TRAJETÓRIAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONALUma comparação entre a região Nordeste do Brasil e a Baixa Califórnia, México Jair do Amaral Filho e Jorge Carrillo (coordenadores) Rio de Janeiro, 2011 © Jair do Amaral Filho e Jorge Carrillo (coord.)/E-papers Serviços Editoriais Ltda., 2011. Todos os direitos reservados a Jair do Amaral Filho e Jorge Carrillo (coord.)/ E-papers Serviços Editoriais Ltda. É proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou parte dela, por qualquer meio, sem a prévia autorização dos editores. Impresso no Brasil. ISBN 978-85-7650-289-0 Projeto gráfico, diagramação e capa Livia Krykhtine Revisão Elisa Sankuevitch Esta publicação encontra-se à venda no site da E-papers Serviços Editoriais. http://www.e-papers.com.br E-papers Serviços Editoriais Ltda. Rua Mariz e Barros, 72, sala 202 Praça da Bandeira – Rio de Janeiro CEP: 20.270-006 Rio de Janeiro – Brasil CIP-Brasil. Catalogação na Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livro, RJ T688 Trajetórias de desenvolvimento local e regional: uma comparação entre a região nordeste do Brasil e a Baixa Califórnia (México) / Jair do Amaral Filho e Jorge Carrillo (coordenadores). - Rio de Janeiro: E-papers, 2011. 398p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7650-289-0 1. Planejamento regional - Brasil, Nordeste. 2. Brasil, Nordeste - Condições econômicas. 3. Planejamento regional - Baixa California (México : Península). 4. Baixa California (México : Península) - Condições econômicas. 5. Desenvolvimento econômico. I. Amaral Filho, Jair do. II. Carrillo, Jorge. III. Título. 11-0527. CDD: 338.98 CDU: 338.1(8) Sumário 5 15 Apresentação Elementos da política de desenvolvimento empresarial: o caso da Baixa Califórnia, México Noé Arón Fuentes 37 Globalização, transformações estruturais, desenvolvimento local e regional, um olhar sobre o Nordeste brasileiro Jair do Amaral Filho 69 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais: eletrônica e autopeças na fronteira norte do México Jorge Carrillo 99 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia Alfredo Hualde e Redi Gomis 123 Clusters e sistemas produtivos locais, competitividade e articulação nas regiões: Baixa Califórnia, México Sárah Eva Martínez Pellégrini 147 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado Maria Cristina Pereira de Melo 171 Em direção a uma integração virtuosa: o caso da economia baiana Hamilton de Moura Ferreira Junior, Lúcio Flávio da Silva Freitas e Fábio Batista Mota 199 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 Carlos Américo Leite Moreira e Inez Silvia Batista Castro 223 Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza Eveline Barbosa Silva Carvalho 237 Capacitação tecnológica no Brasil: por que as políticas de C,T&I são pouco eficazes? David Rosenthal 265 Inovação, arranjos produtivos e sistemas de inovação Helena M. M. Lastres e José Eduardo Cassiolato 287 Sudene: do desenvolvimento cepalino ao desenvolvimento endógeno Fernanda Ferrário de Carvalho 309 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia: uma metodologia de delineamento Francisco de Assis Costa 357 Federalismo fiscal: os efeitos dos fundos de participação dos estados (FPE) e dos municípios (FPM) na distribuição da renda inter-regional e interpessoal no Nordeste brasileiro Marcelo Callado 377 Guiana Francesa: riqueza e fragilidade numa economia periférica Yves-A. Fauré 395 Autores Apresentação Como todas as transformações econômicas e institucionais, o processo de globalização tem arregimentado um grande número de adeptos, ao mesmo tempo que produz um exército de críticos. Esse quadro é perfeitamente justificado pelos resultados contraditórios gerados por tal processo, cuja síntese está longe de ser visualizada. Enquanto possibilita a retirada de milhões de pessoas da situação de pobreza na China e na Índia, por exemplo, e até no Brasil, a globalização causa desconforto entre os países industrialmente desenvolvidos em razão do deslocamento dos investimentos e da terceirização da produção manufatureira, resultando na subtração de empregos nesses países. Vista por esse ângulo, a globalização tem provocado impactos diferenciados sobre as trajetórias de desenvolvimento local e regional, fazendose sentir por meio de resultados que compõem um quadro ocupado por regiões ganhadoras e regiões perdedoras, cujo divisor de águas tem sido o conhecimento e a inovação e, a contragosto de certas correntes de pensamento, projetos e processos de desenvolvimento colocados em prática por vontades e decisões políticas. Em vez de seguir clichês analíticos e generalizantes previamente concebidos, é conveniente que sejam feitas observações empíricas e análises pormenorizadas sobre os impactos da globalização sobre as regiões em seus variados aspectos, tais como: econômico, social e cultural e, inclusive, de capacidade criativa. Além disso, concomitante ao exercício de se apurar os resultados macroeconômicos produzidos pela globalização sobre um país, é necessário que se realizem pesquisas e reflexões sobre o que acontece, dentro dele, em nível local e regional, face àquele processo de globalização. Isso significa dizer que os resultados produzidos por esse fenômeno sobre as várias regiões e territórios são diferenciados, sobretudo nos casos de países de grande escala e que apresentam níveis acentuados de desigualdades social e espacial. Esses são os casos de países como o México e o Brasil, respectivamente, em suas regiões da Baixa Califórnia e do Nordeste. Dentro do contexto descrito anteriormente, é oportuno que se faça uma reflexão sobre como regiões periféricas, como a Baixa Califórnia do México e o Nordeste brasileiro, além de algumas outras em posições semelhanApresentação 5 tes, vêm se comportando diante do fenômeno da globalização, das grandes transformações estruturais e dos acordos comerciais realizados por força dessas circunstâncias. Nesse sentido, professores e pesquisadores do grupo de pesquisa Região, Indústria e Competitividade (RIC) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Colégio de la Frontera del Norte (Colef), Tijuana, México, realizaram um seminário internacional para analisar e discutir as trajetórias recentes do desenvolvimento local e regional de suas respectivas regiões. Tal seminário ocorreu entre os dias 29 e 30 de outubro de 2008 na Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade, Atuárias e Secretariado (FEAACS), campus Benfica da UFC, cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil, com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), da UFC e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O livro ora publicado acolhe os resultados, em forma de artigos/capítulos, de trabalhos levados a cabo por pesquisadores pertencentes aos dois grupos de pesquisas referidos anteriormente e que foram apresentados no referido seminário, cujo título foi “Trajetórias de Desenvolvimento Local e Regional: uma comparação entre as regiões da Baixa Califórnia (México) e o Nordeste brasileiro”. Entretanto, alguns artigos de autoria de pesquisadores de outras instituições, abordando questões conceituais e teóricas ou fazendo referências a outras regiões, também participaram deste projeto, não só pela relevância dos trabalhos desses pesquisadores, mas também pela importância e pertinência dos temas tratados em relação às trajetórias das duas regiões aqui focalizadas. O Capítulo 1, de Noé Aron Fuentes, trata da realidade da Baixa Califórnia, no México. O autor descreve, de forma minuciosa, a política de desenvolvimento empresarial baseada em clusters implementada nessa região. Trata-se de um enfoque de agrupamentos econômicos, tanto industriais como de serviços, que foi adotada como política industrial nesse estado devido à mudança no entorno econômico-empresarial e também nas fontes de competitividade. O trabalho sintetiza a política em duas vertentes: vocações produtivas e fomento e desenvolvimento de clusters. Essa metodologia constitui uma referência fundamental para a definição de critérios, recursos, organização e seleção de políticas públicas de promoção econômica e industrial em nível local. De acordo com o autor, os antigos instrumentos de política perderam eficácia e atratividade frente à flexibilidade das instituições encarregadas da sua gestão, à capacidade de conexão com o mundo empresarial, o desenvolvimento e fortalecimento de clusters locais espontâneos e os serviços reais para as empresas. Daí a razão de o modelo de clusters adotado ter se convertido em motor “público” de competitividade do estado, baseado fundamentalmente nas capacidades empresariais e institucionais e na si6 Apresentação nergia conseguida pelas firmas multinacionais com as pequenas e médias empresas locais. No Capítulo 2, que trata das transformações estruturais na região Nordeste do Brasil, Jair do Amaral Filho esboça um desenho de agenda de pesquisa para essa região, colocando-a sob as influências das grandes transformações mundiais, nas quais a globalização tem sido uma protagonista privilegiada. Além desta, o autor relaciona ainda outros elementos que vêm assumindo responsabilidades importantes dentro do processo de mudança estrutural em escala mundial. A questão central, discutida no início do artigo, está relacionada com os impactos provocados por essas transformações sobre as realidades regionais, assim como sobre o pensamento acadêmico e as políticas públicas de desenvolvimento regional. No restante do artigo, o autor procura recuperar alguns traços históricos e institucionais do desenvolvimento do Nordeste e constrói um panorama no qual se sobressaem algumas pistas de pesquisa para que se possa explorar as transformações estruturais da região. No Capítulo 3, Jorge Carrillo analisa as empresas “maquiadoras” de exportação na região fronteiriça do norte do México. Após descrever o modelo de industrialização voltado “para fora” e baseado no investimento direto estrangeiro, que busca a eficiência na exportação, se pergunta se o modelo das “maquiadoras” está esgotado? Expõe, em primeiro lugar, o forte crescimento e a competitividade alcançada pelas indústrias, desse modelo, desde os anos 40, em particular com a implantação do Nafta. Em segundo lugar, analisa os diferentes tipos de empresas “maquiadoras” existentes, concluindo que há um processo de evolução. Por último, mostra os limites deste modelo de industrialização e as crises recentes do setor. No artigo, são analisados os setores emblemáticos da “industrialização via maquiadoras”: o cluster de autopeças de Juarez (fronteira com El Paso, Texas) e o cluster da indústria de televisores em Tijuana, Baixa Califórnia (fronteira com San Diego, Califórnia). Conclui que as empresas “maquiadoras” têm mantido um razoável dinamismo acompanhado de profundas transformações, que podem ser entendidas como um processo de evolução industrial (upgrading), mas com fortes limitações derivadas fundamentalmente do seu caráter extrovertido. Em outras palavras, muitas decisões cruciais são tomadas fora do México, pelas matrizes das firmas multinacionais, que repercutem em locais nos quais carecem de aglomerações territoriais (ou seja, no norte do México). No Capítulo 4, Alfredo Hualde e Redi Gomes abordam a indústria de software na Baixa Califórnia e descrevem sua recente conformação, em 2004, estruturada sobre um tecido empresarial construído a partir das micro, pequenas e médias empresas locais vinculadas tanto à indústria maApresentação 7 No Capítulo 5. segundo a autora. apesar dos clusters existentes. Desta maneira. Não obstante. uma vez que pode ser um bom início para se conseguir mudanças do enfoque tradicional e valorizar uma proposta de desenvolvimento territorial marcada pela consolidação de um sistema produtivo local com características próprias. No ambiente globalizado. Em particular. o artigo analisa as potencialidades dos clusters vinícolas e dos serviços médicos. Sárah Martínez analisa as bases do desenvolvimento da Baixa Califórnia. vê com certo otimismo a política orientada para os clusters. O incremento das vendas externas do estado a partir daí. Dentre suas observações. associadas às características da demanda mundial e 8 Apresentação . sua preocupação pela certificação é baixa. tem mantido um padrão de crescimento calcado em uma estratégia de competitividade não diferente daquela baseada em fatores tradicionais (entorno geográfico com os Estados Unidos e o baixo preço da mão de obra). em grande medida. os autores indicam que a inovação depende tanto de fontes externas (clientes. a exemplo das empresas “maquiadoras”) como de fontes internas (departamentos e pessoas encarregadas da comercialização). apesar de ganhadora. no qual menciona que sua economia. também.quiadora de exportação como ao mercado regional. a autora considera que. A autora parte do ponto de que o Ceará tinha uma economia pouco aberta ao comércio exterior até a década de 1990. Reconhece que o processo de integração econômica com este último país tem reforçado o modelo de especialização produtiva na Baixa Califórnia. evidenciada pelo movimento ascendente das exportações. não se pode falar da existência de um sistema produtivo local com um nível avançado de integração. Trata-se de um cluster induzido pela política pública de desenvolvimento. Por último. que as universidades e centros de pesquisa têm papel secundário nesse processo. dentro de um ambiente globalizado. já mencionada no primeiro capítulo deste livro. a reação estadual à abertura comercial da economia brasileira começa a se fazer sentir de maneira significativa a partir de 1999. mas que ainda é baixo o grau de articulação para poder consolidar um sistema produtivo local voltado para as especificidades regionais. foi resultado. de políticas públicas estaduais que. que apresentam maiores possibilidades de êxito dado que sua competitividade está baseada na cooperação e na qualidade. Assinalam. sob a responsabilidade de Maria Cristina Pereira de Melo. No Capítulo 6 é abordada a questão do perfil exportador das empresas incentivadas no Estado do Ceará. concluem que os empresários agrupados em cluster de software não valorizam as inovações organizacionais e. em certo sentido. Os autores analisam os processos de inovação e constatam que são de caráter incremental e que se dão tanto em forma de produto quanto de serviço. No Capítulo 7. segundo os autores. Os autores constatam que há indícios de que esta seria uma cadeia global dirigida pela comercialização e que o setor. segundo definição dos próprios autores. Carlos Américo Leite e Inez Silvia Castro objetivam analisar o processo de relocalização da indústria calçadista nacional para a região Nordeste do Brasil. discute alternativas para a inserção da economia da Bahia a partir de duas oportunidades disponíveis. se baseia no fato de os APLs criarem oportunidades de emprego e renda e propiciarem a capacitação. A ideia. assim. Os resultados da investigação para o Estado do Ceará apontam para um impacto positivo dos APLs na redução da pobreza. Hamilton Ferreira Jr. as estimativas mostram que Apresentação 9 . Finalmente. no Nordeste. um panorama breve dos padrões de comércio exterior e de especialização das economias mundial e baiana. a saber.do comportamento de seus principais parceiros. apresenta. Eveline Barbosa aborda a questão dos arranjos produtivos locais como estratégia de redução da pobreza. Lúcio Flávio Freitas e Fábio Mota exploram aspectos da chamada integração vertical. chegaram a mudar o perfil da pauta. são analisados os comportamentos dos preços no comércio internacional da indústria calçadista nordestina e do custo da mão de obra. O principal argumento. Embora não se possa atribuir o mérito exclusivo aos arranjos. Dessa forma. Nesse capítulo. o adensamento da cadeia produtiva através do Complexo Industrial Ford Nordeste e a valorização dos setores intensivos em recursos. é que a retomada dos fluxos de capitais e a abertura comercial possibilitaram maior homogeneização tecnológica em nível mundial. acentuando.. primeiramente. No Capítulo 9. afirma-se a relevância do papel do Estado como agente fundamental para o desenvolvimento das condições sistêmicas requeridas para que a referida economia possa superar os desafios e caminhar rumo a uma inserção virtuosa. O Capítulo 8 trata do aspecto da reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas duas últimas décadas. a concorrência via preço no segmento intensivo em mão de obra. O artigo tem por objetivo discutir a inserção econômica do Estado da Bahia. colocado pela autora. O estudo analisa o comércio exterior do Ceará no que se refere às características e às tendências das transações no período 1990-2007 a fim de avaliar as alterações verificadas no comércio estadual a partir dos incentivos concedidos pelo governo do estado e o papel das empresas beneficiadas nesse processo. O artigo procura mostrar a importância dos arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza e como caminho para a migração de programas como o Bolsa Família para uma atividade de geração de renda e estímulo à cidadania. Em seguida. tem buscado a manutenção dos preços internacionais mesmo após a apreciação cambial de 2004 no Brasil. Para tanto. os resultados dessas políticas têm ficado bem aquém do desejado. as políticas exitosas em outros contextos. inúmeros estudos vêm mostrando que. com frequência. nos setores mais dinâmicos da economia mundial. a maioria das políticas visa a induzir e incentivar o setor produtivo a incorporar a introdução de inovações em suas estratégias de negócios via redução dos custos dos inputs necessários a essa atividade e das incertezas a ela inerentes. O baixo nível de resposta. Em sua opinião. assim como os dos avanços no subsistema científico-tecnológico. Levanta-se no trabalho a hipótese de que. Constata-se que. na última década. No Capítulo 11. partem da constatação de que há um renova10 Apresentação . Tecnologia e Inovação são pouco eficazes?”. o setor produtivo apresenta características estruturais que neutralizam os efeitos das políticas. segundo o autor. as políticas voltadas para o desenvolvimento da capacidade de inovação vêm recebendo crescente atenção e recursos no Brasil. de autoria de David Rosenthal. decorreria de más-formações presentes nesse setor. foram acentuadas pela política econômica implantada a partir da década de 1990.a proporção de pobres se reduz quando existe um APL no município. registros de patentes por empresas nacionais e elevada concentração das exportações em produtos de baixo nível de complexidade tecnológica – e da quase inexistência de marcas nacionais. Em seu artigo. além de estimular o setor científico-tecnológico e criar condições ambientais favoráveis à inovação. a partir da pergunta “por que. com eles. que extinguiu todos os mecanismos de estímulo às empresas nacionais e. Apesar disso. as políticas de Ciência. responsáveis pela formulação das políticas de C&T citam. no Brasil. discute-se a questão da capacitação tecnológica no Brasil. políticas de capacitação “convencionais” são ineficazes e precisam ser “aprofundadas”. neste país. elas devem ser orientadas para a criação da pré-condição essencial para que deem resultados: a criação/fortalecimento de segmentos do aparelho produtivo nacional nos setores mais dinâmicos e intensivos em tecnologia avançada. no Brasil. Helena Lastres e José Eduardo Cassiolato apresentam uma reflexão sobre a relação entre inovação. as sementes de setores de alta tecnologia criados nas duas décadas anteriores. o “paradoxo” da falta de resposta do setor produtivo em termos da absorção de pesquisadores formados pelas universidades. sugere-se que. Essas distorções. No Capítulo 10. Para o autor. no que diz respeito à inovação tecnológica. Por fim. arranjos produtivos e sistemas de inovação. Por isso. segundo o autor. Isto abre margens para se afirmar que o fortalecimento dos arranjos produtivos locais funcionaria como estratégia alternativa e eficiente de combate à pobreza por permitir a sustentabilidade e o deslocamento gradual em direção à inserção produtiva. Mais adiante. os autores estabelecem como objetivo do trabalho retomar as discussões sobre o avanço no entendimento do conceito de inovação – assim como de seus desdobramentos: arranjos e sistemas produtivos e inovativos –. (ii) até o final dos anos 80. talvez o mais significativo esteja na mudança de foco das ações e das políticas – de um foco individual para um foco coletivo – na obtenção de conhecimento e na difusão das inovações. abandona a ideia dos grandes polos e passa a adotar o paradigma do desenvolvimento sustentável. passa a adotar sua política de incentivos. primeiramente. Na conclusão. uso e difusão de conhecimentos. No Capítulo 12.do e vigoroso reconhecimento da importância dos processos de inovação e mudança tecnológica na evolução do capitalismo e na competitividade do setor produtivo a partir das duas últimas décadas do século XX. De acordo com a autora. ao mesmo tempo que ocorreram mudanças nos referenciais para modelos analíticos e plataformas de políticas voltadas para a inovação. Esse artigo tem como propósito analisar as principais correntes teóricas que influenciaram essa instituição. (iii) do início ao final dos anos 90. os autores introduzem a experiência brasileira na utilização e no desenvolvimento desse conceito de forma a torná-lo operacionalmente capaz de compreender e orientar processos de geração. Para os autores. são retomados os principais elementos da análise realizada e discutidas suas consequências para a formulação de políticas no Brasil. já bastante enfraquecida e influenciada pelos Polos de Desenvolvimento de François Perroux. na adoção da política de desenvolvimento regional no Nordeste brasileiro. dentre os avanços constatados. visando descortinar suas implicações para políticas. ao longo de sua existência. graças à realização de estudos teóricos e empíricos que levaram a um acúmulo considerável de conhecimento. por que e em que momento a Sudene abandona. a visão schumpeteriana sobre inovação e sua transformação gradual a partir do final dos anos 1960 e desaguando na formulação do conceito de sistemas de inovação. o artigo discorre sobre as implicações para políticas a partir dos principais avanços obtidos no entendimento de inovação e de sistema de inovação. inApresentação 11 . Fernanda Ferrário apresenta um estudo sobre a trajetória da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Em seguida. apesar de ainda manter sua política de incentivos. examinase. Foram identificados quatro momentos principais: (i) de sua criação até 1964 (quando ocorre o Golpe Militar e Celso Furtado é forçado a deixar a Superintendência). do ponto de vista teórico. Para isso. quando a Sudene. Assim. pretende-se compreender como. o paradigma cepalino e passa a assumir outros matizes teóricos. examinando suas vantagens e desafios como novo instrumental analítico e normativo. quando o órgão. destinada a criar/fortalecer grandes polos de desenvolvimento na região. que a considera uma economia de fronteira baseada em produtividade espúria. a coerência com os critérios privados dominantes. as diferenças são especificadas a partir da diversidade estrutural e dos tipos de agentes. pretendendo. Por fim. na forma de um paradigma de modernização industrial da agricultura. que para se fazer frente às grandes tensões por que passa a região. regionalizados em nível de microrregião. se reconhece. com isso. revertendo a abordagem em relação à região: daquela atual. há a necessidade de subverter a produção de ciência e tecnologia e a atitude do Estado. quando a Sudene. Com isso. e (iv) a partir do final da década de 90. cada vez mais. passa a desenvolver/ incentivar diversas iniciativas locais. (ii) entre instituições de acúmulo de conhecimento tácito e as de conhecimento codificado há a incongruência de suas respectivas matrizes. a relação entre o conhecimento apropriado no processo produtivo e as características atuais e possibilidades futuras de desenvolvimento de base agrária na Amazônia tem merecido uma rica reflexão entre policy makers e advisers em posições relevantes no campo científico e tecnológico.cluindo o meio ambiente como elemento importante do desenvolvimento. No Capítulo 13. Segundo o autor. tendo em vista uma série de razões: (i) entre uma sociedade baseada em economia de fronteira e uma sociedade que seja fronteira de capital natural há o abismo cognitivo criado pela razão industrialista e seus padrões de relação com a natureza. até a visão de finalidade e sentido. O artigo. as características tecnológicas expressas nas disponibilidades de capital físico e nas relações com os fundamentos naturais 12 Apresentação . que a trate como uma fronteira do capital natural. verificam-se a importância social. mediante a crise ecológica por trás do aquecimento global. segundo o autor. para outra. influenciada pelas diversas correntes teóricas de desenvolvimento local. Francisco de Assis Costa aborda as trajetórias tecnológicas colocando-as como objeto de política de conhecimento para a Região Amazônica. desde a profunda distinção nas percepções de sujeito e objeto. (iii) nos clusters e aglomerados locais residem assimetrias profundas. Isso posto. o artigo delimita seis trajetórias tecnológicas na Amazônia. procura tornar claras as dificuldades de tal reviravolta. com resultados da aplicação de técnicas de análise fatorial e de componentes principais aplicadas a uma base especial de dados do Censo Agropecuário de 1995-96. estabelecer uma metodologia de delineamento. Nelas. tendo como pressuposto o desenvolvimento endógeno. onde os paradigmas e padrões de relação com a natureza e a natureza dos paradigmas organizacionais consolidam práxis e atitudes profundamente distintivas – dos sujeitos da produção material entre si e entre esses e os sujeitos da formação e controle do conhecimento. por si muito poderoso. Fauré oferece uma análise sobre as contradições que envolvem riqueza e fragilidade numa economia periférica. programas. Este caso. Embora nos últimos anos os estados mais pobres tenham se deparado com taxas de crescimento econômico ligeiramente superior aos estados mais ricos. embora encontrando-se fora das duas regiões aqui focadas. Yves-A. ou seja. e se os seus indicadores econômicos atuais demonstram uma evolução significativamente positiva. aos agentes e aos mecanismos internos e muito às transferências financeiras e iniciativas. a capacidade respectiva de concorrência e dinâmica demonstrada nos últimos 10 anos. A Guiana Francesa está situada entre o Suriname e o Brasil e apresenta as características de uma economia periférica. portanto. Apresentação 13 . Apenas recentemente foi organizada em coletividade pública descentralizada. o artigo defende que as dinâmicas do crescimento econômico e do nível de escolaridade são mais importantes para explicar as diferenças de renda que as transferências inter-regionais. O autor argumenta que os fundos de participação não têm contribuído para uma melhoria no diferencial de renda entre os estados mais prósperos e os menos afortunados da federação brasileira. mostrando o caso da Guiana Francesa. A Guiana tem. atividades e investimentos vindos do exterior e. permite visualizar um caso típico de região periférica vivendo das transferências financeiras da metrópole.disponíveis. principalmente. dentro do contexto do federalismo fiscal nacional. indicando a necessidade de esforços institucionais objetivos para tornar mais consistentes os fundamentos das trajetórias que poderiam favorecer um desenvolvimento com maior esperança de sustentabilidade (social e ambiental). da metrópole. Uma vez expostas as trajetórias e suas posições paradigmáticas. além do grau de favorecimento em relação aos mecanismos da política agrária. No Capítulo 14. os fundos de participação não tiveram quase nenhuma influência nesse processo. Além disso. Marcelo Callado apresenta resultados de estudo sobre os impactos dos Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos Fundos de Participação dos Municípios (FPM) na distribuição da renda inter-regional e interpessoal no Nordeste brasileiro. No Capítulo 15. as características de uma região periférica. Se os seus dados sociais e infraestruturais são qualitativamente relevantes. Trata-se de uma região muito afastada geograficamente das autoridades e administrações centrais e que durante muito tempo foi diretamente administrada pelo aparelho do Estado francês. das suas decisões e da sua evolução. o artigo discute opções estratégicas. a dinâmica assim observada deve pouco às forças. O trabalho procura mostrar que o problema da desigualdade regional é menor que o da desigualdade de renda interpessoal familiar. de uma entidade que não é plenamente soberana dos seus recursos. José Sidrião Alencar. de rendimentos e de bem-estar social claramente superiores aos países da região. Califórnia. superintendente do Etene do BNB. apresenta políticas voluntaristas. o potencial de desenvolvimento autônomo que a colocaria ao abrigo dos riscos e sobressaltos vindos da parte externa e. presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). No entanto. sobretudo. e Jesualdo Pereira Farias. atinge níveis de atividade. presidente da Acep. pode-se constatar que as alavancas desta evolução positiva situam-se principalmente fora e que muitas características estruturais da economia da Guiana e vários mecanismos essenciais que asseguram o financiamento têm por efeito contribuir para perpetuar a sua dependência externa. e Marcus Vinicius Veras Machado. com seus apoios. em nome de todos os autores. cujos apoios institucional e financeiro foram decisivos. Assim. pela mobilização das suas próprias forças e das suas vantagens. Beneficia-se de um importante crescimento há uma quinzena de anos. os coordenadores deste livro agradecem àquelas pessoas e organizações que. José Narciso Sobrinho. reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Direção do Colef. que a veria dominar o seu próprio destino.Os dados apresentados neste estudo e as análises realizadas pelo autor sobre o funcionamento da economia da Guiana confirmam a situação paradoxal desse território. Jair do Amaral Filho Jorge Carrillo San Diego. diretora da FEAACS. diretor de Gestão do Desenvolvimento do BNB. Por fim. a Região ainda está longe de poder realizar. pelos apoios institucional e administrativo. Maria Naiula Monteiro Pessoa. Dentre essas estão Roberto Smith. inverno de 2011 14 Apresentação . tornaram possível sua publicação. Diretor do Departamento de Estudos Econômicos de El Colegio de la Frontera Norte e SNI Nível III. Documento baseado na Política de Fomento e Desenvolvimento de Clusters do Estado da Baixa Califórnia. como também se contribui para a diversificação do tecido produtivo e ao crescimento econômico estatal. Secretaria [Ministério] de Desenvolvimento Econômico. e 3) a geração de acordos de cooperação interempresarial para priorizar as ações sobre os pontos estratégicos do mesmo. 3. Elementos da política de desenvolvimento empresarial 15 . no qual a interação relativamente contínua.2 Noé Arón Fuentes3 1.Elementos da política de desenvolvimento empresarial: o caso da Baixa Califórnia. Tradução de Maria do Carmo Cardoso da Costa e Maria del Carmen Thomas. 2. Neste sentido. 2) seleção das políticas de acordo com o impacto esperado sobre o cluster. dentro do espectro do sistema de políticas de fomento que impulsionam a competitividade da empresa e território. está realizando uma “Estratégia de Clusters” para fortalecer de maneira organizada e cooperativamente alguns dos setores mais importantes. México1. com o objetivo de potencializar coordenadamente e juntar suas respectivas competências tendo as empresas envolvidas nos clusters prioridade para acessar os programas de apoio oficiais. México. a estrutura empresarial e o nível de desenvolvimento organizacional –. Estado da Baixa Califórnia. Um primeiro ponto a ser ressaltado é que a “eficiência da política de clusters” depende de três regras básicas: 1) identificação dos clusters e diagnóstico de suas fortalezas e debilidades. as ações públicas e privadas se centraram em torno de setores e agentes relevantes – baseadas em critérios como o peso da indústria na base econômica. estratégicos ou emblemáticos desta entidade federativa. Um segundo ponto importante é um aspecto fundamental para obter a “eficácia da política de clusters” que constitui o grau de comunicação existente entre os agentes implicados nas mesmas. por meio do enriquecimento do entorno. o mútuo conhecimento e a confiança constituem não 1. Desta maneira não somente se fomenta a competitividade. Introdução O governo do Estado da Baixa Califórnia. 2. Nesse território ocorrem as reestruturações a fundo e se estabelecem encadeamentos produtivos importantes que por meio de estratégias de desenvolvimento econômico local podem reforçar-se e converter-se em fonte de vantagens competitiva. capacidade de acesso aos mercados e adaptabilidade e criatividade da organização) e fazendo com que seja compatível com a elevação da entrada real. e a melhoria do nível de vida da população local (VÁZQUEZ BARQUERO. rápido e acessível para os que tenham interesse de conhecer a política empresarial e industrial do Estado da Baixa Califórnia. Assim as estratégias de desenvolvimento econômico local têm como prioridade o desenvolvimento de territórios com capacidade competitiva. Este novo paradigma tem como variável fundamental o território. a competitividade de uma organização empresarial. o “Estudo de Vocações Produtivas do Estado da Baixa Califórnia” e o “Estudo de Fomento e Desenvolvimento de Clusters” na espera de que seja um guia útil. produtivas.somente um capital social de indubitável valor. como também uma fonte fundamental de sinergias. entendido como uma agrupação de relações sociais. Marco teórico A teoria do desenvolvimento endógeno estabelece que o desenvolvimento econômico das regiões deve apoiar-se nos recursos existentes em seu território com o fim de alcançar melhores níveis de vida para a população local. o aumento do emprego. 1995:56. propondo como objetivos: o desenvolvimento e a reestruturação do sistema produtivo. de uma agrupação setorial de empresas localizadas em um território determinado. Entidade Federativa que atualmente ocupa o terceiro lugar em competitividade das 32 entidades federativas da República Mexicana. servindo-se do incremento da eficiência (produtividade) e eficácia (qualidade e dinâmica do produto. a melho- 16 Elementos da política de desenvolvimento empresarial . econômicas e políticas. consiste na sua capacidade para manter ou incrementar sua participação na oferta de seus mercados de referência e/ou abrir novos mercados. Em termos gerais. ou estendendo a perspectiva. 1986). através da utilização dos recursos potenciais do território (GAROFOLI. Dos elementos do território mencionados o que nos interessa para propósitos deste trabalho é o da possibilidade de gerar competitividade do sistema produtivo local. culturais. 1996:17). PADILLA. O presente trabalho tem como propósito sintetizar a “Política de Desenvolvimento Empresarial” na suas duas vertentes. menos vulnerável a choques externos será uma região(ões) (DUSSEL. 5) casualidade.ria das condições de vida e trabalho dos atores que intervém no processo produtivo. pautas de crescimento e internacionalização. infraestrutura. são aqueles que podem compartilhar atividades da cadeia de valor entre uns e outros setores ou transferir técnicas próprias de um setor a outro. Existem dois autores que tratam sobre o reforço dos vínculos do tecido produtivo. que está referida à composição da demanda intermediária. é recomendável concentrar nele os esforços da política industrial e a cooperação entre empresas. 1995). infraestrutura) que um setor determinado tem para competir. política de inovação. ciência e tecnologia. na medida em que as relações territoriais estejam mais desenvolvidas. Porter assinala que a vantagem competitiva dificilmente acontece por setores isolados porque os países tendem a ter sucesso em clusters ou agrupamentos de setores inter-relacionados (PORTER. 2) condições da demanda. 4. dos produtos ou serviços do setor. intervindo principalmente em política educativa. a vantagem competitiva dos clusters dependeria da interação do que ele chama de “os determinantes da competitividade” (Porter. contexto em que se criam. 4) estratégia. menciona que a composição e fontes de vantagens (desvantagens) de cada um destes clusters refletem o estado de desenvolvimento de uma economia determinada. Porter. Para que uma empresa ou setor seja competitivo em um território dependerá da disponibilidade de alguma vantagem competitiva em relação a seus opositores comerciais. 3) setores conexos e de apoio. 1991:113). isto é. desenvolvimento de mercados de capital etc. e 6) governo. aqueles acontecimentos que criam descontinuidades e propiciam mudanças na posição competitiva (exemplo: as mudanças nos mercados financeiros). Elementos da política de desenvolvimento empresarial 17 . Neste sentido. organizam e gerenciam as empresas pela natureza da rivalidade interna. Quando um cluster demonstrar ter uma clara vantagem competitiva no mercado. capital. A vantagem competitiva poderia derivar-se de uma ou um sem-fím de inter-relações produtivas que surgem no território e dos processos de aprendizagem manifestados nele. O primeiro. estrutura e rivalidade da empresa. 1991:110-183):4 De acordo com as colocações de Porter: ° ° Ao aumentar a densidade de relações intersetoriais que se produz em um cluster este seria mais competitivo. Desta maneira. que são os aspectos relacionados com os fatores de produção (recursos humanos e naturais. menciona que uma estratégia de desenvolvimento buscaria fortalecer o que chama clustering ou “agrupamento”. Tudo isto implica fortalecer os vínculos do tecido produtivo no âmbito territorial. 1997:23). seu papel é atuar na criação de fatores. sua magnitude. Os determinantes da competitividade são os seguintes: 1) condições dos fatores. a agrupação entre empresas de um determinado setor com uma série de empresas ou setores de apoio relacionados com sua atividade (ESPINA. informação. Do mesmo modo. Portanto. que têm sido identificados como competitivos e chaves para o desenvolvimento econômico de uma região. Identifica dois tipos de ligações (HIRSCHMAN. Estudo de Vocações Produtivas do Estado da Baixa Califórnia. Porter assinala que é necessário fazer uma identificação de clusters já estabelecidos e quais são os potenciais.397 habitantes. ao sul com o Estado da Baixa Califórnia Sul. O Estado da Baixa Califórnia se encontra localizado na parte noroeste da República Mexicana. 1958). ° A ideia de Hirschman é que o crescimento econômico pode acelerarse mediante à canalização de investimentos em atividades que apresentam fortes efeitos de encadeamentos para trás e para frente (HIRSCHMAN. 18 Elementos da política de desenvolvimento empresarial . Qualitativamente. ao leste com o Estado de Sonora e o Golfo da Califórnia e a Oeste com o Oceano Pacífico. As coordenadas geográficas situam o estado ao norte 32o47’. Quantitativamente. Fuentes e Martínez-Péllegrini (2002:14) estabelecem que a identificação de clusters e encadeamentos intersetoriais pode fazer-se utilizando dois instrumentos complementares: 1. 3. assim como identificar os encadeamentos intersetoriais para ter conhecimento do grau de interrelação existente entre os diversos sectores. Deste modo.7% do território mexicano e tem uma população de 2. Alberto Hirschman (1958) estabelece a necessidade de reforçar os encadeamentos entre setores produtivos.487. Sua extensão territorial ocupa 3. Significa a capacidade que tem um setor de arrastar diretamente aos setores ligados a ele (compras). Finalmente. 1997:28-29): ° Encadeamentos para trás: levam a novos investimentos na capacidade produtiva dos insumos. ao sul 28o00’ de latitude norte. 1958:106-107.Por outro lado. Encadeamentos para frente:: permitem aumentar as indústrias que utilizam o produto em questão. Limita ao norte com o Estado da Califórnia. STUMPO. nos Estados Unidos. Mediante entrevistas aos representantes das empresas-chave nos clusters. sabemos que Porter e Hirschman coincidem em que devem canalizar-se esforços para aqueles clusters. 2. Identificando a proporção de concentrações e as relações comprador-fornecedor através de modelos interindustriais. ou em direção àqueles setores mais encadeados. ao oeste 117o07’ de longitude oeste. A interpretação é que a atividade de um setor possibilitar o funcionamento dos outros ligados a ele (vendas). realizado pela Secretaria [Ministério] de Desenvolvimento Econômico. República Mexicana e Estado da Baixa Califórnia Em dezembro de 2002. cujo “diagnóstico”6 se fundamentou em uma análise qualitativa e descritiva para a identificação de setores-chave. 7. Este documento de diagnóstico constitui a base para a Política de Clusters do Estado da Baixa Califórnia. Revisão integral dos setores socioeconômicos do Estado da Baixa Califórnia de maior importância. A desagregação utilizada foi por conjunto de atividade e de acordo com a participação Elementos da política de desenvolvimento empresarial 19 . assim como também a identificação dos mais dinâmicos. 6. Geografia e Informática (INEGI) para o ano de 1994 e 1998. A informação estatística para realizar o diagnóstico foi obtida dos censos econômicos do Instituto Nacional de Estadística. 3. Definição de estratégias para aumentar a competitividade do Estado da Baixa Califórnia. O estudo tem como propósito analisar os diversos setores econômicos do estado de tal forma que se diagnosticasse a vocação produtiva. 2.5 O enfoque do estudo tinha como ponto de referência a competitividade estatal e emerge como uma estratégia de desenvolvimento econômico local. a impulsionar ou por incubar).7 5. começa a operar o que viria a ser a primeira parte de estratégia de desenvolvimento econômico do Estado: “Estudo de Vocações Produtivas”. a situação na economia estatal e se definissem as estratégias pertinentes para obter o desenvolvimento econômico (ÍNTEGRA INTERNACIONAL. Os critérios utilizados para definir quais são as atividades econômicas potencialmente mais importantes foram. 2002:1-5).Mapa 1. Em dezembro de 2002. 2002): 1. se efetivou A política de desenvolvimento empresarial do Estado: vocações produtivas. Os principais objetivos do projeto foram os seguintes (ÍNTEGRA INTERNACIONAL. e o valor das exportações de Secretaria de Comércio e Fomento Industrial (SECOFI) para o mesmo ano. Diagnóstico e avaliação das vocações produtivas (razoáveis. cresceram de forma mais acelerada no estado comparado com a média nacional. 2002:29). A definição das vocações são as seguintes: 1. tecido e acabamento de fibras macias Com grande peso económico X X X X X X X X Setor De alto Crescimento Classificação da vocação VI VI VI VI VE VE de cada uma delas em cada um dos critérios assumidos é como se determinariam os setores econômicos relevantes da entidade e aos que deveriam apoiar. 3. Vocações por Incubar (VE) são aqueles setores ou conjuntos que têm uma evolução incipiente no valor agregado censual do estado. As variáveis utilizadas para determinar as vocações produtivas estatais foram: ° ° ° Pessoal ocupado. de alguma forma. Vocações Produtivas do Estado da Baixa Califórnia Conjunto de ativiDescrição dade 1111 1112 1200 2320 3111 3112 3130 3212 Agricultura Gado Pesca Extração e/ou benefício de minerais não ferrosos Indústria da carne Elaboração de produtos lácteos Indústria das bebidas Fiação. Vocações Razoáveis (VR) são aqueles setores ou conjuntos econômicos que no período 1994-1999 têm uma alta participação no emprego e valor agregado. podem observar-se os setores-chave do Estado da Baixa Califórnia que foram identificados (ÍNTEGRA INTERNACIONAL. 2. PIB estatal. Valor agregado. além do que foram fortemente mencionadas no processo de consulta empresarial e têm um potencial de médio prazo no desenvolvimento da entidade. no entanto. mencionados no processo de consulta empresarial e têm um potencial de longo prazo de desenvolvimento da entidade. Seleção de setores de alto crescimento.° ° Seleção de setores de maior peso econômico. Vocações por Impulsionar (VI) são aqueles setores ou conjuntos que têm uma baixa participação no valor agregado censual do estado. 20 Elementos da política de desenvolvimento empresarial . Quadro 1. são. No Quadro 1. hotéis. 2002:13-13). técnicos e especializados. indústria de aparelhagem e acessórios elétricos e eletrônicos. bebidas e tabaco por atacado Comércio de produtos alimentícios. bares e centros noturnos Hotéis e outros serviços de hospedagem temporária Serviços em centros de recreação e esportivos e outros Serviços de recreação prestados pelo setor privado Exclui centros noturnos Prestação de serviços profissionais. MIP Estado da Baixa Califórnia. Elementos da política de desenvolvimento empresarial 21 . bares e centros noturnos. plásticos. bebidas. comércio e turismo. bebidas e tabaco para o varejo Comércio de produtos não alimentícios para o varejo Comunicações e transporte Serviços médicos. Exclui agropecuários Serviço de reparação e manutenção automotiva Com grande peso económico X X X X X X X X X X X X Setor De alto Crescimento Classificação da vocação X X X X VR VR VR X X X X VR VR VR VR X X X VI VI 9491 9510 9612 X X X VR Fonte: Construção própria direta. alimentos.Conjunto de ativiDescrição dade 3213 3560 3720 3814 3823 3831 3832 3841 4100 6140 6210 6230 7200 9231 9310 9320 Fabricação com materiais têxteis. se pode observar os setores-chave do Estado da Baixa Califórnia que foram identificados (ÍNTEGRA INTERNACIONAL. equipe e acessórios elétricos Fabricação e/ou montagem de aparelhagem eletrônica. Inclui a fabricação de tapeçarias e tapetes de fibra macia Elaboração de produtos de plástico Indústrias básicas de metais não ferrosos Fabricação de outros produtos metálicos Fabricação e/ou montagem de máquinas de escritório Fabricação e/ou montagem de maquinaria. No Quadro 1. realizou-se uma análise que foi chamada “estratégica”. Para cada um dos conjuntos de atividades que se consideraram como chaves e sobre os que se fincaria a competitividade estatal. televisão e uso médico Indústria automotiva Eletricidade Comércio de produtos alimentícios. pesca. de rádio. odontológicos e veterinários prestados pelo setor público Restaurantes. construção. carne. indústria automotiva e de autopeças. restaurantes. 1998. Os conjuntos considerados foram: agricultura. Estratégias de Desenvolvimento na Baixa Califórnia Apoiar a posição competitiva dos setoreschave Integração e desenvolvimento de clusters Promoção de exportações Atração de investimento estrangeiro Geração de novas empresas Desenvolvimento de infraestrutura econômica Em geral. 2002:35-40):8 Quadro 2. Áreas Potenciais de Desenvolvimento na Baixa Califórnia Pesca Indústria de plásticos Serviços de comercialização Indústria automotiva Produtos Lácteos Indústria hoteleira e serviços de hospedagem temporária Turismo Indústria das bebidas Serviços de transporte. 22 Elementos da política de desenvolvimento empresarial . Isto foi determinado por meio de grupos de trabalho constituídos por representantes de cada um dos setores relevantes da entidade. armazenagem e distribuição Indústria eletrônica Produtos da carne Indústria elétrica De acordo com o anterior. apresenta alguns limites.Por outra parte. não existe uma identificação dos encadeamentos produtivos intersetoriais. pois não existe uma medição dos fluxos intersetoriais. não se tem o conhecimento das relações comprador-fornecedor. todas as estratégias que se definissem para a entidade por causa deste diagnóstico. 2002. para concordar com as medidas que vão ser implementadas. para a definição das estratégias de desenvolvimento econômico para a entidade. Uma vez determinados os setores-chave. e muito menos das interações dos setores produtivos existentes no território. embora seja um bom estudo inicial. o diagnóstico do “Estudo de Vocações Produtivas do Estado da Baixa Califórnia”. dos que compram e dos que vendem. e não há conhecimento sobre a existência de clusters na entidade. foi realizada uma série de sessões participativas com representantes da iniciativa privada e governo do Estado da Baixa Califórnia. portanto. Consultar Íntegra Internacional. que foram validados e analisados por especialistas da comunidade do estado (respondendo aos interesses dos grupos empresariais). 8. considerou-se que as áreas de maior potencial de desenvolvimento para o estado da Baixa Califórnia eram (ÍNTEGRA INTERNACIONAL. e que foram as seguintes: Quadro 3. deveriam estar direcionadas ao apoio deste conjunto de setores. não mede os efeitos que um setor-chave pudesse ter para o resto da estrutura produtiva. A MIP é um modelo econômico definido como sistema de equações com base nas relações de produção entre setores econômicos produtores e consumidores. Elementos da política de desenvolvimento empresarial 23 . Um instrumento que nos permite realizar a identificação de clusters e encadeamentos intersetoriais de maneira quantitativa. desagregada a 72 setores atendendo aos critérios do Sistema Nacional de Contas Nacionais. E-mail: Amaldonado@baja. Como podemos fortalecer os clusters? 3.Do mencionado anteriormente. A Matriz de Insumo-Produto da Baixa Califórnia é propriedade da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e está disponível para seu uso na Subdireção de Estatística e Análise Econômica. surgem três perguntas: Quais são os clusters existentes na entidade?.9 De maneira geral a MIP está constituída de três tabelas básicas que são mostradas na Figura 1. Sistema básico de insumo produto 9. A identificação de clusters e encadeamentos intersetoriais pode fazer-se de maneira quantitativa. e de programação. Estudo de Identificação.gob. Qual é o grau de desenvolvimento dos clusters?. assim como achar os encadeamentos intersetoriais para ter conhecimento do grau de inter-relação existente entre os diversos setores. é a matriz insumoproduto (MIP).mx. Fomento e Desenvolvimento de Clusters Porter (1991:33) tem assinalado que é necessário fazer uma identificação de clusters atuais e potenciais. que mostram a interdependência estrutural da economia e permite operar o modelo para quantificar soluções alternativas que ajudem a resolver problemas de política econômica. Figura 1. A estimativa da matriz de insumo produto para o estado está referida para o ano de 1998. + w1. Entende-se por cluster “…ao conjunto de atividades realizadas em uma localização determinada e pertencente a um grupo (subsistema) de atividades sujeitas a importantes inter-relações de produção. j X j c) A de requerimentos totais ou de coeficientes de interdependência – conhecido também como “matriz de multiplicadores” –. são determinados a partir da matriz de coeficientes técnicos.2 + .. serviços) e infraestrutura especializada. Os mesmos também podem ser estendidos verticalmente pela cadeia do produto.+ wn.a) A de transações intersetoriais. esta é obtida dos dados que se encontram na tabela de transações intersetoriais.n + fn b) A de requerimentos diretos ou de coeficientes técnicos.1 + wn... mostra como cada insumo é requerido para produzir uma unidade de produto...+ w2.2 + . ou horizontalmente a empresas de produtos complementares ou a indústrias relacionadas pe24 Elementos da política de desenvolvimento empresarial .n + f1 X2 = w2. j = wi . 1971:34). j Xj . maquinaria. passando pela produção de lingote de ferro e lingote de aço…” (ISARD. e este pode ser exemplificado como “…um grupo de atividades que poderia compreender as etapas sucessivas na manufatura de um produto final ou de uma classe de produtos finais. Dentro do cluster são considerados fornecedores de insumos (componentes. O que se faz para obter esta tabela é inverter a matriz de coeficientes técnicos. j = a i .1 + w2. comercialização ou outras…” (ISARD. X = (I-A)-1F Estas três tabelas básicas da MIP permitem realizar a identificação de clusters.2 + .. o mencionado fluxo pode expressar-se como segue: X1 = w1. 1971:33). assim poderia conter desde a mineração de carvão e o mineral de ferro até os produtos finais de aço.1 + w1.n + f2 Xn = wn. O conceito mais aceitável para definir um “cluster econômico” é o que tipifica o próprio como concentrações de empresas e instituições interconectadas em um campo particular. nelas se dá uma vinculação particular de empresas e outras entidades relevantes para a concorrência. os coeficientes técnicos são calculados assim: ai . e utilizados para conhecer o impacto que a mudança em qualquer setor ou combinação de setores podem ocasionar no conjunto da economia. então wi . blocos econômicos ou complexos industriais. mostra todas as transações entre os diversos setores em uma economia para um período determinado. las habilidades, pela tecnologia e pelos insumos comuns.10 Finalmente, nos clusters também são incluídas instituições governamentais e de outro tipo como universidades, fornecedores de treinamento vocacional, associações de comércio, que oferecem treinamento especializado, educação, informação, pesquisa e apoio técnico (PORTER, 1998:33). O algoritmo empregado para a identificação de “clusters econômicos” na MIP é o denominado “method of the maxima” aplicado por Berwert (2002:3) e consiste nas seguintes etapas: 1) Obter indicadores da intensidade do fluxo entre setores, considerados como provedores/ofertantes e como consumidores/usuários. 2) Selecionar para cada par de setores o maior coeficiente de intensidade do fluxo. 3) Constituir uma matriz binária, concentrando em uma área específica da matriz. Análise de cadeias para frente (relação com clientes) ‘Etapa 1: (horizontal/leitura fila por fila)’ ‘O setor consumidor/usuário j está fortemente vinculado ao setor provedor/ ofertante i se:’ (1) bij = 0 para i = j; (2) max bj = 0, de j = 1 até j = n executar; se bij > max bj ; então max bi = bkj; (3) sumb = ∑ (b ); j =1 ij m (4) coef1bij = maxbi / sumbi ; (5) se coef1bij > k1; então matriz binária [0,1]; valor da célula = 1 se (5); 10. Devido a esta dupla dimensão parece não existir um consenso em torno da definição e ao enfoque de cluster. De fato pode-se distinguir três definições relacionadas ao cluster: – O de indústrias espacialmente concentradas: cluster regional. – O de setores ou grupos de setores: cluster setorial. – O de cadeias de valor na produção: cluster de cadeias. Ou ao enfoque de cluster baseado na “similitude” parte do suposto de que as atividades econômicas se agrupam em clusters devido à necessidade de ter condições similares (em relação ao acesso a um mercado de trabalho qualificado, acesso a fornecedores especializados, a instituições de pesquisa etc.). Enquanto o enfoque baseado na interdependência supõe que as atividades econômicas se agrupam em clusters como resultado da sua necessidade recíproca uns dos outros e de gerar inovações. Consultar Fuentes y Martínez-Pellegrini (op. cit.). Elementos da política de desenvolvimento empresarial 25 ‘Etapa 2: (vertical/leitura coluna por coluna)’ ‘O setor provedor/oferente j está fortemente vinculado ao setor consumidor/usuário i se:’ (6) max ai = aij; (7) suma = ∑ (a ); ij m i =1 (8) coef2aij = max ai / sumaj; se coef2aij > k2; então matriz binária [0,1]; valor da célula = 1 se (8); ‘Etapa 3: combinação’ ‘Soma as matrizes binárias da etapa 1 e 2:’ ‘células com valor de 2 representa o cluster econômico adiante [hacia delante] (9) se coef1bij > k1 e coef2aij > k2 ; logo {i, j}; (10) cluster1 = {…} = ∅ de i = 1 até i = n e de j = 1 até j = n executar; se bij = {i, j} e se aqj = {q, j}; então cluster1 = {i, j, q}; Análise de cadeias para trás (relação com fornecedores) ‘Etapa 1: (vertical/leitura coluna por coluna)’ ‘O setor provedor (ofertante) i está fortemente vinculado ao setor consumidor (usuário) j se:’ (1) bij = 0 para i = j; (2) max bj = 0; de j = 1 até j = n executar; se bij > max bj ; então max bi = bkj; (3) sumb = ∑ (b ); j =1 ij m (4) coef1bij = max bi / sumbi ; (5) se coef1bij > k1 ; logo matriz binária [0,1]; valor da célula = 1 se (5); ‘Etapa 2: (horizontal/leitura fila por fila)’ ‘O setor consumidor (usuário) i está fortemente vinculado ao setor provedor (ofertante) i se:’ (6) max ai = aij; 26 Elementos da política de desenvolvimento empresarial (7) suma = ∑ (a ); ij m i =1 (8) coef2aij = max ai / sumaj ; se coef2aij > k2 ; então matriz binária [0,1]; valor da célula = 1 se (8); ‘Etapa 3: combinação’ ‘Soma as matrizes binárias da etapa 1 e 2.’ ‘Células com valor de 2 representa o cluster econômico para trás:’ (9) se coef1bij > k1 e coef2aij > k2 ; então (i, j}; (10) cluster1 = {…} = ∅ de i = 1 até i = n y de j = 1 até j = n executar; se bij = {i, j} e se aqj = {q, j}; então cluster1 = {i, j, q}; No estado se identificaram 10 clusters – tanto agropecuários e industriais quanto de serviços –, oscilando tanto entre setores tradicionais quanto hortícolas, móveis, cerveja; emblemáticos como vitivinicultura, assim como sobre setores modernos e estratégicos tais como serviços médicos, elétrico, eletrônico e automotivo; e setores dinâmicos como o turístico. Estes nove grandes clusters podem constituir um núcleo de sectores estratégicos que incidem sobre o desenvolvimento industrial do estado e a geração de emprego. Figura 2. Clusters do Estado da Baixa Califórnia MIP Estado da Baixa Califórnia, 1998 SDE, Baixa Califórnia, 2003 O complexo agroalimentício (por suas fortes inter-relações internas no estado), o turístico (onde temos um núcleo de atividades não somente muito dinâmicas como também com maiores vantagens comparativas para o Elementos da política de desenvolvimento empresarial 27 desenvolvimento no estado), a vitivinicultura (por ser emblemática no estado), serviços médicos e as indústrias eletrônica e automotiva (por seus níveis de subcontratação internacional, incorporação de inovações a seus produtos, forte conteúdo tecnológico dos processos produtivos, difusão técnica através da descentralização de atividades para pequenas e médias empresas ou empresas conexas, impactos sobre o ingresso e capacidade exportadora) são aqueles que se consideram com um maior impacto local e, portanto, capazes de contribuir mais para a definição e a consolidação da estrutura produtiva estatal. A distribuição dos clusters por município do estado se mostra no seguinte mapa. Mapa 2. Clusters Econômicos Identificados da Baixa Califórnia Uma vez identificados os clusters, assinalaram-se as principais fortalezas/oportunidades/debilidades/ameaças. Esta análise foi imprescindível para a proposta de algumas linhas e apoios necessários de política industrial a qual seja capaz de superar alguns dos problemas fundamentais da economia baixa californiana e suscetível de situá-la em um caminho de desenvolvimento econômico sustentável. Os Quadros 4 e 5 permitem advertir que a economia da Baixa Califórnia conta com ativos e oportunidades que precisa rentabilizar para desenvolver e fortalecer os clusters identificados – tratando de fazer frente, ao mesmo tempo, a suas principais debilidades e ameaças – para ganhar um futuro de prosperidade e bem-estar para a entidade. 28 Elementos da política de desenvolvimento empresarial Quadro 4. Pontos Fracos dos Clusters Clusters Variáveis Disponibilidade de mão de obra Custo da mão de obra Qualificação da mão de obra Grau de especialização das diferentes fases do processo produtivo Acesso à informação sobre tecnologia, mercados e produtos Cooperação com outras empresas Apoio institucional (associações de empresários, consórcios etc.) Nível tecnológico Qualidade de produtos (design, componentes etc.) Estratégias de mercado (publicidade, rede de vendas etc.) Acesso a créditos Outros Cluster Cluster Cluster Cluster Elétrico e Autopeças Móveis Turismo electrônico e plástico √ √ √ √ √ √ √ √ Cluster Vitivinícola √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ Do cluster hortícola e cerveja não há informação. Fonte: Identificação e Diagnóstico das Possibilidades de Sistemas Produtivos Locais na Baixa Califórnia. Fontes: Noé Arón e Martínez-Pellégrini Sárah. E. SIMAC. 2003. Com efeito, o design de algumas linhas de política de clusters para Baixa Califórnia deverá partir de dois conjuntos de fatores facilmente contrastantes: um potenciador dos clusters, e outro, limitador ou inibidor dos mesmos. Quadro 5. Pontos Fortes dos Clusters Clusters Variáveis Disponibilidade de mão de obra Custo da mão de obra Qualificação da mão de obra Grau de especialização das diferentes fases do processo produtivo Acesso à informação sobre tecnologia, mercados e produtos Cooperação com outras empresas Cluster Elétrico e electrônico Cluster Móveis Cluster Turismo Cluster, Autopeças e plástico Cluster, Vitivinícola √ √ √ √ √ Elementos da política de desenvolvimento empresarial 29 Clusters Variáveis Apoio institucional (associações de empresários, consórcios etc.) Nível tecnológico Qualidade de produtos (design, componentes etc.) Estratégias de mercado (publicidade, rede de vendas etc.) Acesso a créditos Outros Cluster Elétrico e electrônico Cluster Móveis √ Cluster Turismo Cluster, Autopeças e plástico Cluster, Vitivinícola √ √ Do cluster hortícola e cerveja não se tem informação Fonte: Identificação e Diagnóstico das Possibilidades de Sistemas Produtivos Locais na Baixa Califórnia. Fontes Noé Arón. e Martínez-Pellégrini Sárah.E. SIMAC. 2003. Finalmente, a política se estruturou em torno deste grande objetivo: o fortalecimento e desenvolvimento de maneira organizada e cooperativa destes. Para tal, houve que definir os pontos estratégicos do cluster; quer dizer, a estrutura dos setores que definem as relações entre as empresas e a interação das empresas e o território que criam um viés competitivo por razões de localização mediante as fontes de vantagens competitivas. Para cada um dos cluster identificados no Estado da Baixa Califórnia foi pesquisado o seguinte: Quadro 6. Pontos Estratégicos do Cluster Distribuição das empresas no Cluster (Grandes, médias e pequenas). Canais de cooperação (formal ou informal). Inovação tecnológica (com pesquisa e desenvolvimento, sem I&D). Redes de Provedores (nacionais ou internacionais; de matérias primas, maquinaria, componentes). Principais concorrentes (nacionais ou internacionais; grandes, médias ou pequenas empresas). Apoios Institucionais (governo federal, estatal ou municipal). Tipos de Apoios (assistência tecnológica, comercial, legal ou financeira). Serviços (de transporte, armazenamento e distribuição). Estratégia Comercial (mercado nacional ou internacional). Importância e formação de recursos humanos (básicos ou especializados). Vinculações com instituições educativas (universidades, tecnológicos). Depois de determinar os pontos estratégicos, estabeleceu-se um conjunto de ações sobre os mesmos, denominado “Plano Estratégico do Cluster”. Para tal, foi importante a participação do sistema empresarial na elaboração, instrumentação e gestão das estratégias dentro dos clusters, posto 30 Elementos da política de desenvolvimento empresarial que constitui um elemento fundamental para sua eficácia.11 Cada vez mais governos regionais fazem disto um princípio de organização de sua ação. A implicação das empresas de maneira ativa na estratégia de clusters destaca a importância de uma política industrial com raízes na comunidade. O mecanismo de participação dos agentes econômicos para cobrir as necessidades das empresas dentro do cluster pode-se materializar por meio de Acordos de cooperação Empresarial. Em particular, foram concebidos como acordos explícitos de colaboração no tempo, que afetam a todas ou algumas das atividades das empresas envolvidas, que compartilham os riscos derivados de seu desempenho. As empresas devem conservar sua identidade jurídica em um estado de independência, mas devem ser desenvolvidas as aptidões, habilidades e conhecimentos de todas elas para conseguir o objetivo comum.12 Os acordos de cooperação empresarial são um componente-chave da política pública de fomento para a competitividade das pequenas e médias empresas, na sua dupla dimensão intra e interespacial (especialmente internacional), como mecanismo de intercâmbio de informação, combinação de competências e geração de economias de escala em funções onde estas continuam sendo importantes para a competitividade empresarial (geração em pesquisa e desenvolvimento, inovação tecnológica, fomento à qualidade e ao design, informação sobre distribuição e compra de insumos, financiamento, estratégias de comercialização e exportação, intercâmbio de informação etc.).13 Neste sentido, os acordos de cooperação empresarial estão sendo o centro nos Planos Estratégicos do Cluster para o fomento e fortalecimento dos clusters identificados no Estado da Baixa Califórnia. 11. Se a política de clusters constitui o marco institucional onde se sustenta a competitividade e as vantagens competitivas sustentáveis, as atitudes e concepções dos empresários e coletivos constituem os ativadores e orientadores da mesma. A atitude diante do novo, assim como a capacidade de cooperar e coordenar novas atividades, constituem dimensões estratégicas da forma em que as empresas configuram sua trajetória e enfrentam as pressões do mercado. 12. Os acordos de cooperação ficam restritos a recursos e atividades concretas, previamente determinadas, e devido a que pode ser pactuadaoesas confo uma vigência temporal limitada, os agentes econômicos adquirem novamente a faculdade de estabelecer acordos ao vencer o prazo, cujas características, condições e termos podem diferir das anteriores. 13. De acordo com esta característica dos acordos de cooperação empresarial, este se assemelha a uma rede horizontal mas se diferencia dela porque não tem restrições para a afiliação. Nas redes horizontais a cooperação se procura entre empresas que atendem ao mesmo mercado. Elementos da política de desenvolvimento empresarial 31 à organização do sistema empresarial. de criação e difusão tecnológica do meio. passando a ser a flexibilidade das instituições encarregadas de sua gestão. e como consequência do anterior. Como resultado disto tudo. o quadro instrumental está evoluindo do predomínio dos incentivos ao investimento estrangeiro para a preocupação pela promoção das capacidades empresariais de adaptação e desenvolvimento e ao enriquecimento do meio territorial (sistema educativo adaptado às necessidades da produção estatal. o desenvolvimento e fortalecimento dos clusters locais. Além de ser um objetivo estratégico – de cuja consecução depende o sucesso e desenvolvimento das empresas. Como consequência do anterior. os antigos instrumentos da política estatal de desenvolvimento econômico e industrial estão perdendo atrativo e eficácia. o novo objeto de atenção pública está passando da promoção econômica e industrial baseada só nas varáveis quantitativas relacionadas com o preço dos fatores (mão de obra. como também a aceleração da mudança tecnológica e o impulso que a revolução da informação imprimiu à dinâmica inovadora – estão mudando as fontes de vantagens competitivas. ao acesso à informação nova. ao marco institucional. assim como o crescimento econômico. à organização. Por outro lado. e os serviços reais para as empresas (expressão do compromisso dos atores públicos e privados com o desenvolvimento e promoção do estado mediante a implicação no sistema produtivo através da geração de instituições de apoio e estímulo a ativi- 32 Elementos da política de desenvolvimento empresarial . está acontecendo uma modificação radical na orientação e conteúdo da política de desenvolvimento econômico e industrial estatal.). política tecnológica e um marco legislativo eficiente etc. Por um lado. infraestrutura de comunicação. às capacidades de adaptação. sua capacidade de conexão com o mundo empresarial.Conclusões O fomento à competitividade ou o desenvolvimento e manutenção das vantagens competitivas constituem atualmente o centro principal da estratégia econômica empreendida pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Governo da Baixa Califórnia. o desaparecimento dos regimes tarifários especiais no estado e a eliminação do programa de maquila. a criação de empregos no estado constitui um referente fundamental dos critérios que conduzem à alocação de recursos. solo e matérias-primas) para o desenvolvimento econômico e industrial baseado nas variáveis qualitativas conectadas às capacidades empresariais. e à seleção de políticas públicas de promoção econômica e industrial da entidade. A mudança no entorno econômico e empresarial do estado com a abertura da economia nacional. assim como da capacitação da mão de obra. que afeta tanto aos objetivos quanto aos instrumentos. v. p. Fundación Argentaria. 1997. México: Universidad Autónoma de Baixa Califórnia y Porrúa editores. La política de Desenvolvimento Empresarial del Estado: Vocaciones Productivas. Cambridge/Mass: The MIT Press. 1995. . M. 11-23. México. P Roberto. In: Innovative Clusters: Drivers of National Innovation Systems. INTEGRA NACIONAL. Identification of Techno-Economic Clusters using Input-Output Data: Application to Flanders and Switzerland. —. taleza: BNB. Identificación de Clusters y Fomento a la Cooperación Empresarial: El caso de Baixa Califórnia.. HERRERA. 2003. 1. Secretaría de Desenvolvimento Económico del Estado de Baixa Califórnia. Matriz de Insumo-Producto de Baixa Califórnia: Un enfoque Híbrido. Á. 2002. Desenvolvimento económico. N. os principais motores públicos da competitividade do estado. 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Madrid: Colegio de Economistas de Madrid. S. LUGO. 1989. Charles. B.ETENE. In: A. EneroFebrero de 2002. MARTÍNEZ-PÉLLEGRINI. Teorias e Métodos de Analise. Methods of Regional Analysis. al.. Referências Bibliográficas BERWERT. In: Vázquez Barquero. Enrique. .. A. 1. W. 1990. Momento Económico n. p.. 420p. 1971. La Frontera Norte. UNAM.. Política de Desenvolvimento Económico del Estado de Baixa Califórnia: Fomento y Desenvolvimento de Clusters. Secretaría de Desenvolvimento Económico del Gobierno de Baixa Califórnia. S. DUSSEL. Gioacchino (eds. ed. Nuncio. Hacia un nuevo paradigma industrial para el siglo XXI. P Bergman. UNAM. HADDAD. GAROFOLI. S. Colección Economía Española. Desenvolvimento Económico Local en Europa. 53-71. p.. P E. D. 1a. Antonio e Garofoli. ed. 1991. Enrique et. 1995. Enrique. VÁZQUEZ BARQUERO. 29. STUMPO. —. PADILLA COBOS. M. Hacia un nuevo paradigma industrial para el siglo XXI. México. La Ventaja Competitiva de las Naciones. PORTER. 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O autor agradece ao bolsista Rafael Pinto pela coleta de dados e elaboração dos quadros e gráficos contidos neste trabalho. ela vem causando um desconforto entre os países industrialmente desenvolvidos em razão do deslocamento dos investimentos e da terceirização da produção. Grupo de Pesquisa sobre Região. entre países emergentes e desenvolvidos. desenvolvimento local e regional 35 . Ao mesmo tempo em que a globalização vem possibilitando a retirada de milhões de pessoas da situação de pobreza na China e Índia. No que pese o destaque dado pela imprensa internacional. regiões com oferta abundante e barata de 14. Fortaleza. Fortaleza. MURRAY. as empresas tendem a utilizar estratégias que possibilitam a redução de custos e. Ceará. principalmente no segmento da produção. a essa relação. Ceará. realizado pelo RIC-Colef. e pelos pesquisadores. Brasil. 2006). Texto apresentado no Seminário Internacional sobre “Trajetórias de Desenvolvimento Local e Regional: uma comparação entre as regiões Nordeste brasileiro e a Baixa Califórnia (México)”. Globalização. 29-30 de outubro de 2008. transformações estruturais. desenvolvimento local e regional. por exemplo. Indústria e Competitividade – RIC (UFC). resultando na subtração de empregos nesses países. cuja síntese está longe de ser visualizada (STEGER. Esse quadro é perfeitamente justificado pelos resultados contraditórios que vêm sendo gerados por tal processo. um olhar sobre o Nordeste brasileiro14 Jair do Amaral Filho 1. há necessidade de se realizarem estudos e pesquisas direcionados aos movimentos de deslocamento de investimentos e terceirização da produção no interior de países que apresentam disparidades regionais acentuadas. o processo de globalização tem arregimentado um grande número de adeptos ao mesmo tempo em que tem produzido um exército de críticos.Globalização. Tendo em vista que a lógica de concorrência produzida pela globalização se reflete em nível dos custos relativos. outubro de 2008”. no caso dos investimentos obtidos pelo deslocamento de fora para dentro e limitados à linha de . automotivos etc. os setores da agricultura (irrigada) e do turismo vêm. essas vantagens estão sujeitas ao movimento pendular da equalização espacial dos custos dos fatores. relativamente vulneráveis. a responsabilidade pelo deslocamento de investimentos. no ambiente de globalização. uma vez que a procura da parte de investidores de outras região. dos setores e atividades econômicas. verificado na indústria de confecções. voltados para o mercado nacional e internacional. principalmente. ventiladores. três características que credenciam afirmar que a economia da região Nordeste brasileira tem participado do processo de globalização. através. (ii) a participação de empresas e segmentos nas cadeias internacionais de fornecimento.mão de obra acabam se beneficiando desse movimento. ele possibilitou a manifestação de. Ou seja. tais como calçados. Ao lado da indústria de transformação. entre os estados. no médio e longo prazos. vestuário. pelo menos. Esse processo tem influenciado a recomposição estrutural. é necessário afirmar que suas vantagens comparativas estão baseadas em pilares. Ademais. Apesar dessas conquistas. são eles (i) a criação de linhas de montagem de bens de consumo final e intermediário. igualmente. infelizmente tem sido dificultada pela predominância da tese que atribui à chamada “guerra fiscal”. cuja característica se reflete na criação de redes locais de fornecedores de conhecimento. equipamentos e insumos. associados a alguns setores. além dos incentivos fiscais. fato este que já começa a se manifestar. economias do Nordeste têm de alguma forma. Na verdade. vem demonstrando uma desaceleração. ao mesmo tempo em que os incentivos fiscais podem também ser oferecidos por governos de outras regiões ou contestados por organismos internacionais. máquinas de costura. A compreensão do fenômeno da globalização. (iii) a produção pelo método da terceirização. Mesmo que esse fenômeno não esteja produzindo um processo clássico de industrialização. dos estados do Sul e Sudeste para a região Nordeste. do Nordeste brasileiro assim como de outras regiões periféricas. pelo Nordeste. Nesse sentido. tende a se elevar no longo prazo com as pressões no mercado de trabalho. é possível trabalhar a hipótese segundo a qual a região Nordeste do Brasil vem se beneficiando do processo de globalização na medida em que recebeu certo volume de investimentos privados vindos de outras partes do País. apresentando características de globalização já que têm conseguido atrair investimentos e consumidores internacionais. máquinas. no Brasil. na medida em que o preço reduzido da mão de obra. se beneficiado do deslocamento de investimentos e da terceirização em função da lógica de concorrência que procura reduzir custos de produção. da indústria têxtil. montagem, a vulnerabilidade pode estar associada ao fato de que os seus centros de inovação e decisão se encontram fora da região. Dentro desse ambiente de globalização, e de transformações estruturais, dois aspectos chamam a atenção, quais sejam: primeiro, apesar das mudanças estruturais experimentadas pela economia nordestina, se beneficiando inclusive dos efeitos da integração das economias nacionais, a participação da região Nordeste no conjunto do Produto Interno Bruto Nacional, segundo o IBGE, não se alterou entre 1985 e 2005, pelo contrário, caiu para 13,1%. Enquanto isso, as regiões Norte, Sul e Centro-Oeste expandiram suas participações, em detrimento de um declínio da região Sudeste; segundo, dentro desse mesmo ambiente, que se desenrola desde o início de 1990 até meados da década de 2000, assiste-se ao colapso da Política “Explícita” de Desenvolvimento Regional favorável à região Nordeste, deixando como marca a extinção da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), hoje restaurada. O vácuo deixado pelo colapso da Política Federal de Desenvolvimento Regional, no Nordeste, foi ocupado por políticas de desenvolvimento econômico colocadas em prática por governos estaduais nordestinos que, apoiados pelo ambiente de descentralização aberto pela Constituição de 1988, passaram a usar incentivos fiscais, com base no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), e na mão de obra barata, para acolher capitais do Sul e Sudeste que passaram a se deslocar espacialmente em busca de soluções que pudessem reduzir seus custos de produção. O ponto intrigante, ao comparar esses dois aspectos, é que, apesar das transformações estruturais experimentadas pela economia nordestina, tanto pelo declínio de algumas atividades quanto pela emergência de outras novas, a participação relativa da região no PIB nacional permaneceu praticamente inalterada desde meados de 1980, como se esse resultado tivesse sido caprichosamente planejado pelo Estado. Entretanto, na fase considerada, inexiste planejamento regional por parte do governo federal ao mesmo tempo em que não há coordenação sobre as políticas estaduais de desenvolvimento econômico, dentre as quais a renúncia fiscal se destaca como um dos principais instrumentos. Tanto na literatura “antiga”, propagada por autores como Myrdal, Aydalod e Hirschman, quanto na literatura “contemporânea” (por exemplo, KRUGMAN, 1991) há um consenso de que o desenvolvimento espacial ocorre de maneira desigual, ou seja, marcado por dinâmicas espaciais desequilibradas nas quais regiões centrais, dotadas de fatores centrípetos, tendem a polarizar as forças distribuídas em todo o sistema, fazendo com que regiões periféricas, habitadas por fatores centrífugos, se enfraqueçam diante da polarização das regiões centrais. Entretanto, ao contrário do pasGlobalização, transformações estruturais, desenvolvimento local e regional 37 sado, em tempos recentes não se pode dizer que há um consenso em torno da questão relacionada à intervenção pública planejada visando corrigir os desequilíbrios entre as regiões centrais e periféricas. Tal consenso fica ainda mais difícil diante dos efeitos da globalização, que têm mostrado uma grande capacidade de produzir regiões ganhadoras e regiões perdedoras (BENKO; LIPIETZ, 1992, 2000), dentro e fora das regiões centrais e, às vezes, com aparentes benefícios para as regiões periféricas em termos de deslocamento de investimentos em função da terceirização da produção. Esta situação se reflete muito claramente na dificuldade de se restaurar um modelo de planejamento regional específico para o Nordeste, na qual as incertezas que pairam em torno do papel que deverá ter a Sudene na região são apenas dificuldades coadjuvantes. O presente artigo está dividido em seis tópicos, além desta introdução: (ii) a grande transformação; (iii) impactos sobre o padrão dinâmico; (iv) impactos sobre o pensamento regional; (v) novos rumos das políticas públicas: (vi) um olhar sobre o Nordeste e (vii) conclusão. 2. A “grande transformação” A exemplo, de outras áreas das ciências sociais em geral, o conhecimento em torno da economia regional e seu desenvolvimento, experimentou grandes deslocamentos de paradigmas. Até meados da década de 1980, a ciência econômica regional era orientada pelos princípios estabelecidos pela escola alemã, que considerava a distância e o custo de transporte, em relação aos mercados consumidores e fornecedores, como elementos centrais na determinação da alocação espacial dos fatores e da trajetória regional (para uma visão geral ver DINIZ; CROCCO, 2006). Além disso, considerava também os espaços geográficos homogêneos, não apresentando vantagens e desvantagens em termos absolutos ou relativos. Até final dos anos 1970, esses princípios orientaram as políticas de desenvolvimento regional, com influência, inclusive, sobre as teorias de Polos de Crescimento (PERROUX, 1973), que não tinham um vínculo íntimo com a escola alemã. Esses eram os princípios canônicos que predominavam até então. Os responsáveis por esse deslocamento de paradigma estão concentrados em cinco elementos interligados: (i) a crise de planejamento e de intervenção centralizadoras; (ii) reestruturação dos mercados; (iii) megametropolização, seguida pela emergência de megaproblemas urbanos; (iv) globalização e abertura econômica; e (v) Tecnologia da Informação e Telecomunicações (TI&T). Esses elementos fizeram com que o fator distância ou custo de transporte, se tornasse um fator adicional, e não único, para 38 Globalização, transformações estruturais, desenvolvimento local e regional explicar e apoiar o desenvolvimento regional, ou para explicar a desconstrução dos espaços constituídos. Diante desse novo quadro Paul Krugman e, principalmente, geógrafos como Ron Martin (1995) colocam que além do custo do transporte, fatores como a história e o protagonismo local e regional são importantes para o desenvolvimento regional. Nessa mesma linha, outras correntes das escolas evolucionistas e institucionalista passaram a reforçar o surgimento de novos conceitos e teorias sobre a economia regional, ganhando destaque fatores endógenos no desenvolvimento local e regional (AMARAL FILHO, 2001). 2.1. Crise de planejamento e de intervenção regionais centralizadoras O processo de descentralização político-administrativa, verificado desde o início dos anos 1980, implicou em descentralização dos papéis dos atores ditos regionais, assim como das decisões e dos investimentos. Esse fenômeno aconteceu em escala mundial: na Europa e na América Latina, em especial. Nesse processo, os atores, antes adstritos ao Estado central, passaram a compartilhar suas decisões com atores mais próximos dos territórios: estados, municípios e até organizações não governamentais. Por seu lado, os grandes investimentos em projetos estruturantes e equipamentos passaram a ser compartilhados com investimentos pontuais e localizados. Sem dúvida, esse processo gerou uma maior valorização do território e do poder local, em detrimento do poder central, e, por consequência, ocasionou um movimento de valorização dos pequenos produtores locais. Com o objetivo de promover o desenvolvimento local, os atores locais têm procurado, a exemplo da Terceira Itália e outras regiões “vencedoras”, criar um ambiente propício para que as pequenas empresas locais se engajem num processo de organização de clusters ou distritos industriais. 2.2. Reestruturação dos mercados Hoje se diz que o mercado é ditado pela lei da oferta, o que é uma meia verdade. Antes de isso acontecer, foi necessário ocorrer uma profunda metamorfose da demanda efetiva, verificada em vários aspectos, como na segmentação, na atrofia causada pela redução relativa da renda, e, principalmente, na instabilidade. A instabilidade da demanda efetiva, em escala mundial nos anos 1980 e 1990, é a própria síntese dessa metamorfose. Essa mudança produziu reações e adaptações do lado da oferta, cujas matrizes foram a descentralização e a desconcentração da produção. A oferta passou a ser orientada pela redução de custos fixos e pela flexibilidade nas decisões, Globalização, transformações estruturais, desenvolvimento local e regional 39 nas ações e nas formas de produzir. Como consequência, essas transformações favoreceram as pequenas e médias empresas, não necessariamente já instaladas, dado que a descentralização de pequenas unidades produtivas, como se fossem extensões das grandes empresas e corporações. 2.3. Megametropolização, seguida pela emergência de megaproblemas urbanos São largamente conhecidas as vantagens oferecidas pelas metrópoles, em relação às economias de escala, economias de aglomeração e às economias externas, geradas pela concentração de fatores, tangíveis e intangíveis, e de mercados. Entretanto, o processo de megametropolização, mais ou menos controlado nos países desenvolvidos e descontrolado nos países em desenvolvimento, seguido de megaproblemas urbanos, tem provocado, em vários segmentos econômicos, uma redução do interesse pela localização metropolitana. Do lado das administrações municipais das grandes metrópoles, os problemas não têm sido menores. A necessidade de ampliação da oferta de serviços e equipamentos públicos, em escala gigantesca, tem causado crises financeiras para essas administrações. Esses fenômenos têm estimulado o deslocamento espacial dos investimentos, geralmente para regiões afastadas da “espinha dorsal” dos territórios metropolitanos e desenvolvidos, favorecendo e reforçando iniciativas de desenvolvimento local e de suporte ao empreendedorismo em localidades mais afastadas. 2.4. Globalização e abertura econômica A globalização e a abertura econômica, verificadas com muita intensidade nos anos 1990, têm imposto às empresas e regiões um desafio sem precedentes no campo da competitividade. Como forma de adaptação, muitas empresas têm procurado desfazer e não criar raízes territoriais, visando a busca constante de competitividade por meio da procura de subsídios, mão de obra e facilidades de mercado. Assiste-se, com isso, a um forte processo de deslocamento dos investimentos, especialmente intensivos em mão de obra, e a um forte processo de concorrência entre os territórios pela captura desses investimentos (ver BERGER, 2005). As faces mais conhecidas desse processo são o declínio de regiões tradicionalmente industriais (em têxtil; siderúrgica; exploração de minérios; indústria naval etc.) como na França e na Inglaterra, e a ascensão de ou- 40 Globalização, transformações estruturais, desenvolvimento local e regional tras regiões, até então pouco ou nada expressivas, ao estatuto de regiões industriais significativas. A Irlanda é hoje uma grande receptora de investimentos estrangeiros, o que vem sustentando altas taxas de crescimento econômico. Contudo, o processo de deslocamento de investimentos e de plantas industriais, à procura de fatores competitivos, revela apenas um só aspecto, o lado funcional das empresas. Outro aspecto é revelado pelo processo de deslocamento da referência Estado-nação para a referência território, processo esse facilitado pela diluição relativa das fronteiras nacionais. A valorização da referência território, e de seus respectivos atores, aparece como resposta ou contrapartida ao processo de globalização e abertura dos mercados nacionais, visto que as medidas desreguladoras são tomadas no plano macro, mas suas repercussões (boas ou más) manifestam-se no plano micro, ou territorial. 2.5. Tecnologia da Informação e Telecomunicações – TI&T A década de 1990 assistiu ao uso intensivo da tecnologia da informação e da telecomunicação por indivíduos, empresas e governos nas suas rotinas de atividades. Isso implicou a formação de redes de transmissão de dados, imagens e informações, de tal forma que se tornou possível relativizar a importância da chamada distância espacial, fazendo, assim, emergir um novo conceito, o da proximidade organizacional, proporcionada pela inserção do indivíduo, da empresa ou da região nas redes de comunicação. O impacto disso foi a autonomização de certos tipos de atividades, ou de certas tarefas empresariais, em relação ao espaço geográfico que abriga a matriz do grupo ou da empresa em questão. Isto também tem facilitado a descentralização funcional das atividades empresariais, bem como a descentralização espacial da execução de certas atividades, significando que determinados profissionais não necessitam estar fisicamente presentes nas matrizes das empresas ou do demandante pelo serviço. Isso significa que os mecanismos de TI&T asseguram uma parte importante da governança do processo de descentralização e desconcentração produtivas referido anteriormente, por meio das redes de comunicação. Mas significa também que o imenso setor que emergiu da TI&T transformou-se numa fronteira de negócios para pequenas e médias empresas de base tecnológica. Por fim, as tecnologias de informação passaram a significar para esses segmentos instrumentos importantes na redução dos custos relativos ao marketing, e também na aproximação com os clientes, por meio de sites e portais. Globalização, transformações estruturais, desenvolvimento local e regional 41 3. Impactos desses fenômenos sobre o padrão dinâmico Tendo em vista que um padrão de organização é produzido pela interação simultânea de inúmeras variáveis, como as descritas anteriormente, é razoável dizer que o principal impacto desses fenômenos estruturais foi ter quebrado o padrão (antes existente) da dinâmica territorial. Entende-se essa dinâmica como fruto dos fluxos de pessoas, mercadorias e capitais, no caso o mercado, combinados com a intervenção dos poderes públicos, e tendo como base os territórios (estes, impregnados de história, cultura e instituições). Mesmo que esse padrão tenha sido quebrado, isto não significa que um outro tenha tomado o seu lugar. Os fatos têm mostrado que não está ainda definido um novo padrão dominante, capaz de configurar uma nova dinâmica regional ou territorial. Pode-se dizer que há um processo, bem avançado, na direção dessa definição. Entretanto, e de acordo com os mesmos fatos, tudo leva a crer que a estabilidade desse novo padrão estará sob suspeita, ou seja, em risco permanente de instabilidade. Essa tensão permanente parece apresentar-se como parte constituinte do “padrão” da nova dinâmica regional, que, sendo assim, contaminará a estabilidade do pensamento teórico bem como das intervenções públicas (e privadas) voltadas para o desenvolvimento local e regional. É difícil a tarefa de classificar ou sintetizar essas transformações estruturais em algumas poucas frases ou em algum esquema básico de explicação. Uma tentativa dessa natureza, e de grande envergadura, foi realizada pela chamada Escola da Regulação francesa, chamando-as de um processo de passagem entre um sistema de produção de massa, do tipo fordista, para um sistema de produção flexível, pós-fordista. Do ponto de vista das empresas, regiões e territórios, qual é o significado dessa passagem? Parece significar que, presumivelmente, o capitalismo passaria a premiar agora as micro, pequenas e médias empresas, principalmente flexíveis e inovadoras e, também, as regiões e territórios, principalmente os flexíveis e inovadores, e aqueles conectados nas redes de comunicação, formando assim a Nova Economia Regional. Em síntese, passariam a ganhar dentro desse processo as regiões e territórios que estiverem, de certa maneira, afastados da espinha dorsal das regiões desenvolvidas, mas também, e principalmente, descompromissados com o “velho” padrão de acumulação e desenvolvimento regional. Abremse assim novas janelas de oportunidades para as regiões não identificadas historicamente com a industrialização tradicional. Essa ideia-força passou a fazer parte das estratégias, iniciativas, projetos e planejamentos locais e regionais, mesmo que se saiba que as grandes empresas se tornaram flexí- 42 Globalização, transformações estruturais, desenvolvimento local e regional veis e que as regiões ricas e as megametrópoles continuam a atrair grandes contingentes de pessoas e grandes volumes de capitais, apesar de seus problemas gerais de deseconomias de aglomeração. Os principais ícones dessa chamada Nova Economia Regional são: Vale do Silício na Califórnia; Rota 128 em Massachusetts; Terceira Itália (Distritos Industriais); Tecnopolos na Europa e no Japão etc. (ver SAXENIAN, 1996; POLENSKE, 2007). No arrebento desses fenômenos, essas regiões emergiram como áreas ganhadoras e hoje estão servindo de fontes de inspiração para pesquisadores e formuladores de políticas públicas, dentro de um esforço de renovação do planejamento local e regional. Entretanto, cabe observar que, além das suas características específicas, essas experiências nasceram há 30, 50 anos, o que significa dizer que, apesar de pioneiras e protagonistas da Nova Economia Regional, elas se beneficiaram das estruturas, do padrão e da prosperidade do antigo regime, chamado Fordista, isto é: dos recursos e investimentos fáceis; do crescimento econômico robusto; da forte intervenção do Estado etc. Embora fazendo parte desse velho regime essas experiências traziam em seu interior novas formas de produção e de organização social, o que lhes permitiram, portanto, se descolarem do regime fordista e fundar uma nova geografia econômica, baseada em novos paradigmas. Isto significa dizer que, a origem, as especificidades e os contextos dentro dos quais se desenvolveram essas experiências não são passíveis de replicação. Afinal de contas, o que realmente caracteriza essa Nova Economia Regional e sua dinâmica? Quais são seus elementos? Em nível das instituições: A formação e o acúmulo de um capital social localizado é um elemento básico e chave. Aquelas experiências mostraram que o desenvolvimento da confiança e da cooperação, concretizadas em arranjos institucionais capazes de coordenar decisões e processos locais, fez a diferença em seu favor. Organizações sociais flexíveis e horizontais foram importantes no desenvolvimento dos distritos industriais da Terceira Itália, além de contribuir para o desenvolvimento da região Nordeste desse País (PUTNAN, 1996). Em nível da organização social e produtiva, vários elementos (re)emergiram: Aglomeração de micro, pequenas e médias empresas; ou simplesmente aglomeração setorial e espacial de firmas. Especialização produtiva. Produção voltada para fora, impulsionada pela competitividade. Fortes economias externas, de aglomeração e de escala. Globalização, transformações estruturais, desenvolvimento local e regional 43 no âmbito do Pensamento Regional. ele passa a ser um argumento entre outros mais. promove-se o casamento da organização territorial com da industrial. mas na Nova Economia Regional. Combinação entre cooperação e concorrência entre empresas e organizações.Forte divisão social do trabalho. mesmo que com isso não esteja garantida a criação definitiva de raízes territoriais pelas empresas. daí porque ganhar um caráter ou uma denominação de endógeno. Forte aglomeração de produtores. Nessa Nova Economia Regional. núcleo central da Ciência Regional. Isso quer dizer que. Participação múltipla de atores no processo de discussão. 4. Impactos sobre o Pensamento Regional Diante do quadro anterior. não é difícil concluir que. vindo das transformações estruturais. ou pelo menos passar a ser um território atrativo do ponto de vista econômico. sem que com isso dispense o papel do Estado central no arranjo institucional local ou o papel dos investimentos externos à região ou ao território. a corrente que sofreu maior impacto negativo. já arrolados anteriormente. foi portanto a corrente mais abalada pela nova dinâmica regional. Inovações contínuas. o território que conseguir mobilizar aqueles elementos listados anteriormente. foi sem dúvida aquela associada à Teoria da Localização. Mercado de trabalho estruturado e forte presença de instituições formadoras e reformadoras de mão de obra. Não que esse argumento tenha perdido sua importância. A Teoria da Localização. planejamento e intervenção no território. 44 Globalização. Além disso. Tendo como ator central o poder público local. Em nível da organização político-administrativa: Parceria entre os setores público e privado. articulando e mediando intervenções. decisão. seja em relação à oferta ou à demanda). transformações estruturais. calcada na tese dos baixos custos de transportes proporcionados pela distância (ao mercado. mesmo que incrementais. fornecedores e instituições se interagindo. a dinâmica passa a ter uma forte influência da parte dos elementos internos ao território. capitalizando recursos. desenvolvimento local e regional . Microcrédito. poderá se candidatar a entrar numa trajetória de desenvolvimento. arranjo e sistema produtivo local) são aqueles que valorizam todos os elementos extrapreço ou extramercado que. iii) setores conexos e de apoio. a amarração dos elementos: i) estratégia. ii) condições dos fatores. destaca-se a revalorização do território como locus de realização dos rendimentos crescentes. há uma explosão de papers e livros sendo escritos e discutidos. desenvolvimento local e regional 45 . desde muito. Globalização. esta é aquela que tem menos compromisso com a questão territorial ou regional. no sentido de uma fração espacial de um País. para eles. contraponto-se às ameaças globais (ver a revisão da literatura por PIKE. cluster marshalliano. Há. nos dias de hoje. historicamente. a nova dinâmica regional passou a favorecer elementos. mas a complementou com noções marshallianas (externalidades) e keynesianas (estrutura de mercado): rendimentos crescentes e demanda local. estrutura e rivalidade da empresa. já destacam a supremacia do processo de construção dos fatores e do território. cit. às inovações schumpterianas. Nessa mesma via encontram-se. no lugar da dotação de fatores (a exemplo de Martin e Sunley). às ações coletivas postas pelos institucionalistas. ou da identidade local.): responsável por uma importante renovação da geografia econômica e sua inserção no mainstrean economics. jogam o importante papel na coordenação das decisões e na alocação dos fatores. pelo menos. ao processo de aprendizagem evolucionista e à organização e constituição de redes. Todos esses elementos têm convergido na direção da promoção dos “rendimentos crescentes” dos fatores locais e regionais. às externalidades marshallianas.Por outro lado. Contribuição de Michael PORTER (1998): egresso do business economics e principal influente no debate sobre os clusters. RODRIGUEZ-POSE. Referem-se ao conceito de divisão de trabalho smithiano. Além disso. Este autor aproveitou a tese dos custos dos transportes. mesmo sem ter dado esse nome até 1998. Contribuição dos institucionalistas. os geógrafos humanos que. cumprindo o árduo exercício de se tentar construir novas referências para o pensamento e planejamento regionais. neo-schumpterianos e evolucionistas: chamados localistas (distrito industrial. transformações estruturais. Das três contribuições. ele parte do approach da competitividade e prioriza a “lógica do diamante”. ou seja. 2006). noções e conceitos que até então não estavam sendo muito valorizados pela Ciência Regional. Não é sem razão que. três contribuições que chamam a atenção dentro desse grande esforço: Contribuição de Paul KRUGMAN (op. TOMANEY. iv) condições da demanda. era normal o Estado central produzir ideias. Ou seja. em função da criação de um novo contexto econômico e institucional. programas e projetos de desenvolvimento já prontos do governo central. passam a ter um papel preponderante. bem como ao processo de globalização. cultura e regras de conduta. não só a geografia física tem importância. No passado. por Celso Furtado (ver AMARAL FILHO. Dentro dessa nova perspectiva. recheado de desafios que exigem dos poderes públicos. entendida aqui numa dimensão holística. as novas teorias regionais o coloca como âncora do processo de desenvolvimento. difundir e implantar programas de desenvolvimento local e regional. Trata-se. as relações sociais e as instituições. a população. Relativamente ao papel do governo central no desenvolvimento regional é interessante visitar a discussão realizada por Araújo (1999) e Baer e Miles (1999). o que trouxe para o centro da discussão o território. Neste caso. no lugar do território passivo. essas entendidas como tradições. o desenvolvimento local ou regional passa a receber. ativo. e todos os seus componentes estruturantes.15 Exemplo 15. 1999). enquanto a teoria convencional abstraía o território em seus modelos. no lugar da abordagem exógena. protagonista. elaborar planos e políticas. Parece não haver dúvidas de que as políticas de desenvolvimento regional perderam suas características clássicas. apenas. não é mais possível falar sobre economia regional sem falar em geografia humana e econômica. receber políticas.5. mas as estruturas e infraestruturas. 2007). Com as transformações estruturais e a emergência das novas teorias regionais a questão territorial passa a ocupar um lugar central no destino das regiões. Novos rumos para as intervenções públicas O contexto dos anos 1990/2000 quase nada se assemelha ao contexto que acolhia e fundamentava a criação da Sudene. a abordagem endógena. Por essa razão ganhou espaço dentro dos novos conceitos. conferiram ao território e ao local uma autonomia relativa mais elevada que no passado. na medida em que considerava as realidades e paisagens territoriais como espaços homogêneos. Tudo era realizado de cima para baixo. verificam-se igualmente uma alteração significativa das estratégias e políticas de desenvolvimento local e regional. No lugar de. transformações estruturais. As descentralizações político-administrativas juntamente com a descentralização produtiva. portanto. e o consequente deslocamento dos paradigmas teóricos. cada vez mais. desenvolvimento local e regional . de uma dimensão entendida como território vivido. 46 Globalização. Esta dimensão desponta como um contraponto ao centralismo econômico e político-administrativo. De acordo com as mudanças estruturais verificadas. teorias e teses sobre a Questão Regional. influências dos protagonistas locais. tomador de decisões vindas de fora para dentro. exogenamente. muita criatividade e posições inovativas (ver STORPER. investe-se na formação do capital humano através da educação convencional de qualidade. Mas o fracasso desse voluntarismo mostrou que as políticas públicas devem levar em conta o fator da proximidade. geralmente. esses benefícios ficam restritos à pura transferência de renda. isto é o consumidor. ou de renda.desse voluntarismo. mas de (incapacidade) de geração de renda. internacional. ou de uma região para outra. Muitas vezes. já em 1964. por meio do Fundo de Participação Municipal ou através de benefícios sociais nos quais se encontra a Bolsa Família. ou o contribuinte. a política de transferência financeira. nas localidades para as quais não há potencialidades econômicas. Sendo assim. por seu lado. pois esses são diferentes de um local para outro. transformações estruturais. O comodismo local baseia-se na visão segundo a qual o problema da desigualdade regional é um programa de renda. na época do regime militar. Para esta via há duas alternativas. mobilidade para alcançar mercados de trabalhos em outras regiões. já que a ele é permitido interação e oportunidade de cobrança sobre o poder público local. procura-se estruturar ou fortalecer a função de produção agregada para a localidade ou para a região de maneira que ela passa a mobilizar os recursos e fatores locais. adapta-se às localidades para as quais existem potencialidades econômicas reais e reveladas. desenvolvimento local e regional 47 . Neste caso. no caso o poder público. A estratégia voltada para a promoção da mobilidade social da população local aplica-se. o desenvolvimento local. uma integração vantajosa ou uma inserção no desenvolvimento econômico regional. para o Nordeste. A estratégia calcada em atividades produtivas. A proximidade pode também permitir uma melhor avaliação da política pública. o que deve ser trabalhado é a capacidade de geração de renda. baseia-se na visão de que o problema da desigualdade regional não é somente um problema de renda. ou se quiser o eleitor. sem alternativas locais de emprego. estadual. pelo beneficiário. Somente a proximidade pode permitir a manifestação da sensibilidade relativa à identificação dos problemas e soluções. Neste caso. e o demandante pela política. conjugada com iniciativas de formação profissional. Neste caso. não exclusivas: (i) estratégia de mobilidade social e (ii) estratégia de atividades produtivas. que se contentam em receber os benefícios emitidos pelas políticas públicas dos governos estadual e federal. entre o ofertante de política pública. O objetivo dessa estratégia é oferecer à população local. O desenvolvimento local envolve uma estratégia cujo objetivo é procurar. por meios endógenos. Trata-se de uma estratégia proativa cujo interesse é combater a cultura passiva normalmente encontrada nas localidades. Globalização. foi a transferência dos poderes de decisão da Sudene para a tecnocracia de Brasília. O seu contrário. se apresenta como sendo uma política pública adequada. se possível. nacional e. Na época da sua construção. Sem dúvida. A segunda questão regional foi incorporada tardiamente na agenda do governo JK. O País tinha sua população concentrada na costa e. o problema estava no fato de ser uma área relativamente muito populosa. devido aos problemas do esvaziamento do interior do País. é possível afirmar que nesse período havia. Se essas pressões fizeram o go16. pelo menos. desenvolvimento local e regional . sentindo que o mesmo se opunha ao projeto por ele trazer fortes impactos na expansão dos gastos públicos e. por consequência. onde se constatavam os interesses das classes médias e empresariais que conduziam um processo acelerado de industrialização e urbanização. transformações estruturais. em fazer cumprir esse projeto. foi tão intensa que lhe fez romper relações com o Fundo Monetário Internacional (FMI).6. Essa primeira questão foi. povoamento e aproveitamento econômico do Centro-Oeste. imediatamente. nas quais se viam movimentos de camponeses apoiados por setores progressistas da igreja. Nesse sentido. mais exatamente no Centro-Oeste. Para uma análise histórica do Nordeste recomenda-se ver Guimarães Neto (1989). essa marca ficará registrada para sempre. sobre a inflação. Aqui. mas praticamente despovoada. duas questões regionais claramente postas: a primeira situava-se no interior do País. Um pouco de história Não é demais afirmar que. incorporada pela Agenda do governo Juscelino Kubitschek. comandadas de fora para dentro. para fazer cumprir a construção da nova capital Brasília. o elemento complicador era a presença e o domínio dos interesses políticos e sociais das velhas oligarquias ligadas aos latifúndios. por influência das pressões sociais e populares manifestadas na região. com o intuito de deixar uma grande marca do seu governo. cenário que contrastava com aquele predominante no CentroSul. é bastante apropriada para essa situação.16 Entretanto. a segunda questão regional se encontrava na região Nordeste e. Um olhar sobre o Nordeste 6. em 1958-1959. período em que Furtado mais se dedicou à questão das desigualdades regionais no Brasil. neste caso. região vasta. como parte do seu projeto político. nem recursos. Ambos os problemas estavam associados à questão da unidade nacional. 48 Globalização. na década de 1950. mas muito mais pelo papel que esse projeto exerceu no processo de ocupação. pudesse haver várias questões regionais. A determinação de JK. sugeria um problema de insegurança nacional. evocada por Francisco de Oliveira. mas pobre. A ideia de “arquipélago” de regiões isoladas.1. Brasília foi entendida como sendo parte de uma agenda pessoal e vaidosa do presidente. o governo não mediu esforços. por isso. mas também à falta de integração das economias regionais e do mercado nacional. é que. significando um divisor de águas. observam-se dois aspectos novos sobre a questão regional no Brasil. aliás. Em 1958 a produção de alimentos. e aumentando as desigualdades entre o Nordeste e o Centro-Sul. Ele 17. ausência. segundo Furtado. um era a concessão de subsídio ao açúcar. na época Economista do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) e Diretor Regional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). O ponto crítico dessa estratégia estava na apropriação dos recursos hídricos pelos grandes latifundiários do sertão com o fim de proteger seu criatório bovino. não há mais propriamente uma questão regional. Globalização. Celso Furtado levantou críticas aos tipos de intervenções federais na região Nordeste. colocando que tais políticas estavam contribuindo para consolidar estruturas arcaicas no lugar de removê-las. desenvolvimento local e regional 49 . inviabilizando o desenvolvimento da região. que estimulava o atraso tecnológico e a concentração de renda nas mãos dos usineiros e. causadores de um processo de concentração de renda e poder no interior do Nordeste. Nesse ponto. no sentido clássico do termo. o autor acrescentava o forte apoio empreendido pelo governo federal. que considera mais importante as Desigualdades de Renda entre as pessoas. Dois erros básicos eram cometidos pelo governo federal. inclusive dentro de um mesmo estado e região (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. transformações estruturais. O primeiro aspecto. Quase 50 anos depois. no Estado do Ceará. impacto que caía diretamente sobre a pequena produção familiar. caiu 70%. problema esse que agravava as disparidades regionais no País. outro. sob os estímulos dos impactos desastrosos da grande seca de 1958 e dos referidos movimentos populares. Nesse aspecto. a fim de reter as águas das chuvas. o “morador” (FURTADO. apesar dos recortes históricos e culturais localizados. a estratégia de combate contra as secas que se sustentava nas obras de construção de açudes realizadas pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).verno federal tomar decisões importantes para a região Nordeste.17 Nesse encontro. em forma de subsídio e investimento em infraestrutura. foi decisivo o encontro de Celso Furtado com o presidente da República Juscelino Kubitschek no Palácio Rio Negro em Petrópolis (1959) ocasião em que foram discutidos os problemas nordestinos. a forma e o conteúdo das intervenções tiveram influência direta das argumentações técnicas e consistentes oferecidas por Celso Furtado. 1997a). num ambiente de brainstorn. 2003). reconhecida oficialmente pelo próprio Ministério da Integração Nacional. Somados a esses dois erros. parece não haver dúvidas de que Furtado e a Sudene promoveram uma mudança radical no padrão conceitual das intervenções públicas federais na região Nordeste. a favor da industrialização e dos industriais do Centro-Sul. além de possibilitar uma participação crescente da região no PIB nacional. já na sua volta do exílio ao Brasil. 6. se transformou numa região dinâmica. é que as duas frentes de intervenção federal.5% (IBGE). apesar das mudanças estruturais e da diversificação da sua base econômica ela ainda não conseguiu modificar essencialmente o quadro de miséria social ao mesmo tempo em que sua inserção dentro da divisão regional do trabalho. A região Nordeste. pelo capital social e pelo apoio dos governos locais.resultou. Nesse sentido. exerceram um papel de freio sobre as mudanças desejadas pelo Planejamento da Sudene de Celso Furtado. mesmo sem contar com o apoio de um programa grandioso de desenvolvimento. produtora de grandes excedentes agropecuários exportáveis. da aplicação de uma complexa política de integração nacional executada pelo governo federal nessas últimas décadas. O segundo aspecto. a exemplo do que se passou com a “Terceira Itália” que. mesmo sem uma base industrial importante.8% em 1985 para chegar em 2003 com 7. a exemplo do Mezzogiorno. Essa região contou com a Casa del Mezzogiorno que fazia o papel da Sudene. Ver Bacelar (1996). sem dúvida. 18. desenvolvimento local e regional . Reflexo disso é a estagnação na sua participação relativa no PIB nacional. não seria exagero chamar a região Centro-Oeste.19 desenvolveu-se impulsionada pelo empreendedorismo dos micro e pequenos empresários. e ter vivido boa parte da sua vida nesse estado.1% em 1985 e 13. 14. onde pôde presenciar as repercussões das políticas públicas erráticas e o sofrimento da população nordestina. As teses de Furtado para as desigualdades regionais. particularmente agrícolas e agrárias. as estruturas.9% em 2003 (IBGE). Isso mostra que. processo esse capturado e liderado pelas elites regionais em parceria com a tecnocracia do regime militar. Furtado. produziram resultados diferentes e surpreendentes. isto é. no Nordeste e Centro-Oeste. atribuiu esse paradoxo ao processo de modernização conservadora. de “Terceiro Brasil”. em relação à região mais desenvolvida. 19. transformações estruturais. apesar dos grandes esforços empreendidos pelo governo federal na região Nordeste.18 Por seu lado. que saiu de 4. contribuindo pesadamente para a geração de saldos comerciais no balanço de pagamentos. a região Centro-Oeste. e as instituições a elas associadas. 50 Globalização. hoje. sua visão sobre as desigualdades entre as regiões Nordeste e Centro-Sul não era de um regionalista ressentido. entre o Nordeste e o Centro-Sul Mesmo sendo originário do sertão da Paraíba (Pombal).2. em particular a política voltada para a industrialização na região Centro-Sul. Esta conformação gerou estruturas econômicas e sociais. A tese central defendida por Furtado baseava-se no argumento de que a questão regional era gerada pelo fato do Nordeste ser uma região pobre e superpovoada. desenvolvimento local e regional 51 . estruturas arcaicas e política federal para a região Nordeste. que viam na seca o problema da região e na engenharia hidráulica a saída para tal problema. a comercialização na qual se encontrava o papel dos atravessadores e o financiamento da produção ao qual estava associado o capital mercantil-usurário. Globalização. marcada por um grande excedente de mão de obra que realizava uma produção insuficiente de alimentos. A base desses problemas estava fincada no baixo nível de qualidade dos recursos físicos disponíveis para as atividades agropecuárias. Vinte e cinco anos depois (FURTADO. tinham origens tanto endógenas quanto exógenas.. pecuária-algodão-cultura de subsistência) com alto poder de concentração de renda que impediu a formação de um mercado interno que justificasse o desenvolvimento industrial e o aparecimento de uma burguesia esclarecida. Nesses termos. ambos se autorreforçando e gerando um processo de círculo vicioso dentro da economia da região: Formação histórica. Esse ponto de vista estava claramente colocado no GTDN. mas o grau (elevado) de concentração na distribuição da propriedade rural. a história e as estruturas econômicas e sociais do Nordeste tiveram sua importância e. arcaicas e conservadoras. complementada pelas chuvas irregulares e má distribuídas. identificava na política macroeconômica de desenvolvimento do governo federal a principal responsável. Para Furtado o conceito de agrário abrangia não só a produção. Política de desenvolvimento nacional. As teses coadjuvantes se dividiam em dois grupos. além de não resistir às secas severas. Do lado das fontes endógenas. A política federal aplicada na região. transformações estruturais.As fontes das desigualdades.a raiz da fragilidade da economia nordestina estava em seu setor agrário”. realizando um balanço das teses contidas no diagnóstico do GTDN.. a formação histórica e econômica da região Nordeste permitiu a constituição e o funcionamento de sistemas produtivos (cana-de-açúcar. os argumentos de Celso Furtado se contrapunham radicalmente àqueles argumentos predominantes até então. Na opinião de Celso Furtado. e instituições correlatas. o autor reafirma essa preocupação dizendo que “. propícias e alimentadoras da estagnação econômica.20 Por essa razão Furtado não poupou críticas aos políticos nordestinos responsáveis pelo engavetamento do Projeto de Lei da Irrigação formulada por ele. pois dentro desta lei continha um projeto de reforma agrária. 1984). para Furtado. até 20. em relação às fontes exógenas. executados por aquela superintendência. transporte etc. 23. As propostas consistiam basicamente. quatro Planos Diretores de Desenvolvimento. os projetos relativos ao desenvolvimento do Nordeste que lhe foram atribuídos nos termos da legislação em vigor. Por seu lado. 52 Globalização. ao Nordeste. por meio de um conjunto de ações que visavam reorganizar o setor agrícola ao mesmo tempo em que um vasto programa de incentivos e investimentos em infraestrutura nas áreas de energia. coordenar e controlar a elaboração e execução de projetos a cargo de órgãos federais na região e que se relacionem especificamente com o seu desenvolvimento.23 21. a política de desenvolvimento nacional. desenvolvimento local e regional . c) executar. transformações estruturais. do Congresso Nacional. Oportuno lembrar que três das quatro diretrizes básicas da política de desenvolvimento do Nordeste sugerida por Furtado em 1959 diziam respeito à reconstrução do conjunto do setor agrícola (FURTADO. diretamente ou mediante convênio. no seguinte: Aumentar a produção de alimentos a partir de três frentes: primeira. 1984). aproveitar as margens do São Francisco com a produção agrícola irrigada. e foi criada pela Lei n. conduzida pelas políticas cambial. Houve. pois eram estruturas controladas pelos latifundiários das zonas úmidas e semiáridas. esse processo poderia ser irreversível. 6. A Sudene foi precedida pelo Conselho do Desenvolvimento do Nordeste (Codeno) (criado em março de 1959). nacional ou estrangeira. terceira. Tinha como funções: a) estudar e propor diretrizes para o desenvolvimento do Nordeste. abrir uma fronteira agrícola na parte Oriental do Maranhão. 3. ampliar as áreas de produção de alimentos nas zonas úmidas. e coordenar programas de assistência técnica. estava decretada aí a ampliação das desigualdades regionais. que deu origem à Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). por meio da reforma agrária. se nada fosse feito.21 Tais propostas começaram a ganhar vida a partir dos Planos Diretores de Desenvolvimento.então. no total. e promulgada pelo presidente Juscelino Kubitschek.3. 22. dando lugar ao círculo virtuoso do crescimento e do desenvolvimento. Para ele. reforçava essas estruturas e alimentava o círculo vicioso. segunda. Na medida em que Furtado entendia que a industrialização era o motor dinâmico do crescimento/desenvolvimento. b) supervisionar. acordo ou contrato. alfandegária e de subsídios aos industriais do CentroSul acabava reforçando as vantagens comparativas e competitivas dessa última região. As propostas para o desenvolvimento do Nordeste. porque no seu entendimento era um processo circular e acumulativo.22 Suas estratégias visavam quebrar o círculo vicioso da pobreza na região. de 15 de dezembro de 1959. o GTDN As propostas de Furtado para o desenvolvimento do Nordeste foram apresentadas no GTDN.692. e. Globalização. graças aos programas de modernização tecnológica implementados pela Sudene. desenvolvimento local e regional 53 . a principal contribuição trazida pela Sudene. além dos incentivos fiscais destinados às empresas que se deslocaram para a região. especialmente a indústria têxtil. foram engavetadas ou foram deturpadas no processo de implementação. muitas propostas reformistas de Furtado. cabe destacar a proposta do aproveitamento das margens do São Francisco para a agricultura irrigada. na qual serão considerados três grupos de observação. O primeiro grupo reunirá as propostas acertadas. Muito provavelmente. como bem coloca Bacelar (1996). da coordenação das decisões. Tendo isso em conta. em primeiro lugar. uma rápida avaliação das referidas propostas. da fase pré-militar. graças à infraestrutura introduzida e ampliada pela Sudene. tem-se a impressão de que essa noção. que transformou a região de Juazeiro e Petrolina numa grande produtora e exportadora de frutas. 1997b. transformações estruturais. Furtado coloca muito claramente a necessidade de se criar um instrumento fiscal que fosse capaz de gerar um diferencial que pudesse atrair as empresas se instalarem no Nordeste.24 em segundo lugar. poderia citar a diversificação da base industrial. procurar-se-á fazer. caberia destacar. a começar da própria Sudene. a seguir. A questão da coordenação das decisões econômicas ocupava um lugar central no campo das preocupações teóricas de Furtado. Por último. Não é uma tarefa fácil avaliar as propostas formuladas e implementadas sob a influência do GTDN. 24. a proposta de criação da Sudene. em terceiro lugar. Essa conseguiu sobreviver. Além disso. tenha sido o fato de ela constituir uma peça-chave na coordenação das decisões políticas e econômicas no processo de desenvolvimento do Nordeste. o segundo grupo as propostas erradas ou frustradas e. era a única maneira de enfrentar a concorrência do parque industrial consolidado do Centro-Sul (FURTADO. além de promover um novo processo de industrialização.Promover a reestruturação da indústria tradicional da região. o terceiro grupo reunirá algumas tendências tomadas pela economia nordestina e que não foram percebidas na época. Nesse aspecto. sobretudo no Ceará. estaria a reestruturação e modernização da indústria têxtil. Tomo II). Para ele. No grupo dos acertos. continua ainda muito viva a ponto de justificar o renascimento da referida instituição. pelo fato de que essas propostas sofreram um intenso bombardeio político que partiu das elites da região e dos políticos tradicionais do Nordeste instalados no Congresso Nacional. Sob esse ponto de vista. Isto está muito claro em Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico (1968). criando novos segmentos por meio do instrumento dos incentivos fiscais. ou seja. Piauí e Maranhão. a de combate aos efeitos da seca e. Como técnica. a cultura do planejamento introduzida por Furtado foi de grande importância em duas áreas. comum na época. nos moldes da colonização. cacau) devido à abertura comercial. quando funcionava como técnica de previsão ou estudos sobre o comportamento dos fenômenos institucionais e naturais. em produtoras e ofertantes de alimentos. Na esteira das frustrações estão as previsões relativas às transformações: 1) na região semiárida. que seria. no grupo que poderia reunir as tendências não percebidas na época. que deveriam ser transformadas. Na primeira área a inovação verificada foi a de eliminar a improvisação nas ações de combate à seca. 2) nas zonas úmidas. Num terceiro grupo. 54 Globalização. 3) o colapso dos sistemas produtivos locais (babaçu. também. a de absorção dos recursos federais destinados à região por intermédio da Sudene. 3) na parte oriental do Maranhão. substituída por informações estratégicas e ações antecipativas. mas um problema da época. em tese. estão: 1) a emergência e crescimento do setor do Turismo. evidentemente. carnaúba. em produtora de álcool. 2) a abertura de novas fronteiras agrícolas. os Planos Diretores de Desenvolvimento da Sudene introduziram uma racionalidade estruturadora nos investimentos realizados pelo governo federal na região. o resultado real foi o colapso do complexo gado-algodão-cultura de subsistência. segunda. o modelo de colonização entrou em colapso operacional. e 4) um novo impulso na industrialização promovido pelas políticas estaduais de incentivos fiscais. com a permanência desta última. produzindo alimentos e absorvendo mão de obra liberada pelo semiárido. O aspecto crítico do planejamento não se encontrava. no seu conteúdo técnico. No primeiro caso. além de entrar em processo de endividamento e sucateamento. a agroindústria canavieira se transformou. cujo corolário foi acreditar que o Estado poderia transformar a sociedade e o mercado ou muitas vezes substituí-lo. desenvolvimento local e regional . Esse não foi um problema de Celso Furtado. Na segunda área. onde se esperava a eliminação da cultura de subsistência.No grupo dos erros ou frustrações. comandadas por emigrantes gaúchos. produzindo soja nos estados da Bahia. portador de um forte voluntarismo transformador. em parte. transformada numa nova fronteira agrícola. algodão. primeira. talvez o mais evidente deles esteja localizado no campo da crença excessiva no planejamento. mas se localizava principalmente no seu conteúdo ideológico. No terceiro caso. No segundo caso. do modelo nacional-desenvolvimentista. transformações estruturais. 90 5.30 6.50 18.10 13.40 4.90 4.80 4.8%.70 13.10 6.70 57.10 18.10 13.00 7.00 5.40 4. Em primeiro lugar.70 58.00 17. no longo período que compreende 1985-2005. o Nordeste passa de 14.20 58.20 58.20 17.60 17.10 14.10 17.6.80 6. Norte 3.90 4.50 18. uma participação no PIB nacional de 3.70 4.80 5.60 17.20 8.10 Sudeste 60.60 Centro-Oeste 4.1%.70 57.10 13.90 12.5%.20 8.10 56. Quadro I – Participação dos PIBs das grandes regiões no PIB nacional (1985-2005) Regiões Ano 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Fonte: IBGE.20 13.00 6.8% para 8.0% em 2005.30 59. Para esse mesmo intervalo de tempo.40 12.80 6.10 13.80 58.80 56.80 55.60 4.80 5.30 12. A região Sul passa de 17.4.1% para 16.00 Nordeste 14.70 58.60 58.80 4.60 17.10 6. ou mais precisamente.90 18.70 9.90 13.50 4.80 57.50 4.10 13.80 16.60 18.40 7.6%.40 58.10 12.70 17.10 13.40 4.20 57.50 Sul 17.80 12.80 4.00 9. Transformações estruturais a) As grandes regiões no Brasil Conforme o Quadro I e os Gráficos I e II observam-se algumas características interessantes no comportamento das grandes regiões em relação ao Brasil.20 6. e a região Sudeste de 60.10 58.40 17.10 4. no comportamento das participações dos PIBs regionais sobre o PIB nacional.80 13.40 5.90 12.40 16.30 17.70 4.20 5.30 5.60 17.80 12. O Centro-Oeste de 4.2% para 56.00 4.60 4.90 17.30 18.8% e passa para 5.80 17.00 12.80 12.10 5.50 60.70 55. a região Norte apresenta. desenvolvimento local e regional 55 . em 1985. transformações estruturais.70 5.1% para 13.20 60.20 58.80 Globalização.60 4.40 4. Vê-se muito claramente que. deixando um saldo positivo pequeno. Dentre as regiões ganhadoras. no período considerado. há regiões ganhadoras e regiões perdedoras. por intermédio da Sudene e seus Planos Diretores) foram as regiões Norte e Centro-Oeste as que reagiram melhor aos estímulos de políticas de desenvolvimento. Dentre as perdedoras o Sudeste apresenta indícios claros de perda de espaço na participação do produto nacional. Enquanto na região Nordeste o sistema de incentivos fiscais entrou em colapso. que engendrou renda e aumentou o preço da terra na região. Já o Centro-Oeste se beneficiou das externalidades produzidas pela construção de Brasília. O restante do processo foi realizado pelos empreendedores privados que ali se instalaram.Gráfico I – Participação dos PIBs das grandes regiões no PIB nacional (1985-2005) Fonte: IBGE. Diante desses dados. não é difícil concluir que dentre as grandes intervenções executadas pelo governo federal em nível regional (isto é. e outras que estagnaram na “disputa” por maiores participações no PIB nacional. Gráfico II – PIBs per capita das grandes regiões (1985-2005) Fonte: IBGE. E entre as regiões estagnadas encontram-se as regiões Nordeste e Sul. acoplado a um modelo industrial exitoso. Norte através da montagem da Suframa e Nordeste. as regiões Norte e Centro-Oeste se destacam. Centro-Oeste por meio da construção de Brasília. 56 Globalização. transformações estruturais. na região Norte o sistema de incentivos se sustentou. desenvolvimento local e regional . transformações estruturais. Pernambuco.b) Os setores nos estados do Nordeste Olhando para os PIBs estaduais. em seus traços gerais. Globalização. os estados que mais sofreram com esse declínio foram os estados do Ceará. Apesar desse declínio. indústria de transformação e serviços industriais de utilidade pública. desenvolvimento local e regional 57 . além de expandir a indústria sofreu algumas mudanças estruturais. Em todos os estados da região o setor serviços26 avançou significativamente na sua participação relativa. A indústria abrange: atividade extrativa mineral. pelo contrário. convergindo para uma participação em torno de 70%. Os serviços são constituídos pela atividade de comércio e demais serviços. 25. como se verá por meio de outros dados. não se pode dizer que a indústria encolheu nesses estados. todos os estados do Nordeste sofreram um declínio relativo na participação da Indústria25 nos PIBs estaduais. observam-se mudanças estruturais significativas. Gráfico III – Participação dos grandes setores no PIB do Nordeste (1990-2005) Fonte: Ipea. Gráfico III. Rio Grande do Norte e Sergipe que viram suas indústrias perderem cerca de 10 pontos percentuais de participação relativa em seus PIBs. Com exceção de Alagoas. No conjunto. 26. no período entre 1990-2005. construção civil.1 – Participação dos grandes setores no PIB de Alagoas (1990-2005) Fonte: Ipea. Gráfico III.3 – Participação dos grandes setores no PIB do Ceará (1990-2005) Fonte: Ipea. Gráfico III. 58 Globalização. desenvolvimento local e regional .2 – Participação dos grandes setores no PIB da Bahia (1990-2005) Fonte: Ipea.4 – Participação dos grandes setores no PIB do Maranhão (1990-2005) Fonte: Ipea. transformações estruturais. Gráfico III. 7 – Participação dos grandes setores no PIB do Piauí (1990-2005) Fonte: Ipea. Gráfico III.Gráfico III. transformações estruturais. Globalização. Gráfico III.6 – Participação dos grandes setores no PIB de Pernambuco (1990-2005) Fonte: Ipea.5 – Participação dos grandes setores no PIB da Paraíba (1990-2005) Fonte: Ipea. desenvolvimento local e regional 59 . E o que torna a situação mais difícil nesses estados é que. soja e algo- 60 Globalização. durante os anos 1990. a participação relativa do setor agropecuário experimentou uma queda dramática em todos os estados. Enquanto isso. sistemas produtivos importantes.8 – Participação dos grandes setores no PIB do Rio Grande do Norte (1990-2005) Fonte: Ipea.9 – Participação dos grandes setores no PIB de Sergipe (1990-2005) Fonte: Ipea. perderam posição relativa do setor agropecuário. desapareceram ou foram reduzidos sem que outros sistemas produtivos fossem implantados ou emergissem no lugar. que conservaram participações de 17. deixando assim um vácuo econômico importante. com a agricultura irrigada. ao mesmo tempo em que esses estados. com exceção do Maranhão e Piauí. Nesse mesmo período. no restante dos estados o setor agropecuário recuou para uma faixa entre 5% e 8% do PIB. O aspecto “dramático” desse declínio está no fato de que. transformações estruturais. principalmente aqueles com predominância semiárida.78% e 11. a população rural dos mesmos permanece relativamente elevada. como o do algodão. Os estados que conseguiram apresentar algumas novidades alternativas no setor agropecuário foram a Bahia. Gráfico III. desenvolvimento local e regional . embora com características diferentes do passado.Gráfico III.40% respectivamente. vêm os estados do Maranhão. E aqueles que tiveram altas taxas de expansão podem ter experimentado expansão das indústrias com alta intensidade em mão de obra. com a pecuária e a soja e o Piauí. vem o Estado de Pernambuco que apresentou no período 1990-2005 uma variação negativa do emprego industrial formal de -23.75 62.862 181. no caso específico de Pernambuco poderia ser considerada a hipótese de “desindustrialização”. c) O comportamento da indústria de transformação Como foi dito anteriormente. que podem ser divididas em três grupos.050 24. num quarto grupo. no período 1990-2005. Por fim.457 154.978 103. com a agricultura irrigada.375 Variação (%) 28. Piauí com 52. podem ter expandido investimentos nos segmentos com baixa intensidade em mão de obra.61%. pelo Quadro II.08%.73 91.23 49. Pernambuco. com a soja. de expansão negativa. os estados que tiveram taxas médias ou baixas de expansão no volume de emprego industrial formal.57% e Sergipe com 26.162 95.dão. No primeiro grupo está isolado o Estado do Ceará com uma expansão de 91.595 777.08 21. transformações estruturais. pois para isso há necessidade de fazer uma análise segmentada da indústria para perceber as mudanças qualitativas das suas estruturas.32%. Isto quer dizer que. considerado de alta expansão. constata-se. lembrando que a expansão do emprego formal industrial em toda a região Nordeste foi de 26. No segundo grupo vêm os estados da Bahia com 49. Apesar disso. desenvolvimento local e regional 61 .32% de expansão.265 20. Entretanto.73%.908 94. a indústria de transformação perdeu peso relativo nos PIBs estaduais em praticamente todos os estados da região. que há uma expansão no volume de empregos formais registrados na indústria de transformação. com 21.38% e Rio Grande do Norte com 41. Maranhão. caracterizando um comportamento de média expansão.47%. Quadro II – Empregos formais na indústria de transformação do Nordeste (1990 e 2005) Estados do Nordeste Nordeste Alagoas Bahia Ceará Maranhão Emprego Nº Absolutos 1990 2005 603.57 Globalização. Diante de tais dados seria prematuro emitir alguma conclusão em termos de “industrialização” ou “desindustrialização” dos parques industriais desses estados. E num terceiro grupo. notam-se trajetórias diferenciadas de expansão entre as economias estaduais.141 59. considerado de baixa expansão. Entretanto. 07 39.55%.198 37.16%).38 41.06%. entre 1990 e 2005 a maioria dos estados da região teve redução no volume do emprego industrial formal.06 20.97 17. o volume de emprego industrial formal na região Nordeste caiu de 27.61 52. em 1990 para 20.51%).273 Variação (%) 36.36 18. os três principais setores geradores de emprego eram Alimentícia (11. em 1990.353 13.93%) e Química (2.95 28. Dos setores industriais no Nordeste. mas a novidade é que a terceira posição passou a ser ocupada pelo setor Calçadista (2.47 26.Estados do Nordeste Paraíba Pernambuco Piauí Rio Grande do Norte Sergipe Fonte: RAIS. em relação ao volume total de emprego formal na região.01 23.85 17.32 Conforme mostra o Quadro III.757 31. Têxtil (4.229 209.17 28.14 14.07% para 39. O aspecto preocupante é que. Constatação essa que deve ser relativizada quando se analisa os casos particulares das economias estaduais. transformações estruturais. Esta perda foi absorvida pelo setor serviços.155 52. Quadro III – Percentual de emprego da indústria de transformação no Nordeste (1990 e 2005) Região Nordeste Estados do Nordeste Alagoas Bahia Ceará Maranhão Paraíba Pernambuco Piauí Rio Grande do Norte Sergipe Fonte: RAIS.86%).93%) e Têxtil (3. com exceção do Ceará. Em 2005.911 160. seguido pelo Químico (1.61%) e Minerais não metálicos (1.94 -23. nenhuma outra alteração estrutural fundamental na indústria de transformação foi verificada em matéria de geração de emprego formal na região Nordeste.97%.51 16. que conservou esse volume em torno de 28% do total do estado. Como pode ser visto pelo mesmo quadro.96 . os dois primeiros lugares continuam sendo ocupados pelos setores Alimentícia (7.81 10.37%).31 20. Emprego Nº Absolutos 1990 2005 40. em 2005.74 19.911 21.22 28. e Alagoas que aumentou de 38.48 14.55 % Emprego no Estado 1990 2005 38.37 36.76 30.58 24.330 55.45%).562 24. 62 Globalização. tirando o setor calçadista. desenvolvimento local e regional % Emprego na Região 1990 2005 27. as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento local e regional. é que os fatores determinantes da grande transformação nas dinâmicas regionais e locais não se restringem. decantando os novos conceitos e as novas estratégias de desenvolvimento regional. este com um diálogo mais estreito com o território e seus atores. A quarta ideia. na forma. Tal intervenção. por meio da Sudene. marcado por grandes transformações estruturais. Apesar disto. Eles abrangem aspectos estruturais. A primeira ideia. Além disso. O objetivo desta é o de identificar. apenas. conteúdo e instrumentos das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento regional ou correção das disparidades regionais. Schumpeter. ainda. produziu poucos resultados em termos de correção das disparidades regionais entre a região Nordeste e outras regiões brasileiras mais desenvolvidas. à luz do processo de globalização. apoiada numa crença exagerada no planejamento centralizado. é que o novo padrão da dinâmica regional está. ele é produto de um exercício preliminar que promete ocupar um longo tempo de pesquisa. procurou-se estabelecer os traços do processo de globalização. é que a emergência dos novos eventos regionais desenharam uma Nova Economia Regional. derivada da primeira. o que significa dizer que há uma mudança não só nas estruturas. Talvez merecesse aqui realizar um pequeno exercício de recuperação de algumas ideias centrais trabalhadas ao longo do texto. A terceira ideia. mudanças no pensamento regional e deslocamentos da natureza. mais distante da tradicional Ciência Regional e mais próxima da tradição marshalliana. ou nas relações das variáveis. é que apesar dessa aproximação a nova literatura da economia regional encontra-se.Conclusão O presente artigo não teve a pretensão. Na última parte do artigo procurou-se avançar algumas reflexões sobre a economia nordestina. desvendar e analisar as transformações estruturais ocorridas na região do Nordeste brasileiro. de apresentar e fechar qualquer discussão. nem o tempo necessário. mas também no padrão de comportamento das variáveis. já vêm obedecendo e influenciando a formação de um novo paradigma. baseada num modelo exógeno de desenvolvimento e implantado de cima para baixo. também avançou alguns elementos do processo histórico da economia nordestina e algumas das mudanças estruturais no período recente. Por último. entre os anos 1950 e 1970. transformações estruturais. nessa seção. desenvolvimento local e regional 63 . chama-se a atenção para o fracasso da intervenção federal na região. e seus reflexos sobre as escolas de pensamento e as políticas públicas. Nessa parte. do jovem Marshall. ainda. Neste artigo. bem como da tradição evolucionista criada por J. A segunda ideia. são apresentados Globalização. pelo contrário. portanto. longe do seu ponto de definição. e dos institucionalistas próximos aos geógrafos humanos. Fortaleza. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. Diniz e Marco Crocco (Org. “A endogeneização no desenvolvimento local e regional”. Paris: PUF. C. —. M. Les regions qui gagnent (districts et réseaux): les nouveaux paradigmes de la géographie économique).. v. CROCCO. 2005. FURTADO. In: Revista Econômica do Nordeste – REN. “Por uma Política Nacional de Desenvolvimento Regional”. 1999.-dez. 1999. 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C.alguns dados referentes aos setores e ao emprego com o objetivo de chamar a atenção para as transformações estruturais da economia nordestina. Cardin de Carvalho. desenvolvimento local e regional . Paris: PUF. W. 2001. C. 1997a. B. 30.) João Saboia e Fernando J. v. abril-junho. . In: Celso Furtado e o século XXI. Desempenho externo recente da região Nor. p. Rio de Janeiro: Paz e Terra. “A constatação do GTDN e as exigências da atualidade”. 2007. BACELAR. 1992. In: Planejamento e Políticas Públicas – PPP Brasília: Ipea. 28. “The Role of The State in United States Regional Development”. In: Revista Econômica do Nordeste – REN. Celso Furtado e o Brasil. Fortaleza. n. 1984. “Celso Furtado e a economia regional. contribuições teóricas e recentes. M. A.. Fortaleza. LIPIETZ. BERGER. 1968. do. deste do Brasil (uma avaliação da competitividade e potencialidades de expansão dos setores exportadores estaduais). MELO. FONTENELE. T. 2006. T. —. São Paulo: Minha Editora/Editora Manole. n.. 2000. J. Banco do Nordeste do Brasil (BNB). BAER. 2. 1996. S. 64 Globalização. G. Belo Horizonte: UFMG. Fortaleza.. Economia Regional e Urbana. na medida em que as mudanças estruturais da economia regional não foram significativas nem virtuosas. —. . 2007. n. Boston. F.. Brasília. “The New Economic Context Regional Development Policy”. culture and competition in Silicon Valley and Route 128. STEGER. BOISIER. 2. In: Berek Gregory. Dados Regionais.).. M. KRUGMAN. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1996. 2. teorias e métodos de análise. “L ’effet d’entraînement: de l’analyse au repérage quantitati. Local and Regional Development. POLENSKE. E. 1997b. 2003. 2003. In: Revista Econômica do Nordeste – REN. Introdução à formação econômica do Nordeste. MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL – MIN. Fortaleza.“ In: Économie Appliquée. The Economic Geography of Innovation. ed. Globalization. L. Cambridge University Press. v. R. Globalização. Cambridge/Massachusetts/London/England.” In: Harvard Business Review. 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III. de C. PUTNAN. desenvolvimento local e regional 65 . London & New York: Routledge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 30. A. Ron Martin e Grahan Smith (Org. B. 1989. Leuven. A. “Clusters and the new economics of competition. . os limites deste modelo de industrialização para exportação não permitem que evolucione o sistema internamente. em 1965. Desse modo. como uma combinação de dois instrumentos governamentais: as tarifas tributárias 806. perdeu sua competitividade. Maquiladora e de Serviço de Exportação (IMMEX) (para maior informação. a capital dos cabos de chicote de fios em Juárez ou a capital do jeans em Torreón. NT: Manteve-se a palavra “maquila” e seus derivados no original. 2005). a partir de Nafta. 28. Além disso. como “uma etapa que deve superar-se”. A maquila28 do norte do México: um modelo de industrialização bem-sucedido? A maquila de exportação29 apesar de mais de 40 anos no México e de seu grande crescimento. Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 67 . a indústria maquiladora e o Programa de Importação Temporal para a Exportação (PITEX) foram integrados em um programa Indústria Manufatura. exceto o do valor agregado realizado fora do país.00 (posteriormente sistema harmonizado HTS 9802) nos Estados Unidos. A partir de 13 de novembro de 2006. as quais permitem exportar e importar componentes livres de impostos. 29.Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais: eletrônica e autopeças na fronteira norte do México27 Jorge Carrillo 1. 2008). O programa de maquila surgiu no México. Isto nos leva a perguntar se o modelo de maquila é realmente um modelo de industrialização. 27. consulte GAMBRILL. exceto o de valor agregado neste país. consideram a maquila. e se o modelo está esgotado. no México. Tradução de Maria do Carmo Cardoso da Costa e Maria del Carmen Thomas. que permitia tanto a importação de insumos e componentes. E o Programa de Industrialização Fronteiriça. inclusive a estabelecida na fronteira norte. particularmente diante de países como a China. mostram como a maquila perdeu significativamente a participação de mercado nos Estados Unidos (GEREFFI.30 e 807. os promotores da economia do conhecimento e dos sistemas regionais de inovação. quanto a exportação dos mesmos livres de impostos. quando os mesmos tenham uma origem norte-americana e tenham sido enviados ao estrangeiro para sua composição e regresso a este país. Os exemplos mais notórios como a capital do televisor em Tijuana. 2004). e iii) baixos salários. A importância da maquila se encontra em: a) no alto volume de exportações para os Estados Unidos (representa mais de 50% das exportações manufatureiras e é a principal geradora de divisas com mais de US$25 bilhões anuais). Por sua parte. em nível regional. que representa 50% do emprego na manufatura exportadora. Enquanto a indústria de manufatura (não maquiladora) crescia a taxas muito baixas e até negativas. verificaram a evolução do setor e. particularmente em Tijuana e Juárez onde representa grande parte da atividade manufatureira. asiáticas e europeias. em particular nos polos maquiladores de Tijuana e Juárez. ii) baseada em trabalho intensivo.. melhores práticas. muitas das quais podem ser consideradas como positivas. Esta importância. consideravelmente. em termos de crescimento econômico. Terceiro. O modelo está dirigido por firmas multinacionais americanas. com mais de um milhão de trabalhadores. Segundo. a maquiladora se expandia a taxas de crescimento de dois dígitos durante os anos 1980 e. neste sentido. 2006. (2007) e Katz (2008) consideram que o aparelho produtivo da América Latina conta somente com dois modelos bem-sucedidos em termos de crescimento econômico: a maquila (particularmente a mexicana) e a indústria dos recursos naturais do Cone Sul. a maquila foi considerada como um modelo de industrialização bem-sucedido. meio ambiente e segurança no trabalho. como o melhor exemplo de crescimento industrial. a maquiladora localizada na fronteira norte foi considerada como um modelo de industrialização desde o início dos anos 1990.A maquila fronteiriça: modelo em que as empresas evoluem? A maquila é parte de um modelo de industrialização dinâmico. b) no alto volume de importações de matérias-primas e componentes. 68 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . Padilla et al. o governo mexicano considerava a maquila. principalmente de baixa qualificação. depois da entrada do Nafta em 1994. e c) no alto volume de emprego. com 80% de mão de obra como trabalhadores de produção.96 por hora para os trabalhadores. pelo menos até antes da crise de 2001-2003. a maquila como modelo industrial obteve bom desempenho. particularmente. Os estudos regionais e setoriais que se fizeram. em que os resultados apresentam melhor desempenho. No decorrer de mais de 40 anos no México. SCHATÁN e CARRILLO. com uma média de US$1. é aumentada. Primeiro. permitiram: a) Comparar a maquila com a indústria orientada para o mercado interno e com outras formas de acumulação. no entanto. Stallings e Pérez (2000). foram observadas mudanças significativas. por três razões centrais: i) sua atividade de montagem para a exportação. entre outros (CONTRERAS et al. URIOSTEGUI. 1988. d) Quarta geração. Isto levou a um debate analítico: a estrutura industrial no caso da maquila é bimodal. considerar a maquila como modelo industrial permitiu também dar conta de sua gradual escalada. ou há configurações específicas. Diversos estudos demonstram a existência de um segmento de empresas de ponta. desenvolvimento e design (“criado no México”). ARELLANO e GARCÍA. Quarto. 2007. ARELLANO e GARCÍA. 2006). 2006. 2005). Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 69 . baseada na intensificação do trabalho manual e na montagem simples (“montado no México”). a manufatura e a adoção de novas tecnologias (“fabricado no México”). b) Segunda geração. 1993. c) Terceira geração. baseada na intensificação do conhecimento. Juárez. DUTRENIT et al. e com instituições de apoio ao desenvolvimento industrial em Tijuana e Ciudad Juárez (HUALDE e LARA.. 2000. deram conta desse processo de modernização industrial: os televisores em Tijuana e Juárez (CARRILLO e HUALDE. 2003. e Tijuana tem sido um dos melhores exemplos de seguimento de clusters. d) E derivar lições de política industrial e territorial em México como a de clusters industriais (CARRILLO e HUALDE. com poucas empresas modernas e muitas tradicionais (DE LA GARZA. 2001). 1992). com avanço industrial. LARA. Essa discussão desenvolveu o conceito de gerações (CARRILLO e HUALDE. 1997) o qual explica o “processo evolutivo” das maquilas. Wilson.b) Compreender suas capacidades tecnológicas. 2000. 2007a. pertencentes à mesma firma (“coordenado no México”) (CARRILLO e LARA. foi a primeira localidade no México que promoveu a política de agrupamentos industriais. ProduCen. 2005). 2005). baseada na racionalização do trabalho. 2006). 2007).. ou as aeropeças na Baixa Califórnia (HUALDE e CARRILLO. c) Compreender sua capacidade de atrair empresas provedoras em Ciudad Juárez (DUTRENIT et al. Diversos estudos de caso. baseada na coordenação centralizada de atividades para o conjunto de plantas localizadas no país. 2003). 2002). os serviços médicos em Tijuana (MARTINEZ. e paralelamente a presença de segmentos que evoluem mais tarde (MERTENS e PALOMARES. PADILLA et al. a indústria de roupa em Juárez e Torreón (BAIR e GEREFFI. 2006). 2005).. 2006. e nas atividades de pesquisa. em localidades fronteiriças. organizacionais e laborais na maquila eletrônica e de autopeças em Tijuana e Juárez (CARRILLO. DE LOS SANTOS. as autopeças em Juárez (LARA. A tipologia é a seguinte: a) Primeira geração. por exemplo. VILLAVICENCIO et al. CARRILLO e BARAJAS. aplicada em 2001 nos setores eletrônicos e de autopeças em Tijuana. se integrassem os programas maquila e Pitex no denominado IMMEX. 2004). desde 2007. Duas sondagens realizadas por El Colef. com base na mistura de tecnologia. Em outras palavras. Essa semelhança fez com que. usando outras metodologias. 70 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . assim como nas distintas zonas francas. Mexicali e Juárez. que existe heterogeneidade estrutural na maquila fronteiriça.E quinto. A sondagem mais recente. assim como em empresas provedoras de serviços de maquinaria à maquila em Ciudad Juárez (DUTRÉNIT e VERA-CRUZ. origem de capital etc. inovação. 30. uma no início dos anos 1990 (CARRILLO. o resultado principal e mais generalizado é que a maquiladora é diversa no seu interior. que estatisticamente existe uma importante diversidade se se analisar a maquila por setor. permitem concluir que embora haja exemplos de plantas maquiladoras com claras trajetórias evolutivas na fronteira norte. 2002). mas o faz de maneira homogênea? A resposta é claramente negativa. levando em conta os grandes desafios que têm estas atividades na região (PADILLA et al. DUSSEL. Veja nota 1. Os resultados de pesquisa ao longo de 25 anos. a maquila fronteiriça evolui. No entanto. permitiram determinar a heterogeneidade da maquila e sua permanente diversidade. a maquila não é um programa único que defira da manufatura de exportação não maquila. também há múltiplos exemplos de plantas em que continua a montagem simples. região. até empresas de primeira geração convivem dentro de cada setor produtivo. 1993) e outra no início dos anos 2000 (Carrillo e Gomis. tanto no México quanto em outros países latino-americanos. 2004). com o objetivo de contar com um conceito mais abrangente que permita formular políticas públicas mais efetivas e de caráter mais horizontal. Como vimos. Talvez o que mais sobressaia é que outros estudos baseados em sondagens e censos nacionais. Desde empresas altamente inovadoras com atividades de pesquisa e desenvolvimento. o trabalho não qualificado e a redução de custos como estratégia principal das firmas. baseados em sondagens e em estudos de caso. encontrem também uma estrutura hexagonal em empresas de manufatura não maquiladoras (DOMÍNGUEZ e BROWN.30 Estudos realçados pela Cepal e pela Universidade Nacional Autônoma de México propunham analisar em forma conjunta os distintos programas de manufatura orientados para a exportação.. encontrou seis tipos de empresas que coexistem no mesmo espaço e tempo. 2007. tecnologia. Isto é. autonomia nas decisões e funções durante a cadeia (integração vertical). antiguidade. 2004). Existe grande similitude entre a maquila e aquela adscrita a outros programas. dentro da indústria do automóvel. e particularmente no norte do país. as permanentes pressões das montadoras de autos para reduzir custos levam estas multinacionais a transladarem-se para zonas emergentes tipo green field (dentro de cada país e entre países). São usados para conectar vários componentes elétricos (por exemplo: luzes. tecnologicamente é crítica e segue um processo evolutivo semelhante às demais autopeças: é cada vez mais complexo e está integrado aos sistemas modulares. 2. Em outras palavras. Porém. a importância de seu papel é qualitativa. com a assistência de complexos sistemas elétrico-eletrônicos e cada função é operada ou monitorada eletronicamente por meio de um 31. as economias de escala e a necessidade da sincronização na produção modular. distribuidores e velas de ignição) em veículos como carros.1. 2. 1992).O contexto territorial e seus atores estratégicos nos brindam com outra chave para analisar a diversidade na qual se vê imersa a maquila. As estratégias das firmas variam. sockets e outros produtos de cabo (wiring devices). e cada vez mais. instrumentos e motores) a uma fonte de energia (geralmente baterias e geradores). Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 71 . Os veículos são controlados atualmente. Vejamos o caso de Ciudad Juárez. dando como resultado a conformação de clusters industriais e um processo de globalização de atividades de R&D (Pearce e Singh. considerado como a capital mundial do chicote de fios. A indústria dos chicotes de fios automotivos A produção dos chicotes de fios é fundamental para os veículos. aviões e embarcações. conectores. De acordo com a USITC os chicotes de fios são junções de múltiplos condutores elétricos isolados que são acoplados a terminais. Entende-se por chicotes de fios o conjunto de cabos de fios para transportar energia elétrica e eletrônica dentro dos veículos de passageiros. a indústria dos chicotes de fios obteve singular importância desde o início dos anos 1980. A importância do chicote de fios como produto Os chicotes de fios automotivos31 representam um componente menor. e/ou cuidar de altas voltagens em partes seletas de ignição (como arrancadores. ao mesmo tempo. Os chicotes de fios automotivos configuram uma indústria e estão liderados por poucas empresas provedoras globais que seguem uma dupla estratégia: a transferência para lugares com mão de obra abundante e mais barata. geradores. No entanto. em termos de valor. pressionam as empresas para aproximarem-se de seus clientes. ou a concentração regional para poder atender aos clientes de maneira mais rápida e eficiente. Vejamos o caso da indústria dos cabos de chicote de fios para automóveis e dos aparelhos de televisão. No México. já que representam pouco menos de 1% do valor agregado de um carro. 1997:3-19). envolver ou cubrir o arnés montado. SUMITOMO. etc. A vantagem do diferencial salarial mexicano somado à proximidade geográfica com os Estados Unidos (3. LEAR. O design e a produção global dos conjuntos de chicotes de fios 32 se dirigem aos veículos de motor. 2008. Por isso. construir ou emparelhar os condutores terminados através do uso de “árvores” de cabos ou outro aparelho de formação de arnés. aparte da rápida mudança tecnológica e da introdução de tecnologias de informação. 80% do conjunto de chicotes de fios que são consumidos na produção de veículos nos Estados Unidos são montados em países com baixos custos de mão de obra (USTIC. sendo meteórico o crescimento das exportações mexicanas durante os últimos 15 anos: da ordem de mais de 450% ao passar de US$996 milhões em 1992 a US$6.500 milhões (USTIC. 2007).326 milhões em 32. Estas operações são tipicamente realizadas em maquiladoras através de provedores com matriz nos Estados Unidos ou Japão e incluem uma ou mais das seguintes atividades: estampar diversos conectores de terminais elétricos com os códigos finais de cor ou sinais de cabo. e aumentar sua conexão. 72 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . os chicotes de fios são apontados frequentemente como o sistema nervoso dos veículos (YAZAKI. 2007. Eles são a última parte do automóvel a ser especificada definitivamente. 2008.complexo sistema de distribuição. Além disso. Soma-se a isso. e desempenhar operações finais limitadas tais como provas e etiquetado.200 km de fronteira compartilhada) e as relações de negócio com as “Três Grandes Americanas de Carros” (desde 1926 mantêm presença no México. assentos e nos diversos sistemas de iluminação (USITC. 33. mas também se encontram nos painéis das portas. e estão sendo administrados de perto para assegurar um ininterrupto fluxo de conjunto dentro do processo de manufatura do veículo. DELPHI. 2008). o processo final da montagem incorpora um intrincado e complexo conjunto de operações que não são econômicas nem praticamente possíveis de automatizar. e desde 1979 estabeleceram maquiladoras de autopeças). fizeram do México a localização estrangeira líder para a montagem dos cabos de chicotes de fios (CARRILLO e HINOJOSA. Em inglês: ignition wiring harnesses sets. conectores e centros eletrônicos. conectores. Em 2007 o consumo estimado de chicotes de fios na União Americana foi ao redor de US$6. A montagem típica dos conjuntos de chicotes de fios envolve numerosas linhas de produtos para serem acomodados em uma grande variedade de modelos de veículos e conjunto de acessórios. Tudo isso significa que a indústria dos chicotes de fios está em permanente processo de inovação tecnológica diante da necessidade de reduzir espaço e custo. Os chicotes de fios mais notórios estão nos motores e nos painéis de instrumentos. integração de cabos.33 Como consequência. 2007). 2001). a emergente produção de veículos híbridos implica necessidades diferentes de chicotes de fios. 35 ponentes e de Computadores (Quadro 1). USITC. (ii) ser altamente intensivo na mão de obra. Isto explica porque.596 581 n.d.097 8. Yazaki. Delphi.947 2007 6.834 2000 5. Alcoa-Fujikura e Valeo são considerados como os maiores produtores mundiais de chicotes de fios.18 milhões.347 123.648 4. Sumitomo. Lear. U. 34.968 8. Enquanto o Canadá alcançou em 2007 apenas US$4.584 7. U. Como resultado da crescente demanda por parte dos fabricantes de automóveis da entrega oportuna de designs complexos de chicotes de fios de alta qualidade.692 1995 1.80). 814 6.702 6. não só nos Estados Unidos.866 4.d.770 15. Imports from Mexico (utilizou-se a classificação da NAIC) 2000-2007 Do exposto anteriormente. 1992 e 1995. Ásia e América do Sul.676 3.517 2002 5. e (iii) estar sujeito a uma forte pressão para reduzir custos (price squezing).2007 (USTIC. Quadro 1 – Principais produtos maquiladores de exportação 1992-2007 (milhões de dólares) 1 2 3 4 5 6 Produtos maquiladores Cabos elétricos de chicotes de fio Autopartes Subtotal automotriz Roupa Computadores TV e Rádios.00. Em 2007 as exportações do setor automotriz (veículos e autopartes) superaram as petroleiras (US$46.752 13.139 milhões respectivamente).246.600 2.211 114.S.322 22.071 Fonte: Elaboração dos autores com base em USITC.369 9. 35.687 6. se transmite tal informação.757 1. diversos anos)34 constituindo-se no terceiro principal produto exportado sob o programa maquiladoras depois de TV rádios.75 milhões contra US$30.433 1.139 7. através dos chicotes de fios.805 165.S. de acordo com os novos mercados emergentes do carro em nível global.905 3. os corporativos que são provedores de primeira linha de plantas armadoras optaram por localizar-se estrategicamente perto das plantas armadoras. somente as maiores companhias com tecnologia competitiva conseguiram sobreviver e desenvolver-se pelo qual há uma concentração setorial em poucos corporativos. 547 4. mas também na Europa.351 113.326 16.849 8. se podem estabelecer três características centrais deste produto: (i) sua alta dependência diante de qualquer mudança nas partes eletrônicas devido a que.833 79.950 12. partes e com. partes e componentes Resto Total de produtos de toda a IME 1992 996 1.889 80.719 7.637 n. Imports from Mexico (HTS 9802. Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 73 . Número de plantas e emprego Corporação Delphi Yazaki Lear (United Technology Automotive) (a) Chrysler (b) Electric Wire Products (c) Alcoa Fujicora (d) Sumitomo Maquilados Fronteiriços Subtotal Total Notas: 74 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais Plantas 1987 1997 10 13 2 11 2 2 2 n. Quinto. os estabelecimentos são de grande tamanho. quanto de veículos leves e pesados.d. hoje em dia representa um fator indispensável para o funcionamento de sua economia. mas só algumas estão registradas nos diretórios oficiais.285 n.d. n. n.d. Terceiro. Quarto. 25 37 9 n.240 2.d.402 2. há mais plantas de chicotes de fios do que as declaradas oficialmente.511 n.231 21.678 n. Dos 39 estabelecimentos que constituem o conjunto dos chicotes de fios cinco empresas possuem 32 plantas e empregam 43. O número e as porcentagens de participação individual por corporativo se mostra no Quadro 2.d.d. 79. repartidos em 39 plantas.4% do emprego dessa especialidade na cidade.316 n. 55. mudou substancialmente devido ao enorme crescimento da indústria maquiladora. 42 Emprego 1987 1997 15. n.076 8.253 18. 5 6 1 57 89 2007-2008 8 12 5 n. desenvolvimento.d. corte e montagem) às montadoras automotivas norte-americanas. tanto de carros. existe uma alta concentração em poucas empresas de primeira linha.d.d.d.d 1 8 n. n. .415 empregados por estabelecimento.187 n.d. só cinco corporativos concentram 79.200 5.332 6.d.d.d.d n. fronteira com El Paso.d n. mais ainda.736 3. n.947 n.d. E sexto. devido à competição pela sobrevivência e a contração do mercado estadunidense os corporativos começam a ampliar sua carteira de clientes em direção a outros mercados emergentes como o asiático e europeu (El Diario/Suplemento Manufactura.058 19. mas a diversas montadoras americanas. Muitas companhias possuem várias plantas na cidade. Primeiro. 1.081 2.626 trabalhadores. Convém ressaltar seis elementos. os clientes não são só uma.2.888 5. 27 de maio 2008). quer dizer.2. uma média de 1. Um modelo bem-sucedido? A indústria de chicotes de fios em Juárez Durante os últimos 30 anos a fisionomia de Ciudad Juárez. 16. 2007-2008 11.d. é o motor do dinamismo na zona. Sem dúvida. Texas. n. desde 1994 se abastece do design completo do chicote de fios (pesquisa. Quadro 2 – Firmas produtoras de chicotes de fio em Ciudad Juarez. Segundo.200 n. As empresas de chicotes de fios têm 24% do total de empregos gerados pela maquiladora na cidade.365 4.727 1. asiáticas e europeias. 34. 4 milhões e 43 mil empregos (BANCOMEXT. 38. o mega cluster de Juárez está formado por “jogadores globais”. na atualidade o corporativo se encontra dividido em 170 companhias.(a). que fabrica chicotes elétricos de diferentes tipos. Informação só para uma planta. conta com seis plantas em Juárez e ocupa 10.191 milhões de ienes.pdf Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 75 .162 trabalhadores. No México. (b). 2006). das quais só 73 filiais estão no Japão. (d). Consultar Yazaki (1999). Resumindo. Lear Company comprou a United Technology Automotive em março de 1999. A segunda é PEDSA. e a segunda. mas a tendência a substituir a produção de componentes pela de módulos ou sistemas. Yazaki conta com 19 plantas e nove subsidiárias com um investimento acumulado de U$215. e Yazaki Parts Co. Em Juárez se encontram três empresas vinculadas a Yazaki: a primera é AAMSA. 37. Informação só para três plantas. a partir de alumínio e cobre. que manufatura diferentes tipos de chicotes de fios automotivos.com/environment/pdf/2007e/yazaki_001. Yazaki Corporation37 Yazaki é uma companhia japonesa que produziu seu primeiro chicote de fios automotivo em 1929 no Japão. e depende diretamente de Yazaki NorthAmerica Inc.802 trabalha36. 2.36 Vejamos o caso de duas companhias de maior importância em Ciudad Juárez. Estes grandes corporativos se encontram competindo dentro dos mercados em nível mundial e produzem tanto chicotes de fios quanto outros sistemas e componentes para a maioria das empresas terminais. Fonte: Elaboração dos autores com base no Ministério de Comércio e Fomento Industrial. Emprega por volta de 200 mil trabalhadores em 463 empresas em 39 países ao redor do mundo e conta com um capital de 3. as quais concentram várias dezenas de mil trabalhadores e são dois dos cinco “jogadores globais” mais importantes na indústria dos chicotes de fios em nível mundial: Yazaki e Delphi. (c). estabelecida em 1982. Diretórios da Indústria Maquiladora e trabalho de campo en maio de 1999 e fevereiro de 2008. http://www. Só em Juárez ocupa 5. os chicotes de fios automotivos e sistemas modulares.: a primeira fabrica o cabo elétrico.38 Yazaki Electrical Wire Co. A mudança de denominação de cabos de chicotes de fios de ignição a sistema de distribuição elétrico (electrical distribution system) implica não só o reconhecimento de que o chicote de fios automotivo desempenha um papel vital para coordenar e controlar a operação de todo o sistema de distribuição elétrica no veículo.2.1. possui oito plantas no Estado de Chihuahua. Informação só para três plantas.yazaki-group. 39 Diferentemente dos anos 1990. 76 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . Recordemos que as plantas de chicotes de fios são de grande tamanho (em muitas ocasiões. 39. QS-9000. do mesmo modo.dores. Michigan e é mais uma das empresas do corporativo Yazaki. e igualmente como nos painéis de prova.. A montagem dos chicotes de fios se realiza fundamentalmente de maneira manual na área de montagem final e o maior nível tecnológico está nas áreas de corte. fabricar e vender chicotes automotivos na América do Norte. já que implicam diferente tamanho de cabo. as quais são requeridas pelas plantas montadoras. a qual tem seus escritórios centrais em Troy. que. certificação de trabalhadores em operações críticas. suas funções principais são desenvolver. A terceira empresa é a Autoelectrónica. hoje achamos que cada planta pode trabalhar com vários clientes (chamados negócios) ao mesmo tempo. no início eram eletromecânicos e agora são de eletrônica digital. Os painéis onde se montam os chicotes de fios dificilmente podem ser flexíveis para poder atender a diversos modelos de carros. decapagem e prensado. ISSO-14000. mas produzem chicotes de fios de um determinado sistema (interiores. Em questão do controle de qualidade as certificações internacionais como: ISO/TS-16949. além das práticas produtivas como: a técnica 5S. atualmente depende de EWD. Toyota. etc. anteriormente as equipes testavam submontagens completas dos chicotes de fios e agora se testa cada parte do chicote de fios antes de montá-lo. Esta informação foi obtida a partir de entrevistas com operadores de produção e funcionários de plantas maquiladoras de chicotes de fios. enfoque de provedores e clientes internos. painéis etc.). Chrysler vendeu PEDSA a Yazaki em 1993. distintos conectores e diversas funções. para diferentes tipos de veículos. e faz parte do trabalho de investigação de campo da tese doutoral de Martha Miker (MIKER PALAFOX. 2007). e ISO-14001 são indispensáveis. ISSO-9000.401 empregados. Nenhuma dessas empresas tem sindicato em suas plantas mexicanas. chegam a mil trabalhadores cada uma). de Juárez estabelecida em 1985 e desde 1994 pertence a EWD-Yazaki North America e conta com duas plantas e 5. entre outros. Seus clientes principais são Honda. e à grande quantidade de produção que deve realizar-se para tais modelos. Ford e Chrysler. Essa divisão de trabalho por tipo de sistema de módulos por planta responde às especificações de cada um dos sistemas modulares que leva cada modelo de carro. portas. Nissan. esta empresa fabrica chicotes de fios automotivos de diferentes tipos para diversos clientes entre os quais se encontram. Harrison. GM. a distribuição e integração eletrônica.42 Atualmente. Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 77 . Packard Electric e Saginaw Steering. entretenimento e comunicação na Division Delphi Electronics. Panasonic. a que nos interessa destacar se denomina Delphi Packard Electric Systems (Delphi-Packard). que se encarrega da análise da arquitetura dos sistemas elétricos e eletrônicos de todo o veículo.2. 41. BOS Wagner. sistemas leves de fibra ótica. ACE. 139 que trabalham no MTC e o resto que trabalha na planta Río Bravo Eléctricos XXII. Ford. e a de interiores. sistemas de ignição por cabo. 1. e sistemas e controles de segurança.3 bilhões em 2007. 21 de janeiro de 2008. Harley. Delco Electronics. General Motors.2. Delphi Automotive Systems40 Delphi operava em 156 estabelecimentos em 34 países. manejo de combustível e emissões do motor através de sua divisão Delphi PowerTrain Systems.41 Possui escritórios regionais em Paris. Ford.231 trabalhadores. Além disso. Energy & Engine. Subaru. o corporativo Delphi tem aproximadamente 169. Ver http://es. No México. Delphi declarou falência em 2005 diante da queda de seu principal cliente. Harrison Thermal. uma em Sabinas Hidalgo e outra em Nuevo León México (El Diario. Delphi se encontra composta por sete divisões sob o conceito de sistemas: Chassis. No México. também produz sistemas de conexão para os centros eletrônicos (chicotes) para os carros através de sua divisão Delphi Packard Arquitetura Elétrica e Eletrônica. Interior. produtos eletrônicos. e a otimização do design de sistemas completos. sendo o México o principal receptor do emprego com 68 mil pessoas ocupadas em 50 plantas e um Centro Técnico. e concretizou a venda de uma terceira. Destas áreas. 40. ECSA. os escritórios centrais se encontram em Warren.delphi. Ohio. Consultar em Delphi (1999). com vendas de US$22. propriedade de Platinum Equito LCC. Tóquio e São Paulo. sensores e cabines modulares. Em Ciudad Juárez se encontram as oito plantas de RBE que ocupam um total de 11. A venda desta divisão impactará 726 trabalhadores localizados em Ciudad Juárez. Desde esse ano até esta data.500 empregados em nível mundial. Delphi fabrica sistemas de gestão de motores a diesel.2. AA e Cableados y Promotoras de Partes Eléctricas Automotrices (investimento conjunto com a Condumex). Só a Ciudad Juárez conta com 15 plantas. vendeu no México duas de suas divisões. Suplemento Manufactura). a Delphi-Packard conta com cinco empresas RBE. Entre os produtos que fabrica se incluem: centros e sistemas elétricos/eletrônicos. a de Steering Systems que foi adquirida por Steering Solutions.com/enes/about/main/ 42. a de direções. produtos térmicos para os automóveis e para novos mercados na Divisão de Thermal Systems.024 trabalhadores que trabalham em duas plantas em Querétaro. podemos dizer que a indústria dos chicotes de fios automotivos é de vital importância para o setor automotriz. ISO/TS-16949. Ainda que os salários de entrada nas plantas de chicotes de fios sejam muito baixos. só se encontram mecanizadas as linhas nas fases finais da montagem. Multiplex pode ser definido como um número pequeno de cabos que transmitem uma grande quantidade de dados. com aproximadamente 1. técnicas 5S. em suas diferentes plantas há duas décadas.44 Embora não contem com sindicato. Miker Palafox (2007). Essas empresas não têm sindicato. 65 publicações defensivas e 11 segredos industriais. É uma iniciativa que pretende homogeneizar os processos em todas as empresas do corporativo em qualquer parte do mundo. a tecnologia empregada na elaboração de chicotes de fios continua sendo manual e organizada em painéis móveis. 45. permite assegurar o padrão de qualidade especificado por seus clientes sob o sistema global de controle de qualidade que inclui modelos como o ISO-9000. além disso possui 801 registros de invenções (primeiro passo de uma patente). e oferece apoio às outras seis divisões do corporativo. conseguindo que “estas falem a mesma linguagem que seus clientes”. que iniciou suas operações em 1978 e hoje é conhecida como RBE 1. Packard Interiores e Toyota.45 Como conclusão a esta seção. além disso. Seu impacto na economia regional é muito elevado. estes tendem a elevar-se consideravelmente à 43.43 A primeira planta de Packard no México foi a Conductores. administração e pessoal. o QS-9000. já que as empresas tendem a aglomerar-se neste setor. que se realizava anteriormente em El Paso. Río Bravo. No entanto. gerente de assuntos Corporativos de Delphi no México. Suplemento Manufatura. veio implementando e aperfeiçoando o sistema de controle de qualidade global de Packard. se integraram à operação das empresas o processo de corte dos cabos.600 engenheiros dos quais quase 90% são mexicanos. De 1998 a 2007 o centro inscreveu 188 patentes no Registro de Patentes. Xóchilt Díaz. também. El Diario. e o teste nas estações de trabalho. design e desenvolvimento. mas também àquelas áreas em que tradicionalmente não se efetuava o controle de qualidade tal como finanças. 44. o pagamento a operadores semanalmente varia entre US$28 (para operadores em treinamento) e US$ 98 para operadores flexíveis. que todas mantenham um mesmo modelo organizacional baseado na qualidade total.Lear Corporation. Talvez o mais inovador seja o desenvolvimento dos processos multiplex. conta com um Centro Técnico que se encarrega de atividades de pesquisa. Conta. isto é. Este sistema se dirige não só à atividade central da empresa. gerando uma grande quantidade de empregos diretos e indiretos. Além disso. 78 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . ver nota 9. quer dizer a manufatura. segunda-feira. de Ciudad Juárez. como uma linha telefônica. 14 de abril de 2008. A hipótese de mover os processos de menor valor agregado. Na medida em que se desenvolveu a produção modular e os sistemas justos a tempo na indústria automotiva. a hipótese “todas as empresas de baixo valor e altamente intensivas em mão de obra” vão à China não se demonstra neste caso. competem provedores globais automotivos integrados verticalmente como Delphi.medida que aumentam as habilidades no tempo. a evidência assinala que existe um processo de integração regional na América do Norte. As estratégias de firma variam tendo como consequência um impacto regional diverso. O elevado conteúdo tecnológico nos chicotes de fios fez com que fosse mais complexo seu design e manufatura. no entanto. assim como multinacionais mais especializadas em sistemas e componentes. os televisores digitais estão iniciando sua fase de cresci- Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 79 . Enquanto algumas firmas redistribuem desde a montagem de chicotes de fios até as atividades de engenharia avançada com o fim de sincronizar manufatura e Pesquisa e Desenvolvimento (I+D). 3. que se desenvolveu durante a segunda metade do século passado. No entanto. de países mais caros para os mais baratos não resulta totalmente certa. componentes cruciais como os chicotes de fios requerem se localizar mais próximos dos clientes. Ninguém poderá objetar que o setor automotriz representa uma das indústrias mais globalizadas de nossa era. Contrariamente. Os televisores de projeção com tela grande estão na metade de sua fase de maturidade. Neste processo. a ascensão das firmas asiáticas em relação a seu posicionamento no mercado e o retrocesso das americanas. se apresentam problemas “clássicos” nos mercados de trabalho de aglomerações industriais fronteiriças. A flexibilidade laboral (numérica e funcional) é talvez uma de suas características centrais que permitem fazer os ajustes necessários. A televisão analógica em cor. O México continua altamente competitivo neste setor. como Sumitomo ou Lear. A indústria dos aparelhos de televisão A indústria do televisor se encontra em uma importante mutação tecnológica. entrou em fase de envelhecimento. A diversidade nos modelos de veículos também provoca que as plantas de cabos de chicote de fios requeiram contar com uma alta flexibilidade para mudar e ajustar-se à cambiante demanda no mercado. Por enquanto. como os chicotes de fios. Também. talvez marque uma diferença importante no futuro mediato. tais como a rotatividade voluntária no trabalho e as ausências. outras promovem a redistribuição das atividades mais intensivas em trabalho de baixa qualificação. Também existe o desenvolvimento de novas tecnologias e materiais que darão lugar a novos aparelhos de televisão. Sem dúvida. que permitiu que.mento (Gráfico 1). Esta situação começou a 80 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . somado ao menor custo diante dos televisores digitais de tela plana. Fujimoto. A geografia da produção Embora uma televisão como produto se assemelhe mais aos computadores em termos de cadeia do valor e da arquitetura de produto. embora mantenha volumoso e pesado cinescópio (CRT – tubos de raios catódicos). seu comportamento no mercado se parece mais ao da indústria automotiva (Kenney. Liquid Cristal Display (LCD) e outras tecnologias –. aparelhos com telas planas. 2002 3. como indica o Esquema 1. em particular com a entrada dos “canais digitais” na televisão por contrato. permitiu que aparelhos de TV produzidos com cinescópio ainda tenham um futuro promissor. 2004). oferece ao consumidor diversos modelos. nos mercados de alto valor de consumo como a Europa. muitos tamanhos diferentes de tela. e variada tecnologia. multimídia. múltiplas funções. a constante sobrecapacidade. Isto obedece ao avanço da tecnologia. Isso.1. particularmente com os aparelhos em preto-e-branco. tendo de encarar a competição brutal do preço desde 1980. Gráfico 1 – TV: Ciclo de vida do produto Fonte: Producen. conhecida como Flat Panel Display (FPD). se encontra em fase de crescimento. A televisão digital – de plasma. a indústria dos televisores foi a primeira grande “indústria fordista” a se converter em vítima da concorrência global. e particularmente nos Estados Unidos. Segundo Kenney (2004:82-83). isto está mudando constantemente. 2004. A produção da TV teve um caráter doméstico por curto tempo. e exista uma tendência similar à que se dá na produção de computadores. é baixa em geral. Nos países europeus. como foi o caso da transferência de plantas dos Estados Unidos para o Norte do México a partir de 1968. Com a transição da produção de aparelhos de televisão analógicos a digitais. medidas anti-dumping. como Malásia e Tailândia. o do Japão para os países do Sudeste asiático. é menor (70% contra 80%) que o do televisor analógico (veja o Capítulo 3) e atualmente toda a produção de flat panel display se realiza no Japão e Coreia do Sul. produziam-se e consumiam-se os televisores. Ainda que esta cifra para o México tenha mudado de modo substancial com a chegada das empresas produtoras de CRT e de componentes-chave. Com a realocação de plantas e o processo de globalização. Os produtores regionais estão pressionando para manter o comércio intrarregional. Por exemplo. a redução generalizada de custos. Embora existisse uma divisão entre países. 1980). Porém. ao que parece. Ou seja. em países em desenvolvimento. espera-se que o conteúdo local mude novamente. já que o valor do painel. o mercado era regional. os percentuais ainda são menores do que nos países asiáticos. os avanços na tecnologia e na logística.. Tudo isso possibilitará que a mudança de “mercados regionais” a “mercados globais”. Antes mesmo da primeira onda de internacionalização da produção. o fenômeno das aglomerações industriais já não estava acompanhado pela integração regional. a mudança será positiva para as instalações manufatureiras exportadoras. 2000:65-71).mudar na metade dos anos 1960. Embora o processo de globalização esteja mudando a divisão tradicional de mercados regionais. através de regras de origem. estabelecendo transplantes etc. enquanto na Malásia e Tailândia alcançava 62% e 40%. o processo não avança tão rápido como a tecnologia. sendo que alguns tinham como função prover outros países que consumiam. Ainda que as filiais e os governos nos países subdesenvolvidos estejam ávidos para Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 81 . O abastecimento de componentes locais. e a maior eficiência em serviços como o transporte. a integração vertical dentro dos países produtores era considerável. por excelência globalizada. neste caso. quando a fase de montagem intensiva em mão de obra foi transferida dos países desenvolvidos para os subdesenvolvidos. e a dos países do Sudeste asiático para o Japão. respectivamente (MORTIMORE et al. embora haja exceções importantes. Porém. Este fenômeno foi conceituado como a internacionalização da produção e implicou uma nova divisão internacional do trabalho (FROBEL et al. isto contrasta com as estratégias agressivas das firmas para aumentar mercados. e de “produtores domésticos e regionais” a “centros de manufatura mundial” seja mais rápida. em 1995 a indústria de televisores tinha no México um conteúdo local de somente 4%. a produção no México se dirigia ao mercado estadunidense. -22% 19. Para ter-se uma ideia. Malásia com 7. -71% 6.5% das importações de aparelhos de televisão na OCDE. México participava. Malásia.000% 20. Participação no mercado de importação.0%.652% Japão* 30. enquanto uma de FPD é de mais de US$500 milhões. -60% 9. com 18.6%. 194% 13. França. 9. Alemanha. Tailândia. Jorge Carrillo.7%. Malásia e Tailândia.2%. 47. Singapura. Sua participação aumentou de pouco mais de 16% das exportações totais em 1980. não existe nenhum plano de realocação de tais plantas.9%. Entrevistas com empresas televisoras em Japão.. a) Oportunidades dos países em vias de desenvolvimento Os países subdesenvolvidos desempenharam um papel central na exportação de receptores de TV em cores. 82 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . segundo consta. reestruturação desta indústria.230% 12. Coreia do Sul.0%. >10.3%. Reino Unido. empresas coreanas de televisores em Tamaulipas e japonesas na Baixa Califórnia anunciaram que realizarão investimentos importantes para realizar uma parte adicional da montagem de FPD. o investimento requerido para estabelecer uma planta de CRTs chega a US$150 milhões. et al. avaliadas em US$14.0%. trabalho de campo durante 2004. China e Tijuana.receber estes novos investimentos. Quadro 3 – Principais países produtores de receptores de televisão em cor (sitc 761) segundo principais mercados.8%.47 Não obstante as informações anteriores. Espanha. >10. >10.4%. Os três principais países produtores de TV México.7%. 2000). 1. Tailândia. O investimento de US$500 milhões equivale a construir uma moderna planta produtora de automóveis – como foi o caso da Ford na cidade de Hermosillo.147% 7.000% 7. desempenharam um papel importante na . aproximadamente.5 bilhões. 1994-5 e porcentagem de câmbio 1980-1995 Posição 1 América do Norte* 60. 1. avaliadas em US$5. estabeleceu nos últimos dois anos uma planta produtora de FPD na China. >10.000% Europa ocidental* 14. 162% 2 3 4 46.0%. China não era um jogador global devido grande parte de sua produção estar destinada ao mercado doméstico. a quase 35% de exportações do total de 1990.5 bilhões (MORTIMORE. Ibidem. Malásia. México.46 com exceção de uma empresa japonesa que.6%. em 1995. Japão.000% 9.2% e Tailândia com 4. -41% 74.5%. Coreia do Sul. >10. China. Finlândia. >10. -38% 99. o crescimento da indústria da televisão convencional foi um resultado direto das mudanças nesta indústria nos Estados Unidos.000% 1. Fonte: CAN PLUS computer program of ECLAC.5 %. Áustria. Itália.000% 3.6%.5%.1% 100% Europa ocidental* 7. estabelecidas fora de seu país de origem. Esta decisão foi determinada parcialmente pelas restrições de importação 48. Bélgica / Luxemburgo.5% 100% Notas: 1) . Coreia do Sul.7% 25.5%. Filipinas. Devido a montagem de televisões requerer abundante mão de obra. >10. neste caso asiáticas. 2000.5% 0. o papel do México havia evoluído de ser um fornecedor de partes para converter-se em um exportador de televisores em cores.000% 2. o baixo custo da mão de obra japonesa nos anos 1960 e 1970 e o sistema de produção japonês. México.9%. Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 83 . -98% 98.411% 1. Taiwán. China. a porcentagem de câmbio significa a diferença entre o volume de comércio das importações em 1980 e 1995. primeiro com a implementação de transplantes asiáticos48 naquele país e com a redistribuição das plantas para a fronteira norte do México. por exemplo. Sylvania. -75% 0. No fim da década de 1970. Japão. -90% 1. 2) A primeira porcentagem é a participação no mercado de importação. Três fatores críticos para o sucesso japonês na América do Norte foram: a taxa de câmbio favorável do iene ante o dólar. 28% 2.9%. Bélgica/Luxemburgo.9%. e Zenith estabeleceram suas plantas mexicanas desde o fim dos anos 1960 na fronteira de Ciudad Juárez.0%. >10. Estados Unidos. Singapura. 53% 7. et al. o fator custo desde seus inícios foi fator importante na realocação dos investimentos. Assim se denominam as fábricas..Posição 5 6 7 8 9 10 10 principais Resto Total América do Norte* 4.5%. -71% 1.6%.3% 100% Japão* 7. Em relação ao México. a primeira linha da primeira coluna significa que México participou com 60% das importações dos Estados Unidos. Companhias como RCA. 5. -70% 2.5%.7%.= perda de participação no Mercado durante 1980-1995.0%.2%. E a segunda porcentagem. -69% 0. -24% 5. Assim.9% 1. Estados Unidos.000% 2. Tomado de Morrimore.4%.4%.2%. -86% 6. Taiwan. -55% 3. Canadá. e (d) o ciclo de vida do produto em cor analógico. 2004:97). não se apresentou nenhum aparelho de TV analógico. o consumo de televisores novos nos Estados Unidos se havia estabilizado em uns 29 milhões ao ano. as expectativas de crescimento da indústria do televisor na região ainda são promissoras. Não obstante o anterior. empresas como Sony e Sansumg haviam começado faz vários anos a exportação para essas regiões. TV digitais de tamanho pequeno feitos na China. a maioria dos produtores americanos nos Estados Unidos foram pressionados a abandonar o setor por parte das transnacionais europeias e. todos eram plasma e LCD. A Philips. asiáticas. a produção de televisores no México havia superado a demanda da região norte-americana e estaria abastecendo outros mercados como América Central e América do Sul. De fato. A maioria das plantas de manufatura substituiu grande parte da produção de televisores convencionais pela 49. facilita as importações procedentes de Ásia. Em entrevista com diretores japoneses em um dos corporativos eletrônicos em Tóquio. e um rápido crescimento dos transplantes principalmente japoneses. os quais investiram na criação de um cluster de aparelhos de televisão na cidade de Tijuana. cuja proximidade ao porto de Long Beach. E. Naquele momento. Este processo de concentração produziu uma indústria de televisores dividida principalmente entre transnacionais europeias com plantas de produção nos Estados Unidos (que controlavam pelo menos 34% do mercado estadunidense em 1990). Portanto. A firma francesa Thomson comprou as plantas da General Electric e RCA. a empresa coreana LG Electronics comprou as operações da Zenith. mencionou-se que os últimos shows de exibição em Las Vegas por parte de importantes firmas que comercializam eletrônicos. em 2003.49 (c) a preferência por televisores de grande tamanho. adquiriu as marcas de Sylvania e Magnavox. as projeções não foram alcançadas.que requeriam os produtores dos Estados Unidos para reunir o produto final nesse país e evitar tarifas altas (KENNEY. Porém este prognóstico não levou em conta outros fatores: (a) a entrada de um agressivo país produtor como China que desde os anos 1980 era um produtor importante de TV. Na metade dos anos 1980. Califórnia. A cadeia COSTCO na União Americana exibe para sua venda. A Matsuchita do Japão comprou a Quasar. 84 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . A Thomson posteriormente foi adquirida por uma firma da China. De acordo com projeções do Banco Mexicano de Comércio Exterior (Bancomext). 2002). O complexo de televisor do Norte do México empregava no ano 2000 mais de 90 mil trabalhadores e produzia cerca de 30 milhões de aparelhos ao ano (CONTRERAS e CARRILLO. (b) a mudança substancial no mercado dos Estados Unidos e Canadá de CRT/TV a TV digital. da Holanda. posteriormente. enquanto a região da América do Norte no seu conjunto estaria consumindo um total de 33 milhões de aparelhos. pela primeira vez e desde 2004. principalmente. como se verá na seção seguinte. para 2002 a porcentagem baixou para 47%. e investimento no estrangeiro (por exemplo.de televisores digitais. e (iii) criação de marcas próprias. Hobday (1995) para Taiwan e Gereffi para Hong Kong (1994) descrevem como um conjunto de firmas aprendeu e se moveu no decorrer de três estágios: (i) manufatura de equipe original.2 vezes mais que o México no ano 2000 e 4. Entrevistas do autor nos corporativos das empresas eletrônicas no Japão demonstram que na maioria destas firmas existe o projeto para desenvolver a montagem de TV digital no México. ainda que não haja planos específicos. Inclusive conseguiram converter-se no ponto (hub) central de comércio e transferência de investimento estrangeiro direto. China havia superado o México nas exportações para o mercado estadunidense (Gráfico 2). Segundo tal demanda. –. as empresas deste país vendiam seus produtos até 120% mais baixo que seu preço de produção em outros países devido aos subsídios outorgados pelo governo chinês. tudo indica que este país está tratando de seguir veementemente o processo do catching up dos países do Sudeste asiático (Coreia do Sul. o que obviamente gerou múltiplas controvérsias sobre propriedade intelectual.50 Em relação ao caso da China. 51. Enquanto em 1995 representava 66% das importações dos Estados Unidos de aparelhos de televisores. a resolução da demanda se traduziu em 2003 na proibi50. motocicletas italianas. cerâmica italiana. Uma amostra da forte concorrência entre as distintas firmas se refletiu na guerra comercial iniciada pelo governo dos Estados Unidos contra as empresas chinesas acusadas de dumping. Contrariamente a China aumentou sua participação de 3% a 8% no mesmo período. Em 2005. desenvolvimento de marcas próprias como as empresas gigantes Midea e TCL. e sua possível manufatura em um futuro próximo. agressivo investimento conjunto com capital estatal e privado. a China captou US$370 bilhões de investimento estrangeiro. convertendo-se no lugar preferido para o investimento. artesanato mexicano. por meio de seus transplantes. (ii) produção de designs próprios. A China conseguiu atrair um considerável volume de investimento estrangeiro direto 3. Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 85 . maquilas de origem Chinesa no México) etc. Entrevistas realizadas no Japão por Jorge Carrillo e Akihiro Koido entre 23 de fevereiro e 20 de março de 2004. O México perdeu mercado diante da China. os chineses desenvolveram intensamente as cópias tanto de produtos artesanais e de baixa tecnologia quanto intensivos em tecnologia – por exemplo.3 vezes em 2002. carros japoneses etc. Hong Kong e Taiwan principalmente):51 promoção e atração dinâmica de investimento estrangeiro direto. No entanto. Além disso. Diferentes indústrias com distintos níveis tecnológicos na China já estão competindo diretamente com as exportações mexicanas no mercado estadunidense. No período 1992-2002. e manifestaram ter uma vantagem comparativa para o aproveitamento do mercado norte-americano por sua localização geográfica. anunciou que dadas as práticas anti-dumping investirá na fronteira Norte do México com a finalidade de produzir para o mercado norte-americano. Gráfico 2 – Importações dos EUA: TV e outros equipamentos de vídeo Fonte: USCensus Diversas pessoas entrevistadas nas OEMs da Baixa Califórnia manifestaram que não há pressão pela concorrência chinesa no interior de suas corporações. a estabilização das de Plasma e o crescimento das LCD no mercado norte-americano. TCL. Pelo contrário. Mais ainda. No Gráfico não se pode apreciar a diminuição na participação de mercado das CRT/TVs. 86 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . Por outra parte. não há risco para o México de que se dê um êxodo massivo de plantas ou linhas de produção para a China. Neste sentido. um respiro para as firmas que disputam o mercado estadunidense. as PTVs. sendo por isso mais conveniente que o processo produtivo se realize perto do mercado de consumo final.ção de a China exportar televisores maiores de 20 polegadas. recentemente a principal empresa chinesa de televisores. Algumas empresas como Hitachi estão prevendo isto. pois aumentaram seu nível de salários. na prática. tudo parece indicar que virão plantas chinesas e taiwanesas para estabelecer-se na região. já que mencionaram não ser conveniente trazer TVs da China de mais de 20” pelos custos do transporte. o traslado das TVs de Plasma e LCD é muito delicado. Tal resolução implicou. Gráfico 3 Inícios 2003 DLP-DILA Plasma Planta LCD CRT RPJ Mediados 2004 DLP-DILA 87 Adi Systems Mexico. Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais Plasma LCD CRT RPJ . que compõe o livro de Hualde e Carrillo (2007b). Esta indústria nasce na entidade no fim dos anos 1970 com a montagem do produto final e a produção de certas submontagens e componentes. SA de CV Hitachi Consumer Products de Mexico. 2003. as dimensões da análise desta indústria vão mais além dos aspectos de fornecimento e emprego. 2003. SA de CV Panasonic (Matsushita Television and Network Systems de BC) Sharp Electronica Mexico. entre outros. SA de CV Diamond Electronics. a indústria da televisão na Baixa Califórnia foi tomada como exemplo para a análise da indústria maquiladora no México. O caso da Baixa Califórnia52 Sem dúvida. cartões de circuito impresso (PCB). primordialmente por ser a televisão um produto de “primeira linha” (front line) para o posicionamento de marcas na indústria eletrônica de consumo. Esta Seção 3.2 faz parte do capítulo “Indústria do Televisor na Baixa Califórnia e sua Transição Tecnológica” de Saúl de los Santos e Jesús Gilberto Elias. SA de CV Delta Electronics Mexico. 3. SA de CV Samsung Mexicana. como o tubo de raios catódicos (CRT). Elaboração dentro do Programa de Televisão Digital. no entanto. SA de CV Sony de Tijuana Este SA de CV Sony de Mexicali. Solo monitor PC Fonte: ProduCen. Atualização em 2004 por meio de entrevistas a empresas do setor. 52. SA de CV Benq JVC Industrial de Mexico. buzinas. jugos e sintonizadores.2. Está reproduzido com a permissão dos autores. SA de CV Daewoo Electronics * * * * * * * Nota: *. SA de CV LG Electronics Mexicali. SA de CV (Display) Sanyo Manufacturing. Estas iniciativas florescem no Estado devido a decisão de corporações asiáticas de transferir parte de suas operações dos Estados Unidos para o México. SA de CV Mitsubishi Pims. cartões de circuito impresso e sintonizadores (ProduCen. que geram uns 20 mil empregos diretos adicionais. uma produção superior a 19 milhões de unidades anuais de televisões e seis milhões de unidades de monitores para computador. sendo uma das características encontrar acesso ao recurso humano capacitado a preços mais competitivos e também mais próximo ao principal mercado mundial de televisores: os Estados Unidos. Vejamos o caso da televisão de CRT. gabinetes de plástico. controle remoto. A segunda onda de empresas chegou ao norte do México nos anos 1990 com novas plantas japonesas. 88 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . taiwanesas e coreanas que foram redistribuídas a partir dos Estados Unidos. entre outros (ProduCen. Esta información foi obtida por meio de entrevistas diretas às empresas. Informação conseguida dentro do Programa de Desenvolvimento da Indústria de Display Device que foi concluído no ano 2003 pelo Centro de Inteligência Estratégica ProduCen. Mexicali conta com quatro plantas e 25% do emprego. 53. tais como câmaras e associações de indústria. respectivamente). 2003. se articularam ao agrupamento instituições de apoio. em busca das mesmas estratégias antes mencionadas e que em conjunto atraíram um grupo considerável de empresas provedoras. capacitação. Com base em diretórios industriais e entrevistas telefônicas com as empresas. 2003). impressão de instruções. ProduCen. primordialmente de origem asiática. 54. em que a maioria das empresas locais provê insumos genéricos como buzinas. transporte de valores e de pessoal. instituições educativas. provedores de serviços logísticos. jugos. Além disso. Tijuana é a cidade com maior concentração de plantas e emprego (9% e 68%. De acordo com o estudo realizado por ProduCen. conseguindo assim uma massa crítica e a conformação de um cluster. Sanyo e Panasonic53 buscando como objetivo não só focar-se na estratégia de redução de custos.As empresas que se estabeleceram inicialmente na Baixa Califórnia foram Hitachi. 2004). O agrupamento conta com cerca de 180 empresas provedoras. a região conta com 15 empresas grandes classificadas como OEMs (original equipment manufacturers) que contribuíam com mais de 22 mil empregos diretos. 2000). mas também de encontrar novos modelos de negócio com melhores vantagens competitivas. Rosarito e San Luis Río Colorado (Sonora) com uma planta e uma geração de empregos de 6% e 1% respectivamente54 (ProduCen. materiais de empacotamento e alguns estratégicos como o CRT. e um amplo número de provedores de bens e serviços indiretos como são as agências alfandegárias. chicotes de fios. a incursão no segmento de televisores médios a grandes oferece vantagens para a região. como o caso de LCD e plasma. a existência de provedoria local é também limitada. Com o objetivo de ter níveis de competitividade mais elevados para a indústria e uma maior contribuição econômica local (ProduCen. aspecto que se dará à medida que o mercado faça a transição a essa plataforma. Para o caso de tecnologias que não são de retroprojeção. com tela. A atração de fabricantes de painéis na região requer que isto seja justificado com base no volume da demanda do agrupamento [polo]. As operações regionais do cluster fundamentalmente se dirigem à montagem de produto final e à fabricação de alguns componentes. de modo que esta única operação dá vida à indústria. vieram complementar o conjunto e tirando proveito dos conhecimentos e das habilidades que o pessoal da equipe desenvolveu. o “painel” ou a tela.2. no contexto amplo da indústria é importante ressaltar a existência de operações não associadas à manufatura. o que constitui um desafio para a consolidação do agrupamento para o futuro. enquanto se mantém um monitoramento do comportamento destas tecnologias no mercado. algumas estratégias alternativas como a fabricação regional de outros produtos com tela. design. entre outras (ProduCen. muitas das quais apresentam um componente de maior valor agregado associado em grande medida aos níveis de sofisticação em atividades de pesquisa e desenvolvimento. chega a representar até 70% do custo de fabricação. painéis de controle e máquinas industriais. Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 89 . 2003). 3. como podiam ser certos equipamentos eletromédicos. de modo que a melhor estratégia neste momento implica não destinar a uma única plataforma todos os esforços. no entanto. procurando ver quais resultariam dominantes. 2003). Planejamento e estratégia A janela de oportunidade para o cluster ainda continua sendo muito interessante. A concorrência entre as tecnologias de demonstração ainda não se definiu. serviço e logística. no entanto. A estratégia de desenvolvimento do cluster regional formado implicou o fomento de atividades complementares que previamente não tinham participação local.2. assim como a integração regional de uma cadeia de abastecimento considerável. domínio dos novos processos de fabricação e montagem.No caso de novas tecnologias. de maneira direta. sem comprometer a atenção para fatores críticos associados ao conhecimento da tecnologia. pode-se destacar a tendência de consolidação regional de fabricantes de televisores com a chegada potencial de uma terceira onda de empresas asiáticas e a transferência de linhas de novas tecnologias para as plantas existentes. em combinação com ProduCen. a indústria de televisores projeta tendências favoráveis de crescimento no mercado (Gráfico 4). Em termos de crescimento do agrupamento. das quais a região Noroeste do México poderá tirar vantagem graças à massa crítica e conhecimento que se tem dos processos associados. é importante não perder de vista que a tecnologia seguirá evoluindo e o desafio de manter-se atualizado torna-se dominante. 2005. Exemplos disso são o Diplomado em Televisão Digital que foi coordenado pelo Citedi-IPN. Gráfico 4 – Cenários da Baixa Califórnia na Indústria da Televisão Digital Inovação em produtos e processos Recurso humano Número de plantas Normatividade Mercado Produtividade e qualidade Alto Meio alto Meio Baixo Muito / Nulo Muito Baixo Meio Meio baixo baixo alto Cenário desfavorável Cenário favorável Alto Fonte: ProduCen. em 2004. permitirão alimentar com informaçãochave. O desenvolvimento de equipes de especialistas em tecnologia nas principais empresas do agrupamento fala concretamente de uma tendência para melhorar a composição da estrutura de utilização do cluster por meio do desenvolvimento de processos de maior valor agregado e a divulgação do conhecimento de novas tecnologias entre o pessoal das empresas.Os processos de prospectiva tecnológica que se iniciaram na região com a participação de instituições educativas como o Citedi. no entanto. Invariavelmente. a UABC e o Cicese. Análise de informação obtida do Programa de Prospectiva da Indústria da Televisão no primeiro semestre de 2005 90 Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais . assim como a incorporação de matérias optativas no tema de televisão digital para alunos de engenharia eletrônica por parte da UABC. os atores estratégicos da indústria e órgãos de apoio. a este respeito. para atender os requisitos de engenheiros que trabalham nas empresas do agrupamento. para que estes por sua vez realizem as adequações aos seus processos para manter o cluster na vanguarda. D. Este país ainda conserva o predomínio como principal produtor mundial de televisores. o que lhe permite obter vantagens econômicas em termos de logística para o abastecimento do mercado americano. Concluindo esta seção sobre televisores. 72-74.55 Neste contexto. senão um grupo tecnológico de alto valor agregado centrado nas imagens. 2006. o que está levando a novos acordos entre grandes conglomerados que respeitam cada vez menos o país de origem para fazer negócios entre empresas. Produtos maduros de alta tecnologia em cadeias globais 91 . Como vimos. J. “Ce que Thomson veut faire de ses télés”. Na reportagem se mostra um gráfico em que se observa que as vendas de televisores representam atualmente para a empresa 31% de suas vendas. As firmas líderes em eletrônicos de consumo se sentem também ameaçadas por novos concorrentes.. considera-se que a Baixa Califórnia deve posicionar-se na manufatura de produtos de maior valor agregado (principalmente de 32 ou mais polegadas) e nas diferentes tecnologias emergentes. Claude. World Development 34 (2):203-221. porém sua participação diminui consideravelmente diante das exportações principalmente chinesas para os Estados Unidos.Com base na análise situacional e a formulação de distintos cenários. podemos dizer que a transição em que se encontra a indústria do televisor em nível mundial está implicando importantes reestruturações nos países produtores e consumidores. A maior parte delas são grandes corporativos com uma carteira de negócios diversificada em que os televisores não costumam ser a parte mais rentável. Os tradicionais países produtores de televisores competem não só por manter sua participação nos seus mercados de exportação. países como o México conseguiram manter sua importante participação. PETERS. Como explicava a propósito das reestruturações do grupo francês Thomson. 55. 19-2 junho de 2003. Referências bibliográficas BAIR. Além disso. mas nos próprios mercados domésticos. a geografia da produção também se vê afetada pelo processo de globalização e pela emergência de novos mercados de consumo. p. As cotas de participação por firma diminuem. como no caso da China. Global commodity chains and endogenous growth: Export dynamism and development in Mexico and Honduras. O grupo – mencionava uma revista – terá que convencer a Bolsa de que não é um simples fabricante de eletrônica de consumo. enquanto o “Tratamento da imagen” é 38%. E. Le nouvel observateur. SOULA. novas empresas asiáticas começam a aparecer na região fronteiriça do norte do México. 1993. Local Clusters in Global Chains: The Causes and Consequences of Export Dynamism in Torreon’s Blue Jeans Industry. México: Universidad Autónoma México. (Coords. p. aprendizaje y políticas. Comercio Exterior 47 (9):747-758. 2004. HUALDE.. 22 de mayo. Tijuana: El Colegio de la Frontera Norte.. Num. —. A.. —. 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A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 97 . é importante constatar que há empresas e regiões que sobrevivem sem inovar.” (Ricardo. 2001:30. it would enjoy an additional advantage.A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia56. Assim.. who made the discovery of the machine. MOWERY e NELSON. 57. atividade inovadora e desenvolvimento local: 45550. De modo especial agradecemos a nosso colega José Luis Sanpedro as contribuições à parte teórica. or who first usefully applied. 58. de acordo com Cooper (1991). Contudo. e c) que os fatores que determinam a apropriação das novas tecnologias incidem de maneira diferenciada. inclusive. Esta contribuição ao desempenho econômico realizado pela inovação já se reconhecia. aumentos de produtividade e competitividade. talvez mais polêmica ou com um grau menor de generalidade que a anterior. observam-se matizes importantes na literatura não só a respeito do próprio conceito de inovação. financiado por Conacyt. Chapter XXXI. mas também das distintas classes de inovação ou dos fatores que propiciam e/ ou dificultam os processos inovadores. 57 Alfredo Hualde Redi Gomis Introdução: A importância da inovação nas economias contemporâneas Existe um acordo generalizado sobre o papel da inovação nas economias contemporâneas para conseguir crescimento. ed. Algumas das ideias foram debatidas em seminários internos. assim como a percepção das empresas sobre a inovação que realizam. apesar do tamanho relativamente reduzido do setor. o ano de 2001. Os dados do mercado. De acordo com os objetivos propostos. têm papel secundário.que se dá a inovação são diferentes segundo setores econômicos e. em primeiro lugar. alguns temas básicos sobre o conceito em si de inovação. é importante porque as PMEs de software vêm tentando cooperar desde. BLONDEL. A experiência baixa californiana. aproximadamente. A metodologia utilizada não permite aprofundar os aspectos organizativos internos das empresas para examinar. inclusive. De acordo com o que apresenta uma pesquisa realizada com 30 dessas empresas. assim como os atores que intervêm no processo inovador. As inovações de produto e serviço se detectam descrevendo o tipo de especialidade produtiva. um complexo empresarial composto. no entanto. as formas em que esta se produz. as empresas encontram dificuldades para avançar em suas capacidades organizativas. Finalmente. parece existir uma alta taxa de inovações incrementais. desenvolvemos à luz dos resultados obtidos. apresentamos os resultados da pesquisa para a indústria de software da Baixa Califórnia. principalmente. O cluster é enfocado a partir de uma perspectiva empírica. examinando um agrupamento de empresários e instituições que propõem o desenvolvimento do setor atuando de maneira conjunta. 1997. 98 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . por exemplo. Neste artigo trata-se de avaliar até que ponto o cluster pode ou não ser considerado como um conglomerado inovador e se a organização coletiva contribui para o desenvolvimento dessas inovações. enquanto outros atores e instituições. uma serie de reflexões expondo alguns temas importantes para a pesquisa futura. pequenas e médias empresas. Neste artigo. o tipo de rotinas que ocorre e a possível ruptura das mesmas. enfocamos o tema da inovação a partir de diferentes ângulos: as inovações organizativas se documentam descrevendo e analisando tanto o tipo de organização que apresentam quanto o nível de certificação em que se encontram. porém possibilita analisar os resultados significativos sobre o tema da inovação nas empresas de software da região. dentro de um mesmo setor também se advertem diferenças (STORPER. tanto nas empresas quanto no seu entorno. E desde 2004 vêm operando com certa coordenação em um cluster formalizado. as fontes de inovação e as tecnologias que utilizam. por micro. 2002:135). sugerimos. Os clientes são a fonte mais importante de inovação. como as universidades ou os centros de pesquisas. em segundo lugar. indicam que tais inovações se dão em produtos ou serviços. principalmente local e regional. e a inovação. 2006:22). portanto. certeza sobre sua identidade como tal. não prevê as dificuldades da aquisição e transferência do mesmo. além disso. A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 99 . Para chegar à fase de comercialização ou à valorização do produto. nunca se comercializam como um produto ou um serviço. 2002). tal como destacou Schumpeter e. Podem-se ter novas ideias que. De acordo com Tanguy (2000:99). Se a inovação é muito 59. arquiteturas organizativas. desde os anos 1970. cit. canais de comunicação estabelecidos que lhe dão. Citando Schumpeter. por VILLAVICENCIO. A rotina pode constituir um dispositivo eficaz de resposta a um problema. a inovação ocasiona na empresa ajustes e adaptações. é necessário dispor de uma série de recursos humanos e organizativos: a criatividade.59 Pela razão anterior. 2002:134). 2006:226. A inovação tem um significado econômico que a diferencia da invenção. TANGUY. os economistas da escola evolucionista. Por outro lado. Villavicencio critica a noção de rotinas pelas seguintes razões: a) não permite conhecer o processo de transformação da organização. b) segundo Hatchuel não distingue entre informação e conhecimento e. Alter e Poix (2007:7-8) apontam que a inovação é um processo coletivo que se dá em um contexto de incerteza. o processo que viria a alterar tais rotinas. porém não assegura que os indivíduos ponham em jogo todas as suas capacidades para resolvê-lo (Villavicencio. entretanto. em suma. 1982.1. a rotina é uma construção coletiva de indivíduos que são interdependentes e que no curso de suas experiências elaboram regras simples e duráveis (transmitidas aos novos que chegam) que guiam a ação de cada um. a inovação é uma função econômica assumida por empreendedores que aceitam um risco para conseguir do mesmo uma vantagem competitiva (Blondel. pelo que constitui um repertório de respostas eficazes (NELSON e WINTER. Inovação na empresa e no território Em um primeiro aspecto a ser levado em consideração. A ideia central é que as rotinas encarnam a maneira na qual se resolveram os problemas de uma empresa no passado. a inovação nas empresas é uma questão complexa porque “trata-se essencialmente de aprender a organizar a difusão e a criação de conhecimentos na organização. a inovação supõe uma alteração das rotinas das empresas que representam a forma “normal” do funcionamento das mesmas. Para Villavicencio (2006:223). uma reorganização que altera as rotinas preestabelecidas. o qual permeia todo o processo inovador em seus diversos matizes. A empresa encontra sua eficiência a partir de uma série de procedimentos. e c) a concepção de Nelson e Winter não contempla a possibilidade de utilizar concorrências em situações não previstas. 2000). As rotinas são a cristalização dessas formas de atuação recorrentes. assim como a aquisição de conhecimentos provenientes do entorno institucional”. a capacidade de resolução de problemas e a gestão do conhecimento são requisitos prévios para que o produto seja inovador no sentido econômico (FORAY. (2003). atualmente se argumenta que podem ser consideradas inovações outro tipo de transformações no processo ou no produto que não se deriva de maneira direta da atividade de I+D. 2002:114). sobretudo. Em contrapartida. diferentemente da proposta evolucionista. 100 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . ao descrever políticas de inovações para as PMEs nos Sistemas Regionais de Inovação europeus. Por isso. Pelo seu grau de ruptura com o passado.radical ou a empresa muito rígida. A diferença entre inovações radicais e incrementais permite incluir nesta última categoria a maior parte das inovações de países em desenvolvimento. então. se encontram em soluções de aplicação ou programas de software. Tradicionalmente. as inovações radicais na indústria de software se localizaram nas novas linguagens e em algumas ferramentas de programação. Hobday ( 2000:344) assinala: “Many innovations occur from behind the technology frontier defined by leaders in the advanced countries” e acrescenta: “Many firms have grown and succeeded as a result of innovations new to the company. Uma inovação incremental pode ser a fabricação de um produto determinado. é possível matizar também a ideia da acumulação do conhecimento. É importante. na medida em que os inovadores podem modificar as relações de poder nas organizações. Nesse sentido. porém. Nessa medida. 60. alguns autores insistem na ideia do conflito como um fator a ser levado em conta nos processos de inovação. embora tal produto já tenha sido introduzido em mercados de outros países. although not new to the world”. as inovações se dividem em radicais e incrementais. pela primeira vez. em um mercado específico. nos algoritmos e lógicas de programação. na comercialização e em outras atividades.60 Se bem que esta classificação tenha a virtude de precisar novidades surgidas da prática cotidiana das empresas. por suas consequências econômicas. na fabricação. 2006:223). os autores que estudaram o tema concebiam a inovação como uma mudança estrutural que procedia das atividades derivadas do trabalho realizado no Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (VILLAVICENCIO. As empresas não são estruturas rígidas. já que certos conhecimentos anteriores são questionados na medida em que não resultam úteis no caminho da inovação (TANGUY. mas sim organizações nas quais interagem atores com visões e projetos diferenciados que tratam de negociar ou impor seus próprios pontos de vista. apontam que a inovação nas PMEs pode dar-se em I+D. As primeiras introduzem uma novidade que supõe uma ruptura com os produtos ou processos anteriores. Um segundo aspecto a ser examinado na questão das inovações tem a ver com seu grau de quebra com o anterior. corre-se. calibrar a profundidade da inovação. Poucos casos. o processo de inovação pode vir acompanhado de conflitos. tecnológicas e organizativas. Landabaso et al. dependem fundamentalmente de inovações no âmbito da ciência aplicada. No entanto. FORAY. BLONDEL. considera-se que as empresas com maiores A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 101 . para outros a inovação é um tema que afeta a toda a organização e surge da interação entre seus distintos membros (NONAKA e TAKEUCHI. Cada vez mais setores da “cultura epistêmica” da ciência para a produção de conhecimento está crescendo em importância. 2004:51. Entretanto. O terceiro. Há autores. Entretanto. ao atribuir o caráter de inovadora a qualquer mudança ou mutação nos processos de produção (BLONDEL. a indústria farmacêutica é um setor mais dependente de modo direto da ciência básica. 1988) é outra fonte importante de inovação. o território é considerado um ator por si mesmo no que se refere à inovação. marca uma tendência crescente do envolvimento dos “usuários”. No seio da empresa também há diferenças a respeito do papel que ocupa cada um dos estratos que atuam nelas. Uma parte importante da inovação se localiza. a organização em rede das empresas e dos sistemas produtivos propicia a importância crescente de outros atores. Além da compreensão da inovação na empresa e nas formas de aprendizagem que se dão nela. O contato com os clientes ou usuários (VON HIPPEL. 2002:133). o risco de trivializar o sentido da inovação. 1995). arquiteturas comuns e plataformas. normas. Dado que a empresa não desempenha. Estes autores destacam a grande importância do aprendizado e da gestão do conhecimento nas empresas como um assunto que compete tanto aos engenheiros quanto aos supervisores e trabalhadores de base. O segundo. O primeiro tem a ver com a natureza crescentemente científica dos métodos de pesquisas. como calçado e outras. principalmente instituições de âmbito distinto. e entre as instituições destacam as que pertencem ao sistema de inovação científico e tecnológico. na empresa. como foi dito. outras atividades produtivas dependem para a inovação de desenvolvimentos puramente tecnológicos. É necessário entender que as relações com o entorno são diferentes segundo os setores. Um terceiro aspecto a ser levado em conta tem a ver com as fontes de inovação. cuja relação com o sistema científico-tecnológico é distante ou inexistente (MALERBA. certamente. 2002:133). a complexidade crescente e a modularização da arquitetura industrial faz mais crítica à produção de “conhecimento integrativo” como modelos. Por exemplo. Foray (2004:67-68) menciona três modelos críticos de inovação na criação do conhecimento. nem funciona de maneira isolada. 2005.no entanto. enquanto as indústrias tradicionais. que localizam as inovações exclusivamente nos departamentos de I+D. instituições. e uns terceiros naqueles em que se percebe uma combinação de ambos elementos. EDQUIST. Alguns autores designaram tais entornos como sistemas de inovação. Deste ponto de vista. A ideia de competitividade sistêmica ou eficiência coletiva alude a este conjunto de atores que cooperam de forma mais ou menos coordenada em um entorno territorial. em uma economia global cada vez mais interconectada. tecnológicos. O território não é comparável a uma região político-administrativa ainda que possa coincidir com ela. 1998). 102 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . distinguem entre: Sistemas “localistas” são aqueles baseados em pequenas empresas que podem fazer parte de redes de locais fortes. Nos Sistemas Regionais de Inovação existem alguns mais abertos ao exterior. Sistemas “globalizados” são aqueles dominados por firmas multinacionais que estão fortemente ligados aos mercados globalizados. 2. financeiros) que interage em distintas dimensões espaciais. No entanto. Entre eles. muitos estudiosos puseram ênfase nos entornos locais ou regionais. Cooke et al. O território como ator inovador Os diferentes estudos sobre os sistemas produtivos e a inovação destacaram o papel do entorno em que se desenvolvem as empresas. Desde a contribuição pioneira de Lundvall que caracterizou os Sistemas Nacionais de Inovação.possibilidades de inovar são as que se encontram em redes e/ou sistemas que lhes proporcionam ferramentas de aprendizagem que não encontram nos limites de sua própria organização. Sistemas “interativos” são os que contêm um equilíbrio de ambos. a corrente que propõe como conceito “Os Sistemas Regionais de Inovação”. enquanto outros estão baseados nos recursos locais. A ênfase no local e no regional provém de uma tendência para a descentralização observável há várias décadas nas economias europeias. 1997. Um entorno favorável à inovação consiste em um conjunto de atores. que atuam de forma coordenada em um marco coerente de ação (STORPER. o território é o entorno de mobilização de recursos (humanos. empresas. 2005) foram complementados com estudos em países latino-americanos. no entanto. em certo sentido. de igual modo. nem exclui o papel dos Estados-nação. Cooke (2004:4-5) os denomina Sistemas Regionais de Inovação Institucionais. nem têm as mesmas implicações em todas as atividades econômicas. expõe um conjunto de dilemas interessantes surgidos do trabalho empírico realizado em 12 sistemas regionais de inovação ao redor do mundo: O investimento em educação e capacitação. se destaca em geral uma maior debilidade das instituções e uma falta de colaboração entre as empresas (BERCOVICH e SWANKE. Isto é assim no caso da Índia e. As regiões não são regiões empreendedoras quando A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 103 . a indústria tenha sua sede em cidades específicas. matizar-se. Ainda que. aqueles constituídos desde a base (Grassroots). 2005). Não resulta uma panaceia.Outro eixo de enfoque para analisar o RIS é o da governança (governance). e dá como exemplo Gales. mas também as redes globais ou internacionais que utilizam uma parte dessa mão de obra para buscar nichos de mercado. Se nos sistemas são importantes o governo e outros atores públicos. pesquisa e desenvolvimento. os constituídos em redes e os dirigistas. Ou melhor. ARORA e GAMBARDELLA. As experiências internacionais mostram resultados complexos. em que distinguem. Intuitivamente. Para estes autores. 2001). Aos sistemas em que os atores privados são dominantes. poderia desenvolver-se em função de redes globais de tipo virtual. 2003. que corresponderia à variedade anglosaxã do capitalismo. em um livro coordenado com Cooke. Heidenreich (2004:366). 2003. Concretamente. negociar investimentos e fazer acordos com os processos de outsourcing. Os estudos europeus ou estadunidenses (SAXENIAN. uma vantagem competitiva de grande importância nos países estudados é a aquisição de concorrências organizativas por parte das empresas. os efeitos das derramas não parecem ter uma importância muito clara. No caso destes últimos. transferência de tecnologia e marketing não “produz” automaticamente inovações. ele os considera Sistemas Regionais de Inovação de Empreendedores. o que destacam estes estudos é a importância de uma mão de obra qualificada nessas cidades. YOGUEL. A relevância dos entornos regionais deve. na Irlanda (ARORA e GAMBARDELLA. no entanto. no caso do software é importante saber se os entornos locais têm relevância para o desenvolvimento das empresas. intimamente ligada às TICs. poder-se-ia pensar que esta indústria. 1999-2000. CASSIOLATO e LASTRES. efetivamente. Em relação ao que foi dito é necessário considerar o papel diferenciado dos atores públicos e privados. os investimentos prévios. 2006:61). No México. O paradoxo espacial: enquanto a distância está perdendo importância. com custos geralmente altos. as inovações são arriscadas. 3. por outro lado. A inovação na indústria do software: entre a produção artesanal e a produção estandarizada No fim dos anos 1990. O software de embalagens é uma pequena parte da indústria de software em uma indústria na qual dois terços do esforço em desenvol- 104 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . as “ordens regionais” contribuem essencialmente para o potencial inovador das firmas regionais. Por um lado. se calcula que dos quase 323 mil trabalhadores em atividades de software apenas a sexta parte – cerca de 54 mil empregados –. Esta presença generalizada do software no tecido produtivo leva a considerar que é uma tecnologia genérica. As redes interorganizacionais. Há tensão entre a ideia de sistema (estabilidade) e o processo de inovação (ligado à incerteza).lhes falta um número suficiente de PMES e empresários criadores em novos campos tecnológicos. Apesar do benefício de trabalhar em redes. Por outro lado. estabelecendo regras de interpretação e conduta. ao fornecer “bens coletivos locais para a concorrência” podem ajudar a superar problemas de ação coletiva. a contribuição das redes de cooperação para a inovação regional pode perigar devido a efeitos do fechamento (lock-in) de redes estabelecidas ou. o sucesso econômico dos distritos de negócios metropolitanos aponta o papel-chave da proximidade espacial e a comunicação pessoal. conforme visto. os hábitos e as qualificações permanecem desvalorizadas pela inovação. e resultados incertos. 2000). sempre têm de ser estabilizadas por ordens de tipo regional (regional orders) ou sistemas como os mundos de produção baseados em convenções coletivas que reduzem a incerteza. Alguns autores mencionam que se trata de um bem intermediário e outros o caracterizam até como uma commoditie. as concorrências. O dilema da regionalização e a globalização determina a relação de grupos dominantes globalmente orientados e pequenas companhias orientadas para mercados regionais e nacionais. estratégias de negócios individualistas. Athreye (2005:7-8) menciona que a função do software na economia digital é similar a do setor de bens de capital em uma economia baseada em tecnologias mecanizadas. 72% dos trabalhadores de software nos Estados Unidos estavam empregados fora do setor especializado (EISCHEN. trabalhava em empresas especializadas (MOCHI e HUALE. e proporcionando recursos coletivos. isto é. Por outro lado. O segmento de software em pacote apresenta 61. às suas necessidades particulares. é simplesmente o meio mais recente para o armazenamento do conhecimento. Acrescenta. Para este autor o software. Ainda que as soluções padronizadas venham com o tempo ganhando terreno na indústria. mesmo as empresas que adquirem no mercado produtos de software como um ERP (Enterprise Resource Planning) como o SAP61 requerem que sejam adaptados . capaz de integrar a informação produzida pelos diferentes departamentos de uma empresa. No entanto. do que produzir um novo software.vimento de software se emprega mais para manter e fortalecer o código de software existente. 1997:8) –. O custo para os clientes é menor neste último caso do que no primeiro. A fabricação de produtos em série permite. E muito mais importante ainda é a habilidade do software para emular cada um destes meios de conhecimento (idem). um produto e uma indústria. Esta peculiaridade da indústria leva Eischen (2000:5) a assinalar que o software é um processo. a velocidade para atualizar-se. os desenvolvimentos de software se farão respectivamente. seu traço distintivo é a persistência. o disco rígido [hardware] e os libros. assim como os serviços relacionados à indústria do software (treinamento. É precisamente no terreno dos desenvolvimentos sob medida. tanto que o software sob medida se baseia em uma interação frequente com o cliente e em uma adaptação sucessiva às necessidades do mesmo. Este é um complexo e custoso sistema produzido por uma empresa homônima de selo alemão. quanto maior é o grau de estandardização do produto – “uma função do número de usuários que possam resolver seus próprios problemas com o mesmo software” (BITZER. o cérebro humano. A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 105 . 1998). mais cresce simultaneamente a necessidade das adaptações individuais para satisfazer necessidades específicas que as soluções padronizadas não podem considerar a priori. tal como o DNA. suporte técnico.). distingue dois tipos de processos de desenvolvimento de software. por seu lado. o tipo de atividade condiciona a organização. pois o mesmo é compartilhado por todos os que adquirem o produto final. maior divisão nas empresas e nos processos de subcontratação. tomando como critério diferencial o plano que persegue a empresa que o realiza. Bitzer (1997). que comparado a esses outros meios de conhecimento. a flexibilidade deliberada e a aplicabilidade para a ação. em princípio. manutenção e atualização etc. em que floresceu a terceirização [el offshore outsourcing]. no entanto. Entretanto. Portanto. sob medida ou estandardizados. Assim. se o software resultante de tal processo de desenvolvimento se vende a um só cliente ou a vários conjuntamente. ainda mantêm sua importância os desenvolvimentos “a la medida” ou “a la carta” (CUSUMANO. neste sentido. foi criticada e matizada por alguns autores. no entanto. único e irrepetível. as certificações CMM criadas pelo Software Engineering Institute. é que cada vez que se inicia um processo. Duas delas são importantes: Em primeiro lugar. na medida em que os requerimentos dos clientes são em princípio distintos. Esta escassez de “princípios de engenharia” na produção do software ocasionou problemas de entrega a tempo. Se fosse assim. em geral. um commoditie perde o caráter original. 2006). têm como proposta o objetivo de documentar os processos e. (2006) e Spice (Software Process Improvement and Capability Determination) (CASTILLO. se parte do zero. por seus inconvenientes práticos: grande investimento de tempo e dinheiro. A explicação mais 106 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . e incerteza com respeito a seus resultados. mal uso de recursos. estandarizar e racionalizar os processos devido à característica de criatividade (individualidade) que engloba o software. para converter-se em um produto estandardizado e até certo ponto banalizado. pelo menos em suas fases de design e análise de requerimentos. um bem intermediário para a economia em geral. 2006:217). 2007:42). com independência da especialidade das empresas e do grau de complexidade do produto. O tema de caráter artesanal e da escassa produtividade parece ser contraditório com a ideia de que o software é um commoditie. reiterou-se que uma das principais dificuldades da indústria do software foi industrializar. Em segundo lugar. Esta ideia. avaliar as capacidades das empresas mediante uma classificação em cinco níveis. pouca previsibilidade e. pelo que se disse que é modelo de tipo pós-fordista (não taylorista). No entanto. carências de produtividade na indústria. porque não se pode usar os códigos empregados em um produto ou processo para outro distinto. Há outras certificações para software nas ISO: Mochi. deste modo. As certificações CMM receberam diferentes tipos de críticas. Um dos problemas.maiores exigências de investimento e maiores barreiras à entrada de novas empresas. no desenvolvimento de software sob medida. Há várias ferramentas que tendem a racionalizar de maneira mais significativa os processos de software de modo que seu desenvolvimento seja mais previsível tanto em tempo quanto em custo. artesanal. o que permite uma especialização dos diferentes grupos de trabalho e uma produção estandardizada e em massa (MOCHI e HUALDE. é necessário considerar as tendências recentes ao trabalhar por módulos. Essa característica traduz que a organização nas empresas de software tende a reforçar o trabalho em equipe. Chama atenção que países como Irlanda só tiveram há alguns anos uma empresa certificada no nível 4 (MOCHI. No entanto. Por isso. quase três vezes mais que aquele (MOCHI e HUALDE. Por outro lado. a presença de grandes empresas que podem transferir métodos de organização. podemos considerar fonte de inovação a experimentação com formas associativas (cluster. O outro aspecto é o tema das inovações de produto e/ou serviço. instalação e manutenção. é interessante examinar as possíveis fontes de inovação organizativa. 2006). especialmente em software sob medida. a maioria delas estrangeiras e algumas nacionais. os projetos de Prosoft destinados a isso.razoável que para esta diferença de pontos de vista é que o software deve ser considerado como um setor bastante heterogêneo. a relação com os clientes. as ferramentas que se utilizam para isso e a forma em que o entorno pode contribuir para o resultado. dos quais o software em pacote alcançou os US$817 milhões e os serviços somaram US$2.311 milhões. A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 107 . porém não se especifica se se refere unicamente ao software em pacote. instituições públicas e grandes empresas não especializadas em software 62. formas de subcontratação (exemplo. integradoras).000 bilhões. várias centenas de PMEs desenvolvem principalmente serviços sob medida. mas também porque os graus de complexidade dos mesmos variam substancialmente. o software desenvolvido pelas empresas especializadas tem um valor muito menor do que o elaborado pelas universidades. o mercado mexicano é o segundo em importância na América Latina. A indústria do software no México No México. de maneira significativa. suporte. SAIC na Baixa Califórnia). as inovações organizativas são muito importantes. O mercado de TIC no México chegou. As características assinaladas anteriormente do processo de software têm várias implicações para o tema da inovação: Por um lado. 4. Em princípio. que é de 250 funcionários. Em ambos os casos é muito importante a relação com o mercado e. a US$8. Junto a um punhado de grandes empresas. e detectam-se grandes desigualdades entre elas. quanto na de atualização. ultrapassou ligeiramente os US$1. o mercado de software é reduzido quando comparado com os principais países industrializados ou com Brasil. Além disso. segundo o Anuário de Prosoft. não só porque há produtos e serviços.254 milhões. como apontam vários autores.62 As empresas têm um tamanho bem inferior ao da média internacional. em 2005. e os processos de certificação. Os clientes são a fonte de inovação. No ano de 2007 o mercado de software. convém levar em conta que a inovação se encontra tanto na fase de produção. O Prosoft. significa que o governo mexicano passou de uma atitude passiva de laissez faire a desenhar uma política de acompanhamento.5 14. Finalmente.4 2. Além disso. ou “maridagem” (husbandry).4 51. iniciar projetos e criar redes. Anuário do Prosoft (5 de julho de 2007) A peculiaridade da composição do gasto é que na medida em que foi amadurecendo o programa. Para desenvolver a indústria.(MOCHI e HUALE. em quantidade e qualidade convenientes. 2004). Tal quantidade de estratégias dificulta avaliar as prioridades reais. O Prosoft tem um significado importante porque conseguiu pôr em contato as empresas.7 Academia 5716130 18372097 32721063 56809290 Academia 2. embora existam exemplos interessantes desta última modalidade.3 2. 108 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . 2) Educação e formação de pessoal competente no desenvolvimento de software.5 IP 60417130 432877722 727696671 1220991523 IP (empresas) 24. sobretudo no que se refere à dualidade mercado interno versus mercado externo. 3) Contar com um marco normativo e promotor da indústria. Investimento total em nível nacional. 4) Desenvolver o mercado interno. o Prosoft. O Prosot foi aumentando o montante de investimentos entre os anos de 2004 e 2006. que vão desde o diagnóstico até o apoio de projetos de desenvolvimento das empresas63.0 25. começando com aproximadamente US$25 milhões. permitiu aos empresários desenvolver projetos para remediar as deficiências organizacionais e tecnológicas. 7) Promover a construção de infraestrutura física e de telecomunicações (Ministério de Economia. 2006). com sete estratégias. 5) Fortalecer a indústria local. 2004-2006 (pesos). o que triplicou em 2005 para US$75 milhões e dobrou novamente no ano seguinte até alcançar uns US$140 milhões. o Ministério de Economia elaborou em 2002. a iniciativa privada (empresas) assumiu mais da metade do investimento realizado. com suas limitações. O cálculo em dólares se obtém de maneira aproximada dividindo a quantidade em pesos por dez. o software proprietário é mais importante que o software livre.3 Total 249522919 753753020 1408494543 2411770482 Total 100 100 100 Fonte: Ministério de Economia. Em certo sentido.2 57.64 Tabela 1.5 Estados 43689659 110010083 232279662 385979404 Estados 17. 2006. 64. assim como melhorar os processos de produção das empresas. 2004 2005 2006 Total 2004 2005 2006 Prosoft 139700000 192493118 416797147 747990265 Prosoft 56. para efeito deste trabalho. é necessário destacar que o Programa teve um projeto regional63. As estratégias em questão são as seguintes: 1) Promover as exportações e a atração de investimentos. ORDÓÑEZ. 2002).5 29. com as empresas (PARTHASARATHY.6 16. 6) Alcançar níveis internacionais em capacidade de processos. surgem em sua maioria nos anos 1990. ainda que sua participação em relação a outros estados foi perdendo relativa importância (ver anexo). da mesma maneira. de acordo com os objetivos deste trabalho. com todos os inconvenientes que isto supõe em termos de recursos e de organização. o traço mais importante do setor é que está formado principalmente por empresas muito pequenas. a Baixa Califórnia ocupou os primeiros lugares junto ao Distrito Federal. as ineficiências associadas à escala reduzida e o baixo poder de mercado. Trata-se. Oitenta por cento das empresas têm menos de 15 empregados e. elementos importantes nos processos propensos à inovação. deficiências organizativas e limitações derivadas de seu tamanho. concentradas fundamentalmente em Tijuana e Mexicali. foram elementos que favoreceram os contatos entre eles e o estabelecimento de redes sociais que também contribuiu para o processo da criação do cluster e ao posterior estabelecimento de diversas empresas integradoras (HUALDE e GOMIS. Em efeito. O Ministério de Economia fala de 23 clusters nos 32 estados da República mexicana. Também se utiliza informação obtida mediante entrevistas realizadas com empresários do setor. Porém. tem de se levar em conta que “a experiência demonstra que as PMEs que se agrupam em clusters podem ter sucesso e competir com as grandes empresas” (BERTINI. 5. E é por isso que as mesmas consideram agentes débeis pela escassez de recursos humanos e financeiros. em geral. 2007). o aspecto mais relevante a ressaltar. tem a ver com a formação profissional deste coletivo fundamentalmente masculino entre 40 e 50 anos. O elevado nível de instrução formal. Jalisco e Nuevo León. Os dados que expomos a seguir provêm de uma pesquisa terminada em janeiro de 2006 a 30 empresas que desenvolvem os softwares na região. as PMEs habitualmente têm dificuldades para ter acesso à informação necessária para desenvolver inovações. de um conjunto composto por microempresas. 2000:107). e seu crescimento continuou de forma regular durante a segunda metade dessa década e na atualidade. Na distribuição de recursos. nenhuma chega aos 100 empregados.territorial baseado na existência de aglomerações de empresas que o próprio Programa denominou cluster. 65. insuficiência de pessoal dedicado a isso. a afinidade temática dos estudos realizados e a aproximidade institucional das casas de estudo. devido a problemas de custos.65 Em relação aos empresários. Quanto às empresas. A inovação na indústria de software da Baixa Califórnia As empresas de software da Baixa Califórnia. das restantes (20%). A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 109 . em linhas gerais. Tal polivalência de funções se deve. pode-se dizer que. nenhuma delas surge a partir de créditos bancários ou capital de risco. palpável nas pequenas empresas. Esta problemática é percebida pelos próprios empresários. consequentemente. Por último.As limitações financeiras destas empresas de software são similares as de outras PMEs. senão fundamentalmente a partir de poupanças pessoais e. passando pelo design. Esta estrutura flexível é. 110 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . a necessidade de destinar pessoal de maneira ativa para a função de buscar clientes e ampliar mercados. em quem se observa uma preocupação pelos aspectos organizativos de sua empresa. seja por cumprir os prazos de determinados pedidos. Avance. indicam que lhes resulta dificultoso dar este passo seja por incapacidade dos outros empregados. têm uma estrutura interna flexível. Nas entrevistas. em termos de importância. de empréstimos familiares. às dificuldades por parte dos empresários para responder de forma organizada à atividade produtiva. até a instalação dos programas na base do cliente. –. em menor medida. o que lhes daria acesso a recursos extraordinários. por exemplo. Embora seja certo que em software não se requer um forte investimento para iniciar operações. No entanto. A metade vende em uma categoria comprendida entre os US$100 mil e US$500 mil. A pesquisa revela que nestas empresas se privilegia. os donos mencionam. quando aumenta a demanda. tampouco recorrem a programas especializados de apoio governamentais – como Fundo PME. por falhas organizativas. o suporte técnico etc. sobretudo. No que diz repeito à sua organização interna. e quase a terça parte está abaixo deste nível. Sessenta por cento das empresas entrevistadas responde que esse é o tipo de organização predominante em sua empresa. principalmente. No entanto. a distância entre instituições financeiras e empresas parece ser uma característica generalizada. o dono tem o propósito de dedicar-se a essa atividade. e. principalmente. o trabalho em equipe. abandonando a favor deste propósito qualquer trabalho técnico. ao trabalho de equipe se soma uma diferenciação formal pouco clara dos postos de trabalho. Fundos Mixtos etc. Nisto não se diferenciam de outros setores mais tradicionais. O motivo é que 90% das empresas desconhece tais programas com exceção do Prosoft ao qual se outorga uma avaliação positiva. Nafinsa. em que se intensificam os processos de comunicação e interação das equipes de desenvolvoimento de software. uma tendência a procurar formas mais eficientes para organizar o trabalho. Para tal. desde a análise de requerimentos. diante de 30% que organiza as tarefas de maneira individualizada. a codificação. Apenas um quinto das empresas têm vendas anuais acima dos US$500 mil. Os que desenvolvem costumam efetuar diferentes funções. aqueles que aspiram a que seus serviços sejam subcontratados nos Estados Unidos. O Modelo de Processos para a Indústria de Software (MOPROSOFT) tem por objetivo proporcionar à indústria mexicana.1. também não iniciaram ainda o processo para consegui-lo. Atividade econômica das empresas: produtos versus serviços Um elemento relevante para a discussão acerca da inovação nas empresas de software se relaciona diretamente com a atividade econômica que reali66. no entanto. Do mesmo modo. os empresários explicam que a certificação contribui para elevar a confiança do cliente no serviço e. 5. sublinhada por aqueles cuja atividade está fundamentalmente orientada aos serviços. a organização coletiva no cluster serviu para capacitar as empresas em processos de negócios orientados para a certificação. De qualquer modo. Nesse sentido. a certificação ganhará em importância se a norma mexicana Moprosoft se converter finalmente em um requisito exigido pelas dependências governamentais para seus provedores de software. Na mostra se observa que poucas empresas (17%) contam com algum tipo de certificação. Não ocorre o mesmo. sendo mais úteis para as grandes (CUSUMANO. sobretudo. pode ser um elemento importante. tais como ISO 9000:2000. tal como está sugerido. a questão da certificação. Esta opinião é. De qualquer forma. portanto. e a melhor concentração de pessoal na melhora dos processos produtivos e de negócio. teria de levar em conta o fato de que. SWEBOK entre outros. Entretanto. A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 111 . 2004). fundamentalmente na norma mexicana Moprosoft. embora a certificação seja um indicador de consolidação estrutural. apenas a terça parte se encontra atualmente em processo de adquirir alguma certificação. apesar de que não cobrir a totalidade da atividade desenvolvida nestas empresas. CMM-SW. e às áreas internas dedicadas ao desenvolvimento e manutenção de software um conjunto integrado das melhores práticas baseadas nos modelos e padrões reconhecidos internacionalmente. pois.A certificação dos processos de desenvolvimento. com as empresas que ofrecem principalmente produtos. e de maneira especial.66 A maioria (68%) das que não contavam com certificação alguma. segundo os empresários. as credenciais da empresa. a qualidade do produto é a principal carta de confiança diante dos seus clientes. ISO/IEC 15504. duas delas em CMMI Nível II. provavelmente contribuiu para aliviar suas insuficiências de organização. observada nos processos inovadores. Nas entrevistas. PMBOK. na medida em que contribui para melhorar a organização dos procedimentos de trabalho dentro das empresas de software. A maior parte destes cursos foram financiados no ano 2005 pelo Prosoft. estes sistemas têm vantagens diferenciadas segundo o tipo de empresas. com 16% do total. Se houvesse alguma. Entretanto. Desenvolvimento sob medida. o turismo – como hotéis e restaurantes –. De fato. integração e manutenção.zam. 5. Características do mercado Diante da falta de dados que permitissem estabelecer comparações retrospectivas.2. as empresas do setor se orientam ligeiramente para os serviços de software. por isso uma característica importante a ser destacada é que tanto seus produtos quanto seus serviços estão destinados essencialmente aos consumidores corporativos. inclui não só a venda dos mesmos. fundamentalmente orientadas ao mercado das empresas maquiladoras. controle de inventários. pontos de vendas etc. seria para o mercado da indústria maquiladora. Como clientes importantes se destacam as maquiladoras. em escrever códigos para soluções desenhadas por outros. com 30% do total. os tipos mais importantes são os seguintes: Serviços em produtos não próprios. e as agências do governo. produtos e serviços na mesma unidade de negócios. Neste sentido. e incluem soluções bancárias e outras destinadas aos funcionários do governo. que representam 24% do total. a região vai em direção a uma especialização que tende à consultoria. com 23% do total. Em relação aos serviços. por exemplo. As aplicações verticais. destacando-se entre eles outras empresas. Consultoria. com 28% do total. Os produtos de software mais importantes são: Software de gestão. Os programas de Comércio exterior/Alfândegas/Impostos. não indivíduos. a característica mais destacada é a combinação de ambos os tipos de atividades. não há uma especialização clara. são fundamentalmente orientados ao mercado das empresas maquiladoras. foi perguntado às empresas acerca da demanda de seus produtos 112 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . Como se pode inferir. e constituem soluções para a atividade de importação e exportação. De qualquer modo. mas também sua adaptação. na medida em que representam a atividade medular para 53% delas. uma categoria que inclui soluções para o controle de folhas de pagamento e recursos humanos. Tudo isso representa 29% do total e constitui soluções para a atividade de importação e exportação. nos parece relevante mencionar que as empresas da região têm uma presença importante na Índia. o comércio – como farmácias e postos de gasolina –. na opinião de alguns empresários entrevistados. Os resultados são bem similares para os três produtos principais. poderiam estimular inovações para poder manter a competitividade. Os requisitos organizativos – as vezes traduzidos em certificações –. O âmbito geográfico do mercado também é um indicador indireto da atividade inovadora das empresas. Em alguns aspectos é necessário levar em conta o idioma. por parte de uma das quatro integradoras existentes que deixou de operar no ano de 2007. Pouco mais da metade das empresas considerava que a demanda começava a crescer em cada um dos três produtos principais. que para uma empresa mexicana é mais fácil exportar para outros países da América Latina. facilita as transações comerciais. Ou seja. a imagem do México como um país mais avançado e com certa afinidade cultural. segundo estas interpretações. os países centro e sul-americanos constituem. Na relação com Estados Unidos. e que sua intenção inicial seria penetrar o mercado de outsourcing no sul da Califórnia. No caso das empresas estudadas. em conjunto. em que o peso do local e o fronteiriço ainda é forte. os resultados do estudo apontam que as empresas do cluster de software operam. De todos os modos. o mesmo lugar é a localização mais importante.no momento da enquete. Cerca de 20% das empresas considerava com poucas oscilações que seus três principais produtos tinham uma demanda estável ou estancada. seguida por outra localidade fronteiriça e por outra localidade não fronteiriça. porém. em um mercado basicamente nacional. Apesar de ser um cluster fronteiriço com os Estados Unidos. No entanto. as exigências para as empresas mexicanas dificultam a eles converterem-se em clientes dos vizinhos do norte. já que um terço das empresas pesquisadas exporta. e. nenhuma estimava que a demanda de seus produtos se encontrava em retrocesso. competidores globais. ainda que não depreciável. as dúvidas acerca do cumprimento dos prazos A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 113 . é significativo que o peso das exportações sobre o total das vendas é de somente 8% na média. Para os três principais clientes. entretanto. As empresas exportadoras mostram. A localização de clientes no estrangeiro é pouco importante. praticamente. a localização física tem uma conotação diferente quando se considera que a vinculação com as empresas maquiladoras coloca as empresas de software como um elo de uma cadeia global. Clientes com níveis altos de exigência. um destino de exportação similar em importância ao norte-americano. quatro de cada cinco empresas se encontravam em uma trilha de crescimento. As entrevistas realizadas com os empresários ratificam o interesse de alguns deles em estender suas redes no mercado nacional e abrir mercados nos países latino-americanos. ainda que o objetivo inicial de exportar para os Estados Unidos não tenha sido abandonado. Quanto as inovações “organizacionais”. em conjunto. seguido da “iniciativa própria”. 45% unicamente produtos e cerca de 23% unicamente serviços. o que é novamente um indicador da relativa baixa influência que a interação entre as empresas tem como fonte de inovação. 20% no que se refere ao segundo e 27% no terceiro se consideram seguidoras de empresas internacionais. Também lhes foi perguntado acerca do lugar de seus produtos/serviços diante daqueles com os quais competia no mercado. Apesar do predomínio de tecnologias “estáveis e difundidas” é interessante destacar que três de cada quatro empresários responderam afirmativamente à pergunta: se haviam introduzido os produtos novos ou serviços. A respeito da origem das inovações. avaliadas com uma pontuação mais alta do que as inovações em “processos”. 114 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . sobre as “práticas de gestão” ou das modificações na “estrutura organizacional”. Isso confirma que muitas das empresas combinam produtos com prestação de serviços de software. essas. as mais importantes foram as modificações nas práticas de “mercadotecnia” e “comercialização”.de entrega com a qualidade requerida. a enquete incluiu perguntas acerca de sua estabilidade/novidade. estes concedem uma importância maior às inovações em “produto/serviço” do que as “organizações”. Em relação à valoração sobre os diferentes tipos de inovações nas empresas de software. se considera seguidoras de empresas nacionais em seu terceiro produto ou serviço. os empresários consideram que “as solicitações dos clientes” é o fator principal para o início de novos projetos. aproximadamente. em torno de 45% no segundo produto. Em conjunto. 5. Cerca de um terço das empresas se considera seguidoras de produtores nacionais nos dois primeiros produtos (29% e 36%) e uma proporção inferior. por sua vez. As tecnologias A respeito das tecnologias utilizadas. a metade das empresas.3. As “relações com outras empresas” são avaliadas como pouco importantes. Finalmente. Um terço dessas empresas introduziu tanto produtos quanto serviços. Mais da metade das empresas consideram que sua tecnologia pode ser qualificada como “estável e difundida”. considera que são pioneiras no que se refere a seus três produtos principais: 55% se consideram pioneiras em seu primeiro ou terceiro produto ou serviço. 15% no primeiro produto. cerca de 16%. formam um quadro no qual se dá a confiança suficiente para concretizar projetos. Além do âmbito maquilador. entre outros produtos. Apesar de o software no México estar composto majoritariamente por empresas que prestam serviços. tem. Esta integradora tem relação com o Cicese de Ensenada. uma inovação de produto. Vanguardia Technologies. um laboratório médico assessora no que se refere às necessidades do setor e a conjunção do software com o aparelho de radiologia. resulta muito interessante a associação de três empresas que trabalham para o setor médico. Uma terceira empresa. o que se relaciona diretamente com a escassez de empresas certificadas. Esta valoração relativamente pouco importante contrasta com o assinalado no nível internacional especialmente para pa- A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 115 . na Baixa Califórnia há um setor não desprezível de empresas de produtos. Conclusões A indústria da Baixa Califórnia mostra traços que permitem extrair algumas conclusões a respeito da inovação. Outra empresa de Tijuana. uma terceira empresa de telecomunicações contribui com a tecnologia necessária para pôr em conexão os distintos subsistemas implicados no serviço. os mais bem-sucedidos são até o momento os que vão dirigidos para a indústria maquiladora. Finalmente. Nessa integradora.Destes produtos. porém os empresários não valorizam muito as inovações organizativas e menos ainda as de processo. As inovações que os empresários percebem são sem dúvida de tipo incremental. Centram-se fundamentalmente em inovações de produto ou serviço. Por último. percebe-se. com empresas de diferentes giros que complementam suas capacidades. a segunda. localizada em Mexicali. um software para administrar parques industriais. porém uma das chaves da inovação reside no avanço para uma organização distinta. para que esta instituição tome parte ativa realizando pesquisa aplicada que permita melhorar a inovação realizada até o momento. O grupo Tress vende a mais de 10 anos um software de gestão de recursos humanos que foi evoluindo conforme as necessidades dos clientes. as empresas operam em um mercado fundamentalmente local ou regional. embora um terço das empresas consigam exportar. Em um contexto de crescimento moderado da demanda (2006). portanto. fornecendo esses sistemas ao governo da Baixa Califórnia. podemos destacar uma empresa que exporta para a América Central serviços de segurança para governos locais ou municipais sobre a base da experiência adquirida. Uma delas desenvolve um software que plasma o expediente médico dos pacientes. vende um software que permite às maquiladoras administrar seus processos de import/export. Os resultados expostos mostram que a indústria do software na Baixa Califórnia se concentra em linhas gerais em inovações incrementais que lhe permite se desenvolver em um mercado local e regional. Zentrum é uma empresa corporativa de Telnor (Telmex) que até o momento não se apoia nas PMEs regionais e. segundo a enquete. 116 A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia . e a inovação provém do acesso a um mercado que em seu momento foi virgem e que é difícil de alcançar por empresas estrangeiras. A característica mais relevante para nosso estudo. não as subcontrata. tecnologias estáveis e difundidas. as instituições educativas ou científicas da região também não são relevantes para o conjunto das empresas. porque requer um conhecimento e atualização constante da legislação laboral e da legislação de comércio exterior mexicanas. Contrasta também com a ideia expressa em entrevistas. com que seus produtos sejam “idiossincráticos”. Entre as fontes externas não se percebe uma influência das grandes empresas assentadas na região. Isso não se contradiz com a participação de algumas destas instituições como o Cicese em projetos relacionados com software médico. em consequência. 2005:202). Isto priva a região de uma fonte de aprendizagem potencial e de inovação em aspectos organizativos.. em boa medida. 2005). A empresa local mais inovadora tem como cliente a indústria maquiladora local. Quanto ao tema da inovação. Nesse sentido. e como fontes externas. seja por alianças entre empresas seja por trabalhos conjuntos com instituições. O alcance das inovações das empresas da região se relaciona. Isso explica a alta proporção de empresas que se consideram pioneiras na introdução de determinados produtos ou serviços. As fontes internas de inovação mais importantes são os departamentos ou pessoas encarregadas da comercialização. pelas microempresas. os clientes. Por um lado. apesar de muitas delas empregarem. se adverte a relação com as PMEs. porém os usuários constituem uma fonte de demanda que induz ao crescimento da indústria e à conquista de inovações incrementais (Arora et al. que é o país em que aquelas se encontram operando. em inovações de tipo coletivo. Tampouco na atividade de Softtek. é que as inovações obtidas se produzen pela atividade individual das empresas. no sentido de que necesitam uma consolidação organizativa que lhes permita ser eficientes e melhorar a comercialização de seus produtos ou serviços.íses como a Índia (ARORA et al. a indústria se assemelha a outros países nos quais não se detectaram economias de aglomeração significativas. por enquanto. A agrupação em um cluster não se traduziu.. embora seja interessante observar a evolução das empresas que atualmente exportam. a maior empresa mexicana de serviços de software. de/deutsch/produkte/publikationen/diskussionspapiere/docs/papers/dp149. 149. KLEPPER. From Underdogs to Tigers. ALTER. UNU/INTECH. d. J. A inovação nas indústrias de software da Baixa Califórnia 117 . 2004.. C. Gambardella (ed. Maastricht. In: Innovation Mexico . CASSIOLATO. S. From Underdogs to Tigers. 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A recente política de fomento do desenvolvimento de clusters do governo do estado poderia modificar esta situação nos próximos anos. competitividade e articulação nas regiões 121 . a californiana. mediante o estabelecimento de estratégias territoriais dos mesmos clusters. sem que se tenham detonado dinâmicas locais espontâneas que permitam falar de um processo de articulação endógena ou local. O estado ocupa a metade norte da Península de Califórnia. se poderia propor que a clusterização do estado contribua para a articulação territorial na região. Agradeço os enriquecedores comentários de Antonio Vázquez Barquero. 68. 67. 69. 68 Sárah Eva Martínez Pellégrini 1. tem sido sua principal vantagem em relação ao resto do país. e dos Doutores Enrique Cabrero e Noé Arón Fuentes.Clusters e sistemas produtivos locais. baseadas na integração de clusters. México67. México. O impulso produtivo descrito gerou uma dinâmica de crescimento econômico induzido e alimentado por fatores exógenos. Introdução O objetivo deste trabalho é apresentar e analisar algumas características das políticas de desenvolvimento econômico do estado fronteiriço da Baixa Califórnia. orientador da tese. Este texto retoma parte dos resultados do trabalho de pesquisa doutoral da autora intitulado “Sistemas productivos locales e integración económica: el caso de Baja California México”. Sua localização contígua aos Estados Unidos e em particular a uma das economias mais dinâmicas do mundo. Clusters e sistemas produtivos locais. Dando-se estas características. Estes efeitos referem-se especificamente ao grau de consolidação de um sistema produtivo regional com certo nível de organização interna particular e um modelo de desenvolvimento regional concreto. fundamentados no empresariado local e capaz de recuperá-lo e melhorá-lo. no extremo Noroeste do país. a integração do sistema produtivo local e seu impacto na consolidação de processos de desenvolvimento territorial. 2. se a partir de sua situação privilegiada geograficamente e o fomento dos clusters no estado. Isto é. aqueles que explicam seu “dinamismo econômico”. A evidência sugere que o sistema produtivo da Baixa Califórnia carece de uma organização com capacidade de resposta às mudanças do mercado e às circunstâncias econômicas. competitividade e articulação nas regiões . Nesse sentido. Discutir essa hipótese equivale a referendar que a taxa de crescimento é informação insuficiente para determinar que uma economia regional (ou nacional) tenha características estruturais “sadias” que garantam a sua competitividade e. a sua capacidade de crescer no tempo. como são a organização da base econômica e sua articulação com outros atores regionais. O texto começa com uma apresentação do marco teórico e os conceitos utilizados para a análise do caso.No texto. não se pode falar ainda da existência de um processo de reestruturação e reorganização a nível regional conforme as propostas das teorias do desenvolvimento endógeno ou da existência de uma estratégia territorial. Prossegue com a apresentação do caso da Baixa Califórnia e a aproximação a dois clusters de serviços de alto valor agregado como aproximação ao processo de articulação territorial. são indicadores mais adequados para conhecer a situação de uma economia diante do entorno e do futuro. apresentam uma estrutura integrada setorial e territorialmente que se possa considerar como um sistema produtivo local articulado e com certo grau de endogeneidade. portanto. A aproximação através da análise de fatores associados ao desenvolvimento. com capitalização da capacidade de empreendimento local e orientada a geração de vantagens competitivas específicas que permitam determinar seu próprio caminho de desenvolvimento. Por último. se discute se os setores em que está especializada a região. se apresentam algumas reflexões finais. As teorias e conceitos marco da discussão O eixo da análise que se propõe é a organização espacial do sistema econômico e a partir daí. Partimos de que a economia regional pode conceber-se como um sistema de desenvolvimento cuja estrutura produtiva fica definida pela diversidade dos seus 122 Clusters e sistemas produtivos locais. Esta conclusão também relativiza a utilidade dos estudos de convergência como instrumentos únicos de avaliação da situação e lucros em matéria de desenvolvimento econômico. Baixa Califórnia apresenta um caminho de mobilização de seus recursos com tendência à consolidação de um sistema produtivo regional com maior equilíbrio de componentes exógenos e endógenos. Estes elementos são a base do questionário que foi aplicado nas empresas da Baixa Califórnia para efetuar o estudo de caso. Esse potencial inclui como fatores de fortaleza ou debilidade local uma multidão de elementos que abrangem desde os tangíveis até os intangíveis dos recursos e a organização do sistema local. de seu potencial endógeno. 4 – as características laborais e empreendedoras da população. a estrutura produtiva regional é um conjunto específico de atividades produtivas localizadas em um espaço regional. De fato. Não se pode avançar na definição das dinâmicas e características do território unicamente a partir dos elementos endógenos mencionados na colocação anterior. como formas mais efetivas de resposta aos efeitos do funcionamento do “grande sistema” mundial. posto que. as evidências de interação e influência mútua entre regiões nacionais e supranacionais conduzem diretamente à discussão do paradoxo territorial mencionado por Precedo (2004). competitividade e articulação nas regiões 123 . sobretudo para a análise das regiões fronteiriças. o modelo de especialização produtiva local. mas é também necessário recuperar de forma explícita as principais linhas de interação desse sistema regional com “o exterior”. é importante recuperar as contribuições sobre os impactos territoriais da integração econômica por meio de seus efeitos dinâmicos. 2 – o modelo de especialização produtivo local. A forma de incidência dos fatores exógenos depende das características próprias da região e. as linhas fundamentais de aproximação ao diagnóstico das características próprias de um sistema regional e entre os de caráter endógeno. a localização e articulação das indústrias e as características laborais e empreendedoras da população são os traços que definem a iniciativa empresarial regional. 5 – a existência de centros e organizações capazes de assumir a liderança) e um. de interação com outros sistemas (6 – a integração a outros mercados).componentes e seu grau de integração (PERRIN. em alguns casos. estas podem ter também maior incidência na organização interna que os fatores endógenos. Nesse sentido. elemento central de discussão. na que se recuperam espaços de ação locais e regionais. 3 – a localização e articulação das indústrias. Colletis e Pecqueur (1993) os agrupam em cinco pontos que poderíamos considerar endógenos (1 – o suporte territorial como provedor de recursos. em geral. Clusters e sistemas produtivos locais. em particular.70 Estes seis pontos resumem. cuja dinâmica impõe suas próprias limitações à organização espaço-econômica do sistema geral e que tem certos impactos diretos na organização social. precisamente. 1974). 70. e a proliferação de relações pessoais entre os agentes econômicos. e virá determinado precisamente pelo potencial endógeno definido anteriormente. a intervenção no sistema de uma pluralidade de agentes locais. uma forte especialização produtiva. Massey (1983:74) define como “um dos mecanismos através dos quais se reforma a estrutura social e se mudam as relações sociais. e 7) as instituições reguladoras existentes. o alto grau de qualificação da mão de obra. haverá que complementar o anterior considerando a viabilidade de mudança ou reestruturação produtiva71 factível para cada caso concreto. 2001) e o território terá sua origem a partir dos fluxos de intercâmbio horizontais. Se o desenvolvimento territorial é “o processo de transformação produtiva e organizativa em cujo marco o conjunto de atores sociais presentes em um determinado território mancomunadamente aproveitam potencialidades endógenas” (GÖSKE. Essa articulação produtiva é a que consideramos o articulador territorial diferentemente da proposta de geógrafos e urbanistas que o fazem a partir dos sistemas de cidades ou assentamentos humanos e os eixos e sistemas de comunicação. e se rompem ou se reconstroem as bases da ação política”. A definição prévia de território tem como antecedente os distritos industriais cuja técnica produtiva depende de variáveis do entorno e não exclusivamente do preço dos fatores produtivos. 5) as características do mercado e as formas de competência. Sistema produtivo local (o herdeiro direto do distrito industrial). de mercado e de outro tipo entre os sujeitos de um espaço. 2) a evolução do sistema tecnológico. competitividade e articulação nas regiões . no âmbito da economia industrial. 4) os atores e estruturas sociais. mas com diferentes consequências quando se utilizam como estratégias de desenvolvimento regional.Deve considerar-se que assim como estas características podem conter um potencial. O termo reestruturação produtiva está referido à reestruturação industrial que D. um segundo nível seria o fomento da competitividade de clusters e um terceiro. o estabelecimento de um sistema eficiente de transmissão da informação na medida local. a competitividade do sistema produtivo local-territorial no que ficam subsumidos os dois níveis anteriores. 124 Clusters e sistemas produtivos locais. também podem ser limitadoras para o desenvolvimento de um território e. Garofoli (1992) destaca como elementos básicos desses sistemas a existência de uma cultura do trabalho entre os diversos estabelecimentos integrantes do sistema. Estes três passos marcam um nível crescente de articulação territorial porque no primeiro caso se geram sinergias com benefícios estri71. Esta vai depender de: 1) a estrutura econômica e organização da produção existentes. 3) o mercado laboral e as relações industriais. A articulação de redes de empresas seria a forma embrionária de articulação. cluster e desenvolvimento territorial são os enfoques complementários utilizados para compreender a articulação produtiva. 6) a fluidez de circulação da informação. nesse sentido. Apoio financeiro às micro e PMEs. Cooperação entre municípios para obter melhores resultados em desenvolvimento. Apesar de sua generalidade podemos identificar claramente que esses objetivos abrangem os diferentes aspectos considerados centrais para endogeneizar e territorializar o desenvolvimento. Além do marco teórico do ponto de partida. Precisamente uma das principais contribuições dos enfoques de desenvolvimento local é buscar propostas integrais e territoriais de desenvolvimento cujos objetivos virão definidos pelas especificidades de cada região. 292-293): Diversificação produtiva baseada nos recursos endógenos (locais). a avaliação das iniciativas concretas de desenvolvimento territorial (regional) se deve fazer em função dos objetivos que explicitamente propõem e do contexto ao que são aplicados. Clusters e sistemas produtivos locais. por exemplo. o que é em si mesmo uma garantia de contribuição à articulação e construção territorial. como contrapeso à parte dos riscos atribuídos às iniciativas orientadas à integração produtiva e ao fomento de agrupamentos industriais. promoção da competitividade sistêmica territorial e iniciativas para a sustentabilidade. Articulação público-privada para promover a inovação produtiva e empresarial. Merecem particular atenção os pontos de diversificação de produtiva. Estímulo de sementeiros de empregos locais e novas fontes de ingresso. No caso da América Latina. 2007) e impactam a todas as atividades econômicas do território ou localidade. FERRARO e GASALY. se trabalha sobre fatores competitivos genéricos que tem “um conteúdo de bem público maior” (DINI. competitividade e articulação nas regiões 125 . Iniciativas relacionadas com a sustentabilidade.. Promoção da competitividade sistêmica territorial. a excessiva especialização e a saturação de mercados que podem derivar-se da existência de sistemas produtivos dependentes de um cluster monoespecializado.72 72. no caso dos clusters existem externalidades consideráveis que se difundem para toda a cadeia produtiva ou cluster sem barreiras de apropriação. no caso dos sistemas produtivos locais.tamente para os membros da rede. 2001. AGHON et al. entre os principais objetivos das iniciativas de desenvolvimento econômico local aparecem às seguintes (ALBUQUERQUE. A outra grande contribuição é considerar como fator estratégico do processo a participação dos atores locais desde a concepção do projeto de desenvolvimento até sua gestão. Pacheco-Vega (2007) enfatiza como tais o canibalismo empresarial. sem propor uma estratégia real de desenvolvimento ou reforma do padrão de assentamento de população e a dinâmica produtiva imperantes. A região da Baixa Califórnia e sua estratégia de desenvolvimento 3. e como resultado da aparição das deseconomias de aglomeração e do avanço nas comunicações e transportes se incorporaram algumas áreas vizinhas às anteriores à dinâmica de crescimento. climatológicas. A conclusão que se tira das características da única política que se poderia considerar territorial. por um lado. nem a de abertura ao exterior aplicadas no México desde os anos 1950 até essa data tem contribuído para um equilíbrio territorial. Essa situação reflete claramente no mapa de atores relevantes no desenvolvimento no México o que têm sido tradicionalmente o governo central e os municípios grandes. e sim de crescimento econômico nacional. e de solução de problemas urbanos. No país. Mas. As diferenças entre as regiões do México superam em alguns aspectos às divergências entre os países da União Europeia (ao menos até a última ampliação). é que não tinha matizes de política de desenvolvimento e sim de fornecimento de serviços à população e nesse contexto em algum momento chegou a propor uma revisão das dimensões urbanas e dos problemas de grande crescimento de poucos núcleos de população. sem nenhum outro tipo de medida equilibradora.3. a urbana. as políticas desenhadas de forma muito vertical reforçaram os padrões existentes provocando uma situação como a descrita pela teoria da causação acumulativa. posteriormente. principalmente. por sua extensão e heterogeneidade de partida dificultam em grande medida pelo menos a homogeneização de condições mínimas. não se pode falar até datas muito recentes (por volta de 2000) de uma visão de desenvolvimento regional. os governadores ou governos estatais aparecem em cena quando surgem as petições de redistribuição das 126 Clusters e sistemas produtivos locais. As características do México. o desenvolvimento e o crescimento se concentraram nas grandes cidades e suas áreas de influência direta. por outro. Derivado do anterior. Alguns dos fatores que explicam são as características demográficas. dado que de forma natural. competitividade e articulação nas regiões . culturais e de desenvolvimento prévias. Estes resultados foram previsíveis a partir das premissas e orientação de ambas para a consecução de maiores níveis de crescimento dos que supostamente derivariam de forma natural a redistribuição e o desenvolvimento. Políticas nacionais de desenvolvimento econômico e seu impacto regional no México Nem a política de substituição de importações.1. nesses casos. Oaxaca. no lugar de interventor direto nas iniciativas de desenvolvimento. Nayarit. Para o primeiro período. Com esses resultados. Nayarit. As entidades federativas com menor renda per capita em 1985 (Tlaxcala. México. Sárah Martínez Pellégrini (2006). Nuevo León. com dados do PIB para os estados mexicanos no período 1985-1998. e DF) apresentam taxas superiores. España. Clusters e sistemas produtivos locais. 1985-1998. O país apresenta uma situação geral de estagnação da convergência. que abrange a maior parte do modelo de industrialização por substituição de importações e uma pequena parte do período de crise econômica. Os dados anteriores permitem constatar a existência de duas etapas claramente diferenciadas a respeito da convergência nos níveis de renda per capita no período 1980-1998. 1980-1985. tese doutoral. teve efeitos negativos em relação à convergência regional entre os estados mexicanos. Zacatecas. competitividade e articulação nas regiões 127 . e Durango) crescem mais devagar que a média nacional. os perdedores ou casos críticos se situam abaixo das linhas aceitáveis de nível de vida. pode-se concluir que a política de Industrialização Orientada para o Exterior. portanto.participações federais na segunda metade dos anos oitenta. Oaxaca. O que agrava essa situação no caso de países de desenvolvimento tardio como o México? Que neles os indicadores de condições de vida por grupos estão deslocados em direção aos extremos inferiores e. Retomando as disparidades regionais por entidades federativas. enquanto as regiões com maior renda per capita em 1980 (Baja California. Universidad Autónoma de Madrid. San Luis Potosí. 73.73 é mais de polarização da situação de desequilíbrio entre as “locomotivas” e os “últimos vagões” no que se refere ao desenvolvimento. os Gráficos 1 e 2 apresentam os resultados de uma análise de β condicionada para os estados mexicanos para o período 1980-1998 (MARTÍNEZ PELLÉGRINI. 2006). que a partir do nosso ponto de vista e segundo os dados. que se subdivide em duas etapas correspondentes às políticas de fechamento do país e de abertura internacional respectivamente. uma clara divergência β absoluta. O Gráfico 2 evidencia. e Durango) foram os que apresentaram maiores taxas de crescimento (Gráfico 1). com aproximação da maioria dos estados mais atrasados à média nacional e posteriormente outra. uma primeira. Capítulo 4. Sistemas productivos locales e integración económica: el caso de Baja California. Esta situação é particularmente preocupante em um contexto em que ainda não se deu a transição das estruturas centrais para um papel de árbitro e nivelador das diferenças de desenvolvimento entre regiões. Zacatecas. antecedente do TLCAN. com ameaças de não sobreviver. Tamaulipas. existe uma clara convergência β absoluta já que os estados com menor ingresso per capita em 1975 (Tlaxcala. de progressiva divergência depois da abertura comercial iniciada em 1985. competitividade e articulação nas regiões . Gráfico 2 Fonte: Martínez Pellégrini. Sárah Eva. Sárah Eva. 2006.Gráfico 1 Fonte: Martínez Pellégrini. 128 Clusters e sistemas produtivos locais. 2006. 11 119. o tipo de reestruturação requerida pelos problemas locais.708.2.539. caracterizados por seus menores níveis de estruturação social. o modelo de desenvolvimento em que se baseia a economia local e a experiência adquirida no manejo dos instrumentos de desenvolvimento.420.840 0.809 3.050.071.01 0.014 Ensenada % Tecate % Baixa Califórnia % 19.108. Clusters e sistemas produtivos locais.226 3. Quadro 1 – Participação no Produto Interno Bruto nacional por municípios Municípios Anos 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Tijuana % Mexicali % 1.58 30. Capítulo 4.563 1.05 38.666 0.810.218. a conclusão geral a que se chega é que esta região “ganhadora” depois do processo de abertura é uma zona de crescimento industrial com subvenções exteriores75 como demonstram seu potencial de desenvolvimento.37 4. portanto.64 17.786 3. Este dado é um indicador de que a Baixa Califórnia apresenta um retrocesso no valor de sua produção e.11 148.642.592.30 210. Os clusters como base do SPL na Baixa Califórnia Focando agora a dinâmica econômica do Estado da Baixa Califórnia.569.677 3.710 3.022 3.341.825 1.893 6.64 46.559.637.11 61.60 37.055 0.11 72.478.36 3.837 0.698 3.715 2. Embora a participação estatal no PIB nacional tivesse pequenos aumentos na última década (Quadro 1). se retomamos os índices de volume físico da produção manufatureira o estado tem tido um crescimento da atividade muito superior à média nacional. Estamos aplicando a classificação regional proposta em Vázquez.60 Fonte: INEGI.629 3.620.153.039 3.39 50.268.097.838.746 0.439.74 3.460. 1992.39 1. 75.745 0.760 0.036. são muito maior que nos países mais desenvolvidos.557.856 1.600 0.088. O ponto está proposto de maneira extensa em Martínez Pellégrini.299 3.96 11.91 0.53 ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND 180.10 53.18 0.38 5.568.067 1.862 1. Não se insiste mais neste ponto porque é tema recorrente nas discussões sobre desenvolvimento.294 0.66 23.98 14. É suficiente revisar os índices de desenvolvimento humano e os índices de Gini que costumam acompanhá-los para confirmar este ponto.123 3. 2006.16 97.566.00 17.600 0.09 38.48 189.175 1.96 27.38 2.63 183.050 3.50 264.240 1.Outro grande problema é que as disparidades entre regiões e entre grupos sociais para países em desenvolvimento.39 75.140 8.221.250 1.629.372 1.463.879.50 12.550 0.54 294.360 0.13 1.720.343.710. competitividade e articulação nas regiões 129 .37 244.563.084.633. 74. para uma maior competitividade tecnológica e melhora do capital humano regional. foram evolucionando para serviços turísticos associados a alguns serviços profissionais de alto valor agregado como os serviços médicos. Este resultado contradiz a visão de que a maquiladora esteja contribuindo para a reestruturação do sistema industrial local. permite estabelecer uma clara diferenciação entre as atividades predominantemente organizadas como maquiladoras e conexas que cresceram no período.57% e “têxteis. “químicos.33% e chegaram a 4. maquinaria e equipe” com participações crescentes entre 40% e 51% da produção manufatureira.63%. “mineração de não metálicos excetuando derivados do petróleo” e “madeira e seus produtos” que passaram a representar por volta de 7% da produção estatal a 5% e. portanto. no período 1993-1999. por último. embora em pequena escala. O potencial de desenvolvimento econômico da região está. A evolução setorial do estado. competitividade e articulação nas regiões . Portanto. A maquiladora apresentou durante todo o período 1986-2000 taxas de crescimento do emprego e do número de plantas superiores à média nacional e manteve sua geração de divisas a taxas de crescimento superiores a 6% anual. a contração dos setores tradicionais locais e o surgimento. borracha e plásticos” que passaram de 4. no entanto encontramos evidências de que essas maquiladoras têm outro tipo de derramas estruturais ou organizativas no sistema local. Os serviços complementam a atividade manufatureira como recurso ou fator por explorar e.8% a 5. derivados do petróleo. Em geral os últimos anos deram indícios de certa reestruturação da base produtiva regional com a consolidação dos setores em que há maquiladoras.está nos enlaces mais baixos da cadeia de produção. Neste sentido. de novos setores competitivos e dirigidos a mercados muito concretos. “alimentos. manteve bons resultados nas duas contribuições básicas à economia: emprego e divisas. fortemente ancorado no recente desenvolvimento industrial fomentado a partir da instalação de maquiladoras no estado durante os anos 1960 como resultado do regime de zona livre. embora ainda se centrem no comércio. bebidas e tabaco” que foi desde 21% a 14. Os setores manufatureiros com maior peso desde o começo dos anos 1990 são “produtos metálicos. Esse processo poderia significar uma polarização do sistema econômico regional entre setores de vantagem comparativa associados à maquiladora que absorvem a maior parte dos empregos e mantém baixos níveis de valor 130 Clusters e sistemas produtivos locais. a vocação estatal é claramente industrial em termos dos ativos ou fatores produtivos que estão explorando de fato. vestido e couro” que partiram de 3. e aquelas dirigidas ao abastecimento local ou nacional que decresceram.5% da participação. isto é.55 14.26 21.82 16.94 69.29 70.36 4. BC Anos 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Número de Pessoal ocupado % Valor agregado % estabelecimentos % Mexicali Tecate Tijuana Mexicali Tecate Tijuana Mexicali Tecate Tijuana 16.70 4.49 65.08 14. Faz poucos anos.33 64.79 12.15 3.60 11. além de alguma outra concessão (fundamentalmente fiscal) negociada para cada caso concreto.71 66.72 3.79 4.71 26.36 64.94 22.62 66. Tudo isto explica o crescimento sustentável dos setores com a presença maquiladora e a contração ou estagnação dos demais setores produtivos. requerem a consolidação do sistema regional para obter certo nível de controle endógeno de seu desenvolvimento e uma maior competitividade territorial. O modelo de desenvolvimento estava totalmente dirigido para a atração de grandes empresas estrangeiras pela disponibilidade de mão de obra barata e a proximidade ao mercado estadunidense.80 63. Os outros três municípios (Ensenada.45 3.89 4.69 21.68 4.55 19.12 10.74 22.22 29.04 5.11 65. Quadro 2 – Indústria maquiladora de exportação por município. vários anos.29 3.88 4.51 26. Os problemas econômicos fundamentais da região.11 65.12 65.04 6.89 14.50 16.38 11.17 67.18 67.09 20.67 22. competitividade e articulação nas regiões 131 .70 22.57 22.43 4.37 67. e setores minoritários em emprego de alto valor agregado que permitem o desenvolvimento de áreas competitivas no estado.63 71.96 3.40 3.52 61.32 68. Indústria Maquiladora de Exportação.97 4.94 4.80 11.09 63. derivados do modelo de desenvolvimento em que se baseia a economia local.59 4.36 64.50 67.59 63.90 67.00 65.24 70.96 23.59 72.27 63.74 63.70 68.46 14.94 21.84 30.93 11.52 22.81 Fonte: Estatísticas econômicas INEGI.63 3.81 16.60 5.11 66.57 15.76 69. sem uma visão de construção de um sistema produtivo com certa orientação para desenvolvimento a longo prazo.85 12.37 10.51 12.11 24.20 3.66 3. seguido do japonês e do coreano.31 22.57 14.97 15.64 70. A diferenciação de tipos de produção se repete na distribuição espacial de atividade já que o Estado da Baixa Califórnia apresenta claras concentrações em dois municípios mais povoados e dinâmicos: Tijuana que contribui com aproximadamente 50% do PIB estatal (centro econômico do estado) e Mexicali (capital do estado) que contribui com 30%. Clusters e sistemas produtivos locais. Rosarito e Tecate) são de menores dimensões populacionais e menor taxa de crescimento (Quadro 2).15 65.33 16.21 68.43 19.30 69.29 22.62 20.03 4.62 4.agregado. a única política de desenvolvimento regional existente era a promoção de investimento estrangeiro sem discriminação de setores ou atividades.75 12.28 11.50 69.52 28.95 12. A origem do capital investido na zona é na maioria estadunidense.59 23.21 21.82 63. e 3% dos outros recursos que são na maioria consumíveis para a operação da planta. também em nível nacional. mas que no caso das grandes empresas estrangeiras. uma medida a curto prazo para atenuar situações de estagnação econômica como a de Ensenada. Isto é. e 2) da desarticulação da base produtiva que é criada na região incapaz de integrar aos atores entre eles. Podemos afirmar que existem duas dinâmicas dominantes. salvo no caso das ações orientadas à captação de investimento estrangeiro mencionadas. particularmente os exógenos e endógenos. 132 Clusters e sistemas produtivos locais. e a outra que é a das grandes empresas estrangeiras que funcionam praticamente como enclaves (inserções) e cujos insumos locais são o emprego. o que é. se detecta a escassa articulação do sistema local já que a política de desenvolvimento territorial pode considerar-se muito limitada.76 achamos que o sistema gera escassas economias externas e que na maioria dos casos as plantas estão isoladas.Tijuana concentra a maior parte das maquiladoras. A atração de investimento estava mediada pelas iniciativas nacionais de apoio à indústria maquiladora em geral e alguns setores considerados importantes. Outro dos determinantes da organização produtiva regional são os traços próprios de seu sistema produtivo. competitividade e articulação nas regiões . a partir do trabalho de campo realizado. Desde então. município em que havia outro tipo de indústria em crise. 76. em muitos casos. uma de PMEs locais desarticuladas e orientadas ao mercado regional com algumas exceções de empresas que exportam ou fornecem para as empresas maiores. o modelo de utilizar a maquiladora como geradora de emprego e indústria continua sendo predominante. e está aumentando a proporção de maquiladoras. aproximadamente 60% do total estatal. Esses últimos não são precisamente os que poderiam detonar processos de complementaridade ou de integração de cadeias produtivas. Partindo de uma aproximação às economias internas e externas. estas têm economias internas elevadas e tendem a uma forte integração vertical de funções. Os dados apresentados são resultado da aplicação de entrevistas e pesquisas a 150 empresas da Baixa Califórnia selecionadas como amostra estratificada para identificar sua organização e inter-relações. embora os demais municípios mantenham em geral suas taxas de participação em Ensenada. 2006. sem que se incorporassem as vocações ou potenciais regionais especificamente. A metodologia pode ser consultada em Martínez Pellegrini. Este primeiro aspecto de desarticulação implica nos níveis: 1) da desconexão das autoridades locais quanto ao projeto econômico e de desenvolvimento da região. O manejo local-regional dos instrumentos de desenvolvimento tem sido bastante reduzido. integrar os produtores externos ao sistema local e. Retomando as relações entre empresas e o grau de aglomeração espacial. seja estes locais ou de fora. Os aspectos analisados da organização dos agrupamentos foram documentados a partir de fontes secundárias e da aplicação de questionários e entrevistas em 150 empresas da Baixa Califórnia dos setores autopeças. O único caso em que parece existir essa reserva de trabalho é para o setor elétrico-eletrônico. o esforço de “clusterização” se apresenta como uma alternativa para.empresas Enclaves das na cadeia local de valor Modelo hierárquico de organização Fonte: Vázquez. o crescimento demográfico resulta da chegada de migrantes em busca de emprego na fronteira ou nos Estados Unidos. enraizá-los ou territorializá-los. Ainda que todos os setores apresentem situações similares aos plásticos e autopeças são aqueles para os quais essa situação resulta problemática. 2002) a partir de dois eixos que são o nível de integração territorial das empresas e a organização reticular ou em redes (Esquema 1). por outro. em geral. Estaríamos diante de uma situação de apoio a clusters naturais em formação e de geração de outros induzidos ou forçados. para gerar um modelo mais próximo à organização reticular dos atores produtivos. as empresas do estado tendem a situar-se no modelo de enclaves ou de empresas externas integradas debilmente na cadeia de valor local. Esses resultados podem relacionar-se com a dinâmica populacional do estado. o absentismo laboral e a falta de trabalhadores qualificados. têxtil. em geral. a indústria da Baixa Califórnia é dispersa e mais hierárquica que cooperativa.Esquema 1 – Organização e territorialização das empresas Redes de empresas Sistemas locais integrados Sistemas locais integrados Não integração nas fileiras de produção de nas cadeias de valor locais Integração outras cadeias territorial das territorial das empresas Empresas externas integra. o que é explicável pelo fato de que nestes setores os trabalhadores são formados na própria empresa em atividades especializadas. e de Tijuana em particular. segundo a terminologia de Pacheco-Vega (2007). em lugar do atual esquema hierárquico. portanto. 2002. Neste sentido. por um lado. Clusters e sistemas produtivos locais. 77. Retomando a proposta de análise de SPL (VÁZQUEZ. de plásticos e eletroeletrônico. competitividade e articulação nas regiões 133 . e. existem níveis de rotação laboral significativos de entre 20% e 30% dos empregados anualmente. Em relação ao emprego.77 Os principais problemas detectados no mercado laboral continuam relacionados a aspectos como a rotação. Ainda não foi consolidada a qualidade do recurso humano como uma das externalidades próprias dos clusters e sistemas produtivos locais. As redes são débeis e incipientes e o que se pode encontrar é uma aglomeração de empresas concentradas no território sem grande inter-relação entre elas. Existem poucas relações de interdependência e, portanto, não podemos falar de que existam redes de atores múltiplos que interatuem e reajam às ações dos demais membros da rede. Os grupos mais articulados são explicados por relações hierárquicas entre empresas por controle de recursos. Apesar de que os setores que foram selecionados sejam aqueles em que haja certo nível de especialização regional que tem coeficientes de localização superiores a 1 (Quadro 3) e com inter-relações com outras atividades (vinculados segundo a matriz input output) não se confirma a existência de inter-relações produtivas de subcontratação ou cooperação, nem a existência de cooperação informal significativa. Não há complementaridade entre as indústrias, embora o setor têxtil e o automotivo apresentem certos mecanismos de colaboração interempresarial. Quadro 3 – Setores de atividades com coeficientes de localização maiores de 1 na Baixa Califórnia Setores de atividade Total para a indústria manufatureira 21 Cerveja 13 Indústria de vestido e têxteis 37 Resinas sintéticas e fibras artificiais 48 Móveis e acessórios metálicos Carrocerias e indústria de auto57 peças Outros prod. de minerais não 45 metálicos 46 Indústrias básicas do ferro e aço 40 Outros produtos metálicos 64 Transporte 54 Equipes e acessórios eletrônicos 43 Vidro e seus produtos 42 Artigos de plástico 50 Maquinaria e aparelhos eletrônicos Coeficiente de Número de es- Volume de localização tabelecimentos emprego 4.813 248.458 1,25 * 407 1,09 119 3.411 0,87 18 562 1,23 87 3.218 1,79 1,57 1,01 1,27 1,74 1,93 1,22 1,02 1,28 91 366 67 145 9 147 45 130 102 12.569 5.829 1.509 13.389 4.208 57.289 1.818 17.142 18.690 Fonte: Tomado de Martínez, 2006. Elaborado com informação de Censos Econômicos, 1998. *Informação não disponível por questões de segredo estatístico. A maioria dos insumos de produção é importada, tanto matérias-primas quanto componentes e maquinaria. No caso dos serviços, a balança é um pouco mais favorável aos fornecedores regionais, mas unicamente em serviços de gestão empresarial e capacitação e não naqueles diretamente vin- 134 Clusters e sistemas produtivos locais, competitividade e articulação nas regiões culados à produção o que é uma debilidade para conseguir a integração das cadeias de produção locais. A identificação dos setores de atividades evidencia uma economia pouco diversificada, como confirma o resto dos dados sobre o funcionamento da economia local. Além disso, caracteriza-se por uma forte vinculação aos mercados externos como o esperado e poderíamos falar de duas áreas da economia isoladas, a orientada ao mercado externo (maquiladora) e a que cobre o mercado interno, com diferenças importantes na sua organização e funcionamento. Esse é um dos efeitos polarizadores que teve o processo de abertura econômica na Baixa Califórnia, onde se reforçaram os padrões tradicionais em lugar de originar-se uma reestruturação com outros fatores de competitividade. Retomando as alternativas utilizadas na literatura sobre cluster, a respeito das suas características trabalhamos com as acepções geográficas do cluster e uma visão horizontal do mesmo. Estas estruturas respondem a critérios de similitude e, do nosso ponto de vista, são agrupamentos em que as redes entre atores ainda não estão necessariamente muito desenvolvidas. Essa é de fato a grande tarefa pendente no caso da Baixa Califórnia, em que as relações de complementaridade entre atores são incipientes e o que existe são ações comuns em função de objetivos ou necessidades pontuais compartilhados. A consolidação destes clusters incipientes, por meio da consolidação das redes de atores, apresenta potencial evolução para clusters laterais (setores entre os que existem possíveis sinergias) para alguns dos grupos e verticais (articulados em torno de cadeias de produção) para outros. Esta situação é consistente com a juventude do estado que explica que em muitos aspectos é ainda um sistema territorial jovem em que a infraestrutura física e a organizacional são débeis. Os fatores de competitividade que identificam os empresários (Quadro 4) são o custo e a disponibilidade de mão de obra e a qualidade dos produtos fabricados, o que indica que não se incorporaram ainda as visões de vantagens competitivas baseadas em intangíveis,78 e sim fatores tradicionais de competitividade. Esta interpretação é reforçada pela resposta obtida sobre as fortalezas que os empresários identificam ter. A identificação de debilidades abre mais o panorama para possíveis buscas de articulação já que entre elas se mencionam a falta de associações e colaboração entre empresários, as estratégias de mercado inadequadas, o 78. Estes intangíveis referem-se fundamentalmente ao capital humano e à capacidade de organização do sistema nos seus diferentes níveis institucionais, incluindo os mecanismos de cooperação formal e informal entre atores. Em geral, poderíamos dizer que são todos os fatores, não circunscritos às mudanças tecnológicas, susceptíveis de incorporar inovações no funcionamento do sistema regional. Clusters e sistemas produtivos locais, competitividade e articulação nas regiões 135 crédito e a falta de informação sobre tecnologia, mercados e produtos, todos eles possíveis campos de colaboração. Quadro 4 – Fatores de competitividade empresarial mencionados Fator Preço Tempo de entrega Qualidade dos componentes Tecnologia Autopeças 50% 50% Elétrico 51,6% 48,4% 58,1% Plásticos 80% 53,3% 46,7% 26,7% Têxtil 50% 33,3% 58,3% - Fonte: Identificação e diagnóstico das possibilidades de SPL na Baixa Califórnia, financiadora SIMAC, Martínez Pellegrini, 2006. As respostas sobre os fatores de competitividade empresarial têm mais uma vez a mesma orientação, e a conclusão que obtemos é que não foi modificada a visão do empresariado local sobre a organização da produção baseada na disponibilidade do fator trabalho com os problemas que isto implica, porque incide inclusive em uma intensificação do padrão de imigração interna com os subsequentes problemas que isto gera. Partindo dos modelos dominantes de cluster em outras experiências (Quadro 5), a orientação que parece factível para conseguir a consolidação dos agrupamentos na Baixa Califórnia é um híbrido do modelo de redes de PMEs que poderia tratar de integrar a algumas médias e grandes empresas para incentivar a inovação e do modelo de desenvolvimento regional que estimule uma especialização, a partir de redes de empresas ou agrupamentos existentes ou em formação. Essa hibridização permitiria coordenar as propostas de ação e fazê-las congruentes entre si enlaçando os objetivos de competitividade e de fomento das PMEs com a incidência sobre o desempenho econômico e o desenvolvimento da região, ambos modelos se referem aos níveis micro e médio, embora possa considerar-se que são priorizados de forma diferente. Quadro 5 – Os modelos internacionais dominantes de cluster Nível Modelo nacional de aproveitamento Proposta para a melhora Vantagem, nacional em certos setores Mega/Médio ou cadeias de valor. Atividade típica Países típicos Modelos de redes PMEs Micro/Médio CompetitividadePMEs. Canadá, HolanIdentificação de da Dinamarca, clusters e criação de Finlândia, condições de apoio. Suécia. Aumento nas interações com os por- Austrália, Nova tadores externos de Zelândia, Noconhecimento para ruega, Estados inovar e aprender Unidos. dos outros. 136 Clusters e sistemas produtivos locais, competitividade e articulação nas regiões Modelo de desenvolvimento regional Proposta para a melhora Atividade sobre o desempenho Médio/Micro econômico e o desenvolvimento regional. Nível Atividade típica Estímulo de especialização por meio de investimento e de redes. Países típicos Canadá, Escócia (RU), Estados Unidos, Gales (RU). Modelos de Colaboração e reenlace sobre Micro/Médio des entre a indúspesquisa tria e a pesquisa. industrial Fonte: Boekholt y Thuriaux, 1999. Criação de uma massa crítica em tecÁustria, Alenologias emergentes manha, Países atraindo centros de Baixos. pesquisa, investimentos e empresas. 4. A política de fomento e desenvolvimento de clusters do Estado da Baixa Califórnia O papel do governo local é central na consolidação da estratégia de associação ou construção das redes, em grande parte porque os atores percebem uma situação de insegurança jurídica que inibe os projetos de médio e longo prazos que é onde estaria o maior potencial de colaboração entre empresas e das empresas com outras instâncias de apoio. A partir de 2002, o governo de Estado, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SEDECO), inicia os trabalhos para articular uma política de desenvolvimento estatal que envolva ativamente os empresários; até esse momento, a relação com as instâncias governamentais se havia circunscrito à distribuição de incentivos, principalmente financeiros, dos governos estaduais e federais. Não existia uma relação horizontal ou articulação institucionalizada entre os atores do Estado para impulsionar o projeto de desenvolvimento regional. A nova política de fomento de cluster pretendeu obter a articulação horizontal incorporando os empresários ao design, à implementação e à avaliação da política de desenvolvimento empresarial, apesar dos obstáculos existentes, e mudar o esquema vertical de relações do governo e de atores econômicos. A atividade das instâncias governamentais propôs como fortalecer e desenvolver de maneira organizada e cooperativa alguns dos setores mais importantes, estratégicos ou emblemáticos do estado.79 Um 79. As atividades importantes são aquelas que apresentavam emprego e PIB acima da média estatal, as estratégicas, aquelas cujo crescimento tinha sido superior à média estatal e as emblemáticas, aquelas que se consideravam próprias do Estado, como, por exemplo, a vitivinicultura. O cluster vitivinícola foi considerado um dos emblemáticos da Baixa Califórnia, produz 80% do vinho do país e com padrão de qualidade que lhe permitiu obter numerosos prêmios internacionais e posicionar-se no mercado internacional apesar de sua reduzida produção. Ver Plan estratégico del cluster vitivinícola (2003) publicação da Secretaría [Ministério] de DesenClusters e sistemas produtivos locais, competitividade e articulação nas regiões 137 dos aspectos importantes da proposta desta estratégia foi incorporar ao planejamento, além dos setores em que se especializa o Estado, outros setores produtivos com menor nível de especialização e menor impacto na economia regional nesse momento, mas com maior identidade e enraizamento locais como opções para detonar o processo de articulação do SPL da Baixa Califórnia. Retomamos duas definições de sistema produtivo local como base de análise para a Baixa Califórnia: “uma série de atividades dirigidas à produção de um grupo limitado de bens semelhantes ou complementares, série que pode assumir diferentes configurações orgânicas e técnicas, vindo a restrição definida por una dotação de ativos produtivos não (facilmente) transferíveis” (BELLANDI, 1996). “conjunto de atores produtivos e instituições que pertencem a uma determinada localidade histórica e geograficamente determinada e que participam nos processos de desenvolvimento econômico da mesma” (DINI, 2007). Como primeiro passo foram identificadas as vocações produtivas80 do estado para, a partir delas, proceder à identificação e diagnóstico quantitativo de cluster existentes e potenciais e de suas fortalezas e debilidades. A parte quantitativa da identificação, por meio da matriz insumo-produto estatal, permitiu avaliar a magnitude das relações entre atividades e inclusive, em alguns casos, detectar vínculos que não se tinham contemplado, mas se limitam às relações de intercâmbios comerciais, setoriais e intersetoriais. A eficiência da política, uma vez feita a identificação dos clusters reais e potenciais, fundamentou-se na seleção de instrumentos ad-hoc à situação revelada por cada diagnóstico e à priorização das ações sobre os pontos estratégicos dos agrupamentos. A avaliação da eficácia seria feita partindo do grau de comunicação e cooperação desenvolvida, por esta razão os acordos de cooperação foram cruciais desde o início dessa política de desenvolvimento empresarial até a data. A avaliação de impacto requer algo mais de tempo para registrar mudanças na base produtiva da Baixa Califórnia. Pode considerar-se que as três principais mudanças de enfoque dessa nova política foram: 1) que as unidades ou sujeitos de políticas passaram a ser redes de empresas (clusters) no lugar de empresas individuais; 2) que volvimento Econômico do Estado da Baixa Califórnia, responsável pelo projeto Sárah Martínez Pellégrini. 80. Realizado por Integra Internacional cujos resultados se encontram em “La política de desarrollo empresarial del estado: vocaciones productivas” para Sedeco. 138 Clusters e sistemas produtivos locais, competitividade e articulação nas regiões se propôs enfatizar a provisão de serviços reais às empresas no lugar de incentivos econômicos; e 3) que se partiu de um diagnóstico que conjugou os aspectos qualitativos da detecção de vocações e os quantitativos da quantificação de encadeamentos. Os apoios inicialmente foram condicionados a que o cluster estivesse identificado e contasse com um plano estratégico81 que contemplasse a linha de ação para a qual foi solicitado o apoio, e que da ação fossem beneficiadas ao menos 10 empresas. Essas características contribuíram para que a política de desenvolvimento empresarial, baseada no desenvolvimento e fomento de clusters da Baixa Califórnia, seja considerada uma das pioneiras em seu âmbito no país. Inicialmente, foram identificados oito clusters de turismo, eletrônica, software, automotivo e plástico, vitivinicultura, móveis, horticultura e cerveja, e, embora ainda seja cedo para avaliar em todas às suas dimensões a política de fomento e desenvolvimento de clusters, um primeiro dado é que desde 2003 a janeiro de 2008, o número de clusters registrados aumentou em 15: aeroespacial, agroindustrial, automotivo, biotecnologia, eletrônica (display devices), energia, logística, móvel e madeira, pesca e aquicultura, produtos médicos, plásticos, serviços médicos, tecnologias de informação, turismo e vitivinícola. Mantiveram-se ativos os agrupamentos iniciais e surgiram outros cinco. A comparação das listas de clusters da Baixa Califórnia em 2003 e 2008 reflete, em primeira instância, uma reorganização de parte dos grupos que existiam, de forma que os atores associados em cada cluster se modificaram segundo o funcionamento do sistema produtivo na realidade ou segundo os interesses por parte dos integrantes das atividades. Esse último caso acontece particularmente em casos em que coexistem atividades maduras com atividades mais inovadoras, o que permitiu identificar as vantagens da cooperação com o objetivo de gerar sinergias e economias externas de diversos tipos. São os casos em que a complementaridade dos envolvidos no cluster é o elemento crítico da cooperação. A segunda mudança que estas listas de clusters refletem é o tipo de agrupamentos que surge, poderia dizer-se que uma “segunda onda” está integrada por cluster de atividades mais intensivas em tecnologia e conhecimento (biotecnologia, aeroespacial) e cluster de serviços à atividade em geral (energia e logística). Uma primeira interpretação deste sentido poderia ser certa mudança estrutural na base econômica da região, na qual estão iniciando os setores de potencial especialização ou atividades incipientes e que está organizando-se de maneira mais integrada ao sistema produtivo 81. Os planos estratégicos dos agrupamentos podem ser consultados em: www.clusterbc.org, assim como qualquer outra informação sobre suas atividades e integração. Clusters e sistemas produtivos locais, competitividade e articulação nas regiões 139 local com o surgimento de demandas de serviços às empresas mais avançados (energética e logística). Para corroborar esta interpretação seria necessário contar com a informação precisa sobre os projetos de cada cluster e as relações entre agrupamentos, assim como acompanhar a evolução tanto dos agrupamentos, atores do sistema econômico regional, quanto das relações entre eles em uma dinâmica de integração da economia regional como sistema produtivo local.82 Entre as linhas de ação ou iniciativas propostas formalmente pelos clusters da Baixa Califórnia nos seus planos estratégicos se destacam, em primeiro lugar, os projetos no âmbito da formação de recursos humanos. Essa é uma das linhas de ação presentes em praticamente todos os planos e abrange desde a capacitação dos operadores e técnicos das empresas, até a capacitação em temas de administração empresarial para os gestores e empresários. Essa demanda das empresas é congruente com duas características da região; em primeiro lugar, a presença de um grande número de atividades que fundamentam sua competitividade nos custos e disponibilidade da mão de obra; e, em segundo lugar, o escasso impacto da indústria que foi desenvolvida até o momento na orientação do mercado laboral para a competitividade por qualidade. Outra linha de ação que retoma a maior parte dos planos estratégicos é o desenvolvimento de fornecedores ou articulação com clientes, o que indica que ao menos parte das empresas da região procura trabalhar no caminho da integração de redes, mais ou menos locais segundo os casos, mas com uma visão de coordenação e cooperação um pouco mais complexa do que o simples intercâmbio de produtos, mercadorias ou serviços. Em alguns dos planos inclusive se propõe uma linha estratégica de vinculação entre os atores do mesmo setor. Na lógica dessa cooperação-colaboração de diferentes maneiras surge outra preocupação, que se poderia considerar geral por aparecer na maior parte das propostas que os agrupamentos empresariais baixo-californianos fazem: a necessidade de articular-se com outras instituições denominadas de apoio, entre as que se encontram de maneira destacada o setor governo e o educativo de pesquisa. O governo aparece considerado como um ator importante na articulação dos grupos (correspondendo ao papel de motivador dos clusters que teve com o início da política), como possível financiador de parte das ações e principalmente como um interlocutor para melhorar o quadro regulatório e institucional no qual são desenvolvidas as atividades. 82. Até a data só existe informação sistemática sobre o monto de investimento por cluster, segundo os projetos financiados total ou parcialmente com participação do setor público. 140 Clusters e sistemas produtivos locais, competitividade e articulação nas regiões e começa a permear. a partir de um consenso público-privado. Esta situação responde às recentes dinâmicas de descentralização e abertura no país. competitividade e articulação nas regiões 141 . A obsolescência institucional se manifesta por igual no âmbito público e no privado e aponta a inexistência de um consenso sobre a organização mais adequada para obter os objetivos de desenvolvimento econômico propostos para o estado. em um setor da base econômica. a visão de um esquema de cooperação para conseguir maior competitividade em nível setorial e territorial. a estratégia de vinculação da economia estatal aparentemente teve maior impacto e apresenta maiores possibilidades de êxito nos setores de atividade emergente com alto potencial de crescimento que podem consolidar-se com uma lógica de competitividade baseada na cooperação e na qualidade. começam a dar-se sinergias em algumas atividades e entre atividades. a origem – local ou internacional – das empresas agrupadas e a forma de organização inicial das mesmas foram determinantes das possibilidades de existência e reforço de articulação entre os atores. Outro caso seria o do agrupamento de serviços médicos. Por esta razão. o que explica que a aprendizagem das novas regras é um processo ainda incipiente. que é um agrupamento de alto valor agregado com alto potencial de exportação de serviços e uma clara diferenciação municipal na sua organização e funcionamento. como reflete a permanência dos agrupamentos iniciais e o surgimento de novos. permite sugerir que se ainda não se pode falar de um sistema produtivo local da Baixa Califórnia. Nesse caso. A análise das redes (por agrupamento) ressalta a demora na adaptação institucional às dinâmicas de baixo para cima como um dos principais inibidores aos que os atores locais têm que enfrentar. Reflexões finais No caso da Baixa Califórnia. embora apresente principalmente nos estados que. da política de desenvolvimento empresarial baseada no desenvolvimento e fomento de cluster da Baixa Califórnia. por seu desenvolvimento atual. se encontra o cluster vitivinícola que.O que foi dito anteriormente. pode considerar-se em uma lógica de desenvolvimento territorial e prestes a constituir um sistema produtivo local nos vales de Ensenada onde está situado. como a Baixa Califórnia. Clusters e sistemas produtivos locais. enfrentam a competitividade internacional de forma mais direta por sua localização e por sua dinâmica de produção manufatureira muito marcada pela presença das maquiladoras. no sentido estrito. sem ser uma avaliação. . CORTÉS. Neste sentido. Ver Martínez Pellegrini. Referências bibliográficas AGHON. Proyecto Regional de Desarrollo Económico Local y Descentralización. lización en América Latina: Análisis comparativo. ainda não foram geradas as redes de interação que permitam explorar realmente as economias externas. 2006. A política de desenvolvimento empresarial baseada no desenvolvimento e fomento de clusters poderia ser um bom começo desta mudança de enfoque para uma proposta de desenvolvimento territorial marcada pela evolução para a consolidação de um sistema produtivo local com características próprias. os resultados obtidos em diferentes pesquisas83 demonstram: 1) que o processo de integração reforçou os modelos de especialização existentes. em particular da Baixa Califórnia. competitividade e articulação nas regiões . Chile: CEPAL/GTZ. É difícil falar que o empresariado local conseguiu consolidar um caminho de desenvolvimento local ou um modelo de desenvolvimento que contribua para a construção territorial do estado. G. falta ver se os atores envolvidos decidem dar um voto de confiança e tempo e recursos necessários para alcançar os objetivos comuns e perpetuar o estabelecimento de novos acordos de cooperação. A menção por parte de uma proporção de empresários da necessidade de maior cooperação interempresarial e com outras instituições é um indício de que já existe certa consciência da necessidade de articulação para obter maiores níveis de competitividade.No caso do México e. O Estado da Baixa Califórnia apresentou uma situação de crescimento sustentável sem que tenham ocorrido na mesma velocidade as mudanças estruturais da base produtiva regional que permitiriam falar em desenvolvimento do potencial competitivo regional.. P Desarrollo económico local y descentra. Os fundamentos. é necessária uma nova proposta da estratégia de desenvolvimento do estado para estabelecer uma dinâmica que aponte resultados de longo prazo (desenvolvimento) e não tanto de benefícios de curto prazo (crescimento). mas apresenta elementos para poder consolidar um sistema produtivo local que responda às especificidades regionais. o grau de articulação entre atores para poder falar de sistemas produtivos locais ainda é baixo. ALBUQUERQUE. 142 Clusters e sistemas produtivos locais. Apesar da existência dos intercâmbios detectados a partir da tabela ou matriz de insumo produto e da especialização do estado em certos setores. F. 83. e 2) que na Baixa Califórnia. fundamentada nos recursos regionais e não somente no investimento externo. dos quais parte abrangem a maioria dos elementos necessários para conseguir o objetivo de integração do sistema produtivo local. 2001. 1974. A. PRECEDO LEDO. Estudios Sociológicos. J. C. Clusters e sistemas produtivos locais. identidad territorial y ciudad difusa. El territorio como variable económica: el concepto de sistema productivo local. IREPD. Tesis doctoral. Regional Studies. Reporte de investigación. v. Madrid. Pymes y articulación productiva. J. María Teresa Costa e Joan Trullén (coords. In: Serie desarrollo productivo n. Un caso ejemplar de desarrollo en la Italia de los distritos industriales: Prato (1954-1993). 1992. CEPAL-GTZ. M. p. MARTÍNEZ PELLÉGRINI. R. Sistemas productivos locales e integración económica : el caso de Baja California. 73-89. La oruga y la mariposa. v. Industrial Restructuring as Class Restructuring: Production Decentralization and Local Uniqueness. Technopolis: The Hague. Resultados y lecciones a partir de experiencias en América Latina. N. MASSEY.pdf emitido em 2005. Valladolid: Universidad de Valladolid. 2001. 83106. 2. 1983. DINI. Desarrollo local.). Identificación y diagnóstico de las posibilidades de SPL en Baja California. Diputació de Barcelona y Civitas. D. 2002. 17. 2007. S. Avebury. Barcelona. GASALY. Notes de travail 11. 75. Le développement régional.BECATTINI. p. Editado por Gioacchino Garofoli. 683-707. In: Giacomo Beccatini. Aldershot.. 2005. Madrid: Editorial Síntesis..) Desarrollo local: teorías y estrategias. Las nuevas fuerzas del desarrollo.es/info/ec/jec7/pdf/com8-2. PERRIN. VÁZQUEZ BARQUERO. J. Endogenous Development and Southern Europe. Desarrollo territorial: hacia un enfoque sistémico e integrador. CIVIDANES. —. XXV n. Una crítica al paradigma de desarrollo regional mediante clústers industriales forzados. FUENTES. Nuevas realidades territoriales para el siglo XXI. financiado por SIMAC. GAROFOLI. A report for . 2006. PACHECO-VEGA. mars. Local Development Initiatives Under Incipient Regional Autonomy: The Spanish Experience During the Eighties. n. 165-183. Aldershot. —. GÖSKE. 2005. www. p. A.. G. 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Esses setores também têm aproveitado o bom momento dos preços internacionais de seus produtos (FUNCEX. No ambiente globalizado. o crescimento das vendas externas cearenses. os setores couros e calçados seguiram em ciclo ascendente do quantum exportado desde a implantação das primeiras unidades atraídas para o estado pelos incentivos do governo local. O incremento das vendas externas estaduais a partir daí foi resultado. 2008). o quantum exportado já vinha registrando movimento ascendente desde 1999 e sustentou a tendência até 2007. a reação estadual à abertura comercial da economia brasileira começa a se fazer sentir de maneira significativa a partir de 1999. era uma economia pouco aberta ao comércio exterior até a década de 1990. depois de ter experimentado trajetória descendente na década que precedeu. O caminho traçado para análise aborda a balança comercial estadual através da evolução do saldo da balança comercial e de indicadores que possam qualificar a composição das trocas em nível de setor. O índice de preço geral das exportações estaduais sustentou trajetória de crescimento a partir de 2003. De fato. Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 145 . Na década seguinte. Os setores industriais cearenses que começaram a despontar. Introdução O Estado do Ceará. O estudo analisa o comércio exterior do Ceará no que se refere às características e as tendências das transações no período 1990-2007. em grande medida. examina-se a 84. como importantes exportadores tiveram papel fundamental nesse resultado. sobremaneira. Nesse contexto. os preços internacionais ajudaram. na segunda metade da década de 1990. evidenciada pelo movimento ascendente das exportações.Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado Maria Cristina Pereira de Melo84 1. assim como o Brasil. ou seja. A última modificação foi efetuada em 2007. o Provin foi reformulado e passou a conceder. a análise ficará por conta das alterações verificadas no comércio a partir dos incentivos concedidos pelo governo do estado e o papel das empresas beneficiadas nesse processo. O deslocamento das empresas para o Ceará tomou fôlego a partir da segunda metade da década de 1990. 2. será apresentada uma breve retrospectiva dos programas estaduais de atração de investimentos industriais. serão avaliadas as trocas comerciais externas cearenses no ambiente globalizado. o qual dotou o Estado de instrumento legal para a concessão de incentivos às empresas industriais que investissem no estado. Essa reformulação foi a mais duradoura e a que expressou maior poder de atração. maiores seriam os incentivos. Em 1995. como principal forma de incentivo. entre 1995 e 2005. Na primeira seção. Em 1989. o estudo está divido em quatro seções. Dessa forma. e na quarta. 432 empresas foram beneficiadas como resultado da implementação do citado 146 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado . As principais formas de incentivo previstas pela referida legislação eram a concessão de empréstimos de médio e longo prazos. quanto mais distante da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) fosse instalada a empresa industrial. Por fim. aquisição de ações. aquele período que antecede o ingresso das empresas incentivadas na economia do Ceará. 2006a). empréstimo sobre o ICMS arrecadado pelas empresas incentivadas.367.composição da pauta no período a fim de qualificar as mudanças de perfil ocorridas ao longo dos anos considerados levando em conta as diferentes trajetórias dos setores exportadores. Foram acoplados vários programas a esse Fundo. Este fundo foi criado em 1979 através da Lei no 10. De fato. na segunda. debêntures ou títulos outros emitidos por empresas industriais e subsídio de encargos financeiros para empresas com sede no Ceará. Esse programa passou por várias reformulações ao longo dos anos. na terceira. será traçado o perfil exportador cearense nos anos 1990. ou seja. outra reformulação adotou a lógica dos raios econômicos. criado no início da década de 1980. esses incentivos foram alterados mais uma vez (IPECE. com destaque para o Programa de Atração de Investimentos de Empresas Industriais (PROVIN). será abordada a dinâmica de comércio exterior das empresas incentivadas cearenses e a recomposição da pauta exportadora estadual. Em 2002 e 2003. O Fundo de Desenvolvimento Industrial e atração de empresas para o estado O Estado do Ceará começou a se interessar em atrair empresas de outros estados no final da década de 1970 através do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI). fiscosoft. Somente empresas desses setores receberam incentivos atrelados ao Programa de Incentivos às Atividades Portuárias e Industriais do Ceará (PROAPI). Para uma empresa intensiva em mão de obra e inserida em um mercado globalizado.br. tais como mão de obra com custo relativo mais baixo que do Estado de origem (30% em relação ao Sul/Sudeste). ampliação. exclusivamente dos setores de couros e calçados. as vantagens comparativas citadas se traduziriam em poder competitivo. sendo os setores os mais representativos mencionados a seguir: têxtil. modernização.1996 do governo do Estado do Ceará:85 “contribuir para a consolidação e descentralização do setor industrial cearense. o mais importante gerador de postos de trabalho é o calçadista. Outro Programa associado ao FDI beneficiou empresas exportadoras. diversificação. Fica evidente que setores intensivos em mão de obra foram. como também com outras vantagens locacionais. 2006b). Esse Programa teve como finalidade. metalmecânico. Dessa forma.096 de 22. A estratégia de deslocamento das empresas contava não só com os incentivos atrelados ao programa de atração citado acima. consideradas de fundamental interesse para o desenvolvimento econômico do estado. empresas dos mais variados setores de atividade foram contempladas pelos referidos incentivos. sobremaneira.Programa. beneficiados com o Provin e são.com. através de incentivo à implantação. A íntegra do decreto está disponível em www. importantes para a geração de emprego. 85. infraestrutura portuária (importante para exportação) e proximidade ao mercado consumidor (tempo de transporte marítimo corresponde três dias de redução no Ceará comparado com o Sul do País para Estados Unidos e Europa). recuperação e relocalização de empresas industriais. Dentre esses. por conseguinte. vestuário e mais recentemente químico (IPECE. calçados. Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 147 . o estado oferecia terreno para a instalação da planta e treinamento de mão de obra no período de três meses. segundo o Decreto no 24. Adicionalmente. alimentos. “fomentar as atividades portuárias e incrementar o desenvolvimento industrial e de produtos industrializados em todo o Estado do Ceará a serem exportados para o exterior”. vestuário e têxtil.5. seguido pelos setores de alimentos. cujo benefício estava atrelado diretamente ao comércio externo. com 16%. 90% (noventa inteiros por cento)” 3. entendese por empresa industrial predominantemente exportadora de calçados e/ou componentes de calçados. Em 1998. como resultado da seca que atingiu o estado. já surgiram os resultados da política estadual de estímulo à indústria e atração de novos investimentos Durante o ano 1998. Considerando-se o crescimento real da indústria. este setor alcançou apenas 3. No ano anterior. enquanto a indústria detinha 29% e o setor agropecuário 5. perfazendo 35% dessa medida. Participava.478.5% nos primeiros meses do ano. Perfil exportador cearense nos anos 1990 Na década de 1990. apresentou crescimento real da indústria de 19%. 148 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado . da retração de 2. em 1991. expressando retração de 24% (FONTENELE. Observa-se que. sediadas no Estado do Ceará. 2004). a expansão de 4% ocorrida no setor industrial elevou novamente a participação no PIB estadual. o Estado do Ceará apresentou comportamento singular quando comparado aos demais estados da região. de 21 de julho de 1995. MELO.5% do PIB estadual.” “Parágrafo único. Para os fins do caput deste artigo. através da utilização dos recursos decorrentes dos retornos das operações do FDI. deve-se salientar que este estado. aquela que comercialize para fora do País pelo menos. a atividade industrial cearense mostrou comportamento instável. constata-se que o Ceará obteve baixo crescimento comparando-se os dois extremos do período 1991-1996. A indústria cearense sofreu perda na participação no PIB estadual durante o período 1991-1997. em 1997. 1o e 2o da Lei no 12. 1o O Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) do Ceará assegurará. a economia cearense recuperou-se no segundo semestre crescendo 5%. com 15% do PIB nordestino e.7%. maior crescimento dentre os estados da região e. No entanto. participando com 65% da geração de seu PIB. na forma prevista nos arts. financiamento para capital de giro às empresas industriais predominantemente exportadoras de calçados e/ou de componentes de calçados. em 1998. Serviços era o principal setor produtivo do estado nesse último ano.Consta do decreto: “Art. enquanto não creditadas à conta do Tesouro do Estado. em 1991. sediadas no estado. através do Programa de Incentivo às Atividades Portuárias e Industriais (PROAPI) do Ceará. A participação da agropecuária cearense no PIB estadual também perdeu nesse período e se reduziu ainda mais em 1998. Esse resultado era esperado uma vez que tradicionalmente o Estado do Ceará não expressava caráter exportador na região Nordeste evidenciado pelo indicador que expressa a importância das exportações no PIB estadual com relação ao mesmo indicador para a região como um todo (Xest/PIBest<Xne/PIBne) (FONTENELE. MELO.1099 0.1598 0. no entanto.0318 0.0657 0.0703 0. 2007. MELO.0701 0.0517 0.0994 0.0848 0.0912 0.0749 0.0699 Mne/MBr 0.0955 0. constatou-se recuo de 23% dos produtos da indústria alimentícia motivado pelo fraco desempenho da castanha de caju.0669 0. seu coeficiente de importação mais que triplicou na década de 1990. Era o quarto estado exportador do Nordeste.0831 0.0778 0.0502 2000 0.0781 0.0712 0.0946 0.1528 0.0455 1997 0.0847 0. enquanto no grupo que mais se destacou no período apareciam outros não tradicionais na pauta de exportação. 2004.0717 0.1120 0.1972 0. 2008. o estado revelava-se aberto ao comércio exterior fundamentalmente pelo desempenho de seu setor importador.0727 0. Nordeste e Ceará: coeficiente de importação (m) e grau de abertura (GA) Indicadores m Brasil m Nordeste m Ceará GA Brasil GA Nordeste GA Ceará 1991 0.0904 0.1439 0. material elétrico e de comunicação e minerais não metálicos.1843 0. Tabela 2 – Nordeste e Ceará: indicadores de exportações e importações (1991-1999) Anos 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Xne/XBr 0.0747 0.0912 0.1373 Fonte: BRASIL. o Estado do Ceará respondia por 9% das exportações nordestinas aumentando sua participação mais um pouco até o final da década.0574 0. O grau de abertura mais que dobrou comparando-se o início e o fim da década. Interessante observar que entre os setores industriais de pior desempenho estavam alguns dos principais produtos de exportação do estado. 2004.1974 0. Em 1997. 2004) (Tabelas 1 e 2).1035 0. MELO.1067 2005 0. Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 149 .1739 0.1364 0.0769 0.0807 0. contas regionais. IBGE.1951 0.0649 0. Tabela 1 – Brasil.0312 0.0763 0.Setorialmente.0884 0.1843 0. A recuperação no segundo semestre deveu-se principalmente aos setores de metalurgia.0244 0.2156 0.0669 0.0716 Xce/Xne 0.1627 Fonte: FONTENELE.0956 0.0168 0.2881 0.0594 0.0848 0.1000 0.0703 0. FONTENELE.1106 Mce/Mne 0. 039) (6.465. resinas.036) (328.38 0.466. expressando saldo negativo já em 1993. ferro e aço (77%). outros artigos de confecção de tecidos (56%). que se manteve até o final do período. gomas. frutos comestíveis cascas de frutas (67%).895 13.801 64.30 0.283.195) SBCce/X+M SBCne/X+M SBCbr/X+M 0. Nordeste e Ceará: saldo da balança comercial (1991-1999) (em US$ 1. Essa divisão se deve ao fato de que foi a partir do ano 1996 que começaram a ser assinados os contratos de incentivo à exportação entre o governo do estado e empresas privadas através do Programa de Incentivo às Atividades Portuárias e Industriais do Ceará (PROAPI).07 -0.20 -0.Quanto ao comportamento da balança comercial cearense na referida década. constata-se movimento declinante bem mais forte que o apresentando para o Nordeste e para o Brasil.20 0.298. apesar de ter havido movimento em direção à redução do déficit comercial a partir de 1997 (Tabela 3). caldeiras máquinas. 2004.768 10. gorduras.428 1.055) SBCbr 10.867) (294. perneiras (72%).459 (3. MELO.974) (172. instrumentos musicais aparelhos de reprodução som e imagem (72%).24 0.05 -0.28 -0. A análise setorial da década de 1990 está segmentada em dois subperíodos.239) (79. algodão (72%).000) Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 SBCce 105. pode ser visualizado.26 -0.614) (1.21 -0. Dessa forma. navegação marítima e fluvial (87%).420) (268.29 0.269) SBCne 1. óleos e ceras (47%).06 -0.01 -0. O Ceará foi o principal exportador de 12 setores dentre os 45 mais importantes para a região em 1996. o início dos rebatimentos no comércio exterior estadual a partir de tais eventos.614) (5.975 (113.24 0. 150 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado .11 -0.12 0.215 1. com maior clareza.239.01 Fonte: FONTENELE.047. têxteis metalizados (74%).173 1.03 -0. Tabela 3 – Brasil.133) (187.37 -0.17 0. O primeiro corresponde aos anos 1991 a 1996 e o segundo 1997 a 1999. ferro fundido.823) (433. aparelhos e instrumentos mecânicos (55%).887) (6.03 -0.291.216 (315.578. quais sejam: peixes.697) (202.047.826) (250.09 -0.02 -0.27 -0. outros sucos de extração vegetal (47%).599.665.794 15.04 -0.389 636.20 0.752.16 0. calçados. crustáceos e moluscos (69% da exportação regional).623. em 1996.84 2. Suas exportações permaneceram estáveis em toda a década.49 4. ainda que tímida.51 Fonte: FONTENELE. fotografia etc.79 1. o qual se sustentou até a década seguinte com parcela importante. cascas de cítricos e de melões Algodão Peixes e crustáceos. mecânicos Instrumentos e aparelhos de óptica.45 4. Principais setores correspondem ao conjunto formado por aqueles que totalizam 90% da pauta. mica etc. amianto. e suas partes Leite e laticínios.. MELO.28 1.p>200g/m2. moluscos e outros invertebrados aquáticos Gorduras. correspondendo a 67% das exportações nordestinas. em sete deles o estado tinha forte especialização relativa à região.Tabela 4 – Ceará: principais setores exportadores de 1996 (1991/1996) (% na Pauta)86 NCM 08 52 03 15 64 04 41 55 72 62 73 13 84 90 68 Setores Frutas. O setor de algodão. ovos de aves. Obras de pedra. A análise da distribuição setorial das exportações do Ceará para o período 1991-1996 destaca que sete setores foram responsáveis por 90% do valor da pauta cearense no início do período enquanto. Total Demais produtos 1991 34.05 19.22 16.09 2.70 2. revelando alguma diversificação.90 9. 86. gesso. casca de frutas etc. A castanha de caju se mantém. Peles.95 0. polainas e artefatos semelhantes. 2000. por 16% das exportações cearenses (74% das exportações nordestinas do setor).58 95.26 11. foi o setor com maior participação na pauta de exportação cearense em 1996 (40%).76 95. Para análise setorial detalhada da pauta exportadora estadual cearense na década de 1990 (ver FONTENELE.43 1.20 11.24 0.54 3. fios e tecidos de algodão foi responsável. Calcados. e couros Fibras sintéticas ou artificiais descontínuas Ferro fundido.21 0.55 1996 40.92 0. exceto a peleteria (peles com pelo).46 2.87 Frutos comestíveis. óleos e ceras animais ou vegetais etc. desde sempre.”denim”. na primeira posição na pauta estadual exportadora. apesar de paulatinamente perder importância. máquinas etc. 2004). 87. caldeiras. MELO. mel natural etc.28 0.54 1. cimento. Desse conjunto de setores. em 1996. um conjunto de nove setores correspondia por esse percentual.68 0. Avalia-se.78 0.70 10.80 0. a seguir. exceto de malha Obras de ferro fundido.85 1. ferro ou aço Gomas.99 8. O produto mais representativo nas vendas desse setor foi tecido algodão>=85%.66 1. resinas e outros sucos e extratos vegetais Reatores nucleares. o comportamento de setores representativos na pauta de exportação de 1996.25 0. ferro e aço Vestuário e seus acessórios. Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 151 . Naquele ano. O Estado do Ceará demonstrou significativa especialização relativa à região como um todo nesse setor. O sexto setor na pauta de exportações. constata-se que a pauta de exportação do Ceará continuou muito restrita. apresentou forte recuo das exportações de 1991 para 1995. lagostas era o produto mais vendido ao exterior por esse setor. Aqui. mas se recuperou em 1996 expressando inclusive aumento de participação na pauta cearense. pouco a pouco. laticínios. este perfazia cerca de 90% de tudo que era exportado pelo setor de peixes. este produto perdeu posição de maneira acentuada. fios e tecidos de fibras sintéticas ou artificiais. Para esse setor o produto mais representativo para a pauta estadual exportadora desse ano foi outros couros e peles de bovinos/ equídeos.4% para 6. com 40% das vendas do setor. Para o subperíodo seguinte. por 90% do total das exportações (com 16 setores responsáveis por 97%). curtidos e recurtidos. sem dúvida. Sem dúvida. descontínuas. ovos de ave e mel. Nos anos subsequentes. cru/alvejado/ branqueado. oito setores foram responsáveis. óleos e ceras participou com 10% da pauta exportadora estadual em 1996. O setor de peles e couros correspondeu a 2. A queda de participação desse setor em 22% de 1996 para 1999 deveu-se. Foram as ceras vegetais os mais importantes produtos exportados pelo setor (quase a totalidade) para 1996 e nos anos seguintes apesar de.Peixes.6% da pauta exportadora cearense de 1996. deve-se salientar o comportamento 152 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado . leite integral em pó foi o produto mais vendido por esse setor cearense. O produto mais representativo comercializado por este setor em 1996 foi outros calçados de couro natural. cuja importância se acentua e perpassa os anos subsequentes.7% em 1996 para 19. ver reduzida sua parcela nas vendas externas totais do estado. fio de fibra de poliéster c/algodão. Fibras.3% em 1999 e o segundo de 2. o que representou aumento de participação de 21% em relação a 1991. o produto a ser destacado é. em 1999. em 1996 foi o de leite. O principal setor exportador permaneceu frutos comestíveis (32% da pauta). perneiras etc.4% no mesmo período. O setor de gorduras. o qual apresentou desempenho instável no período. é o terceiro setor em ordem de importância na pauta de exportações cearenses em 1996. que participou com 2% das vendas externas estaduais. passando de 1% para 2% no final do período.. ao crescimento da parcela dos setores de calçados e de couros: o primeiro saiu de uma parcela de 2. Nesse ano. crustáceos e moluscos. essencialmente. O quinto setor na pauta exportadora estadual foi o de calçados. tradicional setor exportador da pauta cearense. ferro e aço Obras de pedra.26 1.00 0.02 0. deslocando algodão.42 94. amianto. 2008. O bom desempenho do setor exportador do Ceará está.27 0.99 6.79 0.75 1.92 1. 4. Ressalta-se. Programa de Incentivos às Atividades Portuárias e Industriais do Ceará (PROAPI).11 12. gesso. moluscos e outros invertebrados aquáticos Peles.69 1.36 1. fios e tecidos de algodão e peixes.41 5.75 2.78 9.15 1998 35. e mica etc. o incremento das compras tem baseado a volta do déficit no saldo da balança comercial estadual (Tabela 6). tais como: Programa de Incentivo ao Funcionamento de Empresas (PROVIN).04 0.40 1. no entanto.37 1.47 14. Nesse período. crustáceos e moluscos para terceiro e quarto lugar na pauta. Total Demais Setores 1997 39.91 0. sem dúvida. ferro ou aço Ferro fundido. respectivamente. resinas e outros sucos e extratos vegetais Obras de ferro fundido.36 1. começa a colher os primeiros frutos.82 0. e suas partes Algodão Peixes e crustáceos. Outros artefatos têxteis confeccionados.41 1999 31.84 1.43 10. sortidos etc.54 2.64 95.72 3. O crescimento das vendas mais que proporcional às compras entre 2000 e 2005 fez inverter a trajetória anterior de resultados negativos.98 2.76 7. nos dois anos subsequentes.48 4.15 0.85 6. óleos e ceras animais ou vegetais etc.30 12.02 9. exceto a peleteria (peles com pelo).19 18.18 0. polainas e artefatos semelhantes. cimento. ainda. descontínuas Transações especiais Gomas.76 19. orientada para exportação. sétimo setor da pauta de exportação de 1996 (2%) evoluindo para o segundo lugar no ranking em 1998 (19%). Fibras sintéticas ou artificiais.24 9.das exportações de calçados. Trocas comerciais externas cearenses no ambiente globalizado Conforme foi revelado acima. e couros Gorduras. o comportamento do setor peles e couros que passa a ocupar a quinta posição no ranking dos principais exportadores de 1999 (Tabela 5).52 Fonte: BRASIL. o Estado do Ceará perpassa praticamente toda década de 1990 com saldo negativo no comércio exterior.34 93. relacionado à política de incentivos do governo do estado através do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) com seus diversos Programas.59 5.94 0. Tabela 5 – Ceará: principais setores de exportação de 1999 (1997-1999) NCM 08 64 52 03 41 15 55 99 13 73 72 68 63 Setores Frutas cascas de cítricos e de melões Calçados. observa-se que a política de incentivos do governo do estado. Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 153 .00 12. 2008.051 543. Elaboração própria 154 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado .440 -92.835 -96.779 341.167 285. ao ajuste fiscal das contas públicas.760 573.357 Var % 33. Gráfico 2 – Ceará: índice de quantum (1990-2007) (2006 = 100) Fonte: FUNCEX.Ceará: Evolução do Saldo da Balança Comercial (2000-2007) (US$ 1000) Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Exportação Valor (A) 495.670 -257.007 220. Elaboração própria Gráfico 1 – Ceará. em certa medida.00 Saldo (A) – (B) -222.45 3.63 86.86 19.96 6.492 635. 2008.096.405.933 623.148.94 8.098 527.99 -14.451 957.38 6.902 760. 2008.39 Importação Valor (B) 717.90 12.369 930.Associa-se. ainda.686 Var % 25. esse comportamento externo.07 2. Elaboração própria.23 28.715 1.329 Fonte: BRASIL.656 1.19 -13.27 2.Exportações (1990-2007) Fonte: BRASIL.795 -139. ao crescimento dos investimentos públicos e privados e ao razoável crescimento econômico nas áreas urbanas e nos setores industrial e de serviços processados no estado na última década.927 859.15 1. Tabela 6 .045 1.590 588.910 540.20 39. os produtos básicos chegaram a participar com quase 60% do valor total da pauta exportadora estadual.6965 0. em 2007.7051 0.1356 0. claramente. esse grupo de produtos respondeu por 42. foram impulsionadas pelas políticas de atração de empresas postas em prática pelo governo estadual na última década.3626 0.1794 0. A redução da parcela relativa dessa categoria vem ocorrendo ano a ano desde 2003. percebe-se.1390 0.6624 0.0330 Manufaturados (B) 0.4793 0.1% do total exportado. a representar menos da metade da parcela registrada em 2000 (Tabela 7).7338 0.8167 0.1768 0.3198 0. os produtos manufaturados.7131 0.5172 0. Destacam-se.6788 0.4095 0. aqui. As vendas externas de produtos industrializados.4082 0. por exemplo.0334 0.5%.0152 0. A distribuição setorial das pautas exportadora e da importadora cearenses passou por mudanças significativas no período 2002-2007.1575 0. Elaboração própria.0207 0.1666 0.4020 0.8644 0.3342 0.Ceará: Exportação e Importação segundo Fator Agregado (2000-2007) (participação) Exportações Industrializados (A+B) Semi Manufaturados (A) Manufaturados (B) Importações Industrializados (A+B) Semi Manufaturados (A) 0.6% das vendas externas estaduais.8319 0.2755 0. compondo 2/3 do total exportado pelo estado nesse último ano. alcançaram desempenho bem superior àquelas dos produtos básicos. A participação das importações dos produtos básicos também se reduziu ao longo do período. perda de participação dos produtos básicos na composição das exportações cearenses.5918 0.5726 0. notadamente os manufaturados. Na década de 1990.7188 0.6561 0. essa participação passa a 70.7047 0. As vendas dos produtos industrializados.3214 0. Tabela 7 .8366 Fonte: BRASIL.6553 0. essa categoria correspondeu a 27.2008.5253 0. por sua vez. A pauta exportadora continua com certo grau de concentração setorial e ligeiramenEmpresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado . chegando.8302 0. houve recomposição da pauta exportadora estadual em direção a produtos com maior nível de agregação de valor nos anos recentes.2662 0.5760 0.6532 0.6171 0.0136 0.3212 0.2949 0.3328 0. Em 2007. Sem dúvida alguma. Em 1992. em 2007.4957 0.5039 0.1681 0.2812 0.Com relação ao fator agregado.0256 0.4595 0.5163 0.6717 0.0343 0.1665 0.1634 Básicos 0.3035 0.1764 0.8036 155 Ano Básicos 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 0.1793 0.6802 0.7052 0.0191 0. frutas. Nesse ano. ferro fundido. sobretudo aqueles pertencentes aos setores algodão. contudo vêm apresentando redução de suas importâncias desde 2002. ceras minerais. Os três setores citados vêm mantendo posições relativas importantes na pauta exportadora estadual desde 2003. tomando espaço de setores tradicionais como algodão e peixes.te mais concentrada que a importadora. ao mesmo tempo. O primeiro encolheu as vendas em três anos consecutivos 2004-2006 e o segundo reduziu em 45% de 2002 para 2007. caldeiras. apenas três setores responderam por 60% das vendas. Quanto às importações. cascas de cítricos e de melões e peles. gesso. salienta-se que tem ocorrido movimento em direção à desconcentração nas duas pautas. óleos minerais etc. No entanto.. 156 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado . apenas três setores somaram 59% das compras em 2007. Vários produtos pertencentes aos principais setores exportadores cearenses em 2007 não eram exportados na década de 1990. e couros. estiveram entre os mais representativos no período. exceto a peleteria (peles com pelo). na pauta exportadora. e suas partes (crescimento de 170% no período). cimento. e suas partes. cascas de cítricos e de melões (170%) peles. máquinas etc. mesmo que nem todos ocupem posições de destaque. e couros (124%). 11 novos setores e quatro na importadora. obtiveram ganho de participação na pauta exportadora estadual e. tradicionais na pauta exportadora do estado. Ao serem examinadas as exportações cearenses constata-se que a maioria dos setores revelou incremento nas vendas nos últimos seis anos. De fato. amianto. Alguns cresceram suas vendas externas de maneira significativa no período 20022007. frutas. foram eles: calçados. preparações de produtos hortícolas. como exemplos: calçados. mecânicos. couros. mica etc. enquanto o mesmo percentual das importações totalizou 13 setores para o ano de 2007. e obras de pedra. com a entrada de novos setores nos últimos anos. A concentração das exportações pode ainda ser avaliada através da participação dos setores no conjunto da pauta estadual: 12 deles corresponderam a 90% do valor total da pauta exportadora. exceto a peleteria (peles com pelo). como também alcançou participação significativa na pauta.. ferro e aço e cereais. ao longo dos anos 2000. de 2002 para 2007. Os setores algodão e peixes. entraram. Outros não relevantes para a pauta de 2002 se inseriram entre os principais em 2007: reatores nucleares. polainas e artefatos semelhantes.. e calçados. Grande parte desses produtos não só passou a ser exportada. tais quais: combustíveis minerais. ao mesmo tempo em que ocorreu redistribuição setorial dos pesos relativos em cada conjunto. de frutas etc. polainas e artefatos semelhantes. ocuparam posição de relevo no ranking das vendas em 2007. ferro fundido. ferro e aço. 2197 0.0260 0. apesar de sua parcela relativa ter sido reduzida ano a ano.1179 0.2474 0. exceto a peleteria (peles com pelo).0066 0.1052 2006 0. (84) Reatores nucleares. novo na pauta.0136 0.0026 0. Tabela 8 – Ceará: principais setores exportadores de 2007 (2002-2007) (Participação) Setores (64) Calçados.1542 0.0090 0.0054 0.9026 0. (68) Obras de pedra.0731 Fonte: BRASIL.1330 0.0105 0.0074 0.0057 0.0122 0.0062 0.1254 0.0974 2005 0. O primeiro produto citado começou a ser exportado pelo estado em 2002.0138 0. em 2007.1938 0. O segundo produto da pauta naquele ano foi couros/peles. Total Demais setores 2002 0.1770 0.0091 0. Já.1149 0.1204 0.0191 0.0033 0.0351 0. cascas de cítricos e de melões (41) Peles. contudo.0131 0.. polainas e artefatos semelhantes.0095 0. bovinos. Esse vem mantendo a primeira colocação desde os anos 1990. Elaboração própria.0178 0.0158 0. Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 157 .0102 0.0175 0.2199 0.0023 0. chegou em 2007 com 8.0089 0.0073 0.0168 0. Há.1365 0. plena flor e o terceiro foi outros calçados de couro natural.0039 0.1940 0.1238 0.2240 0.1003 0.9101 0.8948 0. caldeiras.0011 0.0086 0.0899 2007 0.0315 0.O primeiro e principal produto exportado.0273 0.0095 0.0088 0.0053 0.9269 0.0884 2003 0. processado por empresa incentivada.1149 0. moluscos e outros invertebrados aquáticos (15) Gorduras. inteiros.1283 0.0137 0.0466 0.1754 0.0070 0.0270 0.1258 0. e que já apareceu neste último ano com certa representatividade: máquinas de costura doméstica (2%). mercadorias produzidas por setores incentivados pelas políticas estaduais. e couros (52) Algodão (03) Peixes e crustáceos. segundo produto do setor.2033 0. fresca ou seca.0215 0. (85) Máquinas. suas partes etc.0952 0.1168 2004 0.9116 0. mica etc. amianto.2620 0.0168 0.0048 0. 2008. que considerar outro produto.1930 0.1725 0.0146 0.0040 0. passou a responder por 9% das exportações estaduais.0055 0.0245 0. de frutas etc.2166 0. mecânicos (72) Ferro fundido. aparelhos e materiais elétricos. óleos e ceras animais ou vegetais etc. ferro e aço (99) Transações especiais (73) Obras de ferro fundido.0198 0. ainda.1476 0.1571 0.6% de participação na pauta.0104 0. continuou sendo castanha de caju.0016 0.0302 0.0117 0.0067 0.0155 0. ferro ou aço (83) Obras diversas de metais comuns (20) Preparações de produtos hortícolas.1161 0. gesso. máquinas etc. cimento. e suas partes (08) Frutas. outros calçados.0203 0. sem casca (com participação de 16%).8832 0. em 2007.0038 0.0125 0. Elaboração própria. no último ano. ter havido redução na ordem de oito pontos percentuais no peso relativo desses setores.Os bens produzidos sob condições de baixa intensidade tecnológica têm dominado as vendas externas cearenses. os seguintes: a) reatores nucleares. os que participaram com mais de 10% na pauta exportadora estadual em 2007: a) calçados. os quais vêm apresentando trajetória crescente na parcela total vendida até 2006. exceto a peleteria (peles com pelo) e couros (13%). e d) algodão (10%). das exportações dos setores classificados como média baixa intensidade. Para o segmento composto de produtos de baixa intensidade tecnológica. 2008. No segmento de média alta intensidade. pela importância nas vendas externas do estado. caldeiras. Gráfico 3 – Ceará: saldo da balança comercial segundo intensidade tecnológica (1999-2007) Fonte: BRASIL. registrado de 2002 para 2003. e se mantém no ano seguinte. os setores representativos foram. A participação do valor exportado por esse conjunto de produtos em 2007 esteve cinco pontos percentuais acima do registrado em 2002. Essa categoria correspondeu a 85% do total do valor exportado em 2007. cascas de cítricos e de melões (22%). máquinas 158 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado . Deve-se ressaltar o crescimento. e suas partes (26%). ressaltam-se. apesar de. b) frutas. no período 2002-2007. polainas e artefatos semelhantes. c) peles. Outro fato a ser destacado foi o incremento de participação dos grupos de produtos de média alta intensidade tecnológica nos anos mais recentes. ainda que de forma muito mais suave que do grupo anterior (Gráfico 3). 874. No último ano. nesse conjunto. e Grendene S. especialmente de couros e calçados. gesso. Alguns outros setores relevantes na pauta exportadora de 2007 e classificados como de média baixa intensidade tecnológica podem ser mencionados. naquele ano. os resultados da política estadual no Ceará.58 8. em grande medida.88 9.953. (1. No âmbito empresarial. Elas fazem parte do grupo daquelas que são beneficiadas por programas de incentivos do governo estadual. ferro e aço (com participação de 2% na pauta estadual).65 13. mais da metade está contemplada em um ou mais Programas do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI). ferro ou aço (1. número ainda menor que nos anos anteriores (Tabela 9)..357.5%) e b) máquinas. As 40 principais empresas formam o conjunto que cresceu suas vendas em 28%.373 101.47 10.527. amianto. de 2006 para 2007.327 129. grupo constituído por empresas de menor porte. ou seja.986. beneficiaram empresas exportadoras.00 81.079 % 100.. em ordem de importância: Bermas Indústria e Comércio Ltda. As três empresas exportadoras que mais transacionaram com o exterior foram. decresceram em 21% conduzindo a uma variação total líquida de 19%. expressam o papel fundamental da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado no que diz respeito à concessão de incentivos de várias ordens que.009. De fato.00 87.415 785. (1%).125. na última década.50 -15. Vicunha Têxtil S. suas partes etc. ou seja.273 1. sendo que as 20 maiores empresas vendedoras detiveram mais de 73% do valor total (Tabela 9).009. os grupos de produtos formados por: a) ferro fundido. Essas empresas são as que.18 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 159 . Do conjunto de empresas que participaram com pelo menos 1% da pauta de exportação estadual..3%).09 4.A. (Tabela 9).39 28.273 % 100.525 96. Estão.148. têm exportado montantes acima de US$ 50 milhões.08 Δ% 19. constata-se forte concentração das exportações em 2003. nove empresas exportadoras totalizam 50% do valor total vendido. 40 empresas exportadoras responderam por 88% do valor total da pauta exportadora estadual. apesar de o número total de empresas exportadoras no estado ter crescido nos últimos anos. que não se dissimulou nos anos mais recentes. enquanto as demais. mica etc. mecânicos (2. A concentração se afirma na medida em que se aproximam percentuais mais estreitos.923 109.329. o incremento foi de 24% entre 2002 e 2007. desde 2004. aparelhos e materiais elétricos. b) obras de ferro fundido. Tabela 9 – Ceará: empresas exportadoras (2006/2007) (US$) (%) Empresas Total da área Total das principais empresas Bermas Industria e 01 Comercio Ltda 02 Vicunha Textil SA Valor (2007) 1.A.etc. em 2007. cimento.7%) e obras de pedra.80 Valor (2006) 961. 400 27.73 -17.401 6.463.57 --2.759.28 1.890.64 57.Importacao e Exportacao SA Dafruta Industria e Comercio SA H.62 1.072.46 --17.69 Valor (2006) 76.431.746.242 16.57 1.114.897 18.74 1.974.552 29.298.Bettarello Curtidora e Calcados Ltda Wobben Windpower Industria e Comercio Ltda Durametal SA Cerapeles Ltda Compex Industria e Comercio de Pesca e Exportação Fazenda Amway Nutrilite do Brasil Ltda Valor (2007) 96.857.100 21.57 1.46 2.536 13.85 2.583 7.997.393 7.419 9.08 0.555.507.85 160 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado .976 13.192.314 5.337.019.028.76 1.76 0.543 7.16 2.76 1.695.305.97 1.96 1.359.89 23.71 278.79 4.021.975 42.58 41.72 3.95 49.710.531.31 0.377 32.73 1.041 28.13 85.746.08 1.032.144 19.16 Δ% 26.077.217 % 7.96 1.097 10.020 42.67 1.862 36.469.42 6.912 --24.009 14.03 1.691.836 65.636.63 14.934 1.951.354 17.14 0.363 42.29 1.863 18.68 -21.40 77.124 20.54 1.133.75 43.606 14.128 10.840.711.529.32 3.53 2.82 -26.04 0.974.03 34.438 16.19 2.68 1.03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Empresas Grendene SA Disport Nordeste Ltda Iracema Industria e Comercio de Castanhas de Caju Calcados Aniger Nordeste Ltda Vulcabras do Nordeste SA Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda Bermas Maracanau Industria e Comercio de Couro Companhia Brasileira de Resinas-Resibras Cia Industrial de Oleos do Nordeste Cione Singer do Brasil Industria e Comercio Ltda Cascaju Agroindustrial SA Amendoas do Brasil Ltda Gerdau Acos Longos SA Petroleo Brasileiro S/A Petrobras ESMALTEC SA Usibras Usina Brasileira de Oleos e Castanha Ltda Pesqueira Maguary Ltda Cia Metalic Nordeste OLAM Brasil Ltda TBM Trade .227 10.075.157 80.087 15.643.870 18.93 0.98 4.218 49.91 418.13 --2.91 0.49 0.13 2.716.83 0.83 0.93 22.07 0.709.27 62.281.21 102.574 815.075 7.183.84 1.224 22.534.938 23.653 16.578.395 8.054.70 0.296.629.74 3.84 3.44 51.458.830 14.944.57 1.09 2.422 10.963.503 10.122 17.653 % 8.777 12.559.286 30.452 24.59 11.459 11.92 6.66 1.50 2.759 24.20 39.22 1.58 15.66 236.14 1.951.357. originária da Itália. conforme mostrou a Tabela 9.327 6.47 0. A reformulação do programa ocorrida em 1995 impulsionou sobremaneira a atração de investimentos a partir desse ano.350 % 0.35 Δ% 75. Das 15 empresas desse setor beneficiadas pelo Programa.088 % 0.136.90 -5.83 245.665 6. várias empresas contempladas por ele se mostraram.119.. 2008.806.833.975.506.845 6.101 5. Apesar de não ser um Programa orientado para o estímulo da atividade exportadora. competitivas no mercado externo.75 0.95 0.12 Valor (2006) 4. As empresas destacadas são aquelas que são contempladas com incentivo do FDI. envolvendo 19 municípios no total.56 0. começaram a ser assinados os contratos referentes ao programa de incentivos – Proapi – com a finalidade de atrair empresas de couros e calçados de fora do estado que destinassem toda ou parte de sua produção ao mercado externo.59 0.68 200.53 0.78 0. A partir daí foram firmados outros nos anos subsequentes até 2002. localizada no município de Canindé.545.47 0.63 0.231.28 24.579.26 -21.405.681 7.767. a qual assinou protocolo em 1999.160.19 0.267.483. O primeiro contrato data de 1996 e foi assinado com a empresa Canindé Calçados Ltda.68 0..865.837 6.858. ao longo do tempo.672 7.55 0.090 7.30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Empresas Pontes Industria de Cera Ltda Dakota Nordeste SA MM Monteiro Pesca e Exportacao Ltda Agricola Cajazeira Ltda Von Roll do Brasil Ltda Fitesa Horizonte Industrial Ltda Granitos SA JS Tropical Comercio de Frutas Ltda Intermelon Comercial Exportadora e Importadora Carnauba do Brasil Ltda Foncepi Comercial Exportadora Ltda Demais Empresas Valor (2007) 7. Com exceção de uma empresa de couros e peles.837 7. Empresas incentivadas e a recomposição da pauta exportadora O Fundo de Desenvolvimento Industrial beneficiou empresas de vários segmentos industriais por meio de concessão de incentivos atrelados do Provin. 10 são originárias do Estado do Rio Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 161 .823.127 176.21 0.676 139.070. denominada Bermas Indústria e Comércio Ltda.382 1. 5.46 12.242.239. com contrato em curso em 2007. as demais pertencem ao setor calçadista.017 5.75 18.032 1.65 0.426 7.314 9.02 0.714 5.86 -17.66 0.435. a partir de 1996.60 0.21 -22.836 235.882 5.288.50 0.216 5.84 --29.60 0.62 0.304 6. No entanto.459.14 Fonte: BRASIL.682 7.75 13.88 -27. 78 0.664 23.152 IVX 63.18 113.75 90. A partir daí só há registro de crescimento das vendas tanto em valor quanto no quantum. botas femininas. couros e peles.52 89.72 98.02 104.37 Couros e Peles Valor 16.44 343.663.515 10.99 185.164. a única responsável pela exportação estadual desse setor. solas. colocação que se manteve em 2007 com mais de 25% do peso relativo. saltos. a parcela relativa desse setor na pauta de exportação do Ceará ultrapassou 20% e o setor passou a se posicionar na primeira posição no ranking.002 106.269. Quanto ao setor de couros e peles.90 3.69 3.54 125.45 0.52 0. nos dias atuais.444 67.267.15 2.31 344.85 2.627. tênis.252.38 % 7.41 97. historicamente dois dos maiores exportadores estaduais (Tabela 10 e Gráficos 4 e 5).293 9.228.803 81.701 4. a fazer parte da configuração dos principais exportadores do estado.071 64.456. nos anos subsequentes. quando então chegaram a participar com 10% da pauta estadual.20 3. No entanto.651.692.78 11.24 1.433 7.007 110. a partir de 1999.Grande do Sul.043 3.839.482 10.349 2.41 10.405.53 29.954 4.18 883.769.40 100.78 109. constata-se que as vendas externas tiveram algum significado para a pauta estadual entre 1990 e 2007.862.307.412 71. sandálias.379.84 12.79 162 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado .790 53.31 142. Não tardou para que as repercussões na pauta de exportação do Estado do Ceará se fizessem sentir.101 10.41 20.950 65.04 61.20 20. Essa empresa é.46 19. na frente dos setores de algodão e de peixes.324. as exportações do setor calçadista começaram a tomar impulso de maneira efetiva.793.05 % 0.30 16.546. A totalidade das exportações de calçados é efetuada pelas empresas incentivadas.40 131.92 2.769. esse setor tem se firmado na terceira colocação.613. assim.654 2. incremento das vendas externas em valor e em quantum e passou.981.01 18. Essas unidades produzem produtos finais e intermediários traduzidos em: sapatos femininos. Tabela 10 – Ceará: exportação de calçados e de couros (1990-2007) (US$) (índice de valor-IVX) (% na pauta estadual) Ano 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Calçados Valor 1.56 95.74 89.477 2. Desde 2005. com exceção de 1997 e 1998.380.54 1.310 4.458. masculinos e infantis.76 6.054 35.554.60 1.620 9. tamancos. palmilhas.60 78.76 1. com a entrada em operação da empresa Bermas Indústria e Comércio.25 10.431 IVX 301.742. alguns anos com maior outros com menor intensidade (Tabela 10 e Gráficos 4 e 5).65 225.377 10.11 2. esse setor sustentou.52 128. Em 1997. ocupando posição cada vez de maior destaque. Em 2001. 74 26. 2008.Ceará: Índice de quantum das exportações de calçados e de couros e peles (1990-2007) (2006 = 100) Fonte: FUNCEX.520.546.Ano 2003 2004 2005 2006 2007 Calçados Valor 167.30 12.54 13.089 205.13 105.49 12.58 Fonte: BRASIL.99 24.90 126.847. Elaboração própria.898 144. 2008.23 111.714.35 110.242 117.20 Couros e Peles Valor 87.03 115. 2008.999 237.354 127.201.97 21.025 110.21 112.44 % 21.647.95 % 11.209 IVX 136. Elaboração própria.891.109.336 IVX 151.454. Elaboração própria.514.94 109. Gráfico 5.309 300. Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 163 .83 12.704 186.70 21. Gráfico 4 – Ceará: exportações de calçados e de couros e peles (1990-2007) (2006 = 100) Fonte: BRASIL.38 126. 0206 0.1501 0.943. Nos últimos três anos.876.477.083 71.201.162 12.170 2.542.0757 0.557 13.0685 0.0711 0. Tabela 11 – Ceará: exportações de calçados e de couros e peles segundo destino (2005-2007) (US$) (Participação) Países Calçados Estados Unidos Argentina Reino Unido México Paraguai Venezuela Espanha Bolívia Angola Colômbia Portugal Couros e Peles Itália Estados Unidos China Indonésia México Hong Kong Tailândia Vietnã 2007 Valor 85.0906 0.272 23.837 15.152. Elaboração própria. Os primeiros expressaram crescimento tanto da quantidade quanto do valor das vendas externas estaduais no decênio.051 7.572.075 6.941.0290 0.4943 0.703 526.0168 0.126.733.1948 0.342 13.045.428 9.133 11.Existe significativa concentração do destino das vendas externas do setor calçadista cearense.587.1581 0.990 21. reflexo principalmente da evolução do preço unitário nos últimos cinco anos.437 915.870 4.0089 0. visto que o aumento da quantidade exportada não foi significativo no período.0129 0.816 12.795.051.0205 0.160.012 8.357 419.0000 Fonte: BRASIL.0029 0.091.0387 0.0166 0.438.0105 0.733 5. o segmento de caçados de couro registrou maior contribuição no total exportado em 2007.069 2.776 4. 0.426. 0.1667 0.237 689.459 16.767.218 715.728. Itália (país de origem da empresa exportadora).617.602 39.498 22.758 11.0020 0.0045 0.913 10.1641 0.1064 0.0041 2005 Valor 82.939 1.1020 0.957.097.0461 0. Em 2007.731.590 9.730. As vendas externas do setor de couros expressam muito mais forte concentração.784.0558 0.881.349.0132 0. 2008. 0.0806 0. Estados Unidos e China. A participação desse tipo de calçado no total das vendas externas estaduais do setor passou de 32% em 2002 para 42% em 2007.170.0394 0.1168 0.236.227 2.431.145 34.0431 0.0045 0.0030 0.786 24.2851 0.3759 0.0095 0.718.813 Part.481 29.639.391 4.1073 0.0133 0.468 5.536.225.734 14.0170 0.829.4020 0.387.967.0327 0.0459 0.0258 2006 Valor 89.2151 0.0158 0.271 4.020.900.538.477 3.063 3.0110 0.216 6.0000 0.897 6.851 3.1229 0.099.801 47.939 – Part. 164 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado .231.218.0969 0.139 Part.722. De seu lado.4287 0.0347 0.715 11.845 3.0933 0.369 2. Argentina e Reino Unido têm adquirido o correspondente a 65% do valor das vendas deste setor cearense.682.835 3.049 58. Os calçados mais vendidos ao exterior pela indústria cearense na década de 2000 são os transformados a partir de matéria-prima sintética e couro.682 – 478.296. o primeiro adquiriu 50% do total vendido pela empresa citada anteriormente e os três juntos perfizeram 75% (Gráficos 6 e 7).662 54.403.1216 0.0381 0.702. Estados Unidos.855 2.0195 0. Gráfico 7 . que tem lugar a partir de 1999. pode-se claramente identificar uma recomposição na sua estrutura. está. 2008. 6. O crescimento das vendas externas estaduais. Elaboração própria. fundamentalmen- Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 165 .Ceará . Notas conclusivas O comércio exterior do Ceará reagiu pouco no período imediatamente após à abertura comercial propriamente dita no que se refere ao grau de abertura de sua economia. Até a primeira metade da década de 1990.Ceará . 2008. a partir de 1997.Gráfico 6 . no entanto. a pauta de exportações do Estado do Ceará pouco se modificou. os quais conduziram a mudanças no perfil da pauta. Elaboração própria. Produtos tradicionais na pauta estadual como têxteis e castanha de caju cedem lugar aos produtos pertencentes.Exportação de couros segundo destino (2007) Fonte: BRASIL. intrinsecamente associado aos incentivos advindos da política industrial do estado. em grande medida.Exportações de calçados segundo destino (2007 Fonte: BRASIL. A proximidade geográfica do Ceará ao mercado norte-americano reforça ainda mais o potencial comprador daquele país. os setores industriais que despontaram nos últimos 10 anos como exportadores de relevância foram aqueles estimulados pela política industrial implementada pelo governo do estado que de. A distribuição das exportações e importações reflete certa concentração em nível setorial e de destino tanto para as vendas quanto para as compras. portanto nessa perspectiva de análise. A realidade cearense expressa que seria difícil uma mudança significativa na pauta de exportação em direção a produtos com maior conteúdo tecnológico. há predominância dos setores intensivos em recursos naturais e em mão de obra.te. aos setores de couros e calçados transformados por empresas atraídas para o estado pelos incentivos do governo local. contudo. que o estado vem participando. o perfil da pauta exportadora praticamente não se altera. como referência para a análise de competitividade de setores exportadores. para a dinâmica recente das vendas externas nacionais nos últimos anos. tem se verificado tendência mais recente à desconcentração. As exportações do Ceará têm apresentado crescimento anual significativo a partir de 2003. Na pauta exportadora cearense. em primeira aproximação. na medida em que os setores que participam com mais de 10% da pauta exportadora estão enquadrados nessa categoria. em certa medida. essencialmente. como é o caso dos setores de calçados e couros e peles e que requerem baixo conteúdo tecnológico para processamento. alguma forma. o que favorece inserção externa menos dependente. à dinâmica da demanda dos Estados Unidos e do Mercosul. buscou potencializar algumas vantagens comparativas do Ceará. No entanto. Essa pauta é. O comportamento dos destinos dos produtos cearenses está atrelado. A economia cearense ainda conserva no comércio externo forte peso nas trocas intersetoriais características da exploração de vantagens comparativas. 166 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado . constituída de bens produzidos sob condições de baixa intensidade tecnológica. De fato. A efetiva contribuição do estado para o crescimento das exportações nacionais foi da ordem de 3% anuais entre 2002 e 2005. em grande medida. Esses resultados revelam. caracterizando claramente uma especialização do estado em produtos que se apoiam em vantagens comparativas clássicas. principais parceiros do estado. ano em que foram registrados recordes de crescimento tanto do quantum quanto do valor exportado. as vendas para o exterior assim como as compras continuam concentradas em poucas empresas sem que tenha havido algum processo desconcentrador nos últimos anos. gov.gov. www. o Estado dos fortes efeitos em cadeia próprios deste setor. Contas Regionais.br. P Competitividade e potencial de expansão dos . setores exportadores dos estados nordestinos. Fortaleza. —. M. Um perfil das empresas atraídas pelo FDI no período 2001-2006. A. Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado 167 . —. Fortaleza: IPECE. Fortaleza: Banco do Nordeste. 2006. —.ipece. Texto para discussão n. M. —. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). o couro.ipece. MELO.br. Fortaleza: Edições INESP CAEN/CIC. —.gov. em sua maioria. abril-maio 2008. Disponível em: <http://www. —.br>. 2000. vários acessos.. é exclusivamente originário de fora do Ceará. portanto. constata-se que cada um deles rebate de maneira diferenciada localmente. IPECE. C. os setores incentivados pelos programas governamentais atrelados ao FDI. 2007.ce. potencialidades e limites para o crescimento. FONTENELE. A Política de atração de investimentos industriais do Ceará: uma análise do período 1995-2005. Quanto à repercussão na economia estadual. In:Federalismo fiscal e transformações recentes no Ceará. INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ (IPECE). Comércio exterior recente. utilizado pela empresa transformadora de couros e peles. funcex. Inserção internacional da economia cearense. 2006b. MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA E COMÉRCIO (MIDIC).Sem sombra de dúvidas. vários acessos. Esse programa específico para os setores calçadistas e couros visou exclusivamente o comércio externo e como tal surtiu o efeito esperado. As empresas incentivadas do setor calçadista são importantes geradoras de empregos diretos e a de couros geradora de poucos postos de trabalho. De seu lado.br>. fora do estado para o setor calçadista usufruindo pouco.mdic. abril-maio 2008.. Fortaleza. . 26.br.com. FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR (FUNCEX). Texto para discussão n. IPECE. Referências Bibliográficas BRASIL..ibge. 2004.gov. As atividades de P&D dessas empresas são desenvolvidas em suas matrizes localizadas no estado/país de origem onde ocorre o desenvolvimento de produtos. Fortaleza: Banco do Nordeste. está se configurando uma nova plataforma de exportação para o Ceará? In: Economia do Ceará em debate. 2006a. em www. Os insumos são adquiridos. orientaram a recomposição da pauta exportadora cearense a partir da segunda metade da década de 1990.ce.. Disponível em: <http://www. Comércio exterior do Estado do Ceará: uma análise dos anos 90. 28. Disponível em: <http://www. fundamentalmente o Proapi. —. Comércio Exterior do Estado do Ceará no período recente: expansão quantitativa ou diferenciada? Fortaleza: IPECE. M.-dez. jul.-dez.MELO. v. 2. n. 38. v. out. O Estado do Ceará e a dinâmica recente do comércio exterior brasileiro. C. Science. Fortaleza. Revista Econômica do Nordeste. —. 2004. Disponível em: <http://www. 5. 4. Fortaleza. technology and industry scoreboard 2001 – Towards a knowledge-based economy. —. —. 2007. exterior brasileiro nos anos recentes. 2007.org>.oecd. FEAAC/UFC. n. 2007. Revista CONTEXTUS. 168 Empresas incentivadas e o perfil exportador do estado do Ceará em um ambiente globalizado . Banco do Nordeste do Brasil. P Inserção internacional da região Nordeste e a dinâmica do comércio . Deve-se notar que. Em direção a uma integração virtuosa 169 . o adensamento da cadeia produtiva através do Complexo Industrial Ford Nordeste (CIFN) e a valorização dos setores intensivos em recursos. porém o Nordeste participava com apenas 13. embora crescente quando comparado a outros estados da federação. procede-se uma breve discussão dos determinantes do comércio mundial e do investimento externo direto. a participação baiana ainda é bastante reduzida diante das possibilidades que se podem agora vislumbrar. o tamanho dos problemas da região e não o sucesso local – até 2002 a Bahia gerava 34% do PIB da região. observando al88. são revelados os padrões de interação entre os países do Norte e os do Sul e aqueles referentes aos países do Sul.4% do PIB brasileiro. Ser o estado maior exportador do Nordeste revela. de certa forma. Nívea Santana. da SECTI – Secretaria de Ciência. Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia. que têm origem em poucos setores e exíguo número de empresas – apenas quatro empresas realizam mais de 50% das importações e das exportações do estado. semi-manufaturados. em caráter exploratório. além desta introdutória e das considerações finais. O trabalho está estruturado em mais quatro seções. Neste ponto. então. apresentar a pergunta básica de investigação que norteou o desenvolvimento deste trabalho: quais oportunidades disponíveis para a Bahia poderiam lhe permitir caminhar rumo a uma integração virtuosa? Duas alternativas foram analisadas. Na segunda parte é realizada uma breve análise do comércio exterior da Bahia. Na primeira. busca discutir a inserção econômica do Estado da Bahia. Cabe.Em direção a uma integração virtuosa: o caso da economia baiana88 Hamilton de Moura Ferreira Junior Lúcio Flávio da Silva Freitas Fábio Batista Mota 1. Sabe-se que o comércio exterior da Bahia está concentrado em poucos produtos. Coordenadora do APL automotivo da Bahia. bem como apontar tendências em curso para orientar políticas públicas voltadas para o crescimento econômico. suas limitações e oportunidades. Introdução O presente artigo. Os autores agradecem a colaboração da Sra. países com grande tamanho e 170 Em direção a uma integração virtuosa . no período entre 1995 e 2005. 2.. Por fim. 130). a mudança de sinal na direção de maior abertura comercial e tentativa de inserção nos fluxos de comércio e da produção em nível mundial. Breve panorama internacional O Gráfico 1. b) acelerada participação dos países em desenvolvimento no comércio mundial de manufaturas com alta intensidade de tecnologia. O resultado foi o crescimento do comércio SulNorte em detrimento do comércio Sul-Sul. três fatores atuaram de forma a estimular um maior comércio internacional na direção Sul-Sul: mais rápido crescimento dos países em desenvolvimento relativamente aos países desenvolvidos. Na verdade. da Unctad. Em segundo lugar. O detalhe significativo é que “[. Como explicar o impulso tomado pelo comércio Sul-Sul? Em primeiro lugar. aqui. inferindo as limitações do estado em termos de sua competitividade. a liberalização do comércio mundial e. focalizada nos principais produtos presentes na pauta de exportação da Bahia. Taiwan. depois do longo pesadelo que foram as renegociações periódicas da dívida externa dos países em desenvolvimento nos anos oitenta. abaixo.. Faz-se. o Trade and Development Report de 2005.. Esta se caracteriza por três aspectos: a) crescente participação das exportações de manufaturas nas exportações mundiais. chega a falar em nova geografia do comércio. p. 2005. Singapura e Hong Kong) respondem por mais da metade do crescimento das exportações dos países em desenvolvimento. o retorno ao crescimento econômico.] o comércio Sul-Sul como percentual das exportações dos países em desenvolvimento aumentou de 25% em 1965 para 43% em 2003” (UNCTAD.guns dos seus principais problemas e possibilidades. c) e forte crescimento do comércio Sul-Sul no comércio global – “[. A seguir é discutida a pauta de exportações da Bahia. Trata-se de uma apresentação de cunho setorial. referência explícita à importância das redes de produção internacional na Ásia como a mais moderna forma de articulação intra-regional da atualidade. ilustra os novos padrões de comércio exterior e de especialização da economia mundial. Um aspecto crucial para os países latinos é que a China e os Países de Industrialização Recente (PIRs) da Ásia (Coreia do Sul.] as exportações Sul-Sul como percentagem das exportações dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos (comércio Sul-Norte) mais que dobrou. A quarta seção apresenta sugestões para uma integração virtuosa da economia baiana. no interior das políticas econômicas no Sul. alcançando 74% em média no período 2000 a 2003 (e mais de 80% em 2003)” (ibid).. A busca de dólares fez com que o conjunto dos incentivos à exportação estivesse focalizado nos países detentores de moeda forte em reserva. 2005. a concentração comercial é mais forte ainda – considerado o total das exportações e importações: as 10 economias mais importantes realizam 90% do total das exportações Sul-Sul. este comércio é profundamente concentrado em poucos países: as 10 mais importantes economias no comércio Sul-Sul dão conta de 84% do comércio e 74% do total das importações Sul-Sul (UNCTAD. e a crescente especialização regional no marco das redes de produção regional. Além disso. Mais ainda. particularmente. Gráfico 1 – Evolução das exportações Sul-Norte e Sul-Sul por categoria de produto 1976-2003. 75% do comércio Sul-Sul aconteceu na Ásia). Fonte: Adaptado de Unctad. mas não apenas. representam 20% do comércio total de mercadorias e cerca de 25% do comércio de manufaturados entre os países em desenvolvimento Em direção a uma integração virtuosa 171 . Quando se trata de manufaturas. apenas as exportações de Hong Kong e da China juntas perfazem 40% deste total. na Ásia (em 2003.crescimento na periferia. 2003). O sentido geral dessas redes de subcontratação internacional. exclusive partes e componentes. e partes e componentes para produtos eletrônicos. azeites vegetais). Já as exportações Sul-Sul estão compostas por: produtos manufaturados intensivos em recursos e em trabalho. produtos eletrônicos. Dos cinqüenta setores mais dinâmicos em termos das importações da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). cerca de um terço da produção e dois terços do comércio mundial estão na esfera de controle das empresas transnacionais. Isto permite às firmas explorar a vantagem comparativa de diferentes localizações específicas para a produção de componentes particulares. as atividades nas quais a América Latina evoluiu nos últimos dois decênios são: serviços não-comercializáveis. que restringe a extensão e a profundi- 172 Em direção a uma integração virtuosa . mas ela também envolve a localização em diferentes lugares de segmentos intensivos em trabalho e outros processos de produção tecnologicamente complexos. exclusive partes e componentes. cerca de um terço são trocas intrafirmas.] menor custo de transporte e comunicações e reduzidas barreiras regulatórias têm facilitado a produção compartilhada em base global. aparelhos de vídeo). indústria maquiladora de produtos eletrônicos (televisores. vestuário e. por último. as exportações dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos estão concentradas em três categorias de produtos. apenas dois são classificados como produtos baseados em recursos naturais (peixes frescos e crustáceos e moluscos). beneficiada por programas de incentivo específicos (UNCTAD.(ibid). e partes e componentes para produtos eletrônicos. a indústria automobilística. 2003. p. incluindo economias de escala e diferenças nos custos do trabalho entre diferentes países (UNCTAD. é o seguinte: [. Ainda do ponto de vista externo. São pertinentes algumas observações acerca dos padrões de comércio internacional. ferro e aço. A produção compartilhada é geralmente concentrada em produtos intensivos em mão de obra. Porém. Ademais. Deve-se observar que parte importante deste comércio é resultado do chamado comércio triangular decorrente da montagem das redes de manufatura na Ásia. deste último. algumas questões condicionam a implementação e o avanço das proposições de políticas nacionais ou de âmbito regional: o cenário internacional. Primeiro. indústrias de transformação de recursos naturais e bens intermediários (como papel e celulose... a saber: produtos manufaturados intensivos em tecnologia e média qualificação. ou modelo SCI. 136-7). 2003). produtos eletrônicos. De certa forma. nos países avançados. Parece que as relações decorrentes da formação de renda interna em vários setores. e daí de atividades econômicas que resultam e ganham competitividade com a ação coletiva. são muito importantes para a formação de comunidades de alguma forma solidárias. abre espaço para novos entrantes. vários arranjos produtivos locais (APLs) encontram enormes dificuldades para se reproduzirem. O livre comércio está restrito a um terço das trocas comerciais no mundo. a chamada globalização. Embora extremamente concentrado. O que o período recente. a menor importância das commodities industriais resulta do próprio desenvolvimento.dade da política econômica nacional. ou seja. isto só ocorre quando diversos requerimentos sistêmicos (como a oferta de bens públicos e várias externalidades) são fornecidos ao setor privado. quando elas já existiam. A questão central é que cerca de dois terços deste comércio é do tipo administrado (no interior de circuitos privilegiados entre corporações transnacionais). A questão central é não confundir especialização do País com especialização regional ou estadual. Enquanto pequenos países podem adotar especializações restritas a um conjunto limitado de produtos dinâmicos. A inserção externa focalizada em produtos intensivos em recursos é factível e importante. da estruturação na sociedade civil de organizações promotoras da cooperação. impede a ação coletiva no sentido da aquisição e compartilhamento de ativos que ultrapassam em preço ou volume de produção as necessidades de uma em- Em direção a uma integração virtuosa 173 . A primeira. em razão de mudanças acentuadas no cenário internacional. tem também apresentado é a permanência de sólidas comunidades. Este é o mesmo motivo que explica a enorme importância da China como demandante fundamental de produtos intensivos em recursos naturais. Por essas razões. janelas de oportunidade são recriadas. de forma recorrente. o comércio mundial. através da manutenção e aprofundamentos de várias identidades de dimensão cultural e histórica. de ordem mais geral. Aqui surgem duas questões. grandes economias podem e devem explorar tanto as vantagens decorrentes da dotação de recursos quanto as vantagens adquiridas através do aprendizado e da imitação. entre outras. da geração e fornecimento de bens públicos. Não apenas parte significativa dos investimentos intensivos em recursos (exclusive os investimentos dirigidos para a exploração de novos recursos energéticos) já foi realizada. e a crescente complexidade das novas tecnologias e das relações interfirmas. atribui ao mercado a capacidade de estruturar a atividade econômica dos países. e certamente os seus maiores beneficiários. por vezes. No entanto. como os novos desenvolvimentos tecnológicos são intensivos em cooperação e conhecimentos. A falta de confiança entre seus membros. que a Bahia consolidasse um setor industrial representativo na composição do produto do 174 Em direção a uma integração virtuosa . forte integração é importante. são necessários esforços no sentido de fornecer as economias externas derivadas da aglomeração: “Nas redes de produção dominadas pelo produtor. fixou uma estrutura industrial baseada na produção de commodities intermediarias. de modo complementar às regiões Sul e Sudeste do País. o Estado da Bahia modifica sua estrutura e passa de um modelo primário-exportador para uma economia de base industrial. Breve panorama da economia baiana Entre as décadas de 1950 e 1980.presa particular. à extrema penúria ou à exclusão do comércio mundial. 2006. 3. tais como automóveis e eletrônicos. O problema é que a cooperação é intensiva em valores compartilhados e não apenas em relações tipicamente mercantis. Nas cadeias produtivas em que o investimento internacional é do tipo busca de eficiência e controlado pelo comprador (buyer-driven) – como na agro-indústria –. por fibras óticas. É fundamental perceber que a “externalização da manufatura” abre uma janela de oportunidade para novos entrantes. 160). Já nas cadeias produtivas dominadas pelo produtor (producer-driven). através de um considerável clustering de firmas” (UNCTAD. por exemplo. ao longo do período. O importante é identificar precisamente os fatores de atração destes investimentos. Esta estratégia permitiu. A segunda questão está relacionada à baixa taxa de crescimento dos produtos intensivos em recursos e mão de obra. simplesmente não ocorreram de forma a levar o Chile. É importante frisar que os prognósticos mais pessimistas com respeito à substituição do cobre. Ao lado de um sistema produtivo agropecuário ancorado em produtos tradicionais. em face do maior dinamismo dos setores intensivos em tecnologia. o próprio progresso técnico encontrou meios para rejuvenescer e preservar uma tecnologia considerada velha por analistas e formuladores de cenários. o fornecimento de externalidades para incrementar a qualidade dos produtos em direção a segmentos mais nobres e a oferta de serviços de apoio e logística parece crucial para o êxito de uma estratégia exportadora. Uma outra dimensão importante diz respeito ao aprofundamento da divisão internacional do trabalho na manufatura. Pelo contrário. A questão é articular as políticas produtivas e tecnológicas de tal forma que resulte em planos de ação focalizados no incremento da produtividade dos recursos existentes ou relacionados com a base de conhecimentos da região. Tais mercados crescem lentamente. nas linhas de transmissão de comunicações. p. no entanto. Estas atividades. como taxas cambial e de juros. com metade da atividade econômica concentrada na Região Metropolitana de Salvador (RMS). que é reconhecido pelo seu comportamento cíclico. mas. em face da elevada concentração da sua economia em commodities oriundas da indústria petroquímica. Ressalte-se que a contribuição da indústria para a arrecadação do ICMS.estado. contribuindo sobremaneira para o surgimento de uma infraestrutura de serviços ao derredor da capital do estado. buscando ganhos de produtividade através de automação e racionalização administrativa. saltou de 30% em 1975 para cerca de 55% em 1985. que se prolongou por toda a década de 1990. verifica-se que a indústria elevou sua participação na composição do PIB de 12% para 32%. contribuindo a petroquímica com 64% do total. Entre os anos de 1960 e 1980. enquanto que a participação do setor primário foi reduzida de 40% para 16% – em parte devido à crise que se abateu sobre segmentos importantes do agronegócio (cacau. Observe-se que os setores de bens intermediários que caracterizavam a economia do estado eram limitados em sua capacidade de articulação e de absorção de mão de obra. conduzindo a resultados positivos no processo de modernização e ampliação das atividades comerciais. fez com que o setor assumisse uma posição estratégica de defesa. tanto do ponto de vista setorial como espacial. ajustando-se às condições de acirramento da concorrência. O que se observou até então foi que o desenvolvimento da Bahia se caracterizou não apenas por descontinuidades. o Polo Petroquímico de Ca- Em direção a uma integração virtuosa 175 . na prática. ocorreu no setor petroquímico. conjugado à exposição à concorrência externa e às condições sistêmicas internas desfavoráveis. feijão). e terceirizações e redução de postos de trabalho. Este fato. o estado sofreu com mais rigor os efeitos das transformações estruturais com a abertura comercial e desregulamentação econômica verificadas na economia brasileira. O que se viu. foi um intenso processo de fusões e incorporações. Nos primeiros anos da década de 1990. o segmento petroquímico e os setores produtores de bens intermediários passaram por um processo de reestruturação. alterando o perfil agro exportador até então predominante. Neste contexto. O segmento químico-petroquímico que já representava mais de 50% do valor agregado da produção industrial em meados da década de 1980 empregava apenas 14. produziram impactos importantes na geração de empregos indiretos. além do regime tributário. Nesse período. Em meados de 1980 o setor químico representava cerca da metade do valor agregado bruto da produção industrial do estado. por uma estrutura econômica concentrada. também. uma superoferta de commodities. em 1994. Como resultado.5% do total da mão de obra ocupada. de serviços e de construção civil. cerca de 40% do mercado do Nordeste. a Região Metropolitana de Salvador continuava respondendo por cerca de 50% do valor da produção gerada no estado. Embora a indústria petroquímica baiana tenha passado por esta reestruturação e reduzido significativamente os empregos. nos segmentos de metais não ferrosos e mecânico. o estado passa a referir-se explicitamente à necessidade de maior integração de cadeias de produção. entre outras medidas de incentivo. Portanto. os dois segmentos. representaram mais de 60% da estrutura da indústria de transformação no decorrer da década. O setor de metalurgia. tendo em consideração que o estado representava. considerando que a base da desconcentração espacial estaria no desenvolvimento integrado das regiões do estado. nos quais os critérios de definição estão associados aos fluxos principais de mercadorias e aos corredores de escoamento disponíveis. já no início da década de 1990. A partir dos anos 2000. sendo que a sua participação no valor agregado bruto da transformação industrial da Bahia ultrapassava 70% em 1999. Esta situação fundamentou o argumento que subsidiou a divisão do Estado da Bahia em oito grandes eixos de desenvolvimento. Oeste e Baixo São Francisco). Durante os anos 1990. É também neste período recente que reconhece a necessidade de promover a desconcentração espacial das atividades econômicas – embora tenha havido avanços (especialmente no Extremo Sul. permaneceu com sua participação no valor agregado bruto da transformação industrial por volta dos 15%. petroquímico e metalúrgico. com a implantação de indústrias produtoras de bens finais que fossem capazes de aproveitar a oferta estadual de produtos agropecuários e bens industriais intermediários. visando absorver parte da produção de bens intermediários. assim como pela sua capacidade de geração de empregos. colocou-se em destaque uma estratégia que já era apresentada em anos anteriores como alternativa adicional para o desenvolvimento da Bahia. no qual se verificou também redução dos postos de trabalho. Não obstante este cenário.maçari – que em 1990 empregava cerca de 20 mil pessoas de forma direta – apresentava um quadro de pouco mais de 13 mil empregos. Foi neste cenário que o conceito de integração logística adquiriu importância. componentes e embalagens. os postos de trabalho caíram de aproximadamente 20 mil para oito mil empregos. mantendo-se acima dos 50%. Entre meados da década de 1980 e meados da de 1990. sua participação relativa na estrutura da indústria de transformação não chegou a ser comprometida. passou a fazer parte do desenvolvimento do estado a estratégia de integração vertical de cadeias de produção. 176 Em direção a uma integração virtuosa . Estimulou-se a criação de um mercado local de peças. com escala de produção que possibilitaria viabilizar empreendimentos deste porte. espera-se que o Complexo Industrial Ford Nordeste. pela magnitude dos investimentos e pelas articulações intersetoriais que é capaz de promover. cerâmica.] sem dúvida que boa parte da explicação para as deficiências competitivas das empresas locais está relacionada com os baixos investimentos em atividades de aprendizado e inovação tecnológica e gerencial. na medida em que se materializavam no tecido produtivo local.. certamente. geravam grandes ondas de expansão logo arrefecidas. transformação plástica. alguns problemas fundamentais para uma inserção virtuosa da economia baiana. não é tudo. a composição do PIB baiano sofreu alterações consideradas pequenas em termos setoriais.. Temos carência de pessoal capacitado em todos os níveis. Os problemas locais são ainda mais difíceis de solucionar porque se revelam em comportamentos pouco empreendedores e de formação técnica cujo encaminhamento encontra solução apenas à longo prazo. a abertura comercial brasileira revelou as ineficiências da estrutura industrial com a consequente redução do emprego e da renda. 2000. ainda persistem. Não obstante os movimentos de diversificação buscados pelo estado tenham obtido algum êxito. seguiram a orientação de promover o adensamento das cadeias produtivas e a interiorização das atividades econômicas. Pode-se ainda fazer referências aos investimentos em segmentos de alimentos e bebidas. de um modo geral. Mas isso. GUERRA. As políticas aplicadas para a atração de investimentos. fabricação de calçados e eletroeletrônicos. O conservadorismo e a aversão ao risco do nosso empresariado podem ajudar a explicar essa situação. Contudo. do ponto de vista interno. Teixeira e Guerra (2000) delinearam os aspectos importantes que fomentaram a instalação do parque industrial instalado no estado e descreveram a reação da economia baiana a esses eventos: a indústria entrante recebeu todo apoio governamental (em todos os níveis de governo) e. instalado em Camaçari.Ao longo dos anos 1990 verificou-se também a expansão em alguns setores econômicos que contaram com uma política mais ativa do governo. Posteriormente. possa impulsionar modificações estruturais na economia do estado e produzir resultados e taxas de crescimentos expressivas. Neste contexto. polo pirotécnico etc. Nas palavras dos autores: [. p. tais como: papel e celulose. A suposta criatividade da mão de obra baiana não parece ser suficiente para engendrar um processo virtuoso de aprendizado neste momento em que o mundo vive uma fase de transição entre dois distintos paradigmas técnico-econômicos (TEIXEIRA. 14). Em direção a uma integração virtuosa 177 . consolidar no estado 178 Em direção a uma integração virtuosa . um sistema econômico deve ser capaz de criar empresas que se articulem a cadeias de valor global dinâmicas. Mesmo a Bahia sendo um dos estados mais diversificados da região Nordeste. 2001). fica difícil separar os fatores conjunturais de mercado das forças competitivas estruturais. em uma análise pontual. região. há indícios de uma grande concentração da pauta em setores pouco dinâmicos em relação ao mundo e uma alocação de recursos não convergente com as exportações mundiais (XAVIER. àquela época. podendo-se delimitar o sistema em análise a um território – país. VIANA. é que. Sua limitação. com um porto no meio da costa brasileira. Primeiramente. no longo prazo. em termos de pauta de exportação. 2000 e 2005 (vide Tabela 1). analisou-se o comportamento geral da pauta de exportações do Estado da Bahia. O Estado da Bahia foi escolhido como local para instalação do polo petroquímico por ser. externo e interno. Para se beneficiar da globalização. e ocorre no período em que se completava o ciclo de industrialização por substituição de importações. bem como aprimorar eficiência e capacitações para enfrentar as mudanças tecnológicas e nos preços relativos dos fatores produtivos. estado. destacam-se os principais segmentos exportadores do estado em 1995. por já contar com uma refinaria.Neste panorama. A pauta de exportações da Bahia reflete a história do processo de industrialização do estado. O ciclo inicial de industrialização do estado ocorreu no final dos anos 1970 com a implantação do Polo Petroquímico de Camaçari. A partir de 1990 as políticas públicas se voltam à diversificação desse modelo de industrialização visando. induzido pela política nacional de industrialização. quais os indicadores das relações comerciais da Bahia que apontam para problemas e oportunidades no sentido de uma inserção virtuosa da economia baiana? 4. Pauta de exportação da Bahia O comportamento das exportações pode ser considerado um indicador de competitividade de um sistema econômico. primeiramente concentrado na produção de bens intermediários. À luz dessas observações. na tentativa de identificar mudanças na pauta de exportações decorrentes das transformações industriais no estado ao longo da última década. 2006). município etc. Os produtos químicos e petroquímicos nos anos 1995 e 2000 respondiam por aproximadamente 33% das vendas externas. e. finalmente. o único produtor de petróleo. como indicador. que visava diminuir a dependência da indústria doméstica em insumos importados e reduzir as desigualdades regionais. pela sua localização entre as regiões Sudeste e Norte-Nordeste (GUERRA. 74 9. agrícolas e minerais no mercado internacional. Todas as outras categorias de produtos tinham percentuais abaixo de dois dígitos. De 2000 para 2005.949 301. e os totais exportados pelo Brasil com os respectivos percentuais de participação da Bahia. nos três períodos. cuja implementação foi possível graças aos esforços de saneamento fiscal e financeiro do estado.104 652.25 14. fumo e sisal. metalúrgicos e os produtos de celulose e papel – concentravam cerca de 50% das vendas externas nesses anos. assim como pela expansão do agronegócio no Brasil. As transformações na pauta de exportações ocorridas na última década refletem as mudanças recentes na indústria de transformação do Estado da Bahia. Por outro lado. 2000 e 2005.840 291. verifica-se que não houve muitas transformações nos resultados de exportação entre 1995 e 2000: a participação da Bahia nas exportações do Brasil declinou de 4. Provavelmente este bom desempenho foi favorecido pelo aumento dos preços das commodities industriais. a localização estratégica do estado.152. como soja.00 2005 US$ 1000 1. o valor exportado pelo estado triplicou. a participação de cada um deles no valor total exportado pelo estado.430 2000 % 9.375. cacau. respondendo por cerca de 33% das vendas FOB nos dois períodos. estimulada pelo crescimento da China. os produtos químicos e petroquímicos lideravam a pauta.91 32.98 17. A Tabela 1 sintetiza a pauta de exportações nos anos de 1995. entre os mercados do Nordeste e Sudeste.294 434. Para se atingir este objetivo.643 636.97 19.206 328.388 872.68 2000 US$ 1000 192. Grosso modo.25 Em direção a uma integração virtuosa 179 . Exibem-se as vendas FOB dos principais segmentos.53%.186 578.62 15.atividades manufatureiras de bens de consumo final.000 FOB) Segmentos Derivados de Petróleo Químicos.13% para 3. no grupo metalúrgicos. Tabela 1 – Exportações do Estado da Bahia: principais segmentos e participação do estado nas exportações do Brasil (1995-2000-2005) Valores (US$ 1. três segmentos – químicos e petroquímicos. Na pauta há predominância dos produtos industriais intermediários – a exemplo das resinas termoplásticas e dos derivados de cobre.013 1995 % 5.095 186.363 2005 % 22. utiliza-se intensamente os mecanismos fiscais de atração de investimentos industriais. e das commodities agrícolas.57 9. e a presença de uma indústria produtora de bens intermediários também contribuem para reforçar a política de atração de empresas.657 1. decorrente da dinâmica da economia internacional.14 15.11 33. petroquímicos e transformação plástica Automotivo Metalúrgicos Papel e celulose 1995 US$ 1000 98.66 7. 57%).063 99.45 1.73 1.679 8. aparelhos e 38. inicia um leve movimento de desconcentração setorial a partir da primeira metade da década de 2000.000 Fonte: Promo.401 154.192 100.962 2.533 1.703 24.00 Bahia/Brasil (%) 4.500 118.30 Demais segmentos 122. Embora as exportações da categoria químicos e petroquímicos tenham quase duplicado em cinco anos. que respondem por quase 50% das exportações em 2005.14 1.75 2. Embora suas vendas FOB não os coloquem na liderança da pauta de exportações.552 56.38 169.30 3.000 55. pode ser sinalizado também pelo surgimento de novos segmentos exportadores.53 5. com o surgimento de novos segmentos exportadores e um aumento vertiginoso das exportações de derivados de petróleo da Petrobras.444 6.597 68.11 6.308.00 5. e o automotivo (14.032 46.18 6. em comparação a 2000. como observou Uderman (2005). elétricos Fumo e derivados 28.20 1.521 2.11 5.826 0. são: derivados do petróleo (22. O leve movimento de desconcentração. Constata-se uma diversificação da pauta de exportações em 2005.26 2000 US$ 1000 139. especificamente o óleo combustível.293 2.65 materiais.797 2005 % 6.744 100. esses são segmentos relevantes para a geração de empregos e demanda de serviços. que não se faz acompanhar por uma redução do grau de intensidade do capital de suas unidades produtivas.613 0.58 1.506.97%). químicos e petroquímicos (19.118 0. altamente concentrados em grandes empresas.29 Calçados e suas partes Borracha e suas obras Maquinas.13 3.00 1.67 44.56 23.086.174 224.31 Pesca e aquicultura 18.61 1.220 1995 % 2.06 0.919.21 Móveis e semelhantes Sisal e derivados 51.78 Por outro lado. De acordo como o Promo (2005).49 1.25%).353 0.159 2000 % 7.79 18.376 36. mamona e derivados Cacau e derivados Minerais Frutas e suas preparações Algodão Café e especiarias Couros e peles 29.94 0.47 15.942.000 118.59 1. Os três segmentos líderes.112 89.888 1. a que Uderman (2005) se refere. sua perda de participação relativa se deve à introdução e expansão desses dois outros segmentos.73 147. a indústria baiana. móveis. a exemplo da indústria de calçados.276 108.581 96.16 5.968 100.86 2005 US$ 1000 377. 163 180 Em direção a uma integração virtuosa .054 71.987. 1995 US$ 1000 40.801 103.629 123.Segmentos Soja. beneficiando-se de importantes investimentos realizados na última década.47 Total Bahia 1.236 63.243 1. borracha e suas obras e materiais elétricos.06 Total Brasil 46. 90. Em direção a uma integração virtuosa 181 . no início da década de 1990. Em direção a uma integração virtuosa da economia baiana Em uma fase marcada pela abertura comercial e desregulamentação econômica. um significativo aumento no número de empresas exportadoras.90 5. verifica-se que à elevada concentração produtiva na Região Metropolitana de Salvador (RMS) corresponde uma subocupação de espaços territoriais do estado. persiste um perfil bastante concentrado setorial e espacialmente e o nível de desemprego elevado. Logo. Ou seja. assim como reduzir a concentração espacial e atrair investimentos mais intensivos em mão de obra. A Tabela A2. deu-se a implantação da montadora automobilística Ford e foram atraídos alguns projetos de menor importância em outras áreas. limitando as alternativas de crescimento em fases recessivas. apenas. Na Tabela A1. as 412 empresas restantes.16 milhão no mercado externo em 2005. Nesse contexto. mostra as empresas da Bahia que mais exportaram em 2005. Verificou-se também uma expansão de vendas para mercados não tradicionais. 250 empresas baianas realizaram exportações (SPÍNOLA. com os respectivos valores e categorias de produto. o peso acentuado da produção de bens intermediários no PIB aumenta a vulnerabilidade da economia às variações do mercado e dos preços das commodities. Enquanto em 2002. como ferramentas. Por outro lado. China. México (automóveis). e 204. Ao lado destas providências instituiu um mecanismo de incentivos fiscais e financeiros para estimular o crescimento de atividades que atendessem aos objetivos previstos. médias. A ocupação é agravada pelas características naturais de vasta área do semiári89. venderam o equivalente a US$ 1. RIBEIRO. dentre outros. como. em 2005 este número atingiu 432. pequenas. por exemplo. relógios de ponto. Venezuela. máquinas agrícolas. 142. lenços. raquetes de tênis e esquis aquáticos. Tailândia e Nigéria. cerca de 20 empresas. a Bahia buscou a fixação de estratégias que reduzissem a concentração em atividades produtoras de commodities intermediárias. no apêndice. bolas para golfe. ainda. a reduzida diversificação da base produtiva torna o desempenho econômico dependente da performance de poucos setores. cujo potencial de crescimento está praticamente inexplorado. Entretanto. Percebe-se.89 Porém. Índia. faz-se um cruzamento dos principais segmentos exportadores com o número de empresas por porte. Quando se analisa a concentração espacial. no apêndice. visando à diversificação da economia. no total. 2004). responderam por cerca de 80% do valor exportado pelo estado. freezers. das quais 85 são grandes empresas. muitos deles fornecidos por empresas de pequeno porte.produtos foram introduzidos na pauta do estado em 2005. obras de porcelana. 7% da área total da Bahia. Complexo Industrial Ford Nordeste Instalado no município de Camaçari. ou pela escala insuficiente para atração de novos capitais. capaz de atrair novos investimentos. 5.do. Essa concentração agrava os problemas do desemprego e das desigualdades distributivas. representando 68. no ano 2000. como estratégia para a melhor inserção econômica do estado. Não obstante. No ano de 2006.1. 13% do total das exportações baianas. estima-se que 60% do valor agregado ao longo da cadeia de produção seja realizado na Bahia. dentre os maiores desafios enfrentados pelas empresas sistemistas da Ford – cerca de 35 empresas. a montadora norte-americana já exportava US$ 920 milhões. é preciso discutir as oportunidades que o estado oferece. A indústria da Ford instalada na Bahia pressupõe uma hierarquização de fornecedores em diferentes níveis. sobretudo em face das possibilidades de desconcentração espacial da produção contidas nesta opção. e produzia cerca de 250 mil veículos. mais simples. (ii) a valorização dos setores intensivos em recursos. Grosso modo. Com isso. considerados de terceira e quarta linha. e os produtores de matérias-primas. pouco menos que 10% da produção total nacional. as duas subseções seguintes discutem: (i) a possibilidade de adensamento da cadeia produtiva do Estado da Bahia a partir da instalação do Complexo Industrial Ford Nordeste. sendo 26 na planta – estão a pouca disponibilidade de mão de obra qualificada e a insuficiência do mercado local para garantir uma escala de produção mínima.9 bilhão. em face da limitada abrangência espacial da produção e da pequena participação relativa de setores de maior oferta de emprego. seja pelo nível de sofisticação das atividades desenvolvidas na cadeia de fornecedores. tendo em vista o desenvolvimento de uma economia competitiva. Com este propósito. os resultados apresentados pelo autor indicam que. Identificada parte das limitações da inserção econômica da Bahia. pela limitação na mão de obra. as vantagens locacionais do arranjo produtivo 182 Em direção a uma integração virtuosa . os produtores de peças e componentes que fornecem aos sistemistas ou fornecedores de segunda linha. o Complexo Industrial Ford Nordeste contou com um investimento inicial de US$ 1. o adensamento da cadeia produtiva baiana decorrente do impulso inicial da montadora ainda requer a superação de problemas estruturais. os fabricantes de peças isoladas. pela debilidade da indústria baiana. Conforme ilustra Mercês (2005). Envolve os encarregados pela entrega de sistemas e peças completas (sistemistas ou fornecedores de primeira linha) à montadora. em linhas gerais. espera-se que externalidades positivas do complexo automotivo. através do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). ou seja. a presença de tais externalidades não assegura o resultado econômico desejado. o Estado deixa de explorar todas as possibilidades trazidas pelo CIFN. governo federal. São eles: a baixa capacitação da indústria estadual para atender a demanda do complexo automotivo. Manutencistas e Visão do Processo de Produção. Todavia. pois remetem diretamente à competitividade da economia baiana. a exemplo da atual parceria entre a Ford e o Senai/BA. 2005. Segundo dados fornecidos pelo Senai até julho de 2004.. possuam fornecedores cativos nas regiões do País em que atuam há mais tempo. em particular o fomento a cultura empreendedora que valorize o papel das inovações. 90). De fato.acabam sendo restringidas. Em direção a uma integração virtuosa 183 . a maior parte das 25 toneladas de componentes e artefatos plásticos demandados pelo CIFN é adquirida de empresas de São Paulo e Minas Gerais. 28 turmas foram treinadas nos cursos de Operadores Automotivos. Foi montado no município de Camaçari um projeto para qualificar profissionais para trabalharem no APL. Esses resultados são semelhantes àqueles indicados em Mercês (2005) e reforçam a necessidade de superação dos obstáculos estruturais da economia baiana para o adensamento de sua cadeia produtiva. p. 2005). SPÍNOLA. através da Secretaria de Expansão Econômica. em detrimento das empresas instaladas no Polo Petroquímico de Camaçari. a organização modular do complexo industrial automotivo implica que as empresas sistemistas. Esse projeto conta com a participação das seguintes instituições: Senai/BA. Ford Motor Company Ltda. visando atender às normas e certificações exigidas pela montadora (MERCÊS. Há também. Em parte. totalizando mais de cinco mil pessoas (MERCÊS. a qualificação da mão de obra local e o exercício de práticas 91. através da Secretaria do Trabalho e Ação Social (SETRAS) e prefeitura municipal de Camaçari. constante realização de programas de treinamento voltados à gestão de qualidade. Ferramenteiros. governo do estado. Com isso. nas empresas sistemistas. como treinamento de pessoal e a formação de parcerias junto a entidades locais. Conforme indicam Lima e Spínola (2008). Todavia. e a própria matriz. a interação entre o CIFN e os demais setores da economia baiana carece de aprofundamento. cujo exemplo mais imediato é a pouca adesão dessa indústria às normas de qualidade previstas na certificação ISO 9000. dois outros fatores que justificam a reduzida integração do CIFN aos produtores locais de plásticos são mais relevantes. Com relação à insuficiência de mão de obra qualificada. e a inexistência de escala suficiente para a atração de novas empresas produtoras de moldes e peças utilizadas no automóvel (LIMA.91 possam contribuir para a elevação do nível técnico do trabalhador local. 2008). Espera-se daí a geração de externalidades positivas para outros setores do sistema produtivo baiano. modernização organizacional ou técnicas gerenciais avançadas. órgãos de apoio e promoção. em particular quando trata dos Arranjos Produtivos Locais. centros de capacitação. em geral. institutos de pesquisas. 2005. tais como o CIFN. tecnológicas. ensaios e certificações. é resultante de um processo sistêmico. o que constitui o primeiro sinal de um espírito mais empreendedor estimulado pela busca 184 Em direção a uma integração virtuosa . mantido e influenciado por interações interempresas e relações interinstitucionais. O objetivo de entrar para o rol de fornecedores da Ford pode induzir. o desapreço às parecerias citadas é decorrente da própria liderança que a montadora norte-americana exerce sobre as demais firmas do complexo. que geram capacitações inovativas. causado. Lima e Spínola (2008) incluem a resistência dos produtores locais de plástico às normas e padrões exigidos pela Ford e certificações internacionais. entende que a inovação. são transferidas pela montadora para as sistemistas que. 110). Por outro lado.] os ganhos auferidos com os acordos estabelecidos entre própria Ford e universidades. 2005). uma estratégia mais agressiva. portanto. as autoras já vislumbram. instituições de testes. se descomprometem. produtiva e de recursos humanos... assumindo o papel preponderante nas inovações técnicas e estímulos às inovações organizacionais. A debilidade da indústria baiana em alguns segmentos também poderia ser atenuada pelas externalidades positivas do arranjo automotivo. p.inovativas e empreendedoras pelo empresariado baiano vão requerer novos incentivos. especialmente mediante contatos dentro de redes de atores locais e regionais. em algumas firmas. de certo modo. ainda que ocorra no interior da firma. a qualificação do trabalhador e também a promoção de uma cultura empresarial moderna podem ser aprofundadas caso as externalidades do CIFN sejam potencializadas. [. Em geral. agentes financeiros. como um dos fatores que dificultam a integração do CIFN à indústria do Polo Petroquímico. Em grande medida. assim. em um indício dos limites que alcançam os efeitos externos provenientes das menores empresas deste empreendimento (MERCÊS. centros de capacitação profissional de assistência técnica e de manutenção. A perspectiva neo-schumpeteriana. organizações voltadas para testes. representações de classe e órgãos de apoio e promoção e agentes financeiros locais. iniciativas em prol do atendimento dos requisitos exigidos pela montadora norte-americana. Tais empresas atribuem baixa importância a parcerias firmadas com universidades. Não obstante. A cooperação entre empresas e instituições cumpre o papel essencial de estimular o surgimento de inovações. O exemplo das sistemistas do CIFN pode ser ilustrativo. Por exemplo. de gestão. com tais iniciativas (MERCÊS. No Brasil. monitoramento e modernização das pequenas firmas. ou seja. centros de pesquisa e ensino técnico. articulando acordos entre a Nacional Financeira e as pequenas e microempresas. A articulação institucional das empresas do setor automotivo e do Polo Petroquímico junto às entidades relacionadas ao comportamento inovativo. e tarifas de importação 92. mas alude a um empresariado local capaz de responder com ações proativas e medidas práticas em face de um regime de incentivos adequado. entre os principais benefícios estão a maior segurança de mercado e o acesso facilitado a matérias-primas e novas tecnologias.. Como estímulo à cooperação. Uma descrição pormenorizada da infraestrutura do arranjo produtivo do CIFN e das instituições do sistema estadual de inovação pode ser encontrada em Merces (2005). De fato. e pequenas unidades. Esse pacote de isenções. expediente largamente utilizado na elaboração do chamado Regime Automotivo. Para as grandes empresas há vantagens pela redução de custos. do governo mexicano. do governo federal. montadoras e companhias de comércio. consistia em facilitar o acesso ao crédito pelas empresas. universidades.92 requer atenção e estímulos do governo baiano. incluindo fornecedoras de matérias-primas.de competitividade. cujo objetivo era estimular a cooperação entre grandes firmas. O exemplo mais evidente é a isenção fiscal. O programa dedicava atenção especial às micro e pequenas empresas fornecedoras de insumos e priorizava a agregação de valor às exportações nacionais. as grandes firmas se responsabilizam pela coordenação. também há uma série de incentivos à indústria automotiva. Para as pequenas empresas. vigente entre os anos 1995 e 2000. Outro exemplo da articulação realizada pelo setor público é o programa Centro-Satélites (CS). a presença do setor público. seja através da articulação interinstitucional ou da concessão de incentivos mais diretos. Obviamente. chamadas Centros. o governo oferecia apoio financeiro e assistência técnica. representações de classe etc. ditas Satélites. Todavia. Em cada arranjo CS. em consequência da terceirização de atividades. Em direção a uma integração virtuosa 185 . em função dos menores salários pagos pelas firmas pequenas. aquelas que integram o chamado sistema estadual de inovação. tem sido constante. em arranjos produtivos locais da indústria automotiva. este evento isolado não constitui exemplo de um renovado ethos capitalista local. do governo de Taiwan. a indução do adensamento da cadeia produtiva do Estado da Bahia não pode prescindir do fortalecimento das micro e pequenas empresas baianas como fornecedoras de insumos para a Ford. basicamente fornecedoras de componentes. uso das Satélites como proteção contra flutuações na demanda e a menor necessidade de investimentos. estabelece desde a redução de impostos sobre a produção. como o Imposto sobre Produtos Industrializados. Um exemplo é o Programa de Política Industrial e de Comércio Exterior. Uma de suas principais medidas. nesse caso. A terceira forma de crescimento é através do ciclo endógeno. ou a redução do Imposto sobre Operações Financeiras nas transações cambiais para o pagamento de bens importados. De Negri e Freitas (2005) apresentam indícios de que as firmas brasileiras mais propensas à inovação têm melhor inserção externa. além de obras de infraestrutura e concessões de créditos (NAJBERG. aqui a competitividade das exportações permite o alcance continuado de mercados adicionais. 96). a fatores institucionais e limitações na de mão de obra: “[. a taxas de frete da Marinha Mercante. No caso particular da indústria baiana. e daí surgem os impulsos a novos investimentos. Os ensaios empíricos. e mesmo o número de empresas brasileiras exportadoras pode ser aumentado em função desta variável. 2002). 2000. a baixa atração de investimentos pode ser atribuída à reduzida capacidade de absorção do mercado e indústria locais. a rigor. Outro desafio colocado à economia baiana diz respeito a sua diminuta capacidade de atração de novos investimentos. p. donde advêm as decisões de investimento.. na abordagem neo-schumpeteriana. de modo autônomo ou pelas relações intraindustriais. PUGA. sobretudo em setores de produção de bens finais. os mercados preexistentes são os responsáveis por capitanear as decisões de investimento.] pelas evidências disponíveis. Na Bahia. A segunda alternativa remete ao drive exportador. a substituição de importações. embora não conclusivos. A Bahia vive a condição incômoda de não se beneficiar plenamente do drive exportador.de autopeças e bens de capital. GUERRA. o comportamento inovativo 186 Em direção a uma integração virtuosa . Em resumo. Estados e municípios também concedem incentivos fiscais. as decisões de gastos dos capitalistas e do Estado ao criarem mercados ocasionam a ampliação da capacidade produtiva (CARNEIRO. Na primeira. pelo baixo valor agregado de suas vendas e exportações. já trazem sinais que coadunam com esta proposta. necessários à diversificação da cadeia produtiva local. Ou seja. O estado também não possui um mercado local suficiente para garantir a escala de produção e a indução de investimentos adicionais. há três alternativas básicas de crescimento. Por exemplo. os investimentos são induzidos pela internalização de segmentos produtivos quando a capacidade de importar é restringida. bem como. fortemente concentrada na produção de bens intermediários. são o elemento indutor da própria dinâmica sistêmica da economia capitalista. aqui. capaz de aproveitar as oportunidades que as grandes empresas abriam ao se implantarem na região” (TEIXEIRA. e pelo caráter incompleto de sua cadeia produtiva. a industrialização baiana não foi capaz de gerar uma capacidade empresarial local. As inovações podem ser decisivas para a competitividade da firma.. e ainda dispõe de um empresariado conservador e avesso ao risco. nesse caso os investimentos promovem o crescimento do mercado doméstico. Nesse caso. 2003). contou com a atuação enérgica do governo baiano. as empresas sistemistas entreveem a possibilidade de fornecer localmente mais insumos. Já as fornecedoras de componentes poliméricos talvez estejam em uma situação intermediária (CERRA et al. componentes e serviços. por exemplo. a empresa demonstrava a importância que as atividades inovativas teriam em sua planta de produção na Bahia. através do estabelecimento de relações cooperativas e de confiança entre os seus participantes (GUARNIERI et al. de articulação institucional e atração de novos investimentos. aumentando as sinergias do complexo automotivo e explorando de modo mais intenso seus efeitos sobre os demais setores da economia. tampouco sem que os desafios estruturais sejam superados. das especificações técnicas indicadas pela montadora. quase 300 engenheiros foram transferidos para o estado. redução no prazo de entrega de peças e componentes. Naquele ano. principalmente. Ademais. no caso das peças e componentes metálicos. são necessários investimentos na capacidade logística do Estado da Bahia. não possuem departamentos exclusivos para Pesquisa e Desenvolvimento e realizam inovações autônomas esporadicamente. Sobre este último aspecto. a tecnologia é dominada pelas fornecedoras. apenas seguem as determinações da montadora quanto às modificações desejadas nas peças e componentes (MERCÊS. Não obstante. em sua maioria.ainda é bastante incipiente. ainda. peças. um ganho expressivo de massa crítica. deve contar com a atuação do setor público – a atração da Ford.. Hori (2003) argumenta que mesmo a instalação do Em direção a uma integração virtuosa 187 . a partir do estímulo gerado pela instalação do CIFN. é a montadora norte-americana que comanda os processos de inovação. o desenvolvimento de produtos e processos nas empresas fornecedoras da cadeia automotiva resulta. para melhor aproveitar as vantagens locacionais que o APL da Ford Nordeste dispõe. A aglomeração de fornecedores vem se mostrando uma solução competitiva para a cadeia produtiva da indústria automotiva.. No caso das peças e produtos eletrônicos. como apontado por Nascimento (2007). necessitando. 2005). 2006). 2007). existe a possibilidade de “maximizar” a competitividade gerencial de toda a cadeia produtiva. para tanto. Entre os seus principais benefícios estão as vantagens logísticas no transporte e administração de estoques e. Já as empresas sistemistas. No CIFN. mas também relacionado às inovações no CIFN. O fomento a uma cultura mais agressiva e inovadora do empresariado local. Uma simples visita aos dados da Pintec confirma esta fragilidade. Já em 2003. em geral. que desenvolvem novos produtos e processos em parceria com a montadora. como demonstra a história. não virá sem um regime de incentivos adequado. Em geral. está a elaboração de uma capacidade logística no estado. Entretanto. O adensamento da cadeia produtiva da economia baiana. dentre outros). Um desenho logístico eficiente poderia atrair para o estado novos investimentos. em detrimento da cidade de Feira de Santana. Senai/Cimatec. Valorização dos setores intensivos em recursos Em um quadro de abertura externa de desenho de novas formas institucionais de políticas regulatórias setoriais e horizontais. deslocando fornecedores de outros estados da federação. Senai/Cimatec). Dentre os resultados mais significativos. Tecnologia e Inovação (SECTI). justificava-se a escolha. Em que pese os constrangimentos apontados. pode-se afirmar que o governo do estado assumiu o papel de coordenador dos diversos agentes relevantes ligados direta ou indiretamente ao CIFN. Planejamento e Fortalecimento Industrial (Seplan/SICM). fornecedores locais (efetivos e potenciais) e demais agentes locais relevantes (Sebrae. regional ou internacional. Resumidamente. Significa dizer que houve aumento no número de empresas localizadas na Bahia que fornecem bens e serviços para a Ford e seus sistemistas. em Camaçari. IEL). FDC. cuja cadeia produtiva é complexa e causa significativas externalidades. sejam voltados ao mercado interno. o aumento do grau de “baianização”93 dos fornecedores de bens e serviços para a Ford e seus sistemistas. de Camaçari. sistemistas. Cursos de Capacitação Empresarial (Sebrae). cabe destacar. não se limitando ao mercado interno ou regional. desde que detentor de vantagens competitivas. Programa de Qualificação de Fornecedores (FIEB/IEL). e a presença de um setor intensivo em capital e tecnologia. que. Projeto Vínculos (GTZ. claramente sob o aspecto logístico. usufruísse do drive exportador para a atração de novos capitais – em particular aqueles que complementariam sua cadeia produtiva e agregariam valor às suas exportações. Projeto PPP (GTZ. segundo informações da Secti. através da Secretaria de Ciência. 188 Em direção a uma integração virtuosa . faria com que o Estado da Bahia. como a defesa da concorrência. é necessário fortalecer os incentivos a concorrência e a in93. vem desenvolvendo ações efetivas de políticas públicas junto a Ford. em grande parte localizados no Sul e Sudeste.CIFN. 5. FIEB/IEL. e Empresa Competitiva Bahia (Secti/BID). identificadas pela própria Secti. foi uma decisão fundamentada no potencial logístico da primeira e na perspectiva de atuação da empresa no mercado global. Nesse caso. Seplan/SICM. São exemplos de ações institucionais desenvolvidas: Projeto baianização (Ford/Sistemistas). orientando o desenvolvimento das ações com base nas suas demandas. O potencial de exportação.2. Unctad. na busca pelo maior adensamento da cadeia produtiva baiana a partir do CIFN. pela maior proximidade do porto da Bahia de Todos os Santos. a relevância da atuação do governo do estado. o frete. contudo. um país e uma unidade de uma Federação. É a interdependência que torna a especialização de alta produtividade possível. a Bahia sofre o “custo Brasil” e o Chile não. Trata-se de compatibilizar os incentivos e restrições macroeconômicas e microeconômicas focalizando-os para a eficiência econômica em um ambiente competitivo para as empresas. é numa gestão seletiva e flexível dos instrumentos de política pública. De início. Para a Bahia o custo do frete é mais caro porque o fluxo global é reduzido. o estado poderia se beneficiar do potencial que a economia brasileira exibe na geração de inovações associadas aos recursos naturais. A ênfase. As “histórias” que importam nas trajetórias adiante estão. A autonomia da Bahia está submetida ao disposto no arranjo federativo e o Chile é um Estado unitário. preparados sob medida para o cliente. e. empresários. 10 anos atrasada. As Tabelas A3. frente ao Chile. Esta autora realizou uma pesquisa extensiva sobre os insumos e resultados da ciência e inovação no Brasil. O Chile é um país exportador de commodities baseadas em recursos naturais. Certamente este fator deve fazer parte da explicação do êxito recente da economia chilena. possivelmente. É claro que no caso em pauta (Chile e Bahia) trata-se de duas unidades de análise diferenciadas quanto ao seu estatuto jurídico-político. a abertura da economia nos anos 1970 e sua conversão em uma economia dinâmica. apoiada na exportação de recursos naturais e produtos agrícolas sofisticados. o país poderá tornar-se uma economia do conhecimento natural. O ponto central é que as indústrias intensivas em recursos também têm sido rejuvenescidas através da adoção de novas tecnologias. Ademais. Então. A Bahia parece estar. cientistas e economistas em sete grandes capitais braEm direção a uma integração virtuosa 189 . nos anos 1980. o custo do transporte marítimo. Nos termos de Kirsten Bound (2008). A4 e A5.trodução e difusão de inovações. portanto. quais são os fatores responsáveis pelas diferenças de produtividade induzidas dos dados apresentados nas tabelas a que fazemos referência? Talvez a difusão de tecnologia. educação e treinamento da mão de obra. O que mais chama a atenção é que os dados apresentados na Tabela A5 não permitem que se atribua as diferenças gritantes entre os indicadores transcritos nas Tabelas A3 e A4 à origem setorial dos produtos que compõem a pauta do comércio exterior dessas economias. condicionadas por traços de dependências do caminho. específicos e localizados. e aos valores do PIB e comércio internacional que este apresenta. Seu trabalho foi baseado em mais de 100 entrevistas com policymakers. em apêndice. corretamente acondicionados. entre outros fatores que se poderia apontar. energia e agricultura. Além disso. apresentam a evolução de alguns indicadores relativos à economia do Chile e da Bahia. diminui com o aumento da corrente de comércio (exportações e importações). o aproveitamento do potencial para a produção de biodiesel demanda a formação de redes de fornecedores crescentemente tecnificados e o estabelecimento de contratos de médio e longo prazos. com o meio ambiente e recursos naturais no centro da discussão. a diretriz principal é implantar sistemas que motivem a geração de externalidades sociais por parte desses empreendimentos. há oportunidades evidentes como o aproveitamento do incentivo de mercado dado pela produção de biodiesel para a reativação da produção de mamona. há a oposição de grupos locais. a atividade insere-se de forma marginal no cenário nacional e internacional. sendo a região a primeira a ser expulsa quando os preços estiverem baixos no mercado – caso da produção de grãos no Oeste do estado. antecipadamente. redes de difusão de conhecimento tecnológico e de vigilância sanitária e de mecanismos de inserção produtiva que a coloquem em mesmo nível para competir com as regiões já estabelecidas (e altamente capacitadas). e as pesquisas com célulastronco. além da revisão da literatura pertinente. Todavia. Neste caso. carecem de infraestrutura. aqui. há que se contornar os conflitos decorrentes dos investimentos realizados em papel e celulose no Sul da Bahia. derivados em parte das características de monocultura e enclave do plantio do eucalipto de fibra curta. São exemplos desse potencial: a produção de biocombustível. as pesquisas baseadas na biodiversidade aplicadas aos fármacos. em que apesar de existir inserção internacional. Até pela velocidade em que as atividades econômicas foram implementadas. também a produção de frutas e a agricultura irrigada em Juazeiro. Nestes casos. Entretanto. Na Bahia. Trata-se de uma situação curiosa. Outras possibilidades emergem das regiões em que o empreendendorismo criou as bases de uma nova atividade no estado. evitar que intermediários condenem o cultivo ao círculo vicioso de baixo preço/baixa tecnificação que hoje marcam o cultivo. 190 Em direção a uma integração virtuosa . O caso do cultivo do café difere apenas pelo fato de estar localizado em regiões mais próximas às vias de escoamento do produto.sileiras. o Brasil pode escrever uma nova estória da inovação nacional. químico. se nada é feito. indústria de cosméticos e indústria alimentícia. que permitam. No seu entendimento. Pode-se incluir. mas também pela importância de grupos cuja missão é questionar o agronegócio para propor como alternativa a pequena produção familiar. encontra limitações à sua expansão futura na situação das estradas e do porto utilizado para o escoamento do produto. têxtil e cosmético. capacidade empresarial e demanda pelo produto. fitoterápicos. Finalmente. a nanotecnologia que serve principalmente aos setores aeroespacial. tentar impulsionar a qualidade dos fornecedores locais. entre elas o aprendizado comercial. Nesta perspectiva. que inclusive crie nova dependência. obtendo sucesso. Estas externalidades são adicionadas e realizadas em sequências antecipáveis pelo gestor público e. em razão das inovações tecnológicas. poderia ser diferente? Em direção a uma integração virtuosa 191 . superação de falhas de mercado e cooperação interfirmas. pública ou privada. do ponto de vista de uma mais promissora articulação interna e acelerada inserção externa. Assim. estar integrado aos crescentes fluxos de comércio e investimentos mundiais. logística. deve centralizar seus esforços sistêmicos na montagem de uma rede de comunicações.Considerações finais Os instrumentos de política pública devem ser capazes de promover a difusão de inovações tecnológicas e o aprimoramento das capacitações locais. no caso da grande empresa industrial. Afinal. o planejamento econômico deve focalizar segmentos fornecedores de externalidades fundamentais para o avanço do investimento privado nacional e internacional na economia do estado. que porventura queira desenvolver atividades na Bahia? Nestes casos. Como se sabe. passíveis de coordenação através do planejamento. atuar na promoção e estruturar uma nova forma de inserção produtiva. educação e treinamento da sua população. o governo estadual deve identificar as possíveis entrantes na economia baiana. estes instrumentos devem ser concebidos para ampliar e potencializar a competitividade. depender quer dizer participar. contribuindo para a dinâmica de substituição de produtos. portanto. Por fim. além da infraestrutura em logística. O Estado da Bahia deve induzir. a entrada de uma empresa de grande porte. nacional ou internacional. No sentido atual. Não é razoável prescindir da criação de mecanismos institucionais transversais para a coordenação da ação pública orientada para a implementação de instrumentos que visem ao incremento da concorrência nos mercados. processos e formas de gestão. estimar suas necessidades quanto ao cada vez mais limitado apoio público e. A questão. Para tanto. atentando para o que Schumpeter cunhou como “destruição criativa”. resulta da necessária articulação e compatibilidade entre as políticas do estado e os objetivos estratégicos das mesmas. passa necessariamente pela organização e montagem das condições sistêmicas enunciadas e por uma grande ênfase no papel do planejamento do sistema de apoio apontado. treinamento e comunicações. o que fazer para estimular as estratégias de localização. fomentando o aumento de produtividade e competitividade da economia local. . São Paulo: FEA/ USP 2004. K. FLEURY. 2008. Universidade Federal da Bahia.) HORI. Management and Innovation. v. 2006b. n. Inovação tecnológica na indústria baiana. R. J. p. Talca. v. 2003. LIMA. n. R. CEPAL. 505-519. Modelos de organização industrial e inovação: da grande empresa verticalizada à externalização da manufatura. RESENDE.. A. Bahia Análise & Dados. 4. v. Situación y perspectivas de la economía mundial a mediados de 2006.. 2006.. London: Demos 2008. 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F. 4 milhões.064 865. mamona e derivados Cacau e derivados Minerais Frutas e suas preparações Algodão Café e especiarias Couros e Peles Móveis e semelhantes Sisal e derivados Calçados e suas partes Borracha e suas obras Máquinas. abaixo de R$ 360 mil.52 6.039 509. pequenas.4 milhões em 2005.60 Em direção a uma integração virtuosa . *De acordo com critérios estabelecidos pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (SEFAZ).45 8.25 14. As grandes empresas são aquelas com faturamento igual ou maior que R$ 2. Empresa Petróleo Brasileiro SA – Petrobras Ford Motor Company do Brasil Ltda Braskem SA Caraíbas Metais SA Bunge Alimentos SA 194 Categoria de produtos derivados de petróleo automóveis químicos e petroquímicos cobre grãos de soja Valor exportado (US$ 1000 FOB) 1.Apêndices Tabela A1 – Bahia: segmentos exportadores por porte de empresa – 2005* Segmentos exportadores Derivados de petróleo Químicos e Petroquímicos Plásticos e suas obras Automotivo Metalúrgicos Celulose e Papel Soja.392. as médias. aparelhos e materiais elétricos Fumo e derivados Pesca e aqüicultura Outros comestíveis Bebidas. líquidos alcoólicos Outros Total de empresas Grandes empresas 6 21 11 2 4 5 4 3 4 1 Médias empresas 2 8 8 6 1 1 1 11 20 9 10 3 2 16 7 14 5 3 4 1 9 85 11 143 Pequenas empresas 6 1 1 3 3 31 31 28 11 3 5 1 2 1 5 6 4 8 4 50 204 Número de empresas por segmento 8 35 20 2 11 6 8 7 46 52 37 21 9 9 17 10 5 23 11 7 13 5 70 432 3 2 1 4 4 1 Fonte: Promo. maior que R$ 360 mil e menor que R$ 2. Tabela A2 – Bahia: principais empresas exportadoras em 2005.267 275.85 4. % 23.205 Part.880 410. Sefaz. 398 15.910.050 72.604.245 96.900 -220. Em direção a uma integração virtuosa .500 73.400 14.407.100 18.623.000 5.82 0.719 81.806 1.100 23.300 16.820.11 0.040.270.402 92.417 57.800 17.323 66.975 5.118.800 18.000 4.523.000 9.797 14.197 14.000 5.744 Part.368.396 14. população e balança comercial.600 População em 1.96 0. Sefaz.200 16.987.610 16.091.698.840 75.626.900 2.401 118.266 16.490 67.295.410 75.Empresa Bahia Sul Celulose SA Categoria de produtos Valor exportado (US$ 1000 FOB) 254.597.521.154 7. Cepal. Saldo da Balança Comercial 9.600 -1.428.571 15.071.130 68.000 3.700 15.847.778.900 124.12 1.000 PIB per capita – US$ Ano 39.297.82 19.162.597.427.843.322.300.162.61 1.870.086 80.800 18.24 2.145 70.214.700 15.200 17. % 4.303 48.000 4.363.55 1.83 0.914.100 19.600 1.536.000 4.800 17.271.608.000 hab. Exportações – US$ milhões FOB Importações – US$ milhões CIF 30.600 195 PIB total – milhão US$ 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 115.997.998 14.001.300 -1.978.236.019.000 Fonte: Banco Central do Chile.800 2.005.210.024.290 50.297.100 11.179.990 15.000 5.00 celulose/pasta quimica de madeira Cargill Agrícola SA grãos de soja Veracel Celulose SA celulose/madeiras em bruto Dow Brasil Nordeste Ltda químicos/soda minérios de ferro não agloGerdau Açominas SA merados Oxiteno Nordeste SA Indústria químicos/etilenoglicol e Comércio (etanodiol) químicos/ácido fosfonomeMonsanto Nordeste SA tilminodiacetico Politeno Indústria e Comércio petroquímicos/polietileno SA minérios de manganês Rio Doce Manganês SA aglomerados Joanes Industrial SA pasta de cacau Barry Callebaut Brasil SA pasta de cacau (Chadler) celulose/pasta química de Bahia Pulp SA madeira Polialden Petroquímica SA petroquímicos/polietileno Petroquímica União SA químicos e petroquímicos Mastrotto Reichert SA couros e peles Demais empresas Total Fonte: Promo.000 5.100 94.200 -2.890.236.600 18.292.739 67. Tabela A3 – Chile: contas nacionais.070 79.18 1.530.000 4.61 1.000 4.595 14.385.000 4.800 19.000 11.900 21.794.420 82.100 32.743 49.735.503 49.300 17.500 2.200 16.35 1.039.100 3.682.802.42 100.39 1.200 65.824.800 16.97 1.088.427.247 15.192.446 96.746 15.34 1.036 143. 90 6.581.233 566. % 58.627 12.006.526.672.000 503.000 4.407.120.659 1.410.988.75 2.016 12.943.274.242.95 25.000 1.000 2.000 2.000 1.499 12.551 13.945.459 4.021.266.20 6.677.358.104 3.553.346 4.766 1.000 1.715. aparelhos e materiais elétricos Demais segmentos Zona franca Total Fonte: Banco Central do Chile.687 13.000 1.302.000 2.000 Fonte: SEI.000 1.00 Ano 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 45.281 13.000 711.54 5.721.868.945 29.000 278.755 12.61 4.222.208.000 1.000 -299.153 17. Cepal.148 13.469.31 1.000 1.994 2.259.000 -154.000 2.251 1.063.31 1.838 642 872 290 847 38.806 13.000 hab.62 4.237.589.593 1.449.000 1.500.885 12. madeira e semelhantes Bebidas e tabaco Papel e celulose Químicos e petroquímicos Metalúrgicos Máquinas.343.996 1.Tabela A4 – Bahia: conta estadual.15 7. Tabela A5 – Exportações chilenas – principais segmentos 2004-2005.060.000 329.314.000 1.000 1. Promo.402 1.000 3.840.777 15.014.717 24. Exportações – US$ milhões FOB Importações – US$ milhões FOB PIB total – milhão US$* – valores correntes Saldo da Balança Comercial 2. população e balança comercial.661 19.846.463 1.018 1.55 27.814 Variação % 35.323.437.25 0.919.511.590.119 512 651 273 834 30.810 936 1.425 2005 22.000 FOB) 2004 16.000 1.05 33.878.137.000 1.166.829. Valores (US$ 1.311.371 3.000 3.489 18.000 112.000 968. Segmentos Minerais Agropecuário-sivícula e pesqueiro Alimentos industrializados Móveis. PIB per capita – valores correntes População em 1.34 12.000 1.83 18.274 41.002.000 3.66 2.230 2.000 532.169 1.612 2.042.66 2.58 196 Em direção a uma integração virtuosa .603 2.472 7.000 1.41 31.415 13.588 2.000 1.364 5.656 2.526.37 33.18 100.41 4.000 753.846 22.301 13.000 1.000 Part.732 888 1.469 34.28 4.297 12. Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 Carlos Américo Leite Moreira Inez Silvia Batista Castro 1. Introdução Em nível mundial, a atividade calçadista é concentrada tanto em termos de mercados consumidores quanto em países que abrigam as plantas produtoras. Estados Unidos com 2.241,9 milhões de pares anuais, China (2.096,5 milhões), Japão (650,3 milhões) e Brasil (555 milhões) são os maiores mercados consumidores mundiais, consoante dados de 2005 (SATRA..., 2008).94 Sendo uma atividade intensiva em trabalho a produção acabou se localizando em países em desenvolvimento, com grande oferta de mão de obra, como a China (nove bilhões de pares/ano), a Índia (909 milhões) o Brasil (762 milhões), a Indonésia (580 milhões) e o Vietnã (525 milhões). Dentre os maiores exportadores, há países industrializados como a Itália, que conseguiu se consolidar como vendedora de calçados de elevado padrão de qualidade e grande diferenciação do produto, voltados para a população de alta renda. Dentre as marcas italianas conhecidas, pode-se mencionar: Sergio Rossi, Testoni, Pollini, Casadei, Giovanni Martini, Giuseppe Zanotti, Prada e Gucci. A China (6.914 milhões de pares/ano) é também o maior exportador mundial de calçados seguida por Hong Kong (741 milhões), Vietnã (472,7 milhões), Itália (249 milhões) e Brasil (217 milhões). Uma das metas traçadas pela Política de Desenvolvimento Produtivo Nacional é tornar o Brasil o terceiro maior exportador mundial. A atividade calçadista no Brasil, representava (em 2006) 4,6% (BRASIL, 1991-2006) dos empregos formais da indústria de transformação e 1,6%95 do valor da transformação industrial, o que denota o caráter intensivo em trabalho. Até a década de 1980, a indústria calçadista nacional concentra94. Dado estimado. 95. Estes valores foram obtidos a partir da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIMPF). Esta fonte não analisa separadamente a indústria calçadista, logo, os dados que podem ser comparados com os valores adicionados da indústria geral ou de transformação são aqueles indicados pela rubrica “couros e calçados”. Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 197 va-se nas regiões Sul e Sudeste. Dados do Inquérito Industrial (1907) e dos Censos Industriais de 1920, 1960, 1970 e 1975 revelam que estas duas regiões contaram com, no mínimo, 68,9% do número de estabelecimentos e 86,5% do pessoal ocupado da referida indústria. Inicialmente este ramo industrial se concentrou na região Sudeste, de onde, gradualmente se moveu para o Sul, quer em virtude das crescentes exportações do Rio Grande do Sul, quer pela perda de competitividade no mercado interno de São Paulo e Rio de Janeiro, onde durante todo o século XX, concentraram-se as maiores médias salariais do setor. Assim, até os anos 1980, os empregos e produção aglomeram-se no interior dos estados do Rio Grande do Sul (Vale dos Sinos), São Paulo (Franca, Birigui e Jaú), Minas Gerais (Nova Serrana, Uberaba), Espírito Santo (Cachoeiro do Itapemirim) e Santa Catarina (São João Batista, Aranguá) (COSTANZI, 1999). A partir da década de 1990 e até 2007, a indústria de calçados e couros nacional96 apresentou taxas de crescimento inferiores às da indústria de transformação. Também denota a perda de competitividade do setor, em nível nacional, o fato deste não acompanhar o considerável crescimento das exportações totais do País. Dessa forma, a exemplo do movimento de relocalização do setor em nível mundial, processou-se movimento semelhante, em nível nacional, com o setor se transferindo para o Nordeste a partir da década de 1990, impulsionado pela oferta de mão de obra mais barata, em um cenário de perda de competitividade internacional. A relocalização parece ter produzido resultados em termos de ganho de competitividade para as empresas situadas no Nordeste. O comportamento da atividade calçadista no Nordeste entre 2000 e 2007, sua distinção do desempenho do resto do País e sua atuação no mercado exterior são o objeto de estudo deste artigo. Para seu desenvolvimento, este trabalho terá quatro partes, além desta introdução. Na primeira parte, serão expostas as teses de (re)localização industrial. Tece-se a hipótese de que a cadeia calçadista é um exemplo de filière internacional dirigida pela distribuição. Partindo deste princípio, investiga-se, na segunda parte, o comportamento dos preços destes produtos no comércio internacional. Na terceira parte examinam-se os custos de produção do setor, analisando o comportamento dos salários e da produtividade do trabalho entre 2002 e 2007. Na quarta parte há as considerações finais na qual se analisa até que ponto o setor calçadista nordestino tem uma estratégia de concorrência alicerçada no preço. 96. Tanto a Pesquisa Industrial Mensal como a Pesquisa Industrial Anual do IBGE não relatam dados em separado para a atividade de calçados. Esta se encontra agregada na atividade “calçados e artigos de couro”. 198 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 2. Estratégias de concorrência internacional e (re)localização industrial A crise do fordismo e a intensificação da concorrência internacional produziram mudanças significativas na organização da produção e nas características da demanda. Uma nova configuração da concorrência se delineia baseada principalmente em critérios de “diferenciação da oferta, da inovação, da qualidade e da variedade dos bens e serviços”. A introdução de novas tecnologias de informação engendrou transformações substanciais no sistema produtivo, ao permitir, por um lado, a redução dos custos de mão de obra pouco qualificada no total dos custos de produção e, por outro lado, a obtenção de economia de variedade, ou seja, a possibilidade de decompor o produto em diferentes modelos e variedades sem incorrer em custos irrecuperáveis de capital. Nesse contexto, o conhecimento assume um papel estratégico e a manutenção de vantagens concorrenciais em longo prazo exige cada vez mais a criação de ativos intangíveis tais como know how e aprendizagem. Ademais, a existência de mercados mais reativos e versáteis requer uma aproximação das atividades de produção dos locais de consumo assim como novas formas de produção mais adaptadas às especificidades da demanda. Esses fenômenos de inversão de diferencial de custos devidos notadamente à automatização dos processos de produção, às restrições de flexibilidade da produção e à proximidade entre a produção e o mercado limitam as operações de implantação de firmas multinacionais em direção aos países periféricos (MOREIRA; MELO, 2003). O impacto dessas transformações no critério de localização foi destacado por alguns autores. De acordo com Mouhoud e Moati (2000, 2005), a redução dos custos de transação possível em função do progresso nos transportes e das tecnologias de informação e comunicação foi crucial para a maior internacionalização das firmas, que se encontram atualmente mais livres para explorar as opções de vantagens de localização ofertadas pelos territórios em nível mundial. Entretanto, a essa força centrípeta se opõe um movimento de polarização das atividades econômicas que beneficia essencialmente as regiões desenvolvidas. Mouhoud e Moati (2000, 2005) formulam a hipótese de que o desenvolvimento de uma economia baseada no conhecimento se acompanha de uma “divisão cognitiva do trabalho” em oposição à “divisão técnica do trabalho”, colocando em cheque o processo de espacialização da produção em massa. Enquanto na divisão técnica do trabalho, a firma localiza os diferentes segmentos do processo de produção seguindo a lógica de minimização de custos; na divisão cognitiva de trabalho, ocorre a fragmentação do processo Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 199 de produção em blocos de conhecimento homogêneos97 e a especialização das firmas de acordo com suas competências. Em consequência, uma nova concepção de atratividade se impõe. A necessidade de adquirir competências (mão de obra com qualificações específicas, a presença de instituições de pesquisa especializadas) passa a ser um critério decisivo na determinação da localização das firmas. Passa-se de uma lógica técnica e de rendimento para uma lógica de competência e aprendizagem visando à criação e o desenvolvimento de recursos específicos. Os países/ regiões onde as vantagens não se reduzem à disponibilidade de fatores genéricos (mão de obra não qualificada e recursos naturais), mas que são capazes de obter blocos de conhecimentos requeridos à divisão das tarefas no interior das firmas ou entre firmas concentrarão os investimentos. De acordo com Delapierre (1995), as estratégias de localização fogem de restrições tais como a disponibilidade de capital e recursos naturais e passam a ser direcionadas prioritariamente a favor de condições que permitam a aquisição e exploração dos conhecimentos. Esse processo contínuo de inovação/crescimento produz um aumento das operações de relocalização de firmas em direção a países que dispõem de fatores competitivos. Contrapondo-se a essa tese de relocalização, Sachwald (1996) procura destacar que os critérios de localização das grandes empresas obedecem a restrições vinculadas a sua performance em nível mundial. As firmas localizam suas atividades levando em consideração tanto os custos de produção quanto os elementos relacionados a competitividade extra preço. Para um mesmo setor, estratégias visando à minimização de custos ou privilegiando a diferenciação dos produtos são susceptíveis de se implementar. É nesse contexto que se constata a reintegração de certos países/regiões na organização global das grandes firmas nacionais e/ou estrangeiras. Essa reintegração se observa na medida em que essas regiões em questão revelaram-se aptas a adotar novas modalidades técnicas e organizacionais idênticas às existentes em países/regiões desenvolvidos. Ou seja, a reintegração deve ser entendida como um processo de homogeneização de novas modalidades técnicas e organizacionais, possível em um contexto de liberalização comercial e estabilização monetária, assim como uma forma de se beneficiar das disparidades nacionais (MOREIRA, 2000). 97. Um conjunto de conhecimentos vinculados a um mesmo corpo científico e técnico. Esses conhecimentos são submetidos a uma dinâmica de evolução comum, impulsionada por uma atividade de pesquisa e de transformação das inovações em novos conhecimentos e obedecendo a certas heurísticas compartilhadas por uma comunidade de especialistas (MOATI; MOUHOUD, 1994). Não se trata mais de arbitrar entre a introdução de novas tecnologias nos países/regiões desenvolvidos e o descolamento de unidades de produção nos países portadores de vantagens de localização clássicas. A maior abertura comercial permitiu às grandes empresas presentes em regiões periféricas a modernização mediante investimento em novas tecnologias de produção. Como afirma Pottier (1996, 2003), as grandes firmas nacionais e estrangeiras foram capazes de combinar a produção em massa e a produção flexível. Esse arranjo permitiu a realização em países/regiões em desenvolvimento de uma produção em massa de mercadorias de low market, em que prevalece a competitividade via preço. Na avaliação do autor, para entender o papel ainda importante das estratégias de minimização de custos, é preciso analisar a concorrência entre firmas e não entre países. Diante da intensificação da concorrência em nível mundial, as firmas dos países/regiões desenvolvidas procuram fortalecer sua competitividade se apoiando cada vez mais nos países de baixos salários. É verdade que a concorrência preço não assume grande importância para os novos produtos direcionados a mercados de consumidores de alta renda. Porém, dificilmente a firma se especializará apenas nesses produtos e deixará de produzir bens de low e middle market. Nessa mesma linha, Giraud (1996) afirma que a convergência tecnológica entre os países desenvolvidos provocou um forte aumento da concorrência. Nesse processo, o nível relativo de salários tornou-se um parâmetro crucial de competitividade desses países, já que a mundialização da produção das firmas limitou a intervenção do Estado nos mercados de trabalho nacionais. A importância das estratégias de minimização de custos engendrou um movimento importante de deslocamento de algumas atividades industriais de países/regiões ricas em direção aos países/regiões considerados de baixos salários. As grandes empresas utilizam as disparidades do nível de remuneração e as condições de trabalho para estabelecer um processo de concorrência entre os trabalhadores de diversas regiões. De acordo com Costello (2004), essa concorrência torna-se ainda mais intensa em zonas de livre comércio, como o Nafta. Vale destacar que as atividades transferidas não estão relacionadas unicamente ao trabalho não qualificado. As atividades que utilizam mão de obra qualificada são cada vez mais realizadas na periferia. Constata-se, por exemplo, de forma crescente, a realização de serviços de tecnologia de informação (TI) em região/países periféricos. É o caso da Índia que se cons- Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 201 tituiu no principal destino de empresas no que se refere ao deslocamento desse tipo de atividade.98 No caso do setor calçadista constata-se uma mudança gradual, em nível mundial, da produção para países onde o custo de mão de obra é mais baixo. Na década de 1960 ainda era possível a predominância da produção norteamericana nos Estados Unidos, onde apenas 4% do mercado era provido por manufatureiros estrangeiros. Em 1976, as importações de calçados pelos EUA totalizaram 29,2 milhões de pares por mês. Em 1980, a média mensal subiu para 30,5 milhões, e em 1990 já somavam 74,8 milhões e em 1995, 90 milhões de pares. A penetração dos estrangeiros, em 1995, chegava a 89% do mercado norte-americano. E, mesmo entre os exportadores estrangeiros, constata-se mudanças expressivas. Na metade dos anos 1980, Taiwan e Coreia supriam cerca de 45% das exportações mundiais de calçados. Essa parcela, em 1994, caiu para 7% enquanto a China cresceu sua participação de 8% em 1986 para 50% em 1986. Neste ínterim os Estados Unidos detinham menos que 1% das exportações mundiais.99 As grandes empresas procuram se beneficiar do movimento que associa convergência de produtividade e manutenção de fortes disparidades tanto de natureza salarial quanto de condições de trabalho. Nessa perspectiva, diferentes estratégias visando explorar esse diferencial de custo de produção são adotadas. A forma mais tradicional consiste na transferência de uma unidade de produção de países/regiões desenvolvidas para espaços onde o custo do trabalho é inferior. Essa transferência pode ocorrer em detrimento ou não da realização de atividades nos países de altos salários. Em termos de modalidades de implantação, as grandes empresas nacionais e estrangeiras procuram investir na criação de uma nova unidade de produção (greenfield) ou nas operações de fusão e aquisição. Um importante estudo realizado por Bronfenbrenner e Luce (2004) procurou observar o impacto da transferência de plantas industriais dos Estados Unidos para China e outros países sobre a produção e o emprego norteamericano. Com base em informações do primeiro trimestre de 2004, os autores constataram um forte crescimento dos anúncios ou transferências efetivas de produção dos Estados Unidos para outros países, em especial o México (69 plantas), a China (58), a Índia (31), outros países da Ásia (39), outros países da América Latina (35) e outros países, incluindo Leste Euro- 98. Sobre esse assunto, ver matéria da revista francesa Alternatives Economiques (dezembro de 2003) intitulada “L ’inde, paradis de la delocalisation higt-tech”. 99. http://www.infomat.com/research/infre0000246.html 202 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 peu e Canadá (23). No mesmo período de 2001, foram observados somente 30 deslocamentos para o México, 25 para a China e apenas 1 para a Índia. Diferentemente de 2001, quando a maioria das transferências ocorria para um único país de destino, 48% dos deslocamentos foram realizados de forma simultânea para países near shore na América Latina, China e outros países offshore da Ásia. Esse movimento segue uma tendência mundial, com os países europeus transferindo produção para a o Leste Europeu, Ásia e economias emergentes asiáticas utilizando países vizinhos e a China como base de produção. O impacto dessas transferências sobre o emprego industrial foi significativo. Somente nos três primeiros meses de 2004, foram anunciadas ou confirmadas a perda de 48,4 mil empregos nos Estados Unidos vinculados a produção em função do deslocamento de plantas industriais. Em termos anuais, as estimativas dos autores apontavam para uma perda de 406 mil empregos em 2004 contra 204 mil em 2001. Os pesquisadores chegam a conclusão que esse fenômeno faz parte de um amplo movimento de reestruturação das grandes empresas multinacionais, caracterizado por um processo de deslocamento dos centros de produção dos países de altos salários para múltiplos países/regiões de baixos salários. Os grupos industriais também se utilizam de formas de internacionalização que não implicam aportes de capital ou resultam de negociação internacional entre as estruturas de produção de regiões de baixos salários e as grandes redes de distribuição (CHESNAIS, 1997). No primeiro caso, trata-se do mecanismo de subcontratação onde grupos industriais procuram tirar proveito da liberalização comercial e das novas tecnologias de informação para explorar as regiões caracterizadas por baixo custo de mão de obra e legislação trabalhista flexível. No segundo caso, as empresas não manufatureiras têm um papel crucial na organização da produção mundial, ao subcontratar produtores locais para a produção de bens finais e intermediários, de acordo com os padrões das redes de comercialização, nas regiões de baixos salários. Uma particularidade dessa forma de internacionalização é que as grandes estruturas de distribuição passam a comercializar esses produtos utilizando suas próprias marcas. Esse sistema é aplicado principalmente em segmentos intensivos em mão de obra (calçados, têxtil etc.). A forte concentração no segmento varejista das principais economias desenvolvidas aumenta a pressão sobre os fabricantes de bens padronizados de low market para reduzirem seus preços e aumentarem suas performances. Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 203 Ademais. Um exemplo está na relação entre esse país e a cadeia de supermercados Wal-Mart. assim como. vinculando estrategicamente os centros de produção com seus principais mercados. assim como na redução do emprego doméstico nas indústrias intensivas em mão de obra. quando produzir e o custo para produzir. marketing e serviços financeiros que permitem a essa estruturas de comercialização de agir como verdadeiros brokers. como produzir. vendas. o que correspondeu a aproximadamente 1/8 das exportações chinesas para os Estados Unidos (GOODMAN. Em 2003. na medida em que as estruturas de comercialização exigem uma adaptação da produção internacional as especificidades de seus mercados. o que implica no controle sobre o que produzir. Vale destacar que as manufaturas de marcas reconhecidas mundialmente também se utilizam de mecanismo de subcontratação. a principal função das estruturas de distribuição refere-se à gestão das redes de produção e de comércio. em oposição às filières controladas pela produção (producerdriven international commodity chains). Na nossa avaliação. 2005). A tendência dos grandes compradores (big buyers) de recorrer a produção offshore implicou forte crescimento das importações nos países/regiões desenvolvidas. onde produzir. explorando os baixos custos da mão de obra de regiões periféricas. a expansão da produção tem sido muito mais demand-pull do que supply-push (GEREFFI. mas de combinações de design. Em torno de US$ 15 bilhões foram gastos pela Wal-Mart com produtos elaborados na China. Os lucros não derivam dos ganhos de escala e das vantagens tecnológicas. Um dos possíveis indícios é a 204 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 . Ou seja. Na avaliação do autor. a reestruturação da indústria calçadista brasileira nos últimos oito anos está inserida nesse duplo processo de convergência de produtividade e forte diferencial em termos salariais e de condições de trabalho. 2004 apud GEREFFI.A exploração das oportunidades oferecidas pela subcontratação internacional. o controle de acesso ao mercado das economias desenvolvidas por intermédio de barreiras industriais em vez de comerciais caracterizam o que Gereffi (1994. Nesse processo. 2005). mais de 80% dos seis mil fornecedores desse gigante da distribuição estavam na China. PAN. nas filières dirigidas pela distribuição. a China desponta como um centro produtor para as grandes estruturas de comercialização. Essa vinculação está associada a um forte processo de hierarquia. 2002) chamou de filières internacionais controladas (ou dirigidas) pela distribuição (buyer-driven international commodity chains). o excedente obtido quer em função dos ganhos de produtividade ou dos níveis salariais parece estar sendo apropriado pelas grandes estruturas de comercialização mundiais. onde os produtores locais são amplamente beneficiados por vantagens vinculadas ao custo de mão de obra. com forte predominância da concorrência-preço na sua competitividade. têm provocado esse processo de migração. principalmente de países asiáticos. o comportamento dos preços internacionais do calçado nordestino. e fiscais e financeiras associados a fortes incrementos de produtividade são fatores determinantes para esse deslocamento. com forte participação das atividades e produtos de maior agregação de valor nos centros de produção do Sul/Sudeste. Dada a hipótese de que as cadeias produtivas de calçados seriam dirigidas pela distribuição. Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 205 . aliando ganhos de produtividade com estratégias competitivas voltadas a diferenciação de produtos. Em contrapartida. A baixa agregação de valor ao produto reflete-se na formação do preço médio do produto exportado da região. que tem se mantido estável apesar da apreciação cambial. Nesses espaços. abrindo unidades fabris nas capitais da região e no interior.constância do preço médio em dólar do calçado brasileiro e nordestino no exterior a despeito da desvalorização da moeda norte-americana. É o caso da China. à política cambial. No caso específico do Nordeste. Com o deslocamento da produção para regiões/países de custo inferior. que mantém a cotação do dólar. em virtude da valorização do câmbio e da intensificação da concorrência externa. Ou seja. Entretanto. O calçado nessas regiões é produzido como uma commodity. investigar-se-á no próximo tópico. As dificuldades dos produtores de calçados. as vantagens salariais. 2006). já que os estados nordestinos sofrem concorrência de outros países que possuem fortes vantagens de localização. os grandes produtores concentram no Sul/sudeste as atividades de alto valor agregado (design. grande parte da produção de bens de low e middle market desses grandes produtores do Sul/Sudeste é transferida para a região Nordeste e outros países onde prevalecem condições espúrias de competitividade e baixo custo de mão de obra. o objetivo é compensar o maior custo de mão de obra com o uso de novas tecnologias. Todos esses últimos elementos são considerados por Fajnzylber como fontes de competitividade espúria. observa-se uma assimetria na organização da produção da indústria calçadista brasileira. e à ajuda financeira do governo chinês para as empresas exportadoras (MOREIRA. esse movimento de relocalização industrial para o Nordeste é menos intenso do que o observado na década de 1990. desenvolvimento de marca) e a produção de bens de maior preço unitário. Um dos aspectos dessa reestruturação está relacionado ao segundo movimento de deslocamento de parte de firmas calçadistas do Sul e Sudeste do País para os estados nordestinos. cuja participação nas importações norte-americanas era 1.9% do consumo norte-americano. as importações representavam 50. Assim este setor industrial tem avançado nos últimos anos em termos de inserção no mercado internacional. as compras do exterior somaram apenas 28 milhões de pares de calçados. No Brasil. o de “preparação de couros. visto que. Em 1980. Esse é um indício de que a expansão do setor calçadista no Nordeste se deu principalmente pela implantação de grandes empresas. em 2006. teve como consequências a terceirização de atividades e. esta cifra ultrapassa os 20. dentre 26 setores analisados. 100.100 visando enfrentar a concorrência externa. sendo cerca de 180 milhões voltados para a exportação.309 empregos formais em 2006). 98.28%.282 empregos) e Paraíba (11. Em termos mundiais este movimento é bem ilustrado pelas mudanças nas importações de calçados dos Estados Unidos. China e Vietnã. A partir de 2001. Bahia (24.1% em 1980. onde plantas se deslocaram da Europa e Estados Unidos para países como Índia. seus artefatos e calçados” apresentou coeficiente de penetração de exportação entre os mais elevados – acima de 40%.692 empregos) foram os maiores empregadores do setor na região.3% dos empregos diretos formais do setor calçadista nacional eram gerados no Nordeste.3. Ceará (48. o deslocamento de fábricas para o Nordeste na perspectiva de reduzir custos de produção e aumentar a participação no mercado externo. Sobre este assunto veja: Costanzi (1999). um dos maiores mercados do setor. No Brasil. As exportações de calçados brasileira e nordestina A produção de calçados no Brasil é estimada em 796 milhões de pares (2006).4% (ano de 1991) e o máximo de 6. sobretudo. o País importava nove milhões de pares. em 1991.7.7%. 206 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 . alcança 72% em 2006 (AAFA. em 2007. Em 2007. 2008). As importações de calçados ainda são de pequena monta. A China. firmas brasileiras passaram da região Sul para Nordeste. mas esse número tem apresentado nos anos recentes crescimento expressivo. A exemplo do movimento ocorrido em nível internacional.7 a 42. Entre 1996 e 2007 esse indicador variou entre 19. o processo de reestruturação do setor de calçados na década de 1990. A análise do coeficiente de exportações da indústria nacional. somente 3. quando alcança 6. revela que.0%. O percentual do número de estabelecimentos na região permanece entre o mínimo de 4.6%). atingindo o pico em 2006 (29. em 2004.4% (ano de 1999) durante os anos de 1991 a 2006. conforme o material do cabedal está descrita no Gráfico 1. Assim. A evolução dos números de pares exportados pelo Brasil.94% das exportações totais. os dois estados com maior volume absoluto de empregos formais no setor.28%. São Paulo e Rio Grande do Sul.Corroborando essa ideia de que as empresas instaladas no Nordeste buscaram ganho de escala de produção. Desta maneira. as exportações do setor calçadista não acompanharam o forte crescimento das exportações totais nacionais.4 milhões. representava 2. Nesse período.27%. Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 207 . 101. acerca da média de emprego por empresa calçadista. que evoluem de 162. dados estaduais de 2006. registra-se o ápice das exportações nacionais. Na Nomenclatura Comum do Mercosul os quatro dígitos iniciais indicam o material do cabedal de que é composto o calçado. mas em 2007 essa participação é de apenas 1. sintéticos (6402). os calçados são classificados como: injetados (6401). polainas. A situação das exportações de calçados do Nordeste entre 2000 e 2007 apresenta quadro bastante diverso do nacional. É patente o declínio da quantidade de calçados com cabedal de couro. Por outro lado. A compreensão deste desempenho desigual entre o País e a região Nordeste passa por uma análise segmentada por tipo de calçado exportado. Entre 2000 e 2004.8%. Nordeste e Brasil apresentam desempenhos diferentes. couros (6403). artefatos semelhantes e suas partes. Durante todo o período. tanto na quantidade de pares (281. a participação do valor das exportações de calçados brasileiros (considerando-se o capítulo 64 da NCM)101 no total exportado pelo País decresceu: em 2000. a partir de 2004.18% para 0. Desta forma. A análise do valor exportado pelo País revela elevação das receitas das vendas externas em cerca de 23. No que concerne à exportação de calçados. de 2000 a 2007. alcançando 177. A partir de 2004 este montante declina. Apesar deste aumento. O Capítulo 64 da NCM abrange: calçados. tiveram média deste indicador inferior a 42 empregos por empresa. revelam que os maiores expoentes do País eram a Bahia (266 empregos/empresa) e o Ceará (203). o valor da participação das exportações de calçados regionais nas exportações totais nacionais se eleva de 0. o Brasil expande suas exportações (em quantidade de pares de calçados) em 8. ao longo do início deste século há aumento gradual do número de calçados sintéticos exportados que ultrapassam a marca de oitenta milhões de pares em 2007 (Gráfico 1). têxteis (6404) e outros materiais (6405).0 milhões de pares em 2007.4%) quanto na receita gerada (335%).5 milhões de pares para 212. registra-se crescimento expressivo das exportações.5% no período. Elaboração própria. em 2007. observa-se a regionalização da produção. alcançando os 69 milhões de pares representativos de 80. 2008.20. Gráfico 2 – Nordeste: quantidade de pares de calçados exportada por tipo de calçado (2000 -2007) Fonte: BRASIL. as vendas externas nordestinas de sintéticos eram apenas cerca de 11 milhões de pares. Em nível nacional. 2007. 208 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 . cada uma se especializando em diferentes segmentos. Essa predominância do calçado sintético nordestino pode ser explicada por seu preço de exportação que gira em torno de US$ 3. O Nordeste se destaca na exportação de calçados feitos de material sintético (Gráfico 2). Mas. 2008. 2007.Gráfico 1 – Brasil: quantidade de pares de calçados exportada por tipo de calçado (2000-2007) Fonte: BRASIL.4% dos sintéticos vendidos pelo Brasil no exterior. a cifra se expande seis vezes. Elaboração própria.08 enquanto a média nacional atinge o patamar de US$ 4. Em 2000. Uma análise mais rigorosa do comportamento dos preços dos calçados exportados pela região Nordeste e das notícias acerca das estratégias de atuação das firmas nordestinas revela que. No Ceará e na Paraíba predomina. O IBGE não divulga as informações da indústria calçadista nordestina isoladamente. Na mesma pesquisa. A Bahia também se destaca na terceira colocação. que pode ser vista como uma estratégia de “diferenciação” de produto. 72. por uma estratégia de concorrência via “preço”. Dentre os estados brasileiros. esta não pode ser tratada como um todo uniforme. constata-se um crescimento das importações de calçados de maior valor unitário provenientes da China. o setor calçadista nordestino102 (Tabela 1) tem maior relevância econômica em dois estados: Ceará e Paraíba. o segmento de sintéticos. Já no Sul do País. A questão da remuneração da mão de obra será objeto de discussão do próximo tópico. Sobre essa questão. em número de pares de calçados exportados. Weber. em 2007. no design diferenciado. Estes dados são indícios de uma possível situação de complementariedade neste segmento. realizada em 2002. visando redução dos custos de salário. De fato. Maria Cristina Pereira. ver Melo. A primeira nação se destaca no segmento de produto de menor preço e a segunda. Ceará e Paraíba ocupam respectivamente a segunda e quinta posição no valor das exportações brasileiras de calçados (ABICALÇADOS. por um lado. contata-se uma especialização em calçados de couros femininos. que gira em torno de 72% do valor da remuneração da região Sul do País.3% dos calçados de couros exportados pelo Brasil provieram do Rio Grande do Sul. Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 209 . onde se sobressai a região do Vale dos Sinos. internacionalmente. por outro lado. é comum a utilização das informações da “indústria de calçados e couros” como referência para o desempenho do setor calçadista. a despeito da importância da produção de sintéticos na região. Também esse tipo de segmento parece se caracterizar. Cumpre salientar que a Itália pode ser considerada um exemplo das ideias defendidas por Sachwald (1996). Do ponto de vista da participação no valor de transformação industrial. 2008g). Esta proxy é utilizada para dimensionar a participação do setor no valor de transformação industrial. como resultado de pesquisa direta. Se. que os produtores gaúchos informaram como países concorrentes no mercado internacional a China e a Itália.103 Já a Bahia tem uma estrutura produ- 102. Alexandre (2008). pois também estabelece concorrência via “preço” com a instalação de fábricas no leste Europeu. Carlos Américo Leite. os produtores gaúchos revelaram preocupação com a melhoria da qualidade do produto fabricado na região. Moreira.Este preço mais baixo é viabilizado pelo diferencial na remuneração da mão de obra. 103. Gandini (2003) assinala. Em vez disto. os estados do Ceará e da Paraíba se especializam na produção e exportação de sintéticos de baixo valor unitário. 73 0.48 543.46 19.02 1.94 0.33 14. a partir de 2003.55 23.28 669.73 11.70 1.03 2.50 0.08 3.21 2.30 16.03 1.35 1.67 para US$ 2.40 0. ultrapassou o patamar de 70%.83 18.54 2001 305. Nesse período.49 1.40 13.72 2.21 2004 413. Tabela 1 – Prepação de couros e fabricação de artefatos de couro.41 425.81 409.57 2003 0.22 1.22 19.16 1. medida pelo IPCA. Se esse preço do sintético for convertido em reais a partir da taxa de câmbio nominal média anual.54 12.63 0.Remuneração Média da Indústria de Calçados (2000 .97 0.80 347.74 1.50 385.42 2004 0.99 2002 0.90 1.71 0.07 0.98 para US$ 3.36 2.53 3.15 482.85 0.04 5.26 464. 1991-2006).20 27.09 423.76 0.51 2.04 3.72 0.92 20.34 374.17 390.94 0.40 22.94 17.08 0.14 0.59 21. O comportamento dos preços médios em dólar destes dois segmentos será analisado para os três principais estados exportadores nordestinos (Ceará.15 2002 329.71 2001 0.86 24.tiva que.02 7.20 344.08 em 2007.02 1.46 0.68 554. 210 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 .73 2006 0.45.90 2005 437.34 1998 3.04 0. Paraíba e Bahia).24 6. a taxa de inflação brasileira. constatar-se-á que o preço unitário era para a região nordestina de R$ 5.18 15.70 22.97 0. viagens e calçados no valor de tranformação industrial Estados Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia 1996 7.38 1.73 1.02 0.87 0. o preço médio do calçado sintético cearense exportado se expandiu de US$ 2.56 5.98 25.10 540.75 637.75 1999 0.90 0.26 24. Na Paraíba esse mesmo preço declinou de US$ 2.41 Fonte: (BRASIL.47 1.37 1.54 0.02 15.90 533. Tabela 2 .48 0.29 1.06 0. Esses estados terão o maior peso para a formação do preço dos calçados sintéticos nordestinos de US$ 3.73 1.86 14. A remuneração média do trabalhador de chão de fábrica da indústria calçadista se elevou em mais de 82% (somente entre 2000 e 2006) e as firmas aumentaram o preço final do produto em apenas em 23.37 586.92 0.84 0.30 5.10 2005 0. houve um esforço no sentido de manter o preço em dólar relativamente estável (Tabela 2 e Gráfico 3).08) em 2007.75 2006 485.2006) Regiões Nordeste Sudeste Sul Brasil 2000 266.23 2000 0. Ou seja.98 Fonte: (IBGE.22 2.90 1.54 611.42 em 2000 e subiu para R$ 6.78 474.05 2.92 569. Entre 2000 e 2007.23. 2008a).95 2003 380. vem apresentando mais exportações de calçados de couros.63 0.6% na moeda nacional.04 1997 0.26 511.87 0.Brasil e Regiões.37 0.35 1.09 0.70 (US$ 3.49 0.74 22. registra-se a apreciação real da moeda nacional. maior exportador desse segmento no Brasil que na Bahia. Elaboração própria. teve elevação de preço mais comprimida. Já para as firmas produtoras de calçados de couro no Nordeste se constata o incremento de preço médio em dólar de 12. Quer se considere a taxa de câmbio efetiva real das exportações de manufaturados ou das exportações totais. Naquele estado. cujo consumidor final apresenta menor renda e que compete diretamente. quando o dólar não está apreciado relativamente ao ano base de 2000. a despeito da apreciação real da moeda doméstica. destaque no Nordeste (Gráfico 3). 2008.72 e no quadriênio seguinte este preço se expande apenas 7%. Gráfico 3 – Preços médios em reais dos calçados de couro exportados pela Bahia e pelo Rio Grande do Sul (2000-2007) Fonte: BRASIL.60 para R$ 36.56 em 2007 (ou de R$ 22. no mercado internacional com os produtos chineses. desde 2004. comparativamente aos patamares de 2000. 2007.03). entre 2000 e 2003. A evolução dos preços médios em reais dos produtos de couro foi mais alta no Rio Grande do Sul. o mesmo não acontecendo com as firmas exportadoras de calçados de couros. o preço médio do calçado sintético nordestino é de US$ 2. o percentual de aumento não chegou a compensar sequer a inflação do período (2000 a 2007). o segmento de calçados sintéticos. Cumpre ressaltar que o comportamento declinante do quantum de calçados de couro exportados nacional coincide com o movimento de apreciação do real. Assim.De fato. Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 211 .32 (em 2000) para 16. Assim. e em particular os de calçados sintéticos nordestinos. o produtor nacional de calçados passou a receber menos por cada dólar exportado. os Estados Unidos. O Estado do Rio Grande do Sul. cerca de 2%. A preocupação em como o câmbio afetou a atividade calçadista levou.Assim. Elaboração própria. 212 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 . 2007. tem apresentado entre 2000 e 2006.. Preço Médio de Calçados de Couro e Sintético (R$) Fonte: BRASIL. Desta maneira. 2008. Para o segmento feminino. Mário Mugnaini.. O setor de “couros e calçados” também consta como foco dos programas para fortalecer competitividade da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) Nacional. é que os efeitos práticos da medida somente foram sentido no início de junho de 2008 (TARIFA. que chegou a exportar mais de cem milhões de pares de calçados de couro no ano 2000. têm empreendido esforços no sentido de manter o preço final em dólar relativamente estável.Brasil e Nordeste. Um dos maiores mercados consumidores do calçado brasileiro. A expectativa do secretário executivo da Camex. somente vendeu cerca de 54 milhões em 2007. o governo a incrementar de 20% para 35% a tarifa de importação deste produto. em 2007. os produtores voltados para o mercado interno estariam mais protegidos da concorrência internacional.. 2008). os produtores brasileiros. Gráfico 4 . declínio no preço em dólar dos calçados (em torno de 0. no preço do produto no mercado americano (AAFA. para manter-se no mercado internacional. 2008).8%). A decisão foi publicada em 28 de setembro no Diário Oficial da União. constata-se ligeiro incremento. A apreciação do real teve maior impacto nas vendas deste segmento. a indústria de transformação brasileira cresceu 28. No período de 1996 a 2007. Nessa segunda opção. As dificuldades dos produtores de calçados.4. O forte crescimento da produção industrial no setor de calçados foi acompanhado da expansão do emprego. O IBGE não divulga as informações da indústria calçadista nordestina isoladamente.8%. Esse ciclo virtuoso está relacionado com o segundo movimento de deslocamento de parte de firmas calçadistas do Sul e Sudeste do País para os estados nordestinos. Em vez disto. tem provocado esse processo de migração. abrindo unidades fabris nas capitais da região e no interior. 2008c. Gráfico 5 – Nordeste: produção física industrial (número índice) – 1996-2007. Esse fato tem engendrado a transferência de parte da produção ou a fabricação terceirizada com o objetivo de manter suas fatias de mercado.8% enquanto a atividade de calçados e couros no Nordeste expandiu sua produção em 39. a produção de calçados sai das fábricas localizadas Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 213 . é comum a utilização das informações da “indústria de calçados e couros” como referência para o desempenho do setor calçadista. O desempenho da atividade na região tem superado inclusive a média da indústria de transformação nacional. O comportamento dos salários e da produtividade da indústria de calçados nordestina. principalmente de países asiáticos. em virtude da valorização do câmbio e da intensificação da concorrência externa. Fonte: IBGE. Elaboração própria. Entre 1996 e 2007. a “indústria de calçados e couros” nordestina tem se expandido acima da média da indústria de transformação regional como se pode depreender do Gráfico 5. Produtividade de Calçados e Couros Brasil e Nordeste (2002-2007) Base: Ano anterior = 100 BR NE 2002 100. A conclusão da ampliação das fábricas de calçados localizadas no estado no primeiro semestre de 2008.7 mil.3 101. contribuirá para esse aumento.Produção Física 214 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 .1 104.0 99. A diferença de custo de produção foi apontada pela empresa como o principal motivo para a transferência da produção.5 milhões de pares. adquirida no mesmo período da Azaléia. o grupo projeta um maior abastecimento para o Brasil em função. Um ano após a aquisição em junho de 2007. Para os próximos anos.0 2005 108. 2007).em outros países com etiquetas de marcas brasileiras para terceiros mercados. mais de 80% da produção nacional da Azaléia é realizada no Nordeste. boa parte da produção da empresa é realizada em outros países com melhores condições competitivas. Faz parte também do novo grupo a empresa Argentina Indular. Um exemplo emblemático está relacionado a fabricante de calçados Azaléia que fechou unidades no Rio Grande do Sul para concentrar sua produção na região Nordeste e alguns países da Ásia ou na Argentina. O modelo de subcontratação internacional é também amplamente utilizado pelo grupo brasileiro.8 95.0 2004 102. sobretudo. abastecendo 60% do mercado norte-americano e 20% a 30% do mercado latino-americano com produtos asiáticos (GLOBAL 21. A empresa terminou o ano de 2007 com uma produção de dois milhões de pares e a perspectiva para 2008 é de atingir 3. o número de trabalhadores das fábricas da Azaléia na Bahia saltou de nove mil trabalhadores para 13. Essa concentração na região cresceu com o controle da empresa pela Vulcabrás.0 Fonte: Elaboração Própria a partir de dados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário da Pesquisa Industrial Mensal . A meta da empresa é atingir 15 mil pessoas até o final de 2008. antes mesmo da aquisição.7 2003 92. Além da região Nordeste. com investimento de R$ 27 milhões.7 97.9 2007 108. Vale destacar que a Azaléia. Atualmente. que alcançou dois mil trabalhadores em junho de 2008 contra apenas 400 empregados antes da aquisição. A produção atende principalmente o mercado argentino. Tabela 3 . exportava para vários países e regiões. dos encargos sobre a mão de obra e os salários serem menores na Argentina (GAZETA MERCANTIL. 2008).0 83.7 2006 106. porém uma parte já é exportada para o Brasil. ou até mesmo para o mercado brasileiro. com destacada produção no Estado da Bahia. Esse fato parece revelar a tendência das unidades de utilizarem tecnologias poupadoras de mão de obra na perspectiva de elevar os ganhos de produtividade. como já mencionado. as firmas exportadoras de calçados de sintéticos. Cumpre mencionar as estratégias de expansão da capacidade produtiva e de fabricação de produtos diferenciados com maior valor agregado em grandes empresas calçadistas instaladas na Bahia... a Grendene está centralizando sua estrutura de marketing nas marcas que proporcionam maiores margens. Atualmente. Com essa combinação. O aumento de preço em dólares está relacionada a atuação em nichos de maior valor agregado. já que produziu 130 milhões de pares de calçados com apenas 25 mil empregados (5. bem como um esforço no sentido de abrir novos mercados. Entretanto. Uma particularidade desse movimento de reestruturação diz respeito ao crescimento da produtividade nos últimos dois anos.. Esses ganhos de produtividade decorrem do aumento da produção industrial acima do incremento das horas pagas. foram instaladas grandes empresas Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 215 . Ademais a menor remuneração do trabalhador na região Nordeste. estratégia considerada arriscada. Também faz parte da estratégia da empresa um esforço de marketing significativo. comparativamente ao restante do País revela a possibilidade de ampliação do excedente do setor calçadista na região. comprimiram suas margens no mercado internacional. 2007). o que pode indicar uma transferência deste excedente para as estruturas de comercialização.200 pares/empregado). a empresa exporta mais de 300 modelos de diversas marcas por ano. predominante na região Nordeste. a Grendene se transformou em uma exceção em meio a uma indústria intensiva em mão de obra. Vale salientar que essa compressão não acontece no segmento de couros. corante e pouca mão de obra (FÁBRICA. seguindo uma fórmula que mistura PVC. Reportagem recente do jornal Valor Econômico intitulada “Fábrica do Ceará supera produtividade chinesa” revela que a unidade de produção da Grendene está fabricando até 600 mil pares de sapatos feitos de plástico injetável. Na Bahia.Além do deslocamento da produção. Outro aspecto relevante é a associação entre os ganhos de produtividade e a estabilidade do rendimento médio dos trabalhadores (em número de salários-mínimos) do chão de fábrica. amplificado pelo crescimento da produtividade dos últimos anos. Com várias unidades de produção no Nordeste. outras estratégias que atingem as unidades localizadas na região Nordeste estão sendo colocadas em prática pelos produtores de calçados brasileiros. enquanto a chinesa Yue Yuen produziu 180 milhões de tênis com 250 mil trabalhadores (720 pares/empregados). já que são produtos de baixo valor agregado que sofrem com a concorrência chinesa. Bahia. Calçados Bel Passo. Bibi. para atender também aos centros consumidores do Sudeste. Essa relocalização é concentrada espacialmente em três estados: Ceará. Considerações finais A relocalização industrial do setor calçadista na região nordestina reflete dupla motivação: a homogeneização da produtividade obtida quer através da importação de máquinas e equipamentos. Comerciantes de marcas podem terceirizar parte ou toda sua atividade de desenvolvimento de produtos. especialmente. A cidade foi escolhida pra diversificar os locais de produção e facilitar a logística. manufaturas. embarque e até recebimento de cotas de diferentes agentes de todo o mundo. Via Uno. Vale destacar que a indústria de calçados tem sua cadeia de produção dirigida pelos compradores. Daiby. parecem cada vez mais propensas assumir funções de comercialização em detrimento da produção nas regiões onde há salários mais elevados. Em 2007.como Azaléia. mas com mais de 95% de sua capacidade produtiva no Nordeste. Disport do Brasil/Paquetá. A expansão do quantum exportado se deu com relativa estabilidade de preços. Também tem ocorrido o redirecionamento de parte da produção para o mercado interno. Entre 2000 e 2007. a Grendene com sede em Farroupilha (RS). embalagens. numa variedade de países exportadores. ou seja. no segmento de sintéticos – o que é indicativo de uma concorrência via preço. 216 Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 . Grendene e Dal Ponte. Dilly. nesse segmento os grandes varejistas e os grandes comerciantes desempenham o papel principal do arranjo de redes de produção descentralizadas. Cumpre destacar que os dois primeiros se especializam na produção/exportação de calçados sintéticos ao passo que a economia baiana apresenta vendas externas alicerçadas em produtos de couro. Kildare. Com a terceirização em outros países. Paraíba e Bahia. constata-se a presença crescente dos produtores nordestinos nas exportações nacionais de calçados. Umbro. investiu R$ 10 milhões em Teixeira de Freitas. grandes empresas brasileiras do setor. A abertura de novas plantas em países asiáticos de fábricas nacionais reforça a ideia de Sachwald (1996) de que os critérios de localização das grandes empresas obedecem a restrições vinculadas a sua performance em nível mundial. Ramarim. ou de insumos mais elaborados e o diferencial de remuneração dos trabalhadores de chão de fábrica na região (cerca de 30% menor que no Sul do País). como Grendene e Azaléia. 2008d. por meio de campanhas de fortalecimento da imagem no Brasil e no exterior. este último vem se consolidando como uma marca global.org>. Indústria de calçados agora aposta em marcas próprias. Acesso em: 09 jun.br/noticias_bindustria-de-calcados-agora-aposta-em-marcas-proprias-/b. ABICALÇADOS.com. seria importante identificar os compradores da produção nordestina calçadista bem como a formação de preço no mercado consumidor final. Acesso em: 9 jun. o que parece fortalecer a hipótese do setor estar inserido em uma cadeia produtiva global dirigida pela comercialização. Referências Bibliográficas AAFA.br.abicalçados.br. Acesso em: [2008]a. agregando maior valor aos produtos. especialmente em 2006 e 2007. referindo-se às exportações de 2004. para manter a estabilidade do preço final do produto também apresentaram processo de aumento de produtividade. Reestruturação da indústria de calçados na região Nordeste nas décadas 1990/00 217 . Disponível em: http://www. da Abicalçados. Acesso em: 09 jun. 2008b.com. era registrado que: A maior parte das vendas externas brasileiras está baseada no modelo private label. Resenha estatística 2002.As firmas nordestinas. Acesso em: 12 set. Resenha estatística 2003.html>. [2008]a). Resenha estatística 2004. como por exemplo. Estados Unidos. “quase 90% das exportações brasileiras do setor são feitas nesse modelo de subcontratação” (ABICALÇADOS. com a intensificação da concorrência internacional. Como sugestão de trabalhos futuros. 2008. —.abicalçados. Nesse sentido. Shoes stats 2007. diretor-executivo do programa Calçado do Brasil.br. pode-se citar as Havaianas e os Calçados Democrata (Franca/SP). design e comercialização e não obrigatoriamente sendo revertidas para a região. Como exemplos. 2008c. Segundo Heitor Klein.abicalcados.com. aliado a um diferencial de salário relativamente às demais regiões. Disponível em: http://www. Disponível em: http://www.apparelandfootwear. A partir de 2004. Essa combinação de estabilidade de preços dos produtos exportados e geração de excedente na região pode indicar que a apropriação destas rendas estaria se realizando em etapas como marketing. —. pelo qual as fábricas locais são contratadas para produzirem calçados para marcas internacionais. aliada à apreciação da moeda brasileira. Disponível em: <http://www. —.abicalçados. constata-se iniciativas no sentido de reter maior excedente nas empresas produtoras. Disponível em: <http://www.com. Disponível em: http://www. n. Aliceweb. 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De acordo com a RedeSist os arranjos produtivos locais têm as seguintes principais características: abrangem grupos de atores (empresas. o objetivo de mostrar os arranjos produtivos como estratégia sustentável de redução da pobreza e como opção para migração de programas como o Bolsa Família para uma atividade de geração de renda e de estímulo à cidadania. O presente estudo tem.ufrj.br/.ue. Existe. A autora agradece a colaboração de Victor Hugo de Oliveira Silva bem como os comentários e sugestões de Cláudio André Gondim Nogueira e Vitor Hugo Miro. a importância das instituições parceiras. Investigações sobre casos de sucesso de APLs no Brasil e em outros países. tem sido largamente documentados. economia industrial e geografia econômica. benefícios dos APLs para a inserção de pequenas empresas no mercado e na geração de renda. 105. teses. uma lacuna na literatura quanto à visão de APLs como estratégia de redução da pobreza. Esse tema deverá se tornar importante na medida em que governos. entre outros aspectos. como o do Brasil. economias de escala e externalidades. financiamento etc. porém. treinamento.) de um território e favorecem o aprendizado e a troca de informações permitindo a inovação e a criação. Eventuais falhas são de responsabilidade exclusiva da autora. características de APLs.redesist.Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza Eveline Barbosa Silva Carvalho104 1. organizações de P&D. a geração de oportunidades. dissertações e monografias. tais estudos têm destacado a importância dos APLs especialmente em áreas menos favorecidas. Inspiradas na literatura recente de economia da inovação. De fato. embora seja essa a medida comumente adotada para designar a pobreza. podendo desse modo gerar vantagens para particulares e pequenas empresas a partir da existência de economias de aglomeração. Por fim. mas também à limitação de capacidades e de bem-estar. são apresentadas as considerações finais. 2. as definições de pobreza utilizadas se baseiam na capacidade de adquirir produtos e serviços e a partir desses cálculos se deriva a noção de linha de pobreza.A pobreza é cada vez mais reconhecida como um problema multidimensional não se resumindo à privação de renda. cooperação e da ênfase em ligações internas com o engajamento de instituições locais fazendo. A criação de oportunidades para pessoas com menor nível de escolaridade e de educação formal. Afinal o que é pobreza? Para analisar a relação entre APLs e pobreza é preciso ter em mente que a pobreza que se objetiva vencer é aquela em sentido amplo que leva em consideração as dotações pessoais e o bem-estar. De maneira simplificada podem-se conceituar Arranjos Produtivos Locais (APLs) como concentrações territoriais de firmas. O Banco Mundial tornou popular a noção de linha de 222 Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza . competição. no item quatro são apresentados resultados empíricos de experiências de desenvolvimento local e melhoria de bem-estar em municípios do Estado do Ceará com base na evolução dos indicadores de municípios selecionados onde estão localizados APLs comparativamente àqueles da mesma mesorregião que não apresentem APLs identificados. como é composta uma parcela de trabalhadores e empresários. associações e outras unidades engajadas num mesmo ramo de atividade ou atividades correlatas que sirvam de suporte a um setor ou setores de determinado local. Não se trata. daí a relevância dos APLs. pode ser uma forma eficiente de romper a armadilha da pobreza. no item três são apresentados comentários sobre políticas de intervenção governamental e Arranjos Produtivos Locais com respaldo no referencial teórico sobre o tema. pois da visão restrita que só considera a renda monetária. Mas será que os APLs realmente levam à melhoria do bem-estar e podem ser considerados como estratégia eficiente para a redução da pobreza? Para responder a essa pergunta o presente artigo está assim dividido: no item dois é apresentada discussão sobre o que vem a ser pobreza e a amplitude desse conceito. desse modo. com que firmas ou associações ganhem mercado e possam inclusive se colocar no mercado internacional saindo do local para o global. além de mensuração dos possíveis impactos de APLs em termos de redução na pobreza. Estudo realizado para o Estado do Ceará. a respeito do programa de combate a pobreza adotado no Brasil. mostrou que a maioria das faixas de renda obteve ganhos reais entre 2001 e 2005.2. SOARES. três vezes maior. com exceção das faixas menos favorecidas (famílias abaixo da linha de indigência)106 e que as faixas de renda que mais obtiveram ganhos reais no período foram as mais próximas da linha de pobreza. Se esse indivíduo completasse o ensino fundamental seu rendimento médio mensal poderia ser 2. porém é bem mais amplo pois não se limita à renda e sim à privação de capacidades básicas (SEN. 1999). Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza 223 . A privação de capacidades está relacionada ao nível de educação e existe na prática uma íntima relação entre pobreza e educação. BRITTO. Conclusões a respeito do Programa Bolsa Família para o País sugerem que ele está atingindo o objetivo de aliviar a pobreza (MEDEIROS. Para um indivíduo que concluiu o ensino médio.5 vezes maior. em média. 2007).7. Para o Estado do Ceará.25 como forma de atualização. A escolaridade do indivíduo é fundamental na determinação de sua renda proveniente do trabalho e a literatura econômica é vasta de exemplos empíricos que mostram que a educação exerce efeito sobre o diferencial de salários entre os indivíduos.5 vezes mais do que alguém com o ensino fundamental completo e 11. No Brasil é comum a utilização da linha da pobreza de meio salário-mínimo por mês de renda per capita como medida de pobreza. o rendimento médio obtido no trabalho pode chegar a R$ 682. CARVALHO.6 vezes mais do que uma pessoa analfabeta (OLIVEIRA. Renda mensal per capita de até um quarto de salário-mínimo. seu rendimento médio seria.00/dia e recentemente essa referência passou para US$1. Caso esse indivíduo concluísse o ensino superior.pobreza para quem ganha menos de US$1. 2007). um indivíduo analfabeto (sem instrução ou com menos de um ano de estudo) possui em média um rendimento mensal de R$ 176. Apesar disso a renda continua sendo uma importante causa da pobreza já que a insuficiência de renda leva a uma limitação na obtenção dessas capacidades. Mas será que esse resultado é de fato sustentável? Tendo em vista se tratar de política de intervenção do governo de cunho assistencialista esse programa sofre da dificuldade na saída: como sair e em que momento? Esse assunto é objeto do comentário do item a seguir. 106. o Bolsa Família. O conceito de pobreza. Um indivíduo com nível superior ganha em média 4. Desse modo. mesmo ocorrendo perdas. Ocorre que a transferência de renda não significa a distribuição de dotações já que renda não é uma dotação como a capacitação pode ser considerada. 2007). que tratou do tema aglomerações em deter224 Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza . é possível para o governo melhorar o bem-estar dos agentes através da implementação de políticas intervencionistas. cada pessoa ou empresa não poderá alcançar situação melhor sem prejudicar outros. ou seja. ou seja. O modelo de Arrow-Debreu cujo principal resultado é o primeiro teorema do bem-estar diz. desemprego e a pobreza. Mas. considerando o pressuposto de mercado competitivo. de uma estratégia de dependência para outra sustentável e que possibilita a independência? Em outras palavras. a transferência de renda através do bolsa família pode ser um caminho em direção à equidade contribuindo para a redução da distância entre ricos e pobres o que remete ao segundo teorema do bem-estar. será que os APLs de fato favorecem os territórios onde estão inseridos em termos de redução da pobreza ou de impulso ao crescimento? Se essa é de fato uma estratégia que leva a um maior nível de bem-estar. ou melhor dizendo. As referências teóricas sobre Arranjos Produtivos Locais têm como principais alicerces Alfred Marshall. que é favorável ao menor envolvimento do governo. uma estratégia de modo a permitir a migração da posição de assistência para uma situação de participação.86% da população desse estado é pobre). como os pressupostos são violados. uma política pode ser considerada eficiente já que o fato de haver perdas de bem-estar não implica que exista outro programa que possa levar todos a uma melhor situação.3. externalidades. Porém. que a não intervenção é eficiente no sentido de Pareto. no sentido amplo. O Programa Bolsa Família é uma política de intervenção do governo. seriam os APLs uma alternativa de saída. mas certamente não sustentável já que é assistencialista em sua essência e essa característica por si só leva a perdas de bem-estar. justificável considerando o tamanho da pobreza no Brasil e no Estado do Ceará (dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2007 revelam que 52. é uma realidade. nada mais justo do que pautar políticas na direção desses arranjos. poder de mercado. Além disso. ou seja. ou seja. Ocorre que os pressupostos que dão alicerce ao primeiro teorema na prática são quebrados já que no mundo real existem falhas de mercado. Esse resultado é exatamente um dos argumentos da chamada escola de Chicago. Políticas de intervenção e a alternativa dos APLs Existe uma vasta literatura em políticas públicas que analisam a ineficiência provocada por intervenção governamental a partir do triângulo de Harberger (BULLOCK. capital humano (ou seja. deu ênfase à aprendizagem por interação em nível nacional e depois regional e local (CASSIOLATO. Amaral Filho (2002) destaca quatro elementos comuns a arranjos produtivos de sucesso: capital social (construído mediante a confiança e principal condição para a existência de cooperação). Já a chamada economia da inovação. Para esses dois últimos o processo de desenvolvimento só poderia ser iniciado a partir de polos. 2000). tendo o governo como o mais importante agente coordenador e incentivador do processo. CARVALHO. abordagem teórica concernente ao desenvolvimento tecnológico. mas como articulador ao lado da interação entre os agentes locais não apenas entre as empresas e trabalhadores. A nova teoria do crescimento tem sido a inspiração para diversos estudos em países em desenvolvimento sobre aglomerações locais ao lado de argumentos de retornos crescentes nos quais fatores como inovação tecnológica endógena (que surgem como resultado dos esforços dos agentes produtivos para maximizarem seus lucros). 2000). além de Hirschman e Perroux. que sustentam o dinamismo de empresas líderes. estratégia coletiva de organiza- Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza 225 .minados espaços geográficos. o estoque de conhecimento dos agentes econômicos) e os arranjos institucionais (incluindo a política governamental e a organização da sociedade civil) passam a assumir papel crucial no crescimento contínuo da renda (SILVA. possibilitando assim a capacitação e inovação. reforçando ou enfatizando especialmente a importância da rivalidade local e redes de fornecedores. LASTRES. que relacionou o processo de desenvolvimento econômico a mudanças endógenas e descontínuas na produção de bens e serviços destacando o empreendedor como agente fundamental do processo de desenvolvimento econômico. Storper (1995) também contribuiu para uma nova ênfase no papel do local. mas entre esses e as instituições de pesquisa. consultoria e financiamento. que obteriam vantagens da aglomeração e das externalidades. especialmente ao abordar os efeitos do aprendizado e da inovação. Essa versão contrapõe-se à visão que veio juntamente com a globalização de que o espaço seria menos importante na economia. Porter (1990) enfatiza a importância da formação de conglomerados e argumenta que a vantagem competitiva na economia global deriva de uma constelação de fatores locais. Diversos autores destacam o papel das aglomerações especialmente de pequenas e médias empresas como fundamentais para o desenvolvimento e a construção de externalidades positivas. Estudos sobre APLs reconhecem a importância do governo não como interventor no processo. Contudo. treinamento. além de Shumpeter. podendo estancar o processo migratório ou mesmo atrair mão de obra ociosa de grandes centros urbanos. Ásia e África. Tanzânia e Zimbabwe. Alto Piranha na Paraíba. a oportunidade que o fortalecimento de uma atividade naturalmente estabelecida pode proporcionar torna-se um atrativo natural para aquele município.ção da produção (toma decisões sobre a produção e compras conjuntas). Kenya. Petrolina em Pernambuco. aço e mármore e granito no Espírito Santo. na região do baixo Jaguaribe no Estado do Ceará. . cerâmica e software em Santa Catarina. No Ceará são cerca de 40 os Arranjos Produtivos Locais identificados em diferentes municípios e que atuam em diversos setores. frutas tropicais. Na América Latina. e carpintarias no Sudão. tipo de setor. têxteis. semicondutores na Coreia do Sul. Sul de Sergipe e Norte de Minas. biotecnologia e móveis em Minas Gerais. Assu e Mossoró no Rio Grande do Norte. A cooperação local tanto entre firmas individuais quanto através das instituições participantes do APL pode fortalecer a habilidade de competição nos mercados por meio do compartilhamento de custos e do compromisso em tarefas conjuntas mediante associações. De acordo com Nadvi e Barrientos (2004). móveis e couros e calçados no Rio Grande do Sul. calçados. rochas ornamentais. pequenas empresas em aglomerações que formam redes são encontradas em diversos países como empresas de calçados e peças avulsas de automóvel no Peru. vinho. entre outros. mão de obra ou capital-intensivo. a natureza das firmas que participam do APL e que tipo de emprego o APL gera: formal ou informal. por essa razão os APLs tendem a ter uma forte presença de capital social. automobilístico. metalmecânica. cacau na Bahia. sua localização. entre outros. têxtil e vestuário. aeronáutico em São Paulo. os impactos dos APLs sobre a pobreza variam de acordo com o tamanho do arranjo. Juazeiro na Bahia. estratégia coletiva de mercado (objetivando a manutenção e conquista de novos mercados). Para o caso brasileiro. móveis. couros e calçados na Paraíba. indústria automobilística. fumo. têxtil e vestuários e software no Rio de Janeiro. telecomunicações no Paraná. diversos arranjos produtivos foram identificados em diferentes estados e nos mais variados ramos de atividade como. Considerando que os APLs são usualmente formados de pequenas empresas e que essas em geral exploram atividades trabalho-intensivas que requerem mão de obra pouco qualificada. articulação político-institucional (como o APL se relaciona com as organizações públicas e privadas responsáveis pelas políticas públicas e com as instituições às quais cabe o papel de apoio às pequenas empresas ou ao desenvolvimento local). .... Achados de estudos empíricos que apontam para a relevância dos APLs Diversos são os estudos teóricos sobre APLs com exemplificações de casos de sucesso ou identificação de arranjos produtivos em várias partes do mundo. b6 = proporção de indigentes.. b8 = percentagem de renda apropriada pelos 40% mais pobres. favorece a elevação do nível de renda tanto para as firmas quanto para trabalhadores. b)) = h (x. suponha que x = (x1. b). O governo pode usar diferentes instrumentos de política para mudar o bem-estar de n grupos sociais. um conjunto de políticas factíveis.... Suponha ainda que u = (u1... b3 = número de analfabetos. m (exemplo: o instrumento de política x1 pode ser a bolsa família. b) e assim sendo. n. Formalizando..). b7 = proporção de pobres... se obtém os níveis de bem-estar que o governo pode atingir.. b2 = média de anos de estudo. b5 = Gini. Outras variáveis poderiam ser incluídas relacionadas à receita do município e outras que reflitam as condições de mercado ou mesmo condições climáticas e não foram aqui incluídas por falta de disponibilidade de dados. por exemplo: b1 = índice de desenvolvimento humano (IDH). que é o vetor de variáveis econômico-sociais e.. Observe que há uma relação de dependência já que x é função do vetor b de variáveis econômico-sociais. o instrumentos de política x2 pode ser o apoio a APLs etc.. 4. como consequência. xm) seja um vetor que descreve os níveis de instrumentos de política governamental 1. Para o Ceará alguns estudos acadêmicos e do próprio governo trabalham a identificação de arranjos produtivos locais principalmente através 107..... considerando-se os níveis de b. hn (x. por serem dinâmicos os APLs passam por processos que podem levar a uma melhoria no capital humano e tecnológico propiciando aumento de produtividade e abertura de mercado o que. permitindo uma ambiência sustentável de geração de renda.107 Os níveis de bem-estar são funções das condições econômicas e sociais e dos instrumentos de política utilizados pelo governo: u = (h1 (x. b9 = população residente. 108. e que b = (b1. seja um vetor de variáveis que descreve as condições econômicas e sociais. un) seja um vetor dos elementos que medem o bem-estar de n grupos sociais 1. b4 = renda familiar per capita. como grupos de pequenos empresários. Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza 227 .Além disso.108 O próximo item apresenta a evolução de variáveis b para municípios selecionados na tentativa de mensurar a importância do instrumento de política x2 na melhoria do nível de bem-estar e consequentemente na redução da pobreza.... pessoas pobres etc. bn). Outros estudos empíricos para o Ceará apontam para a relevância de APLs. situada na macrorregião administrativa de Sobral/Ibiapaba e Marco. comparativamente à média daqueles municípios pertences à mesma mesorregião que não apresentam APLs identificados. incentivo fiscal. a renda familiar per capita. O coeficiente da variável explicativa APL mostrou-se estatisticamente significante. 228 Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza . proporção de pobres. o índice pluviométrico. Índice de Gini.. 2006). foram selecionados dois municípios na mesorregião Noroeste do Estado do Ceará que abrigam APLs identificados: Frecheirinha. e positivo. A partir de resultados calculados para os 184 municípios do estado e utilizando a base da Relação de Informações Sociais (RAIS). Referido estudo incluiu como variáveis explicativas: a infraestrutura local. Primeiramente foi realizada uma análise comparativa com base na evolução de indicadores econômicos e sociais dos municípios onde estão localizados os APLs selecionados. APL de calçados. os agropolos e os arranjos produtivos locais (APLs). Nogueira e Lopes. investigaram os possíveis determinantes do indicador de vantagem comparativa municipal (IVCM). da população acima de 15 anos de idade. proporção de indigentes. Conforme anteriormente mencionado os indicadores selecionados foram: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). 2008. Holanda e Petterini (2003). a proximidade do litoral. a distância dos maiores centros consumidores. proporção da renda total apropriada pelos 40% mais pobres e população total com base em dados do PNUD/Ipea. situada na macrorregião do litoral Oeste. porém esse efeito é menor quanto mais distante for o APL da capital. taxa de analfabetismo. tanto para a equação do ICVM agregado quanto para as do ICVM agrícola e do ICVM do setor secundário. o número de anos de estudo da população maior de 25 anos. analisaram os municípios e setores que mais contribuíram para o crescimento econômico por meio da análise de shiftshare tendo os resultados da regressão indicado que a vantagem competitiva ou diferencial de um município é positivamente correlacionado com a densidade populacional (até certo ponto) e que os municípios com APLs tendem a ter maior diferencial em relação a outros. de acordo com a definição do ICVM. Para o presente estudo optou-se por avaliar os possíveis impactos dos APLs sobre o bem-estar e para tal. APL de confecções. Os resultados provam empiricamente que os APLs conferem vantagens competitivas para os municípios cearenses.da utilização do Quociente Locacional que é a metodologia mais difundida na literatura para a identificação de APLs (como em AMARAL FILHO et al. carpinteiros e pequenos empresários locais atenderam a demanda de forma conjunta.97 30.Um breve histórico indica a curiosa trajetória dos APLs selecionados. com aproximadamente 13.23 3. 76 -18. teve início o APL de confecções que possui cerca 18 empresas formais e informais que geram 500 empregos diretos. A variação na renda familiar per capita para o período foi positiva e indicou variação superior para o município de Marco em relação à Frecheirinha e à média dos municípios sem APLs identificados da mesma mesorregião. Tabela 1 – Taxa de variação de indicadores selecionados de 1991 a 2000 (%) Indicadores IDH Média de anos de estudo Analfabetos Renda familiar per capita Gini Proporção de indigentes Proporção de pobres % renda apropriada pelos 40% mais pobres População residente Noroeste Cearense – municípios sem APLs identificados 12.21 -15. Frecheirinha e Marco) em relação aos municípios sem APL também do Noroeste cearense nos seguintes indicadores: índice de desenvolvimento humano (IDH) e média de anos de estudo. No início da década de 1990. ano de início da atividade dos arranjos produtivos.97 -1.200 pessoas.80 46.83 16. mostrou aumento na concentração de renda maior para os municípios que possuem APL. Hoje o município conta com 24 empresas moveleiras que empregam cerca de 1.28 -6.88 14.09 -11. se baseava até 1990 na economia de subsistência. Já o gini cuja variação positiva revela uma elevação no nível de concentração de renda.93 Marco 29.00 -15.222 habitantes e até 1990 também apresentava economia de subsistência.405 habitantes.34 A análise dos resultados da Tabela 1 revela que de fato houve crescimento superior para os municípios que abrigam APLs (no caso. No início da década de 1990 por incentivo de empresário local.11 21.01 -8.80 51.00 -33. Posteriormente esses e novos trabalhadores passaram a se dedicar ao ramo por incentivo de um empresário local.56 15.71 Frecheirinha 19. O município de Marco possui 20.47 54. Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza 229 . de 1991. O município de Frecheirinha.06 -16.41 63.95 22.95 -20.14 -46. até 2000. após grande seca e estimulados inicialmente por compras do governo.27 -28.19 37. A Tabela 1 mostra a variação dos indicadores sociais para os municípios do Noroeste cearense que não estão situados em APLs comparativamente aos resultados obtidos para Frecheirinha e Marco. Porém. A variação na proporção da renda total apropriada pelos 40% mais pobres cresceu mais para Frecheirinha. Estudos empíricos mostram que. A variação negativa da proporção de pobres foi superior para Marco tendo caído duas vezes mais do que para municípios sem APL identificado. o estudo de mensuração de impacto se faz necessário. foi realizada a estimação de parâmetros de uma função do tipo Cobb-Douglas com o objetivo de verificar se municípios com APLs constituídos possuem um efeito positivo sobre a taxa de crescimento da renda. sobre a taxa de crescimento da renda. a variação negativa da taxa de analfabetismo no período analisado foi superior para a média dos municípios fora de APL da mesma mesorregião o que evidencia que a queda no número de analfabetos foi ainda maior para os municípios sem APL. porém é de se salientar de que não se trata de resultado conclusivo especialmente considerando que as variáveis capital-físico e capital-humano capturam em muito os efeitos que poderiam ser atribuídos aos APLs. a variável APL foi incorporada como uma variável binária indicando valor 1 para os municípios com APL e 0 para municípios sem APL.Contudo. mais do que a população dos municípios da mesma mesorregião sem APLs identificados. de acordo com o Relatório do Banco Mundial (Desenvolvimento Mundial: combate à pobreza 2000/2001). capital humano. considerando os arranjos produtivos locais identificados para o Ceará. trabalho e tecnologia. há grandes divergências em vários países já que em alguns casos os pobres ganham pouco ou nada com o crescimento. em geral. O resultado da regressão não evidenciou impacto dos Arranjos Produtivos Locais. o crescimento econômico atua na redução da pobreza evidenciando. Guardando todas as propriedades de uma função de produção neoclássica de crescimento econômico. mas a proporção de indigentes se manteve praticamente a mesma para o município de Marco e para municípios sem APLs. desse modo. Isso explica parcialmente porque os indicadores de Frecheirinha não apresentaram variação tão significativa quanto os de Marco cuja população caiu -1. além dos fatores tradicionais como capital físico. De fato. mas caiu mais para Marco do que para a média dos municípios fora de APL da mesma mesorregião. a variação dos indicadores acima citados não torna evidente o diferencial imposto pela existência de APLs para os municípios selecionados em termos de redução da pobreza e melhoria do bem-estar por essa razão. Apesar de ilustrativa. É curioso notar que a população de Frecheirinha aumentou (22%) no período.34%. uma conexão entre crescimento e pobreza. 230 Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza . 2713 ln(Renda per capita) (0. Tais resultados se confirmam tanto quando se inclui todos os municípios do estado (Modelo 1) como quando se exclui a Região Metropolitana de Fortaleza. mostra que a proporção de pobres se reduz quando a renda per capita aumenta e quando existe APL no município e essa proporção aumenta se cresce o nível de concentração de renda medido pelo Gini.0147 (0.000) 0. Tabela 2 – Resultado da regressão que estima o impacto na proporção de pobres nos municípios do Ceará – variáveis em diferença Variável dependente: Proporção de pobres Variáveis explicativas Modelo 1 -0. efeito dinâmico) a variável APL mostrou-se não relevante em termos de impacto na proporção de pobres.2700 ln(Gini) (0.65 (0. O fato de os resultados relativos ao Gini e a renda per capita corroborarem as expectativas.059) 167 Embora nenhum dos resultados aqui apresentados sejam conclusivos.57 (0. ano considerado como marco de identificação e reconhecimento de APLs no Ceará. Modelo 2 -0.065) 0.000) 0. a Tabela 2 que apresenta os resultados do modelo de regressão estimado em termos de variação (diferença).57 (0.000) -0.2696 (0.6760 144. fortalece o resultado obtido com relação a APLs que foi significante.22 RESET (0.000) -0.089) R² 0. Considerando variáveis em nível e em diferença a partir de 1990.23 Breusch-Pagan (0.306) 4.000) 0. funcionam como indicativo de que o apoio a arranjos produtivos locais ao Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza 231 . constatou-se que em nível (sem levar em conta a variação no tempo.634) 3.: Entre parêntesis os valores – p.040) Observações 184 Obs.000) -0.0126 APL (0.0845 Intercepto (0.2561 (0.6642 150.000) -0.A estimativa do impacto na proporção de pobres em municípios do Ceará foi realizada tendo como variável depende a proporção de pobres (P) e como variáveis explicativas o Gini (g) a renda per capita (y) e os municípios com e sem APLs (0 e 1). Contudo.97 Teste F Geral (0. Crato Juazeiro e Barbalha e Sobral (Modelo 2).000) 1.0807 (0. daí a razão de se conceber estratégias de atuação de modo a oferecer suporte a produtores e trabalhadores efetivos e potenciais a partir da identificação da privação de capacidades tanto de trabalhadores quanto de empresários.longo do tempo pode ter um impacto na redução da pobreza. Considerações finais Não se pode afirmar que a constituição de um APL por si só traga benefícios em termos de redução da pobreza uma vez que para isso é preciso que a mão de obra local seja utilizada. Embora não se possa atribuir o mérito exclusivo aos APLs. Os resultados estimados em termos de diferença mostram que a proporção de pobres se reduz quando a renda per capita aumenta e quando existe 232 Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza . o que no longo prazo pode ensejar melhoria no nível de educação em termos de capacitação e número de anos de estudo que a própria ocupação pode proporcionar ou estimular. isso pode representar uma melhoria de renda para trabalhadores de APLs. porém com o objetivo de oferecer suporte já que o próprio conceito de APL pressupõe surgimento natural e com base nas vocações locais e culturais. mas não no sentido vertical. Apesar de haver evidência de que APLs geram emprego e renda para os pobres no mundo em desenvolvimento. Considerando que melhores níveis de educação formal ensejam melhores salários. BARRIENTOS. o fortalecimento de APLs pode produzir ganhadores e perdedores (NADVI. que o setor seja preferencialmente de mão de obra intensivo e possa incluir mão de obra de baixa qualificação ou que possibilite as capacitações necessárias em pequeno espaço de tempo. Se por um lado essas características podem significar a geração de emprego em posições de “chão de fábrica” e com salários inferiores. 2004). não se pode afirmar que qualquer APL traga benefícios em termos de redução da pobreza uma vez que para isso é preciso que a mão de obra local seja utilizada e para tanto o setor deve ter preferencialmente mão de obra intensiva e que consiga incluir mão de obra de baixa qualificação ou que possibilite as capacitações necessárias em pequeno espaço de tempo. Mesmo assim. como num jogo. Isso sugere a necessidade de intervenção. fica evidente que houve crescimento superior para os municípios que abrigam APLs em relação aos municípios sem APL do Noroeste cearense no índice de desenvolvimento humano (IDH) e na média de anos de estudo. por outro significa a absorção de mão de obra ociosa e carente de oportunidade. Os resultados das investigações aqui mostradas apontam para um possível impacto positivo dos APLs na redução da pobreza. Rio de Janeiro. International Labour Office. Arranjos e sistemas produtivos locais e proposições de políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico. Opportunities for SMEs in Developing Countries to Upgrade in a Global Economy. Tendo em vista as análises realizadas. 31. M. E. Estímulo à Estratégia Cooperativa como Condição para o Desenvolvimento Local. BULLOCK. funcionando assim como uma política alternativa e complementar que. M. C. B. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará: IPECE. J. Determinantes das vantagens comparativas municipai. 384-395. M. O arranjo produtivo de calçados em Juazeiro do Norte: um estudo de caso para o Estado do Ceará.. Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza 233 . Geneva. D. fortalece o resultado obtido com relação a presença dos APLs. Rio de Janeiro: Mauad/BNDES. 3. HUMPHREY. Referências bibliográficas AMARAL FILHO.-set. 436p. In: Desenvolvimento em debate: Painéis do desenvolvimento brasileiro II. LASTRES. Should we expect Government Policy to be Efficient? Meeting: IATRC. In: Focus Programme. O negócio é ser pequeno. permite o deslocamento em direção à inserção sem traumas e de forma sustentável. que foi significante. de M. Revista Econômica do Nordeste. Crato Juazeiro e Barbalha e Sobral (Modelo 2). 2007. In: Projeto arranjos e sistemas produtivos locais e as novas políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico. PETTERINI.. por oferecer oportunidade de renda e capacitação. 2000.). mas em grupo. 2007. O. n. H. Texto para Discussão n. Rio de Janeiro: RedeSist/IE/UFRJ. 2003. v. E. M. S. CASSIOLATO. p. CARVALHO. NT 33. COSTA. J. v. J. Tese de Doutorado Universidade federal do Rio de Janeiro. tais resultados se confirmam tanto quando se inclui todos os municípios do estado (Modelo 1) quanto quando se exclui a Região Metropolitana de Fortaleza. 2002. F. 2002. jul. 2003. Ana Célia de Castro (Org. o fato de os resultados relativos ao Gini e a renda per capita corroborarem a expectativa. 43.. Ademais. HOLANDA. E. do. 5. SEED Working Paper n. Embora os resultados apresentados sofram algumas falhas inerentes às variáveis incluídas no modelo. o fortalecimento dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) como estratégia de combate à pobreza deve acontecer sem prejuízo do programa de assistência em andamento do governo federal. 3.APL no município e essa proporção aumenta se o nível de concentração de renda medido pelo Gini se eleva.. SZAPIRO. A. The resurgence of regional economies. A. 2000. Oxford University Press. OLIVEIRA. Lastres José E. 1995. K. p. University of Sussex. Texto para Discussão n. M. CARVALHO. Ceará: IPECE. número especial. 38. A educação e o desenvolvimento socioeconômico . 2001. WORLD BANK. OLIVEIRA. C. Texto para Discussão n. CARVALHO. A. Desenvolvimento como liberdade. Desigualdade. B. SILVA FILHO.. NADVI. 234 Os arranjos produtivos locais como estratégia sustentável de redução da pobreza .MEDEIROS. Revista Econômica do Nordeste. LOUREIRO. Oxford... A teoria do Crescimento Endógeno e o Desenvolvimento Endógeno Regional: Investigação das Convergências em um Cenário Pós-Cepalino. 49. SOARES. LOPES. 2004. A. das Letras. WHINSTON.. 1999. n. M. 1. M. United Kingdom in cooperation with UNIDO. Employment Growth in Ceará: A Shift-Share Analysis (2000-2005). E. n 3: p. V H.. nov. Bolsa Família no Estado do Ceará. E. do Ceará no período de 1996 a 2006. Ipea. 2007 PORTER.) Helena M. S. Programas focalizados de transferência de renda no Brasil: contribuição para o debate.. 37. MAS-COLELL. Pobreza. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do CE. Texto para Discussão n. Rio de Janeiro: EPGE/FGV . T. E. Texto para Discussão n. S. BARRIENTOS. The Competitive Advantage of Nations. São Paulo: Cia. HOLANDA. estabilidade e bem-estar social. 2006a. BRITTO.. 467-482. J. M. 2008. 673. World Development Report 2000/2001: Attacking Poverty.283. v. World Bank and Oxford University Press. 191-221. SEN. S. 32. Ceará: IPECE. 2. V H.) NOGUEIRA. v. G. NERI. Cassiolato.. ten years later. European Urban and Regional Studies. M. B. GREEN. M. 1995. A. F. (Coord. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do CE. Ceará: IPECE. 2007. Institute of Development Studies. M. G. Microeconomic Theory. STORPER.. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do CE. London: Macmillan. REDESIST – REDE DE PESQUISA EM SISTEMAS PRODUTIVOS E INOVATIVOS LOCAIS. D. Industrial Clusters and Poverty Reduction: Towards a Methodology for Poverty and Social Impact Assessment of Cluster Development Initiatives. Distribuição de Renda e .. Vienna. (Ensaios Econômicos. Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais. 2007. F. 2005. com pequenas variações de detalhes. de outro. a que se dá (com propriedade discutível) o nome de desenvolvimento econômico. a partir da revolução industrial. Desenvolvimento A literatura sobre o papel da inovação na vida econômica moderna expande-se dia a dia. na segunda metade do século XX – coincidindo. Competitividade. com a emergência das primeiras inovações precursoras da nova revolução tecnológica associada ao “processamento automático da informação”109 – que a inovação tecnológica passa a ser vista como principal instrumento de competição. o transistor e o circuito integrado. Começando pelos chamados “economistas clássicos”. vem caracterizando a evolução do sistema capitalista e viabilizando o processo de transformação e elevação do padrão de vida das sociedades humanas. Capacitação tecnológica no Brasil 235 . Especialmente a computação eletrônica.Capacitação tecnológica no Brasil: por que as políticas de C. As ideias básicas dessa escola – aceitas hoje. da competitividade do país. na dinâmica do sistema capitalista. com vistas a transformar a “produção de inovações” num dos principais resultados dessa atividade. e as condições necessárias para a endogeneização e potencialização desses fatores na atividade “regular” dos agentes econômicos. “Chovendo no molhado”: Inovação. os fatores determinantes do próprio fenômeno “inovação”. da sobrevivência da empresa e. como fator decisivo na determinação. e passando por Marx e Schumpeter.T&I são pouco eficazes? David Rosenthal 1. e a capacidade de gerar e introduzir tais inovações. não por acaso. a “tecnologia” e/ou a “mudança técnica” tem sido vista como um dos principais motores da elevação da produtividade que. de um lado. principalmente. assim como o número de campos de estudo que visam a explicar sua importância e. Mas é a partir dos trabalhos dos economistas da chamada “escola neo-schumpeteriana”. por estudiosos de diferentes áreas de conhecimento – podem ser resumidas nas seguintes proposições: 109. 3) Enquanto o primeiro conjunto está diretamente relacionado com características específicas à empresa (e aos decisores) e com suas expectativas de lucro e sobrevivência – padrões de inserção no mercado. seja com relação aos processos de produção (no sentido mais amplo do termo). refletem o nível dos conhe110. p. Esses padrões. 236 Capacitação tecnológica no Brasil . depende. Evidentemente. mas. 16-22. seja no que respeita ao produto. essa motivação é apenas um dos muitos e complexos requisitos envolvidos nesse processo – uma das principais “fontes de inovação internas à empresa” –. principalmente. 111. por sua vez. Essa elevação. conforme referido por Rosenthal (2007). em grande medida. a motivação (e a necessidade) da empresa de buscar a diferenciação de seu produto. ver Rosenthal (2007). a tecnologia por ela empregada110 – principal determinante das características funcionais. não apenas da acumulação física do estoque de bens de capital da sociedade (como preconizam muitos modelos de crescimento). dos padrões tecnológicos prevalecentes no setor em que ela atua (e do “estado da arte” já atingido por esses padrões no nível mundial). e dos diferentes níveis de abrangência em que pode ser considerado.111 2) Do ponto de vista da sociedade como um todo (um país). de “desenvolvimento econômico” – varia diretamente com o ritmo de elevação dessa produtividade. portanto. 31. por sua vez. Assim. de alterações na tecnologia (consubstanciada no produto ou no processo de produção). o nível da produtividade social – e. p. físicas e econômicas dos bens e serviços por ela produzidos – define diretamente a aceitação de seus produtos e. Para uma discussão do conceito de tecnologia. quanto mais intensa é a concorrência no mercado. sua capacidade de sobrevivência e expansão. portanto. o ritmo de crescimento desse nível de renda – isto é. e os que determinam sua “capacidade” de fazê-lo. pelos setores em que a produtividade do trabalho é mais alta. Como o vetor principal dessa introdução é a empresa capitalista. ao longo do tempo. em princípio. através da introdução de aperfeiçoamentos naquelas características – isto é. tanto maior tende a ser. o desenvolvimento econômico pode ser visto como dependente de dois conjuntos de fatores fundamentais: aqueles que influenciam a “motivação” que impulsiona a empresa a desejar inovar. ou “inovações tecnológicas”. Da mesma forma. o da renda por ela gerada – depende fundamentalmente da proporção representada. atuante num sistema econômico concorrencial.1) Do ponto de vista da empresa. relação entre os custos da atividade inovativa e os ganhos esperados de seus resultados – o segundo já depende. no qual a busca do lucro constitui o motor da atividade produtiva. no valor total da produção (e na parcela da população ocupada). do ritmo de introdução de inovações tecnológicas no sistema produtivo. das tecnologias baseadas em conhecimentos gerados pela física subatômica e quântica. É o caso. Essas proposições nos permitem concluir que: a) O ritmo de desenvolvimento econômico de um país depende muito de sua capacidade de inovação. genética. de outro. a “capacidade” de uma empresa para gerar e/ou introduzir inovações depende do nível de domínio exercido sobre os conhecimentos tecnológicos essenciais. e. materiais e informacionais. de um lado. d) Essa natureza sistêmica da “capacidade de inovação” vincula o desenvolvimento econômico ao ritmo de introdução de inovações pelo sistema produtivo como um todo – e à participação relativa. gerados pelos mais recentes avanços da ciência. sobre os fenômenos da natureza aplicados na determinação das características do bem ou serviço. de sua “capacidade” de desenvolver eficazmente tais atividades. biologia molecular etc. necessários para sua aplicação.cimentos tecnológicos consubstanciados nos bens e serviços gerados por esse setor – e dos requisitos. especialmente os de alta tecnologia. estendendo-se à sociedade como um todo. b) Esta última depende. que definem o “estado da arte” em seu setor de atuação. O nível de complexidade e sofisticação dos “conhecimentos tecnológicos essenciais” abrangido por esse requisito tende a ser tanto mais elevado quanto maior for o peso da exploração de conhecimentos de ponta. especialmente no que respeita àquelas partes/instituições desse ambiente que lhe podem servir de fontes dos recursos para a atividade inovativa. conquanto se manifeste na própria empresa. 112. Capacitação tecnológica no Brasil 237 . genericamente designadas como de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). fisico-química. de empresas (e cadeias produtivas) atuantes nos setores de maior produtividade.112 Não é por outro motivo que os setores cujos produtos (e/ou processos de produção) consubstanciam uma elevada densidade de conhecimentos científicos avançados – e apresentam os mais altos requisitos de especialização e níveis de produtividade da força de trabalho empregada – são designados como de “alta tecnologia” (high-tech). em termos de recursos humanos. Assim. c) Diferentemente do fator “motivação”. da “motivação das empresas”. já que pressupõe a possibilidade de mobilizar. fotônica. os recursos humanos. constitutivas de seu sistema produtivo. transcende necessariamente seus limites. no contexto mais atual. dentro do ambiente em que aquela atua. fontes de conhecimento e demais requisitos científico-tecnológicos necessários à atividade inovativa. para investir em atividades voltadas para a geração/introdução de inovações. esse último requisito. “pela própria empresa” – e também pelo ambiente em que atua. neste último. baseados em determinados princípios das ciências naturais e em determinadas tecnologias materiais”. na busca de aperfeiçoamentos desses paradigmas. que enriquecem incessantemente aqueles paradigmas. g) É justamente essa natureza sistêmica da capacidade inovativa. através da geração de novos conhecimentos científicos. seja no aperfeiçoamento das utilizações atuais. resultantes dos avanços da ciência e da concorrência nos mercados mundiais. ou (iii) expandir tais fronteiras. no peso relativo dos setores responsáveis pela produção dos “bens e serviços que consubstanciam esses paradigmas e viabilizam suas aplicações”. pela sociedade (e seu sistema produtivo). na experiência das empresas. da importância das políticas públicas. tende a ser tanto maior quanto mais elevado for o nível de domínio exercido.e) Assim. que dá lugar ao conceito de Sistema Nacional de Inovação (SNI). 114. em atividades de P&D acadêmicas e/ou voltadas para prestação de serviços tecnológicos a empresas. em primeiro lugar. que ampliam as “oportunidades tecnológicas” desses paradigmas. nos quais a produção (e a concorrência) é caracterizada por um elevado nível de globalização e especialização distribuída. Em se tratando de setores de grande complexidade tecnológica. 238 Capacitação tecnológica no Brasil . 113. em todos os países. e (ii) explorar. seja na sua introdução em novas áreas de atividade produtiva. f) Esse domínio traduz-se. Dosi (1984).114 na disponibilidade de recursos humanos capacitados para essas atividades. Na concepção original do pioneiro na utilização desse conceito. para geração e/ou introdução de inovações nos seus mercados. para a criação das condições necessárias ao fortalecimento desse sistema e à ampliação do domínio dos paradigmas tecnológicos mais avançados. 85. em quantidades e níveis de qualificação compatíveis com as necessidades de funcionamento e expansão daquelas empresas. ainda. na produção (e na composição da ocupação da força de trabalho) do mesmo – e esta. a capacidade inovativa e o nível de desenvolvimento de um país podem ser vistos como dependentes da proporção. e. o grau de inserção da indústria do país nas redes mundiais de produção constitui também um importante indicador de “domínio do paradigma tecnológico”. sobre os “paradigmas tecnológicos”113 mais avançados. e sua relação direta com o desenvolvimento econômico. por sua vez. na existência de instituições de ensino e/ou pesquisa capacitadas para: (i) garantir a formação daqueles recursos e seu acesso aos fluxos de novos conhecimentos. atuantes nesses setores. Ver Ernst e Kim (2001). representada por bens e serviços de alta tecnologia. e ao reconhecimento. as fronteiras de aplicação de tais conhecimentos. um “paradigma tecnológico” consiste em “um ‘modelo’ e um ‘padrão’ de soluções para determinados problemas tecnológicos. p. 117 Esse processo deu lugar a uma grande intensificação da concorrência entre os países desenvolvidos. criava as bases técnicas de viabilização dessa mesma globalização. um intenso processo de introdução de inovações que. O núcleo desse paradigma é constituído pelas áreas da « computação e comunicação ». não mais em nível de empresas. Assim. nos países em que o nível de desenvolvimento das ciências e a existência de outras condições propícias116 permitiram. 118. que viabilizam sua aplicação a todas as áreas de atividade humana. dos novos setores econômicos ligados aos bens e serviços que consubstanciam o paradigma digital115 – e as amplas oportunidades tecnológicas abertas por esse último. em duas décadas. 2007 (2). Capacitação tecnológica como objeto explícito de política pública O surgimento e rápida expansão. necessária a sua amortização. Capacitação tecnológica no Brasil 239 . abrangendo dispositivos e equipamentos (hardware). 116. as políticas governamentais de elevação acelerada da capacidade inovativa adquiriram 115. A elevação dos custos dessas atividades.2. por exemplo. associada à necessidade de ampliação das escalas de produção dos bens e serviços delas resultantes. O termo « paradigma digital » traduz a aplicação do conceito de « paradigma tecnológico » ao campo das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). em termos de política internacional). mas agora em nível de nações. a partir do último quartil do século XX. na medida em que a capacidade de introduzir inovações tecnológicas. para avanço tecnológico em todos os campos de conhecimentos básicos que constituem o cerne das TICs – a microeletrônica. em redes mundiais de comunicação e processamento de informações. que converteu a “informação” em recurso estratégico. ensejaram o surgimento de uma corrida mundial para as atividades de P&D voltadas para a exploração dessas oportunidades. software e os « circuitos integrados semicondutores ». Ver. Ver Rosenthal. passou a ser reconhecida como principal determinante de sucesso econômico. Nora e Minc (1980). Com destaque para o avançado nível de domínio do paradigma eletromecânico e o elevado grau de industrialização.118 A amplitude das possibilidades abertas. para transformação radical dos processos de produção. já a partir das duas últimas décadas do século XX. a engenharia de software e a eletrônica digital – e para aplicação dessas tecnologias em todos os campos de atividade humana. constituiu um poderoso impulso propulsor do processo de globalização da economia mundial – ao mesmo tempo em que a aplicação dessas tecnologias. 117. de desenvolvimento econômico e social e de maturação do sistema capitalista. em todos os demais setores da vida econômica – deflagrou. no campo da ciência e tecnologia (C&T). veio a configurar uma “nova revolução industrial” (além de uma não menos radical revolução informacional. e especialmente o domínio daquele paradigma. Edquist (1997). o “sistema produtivo”. abrangendo todo o conjunto de normas legais. através da criação de condições ambientais estimuladoras da motivação das empresas. abrangendo todas as instituições envolvidas na absorção. com pequenas variações. Esse modelo sugere a necessidade de alguma forma de intervenção do Estado nessa vida econômica. seja defendendo ativamente sua competitividade nos mercados mundiais (e. Tal papel diz respeito tanto à função de identificação de eventuais entraves ao desempenho dos demais subsistemas do SNI. configurando-se assim como “subsistemas básicos” do respectivo SNI. Um postulado básico da teoria geral de sistemas é que todo subsistema. e influenciar nos seus resultados. no sentido de fornecer o suporte necessário ao sistema produtivo. 119. Tais políticas. englobando o conjunto dos agentes sociais que. um sistema. finalmente.119 que atribui a capacidade inovativa de um país ao resultado de interações sinergéticas entre três conjuntos de agentes sociais. assim como na formação de recursos humanos qualificados para a aplicação desse conhecimento às atividades produtivas e à solução de problemas da vida social em geral. pode ser visto como constituindo também. ele próprio. Ver Ackoff (1971). componente de um sistema maior. e. Ver. movidos pela dinâmica dos mercados – baseada na concorrência capitalista e na busca do lucro – tendem a constituir os principais introdutores de inovações tecnológicas na vida econômica do país: as empresas privadas. isoladamente) para a capacitação tecnológica. 120. geração e difusão de conhecimento científico e/ ou tecnológico. 240 Capacitação tecnológica no Brasil . têm sido voltadas para ampliar a participação dos setores de alta tecnologia na formação do produto nacional. Essas políticas são baseadas no modelo dos “sistemas nacionais de inovação” (SNIs). cujas atividades podem. favorável às ações inovativas empreendidas pelos outros dois. por meio do qual o Estado pode criar um ambiente social e econômico mais. gerar contribuições significativas (embora não suficientes. o “sistema científico-tecnológico”. portanto. ou menos. instituições e agências públicas e mecanismos de apoio. através do fortalecimento das empresas nacionais que atuam nesses setores. Esses são: o “sistema120 institucional”. seja fomentando a consolidação e desenvolvimento dos demais segmentos constitutivos da sociedade vistos como determinantes de sua capacidade para fazê-lo. na medida em que atribui a ele um papel fundamental na conformação da capacidade tecnológica do país. e tendem a. quanto à formulação de políticas públicas voltadas para superação de tais entraves.um papel predominante nos países centrais. e/ou de fortalecimento do sistema científicotecnológico e direcionamento e compatibilização de sua atuação. por exemplo. sua motivação para inovar). Ressalte-se que. para disputar na fronteira da incorporação dos avanços científicos mais recentes ao sistema produtivo. orientando suas políticas de capacitação tecnológica no sentido de acelerar o domínio do paradigma digital. para retornarem a seus países. pelos governos. Também no caso dos países ditos emergentes – especialmente os asiáticos. nesses países – especialmente nos Estados Unidos – o setor público também atua fortemente sobre os demais subsistemas do SNI. financeiros e mer121. nos organismos internacionais. nos campos do paradigma digital e demais paradigmas tecnológicos de ponta. mediante subvenções maciças e compras governamentais de bens e/ou serviços de pesquisa científico-tecnológica. como mostram as pressões exercidas. os patamares iniciais de organização do SNI e seus subsistemas constituintes eram bem diferentes daqueles dos países centrais – e o reconhecimento dessa realidade.Nos países centrais. negociações da Rodada Doha. a fim de dirigirem essas instituições. diretamente ao setor produtivo (e. os esforços da União Europeia para incentivar a consolidação de sua economia e viabilizar a criação de empresas “europeias”. Principalmente no que respeita à liderança tecnológica. Ver Kim (1993). ao sistema científico-tecnológico). que vêm alcançando sucesso relativo. assumindo o comando do SNI e atuando diretamente sobre os demais subsistemas. No que respeita ao sistema produtivo. Capacitação tecnológica no Brasil 241 . Atuando intensivamente na atração de cientistas nacionais. OMPI etc. levou-os a atribuir ao subsistema político-institucional um papel bem mais ativo. na alocação de recursos financeiros vultosos para promover atividades de P&D e formação de recursos humanos de seus sistemas científico-tecnológicos. empregados em universidades e empresas norte-americanas. para intensificar o ritmo de criação de novas empresas. 123. 122. mediate investimentos estatais maciços em instituições de P&D nas áreas de C&T centrais desse paradigma. que possam concorrer com os grandes grupos de capital americano. nos esforços para superação da condição de subdesenvolvimento – as premissas acima serviram de base para as políticas governamentais de fomento à capacidade de inovação de suas respectivas sociedades. Esses países seguiram o exemplo dado pelo Japão nas décadas de 19601970. de um lado. ao mesmo tempo. Inserem-se aí. para estimular a ampliação das escalas de produção e dos mercados de suas empresas em nível global122 e. essas políticas têm-se traduzido em ações direcionadas principalmente para a defesa dos interesses das empresas de propriedade de seus grupos de capital – especialmente aquelas que já vêm disputando a liderança nos setores mais avançados e dinâmicos – nos mercados mundiais121 e. como no desenvolvimento e produção de armamentos e grandes projetos espaciais. através deste. na defesa intransigente da ampliação dos direitos de propriedade industrial (TRIPS) – ou ainda a atitude do governo norte-americano. Nesses. por exemplo.123 juntamente com a concessão de fortes estímulos fiscais. de outro. nos casos do Protocolo de Kyoto. essas políticas são voltadas. a fim de capacitá-los para superar suas deficiências. 125 as políticas específicas. 126. nos estágios iniciais. criados após a Segunda Guerra Mundial. em grande medida. enquanto que Taiwan procurou estimular mais as pequenas e médias empresas que já atuavam nesses setores. por exemplo. Assim. atuantes nos setores-chave de produção diretamente ligados a esse paradigma. sob as diferentes orientações. sofreram relativamente pouca influência daquelas oscilações e puderam continuar atuando. Kim (1993) e Hou e Gee (1993). por preocupações de ordem geopolítica e militar. Evidentemente. mas com considerável peso nas decisões. um forte viés para o campo do conhecimento científico e privilegiando a academia (especialmente as universidades federais) como foco principal de atuação daquelas políticas. durante décadas. 242 Capacitação tecnológica no Brasil . Assim. as políticas de C&T mantiveram. como veremos adiante – o pressuposto básico parece ter 124. com maior ou menor eficiência. em grande medida. Embora voltada prioritariamente para a constituição e fortalecimento do “sistema científico-tecnológico” e motivada. e/ou atuantes nos núcleos incipientes de pesquisa tecnológica voltada para reduzir essa dependência. certa estabilidade.124 3. E também. 125. esta afirmativa constitui uma generalização grosseira. no que respeita às causas do atraso relativo do País.cadológicos (por meio do uso do poder de compra do governo) aos grupos de capital e empresas nacionais. apresentando. com menos destaque público. necessariamente. às condições necessárias para sua superação e ao papel do setor público na criação dessas últimas. quase sempre. passaram a receber atenção especial nessa última década. tais políticas foram regularmente orientadas para a construção de um sistema científico-tecnológico – num país altamente carente. voltadas para o desenvolvimento da capacidade de inovação. Talvez por isso – e pelo fato de terem sido a definição e gestão dessas políticas atribuídas. já que as políticas seguidas por cada governo levaram em conta características próprias do sistema produtivo de seu país. a Coreia do Sul deu grande ênfase ao fortalecimento dos chaebols. onde a atuação do governo na área da C&T tem uma história relativamente longa. de instituições capacitadas para preencher essa função. Ver Erber (1981). a militares preocupados com a grande dependência tecnológica das forças armadas. que se dispusessem a tentar concorrer nos mercados mundiais (o que exigia. inclusive suas estruturas operacionais. apesar dos intensos movimentos pendulares que têm caracterizado a “visão estratégica” dos governos brasileiros. desenvolver sua capacidade de inovação). Com relação ao sistema produtivo – salvo em alguns períodos e/ou segmentos “excepcionais”. remontando pelo menos ao início da década de 1950. a profissionais da área acadêmica126 – muitos dos instrumentos e mecanismos criados por essas políticas. Ver. Políticas de capacitação tecnológica no Brasil – uma rápida visão panorâmica No Brasil. Notese que. A instável união entre esses grupos convergiu em um grande esforço para criação de um segmento do setor produtivo nacional. conseguiu aliar expressivos segmentos da academia a profissionais das áreas de processamento de dados. técnicos e servidores públicos e setores nacionalistas das forças armadas. siderurgia.sido. levaria a um processo contínuo de elevação da capacidade tecnológica e. juntamente com os diferentes mecanismos tarifários. energia (atômica e hidrelétrica) e telecomunicações. durante aproximadamente uma década e meia (1975 a 1990). interessadas no mercado brasileiro. como campo específico. com participação paritária de capital privado nacional – o modelo conhecido como “tripé”. petroquímica. que continuam exercendo influência considerável no SNI brasileiro. em termos daquilo que era visto como “ameaças” à soberania (ou até mesmo segurança) nacional. nesse contexto.127 Merece destaque especial. na década de 1950. nas duas décadas seguintes – em que a preocupação com a dependência tecnológica. e/ou a maior influência exercida por setores nacionalistas nas forças armadas. até o final da década de 1980. como vetor da capacidade de inovação do País. ver Dantas (1989) e Tapia (1995). As exceções referidas anteriormente ocorreram em alguns setores e períodos específicos – exploração de petróleo. na geração e utilização de inovações baseadas no domínio das tecnologias básicas desse paradigma. financeiros e fiscais de estímulo ao investimento produtivo. essa política deixou marcas profundas. o de que a elevação do nível de qualificação dos recursos humanos disponíveis no mercado de trabalho. 127. cambiais. Capacitação tecnológica no Brasil 243 . A própria manutenção do título “política nacional de informática”. voltado para a produção dos bens que consubstanciavam o também incipiente paradigma digital e capacitado para interagir com o sistema científico-tecnológico. 128. a chamada Política Nacional de Informática que. levaram o governo a intervenções mais ativas no setor produtivo.T&I oficialmente em vigor – pode ser vista como indicação do reconhecimento da importância especial do segmento do setor produtivo por ela englobado. no contexto do conjunto de mecanismos de política de C. Aquela influência evidencia-se ainda mais na sua contribuição para a formação de um considerável acervo de “ativos tecnológicos” do País.128 Embora radicalmente descartada pela vigorosa reversão pendular da “filosofia de governo” ocorrida no governo Collor. da produtividade do País. Essas se deram através da criação de empresas estatais e/ou da formação de associações do Estado com empresas multinacionais. e da atenção especial que merece. Para detalhes muito esclarecedores. Ver Evans (1979). portanto. introduzidos no marco da política mais geral de Industrialização por Substituição de Importações perseguida pelo governo desde a década de 1950. a Microsiga (1985). que reconhece no setor produtivo o agente principal da inovação e volta-se para a busca de mecanismos de estímulo a sua motivação – reduzindo o tradicional “viés pró-academia” predominante no período anterior. em grande medida. fundada (1979). Uma das maiores empresas do setor. às quais se somaram algumas outras – a maioria atuando apenas na montagem de equipamentos. principalmente. e/ ou sejam dirigidas por profissionais cuja atividade empresarial teve origem naquela época. evidentemente. a partir do final da década de 1990 e. determinantes do ambiente. talvez como expressão simbólica dessa mudança de ênfase – ainda que. spin-off da SID. a COM. ou nas ainda escassas e reduzidas (em termos de escala) empresas nacionais129 produtoras de bens e serviços baseados no paradigma digital. A introdução da inicial “I” no nome oficial do “foco” da política governamental. projetado originalmente para permitir ao IBGE executar seus serviços em computadores Cobra. 130. a influência daquela política. a Fácil Informática (1985). Outros exemplos. e decisões envolvendo políticas econômicas e sociais mais amplas. 131. Que não incluem. que foi presidente da SID Microeletrônica. nos campos de conhecimento relevantes para esse paradigma. a Módulo Consultoria e Informática (1985). é presidida por Antonio Carlos Rego Gil. cuja contribuição para a formação da capacidade inovativa nacional limita-se. as responsabilidades continuem repartidas entre ministérios diferentes (e nem sempre bem entrosados).T&I) pode ser vista. Tecnologia e Inovação” (C. nos componentes microeletrônicos. na formação técnica e intelectual de muitos dos dirigentes atuais das instituições responsáveis pela formulação e implementação das políticas governamentais: ela pode ser percebida no enfoque das mudanças introduzidas.131 O mesmo pode ser dito com relação aos principais centros universitários e instituições de pesquisa hoje atuantes no País. como será visto adiante. E não se deve minimizar. concorre hoje no mercado internacional. seja nos setores usuários. seja na academia. Das de hardware sobraram muito poucas. a Amerinvest (1987) etc. saídos das fileiras dos funcionários do Serpro: seu banco de dados relacional Open Base. as subsidiárias de empresas multinacionais que atuam no Brasil nessas áreas. Um exemplo ilustrativo é a cooperativa de software Tecnocoop. à capacitação dos recursos humanos que empregam. 244 Capacitação tecnológica no Brasil . que deixou de contemplar a “Ciência e Tecnologia” (C&T) para englobar a “Ciência.consubstanciados nos recursos humanos capacitados hoje disponíveis. citados pela imprensa como sucessos de exportação. Afinal. são: a Datasul. padrões de concorrência e comportamento estratégico das em- 129. a Tales Informática (1986). no começo da década atual. criada em 1982 por pioneiros da PNI. em grande medida. não parece coincidência o fato de que muitas das maiores e mais dinâmicas empresas nacionais do setor de software130 se tenham originado durante a vigência daquela Política. também. a Infocon (1985). cuja essência tecnológica está concentrada. em termos institucionais. uma das principais empresas que constituíram as bases da Indústria Nacional de Informática criada naquela época. 133 b) portanto. Capacitação tecnológica no Brasil 245 . de um lado. Ver CGEE (2007).. são os de que. pressupostos. portanto. Uma das características dessa modernização é a ênfase dada à inovação como objetivo principal – e a adoção do modelo dos SNIs como princípio norteador daquelas políticas. direta ou indiretamente. objetivo central da política de C&T “tradicional”. seja diretamente pela empresa.T&I hoje implementadas no País refletem. a essas premissas. uma tendência de adaptação dos objetivos perseguidos às novas percepções quanto ao estágio atual de desenvolvimento e à contribuição esperada dessas instituições. na criação de novas instituições de alto nível (como a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI.132 4. e de instituições especializadas. Lei do Bem. uma vertente de continuidade histórica. implícitos na legislação que rege as políticas de C.presas (e portanto de sua atitude com relação à inovação) sejam tomadas em instâncias políticas alheias. custos financeiros elevados.. A consolidação e expansão desse sistema. segundo declaração recente do Ministro da Ciência e Tecnologia. a) a geração e introdução de inovações exigem o exercício de atividades de P&D. as políticas explícitas de C. Outros pressupostos. ele exige a mobilização de recursos humanos especializados. dos recursos humanos de alto nível. Essas modificações vêm visando a ampliar a motivação das empresas para utilizar a introdução de inovações tecnológicas como instrumento de competição pelos mercados – como pressupõe o modelo dos SNIs – através da redução dos custos associados.).T&I no Brasil – objetivos. seja através de diferentes formas de interação com instituições integrantes do sistema científico-tecnológico. As políticas atuais de C. de instituições e mecanismos operacionais consolidadas ao longo de mais de cinco décadas. no mercado de trabalho. a primeira prioridade da atual – inclusive como instrumento de formação e disponibilização. continua constituindo. c) a atividade inovativa constitui um em132. Ver. o trabalho esclarecedor de Nassif (2007). para o fornecimento dos recursos informacionais e laboratoriais necessários à atividade inovativa das empresas.T&I no Brasil. os Fundos Setoriais. descontigenciamento de recursos do FNDCT. Sérgio Rezende. 133. a aquisição de equipamentos e outros recursos tecnológicos (ou de serviços de tais recursos) e envolve. ou mesmo opostas. e. ao desenvolvimento de tais inovações. Essa ênfase tem-se traduzido no fortalecimento dos mecanismos organizacionais existentes. estratégias e mecanismos de atuação Como visto. nesse contexto. de outro. o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE e o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia) e na ampliação dos recursos financeiros alocados às atividades voltadas para esse fim (Lei da Inovação. seu valor contribua para elevação da relação gastos em P&D/PIB. d) assim. ou subsídios para formação ou aperfeiçoamento de pessoal dos quadros da empresa. quanto à lucratividade esperada do capital nela investido. devem visar à elevação da relação benefício esperado/custo das atividades inovativas empreendidas pelas empresas. Muitas dessas medidas já integravam as políticas anteriores – e parte das alterações recentes visam à sua diversificação. desde que aprovados pela Finep. em um país. 2007. resultando em: a) um novo produto. aprofundamento e/ou ampliação do universo das empresas contempladas. do valor dos lucros tributáveis ou dos próprios tributos devidos. 246 Capacitação tecnológica no Brasil . em termos de percentual do PIB. um dos mecanismos mais recentes. 135.) a empresa inovadora. 26. O peso das atividades de P&D é tão decisivo que o valor total a elas dedicado. estatisticamente. a “produção de atividades de P&D” de uma empresa multinacional. ainda que. com a crescente dispersão geográfica das operações dos grandes grupos de capital.. definível como “a aplicação de uma nova tecnologia (.. nesse contexto. dos recursos financeiros alocados). especialmente as ligadas a P&D. dependendo não apenas dos resultados técnicos do projeto. ou de seu grau de aceitação pelo mercado – que leve a níveis mais elevados de lucratividade (. Ver CGEE (2007). as políticas de incentivo tendem a concentrar-se nos fatores determinantes do “denominador” – isto é. a doação de recursos financeiros “a fundo perdido”. Vale notar-se que. em medidas voltadas para a redução dos custos econômicos incorridos pelas empresas em seus projetos de P&D. constitui um dos principais indicadores de dinamismo tecnológico (e de desenvolvimento econômico) dos países. 134. os instrumentos utilizados pelo setor público. ou b) alteração de algum atributo do produto antigo. para o desenvolvimento de projetos de P&D.preendimento caracterizado pela incerteza dos resultados. O resultado esperado (mas incerto) do projeto de P&D seria a “inovação tecnológica”.” Ver Rosenthal.) ao processo produtivo.. Ver Chesnais (1988). p.136 b) Redução dos custos de recursos humanos – pesquisadores e técnicos especializados de alto nível – para as atividades de P&D. por meio de mecanismos diretos – como financiamentos a taxas de juro subsidiadas e isenções ou reduções de alíquotas tributárias incidentes sobre a importação ou aquisição de equipamentos – ou indiretos (abatimento. mas também da aceitação desses pelo mercado135. é a concessão de “subvenção” – isto é. para reforçar o “impulso natural” à inovação exercido pelas forças de mercado sobre o setor produtivo. envolvendo um risco mais elevado do que o da atividade “normal” da empresa. 136. mediante a concessão de bolsas para remuneração de tais profissionais. pode não se traduzir necessariamente em maior capacidade de inovação desse último.134 Sendo o numerador dessa relação incerto por natureza. Entre os principais incentivos às atividades de P&D podem-se citar: a) Redução dos custos de capital aplicado.. “O critério (para definir as áreas estratégicas) é a importância para o futuro do País. a todas as empresas atuantes na economia137 – e os resultados são incertos e. como integrante decisivo do SNI. de outro. no “Plano de Ações” (em fase final de consolidação) em que ela está explicitada. Como tais. menos de 10% do universo total de empresas do País. 138. Na prática. quase sempre. Capacitação tecnológica no Brasil 247 . direta ou por via de isenções fiscais.138 Essa diferença evidencia que o papel desempenhado pelo governo. do país ou mesmo do mundo – tais como fontes de energia. Merece destaque ainda. em alguns casos. esses campos são vistos como merecendo atenção especial do governo.139 Ela implica ainda a necessidade de uma política 137. sujeita. mudanças climáticas etc. que. de um lado. seja em termos de iniciativas específicas para criação e/ou domínio de novos conhecimentos. para especificação dos chamados “setores (econômicos) estratégicos”. a acompanhar e avaliar a eficácia de sua utilização. daí a atenção específica a P&D para elas”. o conjunto das empresas com acesso a tais benefícios é bastante restrito. Ver Wiziack (2007). a questões de segurança e/ou soberania nacional. em tese. resultando em grande medida nos efeitos das chamadas “políticas implícitas”. de duas outras “linhas prioritárias”: a “pesquisa e desenvolvimento em áreas estratégicas” e a “Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento” (CGEE. a inclusão. Note-se que. 2007). ainda.c) Redução dos custos de utilização de serviços científicos e tecnológicos especializados. É uma questão de estratégia nacional desenvolver essas áreas. Essa inclusão parece consistir em uma especificação de campos de conhecimento científico e tecnológico diretamente associáveis à busca de soluções para problemas sociais de ordem mais abrangente. como esses incentivos são oferecidos. Ver CGEE (2007). de difícil avaliação – sua implementação envolve necessariamente a montagem de uma complexa sistemática de gestão. Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE).T&I atual. transcende as fronteiras institucionais de agências e ministérios. Esse conceito de “áreas estratégicas” parece ter alguma correlação – mas não correspondência biunívoca – com o utilizado na Política Industrial. pela concessão. nessa síntese dos objetivos e pressupostos da política de C. de novo. aos controles orçamentários e contábeis inerentes às finanças públicas e habilitada. deveriam ser priorizados para fortalecimento do sistema produtivo. abrangendo. 139. de recursos para remuneração de tais serviços. Vale lembrar. seja de apoio financeiro mais intensivo aos segmentos do sistema científico-tecnológico envolvidos em tais atividades. – ou. como visto adiante. Nassif (2007). por seu peso especial na economia. em projetos contratados junto a instituições do sistema científico-tecnológico (especialmente centros de pesquisa universitários) ou desenvolvidos conjuntamente com tais instituições. 140. por exemplo. isso não parece estar ocorrendo aqui: as políticas estão muito longe de atingir os resultados desejados e. Ver. de atuação proativa sobre o setor produtivo. segundo avaliação da maioria dos observadores. e de ampliação do número de incubadoras de empresas de base tecnológica no País – a maioria dos estudos efetuados sobre o SNI brasileiro tem destacado o baixo nível de resposta àqueles esforços. Resumindo. e. de empresas) “nacionais”. as respostas do setor produtivo têm sido. Veiga (2006). em termos de presença de “marcas” (e. aplicados em outros países com relativa eficácia.140 Em quase todos os pronunciamentos dos dirigentes responsáveis pela condução das políticas referidas acima encontram-se referências a essa falta de resposta do setor produtivo como um “paradoxo a ser ainda superado”141: a baixa participação desse setor. em grande medida. no sentido de desenvolver sua capacidade de inovação (isto é. por exemplo. 141. por exemplo. sua capacitação tecnológica). Chade (2006). 5. portanto. seja nos Estados Unidos e na Organização Mundial de Propriedade Industrial. o já referido reduzido número de pedidos de patentes registrados por empresas nacionais. Ver. o nacional) – e. Com esse objetivo. nos mercados mundiais de bens e serviços intensivos em tecnologia e da participação de tais empresas no fluxo de registro de patentes e outras formas de propriedade industrial. como um dos vetores fundamentais do desenvolvimento do País. pode-se dizer que as políticas de C.explícita. Isso se expressa.T&I implementadas na última década vêm-se baseando nos supostos do modelo dos SNIs: elas visam à constituição e consolidação de um setor produtivo dinâmico. na absorção dos pesquisadores de alto nível que vêm sendo formado pelo setor científico-tecnológico. decepcionantes.T&I no Brasil – o quê não está dando certo? Apesar de expressivos resultados em algumas áreas específicas – principalmente em termos de aumento da participação de trabalhos científicos de pesquisadores brasileiros em revistas internacionais (e do número de citações desses trabalhos). seja no próprio País. 248 Capacitação tecnológica no Brasil . evidentemente. que lhe permitam manter-se competitivo no mercado mundial (que inclui. ensejem ao País uma elevação acelerada de sua produtividade social e o padrão de vida da população. As políticas atuais de C. No entanto. aquelas políticas vêm utilizando mecanismos e instrumentos. “motivado e capacitado” para desenvolver e/ou introduzir continuamente inovações tecnológicas. Ver. para as empresas que o compõem. Capacitação tecnológica no Brasil 249 . através de incentivos econômicos. nos setores mais dinâmicos da economia mundial.T&I é voltado expressamente para “induzir” e “incentivar” o setor produtivo a incorporar a introdução de inovações tecnológicas em suas estratégias de negócios. a introdução de inovações tecnológicas bem-sucedidas deverá reverter em vantagens competitivas em seus mercados respectivos. por exemplo. ii) estimular. no processo de consolidação de suas economias nacionais. b) a experiência resultante das atividades desenvolvidas para esse fim tende a acumular-se. Assim. 144. as “missões básicas” das políticas de C.142 Vale relembrar.T&I seriam as de: i) promover ativamente a formação e desenvolvimento das fontes de inovação externas (às empresas)143 – como os recursos humanos qualificados e o acesso a tecnologias e conhecimentos científicos disponíveis no “ambiente”144 – e sistêmicas (instrumentos e instituições que intensificam a articulação e integração entre o setor científico e o produtivo).não menos importante. No entanto esses pressupostos. resultantes da natureza complementar 142. Mowery e Rosenberg (1993). mas também nas suas equipes técnicas e recursos humanos. o foco principal da política de C. a elevada concentração das exportações brasileiras em produtos de baixo ou médio nível de complexidade tecnológica. são derivados de estudos efetuados sobre os sistemas econômicos de países centrais – e podem não se confirmar na realidade de países periféricos que. não conseguiram eliminar os vínculos de dependência. como é o caso das TICs. 143. com diferentes graus de sofisticação e sucesso. implícitos no modelo dos SNIs. e. universidades etc. mesmo naqueles que mais ferrenhamente se proclamam contrários a qualquer tipo de intervenção do Estado no “livre jogo das forças de mercado”. Mercado mundial. não apenas nessas empresas. Os conceitos de fontes de inovação – internas. contudo. que ele seja explicado: afinal de contas. antes de tudo. as atividades de P&D. e nos demais agentes das cadeias produtivas e de conhecimento envolvidas. especialmente naqueles baseados nos paradigmas tecnológicos mais avançados. por países que se empenharam deliberadamente em expandir sua capacidade tecnológica – e na verdade continuam a sê-lo. além da quase total inexistência de marcas nacionais. literatura. mediante mecanismos utilizados. que a expectativa de eficácia desses mecanismos está baseada nos pressupostos de que: a) o setor produtivo tende “naturalmente” a responder a tais incentivos – já que. externas ou ambientais (às empresas) e sistêmicas – são discutidos em Rosenthal (1995). das quais resultariam as inovações tecnológicas e o desenvolvimento cumulativo das fontes de inovação “internas” das próprias empresas. A “superação” desse paradoxo exige. e. ampliando a capacidade de inovação de toda a sociedade. 146. nos setores mais dinâmicos e intensivos em tecnologias avançadas – especialmente aquelas que consubstanciam o paradigma digital – da classe de empresas já citadas. É particularmente inquietante a progressão da empresa estrangeira na indústria intensiva em recursos naturais (. em si mesma. “As filiais estrangeiras controlam 82% do setor da indústria baseada em ciência. foi revogada. ver Wiziack (2007).1. em 1985. e 68% da produção contínua. inovação. e o déficit setorial foi de US$ 7. de um lado.. presente no texto da Constituição de 1988. cujo setor produtivo apresenta diferenças significativas. para 24%. 147.4 bilhões. o que é. sem dúvida.147 b) A predominância quase absoluta. no marco das medidas voltadas para a “inserção competitiva do Brasil no mercado mundial” (ou “adesão incondicional às premissas do Consenso de Washington”) implementadas a partir de 1990. Deve-se reconhecer que a utilização de recursos humanos e serviços tecnológicos nacionais contribui para o desenvolvimento do setor científico-tecnológico do País. 5. com relação às antigas metrópoles (ou às novas metrópoles que as substituíram). de subsidiárias de empresas multinacionais. ver Iedi (2007).” Para detalhes.. portanto. de decisões de política de inovação) são situados nos países-sede. Segundo Ricupero (2006). com relação aos dos países centrais – diferenças essas que se refletem. em 2002” (LESSA. 73% da diferenciada.146 essas empresas. Para exemplos significativos dessa contribuição. cujos centros de controle estratégico (e. A distinção entre empresas “nacionais” e “brasileiras”. Esse nos parece ser o caso do Brasil.de seus setores produtivos. Elas constituem parcela considerável do segmento da “indústria brasileira” designado como “intensivo em ciência” (ou de “alta tecnologia”) – embora atuem apenas nas etapas finais da extensa cadeia de valor que caracteriza as redes globais de produção dos bens...1 bilhões. merecem destaque as seguintes: a) A forte participação. na resposta do setor a essas últimas. importante – mas não constitui. Algumas especificidades brasileiras Entre as principais “peculiaridades” do setor brasileiro. 2007). nos efeitos diretos exercidos pela implementação das políticas referidas anteriormente e. dada sua relevância como “vetor natural” de inovação tecnológica – e também a de seu peso na balança comercial do País148 – o segmento do setor produtivo diretamente ligado às TICs tem recebido desde há muito um “tratamen145. Ressalte-se que.145 Tidas como “nacionais” para todos os efeitos legais. de outro. 148. tendem a usufruir parcela considerável dos incentivos – mas sua contribuição para a ampliação da produção “nacional” de inovações é no mínimo questionável.) cresceu de 15%. 250 Capacitação tecnológica no Brasil . no reduzido universo das grandes empresas. “as importações brasileiras no setor (eletroeletrônicos) em 2005 chegaram a US$ 15. A Embraer é um exemplo vivo de construção sistemática de capacidade tecnológica por meio de atuação eficaz do setor público – particularmente das forças armadas – começando pela criação do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA)..150 c) A quase total inexistência de empresas “nacionais” nos setores referidos anteriormente com participação. concorre com sua marca própria em um mercado extremamente dinâmico. consubstanciadas em produtos. passando pela do Centro Tecnológico da Aeronáutica e. que. A possibilidade de se copiarem (ou licenciarem) inovações introduzidas por empresas-líderes do setor tende a apresentar-se como 149. BNDES e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)”. em que sua aplicação impulsiona a introdução de inovações. contudo. A consolidação desse setor pode ser vista como uma contribuição importante de ampliação da capacidade de inovação.to diferenciado”. Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) está sendo discutida pelo ministério do Desenvolvimento. 151. remanescente da tentativa de se criar uma indústria nacional de computadores no País.. Cabe aqui uma ressalva para a Embraer – um dos três exemplos sempre citados. Capacitação tecnológica no Brasil 251 . software aplicativo e terceirização de capacidade consubstanciada em recursos humanos especializados (“cabeça de obra”. insumos e bens de capital já referendados pelo mercado interno – resquício do processo de industrialização centrada na “substituição de importações” que lhe deu origem. segundo alguns estudiosos). além dos benefícios fiscais regidos pela chamada “Lei de Informática”. rege a concessão de benefícios fiscais à produção local de bens definidos como “de informática” e às atividades classificadas como “de P&D” das empresas envolvidas – abrangendo quase todo o setor aqui referido. Assim. Ver Anpei (2007). nos mercados mundiais desses bens. 150. tanto no que diz respeito ao desenvolvimento do PD – criação de novas TICs – quanto ao dos demais setores econômicos. na década de 1950. Para detalhes.149 os setores de “semicondutores” e de software figuram explicitamente entre os segmentos “estratégicos” contemplados na PITCE. processos. de que “. Se a exclusão do MCT não se dever a erro gráfico (e for confirmada). a da empresa estatal Embraer. no que respeita aos incentivos governamentais. Indústria e Comércio (MDIC). seja como concorrentes. finalmente. uma nova Política Industrial. isso pode configurar uma alteração significativa na efetividade das políticas discutidas neste trabalho. seja como integrantes das “cadeias globais de valor”. em sua grande maioria.151 O desenvolvimento atual do setor de software também merece destaque – lembrando-se. embora importe a maioria das peças e componentes de alta densidade tecnológica incorporadas em seu produto. em que a inovação constitui fator decisivo de vantagem competitiva. quando se fala de capacidade tecnológica nacional – que. as empresas que o constituem atuam (e vêm tentando penetrar no mercado mundial) na ponta dos serviços. ver Tapia (1995). d) A histórica tendência da indústria brasileira à absorção de tecnologias importadas. A “Lei da Informática”. Chama a atenção notícia recente sobre declarações do “Ministro do Desenvolvimento”. ou substituir. decorrência direta dessas características do setor produtivo. mesmo quando as políticas já são orientadas para incentivar setores específicos. que apontam todo indicador de elevação das importações como “evidência” de aumento da produtividade (e de “desenvolvimento”). mais intensivos em tecnologia. que os dominam – pouco ou nada contribuindo para o desenvolvimento daquela capacidade que tanto se deseja criar. Evidentemente.153 O baixo nível de eficácia – apesar dos aperfeiçoamentos recentes – dos instrumentos de política de C. 153. É interessante notar que muitos estudiosos e técnicos do governo parecem ignorar ou menosprezar esse problema. 154. exijam adaptações às condições locais e/ou recebam contribuições significativas desenvolvidas pelas próprias filiais. de novo.152 Essa tendência.T&I utilizados pelo setor público constitui. 27/6/2005. nesse sistema. essa não diferenciação acaba por favorecer prioritariamente as empresas de capital estrangeiro. as exceções já apontadas: no período de 1994 a 2004. necessariamente. as tecnologias tendem a ser definidas pelas matrizes – ainda que. já que significaria mais importação de bens de capital. superação daquelas distorções estruturais do SNI brasileiro. Ver adiante. (Desequilíbrios. Nas subsidiárias de multinacionais. Ressalvem-se. que configura (ou pelo menos evidencia) um dos principais fatores determinantes da condição de subdesenvolvimento – a dependência tecnológica – reflete-se claramente em pesquisas recentes sobre a atividade inovativa das empresas brasileiras. embora a principal deficiência (na verdade. como se o “cada vez mais do mesmo” pudesse levar a. em muitos casos. por exemplo. e tendem a insistir unicamente na necessidade de se ampliarem e aprofundarem aqueles mecanismos. independem da composição estrutural desse setor. não há aqui qualquer implicação negativa quanto à relevância da importação – muito menos. seja o insignificante número de patentes registradas por empresas “brasileiras”.caminho mais curto. no que concerne a empresas de capital nacional. Editorial de O Globo. Por isso. a de bens de capital. A referência é apenas à ideia implícita de que ganhos de produtividade só podem ser obtidos. e da origem (e propriedade) do capital das empresas atuantes nos diversos segmentos e cadeias produtivas que o compõem.154 152. e até mesmo no “senso comum” de muitos economistas. seguro e de menor custo do que o desenvolvimento próprio de inovação. a meu ver.. e a baixíssima participação de “marcas nacionais” no mercado mundial – indicadores evidentes da baixa capacidade de inovação do “setor produtivo nacional” – persiste em muitos meios a “autoilusão” de que o fortalecimento daquele sistema. e a elevação dessa capacidade. Isso.. de tais importações. sintoma) apontada. Assim.) 252 Capacitação tecnológica no Brasil . uma parcela significativa dos benefícios concedidos foi alocada à Petrobras e à Embraer. evidentemente. acabam.155 Uma questão básica que se coloca. tornando ineficazes as políticas atuais.2. relacionado com todo o processo de formação econômica do País. Capacitação tecnológica no Brasil 253 . o fato de uma empresa desenvolver projetos em parceria com instituições de pesquisa. que pagam imposto sobre a renda apurada e podem beneficiar-se dos incentivos fiscais. Mas essa última é assunto longo. no contexto brasileiro. Aqui. Esses pontos são discutidos abaixo em maior detalhe. Essa questão está de certa forma relacionada com a do papel das empresas estrangeiras (especialmente as multinacionais) na economia brasileira. marcas nacionais) (3). essa cadeia – por meio da qual as atividades de P&D (1) levariam necessariamente à geração/introdução de “inovação” na empresa (2). e/ou atividades com participação de recursos humanos especializados – critérios usuais definidores de tais atividades – não implica necessariamente a intenção de gerar inovação significativa (ainda que possa levar a inovações incrementais e/ou capacitação adicional de seu pessoal). Algumas implicações das distorções Uma consequência direta das distorções estruturais apontadas anteriormente é a “quebra”. é em que medida as atividades de P&D desenvolvidas por tais subsidiárias vão alimentar a cadeia de causalidades referida. da cadeia de relações de causalidade direta entre o exercício de “atividades de P&D”. e resultando finalmente no objetivo visado pela política. focadas na concessão de incentivos e benefícios financeiros (5). apresenta várias descontinuidades e/ou desvios. levando à elevação da capacidade tecnológica e de inovação do Brasil. Ver Lessa (2007). envolvendo muitas atividades não dirigidas para a geração de inovação. 1. e foge em grande medida ao problema em discussão aqui: o peso da contribuição de suas atividades de P&D para o funcionamento de um Sistema Nacio155. E a grande maioria das empresas. pelos estudiosos. Nos setores intensivos em ciência (em que 82% das empresas são multinacionais). no Brasil.5. a “elevação da capacidade de inovação nacional” (4). em geral. Assim. essas são também as empresas grandes. pelas empresas e o desenvolvimento da capacidade de inovação (isto é.T&I implementadas nos países centrais. É amplamente aceito. ensejando a criação de novos “ativos tecnológicos” (patentes. por sua vez. muitas vezes. a fim de incentivar as empresas a se engajarem em atividades de P&D. portanto. capacidade tecnológica) do País – um dos principais pressupostos das políticas de C. O conceito de “atividades de P&D das empresas” é extremamente vago e abrangente. que atuam em mercados em que a dinâmica da concorrência é determinada pela inovação. estes. e dos benefícios por elas esperados da inovação. são subsidiárias de multinacionais. que a motivação determinante para que empresas busquem inovar deriva de seu posicionamento em seus mercados. em produtos e/ou processos. essas tendem a ser apropriadas – sob a forma de patentes. Curiosamente. em princípio. Tais como adaptação do produto. é válido afirmar-se que. Isso. insistem – pelo menos em público – em desconsiderar esses fatos. no caso das empresas de software. capacitado a impulsionar a elevação do padrão de vida da sociedade. A amplitude do conceito de “inovação” permite supor-se que. tradução das mensagens. No final das contas. porque.. em segundo. por dois motivos principais... pelo acirramento da concorrência entre os grandes blocos de capital nacionais (dos países centrais) e pela crescente participação do conhecimento científico-tecnológico na composição do valor adicionado dos bens e serviços produzidos e transacionados nesses mercados. visando mais a buscar soluções para problemas específicos das empresas no mercado local157 (nada contra isso – pelo contrário. elas não sejam indispensáveis para tal resultado. consultores e dirigentes. muitos acadêmicos. utilização de materiais mais acessíveis ou mesmo.156 Sem menosprezar algumas importantes vantagens resultantes daquelas atividades para o fortalecimento do sistema científico-tecnológico – parcerias com laboratórios e centros de pesquisa.158 2. num ambiente caracterizado pela globalização dos mercados. Nicolsky (2004). formação de pessoal especializado. mesmo no caso pouco provável em que se gerem inovações. 254 Capacitação tecnológica no Brasil . dou a essa finalidade um grande valor!) e/ou. podem levar à elevação da produtividade da empresa e. por exemplo. assim como aperfeiçoamento da formação da força de trabalho ou introdução de novos bens de capital. evidentemente – como parte de redes corporativas globais. porque. 157. do inglês para o português. atuantes em instituições que se dedicam a estudar o SNI brasileiro e a fomentar seu aperfeiçoamento. portanto. é claro. de sua competitividade em seu mercado específico – além de contribuir para o aumento da produtividade geral da economia. Sob esse ponto de vista. 158. apontando tais atividades de P&D das empresas multinacionais como contribuições “legítimas” para o desenvolvimento da capacidade nacional de inovação. num Brasil caracterizado pela coexistência 156. todas as atividades de P&D tendem a resultar em inovação – embora. Ver. parece mais realista supor-se que as subsidiárias de empresas multinacionais desenvolvem suas atividades de P&D. – pela matriz. essas atividades de P&D não são voltadas para geração de inovações significativas. E. pelo menos no que respeita à empresa. a contribuição dessas atividades tende a ser muito reduzida. com relação ao objetivo já citado anteriormente. integrando-se a projetos de maior vulto – de interesse da matriz da empresa. Em primeiro lugar. segredos industriais etc. em sua maioria. pequenas inovações incrementais.). não em resposta aos incentivos recebidos do governo.nal de Inovação eficaz. muitas vezes. mas movidas por interesses estratégicos da corporação – mas acabam beneficiando-se daqueles incentivos. transferência de conhecimento avançado – minha opinião é que. Em muitos casos.. que funcionam como subsídios (sempre bem-vindos. quanto à pouca eficácia das políticas que vêm sendo implementadas. Para a corrente hoje predominante. incluindo-se aí as políticas de C. O item “produção de novos ativos tecnológicos” comporta poucos comentários. Por outro lado. Especialmente aquelas a que Stern. como já visto. 160. que confirma o argumento aqui desenvolvido. 1. Para muitos autores. porém. a capacidade inovativa 159. Porter e Furman (2000) chamam de “innovation of new-to-the-world technologies”. esse termo parece indicar apenas a “localização” da empresa ou agente econômico habilitado a utilizar a inovação em seu sistema produtivo. Ver p. pode-se afirmar com segurança que as inovações resultantes das “atividades de P&D” beneficiadas pelos incentivos poderiam ser enquadradas naquela primeira categoria. Com relação ao objetivo declarado da política – a “elevação da capacidade de inovação nacional” – existe claramente um sério problema de entendimento (ou. é preciso lembrar-se que o objetivo principal visado por essas últimas é o de se constituir e consolidar um SNI capaz de assegurar a competitividade da economia brasileira no mercado mundial – e essa depende da capacidade de geração de inovações significativas para esse mercado. foi 283 (abaixo dos da Rússia. Capacitação tecnológica no Brasil 255 .160 4. porém. evidencia claramente a deficiência do SNI do País. de desentendimento). já que. em termos de patentes registradas nos Estados Unidos e na OMPI. como fator determinante da “riqueza das nações”. quanto ao significado do conceito.747. Apenas a título de comparação. quem sabe. com outros que atuam bem próximos à fronteira tecnológica mundial – o bem conhecido (e pouco lembrado) “dualismo estrutural” – a redução desse fosso deve constituir um dos objetivos fundamentais de toda política voltada para a promoção do desenvolvimento econômico. assim como de produtos com marcas brasileiras concorrendo nos mercados mundiais. na composição do valor adicionado gerado em cada país. o baixíssimo desempenho do Brasil. Por outro lado. especialmente no que se refere à qualificação “nacional”. em 2005. ou. 3. vem fazendo com que a propriedade dos “ativos tecnológicos” resultantes da produção de inovações seja cada vez mais considerada. Ver Amorim (2007)..159 Ressalvadas algumas exceções importantes. na academia (e na política?) brasileira. o número de pedidos de patentes registrados pelo Brasil na OMPI. o peso crescente desses últimos. no melhor dos casos. na teoria econômica moderna. Índia e China).. a nacionalidade dos indivíduos que participam da “geração da inovação” – pouco importando a dimensão estratégica das decisões que comandam essa geração e a apropriação dos rendimentos econômicos dela decorrentes. enquanto que a Coreia do Sul registrava 4.T&I.de segmentos econômicos tecnologicamente atrasados. seja pela transferência de conhecimentos de ponta e criação de oportunidades de crescimento profissional para essas pessoas. a elevação da capacidade inovativa nacional. uma grande maioria das empresas nacionais fica excluída do acesso ao benefício dos incentivos fiscais. em todos os países do mundo. Elas contribuem. Tradução e ênfase nossas. em parte. sem se traduzirem em contribuição significativa para o atingimento do objetivo central da política. Porter e Furman. cujas atividades de P&D ou não resultam em inovações relevantes ou. são: a) Na forma como as atividades de P&D estão definidas hoje. como temas para estudo mais detalhado. como consequência deles – as políticas atuais apresentam ainda algumas disfunções importantes. que constituem um dos principais mecanismos daquelas políticas. 2000. a busca. 1. perdem muito de sua eficácia. 162. centradas no estímulo às atividades de P&D. portanto. as políticas de C. como o fato de que. porque: uma parte considerável dos incentivos é apropriada por empresas multinacionais. Segundo algumas estimativas. (2000) referem-se a “national innovative capacity” como “a capacidade de um país – “tanto como entidade política quanto econômica” – de produzir e comercializar um fluxo de tecnologia inovativa no longo prazo”. Os autores associam a capacidade inovativa àquilo a que chamam de “inovação de tecnologias novas-para-o-mundo”. Ver Chesnais (1988). na medida em que abrem espaço para que empresas atuantes em setores de alta tecnologia – principalmente 161. Do ponto de vista das multinacionais. de capital) esteja nas mãos de cidadãos integrantes de sua sociedade – de gerar inovações que lhes permitam assegurar sua competitividade nos mercados mundiais mediante a apropriação dessa parcela da renda. 163. quando essas ocorrem. tendem a gerar ativos tecnológicos que são apropriados pela corporação global. seja por meio da absorção de pessoal de alto nível. nosso argumento central é o de que. Ver Salgado (2007). 256 Capacitação tecnológica no Brasil . pelo recurso tecnológico fundamental – o capital humano disponível – constitui um importante instrumento de concorrência e um dos fatores impulsionadores do processo de descentralização geográfica de suas atividades de P&D. Assim.nacional de um país está associada diretamente à capacidade de “suas” empresas – isto é. Ver Stern.163 Outros pontos que merecem ser citados. Resumindo a discussão.T&I. Não se entenda essa conclusão como menosprezo à importância das atividades de P&D das multinacionais para o fortalecimento do SNI brasileiro.162 Além dos pontos já citados – e/ou. para a formação de recursos humanos especializados. devido a características específicas do setor produtivo brasileiro. e muito. por calcularem o imposto de renda a pagar com base no “lucro presumido”. p. na legislação que as regulamenta.161 5. apenas 6% das empresas teriam possibilidade de acesso a esse benefício. Stern et al. aquelas cujo controle tecnológico (e. os incentivos fiscais concedidos às mesmas ensejam oportunidades para “elisão fiscal”. multinacionais grandes – classifiquem como P&D atividades rotineiras de seu processo produtivo. c) Adicionalmente. 166. assim.164 6. que é o setor de software. no Brasil. pelo menos. à captação de recursos humanos especializados brasileiros – a famosa “fuga de cérebros” – inclusive aqueles mais necessários à consolidação de um dos poucos setores de alta tecnologia em que começa a se desenvolver um segmento nacional promissor. É a participação nos mercados globais desses setores – com marcas próprias ou. revisemos rapidamente as ideias norteadoras do trabalho: partimos da suposição.. b) Mesmo quando de fato aplicados a atividades de P&D. Capacitação tecnológica no Brasil 257 . especialmente nos setores mais dinâmicos e intensivos em tecnologia. Ver detalhes impressionantes em César (2007). pode-se ver também. sua vantagem competitiva e reduzindo ainda mais as oportunidades para criação de empresas nacionais. passamos a identificar algumas limitações estruturais desse setor. sugerindo que caberia ao “subsistema político-institucional” do SNI – que abrange todo o conjunto de atores e instituições compreendidos no setor público. 165. para 164.165 A seguir. especialmente nos setores mais intensivos em tecnologia. A título de conclusão Para concluir estas considerações. como fornecedores especializados de subconjuntos e componentes. the lack of coordination between their main aims and those of the other national institutions involved in industrial and technological policies can jeopardize national economic performance” (p. um significante reforço. e até subsídio. central ao modelo dos Sistemas Nacionais de Inovação. A sigla acima refere-se a National Innovation System.. cujas ações podem exercer influência sobre aqueles resultados166 – a função básica de corrigir tais distorções. cujos estudos se baseiam nos SNIs dos países centrais. de que o principal agente responsável pela concretização de seus resultados – e. 1).since public institutions responsible for conventional macroeconomic policies are part of the NIS. aquele que expressa sua eficácia – é o setor produtivo “nacional”. aumentando. “. portanto. Para a maioria dos autores. esses incentivos acabam por contribuir para o avanço tecnológico das multinacionais. integrantes de cadeias de valor – que criará a motivação necessária para que essas empresas se sintam “impelidas” a inovar e. esse ponto não recebe ênfase especial – é “obvio” que o setor produtivo é nacional.. a de visar à formação/consolidação de empresas nacionais. Na pertinente observação de Nassif (2007).. isto é. nesses incentivos. quando afirma.tanto a empresa transnacional quanto a empresa de propriedade de brasileiros podem ser igualmente oportunistas ou construtivistas”. Para não nos alongarmos no tema. segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia.tal. principalmente.. Não parece ser coincidência o fato de que. a maioria dessas empresas (que inovam) terá proprietários brasileiros”.. quando da privatização da empresa. o governo brasileiro se preservou o direito sobre esse controle. cabendo 62% a somente duas.168 167. um ponto-chave da questão: num contexto de crescente financeirização mundial e volatilidade do capital. pois está efetivamente contribuindo para o desenvolvimento sustentado do País”. (Desequilíbrios... a seguir. Discordamos. A utilização dos incentivos atuais evidencia isso: “(. quando insinua que tudo é questão de “. de que “o capital estrangeiro é ruim e o capital nacional é bom”.) de 1994 a 2004. Nesse ponto.certamente. muito menos. que “. que “.é tempo de se redefinir o conceito de empresa nacional” e que “. porém. concordamos plenamente com Nicolsky (2005)... essa empresa é nacional. 27/6/2005. É preciso abstrair-se totalmente a “lógica” da concorrência internacional – e. em certa medida... Editorial de O Globo. recorramos a um exemplo: o fato de a Embraer ter sócios minoritários estrangeiros não a torna menos “nacional” – pelo menos até agora. e (b) o fato de um produto aqui fabricado pela multinacional ser internacionalmente competitivo contribui para o “desenvolvimento sustentado” do Brasil. o autor reconhece. o significado do conceito de “capacidade inovativa nacional” – para supor que: (a) a inovação eventualmente gerada por uma multinacional no País se irá transformar em ativo tecnológico nacional. Menos mal. mobilizar (e exigir) todos os incentivos e recursos disponibilizados pelos demais segmentos do SNI. 258 Capacitação tecnológica no Brasil . como a empresa se posiciona ante o processo de inovação”. apenas 109 fizeram uso dos incentivos fiscais à inovação. o problema parece centrar-se na nacionalidade do “núcleo de controle” da empresa – que. qualquer que seja a sua estrutura de proprietários. expressão de uma visão maniqueísta estreita. Gazeta Mercantil. ou mesmo para a formação da capacidade tecnológica nacional – e.. mais uma vez. em geral. Felizmente. e que “se a empresa se empenha em gerar em nosso País as inovações de que necessita para ser internacionalmente competitiva nos produtos fabricados no País. através da golden share em mãos da União Federal (Embraer 2005 – Resultados e Demonstrações Financeiras. da propriedade de parcelas do capital financeiro por ela utilizado. Aqui reside.167 É importante ressaltar-se. mas pode independer. em suas conclusões.) 168. que essas ideias não implicam qualquer negação da grande contribuição das empresas multinacionais para a economia. enquanto o controle está nas mãos do grupo de proprietários nacional. talvez. das mais de 70 mil companhias brasileiras com 10 ou mais funcionários. Petrobras e Embraer”. 3/4/2006).... está diretamente relacionado com o do capital social da mesma. AMORIM.. In: G. 2006. 17(11):661-671. ANPEI. Freeman. F. altamente bem-vindo – como o é. Acesso em: 9 de julho 2007 ARRUDA.293. Berkeley: UC Press.br. com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). afirma ministro do Desenvolvimento.anpei.T&I privilegiem a consolidação do setor produtivo nacional não implica qualquer rejeição ao investimento estrangeiro direto (IED) ou discriminação contra as empresas multinacionais já atuantes no País. 2007 CHADE. The Power of Ideology – The Quest for Technological Autonomy in Argentina and Brazil. C. a proposição de que as políticas de C. 16 de outubro 2006. O Estado de São Paulo. 8 de março 2006. também. jun. Soete (Eds. e os governos federal e de Minas Gerais”. London: Pinter Publishers Ltd. Microsoft leva sangue novo brasileiro para trabalhar na matriz. J. HOLLANDA. 1987. S. 1988.Capital estrangeiro desse tipo é. L. de C. July 1971. Sob esse aspecto. o capital que vem sendo negociado pelo ex-presidente de uma multinacional do ramo automobilístico. com a participação cada vez mais significativa de investimentos de capital estrangeiro – parece ser uma boa evidência da validade dos argumentos aqui apresentados. para criação da Companhia Brasileira de Semicondutores (CBS)169 e similares. Em suma. R. 27 de jun. R. L. 5. G. Dosi. Ver de Oliveira (2007). CHESNAIS. Inovação Tecnológica no Brasil: A indústria em busca da competitividade global. País fica atrás em ranking de patentes. VERMULM. Política industrial será reformulada. Nelson. em Notícias FUNCEX – IEA. ADLER.. Brasil é 27o em ranking de patentes. Silverberg. São Paulo: Anpei.org. O Estado de São Paulo. Capacitação tecnológica no Brasil 259 . o exemplo que vem sendo dado pela China e pela Índia – países em que o fortalecimento dos Sistemas Nacionais de Inovação vem puxando seu crescimento econômico acelerado. 30 de julho 2007 CGEE. em JC e-mail 3. E. C. Towards a System of System’s Concepts.. Notícias CGEE n. Ministro Rezende conta em entrevista que encaminhamento pretende imprimir à C&T no País até o final do governo. M.970. In: Management Science. 169. Technical Change and Economic Theory.. R. CÉSAR.. M. em JC email 2.).. “com grupos empresariais brasileiros e estrangeiros. Referências bibliográficas ACKOFF. www. em princípio. 2007. Multinational Enterprises and the International Diffusion of Technology. Valor Econômico. MEIRA.. cit. 11 de junho 2006. Paulo. cit. HOU. C. 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Introdução O reconhecimento da importância dos processos de inovação e mudança tecnológica na evolução do capitalismo e na competitividade do setor produtivo ganhou renovado vigor a partir das duas últimas décadas do século XX. arranjos produtivos e sistemas de inovação Helena M. Acrescenta-se ainda que o desenvolvimento tecnológico e as modificações conexas nas atividades organizacionais e institucionais ao serem considerados como principais elementos da competitividade de empresas e de países lançam novas luzes sobre a necessidade de políticas para sua promoção. os quais possibilitam que empresas e demais organizações acumulem capacitações e desenvolvam novos produtos e processos.Inovação. Este entendimento é analisado neste texto. passando a se concentrar nos processos sistêmicos para a geração e aquisição de conhecimentos. o foco deixa de ser em inovações individuais. o objetivo do capítulo é retomar as discussões sobre o avanço no entendimento do conceito de inovação – assim como de seus desdobramentos: arranjos e sistemas produtivos e inovativos – visando descortinar suas implicações para políticas. O capítulo encontra-se estruturado da seguinte forma: o item 2 examina como a visão schumpeteriana sobre inovação foi gradualmente transformada a partir do final dos anos 1960 desaguando na formulação do conceito de sistemas de inovação. Desta maneira. e o item 4 introduz a experiência brasileira na utilização e no desenvolvimento deste Inovação. o item 3 discorre sobre as implicações para políticas dos principais avanços no entendimento de inovação e de sistema de inovacão examinando suas vantagens e desafios como novo instrumental analítico e normativo. arranjos produtivos e sistemas de inovação 263 . A realização de estudos teóricos e empíricos tem gerado significativo acúmulo de conhecimentos levando a mudanças fundamentais nos referenciais e modelos analítico e de políticas para inovação. Lastres José Eduardo Cassiolato 1. Dentre os principais avanços nota-se que. M. organizacionais. 264 Inovação. a economia da inovação surgiu exatamente defendendo teses opostas à teoria neoclássica. consistia num processo dinâmico dependente tanto da geração e uso das inovações. Socialismo e Democracia (1942). Geralmente a discussão sobre as fontes mais importantes de inovação. Ampliou-se a compreensão da inovação especialmente a partir do final dos anos 1960.conceito de forma a torná-lo operacionalmente capaz de compreender e orientar processos de geração. transferida etc. transferidos. transformados em informações. Na conclusão são retomados os principais elementos da análise realizada e discutidas suas consequências para a formulação de políticas no Brasil. arranjos produtivos e sistemas de inovação . a economia da inovação propõe a necessidade de uma segunda importante diferenciação entre as distintas formas de conhecimento (tácitas e codificadas). de fato podem ser reproduzidos. produção e difusão (visão linear da inovação). a inovação era vista como ocorrendo em estágios sucessivos de pesquisa básica. Os conhecimentos codificáveis. desenvolvimento.170 As contribuições originais de Schumpeter têm sido qualificadas e aprimoradas por uma série de autores que. 2. para quem o crescimento da economia. polarizava-se entre aqueles que 170. Ver Teoria do Desenvolvimento Econômico (1912). pois sua natureza está associada a processos de aprendizado. Até então. que poderia ser comercializada.. Inovação e sistemas de inovação: avanços na compreensão Pode-se afirmar que a forma pela qual os economistas do mundo inteiro entendem a inovação é muito influenciada por J. tecnológicos. em primeiro lugar. é extremamente difícil. estocados. quanto de sua difusão. e sua consequente transmissão. Os principais avanços no entendimento da inovação derivam. uso e difusão de conhecimentos. comercializados etc. Já a transformação dos conhecimentos tácitos em sinais ou códigos. Neste esforço os avanços (produtivos. adquiridos. institucionais etc. 1966). os quais são totalmente dependentes de contextos e formas de interação sociais específicas (POLANYI. mediante a incorporação do progresso técnico em suas análises. da diferenciação de informação e conhecimento. bem como do seu desenvolvimento de longo prazo. pretendem entender a dinâmica capitalista atual. e (ii) considerava a tecnologia como fator externo e uma “quase mercadoria”. Ciclos Econômicos (1939) e Capitalismo. pesquisa aplicada. a qual: (i) tomava informação e conhecimento como sinônimos. Destaca-se inclusive que. Mais do que diferenciar informação de conhecimento.) resultantes de processos inovativos continuam sendo considerados como fatores básicos na formação dos padrões de transformação da economia. Schumpeter. Daí a conclusão de que “inovação é muito mais do que P&D”. isolado e independente. nota-se o seguinte reconhecimento: Os principais atributos dos casos de sucesso inovativo eram as ligações com diversas fontes de informação científica e tecnológica tanto “inter171. Esta frase no original “innovation is much more than R&D” foi cunhada por H.(i) atribuíam maior importância ao avanço do desenvolvimento científico (science push) e os que (ii) enfatizavam a relevância das pressões da demanda por novas tecnologias (demand pull). SAWERS. 1959). Brooks nos anos 1980. As atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) se bemsucedidas podem resultar em invenções. No entanto. Visão essa que até os anos 1970 orientava grande parte das políticas para o desenvolvimento científico e tecnológico de países e instituições internacionais. conhecimentos resultantes tanto das atividades e experiências acumuladas pela empresa com sua própria atuação. STILLERMAN. Uma das contribuições clássicas na literatura de inovação discute o porquê de algumas invenções rapidamente se transformarem em inovações. Sublinha-se o entendimento que parcelas importantes das capacitações produtivas e inovativas são igualmente tácitas e emanam de processo de aprendizado. não linear e capaz de envolver. demais atores e com o ambiente que a cerca. Rompeu-se definitivamente com a então usual visão restrita às atividades de P&D – e dicotômica – que colocava como antagônicos os impulsos advindos da oferta ou da demanda de conhecimentos (science push versus demand pull). arranjos produtivos e sistemas de inovação 265 . fazendo. produzindo. Dentre as mais importantes conclusões que acompanharam a ênfase conferida ao entendimento das diferentes condições oferecidas pelo ambiente local e nacional onde se realiza o processo de inovação. mas sim como processo. invenções por mais importantes que sejam não necessariamente transformam-se em inovações. assim como de sua interação com outras empresas. Como consequência as políticas para CT&I também passaram a alternar a ênfase na geração de oferta com o estímulo e organização da demanda.171 Ressalta-se inclusive um possível equívoco oriundo da tendência de confundir invenção com inovação. explicitando a noção de que P&D é apenas uma parte do processo de inovação. inclusive simultaneamente. Inovação. O estudo de Mowery e Rosenberg (1979) – e outros que os seguiram – colocou claro a armadilha de separar e até considerar como alternativos os dois lados do que passou a ser considerado como um mesmo processo. Seguiu-se a consolidação desse entendimento da inovação não mais como um ato pontual. usando e interagindo e não apenas de processos de busca relacionada aos avanços da ciência e tecnologia. outras demorarem anos e até séculos e outras jamais (JEWKES. instituições de ensino e pesquisa. até aquelas entre empresas de uma mesma cadeia produtiva ou mesmo concorrentes. A engenharia reversa mostrava-se como importante forma utilizada pela grande maioria das empresas para apropriação de conhecimentos. tecnológicas. vendas. 1982a).. uma vez que possibilitavam tanto o aperfeiçoamento de processos. exigia considerar e atuar sobre os condicionantes do quadro macroeconômico. É importante notar que. production and markets have been an important aspect of the institutional changes introduced in the successful national innovation systems” (FREEMAN. de educação e de organização do trabalho nas decisões e estratégias tecnológicas – já sinalizava a definição de Sistema Nacional de Inovação (SNI) que foi explicitada no livro sobre a evolução do caso japonês (FREEMAN. contratação de recursos humanos etc. conforme observado por diversos autores latino-americanos e caribenhos. áreas científicas. enquanto as que tinham tido sucesso resultavam de tentativas explícitas de entender as necessidades dos mesmos. Algumas inovações falhavam devido à falta de comunicação com os usuários. e das políticas para sua mobilização. 266 Inovação. o entendimento da dinâmica industrial e tecnológica. ressaltando a relevância das articulações e os fluxos de conhecimentos entre atores produtivos da mesma cadeia de produção. institucional e financeiro específico dos diferentes países e da relação de cada país com o sistema mundial (FURTADO. 1987). A acumulação de capacitações internas às empresas colocava-se como fundamental para a inovação. desde os anos 1970. principalmente. produção.nas” – realização de atividades de P&D. quanto a interação com o ambiente externo e. scientific institutions. quase sempre por meio de processos interativos e cooperativos. político. o entendimento e o uso de conhecimentos trazidos de fora. quanto “externas à firma” – destacando-se desde as relações tradicionalmente vistas como cruciais entre empresas e instituições de ensino e pesquisa (IEPs). Que a frequência e intensidade das relações de cooperação refletiam diferenças relativas aos distintos atores envolvidos. treinamento. Daí a preocupação com a relação entre empresas e principalmente entre produtores e usuários e com a formação e uso de redes formais e informais de inovação. R&D facilities. o reconhecimento do caráter sistêmico da inovação ganhou momentum impulsionado principalmente pelos trabalhos de Freeman e seus seguidores: “the ‘coupling mechanisms’ between the education system. Essa contribuição – que também reconhecia a fundamental influência dos sistemas financeiros. arranjos produtivos e sistemas de inovação . A partir do início da década de 1980. atividade e natureza das inovações (incrementais ou radicais) e dependiam significativamente de políticas diretas ou indiretas de CT&I. marketing. Nessa perspectiva. Ênfase fundamental foi dada à observação de que esse contexto macro se constitui em “política implícita”.1961. Nessa relação simbiótica. arranjos produtivos e sistemas de inovação 267 . A inovação passou a ser vista como um processo de aprendizado não linear. 1985. 2003). selecionar. Inovação. econômicas e tecnológicas tiveram evidentes implicações para a formulação de políticas na última década do século XX (DOSI et al. OCDE.. 2002). a importância do conhecimento tácito e o desenvolvimento do conceito de sistema nacional de inovação. transformar e internalizar a tecnologia importada. Isso ressalta as especificidades nacionais. assim como a relevância de mobilizar as articulações entre atores. Ao contrário. uso e difusão de inovações. 1988.172 Especialmente relevante foi o entendimento que os processos de inovação e de difusão se determinam mútua e simultaneamente. cumulativo. adquirir e difundir tecnologias. 2005. dificilmente replicável. 1992b). 172. O avanço do entendimento do processo. Para uma discussão sobre as convergências entre as escolas estruturalista latino-americana e schumpeteriana ver Cassiolato et al. o papel das redes de cooperação e das parcerias estratégicas. copiar. Ver também Sagasti (1978) e Coutinho (2005). 1988. portanto. aliada às vantagens da abordagem integrada para questões sociais. Nota-se a dupla característica desta nova geração de políticas: a inovação passa a ser o mais importante componente das estratégias de desenvolvimento – e não apenas das políticas de C&T ou das políticas industriais – e as políticas a ela direcionadas passam a ser entendidas como políticas para sistemas de produção e inovação. 1971). regionais e locais dos processos de geração. FREEMAN. é necessário muito conhecimento para poder interpretar a informação. O processo inovativo é então visto como resultado de uma aprendizagem coletiva. Ambientes diferentes onde se encontram as empresas e outros atores são associados a diversos padrões de avanço tecnológico. que pode dificultar e até anular as políticas explícitas específicas (HERRERA. que por sua vez redefine a própria trajetória inovativa. o ambiente onde a inovação se desenvolve e difunde conforma o padrão da evolução das capacitações e das tecnologias. Esta percepção reforçou a necessidade de desmistificar ideias simplistas sobre as possibilidades de gerar. PÉREZ. Tal ênfase torna claro que a aquisição de tecnologia no exterior não substitui os esforços locais. comprar. a existência de capacitações e de interações entre produtores e usuários foram destacados como cruciais no processo de desenvolvimento e aquisição de novos conhecimentos e tecnologias. específico ao contexto e. Os estudos e proposições de política passaram a enfatizar a importância da adoção da visão sistêmica e a sublinhar a necessidade de reconhecer as especificidades de cada sistema nacional de inovação. a partir dos vínculos dentro da empresa e entre esta e demais organizações (LUNDVALL. evolução político-institucional e capacitações socioeconômicas. (ii) a importância do caráter nacional dos sistemas de inovação. 2003. organismos de financiamento e outros atores e elementos que influenciam a aquisição. 1988). LUNDVALL. uso e difusão das inovações. e (iv) o papel do mercado doméstico (FREEMAN. destacando “os ambientes nacionais ou locais onde os desenvolvimentos organizacionais e institucionais produzem condições que permitem o crescimento de mecanismos interativos nos quais a inovação e a difusão de tecnologia se baseiam” (OCDE. a ideia de que os processos de inovação que têm lugar no nível da firma são gerados e sustentados por suas relações com outras organizações. Constituem-se de elementos que interagem na produção. mas principalmente de como elas interagem entre si e com vários outros atores e como o ambiente onde se inserem e as políticas (incluindo as macroeconômicas) afetam o desenvolvimento dos sistemas. (iii) a relevância das relações produtor-usuário para a inovação. 1985. 1992. diferentes contextos. por exemplo. as quais contribuem para o desenvolvimento e afetam o mesmo na capacidade de aprendizado e de criação de competências de um país. a qualidade das relações e o entendimento do papel das instituições no seu sentido mais amplo – como normas e regras. uso e difusão do conhecimento. 1992a. mas também e principalmente todas aquelas que. Tais resultados levaram pesquisadores e policy-makers a mudarem a ênfase analítica e normativa. Foi reafirmada a importância de capturar a especificidade dos diferentes atores. arranjos produtivos e sistemas de inovação . 1988. organizações de ensino e pesquisa. não apenas as organizações diretamente voltadas à CT&I. direta ou indiretamente afetam as ações dos atores. deste modo. 238). 1995). Tais sistemas contêm. Nesta linha é que se enfatiza: (i) o papel de processos históricos – responsáveis por diferenças em trajetórias de desenvolvimento. informais e formais. 1987. sistemas cognitivos e regulatórios e modos formais como informais 268 Inovação. mercado de trabalho e de capitais. A definição de sistemas nacionais de inovação objetiva incorporar o papel e a dinâmica das firmas. governo (como um todo e não apenas a política de C&T). LUNDVALL.O foco em conhecimento. refletindo as características dos sistemas produtivos e inovativos locais e nacionais dos quais fazem parte. Assim. 1982. região. setor ou localidade. A ideia básica do conceito de sistemas de inovação é que o desempenho inovativo depende não apenas do desempenho de empresas e organizações de ensino e pesquisa. o setor financeiro e as políticas – incluindo as macroeconômicas mais amplas – passam a ser objeto de preocupação e ação dos policy-makers. Um corolário direto de tal entendimento é que. sistemas de inovação são conceituados como conjuntos de instituições e suas relações. p. aprendizado e interatividade deu sustentação à ideia de sistemas de inovação (FREEMAN. Nessa perspectiva. Reforça-se. Cassiolato e Arroio. Lastres e Maciel. Esta definição baseia-se em proposta de Lynn Mytelka (1993). para os seus competidores domésticos ou estrangeiros”.de articulação e de aprendizado são reconhecidos como fundamentais para explicar as diferenças na aquisição. Aspecto essencial refere-se ao papel central dado à inovação para a competitividade dinâmica e sustentável. São significativas as consequências de entender a inovação como “processo pelo qual as organizações incorporam conhecimentos na produção de bens e serviços que lhes são novos. Essa contrasta com a usual prioridade dada à exploração das vantagens competitivas tradicionais (como baixos custos da mão de obra e da exploração de recursos naturais sem uma perspectiva de sustentabilidade no longo prazo e à manipulação das taxas de câmbio e de juros). diferencia-se o entendimento restrito e amplo de sistema de produção e inovação (Figura 1). Outro avanço crucial consolidado na abordagem de SNI se refere à constatação de que inovação não se restringe a processos de mudanças radicais na fronteira tecnológica. incentivando os policy-makers a adotarem uma perspectiva mais ampla sobre as oportunidades para o 173. Inovação. 2005. Em particular. uso e difusão de conhecimentos e particularmente aqueles tácitos. 2003 e Lastres. suas vantagens para países menos desenvolvidos são discutidas em Cassiolato.173 Esse entendimento ajuda a evitar diversas distorções. arranjos produtivos e sistemas de inovação 269 . 2009. realizados quase que exclusivamente por grandes empresas através de seus esforços de pesquisa e o desenvolvimento (P&D). independentemente de serem novos. Figura 1 – Sistema nacional de inovação: as visões restrita e ampla Fonte: Cassiolato e Lastres. as quais Fajnzylber (1988) chamou de espúrias. ou não. sistemas on-line para pesagem. o plantio geométrico. Questionam-se também as formas tradicionais de mensurar e avaliar atividades econômicas agrupando-as em “setores”. CAMPOS. sistemas regionais (COOKE. CASSIOLATO. Utilizando a produção de tomates para mostrar como as novas tecnologias afetam todas as etapas da cadeia produtiva.aprendizado e a inovação em pequenas e médias empresas (PMEs) e também nas chamadas indústrias tradicionais. Tais tendências são particularmente marcantes em situações de transformações técnico-econômicas radicais e abrangentes – como nas mudanças de paradigma (LASTRES. têm sido propostos. a colheitadeira. 2006). que vêm igualmente incorporando design e materiais avançados 270 Inovação. quanto à convergência das funções e aparatos tecnológicos de vários segmentos até então desvinculados entre si. Isto é também verdade no caso das fazendas de peixes. os recipientes e seus meios de transporte etc. Marques (1999) sugere que a produção deste bem depende e se articula profundamente com a produção de diversos setores. antes de plantar tomates são necessários muitos planos. 199-200). avaliação. como o agrícola. sistemas de comunicação e rastreamento por satélite. No caso da pesca. 1996). tabelas e roteiros para produzir as sementes geneticamente tratadas. Adiciona-se a esta condição a tendência tanto à incorporação de conhecimentos avançados e crescentemente multidisciplinares. – o tomate é um produto high-tech!” (p. As implicações para políticas de tais qualificações são significativas. arranjos produtivos e sistemas de inovação . 1998). observa-se o uso de: design e materiais avançados nos navios e equipamentos de pesca. Há casos ilustrativos nos chamados setores primários. resfriamento e acondicionamento. os fertilizantes. Evidentemente existem contradições entre uma visão estritamente setorial da inovação e a abordagem sistêmica neste capítulo apresentada. sistemas de sonares. o sistema de seleção eletrônica. ORSENIGO. MORGAN. a visão setorial não captura a situação em que as fronteiras dos “setores” produtivos se encontram em constante mutação. o extrativo e o pesqueiro. principalmente dada à heterogeneidade das organizações e as distintas estruturas produtivas e inovativas presentes dentro de um mesmo setor. e também naqueles mais avançados. De fato. desenhos. tornando pouco relevante a sua classificação como um produto agrícola: “agora. sensores e identificação ótica para monitoramento de cardumes e seleção de peixes. LASTRES. sistemas supranacionais (Freeman 1999) e de arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais (CASSIOLATO. assim como para o acompanhamento das atividades. Acompanhando tais desenvolvimentos as ideias de sistemas setoriais (MALERBA. 1999). biotecnologia. que. o primeiro passo foi o reconhecimento da importância de diferenciar informação de conhecimento. sistemas e procedimentos visando: (i) proteger o meio ambiente. Evidentemente a linha de fronteira entre setores sempre foi arbitrária. açudes etc. (ii) garantir a sustentabilidade dos empreendimentos. O segundo Inovação. Ressaltamos. utilizadas em diferentes setores. Esses desenvolvimentos evidenciaram a necessidade de rever as formas tradicionais de apoio e exigem o desenho de novas políticas realmente capazes de promover a CT&I. engenharia genética e materiais avançados – mesmo setores considerados tradicionais podem apresentar-se como intensivos em tecnologias de ponta. portanto. crescentemente difícil continuar usando estas categorias sem questioná-las (LASTRES. Apesar de o conhecimento já acumulado sobre as trajetórias setoriais continuarem relevantes. Como vimos anteriormente. 3. A partir desses entendimentos básicos e cruciais uma nova perspectiva abriu-se. tendo em vista o uso mais intensivo dos recursos naturais. Torna-se. assim como as distintas formas de conhecimento: as tácitas das codificadas. no quadro atual. tanto a produção quanto a inovação são cada vez mais influenciadas pelo conhecimento e as capacidades de diferentes atividades produtivas e áreas científicas e tecnológicas. CAMPOS. tecnologias de nutrição e aumento da reprodução baseada em biotecnologia e engenharia genética. Devido a dificuldades em mensurar os conhecimentos de variadas origens.na construção de lagos. Enfatiza-se o imperativo de um referencial que dê conta dos novos desafios. continuamos tratando tais setores do mesmo modo que quando as classificações foram concebidas. Adicionam-se ainda os esforços no desenvolvimento e aplicação de equipamentos. A classificação setorial usual relaciona-se a conjuntos de conhecimentos e atividades que podem estar representando peso minoritário no valor agregado do setor em questão.. Com a alta pervasividade das novas tecnologias base do atual padrão de produção – TICs. Implicações para políticas dos principais avanços no entendimento de inovação Avanços significativos na compreensão da inovação permitiram inaugurar e desenvolver uma nova linha do pensamento alternativa à teoria dominante neoclássica. arranjos produtivos e sistemas de inovação 271 . 2006). porém. sistemas de alimentação baseados em robótica. ainda mais evidente a inadequação da forma como são definidos os setores econômicos. CASSIOLATO. assim como de aditivos sintéticos e outros fatores que podem levar à degradação ambiental. torna-se mais agudo o problema de se captar – por meio de indicadores imperfeitos – apenas parte dos sistemas produtivos e inovativos. tornando-se. e também ao contrário do apregoado pelos economistas ortodoxos. O terceiro passo. 1998. investimento. natureza e extensão das interações intra e entre empresas e demais organizações (IEPs. produzindo. 174. relativas ao aprendizado. técnicas e organizacionais e suas diferentes e simultâneas fontes. em vez das trocas comerciais e a acumulação de equipamentos e de outros recursos materiais. JOHNSON e LUNDVALL. A geração de novos conhecimentos.) do que simplesmente quantificálas. O caráter eminentemente cumulativo. 2003). interativo e localizado do processo de inovação leva à necessidade de entender: – as empresas. – que o foco no aprendizado e na assimilação. Portanto. usando e interagindo e não apenas da realização ou contração de atividades de P&D. MYTELKA. eles são localizados. sua introdução e difusão no sistema produtivo exigem esforços e capacitações significativos. Assim. Para detalhes ver Freeman. 1995. arranjos produtivos e sistemas de inovação . aponta o reconhecimento de que: Há significativa complementaridade entre inovações incrementais e radicais. não facilmente transferíveis de um lugar/contexto a outro. Deve-se focalizar a criatividade humana. fazendo. financiamento e regulação etc.passo. mas também do contexto em que tais processos ocorrem. uso e difusão da inovação opõe-se à ideia de um suposto tecnoglobalismo. como existe uma complexa interação entre diferentes atores e fontes de inovação e o dinamismo inovativo depende não apenas do desempenho das empresas e de como estas interagem entre si e com os ademais atores. Essas conformam a propensão a adquirir capacitações e a inovar (JOHNSON. Daí a importância da visão sistêmica. Os principais elementos do conhecimento estão incorporados na mente e corpo dos atores ou enraizados em rotinas das empresas e nas relações entre empresas e demais organizações. É mais importante conhecer as práticas e condições de cada ambiente. organismos de apoio. 2000. destaca-se o entendimento de que: Parcelas importantes das capacitações produtivas e inovativas são igualmente tácitas e emanam de processo de aprendizado. 272 Inovação.174 – que é um equívoco ver a aquisição de tecnologia estrangeira como alternativa ou prescindindo de esforços locais. como organizações enraizadas em ambientes socioeconômico-políticos que refletem trajetórias históricas e culturais particulares. arranjos produtivos e sistemas de inovação 273 . e das políticas para sua mobilização. a ser o estímulo às articulações entre atores dos diferentes sistemas de produção e inovação e à sua capacidade de assimilar e utilizar conhecimentos provenientes das diversas fontes internas e externas aos mesmos. A capacidade inovativa deriva da confluência de específicos fatores econômicos.Os quadros de referência nacional e local importam. assim como de propriedade intelectual. sabemos que tais esforços podem ou não resultar em invenções. sociais. com razão. institucional e financeiro específico dos diferentes países e da relação de cada país com o sistema mundial (FURTADO. 1987. LASTRES. 1999). Nesta discussão mostra-se particularmente importante destacar a necessidade de distinguir invenção de inovação. objetivou atender a tal imperativo visando potencializar as ações de políticas. 1999. A inovação passa a ser o mais importante componente das estratégias de desenvolvimento (e não apenas das políticas de C&T ou das políticas industriais) e as políticas a ela direcionadas passam a ser entendidas como políticas para sistemas de produção e inovação. São significativas as implicações para políticas desta distinção. políticos. 1987. institucionais e culturais e do ambiente em que eles operam. 1994. O desenvolvimento da abordagem de arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais. 1999). pois trajetórias específicas de desenvolvimento contribuem para a conformação de sistemas de inovação distintos. bem como das articulações entre estes níveis (FREEMAN. as políticas devem estimular as diferentes formas de aquisição. as quais. as políticas. 1985. meso e macroeconômicos. Se o objetivo é o estímulo a invenções. O entendimento da dinâmica industrial e tecnológica. exige considerar e atuar sobre os condicionantes do quadro macroeconômico. 1982. FERRAZ. Neste caso. 1961. devem buscar mobilizar as infraestruturas e as atividades de P&D. uso e disseminação de conhecimentos nas estruturas produtivas de qualquer bem ou serviço (incluindo aqueles essenciais à mobilização do desenvolvimento social). o que implica na necessidade de um instrumental analítico e de orientação de políticas mais amplo e complexo do que aqueles oferecidos pela teoria econômica tradicional (FREEMAN. A diversidade dos sistemas de inovação reflete diferentes combinações das suas características aos níveis micro. se o foco é a mobilização dos processos de inovação. A ênfase central das políticas passa. podem ou não ser incorporadas pelos sistemas produtivos. CASSIOLATO. Assim é que a partir dos anos 1980 a visão sistêmica passou a povoar os novos referenciais analíticos e as proposições de política. por sua vez. LASTRES. LASTRES. portanto. reorientando-as para o território e para as interações Inovação. 2002). No segundo caso. político. LUNDVALL. Cassiolato e Lastres. desenvolvimento e engenharia. 2006. inovação e competitividade com a finalidade de ampliar e enraizar o desenvolvimento local. A experiência brasileira no desenvolvimento do conceito de sistema de inovação No Brasil. associações. pensar e fazer política que abrange atores e atividades produtivas e inovativas. regulação e financiamento. organizações voltadas à formação e treinamento de recursos humanos. desde as mais intensivas em conhecimentos até as que utilizam conhecimentos endógenos ou tradicionais. A ênfase no local levou ao desenvolvimento do termo mais amplamente difundido de arranjos produtivos locais (APLs). políticos e sociais e suas interações.entre conjuntos de atores visando estimular os processos de capacitação. pesquisa. nacional ou internacionalmente. o conceito de sistemas produtivos e inovativos locais foi criado e desenvolvido pela RedeSist em finais da década de 1990 e foi rapidamente disseminado na esfera de ensino e pesquisa e de política. Tal abordagem pretende oferecer uma nova forma de olhar. sindicatos e demais órgãos de representação. apoio. abrange conjuntos de atores econômicos. Todos os atores envolvidos aprenderam muito com erros e acertos e muitas vezes tiveram de inovar. 2005 e Guimarães et al. de diferentes portes e funções. distribuidoras e comercializadoras.175 Este conceito combina as contribuições sobre desenvolvimento da escola estruturalista latino-americana com a visão neo-schumpeteriana de sistemas de inovação. resultando em requerimentos específicos de políticas. 1999. cooperativas. aprendizado. arranjos produtivos e sistemas de inovação . A abordagem de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos. operando local. originários dos setores primário. com distintas dinâmicas e trajetórias.. incluindo: empresas produtoras de bens e serviços finais e fornecedoras de matérias-primas. informação. Lastres. 2006. equipamentos e outros insumos. 4. refletindo o caráter localizado da assimilação e do uso de conhecimentos e capacitações. Para detalhes ver Cassiolato et al. 176. tanto enquanto ferramenta analítica quanto de orientação de políticas. Cassiolato e Matos. 274 Inovação. 175. secundário e terciário. trabalhadores e consumidores.176 Chama-se a atenção para o significativo processo de aprendizado posto em marcha ao colocar em prática esta nova abordagem.. Isto se deve ao fato de que as atividades produtivas e inovativas são diferenciadas temporal e espacialmente. como. sociais e regionais. políticas.ufrj. icluindo empresas. social e cultural como fontes de diversidade e vantagens competitivas sustentadas.177 As experiências pioneiras de analisar e promover sistemas produtivos e inovativos no Brasil confirmam que essa consiste de fato em uma nova forma de pensar e fazer política que: Coloca a geração. essa abordagem focaliza as articulações entre conjuntos de diferentes atores. O objetivo final é discutir as implicações para políticas das análises realizadas. inclusive aqueles geralmente excluídos das ações de promoção. Inovação. organizacional e inovativa. Tem proporcionado um entendimento amplo das oportunidades e desafios colocados ao desenvolvimento produtivo e inovativo. por exemplo. são criadas as capacitações produtivas e inovativas e fluem os conhecimentos e particularmente aqueles tácitos. Cassiolato e Campos (2006). regiões e países. onde ocorre o aprendizado. Ver também Lastres. e o papel da proximidade geográfica e da identidade histórica. transmissão de conhecimento. aquisição e difusão de conhecimentos e a criação e uso de capacitações produtivas e inovativas como fatores-chave da produtividade e competitividade dinâmica e duradoura de organizações. as empresas de micro e pequeno portes e seus requerimentos. as atividades do setor primário e terciário. as bases dos processos de aprendizado para capacitação produtiva. institucional. assim como entre atividades conexas dos diferentes sistemas produtivos e inovativos locais. em sua dimensão tácita). A descrição detalhada desta metodologia encontra-se em www. as quais também não se restringem aos cortes clássicos espaciais como os níveis municipais e de microrregião.redesist. Acompanhando o desenvolvimento desse conceito. atividades e processos de aquisição. os fluxos de conhecimento (em particular. 177. Cobre o espaço. os segmentos à margem da vida econômica formal.sinal.br. Representa o nível em que as políticas de promoção do aprendizado e criação de capacitações produtivas e inovativas podem ser mais efetivas. Visa dar conta das variações espaciais devidas à grande extensão geográfica.Seguindo as orientações do foco em sistemas de inovação. arranjos produtivos e sistemas de inovação 275 . Permite estabelecer uma ponte entre o território e as atividades econômicas. heterogeneidade e desigualdades econômicas. a RedeSist também desenvolveu uma metodologia que focaliza e investiga essas articulações entre empresas e com outros atores.ie. Engloba diferentes tipos de atores e atividades. De forma semelhante. Sete pontos prin- 276 Inovação. capacitação e inovação. cumulativo e localizado. arranjos produtivos e sistemas de inovação . importantes avanços na compreensão desse processo trazem significativas implicações para políticas. integrada e de longo prazo. o número de sistemas produtivos locais existentes em qualquer país é tão grande quanto sua capacidade produtiva permita. onde houver produção de qualquer bem ou serviço haverá sempre um sistema em torno da mesma. assim como a seleção de casos exemplares não deve de maneira alguma inibir a compreensão dos elementos diferenciados que a riqueza das experiências apresenta no mundo real. 1998). que decorrem não só de fatores econômicos. indicadores. mas como um processo. as políticas para sua promoção são incompatíveis com modelos genéricos que utilizam ideias de benchmark e best practice. máquinas e demais insumos até a sua comercialização. Diferentes tipologias e indicadores vêm sendo desenvolvidos visando entender os processos de aprendizado. Ao mesmo tempo em que a inovação passa a adquirir papel ainda mais estratégico na nova ordem mundial. Conforme resumido no Glossário da RedeSist: a inovação passou a ser vista não mais como um ato isolado. envolvendo atividades e atores relacionados desde a aquisição de matérias-primas. Nessa perspectiva. desde o final dos anos 1970 uma substantiva literatura foi desenvolvida. não linear e sistêmico com múltiplas e simultâneas fontes. mas também de diversidades das matrizes sociopolíticas e das particularidades históricas (FURTADO.Destaca a necessidade de articular e implementar as diferentes políticas em uma perspectiva transescalar. Segundo esse enfoque. não basta desenvolver indicadores e mapas objetivando identificar a quantidade de sistemas existentes e suas diferentes configurações e graus de desenvolvimento. Isto é particularmente importante no caso da definição e implementação de políticas. Entretanto. Sublinha-se aqui a conclusão que a adoção de políticas uniformes ignora a existência de disparidades. Tais sistemas variarão desde aqueles mais rudimentares àqueles mais complexos e articulados. alerta-se que o uso de algumas dessas taxonomias. que funcionam de modo realmente sistêmico. por serem baseadas no reconhecimento das especificidades dos diferentes sistemas. Tanto do ponto de vista analítico quanto do normativo. resultando de interações entre diferentes atores. Conclusão Como vimos anteriormente. A mobilização de um determinado sistema produtivo geralmente implica em conjuntos específicos de requerimentos que variam tanto no espaço quanto no tempo. Entender a inovação como “processo pelo qual as organizações incorporam conhecimentos na produção de bens e serviços que lhes são novos. Esse entendimento contrasta com os denominados processos competitivos espúrios baseados na redução dos salários e na exploração de recursos naturais sem uma perspectiva de sustentabilidade. A própria seleção. mais relevantes em termos da nova geração de políticas na segunda década do milênio. suas cadeias e complexos produtivos. para os seus competidores domésticos ou estrangeiros”: ajuda a evitar exclusões e distorções da agenda de política e incentiva a adoção de uma perspectiva mais ampla sobre as oportunidades para o aprendizado e a inovação em MPEs e também nos chamados setores tradicionais. equipamentos e tecnologias desenvolvidos externamente jamais substitui a relevância da criação de capacitações locais. estando fortemente associada a atividades e capacidades existentes ao longo da cadeia de produção e comercialização. dos demais atores não econômicos. A inovação não se restringe a processos de mudanças radicais na fronteira tecnológica. A aquisição de conhecimentos. Ênfase dada à relevância de uma indústria nacional sólida e dinâmica – a capacidade de gerar e internalizar novos conhecimentos depende diretamente de seu uso. uso e disseminação de conhecimentos e capacitações. O papel fundamental conferido à inovação para a agregação de valor aos bens e serviços e para a competitividade sistêmica. compra. localidades e países. realizados quase que exclusivamente por grandes empresas através de seus esforços de pesquisa e desenvolvimento (P&D). 3.cipais resumem os avanços no conhecimento sobre inovação. assimilar. 2. ou não. além de envolver uma série de outras atividades e organizações responsáveis pela assimilação. cópia. que compõem os diferentes sistemas produtivos. 5. políticos e sociais – reflete as condições culturais e históricas próprias. A capacidade produtiva e inovativa de um país ou região – vista como resultado das relações entre os atores econômicos. usar e acumular Inovação. A dinâmica inovativa depende das empresas. e dos ambientes onde se inserem. 4. independentemente de serem novos. sistemas cognitivos e regulatórios e modos de articulação e de aprendizado levam a formas diferentes de gerar. incorporação e uso dos mesmos requer significativa capacitação. dinâmica e duradoura de organizações. Diferentes contextos. A base do dinamismo e da competitividade das empresas não se restringe a uma única organização ou a um único setor. 1. Dimensão crucial do aprendizado relaciona-se à capacidade de colocar em prática os conhecimentos e tecnologias adquiridos. arranjos produtivos e sistemas de inovação 277 . Esta consideração é especialmente relevante para países com dimensões continentais como o Brasil. cumulativo. Por outro lado. estadual e local. a visão setorial não tem dado conta da constante mutação nas fronteiras dos setores. em primeiro lugar. O conhecimento sobre trajetórias setoriais é muito relevante. indicadores e modelos contextualizados que: ajudem a reduzir os desequilíbrios sociais e regionais. Conforme argumentado. As atividades produtivas e inovativas são distintas temporal e espacialmente e apresentam diferentes requerimentos de políticas. associem desenvolvimento econômico e social. e de desenhar e implementar políticas apropriadas. Para tal mostra-se vital superar os significativos desafios colocados. destaca-se a necessidade de mobilizar propostas e processos locais e não sufocá-los com modelos de apoio ofertistas e pontuais. As implicações para políticas do entendimento de inovação como processo localizado. e coloquem em seu centro o apoio a processos de aprendizado e de criação de capacitações produtivas e inovativas. podemos avançar mais ainda se forem entendidos os preceitos básicos desta nova abordagem e implementadas ações correspondentes de forma coerente. para o papel dos pesquisadores. Tanto a produção quanto a inovação são crescentemente influenciadas por conhecimentos multidisciplinares e multissetoriais. os quais se associam. mas deve ser complementado pelo entendimento sobre a forma como as empresas se inserem e se articulam com seus sistemas produtivos e os territórios que as hospedam. A análise das políticas para a mobilização de arranjos e sistemas produtivos e inovativos mostra que vários resultados positivos foram alcançados. por um lado. regiões e atividades geralmente excluídos da agenda de políticas e os avanços na articulação de atores foram dois destes. Além de captar apenas parte dos sistemas produtivos e inovativos. sem compromisso e que ignoram as necessidades locais. à 278 Inovação. arranjos produtivos e sistemas de inovação . coordenadas nacionalmente e que contemplem as escalas regional. envolvendo e comprometendo atores que operam nesses diferentes níveis. além obviamente do importante processo de aprendizado posto em marcha no País.conhecimentos e a requerimentos específicos de políticas. Aponta-se. A inclusão de atores. uso e difusão de conhecimentos nas estruturas produtivas. planejadores e implementadores de política e para a importância de escolher e usar conceitos. Necessidade de contextualização das políticas. 7. Dinâmicas muito diversificadas podem ser encontradas dentro de um mesmo setor. 6. não linear e sistêmico são significativas e apontam para o imperativo de mobilizar articulações e sinergias visando ampliar as formas de aquisição. 2003 notaram que algumas tentativas de uso do enfoque em sistemas de inovação em nível internacional tanto no âmbito da pesquisa quanto no da política.enorme profusão e confusão de terminologias. Uma tendência desta lógica é a redução da política a uma questão de administração ou gestão. em particular. (ii) o que 178. em vez de ignorá-los e sufocá-los com o uso de modelos pontuais. Inovação. a essência dos conceitos em que se baseiam. além de insuficientes. 2010.. atribuindo aos mesmos uma cientificidade inquestionável. geralmente mostraram-se inadequados.179 visando seguir a moda e obter acesso rápido a apoio financeiro. sobre o que tem sido e como pode ser refinada a política de APLs no Brasil. à ausência de planejamentos integrados e de longo prazo. não passavam de “a thin icing on a solid neo-classical cake”. Em muito avançaremos quando as abordagens analíticas e normativas incorporarem de fato. 179. Nota-se no entanto que os indicadores usados para balizar tais políticas. descontextualizados e geralmente formulados segundo uma “lógica administrativa”. o qual finaliza no primeiro trimestre de 2010. tais como sua governança e seus processos de gestão. coloca-se o problema de descontextualização e a necessidade de superar modelos preestabelecidos baseados na lógica administrativa e que embutem escolhas políticas realizadas a priori e cuja adoção contribui para reforçar desigualdades. Cabe considerar finalmente o significativo esforço de reflexão que o BNDES mobilizou. escalas e conceitos vigente. Tendo em consideração o caso brasileiro e a ênfase dada pelas novas políticas para arranjos e sistemas produtivos e inovativos. muitas vezes incompatíveis e constantemente desatualizados. ao objetivarem mobilizar o sistema nacional de produção e inovação. derivados de casos exemplares. Para detalhes ver Lastres et al. arranjos produtivos e sistemas de inovação 279 . enviesados. reitera-se uma recomendação fundamental que já fizemos em textos anteriores: esta ênfase não deve significar apenas mais uma tentativa de utilização de novos rótulos em velhas práticas.178 Tais modelos orientaram as políticas em geral e. a outra é a ênfase dada a métodos quantitativos. aquelas voltadas à promoção de arranjos produtivos locais principalmente a partir dos anos 1990. aponta-se para a predominância das políticas baseadas em modelos únicos. em segundo lugar. Tal esforço envolvendo mais de 200 pesquisadores em 22 estados brasileiros objetivou: (i) identificar como tem sido usado o conceito de APLs no País. O principal desafio colocado é o de desenhar e implementar políticas que mobilizem propostas e processos locais. Reinhert e Reinert. Finalmente. e à falta de monitoramento e avaliação das políticas. sem compromissos e que desconsideram as necessidades nacionais e locais. definindo parâmetros padronizados para orientar as políticas e estabelecendo atributos e regras de funcionamento ideais de um APL. Cheltenham: Elgar. tion. GUIMARÃES. www. —. J. (iv) indicar formas possíveis de aprimoramento das políticas adotadas nos estados e no Brasil..).. F.. E. E. M. 1999. Neste sentido. Brasília: MCT/IBICT. M. Esperamos que o capítulo contribua nesta direção. M. LASTRES. Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Innovation and Learning: Systems and Policies in the North and in the South”. 2003. mapeado e apoiado como APL nos diferentes estados e o que poderia ser tratado como tal. (Eds.. Systems and Development: what can we learn from the Latin American experience?” Texto apresentado na III Globelics Conference. Referências Bibliográficas AMARAL FILHO. 2005. mais importante ainda. M. 280 Inovação...).redesist ie. nos referenciais conceituais e metodológicos utilizados para compreender.br. M. AROCENA. —.ufrj. arranjos produtivos e sistemas de inovação .. Lastres. M. a atenção que grande parte dos esquemas teóricos utilizados para captar e explicar o processo de inovação. H. Globalização e inovação localizada: experiências de sistemas locais no Mercosul. J. H. H. “Innova.. M. baseia-se ainda em conhecimentos desatualizados e descontextualizados. J. Systems of Innovation and Development. M. E. mensurar e orientar tal processo. Rio de Janeiro: E-Papers. “Knowledge.tem sido considerado. H. J. Lastres. M. E. In: Lastres. —. Pingo D’água: um arranjo inovativo no semiárido do Ceará. “Inovação. J. H. Maciel. Cassiolato. M e Maciel. LASTRES.. V PEIXOTO. regionais e nacionais. SUTZ.. O foco em arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais. M. J. uso e difusão de conhecimentos nos sistemas produtivos. 2003. A principal intenção deste capítulo foi a de sumarizar o enorme o avanço desencadeado nas últimas décadas do século XX na forma de entender o processo de aquisição. R. orientar políticas de inovação e de promoção dos sistemas produtivos e inovativos.sinal. (Eds. Nordeste e Centro-Oeste brasileiros. (Eds. (iii) revelar quais têm sido os resultados positivos e negativos das políticas de apoio a arranjos produtivos. E. In: Cassiolato. In: Cassiolato. Chama-se. J. finalizamos o capítulo ressaltando a necessidade de incorporar esse avanço. formular indicadores e. Estratégias para o Desenvolvimento: um enfoque sobre arranjos produtivos locais do Norte. Globalização e as Novas Políticas de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico”. M. L. CASSIOLATO. que em muito ampliou nosso entendimento do processo inovativo e da dinâmica de nossos sistemas produtivos e inovativos locais.). L. Cassiolato. In: Lastres. M.. H. 2006. no entanto. Pretoria. Rio de Janeiro: Relume Dumará. M. 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Sudene 285 . consoante as diretrizes estabelecidas em Brasília ou fora do Brasil. depois de 1964. para deixar de lado. por que a região passou. desde a criação da Superintendência. na adoção da política de desenvolvimento regional no Nordeste brasileiro. pela Sudene originária. Introdução O presente artigo tem por objetivo analisar as principais correntes teóricas que influenciaram a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). porém. do tipo ‘capriche na capa’. que isso vende” (CARVALHO. pretende-se tentar estabelecer uma “conexão” entre as formulações teóricas que o órgão adotou e as principais transformações. Com isso. Cadernos do Nordeste).Sudene: do desenvolvimento cepalino ao desenvolvimento endógeno Fernanda Ferrário de Carvalho “Nem mesmo as mudanças de rumo instituídas pelas forças mais conservadoras do País e da região. a partir de abril de 1964. construídas segundo leituras envolvidas por embalagens que. foram capazes de alterar as bases da cultura do planejamento e do trabalho organizado pela mais bem-sucedida das superintendências de Desenvolvimento Regional. Não dá. do “desenvolvimento sustentável” e do “desenvolvimento baseado em clusters”. de novo. as oportunidades para superá-los. 2001). analisa-se o modelo desenvolvimentista e a influência cepalina nos primeiros anos de atuação da Sudene. Seguindo esses momentos. Diante disso. além dessa breve introdução. No terceiro item. O GTDN continha uma abordagem histórica e foi um marco no enfrentamento do problema regional no Brasil. através da adoção de Complexos Industriais e de polos de desenvolvimento rural integrado. o que significava 286 Sudene . ao mostrar. o Nordeste era um “turbilhão efervescente”.Nesse primeiro momento da pesquisa. 1981). em 1959). e por fim as diversas contribuições teóricas de desenvolvimento local. que os recursos naturais não eram os únicos fatores sobre os quais as ações governamentais deveriam agir. pela primeira vez. haveria. O modelo desenvolvimentista e a influência cepalina nos primeiros anos de atuação da Sudene Em meados da década de 1950. o desenvolvimento sustentável. que sofreu grande influência do Banco Mundial. Com a utilização do método de análise desenvolvido pela Cepal. No quarto item. e os mecanismos mais eficazes para desenvolver econômica e socialmente a região” (CARVALHO. Tal relação estaria baseada em uma deterioração dos termos de troca entre as regiões. “Nesse sentido. faz-se uma retrospectiva de como a Sudene de certa forma “abandona” o paradigma desenvolvimentista para assumir “o novo paradigma do desenvolvimento sustentável”. e as pressões e os movimentos sociais estavam eclodindo com muita força na região. é analisada a importância do “local” e do desenvolvimento endógeno. sobretudo. entre o Nordeste e o Centro-Sul. As suas propostas visaram. em 1956. No primeiro item. são feitas algumas considerações finais. Por fim. procura-se compreender a importância dos incentivos e a disseminação dos polos de desenvolvimento na economia nordestina. o governo federal criou. foram identificados quatro grandes influências teóricas: a teoria cepalina. “encarregado de identificar os principais problemas da região. cujo pressuposto é o desenvolvimento endógeno. à restruturação econômica e social da região. os Polos de Desenvolvimento de François Perroux. o GTDN tenta reproduzir as teses cepalinas em uma espécie de “moldura nordestina” (OLIVEIRA. uma relação típica entre centro (produtor de bens industrializados) e periferia (produtora de matérias-primas). o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) (que resultou na criação da Sudene. 1. dentro do contexto dos Planos de Desenvolvimento do período autoritário. No segundo item. o artigo está estruturado em cinco partes. ou seja. Em tese. Verifica-se. a partir da primeira metade do século XX. Assim. “tentando compensar. Como assinala o documento. de base regionalista (ALMEIDA. Com relação a esse ponto. antes. Cano (1985:18-19) faz uma importante crítica. a única forma de incrementar. 1985:21). por uma forte “internalização” da discussão sobre as relações internacionais. O desenvolvimento só seria factível mediante a diversificação da produção interna. a constituição de um centro industrial no Sudeste. e não entre regiões de uma mesma nação. que o discurso hegemônico sobre o qual girou a polêmica regional nesse período não se deu através de uma argumentação “original”. “Nestas condições. a trajetória do processo de desenvolvimento seria configurada por relações espoliativas entre os estados mais industrializados e o restante do País. 1959). reproduzia o mesmo padrão de relacionamento que dera origem às nações industrializadas e outras fornecedoras de insumos e matériasprimas. 2001). o nível de renda da região seria desenvolver outras atividades. “a concepção ‘Centro-periferia’ só é válida quando aplicada ao relacionamento entre estados-nações politicamente independentes. O GTDN pretendia “criar no Nordeste um centro autônomo de expansão manufatureira”. Em outras palavras. a existência de centros industriais tenderiam a inibir a diversificação das economias estruturadas na produção e comercialização de produtos primários. Nesse sentido. onde a diferenciação de fronteiras internas não pode ser formalizada por medidas discriminatórias de política cambial. com segurança. Segundo o autor. o esquema cepalino sobre a divisão internacional do trabalho era reproduzido em escala intraregional. Ou seja. a inexistência de fronteiras políticas regionais lastreadas por dispositivos alfandegários ou fiscais protecionistas ao Nordeste” (CANO.que o poder de compra da região mais atrasada era cada vez menor em relação ao da moderna”180 (CARVALHO. mas. o GTDN se equivoca ao tentar transpor para os marcos da região Nordeste uma política cepalina de industrialização orientada para a substituição de importações no marco nacional. Para tirar a região da estagnação em que se encontrava. salvo aquelas relacionadas às chamadas políticas de incentivos regionais”. Sudene 287 . com isso. por meio da industrialização. 180. Diante disso. o GTDN apontava como condição sine qua non a necessidade de profunda transformação agrária e agrícola. a “nova” industrialização preconizada para a região deveria ter um caráter autônomo e. pois as relações entre estas duas economias “tendem sempre a formas de exploração”. predominantemente. sua proposta era transpor os marcos da região em uma política de industrialização assentada. tarifária e outras. especialmente a industrialização” (GTDN. Segundo Celso Furtado. na substituição regional de importações. marcadamente. ARAÚJO. 2004). através de incentivos fiscais. precariamente. além da industrialização. 2006). em muitos aspectos. Isso trouxe consequências negativas para o futuro da região. esvaziando completamente a força coordenadora da agência de desenvolvimento do Nordeste. A partir daí. não foi muito difícil a transposição do discurso cepalino como eixo explicativo dos desequilíbrios regionais. nem sequer de implementar adequadamente a que havia sido desenhada por Celso Furtado.Em uma época onde se generalizavam as teses de vinculação da questão do subdesenvolvimento ao imperialismo e de predominância da economia agrária sobre a industrial. como enfoques que permitiam o entendimento das relações entre “economias industrializadas” e “economias agrícolas” como relações colonialistas (teoria de “imperialismo sanguessuga”). a Sudene sofreu uma forte intervenção e um redirecionamento de suas diretrizes. Segundo Diniz Filho e Bessa (2006). Os militares não foram capazes de conceber uma nova estratégia para o desenvolvimento regional. Com o advento do golpe militar. BESSA. dado que estas recomendavam o desenvolvimento industrial como forma de garantir o crescimento regional sem comprometer a autonomia dos estados nordestinos no processo de integração da região no mercado nacional. Segundo Lyra: “A repressão no Nordeste foi muito forte. esse processo reforça o papel do Estado como agente capaz de produzir instrumentos de intervenção e o consolida como instância de decisão em que se objetivam políticas antes realizadas no âmbito estritamente regional (DINIZ FILHO. a Sudene nunca chegou a se recuperar inteiramente. No âmbito político. As análises que balizaram a discussão internacional da deterioração das relações de troca foram tomadas. obrigando a muitos profissionais jovens que estavam trabalhando em prol do desenvolvimento regional a se deslocarem para outras regiões do País e para o exterior. os governos militares trataram de tirar a relativa autonomia e legitimidade da Sudene e transferiram investimentos para outras atividades econômicas e para outras regiões do País. A partir do golpe. não seria exagero afirmar que a ideia de planejamento regional herdado da fase pré-64 é construída em função da assimilação in loco da teoria cepalina do subdesenvolvimento. Não obstante. O enfoque centrado no binômio intervenção estatal/ indústria preconizado nas diretrizes de criação da Sudene é exemplar neste sentido. a Sudene foi uma ideia tão forte 288 Sudene . porque a Sudene vinha produzindo uma verdadeira revolução administrativa no Nordeste. Os que se salvaram dessa primeira investida foram progressivamente sendo afastados. dentro de um contexto de crescente inserção da economia brasileira na economia capitalista mundial. eram bastante remotas. oriunda do GTDN e defendida pela Sudne. que a maior crítica que se faz ainda hoje em relação à visão industrializante (com vistas a criar um centro manufatureiro autônomo).que. p. “.. senão impossíveis. ou afastaram-se espontaneamente. outros deixaram a região e mesmo o País. por fim. desconsiderando a necessidade de elevar a competitividade sistêmica da economia regional.. é não ter percebido que as possibilidades de implementação de um modelo de industrialização no Nordeste naqueles moldes. a partir de meados da década de 1950. 2. uma nova estratégia de desenvolvimento foi elaborada. Muitos técnicos foram submetidos a um verdadeiro tribunal de guerra. A partir Sudene 289 . já não guardava as mesmas relações que predominaram no processo até então desenvolvido por substituição de importações”. no plano programático. com a perda de sua autonomia relativa para formular as políticas de desenvolvimento regional. A falta de rumo da Sudene a transformou num mero balcão de concessão de incentivos fiscais ao investimento de empresas. ainda cumpriu por vários anos papel importante na industrialização da região” (LYRA.os militares. 2007). Disto resultaram duas consequências negativas: muitos empreendimentos privados fracassaram. uns para o setor privado. A esse respeito afirma Cano (2000.] essa concepção industrializante do GTDN pode ser criticada por não se ter dado conta de que a industrialização que se processava no País. e foram progressivamente minguando as oportunidades de investimentos rentáveis” (LYRA.. mesmo assim. após a vitória do golpe não levaram adiante as propostas originais da Sudene e desencadearam um processo violento de repressão contra seus servidores mais qualificados.. considerados subversivos. Perdeu-se a perspectiva de um desenvolvimento integral da região. 113-114): “[. 2007). Os incentivos e os polos de desenvolvimento No início dos anos 1970. com notório desperdício de recursos. e o papel da Sudene foi redefinido. Cabe salientar. instalado no âmbito da Sudene. e a economia mundial sofria suas consequências (CARVALHO. É nesse contexto que se dá início à passagem para uma nova fase da economia regional. para surgirem economias nacionais regionalmente localizadas (OLIVEIRA.183 A fase do auge do “Milagre Econômico” (1967-1973) chegara ao fim. Isso se deveu ao abandono da ideia de se resolver o “problema agrário” e à substituição da estratégia de desenvolvimento regional global por uma estratégia de polos de desenvolvimento182 (VIEIRA. 1995a). 2001). para preservar a secular estrutura fundiária do Nordeste. s. principalmente com o surgimento do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). A estrutura fundiária deixa de ser apresentada como um dos gargalos do processo de desenvolvimento nacional. O cenário internacional. abolindo-se a reforma agrária como elemento estratégico das políticas de desenvolvimento. com a produção. além de possibilitar uma maior complementaridade inter-regional. que representou uma mudança na concepção do papel da agricultura no desenvolvimento econômico do País. era bem mais preocupante: havia eclodido o primeiro choque do petróleo. o quadro apresentado pela economia nordestina era bastante diverso daquele dos anos 1960. passa a acompanhar o dinamismo do restante da economia brasileira. por sua vez. assim. o arrefecimento da atividade econômica. e do Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agropecuária do Norte-Nordeste (Proterra). para a nova fronteira agrícola localizada no Norte e no CentroOeste. quando os incentivos fiscais foram instituídos. dentro da visão Cepalina./d. de 1974. 290 Sudene . acarretando. com reflexos diretos sobre a questão agrária. a estratégia de desenvolvimento regional brasileiro passou a ficar atrelada à estratégia dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs). É a fase em que o processo de “Integração Produtiva” se completa. Em relação ao Nordeste. 181.de 1972. dando continuidade a um processo que iniciara no início da década de 1960. 1981. Enquanto o GTDN. 183.181 Essas mudanças começaram a se conformar no I PND (1972-1974). que tinha por base a criação de condições para a intensificação do processo de integração inter-regional. ARAÚJO. Os setores que haviam impulsionado o crescimento já haviam perdido fôlego. O objetivo desse Programa era favorecer o deslocamento dos “excedentes” populacionais. Em meados da década de 1970. com vistas a diminuir as pressões decorrentes da grande concentração de terras na região. 182. uma característica marcante do II PND é a visão de industrialização diferente do GTDN. agora atrelado economicamente às áreas mais industrializadas do País. especialmente nordestinos. propunha o fechamento do elo produtivo. e vão deixando de existir economias regionais. através do Plano de Integração Nacional (PIN).). O Nordeste. O II PND tinha como principal objetivo completar a matriz industrial (intersetorial) do País e diminuir a dependência externa. Ou seja. procura a complementaridade da economia local à economia do País. deixa de ser vista como elemento autônomo. e não mais a redução das desigualdades regionais. passam a ter um papel destacado. os principais foram o Programa de Áreas Integradas do Nordeste (PoloNordeste) e o Programa Especial de Apoio ao Desenvolvimento da Região Semiárida do Nordeste (Programa Sertanejo). foram criado os Programas Especiais. e passa a ser encarada como parte integrante à economia nacional (CARVALHO. também. Em nível regional. pois se volta para a concen184. dessa forma. o II PND procura integrar o Nordeste à base produtiva nacional. mas aproveitando os tipos específicos de produto que a região pudesse oferecer. a tendência a tratar as questões do Nordeste a partir da agropecuária (TAVARES. os grandes complexos regionais. que tinha como órgão coordenador a Sudene. que trazia embutido dentro de si a ideologia do “Brasil Potência”. “esse projeto é a expressão mais bem acabada da nova estratégia de desenvolvimento regional. e.184 cuja ideia ganhara força no Brasil na segunda metade dos anos 1960. O Projeto Sertanejo tinha por objetivo estimular o desenvolvimento das áreas secas do Nordeste. as quais enfatizavam a necessidade de promover o processo de integração econômica e social do espaço brasileiro. No Nordeste. Quanto ao Polonordeste. enquadram-se na nova estratégia de ação do governo federal com respeito às “questões regionais” do País. 2001). Esses Programas Especiais contemplavam inúmeras áreas periféricas do território nacional. o referido plano estabeleceria dois elementos novos à estratégia de intervenção do Estado no Nordeste: da perspectiva agrícola. Com relação aos Programas Especiais. o II PND. fora do âmbito do planejamento regional. Uma de suas preocupações era incrementar o crescimento do produto nacional e regional. Uma vez que o II PND projetava o crescimento industrial baseado nos setores de insumos básicos e de bens de capital. A região. Sudene 291 . inseriu alguns princípios que visavam à maior integração dos diversos espaços regionais. de bens de capital na região. o que reflete o aumento do poder central e a crescente marginalização da Sudene nos processos de decisão. Evidenciam. foram concebidos de forma centralizada. 1989). nacionalmente integrados. seria estimulada a instalação de Complexos Industriais na região. Assim. cujo objetivo maior era a transformação da agropecuária nordestina nos moldes de uma modernização conservadora.inclusive. da perspectiva industrial. ambos recebedores de recursos do Proterra. ou seja. voltados para o desenvolvimento rural integrado de áreas selecionadas. de expansão industrial do País. Contrariando as proposições do GTDN. as quais desempenhariam uma força centrípeta na atração de novos investimentos 292 Sudene . o Complexo Industrial Integrado de Base de Sergipe. cuja lógica de funcionamento se revelaria muito mais ao alcance das grandes empresas. além do Complexo Industrial Portuário de Suape (Pernambuco). 1977). No plano regional. o Polo Cloroquímico de Alagoas.).). do Complexo Agroindustrial do Médio São Francisco (Petrolina/Juazeiro) e do Polo de Fruticultura Irrigada do Vale do Açu (Rio Grande do Norte). Da perspectiva industrial. expressando uma estratégia de criação de “polos de desenvolvimento” regionalmente articulados” (VIEIRA. o Complexo Químico-Metalúrgico do Rio Grande do Norte. metalúrgica. plásticos etc. A região passa a desempenhar de forma mais efetiva um importante papel na cadeia produtiva do País. Essa tendência agudizou-se ainda mais com a implantação. a economia capitalista tenderia a produzir polos que se constituiriam a partir da localização de indústrias em um determinado espaço econômico. além de representarem um objetivo implícito de desconcentração industrial./d. reforçaria a base do sistema industrial brasileiro. o Polo Mínero-metalúrgico do Maranhão. em primeiro plano. na década de 1950. o III Polo Industrial do Nordeste. Tal reformulação tinha embutida em si uma forte correlação com a estratégia dos complexos industriais. de complexos industriais no Nordeste. de outro. De acordo com a citada teoria. que culminou na criação. química. a rigor desde meados da década de 1960 a política de industrialização do Nordeste vinha privilegiando os grandes compartimentos industriais. s. borracha. que de um lado asseguraria a produção de excedentes exportáveis e. com os objetivos estratégicos em nível nacional. a especialização na produção de bens intermediários (petroquímica. a concepção dos Polos ou Complexos Industriais também significou a possibilidade de maiores externalidades e efeitos multiplicadores para a economia regional. a ideia de se utilizar Complexos Industriais como um instrumento de desenvolvimento econômico do Nordeste coadunava-se. a partir da década de 1970. do Sistema Finor. A concepção adotada a partir da década de 1970 tinha como pano de fundo a teoria dos polos de desenvolvimento. À concepção da implantação de Complexos Industriais se somaria uma reformulação no sistema de incentivos fiscais. em 1974.tração dos investimentos em determinados espaços considerados estratégicos (VALLE. originalmente elaborada por François Perroux. do Polo Têxtil e de Confecções de Fortaleza (Ceará). como: o Complexo Petroquímico de Camaçari. ou seja. ] de busca de novas formas para a [. p. estruturando “eixos” de desenvolvimento. em muitos casos.. 1974). passando a ser definidas em função das novas alternativas que surgiam com o desenvolvimento do processo de acumulação de capital nos distintos setores dos vários espaços regionais (ALMEIDA. inverteu-se completamente. LIMA. 2004). Nesse processo. ressalta Araújo (1992. Segundo Moreira (1979.. Diante disso. p.). ARAÚJO. Nessa perspectiva.(PERROUX. por meio dos investimentos nas áreas delimitadas. passando o Nordeste a funcionar como área de expansão. mas os efeitos propagadores esperados para o restante da economia regional pouco se fizeram sentir. 84)./d. Com isso. produzir efeitos irradiadores na economia regional. Para a atração desses investimentos preconizava-se a concessão de benefícios fiscais (como foi o caso do Finor no Nordeste) (SICSÚ. no sentido de estabelecer o domínio sobre os mercados periféricos. como elemento de uma estratégia mais ampla e integrada de desenvolvimento regional. passando a ter concatenação direta com o sistema nacional. que ancorassem o desenvolvimento posterior de uma cadeia produtiva mais ampla e adensada. determinado pela volumosa cesta de benefícios concedidos ao capital..] acumulação de capital”. bem como sobre a exploração de determinaSudene 293 . procurava-se. em princípio. Do ponto de vista teórico. “a industrialização perde seu caráter originalmente proposto. acreditava-se que o desenvolvimento de regiões menos desenvolvidas seria possível de ser obtido com a implantação de empreendimentos de grande porte. Os polos de desenvolvimento lograram alcançar expressivos níveis de crescimento de produtividade e incremento tecnológico.. Não obstante o fator indutor dos investimentos no Nordeste ter sido. a industrialização do Nordeste. SILVA. 5) que “a proposta inicial da Sudene de constituição de um ‘centro autônomo de expansão manufatureira’ não foi implementada e ficou definitivamente inviabilizada nesse novo contexto”. sobretudo da inversão de grandes empresas. e agravou-se a concentração de renda. Ao contrário. numa conjuntura [. as desigualdades espaciais foram mantidas e. ocorreu a “homogeneização” dos subespaços regionais pelo capital monopolista em expansão. as decisões de continuar investindo na região foram mudando gradualmente. até aprofundadas. Esses polos estabeleceriam relações com outros espaços polarizados mediante a estruturação de sistemas de transportes e comunicações. antes programada para ser funcional ao mercado regional. s. ou de foco em determinados segmentos industriais mais utilizadores de mão de obra e de outros recursos com maior abundância relativa nessas regiões. a Sudene – inicialmente concebida tendo como um de seus propósitos criar condições de desenvolvimento “autônomo” baseadas no desenvolvimento de uma industrialização regional – transforma-se. Os desdobramentos da política implantada pela Sudene no período de regulação autoritária consolidaram o processo de integração daquela área ao restante do País. em parte pela falta de uma estratégia mais bem aprimorada de definição de prioridades com base no adensamento de cadeias produtivas.das fontes de recursos naturais existentes nessas áreas. e aos benefícios insuficientes em termos sociais e mesmo econômicos. Em boa parte em função desses resultados insatisfatórios e também em virtude de mudanças nos métodos e processos produtivos observados. Embora tenham tido resultados concretos em termos de ampliação da estrutura produtiva. notadamente para as empresas do Sudeste do País (ALMEIDA. contraditoriamente. a falta de uma estratégia mais bem-definida de desenvolvimento tecnológico levou à dependência de tecnologias importadas e um baixo dinamismo. 2006). ARAÚJO. 294 Sudene . à medida que se generalizava no Nordeste uma forma de reprodução originariamente estruturada no Sudeste. Em essência. no contexto do movimento de integração mais amplo (OLIVEIRA. ARAÚJO. constata-se que ocorreu um “desvio” desse mecanismo. DINIZ FILHO. 2004). BESSA. o planejamento do desenvolvimento econômico vem passando por uma reorientação em termos de objetivos. a Sudene se evidenciaria como instrumento da “nacionalização do capital”. Isso porque os ganhos registrados não foram maximizados. 1977. principalmente devido aos altos custos. Assim. 2006). Nesse sentido. no sentido de se transformar cada vez mais num instrumento de indução intencional de capitalização de grandes empresas privadas. BESSA. como em algumas regiões da Terceira Itália. em um mecanismo de destruição acelerada da própria “economia regional” nordestina. atraídos pelos ganhos garantidos mediante incentivos fiscais. 2004). A presença de empresas estatais na montagem de importantes parques industriais e o afluxo de investimentos privados originados do Centro-Sul. Além disso. ou mesmo para tirar proveito de algumas vantagens locacionais que lhes permitissem obter altas taxas de lucro (ALMEIDA. essas experiências têm sido alvo de muitas críticas. quando se analisa a evolução e o aperfeiçoamento da legislação do sistema de incentivos no Nordeste. incidiram de forma decisiva no processo de modernização regional imposto pelo regime militar (DINIZ FILHO. Como um grande mercado consumidor de insumos e alimentos. mas antes orientar o fortalecimento da articulação interregional do mercado interno. Isso reflete também uma maior democratização das sociedades capitalistas. as inovações industriais do Centro-Sul agiriam favoravelmente no processo de crescimento econômico em todo o País. Não se pode negar que houve avanços e desenvolvimento. LIMA. tem incorporado mais intensamente as instâncias locais e as atividades de menor escala./d. não constando da agenda do Estado a superação das disparidades proporcionadas pelo desenvolvimento desigual. o processo de integração passa a ser equacionado através de projetos de ampliação das fronteiras econômicas internas. a perspectiva da “ciência regional” aceitava a diferenciação centro-periferia como uma manifestação natural do desenvolvimento (CORREA. Com isso diferentes atores sociais passaram a ter um pouco mais de acesso aos níveis decisórios. até mesmo por conta da reorientação dos estados nacionais e da descentralização do poder da instância federal para as estaduais e municipais (SICSÚ. As políticas de desenvolvimento deveriam orientar uma diferenciação hierarquizada do processo de integração nacional. 1986).). Nesse sentido. segundo a teoria dos Polos de Desenvolvimento (SICSÚ. os estados de industrialização mais avançados assegurariam uma condição estável para o crescimento das regiões onde fossem capazes de capitanear os benefícios advindos das relações de complementaridade (DINIZ FILHO. mas os seus frutos foram altamente concentrados. 2006). dependentes de uma forte participação estatal e com uma grande exclusão social. Nessa ótica. o discurso regional de extração cepalina tornou-se hegemônico até meados da década de 1960. inclusive das chamadas de industrialização retardatária. Como diretriz de desenvolvimento do Estado. rapidamente foram difundidos programas voltados para a difusão do desenvolvimento em torno dos centros dinâmicos do País e seus “polos de desenvolvimento” (COSTA.mas também de métodos. quando as forças militares reequacionaram a discussão territorial no País com a adoção de políticas de desenvolvimento regional assentadas nos preceitos da “ciência regional”. Não houve o “natural” espraiamento dos frutos do progresso que se esperava automático. Pressupondo que as economias regionais não possuíam motivações internas capazes de promover a diversificação de suas estruturas produtivas. SILVA.). Então. s. LIMA. 1988). s./d. SILVA. em contraste com a teoria cepalina. BESSA. passando ao largo da preocupação redistributiva do regionalismo da década de 1950 e dos discursos que apontavam planos de confronto en- Sudene 295 . ainda que restrito. Neste sentido. e colocaram em dúvida a capacidade de reprodução do capitalismo como modo de produção e de sociabilidade humana no futuro. por sua vez. e da ampliação do consumo. que sofreu fortes influências de um contexto marcado pela crise do fordismo e pela crítica ao Estado intervencionista. 3. do que um espaço geográfico reificado pela tecnocracia estatal dentro das novas diretrizes impostas pelos órgãos de planejamento no País e na construção do “Brasil Potência”. a despolitização da “questão regional” tem como base a negação dos pressupostos políticos da discussão cepalina. principalmente desenvolvidos. buscando pontuar o processo de integração que passa pela separação da “questão das disparidades regionais”. Assim. Mais do que nunca se percebeu que grande parte dos recursos naturais são esgotáveis. tanto sociais quanto políticos.tre o Centro-Sul e o Nordeste. do aumento da produção. e que os que são renováveis não conseguem ser repostos na velocidade necessária para acompanhar o consumo desenfreado. passaram proporcionou inúmeros impactos. está intimamente relacionada com a crise das ideias intervencionistas. tornaram cada vez mais evidentes uma verdadeira “catástrofe ambiental”. 2003). da “questão regional” e da “questão nordestina” em esferas de discussão bastante diferenciadas (DINIZ FILHO. 2006). as respostas dadas pelo capital “global” foram o “consenso liberal” e a crítica radical das políticas de regulação econômica. emerge nos países desenvolvidos o debate sobre a “crise ambiental”. a região é menos uma identidade buscada no confronto de forças sociais determinadas dentro de um campo de luta ideológica ricamente politizado. No fundo. a “crise ambiental” se desenrola como uma crise da ideia de desenvolvimento que. BESSA. com o estreitamento do campo democrático. Tais fatos. A crítica da ideia de desenvolvimento tem origem em um modelo comum a todos os países desenvolvidos: a industrialização. a exemplo do grande aumento de produtividade do trabalho humano. e consubstancia o centro das críticas liberais que ressurgem nesse momento (VIEIRA. com a formação de um mercado mundial e uma expansão da produção e do consumo de matérias-primas cada vez maiores. Aqui. O paradigma do desenvolvimento sustentável No final da década de 1970. Para os paí- 296 Sudene . Diante disso. do rebaixamento do valor e dos preços das mercadorias. O acelerado desenvolvimento industrial por que os países. especialmente nos países ricos. ao lado da crise do modelo fordista e da ascensão das ideias liberais. a relação entre sustentabilidade ambiental e desenvolvimento só pode se realizar pelo combate à pobreza. pelos de organismos financeiros (como o Banco Mundial). principalmente a partir da elaboração do Projeto Áridas. Tal estratégia coaduna-se com as exigências de ajustamento da estrutura e das políticas do Estado. e que determinaram a lógica dos programas financiados pelo BIRD a partir da década de 1990: combate à pobreza e desenvolvimento local.ses periféricos do capitalismo mundial. cujo modelo de desenvolvimento modernizara a economia e a sociedade brasileiras (VIEIRA. Essa nova estratégia foi colocada em prática. Não é à toa. Segundo o Banco Mundial. a transferência das decisões sobre as políticas econômicas do Estado nacional para instâncias externas. 2003). surge o que tem sido chamado de “novo paradigma de desenvolvimento sustentável”. Ou seja. a consequência mais imediata foi a crise do Estado desenvolvimentista. ou seja. a pobreza era a principal geradora da degradação ambiental. Nos relatórios de 1990 e 1992. conjugaram-se dois pontos centrais que foram o fundamento da estratégia de desenvolvimento proposta pelo Banco Mundial para os países “em desenvolvimento”. ainda. especialmente financeiras. desde a década de 1960. verifica-se. que o elemento central da estratégia de desenvolvimento sustentável é a participação das comunidades locais. por meio dos organismos internacionais (como a ONU). Ressalte-se. Sudene 297 . Uma de suas consequências mais imediatas foi o abandono progressivo das políticas de industrialização e modernização que marcaram a ação do Estado. o Banco Mundial e seu discurso de combate à pobreza tiveram grande influência. no campo do financiamento. também no Nordeste. portanto. 2003). e está associada à nova estratégia de liberalização e desregulamentação econômica dos governos dos países desenvolvidos. no campo político. 2003). Como consequência. Em seu lugar. no Nordeste. isso significou a perda de autonomia quanto à formulação de suas próprias estratégias de desenvolvimento. e no campo econômico. mediante a ação das grandes corporações econômicas internacionais e do grande capital rentista (VIEIRA. Nesse processo. que até então seguia o modelo desenvolvimentista. uma mudança no paradigma de desenvolvimento regional. configurando-se como a principal variável que explica o crescimento dos problemas ambientais. cuja implicação mais significativa é a perda da capacidade do Estado de atuar como agente político e econômico contra as contradições engendradas pelo livre-mercado. Essa mudança de paradigma deu-se nos primeiros anos da década de 1990. através das políticas de desenvolvimento industrial da Sudene (VIEIRA. No Brasil. o qual tinha como preocupação “diminuir o grau de pobreza” na zona rural (SUDENE. pelo consequente esgotamento do Estado desenvolvimentista no Brasil. ao defender a aplicação de medidas como ajuste fiscal. entre outras coisas. s. Segundo Vieira. que gerou. o Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural do Nordeste (PAPP)./d. em 1985./d. influenciadas ainda àquela época pela visão do GTDN. veio a público o “Projeto Áridas”. o relatório. a superação das noções tradicionais de desenvolvimento regional./d. 298 Sudene . No início dos anos 1980.185 No Nordeste. Essa comissão produziu um relatório cujas conclusões gerais apontavam para a necessidade de uma reorientação estratégica para o desenvolvimento regional. como saída. analisou as causas dos “desequilíbrios” regionais no Brasil e propôs. 2). Em 1991. desestatização. p. por forte crise econômica e descontrole inflacionário.). O documento incorpora as críticas às políticas desenvolvimentistas. no Congresso Nacional. s. pelo menos até 1993. na categoria de programa de desenvolvimento rural. Para o “Projeto 185. tornou-se cada vez maior. 1993. especialmente a partir do início da década de 1990 (VIEIRA. desregulamentação da economia. a Comissão Especial Mista sobre “Desequilíbrio econômico inter-regional brasileiro”. A presença das agências de financiamento externo (BIRD e BID) nas políticas de desenvolvimento no Nordeste. cujo objetivo foi fazer um balanço das ações do Estado no desenvolvimento regional e propor ações que superassem os “desequilíbrios” regionais. A conjuntura da década de 1980 foi marcada pela crise da dívida. Depois.que o combate à pobreza e o desenvolvimento local aparecem como partes essenciais do conceito de desenvolvimento sustentável. e a adoção de um novo modelo orientado pelas novas concepções de desenvolvimento que estavam em pleno amadurecimento e que atendiam pelo nome de “desenvolvimento sustentável”. s. esboçando uma concepção de Estado e de regulação econômica de nítida ascendência neoliberal. desde então. foi criada. Devido às limitações financeiras causadas pelo comprometimento fiscal com o pagamento dos serviços da dívida.). os financiamentos de organismos como o Banco Mundial acabaram constituindo uma necessidade para a preservação do modelo que estava sendo gestado. foi redefinido no âmbito da nova estratégia centrada nas duas linhas mestras das políticas do BIRD hoje: “desenvolvimento comunitário e alívio à pobreza” (VIEIRA. Em 1993. cuja missão era “elaborar” um novo modelo de desenvolvimento para o Nordeste. ainda se enquadrando. 1990. três iniciativas devem ser destacadas. 32-33) (VIEIRA. além da descentralização e da “delegação de competências” à sociedade (BRASIL. abertura externa.). p. foi criado o Programa de Desenvolvimento Rural do Nordeste. que passa a utilizar o axioma dos rendimentos crescentes. com a adoção de planos estaduais de desenvolvimento sustentável (que seguem o modelo proposto pelo Projeto Áridas e que têm. em oposição aos modelos de desenvolvimento “de cima para baixo” adotados no auge do processo de industrialização nacional (UDERMAN. não apenas no sentido “ambiental”. inúmeros argumentos favoráveis à adoção de políticas de desenvolvimento endógeno e sistemas de formulação participativos surgiram. A partir de então. cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia local e/ou a atração de excedentes provenientes de outras regiões. e consequentemente a ampliação do emprego.Áridas”. do produto 186. o conceito de desenvolvimento endógeno está associado ao surgimento da teoria do crescimento endógeno. que pressupõe uma integração das ações políticas. desenvolvimento regional endógeno186 pode ser entendido como um processo interno de ampliação contínua da capacidade de agregação de valor sobre a produção. A importância do “local” e o desenvolvimento endógeno Na tentativa de se obter um processo menos excludente e com maior internalização dos seus frutos. mas também no sentido da “sustentabilidade”. o combate à pobreza e a participação da sociedade justificam a própria elaboração da nova estratégia. a Sudene. 2008). a partir de 1995. Na teoria macroeconômica. É nesse contexto de redefinições estratégicas que se verifica uma adesão generalizada. s. passa a adotar o paradigma do desenvolvimento sustentável. por parte dos governos estaduais nordestinos. Segundo Amaral Filho (1999)./d. Para o “Projeto Áridas”. um dos pontos que distinguem o novo modelo (desenvolvimento sustentável) do anterior (desenvolvimentista) diz respeito à compreensão do desenvolvimento como um “processo global”. no combate à pobreza. Nesse processo.). 4. que era economicista e exclusivamente voltada para o crescimento econômico. da gestão e do controle social e exige uma adequação institucional. Sudene 299 . que fora uma das diversas instituições que trabalhar na elaboração do Projeto Áridas. no início dos anos 1990 começaram a surgir no Brasil novas concepções teóricas aplicadas ao planejamento regional. bem como da capacidade de absorção da região. ao novo paradigma de desenvolvimento. o objetivo justificador de toda a política de desenvolvimento) (VIEIRA. e diante da crise fiscal e do surgimento de novas estratégias observadas em alguns países. em contraponto à visão desenvolvimentista. por estado. clusters. o conceito de capital social passava a permear o discurso de organismos internacionais.e da renda do local ou da região. que já incorporara o conceito de desenvolvimento sustentável. o Estado passa a desempenhar uma nova função. Essa visão é incorporada por diversas instâncias públicas e instituições preocupadas com o tema do desenvolvimento. a exemplo do Banco Mundial. Na primeira fase. passa. como um processo de transformação. a base de decisões autônomas por parte dos atores locais amplia-se. O critério principal para a seleção dos municípios que serviriam de piloto foi o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A Sudene. 300 Sudene . recomendações e propostas de políticas públicas dirigidas para o fortalecimento institucional. nos 11 estados da área de atuação da Sudene. 33 municípios foram atendidos pelo Projeto Piloto. antes de tudo. Ainda de acordo com Amaral Filho (1999): o desenvolvimento endógeno deve ser entendido. e não mais pelo planejamento centralizado. então. com base em inúmeras pesquisas (a exemplo da Terceira Itália e do Silicon Valley). com menores IDH seriam escolhidos. Assim. governos e organizações não governamentais. 187. Sua primeira grande experiência nesse sentido foi o Programa Regional de Desenvolvimento Local e Sustentável. O referido programa tinha por objetivo reduzir as desigualdades regionais através do estímulo a políticas de desenvolvimento local e da ampliação de oportunidades de trabalho e renda. Na década de 1990. O diferencial desse processo está no fato de que passa a ser estruturado pelos próprios atores locais. Isto deve ser processado no sentido de criar um ambiente ótimo e atrativo para capturar e consolidar um desenvolvimento originalmente local e/ou permitir as atração e localização de novas atividades econômicas numa perspectiva de economia aberta e de sustentabilidade. fortalecimento e qualificação das estruturas internas de uma região. a valorizar mais os fatores endógenos do desenvolvimento.187 Nesse contexto. para a qualificação de pessoal e para a formação de redes. 2008). assim. passando à condição de mobilizador de capital social e criador de bases institucionais para a mobilização das iniciativas coletivas (UDERMAN. Sistemas Locais de Inovação e Arranjos Produtivos Locais passaram a ocupar um destaque crescente nas agendas de desenvolvimento regional. implantado juntamente com o PNUD. do BID e da ONU. Um critério secundário foi o bom desempenho conseguido pelos municípios no Programa Federal de Combate aos Efeitos da Seca. Os municípios. Nesses casos. 2001). perde a primazia como instrumento de apoio ao desenvolvimento regional. Essa abordagem sugere que o novo padrão de desenvolvimento pode ser construído em âmbito local. como estratégia de desenvolvimento regional. passa-se a argumentar que concentrações geográficas de empresas relacionadas potencializariam a geração de externalidades provenientes da maior possibilidade de cooperação. e os avanços que representam as iniciativas que visam a articular interesses e potencialidades locais em benefício de uma estratégia de desenvolvimento endógena e sustentável muitas vezes esbarram no exagero de propostas que negligenciam questões de caráter estrutural e histórico. e conferem pouca importância ao ambiente externo. considerado uma inovação na região e nas políticas implantadas pela Sudene. as soluções consi- Sudene 301 . identificando as potencialidades de cada município e investindo em experiências bem-sucedidas de geração de emprego e renda. assumindo uma visão excessivamente simplificada e fragmentada da realidade. O foco da ação do Estado desloca-se do estímulo à constituição de um polo de produção capaz de desencadear um processo expansivo. compartilhamento de experiências e difusão de inovações tecnológicas e organizacionais. a participação da comunidade. que mobilizariam as potências endógenas (ocultas e/ou reveladas) de qualquer localidade” (UDERMAN. Entretanto. sindicatos e cooperativas. APLs e redes de empresas. para a criação de um entorno atraente à maior articulação entre agentes. “da força de vontade dos agentes empreendedores. dependendo. que se manifesta nas propostas de fortalecimento de empresas de menor porte e no estímulo ao desenvolvimento de clusters. utilizou uma metodologia baseada no desenvolvimento local sustentável. por meio de organizações sociais. Partindo do pressuposto de que os custos associados à implementação de uma política industrial descentralizada concebida nacionalmente são elevados e seus resultados são poucos e pontuais. Em relação à questão industrial.O Programa Regional de Desenvolvimento Local e Sustentável. foi considerada essencial para seu pleno desenvolvimento (CARVALHO. praticamente excluindo da agenda instrumentos de peso destinados a apoiar processos de desconcentração produtiva. a atribuição de um papel ativo à região e seus agentes. surgindo envolta nos processos de fortalecimento do potencial endógeno. 2008). Para a Sudene e o PNUD. redução dos custos de transação. acima de tudo. recorrendo à transposição de experiências exitosas e à generalização de metodologias de fomento ao capital social. o governo federal passa a apostar no estímulo ao empreendedorismo e na construção de uma ambiência local propícia a iniciativas produtivas. A problemática industrial. Além disso. apesar dos avanços decorrentes da ampliação do conceito de desenvolvimento – que extrapola a visão estritamente industrialista predominante no passado – e da atribuição de um papel ativo à região e seus agentes na formulação e implementação de uma estratégia de desenvolvimento local.deradas mais eficientes para o estabelecimento de uma rota de desenvolvimento local consistem. por outro lado. Segundo Uderman (2008). a incorporação do conceito de APL à política de desenvolvimento nacional e às ações regionais conferiu uma nova direção à atuação do Estado nessa área. 2008). De 302 Sudene . mediadas pela ação das instituições de fomento ao desenvolvimento regional. Uderman (2008). desconsiderando justamente as características e os condicionantes de cada situação específica (UDERMAN. pode-se levantar uma série de entraves que parecem cercar as ações propostas a partir do novo enfoque. em princípio a transposição de metodologias e modelos identificados em estudos de casos descritos na literatura muitas vezes esbarra em elementos específicos aos novos ambientes. Sem dúvida. capaz de inserir espaços regionais num projeto de desenvolvimento nacional e mesmo de articular agentes regionais em torno de questões de interesse comum. afirma que o mesmo reconhece que: se no período áureo da industrialização nacional as propostas de desenvolvimento regional vinculadas à formação de polos de crescimento dependiam decisivamente das políticas industriais e das possibilidades de implantação de unidades produtivas. a tentativa de distensão do conceito de desenvolvimento com vistas a transpor os limites das propostas meramente industrializantes parece ter tido como efeito prático a retração de ações estratégicas capazes de modificar de maneira representativa a estrutura produtiva regional. que não necessariamente respondem da mesma maneira aos mesmos estímulos. Entretanto. que sustentam propostas horizontais e assumem focos setoriais. distanciam-se das diretrizes gerais da política de desenvolvimento produtivo. a instituição de uma visão estritamente local dificulta a formulação de uma estratégia ampla e consistente. Assim. paradoxalmente. orientando-se pelos ditames do mercado e seus requisitos de competitividade. as ações de fortalecimento de APLs. em tentar replicar experiências exitosas identificadas em outros espaços. analisando o relatório do “Estudo de Atualização do Portfólio dos Eixos Nacionais de Integração de Desenvolvimento”. 2008). agregando à sua concepção de desenvolvimento original novas concepções de política regional. a excessiva valorização do local muitas vezes minimiza a importância de um projeto nacional de superação do subdesenvolvimento. estreitando as possibilidades de transformação estrutural que poderiam decorrer de sua inserção em projetos de desenvolvimento regionais e nacionais. outras não. algumas deram certo. muita coisa foi feita. a Sudene retornou. que muitas vezes assumem uma visão fragmentada da realidade. Sudene 303 . podendo não se configurar sua sustentabilidade (UDERMAN. Sobre as políticas públicas de apoio a arranjos produtivos locais. de uma política de desenvolvimento econômico estruturante. apesar do processo de desgaste e enfraquecimento por que passou. conferindo excessivo poder aos agentes locais e à sua capacidade de sustentar processos de desenvolvimento endógenos. não foi bem-sucedida em termos sociais. Assim. fazer uma política de caráter desenvolvimentista. a ausência de uma institucionalidade apropriada aos objetivos de articulação localizada de atores diversos e/ou a carência de recursos econômicos obstruem os processos de mobilização local ou impedem a sua conversão em processos de desenvolvimento sustentáveis. Entretanto. Espera-se. A Sudene tentou. Ademais. Depois de seis anos fora do cenário nacional e regional. a Superintendência continua investindo. o propósito de fortalecimento produtivo local distancia-se. apesar de haver conseguido modificar fortemente sua estrutura produtiva. fortemente influenciada pelos movimentos do capital no plano internacional. outras tiveram resultados abaixo do esperado. que pressupõe transformações estruturais vinculadas a uma ação incisiva do Estado e de unidades produtivas dominantes. Considerações finais Ao longo de quase meio século de políticas regionais no Nordeste brasileiro. com isso. que restringe as alternativas de planejamento e limita os instrumentos de intervenção utilizados. que proporcionasse maior inclusão social e diminuição das desigualdades interpessoais e inter-regionais de renda. Outro ponto a ser levantado é que a dissociação entre a mobilização de recursos locais e as políticas macroeconômicas e setoriais limitam o potencial de transformação das iniciativas de APLs. assim como a de incentivos produtivos. que os erros do passado não sejam cometidos outra vez e que o Nordeste entre definitivamente em outro patamar de desenvolvimento. sobretudo nas áreas mais carentes.um modo geral. Isso se deve ao “localismo exacerbado”. Passo Fundo. Aglomerações Produtivas e as Políticas de Desenvolvimento Regional: uma análise para o Nordeste Brasileiro. 7 a 10 de dezembro 1999. 2006.org. na formação de infraestrutura básica. 2003. entretanto. 10 a 14 de setembro de 2001. v. dos. mas este estímulo não será sustentável. uma vez que a forma antiga de atuação ainda é necessária para a economia nordestina. a compreensão da nova Sudene. sem os papéis tradicionais do Estado na atração de empresas. E. 23. 97-128. Da esperança à crise – a experiência das políticas regionais no Nordeste. Brasília. Belém. 2001. B. A Extinção da Sudene – um marco das transformações na política de desenvolvimento regional no Brasil.. —. Acesso em: 25 de setembro de 2008. e a região continuará dependente da manutenção da política. de. Referências bibliográficas ALMEIDA. por ser a que cria os pré-requisitos para que as políticas de estímulo a arranjos produtivos sejam sustentáveis (CAMPOS./d. . C. de. C. R.br/artigo/399_bc8ec059230d137e48c02a8f42fe951a. (Tese de doutoramento. SANTOS. 2004. F. ARAÚJO. Campinas: IE/Unicamp.) —. LIMA. Diante disso. Anais do XV Congresso Brasileiro de Economistas.. In: XXVII Encontro Nacional de Economia. Anais. (Tese de doutoramento. 1999. s. R.) CAMPOS. J. ANPEC. A Endogeneização no Desenvolvimento Econômico Regional. (Dissertação de mestrado.) —. Isso significa que a saída que está sendo buscada tenta conciliar os dois tipos de política. L. Com isso. de. é que as políticas de apoio a APLs. Nova Dinâmica Regional e Novas Formas e Estratégias de Intervenção”.pdf>. AMARAL FILHO. 12.). Recife. nesse seu início. Um modelo exaurido: a experiência da Sudene. argumenta-se que o apoio a arranjos produtivos locais deve ser utilizado para potencializar os efeitos das políticas tradicionais. do. de. AQUINO. L. F. 304 Sudene . Campinas: IE/Unicamp.Não se deve perder de vista.. Sudene – a utopia de Celso Furtado. LIMA. H. que regiões como o Nordeste brasileiro são muito heterogêneas e estão em um estágio de desenvolvimento muitas vezes bastante inferior aos parâmetros internacionais. n. p. Recife: UFPE. A Sudene e as Novas Teorias de Desenvolvimento Regional. J. V M. Conferência apresentada no XIV Congresso Brasileiro de Economistas. M. novembro 2004. Teoria e Evidência Econômica. CARVALHO. Disponível em: <http:// www. 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Racionalidade e Planejamento. P R.) TAVARES./ jun. N. University of Oxford.. se faria através da incoporação de terra e produtos naturais (BECKER.que leva a uma progressiva depreciação da mão de obra local. Partindo do reconhecimento de que as dinâmicas observadas configuram um desenvolvimento baseado em produtividade espúria (FAJNZYLBER. daquela atual. 2006). Visiting Fellow at the Centre for Brazilian Studies (CBS). uma “fronteira do capital natural” seria um território onde “eldorados naturais” com grande disponibilidade de recursos Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 307 . Essas noções estão aplicadas aqui nos significados utilizados pela geógrafa Berta Becker. Professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido (PDTU) do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) e dos Programas de PósGraduação em Economia (PPGE) e de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Pará (UFPa). 1995) para outra que a trate como uma “fronteira do capital natural” (BECKER. a um esgotamento acelerado da base de recursos naturais e a uma degradação ambiental contínua dos ecossistemas” (EGLER.Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia: uma metodologia de delineamento188 Francisco de Assis Costa189 1. 2007). Trabalho realizado com o apoio do CGEE. 2005a. 2005b) – do que faria parte uma revolução científico-tecnológica (BECKER. Pesquisador Associado da RedeSist. 190. UK. BECKER. alterando sua abordagem em relação à região.190 188. lvisto como linear e infinito. 189. que a considera uma “economia de fronteira” (BECKER. cujo crescimento. se observa a necessidade de uma mudança na atitude do Estado Nacional. 1988) “. posto que resultou de texto escrito por sua solicitação (ver Costa. Foram também de extraordinária valia os comentários e recomendações de três pareceristas anônimos.. Introdução A relação entre o conhecimento. aos quais agradeço enfaticamente. 2006). para quem a “economia de fronteira” representa um padrão exportador de matérias-primas valorizadas no mercado externo. em particular o conhecimento técnico apropriado no processo produtivo. e as características atuais e possibilidades futuras de desenvolvimento de base agrária na Amazônia tem merecido uma rica reflexão entre policy makers e advisers em posições relevantes no campo científico e tecnológico que têm a região como uma de suas referências. O trabalho se beneficiou extraordinariamente dos comentários de Diógenes Alves do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). 2005:4001). do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ). duas redes de inovação: i) rede de inovação institucional (instituições de pesquisa. permitindo a interação de “. por fim. Entre uma sociedade baseada em economia de fronteira e uma vitais para a vida humana – o ar. devido a sua importância estratégica para a pesquisa científica agropecuária” (CGEE/EMBRAPA/CONSEPA.. a biodiversidade – estariam sofrendo tensões que levariam ao processo de mercantilização. É que sua efetivação implicará em grandes rupturas – no que se refere às matrizes de conhecimento. Outro que estabelecesse os nexos institucionais de integração entre o universo da produção de mercadorias e o da produção de conhecimento.” (SÁ. 2006). 2006).objeto de observação especial.. universidades) e ii) rede de inovação tradicional (povos indígenas e diversos tipos de populações tradicionais)... no que se refere às concepções subjetivas de mundo e devir. Em documento conjunto. 2005:74-77). sendo tal relevância definida em documento mais específico em termos das disponibilidades naturais.a formação de clusters competitivos de produtos e processos baseados no uso sustentável dos nossos recursos naturais” (VIEIRA. a água. no que se refere à cultura institucional dominante e. culturais e naturais com base num modelo de “exploração” sustentável nas dimensões – econômica. pelas reservas de recursos naturais que abriga e pelas tensões sobre elas exercidas por legítimas aspirações de produtores agrícolas e demais segmentos populacionais nela radicados. de modo a garantir “. 2006). Parece estabelecido o entendimento de que. o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).. a perspectiva estratégica que deve orientar uma requalificação da pesquisa agropecuária na região deverá ser a que prioriza a utilização do potencial de recursos humanos. 2006:1).. dos usos atuais que delas se fazem e das perspectivas que podem oferecer.. 308 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . mas de modo algum menos importante. destacando-se a região pela sua biodiversidade. Tais posições vêm permeando as avaliações encampadas por organizações de grande relevância para a região. à transformação de bens da natureza em mercadorias (BECKER.. no que se refere ao portfólio tecnológico disponível.1. Um que produzisse bases institucionais para a formação de uma matriz de conhecimento que mostrasse nexos consistentes entre conhecimento tácito e conhecimento codificado no que se refere ao uso da base natural da região. a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o Conselho das Entidades Estaduais de Pesquisa Agropecuária (CONSEPA) sublinham que a Amazônia deve ser encarada como “. Questionamento As decisões orientadas por tais disposições portam riscos relevantes.Isso exigiria dois movimentos. social e cultural (CGE/EMBRAPA/CONSEPA. 1. após décadas de prevalência de percepções baseadas em estruturas e agentes padrão. liderará quem em tais movimentos? Eis as questões que nos é exigido responder – referência de fundo do esforço que adiante se fará. nesse espaço onde se espera orientação ao desenvolvimento sustentável. na forma de um paradigma de modernização industrial da agricultura. 2004). redefinir.sociedade que seja fronteira de capital natural há o abismo cognitivo criado pela razão industrialista191 e seus padrões de relação com a natureza.. Uma convergência entre as tradições schumpeteriana e keynesiana (POSSAS et al.. nessa enorme e diversa região. por seu turno. na Amazônia. esse antigo dilema metodológico das ciências da sociedade. valorizará qual capital natural? Quem. subverter mesmo o papel desempenhado pela institucionalidade de ciência e tecnologia na região. Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 309 .se desenvolve sob o signo da instrumetalização e apropriação da natureza. até a visão de finalidade e sentido. submetido a que razão. poderoso de muitos modos. vem produzindo perspectivas inteiramente novas na observação da dinâmica das relações ação/agente-estrutura/agência. Em relação a isso. Será necessário. dessas com aspectos importantes da tradição marxista. nas quais os paradigmas e padrões de relação com a natureza e a natureza dos paradigmas organizacionais consolidam práxis e atitudes profundamente distintivas – dos sujeitos da produção material entre si e entre esses e os sujeitos da formação e controle do conhecimento. No aglomerado.2. Com isso. 1. Isto posto. 1979). através de Kalecki (POSSAS. nem os objetos de tal subversão: Quem. O encaminhamento teórico I: diversidade de agentes e estruturas e percepção complexa de suas relações As questões acima exigem capacidade teórica de tratamento da diversidade de sujeitos e fundamentos. residem assimetrias profundas. Não obstante. a economia vive um momento particularmente fértil. Entre instituições de acúmulo de conhecimento tácito e as de conhecimento codificado há a incongruência de suas respectivas matrizes. A “ciência moderna” é industrialista porque “. por suposto. submetido a que razão. 1988) e com as abordagens da Nova Economia Institucional e do desenvolvimento endógeno (CASTRO. 2001). parece claro que superar tais problemas requer mudanças igualmente importantes no quadro organizacional e nas atitudes. criou-se a possibilidade de analisar o desenvolvimento como processo dependente de trajetória em 191. esta é vista como passível de dominação racional e técnica pelo homem (MOREL. não são óbvios nem os sujeitos. 1999) e da Escola da Regulação Francesa (BOYER. validando que razão. desde a profunda distinção nas percepções de sujeito e objeto. promoverá qual conhecimento tácito ou codificado? Quem. à política e à ciência.. baseado em princípios selecionados. Em tal contexto.podem ser vistos como competição dinâmica entre diferentes hipóteses ou crenças ou ações” (ARTHUR.3. aqui. em particular à cultura.2) a outras dimensões da vida em sociedade. um de seus resultados: o de que as noções articuladas de paradigmas e trajetórias tecnológicos oferecem perspectivas de compreensão dinâmicas e complexas. por uma considerável complexidade e diversidade institucional (NELSO. 2006:22-23). marcados a) por dinâmicas competitivas.. cujo Estado dominante é o do desequilíbrio entre as forças decisivas e b) a isso associado. Desse esforço tem emergido programas de pesquisa orientados pela hipótese de que a conformação de uma dada realidade social tem um momento fundamental na combinação dos meios disponíveis para a produção e para a gestão da produção em tecnologias geradas e difundidas em processos. decisões sobre mudança e inovação associam-se a processos de aprendizado que “. tomam decisões em ambientes de incerteza.. Um paradigma tecnológico se constitui. 310 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia ..) Ao mesmo tempo. derivados das ciências naturais e em tecnologias materiais selecionadas. no sentido (radical) de Keynes (1970). Inscrevemos-nos nesse movimento de ideias para explorar. 1994:133). assim: a) de uma “perspectiva” de definição de problemas relevantes à luz de uma noção de progresso e b) de um conjunto de procedimentos – heurísticas – para resolver tais problemas.1) associados à dimensão econômica e c. como é claramente o caso da Amazônia. WINTER.. paradigmas tecnológicos definem também alguma ideia de progresso” (DOSI.. De outra forma. O encaminhamento teórico II: Paradigmas tecnológicos como relações sociedade-natureza – uma aproximação no que se refere à Amazônia Dosi define paradigma tecnológico “. nos quais “agentes heterogêneos”. um paradigma oferece uma possibilidade entre outras na organização da reprodução social.contextos marcados espacial e historicamente por diversidade estrutural e tecnologias concorrentes. 1982). 1. no sentido (forte) de Simon (1983). fundamentais para heurísticas de intervenção quando os problemas estratégicos de desenvolvimento reclamam reorientações nas bases institucionais de produção e distribuição de conhecimento. caracterizados por uma racionalidade limitada.como um ‘modelo’ ou um ‘padrão’ de solução de problemas tecnológicos selecionados. (. sendo sua existência concreta (histórica) c) resultado de mecanismos de seleção c. passando pelas respectivas histórias e acúmulos de expertise. pelas particularidades de uma “natureza” (para si. Além dos condicionantes econômicos. é dizer. op. a natureza está presente dominantemente como “natureza morta”. desde o interesse econômico das organizações. encampada por Marx) que possam constituir “valores de uso” próprios.. Isso acontece quando certa configuração das relações entre Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 311 . o ambiente institucional assume particular relevância na configuração de trajetórias tecnológicas. Nos processos industriais. Mas há inúmeras atividades produtivas que se realizam em interação com a natureza viva. até variáveis institucionais strictu sensu. por suposto.. 24-25). como matéria genérica intercambiável e substituível – nesse caso. como tal.. realçados por Dosi “.. ou um pacote tecnológico fechado. Como capital. que entra nos processos produtivos. As particularidades do contexto econômico se estabelecem nos critérios econômicos “. como agências públicas e interesses geopolíticos (DOSI. Nesse caso. problemas da relação entre trabalho humano. como matéria prima. Como matéria prima. a natureza é meio de produção “imediato” pela qualidade impar das suas manifestações originárias. sociais e políticos. com base em um paradigma tecnológico. a capacidade produtiva da natureza codetermina o resultado do processo produtivo. capacidade ativa e. e seu objeto último.. Os problemas a que se refere um paradigma tecnológico são. é um padrão usual de atividades que resolvem. como biomas ou ecossistemas. sublinhamos o contexto ecológico – o papel da base natural na configuração de paradigmas tecnológicos e suas trajetórias. como “matéria genérica”. força produtiva.como os fatores prováveis a operar como forças focais na delimitação das direções que toma o desenvolvimento tecnológico” (DISI. A natureza vista como matéria-prima é tratada na sua condição “mediata”.que agem como seletores definindo mais ou menos precisamente o trajeto concreto seguido no interior de um conjunto maior de possibilidades” (DOSI. 23). um capital: o “capital natural”. não é a capacidade produtiva das relações próprias e localizáveis de suas manifestações. como uma força produtiva. os problemas produtivos e reprodutivos que confrontam os processos decisórios de agentes concretos em contexto específico nas dimensões econômica. a natureza. objetivado por um modo de produção. cit. 22-23). nessa perspectiva. mas os componentes dessas relações individualmente. Considerando o elevado nível de incerteza que cerca a adoção de tecnologias. Nesse caso se igualam: a) a madeira que é retirada de um bioma e b) o solo que se usa apenas como suporte de uma fórmula química que se integra sob controle com um clima de estufa. problemas tecnológicos: isto é. 25).Uma trajetória tecnológica. por seus atributos únicos. na tradição hegeliana. institucional e social (DOSI. a natureza é objeto inerte do trabalho humano. Em qualquer dos casos. e o da gestão das políticas públicas. pode ser vista: a) como um “ecossistema originário”. Goodman. Nesse caso. um paradigma ou padrão tecnológico. que. na prática dos que operam as organizações de produção de conhecimento 312 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . por seu turno. A presença imediata da natureza como força produtiva faz a principal diferença entre a agricultura. Tais soluções se sucedem compondo trajetórias tecnológicas marcadas pelo uso intensivo da mecânica e da química e pela formação dos sistemas botânicos e biológicos homogêneos para isso necessários. portanto. Haiamy e Ruttan (1980). ou melhor. Tal esforço é central e em torno dele tem se organizado o paradigma da modernização da agricultura. industrialmente). Tal paradigma “global” está presente na realidade amazônica em dois universos: o da produção de bens. por preservado em sua complexidade. pecuários. produz com exclusividade valores de uso capazes de atender necessidades humanas ou b) como um “ambiente edafo-climático”. enquanto sua industrialização. configuração essa espacialmente delimitada e intransportável. Está. de que faz parte um conhecimento tácito difuso e culturalmente conformado. na prática produtiva e reprodutiva dos que operam os processos de uso da natureza. controlado pelos agentes produtivos mediante seus critérios próprios de decisão. uma certa interação particular entre solo e clima a permitir a produção alternativa e excludente de valores de uso em sistemas simplificados (agrícolas. observam que nesses processos a mecânica e a química têm papéis destacados. que se afirma por conjuntos de soluções selecionadas pela eficiência demonstrada no controle da natureza para que corresponda às necessidades industriais e capitalistas. isto é. Sorj e Wilkinson (1988) demonstram duas grandes trajetórias de industrialização do rural: a representada por um conjunto de soluções tecnológicas que se sucedem como esforço industrial de apropriação de papéis desempenhados pela natureza e outra por um conjunto de soluções que buscam substituir produtos da natureza viva por produtos inorgânicos e obtidos em laboratório (isto é. pois à razão industrialista (industrial-capitalista) importa reduzir essa presença e controlar o seu significado. nos quais se destacam aquelas que condicionam a produção e difusão de conhecimento científico e tecnológico. é utilizada em um processo produtivo particular. um bioma. domina. e a indústria. silviculturais) com o propósito de maximizar a produção de biomassa por unidade de tempo/espaço. sendo a primeira o fundamento das soluções onde há abundância de terra e a segunda onde esse fator é limitado.elementos vitais da natureza. entre os setores da produção rural. em nível global. Isso tem tido grande importância no tipo de dinâmica tecnológica que o desenvolvimento da sociedade capitalista vem produzindo nesses setores. quando a terra é um suporte descartável. Os critérios privados. Todavia. um paradigma tecnológico – que trataremos como “paradigma extrativista” -. protagonizada por atores privados e organizações. não está sozinho na configuração da realidade agrária da Amazônia esse que chamaremos aqui de “paradigma agropecuário”. 1. Há formas de utilização da base natural da região que pressupõem a manutenção da natureza originária e configuram. Em tal perspectiva. quando incorporada na condição de sistema edafo-climático para a produção agropecuária. quando se desmonta o ecossistema para comercializar suas partes. além de incorporado em meios de produção gerados com conhecimentos obtidos alhures. Para tanto.4. a verificação das suas causas e inquirição das condições institucionais que as superem. não desembocam necessariamente nos melhores resultados para o conjunto da sociedade. A natureza é vista e tratada. Encaminhamento metodológico O “paradigma agropecuário”. mesmo ganhadores na disputa entre trajetórias. também. Faz-se necessária a antecipação de tais inconsistências. como perspectiva de progresso ou desenvolvimento. Eles se desenvolvem em concorrência. A divergência poderá crescer mediante uma perspectiva de progresso e modernidade balizada por máxima esperança de sustentabilidade ecológica e equidade social. partindo da premissa de que há uma relação íntima e indissociável entre sujeito e objeto do conhecimento tecnológico. As soluções daí derivadas organizam as trajetórias tecnológicas sobre as quais procuraremos discernir. a natureza (a base natural) é vista e tratada na condição de matéria prima em dois estágios – no inicial. em particular as que lhes são fonte de conhecimento e inovação. e conjunto de procedimentos que pressupõem a transformação industrial da natureza originária no atendimento de necessidades reprodutivas da sociedade. e no final. que pressupõe a manutenção dessa mesma natureza originária. por isso. No interior de cada paradigma. como um capital natural. se deve invesTrajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 313 . porquanto perspectiva particular do uso social dos recursos e de resolução dos problemas a isso afetos.codificado e de transmissão das soluções tecnológicas daí derivadas. confrontam-se trajetórias também em concorrência materializada no embate entre as estruturas que gerem os processos produtivos e suas instituições de suporte. por um antagonismo de fundo com o “paradigma extrativista”. na Amazônia. se desenvolve. 2005. por seu turno.6) e a forma como desenvolvem no tempo (2. procurar-se-á delinear trajetórias tecnológicas no limite oferecido pelas estatísticas disponíveis (discutiremos esses limites em 2. 1998. que estabe314 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . Colocados no campo de visão os resultados de tal empreitada. 25). O modelo relacional que nos orienta está esquematizado na Figura 1.2. 2000. O que nos levou a uma estratégia de trabalho que privilegia a observação das relações entre as trajetórias e seus produtos – levando bem longe a exploração da compreensão de que produtos são fenômenos das trajetórias (2. por outra. Nesse momento nos manteremos atentos para o alerta feito por Dosi de que “podem ser muito difíceis tais mudanças. 2006.2. Ao final se discutirão questões relativas ao futuro da Amazônia e as implicações nas políticas de C&T que visam mudar “trajetórias indesejadas” em favor de “trajetórias desejadas” numa perspectiva de um desenvolvimento de outro tipo. moderno porque dominada pelo ideário do desenvolvimento sustentável. COSTA. COSTA. as estruturas produtivas que operam tal conhecimento. De modo que. observando as características econômicas da produção (2.4). as interações que ocorrem entre os grupos de produtos e a distribuição espacial de sua ocorrência (2. formam o piso e o entorno de suas existências. conformam relações técnicas particulares. com maior esperança de sustentabilidade.1). 2. poder-se-á proceder a um julgamento das convergências e divergências mediante uma perspectiva de progresso social. caracterizados pela centralidade da família nos processos decisórios.7) se espera configurar. 1992). por uma parte. a relação que apresentam com as instituições (2. especialmente quando a trajetória é muito ‘poderosa’” (DOSI. isto é.1 a 2.2).2. Amparados na explicitação da diversidade de agentes e estruturas que fundamentam a produção rural na região (Seção 2). Dois tipos básicos têm prevalecido: Os agentes camponeses. seja como definidora das necessidades reprodutivas. 2007a. no qual este artigo é um passo adicional. de uma parte. na Seção 3. de outra. 2001. os espaços institucionais que os elaboram. emergem de relações sociais próprias. A diversidade estrutural na Amazônia e seus agentes: o ponto de partida das trajetórias Temos nos esforçado em estabelecer a diversidade de agentes e estruturas que conformam a dinâmica agrária na região com base nas respectivas especificidades de razões e processos decisórios (racionalidades) que.tigar. COSTA.5). profundamente marcadas pela diversidade de fundamentos naturais e institucionais que. COSTA.2. as “trajetórias tecnológicas fundamentais na Amazônia – e visualizar como paradigmas tecnológicos” se manifestam na região. Esta tem sido nossa orientação em um trajeto já longo de pesquisa (COSTA.2. seja como determinante no processo de apropriação de terras nas sagas de fronteira. trade oss média/ variança da renda. que os diferenciam intrinsecamente em seus modos de produzir. os quais dependem do trabalho assalariado e. PRADO. que se comportam orientados dominantemente por avaliações da “eficiência marginal do capital”.lecem a extensão e a intensidade do uso da capacidade de trabalho de que dispõe. Figura 1 – Fundamentos da diversidade de agentes no setor rural da Amazônia Agentes: Racionalidade (gené rica) e Características específicas “Eficiência Reprodutiva” subordina “Eficiência Marginal do Capital” (decisões pautadas e multicritério. da oferta/ segurança alimentar. essas diferenças estabelecem modos próprios de ver e usar a natureza: se como matéria prima ou como Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 315 .) Consistência Inter-temporal das decisões (sim/não) Consistência Interespacial das decisões (sim/não) Consistência Inter-temporal das decisões (sim/não) Consistência Interespacial das decisões (sim/não) Natureza: percepção social e características objetivas da reprodução TerraNatureza firme morta. natureza como força produtiva Terrafirme Várzea Instituições: acesso à natureza e a capital tangível e intangível “Property Rights” garantidos Acesso a capital Dinheiro Acesso a conhecimento codificado Acesso a capital Dinheiro Acesso a conhecimento codificado Acesso a capital Dinheiro Acesso a conhecimento codificado Acesso a capital Dinheiro Acesso a conhecimento codificado Camponeses ↔ ↔ Status de fronteira “Eficiência Marginal do Capital” (renda líquida descontada) subordina “Eficiência Reprodutiva” Patronais ↔ TerraNatureza firme morta. por isso. 2005. 1995. natureza como força produtiva Terrafirme Várzea “Property Rights” garantidos ↔ Status de fronteira Fonte: Desenvolvimento do autor. etc. do grau de desenvolvimento do mercado de trabalho. 2) Os agentes patronais. Agentes camponeses e patronais têm modelos próprios de avaliação da consistência intertemporal e interespacial de suas decisões. resultam de processos de apropriação da terra e dos recursos da natureza definidos pelo poder econômico de seus titulares. natureza como maté. ao par das capacidades respectivas de acesso a instituições e conhecimento: de acesso a capital natural (como propriedade. 2007b e 2007c) não elimina. mas subordina a “eficiência marginal do capital” (KEYNES. COSTA. para os quais a “eficiência reprodutiva” (COSTA.Várzea ria prima Natureza viva. 1993) nas decisões econômicas fundamentais. 2007a. natureza como maté. contestável ou não). 1967.Várzea ria prima Natureza viva. a capital físico e a capital humano e social. Mutuamente determinadas. 570 estabelecimentos rurais da região Norte. manejamos um banco de dados de 960 “casos” (64 microrregiões multiplicadas por 15 estratos de área). Desse modo. Agora.força produtiva – na condição de relações edafo-climáticas ou na condição de bioma florestal. essa forma de publicação permite trabalhar com graus tanto maiores de flexibilidade. baseados “. Isso porque. colocamos duas questões: a) Podemos. sobretudo. os quais “.. Em análises institucionais precedentes.) e nas proporções de uso de capital físico e de trabalho” (COSTA. tendo a freqüência do estrato como um dos seus campos. 316 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . com uma desagregação em âmbito de microrregião.diferenciam-se nas formas de tratamento do capital natural (cuja referência primordial é o bioma da floresta amazônica). Não obstante o fato de que a estrutura tabular mantém um elevado grau de rigidez. em qualquer dessas esferas. Box 1 – A Base de dados e a classificação por Formas de Produção O meio eletrônico de publicação dos dados censitários tem permitido uma utilização bem mais ampla e flexível das informações censitárias do que a publicação em papel. aqui. conceitual e operacionalmente. b) Podemos imbricar nessas categorias as questões relevantes de conhecimento e política?. 2007a:141-142). demonstramos também que tais projetos têm suportes institucionais distintos. para todos os demais níveis regionais de agregação – para as mesorregiões. logramos demonstrar que tais diferenças caracterizam claramente dois “projetos” de desenvolvimento de base rural na Amazônia. dos quais 93% camponeses e 7% patronais (para a metodologia de distinção estatística ver Box 1).. sempre se poderão considerar as médias de uma variável para os estratos como as das unidades produtivas médias respectivas e. anteriormente só disponíveis para a unidade federativa. (. 2005:144-145). quanto mais se manejem os dados em esferas espaciais mais elementares.. E. assim tratados. com o propósito de julgar o que se faz para indicar o que se poderia fazer na conformação das bases de conhecimento adequadas. decompor tais “projetos” em trajetórias e situá-las em paradigmas tecnológicos?. será possível ter todas as variáveis constantes das tabelas básicas para todos os 15 “estratos de área total” usuais do Censo. com o ‘valor’ da diversidade para um desenvolvimento duradouro na região. Trabalhamos. Nos próximos segmentos nos dedicaremos a responder a esses quesitos e confrontar os resultados com perspectivas de desenvolvimento moderno e sustentável. para toda a região Norte. desaparelhada para tratar com os atores capazes de gerir diversidade e com as manifestações e resultados locais dessas capacidades” (COSTA. no âmbito geográfico em que se esteja trabalhando. mas.. cada estrato ganha a condição de um “caso” em um novo banco de dados passível de retabulação e processamento.. não apenas pela velocidade de acesso. “com os dados que nos são disponíveis”. pelo fato de permitir que se obtenham todas as tabelas padrão que apresentam os resultados do Censo.. Numa análise que confrontou quatro modelos multivariados que explicitavam os fundamentos produtivos e os resultados da produção com 443. para as microrregiões e para o município. numa razão técnica incapaz de lidar. a primeira informando sobre o passado de X e a segunda sobre seu futuro. permitindo não só a edição de variáveis existentes e a criação de novas variáveis e indicadores com abrangência total. para aquela variável específica. A força de trabalho familiar total = total da categoria do Censo “membros não remunerados da família maiores de 14 anos” mais a metade da categoria “membros não remunerados da família menores de 14 anos”. 2000:110-130). A força de trabalho de terceiros foi obtida pela soma dos gastos com salários. por sua vez.Essa metodologia aumentou muito as possibilidades de utilização das informações. Os dados disponíveis e a noção de trajetória: o ponto e seu entorno Temos dois tipos de dados que cobrem o setor rural da totalidade da região Norte: os censos agropecuários. além daquilo que vemos no ponto? Podemos dizer algo sobre o caminho do qual este ponto é uma passagem. com periodicidade anual (Produção Agrícola Municipal. estruturas de produção e venda etc. só vemos o ponto. Mas. a pontos de trajetos percorridos pelos estabelecimentos. Assim. Os censos são as mais amplas pesquisas com mesma metodologia que se dispõe e os acompanhamentos anuais. como a melhor operacionalização de conceitos-chave para a compreensão da realidade agrária em âmbito bem mais elementar. relações sociais e técnicas. a segunda da relação entre Censo e os acompanhamentos conjunturais. com mais de duas centenas de variáveis sobre relações de propriedade. Produção Extrativa Municipal. Esse critério é necessário e suficiente por razões apresentadas antes (ver COSTA. distinguimos os casos entre “camponeses” e “patronais”. nesse sentido. Sabemos que tais caminhos são conformados por ajustamentos contínuos naquela variável. estatisticamente bem mais abrangente do que nos havia sido possível até então. como se exige a partir das ideias apresentadas na introdução deste segmento? A resposta a essa pergunta tem duas partes. Se Xt é uma variável do Censo. Produção Pecuária Municipal etc. processados no passado. 2. A primeira depende do próprio Censo. e. e “patronal” o estabelecimento médio com força de trabalho de terceiros acima de 1/2.).1. então posso dizer algo Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 317 . que definirão tendencialmente seus próximos momentos. com base no tipo de força de trabalho utilizada. A questão metodologicamente relevante é: podemos dizer algo mais. com t representando o ano de levantamento. os mais amplos e sistematicamente levantados indexadores de algumas das variáveis constantes dos censos. Se considerou “familiar” ou “camponês” o caso cuja participação relativa da força de trabalho de terceiros total estimada no total da força de trabalho não ultrapassou 1/2. e os acompanhamentos conjunturais. Fonte: Costa 2007a. para cada variável. Os dados de um censo referem-se. com empreitas e outros contratos de prestação de serviço dividida pelo valor médio da diária prevalecente multiplicada por 300 dias médios de trabalho por ano.estratos de área x para a microrregião y – calculamos a força de trabalho total pela soma da força de trabalho familiar total mais força de trabalho de terceiros aplicado à produção. do mesmo modo que XPt e XFt o são. Do seguinte modo: para cada um dos 960 casos do banco –. ao tempo que suprem as necessidades sociais de um conjunto dado de produtos rurais. Entre o primeiro. as formas de produção que pressupõem a transformação da natureza originária. em que as decisões passadas influem no presente e. onde n e m são lapsos de tempo indefinidos.(xt-n/xt) e Xt+n = Xt. . quanto mais um conjunto particular de soluções se torna importante como supridor das necessidades sociais. por parte dos agentes envolvidos. Trajetória Tecnológica: um conceito operacional e a estratégia da pesquisa Seguindo orientação teórica já detalhada anteriormente. há posturas intermediárias que conformariam um “paradigma agroflorestal”. e o último. De tais posturas derivam as soluções técnicas e institucionais (os conjuntos de procedimentos que se constroem no tempo em concatenações próprias de trajetórias.2. levantada em pesquisa conjuntural. se Xt. e. venha ele a ocupar o espaço social do suprimento dessas necessidades. informado por XFt. a noção de paradigma tecnológico aplicada à produção rural na Amazônia está aqui referida às atitudes fundamentais mediante a base natural da região: num extremo. condicionam o futuro) para os processos produtivos realizados em condições particulares que. em confronto concorrencial entre as trajetórias tecnológicas. são soluções moldadas para atender aos anseios privados dos agentes que gerem esses processos produtivos. Essas interações dinâmicas entre necessidades sociais e privadas. 2. tem em xt. uma proxy. modelos complexos demonstram que. se fazem. porém sistemática. estas as formas particulares e concretas de realização de um paradigma tecnológico – de realização de uma ontologia de relações com a natureza. portanto. 1994). porém reais. que chamamos “paradigma agropecuário”. as formas de produção que pressupõem a manutenção da natureza originária (o bioma florestal amazônico). noutro. passando por Xt. que “chamamos paradigma extrativista”. de outro. e procedimentos técnicos e institucionais. estas. indo para um provável Xt+m. no Censo. Por outra parte. maior a capacidade de realização. realizadas nos processos produtivos de produtos particulares.sobre a trajetória de X: ele está vindo de um provável Xt-n informado por XPt. de um lado. pode-se considerar – com margem de erro que depende da qualidade da pesquisa – que Xt-n = Xt. tanto mais. assim. de rendimentos adicionais (crescentes) provindos do ambiente institucional (ARTHUR. sendo num lapso de tempo definido e real. E.(xt+n)/(xt). Usaremos adiante exaustivamente essas possibilidades metodológicas. 2. a eficiência da trajetória de que participa na realização subjacente dos anseios privados – sua relevância microeconômica privada. Daqui por diante esta será uma referência recorrente. Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 319 . a capacidade de um dado conjunto de produtos de compensar os gestores dos processos produtivos revela sua eficiência e. 2. desde o início. Primeiro. o que será feito nas Seções 2. Não seria errado presumir. se um grupo de produtos se revela fonte de investimentos. e por essa via a relevância social (para o todo da economia em questão) da trajetória que lhe é subjacente – seu peso na configuração da divisão social do trabalho. Terceiro.3 e 2. tal como indicadas na última coluna da Tabela 1. e. Como corolário. permanentes. três noções importantes para este trabalho. oito combinações lógicas são possíveis. se de plantios de culturas temporárias.Um resultado desse entendimento. aprender mais sobre natureza e forma dos sistemas que eventualmente representem ou integrem. Conhecidas a relevância social e privada dos grupos de produtos. Com ela se pretende designar o conteúdo empírico do tipo de informação relativa à produção disponível no Censo Agropecuário. que é o valor agregado da produção classificada por origem: se produção animal ou vegetal. sistematicidades a priori desses conjuntos de produtos. que por trás desses conjuntos de produtos sob essas classificações encontram-se sistemas ou subsistemas de produção – presumimos.192 nas variações da produção total revela a sua importância. 192.4.2. Segundo. em conseqüência. 2.2. per si. de médio e pequeno porte. ele é base da capacidade de expansão da trajetória que lhe é subjacente. silvicultura etc. Se deve lembrar que estes dois pontos podem guardar relação dinâmica.2. não explicitaremos tal presunção até dar outros passos na investigação que nos permitam qualificar melhor os grupos de produdtos e. as quais permitem inferências na qualificação dos modos como participam das trajetórias que lhes fundamentam. por essa via. se da pecuária de grande. Essas combinações constituem interesse para análise em maior detalhe. é o de que toda produção se faz como parte de alguma trajetória – portanto. no interior da segunda. produtos são fenômenos de trajetórias.2. a serem integradas nos sistemas maiores pelas trajetórias que pretendemos delinear. qualificar a produção (para o que temos um número considerável de variáveis bem informadas no Censo e nas estatísticas anuais) pode ser caminho para se chegar à compreensão das trajetórias que lhes são subjacentes (as quais não se deixam ver a olho nu). de considerável valor experimental. portanto. Todavia. no interior da primeira.1. Por isso. bem como se os mesmos constituem-se como fonte de investimentos. a relevância de um dado produto ou conjunto de produtos. assentadas sobre “peculiares relações sociais” (trabalho familiar e trabalho assalariado) distinguem-se entre si por seus fins e pelos meios utilizados para alcançá-los. As diferentes composições de produtos que formam o valor da produção final. constituem os “fundamentos técnicos” das formas de produção. produtos diferentes. Estruturam-se. influenciando na expansão de modo consistente. mediadas por conhecimentos e meios materiais de produção. expressam as formas como tais combinações de disponibilidade se justificam socialmente – como as formas de produção 320 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . como resultado dessas configurações.1. por seu turno. porém sem capacidade endógena de desenvolvimento Posição principal. têm fundamental importância) e ofertam.2. podendo se constituir financiador Principal. isto posto. influenciando na expansão de modo consistente e com capacidade endógena de desenvolvimento Posição principal. porém inconsistente e decadente Decadente ou ad hoc ou experimental Emergente com capacidade endógena de desenvolvimento Subordinado. inconsistente ou subordinada como financiador Emergente. sem capacidade endógena de desenvolvimento Fonte: Desenvolvimento do autor. As interações trabalho-natureza. Sobre a relevância social (macro) dos grupos de produtos As “formas de produção” prevalecentes no agrário da região amazônica. como combinações próprias das suas disponibilidades (as quais derivam de eventos históricos em que mediações institucionais outras. que não apenas o mercado. 2.Tabela 1 – Atributos dos grupos de produtos e expectativa quanto às formas respectivas de participação nas trajetórias tecnológicas subjacentes Classe do produto ou grupo de produtos quanto aos seus atributos G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8 Atributos dos grupos de produtos Possibilidades Socialmente relevante Fonte de investimento Compensação privada positiva Expectativa quanto ao modo de participação na trajetória subjacente 1 Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro 2 Verdadeiro Verdadeiro Falso Falso Falso Verdadeiro Falso Verdadeiro Falso Falso Verdadeiro Falso Falso Verdadeiro Falso 3 4 5 6 7 8 Falso Falso Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro Falso Posição principal. YFN (1) Onde a variável dependente é: YB = Valor Bruto de Produção (VBP) total da forma de produção em questão (R$) e as variáveis independentes são: YPC = Valor Bruto da Produção (VBP) da pecuária bovina: boi em pé (R$) YPL = VBP da pecuária bovina: leite e venda de matrizes e outros produtos (R$) YPM = VBP da pecuária de médios animais: basicamente suínos (R$) YPP = VBP da pecuária de pequenos animais: basicamente aves (R$) YCP = VBP das culturas permanentes (R$) YCT = VBP de culturas temporárias (R$) YCH = VBP de hortigranjeiros (R$) YS = VBP da silvicultura (R$) YFM = VBP do extrativismo vegetal: madeira em tora (R$) YFNM = VBP do extrativismo vegetal: produtos florestais não madeireiros (R$) Os coeficientes β descrevem o modo como cada grupo de produtos e. mas sim.YPL Y BPM YPM Y BPP .YCT Y BCH .YCP Y BCT . As diferentes composições de produtos agregadas pelas formas de produção fundamentais para toda a região Norte serão expressas aqui por funções do tipo genérico: YB Y BPC . isto posto. caracterizado pelo conjunto de coeficientes {βPZ}. o primeiro para os estabelecimentos com o atributo de “camponês” no banco de dados já apresentado (a regressão resultante refere-se ao modo de produção camponês na região Norte).YFM Y BFN .YCS Y BFM . no Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 321 . nacional e mundial.YPP Y BCP . de sua relevância social. Nossa análise distinguirá dois modelos lineares derivados de (1). o subsistema de produção a ele subjacente. regionais.YCH Y BCS . caracterizado pelo conjunto de coeficientes {βCZ} e o segundoo para os estabelecimentos com atributo de “patronal” (a regressão resultante refere-se ao modo de produção patronal na região Norte).participam da “divisão social do trabalho” organizada por mercados amplos – locais. macro. não no seu valor original. onde βCZ e βPZ são os coeficientes padronizados (Standardized Regression Coefficients) das regressões lineares derivadas de (1) expressas em z-scores. isto é.YPC Y BPL . participam na variação da produção total YB de um modo de produção: são indicações. consequentemente. 2.. a função (2) é uma “função de desempenho”. a composição da produção que reflete as necessidades privadas dos gestores dos processos produtivos pode ser expressa pela função: YL Y LPC . isto é. Contudo.número de desvios-padrão em torno da média (BÜHL.. isto é.YPL Y LPM YPM Y LPP . Enquanto a função (1). a função (2) expressa de que modo os resultados que importam aos agentes privados. ou são externas. dependem de tal estru- 322 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . relacionando-se com cada unidade por iniciativa de seus controladores. Isto quer dizer que se espera uma “indução no processo de mudança” que se faz referido também às razões dos agentes e às condições objetivas a partir das (e sobre as) quais operam. podem ser comparados diretamente na explicação do que ocorre em YCB.YPP Y LCP . a remuneração privada dos agentes controladores dos estabelecimentos considerados. tal como a encontramos no momento do Censo.YCS Y LFM . βCBPC corresponde ao número de desvios-padrão que YCB varia em torno de sua média para uma variação de 1 desvio-padrão em YCPC em torno da sua própria média.YCH Y LCS . enquanto a variável dependente – YL – corresponde à Renda Líquida (VBP total menos Custo da Produção Total). cuja regressão nos moldes apresentados descreve a forma como o grupo de produtos considerados atua na remuneração dos gestores. Por exemplo. Ajustada pela interação desses vetores. assim.YPC Y LPL .YFN (2) Na função (2) os valores das variáveis independentes são os mesmos da função (1). 1996:197-98. expressa ajustamentos processados cumulativamente para atender às necessidades sociais. como já argumentamos. suas remunerações. BACKHAUS et al.YFM Y LFN . na perspectiva de seus gestores.2. Assim especificada. legadas pela vivência particular de cada uma em processos históricos da formação social da região. Tais condições são internas a cada unidade produtiva. mas pela via do mercado ou de outras instituições.YCP Y LCT . 2000:18-19. Influência dos grupos de produtos na rentabilidade: sua relevância privada A composição da produção.2.YCT Y LCH . enquanto que a soma de todos os coeficientes βC em YCB representaria o número de desvios padrão que este variaria em torno da sua média quando todas as variáveis variassem 1 desvio-padrão e. 1998:147). isto é. ZÖFEL. HAIR et al. uma “função de produto”. expressa o resultado social (total) de uma divisão social do trabalho. a composição da produção também reflete finalidades das formas de produção na ótica privada. por isso. obtidos a partir da base de dados separada em dois sets em função da forma de produção (conf. medida da participação do crédito nessas variações. por um lado. se forma basicamente orientada pelo que se descreveu na relação (1) e. como uma função das disponibilidades exógenas representadas por outras fontes de financiamento. Nessa notação.YPP I FCP .turação. 2.YFM I FFN .YPL I FPM YPM I FPP . compõem duas matrizes de valores de [βPz i j ] e [βCz i j ].2. como uma função da renda gerada na economia em questão.C I (3) em que IF é o volume de investimentos observado em função dos grupos de produtos de (1) e (2) e de do volume de crédito para investimentos obtido (CI). à forma de produção patronal (primeira parte da Tabela 2) e à forma camponesa (segunda parte da Tabela 2). que os créditos bancários indicam a participação das fontes exógenas de financiamento.YCS I FFM . por outro. conforme especificado na Tabela 2.YCP I FCT .YFN I FC .YCT I FCH . i denota um grupo de produtos que compõe a produção total da forma de produção e j um dos três tipos de função.2. da variável CI. respectivamente. Isto é.YPC I FPL . Influência dos grupos de produtos nos investimentos: fontes endógenas e exógenas Os investimentos fundamentam a dinâmica das formas de produção e das trajetórias que organizam – garantem sua expansão. Mantido o método já apresentado.4. ainda. Os investimentos podem ser analisados pela ótica da sua fonte. correspondendo. Usamos esses valores para estabelecer os atributos dos grupos Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 323 .YCH I FCS . mediante a regressão da função (2) influencia βYLPC na variação da rentabilidade líquida dos estabelecimentos. Considerando que a renda é diretamente correlacionada com o Valor Bruto da Produção e. 2. Box 1). os coeficientes β das variáveis Y nas regressões resultantes são medidas da participação dos grupos de produtos nas oscilações de investimentos (uma medida da participação de Y na variação do investimento). Qualificação dos grupos de produtos Os coeficientes das regressões discutidas anteriormente. tem-se: IF I FPC .3. A esta função denominaremos “investimento-fonte”. que na regressão da função (1) influencia βYBPC na variação da produção total. A mesma variável independente YPC. Arbitrou-se. “Falso”.1 então 1 “Verdadeiro”. Quatro são. importa sua expressão relativa mediante a influência que o mesmo grupo de produto exerce na variação do VBP total. A rigor.de produtos. 193.. que mais que a medida absoluta da influência na variação da renda líquida. É o caso dos produtos da pecuária de corte e da avicultura entre os estabelecimentos patronais e da pecuária leiteira entre os camponeses. procedeu-se ao seguinte teste: se ( β i 2 / β i1 ) > 0 então P “Verdadeiro”. de outro modo. utilizou-se o seguinte critério: se β iP > 0. pois. de outro modo “Falso” (i = 1. as regressões especificadas pelas funções de tipo (1) produzirão betas necessariamente positivos dado que os valores estatísticos da variável dependente são totalizações das variáveis independentes. Os atributos resultaram das seguintes condições: a) Para qualificar um grupo de produtos segundo o atributo “Socialmente relevante” (Tabela 1). Os grupos de produtos inconsistentes na perspectiva privada – quando se expandem. as situações a considerar: 1. Significa.. 324 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . e culturas temporárias. Dos produtos relevantes.10. que serão considerados de relevância macro (social) os grupos de produtos cujos VBP variam na mesma direção que o VBP total193 e em intensidade relativa (número de desvios-padrão) correspondente a pelo menos 10% daquela variação.. reduzem a rentabilidade privada. Esse resultado diz muito sobre a força de expansão e sobre a consistência da relevância social com os anseios privados. com destaque para a pecuária de corte. b) Para qualificar um grupo de produtos conforme o atributo “Compensação P P privada positiva”.. ver Tabela 2). de acordo com o indicado na Tabela 1: quanto ao peso e importância na variação da produção total – relevância social. silvicultura e culturas temporárias. Valores de ( β iP / β iP ) ≅ 1 indicam situações em equilíbrio e expansão 2 1 com rendimento constante. Dado que β i1 é sempre positivo (ver nota 4). isso significa que serão considerados consistentes com os fins privados os grupos de produtos cujos VBP influem positivamente na variação da Renda Líquida total (a variação da sua produção influi diretamente proporcional na rentabilidade total). quanto à rentabilidade privada e quanto à endogeneidade das fontes de recursos para investimento. Sete grupos de produtos entre os estabelecimentos patronais e 6 entre os camponeses apresentaram-se como relevantes. 2. também. este é o caso dos que resultam das culturas temporárias e permanentes entre os estabelecimentos patronais e da silvicultura entre os camponeses. entre os últimos. portanto. entre os primeiros. culturas permanentes e pecuária de leite. 8%) 24. cargas fatoriais das combinações de grupos de produtos relativos às estruturas camponesas e patronais na região Norte Atributos dos grupos de produtos1 Fonte de investimento C1 C2 Classe do Grupo de Produtos C3 Cargas fatorias (primeiros cinco fatores ou componentes principais) C4 C5 Grupos de produtos I 3 Socialmente relevante1 Compensacão privada positiva1 Coef.038b V V F V V V V F V V (0. atributos associados de qualificação dos grupos de produtos.119a matrizes Cult.002 0.308a -0.148 F (-0.548a bovina Pec.91) V (23.287a Crédito para Investimento 0.032 -0.madei2 0.105 -0.000a 0.318 -0.189a 0.031c -0.170a -0.141 0.284 0.336 -0.053 R2 1.363a rárias Pec.8 12.489 0.004a jeiros Pec.6 325 .25) F G4 0.93) F G2 G1 G7 G1 G8 G2 0.145a nentes Silvicultura 8 0.025a madeireiro Ext.273 a Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia i Forma de Produção Patronal Ext.035c 0. Suínos 4 0.021 0.206 0.342 -0.756 0.651a -0.112 0.Tempo3 0. β Variáveis Dependentes YB YL j 1 2 0.051 -0.16) F G8 -0.032 0.715 0.019a -0.016 0.012a Pec.862a % Variância (80.664 -0.315 0.119 0.020 c c -0.525 0. Aves 10 0.095 -0. Corte 5 0.13 0.712 0.072 F (-3.289 0.774 0.2 16.53) F G2 0.29) V G7 V (1.183 -0.304 0.75) V (0.069a 0.111a reiro Cult.105a -0.097 -0.120 0.2 13.492a 0. Perma7 0.682a 14.977 0.30) V V (2. não 1 0.54) V F F F (-1.079a -0.083 -0.459 F V (3. Leite e 6 0.33 0.407 0.262 0.Tabela 2 – Coeficientes β das regressões.59) V V (0.054 a -0.507 0.280a b a 0.039c a 0.516a Hortigran9 0. 065 a b 0. os valores F e t são muito altos e a significância em consequência 0.156a madeireiro Ext. não 0.478a rárias a Pec. Suínos 4 0.219 -0.1 23.334 -0.223a 6 0.215a matrizes Cult.258 0.994a 10.04) V G1 V (0. β Classe do Grupo de Produtos C5 Variáveis Dependentes Atributos dos grupos de produtos1 Cargas fatorias (primeiros cinco fatores ou componentes principais) YB YL j 1 2 -0.581a 3 0.111a 0.320 0.19) F G2 0.014 0.079a -0.86) V G1 V (1.78) F F (-1.017b Pec.2 15.058a jeiros Pec.152a bovina Pec.194a 7 0.399 -0.580 0.845 V (0. Significativo a 5%.005c Hortigran0. Perma0.199 0.082a 0.022 0.408 -0.9) 42.210 a a V V V F V V V F F F V (0.005 -0.223 V (1. Para regressões com R2 = 1.393 V (1.2 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia Fonte: Censo Agropecuário 1995-1996.8 5. Significativo a 0%.810 0. Leite e 0.737 -0.22) F G2 0.6 R2 1.149 0.020 c i Forma de Produção Camponesa Ext.038a -0.000a 0.045a 9 0.296 -0.788 0.178a reiro Cult.08) V V (0. madei0.184a 0. Aves 10 0. Corte 0.125 -0.607 -0.067 0.282 -0.77) V G5 -0.674 0. b.267 0.008c Crédito para Investimento 0.186a 1 0.Tempo0.155 0.009 0.905a % Variância (96.225a nentes a Silvicultura 8 0. .061 -0. Notas: a.440 V (1.56) V G1 0.275 0.026 0.416a 0.326 Grupos de produtos I 3 Socialmente relevante1 Compensacão privada positiva1 Fonte de investimento C1 C2 C3 C4 Coef. c.097a 0.011 0.085a 5 0.12) F G2 0.746 -0.386 0.00) V G6 G8 G5 V (0. Não significativo.200a 2 0. Quando combinados. estes resultados chamam a atenção para os grupos de produtos com atributo G1. apresentam rentabilidade privada e constituem fonte de investimento. maior a inconsistência da rentabilidade privada frente à relevância social que esses valores revelam e menor a força de expansão do grupo de produtos em questão. Isso significa que se o grupo de produtos se expande. também. Enquadram-se nesse caso os produtos provindos da silvicultura entre os estabelecimentos patronais e das culturas permanentes entre os camponeses. para os grupos de produtos qualificados como G2: que combinam como verdadeiros os dois primeiros atributos – de relevância macro e consistência micro – sem Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 327 . fonte de investimentos do modo de produção. portanto. das culturas permanentes e da silvicultura. Valores ( β iP / β iP ) > 1 . nas quais 2 1 o VBP do grupo de produtos varia com maior intensidade que a renda líquida total dele derivada. Para estes últimos. é também o caso dos produtos provindos de culturas temporárias. 2 1 nas quais a influência da variação do VBP do grupo de produtos na rentabilidade total é maior que no VBP total. da pecuária de leite e da silvicultura. o que indica rentabilidade crescente associada ao grupo de produtos. 4. ele contribui para a ampliação do investimento global do modo de produção – ele é. endogenamente patrocinada. o que aponta para expansão com rentabilidade decrescente. Valores 0 < ( β iP / β iP ) < 1 indicam situações fora do equilíbrio. tanto entre formas patronais como entre camponeses de produção. pecuária de leite e culturas permanentes. este é o caso dos produtos das culturas temporárias. ao contrário. que combinam os três atributos: são relevantes em termos macroeconômicos. pecuária de corte. da pecuária de corte e leiteira. Este é o caso do extrativismo madeireiro e do extrativismo não madeireiro. procedeu-se ao seguinte teste: se β iP > 0 então “Verdadeiro”. entre os estabelecimentos patronais.3. c) Para a qualificação segundo o atributo “Fonte de investimento”. de outro modo. fonte de acumulação de capacidade produtiva. pecuária leiteira e silvicultura. Tanto mais próximos de zero. entre os camponeses. 3 “Falso”. maior a inconsistência da rentabilidade privada frente à relevância social que esses valores revelam e maior a força de expansão do grupo de produtos em questão. Eles são. Eles mostram uma capacidade de expansão consistente. Dos grupos de produtos relevantes. Os resultados combinados chamam a atenção. entre os camponeses. Tanto maior o valor. indicam situações fora do equilíbrio. entre os estabelecimentos patronais. Os qualificamos isoladamente mediante atributos: se têm peso elevado. Sobre eles se pode dizer que mostram força de expansão. inteligíveis na perspectiva evolucionária que caracterizam as trajetórias?. se são rentáveis. porém não são objetos de acumulação de capacidade produtiva. se fundamentam investimentos. as quais emitem sinais em seu percurso) podem se expressar em mais que um grupo de produto – podem emitir diferentes sinais de seu movimento. se há combinações de sinais que possam.2. entre os camponeses. Os grupos de produtos qualificados como G7. É o caso dos produtos derivados da pecuária de corte. Precisamos ver. essas são suas qualidades como grupos de produto. são os que apresentam relevância macro e condição de fonte ou lócus de investimento. e. como se combinam tais diferenças na definição das trajetórias que lhes são subjacentes? A isso nos dedicaremos no próximo segmento. Assim. entre os estabelecimentos patronais. inferimos que eles subsidiarão as trajetórias de que fazem parte com esses seus atributos que nos foram revelados pela análise precedente. No 328 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . dizer mais sobre os processos e aparatos produtivos subjacentes: as trajetórias. isto posto. O que podem representar essas diferentes características dos grupos de produtos para as trajetórias que lhes são subjacentes? Ou. as questões que se colocam: Se. em que medida e de que modo esses produtos ou grupos de produtos se relacionam entre si? Caracterizam tais relações interdependência sistemicamente justificáveis. como um sistema de fenômenos. indicar participação em uma mesma trajetória: relações de sucessão e de concomitância entre grupos de produtos diferentes.apresentar interferência nos investimentos. porém com rentabilidade contestável. É o caso dos produtos das culturas temporárias e das culturas permanentes entre os patronais. do extrativismo madeireiro e da avicultura. assim. dos derivados de extrativismo madeireiro e não madeireiro. Isso porque as trajetórias (estruturas em reprodução evolutiva em contexto econômico e institucional específico. Mas isso não é suficiente para reconhecermos que trajetórias são essas. 2. Como sabemos que esses grupos de produtos são expressões de trajetórias.5. Dois tipos de relações podem ocorrer de modo a caracterizar interdependência e. visto de outro modo. qualificados os grupos de produto quanto ao papel que podem desempenhar nas trajetórias de que fazem parte. como fenômenos que nos são apresentados pelas estatísticas do Censo. Interação entre os diversos produtos ou grupos de produtos Até agora estudamos grupos de produtos. portanto. aqui também se usou para processamento o SPSS (BÜHL. Trata-se de técnica de análise estatística multivariada que visa identificar estruturas subjacentes em um conjunto de variáveis observadas. 1998:95). os fatores podem ser transformados em variáveis inteiramente novas que podem ser incluídas em análises subsequentes (HAIR. Nos processamentos de sumarização. Verificar a interdependência ou concorrência entre os grupos de produtos e avaliar o significado no delineamento das trajetórias. um grupo de produtos evolui se nutrindo. portanto. socialmente relevante para a produção total: sete grupos da produção patronal (Extrativismo Madeireiro. Cada fator indica uma interação entre grupos de produtos. no segundo evolui se nutrindo. por assimilação – e. a Pecuária Bovina de Corte e a de Leite.1996:369-376). Nesse caso. TATHAM. as Culturas Temporárias e as Permanentes. a Silvicultura e a Avicultura) e seis da produção camponesa (o extrativismo madeireiro e o não madeireiro. anulação – do outro.primeiro. que pode revelar uma trajetória. Em processamentos de redução. ERICHSON. Para tanto. por sinergismo – e. uma variável não observada cuja realidade reside apenas no fato de explicarem a variância de variáveis observadas. As cargas fatoriais obtidas são coeficientes que expressam o quanto uma variável observada está carregada ou saturada em um fator. condicionando o cálculo a 25 interações e a um número máximo de cinco fatores por análise. as culturas permanentes e as temporárias. Um fator é um construto. será a tarefa deste segmento. do outro. na análise anterior. a pecuária de corte e a de leite). Como nas regressões já apresentadas. em que um evolui concorrendo pelo espaço (físico ou de mercado) do outro. se explicitam as variáveis latentes (os “fatores”) pelos padrões de variabilidade das variáveis manifestas (reais) e as cargas fatoriais de cada variável em relação ao fator. permitindo dois tipos de resultados: a sumarização e a redução de dados (BACKHAU. propriamente. A “análise fatorial” constitui ferramenta importante para esse tipo de tarefa. WEIBER. como cada grupo compõe o fator ou componente principal – encontram-se nas cinco últimas colunas da Tabela 2. a relevância empírica do fator deverá se expressar na proporção da variância total que explica. Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 329 . uma entidade hipotética. é necessário observar as estruturas de correlações existentes entre os dados de produção dos grupos de produtos. 2000:252-327). os produtos ou grupo de produtos pertenceriam a trajetórias diferentes. As cargas fatoriais dos grupos de produtos nos fatores – os respectivos graus de importância e o sentido. Há uma terceira relação – a de concorrência. ANDERSON. mútuo fortalecimento –. ZÖFEL. PLINKE. se positiva ou negativamente. Submetemos à análise fatorial o VBP dos grupos de produtos que se mostraram. BLACK. cruzando com as formas de produção e tendo como variável descritiva o VBP dos grupos de produtos. de algum modo. 10% de culturas temporárias. Box 1). pesos (scores) para cada um dos cinco fatores analisados: o peso de cada fator se torna uma variável do conjunto de dados. Cruzando a variável “Combinações C de Grupos de Produtos” com a localização geográfica (mesorregião nos estados) dos estabelecimentos e formas de produção. pode-se supô-la correspondendo a. cujos elementos designam esses fatores dominantes. forma de produção patronal). expressão. 330 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . Sudeste Paraense – 31%). a cada elemento do conjunto de dados original (conf. ganhamos informações preciosas sobre a geografia das interações (ver resultados na Tabela 3). utilizando o VBT total como variável descritiva. O fator de maior peso foi utilizado para qualificar o elemento. a estrutura da produção média dos estabelecimentos aí posicionados. utilizamos os resultados do processamento de redução que atribui. Assim: 1.Além das cargas fatoriais. em toda a região. a que combinação de grupos de produtos (que chamamos adiante de “Combinações C de Grupos de Produtos”). se desenvolve de modo altamente concentrado nos estados de Tocantins (50% de seu VBP dominantemente na mesorregião . De modo que se assinala. Tal combinação. coluna C1. criando-se assim uma outra variável nova. é composta por 66% da pecuária de corte. Combinação Patronal. de acordo com o que indica sua classe G7) e pela extração madeireira (como suporte de rentabilidade – indicada pela classe de atributos G2). no conjunto de dados. 14% da de leite e matrizes. com 2%. adquirimos informações importantes sobre a estrutura da produção por trás dessas “combinações” (ver resultados na Tabela 4). com 3%. Conforme a Tabela 4. uma trajetória comandada pela pecuária de corte. ou participando de. que podem caracterizar uma trajetória. complementada pela produção de leite e matrizes e por culturas temporárias (estas últimas como fontes de investimentos. são produções residuais.C1 (o fator explica 24. Ocidental do Tocantins – 47%) e Pará (41% do VBP dominantemente no . Combinando o que já sabemos sobre os grupos de produtos per se (suas classes de atributos G) e o que aprendemos sobre suas interações nos processamentos mencionados podemos caracterizar as combinações C de modo a avançar na percepção de como participam das trajetórias das quais são. e a produção de madeira. cada unidade de informação (estabelecimentos em um mesmo estrato de área em uma microrregião) pertence. Considerando-se as cargas fatoriais (Tabela 2.2% da variância total na análise fatorial). As culturas permanentes. cujo VBP representava 17% do VBP agropecuário total da região Norte em 1995 (ver Tabela 7). agora discreta. poderia ser um estágio primário da Combinação Patronal.2. reforçada pelo fato de que as estruturas de produção. especializada. apesar de apresentar a maior dependência de extração madeireira (17%) de todas as combinações encontradas na forma de produção patronal. 5. ambas com atributo G1 – expansão com rendimento constante e investimento endógeno.C3 (14. no Amazonas e em Rondônia – com 10% do VBP que produz. 100% centrada em silvicultura. dos quais 20% no Sudeste Paraense).C1 uma vez que. não obstante apresentarem a maior participação de culturas temporárias entre todas da produção patronal (29% do VBP). Comandada por silvicultura. Nessa condição. Aqui.1% da variância total da análise fatorial).1% da variância total na análise fatorial). Comandada por culturas permanentes. como no caso anterior.C5 (explica 12. C1. Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 331 . Se desenvolve no Amapá (82%) e no Pará (18%). Combinação Patronal. elevada concentração em pecuária de corte (46%). do que 25% na Tocantins Ocidental) e no Pará (26%. 4. nesse caso. uma vez que se desenvolve. porém complementares. como nas mesmas regiões daquela: principalmente no Tocantins (38%. também. A estrutura produtiva média dos estabelecimentos corrobora a impressão de se trata aqui de um estágio inicial da Combinação Patronal. A pecuária para carne e as culturas temporárias se mostram importantes na combinação. de rentabilidade contestada. apresenta. 6.C1. onde realiza 67% do seu produto. 3. complementada por avicultura e pecuária bovina. Este fator parece expressar uma trajetória comandada pela combinação de culturas permanentes e da pecuária de leite. se manifesta também em Rondônia (21%).C4 (13. Comandada por culturas temporárias relativamente isoladas. Se manifesta. Combinação Camponês.C1. Essa combinação.8% da variância total na análise fatorial). mostram grande concentração em pecuária de corte (50%). A produção é.6% da variância total na análise fatorial). ou compondo em parte com a avicultura (milho para ração) ou com a pecuária de corte. se desenvolve dominantemente no Pará. além de pecuária bovina de corte (17%) e leite (11%). Extração de madeira relativamente isolada ou compondo com culturas temporárias. Combinação Patronal. também. do que 35% na Região Metropolitana de Belém. posto que se manifesta particularmente nas mesmas regiões do Pará (62%. parece se tratar de um estágio inicial de Combinação Patronal. Combinação Patronal. A impressão é de que se trata de um estágio inicial da Combinação Patronal. do que 33% no Sudeste Paraense).C2 (explica 16.C1 (explica 42. Combinação Patronal.2% da variância total). A estrutura da produção do estabelecimento médio aí detectado se assenta em proporções iguais nas culturas permanentes (30% do VBP) e na produção de aves (30%). respectivamente. Uma das duas combinações ancoradas em extrativismo não madeireiro. no Amazonas (33%). Combinação Camponês. 7. contudo. esta última apresentando atributo G1. 10.6% do VBP agropecuário total da região Norte em 1995 (ver Tabela 7). a produção de culturas permanentes e de pecuária leiteira representam. pecuária de corte e de leite. sem. A estrutura da produção se esteia em 26% de produtos do extrativismo não madeireiro.2% da variância total).C3 (15. com interações tênues com a pecuária de corte e de leite. a produção madeireira representa 42% do VBP a de .2% da variância total). leite (16%) e culturas temporárias (34%). sobretudo na mesorregião Centro amazonense (15%). extrativismo não madeireiro (15%) e extrativismo madeireiro (9%). em culturas permanentes e na pecuária de leite (12% e 8%. 9% e 10%. Combinação Camponês. e em Rondônia (11%).C4 (10.C1. Representado por interações pouco significativas entre culturas temporárias e pe- 332 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia .C5 (explica 5. Combina extrativismo madeireiro. Se expressa de modo importante no Acre (7%) e difuso no Amazonas (9%). constituindo objeto e fonte de investimentos e acumulação de capacidade produtiva. no Pará (63%). 9.8% da variância total). Trata-se da combinação na qual o extrativismo não madeireiro apresenta maior participação. (74%). 8. também no Marajó (14%) e na sub-região estuariana do Nordeste paraense (14%). mas não base para expansão. Conforme a Tabela 4. representar lócus ou fonte de investimentos – tem presença e sentido. Tem expressão bastante difusa. culturas temporárias. mas também no Sudeste paraense (7%)). No estabelecimento médio. em outros 26% de culturas temporárias. 18%. no Pará. com manifestação mais acentuada sob as condições particulares da subregião estuarina da mesorregião Nordeste paraense (26%) e nos campos de Marajó (17%). A estrutura da produção média para toda a região se assenta nas culturas temporárias (47%). Combinação Camponês. respectivamente) e 10% de pequenos animais. se desenvolve nos estados de Rondônia (35% de seu VBP) e Pará (24% do VBP dominantemente no Nordeste paraense .cujo VBP representava 24. Ocorrem fundamentalmente no Marajó (44%) e no Baixo Amazonas. culturas permanentes (19%). cujo atributo G2 indica consistência quanto ao significado e rentabilidade. Ocorre principalmente no Sudeste paraense (18%). em toda a região.Combinação Camponês. As características da combinação indicam a possibilidade de ser estágio inicial da combinação Camponês. mas também no Sudeste paraense (13%) e Metropolitana de Belém (6%).6% da variância total).C2 (explica 23. é conformada por culturas permanentes (23%). (13%). a estrutura da produção média. ou. De modo que. sendo o FNO a mais importante política rural em andamento na região (COSTA. 2. Se manifesta particularmente no Pará (21%. fundamento no diferencial de rendimentos que as qualificam nessa concorrência (DOSI.cuária de corte. não há crédito.6. Os modos como o ambiente institucional age sobre as estruturas produtivas e é influenciado por elas são. A estrutura da produção é concentrada em culturas temporárias (52%). Se o valor do IDI for maior que 1 significa que a combinação C acessou mais crédito que sua importância econômica. assim. ARTHUR. o crédito reflete o estado geral do ambiente institucional nas áreas rurais. Adotamos. 2005. um Índice de Densidade Institucional (IDI) a partir do crédito. Na Tabela 5 estão os resultados desse procedimento considerando a ocorrência da “Combinação C” no espaço. a variável crédito pode ser vista como proxy das relações institucionais dos agentes e suas formas de produção. 1994). Ademais. o crédito é fundamentalmente crédito de fomento e. permitindo inferir que teve um ambiente institucional que a favoreceu na razão direta do valor do IDI. na agricultura. a política de crédito baseada nos Fundos Constitucionais vigia há sete anos. por isso. 2006). dos quais 15% no Sudeste paraense e 6% no Nordeste paraense) e em Tocantins (20%). em concorrência materializada no embate entre as estruturas que operam os processos produtivos e suas instituições de suporte. Desse modo. onde há políticas de ordenamento territorial. pois expressam bem mais que recursos de empréstimo. como tal. Ademais. Pois. pecuária de leite e culturas permanentes (12% e 8%. determinantes na concorrência entre as trajetórias. 2006. há algum tipo de organização que o garante. Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 333 . Para tratar essa questão. há crédito. quando o Censo Agropecuário se realizou em 1995. onde as relações de propriedade da terra são dúbias. pecuária de corte (15%). Atuação institucional e “Combinações C de Grupos de Produtos” Reiteramos a noção de que as trajetórias se desenvolvem confrontando-se. respectivamente). as informações relativas ao crédito agropecuário no Censo têm significado especial. o qual resulta da divisão entre participação percentual das “Combinações C de Grupos de Produtos” no crédito (% que acessaram do crédito total) e a participação respectiva no VBP rural (% do VBP rural).2. em torno dele movimentam-se outras políticas – suas instituições e organizações mediadoras – sendo as mais notórias as de pesquisa tecnológica e as de assistência técnica. É que. mecanismo de política. se existe apesar disso. Processamentos especiais do autor.334 Tabela 3 – Distribuição geográfica de ocorrência das combinaçãoes C de grupos de produtos observada pela distribuição percentual do VBP por mesorregiões e estados Combinações (fatores) por forma de produção: Patronal Camponês C1 3% 3% 4% 1% 3% C2 C3 C4 C5 C1 C2 C3 C4 C5 5% 1 Total Localização Geográfica Estado Mesorregião Acre Amapá 82% 3% 4% 1 13% 1% 5% 11% 2% 1% 2% 3% 15% 8% 5% 5% 4% 17% 44% 17% 6% 26% 13% 1% 5% 3% Amazonas 1% 3% 35% 14% 11% 2% 1 5% 18% 1% 14% 1% 6% 11% 3% Pará 6% 15% Rondônia 2% 1% 2% 31% 5% 7% 1% 3% 1% 3% 3% 7% 12% 33% 6% 19% 2% 1% 1% 2% 13% 7% 1 33% 2% 1% 1% Roraima 8% 5% 8% 3% 2% 1% 4% 1% 3% Tocantins 100% 100% Vale do Acre Vale do Juruá Norte do Amapá Sul do Amapá Centro amazonense Norte amazonenense Sudoeste amazonenense Sul amazonense Baixo Amazonas Marajó Metropolitana de Belém Nordeste paraense Sudeste paraemse Sudoeste paraense Leste rondoniense Madeira-Guaporé Norte de Roraima Sul de Roraima Ocidental do Tocantins Oriental do Tocantins 47% 4% 100% 3% 20% 2% 1 3% 12% 2% 25% 13% 100% 2% 2% 100% 100% 100% 100% Total 6% 1% 1% 3% 2% 3% 2% 2% 3% 14% 1 14% 18% 2% 5% 1% 4% 1% 5% 2% 100% 14% 6% 100% 3% 2% 0% 3% 9% 1% 3% 3% 5% 5% 4% 10% 16% 4% 13% 2% 2% 1% 12% 3% 100% Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995-1996. . 0% 0.Tabela 4 – Composição da produção oriunda das combinaçãoes C de grupos de produtos observadas pela distribuição percentual do VBP por grupos de produtos e atividades Combinações (fatores) por forma de produção: Patronal Camponês C1 C2 C3 C4 C5 Total C1 C2 C3 C4 C5 Total Total Atividade Grupos de Produtos Pecuária Culturas Extrativismo Corte Leite Permanentes Temporárias Madeireiro NãoMadeireiro Silvicultura Pequenos animais (avicultura) Outros Total 65.3% 0.1% 0. 335 .3% 12.5% 30.7% 0.1% 0.0% 11.0% 100.9% 2.6% 14.1% 14.4% 18.1% 52.9% 5.5% 1.0% 45.6% 3.9% 8.8% 8.5% 3.4% 0.0% 100.2% 8.3% 3.6% 1.2% 7.7% 10.8% 1.3% 23.0% 100.0% 100.0% 23.0% 100.9% 41.0% 100.2% 100% Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995-1996.1% 5.5% 5.0% 15.0% 50.7% 2.0% 100.2% 5.0% 0.4% 17.9% 15.0% 0.4% 6.5% 11.5% 9.1% 2.7% 10.4% 6.9% 0.0% 100.7% 2.7% 0.6% 8.8% 0.6% 11.9% 7.0% 1.0% 10.6% 18.0% 10.0% 100.5% 7.8% 1.7% 0.8% 50.3% 10.4% 0.0% 1.0% 1.1% 5.3% 8.7% 2.0% 100.0% 3.1% 1.6% 46.1% 1.1% 38.0% 26.1% 3.2% 0.3% 33.6% 4.3% 7.0% 0.8% 1.4% 1.2% 6.3% 100.0% 30.0% 1.1% 0.6% 3.3% 3.0% 0. Processamentos especiais do autor.0% 29.1% 3.8% 1.8% 1.5% 7.4% 9.8% 6.7% 11.9% 16.6% 6.0% 14.4% 12.0% 100.1% 0.7% 4.0% 26.0% 0.7% 17.3% 0.1% 4.0% 100.4% 1.8% 11.5% 29.5% 15.7% 1.6% 7.0% 0. 00 0.26 0.30 0.65 6.11 1.33 0.39 0.83 0.83 1.03 11.51 0.92 2.02 0.39 0.62 0.57 0.00 0.00 0.78 1.47 0.35 0.37 1.75 2.51 2.21 1.26 1.33 1.33 0.88 0.03 0.03 Pará 0.83 0.07 0.52 0.39 0.07 1.61 0.30 1.34 0.19 1.71 0.00 336 Localização Geográfica C1 C2 0.44 0.11 0.00 0.17 1.44 0.87 0.06 0.36 0.76 1.25 0.73 0.44 0.67 Mesorregião Vale do Acre Vale do Juruá Norte do Amapá Sul do Amapá Centro Amazonense Norte Amazonenense Sudoeste Amazonenense Sul Amazonense Baixo Amazonas Marajó Metropolitana de Belém Nordeste Paraense Sudeste Paraemse Sudoeste Paraense Leste Rondoniense Madeira-Guaporé Norte de Roraima Sul de Roraima Ocidental do Tocantins Oriental do Tocantins 1.61 0.27 0.65 6.16 0.64 3.10 0.00 0.22 0.84 1.00 Estado Acre Amapá 0.23 0.00 0.57 1.59 1.22 0.96 15.79 0.68 0.27 0.05 1.14 0.04 0.38 0.27 0.56 1.00 0.87 Rondônia 0.55 0.15 1.86 0.38 1.44 0.26 0.40 0. .00 1.13 0.43 0.67 0.50 0.44 1.89 1. Processamentos especiais do autor.68 0.89 1.24 0.43 0.30 0.26 0.63 1.29 18.44 0.63 1.22 0.32 0.00 0.96 4.17 0.53 1.58 Roraima Tocantins 2.00 0.Tabela 5 – Índice de densidade institucional1 das combinaçãoes C de grupos de produtos por mesorregiões e estados Total C5 1.55 0.18 0.13 8.57 0.44 0.01 0.38 0.00 Amazonas 3.65 0.03 0.59 0.44 1.04 0.00 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995-1996.95 1.57 3.61 0.02 0.06 0.01 0.16 0.02 0.47 0.30 2.14 2.21 0.52 0.68 0.02 2.16 2.05 0.75 4.67 Total Combinações (fatores) por forma de produção: Patronal Camponês C3 C4 C5 C1 C2 C3 1.08 0.34 0.77 0.12 1.11 0.77 2.23 C4 0.73 0. 1 Participação relativa do crédito obtido dividido participação relativa do VBP.31 0.81 0.00 0.11 2.90 0.00 1. a Combinação Patronal. a Patronal. nível de compensação privada e capacidade de acumulação.83). com IDI = 2. – O mais baixo IDI foi a da Combinação Camponês. C5 confluindo para a outra. com as seguintes diferenças a considerar. – Também são muito baixos os IDI da Combinação Camponês.C5. comandada por silvicultura – uma das duas patronais com atributos classe G1 – apresenta IDI menor que 1. apresenta a maior IDI (0.C1.30): as duas combinações ancoradas em produção extrativa não madeireira. essas três combinações se destacam na sequência: a Patronal.7.C3. Essa curiosa hierarquia no IDI é particularmente verdadeira nas duas mesorregiões já mencionadas do Tocantins e na Madeira-Guaporé. e a Patronal. 2. a qual se indicou antes como provavel preliminar a Combinação Camponês. As relações dinâmicas entre relevância social.C4. Todas as combinações camponesas tem IDI menores que 1.39. em Rondônia. por uma parte.34. a Combinação Patronal. devendose sublinhar os seguintes: – A Patronal.C1. e ambiente institucional e base produtiva.67.Alguns resultados devem ser sublinhados: Todas as combinações patronais apresentam IDI maior que 1. pois.2. que transformam externalidades em rendimentos Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 337 .67): dominada por culturas temporárias e pecuária de corte. por outra.C4 e Combinação Patronal.C2 (0. a Patronal. Pois bem. com IDI = 1. Trata-se da combinação dominada por culturas permanentes.43) e da Combinação Camponês.C3 (0.C2 se destaca com IDI = 2.C1. com rentabilidade contestada. as interações. cujo andamento se expressa na diferença nos ritmos de expansão que demonstram. cuja fonte agora se explicita melhor.C4 (0.75. – Por seu turno.23). duas delas. ambos os grupos de produto com atributo G1. – A mais relevante é que a Combinação Camponês.C1. – Anteriormente indicamos três combinações patronais que seriam provavelmente sucessivas – momentos distintos da evolução de um único trajeto –. Mas ocorre também parcialmente no Sudoeste e Sudeste do Pará e em Roraima.C5 (0. Evolução das “Combinações C dos Grupos de Produtos” por uma década As trajetórias evoluem em concorrência. – A segunda maior expressão do IDI foi o da Combinação Camponês. na qual se destaca as culturas permanentes e a pecuária leiteira. com IDI = 1. objeto demonstrado de investimento. 56 2.88 0.00 1.86 0.18 1.62 1. 2) Produto Real é o um indicador do movimento de quantidades agregadas obtido pela multiplicação das quantidades de todos os anos por um vetor de preço fixo.(rj).91 0. c) Calcularam-se as taxas de crescimento médio anual das “Combinações C” de modo a captar as 338 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . as taxas de incremento anual das composições Ci são os elementos do vetor coluna Ti = (Sij).03 1. Estatísticas Pecuárias Municipais (EPM).06 1.30 1.11 1.06 1. no nosso caso a média dos preços de 1994 a 1996.34 1. produtos madeireiros e não madeireiros e silvicultura: consideraram-se todos os produtos acompanhados pelo IBGE nos respectivos grupos.04 1.89 0. Uma série de valores de “produto real” constitui indicador da flutuação das quantidades agregadas de produtos de natureza diferente.87 1998 1. resultando na sua taxa de crescimento agregado.99 1997 1.16 1.98 1.12 2004 2.95 1999 1. obtiveram-se as taxas anuais de expansão de cada uma dessas combinações pelo seguinte procedimento: a) Calcularam-se as taxas anuais de crescimento dos grupos de produtos com base no “produto real” do agregado.00 1.12 0.00 1.13 1. 1995 a 2004 ( 1995 = 1) Grupos de Produtos Pecuária de Corte Pecuária Leiteira Culturas Permanentes Culturas Temporárias Produtos Madeireiros Produtos Não-Madeireiros Silvicultura 1995 1.50 1.81 1.96 0. onde os elementos da matriz Sij são as participações relativas dos grupos de produtos j nas composições Ci e os do vetor coluna rj são as taxas de crescimento do grupo de produtos j. Tabela 4).77 1.03 0. se expressam.39 3.80 0.82 2001 1.74 1. na sua capacidade de expansão.19 0.96 0. sendo cada ponto a soma do produto das quantidades no ponto (no ano) por um vetor de preço fixo para todos os pontos (no nosso caso a média dos preços de 1994 a 1996). Enunciando de outro modo.96 0.92 2003 1.51 1.09 1. Para culturas permanentes.00 1.70 0. Os resultados estão nos Gráficos 1 e 2. Para Pecuária de Corte. Para Pecuária Leiteira considerou-se o número de vacas ordenhadas.15 1. Para analisar este ponto avançando a ideia de que às “Combinações C de Grupos de Produtos” subjazem trajetórias.19 2.00 1. como síntese.23 1.87 0. Produção Extrativa Vegetal.00 1.00 1. considerou-se o rebanho total menos o número de vacas ordenhadas.83 0. Estatísticas Agrícolas Municipais (PAM).80 2002 1. quanto mais dominante ele seja no conjunto – referidas a cada trajetória.46 1. Pesquisa Pecuária Municipal.28 3.07 1.83 2000 1.11 1.16 2. b) As taxas de crescimento dos grupos de produto relativas a um mesmo ano (ver Tabela 6) foram ponderadas pelas proporções com que os grupos respectivos participam na combinação C (conf.31 1.06 1. culturas temporárias.03 2.86 0.crescentes privadamente apropriados – tanto maiores tais rendimentos em favor de um procedimento tecnológico.93 1.90 0. Tabela 6 – Números Índices da evolução do Produto Real dos grupos de produtos – região Norte.92 0.90 2.53 Fonte: IBGE.85 0.05 1.00 1996 0.02 1. Notas: 1) Todos os estados da região Norte. C2 (r = 11% a. 1995 = 100) Fonte: Tabelas 3 e 5.) destacaram-se em crescimento. para At os números índices da evolução da “Combinação C” e t a variável de tempo (os resultados estão entre parênteses na legendas dos Gráficos 1 e 2).a.(1 + r)t. Ver esclarecimentos metodológicos no texto.flutuações no tempo. as taxas de crescimento anual r foram obtidas por regressão das séries contínuas a partir da logaritimazação da fórmula At = A0. 1995 = 100) Fonte: Tabelas 3 e 5.a. Ressaltam os seguintes resultados: A Combinação Patronal. Gráfico 1 – Evolução das combinações C de grupos de produtos da forma de produção patronal – 1995-2004 (números índices. Assim.) e Combinação Patronal. Ver esclarecimentos metodológicos no texto. Gráfico 2 – Evolução das “Combinações C de Grupos de Produtos” da forma de produção camponesa – 1995-2004 (números índices.C3 (r = 11% a. A primeira corresponde à expectativa de que combinações dominadas por grupos de produtos com classe de atributo G1 tenderiam a prevalecer pela Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 339 . Patronal. obedecendo. lembre-se. com notável exclusividade. apresenta um crescimento sustentado à maior taxa média de crescimento na forma de produção (10% a.a.a. 3. por exemplo) todos os casos (ver Box 1) das “Combinações C” que compõem a trajetória em questão (no caso da Trajetória Patronal.4% a. como essas combinações sofrem a interveniência das instituições e como têm evoluído no período 1995-2004.T4. a combinação que parece ser estágio anterior à Combinação Camponês. a uma hierarquia que indica liderança da Combinação Patronal. contudo. A segunda corresponde à expectativa derivada da sua grande densidade institucional. de busca e seleção de possibilidades produtivas e reprodutivas. Correspondendo à expectativa.a.C5 (7. nos quais se incluem recursos institucionalmente distribuídos.1.C5 (6. A segunda menor taxa verificada foi a da Combinação Camponês.). cujas características (apresentadas na Tabela 7) passamos a discutir. à efetividade na compensação privada e ao desempenho no investimento.a.C3 (6.consistência de seus fundamentos.). contínuas.a.) e da Combinação Patronal. enfim. a estrutura das relações que seus componentes guardam entre si – o nível em que se constituem produções interdependentes. Em 340 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . com a maior densidade de grupos de produtos com atributo G1 e a maior densidade institucional entre os camponeses. que compõe. Indicamos seis trajetórias.). A menor de todas as taxas de crescimento é o da Combinação Camponês.a.4 e Patronal. resultantes de processos adaptativos conduzidos por agentes.C1. citada como exemplo. a taxas crescentes.9% a.C4 (8% a. ademais. o extrativismo não madeireiro apresenta relevância.6% a. As trajetórias tecnológicas reveladas Qualificada a produção quanto à relevância social.T4. na qual assinalamos com o atributo da trajetória correspondente (Trajetória Patronal. conformam as trajetórias: a sequência de eventos estruturalmente coerentes que configuram o agrário da região Norte.7% a.6% a. crescem de formas semelhantes. nas quais.a. três patronais e três camponesas.5).C4 (8.) e Combinação Camponês. seguida da Combinação Patronal.). verificada. Importante esclarecer que no conjunto de dados criamos uma nova variável discreta chamada “Trajetórias Reveladas”.). nos permitimos indicar os grandes movimentos que. os casos que na variável “Combinações C de Grupos de Produtos” estão assinalados com os atributos das combinações Patronal.a.C1 (r = 8.). pecuária de corte e culturas permanentes. As segunda e terceira taxas de crescimento são as relativas a Combinação Camponês. visto. a Combinação Camponês.C1. as três combinações que parecem sucessivas.C2 (9. Por sua vez.2% a. a trajetória explica 73% dos investimentos declarados em terras na região. atuavam 27.831 estabelecimentos na Trajetória Patronal. A fórmula acima indica o que segue: há uma trajetória que chamamos de Trajetória Patronal. Como se demonstrou recentemente (COSTA.a. preponderante Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 341 . – O Índice de Intensidade Institucional (IDI) de 1.. controlando 33.T4 (ver primeira linha da Tabela 7). com uma produtividade por trabalhador de R$9.]. 2006. Por isso. e obtivemos as características das trajetórias apresentadas na Tabela 7 e comentadas a seguir: Trajetória Patronal. dominantemente nas mesmas bases e procedimentos técnicos. [C5 C4 C1 ( PecCorte ) C5. – Os procedimentos tecnológicos subjacentes são extensivos em terra. para uma relação terra/ trabalhador de 184. além dos já mencionados investimentos em terras incluem-se 63% de todos os investimentos do setor na aquisição de animais e 55% das inversões em máquinas). – A evolução do VBP entre 1995 a 2004 se fez a uma taxa de 8. E tal evolução se fez. a qual se entendeu constituir ponto de chegada da Combinação Patronal. fechando um ciclo que requer sempre novos espaços.. já disponíveis..3 milhões de hectares com 18. à escala média de 500 cabeças. dela. por todo período.C5.C5. o grupo de produtos da pecuária de corte constitui o centro. requerendo substituição. que continuamente retornam. à posição inicial da Combinação Patronal. demonstrando um correspondente poder da trajetória de configuração das políticas públicas em seu favor. Na Combinação Patronal. O que explica.6 milhão de ha em 1995): aproximadamente 1/10 da área por ela utilizada. a partir de agentes já nela estabelecidos.T4 = Patronal. a elevada taxa de investimento de 36% da renda líquida (onde.48/ha. descartado a cada ano. se originam os agentes que reestabelecem a Combinação Patronal. naquele ano. no que se refere à intensidade do uso do solo. os quais.31 ha/trabalhador.seguida cruzamos a nova variável “Trajetórias Reveladas” com as variáveis indicativas das condições econômicas e técnicas dos estabelecimentos. 28% do VBP do setor rural da região Norte. em parte.T4. E. da Combinação Patronal. C4 e esta ponto de chegada da Combinação Patronal. – Em 1995. 71% das áreas degradadas por atividades agropecuárias na região foram geradas por essa trajetória (1.T4 liderada pela Combinação Patronal.3 bilhões.63 é alto.C1.C1. 2007).2% a.40 (valores do VBP corrigidos para 2005) e por área R$52.4 milhões deles transformados em pastagens.C5.C1. Seguem as características da Trajetória Patronal. – Como implicação dessa característica tecnológica. atingindo ao final R$1.673. produziam. Paradoxalmente.206.026.T4: em relação à Trajetória Patronal. em relação à Trajetória Patronal.6%.140 e.T3. Observamos o fenômeno da concorrência entre as trajetórias nas unidades territoriais do seguinte modo: primeiro.T5 = Patronal. larga proporção dos estabelecimentos que conformam a trajetória são economicamente eficientes. criando as variáveis VBPTrajetória (1. e na força destrutiva dela derivada. encontramos as correlações de Pearson entre as variáveis “VBPTrajetória”.8% e. 342 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . –0. com exceção da Trajetória Patronal. situados num espectro que vai da criação (e desenvolvimento dos mecanismos de internalização) de possibilidades técnicas eficientes para o uso permanente dos recursos naturais no longo prazo (o que arrefeceria a força de curto prazo). baseada em cultura permanentes e avicultura. para –1. depois. até a formação de técnicas eficientes para corrigir os danos. significa que elas se desenvolvem nos mesmos espaços de modo sinérgico – ou complementar. seja aquele desenvolvido institucionalmente nesse meio tempo.86 e 1.na região. Pois bem: verificamos o grau de tensão. –0. significa que são indiferentes..6).104.T5. encontram-se os desafios para a produção do conhecimento (C&T) e toda institucionalidade para o desenvolvimento na região. a rentabilidade cai de 1. De modo que tal crescimento deverá ter correspondido a 3. quando se eleva a intensidade (o nível tecnológico) para sucessivamente 0.2 milhões de ha de áreas degradadas em 2004. T6. – Nessa capacidade de concorrência que a trajetória demonstra. –0.C2. em relação à Trajetória Patronal. encontramos o VBP de cada trajetória para cada microrregião. Seja o conhecimento tácito portado pelos agentes econômicos dominantes. Trajetória Patronal. quando tecnologicamente tradicionais e atrasadas – extensivos no uso do solo.02 cabeça/ha. Se a correlação é alta e negativa. Representa a Combinação Patronal. Se a correlação é próxima de zero. em relação à Trajetória Patronal. parecem não ter sido capazes de alterar essa característica da trajetória.T2. superando uma à outra. significa que elas se desenvolvem em concorrência. finalmente. Se a correlação entre duas trajetórias é positiva e alta.1% para 0. internalizando à trajetória etapas de reutilização das áreas já degradadas. tencionando ou superando todas as demais trajetórias. por outra parte. por último.. Os resultados estão na última parte da Tabela 7. nível de concorrência e superação no caso da Trajetória Patronal. – Tal expansão se faz.T1 a correlação de Pearson foi igual a –0.C2 ( Permanentes + Avicultura ). se manifesta ou em um sem número de fungos e bactérias que elevam a probabilidade de predação das variedades agrícolas.T2 (0. há questões particulares à sua implantação na região que. como resultado da fortíssima pressão da biodiversidade amazônica que. podendo se constituir em barreira para sua evolução – uma alternativa bem mais defensável do ponto da sustentabilidade ecológica que a Trajetória Patronal. – Em 1995 eram 4. – Com produtividade monetária por trabalhador.444 estabelecimentos produzindo 4% do VBP rural da região. um valor relativamente baixo.092). mas.a. dos quais utilizava 755 mil deles.. favorecida pelo clima quente e úmido. A agricultura em geral. sendo relativamente indiferente em relação à Trajetória Patronal.T1 (Correlação de Pearson de 0. em relação à qual as especificidades regionais apresentam pouca interveniência – os problemas das plantas de produção não se distinguem muito dos de plantas industriais que aqui se instalam. de composição botânica homogênea. Na perspectiva patronal. apresenta uma rentabilidade por área 2. ou em um Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 343 .9 ha/trabalhador. Trata-se de superar problemas gerais do paradigma da agricultura homogênea e de grande escala na Amazônia.T5 (0. – De modo que sua inconsistência em termos de rentabilidade. sobretudo a agricultura de grande escala tem evoluído na região sob o peso de dificuldades de ordem técnica: são os transtornos que sofrem os sistemas agronômicos intensivos. a menor relação terra/trabalho de todas as trajetórias patronais. – A trajetória vem apresentando taxa de crescimento de 11% a. a par do maior Índice de Densidade Institucional (IDI) no setor rural da região.5 vezes maior e. Trajetória Patronal.270). dispunha de uma área total de 2. Um resultado disso é que a ela se associa 36 mil ha de áreas degradadas. a implantação de tipo de cultura tem assumido na Amazônia características de plantation – grande extensão de plantio homogêneo. – Quanto às culturas permanentes. tem apresentado um crescimento claramente compatível com a Trajetória Patronal. O resultado é uma recorrente inconsistência em termos de lucratividade – que nossa análise aqui também detectou – comprometendo a capacidade de expansão e afirmação da trajetória. Ademais. Ocupando 29. configuram trajetória autônoma. se coloca como um desafia à C&T e toda a institucionalidade para o desenvolvimento.T4 antes discutida –.– A avicultura se realiza na região como momento de uma trajetória de maior abrangência. com 71.1 milhões de ha.2 mil trabalhadores equivalentes. equivalente à trajetória anteriormente discutida.133). criando problemas particulares a exigir soluções próprias. tornando-a uma sucessão factível e de baixo risco.C3.C3. Liderada pela Combinação Camponês. produzindo 2% do VBP rural da região. dos quais 137. classe de atributos G1. Trajetória Camponês.C3 ( Silvicultura ). considerando que se trata da trajetória de mais baixo Índice de Densidade Institucional de todas protagonizadas por estruturas da produção patronal. Tais determinantes reduzem os ciclos de vida das culturas. – A taxa de crescimento tem sido também de 11% ao ano. – A produtividade monetária por trabalhador é mais que cinco vezes a das demais trajetórias patronais e por área é relativamente baixa. ocupando 2. Ademais. acima discutida.a. – Baseada nesses fundamentos.T1 = Camponês. encarecendo relativamente ou. até 2004. por sua vez. a trajetória logrou se expandir a 11% a. A exigente tarefa de contrariar tais tendências constituiria a agenda da C&T para essa trajetória. Representa a combinação Patronal. – São apenas três estabelecimentos que em 1995 atuavam nessa alternativa tecnológica. impossibilitando certos sistemas produtivos na razão direta da sua frequência e extensão. como já se viu mais de uma vez. de modo que a relação terra/trabalho é a maior de todas. Diferentemente das plantations das culturas permanentes. Desafio relevante. A participação no estoque de áreas degradadas é. 344 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . passando sua participação relativa no VBP rural da região de 29% para 31%. C1. a elevada pluviometria acelera a lixiviação do solo tanto em relação aos nutrientes naturais quanto aos insumos químicos provindos da indústria. Na Combinação Camponês. é o de conectar essa trajetória com a Trajetória Patronal. as da silvicultura são consistentes. funciona como atrator (centro de convergência) as culturas permanentes e a pecuária de leite. [C3 C1 ( CultPerm + Leite )]. mesmo.T6 = Patronal.2 milhão de ha. apresentando. ambos as atividades com a consistência que a classe de atributo G1 permite derivar.C3. zero.sem número de plantas invasoras cuja concorrência limita o desenvolvimento dessas variedades. A Patronal.C1.4 mil pessoas numa área de 1. – O principal desafio para a institucionalidade para o desenvolvimento.T1. especializada em silvicultura. para onde converge a Combinação Camponês. com uma taxa de investimento de 7% da renda líquida em 1995. a qual se constitui ponto de chegada da Combinação Camponês. onde se inclui a produção de conhecimento (C&T).4 plantadas. a vida útil dos elementos de capital físico e a resiliência produtiva do capital natural. em relação à qual a correlação de Pearson foi de –0.48/ha e uma relação terra/trabalho de 12. a trajetória deságua em espaços dados – e 18% da aquisição de animais. [C4 C2 ( ExtratNãoMad + Agri + Silv. e a jusante. mostrou-se também vulnerável. )]. que.C1.C4. que se mostrou notavelmente contestável na relação com a Trajetória Camponês.T2 = Camponês. Uma característica fundamental da trajetória é a de que produz uma intensificação dos processos produtivos por especialização parcial dos sistemas. à Combinação Camponês.509. – Ademais. todavia.T4 (correlação de –0. a trajetória absorveu próximo de 50% de todos os investimentos feitos em culturas permanentes na região – confirmando sua característica de fixidez espacial. no ajustamento das relações crescentes que se estabelecem com a indústria e com mercados amplos.C2.026). em lugar do tipo de clientela com a qual tem mantido relações preferenciais. Sublinhe-se que tais conhecimentos são fundamentais para elevar a capacidade de concorrência da trajetória. embora fracamente.– Em processos produtivos organizados por 171. Trajetória Camponês. Isso é importante numa perspectiva de sustentabilidade e constitui desafio de grande envergadura para as instituições voltadas ao desenvolvimento: para as instituições de C&T. as quais têm de ajustar seus mecanismos de política a uma clientela difusa e heterogênea. mantêm um alto grau de complexidade. – Por outro lado. Liderada pela Combinação Camponês. que sejam capazes de produzir conhecimentos ajustados às necessidades tecnológicas de sistemas agronômicos complexos. ponto de chegada da Combinação Camponês.C3.292 estabelecimentos. produtividade por área de R$104.45 por trabalhador.T3 (a trajetória camponesa extensiva). e para as organizações de fomento. fora dos padrões das simplificações da agricultura altamente especializadas. esta trajetória se faz tendo como base o extrativismo não madeireiro em combinação com agricultura di- Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 345 . há desafios institucionais também importantes em dois tipos de ajustamentos que se produzem como parte da trajetória: a montante. controlando 9. os estabelecimentos que protagonizam essa trajetória mobilizam uma força de trabalho de 723 mil trabalhadores equivalentes: uma produtividade monetária de R$2. – A trajetória explica 10% das áreas degradadas acumuladas em 1995: 228 mil ha. ajustamentos para tornar mais eficiente a passagem dos estabelecimentos que atuam pela Combinação Camponês.3 milhões de hectares dos quais utiliza pouco mais que 1/3. nacionais e internacionais. à Trajetória Camponês.231.9 ha. apresenta uma taxa de crescimento de 9% a. – A Trajetória apresenta o enorme desafio de exigir um conhecimento ecológico orientado à produção complexa. o que deverá ser antecipado e monitorado por pesquisas patrocinadas pelas ciências da sociedade. – Seguem essa trajetória 130.206). – Produzindo 18% do VBP do setor rural da região Norte. – Não obstante. cosmética etc.38. a agroecologia – ramo ainda pouco representativo na formação do profissional de C&T em geral e da P&D agropecuária em particular. não obstante sua taxa de investimento em 1995 ser de meros 3%. 346 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . crescem as necessidades.593 estabelecimentos camponeses na região Norte que controlam 3 milhões/ha – dos quais apenas 1/5 aplicado em uso agropecuário – e ocupam 502 mil pessoas. explica meros 3% da área degradada. e 16% em culturas permanentes na região. nessa interface.versa: cujos resultados são sistemas agroflorestais. pode ampliar a assimetria na relação agricultura-indústria e repartir de modo desigual os resultados. mas a produtividade por área é a maior de todas – posto que a relação terra/trabalho é de apenas 5. – A produtividade monetária por trabalhador é a menor de todas as trajetórias protagonizadas por camponeses. sem constituir lócus ou fundamento de investimento). seria objeto óbvio de uma atuação revolucionária da C&T. Resolver os problemas tecnológicos da trajetória da produção rural.T4 (–0.99 há/trabalhador. – O Índice de Densidade Institucional é o menor de todas as trajetórias: 0.T3 (correlação de Pearson de –0.209) e Trajetória Camponesa. hoje fortemente contestada na concorrência com as trajetórias Trajetória Camponesa. em algum nível. entre 1995 e 2004.a. tendo seus principais grupos de produtos atributo G2 (consistência na rentabilidade privada e relevância social. seus investimentos explicam 39% de todos os investimentos em silvicultura. a preservação da natureza originária. Seria expressão de um paradigma – nos quais os processos produtivos pressupõem. – As instituições de C&T tenderão correspondentemente a receber demandas provindas daí e as possibilidades de cooperação podem crescer. Todavia. O progresso nessa área é imprescindível para aumentar a capacidade de concorrência da trajetória. Essa trajetória. a partir de um conjunto de indústrias (polpa de frutas. se prevalece uma abordagem de desenvolvimento da região como Fronteira do Capital Natural. a partir da perspectiva da indústria.) que tendem a aumentar em significado. 78 110.000) VBP Relativo em 2004 Pessoal Ocupado (TrbEq) Dispo-nibilidade de Área Total (Ha) fatores Área da Agropecuária (Ha) Por Trabalhador (R$/ TrbEq) Produtividade Por Área da Agropecuária (R$/Há) Relação Terra/Tra12.77 3.1% 2.61 114.33 184.534 115.2% 27% 9.77 1995 443.C1 Camponês.483 6.40 167.6% 59.521.C2 Camponês.299.6% 12.C5 Valor Bruto da Produção (R$ 1.C3 Patronal.786 55.745 310.457 292.521.14 521.915 532.260.405.534 365.8% 2% 2% 0.377 1.071.234 550.377 1.3% 12.89 92.7% 2.745 310.027 277.498.6% 16.088 707.178 1.444 1.176 T6 3 115.99 361.244 (100%) 3.C2 Patronal.3% 2.515 3.48 15.457 292.45 194.080.509.161 731.C5 Combinações C Patronal.8% 69.178 1.611.7% 18% 18% 28% Total (R$ 1.269 (100%) 13.333 365.48 71.07 18% 26.48 5.568 1.533 (100%) 26.292 130.C1 Patronal.234 (100%) 4.90 balhador (Ha/TrbEq) 347 .42 48.027 277.333 4% 5% 1.176 29% 31% 38.405 27.139.207.5% 9.802 938.025.8% 5.826 453.C4 Camponês.7% 12.286 297.071.03 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia Trajetórias / Características Número de Estabelecimentos Camponês.232 2.63 2.615 634.93 132.35 2.4% 17% 23.030 100% 1.920 55.2% 0.C3 Camponês.826 453.544 2.88 2.873.165.615.6% 3.280.181.83 28.587.499.673.139.93 29.C4 Patronal.593 109.774.831 4.1% 9.31 52.Tabela 7 – Características das trajetórias tecnológicas prevalecentes no setor rural da região Norte Trajetórias Camponês Patronal T1 T2 T3 T4 T5 171.285 1.000) 2004 952.615 634.196. 123 -0.133 0.296 1995 163.092 1.73 T1 T2 T3 T4 T5 T6 0.060 1.042 -0.000) Animais (R$ 1.281 (100%) 530.000) T6 0% 0% 10% 0% 18% 0% 1% 8% 0% 52.67 -0.000) Máquinas (R$ 1.993 (100%) 2004 T1 14% 18% 11% 49% 7% 27% 21% 7% 10% 0.000) Outros (R$ 1.243.621.281.723 (100%) 59.000 -0.519 (100%) 12% 2.000 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995-1996.206 0.126 1.000) Plantio de Permanentes Investimentos (R$ 1. processamentos especiais do autor.348 Trajetórias Total (R$ 1.67 -0.38 1.000 2.000 3% 14% 71% 2% 5% 5% 3% 14% 13% 7% 48% 57% 36% 6% 4% 19% 39% 4% 30% 2% 16% 11% 18% 6% Camponês T2 3% 3% 3% T3 9% 13% 7% T4 73% 63% 55% Patronal T5 2% 2% 14% Trajetórias / Características Terras (R$ 1.531 (100%) 4.000 0.792 (100%) 12.000) Taxa de investimento (% da renda líquida) Área degradada associada à produção (terras produtivas não utilizadas) Índice de Densidade Institucional (IDI) 1.000) Plantio de Silvicultura (R$ 1.104 0. .83 0.059 0.000 Concorrência entre as Trajetórias (correlações de Pearson) Camponesas Patronais 0.203 -0.270 -0.63 -0.104 (100%) 1.231 -0.209 1.626 (100%) 424.140 1.026 -0. levantamentos anuais de produção agrícola.000) Total (R$ 1. tanto na esfera da produção de bens. a história social de muitos desses grupos sociais organizou trajetórias outras que não Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 349 . Na Amazônia esse paradigma “global” está presente.A Trajetória Camponês. por maximizarem ganhos baseados no uso intensivo da terra e dos recursos naturais. Conclusões: sobre trajetórias. umas por maximizarem ganhos baseados no uso extensivo da terra e dos recursos naturais. [C5 ( PecCorte ) C5. – Protagonizada por 109 mil estabelecimentos que detinham quase 7 milhões/ha. – A trajetória representava 18% do VBP em 1995. – Os desafios dessa trajetória para a C&T e a institucionalidade para o desenvolvimento são similares aos da Trajetória Camponês.T4 – resguardadas as características e necessidades dos estabelecimentos camponeses que protagonizam. no segundo as químicas e.. as bioquímicas. ali onde a relação de propriedade fundiária o permite. 4.07. combinação organizada por estabelecimentos camponeses na qual a pecuária de corte desempenha papel fundamental. no que se refere aos fundamentos naturais e fundiários de suas existências. Mas tal “paradigma agropecuário” se manifesta aqui por “trajetórias particulares”. nas quais se destacam aquelas que condicionam a produção e difusão de conhecimento científico e tecnológico. perdendo um ponto percentual de expressão ao longo dos 10 anos seguintes. quanto no universo da gestão das políticas públicas. Por outra parte. por unidade de área de R$167.T3 = Camponês. No primeiro caso. suas relações técnicas são as mais extensivas no que tange à terra e menos rentáveis no que tange ao trabalho de todas as trajetórias camponesas: rendimento por trabalhador de R$2. outras. mais recentemente.]. no que tange à razão decisória e às características estruturais.615. e por diversidade de situações. explicava 12% do estoque das áreas degradadas. As soluções se sucedem compondo trajetórias tecnológicas que se afirmam. Representa a Combinação Camponês.6 ha/trabalhador. controlada pelos agentes produtivos mediante seus critérios próprios de decisão.C5.. paradigmas e desenvolvimento sustentável Domina o universo rural do desenvolvimento capitalista um paradigma ou padrão tecnológico que se afirma pela eficiência demonstrada no controle tenso da natureza para que corresponda às necessidades industrialistas. marcadas por forte diversidade dos agentes.33 e relação terra/trabalho de 15. – Por seu turno. prevalecem as soluções mecânicas. lá onde os constrangimentos fundiários a isso levam. T2 – se retrai com a expansão das 350 Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia . Nesse sentido. Com efeito. Trajetória (Camponês. expressão do nível de oposição dos paradigmas que as abrigam. marcada por “uso altamente diverso das disponibilidades naturais”. 2.são “agropecuárias”.T1) conduzida por agentes camponeses. Há um embate entre as trajetórias. Entre os camponeses. b) No contexto de um Paradigma Extrativista. a trajetória “extrativa” ou “agroflorestal” – a Trajetória Camponês. a manutenção da natureza originária. Trajetória (Camponês. com sistemas diversificados (baixo impacto na biodiversidade) e baixa formação de dejetos/impacto poluidor. em que as soluções tecnológicas supõem transformação profunda da natureza originária (agropecuária) se distinguiram: 1. Trajetória (Patronal. elementos de estruturação e dinâmica das grandes trajetórias que realizam tais padrões. marcada por “uso extensivo” do solo. com as estatísticas disponíveis. Trajetória (Patronal. posto que pressupõem.T5) conduzida por agentes patronais. Trajetória (Patronal.T4) conduzida por agentes patronais. elas configuram um padrão tecnológico que poderíamos designar “paradigma extrativista” – porquanto perspectiva particular do uso social dos recursos e de resolução dos problemas a isso afetos. homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e formação intensa de dejetos: na forma de emissões poluentes (pela queima da floresta na formação de plantações e pastagens) e na forma de áreas degradadas. homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e “formação intensa de dejetos”: na forma de emissões poluentes (pela queima da floresta na formação de plantações e pastagens) e na forma de áreas degradadas. marcada por “uso intensivo do solo”.T6) conduzida por agentes patronais.T3) conduzida por agentes camponeses. marcada por “uso extensivo do solo”. 5. com homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e “baixa formação de dejetos”/impacto poluidor.T2) conduzida por agentes camponeses. com baixíssimo impacto na biodiversidade e baixíssima formação de dejetos/impacto poluidor. com homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e baixa formação de dejetos/impacto poluidor. 4. no qual as soluções tecnológicas supõem integridade da natureza originária. marcada por “uso intensivo do solo”. em nível relevante. 3. disitinguimos: 1. Trajetória (Patronal. localizamos e caracterizamos. a) No contexto de um Paradigma Agropecuário. marcada por “uso extensivo do solo”. correlação -0. para o que se vem estabelecendo os arranjos institucionais necessários.trajetórias “agropecuárias”.T1. mediadas pelos mercados. numa ótica bioenergética que começa a receber maior atenção para uma política de desenvolvimento tecnológico.T5 e Trajetória Patronal.T3 e fracamente quando se trata do Trajetória Campnês. Reviravolta nada fácil. Por sua vez. a trajetória “agropecuária” camponesa intensiva e diversa – Trajetória Camponês. por suposto.T4. igualmente.T1 – se retrai quando expande a camponesa (Trajetória Camponês. quando se expande a Trajetória Patronal. mas também das trajetórias Trajetória Patronal. Na validação desse princípio estratégico residiria uma revolução institucional capaz de arregimentar os saberes tácitos e laboratoriais necessários a uma fronteira do capital natural e humano. não trata de fenômenos recentes de grande interesse. fazem parte.T4.T3 e a Trajetória Patronal.026) extensivas e predatórias. em níveis sem precedentes na região. T1 e da Trajetória Camponesa. posto que representaria inverter as disposições reinantes.T6. Um último ponto deve ser lembrado. tal como se adaptou a outras áreas do Brasil. A análise conduzida. de modo a habilitá-las na concorrência com a Trajetória Camponesa. sobre áreas da região. como a projeção sobre a Amazônia de duas trajetórias exogenamente estabelecidas e as iniciativas institucionais que vêm criando alternativas a serem consideradas. dentre os quais se destaca o grande esforço no sentido do manejo de biomassa para uma combinação de produtos extrativistas (madeira. e as técnicas de exploração florestal manejada.T4.T2.T3. e resíduos energéticos).231) ou a patronal (Trajetória Camponês. e necessidades privadas expressas em compensações que garantem a reprodução social ascendente dos que as operam. a relações edafo-climáticas intensivamente manejáTrajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia 351 . correlação -0. No primeiro caso. como indicado – subverter a ordem de grandeza dos Índices de Densidade Institucional que demonstramos. Estabelecido que os desfechos desses confrontos dependem das eficiências relativas das trajetórias em atender necessidades sociais imbricadas na divisão social do trabalho de que. opções estratégicas que favoreçam um desenvolvimento com maior esperança de sustentabilidade (social e ambiental) exigiriam esforços institucionais objetivos para tornar mais consistentes os fundamentos principalmente da Trajetória Camponesa. Trata-se do estabelecimento de novos marcos para os dois paradigmas já tratados: um aprofunda a transformação dos fundamentos naturais na agricultura reduzindo-os. Ela se retrai. do pacote para soja da trajetória mecânico-química vigente em plano mundial. refiro-me à expansão. por se basear em pesquisa estrutural de 10 anos atrás e proceder a atualizações com os indexadores oficiais até 2004. mais fortemente quando se trata da Trajetória Campnês. não madeireira. Políticas públicas e dinâmica agrária na Amazônia: dos incentivos fiscais ao FNO. —. 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M. o Brasil se destaca em diversos estudos comparativos internacionais como possuidor de uma das piores estruturas de distribuição de renda do mundo. membros da sociedade com muitos ativos podem administrálos de forma a receber os retornos correspondentes à posse desses ativos. MENDONÇA. O Brasil apresenta uma distribuição de renda pior que 90% dos 120 países para os quais há dados sobre a distribuição de renda (RAMOS. 2005). o resultado final da distribuição de renda dentro da sociedade dependerá de como a sociedade atua em torno dessa dotação inicial. Introdução Embora figure entre as 15 maiores economias do planeta. Dado que a população tem uma dotação inicial de ativos a priori. Esse fenômeno tem persistido até mesmo após o fim do longo período de alta inflação das décadas de 1980 e 1990. Federalismo fiscal 355 . Por outro lado. Em um primeiro momento podemos considerar que as políticas públicas postas em prática pelo Estado são neutras com relação à dotação inicial de ativos. os resultados obtidos se dividem em duas hipóteses. Assim. Hipótese 1: o Estado pode atuar para melhorar a distribuição de renda da sociedade. tentando combater a concentração de renda decorrente de uma dotação inicial desigual. Caso o Estado tenha políticas públicas que procurem modificar a dotação inicial de ativos da sociedade. a mesma fonte de dados aponta o Brasil como um País que se coloca entre os 20% de renda per capita mais elevada. O fenômeno da existência de renda per capita relativamente elevada coexistindo com grandes parcelas da população abaixo do nível de pobreza exige uma explicação.Federalismo fiscal: os efeitos dos fundos de participação dos estados (FPE) e dos municípios (FPM) na distribuição da renda inter-regional e interpessoal no Nordeste brasileiro Marcelo Callado 1. já que as camadas da população com menor condição de se defender da desvalorização da moeda costumam ser as camadas menos favorecidas. Esse modelo procurará estimar a capacidade das políticas públicas de influenciar a alocação de recursos no seio da sociedade para a obtenção de uma distribuição de renda mais favorável. 356 Federalismo fiscal . mas levando sempre em consideração a possibilidade de conflito com as outras duas funções orçamentárias. a função do orçamento público responsável pela alocação de recursos costuma ter sua responsabilidade mais fortemente dividida entre o poder central e as unidades subnacionais. Em um ambiente federalista o processo de distribuição de renda se torna ainda mais complexo. a distribuição de responsabilidades dentro de uma estrutura federalista. Esse artigo está dividido em cinco seções. Segundo Musgrave e Musgrave (1973) o orçamento público se divide em três funções básicas: alocação de recursos. distribuição de renda e estabilidade macroeconômica. A Seção 1 irá explorar inicialmente os aspectos metodológicos da distribuição de renda. como o Fundo de Participação dos Estados (FPE) e o Fundo de Paticipação dos Municípios (FPM). A Seção 4 tentará utilizar os dados a respeito da distribuição de renda para examinar de que forma as políticas públicas.Hipótese 2: As políticas públicas podem ser planejadas para propiciar maior bem-estar aos membros mais abonados da sociedade. pois os objetivos de políticas públicas dos entes federados não necessariamente irão coincidir. A Seção 3 desse artigo procurará montar um modelo formal com dados sobre distribuição de renda. como as funções do orçamento público são alocadas em uma estrutura federalista. Além disso. Com isso é de se esperar que um processo de desinflação como o que ocorreu no Brasil a partir da metade da década de 1990 possa contribuir de forma significativa para a desconcentração da renda no País. pode haver objetivos em comum entre as políticas de distribuição de renda e de estabilidade macroeconômica. Isso ocorre porque a inflação tem conseqüências perversas sobre o processo de distribuição de renda. o conceito de renda absoluta e de renda relativa e os fatores geradores de renda. Sendo os objetivos da estabilidade macroeconômica a busca de um taxa de inflação baixa. concentrando ainda mais a renda nas mãos daqueles que já tinham uma dotação inicial favorável. Cada uma delas pode ser administrada segundo a busca de objetivos específicos. e como essas funções ajudam ou dificultam o processo de distribuição de renda. A Seção 2 irá abordar o federalismo fiscal. que representa a freqüência da renda acumulada pelas parcelas da população. assim como idosos e pessoas com condições de saúde especiais tendem a ter pouco ou nenhuma renda. O conceito de pobreza serve para diferenciar ambas as situações. O Coeficiente de Gini é dado por: Coeficiente de Gini = A/(A+B) onde. Para isso é necessário explorar as medidas de média e de dispersão em torno dessa média. Federalismo fiscal 357 . 2. Crianças.têm contribuído para a evolução da distribuição de renda. 0 ≤ A ≤ 1 e 0 ≤ B ≤ 1. ainda que a sua distribuição de renda se iguale a outra população onde não há pessoas pobres. A partir do conceito de renda per capita parte-se para as medidas de desigualdade de renda. Na Seção 5 serão feitas as considerações finais desse artigo. Metodologia O conceito de renda que se utiliza para verificar a divergência da renda entre indivíduos ou regiões é a renda familiar per capita. Duas distribuições de renda iguais podem mascarar situações de bemestar bem diferentes. O Coeficiente do Índice de Gini é calculado a partir da Curva de Lorenz (ver figura abaixo). A utilização da renda per capita individual incluindo a renda desses grupos distorceria significativamente o conceito de desigualdade de renda. A utilização da família como o parâmetro para se medir a renda per capita foi feita devido às grandes diferenças no potencial de captação de renda dentro de uma família. Essa seção também examinará a contribuição de outros fatores. A área da figura representada pela área A será tanto maior quanto mais desigual for à distribuição de renda. Uma renda distribuída igualmente entre todos os indivíduos teria a área A igual a zero. A partir dessas considerações serão feitas recomendações de políticas para que a atuação do Estado contribua de forma mais efetiva para a distribuição de renda. A renda per capita é uma medida de média aritmética das rendas das famílias das regiões a serem estudadas. começando pelas parcelas mais pobres até as parcelas mais ricas. Isso ocorre porque em uma primeira situação pode-se ter a maior parte da população em péssimas condições de bem-estar. A medida de dispersão usada comumente para medir a distribuição da renda per capita é o índice de Gini (ou Coeficiente de Gini). Pobreza diz respeito a uma noção absoluta de renda. O conceito de pobreza feito por uma demarcação de uma linha de bemestar mínimo abaixo da qual os indivíduos serão considerados pobres. mais eficiente pode ser considerada a função de bem-estar.Figura 1 – Curva de Lorenz Fonte: Ramos e Mendonça (2005). seja sempre maior ou igual a zero. Eficiência e Equidade Os conceitos de “renda relativa” (medido pelo Coeficiente de Gini) e “renda absoluta” (medido pelo conceito de Pobreza) representam para a função de bem-estar um embate entre as noções de eficiência e equidade.1. 358 Federalismo fiscal . mais eqüitativa será considerada a função de bem-estar. 2. Enquanto que o Coeficiente de Gini procurará demarcar a noção relativa de renda. partindo do indivíduo mais pobre em direção ao indivíduo mais rico. Ramos e Mendonça (2005) procuram hierarquizar as características necessárias que uma função de bem-estar precisa satisfazer: 1. Quanto menor for percentual de pobreza de uma sociedade. O conflito entre “eficiência” (exemplificado pelo aumento da “renda absoluta” – menor quantidade de pobres) e a “equidade” (diminuição da “renda relativa” – menor Coeficiente de Gini) pode ocorrer quando a função de bem-estar aponta uma queda (ou aumento) concomitante tanto da renda absoluta quanto da renda relativa. A renda no momento final deve ser dividida de forma que a variação da renda acumulada. A “renda absoluta final” não deve ser menor que a “renda absoluta inicial” para nenhum indivíduo. 3. 2. Quanto menor for o Coeficiente de Gini. A renda precisa ser repartida de modo que a desigualdade de renda final não seja maior que a da desigualdade da dotação inicial. considera-se que o fator capital engloba tanto capital físico. A renda pode ser dividida. A posse de Capital gera como renda lucros. é necessário que o ambiente macroeconômico conte com uma taxa de crescimento bastante vigorosa do produto. 2. Para efeito de análise. mas também pelo lado das receitas) por outro lado representam a forma mais efetiva do Estado de influenciar a distribuição de renda. quanto capital financeiro e recursos naturais. políticas ativas de renda bem focadas podem transferir recursos para os mais pobres satisfazendo as condições 1 e 3. A principal fonte de renda da população provém do trabalho e das transferências (tanto públicas quanto privadas). Segundo o Ipea (2006) apenas 3% dos adultos da população brasileira tem renda proveniente de ativos de capital. enquanto que a posse do fator trabalho gera como renda apenas os salários.Caso a economia cresça bastante. é possível que a renda dos mais pobres não tenha crescido a uma velocidade tão grande quanto a renda dos mais ricos. a aplicação de impostos em determinados setores e sob a responsabilidade de certos entes da federação pode fomentar ou reprimir a eficiência econômica. A criação e manutenção de um sistema tributário é um ponto crucial no processo de distribuição de renda (ALÉM e GIAMBIAGI. Isso aumentaria a renda relativa. tirando uma parcela significativa da população da linha da pobreza. burlando a condições 1 e 3 já citadas. No que diz respeito aos aspectos da eficiência econômica. Para que as três condições sejam atendidas. A consequência disso é que as políticas públicas de fomento à educação e à aquisição de habilidades para o trabalho por um lado. os indivíduos recebem renda de acordo com a dotação inicial de ativos a sua disposição. Fatores geradores da Renda Em uma economia de mercado. além da distribuição desse crescimento ser feita de forma milimétrica. e as transferências de fundos públicos (não apenas pelo lado das despesas. Em uma situação de estagnação econômica. juros e aluguéis. portanto. com cada classe social mais baixa tendo um aumento de renda maior que sua classe imediatamente acima e menor que a sua classe imediatamente abaixo. Federalismo fiscal 359 . a eficiência econômica foi privilegia da em detrimento da equidade. 2001). Nesse caso. trabalho e recursos naturais. pela posse dos fatores capital. mas burlando a condição 2 pois os indivíduos mais ricos dessa sociedade estariam tendo queda em sua renda absoluta. portanto.2. o que exige uma política monetária única. Em uma Federação as fronteiras subnacionais são porosas. O fornecimento de bens públicos locais pelos entes subnacionais é defendido em função da existência de assimetrias de informação e da tendência à uniformização do fornecimento de bens públicos por parte do poder central (STIGLITZ. os indivíduos pobres de localidades próximas terão enormes incentivos a cruzar as fronteiras com os objetivos de se tornarem beneficiários dessas políticas de rendas. No Brasil a Lei de Responsabilidade Fiscal. Uma estrutura legal de restrição fiscal rígida (hard budget constraint) no nível subnacional pode limitar o efeito das políticas fiscais desses entes. ou localidade. A estabilidade macroeconômica tende a ser atribuição do governo central. as políticas externas. 1977). Federalismo Fiscal Entre as três funções do orçamento público citados por Musgrave e Musgrave (1973).3. 360 Federalismo fiscal . Caso uma entidade subnacional (estado ou município) decida praticar políticas de distribuição de renda para beneficiar os residentes mais pobres de seu estado. Além disso. mas potencialmente para os habitantes de toda a nação. sendo atribuída à responsabilidade das unidades subnacionais. Entretanto a literatura a respeito do federalismo fiscal recomenda que os governos centrais se apossem da exclusividade dessas políticas (OATES. 1977). comercial e cambial também costumam ficar a cargo exclusivamente do governo central. cumpre essa função para os entes subnacionais. O custo da aquisição de informações com particularidades locais por parte do governo central tende a ser muito alto. Dessa forma o governo subnacional não estará distribuindo renda apenas para os seus habitantes. A função Alocação de Recursos tem consequências macroeconômicas. a alocação de recursos se submete ao princípio da subsidiariedade. Assim o princípio da subsidiariedade prega que a maior quantidade possível de bens públicos deve ser ofertada pelos governos subnacionais. caso os custos de transação associados à imigração sejam baixos. pois na maioria das federações há apenas uma única moeda circulando no espaço nacional. Já os governos locais têm acesso a essas informações com pouco custo. que passou a vigorar a partir de 2000. pois a política fiscal tem de ser repartida entre os vários entes federados. A política de Distribuição de Renda pode ser praticada tanto pelo governo central quanto pelos entes subnacionais. pois não há impedimento legal (pelo menos dos regimes democráticos) de transposição das fronteiras estaduais por parte dos cidadãos. enquanto que a estabilidade macroeconômica e a distribuição de renda ficam sob responsabilidade do governo central. O segundo problema é quando uma determinada parcela da população tem poucos ativos. habilidades informais e etnia. As políticas públicas podem atuar de forma mais efetiva quando o diferencial de renda ocorre em função dos outros fatores. experiência. gerando incentivos ao estudo e à aquisição de habilidades. 1999). Quando o diferencial de escolaridade explica parte significativa da desigualdade de renda. o Estado está diminuindo os custos pessoais de aquisição de conhecimentos e de habilidades formais. Na literatura. O primeiro problema. 3. Já os incentivos à experiência e às habilidades informais são mais difíceis e fomentar por parte das políticas públicas.1. consequentemente. têm influência negativa sobre a discriminação por gênero. essa população e esses ativos se concentram geograficamente em uma determinada região. esses ativos apresentam um retorno muito baixo. a não ser a imposição de políticas antidiscriminação ativas.Além disso. o mercado de trabalho se encarregará de valorizar monetariamente os mais bem escolarizados. A identificação na infância de uma habilidade informal (aptidão) pode ajudar a direcionar o indivíduo Federalismo fiscal 361 . caso as unidades subnacionais se submetam a um hard budget constraint. além disso. idade. e consequentemente no retorno desses ativos em forma de Renda. à idade (crianças e idosos) e à etnia (minorias étnicas). e. o orçamento subnacional destinado à política de distribuição de renda tenderá a ter pouco ou nenhum efeito sobre a melhoria de renda das camadas mais pobres da população. O segundo problema é mais bem reconhecido quando chamado de desigualdade de Renda inter-regional. como a política de salário-mínimo. gênero. Ao financiar e fomentar escolas. etnia ou idade. a desigualdade da renda interpessoal: há uma diferença grande na posse de ativos. por idade e por etnia. centros de formação técnica e universidades. a obtenção de renda por parte de pessoas com características consideradas desfavorecidas pela sociedade com respeito ao gênero (mulheres). Há pouco a ser feito a respeito de desigualdades de renda devido a fatores como gênero. tornando mais difícil o emprego e. O primeiro tipo de desigualdade. políticas públicas de valorização dos trabalhadores. entre outras características pessoais (SEN. aumentando assim o retorno pessoal ao engajamento nos estudos. a desigualdade de renda interpessoal é caracterizada por aspectos peculiares como escolaridade. Distribuição de Renda Interpessoal e Inter-regional Quando se investiga o problema da desigualdade de renda no Brasil é comum encontrar dois problemas básicos. pois é fortemente correlacionado com a idade do indivíduo. portanto. negligenciável. engarrafamentos. Assim pode haver diferencial de renda permanente. Mas essa diferença pode cair a um valor muito pequeno. pode-se supor como permanente um diferencial de renda entre essa e outras regiões. sobrevalorização de terrenos e aluguéis e outras manifestações de congestionamento da oferta de bens públicos. A concentração espacial da produção (também chamada de desigualdade da renda absoluta) é um problema que pode ser resolvido quando as políticas públicas diminuem os custos de transações e consequentemente capital e trabalho puderem circular livremente a um custo bastante baixo. A literatura a respeito da economia regional costuma enfatizar o aspecto da concentração espacial da produção (KRUGMAN. ao invés de diminuir a desigualdade de renda (IPEA. 2006). portos. Quando boa parte da produção fica concentrada em um limite espacial bastante restrito. Assim como a aptidão. de Escopo e de Aglomeração. algum tipo de diferença de renda permanecerá. A existência de estradas. os custos de mobilidade para capital e trabalho são significativamente menores que os custos de transação entre fronteiras internacionais. os habitantes desse espaço geográfico podem ter uma renda muito superior aos habitantes de outras regiões. A migração de trabalhadores ocorrerá até que apareçam as deseconomias de aglomeração. a experiência é extremamente recompensada no mercado de trabalho e costuma aumentar. A desigualdade de renda inter-regional costuma ocorrer devido a fatores como ausência ou altos custos de mobilidade de capital e de trabalho (custos de transação). Em uma estrutura federativa. como poluição. Já a variável experiência costuma ser um fator de aumento da desigualdade de renda. Outro aspecto que pode gerar diferenças regionais de renda é o diferencial de infraestrutura das regiões. com as características Mashallianas de Economias de Escala. Assim.a uma formação educacional diferenciada. o fator trabalho bem qualificado em determinada região pode migrar para outras regiões levando ao fenômeno da convergência das rendas regionais. sendo esses bens muito mais baratos em outras regiões. pois os trabalhadores dessa região terão despesas substanciais com bens não transacionáveis como aluguéis. ae- 362 Federalismo fiscal . 1991). Caso ocorra a concentração espacial em torno de distritos industriais. sendo. Enquanto os custos de transação não caírem à zero. O fato das políticas de educação serem universalistas limita a capacidade das escolas. planos de saúde e escolas. centros de formação e universidades de montarem currículos e cursos para as habilidade e talentos particulares de determinados indivíduos. sem que haja divergência de bem-estar individual. haverá demora no processo de convergência das rendas regionais. Assim o problema da desigualdade de renda interpessoal se confundiria com a desigualdade de renda inter-regional. A migração como solução do problema explicita as características do indivíduo como resposta para a questão da distribuição de renda e não da região. como a principal fonte de renda da maioria das famílias costuma ser a renda do trabalho. ou uma característica que justifique as sua produtividade como a escolaridade. entretanto devido a uma população menor a demanda por esses bens também seria menor. semelhantes. 2002): Federalismo fiscal 363 . ou produtividades. Essa hipótese estaria correta caso a maior parte do diferencial de renda entre as regiões seja explicado pelo diferencial de produtividade do trabalhador. A dotação inicial de infraestrutura maior em uma região aumenta o salário real dessa região para que se iguale a uma maior produtividade marginal do trabalho (MANKIW. Pessôa (2002) defende que a única possibilidade das rendas diferirem permanentemente seria no caso em que haja divergência das características individuais de produtividade dos trabalhadores das diferentes regiões.roportos. Caso os custos de transação da imigração sejam altos. uma região tem uma renda menor porque a população daquela região tem poucos ativos. 1995). ferrovias.2. aliviando o setor público local de grandes investimentos. 3. Posto de outra forma. tenham rendas muito diferentes nas duas regiões. Aspectos Políticos e Sociais da Concentração Espacial da Produção A preocupação de Celso Furtado ao analisar a concentração da capacidade produtiva da indústria no Centro-Sul do Brasil parecia derivar de problemas sociais decorrentes da esfera econômica (PESSÔA. Ou seja. auferindo assim uma renda per capita baixa. universidades e centros de pesquisas podem aumentar o retorno propiciado pelo trabalho em uma determinada região. Embora a renda absoluta pudesse ser menor. escolas. Uma região menos populosa e de renda menor teria menos recursos para financiar os bens públicos locais. os trabalhadores daquela região são pouco produtivos. não haveria razão para a renda per capita se mostrar diferente da renda da outra região. mas isso não implica a hipótese de divergência das rendas. 2002). A questão deixa de ser um problema interpessoal e passa a ser um problema inter-regional caso trabalhadores com escolaridades. O processo de equalização das rendas per capita das regiões ocorreria via processo de migração dos trabalhadores das regiões mais pobres na direção das regiões mais ricas (PESSÔA. como se começou a constatar na década de 1990 em virtude da chamada “guerra fiscal”. não há razão para crer que o deslocamento do capital para outra região iria melhorar a distribuição de renda de uma. Quando vários entes federados são considerados desertos populacionais. Caso os custos de transação fossem baixos e a imigração fosse possível para vastas parcelas da população. Ao vivenciar os fortes fluxos migratórios do Nordeste em direção ao Centro-Sul do País. 2001). parcela significativa da população não seria capaz de se deslocar para as regiões de salários reais mais altos. Caso os custos de transação para a imigração fossem muito altos. nos quais a câmara baixa representa a população e a câmara alta representa a federação. pela via da educação e do treinamento da população nordestina acima da média nacional. seria importante descobrir como isso afetaria a distribuição de renda inter-regional. a ideia de um deserto populacional em uma estrutura federativa não era vista como desejável. ou de ambas as regiões. Caso a indústria passasse a se deslocar em busca de trabalhadores. ainda que não de direito. Celso Furtado não parecia crer na possibilidade do aumento da mobilidade do capital e na eventualidade das indústrias se tornarem mais móveis que os trabalhadores qualificados. Um bom indicador seria investigar a distribuição de renda interpessoal dentro de uma região. Se o fenômeno da concentração de renda existe em um ente federado. a representatividade da câmara alta passa a ser questionada. perpetuando a desigualdade de renda interregional. Caso a atribuição do processo de distribuição de renda fique sob responsabilidade do governo central e seja perseguido via políticas que afetem o indivíduo (e não a região). Uma forma de contornar esse problema poderia ser o aumento da qualificação dos trabalhadores. enquanto que os votos dos menores entes da federação tendem a ser ignorados (ABRUCIO. ferindo o equilíbrio federativo ao tornar os votos dos estados mais populosos centrais para a tomada de decisão. Isso decorre do fato do enfraquecimento do equilíbrio federativo decorrente da concentração espacial da produção (AMARAL FILHO. 2001). Federações quase sempre têm parlamento bicameral. onde quer que eles 364 Federalismo fiscal . não restaria ao Nordeste senão a alternativa entre despovoar-se ou permanecer como região de baixíssimo nível de renda.Caso se demonstre que a solução é inviável (a industrialização). As grandes unidades subnacionais passam a ter o poder de veto de fato. os indivíduos mais pobres. como também para que a estatística R2 e os coeficientes forneçam as elasticidades com relação à variável dependente. Uma política de distribuição de renda focada nas regiões (como explicitado pela fórmula de distribuição de recursos do Fundo de Participação dos Estados – FPE) pode desviar recursos que iriam para indivíduos pobres (morem esses indivíduos em regiões ricas ou pobres) e beneficiar exclusivamente indivíduos ricos que morem em regiões pobres. 4. Mas. uma equação adicional será utilizada para ver a contribuição de cada um desses componentes para o crescimento econômico de cada estado (SALA-I-MARTIN. Federalismo fiscal 365 . uma política focada em indivíduos pobres.estejam. 2002). essas políticas focadas nos indivíduos pobres também as beneficiariam diretamente. 2007): Gi = α + β1 FPE1i + β2 FPM2i + β3 ESC3i + β4 PIBpc4i + β5 POB5i + εi POBi = α + β1 FPE1i + β2 FPM2i + β3 ESC3i + β4 PIBpc4i + β5 G5i + εi (1) (2) Alternativamente. Este segundo tipo de política de distribuição de renda garante necessariamente a prática de uma distribuição inter-regional da renda porque nas regiões menos desenvolvidas há uma quantidade maior de indivíduos pobres. A equação (3) demonstra como isso será feito: PIBpci = α + β1 FPE1i + β2 FPM2i + β3 ESC3i + β4 POBpc4i + β5 G5i + εi (3) 194. seriam os principais beneficiários de uma política de distribuição de renda focada nos mais pobres. pois mais cidadãos sob sua jurisdição seriam beneficiados que cidadãos em outras unidades subnacionais. Se as regiões mais pobres são menos desenvolvidas em virtude de possuírem volumosas quantidades de indivíduos pobres. os mesmos serão beneficiados independentemente do local onde morem. Modelo e dados de distribuição de renda A utilização do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) na tentativa de diminuir a diferença de renda inter-regional pode ser pensada de acordo com as equações194 (1) e (2) a seguir (WOOLDRIDGE. O modelo foi logaritmizado não só para suavizar o impacto de uma observação extrema em alguma variável num determinado ano. εi representa o erro da regressão. FPE: Logarítimo dos repasses constitucionais aos estados provenientes do Fundo de Participação dos Estados (FPE) desinflacionados e divididos pela população para os anos 1985 a 2000. FPE1i representa as transferências provenientes do Fundo de Participação dos Estados (FPE).195 Pobreza: Logarítimo da parcela da população estadual abaixo da linha de pobreza para os anos 1985 a 2000. O objetivo desse Lag é eliminar a possibilidade de efeitos de multicolinearidade do Índice de Gini com relação as demais variáveis dependentes. obtido na base de dados do IBGE/SNC e IBGE/PNAD. FPM: Logarítimo dos repasses constitucionais aos municípios agregados por Estado da federação provenientes do Fundo de Participação dos Mu195. Índice de Gini: Logarítimo do Índice de Coeficiente de Gini dos estados para os anos 1985 a 2000. PIBpc5i representa o produto per capita dos estados. 366 Federalismo fiscal . 4.1.onde: G representa o Índice de Coeficiente de Gini. POB6i representa a parcela da população abaixo da linha de pobreza do estado. FPM2i representa as transferências provenientes do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). obtido na base de dados do IBGE/SNC e IBGE/PNAD. Escolaridade: Logarítimo da média de anos de escolaridade para a população acima de 25 anos durante os anos 1985 a 2000. obtido na base de dados do IBGE/ SNC e IBGE/PNAD. α é q constante da regressão. βi são os coeficientes das variáveis. ESC4i representa a escolaridade média do estado. obtido na base de dados do IBGE/SNC e IBGE/PNAD. Foi utilizado um Lag para a variável Índice de Gini. Especificação das Variáveis PIBpc: Logarítimo do Produto Interno Bruto dos estados desinflacionado e dividido pela população para os anos 1985 a 2000. Dessa forma os dados de um determinado ano são relacionados com o Coeficiente de Gini do ano anterior. obtido na base de dados do IBGE/SNC e IBGE/PNAD. o sinal do coeficiente é o esperado.0110) -0. 5. Nas três regressões em que a variável teve um grau de significância anteriormente de 90% e 99%. Isso significa que um aumento de um ponto percentual do PIB per capita de um estado diminui a sua desigualdade de renda em aproximadamente 1.0267)*** 37. O impacto da variável FPE sobre a desigualdade de renda é semelhante ao impacto do crescimento econômico.0103 (0.4480 (0.0138)*** -0.0177)* 0.1752 384 -0.2%.0042)** -0. pró-pobre.4552 (0. O crescimento econômico dos estados tende a ser.0207)*** 41.4108 384 0. a variável PIBpc não é considerada relevante para um nível de significância de 90% em duas regressões.3916 (0. a escolaridade influenFederalismo fiscal 367 .0082)*** -0.0112) -0.0096)*** -0.0199)*** 41.0295 (0.1082 (0. A variável Escolaridade (ESC) foi relevante apenas em três das cinco regressões expostas na Tabela 1.0060 (0.0056) 0. Nota: Erro-padrão entre parênteses.0134)** -0.0101)*** -0.0119 (0.0085 (0.nicípios (FPM) desinflacionados e divididos pela população para os anos 1985 a 2000.0187) -0.0088 (0. menor tende a ser a desigualdade de renda.0244)*** 13.0928 (0.9497 384 0.0056) 0.0187 (0.0273) 37. a variável FPE se mostrou significante para explicar a variável Coeficiente de Gini.0035)*** 0.0052 (0.0898 (0.0031)* 0.0249 (0. portanto.0079 (0.4939 (0.0134 (0. negativo. quando a variável dependente é o Coeficiente de Gini (G). Um aumento de um ponto percentual nos repasses do FPE para um determinado estado tende a diminuir a desigualdade de renda no estado em 1.4916 (0.0081)*** -0. Nível de significância: ***a1%.0405 (0.0207)*** 0.0107 (0.0037)** 0.4048 352 Fonte: Cálculos do autor baseado em dados primários do IBGE/SCN e IBGE/PNAD. Resultados da Análise Empírica Na primeira série de regressões expostas na Tabela 1.3%. **a5% e *a10%. Em todas as regressões.0138) 0.0139 (0. obtido na base de dados do IBGE/SNC e IBGE/PNAD. Tabela 1: Resultados Multivariados Variável dependente: Coeficiente de Gini PIBpc FPE ESC FPM POB Constante R² Número de Observações -0.0753 (0. Na única regressão em que a variável é significante (para um nível de significância de 95%).1099 (0.0024)*** 0.5757 352 -0. Quanto mais recursos do FPE um estado recebe. A sua influência é bastante significativa. Isso pode significar que os recursos do FPE estão indo beneficiar indivíduos muito acima da linha de pobreza.4% no aumento da pobreza. enquanto 368 Federalismo fiscal . O aspecto pitoresco das regressões com a percentagem de pobres como variável dependente ocorre quando se procura investigar a influência do FPE. trocou-se a variável dependente do Coeficiente de Gini (G) para pobreza (POB). Para investigar o efeito das variáveis sobre uma medida de renda absoluta. A variável FPM não teve significância para nenhuma das regressões. Isso significa que um aumento da escolaridade pode aumentar a diferença de renda entre ricos e pobres. influencia negativamente a quantidade de indivíduos abaixo da linha de pobreza. certas parcelas da sociedade ganharem menos que outras. O efeito de aumentos do repasses do FPE em um ponto percentual é de até 11. Em uma das regressões um aumento de um ponto percentual nos anos de escolaridade chega a diminuir a desigualdade de renda em 7. chegando a explicar até 11% da desigualdade de renda. a variável escolaridade pode ser causadora de desigualdade e não de equalização da renda. com é previsto pela teoria. exemplificado pela variável PIBpc. Em todas as regressões a variável pobreza se mostrou fortemente relevante a um nível de significância acima de 99%. Quando isso ocorre. ainda assim. O crescimento econômico. apenas essa camada da população desfruta dos ganhos decorrentes de uma produtividade mais alta. quando os indivíduos pobres diminuem em um ponto percentual. como previsto pela teoria. Como no sistema federativo brasileiro há estados que são receptores líquidos. a “renda absoluta” pode está crescendo significativamente e. pois um ponto percentual de crescimento econômico a mais chega a diminuir a quantidade de pobres em até 33%.5%. Quando o crescimento econômico é baseado no conhecimento. A variável pobreza está fortemente correlacionada com o Coeficiente de Gini. Ela não influencia o Coeficiente de Gini.cia a desigualdade de renda com mais ênfase que as variáveis anteriores. mesmo com a “maré econômica levantando todos os barcos”. o que significa que quando o estado recebe recursos do FPE a quantidade de pobres aumenta. Como o Coeficiente de Gini é uma medida de “renda relativa”. Com isso indivíduos pobres não conseguem sair dessa condição e indivíduos pouco acima da linha de pobreza acabam por cair para condição de pobres depois que o estado recebe recursos do FPE. O pitoresco ocorre com duas das regressões em que o sinal da variável escolaridade é positivo. O sinal da variável FPE nas regressões foi sempre positivo. As regressões decorrentes dessa troca estão expostas na Tabela 2. como mostra a Tabela 2. Isso provavelmente ocorre quando os anos de escolaridade aumentam em função dos ricos estarem estudando mais. 1343)*** 72.9119 (0. Um ponto percentual a mais de anos de escolaridade é capaz de diminuir a quantidade de pobres em até 121%.0745 (0.1091 (0.0513)*** 0. Ao contrário do FPE.0179)*** .9020 (0.0.0806)*** -0. **a5% e *a10%. os recursos provenientes do FPM influenciam negativamente a quantidade de pobres em cada estado.4698 (0.0293)*** -0.0559)*** 0.1179 (0. temos a forte relação entre “renda relativa” e “renda absoluta” mostrada pelas variáveis POB e G.2330)*** 1. já que tratam do mesmo problema.5667 384 0. A última da série de regressões múltiplas desse artigo procura examinar a influência da relação da desigualdade de renda e da quantidade de pobres de cada estado na capacidade do Estado de obter crescimento econômico. É de se esperar que essas variáveis estejam relacionadas de forma tão próxima. As outras variáveis utilizadas anteriormente também foram incorporadas.3667 (0.0895)*** -0. A variável Escolaridade (ESC) influencia fortemente a queda na quantidade de pobres em cada estado.1013 (0.0145)*** -1. Por último.5783 (0.3311 (0. como prevê a teoria.8377 352 2. Um ponto percentual em recursos adicionais do FPM pode diminuir a quantidade de pobres no estado em até 11.2720 352 -0. mostrando uma enorme capacidade das políticas de educação em tirar as pessoas da pobreza. Federalismo fiscal 369 .0890)*** -0.5267 (0.1140 (0.3334 384 Fonte: Cálculos do autor baseado em dados primários do IBGE/SCN e IBGE/PNAD. Nota: Erro-padrão entre parênteses.1435)*** 70.6933 (0.2348 (0.1232)*** 58.1257) 59.4263 (0.0188)*** -0.0170)*** -0. Tabela 2 – Resultados multivariados Variável dependente: Pobreza PIBpc FPE ESC FPM G Constante R² Número de Observações -0.que outros são pagadores líquidos de impostos ao governo federal.0462 (0. Nível de significância: ***a1%.2002 (0.1672)*** 76.1343)*** 0.0616 (0.2471 (0.5721 (0.2115 (0.0265)*** 2.8% a um nível de significância de 99%. o sinal negativo do FPE talvez indique que a pobreza sobe nos estados pagadores líquidos em uma proporção maior que a queda da pobreza nos estados receptores líquidos desses recursos.1065)*** 0.0608)*** 0.0690)*** 0.4701 384 0. Para um aumento da desigualdade de renda em um ponto percentual tem-se um aumento na quantidade de pobres de até 290%.1135 (0.0216)** -0.7149 (0.2177)*** 1. Isso evidencia que o FPE talvez seja um instrumento ineficaz de política pública de redistribuição de renda. 1765 (0.0903)*** 81.1780 (0.1260 (0.0370)*** -0.1112 (0. Em todas as regressões a variável POB apresenta um nível de significância de 99%.0271 (0.2345 (0.2179 (0.0527) *** -0.0673)*** -0.0293 (0.2544 (0.0468)*** -0.0106)*** 1. Mais uma vez os recursos provenientes do FPE mostram um resultado diferente do esperado.9582 384 0.0672)*** -0.apesar de não ser o foco principal do estudo. a Tabela 2 parece mostrar com mais precisão a direção dessa relação.4079 384 Fonte: Cálculos do autor baseado em dados primários do IBGE/SCN e IBGE/PNAD. Primeiro se nota que o índice de pobreza é fortemente correlacionado com o crescimento do PIB per capita.0907)*** 81.2773 (0. Se na Tabela 2 os estados não utilizavam os recursos do FPE para diminuir a pobreza.0275) -0.0066 (0.0154)*** 1. com o crescimento econômico reduzindo a quantidade de pobres e não uma queda da quantidade de pobres aumentando o crescimento econômico.1840)** 82.7968 352 0.0634)*** -0.0305 384 0.1229 (0.2756 (0. os estados que recebem um ponto percentual a mais de recursos do FPE passam a ter um crescimento econômico até 23. A Tabela 3 abaixo traz um resumo dos resultados encontrados.1572 (0. Um ponto percentual a mais nos anos de escolaridade chega a aumentar o crescimento econômico 370 Federalismo fiscal .0155)*** 1.4964 (0.0445)*** 0. embora com o esperado sinal negativo. A Escolaridade (ESC) é a variável que impulsiona o PIB per capita dos estados de forma mais vigorosa. Tabela 3: Resultados multivariados Variável dependente PIBpc POB FPE ESC FPM G Constante R² Número de Observações -0. Nota: Erro-padrão entre parênteses.0628)*** -0.0111)*** 1.8%.2614) 0. **a5% e *a10%.4619 (0.8437 352 -0.2880 (0.3700 (0.1303)*** 82. Nível de significância: ***a1%.1383)*** 82.2333) 0.6501 (0.5211 (0. Em vez de aumentar o crescimento econômico. Na regressão da Tabela 3 uma queda em um ponto percentual na quantidade de pobres é capaz de aumentar o crescimento econômico do estado em até 27.0115)*** 1.2217 (0. pois o sinal do relacionamento entre ambas as variáveis é negativo.2537 (0.5% menor. na Tabela 3 os estados não parecem estar utilizando esses recursos para aumentar o PIB per capita. Entretanto.4478)*** -0.0274) -0.0114 (0. Em todas as regressões essa variável é significativa para um nível de significância de 99%. A característica particular dos recursos provenientes do FPM é que. Com isso a discussão entre as diferenças de renda interpessoal e inter-regional ganha um novo subsídio. o FPM é distribuído em todo o País baseado apenas no contingente populacional dos municípios. O FPE. a variável Escolaridade (ESC) mostra o sinal (com uma exceção) e a intensidade previstas pela teoria para aumentar tanto a “renda absoluta” quanto para diminuir a “renda relativa”. Ao mesmo tempo o FPE pode estar sendo usado para o enriquecimento de pessoas já abonadas nos estados que são receptores líquidos de receitas fiscais do governo central. mas principalmente naqueles mais pobres. ao contrário do FPE. Com isso. Entretanto. portanto. Embora a variável FPE diminua a desigualdade de renda. A sua capacidade de reduzir a pobreza talvez esteja nesse aspecto: os Federalismo fiscal 371 . A discussão do trade-off entre se investir em regiões pobres ou em pessoas pobres para aumentar a “renda absoluta” e diminuir as diferenças de “renda relativa” parece receber um novo impulso a partir do desempenho do FPE sobre essas variáveis. pois é negativamente correlacionada com POB e PIBpc. Considerações finais Tanto nas regressões mostradas na seção anterior quanto nas dispostas nos anexos. Focar as políticas públicas na educação de todos os indivíduos. A variável FPE parece empobrecer os estados que recebem os seus recursos. é bastante comum na literatura encontrar economias estagnadas e com grandes percentuais de pobres que apresentam uma pequena desigualdade de renda. ele não é condicionado à renda do estado ou do município receptor. Como as variáveis FPM e Coeficiente de Gini (G) são insignificantes para todas as regressões da Tabela 3. Nas regressões múltiplas o FPM se mostrou não significante para as variáveis dependentes do Coeficiente de Gini e PIB per capita. Um importante indicado no sentido de mostrar que tipo de política pode ser mais eficiente para aumentar a renda absoluta é o FPM.em até 127%. parece trazer o melhor resultado possível tanto para questões de “renda absoluta” quanto de “renda relativa”. quando os mais pobres têm acesso à educação. a variável é significante com relação à redução da pobreza. enquanto a diferença de renda interpessoal piora com o FPE. Dessa forma a diferença da renda inter-regional não está se modificando. o fator escolaridade é o que melhor explica o crescimento econômico dos estados. parece ser o instrumento que contribui para o empobrecimento das pessoas nos estados pagadores líquidos de receitas fiscais ao governo central. Sobre a Recente queda da Desigualdade de Renda no Brasil. Políticas educacionais e de crescimento econômico (como pode ser visto nas tabelas do Anexo) parecem ser mais eficientes para aumentar a “renda absoluta” e diminuir as diferenças da “renda relativa” que políticas específicas de transferência de renda entre regiões como o FPE e o FPM. Rio de Janeiro: Campus Elsevier. 5. Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio. P Geography and Trade. ALÈM. MANKIW. Referências bibliográficas ABRUCIO. Planejamento e Políticas Públicas (Ipea). 261-286. . A.ibge. São Paulo. 1995.seus recursos podem seguir na direção dos pobres com menos desvios que os recursos do FPE. C. Iorque: McGraw-Hill. 1973. “A Reconstrução das Funções Governamentais no Federalismo Brasileiro”. 2006. Public Finance in Theory and Practice. 23.gov. Konrad Adenauer Stiftung. M. ed. Políticas econômicas que aumentem o PIBpc tem uma capacidade significativa de diminuir a pobreza.. GIAMBIAGI F. v. Macroeconomia. Federalismo na Alemanha e no Brasil. J. N. 2001. A. 9/2006. In: W. Finanças Públicas. 2006. B. Hofmeister und J. e políticas do governo central sem a intenção declarada de distribuir recursos entre os entes federados que talvez sejam mais efetivas para aumentar a renda absoluta.br IBGE. A Endogeneização no Desenvolvimento Econômico Regional e Local. MIT Press.br IPEA. Disponível em: www. Rio de Janeiro: LTC. 2001. p. MUSGRAVE. Já o efeito sobre as diferenças de renda relativa provocadas por um aumento do PIB per capita são modestos. Brasília. R. 372 Federalismo fiscal .gov. Carneiro (Orgs. IBGE. Nota Técnica n. MUSGRAVE P B. KRUGMAN. 2001. Disponível em: www. Isso mostra que o caminho da diminuição das diferenças de “renda interpessoal” parece ser mais fácil de trilhar que as diferenças absolutas na “renda interregional”. Sistema de contas Nacionais.). Teoria e Prática no Brasil.. G. F. aumentando com vigor a renda absoluta da sociedade. 2007. L. ibge. 1991. Nova . AMARAL FILHO. Se temos os recursos do FPE e do FPM como um símbolo de políticas com o intuito de distribuir renda entre as unidades da federação (do governo central aos governos subnacionais). 1185 353 -0. 8. J.. MENDONÇA.0252) *** 1.7015 -0. Nota: Erro-padrão entre parênteses.4056 0. A. SALA-I-MARTIN. In: F. 333. STIGLITZ. 2005. A. p.0061)** 0.0029)*** 0. Hermann (Orgs.5915 -0. uma Abordagem Moderna. P Inman (Orgs.5963 (0.0128)*** 0. Barros de Castro. “An Economist’s Perspective on Fiscal Federalism”. Desenvolvimento como Liberdade.0795 (0.0054) *** -0.5965 384 -0.0058) *** 35. L. R. Salvador. Giambiagi. J. L.0090)*** 7. das Letras. Lexington: Mass. Villela.).. v.4703 (0. Oates (Org.5834 0. Feldstein e R. S. M.4112 (0.0403 384 -0. W. 2007. 274. “Theory of Local Public Goods. Federalismo fiscal 373 .0113)*** -0. E. Introdução à Econometria. “Pobreza e Desigualdade de Renda no Brasil”. PESSÔA.). 355-377.4980 (0. 5554 (0. SEN. 1977. MacMillan Publishing Company.0882 (0. Nível de significância: ***a1%. A.E. X. W.” In: The Economics of Public Services. The Disturbing “Rise” of Global Income Inequality. Economia Brasileira Contemporânea.904. n.0337 (0. M. NBER Working Paper. 2001.0060)*** 0.2775 384 -0. São Paulo: Cia. p. S.0137 (0. RAMOS. Rio de Janeiro: Campus Elsevier.1627 0. Anexos Tabela 4 – Resultados univariados Variável dependente: Coeficiente de Gini PIBpc FPE FPM POB ESC Constante R² Coeficiente de Correlação Número de Observações -0. 1999. 1. E.0176) *** 13.). 1977. In: The Political Economy of Fiscal Federalism.OATES. 2002. Existe um Problema de Desigualdade Regional no Brasil? In: XXIX Encontro Nacional de Economia. **a5% e *a10%. WOOLDRIDGE. Learning: Thomson. J.3686 384 Fonte: Cálculos do autor baseado em dados primários do IBGE/SCN e IBGE/PNAD.0023 (0. 0288 (0. Nível de significância: ***a1%.7132 384 -1.1433 352 -0.1297 (0.0889)*** 14. **a5% e *a10%.4703 (0.3077)*** 0.0435 (0. 374 Federalismo fiscal .0495)*** 50.5834 0.8712 -0.1654 (0.0202)*** 4.0479)*** -1. 6484 (0.1691) *** 35.5965 384 -1.0629)*** 1.6504 (0.0327)*** 0.9358 0.3864 384 1.1960) *** 2. Nota: Erro-padrão entre parênteses.Tabela 5 – Resultados univariados Variável dependente: Pobreza PIBpc FPE G FPM ESC Constante R² Coeficiente de Correlação Número de Observações -0.0548 0.4105 (0.3056 (0.0008 -0.0974) *** 53.7280 384 Fonte: Cálculos do autor baseado em dados primários do IBGE/SCN e IBGE/PNAD.4931 (0. o que complica a navegação. que se estende por uma superfície de 83.534 km2. Mam Lam Fouck. das atividades e das infraestruturas localizam-se na região litorânea. 197. França Metropolitana ou Metrópole: território da França situado na Europa Continental. O presente estudo não aprofundará o passado da Guiana. Consequentemente é ligeiramente povoada – densidade de aproximadamente 2 km2 contra 110 km2 na França metropolitana196 – mas tem conhecido um importante crescimento demográfico que dilui e mascara os progressos medidos pelos indicadores econômicos e sociais. A capital é Cayenne onde se aglomera mais da metade da população. A sua população não ultrapassava os 200 mil habitantes em 2006 de acordo com os dados oficiais. Devido a estas condições naturais. estreiteza da sua base econômica. mas é importante considerar que a situação contemporânea desse território é claramente condicionada pela sua história e notadamente pelo período colonial. boa parte da população. A Guiana é uma região que sofre de grandes deficiências herdadas da sua história197 e é confrontada nos tempos atuais com desafios importantes: infraestruturas insuficientes. está situada entre o Suriname ao Oeste. Em uma literatura especializada podemos citar. mas caracterizados por uma sucessão de quedas d’água. 2007. Ao mesmo tempo mostra. Fauré Introdução A Guiana francesa. e o Brasil com o qual a fronteira é marcada pelo rio Oyapock (ao Leste) e os montes Tumuc-Humac ao Sul. significativo crescimento demográfico. O interior do País é acessível apenas – exceto por via aérea – pelos rios numerosos e largos. o estudo da história política de S.Guiana Francesa: riqueza e fragilidade numa economia periférica Yves-A. em muitos domínios. Guiana Francesa 375 . por 196. Mais de 90% do território está coberto por uma floresta equatorial muito densa notavelmente preservada. uma melhoria da sua situação e dos seus resultados. entre outros. que separa o rio Maroni. entre outros. A Região (letra maíuscula) significa a Guiana enquanto Coletividade territorial institucionalizada e a região (letra minúscula) corresponde ao conjunto geográfico constituído pela Guiana e os países circunvizinhos. apesar desta realidade periférica. notadamente em comparação com os países da região – e sem negligenciar as referências guianenses menos vantajosas em relação à metrópole – ele deve se interrogar sobre as fontes desta dinâmica. finalmente. visto que as interpre198. Durante muito tempo prisioneira do seu estatuto de colônia. apresenta as características que justificam seu destaque em uma reflexão dedicada às economias periféricas. sem serem equivalentes aos da França metropolitana. não muito conhecida além das suas próprias fronteiras. das suas decisões e da sua evolução. por conseguinte. Alguns organismos públicos franceses. utilizam às vezes. de uma entidade que não é plenamente soberana dos seus recursos. aos agentes e aos mecanismos internos e muito às transferências financeiras e iniciativas. são claramente mais elevados que os da região internacional que a cerca. Esse território. 376 Guiana Francesa . por conseguinte. transformada e organizada em coletividade pública descentralizada. a Guiana foi apenas recentemente reconhecida na sua identidade própria. ou seja.exemplo: crescimento do produto. trata-se de uma região situada a mais de 7. investimentos vindos do exterior. mais recentemente. progressos escolares. mais notadamente da metrópole. e mesmo a União Européia. os padrões da Guiana. ao qual pertence. Outra consideração que justifica a sua menção em uma reflexão sobre as economias periféricas vem do fato de que se os seus dados sociais e infraestruturais são qualitativamente relevantes e se os seus indicadores econômicos demonstram. ações mobilizadoras para um desenvolvimento duradouro e mais autocentrado etc. então diretamente comandada e gerida pelo aparelho administrativo do Estado central francês. uma evolução significativamente positiva. por muito tempo. a programas. Tal é o objetivo deste estudo que convém relativizar permanentemente os dados que são expostos. a dinâmica assim engrenada deve pouco às forças. pedaço da Europa na América do Sul. É levado. A Guiana. impõe ao pesquisador um exercício específico.000 km das autoridades e administrações centrais. Ainda assim. a reconhecer que as alavancas da atividade econômica do território vêm do exterior. à sua relativa marginalização.198 Em princípio. o termo de “regiões ultraperiféricas”. é bastante ignorada no continente sul-americano. as características de uma região periférica. notadamente se comparada com as evoluções mais favoráveis que conheceram as ilhas das Antilhas francesas vizinhas (Guadalupe e Martinica). atividades. A sua trajetória histórica e a sua localização geográfica conduziram. Essa situação. se interrogar sobre como se comporta uma parte da autonomia interna e sustentabilidade. Apresenta. mas necessário: mesmo que ele deva dar-se conta de fatos positivos e de evoluções favoráveis. Guiana Francesa 377 . Esta definição não é falsa.. todavia específicas entre elas. do quadro e da escala nas quais são colocados estes dados. mas insuficiente. que a Guiana dispõe de um quadro institucional claro. antes de mais nada. para atingir tal objetivo. Por fim. mediante algumas rápidas elaborações. Autonomia institucional e voluntarismo político do território A Guiana tornou-se um Departamento francês em 1946 e foi erigida como Região em 1982. 1. São dirigidas por um presidente. representante do governo.tações que daí geram dependem. conselheiros gerais (Departamento) e conselheiros regionais (Região) eleitos pelo sufrágio universal direto. Uma particularidade administrativa reside no fato do território ser uma região monodepartamental. pois ela representa apenas os resultados pontuais de mecanismos estruturais mais fundamentais. adaptações são possíveis para levar em conta as peculiaridades e constrangi- 199. mas não suficientes. que condicionam a situação guianense e influençam a sua evolução.1. A Guiana comporta ainda 22 cidades dotadas de competências distintas dirigidas por presidentes de câmaras municipais (maires) e vereadores. os trabalhos de ROSELÉ CHIM. Além disso. As administrações do Estado central estão evidentemente presentes na Guiana através dos seus serviços desconcentrados e sua direção-geral é assegurada pelo Prefet da Região. eles próprios compostos de municípios. 1. as regiões francesas são compostas de vários departamentos. remetendo às relações do tipo centro-periferia. todos eleitos também pelo sufrágio universal direto. sólido e estável que lhe fornece meios que favorecem estabelecer diversas políticas públicas no sentido do desenvolvimento do território. Contudo.199 Essas duas entidades administrativas constituem coletividades territoriais dotadas de competências claras em relação às autoridades governamentais centrais. Naturalmente estes instrumentos institucionais são condições necessárias. Na maior parte dos casos. O regulamento nacional é aplicável à Guiana como às outras coletividades francesas ultramarinas conforme o princípio da identidade legislativa. por exemplo. evocaremos as evoluções positivas registradas recentemente nas áreas da economia e do social. fundadas sobre os dados disponíveis. Uma economia relativamente rica e condições sociais favoráveis Tentaremos mostrar. vice-presidentes. 2007). alguns economistas falam de “desequilíbrio” para definir a situação guianense (cf. conformes às que lhes é reconhecido no conjunto do território francês. ensino secundário. principalmente. aumentar o número e a qualidade dos estabelecimentos escolares e universitários etc. melhorar a formação e a qualificação guianense. os municípios) dispõem de receitas fiscais diretas (taxa de habitação. participação em empresas de desenvolvimento. Os municípios possuem competências.) e indiretas (concessão de mar sobre os produtos importados. bibliotecas e museus etc. apoio às universidades e a pesquisa etc.). falecimentos). gestão das escolas maternas e primárias. A Região é mais particularmente competente em matéria econômica: planejamento das ações e dos investimentos públicos. em menor escala. mais particularmente. nos últimos 15 anos. renovar e amplificar o parque dos equipamentos e as infraestruturas. taxa profissional etc. taxa fundiária sobre as propriedades construídas. Os planos diretores e outros planos estratégicos. cooperação regional e transfronteiriça.). cruciais para o território guianense. portos. Entretanto. segurança dos bens e das pessoas. O Departamento tem por missões principais a gestão dos serviços e as ações de solidariedade: ação social e médico-social. As coletividades públicas que administram a Guiana (Região e Departamento e. como poderemos ver. Do mesmo modo. urbanismo. nos seguintes domínios: gestão dos registros de estado-civil (nascimentos. defesa dos interesses econômicos.mentos específicos de cada território ultramarino (princípio de especifidade legislativa). aos lados dos corpos nacionais de polícia. formação profissional. estudos e avaliações não faltam e foram concebidos ou encomendados a empresas especializadas e postos em prática pelos responsáveis políticos guianenses. transportes interurbanos etc. em geral. direitos de mutação. de taxa sobre os combustíveis etc. dedicaram conjuntos de medidas e decisões voltadas para o desenvolvimento da região para tentar reanimar antigas cadeias produtivas. pessoas em dificuldades (subsídios e bolsas como. 378 Guiana Francesa . a evolução da Guiana também é assegurada pelos esforços realizados pelas suas coletividades públicas que. habitação. taxa fundiária sobre as propriedades não construídas. transportes regionais. o RMI que é um salário dado pelo Estado em visto da inserção profissional do beneficíario etc. regulamento da circulação. As ações realizadas e os investimentos operados pela potência pública central são. financiamentos de ajudas aos jovens. atrair investimentos em setores novos. as atividades do centro espacial de Kourou continuam a animar a economia da Região. por exemplo. casamentos. As competências destes três níveis de coletividades públicas são. equipamento rural. Guiana Francesa 379 . comparativamente com a taxa de 1. por conseguinte. por último por exportações modestas e flutuantes. um evidente voluntarismo. O PIB per capita da Guiana situa-se em 49% da média nacional enquanto já foi de 62% em 1993.Pode-se notar. agora independentes dos partidos nacionais – a principal formação é o Partido Socialista Guianês (PSG). bem verdade. neste sentido. atingiu 2. ou seja. Os motores da economia do território são assegurados. Kourou e Matoury etc. contudo. Um forte crescimento econômico O Produto Interno Bruto (PIB) da Guiana que chegava à 1.2. nos 13 últimos anos a 200. Continua a ser. das famílias e as administrações.9 bilhões em 2007. menor adesão à partidos políticos nacionais200 – que são a origem de um interesse mais acentuado que no passado para o desenvolvimento do território e que demonstram.6% atingida pela França metropolitana.9 bilhão de euros em 1999. Os organismos de pesquisa e a universidade.3 bilhões em 2003 e obteve uma progressão regular desde que chegou à 2. são mobilizados pelos responsáveis políticos para dotar estes setores de atividade do capital humano (conhecimentos. em média. origens sociais mais diversificadas. O forte crescimento demográfico da região pesa sobre este dado per capita e tende a anular os efeitos positivos do seu forte crescimento econômico que foi de 5. as necessidades são consideráveis em matéria de profissionalização das cadeias produtivas. que os diversos setores econômicos guianenses demonstram tantas potencialidades e promessas quantas dificuldades e deficiências. mudanças significativas na composição das elites políticas da Guiana – rejuvenescimento. 1. até 14% pelo investimento (FBCF ou formação bruta de capital fixo). Para além dos problemas de financiamentos e de equipamentos. a partes iguais. A reativação dos investimentos públicos e algumas operações de grande envergadura contribuem largamente para esta evolução positiva: grandes projetos que dinamizam o setor da construção e as obras públicas. construção de um novo campus universitário – cujo custo total atingirá os 180 milhões de euros – consideráveis canteiros de renovação urbana em Cayenne. como consequência. As regiões ultramarinas francesas foram caracterizadas historicamente por alianças – ou mesmo submissões – dos seus eleitos políticos com as principais formações políticas nacionais. programa Soyouz da base espacial Kourou. a vida política na Guiana é dominada por formações de esquerda. mais recentemente.2%. uma progressão de aproximadamente 6% ao ano nos últimos anos. Até o ano de 2010. competências e inovações) que lhes falta ainda e do qual depende o seu desenvolvimento e. 2/3 pelo consumo. o futuro econômico da Guiana. de fato. em razão do peso dos serviços públicos (bem superior ao dos serviços às famílias e às empresas devido à importância da função pública). o PIB per capita representa cerca de 70% da média nacional. ao mesmo tempo. Esta tensão entre. Levando em consideração apenas a população detentora de um emprego. o rendimento disponível (após imposto) per capita ascendia à 8. como veremos mais adiante.299 euros contra 8. o desvio entre os dois indicadores explicam-se pela juventude da população da Guiana e por uma taxa de atividade mais fraca. Esses números e a sua evolução resumem perfeitamente as especificidades 380 Guiana Francesa . a presença de um setor industrial modesto (13%) em relação à metrópole e sustentado pelas atividades espaciais. O comércio (11%) e a construção (8%) são outros setores que contribuem para a riqueza do território enquanto a agricultura e os transportes são economicamente mais modestos. desprovidos de água e eletricidade. de um lado o dinamismo econômico e do outro o aumento da população. A atividade de construção. mais ou menos. e se a atividade espacial permanece como um pilar do crescimento econômico local. por um importante setor de serviços (70% do valor agregado bruto do conjunto dos setores). observa-se o dinamismo evidente do setor da construção e das obras públicas e o desenvolvimento espetacular do setor terciário. Em se tratando. por exemplo. Se. a curva do crescimento demográfico. Sobre os 54 mil alojamentos contabilizados em 1999 (85% sendo residências principais) mais da metade foram construídos após 1982.4% dos alojamentos eram. da construção: os seus desempenhos têm um impacto direto na qualidade das infraestruturas e nas condições de vida das famílias. consequência da melhoria do nível dos rendimentos e das prestações sociais. Essas ajudas também permitiram a melhoria da qualidade e o conforto das residências: em 1999 apenas 8. Em 2003. o declínio regular da taxa das importações em relação ao PIB – passado de 100% em meados dos anos 1990 a menos de 50% nos anos recentes – confirma o alargamento do mercado interno. A economia da região é caracterizada.536 euros em 2002 e 8. Se o setor público continua importante mesmo que submetido a uma “limpeza” e a uma redução de tamanho. a economia guianense é dependente das transferências públicas e das atividades do Centro espacial de Kourou. constitui um dos desafios essenciais da Guiana. é bastante importante na economia guianense.939 euros em 2001. mas também pela existência eficaz de um sistema público de ajudas.ponto de fazer duplicar o PIB guianense neste período. Explicase não somente pelo pedido sempre elevado de alojamentos. O ritmo das construções acompanhou. consequentemente. estruturalmente. É esclarecedor passar de uma visão estrutural à uma visão diacrônica. 037. os elevados custos de produção ligados aos problemas de transporte e de energia. e o fato de se tratar de um território em que a vida é bastante cara e os salários altos. assalariados do setor público (Estado.036 euros). Todos os dados relativos aos rendimentos testemunham. coletividades territoriais.53 euros (livre das contribuições sociais e encargos dos assalariados). o nível relativamente elevado das remunerações e das prestações sociais em relação à região. são elevados em relação aos outros países da região.197 euros e 22. bastante equitativamente repartido entre homens e mulheres (22. O bom comportamento dos indicadores sociais e os progressos da escolarização O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) realizado sob a égide do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é um bom instrumento para medir e comparar a qualidade de vida das populações. O rendimento salarial anual médio na Guiana é de 22. seja muito pouco competitiva. que o IDH inclui o PIB per capita – medido em paridade de poder de compra para permitir comparações internacionais – e dados sobre educação (taxas de alfabetização e de escolarização) e sobre saúde (esperança de vida ao nascimento). Em primeiro de julho de 2008 esse SMIC mensal bruto (para 35 h de trabalho por semana) é de 1.135 euros em 2004. como em outros domínios.201 201.da situação econômica guianense que se verificam concomitantemente a numerosos outros indicadores. função hospitalar. em função do custo de vida. quase idêntico ao da França (22. É importante lembrar. autarquias. Por um lado. por conseguinte. embora dinâmica. Em conformidade com o princípio republicano de igualdade dos direitos e dos deveres – que induz outra norma jurídica. 1.3. a da continuidade territorial que impõe ao Estado que financie à sua carga uma parte dos custos adicionais devidos ao afastamento geográfico – o salário-mínimo (SMIC: salário-mínimo interprofissional de crescimento) em vigor na França metropolitana é aplicável também na Guiana. mais elevadas: em conformidade com antigos textos que datam dos anos 1950. Para resumir. Quanto mais Guiana Francesa 381 . os progressos reais são reduzidos ou mesmo anulados pelo ritmo importante do crescimento demográfico (saldo natural e saldo migratório). níveis de recursos muito superiores ao conjunto dos países da região. fazem com que a economia guianense.193 euros).02 euros (bruto) e 1. ensino público) recebem todos os prêmios que correspondem a 40% do seu salário e muitos empregados do setor privado recebem prêmios de pelo menos 20% do seu salário. Mas as remunerações são. Por outro lado.321. mas são mais fracos – cerca de 50% – com relação aos da França metropolitana. de fato. mascarada pela dinâmica dos fluxos de população. mas ao mesmo tempo limitada e.529 (146°). 70.Entretanto. enquanto o IDH da França era de 0. o Suriname 0. Os progressos realizados em matéria de escolarização e formação atestam uma evolução favorável. mesmo sendo esses resultados claramente superiores aos da região. A situação da Guiana era. Já o aumento do número dos alunos inscritos no ensino secundário é de 8% ao ano. mais favorável que a dos países vizinhos. às vezes. Esses resultados são fruto. Os efetivos dos alunos acolhidos nos estabelecimentos do primeiro grau (escolas primárias) crescem em média de 9% ao ano. Contudo. 382 Guiana Francesa . a Guiana (ex-Guiana Inglesa) 0.862.803 nesse mesmo ano. o Brasil atingia 0.750 (97°) e o Haiti 0. 73. 202. mesmo com todos os tipos de baccalauréat juntos.4% em 2005 na Guiana contra mais de 80% no País). e certamente mais baixa que o conjunto da França (71. 68. a Venezuela 0.5% em Guadalupe).7% em 2007. Como um todo. A taxa de acesso ao nível de baccalauréat202 dos jovens guianenses – representada pela relação efetiva entre classes terminais do ensino médio de cada geração implicadas –. progressiva e inexoravelmente. evidentemente. De acordo com as indicações do PNUD para o ano 2005. o índice se aproxima de 1 mais ele assinala um elevado grau de desenvolvimento. o índice da Guiana era de 0. índice que colocava o País em 10° colocado no ranking mundial. os resultados. Os alunos que obtêm o baccalauréat não cessaram de ser numerosos na última década.2% em Martinica. causados por atrasos históricos. a República Dominicana 0. Nesse mesmo ano. que comprova o bom nível de estudos no ensino médio e abre acesso à universidade. nos limites medidos por esse instrumento. embora tendo um aumento progressivamente regular.800 (70°). de atrasos históricos que só poderão ser reduzidos lentamente. O baccalauréat (ou Bac abreviado) é um diploma nacional.779 (79°). quando se trata da Guiana francesa.952. o que a colocaria na posição 43° no ranking mundial. a América Latina e as ilhas do Caribe atingiram um IDH de 0. são inferiores aos da França inteira. Verificam-se resultados semelhantes nas mais diversas áreas. baseado principalmente em um exame. mais uma vez. com o tempo. é de apenas 38.792 (74°). Essas evoluções notáveis da demografia escolar deixam perceber a pressão quantitativa que será exercida sobre a universidade na Guiana.9% na região enquanto é claramente superior nos outros departamentos ultramarinos (56.8% em 2006 e 65. A situação da educação na Guiana exemplifica bem os seus avanços como também ressalta os desafios enfrentados pela Região.7% na Reunião.774 (85°). podemos observar na Guiana uma taxa de sucesso ainda fraca (embora em ascensão). os estudantes inscritos em um estabelecimento público universitário guianense eram.450 em 2003. e a atração progressiva dos estudos superiores e a oferta de formação universitária.160 em 1999. do Instituto Universitário de Tecnologia (IUT). em números arredondados.7% de um diploma Bac+2 e 3. As evoluções que caracterizam os fluxos de diplomados do ensino médio podem ser identificadas a partir das orientações dos titulares do baccalauréat sobre o período 1999-2006. 1. reatualizado em 2006.6% e 3. comprovando assim os progressos realizados em termos de desempenho escolar. 3.Em 1999 apenas 8. não obstante relativizados pela carência da escolarização. do Instituto Universitário de Formação dos Professores (IUFM). ou seja 70% do efetivo total dos titulares do baccalauréat que prosseguem estudos superiores: a partir de 2003 os novos titulares do Bac matriculados nos estabelecimentos de ensino superior na Guiana tornaramse maioria e esse movimento continuou a tomar uma amplitude notável.6% dos jovens entre 15 e 29 anos eram titulares de um baccalauréat. e 2.3%. O Plano Diretor de Desenvolvimento do Polo Universitário Guianense.4%. 5% e 4. b) o número de novos titulares do Bac que prosseguem estudos superiores quase duplicou entre os dois limites do período. Consequentemente. 3.255 em 2006 (65%). pouco valorizada. das populações de imigrantes. os resultados de 2005 elevam-se para 13.300 em 2007. estes novos titulares do Bac constituem uma reserva substancial de jovens da Guiana potencialmente estudantes que será orientada para os estabelecimentos universitários locais graças à melhoria das condições sociais por um lado. c) os novos titulares do Bac que eram apenas de 197 em 1999 a prosseguir estudos superiores na Guiana (46% do total dos titulares do Bac que prosseguem estudos superiores) passaram a ser 571 em 2006. 1. por outro. ou seja. restam 65% de novos titulares do Bac que ou não continuam seus estudos ou continuam em outros estabelecimentos de ensino que não os da Guiana. Levando-se em conta apenas a população nativa. da seção guianense de Unidade de Formação e Pesquisa (UFR) de Medicina e por último do Instituto Universitário de Formação Contínua (IUFC). De fato.5% do efetivo referido em 7 anos. passando de 763 em 1999 para 1. A evolução dos efetivos de estudantes na Guiana reflete quase mecanicamente este aumento do número dos alunos que saem diplomados do ensino secundário.3%. um crescimento de 64.9%. prevê um pouco mais de Guiana Francesa 383 . Podemos tirar quatro principais lições: a) o número de neotitulares do Bac guianense não parou de aumentar ano após ano. passando de 427 sobre 763 em 1999 (56%) à 813 sobre 1.1% de um diploma Bac+4. Em 2005 esses dados estabelecem-se respectivamente a 10. d) por fim.255 em 2006. Trata-se exclusivamente dos estudantes do Instituto de Ensino Superior da Guiana (IESG). Estes estabelecimentos e redes de formação acolhem cada ano várias centenas de estudantes e os conduzem a diplomas de pelo menos Bac +2. instalação e evolução de numerosos institutos especializados e escolas profissionais que recrutam parte dos alunos titulares do baccalauréat.4. a valorização crescente da educação escolar das populações e a densificação e diversificação da oferta de formação têm por efeitos quase mecânicos um aumento na duração dos estudos. Recente porque por muito tempo a população guianense permaneceu extremamente reduzida e estável. o IRDTS (Instituto Regional de Desenvolvimento do Trabalho Social) que dispensa formações nas áreas da assistência social e a educação especializada.204 O crescimento demográfico foi de 3. dos equipamentos e da qualidade do ensino. A população da Guiana. o setor comercial foi testemunha da criação. a Escola de enfermeiros e de enfermeiras. no mesmo período. um crescimento regular dos efetivos de alunos que se apresentam ao baccalauréat e uma elevação progressiva da taxa de sucesso no que se refere a esse diploma pré-universitário. Certos estudos comparam a sua explosão demográfica à dos países em desenvolvimento. a importância das migrações clandestinas evidentemente é subestimada e o número real de população é certamente bastante superior aos dados oficiais. Além disso. mais rapidamente que a população da França metropolitana. Apesar da qualidade do censo. o cenário mais modesto mostra uma duplicação da população no horizonte até 2030 (ou seja. 384 Guiana Francesa .203 O aumento demográfico dos efetivos escolarizados. Dinamismo demográfico e importância do fato migratório O crescimento da população instalada na Guiana é um fenômeno demográfico recente e essencial. em seguida saltou para 73 mil em 1982 e hoje excede os 200 mil habitantes. o Instituto Consular de Formação que depende da Câmara de Comércio e de Indústria. outros estabelecimentos públicos. asseguram também formações pós baccalauréat. situados fora da universidade no sentido estrito. Na Guiana.três mil estudantes em 2009 e cerca de cinco mil estudantes no horizonte de 2013. De acordo com as projeções do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (INSEE). 1. 204. os fluxos de entrada nos estabelecimentos de ensino superior da Guiana são crescentes. a melhoria das infraestruturas. Era de aproximadamente 44 mil habitantes nos anos 1960. Podemos citar. No período 1999-2006 a parte do crescimento demográfico anual da Guiana devido ao saldo natural (nascimentos menos falecimentos) foi de 203. a agência guianense do CNAM (Conservatório Nacional das Artes e Profissões) que forma designadamente engenheiros. Consequentemente. notadamente.64% na França metropolitana. os percursos BTS (Diploma de Técnico Superior) cujas aulas são ministradas nos estabelecimentos de ensino médio. aumentou 10 vezes. mais de 400 mil habitantes) e o cenário fundado sobre tendências mais dinâmicas conduz a uma triplicação da população neste mesmo horizonte.8% ao ano entre 1999 e 2006 contra 0. Guiana ex-inglesa (6%).25% na metrópole. há 20 anos. A relativa riqueza da Guiana. Venezuela. ou seja. Brasil (17%). Guiana Francesa 385 . sua estabilidade institucional e política. De acordo com certas fontes. mas também a forte contribuição das migrações ao crescimento da população da Guiana francesa. O dispositivo regulamentar que permite os agrupamentos familiares dos migrantes explica em parte a manutenção desta proporção. a segurança dos bens e habitantes constituem características que contrastam frequentemente com os países da região e representam um compreensível fator de atração para as populações estrangeiras. República Dominicana.5% da população total contabilizada. Esta proporção de imigrantes leva em conta apenas os imigrantes “declarados”. As dificuldades do emprego local e as fraquezas do tecido socioprofessionnel guianense A juventude da população guianense é um de seus principais traços já que os maiores de 60 anos são quatro vezes menos numerosos que na metró205.75% (contra 0.39% na metrópole) e a parte devida ao saldo migratório (imigrantes menos emigrantes) ascendeu a 1. Mostram não somente a importância do fenômeno migratório em relação ao resto do País. aquelas que dispõem de documentos oficiais que lhes permitem residir e trabalhar na Guiana. os imigrantes clandestinos representariam entre um terço e a metade de imigrantes declarados.2. Em 1990 os imigrantes declarados que residam na Guiana representavam 30. 2. 2. A fraqueza dos motores internos e as dificuldades de uma dinâmica autônoma Evocaremos aqui apenas uma série limitada de fatos e processos que testemunham que a escassez de alavancas de desenvolvimento propriamente guianenses expõe o território a um condicionamento de decisões e iniciativas largamente advindas do exterior o que a faz sofrer os riscos desta dependência diretamente ligada ao seu estatuto de economia periférica. Colômbia). bem diferente do da França metropolitana. tratava-se principalmente de homens. Apesar das políticas recentes mais restritivas e mais seletivas em matéria de migração esta proporção não diminuiu tendo em vista que os dados provisórios indicam que esta proporção era ligeiramente superior à 29% em 2005. Haiti (28%). China etc.03% contra 0. Nota-se uma elevação relativamente recente das migrações originárias dos países sul-americanos hispanófonos (Peru.1.205 Os principais países de origem dos imigrantes são: Suriname (33% do total). Estes dados testemunham uma taxa de natalidade muito elevada. dado que o fato migratório refere-se cada vez mais às mulheres enquanto que. 6%. progrediu bem claramente: +6% em relação a 2004. “a exportar” os seus 386 Guiana Francesa . o jovem guianense tende a deixar o território. do setor industrial guianense explica que quase 85% dos empregos assalariados sejam localizados nas atividades terciárias. A fraqueza da agricultura e. Mas como. A migração das pessoas nascidas na Guiana e que vão se instalar na França metropolitana é um fenômeno relativamente importante. em 2007. De acordo com um novo método de cálculo harmonizado com o plano europeu adotado pela França. A Guiana tende. Simetricamente.4% em 2005 e 26. Se este resultado. ou seja. Os dados do Insee de 1999 atestavam que mais da metade dos jovens da Guiana de 15 até 29 anos não possuía nenhum diploma (55%). cresceu de mais de 9%. ela é ainda muito elevada.9% em 2005. e 85. logo. a população ativa. O número de empregos. a taxa de desemprego na Guiana.2% em 2004.5% em 2005.8% para 14. Observase que o número absoluto de residentes na metrópole nascidos na Guiana é correlacionado diretamente à hierarquia do diploma obtido: quanto mais o diploma é elevado. A pirâmide das idades mostra uma forte perda de habitantes na faixa entre 18 e 25 anos em relação à metrópole. 86. mais são importantes os funcionários guianenses residentes na metrópole. por conseguinte. Este resultado é causado pela função pública que. um resultado claramente mais elevado que na França metropolitana. e tende a crescer: era de 29.2% em 2004. representa mais de 30% da totalidade dos empregos na Guiana. Esta “evasão” deve-se a dois fatores: em idade de prosseguir estudos ou bater à porta do mercado trabalho. A taxa de desemprego na Guiana é muito elevada. A parte do emprego assalariado no emprego total é muito elevada mas tende a diminuir regularmente: 87. sobretudo. o emprego não assalariado progride ao mesmo tempo de 12. cerca de 50%. ao mesmo tempo. As mulheres e os jovens são as categorias mais afetadas por essa situação.8%. estabelecido eram cerca de 53 mil no início de janeiro de 2006. Embora a taxa de desemprego do jovem tenha continuado muito elevada. excluindo-se a defesa nacional. claramente superior à taxa média. é inferior às taxas declaradas anteriormente. consequência de uma nova definição mais restritiva do desemprego. as estatísticas mostram também que a obtenção de um diploma aumenta significativamente as possibilidades de acesso a um emprego.pole. Esta taxa diminuiu ligeiramente até atingir 52. a progressão do número de vagas é insuficiente para absorver os fluxos crescentes de pessoas em idade para assumir um emprego. três vezes mais que na França metropolitana. representando a mão de obra potencial.2% em 2006.1% em 2006 contra 26. foi de 20. Os profissionais de nível intermediário e os de nível superior são na Guiana duas vezes menos numerosos que na metrópole (respectivamente 6.206 Essas contribuições europeias são feitas em prol das regiões em atraso de desenvolvimento e são aplicáveis notadamente nas seguintes áreas: portos. Trata-se de esforços redistributivos normais realizados pelo Estado central acrescidos de dotações anuais que alimentam os orçamentos das coletividades públicas a fim de reduzir os desequilíbrios entre as regiões francesas.3%). 900 milhões de euros. Fundo Europeu para a Pesca e a Aquicultura (FEP). sob forma de isenção tributária parcial dos investimentos produtivos e habitacionais ou ainda as reduções de impostos sobre o rendimento das pessoas e de sociedades no que se refere às empresas.6% contra 9. 206. Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). por exemplo. 2. assim. Programa de Desenvolvimento Rural (PDR). ao apoio financeiro da União Europeia bem como à assistência social. proteção do meio ambiente. setores produtivos geradores de empregos. O exame das categorias socioprofissionais mostra que os agricultores e os artesões. Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER). no total. A importância das tranferências financeiras Tais transferências referem-se aos financiamentos e aos investimentos públicos do Estado central. As ajudas provenientes da União Europeia são igualmente substanciais. telecomunicação. Guiana Francesa 387 . Estes financiamentos suplementares passam por dois principais instrumentos de programação plurianual: o Contrato de Plano Estado-Região (CPER) e os Programas Operacionais (PO). Em 2004 a Guiana se beneficiou. metade do Estado francês. pesquisa e inovação. a metrópole e empobrecendo o seu contingente de trabalhadores.8 na metrópole e 2.1% e 3% contra 2. formação profissional. metade da União Europeia.quadros formados beneficiando.8%).3% contra 1. Fundo Social Europeu (FSE). aeroportos. comerciantes e donos de empresas apresentam as mesmas proporções que na metrópole (respectivamente 1.2. de transferências públicas de aproximadamente. Para o período 2007-2013 as ajudas financeiras excederão 1 bilhão de euros em proveniência. Além destas ajudas diretas existe um conjunto de medidas indiretas favoráveis decididas pelo governo central.9% contra 5. Entre 2000 e 2006 a Região recebeu 400 milhões de euros provenientes de Bruxelas através de vários fundos. se tem uma criança sob sua responsabilidade). residindo no território nacional os cuidados médicos gratuitos no âmbito do regime geral do seguro “doença”.5%. Departamento principalmente. Em 2004. este subconjunto de transferências do Estado e de subvenções representa 52. contam-se aproximadamente 20 subsídios diferentes pagos por organismos nacionais e pelas coletividades descentralizadas. Um comércio externo cativo A balança comercial da Guiana é estruturalmente deficitária.5%) e contribuem para a taxa de crescimento do PIB. O RMI garante um rendimento mínimo de 450 euros mensais para uma só pessoa a 680 euros para um casal – acrescentam-se cerca de 180 euros por criança.1%. aos Subsídios familiares atribuídos em 2005 a um pouco mais de 24 mil famílias. o orçamento de outra grande coletividade pública. O CMU garante à qualquer pessoa.4% das despesas totais. Os países da União Europeia e as Antilhas francesas ocupam os ranks seguintes.4%. 2. tem direitos sociais garantidos entre os quais a sua reintegração profissional. Se acrescentarmos as subvenções recebidas. aos Subsídios escolares atribuídos a mais de 15 mil famílias.3. francesa ou estrangeira. As despesas de investimento atingiam 18. em 2006. Consideradas as despesas. 208.9% do valor das exportações) da Guiana. Às prestações mais frequentes em 2005 referiam-se a CMU207 ou “cobertura doença universal” autorizada para 40 mil pessoas. 13. 388 Guiana Francesa . em 2008. 12. Uma especificidade dos territórios franceses ultramarinos reside no número. A aproximação das séries anuais de produção. Excetuadas as aposentadorias. aos subsídios de moradia familiar e moradia social atribuídos a mais de 11 mil pessoas etc. o Departamento. Qualquer pessoa com mais de 25 anos (ou menos. A taxa de cobertura (valor das exportações/valor das importações) é muito fraca (sucessivamente 20.6% e 14. As prestações sociais obedecem às mesmas regras de abertura dos direitos e de atribuição existentes na França metropolitana. proporcionalmente mais elevado de pessoas beneficiárias do conjunto destas ajudas que na metrópole. se constituía no principal fornecedor (39.Em 2006 o orçamento da Região da Guiana era de 182 milhões de euros dos quais 39% provêm dos impostos indiretos arrecadados pela coletividade territorial e 37% das dotações do Estado central.2% do valor das importações) e o principal cliente (54. exportação e importação permite medir a evolução do nível de dependência da economia guianense 207. 17. ao rendimento mínimo de inserção (RMI)208 emitido a quase 13 mil pessoas. A França metropolitana.3% dos recursos orçamentários. dos quais 29% provinham de dotações e subvenções recebidas do Estado. verifica-se que os investimentos são muito elevados (68.9% de 2002 até 2006). ascendia à quase 222 milhões de euros. Os resultados são muito significativos. O ratio importações/PIB melhorou há uma quinzena de anos até atingir 48% em 2006. 209.6%. se a Guiana é relativamente autossuficiente no que diz respeito aos produtos agrícolas até 93%. testemunhando por ela mesma o encadeamento de um início de dinâmica virtuosa de import-substitution que deverá ser confirmada com o tempo. As deficiências das empresas privadas guianenses e os problemas dos setores tradicionais de atividade De acordo com o Insee. um número ligeiramente inferior se raciocinarmos em termos de empresas. demonstradas por três conjuntos de produtos (“diferentes produtos agroalimentares”. modesta. cerca de 65% das importações e 87% das exportações.1% etc. nestes últimos anos.6%. os produtos das indústrias agrícolas e alimentares têm uma taxa de cobertura de 9%. as evoluções positivas. os produtos químicos. os equipamentos mecânicos 8. Calculada de acordo com a fórmula (importações + taxas sobre as importações) / (produção – exportações – variação dos estoques + importações + taxas sobre importações). os produtos de madeiras. “bens de consumo”.4. recenseava-se um modesto parque de 8. ou seja. em baixa.em relação às importações de bens. São 70% dos estabelecimentos que atuam no setor terciário. devido à ausência de um porto de águas profundas na Guiana. Assim. as importações provenientes da região representam apenas 4% do total das importações de bens. ou seja. Se a taxa de dependência209 varia pouco sobre a longa duração. mas real. compararativamente com as taxas de 60% no Suriname e 116% na Guiana ex-inglesa. no início de janeiro de 2006. Contudo. o que demonstra uma fraca integração da Guiana no seu ambiente geoeconômico. Estabelecendo um paralelo entre os dados mais precisos das importações e das exportações dos produtos é possível elaborar o panorama das taxas de cobertura para o ano 2006. o que indica que a Guiana é dependente até 91% dos produtos importados. “outros bens intermédios”) contribuíram para a baixa. fora os produtos petroleiros que transitavam até os últimos anos pela Trinidade. os equipamentos residenciais 1.600 estabelecimentos na Guiana. 2. A grande maioria é constituída de pequenas unidades: 70% não empregam nenhum assalariado e apenas 4% empregam mais que 10 assalariados. da taxa de dependência. borrachas e plásticos 1. Guiana Francesa 389 . Os produtos do vestuário e o couro têm uma taxa de cobertura de 1.1%. Enfim. de papel ou de cartão 19. convém notar que as trocas externas são fortemente ligadas às atividades espaciais que representam em valor.6%. as dificuldades de organização e a estruturação dos produtores. como a madeira. 390 Guiana Francesa . não somente o dinamismo das novas atividades.550 estabelecimentos (quase 30% do total das unidades). características ligadas a perifericidade da Guiana explicam esta evolução mesmo que a Região disponha de algumas vantagens comparativas devidas à sua situação geográfica.O comércio contabiliza mais 2. mas também a deterioração. as indústrias de bens de consumo. que as atividades espaciais exercem um duplo efeito sobre a economia do território. Por outro lado. diversas empresas são dependentes das encomendas públicas e das operações de grande porte. A produção primária participa com apenas 3. Além disso. os serviços às empresas (17%). Os custos adicionais de produção. de aprendizagem etc. Essa dupla referência. a estreiteza do mercado interno. de certas cadeias como o arroz e a pesca enquanto outros. Devido ao volume considerável dos financiamentos externos e aos grandes programas de investimento. O pertencimento à França e à Europa. limitam-se os efeitos positivos de qualquer natureza – financeiros. saúde e ação social (6%) etc. receptor da identidade da Guiana. Sabemos. além disso. construção etc. à frente. transportes (6%). – é realizada geralmente por estabelecimentos que são de fato sucursais de grandes grupos franceses. em números absolutos de produção. os obstáculos físicos de acesso. e de bens intermediários (9. De um lado contribuem fortemente – aproximadamente 20% em média – para a formação do PIB da região. da qual é orgulhosa a maioria dos guianenses. de equipamentos. Várias cadeias tradicionais enfrentam dificuldades e algumas estão em declínio.500 assalariados. de transferências de tecnologia. consequentemente. os serviços aos particulares (10%). alguns constrangimentos em termos de desenvolvimento. de inovação.5%). Em 2005 o número de estabelecimentos subcontratantes do Centro Espacial Guianense (CSG) instalados na Guiana era de 85 e empregavam 2. o setor da construção (17%). – que esses grandes setores poderiam exercer sobre o tecido empresarial guianense. as variações observadas no setor das atividades espaciais.210 Como consequência. gera.7% do valor agregado total em 2006 contra mais de 5% em 1993 e esta parte relativa que declina tem por causa. contudo. influenciadas pelo número de lançamento dos satélites – e a observação pode também ser feita a propósito dos grandes programas de construção e de obras públicas – geram. uma característica guianense desse mundo de empresas é que a subcontratação observada nas grandes atividades – espacial. sujeitas aos riscos dessas fontes. possuem dificuldades para se desenvolver. 210. no longo prazo. educação. cuja sede social encontra-se na metrópole. importantes flutuações sobre as taxas anuais de crescimento econômico. os custos adicionais de instalação e funcionamento das unidades produtivas. numerosas. prazos burocráticos alongados. seduzem os investidores211 – bem como. Guiana Francesa 391 . a ponto de utilizar o mercúrio cujos danos são reconhecidamente sérios para os humanos e para o meio ambiente. A proteção do meio ambiente. geralmente. do meio ambiente. Conclusão Os poucos dados apresentados neste estudo e as análises decorrentes do funcionamento da economia da Guiana confirmam a situação paradoxal deste território. além de beneficiar-se de um importante crescimento há uma quinzena de anos. O parque nacional amazônico cobre 2 milhões de hectares e o parque natural regional 270 mil hectares. No campo das explorações de ouro vários programas são anulados ou ficam atrasados – enquanto os recursos minerais. tão pouco escrupulosos. tomando o exemplo dessa nova palavra de ordem das autoridades públicas e das sociedades civis. De um lado. por ser um metal de duradoura e elevada toxicidade. Na Guiana existem mais de 90 espaços naturais registrados e protegidos. enquanto outros espaços são sujeitos as autorizações da Préfecture antes de se empreender alguma atividade. 211. são inscritos nos registos locais. o potencial de desenvolvimento autônomo que a colocaria ao abrigo dos riscos vindos da parte externa e. pode-se constatar que as alavancas desta evolução positiva situam-se externamente. Resultam dessas prescrições jurídicas. relativamente abundantes na Guiana. Esta relativa abundância do ouro é a origem de uma considerável exploração clandestina realizada por exploradores de ouro vindos geralmente dos países vizinhos. a Região ainda está longe de poder realizar. estabelece condições novas e severas em matéria de desenvolvimento. como patrimônios naturais. de rendimentos e de bem-estar social claramente superiores aos países da Região. sobretudo. pela mobilização das suas próprias forças reais e das suas vantagens. técnicas. notadamente. econômicas e sociais.impõe-lhe notadamente o respeito a normas estritas e caras nas áreas. apresenta políticas voluntaristas que têm por objetivo reduzir o atraso que acumulou historicamente em relação às outras regiões francesas e atinge níveis de atividade. Por outro lado. Vários sítios. importantes custos de avaliação ex-ante dos projetos. Dessa forma. que a veria dominar o seu próprio destino. devido ao seu interesse histórico etc. da saúde. da segurança. Muitas características estruturais da economia da Guiana e vários mecanismos essenciais que asseguram o financiamento contribuem para a perpetuação dessa dependência externa. representando mais de 50 mil hectares. As espécies animais e vegetais ameaçadas de desaparecimento são preservadas em sete reservas. 2008. CALLORDA. os que foram expostos seletivamente neste estudo podem ser explicados pela posição periférica da Região. Guyane. Un département français dans la région des Guyanes. C. 83-103. Mas muito dos elementos que caracterizam a situação da Guiana e. INSEE G. Mam Lam Fouck (dir. IEDOM. 2008. FAURÉ. Opportunités et contraintes.” In: S.Continuam a ser bem evidentes as numerosas deficiências. Cayenne. Le Pôle Universitaire Guyanais dans son environnement démographique et socio-économique. M. ROSELÉ... Cayenne: Ibis Rouge Editions. —. p. Referências Bibliográficas Os dados quantitativos são. INSEE. L. Cayenne. A ausência de transição demográfica. Y. principalmente. 269-293. 2007.). Cayenne: PUG. Cayenne. Rapport annuel 2007. 2008. 2008. Cayenne. em qualquer caso. os custos adicionais em termos de transporte e de produção energética. IEDOM. CEROM. F. S. 392 Guiana Francesa . Tableau économique regional. Un développement sous contraintes. Comprendre la Guyane d’aujourd’hui. 2008. p. Guyane. D. Cayenne: Ibis Rouge Editions. Un département français dans la région des Guyanes. Guyane. FOUCK. contribuem por eles mesmos às fragilidades e as fraquezas da sociedade guianense. do Polo Universitário Guianense (PUG). os problemas e dificuldades que definem intrinsecamente a Guiana e que provêm de fatores não totalmente limitados à assimetria estudada aqui. F. Emplois qualifiés et formations supérieures en Guyane. resultado das bases estatísticas do Institut National de Statistique et d’Études Économiques (INSEE) e do Institut d’Émission des Départements d’Outre-Mer (IEDOM).” In: S. “Les fondements idéologiques et politiques de la départementalisation de la Guyane française des années 1820 à 1946. 2007. P “Les déséquilibres de développement par la migration et l’informel en .-A. A. Comprendre la Guyane d’aujourd’hui. Mam Lam Fouck (dir). E. do Banco Mundial e do PNUD. PUG. o déficit de formação dos seus homens e das suas mulheres etc. na qualidade de pesquisador. Master in Public Administration pela Florida Atlantic University. Carlos Américo Leite Moreira Doutor em Economia pela Universidade de Paris. ocupa o cargo de secretário geral acadêmico. no Núcleo de Estudos para América Latina (Neal) dessa última universidade. atuou como professor nos departamentos de Economia da UFPE e da Católica de Pernambuco. Seus estudos compreendem os setores eletrônico. E-mail: drosen@oi. Seu trabalho de pesquisa está centrado na análise da indústria fronteiriça (maquiladora) do norte do México a partir da perspectiva da aprendizagem. Membro do grupo de pesquisa Região. em Berkeley. David Rosenthal Graduado em Economia pela Universidade Católica de Pernambuco.br. PhD em Economia pela Universidade de Londres e pós-doutorado em Economia da Tecnologia na Universidade da Califórnia. Atualmente aposentado e consultor eventual. Participou também. da implantação do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Universidade Estadual do Ceará. na condição de pesquisador-bolsista CDR (Bolsa de Desenvolvimento Científico Regional) do Programa Funcap-CNPq. atualmente. Professor e pesquisador do Departamento de Teoria Econômica. desenvolve um projeto sobre a precariedade do emprego nos call centers do México.com.Autores Alfredo Hualde Alfaro Pesquisador do Departamento de Estudos Sociais de El Colegio de la Frontera Norte desde 1990 e. com produção científica nas áreas de Desenvolvimento Econômico. E-mail: americo@ufc. Atualmente. aeroespacial e as PMEs de software. Indústria e Competitividade (RIC) da Universidade Federal do Ceará.br. da transmissão de conhecimento e dos mercados de trabalho. Autores 393 . do mestrado em Logística e Pesquisa Operacional e do mestrado em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará. Economia Internacional e Economia Brasileira Contemporânea. assim como. Indústria e Competitividade (RIC) e diretora do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) do Governo do Estado do Ceará. Foi professor visitante do CBS. 394 Autores .D.Eveline Barbosa Silva Carvalho Ph. Recentemente. Em 2009. mestre pelo CPDA-UFRRJ. é pesquisador na Unidade de Estudos Setoriais (Unes) da Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA e na RedeSist. cursou o Programa Northeastern Brazil: Tourism and Infraestructure Studies Program. Foi vice-presidente do Instituto dos Economistas de Pernambuco (IEPE) em 1996/1997. Atualmente. Francisco de Assis Costa Economista pela UFRN. IE/UFRJ e da Rede Geoma/MCT. Bolsista de Produtividade de Pesquisa do CNPq. do Instituto de Economia da UFRJ. Tem experiência na área de Economia. como coordenadora de Gestão da Informação para o Desenvolvimento. é economista na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). tem-se dedicado também ao estudo da Economia da Cultura e da Economia Criativa. em Economia Aplicada pela University of Illinois em Urbana-Champaign-UIUC-EUA. mestrado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e doutorado em Economia Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (2005). Pesquisador associado da RedeSist. Professora adjunta IV do Departamento de Teoria Econômica da Universidade Federal do Ceará (UFC). na The George Washington University – School of Business. Universidade de Oxford. Atualmente. Mestre em Economia (2007) e bacharel em Ciências Econômicas (2004) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Membro do grupo de pesquisa Região. doutor em Economia (Universidade Livre de Berlim). É professor associado do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA. com ênfase em Economia Regional e Urbana. Fernanda Ferrário de Carvalho Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Pernambuco (1994). Fábio Batista Mota Doutorando em Economia da Indústria e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). gov. doutora em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco. professor titular em Desenvolvimento Econômico no DTE. 1975. Coppe/UFRJ. Indústria e Competitividade (RIC) (CNPq/UFC) e membro da RedeSist. coordenador da Unidade de Estudos Setoriais da FCE/UFBA. Autor de oito livros. Lastres PhD em Desenvolvimento. Helena M.com. assessora da Presidência e chefe da Secretaria de Arranjos Produtivos e Desenvolvimento Local do BNDES. Doutor em Sociologia por El Colegio de México. Jair do Amaral Filho Doutor em Economia pela Université de Paris XIII.Hamilton de Moura Ferreira Junior Doutor em Economia (Unicamp). Brasil. professor e pesquisador no Curso de Pós-graduação em Economia (Caen) da Universidade Federal do Ceará. E-mail: amarelo@fortalnet. Inglaterra. Atualmente.br. Inez Silvia Batista Castro Economista. É parecerista da Revista Econômica do Nordeste e presta consultoria a órgãos do setor público na área de desenvolvimento e economia internacional. Industrialização e Política de Ciência e Tecnologia. Mestre em Engenharia da Produção. Coordenador do grupo de pesquisa Região. em 1982. Jorge Carrillo Mexicano. 1992. 99 Autores 395 . Japão e Estados Unidos.br. Membro do Sistema Nacional de Pesquisadores Nível 3. Desenvolvimento de pesquisas na Espanha. Pesquisadora titular do Ibict/MCT. 1981. br ou amarelo@netbandalarga. onde atua como professora do mestrado acadêmico em Economia Rural (UFC Campus Pici) e do mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável (UFC Campus Cariri). desde agosto de 2007. professor adjunto da Faculdade de Ciências Econômicas da (FCE/UFBA). M. coordenador de 20 livros. E-mail: hlastres@bndes. Bacharel em Economia. é professora da Universidade Federal do Ceará. IE/UFRJ.com. pesquisador do Colef desde sua fundação. SPRU/Universidade de Sussex. França. Universidade de Sussex. chinês e japonês. francês. Doutor pela Universidad de California at Irvine. Industrialização e Política de Ciência e Tecnologia. Participação em 40 projetos de pesquisa. 1978.br. E-mail:
[email protected]ítulos em livros e 80 artigos científicos em espanhol. (IE/UFRJ) e coordenador da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist) (IE/UFRJ). italiano. mestre em Economia pelo programa de pós-graduação em Economia da mesma universidade (2001) e doutor em Teoria Econômica (Volkswirtschftslehre) pela Universidade de Colônia (Universität zu Köln). Professor do Instituto de Economia .ufrj. Mestre em Economia do Desenvolvimento. 1992. Bacharel em Economia. FEA/USP 1972. na Alemanha. Inglaterra. SPRU/Universidade de Sussex. alemão. É professor adjunto do Departamento de Teoria Econômica da Universidade Federal do Ceará. Interesse principal da pesquisa atual: emprego. inovação e cadeias de valor em corporações multinacionais no México. Marcelo Callado Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará (1997). Professora associada III do Departamento de Teoria Econômica da Universidade Federal do Ceará. Brasil. inglês. É membro do SNI nível 396 Autores . Lúcio Flávio da Silva Freitas Mestre em Economia (UFBA). Inglaterra. Indústria e Competitividade (RIC) da mesma instituição. doutorando em Economia na Unicamp. Professora do curso de mestrado em Logística e Pesquisa Operacional da Universidade Federal do Ceará. Noé Arón Fuentes Diretor do Departamento de Economia de El Colegio de la Frontera Norte. português. Membro do grupo de pesquisa Região. Maria Cristina Pereira de Melo Docteur em Sciences Economiques pela Université de Paris. José Eduardo Cassiolato PhD em Desenvolvimento. Brasil. Cursou o mestrado em Desenvolvimento Regional e o doutorado em Ciências Sociais em El Colegio de la Frontera Norte. de dois programas de pesquisa no âmbito do convênio IRD/CNPq sobre o desenvolvimento local no Estado do Rio de Janeiro. membro da Ecole Doctorale d’Economie et de Gestion. onde estuda redes empresariais e empresas multinacionais.III e seus temas de pesquisa são: Desenvolvimento Regional e Técnicas de Análise do Desenvolvimento Regional. Realizou pesquisa. Indústria. com a professora Lia Hasenclever do IE/ UFRJ. Yves-A. Responsável. ex-professor no Instituto de Estudos Políticos da mesma universidade. Fauré Doutor da Universidade de Bordeaux (França). especializada nos temas de desenvolvimento econômico territorial em termos de organização produtiva e institucional e modelos de desenvolvimento. publicações e docência nestes temas desde 1992. Pesquisador associado ao núcleo de pesquisa Região. “A indústria de software e a política pública no Estado de Jalisco e na Baixa Califórnia” [coautoria com Bernardo Jaen] e “As corporações multinacionais no México” [coautoria de Jorge Carrillo]. Competitividade (RIC) da Universidade Federal do Ceará liderado pelo professor Jair do Amaral Filho Autores 397 . “Inovação na indústria de software na Baixa California” [coautoria com Alfredo Hualde]. Membro do SIN nível I. ex-diretor da unidade de pesquisa Desenvolvimento Local Urbano – Dinâmicas e Regulações. Entre os mais recentes estão “As empresas de software e o sistema de inovação regional da Baixa Califórnia”. Sárah Eva Martínez Pellegrini Doutora em Economia. Redi Gomis Formado em Psicologia pela Universidade de Havana. Trabalha atualmente no Departamento de Estudos Sociais de El Colegio de la Frontera Norte. estabelecimento público francês de pesquisa em cooperação e professor na Universidade do Estado Montesquieu-Bordeaux. Publicou artigos científicos em revistas mexicanas e livros especializados. Foi pesquisador-visitante no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD). Pesquisadora de El Colegio de la Frontera Norte. Especialista em análise de políticas públicas e de relações entre os meios empresariais e os quadros institucionais. 398 Autores . é diretor do Polo Universitário da Guiana Francesa.para investigar arranjos produtivos locais (APLs). Autor de diversos livros e numerosos artigos acadêmicos sobre esses assuntos e coautor de livros publicados no Brasil. Atualmente.