Guia Prático da Língua PortuguesaTeoria da Redação Redação nos Vestibulares Redação Escolar, Comercial e Oficial Interpretação de Texto Luiz Fernando Mazzarotto Davi Dias de Camargo Ana Maria Herrera Soares Guia Prático de Redação Editor Raul Maia Produção Editorial Departamento Editorial DCL Produção Gráfica Nelson Pastor Capa Antonio Briano Diagramação Thiago Nieri Revisão Caio Alexandre Bezarias Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Mazzarotto, Luiz Fernando Manual de redação / Luiz Fernando Mazzarotto, Davi Dias de Camargo, Ana Maria Herrera Soares. -- São Paulo : DCL, 2001. -- (Guia prático da língua portuguesa) Bibliografia. ISBN 85-7338-429-8 1. Português — Redação I. Camargo, Davi Dias de. II. Soares, Ana Maria Herrera. III. Título. IV. Série. 01-0305 1. Redação : Português 808.0469 CDD-808.0469 Índices para catálogo sistemático: Proibida reprodução total ou parcial Direitos exclusivos desta publicação: © Difusão Cultural do Livro Ltda. Rua Manoel Pinto de Carvalho, 80 CEP: 02712-120 – São Paulo – Brasil
[email protected] Introdução No mundo atual, escrever é sempre importante, necessário e freqüente. Mostrar que você sabe comunicar-se (bem) usando a escrita é um dos fundamentos da capacidade de ser e realizar, da cidadania e da competência. A tão propalada era do computador que, muitos afirmavam, iria diminuir drasticamente a necessidade de papel e de escrever, fez o inverso: nunca tanta informação e conhecimento circularam entre tantas pessoas e de modo tão rápido, nunca as pessoas se comunicaram tanto (via e-mails, chats, impressos etc), fazendo com que todos escrevamos mais e mais. E escrever bem exige conhecer as regras e bons autores do idioma em que se escreve. É nesse momento, em que se exige segurança no manejo das palavras, que surgem temor, dúvida, desconfiança e sentimento de debilidade diante dos labirintos da língua. Estas são as reações mais comuns de vestibulandos, alunos de colégios e cursinhos e outros praticantes da Língua Portuguesa quando precisam encará-la. E produzir um texto correto e elegante, em que o uso adequado das infinitas e complicadas regras gramaticais case com as idéias a serem comunicadas, resultando em algo prazeroso de ler, parece coisa reservada aos professores de gramática, aqueles especialistas que estudam a Língua Portuguesa a ponto de fazerem disso sua profissão. Nada mais equivocado. A Língua Portuguesa é acessível a todos, é companheira e filha de nós e da cultura em que vivemos e participamos; companheira porque a utilizamos continuamente, é o veículo de transmissão de nossos saberes, conhecimento e visão de mundo, e filha porque é uma entidade continuamente alterada pela vivência e criações de nós, falantes da língua portuguesa espalhados pelo mundo. Este Manual de Redação é um guia para todos que querem e precisam escrever; pretende ensinar a vencer temores e dúvidas que cercam a produção de um texto. Contém a teoria completa da redação e suas categorias, muitos exemplos do uso correto de palavras e expressões, como interpretar corretamente um texto. E mais: modelos de redação comercial e oficial, temas de redação e questões dos principais vestibulares do Brasil, para você praticar o que aprendeu. ..... 8 Formas de relatar o enunciado ....... 4 Exemplos de descrição ........................... Conclusão .................... 4 Descrição .......... 11 Dissertação ... 7 Exemplos de narração .............. 17 I........ 26 6............ Teoria da redação Introdução .......... 26 Montagem dos esquemas .... 20 I.............. 26 Modelo de esquema . 4 Tipos de descrição ................................... 12 Exemplos de dissertação ........... 27 Dissertação: como proceder? . 17 II................................................................................................................... 16 Texto Objetivo ...................................................Sumário 1................ 2 Tipos de redação ..................... A clareza . 10 Formas do discurso ................. Lado interno ⇒ correção ..... 16 As partes da redação — Estrutura ......... A correção . A concisão .............................. 27 Exemplos de esquemas .................... 24 3...... Introdução ..... 1 A redação e os bloqueios ............................................. O visual ⇒ estética ........... 28 ... A elegância ........ 25 4......... 14 Objetividade x Subjetividade ...... 18 Qualidades básicas da redação .......... A originalidade ............. 7 Narração ........... 6 Exemplo de descrição de ambiente ............. 20 II... 25 5............. Desenvolvimento ......................... 23 2. A coesão ..... 15 Texto Subjetivo . 5 Exemplo de descrição de pessoa ......................... 22 1. 26 Seleção e organização das idéias na redação .................................... 17 III...... 20 Montagem da redação .. ..................... 95 Conteúdo ................ 89 Procuração ......... 76 Critérios básicos de correção . 71 Modelo 6 – PUCCAMP-SP ........... 76 Objetivo: .......... 30 O início da redação .... 66 Conjunto 2 — A infância na mídia ....................... 99 Ofício simples ........... 72 III – Das propostas ............... 87 Contrato ............................... 70 Modelo 5 – PUC-RS 2000 .................................. 72 II – Da elaboração da redação . comercial e oficial Exemplo de redação escolar .................... 66 Coletânea de textos ......... 95 Apresentação ........ 66 Instruções .................. 35 Os erros mais freqüentes ............. 67 Conjunto 3 — Alguns dados .................. 66 Proposta de redação ........................................................................................... 87 Memorando ........ 72 I – Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos ................................................. 75 Modelo 9 – UEL-PR ................. 77 3.......................... 83 Circular ......................... 102 ......................................... 56 Modelo 1 – ENEM 2000 ........... 70 Modelo 4 – ESPM-SP .................. 90 Parecer ............................................... 63 Modelo 2 – UFMG 99 .................................................................... 89 Ordem de serviço . 100 Requerimento ............................................ 29 Mandamentos de uma boa redação ...... 85 Certificado ...... 78 Carta comercial – Regras ........................ 69 Conjunto 4 — Cenas brasileiras ... 29 O estilo de cada um ................ 72 Instruções gerais .............................. 71 Redação .. 98 Ofício completo ........... A redação nos vestibulares Lembretes importantes . 75 Redação .............................. 34 2.......................................................... 33 Pontos a ponderar ............................ Redação escolar....Descontraia ................... 96 Redação oficial .................... 74 Modelo 8 – UEMA .............................. 65 Modelo 3 – UERJ 2000 ...... 98 Ofício – Regras ..... 81 Ata ....................................... 91 Recibo ...................... 36 Proposta .. 75 Modelo 10 – UFPE ... 66 Conjunto 1 — Crianças e adolescentes no Brasil ................... 94 Currículo ...................... 73 Modelo 7 – UNIFOR-CE .............................................................................. 35 Temas de redação de vestibulares ................................................................ 92 Relatório ....... .. Metáfora .... 123 14........................... Onomatopéia ................ 122 6....... Hipérbole .......... 375 .............. 114 A intenção textual ...... 108 Boletim ...... 291 Vocabulário . 123 12.................. 117 Figuras de linguagem . 123 13........ 123 11............................. Prosopopéia ou Personificação .................. 112 Portaria ...... 115 O sentido lógico e o sentido simbólico das palavras .............. 116 Graus de compreensão dos textos ................................ 104 Despacho .................. 106 Ato .......... Metonímia ..................................... 122 8.....Decreto ........................................ 122 10.................. 109 Edital ..................... Eufemismo ............................................................ Interpretação de textos Conceito ........... 110 Folha corrida .............................. 105 Aviso ............................................. 122 7......... 371 Bibliografia ......... 343 Índice .................... 119 2............ Assonância ....... 301 Questões de vestibulares . Guia prático de redação Introdução ........................... Gradação .... 120 3....................................................... 122 9............. 109 Comunicado .............. Ironia ......... 156 Observações finais .............................................................................. Aliteração . Antítese ....... Comparação ...... 113 4............ Catacrese .............. 121 4...... 107 Acórdão ....................................................... Polissíndeto ...... 121 5. 123 5. 105 Auto ............................................................................. 119 1....... 155 Especificações ............................................. . aprendeu-se a conviver com ela. seriam obrigados a submeter-se a treinamentos constantes e intensos. É demais! Mas. entenda-se o vestibular como uma grande maratona. O vestibular nos exige muito mais que garatujas. e suponha-se que. desde a infância. por exemplo: «o candidato deverá nadar quinhentos metros em cinqüenta minutos. É mostrar a nossa cultura e personalidade. com nosso nome e assinatura. muito mais que a oral. passou o tempo. entendendo-a. um paralelo com a redação e sinta-se o quanto nos falta. exigissem dos vestibulandos uma prova de natação. mas não íntima. A comunicação escrita.. no lugar da redação (com número de linhas e tempo definidos). Destarte. Um percentual insignificante de candidatos (aqueles que fizeram da natação. E. não para escrever algumas linhas (como para dar algumas braçadas suficientes para atravessar a piscina na sua lateral).— 1 — 1 Teoria da redação Introdução ce-nos normal a reação instintiva de detestá-la. Apenas. pare- . Os outros. não se Ihe assinalaram as técnicas. assolou o debilitado saber. uma prática constante) não se preocuparia em absoluto com tal prova. certamente já causou muito mais horror. continuariam a manter a forma. As falhas. ainda por cima. a maioria esmagadora (tal como na redação). agora. E comunicarmo-nos é criar. contribuindo muito mais para um ensino pragmático que se coloca adverso «ao gosto pelas letras». não atingir o estabelecido implicará a atribuição do grau zero». não se Ihe adquiriu o sabor gratificante da convivência: tornou-se conhecida. muito mais do que uma vez por mês ou por quinzena ou por semana. Ora. rabiscos. é o nosso auto-retrato. são de base. que Ihes exigiriam muita força de vontade e autodeterminação em treinar mais. as nossas experiências de vida. mas para escrevermos (ou nadar- A Redação no Vestibular. sabemo-las.. faniquitos e bloqueios do que hoje. Force-se. mesmo que inconscientemente. de abstraí-la de nosso dia-adia. A redação surge como um verdadeiro espelho do que somos — é o peso de nossa bagagem cultural. as nossas opiniões. É oferecer a outrem as nossas idéias. arremedos de comunicação verbal lançados ao papel. tremores. ao longo do ano preparatório. como reflexo da nossa bagagem formativa. mas não se Ihe descobriram os segredos. pois seria anormal o regozijo por uma redação que nos lembrasse todas as limitações de que somos possuidores. como reflexo «do que sou». ou em qualquer tipo de Concurso. A reforma do ensino. com o distaciamento da cultura humanística. com limites de tempo e de número de linhas. a dedicação. são desoladores quando se Ihes põe um lápis ou uma caneta na mão. O esforço. juntos. por meio de treinos contínuos. É básico que cada um venha a acreditar em si mesmo. sinta-se o suficientemente capaz de. clareza e correção das idéias: pré-requisitos exigidos e propostos para a redação nos vestibulares ou nos concursos públicos. propiciarão ao aluno as condições para adquirir a autoconfiança perdida ao longo de anos sem preparo específico.. mais do que participar. não sintam inibição paralisante. a uma vaga na Universidade.» (Mattoso Câmara) São poucas as pessoas que. e até com exuberância e eloqüência. ainda que simples bilhete. Acontece um branco em sua mente. No entanto ele está cá dentro inquieto.— 2 — mos) o suficiente em técnica e correção. o reconhecer-se débil — mas capaz — são os elementos que. se atire de corpo e alma a um trabalho de treinamento contínuo e gradativo. no intercâmbio de todos os dias. com vistas a melhorar a sua redação.» (Carlos Drummond de Andrade) «Tantos estudantes psiquicamente normais.! A redação e os bloqueios «Gastei uma hora pensando um verso que a pena não quer escrever. Portanto: Eu + Força de Vontade Proporcional às Minhas Dificuldades = TREINO + TREINO + TREINO + . de forma a nos possibilitar concorrer. É necessário. vivo. refletidos basicamente em bloqueios e brancos mentais. que falam bem. Esta é a regra: Escrever? Só escrevendo. conscientizado de suas limitações e necessidades... elaborar uma redação que atinja os padrões mínimos de objetividade.. um vazio . ou na apavorante quantidade de erros que surgem após uma correção. Ele está cá dentro e não quer sair. ao receberem a incumbência de escrever alguma coisa. portanto. que cada um. à luz das técnicas e orientações dadas. Secundariamente. o mais das vezes. porventura. É importante não esquecer que. E assim vai indo. muito treinamento e perseverança são capazes de nos devolver a autoconfiança abalada e de nos oferecer um mínimo de condições para que o fazer redações não se torne algo não só penoso. o bloqueio psíquico. temos medo de expor-nos. tenhamos lido ou que tenham nos ocorrido. Lembre-se: 10 e 10 — Adianta escrever se ninguém corrige? — Evidentemente que sim! Escrevendo todos os dias você vai se desinibindo. Na redação. É só fazer hábito e. .— 3 — nas suas potencialidades. Vivem minutos (minutos?) de angústia. até o gosto é capaz de adquirir. um comentário. Convém ainda lembrar que no falar somos repetitivos e. corrigindo-as nos erros apontados. É a força do documento!. Depois sobre uma notícia. Lendo e escrevendo. Quando escrevemos. No começo. pois nós não seremos inquiridos no caso de alguma dúvida. a objetividade e a clareza devem se fazer presentes. De dez minutos diários para uma leitura. falar bem não significa necessariamente escrever bem. com executivos desinibidos. Na linguagem oral. — E tempo? — Todos dispõem de tempo. Ou então reescrever as redações que voltam da correção. às vezes. mascam caneta e nada sai. A cena de um filme. Daí que nossas dificuldades se refletem em brancos ou bloqueios e somente como já dissemos. Vai adquirindo jeito para a coisa. até mesmo obscuros. Em geral. Mas não aceitamos a hipótese de gozação pelo que escrevemos. ou as situações configuradas. ao contrário. Como evitar isso? — Treinando! Escrevendo todos os dias. roem unhas. É apenas uma questão de saber aproveitá-lo. não tememos ser gozados pelo que dizemos. é aconselhável escrever sobre coisas que aconteceram com você. Vai sanando dúvidas de ortografia (desde que consulte o dicionário). se tal ocorre inclusive com pessoas de razoável conhecimento. todos dispõem. — Escrever sobre quê? — Sobre qualquer coisa. Mais tarde um tema abstrato. facilmente descritas ou levadas a imaginar. Vai ficando fluente.. por exemplo? Primeiramente. aumentando-as em idéias novas. O que acontece.. Reproduzir aquilo que leu.. de mais dez minutos para pequena redação. Exprimimos melhor assuntos que vivemos... usamos de recursos que inexistem na escrita: os gestos. são elementos fundamentais para que a comunicação possa ser efetuada.. sem que ninguém nos «anule» nada. existe a causa subjetiva. como causa objetiva. enriquecendo-as de detalhes que. por exemplo. mas impossível. existe a falta de hábito da escrita e da leitura. o objeto ou o ambiente são mais importantes. situações ou pessoas. Há grandes descrições que desprezam totalmente formas verbais finitas. É estática. A descrição é destituída de ação. matriz. as descrições que vêm nos livros didáticos etc. mas procurar transmitir sensações fortes. de um objeto ou imagem. Consiste em fazer viver. Descrição Denotativa: A descrição é denotativa quando a linguagem representativa do objeto é objetiva. Convém que se observe. Descrição Descrever é traduzir com palavras aquilo que se viu e se observou. ocupando lugar de destaque na frase o substantivo e o adjetivo. o que dá à descrição um tom especialíssimo de imobilidade do objeto. Equivale ao registro do que se vê em uma fotografia. logicamente. A descrição é atemporal. Denotativas são. Na descrição. mas enriquecer a visão do que é real ou procura-se tornar real. O emissor capta a realidade por meio de seus sentidos e a transmite. tornar vivos e tangíveis os pormenores. único. valorizando-se os processos verbais não-significativos. por um lado. É a representação. Saber descrever não significa enumerar muitos detalhes. por exemplo. a Narração e a Dissertação. por meio das palavras. na descrição. direta. Verbos indicativos de ação ou movimento são secundários. ou criar o que não se vê. Descrever não é copiar friamente. A caracterização é imprescindível. particípio). a quase ausência de processos verbais finitos (indicativo ou subjuntivo). . Na descrição denotativa. de uma descrição. clara. objetos ou paisagens (com todos os seus pormenores) podem ser objeto de um desenho ou pintura e. O interesse de um texto descritivo reside na impressão que tal descrição provoca em nós. por outro. gerúndio. as palavras são tomadas no seu sentido de dicionário. daí a forte incidência de adjetivos no texto. e espacial. o ser. ressaltando o emprego de formas nominais (infinitivo. quantidade etc. mas se percebe ou imagina. tal que o receptor a identifique. tamanho. É evocar o que se vê ou sente.— 4 — Tipos de redação Três são os tipos de composição escrita: a Descrição. e nada melhor que o substantivo — que designa o mundo do ser — e o adjetivo — que designa o mundo das qualidades do ser — para produzirem enfaticamente aquela impressão que brota da fonte descritiva. utilizando os recursos da linguagem. Tipos de descrição 1. sem metáforas ou outras figuras literárias. as descrições científicas. Pessoas. ou de ligação. É uma seqüência de aspectos: forma. podemos dizer. dotada.. Descrição real é a descrição em relevo. ricas em polivalências. que funde o verde-mar e em rosa-pálido.. outeiros. por exemplo. Uma aberta de luz: campos extensos de milho e arrozais. digamos. a descrição deve ser real e pormenorizada. as formas sem contornos. Devem ser eliminados todos os pormenores que não se subordinem à impressão geral que se quer dar. cabelos revoltos. Um sol ardente nos colmos dardejando e nos eirados sobreleva aos sussurros abafados o grito das bigornas estridentes. «Os companheiros de classe eram cerca de vinte. campinos de vara ao alto. a linguagem deve traduzir a cor e a visão. próprio. nariz . Qualidades da boa descrição: uma descrição é boa quando é viva. Ornamentações «Liberty» na sua clara tonalidade preferida. Uma supra-realidade. concreto. imprecisas. Partida de Lisboa. Lapa) 3. o tufo espesso do Choupal. animando-se a paisagem com seres vivos e com a presença do homem. Visam a retratar uma realidade além da realidade. Nos quadros de natureza. assento. a descrever «reações psicológicas» de uma cadeira diantes dos diferentes tipos de nádegas que sobre ela repousassem. intangíveis.» (Teixeira Gomes) 4. searas infinitas. «Manhã cinzenta. Além de viva. «Sala de prédio novo no pátio do torel. o tema «A Cadeira» para descrever: a) A pessoa que se limitasse a descrever fisicamente a cadeira — suas pernas. Duas grandes janelas por onde se perspectiva a baixa e um largo trecho do rio. Coimbra. altura. cor etc.— 5 — 2. o bicanca. de corpo. b) Mas aquele que passasse. Depois.. estaria fazendo descrição conotativa. exato. redondo de costas. para isso utilizando os termos gerais e abstratos. os espaços sem limites. O estilo da descrição: a linguagem descritiva exige o vigor e o relevo do termo forte. Descrição Conotativa: É a descrição literária. Enfim. como dizia o professor: o Nascimento. A parede do sul cortada por três arcos envidraçados que dão para uma espécie de estufa rescendente. espaldar. Dado. «Duas horas da tarde. mutação de cenário: florestas de pinheiros verdenegros. motilidade brusca e caretas de símio — palhaço dos outros. debruçada sobre o Mondego». Os primeiros aspectos da campina ribatejana: touros. — estaria fazendo descrição denotativa. (R. Exemplos de descrição 1.. miúdo. onde as palavras são tomadas em sentido simbólico.» (Gonçalves Crespo) 2. O Gualtério. por exemplo. alongado por um modelo geral de pelicano. . Curitiba: Imprensa da Assembléia Legislativa do Paraná. onde predominava o pó da estrada. maltratado pelas intempéries.) Exemplo de descrição de pessoa NHÔ RUFA Chamava-se Rufino o preto cuja carapinha em desalinho a neve dos anos manchara de branco. moreno. vezes dois. faces de um rosa doentio. uma velha aljava de couro. Raul Pompéia — Coleção dos Clássicos Brasileiros. Trazia a tiracolo um bodoque (que é um arco para atirar bolotas de barro) e. válido. cenho carregado. de um pardo transparente. como se não tivesse nada com aquilo.) Fui também recomendado ao Sanches. para ir à pedra com um vagar lânguido de convalescença. marcado por uma pinta na testa..— 6 — esbelto. apenas um risco preto que mirava com ódio a meninada que o acompanhava e divertia-se às suas custas. arrastado e cansado.. porejando baba. 57-58. velha e encardida. claro. canhoto e anguloso. o Negrão. . no meu conceito era a derradeira das criaturas. Talvez carregasse por noventa anos aquele corpo magro e dolorido. (. espreitando apenas o professor para aproveitar as distrações e ferir a orelha dos vizinhos com uma seta de papel dobrado. Estes diziam que Nhô Rufa tinha bicho-de-pé e gritavam de longe. no outro ombro. coçando-se muito. dificultando a fala. repleta das ditas bolotas de barro seco. que se levantava. curvo e largo como uma voice. As pálpebras empapuçadas deixavam entrever. olhos rasos. violento e estúpido ( . Era o primeiro da aula.. pendia desgovernado. A pele preta era opaca e sem viço.. olhos fúlgidos no rosto moreno. e um chapéu de feltro. O lábio inferior. Seu nariz achatado parecia esborrachado. ). p.. lábios úmidos. . dos olhos. vezes sete?. . nervoso. raça de bugre. 90. translúcido. fisionomia agreste de cabra. como se o incomodasse a roupa no corpo. o Álvares. Não sei a sua idade. rosto de menina.. Piraí do Sul. Edições de Ouro. o Maurílio. noves fora.» (O Ateneu. meiguice viscosa de crápula antigo. (.) . o Almeidinha. lábios inquietos. fortíssimo em tabuada: cinco vezes três. p.) Batista Carlos. alheio às coisas da aula. mas meu avô dizia que "Negro quando pinta tem três vezes trinta". sacudindo no ar o dedinho esperto. em coro: — Bichento! Bichento! (Dalva Ferreira Fanchim. Usava um velho capote de cor indefinida. Iá estava Maurílio. insofrido. cabeleira espessa e intonsa de vate de caverna. Primeiro que fosse do coro dos anjos. Achei-o supinamente antipático: cara extensa. bem vermelho e grosso. sua arma contra os meninos. de ventas acesas. incapaz de ficar sentado três minutos. permitiam-lhe apenas um caminhar trôpego. mortos. sua gente e suas histórias. sempre inchados. 1984. de má cara. Os pés grandes e descalços. tão deformado pela falta de forro a ponto de parecer uma tigela desabada sobre os olhos. trêmulo. próprio da idade avançada. em saracoteios amorosos com enamorados sativus. a narração é eminentemente dinâmica. ano sim ano não batidos de pedra ou esturrados de geada.. Por todos os cantos imperava o ferrão das saúvas. Ao contrário da descrição.) Narração Narrar é discorrer sobre fatos. formigantes de carrapatos. a cana caiana assumia aspecto de caninha. eram acampamentos de cupins com entremeios de macegas mortiças. Quando se conta uma história (verdadeira ou inventada). É contar. de uma piada. ou seja. Equivale ao registro de uma história. 13. de uma anedota. Aqui o importante está na ação.— 7 — Exemplo de descrição de ambiente A FAZENDA Pior fazenda que a do Espigão. enguaxumados. . tais como: o quê? o acontecimento a ser narrado. No «o que aconteceu». As capoeiras substitutas das matas nativas revelavam pela indiscrição das tabocas a mais safada das terras secas. respondendo os seus elementos a uma série de perguntas. Piolhavam os cavalos. ensamanbaiados nos topes. (Monteiro Lobato. 234-5. encaroçado de bernes. Consiste na elaboração de um texto que relate episódios. quem? a personagem principal (protagonista). São elas: a) Quem participa nos acontecimentos? (personagens) b) O que acontece? (enredo) c) Onde e em que circunstâncias acontece? (o lugar dos fatos. dia e noite entregues à tosa dos cupins para que em outubro se toldasse o céu de nuvens de içás. Em tal solo a mandioca bracejava a medo varetinhas nodosas. ambiente e situação) Em síntese. Boi entrado ali punha-se logo de costelas à mostra. quem? o antagonista. São Paulo: Brasiliense. nunca deram de si colheita de entupir tulha. acontecimentos. Já arruinara três donos. nenhuma. 1996. A essência da ficção é a Narrativa. triste e dolorido de meter dó. ed. Nela predominam os verbos. Os porcos escapos à peste encruavam na magrém faraônica das vacas egípcias. Urupês. Os pastos ensapezados. a narrativa de um fato ou vários é feita a partir de alguns elementos. que é estática. está-se fazendo uma narração. de um "causo". p. e esta virava um taquariço magrela dos que passam incólumes entre os cilindros moedores. meio e fim. é uma seqüência de acontecimentos: começo. o que fazia dizer aos pragueiros: Espiga é o que aquilo é! Os cafezais em vara. decaindo numa «resolução» ou epílogo. Apeou na frente da venda do Nicolau. Na redação narrativa. Ao escrevermos uma narração. Quem escreve é quem decide como fazer a redação. Deve haver um centro do conflito. e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Mas dum canto da sala ergue-se um moço. por quê? a razão do fato. A sua essência é a criatividade. engraçada ou triste. É importante lembrar que a narração pode ser curta ou longa. com gola vermelha e botões de metal. que o miraram de soslaio sem dizer uma palavra. O segredo da narrativa concentrase no grau de «suspense» criado. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta. bem como no fecho surpreendente. ter diálogo ou não (o diálogo torna a narração mais dinâmica. um núcleo do enredo. Envolve a ação. vindo ninguém sabia de onde. amarrou o alazão no tronco dum cinamomo. apresilhada aos arreios. com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca. O texto narrativo é eminentemente temporal e espacial. a bela cabeça de macho altivamente erguida. ter como assunto caso real ou fictício. entrou arrastando as esporas. assim com ar de velho conhecido: — Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho! Havia por ali uns dois ou três homens. A narração distingue e ordena os fatos. o fato é o núcleo da ação. trazia bombachas claras. montava um alazão. sua espada. batendo na coxa direita com o rebenque. o agente do processo narrativo. «Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o Capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. pois cria no leitor a sensação de ouvir as personagens). onde? o local do acontecimento. botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul. que puxou a faca. é importante que uma só situação a centralize e envolva as personagens. Um dia chegou a cavalo. ser séria. Tinha um violão a tiracolo. e foi logo gritando. quando? o tempo da ação. Exemplos de narração 1.— 8 — como? a maneira como se desenrolou o acontecimento. rebrilhava ao sol daquela tarde de outubro de 1828 e o lenço encarnado que trazia ao pescoço esvoaçava no ar como uma bandeira. olhou para Rodrigo e exclamou: . Esta modalidade de texto transita por um fio condutor que leva a uma situação denominada «clímax» ou «nó». o que produz a personagem. por isso o resultado ou conseqüência. e o verbo o elemento valioso por excelência. aí? — Nada. A BORBOLETA PRETA A borboleta. Fora interceptada inúmeras vezes.. começou a gritar: — Aqui dentro não! Lá fora! Lá fora! Rodrigo. e Nicolau. me faz um favor. Sacudi-a. Era um tipo indiático. o senhor já desmontou a moto e nada achou. examinando o rapaz de alto a baixo. vinha ela pilotando uma motocicleta e ultrapassava a fronteira. porém. é só por curiosidade. vendo que Rodrigo não desembainhava a adaga. O fiscal alfandegário não se conformava com aquilo. rebenque pendente do pulso. dona! — Tá bem. — Que traz a senhora. de grossas sobrancelhas negras e zigomas salientes. — Oi bicho bom! Os olhos de Rodrigo tinham uma expressão cômica. nem nada. e Rodrigo estendeu-lhe a mão. amigo. não. pousou-me na testa. Não se conteve: — Não é por nada. Eu não quis ofender ninguém. companheiro — insistiu Rodrigo. depois de esvoaçar muito em torno de mim. moço!» (adaptado) 3. entretanto. a senhora está contrabandeando o quê? — Seu fiscal. fiscalizada e nada. Um certo capitão Rodrigo) 2. Não quero puxar arma pelo menos por um mês. — Não sou de brigas. que se repetia com tanta freqüência. disse: — Guarde a arma. dona. eu conto: O contrabando é a moto. mãos na cintura. jovial. O recém-chegado voltou a cabeça e respondeu calmo: — Não sai. e. Não Ihe vou multar. — Um homem não briga debalde.. olhando para o outro com um ar que era ao mesmo tempo de desafio e simpatia. continuou de cenho fechado e faca em punho. de pernas abertas. meio desajeitado. «O fiscal da alfândega não podia entender por que aquela velhinha viajava tanto. mas não costumo agüentar desaforo. amigo? — perguntou. A cada dois dias. Foi uma maneira de falar. senhor! A cena. Estou cansado de brigas. — Essa sai ou não sai? — perguntou alguém do lado de fora. — Vamos. O outro. ela foi pousar na vidraça.— 9 — — Pois dê! Os outros homens se afastaram como para deixar a arena livre. porque eu a sacudisse de novo. intrigava o pobre homem. sorria imóvel.» (Érico Veríssimo. — Incomodou-se. que quer mais? — Só pra saber. não. — Voltou-se para o homem moreno e. Depois de alguma relutância o outro guardou a arma. num tom sério e conciliador. atrás do balcão. dizendo: — Aperte os ossos. saiu dali e veio parar em cima de um . de forma alguma. CASTIGO MERECIDO Numa das suas viagens a São Paulo. procurou o vaso noturno por todos os cantos e não o encontrou. começou a mover as asas. e achando-a ainda no mesmo lugar. Fiquei um pouco aborrecido. Era negra como a noite. desesperado por esvaziá-la. Percorreu a cidade toda.. Dei de ombros. precisaria acender as luzes e. o Juventino.) 4. 66-7.. Apiei-me. Memórias póstumas de Brás Cubas. Era tarde. poderia acordar o irmão e a cunhada. p. Oren. ed. passou-o para a sua cama e esvaziou a bexiga ali mesmo no colchãozinho do berço.. tomei-a na palma da mão e fui depô-la no peitoril da janela. São Paulo: Ática. e me reconciliou comigo mesmo. ao pegar outra vez o garotinho para pô-lo novamente no berço. então. tinha um certo ar escarninho. tomou um táxi e foi para a casa do parente. resolveu ir para a casa de seu irmão. completamente lotado.) Pegou a mala deixada na portaria de um dos hotéis em que havia procurado cômodo. uma vez posta. p. minutos depois. . Coisas que acontecem. Aliviado. Como. O gesto brando com que.52. senti um repelão dos nervos. residente em bairro afastado do centro da grande metrópole.. pegou o garoto. tinha de atravessar o quarto onde dormia o casal. De madrugada.— 10 — velho retrato de meu pai. Finalmente. Não caiu morta. teve de acomodar-se no mesmo quarto em que dormia um sobrinho de poucos meses. porém. lancei a mão de uma toalha. saí do quarto. São Paulo: L. para sair daquela aflitiva situação? Depois de muito pensar. após longas e infrutíferas caminhadas. — Também por que diabo não era ela azul? disse comigo. A narrativa se vale de tal recurso. viu que o safadinho havia feito coisa muito pior em sua cama.. (Décio Valente. ed. Chegou e foi bem recebido. incomodado. com todo esse movimento.. a infeliz expirou dentro de alguns segundos. (Machado de Assis. Para ir até o banheiro. o Juventino não pôde conseguir. Formas de relatar o enunciado A relação verbal emissor/receptor efetiva-se mediante o que chamamos discurso. ainda torcia o corpo e movia as farpinhas da cabeça. e nada! Tudo cheio.. acordou com a bexiga cheia. Como fazer. 1969. que me aborreceu muito. 1975. a casa era pequena. desde a invenção das borboletas — me consolou do maléfico. certo de ali encontrar o desejado cantinho onde pudesse passar alguns dias. mas tornando lá. 5. E esta reflexão — uma das mais profundas que se tem feito. bati-lhe e ela caiu. um quarto em hotel ou pensão onde pudesse hospedar-se. Levantouse. efetivando o ponto de vista ou foco narrativo. 1. Clarice Lispector destaca-se brilhantemente. Isso constitui o foco narrativo ou ponto de vista da primeira pessoa. Se num dia futuro sua marca ia fazêla erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade e tinha o ar de quem propõe um problema. grosso e escuro. tal e qual quem falava: — Cidadão. o soluço a interrompia de momento a momento.» (Rachel de Queiroz) Formas do discurso 1. antepondo-se às suas ações. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente. Sentada nos degraus de sua casa. Estrutura-se. percorrendo-lhes a mente e a alma. O alto era alourado e não se podia dizer que estivesse vestido de coisa nenhuma. E nem tirou o caco de chapéu da cabeça. só uma pessoa esperando inutilmente no ponto de bonde. abalando o queixo que se apoiava companheiro na mão. às duas horas. esfolado que fora fazia pouco. Numa terra de morenos.. a escutar a voz grossa e áspera.. É a personagem em atividade.» (Clarice Lispector) b) Chamamos narrador-observador ao que serve de intermediário entre o episódio e o leitor — é o foco narrativo de terceira pessoa. vim Ihe vender este couro de bode. O velho até se assustou e bruscamente se pôs a cavalo na rede. com a precedência de dois-pontos e inicia-se após um travessão. o baixo. O que a salvara era uma bolsa velha de senhora. Ninguém na rua. Neste particular. . normalmente. com alça partida. Rubem Braga) c) Ocorrem casos em que o narrador é classificado como onisciente. falando. Exemplo: «— Is this an elephant? Minha tendência imediata foi responder que não. porque era farrapo só.— 11 — a) Quando o narrador participa do enredo.» (Aula de Inglês. ela suportava. Exemplo: «Na rua vazia as pedras vibravam de calor — a cabeça da menina flamejava. animizada. é personagem atuante. vestido numa camisa de algodãozinho encardido. O DISCURSO DIRETO constitui a técnica do diálogo. Eram um alto e um baixo. ser ruiva era uma revolta involuntária. pelo fato de dominar o lado psíquico de seus personagens. Exemplo: «Os dois cabras se aproximaram sem que ele pressentisse. O grosso na mão trazia um couro de cabra. diz-se que é narrador-personagem ou participante. nem salvou ao menos. mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. apertando-a contra os joelhos. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. ainda pingando sangue. Segurava-a com um amor conjugal já habituado. apressar-se-á a fazê-lo desabrochar e terá prazer em escrever. Foi ter com o marido. disse-lhe que estava com desejos. grande número de idéias. fica.. quando tiver reunido e posto em ordem todos os pensamentos essenciais ao seu assunto. (Graciliano Ramos) Dissertação Dissertar é tratar com desenvolvimento um ponto doutrinário. na defesa de princípios. proporcionando um movimento interno da fala. buscando objetivos precisos. Ou seja: Dissertar é expor idéias em torno de um problema qualquer. que lembrança! Olhou a mulher. Portanto: a dissertação exige reflexão e seleção de idéias. achando a frase extravagante. Para reforçar esta necessidade. o monólogo interior. Botou as mãos na cabeça e a boca no mundo: — Nossa senhora. não sabendo por onde começar a escrever.— 12 — «. estar plenamente senhor do seu assunto.. Observe o fragmento: «Sinhá Vitória falou assim. pela seqüência lógica das idéias. Mas. um tema abstrato. portanto. 2. nada o obriga a preferir umas às outras. Evarista ficou aterrada. na tomada de posições. meu patrãozinho me mata!» (Fernando Sabino) que o envolvem. vale a pena transcrevermos algumas linhas de Buffon: «É pela ausência de plano. «D. perplexo. e como não as comparou. pela coerência na exposição delas.» (Machado de Assis) 3. quando refletidas e expressas. O DISCURSO INDIRETO LIVRE é uma mescla do discurso direto com o indireto. A redação expositiva ou dissertação implica uma estrutura organizada em etapas que focalizem o assunto a partir de uma técnica determinada. é preciso. Para escrever bem. Consiste na exposição de um assunto. Entrevê. no esclarecimento das verdades . um assunto genérico. mas Fabiano franziu a testa. desconfiado. pois. Aves matarem bois e cavalos. quando tiver esboçado um plano. ao mesmo tempo. que um homem de talento se sente embaraçado. Exige que se monte um plano de desenvolvimento. impedindo a fala da personagem. é preciso refletir bem nele. Caracteriza-se a dissertação pela análise objetiva de um assunto. O DISCURSO INDIRETO caracterizase pelo emprego da subordinação sintática. nem subordinou. sentirá o ponto de maturação da produção do espírito. é por não ter refletido bastante sobre o assunto. julgou que ela estivesse tresvariando». na discussão da problemática que nele reside. entendê-lo e relacioná-lo a alguma situação conhecida. desde as primeiras redações primárias até as colegiais. viagens. sobretudo. mais do que nunca. b) anotar as idéias (argumentos favoráveis e contrários) que conseguir sobre o tema. Ela não participa. e) rascunhar a dissertação a partir do tema. de reflexões sobre algum assunto. o criticar situações. As orações reduzidas de infinitivo. O discutir assuntos. Normalmente os vestibulares pedem que se disserte em 25 ou 30 linhas. A juventude. Isto é. alienou-se em páramos de um mundo sem problemas. domínio das estruturas sintáticas mais elaboradas. o assunto deve ser criteriosamente distribuído. Resumindo: É uma seqüência de juízos. correlação. não escreve. E. pela necessidade de se incentivar a criatividade. a partir do que estabelece uma opinião. particípio e gerúndio constituem excelente material. cultura apreciável e. por último. de considerações. Convém certo domínio de conhecimento do assunto.. A sermos coerentes. as paráfrases fazem-se presentes também. o desenvolvimento — parte em que de se discute a proposta e. o propor soluções sempre o foram muito distantes de nossa realidade. ⇒ Este é o tipo de redação pedido (ou esperado) pela maioria dos vestibulares do Brasil ou dos Concursos Públicos. d) fazer um rol do vocabulário (elenco de palavras) que se refere ao assunto. uma cadeia. foi a Narração. hoje. a conclusão — em que se toma posição relativamente à proposta. e. excursões. Para quem vai fazer uma dissertação é importante: a) examinar o tema. por isso. passeios. a redação preferida. paramos aí... passamos do infantil ao trágico. A dissertação baseia-se em três partes fundamentais: Introdução — parte em que se apresenta o assunto a ser questionado. seguimos. com rápida introdução em que podem aparecer dados históricos.. enfim.— 13 — para ver claramente a ordem dos pensamentos e formular deles uma seqüência. do período composto por subordinação.. . ela não reage. em matéria de redação. infelizmente. por caminhos que a nossa imaginação e potencialidades nos levaram e.. quando o faz. ela não sente. o que nos faz sugerir parágrafos de 5 ou 6 linhas. c) decidir a posição (favorável ou contrária) que vai defender. ela não discute. é necessário entre os parágrafos. normalmente não entende. o verossímil. opiniões gerais. Contamos sobre piqueniques... contamos o real. o imaginário. no máximo. em que cada ponto representa uma idéia». já atacando os contrários e enaltecendo os favoráveis. O marco divisório entre os dois mundos. portanto. pré-requisito que exige a participação imediata e fecunda da vontade nacional. a ordem dos argumentos. com a posição que está defendendo. h) revisar o texto: — eliminando o que for supérfluo ou ineficaz. começando pelos mais simples. se necessário. encaminha as soluções permanentes concebidas em nível de magnitude. mola mestra deste impulso irresistível. é modernizada dia a dia a fim de suprir as novas necessidades que se multiplicam. se preciso. A educação. um mesmo. de regência. à vista dos argumentos. de pontuação. lembrando-se de que nenhum examidor gostaria de ter de decifrar a letra. NASCEM OS HOMENS IGUAIS Nascem os homens iguais. por . Muitas nações subdesenvolvidas já despertaram para a ampla semeadura educacional. 23/11/69) Exemplos de dissertação Os meios de comunicação de massa devem alterar. defronta quase sempre a falta de organização e os condicionamentos superados. quando o influxo reformista vence barreiras e busca implantar-se. g) concluir o trabalho. É ela que. E. 1. nas próximas duas ou três décadas. não fazem falta). Terá de ser encarada com imaginação e empenho. — corrigindo os erros de concordância. uma boa parte da fisionomia do mundo civilizado e das relações entre os homens e povos. (Jornal do Brasil. O fato de pensar-se na educação como meio de desenvolvimento já constitui um sistema de desenvolvimento. Nem todas. o que avança destemido e o que marca passo no círculo de giz de suas estruturas arcaicas e tradicionais. ao produzir tecnologia. os conserva. frases que pouco dizem (e que. que ele já não se satisfaz em contemplar. modificá-lo.— 14 — f ) apresentar os argumentos. porém. i) rever o texto. analisando-o como supõe que o examinador o analisará e. como repetições. lograram ainda preencher o hiato entre o desejo e a vontade de se desenvolverem. e também os debilita. e acaba. impermeável às mudanças. Por isso mesmo. igual princípio os anima. adaptando o homem contemporâneo ao chamado das estrelas. é. O hiato persiste sob a forma de uma mentalidade rançosa. Só a esperança não basta. é a matéria-prima prioritária. — alterando. de ortografia. é preciso a consciência. j) passar a limpo. Somos organizados pela mesma forma. sem dúvida nenhuma. o elemento deflagrador do progresso rápido. de acentuação. a educação. uma atitude para o desenvolvimento. Reflexões Sobre a vaidade dos homens. Essa transparente região a todos abraça. que recebem nosso primeiro grito. para todos é o mesmo. a todos sustenta a terra. Para todos nasce o Sol. o solo pátrio recebe os nossos primeiros passos. Haveria somente um homem em quem palpitasse coração tão seco. tão enregelado e sem vida de Sentimentos: o homem que não amasse o lugar de seu nascimento. todos acham nos elementos um patrimônio comum. São Paulo: Saraiva.) pre. ed. quando sentiam aproximar-se a hora da sua morte. e para o uso dele todos têm igual direito. livre. o silêncio da noite anuncia a todos o descanso. descrevendo em magníficos versos uma floresta do seu país. e de um país imenso a pátria de cada membro dessa família. e do fogo. Mas. As idéias grandes e generosas dilatam o horizonte da pátria. e um giro sucessivo entre o gosto. Apud Oliveira. 9. as leis. o governo. p. as qualidades da água. Essa redação tem por finalidade básica instruir e/ou convencer o lei- 2. marcada pela presença do raciocínio e da Iógica universal — quando o assunto for abordado e discutido de maneira genérica. deixem-me dizer assim. A PÁTRIA Um célebre poeta polaco. Depois dos pais. Coração sem amor é um campo árido. O tempo que insensivelmente corre. que de outros. a religião. a todos se comunicam.— 15 — isso estamos sujeitos às mesmas vaidades. ao discutir um assunto. com idéias e posicionamentos que pudessem ser aceitos por todos. ou seja pela ordem da natureza. a alegria. ou por uma maioria. os costumes. a grande não pode fazer olvidar a pequena pátria.. e se distribui em anos. a língua. o país. todos achamos no mundo as mesmas partes essenciais. para todos se compõe do mesmo número de instantes. todos respiram o ar. meses e horas.) Objetividade x Subjetividade Ao expor um problema. e indefectível. a aversão. ou seja pela ordem da sua mesma instituição. ou discursos morais sobre os efeitos da vaidade. você pode agir de duas maneiras: objetiva ou subjetivamente. as aspirações fazem de uma nação uma grande família. imaginou que as aves e os animais ali nascidos. voavam ou corriam e vinham todos expirar à sombra das árvores do bosque imenso onde tinham nascido. O amor da pátria não pode ser explicado por mais bela e delicada imagem. ou sem- . a dor. que é duplo dar. 287. a tristeza. 6. 1953. ed. Objetivamente. Flor do Lácio. dessa árvore que se chama a nação. Cleófano de. Rio de Janeiro: José Olympio. cheio de Espinhos e sem uma única flor que nele se abra e amenize. e o amor? (Matias Aires. a aurora a todos desperta para o trabalho. se por acaso longe se achavam. (Joaquim Manuel Macedo. Que cousa é a vida para todos mais do que um enleio de vaidades. quase sempre. O mundo não foi feito mais em benefício de uns. p. é um duplo receber. se a exposição do assunto se apresentar impessoal. 1961. não há quem não sinta que a raiz é a família e o berço a pátria. 117-8. que deve estar próximo da subjetividade. na exposição das idéias. As idéias e o modo de se analisar e enfocar os problemas são pessoais. Subjetivamente. executa o milenar movimento de repelir a mosca. ele é «gente como nós». por meio dos seus subtipos. aliás é o normal. sua participação no trabalho. É perfeitamente possível. sua maneira pessoal. que beatitude! Deixar o mato crescer — mas o próprio mato foge à obrigação. antes de tudo. baseamo-nos essencialmente em nossas opiniões. não saberíamos identificá-las. ⇒ Observação: Nem sempre a descrição. em seu calado conhecimento da vida. chifres cumprimentando-se sem ruído. deixando transparecer. e goza o domingo. — EU. e bicho nenhum é tão mineiro quanto o boi. O ideal seria que se unissem num só os dois modelos. que dentro de uma surjam aspectos das outras. outras deitadas. algumas reses em pé. apontar defeitos: afinal. um tom confessional. particular de ver e encarar as coisas. aparentemente recolhidos. e boi nenhum se fez tão mineiro quanto esse. Não acontecer nada. e ruminam não sei que novelas de boi. De um modo geral. o mais das vezes. Exemplos: Texto Subjetivo «Nunca será tão domingo como aqui. procura-se. idéias efervescentes de características emotivas que pudessem tocar o leitor. por exemplo. pois. mas. Parece um só boi espalhado.. derrubando-o do seu papel tirano de riscar. Com o pincel do rabo. Lá estão o touro zebu e seu harém de nobres e modestas vacas — porque o zebu alia à majestade indiana a placidez das Minas. pontilhado de emoções e sentimentalismos: verbo na 1ª pessoa do sing. caso predominem. corrigir. para fazê-lo. somos todos. se assim não o fosse. suas próprias opiniões. maginando. malgrado se conservem sempre a essência e as particularidades de cada uma. sei que não o pratica pelo prazer de abanar-se. mas a colocação disso tudo dentro da redação deve ser impessoal: verbo na 3ª pessoa ou na 1ª do plural — afinal. bois solitários.. escrevendo. e domingos e domingas de eternidade se concentram em vigorosa dominicalização. no nosso modo particular de ver as coisas. ela deve ser evitada por aproximar-se demasiadamente da narração. ou fitam o carro que levanta poeira sobre a poeira habitual. O seu entrosamento é normal. no nosso pensar em relação aos fatos.» (Carlos Drummond de Andrade) Texto Objetivo «As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia: tudo pago adi- . Esta modalidade depende essencialmente do tema dado. O rebanho amontoa-se em círculos. num tom impessoal. Daí que. angariar a simpatia do leitor com relação ao exposto. que se postam junto a árvores. Na redação subjetiva. a narração e a dissertação aparecem em «estado puro». como a crônica. Nós não sou eu. Mas há bois esparsos.— 16 — tor. Normalmente um ou dois períodos. mesmo que (ou até obrigatoriamente às vezes) tenhamos de usar as suas palavras. A introdução corresponde à tese. portanto. Graças à abundância da água que lá havia. deve atraí-lo. os argumentos. ou parte delas. um canto onde coubesse um colchão. nada Ihe acrescentando. E. surgia uma nuvem de pretendentes a disputá-los. evitando-se divagações inúteis. sobretudo. . Sua parte principal. Enfim. não havendo desta forma repetição. O tópico frasal pode se apresentar de várias formas: uma declaração. I. a concorrência às tinas não se fez esperar. O corpo sempre há de ser maior que a cabeça e os pés. pois. As moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada para lavar. acudiram lavadeiras de todos os pontos da cidade. não pode ser longa.. deve ser objetiva e simpática. O desenvolvimento vem a ser o debate da tese.» (Aluísio Azevedo) Ela é muito importante. metendo a água. quinhentos réis. Introdução Introduzir significa «levar para dentro». uma divisão. como em nenhuma outra parte. o importante é falarmos no tema da redação. conduzimo-nos para dentro do tema.. e graças ao muito espaço de que se dispunha no cortiço para estender a roupa. é preciso ser o mais objetivo possível. uma redação deve constar de três partes: I II III — — — Introdução Desenvolvimento Conclusão II. como repetir o que ainda não foi dito? As partes da redação — Estrutura Classicamente. Ao desenvolvê-lo. a originalidade.. analisando detidamente as idéias e exemplificando de maneira rica e suficiente o pensamento. despertar-lhe o interesse. A introdução apresenta a idéia que vai ser discutida (tópico frasal). do assunto. sabão à parte. uma citação. Lembre-se: a redação começa na linha (1) e não no tema ou no título. mal vagava uma das casinhas. Sob pena de termos uma aberração!. ou um quarto. Sendo o contato inicial do leitor com o texto. Desenvolvimento É o corpo da redação. E. Na introdução. uma pergunta. na introdução. entre elas algumas vindas de bem longe.— 17 — antado. Assim. É a parte mais longa. É aqui que aparecem as idéias.. O preço de cada tina. Apresenta cada um dos argumentos ordenadamente. somente um parágrafo (ao contrário da introdução. E nisso está o seu valor. resultam confusos. o «fecho». A conclusão não deve ser muito longa. pode ter mais do que um período). mesmo sendo poucas. a exemplo da introdução.. A PAZ E A GUERRA «Há ideologias que pressupõem seja o homem um ser naturalmente inclinado à guerra. quais as idéias. É a nossa posição em face de um problema qualquer. e os comentários — ao final — sobre cada uma delas. o desenvolvimento deve ocupar um ou dois parágrafos (com vários períodos dentro deles). também não se pode acabá-la de súbito. O importante é que.— 18 — O desenvolvimento será a parte mais longa da redação. quando não se faz uma seleção de idéias prévia. normalmente. E isso é o que acontece. Nas redações com número de linhas entre 20 e 25. a princípio. pode ser imprevisto e absolutamente desligado daquilo para que se vem conduzindo o leitor. essencialmente agressivo. A conclusão resume todas as idéias apresentadas e discutidas no desenvolvimento. o número de parágrafos no desenvolvimento gira em torno de 3 ou 4.. com suas partes respectivas. Não se deve cansar o leitor com um milhão de argumentos diferentes. a sua solução. É próprio para a narração. tomando uma posição sobre o problema apresentado na introdução. E. Portanto. se não se deve iniciar «abruptamente» a redação. retirada da melhor idéia que achamos ter no momento da reflexão inicial sobre o tema. ⇒ Observação: Principalmente nos contos e nas crônicas. . aos temas abstratos. com certeza. É claro que isso não cabe às dissertações. aquilo que e sobre o que você vai escrever». mas não necessariamente a mais confusa. Bem se diz: «só comece a escrever depois que você souber. Não há necessidade de muitas idéias (e normalmente nem espaço para isso). e deve ocupar. a conclusão. Nas redações entre 15 e 18 linhas. E VERIFICAR! Veja a seguir um exemplo de dissertação. Conclusão É o acabamento da redação. as idéias sejam correta e objetivamente expostas. Ela é. ou a projeção futura de conseqüências que advirão caso não sejam tomadas as medidas que achamos necessárias (e que devem ter sido citadas no desenvolvimento da redação). fatalmente. Exemplo: PARA LER. nem com períodos longos e maçantes que. São idéias fundamentadas na teoria III. quando não se sabe o que escrever antes de começar a escrever. é a comprovação da tese levantada na Introdução e discutida no desenvolvimento. também. complicada e ininteligível. Ao aproximar-se da conclusão do trabalho. não é a natureza do homem. baixo nível de luta animal» (segundo parágrafo). o autor sintetiza a idéia-núcleo desenvolvida no decorrer da dissertação. nos conceitos de luta pela existência. O homem e a evolução) Comentários: Notamos que o assunto se desenvolve em torno de uma idéia-núcleo que está expressa no trecho: «No entanto. estará preparado para assegurar seu próprio bemestar à custa do próximo. não há solução para tais dificuldades. contudo. e o assunto é encerrado de forma taxativa e enfática. mas também ao mais baixo nível de luta animal. o autor prepara o seu término com um retorno às idéias da introdução (três últimas linhas do quarto parágrafo). Enquanto se mantiverem as condições atuais. em crises de desemprego. o homem é naturalmente agressivo e deve competir para viver. em apuros financeiros e num fracasso quanto à utilização dos recursos do mundo da maneira mais completa e eficiente. A luta competitiva não deixará sobreviventes. estas concepções são completamente contrárias à tendência evolucionária humana.» (John Lewis.— 19 — da evolução. Se o colocarmos em condições de trabalho realmente humanas. Fora de uma atitude mútua de colaboração social e da produção voltada e planejada para o consumo. o autor confirma e justifica os princípios expostos em sua tese. Nos parágrafos seguintes (segundo e terceiro). só pode acabar em contenda social. . o homem sentir-se-á agressivo. Esta idéia-núcleo traduz o pensamento geral do autor em face da problemática sugerida pelo título. No entanto. tendo em vista o bem comum.. sua natureza tornar-se-á mais humana. Nem mesmo os carnívoros se alimentam uns dos outros. que retrocede não só até a evolução em nível animal. mais cooperativa. Esta. seu futuro será a guerra e a destruição. como o homem competitivo devora os rivais.. sairá vencedor o mais forte e o mais importante. expressa no parágrafo final. Mesmo que se limite a uma guerra econômica. utilizando o recurso dos exemplos (quatro últimas linhas do terceiro parágrafo) que reforcem a idéia assumida no decorrer da sua argumentação e apresentando soluções aos impasses que denuncia (quatro primeiras linhas do quarto parágrafo). Se fracassarmos neste propósito. e seu futuro estará assegurado. além de lançar uma idéia discordante daquela apresentada na introdução (primeiro parágrafo). Nenhum futuro evolucionário espera o homem que segue este caminho. b) Desta competição. em que o mais forte ocupa as altas posições econômicas e políticas. Na etapa conclusiva. O esquema de idéias desta dissertação poderia ter seguido o roteiro que passaremos a apresentar: I — Introdução: a) Segundo a teoria da evolução. e sim a natureza do homem em nível subumano. O visual ⇒ estética Quando. A ênfase consiste no fato de a idéia-núcleo estar colocada em lugar de destaque. nem redundâncias. tais como as expressões «no entanto». Qualidades básicas da redação Unidade + Coerência + Ênfase Observando o estilo da dissertação anterior. o rosto lambuzado. o nariz a escorrer. de sujeira. «homem competitivo devora os rivais» (segundo parágrafo). todas completando e enriquecendo a idéia-núcleo. certamente! . o cheio de bolor e gordura a envergonharem seu desodorante. A ênfase à idéia principal é conseguida por meio do uso de expressões fortes e eloqüentes. ocupando um parágrafo inteiro e aparecer reforçada em subidéias no final do segundo e quarto parágrafos. A coerência reside na associação e correlação de idéias dentro do período e de um parágrafo a outro. e totalmente destacada da conclusão. tais como «nível animal». A unidade reside no fato de que o autor se fixou em uma só idéia central no decorrer de sua argumentação. você a encontra na mais completa confusão. ligando as idéias dentro do período. c) A única solução: colaboração social e produção voltada e planejada para o consumo. e conjunções. o homem retrocede ao mais baixo nível animal. «nível subumano». qual a sensação que tem? — De desleixo. b) A competição entre os homens acabará por destruir a civilização e as possibilidades de progresso. sujeira por todos os lados: os pratos de não sei quantos almoços disputando lugares com as panelas. veremos que ela apresenta as três qualidades necessárias a um bom texto escrito: unidade. as crianças com roupas sujas. Não houve pormenores desnecessários. o que pode atestar o esquema anteriormente traçado. em todos os parágrafos as idéias se sucedem em ordem seqüente e lógica. III — Conclusão: a) O futuro do homem assegurado: condições realmente humanas de trabalho. «a guerra e a destruição» (último parágrafo) e muitas outras igualmente enfáticas. ligando parágrafos. A conexão Montagem da redação I. entre as palavras é feita pela organização do pensamento no que se refere ao conteúdo e pelas partículas de transição que unem as idéias. «contudo». coerência e ênfase. b) Perdurando a atual situação: o homem destruir-se-á.— 20 — II — Desenvolvimento: a) Na luta competitiva. ao entrar na casa de alguém. ficar para o jantar. deixe uma duas ou três linhas ou espaço equivalente. Pode até sentir o suco gástrico manifestando-se apesar de ter devorado suculenta refeição há bem pouco tempo. com exceção do primeiro. ⇒ Observação: Estes três primeiros itens se referem aos vestibulares que solicitam que o vestibulando dê um título para a sua Redação. todos. preposição etc. enfim. Estes são os elementos que compõem a estética da redação. pegar ao colo uma criança? — Seguramente não! E. Os temas de redação normais não levam ponto final. 3) Entre o título e o contexto. conjunções etc.. A redação começa na linha um. A linha do título e as duas (ou três) linhas que se deixam em branco antes do primeiro parágrafo não devem ser contadas. como preposições. ou nas folhas de redação que não estejam previamente numeradas. pois constituem o visual prático da estrutura redacional. Com a redação também é assim! O impacto (bom ou mau) que nos causa é muito importante. ou seja. entretanto. apontando as três partes obrigatórias num texto dissertativo: a introdução. 4) Os parágrafos devem adentrar à linha uns dois centímetros e iniciaremse. o ar agradável a lembrar-lhe a sua própria casa.— 21 — Sentirá acaso vontade de ali permanecer. o desenvolvimento e a conclusão. concorrendo para um melhor visual e correção: 1) Título/Tema a) Todas as iniciais do título. menos das palavras de pouca extensão. São fundamentais à redação. E não há beleza onde não houver ordem e limpeza. Lembre-se: o BELO é um padrão nato e instintivo em nós. à mesma altura. A MISSÃO SOCIAL DO ADVOGADO A VIDA NO PLANETA DOS MACACOS ⇒ Observação: Coloca-se o título apenas nas folhas de redação em que ele não esteja previamente grafado. seja ela artigo. a coisa muda de figura se a casa visitada é asseada. artigos. em se tratando de frase ou citação somente. causa-lhe «boa impressão». devem ser maiúsculas: A Missão Social do Advogado A Vida no Planeta dos Macacos Ou b) Maiúscula inicial apenas na primeira palavra. 2) Use ponto final nos títulos. no primeiro parágrafo. A missão social do advogado A vida no planeta dos macacos Ou c) Todas as palavras com maiúsculas (letra de forma). . as crianças cuidadosas com a roupa e o trato. Letra feia. a rasura na versão definitiva não pode ser explicada nem perdoada. em redação. estas as qualidades da redação: . 6) Não rasurar a redação. A maioria quase que absoluta dos vestibulares oferece oportunidade e lugar para se fazer a redação. a saída é o treinamento de caligrafia (aliás. Os demais parágrafos (os do desenvolvimento) devem ter vários períodos. ou o fez. E não é necessário chegar-se a extremos para que se caracterize a ilegibilidade. mas por representar a própria redação. o máximo depende da quantidade de linhas pedidas. ainda que em diversos períodos. Porém. Nas redações dissertativas. e são estas qualidades que vão fazer com que algumas poucas se diferenciem da maioria. A realidade é que a ilegibilidade é item anulatório da redação. que se unem por um mesmo fio de ligação lógica devem ficar no mesmo parágrafo. São. preliminarmente. ou o aluno não fez rascunho (e isso é imperdoável).— 22 — O número de parágrafos é variável conforme a extensão exigida para a redação. ou menos dois. A redação suja. por melhor que se apresentem o conteúdo e a correção. toda vez que se mudar o fio do raciocínio. são necessárias a releitura e a adivinhação? Para os que têm letra feia. Portanto. A legibilidade é o item a que todos os vestibulares fazem referência específica: alguns poucos especificam também o tipo de letra. mas para quem possui letra feia) ou a letra de forma. Lado interno ⇒ correção Ao se compor uma redação. no rascunho. II. vários pontos finais. As idéias que se relacionam mais intimamente. sempre que se passe para uma nova idéia que não tenha relação tão íntima com a anterior. De que adianta alguém escrever bem. 5) Separar as diferentes idéias em parágrafos distintos. este caderno não é para crianças. exatamente. mas não aprendeu ainda nem a fazer o primário trabalho de cópia. para ser entendida. Ele é negativo na sua essência. escrever substanciosa. Apenas o parágrafo inicial pode ser constituído por um período (ou dois) somente. como muitos pensam. no exato momento do seu aparecimento. o número de redações ascende aos milhares. O borrão não possui um valor de perda específico: não vale menos um. é pecado. deve-se iniciar linha nova. guardando-lhes a devida conexão. novo parágrafo. Sugere-se que os parágrafos contenham em torno de cinco linhas cada. devem ser levadas em consideração as qualidades básicas que a habitam e a distinguem das redações normais. borrada dará ao avaliador uma primeira impressão negativa. estilística e semanticamente com letra que ninguém entenda? Ou ainda com letra que. portanto. Assim sendo. o mínimo obrigatório é de três parágrafos. 7) Letra é importantíssimo! Não apenas pelo visual simpático de uma caligrafia. que dificilmente será apagada. No vestibular. Escreva idéias simples em períodos simples. interpretação de textos. Quais são os piores erros? Vamos lá: a) de concordância: Esse negócio de sujeito no plural e o verbo no singular é dose! Portanto. «FAZER» etc. muito cuidado! Procure o sujeito de cada verbo e veja se há correspondência. mas também pelo conhecimento de fatos gramaticais que ordenam. Para que serve a Gramática? — Exatamente para ensinar-nos a escrever corretamente! Você tem de pôr em prática aquelas regrinhas todas!. que pesam mais na avaliação de uma redação. na oração que você escreveu. Sobretudo tenha cuidado quando. portanto curtos. cuide da regência. E para errar concordância nada melhor do que fazer períodos longos ou utilizar a ordem inversa. — «LHE» só para objeto indireto ou com valor de possessivo. adequada e harmoniosa.). ofício etc. b) de regência: Se você usar verbo de regência problemática (aqueles que você estudou. disciplinam e sistematizam nossa língua. alcançada não só por meio de recursos (leitura. 1. A norma é: — «O» só para objeto direto (com verbo transitivo direto). O problema mais freqüente de regência em uma redação ou carta. unidade.. verbos impessoais como «HAVER». O estilo na redação é representado pela clareza. querer etc.. Forma + Conteúdo Para redigirmos bem. ênfase e coerência que devemos imprimir aos recursos lingüísticos que traduzam nossos pensamento. Há aqueles que deixam o avaliador de tal forma indisposto que. Outros elementos são importantes na expressão escrita e dizem respeito também ao estilo. «eu o quero muito bem». São aqueles que influem decisivamente na elaboração de uma linguagem escrita correta. é necessário que aliemos à criatividade ou análise de um assunto a correção e adequação de linguagem. «ele assistiu o filme». não o use. . É preciso saber expressá-la com acerto e propriedade. vocabulário. Se você não tem certeza da regência de um verbo. A correção É a ausência de erros. conhecimento de tipos de composição). Conseguese com a observância das normas da Gramática.1) correção 2) clareza 3) concisão 4) originalidade 5) elegância 6) coesão } — 23 — Há erros.. ocorre partícula «SE». Estes aspectos já foram referidos anteriormente em nosso trabalho. Substitua-o por sinônimo. como assistir. diz respeito ao emprego das formas oblíquas «O» e «LHE». no entanto. Não basta elaborar uma idéia importante.. CUIDADO: Nada de: «ele Ihe viu». não se admite. quando. c) Empregar a palavra precisa: só empregue palavras simples. coloque-as de modo coerente. estes são de domínio público e de dívida ativa: custam caro! 2. se. José.: «José mandou dizer a Pedro que só trataria daquele negócio no seu escritório». na sua redação. bem. de cujo significado você tem certeza. b) Frases curtas: períodos longos fatalmente resultam confusos. que é a possibilidade de mais de um sentido em uma oração. Não queira esnobar porque o esnobado poderá ser você! d) Evitar a ambigüidade. também é verdade que não se tolerarão os exageros dos modernistas eufóricos. exigem oblíquo antes do verbo! — Jamais coloque o oblíquo depois de particípio: Vocês tinham levantadose mais cedo. Se você não sabe escrever uma palavra.) d) de grafia: Erro ortográfico. ou no de Pedro? Isso é ambigüidade. Assim: — Nunca comece oração com oblíquo átono: Me levaram dali para um lugar escuro e misterioso. mas. Quem escreve (como quem fala) deve fazer-se entendido da melhor maneira possível... Ex. cumpre: a) Para escrever claro é preciso pensar claro. coloque outra da qual você tenha certeza da grafia. reúna idéias. xegar». porque. Para obter-se clareza. nunca. Clareza é qualidade. além da concisão. que. — Depois de vírgula (ou qualquer outra pontuação) não se deve colocar pronome oblíquo (a não ser que sejam vírgulas de encaixe. como por exemplo: Nunca. A clareza Consiste na transmissão mais compreensível do pensamento. obscuridade. para que etc. A concisão concorre muito para a clareza. pêcego. Te deram o recado? etc. mesmo nos piores momentos.. nos seus erros. Antes de começar a escrever.. — Lembre-se de que não. enquanto.. talvêz. lhe pedimos ajuda. defeito. sobretudo em palavras comuns. E escrever «exepicional» em vez de «excepcional» é sem comentários. EVITE-A! Troque-a por sinônimo! E cuidado com os acentos gráficos! ⇒ Lembre-se: em caso de dúvida. Afinal. No escritório de quem? No dele. Coisas do tipo de «ãncia. Só comece a escrever depois que você souber o que vai escrever! Daí a importância de um esquema e do rascunho.. .— 24 — c) de colocação: Se é verdade que este tópico não precisa chegar ao requinte. quem manda é você. de uso cotidiano. medite sobre o tema. não use a palavra. Dentro. Nós batemos três vezes. No texto seguinte. Tens toda razão. poderemos cair na redundância. Pode revelar-se tanto nas idéias como nas expressões. O excesso de concisão redunda em obscuridade e desarmonia. sem grandes preocupações com a concisão. 4. .— 25 — 3. o texto fica conciso e ganha vigor.... fatos ou opiniões de modo pessoal. A originalidade Consiste em apresentar os aspectos. me aconteceu. ao lugar-comum. e algo sensacional.: Tu tens toda a razão. ao «clichê»: aquilo que todo mundo diz. não se pode exigir originalidade. isto sim. que é a repetição inútil e erro imperdoável. só se considera qualidade aquilo que não prejudica as demais qualidades. Dentro não havia ninguém. muitas vezes. ninguém. Em um texto. Escrever como se fala é cometer uma série de erros. está a criatividade. Na originalidade. «Em uma certa noite eu saí de minha casa para dar um giro para espairecer. empregam-se apenas as palavras que são indispensáveis à compreensão da mensagem. Portanto. Para isso o fundamental é escrevermos diferençados do linguajar comum. Idéias originais são idéias próprias?!. que eu não esperava. Ex. Se não recorremos à elipse.» De grande valia para obter-se a concisão é a figura da ELIPSE: omissão de palavras facilmente subentendíveis. Vejam vocês que eu não tinha nenhum plano traçado. devemos submetê-lo a rigoroso crivo analítico. o que vem destacado pode sair. A concisão Consiste no expressar os aspectos. exige-se. por conta da correção. cortando tudo aquilo que não faça falta nem imprima vigor. fatos ou opiniões com o menor número de frases ou palavras. Batemos três vezes. Mais uma vez aparece aqui a necessidade do rascunho. Em saindo.. Mas quem é original? O que pensamos ou o que dizemos que outro antes de nós não tenha dito ou pensado? Certamente que a originalidade pertence aos gênios. que fuja ao vulgar. sem imitação de processos ou particularidades alheios. defeito. prolixidade. Será original aquele que escrever corretamente . Fui até à casa de um amigo meu. daí que a originalidade no vestibular fica. o que não é indispensável constitui prolixidade. realmente. Pronto o rascunho. De um estudante. Devemos escrever segundo o fluxo de idéias que nos vêm à mente. Naturalmente. Concisão é qualidade. Esta tomada de posição se concretiza com o lançamento no papel dos tópicos de exposição. é necessário um momento de reflexão em torno dele e da disposição que daremos às idéias a serem utilizadas. problemas de forma.. interpolações e alterações. Desenvolvimento e Conclusão é o último estágio do esquema. adaptado. das idéias a serem desenvolvidas. ao estilo individual de cada um. desta forma. a feitura da Redação. basta o cuidado com o visual da redação. Obs. abrangência: cada um deve possuir o seu próprio «modelo de ESQUEMA». Tendo o aluno o plano ou roteiro de idéias. a letra bonita. 6. Para os vestibulandos. porque o conteúdo.) e observando se há relações de sentido entre as frases. para a redação propriamente dita. A limpeza. E como se faz um texto coeso? Usandose corretamente os instrumentos da língua (usar artigos e pronomes que concordem com os nomes a que se referem. que unidas entre si transmitem de modo claro uma informação. O esquema auxilia e encaminha o trabalho. ou seja: Unidade. ampliado. atendendo. A disposição ordenada das idéias em Introdução. então. do esquema passa-se ao rascunho. Para isso. ou seja. os parágrafos. protótipo que deverá ser conseguido a partir do treino e da prática. uma mensagem. damos como sugestão um modelo de ESQUEMA. uma opinião. um esquema. Enfrentará. A coesão Um texto coeso é aquele em que as partes se relacionam entre si de modo claro e adequado. A seguir. é necessário traçar de antemão um plano. por meio de frases completas e parágrafos bem distribuídos. criando um todo com sentido. As qualidades essenciais desse plano devem ser as mesmas utilizadas para . que pode ser captado pelo leitor. chega a uma forma definitiva. passada pelo crivo analítico. isso é elegância em redação. e esta. suas tendências. Pelo uso. Vamos deixar isso para os grandes escritores e para as meninas. por meio de expressões rápidas e abreviadamente indicativas. poderá dar início a um rascunho. sempre sujeito a reduções. É um ponto de referência. enfoques pessoais. Coerência e Ênfase.. deverá ser modificado. as idéias foram selecionadas e ordenadas no esquema. no qual vai expressar. Assim. articuladas entre si.: Reveja o texto «A paz e a guerra» e seus comentários.— 26 — 5. Montagem dos esquemas Seleção e organização das idéias na redação Uma vez determinado o assunto sobre o qual iremos escrever. deste. A elegância Exigir elegância na redação de um vestibulando já é pedir demais. observadas as diversas qualidades para a sua elaboração. o assunto que se propõe desenvolver. combinar os tempos verbais de modo lógico etc. ... Síntese..... Causas.... 12.................. . 14... .. O quê? Matéria tratada ⇒ assunto ⇒ tema ⇒ ponto de vista ⇒ TESE.... 6... definições etc..... Conclusão........ Soluções.......... ...... 13.............. 4.... Prós: argumentos a favor....... Deve delimitar bem seu objetivo: qual é a tese ou o ponto de vista que quer expor ou defender? De que ângulo. Para quê? Objetivo — finalidade.. estará definindo o tema de seu texto.. Como ele pode comportar-se? 1. terá muitas outras idéias.. sugestões de atividades que podem ajudar na criação de mensagens dissertativas: Imagine um vestibulando que tenha de fazer um texto sobre o menor abandonado. Observação: perspectivas........... Anota suas idéias sobre o assunto.... Poderá anotá-las...... testemunhos.. Circunstâncias: como? de que maneira? 7... 10.. pode pesquisar sobre o assunto: buscar dados estatísticos...... Conseqüências...... 2........ 11... DESENV.— 27 — Modelo de esquema INTROD. 9.... de que perspectiva quer tratar o assunto? Respondendo a essas perguntas........... 3.. Dissertação: como proceder? Não há uma receita (ou um método... 2... Pode resumir o que pretende: O que quero dizer sobre o menor abandonado pode ser resumido na frase: ..... Analogias = comparações.. Análise: situação atual.... 5............. 4.... Contras: argumentos contrários............. { { { 1................. .. 8. então..... Por quê? Razão — objetivo.. Ao fim dessa pesquisa............... CONCL... Se suas idéias são poucas........ 3............. ou uma técnica) que seja recurso infalível na produção de textos dissertativos..... Apresentamos..... ilustrações. A seleção dos programas e a aceitação popular. A situação atual da televisão brasileira. O despertar das nações subdesenvolvidas para o progresso pela educação. Exemplos de esquemas 1. d. 2. «A vontade prova-se na ação» (José Ingenieros) — é preciso a consciência da renovação cultural. Ele deve lembrar-se de que pode valer-se de muitos recursos. O nível dos programas e o nível cultural do povo brasileiro. aquelas que estão estreitamente ligadas ao tema que escolheu. Educação X estruturas arcaicas e tradicionais. comprovar. decomposição etc. b. Ao escolher algum(ns) desse(s) recurso(s). oposição ou contraste. Desenvolvimento: a. Esse conteúdo busca uma expressão. A televisão educativa. A participação do governo nas promoções e reformas educacionais. . Conclusão: a. Os programas de televisão e o patrocínio comercial. certamente terá novas idéias. Tecnologia e progresso. Ele deverá estudar agora um plano para seu trabalho. ou delimitadoras. ilustrar. testemunhos. ou subordinadas). b. Serão as idéias centrais (ou nucleares. definições. realçar a(s) idéia(s) básica(s). d. O vestibulando dispõe então de um conteúdo. isto é. Serão as idéias de apoio (ou secundárias. Título: «A Televisão no Brasil» Introdução: a. A importância da televisão na formação de uma mentalidade nacional. no trabalho de organização de seu texto: analogia. Título: «Educação e Modernidade» Introdução: a.— 28 — Ele tem uma lista de idéias anotadas: destas idéias pode destacar a(s) mais importante(s). c. ele está organizando o conteúdo de seu texto. Dados históricos da televisão brasileira. Fazendo isso. Qual será a disposição de suas idéias nesse plano? Um texto dissertativo — o vestibulando sabe — pode ter um plano definido em três grandes linhas: • INTRODUÇÃO • DESENVOLVIMENTO • CONCLUSÃO b. Conclusão: a. c. Outras idéias que ele tenha sobre o assunto: verificará se pode valer-se delas para justificar. ou básicas). para tornar-se texto. Modernização da Educação: adaptação do homem ao mundo contemporâneo. Desenvolvimento: a. O inocente lago defendia-se assim. da floresta. O apelo do mundo moderno à preservação das áreas verdes. grandes núcleos habitacionais. as montanhas. Sua beleza era selvagem como uma crise aguda e suas águas viviam permanentemente em estado comatoso. refletindo-se nas respeitosas e desde já agradecidas águas do lago. que.. O BUROCRATA Prezado Sr. ciente de sua participação na paisagem. 3. pedia deferimento respeitosamente para a floresta. b. c. que nestes termos se estendia por todo o vale. A poluição do ar. legitimamente. como um bisturi. No alto. Conclusão: a. com suas togas de neve revestindo o cimo. e. desembargava suas árvores pelos arredores sem nenhuma apelação. O MÉDICO Aquele lago me deixou um diagnóstico. cortava a superfície das águas escarlatinadas pelo mercúrio que cobria todo o céu no pôrdo-sol. Desenvolvimento: a. O porquê do desaparecimento das áreas verdes. Desaparecimento de praças e parques: crianças em apartamentos. b. Título: «Áreas Verdes» Introdução: a. falta ar. quando olhei para o céu. que à revelia. vi nuvens que seguiam anexas atenciosamente por sobre o monte abaixo-assinalado. O ADVOGADO Aquelas águas meritíssimas se espraiavam delituosamente pelas margens. imobiliárias.— 29 — b. A humanidade corrigindo seus próprios erros: a tentativa de preservação e recriação do que está sendo destruído. crescimento populacional. escritórios. Descontraia O estilo de cada um Várias pessoas descrevendo um lago. d. Os problemas de saúde. Tensão e neurose: falta espaço. O vento. O protesto: campanhas. acampamentos: a «volta ao natural». falta beleza. É preciso reformar a mentalidade avessa às mudanças. segundo suas profissões: . edifícios por toda a parte. Escrever difícil. 2. Mostrar que é «o bom». exatamente. o que pensamos. Complicar. mais chuchu beleza da paróquia. Os grandes sábios são simples. o inferno de mais um ano de espera! 1. . Criticar a Universidade. O INTELECTUAL Não sei se por um fenômeno de aculturação. As «grandes notas» vêm de redações simples. se conhecemos. sacou? O vento transava pela cuca das árvores no baratino mais legal. aquele lago se inseria perfeitamente no contexto da natureza circundante e marginal. . ou se por um processo de amadurecimento. As coisas realmente boas e valiosas são simples. Esse negócio de «meter a lenha» não dá pontos. dando uma conotação existencialista ao pluralismo vegetal que ali estava. Só recorra a um termo menos conhecido se ele se ajustar melhor no texto do que um termo usual. sem indulgências. saídas. é importantíssimo que o candidato não cometa nenhum destes pecados transcritos a seguir. as instituições é proibido. A nossa participação é efetivada. O palavrão. Achei muito válida a inserção das árvores. Não tente neologismos léxicos ou sintáticos. Mandamentos de uma boa redação Ao redigir. curtindo um vale cheio de ervas.— 30 — O «HIPPIE» Entende. * Não queira fazer experimentalismos lingüísticos. Faça a crítica «construtiva»: mostre os erros e aponte soluções. Ser negativista. É a forma de que dispomos para participar do contexto social. era um negócio legal. Nunca! 3. sob pena de padecer. Em tudo há um lado bom. por meio de nossas prováveis soluções. Use apenas palavras comuns. Esnobar. * Não se preocupe em demonstrar cultura e conhecimento excessivos. Sem cair no lugar-comum. as autoridades. Procure descobri-lo. Aquele lago muito na sua. o que achamos. Aponte alternativas. Eles querem saber o nosso posicionamento. 4. Sugira métodos e maneiras de solucionar as dificuldades e as chagas sociais. A maioria dos temas de vestibulares e concursos versam sobre «problemas sociais». . é erro! 7. 13. Não abrevie palavras.. não chores. e entre como transcrição da linguagem de nível coloquialpopular. a maioria tende a sair definindo: A Liberdade é. A infância está perdida.. A Liberdade é. O ponto final (. O emprego de vocábulo que não pertença ao nosso idioma só pode ser feito quando não haja. em português. não vá além de vinte e cinco. 12. Exemplo de eco (defeito): Margarida levou toda a vida para atravessar a avenida. Não escreva demais! No caso de não limitarem o número de linhas. A cedilha no ç. 10. por exemplo. dentro da qual e no decorrer do qual apareça o tema. Cortar o t. a palavra deve vir entre aspas («») ou grifada. monotonamente. que pode fornecer belos efeitos. insuportavelmente. 15. Dado um tema como «A Liberdade». relatar um episódio.). Erro gráfico até no título. O pingo no i.. 18.. Mas a vida não se perdeu». Elas são perigosas. a menos que se trate de abreviações consagradas como por exemplo o «etc. As maiúsculas nos títulos. Há repetições que enfatizam.. É negativo. 11.: «Know-how».. 9. As iniciais de nomes próprios. Eco. maçantemente. A gíria: Via de regra não! A menos que se trate de diálogo. Termo técnico. Evite definições. Use sinônimos. Fora daí. Ex. Escreva-as todas por extenso. É a rima na prosa. Mas fora o caso intencional da ênfase. de uma pobreza de espírito que revoltaria até São Francisco. Estrangeirismo. É sempre melhor criar uma história. Evite repetir palavras. É preciso pôr os pingos nos is!. Exemplo de repetição enfática: «Vamos. repetir revela pobreza vocabular ou desleixo.. o uso da gíria será interpretado como pobreza vocabular. Não o esqueça. O Maneco entrou no boteco e bebeu uns trecos. Denota desleixo. (Carlos Drummond de Andrade. A Rosa do Povo) 19. é terrível! 14.. 17. 6.». 8. A Liberdade é. Se usada. maiúsculas.. A inicial maiúscula de período. Depõe contra você e . . palavra de sentido correspondente..— 31 — 5. Só os artistas têm direito de recorrer a ela... A mocidade está perdida.. 16. porque tinha visto um homem que ela não conhecia. que é a palavra de sentido obsceno. — O embrulho que chutou na calçada.. Não aumente o tamanho da letra para dar impressão de que escreveu bastante. Isso indispõe o avaliador. Dado um limite mínimo (20.. quando a chamaram. — Quando chove. A boca dela. — O embrulho que chutou na calçada furou-lhe o pé. então.. chulo ou ridículo. 20... Também não escreva «de menos». Veja.. é terrível defeito! É preferível poucas linhas bem redigidas a muitas mal escritas. que estava chorando... entre os que iniciam. por exemplo). Pensamento novo. se estamos sem agasalho. . Ou você já viu comandado sem comandante? Veja se entende alguma coisa: — Quando Maria chegou porque tinha visto um homem que ela não conhecia. nem se fala. é prolixidade. Deu para entender? Por que não deu? E agora: — Quando Maria chegou. 23. Não se desculpe dizendo que não escreveu mais porque o tempo foi pouco. É comum. resfriamo-nos. não pode. Letra estilo «bicho-de-pé». — A menina que estava chorando quando a chamaram. não pare nesta linha. Essa conversa de que é a primeira redação. só se vê a linha (de tão pequena). — A menina. período novo.. período novo. 24. resfriamo-nos. Não «encha lingüiça»! À falta de idéias. Oração subordinada sem principal — não diz nada! Não pode! Se há subordinada. Faça um trabalho honesto! 21. se estamos sem agasalho.— 32 — Entendo que o ideal para uma Redação são vinte linhas. desandou a chorar. formada pela junção de sílabas entre as palavras: Aqui ela se disputa todos os dias. Vá adiante uma ou duas linhas. tem de haver principal. — Quando chove. Ninguém vai acreditar!. Fé demais. Não cometa CACOFONIA. misturar no mesmo período idéias que não se completam. O avaliador não vai colocar lente de aumento especialmente para corrigir sua redação. 22. que isso nem sempre significa parágrafo novo! 25. Tome por norma: idéia nova.. pelo menos. foi eleita rainha. entretanto. não fique repetindo a mesma coisa com palavras diferentes! Isso é redundância. às vezes.. sobre como «DESENVOLVER» e «CONCLUIR» um assunto. para que não persistam dúvidas (e como incentivo ao trabalho). deve haver uma principal. cerca de . determinando desta forma o seu insucesso. foram traduzidas por sons que expressavam sentimentos de dor... oito mil homens vivem uma aventura todos os dias. Uma cena descritiva. nas eras mais primitivas.. Depois de tudo o que foi visto.. quebra o gelo das manhãs gaúchas com sua voz cortante e queixosa como o minuano nos pampas. 6. Edifícios altíssimos cobrem os céus cinzentos da grande metrópole. pode ser analisado (ou discutido) a partir das palavras lúcidas de . Uma fumaça densa e ameaçadora empresta a São Paulo o aspecto de fotografias antigas sombreadas pela cor do tempo. filho das madrugadas frias do Sul. Dados retrospectivos. E. habitantes. Exemplo: Será a chamada música popular brasileira verdadeiramente popular e verdadeiramente brasileira? 5.. freqüentam as salas escolares. Exemplo: O jornaleiro. I. Mais tarde. infinito — equivalem a subordinadas.. homens que quase nunca vêem o sol. para alguns alunos. irrealizável. Exemplo: As primeiras manifestações de comunicação humana. O recurso da linguagem figurada. Narrativa de um ato. Exemplo: O assunto do (sobre) . Exemplo: Em Criciúma. quando afirma que «. 8. Dados estatísticos. Uma citação.— 33 — Especialmente. portanto. o que atesta a preocupação das autoridades com o nível de instrução de seus moradores.» . Você pode iniciar um assunto utilizando os seguintes recursos: 1. Exemplo: Em agosto de 1976. São os mineiros. algumas sugestões para «INÍCIOS». Buzinas estridentes atordoam os passantes. tome cuidado com os períodos muito longos: resultam confusos e são propícios a períodos incompletos. faleceu o expresidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Uma pergunta. 4.. É a paisagem tristonha da poluição. Exemplo: Naquela cidade de. os verbos nas formas nominais — gerúndio. particípio. 3.. 2. A aventura do carvão.. no sul de Santa Catarina.. Um dado geográfico precisando um fato. parece-nos que isto deve deixar de ser problema: as orientações e os treinamentos são elementos desinibidores suficientes. é uma tarefa ingrata e. Há alunos que sentem verdadeiro pavor como «como é que eu começo». alegria ou espanto. 7. em cuja gestão foi construída a monumental capital brasileira. Exemplo: O som invade a cidade.. O início da redação Começar a redação. Portanto. Exemplo: Enquanto os grandes salões de alta costura das grandes capitais exibem coleções de vestimentas suntuosas. Exemplo: O artista contemporâneo. concluindo com uma idéia que expresse sua posição em torno da problemática analisada. Uma frase declarativa. alguma referência. é falando sobre ela mesma. podemos utilizar os seguintes recursos: a) citações b) dados estatísticos c) justificativas d) exemplos e) comparações Em se tratando de um assunto polêmico. tem por missão traduzir o mais fielmente possível essa realidade. felizes. a maneira mais simples (de se vencer o tormento) de iniciar uma redação. Mas. Mas todas reunidas compõem uma embarcação que está rumando para um destino definido. sugestiva. 10. Um meio adequado de bem concluir é aquele em que sintetizamos o assunto nos termos em que foi proposto ou questionado na etapa introdutória. em primeiro lugar. certo. O assunto nunca pode ser abandonado em meio à plena discussão dos aspectos que a ele se ligam. humorística. Com idéias contrastantes. daí que nada obsta que. mas apreciá-lo pelas vantagens que pode nos oferecer. Ele já está lá. enfim. ao assunto da redação. tomadas isoladamente. à nossa disposição. surpreendente. Para desenvolver o assunto de uma redação. o aluno deve examinar os prós e os contras que o envolvem. enfática. III. II. Não há que se inventar nada. o título sugerido. outras. Algumas têm sido trágicas. A conclusão pode conter uma idéia pitoresca. sobre o tema dado. o assunto pedido. na introdução. os marginais da sociedade morrem de frio por falta de agasalho. use o modelo de esquema sugerido há pouco. flutuam. Um bom início e uma conclusão bem feita emprestam brilho e interesse ao trabalho. e isso nos faz sentir reconfortados. taxativa. A máquina afundaria. Pontos a ponderar Há certas partes de um navio que. otimistas. diante de um mundo fundamentalmente complexo e agitado. a hélice também. a tese. e de que todos dispõem. . confiantes para prosseguir e persistir. Para treinamento. quando as partes de um navio são colocadas em conjunto. o ponto de vista. Desta forma.— 34 — 9. Assim acontece com as nossas experiências em redação. A conclusão de uma redação deve ser. ⇒ O importante é que na INTRODUÇÃO de uma redação dissertativa apareça o tema. afundariam. apareçam as palavras que compõem o tema/título. não há por temê-lo.