LIVRO BAGNO e BRITTO Práticas de ensino leitura escrita e discurso

March 22, 2018 | Author: Lis Barbosa | Category: Literacy, Linguistics, Sociology, Human Communication, Learning


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Marcos Bagno, Luiz Percival Leme Britto Neiva Maria Jung, Esméria de Lourdes Saveli Maria Marta FurlanettoPráticas de letramento NO ENSINO leitura, escrita e discurso Organização: DJANE ANTONUCCI CORREA PASCOALINA BAILON DE OLIVEIRA SALEH Leitura .Estudo e ensino. 3. PR : UEPG. I.EDITOR: Marcos Marcionilo CAPA E PROJETO GRÁFICO: Andréia Custódio C ONSELHO EDITORIAL : Ana Stahl Zilles [Unisinos] Carlos Alberto Faraco [UFPR] Egon de Oliveira Rangel [PUCSP] Gilvan Müller de Oliveira [UFSC. . escrita e discurso : / Marcos Bagno. CDD: 469. UnB] Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP] Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB] CIP-BRASIL. Correia. 2. Marcos.. de Santiago de Compostela] Kanavillil Rajagopalan [Unicamp] Marcos Bagno [UnB] Maria Marta Pereira Scherre [UFRJ. Ponta Grossa. outubro de 2007 .Estudo e ensino. ISBN Parábola: 978-85-88456-63-1 ISBN UEPG: 978-85-7798-010-9 © desta edição: Parábola Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico.br e-mail: parabola@parabolaeditorial.. incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial Ltda. São Paulo. 1961-. IV. Ipol] Henrique Monteagudo [Univ.com. [et al. III. Escrita .Estudo e ensino.Ipiranga 04216-060 São Paulo. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. 327 . 19) Inclui bibliografia ISBN 978-85-88456-63-1 1. RJ L557 Práticas de letramento no ensino: leitura. Série. organização Djane Antonucci Correia.br Todos os direitos reservados.798 CDU 811. Djane Antonucci. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Bagno.São Paulo : Parábola Editorial . Língua portuguesa . 2007. -(Na ponta da língua . II.] . 07-3723. SP Fone: [11] 6914-4932 | Fax: [11] 6215-2636 home page: www.com.parabolaeditorial.1343 Direitos reservados à PARÁBOLA EDITORIAL Rua Clemente Pereira. ......................... 9 NORMA PRESCRITIVA & ESCRITA LITERÁRIA..................................... Introdução: o “grande escritor” e a tradição gramatical normativa ................................... 19 30 42 47 51 53 Referências bibliográficas .. 4.........SUMÁRIO INSTITUIÇÃO ESCOLAR............................................................................................. MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA Djane Antonucci Correa e Pascoalina Bailon de Oliveira Saleh .. Clarice Lispector & a norma prescritiva .. Referências bibliográficas .............. ou por que Clarice Lispector não poderia escrever no Estadão Marcos Bagno ................... Conclusão ............................................................. 19 1.............. O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA NUMA PERSPECTIVA TRANSDISCIPLINAR Luiz Percival Leme Britto ............. 2.......................................... 79 ..................... 77 79 Introdução ................................................................ LETRAMENTO: UMA CONCEPÇÃO DE LEITURA E ESCRITA COMO PRÁTICA SOCIAL Neiva Maria Jung ....... 3................ A neogramatiquice contemporânea: a exacerbação do normativismo .......... ... Referências bibliográficas .......................... 3................................. 80 2.................................................... 107 Referências bibliográficas ........................ A escola e as práticas discursivas ...................................8 PRÁTICAS DE LETRAMENTO NO ENSINO 1.................................................. 101 Referências bibliográficas ........................................ 128 PRÁTICAS DISCURSIVAS: DESAFIO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Maria Marta Furlanetto . 1........ 104 POR UMA PEDAGOGIA DA LEITURA: REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DO LEITOR Esméria de Lourdes Saveli ..... Análise do discurso e práticas discursivas ....... 131 133 145 148 149 ............................................ 90 3................................................... 2...................................... Alfabetização versus letramento: qual o significado de cada concepção para a prática de sala de aula ....... 131 Introdução .... 103 Anexos ......................... Algumas considerações finais ............... Considerações finais . Uma análise de eventos de letramento na escola ... um grupo de professores dessa instituição tem se dedicado a realizar anualmente o CIEL – Ciclo de Eventos em Lingüística1. Nesse sentido. uma das formas encontradas para alargar a sua 1. Desde então.PREFÁCIO 9 INSTITUIÇÃO ESCOLAR. A partir deste ano. Ela faz parte de um projeto iniciado em 2003. mas passará a ser denominado Ciclo de Estudos em Linguagem. cuja elaboração foi motivada pela inquietação de um grupo de alunos do curso de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa que queriam “conhecer mais sobre lingüística”. suas edições serão bianuais. . MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA Djane Antonucci Correa Pascoalina Bailon de Oliveira Saleh (UEPG) Esta coletânea reúne textos de estudiosos de diferentes áreas. Além disso. o evento manterá a sigla CIEL. Desde a sua primeira edição. preocupados com o ensino formal da leitura e da escrita. o principal compromisso do Ciclo tem sido com o ensino. se. Práticas de letramento no ensino — leitura. Este livro. SALEH contribuição foi disponibilizar na forma de livros. O. refere-se a planejamento de uma série de operações que se devem efetivar. Tal atitude. CORREA E PASCOALINA B. por um lado. No ensi- . É isto que podemos concluir se relacionamos os textos que compõem este livro entre si e o conjunto deles com o debate agora oficialmente aberto pelo ministro Fernando Haddad. vivenciando uma crise no ensino de língua materna (que certamente se estende ao ensino como um todo). em sentido mais específico. na verdade. escrita e discurso. que poderíamos bem definir como uma crise de método. evidencia um problema que não se restringe ao processo de introdução da criança no mundo das letras. maneira de proceder. após seleção de uma comissão científica. os textos apresentados no evento em forma de conferências.10 DJANE A. A definição da linha a ser seguida neste texto de apresentação coincidiu com a ampla divulgação na imprensa da decisão do MEC de rever o processo de alfabetização. dá fôlego à disputa entre os defensores do método fônico e aqueles que adotam uma visão construtivista. A palavra método tem sua origem no grego méthodos e diz respeito a caminho para chegar a um objetivo. para se chegar a determinado fim. por outro. Estamos. prevendo inclusive erros evitáveis. compõe a segunda etapa de nosso projeto. Num sentido mais geral. meio. refere-se a modo de agir. participação em mesas e minicursos. ESMÉRIA DE LOURDES SAVELI. o método tem se enquadrado na acepção mais restrita. no texto “Por uma pedagogia da leitura: reflexões sobre a formação do leitor”. segundo o . Essa constatação. contrariamente à visão de decodificação. que pode parecer evidente. a autocrítica e o cotejamento com a vivência pessoal. merece algum comentário para que fique mais clara a sua relação com o que. por outro. ele é desejável e necessário. quando falamos de crise de método de ensino de língua. ocupa na escola. a partir de Britto. O primeiro é o de que os métodos que vêm sendo propostos não têm apresentado soluções satisfatórias.INSTITUIÇÃO ESCOLAR. segundo ela. não pode ser um inibidor de conflitos e deve propiciar a reflexão. queremos pensá-la em dois vértices interrelacionados. caminho para a aquisição de conhecimento e a revisão da prática profissional. neste volume. em detrimento da leitura. MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 11 no. mas não podemos perder de vista que. A autora. estamos propondo como o segundo vértice do problema. por um lado. aponta. se. entre outros fatores. Assim. no espaço privilegiado que a soletração. adota o ponto de vista construtivista. para “a dificuldade de transposição da produção acadêmica para as práticas cotidianas do professor” e a inexistência na escola de um “projeto político-pedagógico que tenha a LEITURA como um dos eixos norteadores de uma prática pedagógica interdisciplinar” como responsáveis pelo fracasso da leitura na escola. O resultado desse entrave redunda. a aprendizagem da leitura não sé dá pela insistência nos mecanismos de decifração. 5: Emília Ferreiro: a construção do conhecimento. desenvolver uma didática da língua que traz para dentro da escola os textos do mundo e que se “preocupa em aproximar as práticas . Ela afirma que os achados de Ferreiro acabaram afetando todo o ensino de língua. Correlativamente.12 DJANE A. CORREA E PASCOALINA B. Essa visão de aprendizagem se dá no interior de uma abordagem que vê a alfabetização como um processo de construção sociocultural de conhecimento e não de acúmulo de informação. 2005). SALEH qual “a construção do sentido exige relações estabelecidas entre o texto. que só pode ser inventado a partir das diversas maneiras de ‘saber ler’ vigentes em seu meio”. Assim. n. O. nessa situação que se renova constantemente. entre outros serviços prestados à educação) em artigo intitulado “A revolução de Emília Ferreiro” (Revista Viver Mente&Cérebro – Coleção memória da pedagogia. o objeto que lhe serve de suporte e a prática que dele se apodera”. a partir delas. Diversamente. constrói-se no confronto e na partilha de conhecimentos a partir dos quais “a criança inventa um saber ler. permitindo à lingüística encontrar espaço na escola e a produção de “experiências pedagógicas suficientes” para. O avanço que a concepção construtivista teria promovido é ressaltado por Telma Weisz (autora dos Parâmetros e assessora dos Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil. o professor busca “desenvolver o seu ‘saber ajudar’ a aprender”. INSTITUIÇÃO ESCOLAR. neste volume. freqüentemente confirmados pela literatura especializada e pela imprensa) somos levados a concluir que a proposta oficialmente vigente não tem surtido os efeitos desejados. Acreditamos. uma vez que Britto defende “que qualquer solução que se queira específica para o ensino de língua portuguesa não se fará com soluções isoladas ou disciplinares. que a exacerbação da querela entre defensores do método fônico e defensores de uma “didática” construtivista (letramento) tal como tem sido apresentada pela imprensa. Este segundo vértice põe em questão a primazia do método no centro da contínua discussão acerca “do que fazer na e da disciplina de língua portuguesa”. acaba apenas por camuflar o aspecto mais básico (no sentido de base) da questão. 2005:11). que é o que estamos chamando de segundo vértice da crise. esta também se encontra aí contemplada. Notemos que. para usar a expressão de LUIZ PERCIVAL LEME BRITTO. embora a reflexão do autor não se refira especificamente à chamada alfabetização. Se tomarmos como pertinente o que diz Saveli sobre a visão de leitura que persiste em boa parte das escolas e a própria decisão do MEC de revisar o processo de alfabetização (nem precisaríamos levar em conta os dados da nossa vivência profissional. entretanto. MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 13 de ensino da língua das práticas de leitura e escrita reais” (Weisz. por melhor que sejam as análises e propostas. . mas apenas concatenada com um profundo rearranjo no sistema escolar e na educação disciplinar”. a possibilidade de uma solução para o ensino de língua materna depende. apenas ressalva que o núcleo de orientação deve ser o “processo geral e o debate intenso entre os profissionais que atuam na escola”. em primeira mão. variação lingüística. podemos nos voltar para os demais textos que compõem este volume. A relevância social da lingüística — linguagem. O. gênero. Pensamos que. apesar do ainda vigente processo de expansão desse campo de estudos aqui no Brasil e dos inúmeros conceitos nele desenvolvidos ou ressignificados (gramática. Esse é o percurso que Britto empreende no texto “O ensino da leitura e da escrita numa perspectiva transdisciplinar”. Iniciemos pelo de NEIVA JUNG. CORREA E PASCOALINA B. estudos desenvolvidos em diversos ramos da lingüística podem contribuir. texto. só para citar alguns). de se repensar a instituição escolar. e muito. para uma discussão conseqüente sobre o problema. SALEH O autor não está defendendo o fim das disciplinas ou da organização do ensino em eixos disciplinares.14 DJANE A. Nessa perspectiva. discurso. sua contribuição para este livro. “Letramento: uma concepção de leitura e . como propõe Britto. a partir daí. “pensar eixos organizadores para uma educação transdisciplinar”. é preciso fazer avançar a reflexão sobre a instituição escolar para. o fato de a crise atual ser também uma crise da lingüística traz à baila o já estabelecido e importante debate sobre a relevância social da lingüística (cf. se. Nessa discussão. Ou seja. teoria e ensino). como identidades sociais”. A autora. que encontram apoio na sociolingüística interacional e na análise da conversação. é produzida no interior da análise do discurso de linha francesa. cujas reflexões. que orienta o comportamento no sentido da homogeneização”. A autora defende ainda que a interação com o texto escrito. Nessa perspectiva. como o próprio título indica. Assim. enfatizam. cuja reflexão. entre outras contribuições. MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 15 escrita como prática social”. Furlanetto afirma que “há uma dimensão ideológica em todas as práticas.INSTITUIÇÃO ESCOLAR. dadas as relações de poder que permeiam a sociedade”. é “uma ação social e. a instituições. o “conceito de texto escrito. a leitura e a escrita como prática social. nela são negociadas questões sociais mais amplas. portanto. Esse estado de coisas explicaria a lentidão e o conflito envolvidos nos processos de transformação . no entanto. Esta é também uma das contribuições de MARIA MARTA FURLANETTO no texto “Práticas discursivas: desafios no ensino de língua portuguesa”. especialmente na sala de aula. quando discute a escola e as práticas discursivas. por isso “verifica-se comumente uma forte sujeição àquilo que se estabeleceu e enraizou na sociedade: os sujeitos se submetem a algo. de língua e de formas de interagir com o texto são culturalmente adquiridos na comunidade e negociados nos eventos de sala de aula”. apresenta elementos para se pensar o espaço dos sujeitos nas relações sociais. a alguém. longe de configurar um processo unilinear de exploração de sentidos. é a coexistência. uma discussão sobre a instituição escolar pode muito bem se beneficiar da contribuição de Furlanetto e de outros analistas do discurso que se interessam pelas práticas discursivas escolares (e conseqüentemente pelos textos que se produzem na e sobre a escola). o termo não apenas convive com o primeiro. às vezes mais enfaticamente. que pode ajudar a entender esses processos. nas escolas. a expressão ‘produção de textos’. os analistas de discurso têm especial interesse pelas relações institucionais. nas escolas. como permanece o ritual que leva à ‘redação’. No entanto. elaborado a partir de uma perspectiva socio- . já que é necessário compreender o funcionamento de uma instituição “para justificar e fazer algum esforço para transformá-la”.16 DJANE A. Ou seja. “Norma prescritiva e escrita literária ou por que Clarice Lispector não poderia escrever no Estadão”. Também nesse prisma podemos olhar para o texto de BAGNO. da expressão “produção de textos” e do termo “redação”: Já é aceita e divulgada. mesmo quando a mudança é profundamente desejada. Dessa forma. O. Um exemplo citado pela autora. CORREA E PASCOALINA B. SALEH do ensino em geral. outras vezes entrelaçado aos processos e metodologias recomendados pelas atuais propostas curriculares. que substitui ‘redação’ e deveria substituir também os pressupostos da atividade tradicional de redigir. ‘produção de textos’ pode acabar funcionando como mais um rótulo novo para um produto antigo. Como afirma a autora. Agradecemos também à Fundação Araucária pelo apoio financeiro ao projeto e aos colegas da UEPG. elas fornecem elementos para repensar não só a questão metodológica do ensino de língua materna. o uso que o grande escritor faz da linguagem e o que existe efetivamente na língua falada e escrita pelos brasileiros “comuns” em suas interações sociais. como defende Britto. nos diversos setores da vida e da sociedade. podem oferecer mais que uma reflexão sobre o processo de leitura (e escrita) em si. mas em suas diferentes manifestações. a reflexão que aí se realiza. Ao puxar esse fio. MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 17 lingüística. para além de situar claramente a diferença entre o que a tradição gramatical e as neogramatiquices prescrevem. mesmo aquelas que são resultado de pesquisa básica. Gostaríamos de agradecer aos autores que tão prontamente atenderam ao nosso convite para participar do CIEL e submeterem seus textos à apreciação da comissão editorial. permite pensar qual o papel ou posição da escola frente à tradição. Neste caso. Aline Koteski Emílio. enfatizamos que as discussões travadas no interior da lingüística. como também a prioritária discussão sobre a instituição escolar. Com efeito. Esperamos que este livro possa contribuir para esse objetivo. à criação e ao efetivamente vigente não só em relação à língua.INSTITUIÇÃO ESCOLAR. Elódia . permanece o desafio de se estabelecer e manter uma interlocução que abrigue os profissionais da escola e os estudiosos de diversas áreas.
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