Livro Técnica de Redação. O Que É Preciso Saber Para Bem Escrever - Lucília Helena do Carmo Garcez

March 31, 2018 | Author: rmds | Category: Writing, Sociology, Learning, Mind, Self-Improvement


Comments



Description

TÉCNICA DE REDAÇÃOO que é preciso saber para bem escrever Lucília Helena do Carmo Garcez Martins Fontes São Paulo 2004 / / Copyright © 2001, Lirraria Mar rins Fontes Editora Ltda., São Paulo, pata a presente edição. l edição abril de 2001 2 edição agosto de 2004 Revisão gráfica Mar ia Luiza Farret Célia Regina Cantargo Produção gráfica Gera/do Ai: es Paginação/Fotolitos Studio 3 Desenvolvimento Editorial Dados beternacionais de Catalogação na Publicação (CW) (Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil) Garcez, Lucília Helena do Carmo Técnica de redação o que é preciso saber para bem escrever / Lucfl/a Helena do Carmo Garcez. — 2 cd. — São Paulo Martins Fontes. 2004. (Ferramentas) Bibliografia. ISBN 85-336-2038-1 1. Redação (L/teratura) 2. Redação técnica!. Título. II. Série. 04-5414 CDD-808.066 Índices para catálogo sistemático: 1. Redação técnica 808.066 2. Textos : Produção: Redação 808.066 Todos os direitos desta edição para a língua portuguesa reservados à Livraria Martinn Fontes Editora Lida, Rua Conselheiro Ramalho, 330 01325-000 São Paulo SP Brasil Tel. (11)3241.3677 Fax (11)3105.6867 e-mail: [email protected] http.’//www.tétartinsfontes.com.br Índice Introdução xiii Capítulo 1 Os mitos que cercam o ato de escrever 1 . — 1. Verdades e mentiras 1 2. Reconsiderando crenças 10 3. Novas atitudes em relação à escrita 11 4. Prática de escrita 11 Capítulo 2— Como escrevemos 13 1. Outras visões acerca do ato de escrever 13 2. A escrita como processo 14 3. Conhecendo melhor o processo de escrita 20 4. Novos procedimentos na escrita 21 5. Prática de escrita 21 Capítulo 3 — A qualidade da leitura 23 l.Oqueéleitura 23 2. Recursos para uma leitura mais produtiva 27 3. Os tipos de leitura e seus objetivos 29 4. Procedimentos estratégicos de leitura 30 5. Conhecendo melhor o processo de leitura 45 6. Prática de leitura 45 Capítulo 4 — Da leitura para a escrita 47 1. O trabalho com a memória 47 2. Resumos, esquemas e paráfrases 49 3. Conservando e reutilizando o que foi lido 59 4. Prática de síntese 59 Capítulo 5 — Decisões preliminares sobre o texto a produzir 61 1. Tomando decisões 61 2. Funções da linguagem 61 3. Decisões em relação às estruturas lingüísticas 72 4. Gênero e tipo de texto 79 5. Decisões orientadoras 84 6. Prática de tomada de decisões 84 Capítulo 6 — A ordem das idéias 87 1. A concepção das idéias 87 2. Das anotações para o texto 94 3. A organização das idéias 97 4. Da concepção à organização das idéias 109 5. Prática de organização 110 Capítulo 7 — O entrelaçamento das idéias 111 1. O tecido aparente do texto lii 2. Mecanismos de coesão textual 112 3. Problemas decorrentes da ausência de coesão 115 4. Entrelaçando as idéias 122 5. Prática de entrelaçamento 123 Capítulo 8 — A reescrita de textos 125 1. A releitura como avaliação para a reescrita 125 2. A impessoalização do texto 127 3. Uso do vocabulário 129 4. Estrutura dos períodos 135 5. A pontuação 136 6. A questão da ortografia 138 7. O uso do sinal indicativo de crase 140 Carta ao leitor 143 Bibliografia comentada de apoio ao aluno 145 Bibliografia para aprofundamento 147 “O escrever n0 tem rim» Scribendi Fedro Fábulas — Para Adriana, Cristina, Fabiana, Gabriel e Ana Flávia. AGRADECIMENTOS A Lígia Cademartori, pela confiança e pelas sugestões; Balthar, pelo estímulo solidário; Maria Luiza Corôa, pela parceria e pelos comentários; e aos professores/alunos, que tanto contribuíram durante estas reflexões. Introdução Produzir textos é uma atividade extremamente necessária tanto na vida escolar como na vida profissional e no dia-a-dia. Entretanto, no meu cotidiano docente, tenho encontrado alunos, jovens e adultos já formados, ansiosos, assustados, desencorajados, e, principalmente, desorientados quanto às habilidades e atitudes necessárias ao convívio mais natural e simples com a escrita. Percebi que muitas dessas posições negativas em relação ao ato de escrever haviam sido lentamente construídas ao longo da história escolar de cada um e que provinham de um desconhecimento da natureza, das especificidades e das exigências da escrita. Estimulada por alunos e colegas, decidi organizar as reflexões desenvolvidas ao longo de muitos anos de trabalho. Não quis produzir um tratado acadêmico acerca de redação, nem um livro didático, no sentido usual desse manual escolar, nem também um livro de exercícios impessoais de treinamento (pois há muitos, e bons, no mercado). Parti, então, das observações anotadas durante cursos e conversas com alunos (professores e futuros professores) da universidade, das minhas pesquisas em lingüística, de meu interesse por depoimentos de escritores, e de minhas próprias experiências como pessoa que escreve. Sempre acreditei que para ensinar a escrever era necessário viver intensamente o desafio da minha própria escrita. Adoto a vertente teórica que vê a língua, não apenas como uma herança social, mas como uma forma de ação, um modo de vida social, uma construção coletiva. A interação verbal e as relações coletivas e sociais constitutivas do jogo da linguagem, como elementos fundamentais que se conjugam na construção da língua, exercem sobre mim um fascínio que dá sentido à existência. Assim, não posso focalizar a produção de textos restrita a um conjunto limitado de regras que podem ser repassadas, memorizadas e aplicadas sem a participação e interferência do sujeito. Esse é o agente de uma ação intencional e estratégica sobre o interlocutor ou sobre o mundo, que constrói realidades e interpretações, numa determinada situação cultural. Procurei, neste livro, desmitificar, desconstruir idéias equivocadas, provocar uma mudança de atitude em relação ao ato de escrever e, conseqüentemente, ao de ler. Não proponho tarefas que se esgotam em si mesmas, mas procuro abrir novos horizontes para uma prática contínua e sempre enriquecedora do universo lingüístico, da auto-estima e da atividade intelectual do leitor. Escrevi este livro para quem está pessoalmente interessado em renovar suas próprias práticas de escrita, mas penso que professores que trabalham com o ensino de redação em qualquer nível são interlocutores bem-vindos às reflexões que proponho. A autora XIV TÉCNICA DE REDAÇÃO Capítulo 1 Os mitos que cercam o ato de escrever 1. Verdades e mentiras apanhei. Para gostar de ler. bloqueados diante da página em branco. bem como alguns professores. 7. coletiva. Voltei a tentar. um ato autônomo. caí. você deve ter cristalizado alguns mitos a respeito da produção de textos. O aprendiz precisa das outras pessoas para começar e para continuar escrevendo. pais. Veiga. Dessa forma. da escrita literária. mas aqui vamos refletir acerca dos mais devastadores. É preciso. 4 ed. Poucas pessoas conseguem escapar de um conjunto equivocado de influências e construir uma relação realmente saudável com o ato de escrever. a importância que o texto escrito tem para nós e para nosso grupo social. nunca foram alfabetizados? José J. Mesmo assim. a vocação ou o dom dependem de muita persistência: Como começou a escrever? Foi um processo demorado. São Paulo: Editora Atica. principalmente porque exige envolvimento pessoal e revelação de características do sujeito. um ato espontâneo que não exige empenho. tendo recebido o dom. Mas é uma batalha curiosa: as derrotas que a gente sofre nela não são derrotas. desligado da leitura. Mas quando a gente joga a toalha. O que vai determinar o nosso grau de familiaridade com a escrita é o modo como aprendemos a escrever. Escrevi uma história. aqui. você é uma exceção. que são os que levam alguém a acreditar que escrever seria um dom que poucas pessoas têm. que têm texto péssimo e que não há formas de melhorar o desempenho na produção de textos. que amadureceu devagar. Conseqüentemente. Quando resolvi experimentar escrever. A escrita é uma construção social. e gostei do resultado. algo desnecessário no mundo moderno. nem sempre as mais adequadas. Animado. nessa batalha permanente. Eu estava descobrindo que ler é milito mais fácil do que escrever. renomado autor brasileiro. compreender que todas as pessoas podem chegar a produzir bons . Embora seja uma das tarefas mais complexas que as pessoas chegam a executar na vida. Vol. escrevi outras e outras histórias. um ato isolado. e muitos passam por etapas semelhantes aos redatores leigos. E o seu caso? Se não for. contribuíram para que crenças.” Essas são algumas das afirmações mais freqüentes entre alunos de cursos de produção de textos. não gostei. fica infeliz.. Consertei.fazer.Durante sua vida escolar. são lições para o futuro. pois até mesmo profissionais maduros demonstram insegurança em relação à própria expressão escrita. tanto na história humana como na história de cada indivíduo. levantei até que um dia escrevi uma história que quando li de cabe ça fria. colegas. a revelação desses gênios só acontece depois do processo de aprendizagem e do convívio intenso com a língua escrita. e desanimei. As atividades escolares e os livros didáticos. A noção de dom. Entretanto. Quais são as falsas crenças. embora polêmica e questionável. a intensidade do convívio estabelecido com o texto escrito e a freqüência com que escrevemos. qual seria o papel da escola? E o que aconteceria com aqueles que. p. ela ficaria apresentável. poderia ser aplicada a alguns poucos gênios da literatura.” “Não recebi esse talento quando nasci. fossem se configurando e se enraizassem. achei que não estava ruim. os mitos mais freqüentes em relação à escrita? Há muitos. vamos usar alguns depoimentos e exemplos de escritores porque neles a luta com as palavras é muito evidente. uma questão que se resolve com algumas “dicas”. são esses fatores que vão definir também nossa maturidade e nosso desempenho na produção de textos. Ninguém nasce escritor e o processo que transforma alguém em um artista da palavra é ainda um enigma. desvinculado das práticas sociais. Caso a escrita fosse um dom inato. E claro que não estamos tratando. 8. muitos jovens crescem pensando que nunca serão bons redatores. com uns consertos aqui e ali. e acaba voltando à luta. 2 TÉCNICA DE REDAÇÃO a) Escrever é uma habilidade que pode ser desenvolvida e não um dom que poucas pessoas têm “Eu não tenho o dom da escrita.” “Não fui escolhido. não consegui da primeira OS MITOS QUE CERCAM O ATO DE ESCREVER vez. 1988. todos podem escrever bem. admitiu que até mesmo o talento. entrega os pontos num assunto que sente que é capaz de. antes de tudo. considere o poema. São muitas. coordenados. eu pouco. Portanto. sem a menor dificuldade. E necessário também identificar bloqueios porventura construídos ao longo da vida escolar e tentar eliminá-los. O que admiramos na literatura é justamente essa especificidade. Para refletir sobre estas questões. Conhecimentos de natureza diversa são acessados para que o texto tome forma. E necessário que o redator utilize simultaneamente seus conhecimentos relativos ao assunto que quer tratar. muitas vezes. Mas lúcido e frio. quando quer pôr aquilo no papel. p. a essência. 1999. cansativo. essa possibilidade de expandir pela palavra escrita emoções. Entanto lutamos mal rompe a manhã. insatisfatório. Folha deS. Escrever é uma das atividades mais complexas que o ser humano pode realizar. que nós. Tiro o bagaço para deixar apenas o que tem peso. Se o fosse. Não é assim. mas mesmo esses testemunham que é um trabalho exigente. A agilidade mental é imprescindível para que todos os aspectos envolvidos na escrita sejam articulados. Eu me vigio muito para não fazer aquilo que em linguagem popular se diz “encher lingüiça “. todos os dias. Eu desbasto o texto. trabalhando. ao gênero adequado. sensações. agora em uma outra entrevista: O senhor é muito conhecido por reescrever incessantemente seus textos. não conseguimos traduzir com propriedade. Então você fica trabalhando. tão substantiva? — É. já clássico. l7jun. Faz rigorosas exigências à memória e ao raciocínio. Veiga. teria poder de encantá-las. Não acompanha o que você quer fazer. tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia .textos. Sempre queremos um texto ainda melhor do que o que chegamos a produzir e poucas vezes conseguimos manter na linguagem escrita todas as sutilezas da percepção original acerca de um fato ou um pensamento. significados. à língua e suas possibilida 3 4 TÉCNICA DE REDAÇÃO des estilísticas. Deixam-se enlaçar. aos possíveis leitores. Aí você descobre que a linguagem é tosca. em que essa relação de necessidade. à situação em que o texto é produzido. amor e conflito em relação às palavras é apresentada de maneira extraordinária: OS MITOS QUE CERCAM O ATO DE ESCREVER O LUTADOR 5 Lutar com palavras é a luta mais vã. tão fortes como o javali. Paulo. Vocé imagina as coisas. harmonizados de forma que o texto seja bem sucedido. e que é. Não me julgo louco. Por que o senhor reescreve? — Epor conta de uma grande insatisfação. frustrante. para chegar o mais próximo possível. principalmente. tem que usar a linguagem. b) Escrever é um ato que exige empenho e trabalho e não um fenômeno espontâneo Muitas pessoas acreditam que aqueles que redigem com desenvoltura executam essa tarefa como quem respira. 8. apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. sem o menor esforço. leigos. São Paulo. Folha Ilustrada. de Carlos Drummond de Andrade. escrever não é fácil e. pensamentos. A tarefa pode ir ficando paulatinamente mais fácil para profissionais que escrevem muito. — Por isso a linguagem do senhor é tão seca. escrever é incompatível com a preguiça. Continuemos com o depoimento de José J. e que isso não é uma questão de ser “ungido” pelos deuses que escolhem os mais talentosos. Algumas. até visualiza. mas. Guardarei sigilo de nosso comércio. Quisera possuir-te neste descampado. O teu rosto belo. ó palavra. é fluido inimigo que me dobra os músculos e ri-se das normas da boa peleja.. Luto corpo a corpo. esta me ofertando seu velho calor. Sem me ouvir deslizam.que as traga de novo ao centro da praça. solerte. Busco persuadi-las. Cerradas as portas. Palavra. Tarnanha paixão e nenhum pecúlio. Carlos Drummond de Andrade e) Escrever exige estudo sério e não é uma competência que se forma com algumas “dicas” A idéia de que algumas indicações e truques rápidos de última hora podem solucionar problemas de produção de tex tos tanto para candidatos a concursos como para profissionais . luto. Entretanto. nenhum travo de zanga ou desgosto. se me desafias. outra seu ciúme. Preferes o amor de uma posse impura e que venha o gozo da maior tontura. O ciclo do dia ora se consuma e o inútil duelo jamais se resolve. a luta prossegue nas ruas do sono. esplende na curva da noite que toda me envolve. Na voz. Mas ai! é o instante de entreabrir os olhos: entre beijo e boca. Não encontro vestes. tudo se evapora. o sutil queixume. outra sua glória feita de mistério. e um sapiente amor me ensina a fruir de cada palavra a essência captada. perpassam levíssimas e viram-me o rosto. outra seu desdém. pressinto que a entrega se consumará. não seguro formas. Ser-lhes-ei escravo de rara humildade. Insisto. luto todo o tempo. sem maior proveito que o da caça ao vento. sem roteiro de unha ou marca de dente nessa pele clara. iludo-me às vezes. Lutar com palavras Parece sem fruto.. Já vejo palavras em coro submisso. Não têm carne e sangue. palavra (digo exasperado). aceito o combate. paradoxalmente. O que é a leitura é o nosso assunto do capítulo 3. Tratamos de forma diferente a sintaxe. não ajudam em nada. relatórios. Há ainda que se considerar que a leitura é uma das formas mais eficientes de acesso à informação. d) Escrer é um prá lica que se aIic. a leitura é um propulsor do desenvolvimento das habilidades cognitivas. É pela leitura que assimilamos as estruturas próprias da língua escrita. Hoje. escrituras. contratos.iia com aprálit. escrever com diversos objetivos escre ver em diversas situações Associadas a muita prática. Uma redação por flês. dependendo do mundo profissional a que pertence. Para nos comunicarmos oralmente apoiam0 nos no contexto. Envolve tantos procedimentos intelectuais e exige tantas operações mentais que o bom leitor adquire maior agilidade de raciocínio. Precisamos de documentos escritos para existir. Por outro lado. E uma ação em que o sujeito se envolve de forma total. realizamos ou dese 7 ‘ . muita reflexão e muita leitura. comprovantes. suas exigências. cédulas. e) Escrever é necessário no mundo moderno Observa-se que o cidadão comum. escrever sobre assuntos diversos. projetos. o vocabulário e a própria organização do discurso. Alguns conseguem mesmo reduzir sua atividade escrita à assinatura de cheques e documentos. escreve muito pouco. diplomas.6 TÉCNICA DE REDAÇÃO que precisam mostrar competência escrita em curtíssimo prazo. alguns exercícios esporádicos de Produção de pequen05 trechos não formam um bom redator. Essas exigências advêm do fato de estarmos nos comunicando a distância. Quando estão isoladas de uma prática intensa.a d !eitur É improvável que um mau leitor chegue a escrever com desenvoltura. temos. sem apoio do contexto ou da expressão facial. iluminadoras. A autoria vem das escolhas pessoais dentro das POSSjbilid des da língua e do gênero. as “dicas” fornecidas a partir de dificuldades reais vivenciadas na produç0 de textos podem ser úteis. propostas. acreditando que prescrever esse procedimento muitas vezes Suficiente para conseguir desempenho mínimo num concurso. E necessário escrever sempre escrever todos os dias. Além de ser imprescindível como instrumento de consolidação dos conhecimentos a respeito da língua e dos tipos de texto. registros. tornando a pessoa mais crítica e mais resistente à dominação ideológica. Portanto este é imprevisível. artificial em que a voz do autor SC anula para dar lugar a clichês chavões. declarações. ser. Escrever bem é o resultado de Um percufSo Coflstijdo de muita prática. tudo está muito automatizado e as relações humanas por intermédio da escrita podem ser reduzidas ao mínimo: o telefone resolve a maior parte dos problemas do cotidiano. é o objetivo da escola Fórmulas pré_fabricadas de textos e “dicas” isoladas apenas Contribuem para a montagem de um texto defeituoso truncado. certificados. É pela convivência com textos escritos de diversos gêneros que vamos incorporando às nossas habilidades um efetivo conhecimento da escrita. recibos. temos a Colaboração do ouvinte Já OS MITOS QUE CERCAM O ATO DE ESCREVER a comunicação escrita tem suas especificidades. o complexo mundo contemporâneo está cada vez mais exigente em relação à escrita. com sua bagagem de conhecimentos e experiências sobre o mundo e sobre a linguagem Não existem esque5 prévios ou roteiros infalíveis que Possam substituir tal envolvimento É a voz do indivíduo que orienta O texto. Seu exercício intenso e constante promove a análise e a reflexão sobre os fenômenos e acontecimentos. tem engan0 e enriquej0 muitos donos de escola e de cursinhos Muitos professores oferecem uma espécie de formu1áro mental do que seria um bom texto para que o estudante preencha as lacunas. comunicados inundam a nossa vida cotidiana. atestados. esclarecedoras. frases feitas e pensamentos alheios. atuar e possuir: certidões. Tudo o que somos. Parabéns! Segundo. Seção Cartas dos Leitores. comunique o que sabe. e não pôde deixar de nos OS MITOS QUE CERCAM O ATO DE ESCREVER 9 informar sobre a população que está morrendo de fome no Brasil. adequado. a redação escolar. desejo. mas não serve para contar uma viagem de férias para os amigos. Os profissionais que dominam essas habilidades mais complexas e sofisticadas têm mais chances no mercado de trabalho. Navegar ou conversar na Internet exige um convívio especial com a escrita. 2. Além disso. o que pensa. Mesmo na informática. A sociedade também é. Brasil! O governo não é o único culpado. Não se escreve por escrever. toda a nossa civilização ocidental é regulada pela escrita. Como vimos no item anterior. medida. Então veio a bomba” sobre nós: 28 milhões de pessoas morrem de fome neste exato momento no Brasil. sempre que nos submetemos a qualquer processo seletivo. pelo menos. 16. isolada. D. Essas práticas de comunicação em sociedade se configuram em gêneros de texto específicos a situações determinadas.8 TÉCNICA DE REDAÇÃO jamos realizar deve estar legitimado pela palavra escrita. Saber escrever é também compartilhar práticas sociais de diversas naturezas que a sociedade vem construindo ao longo de sua história. O professor citou que sua namorada trabalha nas Nações Unidas. tudo é mediado pela escrita. em que acredita. defende e quer compartilhar ou expor ao outro como forma de interação. exigem-se dos homens as habilidades que lhes são exclusivas. Assim. Para cada situação. não pode ser considerada escrita. Os truques podem ajudaros redatores que já estão em meio ao . Todos podem vir a ser bons redatores. Veja o exemplo desta carta enviada ao jornal Correio Braziliense por uma leitora: Primeiro de tudo. mas também para que descubra o que é. incluindo o Brasil. necessidade temos à nossa disposição um acervo de textos apropriados. Essa carta é um exemplo de como a participação pela escrita confere ao indivíduo um novo canal de relacionamento com o mundo. como a produção de textos. Exige muito empenho. J) Escrever é um ato vinculado a práticas sociais Todo ato de escrita pertence a uma prática social. sempre que nos propomos a integrar os órgãos que conformam o sistema da cidadania urbana. na quinta-feira (dia 5). acredita. investigada. Entretanto. em que momento e de que modo 10 TÉCNICA DE REDAÇÃO deve utilizá-lo. escrever não é um ato espontâneo. 1999. A escrita tem um sentido e uma função. o que quer. objetivo. o produtor de texto não apenas tem conhecimentos sobre as configurações dos diversos gêneros. avaliada. E. claro. Vale o escrito. se somos culpados. Brasília. p. Nem sempre as “dicas” oferecidas pelos professores e colegas são suficientes para a elaboração de um texto fluente. por exemplo. Correio Braziliense. podemos agir. Isso me deixou muito irritada. a cada dia mais seletivo. O que antes se resolvia simplesmente com uma ligação telefônica passou a ser substituído por um texto escrito transmitido via fax ou e-mail. Para nós. gostaria de parabenizar o Jornal que é muito bom. gostaria de expor a minha opinião sobre um fator que está acabando com o Brasil nestes últimos anos: a fome. mais do que a população da Argentina. A produção de textos é uma forma de reorganização do pensamento e do universo interior da pessoa. quando começamos a debater a pobreza e a fome nos países. Um relatório é próprio para prestar contas de uma pesquisa científica. desvinculada do que o indivíduo realmente pensa. estamos nos relacionando com os outros e nos constituindo como autores. mas apenas uma forma de demonstração de habilidades gramaticais.é um trabalho duro. mas também sabe quando cada um deles é adequado. vamos tomar uma providêneia séria. Reconsiderando crenças Vimos que escrever não é um dom que apenas algumas pessoas têm. razão por que faço um apelo: por favor. como sujeitos de uma voz. tentar controlar e acabar com essa catástrofe! M. enquanto o trabalho primário vai sendo atribuído às máquinas. vale o escrito. A escrita não é apenas uma oportunidade para que a pessoa mostre. Pelo texto escrito modificamos o nosso contexto e nos modificamos simultaneamente. aqui em Brasilia. para. 10 ago. L. Assim. de uma tarefa profissional. de uma investigação. Pela escrita estamos atuando no mundo. E nossa habilidade de escrever é exigida. Estava no meu curso de inglês. sociólogos. sua escola. 4. Esse diário pode oferecer muitas pistas para sua trajetória de crescimento. pois ela oferece oportunidades de contato intenso com as infinitas possibilidades da língua. Capítulo 2 Como escrevemos 1. para avaliar se as informações estao compreensíveis. neurologistas. QUERER SABER MUITO MAIS. e) Mantenha um caderno de anotações datadas de impressões e reflexões sobre sua relação com o texto escrito. Escreva um texto em primeira pessoa. para um interlocutor imaginário que pode ser um amigo. Estudos de várias áreas do conhecimento nos levam a refletir sobre essas questões: lingüistas. focalizando principalmente as situações de escrita que ficaram gravadas em sua memória. Lembre-se de quando aprendeu a escrever. educadores.. TEXTOS COM SUAS OPINIÕES ACERCA DE ACONTECIMENTOS. seus professores. sobre o que acontece com a mente das pessoas durante o ato de escrever. ACREDITAR QUE VOCÊ PODE ESCREVER BEM. BILHETES. um analista. coloquial. suas experiências. além de desbloquear a mente e desenferrujar a mão. Prática de escrita a) Para desmontar de vez suas crenças inadequadas a respeito de sua relação com a escrita.processo de desenvolvimento da própria produção escrita. um professor. Um dos caminhos mais interessantes para compreender o ato de escrever é considerar os depoimentos de pessoas que escrevem todos os dias. no qual você conta toda a história como se fosse a de uma outra pessoa. OS MITOS QUE CERCAMOATO DE ESCRE VER 11 PARA QUEM GOSTA DE “DICAS” 3. porque podem esclarecer alguns pontos duvidosos ou obscuros da escrita e da organização do texto. com os diversos gêneros e tipos de texto e com as informações e idéias que circulam no nosso universo. vivem de escrever. Observe o depoimento da escritora Lygia Fagundes . como vai transformando seus conceitos acerca da escrita. b) Transforme essa narrativa em um texto em terceira pessoa. expectativas. informal. antropólogos vêem a escrita sob seus diversos aspectos. uma vez que as práticas sociais que estruturam as nossas organizações contemporâneas são mediadas por textos escritos. em tom de depoimento (talvez no formato de carta). CONSIDERAR A ESCRITA COMO UMA HABILIDADE IMPORTANTE PARA O NOSSO SUCESSO PROFISSIONAL. Compreendemos também que a leitura é imprescindível paraque o redator chegue a apresentar um bom desempenho. sobre como as pessoas chegam a ser realmente ótimas redatoras. LER MUITO. RESUMOS DE LEITURAS. ESTÁ MELHORANDO E QUE VAI CHEGAR LÁ IMPULSIONA O APERFEIÇOAMENTO. Dependemos da escrita para existir efetivamente e atuar no mundo. SER AUTOMOTIVADO. DIÁRIO. oferecendo-nos um quadro multifacetado de conhecimentos acerca do fenômeno.. NÃO SE PODE FICAR SATISFEITO COM “DICAS” ISOLADAS E FRAGMENTADAS. Reveja todo o seu percurso escolar e profissional. IR MAIS PROFUNDAMENTE ÀS QUESTÕES. Tente formular uma narrativa que explique ou justifique como foi construída a sua ex12 TÉCNICA DE REDAÇÃO penência de escrita até hoje. sucessos e fracassos escolares e profissionais. mas não funcionam isolados de muito exercício. PROJETOS. suas observações acerca do que escreve diariamente. empreenda uma viagem na memória. LER MELHOR A CADA DIA. seus avanços e retrocessos. LER DIVERSOS TIPOS DE TEXTO. psicólogos. mas ainda é muito pouco diante do que precisamos descobrir. Outras visões acerca do ato de escrever Os pesquisadores já sabem muita coisa sobre a escrita. Novas atitudes em relação à escrita É IMPRESCINDÍVEL: ESCREVER TODOS OS DIAS: ANOTAÇÕES DE AULA. CARTAS. escrevem com desenvoltura. DEIXAR A PREGUIÇA DE LADO E SE ESFORÇAR. colocando-se no lugar do leitor. A escrita é muito necessária no mundo moderno. Releia. RECONHECER QUE PELA ESCRITA PARTICIPAMOS MAIS DO MUNDO. mas tanto soco em vão. regular normas. vendo na tevê um drama de boxe. Acertava às vezes. Poeira. Fiquei vendo a imagem silenciosa do lutador solitário — mas quem podia ajudá-lo? Era a coragem que o sustentava? A vaidade? Simples ambição de riqueza. às vezes seqüenciais. estabelecer um pacto. Luta que requer paciência. Para gostar de ler. Todas essas ações estão profundamente articuladas ao contexto em que se originou e em que acontece a produção do texto. apresentação. reivindicar um direito. É sobre essa base de orientação que o produtor do texto vai coordenar o seu próprio trabalho. é melhor desistir. Me lembro que estava num hotel em Buenos A ires. expressar uma emoção ou sentimento. monitorando-o para que não fuja da rota e desande em outras direções. mas que lhe toma a manhã. Desliguei o som. Sob essa perspectiva. O texto somente se constrói e tem sentido dentro de uma prática social.Telles: Como você definiria o ato de escrever? Uma luta.) E de repente me emocionei: na imagem do lutador de boxe via imagem do escritor no corpo-a-corpo com a palavra.. quem provavelmente vai ler. 2. aplauso? (. o adversário tão ágil. seja para aperfeiçoá-los ou para transformá-los. Humor. Cada pessoa deve descobrir como procede durante a escrita. às vezes simultâneas. Insistindo mas o que mantinha o lutador em pé? Duas vezes beUou a lona. alguém sugeriu que lhe atirassem a toalha. Há também idas e vindas: começa-se uma tarefa e é preciso voltar a uma etapa anterior ou avançar para um aspecto que seria posterior. Humildade. A escrita como processo Um caminho mais científico é a analise das contribuições que a lingüística nos trouxe sobre o ato de escrever. suor. formato. 9. desviando a cara. como disse o poeta. é a razão para escrevê-lo: emitir e defender uma opinião. E a tarde. São Paulo: Editora Atica. 14 TÉCNICA DE REDAÇÃO investindo. quais as condições práticas de produção: tempo. o que mobiliza o indivíduo a começar a escrever um texto é a motivação. PRÁTICA SOCIAL DE ESCRITA CONTEXTO DA PRODUÇÃO DE TEXTO ASSUNTO TEXTO EM PROCESSO DE PRODUÇÃO MOTIVAÇÃO OUJA PRODUZIDO NECESSIDADE ___________________ ________________ IDÉIA DE LEITOR PROCESSAMENTO ESCRITA REESCRITA MEMÓRIA GERAÇÃO VERSÕES RELEITURAS ASSUNTO ORGANIZAÇÃO REVISÕES LÍNGUA GÊNEROS MONITORAÇÃO AVALIAÇÃO CONSTANTE DO PROCESSO Estabelecida a necessidade de escrever. qual o gênero mais adequado aos objetivos. que nível de linguagem deve ser utilizado. Assim. p. 16 TÉCNICA DE REDAÇÃO . Outro possível caminho para entender a escrita é observarmos nossos próprios processos enquanto trabalhamos em um texto. Vol. o fervor acendendo a fresta do olho quase encoberto pela pálpebra inchada. E ele ali. sangue. 7. O produtor já tem imediatamente em mente algumas informações sobre a tarefa: quais os objetivos do texto. narrar uma aventura ou apenas provar que sabe escrever bem para ser aprovado numa seleção. que grau de subjetividade ou de impessoalidade deve ser atingido. chega! Mas ele ia buscar flirças sabe Deus onde e se levantava de novo. Resistindo. 1988. apresentar COMO ESCREVEMOS 15 uma proposta de trabalho. comunicar um fato. para explorar melhor e com mais consciência esses procedimentos. compreende-se que a escrita é uma atividade que envolve várias tarefas. Uma luta que pode ser vã. relatar uma experiência.. o processo de escrita já está desencadeado. Até a noite.. qual é o assunto em linhas gerais. fugidio. 3 cd. ficou só a imagem do lutador já cansado (tantas lutas) e reagindo. Voltava a reagir. a reflexão. reordenar as informações. professor da Univers idade Nacional Autônoma do México. de Bogotá. Roberto Cadavid (Argos). Quando há tempo e paciência estendemos essa tarefa ao infinito. podemos considerar que o texto já está sendo produzido.. Utilizamos a memória durante todo o processo de produção do texto e. Observe quantas pessoas o escritor consultou sobre detalhes importantes para a sua narrativa. Nela estão armazenados os conhecimentos sobre a língua matéria. exemplos. quando ela não tem estoque suficiente para o que desejamos. Nesta etapa as pessoas têm procedimentos diferentes. me fez o favor de pesquisar o sentido e a idade de alguns localismos. escrever a idéia principal e as secundárias em frases isoladas para depois interligá-las. escrevê-lo e reestruturá-lo várias vezes. e estabeleceu para mim que os versos citados de memória por Bolívar eram do poeta equatoriano José Joaquín Olmedo. Observe algumas dessas preferências (na hipótese de produção de um texto informativo) e veja em qual delas você se enquadra: fazer anotações soltas. dominá-las. temos que procurar a informação o conhecimento para enriquecêl Gabriel Garcia Márquez. o raciocínio: para preencher os vazios da memória. desordenadamente. 268-9. Com Francisco Pividal mantive em Havana as vagarosas conversas preliminares que me permitiram formar uma idéia clara sobre o livro que pretendia escrever. Tomadas essas primeiras decisões e providências. pp. Gabriel García Márquez. . para depois cortar e ordenar. Procuramos então relê-lo com olhos não mais de autor. a observação. Para que o autor fique satisfeito com o seu próprio texto. Memória vazia produz texto fraco. se manteve ao alcance do meu telefone para me esclarecer dúvidas maiores e menores. construir um primeiro parágrafo para desbloquear e depois ir desenvolvendo as idéias ali expostas. e ainda os conhecimentos sobre os assuntos e informações que serão tratados no texto. da Academía de Ciências de Cuba. sem substância informativa ou lingüística. A pedido meu. O historiador colombiano Gustavo Vargas. quando escreveu o romance histórico O general em seu labirinto.prima do texto os conhecimentos sobre organização dos diversos tipos de texto. O importante é começar a ter mais consciência de suas próprias estratégias. elaborar um resumo das idéias para depois acrescentar detalhes. Tentamos descobrir o que nosso leitor compreenderia do texto. organizar mentalmente os grandes blocos do texto. já está em processamento. ou tenha um processo pessoal diferente dos que fo L 18 TÉCNICA DE REDAÇÃO ram enumerados acima. Jorge Eduardo Ritter. Nos agradecimen0 ele esclarece: —. — em especial seu linguajar grosso — e sobre o caráter e o destino de seu sé quito. fez vários vôos urgentes só para me trazer alguns dos seus livros inencontráveis Dom Francisco de Abrisqueta. fizeram o inventá rio das noites de lua cheia nos primeiros trinta anos do século passado. pela simples razão de que faltavam vários anos para a manga chegar às Américas. esse trabalho de ajuste é imprescindível. não se satisfez com sua própria memória e contou com diversos colaboradores. Caso você utilize mais de um procedimento para iniciar seu texto. além de uma revisão implacável de dados históricos na versão final A ele devo a advertência providencial de que Bolívar não podia ‘chupar mangas com deleite infantil”. sobre Simon Bolívar. anotar tudo o que vem à mente. embaixador do Panamá na Colômbia e mais tarde chanceler de seu país. E nessa fase de pesquisa que entram a leitura. o geógrafo Gladstone Oliva e o astrônomo Jorge Pérez Doval. Rio de Janeiro: Record. podemos: enfatizar as idéias principais. confusos. elaborar inicialmente uma espécie de sumário ou esquema geral do texto. Você verá nos capítulos 3 e 4 alguns procedimentos para ativar e enriquecer a memória. 1989. ambíguos que merecem reestruturação. conhecê-las. não se preocupe. a análise. independentes.A memória do redator já está acessada em várias vertentes e é um fator importantíssimo na construção do texto. idéias secundárias. mas de leitor. A primeira versão de um texto ainda é muito insatisfatória. fazer uma lista de palavras-chave. sobretudo as relacionadas com as idéias políticas da época. quais são os pontos obscuros. foi um guia obstinado na intrincada e vasta bibliografia bolivariana O ex-presidente Bel isarjo Betancur me esclareceu dúvidas esparsas durante todo um ano de consultas telefônicas. O historiador bolivarjano Vjnjcio Romero Martínez me ajudou de Caracas com achados que me pareciam impossíveis sobre os coslumes particulares de Bolíva. o lingüista mais COMO ESCREVEMOS 17 popular e prestativo da Colômbia. O general em seu labirinto. Nesse momento. eliminar idéias desnecessárias. argumentos. Compreender todo esse mecanismo não é importante 5nzen. criar vínculos entre uma idéia e outra. e num escrutínio encarniçado da linguagem e da ortografia. conceitos. Outros. disciplina atenção paciência O texto não . quando preparam uma nova edição de textos já publicados. Crônicas. Mas é preciso. 7 ed. corrigir problemas gramaticais. Assim aconteceu surpreendermos com a mão na massa um militar que ganhava batalhas antes de nascer. quando o redator focalizava a estruturação das idéias. o ato de escrever é muito dficil e penoso. p. Nosso conhecido escritor Fernando Sabino também trabalha assim: Para mim. Para gostar de ler. ainda. São Paulo: Editora Ática. fazendo ajustes e reajustes em cada aspecto. estabelecer hierarquia entre as idéias. Conhecendo melhor o processo de escrita Vimos como a escrita representa trabalho e exige esforço. especialistas e vão ao extremo de reescrever seus livros mais de dez vezes antes de liberá-los para publicação. 1989. Se o redator foi muito reprimido no processo escolar. ele pára a todo instante para resolver questões gramaticais e corre o risco de perder o fio da meada. Vol. e de prejudicar a fluência. Não devemos pensar numa ordem seqÜenjj rígida como: PLANEJAMENTO> ESCRITA > REVISÃO Pois. até esgotar sete versões. já estamos em plena escrita e. citações. geralmente. intelectuais. 7. quando planejamos. tenho sempre de corrigir e reescrever várias vezes. transformar períodos. substituir palavras ou frases. pontuação. Basta dizer. 1987. Observe o que Gabriel García Márquez relata ao agradecer uma colaboração: Antonio Bolívar Goyanes (. Eles podem ter passado despercebidos. uma viúva que foi para a Europa com seu amado esposo. a continuidade do texto. pode ter se tornado excessivamente autocrítico. voltam a reestruturálos. como exemplo.) teve a bondade de rever comigo os originais. que escrevi 1100 páginas datilografadas para fazer um romance no qual aproveitei pouco mais de 300.. Depois de algumas tentativas. erros e erratas. Quando o produtor do texto tem mais consciência de seus procedimentos mentais tem mais controle sobre eles epode dirigiq05 deforma mais produtiva 3. Quando revisa mos. te para especialistas. 3. Nesse caso. Escritores famosos submetem os originais à leitura prévia de amigos. Gabriel Garcia Márquez. mais obsessivos ainda. O general em seu labirinto.7S.substituir idéias inadequadas. COMO ESCREVEMOS 19 concordância. acrescentar transições entre os parágrafos. p. no sentido de que vanlos e voltamos. unindo-os por meio de conectivos ou separando-os por meio de pontuação. uma última leitura para rastrear problemas em relação à norma culta na superficie do texto (ortografia. regência). repetições.. alcançar maior exatidão para as idéias. muito exigente consigo mesmo desde o início do texto. acentuação. voltamos ao planejamento para reajustájo ou para reajustar o texto ao objetivo inicial O processo é recursivo. 20 TÉCNICA DE REDAÇÃO E Paulo Mendes Campos admirável poeta e cronista da mesma geração de Ferndo Sabino afirmou: Quando escrevo sob encomenda não há milito tempo para corrigir Quando escrevo para mim mesmo costumo ficar corrigindo dias e dls — uma curtição Escrever é estar vivo. consideramos que o texto está pronto. quando escrevemos revisamos simuJtaneent parcelas do texto. — PP. numa caçada milimétrica de contrasensos. eliminar palavras ou frases. Nunca consideram o texto pronto. feitos alguns rascunhos.. é preciso: acrescentar palavras ou frases. quando um deles se encontrava em Caracas e outro em Quito. eliminar incoerências. a direção do raciocínio. acrescentar exemplos. Rio de Janeiro: Record. inconseqüéncias. mudar elementos de lugar. 270. e um almoço íntimo de Bolívar e Sucre em Bogotá. Para isso. reagrupando-os de forma diferente. Prática de escrita a) Escolha um tema para produzir um texto. Não há um modelo único mais correto. AFASTAR O DESÂNIMO SE A PRIMEIRA VERSÃO DO TEXTO NÃO FOR SATISFATÓRIA. b) Periodicamente. o candidato deve abreviar e acelerar as ações. Ou imagine que está respondendo em uma entrevista à questão: Qual é a sua história pessoal com o ato de escrever? Use um gravador de áudio enquanto estiver planejando e escrevendo. Quando terminar o texto ouça o que gravou. E preciso reler identificar problemas e reestruturar muitas vezes até que o texto chegue a corresponder aos objetivos iniciais e Possa cumprir sua função de forma adequada Naturalmente medida que o redator vai melhordo seu desempepj0 esse processo vai ficando mais rápido. Analise seu próprio processo. Grave tudo o que acontece em sua atividade mental consciente. Reconheça quais são os passos que utilizou. Capítulo 3 A qualidade da leitura 1. vamos internalizando as suas estruturas e as suas infinitas possibilidades estilísticas. Nosso convívio com a leitura de textos diversos consolida também a compreensão do funcionamento de cada gênero em cada situação. a leitura é a forma primordial de enriquecimento da memória. faça novo diagnóstico. Além disso. Pela leitura vamos construindo uma intimidade muito grande com a língua escrita. Nossa forma de ler e nossas experiências com textos de outros redatores influenciam de várias maneiras nossos procedimentos de escrita. Tente pensar em voz alta. POIS É UMA PRÁTICA MUITO PRODUTIVA. em que o tempo é limitado. COMPREENDER QUE VÁRIAS RELEITURAS GARANTEM O APERFEIÇOAMENTO DO TEXTO. Ninguém escreve a sua primeira versão e se dá por satisfeito. E preciso conhecer os procedimentos mentais e as habilidades necessárias para a escrita para conseguir aperfeiçoá-las. uma tarefa profissional ou uma atividade livre como uma carta ou um requerimento. Cada indivíduo deve conhecer suas próprias trajetórias e tentar aprimorá-las continuamente. não vem pronto do além para que o redator apenas o transfira para o papel. Reflita acerca de seus procedimentos: Planeja antes de escrever ou durante a escrita? Tem bloqueio ao começar? Relê cada frase antes de continuar ou vai escrevendo para depois reler tudo? Que decisões toma? 22 TÉCNICA DE REDAÇÃO Falta assunto? Tem dificuldade de encontrar palavras adequadas? Tem dificuldade em organizar os períodos? Sabe onde pontuar? Pensa no leitor? Como avalia o texto? Trabalha na revisão? O que pensa que precisa acelerar ou desacelerar? Esse exercício vai ajudá-lo a construir um controle maior sobre seus processos cognitivos. mas não pode eliminá-las ou desprezá-las. Registre com as datas as transformações no seu caderno de anotações pessoais. do senso crítico e do conhecimento sobre os diversos assuntos acerca dos quais se pode escrever. aplicável a todas as pessoas. Pode ser um exercício escolar. MOSTRAR PARA OUTRA PESSOA E ACEITAR SUGESTÕES. 5. CULTIVAR A PACIÊNCIA. a escrita não pode ser considerada desvinculada da leitura.é simplesmente resultado de uma inspiração divina. Novos procedimentos na escrita É NECESSÁRIO: TENTAR CONHECER E ANALISAR O SEU PRÓPRIO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE TEXTO. 4. A leitura é um processo complexo e abrangente de decodflcação de signos e de compreensão e intelecção do . O que é leitura Como vimos. RECONHECER QUE REESCREVER É O PROCESSO NATURAL DE CONSTRUÇÃO DE UM BOM TEXTO. muitas dec sões e procedimentos vão se automatizdo Em situações de con COMO ESCREVEMOS 21 curso. ali. frases. qual é a sua posição no jornalismo de sua época (é um dos mais conceituados e respeitados . se fosse pobre. Correio Braziliense. a sua observação de que é chato ser rico. no seu governo. conversando animadamente com todos à sua volta. no seu quintal! Todas as emoções que um filho de rico só tem em video game o filho de pobre tem ao vivo. sentenças. Brasília. argumentos. No caso. os outros textos de Luís Fernando Veríssimo (sempre de humor e ironia). é um inferno.folheando uma National Geographic de 1950. Lida com a capacidade simbólica e com a habilidade de interação mediada pela palavra. quase em estado natural. Envolve especficamente elementos da linguagem. mas também os da experiência de vida dos indivíduos. Com toda as suas privações. como são. e que isso não é tão ruim assim. rico ainda sabe que vai viver muito mais do que pobre. Esse é o jogo que torna a leitura produtiva. Para compreender adequadamente esse texto. intenções. 24 TÉCNICA DE REDAÇÃO Os procedimentos de leitura podem variar de indivíduo para indivíduo e de objetivo para objetivo. E eu concordo com o presidente. em geral. identificar o tipo de texto e o gênero. E pior. não de brinquedo. e que seu tédio não terá fim. Muitas vezes o pobre constrói sua própria casa. o que é sempre divertido em vez de se chateando daquela maneira. lutando para manter seu lugar. só precisando cuidar para não levar bala. O PRESIDENTE TEM RAZÃO Mais uma vez os adversários pinçam. olhando pela janela. provas formais e informais. as ironias. 1998. Trata-se de nosso conhecimento prévio sobre: a língua os gêneros e os tipos de texto o assunto Eles são muito importantes para a compreensão de um texto. Não precisamos fazer muito esforço para manter a atenção ou para gravar na memória algum item. em todas as formas de leitura. É um trabalho que envolve signos. ações e motivações. exercer sua criatividade e morar num lugar que pode A QUALIDADE DA LEITURA 25 chamar de realmente seu. uma frase do presidente para criticar. Pois eu entendi a intenção do presidente. aqui ou no exterior. à memória e à emoção. cronista críti c que se opõe ao governo em questão). xingando o funcionário que vem avisar que as senhas acabaram e que é preciso voltar amanhã. vamos analisar uma crônica de Luís Fernando Veríssimo. Efe Agá tem razão. Mas. objetivos. perceber os implícitos. Como exemplo. ativar as informações antigas e novas sobre o assunto. deve ter suspirado e pensado que. Ele estava falando para pobres e preocupado em prepará-los para o fato de que não vão ficar menos pobres e podem até ficar mais. o procedimento de leitura é bem espontâneo. Mais de um rico obrigado a esperar dez minutos para ser atendido por um especialista. os seguintes conhecimentos prévios: quem é Veríssimo (um escritor de humor. Ele estaria numa fila de hospital público desde a madrugada. muito do nosso conhecimento prévio é exigido para que haja uma compreensão mais exata do texto. numa 1 alegre promiscuidade que rico só pode invejar. Quando é que um rico terá a mesma oportunidade de mexer assim com o barro da vida.mundo que faz rigorosas exigências ao cérebro. além de outros. da sua autoria. aquilo não estaria acontecendo com ele. pelo menos até ser despejado? Que filho de rico verá um dia sua casa ser arrasada por um trator? Um maravilhoso trator de verdade. É preciso compreender simultaneamente o vocabulário e a organização das frases. ainda mais neste modelo. Ser pobre é muito mais divertido do que ser rico. maliciosamente. e ainda podendo assistir a uma visita teatral do Ministro da Saúde ao hospital. levamos em consideração. Pobre vive amontoado em favelas. com papelão e caixotes. 2 dez. as relações estabelecidas com o nosso mundo real. Quando lemos apenas para nos divertir. ironia] S. focalização da atenção. eu concordo com o presidente Quando comparamos as descrições da forma de vida dos pobres e dos ricos e a afirmação de que ser pobre é muito mais divertido do que ser rico. que no Dicionário Auréjio Eletrônico é definida como: [Do grego eiróneia Interrogação. a que fala do presidente ele se refere (a comparação que estabeleceu entre a vida do pobre e do rico). produzindo efeitos na vida e no convívio com as outras pessoas. 1998). Recursos para uma leitura mais produtiva Um leitor ativo considera os recursos técnicos e cognitivos que podem ser desenvolvidos para uma leitura produtiva. Há procedimentos espec(ficos de seleção e hierarquização da informação como: observar títulos e subtítulos. Ao contrário. 2.f 1. é necessário desenvolver consolidar e automatizar habilidades muito sofisticadas para pertec ao mundo dos que lêem com naturalidade e rapidez Tratase de um longo e acidentado percurso para a compreensão efetiva e responsiva que envolve: decodificação de signos. é uma atividade extremamente complexa pois flo Podemos Coflsjder apenas o que está escrito. quem é o presidente a que ele se refere (o presidente da República no ano de publicação. A leitura não se esgota no momento em que se lê. Sarcasmo. construção de inferências. reorientação dos próprios procedimentos mentais. analisar ilustrações. compreensão de pressupostos. Contraste fortu ito que parece um escárnio. No texto analisado por exemplo. 3.’ eu entendi opresiden te. interpretação de itens lexicais e gramatjcj5 agrupa0 de palavras em blocos conceituais. elaboração de hipóteses. vamos reconsiderar o título e as idéias que se repetem pelo texto: o presidente tem razão. zombaria Nessa experiência podemos constatar que a leitura não é um procedimento simples. avaliação do processo realizado. 2. Modo de exprimirse que Consiste cai dizer o contrário daquilo que se está pensando ou sentindo ou por pudor em relação a si próprio ou com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem. 26 TÉCNICA DE REDAçJ0 qual é a situação social do Brasil em nossa época e como é realmente a vida nas classes menos favorecidas. associação com informações anteriores. antecipação de informações. controle de velocidade. Como a leitura faz inúmeras solicitações símuitâneas ao cérebro. para compreender as intenções e Posições do autor lemos muito mais o que não está escrito. seus textos são publicados em espaços nobres dos principais jornais e revistas brasileiros). pelo latim. penetramos no mundo da ironia. Entre1açafl0 essas informações e a forma como o texto foi escrito. seleção e hierarquização de idéias. explora-lhe as possibilidades e prolonga-lhe o funcionamento além do contato com o texto propriamente dito. pois suas idéias são contrárias ao que está escrito. Expande-se por todo o processo de compreensão que antecede o texto. Vamos analisar algumas dessas habilidades. .cronistas de costumes e de política. A QUALIDADE DA LEITURA 27 identificação de palavras-chave. 1 L. Vamos aprofundar nosso conhecimento acerca de alguns desses procedimentos. Lemos: por prazer. procurando um ponto de atração. tomar notas sintéticas de acordo com os objetivos. E guiada tanto pela construção do próprio texto como pelos interesses. passamos os olhos pela página. deslocamentos. em busca de atualização. fixamos alguns parágrafos iniciais. 30 TÉCNICA DE REDAÇÃO No primeiro tipo somos superficiais. segmentar as unidades de significado. o ritmo e a velocidade de leitura de acordo com os objetivos estabelecidos. pragmáticos e da estrutura do gênero. ativar e usar conhecimentos prévios sobre o tema.). quadros. Há também procedimentos de clarficação e simplificação das idéias do texto como: construir paráfrases mentais ou orais de fragmentos complexos. como já foi explicado anteriormente. em busca de qualificação profissional. para revisar um texto etc. auto-avaliar continuamente o desempenho da atividade. aceitar e tolerar temporariamente uma compreensão desfocada até que a própria leitura desfaça a sensação de desconforto. para seguir instruções. substituir itens lexicais complexos por sinônimos familiares. em busca de diversão. outros na releitura. fazemos algumas adivinhações. associar as unidades menores de significado a unidades maiores. apenas para saber se há alguma novidade interessante. Se lemos um jornal. velozes. para obter informações precisas e exatas. queremos . constituindo uma atividade cognitiva complexa que não obedece a uma seqüência rígida de passos. para comunicar um texto a um auditório. empreendemos uma leitura do geral para o particular (descendente): olhamos as manchetes. para estudar. negritos. por exemplo. analisá-las e escrever um texto relativo ao tema. Há ainda aqueles que são concomitantes a outros. determina de que forma lemos um texto. esclarecimentos. controlar o trajeto. freqüentemente. relacionar e integrar. sublinhados.reconhecer elementos paratextuais importantes (parágrafos. elaboramos rápidas hipóteses que não testamos. e são apenas meios e não fins em si mesmos. e quando o encontramos fazemos um outro tipo de leitura: do particular para o geral (ascendente). sempre que possível. para obter informações gerais. usar conhecimentos prévios extratextuais. reconhecer relações lexicais! morfológicas! sintáticas. desenvolver o intelecto. Como são interiorizados e automatizados pelo uso consciente e freqüente. 28 TÉCNICA DE REDAÇÃO decidir se deve consultar o glossário ou o dicionário ou adiar temporariamente a dúvida para esclarecimento no contexto. esses fragmentos a outros. enumerações. nem sempre esses procedimentos estão muito claros ou conscientes para quem os utiliza na leitura cotidiana. controlar a consciência constante sobre a atividade mental. identificar e sublinhar ou marcar na margem fragmentos significativos. Os tipos de leitura e seus objetivos O objetivo da leitura. A QUALIDADE DA LEITURA 29 Alguns desses procedimentos são utilizados pelo leitor na primeira leitura. tais como: identificar o gênero ou a macro-estrutura do texto. de emoção estética ou de evasão. legendas etc. 3. detectar erros no processo de decodificação e interpretação. objetivos e intenções do leitor. Utilizamos ainda procedimentos de detecção de coerência textual. reconhecer e sublinhar palavras-chave. No segundo tipo de leitura somos mais detalhistas. Um leitor maduro usa também. procedinientos de controle e monitoramento da cognição: planejar objetivos pessoais significativos para a leitura: controlar a atenção voluntária sobre o objetivo. Eles disputam com cães. Jogados nas ruas ou em atividades insalubres. Estabelecer previamente um objetivo nos ajuda a escolher e a controlar o tipo de leitura necessário: ascendente ou descendente. há momentos em que você pode dispensar certos textos. O resultado de um dia de labor sob sol ou chuva é parco. Já sabemos o que queremos e ficamos mais atentos às partes mais importantes em relação ao nosso objetivo. f 1. 4. procuramos garantir a compreensão precisa. porcos. temos mais dificuldade em identificar aspectos importantes. distinguir partes do texto. Alguns você já usa naturalmente. conectivos. preposições ou advérbios. Alguns nunca entraram numa escola. Prova disso é que só as pobres entram precocemente no mercado de trabalho. No Brasil. Procedimentos estratégicos de leitura Um texto para estudo. encontram-se cerca de cinqüenta mil em situação desumana e degradante. mesmo quando está trabalhando ou estudando. Mas porque é obrigada. ou que o explica e identfica: A palavra-chave deste romance é angústia. 32 TÉCNICA DE REDAÇÃO Nos dois parágrafos seguintes. a maioria tem o destino traçado. está condenada. detalhada. É importante construir previamente algumas perguntas que ajudam a controlar o objetivo e a atenção. exata. hierarquizar as informações. Palavra que serve para identificar num catálogo de livros ou de artigos. Pois. o dajàmília. verbos e certos adjetivos. Não terá direito ao futuro. por exemplo: Qual é a opinião do autor? Quais são as informações novas que o texto veicula? A QUALIDADE DA LEITURA 31 O que este autor pensa desse assunto? Em que discorda dos que já conheço’? O que acrescenta à discussão? Qual é o conceito. b) Identificar e sublinhar com lápis as palavras-chave As palavras que sustentam a maior carga de significado em um texto são chamadas de palavras-chave. vamos identificar as palavras-chave: Nenhuma criança trabalha porque quer. muitas vezes. Sem elas o texto perde totalmente o sentido. os menores acompanham os pais aos aterros sanitários para catar a sobrevivência. que já são conhecidos. uma atenção voluntária e controlada.saber tudo. como. De uma ou outra forma. a definição desse fenômeno? Como ocorreu esse fato? Onde? Quando? Quais são suas causas? Quais são suas conseqüências? Quem estava envolvido? Quais são os dados quantitativos citados? O que é mais importante nesse texto? O que eu devo anotar para utilizar depois no meu trabalho? Quando começamos uma leitura sem nenhuma pergunta prévia. O Dicionário Aurélio Eletrônico registra: Verbete: palavra-chave s. Rende de um a seis reais. Normalmente são os substantivos. os elementos que têm entre si um certo parentesco ou que pertencem a um certo grupo. mesmo quando estuda. São os catadores de lixo. Palavra que encerra o signflcado global de um contexto. numa listagem ou na memória de um computador. desacelerada (ascendente). a) Estabelecer um objetivo claro Sempre que temos um objetivo claro para a leitura vamos mais atentos para o texto. Esse tipo de leitura detalhada. elaborar um esquema ou síntese. minuciosa. pois cada um imprime sua visão ao que lê. Por meio delas podemos reconstituir o sentido de um texto. 2. Não são palavras gramaticais: artigos. de leitor para leitor. pronomes. ou rápida e superficial. que um estudante precisa desenvolver é o que vamos focalizar aqui. ou partes de textos. Há muitos recursos e procedimentos para uma leitura mais produtiva. em geral. lenta. . exige do leitor uma grande concentração. Outros tiveram que abandonar os livros antes do tempo. ratos e urubus o que os outros jogam fora. Entre a multidão de trabalhadores mirins. Um leitor maduro distingue qual é o momento de fazer uma leitura superficial e rápida (descendente) daquele em que é necessária uma leitura detalhada. outros pode incorporar ao seu acervo de habilidades. Elas podem apresentar uma pequena variação de leitura para leitura. três milhões de menores entre 10 e 14 anos saem de casa todos os dias para garantir o próprio sustento e. minuciosa. A partir dos três ou quatro anos. Correio Braziliense. Brasília, l9jun. 1999. Editorial. A partir das palavras destacadas (você poderia sugerir outras) podemos compreender e reconstituir o assunto principal do texto, O reconhecimento das relações lexicais, morfológicas e sintáticas estabelecidas na configuração da superficie do texto é um pressuposto necessário para que leitor possa tomar decisões. E importante aprender a selecionar e hierarquizar as idéias para identificar as palavras principais. Há muitos detalhes que são usados em um texto para esclarecer ou enriquecer a informação já dada. Não fazem falta a não ser estilisticamente. Veja, por exemplo, a frase: Eles disputam com cães, porcos, ratos e urubus o que os outros jogam fora. O teor de informação nova agregado ao que já tinha sido dito é muito pequeno. E apenas uma ilustração explicativa contundente. Observe a continuação desse texto e exercite sua capacidade de selecionar palavras importantes, destacando-as: A QUALIDADE DA LEITURA 33 Na tentativa depôrfim a esse quadro dramático, o Fund das Nações Unidas para a Infância (UniceJ), em conjunto com o Ministé rio do Meio Ambiente e a Secretaria do Desenvolvimento Urbano, lançou a campanha Criança no Lixo Nunca Mais. A meta é erradicar o trabalho dos catadores mirins até 2002. Para chegar lá, 31 instituições governamentais e não governamentais já rnecerão orientações a prefeituras de 5.507 municípios sobre elaboração de projetos e formas de buscar recursos para implementá -los. A meta é ambiciosa. Ninguém imagina que seja fácil atingi-la. O desenvolvimento de um programa com semelhante dimensão deve, necessariamente, envolver a União, os estados, os municípios, além de parcerias com a iniciativa privada e a população em geral. Acima de tudo, exige vontade política. O governo está convocado a estabelecer políticas eficazes para atrair às escolas as crianças agora lançadas no mais abjeto dos infortúnios a disputa de alimentos com os abutres. Há caminhos abertos nesse sentido. Um deles é a garantia de renda mínima para as famílias em estado de pobreza absoluta, incapazes de alimentar os filhos e, ao mesmo tempo, mantê-los no colégio. Nenhum esforço de tirar o menor do labor diário dará resultado se não Jár assegurado o sustento do núcleo em que ele vive. Outro caminho é a reciclagem educacional dos pais para que possam comparecer ao mercado de trabalho em condições de disputar empregos dignos. Não há tempo a perder. São 50 mil brasileiros que pedem socorro. Clamam por saúde e educação. A sociedade espera que a iniciativa do Unicef prospere. Espera, sobretudo, que o governo faça a sua parte. O amanhã se constrói a partir de hoje. E a perspectiva é de que nossos filhos e netos herdem um país melhor. A existência de uma multidão de meninos buscando a sobrevivência no lixo constitui mau presságio. Sugere que poderá não haver nenhum futuro. É indispensável e urgente modflcar, para melhor, o cenário. Correio Braziliense. Brasília, 19 jun. 1999. Editorial. -J 34 TÉCNICA DE REDAÇÃO Observe como as palavras destacadas por você carregam o significado mais importante da mensagem e permitem que as idéias principais sejam recuperadas. É preciso observar e compreender para hierarquizar e selecionar. Tudo depende de treino, experiência. Ou seja, uma boa leitura depende de muita leitura anterior. c) Tomar notas Uma ajuda técnica imprescindível, principalmente para quem lê com o objetivo de estudar, é tomar notas. A partir das palavras-chave, o leitor pode ir destacando e anotando pequenas frases que resumem o pensamento principal dos períodos, dos parágrafos e do texto. Pode também marcar com lápis nas margens para identificar por meio de títulos pessoais as partes mais importantes, os objetivos, as enumerações, as conclusões, as definições, os conceitos, os pequenos resumos que o próprio autor elabora no decorrer do texto e tudo o mais que estiver de acordo com o objetivo principal da leitura (algumas edições já trazem esse destaque na margem para facilitar a leitura). Essas notas podem gerar um esquema, um resumo ou uma paráfrase. Trabalho Nenhuma criança trabalha porque quer. Mas infan til no porque é obrigada. Prova disso é que só as pobres Brasil entram precocemente no mercado de trabalho. No Brasil, três milhões de menores entre 10 e 14 anos saem de casa todos os dias para garantir o próprio sustento e, muitas vezes, o da família. Alguns nunca entraram numa escola. Outros tiveram que aban dona os livros antes do tempo. Jogados nas ruas ou em atividades insalubres, a maioria tem o destino traçado. De uma ou outra forma, está condenada. Não terá direito ao futuro. Entre a multidão de trabalhadores mirins, en contram-s cerca de cinqüenta mil em situação de- A QUALIDADE DA LEITURA 35 sumana e degradante. São os catadores de lixo. Eles disputam com cães, porcos, ratos e urubus o que os Catadores outros jogam fora. A partir dos três ou quatro anos, de lixo/ os menores acompanham os pais aos aterros sanitá 50.000 rios para catar a sobrevivência. O resultado de um dia de labor sob sol ou chuva é parco. Rende de um a seis reais. Unicef Na tentativa de pôr fim a esse quadro dramáti MMA-SD co, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Uni Campanh cef), em conjunto com o Ministério do Meio Am Crianç no biente e a Secretaria do Desenvolvimento Urbano, Lixo Nunca lançou a Campanha Criança no Lixo Nunca Mais. Mais A meta é erradicar o trabalho dos catadores mirins até Meta/2002 2002. Para chegar lá, 31 instituições governamentais Projetos e e não governamentais fornecerão orientações a pre forma de feituras de 5.507 municípios sobre elaboração de pro busca jetos eformas de buscar recursos para implementá recurso los. A meta é ambiciosa. Ninguém imagina que seja fácil atingi-la. O desenvolvimento de um programa com semelhante dimensão deve, necessariamente, en volve a União, os estados, os municípios, além de parcerias com a iniciativa privada e a população em geral. Acima de tudo, exige vontade política. Caminhos O governo está convocado a estabelecer políti Soluçõe cas eficazes para atrair às escolas as crianças agora lançadas no mais abjeto dos infortúnios a disputa Renda de alimentos com os abutres. Há caminhos abertos mínima e nesse sentido. Um deles é a garantia de renda míni educaçã ma para as famílias em estado de pobreza absoluta, para o incapazes de alimentar os filhos e, ao mesmo tempo, trabalho mantê-los no colégio. Nenhum esforço de tirar o me no do labor diário dará resultado se não for asse gurad o sustento do núcleo em que ele vive. Outro Importante caminho é a reciclagem educacional dos pais para para o que possam comparecer ao mercado de trabalho em futuro do condições de disputar empregos dignos. país Não há tempo a perder. São 50 mil brasileiros que pedem socorro. Clamam por saúde e educação. A sociedade espera que a iniciativa do Unicefpros TÉCNICA DE REDAÇÃO pere. Espera, sobretudo, que o governo faça a sua parte. O amanhã se constrói a partir de hoje. E a perrpectiva é de que nossos filhos e netos herdem um país melhor. A existência de uma multidão de meninos buscando a sobrevivência no lixo constitui mau presságio., Sugere que poderá não haver nenhum futuro. E indispensável e urgente modficar, para melhor, o cenário. Correio Braziliense. Brasília, 19 jun. 1999. Editorial. d) Estudar o vocabulário Durante a leitura de um texto, temos que decidir a cada palavra nova que surge se é melhor consultar o dicionário, o glossário, ou se podemos adiar essa consulta, aceitando nossa interpretação temporária da palavra a partir do contexto. Observe o seguinte período do texto: O governo está convocado a estabelecer políticas eficazes para atrair às escolas as crianças agora lançadas no mais abjeto dos infortúnios — a disputa de alimentos com os abutres. A palavra abjeto pode gerar dúvidas no leitor, mas podemos perceber que ela não é essencial ao texto. Quando retirada, o período preserva significado. Talvez não seja tão necessário nesse caso consultar o dicionáno,já que o contexto esclarece que se trata de uma idéia negativa que intensifica (junto com o advérbio mais) a negatividade que está em infortúnios. Poderíamos tentar substituí-la por outras mais conhecidas.’ indigno, horrível, desprezível, e a frase continuaria apresentando idéia lógica. Esses procedimentos de inferência e compreensão lexical são realizados com muita velocidade pelo leitor. Quando a continuidade da leitura se torna prejudicada, o melhor mesmo é parar e ir ao dicionário. ,. . 36 .4 QUALIDADE DA LEITURA 37 e) Destacar divisões no texto para agrupá-las posteriormente É importante compreender essas divisões para estabelecer mentalmente um esquema do texto. Muitas vezes o autor não insere gráficos, esquemas, nem explícita por meio de enumerações as divisões que faz das idéias. Preste bem atenção quando o texto apresenta estruturas assim: Em primeiro lugar.. em seguida... em terceiro lugar.. Inicia/mente.., a seguir... finalmente... Primeiramente.., em prosseguimento... por último... Por um lado... por outro lado... Num primeiro momento... num segundo momento... A primeira questão é... A segunda... A terceira... Por meio da identificação dessas estruturas é possível reconstruir o raciocínio do autor e torna-se mais fácil elaborar esquemas e resumos. No texto que estamos analisando há um exemplo interessante: O governo está convocado a estabelecer políticas eficazes para atrair às escolas as crianças agora lançadas no mais abjeto dos infortúnios a disputa de alimentos com os abutres. Há caminhos abertos nesse sentido. Um deles é a garantia de renda mínima para as famílias em estado de pobreza absoluta, incapazes de alimentar os filhos e, ao mesmo tempo, mantê-los no colégio. Nenhum esfárço de tirar o menor do labor diário dará resultado se não for assegurado o sustento do núcleo em que ele vive. Outro caminho é a reciclagem educacional dos pais para que possam comparecer ao mercado de trabalho em condições de disputar emgos dignos. A identificação dessas estruturas textuais na leitura facilita a compreensão das idéias e cria uma matriz mental para organização e hierarquização das informações. 38 TÉCNICA DE REDAÇÃO fi Simplificação Um dos recursos mais produtivos durante a leitura de textos complexos é fazer constantemente paráfrases mentais mais simples daquilo que está no texto, ou seja, fazer traduções em palavras próprias, dizer mentalmente com suas próprias palavras o que entendeu do texto. Uma brincadeira que o jornalista Elio Gaspari gosta de fazer é com a simplificação de linguagem exageradamente complexa. Observe o exemplo: CURSO MADAME NATASHA DE PIANO E PORTUGUÊS Madame Natasha tem horror a música. Ela socorre os desconectados do vernáculo. Decidiu conceder uma de suas bolsas de estudo á professora M.B. G.S., presidente da Comissão Esta- dual para elaboração do Projeto de Informática na Educação. No relatório que essa comissão produziu, Natasha encontrou o seguinte adereço: O ambiente informatizado oportuniza a possibilidade de ruptura de estruturas estáticas. Toda experiência de aprendizagem pode ser simulada, mas a simulação, que é uma expressão simbólica, no ambiente digital passa a ser também real, passível de experiência sensorial. Madame acreditaniza que quiseram dizerinizar o seguinte: — O computador é um instrumento pedagógico versátil. Elio Gaspari. Jornal de Brasília. Brasília, 22 fev. 1998. O procedimento de tradução mental simplificadora é muito útil para conferir se entendemos mesmo o texto ou não. g) Identificação da coerência textual Diante de cada novo texto temos de identificar as estruturas básicas para compreender seu funcionamento. Assim, iden A QUALIDADE DA LEITURA 39 tificamos imediatamente o que é um poema, o que é uma fábula, o que é um texto dissertativo. Como a escrita é para ser lida e compreendida a distância, sem interferência do autor no momento da leitura, sua elaboração exige uma estrutura exata, precisa, clara, que assegure ao leitor uma decodificação correta e adequada. Para tanto o autor usa estruturas sintáticas complexas, estabelecendo minuciosamente as relações entre as idéias, já que não pode contar com o apoio do contexto, das expressões faciais, do conhecimento comum. Isso acontece principalmente nos textos de natureza informativa: dissertações, argumentações, reportagens e ensaios, os quais privilegiamos neste livro. Quanto menos compromisso o texto tem com a informação exata, mais espaço deixa para os acréscimos e interpretações do leitor, como é o Com que autoridade? Papel social do autor O que eu já sei sobre o tema? Conhecimentos prévios do leitor Quais são os outros textos que estão sendo citados? Intertextualidade. de redundância. precisa. refazendo o trajeto do seu pensamento original. Vamos analisar um exemplo bem simples de intertextualidade: CONTRAFÁBULA DA CIGARRA E DA FORMIGA . Para isso fazemos perguntas elementares: Quem escreve? Autor Que tipo de texto é? Género. Isso significa que a leitura para apreensão de informações deve ser uma leitura pausada. nos quais a polissemia (convívio de uma multiplicidade de significações sobre uma mesma base) predomina. Onde é veiculado? Suporte editorial. A QUALIDADE DA LEITURA h) Percepção da intertextualidade Um texto traz em si marcas de outros textos. Quando o interesse for assegurar uma compreensão predeterminada.caso da publicidade. Quais são os exemplos citados? Fatos. dados. na proporção em que partilhe conhecimentos com o autor. Terá por base um planejamento lógico. ou até mesmo a uma paródia completa. que vai do particular para o geral e volta do geral para o particular constantemente. como entre o texto e os conhecimentos prévios do leitor e suas experiências vividas. para auxiliar o leitor a chegar às conclusões desejadas pelo autor. em que a estrutura do texto inicial é utilizada como base para o novo texto. para apreender. conceitos. a intensidade do esforço para compreender a intertextualidade pode variar e sempre depende de conhecimentos prévios comuns ao autor e ao leitor. Quais são os testemunhos utilizados? Depoimentos. Como são tratadas as idéias contrárias? Rebatimento ou antecipação de oposições. Quais são as outras vozes que perpassam o texto? Distribuição da responsabilidade pelas idéias. naturalmente será produzido um texto mais denso. concordar ou se opor a essas idéias. Com que argumentos as idéias são defendidas? Provas. um empenho constante para fazer os relacionamentos adequados tanto entre as idéias interiores ao próprio texto. Caso essas perguntas não sejam respondidas de maneira adequada. em que as seqüências tenham uma articulação necessária entre si mesmas. exata. Onde e de que maneira a subjetividade está evidente? Posicionamento explicitado. Quais são as idéias principais? Informações. A quem se destina? Público. superficial e rápida. conclusões? Quais são as relações entre essas partes? Estrutura textual. definições. Essa associação é prevista pelo autor e deve ser feita pelo leitor de forma espontânea. Uma decifração que procura percorrer o mesmo raciocínio do autor do texto. Essa ligação entre textos pode ir de uma simples citação explícita a uma leve alusão. fazendo perguntas ao texto. Além dessas. Um texto bem escrito apresenta sempre uma certa dose de repetição. há muitas outras perguntas que o leitor vai propondo à medida que lê e de acordo com os seus objetivos. um objetivo claro para a leitura. essa interação entre leitor e texto exige a ativação de conhecimentos que extrapolam a simples decodificação dos elementos constitutivos do texto. interpretando mal os objetivos e conseqüentemente as informações e os significados. É preciso um rígido controle da atenção. explícitas ou implícitas. 40 TÉCNICA DE REDAÇÃO Durante a leitura é preciso conferir as interpretações. Em textos mais complexos. Quais são as partes do texto que apresentam objetivos. da poesia e dos textos literários em geral. podemos incorrer em equívoco. Esses textos não são fáceis e não são compreendidos à primeira leitura. discutir. mais estruturado. Essas informações pragmáticas vêm iluminar e esclarecer os significados e estabelecer a coerência textual do que é lido. desacelerada. Qual o objetivo? Intenções. A esse fenômeno chamamos intertextualidade. Esse diálogo. os artistas podem chegar a ser milionários com mais rapidez e facilidade do que quem trabalha incansavelmente pensando exclusivamente no dinheiro. Lá vem ela dar a sua facada. sempre atenta aos rateios e às subscrições. Depois. não foi. E diga-lhe que eu quero que ele vá para o raio que o parta! Trata-se de uma fábula. Mas vivia também roendo-se por dentro ao ver a cigarra. e a mensagem original. contrária ao prazer. chegoua minha vez!” Mas a cigarra aproximou-se só querendo saber como estava ela e como estavam todos no formigueiro. tem a excursão a Nova York. destinada a ilustrar um preceito. aumentando o rendimento da sua capita e dizendo que estava contribuindo para o crescimento do Produto Nacional Bruto. metida em shows e boates. preparando o terreno para sua vingança. cantarolando como de costume. remordida.. consultando advogados e tomando vasodilatadores. Os meus discos não saem das paradas. você há de aparecer por aqui a mendigar o que não poupou no verão! E vai cair dura com a resposta que tenho preparada para você! Ruminando sua terrível vingança. Agora no inverno é que vai ser mau continuou aformiga com toda maldade na voz. quando voltava de uni almoço no La Tambouille com os japoneses da informática. hoje em dia. encontrou a cigarra no shopping Iguatemi. — Tenho um programa semanal. O autor parte do pressuposto de que seus leitores conhecem a fábula da Cigarra e da Formiga do autor francês La Fon A QUALIDADE DA LEITUK4 taine e que reconhecerão imediatamente a sua paródia. O quê?! exclamou aformiga. na sua vida terrivelmente cansativa e nas suas ameaças de enfarte.Adaptação feita por 1edro Bandeira do texto do escritor português Antônio A. Utilizando uma situação similar à fábula original. — E pode me fazer um favor? Quando chegar a Paris. nas suas azias. atualiza suas circunstâncias e modifica seu final (intertextualidade implícita na estrutura). . ‘Ah. E acabei de fechar um contrato com o Olympia de Paris por duzentos mil dólares. — A senhora não depositou nada no banco. ou seja. comentou: A senhora andou cantando na tevê todo este verão. procure lá um tal La Fontaine. ah! No inverno. já que remete à lição de moral tradicional e multiplica o humor do texto. de cunho popular e de caráter alegórico. A formiga. enquanto aquela inútil da cigarra ganhava tanto cantando e se divertindo! E perguntou: — Quando a senhora embarca para Paris? Na semana que vem. sempre consultando as cotações da Bolsa. uma sabedoria. depois Londres. depois Amsterdam.. Batista A formiga passava a vida naquela Jármiga ção. Segundo sua posição crítica. Na trabalheira do investimento. Isso é só em Paris. incutindo nos filhos hábi 41 42 TÉCNICA DE REDAÇÃO los de poupança. dona Cigarra? — E claro! — disse a cigarra. ah. Um dia. para verificar os dividendos de suas contas numeradas.. voltava a formiga a tesourar e entesourar investimentos e lucros. vendendo na alta e comprando na baixa. Aí a formiga pensou no seu trabalho. com quem estudara no ginásio. Fechava contratos em Londres já com um pé no Boeing para Frankfurt ou Genebra. sempre acompanhada de clientes libidinosos do Mercado Comum. A história em si é engraçada.. uma historieta de ficção. O próprio título anuncia a intenção. mas a alusão à fábula original (na última fala da formiga) cria a intertextualjdade explícita.. não estaria mais funcionando. pensou ajórmiga.. — A senhora vai ganhar duzentos mil dólares no inverno? — Não. E vivia ajármiga a dizer por dentro: Ah. no mundo dominado pelos meios de comunicação e pelo hedonismo. E também um juízo a favor da arte em oposição à especulação financeira. não é? — Não faz mal. a leitura é fundamental. conseguir o melhor resultado da maneira mais prática e simples. para isso. de simplificação e de monitoração das atividades mentais de forma que possamos otimizar nosso esforço. os recursos estilísticos com mais eficácia que pelas aulas e exercícios gramaticais. Estou mesmo perseguindo meu objetivo? Já me distraí? Mudei o meu trajeto de leitura? Criei outro objetivo no percurso? Detecção de erros no processo de leitura: algumas vezes lemos muito rapidamente enquanto pensamos em ou43 44 TÉCNICA DE REDAÇÃO tra coisa e. a leitura se toma. Algumas vezes pode merecer reorientação. a cada dia. 6. desistimos da leitura de um texto no primeiro parágrafo Esse procedi mento é precipitado E preciso merguJ proftmndamente no texto para dar-lhe uma chance de ser bem Sucedido Na maioria das vezes. geralmente é necessário voltar ao texto algumas vezes. Esse controle é essencial para que a leitura seja produtiva. pois é natural que o começo da compreensão seja ainda uma idéia desfocada A primeira leitura. em um exercício mais prazeroso. a escrita depende de nosso conhecimento do assunto. conforme nossos objetivos. Prática de leitura a) Escolha um artigo assinado do jornal de sua preferência. e também para que a leitura se transforme. Pela leitura interiorizamos as estruturas da língua. Assim. disciplinando-as e submetendo-as aos nossos interesses. consciente ou inconscientemente. Uma única leitura nem sempre é suficiente. com freqüênc não é satisfatóa e é preciso empreender uma segundaj com alguma informação sobre o texto e com mais atenção e concentração. Conhecendo melhor o processo de leitura Como vimos. quando o trecho é fácil ou quando a leitura tem por objetiv0 a simples distração Outras vezes. o leitor deve controlar a veloci dade de leitura de acordo com as dificuldades que o texto oferece e com os objetivos da leitura Às vezes. interpretamos mal uma passagem e no decorrer da leitura percebemos que as idéias estão contraditórjas Voltamos. uma espécie de roteiro: como vamos ler? para que vamos ler? Esse roteiro deve ser controlado e reavaliado durante a leitura. naturalmente. então para conferir a decodifica ção das palavras e a interpretação Essa capacidade de avaliar constantemente a própria leitura precisa ser deSenvol Vida Ajuste de velocidade.1) Monitoramento e concentração Durante a leitura podemos exercer um relativo controle consciente sobre as nossas atividades mentais. Por isso é necessário prestar bem atenção no que fazemos enquanto lemos para termos mais domínio sobre as nossas próprias habilidades de leitura. temos que ler desaceleradament quando estudamos assuntos desconhecidos quando o texto é denso e complexo ou quando contém muitos implícitos Para garantir esse contro le é necessário ter uma consciência contínua dos procedimentos que estão sendo utilizados além de uma disPosição para avaliar a qualidade da própria leitura Tolerância e paciência: muitas vezes. E são os objetivos que vão direcionar o tipo de leitura que vai ser realizado. os tipos de texto. Em qualquer situação de leitura utilizamos procedimentos que nos auxiliam a compreender e interpretar o texto. podemos ler mais rapidamente: quando o assunto é conhecj do. Habilidades que agilizem os procedimentos contribuem para que não haja desperdício de energia e de tempo. da língua e dos modelos de texto. Pouco a Pouco. a leitura ajuda a escrever melhor. quando percebemos a distração temos que Voltar e reler aquele trecho Esse é um exemplo de como controlamos naturalmente os nos505 erros de leitura Outras vezes. os gêneros. Releia e responda mentalmente às perguntas: Quem escreve? Que tipo de texto é? A quem se destina? Onde é veiculado? Qual o objetivo? Com que . Leia uma vez. ou seja. Ele não é espontâneo e depende de treino e concentração. mais fácil e as dificuldades preliminares Vão se resolvendo. E um processo complexo que exige do leitor uma série de habilidades cognitivas muito sofisticadas. Fidelidade ao planejamento: antes de começar a ler um texto sempre estabelecemos. E importante desenvolver adequadamente essas estratégias de apoio técnico. A QUALIDADE DA LEITURA 45 5. Esse desconforto no iflÍcjo de um texto é muito comum. enquanto elas nos são úteis e estão sendo realmente utilizadas. se nos dias subseqüentes não precisarmos mais desse número. temos um pouco mais ainda de possibilidade de gravar na memória. durante muito tempo. essa faculdade de reter as idéias. Um outro. de filmes. Um professor. pode ajudar a compreender e controlar seu funcionamento. Analise os procedimentos de leitura sugeridos neste capítulo que você já utiliza. Mas nem sempre isso é possível. em um período de teste. Na memória de longo prazo guardamos nossos conhecimentos consolidados. a memória vai descartá-lo por falta de uso. Leia. Quando vemos. por um período breve. Mas. como se estivessem temporariamente à disposi 48 TÉCNICA DE REDAÇÃO çào. As informações novas ficam algum tempo na memória de curto prazo. encontram pontos de apoio que as sustentam por mais tempo e se tornam mais duradouras. esquecemos tudo com facilidade. Se não forem úteis por longo período. Isso acontece com nomes de lugares. guardamos informações novas. podemos pensar na seguinte situação: se estamos tentando comunicação por vezes repetidas com um número de telefone. d) Escolha um texto de estudo e aplique as estratégias de leitura apresentadas neste capítulo. permanece na nossa memória de longo prazo. Temos dois tipos de memória: a de longo prazo e a de curto prazo. conceitos. nesse período. que dá aulas sobre uma mesma matéria para várias turmas. que apenas esporadicamente fala sobre um tema. conclusões? Quais são as relações entre essas partes? Com que argumentos as idéias são defendidas? Onde e de que maneira a subjetividade está evidente? Quais são as outras vozes que perpassam o texto’? Quais são os testemunhos utilizados? 46 TÉCNICA DE REDAÇÃO Quais são os exemplos citados? Como são tratadas as idéias contrárias? c) Escolha um texto dissertativo que ofereça alguma dificuldade de leitura para você. para que uma informação fique consolidada na memória de longo prazo é preciso que seja: útil na vida prática ou para nossas reflexões abstratas: utilizada com certa freqüência. Algum esclarecimento acerca da memória. estabelecem laços com outras informações preexistentes. por exemplo. tem que estudá-lo para reavivar a memória quando precisa expor novamente o assunto. . sem aplicação direta na produção de textos. Na de curto prazo. Nossa memória é muito seletiva. apreendemos uma pequena parcela do que ouvimos. definições. Se memorizamos alguns itens sem transferi-los gradualmente para a prática. dizendo em voz alta seus pensamentos para controlar a leitura. pois é duradoura. acaba por dominar naturalmente o assunto. Não o esquecemos tão facilmente. Quando decoramos mecanicamente regras e conceitos. chegamos a memorizálo. como se faz freqüentemente nos cursos preparatórios para concursos. Capítulo 4 Da leitura para a escrita 1.autoridade? O que eujá sei sobre o tema? Quais são os outros textos que estão sendo citados? Quais são as idéias principais? Quais são as partes do texto que apresentam: objetivos. forem muito usadas. Já um número usado todos os dias. Quando podemos ler uma vez a informação. Se. de pessoas. O trabalho com a memória Precisamos usar muitas informações contidas em textos que já lemos. de livros. importante na nossa vida diária. impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente. que é seletiva e rotativa. tudo aquilo que nos deu tanto trabalho para memorizar à força é esquecido imediatamente após a prova. É importante considerar também outros aspectos da aprendizagem. E acontece também com conceitos e definições. caem no esquecimento. O mesmo acontece quando estudamos a gramática pela gramática. serão descartadas. associada e relacionada a outros conhecimentos prévios existentes em nossa memória. Então. apreendemos um pouco mais. Ela não guarda tudo o que gostaríamos a partir de uma primeira leitura. Já sabemos que as informações que vêm apenas por via auditiva são menos duradouras. Se não são utilizados. Como exemplo. Grave em fita de áudio tudo o que pensa enquanto lê. reelaborada em nossa mente por meio de novas associações e novas divisões. Memorizamos aquilo que é significativo para nossos interesses intelectuais ou para nossa vida pessoal. 5? — Voltar ao texto e conferir a correspondência com as idéias principais. uma compactação. atuar. ou então sintetizar as informações para revê-las ou repassá-las a outros. do geral para o particular. mantendo as relações entre essas unidades. Quanto mais aprendemos. 3? — Reagrupar as informações de acordo com unidades menores. divisão de idéias.DA LEITURA PARA A ESCRITA 49 Mas se podemos ouvir. quadros. Muitas vezes. embora existam variações infinitas. Organizar um esquema é uma maneira preparatória para o resumo e a paráfrase. identificando palavraschave e anotando idéia por idéia. uma negação. que também é uma forma de retomada das informações. comparações. O leitor deve criar o seu próprio método. mas deixá-la implícita. ver e experimentar. ou seja. elaboramos a paráfrase. resumos e paráfrases. ler. DA LEITURA PARA A ESCRITA O leitor que tenta reconstruir o percurso do autor não pode acrescentar idéias novas ao resumo do que lê. a ciência já constatou que o cérebro e a memória precisam de exercícios. Como a primeira leitura é sempre muito breve e superficial. utilizar. conforme vimos no capítulo anterior. pois os conhecimentos que adquirimos formam uma base em que novos conhecimentos vêm se instalar de forma mais duradoura. a compreensão das idéias expostas pelo outro. desenvolver uma ação (concreta ou mental) sobre certa informação de forma pessoal. para que o leitor chegue mentalmente à conclusão a partir das evidências colocadas no texto. oposições. subdividindo-o de acordo com as relações sintáticas. 6? — Redigir o resumo seguindo o roteiro estabelecido pelo esquema. 2. como veremos no capítulo 6. e não uma crítica. uma resenha ou um comentário que permitem ampliação e discussão. Assim. no resumo. Assim. os parágrafos dissertativos/argumentativos têm uma estrutura organizada logicamente: Primeiros períodos = idéia principal Períodos seguintes = desenvolvimento Último período = conclusão Quando a idéia principal surge no início do parágrafo. ela pode ser: uma afirmação. lemos e tentamos memorizar o que lemos. como conclusão. O processo de debate pressupõe a intelecção. precisamos utilizar estratégias de desaceleração para apreendermos melhor um texto. E preciso que a pessoa trabalhe bastante para que o conhecimento passe realmente a ser propriedade sua. pois a linguagem deve ser objetiva e clara. na organização geral do texto. conseguimos maior índice de memorização e de aprendizagem. prender-se às expressões utilizadas pelo próprio . Por isso é bom. em que o professor ou o texto doam ao aluno a informação nova. Muitas vezes. A leitura pode levar à produção de textos de natureza diferente do texto original e com finalidades também diferentes. visa fundamentar a idéia inicial. Não se trata de uma simples transferência. Em um resumo recorre-se a poucos efeitos retóricos. Hoje em dia. Se nosso objetivo é repetir as mesmas informações integralmente. mais temos possibilidade de aprender. o autor prefere colocar a idéia principal no fim do parágrafo. 2? Fazer uma segunda leitura. aprender exige trabalho sobre o conhecimento. quando ainda na fase do esquema. um conceito. e pode trazer explicações. prestando atenção nos títulos e subtítulos. rápida. parágrafo por parágrafo. Pode até mesmo não explicitá-la claramente. 4? — Organizar um esquema das idéias. É uma leitura de reconhecimento prévio do material a ser estudado. A leitura com esse fim é muito detalhada. mas podemos estabelecer um roteiro básico como sugestão: 50 TÉCNICA DE REDAÇÃO 1? — Empreender uma primeira leitura descendente. pois trata-se de uma síntese. Normalmente. podemos produzir esquemas. esquemas e paráfrases A partir do esquema podemos facilmente reconstituir as ligações do texto original elaborando um novo texto. O desenvolvimento. dispensando exempios e ilustrações. Resumos. mais curto que o original um resumo em que as informações essenciais são rearticuladas em uma nova organização. uma pergunta. e que a inteligência precisa ser constantemente estimulada para não se atrofiar. São elas que o levam a decidir quais são as . depois. Indicam conclusão parcial ou final: Em vista disso podemos concluir Diante do que foi dito Em suma Em resumo Concluindo Portanto Assim 51 fr ... em seguida.. pode-se observar Assim. vocabulário.-..... Por um lado. estruturas sintáticas. pois é necessário trabalhar com precisão sobre: significados.. O primeiro aspecto é.. gênero e tipo de texto.. finalmente... podemos ob servar Para comprovar o que foi dito Exemplo disso é Como exemplo... Colocaremos aqui alguns exemplos. Elas conduzem o raciocínio do leitor de acordo com o planejamento do autor e podem exercer várias funções.... Indicam objetivo: O que desejamos neste trabalho O objetivo desta investigação Pretendemos demonstrar Procuramos comprovar Estamos tentando provar Indicam inserção de exemplo: Para exemplificar. um outro aspecto é.. por outro lado. Primeiramente. Outro aspecto que deve ser levado em consideração é o uso das frases de transição. mas você pode encontrar infinitas variações nos textos que lê.. em sua obra Y Indicam divisão de idéias: Em primeiro lugar. O resumo é um trabalho sobre a linguagem muito complexo.. em segundo...autor do texto. por último... TÉCNICA DE REDAÇÃO Essas frases exigem muita atenção do leitor..... é o que ocorre no caso em que Indicam inserção de citações: Segundo o especialista X De acordo com o que afirma X Xjá afirmou que Conforme X.. como tudo que existe no capitalismo. oferecendo-lhes produtos culturais “médios”. A indústria cultural acarreta resultado oposto. criticá-las. em princípio. sob controle económico e ideológico das empresas de comunicação artística. A democratização da cultura tem como precondição a idéia de que os bens culturais (no sentido restrito de obras de arte e de pensamento e não no sentido antropológico amplo) são direito de todos e não privilégio de alguns. Para vendê-la.se consagração do consagrado pela moda e pelo consumo. as empresas de divulgação cultural já selecionaram de antemão o que cada grupo social pode e deve ouvir. Para seduzi-lo e agradá-lo. existe para ser contemplada efruída. da reflexão .informações essenciais e as que podem ser dispensadas no resumo. deve seduzir e agradar o consumidor. da inteligência. A arte possui intrinsecamente valor de exposição ou exponibilidade. Por quê? Em primeiro lugar. em vez de garantir o mesmo direito de todos á totalidade da produção cultural. O que é a massa? É um agregado sem forma e sem rosto. Em segundo lugar. As obras de arte e de pensamento poderiam democratizar-se com os novos meios de comunicação. fazê-lo pensar. a arte se transforma em seu oposto: é um evento para tornar invisível a realidade e o próprio trabalho criador das obras. porque cria a ilusão de que todos têm acesso aos mesmos bens culturais. basta darmos atenção aos horários dos programas de rádio e televisão ou ao que é vendido nas bancas de jornais e revistas para vermos que. como o consumidor num supermercado. conhecê-las. direito à produção cultural. de modo que tudo o que nas 53 54 TÉCNICA DE REDAÇÃO obras de arte e de pensamento significa trabalho da sensibilidade. e os artistas epensadores 4 DA LEITURA PARA A ESCRITA poderiam superá-las em outras. palavra que vem do latim e sign fica: dado à visibilidade. Em quarto lugar. tornarem-se eventos para consumo. formando uma elite cultural. 3. tornarem-se reprodutivas e repetitivas. transformando-se em propaganda e publicidade. ver ou ler. sem identidade e sem pleno direito à Cultura. baseada na idéia e na prática do consumo de produtos culturais”fabricados em série. já viu. O que significa isso? A indústria cultural vende Cultura. INDÚSTRIA CULTURAL E CULTURA DE MASSA A partir da segunda revolução industrial no século XIX e prosseguindo no que se denomina agora sociedade pós-industrial ou pós-moderna (iniciada nos anos 70 do século Xv). tornarem. E essencialmente espetáculo. Democracia cultural significa direito de acesso e de fruição das obras culturais. destinadas aos privilegiados que podem pagar por elas. porque separa os bens culturais pelo seu suposto valor de mercado: há obras caras” e “raras “. sinal de status social. não pode chocá-lo. No entanto. prestígio político e controle cultural. de trabalho da criação. a indústria cultural introduz a divisão social entre elite “cultural” e massa “inculta “. fruído e superado por novas obras. As obras de arte são mercadorias. já fez. mas deve devolver-lhe com nova aparência o que ele já sabe. Perdida a aura. ter acesso a elas. ao massifiLar a Cultura. isto é. de expressivas. Em terceiro lugar. porque define a Cultura como lazer e entretenimento. Sob os efeitos da massflcação da indústria e consumo culturais. massificou-se para consumo rápido no mercado da moda e nos meios de comunicação de massa. 2. porque inventa uma figura chamada “espectador médio ‘ “ouvinte médio” e “leitor médio ‘ aos quais são atribuídas certas capacidades mentais “médias “. No entanto. incorporá-las em suas vidas. as artes correm o risco de perder três de suas principais características: 1. É algo para ser consumido e não para ser conhecido. através dos preços. pois todos poderiam. fazê-lo ter informações novas que o perturbem. direito à informação e àforniação culturais. cada um escolhendo livremente o que deseja. A “média” é o senso comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova. da imaginação. destinadas à massa. Assim. a arte não se democratizou. as artes foram submetidas a uma nova servidão: as regras do mercado capitalista e a ideologia da indústria cultural. diversão e distração. de experimentação do novo. e há obras “baratas” e “comuns “. novas. provocá-lo. certos conhecimentos “médios” e certos gostos “médios “. Vamos analisar um texto e compreender o processo de resumo. redundância e as perguntas retóricas. São Paulo: Ed. conclusões e respostas. > à produção cultural. Os efeitos de repetição. 2. ou leitor médio”. identificando as palavras-chave e as idéias secundánas distribuídas pelos parágrafos. Marilena Chaui. 56 TÉCNICA DE REDAÇÃO Nesse esquema. despertando interesse por ela. expressidade > repetição. assim. Indústria cultural resultado oposto = introduz a divisão social ao massificar a Cultura. Convite à Filosofia. independentes do texto original. a partir do esquema. superficial e rápida. Massifica = banaliza / vulgariza a expressão artística e intelectual. Já é possível retirar do texto a sua estrutura básica e reorganizá-la em blocos. define a Cultura como lazer e entretenimento. diversão e distração. no primeiro parágrafo já se anuncia a idéia principal: de que a arte foi transformada numa mercadoria e que por isso foi desvirtuada pela indústria cultural. são dispensados e o resumo vai reconstruir diretamente as afirmações. experimentação ‘. 3. Ática. cria a ilusão de acesso através dos preços seleciona grupo social. inteligência. DA LEITURA PARA A ESCRITA 55 Indústria cultural e cultura de massa Artes submetidas (2 revolução industrial séc. inventa uma média “espectador. Em lugar de difundir e divulgar a Cultura. as 700 palavras do texto original foram reduzidas a apenas 198. porque 1. não vende. ao ativar nossos conhecimentos anteriores sobre o assunto. separa “caras’ e “raras”. 2. Os parágrafos seguintes desenvolvem e aprofundam essa idéia. 329-30. reflexão e crítica não têm interesse. O texto começa com uma informação que será explicitada nos parágrafos seguintes. reagrupa as idéias. Massifi cor é. do texto já nos diz que a idéia principal é a distinção entre o que é realmente arte e o que a indústria cultural produz para a massa no capitalismo. 4. 1997. Na segunda leitura. a indústria cultural realiza a vulgarização das artes e dos conhecimentos.. > à informação e à formação. pp. sobre conceitos bastante abstratos. conhecimentos e gostos “médios” = produtos culturais “médios” = o que o consumidor já sabe = senso comum. rearticulando-as em novas orações e períodos. O resumo. Uma primeira leitura. capacidades mentais. teórico. os privilegiados. elite culta. que têm a função de prender a atenção do leitor. sem provocações. toma invisível a realidade e o próprio trabalho criador Democracia cultural (poderia acontecer pelos meios de comunicação) Todos têm direito > ao acesso e à fruição. Deve funcionar como um texto autônomo. > “baratas” e “comuns”. ouvinte. 8 ed. banalizar a expressão artística e intelectual. XIX) > mercado capitalista > ideologia da indústria cultural Obra de arte tem valor de exposição / deve ser contemplada e fruída. Ao analisar as escolhas feitas. podemos aproflindar mais a compreensão das causas e conseqüências dessa distinção. se transforma em seu oposto = mercadoria quando > Fabricação em série > Propaganda e publicidade > Sinal de status > Prestígio político > Controle cultural não se democratizou massificou-se Arte corre risco Valor de: pode se transformar em: 1. 3. não pode mais depender do original. como o esquema que serve . voltando ao texto. ou seja. numa redação própria da pessoa que resume. criação > consumo. imaginação.consagração do consagrado pelo consumo. não “vende”. podemos observar que algumas informações foram eliminadas e outras podem ser reagrupadas. Sabemos que Marilena Chaui é uma filósofa e que se trata de um texto dissertativo. já com essas idéias. massa inculta. sensibilidade.e da crítica não tem interesse. reproduzi-la ou dizê-la com minhas próprias palavras. produtos culturais fabricados em série. mas pelo preço define os grupos que podem usufruir de cada bem. Ou seja. deixar a expressividade pela repetição. Há diferenças entre o resumo e a paráfrase que é necessário esclarecer. vendáveis. que é banaliza ção e vulgarização da arte e do conhecimento. em caso de trabalhos científicos. apropria-se dele. para escrever um trabalho ou um artigo. estamos parodiando. conhecimentos e gosto médios. Entretanto. a quantidade de palavras em relação ao esquema é maior: 267. A indústria cultural não democratiza. por técnicos em editoração e por cientistas. sem novida DA LEITURA PARA A ESCRITA 57 des. Observe que a terceira pessoa que garante a impessoalidade própria da estrutura dissertativa foi mantida. Assim. que poderia ser alcançada pelos meios de comunicação social. A democratização da cultura. não foi democratizada. vê a cultura como lazer. A obra de arte tem um valor de exposição. com capacidades. e. Crítico (também chamado de resenha) — apresenta a posição do leitor. a criação pelo consumo e a experimentação pelo consagrado. cria a ilusão do acesso igual para todos. porque ao massficar reintroduz a divisão social e:]. entretenimento. A elaboração interior é feita por meio de paráfrase: para saber se estou compreendendo bem uma idéia é preciso que eu saiba pensá-la. informação eformação. tenho consciência de que domino a nova informação. isto é. pela reprodução das idéias com minhas próprias palavras. fundados no senso comum. Quando a organização é semelhante. no processo de estudo e de aprendizagem. em lugar de democratizar a Cultura. da imaginação. entendida como o direito de acesso efruição. O aprendiz incorpora o conhecimento novo. utilizamos a paráfrase mentalmente. fruída e revelar a realidade. diversão e distração deforma que não tem interesse. prestígio político e controle cultural.3. separa os bens culturais pagos e raros para uma elite culta e os bens baratos e comuns para a massa inculta. o assunto. ele é considerado. sinal de status. às vezes cômica ou irônica. os métodos e conclusões. é frita para ser contemplada. utilizamos informações lidas. Desde a segunda revolução industrial. porque não vende. Um texto é paráfrase do outro quando traz as mesmas informações por meio de outras palavras. já que um texto é feito de outros textos. Informativo (até 350 palavras) representa o conteúdo. dizemos que é uma paródia. deve conter dados essenciais que ajudem o leitor a decidir sobre a necessidade de ler ou não um texto todo. Essas informações lidas passam a fazer parte de nosso . Ocor 1 58 TÉCNICA DEREDAÇÀO re. o trabalho da sensibilidade. quando sobre uma mesma melodia criamos letra diferente. mas as informações são diferentes. 2. foi substituída pela massflcação. Além dos usos pessoais do resumo. massficou-se e transformou-se em seu oposto: mercadoria. mas apresenta uma forma de organização diferente. como uma estratégia para ler e estudar. os pontos de vista. Pela paráfrase mental. tem a mesma função. as tes foram submetidas às regras do mercado capitalista e à ideologia da indústria cultural. Mas esse efeito é artístico e criativo. no resumo que apresentamos a seguir. antecedendo trabalho científico. comparações com outros trabalhos e pode trazer uma avaliação geral. a indústria cultural produz uma massficação. Assim. no século XIX. e ainda produção cultural. artigo. Pode ser: Indicativo (de 10 a 50 palavras) — geral e sintético. Assim. inventa um consumidor médio. dissertação e tese). Essa assimilação requer uma elaboração interna. além de tornar a realidade e o trabalho criador invisíveis. 4. Como já vimos no capítulo anterior. a arte corre o risco de perder suas características. pois não se trata apenas de transposição ou transferência.apenas para retomar as idéias principais. uma intemalização ou assimilação. para o qual produz bens médios. E essencial compreender que também na produção de textosusamos freqüentemente a paráfrase. da inteligência. da reflexão e da crítica. Sob controle econômico. além de nossa experiência de vida. a representação condensada do conteúdo de um documento (é obrigatório. É utilizado em revistas científicas. Após a leitura. é preciso dar-lhe um apoio anotando.outras basta fazer uma alusão ao dono das idéias e. fazendo anotações. Faça um 60 TÉCNICA DE REDAÇÃO esquema das idéias. pois não se pode citar a fonte. depois de algum tempo. DA LEITURA PARA A ESCRITA 59 ou paráfrase: Marilena Chaui afirma em seu texto que a indústria cultural vulgariza as artes e os conhecimentos em vez de d(fundir. Ática. Leia uma primeira vez para se familiarizar com as idéias. As vezes é preciso citar explicitamente sua origem (nome. 8 ed. ao fim de cada capítulo ou parte de texto. Palavras complexas podem ser substituidas por expressões mais simples e familiares ou pode ocorrer o contrário. seleção e hierarquização de idéias. registrando. com nossas próprias palavras. TÍTULO. Convite à Filosofia. elabore um pequeno parágrafo. não é um resumo. As informações têm de ser fiéis às idéias do texto original. 329-30. se não houver uma citação clara do autor das idéias. Por isso a paráfrase é tão útil. ANO. Na paráfrase. Assim. b) Escolha um parágrafo longo de um texto dissertativo. As técnicas de registro de bibliografia podem variar. Prática de síntese a) Escolha um texto de estudo ou relativo ao seu trabalho que precise conhecer bem. E muito comum.. Por isso. sintetizando a idéia principal. adotamos o seguinte modelo simplicado: NOME DO AUTOR. junto aos textos transcritos. Quando falamos para nós mesmos. anote a bibliografia referente. A paráfrase. Marilena Chaui. mas guardam um vínculo com o texto original do qual provêm. EDIÇÃO.acervo pessoal de conhecimentos pela internalização. Nossos textos são compostos. CIDADE: EDITORA. podem ser consideradas plágio. divulgar e despertar interesse pela Cultura. c) De todas as suas leituras para estudo ou trabalho. O próprio esforço de reelaborar as idéias. reutilizá-las. O importante é que o documento possa ser recuperado pelo leitor a partir de informações básicas. pp. transformações conceituais ou reduções. despertando interesse por ela. 3. a indústria cultural realiza a vulgarização das artes e dos conhecimentos “. São Paulo: Ed. Além disso. Sempre que fizer esses exercícios de síntese. data). não perca suas leituras por falta de anotações. a partir de informações que colhemos em outros textos. Quanto mais organizadas forem essas anotações. . agregados ou transformados estilisticamente. PÁGINA. E isto é o mesmo que não ter lido. podemos sempre utilizar idéias de outros autores fazendo: citação literal: Marilena Chaui afirma em seu texto que. em grande parte. Paráfrases mal feitas podem constituir mal-entendidos prejudiciais à comunicação e. consultá-las. resumindo ou esquematizando. mais úteis poderão se tornar quando da produção de um novo texto. dependendo do objetivo da paráfrase. E preciso uma leitura refinada. Elabore um resumo reduzindo-o a 50% do original. que exercem funções próprias como: resumo para apresentação oral e escrita de trabalhos. para identificação. que são muito úteis na ampliação das habilidades cognitivas. Conservando e reutilizando o que foi lido Neste capítulo vimos como podemos registrar as informações lidas de forma que se torne mais fácil voltar a elas. elabore uma paráfrase em tom mais coloquial. A Associação Brasileira de Normas Técnicas normatiza as regras para publicações. são úteis também como textos autônomos. obra. 1997. “em lugar de dfundir e divulgar a Cultura. mas nossa leitura não retém na memória tudo que é necessário. com vários retornos ao texto. podemos incorporá-las ao nosso texto de maneira parafraseada. reestruturá-las e reordená-las em outro formato exige uma grande atividade mental que contribui para que a assimilação seja mais consistente. vale repetir. não se saber mais de onde foram retiradas aquelas idéias. Assim. muitas vezes. mas as editoras optam por algumas variações. 4. sem acréscimos. interpretando o que foi lido. frases e períodos podem ser simplificados. Releia. fazemos pequenas paráfrases. Neste livro. esquema para orientar aula ou palestra etc. Manuel Bandeira. na estruturação do texto e na sua estética. Um exemplo desses textos é o diário pessoal. conforme seus objetivos estejam centrados: no EU. e por isso a primeira pessoa do singular é utilizada com muita freqüência. a) A linguagem como expressão individual Objetivos centrados no EU — Muitos textos têm uma natureza essencialmente subjetiva.. com muita fera. o veículo em que vai circular. As diversas funções coexistem e duas ou três aparecem simultaneamente num mesmo texto. 1967. sobre essas decisões. cinco funções primordiais da linguagem. Nos três últimos períodos. agora. tomamos muitas decisões antes e durante o trabalho. As feras representando muito bem. Dizemos. lingüísticas. no leitor. pois o objetivo principal do texto é transmitir ou registrar os sentimentos. tivemos sessão de cinema. que a função da linguagem está centrada no EU. Bonitas. Há algumas funções consideradas básicas e que estão presentes nos textos de forma especial. Flauta de Papel. estão voltados para a expressão individual. à noite. Podemos traduzir algumas das decisões preliminares nas seguintes perguntas: Quais os objetivos do texto que vou produzir? Que informações quero transmitir? Qual o gênero de texto mais adequado aos meus objetivos? Que estruturas de linguagem devo usar? Vamos refletir. A voz que assume a “fala” nesse tipo de texto é a própria voz do autor. Focalizaremos. Vejamos um pequeno texto de Manuel Bandeira: Diário de Bordo 22 de julho Ontem. a função expressiva é mais evidente: a experiência pessoal e as emoções são ressaltadas e as informações . DECISÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO A PRODUZIR 63 Ava Gardner e Grace Kelly. o autor registra suas impressões a respeito de um filme e dos atores. Vamos detalhar aqui como essas funções se realizam no texto escrito. bilhetes. A história do filme se passava na A’frica. muito negro. Clark Gable. informacionais. Tenho vontade de rever é . na função expressiva.1 Capítulo 5 Decisões preliminares sobre o texto a produzir 1. mas sempre TÉCNICA DE REDAÇÃO transparece uma função preponderante. Audrey Hepburn. Nesse trecho. 2. Para a expressão de nossos pensamentos. então. Cada um dos objetivos vai determinar o formato que o texto vai tomar e... podemos escrever textos de gêneros mui t diferentes como: diários. pensamentos e emo çõe de uma pessoa. depoimentos. Funções da linguagem Como podemos perceber. Clark Gable disfarçando com grande charme a sua velhice. Avo Gardner e Grace Kelly eu só conhecia defotos nas revistas e jornais. muitas vezes. a língua escrita é usada com diferentes funções e com os mais diversos objetivos.. interpessoais. mas não me dão vontade de revê-las. São questões de várias ordens: textuais. a seguir. ar tigos poemas. ou na informação. Essas decisões estão relacionadas àqueles mesmos aspectos que tentamos descobrir quando estamos lendo textos de outras pessoas. Tomando decisões Para escrever um texto. na linguagem e no seu funcionamento. Rio de Janeiro: Editora Aguilar. cartas. Poesia Completa e Prosa. Trata-se de dar ajuda à memória. Nomes e telefones de novos conhecidos. à discussão teórica e abstrata em que o eu não se expõe com tanta evidência. nos vestibulares e concursos. uma súplica.assumem o tom de confissão. dos amigos e dos negócios. Embora nosso exemplo pertença ao universo literário. com a alta qualidade e a avançada tecnologia da empresa que está pronta para o século 21. você é muito especial para nós. por mais secreta e enigmática que seja. A conquista da expressão dos próprios pensamentos e opiniões. uma ordem. uma sugestão. E por isso sempre estaremos oferecendo-lhe descontos e promoções em nossos serviços. alterando o seu comportamento. a predominância da função expressiva. No entanto. é preciso considerar que esse autor estará exercendo o papel de leitor num segundo momento e. precisa de mais de um ponto de apoio. já que o autor fala consigo mesmo. sempre que escrevemos um diário. um leitor que é a nossa própria pessoa em outro momento. já que não se pode confiar totalmente nela. Prezado José da Silva. é por meio dela que nos construímos como sujeitos atuantes na sociedade e no mundo. às vezes. não entendemos o que queríamos dizer. Beltrano Diretor de Serviços 64 TÉCNICA DE REDAÇÃO b) Função centrada no leitor ou apelativa Uma outra função da linguagem é aquela centrada no leitor. E quase um monólogo. à neutralidade. ou seja. circunstâncias. Repetir 4 pensamentos de outros é. José da Silva. a mensagem. sempre causam um pouco de dúvida se não estiverem acompanhados de alguma referência mais específica. muito importante. como já vimos. Pedimos que você verifique a correção dos dados pessoais e do telefone exibidos na conta. pois. Temos certeza de que cada vez mais atenderemos às suas necessidades de telecomunicações. por favor. José da Silva. Palavras soltas são dificeis de ser associadas a fatos. é um instrumento primordial para o exercício da cidadania. nas teses e dissertações. ou seja. Continue preferindo nossa operadora. quando lemos essas anotações. Atenciosamente. é necessário que mantenha seu cadastro atualizado. acontecimentos. Para que estas vantagens cheguem até você. deve estar bem elaborada para que possa ser compreendida em outras circunstâncias. é geralmente considerada inadequada e dá lugar à impessoalidade. A nossa memória. mas reconstruí-los. por isso. pessoas. Um conhecimento ou uma informação preexistentes ajudam a sustentar conhecimentos novos na memória por mais tempo. está presente em textos cujo objetivo é influenciar a atitude de quem lê. Se houver alguma alteração. Muitas vezes. Vamos analisar esta carta comercial/publicitária: DECISÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO A PRODUZIR 65 . E por intermédio da função expressiva que nos tomamos senhores de nossa própria história. entre em contato com nossa Central de Atendimento ao Cliente por meio do telefone XØ(X\9( Obrigado por ter escolhido nossa empresa para chegar mais perto de sua família. por exemplo. a expressão subjetiva explícita. José da Silva. escrevemos bilhetes para nós mesmos no intuito de não esquecer algum compromisso ou informação e. A função expressiva da linguagem é essencial à nossa vida. escrevemos para. pode ser esclarecedor. uma orientação. Porém. assimilá-los criticamente e assumir a própria voz é essencial. Geralmente é uma instrução de procedimentos. São Paulo: Editora Moderna. m. se constitui objeto de descrição. mais percebem quando estão sendo persuadidos contra a própria vontade e mais resistem aos processos de tirania e arbítrio. Mas a sociedade de consumo é fundamentada em textos apelativos. Por meio desse tipo de texto a sociedade pode ser controlada e submetida à dominação política e cultural. Cinema mudo. p. Função metalingüística é a função da linguagem na qual predominam os enunciados em que o código. mas apenas com o sign ficado de à mesma altura: ao nível do mar. em substituição a praticamente tudo que se queira. A empresa quer continuar sendo escolhida pelo leitor como sua operadora de serviços de telecomunicações. na sua escolha futura. /Çf sinema. / Reunião a nível internacional (reunião internacional). / Contratações a nível de futuro (contratações para ofuturo). tornou-se uma das mais terríveis muletas lingüísticas da atualidade. na sua reação.] Verbete: cinernateca [De cinema. A locução a nível de. 2. 2. Quanto mais esclarecidos são os cidadãos. 3. Observe este exemplo: 66 TÉCNICA DE REDAÇÃO Nível 1. Arte de compor e realizar filmes cinematográficos. atos. Cinematografia. É importante perceber os mecanismos de convencimento que estão implícitos em determinados textos que manipulam o pensamento das pessoas. Aquele em que a projeção não vem acompanhada de som: cena muda. explicar-se. no seu comportamento. Por isso é preciso ler com muita atenção e procurar as segundas e terceiras intenções em tudo o que nos chega às mãos./ O salário será a nível de 5 mil reais (em torno de). onde se projetam filmes cinematográficos.+ -teca. Existe ainda ao nível de. Eduardo Martins. 4. Em um dicionário. Veja alguns casos em que a locução aparece e como evitá-la: Decisão a nível de diretoria (decisão da diretoria). kínema.Observe como o propósito da carta influenciou a sua forma. 1. que criam necessidades de consumo e transformam as pessoas em máquinas desejantes.] S. I”K 1 cinem [Do gr. modismo desnecessário e condenável. é como se ele estivesse ausente do texto. 1. Assim as informações estão todas organizadas de forma a atingir essa meta. f .: cinemat(o)-: cinemática.] Cinema falado.] El comp. 1. Sala de espetáculos. = movimento’: cinemascópio. colocando as ações do leitor em evidência. Muito menos eficaz para o objetivo da empresa seria a simples comunicação por telegrama: Atualize cadastro pelo telefone XXX XXX Agradecemos preferência. ou parte dele. dos livros didáticos de língua portuguesa e do dicionário. E a língua falando sobre a própria língua. Em determinados casos podem ser usadas as locuções no plano de e em termos de. 1.] S. c) A linguagem que explica a língua —função meta!ingüística A linguagem pode falar acerca de si mesma. ansiosas por adquirir mais e mais. Projeção cinematográfica. DECiSÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO A PRODUZIR [Equiv. Observe os verbetes a seguir: Verbete: cinema [De cinematógrafo. Os exemplos mais claros são os textos da gramática. Podemos dizer que a função preponderante é centrada no leitor. Aquele em que a projeção é acompanhada de uma faixa sonora. Paulo. é ainda mais evidente essa ausência de um autor explicitamente identificável no texto. 3. Manual de Redação e Estilo — O Estado de S. /Decisão a nível de governo (decisão governamental). 190 (com adaptações). Embora possamos perceber que um autor elaborou o pensamento sobre o item analisado. cinematógrafo. Dizemos. paisagem cinematográfica. Respeitante à cinematografia. por sua beleza e/ou por outra(s) qualidade(s). (Nélson Rodrigues. dispõe de uma excelente ferramenta social para exercer suas tarefas na sociedade. 67 68 TÉCNICA DE REDAÇÃO d) A arte literária —função poética Encontramos a função poética da linguagem quando a intenção do autor de um texto é extrair da linguagem as suas mais altas possibilidades expressivas. Que. então. vai se lembrar do sofrimento de Fabiano por não dominar as palavras. 42. pouco antes de partir o avião. o miúdo. os possíveis usos e as relações entre as palavras. Nesses casos. Fechado para sempre. O FiM DAS COISAS FECHADO O CINEMA ODEON. p. temos a arte que utiliza a linguagem verbal. 100 Contos Escolhidos. por enquanto. 3. II. o apelo ou a confissão. Verbete: cinematográfico Adj. na rua da Bahia. Se você já leu Vidas Secas. sendo de outrem. percebemos que alguma coisa não funciona bem: pausas. (Amadurecerei um dia?) Não aceito. Quero é o derrotado Cinema Odeon. quando for o caso. Quando uma pessoa tem um bom vocabulário e sabe combinar adequadamente as palavras.’. mais que para a informação. para sua elaboração especial e intencional. de estranhamento agradável. pela forma como está organizado.) Dicionário Aurélio Eletrônico Há um conjunto de recursos que dispensa a voz do dicionarista. 2. pois chama a atenção para si mesmo. A espera na sala de espera. Próprio de cinema. A Vida como Ela E. e até aplaudi-las. como material de criação: a literatura. seja na sua combinação. Não amadureci ainda bastante para aceitar a morte das coisas que minhas coisas são. a palavra. A língua é um dos instrumentos mais importantes na conquista da própria identidade e da cidadania. titubeios na fala e falhas e inadequações na escrita. em oposição à transparência do texto informativo. fora-de-moda Cinema Odeon. mais americano. A matinê . chama a atenção para a organização e estruturação do texto. É por meio desses textos que ampliamos o nosso universo lingüístico. que o texto é opaco. truncamentos. Local onde se conservam os filmes cinematográficos.1. evocando o beUo cinematográfico que dera no aeroporto. Cada verbete. ou seja. em especial os considerados de valor cultural ou artístico. jogar com as potencialidades latentes nas palavras e criar combinações novas e originais. proporciona ao leitor o caminho para compreender os significados. seja no acervo e escolha de palavras. a morfologia. Mas quando sua linguagem apresenta problemas. que lembra o que se vê no cinema: “Rilhava os dentes. Não é possível. 1. o cinema Glória. Essa elaboração provoca no leitor uma espécie de experiência estética prazerosa. minha mocidade fecha com ele um pouco. maior. é digno de ser cinematografado: uma jovem cinematográfica. de Graciliano Ramos. mais isso-e-aquilo. ao mesmo tempo. o jogo de palavras é intencional e não pode ser modificado sem que se modifique o efeito dessa escolha sobre a interpretação do poema como um todo. waldemarpissilândico. No exemplo. depoimento social de costumes de uma época./Fechado para sempre. Por exemplo. expressão do EU e informação sobre fatos e acontecimentos. mesmo não divina.7 70 TÉCNICA DE REDAÇÃO Ritmo Repetição de palavras Repetição de sons Repetição de idéias Jogos de palavras Ironias. a poesia narrativa épica são feições diferentes para um mesmo fenômeno: a arte da palavra. Carlos Drummond de Andrade Boitempo O poema de Drummond exemplifica essa opção pela escrita de forma especial: a disposição das frases no papel. como fazemos com um texto de jornal. na rua da Bahia. sublime agora que para sempre subm erge em funeral de sombras neste primeiro lutulento de janeiro de 1928. O relato da experiência pessoal. E cada uma dessas formas tem subgêneros. A divina orquestra. tombos. demonstra como as funções se sobrepõem. As meninas-de-família na platéia. porque a obra de arte oferece interpretações do mundo que estimulam a reflexão e o conhecimento Além de proporcionar experiência estética. costumeira. critica política. A estruturação do texto é tão importante que qualquer substituição constituiria uma agressão à autoria do poeta. por sua vez. William S. o poema é plurissignificativo. crítica da cultura. análise psicológica. tramas. Hart.. pobre sátiro em potencial. alterá-lo ou transformá-lo. apresentado como uma narrativa no poema. O jornal da Fox. Nos versos “FECHADO O CINEMA ODEON. polissêmico. e abre caminho para que os leitores empreendam uma reflexão que pode desdobrar-se em várias camadas: lírica. A primeira sessão e a segunda sessão da noite. O poema é prioritariamente uma elaboração especial da linguagem. o Conto. a escolha das palavras.com BuckJones. A prosa e o verso se desdobram em outras espécies literárias. Quando citamos um poema não podemos resumi-lo. duplo sentido. a elaboração original e única para a expressão de uma interpretação sobre os fenômenos do mundo. de humor. a associação entre as idéias. mas é também. policial. o teatro. entretanto o conhecimento da natureza do texto artístico é imprescindível para que se compreenda como funcionam os textos não-literários A leitura freqüente de textos literários é também muito importante na formação de uma pessoa. de costumes. são simultâneas. crítica social.”. Exijo em nome da lei ou fora da lei que se reabram as portas e volte o passado musical. o romance pode ser: histórico. humor Criação de novos vocábulos (neologismos) Frases nominais Estrutura sintátjca predomjnantemerite justaposta Uso da primeira pessoa do singular A literatura assume. de terror. diversas formas e diferentes objetivos. de amor.. por exemplo.. o COflvÍvjo com a literatura Constitui um exercício privilegiado de habilidades cognitivas . você pode observar muitas das características da literatura que constituem meios para a elaboração especial da linguagem: 69 . DECISÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO A PRODUZIR A impossível (sonhada) bolina ção. Assim. tiros.. já que permite várias formas de leitura. Nosso objetivo principal neste livro não é o estudo da literatura. O romance. de guerra. entonação. usamos frases mais simples. Embora pertençam ao mesmo sistema. Este tipo de texto. como penso. autor do consagrado Limite (1929-1930). sem a interferência das impressões do autor. com distintos objetivos. Considere o seu próprio uso da linguagem e observe que a língua escrita não dispõe dos recursos contextuais. usamos expressões dialetais com mais freqüência. O objetivo é transmitir informações a respeito de uma realidade. clara e objetiva. ou seja. concejtuar. das modulações da voz. titubeios e problemas de concordância. expor. não dispomos de recursos como gestos. acho. conceituar. que o texto é transparente.1983). a cada momento. não planejamos com antecedência o que vamos falar. Os recursos explorados pela literatura para chamar a atenção para a estrutura da linguagem (repetições. considero. um poliglota. eliminação de elementos sintáticos etc. porque o nosso interlocutor está distante e é necessário garantir a compreensão. Ele fala e usa a língua em diversas situações. interpreto. pois não atrai a observação do leitor sobre a forma como é organizado. das referências ao ambiente. voz. do contexto. autor de Brasa Dormida (1928) e de Ganga Bruta (1933). repetições. Geralmente. dos gestos. Decisões em relação às estruturas Iingüísticas O falante de uma língua é. das expressões faciais. podemos repetir informações. Ao escrever. conjunções facilmente compreendidas. Quem fala. no qual os verbos que indicam subjetividade. quem lê e a linguagem em si são questões deixadas em segundo plano. de certa forma. Podemos esquematizar nossos procedimentos: Na fala somos mais espontâneos. essas duas manifestações são apenas parcialmente semelhantes. podemos resolver dúvidas do ouvinte. informar. a maneira como fala. revisamos para avaliar o funcionamento do texto e evitar repetições desnecessárias de palavras. que enriquecem a oral. como expressões faciais. cortes. definir são formas de linguagem que evidenciam a função referencial.e de familiaridade com as estruturas e Possibilidades da língua escrita. e) Funçdo referencial Quando a língua é usada para descrever. a não ser em situações muito formais ou delicadas. na fala. é o mais valorizado nos meios científicos. Dizemos. definir. imparcial. em diferentes níveis. Descrever. não se trata de um texto expressivo (centrado no EU). precisamos seguir mais rigorosamente as exigências da língua padrão. na primeira pessoa do singular. não trata da linguagem como fenômeno nem busca proporcionar experiência estética especial. como as que se dão entre: DECISÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO A PRODUZIR 73 modalidade oral e escrita registro formal e informal variedade padrão e não-padrão a) Distinções entre as modalidades oral e escrita Freqüentemente confundimos as modalidades da língua oral e escrita. pois podemos. explicar algum item mal compreendido. um pouco atrapalhada. relatar. e Humberto Mauro (18 77. Almanaque Abril 1996 Como você pode observar. das pausas. 74 TÉCNICA DE REDAÇÃO Na escrita planejamos cuidadosamente o nosso texto para assegurar que o leitor compreenda nossas idéias sem precisar de mais explicações. O exemplo a seguir é um caso em que a função referencial é preponderante: 72 TÉCNICA DE REDAÇÃO os primeiros grandes diretores: Mário Peixoto (1911-1993). O que ganha evidência é a informação. são sistematicamente evitados. Não quer provocar algum comportamento no leitor. . do conhecimento do interlocutor. então. pois não temos o apoio do contexto. é muito comum surgirem na fala truncamentos. gestos. É como se a realidade falasse por si própria. universitários e acadêmicos. 3. inversões. temos apoio da situação fisica. Pensamos muito rapidamente e a expressão das nossas idéias pode ser. não podemos resolver dúvidas imediatamente. Há distinções fundamentais nesses usos que é preciso considerar. pois se refere primordjalmente a uma noção ou fenômeno.) são evitados. sinto. o autor se distancia ou desaparece quase completamente para tornar a informação bastante neutra. expressões faciais. dizemos que se evidencia a função referencial. percebo. corrigir e explicar melhor. Para isso é imprescindível ampliar continuamente o acervo de opções. e. observe alguns itens que merecem atenção. 76 TÉCNICA DE REDA ÇÃO Palavras de articulação entre idéias (repetidas em excesso) que substituem conjunções mais exatas: então. Sinais utilizados na fala para orientar a atenção do ouvinte: bem. Um dos problemas mais freqüentes na produção de textos de jovens redatores é a confusão entre a modalidade oral. tá tudo bem? à fala mais formal. Podemos sintetizar as diferenças no seguinte quadro: FALA ESCRITA Espontânea Planejada Evanescente Duradoura Repetições / redundâncias/ Controle da sintaxe / das repetições / truncamentos / desvios da redundância Predomínio de orações Predomínio de orações coordenadas subordinadas Gran de apoio contextual Face a face Interlocutor distante . porque representam estruturas próprias da fala. e decidir como usar as infinitas possibilidades da língua da forma mais adequada e aceitável. né (não é). . pontuação. tá (está). Solicitamos que as atividades sejam adiadas por alguns minutos. que. segundo os objetivos do momento. tô (estou). pois temos tempo de procurar a palavra adequada. peraí (espere aí). Boa tarde! e da escrita mais informal Tô chegando aí Deiva o parabéns pra mais tarde! à mais formal Chegaremos ao local da cerimônia com uni pequeno atraso em relação à programação anteriormente estabelecida. pra (para). principalmente quando o texto é formal. Para que você tenha ferramentas para analisar essa questão. problemas de concordância. procuramos utilizar um vocabulário mais exato e preciso. ortografia. evitamos gíria e expressões coloquiais. que podem aparecer em textos informais. o vocabulário e as formas de combinação das palavras em frases e textos. Portanto. sabe? Verbos de sentido muito geral no lugar de verbos de sentido mais exato: dar ficar dizer tei fazei achar ser. Cabe ao falante ou redator analisar a situação. mas muitas vezes são utilizadas indevidamente na escrita formal: Formas reduzidas ou contraídas. taí (está aí). certo?. Ausência de apoio contextual DECISÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO A PRODUZIR 75 b) Formalidade e informalidade Tanto a fala como a escrita podem variar quanto ao grau de formalidade. daí aí. viu?. assim. que permeia a escrita informal. o contexto. a escrita não é a simples transcrição da fala. cê (você). Há uma gradação que vai da fala mais descontraída 01. Outra vez. e a modalidade escrita formal. regência. chamamos atenção para o seu próprio uso da linguagem e para a necessidade de que você reflita acerca de seu desempenho. Tem características próprias e exigências diferentes. ou seja. veja bem. planejada e mais próxima da escrita Caros ouvintes. de acordo? não sabe?. utilizamos sintaxe mais complexa. entendeu?. colocação pronominal. bom. as orações subordinadas são mais freqüentes na escrita que na fala. que permite a exatidão e a clareza do pensamento.truncamentos. se toca. Devem ser considerados os primeiros elementos a eliminar ou substituir quando se deseja transformar um discurso oral informal. Assim. Várias salas de exibição são abertas no Rio de Janeiro e em São Paulo no início do século XX. como neste texto de uma propaganda de adoçante dietético: Você diz pra gente que a vida corre mansa. ou seja. vai la’. O que define a norma ou padrão culto é o uso. enche. Você vive dizendo que pensa no meu futuro. Observe. pega leve. velho. um texto expositivo contemporâneo: Em 8 de julho de 1886. manera. transgressões às formas aceitas até então na escrita culta formal. Historicamente. em um texto escrito formal. diminui o açucar. não se deve mais generalizar. nas leis. como se fazia a respeito dos textos do fim do século dezenove. Entretanto. Faz como a mamãe que se amarra num diet. nos livros de qualidade. com ele. Atualmente. apenas sete meses depois da projeção inaugural dos filmes dos irmãos Lumière em Paris. E quando é que você vai se tocar disso? Hoje não tem presente. com cenas da baía de Guanabara. que no seu tempo era diferente Sabe. Mas o que té rolando é papo de amigo. entretanto. Portanto. a norma estava nos textos literários de autores como Machado de Assis. língua culta ou padrão. democraticamente. Constituem recursos inadequados para o texto formal escrito. pega leve nas frituras. espontâneo.. rolando um papo. Por isso velho. O texto formal utiliza o que chamamos de norma. Só que eu também penso no seu. E muito dificil definir o que seja o padrão culto de uma língua. histórias policiais. libertando-a para novas experiências. consensualmente aceito e consagrado como correto pelos falantes que têm alto grau de escolaridade.. sem eliminá-las. sua. Você fala pra tomar Cuidado corri os eXcessos. sem essa. No início do século. manera. É exigida em determinadas circunstâncias. sem planejamento. a língua padrão é o consenso do que está nos documentos oficiais. a gente. amarra. Inconsistência no uso de pronomes: te. não há por que se portar perante a língua de modo submisso a um poder autoritário. Assim. vestígios de coloquialismo. em textos que não as admitem. econômico e social daqueles que o definem e o codificam nas gramáticas escolares e o consagram na escrita formal. a norma culta deve distinguir os usos literários dos não-literários. o Rio de Janeiro assiste à primeira sessão de cinema no Brasil. No ano seguinte Paschoal Segreto e José Roberto Cunha Salles abrem a prim eira sala exclusiva de cinema na rua do Ouvidor. Há recursos da fala e da escrita informal que funcionam muito bem em determinados contextos. 6. E Afonso Segreto quem roda o primeiro filme brasileiro. por exemplo) que constituem desvios. O modernismo constituiu uma forma de revolução na linguagem literária. sempre em evolução. Surge um centro de produção no Rio. esse papo às vezes enche! Mas te vendo cansado e fazendo tudo pra agradar. comédias e filmes com atores interpretando a voz atrás da tela. o padrão depende do poder político. em 1898. A escola deve respeitar as diferenças. é que a gente sente o quanto te ama. pois estamos lidando com um fenômeno vivo. vocé seu. E muitas vezes o caso do texto publicitário. Rui Barbosa e Euclides da Cunha. dizendo que a norma culta está na literatura. mas que são inadequados em documentos oficiais ou em textos formais. dos textos informativos. os grandes escritores modernistas trouxeram para a literatura a fala do povo e novas criações de efeito estilístico (Guimarães Rosa.Gírias e coloquialismos: papo. nos jornais e revistas tradicionais de grande circulação.. Isso diz respeito tanto à fala quanto à escrita. a produção cai . mas os dialetos regionais e as particularidades estilísticas pessoais têm seu espaço na vida social. Operíodo de 1908 a 1912 é considerado a beile époque do cinema brasileiro. Muitas DECISÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO A PRODUZIR 77 vezes. Pai. Nos anos seguintes. A norma padrão assegura a unidade lingüística do país. e. Um uísquinho de vez em quando. Esses elementos são próprios da fala espontânea. encontramos algumas dessas formas impróprias.Vel se consegue mudar um pouco sua alimentação. informal. a seguir. a sua saude é superimpoante pra gente. sujeito a uma infinidade de influências e transformações. sem essa de dinheiro. Eles são os exemplos mais citados em nossas gramáticas descritivas e normativas. nós.. uma vez que essa norma se sobrepõe às variedades regionais e 78 TÉCNICA DE REDAÇÃO individuais. sem o qual a vida profissional pode ficar prejudicada. oferecendo oportunidade de acesso ao domínio da norma culta. Aparecem na escrita de forma eficiente quando se deseja dar ao texto um tom coloquial. um efeito de intimidade que simula a oralidade ou o diálogo. no qual são delineadas e discutidas idéias. as frases são curtas.. Todos os gêneros nos interessam como leitores e como redatores. como já vi mos. convencer o seu leitor de seu ponto de vista (argumentar e persuadir)... a ordem é predominantemente direta. não há manifestação clara da opinião do autor. que se sucedem compondo o enredo. Entretanto. há uma deliberada neutralidade.. Exemplo: É imperdível o espetáculo apresentado pelo grupo de teatro. Outra decisão correlacionada às anteriores. ou quer utili za uma linguagem formal. expositivas. Simultaneamente a essa decisão preliminar. 4. ao gênero de texto que se quer produzir. você tem de decidir se vai contar acontecimentos (narrar). citando-o ou não no texto. Gênero e tipo de texto Vamos imaginar que você queira escrever um texto sobre uma experiência estética que viveu (um bom filme. a melhor maneira de contar uma anedota.. Essas decisões estão relacionadas ao objetivo da comunicação e. não há intenção de mostrar um estilo muito elaborado. Nós assimilamos esses formatos porque convivemos com eles nas nossas práticas sociais. você observa que: a linguagem procura ser clara e objetiva. 80 TÉCNICA DE REDAÇÃO na forma como você se dirige ao leitor. argumentativas e narrativas. 294 (com adaptações). de fato. w9k . Quanto aos aspectos da língua verbal propriamente...Ç DECISÕES PRELIMÍNARES SOBRE O TEXTO A PRODUZIR 79 Todas essas características contribuem para acentuar o caráter informativo do texto. Exemplo: Ontem eu fui ao teatro e via peça.. em um romance encontramos partes dialogadas. não há texto totalmente neutro. Quem vai assistir ao espetáculo. quase naturalmente.por causa da concorrência dos filmes norte-americanos. Você quer um texto mais subjetivo.. com figuras de linguagem ou inversões sintáticas. portanto. quais são as maneiras de começar uma ata.. os períodos estão organizados em blocos de idéias bem distintos. Antes de começar a escrever. e são . distanciada? Essa decisão vai influir: na estrutura da frase. diz respeito ao nível de linguagem.. você tem de decidir também que ponto de vista adotar: você quer se colo ca de alguma forma no texto? Exemplo: Eu fui. qual é a forma de uma carta. Todos nós. Sabemos. Cada gênero já traz em si escolhas prévias em relação a estruturas básicas de linguagem que são automaticamente utilizadas pelo redator. Analise as escolhas feitas pelo redator. a neutralidade com que se tenta convencer o leitor da seriedade e da confiabilidade das informações.. que obedecem a uma ordem lógica (cronológica). como narrar um acontecimento. uma boa música. p. Ou prefere se distanciar? Exemplo: Ir ao teatro é uma ex periênci surpreendente. Almanaque Abril 2000.. Para produzir cada tipo de texto algumas habilidades de linguagem são necessárias. na escolha do vocabulário.. o texto é impessoal.. Ao trabalhar com um determinado gênero utilizamos tipologia variada de texto.. pois a própria escolha das informações que serão utilizadas e das que serão omitidas já pressupõe uma posição diante da realidade. Assim. apresentar uma reflexão teórica sobre o fato (dissertar). as diversas possibilidades de participação em uma conversa. coloquial. um bom espetáculo teatral). Mas. tem a oportunidade de. Sempre que produzimos uma forma qualquer de comunicação estamos utilizando um dos gêneros disponíveis na nossa cultura. estamos focalizando neste livro os gêneros que dizem respeito ao domínio da comunicação. Nós fomos. Exemplo: Ir ao teatro e viver a experiência estética proporcionada pela peça. informal e facilitado. objetiva. mais simples ou mais complexa. Observe os quadros nas páginas a seguir. de forma verossímil. situações. situadas no tempo GÊNEROS ORAIS OU ESCRITOS Poesia conto maravilhoso conto de fadas fábula lenda narrativa de aventura narrativa de ficção científica narrativa de enigma narrativa mítica anedota biografia romanceada romance romance histórico novela fantástica conto paródia adivinha piada relatos de experiências vividas relatos de viagem diário íntimo testemunho autobiografia curriculum vitae DOCUMENTAÇÃO E MEMORIZAÇÃO DE AÇÕES LEVANTAMENTO E DISCUSSÃO DE PROBLEMAS DISCUSSÃO DE PROBLEMAS SOCIAIS CONTROVERSOS ARGUMENTAÇÃO Sustentação.apresentados e transmitidos os saberes. personagens. argumentar. Para transitar nesse domínio. persuadir de maneira formal e impessoal. refutação e negociação . em que estão listados alguns dos gêneros mais conhecidos. tempo. é necessário saber expor. SITUAÇÕES DISCURSIVAS LITERATURA POÉTICA LITERATURA FICCIONAL TIPOLOGIA TEXTUAL PREDOMINANTE EXPRESSÃO POÉTICA VERSO NARRAÇÃO RELATO HABILIDADES DE LINGUAGEM DOMINANTES Elaboração da linguagem como forma de expressão da interpretação pessoal do mundo Imitação da ação pela criação de enredo. cenários. Representação pelo discurso de experiências vividas. Se escrevemos sobre nós mesmos. O gênero de texto é sugerido pela própria situação de comunicação. se podemos incorporar elementos próprios da oralidade. temos que tomar decisões importantes em relação ao texto que vamos produzir. 6. a função será poética. E o próprio gênero oferece parâmetros básicos que nos guiam na formulação do texto. Decisões orientadoras Conforme enfatizamos neste capítulo. ao gênero. a função será referencial. Formulamos uma espécie de projeto de texto. o objetivo nos propõe qual será a função da linguagem preponderante no texto. a função será persuasiva. as quais vão servir de pauta para o desenvolvimento da escrita propriamente dita. a função será expressiva. ao seu funcionamento na situação. se falamos da própria linguagem. refutação e negociação de tomada de posição ESTABELECIMENTO. antes mesmo de começar a escrever. ao leitor. a função será metalingüística. se vamos utilizar a língua padrão ou podemos lançar mão de variações. Prática de tomada de decisões . Há em nossa cultura um acervo de modelos de texto entre os quais escolhemos o que vamos utilizar em cada contexto comunicativo.PERSUASIVA de tomada de posição ata notícia reportagem crônica social crônica esportiva história relato histórico perfil biográfico aviso convite sinais de orientação texto publicitário comercial texto publicitário institucional cartazes siogans campanhas —folders cartilhas — folhetos textos de opinião diálogo argumentativo carta ao leitor carta de reclamação carta de solicitação deliberação informal debate regrado editorial discurso de defesa requerimento ensaio resenha crítica ARGUMENTAÇÃO Sustentação. se falamos de alguma coisa. decidimos se vamos utilizar um registro de linguagem mais formal ou mais coloquial. se fazemos arte das palavras. ao nível de linguagem. se tentamos influenciar nosso leitor. A partir da função. com suas diretrizes fundamentais. Assim. Essas decisões nos situam em relação aos objetivos do texto. EXPOSIÇÃO Apresentação textual de fatos e saberes contratos CONSTRUÇAO E da realidade declarações TRANSMISSÃO DE documentos de registro REALIDADES E SABERES pessoal atestados certidões estatutos regimentos códigos TRANSMISSÃO E EXPOSIÇÃO Apresentação textual de diferentes texto expositivo CONSTRUÇÃO DE formas dos saberes conferência SABERES artigo enciclopédico entrevista texto explicativo tomada de notas resumos resenhas relatório científico relato de experiências científicas INSTRUÇÕES E DESCRIÇÃO DE AÇÕES Orientação de comportamentos instruções de uso PRESCRIÇÕES instruções de montagem bula manual de procedimentos receita regulamento — lei regras de jogo placas de orientação 84 TÉCNICA DE REDAÇÃO 5. Quando se decide por um gênero. você vai optar pelo português padrão. vocativo. Mas tente não cair nessa armadilha. Naturalmente. Quando já estamos nessa fase. pois ela pode conduzir a outros problemas como a linguagem artificial. São decisões relativas às informações que serão utilizadas e às posições que assumimos em relação a essas informações. imediatamente você já tem alguns parâmetros para a produção. a) Fazer anotações independentes As idéias surgem sem muita organização. Há muitas possibilidades. como vimos no capítulo 2. Se você quiser. prefiro que opte por uma carta.a) Prepare-se para se comunicar com a autora deste livro. introdução etc. A concepção das idéias Como vimos. ou à hipercorreção. um cartão-postal. envie. Surgem em momentos diferentes e devem ser anotadas logo que se formam para não se perderem no esquecimento. O formato é tradicional: cidade. data. Cada pessoa constrói sua própria técnica de organização inicial das idéias. Vão constituindo um conjunto de aproximações um pouco desordenado. que é o erro pela vontade extrema de acertar. 85 1. b) Escolha um gênero expositivo e trace um planejamento como se fosse publicar o texto em um periódico que você tem o costume de ler. Temos fama de ca ——4 ft 1 DECISÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO A PRODUZIR çadores de erros. antes mesmo de começar a escrever um texto há muitas etapas. e é preciso também tomar decisões a respeito da linguagem e do gênero de texto. à medida que vamos fazendo leituras e reflexões acerca do tema. Agora você pode decidir o registro de linguagem: formal ou informal? Que função prefere dar à carta? Quer expressar suas opiniões sobre o livro? quer fazer algumas perguntas? quer me convencer de alguma coisa? quer me passar informações acerca de outros livros da área? quer falar da dificuldade de produção da própria carta? ou quer colocar um pouco de cada uma dessas funções no mesmo texto? Escreva a carta e ao relê-la veja se ficou coerente com suas escolhas preliminares. Vamos explicar como é o funcionamento de cada um desses processos. pedante. Produza o texto e envie como colaboração ao periódico. De pos- .me a carta. posições. Embora você possa escolher um telegrama. E preciso conhecer o assunto. Capítulo 6 A ordem das idéias 1. simulando as possibilidades de criação de um texto referente à música popular brasileira. procuramos dar ordem às nossas idéias. todo o mundo fica constrangido ao escrever para um professor de português. um bilhete. não é? Afinal. ter idéias. e essas tarefas já podem ser consideradas parte integrante da escrita. ) Clarice lhe entregou uma pilha de fragmentos. escravos. a partir de pequenas aproximações e conclusões. no período de vida em que foi apoiada pela amiga Olga Borelli: Em Água Viva. jorna is. Observe o que conta José Casteilo a respeito do processo criativo de Clarice Lispector. Inventário das sombras. o redator relê e analisa esses registros.88 TÉCNICA DE REDAÇJO se de muitas anotações. uma posição a respeito de uma idéia vai se construindo pouco a pouco. pp. fratava de abrir um caminho. 1999. índios lunu / ritos ritos trib crs religiosos /m0inhas e” 12’99 — Chiquirih Gonzsg ôreIs 1 marcha e crnsvsl / 1917— Dongs Pelo telefone —1? samba 50— smb-cnço — boss-nov es-e7 — festivsis . uma direção para a tempestade escoar.. sozinha com sua tesoura. Esse percurso. em que há limite rigoroso de tempo. Rio de Janeiro: Record. anotadas em momentos diferentes. foram concatenadas umas às outras em busca de uma ordenação preliminar lógica. DJficil dizer o que lemos — e é impressionante pensar que uma outra pessoa. ao escândalo. Olga a escoltava. que na vida profissional é mais flexível e largo. vamos montando blocos de idéias maiores e uma rede entre eles que vai formar o texto. E. Olga Borelli. Observe como podem se configurar anotações registradas durante a leitura de diversos textos acerca da música popular brasileira: ? ‘ /flfr z A ORDEM DAS IDÉIAS Pcdas le 2OIOI4O rádios — grvors 5io Luiz Gonzg e HumL’ert. Assim pode trabalhar sobre um rascunho em que várias idéias. Mesmo quando não se trata de literatura. mas acontece a partir do momento em que o redator toma conhecimento do tema.o íeixeir Sos idi resistnci vem s feIic1e e cls riuez t55 origens 89 AFOPULA5ASILEIRA Portugueses. Quando Clarice não podia mais ordenar o que escrevia. é reduzido e rápido. bulas de remédio. (. sem se intrometer no que lia. Mais uma vez a literatura fornece exemplos. como as peças de um puzzle. que ela pacientemente dividiu em dezenas de envelopes. estabelecendo a hierarquia e a combinação entre eles para formar o texto preliminar. e depois foi encaixando-os. num concurso. 30-1. lenços de papel. Clarice leva sua estética do fragmento ao paroxismo. José Casteilo. “montou “ o caos que Clarice anotou em guardanapos. A partir dessas pequenas peças. sem planejamento.—jovem-gurs Se’ —tropicalismo 70 — revlorizço tio sa m jazz + instrumental rock brssileiro 50 — rock LrsiIeiro 90 — releitura tis MP5 — reciclagens pgocle. hierarquizando-as Quando o redator tem bastante capacidade de síntese e habilidade mental de centralizar um pensamento numa única palavra. conseqüentemente. nisngue-L7et 90 TÉCNICA DE REDAÇÃO b) Escrever tudo o que vem à mente. escrever logo um parágrafo para pensar em outras idéias depois de relê-lo é o caminho mais indicado. mesmo que de maneira ainda rudimentar. ou elaborar uma espécie de esquema geral do texto 92 TÉCNICA DE REDA ÇÃO . um tom informal. Mesmo que esse parágrafo seja ainda muito preliminar ou inadequado. Se conseguimos captar esse fluxo e registrálo. Nesse caso. desenvolvido ou reduzido posteriormente. para depois. Os nativos possuíam uma rica sonoridade para acompanhar seus ritos tribais. Os africanos trouxeram junto com os ritos e cerimônias religiosas uma musicalidade especial. Veja como se podem gerar novas idéias a partir de um parágrafo: A mLsic brasileira o resuIt&o da fusao dos ritmos trazidos pelas três etnias ue formaram o nosso povo: íridios. marchas oficiais e modinhas. esse é um procedimento muito rápido para captar as idéias. e. A linguagem apresenta. O samba nasceu da fuso de ritmo5 das três raças. A releitura fornece evidências que devem ser consideradas para as transformações. apreendemos um esboço que poderá ser reformulado. A palavra-chave é um núcleo significativo que sintetiza uma idéia maior. depois. diversa e tem suas origens em diversas fontes cue vm dos negros. de acordo com o fluxo do pensamento. E um recurso muito produtivo para provocar a criação e apreensão de idéias essenciais. Mas h muitos outros ritmos e estilos cue convivem e se influenciam mutuamente. A ORDEM DAS IDÉIAS 91 Observe o registro preliminar de palavras-chave acerca da música popular brasileira: ORiGEM 3 ETNIAS FUSÃO SAMEA NOVOS ESTILOS ALMA 5RASILEIA ESISTNCIA E’EFERNCIA DA JUVENTUDE d) Construir um parágrafo para desbloquear e. o procedimento ajuda a gerar novos pensamentos sobre o assunto. nesse tipo de texto. existirem idéias incompletas ou detalhes dispensáveis. Os colonizadores brancos tinham na bagagem misicas sacras. então. não haver pontuação nenhuma. Quando falamos. muitas vezes. É muito freqüente. desen volver as idéias ali expostas — Muitas pessoas têm dificuldade até começar a escrever. cortar e ordenar A música popular brasileira é muito rica. DESENVOLVER A IDÉIA DE FUSÃO DA RiCA SONORiDADE DAS TRÊS ETNIAS e) Escrever a idéia principal e as secundá rias em frases isoladas para depois interligá-las. Enquanto estão trabalhando apenas mentalmente ainda se sentem inseguras e não conseguem avançar muito. as idéias vão surgindo rapidamente. sx& sertsnejo. negros e portugueses. Esse processo se aproxima muito da fala. Hoje os jovens retomam os ritmos primitivos e revalorizam as origens de nossa música. ainda formulada apenas na mente do redator. os brasileiros continuam preferindo nossa Mj9’ poroLue ela reflete a nossa alma e é muito rica. c) Fazer uma lista de palavras-chave e reordená-las. Embora haja uma forte indústria cultural estrangeira ue quer dominar o mercado no brasil. índios e portugueses. não temos como discipliná-las. H música para todos os gostos. Vamos especificando e detalhando nosso ponto de vista em relação à idéia preliminar pelo aprofundamento da nossa reflexão. Não há um modelo universal que atenda a todas as variações. voltada para suas raízes. seleção. depois de transcrito. sempre criativa e viva. Essa elaboração demanda paciência para que o redator faça várias tentativas e reformulações em busca de maior exatidão para seu pensamento. em 1917. absorve novas contribuições. Observe um esquema já estruturado para desenvolvimento de um texto: A música popular brasileira resiste à dominação cultural ORIGENS 3 ETNIAS NEGROS . como já vimos. E. F’ela fusão e mútua influência entre os vários estilos nasce o samba. maxixe. passa por pequenas alterações e ajustes ditados pela releitura cuidadosa. Na seleção. escolhemos o que vamos dizer e o que não vamos dizer. Embora sofrendo influencia constante da produçõo estrangeira. para nós mesmos. Na ordenação. uma rede de relações lógicas entre 94 TÉCNICA DE REDAÇÃO as idéias do texto. de uma maneira geral. ainda não muito delineada. Esse texto. Entre todos os procedimentos apresentados. explicações. também. Analise este resumo e observe como ele tem muitas idéias articuladas entre si. o desenvolvimento pode seguir as vertentes sugeridas pelo próprio assunto. decidimos a ênfase a ser dada a cada idéia e a submissão de uma idéia à outra. a música popular brasileira incorpora. escrevêlos e reestruturá-los após a releitura Esse é um procedimento próprio de redatores maduros. há procedimentos comuns: geração. que têm muita experiência e conseguem montar o texto na memória. quando se trata de escrever um texto não-literário. uma matriz semântica. expositivo ou argumentativo. recicla. Em todos esses processos. estabelecemos como organizar a articulação entre as idéias. mas resiste. A partir desse pequeno texto inicial como fio condutor. pelo esclarecimento. O importante aqui é criar um mapa inicial de sentidos. g) Organizar mentalmente grandes blocos de texto. modinha NOVOS ESTILOS samba (Pelo telefone — Donga) Fatores favoráveis rádios e gravadoras OUTROS ESTILOS enriquecimento efortalecimento fidelidade às origens alma brasileira RESISTÊNCIA À DOMIA4ÇÃO gosto popular música estrangeira é secundária jovens preferem música brasileira ORDEM DAS IDÉIAS 93 fi Elaborar um resumo das idéias principais e depois acresLentar detalhes. e se consolida nas primeiras décadas do sáculo. ampliações. hierarquização e ordenação das idéias.RITOS RELIGIOSOS (raízes fortes) ÍNDIOS . original e soberana. Cada texto determina as articulações que lhe são próprias.MÚSICA SACRA / MARCHAS /MODINHAS FUSÃO DOS RITMOS ORIGINA IS lundu. A releitura do resumo indica os pontos que podem servir de alavanca para novos desenvolvimentos. inserções. índios e portugueses. do que queremos apresentar. um método bastante produtivo é elaborar da forma mais clara e completa a idéia principal que será desenvolvida no texto. Na hierarquização. A elaboração de um esquema prévio pode onentar o redator quanto ao percurso mais . exemplos. ou seja. de nossas posições em relação ao assunto. idéias secundárias Um resumo. é um texto denso e bem estruturado.RITOS TRIBAIS BRANCOS . começamos a tomar decisões a respeito dessa rede de sentidos com uma noção ampla.Muitas vezes. Mas a matriz inicial é que fornece subsídios para esses aperfeiçoamentos. No texto dissertativo. o esquema inicial vai sendo reformulado durante o desenvolvimento do trabalho e chega a ser completamente transformado. que podem ser ampliadas: A música popular brasileira nasce sob o signo da ritegraç o de diversas formas e estilos musicais provenientes das três etnias otue formam o brasil: negros. E a adesão das novas gerações ao que é genuinamente nacional. simultaneamente. o chorinho. pois nada é casual. bossa4. em 1917. a música nacional não se reduz ao samba. Sobre essa matriz rítmica multirracial. Das anotações para o texto Para estabelecer a rede e desenvolver a idéia principal. A idéia principal está no título e percorre todos os parágrafos de diversas maneiras. ligam os parágrafos entre si. das gravadoras e da profissionalização dos músicos. compositores e intérpretes. a modinha. que ofereceram um terreno fértil onde nasceu o samba. num enriquecimento efortalecimento da base. Além disso. tornando-o coeso. pois é a era do rádio.. nasce uma força indestrutível que representa uma resisténcia à invasão e à dominação que outras culturas tentam impor por meio de suas avançadas indústrias culturais. jovem guarda. Vamos observar um texto produzido a partir das idéias registradas nos exemplos das páginas anteriores: Título: resumo da idéia principal O caráter de resistência da música popular brasileira Idéia principal — origem — resistência A música popular brasileira nasceu sob o signo da miscigenação. constituindo assim uma estrutura temática que transcende as frases e períodos. Entretanto. A música estrangeira nunca deixou de ser um acessório secundário no nosso universo cultural. da riqueza e da afinidade com o povo. a 96 TÉCNICA DE REDAÇÃO nova. Introdução da idéia de consolidação. introdução da idéia de gosto popular. .adequado. Todas as idéias e informações colocadas em um texto se justificam em vista dessas relações. Desenvolvimento da idéia de novos estilos — detalhamento. exeinplificação. o maxixe. de Donga. 2. utilizamos diversas formas de combinação e de articulação entre as informações. mas que tem sua própria “gramática”. No processo de consolidação do samba. Essa trama mais global se constitui a partir de procedimentos lógicos que constituem a seqüência e a progressão do texto. pagode. O segundo parágrafo está ligado ao primeiro pelos processos de expansão. da idéia que forma de seu leitor. mas se multiplica em inúmeras vertentes. o negro trouxe a sonoridade de seus ritos religiosos e o branco português a melodia de sua música sacra. que é sempre uma revaloriza ção das raízes brasileiras. axé. Conclusão: aforça que sustenta a resisténcia cultural vem dos alicerces. samba-canção. foram sendo criados novos estilos que configuram uma forte identidade musical brasileira. detalhamento e . os recursos sintáticos da gramática da língua são imprescindíveis (como veremos no capítulo 7). de suas marchas oficiais e de suas modinhas populares. Os diversos processos de fusão e reciclagem das nossas origens musicais tecem uma trama de ritmos e harmonias que reflete a alma do povo e por isso tem sua adesão incondicional. Oposição à idéia de ritmo único — ampliação da idéia de novos estilos e manutenção da idéia de consolidação das raízes. comprova que os alicerces da músibrasileira estão plantados em raízes inabaláveis. . resistente à invasão e à dominação estrangeira. Todas as escolhas dependem da intenção do autor. houve influência mútua de outros ritmos e o Jávorecimento do progresso técnico. dessa sintonia extremamente qfinada e bem construída. as marchinhas de carnaval. mantêm. O índio forneceu seu ritmo de ritos tribais. Baião. em suas múltiplas configurações. No parágrafo de apresentação. tropicalismo. da situação e de muitos outros fatores que ultrapassam os limites do papel. observamos a frase núcleo do texto: Sobre uma matriz rítmica multirracial foram sendo criados novos estilos que configuram uma forte identidade musical brasileira. Esses procedimentos relacionam cada parte do texto à parte que a antecede e à que a sucede imediatamente. resistente à invasão e à dominação estrangeira. ou seja. Nessa base estão o lundu. A certidão de idade oficial dessa criação tipicamente brasileira é Pelo Telefone. rap e mangue-beat se sucedem e convivem. Três etnias contribuíram com seus ritmos para que chegássemos a constituir o talento que hoje encanta o mundo em termos de musicalidade. Dessa identidade entre a produção musical e o gosto popular. sertanejo. A ORDEM DASIDÉJAS 95 Para que as ligações se realizem de forma adequada e correta nas frases e períodos construídos no texto. relação de continuidade temática com a idéia principal e com a conclusão do texto. de acordo com o objetivo do trecho. A filosofia não é um “eu acho que “ou um “eu gosto de “. O parágrafo conclusivo retoma a idéia de que a força e a resistência à dominação vêm da sintonia com a alma popular e da fidelidade às raízes. Observe o exemplo em que a autora inicia o texto negando a validade do senso comum em relação à Filosofia: As indagaçoes fundamentais nao se realizam ao acaso. mas não obrigatoriamente. Convite à Filosofia. busca encadeamentos lógicos entre enunciados. e existem em textos que não apresentam parágrafos. de repetição da mesma idéia. como os resumos e os editoriais. Marilena Chaui. As indaga çõesfilosófi cas se realizam de modo sistemático.exemplificação do que foi anunciado no primeiro. Não é pesquisa de mercado para conhecer prefe réncias dos consumidores e montar uma propaganda. 1997. a estrutura com o verbo ser (X é YYY) é a mais freqüente nesse caso. negar essa possibilidade logo de início. 15. Ou seja. apreciação. E a ação de formular um esclarecimento e. opera com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova. trabalhamos com a apresentação de “verdades” que são defendidas (texto argumentativo) ou apenas expostas (texto expositivo). pois servem para unir idéias dentro de um mesmo parágrafo. pois ele já traz em si as vertentes que devem ser ampliadas no desenvolvimento do texto. Atica. necessária para que se mantenha a unidade temática. exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. O terceiro se opõe à inferência possível de que só o samba é importante. opinião. Mas não devemos nos restringir a essa noção. Observe estes dois exemplos de apresentação da idéia principal por meio de períodos afirmativos: A música popular brasileira resiste permanentemente à invasão e à dominação de ritmos estrangeiros que a indústria cultural dos países mais desenvolvidos tenta impor. Marilena Chaui. pode-se apresentar como noção paticular. ou seja. são estratégias de delimitação e construção de parágrafos. Nas dissertações. 3. introduz a noção de diversidade e reforça a idéia de fidelidade às raízes e de reflexo da alma popular. Embora apresentem uma característica predominante. Negação O recurso de apresentar uma idéia negando outra trabalha com o pressuposto de que há uma idéia oposta já conhecida. essas articulações não surgem de maneira exclusiva. Em geral. A organização das idéias Vamos analisar mais detalhadamente algumas dessas formas de articulação entre as idéias. O novo estilo por excelência é o samba. por isso. São Paulo: Ed. a) Apresentação Em períodos introdutórios. segundo preferências e opiniões de cada um de nós. Aqui temos um exemplo de conceituação objetiva. concepção pessoal. ldeZj Definição ou conceito Conceito é a representação de um objeto pelo pensamento. 98 TÉCNICA DE REDAÇÃO A filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos. Pretendese. p. mas se combinam e podem ser encaixadas em várias classificações simultaneamente. 8 ed. / A ORDEM DAS IDÉIAS 97 Como vimos. por meio de suas características gerais. o período afirmativo é muito freqüente. Assim. então.. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de comunicação de massa. apresentamos uma idéia principal por meio. parte do princípio de que o leitor pode estar pensando de maneira equivocada. em que a posição do redator não sobressai: . de recursos como: Afirmação. avaliação. Quando é uma posição subjetiva. julgamento. entre outros. declaração ou asserção. há uma certa carga de redundância. jovens armados de pás e picaretas arremetiam. a metáfora. 20 textos que fizeram História. pretendemos demonstrar. testemunham as virtudes e percalços do jornalismo praticado pela Folha. a personificação. furiosos. focalizando as impressões do redator: A ORDEM DAS IDÉIAS 101 O cenário parecia extraído de algum livro maluco de ficção. a partir do levantamento de informações sobre as instituições atuantes e seu papel na produção e na difusão da literatura na sociedade. 1991. procuramos comprovar. a resposta à questão formulada. Departamento de Teoria Literária e Literaturas.. ao mesmo tempo. Observe o exemplo a seguir. Veja um exemplo: . decidido a exercer sua função crítica e a informar seus leitores acima de qualquer obstáculo. em Berlim. Folha de S. pois não é para ser efetivamente respondida pelo leitor. estamos tentando provar. Entretanto. de um objeto. Frases que orientam o leitor e indicam o objetivo são freqüentemente utilizadas. o que se abre ao leitor é um jornal em permanente movimento. explicações. o feito era comemorado como se tratasse de um ritual bárbaro de luta e conquista. de dezenas de milhares de pessoas. ao tom vigilante das coberturas sobre o mau uso do dinheiro público. Quem pergunta. Segundo meu ponto de vista. Vera Teixeira Aguiar. o capítulo ou o livro todo. Uma definição subjetiva apresenta outras formulações. passando pelo engajamento na defesa das eleições diretas. Da relativa ingenuidade dos textos que compõem a cobertura do incêndio no edifício Joelma.. ás vezes histéricos. esse comentário pressupõe uma posição do redator em relação ao que vai apresentar. São Paulo. Veja. é uma das formas mais simples de apresentação de uma idéia. Minha concepção de intuição é ... 1999.. Folha de S.. Observe o exemplo: Este trabalho propõe-se a refletir sobre a produção feminina sul-rio-grandense. 1991. Idem. estimulados por gritos. Marilena Chaui. São Paulo. Paulo.. Interrogação Construir uma pergunta de efeito retórico. p. detalhes. Eu acho que. então. promete a resposta. Toda vez que uma laje do muro caía. essas formas não são bem aceitas em textos objetivos. a razão capta todas as relações que constituem a realidade e a verdade da coisa intuída. de uma só vez. como: Acredito que a intuição é. que podem ocupar o parágrafo.A ORDEM DAS IDÉIAS 99 A intuição é uma compreensão global e instantânea de uma verdade. Universidade de Brasília.. p. tais como: o que desejamos nesse trabalho. Nela. 63. em que a narração descritiva da queda do muro de Berlim é formulada com base na adjetivação e nas comparações. acadêmicos ou científicos. 100 TÉCNICA DE REDAÇÃO Julgamento ou avaliação Quando uma apresentação pressupõe uma análise prévia. o objetivo dessa investigação. Paulo.. em São Paulo.. 7. 20 textos que fizeram História. Explicitação do objetivo do texto Nos trabalhos científicos e acadêmicos é costume iniciar o texto pelo objetivo da pesquisa. Pode também trazer descrições ilustrativas e outros recursos de ênfase e valorização dos aspectos que merecem a atenção do leitor. O desenvolvimento do texto será. um conhecimento específico ou uma avaliação anterior.. a apresentação de um livro estruturada por meio de um juízo positivo de valor: Os capítulos que compõem este “20 Textos que fizeram História” refletem a vida recente do país e. Essa resposta exige ampliações. as afirmações envolvem julgamentos e tomada de posição acerca do objeto. Penso que a intuição é. Comentário de uma citação ou de um fato Assim como no item anterior. Essa posição pode ser definida por meio de figuras de linguagem como a comparação. propósitos e limites da obra. 7. em 1984.. resgatada dentro de uma investigação mais ampla sobre a vida literária do Rio Grande do Sul de 1870 a 1930. contra o muro de cimento. E um ato intelectual de discernimento e compreensão.. no exemplo a seguir. assim como nos prefácios e introduções de livros é comum um esclarecimento sobre as intenções. p. Resumos do Simpósio 500 anos de descobertas literá rias. de um fato.. o pensamento a ação. p. que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos epor outras culturas. então. p. Os exemplos podem tornar o texto menos abstrato e facilitar a compreensão do leitor. Idem. 27. nas regiões onde ela se implantou.1997. os testemunhos.. estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade. Não ouvimos ninguém perguntar: para que matemática oufisica? Marilena Chaui. l3j b) Ampliação e explicação Tanto a idéia principal. permitir a demonstra ção e a prova de uma verdade já conhecida 3. poesia. exemplo disso é. 157. nos quais os dados. Idem. para comprovar o que foi dito. assim é o que ocorre no caso em que. conduzir á descoberta de uma verdade até então desconhecida. Esse recurso se constitui como: Esclarecimento do significado das expressões. com três finalidades 1. Idem. palavras ou conceitos utilizados. por meio de. Enumeração de fatores constitutivos ou acumulação de elementos que complementam a idéia inicial. cultos religiosos. as estatísticas. e de hodos. em geral apresentada no início do texto. permitir a verca ção de conhecimentos para averiguar se são ou não verdadeiros enaChauiIdem 157 Nem sempre recursos de numeração. b. via. c ou sinais de itens). ou Outros que indiquem a divisão (como a. 20. p. instrumentos musicais. Quando se diz que a filosofia é um frito grego. formas de habitação.. como no seguinte fragmento: Um exemplo de luta social para interferir nas decisões sobre as pesquisas e seus usos encontra-se nos movimentos ecológicos e em muitos movimentos sociais ligados a reivindica ções de direitos. Algumas expressões indicam de forma explícita que há uma inserção de exemplo: para exemplificar podemos observat por exemplo. utensílios domésticos e de trabalho. Marilena Chaui. aparecem com freqüên 102 TÉCNiCA DE REDAÇÃO cia nessas situações Há. p. Ele traz o eco de vários outros textos com os quais se relaciona e . as evidências vêm reforçar a idéia que é defendida pelo autor. música. Idem. 8 ed.. dança. p. as técnicas. Observe um exemplo em que a enumeração é assinalada por números: No caso do conhecimento método éo caminho ordenado que o pensamento segue por meio de um conjunto de regras e procedimentos racionais. 28J Um texto não existe sozinho. A exemplificação é um recurso muito útil tanto nos textos didáticos como nos textos argumentativos. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Marilena Chaui. formas de parentesco e formas de organização tribal dos gregosforani resultado de contatos profundos com as culturas mais avançadas do oriente e com a herança deixada pelas culturas que antecederam a grega. Expressões como: isto é. o que quer dizer essa expressão signfica. uma expansão de elementos J apresentados no texto. Marilena Chaui. como exemplo pode-se observar. como as secundárias passam por processos de expansão que envolvem detalhamento e aprofundamento. ou seja. corno nos exemplos: A palavra método vem do grego.. 2. são necessários: A ORDEM DAS IDÉJAS Os estudos recentes mostraram que mitos. Ática. caminho Usar um método é seguir regular e ordenadameizie um caminho através do qual uma certa finalidade ou um certo objetivo é alcançado Marilena Chauj. o que se quer dizer é que ela possui certas características apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos. para que Filosofia? É uma pergunta interessante. methodos composta de meta através de.Muitos fazem essa pergunta: afinal. Bachelard interrompeu um jornalista que o entrevistava dizendo-lhe: ‘parece que você vive num apartamento e não numa casa “. religiosos etc. perguntou o entrevistador.. negar. históricas. contestar contradizer. as histórias podem ser cômicas.. mesmo sem marcas evidentes. que são chamados dicendi.. por exemplo. de acordo com o que afirma X. Uma idéia pode ser ampliada. declaração. concluir. Quer dizer: não podemos viver limitados apenas ao nível do código restrito da ciência. da origem e das causas do mundo e das suas transformações.zer. Podem agregar algum significado adicional ao simples ato de dizer impregnando-o de interpretação.” Hilton Jupiassu. A escolha vai depender das intenções do autor e do tipo de texto. bradar pronunciar. perguntar. Há expressões que indicam claramente inserção de citações: segundo o especialista X. que são citações apenas sugeridas e há citações explícitas. expor mencionar. usamos verbos especiais. Observe o exemplo de narração ilustrativa a seguir: Consta que. 20).que constituem um contexto amplo em que se situa.. aquilo que nos esmaga ou nos liberta. pitorescas. discursar. replicar. Observe alguns desses verbos e analise o sentido que acrescentam à idéia de dizer: falar. opinião ou testemunho de outra pessoa. Se faço uma paráfrase. discutir questionar. XJá afirmou que. a filosofia é uma importante forma de conhecimento do mundo. as aspas são dispensadas: Segundo Marilena Chaui. São Paulo: Letras e Letras. engraçadas. A resposta de Bachelard foi: “a diferença entre uma casa e um apartamento é que. Se uso as próprias palavras do autor citado. em sua obra } para X a questão é. denunciar. há uma adega (para onde descemos) e um sótão (para onde subimos). Um desafio á Educaçào. (adaptado) 106 TÉCNiCA DE REDAÇÃO . Ao inserir voz. Nessas. Mas os que só vivem ou no sótão ou na adega são pouco equilibrados. aconselhar comprovar corrobo A ORDEMDASIDÉIAS 105 rar ratificat confirmar demonstrar refutar argumentat justificar. lógico e sistemótico da realidade natural e humana. Questões como o que é o amor? e o que é a amizade? são muito importantes. declamar. viver uma busca das significa ções da existência através dos simbolos filosóficos.. testem unha. Tanto no discurso direto (que transcreve literalmente as palavras do outro após um travessão) como no discurso indireto (em que a fala do outro está parafraseada pelo redator sem travessão) esses verbos são utilizados com freqüência. repetindo fielmente as palavras do texto original. p. tenho que marcálas com aspas a partir do ponto em que começo a transcrição: De acordo com Marilena Chaui (1997. expressar. Como já vimos anteriormente. conJàrme X. e pode vir em forma de paráfrase das 103 104 TÉCNICA DE REDAÇÃO palavras. A escolha de um desses verbos indica um comentário ao ato de falar do outro. asseverar. registrar. narrar. que um leitor experiente reconhece. indicar. heróicas. da origem e das causas das ações humanas e do próprio pensamento “. artísticos. a Filosofia pode ser ‘entendida como aspiração ao conhecimento racional. Por isso. 266. p. na primeira. explicar enunciar. informar discorrer acentuar ponderar. ordenar. E descer à adegapor vezes significa olhar o que se passa nos subterráneos e nos fundamentos psicológicos ou sociais de nossa existéncia afim de aí discernir nossos condicionamentos. Aos que jamais sobem ao sótão ou descem à adega falta uma dimensão humana relevante. Se prefiro o verbo ponderar ao verbo di. citar. vale dizer. esclarecer. proferir exclamar. em certa ocasião. aprofundada ou esclarecida por meio de histórias que lhe sirvam de ilustração. Há alusões. poéticos. . considerar. “O que o senhor quer dizer com isso? “. 1999. declarar. ser humano por vezes significa subir ao sótão. a voz do outro pode vir entre aspas. alegar. além da zona habitável. descrever preceituar. há citações implícitas. já estou informando que a posição de quem fala é de reflexão. referir. comunicar. afirmar.do autor citado. Dependendo do tipo de texto. mas agora a posição é de equilíbrio.. experiência e leitura. Atenas tornou-se o centro da vida social e política e cultural da Grécia. Observe no exemplo a seguir como o desdobramento da idéia sugere duas linhas informativas para desenvolvimento do texto. de outro. Geralmente. as igualdades. Idem. em segundo. mas um meio de intimidação. o primeiro aspecto é. Marilena Chaui. de um lado. Idem. as informações esclarecem o ambiente em que floresce a democracia.. que faz das ciéncias e das técnicas não um meio de libertação dos seres humanos.. 442. fatos e fenômenos. a escola de Frank/urt. Além do exemplo do item anterior. ora se explicam. Têm relação com a cronologia e com o lugar. na qual distin gue duas formas da razão: a razão instrumental e a razão crítica. um outro aspecto é por um lado. A ORDEM DASIDÉJAS 107 d) Oposição Muitas vezes a idéia ou informação deve ser apresentada e discutida em confronto com outra posição ou forma de pensamento.. 1989.. em seguida. vivendo seu período de esplendor conhecido como o . depois. combinadas entre si. não de oposição.. do comércio. há expressões que. Cada aspecto exige desdobramentos e explanações que representam progressão das informações. elaborou uma concepção conhecida como Teoria Crítica. uma acerca de Clarice Lispector e outra acerca de Guimarães Rosa: As experiências radicais tanto de Clarice Lispector como de Guimarães Rosa forçam os limites do gênero romance e tocam a poesia e a tragédia.. e Sócrates e Platão. História Concisa da Literatura Brasileira.. e) Comparação ou analogia Como no caso anterior.Utilizar narrações ilustrativas interessantes depende de muita informação. a sociedade e a cultura. do artesanato e das artes militares... A razão instrumental é a razão técnico-cientjfica. que é a idéia a ser desenvolvida posteriormente no texto: Com o desenvolvimento das cidades. como fonte de erro. terror e desespero. Observe um exemplo em que o texto está organizado pela divisão da idéia: Uma escola alemã de Filosojiu. c) Divisão A divisão de uma idéia em subtópicos abre novas vertentes de desenvolvimento do raciocínio. por último.. Marilena Chaui. São Paulo: Cultrix. formas imperfeitas do conhecimento que nunca alcançam a verdade plena da realidade. por outro lado. 50.. indicam divisão de idéias.. facilitam a organização do texto e a compreensão do leitor: em primeiro lugar. normalmente o texto estabelece duas (ou mais) linhas de desenvolvimento paralelas que ora se opõem.. duas ou mais idéias são apresentadas. Quando é esse o caso. Ao contrário. p. primeiramente. finalmente. a razão crítica é aquela que analisa e interpreta os limites e os perigos do pensamento instrumental e afirma que as mudanças sociais. ou imagens das coisas. enquanto Sócrates e Platão consideram as opiniões e as percepções sensoriais.. mentira efalsidade. Mais um motivo para procurar um bom convívio com textos de diversas naturezas. O herói procura ultrapassar o conflito que o constitui existencialmente pela transmutação mítica ou metafisica da realidade. Como já foi dito. p. No exemplo a seguir. utilizamos uma enumeração para antecipar as linhas em que o assunto vai se desenvolver. ora convergem. p.. e são focalizadas as semelhanças.. na divisão.. políticas e culturais só se realizarão verdadeiramente se tiverem como finalidade a emancipação do gênero humano e não as idéias de controle e domínio técnico-científico sobre a natureza... focalizando diferenças. é dada pelo fato de que os sofistas aceitam a validade das opiniões e das percepções sensoriais e trabalham com elas para produzir argumentos de persuasão. medo. (adaptado) 108 TÉCNICA DE REDAÇÃO j9 Situação no tempo e no espaço Algumas informações são colocadas no texto com o objetivo de contextualizar de forma explícita as idéias. 40. que no segundo parágrafo apresenta uma oposição. observe o texto a seguir: A diferença entre os sofistas. Alfredo Bosi. A ORDEM DAS IDÉIAS 109 Em suma. ao contrário. assim. seus capítulos e subdivisões. Marilena Chaui. p. Idem. conclusão parcial ou final. depois. por motivo de economia de espaço nos jornais esses artigos têm aproximadamente duas páginas de 30 linhas.. Marilena Chaiji. construir logo um Primeiro parágrafo. 160. que falar e pensar são inseparáveis. Citam o próprio texto. quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que. mas que. que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos. 4. É a época de maior florescimento da democracia. ser ensinada ou transmitida a todos. as Possibilidades de Construção tornam-se mais nítidas e o trabalho alcança um melhor resultado. ampliação ou explicação. antecipam idéias de forma resumida. 5. Observe o exemplo a seguir: No capítulo anterior vimos que a língua grega possuía duas palavras para referir-se à linguagem: mythos e logos. nós também participamos. pode funcionar como o início da escrita propriamente dita.nos a duas modalidades do pensamento. p. situando-o melhor em relação à estrutura textual. Vimos também. Idem. Fa-ça anotações. p. conclusão. p. Para gerar. partir de uma idéia Principal e elaborar uni esquema. em suma. organizaç0 textual. é importante assinalar claramente para o leitor que as idéias são conclusivas. analise as partes do texto e identifi . Leia alguns artigos que tratem do tema. além da verdade poder ser conhecida por todos. portanto. em outras palavras. Oposição. registro e organização inicial das idéias.. Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu especflcamente com os gregos e que. resumindo o que já foi dito. diante desse quadro. Situação no tempo ou no espaço. há muitas possibilidades de captação. listar palavraschave. Manlena Chaui. articulando as idéias entre si. diante do que foi dito. podia. Marilena Chaui. entre outras que não foram relacionadas aqui neste livro. Qualquer uma dessas técnicas. tais como: em vista disso podemos concluir. Da concepção à organização das idéias De acordo com o que apresentamos. Observe os exemplos: Em outras palavras. Idem. tornou-se. Esclarecem objetivos. partir de um pequeno resumo ou escrever blocos de texto independentes. Por isso mesmo. 36. para oferecer ao jornal de sua cidade como colaboração Em geral. Depende de cada indjvj duo e de seu processo de atividade intelectual. Prática de organizaç0 a) Escrever uni artigo opinativo acerca do tema que está em maior evidência hoje. Depois de escrever. encerramento de um raciocínio. São expressões e parágrafos que conduzem e facilitam os procedimentos e a interpretação do leitor. podemos referir. em decorrência da colonização portuguesa do Brasil.Século de Péricles. li) Organização textual Os parágrafos organizadores explicam como o texto está estruturado. conforme predomine o mythos ou o logos. Por isso. a filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso. selecionar e hierarquizar as idéias você pode: fazer 110 TÉCNiCA DE REDAÇÃO anotações independentes à medida que as idéias forem surgin do. por razões históricas e políticas. concluindo. e ainda outras que você pode criar. divisão. o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura européia ocidental da qual. pelo mesmo motivo. 23. concluem pensamentos. Quando o redator tem clareza sobre essas especificidades de cada trecho do texto. Idem. Ao hierarquizar as idéias de um texto observaiiios que elas apresentam caracte rísticas e funções distintas: apresentação. tanto no estudo da linguagem quanto no da inteligência. comparação ou analogia. podia ser conhecida por todos. é freqüente o uso de palavras e expressões que indicam resumo de idéias anteriores. 21. g) Conclusão Em textos dissertativos. reler e reescrever até se sentir satisfeito com o resultado. escrever tudo que vem à mente. analítico. Vamos cuidar. geral. Capítulo 7 O entrelaçamento das idéias 1. procure identificar. o filosófico e o religioso Em sua esséncia o conhecimento cient (fico é real. portanto. preciso. A manutenção do tema é um desses recursos. 2. as preposições os pronomes pessoais. racional objetj vo. nossa preocupação inicial é captar as idéias e ordená-las com uma determinada hierarquia. as marcas de gênero e de número. ver ificóve! dependente de investigação metódica. c) Sempre que estiver lendo um texto. de assegurar a compreensão exata daquilo que estamos escrevendo. Na segunda linha. para o estudo ou trabalho. 112 TÉCNICA DE REDAÇÃO Assim. Qual é nossa idéia central? Como podemos defendê-la? Que exemplos são mais interessantes? Quem devemos citar? Que palavras escolher? Como devemos nos dirigir ao leitor? Em que medida devemos explicitar todas as idéias ou deixá-las implícitas? São questões que respondemos inicialmente. um texto não é uma simples justaposição de frases corretas. Brasília. transcendente aos fatos. articulações ligações concatenan do as idéias. INEP. Ou seja. comj. uma após a outra. é muito importante que a coesào textual esteja bem tecida. que está distante de nós. Nas linhas grifadas. i’el. Mecanismos de coesão textual Pode-se Construir a coesão do texto por meio de vários recursos. mas principalmente com a maneira como essas idéias serão apreendidas pelo leitor. João Salvador Furtado Expansão da itformaçjo científica in: Anais do Seminárj0 de Publicações Periódjc da A’rea da Educação. claro. revisando várias vezes a linguagem e as estruturas gramaticais propriamente ditas. Um exemplo disso é a Concordância Sempre que respeitamos a concordân eia.njcá.0 acumulativo falível. b) Escolha outro tema e faça outro percurso Leia alguns artigos que tratem do tema. a partir da terceira todas as palavras estão sendo utilizadas em concordância com conhecimento científico. que dependem das escolhas estilísticas do redator: O ENTRELAÇAMENTO DAS IDÉIAS referencial lexical . explicativo. Desenvolva o texto acompanhando esse roteiro e o esquema das idéias.que as formas de organização que Utilizou. O tecido aparente do texto Como vimos nos capítulos anteriores. 1983.. os três elementos citados Concordam com tijoo de conhecimento e por isso estão no masculino. Além dessas formas gramaticaj5 sistemáticas de ligação entre palavras. Faça anotações ou esquema. os tempos verbais. mas não é suficiente em textos dissertativos A ordem das palavras no período. Estabeleça. em cada trecho. existem quatro outras estratégias de coesão. estamos reforçan0 a coesão. estão no masculjjo singular. Ao escrever. preditivo aberto e útil. A preocupação já não é apenas com nossas próprias idéias. ao escrever as primeiras versões de um texto. sistemáti. e para o qual não teremos chance de explicar melhor ou retificar oralmente algum item mal expresso. voltamo-nos para a sua superficie e procuramos refazê-lo. primeiramente a partir das suas anotações a natureza de relação entre as idéias de cada trecho. de modo que as principais sejam enfatizadas. Observe o texto a seguir: — De qualquer forma o conhecimento ou saber cient(fico distingue se dos demais tos: o popular. para que o leitor acomp1e a seqüêncj reconheça a progressão das informações e identifique as referências no texto. os conectivos funcionam também como elos coesivos Cada um desses elementos gramaticais estabelece conexões. MEC. Após essa etapa. qual a natureza da relação entre as idéias. então. a estrutura gramatj das frases trata de criar coesão entre os Constituintes de um texto. Exige um entrelaçamento rigoroso das idéias que estão sendo expostas para que o leitor não se perca e consiga interpretá-lo corretamente. Pronomes. ou ainda pelo emprego de expressões equivalentes para substituir elementos que já são conhecidos do leitor. demonstrativos ou expressões adverbiais que indicam localização (a seguir acima. abaixo. estabelecemos uma corrente de significados retomando as mesmas idéias e partes de idéias. nomes e frases inteiras podem estar implícitos. Assim. Podem. A partir dessas considerações. que. O ENTRELAÇAMENTO DAS IDÉIAS . como no exemplo: A explosão da informação é uma das causas do stress do homem moderno. a coesão referencial se realiza pela citação de elementos do próprio texto. Essa corrente é formada pela reutilização intencional de palavras. Esses recursos podem se referir. aqui.por elipse por substituição Vejamos como funcionam essas formas de entrelaçamento dos elementos que constituem um texto. Agora esse estudioso quer contribuir para a democratização do saber. e) Coesão por elipse A estrutura gramatical dos periodos na lingua portuguesa permite a omissão de elementos facilmente identificáveis ou que já foram citados anteriormente. o sujeito do verbo implica é a metodologia cientfica. possessivos. Diante desse quadro. racionais. comprovação. ainda. Esse recurso tem o nome de elipse. se referir a elementos já citados no texto ou que são facilmente identificáveis pelo leitor. essa omissão é marcada por uma vírgula.. Para efetivar essas citações são utilizados pronomes pessoais. verbos.. busca de soluções. proposição de uma teoria. Ela pode pro vocar diversas formas de ansiedade. Em vista disso. b) Coesão lexical A manutenção da unidade temática de um texto exige uma certa carga de redundância. pois é facilmente identificado pelo leitor. Implica a concepção das idéias quanto à delimitação do problema dentro do assunto. análise. Veja um exemplo de omissão de sujeito da oração: A metodologia cient(fica é um conjunto de atividades sistematizadas. Alguns exemplos de expressões que servem a esse objetivo são: Diante do que foi exposto. pelo uso de sinônimos. Algumas vezes. O cientista entrevistado reconhece que a partir do 113 114 TÉCNICA DE REDAÇÃO emprego dos conhecimentos cientijicos foi possível racionalizar os sistemas de produção. onde). a elementos que serão citados na seqüência do texto. permite que os objetivos sejam atingidos. identficação de instrumentos. como no seguinte exemplo: O Doutor Fulano de Tal falou ao nosso repórter no intervalo do congresso. com segurança e economia. por antecipação. anteriormente. Não precisa ser explicitado. períodos ou largas parcelas de texto por conectivos ou expressões que resumem e retomam o que já foi dito. d) Coesão por substituição Pode-se substituir substantivos. verbos. a) Coesão referencial Na elaboração de um texto. Esse quadro. No texto acima. Tudo o que foi dito. A ausência de coesão é um dos principais problemas da construção de textos. de forma que o texto apresente uma seqüéncj Qualquer período parece poder estar em qualquer Posição. Hó pessoas que gostam de escutar canções calmas. “Comida” de Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer. ela pode levar a cura. 4? Revisar.3. seja dentro do período. é necessário empreender algumas transformações. por causa das letras das músicas. Existe niisica para todos os gost. entre outras. o impoante é a tranqüilidade que ela nos passa As pessoas encontram msíca em tudo. As canções podem ter um caróter ilustrativo. foi uma época de muitas repressões e restrições. No texto em questão. Entretanto. elas mostram perfeitamente a repressão da época da ditadura militar no brasil. indefinição das relações entre as idéias. O ENTRELAÇAMENTO DAS IDÉIAS 117 . no rasil. falta de hierarquia entre idéias principais e secundárias. enfatizando uma idéia principal para a introdução e para a Conclusão e estabelecendo as formas de articular as idéias secundárias 3? Estabelecer nexo entre as diversas idéias por meio de frases de transição e de recursos coesivos’ reescrever eliminando e acrescentando elementos. 115 116 TÉCNiCA DE REDAÇÃO A musica pode ser um excelente remédio. o autor apresentou três grupos de idéias: música e prazer. a progressão da informação e a articulação entre as idéias não foram devidamente elaboradas. ou uma poderosa arma. A década de SO. encontramos idéias colocadas lado a lado. alguns escrevem falando sobre o amor. outras que preferem as mais agitadas. truncamentos semânticos. A história nos mostra o poder curativo das canções. estabelecer por suposição. Não há concatenação entre as informações. as canções dessa década mostram perfeftamente isso.os e todas as ocases. Problemas decorrentes da ausência de coesão Quando os mecanismos de coesão textual não são bem utilizados. No 5rasil podem-se citar as músicas feitas na década de 50. mas para algumas doenças. em que os problemas de ausência de estabelecimento da coesão estão bem nítidos. seja entre os períodos ou parágrafos. que falam claramente do desejo da populaçõo brasileira. porque o tema que perpassa todo o texto é a música. pois revela desordem nas idéias e dificulta a compreensão do leitor. As conseqüências podem ser: ausência de ênfase nas idéias principais. Vamos. 1? Agrupar idéias relacionadas entre si. Vejamos um texto de aluno de segundo grau. do assio de um pássaro a um barulho de um motor em pleno funcionamento Uma primeira leitura nos mostra que há unidade semântj ca. nõo que ela seja um remédio milagroso. sem especificar OU defender nenhum deles particularmente Para que o texto passe a apresentar coesão e reflita essa idéia. As canções podem falar de amor. música e Saúde MUSICA E POLÍTICA 2? Reorganiz o texto. Ou seja. confusão e obscuridade nas referências. estilo infantil ou elementar. pois não podemos distinguir imediatamente qual seria a idéia principal e não percebemos a relação imediata entre as idéias que estão justapost5 Relendo os parágrafos. então. muitos Compositores foram expulsos do brasil. Existem estudos que comprovam e demonstram essa propriedade da música. felizmente o homem a está usando por um bem. de política ou simplesmente retratar a realidade. demonstrar uma situaçõo ou um fato ocorrido. ambigüidade. o que não modificaria o resultado. Algumas doenças podem ser curadas pela música. essa unidade não é suficiente. individual ou coletivo. como a música. sem hierarquia ou progressão que Conduza a uma conclusão. Algumas pessoas gostam de músicas s6 com os instrumentos e outras com um cantor. No impoa o tipo ou a hora ue se ouve a musica. ou seja. outros relatam o que estó acontecendo com o brasil. o texto se prejudica. que a idéia principal seja expositiva: a grande abrangêneja da música na vida contemporânea o redator teria por objetivo expor os diversos campos em que a música está presente na vida humana. Os compositores podem escrever as letras das músicas que lhes convier. As canções podem falar de amor. pois pode-se encontrar música em tudo. As canções podem lidar de amor. mas podem levar a cura para algumas doenças. Vejamos uma das possibilidades de aperfeiçoamento do texto. ou uma poderosa arma. A DÉCADA DE 60. aproveitando a maior parte das estruturas construídas originalmente pelo autor: Existe música para todos os gostos e todas as ocasiões. ela pode levar a cura. por causa das letras de suas músicas. Não importa o tipo ou a hora que se ouve a música. de política ou simplesmente retratar a realidade. então. Alguns escrevem jLilando de amor.Existe música para todos os gostos e todas as ocasiões. para o seu próprio bem. que a música pode ser uma fonte de alegria e prazer. a história nos mostra o poder curativo das canções. que fala claramente dos desejos da população. ELAS MOSTRAM PERFEITAMENTE A REPRESSÃO DA ÉPOCA DA DITADURA MILITAR NO BRASIL. Não importa o tipo ou a hora em que se ouve a música. As canções podem ter um caráter ilustrativo. o homem está sempre em contato com a música. Muitos compositores frram até mesmo expulsos do Brasil. 118 TÉCNICA DE REDA ÇÃO Há pessoas que gostam de escutar canções calmas. Algumas doenças podem ser curadas pela música. até mesmo. A história nos mostra o poder curativo das canç6es. uma forma de conscientização e de denúncia social ou um excelente remédio. individual ou coletivo. como a música “Comida “. Vejamos como os laços coesivos se realizam em um exemplo de texto editorial jornalístico: — O ENTRELAÇAMENTO DAS IDÉIAS 119 DESRESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS A denúncia da Anistia Internacional sobre a prática no Brasil de torturas e execuções por esquadrões da morte de modo algum surpreende as autoridades governamentais. mas para algumas doenças. Essa vertente de músicas voltadas para a questão social não é nova. Há pessoas que gostam de escutar canções calmas. de Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer. FOI UMA ÉPOCA DE MUITAS REPRESSÕES E RESTRIÇÕES. Assim. POR CAUSA DAS LETRAS DAS MÚSICAS. ou seja. apresenta problemas de coesão. alguns escrevem falando sobre o amor. NO BRASIL. de política. promover a cura de doenças. geralmente. E fato notório que as violações aos direitos humanos se sucedem no país com freqüência indesejável. Então. No BRASIL PODEM SE CITAR AS MÚSICAS FEITAS NA DÉCADA DE 60. frlizmente o homem a está usando por um bem. do assobio de um pássaro a um barulho de um motor em pleno funcionamento. algumas pessoas gostam de música instrumental e outras de música cantada. outros relatam o que está acontecendo com o Brasil. demonstrar uma situação ou um fato ocorrido. do assobio de um pássaro a um barulho de um motor em pleno funcionamento. as articulações que estabelecem relações das idéias. como o gosto do público é diversificado. outros relatam o que está acontecendo com o Brasil. Como podemos observar. em conseqüência da ditadura militar. os compositores podem escrever as letras das músicas daJirma que lhes convier. AS CANÇÕES DESSA DÉCADA MOSTRAM PERFEITAMENTE ISSO. como a música. Podemos compreender. Os compositores podem escrever as letras das músicas que lhes convier. “Comida” de Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer. Existem estudos que comprovam e demonstram essa propriedade da música. não que ela seja um remédio milagroso. Existem estudos que comprovam e demonstram essa propriedade da música. a coesão evidencia. MUITOS COMPOSITORES FORAM EXPULSOS DO BRASIL. no Brasil. Não que sejam um remédio milagroso. Um texto desorganizado. o importante é a tranqüilidade que ela nos passa. Algumas pessoas gostam de músicas só com os instrumentos e outras com um cantor. outras que preferem as mais agitadas. mostram perftitamente como essa foi uma época de muitas repressões e restrições. As pessoas encontram música em tudo. Conseqüentemente. na superfi ci do texto. retratar a realidade e. é preciso trabalhar em dois níveis: 1? organizar as idéias numa rede de significados e 2? entrelaçar gramaticalmente as frases e os períodos. o importante é a tranqüilidade e a alegria que ela transmite. A música pode ser um excelente remédio. que falam claramente do desejo da população brasileira. outras que preferem as mais agitadas. embora diante da reação indignada da sociedade e dos órgãos oficiais . As canções da década de 60. Além das funções de proporcionar prazer estético e de denunciar problemas sociais. devolver exilados políticos sob graves riscos de tortura e morte em seus países de origem (linhas 32 e 33). 20 jun. Pior. As instituições norte-americanas são apontadas à censura mundial porque praticam a pena de morte. A avaliação rigorosa da organização é atestada por incluir países normalmente a salvo de suspeitas. instalou. Mas a incriminação do Brasil ao lado de sociedades tidas como padrão de cultura humanística em nada o isenta de culpa. abusos do gênero (linha 20). o governo costumava qualificar de conspiração internacional contra a imagem do país as acusações de agências humanitárias sobre o desrespeito aos direitos humanos. Só na Baixada Fluminense. nem mesmo a elementar cautela de investigar a procedência dos fatos denunciados. Teria uma estrutura repetitiva. embora diante da reação indignada da sociedade e dos órgãos oficiais encarregados de reprimir o desrespeito aos direitos humanos. Editorial. E. O primeiro exemplo disso veio na Constituição de 1988. problema (linha 19). excluídos de qualquer programa de recuperação social. Essa expressão é substituída. Desde a criação da Co. temos exemplos de coesão por substituição lexical. elementar demais para o desenvolvimento que se espera nesse nível profissional de produção de editoriais. Veja como o texto ficaria no trecho a seguir: A denúncia da Anistia Internacional sobre o desrespeito aos direitos humanos por esquadrões da morte de modo algum surpreende as autoridades governamentais. Durante os anos sombrios do regime militar. como: prática no Brasil de torturas e execuções (linhas 1 e 2). o desrespeito aos direitos humanos tem diminuído. embora compreensível. que é decorrente da pobreza de vocabulário. homicídios (linha 36). A Suécia chega ao índex internacional por devolver asilado. . O texto. crianças e adolescentes em prisões de adultos (linha 30). violações aos direitos humanos (linha 4). Observamos que a expressão chave do texto é desrespeito aos direitos humanos. atentados contra a dignidade e incolumidade fisica das pessoas (linhas 8 e 9). pena de morte (linha 27). Leis espeq’ficas e ações concretas têm sido adotadas para prevenir e punir os desrespeitos às prerrogativas humanas da pessoa. a Human Rigths Watch. os homicídios rondam a casa dos quinhentos ao mês. 1999. Em dezembro de 1998. denunciava a existência nos EUA de mais de três mil crianças e adolescentes em prisões de adultos. ficaria com a coesão prejudicada se em todas essas posições o autor usasse a mesma expressão: desrespeito aos direitos humanos. que as denúncias da Anistia inspirem reações mais efetivas em favor da proteção aos direitos humanos. Durante os anos sombrios do regime militar. por várias outras que têm o mesmo significado. assim. estão no mesmo campo semântico e formam um paradigma. E fato notório que o des O ENTRELA ÇAMENTO DAS IDÉIAS 121 respeito aos direitos hunianos se sucede no país con freqüência indesejável. Brasília. no texto. há mais de três anos. diante do que Jbi exposto. o governo costumava quaflficar de conspiração internacional contra a imagem do país as acusações de agências humanitárias sobre violência às pessoas. nenhuma providência era tomada.se outro comportamento. que exemplificam essa idéia: a tortura (linha 21). Os inquéritos de organizações internacionais em torno do problema passaram a servir de impulso ao sistema de garantias contra abusos do gênero. Os mais de 175 mil presos nas penh- 120 TÉCNICA DE REDAÇÃO tenciárias do país coabitam ambiente vil. violências às pessoas (linha 12).s políticos sob graves riscos de tortura e morte em seus países de origem. primária. promíscuo e violento. onde cada qual ocupa menos de um metro quadrado de espaço. Com o restabelecimento da legalidade democrática. desrespeito às prerrogativas humanas da pessoa (linhas 17 e 18). E um morticínio bem maior do que as baixas na guerra do Kosovo. como os Estados Unidos e a Suécia. outra prestigiada entidade internacional. Qualquer leitor percebe o problema. Assim. que declarou a tortura crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Desde a criação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos no âmbito do Ministério da Justiça. ou seja. há mais de três anos. como está no titulo. A construção da coesão textual tem prosseguimento pela substituição da idéia de desrespeito aos direitos humanos por informações mais específicas.nissão de Defesa dos Direitos Humanos no âmbito do Ministério da Justiça. os atentados contra a dignidade e incolumidade física das pessoas têm diminuído. Rio de Janeiro. O relatório anual da Anistia critica o Brasil e outras 141 nações. até mesmo para punir crimes cometidos por menores. E fundamental. Correio Braziliense. em grande parte praticados por esquadrões da morte.encarregados de reprimi-las. Além das ligações temáticas e das estabelecidas pelo sistema gramatical. identifique as formas de coesão utilizadas pelo autor. Identifique outras formas de se referir a ele. como concordância e tempos verbais. há O ENTRELAÇAMENTO DAS IDÉIAS 123 possibilidade de criar laços mais largos por meio de referências. na linha anterior. Assim. de modo que o nome próprio não seja utilizado mais de uma vez. Prática de entrelaçamento a) Releia os textos que você produziu anteriormente e identifique os recursos de coesão que utilizou em cada um deles. Nosso julgamento e nossa posição diante da informação vêm. Como também na linha 35. Na linha 20. é importante que na revisão do texto você procure focalizar sua atenção sobre esses itens concatenadores. para estudo ou trabalho. Há coesão por substituição lexical também nas expressões: acusações de agências humanitárias (linha 12) porfatos denunciados (linha 14) anistia (linha 22) por organização (linhas 23 e 24) países normalmente a salvo de suspeitas (linhas 24 e 25) por sociedades tidas como padrão de cultura humanística (linhas 34 e 34) Sempre que escolhemos uma expressão equivalente para substituir outra. como temos mostrado no desenvolvimento deste livro. 5. elipses e substituições de partes do texto por expressões sintetizadoras. A referência está clara. reveladas nessas expressões. promíscuo e violento (linhas 39 e 40). e) Sempre que estiver lendo um texto. elogios. na elaboração de um texto criam-se laços de citações entre seus próprios elementos constituintes. A expressão cada qual (linha 40) se refere a presos na linha anterior. A expressão as violações aos direitos humanos é representada por um pronome enclítico em reprimi-las (linha 6). E preciso analisar: as opções adotadas estão funcionando no texto como um todo? As decisões se mantêm . e o leitor só pode interpretar o pronome -las como relativo à expressão anterior as violações aos direitos humanos. o pronome o se refere a Brasil. Observe que esse detalhamento ilustra e especifica o que se entende no texto por desrespeito aos direitos humanos. diversidade lexical. Ao revisar o texto produzido você terá a oportunidade de reconsiderar uma série de decisões tomadas no início da produção. E interessante observar que no texto há exemplos de coesão referencial. para que a coesão textual garanta a fidelidade às idéias que quer apresentar. Um período está ligado ao seguinte ou ao que o antecede por meio de recursos coesivos. É a coesão textual. Há no texto um exemplo de substituição de idéias por expressão sintetizadora: diante do que foi exposto (linhas 41 e 42) resume toda a argumentação e justifica a conclusão que encerra o texto. Há um exemplo de coesão por elipse na linha 31: após a palavra pior. há coesão referencial. Entrelaçando as idéias Como vimos neste capítulo e nessa rápida análise final.presos coabitam ambiente vil. e o pronome relativo onde se refere a penitenciárias do país. Essas ligações observáveis na superficie do texto realizam de forma concreta as articulações necessárias para assegurar a coerência entre as idéias formuladas pelo redator. A releitura como avaliação para a reescrita O texto exige diversas releituras para reescritura e revisão antes de ser considerado satisfatório. após a apresentação. b) Escreva um texto expositivo acerca de um autor de sua preferência. mesmo em textos tidos como objetivos. Capitulo 8 A reescrita de textos 1. de maneira que se forme um tecido harmonioso. censuras podem vir explícitos ou implí 122 TÉCNICA DE REDA ÇÃO citos nos termos que escolhemos para constituir a coesão lexical. 4. unia rede bem urdida de relações gramaticais e de significado. a vírgula indica que se subentende o sujeito de excluídos como a expressão do período anterior mais de três mil crianças e adolescentes em prisões de adultos. Criticas. podemos agregar alguma informação adicional. onde o pronome demonstrativo disso está se referindo a tudo que se afirma no período anterior a ele. Com isso. Não se escreve como se fala. torna-se mais legível e de acordo com as exigências da língua padrão. As informações fornecidas são suficientes ou o texto ficou muito denso. no texto. mas é preciso acrescentar elementos para criar ligações mais claras entre as diversas idéias do texto. outras são mais sintéticas e precisam ampliar o texto na reescritura. construção do período. clara. nesse momento estamos também reestruturando a forma. As vezes. Durante a reescrita. sem relação com o núcleo do texto. “gorduras” enfim.ou há incoerências e descontinuidades? Consegue-se essa avaliação ao reler várias vezes o texto. embora a fala possa servir de base para o início da escrita. Algumas pessoas escrevem muito nos rascunhos. professores pais. estabelecimento da coesão e vocabulário. Como alguns trechos devem ser riscados ou refeitos. exigindo muito do leitor? A introdução de informações novas é bem realizada? Há informações irrelevantes que podem ser dispensadas? - 126 TÉCNICA DE REDAçÃO Há excesso de informação? Há informações incompletas ou confusas? As informações factuajs estão corres’ à linguagem. os detalhes da superficie do texto. tentando tomar o lugar do leitor. trata-se de cortar e simplificar frases longas demais ou truncadas. divagações ou digres A REESCRITA DE TEXTOS sões. a atenção se desloca para a forma mais adequada e para a melhor organizaç0 final dessas idéias A revisão normalmente feita pelo próprio autor do texto. Muitas vezes não há erro. nesse primeiro momento desprezamos a forma. O formato é adequado à situação? As exigências referentes ao gênero foram respeitadas ou há ambigüidades e inconsistências? às informações: o que informar e o que considerar pressuposto. comece por esses. pronomes. suprimir palavras. Portanto. mas ás vezes pode ser útil envolver colegas. Falando. Estamos preocupados em captar o fluxo do pensamento e registr0 da maneira mais completa Possível. quanto: ao leitor: inseri-lo no texto ou tratá-lo de forma neutra e distanciada. na primeira versão de um texto costuma mos prestar mais atenção à criaçãO das idéias. As pesquisas que analisam textos de exames vestibulares e provas discursivas de concursos públicos mostram que a maior freqüência de erros ocorre nesta ordem: pontuação. Tentamos gerar idéias e organjz5 de forma coerente. adjetivos ou advérbios que pouco ou nada acrescentam ao texto. articulada Muitas vezes. Está de acordo com o objetivo estabelecido inicialmente? As idéias principais estão evidentes? Como já vimos. de forma mais distanciada. Analise as decisões e a realização. irmãos ou Companheiros É importante que um leitor dê sua opinião sobre o texto. como se você não fosse o redator. formal ou informal A linguagem está adequada à situação? A opção escolhida tornou o texto harmonho 50 ou há oscilações súbitas e inadequadas à impesso dade ou subjetividade O posicionamento adotado corno predominante mantémse ou essa opção não ficou consistente flO texto? ao vocabulário As escolhas estão adequadas ou há repetições enfadonhas e pobreza vocabular? Algum termo pode ser substituído por expressão mais exata? Há clichês. As primeiras versões costumam trazer passagens distoan tes. ou seja. se você quer uma pista acerca dos pontos em que deve prestar mais atenção. A opção escolhida foi mantida durante todo o texto? O leitor que você tem em mente é atendido durante todo o texto? ao gênero de texto: que plano de escrita utilizar para a situação. . acentuação. excesso de adjetivos expressões coloqujais inadequadas jargão profissional? às estruturas Sintáticas e gramatjcj5 O texto está correto quanto às exigêncj5 da língua padrão? As transições entre as idéias estão corretas e claras? Os conectivos são adequados às relações entre as idéias? A divisão de parágrafos corresponde às unidades de idéias? ao objetivo e à situação. frases feitas. é imprescindível são Utilizadas para ocultar o agente. e sempre que o nosso interlocutor quiser. d) Uso gramatical do sujeito indeterminado Como a própria nomenclatura indica.. uma instituição ou uma organizaç0 Quando escrevo frases como O Mjnjsí rio decidiu. verbos conjugados em primeira e em terceira pessoa contribuem para que o diálogo se estabeleça entre autor e leitor de forma explícita. evidente. os adjetivos e pronomes supérfluos.. científicos apresentam.. Vive-se esperando o aumento de preços. não se pode determinar com precisão quem realizou uma ação quando usamos a estrutura de sujeito indeterminado. Muitas vezes queremos adotar uma posição impessoal.. Gramaticalmente há muitas maneiras de conseguir esse objetivo.. Acreditava-se em uma diminuição dos impostos.. Ela é muito útil quando queremos inserir uma informação da qual não sabemos a procedência exata. Na escrita não dispomos disso. usar a passiva sem esclarecer seu agente é um recurso gramatical para impessoalizar a informação. neutra. Veja o exemplo: . Assim.. um fenômeno. universal. Quem precisa? Quem necessita? Para quem é Urgente? Para quem é imprescindível? No podemos definir com clareza Tornase uma realidade geral. Os pesquisado reconhecem. essa característica de ocultar o agente... Por meio dela podemos avaliar o funcionamento do texto e propor reformulações. Devemos.todos nós podemos a qualquer momento. Assim também expressões como: é necessário é urgente. A diretoria ordenou.. A releitura é imprescindível para o aperfeiçoamento do texto. O governo protelou a responsabilidade em relação à ação está diluída e não se pode identificar claramente de onde ou de quem emanou a iniciati A REESCRITA DE TEXTOS 129 va. acrescentar informações e corrigir outras. eliminar os rodeios. Vamos focalizar a seguir alguns aspectos que merecem atenção e que podem ser aperfeiçoados na reescrita. 19 Ocultar o agente A expressão é precisO serve a esse propósito de neutralidade. Fala-se muito em renovação dos quadros funcionais. aparen temente neutra. e) O USO da voz passiva Enquanto na voz ativa temos um agente explícito. Os textos dissertatjvos informativos. expositivos. na voz passiva esse agente pode estar oculto. objetiva. Vejamos algumas delas. Reconheço Minhas conclusões.. Nossas conclusões.aro sujeito.. 127 2. muitas vezes. por isso. atenuando a dialogia e Ocultando o agente das ações. A impessoalização do texto 128 TÉCNICA DE ftEDAÇÀO Nem sempre temos interesse em deixar expljcjtas a nossa voz e as diversas vozes que São trazidas para compor um texto. O nosso interlocutor está longe e. a) Generali. Um texto é pessoal e subjetivo quando pronomes pessoais e possessivos. os jogos de palavras. O uso da primeira e da terceira pessoa do plural é a estratégia recomendada quando a intenção é atenuar a subjetividade da primeira pessoa sem adotar a neutralidade absoluta Frases como Procuramos demonstrar . então. colocandoo no plural Uma forma elegante de se distanciar relativamente da subjetividade é io agente. precisamos alcançar a maior exatidão possível. são menos subjetivas que Procurei demonstrar. Tudo é dito como se fosse uma realidade que se apresenta sem intermediários e) Colocaram agente inanimado Uma outra maneira de impessoajizar o texto é colocar como agente um ser inanimado. É um recurso muito utilizado na administração pública e na política. a repetição desnecessária. cambembe. capurreiro. arrolava) 10. mocorongo. O segredo do uso adequado do vocabulário é selecionar e combinar cuidadosamente. caboclo. (continha. canguçu. (sentiu. conseguia. caiçara. abrigamos. é a escolha cuidadosa do vocabulário. (mostrou. demonstrou) . Alguns termos enfatizam o trabalho ou a origem da pessoa. é necessário procurar outras opções. Dessa lista ou paradigma é fácil eleger a palavra que mais combina com o contexto. capa-bode. Quem realizou? Quem está revelando? A voz passiva oculta o agente. sertanejo. experimentou. a questão lexical. (dispõe de) 6. sustinha. baiquara. campesinho. capicongo. conservar) 7. mandi ou mandim.Novas descobertas foram realizadas em centros de estudo e laboratórios ao redor do mundo. conseguiu. Está sendo revelado ao mundo que o cérebro é um órgão mais fascinante. outros têm um sentido pejorativo associado à idéia de primitivo. (obtinha. Se você for ao dicionário ainda vai encontrar inúmeras expressões regionais como: araruama. Na cerimônia. mucufo. canguaí. carregava. pé-duro. vestia. curumba. conquistou) 8. há diversas maneiras de tornar o texto impessoal. Não conseguia ter o poder por muito tempo. semterra. Teve uma forte emoção. brocoió. exerceu. bruaqueiro. (detinha) 5. ou seja. maratimba. (usufruir. Ainda tem recursos para a viagem. Tinha grande poder. gozar) 4. caapora. obteve. encerrava. Tinha as pastas de documentos nos braços. Uso do vocabulário Um dos pontos importantes para um texto bem estruturado. conquistava. Na seleção dos verbos. cariazal. atraía. sofre de. revelou. vaqueiro. mandioqueiro. ostenta) 13. usava. e todas elas utilizam recursos e possibilidades presentes no sistema gramatical da língua. mambira. (ocupou. viveu) 12. Assim. pois quase sempre é a mais pobre. cafumango. catatuá. babeco. piraguara. Teve um cargo de chefia. complexo e poderoso do que antes se imaginava. campesino. Para não repetir essa mesma expressão. Ele tem uma doença contagiosa. Algumas 130 TÉCNICA DE REDAÇÃO pessoas têm dificuldade na seleção da palavra certa. peão. roceiro. moqueta. curau. sitiano. queijeiro. baiano. (trajava. catimbó. como: lavrador camponês. pioca. capiau. (É dono de. (manter. agreste. capuava. botocudo. Tivemos em nossa casa um ilustre hóspede. 3. tinha um belo terno. chapadeiro. casacudo. catrumano. em oposição à de civilizado. pé-no-chão. caipira. biriba ou biriva. Ele teve muita iniciativa. macaqueiro. baba quara. mano-juca. Tem bom aspecto. Não se satisfaça com a primeira opção que vem à cabeça. mateiro. mixanga. deu prova de. Os funcionários esperam ter férias em julho. matuto. casca-grossa. caburé. (apresenta. pira quara. tabaréu. alcançou. restingueiro. groteiro. Você é um desses casos? A solução é ter paciência e esperar um pouco até que o “arquivo” mental processe o pedido e devolva uma série de possibilidades. O documento tinha muitos argumentos. rústico. trazia) 3. para o campo semântico do verbo ter. Tem muitos bens. morador. camisão. campeiro. urumbeba ou urumbeva (Dicionário Aurélio Eletrônico). Como vimos. (padece de. recebemos) 14. bóia-fria. rurícola. guasca. Uma seleção inadequada pode prejudicar o funcionamento do texto e causar efeito inverso ao que se deseja. tapiocano. em cada uma de suas acepções. agricultor campestre. jeca. possui) 2. saquarema. Não se pode ficar satisfeito com a primeira possibilidade que vem à A REESCRITA DE TEXTOS 131 mente. (acolhemos. adequado à situação e aos objetivos do redator. despertava. sitiante. há uma série de outras opções. beiradeiro. Imaginemos que você vai escrever um texto sobre trabalhadores rurais brasileiros de diversas regiões. talvez mais ricas e mais exatas: 1. mixuango ou muxuango. campino. (segurava. mostra. casaca. o processo é semelhante. Tinha a admiração de todos. é portador de) li. A escolha vai depender da análise dos objetivos do texto. que é mais exata para a idéia que se quer transmitir. beira-corgo. apresentava. trazia) 15. provocava) 9. desfrutar. que também é um verbo genérj0 depen dendo do contexto Pode ser substituído por: doa.. Tenho a mesma opinião. Desde tempos i/nemo... Cidadãos conscientes têm amor á história.. Fuja das expressões gastas. Trata-se do Guia de Discurso para Tecnocro tas Principiantes Sua versão original teria sido publicada numa revista polonesa Fontoura teve acesso a uma tradução de autor desconhecido que vai publicada adiante. acato. para todos. Habitualmeitie a senhora distribui bolsas de estudo aos sábios da parolagem. 4 nível de filosofia é importante. ao reescrever COflVfl1 eliminar palavras muito tCnicas. O leitor pode combi na qualquer expressão . C?fl5 algumas adaptações. dos O sol nascei. Evite esse tipo de linguagem complexa rebuscada. inCI dir divisar avistar perceber bastar ser Suficie. tributam) 20. mas desta vez. preciso. Nós enqua0 brasileiros 4 quest5. recebeu) 19. Teve a punição merecida. E uma versão melhorada de uma compilaçào surgida pela primeira vez há mais de 20 anos.DE TEXTOS Quadro 1: Elio Gaspari.ar render propor trazer Conte.. (adoto. conta) 21.. Teve resposta positiva. Tenho de falar. revelar cometer causar Soltar emitir publicar di/ gar realizar vender administrar aplicar ministrar proferi dedicar Consagrar Provocar rese. e dispensar palavras e expressões supérfluas evitando redundâncias ou expressões vazias que procuram Clichés. qualquer exagero pode levar ao lado Oposto. (recebeu. Ele já tem 90 anos.. E necessário equiljj0 para assegur a clareza e a comuni cação Por iss0. graças ao jornalista Walier Fontoura. 133 Madame Natasha tem horror a música Ela con fund bola de Taffarel com bolero de Ravel. ofertar oferecer produ/. mas sem conteúdo definido ou consistente. na revista Time.j5 Observe os quadro5 a seguir que ironizam a Iinguage Pedante da tecnocracia Você pode escolher aleatoriament um fragme0 de cada coluna e consegj formar uma frase gramaticalmente aceitável. necessito) 132 TÉCNicA DE REDAÇÃO O verb0 da. aceito) 17. cheia de efeitos e palavras da moda.2te ter voca çào. (obteve. Talvez não seja coisa muito nova. sigo.16. (devo. nClujr registr Consignar atribuir encon/.. passa adiante o tratado do bláblá-bl .. dedicam. (completou. que fazem parte do jargão de uma determinada profissão. resultar ceder Conceder apresentar mani festa. mas certamente é divertida (para amigos do idioma) e útil (para os inimigos).. cismar Sentir acontecer ou Outros Nosso léxico é muito rico e no devemos nos contentar com o mínimo Vale a pena investir na amp1iaç0 do fosso acervo individual para produzir textos melhores Entretanto. mas inconsistente em termos de informação objetiva A REES’JJ. (consagram. sofreu) 18. apenas impressionar o leitor. devotam. 1998. A REESCRITA DE TEXTOS 135 4. i MANUAL DE TECNOMISIIFÍCAÇAU i estudos efetuados essencial na financeiras e formulação adnijmst ivas Assim mesmo. na ordem 1. 2. estruturas.lisiada na primeira coluna i com outras. 6. das demais. O novo tema social propicia o incorporamento das funções e a descentralização decisional numa visão orgânica e não totalizante. superestrutura população. a cavaleiro da situação contingente. a redefinição de uma nova figura profissional. ou como sua premissa uma congruente potencial orgânica de interdependência antes revalorizando. não omitindo ou calando. A e5periôncia a consolidação das prejudica a pereepçào das condições mosa que estmiaras da impocia apropfia para os negócios. Estrutura dos períodos . O método participativo propõe-se a o reconhecimento da demanda não satisfeita mediante mecanismos da participação. evidenciando e explicitando. indispensável e flexibilidade das interdisciplinar horizontal. condicionante. uma vez que das informações formação de quadros. potenciando e incrementando. em termos de eficácia e eficiência. a expansão de nossa exige a precisão e a dos conceitos de atividade definição Participação geral. permite ao empulhador que fale ininterruptamente por mais de 40 horas.a da auxilia a preparação das atitudes e das esquecer que organização e a estruturação atribuições da diretoria Do mesmo modo. tecnologico. Não podemos a atual estnjs. um indispensável salto de qualidade. Quadro 2 COLUNA A COLUNA B COLUNAC COLUNA D COLUNA E — COLUNA F COLUNA G 1. sem dizer coisa nenhuma. 2. a adoçào de uma metodologia diferenciada. mais curativa. A utilização privilegia uma coligação segundo um módulo recuperando. mas antes particularizando. ativando e implementando. o coenvolvimento ativo de operadores e utentes. com as devidas e imprescindíveis enfatizações. assim de fomiação de de reformulaçào corno atitudes Jornal de Brasfl0 28. As variações possíveis sO cerca de 10 mil. 5. preventiva e não cada ato decisional. 3. o aplainamento de discrepmncias e discrasias existentes. no contexto de um sistema integrado. 3 e 4. não assumido nunca como implícito. O cntério metodológico reconduz a sínteses a pontual correspondência entre objetivos e recursos com critérios nãodirigísticos. O quadro normativo prefigura a superação de cada obstáculo e/ou resistência passiva sem prejudicar o atual nível das contribuições. o novo modelo coninbui para das novas proposições estruniral aqui a correta preconi0 determinação A prática mostra que o desenvolvimento assume importantes das opções básicas para de formas distintas posiçõesun definição o sucesso do prograrun de atuação Nunca é demais a consiante divulgação facilita5 definição do nosso sistema de insistir. Segundo os autore5. para uma práxis de trabalho dr grupo. na medida em que isso seja factível. É fldansenfal a amimar dos divemos oferece uma boa dos nidice pretendidos ressaltar que resultados oportunidade de venfleação O incentivo ao avanço o início do prograin acan-era um processo das formas de ação. O modelo de desenvolvimento incrementa o redirecionamento das linhas de tendência em ato para além das contradições e dificuldades iniciais. 7. A necessidade se caracteriza por uma correta relação no interesse substanciando e numa ótica a transparência de emergente entre estrutura e primário da vitalizando.jun. 4. Aspecto decisivo para a reescrita de textos é a avaliação da construção dos períodos. ágeis. E necessário observar cuidadosamente a sintaxe da oração: Sujeito Predicado e complementos Com o qual o erbo concorda Paulo entregou o texto a Joana ontem na sala subitamente. sugerimos que você volte aos seus livros de língua portuguesa e tente se aproximar dos capítulos de sintaxe com outros olhos. Este é o grande defeito do ensino escolar: desvincular a análise sintática da produção de textos. Em textos expositivos. está caro. o aluno mais estudioso. pareceres. o . as frases devem ser curtas. a não ser que esteja em posição invertida. acumula informações de forma densa e complexa. É correto utilizar a vírgula para: a) Separar o vocativo: Senhoras e senhores. os recursos disponíveis. ou melhor etc. por exemplo. como se acredita no senso comum. Quanto mais extenso for o período. coordenadas sem conjunção — O livro. A pontuação A vírgula é a principal dúvida de todos os redatores.foi aprovado no concurso público. memorandos. disseram os alunos.4 REESCRITA DE TEXTOS 137 Observação: as adjetivas restritivas não aceitam vírgula: O livro que o professor sugeriu é bom. as diversas formas de elaborar uma idéia. A ausência de ponto final também constitui um problema de sintaxe. É preciso memorizar que não se usa vírgula entre o sujeito e o predicado. e) Separar orações intercaladas ou não.’iagem. procure identificar as relações sintáticas para observar se há concordância entre os termos das orações e se a pontuação está correta. 5. ordenando-os de forma lógica. Esqueça aquele desespero ao decorar classificações para preencher exercícios ou testes e procure entender o funcionamento lógico da frase e seus efeitos de sentido junto ao leitor. de provocar uma interpretação. b) Separar o aposto explicativo: Pedro. relatórios e monografias. nem entre o predicado e seus complementos. Sempre que estiver reescrevendo seu texto. mas apenas provocar algumas reflexões. é bom. d) Expressões intercaladas: isto é. dificultando a interpretação do leitor. ou seja. estarei pronto. Observe este exemplo retirado de um rascunho de documento pedagógico: A proposta para o ensino de língua portuguesa consiste em tomar a linguagem como atividade discursiva. de dar ênfase a um tópico. que é uma fonte imprescindível de informações. convém evitar orações intercaladas muito longas. objeto direto + objeto indireto + Quando? Onde? Por quê? Como? Com quê? Nenhum desses elementos pode estar separado do outro por vírgula. A pontuação é um dos principais problemas dos textos e ela depende de um conhecimento mínimo de análise sintática. ou seja. Como nosso objetivo aqui não é oferecer uma revisão gramatical. e) Separar enumerações: Escrevi cartas. . aliás. esperamos que tenham uma boa I. E principalmente um fator sintático. fora da ordem direta. procure analisar 136 TÉCNICA DE REDAÇÃO as possibilidades da língua. dissertativos ou argumentativos. que dificultam a compreensão do leitor. adjetivas explicativas: O livro. Cada uma das possibilidades sintáticas constitui uma maneira diferente de transmitir uma posição. com o objetivo de construir períodos melhores em seus textos. maior será a possibilidade de se perder o controle da sua elaboração e cometer impropriedades estruturais. E geralmente preferível a ordem direta: sujeito + predicado + complementos Na construção dos períodos. Ela não serve apenas para marcar pausas ou momentos de respiração. oficios. Se você aceitar a sugestão e voltar às gramáticas ou aos livros didáticos para uma revisão de sintaxe. já que une e separa elementos de uma oração. Quando o redator não consegue dividir adequadamente as idéias em períodos distintos. adverbiais: Quando chegar o dia do exame. permitindo. uma grande parcela dessas dificuldades se resolve pelo uso do computador. flandre. analisar. ensaio. baixeza. proclama. como nos concursos. mas a decisão final é ainda do redator. SEPARE AS SÍLABAS DE PALAVRAS NOVAS. J/G: viajem (verbo). o texto oferece dificuldade de leitura por prolongar-se excessivamente. oficializadas por segmentos como Academias de Letras. E. escreva sem olhar para o texto original e depois confira. falar. ler e escrever. pesquisadores. superstição. A questão da ortografia A ortografia das palavras é uma convenção que envolve decisões coletivas e históricas. muitas vezes. o texto e a variedade de gêneros como unidade básica de ensino e a noção de gramática como recurso para analisar as questões relativas à coerência e à coesão textual. acento. leitura de textos escritos e produção de textos orais e escritos. epor meio da análise e da reflexão sobre os diversos aspectos envolvidos nessas práticas. vazio. FAÇA PALAVRAS CRUZADAS NAS HORAS VAGAS. Não podemos individualmente modificar a ortografia conforme nossa preferência. Portanto. fecho. À medida que se escreve. nem sempre podemos usar o computador. por 138 TÉCNICA DE REDAÇÃO meio da realização escolar de uma prática constante de escuta de textos ora is. puxar. Alguns procedimentos podem ajudá-lo a melhorar seu desempenho em relação à ortografia: A REESCRITA DE TEXTOS 139 LEIA MUITO. incorreções e palavras inexistentes. máximo. Essas ocorrências exigem maior atenção. RS: perspectiva. a aquisição de conhecimentos discursivos e lingüísticos. Tal procedimento permite. interstício. leitura de textos escritos e produção de textos orais e escritos. Esses conhecimentos possibilitam a ampliação progressiva da capacidade de ouvir. da aquisição de conhecimentos discursivos e lingüísticos que possibilitem a ampliação progressiva da capacidade de ouvir. CONSULTE O DICIONÁRIO SEMPRE QUE TIVER DÚVIDA. Vejamos: A proposta para o ensino de língua portuguesa consiste etn tomar a linguagem como atividade discursiva. instituições de ensino. O melhor e mais seguro é consultar o dicionário muitas vezes até memorizar a ortografia da palavra. as necessárias adaptações sintáticas e a pontuação transformaram o texto de forma a facilitar a leitura. Entretanto. Sempre que encontrar uma palavra dificil ou nova para você. escrevemos de forma manuscrita e sem possibilidade de consulta ao dicionário. sem. que podem ser solucionados pela divisão em períodos menores e uma adequada colocação de pontos finais. o programa aponta dúvidas. Observe que não há problemas de concordância. É impossível ter certeza . o melhor é criar familiaridade com as palavras. análise. DUVIDE SEMPRE DA GRAFIA DE SÍLABAS COMPLEXAS. A divisão em períodos menores. ortografia. atendendo propósitos e demandas sociais e garantindo a plena participação social. FOCALIZE SUA ATENÇÃO NOS PONTOS EM QUE AINDA TEM PROBLEMA. Hoje. flanela. publicações e leis. PRI BL/CL/FL/DR: problema. 6. NAMORE AS PALAVRAS. SOLETRE. alterar o sentido original. atraso. Entretanto. deslizar. SIZ: riqueza. nascer. de maneira crítica e autônoma. Podemos dizer que há problemas de sintaxe e de estilo. PEÇA A ALGUM PROFESSOR PARA DIAGNOSTICAR SUAS DIFICULDADES. visor. atendendo propósitos e demandas sociais e garantindo a plena participação social. e por meio da análise e da reflexão sobre os diversos aspectos envolvidos nessas práticas. estender. contudo.texto e a variedade de gêneros como unidade básica de ensino e a noção de gramática como recurso para analisar as questões relativas á coerência e à coesão textual. LEIA PRESTANDO ATENÇÃO NA GRAFIA. por meio da realização escolar de uma prática constante de escuta de textos orais. ler e escrever de maneira crítica e autónoma. Identifique quais são os seus problemas mais freqüentes e concentre seu esforço e sua atenção sobre esses casos. crescer. falar. X/CH: ficha. exceção. A língua portuguesa oferece muitas dificuldades ortográficas. viagem. acentuação. leia-a várias vezes em voz alta para gravar o som. As principais dificuldades de grafia das palavras em português são decorrentes das muitas representações gráficas para um mesmo som ou dos encontros de consoantes: SS/C/S/Ç/SCIX: assunto. açúcar. A dúvida é natural mesmo para quem escreve todos os dias e vive de escrever. Observe uma tabela de avaliação de textos que sintetiza as questões referentes à qualidade textual e pode servir de roteiro para sua própria releitura. como: à altura à escolha à margem de à bala à espera à medida que à base de à esquerda à página 10 à beça à força à parte à beira de à francesa à primeira vista à caça à luz à procura à direita à maneira de à proporção que à disposição à mão (escrever) à razão de à entrada à mão (estar) à tinta à época à máquina (escrever) Acostume-se a tirar dúvidas sempre que elas aparecem. pronomes indefinidos. apelidado indevjdainen te de “pai dos burros”. corre muito mais risco de errar. mim. José entregou o livro à professo. Mas é relativamente simples Alguns verbos transitivos indiretos exigem o uso de uma preposição a. Não se usa crase também em expressões como: cara a cara de alto a baixo de baixo a cima de fora a fora dia a dia face a face frente a frente gota a gota Muitas expressões exigem sinal indicativo de crase.absoluta da grafia correta de todas as palavras da língua.. este. porque essas palavras nunca são antecedidas por artigo feminino. mas essa é facilmente resolvida com o treino. A acentuação gráfica também merece atenção especial. Assim. alguém. quem. 142 TÉCNiCA DE REDAÇÃO ASPECTOS A SEREM CONSIDERADOS NO APERFE1ÇOA0 DO TEXTO ASPECTOS TEXTUAiS S Sintaxe de Construção Reescrever obsersando. José entregou o livro a quem pediu. pronomes demonstrativos: esse. O uso do sinal indicativo de crase Muitas Pessoas acreditam que é impossível compreender o funcionamento da crase.a Não se usa sinal indicativo de crase antes de verbo palavra masculina. adequação dos co- . A REESCRITA DE TEXTOS 141 José entregou o livro a correr José entregou o livro a esse homem. pronomes pessoais: ela. Em todos estes exemplos a é preposição José entregou o livro ao amigo. A memorização vem com o uso. e até escritores prestigiados têm dúvidas e vão ao dicionário a todo momento Quem tem vergonha de demonstrar dúvida e de dicionário. quando em seguida a esses verbos há uma palavra feminina que admite artigo feminino a. a consulta constante às regras e a atenção na hora de escrever e de revisar. pois quem o consulta com freqüênj tem realmente mais familiaridade com os fatos da língua. você consolida sua intimidade com a língua escrita e as infinitas possibilidades de expressão. os dois as se encontram e acontece a crase: José entregou o livro a > a professora recebeu o livro. José entregou o livro a ela. 7. Deveríamos chamar o dicjonáijo de “pai dos sábios”. Saiba que revisores profissionais têm ao alcance da mão muitos livros de 140 TÉCNiCA DE REDAÇÃO consulta. Sugerimo5 que o redator tenha à mão um cartão plastificado com o resumo das regras para Consulta diária. A REESCRITA DE TEXTOS 143 CARTA AO LEITOR Brasília. O que leva tempo e exige paciência. houve muito crescimento. sobretudo. Atica. leva o leitor a se tornar mais crítico e . eliminar idéias incompatível5 sem importância para o desenvolvimeni da idéia central. Procurei traduzir conceitos muito sofisticados em linguagem quase informal. Mas relaxe. súbita. Severino Antônio & AMARAL. LE Concordância Corrigir conforme justificativa gramatic catíticaI/ Caso VOC Seja professor pode usar as letras da primeira coluna como indicações nas margens dos textos de seus alunos. pelo menos para as necessidades práticas. Pode ser utilizado sem ajuda presencial. Escrever ler e compreender os infinitos matizes da linguagem são formas muito especiais de felicidade que nossa cultura nos proporciona. tem a respostapara minha dúvida. Antônio Suárez. Cxpressões Coloquiaiç clichê5. se você se empenhou verdadeiramente. como eu gosto de fazer algumas vezes.1 nectis e palavras de relação. Pt Pontuação Retirar acrescentar OU modificar. P Paragrafo Agrupar ideias complementares ou depen dentes Distribuir idéias por parágrafos di ferentes Escrever transição entre parágrafos G Gênero Nlanter o fom conforme o gênero. especificar generaIijaç5 articular as relações lógicas entre as idéias por meio de conectjso5 utilizar argumen_ los adequados. mesmo sendo uma tarefa complexa e prolongada. De qualquer forma. (1983) Senso crítico: do dia-a-dia às ciências humanas. E é preciso lembrar que o trabalho com a leitura e a escrita é ininterrupto. O que signfica que você continuará crescendo sempre. na escrita.it0 Coesão e coerência Reescrever obsers ando. leve. enriquecedora e prazerosa. Queira sempre mais. e somente você. de frases e períodos construir Paralelism. CARRAHER. é o resultado de muito trabalho com a linguagem. Afinal. não é uma iluminação divina. uma aventura lúdica. São Paulo. ou seja. Bibliografia comentada de apoio ao aluno ABREU. O objeto desse jogo é a língua. leitor. Meu amigo leitor Suponho que você esteja realmente interessado em aperfeiçoar sua habilidade em produzir textos. por meio de explicações e exercícios. distinguir a idéia central. evi ta acúmulo de idéias num mesmo período. na qual estamos totalmente imersos. desfa ze ambigüi55 V Vocabulário Eliminar ou substituir palavras repetida5 Utilizar paIara mais adequada Eliminar gíria. que vai dos processos de desenvolvimento da criatividade ao aperfeiçoamento da apresentação do pensamento lógico. Quem buscava uma fórmula infalível e definitiva pode estar se sentindo frustrado ou atordoado. pois chegou até aqui. Curso rápido de redação e revisão gramatical. Pioneira. (1993) Curso de redação. pois. Papirus. Campinas. Obra teórico-prática muito agradável que. há sempre uma margem de incerteza. além de fortalecer seu equipamento essencial de participação na sociedade. BARBOSA. (1986) Escrever é desvendar o mundo a linguagem criadora e o pensamento lógico. corrigir / fragnient5ç0 e truncamento de idéias. Indicado para quem quer avançar rapidamente nas reflexões e na prática sobre a produção de textos. eliminar repetições. Curso rápido e completo de redação. março de 2000. Não se contente em usufruir apenas o que a distribuição perversa do capital simbólico na nossa sociedade nos concede. Fácil. vai continuar pela vida afora. Entretanto. pode se transformar em um jogo. David W. Como vimos. si. pode ser utilizado sem ajuda. e no grau que desejava. tenham desvelado novos horizontes para você. escrever bem. Lucília -. Se é que não começou pelo final. São Paulo. é acessível a todos. gratficantes e. espero que a leitura e os exercícios propostos tenham sido estimulantes. Observar estruturas peculiares ASPECTOS GRA1ATICAIS E FORMAIS /iadei:s parágrafo Evidenciar maiúsculas O Corrigir conforme dicionário Corrigir conforme as regras. mas não tenho muita segurança se consegui isso. Emilia. O interesse pela linguagem. Evitar mudanças ifljustificgv5 de nível. reflexivo em relação às informações disponíveis na sociedade. BRASIL. (1986) A produção escrita e a gramática. Record. Pode ser utilizado como manual de curso ou como roteiro indiyi dual de trabalho. Pode ser usado como manual para cursos de redação ou individualmente. Imprensa Nacional. PLATAO F.. Ótimo curso completo de produção de texto para estudantes universi tários e outros interessados. Martins Fontes. CARRAHER. Bibliografia para aprofundamento ABREU. BARRAS. (1989) A arte de ensinar a escrever. Atica. o capítulo a respeito da organizaç0 das idéias é muito interes sante. Lindley L. à qual todas as Outras produzidas no Drasil se repoam no que diz respeito à produção de textos Embora não utilize conceitos modernos da lingüjstj textual. Carlos Alberto & TEZZA. (1991) Manual de redação da Presidência da República. A. Vozes. São Paulo. (1995) Nova gramática do português contemporáneo. T. BECHARA. Ática Excelente coletânea de textos comentados e analisados segundo os princípios mais atuais da lingüístj Fácil in(eres5te e pode ser utilizado individualmente. BRONCKART. Hucitec. Ática. BLINKSTEIN. pois é organ1a0 a pair de verbetes em ordem alfabética Assim como um bom dicionário. Jean-Paul. São Paulo. BASTOS. (1985) Ensino da gramática. mas. (1986) Escrever é desvendar o mundo a linguagem criadora e o pensamento lógico. Martins Fontes. M. São Paulo. deve estar sempre á mão do redator. Porto Alegre. M. (1986) Co0j ão enj prosa ‘noderna Rio de Janeiro. Curso de redação em duas panes uma para o aluno e outra para o professor. Robert. Queiroz. Nova Fronteira. Globo.) e outros (1998) Roteiro de redação Lendo e argwnenta 00 São Paulo Scipione Curso de redação completo com muitos textos para leitura e exercí. BAKHTIN. Brasília. Martins Fontes. 1992. CO5. Petrópolis. CAVALCANTI. CALKINS. São Paulo. Atica. ______ & MATTOS. 148 TÉCNICA DE REDAÇÃO CASTELLO. 1981. (1989) Curso de redação. São Paulo. Campinas. L. como pode ser um manual de curso SERAFINI Mafla Teresa. ALMEIDA. o Estado de S. São Paulo. (1995) Técnicas de comunicação escrita. José. (1992)Prática de texto: língua portuguesa para nossos estudantes. (1930) Estética da criação verbal. Antônio Suárez. Napoleão M. (1986) Os cientistas precisam escrever. sim. BARBOSA. Não é de fácil consulta para iniciantes que querem tirar dúvidas práticas de gramática. Paulo/Moderna Manual de Consulta rápida para solucionar dúvidas de escrita da língua Pougues padrão Muito útil e fácil de usar sem ajuda do profes. J. Apresenta excelente reflexão sobre questões lingüísticas e muitos exercícios práticos de leitura e produção de textos. & FIORIN J. São Paulo. (1983) Manual de expressão oral e escrita. Fundação Getá lio Vargas. descrever os usos reais e atuais da língua nas diversas circunstâncias. . (1989) Interação leitor-texto: aspectos de interpretação pragmática. A. sor. Pode ser útil para trabalhos escritos disseativos VIANA. Mattoso. C. Educ. (1930) Marxismo e filosofia da linguagem. Emília. C. FARACO. Campinas. (1983) Senso crítico: do dia-a-dia ás ciências humanas. Trata-se de uma gramática moderna. CAMARA Jr. M. (1989) Como escrever textos São Paulo. Rio de Janeiro. L. textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo. (1994) Coesão e coerência em narrativas escolares. São Paulo. A. L. 146 TÉCNiCA DE REDAÇÃO GÁRCIÁ Otlio0 M. David W. Evanildo. Vozes. (org. Unicamp. Atica. que não pretende estabelecer normas rígidas. São Paulo. Artes Médicas. Pioneira. Petrópolis. Celso & CENTRA. Cristóvão. São Paulo. (1999) Atividade de linguagem. (1999) Inventário das sombras. CUNHA. F. (1997) Lições de texto: leitura e redação São Paulo. Izidoro. M. Pau/o Jllanjja/de redaç o e estilo São Paulo. Severino Antônio & AMARAL. Opressão? Liberdade? São Paulo. sem ajuda presencial de um professor. já os antecipava por meio de uma observação aguda do funcionamento dos textos literários Indispensável para todos que querem se aprofdar nas questõe5 da escrita em língua POrtugue MARTINS Eduardo (org) (1997) O Estado de S. de (1998) Dicionário de questões vernáculas. Papirus. Obra Clássica. K. São Paulo. FRANCHI. São Paulo. Martins Fontes. Eglê. KLEIMAN. Martins Fontes. (org. Contexto. C. (1989) Para falar e escrever melhor o português. São Paulo. M. & KOCH. Rio de Janeiro. Perspectiva. Brasiliense. (1985) Como sefaz uma tese. Campinas. MARTINS. (1997) Uma história da leitura. (1997) Aprender e ensinar com textos dos alunos (coord. NJ. P. Marguerite. Campinas. C. Fundação Getúlio Vargas. (1985) Língua e liberdade. (1988) O que é leitura. FIORIN. Atica. Enilde L. Pontes.) (1982) Escritores em ação: as famosas entrevistas à “Paris Review “. J. In: Subsídios á proposta curricular — São Paulo. Pontes.) (1985)Lingüística textual Texto e leitura. Campinas. GERALDI. A. São Paulo. & PASCHOAL. 1988.) A lin BiBLIOGRAFIA PARA APROFUNDAMENTO 149 guageni e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. (1996) Linguagem e ensino — Exercícios de militância e divulgação.) O texto na sala de aula: leitura eprodução. (1989) Leitura: ensino e pesquisa. (1985) Nova gramática do português contemporâneo. (1991) Linguagem epersuasão. Alberto. GUIMARÀES. interação. Cascavel. L&PM. KATO.CHAUI. São Paulo. W. G. Companhia das Letras. FAULSTICH. Lucília H. (1989) Texto e leitor: aspectos cogniti vos da leitura. (1992) Guia teórico do alfabetizador. Maurizzio (1985).. (1985) O aprendizado da leitura. L. Minam. KOCH. R. discurso. entender e redigir um texto. Atica. São Paulo. & FLOWER. Atica. (org. Cadernos PUC 22. Umberto. A. LEMOS. Rio de Janeiro. São Paulo. L. Ática. Malcoim. (1984) Argumentação e linguagem. GÓES. O Estado de S. Savioli. MANDRYK. J. (1991) Portos de passagem. COWLEY. (1993) A criança e a escrita: explorando a dimensão reflexiva do ato de escrever. Vozes. L. J. São Paulo. Celso & CINTRA. Rio de Janeiro. and Work in Communities and Classrooms. Porto Alegre. Contexto. HEATH. Cortez Editores. (1987)A articulação do texto. W. (1978) Coerção e criatividade na produção do discurso escrito em contexto escolar. & PLATÃO. L(fe. (1993) A inter-ação pela linguagem. Nova Fronteira. de J. (1986) No mundo da escrita. Atica. Martins Fontes. Paz e Terra. São Paulo. L. São Paulo. Adriano da Gama. Atica.. 1. 5. São Paulo. Atica. V. (1988) Apalavra escrita. Assoeste. In: A lingüística e o ensino da língua portuguesa. L. São Paulo. Paulo — Manual de redação e estilo. Paulo/Moderna. In: L. Moderna. São Paulo. Marilena. Othon M. Contexto. (1991) Cultura e democracia. Petrópolis. A. S. DURAS. HAYES. SE/CENP. Papirus. A redação na escola. C. Cambridge. (1989) Os escritores 2 — As históricas entrevistas da ‘Paris Review “. e outros. R. Rio de Janeiro. (1991) Coesão e coerência textuais. Nova Fronteira. COSTE. Marcos. B. Petrópolis. GARCEZ. Eduardo. T. L. Unicamp/Pontes. (1980) The dinamics ofcomposing: making plans and jugging constraints. Martins Fontes.) (1998) O Estado de 5. Vozes. M. (1993) Oficina de leitura: teoria e prática. Astúcias da enunciação. Smolka e outros (orgs. São Paulo. (1986) Comunicação em prosa moderna. Editora Universidade de Brasília. GARCIA. São Paulo. São Paulo. Linguagem. Elisa. Pontes. São Paulo. Brasilia. São Paulo. ILARI. STEINBERG (1980) Cognitive Processes en Writing. (1997). R. São Paulo. algumas reflexões.) Lígia Chiappini. Adilson. 1n. São Paulo. Wilson. MARTINS. São Paulo. Cortez Editores. GREEG & E. FIORIN. o discurso competente e outras falas. Como ler. (1983)Lingiiística textual: introdução. GNERRE. LUFT. de. D. F. São Paulo. (1990) A coesão textual. Rio de Janeiro. Lawrence Erbaum. R. CITELLI. (org. Rocco ECO. Atica. Campinas. Lindley L. Ingedore. MANGUEL. C. KURY. São Paulo. (1988) O texto: leitura e escrita. São Paulo. A. Companhia das Letras. Ingedore. Z. (1992) Cognição. J. F. (1985) (org. LEMLE. (1987) Prática de redação para estudantes universitários. Mercado de Letras — ALB. (1985) Uma nota sobre redação escolar. M. Cambridge University Press. (1983) Ways with Words: Language. MARTINS. São Paulo. & FARACO. MAFFEI. São Paulo. (1984) E as crianças eram dflceis. Educ. B. (1990) Lições de texto: leitura e redação. (1997) Convite à Filosofia. escrita e poder. DIJK. São Paulo. Cortez. . (1994) Escrever. Maria Helena. FÁVERO. Atica. D. (1998)A escrita e o outro. CUNHA. Campinas. Campinas. por uma nova concepção da língua materna. Martins Fontes. Atica. . problemas e técnicas na produção oral e esc. F. David R. SALOMON Délci0 Vieira (1991) Conzo fazer uma monografia São Paulo. Campinas Papirus TRIGO Luciano (org) (1994) O Globo: grande5 entrevistas os escri tores. B. estilo e subjetividade So Paulo. SERAFINJ Maria Teresa (1974) Como escrever textos Rio de Janeiro. Globo SOARES Magda & CAMPOS. Mestre Jou. Mercado Aberto MPfES40 e (ANC-P 42MENJO . 1978 (1930) Pensamento e linguagem São Paulo. 1987. Martins Fontes. R. Kajrós PECORA Alcir (1983) Problemas de redação São Paulo. Martins Fontes. 5. VIANA. J. Pioneira. ZILBERMAN Regina.) A linguagem e o outro no espaço escolar: Vygots e a construção do conhecimento. VAL. Globo.-ita São Paulo.) e outros. L. Uso5 da linguagem. PIGLIA. (1991) Redação cientifica.AF 6J9?78a . (1978) Técnica de redação Rio de Janeiro. (1990) Estratégias de leitura: como decodcar sentidos flão-literais na linguagem verbal Porto Alegre. relação ora/idade escritura In: A. São Paulo. (1987)Deshurocratizaçãolingüística como simplificar textos administrativos. Sagra. Whjtaker (1986) A técnica da con humana São Paulo. A. Cadernos de Pesquisa número 23. Ao Livro Técnico SMOL A. (1997) O mundo no papel as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita. Cortez Editores/Unicamp OSABE Hakjra (1977) Redações no vestibular. Neide R. Atlas. MENDONÇA. Rio de Janeiro. (org. São Paulo. São Paulo. OLSON. (1988) Discurso. L. a redação no vestibular. VANOYE Francis (1982). (1982) Leitura em crise na escola: alternativas doprofrssor Porto Alegre. (1981) Crise na linguagem. 5. ZANDWAIS Ana. (1930) A formação social da mente São Paulo. Martins Fontes. T. Martins Fontes. (1998) Roteiro de redação Lendo e argument 0 São Paulo. Pioneira. Ricardo (1994) O laboratório do escritor São Paulo Ilumjnuras POS SENTI Sírio. “ 150 TÉCNICA DE REDAÇÃO ORLANDI Enj PuJcjnellj (1988) Discurso e leitura São Pau1o/Camp nas. (1993)4 dinámíca discursiva do ato de escreler. C. (1979) Argumentç0 e discurso po1íti0 São Paulo. Scjpion VIGOTSy L. Martins Fontes. Manjns Fontes PENTEADO J.MEDEIROS. São Paulo. Provas de argume ração. E. Martins Fontes (1997) Por que (não) ensinar gramátjc na escola Campinas Mercado Aberto/ALB ROCCO M. B. Smolka e Outros (orgs. São Paulo Funda ção Carlos Chagas. Maria da Graça Costa (1991) Redação e textualidade São Paulo.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.