PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃOCOORDENAÇÃO LOCAL DO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA Anexo I do Edital nº 05/2017 PROPOSTA DE TRABALHO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA NOME DA GRANDE ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS NOME DA ÁREA: FILOSOFIA NOME DA SUBÁREA: METAFÍSICA Título: alma e uno: ascensão neoplatônica Resumo: Como retornar ao criado? Se existem tantas formas, qual está correta? Certamente, a pesquisa tem como principal objetivo o embate filosófico entre os neoplatônicos Plotino e Jâmblico, tendo como ponto de partida a comparação de seus ensinamentos, divergentes, dentro do próprio neoplatonismo, principalmente expondo-os, tematicamente situados na ascensão da Alma ao Uno, a fonte e ao “criador” de tudo, e as formas que ambos utilizam para isso. Inevitavelmente, cada técnica é diferente, e contraditória uma a outra. Ambos atingiram inúmeros discípulos e defendem suas técnicas à ferro e fogo, levando-nos a indagar qual seria a correta. Assim, desconstruindo uma herança e a inspiração religiosa, prioritariamente católica, Jâmblico apresenta propostas de experiências místicas e religiosas, como forma inerente, independente e inseparável de ascender, mais além da própria filosofia, partindo da experiência direta e prática do Divino e do Uno, inspirado sempre no antigo culto Órfico, nos mistérios de Elêusis e prioritariamente à linhagem grega passada por Homero e Hesíodo. A Teurgia, isto é, a arte de trabalhar com as hierarquias transcendentais, vem como a mais alta Filosofia e expressão dos caracteres e símbolos da consciência e das hierarquias divinas, exprimida na criação neoplatônica. Palavras-Chave: Neoplatonismo, Metafísica, Jâmblico. Introdução: Tendo como “pano de fundo” o tema da ascensão no neoplatonismo, buscamos discorrer sobre as gritantes divergências entre dois grandes estudiosos de tal ramo filosófico: Plotino e Jâmblico. Na medida em que ambos expressam formas absolutamente divergentes de se elevar (elevar a alma humana ao princípio criador de tudo), Jâmblico torna-se defensor de artes e técnicas esquecidas pela história Grega; por outro lado, Plotino busca ser “puritano”, preservando a essencialidade de uma filosofia tendentemente racional. Se existe mais de uma forma de retornar ao criador, qual está correta? Qual funcionará? Seria possível tais artes esquecidas, ou são meramente frutos de crenças insólitas? Como se dá esse retorno e como fazê- lo? A relevância desta indagação dá-se na medida em que, categoricamente, uma técnica anula a outra, e logicamente, só existe espaço para funcionar, até porque, existiram inúmeros conflitos entre ambos os filósofos citados. Abordando o tema pioneiramente de Platão (427 – 327) sobre o retorno, ou seja, da alma à “fonte”, cabe dizer que o problema, por mais antigo que seja, ainda é significativamente atual. Plotino (205 – 270), em sua obra Enéadas apresenta sua expansão dos ensinamentos passados por seu mestre, Amônio Sacas (174 – 240), acerca do platonismo, o que dera origem, portanto, ao chamado Neoplatonismo. Parte da metafísica está relacionada à teoria das formas em Platão. No entanto, a ideia concebida que diferencia Plotino de seu mestre filosófico é do “Uno” que vai além do “Nous”. O Uno é a força suprema criadora, o “um”, de onde tudo verte e começa, sendo assim uma forma perene (estável), eterna (duradoura, além do tempo) e imutável (não sofre alterações, sempre é e sempre será como foi concebida). "É em virtude do Uno [unidade] que todas as coisas são coisas", escreve Plotino (2007). O Uno é o que se situa acima do Nous que constituiria a inteligência, a modelação, o espírito. O Uno é similar à ideia do Demiurgo, o artesão divino, pois é aquele que molda o mundo e a tudo criado. Onde Nous se encontra, também se encontram os arquétipos das formas platônicas, porém, ainda impalpáveis, pois ainda é um mundo imaterial. Por fim, abaixo destes dois patamares, existiria a criação como um todo, e o mundo emanado d’ela, que é constituído de todas as formas, em graus de sutilezas, com o arquétipo já manifestado nas coisas. A Alma como terceira a hipóstase, ou seja, teoria sobre a natureza e realidade de “algo”, seria o atributo interior do homem, concernente ao seu Ser. E torna-se importante ter isto em mente, já que ela é exposta como aquilo que permite a ligação trina de corpo, alma e espírito, servindo assim, de elo entre o corpo e o espírito (caminho para Ascensão). Esta ampliação dos ensinamentos feitas por Plotino agrega ao problema que este projeto de pesquisa busca explanar: Como é possível o “criado” retornar à “criação”? Inevitavelmente, esta é a pergunta chave para toda Filosofia com uma perspectiva mais espiritual (na medida que aborda coisas transcendentes à matéria), pois, a ascensão (retorno) se dá na medida que um indivíduo percebe a si mesmo “caído” (como mostra Platão no diálogo “Fédon”), longe da unidade total primordial. Plotino explana em suas hipóstases e apresenta um “mapa” metafísico de tal retorno, ao Uno. A “conversão” é o caminho que um sujeito faz (pois se trata da parte mais distante do Uno) até tal fonte primária; no entanto, este processo não se dá de forma natural, ou simplesmente, mecânica. Logo, a ascensão pressupõe, antes de tudo, iniciativa individual da Alma humana, atada ao corpo, que deve ser feita de forma “revolucionaria”. Partindo do impulso individual, unicamente querendo retornar, a Alma não o faz, até porque, não são todos que se dão conta disso: então entra em ação a necessidade de ferramentas para tal conversão. Se A Ascensão é possível, como fazê-la? Que método usar para o retorno ao Uno? Algo assim, que rompe paradigmas naturais, mecânicos, exige ferramentas que não são comuns e principalmente, que partem de princípios que revolucionem as experiências místicas (transcendentais), impulsionando à Alma ao todo. Desta forma, a empreitada busca evidenciar as formas e ferramentas do Ascenso. No entanto, o Neoplatonismo não é exclusivo de Plotino. Jâmblico, ou Jâmblico de Cálcis (região da antiga Síria), foi um filósofo neoplatônico tardio (245 – 325) que buscou revolucionar os métodos acerca da Ascensão ao Uno. Divergia, em pontos importantes, da filosofia “plotiniana”, pois, prioritariamente, para Plotino parte dos métodos, e também os principais, se dão na Τέχνή (Arte) Filosófica. No entanto, o embate introduz-se quando Jâmblico nega categoricamente a capacidade da Filosofia Clássica chegar, isoladamente (não excluí sua necessidade) à divindade, e por isso, introduzi uma nova Τέχνή. (REALE, 2008). Tal arte é chamada de Θεουργική Τέχνή (Arte Teúrgica), ou simplesmente, Teurgia . Esta arte vem como algo prático, isto é, uma filosofia que busca, em atos, a interligação ao divino e experiências místico-filosóficas, na medida que os símbolos e caracteres afetam a consciência nossa e dos seres divinos, assim, auxiliando ao filósofo. A Teurgia participa do círculo chamado Íεpατιχή, Arte Sacerdotal, praticada por Jâmblico (influenciado pelos caldeus), que era comum na “Idade de Ouro” pagã, expressa nos contos de Homero e Hesíodo, mas também, nos mistérios mais antigos, das religiões Órficas Helênicas, nos mistérios de Elêusis, na filosofia de Pitágoras e levemente em Platão e Sócrates. Jâmblico defende a Teurgia pois encontra problemas nas ferramentas de Plotino para entregar sua Alma ao Uno, já que insere a indagação de que “Como um ser ‘caído’ pode levantar-se a si mesmo, se em si, encontra-se no chão? ” Isto é, indaga-se acerca da verdadeira capacidade de Ascenso sem o auxílio de alguém que já o fez, das hierarquias divinas (Deuses inteligíveis). Assim nos mostra Jâmblico (1997) “[...] a ascensão de todos os seres até o Uno, a supremacia por inteiro do Uno leva a cabo a comunhão do deuses do mundo com os que preexistem no inteligível”. Desta forma, a Teurgia, palavra derivante de θεός (Theos – Deus) e όργια (orgia – brasa [análogo à palavra trabalho, assim como no caso de ‘metalurgia’]) é uma Τέχνή, arte ou técnica, nada nova. Como citado anteriormente, as origens de Jâmblico revelam sua ligação os antigos mistérios predominantemente Gregos, e em realidade, ele reaviva tal arte mesclando-a com a filosofia. Plotino admite que a Teurgia e os atos místicos são necessários em certa medida para se alcançar o Uno, num conceito chamado de “contemplação”, ou seja, o vislumbre do Uno unicamente, e momentaneamente, através do êxtase meditativo, no entanto, tal evento meditativo difere da Teurgia, e por fim, o filósofo não a coloca como prioridade, em vista de uma herança filosófica clássica. Isto se dá na medida em que a Teurgia, enquanto arte excelsa e ritualística, que engloba aspectos transcendentes (ao que, se observada no mundo sensível, pareceria sem sentido), busca evocar forças espirituais (disso que vem a explicação literal da palavra, pois é o “trabalho com Deuses”) visando, assim, obter auxílio dos Deuses, por excelência, em contato com o Uno. Tal apoio levaria o buscador a experimentar e degustar a divindade, e reavivando dentro de si mesmo esses valores, aspectos e símbolos que são as ideias, contidas no Nous, e por fim, inevitavelmente, levar-nos-ia ao retorno: ao Uno. Por isso, agregado aos chamados Γνωστικός, gnósticos, praticantes do cristianismo primitivo, a Arte Sacerdotal e sua ferramenta, Teurgia, eram capazes de levar, alinhadas à filosofia, o estudante ao retorno à “fonte”, por assim dizer. Mas: como seria possível a Ascensão por meio da Teurgia? Seria capaz, em fatos, de o fazer? A pesquisa visa explanar a Ascensão da Alma ao Uno, mas também, analisar ambos os métodos (de Plotino e Jâmblico), seus problemas e suas indagações, seus conflitos e divergências, pois neste ponto, tais filósofos se separam por um “precipício”. Objetivos: 1. Abordar entre as diversas correntes neoplatônicas, as diferenças retratadas entre as ideologias de Plotino e Jâmblico; 2. Tratar do processo de Ascenção ao Uno, na medida que aborda fenômenos místico-filosóficos e experiências transcendentais como forma de atingir um estado propício ao retorno; 3. Exprimir as divergências entre a Ascensão de Plotino, frente à Teurgia (Θεουργική Τέχνή, Arte Teúrgica), inerente à Ascensão, encontrada em Jâmblico através da Íεpατιχή, Arte Sacerdotal. Material e Métodos: No que diz respeito à produção Filosófica, o epicentro do trabalho se concentra na leitura, e posteriormente, à produção escrita das obras interligadas ao tema (Neoplatonismo), abordadas na “introdução” e nos “objetivos”, seguindo a bibliografia das “referências, alinhando-se às obras diretas de Plotino e Jâmblico. No entanto, inclui-se também a apresentação em eventos de cunho científico-filosófico, abertas à análise e discussão dos resultados obtidos e do material produzido. Referências: Reale, Giovanni (2008). História da Filosofia grega e romana VIII. São Paulo: Edições Loyola. Jâmblico (1997). Sobre los Misterios Egipcios. Madri: Editorial Gredos. Plotino (2007). Tratados das Enéadas. São Paulo: Polar Editorial. Cronograma de Atividades: citar as atividades e os meses correspondentes ao seu desenvolvimento de acordo com o período da vigência da bolsa. Atividades ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul Pesquisa x x x x x x x x x x x x Produção/Escrita x x x x x x x x x x x x Apresentação/Evento x x Relatório x x