João Pernambuco

March 24, 2018 | Author: Lucas Smaniotto Navasconi | Category: Rio De Janeiro


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Jose de Souza LealArtur Luiz Barbosa MEC/FUNARTE CNDA JOAO PERNAMBUCO Arte de urn povo Ministra da Educa9ao e Cultura Esther Figueiredo Fe"az Secretario da Cultura Marcos Vinicios Vifara Presidente do CNDA Jose Carlos Costa Netto   u n d ~ a o Nacional de Arte Diretora-Executiva Maria Ed mea Saldanha de Arruda Falcao lnstituto Nacional de Musica Dire tor Edino Krieger Diretor-Adjunto da Divisao de Musica Popular Hermfnio Bello de Carvalho Monografia vencedora do concurso sobre a vida e obra do compositor Joiio Pernambuco promovido pela Consultoria para Projetos Especiais, atual Divisilo de Musica Popular/INM da Funarte. Comissilo Julgadora: Ary Vasconcelos, Paulo Tapajos, Tdrik de Souza, Lygia Santos, Ana Maria Bahiana e Albino Pinheiro. C o l e   ~ o MPB-6 JOAO PERNAMBUCO Arte de urn povo Jose de Souza Leal Artur Luiz Barbosa Edi9ilo FUNARTE, 1982 Projeto gnifico e produ9ao Departamento de Editoraplo da Funarte LEAL, Jose de Souza & BARBOSA, Artur Luiz. Joiio Pernambuco, arte de um povo. Rio de Janeiro. Funarte, 1982. 72p., il. (Cole9ao MPB, 6). I. Guimaraes, Joao Teixeira - Biografia. 2. Com- positor popular - Brasil. 3. Milsica popular - Brasil. 4. Violonista. I. Barbosa, Artur Luiz, colab. II. &hie. III. Titulo. CDU 78.071.1(81) Ficha catalografica preparada pelo Centro de Documenta<;ao da Funda<;ao Nacional de Arte. Sumario APRESENTAf;AO 9 INTRODUf;AO 11 0 HOMEM E SUA REALIDADE 13 A NOVA REALIDADE RIO DE JANEIRO 1904 16 NASCE JOAO PERNAMBUCO 18 E AS MAOS CONTINUAM SOFRENDO 21 0 GRUPO CAXANGA 26 DESMISTIFICA-SE 0 ACASO JOAO PERNAMBUCO EM OS OITO BATUTAS 30 A PRIMEIRA CONTROvERSIA: CABOCA Dl CAXANGA 37 OLUARDOSERTAO PAIRA SOBRE 0 RIO DE JANEIRO 39 SEP ARANDO 0 JOIO DO TRIGO 44 VIOLAO: 0 INSTRUMENTO 46 JOAO PERNAMBUCO 0 POET A DO VIOLAO 48 0 SONHO:VILA VIOLA 51 CORAf;AO: A GRANDE CICATRIZ 56 ANEXO DISCOGRAFIA E MUSICOGRAFIA 61 Ronoel Similes iNDICE ONOMASTICO 70 BIBLIOGRAFIA 72 Agradecimentos A todos os amigos que foram mobilizados em torno de Joao Pernambuco: Barbara Magalhaes, Valerio Vilas Boas, Elza, Jandyr, Joca, Cecy, Armando, Jose Augusto, lderlinda, Sonia Maciel, Teresinha, Denise, Eliane, Tania, Justino, Alice, Luiz Rodolfo, Cecilia, Lena Frias, Lygia Santos, Moacyr Andrade, Athayde, Cirino, Rafael, Luciana Rabello, Turibio Santos, Joao Pedro, Celso Mendes, Meira, Neide, Orlando Silveira, Luiz Ferreti, Silvia, Carlos Roberto, Cinara, Kazue, Vitor, Romao, Mozart de Araujo, Coentro, Rogeria, Mario, Andre, Zilmar, Joao, Celso Cruz, Luiz Moura, Rossini Ferreira, Jorginho, Maria Amelia, Odete, Rose e Claudio Guimaraes. Minha homenagem comovida a Juarez Barroso. b e n ~ o   Jose Leal   Villa-Lobos, como e notorio, era dado a arroubos e exageros. Mas sabia do que falava. Certa vez disse ele (a fonte da cita9a0 e 0 incansavel pesquisador Joao Luis Ferrete ), referindo-se aos estudos para violao de Joao Teixeira Guimaraes, o Joao Pernambuco: "Bach nao teria vergonha de assina-los como seus". A frase e defmitivamente consagradora. Mas num pais que prima por nao cuidar de sua memoria, o inspirador dessa consagra9ao continuou depois dela urn sernidesconhecido - urn popular tao desconhecido que poderia ter sido incluido por Bricio de Abreu na reabilitadora rela9ao que fez (Esses populares tao desconhecidos) de artistas brasileiros criminosamente condenados ao esquecimento. De fato, esse extraordinario artista do nosso povo so rarissimamente tern sido lembrado. Sua propria morte teria passado de todo desapercebida, se Ari Barroso, a epoca ( 194 7) vereador no en tao Distrito Federal, nao tivesse arrancado da Camara Municipal, e ja "como Ultimo orador do expediente", urn voto de pesar pelo falecimento "do autor do Luar do sertfio". Toda uma decada de silencio fez-se sobre Joao Pernambuco, ate que a Associa¢o Brasileira de Violao, com a colabora9i£o de Alrnirante e Jacob do Bandolim, dois imbativeis garimpeiros da memoria musical, promovesse uma noitada de cordas rememorando a obra consistente do violonista, na execu9ao de sete especialistas de seu instrumento. Mais 10 anos de aprobriosa indiferen9a e, em 1967, o nome de Joao Pernambuco e dado a uma rua hurnilde - mas a partir dai glorificada - do sub6rbio de Vila Kennedy. E seria tudo, se ja agora em 1980,"no dia da morte do grande poeta do violao, o Clube do Samba nao tivesse realizado uma romaria musical ao seu tumulo, para depositar ali uma coroa de flores. A 0 homem e sua realidade N o Nordeste, mais particularmente em Per- nambuco, as feiras nascem, primeiramente, como fato economico. Com seu poder de   passam a funcionar como veiculo de ex- pressao cultural do povo onde se organizam. Por isso mesmo as feiras assumem urn papel de difusoras de cultura e ao mesmo tempo formam os continuadores das e expressoes desta mesma cultura. Nao seria exagero dizer que tudo quanto acontece no Nor- deste, toda a maneira de viver de seu povo, suas cren-   sua mtisica, suas   sua vida, enfim, en- contram-se reunidas no interior das feiras. Vende-se de tudo: frutas, verduras, cestos, galinhas, rapadura, j6ias, ervas medicinais, folhetos de cordel, ceramica, talhas, rendas, etc. Em meio a tudo isso surgem canta- dores e violeiros q!Je captam toda essa realidade e a reinventam musicalmente. Para a importan- cia das feiras na e da cultura popular nordestina podemos citar varios expoentes que tiveram como palco de seu aprendizado e apareci- mento a feira de Caruaru, a maior e mais importante de tantas quantas tern Iugar no Nordeste brasileiro. E precisamente em meio as feiras de Recife que, em 1895, Joao Teixeira Guimaraes, urn menino de doze anos, aprendeu a forma com que seu povo ex- pressa sua vida musical. Atraves de Ugulino do Teixei- ra, Romano da Mae d'Agua, da Catingueira, Mane do Riachao, cantadores, e Manuel Cabeceira, Cirino da Guajurema, Bem-Te-Vi, Madapolao, Serra- dor, Cego Sinfronio e Falcao das Queimadas, mestres nos ensinamentos de violllo. Joao Teixeira Guimaraes, residente no bairro de Torre no Recife, recem-chegado do sertao pernambu- cano, nasceu em Jatoba a 2 de novembro de 1883, ter- ceiro ftlho de uma familia de onze irmaos nascidos do primeiro casamento de sua mae Teresa Vieir.a com Manuel Teixeira Guimaraes. Ate entao os registros so- bre Joao Teixeira Guimaraes davam conta de que se- ria filho de india da tribo dos Caetes. Mas fruto de pesquisa em fonte primaria, realizada no Rio Grande do Sui em 12 de julho de 1980, constatou-se, a partir de consulta a arvore geneal6gica confeccionada por Jandyr Teixeira Guimaraes (popular Didi) - sobrinho de Joao Teixeira Guimaraes - que sua mae era filha do casal descendente de portugueses, Domingos Viei- ra Braga e Herminia Guedes Lacerda. Alem disso, a tribo dos Caetes foi extinta como tal no ano de 1565 E nas feiras do Recife, junto aos cantadores que, em 1895, Joiio Teixeira Guimariies, menilw de doze anos, aprende a forma com que seu povo expressa sua vida musical. pelo exercito pernambucano, numa campanha que te- ve seu inicio em 1560, durante o governo do donata- rio Duarte Coelho de Albuquerque. Em Jatoba, Joao Teixeira Guimaraes perdeu o pai e, ainda em Jatoba, sua mae contraiu seu segundo matrimonio com Eugenio Alves Mendes, vindo com toda a familia para Recife em busca de melhores con- de vida. Oeste segundo matrimonio nasceram mais onze irmaos dos quais apenas tres sobreviveram, entre estes Joao Elpidio Alves Mendes (Joca), atual- mente com 84 anos e que assim constitui-se o (mico irmao vivo de Joao Teixeira Guimaraes. Reside no bairro de Vila da Penha, no Rio de Janeiro, e confir- mou tais por ocasiao da entrevista con- cedida em 20 de julho de 1980 em sua residencia. Passados sete anos da da da escravatura, as terras de Pernambuco haviam perdido, de ha muito, suas matas, destruidas pela explorayao da monocultura latifundiaria canavieira, periodo em que a cana dominou o homem ao inves de servi-lo. Seu povo, contudo, ainda guarda de seu& componentes nativos; o arvoredo mais grosso da terra: a baraima, o pau d'arco, o angelim, a sucupira, o ama- relo, o visgueiro, o pau-ferro, o indaia, o   o oiticica, a gameleira e a taquara; as aves e animais: urutau, chorao   quartau, quice, guaxinim, gua- ra, sabias, gurinhatas e pintassilgos. Foi quando as cidades a crescer pu- xando os homens do interior para trabalharem nas oficinas, industrias e Era tempo em que os fazendeiros se transformavam em administradores e os colonos preparavam-se para se adaptarem as novas Dentro dessa realidade, Joao Teixeira Guimaraes segue o exemplo de seu irmao Jose Teixeira Guima- raes, que aprendera 0 oficio de ferreiro, trabalhando durante seis meses sem receber nenhum salario, tendo ainda a de limpar os banheiros das oficinas e que, ap6s aprender o oficio, passou a ganhar quatro- centos reis por mes. Joao, alem de trabalhar como fer- reiro, ap6s o trabalho participava de reunioes de can- tadores, repentistas e violeiros no Mercado e Patio de Slio Pedro, mantendo e desenvolvendo suas tenden- cias musicais. Joao gostava tambem de jogar "vinte e urn" e pelo fato de ganhar sempre colocaram-lhe o apelido de Joao Pe Frio. 13 'I i ' 0 seculo XIX carninhava para o seu fmal pro- movendo de suma importancia: subs- do trabalho escravo pelo trabalho assalariado, os bangues eram substituidos por usinas e engenhos mais modernos, a agricultura ja nao era a (mica ativi- dade economica marcando o inicio das atividades in- dustriais. Era o advento do capitalismo no Brasil. As sociais acompanhavam as econo- micas, gerando novos interesses e novas Os centros urbanos concentravarn a maior parte da de 14 milhoes de habitantes, existindo nes- sa epoca cerca de 600 indilstrias no pais, localizadas nos principais centros urbanos, que por sua vez cons- tituirarn-se em polo de   para a corrente migra- t6ria do Nordeste para a regiao Centro-Sui do pais. 0 afluxo destas correntes migrat6rias do inte- rior para os centros mais desenvolvidos era motivo de grande para OS analistas da epoca, pois provocava urn grande aumento na desses mesmos centros e consequentemente o desemprego e a miseria de quantos os buscassem para solucionar seus problemas economicos. o que podemos consta- tar na "A Carteira", do Ditirio de Pernambuco de 25 de de 1856 assinada por Antonio Pedro de Figueiredo onde o jornalista analisa as internas em Pernambuco: " ... Com uma de menos de seis mi- lhoes de habitantes para urn territ6rio de quase 700 milleguas quadradas, ja possuimos, a maneira das ve- lhas europeias, uma notavel da nossa cujos meios de subsistencia sao tao preca- rios que apresenta evidente perigo para o resto da so- ciedade. E esta tende a aurnentar todos os dias. No momento em que escrevemos estas linhas, ha cer- tamente, mais de Urn. solicitador de emprego publico, mais de urn operario sem trabalho, os quais nao sa- bern de que meios mao para manter-se a si e as suas familias ... a fecundidade das unioes e espanto- sa ... Examinemos o que vern a ser esse acrescimo de primeiro no Recife, depois no interior. 14 ... As ftlhas sobrecarregam as farnilias, ocasio- nando-lhes novas necessidades, que no comercio se traduzem por falimentos, alias por uma insaciavel sede de empregos publicos; e entre os pobres por via de resultados ainda mais deploraveis para a opiniio publica. Quanto aos mancebos, se os pais sll'o remedia- dos, estudam e, por fim, reclamam tambem empregos; se os pais sao pobres, aprendem urn oficio e destarte, aumentam o numero, ja desmesurado, dos nossos al- faiates, sapateiros, pedreiros, carpinas, etc., e esta- belecem entre si uma concorrencia que os arruina, e muitas vezes se acham· sem trabalho. Alguns vao esta- belecer-se no interior, mas em pequeno numero, e a causa deste fen6meno vern de mais longe. Que destino tern o acrescimo continuo da po- no interior? Dar-se-a o caso de que se empre- gue na agricultura? Nao, a parte mais esclarecida vern aqui para o Recife procurar fortuna, solicitar urn ridi- culo emprego; o resto aflui para as vilas e outros cen- tros de e ai passa uma vida miseravel, por- que entre n6s nao ha indilstria que ao traba- lhador livre, urn certo e regularmente retri- buido. E por que raziio, em vez de aprenderem os ofi- cios de alfaiate, carpina, pedreiro, etc., os ftlhos das familias pouco favorecidas nao retrocedem para o in- terior, porque tambem se nao vao fazer agricultores? Por que os habitantes do mato nao cultivam o solo se- nao constrangidos? Por que seus ftlhos buscam as vi- las? Para tudo isso ha apenas uma resposta e damente ela e cabal. No estado social em que vivemos, os meios de subsistencia do pai de familia nao aumentarn em pro- ao numero de ftlhos, donde resulta que, em geral, os ftlhos sao mais pobres que os pais e possuem menos capitais. Ora, a agricultura esta cercada por uma barreira inacessivel para o homem pouco favorecido, para to- do aquele que nao possui certo numero de contos de reis . . . E qual e essa barreira? A grande propriedade territorial ... Se possuirdes trinta ou quarenta contos de rcHs, entao podereis comprar ou arrendar urn engenho, mas se sois pobre e quiserdes comprar ou arrendar alguns de terra, nao achareis. E isto que faz que a improdutiva das cidades aurnente todos os dias ... " Com as terriveis secas ocorridas no Nordeste, estagnado economicamente, a se agravava: de 1877 a 1879 morreram cerca de 300 mil pessoas, e as secas se repetiram em 1888 e 1889, 1900 e 1915. Do is caminhos restavam aos trabalhadores: migrar pa· ra AmazOnia e o Centro-Sui do Brasil ou o ingressar no e movimentos misticos. "Em 1896, ha de rebanhos mil correr da praia para o sertao; entao o sertao virara praia e a praia virara sertao" (Antonio Conselheiro ). Destes dois caminhos Joao Teixeira Guimaraes opta pela   escolhendo o Rio de Janeiro onde se encontrava sua irma Maria Teixeira e seu irmao Jose Teixeira Guirnaraes, competente ferreiro, que o antecedera urn ano antes. Em 1904, com vinte anos de idade, Joao Teixei- ra Guimariies, com seus conhecimentos de ferreiro de- cide migrar para o centro cultural do Brasil - Rio de Janeiro - levando em sua bagagem seu instrurnento, o violao. E os conhecimentos tecnicos adquiridos em meio aos mercados e feiras de Recife, pelos quais nao teve de pagar, da mesma forma que seus mestres. Joao Teixeira Guimaraes nao levava escolar, era analfabeto; levava porem a cultura adquirida parte no sert!'o pernambucano, parte no Recife. 15 . I l \ A nova realidade: Rio de Janeiro 1904 T ranscorria a Primeira Republica. Rio de Ja- neiro, sua capital, era o espelho de toda a 'modernizayiio' que ocorria no Brasil. Cons- tituia-se em p6lo de concentrayiio de miio-de-obra es- crava recem-liberada e de rnigrantes atraidos pelo pe- riodo de expansiio cafeeira do Vale do Paraiba, cen- tro da econornia brasileira de 1830 ate 1870, ano que inicia seu declinio. No inicio do declinio do cafe", inicia-se o segun- do surto industrial e o Rio de Janeiro torna-se seu grande centro. Surgem pequenas fabricas de artefatos de ferro, fundiyeies de ferro e bronze, caldeiraria, ser- ralheria, fabricas de m6veis, estaleiro, etc.; aumentam tambem os servicos publicos. Em 1900 o Rio de Ja- neiro ainda nao tinha 600 mil habitantes; em 1904 a populayiio era de 700 mil habitantes. Os que chega- vam em busca de emprego iam morar nos bairros po- bres, onde proliferavam os cortiyos; os trabalhos nas fabricas apresentavam uma jomada de doze a dezes- seis horas incluindo os sabados e pelo menos dois do- rningos por mes quando niio todos OS dorningos para obter urn salario de 50$000 por mes; para comprar urn litro de feijao preto gastava-se $200, o arroz in- gles $220 e o aluguel em urn cortiyo era de 40$000 por mes. A situayao da saUde publica era pessima, tanto que no inverno de 1904 morreram 3.566 pessoas com variola. E o comercio prosperava, conforme descreve Luis Edmundo, urn jornalista da epoca: "A cidade e urn monstro onde as epidernias se albergam danyando 'sabats' magnificos, aldeia melanc6lica de predios ve- lhos e acayapados, a descascar pelos rebocos, vielas s6rdidas cheirando mal, exceyao feita da que se cha- ma Rua do Ouvidor, on de ... o homem do 'burro- sem-rabo' cruza com o elegante da regi!io tropical, que traz no mes de fevereiro sobrecasaca preta de lii inglesa, e ... dilui-se em cachoeiras de su6r ... . . . 0 povo esta sem instruyao. A industria des- protegida. Os serviyos publicos, de molas perras ... S6 0 comercio progride, 'o honrado comercio desta praya' com 0 comendador a frente, 0 quilo de 800g, 0 metro de 70cm". No que diz respeito a cultura o quadro apresen- tava-se bastante heterogeneo. No teatro, as 6peras predorninavam, recebendo companhias europeias, ocorrendo assim toda uma transplantayao de cultura. Estas companhias se apresentavam nos varios teatros 16 Em 1904, vindo do Recife a bordo do navio Para, Joiio Teixeira Guimariies desembarca 1W porto do Rio de Janeiro trazendo pouca bagagem e seu violao. existentes na epoca, entre OS quais figuram desde 0 Polytheama em Siio Paulo, passando pelo Teatro Siio Pedro em Porto Alegre e Teatro da Paz no Para, in- cluindo o Teatro Amazonas em Manaus ate o Lyrico e posteriormente oMunicipal, ambos no Rio de Janeiro. Alem das 6peras, esses teatros recebiam tam- bern peyas de escritores brasileiros serios, revistas mu- sicadas e comedias-operetas, sendo que essas Ultimas tinham como seu grande publico a burguesia e a cres- cente pequena burguesia da epoca. Nas artes plasticas o fenomeno de transplante cultural repetia-se pois to- da sua produyiio artistica era baseada naquilo que se fazia fora de nossas fronteiras, embora com urn atraso de alguns anos. A imprensa serviu de base para o desenvolvi- mento da literatura veiculando o romantismo em ter- ras brasileiras e atraves de uma de suas correntes, o indianismo, apresentava a saida liteniria da sociedade brasileira. Entre OS muitos jornais da epoca que se consolidaram, podemos citar o Didrio de Pernambu- co, no Recife, o Co"eio Paulistano, em Sao Paulo e o Jornal do Commercio, no Rio de Janeiro. Era tempo de maxixe, tipo de m(lsica muito po- pular, resultado da rnistura da polca como lundu, que por sua sensualidade e 'obscenidade' foi alvo de in- tensa repressiio por parte dessas mesmas classes que, embora a apreciassem quando restrita aos palcos dos teatros de revista, condenavam-na quando danyada nas ruas. Outros ritmos populaces executados na epo- ca eram a marcha, a modinha, o choro, que nasceu pela forma '.chorada' com que alguns musicos inter- pretavam os generos em voga. Nos saloes danyava-se a valsa, a polca, o xote; e nas reunioes da intelectuali- dade ouviam-se as modinhas e as cantigas. Entre os compositores que se destacavam figuram Chiquinha Gonzaga com suas valsas e que ja fizera sucesso com a marcha Abre Alas; Emesto Nazareth que, aliando o choro a valsa, criou uma forma brasileira de interpre- tar o tango. Este e, enfim, o panorama que Joao Teixeira Guimariies, vindo do Recife em 1904, a bordo do na- vio Para, encontra ao desembarcar no porto do Rio de Janeiro. E assim que Joiio Guimar!ies trava contato com a situayao calarnitosa do Rio de Janeiro atraves de seu porto, conforme descriyiio do mesmo Luis Edmundo: " ... Eo salao de visitas da cidade, ... ponto de " referencia, a mostra e a ideia perfeita de quatro se- culos de e sujeira. Nao raro, o 'touriste' que chega, mal p6e o pe em terra, vai logo pondo tambem, o no nariz. Por cautela ... " Diante dessa realidade desembarca o ferreiro Joao Teixeira Guimaraes, trazendo junto a sua pouca bagagem, seu violao e todas as caracteristicas das pes- soas vindas do interior. Uma dessas caracteristicas e proveniente da proximidade das pessoas que, embora residam em cidades localizadas em areas territorial- mente grandes, se conhecem mais intimamente, nos habitos, nos locais que freqiientam e na forma simples e objetiva de viver. Por esta razao, no interior era e ainda e mais facil encontrar as pessoas, mesmo que delas nao tenhamos o   E e assim que Joao Teixeira Guimaraes ao chegar no porto, sem o endete- de sua irma Maria, a perguntar as pessoas que por ali circulavam, se tinham visto ou conheciam seu irmao Jose. Nesta epoca, Jose trabalhava como condutor de bonde numa linha que tinha como ponto de retorno o porto do Rio. Aqui, Joao o avista e, de- pois de conversarem, Jose lhe da o de sua irma que residia no Rio Comprido ( conforme depoi- mento de sua sobrinha Cecy, fllha de Jose Teixeira Guimaraes). Sempre chorando na lira. Joiio Pernambuco com Maur(cio Medeiros (de temo branco) e um amigo. Rio de Janeiro, 1906. 17 " . .. E o salao de visitas da cidade, . . . ponto de ,.. · referencia, a mostra e a ideia perfeita de quatro se- culos de e sujeira. Nao raro, o 'touriste' que chega, mal p6e o pe em terra, vai logo pondo tambem, o no nariz. Por cautela .. . " Diante dessa realidade desembarca o ferreiro Joao Teixeira Guimaraes, trazendo junto a sua pouca bagagem, seu violao e todas as caracteristicas das pes- soas vindas do interior. Uma dessas caracteristicas e proveniente da proxirnidade das pessoas que, embora residam em cidades localizadas em areas territorial- mente grandes, se conhecem mais intimamente, nos habitos, nos locais que freqtientam e na forma simples e objetiva de viver. Por esta raziio, no interior era e ainda e mais facil encontrar as pessoas, mesmo que delas nao tenhamos o   E e assim que Joao Teixeira Guimaraes ao chegar no porto, sem o endete- de sua irmlr Maria, a perguntar as pessoas que por ali circulavam, se tinham visto ou conheciam seu irmao Jose. Nesta epoca, Jose trabalhava como condutor de bonde numa linha que tinha como ponto de retorno o porto do Rio. Aqui, Joao o avista e, de- pois de conversarem, Jose lhe da o de sua irma que residia no Rio Comprido (conforme depoi- mento de sua sobrinha Cecy, fllha de Jose Teixeira Guimaraes). Sempre chorando na lira. Joiio Pernambuco com Mauricio Medeiros (de temo bronco) e um amigo. Rio de Janeiro, 1906. 17 j I 'I Nasce Joao Pernambuco D epois de instalado na casa da irma Maria, ca- sada e a primeira a vir para o Rio de Janeiro, Joao sai a procura de trabalho conseguindo-o em uma fundi9ao localizada la mesmo no Rio Com- prido. Ap6s uma jornada de trabalho de doze a dezes- seis horas, retornava   sua casa onde ainda encontrava tempo para dedicar duas a tres horas ao violao. Poste- riormente Joao transfere-se para a Lapa, passando a trabalhar na rua Frei Caneca, numa outra fundi9ao. Das rela9oes com os companheiros de trabalho e por falar freqiientemente de sua realidade pernambucana, Joao nao escapa a caracteristica carioca de apelidar as pessoas a partir do que se acentua em cada personali- dade. Nasce entao Joao Pernambuco. Nos fins de semana, Joao Pernambuco come9a a freqiientar os pontos de reunioes rilusicais muito co- muns no centro da cidade, especialmente na Lapa, acompanhado de companheiros de trabalho que, alem de admini-lo como pessoa, come9am a perceber e ad- mirar suas qualidades musicais e instrumentais. Ho- mem hurnilde, apesar de corpulento (media urn metro e oitenta e quatro de altura) e possuidor de grande forya fisica, mantinha-se afastado de bagun9as e con- fusoes, coisa comum nos meios boemios. Era de tem- peramento d6cil e falava pouco, mas nas poucas vezes que o fazia seu senso de humor estava sempre presen- te. Devido a sua simpatia e destreza ao violao, era cada vez mais requisitado nas rodas musicais e pas- seios dominicais, como a excursao realizada ao Corco- vado em 1910 ao lado de Quincas Laranjeiras sobre a qual encontramos uma fotografia em seu album de famt1ia. 18 Segunda{eira hem cedo, JoO.o Pernambuco, ferreiro de profissiio, forjava e malhava o ferro com as mesmas miios que antes haviam percorrido suavemente os trastes de seu violiio. Quando de suas participay()es nessas reunioes, Joao Pernambuco se apresentava muito espontanea- mente, mostrando de forma aberta toda sua arte, con- servando assim a mesma liberdade que caracterizava o ambiente de seu aprendizado no Recife junto a violei- ros e cantadores. No en tanto, esta sua forma de apre- sentayao confrontava-se com a realidade de entiio, pois nesta epoca ja existia urn esquema comercial na musica atraves de teatros e cinema mudo, os t)_uais contratavam grupos musicais para entretenimento de seus espectadores. Em muito contribuiu para o desen- volvimento deste esquema o surgimento da ind6stria fonografica. Ap6s estas reunioes, segunda-feira bern cedo, Joao ja forjava e malhava o ferro com as mesmas maos que antes haviam percorrido suavemente os trastes de seu inseparavel violao. Fato que nao ocorria com seu irmao Jose Teixeira Guimaraes, que onde quer que fosse tocar, tinha sempre que levar cordas S9bressalentes no bolso, pois as mesmas arrebenta- vam com extrema freqiiencia quando em contato oom suas pesadas maos de ferreiro (segundo relato de Jandyr Teixeira Guimaraes, seu filho ). Tempos depois Joao passa a trabalhar na Fun- diyao lndigena, localizada na rua Nova Leopoldo, de propriedade da famt1ia Guinle, e muda de residencia, indo morar numa republica da rua do Riachuelo, on- de residiam estudantes, jogadores de futebol - a maioria do Vasco e do Flamengo - e musicos. Com ele passou a morar tamoom seu irmao Pedro, recem- chegado de Recife. E nesta mesma pensao que Joao Pernambuco conhece Pixinguinha e Donga que ai residiam e outros que os visitavam como Satiro Bi- lhar, Catulo da Paixao Cearense e Afonso Arinos que costumava organizar reunioes em sua residencia. Aprendizes (criizn(:as) e opertirios com as fe"amentas de uma fundiftfo. AquiJotfo Pernamwco (assinalado com uma seta) obteve seu segundo emprego como fe"eiro. Ao centro, de gravata, o patrtfo. Rio de Janeiro, 1906. 19 20 Excursiio ao Corcovado. Joiio Pernambuco (primeiro a direita) e Quincas Laranjeiras, agachado. Rio de Janeiro, 1910. E as maos continuam sofrendo 0 s conhecimentos de Joao Pernambuco seam- pliam atraves das reunioes e junto com isso cresce o numero de admiradores que, vendo a habilidade de suas ma-os ao passearem tranquilas pelas cordas do violao, sensibilizaram-se com o fato de que sua atividade profissional de ferreira viesse a prejudicar seu desempenho no instrumento. E e assim que, em 1908, conseguem-lhe urn emprego de calce- teiro, profissao esta que consiste em com para- lelepipedos as ruas da cidade. Esta nova profissao nao resolveu aquila que parecia ser a grande de seus admiradores, ou seja, a de que suas maos so- fressem a malefica de empunhar grandes tenazes, malhar o ferro e a forja. Assim e que suas maos continuaram expostas aos mesmos riscos, uma vez que mudara apenas a materia-prima e as ferramentas: agora Joao empunhava a marreta para escarear e assen- tar os paralelepipedos nas ruas cariocas, exposto ao sol e as chuvas. Parece que apenas duas faces do pro- blema foram resolvidas, posto que agora Joao ganha- va urn pouco mais e dispunha de mais tempo (ajorna- da de trabalho girava em torno de dez a doze horas) para dedicar-se a m6sica ( conclusao a partir do de poi- menta de Joao Elpidio Alves Mendes, irmao de Joao Pernambuco, em 20 de julho de 1980). Somente mais tarde e que 0 problema viria a ser resolvido, conforme nos conta seu irmao Joca: "Joao era calceteiro na Prefeitura, entao urn dia Pinheiro Machado convidou Joao t>ara tocar em sua casa. De- pais se entenderam Ia e Pinheiro Machado mandou que ele fosse trabalhar de continuo numa escola no largo do Estacio, esquina de Machado Coelho. Alias nao era escola nao, era uma especie assim de almo- xarifado". Dispondo de mais tempo, Joao Pernambuco au- menta sua frequencia nos meios musicais, participa assiduamente nos bailes nos clubes Democraticos, Fe- nianos e Tenentes do Diabo, alem da tradicional festa da Penha realizada durante todo o mes de outubro, para onde acorriam fami1ias inteiras que aos domin- gos realizavam piqueniques que se estendiam ate ao anoitecer. Abrilhantavam a festa as diversas rodas mu- sicais formadas por cantores, instrumentistas e com- positores. Era ai que muitas das vezes se fazia o lan- das m6sicas para o Camaval do ano seguinte. E e precisamente ai que, em 1912, registramos a par- Agora Joiio empunhava.a marreta para escarear e assentar os paralelepfpedos 1UlS ruas cariocas, exposto ao sol e as chuvas. de Joao Pernambuco acompanhado dena- mes que se tornariam celebres na m6sica popular bra- sileira, dentre os quais flguram Pixinguinha, Caninha e Patricio Teixeira, conforme atestam fotograflas da epoca. Passa tambem a ser cada vez mais requisitado para se apresentar em 'cenas sertanejas' muito co- muns entao. Alem disso Joao Pernambuco costumava ir tam- bern a Teres6polis onde morava seu irmao Jose, levan- do consigo seus amigos. Em 1912, fez-se acompanhar de Patricio Teixeira por ocasiao das do evento promovido e realizado por seu irmao Jose que, junto com outros quatro operanos, foram os primeiros brasileiros a escalarem o Dedo de Deus, conforme registro fotogrffico e jornalfstico: Correia da Manha, 11 de abril de 1912. Titulo: "A Bandeira Brasileira Tremula no Alto do De do de Deus". Subtitulo: "Interessante excursao de cinco ope- rarios brasileiros: America de Oliveira Filho, Paulo Carneiro, Alexandre de Oliveira (irmao do primeiro) e Jose Teixeira Guirnaraes". Correia da Manha, 12 de abril de 1912. Titulo: "Ainda a   ao Dedo de Deus" Dirigido aos cinco: Telegrarna do Barao Homem de Mello, presidente da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: "Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, aplaudindo a vossa arrojada iniciativa, congratula-se pelo feliz exito na que realizastes, no ponto culminante do Dedo de Deus, na Serra dos 6rgaos". 21 • 24 Integrantes de um clube camavalesco. Da esquerda para a direita, sentados, Ratinho, Joiio Pernambuco; o quarto e Jararaca. Os demais niio joram identijicados. Rio de Janeiro, s.d . I I L 0 grupo que escalou o Dedo de Deus. Ao centro, Jose Teixeira Guimartfes, irmtfo de Jotfo Pernambuco. Teresbpolis,J912. 25 0 grupo Caxanga p assaram-se mais ou menos dez anos desde que Joao Pernambuco transferira-se do Reci- fe para o Rio de Janeiro. As   de sua terra continuavam em sua mem6ria, tanto que Joao, ja reconhecido, admirado e com inumeros co- nhecimentos nas rodas musicais, idealiza o Grupo Ca- xanga, com Caninha (Jose Luis de Moraes), Raul Pal- mieri e outros que apesar da existencia de uma foto- grafia de seu album de familia, nao foi possivel iden- tificar. Esta foi a primeira   do Grupo Caxan- ga, assim batizado como forma de homenagear sua terra natal, pois Caxanga e urna localidade do Nordes- te. Seus integrantes eram em numero de sete, sendo que Raul Palmieri exercia as funyees de secretario. Mantinham vestimenta tipica senaneja com sandalias de couro, len9os no pescoyo e chapeus de palha nos quais se escreviam os nomes daqueles que foram seus mestres. e. assim que encontramos no chapeu de Joao Pernambuco o nome de Guajurema ( o violeiro Cirino da Guajurema) e no de Cariinha o de Mane do Ria- cha:o ( cantador de feiras ). Dai para a frente, o Grupo Caxanga come9a a ganhar popularidade e novas adesoes, tanto que no Carnaval de 1914, 0 Malho publica uma fotografia registrando urn grande aumento no numero de inte- grantes do grupo entre os quais figuram Pixinguinha, Jacob Palmieri, Borboleta (Henrique Manuel de Sou- za), Bomfiglio de Oliveira, Manuel da Costa Nola, Quincas Laranjeira, ze Fragoso, Lulu Cavaquinho, Nelson Alves, Vidraya (Augusto do Amaral), Jaime Ovalle, Jose Correia Mesquita, Osmundo Pinto e Donga. Sobre esta epoca registramos a feita por Almirante (Henrique Foreis Domingues) em seu livro Nos tempos de Noel Rosa: "Era de grande efervescencia o movimento ar- tistico daquela epoca e, em 1914, varias revistas tea- trais do ano referiam-se a nova moda musical. Nos tres dias do Carnaval, animado conjunto, sob o titulo de Grupo de Caxanga, percorreu os prin- cipais pontos da Avenida Rio Branco. Seus compo- nentes, orientados por Joao Pernambuco, usavam mascaras ou grandes barbas, empunhando seus instru- mentos tipicos, com nomes de guerra nas palas dobra- das dos chapeus, conforme foto no "0 Malho" de 28/02/1914: Joao Pernambuco (Guajurema), Jacob Palmieri (Zeca Uma), Donga (Ze Vicente), Caninha 26 Em 1915, dado o sucesso do Grupo Caxanga, Jofio Pernambuco e convidado por Afonso Arinos a encerrar urn ciclo de coriferencias sobre temas folcloricos no Teatro Municipal de Siio Paulo. (Mane do Riachii:o ), Pixinguinha (Chico Dunga), Hen- rique Manuel de Souza (Mane Francisco), Manuel da Costa (Ze Porteira), Osmundo Pinto (Inacio da Ca- tingueira). No Ultimo dia de Carnaval, alguns presti- tos exibiam letreiros em carros especiais sob o titulo de A Embolada do Norte. Findo o periodo carnavalesco, dado o sucesso alcan9ado pelo grupo e o crescente interesse pelos movimentos folcl6ricos, Joao Pernambuco e convida- do a participar no Teatro Municipal de sao Paulo da festa de encerramento de urn ciclo de conferencias sobre temas folcl6ricos organizado por Monso Ari- nos. E assim, a 28 de dezembro de 1915, o ciclo se encerra com a conferencia Lendas e Tradi9oes Brasi- leiras patrocinado pela Sociedade de Cultura Artis- tica, conforme registro da imprensa: "Para essa parte veio do Rio urn grupo de exi- mios artistas nacionais, reunidos para esse fim pelo senhor Joao Guimaraes, conhecido pelo cognome de Pernambuco, sua terra natal, que ele honra pelo seu talento artistico, exuberante e espontaneo. Fo- ram companheiros de Pernambuco, o grande tocador de viola e de violao, os nossos instrumentistas popu- lares por excelencia, os senhores Otavio Lessa, Luis Pinto da Silva e Jose Alves de Uma". E o espetaculo se repete no dia 30 de dezem- bro de 1915 e em janeiro de 1916. A partir dai Joao Pernambuco cria a Troupe Sertaneja, que se apresen- ta em Sao Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Nos carnavais dos anos seguintes, o Grupo Ca- xanga continua fazendo suas apari9oes sempre com o maior sucesso. No Carnaval de 1919, o grupo se apre- senta no Coreto dos Tenentes do Diabo, ao mesmo tempo em que o gerente do Cine Palais, Isaac Frankel, estava a procura de musicos para se apresentarem na sala de espera de seu cinema. 0 grupo, formado de eximios artistas, ficou sendo a possivel soluyao de seu problema. Enquanto Joao Pernambuco ampliara a partici-   de integrantes no grupo formado de m6sicos profissionais e trabalhadores que se dedicavam a mil- sica, o processo comercial, representado pela figurl! do gerente Isaac Frankel, impede o grupo de conti- nuar existindo. 0 senhor Isaac conversa com Donga e Pixinguinha convidando-os a escolherem mais seis membros para formarem urn conjunto que tambem por sua ideia se chamaria Os Oito Batutas. Joao Pernambuco continuava sua vida de ser- vente da Prefeitura e freqtientando as rodas musicais junto com Quincas Laranjeira, Patricio Teixeira, Sa- tiro Bilhar e outros, enquanto seus velhos parceiros agora faziam sucesso no conjunto Os Oito Batutaso Nesta epoca, Joao freqtientava o Cavaquinho de Ouro, onde seu companheiro, Quincas Laranjeira (Joaquim Francisco dos Santos) se constituiu no pre- cursor do ensino de violao por musicao La Joao Per- nambuco e seus companheiros trocavam informac;:oes musicais e instrumentaiso 0 Cavaquinho de Ouro era reduto de verdadeiros monstros sagrados de nossa musica, como se encontra registrado em urn folheto confeccionado pela casa na ocasiao da Primeira Feira de Amostras do Distrito Federal, com data de 30 de junho de 1928, intitulado Hist6rico do Cavaquinho de Ouro e o ressurgimento do violiioo 0 Cavaquinho de Ouro era uma tradicional casa de instrumentos musicais, na rua da Alfandega, 168-A e depois na rua Uruguaiana, 1370 Neste folheto encontramos o regis- tro fotografico de Joao Pernambuco ao lado de Quin- cas Laranjeira e Agustin Barrios (violonista uru- guaio )o A respeito deste o escritor Coelho Neto diz no folheto: "Quando Agustin Barrios encostou ao pei- to o perfido instrumento, como se nele quisesse fazer passar o corac;:ao, esperei as vozes condenadas, os sons lascivos das serenatas, as melodias liinguidas que ine- briavam as vitimas de todos estes desnaturados demo- lidores da honrao Mas as cordas vibravam suaves e eu tive como a revelac;:ao de uma nova harmonia 0 0 0 sob OS dedos prodigiOSOS desse adrninivel artista, que e 0 maior que, no seu genero, tenho visto, o violao vive e diz toda a sua hist6ria" 0 No Cine Palais Os Oito Batutas; no Cavaquinho de Ouro Joao Pernambuco toea junto a Barrios que, sensibilizado com seu talento musical e instrumental, logo ap6s ouvir urn jongo de Joao, compoe, na bora, o Choro da saudadeo Tal informacao foi confirmada por Meira (Jayme Florencio), violao de centro, mes- tre de Baden Powell, em entrevista concedida em sua casa em 29 de julho de 19800 Com toda sua simplicidade Joao Pernambuco continua recebendo homenagens como a que !he pres- ta a publicac;:ao do Cavaquinho de Ouro: "0 0 0 E que diremos, como parte integrante des- te grupo, de Joao Teixeira Guimaraes, ou "Joao Per- nambuco", o inspirado poeta do violao, que faz deste magico instrumento urn apaixonado interprete de sua propria fantasia artistica da imaginac;:ao, instrumento maravilhoso que maneja com a naturalidade com que os passaros can tam na floresta, nas madrugadas claras, ou nas tardes esquivas, ou nas noites enluaradas do sertao" 0 Da esquerda para a direita, de pe: Ottivio Lessa e Joiio Pernambuco; sentados: Luiz Pinto da Silva e Jose Alves de Lima; na apresenta(:iio de encerramento da conferencia Lend as e   Brasileiraso Sao Paulo, 19150 27 28 Primeira fonnfl{:ao do Grupo Caxangti. Da esquerda para a direita, sentados: lotio Pernambuco (Guajurema) empunhando uma viola caipira, Raul Palmieri (secretizrio) e Caninha (Mane Riachao). Os demais nao foram identificados. Rio de Janeiro, 1912. Jotfo Pernambuco, de pe a esquerda, Augustin Barrios, sentado e Quincas Laranjeira, a dire ita, na loja 0 Cavaquinho de Ouro. Rio de Janeiro, c. 19 29. 29 Desmistifica-se o acaso, Joao Pernambuco em Os Oito Batutas E m 1919 Joao Pernambuco ingressa em Os Oi- to Batutas, conforme nos revela S6rgio Ca- bral em seu livro Pixinguinha vida e obra (Editora Lidador, 1980), baseado em depoimento de Donga prestado ao MIS (Museu da Imagem e do Som): · "Se nao fossem o lrineu Marinho e o Arnaldo Guinle nao haveria OS Oito Batutas . . . 0 Dr. Arnal- do, como born brasileiro que era, simpatizou com a gente. Pensou e combinou com o Coelho Neto uma antologia, recolhendo o material atraves de pessoas idoneas. Ele, junto com o Floresta de Miranda, nos procurou e disse: 'Amanha voce vai a minha casa em Copacaba- na'. Eu fui junto com o Pixinguinha. Estavamos ha vinte dias sem funylio eo dinheiro tinha acabado. Ele explicou o que queria e perguntou o que achavamos. N6s dissemos que irfamos fazer uma excursao ao nor- te eo Dr. Arnaldo pediu que inclufssemos o Joao Per- nambuco, porque assim ele faria algumas coisas para ele. Assim foi feito, nos fomos a Pernambuco, Bahia, etc. e o Joao Pernambuco recolheu uma porylio de coisas e trouxe. Mas nao era o bastante. 0 Dr. Arnal- do disse para o Joao Pernambuco que ia prosseguir na colheita," mas s6 que desta vez levaria urn musico para escrever, porque ele s6 havia trazido letras e mtisicas de memoria. Disse ainda que pagaria tudo. Eu nao sei o que eles arranjaram, ele e o Pixinguinha, que o Dr. Arnaldo ficou zangado e nao quis s ~   e r de mais nada. 0 Joao Pernambuco era meio egofsta e parece que pe- diu demais. Eu nao sabia de nada. Depois de alguns dias o Patricio Teixeira me deu urn recado que o Dr. Arnaldo queria falar comigo. Eu fui e ele disse: 'Nao quero mais saber de hist6rias com o J oao Pernambuco e o Pixinguinha'. Eu entao combinei tudo com ele, que exigiu a presenya de urn musico na viagem. Eu comecei a enrolar urn pouco e toda vez que o Flores- ta de Miranda me procurava para informar ao Dr. Ar- naldo, eu dava sempre uma desculpa: 'Olha eu queria o Zeze, mas ele para escrever musica de folclore e dificil e como tern o Pixinguinha, este seria melhor'. Parece que o Floresta de Miranda disse isso ao Dr. Arnaldo e ele amoleceu urn pouco com respeito ao Pixinguinha. Com o Joao Pernambuco ele nunca mais falou ate morrer. Nas proximidades da viagem eu 30 0 esp{rito agregador, fruto daformafiio de Joiio Pernambuco no sertiio e nas feiras do Recife, levou-o, no Rio de Janeiro, a cercar-se de amigos e 'amigos'. disse ao Dr. Arnaldo: 'Eu acho que vou levar o Pixin- guinha'. Ele respondeu: 'Voce leva quem quiser. Apa- nha o dinheiro 1a na Sete de Setembro'. Era tudo pago. Estivemos entao em Morro Velho, Minas, Bahia, etc. Pixinguinha trouxe tudo escrito, tudo bern feito e o Dr. Arnaldo ficou satisfeito ... " "0 que Donga nao disse", diz sergio Cabral, "e que Joao Pernambuco participou das duas viagens ... Como incluir Joao Pernambuco nos Oito Batutas? 0 conjunto teria que mudar o nome para Os Nove Ba- tutas. A soluylio, para manter o nome original, foi transformar Jose Alves de lima em 'secretario', indo Pernambuco para o seu lugar como urn dos integran- tes do grupo". Segundo informayaes obtidas junto a parentes de Joao Pernambuco e de analises de fatos, conclui-se que o depoimento de Donga da margem a inumeras duvidas, as quais procura-se esclarecer a seguir: Deixou de ser registrada a viagem que Joao Per- nambuco, Pixinguinha, Donga e outros fizeram em Pernambuco em 1913, que teria sido financiada por Arnaldo Guinle, epoca em que Joao Pernambuco trouxe seu irmao Joca (Joao Elpfdio Mendes). Sobre isso e Joca quem nos fala em seu depoimento conce- dido em 20 de julho de 1980: "Em 1913 Joao foi a Recife enos trouxe a mim e a mana Francisca. Ele tinha ido com Donga, Pixin- guinha e outros que eu nao me lembro. Ele nos trou- xe porque nos viu naquela situaylio penosa. Falou com meu pai enos trouxe. Viemos no navio Belem. Chegando aqui num domingo, Francisca ficou na casa de Joana e na segunda-feira fui para a casa de Jose em Teres6polis. Joana morava na Rua do Ouro, no Largo do Pedregulho. A situaylio no Recife era muito ruim, meu pai era muito pobre. Me lembro que as vezes a gente comia caranguejo cozido e daquela agua amarela fazia pirao". 0 ingresso de Joao Pernambuco em Os Oito Batutas se da atraves de Arnaldo Guinle que pedira que o incluissem, pois "s6 assim Joao faria algumas coisas para ele" ( depoimento de Donga, ja citado ). Desta forma parece que o homem de elite, Arnaldo Guinle, esquecera-se de que Joao nao era mais seu em- pregado, fato que se deu ao chegar no Rio de Janeiro, quando trabalhou na Fundi9lio lndigena, de proprie- dade do Sr. Guinle. 0 fato e que Joao nao ingressou em Os Oito Batutas a convite de seus amigos e nao por ordem do Sr. Arnaldo Guinle. Estava ali como a pessoa mais capacitada a servir de guia para o trabalho que se que- ria realizar, pois toda sua vida e formayao musical se deu em meio as manifestay<>es folcl6ricas que deve- riam ser registradas. Alem disso, o fato de Os Oito Ba- tutas terem se originado e gerado a dissoluyao do gru- po formado por Joao Pernambuco (Caxanga), e in- concebivel como fato de o mesmo nao ter sido convi- dado a integrar Os Oito Batutas. Se o criterio de sele- yao feito entre os m6sicos do Grupo Caxanga para a formayao de Os Oito Batutas foi a qualidade, o que estaria devendo Joao Pernambuco aos outros m6sicos que justificasse sua exclusao? Causa estranheza o Sr. Arnaldo Guinle nao ter aproveitado o material recolhido e registrado pela prodigiosa mem6ria de Joao Pernambuco, mesmo porque o Sr. Guinle sabia que Joao nao s6 desconhe- cia a pauta musical como era analfabeto. Se o proble- ma era trazer o material escrito, por que Donga e Pi- xinguinha nao 0 fizeram, uma vez que viajaramjuntos para a realizayao do trabalho? Oaf nasce a divergencia entre o Sr. Arnaldo Guinle e Joao Pernambuco, posto que, segundo Don- ga, os trabalhos prosseguiram, desta vez com a presen- ya de urn m6sico para escrever. 0 que equivale a dizer que, na concepyao do Sr. Arnaldo Guinle, Joao Per- nambuco nao era m6sico. lsso teria magoado Joao Pernambuco profundamente, levando-o a se afastar do Sr. Guinle; nao o fa to de Joao ser egofsta e ter pe- dido demais, como afirma Donga. Alias, que egoismo e esse que trouxe Jararaca e Ratinho para 0 Rio de Janeiro e com o baixo salario de servente da Prefeitu- ra muitas vezes dividia o pouco que ganhava com seus companheiros? (Dados a partir dos :.lepoimentos de Joca, Jandyr, Armando Teixeira Guimaraes e Cecy, respectivamente irmao e sobrinhos de Joao Pernam- buco). Os Oito Batutas, tendo agora Joao Pernambuco como integrante, realizam na ABI em outubro de 1919, no Rio de Janeiro, urn show que antecede sua viagem para apresentay<>es em Sao Paulo. No dia 26 deste mesmo mes apresentam-se no Salao do Conser- vat6rio Dramatico e Musical de Sao Paulo em urn show como titulo de Uma Noite no Sertao, alcanyan- do grande sucesso conforme registrou o Co"eio Pau- /istano: "Foi urn verdadeiro sucesso o primeiro sarau da troupe Os Oito Batutas, ontem realizado no Salao do Conservat6rio Dramatico e Musical, ja pelo nume- roso publico que acorreu a essa reuniao, ja pela exe- cuyao do programa, cuja segunda parte teve que ser inteiramente repetida, tal a insistencia dos aplausos no fmal de cada urn dos numeros. Com efeito, era de prever esse exito, pois nao ha nada como esses cantos e musicas sertanejas, in- genuas e bizarras, estuante de vida e melancolia que tanto fala a nossa alma, que faz vibrar tanto os nossos nervos de gente da cidade . . . foram cantos e sambas, lundus e sapateados de gente do sertao, cantados por urn grupo autentico sertanejo, que se ouviram e viram ontem no Salao do Conservat6rio, com seus caracte- risticos trajes e acompanhamento de flauta, violao e chocalho". No dia 27 voltam a se apresentar no mesmo local como seguinte programa: Os oito batutas, tango de Alfredo Viana (Pixin- guinha) Eu vi vov6, samba cantado pelo grupo Cade ele, samba cantado pelo grupo Sofres porque queres, tango de Alfredo Viana Seu Coitinho pegue o boi, embolada do Norte cantada por Joao Pernambuco Em ti pensando, choro, pelo grupo Bemtevi, poesia de Catulo Cearense, cantada por Otavio Viana Luar do Sertiio, cantada por Joao Pernambuco a pedidos) Os dois que se gostam, tango de Alfredo Viana Remelexo, choro de Alfredo Viana, pelo grupo Cabocla bunita, poesia de Catulo Cearense, por 0. Viana 0 poeta do sertiiO, cantada por Joao Pernambu- co (a pedidos) 0 capim mais mimoso, poesia cantada por Ota- vio Viana Sentindo, choro de Catulo Cearense, por J. Per- nambuco 0 samba do urubu, de Alfredo Viana, sapateado sertanejo Seguiram-se as apresentay<>es de Os Oito Batu- tas em Santos, nos teatros Guarani e Coliseu; em Campinas, no Teatro Cassino; em Ribeirao Preto, no Cinema Polytheama. Neste ultimo Os Oito Batutas cederam, em uma de suas apresentay<>es, vinte por cento da renda em beneficio das vftimas da seca do Nordeste. Em Cravinhos, quando de sua apresentayao, o grupo e homenageado 'com uma poesia de autoria de Ghritta, publicada no jornal 0 Albor: 31 32 "Urn sortao teve Cravinhos Recebemos esse pessoal Que tern feito em toda parte Urn sucesso colossal Com seu belo repert6rio De cantigas do sertao Nos arrebatam, fascinam Enos enchem de emo9ao. E depois que bons artistas! Como sa bern trabalhar! Nesse genera caipira Sao mesmo de arrebatar! Entre o grupo dos Batutas Nao se ve nenhuma falha Tudo ali sabe o que faz E como, gente, trabalha! Joao Pernambuco, leitores, Fartamente conhecido por todos consagrado E urn batuta sacudido E a flauta de Alfredo Viana Que prodigio, que colosso Nao e a toa que Pixinguinha Provocou grande alvoro9o Simpatico e born no pinho 0 Ot:ivio Viana alcan9ou Muitos aplausos e palmas Todas as vezes que cantou Ainda no pinho quem nega Elogios tantos, tantos Ao caboclo destorcido 0 Donga, Ernesto dos Santos Mas nao e Ernesto somente Urn turuna no violao 0 mo9o Raul Palmieri Nao fica atr:is dele, nao Temos falado de flauta Temos falado de pinho Agora vamos contar Do mo9o do cavaquinho Chama-se Nelson Alves E tern premia por tocar Somente com cinco cordas Faz coisas de admirar E por fim Jacob Palmien No pandeiro alegra a gente Enquanto no reque-reque 0 Luis Silva e urn exigente". Ainda em Sao Paulo apresentam-se no Cinema Chic, indo em seguida para Juiz de Fora, tendo como palco o Teatro Polytheama. Em Belo Horizonte, em 21 de janeiro de 1920, Os Oito Batutas apresentam-se no Cine America, dia 23 estrtHam no Teatro Munici- pal e simultaneamente realizam apresenta96es vesper- tinas no Cinema Comercio, contratados pela Empresa Gomes Nogueira. Dessa feita a imprensa destaca a par-   de Joao Pernambuco na interpreta9ao de Bem-te-vi e 0 poeta do sertiio. Fazia parte deste circui- to de apresenta9<>es o trabalho de pesquisa que havia sido encomendado pelo Sr. Arnalda Guinle a Os Oito Batutas. Terminadas as apresenta96es em Minas, Os Oito Batutas voltam para Sao Paulo fazendo uma serie de apresenta96es, destacando-se sua     no Teatro Sao Jose na pe9a Sol do sertiio, de Viriato Correia. As viagens continuam pelo interior de Minas e Sao Paulo, durante o mes de abril. E, finalmente, em maio estao de volta ao Rio de Janeiro. 0 grande sucesso alcan9ado por Os Oito Batu- tas, alem da qualidade dos musicos, se dava em virtu- de de grande parte de seu repert6rio musical ser com- pasta de milsicas sertanejas e folcl6ricas, alem de se apresentarem com vestimentas tipicas, coadunando-se com o interesse crescente pelos movimentos folcl6ri- cos. Com isso Os Oito Batutas mantinham na forma e conteudo o que de mais forte existira no Grupo Ca- xang:L Os Oito Batutas voltam aos palcos do Rio de Janeiro, em 16 de junho de 1920, por ocasiao da apresenta9ao da opereta sertaneja Flor Tapuya, de Alberto Deodato e Dantos Vampre, no Teatro Joao Caetano (antigo Teatro Sao Pedro). Nesta opereta registra-se a participa9ao da estrela Abigail Maia, jun- to com os jovens Jaime Costa e Proc6pio Ferreira. Posteriormente, em agosto de 1920, apresen- tam-se no Teatro Lirico em homenagem a Leopoldo Fr6es. Voltam ao palco do mesmo teatro no dia 24, desta feita ilustrando a conferencia de Alberto Deo- dato intitulada Alma Sertaneja. Em seguida Os Oito Batutas sao convidados para se apresentarem para os reis da Belgica, entao em visita ao Brasil, em setem- bro de 1920. Este convite gerou protestos, sobretu- do por parte de Catulo da Paixao Cearense. Com todo despeito, com ou sem protesto, Ia estavam Os Oito Batutas apresentando e represen- tando a m6sica brasileira. Fato interessante e que no Carnaval de 1919 foi a Ultima apresentayao do Grupo Caxanga, no co- reto de Os Tenentes do Diabo, que deu origem a Os Oito Batutas. Passados dois anos, Os Oito Batutas, mantendo o estilo 'caxanga', desflla com Os Tenen- tes do Diabo em urn carro aleg6rico sobre o qual foi montada, pelo core6grafo Jaime Silva, uma casa de sape. Ap6s apresentayoes em Curitiba, Os Oito Batu- tas regressam ao Rio de Janeiro. Arnaldo Guinle pa- trocina nova viagem de pesquisas nas cidades de Reci- fe e Salvador. 0 grupo viaja com nova formayao, pois Luis Pinto da Silva (bandola e reco-reco) e Jose Alves de Lima, sao substituidos por Joao Thomaz (reco- reco) e Jose Monteiro (ganza). Alem das pesquisas o grupo se apresenta inicialmente no Cine Teatro Olym- pia, em Salvador, no mes de junho de 1921. Em ju- lho Os Oito Batutas estreiam em Recife no Cine Tea- tro e no Cassino Moderno. Em uma de suas apresen- tayoes, o grupo foi antecedido pela apresentacao do fllme 0 ciclone e do conjunto Bloco dos Boemios; deste faziam parte Romualdo Miranda (irrnao de Lu- perce Miranda), Severino Rangel (Ratinho) e Jose Calazans (Jararaca). De volta ao Rio de Janeiro, Os Oito Batutas es- tn!iam a 5 de agosto no Cine Teatro America com a revista musical de autoria de Pixinguinha, China e Dias Pino, 0 que o rei nilo viu. No dia 29 apresen- tam-se no Cinema Americano, no espetaculo Um bati- zado na favela; na mesma noite se apresentam Mane Pequeno, cantor caipira, o querido cantor, voz de ve- ludo, Patricio Teixeira, e os atores Asdrubal Miranda, Irene Nascimento e Artur de Oliveira. Ainda no Rio de Janeiro Os Oito Batutas se apresentam no dia 9 de setembro para· urn grupo de intendentes argentinos, em seguida no Cinema Central, Teatro Eden em Nite- r6i, e Cinema Govern 1dor, localizado na praia do Je- quia. Oeste ultimo participam Patricio Teixeira, Mane Pequeno e Zilda Cortes (Araci Cortes), que veio a se constituir na principal estrela do teatro de revista. De- pois se apresentam no Teatro Lirico, em homenagem ao Fluminense Futebol Clube, que tinha como presi- dente o Sr. Arnaldo Guinle. No dia 14 de outubro tocam no Palacio Guanabara, dia 21 novamente no Teatro Eden em Niter6i. Encerrando as apresentayoes do ano de 1921, Os Oito Batutas deram show no Tea- tro Recreio, no Teatro Lirico e no Cabare Assirio, por ocasiao dos festejos de fim de ano. Encerra-se ai tambem a participayao de Joao Pernambuco em Os Oito Batutas. Durante o periodo em que Joao Pernambuco foi parte integrante de Os Oito Batutas, nao encontra- mos nenhuma entrevista ou declarayao sua a impren- sa. Este fato reforya os depoimentos que dao conta de que Joao era urn homem simples, humilde e de poucas palavras. Por outro lado, poe a mostra o pi- lar basico sobre o qual se edificou a caracteristica mais marcante do grupo, ou seja, a sertaneja. Na verdade Joao Pernambuco constituiu-se em guia, quando por ocasiao das pesquisas encomendadas por Arnaldo Guinle e, ao mesmo tempo, em elo de li- gayao entre a cultura sertaneja e a urbana, promoven- do assim a preservayao e a divulgayao de suas origens. E a partir dai que se entende os dizeres de Augusto Calheiros em cartao enviado a Joao Pernambuco em 3 de abril de 1939 (ver ilustrayao p.35). Querido e respeitado por amigos de trabalho, de rodas musicais, solidario, homem puro, sua arte era aberta, onde quer que chegasse tocava e cantava para quem quer que fosse. Contudo, era exigente: quando tocava nao admitia barulho ou mesmo cochichos. As palavras de Joca (irmao de Joao) confirmam esse fato: ". . . Ele saia do trabalho e ia tocar. Mas se al- guem ficasse falando enquanto estava tocando ele da- va uma desculpa qualquer e ia embora. Porque ou as pessoas ouviam m6sica ou entao conversavam; de mo- do que esse neg6cio de conversar, arrastar cadeiras, com ele nao dava pe. Isso eu sei porque vi muitas vezes . . . Ele tocava na Radio Nacional em ondas curtas. Ele sempre procurou tocar em ondas curtas porque nas ondas longas o barulho era muito e ele se contrariava muito sobre esse ponto de vista". Completando, urn de seus amigos e conterrii- neos nos fala. Trata-se de Meira, mestre de violao e compositor: "Joao era muito bonachao, ele ensinava as coi- sas que sabia para as outras pessoas. Ele nao vivia de violao. Trabalhava na Prefeitura". Joao Pernambuco conserva o espirito agregador de sua formayao do sertao e das feiras do Recife. Seu senso coletivo era grande e proprio da vida simples e humilde de sua gente, ainda mais quando se tern mu- sica e violao: ai as coisas ficam num ambiente natural, espontiineo e alegre. Dessa forma, Joao Pernambuco sempre viveu entre amigos, porem essa sua maneira de ser contrastava com a forma de vida 'malandra' e de 'ginga cabocla' existente nos centros urbanos, princi- palmente no Rio de Janeiro. Aqui, urn fato novo: Joao cercara-se de amigos e 'amigos'. 33   o r m a ~ i i o de Os Oito Batutas a partir de 1919. Da esquerda para a direita, de pe: primeiro (niio identificado) , Pixinguinha, Luls Silva, Jacob Palmieri; sentados: Ottivio Viana (China), Nelson Alves, Joiio Pernambuco, Raul Palmieri e Donga. Da esquerda para a direita: Donga, musico ntfo identificado, Joffo Pernambuco, Jose, irmtfo de Jotfo (arras) e Pixinguinha. Teresopplis, 1913. ih r1   Cda.- c/e; ll cJ(9 y:l. / 1-bi-:S? c 0 reconhecimento de Patativa do Norte (Augusto Calheiros). 35 36 Joiio Pernambuco sempre viveu entre amigos, levando uma vida simples e humilde em meio a muita musica e violiio. Teresbpolis, 1924. A primeira controversia: Caboca di Caxanga J oao Pernambuco, ferreiro de profissao, po- bre e analfabeto por aprendera a conquistar melhores de vida por suas pr6prias rnaos e essas mesmas rnaos responderam a sensibilidade de seu captando a genialida- de das esquinas e das ruas que foram sua grande esco- la, tornando-se sfntese de toda a de em- botada no seio de seu povo. Oaf toda sua naturalidade e espontaneidade ao exprimir as qualidades de instru- mentista (violonista), musico e compositor. Natu- ralidade e espontaneidade porque tudo passava por ele mas nao era dele. Por assim sentir e que Joao Per- nambuco procurava dar a todos o que era para todos e entendia que era assim que devia receber. Foi assim no sertao pernambucano, no Recife e no Rio de Ja- neiro. Mas as coisas por aqui eram diferentes; como foi dito anteriormente, o processo de comercializa- da m6sica era crescente, aliado a sede de proje- social tao comum nos intelectuais da classe me- dia da qual Joao Pernambuco foi alvo mas nao presa flicil. E dentro deste quadro que Joao Pernambuco encontra verdadeiros amigos como Patricio Teixeira, seu conterraneo Quincas Laranjeira, Satiro Bilhar, Ro- gerio Guimaraes (violonista canhoto, falecido durante a deste trabalho ), Caninha, etc. Porem hou- ve quem com ele convivesse, como Catulo da Paixao Cearense, e lhe trouxesse grandes dissabores. No ano de 1913 e composta a musica que iria se transformar na primeira controversia entre Joao Pernambuco e Catulo da Paixao Cearense. Trata-se de Caboca di Caxangd, grande sucesso no Carnaval de 1914, interpretada pelo Grupo Caxanga em suas publicas. Esta obra foi registrada em nome de Catulo da Paixao Cearense mas, segundo pessoas que mantiveram com Joao Pernambuco, a mil- sica seria deste e Catulo teria feito apenas a letra. Em 1930 a autoria de Caboca di Caxangd passa a ser discutida como parte integrante de urn proces- so movido por Martins Guimaraes (Jose Martins de Moraes Guimaraes, cessionario das obras de Catulo ), contra o maestro Heitor Villa-Lobos sob a de que este harrnonizara sem e vendera ilicitamente a propriedade comercial desta musica e mais Charas n9 10, com subtitulo de Rasga cora(:iio (de autoria de Catulo da Paixlro Cearense e Anacleto ''Quando COffle(:aVa minha obra poetica mais importante apareceu-me o Joiio Pernambuco, que vinha do norte e que, soube tocar muito bern o viol&J, me trouxe urn vocabultirio ainda niio pervertido pela lfngua culta''. de Medeiros) e Tu passaste par este jardim, letra de Catulo e musica de Alfredo Dutra, as Editions Max Eschig, de Paris. Tal questlro e tratada por Carlos Maul em seu livro intitulado A gloria escandalosa de Heitor Villa- Lobos (Livraria Imperio Editora, 1960). Em resposta as noticias veiculadas no Boletim da SBAT de maio-junho de 1954, e publicado neste livro urn documento datado de 17 de abril de 1953 dando o parecer de cinco professores catedraticos da Escola Nacional de M6sica da Universidade do Brasil, no qual consta: ". . . que o tema e as palavras da brasi- leira "Caboca di Caxanga", harrnonizada por Heitor Villa-Lobos e edit ada pe1as "Editions Max Eschig", de Paris, sao, como a propria partitura indica, de au- toria de Catulo da Paixao Cearense, tendo sido em- pregado o mesmo compasso e substituida a tonalida- de original". Carlos Maul tece comentarios sobre a contes- do maestro Villa-Lobos: " que de inicio cumpria salientar que Catulo nao era o autor das musicas das duas pri- meiras referidas ("Tu Passaste por este Jar- dim" e Rasga   mas apenas de suas letras, pois como reconhece o proprio autor, tais musicas eram de Anacleto de Medeiros e de Alfredo Dutra, verificando-se o mesmo em relayffo a ultima (Caboca di Caxanga), baseada em urna melodia popular do Nordeste, atribuida a urn seresteiro local, de nome Joao Pernambuco; que ademais Catulo nunca fora compositor musical, necessitando sempre de uma mil- sica pre-existente para sobre ela formular os seus ver- sos; que deste modo, em a tais musicas, ne- nhum direito autoral nem qualquer outra providencia pode tomar o autor, uma vez que e apenas cessionario das obras de Catulo; que, mais ainda, em a "Caboca di Caxanga", os direitos autorais de Catulo sobre ela, antes da cessao feita ao autor, ja h<.viam sido cedidos a Livraria Quaresma, em docu- mento datado de 3 de abril de 1913; ... que assim, tinha Catulo pleno conhecimento do procedimento do suplicado (Villa-Lobos) e jamais formulou qual- quer protesto ou reclamou contra o mesmo; que as- sim, nas tres obras apontadas de Catulo, cujas letras teriam sido parcialmente aproveitadas e adaptadas 37 ' 1 pelo contestante (Villa-Lobos) nas suas obras musi- cais dos mesmos nomes e cedidas a terceiros em 1930, eram meras canroes populmes (grifo nosso ), para as quais ideou ele, milsica erudita ... " Com ao processo do qual transcrevemos algumas partes acima, o parecer ftnal da foi o seguinte: "0 reu, Maestro Heitor Villa-Lobos, foi conde- nado a pagar ao autor Jose Martins de Moraes Guima- raes ( cessionano das obras de Catulo) as perdas e da- nos que se apurarem na inclusive juros de mora e honorarios de advogado arbitrados em 20% so- bre o total da por de uso e aliena- sem a devida da musica e letra das "Tu Passaste por este Jardim" e "Caboca di Caxanga". Como seve, durante todo o processo, o milsico, instrumentista e compositor Joao Pernambuco e cita- do apenas como sendo urn "seresteiro local", a quem se atribuia, como forma de defesa de uma das partes, a autoria da melodia de Caboca di Caxangd. A isso se contrap5e o parecer de Almirante (Henrique Foreis Domingues) em seu livro Nos tempos de Noel Rosa (Uvraria Francisco Alves Editora), cujas palavras dis- pensam comentarios: " ... Anos depois Joao Pernambuco conheceu o poeta Catulo da Paixao Cearense, que desde 1900 publicava versos e modinhas e, ate 1912, nao havia produzido nada, absolutamente nada, em poemas sertanejos, especialmente dos costumes nordestinos. Certa vez Joao Pernambuco p6s-se a cantar uma toa- dinha com versqs populares de sua terra, mas com- pondo melodia inedita exclusivamente de sua autoria: 38 Nega voce me da (o till) Nega voce nao da nao Nega se voce me da e ta na faca, na madeira e no quice Cinco pataca, dois tostoes mile quinhento minha casa mobiada gas aceso e o povo dento . . . etc. . . . Da amizade com Joao Pernambuco, que lhe exibiu sua melodia, resultou a da primeiia sertaneja de cunho folcl6rico. Entusiasmado com a novidade do ooco das emboladas, Catulo ano- tou as expressoes tipicas e saborosas do Nordeste, apontadas pelo violonista. Catulo ja nao se recordava dos interessante& vocabulos e estranhava 0 pr6prio ti- tulo que Joao Pernambuco indicara - "Caboca di Caxanga" - sendo Caxanga o lugar em que vivera. Da origem desta famosa cantiga serve como prova defmi- tiva as palavras do poeta em entrevista ao Didrio de Noticias, de Usboa, em 30 de janeiro de 1935: '. . . quando a minha obra poetica mais irnportante apareceu-me o Joao Pernambuco, que vinha do norte e que, soube tocar muito bern o violao, me trouxe urn vocabulano ainda nao perverti- do pela lingua culta .. .'". Sem a menor duvida, Catulo aproveitou os prin- cipais elementos mel6dicos de Joao Pernambuco para o estribilho citado pelo violonista: "Caboca di Caxanga Minha Caboca venha ca ... " E veio, assirn, a versalhada repleta de vocabulos colhidos no repert6rio de Joao Pernambuco, como .Caxanga, Pajeu, Jaboatao, Santo Amaro (lugares e ad- jacencias do estado de Pernambuco); indaia, ru, oiticica, gameleira, taquara (arvores e madeiras do nordeste); urutau, chorao, quartau, quice (aves, animais, expressaes), usados na nova "Em Pajeu, em Caxanga, Em Cariri, em Jaboatao Eu tenho a fama de canto I valentao ... " etc. A cantiga despertou interesse no povo, sen do pu- blicada em 1913, em Lyra dos saloes   Quares- ma, Rio de Janeiro, 1913):Como testemunho de gra- tidao ao seu indiscutivel colaborador e parceiro, Catu- lo imprimiu com esta dedicat6ria: Caboca di Caxanga (pag. 232) - "Ao Pernambuco, o insigne violonista". 0 Luar do sertao paira sobre o Rio de Janeiro L uar do sertiio foi composto em 1913, basea- do, segundo alguns, no motivo fo1cl6rico Meu engenho e de Humaitd. Podemos dizer que Luar do sertiio foi a primeira controversia assumi- da como tal, pois o centro da materia foi, e tern sido, o esclarecimento sobre quais teriam sido seus verda- deiros autores. Segundo Almirante, Joao Pernambuco apresen- tou a melodia a Catulo da Paixao Cearense e este comp6s a letra e intitulou-a de Luar do sertiio. Mas se- gundo o pr6prio Catufo e seus defensores, musica e le- tra seriam de sua autoria. A questiio da auto ria de Luar do sertiio inicia-se com a publicayiio no Co"eio da Manhii de materia assinada pelo escritor Gondin da Fonseca, na qual atribuia a melodia de Luar do serttlo a Joao Pernam- buco "sendo Joao o colaborador de Catulo em todo o seu florilegio poetico" ( conforme carta do Gremio Cultural Catulo da Paixao Cearense, publicada em 0 Globo, de 8 de agosto de 1971). Nesta mesma carta encontra-se registrado que Catulo "pediu a Gondin da Fonseca a verdade e este lhe respondeu em carta": " ... Meu caro Catulo, recebi tua carta sobre o "Luar do Sertao". A prop6sito devo dizer-te que, s6 por blague e rniseric6rdia, atribuf ao Joao Pernambu- co a toada dessa belissirna canyao, hoje popular no Brasil inteiro. 0 Joao necessitava de ser promovido, e eu nao sabia o que fazer para exaltar-lhe o merito musical junto ao Villa-Lobos, lembrei-me de afirmar, por brincadeira, que a musica do "Luar do Sertao" lhe pertencia, e o Villa acreditou". E prossegue o Gremio Cultural Catulo da Pai- xao Cearense: "Em 1937, depois da 'blague' de Gondin da Fonseca, Heitor Villa-Lobos irradiou o 'Luar do Ser- tiio', de Catulo, nas suas 'paradas orfeonicas' e atri- buiu a Joao Pernambuco a autoria da melodia dessa canyao. Catulo nao reclamou nessa ocasiao porque Fred Figner o fez, nesta carta: 'Acusamos em nosso poder sua estimada carta de quatro do corrente, em resposta a qual temos a de- clarar que o nosso antecessor, sr. Fred Figner, recla- mou ao Superintendente de Educayao Musical e Ar- tistica, sr. Maestro Heitor Villa-Lobos, em 16 de ou- tubro de 1937, contra o fato de haver sido inclufdo no programa comemorativo da data de 7 de setembro o nome do sr. Joao Pernambuco como autor da m6si- Se Catulo niio se preocupava com bobagens gramaticais, lotio Pernambuco ntio sabia nem o que era granuitica; sabiafazer mU.Sica, tocar violtio e tratar as pessoas com respeito e dignidade. ca intitulada "Luar do Sertao", visto ser de autoria de Catulo da Paixao Cearense, de quem o nosso referido antecessor adquiriu os respectivos direitos autorais em 3 de novembro de 1913, havendo-a registrado na Bi- blioteca Nacional, sob o numero 3.159, desde maryo de 1914' ". A partir daf Heitor Villa-Lobos se constitui no primeiro defensor de Joao Pernambuco. A 12 de ou- tubro de 1937, o Corteio da Manhii imprirniu a mUsi- ca de Luar do sertiio, canyao sertaneja, letra de Catulo e melodia de Joao Pernambuco, com arranjo de Villa- Lobos. A questao se prolonga atraves dos anos, tanto que em 1945, registramos uma carta de Catulo dirigi- da a Villa-Lobos que consta do livro A gloria escanda- losa de Heitor Villa-Lobos, de Carlos Maul, que, ao tratar da autoria de Luar do sertiio, afirma: " ... (Arranjaram-lhe entao urn pai putativo que seria o trovador Joao Pernambuco) ... " Catulo assim se dirige a Villa-Lobos: "Amigo Villa-Lobos: Nao e possivel dar a autoria da toada do meu "Luar do Sertao" ao tipayo do Pernambuco, porque nao e dele. Essa rninha canyiiO acha-se registrada des- de 1915, na Biblioteca Nacional, registro feito pelo meu en tao cessiomirio Fred Figner. 0 sr. Fred Figner ja te escreveu reclamando, quando em 1937 atribufs- te a autoria dessa toada ao music6logo wagneriano, nao tendo voce respondido. Com surpresa rninha, vi no Diario Oficial de abril pr6ximo fmdo que voce de- ra a paternidade dessa m6sica ao dito pernambucano. 0 meu "Luar do Sertao" acha-se tambem regis- trado na Escola Nacional de M6sica, para garantia dos meus direitos de autor. Se quiserdes o meu Guimaraes Martins te mos- trara todos os documentos que temos para te conven- ceres da verdade. Jarnais poderei abrir mao de urna coisa que me pertence a mim. Os meus ja cedi a Jose Martins de Moraes Guimaraes. E inacreditavel que s6 depois de quase quarenta anos esse individuo venha reclamar direitos de uma coisa que nao e sua e sim do folclore, por mim estili- zada. 0 C6digo Civil Brasileiro estatue no seu artigo 178, paragrafo 10, alinea VII -que, se qualquer pes- soa nao reclamar seus direitos dentro de cinco anos ficam prescritos esses direitos. Note-se porem, que es- 39 i I se individuo nao tern direito a nada. A musica nada vale, como dizes, mas n6s fazemos questao da verda- de. Caso nao possas ou nao queiras fazer a retifica9ao, o Martins Guimaraes, meu cessiomirio e unico repre- sentante, o fara judicialmente. Ficaras melindrado com isso? Penso que nao. Responde-me o mais breve possfvel. Teu Catulo. Aten9ao: Esta vai com o tratamento na segunda e tercei- ra pessoas. Na intimidade nao obede9o a estas boba- gens gramaticais". Cabe, inicialmente, considerar que durante toda a questao nao se assiste a participa9iiO de Joao Per- nambuco, a nao ser quando da noticia de que teria dado uma entrevista ao jornal Diretrizes, na qual ele diz: " ... ha uns quatro anos ficamos estremecidos, por causa da questao levantada sobre a autoria do "Luar do Sertao", que e de n6s dois". E Gondin da Fonseca responde no proprio jor- nal Diretrizes, afirmando: "Quem criou o caso "Luar do Sertao" fui eu, a pedido de Joao, com pena dele, que queria ser apro- veitado e promovido pelo Villa-Lobos. Tapeei todo mundo para servir. Afinal, quando saf da cadeia, ele passava por mim no meio da rua e nem born dia". Como vemos a questao e complexa em si; ficou sendo por causa da falta de seriedade e pelo oportu- nismo de algumas pessoas. Senao vejamos: como acre- ditar que a questao tenha sido iniciada por brincadei- ra na qual Villa-Lobos tenha acreditado? Como acei- tar tambem que Villa-Lobos tenha acreditado e utili- zado o artigo de Gondin da Fonseca para se tornar defensor de Joao Pernambuco? Pensar assim seria, no mfnimo, considerar que o maestro Villa-Lobos ou era crian9a ou debil mental. Alem disso, desconsidera-se todo o conhecimento do en tao reputado internacional- mente maestro Villa-Lobos, como se este precisasse de b/ague para tomar posi9a0 diante de tao seria ques- tao, ainda mais em campo que era de seu amplo do- minio, a musica. Alem disso, Joao Pernambuco nunca utilizou-se de artiffcios para se fazer respeitar como musico ou como pessoa. Para tanto basta transcrever o depoi- mento de seu sobrinho Jandyr Teixeira Guimaraes, que com ele morou durante o periodo compreendido entre 1928 e 1935 numa republica localizada na ave- nida Mem de Sa, 81 : "EnHio eu morava com eles: tio Joao, tio Pedro e mais uma por9ao de musicos moravam Ia. Eu conhe- 40 ci o Pixinguinha de Ia; o Patricio Teixeira tambem. Vinha sempre o Villa-Lobos que ja era de uma classe melhor. Entao ele ia la mais para sondar tio Joao, conversar ... e depois ele veio a ser chefe de tio Joao na Prefeitura". 0 que nao ficou esclarecido foi a data do regis- teo de Luar do sertiio na Biblioteca Nacional, uma vei que Catulo afirma ter sido feito em 1915 e o Gremio Cultural Catulo da Paixao Cearense diz que a mesma can9ao foi registrada em mar9o de 1914, por Fred Figner. Cabe aqui o registro da argumenta9ao utilizada quando por ocasiao da primeira controversia Cab(}ca di Caxangd, de que: " ... Os registros de obra na Biblioteca Nacional ou no Instituto Nacional de Musica nao sao exigencias formais para a exigencia dos direitos autorais. Tradu- zem apenas uma garantia em favor do autor, criando em seu favor uma presunriio (grifo nosso) de que a obra lhe pertence". Perguntamos: Por que razao este argumento foi utilizado na primeira e deixou de ser na segunda controversia? Nota-se que a falta de seriedade e de respeito continua com rela9iiO a pessoa de Joao Pernambuco que ora e tratado de "trovador" ora de "tipa9o" e· ainda de "dito pernambucano". Cabe ressaltar que nao foi Joao Pernambuco quem levantou e nem tratou dire- tamente da questao, e mesmo que o fosse, merecia o mesmo tratamento dispensado a seus defensores. 0 exemplo desta afirmativa esta nas cartas de Catulo e de Fred Figner para Villa-Lobos em que estes o tra- tam de senhor Maestro, amigo, isso quando nao se pe- de desculpas pelo tratamento na segunda e terceira pessoas, ressaltando que, na intimidade, nao se obede- ce a tais bobagens gramaticais. Vale lembrar que Joao Pernambuco mal sabia ler e escrever devido a sua con- dicyao humilde de operario (ferreiro) e posteriormen- te de servente da Prefeitura, enfim, era urn homem do povo. Se Catulo nao se preocupava com bobagens gra- maticais, Joao Pernambuco por sua vez, nao sabia nem o que era grarnatica; mas de uma coisa ele sabia: tratar com respeito e dignidade as pessoas, fazer mil- sica e tocar violao, com extrema simplicidade e des- treza. Entendemos serem estas as ilnicas razoes que explicam a nao participa9ao de Joao Pernambuco de uma forma mais direta nas questoes da controversia, pois as coisas nao eram tratadas ao nivel de seu enten- dimento. Joao Pernambuco apenas afirmava que as musicas eram suas. E mais, se Joao Pernambuco, "esse indivfduo" no dizer de Catulo, nao tern direito a na- da, para que entiio citar o C6digo Brasileiro, artigo, paragrafo e alinea para justificar que se qualquer pes- soa nao reclamar seus direitos dentro de cinco anos, ficam prescritos esses direitos? Das duas uma, ou ten- ta-se convencer pela ret6rica ou na verdade se tern o que reclamar. Se for 0 ultimo caso, nao importa 0 tempo, mas sima verdade. Sobre a entrevista dada por Joao Pernambuco ao jornal Diretrizes, em que Gondin da Fonseca afirma ser mentira que Catulo niio brigou com Joiio ha ape- nas quatro anos, mas ha muito mais tempo e que Luar do sertiio e apenas de Catulo, consideramos que ja esta mais do que claro que qualquer coisa dita por Gondin da Fonseca deve ser encarada com reser- vas, quando nlfo com .descredito: uma vez que o escri- tor 'brincara' em outra ocasiiio, nao ha garantia de que nao esteja 'brincando' novamente. Sendo seu habito somente afirmar sem provar, mesmo assim vale a pena comprovar de que !ado esta a verdade. Quando Joao Pernambuco disse que sua amizade com Catulo estremecera ha uns quatro anos, ele nao estava brincando, pois existe uma fotografia tirada quando da visita de Joiio a casa de Catulo no ano de 1944. Posteriormente o Sr. Henrique Foreis Domin- gues (Almirante) colocou-se como segundo defensor de Joiio Pernambuco no caso Luar do sertiio, tendo In- clusive, algumas vezes, abordado o caso Caboca di Ca- xangd. Foi Almirante quem reuniu, pela primeira vez, todos os documentos para o estudo da questiio. Do- cumentos esses que foram relacionados em carta sua publicada em 0 Globo de 3 de fevereiro de 1971, com o titulo de "Carta de Almirante explica o caso Luar do sertiio". A relacao apresentada foi a seguinte: I. Fotoc6pia da "Coles;ao Escolar", editada na Casa Artur Napoleao/Sampaio Araujo e Cia. 2. Fotoc6pia de carta datada de 13 de janeiro de 194 7, de auto ria e assinatura do maestro Heitor Villa- Lobos. 3. Palestra na Associa<yao Brasileira de Violao, boletim n.14,deoutubrode 1937. 4. Dados: a 12 de outubro de 1937, o Correia da Ma- nhii imprimiu a musica de Luar do sertiio, can<yao ser- taneja, letra de Catulo, musica de Joao Pernambuco com arranjo de Villa-Lobos. 5. Catalogo da Radio Nacional denominado Vinte a nos de lideranr.;a a servir.;o do Brasil 1936-195 6 e de que apontamos este trecho: "0 ultimo andar do ediffcio de 'A Noite' esta- va em festa. Noite de gala, vinte e uma horas. Ou- via-se, primeiramente, a caracterfstica musical da esta- <yao que ia nascer: "Luar do Sertao", de Catulo da Pai- xao Cearense e Joao Pernambuco, em solo de vibrafo- ne por Luciano Perrone". 6. Programas de radio em 27/03/45, 22/05/45 e 07 I 01/57. 7. No tempo de Noel Rosa (Livraria Francisco Alves Editora 1963) a pagina 11 e seguintes, no capitulo "Antecedentes folcl6ricos", narrando a origem e a au- toria das can<yoes Caboca di Caxangd e Luar do sertiio, melodias de Joiio Pernambuco. 8. Depoimentos de figuras ligadas aos assuntos musi- cais, com suas assinaturas, afirmando a realidade des- sas can<y6es: a) Boabdil de Miranda Varejao (Mirandela) b) Sylvia Salema Ribeiro c) Benjamin de 0 liveira (Palha<yo) d) Jose Rebelo da Silva (Ze Cavaquinho) e) Alcebiades Carneiro f) 0 music6logo Mozart de Araujo Finalizando sua carta, Almirante afirma: "Homem ingenuo e rustico, despreocupado como sempre aconteceu. . . Joao Pernambuco nem estranhou que as impressoes das editoras e as grava- doras de chapas (discos) nao mencionavam os autores e razao triste, mallia e escrevia". Destaca-se entre os documentos a carta de Hei- tor Villa-Lobos endere<yada ao Sr. Almirante com data de 13 de janeiro de 1947, que prova que o maestro assumiu a defesa de Joao Pernambuco por raz6es con- cretas e bern definidas: "Meu caro Almirante Entusiasmado pela sua bravura em defesa da verdade, para bern de nossa musica e para botar os pingos nos ii, da questao surgida ultimamente nos meios radiofonicos e jornalisticos brasileiros sabre o "Luar do Sertao" e "Caboca di Caxanga", venho de- clarar o seguin te: Que Catulo com quem convivi por mais de trin- ta anos e por quem alimentava uma grande admira- <yao, tinha por habito, todas as vezes que nos encon- travamos depois das minhas viagens pelo interior do Brasil, mostrar o que havia feito de interessante. Numa dessas ocasioes e!e mostrou-me o "Luar do Sertao", pedindo-me uma opiniao sabre a sua no- va modalidade de can<yao. Como sempre franco, respondi que achava ale- tra muito interessante, apesar de nao estar de acordo com o linguajar a maneira autentica (sertaneja) mas que, quanta a parte musical nao achava nenhum inte- resse porque niio possufa mais aquelas frases liricas das suas modinhas anteriores que provocavam as mais lindas e variadas modula<yoes harmonicas. Entretanto, como era uma musica nova que ele me mostrava e eu sabia de antemao incapaz de escrever uma celula me- 16dica que fosse, perguntei-lhe quem era o autor, ao 41 que ele me respondeu ser urn autentico sertanejo que vinha de conhecer naquele momento. Mais tarde, vim a saber que se tratava de Joao Teixeira Guimaraes (vulgo Joao Pernambuco) em quem reconheci real valor de original e caracteristico compositor sertanejo. Urn abra9o do amigo H. Villa-Lobos". No dia 18 de janeiro de 1947 e tentada uma so- lu9ao para a questao atraves de uma reuniao realiza- da no escrit6rio de Almirante da qual participaram, alem deste e de Joao Pernambuco, os Srs. Djalma Ma- ciel, Sylvio Salema, Max Nunes, Helio Bastos Couto e Martins Guimaraes, e que resultou na seguinte ata: "Ata da reuniao efetuada no escrit6rio de Almi- rante, na Radio Tupi, a Avenida Venezuela 43, no Rio de Janeiro, para esclarecimento da questao da au- toria do "Luar do Sertao": No escrit6rio de Almirante, as quinze horas do dia 18 de janeiro de 1947, reuniram-se os abaixo assi- nados para debater, amigavelmente a questao da auto- ria da melodia de "Luar do Sertao". Ap6s tres horas de palestra e exposi9ao de documentos, os presentes chegaram as seguintes conclusoes: a) Catulo jamais declarou que a autoria da me- lodia do "Luar do Sertao" era sua, afirmando, ao con- trario, alto e born som, que a mesma constituia urn "arranjo" ou "estiliza9ao" de motivo folcl6rico, recla- mando para si, h:i mais de trinta anos, apenas a auto- ria de tal arranjo ou estiliza9ao; b) Concluiu a reuniao que de fato, a melodia de "Luar do Sertao" e arranjo ou estiliza9ao do motivo "Engenho de Humaita", havendo duvidas de uma das partes sobre a autoria deste arranjo, mormente em vir- tude das declara9oes verbais do sr. Joao Pernambuco na reuniao; c) Diante disso e das inumeras provas contradi- t6rias, s6 poderao ser devidamente consideradas pela justi9a atraves de urn Iongo e minucioso exame legal, os abaixo assinados admitem encerrada entre eles esta investiga9ao, conservando as partes em controversia a respectiva documenta9ao para ser utilizada em qual- quer epoca, quando se trate de esclarecer a questao legalmente; d) Os presentes de acordo com o registro do "Luar do Sertao" feito por Catulo na Escola Nacional de Musica e suas declara9oes em cartas, livros e outros documentos (entrevistas ou cartas publicadas em jor- nais), acham que enquanto nao se resolver judicial- mente a controversia, deveria aquela can9ao ser apre- sentada ou defendida como: 'letra e arranjo musical de motivo folc16rico de Catulo da Paixao Cearense'". 42 E o Sr. Carlos Maul conclui em seu livro: "No item 'b' se declara que uma das partes ti- nha duvidas sobre a autoria do arranjo. Nao diz a quem se refere, mas cita a presen9a de Joao Pernam- buco. Quanto as duvidas de outra natureza, princi- palmente a de referencia ao "Engenho de Humaita", Martins Guimaraes liquidou o assunto com uma con- sulta a Escola Nacional de Musica da Universidade do Brasil que atraves de seu Conselho Departamental, assim se manifestou :" (a seguir passa a transcrever urn documento datado de 18 de novembro de 1955 no qual consta o parecer tecnico dado pelo professor Carlos de Almeida, catedratico da Escola Nacional de Musica que concluiu): " .... As musicas intituladas "Luar do Sertao" de autoria de Catulo da Paixao Cea- rense e "Humaita" dan9a sertaneja do folclore nacio- nal tambem conhecida por "Meu Engenho e de Hu- maita", harmonizada por Heckel Tavares, sao integral- mente diferentes uma da outra ... " Por fim o Sr. Carlos Maul aproveita para dar urn recado a Villa-Lobos e seus amigos nos seguintes ter- mos: "Ao sr. Heitor Villa-Lobos e seus amigos que insistem em dar a autoria do "Luar do Sertao" ao seu amigo Joao Pernambuco, e facil de responder que essa versao nao tern nenhuma consistencia ante a confissao do proprio Catulo, por isso mesmo a mais autorizada. A melodia do "Luar do Sertao" nasceu de urn frag- mento de obra desprotegida do dominio publico, de Beethoven, que Catulo colocava entre seus fdolos, fragmento esse que foi tambem aproveitado por Mozart e Rossini". Enquanto Almirante, Villa-Lobos e demais ami- gos de Joao Pernambuco procuravam apresentar pro- vas concretas no sentido de simplificar a questao, Ca- tulo e seus defensores procuravam, por outro !ado, criar cada vez mais polemica em torno do caso atra- ves de afirmativas contradit6rias que s6 contribufam para complicar e nao para esclarecer o caso. Conversa de violiio entre Joiio Pernambuco e Catulo, na reskJencia deste. Rio de Janeiro, 1944. Reuniiio na Radio Tupi. Da esquerda para a direita, Almirante eo terceiro sentado, seguindo-se Joiio Pernambuco, Sylvia Salema, de pee Martins Guimariies, sentado. Os demais niio foram identijicados. Rio de Janeiro, 1947. Visita a casa de Catulo. Da esquerda para a direita: primeiro personagem, niio identijicado, Catulo, Joiio Pernambuco e Bororo. Rio de Janeiro, 1944. 43 . 'I il' Separando o joio do trigo A o recorrer a Escola Nacional de Mwica, que, diga-se de passagem, apresentou uma conclu- sao em tempo recorde para assunto de tal importancia (o requerimento deu entrada no dia 18 de novembro de 1955 e os catedraticos deram o pare- cer no dia seguinte) Martins Guimaraes s6 contribuiu para criar mais confusao em torno do caso. Isso nao e dificil de ser percebido, basta que examinemos com mais as palavras de Catulo e daqueles que o defendiam no decorrer do caso. No item a da reuniao declara-se que Catulo nun- ca disse que a melodia de Luar do sertiio era sua e sim de urn motivo folcl6rico feita por ele. Ora, numa rapida passagem de olhos na carta que Catulo enviou a Villa-Lobos em 1945 mostra-nos que ele, com sua not6ria megalomania, gasta mais de dez li- nhas afirmando com veemencia que a e exclu- sivamente sua e apenas duas para dizer que e aprovei- tamento de "fragmento folcl6rico" sem, no entanto, citar a origem de tal 'fragmento'. Nota-se que tal afrrmativa esta em total desacor- do com o 'recado' que Carlos Maul manda a Villa-Lo- bos e seus amigos. 0 que aqui era de urn "fragmento folcl6rico" transforma-se la apenas em "fragmento". Fragmento este desprotegido do domi- nio publico, de autoria de Isso e levar lon- ge deinais a falta de seriedade. Desde quando uma obra de Beethoven e desprotegida do dominio publi- co? E se realmente isso e verdade por que nao dar o nome da obra da qual foi retirado o fragmento, o que perrnitiria comprovar a veracidade da afrrmativa? E mais, por que a contissao de Catulo e mais autorizada que a de Joao Pernambuco? Assim como Villa-Lobos afirmara que Catulo era incapaz de escrever urna celula mel6dica que fos- se, seus defensores tinham a genial destreza de obter urn parecer tecnico fornecido por urn catedratico da Escola Nacional de Musica que nega o que eles pr6- prios haviam afirmado por ocasiao da reuniao no es- crit6rio de Almirante na Radio Tupi, conforme o item b da ata desta mesma reuniao, que diz: " ... que de fato a melodia de "Luar do Sertao" e arranjo ou es- do motivo folcl6rico "Engenho de Hurnai- ta" ... ". Este comportamento nos lembra Gondin da Fonseca. 44 Mais uma vez quem sai perdendo eo povo, diretamente ou atraves de seus leg{timos representantes. Se os defensores de Catulo argurnentam com tanta que a melodia de Luar do sertiio nao e de Joao Pernambuco, por que nao buscaram esclare- cer o fato de forma defmitiva atraves da dei- xando, ao contrario, que permanecesse como contro- versia ate hoje? 0 item b da ata decidiu " ... que enquanto nao se resolver judicialmente a controversia, deveria aque- la ser apresentada ou defendida como: letra e arranjo musical de motivo folcl6rico de Catulo da Paixao Cearense". Ocorre, no en tanto, que as publi- cay<>es de partitura e apresentay<>es nao eram segui- das do complemento indicado, constando apenas o nome de Catulo sem citar que era arranjo de motivo folcl6rico. Assim se dando ocorre a   pois se ficasse provado que a mwica nao e de Joao Pernam- buco ela entao seria do acervo do povo. Mais uma vez quem sai perdendo e 0 povo, diretamente ou atra- ves de seus legitimos representantes. Que interesses · poderiam haver para que fosse mobilizada tanta gente em defesa de Joao Pernam- buco? E simples, esta adesao nasce de sua de de seu extraordinario violao e sobretudo de sua maneira natural de ser que lhe deu tantas amiza- des. A vida de Joao Pernambuco nos da a do que e a felicidade das pessoas, que esta no fato de ob- servar que tudo que foi feito valeu a pena e a certeza de haver deixado tantas coisas uteis para tantos. En· fim quem nos da essa medida exata como prova de reconhecimento e o critico Andrade Murici: " ... Lwir do Sertao, letra de Catulo da Paixao Cearense, para a qual esse modesto Joao Pernambu- co COmpOS m(Isica destinada a viver enquanto houver vida num brasileiro". (Publicado na coluna Pelo Mundo da Mwica do lorna/ do Brasil de 13 de agosto de 1941 ). A vida de Joiio Pernambuco dti a n()fiio do que e a felicidade: a certeza de ter deixado tanta amizade para tantos. Na foto, Joiio Pernambuco estti assinalado por seta; a direita, sentado, Patricio Teixeira. s.d. 45 Violao: o instrumento F oi e tern sido ao vioHio que, durante seculos, os povos fizeram e fazem suas mais sinceras confidencias! 0 viollio (nome dado no Brasil a guitarra)   n ~ controu acolhida desde o periodo colonial, primeira- mente junto as camadas mais hurnildes da popula9ao. Instrumento sempre presente entre os seresteiros, si- nonimo de vagabundagem e desordem, quem dele fizesse uso teria as piores recomenda96es. A prova disso e que urn determinado preso perante urn juiz tinha a seguinte aprecia9ao: " ... e sirva-se V. Exa. de mandar examinar os dedos da sua (dele) mao esquerda que verificara aver- dade afirmada por esta policia, isto e, trata-se de urn serenatista inveterado a que se chama vulgarmente seresteiro". A principio, e apesar de tudo, o violao predomi- nava como acompanhador; depois somou-se a ele o cavaquinho, a flauta eo pandeiro. Segundo o historia- dor Vieira Fazenda "distinguiu-se a diferen9a entre serenata que era o cantar modinhas altas horas da noi- te, acompanhado de violao, e por outro !ado, a seresta que era mais ou menos o nosso choro atual, ou seja, o solo de urn instrumento, flauta, clarineta ou requinta, acompanhada de violao cavaquinho e pandeiro" (0 Violiio, Rio de Janeiro, n. 4, mar. 1929). Desta forma o violao foi cultivado durante mui- tos anos pelos mais humildes, embo.ra membros da eli- te admirassem sua suave e penetrante intimidade, pois nao era nada recomendavel tocar violao. Tanto que o primeiro representante das elites a realizar a fa9anha de apresenta-lo em publico foi o engenheiro Clementi- no Lisboa, que chegou a se apresentar no centro da elite musical da epoca, o Club Mozart, no Rio de Ja- neiro. Outras figuras proeminentes tentaram reerguer o violao, como o desembargador ltabaiana, o escritor Melo Morais e os professores Ernani Figueiredo e Al- fredo lmenes, que se dedicaram ao estudo e difundi- ram o violao. Nesta epoca aparecia o mestre Joaquim Santos, o nosso grande e querido Quincas Laranjeira que se dedicou e julgou necessario conhecer mais pro- fundamente os segredos musicais do mavioso e queri- do instrumento. Do querido mestre Quincas Laranjeira e a revis- ta 0 Violiio que nos da a exata no9ao de sua impor- tancia e contribui9ao: "Homem consciente, modesto e probo, fez dis- 46 ''Elle mesmo o mostra quando toea: arqueando o busto, estatico, olhos incendiados, como quem interroga sem attentar no instrumento''. so sacerd6cio, ministrando a seus discfpulos seus criteriosos ensinamentos, com aquela simplicidade que o tornou querido de toda a nossa sociedade. Po- de-se, por isso, dizer com justi9a que Quincas Laran- jeira e 0 avo do violao moderno. A ele se devem, mais do que a qualquer outro, os primeiros passos no estudo do violao". Depois de apresenta96es epis6dicas, o violao deixou de ser ouvido em publico durante Iongo perfo- do, quando entao, em 1917, em uma serie de concer- tos se imp5e pelo sublime violonista uruguaio Agustin Barrios, "urn visionario da harmonia". Seguindo-se a Barrios apresenta-se a diva do ins- trumento, a formidavel artista Josefina Robledo, que terminara no Brasil sua tournee pela America do Sui, tendo permanecido aqui por dois anos lecionando e fundando as bases da moderna escola de Tarrega. 0 sentimento da arte formara grandes violonis- tas, uns tocando por musica, outros de ouvido. Pode- se citar Jose Rebelo da Silva ou Ze Cavaquinho, assim denominado por ter sido exfmio estilista do cavaqui- nho, tornou-se por suas requintadas preocupa96es classicas do solo urn autentico esteta do violao; sua fllha Yvonne Rebelo, a "menina do violaozinho", precoce triunfadora do solo por sua expressional in- tui9ao estetica do violao; o grande cego iluminado Le- vino Albano da Concei9ao; o harmonioso violonista Patricio Teixeira, que a todos seduzia com suas ex- pressivas can96es e solos comovedores; o prodigioso Canhoto, Rogerio Pinheiro Guimaraes; o grande solis- ta Gustavo Ribeiro; Jose de Freitas que deslumbra com sua tecnica admiravel; e o poet a 'da viola, o Tom Mix do pinho, Joao Pernambuco, dono de urn grande cora9ao que exprime toda essa grandiosidade no ins- trumento e nas suas composi96es. Quem retratou muito bern sua import:incia para a musica popular brasileira e para o violao foi a revista 0 Violiio, em seu primeiro numero, na se9ao Galeria de Perfis, em dezembro de 1928: " ... Quem o vir ali pela Galeria Cruzeiro, de chapelao, despreocupado, julga-lo-a naturalmente urn Tunney em plagas brasileiras, urn campeao em ferias. Sim, campeao elle e, mas da viola, a cujas cordas elle da o melhor de sua sensibilidade de nortista. Sem errar, pode-se mesmo dizer que foi Joao Pernambuco o creador dos nossos adoraveis maxixes, tangos brasi- leiros, no violao. Ninguem como elle, sabe dar o cunho expressi- vamente regional de suas composi96es de emo9ao in- confundivel. Elle mesmo o mostra quando toea: ar- queando o busto, estatico, olhos incendiados, como quem interroga sem attentar no instrumento, parece que aquillo sae desordenadamente, como coisa ja concertada dentro de sua soberba imagina9ao". Esta afirma9ao se completa com as palavras de seu irmao Joca: "V arias vezes ele to cava o vi oHio s6 com a mao esquerda, quer dizer, tirava os sons s6 no bra9o do violao. Fazia aquilo com a maior naturalidade. Ele tocava qualquer coisa olhando para 0 ceu, para a pare- de, nem ligava para o bra9o do violao. Tinha uma de- dica9ao e qualidade que ate hoje ainda nao vi". · Sua rela9ao com o instrumento foi tao profun- da que nos da a impressao de que o mesmo era a ex- tensao de seu corpo e dele fazia uso como se fosse uma fun9ao natural como andar , respirar. Grande tambem era o respeito e preocupa9ao para com o uso do violao, tanto que Joao ficava bravo quando via al- guem tocando violao batendo nas cordas. Ele dizia que as cordas eram para serem tocadas uma a uma, Da esquerda para a direita, o segundo (sentado) e Joiio Pernambuco, com urn grupo de chor6es niio identificados. 0 instrumento ao centro e 0 oficlide, tipico, a epoca, dessas forma(:6es. Rio de Janeiro, 1914. quer dizer, tirar o som de cada uma delas. Esse co- nhecimento tecnico foi adquirido nas esquinas, nas ruas, nas feiras. Estas foram suas escolas. Posterior- mente foi seu grande amigo Quincas Laranjeira quem !he passou alguns conhecimentos de teoria musical, acrescida pela freqiiencia junto a seus companheiros. A importiincia de Joao Pernambuco para o ins- trumento e a musica se estende e se aprofunda, na medida em que passa a lecionar na loja Cavaquinho de Ouro junto com Quincas Laranjeira conforme anuncio da revista 0 Violtio de janeiro de 1929. Dela colhemos dados que nos revelam o quanto Joao Pernambuco era entusiasta do instrumento e da im- portiincia da continuidade de sua evolu9llo: "Quando ouve os novos, elle os enthusiasma com ares de mestre-escola: 'e isso mesmo, estuda me- nino', ainda mesmo que tenham a idade do Pequeno- te, o formidavel acompanhador dos seus choros, e justamente cognominado a   ~ via do Joao, o papel carbono do cavaquinho ... " A revista deixa assim sua homenagem ao gran- de rruigico da emo9llo. 47 r Joao Pernambuco: o poeta do violao T itulo que expressa parte da grandeza de Joao Pernambuco, grandeza que transcendia sua epoca e que sera sempre fonte inesgotavel para todo aquele que se interesse seriamente pela evo- luyao da nossa mU.Sica e da tecnica do violao. A arte do Poeta do Violao e natural, simples e espontanea e nela esta contida toda sua caracteristi- ca musical, tecnica de harmonizayao e violonistica. Porem, nao ha nisso uma forma acadernica, pois Joao Pernambuco nao teve escola tal como se conce- be em seu aspecto formal; contudo, seu trabalho foi tao importante que tornou-se por si mesmo uma es- cola. Por esta razao apresentamos este capitulo den- tro do   s p i ~ t o da obra de Joao Pernambuco, ou seja, de forma nao acadernica. Alem disso o carater atual de sua mU.Sica esta contido nos depoimentos de alguns mU.Sicos e instrumentistas que por si s6 rttanifestam a expressao viva de sua contemporaneidade, quer por estar interpretando hoje suas obras, quer por se consi- derarem por ele influenciados. 0 violonista solista Turibio Santos, que vern de- senvolvendo urn trabalho de ediyao aoompanhado de pesquisa fonognifica das obras de Joao Pernambuco, nos revela em entrevista concedida a 22 de julho de 1980, da qual participou tambem o violonista Joao Pedro Borges: "Pernambuco comeyou a me interessar desde que comecei a tocar violao, porque p repert6rio de to- do violonista brasileiro que se preza tern que ter Sons de carrilhoes. E Sons de carrilhoes, Jongo; mas era principalmente Sons de carrilhoes que eu ouvia sem- pre, eu acho que a isca da obra de Joao Pernambuco e Sons de carrilhoes. Alias, Sons de carrilhoes e o som do eixo do carro de boi e nao som de sino. 0 eixo do carro de boi em fricyao com a madeira e que da aque- le barulho, aquela coisa mon6tona que por exemplo aparece no ftlme Vidas secas, aquilo que e o som de carrilhao do choro de Joao Pernambuco". Com esta informayao podemos avaliar a sensibi- lidade de Joao Pernambuco que, por exercer a profis- sao de ferreiro, muitas vezes fez e consertou eixos de carro de boi, possibilitando-lhe o conhecimento da materia. Joao soube aliar a isso sua grande sensibili- dade musical, extraindo e transformando urn compo- nente de sua realidade em musica. 48 ''A caracterfstica principal da mUsica de Joiio Pernambuco eo ritmo. Como ritmo ele constr6i a harmonia e com a harmonia ele constr6i a melodia'' . Turibio retoma a palavra: "Entao eu comecei a me interessar por causa de dois choros e depois foram me dando outras fotoc6- pias de choros como Dengoso, por exemplo, ouvi a gravayao de Jacob do Bandolim de Grauna, e Jacob me falava sempre de Joao Pernambuco e eu comecei a colecionar isso. E atraves de arnigos como Herminia Bello de Carvalho, Jodacil Damaceno, Nicanor Teixei- ra, Joao Pedro Borges que trouxe do Maranhao o que ele tocava de ouvido, o professor tinha ensinado para ele o P6 de mico, ele foi se lembrando devagarinho e n6s escrevemos a mU.Sica. Outra pessoa que forneceu muito material foi Ronoel Simoes, de Sao Paulo. Ro- noel e uma pessoa que tern urna das maiores cole¢es do mundo de fitas gravadas de violao, inclusive tern muita documentayao fonografica sobre Joao Pernam- buco, que permitiu a Continentallanyar urn disco, me perrnitiu reconstituir muitas musicas de diversos artis- tas que ele me passou e eu pude preparar, corrigir os manuscritos. Depois outras informa¢es sobre Joao Pernambuco vieram atraves de Arminda Villa-Lobos que me contou que uma vez no fmal ja da vida de Per- nambuco, Villa-Lobos fez uma reuniao na qual Per- nambuco estava presente e tocou das nove horas da noite ate as tres da manha s6 musicas dele. Villa-Lo- bos queria escrever e Pernambuco se recusava por me- do que roubassem. Outro elemento que me impressio- nou muito tambem foi o fato de que, na Europa, ha anos circulava Sons de ca"ilhoes; do Jongo eu che- guei a ver c6pias manuscritas e fotoc6pias como sen- do ou autor anonimo brasileiro ou Choro nlJ 2 de Villa-Lobos, porque o Choro n9 1 tocava no mundo inteiro e o pessoal que ouvia achava que era o segun- do choro, de Villa-Lobos tambem. Eu acho que Joao Pernambuco tinha dentro de seu choro urn caniter meio nordestino. Diferenciava- se muito de Nazareth, pois este era muito carioca, cosmopolita como choro, enquanto Pernambuco era mais raiz, como urn diamente bruto, era a forya da natureza. Porem tern urn choro dele que e bern cario- ca, mas se voce pegar Dengoso, Jongo, eu ja ouyo muito nordestinamente, com uma caracteristica mui- to africana. A caracterfstica principal da mU.Sica de Joao Pernambuco e o ritmo. Com o ritmo ele constr6i a harmonia e com a harmonia ele constr6i a melodia. Por exemplo quando ele comeya o Jongo ele vern com a harmonia e dentro de uma sequencia de acordes aparece a melodia. 0 mesmo ocorre com Sons de car- rilhoes. Com o ritmo ele vai dentro da harmonia e extrai a melodia. Outra caracteristica e que OS choros de Joao nao sao muito melodiosos, por exemplo o Pixingui- nha fazia choros muito melodiosos, mas Joao nao, quer dizer, a caracteristica de Pernambuco a rigor nao e a melodia que e sempre decorrente do ritmo ou da harmonia. A tecnica de harmonizayao de Joao Pernambu- co, a rigor, e uma harmonia chissica tradicional, mas ele tinha urn elemento impressionante que apresen- tava no violao que era o cromatismo, que consiste em fazer uma posi'Yao, por exemplo, em mi com a ultima corda sem estar presa e a partir dai vai su- bindo ou descendo e neste mesmo acorde vai modu- lando e ao mesmo tempo fazendo o ritmo com a mao direita. Eu acho que e praticamente Joao quem fez isso, e eu nao vi isso nas musicas de Barrios, eu nao vi isso em nenhuma mUsica, isso foi realmente uma cria'Yao do Joao e do Villa-Lobos, quer dizer, mais do Joao do que do Villa-Lobos". Complementando o depoimento de Turibio, o violonista maranhense Joao Pedro Borges conclui: "No Nordeste a preocupa'Yiio dentro do estudo do violao e como estilo, na forma de se interpretar, preocupamo-nos tambem com a harmonia e a melo- dia, mas principalmente como estilo. Talvez seja uma heran'Ya da maneira nordestina de se tocar da qual Joao tern uma caracteristica muito forte". Outro que da sua contribui'Yiio para a analise da obra de Joao Pernambuco e o jovem violonista de 7 cordas Rafael Rabello que, com seus 17 anos, por si s6 expressa de forma concreta a influencia e o cara- ter atual da musica de Joao Pernambuco: "Conheci a obra de Joao Pernambuco ouvindo Dilermando Reis, e aos dez anos, quando conheci o Meira, perguntei-lhe se sabia tocar m6sicas de Joao Pernambuco. Ai ele me ensinou uma por'Yiio de mu- sicas de Joao e nunca mais eu vou deixar de aprender Joao Pernambuco. Para a pessoa que toea violao o que desperta para Joao Pernambuco e justamente a maneira como ele tira o efeito do instrumento, por exemplo, aquela entrada de Sons de ca"ilhoes e a coisa mais simples do mundo, mas ai e que esta a di- ficuldade, e tao simples que e muito dificil de se dar a interpreta'Yiio certa. A m6sica de Joao Pernambuco deveria ser mais divulgada e ter mais edi'Y6es, eu acre- dito que se os professores de violao passassem a seus alunos, o instrurnento ganharia muito, pois trata-se de uma escola de violao, uma tecnica muito brasileira de tocar, e de suma importancia. A mUsica de Joao Pernambuco nao morreu, nao pode morrer, quem quiser tocar choro no violao vai ter que tocar Joao Pernambuco, de uma maneira ou de outra vai passar por Joao Pernambuco. 0 choro geralmente tern muita semi-colcheia, mas nas m6sicas de Joao, alem das semi-colcheias tern 0 lado da can'Yiio, voce ve que urn choro de Joao Pernambuco chamado Dengoso tern uma terceira par- te induvisada, uma can'Yiio mesmo, uma toada, e tu- do nota branca; isto e urn caminho que na epoca nao se usava no violao e veio do Nordeste, isso nao era usado no choro, eu acho que esta foi uma contribui- yao de Joao Pernambuco. Agora, o grande merito de Joao esta na simplicidade, fazia bonito simples, que e a coisa mais dificil, complicar e facil, agora, fa- zer bonito como ele faz no instrumento, e dificil. Geralmente quando se faz musica no violao e dificil porque as pessoas querem fazer a m6sica na l6gica e ai torna-se dificil ficar simples porque fica muito vio- lonistico e Joao era muito violonistico, mas era sim- ples, podemos cantar a m6sica dele sem violao, pode- mos tocar Dengoso e Graima no bandolim. . Joao Pernambuco e urn enigma. Como p{)de ele fazer toda aquela obra, ter aquela consistencia har- monica que ele tinha, naquela epoca? Considerando a forma'Yao que ele tinha, que era de esquina, de rua, Joao prova aquela tese de que o autodidata vai mais Ionge. Joao Pernambuco era urna antena, ele captava tudo que podia ouvir, e aplicava tudo com a maior naturalidade. Joao tern certas delicadezas que para gente que estudou ou que estuda m6sica nao e na- da, pois pra gente ja tern muita coisa pronta para se estudar. Mas Joao Pernambuco naquela epoca usava efeito harmonico em trechos imensos de suas musicas. Suas musicas eram com construyao harmonica e solos todos feitos em harmonicos. Alem disso Joao tinha urn swing, urn efeito que ele tirava do violao que era s6 dele. 0 desenho ritmico que Joao Pernambuco da no violao e urn algo hibrido, ficaria entre Nordeste e Rio de Janeiro, ele juntou urn pouco do choro, do baiao e do samba que na epoca nao era bern defmido, no Jongo sente-se muito isso. Na musica Estou vo/tan- do, que e parceria de Joao com Donga e Pixinguinha, percebe-se dois caminhos diferentes porque o Donga e muito parecido com o Pixinguinha, apesar do Don- ga ser mais simples harmonica e   tern trechos na musica que voce sente serem muito Nor- deste, voce sente que e urn elemento que e do Joao mesmo. Ele tinha urn balan'YQ, urn tipo de swing, que era algo que estava alem de sua epoca, mas ao mesmo tempo estava pr6ximo dele por causa de suas raizes do Nordeste; ele criou espontaneamente, sem querer, 49 ! foi a soma de toda que ele tinha. Em su- ma, Jolio Pernambuco e soma de Nordeste, maxixe e choro, com influencia carioca, e isso faz com que haja urn caminho s6 dele. Jolio tinha uma muito forte, em ter- mos de contra-ponto; no Jongo, por exemplo, ele fez urn segundo viollio que e para tocar junto com o primeiro que e solo, que o Meira inclusive toea, e uma serie de contrapontos que enquanto o yiollio solo esta fazendo uma parte grave o outro esta no agudo e vice- versa, nunca fica na mesma tessitura, enquanto urn esta a tempo o outro esta a contratempo. . Jolio Petnambuco passou pela peneira do tem- po, que s6 passa e fica quem e verdade". A obra musical de Jolio Pernambuco para al- guns demorou a chegar mas para outros chegou cedo. Este e o caso de Jose Wilson Cirino, instrumentista, violonista, compositor, musico e arranjador cearense de Aracati que dep{)e sobre a importancia da obra de Pernambuco para o viollio e para a musica, em entre- vista realizada em 18 de agosto de 1980: "Travei meu primeiro contato com a obra de Jolio Pernambuco aos quatro anos de idade, quando entlio acompanhava meu pai em seroes realizados em minha casa la no Ceara, nos quais se tocava obras de Ernesto Nazareth, Luperce Miranda, Jacob do Banda- lim, Chiquinha Gonzaga e Jolio Pernambuco. A obra violonfstica e de de Jolio PernambuCo eu considero assim como urn pilar de compreenslio da m6sica instrumental brasileira. Pri- meiro e por causa da epoca em que Jolio tocava isso tudo, ele mostrava suas musicas, suas pr6prias com- como urn instrumentista de primeira linha, sem defeitos, quer dizer, era estilista, chega a ser es- tilista. Na parte instrumental Jolio realmente e urn achado dentro da musica, ele re(ine toda a que pegou de esquina, quer dizer, por onde ele pas- sou, e da urn tom, urn estado de espirito, muito pes- soal, a partir do momento em que a to car, compor para o instrumento e desenvolver esse traba- lho musical. Jolio tern uma tecnica muito dele, ele nlio estudou tecnica de viollio, assurniu tudo a partir de como ele viu e sentiu a e fez; quer dizer, esse· carater tecnico instrumental e puramente dele. Quanto ao aspecto de Jolio Pernambuco e urn compositor galgado dentro das muralhas brasi- leiras, frisando centralmente o Rio de Janeiro porque a brasilidade que eu vejo dentro da de Jolio me toea mu'ito Ernesto Nazareth, me toea Chi- quinha Gonzaga em parte. E como compositor de primeira linha desses que falei, Jolio esta tambem na primeira linha, tranqiiilamente. 50 : A trajet6ria de Jolio foi dificultada porque a musica instrumental nessa epoca, principalmente a do viollio, era marginalizada pela .Pr6pria sociedade. Hoje esta ai a obra de Joao, todo mundo reconhece quem e Jolio, quer dizer, a pessoa sensivel vai Ia e ouve, re- conhece e sabe que existe o valor dele, esta na hist6- ria. Quanto aos arranjos que tambem slio partes da na milsica, Jolio faz arranjos de violao para as melodias de viollio; a gente ve que ele acentua muito nos baixos em cima da melodia, ou seja, o bai- xo conti:aposto, que e uma linha de em que a melodia fica embaixo e sobre a melodia fica o baixo. E entao isso gera uma maneira de harmoniza- na epoca chamava-se acompanhamento, hoje chama-se harmonia. Jolio fazia arranjos para as mUsi- cas dele e muito bern feitos, ele interpretando e in- crivel, chega a ser uma coisa muito especial. Nlio que- ro falar de ningu¢m, mas, uma musica de Jolio Per- nambuco tocada por outro violonista nlio seria tlio bern tocada como por ele, porque alem do estilo dele ser muito pessoal, os outros instrumentos fogem mui- to dessa area de interpretar como o autor interpreta, que eu acho importante, o interprete deve criar o eli- rna do compositor primeiro e em seguida criar o seu, mas nlio pode fugir de como ela foi feita, desde a ao grafico. Jolio Pernambuco esta ai, quem tiver ouvido que nlio precisa explicar, ele tern todo urn Iugar merecido dentro da hist6ria da musica popular brasi- leira". · 0 VIOLAO P R 0 F E S S 0 R E S JOAQUlM DOS SANTOS Rm: S<JsdmNift, 47 CW HE lll'J.\11 _l"rliJ,rUay•na, l.l7 · T..!. Xr1rh: .t?'l1 Jane1r(J 1929 D E VIOLAC GUSTAVO RIB,.U<v   cham:ado$.i C.·\S.'\ C.-\\"ltQt:'IXHO DE Ot:RO t "nn • .Uallal'lll. 137 --<:>--- Tet 3291 jOAO TEIXEIRA GUJMARAES (RRlfAMBUCO) CASK CA VAQUINHO 01!: OURO • 137 Norte- 329 Pagina da revista 0 Violao, se{:iiO de anuncios de professores de violiio. Rio de Janeiro, 1929. 0 sonho: vila Viola 0 nome de Joao Pernambuco ja estava inscrito na hist6ria do violao e da musica mas agora, alem de tocar e compor, passava tam bern seus conhe- cimentos lecionando violao na casa Cavaquinho de Ouro ao !ado de Quincas I:.aranjeira. Nesta epoca Joao morava na pra-ra dos Governadores 9, ao !ado da Leiteria Royal onde trabalhava seu sobrinho Jandyr Teixeira Guimaraes e que tambem era oonto de en- contra de musicos. As dez horas saia aquele pao 'pro- ven-ra' quentinho que todos comiam com manteiga e uma media de cafe com Ieite. Era ai que Joao Per- nambuco, ao voltar do trabalho, parava para conver- sar ate a hora de dormir. Nos fins de semana eram freqi.ientes as suas idas a Teres6polis acompanhado de Catulo, Patricio Tei- xeira e outros. No trajeto, ao passar pela ponte de Sacre-Coeur, sempre comentava sua participa-rao na moiltagem da mesma junto com seus irmaos Jose, Pe- dro e Manuel. Muitas vezes, essas viagens nao eram s6 para descanso; vinha tam bern para apresentarroes com as quais pode juntar algum dinheiro e comprar urn pe- queno terreno. E dizia: "You fazer aqui neste terreno a Vila Viola, onde vou morar depois de me aposen- tar". Mas infelizmente Joao Pernambuco morreu sem realizar o sonho da Vila Viola. Jandyr Teixeira Guimaraes conta-nos: "As vezes iam muitos musicos Ia para nossa casa em Teres6polis passar o fim de semana. Ia Patricio Teixeira, Catulo, etc ... e as mo-ras ficavam em volta era do Patricio pais ele cantava aquelas musicas que eram uma beleza e Catulo s6 queria saber de poemas, entao ficava muito zangado porque ninguem !he dava aten-rao. Mas ele ficava mesmo era com inveja". Essas idas a Teres6polis eram muito freqi.ientes porque Joao e seus irmaos Pedro e Jose eram muito ligados, sendo por isso chamados de "os tres ap6sto- los". Dentre as musicas que compos existe uma valsa que foi inspirada e dedicada a sua sobrinha Cecy, filha de Jose. Na sua vida intima Joao Pernambuco sempre foi muito discreto e suas rela-roes com as mulheres nunca resurtaram em casamento pais achava que nao tinha condi-roes de constituir famflia. Mas coube a Augustinha, que morava na rua do Catete e que gosta- va muito dele a inten-rao da valsa Pensando em Augus- tinha. Esta foi a ultima musica que Joao compos an- lotio Pernambuco niio precisa ser comparado com este au aquele compositor erudito para que se tenha ideia de sua grandeza. tes de perder seus pertences, menos seu violao: certa vez, na pra-ra dos Governadores houve urn incendio na pensao em que morava. E Jandyr quem nos conta: "Uma ocasiao houve urn incendio na pensao da Pra-ra dos Governadores e foi uma correria danada. Tio Joao estava na rua quando viu o incendio correu, subiu as escadas que ja estavam pegando fogo e salvou seu violao". Trocar de moradia ja era natural, pois era co- mum que os donas de pens6es resolvessem estabelecer novas atividades ou mesmo vender. Este foi o caso da pensao da rua das Marrecas 18, onde Joao foi morar ap6s o incendio e que mais tarde transformou-se em drogaria. Neste local morou com Joao Pernambuco, por algum tempo, seu amigo Rogerio Guimaraes. Em 1925, Joao residia na rua Mem de Sa 83 e continuava a freqiientar os pontos dos choroes entre os quais o do Catete, o Botequim da Cancela, a vendi- nha do Iargo de Sao Francisco, onde recebiam convi- tes para participarem em festas de aniversario, batiza- dos ou festas tradicionais de Sao Joao e de Sao Pedro. Eram tambem comuns as pescarias, sendo que a mais comentada foi a da ilha de Marica em 9 de abril de 1925, da qual participou Patricio Teixeira e de que fi- cou urn registro fotografico em que exibiam o trofeu da pescaria, uma tartaruga. Intensa era a atividade de Joao Pernambuco. Vez por outra, pon!m, era impedido de participar em virtude de urn problema de pressao. Foi por esse motl- vo que, no dia 26 de maio de 1927, ficou impossibili- tado de participar da Noite do Violao organizada pelo proprietario da Casa Verdi, tradicional casa de instru- mentos musicais, localizada em Niter6i, na Rua Go- mes Machado 33. Sua ausencia foi lamentada pelo proprietario Eduardo Gomes em dedicat6ria registra- da na fotografia que documenta o evento: "Ao querido Pernambucg, como lembran-ra da "Noite do Violao" offerece Eduardo Gomes, lamen- tando que a sua pressao nos privasse de ve-lo no meio dos companheiros da saudosa noitada". Em mar-ro de 1929, a revista 0 Violiio em sua coluna Nova Era informa em artigo intitulado "Uma boa notfcia para os amantes da victrola" de que o violonista Rogerio Guimaraes fazia parte do grupo de artistas da Cia. Victor e ao mesmo tempo procura lembrar a esta mesma Cia. o nome de J oao Pernambuco. Na parte final, o artigo conclui: 51 " ... E assim, os que ate ha pouco passavam por meros parasitas d'ora avante ja estao sendo assediados por propostas de contrato, como sucede neste mo- menta a Pernambuco a quem a Casa Edison liga uma grande importancia ate obter a sua assinatura num papel pelo qual se obriga a tudo produzir para ella mediante a remunerayao de urn conto de reis por mez !". Se por urn !ado o processo comercial fonografi- co serve de difusao das -musicas e de registro da inter- pretayao, por outro !ado os contratos demonstravam elevado nfvel de espoliayao. Como se isso nao bastas- se, a partir do disco o processo de pilhagem que a arte erudita faz a musica popular torna-se mais facil e por conseguinte mais freqtiente e numeroso. 0 pianista, professor e compositor Brast1io ltibere, em cronica publicada no Correia da ManM de 22 de abril de 1961, transcreve urn item da en trevista concedida por ele a urn jovem, onde o professor afirmava ter apren- dido com Pixinguinha e Bach a tecnica do contrapon- to e polifonia; ao mesmo tempo revela: " ... Mas eu vou fazer-lhe uma confissao. S6 agora comeyo a perceber uma coisa calamitosa, o mal que tenho feito a musica popular brasileira, desven- dando 0 tesouro inesgotavel de sua beleza a voracida- de dos homens. Pois nao tenho duvidas, a arte erudita vive e nutre-se de pilhagens e se abastece e suga a sei- va do nosso populario. Vosmece e muito novo e ainda nao percebeu a grande vftima que e a arte popular. Os homens prestam-lhe homenagens ... para abafar-lhea carte ira". A situayao se agrava quando se procura avaliar nossos musicos e instrumentistas populares a partir de uma visao colonizada que consiste. em compara-Ios a medalhoes, quando nao a figuras estrangeiras ligadas ao erudito e ao classico como maneira de exprimir a grandeza do popular e do que e nacional. Este e o caso da afirmativa que dizem pertencer ao maestro Villa-Lobos e muito utilizada quando das poucas ve- zes que se fala no mestre Joao Pernambuco, e a de que "Bach nao se envergonharia de assinar os estudos de Joao Pernambuco". Primeiro que Joao Pernambuco foi grande e suas obras continuam sendo por tudo quanto nelas se expressa, assim como Bach tambem o foi. Os dois fo- ram grandes, mas cada urn a sua maneira. Joao Per- nambuco nao precisa ser comparado com este ou aquele compositor erudito para que se tenha ideia de sua grandeza. Passaram-se 26 anos desde a chegada de Joao Pernambuco ao Rio de Janeiro. Transcorria o anode 1930 e o mestre contava 47 anos de idade. Como de- 52 senvolvimento da industria fonografica e o crescente processo de comercializayao da musica, intensificara- se na decada de 1920 a importayao de generos e ritmos, acarretando mudanyas nos trabalhos de inu- meros musicos. Porem, Joao Pernambuco mantinha sua linha de brasilidade, tanto que e nesta epoca que compoe uma de suas mais lindas peyas sertanejas, cujo processo de criayao foi vivenciado por seu sobrinho, Jandyr Teixeira Guimaraes, que entao residia com ele, tempo em que era estudante e jogava no time de ama- dores do Vasco da Gama. Jandyr tra<;a-nos o roteiro: "Nessa epoca ele fez a Estrada do sertiio. Eu es- tava quase dormindo, mas ouvia aquele barulho de festa de interior, com bombas estourando, foguetes, o latido de urn cachorro, o padre tocando urn sininho e aquilo ia aumentando de intensidade - af eu me le- vantei e verifiquei que era tio Joao que estava fazendo tudo aquilo no violao, as escuras - de acordo com aquela procissao que vinha chegando na festa. Aquilo era Iindo. Depois chegava na festa, aquela confusao. Depois todos os sons iam diminuindo, o latido do ca- chorro ao Ionge, as vozes das pessoas se afastando, como sea festa estivesse acabando, daf a musica tam- bern vinha diminuindo de intensidade ate terminar". Esta peya embora tenha sido editada em parti- tura, evidente que sem toda .essa riqueza do arranjo instrumental, permanece inedita em gravayao. Embo- ra Joao nao escrevesse musica, ele regis!rava suas com- posiy6es de acordo com o que havia aprendido com seu grande amigo Quincas Laranjeira. Jandyr recor- da-se de que muitas vezes riscou papeis para seu tio, que, por economia, comprava papel almac;o no qual trayava as quatro linhas para escrever as notas musi- cais. Joao havia sido transferido para trabalhar no Pedagogium na rua do Passeio, onde trabalhava co- mo servente. Em 1934 passa a traball)ar na S.E.M.A. - Superintendencia de Educac;ao Musical e Art fs- tica - a convite de Villa-Lobos, tendo sido promovi- do a continuo, func;ao que exerceu ate o fim de sua vida. Houve tempo em que a preocupayao primeira e revelada de alguns admiradores de Joao Pernambuco foi quanto ao fato de sua profissao causar-lhe danos ffsicos. Na verdade a razao velada era a de nao seve- rem privados da arte que Joao expressava e deJa po- derem fazer uso e nao a de criar condic;oes para o seu desenvolvimento. Comportamento tfpico de represen- tantes da cultura central e que se agrava na propor- c;ao em que se passa da preocupac;ao meramente ffsi- ca para a castrayao de toda uma capacidade adquirida na pratica do instrumento desde o tempo em que este era cultivado apenas pelas camadas mais humildes da populayao. Mas agora o violao fazia parte dos instru- mentos cultivados pelas elites e como se quisessem apagar suas origens procuram tomar para si nao s6 o instrumento como tambem sua hist6ria. Cabe aos homens 'cultos' a formulayao da teoria do estudo do violao. Contudo, Joao nao atingiu a grandeza de Poeta do Violao pela teoria e sim "pela pnitica. E e a partir da pnitica do violao que nasce a teoria do viollio, da qual os homens 'cultos' tomam posse. Urn dos grandes meritos de Quincas Laranjeira foi o de devolver os conhecimentos sob forma de teo- ria do instrumento aos que por condiyao nao tinham acesso a esses mesmos conhecimentos. Joao Pernam- buco em 1928 lccionava junto com Quincas Laranjei- ra e outros no Cavaquinho de Ouro, sua contribuiyao ja se encontrava inscrita na hist6ria do violao, sua in- fluencia era viva. Tanto que Noel Rosa, entusiasmado com suas criayoes, compos sua primeira obra musical em versos, a embolada Minlia vida e Chuva de vento. tambem embolada, sua derradeira criayao; Villa-Lo- bos se baseou numa composiyao de Joao Pernambu- co para compor seu Choro n9 1. Complementando a importiincia de Joao Per- nambuco para a musica e o instrumento, mais uma vez o m usic61ogo Mozart de Araujo presta sua contri-   afirmando que: "Joao Pernambuco esta para o violao assim co- mo Ernesto Nazareth esta para o piano". E e a partir de tudo quanto foi exposto que tor- na-se inconcebivel que o·maestro Villa-Lobos convide o mestre J oao Pernambuco para exercer as de continuo dentro de urn 6rgao que tinha como objeto central a materia sobre a qual Joao Pernambuco tinha inteiro domfnio: a musica. Alem disso, o processo al- tamente rico e extremamente simples da formayao de Joao Pernambuco poderia ser utilizad:; como meio de se desenvolver uma educayao music.al e artfstica mais objetiva, abrangente e menos elitizada. _ Ora, se havia por parte de Villa-Lobos urn reco- nhecimento real do talento musical e instrumental de Joao Pernambuco, que para muitos se expressa na afirmativa de que "Bach nao se envergonharia de assi- nar seus estudos violon isticos", en tao esse reconheci- mento rui na medida em que se oferece funyao in- compativel com a afirmativa acima citada. Mas o aspecto mais nocivo e de ingratidao para com Joao Pernambuco e o de mante-lo trabalhando na portaria da Superintendencia de Educayao Musical e Art istica assist indo alunos e professores circularem com seus instrumentos e ouvindo-os, respirando assim toda uma atmosfera musical sem deJa participar. lsto equivale a colocar urn musico a trabalhar limpando instrumentos musicais ao inves de toea-los. Con[eitaria Royal. Jotfo Pernambuco a mesa com dois amigos, a hora do tradicional ptfo 'provenra' fresquinho acompanhado de media. Rio de Janeiro, s.d. 53 54 Casa Angrense, Rio de Janeiro, 1929. Joiio Pernambuco eo segundo de pe, da dire ita para a esquerda. Participantes da Noite do Violao, entre os quais Rogerio Guimaraes, Quincas Laranjeira e Catulo. Niterbi, 1927. Pescaria em Maricli, com a participaftlo de Joiio Pernambuco ao [undo, a esquerda. A [rente de Joiio, Patricio Teixeira. 1925. 55 a grande cicatriz N ao e por acaso que Jolro Pernambuco passa a tocar e a se apresentar cada vez menos em publico. De urn lado por ter sido alvo de ex·   de outro por nlro ter sido reconhecido com a mesma e respeito que sempre rnante· Ve em a musica e ao instrurnento e, SObretudo, aos musicos. Joao em tempo algurn se entregou; a unica for- ma de defesa de que dispunha ele a usou, passando a tocar somente em rodas de arnigos e familiares. Junto coin Luperce Miranda, Augusto Calheiros e Patricio Teixeira, ia freqiientemente a Slro Jolro de Meriti, en- tilo conhecido como Vila Meriti, na rua da Matriz 9, perto da   local onde residia o amigo da fami· lia, Valerio Villas-Boas, juiz de paz. Alem disso au. mentava suas idas a Teres6polis. 0 coraclfo daquele homem forte, aue tantos arnigos ftzera e tanta transrnitira, como que por ironia vinha lhe fazendo urna das ultimas ingrati- deies: pouco a pouco vinha minando sua saude. Em 19 de janeiro de 1947, Jolro abalara-se pro· fundamente com a morte de seu querido irmll'o e companheiro Jose Teixeira Guirnaraes. Joli'o Pernambuco ja nlro tocava mais violll'o e como prova definitiva de que era efetivamente musi- co, compOe sua ultima   desta vez sem usar o ins- trurnento, em fevereiro de 1947, ocasilro em que se comemorava o centenario de Castro Alves. Musicou urn de seus poemas que falava exatamente de   a do violeiro, obra que resultou inedita em e   pois encontra-se registrada em ma- nuscrito do qual transcrevemos o poema: "Passa o vento das campinas Leva o do tropeiro Meu esta deserto, Esta deserto o· mundo inteiro. Quem viu a minha senhora Dona do meu Chora, chora na viola Violeiro do Sertao." Ap6s esta ultima   Jolio encerra seu violao e seus manuscritos em uma mala, afirmando: "Essas aqui ninguem vai me roubar". Quem guardou esta mala foi seu irmlio Pedro. 56 Jodo Pernambuco morre com a mao direita em concha, na altura do abdomen, como se fosse fazer seu . ultimo acorde. Pouco tempo depois Jolio Pernambuco e inter- nado no Hospital da Veneravel Ordem Terceira de Nossa Senhora da da Boa Morte, por causa do mal que lhe afligia o A 16 de outubro de 194 7, ja marcado pelas ci- catrizes de toda uma vida dedicada ao trabalho, aos arnigos e a musica, Jolio deixa a unica e grande cica- triz no cora¢o do povo que gerou todo o seu talento, e que perde assim urn de seus mais dignos represen- tantes. Joao Pernambuco morre com a mao direita em concha, na altura do abdomen, como se fosse fazer seu Ultimo acorde, como tributo ao seu inseparavel violao. Assim seus familiares o mantiveram e o en- terraram no Cemiterio do Catumbi, quadra 13, sepul- tura 64, ocasiao em que estiveram presentes Donga e Pixinguinha, entre outros. Seu caixiio baixou sepultu- ra com todos os presentes cantando Luar do sertao como prova de reconhecimento de seus amigos ao seu verdadeiro autor. No dia 19 de outubro de 1947, o jornalDitirio de Notidas informa sobre a sessll'o do dia 18 na ca. mara Municipal: "Como ultimo orador do expediente, falou o sr. Ari Barroso sobre o compositor Joao Pernambuco, autor do "Luar do Sertao", ·recentemente falecido. Pelo lutuoso acontecimento o representante udenista propos urn voto de pesar que foi aprovado por unani- midade". Em agradecimento, o irmll'o de Joao Pernambu- co, Pedro Teixeira Guimaraes, envia carta ao vereador Ari Barroso, com data de 27 de outubro de 1947: "Exmo. Snr. Vereador Ary Barroso Como irmao do falecido Joao Teixeira Guima- raes, e em nome de toda a familia, venho agradecer a V.S. o voto de pesar que essa culta e digna Camara Municipal houve por bern aprovar unanimimente em sua sesslro de 18 do corrente. Essa homenagem se torna mais tocante e signi- ficativa, ao ser proposta por urn artista do valor de V.S., de cuja obra musical meu pranteado irrnlro era entusiasta. Queira aceitar, Snr. Ary Barroso, com a expres- slio de nosso reconhecimento e gratidlio, a oferta de nossa amisade. Rio, 27 de Outubro de 1947." No dia 18 do mesmo mes a Venenivel Ordem Terceira de Nossa Senhora da da Boa Mor- te manda rezar missa em memoria de Joao Pernam- buco. Dez anos depois, em 16 de outubro de 1957, a Brasileira de Violao presta-lhe homenagem p6stuma, mandando tambem rezar missa por sua al- ma, na qual estiveram presentes Samuel Babo, presi- dente da ABV e todos os membros da diretoria, Pixin- guinha, Donga, Nhozinho, Sylvio Salema, Hildebran- do, sobrinho de Jolio Pernambuco, Mauricio Nobrega, alem de amigos e admiradores. No dia 31. de outubro de 1957, a ABV prossegue suas homenagens realizan- do urn evento na ACM, apresentado em sua abertura por Almirante que fez uma retrospectiva da vida e da obra de Joao Pernambuco (ver Em 22 de maio de 1967, Joao Pernambuco pas- sa a ser nome de rua, segundo o decreto "E" n'? 1.527, publicado no Diario Oficia/ do dia 24 do mesmo mes, o qual reconhece tambem como logradouros publicos da cidade do Rio de Janeiro musicos como Americo Jacomino (Canhoto) e Custodio Mesquita, entre outros, no bairro de Bangu, na Vila Kennedy. Na verdade Joao Pernambuco ja merecia o du- plo reconhecimento: alem da dada a mu- sica e ao violao, havia construfdo muitas das ruas des- ta cidade. De Ia para eli, poucos foram os que fizeram tra- balhos no sentido de fazer reviver as obras de Joao Pernambuco. Dentre essas pessoas destaca-se Luis Fer- rete que, com a do professor Ronoel Si- moes, Miecio Caffe e Almirante, produziu em 1979 urn disco pela Continental, no qual sao reeditadas dez que J oao Pernambuco fez em 1929 na gra- vadora Columbia. Este disco levou o nome de 0 som e a musica de Joiio Pernambuco, onde alem das inter- do mestre, encontram-se duas outras daque- le que foi seu aluno e urn dos que mais trabalhou para a de sua obra: Dilermando Reis. E a seguinte a das obras constantes do LP: Recordando (choro ), Suspiro apaixonado (val- sa), Rosa carioca (fox-trot), Rebolir;o (choro ), Ma- goado (choro), Po de mico (choro), Sonho de magia (valsa), Sentindo (tango), Dengoso (choro), Sons de carrilhi5es (choro, interpretado por Dilermando Reis) e Interrogando (jongo, em duas versoes, a original de Joao Pernambuco e a de 1953, por Dilermando Reis). Mais recentemente, Turibio Santos gravou dois LPs com algumas musicas de Joao Pernambuco. No primeiro gravou Dengoso, Grauna, Sons de carrilhi5es, Interrogando e Po de mico, acompanhado do conjun- to Choros do Brasil, integrado por: Jonas (cavaqui- nho), Rafael Rabello (sete cordas), Joao Pedro Bor- ges (violao) e Chaplin (ritmo). No segundo, grava Valsa e Rebolir;o, acompanhado do mesmo conjunto com altera.yao apenas no ritmo, pois agora quem cui- da desta parte e Celso. Em seu ultimo LP, intitulado Nosso Baden, o violonista Baden Powell dedicou uma faixa a Joao Pernambuco gravando o jongo lnterrogando. Quem cuida atualmente dos direitos autorais de Joao Pernambuco e a Ricordi Brasileira, que aliado a isso vern tambem realizando as edicroes de suas parti- turas com revisao e de Turibio Santos e Henrique Pinto. No dia 16 de setembro de 1980, o duo de vio- loes formado por Nicanor Teixeira e Sergio de Pina inc1ui em sua no IBAM (Instituto Brasi- Jeiro de Administracrao Municipal) os tangos Lagrima e Sentindo eo choro Brasileirinho, de autoria de Joao Pernambuco. Finalmente, no dia 16 de outubro de 1980, o Clube do Samba depositou em seu tumulo uma coroa de flores com a de seu diretor cultural, An- tonio Carlos Athayde, alem de amigos e familiares. Nesta ocasiao, a exemplo do que ocorreu no dia de seu enterro, os presentes cantaram o Luar do sertao. Para se ter uma ideia da importancia do fa to basta di- zer que ha 23 anos nao se rendia este tipo de homena- gem ao Jolio Pernambuco. ,·".,',,'',,"'',',·,,',,' .. I",·', I   ... $W ..... • • • • • • • 57 58 Os irmtfos Joiio, Pedro e Jose erqm muito ligados, sendo par isso chamados de "os tres apostolos". Jotfo Pernambuco com os familiares Jose, Valerio e Jandir. Sao Joao de Meriti, 1944. I   ~ 9' 9'1'1_ Musa inspiradora que dti nome a uma das valsas de Jotfo Pernambuco, sua sobrinha Cecy. 59 Discografia e Musicografia A discografia e musicografia aqui publicadas foram organizadas com base em exaustivo levantamento feito pelo professor Ronoel Simoes, dono da maior   o l e ~ i f o de discos de violifo existente no mundo. Especialista de prestigio internacional, seu nome figura em varias obras publicadas no exterior, inclusive no Livro azul dos colecionadores de disco, editado nos Estados Unidos, e na obra Origen y historia de Ia guitarra, de Cedar Viglietti. Foi o criador da Academia de Violifo, de Sao Paulo, e membro honorario da Pefia Guitarristica, de Barcelona, e da Society of the Classic Guitar, de Nova York. De seu valioso acervo constam 3.526 discos de violao, 127 fitas de 1.800 pes, 622 cassetes, bern como 15 mil partituras de musicas para 0 instrumento, irnpressas e manuscritas, entre as quais algumas raridades, como os ineditos de Garoto. Ao professor Ronoel SimGes, os agradecimentos dos autores. • 61 0"> N REPERTORIO A.B.C. Ajoeia Chiquinha Amo de caboco Biro, Biro, Ytiyti Brasileirinho Catirina Choro em Re Como se dobra o sino erato Currupiiio da lagoa Cuzcuz de Sinha Chico Dengoso Dengoso Dengoso GENERO embolada embolada toada nortista coco pernambucano choro toada nortista choro toada do Rio Grande can"ao sertaneja - toada alagoana choro choro choro INTERPRETE ACOMPANHAMENTO Jararaca Joao Pernambuco e Sampaio Patricio Teixeira - Paraguassu Joao Pernambuco e Sampaio Stefana de Macedo Joao Pernambuco e Zezinho (violao) Nicanor Teixeira e Decio - Arapiraca Jararaca Joao Pernambuco e Zezinho (violao) Rene Bartoli - Stefana de Macedo Joao Pernambuco Patricio Teixeira - Januano de Oliveira Joao Pernambuco e Sampaio Bahiano - Nicanor Teixeira e Decio - Arapiraca Turlbio Santos Jon as (cavaquinho), Rafael (violao 7 cordas), J oiio Pedro (violao 6 cordas), Chaplin (ritmista) Joiio Pernambuco Zezinho (violiio) Discografia GRAVA<;AO OBSERV A<;OES GRAVADORA NOMERO LANC. Columbia 5173-B 1931 Ode on 123144 1926 Columbia 5193-B 1931 Columbia 5128-B 1931 - FJA-015 - Columbia 5172-B 1931 RCA LSB4032 1931 Inglaterra Columbia 5189-B 1931 Au tor: Stefana de Macedo Ode on 123145 1926 Columbia 5206-B - Letra: Junquilho Lourival Ode on 122103 - FJA-015 - Erato ERA·9155 1977 Columbia 5178-B - Matriz: 380577 0\ w REPERTORIO Den go so Eh! Juparanii As emboladas do Norte (Meu baiiio) Estrela d'alva Graima lnterrogando Interrogando lnterrogando lnterrogando Jnterrogando Interrogando lnterrogando Jnterrogando GENERO choro coco do Norte to ada baiiio choro jon go jongo jongo jongo jon go jongo jon go jon go INTf:RPRETE Turlbio Santos Elsie Houston Pcn!t Patricio Teixeira Stefana de Macedo Turlbio Santos Jean Pierre Jumez Dilermando Reis Dilermando Reis Turlbio Santos Joao Pernambuco Toquinho Bola Sete Baden Powell ACOMPANHAM.ENTO Jonas (cavaquinho), Rafael (violiio 7 cordas), Joiio Pedro (violiio 6 . cordas), Chaplin (ritrnista) Joiio Pernambuco, Hekel, Sampaio e Jararaca - Joiio Pernambuco, Zezinho (violiio) e Mae Maria Camunda (batuque) Jonas (cavaquinho), Rafael (viohlo 7 cordas), Joiio Pedro (violao 6 cordas) - - - Jonas (cavaquinho), Rafael (violiio 7 cordas), Joiio Pedro (violiio 6 cordas) Zezinho (violiio) - - - GRAVA(,;AO. OBSERVA(,;OES GRAY ADORA NUMERO LAN C. Tape car X-50 - Columbia 7053-B 1931 Arranjo: Elsie Houston Peret Ode on 10393 1929 Matriz: 2527 Columbia 515 7-B 1931 Erato ERA-9155 1977   r a n ~ a Festival FLD-679 -   r a n ~ a Con tin en tal 1-01-4-05- - 007 Con tin en tal 16803-A - Matriz: C-3077 Erato ERA-9155 1977   r a n ~ a Columbia 5177-B - Matriz: 380588 Art. Ed. 1069-40 1978 4-002 Takoma C-1049 1975 EVA WEA BR-30140 1980 $: REPERTORIO GENERO INTERPRETE ACOMPANHAMENTO       OBSERV GRAY ADORA NUMERO LANC. A inveja matou Cairn - - - Columbia 5206-B 1931 Letra: Junquilho Lourival Jandaia sertaneja Patricio Teixeira - Ode on 123162 1926 Ltigrima maxixe Joao Pernambuco Rogerio Guimaraes Ode on 123071 1926 (violao) Magoado choro Joao Pernambuco Zezinho (violao) Columbia 5175-B - Matriz: 380598 Magoado choro J oao Pernambuco Nelson (cavaquinho) Ode on 123164 1926 Maneca dos Geraes - Stefana de Macedo Joao Pernambuco Columbia 5189-B 1931 Letra: E. Tourinho Meu baiiio: ver As emboladas do Norte Meu noivado embolada Jararaca Joao Pernambuco e Columbia 5172-B 1931 Zezinho (vioHio) Mimosa maxixe Joao Pernambuco Rogerio Guimaraes Ode on 123070 1926 (violao) Na Gamboa samba Grupo D'Alegria Petit, Zezinho (violao), Columbia 5169 - Matriz: 380574 Sutte, Joao Pernambuco, Machado, Jararaca, Ga6 Peel of bells choro Edgard Zaldua - Amberlee ACL-501 1972 lnglaterra X-A Perigando embolada Jararaca Joao Pernambuco e Columbia 5173-B 1931 Sampaio P6 de mico choro Joao Pernambuco Zezinho (violao) Columbia 5174-B 1930 Matriz: 3805% P6 de mico choro Tur{bio Santos Jonas (cavaquinho), Erata ERA-9155 1977 Rafael (violao 7 cordas), Joao Pedro (violao 6 cordas) e Chaplin (ritmista) Preto no bronco toada Patricio Teixeira - Ode on 10393 1929 Matriz: 2528 Quando anoitece toada Paraguassu Grupo Verde Amarelo Columbia 5193-B 1931 0\ VI REPERTORIO   Recordando Ronca o bizouro na Fulo Rosa carioca Sacco e Bizacco Sentindo Seo Coitinho pegue o boi Siricoia Sodade cabocla Sonho de magia Sonido de carrillon Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de ca"ilhoes GENERO choro choro choro coco nortista foxtrote batepe tango embolada toada do Amazonas toada nortista valsa choro choro choro choro choro choro choro choro INTI!RPRETE ACOMPANHAMENTO Joao Pernambuco Zezinho (violao) Cor\iun to Charas do - Brasil Joao Pernambuco Zezinho (violao) Stefana de Macedo Gao, Petite Zezinho (violao) Joao Pernambuco Zezinho (violao) Jararaca Joao Pernambuco e Zezinho (violao) Joao Pernambuco Zezinho (violao) Patricio Teixeira - Stefana de Macedo Joao Pernambuco Stefana de Macedo Joao Pernambuco Joao Pernambuco Zezinho (violao) Oscar Aleman - Miguel Barbera - Miguel Barbera - Nicanor Teixeira e Decio - Arapiraca Yasuo Abe - Jorge Ariza - Octavia Bustos - Jose Vicente - GRAVA<;AO OBSERV A<;OES GRAVADORA NUMERO LANC. Columbia 5176-B - Ma triz: 3 806 00 Kuarup KLP-001 - Columbia 5177-B - Matriz: 380601 Columbia 514 7-B 1931 Columbia 5176-B - Matriz: 380599 Columbia 5171-B 1931 Au tor: Jararaca Columbia 5178-B - Matriz: 380576 Ode on 123163 1926 Columbia 5128-B 1931 Columbia 5147-B 1931 Letra: E. Tourinho Columbia 5175-B - Matriz: 380589 Redan del SL-10508 1972 Argentina Crown SW-2005 1%9 Japao Victor SJET-91 - Japao 5960 - FJA-015 - Toshiba TA-6024 - v.4, Japao Crown LW-5045 1%5 Japao Phillips 6414673 1975 Espanha Bernal BMLP-80 - v.1 000 0\ 0\ REPERT0RIO Sons de can ilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carri/hi5es Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes GENERO choro choro choro choro choro choro choro chore choro chore chore choro chore choro choro choro chore maxixe chore choro INTERPRET£ ACOMPANHAMENTO Henryk Alber e Januz - Strobel Bruno Battisti D'Amario - Jiri Jirmal - Dante Brenna - Jean Pierre Jumez - Jiro Matsuda - Carlos Padro - Paco Peiia Los Maracuchos Wiatcheslav Schirokov - Ivan Scott - Bola Sete - Alberto Ulian - Jose Rogerio Licks - Ramon Ybarra - Turlbio Santos Jonas (cavaquinho), Rafael (violao 7 cordas), Joao Pedro (violao 6 cordas) e Chaplin (ritmista) Joiio Pernambuco Nelson (cavaquinho) Mozart Bicalho - Benedito Chaves (Guru) - Jose da   - Carlos lafelice - GRAVAc;AO OBSERV Ac;OES - GRAVADORA NOMERO LANC. Nagrania SXL-0891 - Polonia Vedette VMC-3005 - I cilia Supraphon SUL-31456 - Tchecoslovaquia EMI 05733963 1977 L.M.C.E., USLM LPS-79001 - Columbia WS-3063 1966 Japao Parnaso PME-13050 1976 Argentina Fontana LPS-16267 1969 Inglaterra Melodia CM-037378 - Uniao Discourses DCM-1217 1974 Inglaterra Fantasy 3369 1965 EUA Rodnos 10433 - Uruguai Interecord INT-146000 1979 Alemanha Westminster WST-17152 - EUA Erato ERA-9155 1977 · Ode on 123165 1926 Be mol BMLP - 80024 Columbia 5036-B - Matriz: 380116 Cartaz IPC-512 - Beverly AMCLP- - 5149 0\ -...) REPERTORIO Sons de carri/hoes Sons de carrilhoes Sons de carri/hoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons de carrilhoes Sons des carrillons Sounds of bells Suspiro apaixonado Titi de Junqueiro Val sa Vance GENERO choro choro choro choro choro choro choro choro choro choro choro val sa samba valsa to ada INTI!RPRETE ACOMPANHAMENTO Sebastiao lldefonso Jose Vieira e Orlando Pereira Antonio Rago - Antonio Ramos - Dilermando Reis - Dilermando Reis - Dilermando Reis - Dilermando Reis - Joao Martins Ribeiro e - Jose Ribeiro Filho Felipe Sosa - Jean Pierre Jumez - Liona Boyd - Joao Pernambuco Zezinho (violao) Bahiano - Conjunto Choros do - Brasil Stefana de Macedo Joao Pernambuco e Zezinho (violao) GRAVA<;AO OBSERV A<;OES GRAVADORA NUMERO LAN C. Colibri LPC-6010 - Chantecler CMG-2515 1969 Inspirat,;ao C-1037 - Con tin en tal 16560-A - Matriz: C-2829 Con tin en tal LPP-25 - Ma triz diferen te da anterior Con tin en tal 101-405-005 - Matriz diferente das duas anteriores Con tin en tal LPP-3091 - Matriz diferente das tres an teriores Itamaraty D-7013 - RCA Victor BBL-1356 - Letra: Lilinha Fernandes Festival FLD-657 - Frant;:a London CS-7015 1974 EUA Columbia 5174-B 1930 Matriz: 380597 Ode on 122105 - Kuarup KLP-001 - Columbia 5127-B 1931 Letra: E. Tourinho Musicografia TITULO Gf:NERO EDITORA OBSERV Ac;OES Brasileirinho choro Ricordi Revisao e Tunbio Santos, 1978 Brejeiro ph oro Ricordi Revisao e Turibio Santos, 1978 Cecy va1sa Ricordi Revisao Henrique Pinto, 1978 Cecy valsa Bevillacqua Choro emRe choro Manuscrito Choro em Sol choro   por Edmar Fenlcio e Nelson Cruz; recolhida por Raul Barbosa; manuscrito Choron9I choro Ricordi Revisao e Turlbio Santos, 1978 Choro n9 2 choro Ricordi Revisao e Turlbio Santos, 1978 Dengoso choro Ricordi Revisao e Turlbio Santos, 1978 Estudo n9 I Bevilacqua Estudo n9 I Ricordi Revisao e Tun'bio Santos, 1978 GraUna choro Ricordi Revisao e Turlbio Santos, 1978 Gritos d'alma choro Em re menor, manuscrito lnte"ogando jongo Bevilacqua lnterrogando jongo Ricordi Revisao e Tun'bio Santos, 1978 Ltigrima tango Ricordi Revisao e Henrique Pinto, 1978 LQgrima tango Bevilacqua Ldgrima choro Ricordi Lam en to Manuscrito Mimoso choro Ricordi Revisao e Turlbio Santos, 197 8 Podemico choro Ricordi Revisao e Tur1oio Santos, 1978 68 TITULO GENERO EDITORA OBSERVA<;OES Rebolifo maxixe-choro Ricordi Revisao e Turlbio Santos, 1978 choro Bevilacqua Recordando minha te"a Manuscrito Rosa carioca foxtrote Ricordi   Roberto Paiva T. de Freitas, 1978 Sempre-viva Manuscrito Sentindo tango Ricordi Revisao e Henrique Pinto, 1978 Seu Coutinho pegue o boi do norte Ricordi Revisao e Henrique Pinto, 1978 (samba) Sonho de magia valsa Ricordi Revisiio e Turlbio Santos, 1978 Sons de carrilh6es (choro para Guitarra de Prata 3.ed., 1939 violao) maxixe Sons de carrilhoes choro Monabluc Sons de carrilhoes choro-maxixe Ricordi   Turlbio Santos, 1978 Sons de ca"ilhoes choro-maxixe Ricordi   Henrique Pinto, 1978 Sons de carrilhoes choro Berben (I talia)   Miguel Abl6niz Sons de ca"ilhoes choto Ed. russa Para dois violCies Sons de carrilh6es choro Arranjo de Milton d' Agostino para dois violoes; manuscrito Sons de carrilhoes choro   Dilermando Reis; manuscrito Sounds of bells maxixe Columbia Music Revisao e Sophocles Papas, 1968 Valsaem Ld valsa   Edmar Fen{cio e Nelson Cruz; recolhida por Raul Barbosa; manuscrito 69 , Indice Onomastico Albuquerque, Duarte Coelho 13 Almeida, Carlos de 42 Almirante, pseud. de Henrique Foreis Domingues 26, 38,39,41,42,44,57 Alves, Antonio de Castro 56 Alves, Nelson 26 Amaral, Augusto do: ver Araujo, Mozart de 41, 53 Arinos (de Melo Franco), Afonso 18, 26 Athayde, Antonio Carlos 57 Augustinha 5 1 Babo, Samuel 57 Bach, Johann Sebastian 52 Barrios, Agustin 27, 46, 49 Barroso, Ari 56 Beethoven, Ludwig van 42 Bem-Te-Vi 13 Bilhar, Satiro: ver Satiro Bilhar Bittencourt, Jacob Pick: ver Jacob do Bandolim Borboleta: ver Souza, Henrique Manuel de Borges, Jolio Pedro 48, 49, 57 Braga, Domingos Vieira 13 Brasilio Itibere: ver ltibere Cabral, Sergio 30 Cafre, Miecio 57 Calazans, Jose: ver Jararaca Calheiros, Augusto 33, 56 Canhoto: ver Jacomino, Americo Canhoto, pseud. de Rogerio Pinheiro Guimarlies 37, 46,51 Caninha, pseud. de Jose Luis de Moraes 21, 26, 37 Carneiro, Alcebiades 41 Carneiro, Paulo 21 Carvalho, Herminio Bello de 48 Cearense, Catulo da Paixlio 18, 31, 33, 37, 38, 39, 40, 41,42,44,51 Cego Sinfronio 13 Celso 57 Chaplin 57 Chico Dunga: ver Pixinguinha China; Otavio da Rocha Viana, dito 31, 33 Cirino, Jose Wilson SO Cirino da Guajurema 13, 26 Coelho Neto, Henrique Maximiliano 27, 30   Levino Albano 46 Conselheiro; Antonio Vicente Mendes Maciel, dito Antonio 15 Correia (Baima Filho, Manuel) Viriato 32 Cortes, Araci 33 Cortes, Zilda: ver Cortes, Araci Costa, Jaime 3 2 Costa, Manuel da 26 Couto, Helio Bastos 42 Cunha, Brasilio Ferreira da: ver ltibere Damaceno, J odacil 48 Deodato, Alberto 32 70 Didi: ver Guimarlies, Jandyr Teixeira Donga, pseud. de Ernesto Joaquim Maria dos Santos, 18, 26,30,49,56,57 Dutra, Alfredo 37 Edmundo (de Melo Pereira da Costa) Luis 16 Falclio das Queimadas 13 Fazenda, Vieira 46 Ferreira, (Jolio) Procopio 32 Ferrete, Luis 57 Figner, Fred 39, 40 Figueiredo, Antonio Pedro de 14 Figueiredo, Ernani 46 Florencio, Jayme: ver Meira Fonseca, Gondin da 39, 40, 41,44 Fragoso, Zeze 26 Francisca 30 Frankel, Isaac 26 Freitas, Jose de 46 Fr6es, Leopoldo 32 Ghritta 31 Gomes, Eduardo 51 Gonzaga, Chiquinha, pseud. de Francisca Edwiges da Lima Neves 16, SO Guimarlies, Armando Teixeira 31 Guimarlies, Cecy 1 7, 31 , 5 1 Guimarlies, Jandyr Teixeira 13, 18, 31, 40, 51,52 Guimaraes, Jose Martins de Moraes 37, 38, 39, 42,44 Guimaraes, Jose Teixeira 13, 15, 17, 21, 51, 56 Guimaraes, Manuel Teixeira 13 Guimaraes, Pedro Teixeira 40, 51, 56 Guimaraes, Rogerio Pinheiro: ver Canhoto Guinle, Arnaldo 30, 32, 33 Hildebrando 57 Imenes, Alfredo 46 Inacio da Catingueira 13, 26 Itibere; Brasilio Ferreira da Cunha, dito Brasilio 52 Jacob do Bandolim: pseud. de Jacob Pick Bittencourt 48,50 Jacomino, Americo 57 Jararaca, pseud. de Jose Calazans 33 Joana 30 Joca; Joao Elpidio Alves Mendes, dito 13, 21, 30, 31, 33,47 Jonas 57 Lacerda, Herminia Guedes 13 Laranjeira, Quincas; Joaquim Francisco dos Santos, dito 27, 37, 46, 51, 52,53 Lessa, Otavio 26 Lima, Jose Alves de 26, 30, 33 Lima, Zeca 26 Lisboa, Clementino 46 Luis Edmundo: ver Edmundo (de Melo Pereira da Costa) Luis · Lulu Cavaquinho 26 Machado, (Benedito) Pinheiro 21 Maciel, Djalma 42 Maciel, Antonio Vicente Mendes: ver Conselheiro Madapolao 13 Maia, Abigail 3 2 Mane do Riachao 13, 26 Mane Francisco 26 Mane Pequeno: ver Teixeira, Patricio Manuel Cabeceira 13 Marinho, Irineu 30 Maul, Carlos 37, 39, 42,44 Medeiros, Anacleto de 37 Meira;Jayme Florencio, dito 27, 33, 49, SO Mendes, Eugenio Alves 13 Mendes, Joao Elpidio Alves: ver Joca Mesquita, Custodio 57 Mesquita, Jose Correia 26 Miranda, Asdrubal 33 Miranda, Floresta de 30 Miranda, Luperce 33, SO, 56 Miranda, Romualdo 33 Mirandela: ver Varejao, Boabdil de Miranda Monteiro, Jose 33 Moraes, Jose Luis de: ver Caninha Morais, Melo 46 Mozart, Wolfgang Amadeus 42 Murici, (Jose Candido'de) Andrade 44 Nascimento, Irene 33 Nazareth, Ernesto 16, 48, SO, 53 Neves, Francisca Edwiges de Lima: ver Gonzaga, Chiquinha Nhozinho 57 Nobrega, Mauricio 57 Nola, Manuel da Costa 26 Nunes, Max 42 Oliveira, Alexandre de 21 OliveiTa, Artur de 33 Oliveira, Benjamin de 41 Oliveira, Bomfiglio de 26 Oliveira Filho, Americo 21 Ovalle, Jaime 20 Palha.yo: ver Oliveira, Benjamin de Palmieri, Jacob 26 Palmieri, Raul 26 Perrone, Luciano 41 Pina, Sergio de 57 Pino, Dias 33 Pinto, Henrique 57 Pinto, Osmundo 26 Pixinguinha, pseud. de Alfredo da Rocha Viana Junior 18,21,26,30,31,33,40,49,52,56,57 Powell (de Aquino), Baden 27,57 Rabello, Rafael 49, 57 Rangel, Severino: ver Ratinho Ratinho, pseud. de Severino Rangel 31 Reis, Dilermando 49, 57 Ribeiro, Gustavo 46 Ribeiro, Sylvio Salema 41, 42,57 Robledo, Josefma 46 Romano da Mae d'Agua 13 Rosa, Noel (de Medeiros) 53 Rossini, Giacchino Antonio 42 Salema, Sylvio: ver Ribeiro, Sylvio Salema Santos, Ernesto J oaquim Maria dos: ver Donga Santos, Joaquim 46 Santos, Joaquim Francisco dos:ver Laranjeira, Quincas Santos, Turibio 48-9, 57 Satiro Bilhar 18, 27, 37 Serrador 13 Silva, Jaime 33 Silva, Jose Rebelo da 41,46 Silva, Luis Pinto da 26, 33 Simoes, Ronoel48, 57 Souza, Henrique Manuel de 26 Tavares, Heckel 42 Teixeira, Maria 1 5, 17, 18 Teixeira, Nicanor 48, 57 Teixeira, Patricio 27, 33, 37, 40, 46, 51, 56 Teixeira, Patricio 21 Teixeira, Ugulino do: ver Ugulino do Teixeira Thomaz, Joao 33 Ugulino do Teixeira 13 Vampre, Dantos 32 Varejao, Boabdil de Miranda 41 Viana, Otavio da Rocha: ver China Viana Junior, Alfredo da Rocha: ver Pixinguinha Vidra.ya; Augusto do Amaral, dito 26 Vieira, Teresa 13 Villa-Lobos, Anhinda 48 Villa-Lobos, Heitor 37, 38, 39, 40,41-2,44, 48, 49, 52,53 Villas-Boas, Valerio 56 Ze Cavaquinho: ver Silva, Jose Rebelo da Ze Porteira 26 71 Bibliografia ALMIRANTE (Henrique Fon!is Domingues). Nos tempos de Noel Rosa. 2.ed. Rio de Janeiro, Francisco Alves, s.d. ANDRADE, Alvaro Cortez de. Hist6rico do Cavaqui- nho de Ouro eo ressurgimento do violiio. Rio de Janeiro, Oficinas Gnificas Heitor Ribeiro, 1928. ANTONIL, Andre Joao (Giovanni Antonio Andreo- ni). Cu/tura e opu/encia no Brasil. 2.ed. Sao Paulo, Companhia Editora Nacional, 1911. CABRAL, sergio. Pixinguinha, vida e obra. Rio de Ja- neiro, Udador, 1980. COST A, Francisco Augusto Pereira da. Anais pernam- bucanos. Recife, Arquivo PUblico Estadual, 1951. ENCICLOPEDIA DA MUSICA POPULAR BRASI- LEIRA - ERUDIT A, FOLCLORICA E POPU- LAR. sao Paulo, Arte Editora, 1977. FREYRE, Gilberta. Nordeste. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1961. MAUL, Carlos. A gloria escandalosa de Heitor Villa- Lobos. Rio de Janeiro, Livraria Imperio Edito- ra, 1960. MAURICIO, Ivan; CIRANO, Marcos; ALMEIDA, Ri- cardo de. Arte popular e ( o caso de Pernambuco - 1961/77). Recife, Alternativa, 1978. MELO NETO, Jose Antonio de. 0 Ditirio de Pernambuco e a hist6ria social do Nordeste (1840-1889). Rio de Janeiro, 0 Cruzeiro, 1976. NOSSO SECULO. Editora Abril, 1980.   PINTO, Alexandre Goncalves. 0 choro. Rio de Janei- ro, Funarte, 1978 (Coleyao MPB Reedi9oes, 1) fac-similar. SODRE, Nelson Werneck. Sfntese da hist6ria da cu/- tura brasileira. 2.ed. Rio de Janeiro, Brasileira, 1974. TINHORAO, Jose Ramos. Musica popular, um tema em debate. Rio de Janeiro, Saga, 1966. 0   Rio de Janeiro, n.l, dez. 1928; n.4, mar. 1929. 72 A NAR UN ART FUNARTE UNART NAR A p;;. "',· ; ;7 ' -· I . r r+£< . : . . . f , .• ----:-1 .i - . - )     ... ·= -+-:c joao pernambuco arte de II II 1111 I Ill 1111111111111 IIIII 1000116743654 R$20,00 Muslca www.sebosonline.com Documents Similar To João PernambucoSkip carouselcarousel previouscarousel nextÁLBUM DE PEÇAS DE DILERMANDO REISToquinhoTuribio Santos - Violão Amigo-Vol 2Violão - Turibio Santos - Violão Amigo - Volume 1Joao Pernambuco Obra Completa para violão.choros ao violãoO Violão de 7 Cordas - Luiz Otávio Braga5 Choros de Ernesto Nazareth Jose Barrense-diaJoão Pernambuco - 11 Choros Famosos.pdfALMA BRASILEIRA DE RADAMÉS GNATTALINOGUEIRA Paulinho - Tons e Semitons_10 Solo Guitar Works (Guitar - Chitarra)Américo Jacomino (Canhoto) - Abismo de Rosas e Grandes ObrasToquinho - CançõesDilermando Reis Album de PartiturasChoro III - Songbook[Método] Isaías Savio - Antología de Obras Para GuitarraSongbook Choro 2Estrutura Do Choro - Carlos AlmadaJacob Do BandolimOdeon - Ernesto Nazareth - Violão SoloCanhoto da Paraíba - tua imagemChoroBrasileiroJOBIM for Solo GuitarOdeon Arr Raphael RabelloCaderno de Choro Vol.2 - Indio Do Cavaquinho1Chôro nº 02 - João Pernambuco.Songbook Jacob Do Bandolim _ Vol IMarco Pereira - Songbook Valsas BrasileirasMore From Lucas Smaniotto NavasconiSkip carouselcarousel previouscarousel next20017515 Partitura Trem Do Pantanal Geraldo Rocca e Paulo Simoes Iso FicherAdoniran BarbosaHenrique Pinto Iniciacão Ao Violao Vol IAstor Piazzolla Adios Nonino 1Como Investir no Tesouro Direto - Quem Entende Investe.pdfSuper_Interessante_Nº_229.pdfCodigo Da AtraçãoEm Busca do Tesouro Direto - Miguel Longuini.pdfBitcoin A Moeda na Era Digital - Fernando Ulrich.pdfDominando Bitcoin.pdfVinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada - Pablo Neruda-www.LivrosGratis.net-.pdfAquarela Toquinho1854-4698-1-PBPerry SUVA 134a Propriedades Termodinâmicas57403385 as Mascaras Do AteismoEncontro entre Lógica e Músicafaep tecnicas examesOs Cientistas Brasileiros...faep tecnicas examesPsicologia Da TatuagemSongbook - Choro Brasileiro Vol.1SIU UnidadesPalmeirasflautadoce_monkemeyerFooter MenuBack To TopAboutAbout ScribdPressOur blogJoin our team!Contact UsJoin todayInvite FriendsGiftsLegalTermsPrivacyCopyrightSupportHelp / FAQAccessibilityPurchase helpAdChoicesPublishersSocial MediaCopyright © 2018 Scribd Inc. .Browse Books.Site Directory.Site Language: English中文EspañolالعربيةPortuguês日本語DeutschFrançaisTurkceРусский языкTiếng việtJęzyk polskiBahasa indonesiaSign up to vote on this titleUsefulNot usefulYou're Reading a Free PreviewDownloadClose DialogAre you sure?This action might not be possible to undo. 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