Introducao a Filosofia - Aprendendo a Pensar - CAP1

March 27, 2018 | Author: Nélio Augusto Fernandes | Category: Reality, Knowledge, Metaphysics, Epistemology, Truth


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CIPRIANO C.LUCKESI ELIZETE S. PASSOS Dados Internacionais de Cataloga,?ao na Publica,?ao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Luckesi, Cipriano Carlos Introdugao a filosofia : aprendendo a pensar / Cipriano Carlos Luckesi. Elizete Silva Passos. - 4. ed. - Sao Paulo: Cortez, 2002. Bibliografia ISBN 85-249-0559-X 1. Filosofia. 2. FiIosofia - Introdugoes. I. Passos, Elizete Silva. II. Tftulo. iii INTRODU~AO aFILOSOFIA aprendendo a pensar Indices para catalogo sistematico: 1. Filosofia: Introdugao 101 ~C.ORTEZ \5EDITOR~ quase nunca. por isso nao 0 problematizamos. exce<. das rela<. discutimos. juventude. por isso. pelo seu processo.:ao. vamos adquirindo entendimentos das coisas que comp6em 0 mundo que nos cerca. adolescencia. 0 conhecimento parece ser alguma coisa tao corriqueira que nos nao nos perguntamos pelo que ele e. Contudo. das normas morais e sociais que regem as rela<. ao longo de nossa infancia. origem. conversamos. Nos. de forma alguma.:6escom as pessoas. nos perguntamos sobre 0 que e 0 conhecimento. Aqui. seu significado. a partir do momenta em que fomos adquirindo-os espontaneamente. adentrar no seio da reflexao filos6fica. bem cabem tais perguntas. pela sua origem.CAPITULO I o conhecimento: significado.Aos poucos. Habituamo-nos a utilizar 0 entendimento. Com eles e a partir deles.ao No cotidiano. . pela sua forma de apropria<. temos certezas e duvidas. formulamos juizos. processo e apropria<. Nao podemos. nos acostumamos a esses entendimentos. que e uma reflexao critica. ao introduzirmo-nos no ambito da filosofia como uma forma de conhecimento.:aofeita aos especialistas.:6esentre os seres humanos. Ha que se buscar uma resposta que esclare<. 1984. proposta metodol6gica.ativo "e" e pelo verbo "lucere". como veremos a frente. ate chegar a questao de sua apropria<.sem nos questionarmos sobre esses elementos. essa resposta nao esta de todo inadequada. certamente. Come<. ouvimos dizer que 0 conhecimento e a elucidm:. E 0 meio pelo qual se descobre a essencia das coisas que se manifesta por meio de suas aparencias. significa "trazer a luz muito fortemente". por meio de suas manifesta<.6es. tern a ver com inteligibilidade. temos de dar aten<. adquirimos conhecimentos com nossos professores e nos livros que lemos e estudamos. entendido como elucidar a realidade. ou entao: "conhecimento e aquilo que aprendemos com nossos professores. pois. A palavra elucidar tern sua origem no latim. Vamos fazer algumas explicita<. que ilumina e clareia os contornos externos dos objetos.ao parece ser correta. 0 conhecimento. conhecer. transparente.ao ao segundo aspecto e nao ao primeiro. quer dizer uma forma de "iluminar". 0 seu desvelamento (desvelar / des-velar = tirar 0 veu). a elucidar.ao. 0 ato de co1. que e significativa para a compreensao da afirmativa feita. que luz e essa? Com certeza. podemos nos ater ao sentido etimol6gico da palavra "elucida<.iio seria a sua ilumina<.6es aparentes. Cortez. Deste modo.1 Essa afirma<. Mas. manifestar-se-ia como misteriosa. E este 0 objetivo deste texto. d. Por vezes. elucidar. ainda que de forma sintetica. a primeira resposta que normalmente recebemos e a seguinte: "conhecimento e aqui10 que aprendemos nos livros". saber consciente e criticamente 0 que ele e. de "trazer a luz" a realidade. enquanto a realidade. Ela e composta pelo prefixo refor<. por seu processo. o que e nao onde adquirimos 0 conhecimento. a sua compreensao. em primeiro lugar. De fato. oferecendo resistencias ao seu desvendamento (desvendar / des-vendar = tirar a venda) por parte do ser humano. mas nao informa sobre 0 que conhecimento. expressa 0 sentido correto do conhecimento. Fazer Universidade: Sao Paulo. que quer dizer "trazer a luz". cabe. Em primeiro lugar. com nossos pais". uma . como elucida<. Contudo. "iluminar com intensidade". A luz do elucidar tern a ver com incidencia da "luz da inteligencia" sobre a realidade. Entao. ou seja. 47-60.ao da rea:lidade.iioda realidade. opaca. Vamos tentar estabelecer uma forma de entendimento sobre 0 conhecimento que abranja os elementos acima indicados. Sabre isso. e e Assim sendo. pois que. Para encontrarmos uma resposta para a pergunta que colocamos.ao. sua origem. a questao formulada esta a merecer uma resposta. cristalina. nao e a luz fisica. clara.a 0 sentido essencial do conhecimento. Cipriano C. do ponto de vista de sua origem vocabular. Se a filosofia e uma forma de conhecimento.ao". et al. passando.amos pelo seu conceito. Assim sendo. sucessivamente. ela e insatisfat6ria na medida em que nos diz de onde adquirimos conhecimento. impenetravel. e a forma de tomar a realidade inteligivel. pp. Luckesi. A pergunta para a qual vamos ten tar dar uma resposta e: 0 que e 0 conhecimento? Toda vez que perguntamos a alguem 0 que ele entende por conhecimento. pp. urn ato de conhecer. mais sim da apropria<. Martins Fontes. 1977. Karl.aoou a compreensao estabelecidas. 1.ao)e sintetico. que as pessoas dao espontaneamente a pergunta "0 que e conhecimento?".aoproduzida e exposta. ha quatro elementos a serem destacados: urn sujeito que conhece. Idem. urn objeto que e conhecido.ometodo16gico de analise dos elementos da realidade. em Marx. Karl. de tal forma que. passo por passo. e. Prefacios. mas urn ate que se processa dialeticamente com e a partir da realidade exterior. assim. 1970.aoobtida nao necessita reproduzir. despropositada. 0 ate de conhecer e 0 processo de intera<.aoda realidade nao e urn ate exclusivo do sujeito. urn resultado.aoseja esta e nao outra. Sobre isso. 0 resultado do ate de conhecer e o conceito produzido.ao que executa com eles. a explica<. vai tentando captar do objeto a sua l6gica. 0 objeto e 0 mundo exterior ao sujeito. como pode ser uma rede deles formando urn todo. clara. a possibilidade de expressa-lo conceitualmente. por recursos variados.6es. urn conceito que nada mais e do que a expressao pensada de urn objeto. Assim como vale a leitura do texto "Metodo da economia politica". inclusive. construiu urn interior capaz de apropriar-se simb6lica e representativamente do exterior. a forma de ser. basta apresentar a l6gica central dos dados da realidade que sustentam 0 conceito formulado. Deste modo. In Marx. A exposi<. Marx.2 Em sintese. 0 Capital. mas sim porque os fragmentos da realidade com os quais ele trabalha the oferecern uma l6gica de compreensao. e 0 ser humano que construiu a faculdade da inteligibilidade. como ate de elucidar. d. mas a partir dos fragmentos de "luz". Civilizac. 41-93. Rio de Janeiro. a ilumina<. Se retornarmos agora a resposta. o sujeito. the permitem descobrir uma inteligibilidade entre eles. 0 conhecimento e a compreensao/explica<. 0 conhecimento (a explica<. todos os fragmentos do processo de investiga<.aosintetica produzida pelo sujeito por meio de urn esfor<. teoricamente. ha o ato de conhecer e 0 resultado desse ato. para 0 conhecimento. mais ou menos ingenua. que e a compreensao da realidade ou 0 conhecimento propriamente dito (a explica<. 0 sujeito interage com 0 objeto para descobrir-lhe. operar de forma abstrata com seus simbolos e representa<. 0 sujeito ilumina a realidade com sua inteligencia. enquanto 0 ate de conhecer e analitico. Contribui~iio II critica da economia poWica. iluminada. conseguindo. pp. Essa realidade tanto pode ser urn unico objeto.ao Brasileira.o de enfrentar 0 desafio da realidade. Por ultimo. o sujeito. tornada disponivel as pessoas). 0 que importa. No que se refere ao conhecimento.aoda explica<. Karl. tornando-a inteligivel. A mercadoria.ao que 0 sujeito efetua com 0 objeto. desvendando a sua l6gica. dos fragmentos da realidade. . Entao. Sao Paulo. nao porque ele voluntariamente queira que a explica<. e tornar essa realidade compreendida. dos sinais que a pr6pria realidade the oferece. de todo. finalmente. buscando-lhe 0 sentido. veremos que ela nao e. Alem do sujeito e do objeto. mesmo porque nenhum objeto se da isolado. Os conceitos nao nascem de dentro do sujeito. e 0 esfon. explica urn objeto. que e representado em seu pensamento a partir da manipula<. a verdade. no nivel da teoria.ao. no caso que nos interessa aqui. que podem ser expostas e comunicadas. no conhecimento. 0 conhecimento propriamente dito. formando. livro 1. Quando se diz que conhecimento e aquilo que adquirimos nos livros. 218-26.nhecer.ao adequada que ele faz do exterior. Enquanto 0 ate de conhecer exige analise dos elementos. v. pois. significa 2. ela sempre se manifesta. come~a por produzir respostas (hip6teses) decorrentes dos esclarecimentos que ja possui. e resultado de urn ato de conhecer. Em sintese. na medida em que aquilo que esta exposto. em parte. importa inventar outras explica~6es. decorre de urn esfor~o de investiga~ao. E preciso saber "le-Ia" para se en tender 0 que ela diz.. 0 que ocorre com a aquisi~ao de conhecimentos a partir dos livros. nao. urn conceito formulado. 0 que vai alem da pura memoriza~ao. entao. falsa. evidentemente. Grifamos 0 "parece" porque somente parece que a realidade nao se expressa. como elucida~ao da realidade. Adquirir conhecimento e adquirir uma compreensao da pr6pria realidade. Ao se deparar com urn desafio. na exposi~ao. ele e uma constru~ao que 0 sujeito faz a partir da l6gica que encontra nos fragmentos da realidade. o conceito explicativo da realidade nunca esta pronto. 0 sujeito do conhecimento passa ao esfor~o de elucida-Io. De fato. de que 0 exposto pode conter uma informa~ao enganosa sobre oreal. utiliza-se de recursos metodol6gicos. Para conseguir isso. Caso essas respostas nao satisfa~am. Alem. pois que este implica essencialmente compreensao. 56 ap6s verificar a veracidade de sua hip6tese e que o cientista exp6e suas certezas. 0 sujeito do conhecimento formula respostas plausiveis e procura ver nas manifesta~6es da realidade se a resposta que formulou e ade- . Ele se constr6i por meio de longa busca. ate que se encontra aquela que seja satisfat6ria. e verdadeira e. Para tanto. pelo processo de memoriza~ao..reter informa~6es. Verdadeira. em parte. 0 investigador necessita utilizar-se de "rodeios metodoI6gicos". nao significa conhecimento. tendo em vista captar os meandros do real.oes. 0 conhecimento. esta a elucida~ao da realidade obtida por alguem e da qual n6s tambem nos apropriamos. No livru. como saber qual e a resposta satisfat6ria se a realidade nao se expressa? Somente parece que a realidade nao se expressa. Dai a necessidade que 0 sujeito do conhecimento tern de se utilizar de recursos metodol6gicos para fazer a realidade "dizer" 0 que ela e. por meio dos quais capta 0 possivel verdadeiro sentido da realidade. adquiridos pela experiencia pessoal ou de estudos com outras pessoas ou com os livros. de urn esfor~o para descobrir aquilo que esta oculto.que nos apropriamos dos resultados do processo do co- nhecer. Por isso. nos apropriamos da explica~ao pronta e elaborada. em principio. Diante do desafio. na medida em que . especialmente na experiencia escolar. Mas. E preciso ser "alfabetizado" na aprendizagem do desvendamento da realidade para poder entende-Ia. busca disciplinada e metodol6gica. torna-se necessario saber entender a sua expressao . por meio de esfor~o de desvendamento. e que ela tern sido normalmente urn processo de decorar injormar. sem toma-Ias uma compreensao efetiva da realidade. Ele trabalha para desvendar a trama de rela~6es que constitui a realidade. 56 depois de compreendido em seu modo de ser e que urn objeto pode ser considerado conhecido. aquela primeira resposta. que nao esta compreendido ainda. Saber de cor uma determinada quantidade de informa~6es nao significa que se tenha uma determinada compreensan do mundo objetivo. de meios e processos de investiga~ao. A elucida~ao do mundo exterior exige imagina~ao investida.
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