que depois escreveria. Trata-se de um nome persa que figura nas Actas de S. Outros admitem tratar-se de Vizan. o que mostra claramente tratar-se de um título. e de tudo tomando nota. ou cargo. e refere-se a outros “ Prestes João”. apenas a adequação fonética e gráfica a esse nome. na carta de 8-V-1521. e que. A própria rainha Helena era um “Preste João”. assim escrevia D. observando e interrogando. mas sabe que não é esse o seu nome próprio. em versão portuguesa: Trelado da carta que ho Preste Johan enviou a el Rey nosso Senhor. Quanto a João. sacerdote). também ela percorreu a Europa. se tornou no equivalente de João. por sua vez. como poderia julgar-se por haver esse mesmo nome nas línguas ocidentais. que não era “Preste”.Khan. Manuel ao Papa. Manuel. e houve a necessidade de improvisar um outro. por seu embaixador Matheus. Quando fala do imperador. para mostrar aos etíopes que “a terra é redonda”. deriva do grego presbyteros. Preste era a palavra utilizada no francês arcaico com o significado de “aquele que se ocupa da salvação dos fiéis”. A preste corresponde o prêtre do francês contemporâneo (=padre. o Pe. Primeiramente devemos informar que não se trata de um antropónimo. com sete edições : três em castelhano. A Abissínia. fome. duas em inglês. em pormenor. enorme. em 1966. pois só sabem cobrir as suas casas com ervas. Era a primeira informação científica. Afinal quem era o Preste João? 645 .. ódio. faz protestos de amizade e colaboração com Portugal na guerra contra os mouros. o grandioso.retrato do Preste João (p. houve mais uma em francês. que em nada correspondia à realidade: havia ali miséria. João III (cap. roubo. crueldade.161) em que ocupa 18 linhas. uma em italiano. que a Europa conhecia. A Verdadeira Informação das Terras do Preste João contém. O sucesso da obra do Pe. XII !. Com Francisco Álvares passa-se do sensacionalismo à observação atenta e à descrição do real. foram ainda feitas mais três edições. em 1881 e 1961. Francisco Álvares em nada se pode identificar com o Preste João da Carta . era um país semi-bárbaro. a tradução de três cartas enviadas pelo Preste João : a Diogo Lopes de Sequeira. duas em francês. apedrejamentos. a célebre Carta descrevia um país de sonho. Abássia ou Etiópia. Como a realidade era diferente daqueles palácios descritos na Carta do séc. a este respeito. de todos os ofícios. e uma em amárico. Quanto a traduções. o fantástico da Carta do séc. capitão-mor da armada ( cap. Mas o Preste João do Pe. sem interesse político. tanto no alargamento da fé como do império. logo no séc XVI foi traduzido em quatro línguas europeias. sobretudo que saibam trabalhar os metais e fabricar telhas. VIII). Inútil para nos ajudar. e pede o envio de artistas nossos. O sucesso foi tal que. Vale a pena citar. na Parte II. pois. a descrição . Francisco Álvares foi. nos séculos seguintes. mais com objectivos utilitários do que com preocupações estéticas. daí o seu entusiasmo. em 1830. cristão sim. embora não alheio à qualidade literária. Manuel (cap. O Preste João intrigou. Afinal o “ palácio de cristal” onde o Preste João reside é apenas uma tenda de nómada. Desapareceu o patético. A primeira edição da Verdadeira Informação das Terras do Preste João das Índias é de 1540. e uma em alemão.II). dinamizou. Em todas estas cartas o imperador enumera os seus ascendentes bíblicos. XII. Foi estímulo contra o Islão. Em português. que em nada contribuiria para o nosso projecto comercial. sem capacidade militar.O PRESTE JOÃO desiludido do que encantado. Nada das grandezas e maravilhas anunciadas.VII) e a D.. Afinal. sendo a última de 1974. sobre o Preste João. a D. crime. mas herético. Foi o desmoronamento do mito do Preste João. guerra. incentivou. entusiasmou. estando-lhe proibido qualquer discussão que perturbasse “toda a paaz e booa concordia”. 14. O contacto com o diferente. deu ao homem ocidental a consciência do relativo e abriu-lhe o espírito no sentido do ecumenismo . a enumerar os seus ascendentes. era afinal alguém que precisava da nossa ajuda. rei de Israel (± 970-931 a. gosta de alongarse. como a fé abexim. Basta que recordemos o Regimento que o capitão Lopes de Sequeira deu ao embaixador D. sendo um convite à reflexão.) e da rainha de Sabá (hoje Yemen). desabsolutização e desabrochar de tolerância. tendo em conta que outros reis etíopes se consideravam descendentes dos Magos idos adorar Jesus no presépio. a sua doutrina não só estava afastada da seguida pelos europeus. Mas a Etiópia desiludiu o Ocidente. Porém. Houve grande prosperidade no reinado de Lebna Dengel (1508 . 646 .C. Um caminhar para o humanismo filantrópico.apreço pelo Outro. e Cristóvão da Gama (filho de Vasco da Gama) que havia desembarcado 400 homens para socorrer os etíopes. A frota otomana derrotou a portuguesa. para informar o rei. O Preste João poderoso e rico. em 1558. Igualmente perdeu a vida o jovem negus Claude.1540). aliado dos portugueses. nas suas cartas. que se davam como descendentes de Salomão. cuja aliança tanto se tinha desejado. a primeira regra era essencial : o respeito pelos costumes e crenças alheias. compreendemos como eram fortes os motivos que tinham os imperadores etíopes para se sentirem superiores. aquele que reinava aquando da embaixada portuguesa. Ele é o “Incenso da Virgem” e da linhagem de reis e patriarcas bíblicos. Este foi porém derrotado antes que os portugueses tivessem podido combinar o plano para evitar o avanço dos turcos pelo Mar Vermelho. de que o homem saíu mais rico. foi preso e martirizado. Devia este observar tudo o que se passava no reino do Preste João. em 1541. indagar. Lenda que se fez história e acabou em trágica epopeia.Houve na Etiópia uma dinastia de reis Salomónidas. O imperador David. dividida por confusos conflitos e enfraquecida após a ocupação turca. num ódio profundo a todo aquele que não é cristão. passou a ser renegada. incessantemente. ver e ouvir. Eram estes reis salomónidas que governavam a Abissínia no tempo dos contactos com Portugal. Ora.MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA A procura do Preste João permitiu e favoreceu um encontro de culturas.Rodrigo de Lima. em 25-IV-1520. Porém. ele invoca a Cristo. Profundamente cristão. a Europa. misto de autoridade religiosa e política. num precisar de conhecimentos geográficos e históricos. em 1554. misteriosos. Um fabuloso que foi impulso ao facto histórico: procurar até encontrar. e Roma para aí envia. Figura mítica. Francisco Álvares dava. Zan e Preste. pois. no tempo das Cruzadas. o golpe de misericórdia naquele que foi criação mítica surgida de um anseio colectivo. eivado de latinidade.O PRESTE JOÃO Depois do regresso do Pe. O real e o fabuloso entrelaçados. Figura compósita. Um mito condutor e produtor de alargamento de horizontes. lenda. a reinar em lugares incertos. sacerdote cristão e monarca oriental poderosíssimo. do relato da sua estadia de seis anos. mito e história eivada de estórias. pela Europa. com a publicação e divulgação. embora desiludida com a “pequena magnificência” do Preste João. formada a partir dos mais diversos elementos. Em 1540. alguns jesuítas conduzidos pelo bispo espanhol André d’Oviedo. característicos de um fantástico Oriente. inacessíveis. continuou ainda a interessar-se pela Etiópia. no reino do Preste João. ao aproximar-se o fim do século. 647 . Francisco Álvares. o Pe. Mas os seus esforços para “catolicizar” os etíopes foram vãos e mais um sonho se desfez. Cartas das Novas que Vieram a êl–Rey Nosso Senhor do descobrimento do Preste Joham. FRANCISCO ÁLVARES. Comentários do Grande Afonso de Albuquerque. Lisboa. II. III. Fides.d. 1884 – 1935. J. 1854. Lisboa. in “Bulletin de la Section historique de l’Académie Roumaine”. L. D. Londres (Museu Britânico). I. 1521. As viagens de M. Idem. Edição com grafia moderna A. Lisboa. 1957. Crónica do felicíssimo Rei D. Pires de Lima. 1540 e 1974. Porto. Lisboa. II. C. 1938. GASPAR CORREIA. “L’Extrême Orient légendaire” in Anuales d’ Ethiopie. 1540. I. Publicadas em Lisboa em 1858–66. Lisboa. vulgarmente chamado Preste João. RICHARD. Nacional. son pays. 648 . origine de son nom. Coimbra. História das coisas que o mui esforçado capitão D. Lisboa. História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses. 294) s. F.. 1924. 1551. 1936. t. Coimbra. 1552. 1988. Bucareste. OLIVEIRA MARTINS. Lendas da Índia. Academia de Ciências de Lisboa. MARCO POLO.. Lisboa. MIGUEL DE CASTANHOSO. AFONSO DE ALBUQUERQUE. Viagens de Bart. MARINESCU.. in Portugal nos Mares. Lovaina. Religio. t. Reimpressão. 1923.II. 1973. IV. 1936. Moresque Aethiopum Sub Imperio preciosi Joannis. BRAZ DE ALBUQUERQUE. Coimbra. J. III. A dilatação da fé e do império. Appendice B. JOÃO DE BARROS. P. DE CASTANHEDA. Emanuel.MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA Bibliografia J. 1564. C. A lenda do Preste João nas chronicas portuguezas. Verdadeira Informação das Terras do Preste João das Índias. Idem. Christóvão da Gama fêz nos Reynos do Preste João. I. 1924. 1557. 1565. Cartas seguidas de documentos que as elucidam. 1556. 1924. Décadas da Ásia. ALVES CORREIA. 1946. Por mar e terra. DAMIÃO DE GÓIS. Bibl. VON DEN BRINCKEN. Escritas entre 1512 e 1561. x. 7 vol. II. Reimpressas em Coimbra. Nationes christianorum orientalium. Lisboa. Le prêtre Jean. Breve Relação de embaxada que o Patriarca dõ João Bermudez trouxe do Emperador de Ethiopia. cap. Dias e Pero da Covilhã. 1923. IV. D. JOÃO BERMUDES.P. 1923. A. Lisboa. 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