SEMINÁRIO DE TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL PROFª PATRICIA MANESCHY (2012) 1 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR Cipriano Luckesi Nos capítulos anteriores, fizemos um esforço para compreender a relação existente entre Pedagogia e Filosofia, mostrando, de um lado, que pedagogia se delineia a partir de uma posição filosófica definida; e, de outro lado, compreender as perspectivas das relações entre educação e sociedade. Verificamos que são três as tendências que interpretam o papel da educação na sociedade: educação como redenção, educação como reprodução e educação como transformação da sociedade. Neste capítulo, vamos tratar das concepções pedagógicas propriamente ditas, ou seja, vamos abordar as diversas tendências teóricas que pretenderam dar conta da compreensão e da orientação da prática educacional em diversos momentos e circunstâncias da história humana. Desse modo, estaremos aprofundando a compreensão da articulação entre filosofia e educação, que, aqui, atinge o nível da concepção filosófica da educação, que se sedimenta em uma pedagogia. Genericamente, podemos dizer que a perspectiva redentora se traduz pelas pedagogias liberais e a perspectiva transformadora pelas pedagogias progressistas. Essa discussão tem uma importância prática da maior relevância, pois permite a cada professor situar-se teoricamente sobre suas opções, articulando-se e autodefinindo-se. 1 O presente capítulo de autoria de José Carlos Libânco é a reprodução do capítulo 1 "Tendências Pedagógicas na Prática Escolar" - do livro Democratização da escola pública: pedagogia crítico-social dos conteúdos, São Paulo, Loyola, 1985, autorizada pela Editora e pelo autor, aos quais agradecemos. Foram introduzidas modificações na Introdução do capítulo para articulá-lo com o conteúdo deste livro. Para desenvolver a abordagem das tendências pedagógicas utilizamos como critério a posição que cada tendência adota em relação às finalidades sociais da escola. Assim vamos organizar o conjunto das pedagogias em dois grupos, conforme aparece a seguir: l. Pedagogia liberal 1.1 tradicional 1.2 renovada progressivista 1.3 renovada não-diretiva 1.4 tecnicista 2. Pedagogia progressista 2.1 libertadora 2.2 libertária 2.3 crítico-social dos conteúdos É evidente que tanto as tendências quanto suas manifestações não são puras nem mutuamente exclusivas o que, aliás, é a limitação principal de qualquer tentativa de classificação. Em alguns casos as tendências se complementam, em outros, divergem. De qualquer modo, a classificação e sua descrição poderão funcionar como um instrumento de análise para o professor avaliar a sua prática de sala de aula. A exposição das tendências pedagógicas compõe-se de uma caracterização geral das tendências liberal e progressista, seguidas da apresentação das pedagogias que as traduzem e que se manifestam na prática docente. 1. Pedagogia liberal A doutrina liberal apareceu como justificação do sistema capitalista que. sociais e políticas. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes. sua plena realização como pessoa. ela parte das necessidades e interesses individuais necessários para a adaptação ao meio. "democrático". o desenvolvimento econômico pela qualificação da mãode-obra. o essencial não é o conteúdo da realidade. A tendência liberal tecnicista subordina a educação à sociedade. no qual o aluno é educado para atingir. evoluiu para a pedagogia renovada (também denominada escola nova ou ativa). um ensino centrado no aluno e no grupo. "aberto". A pedagogia liberal. A pedagogia liberal sustenta a idéia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais. estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção. igualmente. em duas versões distintas: a renovada progressivista2. entre nós. A educação brasileira. Piaget). sem contradição. com base no conhecimento científico) é o meio eficaz de obter a maximização da produção e garantir um ótimo funcionamento da sociedade. os procedimentos didáticos. pelo próprio esforço. Dessa forma. pela maximização da produção e. na formulação do psicólogo norte-americano Carl Rogers. pois. não externo. nas práticas escolares e no ideário pedagógico de muitos professores. Mas a educação é um processo interno. pelo menos nos últimos cinqüenta anos. de certa forma. ao mesmo 2 . a educação é um recurso tecnológico por excelência. ainda que estes não se dêem conta dessa influência. nas suas formas ora conservadora. Decroly e. mas as técnicas (forma) de descoberta e aplicação. a pedagogia liberal se caracteriza por acentuar o ensino humanístico. entre os quais se destaca Anísio Teixeira (deve-se destacar. por razões de recomposição da hegemonia da burguesia. também a influência de Montessori. A escola renovada propõe um ensino que valorize a auto-educação (o aluno como sujeito do conhecimento). a renovada não-diretiva orientada para os objetivos de auto-realização (desenvolvimento pessoal) e para as relações interpessoais. o que não significou a substituição de uma pela outra. a relação professor-aluno não têm nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito menos com as realidades sociais. Ela "é encarada como um instrumento capaz de promover. das regras impostas. pois ambas conviveram e convivem na prática escolar. também denominada sociedade de classes. é uma manifestação própria desse tipo de sociedade. A tendência liberal renovada acentua. a educação treina (também cientificamente) nos alunos os comportamentos de ajustamento a essas metas. Historicamente. ora renovada. No tecnicismo acredita-se que a realidade contém em si suas próprias leis. bastando aos homens descobri-las e aplicálas. pela redistribuição da renda. o sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais. ao defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais da sociedade. Evidentemente tais tendências se manifestam. concretamente. ou pragmatista. tem sido marcada pelas tendências liberais. a educação liberal iniciou-se com a pedagogia tradicional e. principalmente na forma difundida pelos pioneiros da educação nova. É a predominância da palavra do professor. A tendência liberal renovada apresenta-se. embora difunda a idéia de igualdade de oportunidades. não leva em conta a desigualdade de condições. de acordo com as aptidões individuais. a experiência direta sobre o meio pela atividade. do cultivo exclusivamente intelectual.O termo liberal não tem o sentido de "avançado". portanto. por isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes através do desenvolvimento da cultura individual. tendo como função a preparação de "recursos humanos" (mão-de-obra para a indústria). Os conteúdos. de cultura geral. é a parte da própria experiência humana. A sociedade industrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as metas econômicas. A educação é a vida presente. como costuma ser usado. Na tendência tradicional. A tecnologia (aproveitamento ordenado de recursos. Assim. Utiliza-se basicamente do enfoque sistêmico. razão pela qual a pedagogia tradicional é criticada como intelectualista e. de (org. na repetição de conceitos ou fórmulas na memorização visa disciplinar a mente e formar hábitos. Tanto a exposição quanto a análise são feitas pelo professor. A ênfase nos exercícios. 34. Escola nova. São Paulo.1 Tendência liberal tradicional Papel da escola . Lucília R. é positivo (emulação. A aprendizagem.). assim. às vezes. são determinadas pela sociedade e ordenadas na legislação. é a exposição sistematizada). notas baixas. . demonstração).A idéia de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da criança é acompanhada de uma outra: a de que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto. então. termo usado por AnísioTeixeira para indicar a função da educação numa civilização em mudança. Anísio Teixeira. negativo (punição. como enciclopédica. a fim de que o aluno possa responder às situações novas de forma semelhante às respostas dadas em situações anteriores. observados os seguintes passos: a) preparação do aluno (definição do trabalho.Baseiam-se na exposição verbal da matéria e/ou demostração. Relacionamento professor-aluno . para o que se recorre freqüentemente à coação. Métodos . a disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio. classificações). c) associação (combinação do conhecimento novo com o já conhecido por comparação e abstração). os problemas sociais pertencem à sociedade.São os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados ao aluno como verdades. Os conteúdos são separados da experiência do aluno e das realidades sociais. estabelecida pelo adulto. A transferência da aprendizagem depende do treino. Loyola. e Machado. Acácia A. 3ª ed. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida. O compromisso da escola é com a cultura. As matérias de estudo visam preparar o aluno para a vida. O caminho cultural em direção ao saber é o mesmo para todos os alunos.A atuação da escola consiste na preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. recordação da matéria anterior. despertar interesse). e) aplicação (explicação de fatos adicionais e/ou resoluções de exercícios). 1. trabalhos de casa). b) apresentação (realce de pontos-chaves. valendo pelo valor intelectual.Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. devem ser dados numa progressão lógica. Cr. 3 2 A designação "progressivista" vem de "educação progressiva". sem levar em conta as características próprias de cada idade. Esta tendência inspira-se no filósofo e educador norte-americano John Dewey. Ed. A retenção do material ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação da matéria. da tecnologia educacional e da análise experimental do comportamento. devem procurar o ensino mais profissionalizante. apelos aos pais). tecnicismo e educação compensatória. é indispensável a retenção. "Pedagogia tecnicista". em conseqüência. decorrente do desenvolvimento cientifico (idéia equivalente a "evolução" em biologia). pelo desenvolvimento da ‘consciência política’indispensável à manutenção do Estado autoritário”3. Educação progressiva. exercício de casa) e de prazo mais longo (provas escritas. d) generalização (dos aspectos particulares chega-se ao conceito geral. Pressupostos de aprendizagem . Os programas. às vezes. Guiomar N. os menos capazes devem lutar para superar suas dificuldades e conquistar seu lugar junto aos mais capazes. S. em geral. apenas menos desenvolvida. Caso não consigam. A avaliação se dá por verificações de curto prazo (interrogatórios orais. O esforço é. 3 Kuenzer. Conteúdos de ensino . [1988]. p.tempo. é receptiva e mecânica. In: Mello. desde que se esforcem. Não há lugar privilegiado para o professor. uma forma de instaurar a "vivência democrática" tal qual deve ser a vida em sociedade. assim. Para se garantir um clima harmonioso dentro da sala de aula é indispensável um relacionamento positivo entre professores e alunos. com a ajuda discreta do professor. d) soluções provisórias devem ser incentivadas e ordenadas. 4 1. em larga escala. o quanto possível. sendo o ambiente apenas o meio estimulador.A finalidade da escola é adequar as necessidades individuais ao meio social e. ela deve se organizar de forma a retratar. num processo ativo de construção e reconstrução do objeto. A disciplina surge de uma tomada de consciência dos limites da vida grupal. para isso.Os princípios da pedagogia progressivista vêm sendo difundidos. portanto. Pressupostos de aprendizagem . Na descrição apresentada aqui incluem-se as escolas religiosas ou leigas que adotam uma orientação clássico-humanista ou uma orientação humano-científica. é mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber propriamente dito. antes. participante. acentua-se a importância do trabalho em grupo não apenas como técnica.Como o conhecimento resulta da ação a partir dos interesses e necessidades. Valorizam-se as tentativas experimentais. seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo da criança. as escolas ativas ou novas (Dewey. o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações. nos cursos de licenciatura. É retido o que se incorpora à atividade do aluno pela descoberta pessoal. Trata-se de "aprender a aprender". aluno disciplinado é aquele que é solidário. o estudo do meio natural e social. Os passos básicos do método ativo são: a) colocar o aluno numa situação de experiência que tenha um interesse por si mesma. Conteúdos de ensino . Todo ser dispõe dentro de si mesmo de mecanismos de adaptação progressiva ao meio e de uma conseqüente integração dessas formas de adaptação no comportamento. Na maioria delas. e) deve-se garantir a oportunidade de colocar as soluções à prova. Relacionamento professor-aluno . aprender se torna uma atividade de descoberta. é para dar forma ao raciocínio dela. mas como condição básica do desenvolvimento mental. a vida. o método de solução de problemas. a pesquisa. ou seja.A idéia de "aprender fazendo" está sempre presente.A pedagogia liberal tradicional é viva e atuante em nossas escolas. c) o aluno deve dispor de informações e instruções que lhe permitam pesquisar a descoberta de soluções. A avaliação é fluida e tenta ser eficaz à medida que os esforços e os êxitos são pronta e explicitamente reconhecidos pelo professor. numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente. os conteúdos de ensino são estabelecidos em função de experiências que o sujeito vivencia frente a desafios cognitivos e situações problemáticas. Assim. Dá-se. os interesses do aluno e as exigências sociais. como estímulo à reflexão.Manifestações na prática escolar . a descoberta. b) o problema deve ser desafiante. muito mais valor aos processos mentais e habilidades cognitivas do que a conteúdos organizados racionalmente. é uma auto-aprendizagem. Tal integração se dá por meio de experiências que devem satisfazer. se intervém. Embora os métodos variem. sendo que esta se aproxima mais do modelo de escola predominante em nossa história educacional. Manifestações na prática escolar . Decroly. a fim de determinar sua utilidade para a vida.2 Tendência liberal renovada progressivista Papel da escola . Montessori. e muitos . respeitador das regras do grupo.A motivação depende da força de estimulação do problema e das disposições internas e interesses do aluno. Cousinet e outros) partem sempre de atividades adequadas à natureza do aluno e às etapas do seu desenvolvimento. ao mesmo tempo. À escola cabe suprir as experiências que permitam ao aluno educar-se. Método de ensino . Pertencem. prevalecendo quase que exclusivamente o esforço do professor em desenvolver um estilo próprio para facilitar a aprendizagem dos alunos. sua aplicação é reduzidíssima.Acentua-se nesta tendência o papel da escola na formação de atitudes. portanto. as "escolas comunitárias" e mais remotamente (década de 60) a "escola secundária moderna". o que implica estar bem consigo próprio e com seus semelhantes. o método dos centros de interesse de Decroly. Portanto. tudo tem muito pouca importância. não somente por falta de condições objetivas como também porque se choca com uma prática pedagógica basicamente tradicional. como condição para o crescimento pessoal. receptivo e ter plena convicção na capacidade de autodesenvolvimento do estudante. capacidade de ser confiável. Rogers4 considera que o ensino é uma atividade excessivamente valorizada.Os métodos usuais são dispensados. visando formar sua personalidade através da vivência de experiências significativas que lhe permitam desenvolver características inerentes à sua natureza. na verdade mais psicólogo clínico que educador. a uma adequação pessoal ás solicitações do ambiente. as aulas. inibidora da aprendizagem. Rogers explicita algumas das características do professor "facilitador": aceitação da pessoa do aluno. razão pela qual deve estar mais preocupada com os problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Manifestações na prática escolar . é. Métodos de ensino . utilizando técnicas de sensibilização onde os sentimentos de cada um possam ser expostos.3 Tendência liberal renovada não-diretiva Papel da escola . privilegiando-se a autoavaliação.A ênfase que esta tendência põe nos processos de desenvolvimento das relações e da comunicação torna secundária a transmissão de conteúdos. também. a competência na matéria. Todo esforço está em estabelecer um clima favorável a uma mudança dentro do indivíduo. "Ausentar-se" é a melhor forma de respeito e aceitação plena do aluno. Assim. Suas idéias influenciam um número expressivo de educadores e professores. são dispensáveis. Aprender. no entanto.A motivação resulta do desejo de adequação pessoal na busca da auto-realização.Entre nós. quando o sujeito desenvolve o sentimento de que é capaz de agir em termos de atingir suas metas pessoais. portanto um ato interno.professores sofrem sua influência. Os processos de ensino visam mais facilitar aos estudantes os meios para buscarem por si mesmos os conhecimentos que. Toda intervenção é ameaçadora. o que não está envolvido com o "eu" não é retido e nem transferido. o objetivo do trabalho escolar se esgota nos processos de melhor relacionamento interpessoal. face ao propósito de favorecer à pessoa um clima de autodesenvolvimento e realização pessoal. A motivação aumenta. o método de projetos de Dewey. Alguns métodos são adotados em escolas particulares. na versão difundida por Lauro de Oliveira Lima. à tendência progressivista muitas das escolas denominadas "experimentais". é modificar suas próprias percepções. Relacionamento professor-aluno . desenvolve a valorização do "eu". para ele os procedimentos didáticos. como o método Montessori. livros. Sua função restringe-se a ajudar o aluno a se organizar. Conteúdos de ensino . daí que apenas se aprende o que estiver significativamente relacionado com essas percepções. Pressupostos de aprendizagem . Rogers. Resulta que a retenção se dá pela relevância do aprendido em relação ao "eu". sem ameaças. 1. isto é. O professor é um especialista em relações humanas.A pedagogia não-diretiva propõe uma educação centrada no aluno. ao garantir o clima de relacionamento pessoal e autêntico. 5 . Entretanto. a avaliação escolar perde inteiramente o sentido. O resultado de uma boa educação é muito semelhante ao de uma boa terapia. ou seja. isto é. O ensino baseado na psicologia genética de Piaget tem larga aceitação na educação pré-escolar. o inspirador da pedagogia nãodiretiva é C. principalmente orientadores educacionais e psicólogos escolares que se dedicam ao aconselhamento. para tanto. princípios científicos. a tecnologia comportamental. eficientemente. a tecnologia educacional. no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista). a análise experimental do comportamento garantem a objetividade da prática escolar. É matéria de ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e mensurável. 4 Cf. nas técnicas de microensino. 6 1. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos "competentes" para o mercado de trabalho. nos livros didáticos. Basta aplicá-las. Relacionamento professor-aluno . com papéis bem definidos: o professor administra as condições de transmissão da ..São relações estruturadas e objetivas. concepção de aprendizagem como mudança de comportamento. em função de resultados efetivos. b) análise da tarefa de aprendizagem. cientificamente descobertas. procedimentos instrucionais e avaliação. A pesquisa científica. Tal sistema social é regido por leis naturais (há na sociedade a mesma regularidade e as mesmas relações funcionais observáveis entre os fenômenos da natureza). estabelecidos e ordenados numa seqüência lógica e psicológica por especialistas. a escola funciona como modeladora do comportamento humano. mas deve ser restrita aos especialistas. podem-se citar também tendências inspiradas na escola de Summerhill do educador inglês A. avaliação etc. através de técnicas específicas.Consistem nos procedimentos e técnicas necessárias ao arranjo e controle nas condições ambientais que assegurem a transmissão/recepção de informações.. operacionalização de objetivos. da ciência objetiva. assim. objetivas e rápidas. Liberdade para aprender. a "aplicação" é competência do processo educacional comum. c) executar o programa. Métodos de ensino . À educação escolar compete organizar o processo de aquisição de habilidades. nos módulos de ensino. A escola atua.São as informações. A tecnologia educacional é a "aplicação sistemática de princípios científicos comportamentais e tecnológicos a problemas educacionais.Menos recentemente. daí a importância da tecnologia educacional. nos dispositivos audiovisuais etc. multimeios. audiovisuais. transmitindo. uso de procedimentos científicos (instrução programada.Num sistema social harmônico. a principal é conseguir o comportamento adequado pelo controle do ensino. reforçando gradualmente as respostas corretas correspondentes aos objetivos. atitudes e conhecimentos específicos. emprega a ciência da mudança de comportamento. Qualquer sistema instrucional (há uma grande variedade deles) possui três componentes básicos: objetivos instrucionais operacionalizados em comportamentos observáveis e mensuráveis. orgânico e funcional. O material instrucional encontra-se sistematizado nos manuais. utilizando uma metodologia e abordagem sistêmica abrangente"5. Rogers. Conteúdos de ensino . ou seja. eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. através de objetivos instrucionais. Se a primeira tarefa do professor é modelar respostas apropriadas aos objetivos instrucionais. A atividade da "descoberta" é função da educação. úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do sistema social global. As etapas básicas de um processo ensinoaprendizagem são: a) estabelecimento de comportamentos terminais.4 Tendência liberal tecnicista Papel da escola . articulando-se diretamente com o sistema produtivo. Carl. O emprego da tecnologia instrucional na escola pública aparece nas formas de: planejamento em moldes sistêmicos. O essencial da tecnologia educacional é a programação por passos seqüenciais empregada na instrução programada. Neill. leis etc. a fim de ordenar seqüencialmente os passos da instrução. uma vez que os objetivos instrucionais (conteúdos) resultam da aplicação de leis naturais que independem dos que a conhecem ou executam. assim. módulos etc. informações precisas. inclusive a programação de livros didáticos)6. os conteúdos decorrem. Laymert G. o ensino é um processo de condicionamento através do uso de reforçamento das respostas que se quer obter. sustentam 7 . A despeito da máquina oficial. Freitag. 7 Para maiores esclarecimentos. entretanto. emprestado de Snyders9. os marcos de implantação do modelo tecnicista são as leis 5. que é o de garantir a eficácia da transmissão do conhecimento. G. Educação e desenvolvimento social no Brasil entre outros. Estado e Sociedade. Escola. assim como pouco importam as relações afetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensinoaprendizagem. Entre os autores que contribuem para os estudos de aprendizagem destacam-se: Skinner. Manual de tecnologia educacional. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno.cit.decorrem da aplicação do comportamento operante Segundo Skinner. Lígia O. 25. é o estudo científico do comportamento: descobrir as leis naturais que presidem as reações físicas do organismo que aprende. Bárbara.Programa Brasileiro-americano de Auxílio ao Ensino Elementar). antes. procedimentos de avaliação etc. Acácia ª e Machado.S. S. O objetivo da ciência pedagógica. é usado aqui para designar as tendências que. 2. Ou seja. A aplicação da metodologia tecnicista (planejamento. planejamento e tecnologia como ferramenta social. retenção. A.Lucília R. questionamentos são desnecessários. Desregulagens . Pressupostos de aprendizagem . 8 Sobre a introdução da pedagogia tecnicista no Brasil. p.A influência da pedagogia tecnicista remonta à 2ª metade dos anos 50 (PABAEE . Oliveira. Kuenzer. Trata-se de um enfoque diretivo do ensino. a partir da psicologia. o exercício profissional continua mais para uma postura eclética em torno de princípios pedagógicos assentados nas pedagogias tradicional e renovada8. discussões. Entretanto foi introduzida mais efetivamente no final dos anos 60 com o objetivo de adequar o sistema educacional à orientação político-econômica do regime militar: inserir a escola nos modelos de racionalização do sistema de produção capitalista. o comportamento aprendido é uma resposta a estímulos externos.. Ambos são espectadores frente à verdade objetiva. controlados por meio de reforços que ocorrem com a resposta ou após a mesma: "Se a ocorrência de um (comportamento) operante é seguida pela apresentação de um estíimulo (reforçador). 6 Cf. livros didáticos programados. Gagné. Os componentes da aprendizagem .692/71. 5Auricchio.Educação. É quando a orientação escolanovista cede lugar à tendência tecnicista. os sistemas instrucionais visam ao controle do comportamento individual face objetivos preestabelecidos. não há indícios seguros de que os professores da escola pública tenham assimilado a pedagogia tecnicista.47.540/68 e 5. A comunicação professor-aluno tem um sentido exclusivamente técnico. Tecnologia educacional: teorias da instrução.op. não participa da elaboração do programa educacional. aprende e fixa as informações. de modo a que o aluno saia da situação de aprendizagem diferente de como entrou. centrado no controle das condições que cercam o organismo que se comporta. transferência . a fim de aumentar o controle das variáveis que o afetam. cf. Garcia.) não configura uma postura tecnicista do professor. Luis A. O aluno é um indivíduo responsivo. a probabilidade de reforçamento é aumentada". cr. Lígia de O.motivação. Manifestações na prática escolar . Auricchio. J. conforme um sistema instrucional eficiente e efetivo em termos de resultados da aprendizagem. Cunha. Debates. o aluno recebe. que reorganizam o ensino superior e o ensino de 1º e 2º graus. cabendolhe empregar o sistema instrucional previsto. pelo menos no nível de política oficial. Assim. partindo de uma análise crítica das realidades sociais. Pedagogia progressista O termo "progressista". Bloon e Mager7.p..matéria. pelo menos em termos de ideário.As teorias de aprendizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem que aprender é uma questão de modificação do desempenho: o bom ensino depende de organizar eficientemente as condições estimuladoras. Manual de tecnologia educacional. Lisboa. A educação libertadora. 9 Cf. Ed. por outro lado. O importante não é a transmissão de conteúdos específicos. Tanto a educação tradicional.que visa apenas depositar informações sobre o aluno -. que seus pressupostos sejam adotados e aplicados por numerosos professores. dos conteúdos necessários dos quais se parte. a prática educativa somente faz sentido numa prática social junto ao povo. Almedina. diz-se que ela é uma atividade onde professores e alunos.Não é próprio da pedagogia libertadora falar em ensino escolar. Georges. impede que ela seja posta em prática em termos sistemáticos. a valorização da experiência vívida como base da relação educativa e a idéia de autogestão pedagógica. quando se fala na educação em geral.dai ser uma educação crítica10. pois em nada contribuem para desvelar a realidade social de opressão. 2. professores e educadores engajados no ensino escolar vêm adotando pressupostos dessa pedagogia. A transmissão de conteúdos estruturados a partir de fora é considerada como "invasão cultural" ou “depósito de informação’’ porque não emerge do saber popular. Conteúdos de ensino . As versões libertadora e libertária têm em comum o antiautoritarismo. diferentemente das anteriores. Assim. Entretanto. assembléias. acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. votações) do que aos conteúdos de ensino. Evidentemente a pedagogia progressista não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista. já que sua marca é a atuação "não-formal". Pedagogia progressista. Snyders. A tendência da pedagogia crítico-social dos conteúdos propõe uma síntese superadora das pedagogias tradicional e renovada. razão pela qual preferem as modalidades de educação popular "não-formal". O que não tem impedido. são extraídos da problematização da prática de vida dos educandos. cada grupo envolvido na ação pedagógica dispõe em si próprio. a fim de nela atuarem. que reúne os defensores da autogestão pedagógica. nas instituições oficiais. segundo suas próprias palavras.Denominados “temas geradores". Daí porque sua atuação se dê mais a nível da educação extra-escolar. o que. visando a uma transformação . A pedagogia progressista tem-se manifestado em três tendências: a libertadora. ainda que de forma rudimentar. ao contrário. Se forem necessários textos de leitura estes deverão ser redigidos pelos próprios educandos com a orientação do educador”. 8 . antes da transformação da sociedade.são domesticadoras. exercendo aí a articulação entre a transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por parte de um aluno concreto (inserido num contexto de relações sociais). mais conhecida como pedagogia de Paulo Freire. daí ser ela um instrumento de luta dos professores ao lado de outras práticas sociais. dão mais valor ao processo de aprendizagem grupal (participação em discussões. mas despertar uma nova forma da relação com a experiência vivida.1 Tendência progressista libertadora Papel da escola . denominada "bancária" .implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação. questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens. valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na prática social concreta. mediatizados pela realidade que apreendem e da qual extraem o conteúdo de aprendizagem. a crítico-social dos conteúdos que. quanto a educação renovada . Entende a escola como mediação entre o individual e o social. Em nenhum momento o inspirador e mentor da pedagogia libertador Paulo Freire. Em função disso. num sentido de transformação social. deixa de mencionar o caráter essencialmente político de sua pedagogia. atingem um nível de consciência dessa mesma realidade. dessa articulação resulta o saber criticamente reelaborado.que pretenderia uma libertação psicológica individual . Como decorrência. a libertária. Os conteúdos tradicionais são recusados porque cada pessoa. entre educadores e educandos."Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda. Elimina-se. mas também por meio de publicações. seu engajamento na militância política. sem o que a relação pedagógica perde consistência. ao qual se chega pelo processo de compreensão. e problematização da situação . se confunde com a maior parte das experiências do que se denomina "educação popular". aulas expositivas assim como qualquer tipo de verificação direta da aprendizagem. que tem aplicado suas idéias pessoalmente em diversos países. primeiro no Chile. por pressuposto. a autoavaliação feita em termos dos compromissos assumidos com a pratica social. mas não no sentido do professor que se ausenta (como em Rogers). a relação é horizontal. 9 . onde educador e educandos se posicionam como sujeitos do ato de conhecimento. isto é. domesticadoras. através da qual procuramos alcançar. Manifestações na prática escolar .A própria designação de "educação problematizadora" como correlata de educação libertadora revela a força motivadora da aprendizagem. mas do nível crítico de conhecimento. mas que permanece vigilante para assegurar ao grupo um espaço humano para "dizer sua palavra" para se exprimir sem se neutralizar. reflexão e crítica. deve “descer ao nível dos alunos. depois na África.Métodos de ensino . O que o educando transfere. às vezes. adaptando-se às suas características è ao desenvolvimento próprio de cada grupo. O critério de bom relacionamento é a "' total identificação com o povo. até chegar a um nível mais crítico de conhecimento e sua realidade. Entretanto admite-se a avaliação da pratica vivenciada entre educador-educandos no processo de grupo e. como método básico. Entre nós.Codificação-decodificação. uma relação de autêntico diálogo. A motivação se dá a partir da codificação de uma situaçãoproblema. formas essas próprias da "educação bancária". muitos professores vêm tentando colocá-las em prática em todos os graus de ensino formal. da qual se toma distância para analisá-la criticamente. Assim sendo. Deve caminhar "junto". intervir o mínimo indispensável. sempre através da troca de experiência em torno da prática social. Há diversos grupos desta natureza que vêm atuando não somente no nível da prática popular. dispensam um programa previamente estruturado. da situação real vivida pelo educando. embora não se furte. Se nisso consiste o conteúdo do trabalho educativo. por princípio. em termos de conhecimento. Os passos da aprendizagem . com relativa independência em relação às idéias originais da pedagogia libertadora.ou seja. O professor é um animador que.A pedagogia libertadora tem como inspirador e divulgador Paulo Freire.. "Esta análise envolve o exercício da abstração. e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. O que é aprendido não decorre de uma imposição ou memorização. toda relação de autoridade. Pressupostos de aprendizagem . a razão de ser dos fatos". Embora as formulações teóricas de Paulo Freire se restrinjam à educação de adultos ou à educação popular em geral. Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta. Relacionamento professor-aluno . por meio de representações da realidade concreta. sob pena de esta inviabilizar o trabalho de conscientização. aquela em que os sujeitos do ato de conhecer se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido" (. definindo o conteúdo e a dinâmico das atividades.No diálogo. a forma de trabalho educativo é o "grupo de discussão a quem cabe autogerir a aprendizagem. a fornecer uma informação mais sistematizada. trabalhos escritos. de "aproximação de consciências".permitirão aos educandos um esforço de compreensão do "vivido". tem exercido uma influencia expressiva nos movimentos populares e sindicatos e.) "O diálogo engaja ativamente a ambos os sujeitos do ato de conhecer: educador-educando e educando-educador".. quando necessário. portanto. é o que foi incorporado como resposta às situações de opressão . Trata-se de uma "não-diretividade". praticamente. pretende ser uma forma de resistência contra a burocracia como instrumento da ação dominadora do Estado. mas não são exigidas.10 Cf. escolas autogestionários). porque importante é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo grupo. programas. retirando a autonomia11. as atividades e a organização do trabalho no interior da escola (menos a elaboração dos programas e a decisão dos exames que não dependem nem dos docentes. considerar desde o início a ineficácia e a nocividade de todos os métodos à base de obrigações e ameaças". é . A idéia básica é introduzir modificações institucionais. associações etc. Em seguida. ou se retira.). ficando o interesse pedagógico na dependência de suas necessidades ou das do grupo. relações informais entre os alunos. assim. . o conteúdo e o método. "Conhecimento" aqui não é a investigação cognitiva do real. Embora professor e aluno sejam desiguais e diferentes. correlata á primeira.). nada impede que o professor se ponha a serviço do aluno. que os alunos buscarão encontrar as bases mais satisfatórias de sua própria "instituição". aberturas. Outra forma de atuação da pedagogia libertária. Trata-se de "colocar nas mãos dos alunos tudo o que for possível: o conjunto da vida. cooperativas. diversas formas de participação e expressão pela palavra. Relação professor-aluno . mecanismos institucionais de mudança (assembléias. necessária nem indispensavelmente. grupos informais. leve para lá tudo o que aprendeu. a partir dos níveis subalternos que. Pedagogia do Oprimido e Extensão ou comunicação? 10 2. sem impor suas concepções e idéias. em seguida. O progresso da autonomia. à medida que se afirma o indivíduo como produto do social e que o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo. nem dos alunos)". excluída qualquer direção de fora do grupo. A pedagogia libertária.2 Tendência progressista libertária Papel da escola .criar grupos de pessoas com princípios educativos autogestionários (associações. o grupo se organiza de forma mais efetiva e.A pedagogia institucional visa "em primeiro lugar. A autogestão é. Há. no quarto momento. assembléias. especialmente a vivência de mecanismos de participação crítica. ou entra em acordo com o grupo. as matérias de estudo. com base na participação grupal. portanto. uma vez atuando nas instituições "externas". São um instrumento a mais. vão "contaminando" todo o sistema. conselhos. a "pedagogia institucional". No terceiro momento. de modo que todos possam participar de discussões. na forma de autogestão. um sentido expressamente político. Os alunos têm liberdade de trabalhar ou não. resume tanto o objetivo pedagógico quanto o político. isto é. isto é. finalmente. parte para a execução do trabalho. se dá num "crescendo": primeiramente a oportunidade de contatos. Conteúdos de ensino . reuniões.É na vivência grupal. de tal forma que o aluno. transformar a relação professor-aluno no sentido da não-diretividade. para extrair dele um sistema de representações mentais. graças à sua própria iniciativa e sem qualquer forma de poder. eleições. os conteúdos propriamente ditos são os que resultam de necessidades e interesses manifestos pelo grupo e que não são. Assim. o grupo começa a se organizar. Freire.As matérias são colocadas à disposição do aluno. quem quiser fazer outra coisa. na sua modalidade mais conhecida entre nós. sem transformar o aluno em “objeto". Ação cultural como prática de liberdade. Método de ensino .A pedagogia libertária espera que a escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário. Paulo. mas a descoberta de respostas as necessidades e às exigências da vida social. ele se mistura ao grupo para uma reflexão em comum. A escola instituirá. O professor é um orientador e um catalisador. que tudo controla (professores.aproveitando a margem de liberdade do sistema . provas etc. Outras tendências pedagógicas correlatas . a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um bom ensino. 12 Cf. A valorização da escola como instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço que se presta aos interesses populares.3 Tendência progressista “crítico social dos conteúdos” Papel da escola . uma das mediações pela qual o aluno. a dos sociólogos. o experimentado é incorporado e utilizável em situações novas. entre elas. Particularmente significativo é o trabalho de C. ao professor cabe a função de "conselheiro" e. 11 . ser uma ajuda para que o grupo assuma a resposta ou a situação criada. Michel.As formas burocráticas das instituições existentes. Freinet. essa liberdade de decisão tem um sentido bastante claro: se um aluno resolve não participar. permanecendo em silêncio). Snyders. seu silêncio tem um significado educativo que pode. passa de uma experiência inicialmente confusa e fragmentada (sincrética) a uma visão sintética. mas vivos. ao menos em termos de conteúdo. agir dentro dela é também agir no rumo da transformação da sociedade. que tem sido muito estudado entre nós. mas a partir das condições existentes. recusar-se a responder uma pergunta. mais organizada e unificada13. A ênfase na aprendizagem informal. por seu traço de impessoalidade. não deixam de influenciar alguns libertários. mas o grupo tem responsabilidade sobre este fato e vai se colocar a questão. ou seja.. o critério de relevância do saber sistematizado é seu possível uso prático. Embora Neill e Rogers não possam ser considerados progressistas (conforme entendemos aqui). e a negação de toda forma de repressão visam favorecer o desenvolvimento de pessoas mais livres.Se os alunos são livres frente ao professor. Em nenhum momento esses papéis do professor se confundem com o de "modelo". via grupo. Por isso mesmo. comprometem o crescimento pessoal. como Lobrot. já que a própria escola pode contribuir para eliminar a seletividade social e torná-la democrática. a psicanalista. A motivação está. pois supõe-se que o grupo devolva a cada um de seus membros a satisfação de suas aspirações e necessidades.A pedagogia libertária abrange quase todas as tendências antiautoritárias em educação. Pedagogía institucional. não faz sentido qualquer tentativa de avaliação da aprendizagem. Se a escola é parte integrante do todo social. também este o é em relação aos alunos (ele pode. mas de crítica das instituições em favor de um projeto autogestionário. Entre os estudiosos e divulgadores da tendência libertária pode-se citar Maurício Tragtenberg. Entre os estrangeiros devemos citar Vasquez c Oury entre os mais recentes. Ferrer y Guardia entre os mais antigos. No mais. portanto. de instrutormonitor à disposição do grupo. Não conteúdos abstratos. quando o professor se cala diante de uma pergunta. Assim. pela intervenção do professor e por sua própria participação ativa. pois a pedagogia libertária recusa qualquer forma de poder ou autoridade. o faz porque não se sente integrado. existindo inclusive algumas escolas aplicando seu métodol2. Entretanto. a esse respeito. Lobrot. a apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida dos alunos. a função da pedagogia "dos conteúdos" é dar um passo à frente no papel transformador da escola. la escuela hacia la autogestión. concretos e. e também a dos professores progressistas. Para onde vão as pedagogias não-diretivas? 2. Pressupostos de aprendizagem . por exemplo. isto é. apesar da tônica de seus trabalhos não ser propriamente pedagógica. Assim. outras vezes. indissociáveis das realidades sociais.A difusão de conteúdos é a tarefa primordial. no interesse em crescer dentro da vivência grupal. 11 Cf. G. portanto. Somente o vivido. por exemplo. Se o que define uma pedagogia crítica é a consciência de seus condicionantes histórico-sociais. Entendida nesse sentido. a anarquista. a educação é "uma atividade mediadora no seio da prática social global". Essa maneira de conceber os conteúdos do saber não estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popular. ao mesmo tempo. se passa da experiência imediata e desorganizada ao conhecimento sistematematizado. de outro. é preciso que os métodos favoreçam a correspondência dos conteúdos com os interesses dos alunos. progressivamente. de forma indissociável. à sua significação humana e social. cultural) e o sujeito. mas. a consciência dessa prática no sentido de referi-la aos termos do conteúdo proposto.assume o saber como tendo um conteúdo relativamente objetivo. o que não é outra coisa senão a unidade entre a teoria e a prática.A questão dos métodos se subordina à dos conteúdos: se o objetivo é privilegiar a aquisição do saber.Ao admitir um conhecimento relativamente autônomo . Vale dizer: vai-se da ação à compreensão e da compreensão à ação. então. o conhecimento resulta de trocas que se estabelecem na interação entre o meio (natural. em seguida. de um lado. social. incorporados pela humanidade. então a relação pedagógica 12 . é preciso que se liguem. nem do saber espontâneo. de proporcionar elementos de análise crítica que ajudem o aluno a ultrapassar a experiência. ainda que bem ensinados. Conteúdos de ensino . Como sintetiza Snyders. momento em que se dará a "ruptura" em relação à experiência pouco elaborada. até a síntese. como mostramos anteriormente. com a intervenção do professor. Assim. dos elementos novos de análise a serem aplicados criticamente à prática do aluno. fornecendo-lhe um instrumental. depositado a partir de fora. uma aula começa pela constatação da prática real. introduz a possibilidade de uma reavaliação crítica frente a esse conteúdo. Relação professor-aluno . que é o que se critica na pedagogia tradicional e na pedagogia nova. mas uma relação de continuidade em que. investigação ou livre expressão das opiniões. de obter o acesso do aluno aos conteúdos. mas permanentemente reavaliados face às realidades sociais. os estereótipos. Métodos de ensino . nem da sua substituição pela descoberta. pelo professor. de um saber artificial. A postura da pedagogia "dos conteúdos" . Não que a primeira apreensão da realidade seja errada.é a ruptura.Se. sob o risco de se afetar a própria especificidade do saber e até cair-se numa forma de pedagogia ideológica. ligando-os com a experiência concreta dele . sendo o professor o mediador.Em síntese. ao mencionar o papel do professor. mas de uma relação direta com a experiência do aluno. conseguida pelo próprio aluno.a continuidade. na forma de um confronto entre a experiência e a explicação do professor. o mundo adulto e suas contradições. Tal ruptura apenas é possível com a introdução explícita. mas. mas não o inverso. na concepção da pedagogia renovada. como se o saber pudesse ser inventado pela criança. Dessas considerações resulta claro que se pode ir do saber ao engajamento político. por meio da aquisição de conteúdos e da socialização. para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. a atuação da escola consiste na preparação do aluno para.São os conteúdos culturais universais que se constituíram em domínios de conhecimento relativamente autônomos. as pressões difusas da ideologia dominante . que devem ser assimilados e não simplesmente reinventados eles não são fechados e refratários às realidades sociais. e de um saber vinculado às realidades sociais. nem se trata dos métodos dogmáticos de transmissão do saber da pedagogia tradicional. O trabalho docente relaciona a prática vivida pelos alunos com os conteúdos propostos pelo professor. Em outras palavras. havendo. Embora se aceite que os conteúdos são realidades exteriores ao aluno. ou espontânea. trata-se. Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados. Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos conteúdos não partem. e que estes possam reconhecer nos conteúdos o auxílio ao seu esforço de compreensão da realidade (prática social). mas é necessária a ascensão a uma forma de elaboração superior. confrontada com o saber trazido de fora. ou o professor provê a estrutura de que o aluno ainda não dispõe. admite-se o princípio da aprendizagem significativa que supõe. dentro da visão da pedagogia dos conteúdos. O grau de envolvimento na aprendizagem dependa tanto da prontidão e disposição do aluno. 13 . para que o aluno se mobilize para uma participação ativa. Mas esse esforço do professor em orientar. como se eles tivessem uma tendência espontânea a alcançar os objetivos esperados da educação. O adulto tem mais experiência acerca das realidades sociais. entretanto. Ainda que a curto prazo se espere do professor maior conhecimento dos conteúdos de sua matéria e o domínio de formas de transmissão.O conhecimento novo se apóia numa estrutura cognitiva já existente. verificar aquilo que o aluno já sabe. A transferência da aprendizagem se dá a partir do momento da síntese. Não se contentará. tendo consciência inclusive dos contrastes entre sua própria cultura e a do aluno. quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e unificadora. de progredir: é necessária a intervenção do professor para levar o aluno a acreditar nas suas possibilidades. a ir mais longe. Pressupostos de aprendizagem .) "a democratização da sociedade brasileira. pode ampliar sua própria experiência. Ou seja. por que o diálogo adulto-aluno é desigual. visando avançar em termos de uma articulação do político e do pedagógico. Em conseqüência. para que os filhos dos trabalhadores adquiram o desejo de estudar mais. acelerar e disciplinar os métodos de estudo. O professor precisa saber (compreender) o que os alunos dizem ou fazem. o atendimento aos interesses das camadas populares. o aluno se reconhece nos conteúdos e modelos sociais apresentados pelo professor. Aprender. O papel do adulto é insubstituível.Por um esforço próprio. a educação "a serviço da transformação das relações de produção". Evidentemente o papel de mediação exercido em torno da análise dos conteúdos exclui a não-diretividade como forma de orientação do trabalho escolar. antes são tributárias das condições de vida e do meio. Sabemos que as tendências espontâneas e naturais não são “ naturais”´. ou seja. possui conhecimentos e a ele cabe fazer a análise dos conteúdos em confronto com as realidades sociais. quanto do professor e do contexto da sala de aula. tendo em vista (. implica um envolvimento com o estilo de vida dos alunos.. em satisfazer apenas as necessidades e carências. a transformação estrutural da sociedade brasileira"14. Resulta com clareza que o trabalho escolar precisa ser avaliado. participa na busca da verdade. mas como uma comprovação para o aluno de seu progresso em direção a noções mais sistematizadas. como passo inicial.O esforço de elaboração de uma pedagogia “dos conteúdos” está em propor modelos de ensino voltados para a interação conteúdos-realidades sociais. com sua experiência imediata num contexto cultural.. Manifestações na prática escolar . portanto. a aceitação. propor conteúdos e modelos compatíveis com suas experiências vividas.consiste no provimento das condições em que professores e alunos possam colaborar para fazer progredir essas trocas. é desenvolver a capacidade de processar informações e lidar com os estímulos do ambiente. em abrir perspectivas a partir dos conteúdos. assim. A não-diretividade abandona os alunos a seus próprios desejos. sua contribuição "será tanto mais eficaz quanto mais seja capaz de compreender os vínculos de sua prática com a prática social global". buscará despertar outras necessidades. a fim de garantir maior competência técnica. ao confrontá-la com os conteúdos e modelos expressos pelo professor. dispõe de uma formação (ao menos deve dispor) para ensinar. isto é. mas acentua-se também a participação do aluno no processo. o aluno. o aluno precisa compreender o que o professor procura dizer-lhes. aquele como extensão deste. Não são suficientes o amor. exigir o esforço do aluno. não como julgamento definitivo e dogmático do professor. organizando os dados disponíveis da experiência. a prolongar a experiência vivida. 75. p. que levaria a reivindicações sem conteúdo? Representam a as relações não-diretivas as reais condições do mundo social adulto? Seriam capazes de promover a efetiva libertação do homem da sua condição de dominado? Um ponto de vista realista da relação pedagógica não recusa a autoridade pedagógica expressa na sua função de ensinar. a saber que está lidando com uma coletividade e não com indivíduos isolados. são bem-vindas as considerações formuladas pela "dinâmica de grupo". Escola e democracia. ou garantir aos alunos a aquisição de conteúdos. Charlot. Snyders. entre ensino centrado no professor e ensino centrado no estudante. a análise de modelos sociais que vão lhes fornecer instrumentos para lutar por seus direitos? Não serão as relações democráticas no estilo não-diretivo uma forma sutil de adestramento. ao autoritarismo. Representam também as propostas aqui apresentadas os inúmeros professores da rede escolar pública que se ocupam. entre "professor-policial" e "professor-povo”. o cair na ilusão da igualdade professor-aluno. nem um professor ensinando para as paredes. entre métodos diretivos e não-diretivos. A relação pedagógica é uma relação com um grupo e o clima do grupo é essencial na pedagogia. mais do que restringir-se ao malfadado "trabalho em grupo". 14 Saviani. Magistério do 1º. Entretanto. Gìuiomar N. p. Suchodolski. situar o ensino centrado no professor e o ensino centrado no aluno em extremos opostos é quase negar a relação pedagógica porque não há um aluno. a adquirir a confiança dos alunos.. Manacorda e. de. J. Mello.. 120. mas mais remota do educador e escritor russo.Dentro das linhas gerais expostas aqui. de uma pedagogia de conteúdos articulada com a adoção de métodos que garantam a participação do aluno que. além dos autores brasileiros que vem desenvolvendo investigações relevantes. a cidade a sociedade toda. aprendendo sozinho.. Este se manifesta no receio do professor em ver sua autoridade ameaçada. muitas vezes sem saber avançam na democratização do ensino para as camadas populares.. a riqueza da vida em comum. à centralização no papel do professor e à submissão do aluno. 24. Nesse sentido. o respeito aos outros. G. Cury. deixar tudo à livre expressão. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Dermeval. p. de maneira especial. Além do mais. os esforços coletivos. competentemente. criar um clima amigável para alimentar boas relações. Ao adotar tais dicotomias. 13 Cf. que ensinam o professor a relacionar-se com a classe. não se está concluindo pela negação da relação professor-aluno. como se eles fossem sempre imposições dogmáticas e que nada trouxessem de novo. trata-se de encarar o grupo classe como uma coletividade onde são trabalhados modelos de interação como a ajuda mútua. Mas não deve confundir autoridade com autoritarismo. a autonomia nas decisões. amortece-se a presença do professor como mediador pelos conteúdos que explicita. a perceber os conflitos. Evidentemente que ao se advogar a intervenção do professor. Makarenko. Há um confronto do aluno entre sua cultura e a herança cultural da humanidade. Saviani. Dermeval. Entre os autores atuais citamos B. p. 14 2.. e ir ampliando progressivamente essa noção (de coletividade) para a escola. ou grupo de alunos.. 83. Educação e contradição:elementos. .4 Em favor da pedagogia crítico-social dos conteúdos Haverá sempre objeções de que estas considerações levam a posturas antidemocráticas. difundidas por muitos educadores. Carlos R. na falta de consideração para com o aluno ou na imposição do medo como forma de tornar mais cômodo e menos estafante o ato de ensinar. destacandose Demerval Saviani. são incongruentes as dicotomias. podemos citar a experiência pioneira. Por fim. Mas o que será mais democrático: excluir toda forma de direção. Escola e democracia. 3. 1987. verificando que pedagogia caracterizou ou direcionou sua vida escolar. Dermeval. l7ª ed. fazendo uma análise crítica dessa situação. não para se opor aos desejos e necessidades ou a liberdade e autonomia do aluno.São Paulo. mas para ajudá-lo a ultrapassar suas necessidades e criar outras. Cortez/ Autores Associados. Sugestões de temas para dissertação ou discussão em grupo a) Uma análise crítica da sua experiência de escolaridade. E há um professor que intervém. do ponto de vista da orientação pedagógica. para ajudá-lo no seu esforço de distinguir a verdade do erro. Pensamento pedagógico brasileiro. b) Uma opção pedagógica para a sua prática docente. 3. 2.Àtica. c) A direção pedagógica principal presente na prática escolar brasileira. Sugestões bibliográficas para estudos complementares Gadoti. para ganhar autonomia. Moacir. 1988. 15 . ver os capítulos " Escola e democracia I" e "Escola e democracia II". Sã Paulo. para ajudá-lo a compreender as realidades sociais e sua própria experiência.entre seu modo de viver e os modelos sociais desejáveis para um projeto novo de sociedade. SAVIANI. Procedimentos de estudo e ensino 1Questões para estudo e compreensão do texto a) Como se caracteriza a tendência liberal da pedagogia? b) Como se caracteriza cada uma das pedagogias classificadas como liberais? c) Como se define a tendência pedagógica denominada progressista? d) Como se caracteriza cada uma das pedagogias denominadas progressistas? e) Com os critérios estabelecidos que definem tendências pedagógicas e pedagogias. analise sua experiência pessoal de escolaridade.