Kaspar Hauser

March 21, 2018 | Author: Angelica Pinheiro | Category: Perception, Reality, Praxis (Process), Sociology, Stereotypes


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Kaspar HauserA Fabricação da Realidade História de Kaspar Hauser • Kaspar Hauser aparece em Nurembergue, por volta de 1828, com uma carta em que há referencias de sua misteriosa origem; acolhido na casa do criminalista Feuerbach, é assassinado em 1833, mas o crime nunca foi esclarecido. • Após a sua morte, foram realizadas diversas pesquisas inúteis com o objetivo de compreender o funcionamento do seu cérebro. a práxis é necessária para que se conheça a realidade fabricada. .não basta simplesmente fazer com que se compreenda o signo.Realidade Fabricada .a realidade é convencionada e por isso não está intrínseca nos seres. é preciso que exista vivencia com o extralinguístico. . . por signos linguísticos."Kaspar Hauser não dispõe de estereótipos perceptuais. por signos linguísticos. conhecimento e realidade. parece não bastar para dissolver o permanente mistério e a perplexidade do olhar de Kaspar Hauser. enfim. pensamento. Kaspar Hauser deverá conhecer o mundo através da língua. Trata-se aqui de uma questão que relaciona língua. a paisagem em que foi colocado Kaspar Hauser permanece turva e indecifrável. a sociedade de Nurembergue vai impor-lhe a língua como o grande instrumental cognitivo: sem passar pela práxis. pelas palavras. Até que ponto o universo dos signos linguísticos coincide com a realidade 'extralinguística' ? Como é possível conhecer tal realidade por meio de signos linguísticos ? Qual o alcance da língua sobre o pensamento e a cognição ?" . Apesar de explicado pela linguagem. Conhecer o mundo pela linguagem. Signo. Significação e Realidade Signo é aquilo que substitui ou representa as coisas ou a realidade. . 18: Língua e cognição Percepção/Cognição 1 Realidade Referente 4 . Passa a funcionar como um instrumento cognitivo. os gráficos abaixo ilustram as duas operações: I 3 Amálgama de manchas 2 Percepção/Cognição Gráfico nº. em Nurembergue. 17: Língua e percepção “pura” 4 Língua 1 Realidade II Língua 2 3 Gráfico nº. e II. Hauser.Cognição através do sistema linguístico Na socialização. a língua: I. Substitui o “olhar” de K. º 19: A interação língua/práxis .2 Práxis diferenciação 2.1 2.3 3 Percepção/ Cognição Estereótipos (“óculos sociais”) 5 Língua 4 Referente 1 Realidade Gráfico n.2 Traços Traços Ideológicos Corredores Isotópicos (“fôrmas” semânticas) identificação Semiose (processo da significação) 2. Exemplo para melhor entendimento . O que faltou em Kaspar Hauser? . Práxis Língua Estereótipos Gráfico n.º 20: Língua e reprodução da práxis . . . . . .. consideram que a relação entre a referência e o referente é mais ou menos direta.Da mesma maneira que Saussure.TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS (1976) (B) Pensamento ou referência Símbolo (A) ... Finalmente.. os autores consideram como mais relevante a relação entre o símbolo (significante) e a referência (significado)..(C) Referente Na sua interpretação do triângulo.. não vêem qualquer relação objetiva entre o referente e o símbolo .. vêem essa relação como produto de um contrato tacitamente estabelecido entre os falantes de uma dada comunidade.. Diferente do que mais tarde viria a se firmar. . . apresentam um acréscimo face às relações dicotômicas entre significante e significado preconizadas por Saussure..Referente Os fatores dispostos nos vértices do triângulo... é acrescido o referente.TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS (1976) (B) Pensamento ou referência Símbolo (C) (A) .... Passam os três estão a figurar numa relação triádica esquematizada por um diagrama que se tornou clássico nos estudos dos processos semânticos.. correspondente ao significado.. representando um eventual momento em que se anuncia ou se entende algo. situado na qualidade de “coisa” ou “objeto” extralingüístico. Ao símbolo.. corresponde na terminologia saussureana ao significante. e ao pensamento ou referência. Em se aceitando. havemos de concordar com Izidoro Blikstein que é necessário ampliar a relação triádica proposta por Ogden e Richards.Realidade Aqui temos a leitura de mundo como condição essencial para a produção do significado.... . portanto. que é apenas reflexo de tudo aquilo que nos cerca... explorando o mecanismo pelo qual a percepção-cognição transforma o real em referente e este passa a ser obrigatoriamente incluído na referida relação.TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS AMPLIADO POR BLIKSTEIN Percepção/cognição Referência (significado) Símbolo (significante) ----------- Referente (objeto extralingüístico) . a hipótese da inclusão do elemento extralingüístico no estudo do evento semântico...... ao tratar das estratégias perceptuais. p. . O menino –lobo Ramu – que foi criado em uma alcatéia e encontrado numa selva ao norte da índia em 1976. argumenta que há evidências de organização inata do sistema perceptual altamente específica em cada nível de organização biológica. através da percepção cognição.TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS AMPLIADO POR BLIKSTEIN Referência (Significado) Práxis Percepção/cognição Símbolo (significante) Referente ----------- (objeto extralingüístico) ---------- realidade A transformação da realidade em referente. poderia esbarrar numa questão problemática: os fatores condicionantes da percepção resultariam de estruturas biológicas inatas ou de uma construção social ? Chomsky (1971. 30). aos aproximadamente 10 anos de idade – nos serve de sustentação contra a tese do inatismo. por sua vez. o triângulo sofre mais um acréscimo: a práxis. residindo nessa práxis o mecanismo responsável pelo sistema perceptual que. vai “fabricar” o referente.TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS AMPLIADO POR BLIKSTEIN • Ele não conseguiu captar o mundo da mesma forma como faz a sociedade dita civilizada. o que indica que a cognição e a compreensão do mundo estão na dependência da construção de uma prática social. . Dessa forma. Kaspar Hauser descodifica de modo sempre aberrante a significação do mundo. p.A permanência do déficit cognitivo de Kaspar Hauser seria um indício de que os elementos que modelam a percepção do mundo e as configurações conceituais podem ser captadas não só na linguagem. modeladores da percepção-cognição e geradores da significação do mundo. portanto. mas sobretudo na dimensão da práxis (Blikstein. Já o referente vem a ser o resultado dessa percepção. . não explica tudo. apesar da aquisição da linguagem. no entanto. • A percepção-cognição.TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS AMPLIADO POR BLIKSTEIN • Tudo isso nos leva a crer que na práxis está a gênese do significado: A “ ausência da fala” . 1983. é gerada pela prática social. o que nos leva a salientar que em qualquer descrição semântica deve considerar os elementos dessa prática social. 55). 1983. o gênero de práxis de que o ser humano se vale na sua atuação vai ser determinante dos conteúdos e modos de percepção e do conhecimento humano. as cores. as formas. por entre estímulos do universo amorfo e contínuo do “real”. 60) .TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS AMPLIADO POR BLIKSTEIN • DE QUE MANEIRA. Assim. os espaços e tempos necessários a sua sobrevivência ( Blikstein. reconhecer e selecionar. o indivíduo estabelece e articula traços de diferenciação e identificação com os quais passa a discriminar. as funções. transforma-a . OU COM QUAIS MECANISMOS A PRÁXIS MODELA ESSES ELEMENTOS? • a realidade é conhecida pelo ser humano à medida que ele agindo sobre ela. Para mover-se no tempo e no espaço de sua comunidade. p. ENTÃO. • Em outras palavras. da maneira como nós captamos ou sentimos essa realidade. o referente será produto dessa realidade. por sua vez.TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS AMPLIADO POR BLIKSTEIN • Os chamados traços de identificação e diferenciação. que é a maneira como nós . vão determinar o referente. no contexto. que são discriminatórios e seletivos. adquirem. valores ameliorativos e pejorativos que se transformam em traços ideológicos que vão. assim. ou melhor. De acordo com a prática social que modela a nossa percepção. Esses corredores semânticos estabelecem verdadeiros padrões ou estereótipos de percepção. há o universo desorientado e contínuo com que nos deparamos. configurar-se em “formas” ou “ corredores semânticos” através dos quais teremos as linhas básicas da significação. estabelecemos estereótipos que. Pois bem.
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