Koellreutter Estética

March 28, 2018 | Author: HunterThompson | Category: Japan, Pop Culture, Aesthetics, Thought, Western World


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.J77 ~OELLREUTTER ESTETICA 7tLl7 K77 Autor. Koellrcuttcr-, Ha Título: A procura de um rrumdo 1111111111 ~~ :. 1 BA-00033796-7 1 Ilustrações: F.l.ã.v.io ln6eNUl Edição japonesa: :tono tAi.. u:a Meisei University Ed. Tokio, 1983. Sei..yó H. J. ~OELLREUTTER A PROCURA DE UM MUNDO SEM «VIS-À-VIS» CReflexões estéticas em torno das artes oriental e ocidental> ~- t,,,u~ & '?jír aJ.,. O••'reio de ; • ~1 b ~o para Artes L tcia: IH da [l a, 1 U . - Sah 510 - 5.0 4ndar Ed. Arclagek t.hl<?th · Fon~: 1J l 1) 273-1010 30-169 - Belo Hollzonte · M<i IUSll tradução e coordenação: SALOMÊA GANCELMAN l t - 1mpre '·':, ~ .,a.,. of c1nas da ' EXEMPLAR N~ 11• int&sJação gr.ifica, editora e • mpressos escolares ltda ' . . . .·. 1. + I • • _j,_ - .a e n:Jbêl. 74 - cep 04052 •7&;J136 - sao paulo - sp Brasil COLECÃO ENSAIOS . SÃO PAULO BRAS 1L * * * * 2a.618. 156 Rua Alvaro Rodrigues n~ 58 04582 . edição * (Printed in Brazil) * * * EDITORA NOVAS METAS LTDA.941/0001-61 INSCRIÇÃO 110.C.São Paulo/SP BRAS 1L .049.06 * * * * * * Edição brasileira Direitos reservados pela EDITORA NOVAS METAS LTDA. 50. C.G. 52 . 3. Hans Joachim. Ar te oriental . Título: Reflexões estéticas em torno das artes oriental e ocidental . Arte 2.1821 84-2193 Índices para catálogo sistematico: 1. 17 Japão: Arte oriental 709. Arte: Filosofia 701 Arté ocidental 709. tradução e coordenação Saloméa Gandelman. Arte . Novas Metas. 2. SP K82p Koellreutter . 5.Japão 4. J. São Paul o : Ed . Estética I. (Coleção ensaios.Brasil.Publicação C ã ma ra Brasile ira do Livro. Catalogação-na.1821 Estética : Artes 701 . 4. Koellreutter. Titulo. 1984.CIP . 1915Ã procura d~ um mundo sem "vis-à-vis": reflexões estéticas em torno das artes oriental e ocident al / H.52 -701 -701-17 -709. CDD-709. 17 Estética compar ada : Artes 701 .Filosofia 3. II . 6) 1. e partem. noacontecil"lento l'lais notável de nosso século. Os dois temas básicos dessa concepção são a unidade e inter-relação de todos os fenômenos e a natureza intrinsecamente dinâmica do universo. discutem a necessidade e urgência de un estudo crítico das culturas. J. quarta carta) ou renovadora {"o conservadorismo se prende ao já ultrapassado e se opoe ao criativo" -Koellreutter. . na análise dos processos culturais. nas doze cartas que se escreveram entre 1974 e 1976. terceira carta). Quanto mais penetramos no mundo sub-microscópico. Dois intelectuais que examinam os aspectos predominantes na forma do ocidental e do oriental elaborarem seu pensamento. mais nos damos conta de que tanto o físico moderno. provavelmente. baseada em conservadorismo.7 PREFACIO O encontro do misticismo oriental com o pensamento científico do ocidente e suas naturais implicações nos campos social. parece-me ser a de uMa terra-1T1ater de novas idêias e desenvolvimentos. percebem o mundo como um sistema de componentes inseparáveis. que interagem e estão em movimento contínuo. S. E Fritjof continua: "O paralelo entre a física moderna e o mist1c1smo oriental é chocante. Conscientes do significado e alcance da convergência entre as culturas em questão. isto é. a seleção de seus valores característicos.provê ln fundo filosófico consistente e relevante para as teorias científicas contemporâneas. e a redescoberta do homem como parte integrante de um todo orgânico. o físico americano Fritjof Capra escreve: "O pensamento oriental . Em seu 1ivro "The Tao of Physics". quanto o místico oriental.e de um modo mais geral o pensamento místico . com o homem como parte integrante desse sistema". Tanaka e H. filosófico. artístico e científico constituem-se. comas consequentes implicações na apreensão do real. de diferentes visões quanto ã sua natureza: conservadora ("a cultura. u-na concepção do mundo na qual as descobertas científicas do homem convivem em perfeita harmonia com suas aspirações espirituais e crenças religiosas. transformação cultural criadora" -Tanaka. com vistas ã construção de uma cultura planetária. frequentemente encontrando-se afirmações a respeito das quais é quase impossível dizer se foram emitidas por físicos ou místicos orientais". Koellreutter. atual e polêmico. Japão. diariamente. através das cartas. Kurt Thomas e Herman Scherchen. do próprio HindemitheSchoenberg". nascido em 1935. Koellreutter nasceu em Freiburg. ambas em Tokio. em busca de uma identidade estilística que tenda ao universal. J . Movido pela idéia da complementaridade e do jogo dinâmico entre intuição mística e análise científica. a transcendência do positivismo racionalista e excludente.- 8 O tema. através da redescoberta do originário. S9toshi Tanaka. Tokio. amplamente analisado e debatido. Fez seus estudos de língua e cultura germânicas na Universidade de Keio e na Academia Keio de línguas estrangeiras. pois. r~gente. deixou em 1937. a criação musical se apresentava multo pouco diversificada: a formação de instrumentistas e professores. Alemanha. Na revis ta argentina ·'Lact i tud" (Buenos Aires. como bolsista do Instituto Goethe em Hun ich..r-----. Forçado pelo regime nazista. a ser alcançada. Dentro dessa moldura. da preservaçao da cultura nacional e da luta contra sua desfiguração provocada pela avalanchedemanifestações culturais estrangeiras que. do expressionismo centro-europeu. em 1915. e tecnicamente. compositor e pedagogo. 1944) . segundo o compositor argentino Juan Carlos Paz. em Hae Bashi. é lançada pelos veículos de comun i cação de massa é. H. Koellreutter deu início â sua intensa e longa carreira de flautista. posteriormente aperfeiçoando-se na matéria. Nesse momento. é professor de alemão na Universidade de Heisei. carente de informação e impregnado de preconceitos estéticos... Discípulo de Hindemith. no campo artístico brasileiro da atualidade~ quem sabe?~ pelo aproveitamento e integração de valores. Paz escreveu: Juan Carlos . Ao confrontarem valores estéticos e éticos das culturas ocidental e oriental -Koellreutter enfatiza a complementaridade (e não a excludência) como fator de enriquecimento cultural e harmonização entre os homens -ambos discutem suas apreensões e esperanças quanto ao futuro da humanidade. pelo menos em parte. e o meio artístico. incipiente e inadequada. entre outros. ainda vivos nas culturas indígenas de nosso país (que ainda conservam uma cosmogonia global e unitária). seu país de origem. "procede esteticamente.. Koellreutter propÕe. radicando-se no Brasil. no tempo de Getúlio Vargas e do Estado Novo. em que até mesmo um Vil la-Lobos servia â causa política. resultou a introdução do serial ismo no Brasil. naquele país." Dando-se conta de que. embora tenham mudado de nome e orientação. em função do cargo. O próprio Koellreutter. foi convidado pelo Instituto Goethe para organizar seu setor de programação internacional. pode-se afirmar que se iniciou. permitiu. designado para a direção do Instituto Goethe no Rio de Janeiro. mantendo.foram sempre os princípios que nortearam sua atividade de professor. função que exerceu até 1981. com a Pro-Arte. Em "Música 1941" já despontam algumas das questões que serão objetos de sua constante preocupação: delineiam-se tentativas de supe- . Nova Délhi.lhe passar um ano em Berlim. desenvolveu o melhor de seus esforços no exercício do magistério. embora sem rigor pois. mudou-se para Tokio.para Koellreutter. como artista residente.9 "Com a chegada ao Bras i 1 . Após 25 anos de trabalho no Brasil. Rio de Janeiro. "ortodoxia é anti-artística e incompatível com a vanguarda". Nesta ocasião. estimular e desenvolver o que apresentam de mais pessoal . em 1937. para a Índia. J. começou a explorar a técnica dodecafônica. centros livres de experimentação e debate que. fundando. na Escola de Música Ocidental. em 1965 . uma nova etapa de sua evolução musical: a que une um sentido de renovação substancial da criação a urna posição de maior responsabilidade do que a até então assumida pelo compositor brasileiro . em decorrência de sua atividade didática. Koe 11 reut ter. nos cenários artístico e educacional brasileiros. seria no campo do ensino que sua atuação se faria mais urgente e necessária. também lá atuando no magistério (Instituto de Música Cristã. permaneceu até 1969. em 1962. de H. após 13 anos de ausência retornou ao Brasil. Da apreciação crítica de um dos trabalhos de Cláudio Santoro. até hoje. um prémio concedido pela Ford Foundation. conscientizá-losarespeito do que estão fazendo. sua atividade pedagógica. na qualidade de diretor daquele Instituto. Bahia e Piracicaba. segundo sua maneira de entender. continuam atuando. paralelamente. Em 1970. Seminários de Kúsica de São Paulo. partindo. até então escrevendo dentro de uma linguagem tonal. quando seu aluno. Christo Kyôkai Ongaku Gakko) e na regência do Madrigal "Heinrich Schütz" . do ponto de vista sócio-cultural. os Cursos Internacionais de Férias em Teresópol is. onde. o estilo pessoal é um dos critérios de valor na obra de arte . Ir ao encontro daquilo que os alunos buscam. no qual uma nova ordem gramatical já despontava. Em 1975. A pa 1avra "Concret i on" (concreção) não se refere à ação de tornar concreto. melodia.como uma técnica composicional que funde. pelo emprego de uma série que. o princípio serial e a ordenação particularizada e fundamental dos signos musicais.). intencionalmente. o que lhe permitiu corroborar algumas de suas idéias. etc. "tudo é diferente e.que v1r1a a caracterizar seus trabalhos posteriores . ou ao processo de solidificação. não mais por ocorrem eventos musicais de ordem causal (dominante e tônica. Em 1953. decisivo no futuro desenrolar dos trabalhos do autor. ao mesmo tempo. igualando em nível e unificando as unidades estruturais (gestalten).tendo sido evitada.de suas próprias experiências.etimologicamente. a individualização de qualquer das "gestalten". através de discussões constantes a respeito da relatividade das idéias estéticas e das potencialidades composicionais do Material sonoro. dual idades dialeticamente opostas (dissonância e consonâncias. é substituído pelo multi-direcional os signos musicais não mais se apresentam no pentagrama. ao viajar pela primeira vez para o oriente. A duração de "Concretion 1960" varia entre oito e vinte minutos. harmonia ou pontos fixos de referência. da qual também participaram seus alunos. não mais dividido nas três fases. entre os quais "Concretion 1960".resultante do choque entre sua naneira de pensar e a daqueles entre os quais atuava . A linguagem empregada tende a um "elementarismo" . ~as dispostos no plano . segundo as relações características da unidade estrutural. direcional. J. i gua 1". ou seja. até então timidamente manifestas.período em que H. isto é. sob o impacto . não tendo começo ou fim. deixou de escrever "obras". em uma estrutura mae. Os anos compreendidos entre 1953 e 1960 . Koel l reutter entrou em contato com a estética de outras culturas musicais. mas a uma nova forma. os elementos conjuntivos e disjuntivos da composição são gerados apenas por um módulo básico. passado. para compor "ensaios". presente em todas as partes da obra. O processo linear. Koellreutter ensinou na Bahia . Koel 1reutter define planimetria . "concreta". Nas palavras do autor. conservador e avesso a qualquer for~a de expressão não convencional. primeiro e segundo temas.10 ração do contraste entre sons e espaço em que esses ocorrem. tempos forte e fraco.o que gera um alto grau de aleatorismo. de crise intelectual e ideológica. exemplo). e mais tarde. presente e futuro. atua como continuum. levantamento topográf!co . preciso considerar que sua formaçãomusical se deu na Alemanha sob opressão do nazismo. pois. por sua estrutura planiMétrica. ao ooosto da abstração. de apreensão do tempo. t.foram. O início parece ocorrer por acaso e o término . Nessa fase. linhas e campos. integradora. dentro de uma ordem crê-estabelecida de proporçoes. do metrônomo. Na nossa era tecnológica.JI se dá por simples interrupção. não pode.arte como cri ação funciona 1. e do compasso) é um ensaio no sentido de uma realização musical que ocorre em um tempo qualitativo . nesse momento em que se constata uma convergência. da duração definida e determinada. coincidente com a i dé ia de "ar te-ação" expressa por Kár iode Andrade em "O Banquete") . em uma estética do impreciso (tendências substituem ocorrências definidas) e do paradoxal (fundem-se conceitos estéticos aparentemente contraditórios). foi composto para piano solista e orquestra (sopros e percussão) escrita em uma esfera diáfana e transparente. "Acronon" (1 ivre do tel'lpo medido. experimenta 1 e transitória. tais como os de tempo. "O som é silêncio e o silêncio é sem. forma móvel de ordenação e relacionamento assimétricos. para Koellreutter.cuja vivência resulta da relação deu" determinado estado emocional com as diversas ocorrências musicais. pois. Uma visão. formando-se um todo ilimitado que leva o ouvinte a perder o senso da forma". uma experiência libertadora e a abertura para a formulação de idéias condensadas posteriormente. percebidos e vivenciados. variável. espaço. permite ao pianista ter uma visão de todos os signos musicais. planimetricamente estruturado. simultaneamente seu construtor .tel'llpo como forma de percepção . produto da cultura mas. possibilitando-lhe a seleção das unidades estruturais a serem tocadas. engajada. segundo seu caráter complementar. A partitura do piano . de equilíbrio dinâmico."Acronon". quetendeaaproximarexpressões artísticasecientíficas. aliás. que se materia 1 i za atravésdeestudoseensaios (ponto de vista. O examedasobrascitadasealeituradascartasevidenciam a preocupação de Koe 11 reutter com as re 1ações entre arte e soei edade . homem). do tempo relógio. assimétrica. segundo as palavras do autor. escapar à pres- . transpondo para a música: livre da métrica racional. aproximando oriente e ocidente . entre conceitos f i 1osóf i cos da fÍ si ca moderna e o mi st i cismo de culturas milenares e de outros povos. A forma da peça é ternária. o homem.sendo a arte concebida como fators i gn i f i cativo na construção de um mundosem"vis-à-vis". i nveross ími 1 ao olhar cét ico do oci denta 1. bem como seus estudos no campo da física moderna .com as consequentes implicações para a filosofia e a estética significaram. Sente-se a sugestão de pontos. semelhante à do "ten-chi-jin" japonês (tradução literal: céu. terra. e CO"llO campo experimenta 1 em que novos conce i tos e l en tf f i cos e consequentemente também estéticos. de três elementos diferentes. inevitavelmente. O encontro com a musica clássica da Índia e com o Gagaku do Japão. causa e efeito podem ser investigados. porém harmônicos. portanto. exercendo sua capacidade crítica e seletiva. Saloméa Gandelman . pois. ao mesmo tempo em que. de opiniões infundadas e da reflexão. seguramente a construção de um mundo sem fronteiras "requer uma descoberta contínua da própria identidade. nas palavras do físico Werner Heisenberg. sexta carta). 11 c0<110 caso particular de algo mais geral" (Heisenberg). ou seja. pois.demanda uma tomada de consciência das próprias peculiaridades. redescoberta que liberta de preconceitos nacionalistas. de representar uma perda de identidade . longe.que tanto atemoriza os homens de todas as latitudes . influi e imprime diretrizes aos mesmos. Uma cultura universal. o distinto como condição de universalidade. "compreender significa reconhecer relações e ver o distinto como caso particular de algo mais geral". "o distinto".parcial" (Koellreutter. Se.12 são dos veículos de comunicação de massa. de se tratar de "niponização". o senhor sabe muito bem quão distante está da música tradicional japonesa. num mundo de relatividade. pela maneira de viver e pensar. compreendemos que. duas tendências distintas. consegue dominá-lo. alguns pintores de "ni hon-ga" procuram fazê-lo. Desde sempre. chama-se "nihon-ga". sobre um texto em língua japonesa. se de um lado admiro. Seguramente. a sua influência. no entanto. gostaria que discutíssemos um pouco a respeito das coisas que distinguem os europeus dos japoneses. chama-se ''yô-ga". Nos últimos tempos. Acreditamos que. até hoje. o Absoluto não existe. Aos nossos olhos. prezado Sr. seus representantes visam imitar as tendências estilísticas do ocidente. tive a impressão de que a diferença principal entre ocidentais e japoneses tem suas raízes no Cristianismo. Para nós.13 Toquio. no entanto. sabe também. sente-se a influência da sensibilidade e da estética japonesas. A outra. e voz falada. Por outro lado. um "mundo infinito". de CertoeErrado. tudo é relativo. Koellreutter. na pintura japonesa moderna. sente-se. não posso evitar sentílo como arrogante. nada existe que possa ser considerado como Absoluto. E estranho que os pintores japoneses nunca tivessem tido a idéia de integrar a técnica e o conteúdo estético da arte ocidental ao modo de pintar da tradição japonesa. apesar da influência japonesa. os conceitos de Bem e Mal. e isto me surpreendeu. e eu estou convencido disto. Assim. faculdade que os artistas japoneses geralmente não possuem quando se defrontam com culturas alienígenas. o individualismo egocêntrico ocidental. Procurarei elucidar o que acabo de dizer por meio de um exemplo: hã. seus representantes visam pintar em estilo tradicional do Japão. Em todo o mundo ocidental. Parece-me essencial o fato de ter o Cristianismo um único Deus que simboliza o Absoluto. Admiro-lhe a capacidade de ter mantido sua identidade e individualidade. por outro. com o qual o Cristão relaciona tudo. Devo confessar que. instrumento tradicional do Japão. neste mundo. (poema concreto do poeta japonês SHUTARO MUKAI que sugere a real idade como criação onírica do homem) (•)escrita para "Koto". Ouvindo essa composição. Não se tem a impressão. o Divino-Absoluto poderia vir a (•) nota dos tradutores . 2/9/74 Prezado professor Koellreutter: Acabo de ouvir seu novo trabalho intitulado "Yume no naka no hito". como oriental. uma. distanciar-se do objeto alheio e contemplá-lo objetivamente. Por isso. Confiar. Por isso.até o período Edo (1598 a 1867) . segundo sua opinião. se quisernos ent~nder verdadeiramente a arte e cultura do Japão. mas sim como "Dô" (ca'!li nho). não apenas. em verdade. Por esse processo. contenta-se com a superfície bi-dimensional. A ausência desses três fatores na consciência do japonês é a chave da compreensão de sua cultura. a vontade de conservar essa harmonia desempenha um papel muito importante. Em um l'll. tende a ligar a superfície com esse ponto. E. Em sua maneira de sentir. O japonês não considera "Sa-dô" {em portugues erroneamente traduzido como "cerimônia do chá") e "Ka-dô" {arranjo de flores) como arte. na Terra. evitar conflitos e procurar a compreensão Mútua entre os homens constituem. Esse ponto representa o Absoluto. Assim. quase não se observa a influência de outros povos. princípios fundamentais da convivência japonesa. Per mita-me um exemplo: imaginerios uma superfície que deve representar o nosso rrundo da relatividade. profundidade e elevação. Mas ao japonês faltam. Nele. Sentimo-lo em todos os terrenos de sua arte e cultura. força. mas simples. o japonês nãonecessitado apoio do Divino-Absoluto. frequentemente. os japoneses. ou seja. o japonês carece do senso de dimensão. por exemplo.o ponto queseencon- . Da rnesma maneira que as relações do ocidental com a arte não são imediatas porque ocorrem através do Absoluto . uma forma de f i losofi a e vida. mas também o de separação (bumri-kân) e o de distância (kyori-kân). praticamente. de alguma maneira. o japonês prescinde disso. Assim. senso de dimensão (rittai-kân). uma vez que. sem ter com ela qualquer ligação direta. sensível. por isso. Enquanto o ocidental. Esta idéia se explica pelo fato de ser o Japão um país de unidade sócio-cultural incomum. ou seja. Os europeus devem ao CristianisrTX> o ter transformado a negação e o desespero em esperança e redenção. caminho da vi da. nao separamos vida e arte. O japonês. o ocidental cria um mundo em três dimensões. Tudo é simplesmente relativo. os conflitos podem ser solucionados por "compreensão mútua". sentem-se identificados em um pensamento co1T1Jm. atrás do qual havia uma longa história trágica de sofrimento e traição. Não podemos esquecer esse fato. no entanto. lmaginerTX>s um ponto colocado acima dessa superfície. congregados em torno de uma única tradição cultural. e à pintura . Por isso mesmo. Em nossa sociedade. não pode ser encontrado.a perspectiva. em Deus. em sociedade. Ele não é capaz de estabelecer relações espaciais em forma de sistemas imutáveis. ansiasse por um Salvador. falta à música japonesa a harmonia.r 14 tornar-se uma necessidade. faltando-lhe. t fácil compreender que o povo judeu. as relações mudam de acordo com o ângulo do observador. a representação racionalista do espaço tridimensional. processo ao qual os japoneses não precisam recorrer. resta apenas ao homem recorrer àquele que.lndo em que tudo pode falhar. a qual faz parte integrante do dia a dia. Não se lhes apresentava outra saída senão procurar proteção no Sobrenatural-Absoluto. Daí ser a arte japonesa amena. los. em primeiro lugar. conhecer verdadeiramente o outro e.las. na personalidade. o ocidental vê. Talvez se possa explicar. a liberdade do outro. isolados uns dos outros. seu ideal.Jito grato se o senhor respondesse a essa carta. isto é.se inteiramente a ela. Cada um. portanto. não percebe o quanto essa cultura é estranha a seu próprio ser. a cultura ocidental. defrontar-se verdadeiramente com outras culturas. ~ se falta o senso de distância. tão facilmente e sem crítica. Bem diferente é o japonês. necessariamente. então sim. Assim. são as razões pelas quais ele aceita. então. . a si mesmo. O elo que estabelece é aquele que cria com seus pares . cultiva uma ligação "indissolúvel". Atenciosamente. A falta de consciência de s i mesmo e a consequente tendência do japonês . QuanEm do esse se rompe. Ficaria 111. maior do que a amizade e que não respeita. Ele se sente. Não consegue pois. ~ão. não se sente solitário. de se orientar pelos outros e imitá. seu ambiente mais íntimo. Aquilo que resta é uma liberdade cujos limites são traçados pelos interesses sociais. protegido por seu Deus. como parte dependente da sociedade. ele não se liga ao ponto fora da superfície. faltará também a capacidade de defrontar-se com elas e questioná. por que o japonês encontra dificuldade em se distanciar de objetos estranhos à sua cultura e em conte~lá-los objetivamente.JS tra fora da superfície ~ também as relações entre os homens não o eles se encontram numa superfície. Ao tentar entregar. na liberdade do indivíduo. ele se sente solitário e isolado. Tanka 1 "Yume no naka no hito" (Shutaro Mukai) partitura (dois módulos) . KOELLREUTTER . J.+ H. sente-se a i nfluência da estética japonesa . estive no Japao ~ ao entrar em contacto com a música da corte japonesa. renúncia ao pr azer exc l us i vamen te sensor ia 1 . exerceu influência decisiva em minha atividade criadoraeartística. para depois restituí-lo. por assi'll dizer .la. Po r tanto. Sem dúvida. música é arte somente quando .permite esquecer o som e causar um es tado de equil í brio interior . não teria tido. Sempre rejeiteiaidéiadosom pelo som. Como homem. enfatizar. intensificar e conscientizar o silêncio . mas sim no sentido de "seijaku". em 1953 . quando a música se torna si lêncio "ativo". talvez.me preocupo quase que diariamente. calma interior e equi 1 íbrio. c 1a reza e precisão.talvez possa dizer . sem o qual. mas sim no de uma confirmação de ideais estéticos que fora~ os meus. Ela revela u"'la problemática com a qual também eu . O som tem por função produzir. E ta refa do composi tor anulá. forma aberta e variável e outros conceitos mais . nessa peça . De fato. a vivência artística não é possível: o silêncio. nunca tentei imitar música japonesa. sem acanhamento que a experiência musical e emocional q~ vivi no ano de 1953 quando. ou seja. Tais ideais são.17 Toquio.lo. prezado professor. Como homem e como artista. Não no sentido de uma riudança provocada por essa experiência . 1 iberação de um conceito de tempo racionalmente estabelecido.osom é sempre o polo complementar daquele elemento fundamental da música. parcialmente contrários aos da música tradicional do ocidente. l'\as sentese. assimetria. Foram esses os ideais que. Sem a vivência da música "Gagaku" do Japão e a anã 1 i se da mesma . desde a juventude. encontrei confirmados no Japão . 27 de novembro de 1974 Prezado professor Tanaka: Foi com grande interesse que lí sua carta. para mim . condição de ordenação e critério de conteúdo e valor. artista e diretor deu~ Instituto Cultural da República Federal da Alemanha no exterior. por exemplo: concentração extrema da expressão. .Arneu ve r . muito menos COfll>Ô. De fato .e isto sempre foi assim . mas admito. também que estou consciente da distância que me separa da música tradicional de seu país. Não me re firo ao silêncio no sentido da não-existência do som. estou. O Senhor ouviu meu trabalho "Yume no naka no hito" . a coragem de empregar e prosseguir desenvolvendo os princípios estéticos acima mencionados. Em sua opinião. coro fundo originário da vivência espiritual. pela primeira vez . econorii ia de meios. no pensar e atuar. prezado professor. coragem de experirientar. ao rresmo tempo. precisão. é de op1n1ao que a distinção essencial entre europeus e japoneses reside no fato de terem os primeiros introduzido em seu pensamento o conceito do Absoluto . Tolerância pode ser uma pálida substituição para a falta de esforço em alcançar a compreensão. Eu até diria queoquestionamento de valores culturais alienígenos. questionar. no entanto. A mim. mesmo que opostos aos nossos ideais. isto é. se pretendemos sobreviver corno sociedade tecnológica de massa ora em marcha.. tradições e estilos.o Eternamente Válido não é parte de um todo em constante . Porque a sociedade tecnológica de massa será. é justamente esta sociedad~ tecnolóqica de r assa. redescobrir o homem como parte integrante de um todo. porém. embora estranhos à cultura. estranhos. criticar. Assim. Sem esses. caro professor. Na sociedade planetária trata-se. sem dúvida. se tornam. uma necessidade urgente. Entendo por sociedade de massa a constituída por uma pluralidade de Indivíduos. hoje.. sem dúvida. etc. tenham validade universal.18 Estou convencido de que a l"IÚsica ocidental perdeu certos valores humanos no decorrer de sua evolução histórica em direção a um individualismo voltado para o ego e um racionalismo que se acentua progressivamente. Estou consciente.. Porque simplicidade. não à tolerância. antes de mais nada.reensão. Refiro-me à co. Refiro-me a características CO!l'K) reflexão objetiva quantificadora. liberdade de decisão independente de grupos. daquilo que nos separa. ainda em fase inicial. são características essenciais à comunicação inter-humana. Disso resulta. uma sociedade sem consciência de unidade. O senhor. poderá surgir somente quando houver a compreensão de valores diferentes.do Eternamente Válido -enquanto que os últimos não o fizeram. que ocidente e oriente não podem evitar o questionamento de um em relação ao outro. de que a tolerância representa um estágio inicial indispensável à possibilidade de reflexão neste sentido. a inclusão dos japoneses ou de outras culturas na sociedade de massa seria impossível. e a aceitação de outros que. planetária e universal. O conceito do Absoluto nasce do modo racional e analítico de pensar . clareza e inteligibilidade. parece ser indiferente a maneira pela qual ocorre esse tipo de processo de assimilação ou convergência. Concordo. Por outro lado. inexistentes na sua própria lradição. que obriga os japoneses a sé apropriarem de valores da cultura ocidental. fuga que em nada contribui para modificar falsas interpretações ou superar a incompreensão entre os povos. de valorizar as características culturais que nos diferenciam e.. cuja consciência do "eu" e sentimento de responsabilidade individual vên sendo reduzidos ao míniMO.. oor exemplo. certos valores humanos ainda vigentes no Oriente terão que ser resgatados. iniciado com o homeM europeu da antiguidade. por força. e por isso. um ato criativo de integração. veja-se. todas as diferenças entre o pensar oriental e ocidental. o conceito do Belo em Platão ~ irrompem deci sivamente no primeiro período da Renascença. Por ela pode-se explicar. não me refiro à consciência como conhecimento formal. o que o coloca. cultural e pol!tica. Nno creio. . A busca de uma apreensão racional do homem e de seu meio ani>iente determinou toda a história ocidental. fabricação em massa. Portanto. nunca se excluem mutuamente~ quando muito se manifestam mais ou menos acentuadamente ~ mas se complementam. em nosso tempo.19 transformação -e é estranho ao mundo da vivência emocional e afetiva do Oriente. certas manifesta!Ões da polêmica econômica. e o desenvolvimento que resulta da mesma. porém. em última análise. em posição antagónica ao além-mundo. no fundo. me parecem. mercado livre e economia planificada e assim por diante. Modo que. por exemplo. A mudança da forma de consc1encia à qual acabo de me referir. sintoma consequente de um e um mesmo fenômeno: de uma forma que tende a apreender o homem e o meio ambiente racionalmente. isolamentoeatomização) como quantificantes (nivelamento. quantifica e concretiza. do qual o Cristianismo é um entre muitos sintomas. Um fenômeno de ordem psicológica e sociológica muito complexo. em um modo de pensar acentuadamente racional ~ analítico e individualizante. Uma situação. a meu ver. super-produção e inflação). ou qualquer processo de pensamento. que talvez nen seja tão estranha porque os contrários. já observáveis na cultura européia do período final da antiguidade. é. se por um lado atua individualizando e abstraindo. Por isso . tanto abstração conceituai como quantificação (através das teorias científicas). são especialização e investigação inter. no entanto. aparentemente paradoxal porque. E essa forria é o resultado de um processo de mutação da consciência. conduz a uma estranha situação cultural. por outro. nem como mero reconhecimento. referindo-se a um Absoluto. finalmente. Características dessa forma de consciência do ocidental. em primeiro lugar responsáveis pelo que nos distingue dos orientais.disciplinar. sistemas sociais democrático-burgueses e democrático. que este fato seja decorrente do Cristianismo. diflcl lmente co~reensível ao modo de pensar globalizante oriental.socialistas. sao tanto individualizantes (descentralizaçao. O Absoluto é se111>re parte distinta. O pensar cristão. Entendo por consciência a capacidade do homem em apreender os sistenas de relação que o determinam e as funções de um dado objeto a ser conscientizado com o meio ani>iente e o "eu" que o apreende. mas a uma forma de inter-relacionamento constante. se pretendemos construir um futuro comum. Pode ser. processo estranho ao pensar do Oriente. para o japonês. Eis o que devemos aprender. qualquer que seja nossa posição diante deles. O senhor também tem razão quando escreve: O homem que pensa e sente globalmente tãopoucodivide vida e arte. em . Porque dimensões atuam dividindo (em grego. só podem ser explicados e compreendidos a partir da situação psicológica e social que os engendrou. prezado professor.do que a auto-representação individualista e a assim chamada profundidade e elevação da obra artística. e. no entanto. medindo. é. Fenômenos culturais. racionalizando. falta o senso de dimensão. A eles acrescenta valores novos. di ou cUa si gn i fica "dividir"). julgar os valores de uma determinada cultura com cri térios de valor de outra. ao japonês.20 O senhor. i ndi vi dua 1i zando. em suas fases criativas de desenvolvimento. Errado é. Toda cultura estabelece seus valores específicos. que visa o todo e relativiza tudo. portanto. Um abraço atencioso. mais importante . A arte. na vida cotidiana. é de opinião que.e por isso critério . que torna a relação ent re o homem e a mulher mais afetuosa e ameniza o coração . o senhor não pode evitar de servir. O japonês. possuindo uma narcante consciência de si riesrro. tendo em vista uma cultura universal em formação.se de critérios próprios. ao qual se dispÕe a sacrificar qualquer coisa. o cáos.945) explica o que a arte significa para o japonês. en nosso tempo. professor Koellreutter. é indiferente a forma pela qual ocorre o processo de assimilaçao de valores alienígenos. O fim de sua exposic.lhe. mistura também conceitos morais baseados em sua sensibi !idade estética com princípios morais do Cristianismo. Em seu prefácio"Kana. . sua opinião é de que esses valores devem ser respeitados. são muito interessantes. Será que isto não é urna contradição? Além do mais o senhor enfatiza que. Como europeu. 12 de fevereiro de 1975 Prezado professor Koellreutter: Venho agradecer sua resposta na qual aborda uma série de pontos de vista que.21 Toquio. A voz do rouxinol nas flo res ou a dos sapos nas águas . considera urgente e necessar1a. e aqui lo que sentem no coração (kokoro) expressam at ravés de objetos pe rcebidos pelos olhos e ouvidos . francamente grotesco.. qua 1 desses seres vi vos não estará se exp ressando através de um canto! Tudo que move céu e terra sem o enprego da for ça e causa compaixão aos espíritos e deuses invisíveis. a quem falta esta consciência. O fazer dos homens que vivem nesse mundo é variado. e cujo ideal é a adaptação ao que o cerca. para que conserve a autenticidade e credibi 1 idade de sua cultura.jo" do Koki nshü KI Tsurayuk i 7.ao me fez pensar. com o individualisno ocidental. Se eu o compreendo bem. não pode ficar indiferente ante a questão de como ocorre esse processo de assimilação. ele mistura o ideal de convívio harmónico. agora já no terreno da estética .ia ~ito grato. em milhares de palavras. no entanto. para mim. a aceitação de valores universais. serie explicasse porque pensa que a cultura japonesa não deve ser medida com critérios de outra cultura. para si. Por outro lado. Em ninha maneira de compreender. e mostra o que distingue a estética japonesa da ocidental: "o poema japonês tem sua raiz no coração humano e suas folhas. na cultura e estilo de vida do japonês moderno ê o resultado do entrelaçamento de posições incompatíveis. Assim. Gostaria de dar prosseguimento ao nosso diálogo. pois escreve: "errado é julgar os valores de uma determinada cultura com os critérios de outra". Ficar. rararente propenso a abrir mão de algo em favor da comunidade. Creio que posso COlll>reender porque sente de tal maneira: o ocidental. estranhos a nós. O senhor escreve: "toda cu 1tura apresenta va !ores específicos". é capaz de decidir se deve ou não adaptar-se a outras culturas. a ocidental. Viver é exp ressar. o transmitir a expressão subjetiva. através do poeta. a arte sempre foi. em sua concepçao. Tsurayuki afirma que o poeta possui a capacidade de influenciar até "espíritos e deuses". Hegel. quando o "gên i o" ou a "persona l idade" eram considerados a força propulsora da atividade criadora. A estética ocidental. de que Deus. Para o japonês. havia a convicção de que as obras de arte. como ser sobrenatural. Apesar disso. a sensibilidade estét ica é razao obscureci da. seriam influenciadas por um ideal de beleza absoluto. o japonês se distingue do homem ocidental. exclusivamente. uma filosofia de vida ou ideologia . Este. de Aristóteles e Ploti no. dá a esse problema uma importância relativamente pequena . conforme sabenos. Para Leibnitz e Descartes. pela primeira vez. Naturalmente. interpreta a história das artes col"lO história da expressão da idéia absoluta . Na maneira de se comunicar. a obra de arte é compreendida pelo observador. não necessita de Deus ou de musa para sua arte.se o ponto de partida da criação artística. Parece que a idéia de que o homem poderia se defrontar com o mundo sem o auxílio de um ser divino nãoexistiaatê a segunda metade do século XIX. sempre se exp ressa levando em conta uma idéia do Absoluto. A estética estóico-cristã nega.se. expressão e produto do homem. ainda presente na estética oci denta I. também hoje. para o ocidental. O homem vive se cOl'lllnicando. no entanto. sendo este um instrumento por ele inspirado. pois. Esta afirmação se encontra em oposição à i dé ia. o japonês se torna com- . não parece essencial a questão. é da máxima importância ser collllreendido pelo mundo que o cerca. ou como. em última análise . não existiria sem tal conceito. até certo ponto. Por isso. Kesmo na Renascença . porém. para o ocidental isto não é tão relevante. expressão de um ideal de beleza que tem validade universa l . em última análise. depe ndente das relações com seus pares. se. Kant representa. as artes fundam-se no "logos" de um Deus e na "idéia" do cosmos. O poeta japonês. no entanto. enquanto que o primeiro torna aquilo que pretende expressar. Para o japonês. em oposição à tradiíão estética ocidental. por seu lado. Porisso.22 do guerreiro inpetuoso é poema. tornou. se comunica através do poeta. sobretudo. Coração e alma do poeta são . Os raciona 1is tas franceses vêem na forma do poema um "quebra-mar" contra os caprichos do sentimental ismo humano. na estética ocidental. Oito em poucas palavras: a estética japonesa é uma teoria que desconhece o Divino. Para ela. a fonte exclusiva da criação poética. ouvinte ou leitor. bem como na expressão artística. céu e terra se abriram". o coração do homem como fonte da criação artística. poema nascido no tempo em que. ela ainda continua sendo. em sua estética. Nesse prefácio. Tsurayuki coloca-se. em última instância. portanto. uma exceção. pode acontecer que as idéias de Tsurayuki causem incocnpreensão. os ocidentais COl"preendem que Deus não influencia a criação artística do poeta. 1he causa sensação de segurança. l\Lenc i osairente.23 plctamente dependente de seus pares. . o fato de ter sido compreendido. Essa dependência. para ele. apenas uma conquista ocasional. representa. no entanto. tornando-a palpitante. poder-se-ia dizer. que enriquece consideravelrrente sua vida. E esse o fato. . tem razão quando pensa que. Hão se trata de c r iar uma cultura tediosamente uniforme.los e compreendê-los como partes de um todo . para a "harmonização" de todas as culturas. como também. A unidade a que SOMOS exortados a aspirar. lei suprema. para o japonês. Trata. Se. Essa tese. de desenvolver um organismo sócio-cultural que se baseie na elaboração e integração criativas de todos os valores culturais da humanidade . Mas não o manifestações compreendo quando vê um cáos na multiplicidade das culturais que caracterizam a cultura do Japão de hoje. Tarefa custosa para o home~ ocidental que. O Japão. independentemente de sua validade em nossa própria cultura. contribuindo. e principalmente. requer de nós a co~reensão e o reconhecimento de todos os valores culturais que a hurianidade já criou e continua criando. mas sim. Mui to pelo contrário . como repetidamente tem acentuado. a sentir como tal. possui a capacidade de reconhecer o homem em sua totalidade e de aproveitar suas características e po- . Porque ~ como já comentei em minha última carta valores culturais são o produto de uma determinada situação social e só podem ser compreendidos a partir dela . no entanto. de criar uma consciência que seja capaz de perceber e co~reender o mundo como um todo e de adaptar. absolutamente imprescindíveis. por seu desenvolvimento histórico. a harmonia da convivência humana é. para mim. dessa maneira. e não receiosos. A discussão dos valores de culturas alheias só é possível se formos capazes de reconhecer e compreender suas leis e qualidades específicas.se a ele criativamente.se. com vistas a uma cultura universal futura . em nosso tempo. está predestinado a assimilar e integrar valores culturais alheios. terá não só que reaprender a pensar globalmente. e nos obriga a integrá. caro professor. eu acredito. 7 de abril de 1975 Prezado professor Tanaka: O senhor tem razao: sou realmente da opinião de que o exame crítico valores de culturas alienígenas e a aceitação dos mesmos ~ na tornarammedida em que tenhaM ou possam ter validade universal se. do~ O senhor. reformas que ficarão incompletas sem o exame crítico dos valores de outras culturas. é capaz de contribuir consideravelmente nessa direção já que. por tradição.25 Toquio. Acredito que deveríamos estar pro~tos. hoje. com os critérios de valor de uma outra. a meu ver. para receber valores de culturas alheias. o Japão. Porque o desenvolvimento i~previsível da tecnologia deve fazer-se acompanhar por reformas sociais e morais amplas e universais. é indi fe r ente a forma pela qual se realiza esse exame crítico. mais do que outras na ções . de maneira alguma encontra-se em contradição com a minha constatação de que seria errôneo julgar os valores de determinada cultura. a "ldéia Universa I '' e o ''Ser Sobrena tu ra I ''. já deveria ter se tornado irrelevante para a estética 11Dderna e a concepção da arte. em nossos dias. no senti do de urna capacidade de percepção g 1oba1 i zante. para a qual o contraste. desde a Renascença. indispensável à forma. tem enfatizado.26 tencialidades num desenvolvimento ordenado. o espectador . Eu chamaria de "intuitiva". parecem diamet r almente opostas. sensitivo). A forma de consciência que super-acentua o racional. por essa via. através da comunicação estética. .se uma teoria racional e objetiva da percepção (do grego "aisthetikõs" =sensível.bui uma importância relativamente pequena ao problema da expressão. e1:1particular as tendências estilísticas surgidas entre os séculos XV e XX. processo que culmina num estilo expressivo eMinentemente subjetivo. ouvinte. de imediato. contribuindo. se fundam em duas formas de consciência completaMente diferentes que. Permita-me porém chamar sua atenção para o fato de que a história da arte ocidental. assin como de "racionalista". como o Expressionismo. O tipo "int uitivo" de consciência do japonês gera uma arte em que elementos temporais e espaciais se correlacionam com uma experiência intuitiva e afetiva. mas apenas como um mínimo de subjetividade ~ uma estética que também se relaciona com o "consumidor" ou seja. pode ser interpretada como um processo contínuo de transformar e intensificar a expressão. mas que. u-na teoria que descreve fenônenos de comunicação e de informação estéticas na sociedade em que tiveraM origem ou à qual se dirigem ~ co~ referência ao homem. as diferenças entre o pensar eosentir japonês e ocidental é preciso levar-se em consideração o fato de que a ar te e a estética. até nossos dias. cuja importância para a cor"lpreensão do ocidente o senhor.cristã. O fato de que o "Absoluto". no Japão e no ocidente. C0!'1preende-se a observação ~ considerando. a f orma de consciência em que estão baseadas a arte e estética tradi cionais do Japão. é a postura espiritual responsável pela tradição judaico. A estética. lei tor. poderão vir a se complementar . desempenhem um papel ligado a uma certa tradição. à primeira vista. portanto! Ao se ana lisar.1ito importante nesse processo de amálgal'lêl que hoje se realiza por todo o planeta. etc . e apontando. no futuro. devendo. enriquecendo-se mutuamente .A tradição e experiência do Japão podem desempenhar um papel 111. para um caminho de humanização do mundo industrializado. deixa de ser a doutrina subjetivadobelo. para a modificação das relações entre arte e sociedade.se seu ponto de vista segundo a qual a estética ocide~tal atr. aquela sobre a qual se baseia a arte estabelecida. e que tem como veio mais i111>ortante o pensar analítico. tornando. t radicional do ocidente .se levar em consi deração a inexistência da objetividade em sentido absoluto. repetidaMente. dialético e excludente do "ou isto. no entanto. "Encontramo.-ente integrados. como também ele mesmo. receio que. aproximar-nos-emos de uma estrutura de pensamento cuja essência poderá ser o paradoxo integrante. e dos ocidentais. num jogo dinâmico: a introversão será compensada pela extroversão e vice-versa. Dessa maneira. sentirmos ou fizermos for pensado. Realisticamente falando. . mas. a subjetividade pela objetividade e a automação pela frutificação das forças criativas. Porque. escreve o filósofo Georg Picht em "O Futuro da humanidade". Na história da humanidade não se eliminam paradoxos passando por cima deles ou negando-os. Um ab r aço . consegui remos cumprir essa missão: se tudo que pensarmos. se inicie um desenvolvimento que pressuponha. Acredito firmemente. poderá não só destruir a humanidade do homem. Certo é. só poderemos viver como coounidade. a um processo de abstração cujo germe é o contraste dualista. é preciso aceitá-los e penetrar neles". O tipo "racionalista" do homem ocidental. numa cultura universal. Ainda não sabemos quais dos valores da herança do homem. somente se cada um de nós for capaz de se identificar com todos os seus aspec tos. ou aquilo". caro professor. que nos e as geraçoes vindouras seremos exortados a criar essa cultura planetária universal. forçosamente. que uma futura cultura universal fundirá valores culturais do oriente e do ocidente. serão definitivar. pelo oriente. como consequência de uma sociedade planetária em construção. por sua vez. sabemos. uma ~rte cujos elementos temporais e espaciais estão sujeitos a uma ordem mensurável. Isto depende dos ideais e dos objetivos que o homem colocar para o futuro.27 consiste numa correspondência ambivalente do "tanto quanto". sentido ou feito COl'll referência ao todo. parece importante para nós que. a assimilação dos valores culturais orientais pelo ocidente.nos diante do fato paradoxal de sermos obrigados a levar adiante o processo que. como meio para um crescimento maior. produz. caso nos recusemos a realizar a tarefa de aculturação. no futuro. a um equilíbrio sócio-cultural. inevitavelmente. estaremos escolhendo o caminho da autodestruição . Porque nós homens. . Quanto a mim. como tal. COllD já disse. Assim acontece com a cultura do Japão. dos ideogramas chineses. o pensamento ilusório de um europeu que considera o futuro da cultura e civilização ocidentais com ceticismo e procura uma solução no oriente. O senhor.. e que isto dependerá dos ideais e objetivos que o homem se propuser para o futuro. na origem. reagindo fácil e persistentemente às influências estrangeiras. em tempos passados. cada vez. creio que será novamente o mundo ocidental. o japonês. També~ estou convencido de que o japonês.. Daí a sensação de falta de unidade no desenvolvimento da arte japonesa. não existe. de fato. esta tamapenas bém. caro professor. mais uma vez. O japonês. por todo tipo de tendências externas ou até . Não se pode fugir ã impressão de ter sido influenciada. com razão. O crítico de arte brasileiro Mario Pedrosa diz que os estilos da arte japonesa são determinados por situações. Eu diria. não brilha. Como japonês. estará disposto a seguir as propostas do ocidente. ele tinha tempo suficiente para assimilar os valores culturais de outros povos que chegavam ao Japão com grandes lapsos de tempo. com contradições aparentemente lógicas. tendo em vista uma cultur~ planetária universal futura. que a cultura japonesa é do tipo "lunar" porque o luar. 20/05/75 Caro professor Koel lreutter. muito sedutora. O senhor é da opinião de que ainda não sabemos quais valores da herança do homem serão integrados em uma cultura universal. porque então. Esse processo de adaptação ocorre sem planejamento. segundo a influência que sofre. a cultura chinesa. a transformá-los e a contribuir assim. que a cultura japonesa é fundamentalmente um produto de adaptação muito sensível aos estímulos do mundo exterior. essencialmente. levada a cabo pelos japoneses. Dizem. Até se poderia afirmar que a arte do Japão desconhece estilos propriamente ditos e se constitui. mas brilha apenas con o auxílio de uma estrela. ela me parece ilusória. Um exeriplo característico deste fato é a simplificação. Sua idéia de una cultura planetária universal soa.Toquio. assimilando-a a sua. em última instância. Mas essa cultura. que sempre se esforçou por alcançar e . mesmo de ter surgido por acaso. o japonês ta 1vez teria consegui do a harmonização de todas as cu 1tur as. não existiu como tal. por isso. Tornou-se importante por_ ter aceito. para a "harmonização" de todas as culturas. Em tempos imemoriais de sua história. e não o indivíduo. é destino da cultura japonesa desenvolver-se sempre sob influência de outras. será novamente ocidental e não universal . a lua. em vários períodos da história. ela mesl'\él. não se iq>ortando. processodoqual surgiu a escrita dos primeiros (escrita Kana). a determinar os ideais e objetivos futuros. parece ser da opinião de que o Japão está predestinadoa assimilar valores culturais de outros povos. através de um processo analítico. olhos amáveis. em geral. Não se poderia considerar essa situação um cáos? Cultura é um organismo que. ininterruptamente. só porque este agrada especialmente. desta maneira. Isto ocorreu sem que tivessem discutido o assunto anteriormente. Lembro-me. Pouco inclinados ao pensar planificador-analítico. é praticamente impossível descrever uma obra de arte em palavras. sem renunciar ã sua liberdade individual e colocando suas respirações em um mesmo r. na intenção de criar o melhor e o mais extraordinário". tendência a analisar quadros e obras de arte objetivando e procurando aprendê-los globalmente. é certo. Este. cometeu. partes dificilmente reuníveis. em Hunich: o professor frequentemente nos mandava descrever ou interpretar um determinado quadro. criaram uma obra de arte comum de perfeita harmonia. Assi m. possa ser elucidado por um exemplo mencionado por Tsuneari fukuda em seu livro "Nihon o omou": "imaginem que se faça o próprio nariz. de uma exper1encia que tive no Instituto Goethe. um grande erro. e se junta tudo como uma foto-montagem. ou seja. Kôetsu. Falando sinceramente. O japonês. sem dúvida. no momento. boca expressiva. 30 até ultrapassar a cultura ocidental. As consequências são os problemas crônicos de digestão que hoje o afligem. isso me chocou. Sôtatsu pintou um quadro com toda a liberdade. atualmente. etc.tmo. em minha opinião. como um todo. numa grande desordem. Assim. o tipo de consciência que preside ã estética da arte tradicional do Japão. esforça-se por comer tudo. que a cultura universal que o senhor vislumbra será uma foto-l'IOlltagem casualmente construída que lembra o Japão do período Meiji (1868-1912). no entanto. Escolhese.. parece-me ainda mais extrema. antes que o estômago sinta fome. .. Isto. o japonês reúne. todo tipo de alimentos novos. Receio. representa uma unidade que só pode existir quando se tende. a nós japoneses. mais ou menos. tomando como fllOdelo um outro. não temos. a excluir o que vem de fora. precipitado e assíduo. adaptando-se 1111tuamente. o melhor de cada um. se conseguirá criar beleza. Tenho a impressão de que. no senti do de uma capacidade de percepçio global. A situação hodierna em nosso país. de culturas estrangeiras que lhe agradam. Li com interesse sua afirmação de que o japonês sente e pensa globalmente. após a restauração Meiji. ambos os artistas. acrescentou-lhe um verso. Lembro-me do episódio em que o famoso pintor Sôtatsu (?-1643) e o não menos famoso calígrafo Kôetsu (1558 a 1637) criaramumaobra de arte em comum. O senhor também tem razio quando designa como "intuitivo". coloca-se na mesa. parece-me necessária uma atitude conservadora. talvez. na suposição de que. com seu pincel. caro professor. de todos os homens. Porisso. sem espaço para o vazio e o silêncio. ncontra-se a seguinte classificação de obras artísticas: representação impressionista representação construtivista representação expressionista o que quer dizer que. o malogro transforma-se m algo de positivo. ví e ouvi numerosas obras de arte que me causa ram a impressão de que nelas tudo é descrito e expresso até o Último detalhe. o velado. em seu processo de criação artística. Quando estive na Europa. na entrada do Museu Rietberg. Esta arte parece-me demasiadamente eloquente e até tagarela. Tudo é repleto e abundante. como tal. maciço. algo de mais transcendente e interessante surgirá. Jardim de Pedras no Temp lo de Ryoan-ji . Não existe o inconceb ível. no entanto. que. a respeito de eua própria atividade. em última análise. em Zurich. o vago. forte e extrovertido. Eis uma maneira de pensar tipicamente japonesa. brilhante. o fracasso. ainda poderíamos acrescentar uma quarta: a delineativa. não existe. fim certa ocasião li que. japon ses.31 O xllogravurista Shikô Munakata (1903-1975) afirma. Nós. poderiam ser classificadas segundo essas três categorias. Tudo é claro. e portanto. discreta ou oculta. tão pouco a expressão indecisa (ambígua) . ultrapassando aquilo que originariamente se pretendeu. Ao contrário. Considerando como um novo ponto de partida. todas as obras de arte. no há malogros. " As pedras" . a ocorrência concreta. Tal arte.32 1 Til lberg. poema curto. Nela. como símbolo que sugere algo que está oculto em algum lugar. Uri exemplo explícito é o Haiku. Lembrei-me. 7 e novaC'lente 5 sílabas. não é impressionista. Ele apresenta um conteúdo bem mais profundo do que muitos romances verborrágicos. o mur~urar da água. Ela se funda em princípio completamente diferente. construtivista ou expressionista. pinturaoumúsica. a arte que apenas delineia se desenvolveu muito. no princípio da sugestão. é decisiva. ou seja. colocando no centro de seu poema. O poeta Bashô Hatsuo (1664-1694). ou seja. A concentração de meios. . que consiste em três versos de 5. No Japão. causa uma impressão bem mais forte do que um quadro densamente pintado. mas sim como meio para produzir. japoneses. parece que somente essa arte possibilita expressar o que não pode ser expresso . Suécia Frequentando museus e concertos na Europa. senti que minha sensibilidade enfraquecia paulatinariente embora me opusesse a esse tipo de arte. no seguinte Haiku descreve a infinitude do nundo. na profundidade. por exemplo. Lembrei-me da música japonesa. naturalmente. da superfície vazia da aquarela japonesa que. intensificar e conscientizar o silêncio. ou ocorrênci a. Nada me impressionou verdadeiramente. A nós. por exemplo. na qual ~citando o senhor~ não existe o som pelo som. a meus olhos. o artista se concentra e~ UM único objeto concreto. ko.to (5) (4) (1) um velho tanque (2) (trata-se de uma partícula emocional) (4) sal ta para dentro (5) murmúrio da ãgua (3) um sapo O seu.o .33 ru-ru-i-ke (1) -ya (2) ke·wa-su (3) -to-bi .mu ml-zu-no. . . no entanto. A \li tura ~ r1~clm t1ln sociedade qerará uma cultura que se encaminha . Tanaka: planetária universal é um acontecimento que se imEla surge da necessidade de oposição aos perigos do nto tecnológico e da automação extremas. Não devemos estar somente dispostos a dar. portanto. anula as imperfeições e separa trigo.e também isto é Imperativo. ~~/. através da ~o trans-nacional. A história. cometam-se erros. A solidariedade entre os homens será consequida através da concentração em objetivos c01T1Uns. mas uma unidade orqânica.ainda não o • br•mos .teremos que delimitar o rr no da cooperação política. em tal processo de intercâmbio e interação cultural. n~ ou reliqião. E a "posição conservadora" é hostil ao desenvolvimento cultura 1. 11/07/75 prof. (natural que. importa que as culturas se vltalizen mutuamente.ncia natural de um desenvolvimento social ao qual não pode' 11111ls escapar. a obra mal feita é inevitável. A mim parece que hoje. que exclua. Certo é. E isso dentro de um intercânbio de idéiasede experiênci as que se amplie constantemente e na liberdade de um mundo aberto. Porque conservadorismo se prende ao ui trapassado e se opÕe ao criativo. mais do que nunca.1 foto-montagem como o senhor receia.35 Hunich. por princípio o que ven d fora. através de medidas lo·cducativas essenciais e de uma espécie de revolução cultural. A infra-estrututft dessa cultura universal será uma sociedade aberta. b 1eada na avaliação plena de todos os meios disponíveis ao homem dcrno. que esta cultura será de integração. caro professor. 111 qu-. o joio do . económica e cultural que corresponIA os princípios e às exiqências de um mundo uno. Não há processo histór ico amalgamador livre de falhas. Não uma colcha de retalhos. Se pretendemos ampliar as potencialidades do hoc brir novos campos para seu desenvolvimento . H o há cultura. uma sociedade 10 ~colhe seres humanos de toda a espécie. no entanto. porque a natureza nos obriqa a controlar e aperfeiçon civilização por nós mesmos criada . um. independente de oriqem. mas taMbém a receber e a aprender com os outros.para uma fusão de características raciais e nacionais ou Mra uma junção e ênfase de valores tradicionais. e portanto. de reação ao desenvolvimento materialista. ou melhor. exagero e deformação. Em seu livro "Física e Filosofia". Tradição cujo desenvolvimento em direção a uma forma materialista de pensamento . fanatismo. Manifestações. dejulqar objetivamente o valor ou desvalor dos fatores culturais para a própria cultura e a cultura comum. na Europa e nas Américas. mesmo assim. isto ê." Aprendamos . os computadores. O homem se acostumará talvez. mais facilmente ao conceito quântico da realidade. lembram sintomas que o senhor. escreveof ísico Werner Heisenberg: "a grande contribuição científica feita pelos japoneses.que reduz a realidade. acima das nacionalidades. com o Oriente. Não poderemos nos dar ao 1uxo de nos om i ti rmos. também o senhor e eu . ao nosso passado materialista. à condição de matéria .sejam aperfeiçoadas. Perda que não pode ser compensada por atividades que se ocupam com o pensar oriental. à física teórica. ainda vigente na Europa das primeiras décadas deste século. ocidentais. o que uma tradiçãoracionalistade aproximadamente 400 anos nos fez esquecer.também aquelas que a muitos dentre nós parecem hostfs à cultura . Mas se aperfeiçoamos a tecnoloqia e a sociedade que lhe corresoonde. em que os excessos. Desde há muito nossos cientistas mais avançados têm nos alertado para a perda da faculdade do pensamento globalizante. a partir da Última guerra.trouxe como consequência última a atrofia dos valores psico-espirituais. naturalmente.e isto é o mais importante . talvez . robôs e todas as esoéci es de máqu inas cibernéticas .no6 . caro professor. também a alma e o espírito. Não será possível.mas uma inteqração planejada e consciente. tão em moda entre nós.portanto. os valores huma. porém. no entanto. é difícil evitar uma mistura deste tioo . também observa no Japão e tão veementemente critica.podem e devem ser preservados. no ocidente. Perounto-me. como um dos fatores que contribui para privar o homem de uma parte essencial de sua capacidade cognitiva. Uma tal cultura. cada um de nós . falta de senso crítico. teremos que estabelecer contactos humanos mui to es t rei tos.36 Se quisermos sobreviver. em que medida. . se não passar pelo pensamento materialista ingênuo. tampouco. segundo valores e objetivos próprios . temos que reaprender o pensar globalizante. não siqnifica a mistura indiscriminada de tudo que. Será preciso nos unir com o objetivo de criarmos uma cultura comum. foi criado em períodos de transição. então. lá ou cá. evitar que as chamadas "conquistas da c i vi 1 i zação".será capaz de solucionar. ~ode ser interpretada como sintoma de certas relações entre as idéias trad i cionais do extremo oriente e a substância filosófica da Teoria Quântica. sob forma de exaltação. Nós. não há a pretensão da obra .af nretação criativa. Isto e. Além .o espectador ou 0 to criador pela to . lar ao essencial e necessar10.consP . Concentração e simplicidade const1~u~m a essen~I r meios expre_ssiv~s disso. Circunscrição. no don1undo tecnológico. d a pv . procurar uma ecdelineie . Porque ja d~ver1amo~ ~e( ~o homem à máquina nosso fu!uro nao dep7nde da adapta~ao pra~ma~•c'ac> home~ ambos e ao automato. isto e. . f rma de expressão o v ríamos. nós do na criação artística. despertando nele o eensa~eriando-o à lnterlrfc•ntl flcação com o autor das obras. à afirmação clara . talvez. • . 111rnçao de meios. p(. da adaptaçao_da maquina ao proprio homem. a viver na musica.·S e recursos neArte e cultura poderiam ter por tarefa criar si~ª' portanto também cessa r1os ao homem para dominar o meio ambiente a máquina e o autómato . _ a da arte. l1tln. nela. mas sim. . e é certa a afirmação de Shlko Munakata de Ql reender. objetividade. mas circunscreva eios artisticos. Porque a alusao. para quem a obra prima. devolNesse processo.de preo~u·ompreendido que o urtlsta em nos~os dias.tica...e isto ~~fl um fator arH1unlu1.1mente. sera.io realista. em última a~állse. .. portannplor da mensagem artística .. o princípio estético de repelir º·eza um dos prin. de.. trata-se. não são "-mitam a liberdade 11111 tcncem ao domTnio da i nformaçao costumeira_e 1~ recursos da arnr 11.• oe~cri­ JUC nao descreva e represente. çno e representação. A escala de valores se enconi. tendenc 1~ es tet 1c~ qve rflnÚnc ia ã reprel u11 lnn l smo artístico. cada vez mais. ·rfl que se perpetua.37 a economl a e condelinear. produtos da necessidade de organlzaçao e ordem_.. ' refere também à 1111 11 1..rc rnínlo do julgamento pragmático-estético. delineamento e alusao 52 integram 0 reln Deixam à fantasia artística toda a liberdad~ e ouvinte. por assim dizer. questiona Ot nrtl\tas do Ocidente terão ainda que reaprenJe~te de . Porque uma ~r ite humanos. o compos1tv CJe se revela pauinulel escreve: "amo a dimensao apenas esboçada. na cultura tecnolog1ca. simplicidade slº. Uma exigência da estética funcional e u~'~ria. 1 Apr nde-se..e com ele comunicar-s~· supérfluo. também isso deixamos de c~m?Boulez ainda re.c. em seu domínio. precisão. A esse re~pe1to.s advem sua comu1•slétlca funcional e uti litârla da arte e das qvª~açãoprimordial do nlcabllidade.toreza. aludir.r . de crie' riª comunicaçaoma1s que tornem possível colocar a arte a serviço de~ itária da arte do 1npida. pois. linguagem sem referente externo . princTpio será determinada por valores eminente~er Je não há fracasso Sim. / ~ualidades desta r. a qual deveria ser_objeto. aquilo que~ s7nhor :h~ma de' "eu designo por a" hciç11r.--rrfe baseada .r francês Pierre LIBtlco Importante. insinuar. com t o da c~ neste cíplos artísticos mais importantes. ocidente.-. ou seja. Esse país já é. cuja compreensão é "conditio sine qua non" pera a criação de uma cultura universal . não será possível. de fato. com todos os tipos de imperfeições e contradições. o jogo dialético de valores positivos e negativos.. no campo da arte. a que busca da máxima eficiência na sociedade capitalista burguesa concorrerá para a extinção da cultura ocidental tradicional. apreensível em sua totalidade. no entanto. nunca existiu. Uma gigantesca proveta da qual surgirá a nova cultura. talvez a única naçãodomundo . O universal e o nacional devem ficar num relacionamento de complementaridade. mas sim o mundo. quantificação. provenientes de outros povos. O Japão. Esta pureza. t. Um princípio sem o qual a construção de uma cultura universal. um palco gigantesco de atividades humanas. pois crê abstratamente na "pureza" das culturas. como o senhor escreve. intuiu o problema. E porque teremos que nos esforçar por incorporar métodos comprovados. se procuramos alcançar um equilíbrio dinâmico dentro deste mundo. E o Japão. Uma sociedade futura terá que renunciar a esta exigência como norma.. caro professor. existirá menos do que nunca. Porque nos aproximamos de um mundo polivalente e por qualquer ângulo. para todos nós. Talvez esse mundo seja um nada. um cáos. atualmente . caro professor. De fato. é uma das causas decisi vas da dissolução da arte burguesa em nosso tempo. Amanhã não será apenas o Japão. De seu. inevitáveis em tais processos de clarificação. uma sociedade planetária aberta. provavelmente. O senhor não acredita nisso.38 presenta um ideal . um palco desse tipo. A insistência nesta idéia. parece-me ter dado um passo significativo nessa direção. para que os valores positivosdosmalogros humanos também possam tornar-se válidos e fontes de atos criativos. Disso o senhor concluirá. não existe. COl'IO cri sol de culturas. Existe apenas como consequência de uma visão retrospectiva da história. . No futuro porém. mas um cáos repleto de potencialidades inesgotáveis . assim como eu a imagino. o exame crítico de outras culturas. quão importante tornou-se. Porque oela a exigência de produzir o mais perfeito possível substitui. Aqueles a~~niver1 são bem mais conservadores. A cultura japonesa moderna. principalmente pela ocidental.. dialeticamente. 1 conhe- A vezes chego a esquecer que o senhor é europeu. baseada em conservadorismo. o luiram pela ação revolucionária. por assi~. não obstarJadeira . hcgam a perder.uma cultura de existência impossível sem ação planejad8 í'Z de inpode ter lugar em nosso país. interesse tao grande vezes.ponesa. no entanto. se<11P~toe inpendentes de outras culturas. E quando consegue. como tem acontecido várias ve(ii_naosohistória.e parece tribuição para~ surgimento ~e uma cultura universal. em consequência desta capacidade de assimilação~a de ouo risco de prejudicar a sua cultura. parece-me ser a teJtlU1 m~<~ cultuvas idéi as e desenvolvimentos. nao se outras. demonstram grande interess~ por outraSa~e até 5 ros.. joàpre0 japonês parte. justamente pelo fato correm japoneses. Um problema surge.e seu l nho pena de meus concidadãos japoneses porque.e o caso da assimilação da cultura chines1 acterís1 que os xemplo . creio que uma cultura í~rivers~I ai consciente. desenvolver e aperfeiçoar os valores ó:es ~sua culturas. a or fervoroso pela cultu~a ocidental. nunca aspiram a urna cultura Os ja1. isto é.. a própria identidade.. mesmo já não pode ser observado COI'! recerência à cultura Jf e as Como em sua história o conflito e a confrontação não ocor( 1 Jo _das manifestações culturais aparentemente são postas umas ao 1D.'tdenotura. Ao contrário=. pela imitação supérflJma contras. via de regra.. de uma transforrnaçâO ral criadora. perfeitamente cD~e tica. neste pais. frequentemente. integraram-nas "sem planeja<116 conscien temente". no entanto. O Japão não necessita do' ~te evorcbeld~' para desenvolver sua cultura. falta a ela um desenvolvimento contínuo. vive no presente. assimilar. a cultura jaeonesa sempresed 1 ra~ ~e ­ vcu sob influencia de outras que. encontra uma solução própria.. a cul1111tltude conservadora" seja hostil à cultura. de uma situação dada. A'. uma foto-montagem na qual tudo é cenário.39 oe 1975 Toquio. da qual o senhor espera 1. . caro professor Koellreutter. Por isso. 6 de agosto oro professor Koellreutter. 11 senvolComo várias v~zes já afirmei. Alêm diss0 re depode deixar de levar em consideração que os japoneses. é al~ec~lectu­ v1são.. como o senhor concebe a cultura planetária v. Enquanto as do ocideJizer.. não 1(ia culoutra coisa senao uma imitaçao alienada e inferior da prõO tura. nao . empregar esta capacidade de modo a que sua cultv e um efra prejuízo . Admito que o japonês seja c1P outras tegrar. a recíproca nãoévefJe que a Ka5 discordo de sua opiniao. nunca enconc~1sp1r1to slstência de quem quer que seja. Orgulham-se da sua e se preocupam pouco com as demais· cultuponeses. ao declarar que o Japão não pertencia aos países com os quais mantinha relações ami gáveis. • Imagine. ficaram chocados e embaraçados com esse incidente. quando de sua visita à Europa. pessoalmente. efetivamente. uma vez mais. a aceitar a opinião do ocidente. o emba raço que os japoneses demonstraram durante a primeira crise do petróleo! O Mundo Arabe. o "Tenno"."º Hoje. novamente embaraçado. lembro aqui da reação dos japoneses por ocasião das demonstrações ocorridas nos Países Baixos contra o seu imperador. poderfamos discutir a estética japonesa. Os japoneses. per tencia a um grupo de guerrilhas árabes. admirei-me da atitude rancorosa dos holandeses e com o fato de que o Tenno fosse equiparado a monarcas europeus. Tal sensibilidade em relação ao mundo exterior. em lágrimas. gostaria de lhe falar a respeito da sensibilidade incomum do japonês e de sua disposição. ao nosso modo de pensar tradicional. por favor. para os quais a Segunda Guerra Mundial já havia se tornado história. transmitiu para aquele governo as desculpas de seu país pelo feito absurdo do estudante. como d izem. Teríamos. Um exemplo tfpico de nossa sensibili dade e disposição em fazer concessões. Ao ser criticado pelos árabes por essa atitude. e refletir sobre a responsabilidade do Tenno. pois. dela resultante. tambem se desculpou junto a eles. Eu. de fazer concessões ao mundo exterior. Mesmo assim. ainda nãopertenciaao passado. Muitos inocentes foram mortos. escreveram naquela oportunidade: o japonês continua deixando ser passado o que já passou. até com orgulho. atirou indiscriminadamente sobre a multidão. cuja situação e pontode vista também compreendemos". o vice pl!. Precipitadamente. O governo japonês logo mandou a Israel um funcionário a ltamente graduado que. que são sempre todos da mesma opinião.se por concluir um tratado de "amizade permanente". Os manifestantes exigiram dele que assumisse a responsabilidade pela Segunda Guerra Mundial e principalmente pelas atividades do exêrcito japonês na índia Holandesa . dizendo: "O fato de termos pedido desculpas a Israel não significa que estamos contra os árabes. renunciando. Os jornais japoneses. De minha parte. caro professor Koel 1reutter. segundo os jornais.emleA Hiki viajou para aquelas regiões. no Aeroporto Internaciona l de Te l-Aviv. para a Holanda. deixando que esta. então me perguntei porque tendíamos. Porque não podíamos simplesmente nos satisfazer com a constatação da diferença de mentalidades. os jornais japoneses criticaram seu governo pelo apoio a Israel. o governo japonês. De novo. provocou uma enorme perplexidade. em 1971. tão levianamente e sem reflexão. a última guerra mundial. também revela nosso interesse pela maneira como o estrangeiro pensa sobre nós e o Japão. Pa r tindo desse fato. declarando que esse go- . se mantivesse como ta 17 O estudante japonês Kozõ Okamoto que. da Segunda Guerra Mundial. esforçando. que nos recordar. deveríamos compreender que. na noite de 30 de maio de 1972. o japonês viveu e se comportou de maneira a sentir . certamente poderá compreender a atitude do japonês. passando . Assim. poderíamos apoiar nossos conceitos morais? Neste contexto.41 verno deveria mostrar maior compreensão pelos árabes e aperfeiçoar as relações com seus países . nós japoneses. Para ele. permaportas necem. sendo nossos conceitos morais geralmente baseados na sensibil i dade estética. fi nalmente. O senhor. que desconhecemos o Divino. no en tanto. construída principalmente de madeira. Huitas vezes. por fora forradas de papel branco transparente. viver com eles em harmonia é sua preocupação mais importante. a desculpa não é necessariamente a admissão de uma falta. Dizem que os japoneses não têm caráter. de correr feitas de ripas de madeira estreitas e finas. apenas. ~ justamente esse comportamento que os árabes não compreenderam. pois eles tendem a seguir o outro cegamente. na pr i meira carta. por exemplo. o estrangeiro acha que o japonês pede desculpas com demasiada frequência. sente-se perfeitamente se alguem está ou não no quarto. a seu ver. Admito que às vezes. um estilo de vida ao qual francamente anseio. já que apenas nos esforçamos por nos identificar "sentimentalmente" com os outros. isso talvez signifique caminhar com eles de mãos dadas. ao contrário da ocidental. e "fusuma". o conv1v10 pacífico está acima de tudo. vestidos com seu traje típico e participar de seus costumes e rituais tradicionais. O Único elo que estabelece é aque leque cria com seus pares. parece ser assim. Escrevi então: bem diferente é o japonês. Aqui me pergunto o que entendemos. A harmonia ("wa") é uma exigência moral e estética. mas um meio de evitar rixas e tornar o convívio mais harmõnico. se se recordar do meu exemplo da superfície com o ponto. é aberta e feita de modo que. a demais. acreditando ser suficiente concluir amizade verdadeira com pessoas e povos de outras mentalidades. ele não se liga ao ponto fora da superfície. ou seja. em prejuízo desse convívio. De f ato. Desde sempre. Quem sabe.Absoluto e interpretamos tudo de modo relativo. caro professor Koe l lreutter. o telhado e as pi lastras. que afirmações que lhes dizem respeito são de mau gosto e "inestéticas". paredes de correr consistindo numa moldura de madeira revestida de papel grosso. Acreditam. para os japoneses. caro professor. Não admitem expressar claramente sua opinião ao interlocutor. A casa japonesa tradicional. "Shôji". Em que. acho interessante falar sobre a diferença entre a casa ocidental e a japonesa. importa-lhes evitar desacordos ou desavenças e conservar a harmonia. tanto faz quem tem razão e o que é correto. senão nela. separam os quartos de um corredor ou de uma varanda que cerca toda a casa. e em qualquer oportunidade. eliminadas as paredes e portas de correr. por um dos quartos com "shôj i" fechado. por compreensão entre nós e os povos árabes. quando afirmo que o japonês está sempre preocupado em penetrar. Partindo desta idéia. pois. Ultimamente. o japonês formulou uma estética a que eu chamaria "estética kehai ou shôji". da imagem do mundo ou da ideologia do autor. não se espanta quando digo que. responderiam: "obrigado . à tarde. mais facilmente. O senhor. com frequência não podem ser descritas gramaticalmente. caro professor Koellreutter. Não sóosestrangeiros a sentem. para. Nós oferecemos aos nossos visitantes qualquer coisa. ou então tentamos ir ao encontrodogosto do visitante. um papel importante. . com certeza. Como essas formas estão fundamentalmente enraizadas na mentalidade japonesa. quando começamos a pensar individualisticamente e a aceitar a porta ocidental que separa um indivíduo do outro.. é muito típica do nosso caráter. ~mas também muitos dos japoneses da nova geração. no Japão. o mais possível. suficientemente fina para deixar transparecer a sombra do outro . O escritor japonês preocupa-se. A ironia dodestinoé. desde há muito. constatar algo a respeito. quando. baixa ou alta. sem lhes perguntar o que preferem. dessa maneira. sem vê-1 a ou ouvi. na Melhor das hipóteses.. como tema principal. As fórmulas de polidez não servem apenas para acentuar as diferenças sociais. se faz uma visita. O senhor entende japonês e. no mundo emocional do outro. no mundo emocional do outro.la. do pensar e sentir do interlocutor. geralmente. como se vê. como sempre dizem. . ou. Essa pergunta o embaraça muito. Conheço pouquíssimas obras literárias que tratam. as relações inter-humanas desempenham. na Europa. tampouco. realmente lhe é indiferente tomar chá ou café. ainda deva dar-lhe um exemplo do que penso. "o que os outros desejarem" . sendo. que a porta ocidental fei ta no Japão não é suficientemente grossa e maciça para separar os indivíduos e. chá ou café?" Estou quase certo de que há pouquíssimos japoneses que responderiam espontânea e naturalmente a essa pergunta. . vê-se pouco "shÔji" em nossa terra. e se encontram. Guiamo-nos pela temperatura. isto é. realizar o ideal do convívio harmônico. com certeza. no entanto. porém. por exemplo. ao máximo. provavelmente gaguejariam ou. . Talvez. tanto faz.. pergunta-se qual das bebidas menos incômodo trará ao anfitrião. o anfitrião costuma perguntar ao visitante: "o que o senhor vai tomar. a sombra e a presença do outro. com problemas sociais que surgem das dificuldades resul- . "Kehai" é a atmos fera que surge quando se sente a presença de outra pessoa. Seus fundamentos consistem em relegar o ego a um segundo plano e em penetrar. no centro da literatura japonesa. com poucas excessões. eu sigo os outros". durante uma conversa. do sentido da vida.. mas também para ir ao encontro. e talvez também na América. difíceis de serem aprendidas pelo estrangeiro. caso tenhamos conseguido antes.. e quando indagado. A estética "kehai" ou "shÔji". já teve dificuldade com as várias fórmulas de polidez que há nesse idioma."kehai". de fato. Assim é fácil de se compreender que o poema de amor. quan do predominantes. Isso me parece ser uma das razões porque o artista vive geralmente sol itãrio e separado da sociedade . espontaneamente. "Wabi". Os japoneses sentem. é um componente da vida cotidiana. uma espécie de forma de conversação elevada. é em sua origem. renúncia à pompa e ostentação. até mesmo ao ponto de considerar ostensivos o concluído e o perfeito. imediatamente discutido pelos presentes . O mesmo acontece em "Kadô" (arranjo de flores). ou. Na opinião do japonês. Segundo as idéias ocidentais. Na minha primeira carta. A arte japonesa. Nela. são vistas como manifestações de exibicionismo. "Sadô" (a chamada cer imônia do chá) não é outra coisa senão uma tradição na qual maneiras foram transformadas em arte. com os conflitos interiores do homem que se vê obrigado a corresponder as exigências da sociedade. no Japão. surge de uma situação quase artificial e de Ul"la atmosfera passageira de um grupo em festa. Sobre "Wabi". surgiu. e mesmo assim. concentrando-se quase que exclusivamente nas re 1ações do eu com o outro. o japonês integra a arte à vida cotidiana. Ser pobre. a arte deve elevar o homem e expressar uma verdade transcendente.43 tantes do desejo de conv1v10 harmônico. o que na arte europêia. isto é. uma das 1eis supremas da moral e estética japonesas. escreve: . ou em outras palavras. sentir no interior a existência de algo que. Mas também a assimetria e a deformação. o ato de criação e o consumo da obra de arte coincidem espacial e temporalmente. originalmente. em seu livro intitulado "Zen e a cultura do Japão". Oaisetsu Suzuki. em reuniões sociais. Daí sua preferência pela assimetria e deformação. pelo mesmo motivo. são momentos diferentes. alheio à elite social . por isso. expresso negativamente. constitui uma forma de comportamento socia l . para possibilitar o convívio harmônico com seus semelhantes. poder e fama. sobretudo durante o pe ríodo Huromachi (1392 -1477). no ocidente. poema curto que consiste em 5 versos com 31 sílabas. ser desapegado às coisas desse mundo. O Tanka. possui o valor do imprescindrvel. Mais que o ocidental. chamei atenção para esse fato. é um conceito da cultura japonesa que siqnifica . aversão que vai . então. que. arte visual e vida formam uma unidade. O ato criador e o consumo da obra de arte. tema central da arte tradi c ional japonesa. este é o significadoverdadeirode "Wabi". colocar a própria personalidade em segundo plano. por tudo que é irregular . uma forte aversão a tudo que consideram "ostentação". renuncie à emissão subjetiva e verdadeira de sentimentos. ou então. no entanto. sendo. quase sempre. raramente ocorre. Mais tarde. com frequência. segundo a situação e atmosfera do momento. acima dos tempos e das posições soc1a1s. quer dizer pobreza. da riqueza. Todos os exemplos que menciono são para acentuar que a arte japonesanascedi retamente das relações entre os homens . porque. E."Wabi". Todo excesso. Muito cordialmente. poJe dar a impressão de "ostentação" e deve ser evitada. Não é preciso mencionar que mesmo "Wabi". simplicidade. Entre nós. talvez. na opinião do japonês. emprega-se a expressão "nuvens na lua". Poder-se-ia dizer. quando de forma exagerada.. mesmo de modéstia. isto é. . Para nós uma das coisas mais belas é a lua velada pelas nuvens . perde seu sentido.. que a essência da estética japonesa reside no equilíbrio entre dois extremos.despretensão. renúncia a pompa e ostentação. modéstia. o que quer dizer que não vemos beleza na lua em céu claro. têm uma inclinação especial para absorver elementos culturais. E coq>reensível que num tal processo sejam observados fenômenos que o senhor critica. a aceitação de coisas experimentadas por outros e a rejeição do risco e do experimento. Porque "a cultura japonesa vive no presente" e renuncia à especulação relativa ao futuro.se sua dinâmica coma da cul tura européia ocidental. inovações de resultado inseguro. no entanto. todas as culturas do planeta. originalmente. ao contrário. Peço-lhe o favor de me coq>reender corretamente: não se trata de conservadorismo. permanece no passado. seguramente. Isto. Os japoneses. a interligação de grupos de interesses comuns. é certo. para uma atitude experimental diante do novo. absorção sem critica . o medo do desconhecido e do confl i to. sem o qual a integração numa cultura planetária universal não seria possível. uma cultura. de fato. processo que. enfim. formas de vida ~pd­ Jteittemente estáticas que. o senhor parte do ponto de vista de que a cultura japonesa parece ser estática e deve ser co111>reendida como tal. A cultura do Japão rejeita. em certos países do ocidente.ou talvez justamente porque só são aceitos elementos culturais alienígenos quando de valor co111>rovado . representa uma base confiável para a par- . não creio que seu processo de aculturação seja imitativo. Em realidade. porém.se de um processo seletivo e adaptativo. a conservadora. como sempre se afirma. não tem disposição para o "comportamento primeiro". tratar.e são dot ados de um talento especial para imi tar. porque na história da cultura do Japão não há conflito nem confrontação de idéias e as formas de manifestação cultural parecem ser justapostas por acaso. Penso. como forma de proteção cont ra o inusitado e o incerto. 23/9/1975 Caro professor: Se eu entendi bem. a meu ver . foram dina mizadas pela singular mudança cultural desencadeada pela renascença européia. Uma cultura estática.alienígenos e se quiser. compa rando. a procura da comunidade como grupo com identidade de pensamento.Toquio. passivo. o Japão .se submete a um processo de aculturação que no mundo não tem similar. portanto. foram estáticas. no entanto. ou melhor. E interessante. Uma cultura p resa à tradição e ao passado absorve o novo. porisso mesmo. caracterizam a sociedade japonesa e são típicos das culturas estáticas. (Entendo por aculturação a absorção de bens culturais. ou seja. uma certa estreiteza de percepção e dos espaços de relacionamento. O coq>ortamento rotineiro. presa à tradição e ao passado. espirituais e materiais de culturas aliení genas). ~smo assim. que mesmo assim. a procura de algo novo parece-me ser ur:ia disposição natural no homem. um veículo de comunicação inter. portanto em arte aplicada e utilitária.arte e artista tornam. Numa cultura unive rsal incioiente . ( inteiramente plausível que nossas culturas. a disponibilidade em assumir compromisso. o emprésti mo. que participe de sua formação através da comunicação e modifique consciência e meio arrbiente. amplia os espaços culturais existentes e culmina numa cultu ra planetária universal tantas vezes mencionada por mim. requer um tipo de arte que nela se integre inteiramente. isto é. a procura de adaptação e de assimilação desempenham um papel importante. teve início um desenvolvimento opo. gradualmente. estético. nos países capitalistas do ocidente e tarrbém no Japão. porém. tecnológica e industrializada que surge por toda parte. Porque a sociedade de mas sa. Um processo em que a imitação. Ela ainda não perdeu sua referência com a sociedade. a referência social. Não se pode questionar o fato de que todos nós. Umprocessoque só será possível quando a arte for "inseparável das relações inter-humanas". já nos encontramos em processo de desenvolvimento global e universal. a japonesa e a européia.se. aliás.ticipação consequente num desenvolvimento global universal. Em realidade . processo que. elementos culturais heterogêneos e exteriores. oriente e ocidente. é de significado decisivo para o desenvolvimento da arte. na sociedade de massa. absorve e amalgama. A arte e o dia a dia representam um todo. e l itista e relativamente autônomo. em que a arte se emancipa gradativamente e se transforma num campo de atividade intelectual. e porque a arte necessita de uma função social para que se torne socialmente eficaz.que só pode ser a de uma sociedade de massa tecnológica e industrializada . . na cultura universal que ora se inicia. Essa sua afirmação parece-ire mui to interessante porque acredito que. cada vez mais. somente a transfo rmação da arte em arte arrbien tal. cada vez mais. a relação com o homem. Isso porque as áreas sociais atingidas pelos meios de comunicação de massa cresceram mundialmente em importância. Sua afirmação de que a arte japonesa é inseparável das relações inter-humanas parece-me especialmente digna de menção. sejam somente formas primárias do desenvolvimento cultural da humanidade. desde que se iniciou. um tipo de arte legitimado pela sociedade. poderá impedir a deca dência de sua função social e contribuir para a superação da crise.humana e universal. é parte de sua vida cotidiana. a função na sociedade. Formas primárias nun processo evolutivo que. tecnológica e industrializada.6to. que tem provocado uma crise que se sente na vida cultural de todos esses países. Desenvolvimento. Tenho a firme convicção de que. pode-se. acredito que se poderia dizer que a arte e a cultura do Japãojáderam um impulso considerável ao desenvolvimento em direção a um sincretismo cultural e à integração artístico-estética. podem desempenhar um papel importante. ou seja. Aqui. indicando um caminho para a humanização do meio ambiente através da c01TUnicação estética e para a orientação e coordenação das relações entre arte e sociedade. nesse processo de fusão universal.dos seguintes exemplos da literatura japonesa e alemã: BASHO. aos elementos de repetição perceptíveis. observar claramente a influência da estética japonesa.não conteúdo e significado . Sim. ouvinte e espectador. intransponíveis problemas de corrunicação. mas também na música . para uma grande parte da assim chamada arte vanguardista do ocidente. Examinando várias formas de arte ocidental. influenciando-o decisivamente.vou lhe mostrar uma coisa linda uma grande bola de neve e GOMRINGER. cOIOC> processo de educação. Na sociedade japonesa. desafiando a percepção criadora ativa do apreciador .47 Tradição e experiência no Japão. Peço-lhe corrparar. é um instrumento de libertação. que. já hoje. o conteúdoémais circunscrito do que descri to. a atmosfera. contribui para a formação de um meio ambiente humano. como lá. con~entração extrema da exeressao pela economia dos meios . Penso principalmente nas formas industriais modernas do Japão . tão importante na comunicação e cuja omissão cria. extraído de "Constelações" deine Stunde mein Gedi cht deine Stunde me i n Schwe i gen deine Stunde mein Traum Tradução: Sua hora/meu poema/sua hora/meu silêncio/sua hora/meu sonho. a arte. Haiku Kimi ni take Yoki mono miseru Yuk i maroge Tradução: Você acende o fogo. Os dois são exemplos daqui lo que o se- . caro professor. rítmica estatica que paira e relaçao entre as palavras que abandona princípios sintáticos. ainda hoje. no "desenho" industrial. que atua promovendo a comunicação. a estrutura ea forma . na arte do arranjo de jardins e na arquitetura interior desse país. Em ambos os poemas. sem renunciar à redundância estética. Peço-lhe olhar aqueles serviços de mesa abaixo 1epresentados: formas sir. 1921) "Liekki" . ao ornamento e ao supérfluo. renúncia ao artificial.. mas sugestivas. JAPAN. funcionais.les. Steingut (Louça de pó de pedra) . Jahrhundert (Século XI X) ULLA PROCOPE (geb.Service.48 nhor chama de arte que delineia.. desafiando o leitor ou o ouvinte à participação no sentido de ul'lla interpretaç~' subjetiva e pessoal. LACKSERVICE 19. proporções convincentes e claras. arte social por excelência. Kyoto . a influência de elementos japoneses.Também na área da arquitetura . desde hã muito.Residência na Dinamarca Katsura Palace. não pode ser subesti mada: Lars Mindeldal . simplicidade (KANSO). marcada pelo individualismo. silêncio (SEIJAKU) e discipl i na rigorosa (KOKU) . Nesse processo. alcançada pelo pensar e agir i ndependentes. como estilo pessoal do artista. de "design" rigoroso e enfatização austera.perderá sua importância. arte ambiental que poderia se propagar pelo mundo. . Acabo de mencionar alguns exemplos no campo da arte que evidenciam essa tendência à compensação. como exemplos de arte aplicada.dimensional.. A arte do futuro será aplicada. sujeita a uma função social e com sua autonomia. é possível. Apesar das tendências à padronização.. Assimetria (FUKINSE I). que parece ignorar a dimensão da profundidade e conscientizado pelo morador através de articulação assimétrica. e finalmente se tornou.so Aqui. costumes e preconceitos. que se tornaram experiências decisivas pa ra os artistas do ocidente. sem dúvida. Estou convencido de que a superação das características do mundo tecnológico . e principalmente o alto grau de comunicabilidade da arte japonesa. "espaço vazio" como vivência globalizante. uma certa "padroo i zação" será i nevi táve 1 já que técnicas de produção. cono lá. tornam-se indicadores de caminho de uma ar te uni versa 1 nova. restringida. a representação "ostensiva" do ego artístico que desempenha i111>ortante papel na arte ocidental dos Últimos qui nhentos anos. Como o senhor escreve. se entenderros por estilo "some formof spi ritual constipation" (Frank Loyd Wright) . naturalidade (SHIZEN). Acredito que seja justamente a referência ~oci. E preciso libertar o homem das amarras da tradição. Porque deverros aprender a pensar (•) Nota do tradutor: alguma forma de constipação espiritual. um contato íntirro com a natureza {uso de material de construção "natural") e um entrelaçamento espontâneo e discreto do exterior e do interior. chato. formas de administração. profundidade (YÜGEN). no sentido da estética da arte ocidental tradicional. que certas características de culturas autóctonessejamconservadas e atuem como contrapeso à standartização radical. critério de valor . bi . Propositadamente escolhi as fo rmas do Haiku de Bashô ede"Constelação" de Gomringer. arracionalidade (OATSUSOKO) . ideais da estética japonesa trad i c i ona 1. (• ) Aqui. Arquitetura livre de estilo. espaço "plano". meios de transporte e de comunicação de massa mundialmente "standartizados" restringem o comportamento individual e subjetivo.Al. Comutação e variação como elementos que constroem no te111>0 e co111>letam no espaço. como lá. mas apenas representama infra-estrutura que fundamentará as formas e qualidades da nossa arte ambiental. tornou-se a principal tarefa de nosso tempo. naquilo que no fundo. Pois. Es te modo de pensar exige de todos nós. isto é. . entre os problemas apresentados p la tecnologia. infelizmente . E indispensável que observemos e nos detenhamos. Um atencioso abraço. de um sistema educac ional insuficiente . Superar esse abismo. Has é errado também.. além disso. satisfazermo-nos com isso. em real Idade. no que nos liga llk1tuamente. no que é comum a todos nós. vejo um abismo. tecnológico e econômico e a tendência a permanecer no passado ~ uma tendência he rdada ~ será a nossa mais importante e urgente tarefa. uma auto-educação para compreender este novo mundo e uma mutação rad i cal de nossa consciência da situação.Sl cm categorias como interdependência global. do oriente e do ocidente. questionar as contradições que existem entre o desenvolvimento científico. ( certo. cada vez maior. analisarmos e procurarmos entender o que separa e distingue as nossas culturas. isto é. sem dúvida. desenvolvimento social e as tendências obs tinadas da sociedade em perseverar no passado. o que nos separa é justamente o que nos une. ciência. Por enquanto. . universalismo e sociedade upra-nacional e a agir correspondentemente. talvez consequência de uma bagagem espiritual pobre. seguramente. é essencial. . o Kabuki. A história do Japão é bem diferente da do ocidente. perpetrar adultério ou assassinar . mas porque e 1e as sente como inestéticas. a qual. Nô e Kabuki representam dois estilos concluídos em si mesmos. por exemplo. a ela acrescentaQdo o seguinte: apesar de desconhecer uma religião no sentido ocidental e de não dispor de fundamentos para uma teoria dos costumes. uma única solução. o Teatro Nô . podem ser apreciados na forma em que surgiram. que desde a Restauração Meiji ~ e principalmente a partir da Segunda Guerra Mun dial ~ela foi muito prejudicada pela penetração de idéias ocidentais. então. constitui seu critério mais seguro. que exerceu grande influência na cultura japonesa. nao é religião no sentido ocidental. Não porque transgressões correspondam à desobediência de certos mandamentos divinos. a de lembrar-se de sua sensibilidade estética tradicional e novamente recorrer a ela como referência no julgamento de valores. me parece. não só em sua totalidade. mentir. Observo. tal como roubar. principalmente o Zen-Budismo. mas também em seus períodos históricos. Consiste. assim acredito. no entanto. também eles são sintomas de uma cultura estática. apesar da forte influência de culturas estrangeiras. sendo. aparenta ser bastante una.ojaponês nõo é isento da noção de má conduta. com preocupação. Para fugir ao cáos de nossos dias e esperar um futuro mais feliz. porque mantêm seu pensamento ligado a uma tradição cultural . A sensibilidade estética deve. Isto. seus habitantes sentem todos da mesma maneira. Acontece que o Budismo. em última análise.Tóquio. Ass im. porém. Olhando a história deste país. ainda hoje. 18/11/75 Caro professor Koellreutter: Gostaria de discutir hoje sua afirmação de que a cultura do Japão ainda tem que ser compreendida como estática. Esta é uma das razÕes porque tanto Nô quanto Kabuki. ser considerada como o pilar fundamental de toda a cultura japonesa. em períodos de desenvolvimentos concluídos e independentes que se seguem uns aos outros. realiza. elaborou um outro estilo dramático. e que dão a impressão de um catálogo. nem fases de transição. só há para o japonês. ao contrário da ocidental. cada vez mais negligenciada por nós como critério. só é possível porque o Japão sempre foi uma grande unidade sócio-cultural e ainda hoje. mas uma filosofia muito ligada a arte~ não à ética ~ do Japão . Já o período Edo. independentemente. não possui um desenvolvimento contínuo. porém. de acordo com sua sensibilidade estética. A sensibilidade estética do japonês. sem uma lógica interior convincente. gerou um estilo dramático específico. que não passaram por uma fase de desenvolvimento. pode-se faci !mente observar que a ele falta uma unidade moral coerente. Tudo que o japonês faz. a Idade Média. nascidas por acaso. com a visita de um amigo. imediatamente. Eu. citado em sua última carta: r<1mi ni take Yoki mono miseru Yukimaroge cuja tradução é: você acende um fogo vou lhe mostrar algo bonito uma grande bola de neve consiste em três versos que não parecem coerentes. deve ter sofrido de frio. no entanto. O haiku de Bashô. Não há uma sequência causal lógica. O poema de . identificar-me com o feliz estado de espírito do poeta que parece se aleg rar. sem que se fale a respeito. não existem para os japoneses que "sentem todos da mesma maneira". O senhor . surge frequentemente a palavra "sociedade". não precisam se conhecer. eloquência e ostentação aí não cabem . os mais variados sentimentos do poeta estão concentrados em 3 versos de 5 ou 7 sílabas. qua se sempre. é surpreendente.o dizendo: "que bom você ter chegado!. que cada um de nós tem um conceito diferente de sociedade. o artista não precisa dizer tudo. com certeza. mas aditivamente justapostos. sou capaz de. em sua Última carta. Nós japoneses. E sabi do que o autor do haiku concent r a sua expressão em um único ponto . cuja conclusão. Escuto. Ponha lenha na lareira de e aqueça-se! Vou fazer uma coisa bonita e mostra r -lhe uma bola neve!" Para mim. que já mencionei como exemplo de arte que insinua. torna-se um processo metafórico fluente e logicamente discursivo. por saltos. por exemplo. Acredito. nessa situação . Esses saltos. maneira pela qual procura aludir ao que se encontra além dele. no cami nho. reina a compreensão tácita. a representação sugestiva. poder constatar. poeta alemão moderno. como um dos japoneses que "sentem da mesma maneira". é como se o poeta anotasse indiscriminadamente várias idéias.humanas . com o máximo interesse. No haiku. só pode nascer onde existe consentimento. pois. E suficiente que a arte sugira. O haiku.comum. em que o leitor sente uma progressão de conceitos por saltos. Em nossa correspondência. entendemos por sociedade uma comunidade cujas características mais importantes são as estreitas relações inter. dentro dela vi gora um consentimento tácito que nasce de maneira natural. o que é bem característico do haiku. no entanto. completando e interpretando os conceitos sem qualquer discordãncia. for çosamente. Li sua comparação entre o haiku e o poema de GOMRINGER. entende por sociedade um grupo de pessoas que. pois onde existe consentimento natural. oculto na profundidade. como uma criança. de fato. provavelmente. Constatou que a diferença entre as duas culturas consiste. e a ocidental. Para mim portanto. essencial mente. t verdade que Gomringer aceitou uma das características do haiku. no entanto.embro. no entanto. de opinião que a tendência do ocidental a adquirir propriedades materiais e espirituais levam. Foi justamente o poema de Gomri~ger que me l~mbrou da tese de Frobenius. aceitou aqui lo que podia incorporar. o fim surpreendente. grada tivamen te.se três vezes as palavras "deine Stunde" (tua hora) . Frobenius distingue dois tipos de cultura: a do deserto. na maneira como o homem imagina o espaço cósmico. Diz ele que os nômades. infinita~ mente . segundo Frobenius.ss Gomringer. Apesar da concentração extrema da expressão e economia de meios .no. mesmo quando se volta para o oriente.aex plorar e conquistar outros povos. dos árabes e dos povos africanos. há uma grande diferença entre os dois poemas. Sua cultura de monstra um caráter conservador. mas não sua essência. à qual pertence o próprio cientista. contrasta fortemente com o Haiku deine Stunde ll'ein Gedicht de Bashô: deine Stunde IT'ein Schweigen deine Stunde mein Traum Nesse último. "me i n Traum" (meu sonho) . A sequência"meinGedicht" (meu poema).me de uma observação do etnólogo alemão Leo Frobenius (1873-1938). Porisso. um tipo de poesia que só tem sentido numa sociedade em que as pessoas "sentem todas da mesma maneira". a economia de meios. mais fundo. centrípeto e é pobre em mudanças. Se me pergunto como sera que o japones imagina o espaço cósmico. porém. para os quais o cosmos representa um espaço ilimitado. "mein Schweigen (meu si 1ênc i o) . se observa. facilmente. a concentração da expressão e a economia de meios. Os ocidentais. Admiro Gomringer justamente porque não perde sua identidade . parece nos levar. Sou. consideram o espaço cósmico como uma caverna fechada. já os ocidentais. encontro um fato historicamente interessante. os árabes tendem à introversão. como a bo 1a de neve. Muito longe de imitar a poesia japonesa. parecem tender a investigá-lo o ma i s possível. não só po l íticamasculturalmente. para criar algo de novo: a concentração de expressão. como um espaço ilimitado . que estudou as culturas árabe e africana . Apesar de o Ja- . l. Falta-lhe também o e 1emento surpresa . repete . vivemos aqui uma sequência discursiva gradat i va e lógica que no Haiku nunca. tanto na atmosfera quanto na estrutura e forma. ou muito raramente. a progres são por saltos. no deserto. desde tempos imemoriais. se quiser nos compreender. cuja sobrecarga ornamental rejeitou. No período Meiji. em nosso país.1938). colocou-se incondicionalmente ao lado do tradicional. criticou o templo TôshÔgu em Nikko. colocam-se. Considerou-o como o mais belo prédio do mundo.de710 a 734. porém. no Japão. não nas ceu do Kabuki. Ao mesmo tempo. entanto. Eis um fato que o estrangeiro tem que.se é que tal coisa ocorre no Japão -. de 522 a 645). suas proporções superavam todos os conceitos de beleza. desde então. o centro político. sem falta. Tese e antítese -. sem conflito. o estilo característico de determinada época. ficou impressionado com a simpi icidade do palácio Katsura. o Shingeki (teatro novo). independente e paralelamente ao mesmo . mais tarde. Este. uma ao lado da outra.cultural do país. Sem ser proveniente dos gêneros teatrais Kabuki e Shinpa. Tenho a impressão de que os japoneses sempre estabeleceram sua capital em fundos de vale por se sentirem mais atraídos pela intimidade de lugares desse tipo . Bruno Taut (1880. neles entramos e no saimos à vontade. nenhum inconveniente nisso.pão não ser pobre em planícies e regiões montanhosas. vivendo.Kyôto. Isto não acontece. de vários e estilísticamente antagônicos meios de expressão. seria muito importante para a compreensao da arte e cultura do Japão considerar que. Esse fenômeno é também. dispersos sobre o globo. constata-se que a escolha desses locais não foi determinada por razões práticas ou estratégicas. se desconhece a s í ntese resultante do conflito entre tese e antítese. sua capital. certamente. ao lado das correntes já existentes . Lugares cOl'llO Asuka (cidade residência. o mundo consiste em vários espaços distintos. Quaisquer que sejamos novos gêneros de arte. encontram-se todas em fundos de vale. Além disso. ou seja. a razão porque o mesmo artista se serve. Analisando porém a história do Japão. surgiu um movimento oposto ao teatro Kabuki. no ocidente. o mundo se apresenta. assuntos inteiramente contraditórios. mas como novo tipo de teatro. de 1180 a 1333) e Kyôto (cidade residência. já existentes. aqui.co. Segundo ele. corrente contrária ao Shinpa . Pode-se mesmo di zer que. Ka makura (cidade residência do "shogunato". Parece-lhes inconcebível sair dele. como um espaço aberto ou fechado. porém. O artista japonês não vê. fato incompreensível a muitos dos críticos ocidentais . levar em consideração. com frequência. Um processo de desenvolvimento contínuo e aditivo. Em outras palavras: tendências estéticas antagônicas poderiam gerar. Para nós. espaço Único.existem. de 794 a 1864). em geral. originou-se. são conectados sem preocupação. Nara(cidaderesidência. como se vê. localizou-se em um fundo de vale. por exemplo. que se chamou Shinpa (movimento novo). Como europeu -para quem o mundo não consiste em peças distintas e independentes -. em. arquiteto alemão que aqui se encontrava para estudar a arquitetura japonesa.Bru - . sem dificuldade. Aos europeus e árabes. Kyoto Templo Tô-shô.57 Palácio Katsura.gü. em Nikko . não são grandes. Apesar disso. na vida deste país. como que vai contra ela. em qualquer temporada. 1 igando o interior ao exterior . nem carne". que a natureza.. .la intelectualmente. por não ser nem preto nem branco. ela é chamada de "espaço cinzento". tende a dissolver-se como parte da paisagem. A casa tradicional japonesa. Não conseguem contemplá. porque através dele. no fato de que essa última não contrasta com a natureza. Natureza é tudo para os japoneses. parecem integrar-se na natureza que os cerca. possui um telhado de proteção que se projeta paraointerior do jardim. paradoxalmente. tão díspares. frequentemente criticado pelo estrangeiro com a expressão "nem peixe. uma relacão íntima com a natureza. produziu uma singular arte de jardins. Muito cordialmente. damos a esse espaço o maior valor. analisá-la e recompô-la. Porisso as casas. Arquitetura japonesa significa sincretismo estilístico e justaposição indiscriminada de estilos. a meu ver. em que o natural é produzido artificialmente . Uma outra diferença entre a arquitetura ocidental e a japonesa consiste. Nós porém. Abaixo dele. Como o senhor bem observou em sua última carta. a problemática de criar harmonia entre gêneros de arte e modos expressivos antagônicos. além de seu relacionamento Íntimo com a natureza. pudessem ter sido concebidos pelo mesmo arquiteto. nossa arquitetura. mas gosto e seletividade. mas co-existentes. Anseiam por adaptar-se a ela e nela se perder. construída de modo a que o telhado e os pilares de madeira permaneçam quando se retiram paredes e portas de correr. mas ao contrário. no entanto. Nesses. simbolizando o caráter do japonês. estabelecemos. O senhor deve ter observado com frequên~ia. Hodesta e discretamente. De fato.58 no Taut não poderia supor que estes dois monumentos arquitetônicos. até ll'E?Smo castelos ou palácios. Este amor pela natureza. Já a arquitetura ocidental. dela não podem se distanciar friamente. encontram-se alguns prédios que poderiam ser considerados grandes. geralmente fica a varanda. parecem pequenas. . O tananho do prédio ou a riqueza ornamental não representam status e dignidade. Em palavras poéticas. desempenha um papel importante. Enshu Kobor i . é o tema central de toda a estética japonesa. nada resulta em efeito de ostentação. no Japão. expressões de poder. cria uma conexão discreta e natural entre exterior e interior. esco 1h l das . que convivesse coma multiplicidade de partes estanques. A segunda. de formas cunhadas pela tradição e história. nos parecem contínuos.se. ou. sem incoerências. no caso dos dois tipos de consciência que acabo de citar. . podemos ser do ponto de vista de que o japonês não é capaz de agir e produzir dentro do âmbito das leis de um desenvolvimento aparentemente lógico. retrospectivamente. Mais ou menos ao mesmo tempo. Eddington escreveuemseu livro "Espaço. carecem de reconhecimento científico. da percepção de desenvolvimento como um processo sem lacunas. Nós os encontramos em nosso caminho . podem ser psíquico-intuitivas ou lÕgico. de diferentes estados de consciência: a primeira. no qual o prÓpriohomemestã incluído. pode parecer . na realidade. eles são. causam a sensação de um desenvolvimento. que. da idéia de uma existência tautócrona (simultãnea) de eventos interligados que. Porque construimos transições no correr dos acontecimentos. não subordinadas à pressão do desenvolvimento.porque consti t uem fatores psicologicamente válidos .59 Rio de Janeiro. se 1ecionadas e juntadas segundo critérios e necessidades do homem. Trata. diferentemente. A formalidadedoacontecer indica simp lesmente que o observador passou por um determinado e vento". Se isso for assim. vis t a como um todo. a formalidade do acontecer indica simplesmente que o observador escolheu aquele evento. Afirmaç~s supreendentes de um cientista e poeta ocidentais que. Sem dúvida. anota o poeta Rainer Maria Rilke: "os desejos são lembranças que nos alcançam partindo do nosso futuro" . de fato. S. se por um lado são eficazes . O físico inglês. aditivamente justapostos. contínuo. A. então a cultura japonesa. existentes si mas multaneamente. já apontam para a integração do pensar oriental e ocidental . o desenvolvimento se tornaria ininteligível para nós. a meu ver. "não ê de importãncia". portanto ocidental. sem as quais .ulação anterior. incoerentes e sem relações. transições que. jã está contido no presente. segundo mi nha forrr. "E essa formal idade". e o japonês. já existe e está disponível. 20 de janeiro de 1975 Prezado amigo Tanaka: O senhor talvez concorde com minha afirmação de que as culturas européia e japonesa teriaA partido. de certo modo. se o pensamento ocidental partir da idéia de um desenvolvimento contínuo da história . independentes e concluídas em si mesmas. pressuporia um outro estado de consciência.por outro. Tempo e Gravitação": "Os eventos não acontecem. Com isso. o poeta quer dizer que o futuro. em sua origem. continua Eddington. mas tende a juntar e ligar aquilo que. uma espécie de fotomontagem que surge em consequência da ligação e justaposição de partes estanques. Porque os processos de desenvolvimento ocorrem por saltos e só depois.casuais. dependendo do tipo de consciência adquirida. Porque. o desejodeviver sempre no presente. do que por aquilo que era ou poderia vir a ser. considerações de ordemeconômica. seu interesse maior por aquilo que é. chamamos de religião e como a ausência do sentido de desenvolvimento. Com frequência. observei que. ou comentários da Rádio ou TV japonesas. e o Tôshôgü. em Nikko. como teoria do belo e do adequado. a falta de desenvolvimento e planejamento lógicos no campo estético e artístico. publicitária ou política.se a ela ~o latim: religio=religação). a inexistência de passado e futuro na consciência do japonês. medição. constatações de caráter enciclopédico.. Apenas me parece queasopçÕesestéticas são tomadas mais intuitivo-emocionalmente do que consciente e especulativamente. reflexões estéticas não tenham qualquer importância. muitas questões levantadas pelo senhor em suas cartas anteriores: o ecletismo do pensar japonês. a ausência de senso de dimensões (dimensão quer dizer extensão espacial. francamente barroco. uma exolicação do porque determinada obra não lhe agrada. A relativização do conceito de valor e a idéiademutabilidadee tro- . ou seja. e. no sentido ocidental. foram concebidas por um mesmo arquiteto . jamais. transmissão de docu!'lentos históricos. explicam por que pode ele renunciar ao que nós. sua posição fortemente pragmática ante as coisas da cultura. Um tal tipo de consciência. as formas de manifestação artística ou estilística já existentes são objetos concluídosemsl. etc. ou lhe agrada mais do que outra. como. portanto também individua 1 i zação do espaço) . caro professor. nunca consegui ou vir. são levados em conta no julgamento de obras de arte e de manifestações artísticas. minha atenção foi despertada para o fato de que arquiteturas tão diversas como o despretensiosopalácioKatsura. no Japão. a aparente incoerência de seu pensar e atuar. são. isto é. pontos de vista pragmáticos . a não existência de consciência de estilo (em sua última carta. ). por exemplo. Não quero afirmar que . As críticas de manifestações artísticas.um valor utilitário por assim dizer . De maneira alguma . avaliação crítica.. Talvez a simultaneidade das formas de manifestações isoladas.Shrine. não interligados. a capacidade do japonês de se t ransformar (o senhor se referiu à aparente falta de caráter). da boca de um japonês. para o japonês.. explica assim. conduz ã ausência da necessidade de religar. independentes de valor e por isso trocáveis. em Kyôto. ocidentais. Estética COITlO experiência passional e não como resultado de reflexão e questionamento teóricos.60 Tal postura poderia explicar o acentuado senso de realidade do japonês. raramente análises ou interpretações de ordem estética ou estilística. desempenha na vida cotidiana do Japão. geralmente. Sua consciência simplesmente registra ummundode coisas que já existem e renuncia ao processo de avaliação . no entanto. Apesar do importante papel que a estética. uma apreciação estética ou teórica referente a uma obra de arte. de algo que se afasta da or i gem . embora entre os japoneses desempenhe um papel tão importante. mutuamente correspondentes. ou seja. dificuldades insuperáveis. a cultura e o modo de viver dos japoneses podem permanecer incompreensíveis. chamou minha atenção."vida é morte . diametralmente oposto ao "ou ou outro" ocidental. UM A ambivalência que caracteriza o princípio do "tanto um quanto outrd'. conceitos que nas línguas ocidentais representam dualismos característicos. vista por si mesma. do uso do passivo igualmente polissêmico e do emprego de expressões idiomáticas que tendem a reduzir a oposição dos conceitos. da substantivação polissémica do infinitivo. complementam-se o claro (Vida) e o escuro (Morte). corpo e alma. E quando Hõlderlin tenta questionar a excludência do "ou um ou outro" ocidental . Mele. que a cultura ocidental procura compensar com sua lógica dialética e o conceito de síntese-. princípio do pensar que. é neutro eambivalente . em suas cartas precedentes. não é apenas uma chave para a compreensão da cultura japonesa.e Ri lke escreve: 'nem um aquéri. ideal para o qual o senhor. mas sim a grande unidade". que existe no mundo imaginário de quase todos os povos da As ia. aparentemente contraditórias. Um belo e expressivo símbolo que representa convincentemente este modo de pensar é o Tai-Ki chinês (yin-yang). espírito e matéria. e porque não se define. mas elucida também muitos aspectos da vida cotidiana desse país. intencionais e involutárias é um componente importante do ideal que o japonês denomina harmonia ("WA"). conservando harmonia. a enorme aceitação alcançada pores- . Assim. Símbolo da ambivalência do "tanto um quanto outro" da vida. nem um além. Enquanto no ocidente o "ou um ou outro" divisor tornou-se. (Entendo por lógica o conteúdo do pensamento r~sponsável pela exatidão ("lógica") do efetivo processo de reflexao). compreende forças que aspiram ã complementação e fusão. para muitos ocidentais. compreensível. então. são tratados como fatos correspondentes e complementares. como bem e mal. através do emprego das partículas auxiliares ga e wa. sujeito e objeto. Porque aqui lo que é •1tanto uma quanto outra" coisa. o fundamento do pensar e da criação de conceitos . porque cada metade do símbolo. a meu ver.o modo de pensar em categorias opostas. E uma premissa de pensamento sem a qual. validade e eficiência duplas.61 cabilidade dos acontecimentos e de suas formas de manifestação dela resultantes explicam também a importância do "tantoumquanto outro". contem a outra. e morte também é vida" . cada vez nais acentuadamente. frequentemente cria. Este "tanto um quanto outro" japonês. da construção e emprego característicos do adjetivo. o oriente insiste numa lógica cujo conceito central é o "tanto um quanto outro" complementar e correspondente. no idioma japonês. torna-se. ao artista japonês parece parte de um todo. não ocorre anulando-se. ocidentais. contrapondo-se a uma estética ocidental de contrastes. a relação sujeito-objeto. Um pensamento que interpreta também as relações entre homem e natureza como ato de complementação. na música tradicional do Japão não ocorrem os dualismos maior-menor. Em seu lugar. são inutilmente procurados nas obras de arte japonesas. Brahms ou Mahler são substituídos por extrema concentração do pensar musical. também nos terrenos da arte da jardinagem e da arte do arranjo de flores ("ikebana") desempenham importante papel. presentes na música ocidental. os grandes contrastes de cores tal como empregados na arte do ocidente. etc. Na arquitetura japonesa podemos observar algo similar. criando uma inter-relação com a mesma. ademais. bem como "dissolver-se" nela. o conflito entre tese e antítese. logicamente elaborada e equilibradamente disciplinada. no início deste século. A pintura tradicional japonesa evita. primeiro e segundo temas. assim. E finalmente. O debate. anulou os dua- . falar de umaestéticajaponesadecomplementaridade. caro professor. consonância e dissonância.. Acontece. tem seu sentido. elementos que. a superação da antinomia interior e exterior. que o "vis-à-vis" prosãico entre quadro tradi cional japonês e contemplador. O que a nós. por isso. O senhor. que animam organicamente a superfície. o espaço entre receptor e obra de arte pela unificação de linha. tanto como "ou um ou outro" do ocidente. o físico acima mencionado~ desenvolveram um tipo de pensamento que integra o "tanto um quanto outro" do oriente. cor e forma. ser considerado sem validade ou inverossími 1. pela anulação da fronteira entre estes e a fusão dos dois contrários numa só unidade. Desenvolvimentos dramáticos. encontra-se um alto grau de abstração e sublimação. seu teatro e sua música.62 ses dois poetas no Japão. Desde que a Física moderna. não podendo. pois. parece o oposto. Os desenvolvimentos dramáticos amplos que caracterizam a arte ocidental. o espaço que desemboca no jardim permite a seu morador um contato íntimo com a natureza. ou seja. como os encontrados em Beethoven. pois. Poder-se-ia. numa casa japonesa tradicional. Relações de cores. forma de pensar que. chamou minha atenção para o fato de que. produto de uma poética ordenadora. que mais sugere do que afirma. são alheios à arte japonesa. caracterizam o quadro japonês e condicionam o "vazio admi ráve I" sem o qua 1 o "evento" pi ctõri co não se torna realidade. o que faz com que ela ganhe em diafaneidade e leveza esférica compensadas por uma considerável precisão do discurso sonoro. tônica e dominante. Foram justamente eles que ~ à maneira de Eddington. lógica que procura aliar o "tantoumcomooutro''complementar ao "ou um ou outro" excludente. iva desse tipo de pensamento. lkna forma que ordena. de interesses econômicos e ideológicos. de fato. parecem excluir-se. os nacionalismos de todas as espécies e muitos outros fenôme nos.à . Tampouco as culturas ocidental e oriental são contrárias como muitos dentre nós pensamos. mas complementares ~ fatores complementares se completam ou se anulam ~ encontrar-nos -emos no limiar de um mundo novo. a separação do indivíduo da comunidade. de um mundo sem "vis. simultaneamente. na música ocidental tradici onal. do qual tanto nos orgulhamos no ocidente. leva ao isolamento e finalmente ao conflito. a política de partidos e a luta de classes. . Porque o "ou um ou outro" que se repelem separa. compreender e aceitar isso. entre grupos. ou seja. mas sim culturas que se complementam e se co~pletam. Por isso sentimo. Se um dia for alcançada a compreensão de que culturas e civilizações diferentes não são contrárias . tentei desenvolver uma forma e estrutura musicais baseadas numa lógica paradoxal.63 lismos matéria-energia e tempo-espaço. Cordialmente. . infere e ao mesmo tempo refuta. porque sua ordem é. estilhaça. E tarefa das mais importantes. ou seja. a partilha do mundoemblocos. parece que o çou a se preocupar com a revalorização do "tanto um unificador. Em "Yume no naka no hito" e em outros trabalhos dos Últimos anos. o conflito. cismas e sectarismos religiosos.nos hoje forçados a rever muito daquilo que nosso modo de pensar produziu: o individualismo. poderia ser ocidente comequanto outro" A perda definifatal para nós. a meu ver. com o pensamento complementar. como dois princípios composicionais que constituem um todo. tarefa que teremos que aceitar.vis". se estivermos interessados em contribuir para o entendimento entre leste e oeste. desordem. Uma forma e estrutura baseadas na junção de conceitos contrários que. - T'ai-Ki . . Ao invés de uma estética contrastante ocidental. Desde tempos imemoriais .Haru sempre navegou atrás do Yôroppa -Maru. Como o Nippon. e até certo ponto embaraçado em perceber que a essência da arte e cultura japonesas pudesse. osenhor assinalou muito bem: o que pa rece ao artista ocidental contrastante. poder. Sinto até como se eu mesmo tivesse sido dissecado . caracterizados pelo "tanto um quanto outro" ou "ou um ou outro". isto é. provavelmente. O que. 3/3176 Caro professor Koellreutter: Eu sabia desde há muito que o senhor se ocupava com grande interesse da arte e cultura japonesas.Tokio. Para ele. ficando. arcos como os que se apresentam na natureza. Nisto concordamos plenamente. Hoje. Fiquei admirado. Essa diferença. ser dissecada pe lo senhor. Concordo plenamente com o que diz a respeito da cultura do ~apão.Ma r u" (navio Japão). Em sua ú l tima ca r ta. Ainda com referência a esse ronto. mas não sabia.ia falar em uma estética complementar. não podem ser desenhados. resulta do fato de que o japonês não sente linha e curva como contraste .perdeu seu navio piloto. guiado por um navio piloto chamado "Yôroppa-Maru" (navio Europa). gostaria de fazer alguns comentários a respeito da paisagem japonesa. numa de nossas revistas. que sua compreensão delas fosse tão profunda. No final de minha última carta. li po r acaso. os dois modos de pensar diferentes. não precisou ligar. Assim construiram. além disso . Na a rquitetura e cerâmica japonesas chamam atenção vários arcos e curvas que parecem diferentes das ocidenta i s. após a restauração Meiji. os japoneses procuram produzir curvas "naturais". a seguinte parábola: "o Ni ppon. obtem. Navegou com máxima velocidade. deixou o Japão em direção à Europa. O Nippon-Maru finalmente alcançou o navio piloto e o ultrapassou. um arco é simplesmente uma variante da linha. dessemodo. decisivamente . distingue muito os japoneses dos ocidentais sao. pois. res()ectivamente. mas que. o Yôroppa. Vergando essa ripa.se com o porto de origem.Maru dirige. dependendo do grau de resistência da madeira. uma ripa de madeira flexível de espessura e resistência variadas ao lonqo de seu comprimento.se .se a ele. já num passado remoto.Haru para orientar. justamente. de manei r a tão racional. Achei interessante a razão que me apresentou de porque o japones pode renunciar àquilo que os ocidentais chamam de religião.se ao Nippon. da qual dependem. mencionei as relações que o japonês cultiva com a natureza . com a ajuda de um compasso . francamente.se.se. Recentemente. geometricamente . desorientado com a impossibilidade de religar . ao a r tista japonês parece parte de um todo . nossa arte e cultura. de não sentir necessidade de "religar-se" à origem. a natureza também foi uma fonte de inspiração para a arte do ocidente. D~sde tempos imemoriais. tanto o cavalheiro quanto o artista japones procuram um comportamento que parte do princípio do silêncio no movimento e do movimento no silêncio. causa impressão de harmonia e unidade. as quais. Mesmo assim. são. o marulhar das ondas. onde quer que seja. O japonês a venera em todas as suas manifestações e dela tem um conceito muito particular. costas. Ondas espumantes. eis a feição de Buda. O clima. No verão. desinteressante para ele. De origem. Um tal comportamento depende de concentração extrema. chamam a atenção do viajante que. Essa estética se funda na experiência da natureza e é completada pelas idéias do Budismo. Adiversidade da paisagem. a unidade na variedade. que surgem de repente. Oiferente da paisagem. em toda parte. no Japão. entreojaponês e o ocidental. provocam desabamentos de terra. que orienta sua arte e cultura. nesse contexto. de aspecto íntimo. E quando ele arqueia sob o peso da neve. planta de origem tropical cresce. montes que se erguem. A natureza é o mestre. nas quatro pequenas ilhas do Japão encontra-se tudo que existe nas zonas fria e tropical. visita o Japão. pedras no caminho. o Japão se encontra numa zona quente. as ilhas japonesas são multiformes e minuciosamente articuladas. apesar de nao se poder considerar seu clima como tal. o trigo e outros cereais de clima frio. eis a voz de Buda.66 Como sabemos. suas ilhas. os forçam a conviver com eles . enquanto que oprime i ro se satisfez com a representação realística de seu sentimento por ela. embora moderado. uma certa força que só pode tornar-se eficaz pela via da elegância. Porisso. grandiosa mas monótona. não existem formas iguais. com frequência e precipitadamente. por isso temas que influenciam fortemente o modo de pensar do japonês. Pela constatação de que. na natureza. causando enchentes e tempestades. na arte japonesa. no entanto. o modelo e a fonte da criação artística. partindo do sul. se choca com uma corrente fria. cobrindo o país de magníficas florestas. consiste. Apesar de toda a elegância. crescem os arrozais dos trópicos e no inverno. O murmúrio das árvores. o estridular dos insetos. pois. pois. Isto talvez elucide o fato acima mencionado de que o japonês não em- . o õrtista japonês fez dos livros o fundamento de sua criação. O si lêncio antes da tempestade e a paz após a passagem do tufão. Não se pode esquecer taMbém do tufão que frequentemente perturba e muda a harmonia da natureza da região. Uma estética baseada em princípios formais derivados da geometria e. morros. por seu lado. tende a extremos e acentua. Esses fenômenos naturais. O bambú. vegetação. sua paisagem. a paisagem se torna o símbolo da cultura japonesa. do continente asiático. sente-se. pela primeira vez. ameaçando e mudando inesperadamente a vida dos japoneses. no fato de que o último procurou um ideal de beleza que a transcendesse. A diferença principal. para o qual a natureza é a expressão do pensamento de Buda. move-se em sua direção uma corrente marítima que.ao norte do país. não é sempre assim. jin é um método ou uma técnica pela qual três elementos diferentes são ordenados e relacionados numa harmonia dinâmica. naturalmente. o princípio de ten-chi-jinéfacilmente reconhecível. TEN . Ten. como um todo. dois ou mais elementos em relação numérica par.CHl-JIN . significam. Em ten-chi-jin não há elementos com formas idênticas.leo. Essencial é apenas que sua for ma. chi.61 prega o compasso para construir arcos ou desenhar curvas. e não tão enfaticamente. Ten. terra e homem. que não devem ser do mesmo tamanho. pressupõe elementos com formas idênticas. céu. Seu princfpio formal é empregado no arranjo de flores (ikebana) e na arte jardineira. mas nunca mais do que ten. equilíbrio uw. quando comparado com outro método baseado na simetria. O arranjo. uma forma artística própria que chamou de "ten-chi-jin". Desenvolveu. de cuja multiplicidade sua estética é reflexo . Na arte do arranjo de flores. Ordenação simétrica. Ten-Chi-Jin significa equilíbrio d. há duas outras (eh i e j i n). A esquerda e à direita da mesma. em todos os campos da arte e do modo de viver dos japoneses. literalmente. Mais ou menos no centro do arranjo . eh i é um pouco mais a 1 ta do que j i n.j i n".útâmteo. Este método de ordenação representa a harmonia do número ímpar. necessariamente . pode ser composto de mais de três flores. porém. já que essa não existe na natureza. Os três conceitos simbolizamoconceito de mundo. simetria.encontra-se uma flor alta (ten). em consequência. pouco inclinadas para fora. chi.Torna-se facilmente compreensível. e jin. torne reconhec í ve 1 o princípio do "ten-ch i . Elenãose Interessa pela simetria. construído pela pri mei ra vez há aproximadamente 2. perfeitas e imperfeitas. Nela. oorém. sendo ar tista. ao mesmo tempo. tem-se que cuidar da manutenção dessa simetria. um estado de transição. embora nem sempre corresponda a uma necessidade. a qualquer momento. eternamente. é ela que deve orientar sua atuação. O artista japonês encontra-se. nunca concluídas e completas. uma compleconservam mentação com novos elementos. nas sim o esoectador que. E Zeami continua: o ator deve levar em consideração todo tioode crítica. deverá ser feito em ambos os seus lados. à minha tese de que as relações inter. sempre a for~a fundamental aparentando urna espécie de estado transitório. num dilema. aqui. é sempre possível acrescentarem-se outras partes. permitem.chi-jin. Talvez possamos dizer que as casas construídas simetricamente têm um caráter definitivo. a arte deve ser como a natureza. não se realiza quando suas intenções se fazem sentir demasiadamente. sabe que este se sentirá agredido se essa intenção for por demais evidente. Zeami (1363 a 1443). Com isso.68 Este clichê representa um exemplo imp ress ionantedo"ten-chi-j i n" na arquitetura japonesa. enquanto que construções baseadas no princípio ten . Estado transitório significa. O ator está. oorém sem exibição. sentimos uma aversão instintiva por qualquer espécie de intenção manifesta. ele deve satisfazer não só o conhecedor. E ainda nessa mesma ocasião: nós. Zeami quis dizer que o ator deve orientar-se pelo público e levar a cada um dos espectadores a ~"nsação de estar sendo divertido pelo ator. Voltarei. Em uma das cartas anteriores escrevi : a arte japonesa se baseia exclusivamente nas relações entre o "eu" e o "outro". Essas construções. são. consciente de oue seu contato com o esoectador é o único cr1ter10 válido. sendo elas assimétricas . porisso mesmo deve expressar. expressiva e bela . Já no caso da casa construída simetricamente. no teatro Nô. ao levar em conta o destinatário. ~esmo a do leiqo que não dispÕe de conhecil"lentos específ icos. japoneses. una vez mais. Uma espécie de dinãmica interior permite-lhes adaptar-se a qualquer modificação. lmagineT"'Os uma casa qualquer.000 anos e periodicamente reconsti tuido. Li em certa ocasião que o palácio do ir-iperador do Japão. porisso mesmo . O palácio do Tenno deve representar eternamente o mais belo e o mais perfeito. teatrólogo que levou o teatro Nô ao áoice. Esse contato. suas idéias sobre a arte teatral: não é o ator. não pode evitar a expressão clara de sua intencão. Na ooinião do japonês. Oessa l'laneira. um provisório. mas também o leiqo desoretensioso. dilema que terá que superar já que um . desempenha o papel principal.humanas são de grande importância para a nossa arte. o acréscimo. oortanto. em seu livro intitulado "Kadenshô". apresentou. desde sempre foi considerado como construção provisória. Podemos dizer que esse princípio é funda~ental na estética jarionesa. perfeição. para o japonês. para que ela não seja violada. mas por outro lado. na riedida do possível. inclusive na arte moderna onde. em última análise.69 ator sem intenção artística nao é ator . não possuímos o dom de fornular opiniões. Resultante de tal controle. visaM facilitar ao ator um tal COMportamento. Consequenterente. que lhe disse. CO!T' Isso ele queria dizer que o ator deveria se esforçar sempre po r esconder o que sen"te e pensa. Não abordei. Geralmente são. Sei que no ocidente. tem razão. há muitos livros sobre nossa arte e cultura. que esse modo de atuar também o corre no teatro do ocidente. no entanto. Em todas as minhas cartas chamei sua atenção para a diferença entre o japonês e o ocidental. Certo é. poréM. não me foi possível mencionar todas as características da arte japonesa. Naturalmente.pois receia ser mal interpretadopelasociedade. "Hisureba hana nari" quer dizer. que essa tese é só parcialmente vá1 ida . Observei que frequentemente o medo impede o japonês de expressar livremente o que pensa. temos pouca oportunidade de emitir nossa opinião.se a florescência completa". surqe um contato com o público que não exige sacrifícios de ne nhuma das duas partes: o ator não perde sua dignidade de artista e o espectador não se sente obrioado a tomar conhecimento dos pensamentos e sentimentos do ator.suroem em algum ponto. por e xemplo. as palavras 'bem" e "mal" substituindo-as por "belo" e "não belo" .se o mes mo no plano da vida cotidiana. há liberdade de representação e expressão. Creio. no entanto. sem dúvida. não se colocando vaidosarriente en primeiro plano .nós. a tendência a fixá-las detalhadamente é naior na arte japonesa do que na ocidental. no entanto. Disse-lhe que. Certas formas (kata) de representação pré-estabelecidas no teatro Nô. Sim. Constatei. "escondendo conseque. em qeral. japoneses. seu aspecto ornamental e as influências do Zenbudismo e do Shintoismo en nossa estética. A famosa instrução de Zeami "Hisureba hana nari" é a resposta a es se difícil problema. evitaMos. e entre os quais existe um consenso tácito. não somente dos espectadores. O senhor talvez dirá. caro professor Koellreutter. O senhor não acredita que as re lações hunanas mais "belas" . Mas. Naturalmente. porisso mesmo.se. literalmente traduzi do. no percurso de um movimento oscilante entre a aparência e a verdade? Ew certa ocasião lhe disse que nós. especializados em determinadas . Zeani exiqia do ator que f izesse todos os exercícios e esforços possíveis para dominar. caro professor Koellreutter. mas também de si resmo. formas de atuação e expressão pré-estabelecidas também se encontram na arte ocidental e provavelmente em todo lugar onde se faz teatro. que não nos agrada quando ostentada em demasia. verificando. o que procuro explicar pelo fato de que todos somos homens que "pensamos da mesma maneira". o mais importante a respeito do caráter da arte japonesa . pois. coisas que só consigo apreender instintivamente e através da sensibilidade. o que não concede ao outro. Disse ainda. da boca de um japonês. a si mes mo. até eu. sabe que eles não constituem contrastes. Ademais. tanto quanto os europeus. Em minhas cartas. portanto. Perqunto-me como um japonês reaairia se umestranaeiro lhe dissesse que se ocupa do Haiku. consiqo qanhar a distância necessária ã análise do alieníqeno. compreender a cultura ocidental. chequei a temer que. Espero que mi nhas interpretações tanbém sejam uma chave ã compreensão de outras áreas da vida sócio-cultural japonesa. Apenas receio que. que os japoneses tomam decisões estéticas mais intuitivo-emocionalmente do que consciente-especulativamente. deve-se levar em conta que a maioria deles foi escrita por autores ocidentais. etc. mas se complementam e completam. dessa maneira. embora capazes de representar claramente as coisas. Com certeza. estética ou teoricamente fundamentado. Só então seremos capazes de nos defrontar com os valores culturais estranaeiros. em sua última carta. As ve zes. "Nô". parti da arte japonesa como um todo e orocurei tratá-1 a sob vários aspectos. caro professor Koellreutter. um julgamento de valor. em primeiro lugar a nossa. pudesse lhe deixar uma impressão que não correspondesse ã natureza da arte do Japão. não o julgaria capaz de compreendê-lo verdadeiramente. porém. sobre uma obra de arte. frequentemente tive dificuldade em expressar por palavras e conceitos. que nunca consequiu ouvir. Esse é um ponto de vista que difere fundamentalmente das idéias dos japoneses que. em princípio. mais clara se torna para mim a di ferença entre ocidente e oriente. não percebam o quão distante estão de sua própria cultura. a meu ver. elas são. A isso qostaria de acrescentar que acreditamos menos nas palavras do que os ocidentais. e sempre de novo. mas tentam também. com toda razão. muitos japoneses que desde a Restauração Meiji se ocupam com demasiada assiduidade da cultura ocidental.70 áreas. "Ukiyoe". Parece-me que os estudos de nossa cultura me habilitam a corrpreender o pensar ocidental. através de explicações racionais. necessária ã compreensão de um povo. incapazes de descrever a essência dessas mesmas coisas. há livros sobre "Kabuki". Assim. . Quanto mais estudo a nossa arte. Por essa razão. O senhor. alémdisso. renunciar ã sua própria cultura e caráter. Como japonês. Temo que a maioria dos japoneses não seja capaz de preservar a distância. não acreditan eri contrastes e se sentem capazes de. devemos estudar. Creio que é cheaada a hora de nos tornarmos conscientes da distância que se interpÕe entre a cultura do Japão e a de outros países. pois não estão apenas interessados em integrar outras culturas. em nossa correspondência.de fato está conscientedadiferença entre ocidente e oriente. "Gaqaku". Ele se permite. O senhor escreveu. para que possamos compreender. a diferença entre nós e os demais. finalmente. . com clareza. devemos nos deter e nos lembrar nossa posição no mundo. agora.7J de A meu ver. 73 Rio de Janeiro, 24 de junho de 1976 Prezado professor: Assim como o senhor, caro professor, sou da opinião de que tambémos japoneses terão que levar em consideração e conscientizar, cada vez mais, a distância entre sua própria cultura e a dos que estão à sua volta, para que possam assimilar e integrar valores culturais alienígenos e desenvolvê- los criativamente. Porque uma cultura planetária universal só poderá surgir se os povos conservarem sua identi dade, ampliando-a e enriquecendo- a, se, portanto, os valores culturais alieníqenos forem inteqrados orqanicamente à própria cultura . Eis um problema com o qual terão que se preocupar não somente os japoneses, mas todos os povos desta terra. No processo universal de amalqamento cultural que forçosamente ocorrerá, parece-me indispensável que se cultivem os valores culturais próprios e que se os selecionem paulatinamente sob o ponto de vista de sua validade universal. Porque uma cultura planetária universal só poderá surgir como resultado de um crescimento orqânico que leve em consideração todos os valores ~ também aqueles que pa recem ser contrários ~ e de um equilíbrio sócio-cultural. Tenho a certeza de que também aquelas forças que, em nosso tempo, no Japão, ainda resistem à conscientização da própria identidade, finalmente serão compelidas a participar desse processo, quando a cultura universal, como única alternativa à hecatombe, tiver penetrado na consciência de todos os homens. A construção de uma cultura planetária universal, portanto, deummundo sem "vis-à-vis" (sem barreiras) requer uma redescoberta contínua da própria identidade. Porque cada redescoberta aprofunda um processo de conscientização que a~l ia, enriquece . .. e Ubvr.ta. essa identidade. liberta do conceito nacionalista, de opiniões infundadas e da reflexão parcial. Um processo de conscientização a ser vivido por todo o povo, porque cria as condições de um relacionamento baseado em amizade e respeito que deve preceder a compreensão mútua. Tenho certeza de que, em toda parte, existem valores cultura is tradicionais, talvez mesmo primitivos ou originários, portanto pré- racionais, que se perderam ou foram reprimidos no decorrer da história, mas que terão de ser reintegrados no decorrer do processo de construção de uma cultura universal, em vista da necessidade de um equilíbrio cultural. Seria errôneo, portanto, querer renunciar, em princípio, à contraposição de idéias, de experiências e desenvolvimentos sociais e culturais. Nunca, jamais, pensei em fazer uma coisa dessas . Quando me refiro a um mundo sem barreiras, não tenho em mente um mundo que, na verdade, não as tivesse, mas sim, a um mundo que. 6upeJWu 06 p11.e.c.onc.cúto~ na.elona.li6.ta6 e op.úúõu p11.e.c.onc.e.bi..da.6, pe.1..o Uóo comum de. todo6 va-lottu, peta. c.olabo1taçã.o e c.onc.e.ntJu.tção em obj e.:ti..vo-6 comun-6 . o~ 74 O pensamento supra-nacional, ou seja, independente dos aspectos na cionais, só pode tornar-se efetivo quando se reconhece, se apreende , isto é, se percebe, cotU>clVLteme.tLte., as formas nacionais características existentes no mundo, incluindo a prõoria. Somente então a natureza humana poderá alcançar sua plenitude. (Por características nacionais entendo as manifestações de desenvol v imento distintas e dinâmicas, dentro do âmbito de uma cultura predominante. Como parte, portanto, de um todo que se renova constantemente.) Se a arte é um meio de representação e depoimento do homem ã procura de um mundo sem "vis-à-vis" - e sou da opinião de que é isto que ela deve ser - então também sua estética terá que levar em consideração a nova realidade, em todas as suas dimensões. Refiro-me, principalmente, à interdependência, por destino, de todos os povos. Uma tarefa cuja solução não seria concebível sem experimentos e insucessos. E, de fato, estes podem ser constatados, hoje, na vida cultural de todos os povos, sob forma de produtos de arte mal sucedidos do ponto de vista de suas relações com a nova realidade. Tais produtos já existem em toda parte: na música, nas artes vis~ais, na literatura, no cinema e no teatro. Lembro-me em particular, de algumas obras que, no ano de 1972, sob o lema do "Universal ismo da Arte" foram apresentadas na 01 impíada de Hunich. Oisparates que sempre surgem quando o mundo, válido até então, começa a se transformar mais intensamente. São justamente o desejo do exótico e a fome de sensação que garantem o sucesso de tais "obras". Colchas de retalho que nos apresentam um mundo de cacos, de resíduos culturais não digeridos, como substitutos de um esforço real para dominar, espiritual e intelectualmente, a nova situação. Por isso mesmo, não acredito na arte "vanguardista" tão pro:>agada na Europa e na América do Norte . Um pleonasmo, aliás, pois a arte, se realmente arte, no tempo em que surge, é sempre "vanguardista". Porque a arte, neutra ou retrógrada, não exerce função na sociedade - a maioria dos assim chamados artistas " vanguardistas" no ocidente são, a meu ver, no melhor dos casos, românticos atrasados, cuja atitude intelectual e idéias artísticas, mesmo quando realizadas com meios modernos - não correspondem, de modo algum, à nova real idade e às novas condições sociais. A eles faltam a mensagem adequada ao mundo tecnológico e uma função fidedigna na nova sociedade. Tais soluções insatisfatõrias de uma tarefa legítima e urgente frequentemente a consequência natural do experimento - são, porem, se objetivamente vistas, uma parte da polêrnica em torno das novas idéias. A elas não se pode, pois, renunciar. São os símbolos negativos, por assim dizer, que nos apontam o caminho para o futuro. Talvez, caro professor, deveríamos observar os contrastes que sepa- 75 rama cultura do Japão da ocidental. Contrastes, no entanto, que não devem ser compreendidos, como já disse em minha última carta, como fatores contraditórios que se excluem mutuamente, mas que se complementam. Um estudo comparativo deste tipo, que consiste ao mesmo tempo, em um processo de relacionamento, produzirá os primeiros ensaios para a criação de um novo modo de pensar e refletir que, na cultura de um mundo uno - portanto tarnbêm para a arte e estética poderá tornar-se decisivo. Eu diria, por exemplo, que os seguintes aspectos predominam no pensamento japonês e ocidental, respectivamente: Pensamento japonês Pensamento ocidental Independente de espaço e tempo (pensamento não-dimensional) Pont i 1hado (pensamento que salta de um ponto a outro) Dependente de espaço e tempo (pensamento dimensional) Discursivo (pensamento que progride desenvolvendo um determinado conceito para alcançar outro) Estruturação de conceitos monovalentes (ou um, ou outro) Estruturação de conceitos que descrevem Pensamento analítico Unificação por síntese Extroversão (concentração no mundo exterior) Expressão com ênfase no racional Lógica causal Estruturação de conceitos ambivalentes (tanto um quanto outro) Estruturação de conceitos que circunscrevem Pensamento globalizante Unificação por complementação Introversão (concentração no mundo interior) Expressão com ênfase no intuitivo Lógica a-causal ( lógica como pensamento coerente) Atuação segundo experiências Pensamento vo 1tado para o passado Pensamento e ação descentrados do eu, voltados para a comunidade Contemplação assistemática Atuação segundo idéias Pensamento voltado para o futuro Pensamento e ação centrados no eu, enfatizando a personalidade Contemplação sistemática Entende-se que, em ambas as culturas, verificam-se manifestações de todos os aspectos mencionados, enquanto que, em outras, aparecem menos. Assim, no idioma japonês, por exemplo -e a língua, sem dúvida, é sempre a expressão mais imediata do estado da consciência- o uso incorreto de palavras do ponto de vista da ênfase e vivência psíquica, produz, geralmente, absoluta ininteligibilidade da frase. No entanto, em português, assim como em outros idiomas europeus, uma lógica a-causal (transcendência do prin cípio de causa e efeito). seria concebível apenas como síntese das formas de pensamento que nele estão vivas. em seu livro "A imagem da física moderna" escreve: "A revolução espiritual causada pelos físicos de nosso tempo. eis porque. por isso. . somente possível quando passado. no ocidente e oriente.e por isso. de fato. Em toda parte. por causa de. A tradução japonesa do provérbio português "o perigo está mais pro(traduximo quando não se pensa nele". O mundo sem "vis -à-vis". não abandona nunca a relação com o presente: isto eu ainda não consegui -sore wa mada umaku ikanai (tradução literal: concernente a isto ainda bem sucedido não ir) ou ela ainda não veio= Kanojo wa mada kite imasen (tradução literal: concernente a ela ainda não vindo) e de agora em diante não fu~arei mais ima kara wa mô tabako o suimasen (tradução literal: de agora em diante eu mais não fumo): todos são exemplos de um modo de expressar-se. modo de contemplar as coisas independentenente desses temas). em japonês. Concebíveis seriam. formas de pensamentoeexpressão de caráter integrante. hã. em que nenhuma das modalidades de pensamento deveria. polissemia (produção de mais de um significado). a-ou supra-racionalidade (independência da reflexão racional). o uso relativamente raro das formas do passado e futuro dos verbos (independência do tempo) em japonês. percepção sistática (apreensão por todos os lados). no Japão. numerosos exemplos dessas formas de pensamento e expressão. nesse contexto. desde já. indício de. daí. Assim. tanto nas ciências quanto nas artes.quantidade especialmente grande de palavras e partículas que acentuam o relacionamento causal (lógica causal). pois. que desconhece a conjugação no sentido das línguas européias -os sufi xos verbais indicam as funções das conjugações . Comparando o japonês com as línguas ocidentais. etc. pensamento e ação centrados na hunanidade (independência do eu e da comunidade. enfatiza o significado de causa e efeito: donde. com isto. que se refere a um ou mais pontos. ser preterida ou especialmente acentuada. é interessante observar. em virtude de. em última análise. da seguinte maneira. em consequência de. mas integra também o irracional). Pascual Jordan. por exemplo. porque. portanto. e a pontilhada. que revelaram aos nossos olhares estupefatos. constituindo-se numa for~a de expressão universalmente válida. indicadoras dos seguintes atributos: independência de espaço e tempo (independência de conceitos espaciais e temporais categóricos). presente e futuro não são vividos como contrários. assim. paradoxalidade (pensamento que leva a con clusões racionais. visto que. pensamento globalizante (conscientização das partes e do todo). "yudan dâiteki" ção literal: descuido-grande inimigo) é um belo exemplo da expressão discursiva causal concludente em português. aqui onde agora caminhamos. 11 Neste contexto. sem exceção. pela apreensao de suas leis. naturalmente. por assim dizer. caminhamos. ou os movimentos do sistema planetário. caminhavam. lembro-me tambén dos trabalhos quadridimensionais. pontes e fortificações do cais. homens que só caminhavam. nos ensinou que esta causal idade absoluta. leva ã destituição da validade absoluta do conceito mais importantedamacrofísica: o da causalidade. do caráter a-causal (abandono do princípio da sensível e da resolução). em verdade. Lembro. cuja apreensão espacial carece. Como músico.. Refiro-me ao conto intitulado "O diálogo dos três caminhantes": "Era uma vez. ela surge apenas posteriormente e em extensão limitada". Eles caminhavam e olhavam para trás e viam o que se mostrava. todos os processos são previsíveis.. gerahnente. pelo contrário. Até a descoberta da Mecânica Quântica (ou Mecânica Ondulatória).77 o subterrâneo do mundo microfísico e desenvolveram. de uma quantidade grande de pontos de observação. São também mensageiras de uma tal forma de pensamento e expressao. caminhavam . das composições paradoxais de um Marc Chagai!. independentes do conceito racional de espaço e tempo. há um belo contodePeter Weiss. da arte conceituai de um Man Ray ou do realismo fantástico dos austríacos Hausner e Hutter. No terreno da macrofísica. Na literatura alemã de nosso tempo. Picasso e Klee. no entanto. isto é. a arquitetura. não é uma lei natural básica. Lucio Costa e Oscar Niemeyer que substituíram a curva geométrica pela curva livre -e a obra do arquiteto alemão Hans Scharoun. de um Braque. independente de sistemas (aleatorismo) da música moderna... caminhamos". Alvar e Aino Alto. do princípio de causa e efeito. novas possibilidades de raciocínio. liberta do conceito tradicional de espaço. como o funcionamento de um mecanismo de relógio ou de uma máquina. da tendência ao centrado na humanidade e no universa 1 comum a todas as nações industrializadas: "O fato de ser um alemão não me parece um destino mais difícil ou mais fáci 1 do que . aqui onde agora estão construídas ruas. de um Le Corbusier. " • • • E eu descia o caminho rastejando e corria sem fôlego ao longo do atalho da ribeira. e conversavam a respeito disso e de outras coisas que antes tinham se mostrado . A Física Quântica. autor da peça "A perseguição e o assassinato de Jean Paul l'larat Sade" no qual as relações espaço-temporais são abolidas (independência do tempo racionalmente medido). era natural que esta predeterminação causal dominasse toda a natureza. ademais. multivalente (polissemia de acordes e simultanoides). de acordo com o princípio da causalidade. também. Lembro-me. lembro-me. . Tarefa cuja solução requer uma participação essencial da arte e que pode contribuir. ao mesmo tempo. por um lado propicia il compreensão da real idade integrante dos numerosos "vis-àvis" que se apresentam a nós . que levam mais a sério do que eu. no teatro japonês). entre as novas formas de pensamento e as tradicionais. Brasil. E o pensamento e a ação grupais.78 qualquer outro. Tarefa que. tudo aqui lo que é característico desses "vis-à-vis". levando-se em conta que o global não pode se concretizar senão através de respeito e busca ativa. Não é nenhuma condição à parte. o fato de que sou alemão . se ne cessário" {Hans Magnus Enzensberger). orientada para o objeto. significa a in tegração completa do eu no todo. a vontade e a capacidade de cada um de compreender e integrar criativamente os valores tradicionais de outros povos desempenham um importante papel . com a arte ocidental. Não vejo razão para me queixar ou para renegá-la e também não vejo razão para ver nela algo de excelente. ordenando. ( inerente à toda origem. nunca nos separarmos dela. mas sim uma origem. são mais adequados do que o individualismo voltado para a persona1idade. ver o distinto como caso particular de algo mais geral". E porque a superação das barreiras. índia .é indiferente tratar-se do Japão. ainda orientada para o sujeito {talvez não mais por muito tempo). Aceito esta contingência até onde for possível e a ignoro. escreve Werner Heisenberg-. do que. mas também lhe é inerente dela nos afastarmos todos os dias. No que concerne ao sentido de espaço e tempo. Por isso. incidental. Uma afinidade que existe. Apresenta-se a nós o dever de construir uma nova compreensão da realidade. liberta-nos deles. deveríamos extrair uma lição da tendência japonesa à despersonalização (tenho aqui em mente. por exemplo. Não quero chocar os meus próximos. trata-se hoje de criar um mundo de compreensão aberto. entre muitas. decisivamente. A meu ver. da dependência ao mesmo. a função da máscara. para a libertação do homem da idéia obsessiva do "vis-à-vis"."Compreender significa reconhecer relações. em um mundo orientado para a humanidade {sociedade de massa). nós ocidentais. é muito esclarecedora. Trata-se de reconhecer o próprio ego como parte de um todo e subordiná-lo a um desenvolvimento globalizante. Nesse contexto. União Soviética ou China~ e. em uma escala de valores equivalentes. facilita ao japonês adaptar-se às primeiras. Porque a renúncia ao "vis-à-vis" condiciona a independência do eu. no Japão. a comparação da arte japonesa. O "tanto um quanto outro" ambivalente corresponde mais ao princípio de estruturação polissémica do que o "ou um ou outro" excludente. De fato. independência aproxima-se mais da ausência. a evidentemente. não a eliminação das mesmas. um mundo que integre os valores alienígenos no próprio âmbito da vida. bem como pela interação e compensação dos valores individuais. Estados Unidos. . Estou firmemente convencido de que a realização da humanidade como um todo . encontramo-nos desde já.a qual. se processa em nosso tempo. Pessoas às quais faltavam a coragem e a força para modificar seu pensamento. Um homem que deixará de ser o representante de um grupo nacional ou religioso. para mudar radicalmente sua própria atuação. caro professor. deveria esforçar-se no sentido de efetivar essa transformação da consciência. Querendo ou não. Para mim. capaz de viver com os conflitos causados por essa mudança. em todos os domínios da cultura. numa continuidade dinâmica''. dinamicamente. para a mudança cultural que. Num mundo sem "vis-à-vis" sentir-nos-emos em casa. progressivamente. por sua própria mobilização. teremos que renunciar a uma parte de nossa tradição. O senhor e eu. criará uma dinâmica compensadora que produzirá novas forças e possibilidades. pressupõe um alargamento de nossa consciência . Teríamos vivido em vao. tornar-se-iam desnecessários! . eu esperava poder contribuir para a construção de um mundo sem barreiras.. a meu ver.ou permitir que aumente. como já disse. como disse William James. o abismo existente entre a c i vi 1 i zação por nós cri ada e as re 1ações e compor- . Por um ser humano para o qual as várias funções não são outra coisa senão formas de atividade que mudam constantemente.79 Cada um de nós que atua no terreno da ciência e das artes. Pessoas demais se opuseram. é uma utopia . trata-se decisivamente de substituir -como diz Karl Marx . sem o homem global. Uma esperança que não se concretizou. "alia o real ao ideal. E isso que muitos não compreendem. Um mundo sem barreiras presume uma filosofia que integra todos os aspectos da experiência humana e que. Por isso nós. E o intercâtl1>io de experiências e idéias. Um homem livre e aberto. se não tivéssemos i nc 1u í do em nosso t raba 1ho o novo com que uma cultura universal enriquece a vida. dedicamos nossas vidas ao ensino e à educação. Porque organismos como o Instituto Goethe. Foi principalmente tal tarefa que me levou a oferecer meus serviços ao Instituto Goethe: como integrante de seu quadro. Preparado para modificar seu modo de pensar. no sentido de uma conscientização do supra-nacional e da extensão da consciência em direção a relações universais. Saber e abertura para globalizar integrarãoaespecialização parcial. do oriente e do ocidente. em todos os terrenos. da educação e da política. diante da necessidade de uma escolha entre renunciar a uma parte do tradicional em favor de UM novo modo de pensar e viver -modo que. E condição vital da era tecnológica.deve ser prioritária. mas que está preparado para contribuir. Mesmo assim. se contribuíssem para a construção de um mundo sem "vis-àvis".o homem fragmen tado pelo completamente desenvolvido.. ilt ao 0!11:10 ÃUl•'•l 6 twiúmanlal 11 Prtlf•n• 4• lnftrm19A1 . Uma nova maneira de viver. caso não queiramos escolher o caminho da destruição.80 tamentos entre os homens. de encontrar coragem e força para uma nova maneira de viver. e m. Ele é. Trata-se. é chegado o momento em que o ser humano precisa modificar-se radicalmente. apenas parte de um caminho.i. no entanto. h istor i camente. com certeza. Estou convencido de que. Um abraço AD'1ut-: \ ORIGTr\ . Um mundo sem "vis-à-vis" é uma necessidade fatal. pois. Creio que é sob este ponto de vista que todos os problemas estéticos devem ser examinados. Modificação que devemos provocar. Conscientizar essa problemática entre os homens.!u. Não é o alvo final. E indiferente ser esta destruição o resultado de um conflito nuclear ou de um envenenamento lento e gradativo do meio ambiente.qg Evi!1 c6. Porque cada objeti vo alcançado significa sempre um novo desafio. inconcebível sem renúncia e sern mudança do modo de pensar. é uma das funções mais importantes da arte de nosso tempo. C2 7o7í/Yf? <::f .(_ b 3 Àl_jc..ÊSTE VOLUME DEVE SER ÚLTIMA DATA DEVOLVIDO NA ABAIXO INDICADA ) 3../C i:_Q:i / J l{C olliliL e -'06 /or./ rfjj /?.[.. lo~ ~:llc<u 1o ~ - UFBA - ÓRGAO S1STEMA DE llBLIOTECAS PAPELETA OE QEVOLUÇM . 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