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March 26, 2018 | Author: Adjaelmo Rios | Category: Sociology, Max Weber, Industrial Revolution, Science, Industries


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Introdução ao estudo sociológico das organizaçõesReinaldo Dias A Sociologia surgiu no século XIX como decorrência das profundas transformações nas sociedades ocidentais provocadas pela Revolução Industrial que teve início na Inglaterra e pela Revolução Francesa de 1789. A desestruturação da sociedade tradicional, com a perda de suas principais referências, que garantia um mínimo de estabilidade, como a organização econômica baseada na agricultura, e a existência de um claro domínio político da nobreza provocaram a necessidade de encontrar alternativas que servissem como modelo a um novo tipo de organização social. E, para tanto, era necessário surgir uma ciência que estudasse os fenômenos que estavam ocorrendo, visando entendê-los, interpretá-los e propor alternativas viáveis. Os precursores da Sociologia e os primeiros sociólogos vislumbraram como núcleo dessa nova sociedade a forma de organização trazida pela indústria, destacando-se o papel dos empresários e da racionalidade científica como elementos novos de articulação de uma nova ordem. Nesse sentido, a nova forma de organização, a indústria, passa a ocupar lugar de destaque na sociedade, principalmente pelo fato de que o aumento de produtividade permitiu o atendimento de um número maior de consumidores de produtos a que outrora somente as classes superiores tinham acesso.  Assim, ao lado da necessidade de estudar os novos fenômenos sociais trazidos pela industrialização, a indústria por si mesma torna-se objeto de estudo das ciências sociais. Esse fato mostra que a necessidade de estudo da organização industrial caminha concomitantemente com a construção dessa nova ciência, a Sociologia. Num primeiro momento, o estudo da indústria coube a uma vertente denominada Sociologia industrial, que pode ser considerada a precursora da disciplina Sociologia das Organizações.  No final do século XIX, com a Revolução Industrial se espalhando Auguste Comte (1798-1857) é considerado o pai da Sociologia. geradora de novos problemas sociais. que gradativamente vai sendo considerada como objeto de análise. O surgimento da Sociologia ao longo do século XIX é possível porque há uma crescente tomada de consciência da existência de uma sociedade complexa e dinâmica. 1. e torna-se muito difícil desvencilhar uma da outra. Assim. em seguida. o ocidente começou a sofrer profundas transformações. a disciplina Sociologia das Organizações nasce juntamente com a Teoria das Organizações. Com a Revolução Industrial. que produzem uma literatura sobre as organizações e que no seu conjunto constituem a denominada Escola Clássica ou Tradicional. sendo que ao longo de todo o século XX podemos afirmar que o estudo sociológico das organizações confunde-se com aquele realizado em torno da Teoria das Organizações. os estudos organizacionais tornaram-se cada vez mais necessários e desenvolve-se. que teve início na Inglaterra. concomitantemente com a análise sociológica. passou para uma abordagem analítica e crítica. A Sociologia surgiu no século XIX num momento em que se consolidava a primeira fase da Revolução Industrial. pois . Suas abordagens iniciais buscavam compreender o contexto da industrialização e o papel desempenhado na sociedade pelas novas e dinâmicas organizações empresariais e os seus principais agentes: o empresário capitalista e o operário. a demanda de produtos cresceu e ocorreram mudanças significativas nas formas de produção e de organização. Com o crescimento da população mundial. em cujo estudo se pode adotar o método científico.por todo o globo. as formas antigas de organização mudariam radicalmente.1 O surgimento da sociologia No século XVIII. que implicaram na criação de máquinas e equipamentos que revolucionaram o antigo modo de produção de mercadorias. uma vertente de teóricos. em sua maioria engenheiros e gerentes. Foram descobertas novas técnicas. Desenvolveu-se essa nova disciplina primeiramente com o objetivo de compreender as mudanças que estavam ocorrendo na nova sociedade que se erguia sob a influência da indústria. geologia e química) e a física orgânica (biologia). Comte considerava esta nova ciência. A Escola Politécnica foi fundada em 1794. como a mais significativa de todas e que integraria todas as outras num todo coeso. a empresa torna-se a instituição básica e modelar da nova sociedade. a sociologia. França. Comte identificou leis universais na atividade de todas as ciências e ao combiná-las desenvolveu uma classificação hierárquica e sistemática de todas elas. que deveria servir como modelo de toda educação superior. A ideia de uma ciência voltada para o social era uma necessidade em virtude do grande número de problemas trazidos pela industrialização e que se refletiam em toda a sociedade. AUGUSTE COMTE (1798-1857) Auguste Comte (1798-1857) Isidore Marie Auguste François Xavier Comte é considerado o criador do positivismo e da sociologia. Do ponto de vista dos primeiros sociólogos. e. Discurso sobre o espírito positivo (1844). que foram estabelecendo os limites de atuação da Sociologia. ingressou na Escola Politécnica de Paris. pela primeira vez. A fábrica. como discípulo de SaintSimon (1760-1825). fato que exerceria significativa influência na construção de seu pensamento. Com a idade de 16 anos.estabeleceu claramente o campo de pesquisa da nova ciência como sendo a sociedade. entre outros. Émile Durkheim e Max Weber. inclusive a física inorgânica (astronomia. A disciplina por ele criada teve continuidade com Herbert Spencer. é o eixo central de articulação de uma sociedade dinâmica baseada na produtividade. Comte considerava a Politécnica a primeira comunidade verdadeiramente científica. como sistema de produção. a física social. em 1814. Comte. que posteriormente denominou de sociologia. destacava-se como uma organização fundamental no novo tipo de sociedade que se vai instaurando rápida e progressivamente ao longo do século XVIII na Inglaterra e no século XIX no restante da Europa e Estados Unidos da América (EUA). via a sociedade moldada de acordo com a organização industrial. Os industriais e os novos trabalhadores assalariados. unidos por . como um dos frutos da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. substituindo as sociedades tradicionais baseadas na produção agrícola. Nasceu em Montpellier. Obras principais: Curso de filosofia positiva 6 tomos (1830-1842). O estudo das interações humanas e da sociedade vai se tornando cada vez mais o ponto central de referência para as ciências sociais. A expansão desta nova forma de organização durante os séculos XIX e XX é tanto espacial — com o surgimento de fábricas nos mais diversos lugares — como funcional. formam o núcleo desta nova instituição na qual se incorporam gradativamente novas posições sociais. tais como: técnicos. Entre os pontos em comum que tinham entre si os primeiros sociólogos (agrupados na denominada Sociologia Clássica). tendo ambos trabalhado juntos de 1817 a 1824. pelo fato de que outras instituições adaptam suas estruturas às formas empresariais: o exército.vínculos recíprocos de direitos e obrigações. que todo progresso é baseado na ciência. as igrejas e os partidos políticos. Aristocrata. Nasceu em Paris. funcionários administrativos. Saint-Simon reuniu vários discípulos entusiastas. encontra-se a importância que é dada à “indústria como núcleo da organização social. Filósofo e teórico social francês. e pode ser considerado como o primeiro teórico da sociedade industrial. e depois da restauração desenvolveu um sistema de ideias sobre o progresso social.2002. gerentes etc.p. próspera e adotará estritamente os princípios científicos. Conde de Saint-Simon. suas simpatias por ideias liberais e republicanas o salvaram da guilhotina durante a Revolução Francesa. HENRY DE SAINT-SIMON (1760 -1825) Henry de Saint-Simon (1760-1825) Claude-Henry de Rouvroy. Desenvolveu o que ficou conhecido como “as características ideológicas do industrialismo”: onde afirmava que todos devem trabalhar e serem premiados de acordo com o mérito. tanto em suas possibilidades de desenvolvimento e progresso real para as condições de vida das pessoas individuais como em seu aspecto de instituição que abriga e gera conflitos nunca conhecidos em épocas anteriores”(Lucas Marin. sendo considerado por muitos como um dos iniciadores da sociologia. contra os ingleses. Exerceu grande influência sobre Auguste Comte. Lutou na Guerra da Independência dos Estados Unidos. por exemplo.6) . É um dos que mais contribuíram para o estudo da sociedade em seu tempo. e que a sociedade do futuro será pacífica. os hospitais. que correspondem basicamente às ciências sociais e do comportamento (Sociologia. como a família. o papel que desempenham nos processos sociais e seu papel como agentes ou opositoras de mudanças sociais as converteram. a tal ponto que hoje seria inconcebível pensar o cotidiano sem elas. estão presentes ao longo de toda nossa vida e nos relacionamos com diversas organizações ao longo de um único dia. os clubes esportivos. De fato. 1. economia). entre outras. O grande número de organizações. as cooperativas. os partidos políticos. Não há muita dificuldade em identificarmos as organizações. portanto. e da sociologia em particular. as penitenciárias. os bancos.A partir da Revolução Industrial as organizações passaram a exercer um papel fundamental na vida humana. as organizações não governamentais. Antropologia e Psicologia) e ao econômico empresarial (administração. que estavam associadas com a industrialização e a crescente burocratização. os sindicatos. Motivados pelas mudanças na estrutura social. as escolas. Constituem exemplos: as empresas. no entanto não é tão fácil estabelecer as diferenças entre elas ou em relação a outras formas sociais. Este fato nos remete à necessidade de aprofundarmos a base conceitual através de estudos de organizações concretas. no entanto. tanto em termos de estudo quanto aplicação. mas tem vínculos com outras disciplinas. As primeiras abordagens tiveram como foco principal a . 2004) O conceito de organização tem como ponto de partida a sociologia. em objeto de estudo das ciências sociais de um modo geral. intelectuais das mais diversas disciplinas começaram a prestar mais atenção às organizações e seus efeitos na vida social. por exemplo. os primeiros estudos sistemáticos do comportamento organizacional foram realizados no final do século XIX.2 O estudo das organizações Podemos encontrar ideias relevantes para o estudo das organizações ao longo de toda a história. (Scott. os movimentos sociais e as comunidades. Como uma reação a essas versões tecnocráticas. mas também sistemas sociais adaptáveis que buscavam sobreviver em seu meio ambiente. Barnard dedicou bastante atenção à interdependência das estruturas formais e informais no . e os estudos de antropólogos e sociólogos revelaram a existência não oficial de padrões informais de cooperação. e Selznick (1973). e a importância que deu ao sistema administrativo racional-legal.racionalização do processo de trabalho. destacando-se nesse período os trabalhos de Taylor e Fayol. referenciados em Barnard (1971). 2004). Destacaram-se nesse período os trabalhos de Elton Mayo sobre o comportamento das trabalhadoras de uma fábrica da Western Electric e que constituem o marco inicial da Teoria das Relações Humanas. As análises e conclusões de Weber sobre as transformações no sistema administrativo das administrações governamentais. que observaram que as organizações não eram somente sistemas de produção técnica. Considerando este aspecto. (Scott. normas compartilhadas e conflitos dentro de cada grupo e entre gerentes e trabalhadores. contribuíram para reforçar as proposições desse conjunto de autores reunidos no que denominamos de Escola Clássica. entre os primeiros que estudaram a organização como uma unidade de interesse estavam Barnard e Selznick. e de Selznick (1948). Elton Mayo O que estava ausente nessas abordagens iniciais tanto da Escola Clássica quanto da Teoria das Relações Humanas era a análise da organização como uma unidade social. Foundations of the theory of organization. os cientistas sociais durante as décadas de 1930 e 1940 passaram a se contrapor a essa concepção racional-instrumental da organização. Fundamentos da teoria de organização). Entre esses pesquisadores. The functions of the executive. um agente diferenciado da sociedade. os psicólogos descobriram motivos individuais mais complexos. Ao longo do livro utilizaremos os textos em português. As funções do executivo. deixando num segundo plano (e até ignorando) o ambiente externo da organização e o papel dos grupos informais no processo de trabalho. (Nos referimos aos trabalhos de Barnard (1938). Na década de 1950. A perspectiva do sistema racional considera as organizações como instrumentos que podem ser conscientemente manipulados e moldados para realizar determinados fins. Para ele. Gouldner sintetizou estas duas visões. transforma-se em objetivo em si próprio: ocorre o processo familiar do deslocamento de metas. mediante o qual ‘um valor instrumental transforma-se em valor terminal”. Burns e Stalker identificaram estas duas visões com diferentes estruturas organizacionais às quais denominaram: mecânicas (ou mecanicistas) e orgânicas. analiticamente distintos. de forma mais concreta. também.1973.32). encobrindo os objetivos originais. enfatizou que as organizações poderiam ser encaradas sob dois pontos de vista.62). originariamente concebida como meio. mas criar e promulgar visões morais relacionadas com a missão da organização que irão comprometer. o que lhe permitiu perceber que a função primária do executivo não é projetar sistemas eficientes. Enquanto originalmente se constituem nos meios para realizar os objetivos da organização. regras e a obediência a elas tendem a se tornar os principais valores da organização. .interior das organizações. (Burns e Stalker. Philip Selznick 1919 – 2010 Selznick. identificando-as com um sistema racional e um sistema natural. os seus integrantes. O sociólogo Robert Merton mostrou que as regras tendem a ser supervalorizadas nas organizações burocráticas. A perspectiva do sistema natural vê a organização como um sistema orgânico buscando sua sobrevivência. constituem sistemas cooperativos e estruturas sociais adaptáveis. (Selznick. “a adesão às regras. por sua vez. Posteriormente. 1961) As críticas à racionalização mecanicista se intensificaram nesse período com a utilização da abordagem sistêmica e o desenvolvimento do estruturalfuncionalismo na sociologia dos anos 50. p. Por um lado. indicou que o conhecimento especializado dos burocratas pode diminuir a flexibilidade e a inovação da organização. (Merton. A análise de Merton. Por outro lado. como coletividade que envolve espontaneamente processos indeterminados.p. 1973. qualquer organização “representa um sistema de relações que define a disponibilidade de recursos escassos e que podem ser manipulados em termos de eficiência e eficácia”. ROBERT KING MERTON (19102003) mudança mais tempo que outro sistema menos burocrático. Embora Weber tenha estudado a burocracia sob a . o sociólogo francês Michel Crozier. que abordou a burocracia. que privilegia a análise das partes que integram a sociedade e a relação entre elas. baseadas principalmente na produção agrícola. É considerado o pai da teoria das funções manifestas e latentes. pois “embora seja capaz de resistir à sociológico das A sociologia das organizações. (Crozier. nasceu na Filadélfia em 1910 e faleceu em New York em 2003. em NewYork. Continuou ensinando na Universidade Colúmbia até 1979.83) As críticas à escola clássica desse modo pautaram o estudo das organizações no início da segunda metade do século XX. Realizou o doutorado na Universidade de Harvard e em 1941 começou a lecionar na Universidade Colúmbia. Ali. 1969. A Sociologia das Organizações começa com o trabalho do sociólogo alemão Max Weber (1864-1.3 O estudo organizações Robert Merton (1910-2003) Sociólogo norte-americano. em seu livro O fenômeno burocrático. desenvolveu a teoria sociológica estrutural-funcionalista. pois a mudança se converteu em lei em nosso tempo”. surge e se desenvolve diretamente vinculada às profundas transformações causadas pela Revolução Industrial e pelo papel relevante desempenhado nesta pelas empresas industriais. No mesmo período. e deu importante contribuição à sociologia da ciência. em que a organização e a produção industrial têm uma importância fundamental na articulação de novas formas de convivência que predominaram no último século e que constituem em sua essência o arcabouço da sociedade que denominamos capitalista. concluiu que é inevitável que as organizações burocráticas se adaptem às mudanças do meio ambiente. p. início da década de 60. anos 1950 e 1960. integrante do campo das ciências sociais. juntamente com Talcott Parsons. 1. em outras de novo tipo. mudará finalmente. de 1963.920). O processo de industrialização foi marcado pela transformação das sociedades tradicionais. a Sociologia Organizacional “relaciona-se com papéis e com processos de interação. num texto de 1958. a maioria das pesquisas que se seguiram — e baseadas em seus estudos — tinham como foco as empresas e apresentavam pouco interesse nas comparações históricas que o motivaram. Quanto ao modelo teórico. 2003. March e Simon distinguiram dois rumos principais na evolução das teorias tradicionais de organização. com vigor durante a década de 1950. e não foram questionadas em sua essência por estudos posteriores. e nas décadas de 60 e 70 se institucionaliza marcada pelo funcionalismo. Amitai Etzioni Nesse mesmo ano. Nos anos posteriores houve uma dispersão em correntes teóricas muito diferentes. Um . a Sociologia das organizações tem os seus conteúdos e orientação estabelecidos. p. isto graças ao desenvolvimento de pesquisas e a inúmeras publicações. como um campo reconhecido de estudo das ciências sociais. p. comunicação e autoridade. que são especializados para servir a metas sociais específicas”. Identificou que “as formas burocráticas rotinizam os processos de administração exatamente como a máquina rotiniza a produção”.26). que considera que a teoria abrangente de organização e administração recebeu uma importante contribuição desse sociólogo. p. “modificada de forma significativa e melhorada quando o estudo de aspectos racionais foi suplementado pelo estudo de aspectos não racionais e irracionais”.136). De acordo com Etzioni. Nessa década. No entanto. [De acordo com Burrell e Morgan (1979) e Clegg. que observou paralelos entre a mecanização da indústria e a proliferação de formas burocráticas de organização. (Handel. No entanto. está bem desenvolvido e baseado na teoria da burocracia de Max Weber.perspectiva histórica e focado principalmente a mudança dos padrões da autoridade política e organizações governamentais. (Morgan 1996. as ideias de Weber constituem uma contribuição fundamental com muitas implicações. caracterizando-se no início pela interdisciplinaridade. (Etzioni 1973. o estudo das organizações emerge. entre os quais Morgan.5) O papel de Weber é destacado por vários autores. Hardy e Nord (1996)]. Em 1917 escreveu uma série de artigos na imprensa intitulados Parlamento e governo em uma Alemanha reconstruída. onde tece várias considerações sobre a burocracia e a política. Teoria das organizações. afirmam. p. Foi professor de Economia nas universidades de Freiburg e Heidelberg. Morreu de pneumonia em 1920. Participou da comissão que redigiu a Constituição da República de Weimar. é a tradução em português do livro Organizations (1958). além da economia. sua característica típica são os estudos de tempos e métodos”. Em 1905 publicou seu ensaio A ética protestante e o espírito do capitalismo. Muitos de seus trabalhos. Max Weber MAX WEBER (1864-1920) Sociólogo e economista alemão. Seus trabalhos mais importantes se relacionam com a sociologia da religião e o governo. considerado um dos fundadores da sociologia e da administração pública. identificado com a administração científica (que denominam de teoria fisiológica da organização). (March e Simon (1972). Os primeiros trabalhos de Weber estavam relacionados com a sociologia industrial. se identifica com os trabalhos de Gulick e Urwick (1937 apud March e Simon 1972) e “preocupa-se mais com os grandes problemas de organização.primeiro. que se converteu em seu trabalho mais conhecido. Foi diretor da revista Arquivo de Ciências Sociais e Política Social e colaborador do Jornal de Frankfurt. que se tornaram clássicos das ciências sociais. mas são mais conhecidos seus últimos trabalhos sobre sociologia da religião e sociologia do governo. Weber definiu o Estado como uma entidade que possui o monopólio no uso legítimo da força. “focaliza as atividades materiais básicas envolvidas na produção. Em uma de suas obras mais conhecidas. foram reunidos. O segundo. 31-60. Consideram que essas teorias apresentam “apenas uma parcela bem pequena de todo o complexo teórico relativo ao comportamento na organização”. A política como vocação. revisados e publicados . Uma parte significativa dos estudos organizacionais tem origem em seus trabalhos sobre a burocracia. uma definição fundamental no estudo da ciência política moderna. representados pela divisão de trabalho e coordenação departamental”. Cursou a London School Economics (Inglaterra) e a Universidade de Heidelberg (Alemanha). Depois foi nomeado presidente do Departamento de Reações Sociais (1946) e posteriormente presidente da Sociedade America na de Sociologia (American Sociological Society). A ciência como vocação e a política como vocação. Talcott Parsons (Sugestões para um tratado sociológico da teoria da organização).ETZIONI. publicada em 1922). A autosuficiência de uma sociedade está determinada pelas necessidades . em 1949. Na década de 1950. Economia e sociedade (obra póstuma. 1973). teoria social que sustenta que as sociedades tendem a se autoregularem e apresentam interconexão dos seus diversos elementos (valores. foi diretor do Departamento de Sociologia dessa universidade (1944). funções etc. metas. Merton (Estrutura burocrática e personalidade). Considerado como o criador do Estrutural-funcionalismo. além dos já citados. Philip Selznick (Fundamentos da teoria da organização) e Peter M. ainda destacam-se como contribuição à Sociologia das Organizações. Lecionou Sociologia na Universidade de Harvard de 1927 a 1974. Blau (A dinâmica da burocracia). os trabalhos de Robert K.). entre outros. que foram reunidos por Etzioni no livro Complex organizations publicado em 1961.postumamente. Principais trabalhos: A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905). Talcott Parsons (1902-1979) TALCOTT PARSONS (1902-1979) Sociólogo norte-americano. (Esse livro foi publicado em português com o título Organizações complexas: um estudo das organizações em face dos problemas sociais . Estudos sobre a sociologia da religião (1921). e Política e estrutura social (1 969). como igreja. Estrutura e processos nas sociedades modernas (1960). que poderão servir de base para um debate generalizado de organizações. Algumas limitações dos estudos sociológicos das organizações que vinham sendo feitos até então foram apontadas por Etzioni no final da década de 50. O movimento que tomou como tema as relações humanas permitiu demonstrar que a visão passada era parcial por seu alcance e por seu espírito e que os . p. Frequentemente. afirmando que: “Com relação ao efetivo estudo das organizações. Durante essa fase inicial. Teoria sociológica e sociedade moderna (1968). Entre suas principais obras estão: A estrutura da ação social (1937). como a que o sociólogo Michel Crozier expôs no início da década de 1960. exército. universidade. Emery (1959) e Emery e Trist (1960)]. O sistema social (1951). fábrica e sindicato. Etzioni (1973. onde afirma: “Os racionalistas da organização científica clássica não consideravam os membros de uma organização como seres humanos mas como simples engrenagens de uma máquina. [Cf. Para eles um operário era somente uma mão. p. mesmo as significativas. as críticas às antigas teorias organizacionais (a Escola Clássica e a de Relações Humanas) foram muitas vezes contundentes. e também para diferenciar as várias estruturas organizacionais”.básicas.”(Etzioni 1973. dá-se ênfase às características genéricas e aos processos de unidades da organização. 136). o abastecimento de bens e serviços e a proteção da infância. um coletivo de intelectuais de diferentes disciplinas reunidos no Instituto Tavistock construiu um modelo sociotécnico de análise organizacional apresentado num relatório técnico elaborado por Frederick Emery em 1959 e. publicado por Emery e Trist em 1960. entre as quais se incluem a preservação da ordem social. posteriormente. “os sociólogos acharam que era útil encarar todos estes organismos como tendo problemas comuns. que incorpora os aspectos sociais e técnicos numa perspectiva de estudo das organizações como sistemas abertos. Considerava que. Nesse mesmo período.140). Considerava Etzioni que a sociologia organizacional era potencialmente capaz de desenvolver bases sadias para um estudo geral e comparativo das organizações. como outras organizações e coletividades. e não às estruturas específicas e aos processos dos vários subtipos da organização. pode-se dizer — e isto se aplica também à sociologia de organizações econômicas — que a maioria dos estudos tende a focalizar a unidade organizacional e as interrelações entre seus elementos e evidenciam uma tendência para negligenciar suas relações com outras unidades sociais. embora houvesse diferenças significativas entre vários tipos de organizações. como podem ser mais bem descritos os diferentes traços das organizações e que forças estavam formando estas características. O estudo das relações da organização com sistemas culturais abrange. No entanto. p. são feitos sobre e para as empresas. Quanto à personalidade. 2. mas o seu mais distintivo e consistente foco estava na determinação da estrutura organizacional. com outras estruturas de organizações. como unidade. de um modo geral. relacionam-se com as necessidades da estrutura organizacional e as necessidades das personalidades dos participantes. as fontes de legitimação da autoridade e as relações dinâmicas entre os ideais e objetivos da organização e as necessidades da própria estrutura organizacional. De fato os estudos organizacionais. uma liberdade. e é por isso que a sociologia das organizações se ocupou desta instituição muito mais que outros ramos da sociologia. classes sociais e a própria sociedade. Isto é que descuidaram os teóricos das relações humanas tanto como os da organização científica do trabalho. 1. O estudo das organizações aborda a relação de uma estrutura organizacional. As organizações são analisadas como unidades sociais. 19). Etzioni considerava que a Sociologia Organizacional focalizava o estudo das organizações de acordo com quatro pontos de vista: 1.operários executantes eram seres cujos sentimentos eram afetados diretamente como consequência das decisões racionais tomadas por cima deles. grupos étnicos. por exemplo). Ainda na profícua década de 1950. e com unidades sociais que não são organizações (coletividades). E também uma cabeça. o objeto da Sociologia das Organizações não se esgota na empresa. e o que explica seus fracassos. e por outro lado envolve os meios pelos . a hostilidade com que foram recebidos embora tenha sido positiva sua contribuição e a excelente intenção de muitos deles” (Crozier 1969. comunidades. mas se estende a todas as organizações. Scott (2004). tais como: família. incluídas aquelas cujos objetivos e funcionamento são claramente disfuncionais para a sociedade (como as organizações criminosas. por um lado. 3. As organizações são analisadas do ponto de vista de suas relações com a personalidade e a cultura. Mas um ser humano não dispõe só de uma mão e um coração. Durante esse período de formação que se iniciou na década 1950 e se estendeu até os anos 1980. uma projeção. as orientações de valor.4 O campo da sociologia das organizações A questão organizacional é uma das dimensões centrais da empresa. e o interesse se divide entre o estudo da estrutura formal e o da não formal. os sociólogos perseguiram uma variedade de tópicos. diversas implicações da estrutura organizacional têm origem em tais fatores”. especificamente. podemos afirmar que. Atualmente. inclusive as necessidades dos participantes e o estudo das respectivas adaptações entre a organização e o ambiente geográfico e físico. a sociologia organizacional se preocupa em estudar as formas organizacionais como sistemas sociais em contínua interação com o seu ambiente externo. a Sociologia das Organizações tem como conteúdo central o estudo de cinco grandes características que são encontradas em todas as organizações: alguns objetivos específicos que orientam os outros aspectos estruturais e funcionais. E conclui afirmando que “a interação social é o alvo principal da indagação sociológica”.) e na organização como um todo. Reconhece que a interação social nas organizações envolve indivíduos com diferentes configurações de personalidade e que. uma estrutura ou sistema estável e coordenado de relações entre as diferentes posições. comportamentos. Champion (1985. tendo como referência básica: o indivíduo. a sociologia pode abordar o fenômeno organizacional de três modos distintos. Para alguns autores. processos sociais básicos. especificamente. e um ou mais centros de poder que controlam a atividade da organização e a dirigem para a realização de seus objetivos. embora diversos temas diferentes “prevaleçam como subabordagens dentro do campo da sociologia. Essa ideia geral do campo de abrangência da Sociologia das Organizações constituiu contribuição importante para a delimitação do objeto de estudo. Para Dean Champion. suas interações. e a partir da perspectiva. “em parte. 4. interesse e metodologia adotada pelo pesquisador. o autor estuda as organizações formais do ponto de vista sociológico. Neste livro. a organização e a ação da organização na sociedade. uma dedicação responsável às tarefas de sua posição por parte dos indivíduos que a ocupam. 3). . relações de poder etc. A relação entre as organizações e o meio ambiente incluiria o estudo do comportamento das organizações relacionado com a capacidade biológica e fisiológica. uma rede de posições ocupadas por indivíduos substituíveis. que gera efeitos em seus processos internos (os indivíduos. Nesse contexto. p.quais o conhecimento é adquirido e institucionalizado dentro das organizações. de modo geral se aceita que os sociólogos enfoquem a estrutura e o funcionamento dos sistemas sociais” dentro de uma variedade de contextos organizacionais. motivação.) que podem incluir tanto mudanças como manutenção de determinado status quo. física. identificação com a organização etc. os diversos subsistemas que contém (técnico. os conflitos. com as instituições públicas. Nossa abordagem. em resumo. econômicas. somente podem ser compreendidas se as considerarmos como integrantes de uma estrutura social maior (a sociedade). os processos de cooperação. a ideologia. estrutura e processos e por sua vez pode torná-las importantes protagonistas de transformações (seja como obstáculos ou propulsoras) de fins coletivos de diferentes grupos sociais. trata-se de considerá-la um todo complexo. entre outros. partindo-se do pressuposto de que são agentes ativos de transformações (sociais.Do ponto de vista do indivíduo. a influência do ambiente externo na organização. considera que as organizações . Incluem-se nesse referencial. também. sejam elas quais forem. buscando a sua compreensão e elaborando conceitos. das relações de poder). que parte muitas vezes do estudo de caso. culturas etc. portanto. Esses estudos devem contribuir para a elaboração de teorias que possibilitem o diagnóstico e explicação de determinados processos organizacionais. e da comunidade que vive em seu entorno imediato. no sentido de que as organizações. A sociedade as condiciona em seus fins. Esta abordagem contextual das organizações é importante porque se opõe à visão mecanicista. da relação com seu público externo. A sociologia das organizações tem como propósito explícito descrever experiências particulares que permitam generalizações que produzam explicações e contribuam para prever situações que possam ser controladas. Trata-se. privadas e do terceiro setor. O terceiro modo de se abordarem as organizações é considerá-las enquanto atores sociais. da ação organizacional no seio da sociedade. ao tipo e grau de participação. entre outros). objetivos e metas. a comunicação. cultura adquirida. os problemas objeto de estudo são aqueles que dizem respeito às pessoas que pertencem à organização. Quanto à organização. os fins. que pressupõe que o que acontece dentro das organizações (tanto os processos. seu comportamento. como o alcance de seus objetivos) se deve exclusivamente à forma adotada (de estrutura. identificando fenômenos. por exemplo) ou à condução hábil de um gestor. de normas. de dominação. Este é um processo de pesquisa próprio da sociologia das organizações. que irão contribuir para a melhora da gestão organizacional. de design. A abordagem adotada neste livro será contextualizada. e o seu estudo foca a estrutura (hierárquica. militares. podemos ter uma ideia das diferenças possíveis de serem encontradas em análises de situações específicas.blogspot. religiosas.br/ p/introducao-ao-estudo-sociologicodas. através de estudos de caso que envolvam a história dessas empresas. Considerando. http://vejasociologia.com. ocorreu em tempos diferentes nos diversos pontos do planeta. consideramos de suma importância comparar as novas e antigas formas de organização no Brasil. nas relações sociais internas. Nos países sulamericanos. evitando-se o transplante mecânico de estruturas científicas construídas nos países desenvolvidos e que surgiram como respostas válidas a problemas organizacionais dessas regiões. Nessa linha de pensamento. Neste contexto é que situamos a abordagem contextual. no contexto de seu surgimento. Pois a importação de ideias no âmbito das teorias de administração tem desconsiderado o processo histórico de configuração das organizações nacionais.html . A Revolução Industrial. Em decorrência. ainda em sua fase inicial. a sua expansão durante os séculos XIX e XX para todos os continentes e a sua funcionalidade referencial que permitiu que o modelo fosse copiado para outras áreas não empresariais. patrimonialista em sua essência.sempre estão em contínua interação com o seu meio e são condicionadas por este. na concepção e papel das empresas na sociedade etc. principalmente as econômicas. aqui as organizações tiveram diferenças na criação de culturas organizacionais. onde viceja o nepotismo e relações informais de subordinação. como as organizações governamentais. chegou no final do século XIX e início do XX. e para estudos posteriores. quando os Estados Unidos da América e Europa entravam na fase da segunda Revolução Industrial. envolvendo o estudo das organizações inseridas num determinado processo histórico. Nosso objetivo neste livro é uma abordagem analítica das organizações. como veremos nos capítulos seguintes. que o fundador da organização é o que cria a cultura organizacional da mesma. a cultura onde estão inseridas etc. não governamentais etc. Os fundadores de muitas empresas nacionais na primeira metade do século XX tiveram formação baseada num tipo de estrutura que Weber denominou de tradicional. processo fundamental na configuração das modernas organizações.
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