LIGNÓIDES

March 18, 2018 | Author: Aliny Vasconcelos | Category: Solubility, Chemical Polarity, Chemistry, Physical Sciences, Science


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LIGNÓIDESLignóide é uma designação genérica, que caracteriza micromoléculas, cujo esqueleto é formado exclusivamente pelo grupo fenilpropânico (C6-C3)n, sendo n restrito a poucas unidades, 1, 2, 3, etc. Os lignóides subdividem-se nos seguintes grupos: 1.1. Lignanas (Do latim lignum = madeira, lenho) - são dímeros formados através do acoplamento oxidativo de álcoois cinamílicos entre si ou destes com ácidos cinâmicos. Este termo criado em 1942 por Haworth se prestava muito bem para as poucas substâncias descritas até aquela época. Estruturalmente, os dois resíduos n-propilbenzênicos apresentam o carbono gama (C-9) oxigenado, como pinoresinol isolado de Picea, Pinus e Abies spp, ciclolariciresinol de Araucaria angustifolia e o álcool diidrodiconiferil de Larix leptolepis. 1.2. Neolignanas (Do grego néos = novo, moderno) - por causa da crescente variabilidade estrutural a definição de Haworth ficou limitada, o que levou Gottlieb, em 1978, a criar o grupo das neolignanas que são dímeros oxidativos de alil fenóis e de propenil fenóis, entre si ou cruzados e não apresentam o carbono gama oxigenado, por exemplo, grandisina isolada de Licaria aurea, otobafenol de Osteophloeum platyspermum e licarina A de Nectandra glabrescens. 1.3. Alolignanas (Do grego állos = um outro) - são dímeros mistos de arilpropanóides ou seja, um dos monômeros apresenta o C-γ oxigenado e o outro não. O termo alolignana não possui conotação biossintética, sendo uma designação meramente estrutural, visto que o dímero que apresente um dos carbonos gama oxigenado, não sugere que o mesmo tenha se formado pelo acoplamento cruzado entre alil ou propenil fenóis com álcoois cinamílicos ou ácidos cinâmicos, pois tais substâncias poderiam ser formadas por oxidação seletiva de uma neolignana, ou por redução seletiva de uma lignana, por exemplo, furoguaiacidina de Guaiacum officinale, o ácido junaftóico de Juniperus sabina e carinatol de Virola carinata. 1.4. Norlignanas (Nor = prefixo comumente usado na nomenclatura química para indicar a remoção de um átomo de carbono de um esqueleto bem definido) - qualquer substância pertencente a um dos grupos acima, com um átomo de carbono a menos em um dos precursores primários, como por exemplo, criptoresinol de Cryptomeria japonica, hidroxiantrotaxina de Metasequoia glyptostroboides e ratanhiafenol I de Krameria interior e K. triandra. 8’.9.8. galgravina. propenilfenóis e alilfenóis. A Figura 1 mostra os diversos tipos estruturais mais representativos e sua designação de acordo com Freudenberg e Weinges (1961). um xantonolignóide. principalmente das lignanas e neolignanas. Estas unidades precursoras são distribuídas em dois grupos de acordo com a estrutura e ocorrência: Grupo A ácido cinâmico e álcool cinamílico Grupo B .2’.0. cinamoil e cinamil) seguido de adição de um ou dois íons hidretos. o trímero ou sesquilignana herpetetradiona e o tetrâmero ou dilignana herpetetrol. 4. origina-se o lignóide de determinado tipo estrutural.8. A biogênese dos lignóides. alil. Oligolignóides (Do grego olígos = pouco) .9. adição de íon hidreto mais hidroxila inter ou intramolecular seguido de ciclização e aromatização conduzem a vários tipos de neolignanas (ácido nordiidroguaiarético.propenilfenóis e alilfenóis.8’. assim temos a kielcorina isolada de Kielmeyera coriaceae.8’) ou quando apresentam um grupo lactona diarilbutanolido (8. Estes radicais podem apresentar várias estruturas canônicas de ressonância.9’).6.0. Dependendo do acoplamento destes radicais nas diferentes posições possíveis. ou seja.7’.9.7’).1. pode ser explicada pelo acoplamento oxidativo entre unidades monoméricas radicalares.8’.6. gomisina. por exemplo.8’.8. benzofurano . dibenzocicloctano (2.6.0. como por exemplo. podofilotoxina e iangambina). BIOGÊNESE Há quatro monômeros estão envolvidos no acoplamento oxidativo do processo biogenético dos lignóides: ácido cinâmico.constituído de partes de diferente natureza. 2.8’ e 2. um cumarinolignóide e o complexo lignana-iridóideglicosilado isolado de Buddleja davidii.8.9’).9.9. 1. que formam a grande maioria das substâncias conhecidas. galbulina. os produtos resultantes da condensação de três a cinco unidades fenilpropanoídicas.8’. eusiderina A.8’) e furofurano (7.5. burchelina e magnolol) e lignanas (hordatina. um lignóide acoplado a uma outra classe de produtos naturais. ariltetralina (8. 90% pertence ao grupo das lignanas e neolignanas e pelo menos quatro dezenas de esqueletos carbônicos diferentes são conhecidos. tetrahidrofurano (7.9’ e 7.0. Estruturas básicas e numeração Mais de 1000 lignóides estão relatados na literatura. em analogia à nomenclatura dos terpenóides.9’. álcool cinamílico.8.2’.7’ e 8.7’).0. ambos isolados de Herpetospermum caudigerum e assim por diante. propenil.7’. Geração dos radicais arila e propila.0.9’. a propacina isolada de Protium opacum. NEOLIGNANAS E LIGNANAS COM SEUS RESPECTIVOS PRECURSORES BIOGENÉTICOS O acoplamento oxidativo entre os radicais (p. ex. mostradas no abaixo. desse total.8’. Heterolignóides (Do grego héteros = diferente) .designam-se os oligômeros de lignóides.0.0. 3. São assim denominados: diarilbutano (8. 0.0. já foram isolados por volta de 1000 lignóides dos quais 600 lignanas.4’. que sejam restritas a esses taxons.1’.7’. Sabe-se que as neolignanas acumulamse em madeira como resposta a ferimento mecânico ou ao ataque de microrganismos.8. 350 neolignanas e 50 estão distribuídos entre alolignanas. diidrodieugenol (3.8’).0. existem dezenas de relatos na literatura sobre atividade biológica comprovada. Por outro. Há evidências que este grupo de substâncias esteja envolvido em interações de plantas com fungos. que desempenham um papel na adaptação ecológica. Já os metabólitos derivados do grupo B (propenilfenóis e alilfenóis .4’) e bicicloctano (8. Laurales e Piperales.3’). embora não significa. Gottlieb. em resposta à inoculação do fungo Hemileia vastatrix (ferrugem do café). como o efeito antialimentar.9’. Numa avaliação aproximada. benzodioxano (7. nos arbustos predominam as neolignanas. se analisamos os produtos resultantes do acoplamento oxidativo dos monômeros do grupo A (biossíntese apoiada nos álcoois cinamílicos .8.0. como exemplo a formação de lignina em folhas de Coffea arabica. supondo. oligolignóides e heterolignóides. Licaria. Com base em fitoquímica comparada. também. induzido pela piperenona isolada de Piper futokadzura (Piperaceae). não é de se admirar que também possam ser aproveitados diretamente pelo homem ou servindo de modelo para a síntese de fármacos. e que exibem propriedades de defesa contra insetos. Por isso.3’). futoenona (8.0. Gottlieb (1982) mostra que lignóides são indicadores do processo evolutivo em angiospermas. ariloxiarilpropano (8. Nectandra e Ocotea com quase duas centenas de substâncias inéditas registradas na literatura.0. têm se concentrado em poucos taxons morfologicamente aparentados como Magnoliales.8’). No Brasil. 5.que dão origem às lignanas).8. em poucas Gymnospermas.(7. Outros tipos estruturais poderão ser encontrados nos trabalhos de revisão de Gottlieb (1978) e Gottlieb e Yoshida (1989). Ocorrência e distribuição Os lignóides estão largamente distribuídos no reino vegetal. Estão bem representados dentro das Angiospermas. verifica-se que eles são de vasta distribuição no reino vegetal e foram detectados em 75 famílias.que dão origem as neolignanas). Se de um lado as plantas lenhosas são mais ricas em lignanas.4’).1’ e 7. enquanto que na classe Liliopsida apenas na erva Aegilops ovata foi isolada uma lignana. Nesse sentido. A família Lauraceae foi a mais estudada e dentro dela os gêneros Aniba.1’. que a lignificação faz parte da reação hipersensitiva de plantas a patógenos.8. Tem sido demonstrado. no entanto. .6’. insetos ou com outras plantas. portanto.7. Atividades bilógicas O elevado número de lignanas e neolignanas distribuídos no reino vegetal.2’.7.5’). 6.3’. diarilciclobutano (7. leva à suposição de que as propriedades biológicas destas substâncias sejam essenciais ao desenvolvimento do próprio vegetal e ao controle que exerce sobre a vida circunjacente. quem mais contribuiu para o conhecimento da química das neolignanas foi o grupo do Prof. norlignanas. 1. consiste de início. Já as lignanas glicosiladas. a água-mãe resultante. De Ocotea duckei se obtém mais iangambina além de sesartemina e siringaresinol e de Rollinia pickelli se isola mais epiiangambina além de epimagnolina e episesartemina. Drogas vegetais clássicas 8. não só de extratos de plantas como também de fluidos biológicos. Podofilo Nome científico: Podophyllum peltatum L. as neolignanas. Para uma análise mais profunda sobre obtenção. consultar as revisões de Ayres e Loike (1990) e Ward (1997). A técnica é simples e rápida. A identificação é feita através dos métod espectroscópicos (RMN de 1H/2D e 13C) e espectrométricos (EM). purificação e caracterização de lignóides. A fase clorofórmica é evaporada e o resíduo ressolubilizado em metanol e deixado no freezer por 24 horas. o resíduo é tratado sob agitação mecânica com uma solução de ácido acético a 10 % e filtrado sobre celite.. 8. é evaporada e submetida a cromatografia em coluna de sílica gel. em preparar um extrato etanólico bruto das cascas do caule e folhas do material vegetal seco e pulverizado. etanol e butanol. Propriedades. que são dímeros fenilpropanoídicos. isômeros estereoquímicos. mas em consequência da abertura do anel lactônico e formação de sais alcalinos. P. Além dos métodos tradicionais de separação envolvendo cromatografia em coluna de sílica gel são empregados também GC-MS. As lignanas são sólidos incolores cujo ponto de fusão varia de 60 a 300 oC e por apresentarem o carbono gama oxigenado (carboxila ou hidroxila livre) são de polaridade intermediária.7. As neolignanas geralmente se apresentam como óleos viscosos. LC-MS e HPLC. pelos seus carboxilatos. Quanto a polaridade dos mesmos. obtenção e análise Pode-se dizer que não existe nenhuma reação química geral. para detectar lignóides em extratos vegetais. Após evaporação do solvente a vácuo. Tanto iangambina como epiiangambina. são solúveis em solventes apolares tais como éter de petróleo e dissolventes análogos. A existência de hidroxila fenólica. mostraram ser potentes antagonistas do fator de agregação plaquetária (PAF). Após obtenção do componente majoritário de ambas as plantas. solúveis na água. Quando se utilizam estas soluções muito concentradas. de coloração ou de precipitação. principalmente se a porção do anel aromático estiver metoxilada como acontece na maioria das vezes. os oligolignóides e heterolignóides são extraídos bem em álcoois como metanol. pode-se também generalizar e dizer que seus precursores biogenéticos são bons indicadores do comportamento dessas substâncias junto aos solventes orgânicos usuais. na molécula de algumas lignanas confere-lhes a propriedade de se dissolverem nas soluções aquosas diluídas dos hidróxidos alcalinos. Atenção crescente tem sido dispensada na padronização de métodos de análises de lignanas e neolignanas. No caso da Ocotea duckei obtem-se um precipitado que após recristalização em metanol foi identificado como iangambina. Assim. No caso de Rollinia pickelli o precipitado foi de Epiiangambina. O filtrado é extraído em ampola de separação com clorofórmio. os derivados butanolido dissolvem-se no reagente. hexandrumRoyle Família botânica: Berberidaceae Parte usada: . levaram à descoberta do etoposido e teniposido. neuroblastoma. Ph. Ph. B. acompanhada de outros isômeros. a de flor branca. carcinoma pulmonar e mieloma múltiplo. uma erva perene. encontrou-se as mesmas substâncias . Família botânica: Asteraceae Parte usada: Frutos maduros Monografias farmacopéicas: DAB 8. Os outros constituintes da silimarina são a silidianina.P. O P. entre 1. Isolou-se uma mistura. hexandrum Royle (= P. com uma estrutura diidrobenzofurânica. sua produção anual é de várias centenas de toneladas. mas nenhum trabalho científico confirma essas propriedades. um oxatriciclodeceno resultante da cicloadição do álcool coniferílico também a taxifolina e a silicristina. Cardo Santo Nome científico: Silybum marianum Gaertn.P. Depois verificou-se que esta é constituída por várias flavonolignanas que compreendem a silibina. o constituinte majoritário. B. Família botânica: Zygophyllaceae Parte usada: Resina obtida do lenho Monografias farmacopéicas: Ph. ÖAB. Ph.5 a 3 % do peso da droga. emodi Wallich) é uma espécie nativa da Índia que produz 12% de resina e contém quase o dobro de podofilotoxina da espécie norte americana. com propriedades antineoplásicas sendo a mais conhecida a podofilotoxina. nativa das regiões orientais dos Estados Unidos e Canadá.P. leucemia mielocítica aguda.3. Guaiaco Nome científico: Gaiacum officinale L. profilaxia contra gota e artrite reumatóide. Bras I.2.S. de pulmão e bexiga. A resina de podofilo continua sendo o produto de origem vegetal com fins medicamentosos mais importante dos Estados Unidos. Fr. desenvolvidos pela Mead-Johnson. O Etoposido (Vepesid) é indicado no tratamento de carcinoma testicular. linfomas de Hodgkin e não-Hodgkin.. sanctum L. Helv. Em associações para problemas respiratórios 8. de princípios antihepatotóxicos. 1993. linfoma de Hodgkin e não-Hodgkin. Em outras variedades de Silybum. Bras I. U.Rizomas e raízes dessecadas Monografias farmacopéicas: Ph. IX Podofilo é uma droga constituída dos rizomas e raízes dessecadas de Podophyllum peltatum. A atividade antimicrobiana está associada aos diversos lignóides presentes. vermífugo e emético. tratamento de sarcoma de Ewing e sarcoma de Kaposi associado à AIDS. IX Tradicionalmente a resina de guaiaco tem sido utilizada no tratamento do reumatismo subagudo. potente inibidor da divisão celular. 23. 1993. aos quais se deu o nome de silimarina. derivados semi-sintéticos. O Teniposido (Vumon) para leucemia linfocítica e mielocítica aguda. Desta planta se prepara um material conhecido como Resina de Podofilo de onde se extrai inúmeras lignanas do tipo ariltetralínicas. empregada antigamente pelos índios e os primeiros colonizadores como cáustica para certos papilomas. Fr. Estudos de modificação molecular feitos com a podofilotoxina. que supre a demanda local e externa. A silibina é um heterolignóide de núcleo benzodioxano formado pela adição do álcool coniferílico a taxifolina. G. 8. .acima. acompanhadas dos derivados 3-deoxi da silibina (silandrina) e da silidianina (silimonina).
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