Jesus Desceu ao Inferno?I Pe 3.19 - Jesus desceu ao inferno? (Parte 1) / Daniel Grubba A Bíblia, como qualquer outro livro da antiguidade, contem algumas passagens que são de difícil interpretação. E mesmo com tanto progresso exegético e hermenêutico, ainda assim, em alguns casos específicos, a busca pelo real significado do texto é uma tarefa árdua. Todavia, a complexidade da tarefa não nos impede de tentarmos transpor estes abismos, seja ele cultural, histórico, religioso, teológico, filosófico ou lingüístico, uma vez que a teologia exegética tem desenvolvido, em contato com outros ramos do saber, algumas ferramentas fundamentais, que certamente nos ajudará a transpor os abismos. Dos muitos textos bíblicos que tiram o sono dos teólogos, existe um que simboliza toda esta questão. O texto é I Pedro. 3.17-20. Assim está registrado: Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal. Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas, isto é, oito almas se salvaram através da água. Destes três versículos, há um que chama atenção de qualquer leitor atencioso. No verso 19, o autor, está afirmando categoricamente que Jesus pregou aos espíritos em prisão. Mas que raio de espíritos são esses? Quando e onde exatamente Jesus pregou a estes espíritos? Porventura, são estes espíritos, espíritos dos mortos santos? Ou pecadores? Ou são espíritos malignos? Como vemos, muitas questões vem à tona, porque o texto não é claro em respondê-las. Mas este texto suscita uma outra outra pergunta, que pode ser considerada como a “pergunta que não quer calar”. Jesus desceu ao inferno para pregar aos espíritos? Obviamente, esta pergunta ainda tem destroncamentos. Existem outros textos bíblicos que apóiam esta Primeiramente. que tinham a lei escrita. desenvolvida por Agostinho (354-430 d. nada na passagem pode constituir-se matéria de fé ortodoxa” [1].P.C.). A primeira proposta que deve ser descarta como herética. J. tanto judeus. afinal. serve muito bem de alerta contra a tentação de apoiar uma doutrina em um versículo enigmático. foi elaborado pelo apóstolo Paulo em Rm. o arrependimento dos homens. A nona regra de Agostinho. preza que “se um significado de um texto é obscuro. que refuta esta idéia de que não houve oportunidades antes da morte.20. Um outro testemunho bíblico bastante incisivo. Moreland. Paulo enfatiza. conforme resumo de Ramm. declarando que Deus colocou sua lei moral na consciência de todos os homens. mas principalmente dos mórmons. Norman Geisler. sem qualquer chance de interpretação dúbia. ou que simplesmente não houve tempo suficiente para o indivíduo tomar uma decisão. afirma que é um grande erro “basear um ensino numa passagem obscura”[2]. de uma especulação sem nenhum fundamento. e isto quer dizer que ninguém pode alegar falta de tempo. filósofo e teólogo cristão.9 declara que Deus esta aguardando. Uma das regras da hermenêutica bíblica. um Deus realmente amoroso deve ser capaz de oferecer uma outra oportunidade as pessoas no sentido delas poderem mudar de decisão. é a idéia equivocada de que Jesus foi ao inferno para dar uma segunda oportunidade aos incrédulos que morreram em iniqüidade.15.26). esta idéia pressupõe que Deus não deu oportunidades as pessoas antes de elas morrerem. Esta regra é tão bem fundamentada que nunca foi descartada e ainda esta em voga.27.interpretação? Qual a razão de Jesus ter ido pregar aos espíritos no inferno? Este é o tipo de texto em que devemos tomar muito cuidado. ver também Lc. mas também amplia a idéia de Rm 1. que acreditam baseado neste versículo que as pessoas têm uma segunda chance de serem salvas após a morte.16. e isto se trata evidentemente.20 em Rm 2. Segue-se ainda o fato da bíblia. 1. renomado teólogo da atualidade. portanto todos são indesculpáveis. E para aumentar ainda mais a responsabilidade do homem em relação às imutáveis leis de Deus. Ele diz . justamente por causa da sua falta de clareza. quanto gentios. Este é o caso dos universalistas[3]. a bíblia não dá suporte a esta idéia. declarar “que aos homens está destinado morrer uma só vez e depois vem o juízo” (Hb 9. Em segundo. mediante sua longaminidade. que não a tinham. Mas alguém crê nisso realmente? Sim. reforça o testemunho bíblico acrescentando um argumento filosófico bastante interessante. que diz que a verdade de Deus esta claramente revelada através da obra de sua criação. O texto de II Pe 3. uma espécie de purgatório.19 . afirma que Jesus após sua morte. p. Myer Pearlman. p. Pearlman credita esta passagem como um cumprimento de profecias. Mas Jesus desceu ao inferno para fazer o que exatamente? Em primeiro lugar. levando-os consigo para o paraíso celestial. Em segundo. E se Cristo ofereceu uma segunda oportunidade de salvação.Isto fala de um publico bastante limitado (I Pe. Pearlman.Jesus desceu ao inferno? (Parte 2) / Daniel Grubba Segunda teoria: Libertar os santos piedosos do AT Para o teólogo escocês e judeu. Enigmas e contradições da Bíblia. 3.Citado por Henry Virkler em Hermenêutica Avançada. [6] .15). 45. Ainda no aspecto ético-filosófico. a passagem de I Pe 3.40.] da época de Noé. Lc 23. ..19 testifica que Jesus desceu ao inferno em algum momento entre sua morte e ressurreição. Abordamos a número 6 que diz: basear um ensino em uma passagem obscura. Jesus estava apenas cumprindo profecias do AT (Salmo 16. que declara de maneira muito clara que Jesus pregou aos “espíritos em prisão” que se rebelaram enquanto se preparava a arca.20) – rebeldes [. 492.Sistema teológico e filosófico que afirma (baseado mais na intuição humano do que na doutrina bíblica).43) para libertar os santos do Antigo Testamento.42. uma vez que estariam fazendo uma escolha prudente só para evitar o juízo[4]”.847852 [4] .. Em defesa da fé.Conforme argumentação de Wayne Grudem em Teologia Sistemática. 3.. isto seria tão coercitivo que não mais teriam a possibilidade da livre escolha e qualquer decisão que tomassem não seria uma livre escolha real e genuína. Wayne Grudem nos lembra que Pedro não diz que Jesus pregou aos espíritos em geral. p. [3] .Norman Geisler enumera em seu livro Manual Popular de Dúvidas. desceu ao coração da terra (Mt 12. p.10 e 49. mas só aos que “noutro tempo foram desobedientes [. p. [5] . Ele mesmo explica dizendo que “essa descrição parece indicar que houve uma mudança nesse mundo dos espíritos e que o lugar ocupado pelos justos que aguardam a ressurreição foi traslado para as regiões celestiais[1]”.que “se as pessoas vissem o trono do julgamento de Deus após a morte.Citado no livro de Lee Strobel. ou seja. Perceba que o texto não indicou o que vem a ser estes “espíritos em prisão”. Lista completa. I Pe 3. mas totalmente forçada. que todos os homens serão salvos. os principais erros de categoria cometidos pelos críticos da Bíblia.18-32. [2] . Portanto qualquer teoria que se baseie em I Ped. Mais detalhes em Enciclopédia de apologética (Norman Geisler).. Na pior das hipóteses o inferno que existe é apenas um período passageiro. porque só a esses pecadores da época de Noé e não a todos[6]? [1] .19 deve levar em alta consideração este contexto maior.256.] enquanto se prepara a arca[5]”. 12.20).30-31. Mas onde exatamente.De acordo com os partidários desta posição havia dois compartimentos no inferno.Wayne Grudem.11). os fieis iam para o inferno e que estavam presos por lá até Cristo chegar. 493. Em terceiro.23).1-8. Hb 11.6. 375. Em quarto.7. Bom.A implicação obvia de acordo com esta proposta de Pearlman é que “desde este acontecimento os espíritos dos justos sobem para o céu [2]”. o que nos leva desconsiderá-la como uma interpretação válida.23. mas só os que foram desobedientes “nos dias de Noé. porque seus pecados foram perdoados pela confiança no Messias que viria (Gn 5. mas os que “noutro tempo foram desobedientes” – a ênfase está na desobediência deles [4].(Abraão – Rm. pregado na Igreja Assembléia de Deus (dez/2004). 17. [1] . a conclusão lógica. encontramos na bíblia idéia de que os santos do AT foram para o inferno após a morte [3]? Vejamos algumas considerações: Em primeiro lugar. Moises – Lc. e a também a mais popular [6].11. não especifica crentes no Antigo Testamento em geral.Idem. [2] . De uma maneira bastante eloqüente e poética. – Myer Pearlman. p. Conhecendo as doutrina da Bíblia. uma vez que o lugar para onde Abraão foi é chamado por Jesus de reino dos céus (Mt. Sl 16. 2Sm 12. provavelmente não é uma descrição do inferno e sim do céu. uma para os salvos e outro para os perdidos. Hades. Lc 16. Teologia Sistemática.4. [4] . Ec. Até mesmo a morada dos santos mortos. [6] . Enoque e Elias ambos arrebatados para o céu). Rm 4. 8. [5] . A parábola do Rico e Lazaro fala que os dois morreram. um lugar de sofrimento e outro lugar de descanso.19-31 que fala sobre o local dos mortos (em hb.Myer Pearlman.De uma maneira curiosa Myer Pearlman confirma esta idéia. [3] . mostram muitos pontos fracos. o que obviamente contradiz o que ele quer comprovar. . 197. devemos lembrar que o contexto maior de Pedro. p.15. Mt 22. Esta proposta esta baseada principalmente em Lc.O pastor e apologista da doutrina pentecostal. o texto não diz que Cristo pregou aos que eram crentes ou fieis a Deus. O primeiro foi para o Inferno e o segundo para o Seio de Abraão. 16. mas estava situado nas regiões inferiores. 23. é que antes de Cristo. a Bíblia registra em muitas passagens que a alma dos santos do AT após morrerem vão diretamente para o céu [5].9. Sheol e gg. popularizou esta posição em sua pregação intitulada “A agonia da cruz”.32-32. p. 375.24. p.22. Myer Pearlman conclui a partir daí que havia duas divisões no Sheol. 16. não era o céu propriamente dito. se os espíritos dos santos do AT subiram para o céu a partir deste momento especial. Ainda que esta posição seja melhor que a primeira (segunda chance para os penitentes). o pregador leva o público a meditar no momento em que Cristo desceu ao inferno e quebrou as cadeias dos santos do AT que estavam aprisionados. estas considerações enumeradas acima. Myer afirma que “havia pessoas verdadeiramente justificadas antes da obra expiatória de Cristo” .5). Em segundo lugar. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Marco Feliciano. enquanto se preparava a arca (I Pe 3. o “seio de Abraão” (Lc. ambos vocábulos significam sepultura).23. considerado como “o pregador do povo”. mas apenas para proclamar uma mensagem de vitória aos poderes do maligno. Neste contexto a melhor tradução bíblica em português de I Pe 3. conforme são proclamadas no Evangelho [5]. a fim de proclamar Seu triunfo sobre os espíritos demoníacos que ali haviam sido acorrentados por Deus [2]”. A análise revela que Pedro usa propositalmente a expressão original grega kerussõ (khru. Para Norman Geisler e Ron Rhodes. inferno e Satanás. Esta expressão popular [7] está intimamente associada com a idéia da ida . que quase sempre é usado acerca das “boas novas” relativas ao Filho de Deus. em Estudos do Novo Testamento pela Manchester University) diz que “a pregação de Cristo aos espíritos em prisão mui provavelmente significa que Cristo desceu seu espírito ao hades. afirma que Jesus em virtude de sua morte. editor do Comentário Bíblico Pentecostal. que significa pregar ou evangelizar (no sentido de dar oportunidade de escolha). Esta teoria é tão popular quanto a anterior (libertar santos do AT).D. a diferença é que esta suposta viagem metafísica não foi planejada com a intenção de oferecer segunda chance aos penitentes. Gundry (Ph. é a de que Jesus. É muito comum ouvirmos em pregações. Esta posição está fundamentalmente baseada em uma análise léxicosintática de I Pe 3. Robert H. foi até os anjos aprisionados e anunciou sua vitória sobre a morte e as conseqüências de seu triunfo. Tomar as chaves da morte. Roger Stronstad. isto é de que julgamento já estava selado [3].zw).19 é a KJA [6] que diz: “no qual igualmente foi e proclamou aos espíritos em prisão”. ou em geral. E o que chama a atenção dos estudiosos desta sentença é o verbo pregar.I Pe 3. Este termo é diferente de outra expressão grega euangelizõ (euvaggeli. uma expressão que diz: “Satanás é tão pobre que nem a chave de sua casa (inferno) ele tem mais”.19 . tampouco libertar santos do AT. principalmente quando o tema é batalha espiritual.Jesus desceu ao inferno? (Parte 3) / Daniel Grubba Terceira teoria: Proclamar vitória aos poderes das trevas Uma terceira posição. devem ter sido anjos ao invés de seres humanos [1]”.sow) que significa: “ser arauto”. Porém. “proclamar” [4]. entre sua morte e ressurreição foi a inferno. Como já vimos este versículo diz que Cristo “foi e pregou aos espíritos em prisão” (NVI).19. os espíritos em prisão “eram seres não salvos. 16) e não demônios.19 não diz isto claramente. e precisou roubar as chaves das mãos de Satanás. mas algumas contradições irreparáveis as prejudicam. como acabamos de ver.. associa estas chaves como pertencentes a Satanás. Em nenhum momento Jesus diz foi ao inferno (ou até mesmo a bíblia). E mesmo que o texto indicasse que eram demônios.1 que (segundo se declara) abandonaram seu estado propriamente dito (espiritual) e se casaram com mulheres nos tempos de Noé [11] (Gn 6. E os versículos que tratam das chaves da morte e do inferno. ou anjos caídos. Wayne Grudem após analisar esta tese (proclamar vitória aos poderes das trevas) conclui: . Devemos mais uma vez rejeitar esta posição alegórica. não é às “boas novas” propriamente dita. pois o texto de I Pe 3.de Cristo ao inferno.2.6.6 e 2. mas o ato de Jesus proclamar Sua vitória aos espíritos dos anjos caídos [10]. E também em Ap. De fato. que os “espíritos em prisão que há muito desobedeceram [. absolutamente. uma vez que este ser angelical nunca as teve em suas mãos [9]. Com isso. 1.19. 16.] enquanto a arca era construída” (NVI) são os filhos de Deus de Gn.18. Sobre isto devemos dizer esta idéia está mais baseada em mitos da literatura apócrifa apocalíptica judaica [13] do que na Bíblia. Jesus diz que anjos não se casam. Muitos entendem que Jesus em sua rápida passagem pelo inferno proclamou a vitória da redenção. assim como em Jó 1. texto em que o próprio Jesus declara que as chaves da morte e do hades (NVI) pertencem a ele. nenhum. estas interpretações propostas são bem interessantes. pois em Mt 22.1-4). Portanto.14. “Somente o Senhor possui as chaves da morte e do inferno. eles querem dizer. a pregação aos espíritos. sugerem que Cristo foi proclamar vitória a estes anjos caídos da época de Noé [12]. e de quebra tomou das mãos de Satanás as chaves do inferno e da morte.20)? Não há nada disso na história a respeito da construção da arca em Gênesis [14]. que diz que a chaves do reino dos céus foi entregue por Jesus aos apóstolos.30. Um outro ponto fraco desta interpretação é que o contexto maior de I Pe 3 destaca pessoas hostis (I Pe 3. Declara-se que os “filhos de Deus” eram anjos caídos. exatamente de onde os leitores de Pedro encontrariam a idéia de que os anjos pecaram “enquanto se preparava a arca (I Pe 3.. Proclamar vitória aos anjos caídos Segundo os expoentes desta teoria. Ninguém mais!” [8] Esta soberania está explicita em textos como Mt. Lc 3. Jo 5.Wayne Grudem. 820-821.891.. 1718. p. [12] . [6] . tomaram para si mulheres” nos dias de Noach (Gênesis 6:2-4). já que Pedro não ensina isso de modo explicito.Norman Geisler e Ron Rhodes. I Sm 2.15).Outras explicações menos lendárias devem ser analisadas e preferidas.) que as filhas dos homens eram formosas. p.Roger Stronstad comentando I Pe 3. 1.É importante observar que o conceito de chaves em Ap. [15] [1] . [5] . p. [15] .103.) defende a idéia mostra como os anos caídos coabitaram com as filhas dos homens que geraram uma raça monstruosa de gigantes (I Enoque 7.1. Uma possibilidade válida é que “filhos de Deus” se refere a homens piedosos. Citação tirada pelos autores do livro de Heber Carlos de Campos.De acordo com o Dicionário VINE. Outros textos corroboram com intensidade este conceito (Dt. p. De fato é uma linda poesia inspirada. eles são “filhos de Deus ou filhos dos anjos). Abriu minas cadeias e me resgatou”. (David. Teologia Sistemática. [10] .O grupo musical de louvor. Teologia Sistemática. [8] .). (Ver também.Dicionário VINE. 32. Sl 73. [11] .Robert H. em Enciclopédia de temas bíblicos.5.1. Mais detalhes em Comentário Judaico do Novo Testamento. esses gigantes forma destruídos pelo Dilúvio. Diante do trono ajudou a popularizar esta posição através da música “A vitória da Cruz”. 620. Is 43. e “vendo (.Dicionário VINE. “Descenti ad Inferna”. 14. a 90 d.39. Gundry.É assim que interpreta o texto David H. uma analise histórica. 356). S. descendentes de Sete e “filhas dos homens” se refere a mulheres pecaminosas da linhagem ímpia de Caim. 493. Russel.1). mas seus epíritos foram deixados soltos como demônios para corromper todo gênero humano.2. IJo 3. Mais detalhes em Nota Textual de Gn 6. p.1. [2] . Panorama do Novo Testamento. p.1).38.15. também chamados nefilim (caídos). 891. Stern. p. 892. 411. bíblica e apologética para o contexto atual. [14] . da parte de um rei ou potentado.126-127. p.4-5.Franklin Ferreira & Alan Myatt. Resposta às seitas.C. A estrofe mais significativa para nosso trabalho diz: “O Leão de Judá pisou bem forte e os esmagou. 15.21). Gleason Archer. o céu para a terra.19 no Comentário Bíblico Pentecostal.C.O livro apócrifo de I Enoque ( datado de 165 a. p..Idem. [4] . [13] . Jesus realmente desceu ao inferno? . p. p. [3] .6. Ele diz que o verbo ekeryxen significa. Cl 2.18 está associado ao controle absoluto de Deus sobre a vida e sobre a morte. Isto é. Entre o AT e o NT.A nota textual de rodapé da KJA (King James Atualizada) explica que este tipo de pregação foi uma proclamação vitoriosa realizada por Jesus sobre o inimigo e toda a malignidade do universo (2 Pe 2. Segundos o relato (15. Ele diz: Os espíritos aprisionados são os anjos que pecaram (2 ped 2:4) e não mantiveram sua autoridade originaria (judas 6). [7] . 493. [9] . composta por Ana Paula Valadão Bessa e gravada ao vivo no Parque da Gameleira (BH) em Jul/2000. p. proclamar uma mensagem. que caíram de sua própria esfera. embora em contextos diferentes (Dt.86. 32.1).6. Tomou as chaves das mãos do diabo. Em outros contextos “filhos de Deus” muitas vezes se referem a seres humanos. p. 394. da Bíblia de Estudo NVI. resta-nos saber se é biblicamente correta.Os leitores de Pedro teriam de se submeter a um processo de raciocínio incrivelmente complicado para chegar a essa conclusão.15. p. duas interpretações diferentes. porem ambas as argumentações concordam que Jesus desceu ao inferno depois de morrer. foi crucificado. o qual foi concebido do Espírito Santo. Interpretação mais equilibrada Ao rejeitarmos as idéias apresentadas anteriormente. Mas de onde exatamente surgiu esta idéia? O Credo Apostólico A primeira ocorrência da expressão “desceu ao inferno” está no Credo Apostólico. Já que não é uma doutrina bíblica. padeceu sob Poncio Pilatos.C. que tem a expressão latina “descendit ad inferna” (desceu aos infernos/hades) e a outra se encontra no Credo de Atanásio. o único a incluí-la antes de 650 d. na comunhão dos santos. pois entendemos que ambas podem ser usadas como propostas válidas e mais confiáveis biblicamente falando. na verdade. nosso Senhor. somos forçados automaticamente a sugerir alguma outra interpretação mais coerente.. seu único filho.Colocamos em pauta as três principais soluções apresentadas pelos estudiosos para o problemático texto de I Pe 3. Creio no Espírito Santo. Amém.19. Wayne Grudem diz que “foi surpreendente descobrir que a frase desceu ao inferno não se encontrava em nenhuma das versões primitivas do credo até que ela apareceu um uma versão de Rufino em 390 d.C”. São propostas diferentes. porém com os mesmos critérios de avaliação. com a expressão latina “descendit ad inferos” (desceu às regiões inferiores). Mas há um problema que todas têm que enfrentar. Vamos propor. Interpretação reformada . Abordamos cada uma delas e verificamos as incoerências. E em Jesus Cristo. Criador do Céu e da Terra. na remissão dos pecados. desceu aos infernos. subiu aos céus. donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. o Pai onipotente. na santa igreja católica. nascei da Virgem Maria. mas que não são contraditórias entre si. o Pai onipotente. Heber Campos afirma que devemos rejeitar as várias idéias relacionadas como a “decida literal de Jesus ao hades”. no terceiro dia ressussitou dos mortos. este sentado a destra de Deus. morto e sepultado. É que a origem da frase “desceu ao inferno” não aparece em nenhum lugar da Bíblia. O texto final do Credo Apostólico faz uma bela declaração de fé: Creio em Deus. na ressurreição da carne e na vida eterna. Sobre o desenvolvimento histórico do Credo Apostólico. Por exemplo. mas experimentou intensivamente todas as coisas que o hades representa”. especialmente a experiência da ira divina contra o pecado.19-20 e remonta Agostinho que já dizia: a passagem não se refere a algo que Cristo fez entre sua morte e ressurreição. Ele diz: Jesus certamente suportou o sofrimento do inferno. pois o inferno é escuridão. mas dá ao texto I Pe 3. Heber Carlos de Campos. Segundo Wayne Grudem. e se foi assim. que ele suportou no lugar dos seres humanos”. é ser abandonado por Deus. Isto quer dizer que quando Noé estava construindo a arca. Não é tão mitologia quanto as anteriores (exceto a interpretação reformada). Erwin Lutzer corrobora com esta idéia. mas é digna de alta consideração. “em espírito” estava pregando por meio de Noé aos incrédulos hostis em torno dele. enquanto pendurado na cruz em meio às trevas (Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? (Mt 27. é desamparo.5. em I Pe 1. principalmente quando se analisa com profundidade o significado do brado de Cristo. seria somente salvação de corpos. mas ao que “fez no âmbito espiritual da existência” (ou pelo Espírito) nos dias de Noé. Interpretação analógica A explicação da interpretação tipológica não chega a contradizer a interpretação reformada. empregando o substantivo keryx que vem da mesma raiz do verbo pregar de I Pe 3. enquanto seu corpo estava ainda pendurado na cruz. Ele sustentou que “a descida ao hades foi a experiência das dores do inferno na alma de Jesus. Para Calvino.19. a alma de Cristo tinha de sentir todos os efeitos do juízo pois se alma dele não tivesse sido afetada pelo castigo. Esta interpretação está na verdade baseada na proposta do reformador de Genebra. Esta concepção. João Calvino (1509-1564). o horror do que ele experimentou está além de nossa compreensão.19-20 um enfoque diferente. ele diz que o “Espírito de Cristo” falava por intermédio dos profetas do Antigo Testamento.O entendimento dos teólogos reformados com respeito a eventual descida de Jesus ao hades é bem diferente da de muitos cristãos. Cristo. ele chama Noé de “pregador da justiça”. não se baseia em doutrinas humanas (Credo Apostólico) e tem apoio bíblico considerável. principalmente dos estudiosos citados neste trabalho. esta explicação é a mais satisfatória de I Pe 3.46). escritor reformado. todavia ambos concordam que Cristo não desceu ao inferno literalmente.11. não é tão popular. Tudo isso nos leva a concluir que Cristo “pregou aos espíritos em prisão” por intermédio de Noé nos dias . Em 2 Pe 2. conclui dizendo que “Jesus nunca desceu ao hades de literal e espacialmente. blogspot.anteriores ao dilúvio. Conclusão A pergunta que não quer calar agora pode ser respondida. Como afirma Wayne Grudem.10). 3. Jesus desceu ao inferno? A resposta é não. de acordo com o contexto maior de I Pe 1. aguardavam o iminente juízo de Deus (I Pe 4. Como responder a isto? As pessoas a quem Cristo pregou por meio de Noé eram incrédulos sobre a terra na época de Noé. 4..10). rodeados por incrédulos hostis. na maior parte dos casos. Verificamos que há muitos problemas em adotar esta concepção e o testemunho do restante da bíblia não o apóia definitivamente. quando ainda eram pessoas sobre a terra. 5.com/ . deviam pregar com ousadia (I Pe 3. Pedro parece fazer uma analogia interessante entre a situação de Noé e a situação de seus leitores. pois eruditos em grego. afirmam que a Bíblia nunca usa “espírito” em referencia aos humanos. Autor: Daniel Grubba Extraído na íntegra com autorização: Blog: Soli Deo Gloria http://dlgrubba. é no mínimo confusa e.15. 16-17. O confronto entre estas épocas distintas revela que ambos faziam parte de minoria justa. Neste contexto geral. Cristo pregou aos espíritos em prisão significa: cristo pregou as pessoas que são agora espírito em prisão.] Assim.13-22. mas Pedro os chama “espírito em prisão” porque estão agora na prisão no inferno (A NASB diz que Cristo pregou “aos espíritos agora em prisão) [.13-14.13. 4..14.11) e eram salvos ou seriam salvos (I Pe 3. Um outro conjunto de versículos em Pedro apóia está interpretação. enganosa para os cristãos de hoje. II Pe 3.5-7. Esta idéia levanta um problema.