Interdisciplinaridade, Multidisciplinaridade Ou

March 22, 2018 | Author: Ana Claudia Poite | Category: Interdisciplinarity, Psychology & Cognitive Science, Science, Knowledge, Nursing


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INTERDISCIPLINARIDADE, MULTIDISCIPLINARIDADE OU TRANSDISCIPLINARIDADE 1TAVARES, Suyane Oliveira ; VENDRÚSCOLO, Cláudia Tomasi ; KOSTULSKI, Camila Almeida ; 3 GONÇALVES, Camila dos Santos 1 Trabalho de Pesquisa _UNIFRA 2 Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Professora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: : [email protected]; [email protected] 2 2 2 RESUMO O presente trabalho propõe uma reflexão acerca da relação da equipe multiprofissional da saúde: interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e trandisciplinaridade. Como metodologia para o desenvolvimento do artigo foi utilizado uma revisão de literatura, isto é, pesquisa bibliográfica. O material estudo aponta para uma diferenciação entre multidisciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar no sentido do envolvimento de equipe. Percebe-se que há um desconhecimento sobre a diferenciação dos conceitos entre equipe multidisciplinar e interdisciplinar, como também se observa a falta de equipes que trabalham com a trasndisciplinaridade. Palavras-chave: Equipe; Interdisciplinaridade; Multidisciplinaridade; Trandisciplinaridade 1 INTRODUÇÃO O campo da saúde abrange diferentes áreas de formação tanto nas áreas humanas, como psicologia, serviço social, quantos os cursos de saúde, como enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição, entre outras. As demandas e problemáticas exigem uma leitura dos fenômenos ligados as práticas dentro do campo da saúde e apontam para as diferenças entre as equipes de profissionais, isso acontece não só no hospital, mas nas Unidades Básicas de Saúde, entre outros locais de saúde. A multidisciplinaridade pretende analisar cada elemento individualmente e cada profissional busca exprimir o parecer específico de sua especialidade. Diferente da transdisciplinaridade que procura identificar a interação e a integração de todos os elementos, ou seja, como há essa integração uns com os outros e como se afetam, buscando um conhecimento totalizante e único daquela realidade particular e dinâmica (BRANDÃO, 2000) 1 2004). enfatiza que na interdisciplinaridade a equipe trabalha de forma que todos os profissionais funcionem de maneira uniforme e colaborativa. 48). seja dentro do hospital ou da academia. ou seja. Dessa forma.Para Engerani-Camon (2000). Para que isso ocora é importante que haja vinculo entre o paciente e os profissionais. 2. para poder destacar a importância do reconhecimento do conjunto dos aspectos emocionais do paciente. são desafios do trabalho multidisciplinar. Logo. onde o paciente é visto como um todo. Tal inserção é favorável nas instituições quando esse tem a oportunidade e espaço para reuniões entre os variados profissionais da equipe multidisciplinar. considerando um atendimento humanizado. ou seja. não há um trabalho coordenado por parte dessa equipe e uma identidade grupal. 1996. ou seja. que pode ser considerado no manejo do psicólogo inserido no contexto hospitalar. O interesse das acadêmicas por tal assunto surgiu das experiências em estágios e projetos científicos e de extensão. e os outros profissionais vão se adequar a demanda do paciente e as decisões do médico referente a este (BRUSCATO et al. o que demonstram em seus respectivos contextos. e a equipe tem como finalidade de atender as necessidades globais da pessoa. o médico. O delineamento deste trabalho será de cunho exploratório que consiste em uma revisão de literatura. é responsável pela decisão do tratamento. foca-se nas demandas da pessoa. no entanto. em busca de uma melhor qualidade de vida para os pacientes.2 Interdisciplinaridade 2 . BERVIAN. p. Segundo Fossi e Guareschi (2004) a equipe multidisciplinar deve construir uma relação entre profissionais. em geral. visando seu bem-estar.1 Multidisciplinaridade O trabalho da equipe multidisciplinar visa avaliar o paciente de maneira independente e executando seus planos de tratamento como uma “camada adicional” de serviços. os membros da equipe interagindo entre si. 2 DESENVOLVIMENTO 2. uma pesquisa bibliográfica “procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos” (CERVO. onde muitas das equipes de profissionais da saúde “acham” que fazem trabalho interdisciplinar. É uma epistemologia. atualmente.3 Transdisciplinariade A transdisciplinaridade acena uma mudança. não se refere a uma simples permuta de métodos. De acordo com Paul (2005) a transdisciplinaridade. promove um diálogo entre diferentes áreas do conhecimento e seus dispositivos. devem agregar-se em equipes de saúde. afirma que a abordagem em equipe deve ser comum a toda a assistência à saúde. não destrói o antigo. somente no século XX caráter interdisciplinar passou a ser efetivado dentro da ciência. da cultura e da complexidade humana. Os profissionais da saúde. transcendendo a noção de conceito de saúde.O termo interdisciplinaridade de com Gomes e Deslandes (1994) surgiu no século XIX. 2. tendo como enfoque a totalidade dos aspectos inter-relacionados à saúde e à doença. Isso porque o principal aspecto positivo da atuação em equipe interdisciplinar é a possibilidade de colaboração de várias especialidades que denotam conhecimentos e qualificações distintas. Esse mesmo autor salienta que a transdisciplinaridade não é 3 . adaptado. Fortalecendo a premissa de que saúde é um assunto para muitos profissionais. A transdisciplinaridade se preocupa com uma interação entre as disciplinas. contato entre essas disciplinas (IRIBARYY. Assim. visa cooperação entre as diferentes áreas. o biológico. mais ampla. A necessidade da transdisciplinaridade decorre do desenvolvimento dos conhecimentos. apenas é mais aberta. representantes de várias ciências. não é um conceito contemporâneo diante do surgimento do conhecimento da ciência. Isso porque segundo Maldonado e Canella (2009). o psicológico. aos movimentos societários atuais (PAUL. mas uma prática interdisciplinar em que profissionais de diversas áreas. tendo como objetivos comuns estudar as interações somáticas e psicossociais para encontrar métodos adequados que propiciem uma prática integradora. com a parte espiritual ou o sagrado devendo também ser reconhecidos. ou seja. 2005). como encontramos na pluri ou na interdisciplinaridade. mas passar além. a integração da equipe de saúde é imprescindível para que o atendimento e o cuidado alcance a amplitude do ser humano. a sociedade. Ela tenta suprir uma anomalia do sistema anterior. Campos (1995). Ela supõe não permanecer. buscam transpor limites dentro da equipe em que atuam. a saúde não seria de competência de um único profissional. uma metodologia proveniente do caminho científico contemporâneo. Essa nova complexidade exige tecer os laços entre a genética. 2003). no entanto. portanto. 60). Ela tenta apenas responder a uma nova visão de homem e da natureza pela transposição e integração do paradigma atual. 2. as equipes “acabam por perpetuar a fragmentação do atendimento prestado ao paciente. Se transpusermos essa nova disciplina no âmbito da saúde percebermos que de acordo com Spink (2003) a apreensão do todo só pode ser realizado por meio da transdisciplinaridade. psicólogos. técnicos de enfermagem. um mesmo pensamento habita a abordagem transdisciplinar: abrir as disciplinas sem negá-las. nutricionistas. p.para ser considerada como uma super-disciplina. Assim. adotando uma divisão tácita de competências e práticas” (SPINK. tentar recompor em um todo coerente os diversos fragmentos do conhecimento. a posição subalterna a profissão da medicina. p. integrando. 79). 2005. enfim ultrapassar mas. fisioterapeutas e os demais profissionais envolvidos nesse atendimento estabeleçam uma integração. dar sentido à intersecção entre os campos de maneira não sincrética e não unitária. tendo em vista que as “competências individuais. a integração da equipe de saúde é imprescindível para que o atendimento e o cuidado alcance a amplitude do ser humano. em vez de esfaceladas.54). o trabalho em equipe mostra-se fundamental para o atendimento hospitalar. afirma que a abordagem em equipe deve ser comum a toda a assistência à saúde. ligando-se a um método que possa testemunhar a vida dentro de sua complexidade e que possa legitimar diferentes modos de inteligibilidade e diferentes graus ontológicos (PAUL. Dessa forma. o conceito positivista da ciência. transcendendo a noção de conceito de saúde. reproduzem posições sustadas pelas diversas profissões. Campos (1995). Ela visa uma relação diferente entre objeto e sujeito. passam a ser articuladas” (p. assistentes sociais. reconciliar o sujeito e o objeto. na medida em que médicos.4 Psicólogo e a equipe interdisciplinar Fortalecendo a premissa de que saúde é um assunto para muitos profissionais. Isso porque o principal aspecto positivo da atuação em equipe interdisciplinar é a possibilidade de colaboração de várias especialidades que denotam conhecimentos e qualificações distintas. 2005. enfermeiros. pois as equipes. por exemplo. Mas. para que a pessoa seja tomada 4 . como. A autora salienta que nas equipes multiprofissionais não parece ter logrado grande sucesso. além das diferenças. que implica no conhecimento cientifico sobre saúde/doença. em muitos casos. com matizes e mais ampla. Dessa forma. Talvez isso ocorra pelo fato de sua presença ser relativamente recente. propicia uma atitude humanizada. cada vez mais. sendo o psicólogo. na maioria das vezes. e até mesmo pacientes e familiares. essa inter-relação entre a equipe. a equipe interdisciplinar busca humanizar as condições do indivíduo no seu período de hospitalização. e. e que ela possa ter um atendimento humanizado. De acordo Romano (1999). Assim. o psicólogo precisa comunicar seus conhecimentos e percepções do paciente a equipe de profissionais da saúde. De acordo com Angerami-Camon (2001). discussão de casos e atendimentos psicológicos. Logo. o psicólogo necessita obter a conscientização da equipe de saúde para o trabalho multidisciplinar. possibilitando a incorporação ou criação de novos conhecimentos. Tonetto e Gomes (2007) argumentam que características do papel do psicólogo é capaz de desenvolver e promover a prática da multidisciplinaridade. atualmente. o número reduzido de psicólogos. como por exemplo. portanto. o interlocutor entre a equipe-pacientesfamiliares. onde este acompanha as visitas médicas. facilitando a comunicação entre os membros. Vivemos em uma época de intensas modificações nas concepções e nas práticas psicológicas.como um todo. pois para se inserir no contexto hospitalar este persiste na defesa de suas idéias e buscar interação com os demais profissionais. propõe uma possibilidade de modificação ou enriquecimento na estrutura conceitual forte. de acordo com Maldonado e Canella (2009) o psicólogo fica mais aberto para perceber a demanda de integração das práticas e dos conhecimentos dos demais profissionais da equipe. que precisa ver o paciente como um todo. realizando uma interlocução entre outros profissionais. Assim. contemplando assim. definindo objetivos. Esta fundamenta cada especialidade envolvida nas trocas multiprofissionais. E outra dificuldade é o pouco espaço ao trabalho de equipe. esteja inserida na equipe interdisciplinar. causada pela falta de disposição dos chefes de serviços. Isso faz com que a psicologia. ou seja. vem sendo reconhecido pela equipe de saúde. um tempo limitado. há dificuldades encontradas pelo psiólogo. sem lugar previamente delineado e garantido. ou seja. mostrando o que pode ser feito e. onde ele vai auxiliar para que estes tenham claras as suas funções. também por sua 5 . outras necessidades do paciente. primeiro. O trabalho do psicólogo. a visão integrada da relação mente/corpo. atualmente. de acordo com Campos (1995). na prática o psicólogo pode atuar como facilitador da comunicação entre os membros da equipe de saúde. Entretanto. A troca interdisciplinar. muitas vezes. Tendo em vista o que foi discutido. terapeutas ocupacionais. Percebe-se que as equipes trabalham de forma multidisciplinar. Portanto. inter ou transdisciplinar deve estar ciente de funções que desempenha como membro da mesma. a relação que se estabelece nos hospitais é interdisciplinar. Enfim. exemplo: enfermeiros. com manejo único. como foi dito acima. mas. fisioterapeutas. quantos culturais e sociais . para a psicologia aperfeiçoar o conhecimento e contribuir com o conhecimento de outras áreas. Como também. 1995). fica evidente que as diferentes áreas do conhecimento sobre o comportamento humano são complementares. Nessa perspectiva. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo mostrou que atualmente o trabalho entre as equipes de saúde exige dos profissionais um maior envolvimento dos saberes de cada área para poder construir algo juntos. O relacionamento precário entre o paciente e a equipe de saúde pode acarretar mais sofrimento do que o esperado para determinados quadros (CAMPOS. Além disso. bem como os limites de cada um. existe uma tentativa de ampliar a relação da equipe para interdisciplinar. conquistando a confiança dos outros profissionais. entre outros papéis. com isso. reflete que o trabalho dos profissionais de saúde ainda estão em construção. sempre buscando proporcionar e facilitar a comunicação entre os membros da equipe. pensando no trabalho do psicólogo dentro da equipe transdisciplinar. é indispensável que o psicólogo saiba as atividades desenvolvidas pelos demais profissionais. (CHAVES. possibilitando uma atuação integrada. 2000). Deve considerar aspectos físicos e emocionais junto com os demais profissionais para efetivar as atividades de diagnóstico e terapia individual ou em grupo (com os familiares). pode afirmar que o psicólogo quando está inserido em uma equipe seja ela multi. logo. Vale ressaltar. considerando tanto os aspectos subjetivos. que há dificuldade de se encontrar artigos sobre transdisciplinaridade.formação que enfatiza a abordagem do ser humano como elemento de uma natureza multifacetada. entre outros. nutricionistas. é importante que o psicólogo interaja com a equipe de profissionais discutindo os casos ou situações emergentes visando melhor compreensão da situação dos usuários e. é necessário que a mesma recorra a outras áreas do conhecimento para o esclarecimento do seu objeto de estudo. o psicólogo é um dos profissionais que media e 6 . De acordo com os profissionais da saúde. REFERÊNCIAS ANGERAMI-CAMON. 2000. C. São Paulo: Pioneira. Acesso: 20 Abril . CHAVES. 1. Fundamentos e Princípios Aplicados ao Trabalho de Equipe. CAMPOS. São Paulo: MAKRON Books. A. & BERVIAN. M. estágios. V.scielo. projetos com outras áreas.br/pdf/prc/v16n3/v16n3a07. v. A. disponível em: http://www. De F. no decorrer do trabalho foi mostrado que o psicólogo é um dos atores preparado em promover o trabalho multi e interdisciplinar. 2003. Acesso: 13 mar. P Psicologia hospitalar: a atuação do psicólog em hospitais. Psicologia da saúde: um novo significado para a prática clínica. no sentido de explicar e deixar claro para equipe o seu papel dentro desse contexto e as informações que serão explanadas perante a equipe. Rev. B. entretanto. Campinas: Livro Pleno. M. A psicologia hospitalar e as equipes multidisciplinares. 13. I. São Paulo: EPU. 2012. Psicologia: Reflexão e Crítica. jun. Brandão.).br/scielo. A. Assim como. Psicologia Hospitalar: uma abordagem holística e fenomenológicoexistencial. GUARESCHI. 483-490. Conclui-se que para o trabalho interdisciplinar há um longo caminho a ser percorrido e. 2000. IRIBARRY. Portanto. Metodologia Científica. 4. CERVO. (org. SBPH.. que muitas vezes. 2004. A.scielo. M. 1. muitos veem a transdiciplinaridade como utopia. este encontra dificuldades no trabalho integrado. Psicologia e Reflexão Critica.almeja a relação interdisciplinar das equipes de saúde. Aproximações sobre a Transdisciplinaridade: Algumas Linhas Históricas. Rio de Janeiro. P. Para que isso não ocorra é necessário uma comunicação. 1996. T. promovendo mais experiências. 7. N. espaço importante para formação para tal trabalho. estudos científicos referentes a esses conceitos. N. 2012.. pp. 1995. L. L. n.pdf 7 . é na academia. O fenômeno psicológico como objeto de estudo transdisciplinar. 16(3). Porto Alegre. L. é proporcionada pelo psicólogo. n. Disponível em <http://www. ed. v.php?script=sci_arttext&pid=S010279722000000100016&lng=pt& nrm=iso> FOSSI. 2001. br/scielo. Competências e habilidades necessárias à prática psicológica hospitalar. M. Rio de Janeiro: Vozes. B.. M. Transdisciplinaridade e antropoformação: sua importância nas pesquisas em saúde. 2012. n.MALDONADO. São Paulo: Casa do Psicólogo. GOMES. W. Saúde e Sociedade. saberes e sentidos. 2007. 1. Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. 8 . J. TONETTO. SP: Editora Novo Conceito. A. CANELLA. Arquivos Brasileiros de Psiologia. Recursos de Relacionamento para Profissionais de saúde: a boa comunicação com clientes e seus familiares em consultórios. 59.php?script=sci_arttext&pid=S010412902005000300005&lng=en&tlng=pt. W. 72-92. Psicologia social e Saúde. v. SPINK. ROMANO. práticas. P. B. 2003. 2009. P. 14(3). Acesso: Abril 08. P. ambulatórios e hospitais. Ribeirão preto.scielo.. T. M. 1999. PAUL. disponível em: http://www. 2005.
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