Instrumentalidade do Serviço Social

March 28, 2018 | Author: Liliane Antunes | Category: Social Work, Sociology, Knowledge, Philosophical Science, Science


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FichamentoBibliografia: Sousa, Charles Toniolo. A prática do Assistente Social: conhecimento, Instrumentalidade e intervenção profissional. Emancipação, Ponta Grossa, 8 (1)119-132,2008 “O Serviço Social se constitui como profissão no momento histórico em que os setores dominantes da sociedade passam a intervir de forma contínua e sistemática, nas consequências da ‘questão social’, através das chamadas políticas sociais” (p.120). O mesmo surge na história como uma profissão interventiva, visando produzir mudanças no cotidiano da vida social das populações atendidas. No momento de sua emergência o Serviço Social tem uma atuação nas políticas sociais com funções meramente executivas, ou seja, tinha apenas o papel de executar, cabendo a outras categorias profissionais a parte de planejar. O Movimento de Reconceituação criticou duramente essa divisão e proporcionou um aprofundamento teórico-metodológico, possibilitando à profissão romper com essa função de mero executor e conquistou novas funções e atribuições no mercado de trabalho. Desse modo foi superada essa divisão no âmbito profissional e encontra-se expressa no art. 4º do Inciso II da Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº 8662 de 07 de junho de 1993). De acordo com esse artigo são competências do Assistente Social: “elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam no âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil”. Todas as dimensões previstas no inciso II do art. 4º requerem o domínio de um instrumental técnico-operativo de modo a possibilitar a viabilização da intervenção para o qual o Assistente Social foi designado ou se designou a fazer. 1 As competências do Serviço Social na contemporaneidade: política, ética, investigação e intervenção. “O Movimento de Reconceituação buscou superar essa visão unilateral” (p.121) em que o Serviço Social se enquadrava desde a sua origem, onde a profissão, apenas por sua dimensão técnica, recebia reconhecimento e legitimidade da sociedade. Nas várias correntes 2005 p. Torna-se um desafio articular essas três dimensões e isso vem sendo debatido por profissionais e estudantes do Serviço Social procurando encontrar meios de articular teoria e prática. a realidade social. Competência técnico-operativa – “o profissional deve conhecer. Na corrente que Neto (2004) “denominou ‘Intenção de Ruptura’. foi levantada a necessidade de que a profissão se debruçasse sobre a produção de um conhecimento crítico da realidade social” (p. dessa maneira o Serviço Social “pudesse construir objetivos e reconstruir objetos de sua intervenção” (p. buscando sua essência a fim de construir novas possibilidades profissionais. “Iamamoto (2004) após realizar uma análise dos desafios colocados ao Serviço Social nos dias atuais. criar um conjunto de habilidades técnicas que permitam ao mesmo tempo desenvolver as ações profissionais junto à população usuária e às instituições contratantes (Estado. tão presentes no passado histórico do Serviço Social” (Carvalho & Iamamoto.122). etc. Tem sua prática realizada no marco das relações de poder e de forças sociais da sociedade capitalista – relações contraditórias. clareza de qual é a direção social de sua prática. contudo.atuantes nesse Movimento. política. garantindo assim uma inserção qualificada no mercado de trabalho” (p. empresas. É de extrema importância que o profissional do Serviço Social entenda que não há como essas dimensões serem pensadas separadamente “pois isso pode gerar uma inserção . pois há um sério risco de haver quedas “nas armadilhas da fragmentação e da despolitização. assim como responder às demandas sociais que surgem através do mercado de trabalho e pela realidade. 122). o principal interesse era o de conceder ao Serviço Social um “estatuto científico” (p.).121) para que. que o profissional tenha uma visão política frente às questões que aparecem na realidade social. É necessário. Essas três dimensões não podem ser desenvolvidas separadamente.121). se apropriar e. 121). sobretudo. tendo assim. apontou três dimensões que devem ser de domínio do Assistente Social:” Competência ético-política – “o Assistente Social não é um profissional neutro” (p121). Competência teórico-metodológica – o profissional deve se qualificar. econômica e cultural com a qual irá trabalhar sendo de extrema importância um rigor teórico e metodológico que irá permitir enxergar a dinâmica da sociedade além de fenômenos aparentes. conhecendo assim. 122). “Qualquer situação que chegue ao Serviço Social deve ser analisada a partir de duas dimensões: a da singularidade e a da universalidade” (p. achando que o Serviço Social irá transformar a realidade social. 3 Instrumentalidade do Serviço Social.desqualificada do Assistente Social no mercado de trabalho. pois o cotidiano costuma criar armadilhas. o profissional Assistente Social deve estar atento. pois se assim o fizer perderá a dimensão do por quê está utilizando determinado instrumento. não tendo como alterá-la e nem uma postura messiânica. heterogênea e os impactos de qualquer intervenção dependem de fatores que são externos a quem quer seja – inclusive ao Serviço Social” (p. como também ferindo os princípios éticos fundamentais que norteiam a ação profissional” (p.123).123). com . O profissional não pode possuir apenas “habilidade técnica de como manusear um instrumento de trabalho” (124). “Os instrumentos e técnicas de intervenção não podem ser mais importantes que os objetivos da ação profissional”. “Se atuar no e sobre o cotidiano das populações menos favorecidas é um componente fundamental do Serviço Social. é com vistas a transformações nesse cotidiano que a prática profissional deve se dirigir” (p123). Entretanto.124). É necessário reconhecer as possibilidades e limitações existentes na realidade social para que o Serviço Social não adote uma postura fatalista. É na relação entre a universalidade e a singularidade que se torna possível apreender as particularidades de uma determinada situação”. método e metodologia. Para isso o Assistente Social deve possuir “conhecimento teórico profundo sobre as relações sociais fundamentais de uma determinada sociedade (universalidade). 2 Teoria e prática. “A realidade social é complexa. “A diferença entre método de investigação e metodologias de ação põe uma reflexão fundamental para quem se propõe a construir uma prática profissional competente e qualificada: são os objetivos profissionais que definem que instrumentos e técnicas serão utilizados – e não o contrário” (p. Será um profissional mecânico. onde a realidade está dada. p. possivelmente. identificar subjetividades de uma forma mais evidenciada. 4. Sob esse enfoque pode-se dizer que o discurso direto expressa uma interação dinâmica. isto é. tem como recurso básico de trabalho a linguagem (1995. olfato e paladar) para o conhecimento da realidade. Segundo Iamamoto o Serviço Social. (MAGALHÃES: 2003. e sim. esta (.29)”. sendo necessário sempre haver atualizações do instrumental utilizado. Existem duas categorias de linguagem comumente utilizadas pelo Serviço Social: a linguagem oral ou direta e a linguagem escrita ou indireta. uma vez que a realidade está sempre em constante mudança. um uso que tem como objetivo produzir um conhecimento sobre a realidade – tem-se um objetivo a alcançar” (p.práticas repetitivas. “Sobre a interação face a face. Contudo.126). sob determinado ponto de vista. um processo de comunicação direta entre o Assistente Social e um usuário (entrevista individual). Segue abaixo alguns exemplos de instrumentos de trabalho face a face: Observação participante: “na definição clássica.126). como uma das formas institucionalizadas de atuação nas relações entre os homens no cotidiano da vida social. A linguagem é o instrumento número um utilizado por todos os profissionais. mas também pelo olhar. audição. 4 Instrumentos e linguagem(s). É necessário mais do que aplicar técnicas “prontas”. pela linguagem gestual.. o que diferencia a entrevista de um diálogo comum é o fato de existir um entrevistador e um entrevistado. p. Os instrumentos de trabalho podem então ser classificados como instrumentos diretos ou “face a face” e indiretos ou “por escrito”. . a observação é o uso dos sentidos humanos (visão. Mas não um uso ingênuo dos sentidos.) permite que a enunciação de um discurso se expresse não só pela palavra. que vão contextualizar e. engessadas e burocráticas. o Assistente Social ocupa um papel diferente – e.1. saber adaptar um determinado instrumento às necessidades que precisa atender em seu cotidiano.Os instrumentos de trabalho diretos ou “face a face”.. desigual – do papel do usuário” (p.101). tato. ou mais de um (entrevista grupal). Entrevista individual e grupal: “a entrevista nada mais é do que um diálogo. pela entonação. bem como a busca por alcançar os objetivos estabelecidos para sua realização” (p. Visita institucional: “assim como a visita domiciliar. entrevistar é mais do que apenas ‘conversar’: requer um rigoroso conhecimento teóricometodológico (Silva1995).“Importante ressaltar que. Assim as instituições devem garantir as condições para que a visita domiciliar seja realizada (transporte. mas também uma necessidade de controle do processo de dinâmica – caso contrário. Desse modo. ONGs etc. Dinâmica de grupo: “a dinâmica de grupo é um recurso que pode ser utilizado pelo Assistente Social em diferentes momentos de sua intervenção. aqui se fala de quando o Assistente Social realiza visita a instituições de diversas naturezas – entidades públicas. como uma postura política democrática (que deixa o grupo produzir). via Assistente Social. empresas. a partir dos conhecimentos que já possui. Para levantar um debate sobre determinado tema com um número maior de usuários bem como atender um maior número de pessoas que estejam vivenciando situações parecidas. o Assistente Social também emite suas opiniões. valores. Assim.Os instrumentos de trabalho indiretos ou “por escrito” . Para tanto. de modo que a reunião possa alcançar o objetivo de tomar uma decisão que envolva todos os seus participantes” (p.127). a fim de possibilitar um planejamento sério da entrevista. por exemplo)”(p. 4.” (p. Mobilização de comunidades: “trabalhar em projetos comunitários na perspectiva ético-política defendida pelo Serviço Social. um agente que provoca situações que levem à reflexão do grupo.127).128). por ser um observador participante. hoje. o Assistente Social age como um facilitador. Reunião: “o espaço de tomada de decisões é um espaço essencialmente político.127). ao final.2. pois diferentes interesses estão em confronto. Isso requer tanto habilidades teóricas (a escolha do tema e como ele será trabalhado). uma vez que são eles o público-alvo do trabalho do Assistente Social. Visita domiciliar: “a visita domiciliar é um instrumento que. significa criar estratégias para mobilizar e envolver os membros de uma população situada historicamente no tempo e no espaço nas decisões das ações que serão desenvolvidas. trata-se de um processo de mobilização comunitária”(p.128). Saber reconhecê-los e como se relacionar com eles requer uma competência teórica e política. a dinâmica vira uma ‘brincadeira’ e não alcança os objetivos principais: provocar a reflexão do grupo” (p. aproxima a instituição que está atendendo ao usuário de sua realidade.129). Trata-se de um livro onde são anotadas as atividades realizadas. Desse modo. ao utilização dos instrumentos de trabalho por escrito também possui uma fundamental importância: e aqui que se torna possível ao Assistente Social se sistematizar a pratica. E produzir um conhecimento sobre a mesma. atendimentos realizados. Parecer Social: “o perecer social é crucial.a inexistência de um parecer reduz o relatório a uma simples descrição dos fatos. não permitindo nenhuma análise profunda sobre os mesmos.130). e que se não se perde. Ele é de extrema utilidade nos processos de análise institucional. Todo processo de registro e a avaliação de qualquer ação e um conhecimento pratico que se produz. de modo oque toda a equipe tenha acesso ao que esta sendo desenvolvido” (p. sobre tudo em locais onde circula um grande numero de profissionais.129). individuas. E é no momento do parecer social que esse conhecimento é elaborado a partir da reflexão racional do . Diário de campo: “o diário de campo é um instrumento que auxilia bastante o profissional nesse processo. dentre outras questões. Apreender a realidade não é apenas descreve-la. telefonemas recebidas. após sua aprovação todos os participantes assinamcom garantia de que a discussão realizada assim como a decisão tomada e de ciência de todos” (p. e. em que o mesmo sistematiza suas atividades e suas reflexões sobre o cotidiano do seu trabalho.130).130). Atas de reunião: “geralmente o relator de uma ata de reunião é designado para tal. permite uma intervenção direta junto ao interlocutor. Pode ser um membro do grupo ou um funcionário da instituição. Relatório Social: “o relatório social pode ser referente a qualquer um dos instrumentos face a face. como o próprio nome diz. pois é ele que dá ao Assistente Social uma identidade profissional. questões pendentes. os diferentes relatórios sociais são os instrumentos privilegiados para a sistematização da pratica do Assistente Social” (p. garantindo visibilidade e importância à atividade desenvolvida ”(p. bem como pode descrever todas as atividades desenvolvidas pelo profissional (relatório de atividades). a comunicação escrita possibilita que outros agentes tenham acesso ao trabalho que foi desenvolvida pelo Assistente Social.129). Comumente as atas de reuniões são lidas ao final da mesma.“Enquanto a comunicação direta. Livros de registros: “o livro de registro é um instrumento bastante utilizado. o que é fundamental para localizar qualquer proposta de inserção interventiva do Serviço Social” (p. Com tudo. Trata-se de anotações livres do profissional. profissional. Se o modus operandi não estiver em plena sintonia como o projeto ético-político que. tão presentes na trajetória histórica da nossa profissão” (p.131). independente do instrumento que se utilize. Considerações finais “Não é possível pensar um instrumento de trabalho como se ele pudesse ser mais importante do que os objetivos do Assistente Social. a dimensão ético-política deve ser constantemente refletida e pensada. . criar alternativa visando sua transformação” (p.um conhecimento pratico que visa compreender a singularidade da situação estudada pelo Assistente Social à luz da universalidade dos fenômenos sociais (descobrindo então a particularidade dos fenômenos) e assim. É importante ressaltar que.131/132). hoje. podemos cair nas teias do conservadorismo e do tecnicismo. defende Serviço Social.
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