Literatura Portuguesa

March 26, 2018 | Author: Dayse Mineiro | Category: King Arthur, Holy Grail, Love, Independence, Poetry


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ESTUDOS DA LITERATURA PORTUGUESALITERATURA PORTUGUESA ESTUDO DA 1 SOMESB Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda. da Estudo Literatura Portuguesa Presidente ♦ Gervásio Meneses de Oliveira Vice-Presidente ♦ William Oliveira Superintendente Administrativo e Financeiro ♦ Samuel Soares Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦ Germano Tabacof Superintendente de Desenvolvimento e>> Planejamento Acadêmico ♦ Pedro Daltro Gusmão da Silva FTC - EaD Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância Diretor Geral ♦ Reinaldo de Oliveira Borba Diretor Acadêmico ♦ Roberto Frederico Merhy Diretor de Tecnologia ♦ Jean Carlo Nerone Diretor Administrativo e Financeiro ♦ André Portnoi Gerente Acadêmico ♦ Ronaldo Costa Gerente de Ensino ♦ Jane Freire Gerente de Suporte Tecnológico ♦ Luís Carlos Nogueira Abbehusen Coord. de Softwares e Sistemas ♦ Romulo Augusto Merhy Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦ Osmane Chaves Coord. de Produção de Material Didático ♦ João Jacomel EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO: ♦ PRODUÇÃO ACADÊMICA ♦ Gerente de Ensino ♦ Jane Freire Coordenação de Curso ♦ Jussiara Gonçalves Autores (as) ♦ Nildete Costa da Mata dos Reis / Celina Abbade Supervisão ♦ Ana Paula Amorim ♦ PRODUÇÃO TÉCNICA ♦ Revisão Final ♦ Carlos Magno Brito Almeida Santos Equipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito, Diego Maia, Fábio Gonçalves, Francisco França Júnior, Hermínio Filho, Israel Dantas e Mariucha Ponte Editoração ♦ Diego Maia Ilustração ♦ Mariucha Silveira Ponte/Francisco França Júnior Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource copyright © FTC EaD Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância. www.ftc.br/ead 2 Sumário AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS EM PORTUGAL 1ª Época Medieval ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A Formação de um Estado Independente: Portugal A Novela de Cavalaria ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Atividade Complementar ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Realismo Simbolismo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Romantismo: 2ª e 3ª Gerações ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Romantismo: Contexto Histórico e 1ª Geração ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DO ROMANTISMO AO SIMBOLISMO: PERÍODO DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES LITERÁRIAS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DO ROMANTISMO À LITERATURA CONTEMPORÂNEA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Atividade Complementar ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Barroco Arcadismo ou Neoclassicismo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Classicismo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Teatro Gil Vincente ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DO TEATRO PORTUGUÊS AO ARCADISMO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 2ª Época Medieval Atividades Complementares ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A LITERATURA PORTUGUESA DA IDADE MÉDIA AO ARCADISMO ○ ○ 07 07 07 10 14 17 23 25 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 25 27 29 33 37 39 39 39 43 47 54 59 3 da Literatura Portuguesa Estudo 4 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Referências Bibliográficas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Glossário ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Atividade Orientada ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ José Saramago: O Nobel da Literatura Atividade Complementar ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A Geração de Presença ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fernando Pessoa e os Heterônimos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Modernismo: Contexto Geral e a Geração Orfeu ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O MODERNISMO PORTUGUÊS E A LITERATURA CONTEMPORÂNEA ○ 61 61 62 66 67 71 73 80 83 . Como o ensino de literatura deve estar sempre intimamente articulado com a leitura e a escrita. No Bloco 01. possam desenvolver.Apresentação da Disciplina Apresentamos. No final de cada Tema acrescentamos questões para fixação dos assuntos estudados. filmes. este Módulo é um instrumento que. consistente e agradável. etc. No Bloco 02. através desse aprendizado. Seja bem-vindo (a)! Roselana Trindade 5 . porém. subdividido em 4 Temas e estes apresentados em 16 Conteúdos. Quanto à apresentação dos assuntos. Esperamos que este material vá ao encontro das atuais necessidades do curso e do aprendizado sobre a literatura lusa. E. esperamos que o conteúdo disponibilizado aqui funcione como o início de uma longa e apaixonante viagem literária. partimos do conceito de Estilo de Época para estudar cada momento literário. utilizado como base de estudo. certamente contribuirá para promover a reflexão e a autonomia do seu aprendizado. Longe de ser a única possibilidade de trabalho. alunos. como a Internet. socializando essa reflexão com alguns de seus colegas através de e-mails e chats. O material está organizado em 2 Blocos temáticos. educandos. uma visão geral da Literatura Portuguesa. É impossível abarcarmos todo o conhecimento acerca de tudo o que chamamos de Literatura Portuguesa. estudaremos desde a origem da Literatura em Língua Portuguesa ao Arcadismo. A opção por esta divisão tem um cunho didático e funciona como uma síntese. que servirá como ponto de partida para o estudo da Historiografia Literária de Portugal. nomeados de acordo com os assuntos e objetivos abordados. se possível. no contexto em que foi produzido e difundido. promovam momentos de leitura dos livros mencionados e elaborem resenhas dos capítulos estudados. procurando relacionar o conteúdo dos textos a outras fontes de pesquisas. neste Módulo. Todas as atividades didático-pedagógicas deste Módulo partem da leitura do material impresso e da sua complementação virtual. um espírito crítico em relação à literatura em questão. sugerimos que vocês. O espírito que norteou nosso trabalho foi o de elaborar um material sério. visando que vocês. veremos o período que chamamos de “Romântico” até o que denominamos “Tendências contemporâneas”. disponível na home-page. da Literatura Portuguesa Estudo 6 . orar por toda a sociedade. seus senhores. Henrique de Borgonha (primo do conde Raimundo de Borgonha) e recebe a região denominada de Condado Portucalense. ² História Social da Literatura Portuguesa 7 ¹ . Lembremos que em Portugal dentro dos “coutos” (propriedade da Igreja) ou da “honras” (propriedade da nobreza) os senhores eram autoridade absoluta e só prestava obediência ao rei – que detinha os direitos de justiça suprema. por predominar grupos sociais fechados. Casamentos Reais: URRACA – Filha legítima e herdeira do trono casa-se com o conde Raimundo de Borgonha e recebe a região da Galícia. na Idade Média. os Concelhos populares”. em si. Afonso Henriques (reconhecido Rei. ao período denominado de Arcadismo. TAREJA – Filha ilegítima. também conhecido como Neoclássico. Abdala Junior e Paschoalin2 assinalam que “apesar do processo de independência de Portugal está ligado à diferenciação das atividades econômicas da região e às rivalidades entre os grupos feudais. à nobreza feudal competia defender a sociedade. O sistema vigente na Europa. casa-se com D. que a Literatura Brasileira trás. A tranqüilidade conseguida com os casamentos reais1 (Reino de Leão e Reino de Borgonha) foi abalada com a morte do Imperador Afonso VI (final do Séc. portanto.A LITERATURA PORTUGUESA DA IDADE MÉDIA AO ARCADISMO AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS EM PORTUGAL A Formatação de um Estado Independente: Portugal Neste primeiro bloco. as forças militares necessárias para a independência. muitos séculos antes da chegada da frota comandada por Pedro Álvares de Cabral ao território brasileiro. que abrange a área entre o Minho e o Tejo. entretanto. e à igreja. ocorrendo as lutas entre os reinos cristãos. contra os reinos cristãos da Península Ibérica. filho de Tareja. Foi. desde o Trovadorismo. Veremos. através de organizações municipais. XI) e a tênue unidade política se desfaz. uma herança do período que estudaremos a seguir. Contextualizando o Medievo Literário Português O CONDADO PORTUCALENSE A independência de Portugal foi conseguida de forma gradativa. estudaremos as principais manifestações da Literatura Portuguesa. D. impossibilita a mobilidade de classes. em 1179). pelo papa. Neste sistema social. Veremos que os primeiros textos literários portugueses remontam ao século XII. Os Concelhos (dentro do sistema feudal) propiciaram a D. o feudalismo. competia aos servos trabalhar para. o povo quem participou ativamente desse processo. ou seja. Tradições populares. os mestres e iniciadores da poesia européia moderna. Como sua influência aconteceu em Portugal: 1 . doce e rica. sobrevive até hoje em coletâneas renascentistas registradas em coleções. que traziam em seu séquito jograis e trovadores. portanto. tem como objeto o profano. predomina o lirismo em todas as suas formas até na épica. sobrando nos dias de hoje apenas cinco. rústica e veemente. Ali dominava a língua d’oc. era também responsável pela difusão da educação Estudo da Literatura – o centro da instituição pública se localizava nas catedrais ou nas escolas Portuguesa episcopais. conhecida como cantigas. nos conventos e mosteiros. que vem a ser usada na prosa. Nas feiras circulavam a literatura oral. inclusive as peregrinações religiosas e as festas palacianas. A Literatura De um modo geral pode dizer-se que apesar da Literatura portugue-sa ter expressão literária em todos os gêneros. A primeira forma das literaturas ocidentais é a poesia e é oral: e compilada de forma escrita posteriormente. em pleno teocentrismo medieval. sermões e provérbios tinham papel importante na formação dos indivíduos. É proveniente de Provença. A Igreja. e tinha a religião como tema. cantores e músicos andarilhos. que é reiterada pelo espírito teocêntrico. Prosa essa que influenciará também as outras literaturas do mundo ocidental com os romances do ciclo Bretão (rei Artur) e com as novelas do ciclo carolíngio (Carlos Magno e a demanda do Cálice Sagrado). romances. Os Cancioneiros. 2 . chamada de literatura cantada e. Essa produção cultural trovadoresca. acompanhado pelo menestrel. o que não aconteceu com as estórias que necessariamente existiram e poderiam ter caráter literário também. Depois de um período de três séculos em que a poesia provinha exclusivamente de monastérios. o trovador compunha o poema que era cantado pelo jogral. recitadores. fato observado desde o reinado de Sancho I. O lirismo provençal irradiou-se por toda a Europa meridional e não se compreenderia Petrarca e Dante sem ela como antecedente. uma organização social fechada. principalmente o amor. músico agregado a uma corte.Casamento dos três primeiros reis de Portugal com princesas do sul da Gália. que percorria todo o reino. enquanto no norte da Gália se falava a língua d’oil.Temos. sendo divulgada por meio dos jograis. além de ensinar os mistérios da fé nas freqüentes missas e/ou em outras cerimônias religiosas. filho de Afonso Henrique. região ao sul da França que tinha muita riqueza devido ao próspero comércio com a bacia mediterrânea e o norte de África de Massília. A poesia e a música estavam sempre ligadas. características aparentemente dominantes no temperamento nacional. transcritos os poemas de memória. escritas por Martim Codax. cidade fundada pelos romanos. A história da poesia moderna ocidental inicia-se com a poesia cavalheiresca da Idade Média. O verso com ritmo e rima é mais fácil de memorizar e sobreviveu até ser registrado. Os provençais foram. Infelizmente. como as peregrinações ou romarias. o homem e os seus sentimentos. Mediante a esse contexto. por isso. a poesia cavalheiresca. 8 . as grandes massas adquiriam conhecimentos teóricos e práticos transmitidos por via oral. rica senhora feudal. portanto. as partituras das músicas se perderam quase todas.A primeira dinastia é chamada de Borgonha porque foi fundada pelo conde de Borgonha e foi toda ligada à França. O século XIV assinala o apogeu da crise do sistema feudal. o amor não é experiência idílica. por exemplo.As romarias aos santuários famosos como o de Santiago de Compostela. culturais e afetivas. há trocas materiais. culturais e até religiosas com a Reforma Protestante e a Contra Reforma.O intercâmbio de várias espécies entre portugueses e provençais: relações comerciais. Os poetas trovadores mostram uma ampla experiência que a sua vida sentimental variada lhes proporcionou. 1957) DIREÇÃO: Ingmar Bergman ELENCO: Max von Sydow. com as cantigas de amigo. ora se entregam ou se negam aproveitando-se dos seus namorados. Os costumes e as práticas populares medievais nos adros das igrejas ou por ocasião de feiras de produtos é uma fonte de restauração das energias gastas no sacrifício e no trabalho durante o resto do ano. idealistas. ela é realista. física. aproximação entre pessoas. vários povos confraternizavam culturalmente. Nesse contexto de transição do feudalismo para o capitalismo. O canto. aventureiros e sem fortuna. visitavam freqüentemente. Em toda a cristandade medieval. notamos transformações sociais. Suécia. as mulheres ora são ingênuas ou sabidas ora compassivas ou calculistas e astutas. trazendo para Portugal as influências culturalmente preponderantes na Europa da época: as influências provençais. os amuos. então. que juntamente com a morte. Desde o fim do século XII. o ciúme. as ansiedades. além do desenvolvimento do comércio monetário. ! Indicação de Filme TÍTULO DO FILME: O SÉTIMO SELO (Det Sjunde Inseglet. Nas canções de amigo. Assiste-se. com a projeção da burguesia. etc. as desconfianças. o ressentimento. 102 min. a uma intensa atividade criativa. instaura-se o reino da abundância. com a formação das cortes senhoriais. a reivindicação da liberdade exigida à mãe são expressas de modo muito vivo. No momento da romaria. Os poetas conseguem dar vivacidade aos diversos estados emocionais da mulher enamorada: a saudade. sensíveis ou indiferentes. cortejos triunfais. Vinham romeiros de França com seus cantares característicos.3 . Gunnar Bjomstrand. representada pelo trinômio “guerra. Nils Pope. da alegria. as lavagens dos adros das Igrejas em Salvador. 9 . que os cavaleiros jovens. Depois expulsou estas manifestações que se davam nos adros (manifestação persistente seria. peste e fome”. tudo isto se sente ou se pressente na poesia trovadoresca. Maud Hanson. 4 . a poesia e o drama litúrgico eram os meios com que o clero fomentava o interesse e a participação do povo. as viagens dos cruzados lusitanos. Ingá Gill. Nos santuários. compõem simbolicamente os “quatro cavaleiros do apocalipse” no final da Idade Média. da permissividade. Inga Landgre. encontros e fusões de grupos e categorias pela conjuntural cessação das proibições. de amor e de escárnio e maldizer. políticas. constantemente renovada pelos contatos e a competição com as cortes estrangeiras. vida comum entre os cruzados. Esses foram evoluindo e expulsos para os adros. Bibi Anderson. Bengt Ekerot. a Igreja viu-se obrigada primeiro a proibir a prática de ritos e festas pagãs que persistiam em cantos e danças eróticas de mulheres dentro dos próprios templos. danças. cessa o penoso trabalho de todos os dias. platônica. de origem local. a produção cultural nobre diversifica-se: surge a poesia lírica e satírica. assim. Não é fácil datar com precisão as primeiras composições do período trovadoresco português. A primeira geração histórica dos trovadores foi caracterizada pelo policentrismo e a extrema mobilidade dos poetas. Com a 10 . seja pela escassez dos dados biográficos de muitos dos poetas. é a corte de D. pois os laços matrimoniais entre os nobres de diferentes cortes eram comuns. ou seja.1ª Época Medieval A POESIA LÍRICA GALEGO-PORTUGUESA da O nascimento da produção literária portuguesa Literatura acontece quase simultaneamente à formação da nação Portuguesa lusa. uma segunda geração denominada “geração do meio” surge na corte de Fernando III. mas muitos consideram a Cantiga da Ribeirinha – também chamada de Cantiga da Garvaia – como a mais antiga. Uma das mais antigas manifestações literárias galego-portuguesas que se tem notícia é a cantiga de maldizer feita por João Soares de Paiva “Ora faz ost’o Senhor de Navarra”. Como as datas não são claras e as controvérsias entre os estudiosos desse assunto são constantes e cabíveis. fato que favorecia a sua circulação. mesmo ainda existindo trovadores importantes. Estudo Outro fator de grande importância para o seu desfronteiramento foi a utilização de uma língua única para as composições. sendo ele próprio um grande poeta. nesse período. Dinis que passa a ser o centro dos trovadores. Portugal continuou a manter relações culturais estreitas com a região galega. um romanço (língua de origem latina) falada na costa da Península Ibérica. Ela se estende até o ano de 1418. Depois. Afonso X de Leão e Castela e na do rei português D. e. em Portugal. provavelmente no ano de 1189 (ou 1198. na Galiza. A Cantiga da Ribeirinha foi composta por Paio Soares de Taveirós. transformando-se em uma região de importante intercâmbio cultural. Apesar de seus primeiros representantes serem todos ligados à corte. É necessário considerar que as fronteiras políticas e culturais na Península Ibérica. Apesar desta língua ser usada somente no Noroeste da Península. mas o galego-português. o último decênio do século XII. eram muito flexíveis. o Quinhentismo. seja pela natureza própria a essa poesia: a da oralidade. A poesia desta nova fase possuía um caráter dirigido. não devemos atribuir à primeira fase da Literatura Portuguesa. Afonso III. a resposta de outros trovadores. A língua usada ainda não é o português. a da lírica dos trovadores – também conhecida como poesia lírica galego-portuguesa –. quando se inicia. conveniou-se datar. portanto. os interlocutores se apresentavam em forma de desafio. principalmente com as peregrinações a Santiago de Compostela. entra em declínio com a morte de Afonso X e. há rasuras na datação). como na geração anterior. Embora este período seja de grande atividade poética. como marco inicial da Lírica Medieval Portuguesa. Lembremos que a região formava uma unidade política cultural que abrangia a Galiza e o território que se tornaria o reino português. mesmo depois do desmembramento. provocando. sua escolha não foi aleatória. mas faltou em sua corte um movimento poético que envolvesse a todos. um caráter nacional. por ser esta a mais antiga registrada. os chamados Séculos Escuros. Acontece que. As cantigas de maldizer foram bastante favorecidas pelo grupo. Mas o amado não quer possuir a amada. Mesmo com toda a influência socio-cultural somada. inclui cantigas de amor. enquanto a Península Ibérica teve uma influência filtrada e menor. em diferentes proporções. pois abrangia a península Ibérica (hoje Portugal e Espanha). Dinis poderíamos pensar no fim do lirismo trovadoresco. registradas pela oralidade e só depois de algum tempo fixadas por escrito e transmitidas em três coletâneas: Cancioneiro da Ajuda. então.morte de D. Esse código possivelmente tenha chegado filtrado em Portugal e na Espanha devido à religiosidade vigente. embora ele sonhe com a retribuição por parte da amada. passando a existir uma vassalagem amorosa. e sim gozar desse estado de não-possessão. quando a crise dos senhores do sul obriga os trovadores a abandonarem a região em busca de novos patrocinadores. tem o seu apogeu no século XII. principalmente. ainda. marcada pelo código de comportamento amoroso chamado fin’amors mais tarde conhecido como o “amor cortês”. dizer que o erotismo provençal foi podado pelo moralismo religioso dos trovadores galego-portugueses? “ A relação amorosa cantada pelos trovadores provençais é a transferência do sistema de vassalagem existente na Idade Média. 11 . Um jeito novo de fazer poesia valorizando o erotismo e apresentando uma outra forma de falar de amor. primeiramente. Foram. mesmo porque ela representa a sua ascensão social. As origens da poesia lírica: Uma poesia com influência Provençal e/ou uma poesia de caráter popular? A poesia trovadoresca Provençal surge no sul da França em fins do século XI. não irá retribuir a esse amor. copiado provavelmente na corte de D. no entanto documentos comprovam ter existido. a depender da região. uma nova visão de mundo. Percebemos ser o sentimento amoroso concebido numa tensão constante pelos trovadores desse período. É caracterizada por ser o primeiro lirismo Ocidental em língua vernácula e pelo caráter inovador dessa poesia. pois Provença era considerada a corte da luxúria e a poesia considerada demasiadamente erótica. receberam uma influência mais direta. Monso X. de amigo e de escárnio e maldizer. uma pequena atividade poética patrocinada por seu filho Pedro. Os Cancioneiros As poesias trovadorescas galego-portuguesas são consideradas como Literatura Românica e não são propriamente portuguesas. feito na Itália. Cancioneiro da Vaticana. por estarem mais próximas e possuírem costumes parecidos aos da região Provençal. O norte da Itália e a Catalunha. E foi esta a poesia difundida por toda a Europa Ocidental. Contém apenas as cantigas de amor dos poetas mais antigos. Representado por um amor cortês no qual um homem da baixa nobreza apaixona-se por uma dama de classe superior que. ela representou uma ruptura com o período clássico até então cultivado e. Podemos. devido a esta diferença. e declina no século XIII. dizer que essas cantigas podem ser divididas em dois tipos. ela manifesta uma grande preocupação formal. tratado poético que possui instruções para os leitores quanto a arte de compor trovas. e também pelo não reconhecimento da importância de conservá-la.Cancioneiro da Biblioteca Nacional. irmãs ou mesmo a algum elemento da natureza. o eu-lírico desta é feminino. é muito parecido com as de amor. o amante da poesia galego-portuguesa se torna um coitado. e esse motivo tornava desnecessário um registro escrito. As cantigas eram classificadas em dois tipos: cantigas de refrão e cantigas de mestria (sem refrão). Podemos. da Literatura melhor compreensão do período dos trovadores. então. Portuguesa por ser uma poesia destinada à oralidade. O trovador se expressa pela voz da mulher – que tanto pode se dirigir ao amigo. A poesia lírico-amorosa divide-se em Cantiga de Amor e Cantiga de Amigo e a poesia satírica divide-se em Cantiga de Escárnio e Cantiga de Maldizer. Estudo Por falta de registros suficientes. De origem provençal. Um outro fator que indica diferença dessa cantiga de uma região para outra é que. Contém a “Arte de Trovar”. As características mais marcantes desse tipo de cantiga é o paralelismo. Sendo este um recurso poético comum na chamada poesia tradicional. que consiste em montar uma composição com base em segmentos repetidos. porém em pequeno número. e os trovadores utilizavam alguns recursos estilísticos para darem acabamento formal as suas cantigas. Cantiga de amor O homem canta o seu amor à amada. inclusive as cantigas de amor. Inicialmente. A semelhança era ainda maior quando os trovadores desenvolvem o mesmo tema nos dois gêneros. O primeiro tipo. Recurso que se tomou muito importante para os trovadores. onde o paralelismo semântico é facilmente encontrado. enquanto na Provençal o amante nutre um desejo de recompensa por parte da amada e ele vive com alegria esse amor platônico. sendo ela uma dama da alta nobreza e ele de classe inferior. como à sua mãe. e se espalhou por todos os gêneros. embora tenha perdido um pouco da variação das formas e da riqueza de expressão desta poesia. não há como ter uma 12 . pois elas apresentam o ponto de vista feminino do amor cortês se dando às vezes até a substituição do vocábulo “amigo” por “mia senhor”. vítima de um amor inacessível que só traz lamento e desilusões e amar é um grande pesar que culmina com o desejo da morte. Acreditase ter havido uma divulgação escrita dessas cantigas. como já vimos. Gêneros principais da poesia trovadoresca A poesia trovadoresca apresenta dois gêneros principais: a lírico-amorosa e a sátira. Isso porque. de cunho popular. é o mais completo. Cantigas de amigo Diferente das cantigas de amor. Quanto à estrutura e regras formais. sofreu algumas modificações para se adequar a Península Ibérica. que se dirige a um amigo. podemos dizer que embora a lírica galegoportuguesa não tenha desenvolvido tantos estilos como a Provençal. Por apresentarem temas e reflexões mais amplas e possuírem mais poesias narrativas que de louvor à virgem. o ambiente mais simples e campestre do povo com as cantigas de amigo e ainda uma crítica cômica de todo o sistema social com as cantigas de escárnio e maldizer.Muitos estudiosos. embora as inúmeras críticas feitas à poesia galego-portuguesa. Cantigas de escárnio e maldizer “ Antes de tudo. por pensarem estar diante de uma poesia puramente popular. é preciso ressaltar que. parodiando-os. Isso nos leva a crer que inicialmente esse tipo de cantiga tradicional não encontrou lugar entre os nobres. que muito influenciou na poesia procedente. se deslumbram não só por seu caráter inovador. pela capacidade desse gênero em incidir nos demais. As cantigas de escárnio o trovador usa termos ambíguos que dificultam a compreensão imediata dos insultos. é necessário estabelecer uma pequena diferença entre esses dois tipos de cantiga. Além de retratar a sociedade da época de uma forma inovadora e de vários ângulos sociais – a corte através das cantigas de amor. é incontestável sua importância para a formação de uma nova geração poética. Para concluir. por vezes burlesco e obsceno. embora eles tenham com certeza apreendido um pouco do gênero. mas. as cantigas de escárnio e maldizer possuem algo que as unem: ambas falam mal de alguém. Um outro tipo de poesia é a Mariana. no entanto. muitos estudiosos preferem uma classificação geral dessas cantigas por perceberem que em muitas poesias esses critérios se misturam. ao se depararem com essas cantigas. o que é reforçado pelos materiais encontrados. Sem contar os traços líricos e satíricos encontrados em algumas dessas cantigas. dentro de uma poética aristocrática. muitos autores não as consideram quando analisam a poesia galego-portuguesa. que são cantigas de Santa Maria. O primeiro é o fato de ela ser escrita em galego-português e também ser composta como uma unidade de música e poesia. sobretudo. são os mesmos das de amor e de amigo e. que existiu no século XIII. Devido à linguagem utilizada e por tratar de temas obscenos. muitas vezes vista como um ramo da poesia Provençal. parece ser um gênero totalmente distante dos demais. todavia não se podem ignorar as pontes que ligam esse gênero aos demais. 13 . REFLITA Apesar das diferenças. além de pertencerem ao gênero satírico. principalmente. A origem dessa poesia pode ser explicada como sendo uma poesia feminina pré-trovadoresca. enquanto nas de maldizer o poeta usa palavras violentas e diretas. Devido a essas semelhanças. Mas não podemos esquecer que os textos das cantigas que possuímos são obras de poetas conhecidos. se fizermos uma analise mais minuciosa veremos que elas estão ligadas a começar pelos autores. e serem muito apreciadas pelos poetas galego-portugueses. parece impossível a junção desses dois temas. o Clássico – que abrange matéria da Antiguidade clássica. Um outro impasse é ter surgido nesta mesma época (1400-1438) uma outra versão castelhana do mesmo texto. e aquele mais interessante para nós: o Bretão ou Arturiano – onde encontramos a figura do Rei Artur e seus Cavaleiros na Bretanha. mergulhando em um universo místico. possivelmente francês. cujo paradeiro é desconhecido. a partir daí que se dá a cristianização desse material. sendo o mito bem mais antigo que a lenda. O único documento existente é o códice 2594 da Biblioteca Nacional de Viena que é. Isso deu margem a inúmeras discussões acerca da prioridade de uma sobre a outra. Muitas vezes é necessário que o especialista recorra a um trabalho arqueológico e filológico das obras existentes para esclarecer datas. no entanto temos textos históricos que traçam todo o caminho percorrido desde a primeira descrição dos feitos do Rei Artur. é. O primeiro nó a desatar é quanto à originalidade da demanda portuguesa. a “matéria da Bretanha” é também um dos temas fascinantes do medievo. Observemos que este é um tema bélico por excelência. devido a enorme quantidade de textos e as inúmeras versões de uma mesma obra. enquanto o tema do Graal era essencialmente religioso. com Nennius. local de origem. até a união desses dois temas com Chrétien Troyes na obra Perceval ou le conte du Graal em que o autor vai além dos episódios amorosos. com certeza. e teve suas histórias contadas principalmente pelos conteurs bretões (narradores de contos e fábulas folclóricas que passavam de pais para filhos). que entre os séculos VI e VII ficou célebre em perigosas batalhas contra os inimigos saxões. Mas estudos feitos por Rodrigues Lapa e D. pois este é o único ciclo presente na prosa portuguesa. embora não seja nada fácil estudar esse período. Carolina Michaeles de Vasconcelos demonstrou ser Portugal o responsável pela tradução e adaptação da obra. etc.A Novela de Cavalaria A Demanda do Santo Graal da Estudo Considerada pelos estudiosos como um dos assuntos mais espinhosos Literatura Portuguesa da literatura medieval. O Rei Artur foi considerado um grande chefe guerreiro das Ilhas Britânicas. episódios e heróis das literaturas grega e latina. Com o objetivo de minimizar os problemas oriundos da diferença de datas entre o original (século XIII) e a tradução (século XV) e também os de diferença cultural e ainda distingui-las das canções de gestas – cantigas medievais que celebravam os grandes feitos de heróis da época – é tradição dividir a ficção cavalaresca em três ciclos: o Carolíngio – que tem no imperador Carlos Magno e seus pares as figuras centrais. 14 . Vendo por este ângulo. uma tradução de um outro original. na verdade. Apesar de aparecerem juntos na memória popular não são da mesma época. Um esclarecimento muito importante a fazer é quanto à distinção entre a lenda do Rei Artur e o mito do Graal. embora sem caracteres cristãos. Artur não era somente um chefe político. exigindo do ingressante a observância de uma série de rituais.Se razões históricas e textuais explicam os laços entre o Graal e o Rei Artur. as peregrinações eram uma forma de obter perdão dos pecados e reinstaurar a paz. O surgimento da lírica trovadoresca. E. as afinidades temáticas parecem mais eloqüentes. Se aliarmos esses fatores ao intenso crescimento das cidades e surgimento das universidades. quando isso ocorre – a confluência na tradição do Graal parece inevitável: “o próprio Graal pode. onde a matança em nome de Cristo e a preservação dos valores da Igreja eram sinônimo de obediência e valorização diante de Deus. na verdade. Percebemos nitidamente a presença marcante do misticismo não somente na vida do rei como também na vida do reino. O movimento intenso das cruzadas. Onde o fim justificava os meios. a matança que ocorreu na Demanda não era pecaminosa e sim demonstração de bravura para se alcançar à premiação. A vida do rei Artur é totalmente envolvida pela magia de Merlin e pela proteção das fadas. proporções gigantescas. no fundo. empreendida por Guilherme. mesmo que para isso fosse preciso renunciar a toda família. com a conquista normanda. São pormenores que acrescentaram á biografia de Artur aquele halo espiritual responsável pela mitificação da lenda. sendo o século XII considerado o século de ouro da literatura da França. Tendo em vista a importância da realidade histórica para toda e qualquer literatura não podemos deixar de ressaltar alguns fatores que contribuíram para o surgimento e desenvolvimento da matéria ficcional da demanda: A voga do neocetismo. Inserida no centro dessas forças antagônicas. o maior monumento literário 15 . a Demanda do Santo Graal tornou-se o retrato definido da Idade Média mística e. A ascensão da cavalaria. abriu para o mundo as portas do folclore céltico-bretão. A ligação do elemento guerreiro ao místico na configuração do Império adquiriu. Quando a “ordem arturiana” adquire tal magnitude – ao situar os homens num plano de valores em que o heroísmo guerreiro rivaliza com as qualidades morais. teremos uma idéia do extraordinário choque de valores que caracterizou os séculos XII e XIII. que de simples organização militar começa a se transformar com Carlos Magno (Século IX) numa espécie de confraria religiosa. representar o elemento transcendente com que esta cavalaria aspirava a completar-se”. aproximando o Oriente e o Ocidente. ele tornou-se para o povo também um chefe simbólico e a ambição de qualquer cavaleiro era tornar-se membro da ordem do Rei Artur. com o objetivo de proteger e recuperar os lugares sagrados e também “recuperar” fiéis para a igreja. ao mesmo tempo. ou seja. cuja importância é indiscutível como fonte de todo o lirismo europeu dos séculos posteriores. com vistas ao prêmio no fim da longa caminhada. sempre cultivadas por vias que exigem renúncias às vezes quase impossíveis. E o povo ficou a esperar messianicamente a volta de Artur. com seus inúmeros lutadores ferozes e amantes insaciáveis protegidos pelo fantasioso mundo das fadas. pois foi ele gerado por meio da magia e mesmo depois de morto foi levado pela fada Morgana à ilha de Avalon. que apesar de tudo. Isso retrata a dualidade vivida por Lancelot.que a época nos legou no campo da ficção. inclusive. cometendo pecado duplo: adultério e traição. Sendo o juramento uma condição para ingressar na santa busca. aqui simbolizado pela mulher: durante a noite Galaaz estava deitado quando a filha do rei penetra no seu quarto. do outro. Apesar de conhecedor da sua enorme culpa e de padecer com o remorso que ela lhe causa. de um lado o amor forte e inabalável pela rainha. da possibilidade de alcançar a conquista do Graal. Galaaz não está livre da tentação. Esse episódio prova que nem mesmo Galaaz. Vamos reconsiderar os séculos XII e XIII? “ 16 A época é de conturbada polaridade. O remorso e a Portuguesa Estudo expiação estão sempre presentes na vida dos cavaleiros. na literatura. apaixonou-se pela esposa do rei Artur. Se confrontarmos essa realidade com a realidade dos Cavaleiros da Távola Redonda e a Demanda perceberemos uma grande afinidade entre ambas. e como Jesus. o respeito. Como se não bastasse ser o pai bastardo de Galaaz. podemos dizer terem sido feitas em forma de novelas. assim. Todavia pensava-se que quanto mais difíceis os obstáculos. é Literatura percebermos a influência da Igreja na sociedade da época. a simbolizar um novo Cristo. É nesse contexto que surge Galaaz como o “cavaleiro eleito”. Pela proibição e a pena imposta. ele continuava cultivando. Na figura da “Besta Ladrador” temos uma amostra da punição para aqueles que cometerem o crime do perjúrio. quando analisamos a Demanda. aqueles que desobedecessem – não conseguiriam chegar ao Graal –. cede. “o puro dos puros” porque nunca pecou contra a castidade. que embora seja considerado o cavaleiro mais valente da corte arturiana é também o mais pecador. porém ela o encontra usando um cinto de castidade e vendo seus planos frustrados. Deus e o Diabo estão como que lado a lado. considerado pecado mortal. também. desesperado. mas já era tarde e ela havia morrido. a admiração e a amizade por Artur. Mesmo com todos esses méritos. passando. Acontecimentos que o afasta das honrarias as quais os outros cavaleiros participam e. Pobre de Lancelot. percebemos que a Igreja não via com bons olhos a liberdade amorosa cantada pelos trovadores e embalada pela fértil imaginação dos celtas. Divididos entre a oração e o pecado. que com a conquista do Graal salvaria o reino do pecado e implantaria a tão sonhada paz. Ele. sob pena de. o escolhido. o que permitia estruturar os capítulos em contos independentes. Lancelot não consegue deixar de amá-la e só a abandona depois que ela morre. Quanto à estrutura. maiores as chances de purificação e mais eminente o perdão de Deus. o erotismo trovadoresco e combatido pelas hagiografias sobre a vida de santos e mártires. mesmo assim ele foi consolado e eximido de culpa por Boorz. pois as aventuras . o que vai contra a moral da Igreja e a ética da cavalaria. a Igreja e a cavalaria encontram na guerra santa e no monge guerreiro uma forma de minimizar suas diferenças e. com apelos igualmente sedutores. Uma outra condição é não levar mulher na viagem. da Um dos pontos mais importante. a donzela ameaça matar-se. com significado próprio. pode se descuidar e deixa claro as muitas provações encontradas pelos cavaleiros. foi levado ao “deserto” para ser tentado pelo Diabo. cometer pecado mortal. o homem medieval vê nas cruzadas uma forma de adquirir o perdão divino. João I. respectivamente. Indicação de Filme TÍTULO DO FILME: EXCALIBUR (Excalibur. acredita-se. o período dos descobrimentos e das conquistas marítimas. 142 min. Portugal mostra para a Europa a força da coesão moral de um povo solidário e fiel ao seu rei e uma unidade política inviolável. XV: O Livro da Montaria de D. ela também retoma elementos de crença heterodoxas. É um dos períodos mais dinâmicos da história portuguesa. Nicol Williamson (Merlin). Robert Addie (Mordred). pois. 17 . Pedro. A Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela e Leal Conselheiro. podemos deduzir que as grandes criações artísticas não encontravam espaço. Helen Mirren (Morgana).existentes na busca do Graal eram formas de peregrinação. dividido entre suas ambições pessoais e o dever para com o povo. dando grande importância aos trabalhos históricos e didáticos: produção de textos de caráter documental. representa um momento de transição entre a literatura trovadoresca e o Renascimento do século XVI. sobre a arte de montar e sobre a ética e a prática da vida quotidiana. segundo os dogmas da Igreja. pois além de ser uma obra coesa e extraordinariamente bem estruturada. ! Em suma. inglaterra. Durante muitos séculos. a ponto de não discernimos os limites entre esses dois mundos. sobre a arte e os prazeres da caça. as cantigas trovadorescas tiveram maior destaque. Cherie Lunghi (Guinevere). 1981) DIREÇÃO: John Boorman ELENCO: Nigel Therry (Rei Arthur). do Infante D. Sendo que na Demanda a fantasia e a realidade se misturam. além de aumentar seus domínios. adaptação de Séneca sobre os benefícios dos nobres. Portanto. cuja finalidade primeira não seria exatamente literária e sim de doutrinação. Inicia-se em 1415.Nicholas Clay (Lancelot). mas a lenda. até então comum aos palácios. 2ª Época Medieval As manifestações literárias da primeira época medieval caracterizavam-se pelo predomínio da oralidade e. e as canções. O século XV. mas para revê-los e até absorvê-los. e Virtuosa Benfeitoria. Durante mais de cem anos a nação lusa se deteve no propósito mercantilista e a literatura acompanhou esse movimento. não para puni-los ou cerceá-los. até então desconhecida. baseava-se em um herói real. A prosa doutrinal encontra na família de Avis expoentes notáveis no séc. não é sem razão que a Demanda é considerada o maior monumento literário da Idade Média. segunda época medieval. ficaram restritas às reuniões familiares. Paul Geoffrey (Percival). com a tomada de Celta. por esta razão. nesse século. é quando a prosa e o teatro ganham o primeiro plano. Gabriel Byrne (Uther Pendragon). historiadores consideraram Rei Arthur apenas um mito. Duarte. de D. as justas. e sim a sua cultura moral e desejo de perfeição. sem contar as lutas. adquiriu cedo o costume de tomar apontamentos por escrito. Eram muitos os exercícios praticados naquela época. o que não acontece com o Livro da Montaria. O estilo de D. Por conta dessa mudança no gosto da sociedade é que surgiu uma literatura que refletia as preocupações dominantes da época. Lia e traduzia o latim no Estudo O gosto dos desportos 18 . Este livro. levado pelo desejo de ensinar aos seus súditos a teoria de bem cavalgar. considerado um valioso documento da literatura desportiva portuguesa. que versa as disciplinas mais variadas. O livro da Ensinança de Bom Cavalgar D. Duarte empregava uma linguagem excessivamente culta.Duarte. Portuguesa assim como o exercício da poesia. Fernando. a montaria. isso não deve ser atribuído ao seu instinto literário. moradores de Paris: o visconde de Santarém e José Inácio Roquette. Duarte Sem nenhum talento poético. era como que um guia de moral caseira. João I.da Literatura Desde os meados do século XIV. etc. a escola trovadoresca em Portugal. pois ele transcende a esfera profissional e penetra no campo psicológico. É a percepção estética do jogo clássico. espírito exatíssimo. é um fruto da sua experiência. começou este livro. Todavia esse livro não pode ser considerado apenas um ensinamento sobre equitação. Não confiava na memória. e tinha. ele trazia a casa cheia de falcões e encarregou seu falcoeiro Pero Menino de elaborar um tratado de mezinas para aplicar às doenças que atacavam os falcões. Contudo. dentre os mais apreciados estavam as caçadas. como o título indica. onde não abundavam livros destes. Não tendo unidade de tempo nem de pensamento: é um tratado de recopilação enciclopédica. É uma obra original. O Leal Conselheiro Devemos a primeira edição deste livro aos esforços de dois portugueses. prática pouco aceita no período medieval. D. um fim educativo. D. tem reduzido valor literário. É Afonso IV que inicia ostensivamente o predomínio do corpo sobre o espírito. chegava por vezes a discriminar as diferenças de sentido – É um dos primeiros em Portugal que não crêem na existência de sinônimos. falando sobre o medo no aprendizado da disciplina e recomenda a beleza das atitudes na prática dos exercícios. o conhecido dicionarista. da imaginação e da sensibilidade começou a ser substituído pela cultura da força física. de D. a rainha. Um bom exemplo é D. não decalcada dos modelos clássicos. O livro era dedicado a sua esposa. entre outros semelhantes. ainda príncipe. Duarte. Muito rigoroso no emprego dos vocábulos. os torneios. profundo observador. Fernando Esta crônica foi. é classificada como sendo mais épica do que Os Lusíadas e muito mais nacional. Fernão Lopes relata aquele que foi um dos momentos mais conturbados da história portuguesa: a crise de sucessão de 1383/85. a primeira parte da Crônica de D. c) Crônica de D. É constituída por um prólogo e cento e setenta e oito capítulos. Fernando. b) Crônica de D. Pedro. Enrique até à de D. nas diferenças estilísticas existentes. pois retratam a reação do povo e de uma parte da nobreza. pois limitava-se a aplicar a sintaxe latina na frase portuguesa. História e mito tendem a se confundir no imaginário advindo do episódio que envolve Inês de Castro e seu amante. mas um livro de história. na acepção que hoje damos a esta expressão. filho de D.desejo de se aproximar ao máximo do original e é este empenho de tradutor que dá ao seu estilo um caráter arrevesado e truncado. 19 . Nesta crônica. como é o caso dos documentos dos livros da chancelaria de D. durante muito tempo. Das crônicas que escreveu. segundo algumas opiniões. redigida por volta de 1436. as crônicas dos reis antigos. Começa por relatar as peripécias de pouco depois da morte de D. cronista que conduz a historiografia lusitana a novas perspectivas. a registrar em crônicas as estórias dos antigos reis de Portugal. visto que abrange acontecimentos ocorridos durante 28 anos. Pedro (1357 a 1367). realizado em quinze anos de busca fadigosa de documentos antigos de toda espécie e em várias línguas. Compreendendo todas as crônicas. que foram atribuídas a Rui de Pina – um furto literário denunciado por Damião de Góis com base. o único. João I não é uma crônica no sentido rigoroso do termo. Pedro Esta crônica abrange os dez anos de reinado de D. É constituída por um prólogo e quarenta e quatro capítulos. arquivista das escrituras desde 1417. Tal como fez para as restantes crônicas. rainha de Castela. em março de 1367 e finda também pouco depois da morte de D. substituindo a sua filha D. Em cronologia é a maior das crônicas. Pedro. Os primeiros textos de que se tem notícia a enfocar o drama do “Romeu e Julieta português” (nas palavras de Alexandra MARTINS) são de Fernão LOPES (1380?-1460?). Pedro. Inclusive. Sua obra é fruto de um imenso trabalho. Os últimos seis capítulos são de grande interesse. Beatriz. começa Fernão Lopes. ao filtrar as lendas dos fatos. o futuro rei de Portugal D. sobretudo. Fernão Lopes apoiou-se em fontes narrativas e diplomáticas. só restam três: a) Crônica de D. desde a do conde D. Duarte compunha os últimos capítulos do Leal Conselheiro. João I (1ª e 2ª partes) Esta crônica é considerada a obra-prima de Fernão Lopes e. O cronista Fernão Lopes Ao tempo em que D. Trata-se do primeiro livro de História que se escreveu em Portugal e. Na concepção de José Hermano Saraiva. João I. Leonor Teles se torna regente do Reino. quando D. provavelmente. Afonso IV. e este hispanismo continuará pelo século de Quinhentos. sob o nome de Cancioneiro Geral. O que resultou. a língua na Galiza começou a ser influenciada pelo Castelhano – basicamente o Espanhol moderno). em 1516. graças a esse fortalecimento da casa real. A corte. período no qual o Português tornou-se uma língua Portuguesa madura. acentuar-se. É certo que há na poesia palaciana mais futilidade. João II. pois o rei prezava a poesia e sentindo que a sociabilidade poderia funcionar como uma obra de propaganda política. pois há muito desaparecera o paralelismo da cantiga de amigo. O amor triste é ainda muito presente no Cancioneiro de Resende. a nobreza compreendeu que só em volta do rei lhe restava viver para se abrigar da penúria e da opressão. um acusado predomínio da cultura e da língua castelhanas. A tradição lírica galego-portuguesa Um dos fatos que devemos primeiramente destacar no Cancioneiro é a persistência da antiga tradição lírica. homem da criação de D.O CANCIONEIRO GERAL O fim do período de consolidação da língua (ou de utilização do português arcaico) é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia Estudo da Literatura de Resende. teve a ótima idéia de compilar a produção poética do lirismo palaciano. Tempo em que as guerras e a instabilidade da política não refrearam a aspiração de uma vida melhor. a maior e melhor parte do Cancioneiro está em língua portuguesa. Não é. Mas. 20 . pois lá. João II. obra que publicou em 1516. de se admirar que topemos no Cancioneiro de Resende com numerosas composições em castelhano. Freqüentador da corte. E tudo isso se dava num ambiente de liberdade. mas pelo que se refere às tendências permanentes do temperamento saudosista. O fato mais insignificante despertava a inspiração poética. os serões tiveram grande esplendor. A aristocracia começou a freqüentar e cultivar as reuniões e as maneiras do palácio. encontrou nesses encontros uma maneira de ter os fidalgos na mão. com uma tradição literária riquíssima. separando-se definitivamente do galego (no séc XV. João II. na segunda metade do século XVI. A moda de colecionar a poesia cortesã viera da Espanha. não é claro sob o aspecto formal. então. pois. favorecido já agora pela hegemonia política de Espanha. pelo contrário. característico da renascença. já que a própria ocasionalidade da inspiração dá um profundo acento a algumas composições feitas – lembremos que foram compostas para serem recitadas e não para serem publicadas em livro. a vida cortesã e galante começou mais cedo do que em Portugal. tornou-se o principal centro de produção cultural e literária. Nos tempos de D. o risonho e inteligente Garcia de Resende. grande agasalhador de poetas. graças ao favor de reis como D. Dantismo e petrarquismo A influência dantesca aparece já no período galego-castelhano. mas se a forma denuncia já uma curiosidade renascentista. dá lugar a uma forma especial de poesia. em certo modo. O espírito clássico Já na poesia alegórica é evidente um certo estendal de erudição mitológica. senão até superada pela arte francesa.Mas o amor adquire aspectos novos. são teatralizáveis e constituem verdadeiras farsas. o poeta. torna-se mais natural e mais atrevido. Como modelo do poeta cômico. as de Duarte da Gama às desordens da vida portuguesa e as de Luís da Silveira e Garcia de Resende à mudança dos tempos. um conflito aberto entre as duas concepções do amor: a tradicional. Havia. no último quartel do século XV. que era mais clara. mas vai-se acentuando cada vez mais. Temos. dialogadas. que não desce ao fundo das coisas e se atém aos aspectos ridículos da vida. pois que as suas composições. que a dupla influência de Dante e de Petrarca despertou. Essa imitação de Dante de primeira mão deu-se primeiramente em Espanha e depois em a Portugal. nas imprecações dolorosas e na utilização artística da natureza como espelho ou contraposição do estado de alma do poeta. e aquela que já se respirava na atmosfera cálida e sensual da renascença. o fundo é ainda mais romântico-medieval. ou melhor. A dama aparece em acordo com a realidade e as relações afetivas são incrementadas por um toque de ardência sensual. por intermédio de Juan de Mena e do Marquês de Santilhana. renovou a sensibilidade romântica na poesia portuguesa: porque há uma verdadeira antecipação romântica na poesia do Cancioneiro que se mostra nos contatos entre o poeta e a natureza e ainda em o poeta procurar. foi a de Petrarca. porque encontrava correspondência no nosso temperamento. platônica. pois. retrataa em cores de fealdade física ou moral. superficial e acessível. que renovara no século XIV o lirismo dos velhos trovadores. numa saudade triste. encontramos no Cancioneiro freqüentes exemplos do escárnio de amor. A atitude petrarquista manifestase nas antíteses. Outra influência italiana e essa mais direta e profunda. pois. até que. A influência indireta de Dante foi igualada. o Cancioneiro oferecenos Henrique da Mota que. galhofeiro. 21 . os lugares em que viveu os seus antigos amores. despeitado dos rigores da dama. As peças satíricas mais notáveis em alcance social são as trovas de Álvaro de Brito Pestana a Luís Fogaça sobre os ares maus de Lisboa. A corrente satírica Obedecendo ainda a uma corrente da antiga tradição. pode ser considerado um precursor de Gil Vicente. exercitara Estudo da Literatura o verso maior em assuntos graves. Tcheky Kario. ainda não chegara o tempo e o poeta que as havia de condensarem estrofes imortais. Luís Henriques. . durante a transição do feudalismo para o capitalismo comercial. A viagem de Cristóvão Colombo insere-se no cenário da expansão ultramarina liderada por Portugal e Espanha entre os séculos XV e XVI. Esse pequeno núcleo aparece representado no Cancioneiro por Diogo de Melo. 1992) DIREÇÃO: Ridley Scott ELENCO:Gérard Depardieu. Um poeta de então. carregado de inspirações heróicas. Nem todos.A CONQUISTA DO PARAÍSO (1492: Conquest of Paradise. E um pequeno grupo de poetas. Ângela Molina. Armand Assante. Portanto. porém. contra as ambições do tempo. para compreender a passagem da Idade Média para a Idade Moderna.! ! 22 Esse mesmo espírito clássico provocou algumas tentativas falhadas de poesia épica. ESP/FRA/ING. O ar andava. cultivando o conceito filosófico da mediania dourada. é necessário inseri-la no quadro das transformações por que passou a Europa na Baixa Idade Média (século XII ao XV). se deixaram ir nessa Portuguesa corrente. Vídeo Arte. Fernando Rey. Simplesmente. Indicação de Filme TÍTULO DO FILME: 1492 . já então. tocado de espírito horaciano. Nuno Pereira e João Roiz de Castelo Branco. 150 min. começou a reagir à margem do bulício do palácio. Sigourney Weaver. O sentimento do eu-lírico ou eu-poético idealiza a mulher. 2. Que versos expressam essa idealização? Além de colocar nas mãos de Deus a possibilidade de ser feliz. Que fragmento da cantiga expressa a segunda idéia? 23 . o poeta atribui a Ele a responsabilidade pela beleza da mulher. elevando-a a um pedestal.Complementares Atividades 1. da Literatura Portuguesa b) A quem ele dirige seus pedidos? Estudo 3. O eu-lírico é masculino e tem um desejo. a) O que ele pede? c) Se os pedidos não puderem ser atendidos, qual é a solução entrevista pelo eulírico? 4. 5. Nesse texto aparecem as características mais comuns da Cantiga de Amor. Trace um paralelo com o que você apreendeu sobre a Cantiga de amigo, confrontando as diferenças e semelhanças entre elas. Alguns compositores se inspiram nesses tipos de cantiga para elaborar suas composições. Nos dias atuais, que exemplos de Cantiga de Amor e de Cantiga de Amigo podemos extrair da música brasileira. 24 DO TEATRO PORTUGUÊS AO ARCADISMO O Teatro de Gil Vincente Durante a Idade Média surge em Portugal o Teatro Vicentino, representação que se caracteriza pelos temas, linguagem e atores populares. A carreira literária de Gil Vicente começa em 1502, quando representa o Auto da Visitação, até o ano de 1536, ano da representação de sua última peça Floresta de Enganos. Durante os anos de sua trajetória teatral dedicou-se a escrever e representar teatro para o entretenimento da realeza e da fidalguia, são dezenas de peças de temas variados. Escreveu cerca de 44 peças: 17 bilíngües, 16 em português e 11 em espanhol. Na corte portuguesa usava-se, também, o idioma espanhol em razão da rainha Maria, segunda mulher de D. Manuel I, ser filha dos Reis Católicos da Espanha. Além disso, falar espanhol era sinal de distinção entre os nobres, pois o povo falava apenas português. Didaticamente, pode-se dividir em fazes o teatro vicentino. Temos três fazes principais: 1502-1514 – Sob influência de Juan del Encina. 1515-1527 – Corresponde ao ápice da carreira dramática. 1528-1539 – Teatro intelectualizado, sob influência do classicismo renascentista. Quanto ao tema, pode ser dividido em: Tradicional Peças de caráter litúrgico, ligados ao teatro de Juan del Encina, aos assuntos bucólicos e às novelas de cavalaria. Atualidade Caracteriza-se pela presença de um retrato satírico do modo de viver do seu tempo, e não perdoa nenhuma classe social, seja ela a fidalguia, a burguesia, o clero ou a plebe. É um teatro baseado na espontaneidade e com intento de divertir e organizava-se sob a lei do improviso. Supõe-se que Gil Vicente redigia um roteiro básico, apenas para ordenar a encenação em uma seqüência verossímil. Lírico ou cômico, seus textos continham a predominância da visão medieval e de uma nostalgia de um tempo perdido. O grande mérito do autor é o seu talento de poeta, sobretudo de poeta dramático, é em conseqüência disso que o teatro vicentino se tornou um marco dentro da Literatura Portuguesa. VOCÊ SABIA QUE... A obra literária vicentina possui uma linguagem arcaica, popular, não polida e sem termos eruditos? É que, mesmo escrita em linguagem popular, o vocabulário é rico, se adequando aos personagens, valendose ainda do latim eclesiástico e do baixo latim – usado pelo povo? . 25 Suas peças estão classificadas em obras de devoção, comédias, tragicomédias, farsas e obras miúdas, como monólogos e paráfrases de salmos e apresentam a seguinte divisão: da Os Autos: são composições religiosas, pastoris, nos quais se nota a Literatura influência do teatro pastoril de João de Encima, dramaturgo espanhol. São Portuguesa medieval. As comédias: trazem valores greco-romanos e mitológicas, contendo relatos romanescos como as novelas de cavalaria. Estudo peças de temática devota e moral, alegórica, que refletem os valores do mundo As farsas: preservam a mesma estrutura dos autos, traçando, porém, uma caricatura contra os maus costumes, apresentando uma crítica social contundente, mordaz, carregada de alusões pessoais. De caráter pedagógico moral, há uma longa tradição na farsa medieval sobre o tema do adultério feminino. RESUMINDO... Primeira fase: 1890 a 1198-1434 A criação literária portuguesa, no primeiro período medieval (1890 a 1198-1434), corresponde à floração trovadoresca e acontece quase simultaneamente à formação da nação lusa. Essa produção cultural denominada também de cantigas era composta pelos trovadores e cantada pelos jograis que percorria todo o reino em ambientes diversos. A fim de preservar essa literatura, que era transmitida oralmente, fora fixada por escrito em coletâneas denominadas cancioneiros. A poesia trovadoresca é dividida em dois tipos: lírico-amorosa compreendendo às Cantigas de Amigo, associadas ao canto e à dança, impregnadas do realismo da vida campesina, da sensualidade, queixume, euforia, amor popular e amor burguês; e as Cantigas de Amor de origem provençal, marcadas pela vassalagem amorosa, impregnadas pelo idealismo, a “coita” de amor e idealização da mulher. O outro tipo é a satírica subdivida em escárnio, maldizer, seguir e tenção de briga. Os principais trovadores desse período foram Paio Soares de Taveirós D. Dinis, Martim Codax, Aires Nunes e João Garcia de Guilhade. Além poesia a época trovadoresca se caracteriza também pelo aparecimento da prosa medieval: novelas de cavalaria, retratando um heroísmo de influência religiosa e feudal, biografias, crônicas e livros de linhagem. Segunda fase: 1434-1527 Período conhecido também como Humanismo, vai desde a nomeação de Fernão Lopes como cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Francisco Sá de Miranda da Itália, quando introduziu uma nova estética, o Classicismo, em 1527. Teve como principais características a divulgação dos mestres da Antiguidade greco-latina, o incentivo às Universidades, a laicização da cultura e o Culto do Homem. A prosa, no humanismo português, consistiu, principalmente, na crônica histórica e teve como principal expoente Fernão Lopes um cronista realista de técnica literária da narrativa, um criador de perfis psicológicos que tratou o povo como agente da história. Destacaram-se, também, Gomes Eanes de Zurara e Rui de Pina. Outro tipo de prosa 26 inaugurado pelo regime absolutista da dinastia de Avis foi a prosa doutrinária, direcionada para a educação da realeza e da fidalguia, com o sentido de orientá-la no convívio social e no adestramento físico. Além da prosa tivemos a poesia palaciana recolhidas por Garcia de Resende no Cancioneiro Geral. São poesias já dissociadas de música, elaboradas para serem lidas e recitadas nas cortes. Surge também o Teatro popular de Gil Vicente produção literária caracterizada pela sátira à sociedade portuguesa e a visão religiosa medieval moralizadora. Classicismo O Renascimento e a Lírica Camoniana Considerado o marco inicial da era moderna, o Renascimento é o mais importante movimento de renovação cultural ocorrido na Europa durante os séculos XV e XVI. O crescimento gradativo da burguesia comercial e das atividades econômicas entre as cidades européias estimulou a vida urbana e o surgimento de um novo homem cujo reconhecimento de seu valor contribuiu para o enriquecimento do ambiente cultural, resultando na formação de um novo clima intelectual otimista e confiante na força do ser humano – que se torna o centro do universo (antropocentrismo), manifestado pela ruptura com a tradição feudal que era marcadamente religiosa e teocêntrica. A visão humanista é o primeiro impulso para o surgimento do Classicismo. Esse movimento literário surge em Portugal, em 1527. E, como resultado da mudança que o homem tinha de si mesmo – sendo, portanto, uma continuação do Humanismo – são traduzidas e difundidas numerosas obras gregas e latinas, de assunto literário, filosófico e científico, com o objetivo de reviver os ideais da Antigüidade Clássica, influenciando assim, as artes, a cultura e a literatura. Essa retomada à Antiguidade clássica influi diretamente na linguagem, na forma e nos temas. A linguagem clássico-renascentista é a própria expressão das idéias e dos sentimentos do homem do século XVI, sendo usada com clareza e objetividade, é sóbria, simples e precisa. A valorização da forma está expressa na preferência pelo soneto, com versos decassílabos distribuídos em duas quadras e três tercetos. Nesses versos é usada a chamada medida nova em oposição à redondilha medieval, chamada de medida velha. Nos temas, presenciamos o uso da mitologia, do amor platônico, da exaltação das faculdades humanas (o herói nacional), do nacionalismo, do culto à beleza e da perfeição. Temos, então, algumas características que individualizam o Classicismo: Humanismo Valorização da antiguidade Contenção lírica Locus Amoenus Carpe Diem Verossimilhança Ausência de Conflitos 27 a Lírica e a Épica. Filodemo e El rei Seleuco. e da visão da natureza. E. a filosofia e se volta para a razão. [. O espírito renascentista pode ser entendido como oposto ao que orientou o mundo medieval. o Classicismo em terras Lusas.da Literatura Portuguesa Estudo Portugal é.. Os temas giram em torno do amor.. de rima abba-abba-cde-cde. um dos mais lidos e apreciados por seu lirismo de beleza universal: Amor é fogo que arde sem se ver. O antropocentrismo toma o lugar do teocentrismo e o homem passa a valorizar o conhecimento. a mais comum das rimas de Camões possui os 14 versos em decassílabo. Virgílio entre outros do clássico grego e romano. um dos países mais importantes da Europa e se encontra mergulhado no espírito aventureiro das viagens marítimas e dos descobrimentos. que alguns sonetos que a ele são atribuídos. É de clara descrição do ambiente. da figura feminina.. Petrarca. Luís de Camões é o homem-síntese. na figura idealizada da mulher x beleza física. Camões inaugurou. dizem alguns estudiosos. pois foi nas passagens da doutrina Platoniana que Camões soube ver uma forma de investigar as relações da palavra com seu referente. A épica tem n’Os Lusíadas a sua mais importante obra classicista..] 28 “ VOCÊ SABIA QUE. abordado principalmente através da antítese amor platônico x amor carnal. A Lírica é representada pelos sonetos. Considerado o poeta máximo da língua portuguesa. É dor que desatina sem doer. [. mas. a expressão do Renascimento. É um contentamento descontente. Platão é considerado a principal. dentre todas as influências recebidas. assim como todo o Renascimento. fazendo dele um exímio “manipulador” das mesmas. Portugal é um dos países mais importantes da Europa? . da busca da perfeição.] Os sonetos contêm um grande lirismo.] Que alma é tábua rasa Que com escrita doutrina Celeste tanto imagina. Que voa da própria casa E sove a pátria divina [. então. do desconcerto do mundo. no gênero Dramático. escreveu Anfitriões. não são realmente de sua autoria. como por exemplo. de Deus.. A preocupação técnica impressiona o mais parnasiano dos poetas. Entre os séculos XV e XVI. Infelizmente. em se tratando de linguagem poética. É ferida que dói e não se sente. da pátria.. Em Portugal. tem sua obra dividida em duas fases. Horácio. distribuídos em 2 quartetos e 2 tercetos. pulsam na poesia de Camões.. Platão.. percebendo-se a presença de elementos pagãos e católicos. mas também contribuiu com canções e redondilhas. Suas obras se situam entre o Classicismo e o Maneirismo. 29 . é marcado pela convivência do feudalismo com o mercantilismo. em Portugal.RESUMINDO. o trono português é passado para Felipe II. nesse sentido representou um obstáculo a qualquer avanço no campo científico cultural. Segundo Massaud Moisés 1. tornou-se a arte da Contra-Reforma. percebemos traços do Barroco já no Renascimento. a morte de Camões e a de D. Antônio Ferreira que.” Se tomarmos como base o aspecto literário. e Luís Vaz de Camões escritor mais representativo do Renascimento sendo também o prenunciador do Barroco. 3a edição. por conta disso enquanto a Europa vivia um período de efervescência cultural a Península Ibérica permanecia um reduto da cultura medieval. O Barroco. marcam a vida cultural e política do país. 1990.o movimento Barroco – iniciado em Espanha e introduzido em Portugal durante o reinado filipino – “é de instável contorno por corresponder a uma profunda transformação cultural. Outros historiadores desse período foram Gaspar Correia. mesmo porque nesse período o ensino fica quase por completo a cargo dos jesuítas. também.. No século XVI comparece. além de poeta. da Espanha. sendo Portugal anexado à Espanha e permanecendo sob seu domínio durante 60 anos. no entender de alguns estudiosos. Além de poeta Camões era dramaturgo e cabe-lhe no que concerne a linguagem poética a inauguração do movimento em terras Lusas. Barroco Dois fatos importantes ocorridos em 1580. a qual teria absorvido a estética barroca fazendo dela uma espécie de estratégia de catequese. a prosa historiográfica tendo como principal representante João de Barros. A Novela de Cavalaria se nacionaliza com João de Barros que traz como herói nessas narrativas os portugueses. no chamado Maneirismo. Sebastião na batalha de AlcácerQuibir na África. Damião de Góis e outros. Ao mesmo tempo em que recebe forte influência da Contra-Reforma. Bernardim Ribeiro poeta e novelista. quando se inicia o Barroco em Portugal. Com o desaparecimento do rei. introdutor do movimento. de grande penetração nos países ibéricos. Fernão Lopes de Castanheda. O novo estilo de época que caracteriza o Renascimento é denominado de Classicismo e. A censura eclesiástica. 1 MOISES. era também dramaturgo. todavia percebe a impossibilidade de ignorar as influências culturais espanholas. A literatura portuguesa. que sob o julgo espanhol esforça-se em preservar sua cultura e sua língua. o racionalismo. cujas raízes constituem ainda objeto de polêmica. Os autores de destaque foram Sá de Miranda.. As principais características do movimento foram a imitação dos clássicos gregos e latinos. tem sua obra dividida em duas fases. Considerado o poeta máximo da língua portuguesa. Massaud. São Paulo: Cultrix. o Barroco acontece em meio a uma crise de identidade do povo português. pelas grandes descobertas e por importantes transformações culturais. Desse modo. o antropocentrismo e o neoplatonismo. cuja concepção de história caracteriza-se pela preocupação de contribuir com o exemplo moral e superior dos heróis para a elevação dos espíritos. a Lírica e a Épica. Expressão em forma de poesia. sobretudo. no qual se confundem poesia e prazer lúdico. No segundo modo. assim. num estado de verdadeiro delírio cromático. Para Portugal esta literatura não apresentou o brilho do século anterior.A estética barroca procurava sintetizar a visão de mundo medieval de base teocêntrica e a ideologia clássica renascentista. Corrente denominada de conceptismo. dubiedades e todas as demais figuras de sintaxe que tornam o estilo pesado. relativamente ao resto da Europa. o conhecimento se faria pela análise dos objetos no sentido de lhes conhecer a essência. ao mundo das percepções dando preferência às figuras de linguagem. Faltou à época uma “atmosfera” comum. incluindo a Espanha aonde a arte barroca atingiu graus de primeira grandeza. procuravam cultivar uma linguagem rebuscada. conceituá-los. onde poucas vezes alcançaram maior nível. que nessa perspectiva se faria de dois modos. ou melhor. o Gongorismo não raras vezes se propõe como espetáculo para o gozo dos sentidos. a matéria e o espírito. para alcançá-la consideravam de bom tom o emprego de neologismos. Não podemos esquecer que o Barroco começou nas artes plásticas. apenas aproximados por coincidência. enaltecendo as sinestesias. Alguns representantes do Barroco VOCÊ SABIA QUE.. Essa tendência recebe o nome de Gongorismo. para tanto. A arte assume. sendo essa época uma das mais importantes para as artes plásticas. No primeiro modo. a um vocabulário rebuscado e aos jogos sonoros.. Não devemos pensar com isto que tais correntes jamais se cruzaram. embora não o seja para Portugal. especiosa e rica e. dividido entre os apelos do corpo e os Portuguesa da alma. pois os intelectuais eram guiados por clichês ou padrões estéticos de alambicamento e de forçado sentido literário. tortuoso e alambicado. tinha como um dos principais representantes o espanhol Quevedo. mesmo porque é comum encontrarmos numa mesma escritura traços tanto do Gongorismo como do Conceptismo. o conhecimento se faria pela descrição dos objetos. Conhecer seria descrever. expressa. saber o que são. utilizamse da inteligência e da razão sem prejuízo dos sentidos. trocadilhos. terrena e antropocêntrica. a luz e a sombra visando anular pela Estudo da Literatura unificação a dualidade do ser humano. em que se procurava saber o como das coisas. pagã. do qual deriva o termo Quevedismo. uma tendência sensorial ligada ao mundo físico. Ambos obedecem a uma concepção pragmática de arte: o primeiro. em prosa. hipérbatos. procura criar um clima de brincadeira verbal com o objetivo de entreter. por conta da influência do poeta espanhol Luís de Gôngora e seus adeptos. Como vimos. Falta à época a conexão entre os homens. a dicotomia barroca servia como representante das confusões no espírito do homem da época. Padre Antônio Vieira também é estudado na Literatura Brasileira? 30 . Esse embate entre os dois pólos radica no problema do conhecimento da realidade. Era a tentativa de conciliar elementos opostos como o claro e o escuro. teriam trocado cartas. Em 1969 publicam-se em Paris. Um dia. Pensou muita das questões candentes em seu tempo e procurou agir praticamente para lhes dá um rumo compatível com aquilo que julgava correto numa linha mental e política. Embora existam muitas dúvidas acerca da autoria e da originalidade da mesma é inegável a importância destas cartas para a literatura portuguesa. mas é por seus sermões que Vieira é mais conhecido. obras de profecia. deleitar e mover.Padre Antônio Vieira O padre Antônio Vieira grande expressão do Barroco português e brasileiro era assistido por grande dinamismo e boa oratória. da redenção humana e da autoridade absoluta do papa. insana. Naquele mesmo ano sai uma nova edição em Colônia e daí para frente foram lidas e traduzidas em várias línguas. Diante disso. Os sermões de Padre Antônio Vieira seguem a estrutura clássica que compreende intróito (ou exórdio). na tentativa de tirar o homem do tempo presente e projetá-lo para o futuro eterno. Para o autor. orientar. desenvolvimento (ou argumento). onde professa cedo no Convento de Nossa Senhora da conceição. Barroco. sempre com progressivo interesse. Perpassa-as um sopro de paixão incontrolada. o sermão não era apenas pensamento e palavra. Enamoram-se. Paixão e não amor. e a peroração em que finaliza conclamando os ouvintes a seguirem prática das virtudes propostas. Escreveu além de mais de quinhentas cartas. Vieira procura convencer para ensinar. Sóror Mariana Alcoforado Sóror Mariana Alcoforado nasceu em Beja. conceptista e não gongórico. porém. atacava tanto a inquisição portuguesa na perseguição aos judeus. chamando-o ao dever de pensar e de reagir. A característica comum às produções de Vieira é a união do tema religioso à questão política. quanto à escravidão que se imprimia à vida do indígena. Em 1663 conhece Chamilly. em que o orador declara o plano a utilizar na análise do tema em pauta. as Lettres portugaises traduites em français. falar não é apenas falar. pois o sentimento expresso contém na raiz um 31 . observado ou de flagrante presença para. pela primeira vez. e sim pensar e fazer. era necessário pregar com gesto e voz. superior às inibições e convenções e ao impulso da vontade e da consciência moral. contraditório. pregar é agir. persuadir o ouvinte. feito de antíteses e oposições. Para Vieira os valores constituintes de um perfeito orador são três: ensinar. De contorno dilemático. oficial francês servindo em Portugal durante as guerras da Restauração. excitando os fiéis no entendimento das mensagens evangélicas que pretende transmitir. Voz forte. instável como o próprio ondular das idéias no esforço de orientar e persuadir. Tendo sempre objetivos morais. das quais só ficaram as escritas pela religiosa. Para ele. o padre Vieira parte sempre de um fato real. o militar regressa à França impelido por chamado superior. em que apresenta o sermão propriamente dito. o ato de pregar tinha como fim último a reafirmação dos dogmas da igreja. algumas delas em torno de importantes questões da época. de pronto. os sermões vieirianos correspondem à preocupação de anular a dicotomia radical existente no ser humano formado que é de corpo e alma. ofensivo. ! 32 Indicação de Filme TÍTULO DO FILME: A MISSÃO (The Mission. Escreveu suas peças em prosa utilizando-se de aspectos da sociedade de Lisboa para satirizar através do riso. defender-se dos ataques que lhe eram dirigidos e satirizar os costumes da época. As cartas ganham maior relevo ainda como documento literário precisamente por não visarem a publicação nem a serem encaradas como peça literária. valia pelo aspecto lúdico. ao mesmo tempo em que suficientemente plástica para apreender o ziguezague da paradoxal confissão. Era poesia para entreter. do verso. expresso no malabarismo das imagens e das correlações sintáticas. com as ordens mendicantes. cuja produção é marcada pela clausura. Gabriel Pereira de Castro. as cartas descrevem uma curva cujo ápice é marcado pela terceira carta na qual o sofrimento atinge o limite máximo. Francisco Manuel de Melo produziu uma obra variada e numerosa que compreende poesia. concisa. Tivemos além de Vieira. Francisco Manuel de Melo e Francisco Rodrigues Lobo. desenvolveuse principalmente nos séculos XV e XVI. Padre Manuel Bernardes. Jeremy Irons. historiografia. pelo divertimento verbal. Surgidas no século XIII. D. graças à concentração de efeitos e sensações. pelo quadro barroco em que o caso amoroso se desenrola. Em síntese correspondia mais ao culto da forma. Lian Neeson. as missões acabaram como mais um instrumento do colonialismo. Flashstar Ao longo dos séculos XVI e XVII várias missões católicas foram criadas pelos jesuítas na América do Sul. O autor procura mostrar em seus textos que a relação com Deus é possível pelo culto das virtudes morais. inclusive.da Literatura Portuguesa avassalador ímpeto carnal. que transforma a dramaturgia portuguesa. a prosa foi mais explorada. Outros autores barrocos No Barroco português. Francisco Xavier de Oliveira (o Cavaleiro de Oliveira. biografia e literatura moralista. 1986) DIREÇÃO: Roland Joffé ELENCO: Robert de Niro. esse trabalho de evangelização e catequese. Apresenta-se em figuras isoladas e em antologias organizadas com o mesmo intuito das compilações dos cancioneiros medievais. 121 min.. Vasco Mouzinho de Quevedo e Antônio de Souza de Macedo. apoiada numa linguagem precisa. como ele assinava) escreveu obras de observação e com propósitos definidos: realizar conquistas amorosas. Sobressaem D. . Embora o objetivo fosse a difusão da fé e a conversão dos nativos. explicável. ING. que do conteúdo. A poesia barroca A poesia barroca portuguesa seguiu caminho diferente do da literatura doutrinária e moralista. no contexto da expansão marítima européia. teatro polêmica. Estudo Dispostas da forma como se apresentam. O teatro foi representado por Antonio José da Silva. sobretudo na França. Se no século XVII Portugal esteve influenciado pela cultura espanhola. no século XVIII a influência veio da França. pois isso limitava o direito da propriedade. do momento ideológico que se impõe em meados do século XVIII representando a crítica da burguesia culta ao modo de vida da nobreza e do clero. Podemos perceber que era um tempo de transformações em toda a Europa. Frei Luís de Sousa. além de uma crise de identidade do povo português que se esforça em preservar sua cultura e sua língua. embora perceba a impossibilidade de ignorar as influências culturais espanholas. apesar de procurar seguir alguns dos passos dessas transformações convive ainda com o peso de uma tradição ideológica fundamentada em dogmas e princípios arraigados na cultura medieval. Neste período. Vive-se. pois se acredita que para expandir a produção fazia-se necessário conhecer as propriedades da matéria. o Século das Luzes. agora. O século XVIII representou também para os 33 . O desenvolvimento das técnicas de produção acarretou a grande evolução das ciências naturais. sob o qual permanece durante 60 anos. cartas e obras proféticas. às formas. Francisco Manuel de Meio. Portanto. às técnicas e às expressões clássicas. Arcadismo ou Neoclassicismo O Arcadismo ou Neoclassicismo é o período que caracteriza principalmente a segunda metade do século XVIII e deu as artes uma nova tonalidade burguesa. o Iluminismo burguês. XVI. São contra a constante intervenção do poder real na economia. É importante salientar ainda a presença de outros escritores desse momento como D. o medievalismo e renascimento. o que não significa ter o país se ausentado por completo dessas mudanças. os filósofos passam a acreditar que a razão é a única fonte de conhecimento da natureza e da vida em sociedade. cientistas e filósofos não aceitam. o Barroco acontece em meio ao fracasso econômico. O início do Barroco em Portugal é marcado por dois fatos importantes que modificam a vida cultural e política do país. Sebastianismo e patriotismo. O Arcadismo é a expressão. Podemos apontar como principais características do movimento o dualismo: razão e emoção. visa um retorno renovado aos gêneros. nos constantes ataques dos filósofos burgueses aos poderes real e clerical e na denúncia da corrupção dos costumes. Sua força política se manifesta a partir de 1750. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir na África. Considerado o maior prosador barroco. Desse modo. mas político e profético. recrudescimento da inquisição. O principal representante desse movimento foi Padre Antônio Vieira que se dedicou a uma atividade literária bastante diversificada. o conceptismo e cultismo. politicamente forte e responsável pelo desenvolvimento da economia. a morte de Camões e a de D. estagnação cultural. na literatura. a religião e a Igreja são vistas como instrumentos de ignorância e tirania. que vingaram em Portugal no séc.RESUMINDO. Sóror Mariana Alcoforado e Antônio José da Silva. no plano político.. era conceptista e não apenas religioso. os historiadores de Alcobaça. Mas Portugal. compreendendo sermões. Derivado do espírito crítico do Iluminismo.. mas especificamente da burguesia francesa. Este último evento acarreta a incorporação de Portugal ao domínio espanhol. Ao mesmo tempo em que recebe forte influência da Contra-Reforma. Assim. pretendeu reformular o ensino os hábitos e o comportamento social em prol dos ideais da burguesia em ascensão. o Estado absolutista e suas instituições. pertence tanto à literatura portuguesa quanto à brasileira. De espírito reformista. o escritor árcade elegeu alguns princípios orientadores de sua escrita: A arte devia ser regida pelo princípio da verossimilhança. Pregam a volta aos clássicos antigos (greco-latinos) e quinhentistas principalmente. nada mais restando aos posteriores do que seguir-lhes as pegadas. Parte-se do pressuposto de que a beleza absoluta foi atingida por estes escritores. à riqueza e à ambição. Acreditando que esta representou o desequilíbrio e a decadência dos valores clássicos. Estudo Em 1756. para tanto. Quanto à estrutura literária ainda seguem os modelos antigos. educacional e cultural. Camões. Características do movimento: Empenhados em restaurar a literatura clássica e combater a arte barroca. mas rica em realizações espirituais (aurea mediocritas). sobretudo da natureza. (carpe diem) na contemplação da beleza e da natureza. que enfraquecem o homem e elogio da vida serena. Tais posturas originaram um amplo debate sobre a necessidade de renovar a cultura portuguesa. Racionalismo. devendo. político. O gozo pleno da vida. o ministro Marques de da Literatura Pombal. Deve-se salientar que as características da estética arcádica dizem respeito exclusivamente à poesia. defendem. Dentre as mudanças efetuadas. querem restabelecer a simplicidade da arte renascentista. Reivindicam também o emprego de metros simples e ressaltam a importância da mitologia. Inicia-se. uma vida medíocre materialmente. Fuga da cidade para o campo (fugere urbem). ser constituída de imaginação. merece destaque a proibição do ensino jesuítico e sua substituição por uma educação renovada e mais progressista. pois a primeira é considerada foco de mal-estar e corrupção. Antônio Verney. assim. mas de uma imaginação que não se chocasse com a “natureza das coisas”. uma nova etapa literária empenhada em expressar o repúdio às coisas inúteis (inutilia truncat) que adornavam a poesia barroca. o campo. neoplatonismo. no culto permanente das virtudes morais. Portuguesa promove uma série de medidas que coloca Portugal num clima de efervescência cultural. atrelar a imaginação à razão. Idealização amorosa. plácida pela superação dos desejos carnais. apoiado por diversos intelectuais. Elogio da vida simples. assim. Manuel Nicolau Esteves Negrão e Teotônio Gomes de Carvalho. em especial Pe. por sua vez. portanto. funda-se a Arcádia Lusitana por iniciativa de Antônio Dinis da Cruz. pretendia-se. recuam no tempo até à Antiguidade greco-latina em busca da mitológica Arcádia e dos princípios norteadores da nova arte. minuto a minuto.portugueses o início de um processo de modernização nos setores econômico. Adotam pseudônimos pastoris para que o “fingimento” poético seja maior e imaginam-se vivendo num mundo habitado por deuses e ninfas. utópicos. resguarda o homem mantendo-o natural. portanto. convencionalismo amoroso. José (1750-1777). a razão deve governar a emoção. síntese de espontaneidade e simplicidade. administrativo. Desprezo ao luxo. numa Natureza e num tempo fictícios. a separação de gêneros e a abolição da rima por considerá-la uma contrição para o pensamento e o verso. esta não 34 . A partir do reinado de D. pois embora se cultivasse a prosa. poeta que foi consagrado pela imaginação popular como autor de piadas e anedotas picantes. marca-lhe a vida com suas grandezas. nem zombeteira. fonte de uma permanente irritabilidade e orgulho desmedido e pressente-se a sua inconstância amorosa exacerbada por um temperamento impulsivo e inclinado a um ciúme delirante. a produção de sonetos. a satírica e a lírica. mas extremamente contundente. mais do que qualquer outra. Bocage possui vasta obra poética. incapaz de perdoar. Escreveu em todos os gêneros literários em voga no seu tempo . considerado por vários estudiosos como um poeta pré-romântico. libertinos e satíricos e ainda filosóficos. nada escapa à crítica ou maledicência de Bocage. a sua obra. epigramas. odes. Mas. o sofrimento. percebendo a estreita união existente entre os dogmas da Igreja e o poder absolutista dos reis. demonstrando a mesma qualidade de estilo. por sua originalidade e pessoalismo. senhores todo-poderosos. perfeito na adequação e no apuro do vocabulário. esperanças e desajustes. a morte.em todas elas. epístolas.obedecia às regras rigorosas do arcadismo. grosseira. sua poesia anuncia os primeiros valores do Romantismo em Portugal. A veia satírica de Bocage diferencia-se dos poetas anteriores por não ser impessoal. buscava-se. uma luta constante entre a razão iluminista e a emoção. sendo o poeta. popularmente menos conhecida. heróicos joviais. fábulas . retratando nela o seu drama poético indissociável do seu drama pessoal. a ânsia do locus amenus. Todavia. Representantes do movimento Manuel Maria Barbosa du Bocage Bocage é o pastor Elmano Sadino da Nova Arcádia. Sentimentos desmedidos transformam-se em matéria poética na qual perpassa a natural indisciplina do poeta. é permeada de experiências pessoais. legada pela tradição literária. Apesar de ser fortemente influenciado pelo estilo dominante em sua época é comum encontrar na poesia de Bocage. 35 . portanto. sua poesia. mulheres esquivas.idílios. na fluência da dicção e na sedução melódica. particulariza. a mais comentada pela critica literária que a considera sua produção superior. Nessas poesias revela-se a orientação do academicismo do século XVIII como a presença do pseudônimo pastoril. nas suas composições combina elementos neoclássicos com o gosto pelo pré-romantismo como a solidão. Inúmeros aspectos sociais da época não escapam à sua crítica mordaz. ilustrando o fugere urbem. nem genérica. morais e devotos. ainda. da mitologia clássica. é a poesia lírica de Bocage. misérias. o amor-ciúme. critica o poder. sobretudo nos sonetos. Essas transgressões fazem de Bocage um poeta de transição entre o Neoclassicismo e o Romantismo. em duas vertentes principais. canções. Escritores. além desse anedotário acrescido pelo gosto popular. Mas. o equilíbrio e a simplicidade formal e de conteúdo. principalmente nos poemas escritos depois de sua prisão. a clareza absoluta. feita de sarcasmo e ditada por um amor-próprio ferido. frades. Nessa luta dolorosa e angustiante a emoção sobrepuja a razão. mas nos sonetos surgem composições de tipos completamente diferentes: eróticos. Sendo um movimento de oposição aos exageros do Barroco. o Iluminismo burguês e visa-se um retorno renovado aos gêneros. O Arcadismo é a expressão. pré-romântico pelo tom confessional de alguns poemas. outros autores participaram do movimento árcade. ainda. Domingos Caldas Barbosa Portuguesa e padre José Agostinho de Macedo que faziam parte da Nova Arcádia. o curioso é que essas sátiras criticavam exatamente os poetas que viviam da mendicância de favores. Vive-se.poeta satírico. esse século representou para os portugueses o início de um processo de modernização nos setores econômico. porém. Alguns poetas. Um outro escritor que não participou de nenhuma academia foi Nicolau Tolentino de Almeida. pretendeu reformular o ensino os hábitos e o comportamento social em prol dos ideais da burguesia em ascensão no país. a imitação dos clássicos.. educacional e cultural. embora Portugal tenha procurado seguir alguns dos passos das transformações em voga. administrativo. como Antônio Dinis da Cruz e Silva. inclusive Garrett e poetas brasileiros.. De espírito reformista.Outros autores Além de Bocage. com o peso de uma tradição ideológica fundamentada em dogmas e princípios da cultura medieval.poeta satírico e lírico considerado árcade e pré-romântico e Filinto Elísio que renovou linguagem literária em Portugal. exerceu influência em muitos escritores do romantismo. às formas. como Filinto Elísio pseudônimo do padre Francisco Manuel do Nascimento. O Arcadismo ou Neoclassicismo caracteriza a segunda metade do século XVIII e deu às artes uma nova tonalidade burguesa. 36 . o ideal de vida pastoril (locus amenus) e a oposição ao Barroco: inutilia truncat. desse momento ideológico representando a crítica da burguesia culta ao modo de vida da nobreza e do clero e teve como características o racionalismo. grande representante da crítica aos costumes sua obra é constituída de sátiras e de homenagens aos poderosos dos quais dependia. convive. às técnicas e à expressão clássicas. RESUMINDO. Padre Antônio Correia Garção. o princípio da verossimilhança. renegaram a Arcádia ou fundaram grupos para combatê-la. agora. Manuel Maria Barbosa du Bocage . Mas. na literatura. Surgimento das Academias de Ciências e as Academias Literárias. Apesar disso. Principais autores: Nicolau Tolentino de Almeida . que pretendia renovar a linguagem literária. Domingos Estudo da Literatura dos Reis Quita pertencentes à Arcádia Lusitana. político (Despotismo Esclarecido). Antônio Vieira. quando conquista uma alma. mas. Ora que caso pode haver maior! Novo modo de morte. por que não perca a pena o seu rigor. porém o primeiro rendido é o entendimento.” Luís de Camões. porque assim o pedia o coração. mas há de ser inclinação que eu tenho contra mim.Complementares O amor e a razão Pinta-se o amor sempre menino. Pois nunca houve fraqueza no querer. mas antes muito mais se esforça assim um contrário com outro por vencer. Sermão do Mandato. O amor deixará de variar. 2.. Mas a Razão.. que não houvesse fraqueza no juízo. que a luta vence. Usar de razão e amar são duas coisas que não se juntam. a partir do que foi estudado. mas não deixará de tresvariar. que o fumo não cegasse o entendimento. Atividades 1. In rimas 37 . Ninguém teve a vontade febricitante. porque ainda que passe dos sete anos [. identifique as características próprias do estilo de época: Sempre a Razão vencida foi de Amor. se é amor. Tal é o amor vulgar. se for firme. que não tivesse o entendimento frenético. Nunca houve enfermidade no coração. A alma de um menino que vem a ser? Uma vontade com afetos e um entendimento sem uso. (Pe. In Sermões) O jogo de oposição de idéias é típico do Barroco. quis Amor ser vencido da Razão. Tudo conquista o amor. Justifique essa afirmativa com base no texto acima. A razão e o amor sempre foram discutidos pelos poetas e escritores. enfim. Nunca o fogo abrasou a vontade. não creio que é razão. e nova dor! Estranheza de grande admiração. que perde suas forças a afeição. Veja um soneto de Camões com o mesmo tema do texto anterior e.] nunca chega à idade de uso da razão. é lançada. alto e profundo. 38 . explique os dois primeiros versos. Se é justa a justa Lei que sigo e tenho! Nunca juízo algum. esclarecendo o motivo da maldição que. Texto para as questões 4 e 5 Oh! Maldito o primeiro que. Nas ondas vela pôs em seco lenho! Digno da eterna pena do Profundo. faça o que se pede: da 3. Nesse caso.) a) A que tipo de composição medieval relaciona-se o texto? b) Justifique sua resposta.Ao analisar o texto. (Camões. Os Lusíadas) 4. Mas contigo se acabe o nome e a glória. Te dê por isso fama nem memória. Literatura Portuguesa Estudo Abandonada por você Apaixonada por você Eu vejo o vento te levar Mas tenho estrelas pra sonhar E ainda te espero todo o dia (In Fafá: Pássaro sonhador. Considerando este trecho da fala do velho do Restelo no contexto da obra a que pertence. Nem cítara sonora ou vivo engenho. neles. no mundo. é possível dizer que ele revela traços em comum com os cantares trovadorescos. Nesse sentido. O comportamento romântico caracteriza-se por uma atitude emotiva e subjetiva diante do mundo no qual o sujeito está imerso. e ao aparecimento do Liberalismo em política.5. 39 . DO ROMANTISMO À LITERATURA CONTEMPORÂNEA DO ROMANTISMO AO SIMBOLISMO: PERÍODO DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES LITERÁRIAS Romantismo: Contexto Histórico e 1ª Geração O Romantismo corresponde não só a uma revolução literária. econômica e social da época. Contexto Histórico O Romantismo é proveniente de dois acontecimentos marcantes na segunda metade do século XVIII na história européia: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. mas designa. responsáveis pela abolição das monarquias aristocratas e pela introdução da burguesia que. Enfim. abre-se um ciclo de cultura novo. correspondente à diminuição do poder das oligarquias reinantes em prol das monarquias constitucionais ou das repúblicas federadas. explicando-a brevemente. Com esse movimento. O romântico idealiza um universo melhor. defendendo a idéia da expressão do eulírico. o ideal romântico tenta colocar o universo presenciado de forma subjetiva. também. dominava a vida política. no qual prevalece o tom melancólico e nostálgico. uma tendência geral de vida e de arte. a expressão do sentimento não precisa obedecer a nenhuma regra. Identifique essa concepção. antes adorada pelos clássicos. moral. está implicada uma determinada concepção da função da arte. Nos quatro últimos versos. O movimento romântico recusa a cosmovisão racionalista e a estética neoclássica a ela ligada. arte etc. então. O rei D. Com o domínio burguês. Diante de tantas turbulências. representante do liberalismo. Enquanto o realismo tomava forma no horizonte parisiense. além de defender a mistura dos gêneros literários. envolve-se com o teatro de William Shakespeare. enquanto o público paga para consumi-la. De um lado. por estar presenciando o Romantismo inglês. instaurando novos modos de expressão artística e cultural? 40 . levando muitos deles a exilar-se em Inglaterra e França. pela via indireta dos exílios a que se sujeitaram Almeida Garrett e Alexandre Herculano. aproximandose da fantasia. Cultua-se o “eu” interior. que durou cerca de 40 anos terminando por volta de 1865 com a Questão Coimbrã ou Questão do Bom Senso e do Bom Gosto. que passa a ser considerado o ponto de partida para a fixação da cronologia do romantismo português. econômicas e sociais intervêm em todos os campos da sociedade do século XIII. que havia se refugiado no Brasil. a luta pelo trono português continua com veemência gerando conturbação e desordem interna na nação. João VI os absolutistas apoderam-se do poder e iniciam uma perseguição aos liberais. uma nova fase moderna da vida econômica e social. O escritor romântico projetava-se para dentro de si. e tudo o que é provocado pelo impulso é permitido. numa espécie de escapismo por não aceitar a realidade que o cerca. com as mudanças econômicas ocorridas no Brasil a partir de 1807 provenientes da chegada da corte de D. tendo como fonte o eu-lírico. Miguel. Dentre as características do movimento destacam-se pela recorrência nas obras do período: Subjetivismo. Alguns autores chegam a assegurar que esta afirmação só houve como uma cultura de importação. mas como deveriam ser. João VI. egocentrismo escapismo: O escritor romântico trata os assuntos de uma forma pessoal. Almeida Garrett acaba por exilarse na Inglaterra. Garrett publica o poema Camões. Depois da morte de D. de outro. o artista romântico passa a idealizar tudo. A natureza e a mulher são importantes “ REFLITA Como as novas ideologias políticas. o romantismo português procurava ainda afirmar-se. as coisas não são vistas como realmente são. então regressa. sentimentalismo. de acordo com o que sente. encabeçada por Antero de Quental. numa atitude narcisista. Ainda com a família real fora de casa arrebenta em 1820. uma revolução em defesa da implantação do liberalismo no país a qual com o auxílio de Lisboa e do resto do país saiu vitoriosa. onde entra em contato com a Obra de Lord Byron e Scott. o processo de instauração do movimento romântico no país foi lento e incerto.da Literatura Portuguesa Estudo Em Portugal. Todavia os problemas em Portugal não terminam aí. João VI. Características O Romantismo foi uma forma de repúdio às regras que contornavam e preenchiam o campo literário da época – o classicismo. Em 1825. D. João VI. inicia-se. os românticos buscavam a total liberdade de criação. Exaltam-se os sentidos. seu irmão absolutista. ocorre a profissionalização do escritor. em que o individualismo prevalece. no Porto. Opondo-se às regras e modelos. segundo uma ótica pessoal. D. que recebe uma remuneração para produzir a obra. Idealização e culto ao fantástico: motivado pela fantasia e pela imaginação. Ao mesmo tempo. retornam à Idade Média e cultuam seus valores. Recorria também à presença do mistério. Pode-se falar. Os românticos almejavam a reabilitação do cristianismo praticado na Idade Média. que não conseguem enquadrar-se no contexto social e que tampouco querem fazê-lo porque a sociedade só iria cindi-las ainda mais. mesmo. inquietação. Medievalismo: Há um grande interesse dos românticos pelas origens de seu país. em que somente as qualidades são enaltecidas. estando no encalço do homem em estado “natural”. O romântico era pessimista também em relação à sociedade e à civilização. que foram de algum modo infelizes: vida trágica. Não pode nem deve ser retocada. que. no nacionalismo. Os ideais românticos dessa geração estão embasados na pureza e originalidade. de seu povo. Desse modo. podemos falar em três momentos diferenciados tanto no que concerne às idéias preponderantes como aos autores que se destacaram. patriotas exilados. Não acredita nem em uma nem em outra. Religiosidade: Como uma reação ao Racionalismo materialista dos clássicos. e aproximando-se da linguagem coloquial. cai em profunda tristeza. A métrica. Pessimismo: O artista vê-se diante da impossibilidade de realizar o sonho do “eu” e. Decorem disso o sentimento de inadequação social. em um interesse romântico pelo exotismo e pelo indianismo. A vitória das idéias românticas em Portugal não foi rápida nem do mesmo modo durante todo o período que compreende o movimento. a centelha intuitiva é o verdadeiro guia do escritor romântico. A inspiração instantânea. Nativismo: Fascinação pela natureza. O homem deve realizar-se na criatividade e na sensibilidade. Geralmente. da força da paisagem. Muitas vezes. angústia. Na Europa. o romântico se põe a procurá-lo em outras regiões que se distinguiam pela presença dos denominados “selvagem” ou “indígena” pela diferença acentuada de seu modo de “bárbaro” e “bizarro” em relação aos padrões europeus e ocidentais. o Romantismo não veio implantar-se totalmente nos primeiros 41 . frustração. frutos da pura fantasia. que não carecem de fundamentação lógica. de forma exagerada. solidão. Até na escolha do herói. Como toda tendência nova. A sua criação é fruto da pura espontaneidade. desespero. pregava a idéia de uma natureza humana primitiva. Primeira Geração Atuante a partir de 1825 é ainda bastante ligado ao Classicismo. o romântico dificilmente optava por um nobre. mas muito contribuiu para a consolidação do liberalismo em Portugal. o nacionalismo romântico é exaltado através da natureza. também. tão valorizados pelos clássicos. usa o verso livre e branco. amantes recusados. Liberdade de criação: O escritor romântico recusa formas poéticas. libertando-se dos modelos greco-latinos. representando o sonho. a vida espiritual e a crença em Deus são enfocadas como pontos de apoio ou válvulas de escape diante das frustrações do mundo real. algo divino. torneada e acabada por critérios artesanais. Nacionalismo: Também chamada de patriotismo é a exaltação da Pátria. o homem idealizava a mulher como uma deusa. adotava heróis grandiosos. muitas vezes personagens históricos.pontos desse momento. suicídios. vai sendo corrompida pela cultura. historicismo e medievalismo. no entanto. Luta entre o liberalismo e o absolutismo: Poder do povo X poder da monarquia. pois. Sentem-se criaturas infelizes e desajustadas. a aflição e a dor que induz o sujeito à busca de evasão da realidade por meio de fugas ou. do uso da razão. desse modo. por ser uma época obscura. a imaginação. a rima. não podem ser empecilhos para a explosão sentimental do poeta. do sobrenatural. prosa e ensaios. passou a se dedicar ao teatro. o qual entrou em contato com o de Shakespeare quando em exílio na Inglaterra. Foi na prosa que se destacou. Almeida Garrett teve uma obra extensa. tornou-se segundo-bibliotecário na Biblioteca Municipal do Porto. Foi embaixador. mas ainda clássicos em muitos aspectos. Inicialmente. prevalece o caráter histórico dos enredos. Escreveu Camões (1825) inspirando-se na epopéia Os Lusíadas. foi nomeado bibliotecário na Biblioteca Real da Ajuda. o Presbítero. apagar os modelos clássicos que ainda permeavam o meio sócio-econômico. Na vasta obra de Garrett encontramos. onde aprimora os estudos. Miguel). ocorrem muitos temas de caráter religioso. Em 1833. Quando aconteceu a revolução de 1823. Em 1816 voltou a Portugal para estudar em Coimbra. Voltou a Portugal mais tarde. Garrett cultivou a oratória parlamentar. o pensamento pedagógico e doutrinário. soldado (durante a luta contra o absolutista D. Quanto à sua obra não-ficcional. por apresentar características que viriam se firmar no espírito romântico: versos decassílabos brancos.da Literatura Portuguesa momentos em Portugal. Os escritores dessa época eram românticos em espírito. além de Camões. onde se tornou funcionário público. ministro. jornalista. A narrativa é uma biografia sentimental de Camões. mas demitiu-se três anos depois por discordar dos políticos dominantes. Garrett exilou-se na Inglaterra e depois na França. poema considerado introdutor do Romantismo em Portugal. Em 1834. e a grande combinação dos gêneros literários. Escreveu também muitos contos. mas retornou à Inglaterra pela ocasião da subida ao poder de D. Além disso. a poesia. Ficou conhecido por suas narrativas históricas e tornou-se um intelectual atuante nos programas de reformas da vida portuguesa. Na ficção de Herculano. a prosa de ficção e o teatro. uma vez que se baseia não mais em ações individuais. voltados para a Idade Média. já que sua família fugiu para lá pela ocasião da invasão de Portugal por Napoleão. melancolia. Em 1839. Em decorrência da situação política em Portugal é obrigado a exilar-se na França. subjetivismo. Garrett foi educado nos Açores. o jornalismo. buscava-se. Herculano escreveu poesia. após a vitória dos liberais. Miguel. a qual inspirou seus melhores poemas. nostalgia. Almeida Garrett João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854) foi o introdutor do Romantismo em Portugal. mas no conflito de classes sociais para explicar a dinâmica da história. Teve uma vida sentimental bastante atribulada em que se sobressai o seu romance adúltero com a viscondessa da Luz. parlamentar. Editor de revista no meio tempo. que contempla desde o resgate do teatro português – com seus grandes autores como Gil Vicente – a uma renovação da poesia e incursões na prosa. os críticos consideram que renovou a historiografia. enfocando as origens de Portugal como nação. gradativamente. Estudo Alexandre Herculano Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (1810-1877) foi um dos líderes do Romantismo português. ideal e ação política e literária. 42 . Cinco anos depois se mudou para Lisboa. principalmente com Eurico. Augusto Frederico de Castilho.). Amor e Melancolia ou a Novíssima Heloísa (1828) Tratado de Versificação Portuguesa (1851). e o grupo O Novo Trovador. caindo fatalmente no exagero. Na prosa de ficção agrupam-se três obras: Viagens na minha terra. Pode-se perceber a partir desse momento maior emoção nas obras. A Primavera (1822). desequilíbrio. Ana Plácido. mas já na metade de sua vida apresentava traços românticos bem acentuados. Dona Branca (1826) e Lírica de João Mínimo (1829). pessimismo. O arco de Sant‘Ana e Helena. suicidase com um tiro na cabeça. deprimido pela cegueira iminente e a demência do filho. A partir de 1842. criticava as renovações da Literatura Portuguesa e foi o iniciador da Questão Coimbra. sentimentalismo. dentre outras. mulher casada. o marido a processa por adultério. pela vida aventuresca e trágica que levou. acontecimentos dramático e finais trágicos. desfazem-se os enlaces arcádicos que ainda envolviam os escritores da época. fantasia e liberdade de expressão. Em 1858. tudo expresso numa linguagem fácil e comunicativa. Algumas de suas obras: Cartas de Eco a Narciso (1821). Camilo Castelo Branco impressiona. O Outono (1863). melancolia. desespero. Os poetas ultraromânicos reuniram-se em três grupos principais: o dos medievalistas. em 1890. Foi também tradutor. A Chave do Enigma (1861). Os escritores tomam atitudes extremas. um segundo grupo liderado por João de Lemos de Seixas e Castelo Branco. Teve como principal papel traduzir poetas clássicos. dando maior ênfase ao tédio.outros poemas como Retrato de Vênus (1821). nota-se com plena facilidade o domínio da estética e da ideologia romântica. Camilo Castelo Branco Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825-1890) foi um escritor romântico e. novelas passionais. Neste momento. Tendia a escrever sobre situações ridículas e originais. Felicidade pela Instrução (1854). Sempre combativo. Romantismo: A 2ª e 3ª Gerações Segunda Geração Também conhecido como Ultra-Romantismo. 43 . Aqui. Começou sua carreira como um poeta árcade. Ana Plácido morre. passou a dirigir a “Revista Universal Lisbonense”. acontece entre os anos 1838 e 1860. Com muita força de vontade conseguiu se formou em Direito na Universidade de Coimbra. que o incentivou a continuar a estudar. Em matéria de teatro produziu entre outras Um auto de Gil Vicente (1838) O Alfageme de Santarém (1842) Frei Luís de Sousa (1843) Dona Filipa Vilhena (1840). Em 1885. Órfão de pai e mãe casa-se aos 16 anos com uma aldeã que abandona em seguida com uma filha. transformando-se em românticos descabelados. Antônio Feliciano De Castilho Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875) perdeu a visão quase completamente aos 6 anos. a contragosto. Contou com o apoio de seu irmão. um escritor realista depois (Ele muito criticou e se opôs a esta escola. abandona o marido e vai viver com Camilo. o que lhe permitiu exercer influência sobre o meio cultural português. nos temas soturnos e fúnebres. marcado pelo exagero. primeiro que tudo. Obra: Poesias (1855). Pinheiro Chagas e Júlio Dinis. cultivava em suas obras a liberdade. Esse período é marcado pela presença de poetas. impulsionado por angústias metafísicas e religiosas que decorre a poesia do autor. Os poemas de Júlio Dinis armam-se sobre uma tese moral e teleológica. confiante na vitória do homem. conduz suas histórias. lírica e de imediata comunicabilidade. é considerado um dos poetas ultra-românticos portugueses mais importantes. que foi seguida por Amor de Salvação. sim. Terceira Geração Acontece. Autor de obra vastíssima. todavia. embora remota. Cultivou o romance do namoro ambientados no campo. poesia delicada. inicialmente romântica. acabando por cair em extremo pessimismo. Escreveu em colaboração com outros autores. um tardio florescimento literário que corresponde ao terceiro momento do Romantismo. não considerando a heroína como “mulher demônio”. Tomás Ribeiro. muitos poetas da época publicaram algo. Mesmo tendo uma vida curta. em 1882. Soares de Passos constitui a encarnação mais significativa do “mal-do-século”. nasceu em 1839 e faleceu em 1871. aderiu ao realismo com A Brasileira Estudo da Literatura de Prazins. como João de Deus. Soares Passos reuniu todas essas poesias publicadas em um livro chamado “Poesias”. Júlio Dinis Pseudônimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho. sempre a um epílogo feliz. 44 . Escreveu romances. mas não ficou restringido a estas obras: publicou muitas novelas – com destaque para Maria Moisés – livros de poesias e peças de teatro. traduziu. Visão detalhada do ambiente. um incrível desalento derrotista. que purificam até o extremo as características românticas. aqui. em fusão dos remanescentes do Ultra-Romantismo. para a espécie humana. mas. como “mulher anjo”. tendo escrito Eusébio Macário em 1879 ridicularizando Portuguesa esta escola recém-introduzida. editou e foi jornalista. o eixo ao redor do qual gira toda a importância do autor é constituído pela novela passional. É desse dilema. Soares de Passos Antônio Augusto Soares Passos (1826-1860) filho de família burguesa estudou na Universidade de Coimbra onde fundou o jornal “O Novo Trovador”. Vivendo na própria carne os devaneios de que se nutria a fértil imaginação de tuberculoso. Sua obra mais importante é Amor de Perdição. sua vida e sua obra espelham claramente o prazer romântico do escapismo das responsabilidades sociais da época. Em 1856. Nele. frontalmente contrária à desesperação e ao amoralismo cético dos ultra-românticos. Considerado pela crítica como pré-realista.Produziu obras ultra-românticas e satíricas. exaltação cívica. Bulhão Pato. na medida em que pressupõem uma melhoria. reflexo da dor pessoal. Xavier de Novais. e também poesias e teatro. sua principal obra. numa linguagem coerente. sendo As Pupilas do Senhor Reitor. o nacionalismo e o pessimismo. Foi admirado pelos realistas. econômicas e sociais. Em Portugal inicia-se. o idealismo amoroso e a visão espiritualizada da mulher. João VI. responsáveis pela abolição das monarquias aristocratas e pela introdução da burguesia que então dominava a vida política. o sentimentalismo. uma nova fase moderna da vida econômica e social. 1. Faye Dunaway A melhor parte do amor é perder todo senso de realidade. lírico de incomum vibração interior. a se deixar estimular concretamente. Don Juan visa o poder em suas relações amorosas: sacrificar as mulheres à sua glória. a liberdade de criação. o egocentrismo e escapismo. 1995) DIREÇÃO: Francis Ford Coppola ELENCO: Marlon Brando. o nativismo.. o medievalismo.João de Deus João de Deus Ramos (1830-1896). A introdução do Romantismo O movimento romântico aparece vinculado a dois acontecimentos importantes da segunda metade do século XVIII europeu: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. mantinha. intervêm em todos os campos da sociedade que instaura novos modos de expressão artística e cultural. pôs-se à margem da falsa notoriedade e dos ruídos da vida literária e manteve-se fiel até o fim a um desígnio estético e humano que lhe transcendia a vontade e a vaidade. com as mudanças econômicas ocorridas no Brasil a partir de 1807 provenientes da chegada da corte de D. Contemplativo por excelência. no entanto em algumas obras. O termo foi introduzido em Portugal por Almeida Garrett. Johnny Depp. arrebenta em 1820. retoma a tradição lírica portuguesa. no Porto. As novas ideologias políticas. uma revolução em defesa da implantação do liberalismo no país. Teófilo Braga foi quem reuniu seus poemas e publicou-os sob o título Campos de Flores (1893). Os autores desse movimento enfatizavam o subjetivismo. Sua poesia biparte-se em lírico-amorosa e satírica. sua poesia é a de um “exilado” na terra a mirar coisas vagas e. Escritor apenas de poesia. Considerado pela crítica como pré-realista. participando tanto do Arcadismo como do Romantismo. a religiosidade. ! Indicação de Filme TÍTULO DO FILME: Don Juan DeMarco (Don Juan DeMarco. Ainda com a família real fora de casa. RESUMINDO. “Camões” – considerado o primeiro poema romântico 45 . e sua dominação se exerce de forma teatral. Pertencia à tradição do Iluminismo. Don Juan é um personagem literário que se converte em mito. por vezes.. Suas principais produções foram na poesia “Retrato de Vênus” – obra que escandalizou os conservadores –. a idealização e culto ao fantástico. Diante de tantas turbulências o processo de instauração do movimento romântico no país foi lento e incerto. econômica e social da época. o amor é o motivo permanente de sua poesia. pela glória dominar os homens. EUA. escritor de vida amorosa intensa e militante político. Suas principais produções foram As Pupilas do senhor reitor. possuía um método objetivo de investigação e documentação. que apresenta uma correlação com os temas de sua obra. Um outro escritor de destaque é Soares de Passos. 3. A transição para o Realismo Acontece. fora um escritor caricaturizado pelos escritores realistas e escreveu “Noivado do Sepulcro”. História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal. Uma Família Inglesa. Na ficção. o presbítero. ainda. estômago e A queda dum anjo ainda as novelas de influência realista EusébioMacário. um dos grandes prosadores em língua portuguesa. Suas principais produções foram História de Portugal. sua principal produção literária é o Campo de Flores. São considerados ultra-românicos o escritor Camilo Castelo Branco. O santo da montanha e A filha do regicida . melancolia. Merece destaque também Alexandre Herculano. mais significativo na prosa de ficção. Fez uso da técnica folhetinesca. sendo as passionais as mais típicas. sentimentalismo. Ênfase ao tédio. formado dentro do Romantismo. O ultra-romantismo O período considerado de transição para o Realismo é marcado pelo exagero. romance com grande observação da realidade e de denúncia da oligarquia. desequilíbrio. considerado um paradigma do poeta ultra-romântico. desse estilo são as obras O bobo. as novelas passionais Amor de Perdição. tendo se notabilizado como autor de novelas. 2. escritor liberal Portuguesa moderado. Suas principais produções foram as novelas de mistério ou terror Os mistérios de Lisboa e Livro negro de padre Dinis. Escreveu. e “Frei Luís de Sousa”.Portugaliae Monumenta Histórica. ligando-se à formação da consciência da classe média liberal-burguesa. poesia e uma coleção documental . preocupava-se com o problema da integração entre a matéria histórica e ficcional. de grande coerência política que se empenhou em fazer uma pesquisa histórica para definir nacionalidade.português e “Folhas Caídas” seus poemas mais românticos. acontece entre os anos 1838 e 1860. Além de poemas. aqui. afasta-se do passionalismo ultra-romântico para enfocar as tensões psicológicas das personagens atreladas à situação sócio-econômica. as novelas históricas O judeu. Na História. também as novelas satíricas Coração. Amor de Salvação e A Doida do Candal. que atualiza as formas poéticas da tradição popular e tem como característica o espiritualismo e a criticidade. uma obra-prima do teatro romântico português. Dono da biografia paixão e desgraças. Esse período é marcado pela presença de poetas. A Morgadinha dos Canaviais e Os Fidalgos da Casa Mourisca. É de sua autoria ainda na prosa o “Romanceiro” Estudo da Literatura uma Pesquisa de narrativas tradicionais. Carlota Ângela. Eurico. em fusão dos remanescentes do Ultra-Romantismo. um tardio florescimento literário que corresponde ao terceiro momento do Romantismo. A corja e A brasileira de Prazins As novelas do Minho. cabeça. Júlio Dinis. Bulhão Pato. Além desses dois autores merecem destaque Tomás Ribeiro. Pinheiro Chagas. como João de Deus. desespero. Xavier de Novais. pessimismo. 46 . fantasia e liberdade de expressão. O monge de Cister e Lendas e narrativas. escreveu “Viagens na minha terra”. cheias de problemas e limitações. tornando a obra um espelho da realidade. do amor adúltero. A civilização burguesa industrial começa a se firmar e as idéias de liberalismo e democracia ganham dimensões cada vez maiores. a captavam. É um período também de grandes descobertas científicas. por exemplo. a descrição de costumes e acontecimentos contemporâneos em seus mínimos detalhes. fiel. Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época. Diante de tantas mudanças. o grupo político dirigente dependia cada vez mais do 47 . no qual a ciência passa a ser cada vez mais defendida: antes de expor idéias é preciso prová-las cientificamente. Por conta disso. utilizando agora. o escritor realista irá enfatizar a localização precisa do ambiente descrito. opondose à metafísica. acusado de abordar temas desligados da vida comum. os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. à religião. por falta de dinamismo econômico interno. por falta de uma expansão da produção nacional. sem distorções. a reprodução da linguagem coloquial. O Realismo foi um movimento de oposição à idealização e ao subjetivismo do Romantismo.Realismo Contextualizando o Realismo A partir da segunda metade do século XIX. era a defesa do pensamento científico. ou melhor. as ciências naturais desenvolvem-se e os métodos de experimentação e observação da realidade passam a ser encarados como os únicos capazes de explicar racionalmente o mundo físico. da falsidade e do egoísmo humano. Em lugar do egocentrismo romântico. A Revolução Industrial entra em uma nova fase. Mas. o aço. Nesse sentido. preferiam a expressão simples. as exigências literárias também passam a serem outras. E. Na Europa. Em lugar de heróis. adere ao cientificismo e ao materialismo. analisar e até criticar a realidade. ainda. Em lugar de fugir à realidade. Não bastava mostrar a face sonhadora e idealizada da vida como fizeram os românticos. proferiam a realidade tal como ela era. surgem pessoas comuns. a eletricidade. às doutrinas filosóficas e sociais e assumindo atitudes liberais e republicanas redimensionam a literatura da época. Desdobramentos do movimento em Portugal Os homens da chamada geração de 70 acabaram de se formar depois de institucionalizado e consolidado o liberalismo em Portugal. verifica-se um enorme interesse em descrever. A visão subjetiva e parcial da realidade é substituída pela visão que procura ser objetiva. os realistas procuram apontar suas falhas como forma de estimular a mudança das instituições e dos comportamentos humanos. das cátedras universitárias aos bares boêmios. por outro lado. O desenvolvimento científico da época transformou a intelectualidade que. as novas instituições inseriam-se numa sociedade que sob o ponto de vista tecnológico. recriando-a através da narração ou da descrição. técnicas narrativas e descritivas perfeitas. principalmente o positivismo. o realismo teve início com a publicação do romance realista Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert. da impotência do homem comum diante dos poderosos. o determinismo e o darwinismo. econômico e mesmo social pouco progredia. o petróleo. familiar e regional e a busca da objetividade na descrição e análise dos personagens. aderindo ao pensamento científico. era preciso mostrar a face que ainda não haviam revelado: a do cotidiano massacrante. o ambiente sócio-cultural europeu apresenta significativas mudanças. negando a hipérbole e a retórica. Almejavam. a síntese e a exposição da realidade com uma verdade e neutralidade de emoções. e da sua figura central de Antero de Quental. que pintasse o real sem floreados. especialmente através da conferência realizada por Eça de Queiroz intitulada “O realismo como nova expressão da arte”. VOCÊ SABIA QUE. iam. Eça de Queiroz funde as teorias de Taine. . O movimento realista operou mudanças radicais na consciência literária e na mentalidade dos intelectuais do país. da fantasia. também. embora tardiamente. polêmica literária que opôs. É nessas condições que as novas idéias européias penetraram. “ 48 O Realismo firmou-se em Portugal como resposta à artificialidade. o estado das letras nacionais e propondo uma nova arte.. sem deturpações a literatura deveria funcionar como espelho e por meio dela a sociedade burguesa do tempo veria patenteada sua decomposição moral. Pretendiam. ao contrário do romantismo que parecia estar vazio de idéias. a arte engajada. Eclodiu com a chamada Questão Coimbrã. uma impassibilidade na análise do real. constituíam a massa de manobra dos partidos Portuguesa governantes. em 1871. como um retrato dessa mesma realidade. uma massa de descontentes formada pela pequena burguesia industrial e o resíduo do artesanato. de outro. A estética literária realista caracterizava-se por um conteúdo ideológico profundo. na dependência imediata dos poderosos locais. arma de combate. uma arte revolucionária. na análise psicológica dos tipos. mas ainda a tempo de criar certo mal-estar e gerar polêmicas entre realistas e românticos em Portugal. só uma arte que mostrasse efetivamente como era a realidade. o trabalho do escritor devia consistir na observação e experiência. então. contra todos os sentimentos exagerados dos românticos e preferiam a análise. Emerge. pois. ou seja. visando mostrar os problemas morais e dessa maneira contribuir para aperfeiçoar a humanidade. no esclarecimento dos problemas humanos e sociais. isentando-a da retórica. mesmo que isso implicasse entrar em campos sórdidos. também. Ataca. poderia fazer um diagnóstico do meio social.. uma arte que agisse como regeneradora da consciência social. Pregavam uma arte revolucionária que reagisse contra o marasmo em que tinha caído o Romantismo. que respondesse ao “espírito dos tempos” (zeitgeist).capital bancário interno ou externo. Repudiando o reinado da “Arte pela Arte”. de um lado. com vista à sua cura. do determinismo social e da hereditariedade com as posições estético-sociais de Proudhon. À base. portanto. Os contornos do que seria o realismo apareceram com maior nitidez. mudos. assim como uma parte da burguesia comercial que tende a ficar fora do sistema. formalidade. reagia contra o espírito da arte pela arte. Foram importantes também para a consolidação do movimento as Conferências do Casino. Para Eça. Sob a influência do Cenáculo. Teófilo Braga e a geração de escritores surgida na década de 1860 e. exageros e a sentimentalidade mórbida do Romantismo? Para os representantes dessa nova literatura. Acreditava-se que somente essas teorias poderiam exprimir a problemática real do Homem. os representantes da geração anterior. os escritores realistas propunham uma literatura em que as teorias do positivismo. Antero de Quental. A natureza deveria ser recriada com exatidão. do socialismo e do hegelianismo fossem visíveis. no aperfeiçoamento da literatura. A obra literária passou a ser considerada utensílio. pregavam a arte comprometida com o social. nesta nova manifestação da chamada Geração de 70. Assim. de reforma e ação social. enquanto não se organiza o partido republicano. os Estudo da Literatura camponeses. tornando-se ortodoxos e dogmáticos. Eça vai desorientar os seus seguidores ortodoxos com a publicação de O Mandarim. Em ambos os romances. a literatura do tempo. que são caracterizadas por métodos de narração e descrição baseados numa minuciosa observação e análise dos tipos sociais. o Naturalismo. seguida dois anos mais tarde pelo Primo Basílio (1876). Toda a crença metafísica e moral era relegada ao universo das conjecturas. contra o clero. Desde a implantação do Realismo que o movimento logrou um núcleo de apoiantes que se empenhavam em explicar e defender o seu credo estético. na “revista de estudos livres” também insurgi contra a publicação de O Mandarim acusando Eça de ter atraiçoado o movimento. Pinheiro Chagas ataca Eça. A polêmica e a oposição entre Realismo e Romantismo instalam-se definitivamente. ridicularizando o novo estilo deste. também. enquanto as novas teorias filosóficas eram tomadas como base para o movimento. fazia-se necessário um esforço por analisar as causas biológicas ou sociais do comportamento das personagens do romance. Chegaram a aparecer panfletos acusando os realistas de “desmoralização das famílias” (Carlos Alberto Freire de Andrade: “A escola realista. um inconformismo com a tradição. O que faz com que Silva Pinto (1848-1911). considerada a única verdade válida. pelo modo como apresenta a sociedade portuguesa. nas idéias da hereditariedade e influência do meio. começaram a ser feitos inúmeros ataques contra a alta e média burguesia. O primeiro destes romances foi acolhido pelos críticos de então com um silêncio generalizado. a educação. A implantação efetiva do Realismo em Portugal dá-se com a publicação do O Crime do Padre Amaro (1875). vai agora atacar Eça em Realismos. físicos e psicológicos. curiosamente. muito mais panteísta. com o intuito de crítica de costumes e de reforma social.Os escritores realistas proclamavam uma religião sem dogmas. regra geral. Entretanto. desejavam fazer uma reforma da sociedade. além da severa crítica de costumes. Demonstravam. opúsculo oferecido às mães”) Camilo Castelo Branco vai parodiar o Realismo com Eusébio Macário (1879) e voltando a parodiar com A Corja (1880). enfim contra toda a sociedade com o objetivo que esta pudesse melhorar. Os defensores desta posição eram José Antônio dos Reis Dâmaso (1850-1895) e Júlio Lourenço Pinto (1842-1907) autor da “Estética naturalista”. contra a política. Todavia esse núcleo se resvalou. (1882). O segundo provocou escândalo aberto. para uma posição mais extremamente realista. como é nítido na novela A Brasileira de Prazins. a economia. que pretendia ser um evangelho do naturalismo. Assim. Pregavam a crítica social e de costumes por considerarem o passado estéril e o presente sem nada que se conseguisse aproveitar. considerando-o antipatriota. Acreditavam ainda em uma supremacia da verdade física. Reis Dâmaso. todavia estes autores foram considerados fracos do ponto de vista literário e esquecidos. com atitudes que chegavam a ser anticlericais. a educação e a hereditariedade a determinarem o caráter moral das personagens. aparecendo os fatores como o meio. obras ambas de Eça. que tinha exposto a teoria da escola realista e elogiado Eça num panfleto intitulado Do Realismo na Arte. tomam nítida feição naturalista. Mas. para que a literatura pudesse revestir-se de certo teor científico. Estas acusações não eram infundadas porque de fato Eça já estava a descolar de um realismo ortodoxo para o seu estilo mais pessoal onde o humor e a fantasia se aliam num estilo único. Camilo vai absorver a nova escola. Além disso. Aqueles que não enveredaram por posições tão rígidas estão menos esquecidos como Luís de Magalhães com a obra O Brasileiro 49 . mesmo através da paródia. muitos literatos consideravam que a sociedade portuguesa devia deixar de olhar constantemente para seu passado e começar a assentar novos princípios de justiça e dinamismo. São romances que têm afinidade com os de Émile Zola. a descrição minuciosa e a análise psicológica baseada em princípios deterministas. talvez em conseqüência de sua formação religiosa ou temperamento pende entre os extremos. o materialismo otimista graças ao progresso técnico. Nesta fase não é muito coerente com os postulados científicos que passa a defender. o arrebatamento e a eloqüência refletiam formas tardias da poesia social do último período romântico. com o desenvolvimento das ciências exatas e experimentais. Associando a beatice ao próprio Romantismo. contudo. a revolução republicana de 1910. uma vez que estavam conscientes da necessidade de fornecer a cultura portuguesa exemplos significativos em cada setor da atividade intelectual. ocasionalmente.Idealismo de Hegel.Soares (1886). Positivismo de Comte. com igual convicção. A partir de Os simples (1892). Em 1893. o Realismo/Naturalismo tinha perdido o seu ímpeto em Portugal. sobretudo. ao lado da poesia. refletindo uma visão lírica da vida 50 . tendo sido deputado e embaixador. De fato. um sentir novo. acalentou idéias revolucionárias e participou de alguns movimentos reivindicatórios. As obras marcantes desse período são: A morte de D. assim. Estudo Embora por vezes doutrinariamente fraco e/ou confuso o Realismo em da Literatura Portugal apresenta-se por isso mesmo. que essa geração. fixando-se no ponto alto das descobertas. que levam à crença nos princípios de justiça e igualdade. Como não podia deixar de ser. Com o próprio título. Foi. fez curso de Direito em Coimbra. e Evolucionismo de Darwin e Lamark. que se opôs ao Idealismo e ao Romantismo. Por volta de 1890. o que resultou em alguns poemas de ataque ou protesto. Alargando as escolhas literárias e renovando um meio literário que estava muito fechado sobre si mesmo. um poeta e. mais do que um movimento Portuguesa consistente. o poeta deu novo rumo à sua poesia. atacava duramente o movimento. prefaciado por Eça de Queiroz. seu principal praticante. pretende-se assim preparar uma profunda transformação na ideologia política e estrutural social portuguesas isto é. o poeta ainda era bastante influenciado pelo próprio estilo que atacava. Outros nomes são Trindade Coelho. prosador. a obra construída pelos realistas apresenta vários ângulos. o teatro. Victor Hugo. sua obra inicial se caracteriza por um forte apelo revolucionário contra o conservadorismo católico lusitano. do conto e do romance. ainda desenvolvesse. Principais autores Guerra Junqueiro Abílio Manuel Guerra Junqueiro (1850-1923). em menor proporção. a supremacia da verdade física. como uma tendência estética. voltou-se para a temática das pessoas humildes. as novas teorias filosóficas . a historiografia e crítica literária e. o próprio Eça o declarava morto nas Notas Contemporâneas. que explica o atraso do passado pela passividade do Homem e a sua crença nas forças sobrenaturais. João (1874) e A Velhice do Padre Eterno (1885). como a irreligiosidade de Loisy e Renun. Formalmente. Assim. Quando mais jovem. Explica-s. com a absorção de teorias estrangeiras. A sua conseqüência mais importante foi à introdução em Portugal das descobertas estrangeiras nos vários domínios do saber. Socialismo de Proudhon. a literatura de combate e de idéias assim como a literatura de viagens. provocando uma verdadeira revolução cultural: repensa e questiona toda a cultura portuguesa desde as origens. que teve no poeta francês. Fialho de Almeida e Teixeira de Queiroz. como um refrão. começou a publicar poesias no Diário de Notícias. cultivou a poesia e a prosa polêmica e filosófica. resultando uma poesia dilemática. Mas a publicação de Odes Modernas assinala a adesão plena do poeta aos ideais revolucionários dos novos tempos. as filosóficas e as científicas congregam-se para criar uma poesia realista revolucionária e compromissada. matriculou-se no curso de Letras da Universidade de Coimbra. no entanto. marcado pela nota popular da repetição rítmica do lamento que. poemas que representam a fase do autor e sua adesão às idéias de justiça social. De certa forma. Deixou ainda inúmeras cartas e escritos filosóficos. uma poesia marcadamente filosófica. Antero Tarquínio de Quental Mais do que um poeta importante da literatura portuguesa e figura ímpar do final do século XIX. reúnem-se os elementos que. filosóficas e metafísicas. caracterizaram a poesia da Guerra Junqueiro: a linguagem direta e simples.rural portuguesa que. mas freqüentou o curso somente por alguns meses. igualdade e dignidade humanas. Poeta comprometido com os problemas filosóficos e sociais do seu tempo. a essência humana. Para ele. Começa a repelir os rigorosos compromissos estético-científicos e a desfazer as contradições íntimas. Nessa época também surgem os sintomas mais agudos da tuberculose. angustiada e pessimista. As crenças socialistas. no Diário da Tarde. Cesário Verde José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa em 1855. mais tarde. dedicou-se desde muito jovem a essas atividades. ou no próprio Homem – dependendo das oscilações ideológicas pelas quais passou o poeta. claramente presentes em seus Sonetos. isto é. A primeira delas corresponde a uma poesia revolucionária e de entusiasmo juvenil. na Sociedade. criando frases imponentes e eloqüentes. envolvida com as idéias de morte e as tentativas de explicar e entender Deus. Nele. Sua obra representa uma incessante busca do Ideal. no Ocidente e em alguns outros periódicos. a visão fatalista da existência. Antero atinge o ponto alto de sua carreira. Os poemas dessa fase refletem o drama social da segunda metade do século XIX. doença 51 . Nela. Tais elementos que criam um lirismo de forte tonalidade social. Nesse período. corporificada em Deus. No ano de 1873. cada uma delas tratando de um tipo de trabalhador português. a que se segue. com um raro refinamento artístico que une a força de reflexões filosóficas bem fundamentadas com beleza rítmica. entremeia os versos. revelando nítida influência das idéias de Proudhon. representada pelas Odes Modernas (1865). segundo a crítica. angustiada por incertezas religiosas e metafísicas. filho de um lavrador e comerciante. essa fase representa uma síntese das perturbações que ocupavam o poeta desde a juventude. não abandona o registro realista. Podemos identificar três fases distintas na obra de Antero de Quental. Os simples é dividido em várias partes. a temática do trabalho. A influência do Romantismo observa-se nas primeiras obras: Raios de extinta luz e Primaveras românticas. A terceira fase documentada em Sonetos completos revela o poeta atormentado por questões humanas. Antero Tarquínio de Quental (1842-189) constituiu-se líder intelectual da geração de 70. o ato de escrever é um ato revolucionário. Essas características acentuam-se ainda mais no romance O Primo Basílio. aborrece-se da cidade e do gênero de vida que chegou a admirar e seu amor à cidade transforma-se em amor ao campo. depois de 1881. Silva Pinto. sucede agora a claridade. da A poesia de Cesário Verde serviu de trânsito entre o Romantismo e o Literatura Realismo. então. Sua visão corrosiva e satírica. a ação.que o levaria a morte em 18 de julho de 1886. em perpétuo dinamismo. Eça de Queirós José Maria Eça de Queirós (1845-1900) – Considerado o mais importante prosador realista e da literatura portuguesa. Entre 1877 e 1880. marca da poesia de Cesário Verde que se coloca numa zona limítrofe que compreende o impressionismo e o expressionismo. O pensamento socialista. Em suas poesias. impiedosa expressão da decadência da sociedade burguesa. de um lado. que nasce a poesia do cotidiano. só de passagem o poeta se deixar envolver pela atmosfera contemporânea. denúncia da corrupção do clero e da hipocrisia dos valores burgueses. sem cor política. Com Os Maias (1888) observa-se. por meio das próprias obras de ficção. e de ponte de passagem para algumas das atitudes Portuguesa que estarão em moda na estética simbolista e na modernista. manifesta-se em O Mandarim e A Relíquia. reúne seus poemas em um livro intitulado O Livro de Cesário Verde. de conferências (participou dos debates e foi um dos palestrantes nas Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense). a robustez. Alheio às lutas ideológicas em curso. em que a descrença no progresso e nos ideais revolucionários se manifesta na expressão saudosa da vida do campo e na valorização das virtudes nacionais. à morbidez. É o momento de obras como A Cidade e as Serras e A Ilustre Casa de Ramires. porém. Estudo 52 . Todavia. uma mudança nessa atitude irreverente e destruidora de Eça de Queirós. o poeta projeta-se nas coisas exteriores com o peso de sua vida interior. Participou ativamente das polêmicas de seu tempo por meio de escritos críticos (As Farpas). Com a publicação de O Crime do Padre Amaro. toca-lhe apenas de passagem a poesia. sobretudo. No contato com o ar livre. o poeta encontrava inspiração para sua poesia e como isso a modificava de modo que ao sombrio de antes. Dotado de um temperamento anti-literário. a fim de apreender a imagem fugaz das coisas. Eça de Queirós deixou uma imensa produção literária que muita influência exerceu sobre a evolução do próprio romance em língua portuguesa. Segue-se. e assim mesmo. do trivial. A crítica literária costuma identificar três fases distintas na obra de Eça de Queirós. a realidade objetiva funde-se com a realidade subjetiva. de contos como Suave Milagre e de biografia religiosas. à inação. É. então. Cesário enfocará a cidade e os seus mistérios: o cotidiano entralhe em cheio na poesia. uma nova fase literária do autor. que levava às atitudes de reforma social. seu amigo dos tempos de universidade. de sua copiosa correspondência e. Eça de Queirós inicia o romance realista em Portugal. No ano seguinte. por outro lado. Tal caráter transitivo explica sua posição em face do inconformismo revolucionário da geração de 70. apresentando nessa obra algumas características básicas de sua postura literária: crítica violenta da vida social portuguesa. em 1875. o escritor se permite alguns vôos de imaginação. enquanto não se organiza o partido republicano. dando livre vazão ao seu lirismo. o evolucionismo de Darwin. uma massa de descontentes formada pela pequena burguesia industrial e o resíduo do artesanato. Emerge. pois. confere lugar de destaque à fantasia. crônicas jornalísticas reunidas posteriormente em volume. em 1875.A primeira fase compreende. Três anos depois. Fabio Assunção . Igreja. formalidade. A ironia utilizada nesses romances desmascara o comportamento hipócrita e ocioso da burguesia lisboeta. Diante de tais idéias. de esperança e de fé. econômico e mesmo social pouco progredia. Os adeptos do realismo tinham como bases teóricas o determinismo de Taine. A segunda fase tem início com a publicação do romance. percebe-se um realismo ainda incipiente que convive com heranças românticas. O período histórico que marca os últimos anos do Romantismo em Portugal já indicava uma sociedade em crise. mudos. o socialismo “utópico” de Proudhon. Acrescente-se a nota saudosista das tradições portuguesas. Eça escreveu um romance. diz Cristina Brandão. mesmo já estando institucionalizado e consolidado o liberalismo no país. assim como uma parte da burguesia comercial que tende a ficar fora do sistema. apareciam nesse cenário como massa de manobra dos partidos governantes. com a publicação de Os Maias. sucede um momento de otimismo. Aderindo às teorias do Realismo. realizados pela nossa televisão”. ocupavam-se de 53 . em parceria com Ramalho Ortigão. Burguesia) e de ação e reforma social. sob o título de Prosas Bárbaras. Em romances como A Relíquia (1887). O movimento realista Eclodiu em Portugal em 1871 e firma-se como resposta à artificialidade. percebe-se um escritor mais confiante em seus próprios recursos expressivos. basicamente. então. Os camponeses.. o fisiologismo de Claude Bernard e o anticlericalismo de Renan. o autor coloca-se sob a bandeira da República e da Revolução. Nessa fase. A partir de 1880. São algumas das obras dessa fase que marcam o aparecimento do romance em Portugal. Ao derrotismo e pessimismo analítico da etapa anterior. ! Indicação de Filme TÍTULO DA MINISSERIE: Os Maias (Brasil. sem abandonar o registro crítico realista. 2001) DIREÇÃO: Luiz Fernando Carvalho ELENCO: Ana Paula Arósio .. Escapando da rigidez das normas realistas-naturalistas. as novas instituições inseriam-se numa sociedade que sob o ponto de vista tecnológico. começa a escrever obras de combate às instituições vigentes (Monarquia. A Ilustre Casa de Ramires (1897) e A Cidade e as Serras (1901). O Mistério da Estrada de Sintra. preparação e procura. Sua linguagem vai assumindo um registro cada vez mais pessoal. RESUMINDO. o positivismo de Comte. Walmor Chagas Uma produção muito cuidadosa da Globo com uma caracterização de época magnífica e com ótimas atuações de todo o (muito bem selecionado) elenco: “uma soberba adaptação que a TV Globo exibiu em 44 capítulos. Fase de indecisão. O Crime do Padre Amaro. exageros e à sentimentalidade mórbida do Romantismo. o autor daria continuidade a ela com O Primo Basílio. podendo perfeitamente ser incluída num rol de produtos teledramatúrgicos de excelência artística. A última etapa ou a decadência marcada pela crise de desalento da “Geração de 70” que acabam formando o grupo dos “Vencidos da Vida” nesse período ocorre também o episódio do Ultimato e o suicídio de Antero de Quental. O termo Oaristo é de origem grega e significa “diálogo íntimo” ou “diálogo entre amantes”. Com a publicação do livro de poemas Oaristos. As respostas vieram através dos folhetos Bom senso e bom gosto e A dignidade das letras e as literaturas oficiais ambos de Antero de Quental. que tratam de um amor ardente e fatal. além dos poemas. Um momento posterior seria o da afirmação com o grupo do Cenáculo. prezavam também a descrição de costumes e acontecimentos contemporâneos em seus mínimos detalhes e a reprodução da linguagem coloquial. durando até 1915. Esta arte sugestiva é teorizada em 1886 por Jean Moréas quando publica no Figaro Um Manifeste Littéraire no qual define. 54 . no Portuguesa aperfeiçoamento da literatura. Os principais escritores desse período foram o poeta Antero de Quental principal líder realista e que revela em sua ora e em suas atividades políticas as contradições do movimento em Portugal. a representação da vida contemporânea e uma visão objetiva da realidade. A este escritor juntam-se nomes como Rimbaud. Sinteticamente. ou seja. o que denomina simbolismo. apresenta em seu prefácio o programa da estética Simbolista. em 1890. Paul Verlaine. Pregavam a arte comprometida com o social. ainda. que contavam com a colaboração de Eugênio Castro e Antônio Nobre e divulgavam os grandes nomes contemporâneos das letras francesas. em especial aqueles empenhados no movimento. entre outros. cuja obra é a mais representativa das tensões ideológicas do realismo português. tematizou o operariado. sendo também a mais importante do ponto de vista da elaboração artística. Pierre Louys. Essa obra. Temos. o trabalho do escritor consistia na observação da experiência. inicia-se oficialmente o Simbolismo português. pela primeira vez. Sua obra pode ser dividida em três Fases uma Neoromântica com Notas marginais outra Realista-naturalista com O crime do padre Amaro e a última de Afastamento do Naturalismo com A ilustre casa de Ramires. Guerra Junqueiro autor de uma poesia militante e popular que se afastava dos padrões realistas. no esclarecimento dos problemas humanos e sociais. em muitos aspectos baseada nas conquistas da nova estética. a arte engajada. Cesário Verde outro escritor importante registrou o processo de urbanização. familiar e regional. Simbolismo O Simbolismo é um movimento literário que surge em finais do século XIX tendo Baudelaire como um dos mais influentes precursores. Mallarmé.uma crítica à educação romântica. época do surgimento da geração Orpheu. sendo também o precursor do Modernismo. isentando-a da fantasia. Destacou-se também Eça de Queirós o escritor. na análise psicológica dos Estudo da Literatura tipos. podemos vislumbrar três momentos do Realismo em Portugal: a eclosão com a Questão Coimbrã quando Castilho no Posfácio Poema da mocidade critica o estilo poético da “escola coimbrã cita os nomes de Antero Quintal. Para os representantes dessa nova literatura. que desencadeia a revolução modernista no país. de Eugênio de Castro. Jules Laforgue. as de combate – Odes modernas e as Dilemáticas – Sonetos completos. Em Portugal os primeiros sinais da escola Simbolista aparecem no ano de 1889 nas revistas Boémia Nova e Os Insubmissos. ao conservadorismo da Igreja. almejando a reforma social. nesse momento destacam-se As Farpas de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão e as conferências do Cassino. Sua produção poética pode ser dividida em três fases: as poesias da juventude – Sonetos. Teófilo Braga e Vieira Castro. Gustave Kahn. que recebeu também o apoio de Teófilo Braga em Teocracias Literárias. Manuel de Arriaga. Durante os 25 anos de predomínio da estética Simbolista. caso contrário a guerra seria declarada. o Simbolismo português surge num momento em que a crise espiritual e o decadentismo de certos meios filosóficos e artísticos europeus. 55 . um governo provisório presidido por Teófilo Braga. termina com a vitória dos republicanos apoiados pela Inglaterra. atitude que deixou o povo português humilhado. alarmado com as lutas políticas procedeu a um autêntico golpe de Estado: ele demitiu todo o governo e encarregou. com o objetivo de pacificar a Nação e preparar próximas eleições legislativas. Maior ênfase pelo particular e individual do que pelo geral e universal. cultural e artística. os simbolistas se voltam para dentro de si à procura de zonas mais profundas. foi eleito o primeiro presidente da República: Manuel de Arriaga. No final do seu mandato. Em 1911 foi Promulgada a Constituição de 1911 e. Por isso. Características É uma corrente de reação contra o positivismo científico. Como pudemos perceber. Valorizava o conhecimento intuitivo e não-lógico. já em meio à primeira guerra mundial. A tentativa de enfrentar os exércitos ingleses em qualquer tipo de batalha seria considerado uma verdadeira loucura.Neste prefácio. Foi estabelecido. coincidem com o sentimento de pessimismo e frustração do povo português. ainda nesse mesmo ano. do final do século. Os poetas simbolistas portugueses vivenciam um momento de intensa agitação social. Ainda em 1914 o povo rebelou-se e a ditadura chegou ao fim com a renúncia de Manuel Arriaga. então. a Inglaterra deu um ultimato a Portugal. O término do Simbolismo português se dá em 1915. pelo mistério e pela morte. proclama o retorno à mentalidade mística. seguido por D. política. Manuel II e no ano de 1910 acontece a Proclamação da República. exigindo que fossem retirados os exércitos portugueses que se encontravam entre Angola e Moçambique. Mais uma vez Teófilo Braga assume a Presidência da República até que se organizasse novas eleições. Traz como proposta a liberdade do ritmo e um vocabulário escolhido e variado e o uso de palavras menos vulgares. Aproveitando-se dessa crise que se instaurava na monarquia. A ditadura Pimenta Castro durou pouco. enfatizando a imaginação e a fantasia. os republicanos fizeram uma série de campanhas para a derrubada da monarquia e após muitas tentativas. a revolução. as concepções voltam-se ao místico e sobrenatural. iniciada na madrugada do dia anterior em Lisboa. Busca a espiritualidade. o general Pimenta de Castro de organizar um ministério. Interesse pelo noturno. interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana. Portugal foi governado por D. Portugal atravessa um período muito conturbado. Carlos I. devido a grave crise econômica e financeira e. relacionada com algumas causas históricas como o ultimatum da Inglaterra. quando Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa lançam a revista Orpheu e dão início ao movimento Modernista. o autor critica a poesia portuguesa da época afirmando ser esta repleta de lugares comuns e pobre nas rimas e no vocabulário. a transcendência física e a imaginação. o governo português acabou cedendo. em 5 de abril. a integração cósmica e valorização do espiritual para se conseguir a paz interior. o materialismo. para piorar a situação. em ditadura. a queda da monarquia e a instauração da república. assim como pelos momentos de transição como o amanhecer e o crepúsculo. Como os estudos lhe corressem mal. isto é. partiu para Paris onde freqüentou a Escola Livre de Ciências Políticas. fluida. Colaborou com a publicação das revistas “Os insubmissos” e “Boêmia nova”. Despedidas (1902) e Primeiros Versos (1921). que tomado de um sentimento ambíguo e entristecedor por um lado a vida parece-lhe um fio ininterrupto de dores. que propositadamente dificultavam sua compreensão e interpretação. Alguns autores Antônio Nobre Antônio Nobre nasceu na cidade do Porto em 1867 e morreu em 1990. Pouco interesse pelo enredo e ação narrativa: pouquíssimos Estudo da Literatura textos em prosa. licenciando-se em Ciências Jurídicas. dos motivos da poesia francesa e do neogarretismo. efêmeros. Mesmo porque reconhece receber dela um gozo estético e afetivo. ambas seguidoras do 56 . Obras poéticas: Só (publicada em Paris em 1892). ela devia ser ornada. sugestiva e não nominativa. Foi na poesia que o Simbolismo se firmou recebendo Portuguesa influências do formalismo parnasiano. Linguagem vaga. provocada exatamente para acionar no leitor uma série de sentidos. bem rebuscada e cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua sonoridade. A princípio. sua poesia mostra certa influência de Almeida Garret e de Júlio Dinis. neve e imagens grandiosas para expressar a idéia de liberdade. porém. colorida. vagos e imprecisos. Acredita-se na existência de um mundo que se supunha existir para além da realidade visível e concreta. ambas publicadas postumamente. Os textos comumente retratam elementos como fumaça. em uma segunda fase fica clara a influência do Simbolismo Francês. Eugênio de Castro Eugênio de Castro e Almeida nasceu em Coimbra em 1869 e faleceu em 1944. aludir e não definir. vítima de tuberculose. gases. mas lastima abandoná-la. enfim toda a realidade era focalizada através de imagens vagas e imprecisas. Por volta de 1889 formou-se em Letras pela Faculdade de Coimbra e mais tarde veio a lecionar nessa faculdade. Em 1888. Sua principal contribuição para o Simbolismo português foi a alternância do vocabulário refinado dos Simbolistas com um outro mais coloquial. apegando-se ao tradicionalismo de base historicista e folclórica.Utilização de substantivos abstratos. na contemplação da terra natal e no encontro com os familiares e no encontro de valores espirituais. Entretanto ao debruçar-se em seu mundo interior o poeta realiza uma espécie de amarga reflexão sentimental de sua vida. matriculou-se no curso de Direito na Universidade de Coimbra. no amor da mulher. num ritmo colorido. exótica. A sinestesia corresponde à mistura de sensações. as figuras humanas. devendo evocar e não descrever. A musicalidade é obtida com a exploração da camada sonora dos vocábulos. Os procedimentos técnicos mais ligados ao Simbolismo são a sinestesia e a musicalidade. Os objetos. novas palavras. A inovação na combinação de expressões conhecidas conduziu naturalmente os simbolistas à criação de neologismos. Autor de grande e refinada sensibilidade. que corresponde aos poemas escritos já no século XX.Simbolismo Francês. Camilo Pessanha é considerado o mais simbolista dos poetas da época e influenciou a geração de Orpheu. Os Pobres (906). de grande equilíbrio e rigor. que corresponde a sua produção poética até o final do século XIX. A obra de Eugênio de Castro pode ser dividida em duas fases: Na primeira fase ou fase Simbolista. marco inicial do Simbolismo em Portugal. Húmus. característico das primeiras décadas do século XX em Portugal. Na segunda fase ou neoclássica. Os seus poemas caracterizam-se por um forte poder de sugestão e ritmo. Poeta que manifestava uma forte atração por um barroquismo de linguagem algo estranho à estética simbolista em voga. perante uma sensibilidade poética fina e sutil. afastou-se do tradicional lirismo romântico e do sentimentalismo tão comuns na poesia portuguesa. distancia-se de uma situação concreta e pessoal. o uso de rimas novas e raras. sinestesias. O exílio do mundo e a desilusão em relação à Pátria também estão presentes em sua obra e passam a impressão de desintegração do seu ser. mas na qual não se encontra os derramamentos emocionais e a subjetividade egocêntrica. O cavaleiro das mãos irresistíveis (1916). ao mesmo. O Pobre de Pedir. Além de Oaristos. por exemplo. percebemos um poeta voltado à Antiguidade Clássica e ao passado português. que influenciou vários poetas modernistas. entre outras. insólitas. tempo tornam-se esquivos. entrou para a história da literatura portuguesa com o lançamento do livro de poemas “Oaristos”. Poeta notabilizado pela qualidade rítmica e musical dos versos e cultivando uma forma meticulosa. e sua poesia é pura abstração. repletas de rupturas e cores – elementos tipicamente simbolistas. da dor e do pessimismo. Acometido de tuberculose. Camilo Pessanha Poeta português. natural de Coimbra. não lineares. relógio de água. oriundo de uma família aristocrática. Em 1890. Constança (1900). estudos e tradições (1944). Saudades do céu (1899). como. revelando certo saudosismo. pois trabalha bem a linguagem. Clepsidra (1926). morre em 1º de março de 1926 em Macau. Últimos versos (1938). isto é. Mais poeta que ficcionista graças à 57 . Além da obra citada. apresentando imagens estranhas. A Farsa (1903). é também de sua autoria: China. aliterações e vocabulário mais rico e musical. o que lhe acompanha nas diversas fases de sua carreira. nasceu filho ilegítimo de um estudante de Direito. Em sua obra. cujos elementos mais familiares. o eu e a existência e o mundo. A sua obra mais famosa é Clepsidra. Sua poesia. novas métricas. que contém poemas com musicalidade marcante e temas até certo ponto dramáticos. Em seus poemas predomina o tema do estranhamento entre o eu e o corpo. Eugênio de Castro definiu algumas características da Escola Simbolista. que iniciou o Modernismo em Portugal. O estilo de Raul Brandão aproxima-se mais da poesia que do romance. Considerado de difícil leitura. Raul Brandão Autor de uma literatura forte e dramática. A sua melhor produção está na prosa de ficção: A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore (1926). mostra o mundo sob a ótica da ilusão. podemos citar como obras do poeta Belkkiss (1894). e de uma mulher de condição social muito inferior. a busca da realidade enfatizando o neogarrettismo. Após o ultimatum da Inglaterra e a queda da monarquia e a instauração da república. Portuguesa RESUMINDO.linguagem estruturalmente poética. que tratam de um amor ardente e fatal. porém. pelo metafórico. que se inicia oficialmente o Simbolismo português. As principais características do movimento foram o registro da decadência da realidade e produções bastante elaboradas. do final do século. fluida. Considerado pela crítica como o escritor que melhor realizou a tendência fundamental da prosa simbolista. Pouco interesse pelo enredo e ação narrativa: pouquíssimos textos em prosa. É possível apontar três momentos do simbolismo em Portugal: a introdução. também. Reação ao positivismo científico e ao materialismo. em uma segunda fase fica clara a influência do Simbolismo Francês. Diante disso. Acredita-se na existência de um mundo que se supunha existir para além da realidade visível e concreta. política. identificado com o progressismo burguês que só beneficiava o grande capital. que desencadeia a revolução modernista no país. pelo jogo das imagens. sugestiva e não nominativa. os primeiros sinais da escola Simbolista aparecem no ano de 1889 nas revistas Boémia Nova e Os Insubmissos. Antônio Nobre autor de grande e refinada sensibilidade contribuiu alternando ao vocabulário refinado dos Simbolistas um outro mais coloquial. Traz como proposta a liberdade do ritmo e um vocabulário escolhido e variado e o uso de palavras menos vulgares. no país afirma-se uma reação idealista contra o Realismo-Naturalismo. pela liberdade expressiva. vagos e imprecisos. enfatizando a imaginação e a fantasia. sua poesia mostra certa influência de Almeida Garret e de Júlio Dinis. marco inicial do Simbolismo português. Temos. Eugênio de Castro e Almeida que entrou para a história da literatura portuguesa com o lançamento do livro de poemas “Oaristos”. acabando por ser o mais importante prosador do Simbolismo Estudo da Literatura português. O Simbolismo é um movimento literário que surge em finais do século XIX. Utilização de substantivos abstratos. coincidem com o sentimento de pessimismo e frustração do povo português. no qual o autor critica a poesia portuguesa da época. irracionalismo e espiritualismo.. sobretudo. época do surgimento da geração Orpheu. Linguagem vaga. tendo Baudelaire como um dos mais influentes precursores. apresenta em seu prefácio o programa da estética Simbolista. cultural e artística. os poetas simbolistas portugueses vivenciam um momento de intensa agitação social. afastamento do sensualismo impressionista. Todavia é em 1890 com a publicação do livro de poemas Oaristos. valorizava do conhecimento intuitivo e não-lógico. merecendo destaque o esteticismo de Eugênio de Castro com Oaristos. emociona e. efêmeros. O movimento em portugal surge num momento em que a crise espiritual e o decadentismo de certos meios filosóficos e artísticos europeus. impressionismo com o registro de impressões fugazes e indo contra a estandartização. o saudosismo com Antonio Nobre (Só) e Teixeira dos Pascoais que aproxima o Simbolismo do Modernismo e a maturidade artística com Camilo Pessanha na poesia e Raul Brandão na prosa. coexistência do neo-romantismo e construção artesanal do poema. Essa obra. Em Portugal. com as revistas Boêmia Nova e Os Insubmissos. Sua obra pode ser dividida em duas 58 . pelo ritmo. de Eugenio de Castro. Maior ênfase pelo particular e individual. durando até 1915. A princípio.. além dos poemas. Os procedimentos técnicos mais ligados ao Simbolismo são a sinestesia e a musicalidade. uma retórica ou uma maneira consagrada. e se ainda ignoro o que seja a idéia nova. deitome enfim a pro-curá-la / Um ente assim. porém. o que lhe acompanha nas diversas fases de sua carreira. (Junqueira Freire) Atividades 1. Creio que em Portugal e no Brasil se chama realismo. que corresponde aos poemas escritos já no século XX. Pressupõe uma origem individual. porque cada temperamento individual tem a sua maneira própria: Daudet é tão 59 . realismo. amorosa e mole / quero uma virgem. num certo momento da sua evolução. que corresponde a sua produção poética até o final do século XIX e a segunda fase ou neoclássica. louco. (…) Não – perdoem-me – não há escola realista. A sua maneira não está consagrada. cuja poesia influenciou vários poetas modernistas e mostra o mundo sob a ótica da ilusão. ao movimento artístico que em França e em Inglaterra é conhecido por “naturalismo” ou “arte experimental”. termo já velho em 1840. É desse período ainda Camilo Pessanha. é um movimento geral da arte. Deus tê-lo-á formado / Guia-me anjo do amor que eu hei de achá-la”. Ainda faz parte dessa geração Raul Brandão. Escola é a imitação sistemática dos processos dum mestre. da dor e do pessimismo. pois associado a estes dois movimentos. Complementares Texto para as questões 1 e 2 “Quero uma virgem com uma tez bem alva / pálida e pálida. que convide os lábios / a beberem-lhe o amor gole por gole / Quero uma virgem que receie ainda / quebrar com um ai o fio dos pen-sares / quero uma virgem que me entenda todo / por um volver de místicos olhares / Quero assim minha virgem: pela terra /. seu estilo aproxima-se mais da poesia que do romance. como a alcunha familiar e amiga pela qual o Brasil e Portugal conhecem uma certa fase na evolução da arte. nos quais ele se volta para a Antiguidade Clássica e ao passado. A sua melhor produção está na prosa de ficção. É considerado o mais simbolista dos poetas da época e autor de apenas um livro: Clepsidra. A que estilo de época pertence o texto a seguir? Idealismo e Realismo Eu sou. sei pouco mais ou menos o que chamam aí a escola realista. autor de uma literatura forte e dramática. 2.fases: a fase simbolista. Identifique as características do texto. Aceitemos. Ora o naturalismo não nasceu da estética peculiar dum artista. relate a sua concepção acerca do idealismo. como o positivismo é a forma experimental que toma a filosofia. Zola – é Claude Bernard. analisa-se a posteriori. por processos tão exactos como os da própria fisiologia”. A arte tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e não a idealização das imaginações inatas… (Eça de Queirós. concebia-se o jogo das paixões a priori. Outrora uma novela romântica. 60 . por processos tão exactos como os da própria fisiologia. em lugar de imaginar. hoje. diferente de Flaubert. como Zola é diferente de Dickens. no romance. no romance. Hoje. Eça de Queirós defende e assume os princípios mecanicistas e deterministas na composição literária. o romance estuda-o na sua realidade social.da Literatura Portuguesa Estudo 3. pois. O naturalismo é a forma científica que toma a arte. como a república é a forma política que toma a democracia. o romance. concebia-se o jogo das paixões a priori. In: Obras de Eça de Queirós. que a constituição intrínseca duma pedra obedeceu às mesmas leis que a constituição do espírito duma donzela. em lugar de estudar o homem. que há no mundo uma fenomenalidade única.) Independentemente das idéias de IDEALISMO apontada no texto. analisa-se a posteriori. Outrora no drama. 4. Tudo isto se prende e se reduz a esta fórmula geral: que fora da observação dos factos e da experiência dos fenômenos. 4. Desde que se descobriu que a lei que rege os corpos brutos é a mesma que rege os seres vivos. tinha simplesmente de observar. O verdadeiro autor do naturalismo não é. Cartas Inéditas de Fradique Mendes. Diante do que você já estudou anteriormente. o espírito não pode obter nenhuma soma de verdade. que a lei que rege os movimentos dos mundos não difere da lei que rege as paixões humanas. explique o que ele quer dizer com a frase seguinte sobre a técnica de composição da narrativa realista: “Outrora no drama. hoje. inventava-o. em seu texto. Dizer “escola realista” é tão grotesco como dizer “escola republicana”. como poderia ser definido o REALISMO? Considerando que. Esse ambiente favoreceu a difusão das idéias modernistas. Assim. etc. o Modernismo Português é um movimento estético que nasce em clima de tensas mudanças e é empreendido pela geração de Fernando Pessoa. interpretação pessoal da realidade. procura adaptar-se ao ritmo da mudança européia e. Portugal. profundas e amplas transformações culturais e estéticas. Nesse ano de 1913. a República tinha como principal objetivo integrar Portugal no quadro do imperialismo europeu. apenas com algumas adesões de Coimbra (o poeta e ficcionista Albino de Meneses. em 1975. rebeldia. Na verdade.) e ecos vagos noutros pontos da província. que se constituiu o núcleo do grupo modernista. aplaudido pelo seu amigo Fernando Pessoa. Portanto. sob a denominação genérica de correntes de vanguarda (do francês avant-garde. de caráter socialista. A desordem e a sanguinolência generalizou-se quando o Rei D. Carlos foi assassinato por um homem do povo em 1908. incapaz de resolver os problemas mais profundos do país. A obediência a essa imposição encheu o povo português de vergonha e abalou profundamente a crença na monarquia. o Expressionismo alemão e o Serrealismo francês. Neste período de grandes transformações se avolumou uma onda de insatisfação contra o regime monárquico que se mostrava incapaz de resolver os problemas mais urgentes da Nação e de oferecer um clima de tranqüilidade e progresso. busca de novas formas de expressão.O MODERNISMO PORTUGUÊS E A LITERATURA CONTEMPORÂNEA Modernismo: Contexto Geral e a Geração Orfeu Contexto Histórico-Social Gestadas no século anterior. ao voltar. que durou cerca de cinqüenta anos. D. em carruagem aberta. Esses diferentes movimentos tinham – além do ismo em seus nomes – posições comuns em relação às artes: liberdade. Manuel II –sobrevivente do morticínio no Terreiro do Paço – é imediatamente chamado a ocupar o trono. ilogicidade. escreveu Sá-Carneiro. Sá-Carneiro e AlmadaNegreiros em conjunto com a arte e a literaturas Européia. Ainda muito jovem ascende ao poder em clima de turbulências e mantém o posto de monarca até 1910. aparece o Futurismo de Marinetti (Itália). busca beneficiarse do progresso cultural em curso. precisamente a 4 de outubro. explosivamente. Luís Filipe. o governo inglês lançou um ultimatum a Portugal: o país deveria abandonar imediatamente as colônias que ainda mantinha. O Modernismo se tornara basicamente lisboeta. o Dadaísmo suíço. etc. que serviram de ensaio para alguma coisa de novo. na Europa nos primeiros anos no início do século XX. o Cubismo de Picasso (espanha). A República. as mudanças sociais esperadas não aconteceram de forma a contentar os republicanos mais exacerbados. Assim. que significa “estar à frente. Como no atentado também falecera o príncipe herdeiro. até a Revolução dos Cravos. 61 . já desacreditada por seu anacronismo. acabou por dar lugar à ditadura salazarista. quando. ao mesmo tempo. tomar a dianteira”). se instala a República em Portugal. e sem conseguir equacionar as diferenças existentes entre os próprios republicanos. Em 1890. de uma de suas habituais estações de caça em Vila Viçosa. Lisboa. Foi na capital. só veio a declarar-se. então. expressando toda a uma particularidade nacional. Surgiram várias manifestações artísticas. em 1913. ambos nutriam o sonho duma revista. sinônimo de modernização. M. D. os poemas de Dispersão. Fernando Pessoa possui uma faceta rica. então. da técnica. no panorama modernista português. as novas propostas artísticas foram divulgadas e discutidas. comprometer-se com a nova realidade e interpretá-la cada um a seu modo. Os autores modernos não fundaram propriamente uma nova escola literária. a absorção das conquistas futuristas que tomavam conta da Europa inteira.. nesse primeiro momento. aderiram ao projeto que Luís da Silva Ramos (Luís de Montalvor) acabava de trazer do Brasil: o lançamento duma revista luso-brasileira. 62 Fernando Pessoa e os Heterônimos VOCÊ SABIA QUE. sem renegá-la totalmente. da velocidade. os jovens modernistas e artistas de Literatura vanguarda. por “geração de Orpheu”. Os modernistas portugueses tiraram proveito da herança simbolista.. A sociedade portuguesa vivia uma situação de crise aguda e de desagregação de valores. desvincularam-se das teorias das escolas anteriores e procuraram os fatos da vida atual e a realidade do país para transmitir suas emoções. A primeira atitude dos novos escritores foi de desprezar o “sentimentalismo falso” dos românticos. enquadrando-os dentro de propostas modernistas. adeptos do futurismo. densa e intrigante e diz respeito ao fenômeno da heteronímia. investigando as regiões inexploradas e indefinidas do inconsciente e entregando-se à vertigem das sensações da vida moderna. Através dela. pelo contrário. marco inaugural do Modernismo em Portugal. de uma forma livre e descompromissada. que tinha fortes conotações nacionalistas. estimulados pela aragem de atualidade Portuguesa Estudo vinda de Paris com Sá-Carneiro e Santa-Rita (Pintor). Assim. o saudosismo do poeta Antônio Nobre. exatamente em função da revista. ganhou força entre os membros da “geração de Orpheu”. conduz o movimento à vanguarda. Assim. Cria-se. na poesia. eles conseguem retomar formar e temas arcaicos. das máquinas. Era preciso para isso esquecer o passado. à sua capacidade de despersonalizar-se e reconstruir-se em outros personagens? . adotando uma participação ativa e primando pela originalidade de idéias e. como a apologia da máquina e do progresso urbano. a revista Orpheu. Esses primeiros modernistas ficaram conhecidos. Ao lado disso. Com isso. não deveriam se prender à rima e a métrica. ou seja. agredindo o sistema com escândalo e sarcasmo.O Modernismo em Portugal A “GERAÇÃO DE ORFEU” da Em 1915. com regras rígidas. o que se destaca. “ . é a forma de elaboração entre tradição e o novo. A duração da revista foi efêmera. prejudicada pelo suicídio de Sá-Carneiro. Os modernistas portugueses respondem a esse momento. multiplicou-se para poder sentir os vários ângulos da realidade por meio da sua heteronímia. uma “outra individualidade”. Assim sendo. biografias próprias. Pseudônimo é um nome falso. Escreve como F. escreve com a linguagem simples e o vocabulário limitado de um poeta camponês pouco ilustrado. Fernando Pessoa . Ficou conhecido como o Poeta das sensações. personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu. de forma lírica.Fernando Antônio Nogueira Pessoa (1888-1935) é um poeta que se transfigura em vários poetas. algumas vezes. que resultam em diferentes maneiras de interpretar o mundo. que é aliás como se deve ler”. sob o qual alguém se oculta. e assim é o que é”.“tudo é como é. só instrução primária. também em Lisboa. sentimentos que nunca tive. daí. a simplicidade quase infantil do estilo. pois muitos deles exprimem idéias que não aceito. os seus heterônimos. a seguir. OBSERVE: É importante não confundir heterônimo com pseudônimo. 63 . instintiva. Quis reconstruir o mundo. pois considerava que a sensação seria a única fonte válida do conhecimento. Não há que buscar em quaisquer deles idéias ou sentimentos meus. no ano de 1915. principalmente as visuais. diferente. os escreveria. é o heterônimo menos culto e complicado. O heterônimo vai além: é um outro nome. Foi assim que Fernando Pessoa “fez nascer” os poetas Alberto Caeiro. Como nos explica o próprio Fernando Pessoa: “Por qualquer motivo temperamental que me não proponho analisar. Tornou-se. de candura e placidez ideais.ele mesmo e seus heterônimos. nem importa que analise. Alberto Caeiro escreveu em versos livres (sem métrica regular) e brancos (sem rimas). apresentamos. Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Assim têm os poemas de Caeiro. a sua produção literária é completamente entregue à infinita variedade do espetáculo das sensações. e talvez por isso. e para cada um deles deu uma biografia. Para ele o real é a própria exterioridade . vários poetas ao mesmo tempo. traços de personalidade. uma outra personalidade. universal. Órfão. então. caracteres físicos. etc. Foi um dos diretores da revista “Orpheu”. Considerado o mestre dos outros heterônimos e do poeta ortônimo. Pessoa . nos meus sentimentos e idéias. com características próprias. Há simplesmente que os ler como estão. PERFIL DOS HETERÔNIMOS Para que você conheça um pouco melhor esses “poetas”. organizar o caos. construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim. Queria ser absoluto e abrangente. e por ter vivido no campo. os heterônimos: ALBERTO CAEIRO Nasceu em Lisboa em 1889 e morreu tuberculoso. Caeiro não teve profissão. os de Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que ser considerados.obra poética. portanto. espontânea. nem educação quase alguma. formação cultural. da do criador. participando ativamente do Modernismo em Portugal. Bucólico. é o poeta moderno cosmopolita. Campos defende uma estética não aristotélica baseada na idéia de força. fuma ópio para escapar da doença da vida (escapismo).rural clássico reinventado. Homem hiper-civilizado. um Sensacionalista – Explosão de emoções e vida. primeiro a Mecânica e depois a Naval. em 1890 e viveu em Lisboa na inatividade sem constar data da morte. Estudo ÁLVARO CAMPOS Nasce em Tavira.o mundo não carece de subjetivismos.na segunda fase . fruto do seu contato direto com a realidade (influencia Antônio Mora). Entediado com o mundo. pela boca. Paganismo – “pensar como os deuses.pratica o realismo sensorial. Agnóstico – nega qualquer forma de espiritualismo ou de transcendência. pelos olhos.” É (ou pretende ser) um homem franco. Possui uma evolução literária caracterizada em 3 fases: 1ª Fase Inicia-se como “decadente-simbolista” – Decadentismo (poemas ainda metrificado e rimado). de visão ingênua.Objetiva o registro das sensações sem a Portuguesa mediação do pensamento (objetivismo visualista): “pensar é estar doente dos olhos” Proclama-se antimetafísico .“um poeta e nada mais”.com a sua vitalidade transbordante. 64 . numa atitude de rejeição as elucubrações do Simbolismo. e o seu amor ao ar livre e ao belo feroz. melancólico. pelo ouvido. Prestava-se à descrição pictórica impressionista.É o heterônimo mais nervoso e emotivo.Um rápido esboço de suas características: Fuga para o campo . Revolucionador das formas. pelo tom e pelo estilo. É todo emoções . É um poeta por natureza . teve uma educação vulgar de Liceu. Subjetivista. pelos pés. magro e corcunda. É o poeta que pretende sentir tudo de todas as maneiras”. da Literatura Sensacionismo . depois foi mandado para a Escócia estudar Engenharia. ultrapassar a fragmentaridade numa “histeria de sensações”. Intelectual. mas não exerceu a profissão. na emotividade individual . Ele é. (OPIÁRIO) 2ª Fase Ingressa no modernismo . É considerado um poeta futurista. Poeta-filósofo.Poesia de força e não de contemplação. Pretende ser objetivo . alegre. Era alto. que por vezes vai até à histeria. Sofre a influência de Alberto Caeiro (a quem toma como mestre) Passa a cultuar a energia e a força. Vanguardista. Explora os aspectos fonéticos. Seus poemas têm forte influência do poeta romano Horácio. Volta ao vazio. sendo assim latinizante no vocabulário e na sintaxe. Entusiasta do mundo moderno. próximos à prosa. Para ele a metafísica é a pseudociência de se figurar mundos impossíveis. o seu tributo à tradição clássica no uso de estrofes regulares. Um rápido esboço de suas características: Monárquico. Estudou com os Jesuítas e se formou em Medicina. quase sempre de decassílabos nas referências mitológicas. Pessoa. amargurado. Busca o refúgio dum epicurismo temperado de algum estoicismo. É um homem sujeito à máquina. A disciplina a serviço do pensamento. entre máquinas e a agitação da cidade). Clareza das idéias. junto da natureza. Busca da perfeição e do equilíbrio – disciplina mental. O pensamento como fator inerente à criação artística. na contenção e concisão altamente expressivas e lúcidas. Sensacionismo . e não há registros de morte.Parte das sensações. 65 . RICARDO REIS Nasce em Porto. Lirismo desencantado (aproximação com F. auto-exila-se no Brasil (1919). Considerava-se neoclássico. ortônimo). Reis é um ressentido que sofre e vive o drama da transitoriedade. doendo-lhe o desprezo dos deuses. classicista na expressão das emoções e sentimentos. Amargura angustiada. em 1887. Afligem-no a imagem antecipada da Morte e a dureza do Fado. nos diz ele: “Acima de nós e dos deuses está o fado (destino)”. reflete de forma pessimista e desiludida sobre a existência. onomatopaicos (dadaísmo). o homem pode abrir o seu caminho de regresso ao paraíso”. da velocidade e da força da civilização mecânica (adotando um estilo febril.Futurista da exaltação da energia. Desencontro do sujeito com o mundo e com a existência. por isso é considerado um poeta fatalista. Simboliza uma força humanista de ver o mundo. Pela técnica. Canta a angústia do homem de seu tempo e a crise de valores espirituais. muito claramente. 3ª Fase Por fim. o segue no amor da vida rústica. Seu estilo é marcado pela oralidade e pela forma prolixa que se espalha em versos longos. Discípulo de Caeiro. na freqüência do hipérbato. O seu estilo é densamente trabalhado e revela ainda. É por meio da reflexão do homem inserido na realidade moderna e naquilo que gerará a progressão dela que Campos desenvolve os problemas existenciais. Inadaptação às condutas sociais. ainda dentro da corrente modernista – definida como uma nova concepção da literatura como linguagem que põe em causa as relações tradicionais entre autor e obra. de temática social. Em 1917 Almada-Negreiros. que não só valorizou as obras dos artistas da Orpheu. ou a crise duma imagem congruente do Homem e do mundo. Ferreira de Castro. José Lins do Rego. como também as divulgou e deu continuidade a elas. “o poeta do Orpheu e o Narciso do Egipto”. às flores. em 1927. Mas receberam também forte influência do chamado Neo-realismo nordestino da literatura brasileira (que incluía nomes como Graciliano Ramos. dois números (os únicos publicados) em 1915. Seus principais representantes foram: Alves Redol. como lhes herdou o espírito por intermédio de alguns dos presencistas. em parte. A Geração de Presença A REVISTA PRESENÇA Da revista Orpheu saíram. organizou no Teatro República (hoje São Luís) uma escandalosa sessão futurista. Parte dos artistas alinhados no Neo-realismo derivara para uma literatura marcada pela exploração do fantástico e do absurdo.da Literatura Portuguesa Estudo Estoicismo – “Seremos mais felizes quanto menor forem nossas necessidades”. ao vinho. aparecida em 1927. mas a empresa não pôde prosseguir por falta de dinheiro. com efeito. encontraram pontos de contato com o Realismo de Eça de Queirós. estes dois números alcançaram o proposto. entre outros). não só deu a conhecer e valorizou criticamente as obras dos homens do Orpheu. Alguns anos mais tarde. e ao mesmo tempo suscita uma exploração mais ampla dos poderes e limites do Homem.“pagão por caráter”. dentro da mesma tendência: Centauro (1916) e Portugal Futurista (1919). Na seqüência. para irritar o burguês. Nela também colaborou Fernando Pessoa. Culto da ode. Feitos. Fernando Namora. Rachel de Queiroz Jorge Amado. o Neo-realismo defende uma arte participativa. Versos elegantes e nostálgicos. tornando-se alvo das troças dos jornais. pertencentes já a uma segunda geração modernista. Por sua postura de ataque à burguesia. 66 . A revista Presença. O modernismo português conheceu ainda mais uma geração estética: O NEO-REALISMO Rejeitando a temática psicológica e metafísica que tinha dominado a geração anterior. adotando uma participação ativa e dentro da realidade da vida moderna. surgiu a revista Presença. Um permanente convite ao amor. o momento em que defronta um mundo em crise. surgiram duas outras revistas. para escandalizar. Vergílio Ferreira. Culto ao paganismo . Epicurismos – Necessidade de gozar o aqui e o agora. Pessoa. A escrita de Saramago integra-se. Profunda crise moral e financeira. Após a ruptura e a aceitação da diversidade de estilos e de processos literários. Outros autores MÁRIO DE SÁ – CARNEIRO Nasceu em Lisboa em 1890 e cometeu suicídio em Paris. os anos sessenta corresponderão. nos anos 30 e 40. Mostrou inadaptação ao mundo. que se iniciou com a geração do Orfeu e da Presença. Sem enfeites e rebuscamentos. portanto. Preocupação com a observação e análise crítica da realidade. que se constituiu como movimento ideológico e estético unificador. máquinas. vão explorar toda uma gama de possibilidades estéticas do novo romance e “num cenário inteiramente renovado”. o romance e a poesia seguiram caminhos por vezes divergentes e foi o neo-realismo. dinâmico refletindo a industrialização. Em 1915 lançou a revista “Orpheu” junto com o amigo F. ausência de rima. a partir de 1947. motores. José Saramago: O Nobel da Literatura Vimos que a trajetória da Literatura Portuguesa. pois usa a pontuação de uma maneira não convencional. mostrando-se inseguro e egocêntrico. à superação definitiva do Neo-realismo. Abstenção de uma postura sentimentalóide. liberdade de estrofação. Neste entremeio de tempo. Nos diálogos de seus personagens abole os travessões fazendo com que estes sejam inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem: “este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência. ao longo do século XX. 1916. versos livres. Escritores como José Cardoso Pires. “Uma escrita de subversão na subversão da escrita” José Saramago assume para si um estilo de escrita aparentemente incorreta. liberação do ritmo. regionalismo. contra os padrões clássicos e tradição. pela megalomania perdendo-se da realidade. Linguagem coloquial. Consciência nacional. então. nos novos caminhos do romance em Portugal dos últimos anos. a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas 67 . surge José Saramago. deixava levar-se pelas emoções. recriando os caminhos do fantástico. o romance Terra do Pecado. do dia-a-dia. ironia. Interiorizou-se. Humor. Vergílio Ferreira ou Almeida Faria. Busca do novo. original. Irreverência contra o preestabelecido. a simplicidade. Principal obra: A Confissão de Lúcio. foi marcada por rupturas e confrontos efetuada pelos Modernistas da Vanguarda.Características do Modernismo Combate ao passadismo. Liberdade formal. que em busca de uma singularidade própria redescobre a História através da “efabulação” narrativa. quando publica o seu primeiro livro. paródia e poema-piada. temperada por refinada ironia”. sendo que suas sentenças. 1978 Poética dos Cinco Sentidos . seu estilo não torna a leitura mais difícil: seus leitores acostumamPortuguesa se facilmente com seu ritmo. pois usa as vírgulas onde normalmente se usaria pontos finais. o fenômeno histórico em seus movimentos e contingências. 1979 Que Farei Com Este Livro?. freqüentemente.“ 68 um pensamento”. 1987 In Nomine Dei... Ele é conhecido também por utilizar-se de frases e períodos compridos. 1980 A Segunda Vida de Francisco de Assis. sua obra é uma das mais conhecidas e traduzidas da literatura portuguesa contemporânea e “aborda. São características que tornam o estilo de Saramago único na literatura contemporânea: é considerado por muitos críticos um mestre no tratamento da língua portuguesa. Seu estilo se caracteriza por uma pequena influência barroca.O Ouvido. 1981 Teatro A Noite. da Literatura Entretanto. José Saramago foi o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura (1998)? Mesclando o real e o imaginário. 1976 Literatura de Viagem Viagem a Portugal. 1975 Crônica Deste Mundo e do Outro. 1993 Don Giovanni ou O dissoluto absolvido. 1966 Provavelmente Alegria. mas é como autor de romances que José Saramago mais se destacou. enquanto investiga e recria situações que relatam e analisam as ansiedades e esperanças humanas. Obras publicadas Poesia Os Poemas Possíveis. 1979 . 2005 Contos Objecto Quase. Publicou desde poesia a peças teatrais. 1970 O Ano de 1993. ocupam mais de uma Estudo página. VOCÊ SABIA QUE. muitas vezes. 1974 Os Apontamentos. 1971 A Bagagem do Viajante. 1973 As Opiniões que o DL teve. Além da busca do novo. Teresa Salgueiro. 1997 A caverna.! Romance Terra do pecado. 2002 Ensaio sobre a lucidez. 69 . angolanas. RESUMINDO. original e dinâmico e de uma preocupação com a observação e análise crítica da realidade e uma consciência nacional. moçambicanas. 1947 Manual de pintura e caligrafia. todos os dias. sob a denominação genérica de correntes de vanguarda. 1989 O Evangelho Segundo Jesus Cristo. o Cubismo de Picasso. ao mesmo tempo. ilogicidade. No início do século XX.. a liberdade formal. portuguesas e guineenses. busca de novas formas de expressão. 2001 O homem duplicado. 1980 Memorial do convento. Portugal. 1986 História do cerco de Lisboa. 1995 Todos os nomes. João Ubaldo Ribeiro.. a linguagem coloquial. busca beneficiar-se do progresso cultural em curso. a paródia e o poema-piada. seja realizando negócios. então. cabo-verdianas. Surgiram várias manifestações artísticas.Vidas em Português (BRA/POR. 1984 A jangada de pedra. o Dadaísmo. aparece o Futurismo de Marinetti. procura adaptar-se ao ritmo da mudança européia e. que falam a Língua Portuguesa. 2004) DIREÇÃO: Victor Lopes ELENCO: Mia Couto. 2005 Indicação de Filme TÍTULO DO FILME: Lingua . brigando no trânsito ou declarando seus amores. 105 minutos Retrata o cotidiano de 200 milhões de pessoas. No documentário. o humor. Modernismo é uma designação genérica para um variado grupo de correntes estéticas de vanguarda do século XX. Martinho da Vila. a ironia. 1991 Ensaio sobre a cegueira. de seis diferentes países. interpretação pessoal da realidade. etc. japonesas. Esses diferentes movimentos tinham posições comuns em relação às artes: liberdade. Edinho. 1982 O ano da morte de Ricardo Reis. goesas. José Saramago. o Expressionismo e o Serrealismo. a Língua Portuguesa é apresentada como patrimônio imaterial. 2004 As intermitências da morte. escrevendo poemas. Assim. se revela a diversidade de costumes e valores de milhões de pessoas que expressam em português situações cotidianas. rebeldia. 1977 Levantado do chão. Todo dia o Português nasce e renasce em bocas brasileiras. As bases filosóficas do movimento eram a Filosofia de Nietzche o intuicionismo de Bergson e o anti-humanismo de Heidegger e os escritores modernos pregavam a irreverência contra o preestabelecido. pelo qual. Conhecido por suas “máscaras” poéticas é dono de uma obra ortônima/heterônica e faz uso da dialética fingimento/sinceridade. As mudanças sociais esperadas não aconteciam de forma a contentar os republicanos mais Estudo da Literatura exacerbados. mas surgiram dentro da mesma tendência duas outras revistas: Centauro (1916) e Portugal Futurista (1919). partir de então as novas propostas artísticas foram divulgadas e discutidas.precursor do Surrealismo Adolfo Casais Monteiro . própria do futurismo e a ausência de síntese poética (descontinuidade). Saíram da revista Orpheu apenas dois números em 1915.Poeta. Assim.poeta neoclássico e Álvaro de Campos . Os escritores mais significativos foram José Régio. defender a originalidade de idéias e abolir a rima e a métrica na poesia. ensaísta e professor de literatura no Brasil. A primeira atitude dos novos escritores foi abandonar o “sentimentalismo falso” dos românticos. aderem ao projeto de Luís da Silva Ramos de lançar uma revista luso-brasileira. Tinha como marca a oposição ao evasionismo. o paulismo. pois não conseguia resolver os problemas mais profundos do país. 70 . O autor teve como principais tendências artísticas o saudosismo. Sá-Carneiro e Almada-Negreiros em consonância com a arte e a literatura européia. um grupo de estudantes funda. Ricardo Reis .prosador com literatura social Branquinho da Fonseca . marco inaugural do Modernismo em Portugal. Outros escritores de destaque foram Sá-Carneiro escritor herdeiro do decadentismosimbolismo e Almada Negreiros propagandista do Modernismo fez a ponte entre Modernismo e tendências contemporâneas atuando em vários campos artísticos. sem. participando ativamente do Modernismo em Portugal era um escritor de alto nível artístico e possuía a atitudeexperiência. o futurismo e o interseccionismo.A jovem República portuguesa. Empreendido pela geração de Fernando Pessoa.poeta bucólico. que não só valorizou as obras dos artistas da Orpheu. Seus heterônimos principais são: Alberto Caeiro . edita e dirige em Coimbra a revista Presença. A “Geração de Orfeu” A revista Orpheu. adotando uma participação ativa e dentro da realidade da vida moderna. nem equacionar as diferenças existentes entre os próprios republicanos. em 1913. M. nasce o primeiro modernismo português (o orfismo) Portuguesa associado à profunda instabilidade político-social da primeira república e constituindo uma resposta artística de setores sociais mais inovadores das classes médias urbanas. o sensacionismo. é criada em 1915 por jovens modernistas e artistas de vanguarda que estimulados pelas novidades trazidas de Paris por Sá-Carneiro e Santa-Rita. A Geração de Presença Em 1927. Esses autores não fundaram propriamente uma nova escola literária e sim se desvincularam das teorias das escolas anteriores e procuraram os fatos da da realidade do país para transmitir de forma livre e descompromissada suas emoções. Fernando Pessoa foi um dos diretores da revista “Orpheu”. contudo deixar de expressar uma particularidade nacional se constituiu o núcleo do grupo modernista na capital Lisboa. encontrava-se num impasse. Miguel Torga . como também as divulgou e deu continuidade a elas.contista Edmundo de Bettencourt .poeta modernista. Nela também colaborou Fernando Pessoa. o grupo Presença procurava realizar simultaneamente à consolidação do Modernismo e implantar um regime de rigor e severidade artística. particularidade que não torna a leitura mais difícil: seus leitores acostumam-se facilmente com seu ritmo.a mim me deixa molhado. transcritos a seguir. o romance Terra do Pecado. remete-nos ao poema X de “O guardador de rebanhos”. segundo o poema de José Paulo Paes. E que passará depois. e que passa. É conhecido também por utilizar-se de frases e períodos compridos.. Escritores como José Cardoso Pires. Que te diz o vento que passa?” “Que é vento. pois usa a pontuação de uma maneira não convencional. e identifique no poema de Alberto Caeiro as falas que. E que já passou antes. Parte dos artistas do Neo-realismo derivou para uma literatura marcada pela exploração do fantástico e do absurdo. Por sua postura de ataque à burguesia. Superação do Neo-Realismo Após a ruptura e a aceitação da diversidade de estilos e de processos literários.a chuva me deixa triste. respectivamente. Seus principais representantes foram: Alves Redol. Vergílio Ferreira. o que te diz?” 71 . que em busca de uma singularidade redescobre a História através da “efabulação” narrativa. quando publica o seu primeiro livro.. o Neo-realismo defende uma arte participativa. A escrita de Saramago recriando os caminhos do Fantástico integra-se nos novos caminhos do romance em Portugal dos últimos anos. Poema X (O guardador de rebanhos) “Olá. os anos sessenta correspondem à superação definitiva do Neo-realismo. guardador de rebanhos. A partir de 1947. Saramago assume para si um estilo de escrita aparentemente incorreta. Ai à beira da estrada. Complementares Atividades O poema “Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro”. Ferreira de Castro. Justifique sua resposta. vão explorar uma gama de possibilidades estéticas do novo romance e “num cenário inteiramente renovado”. 1. crônicas. [Caeiro] . de José Paulo Paes. de temática social. Fernando Namora. poderiam ser atribuídas a Pessoa e a Caeiro. Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro [Pessoa] . mas receberam também forte influência do chamado Neo-realismo nordestino da literatura brasileira. de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa). Leia atentamente os dois poemas. literatura de Viagem. teatro. contos e romances. encontraram pontos de contato com o Realismo de Eça de Queirós. surge José Saramago. Mesclando o real e o imaginário Saramago é autor de uma vasta produção literária que compreende poesias. características que tornam o estilo desse autor único na literatura contemporânea.Neo-Realismo: uma outra geração estética Rejeitando a temática psicológica e metafísica que tinha dominado a geração anterior. Vergílio Ferreira ou Almeida Faria. E a ti. da Literatura Portuguesa Estudo “Muita cousa mais do que isso. O que lhe ouviste foi mentira. 2. Fala-me de muitas outras cousas De memórias e de saudades E de cousas que nunca foram. 4. E a mentira está em ti”. 5. O vento só fala do vento. que características podem ser extraídas dele? 72 . 3. Qual a temática do poema? Quem poderia estar sendo representado pelo guardador de rebanhos? Quais as características desse poema? Analisando o primeiro poema.” “Nunca ouviste passar o vento. A proposta é criar um jornal/painel informativo-cultural acerca de um dos temas abordados nos quadros e textos a seguir. Mensagem Atividade 73 . Por isso onde o areal está Ficou meu ser que houve. ou Crónicas Avulsas. você poderá utilizar todos os recursos disponibilizados neste período e complementar com pesquisas em livros. Que importa o areal e a morte e a desventura Se com Deus me guardei? É O que me sonhei que eterno dura. desde D.pt/vercial/index. Todas estas crónicas foram publicadas por Alexandre Herculano nos Portugaliae Monumenta Historica. Fernando Pessoa. Não coube em mim minha certeza. rei de Portugal Louco. tendo algumas delas inspirado o mesmo autor na elaboração de certos textos de Lendas e Narrativas.Orientada Caro aluno.di. As Crónicas Breves de Santa Cruz de Coimbra. são quatro textos que foram compilados no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. A atividade deverá ser realizada em ambiente de tutoria e em equipe. porque quis grandeza Qual a Sorte a não dá. A atividade a seguir é de caráter obrigatório e tem por objetivo avaliar o seu aprendizado durante o curso. revistas e sites. Dinis. sendo possível que a primeira redacção tenha ocorrido no século XIII. louco. Crónica Breve do Arquivo Nacional é uma narração bastante sumária da vida dos seis primeiros reis de Portugal. Datam a maior parte da segunda metade do século XV. Afonso Henriques até D. Os manuscritos estão actualmente na Biblioteca Pública Municipal do Porto. Minha loucura.uminho. Sebastião ‘Sperai! Caí no areal e na hora adversa Que Deus concede aos seus Para o intervalo em que esteja a alma imersa Em sonhos que são Deus. In: http://alfarrabio. Cadáver adiado que procria? Fernando Pessoa. Sem a loucura que é o homem Mais que a besta sadia. Mensagem D. sim. outros que me a tomem Com o que nela ia.html D. Para isso. É Esse que regressarei. volume correspondente aos Scriptores. não o que há. Sebastião. largamente divulgadas.com. o sebastianismo. Explorando a crendice popular vários oportunistas se apresentavam como o rei oculto na tentativa de obter benefícios pessoais. que aproveitou a crença surgida nas “trovas” de um sapateiro chamado Gonçalo Anes Bandarra. Sebastião. Seu mais popular divulgador foi o poeta Bandarra que produziu incansáveis versos clamando pelo retorno do Desejado.com/~netopedia/Literatura/barroco. Julgou-se que só a fé visionária poderia salvar-nos. Sebastião originam em Portugal o mito de Sebastianismo (crença segundo qual D.. Traduz uma inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação. dois anos depois. Basicamente é um messianismo adaptado às condições lusas e depois nordestinas. O maior intelectual a aderir ao movimento foi o Padre Vieira.. haviam aliciado adeptos. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir. deslumbrara o mundo com os Descobrimentos e a criação de um grande Império. apenas esperando o momento certo para volver ao trono e afastar o domínio estrangeiro. Foi então que surgiu. divulgando a lenda de que o rei encontrava-se ainda vivo. Na primeira metade do séc. A literatura chorou. In: http://members. como instintiva reacção. ainda que miraculosa. sapateiro de Trancoso (Beira Alta).tripod. «Sebastião cuja morte inda hoje é viva. Portugal vive uma crise dinástica: em 1578 D. o desfazer das esperanças desmedidas. XVII) tinha-se inspirado na Bíblia Estudo 74 . Por falta de herdeiros. Finalmente em 1640. a agricultura lusa era abandonada. Entre esses «profetas» contava-se Gonçalo Anes. Felipe II da Espanha consolida a unificação da Península Ibérica. por exemplo. o Pe.br/voltaire/500br/canudos7.da Literatura Portuguesa O Sebastianismo O Sebastianismo foi um movimento místico-secular que ocorreu em Portugal na segunda metade do século XVI como conseqüência da morte do rei D. sem dúvida. Sebastião voltaria e transformaria Portugal no Quinto Império). segundo um epitáfio mandado gravar no séc. Sebastião desaparece em Alcácer-Quibir. na África. desafiando os rigores da Inquisição. com a perda de D. havia pouco. A perda da autonomia e o desaparecimento de D. a ruína dum povo que. A nação caiu sob o domínio castelhano. no Porto.] Veio depois a derrota de Alcácer-Quibir e o desaparecimento do Rei (1578). In: http://educaterra. se tornariam «o evangelho do sebastianismo». recorda doridamente o Rei. através da ressurreição de um morto ilustre. XVI vários pretensos profetas. Portugal voltou a ser independente e o movimento começou a arrefecer no interior do Nordeste. O mais ilustre sebastianista foi. homem cujas trovas. também ser motivo da crença na chegada de um “rei bom”. em 1578. o trono português terminou nas mãos do rei espanhol Felipe II.Momento Histórico Lisboa era considerada a capital mundial da pimenta. nomeadamente cristãos novos.htm Barroco . Com a decadência do comércio das especiarias orientais observa-se o declínio da economia portuguesa.htm “[. Paralelamente. / Renovando-se sempre de ano em ano».terra. O Bandarra (falecido em 1545. pelo golpe restauracionista liderado pelos Braganças. Vasco Mouzinho de Quevedo. o povo nunca aceitou o fato. Antônio Vieira. Apesar do corpo do rei ter sido removido para Belém. de alcunha «o Bandarra». na associação da mitologia pagã à visão cristã. Jacinto do Prado. Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana. Mais do que prometia a força humana. põe-se em fileira. mesmo nas suas contradições. Eurico. Cereja & Magalhães. que tanto sublimaram. In: http://pt. Em suas bandeiras vêem-se brasões e o símbolo da cruz. É uma epopéia humanista. particularmente a relativa à Idade Média. [. 1999:20 Os Lusíadas Os Lusíadas são considerados a principal epopéia da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. montados em cavalos e armados com lanças. escritor português que se interessou por temas históricos. parece. roupas compridas e largas. Nela o autor fez uso de seu largo conhecimento da história de Portugal. o sebastianismo foi passando da esfera política para os domínios literário e culturológico. um dia aparecerá. marcando a transição da Idade Média para a Época Moderna. o velho criado. com turbantes na cabeça. foi na prosa de ficção que Alexandre Herculano deixou sua maior contribuição. o mito do seu regresso e a quimera do Quinto Império inspiram poetas e prosadores. seu amado amo. Trata-se de uma das situações criadas por Alexandre Herculano (1810--1877).org 75 . À sua frente. estavam a da conquista de Marrocos.. As armas e os barões assinalados Que. embora esse seja um tema de filmes de aventura. introduzindo o romance histórico no país. no gosto do repouso e no desejo de aventura. na apreciação do prazer e nas exigências de uma visão heróica. Herculano é autor dos romances O bobo (situado no século XII). (. As realizações de Portugal desde o Infante D. da ocidental praia lusitana. E entre gente remota edificaram Novo reino. A epopéia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a Índia.] No Frei Luís de Sousa de Garrett. Sebastião.. Esse gênero renovou e revigorou a prosa de ficção portuguesa. quem associa à fé no retorno do Rei a convicção de que D. mundo de fantasias em que cavaleiros heróicos lutam contra o exército árabe e procuram salvar donzelas indefesas. Se a tanto me ajudar o engenho e arte Camões. dado o desgaste das novelas de cavalaria e das novelas sentimentais. O presbítero (situado no século VIII) e O monge de Cister (situado no século XVI). é Telmo. falando uma língua estranha e defendendo um deus diferente: Alá. principalmente aqueles cujo cenário é a Idade Média.wikipedia. atiradeiras e escudos. a da derrota dos Turcos e a do Quinto Império. XIX. Em perigos e guerras esforçados. Canto I. coloca-se outro exército de homens de feições diferentes.] Durante o séc. O sonho heróico de D. Não se trata de um filme da “sessão da tarde” na televisão. Embora também tenha cultivado a poesia. Henrique até à união dinástica com Espanha em 1580 são um marco na História..) Cantando espalharei por toda a parte.. Lusíadas. a sua morte na batalha. [. DICIONÁRIO DE LITERATURA) Alexandre Herculano: em busca das origens Um exército de homens. nos sentimentos opostos sobre a guerra e o império.” (Coelho. João de Portugal... entre as quais.para verberar a corrupção da época e fazer obscuras predições. filho de Filipe II de Espanha. parte para a África em junho de 1578.2004 www. se tornou no mito do encoberto ele que fora antes o desejado e o destinatário ao mito.pt Sinopse Este filme a que dou o título de O QUINTO IMPÉRIO . Carlos. Mito.da Literatura Portuguesa D. desde a sua maioridade. filho do príncipe D.Ontem como Hoje Realizador . de José Régio. nasceu em Lisboa a 20 de Janeiro de 1554. o Homem e a mítica personagem. chega perto de Alcácer Quibir a 3 de Agosto e a 4. D. mais conhecida pela Batalha dos Três Reis. baseiase na peça teatral EL-REI SEBASTIÃO. figurando o próprio rei entre os mortos. contraindo empréstimos e arruinando os cofres do reino. O rei Sebastião.Manoel de Oliveira Ano de Produção . nunca reuniu cortes nem visitou o País. pois a coroa corria o perigo de vir a ser herdada por outro neto de D. Henrique favorável a uma orientação nacional -. Cresceu na convicção de que Deus o criara para grandes feitos. pelo filósofo Sampaio Bruno (século XIX) e no século XX pelo poeta Fernando Pessoa e pelo filósofo José Marinho. depois da estrondosa derrota na batalha de Alcácer-Kibir (1578). educado entre dois partidos palacianos de interesses opostos . e morreu em Alcácer Quibir. afastou-se abertamente dum e doutro. na sua maioria aventureiros e miseráveis. João e de D. figura cimeira do seu tempo e de hoje. enchendo de júbilo o povo. e entregue ao sonho anacrónico de sujeitar a si toda a Berbéria a trazer à sua soberania a veneranda Palestina. entre outros escritores e psicólogos portugueses. Sebastião. Sucedeu a seu avô D. o príncipe D. e o do seu tio-avô o cardeal D. que estavam sempre prontos a seguir as suas determinações.madragoafilmes. foi completamente destroçado.o de sua avó que pendia para a Espanha. só pensando em recrutar um exército a armálo. homens da sua idade. pretendeu analisar o Rei. tendo o único fito de ir a África combater os mouros. que segundo uma sua própria declaração. e. Sebastião Décimo sexto rei de Portugal. temerários a exaltados. Chefe de um numeroso exército. poeta. Joana de Áustria. sendo o seu nascimento esperado com ansiedade. aliás cantado e exaltado nos sermões do Padre António Vieira (Século XVII). romancista e ensaísta. Sebastião mostrou desde muito cedo duas grandes paixões: a guerra e o zelo religioso. nunca se interessou pelo povo. De saúde precária. Estudo O QUINTO IMPÉRIO . dramaturgo. e dirigido por um rei incapaz. o exército português esfomeado a estafado pela marcha e pelo calor. Nunca ouviu conselhos de ninguém. José Régio (1900 a 1968) foi crítico. pedindo auxílio a Estados estrangeiros. João III. D.ONTEM COMO HOJE. e por jamais ter sido identificado o seu corpo após a batalha. 76 . João III. a 4 de Agosto de 1578. aderindo ao partido dos validos. em uma manhã de nevoeiro para derrubar definitivamente o mal do mundo e estabelecer a concórdia entre os povos.pt/home/article.php?id=57 77 . este mito também faz parte da mitologia muçulmana com a mesma nomenclatura do encoberto e.como ainda por estudiosos estrangeiros. Alcácer Quibir battle. In: http://genealogia. é suposto vir a acontecer o mesmo com o Iman muçulmano (o da décima segunda geração) cuja crença comum é a de que virá num cavalo branco. Curiosamente.netopia. tal como o rei Sebastião. dos fatos que interessam ao público a que se destina o jornal ou a revista. Deve ter linguagem clara. revistas e livros. Sugere-se que o editorial possua entre 20 a 30 linhas. interpretan-do-os. Apresenta versões e opiniões diferentes sobre um mesmo fato. orientando os leitores. direta.Etapa Os acontecimentos da História de Portugal estão intimamente ligados a sua produção literária. 1 78 . anuncie o assunto. para da Literatura em seguida discutir o tema e criar as duas primeiras partes do jornal/painel Portuguesa informativo-cultural: o editorial e a reportagem. citações. busque informações em jornais. alertar a sociedade e. pesquisas e dados estatísticos. Dê-lhe um título que atraia a atenção do leitor e. PRODUZINDO UMA REPORTAGEM Leve em conta as características de uma reportagem: Normalmente. Se necessário. Predomínio da função referencial da linguagem.. objetiva e impessoal. ilustre-a com fotografias. Trechos de entrevistas. Tem intenção de persuadir os leitores. desenvolvimento e conclusão. até mobilizá-la. objetiva. esclarecer ou alterar seus pontos de vista. Pode ter um caráter opinativo. A fim de colher informações a respeito da atividade Estudo proposta. Possui uma estrutura convencionalmente organizada em três partes: introdução. além dos textos disponibilizados. questionando as causas e os efeitos dos fatos. por meio de citações. observe os quadros e textos acima e escolha um dos temas. se possível. que seja empregado o padrão culto e formal da língua portuguesa. Para isso veja algumas dicas e sugestões. Com base nas informações colhidas. considerando as características do gênero e. em seguida. retrospectiva histórica. depoimentos. lead e. de acordo com o padrão culto da língua. Coloque um subtítulo. É uma tese ou ponto de vista fundamentado por comparações. Escreva a reportagem. Costuma estabelecer conexões entre o fato central e fatos paralelos. gravuras ou figuras. na pesquisa e no próprio conhecimento a respeito do tema elabore um editorial apresentando aos leitores os assuntos que serão abordados. ao mesmo tempo. dados estatísticos. apresenta título. como é próprio desse gênero literário. boxes informativos. etc. exemplificações. fotografias. PRODUZINDO UM EDITORIAL Leve em conta as características de um editorial: Expressa a opinião do jornal sobre um assunto quase sempre polêmico. se julgar necessário. A linguagem deve ser impessoal. às vezes. desenvolve de modo mais aprofunda. 79 . normalmente se faz um resumo do texto. estudado durante o curso. semelhante às narradas nos textos acima. tomando o cuidado de registrar: autor do texto e a escola literária a qual pertence. Consiste em um texto curto e leve. Terminando o texto. Escolha um texto literário para fazer uma crítica: um livro. está de acordo com o padrão culto e informal da língua. Aborde o fato ou a situação escolhida procurando ir além do circunstancial.Etapa 2 Para complementar o jornal/painel informativo-cultural é necessário criar agora algumas produções de caráter mais pessoal como a crônica e a crítica. Lembre-se que a linguagem. narrando com sensibilidade ou. que tem por objetivo informar o leitor sobre um objeto cultural e avaliar seus pontos positivos e negativos. comentando a sua importância e defendendo um ponto de vista. emprega a 2ºpessoa. 1ª Opção: Pensar em uma situação corriqueira. O tempo e o espaço são normalmente limitados. Sugere-se que o texto possua entre 20 a 30 linhas. Escreva uma crônica sobre ela. apresentando um breve histórico de seu(s) autor(es) seguido de uma avaliação. de sua preferência. Linguagem clara. 2ª Opção: Tomar como base um fato ocorrido e amplamente divulgado pela imprensa escrita (exemplificada nos textos). um poema. Pode apresentar narrador-observador ou narrador-personagem. na qual aponta os aspectos mais importantes. que procura prender a atenção do leitor até o fim. com humor. se quiser. Estrutura livre. PRODUZINDO UMA RESENHA CRÍTICA OU CRÍTICA LITERÁRIA Leve em conta as características de uma crítica: Texto de natureza argumentativa. que tenha sido presenciada por vocês no decorrer do curso. conforme orientação a seguir. objetiva e dinâmica. Relata de forma artística e pessoal fatos colhidos no noticiário jornalístico e no cotidiano. Tem por objetivo divertir e/ou refletir criticamente sobre a vida e os comportamentos humanos. Pode apresentar os elementos básicos da narrativa: fatos. um conto. às vezes. etc. tempo e lugar. diretamente relacionada com o estudo desse módulo. geralmente. dê a ele um título sugestivo. estabelecendo relações com outros textos e contexto histórico. Elabore uma crônica que revele uma visão pessoal do acontecimento. PRODUZINDO UMA CRÔNICA Leve em conta as características de uma crônica: Texto publicado geralmente em jornais e revistas. personagens. Etapa Estudo da 3 Literatura Portuguesa nas etapas anteriores e montar o jornal/painel informativo-cultural. também. seus textos serão bem vindos para serem integrados ao jornal. cunho cultural. você poderá selecionar fotografias/figuras de fontes diversas. pois este terá. Se houver entre vocês poetas e/ou contistas. Agora é chegado o momento de reunir todas as produções criadas 80 . Para compor a parte visual do jornal/painel. que inclui a formação de raças e espécies novas. O bucolismo foi uma das características da poesia arcádica. etimologicamente falando. porque nelas os pastores são presenças constantes. grotescas e ridículas da vida quotidiana. travões ou forças de bloqueio. Predominou na Europa durante a Idade Média. afirma que as espécies animais e vegetais existentes na Terra não são imutáveis. DICOTOMIA – Divisão em duas partes de alguma coisa. também chamada evolucionismo. da morte de tudo. LAICIZAÇÃO – Da palavra laico . na medida em que chama a atenção para a perecibilidade da beleza. dividida em lotes produtivos (feudos). caracterizado por relações de servidão do trabalhador ao proprietário da terra. poeta latino da época do Imperador Augusto. Às vezes ganha conteúdo crítico ou de denúncia à revelia do autor. pretendendo assim. EVOLUCIONISMO – A teoria da evolução. sem limites internos. BUCOLISMO – Tendência poética referente às obras que fazem o elogio da vida campestre. apelando para a caricatura e os exageros. Necessidade inerente à raça humana de afirmar-se como criatura suprema e acabada. que corresponde à estrutura típica da cantiga peninsular medieval. foi o lema persuasivo do galanteio e da conquista dos corações femininos. e se caracteriza pelos personagens e situações exageradas. Essas poesias são também chamadas de pastoris. FARSA – Modalidade teatral cômica que surgiu por volta do século XIV. Geralmente desligada da reflexão a respeito da beleza e de propósitos éticos ou didáticos. mas sofrem ao longo das gerações uma modificação gradual. CANTIGA DE REFRÃO – Forma poética caracterizada pela repetição de um ou mais versos no final de cada estrofe. isto é. ANTROPOCENTRISMO – Doutrina que coloca o homem no centro do universo e medida de todas as coisas. exortação de Horácio. FEUDALISMO – O feudalismo é um modo de produção típico de sociedades agrárias.adjetivo que significa oposição a tudo o que tenha qualquer ligação com a religião. a forma de governo na qual um chefe de estado goza de um poder sem controle e sem limites. provocar o riso explorando situações engraçadas. sem contra-poderes. 81 . a farsa se distingue da comédia propriamente dita por não observar regras de verossimilhança e difere da sátira ou da paródia por não pretender questionar valores. Não tem outra intenção a não ser provocar o riso. é o ato de governar à solta. o que algum dia fez com que o homem vinculasse sua imagem à dos deuses. CARPE DIEM – “Colhe o dia”.Glossário ABSOLUTISMO – O chamado absolutismo. os romances. Foi a corrente de pensamento predominante no período medieval. e novas formas e sub-gêneros. a canção. baseada apenas no mundo físico/material. o de sete. etc. no séc. PANTEÍSTA . ROMANCES – Do Romanceiro . o vocábulo “trova” era sinônimo de “cantiga”. em redondilha menor ou maior). Estudo 82 .da Literatura Portuguesa LUSA – Refere-se a Portugal MEDIDA VELHA E MEDIDA NOVA – Duas técnicas versificatórias. REDONDILHA – São versos de cinco ou sete sílabas poéticas. anónima. Propõe a ideia de uma ciência sem teologia ou metafísica. opondo ao primado da razão. XVI: a primeira designa a tradicional (estruturas e metros utilizados pelos poetas do Cancioneiro Geral. designava toda a espécie de poema em que havia aliança entre letra e música. tropare = inventar. de redondilha maior. tudo) com Deus (em grego: theos). no século XIX. com a desvinculação havida entre música e letra. compor tropos) Durante a Idade Média (galaicoportuguesa). O de cinco sílabas é chamado de redondilha menor. e. o termo fixou-se como equivalente da quadrinha. portanto. TEOCENTRISMO – Baseia-se na concepção de que Deus é o centro do universo.Poesia Portuguesa e espanhola de carácter épico. durante a Idade Média. a segunda. destinada ao canto e transmitida por tradição oral. o primado da experiência sensível (e dos dados positivos). Apareceu como reação ao idealismo. o decassílabo. como o soneto. POSITIVISMO – O positivismo foi uma corrente filosófica cujo mentor e iniciador principal foi Auguste Comte. A partir do século XVI.Panteísmo é uma doutrina que identifica o universo (em grego: pan. TROVA – (Latim.). Compilação desses poemas tradicionais. a importada de Itália por Sá de Miranda e António Ferreira (com um novo verso. História da literatura portuguesa. A Cultura Literária Medieval.br http://www. Massaud.pt 83 .citi. Porto: Porto Editores. São Paulo: Cultrix. Referências SITES CONSULTADOS: http://www.wikipedia. (rev.br http://www.itaucultural.pt http://www. 1978. São Paulo: Ateliê. A literatura portuguesa através dos textos.pt http://www. São Paulo: Cultrix. 1991. António José e LOPES. M.com.Bibliográficas ABDALA JR & PASCHOALIN. Massaud. A literatura portuguesa em perspectiva. 10 ed.br http://www. 1994. Massaud (org. Aparecido. MOISÉS. 1997. 26 ed.com. 1982. SARAIVA.org.instituto-camoes. Segismundo.org http://www. 1990.mundocultural. 4 vols.pt.). São Paulo: Ática.secrel. MOISÉS. e aum. Óscar. MOISÉS. A literatura portuguesa. São Paulo: Atlas. SPINA.). História social da literatura portuguesa.vidaslusofonas. EaD Faculdade de Tecnologia e Ciências . www.br/ead 84 .ftc.da Literatura Portuguesa Estudo FTC .Educação a Distância Democratizando a Educação.
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