Homilias de Sua Santidade Papa Bento XVI

March 22, 2018 | Author: Jutay Rebouças | Category: Mary, Mother Of Jesus, Baptism, Jesus, Prayer, Saint


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SANTA MISSA NA SOLENIDADE DA MÃE DE DEUSXLI DIA MUNDIAL DA PAZ HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Praça de São Pedro Terça-feira, 1° de Janeiro de 2008 Queridos irmãos e irmãs! Começamos hoje um novo ano e guia-nos pela mão a esperança cristã; iniciámo-lo invocando a bênção divina e implorando, por intercessão de Maria, Mãe de Deus, o dom da paz: para as nossas famílias, para as nossas cidades, para o mundo inteiro. Com estes votos saúdo todos vós aqui presentes começando pelos ilustres Embaixadores do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, reunidos nesta celebração por ocasião do Dia Mundial da Paz. Saúdo o Cardeal Tarcisio Bertone, meu Secretário de Estado, o Cardeal Renato Raffaele Martino e todos os componentes do Pontifício Conselho "Justiça e Paz". A eles estou particularmente grato pelo compromisso na difusão da Mensagem para o Dia Mundial da Paz, que este ano tem como tema: "Família humana, comunidade de paz". A Paz. Na primeira Leitura, tirada do Livro dos Números, ouvimos a invocação: "Que o Senhor... te conceda a paz!" (6, 26); o Senhor conceda a paz a cada um de vós, às vossas famílias, ao mundo inteiro. Todos desejamos viver em paz, mas a paz verdadeira, a que é anunciada pelos anjos na noite de Natal, não é simples conquista do homem ou fruto de acordos políticos; é antes de tudo dom divino que se deve implorar constantemente e, ao mesmo tempo, compromisso que se deve levar em frente com paciência permanecendo sempre dóceis aos mandamentos do Senhor. Este ano, na Mensagem para este Dia Mundial da Paz, eu quis realçar a estreita relação que existe entre a família e a construção da paz no mundo. A família natural, fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher, é "berço da vida e do amor" e "a primeira e insubstituível educadora para a paz". Precisamente por isso a família é "a principal "agência" de paz" e "a negação ou também a restrição dos direitos da família, obscurecendo a verdade do homem, ameaça os próprios fundamentos da paz" (cf. nn. 1-5). Dado que a humanidade é uma "grande família", se quiser viver em paz não pode deixar de se inspirar naqueles valores sobre os quais se funda e se rege a comunidade familiar. A providencial coincidência de várias celebrações estimula-nos este ano a fazer um esforço ainda mais sentido para realizar a paz no mundo. Há sessenta anos, em 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas publicou a "Declaração universal dos direitos do homem"; há quarenta anos o meu venerado Predecessor Paulo VI celebrou o primeiro Dia Mundial da Paz; além disso, este ano recordaremos o 25º aniversário da adopção por parte da Santa Sé da "Carta dos direitos da família". "À luz destas significativas celebrações retomo aqui quanto escrevi precisamente na conclusão da Mensagem convido cada homem e mulher a consciencializar-se mais lucidamente da comum pertença à única família humana e a comprometer-se para que a convivência sobre a terra reflicta cada vez mais esta convicção da qual depende a instauração de uma paz verdadeira e duradoura". O nosso pensamento dirige-se agora naturalmente para Nossa Senhora, que hoje invocamos como Mãe de Deus. Foi o Papa Paulo VI que transferiu para o dia 1 de Janeiro a festa da Divina Maternidade de Maria, que outrora se celebrava a 11 de Outubro. De facto, antes da reforma litúrgica feita depois do Concílio Vaticano II, no primeiro dia do ano celebrava-se a memória da circuncisão de Jesus no oitavo dia do seu nascimento como sinal da submissão à lei, à sua inserção oficial no povo eleito e no domingo seguinte celebrava-se a festa do nome de Jesus. Entrevêem-se alguns vestígios destas celebrações na página evangélica que há pouco foi proclamada, na qual São Lucas narra que oito dias depois do nascimento o Menino foi circuncidado e foi-lhe dado o nome de Jesus, "indicado pelo anjo antes de ter sido concebido no seio materno" (Lc 2, 21). Por conseguinte, a de hoje, além de ser uma festa mariana muito significativa, conserva também um conteúdo fortemente cristológico, porque, poderíamos afirmar, antes de dizer respeito à Mãe, refere-se precisamente ao Filho, Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O apóstolo Paulo, na Carta aos Gálatas, faz referência ao mistério da maternidade divina, a Theotokos. "Mas, ao chegar a plenitude dos tempos escreve Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, sujeito à Lei" (4, 4). Em poucas palavras encontramos sintetizados o mistério da encarnação do Verbo eterno e a divina maternidade de Maria: o grande privilégio da Virgem consiste precisamente em ser Mãe do Filho que é Deus. Oito dias após o Natal esta festa mariana encontra portanto a sua mais lógica e justa colocação. De facto, na noite de Belém, quando "deu à luz o seu filho primogénito" (Lc 2, 7), cumpriram-se as profecias relativas ao Messias. "A jovem concebeu e dará à luz um filho", tinha prenunciado Isaías (7, 14); "Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho", disse o Anjo Gabriel a Maria (Lc 1, 31); e ainda um anjo do Senhor narra o Evangelista Mateus aparecendo em sonhos a José, tranquilizou-o dizendo-lhe: "não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho" (Mt 1, 20-21). O título de Mãe de Deus, juntamente com o de Santa Virgem, é o mais antigo, é também fundamento de todos os outros títulos com que Nossa Senhora foi venerada e continua a ser invocada de geração em geração, no Oriente e no Ocidente. Referem-se ao mistério da sua maternidade divina muitos hinos e orações da tradição cristã, como por exemplo uma antífona mariana da época de Natal, a Alma Redemptoris mater com a qual assim rezamos; "Tu quae genuisti, natura mirante, tuum sanctum Genitorem, Virgo prius ac posterius Tu, na maravilha de toda a criação, geraste o teu Criador, Mãe sempre virgem". Amados irmãos e irmãs, contemplamos hoje Maria, mãe sempre virgem do Filho unigénito do Pai; aprendemos dela a receber o Menino que nasceu para nós em Belém. Se no menino que ela deu à luz reconhecemos o Filho eterno de Deus e o acolhemos como o nosso único Salvador, podemos ser chamados e somo-lo realmente filhos de Deus: filhos no Filho. Escreve o Apóstolo: "Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei e para que recebêssemos a adopção de filhos" (Gl 4, 4). O evangelista Lucas repete várias vezes que Nossa Senhora meditava silenciosa sobre estes acontecimentos extraordinários nos quais Deus a tinha envolvido. Ouvimo-lo também no breve trecho evangélico que hoje a liturgia nos propõe. "Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração" (Lc 2, 19). O verbo grego usado "sumbállousa" literalmente significa "colocar junto" e faz pensar num grande mistério que deve ser descoberto pouco a pouco. O Menino que geme na manjedoura, mesmo se aparentemente é semelhante a todos os meninos do mundo, é ao mesmo tempo totalmente diferente: é o Filho de Deus, é Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Este mistério a encarnação do Verbo e a maternidade divina de Maria é grande e certamente não é de fácil compreensão unicamente com a inteligência humana. Mas na escola de Maria podemos captar com o coração aquilo que os olhos e a mente não conseguem compreender sozinhos, nem podem conter. De facto, trata-se de um dom tão grande que só na fé nos é dado acolher mesmo sem compreender tudo. E, precisamente neste caminho de fé, Maria vem ao nosso encontro, é para nós amparo e guia. Ela é Mãe porque gerou na carne Jesus; é-o porque aderiu totalmente à vontade do Pai. Escreve Santo Agostinho: "De valor algum teria sido para ela a própria maternidade divina, se ela não tivesse levado Cristo no coração, com um destino mais afortunado de quando o concebeu na carne" (De sancta Virginitate, 3, 3). E no seu coração Maria continuou a conservar, "a ponderar" os acontecimentos seguintes dos quais será testemunha e protagonista, até à morte na cruz e à ressurreição do seu Filho Jesus. Queridos irmãos e irmãs, só preservando no coração, isto é, ponderando e encontrando a unidade de tudo o que vivemos, podemos aprofundar, seguindo Maria, o mistério de um Deus que por amor se fez homem e nos chama a segui-lo pelo caminho do amor; amor que se deve concretizar todos os dias num serviço generoso aos irmãos. Que o novo ano, que hoje iniciamos confiantes, seja um tempo no qual progridamos naquele conhecimento do coração, que é a sabedoria dos santos. Rezemos para que, como ouvimos na primeira Leitura, o Senhor "faça resplandecer o seu rosto" sobre nós, nos "seja propício" (cf. Nm 6, 24-27) e nos abençoe. Podemos ter a certeza: se não nos cansarmos de procurar o seu rosto, se não cedermos à tentação do desencorajamento e da dúvida, se mesmo entre as muitas dificuldades que encontramos permanecermos sempre ancorados a Ele, experimentaremos o poder do seu amor e da sua misericórdia. O frágil Menino que a Virgem mostra hoje ao mundo, nos torne artífices de paz, testemunhas d'Ele, Príncipe da paz. Amém! MISSA NA SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI Basílica de São Pedro Domingo 6 de Janeiro de 2008 Queridos irmãos e irmãs! Celebramos hoje Cristo, Luz do mundo, e a sua manifestação às nações. No dia de Natal a mensagem da liturgia ressoava assim: "Hodie descendit lux magna super terram Hoje uma grande luz desce sobre a terra" (Missal Romano). Em Belém, esta "grande luz" apareceu a um pequeno grupo de pessoas, um minúsculo "resto de Israel": a Virgem Maria, o seu esposo José e alguns pastores. Uma luz humilde, como faz parte do estilo do Deus verdadeiro; uma chama pequena acendida na noite: um frágil recém-nascido, que geme no silêncio do mundo... Mas aquele nascimento escondido e desconhecido era acompanhado pelo hino de louvor pelas multidões celestes, que cantavam glória e paz (cf. Lc 2, 13-14). Assim aquela luz, mesmo se modesta ao aparecer sobre a terra, projectava-se com poder no céu: o nascimento do Rei dos Judeus tinha sido anunciado com o surgir de uma estrela, visível de muito longe. Foi este o testemunho de "alguns Magos", que do oriente foram a Jerusalém pouco depois do nascimento de Jesus, no tempo do rei Herodes (cf. Mt 2, 1-2). Mais uma vez se reevocam e se respondem o céu e a terra, a criação e a história. As antigas profecias encontram confirmação na linguagem dos astros. "Uma estrela sai de Jacob, e um ceptro flamejante surge do seio de Israel" (Nm 24, 17), tinha anunciado o vidente pagão Balaão, chamado a amaldiçoar o povo de Israel, e que ao contrário o abençoou porque revelou-lhe Deus "aquele povo é abençoado" (Nm 22, 12). Cromácio de Aquileia, no seu Comentário ao Evangelho de Mateus, pondo em relação Balaão com os Magos, escreve: "Aquele profetizou que Cristo teria vindo; estes viramno com os olhos da fé". E acrescenta uma observação importante: "A estrela era vista por todos, mas nem todos a receberam" (ibid., 4, 1-2). Sobressai aqui o significado na perspectiva histórica, do símbolo da luz aplicado ao nascimento de Cristo: ele expressa a bênção especial de Deus sobre a descendência de Abraão, destinada a alargar-se a todos os povos da terra. O acontecimento evangélico que recordamos na Epifania a visita dos Magos ao Menino Jesus em Belém remete-nos assim para as origens da história do povo de Deus, isto é, para a chamada de Abraão. Estamos no capítulo 12 do Livro do Génesis. Os primeiros 11 capítulos são como grandes afrescos que respondem a algumas perguntas fundamentais da humanidade: qual é a origem do universo e do género humano? De onde vem o mal? Por que há diversas línguas e civilizações? Entre as narrações iniciais da Bíblia, encontra-se uma primeira "aliança", estabelecida por Deus com Noé, depois do dilúvio. Trata-se de uma aliança universal, que se refere a toda a humanidade: o novo pacto com a família de Noé é ao mesmo tempo pacto com "toda a carne". Depois, antes da chamada de Abraão encontra-se outro afresco muito importante para compreender o sentido da Epifania: o da torre de Babel. O texto sagrado afirma que na origem em "toda a terra havia somente uma língua e empregavam-se as mesmas palavras" (Gn 11, 1). Depois os homens disseram: "Vamos construir uma cidade e uma torre cuja extremidade atinja os céus. Assim, tornar-nos-emos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a face da terra" (Gn 11, 4). A consequência desta culpa de orgulho, análoga à de Adão e Eva, foi a confusão das línguas e a dispersão da humanidade sobre toda a terra (cf. Gn 11, 7-8). Isto significa "Babel", e foi uma espécie de maldição, semelhante à expulsão do paraíso terrestre. A este ponto tem início a história da bênção, com a chamada de Abraão: começa o grande desígnio de Deus para fazer da humanidade uma família, mediante a aliança com um povo novo, por Ele escolhido para que seja uma bênção entre todas as nações (cf. Gn 12, 1-3). Este plano divino ainda está a decorrer e teve o seu momento culminante no mistério de Cristo. A partir de então iniciaram os "últimos tempos", no sentido de que o desígnio foi plenamente revelado e realizado em Cristo, mas pede para ser acolhido pela história humana, que permanece sempre história de fidelidade da parte de Deus e infelizmente também de infidelidades da parte de nós, homens. A mesma Igreja, depositária da bênção, é santa e composta por pecadores, marcada pela tensão entre o "já" e o "ainda não". Na plenitude dos tempos Jesus Cristo veio para cumprir a aliança: Ele mesmo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, é o Sacramento da fidelidade de Deus ao seu desígnio de salvação para a inteira humanidade, para todos nós. A chegada dos Magos do Oriente a Belém, para adorar o recém-nascido Messias, é o sinal de manifestação do Rei universal aos povos e a todos os homens que procuram a verdade. É o início de um movimento oposto ao de Babel: da confusão à compreensão, da dispersão à reconciliação. Percebemos assim um vínculo entre a Epifania e o Pentecostes: se o Natal de Cristo, que é a Cabeça, é também o Natal da Igreja, seu corpo, nós vemos nos Magos os povos que se agregam ao resto de Israel, prenunciando o grande sinal da "Igreja poliglota", realizado pelo Espírito Santo cinquenta dias depois da Páscoa. O amor fiel e tenaz de Deus, que nunca falta à sua aliança de geração em geração. É o "mistério" do qual fala São Paulo nas suas Cartas, também no trecho da Carta aos Efésios há pouco proclamado: o Apóstolo afirma que "por revelação me foi dado conhecer o mistério que acabo de vos expor" (Ef 3, 3) e ele está encarregado de o dar a conhecer. Este "mistério" da fidelidade de Deus constitui a esperança da história. Sem dúvida, ele é contrastado por impulsos de divisão e de subjugação, que dilaceram a humanidade por causa do pecado e do conflito de egoísmos. A Igreja está, na história, ao serviço deste "mistério" de bênção pela humanidade inteira. Neste mistério da fidelidade de Deus, a Igreja desempenha plenamente a sua missão unicamente quando reflecte em si mesma a luz de Cristo Senhor, e assim ajuda os povos do mundo no caminho da paz e do progresso autêntico. De facto, permanece sempre válida a palavra de Deus revelada por meio do profeta Isaías: "... a noite cobre a terra e a escuridão os povos; mas sobre ti levantar-se-á o Senhor, a sua glória te iluminará" (Is 60, 2). Aquilo que o profeta anuncia a Jerusalém, realiza-se na Igreja de Cristo: "As nações caminharão à tua luz, os reis, ao resplandecer da tua aurora" (Is 60, 3). Com Jesus Cristo a bênção de Abraão alargou-se a todos os povos, à Igreja universal como novo Israel que acolhe no seu seio a humanidade inteira. Contudo, também hoje continua em muitos sentidos a ser verdade quanto dizia o profeta: "a noite cobre a terra" e a nossa história. De facto, não se pode dizer que a globalização seja sinónimo de ordem mundial, ao contrário. Os conflitos pela supremacia económica e pelo monopólio dos recursos energéticos, hídricos e das matérias-primas tornam difícil o trabalho de quantos, a todos os níveis, se esforçam por construir um mundo justo e solidário. Há necessidade de uma esperança maior, que permita preferir o bem comum de todos ao luxo de poucos e à miséria de muitos. "Esta grande esperança só pode ser Deus... não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano" (Spe salvi, n. 31): o Deus que se manifestou no Menino de Belém e no Crucificado-Ressuscitado. Se há uma grande esperança, pode-se preservar na sobriedade. Se falta a verdadeira esperança, procura-se a felicidade no êxtase, no supérfluo, nos excessos, e arruína-se a si mesmo e ao mundo. A moderação não é então só uma regra ascética, mas também um caminho de salvação para a humanidade. Já é evidente que só adoptando um estilo de vida sóbrio, acompanhado do compromisso sério por uma distribuição equitativa das riquezas, será possível instaurar uma ordem de desenvolvimento justo e sustentável. Por isso, há necessidade de homens que tenham grande esperança e possuam muita coragem. A coragem dos Magos, que empreenderam uma longa viagem seguindo uma estrela, e que souberam ajoelhar-se diante de um Menino e oferecer-lhe os seus dons preciosos. Todos temos necessidade desta coragem, ancorada numa esperança firme. No-la obtenha Maria, acompanhando-nos na nossa peregrinação terrena com a sua materna protecção. Amém! SANTA MISSA NA CAPELA SISTINA E ADMINISTRAÇÃO DO SACRAMENTO DO BAPTISMO HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Festa do Baptismo do Senhor Domingo, 13 de Janeiro de 2008 Queridos irmãos e irmãs! A celebração de hoje é para mim sempre motivo de especial alegria. Administrar o sacramento do Baptismo, no dia da festa do Baptismo do Senhor, é de facto um dos momentos mais expressivos da nossa fé, no qual podemos ver, através dos sinais da liturgia, o mistério da vida. Em primeiro lugar, vida humana, representada aqui em particular por estas 13 crianças que são o fruto do vosso amor, queridos pais, aos quais dirijo a minha cordial saudação, fazendo-a extensiva aos padrinhos, às madrinhas e aos outros parentes e amigos presentes. Há, depois o mistério da vida divina, que hoje Deus doa a estes pequeninos mediante o renascimento da água e do Espírito Santo. Deus é vida, como está também maravilhosamente representado nalgumas pinturas que enriquecem esta Capela Sistina. Mas não pareça a despropósito se pusermos imediatamente em relação com a experiência da vida, a oposta, isto é, a realidade da morte. Tudo o que tem início na terra cedo ou tarde termina, como a erva do campo, que desponta de manhã e murcha ao anoitecer. Mas no Baptismo o pequeno ser humano recebe uma vida nova, a vida da graça, que o torna capaz de entrar em relação pessoal com o Criador, e isto para sempre, para toda a eternidade. Infelizmente o homem é capaz de sufocar esta vida nova com o pecado, reduzindo-se a uma situação a que a Sagrada Escritura chama "segunda morte". Enquanto nas outras criaturas, que não estão chamadas à eternidade, a morte significa apenas o fim da existência na terra, em nós o pecado gera uma voragem que corre o risco de nos engolir para sempre, se o Pai que está nos céus não nos tende a sua mão. Eis, queridos irmãos, o mistério do Baptismo: Deus quis salvar-nos indo ele mesmo até ao fundo do abismo da morte, porque cada homem, mesmo quem caiu tão em baixo que já não vê o céu, possa encontrar a mão de Deus à qual se agarrar e subir das trevas para ver de novo a luz para a qual ele é feito. Todos sentimos, todos percebemos interiormente que a nossa existência é um desejo de vida que invoca uma plenitude, uma salvação. Esta plenitude de vida é-nos dada no Baptismo. Ouvimos há pouco a narração do baptismo de Jesus no Jordão. Foi um baptismo diferente do que estas crianças estão para receber, mas não privado de uma profunda relação com ele. No fundo, todo o mistério de Cristo no mundo pode resumir-se com esta palavra, "baptismo", que partilha da eternidade com o Pai e com o Espírito Santo a plenitude da vida, foi "imergido" na nossa realidade de pecadores, para nos tornar partícipes da sua própria vida: encarnou-se, nasceu como nós, cresceu como nós e, alcançando a idade adulta, manifestou a sua missão começando precisamente com o "baptismo de conversão" dado por João Baptista. O seu primeiro acto público, como escutámos há pouco, foi descer ao Jordão, misturado entre os pecadores penitentes, para receber aquele baptismo. Naturalmente João não queria, mas Jesus insistiu, porque era essa a vontade do Pai (cf. Mt 3, 13-15). Por que quis isto o Pai? Por que enviou o seu Filho unigénito ao mundo como Cordeiro para assumir sobre si o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29)? O evangelista narra que, quando Jesus saiu da água, desceu sobre ele o Espírito Santo sob forma de pomba, enquanto a voz do Pai do céu o proclamava "Filho muito amado" (Mt 3, 17). Portanto, a partir daquele momento Jesus foi revelado como Aquele que veio para baptizar a humanidade no Espírito Santo: veio trazer aos homens a vida em abundância (cf. Jo 10, 10), a vida eterna, que ressuscita o ser humano e o cura totalmente, corpo e espírito, restituindo-o ao projecto originário para o qual foi criado. O fim da existência de Cristo foi precisamente doar à humanidade a vida de Deus, o seu Espírito de amor, para que cada homem possa haurir desta fonte inexaurível de salvação. Eis por que São Paulo escreve aos Romanos que nós fomos baptizados na morte de Cristo para ter a sua mesma vida de ressuscitado (cf. Rm 6, 3-4). Eis por que os pais cristãos, como vós fazeis hoje, levam logo que é possível os seus filhos à fonte baptismal, sabendo que a vida, que eles lhe comunicaram, invoca uma plenitude, uma salvação que só Deus pode dar. E desta forma os pais tornam-se colaboradores de Deus ao transmitir aos seus filhos não só a vida física mas também a espiritual. Queridos pais, juntamente convosco agradeço ao Senhor o dom destas crianças e invoco a sua assistência para que vos ajude a educá-los e a inseri-los no Corpo espiritual da Igreja. Enquanto lhes ofereceis o que é necessário para o crescimento e para a saúde, vós, ajudados pelos padrinhos, estais comprometidos a desenvolver neles a fé, a esperança e a caridade, as virtudes teologais que são próprias da vida nova que lhes é dada com o sacramento do Baptismo. Garantireis isto com a vossa presença e com o vosso afecto; garanti-lo-eis antes de tudo e sobretudo com a oração, apresentando-os quotidianamente a Deus, confiando-os a Ele em qualquer fase da sua existência. Certamente para crescerem sadios e fortes, estes meninos e estas meninas terão necessidade de cuidados materiais e de tantas atenções; mas aquilo de que terão mais necessidade, aliás que lhes é indispensável é conhecer, amar e servir fielmente Deus, para ter a vida eterna. Queridos pais, sede para eles as primeiras testemunhas de uma fé autêntica em Deus! Há no rito do Baptismo um sinal eloquente, que expressa precisamente a transmissão da fé, que é a entrega a cada um dos baptizandos de uma vela que se acende no círio pascal: é a luz de Cristo ressuscitado que vós vos comprometeis a transmitir aos vossos filhos. Assim, de geração em geração, nós cristãos transmitimo-nos a luz de Cristo, de modo que quando Ele voltar, possa encontrar-nos com esta chama ardente nas mãos. Durante o rito eu dir-vos-ei: "A vós, pais e padrinhos, é confiado este sinal pascal, chama que deveis alimentar sempre". Alimentai sempre, queridos irmãos e irmãs, a chama da fé com a escuta e a meditação da Palavra de Deus e com a comunhão assídua com Jesus Eucaristia. Ajudem-vos nesta maravilhosa missão, mesmo se nem sempre fácil, os santos Protectores dos quais estas treze crianças assumirão o nome. Que estes Santos ajudem sobretudo a eles, os baptizandos, a corresponder às vossas solicitudes de pais cristãos. Seja em particular a Virgem Maria quem acompanha a eles e a vós, queridos pais, agora e sempre. Amém! CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS NA FESTA DA CONVERSÃO DE SÃO PAULO NA CONCLUSÃO DA SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica de São Paulo fora dos Muros Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2008 Queridos irmãos e irmãs! A festa da Conversão de São Paulo coloca-nos de novo na presença deste grande Apóstolo, escolhido por Deus para ser a sua "testemunha diante de todos os homens" (Act 22, 15). Para Saulo de Tarso, o momento do encontro com Cristo ressuscitado no caminho de Damasco marcou a mudança decisiva da vida. Realizou-se então a sua completa transformação, uma verdadeira conversão espiritual. Num momento, por intervenção divina, o cruel perseguidor da Igreja de Deus ficou cego, oscilando na escuridão, mas levando já no coração uma grande luz que o teria guiado, dali a pouco, para ser um fervoroso apóstolo do Evangelho. A consciência de que só a graça divina tinha podido realizar uma tal conversão nunca abandonou Paulo. Quando já tinha dado o melhor de si, consagrando-se incansavelmente à pregação do Evangelho, escreveu com renovado fervor: "tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus, que está comigo" (1 Cor 15, 10). Incansável como se a obra da missão dependesse totalmente dos seus esforços, São Paulo foi contudo sempre animado pela profunda persuasão de que a sua força provinha da graça de Deus que agia nele. Esta tarde, as palavras do Apóstolo sobre a relação entre esforço humano e graça divina ressoam cheias de significado totalmente particular. Na conclusão da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, estamos ainda mais conscientes de quanto a obra da recomposição da unidade, que exige todas as nossas energias e esforços, seja contudo infinitamente superior às nossas possibilidades. A unidade com Deus e com os nossos irmãos e irmãs é um dom que provém do Alto, que brota da comunhão do amor entre Pai, Filho e Espírito Santo e que nela se aumenta e se aperfeiçoa. Não está em nosso poder decidir quando ou como esta unidade se realizará plenamente. Só Deus o poderá fazer! Como São Paulo, também nós colocamos a nossa esperança e confiança "na graça de Deus que está connosco". Queridos irmãos e irmãs, é isto que a oração que juntos elevamos ao Senhor deseja implorar, para que seja Ele quem nos ilumina e nos ampara na nossa constante busca de unidade. E eis então que a exortação de Paulo aos cristãos de Tessalonica assume o seu valor: "Rezai incessantemente" (1 Ts 5, 17), que foi escolhida como tema da Semana de oração deste ano. O Apóstolo conhece bem aquela comunidade nascida da sua actividade missionária, e sente por ela grandes esperanças. Conhece quer os méritos quer as debilidades. De facto, entre os seus membros não faltam comportamentos, atitudes e debates susceptíveis de criar tensões e conflitos, e Paulo intervém para ajudar a comunidade a caminhar na unidade e na paz. Na conclusão da epístola, com uma bondade quase paterna, ele acrescenta uma série de exortações muito concretas, convidando os cristãos a favorecer a participação de todos, a amparar os débeis, a ser que foi celebrado pela primeira vez em Gaymoor (Nova Iorque) de 18 a 25 de Janeiro de 1908. No centro destas exortações. se não fossem amparados pela oração. o Padre Paul Wattson. a não retribuir o mal com o mal. Desde o início. já em 1895. que em seguida se tornou "Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos". Foram homens e mulheres formados na Palavra de Deus e na oração os artífices da reconciliação e da unidade em cada fase da história. A barca do ecumenismo nunca . para que "todos sejam um. a estar sempre felizes e a dar graças em todas as circunstâncias (cf. Esta tarde. o qual. permitiu que cristãos de todas as tradições se unissem numa só oração pela unidade. pretendiam realizar a oração pronunciada pelo próprio Jesus no Cenáculo "para que todos sejam um" (Jo 17. desejosos de contribuir por meio da oração para a promoção da unidade dos cristãos. mas isto é particularmente verdadeiro pelo imperativo "rezai continuamente". na constante busca da "vontade de Deus em Cristo Jesus para connosco" (cf. também ele grande promotor do ecumenismo espiritual. recomendava a introdução de uma novena de oração pela unidade dos cristãos. 12-22). A unidade com Deus e com os outros constitui-se antes de tudo mediante uma vida de oração. "rezai continuamente". Nos anos trinta do século passado. Congregação fundada pelo Padre Paul Wattson e promotora da sua herança espiritual. de caridade e de esperança de que tem hoje uma particular necessidade a nossa busca da unidade? O nosso desejo de unidade não se deveria limitar a ocasiões esporádicas. surgiram de facto vários movimentos de renovação espiritual. Há cem anos. animados por personalidades religiosas de relevo. Celebramos este ano o centenário do "Oitavário pela unidade da Igreja". não existe um ecumenismo genuíno que não afunde as suas raízes na oração. Estes esforços realizados segundo as possibilidades da Igreja do tempo. participaram activamente em semelhantes iniciativas. Foi o caminho da oração que abriu a estrada ao movimento ecuménico. As outras admoestações perderiam de facto vigor e coerência. na época ainda ministro episcopaliano. assim como o conhecemos hoje. estás em mim e eu em Ti" (Jo 17. idealizou um oitavário de oração pela unidade. coloca o imperativo. grupos de católicos. 1 Ts 5. 21)? Onde encontrar o "impulso suplementar" de fé. A partir dos meados do século XVIII. Como Tu. O que se tornaria o movimento ecuménico sem a oração pessoal ou comum.pacientes. O seu convite a "rezar pela unidade da Igreja assim como Cristo a quer e segundo os meios que Ele quer". Damos graças a Deus pelo grande movimento de oração que. ó Pai. 18). A oração pela unidade foi apoiada também pelos meus venerados Predecessores. como o Papa Leão XIII. é com grande alegria que dirijo a minha saudação ao Ministro-Geral e à delegação internacional dos Irmãos e das Irmãs franciscanas do Atonement. o oitavário de oração conheceu importantes adaptações com o estímulo sobretudo do Abbé Paul Couturier de Lião. acompanha e ampara os crentes em Cristo na sua busca de unidade. cada uma destas exortações manteve a pertinência. 1 Ts 5. Perante as debilidades e os pecados que ainda impedem a plena comunhão dos cristãos. Portanto. há cem anos. O convite dirigido por São Paulo aos Tessalonicenses é sempre actual. 21). a procurar sempre o bem. mas tornar-se parte integrante de toda a nossa vida de oração. Quando a sua superiora. a cruz e a oração. Samuel Kobia. dois ou três. durante a celebração de encerramento da Semana de Oração pela Unidade. há precisamente 40 anos. irmã trapista do mosteiro de Grottaferrata (actualmente em Vitorchiano). a 28 de Junho próximo. Esta tarde. Eu estou no meio deles" (Mt 18. Precisamente hoje é o vigésimo quinto aniversário da sua beatificação feita pelo meu predecessor. saúdo cordialmente o Rev. Além disso. Nesta histórica Basílica. aos pastores das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais que têm aqui em Roma os seus representantes. daquela vasta comunidade de cristãos de todas as tradições que. aos sacerdotes. o Servo de Deus ressaltou os três elementos sobre os quais se constrói a busca da unidade: a conversão. Secretário-Geral do Conselho Ecuménico das Igrejas. O Grupo Misto é o instrumento de cooperação entre a Igreja católica e o Conselho Ecuménico das Igrejas na nossa busca comum de unidade. Conjuntamente à Semana de oração. muitas comunidades religiosas e monásticas convidaram e ajudaram os seus membros a "rezar incessantemente" pela unidade dos cristãos. Sinto-me feliz pela presença dos membros do "Grupo Misto de Trabalho". encorajada pelo Abbé Paul Couturier. do grande "mosteiro invisível" do qual falava o Abbé Paul Couturier. E. como todos os anos. rezam e oferecem a sua vida para que se realize a unidade. hoje como ontem. a Irmã Maria Gabriella sentiu-se imediatamente envolvida e não hesitou em dedicar a sua jovem existência a esta grande causa.teria saído do porto se não tivesse sido movida por esta ampla corrente de oração e impelida pelo sopro do Espírito Santo. convidou as irmãs a rezar e a fazer dom de si pela unidade dos cristãos. o Papa João Paulo II. Na sua homilia. sem clamor. recordamos em particular a vida e o testemunho da Irmã Maria Gabriella da Unidade (1914-1936). que saúdo com afecto. Sobre estes três elementos fundaram-se também a vida e o testemunho da Irmã Maria Gabriella. dirijo a minha saudação fraterna também aos bispos. 20). que veio a Roma para se unir a nós no centenário da Semana de oração. Esta feliz colaboração permitiu ampliar o vasto círculo de oração e preparar os seus conteúdos de modo mais adequado.do Dr. A vossa participação nesta oração é expressão evidente dos vínculos que nos unem em Jesus Cristo: "Pois onde estiverem reunidos em Meu nome. Que o seu incansável fervor em construir o Corpo de Cristo na unidade nos ajude a rezar incessantemente pela plena unidade de todos os cristãos! Amém! . O ecumenismo tem grande necessidade. abrir-se-á o ano consagrado ao testemunho e ao ensinamento do apóstolo Paulo. as comunidades cristãs de todo o mundo recebem para a Semana meditações preparadas conjuntamente pela Comissão "Fé e Constituição" do Conselho Ecuménico das Igrejas e pelo Pontíficio Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Aquele acontecimento teve lugar nesta Basílica precisamente a 25 de Janeiro de 1983. Nesta ocasião que nos vê reunidos. 6). Gl 4. vossa celeste Padroeira. Assim como o "Filho nasceu da mulher" (cf. Saúdo todos cordialmente: o Cardeal Vigário. Tendo desaparecido o receio. provavelmente sois vós que vos sentis mais surpreendidos face ao que aconteceu e está a acontecer aos vossos filhos. Sinto-me feliz por saudar também os pais presentes e os amigos da comunidade do Seminário Romano. precisamente porque o dom de ser filhos adoptivos de Deus iluminou a vossa vida. permitindo que conheçais a alegria da vida com Deus-Pai. para desenvolver a vossa vocação filial e para vos preparardes para a missão futura de apóstolos de Cristo. cresce em nós a confiança em Deus que ousamos chamar até "Abbà-Pai!" (cf. Queridos pais. desempenha na vossa vida. Tudo isto não pode deixar de suscitar uma grande confiança. e com especial afecto vós. o Reitor e os outros Superiores. Trata-se de um crescimento único que. Gl 4. assim também o vosso ser filhos de Deus tem a Ela como Mãe. sentistes o desejo de tornar partícipes também os outros. de Maria. somos agora capazes de encontrar as respostas que satisfazem as expectativas mais profundas do coração. "Caminho. 4). Em Jesus e com Jesus. Ouvimos alguns versículos da Carta de São Paulo aos Gálatas. Verdade e Vida" (Jo 14. onde está presente esta expressão: "plenitude do tempo" (4. queridos seminaristas. e esta tarde agradeço ao Senhor que renova para mim esta alegria. Só Deus pode "encher o tempo" e fazer-nos experimentar o sentido completo da nossa existência. Queridos seminaristas. na vigília da festa de Nossa Senhora da Confiança. Deus encheu o tempo de si enviando o seu Filho Unigénito e n'Ele tornou-nos seus filhos adoptivos: "filhos no Filho". enche de admiração e de alegria interior. invocada no vosso Seminário com o lindo título de Nossa Senhora da Confiança. Imaginastes porventura para eles uma .VISITA AO PONTIFÍCIO SEMINÁRIO MAIOR ROMANO FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS Pontifício Seminário Maior Romano Sexta-feira. 1° de Fevereiro de 2008 Senhor Cardeal Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos seminaristas e pais Amados irmãos e irmãs! É sempre uma grande alegria para o Bispo encontrar-se no seu Seminário. os Bispos Auxiliares. porque o dom recebido é surpreendente. Podeis então compreender o papel que também Maria. Reunimo-nos juntos para as primeiras Vésperas solenes desta festa mariana que vos é querida. Mãe de Deus. 6). Estais aqui por isso. 4). vos faz sentir ainda muito mais a urgência de vos tornardes mensageiros do Evangelho do seu Filho Jesus. como Mãe verdadeira. É o Espírito Santo que vos torna atentos a esta realidade profunda e vo-la faz amar. Tudo isto recorda que Deus vos chama a ser santos. seguindo Jesus. é voz do silêncio (cf. ou então.51). o dos presbíteros. para ser ouvida exige um clima de silêncio. Os 2. parece que Jesus acrescenta: "Olha para a tua Mãe. De facto. Encontrastes-vos a participar na aventura maravilhosa dos vossos filhos. Antes de tudo. 8) que deve caracterizar cada presbítero diocesano. O que aconteceu? Quais os encontros que influenciaram as suas escolhas? Quais luzes interiores orientaram o seu caminho? Como puderam abandonar perspectivas de vida até prometedoras. a aventura de mostrar e fazer presente a plenitude de vida à qual todos aspiram. que a santidade é o segredo do verdadeiro sucesso do vosso ministério sacerdotal. Queridos seminaristas. vós viveis juntos.missão diferente daquela para a qual se estão a preparar. De facto. Confiai este desejo e este empenho quotidiano a Maria. porque o sacerdote está chamado a imitar Jesus. Lc 1. Por isso o Seminário oferece espaços e tempos de oração quotidiana. para que o Senhor possa falar ao vosso coração (cf. Há depois um segundo aspecto da vossa vida. Portanto. Mãe da Confiança! Este título tão pacificador corresponde ao repetido convite evangélico: "Não temas". a vossa formação para o sacerdócio exige também este aspecto comunitário. e não poderia ser diversamente. É uma aventura muito exigente. ao contrário. rezando e estudando. mas para servir e dar a Sua vida pelo resgate de muitos" (Mt 20. cuida muito a liturgia. 19. estes anos de formação constituem um tempo importante para vos preparardes para a exaltante missão para a qual o Senhor vos chama. No ícone de Nossa Senhora da Confiança. porque eu estou contigo". Lc 2. Os Apóstolos formaram-se juntos. também vós. que com o Bispo se ocupam da comunidade cristã. podeis construir em vós o homem de Deus que deveis ser e que o povo espera que o sacerdote seja. 1 Rs 19. durante os anos de Seminário. nas vezes em que mostraram os primeiros sinais da vocação. percorrei o caminho do Seminário com o coração aberto . nos anos em que a vida do vosso filho parecia afastada da Igreja. queridos pais e estimadas mães. diz o Senhor. A vossa comunhão não se limita ao presente. num ordo. e não temas". onde o Menino indica a Mãe. Quem sabe quantas vezes reflectis sobre eles: pensais em quando eram crianças e depois jovens. dirigido pelo Anjo à Virgem (cf. em alguns casos. mesmo se pode parecer que a vida do sacerdote não atraia o interesse da maioria do povo. "não veio para ser servido. os anos do Seminário obrigam a um certo afastamento da vida comum. "Não temas. 29) e depois dirigido muitas vezes por Jesus aos discípulos. a meditação da Palavra de Deus e a adoração eucarística. a sua voz não é rumorosa. muitas vezes vos encontrastes envolvidos num caminho no qual a vossa fé se foi fortalecendo e renovando. Queridos seminaristas. Permiti que eu ressalte dois aspectos que caracterizam a vossa actual experiência. que é de grande importância. 12). É inevitável que a vocação dos filhos de certa forma se torne vocação também dos pais. Ao mesmo tempo. pede-vos que dediqueis longas horas ao estudo. para escolher entrar no Seminário? Olhemos para Maria! O Evangelho faz-nos compreender que também Ela se surpreendeu a fazer tantas perguntas sobre o seu Filho Jesus e a meditar longamente sobre Ele (cf. um certo "deserto". 16). que para vós é antecipação daquela "fraternidade sacramental" (Presbyterorum Ordinis. Desde agora a santidade deve constituir o objectivo de cada uma das vossas opções e decisões. 28). mas diz respeito também ao futuro: a acção pastoral que vos espera deverá ver-vos agir unidos como um corpo. mas suave. na realidade trata-se da aventura mais interessante e mais necessária para o mundo. Procurando compreendê-los e seguindo-os no seu percurso. Amai esta "vida de família". precisamente porque convida à oração. Portanto. sobre os quais se inspira o tempo quaresmal. PROCISSÃO PENITENCIAL DA BASÍLICA DE SANTO ANSELMO À BASÍLICA DE SANTA SABINA NO AVENTINO SANTA MISSA. onde só Ele "vê". Oração solitária a sós com o Pai no deserto. totalmente orientada para o mistério da Redenção. queridos pais e amigos. ao diálogo com quem vos guia e isto permitir-vos-á responder de maneira simples e humilde Àquele que vos chama. como "lugares de aprendizagem e prática da esperança". Mt 6. Também eu vos garanto a todos vós uma recordação na minha oração.6. oração repleta de "angústia mortal" no Horto das Oliveiras. indiquei a oração e o sofrimento. e a agonia no Getsémani ambos são essencialmente momentos de oração. A oração demonstra-se assim a primeira e principal . No início deste itinerário penitencial. é definida "caminho de verdadeira conversão" (Oração da colecta). à penitência e ao jejum. porque nada como rezar com fé exprime a realidade de Deus na nossa vida. publicada na semana passada. BÊNÇÃO E IMPOSIÇÃO DAS CINZAS HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica de Santa Sabina Quarta-feira de Cinzas. poderíamos afirmar que o período quaresmal. é rezando que Cristo desmascara os enganos do tentador e o derrota. 4. Vós.à verdade. Mas tanto na primeira como na segunda circunstância. como diz Jesus no Evangelho (cf. Também na solidão da provação mais dura. à transparência. a Quaresma renova-nos na esperança n'Aquele que nos faz passar da morte para a vida. 6 de Fevereiro de 2008 Queridos irmãos e irmãs! Se o Advento é por excelência o tempo que nos convida a esperar no Deus-que-vem. enquanto vos concedo com alegria a Bênção Apostólica. A oração alimenta a esperança. juntamente com o agir e o juízo. nada e ninguém podem impedir que eu me dirija ao Pai. acompanhai os seminaristas com a oração e com o vosso constante apoio material e espiritual. "no escondimento" do meu coração. constitui uma ocasião providencial para tornar mais viva e firme a nossa esperança. gostaria de me deter brevemente para reflectir sobre a oração e sobre o sofrimento como aspectos qualificantes do tempo litúrgico quaresmal.18). enquanto dediquei à prática da esmola a Mensagem para a Quaresma. Vêm à mente dois momentos da existência terrena de Jesus que se colocam no início e quase no final da sua vida pública: os quarenta dias no deserto. Na Encíclica Spe salvi. libertando-vos do risco de realizar um vosso projecto só pessoal. São dois tempos de purificação di-lo também a cor litúrgica que têm em comum mas de modo especial a Quaresma. 33). A verdadeira oração é o motor do mundo. pode recorrer unicamente a Deus e. a oração é garantia de abertura aos outros: quem se torna livre para Deus e para as suas exigências. por que me abandonaste?". expressando-se naquelas últimas palavras que os evangelistas recolheram. e saem livres de mentiras escondidas e de compromissos com diversas formas de egoísmo (cf. Spe salvi. 46. Meu Deus. Onde parece lançar um brado de desespero: "Meu Deus. Falar com Deus. mas sempre centrada no próximo. meu único rei. experimenta a sua graça e salvação. abandonada por todos. Mc 15. Sl 30. o leitmotiv da Quaresma. introduz-nos por assim dizer no coração pulsante do universo. introduz-nos ao contrário no coração da realidade. Sem a dimensão da oração. portanto. 1). porque o perigo é iminente" (Est 14. Por isso. para o irmão que bate à porta do seu coração e pede para ser ouvido. A oração é um crisol no qual as nossas expectativas e aspirações são expostas à luz da Palavra de Deus. cercado sem possibilidade de fuga pelos inimigos. assisti-me no meu desamparo. Como tal ela impele o orante ao "êxtase" da caridade. Sl 21. pede atenção. cf. no íntimo Motor do porvir cósmico. por que me abandonaste?" (Mt 27. Também estas palavras são tiradas de um Salmo. à capacidade de sair de si para se tornar próximo do outro no serviço humilde e abnegado. Pai do Senhor Jesus Cristo. permanecer na sua presença. dando motivos para numerosas justificações. Em relação harmoniosa com a oração. De facto. na realidade Cristo faz sua a invocação de quem. nas Tuas mãos entrego o Meu espírito" (Lc 23. Por isso. A verdadeira oração nunca é egocêntrica. e as palavras cheias de confiança filial: "Pai. são imersas no diálogo com Aquele que é a verdade. as esperanças tornam-se ilusões que induzem a evadir-se da realidade. A oração implorante cheia de esperança é. se recomenda confiante a Deus. perdão. e faz-nos experimentar Deus como única âncora de salvação. mas a sua ausência: sem o verdadeiro Deus. Não há portanto contradição entre a lamentação: "Meu Deus. é diálogo a sós. o 30. Os Padres e os . 3). porque não tenho outro socorro senão Vós. não é a presença de Deus que aliena o homem. além de qualquer possibilidade humana. 34. 46. Face a um "grande perigo" é necessária uma esperança que pode contar com Deus. o eu humano acaba por ser eco da voz de Deus. de modo que o diálogo interior se torna um monólogo. por vezes correcção mas sempre na caridade fraterna. mas apenas ilusão. abre-se contemporaneamente para o outro. porque o mantém aberto a Deus. A oração de Cristo alcança o seu ápice na cruz. como a comovedora imploração da rainha Ester quando o seu povo está para ser exterminado: "Meu Senhor."arma" para "enfrentar vitoriosamente o combate contra o espírito do mal" (Oração da colecta). Mesmo quando é colectiva. sem oração não há esperança. súplica dramática de uma pessoa que. também o jejum e a esmola podem ser considerados lugares de aprendizagem e prática da esperança cristã. 6). cf. corre o risco de se reduzir a espelho do eu. deixar-se iluminar e purificar pela sua Palavra. Meu Deus. a oração do povo de Deus é voz de um só coração e de uma só alma. precisamente nestes dias. surgindo assim a estrela da esperança" (Spe salvi. que. oferecendo com alegria as pequenas e as grandes fadigas de cada dia e inserindo-as no grande com-padecer de Cristo (cf. Portanto. Graças à acção comum da oração. do jejum e da esmola.39). Lc 12. todo irradiado pela luz pascal. que "prosseguiu no caminho de fé" no seguimento do seu Filho (cf. também para o sofrimento a história da Igreja é muito rica de testemunhas que se consumiram pelos outros sem se poupar.. Is 53. somos levados a meditar sobre o mistério da partilha de Maria com os sofrimentos da humanidade. Deus não pode padecer. para o qual ela contribuiu mais do que qualquer outra criatura. 58) e precede sempre os discípulos no percurso rumo à luz pascal. Quanto maior é a esperança que nos anima.escritores antigos gostam de ressaltar que estas três dimensões da vida evangélica são inseparáveis. Gostaria agora de me deter também sobre o sofrimento dado que. com o Filho. O sofrimento de Cristo está de facto todo imbuído pela luz do amor (cf. como escrevi na Encíclica Spe salvi "a grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. Jesus recebeu-o para nós. 40). Aquele Baptismo de dor e de amor. a exemplo dos santos. como Ele mesmo define o ápice da sua missão (cf. Spe salvi. mas pode e deseja com-padecer. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade" (Spe salvi. Amém! VISITA PASTORAL À PARÓQUIA ROMANA DE SANTA MARIA LIBERTADORA NO BAIRRO "TESTACCIO" . 10). O sofrimento e a morte desceram como as trevas à medida que Ele se aproximava da Cruz. A Páscoa. à custa de duros sofrimentos. 50).) da Igreja. para toda a humanidade. 38). Lumen gentium. realizada em Jesus Cristo. é o mistério que dá sentido ao sofrimento humano. ibid. o caminho quaresmal. para se oferecer a si mesmo em expiação (cf. para a qual se projecta a Quaresma. 38): o amor do Pai que permite que o Filho vá confiante ao encontro do seu último "baptismo". Da paixão de Cristo pode entrar em cada sofrimento humano a con-solatio. Iniciemos portanto a Quaresma em união espiritual com Maria. recordando o 150º aniversário das aparições da Virgem de Lourdes. que é a outra face do evangelho do amor. se fecundam reciprocamente e dão tanto mais fruto quanto mais se corroboram reciprocamente. Sofreu pela verdade e pela justiça. "a consolação do amor solidário de Deus. trazendo à história dos homens o evangelho do sofrimento. Ajude-nos neste caminho de perfeição evangélica Maria. tanto maior é também em nós a capacidade de sofrer por amor da verdade e do bem. a partir da superabundância da com-paixão de Deus. a Quaresma no seu conjunto forma os cristãos para serem homens e mulheres de esperança. faz-nos reviver o que aconteceu no coração divino-humano de Cristo quando subia a Jerusalém pela última vez. mas fez-se viva também a chama do amor. ao mesmo tempo somos encorajados a obter conforto do "tesouro de compaixão" (ibid. Assim como para a oração. construíram a igreja na qual agora nos encontramos. e as diversas comunidades religiosas presentes no território: as Filhas de Maria Auxiliadora. Saúdo os Cooperadores. mesmo tendo mudado um pouco a situação nos últimos vinte anos. permanecem fortes o radicamento do povo no seu território. e o vosso Pároco. os grupos que reúnem os jovens e os que favorecem o encontro e a formação dos noivos e esposos e das famílias mais maduras. também eu hoje vim entre vós para me encontrar com a vossa comunidade e presidir à Celebração eucarística nesta vossa bonita igreja dedicada a Santa Maria Libertadora. Agradeço de coração a ele e aos coirmãos salesianos o serviço pastoral que juntos prestam à vossa paróquia. as Cooperadoras e os ex-Alunos salesianos. sob a guia incansável do primeiro discípulo de São João Bosco. Queridos amigos. e eles. os Servos de Deus Paulo VI e João Paulo II. para Santa Maria Libertadora. vim de bom grado partilhar a vossa alegria pelo acontecimento jubilar que estais a celebrar. Pe. e que eu quis enriquecer com a possibilidade de lucrar a indulgência plenária durante todo o ano centenário. Saúdo antes de tudo o Cardeal Vigário. os doentes. D. o Bispo Auxiliar do Sector Centro. as Filhas da Divina Providência e as Irmãs do Bom Pastor.HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo. Foi São Pio X quem confiou aos Filhos espirituais de Dom Bosco a paróquia. especialmente os idosos. Depois gostaria de fazer extensivo o meu pensamento a todos os habitantes do bairro. Recordo todos e cada um nesta Santa Missa. da liturgia. Na realidade. que a vossa festa patronal de Santa Maria Libertadora reúne todos os anos muitos concidadãos e famílias que por vários motivos se transferiram para outras partes. Dirijo uma saudação afectuosa às crianças do catecismo e a quantos frequentam o Oratório da paróquia e das Filhas de Maria Auxiliadora. que tem sede nos edifícios paroquiais. o beato Dom Michele Rua. mesmo encontrando-nos no centro da metrópole romana. De facto. Ernesto Mandara. . o centenário da consagração da actual igreja e a transferência do título da paróquia de Santa Maria da Providência. que já existia neste vosso bairro "Testaccio". os Salesianos já desempenhavam a sua actividade social e apostólica aqui no "Testaccio". bairro que conservou uma sua específica identidade territorial e cultural. as pessoas sozinhas e em dificuldade. 24 de Fevereiro de 2008 Queridos irmãos e irmãs! Seguindo o exemplo dos meus venerados Predecessores. Vim numa circunstância muito singular. e estou-lhes grato pelas gentis palavras que me dirigiu em nome de todos vós. Sei. persistem entre as pessoas relacionamentos familiares e. que visitaram a vossa paróquia respectivamente a 20 de Março de 1966 e a 14 de Janeiro de 1979. os vários grupos comprometidos na animação da catequese. Manfredo Leone. a identidade de bairro e o apego às tradições religiosas. da caridade e da leitura e aprofundamento da Palavra de Deus. Saúdo além disso os hóspedes do Estudantado salesiano para sacerdotes. as Associações paroquiais. por exemplo. Saúdo-vos a todos com afecto. a Confraria de Santa Maria Libertadora. é a própria mulher que pede água a Jesus (cf. encontram-se úteis motivos de meditação muito indicados para esta significativa circunstância. 15). Isto transparece claramente do diálogo entre Jesus e a mulher que veio tirar água do poço de Jacob. junto do poço de Jacob. com este pedido dirigido a uma mulher samaritana entre judeus e samaritanos não havia boas relações Jesus dá início na sua interlocutora a um caminho interior que faz sobressair nela o desejo de algo mais profundo. Santo Agostinho comenta: "Aquele que pedia de beber. Narra o autor sagrado: "Provocaram o Senhor. Uma sede de . como noutras circunstâncias. a nossa religiosidade contaminada por elementos mágicos e meramente terrenos. em vez de se abandonar confiante nas suas mãos. quando os vossos pais Me provocaram. Me provaram e me puderam ver nas minhas acções" (Sl 94. À primeira impressão parece um simples pedido de um pouco de água. gostaríamos que Deus realizasse os nossos desígnios e satisfizesse todas as nossas expectativas. num meio-dia ensolarado. 7). em quantas circunstâncias. a palavra de Deus transmite-nos uma mensagem sempre viva e actual: Deus tem sede da nossa fé e quer que encontremos n'Ele a fonte da nossa autêntica felicidade. como no dia de Massa. pergunto agora juntamente convosco: o que nos diz o Senhor num aniversário importante para a vossa paróquia? Nos textos bíblicos deste terceiro Domingo da Quaresma. 5-7). que encontramos na primeira leitura e no trecho evangélico da Samaritana. a nossa confiança fraca. Captamos imediatamente um vínculo entre o poço construído pelo grande patriarca de Israel para garantir a água à sua família e a história da salvação na qual Deus dá à humanidade a água que jorra para a vida eterna. no deserto. Jo 4. existe no homem também uma sede espiritual que só Deus pode satisfazer. tinha sede da fé daquela mulher" (In Io ev. Tract. Tudo começa com o pedido de Jesus: "Dá-me de beber" (cf. Na realidade. manifestando assim que em cada pessoa há uma necessidade inata de Deus e da salvação que só Ele pode satisfazer. 11: PL 35. e na prova perde a confiança n'Ele. de usar Deus como se estivesse ao serviço dos nossos desejos e projectos. aliás. 8-9). a um certo ponto. O povo exige que Deus venha ao encontro das próprias expectativas e exigências. enquanto a Igreja nos convida a percorrer um itinerário de verdadeira conversão. Quantas vezes isto acontece também na nossa vida. XV. O risco de cada crente é o de praticar uma religiosidade não autêntica. em vez de nos conformarmos docilmente com a vontade divina. dizendo: "O senhor está ou não no meio de nós"?" (Ex 17. de não procurar em Deus a resposta às expectativas mais íntimas do coração. De facto. 1514). em quantas ocasiões a nossa fé se manifesta frágil. chega quase a revoltar-se contra Deus. acolhamos com humilde docilidade a admoestação do Salmo responsorial: "Não torneis duros os vossos corações como em Meriba. Vemos na primeira leitura o povo hebreu que sofre no deserto por falta de água e. O simbolismo da água volta com grande eloquência na célebre página evangélica que narra o encontro de Jesus com a Samaritana em Sicar. Através do símbolo da água. se lamenta e reage de modo violento. Se há uma sede física indispensável para viver nesta terra. Neste tempo quaresmal. Chega a revoltar-se contra Moisés.Queridos irmãos e irmãs. tomado pelo desencorajamento. Jo 4. a rever a nossa relação com Jesus. que . Santa Maria Libertadora. que conta entre os seus párocos também o Venerável Luis Maria Olivares. possais continuar. Abri cada vez mais o coração a uma acção pastoral missionária. Queridos irmãos e irmãs da Paróquia de Santa Maria Libertadora! O convite de Cristo a deixarmo-nos envolver pela sua exigente proposta evangélica ressoa com vigor esta manhã para cada membro da vossa comunidade paroquial. isto é. Quando o Senhor conquista o coração da Samaritana. A liturgia estimula-nos hoje. esta página evangélica assume um valor particularmente importante para os catecúmenos já próximos do Baptismo. transcorrem o tempo livre. mas sempre a caminho para nos tornarmos verdadeiros cristãos. que cada comunidade cristã está chamada a redescobrir e a percorrer constantemente. Daqui a pouco ouviremos no prefácio estas palavras: Jesus "pediu à mulher da Samaria água para beber. encontramos neste episódio evangélico um estímulo para redescobrir a importância e o sentido da nossa vida cristã. no vosso contexto cultural e social. no diálogo entre Jesus e a Samaritana vemos traçado o percurso espiritual que cada um de nós. A fé nasce do encontro com Jesus. Santo Agostinho dizia que Deus tem sede da nossa sede d'Ele. que é de primária importância para o futuro da Igreja. Sei que estais a prestar uma análoga atenção e solicitude ao cuidado das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. E isto é indispensável para que vós. trabalham. propondo às crianças. a professar a nossa fé n'Ele com força para que possamos depois anunciar e testemunhar aos nossos irmãos a alegria do encontro com Ele e as maravilhas que o seu amor realiza na nossa existência.infinito que só pode ser saciada com a água que Jesus oferece. e desta fé teve uma sede tão ardente que acendeu nela a chama do amor de Deus". Encorajo-vos depois a perseverar no compromisso educativo. a sua existência transforma-se e ela vai imediatamente sem hesitações comunicar a boa nova ao seu povo (cf. que constitui o carisma típico de cada paróquia salesiana. A Samaritana torna-se assim figura do catecúmeno iluminado e convertido pela fé. Queridos irmãos e irmãs. que é um rito sacramental de purificação e de graça. o verdadeiro desejo que vive em nós. a procurar o seu rosto sem nos cansarmos. reconhecido e acolhido como o Revelador definitivo e o Salvador. para lhe proporcionar o grande dom da fé. como fez com a Samaritana. que estimule cada cristão a encontrar as pessoas em particular os jovens e as famílias onde vivem. os momentos de catequese e oração sejam animados por educadores autênticos. isto é. por vós tão amada e venerada. por testemunhas próximas com o seu coração especialmente às crianças. Mas também nós. tendo em consideração também o tempo quaresmal que estamos a viver. que deseja a água viva e é purificado pela palavra e pela acção do Senhor. aos jovens e às famílias o tema vocacional. a escola. 29). aos adolescentes e aos jovens. Jo 4. para lhes anunciar o seu amor misericordioso de Deus. já baptizados. deseja ser desejado! Quanto mais o ser humano se afasta de Deus tanto mais Ele o segue com o seu amor misericordioso. a água viva do Espírito. Jesus quer levar-nos. Este terceiro domingo da Quaresma está de facto ligado ao chamado "primeiro escrutínio". Proclamada neste tempo quaresmal. queridos amigos. a obra de evangelização e de educação humana e cristã desempenhada há mais de um século por esta paróquia. O Oratório. juntamente com o seu esposo José educou Jesus menino e adolescente. Entre eles. Saúdo D. e era sempre uma bonita experiência encontrar-me com rapazes e moças de muitas regiões da terra. permiti-me citar o Cardeal Paul Josef Cordes. como desejava Dom Bosco. Saúdo de modo especial os Senhores Cardeais e os Prelados aqui presentes. 9 de Março de 2008 Senhores Cardeais Venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Caros irmãos e irmãs É para mim uma grande alegria poder comemorar juntamente convosco. os religiosos e as religiosas na sua tarefa de formadores e lhes conceda a alegria. Secretário do mesmo Pontifício Conselho. saúdo todos vós que quisestes intervir nesta solene e igualmente familiar celebração. não poucas vezes também eu vim aqui para celebrar a Eucaristia quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. um importante encontro espiritual e uma significativa ocasião para entrar em contacto com Cardeais e Bispos da Cúria Romana. Titular desta igreja de São Lourenço "in Piscibus". desejado pelo amado Papa João Paulo II nos arredores da Basílica de São Pedro e por ele inaugurado no dia 13 de Março de 1983. bem como o Cardeal Stanislaw Rylko. Josef Clemens. A Santa Missa que aqui se celebra todas as sextas-feiras à noite constitui para muitos jovens. Como quisestes recordar. que neste Centro encontram um importante ponto de acolhimento e de referência. de ver crescer neste bairro "cristãos bons e cidadãos honestos". Amém! SANTA MISSA NO XXV ANIVERSÁRIO DO CENTRO INTERNACIONAL JUVENIL SÃO LOURENÇO HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Igreja de São Lourenço “in Piscibus”. proteja as famílias. Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos. mas também com Bispos dos cinco continentes de passagem por Roma para as respectivas visitas ad Limina. Roma V Domingo de Quaresma. que dirijo sobretudo a minha cordial saudação. agradecendo-vos o caloroso acolhimento que me reservastes. o 25º aniversário do Centro Internacional Juvenil São Lourenço. o grupo de jovens sacerdotes e seminaristas . juntamente com os dois porta-vozes dos jovens. queridos jovens. provenientes de várias regiões do mundo para estudar nas universidades romanas. Além disso. E é precisamente a vós. a quem agradeço as amáveis palavras de boas-vindas que me dirigiu no início da Santa Missa. nesta bonita igreja românica. Poderíamos dizer que toda a ciência. toda a realidade. E aqui o homem aproxima-se em maior medida da fonte da vida. para indicar as diversas dimensões da realidade "vida": a palavra bíos e a palavra zoé. dirijo a minha carinhosa saudação. No entanto.que animam este Centro sob a guia do Departamento dos Jovens deste Conselho. que há vinte anos coordena com grande fidelidade as diversas iniciativas e que criou uma Escola de Missão em Roma. para ter a própria vida. bíos significa este grande biocosmos. venhamos ao Evangelho deste dia. Refiro-me às Associações. já desenvolvidas. saúdo os capelães e os voluntários que aqui trabalharam nos passados vinte e cinco anos ao serviço da juventude. esta grande árvore da vida. O homem é chamado a abrir-se a novas dimensões. com uma menção especial à Comunidade do Emanuel. Como se compreende facilmente. mas se ele vive apenas biologicamente. que vai das células primitivas individuais até às associações mais organizadas. em que todas as possibilidades desta realidade bíos se desenvolveram. aos Movimentos e às Comunidades que aqui representais. O conhecimento do homem vai mais além. A todos e a cada um. mas somente as realidades que são interessantes para a sua vida biológica. Agora. Além disso. da qual quer beber para ter vida em abundância. sobretudo a medicina. Tem sede de um conhecimento do infinito. a realidade na sua totalidade. Sem dúvida. com toda a sua dignidade. São João usa para esta única realidade da vida duas palavras diferentes. quer beber desta fonte e encontrar a própria vida. mesmo que viva em estado de coma. dedicado a um tema importante. deseja chegar à nascente da vida. ainda que esteja na fase de embrião. quer saber o que é este seu ser e o que é o mundo. ele vive em relacionamento de amizade e de amor. chegamos a uma segunda dimensão: o homem não é somente um ser que conhece. é a busca da imortalidade. esta biosfera. podemos porventura encontrar um remédio que nos garanta a imortalidade? É precisamente esta a questão do Evangelho hodierno. ele quer conhecer tudo. a realidade que nós denominamos organismo. O homem pertence a esta árvore da vida. em que o ser se abre ao conhecimento. o homem é sempre homem. Sem dúvida. não são realizadas e desenvolvidas todas as potencialidades do seu ser. o homem transcende-o porque também faz parte daquela realidade que São João define como zoé. e quantos a vários níveis oferecem a sua contribuição. também os animais conhecem. Assim. No fim de contas. Procuremos imaginar que o remédio chegue a encontrar a receita contra a morte. Ele é um ser que conhece. da qual provêm alguns dos jovens aqui presentes. inseparavelmente desta existe a dimensão do relacionamento e do amor. É um novo nível da vida. ele faz parte deste cosmos da vida que começa com um milagre: na matéria inerte desenvolve-se um centro vital. embora faça parte deste grande microcosmos. Além da dimensão do conhecimento da verdade e do ser. a receita da . é uma única e grandiosa luta pela vida. a medicina é a procura da oposição à morte. No entanto. fundamental: o que é a vida? O que é a morte? Como viver? Como morrer? Para nos fazer compreender melhor este mistério da vida e a resposta de Jesus. se fosse imortal: viveríamos num mundo envelhecido. Os prisioneiros de guerra que viveram na Rússia durante mais de dez anos. a vida em abundância. indubitavelmente um remédio útil também para a nossa vida espiritual e humana. não é esta a possibilidade de beber da fonte da vida. com o amor infinito. e vivemos assim desde já e para sempre. viveríamos para a morte. viverá. E todo aquele que vive e crê em mim. compreendemos que este não pode ser o tipo de imortalidade ao qual aspiramos. convidando-nos a viver realmente da Eucaristia para podermos ser deste modo transformados na comunhão do amor. no espaço da própria vida. Este amor que os aguardava foi o eficaz remédio da vida contra todos os males. Vida em abundância não significa. Em tal caso. porque na Eucaristia nós entramos em contacto. que é animado pela vida imortal. entramos em contacto. para viver a abundância da vida e assim poder comunicar também aos nossos contemporâneos a vida autêntica. mas por si só um remédio limitada a esta biosfera. é exactamente nesta altura que o Senhor intervém e nos fala no Evangelho. Entramos em comunhão com este corpo. É fácil imaginar o que aconteceria. viveríamos para as coisas mortas. que todos nós desejamos. não morrerá para sempre". Sabia que havia pessoas que me aguardavam. expostos ao frio e à fome. O Senhor espera por nós. mesmo que tenha morrido. Aceitemos a mão do Senhor e peçamoslhe para viver verdadeiramente. porque sabia que esperavam por mim. E é assim. compreendemos que não podemos esperar um prolongamento infinito da vida biológica e todavia. Precisamente nesta altura em que. como alguns julgam. este Evangelho é também uma profunda interpretação do que significa a Eucaristia. É assim que entramos realmente na abundância da vida. "Eu sou a Ressurreição!": beber da fonte da vida significa entrar em comunhão com este amor infinito.imortalidade. à renovação da vida. por outro. e a tenham em abundância". o Senhor diz: "Vim para que tenham vida. quando regressaram disseram: "Pude sobreviver. E de tal forma. dizendo: "Eu sou a Ressurreição e a Vida. todos nós somos esperados. Quem crê em mim. No Evangelho de João. um mundo cheio de idosos. Esta é a vida verdadeira. para além da vida biológica. que é a fonte da vida. consumir tudo. Amém! . Vida em abundância significa estar em comunhão com a vida verdadeira. da vida eterna. Encontrando Cristo. desejamos beber da própria fonte da vida para gozar de uma vida sem fim. Os Padres da Igreja definiram a Eucaristia como remédio da imortalidade. se a vida biológica do homem não conhecesse ocaso. um mundo que não reservaria mais espaço aos jovens. e não só nos aguarda: está presente e estende-nos a sua mão. aliás em comunhão com o corpo ressuscitado de Cristo. entramos em contacto com a verdadeira vida. Na realidade. entramos no espaço da vida já ressuscitada. tratar-se-ia ainda de um remédio inserida na biosfera. Mesmo neste caso. que eu era necessário e esperado". aliás em comunhão com a própria vida e já atravessamos o limiar da morte porque. tornando-nos portadores da vida inclusivamente para os outros. Deste modo. por um lado. ter tudo e poder realizar tudo o que se deseja. para explicar qual é a acção do Espírito Santo numa alma. desta forma. inspirei-me num filme intitulado Seelenwanderung (Metempsicose). não por acaso. que descerá sobre vós. com muito dinheiro e bens. Já há muito tempo conheceis o tema desta Jornada. de realizar uma prática eficaz do Evangelho" (Mensagem para a XXIII JMJ. com a celebração das confissões individuais. contemporaneamente. Ela foi adquirida a pouco preço e colocada numa caixa. com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e. O homem nada mais contava. 1). tornou-se cada vez mais rico. Agiu sem escrúpulos. confessando os vossos pecados e recebendo. Certa vez a um deles veio uma ideia: não tendo nada para vender. Iniciou uma rápida ascensão. a terceira Pessoa da Santíssima Trindade que é a "alma" e o "respiro vital" da vida cristã: o Espírito torna-nos capazes "de amadurecer uma compreensão de Jesus cada vez mais profunda e alegre e. 8). numa meditação sobre o Pentecostes. O filme . Por que "não por acaso"? Pode-se deduzir a resposta daquilo que escrevi na minha primeira Encíclica. resolveu vender a alma. Nela realcei que no início do ser cristão há o encontro com um acontecimento. terá o seu ápice no Encontro dos jovens de todo o mundo em Sydney de 15 a 20 do próximo mês de Julho. 1). como sabeis. A partir daquele momento. pela sua bondade. É dessa maneira que se dá espaço à presença em nós do Espírito Santo. O filme narra sobre duas pessoas simples que. através da acção do Espírito Santo e mediante o ministério da Igreja. Quando eu era Arcebispo de München-Freising. Deus caritas est. obteve grandes honras e no final da sua vida tornou-se cônsul. o rumo decisivo (cf. encontramo-nos para nos preparar para a celebração da XXIII Jornada Mundial da Juventude que. com sua grande surpresa. tudo na sua vida mudou. pensando somente no lucro e no sucesso. o perdão e a paz. na proximidade do Domingo de Ramos.CELEBRAÇÃO DA PENITÊNCIA COM OS JOVENS DA DIOCESE DE ROMA EM PREPARAÇÃO PARA A XXIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica Vaticana Quinta-feira. Ele próprio já não tinha uma alma. A partir do momento em que se libertou da sua alma não teve mais algum respeito nem humanidade. Encontrarmo-nos reunidos hoje assume. Ele foi extraído das palavras há pouco escutadas na primeira leitura: "Ides receber uma força. Justamente para favorecer este encontro preparastes-vos para abrir os vossos corações a Deus. a forma de uma liturgia penitencial. não conseguiam fazer progressos na vida. e sereis minhas testemunhas" (Act 1. a do Espírito Santo. 13 de Março de 2008 Queridos jovens de Roma! Também este ano. que está na origem da criação e que graças ao Mistério da Páscoa desceu abundantemente sobre Maria e os Apóstolos no dia de Pentecostes. mansidão. benignidade. was droben ist. deixai que Ele habite em vós e obedecei docilmente às suas indicações. não se pode ver nem demonstrar. o homem nada perdeu. 1 Cor 12. propondo-nos seriamente a não os repetir. Na noite de Páscoa Jesus. aparecendo aos discípulos. Suchen. mas as interiores. teve a assustadora possibilidade de ser desumano. LEV. sobretudo. é o aspecto realmente essencial. e no entanto não se pode demonstrar. procurai ajuda com o recurso do sacramento da confissão e da prática da direcção . mas faltava-lhe a alma e com ela faltava tudo. de esposos cristãos. Portanto. Se penetra na pessoa. O Espírito Santo não muda as situações exteriores da vida. paciência. E no entanto.concluía demonstra de maneira impressionante como por detrás da fachada do sucesso se esconde com frequência uma existência vazia. bondade. propondo-nos a permanecer sempre no caminho da conversão. alegria. Deste modo experimentaremos a verdadeira alegria: aquela que deriva da misericórdia de Deus. É óbvio prosseguia naquela meditação que o ser humano não pode literalmente deitar fora a própria alma. preparemo-nos com um sincero exame de consciência para nos apresentar àqueles a quem Cristo confiou o ministério da reconciliação. Meditationem das Jahr hindurch. audazes ao anunciar que "Cristo morreu e ressuscitou!". 22). temperança" (Gl 5. para dar a vossa contribuição para a edificação da Igreja (cf. 7) e compreender para qual tipo de vocação o Senhor vos chama. Recordai sempre que sois "templo do Espírito". Também hoje o mundo tem necessidade de sacerdotes. paz. 1985). de qualquer forma ele permaneceu pessoa humana. De modo ainda mais evidente o Espírito desceu sobre os Apóstolos no dia de Pentecostes. Fazei-vos portadores desta alegria que vem ao receber os dons do Espírito Santo. porque é ela que o torna pessoa. A distância entre a pessoa humana e o ser desumano é imensa. de permanecer pessoa vendendo e perdendo ao mesmo tempo a própria humanidade. mas este facto transforma e renova toda a perspectiva da existência humana. não é evidente aos olhos externos. ou não. como os Apóstolos. queridos amigos. dando na vossa vida testemunho dos frutos do Espírito: "Caridade. Também o Espírito Santo. Também nesta noite o Espírito descerá nos nossos corações. Esta alegria é contagiosa! "Ides receber uma força. para perdoar os pecados e renovar-nos interiormente revestindo-nos de uma força que nos tornará também. fidelidade. que descerá sobre vós recita o versículo bíblico escolhido como tema da XXIII Jornada Mundial da Juventude e sereis minhas testemunhas" (Act 1. De facto. 8). assim São Paulo na carta aos Gálatas enumera os frutos do Espírito Santo. como vento que se lança vigoroso e em forma de línguas de fogo. a do Espírito Santo. Com ânimo arrependido confessemos os nossos pecados. se derrama nos nossos corações e nos reconcilia com Ele. mas aparentemente sem importância (cf. "soprou sobre eles e disse: "recebei o Espírito Santo"" (Jo 20. Aparentemente. de homens e mulheres consagrados. Para responder à vocação através de uma destas vias sede generosos. 22). pelo Espírito Santo que vem do Lado trespassado do Senhor e. port. cura-nos das nossas culpas e fortalece-nos para não sucumbir na luta contra o pecado e no testemunho do seu amor. para lhe oferecer o vosso "sim" incondicionado. vós próprios. a oração que nos faz descobrir o amor de Deus. Revela-se como sinal de graça. A "perda do sentido do pecado" deriva em última análise da "perda mais radical e profunda do sentido de Deus"" (Homilia na inauguração do Centro Internacional Juvenil "São Lourenço". de 27. sem a Cruz? A Cruz toma sobre si toda a miséria do mundo. Recolhe a nossa solidariedade e encoraja-nos ao sacrifício pelos outros" (Ibid. não distante desta Basílica. Procurai em particular abrir sinceramente o vosso coração a Jesus. esta experiência se renove hoje para vós: olhai para a Cruz neste momento e recebamos o amor de Deus que nos é doado pela Cruz. n.3. pág. Amém! CELEBRAÇÃO DO DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Praça de São Pedro XXIII Jornada Mundial da Juventude Domingo. Há vinte e cinco anos o amado Servo de Deus João Paulo II inaugurou. de L'Osservatore Romano. do qual brotou Sangue e Água como fonte de misericórdia para nós. aderindo a tudo o que o Espírito Santo vos chama a ser. sobretudo.espiritual no vosso caminho de cristãos coerentes. o Senhor. Queridos jovens. 16 de Março de 2008 . ed. para favorecer o acolhimento dos jovens. com o pecado e a culpa. na Igreja e no mundo. que nasce do pecado. E acrescenta: "Aonde se há-de ir neste mundo. o Centro Internacional Juvenil São Lourenço: uma iniciativa espiritual que se unia com tantas outras presentes na Diocese de Roma. como disse o Papa João Paulo II: "Tornaivos. Queridos jovens. Divino Coração de Jesus. O Senhor Jesus lava-nos dos pecados. 13. A vós compete a tarefa de a tornar mais bonita inclusive espiritualmente com o vosso testemunho de vida vivida na graça de Deus e na ausência do pecado.1983. que brotou do seu lado trespassado por nós na cruz. Naquela ocasião. a troca de experiências e de testemunho da fé e. João Paulo II disse: "Quem se deixa preencher por este amor o amor de Deus não pode negar por mais tempo a sua culpa. 9).). Tornareis visível assim a graça da misericórdia superabundante de Cristo. confiamos em Ti. esta cidade de Roma está nas vossas mãos.). redentores para os jovens do mundo" (Ibid. 1). cf. De facto. o gado ali vendido destinava-se aos sacrifícios. como a sua casa paterna. cf. mencionando ao mesmo tempo com isto a subida interior que se estava a cumprir nesta peregrinação. Jesus está a caminho do templo rumo ao lugar. era preciso trocá-las por moedas que não tivessem imagens idolátricas. Certamente. quisera "fixar a sede" do seu nome (cf. E também se os pagãos não entravam. no interior da Revelação. associar-se à oração ao único Deus. O Deus de Israel. ali dominavam os negócios negócios legalizados pela autoridade competente que. A ascensão para junto de Deus passa através da Cruz. até à presença de Deus. a serem imolados no templo. 11). Ele encontra comerciantes de gado e cambistas que ocupavam com os seus negócios o lugar de oração. onde Deus. É a subida que a Carta aos Hebreus descreve como a subida para a tenda que não é feita por mãos humanas. os evangelistas transmitiram-nos três anúncios de Jesus relativos à sua Paixão. que é o verdadeiro monte de Deus. 9). estava sempre à espera também da sua oração. 5). mas o próprio ordenamento estava corrompido. Juntamente com os seus discípulos e uma multidão crescente de peregrinos. o verdadeiro Deus. 3. Jo 13. 23). 14. É a subida para "o amor até ao fim" (cf. 12.Queridos irmãos e irmãs! Ano após ano o trecho evangélico do Domingo de Ramos narra-nos a entrada de Jesus em Jerusalém. mas o seu percurso vai além: a meta definitiva da sua subida é a Cruz. podiam contudo. Ele mesmo se dá um lugar e um nome. por assim dizer. possa ser ali venerado como o Deus no meio de nós. Contra a ordem mal interpretada. Ele subira da planície da Galileia à Cidade Santa. o povo presta homenagem a Jesus como filho de David com as palavras do Salmo 118 [117] dos peregrinos: "Hosana ao Filho de David! Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!" (Mt 21. Is 56. da sua invocação. O Deus que criou céu e terra deu-se um nome. o átrio dos pagãos. ou precisamente por isto. Os mercantes agiam de modo correcto segundo o ordenamento vigente. Lugar algum o pode conter e no entanto. Mas tudo isto podia ser desempenhado noutro lugar: o espaço onde isto se realizava devia ser. para que Ele pessoalmente. 11. Agora vem de novo a este templo. ao contrário. Depois Ele chega ao templo. Esta é a idolatria que Jesus encontra e face à qual cita Isaías: "A minha casa será chamada casa de oração" (Mt 21. diz a Carta aos Colossenses (cf. segundo o seu destino. Durante a entrada em Jerusalém. Como degraus desta subida. com o seu gesto profético. por sua vez. aliás. "A avidez é idolatria". tornou-se invocável. o Deus de todos os homens. E dado que no templo não se podiam usar as moedas sobre as quais eram representados os imperadores romanos que estavam em contraste com o Deus verdadeiro. o lugar definitivo do contacto entre Deus e o homem. da sua busca. Jesus. . Jr 7. defende a ordem verdadeira que se encontra na Lei e nos Profetas. como diz o Deuteronómio. 13. Mas lá onde devia ser o espaço do encontro entre Deus e o homem. o Deus de Israel era o único Deus de todos os povos. tornou-se quase tocável por parte dos homens. 13. Da narração sobre Jesus com a idade de doze anos sabemos que Ele amou o templo como a casa de seu Pai. 7) e Jeremias: "Mas vós fazeis dela um covil de ladrões" (Mt 21. era partícipe do lucro dos mercantes. Agora. no átrio da fé. a falência dos homens torna-se a ocasião para um compromisso ainda maior que o amor de Deus em relação a nós. de modo que a partir dela também os "pagãos". Diante de Cristo pregado na Cruz alguns escarnecedores referem-se à mesma palavra. o verdadeiro sacrifício. em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade. a hora dos sacrifícios de animais tinha sido superada: o facto de que agora o Senhor afaste os mercantes não só impede um abuso. como saiu da boca do próprio Jesus. 18s. sobre a vida e as obras de Jesus estabeleceu como mote uma frase do Salmo 40 [39]: "Não quiseste os sacrifícios. como sempre a partir da queda de Adão. Agora está a começar o que Jesus tinha anunciado à Samaritana em relação à sua pergunta sobre a verdadeira adoração: "Mas vai chegar a hora e já chegou. o Senhor respondeu: "Destruí este santuário e eu em três dias o levantarei" (Jo 2. reconsiderando aquele acontecimento depois da Ressurreição. João acrescenta que.). 21s. pois são eles os adoradores que o Pai deseja" (Jo 4. A hora do templo de pedra. o transformaram num "covil de ladrões".). 23). é o verdadeiro culto. os discípulos compreenderam que Jesus tinha falado do Templo do seu Corpo (cf. mas indica o novo agir de Deus. 40). se apresentaram falsas testemunhas e afirmaram que Jesus dissera: "Posso destruir o Templo de Deus e reedificá-lo em três dias" (Mt 26. as ofertas e os holocaustos. Só "o amor até ao fim". associar-se nos átrios da fé à nossa oração e com o seu perguntar tornar-se talvez também eles adoradores? A consciência de que a actividade é idolatria chega também ao nosso coração e à nossa prática de vida? Não deixamos porventura entrar de vários modos os ídolos também no mundo da nossa fé? Estamos dispostos a deixar-nos sempre de novo purificar pelo Senhor. possam intuir a luz do único Deus. João no-la transmitiu na sua narração da purificação do templo. 61). no qual o Espírito Santo nos reúne. Adorar em espírito e em verdade significa adorar em comunhão com Aquele que é a verdade. Os evangelistas narram-nos que. Forma-se o novo Templo: o próprio Jesus Cristo. no qual o amor de Deus se inclina . adorar na comunhão com o seu Corpo. num lugar para os seus negócios. Desde sempre os sacrifícios de animais tinham sido uma substituição. A Carta aos Hebreus. no processo contra Jesus. É preconizada uma nova hora da história. Face ao pedido de um sinal com o qual Jesus se devia legitimar para uma tal acção. Terminou o tempo no qual eram imolados animais a Deus. por Ele mesmo. Não é Jesus que destrói o templo. gritando: "Tu que destruías o templo e em três dias o reedificavas. as pessoas que hoje estão em busca e têm as suas perguntas.Tudo isto deve hoje fazer reflectir também a nós como cristãos: será a nossa fé bastante pura e aberta. salva-Te a Ti mesmo" (Mt 27. de um lugar de encontro para todos os povos com Deus. Mas. Os sacrifícios cruentos e as ofertas de comida são substituídos pelo corpo de Cristo. A versão justa da palavra. só o amor que se doa totalmente pelos homens a Deus. Hb 10. 5). mas preparaste-me um corpo" (cf. permitindo-lhe que afaste de nós e da Igreja tudo o que Lhe é contrário? Mas na purificação do templo trata-se mais do que da luta contra os abusos. um gesto de nostalgia do verdadeiro modo de adorar a Deus. 2. ele é abandonado à destruição pela atitude de quantos. Assim a purificação do templo. E assim diz a nós o que fará parte para sempre do justo culto de Deus: o curar. são afastados para as margens da sua vida e da sociedade. como ápice da entrada solene de Jesus em Jerusalém. o evangelista prossegue: "Aproximaram-se dele no templo cegos e coxos e Ele curou-os". neste momento associamo-nos à procissão dos jovens de então uma procissão que atravessa toda a história. Jesus mostra Deus como Aquele que ama. que abraça o mundo inteiro. no qual se realiza a justa adoração. Devemos aprender a ver com um coração de criança. Deixemo-nos guiar por Ele para Deus. por causa da sua enfermidade. Mateus diz-nos que crianças repetiram no templo a aclamação que os peregrinos tinham feito na entrada da cidade: "Hosana ao Filho de David" (Mt 21. Rezemos-Lhe para que nos tornemos também nós com Ele e a partir d'Ele mensageiros da sua paz.sobre os homens. Jesus dissera aos seus discípulos que. Para encontrar Deus é preciso tornar-nos capazes de ver com o coração. Ela é a verdadeira purificação do templo. Com Ele agradecemos a Deus. Queridos amigos. para entrar no Reino de Deus. Ele mesmo. é ao mesmo tempo o sinal da ameaçadora ruína do edifício e da promessa do novo Templo. adoradores em espírito e verdade. que nos quer afastar de Deus. a Igreja viu a imagem dos crentes de todos os tempos. que passou através da Cruz e ressuscitou. Ele. Amém. é o Templo novo e vivente. é o espaço vivente de espírito e vida. Ele. refere no final da narração do Domingo de Ramos. Juntamente com os jovens de todo o mundo vamos ao encontro de Jesus. como se Deus fosse nosso concorrente. depois da purificação do templo. Além disso. Jesus contrapõe ao comércio de animais e aos negócios com dinheiro a sua bondade restabelecedora. o seu poder como o poder do amor. a fim de que em nós e à nossa volta o seu Reino se propague. é instaurado além de qualquer fronteira. que não é obstado por preconceitos nem cego por interesses. fez-se pequenino para vir ao nosso encontro. Para reconhecer Deus devemos abandonar a soberba que nos cega. nos pequeninos que com um coração semelhante. Vem com o dom da cura. E depois. Dedica-se a quantos. porque com Jesus. Ele não vem como destruidor. São Mateus. na sua vida. na comunhão com Cristo. livre e aberto reconhecem a Ele. deveriam tornar-se como as criancinhas. não vem com a espada do revolucionário. a própria imagem. ainda dois pequenos acontecimentos que. Assim. Imediatamente depois da palavra de Jesus sobre a casa de oração de todos os povos. a fim de aprender do próprio Deus o modo recto de ser homens. de novo. . com um coração juvenil. promessa do reino da reconciliação e do amor que. o servir e a bondade que restabelece. têm um carácter profético e mais uma vez nos tornam clara a verdadeira vontade de Jesus. as crianças que prestam homenagem a Jesus como filho de David e aclamam Hosana. cujo Evangelho ouvimos este ano. nos doou um espaço de paz e de reconciliação que abraça com a Sagrada Eucaristia o mundo. 14s). para nos aproximar a Deus. o Filho de David. Neste momento. eram penhor de ressurreição. que se difunde em toda a casa. sinto próximo de nós o Patriarca de Babilónia dos Caldeus. O Evangelho de hoje recorda a ceia de Betânia. de devoção que os seus fiéis reservavam à sua pessoa. na qual foram encontrados os seus despojos mortais. aos Religiosos e a todos os fiéis envio uma palavra particular de saudação e de encorajamento. da beleza e bondade do seu sacrifício. até à hora crucial do Getsémani. que lhe ungiu as mãos no dia da Ordenação sacerdotal. e que o acompanharam nas horas terríveis do rapto e da dolorosa prisão onde chegou talvez já ferido até à agonia e à morte. de amizade espiritual. Arcebispo de Mossul dos Caldeus. Penso no sagrado Crisma. é o símbolo da sua caridade imensa. 17 de Março de 2008 Venerados e queridos Irmãos Entramos na Semana Santa levando no coração a grande dor pela trágica morte do querido D. O contexto litúrgico no qual nos encontramos é o mais eloquente possível: são os dias em que revivemos os últimos momentos da vida terrena de Jesus: horas dramáticas. e o perfume. que enche a Igreja. Até àquela indigna sepultura. Quis oferecer esta santa Missa em seu sufrágio e agradeço-vos ter aceite o meu convite para rezar juntos por ele. crê e reza. carregadas de amor e temor. confiando que na fé eles saibam encontrar a força para não perder o ânimo na difícil situação que estão a viver. entre a mansidão e a rectidão de Cristo e a violência e o engano dos seus inimigos. Mas também penso nas muitas "unções" de afecto filial. aos seus Sacerdotes. Rahho no momento do seu Baptismo e da sua Confirmação. e depois a cabeça e as mãos quando foi sagrado Bispo. Jesus experimentou a aproximação da morte violenta. Cardeal Emmanuel III Delly. e os Bispos daquela amada Igreja que no Iraque sofre. que ungiu a testa de D. sentiu estreitar-se ao seu redor a trama dos perseguidores. O gesto de Maria. A estes venerados Irmãos no Episcopado. Paulos Faraj Rahho. especialmente no ânimo dos discípulos. Experimentou a angústia e o medo. que sob o olhar cheio de fé do discípulo João revela significados profundos. Mas aquelas unções. Mas Ele viveu tudo isto imerso na comunhão com o Pai e confortado pela "unção" do Espírito Santo. Horas nas quais se fez nítido o contraste entre a verdade e a mentira. torna-se um extremo acto de amor reconhecido em vista da sepultura do Mestre. penhor da vida verdadeira e plena que o Senhor Jesus nos veio doar! .SANTA MISSA EM SUFRÁGIO PELO ARCEBISPO PAULOS FARAJ RAHHO ARCEBISPO DE MOSSUL DOS CALDEUS HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Capela Redemptoris Mater Segunda-feira. sacramentais e espirituais. de ungir os pés de Jesus com o unguento precioso. permanecendo fiel à lei do amor. assim os seus cristãos saibam perseverar no empenho da construção de uma sociedade pacífica e solidária sobre a via do progresso e da paz. que pronunciamos no dia da nossa Ordenação sacerdotal. Ele foi um homem de paz e de diálogo. dando testemunho da verdade. e o modo desumano como teve que concluir a sua vida terrena. quando Ele. nesta Eucaristia que oferecemos pela sua alma consagrada. cristãos e muçulmanos. O Servo é apresentado como aquele que "trará o direito". no primeiro dos quatro "poemas". à qual tinha confiado a tarefa de valorizar tais pessoas e de apoiar as suas famílias. Sei que ele tinha uma predilecção particular pelos pobres e pelos deficientes. queremos esperar que. denominada Alegria e Caridade ("Farah wa Mahabba"). em profunda união com a Comunidade caldeia no Iraque e no estrangeiro. Como o amado Arcebispo Paulos se comprometeu abnegadamente ao serviço do seu povo. Sobre esta mesma via. quando ouviu a voz de Deus que perguntava: "Quem enviarei eu? E quem irá por mim?" "Eis-me aqui. Rahho tomou a sua cruz e seguiu o Senhor Jesus e dessa forma contribuiu para levar o direito ao seu atormentado país e ao mundo inteiro. O Senhor chamou-o "para a justiça" e ele realizará esta missão universal com a força não violenta da verdade. Mãe da esperança. choramos a sua morte. Depois o próprio . Nesses dias. para cuja assistência física e psíquica tinha dado vida a uma especial associação. 20 de Março de 2008 Queridos irmãos e irmãs! Todos os anos a Missa crismal nos exorta a reentrar naquele "sim" à chamada de Deus. e portanto. que se realizou plenamente em Jesus Cristo. Mas hoje. queremos dar graças a Deus por todo o bem que realizou nele e por meio dele. Confiemos estes votos à intercessão da Virgem Santíssima. 8). E. a construir uma convivência pacífica. "estabelecerá o direito". dá testemunho da verdade. com uma insistência sobre este termo que não pode passar inobservada. dissemos como Isaías. ele interceda junto do Senhor para obter para os fiéis dessa Terra tão provada a coragem de continuar a trabalhar por um futuro melhor. baseada na fraternidade humana e no respeito recíproco. diante de uma condenação injusta. ao mesmo tempo. D. do Céu. nos quais sobressaem a mansidão e a força deste misterioso enviado de Deus. enviai-me" respondeu Isaías (6. Na Paixão de Cristo vemos o cumprimento desta missão. "Adsum eis-me!". Mãe do Verbo encarnado para a salvação dos homens. Possa o seu exemplo ajudar todos os iraquianos de boa vontade.A leitura do profeta Isaías colocou-nos diante da figura do Servo do Senhor. muitas das quais aprenderam com ele a não esconder esses parentes e a ver Cristo neles. "proclamará o direito". para todos. SANTA MISSA CRISMAL HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica Vaticana Quinta-feira Santa. por sua vez. podemos com razão vê-la também como expressão da missão sacerdotal e como justa interpretação da palavra do Deuteronómio: o sacerdote deve ser alguém que vigia. 5. O sacerdote deve ser uma pessoa recta. que provavelmente foi redigido já no final do século II em Roma. no Livro do Deuteronómio (18. de Cristo. Estar diante do Senhor deve ser sempre. Rezemos neste dia. que o Cânone II retoma do texto do Antigo Testamento "estar diante de ti e servir-te". era descrita a essência do sacerdócio veterotestamentário: astare coram te et tibi ministrare. Ao mesmo tempo. A sua profissão era "estar diante do Senhor" olhar para Ele. então isto indica para nós o estar diante do Senhor presente. do seu amor. estar com Ele. depois da entrada do Senhor na assembleia em oração. da sua verdade. pelas mãos do Bispo. impôs-nos as mãos e nós entregámo-nos à sua missão. se ocupa de todos nós junto do Pai. uma pessoa que sabe ser firme. Firme deve ser o sacerdote. No texto veterotestamentário esta palavra tem um significado essencialmente ritual: aos . descreve a essência do ministério sacerdotal com as mesmas palavras com as quais. a Quinta-Feira Santa é para nós uma ocasião para nos perguntarmos sempre de novo: Ao que dissemos "sim"? O que significa "ser sacerdote de Jesus Cristo"? O Cânone II do nosso Missal. Se esta palavra agora se encontra no Cânone da Missa imediatamente depois da consagração dos dons. Portanto. A tudo isto acrescente-se depois o servir. Assim como os outros cultivavam a terra. Deve ser alguém que está em pé: firme diante das correntes do tempo. No Livro do Deuteronómio isto deve ser lido no contexto da disposição precedente. em última análise. indica a Eucaristia como centro da vida sacerdotal. Deve estar alerta diante dos poderes ameaçadores do mal. percorremos vários caminhos no âmbito da sua chamada. O que era considerada tarefa dos monges. para que ele seja sempre animado. da qual vivia também o sacerdote. a palavra indicava uma vida na presença de Deus e com isto também um ministério em representação dos outros. Deve manter o mundo desperto para Deus.Senhor. 41). estar em pé era a expressão da vigilância. no mais profundo. Não se ocupavam dos normais trabalhos necessários para o sustento da vida quotidiana. devia viver com o olhar dirigido para Ele. Na tradição do monaquismo sírio. também um ocupar-se dos homens junto do Senhor que. destemido e disposto a suportar pelo Senhor até ultrajes. os monges eram qualificados como "os que estão em pé". assim ele mantinha o mundo aberto para Deus.7). Mas também aqui o alcance vai além. 2 Cor 4. Firme no compromisso pelo bem. segundo a qual os sacerdotes não recebiam porção alguma de terreno na Terra Santa eles viviam de Deus e por Deus. Firme na verdade. da sua palavra. como referem os Actos dos Apóstolos: eles "cheios de alegria por terem sido considerados dignos de sofrer vexames por causa do nome de Jesus" (5. 1)? "Não desanimemos neste ministério". Em seguida. Podemos nós afirmar sempre o que Paulo. são duas as tarefas que definem a essência do ministério sacerdotal: em primeiro lugar o "estar diante do Senhor". para que seja sempre alimentado de novo pela chama viva do Evangelho. E deve ser um ocupar-se d'Ele. vigilante. Passemos agora à segunda palavra. escreveu aos Coríntios: "Não desanimemos neste ministério. depois de anos de serviço ao Evangelho muitas vezes cansativo e marcado pelos sofrimentos de todos os tipos. No hino da Liturgia das Horas que durante a quaresma introduz o Ofício das leituras o Ofício que outrora os monges recitavam durante a hora da vigília nocturna diante de Deus e pelos homens uma das tarefas da quaresma é descrita com o imperativo: arctius perstemus in custodia estejamos vigilantes de modo mais intenso. Assim. isto é. que nos foi concedido misericordiosamente" (cf. de seguir apenas a própria vontade e considerar que só assim nós seremos livres. Esta obediência fundamental que faz parte do ser homem. Esta familiaridade inclui também um perigo: o de que o sagrado por nós continuamente encontrado se torne para nós um hábito. Com a assunção da palavra "servir" no Cânone.sacerdotes competiam todas as acções de culto previstas pela Lei. O servo está sob a palavra: "Não seja feita a minha mas a tua vontade" (Lc 22. Condicionados por todos os costumes. Porque a verdade é que devemos partilhar a nossa liberdade com os demais e só podemos ser livres em comunhão com eles. que só graças a uma tal liberdade sem limites o homem seria completamente homem. de modo que se torne a alma da nossa vida quotidiana. Esta liberdade partilhada só pode ser liberdade verdadeira se com ela entramos no que constitui a própria medida da liberdade. O culto que Cristo prestou ao Pai foi doar-se até ao fim pelos homens. que sozinhos não poderíamos idealizar. Por fim. precisamente. O que o sacerdote faz naquele momento. isto significa também que a oração deve ser uma realidade prioritária que se deve aprender sempre de novo e sempre cada vez mais profundamente na escola de Cristo e dos santos de todos os tempos. realizar um serviço a Deus e um serviço aos homens. mas significa sobretudo também obediência. mas a Ele e à sua Palavra. surpreendente. O pecado de Adão consistia. é sempre também anúncio. neste serviço. a palavra "servir" assume muitas dimensões. na celebração da Eucaristia. como um encargo de serviço. reconhecendo sempre de novo a nossa insuficiência e a graça que existe no facto de que Ele se entregue assim nas nossas mãos. realizada com participação interior. Servir significa proximidade. torna-se ainda mais concreta no sacerdote: nós não anunciamos a nós próprios. Devemos aprender sempre a compreender cada vez mais a sagrada Liturgia em toda a sua essência. se doe a nós. Desaparece assim o temor reverencial. contra a rebelião do coração decaído. É então que celebramos de modo justo. Contra este acostumar-se à realidade extraordinária. A nossa obediência é um crer com a Igreja. que sobressai a ars celebrandi. pela sua natureza. contra a indiferença do coração. Neste sentido "servir" significa proximidade. a amam e a vivem: só então a poderemos explicar de maneira adequada. Mas precisamente assim vamos contra a verdade. Assim. que Ele mesmo está presente. novo. "Servir o Senhor" o serviço sacerdotal significa precisamente também aprender a conhecer o Senhor na sua Palavra e fazê-Lo conhecer a todos os que Ele nos confia. no facto de que ele queria realizar a sua vontade e não a de Deus. a arte de celebrar. Mas este agir segundo o rito era depois classificado como serviço. Com esta palavra. Dado que a Liturgia cristã. Ninguém está tão próximo do seu senhor como o servo que tem acesso à dimensão mais privada da sua vida. é servir. um ser não por si e só para si mesmo. Certamente dela faz parte antes de tudo a recta celebração da Liturgia e dos Sacramentos em geral. nos fala. desenvolver uma viva familiaridade com ela. A tentação da humanidade é sempre a de querer ser totalmente autónoma. 42). devemos ser pessoas que têm familiaridade com a Palavra de Deus. Jesus no Jardim das Oliveiras resolveu a batalha decisiva contra o pecado. exige familiaridade. O sacerdote deve inserir-se neste culto. se entramos na vontade de Deus. e explica-se assim em que espírito aquelas actividades deviam ser desempenhadas. Nesta arte nada deve haver de artificial. fazem parte do servir ainda outros dois aspectos. . devemos lutar sem tréguas. Se a Liturgia é uma tarefa central do sacerdote. este significado litúrgico da palavra é de certa forma adoptada de acordo com a novidade do culto cristão. Anunciamos a Palavra de Cristo de modo justo só na comunhão do seu Corpo. não deixamos de compreender o facto grande. João descreve-o com duas palavras: passagem (metabainein. na qual agora está sempre com o Pai e contemporaneamente com os homens. Com o gesto do amor até ao fim ele lava os nossos pés sujos. a verdadeira "ascensão" do homem. quase litúrgica: "Antes da festa da Páscoa. O que constitui o conteúdo desta hora. Representou o conjunto do seu sumo sacerdócio no gesto do lava-pés. Faz parte disto sempre também o que Jesus predisse a Pedro: "Serás levado onde não queres". um servir com ela. depois de uma breve visita ao mundo. com a humildade do seu servir purifica-nos da doença da nossa soberba. Chegou a "hora" de Jesus. 8). Ele que amara os seus que estavam no mundo. Na Cruz. Ele desceu. para os numerosos modos do serviço do amor ao próximo. . A sua elevação é a Cruz. o seu ser humano. e a verdadeira elevação do homem realiza-se agora no nosso descer com Ele e para Ele. 1). Enviai-me" (Is 6.um pensar e falar com a Igreja. crucifixão como elevação. o dom de poder proclamar neste sentido de novo o nosso "sim" à sua chamada: "Eis-me aqui. 20 de Março de 2008 Queridos irmãos e irmãs! São João começa a sua narração sobre como Jesus lavou os pés aos seus discípulos com uma linguagem particularmente solene. Neste ser guiados. ambas descrevem a Páscoa de Jesus: cruz e ressurreição. Amém. A passagem é uma transformação. Peçamos ao Senhor. como amor levado até ao extremo. As duas palavras explicam-se reciprocamente. Ele é como que fundido e transformado numa nova maneira de ser. ao entregar-se a si mesmo. A Eucaristia como presença da descida e da elevação de Cristo remete assim sempre. além de si mesma. é ao mesmo tempo o ápice da elevação. sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai. Este deixar-se guiar para onde não queremos é uma dimensão fundamental do nosso servir. e é precisamente o que nos torna livres. "Estar diante d'Ele e servi-Lo": Jesus Cristo como verdadeiro Sumo Sacerdote do mundo conferiu a estas palavras uma profundidade antes inimaginável. Quis ser o servo de todos. que pode ser contrário às nossas ideias e projectos. agora simplesmente partisse de novo e voltasse para o Pai. SANTA MISSA "IN COENA DOMINI" HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica de São João de Latrão Quinta-feira Santa. para a qual a sua obra estava orientada desde o início. Ele leva consigo a sua carne. experimentamos algo novo a riqueza do amor de Deus. "Estar diante d'Ele e servi-Lo" isto significa agora entrar na sua chamada de servo de Deus. levou até ao extremo o Seu amor por eles" (13. Não é como se Jesus. metabasis) e agape amor. quis tornar-se aquele servo de Deus que a visão do Livro do profeta Isaías tinha previsto. que como Filho era e é o Senhor. Assim faz com que nos tornemos convidados de Deus. como "passagem" para a glória de Deus. É a descida mais profunda e. neste dia. Ele. como um "passar" do mundo para o Pai. num acto de doação. se acolhemos as palavras de Jesus em atitude de meditação. transformação. Assim recebemos a redenção ser partícipes do amor eterno. Sim. Rezemos-Lhe para que do banho sagrado do seu amor sejamos cada vez mais profundamente penetrados e assim deveras purificados! Se ouvirmos o Evangelho com atenção. ameaça-nos com a incapacidade para a verdade e para o bem. uma múltipla semifalsidade ou falsidade aberta infiltra-se continuamente no nosso íntimo. As purificações cultuais e exteriores. elas desenvolvem em nós a sua força purificadora. Mediante o seu amor a Cruz torna-se metabasis. cf. transformação do ser homem no ser partícipe da glória de Deus. saiu não só água. Mas depois o dom torna-se um modelo. elas revelam-se verdadeiras lavagens. deixar-nos tornar capazes da comunhão convivial com Deus e com os irmãos. devido à palavra que vos tenho dirigido". Mas do lado de Jesus. depois do golpe da lança do soldado. 34. da encarnação até à cruz e à ressurreição: este conjunto torna-se a força restabelecedora. do homem interior. Sacramentum significa neste contexto não um dos sete sacramentos. "Vós já estais limpos. purificações da alma. Lava-nos com o poder sagrado do seu sangue. Mas este novo ser que Ele. é carne e sangue "pela vida do mundo" (Jo 6. mediante o dom de si mesmo. simplesmente nos doa deve depois transformar- . de sabedoria limitada e alterada. uma condição para a qual tendemos com toda a nossa existência. Jesus depõe as vestes da sua glória. Nesta transformação Ele envolve todos nós. deixando-o contudo tal como ele é. Com esta expressão "até ao fim" João remete antecipadamente para a última palavra de Jesus na Cruz: tudo foi levado até ao fim. na abertura para Deus e na comunhão com Ele. dirá aos discípulos no sermão sobre a videira (Jo 15. Nos sagrados Sacramentos. com o seu doar-se "até ao extremo". da "capacidade para Deus" que lhes ofereceu. 6. 51). Este processo essencial da hora de Jesus é representado no lava-pés numa espécie de profético acto simbólico. torna-se a nossa metabasis. a nossa transformação numa forma nova de ser. Dia após dia somos como que cobertos de várias formas de sujidade. entreita-nos com o "manto" da humanidade e faz-se servo. o acto da morte. arrebatando-nos para dentro da força transformadora do seu amor a ponto de. o Senhor ajoelha-se sempre de novo diante dos nossos pés e purifica-nos. de preconceitos. Lava os pés sujos dos discípulos e torna-os assim capazes de aceder ao banquete divino para o qual Ele os convida.8). são substituídas pelo banho novo: Ele torna-nos puros mediante a sua palavra e o seu amor. a nossa vida se tornar "passagem". isto é. mas também sangue (Jo 19. de oração e de fé. que purificam o homem ritualmente. 3). Tudo isto ofusca e contamina a nossa alma. até à Cruz. de palavras vazias. Se acolhermos as palavras de Jesus com o coração atento. 30). Os Padres qualificaram esta duplicidade de aspectos do lava-pés com as palavras sacramentum e exemplum. Lava-nos sempre de novo com a sua palavra. A sua palavra é mais que um simples falar. Nele Jesus evidencia como um gesto concreto precisamente o que o grande hino cristológico da Carta aos Filipenses descreve como o conteúdo do mistério de Cristo. "tudo está consumado" (19. sem merecimentos nossos. de amor até ao fim. podemos aperceber-nos de dois aspectos diversos no acontecimento do lava-pés. a força transformadora para os homens. 1 Jo 5. não nos deixou só palavras. É para isto que nos convida o Evangelho do lava-pés: deixarmo-nos sempre de novo lavar com esta água pura. a tarefa de fazer a mesma coisa uns pelos outros.Transforma a Cruz. no nosso ser com Ele. O lava-pés que Jesus doa aos seus discípulos é antes de tudo simplesmente acção sua o dom da pureza. Ele ofereceu-Se a Si mesmo. mas o mistério de Cristo no seu conjunto. Jesus não apenas nos falou. que o mestre Jesus lavasse os pés. que ela consiste precisamente em descer. diz a Jesus com a sua habitual veemência (Jo 13. Num primeiro momento. Jesus diz aos seus discípulos e a todos nós: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros. Ao que se faz alusão? Não sabemos com certeza. Cristianismo é antes de tudo dom: Deus doa-se a nós não dá algo. também vós vos deveis amar uns aos outros" (Jo 13. Pedro não quisera que o Senhor lhe lavasse os pés: esta inversão da ordem. Assim permanecemos-lhe devedores da prova de credibilidade da verdade cristã. no momento da nossa conversão. O seu conceito de Messias incluía uma imagem de majestade. no final da narração do lava-pés. que se demonstra no amor. mas doa-se a si mesmo. 34). E também nós devemos aprendê-lo sempre de novo. Se considerarmos isto. o seu amor até ao extremo. Mas aqui. deseja ser em nós vida nova a partir de Deus. a alegria pela vida nova que Ele nos dá. 8). O conjunto de dom e exemplo. No Evangelho do lava-pés o diálogo de Jesus com Pedro apresenta ainda outro aspecto da prática de vida cristã. na humildade do serviço. O amor doado é a dinâmica do "amar juntos". Precisamente por isto desejamos muito mais rezar ao Senhor para que nos torne. . que até então não existia. No começo não estão as nossas acções. "Nunca me lavarás os pés". que o senhor assumisse as funções do servo. percebemos como com muita frequência estamos distantes com a nossa vida desta novidade do Novo Testamento. a sua descida até à cruz. Deus gratifica-nos como parceiros pessoais e vivos. O "novo mandamento" não consiste numa norma nova e difícil. segundo o sentido de todo o capítulo. na radicalidade do amor até ao total autodespojamento. A isto segue-se a palavra misteriosa de Jesus: "Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés" (Jo 13. mas o sacramentum Christi no seu conjunto o seu serviço de salvação. porque não somos capazes de nos apercebermos que o Pastor vem como Cordeiro que se doa e assim nos conduz ao prado justo. assim como Eu vos amei.se em nós na dinâmica de uma nova vida. que encontramos na perícope do lava-pés. contrastava totalmente com o seu temor reverencial para com Jesus. Contudo tenhamos presente que o lava-pés. 10). é característico para a natureza do cristianismo em geral. Por isso a acção principal do ser cristão é a Eucaristia: a gratidão por termos sido gratificados. ao qual queremos por fim dirigir a nossa atenção. Quando o Senhor diz a Pedro que sem o lava-pés não teria podido ter parte alguma com Ele. Jesus faz alusão a um banho que os discípulos já tinham feito. a nossa capacidade moral. para com o seu conceito de relação entre mestre e discípulo. para participar no banquete agora só era necessário o lavapés. porque sistematicamente desejamos um Deus do sucesso e não da Paixão. Tinha que aprender sempre de novo que a grandeza de Deus é diversa da nossa ideia de grandeza. maduros para o mandamento novo. Mas com isto não permanecemos destinatários passivos da bondade divina. Assim compreendemos a palavra que. através da sua purificação. isto é. de grandeza divina. Oferece-nos sempre de novo os seus dons. Pedro imediatamente pede impetuoso que lhe sejam lavadas também as mãos e a cabeça. não indica um único Sacramento específico. O aspecto novo é o dom que nos introduz na mentalidade de Cristo. Precede-nos sempre. Ele permanece continuamente Aquele que doa. um simples sistema ético. quanto pouco damos à humanidade o exemplo do amar em comunhão com o seu amor. E isto acontece não só no início. que purifica e nos torna capazes de Deus. O cristianismo não é uma espécie de moralismo. Mas naturalmente esconde-se nisto um significado mais profundo. 14). que o Senhor nos fez. lavando os pés uns dos outros. para assim podermos ir juntos ao banquete de Deus. Devemos lavar-nos os pés uns aos outros no recíproco serviço quotidiano do amor. da qual fala São João nesta Carta.com a distinção entre banho e lava-pés. 21-35). 28). Mas também na permanência desta nova identidade. A Quinta-Feira Santa é um dia de gratidão e de alegria pelo grande dom do amor até ao extremo. Neste momento rezemos ao Senhor para que gratidão e alegria se tornem em nós a força de amar juntos com o seu amor. Devemos reconhecer que também na nossa nova identidade de baptizados pecamos. Nele o Senhor lava-nos sempre de novo os pés sujos e nós podemos sentar-nos à mesa com Ele. Exorta-nos a purificar continuamente a nossa memória. de lavar os pecados de todos os dias. A isto nos exorta a Quinta-Feira Santa: a não deixar que o rancor para com o próximo se torne no fundo um envenenamento da alma. Embora fique ainda o corpo do morto – este pessoalmente . um serviço pelo irmão: "Ora. VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Basílica de São Pedro Sábado Santo 22 de Março de 2008 Amados irmãos e irmãs. Mas devemos lavar-nos os pés também no sentido de que nos perdoamos sempre de novo uns aos outros. Se confessarmos os nossos pecados. se Eu vos lavei os pés. No seu discurso de despedida. um facto que transforma profundamente a nossa vida. à vida Igreja. um dom. torna-se ainda perceptível uma alusão à vida na comunidade dos discípulos. enganamo-nos a nós mesmos e não há verdade em nós. mas voltarei para junto de vós» (Jo 14. Jesus anunciou aos discípulos sua morte e ressurreição iminentes. com uma frase misteriosa: «Vou partir. se não a deitarmos fora como fez Judas. Nela lê-se: "Se dissermos que não temos pecados. De que se trata? Parece-me que a Primeira Carta de São João nos dê a chave para o compreender. Parece claro que o banho que nos purifica definitivamente e não deve ser repetido é o Baptismo o ser imerso na morte e ressurreição de Cristo. Amém.). para a comunhão convival com Jesus temos necessidade do "lava-pés". também vós deveis lavar os pés uns aos outros" (Jo 13. Precisamos da confissão do modo como ela ganhou forma no Sacramento da reconciliação. A ofensa que o Senhor nos perdoou é sempre infinitamente maior do que todas as ofensas que outros poderão ter em relação a nós (cf. doada pelo Baptismo. Mas assim assume um novo significado também a palavra. Mt 18. sendo Senhor e Mestre. Morrer é partir. perdoando-nos reciprocamente de coração. Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e purificar-nos de toda a iniquidade" (1. 8s. Precisamos do "lava-pés". dando-nos como que uma nova identidade que permanece. com a qual o Senhor alarga o sacramentum fazendo dele o exemplum. e para isto temos necessidade da confissão dos pecados. quando um grupo de Gregos veio pedir para O ver. mas voltarei para junto de vós». mas pode também passar através da porta interna entre o “eu” e o “tu”. Podem separarnos continentes. vem até vós e une a sua vida com a vossa conservando-vos dentro do fogo vivo do seu amor. a partida é uma realidade definitiva. um só entre vós. de tal modo que estes pudessem vê-Lo e tocá-Lo na fé. Jesus. é Cristo que vive em mim» (Gal 2. a sua partida transforma-se numa nova vinda. em que abraça todos os tempos e lugares. Mas. O nosso tempo tende a acabar. porém. Jo 13. falando da sua morte.partiu para o desconhecido e não podemos segui-lo (cf. entre o passado e o amanhã. Agora pode ultrapassar também o muro da alteridade que separa o “eu” do “tu”. 36). tanto mais podereis experimentar a verdade desta palavra. deste modo resulta evidente que as palavras misteriosas de Jesus. culturas. Jesus. no grande “eu” dos crentes que se tornaram – segundo definição dele – «um em Cristo» (Gal 3. por meio da sua morte como o grão de trigo chegaria verdadeiramente até junto dos Gregos. Através da sua cruz. estruturas sociais ou mesmo distâncias históricas. numa forma de presença mais profunda que não acaba mais. podemos de algum modo entrar na existência do outro. O seu “eu” fechado abriu-se. Queridos amigos. estava ligado às condições externas da existência corpórea: a um certo lugar e a um determinado tempo. É capaz não só de passar através das portas externas fechadas. é imortal. mediante a sua partida. A sua partida tornase uma vinda no modo universal da presença do Ressuscitado. A corporeidade coloca limites à nossa existência. que agora fica totalmente transformado por meio do acto de amor. Na sua vida terrena. no qual Ele está presente ontem. Assim aconteceu com Paulo. É precisamente partindo que Ele vem. o Senhor entra na vossa vida pela porta do vosso coração. vem. Por meio da vinda do Ressuscitado. no amor. um só com Ele e. para dar muito fruto. Predissera assim o seu próprio destino: Ele não queria simplesmente falar então com este ou aquele Grego durante alguns minutos. como narram os Evangelhos (cf. deve passar através da morte. Mas permanece a barreira intransponível de sermos diversos. como todos nós. Já não estamos um ao lado do outro ou um contra o outro. Pelo contrário. A sua partida inaugura um modo totalmente novo e maior da sua presença. diz: «Vou partir. Paulo obteve uma identidade nova. que descreve o processo da sua conversão e do seu Baptismo com estas palavras: «Já não sou eu que vivo. Agora vive em comunhão com Jesus Cristo. não há regresso. A realidade do Baptismo consiste nisto: Ele. está livre de tais barreiras e limites. Mas. Num primeiro momento. 28). Por isso. . Não podemos estar contemporaneamente em dois lugares diferentes. O amor. no Cenáculo. Pelo contrário Jesus. Jesus entra no amor do Pai. 19). agora – por meio do Baptismo – se tornam de novo presentes para vós. As pessoas baptizadas e crentes nunca são verdadeiramente estranhas uma à outra. 20). Jo 20. isto pode parecer bastante teórico e pouco realista. Com a sua morte. Mas quanto mais viverdes a vida de baptizados. no caso de Jesus. hoje e para sempre. Jesus respondeu com a parábola do grão de trigo que. Ele atravessa todas estas portas. No dia da sua entrada triunfal em Jerusalém. deste modo. Na nossa morte. há uma novidade única que muda o mundo. o Ressuscitado. Certamente. A sua morte é um acto de amor. a porta fechada entre o ontem e o hoje. E entre o “eu” e o “tu” existe o muro da alteridade. Passais a ser uma unidade: sim. No Baptismo. 11). isto mesmo acontece no Baptismo: Jesus levanta-nos para Ele. deixa transparecer o mistério da água e o seu significado simbólico. do mar (cf. encontra-se uma afirmação sobre Cristo. No capítulo conclusivo da Carta aos Hebreus. Então experimentamos que o fundamento das nossas vidas é o mesmo. Ef 2. Jesus desceu às águas obscuras da morte. temos o símbolo da luz e do fogo. mas. Agora eleva-nos a nós da morte para a vida verdadeira. Sim. convém recordar que Moisés tinha sido colocado pela mãe num cesto e deposto no Nilo. atrainos para dentro da verdadeira vida. assim. Experimentamos que. Os crentes nunca são totalmente estranhos um ao outro. por maiores que sejam. directamente do sol por meio de um cristal: luz e fogo recebiam-se novamente. não larguemos a sua mão! Caminharemos então pela via que conduz à vida. a partir deles. Neste contexto. no Senhor tornamo-nos próximos (cf. Esta natureza íntima do Baptismo como dom de uma nova identidade é representada pela Igreja através de elementos sensíveis. que em diversos lugares se conservou durante muito tempo. Mas. 13). e assim – salvo ele próprio das águas da morte – podia conduzir os outros fazendo-os passar através do mar da morte. na mesma esperança e no mesmo amor. Lancemos apenas um olhar sobre estes dois elementos. a partir da qual todas as diferenças exteriores. vista na sua ligação com o Antigo Testamento. Agarremos bem a sua mão! Suceda o que suceder e implicando mais ou menos connosco. resultam secundárias. Isto é um símbolo do que celebramos na Vigília Pascal. um trecho do Livro de Isaías. No Baptismo como que nos toma pela mão. sobressai com grande vigor. se acenderem todas as luzes e fogos do ano. Gregório de Tours refere o costume. temos a luz. ao lado desta e em segundo lugar. na mesma fé. Por nós. em virtude do seu sangue – diz-nos a Carta aos Hebreus – foi feito voltar da morte: o seu amor uniu-se ao do Pai e. nesta frase. na vida verdadeira e justa. na liturgia da Vigília Pascal. reconhecemo-nos com base no mesmo Senhor. O elemento fundamental do Baptismo é a água. na qual não aparece directamente a água. no mais fundo do nosso íntimo. Diz o texto: «O Deus da paz fez voltar dos mortos o Pastor grande das ovelhas em virtude do sangue de uma aliança eterna» (cf. por assim dizer. 13.quando nos encontramos. Conduz-nos através do mar frequentemente tão obscuro da história. da profundidade da morte Ele pôde subir para a vida. do céu para depois. 20). que. fora tirado para fora da água. para a celebração da Vigília Pascal. Depois. Estamos em comunhão por causa da nossa identidade mais profunda: Cristo em nós. Em segundo lugar. Ecoa. onde Moisés é designado como o pastor que o Senhor fez sair da água. de tomar o fogo novo. pela providência de Deus. fora das águas da morte. a fé é uma força de paz e reconciliação no mundo: fica superada a distância. Deste modo. 63. trazido da morte à vida. Jesus aparece como o novo e definitivo Pastor que leva a cumprimento o que Moisés tinha feito: Ele conduz-nos fora das águas mortíferas do mar. em cujas confusões e perigos não é raro sentirmo-nos ameaçados de afundar. estamos ancorados à mesma identidade. que nos formam. Jesus tomou verdadeiramente a luz do céu e trouxe-a à terra – a . Com a radicalidade do seu amor. conduz-nos pelo caminho que passa através do Mar Vermelho deste tempo e introduz-nos na vida duradoura. no qual se tocaram o coração de Deus e o coração do homem. ano após ano. Sempre de novo nos devemos voltar para Ele. Posso esconder-me e passar a minha vida dormindo. não deixemos que se apague. creio que em Jesus Cristo. mas na luz. Sim. e levantá-lo interiormente para o alto: para a verdade e o amor. de voltar a nossa alma para Jesus Cristo e. nos orienta na justa direcção e atrai para o alto o nosso . em que tão frequentemente nos movemos com o nosso pensar e agir. por qualquer razão. a fim de se orientarem interiormente para o Senhor. força que nos vem de Deus: uma força que não destrói. somos de algum modo exortados a uma renovação do nosso Baptismo: Conversi ad Dominum – sempre de novo nos devemos afastar das direcções erradas. que eles se viravam para o Oriente – na direcção donde nasce o sol como sinal de Cristo que volta. são criados por Deus omnipotente. mas quer transformar os nossos corações. creio que o Espírito Santo nos dá a Palavra da verdade e ilumina o nosso coração. exortar os crentes exclamando: “Conversi ad Dominum – agora voltai-vos para o Senhor”. o Baptismo era chamado também o Sacramento da Iluminação: a luz de Deus entra em nós. porque Ele. antes de mais. que ainda hoje é dirigida à comunidade cristã. do nosso alheamento – ao alto. por assim dizer acendemos novamente. os vossos corações. Isto significava. para nos tornarmos verdadeiramente homens de Deus e para que a sua paz se torne operativa neste mundo. antes do Cânone: “Sursum corda – corações ao alto”. Com isto estava ligada também a outra exclamação. Deus está presente no meio de nós. dos nossos desejos. não era possível fazer-se. com toda a vida voltada para o Senhor. Nos lugares onde isso. das nossas angústias. que. Nas promessas baptismais. mas da Razão eterna e do Amor eterno. o vosso íntimo! Nas duas exclamações. assim nos tornamos nós próprios filhos da luz. deste modo. na Igreja Antiga.luz da verdade e o fogo do amor que transformam o ser do homem. Protejamo-la contra todas as forças que pretendem extingui-la para nos lançar novamente na escuridão de Deus e de nós mesmos. O Senhor deu-nos a luz da verdade. fora de todos os enredos das nossas preocupações. que o puxa para baixo. para o Amor eterno. que é o Caminho. Sim. os crentes voltavam-se para a imagem de Cristo na ábside ou para a cruz. não somos chamados a viver nas trevas. após a homilia. saindo ao seu encontro na celebração da Eucaristia. creio que. creio que o mundo e a minha vida não provêm do acaso. agradeçamos ao Senhor. Esta luz da verdade que nos aponta o caminho. E sempre de novo devemos deixar que o nosso coração seja subtraído à força da gravidade. nos tornamos todos um só Corpo com o Senhor e. para a luz verdadeira. havia o costume de o Bispo ou o sacerdote. n’Ele. para o Deus vivo. Sempre de novo nos devemos tornar “convertidos”. Nós. Com efeito. com a força da sua palavra e dos sacramentos sagrados. Ser baptizados significa que o fogo desta luz desce ao nosso íntimo. vamos ao encontro da ressurreição e da vida eterna. Ele trouxe a luz. se manifestou o Rosto de Deus. De vez em quando a escuridão pode-nos parecer cómoda. a Verdade e a Vida. Na Igreja Antiga. Esta luz é ao mesmo tempo também fogo. e agora sabemos quem e como é Deus. De igual modo sabemos também como estão as coisas a respeito do homem: o que somos nós e para que fim existimos. Por isso. porém. esta luz: sim. Nesta hora. na comunhão da Igreja. em última análise era deste facto interior que se tratava: da conversio. n’Ele. na sua cruz e ressurreição. nos une e conduz para a nossa meta. na sua encarnação. homens e mulheres da luz. Entre as numerosas qualidades humanas e sobrenaturais. Como há três anos. repletos do fogo do teu amor. E rezemos-Lhe deste modo: Sim. Senhor. era para ele o centro de cada um dos seus dias e de toda a sua existência. 2 de Abril de 2008 Queridos irmãos e irmãs! A data de 2 de Abril permaneceu impressa na memória da Igreja como o dia da partida deste mundo do servo de Deus o Papa João Paulo II.coração. Durante diversos dias a Basílica Vaticana e esta Praça foram verdadeiramente o coração do mundo. no seu conjunto e em muitos momentos específicos. quando a notícia da morte foi recebida por uma grande multidão em oração que enchia a Praça de São Pedro. fazei que nos tornemos pessoas pascais. João Paulo II faleceu na vigília do segundo Domingo de Páscoa. Na verdade. A realidade "viva e santa" da Eucaristia dava-lhe a energia espiritual para guiar o Povo de Deus no caminho da história. e com Ele mantinha uma conversação íntima. também hoje não passaram muitos dias depois da Páscoa. Revivemos com emoção as horas daquele sábado à noite. Um rio ininterrupto de peregrinos prestou homenagem aos despojos mortais do venerado Pontífice e o seu funeral marcou um ulterior testemunho da estima e do afecto. em particular o seu ministério petrino. A sua agonia durou o espaço desse "dia". no sinal de Cristo Ressuscitado. podemos ler toda a vida do meu amado Predecessor. com uma acentuada capacidade de captar a eloquência da Palavra de Deus no acontecer da história. Era suficiente observá-lo quando rezava: imergia-se literalmente em Deus e parecia que tudo o demais naqueles momentos não lhe dissesse respeito. A Santa Missa. que ele tinha conquistado no coração de tantíssimos crentes e de pessoas de todas as partes da terra. querido pela Santíssima Trindade mediante a obra do Verbo encarnado. As celebrações litúrgicas viam-no atento ao mistério-em-acto. O coração da Igreja ainda está profundamente imerso no mistério da Ressurreição do Senhor. Nesta dimensão espiritual o Papa João Paulo II deu várias vezes provas de se encontrar de certa forma imerso já antes. a nível profundo do desígnio de Deus. parece-nos de facto como um sinal e . de facto tinha a de uma excepcional sensibilidade espiritual e mística. como repetiu com frequência. singular e ininterrupta. neste espaço-tempo novo que é o "oitavo dia". durante a sua vida. morto e ressuscitado. O seu pontificado. ao completar-se o "dia que o Senhor fez". Amen. e especialmente no cumprimento da sua missão de Sumo Pontífice. Ele alimentava uma fé extraordinária n'Ele. III ANIVERSÁRIO DA MORTE DO SERVO DE DEUS JOÃO PAULO II HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Praça de São Pedro Quarta-feira. O seu "Não tenhais medo" não se fundava nas forças humanas. por fim até da própria palavra. Também aquele eloquente cenário de sofrimento humano e de fé. quando as energias físicas iam diminuindo. 5). encontrando no seu caminho a cruz. Desde criança. Homilia em CracóviaLagiewniki. que tornou a existência de João Paulo II uma resposta total à chamada do Senhor. em cumprimento de uma vida totalmente dedicada ao conhecimento e à contemplação do rosto do Senhor. à doação de si. naquela última Sexta-Feira Santa. Dirijo um pensamento particular aos participantes no primeiro Congresso mundial sobre a Divina Misericórdia. A misericórdia de Deus disse ele mesmo é uma chave de leitura privilegiada do seu pontificado. Como aconteceu a Jesus. reinaremos com Ele" (2 Tm 2. primeiro agitando o báculo pastoral culminante na Cruz e depois. E tudo isto através da singular mediação de Maria Santíssima. quase agarrando-se a Ele. e que pretende aprofundar o seu rico magistério sobre este tema. Ele queria que a mensagem do amor misericordioso de Deus alcançasse todos os homens e exortava os fiéis a ser suas testemunhas (cf. Quis ser seu servo fiel até acolher a chamada ao sacerdócio como dom e compromisso de toda a vida.um testemunho da Ressurreição de Cristo. que agora ouvimos. O dinamismo pascal. Por isso quis elevar às honras dos altares a Irmã Faustina . 11-12). Karol Wojtyla tinha experimentado a verdade destas palavras. seguindo as suas pegadas. Não podemos esquecer o seu último e silencioso testemunho de amor a Jesus. "Porque esta palavra é verdadeira afirma o apóstolo Paulo se morrermos por Ele. "Deixai que eu vá para o Pai". indicava aos crentes e ao mundo o segredo de toda a vida cristã. também com Ele reviveremos. esta entrega a Cristo sobressaiu com crescente evidência. nem nos êxitos obtidos. foram estas testemunha quem estava próximo dele as suas últimas palavras. mas unicamente na Palavra de Deus. Com Ele viveu e com Ele quis também morrer. E a morte foi o selo de uma existência totalmente doada a Cristo. As palavras do anjo da ressurreição. até àquela última Sexta-Feira Santa. tornaram-se uma espécie de mote nos lábios do Papa João Paulo II. Pronunciou-as sempre com firmeza inflexível. Guiam-nos nesta reflexão reevocativa as Leituras bíblicas há pouco proclamadas: "Não tenhais medo!" (Mt 28. na qual participou na Via-Sacra da Capela particular estreitando a Cruz entre os braços. na sua família e no seu povo. na Cruz e na Ressurreição de Cristo. Venerados e queridos irmãos. também para João Paulo II no fim as palavras deixaram o lugar ao sacrifício extremo. conformada com Ele também fisicamente nas características do sofrimento e do abandono confiante nos braços do Pai celeste. Mãe da Igreja. Mãe do Redentor. que tem início precisamente hoje. desde o início solene do seu ministério petrino. agradeço a todos por vos terdes unido a mim nesta santa Missa de sufrágio pelo amado João Paulo II. Repetiu-as várias vezes à Igreja e à humanidade a caminho rumo ao ano 2000. e depois através daquela meta histórica e também sucessivamente. se perseverarmos. íntima e efectivamente associada ao seu mistério salvífico de morte e ressurreição. não podia expressar-se sem a participação nos sofrimentos e na morte do divino Mestre e Redentor. no alvorecer do terceiro milénio. À medida que era despojado de tudo. Ele decidiu muito cedo carregá-la juntamente com Jesus. 18/8/2002). dirigidas às mulheres junto do sepulcro vazio. só a Misericórdia Divina é capaz de pôr um limite ao mal. LITURGIA DA PALAVRA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica de São Bartolomeu na Ilha Tiberina Segunda-feira. difundindo incansavelmente o amor misericordioso de Cristo. que a Providência chamou a reunir a sua inestimável herança espiritual.Kowalska. Damos graças ao Senhor por ter doado à Igreja este seu fiel e corajoso servidor. e durante muito tempo perguntou-se o que poderia impedir o alastramento do mal. D. que este ano dá graças ao Senhor pelo quadragésimo aniversário do seu início. Este templo foi propositadamente destinado. ilumina com a sua luz a vida de cada crente. Vincenzo Paglia. Saúdo o Prof. Saúdo com afecto os Senhores Cardeais e os Bispos que quiseram participar nesta liturgia. o Assistente. O servo de Deus João Paulo II tinha conhecido e vivido pessoalmente as terríveis tragédias do século XX. 105). fonte de verdadeira paz para o mundo inteiro. derramaram o seu sangue pelo Senhor. humilde Religiosa que se tornou por misterioso desígnio divino mensageira profética da Divina Misericórdia.). saúdo o Prof. Amém. De facto. Possa a Igreja. Marco Impagliazzo. E enquanto oferecemos pela sua alma eleita o Sacrifício redentor. voltando à sua terra natal disse: "Não há outra fonte de esperança para o homem a não ser a misericórdia de Deus" (ibid. numerosos homens e mulheres. durante a última visita à Polónia. Uma peregrinação guiada pela Palavra de Deus que. pedimos-lhe que continue a interceder do Céu por todos nós. Por isso. pelo meu Predecessor João Paulo II. Andrea Riccardi. Matteo Zuppi. conhecidos e desconhecidos. a ser lugar da memória dos mártires do séc. Presidente da Comunidade. seguindo os seus ensinamentos e exemplos. que ao longo do século XX. como lâmpada para os nossos passos. 7 de Abril de 2008 Queridos irmãos e irmãs Podemos considerar este nosso encontro na basílica de São Bartolomeu na Ilha Tiberina como uma peregrinação à memória dos mártires do século XX. por mim de modo especial. Sl 119. assim como D. fundador da Comunidade de Santo Egídio. luz sobre o nosso caminho (cf. Bispo de Terni-Narni-Amelia. Louvemos e bendigamos a Bem-Aventurada Virgem Maria por ter velado incessantemente sobre a sua pessoa e sobre a humanidade interia. XX e por ele foi confiado à Comunidade de Santo Egídio. e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu. prosseguir fielmente e sem sujeições a sua missão evangelizadora. só o amor omnipotente de Deus pode derrotar a prepotência dos malvados e o poder destruidor do egoísmo e do ódio. . está pronto para sacrificar a vida pelo Reino. a brutalidade cega se revelem mais fortes. Mas Jesus ressuscitado ilumina o seu testemunho e compreendemos assim o sentido do martírio. a exemplo do Mestre divino. Muitos morreram no cumprimento da missão evangelizadora da Igreja: o seu sangue misturou-se com o dos cristãos autóctones aos quais foi comunicada a fé. fazendo silenciar a voz das testemunhas da fé. Jesus disse: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos" (Jo 15. sem pôr limites ao dom do amor e ao serviço da fé. foram mortos por ódio à fé. que levou Cristo a derramar o seu sangue por nós. Afirma a propósito Tertuliano: "Plures efficimur quoties metimur a vobis: sanguis martyrum semen christianorum Nós multiplicamo-nos todas as vezes que somos ceifados por vós: . São Bispos. na Ásia e na Oceânia. não só ao longo do século passado.). que representa algumas destas testemunhas da fé. Por fim muitos foram imolados por não abandonar os necessitados. muitas vezes em condições de minoria. mas desde o início da Igreja vivendo o amor ofereceram no martírio a sua vida a Cristo. disse que estes nossos irmãos e irmãs na fé constituem como que um grande afresco da humanidade cristã do século XX. Ao ancião que pergunta quem sejam e de onde vêm os que estão vestidos de branco. repercorremos idealmente muitas vicissitudes dolorosas do século passado. 13). vivido até ao derramamento de sangue. apesar das graves ameaças e intimidações? Nesta basílica. os pobres. Em virtude daquele sangue. na celebração ecuménica jubilar para os novos mártires. os totalitarismos. 13). os que foram mortos na América. aceitando o sacrifício até ao extremo. um afresco de BemAventuranças. fiéis leigos. a perseguição. No ícone colocado sobre o altar-mor. não temendo ameaças nem perigos. em África. os fiéis que lhes estavam confiados. sacerdotes. Mas na linguagem cifrada do Vidente de Patmos isto contém uma referência clara à cândida chama do amor. São tantos! O Servo de Deus João Paulo II. É verdade: aparentemente parece que a violência. sentimos ressoar o eloquente testemunho de quantos. na Espanha e no México. E costumava repetir que o testemunho de Cristo até ao derrame de sangue fala com voz mais forte do que as divisões do passado. assim conformamo-nos com Ele. Detendo-se em frente dos seis altares. É uma resposta à primeira vista estranha.Neste lugar cheio de memórias perguntamo-nos: por que estes nossos irmãos mártires não procuraram salvar a qualquer preço o bem insubstituível da vida? Por que continuaram a servir a Igreja. onde estão conservadas as relíquias do apóstolo Bartolomeu e onde se veneram os despojos de Santo Adalberto. Cada testemunha da fé vive este amor "maior" e. Amparados por aquela chama também os mártires derramaram o seu sangue e purificaram-se no amor: no amor de Cristo que os tornou capazes de se sacrificarem por sua vez no amor. do nazismo. religiosos e religiosas. que recordam os cristãos vítimas da violência totalitária do comunismo. Outros. Deste modo tornamo-nos amigos de Cristo. realizada a 7 de Maio de 2000 no Coliseu. sobressaem as palavras do Apocalipse: "Estes são os que vieram da grande tribulação" (Ap 7. é respondido que são os que "lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro" (ibid. que podem humanamente parecer derrotadas pela história. fomos purificados. vos ampare e ajude a serdes autênticas testemunhas de Cristo. o amor. especialmente entre os pobres. como Ele são "sinal de contradição". agradeço a Deus a graça de estar no meio de vós. Amém! SANTA MISSA NO NATIONALS PARK STADIUM EM WASHINGTON HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Quinta-feira. Estou particularmente grato ao Arcebispo D. Alimentai a vossa fé com a escuta e a meditação da palavra de Deus. 17 de Abril de 2008 Queridos irmãos e irmãs em Cristo "A paz esteja convosco!" (Jo 20. . Queridos amigos da Comunidade de Santo Egídio. que marcam a existência da Comunidade cristã. 50. inerme e vitorioso também na derrota aparente. graças aos cuidados da Comunidade de Santo Egídio. a fé. É a força que desafia e vence a morte. age uma força que o mundo não conhece: "quando me sinto fraco exclama São Paulo é então que sou forte" (2 Cor 12. 19). Em primeiro lugar. esforçai-vos também vós por imitar a coragem e a perseverança no serviço ao Evangelho. Wuerl pelas suas amáveis palavras de boasvindas. A Virgem Santa. suscitam por vezes uma repulsa violenta. Também este século XXI iniciou no sinal do martírio. como aconteceu com Jesus. A nossa Santa Missa hodierna reconduz a Igreja que está nos Estados Unidos até às suas raízes no vizinho Maryland e recorda o bicentenário do primeiro capítulo do seu considerável crescimento o desmembramento por obra do meu Predecessor. tornam-se também eles. Rainha dos Mártires. 10). e a instauração das Dioceses de Boston. luz e sal da terra. é conservada e venerada a memória de tantas testemunhas da fé. Na derrota. 13: CCL 1. A convivência fraterna. da Diocese originária de Baltimore. o Papa Pio VII. que foram vítimas em tempos recentes. as primeiras dirigidas pelo Senhor ressuscitado aos seus discípulos. na humilhação de quantos sofrem por causa do Evangelho. saúdo todos vós na alegria deste tempo pascal. com a oração quotidiana. objecto de perseguições. com a participação activa na Santa Missa.o sangue dos mártires é semente de novos cristãos" (Apol. Com estas palavras. podereis contribuir para a construção de um mundo mais fraterno. Como é útil então olhar para o testemunho luminoso de quem nos precedeu no sinal de uma fidelidade heróica até ao martírio! E nesta antiga basílica.. as opções em favor dos mais pequeninos e pobres. É a força do amor. A amizade autêntica com Cristo será fonte do vosso amor recíproco. Sede construtores de paz e de reconciliação entre quantos são inimigos ou se combatem. olhando para estes heróis da fé. 171). Quando os cristãos são verdadeiramente fermento. Amparados pelo seu Espírito. Nestas leituras. como comunidade visível estruturada. Rm 5. Como sentimos neste tempo pascal. na fé dos Apóstolos (cf. vemos o vínculo inseparável entre o Senhor ressuscitado. Nova Iorque e Filadélfia. porque o Espírito impele os fiéis a proclamar "as grandes obras de Deus" e a convidar todos os povos a entrar na comunidade daqueles que são salvos mediante o sangue de Cristo e receberam a nova vida no seu Espírito. Vim para repetir a urgente exortação dos Apóstolos à conversão para o perdão dos pecados e para implorar do Senhor uma renovada efusão do Espírito Santo sobre a Igreja que está neste país. para oferecer aos seus contemporâneos uma razão convincente da esperança que os inspira (cf. a Igreja é chamada a crescer na unidade. . como São Pedro proclamou no dia do Pentecostes. Ap 5. ressuscitado da morte. a comunidade católica neste país. Agora a Igreja nos Estados Unidos é chamada a olhar para o futuro. Lc 22. a Igreja na América justamente pode louvar a capacidade das gerações passadas de congregar grupos de imigrantes muito diferentes na unidade da fé católica e num comum compromisso pela difusão do Evangelho. que é comunhão espiritual e ao mesmo tempo corpo místico animado pelos múltiplos dons do Espírito e sacramento de salvação para a humanidade inteira (cf. Vim para proclamar novamente. Lumen gentium. Em todos os tempos e lugares. o dom do Espírito para o perdão dos pecados e o mistério da Igreja.Bardstown (hoje Louisville). No exercício do meu ministério de Sucessor de Pedro. consciente da sua rica multiplicidade. a boa nova da nossa reconciliação com Deus em Cristo. cuja obra redentora é proclamada pelos Sucessores dos Apóstolos e celebrada nos Sacramentos. Ao mesmo tempo. Cristo constituiu a sua Igreja sobre o fundamento dos Apóstolos (cf. 14). 1 Pd 3. Em todas as épocas. estimados irmãos e irmãs. 5). ela é impelida pelo mesmo Espírito a anunciar aos homens e mulheres de todas as raças. 32). a seguir à descida do Espírito Santo no Pentecostes. mediante uma constante conversão a Cristo. 15) e para serem renovados no zelo missionário ao serviço da expansão do Reino de Deus.). Ap 21. línguas e povos (cf. 14 ss. vim à América para vos confirmar. firmemente arraigada na fé transmitida pelas gerações precedentes e pronta a enfrentar novos desafios desafios não menos exigentes do que aqueles enfrentados pelos vossos antepassados com a esperança que nasce do amor de Deus. a Igreja nasceu mediante o arrependimento e a fé no Senhor ressuscitado dons concedidos pelo Espírito Santo. sentado à direita do Pai na glória e constituído Juiz dos vivos e dos mortos (cf. Depois. Além disso. 9). As leituras da Missa hodierna convidam-nos a considerar o crescimento da Igreja na América como um capítulo na maior história da expansão da Igreja. derramando nos nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Duzentos anos mais tarde. que Jesus Cristo é Senhor e Messias. chegou a apreciar cada vez mais plenamente a importância de cada indivíduo e grupo na oferenda do próprio dom particular ao conjunto. 8). Act 2. rezo a fim de que este aniversário significativo na vida da Igreja nos Estados Unidos e a presença do Sucessor de Pedro no meio de vós sejam para todos os católicos uma ocasião par confirmar a sua unidade na fé apostólica. esta unidade comporta uma expansão contínua. mas também para a sociedade no seu conjunto? Trata-se de uma época de grandes promessas. Todavia. reiterado muitas vezes pelo Papa João Paulo II. em vez de agir como fermento espiritual no mundo. Oremos no dia de hoje insistentemente para que a Igreja que está na América seja renovada neste mesmo Espírito e sustentada na sua missão de anunciar o Evangelho a um mundo que tem saudades de uma liberdade genuína (cf. Rm 8. Elas recordam-nos que o Espírito Santo foi difundido como primícias de uma nova criação. a presença de divisão e de polarização no seu interior. aos pais.O mundo tem necessidade do testemunho! Quem pode negar que o momento presente constitui uma viragem não somente para a Igreja na América. e dedicaram a sua vida à Nova Evangelização. são propensos a abraçar atitudes contrárias à verdade do Evangelho. uma liberdade que nos torna capazes de viver em conformidade com a sua vontade. As palavras do Salmo responsorial de hoje são uma oração que. esperando aquela liberdade verdadeira. 13. 21-22). violência crescente. pois vemos a família humana aproximar-se sempre de formas diferentes. e descobre também desconcertada que muitos baptizados. 1). aos sacerdotes e diáconos. brota do coração da Igreja. raiva e contraposição em muitos dos nossos contemporâneos. ao mesmo tempo. A fidelidade e a coragem com que a Igreja neste país conseguir enfrentar os desafios de uma cultura cada vez mais secularizada e materialista dependerá em grande parte da vossa fidelidade pessoal à transmissão do tesouro da nossa fé católica. Estou grato aos meus irmãos bispos. Os desafios que vêm ao nosso encontro exigem uma instrução ampla e sadia na verdade da fé. requerem inclusivamente que se cultive um modo de pensar. vulgarização nos relacionamentos sociais e um aumentado esquecimento de Cristo e de Deus. mas muito mais ainda deve ser feito para formar os corações e as mentes dos jovens no conhecimento e no amor ao Senhor. Jo 8. Inclusivamente a Igreja vê sinais de imensas promessas nas suas numerosas paróquias sólidas e nos movimentos vivazes. vemos sinais evidentes de uma crise preocupante nos próprios fundamentos da sociedade: sinais de alienação. tornando-se cada vez mais interdependente. que é a dádiva de Deus aos seus filhos (cf. Ao mesmo tempo ela sente. . em todos os tempos e lugares. enviai o vosso Espírito e renovai a face da terra!" (cf. Ouvimos São Paulo dizer-nos que toda a criação "geme" até aos dias de hoje. Alcançaram-se muitos progressos no desenvolvimento de programas sólidos para a catequese. em que reinará a paz de Deus e a família humana será reconciliada na justiça e no amor. Sl 104. Ap 21. Os jovens têm necessidade de ser ajudados a discernir o caminho que leva à liberdade autêntica: o caminho de uma sincera e generosa imitação de Cristo. No entanto. no entusiasmo pela fé demonstrado por muitos jovens. aos religiosos e religiosas. "Senhor. professores e catequistas. debilitamento do sentido moral. no número daqueles que todos os anos abraçam a fé católica e num interesse cada vez maior pela oração e pela catequese. 2 Pd 3. a vereda da dedicação à justiça e à paz. de uma felicidade autêntica e da realização das suas aspirações mais profundas! Desejo agora dirigir uma particular palavra de gratidão e de encorajamento a todos aqueles que enfrentaram o desafio do Concílio Vaticano II. 32). 30). de modo frequentemente doloroso. de "novos céus e uma nova terra" (cf. Sem dúvida. e preparada para levar a riqueza da visão da fé a entrar em contacto com as questões urgentes que dizem respeito ao porvir da sociedade norteamericana.uma "cultura" intelectual que seja genuinamente católica. Que a Igreja na América. . peço-vos que ameis os vossos sacerdotes e que os confirmeis no excelente trabalho que realizam. É importante que a quantos sofreram seja reservada uma amorosa atenção pastoral. faz profundamente parte do cariz americano. nossa esperança". orientando-as para o Senhor e para o seu plano de salvação esta mesma esperança caracterizou também. Prezados amigos. e para ajudar quantos foram feridos. Estes cuidados para salvaguardar as crianças devem continuar. confiante na profunda harmonia entre fé e razão. E a virtude cristã da esperança a esperança derramada nos nossos corações por meio do Espírito Santo. Esta é uma oração que aspira. E sobretudo rezai a fim de que o Espírito Santo infunda os seus dons na Igreja. participamos no mistério da própria debilidade e sofrimento de Cristo. no meio do castigo. é suficiente pensar nas injustiças padecidas pelas populações americanas nativas e por quantos. Através desta oração. da África. Mc 10. como escravos. No entanto a esperança. a vida da comunidade católica neste país. Como ouvimos na segunda leitura. Rm 8. É uma oração de esperança inesgotável. Hoje encorajo cada um de vós a fazer tudo o que lhe for possível para promover a purificação e a reconciliação. 14) e que são o nosso maior tesouro possam crescer num ambiente seguro. Nem posso descrever de modo adequado o dano que se verificou no interior da comunidade da Igreja. Além disso. mas também de perseverança paciente e. a esperança no futuro. Os americanos foram sempre um povo da esperança: os vossos antepassados vieram a este país com a expectativa de encontrar uma renovada liberdade e novas oportunidades. enquanto confiamos firmemente na vitória da sua Cruz. não raro. Nenhuma palavra minha poderia descrever a dor e o prejuízo causados por tal abuso. pelo cumprimento das promessas de Deus. É no contexto desta esperança nascida do amor e da fidelidade a Deus que reconheço a dor que a Igreja na América experimentou como consequência do abuso sexual de menores. acompanhada do sofrimento pela verdade. a esperança que purifica e corrige de modo sobrenatural as nossas aspirações. a minha visita aos Estados Unidos tenciona ser um testemunho de "Cristo. 26). Já foram envidados grandes esforços para enfrentar de modo honesto e justo esta trágica situação e para garantir que as crianças que nosso Senhor ama de modo tão profundo (cf. Ontem falei sobre este tema com os vossos bispos. com "gemidos" (cf. enquanto a vastidão do território inexplorado lhes inspirava a esperança de serem capazes de começar completamente de zero. São Paulo fala de uma espécie de oração que se eleva das profundidades dos nossos corações com suspiros demasiado profundos para ser expressos com palavras. ao perdão e ao crescimento na santidade. criando uma nova nação sobre novos fundamentos. as dádivas que levam à conversão. sugeridos pelo Espírito Santo. e continua a caracterizar. esta expectativa não foi a experiência de todos os habitantes deste país. foram trazidos aqui com a força. também agora. mediante o testemunho da vossa fé e através da fecundidade da vossa caridade. tendo em vista levar a luz e a verdade do Evangelho à tarefa de criar um mundo cada vez mais justo e livre para as gerações vindouras. agora e para sempre. Mediante o poder invencível da graça de Cristo. na fidelidade à sua palavra e na conversão constante à sua vontade. confiado a frágeis ministros humanos. siga cada vez mais o caminho da conversão e da fidelidade às exigências do Evangelho! E que todos os católicos experimentem a consolação da esperança e os dons da alegria e da força. peço-vos que suprimais toda a divisão e que trabalheis com alegria para preparar um caminho para Ele. No trecho evangélico de hoje. Spe salvi. bem como as vossas famílias e cada uma das paróquias e comunidades religiosas a confiar no poder da graça de criar um futuro promissor para o Povo de Deus neste país. Amém! SANTA MISSA CELEBRADA NA CATEDRAL DE SÃO PATRÍCIO HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Nova Iorque. de curar todas as feridas. está a abrir para a sua Igreja. em que a nossa sincera profissão do pecado encontra a palavra misericordiosa de perdão e de paz da parte de Deus. "Fomos salvos na esperança!" (Rm 8. a renovação da Igreja na América e no mundo depende da renovação da prática da penitência e do crescimento na santidade: ambos são inspirados e realizados por este Sacramento. nosso Salvador. particularmente no Sacramento da Penitência! A força libertadora deste Sacramento. tem necessidade de ser redescoberta e feita própria por cada um dos católicos. concedidos pelo Espírito. 24). aliás. Quem tem esperança. a Igreja renasce continuamente e a cada um de nós é dada a esperança de um novo início. Confiemos no poder do Espírito Santo de inspirar a conversão. o Senhor ressuscitado oferece aos Apóstolos o dom do Espírito Santo e concede-lhes a autoridade de perdoar os pecados. indicar o caminho para aquele vasto horizonte de esperança que Deus. mediante as vossas orações. convido-vos. Enquanto a Igreja nos Estados Unidos dá graças pelas bênçãos dos passados duzentos anos. Em nome do Senhor Jesus. 19 de Abril de 2008 . Convido-vos sobretudo a continuar a ser fermento de esperança evangélica na sociedade norte-americana. toda a honra e glória. deve viver diversamente (cf. 2)! Que vós possais.mediante esta oração. de superar cada divisão e de suscitar vida e liberdade novas! Quanta necessidade temos de tais dons! E como estão ao nosso alcance. para a humanidade inteira: a visão de um mundo reconciliado e renovado em Jesus Cristo. A Ele. Em grande parte. A proclamação da vida. a missão da Igreja incluiu sempre a atracção de pessoas "provenientes de todas as nações que há debaixo do céu" (Act 2. a avidez. Haer. IV. 16. Enquanto damos graças por estas preciosas bênçãos do passado e consideramos os desafios do futuro. nesta Catedral. Como "povo congregado na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (cf. Agradeço ao Cardeal Egan as cordiais boas-vindas e os bons votos que expressou em vosso nome para este início do quarto ano do meu Pontificado. a violência e o cinismo tão frequentemente parecem sufocar o frágil crescimento da graça no coração das pessoas. que constituem dons gratuitos de Deus. deixando-nos um duradouro património de fé e de boas obras? Na primeira leitura de hoje. da vida em abundância. Com grande perspicácia. respondestes ao seu chamamento e dedicais a vossa vida à busca da santidade. 4). Adv. Dado que a verdadeira vida a nossa salvação só pode ser encontrada na reconciliação. 5) para uma unidade espiritual. na liberdade e no amor. Santo Ireneu compreendeu que a exortação de Moisés ao povo de Israel: "Escolhe a vida!" (Dt 30. deve ser o coração da nova evangelização. oferecido pelos saudosos Cardeais Cooke e O'Connor. Neste país. a Igreja é chamada a proclamar o dom da vida. Lumen gentium. que trabalharam para o crescimento da Igreja nos Estados Unidos. a Santíssima Trindade faz nascer incessantemente a vida nova na obra de criação e redenção. Talvez tenhamos perdido de vista . 2-5). 19) era a razão mais profunda para a nossa obediência a todos os mandamentos de Deus (cf. à difusão do Evangelho e à edificação da Igreja na fé. vimos como os Apóstolos. Como comunhão de amor puro e liberdade infinita. Esta é a mensagem de esperança que somos chamados a anunciar e a encarnar num mundo em que o egocentrismo. enriquecendo o Corpo de Cristo com a multiplicidade dos seus dons. o nosso pensamento dirige-se naturalmente ao testemunho heróico pelo Evangelho da vida. como não pensar nos inúmeros homens e mulheres que nos precederam. Possam descer sobre todos os presentes.Queridos irmãos e irmãs em Cristo! É com grande afecto no Senhor que saúdo todos vós que representais os bispos. os homens e as mulheres de vida consagrada e os seminaristas dos Estados Unidos. fundindo o amor ardente a Deus e ao próximo com o zelo pela propagação do Reino de Deus! Na segunda leitura da manhã de hoje. na força do Espírito Santo. a salvaguardar a vida e a promover uma cultura da vida. Congregados nesta histórica Catedral. na esperança e no amor. Estou feliz por celebrar esta Missa convosco que fostes escolhidos pelo Senhor. como que línguas de fogo. queremos implorar de Deus a graça de um novo Pentecostes para a Igreja que está na América. os sacerdotes e os diáconos. saíram do Cenáculo para anunciar as grandes obras de Deus a pessoas de todas as nações e línguas. São Paulo recorda-nos que a unidade espiritual aquela unidade que reconcilia e enriquece a diversidade encontra a sua origem e o seu modelo supremo na vida do Deus uno e trino. Aqui. que numa sociedade na qual muitos consideram a Igreja legalista e "institucional". Muitos escritores aqui na América podemos pensar em Nathaniel Hawthorne utilizaram uma imagem dos vitrais descritivos para ilustrar o mistério da própria Igreja. Em síntese. reflectindo a luz que as atravessa. Gostaria de chamar a vossa atenção para determinados aspectos desta linda estrutura. estas janelas parecem escuras. Ele queria que esta Catedral recordasse à jovem Igreja na América a grande tradição espiritual da qual era herdeira. . resplandecente de beleza e adornada com os múltiplos dons do Espírito. O ofuscamento pode derivar também dos obstáculos encontrados numa sociedade que por vezes parece ter esquecido Deus e irritar-se diante das exigências mais elementares da moral cristã. a luz da fé pode ser atenuada pela rotina e o esplendor da Igreja pode ser ofuscado pelos pecados e pelas debilidades dos seus membros. e que a inspirasse a contribuir com a melhor parte deste património para a edificação do Corpo de Cristo neste país. Mc 11. É somente a partir de dentro. somos chamados a atrair todas as pessoas para dentro deste mistério de luz. pesadas e até tétricas. mulheres e crianças entram pelas suas portas e. Is 56. como às vezes nos sentimos tentados a ceder à frustração. revelam todo o seu esplendor. O Arcebispo John Hughes que como no-lo recordou o Cardeal Egan foi o promotor da construção deste venerável edifício. desejou erigi-lo em puro estilo gótico. que consagrastes a vossa vida para dar testemunho do amor de Cristo e da edificação do seu Corpo. encontram a paz. Não se trata de uma tarefa fácil. milhares de homens. Vistas de fora. Daqui resulta que nós. à decepção e até ao pessimismo em relação ao futuro. Talvez mais do que qualquer outra igreja nos Estados Unidos. Todavia. Jo 16. dentro das suas paredes. Mas quando se entra na igreja. 17). Todos os dias. O primeiro aspecto diz respeito às janelas com vitrais descritivos que inundam o ambiente interno com uma luz mística. que levamos a vida da graça na comunhão da Igreja. Sinto-me particularmente feliz por nos termos reunido na Catedral de São Patrício. nem sempre é fácil ver a luz do Espírito à nossa volta. o nosso desafio mais urgente é comunicar a alegria que nasce da fé e a experiência do amor de Deus. elas repentinamente adquirem vida. sabeis graças ao vosso contacto quotidiano com o mundo que vos circunda. "a partir de fora": um mundo que sente profundamente uma necessidade de espiritualidade. o esplendor do Senhor ressuscitado que ilumina a nossa vida e infunde uma nova esperança na sua vitória sobre o mundo (cf. a qual poderia servir como ponto de partida para uma reflexão sobre as nossas particulares vocações no interior da unidade do Corpo místico. 33). 7. Também para alguns de nós no interior. este lugar é conhecido e amado como "uma casa de oração para todos os povos" (cf. como aquelas janelas descritivas. a palavra de Deus recorda-nos que na fé nós vemos os céus abertos e a graça do Espírito Santo iluminar a Igreja e oferecer uma esperança certa ao nosso mundo. da experiência de fé e de vida eclesial que vemos a Igreja como verdadeiramente é: cheia de graça. mas julga difícil "entrar" no mistério da Igreja. Vós. num mundo que tende para ver a Igreja. III. como um "geómetra" celeste. Assim podemos avaliar os pontos de vista dos outros. que ordena o cosmos com sabedoria e determinação infinitas. para poder deste modo compreendê-las na sua perspectiva mais autêntica. Não é porventura esta unidade de visão e de intenções arraigada na fé e no espírito de contínua conversão e sacrifício pessoal o segredo do crescimento surpreendente da Igreja neste país? É suficiente pensar na obra extraordinária realizada por aquele . Não é porventura esta constante conversão "intelectual" tão necessária quanto a conversão "moral" para o nosso crescimento na fé. na unidade do plano eterno de Deus? Como sabemos. Estas palavras exortam-nos a uma fé cada vez mais profunda no poder infinito de Deus de transformar toda a situação humana. Só podemos prosseguir. rumo à nova criação. meu Deus". 23). 22-23). 24. E fazem-nos pensar numa outra belíssima frase de Santo Ireneu: "Onde se encontra a Igreja. Jo 20. de criar vida a partir da morte e de iluminar até a noite mais obscura. 30). com a sua exortação a um maior compromisso na missão da Igreja pelo mundo. ali está o Espírito de Deus. Estas palavra evocam a primeira criação. voltam à vida. Ef 4. canta o salmista. Ap 2. eventualmente. Como todas as catedrais góticas. Uma semelhante imagem não nos faz proventura vir ao pensamento a nossa necessidade de ver todas as coisas com os olhos da fé. onde se encontra o Espírito de Deus. para o nosso discernimento dos sinais dos tempos e para a nossa contribuição pessoal para vida e a missão da Igreja? Considero que uma das grandes desilusões que se seguiram ao Concílio Vaticano II. cujas proporções exactas e harmoniosas simbolizam a unidade da criação de Deus. não coincidem de modo completo com as nossas ideias ou os nossos pressupostos. Deste modo. quer eles sejam mais jovens ou mais idosos do que nós. E elas impelem o nosso olhar para a frente. 7). ali estão a Igreja e toda a graça" (Adv. para adquirirmos uma mentalidade nova e espiritual. quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e instaurou a Igreja como primícias da humanidade redimida (cf. ela é uma estrutura muito complicada. a única renovação que pode revigorar a Igreja na santidade e na unidade indispensáveis para a proclamação eficaz do Evangelho no mundo de hoje. Isto leva-me a fazer outra reflexão sobre a arquitectura desta igreja. "se lhes enviais o vosso espírito. 1)."Senhor. 2). com o compasso na mão. foi para todos nós a experiência de divisão entre diferentes grupos. gerações e membros da mesma família religiosa. a Palavra criadora de Deus. e enfim ouvir "aquilo que o Espírito diz". à luz da fé descobriremos a sabedoria e a força necessárias para nos abrirmos a pontos de vista que. E assim renovais a face da terra" (Sl 105 [104]. ao Pentecostes. quando "o espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas" (Gn 1. isto exige uma conversão contínua e o compromisso de "nos renovarmos no Espírito da nossa mente" (cf. Os artistas medievais muitas vezes representam Cristo. se juntos fixarmos o olhar em Cristo! Então. Exige também o desenvolvimento daquelas virtudes que tornam cada um de nós capazes de crescer em santidade e produzir frutos espirituais na condição de vida que nos é própria. a nós e à Igreja (cf. Haer. caminharemos juntos rumo àquela verdadeira renovação espiritual desejada pelo Concílio. Uno-me a vós. para proveito comum" (1 Cor 12. enquanto procurais responder com esperança cristã aos contínuos desafios apresentados por esta situação. religiosos e presbíteros que. queridos religiosos e queridas religiosas. Cabeça do Corpo. que unem as suas orações e os seus sacrifícios ao vosso trabalho. 7). enquanto todos bispos. encorajovos a cooperar com os vossos bispos. composto de muitos membros diferentes. silenciosamente. prezados diáconos. mediante a ordenação sacramental vós fostes conformados com Cristo. Sem dúvida. o Venerável Michael McGivney. Através do vosso testemunho pessoal e da vossa fidelidade ao ministério ou ao apostolado que vos foi confiado. cuja visão e zelo levaram à fundação dos Cavaleiros de Colombo. Lumen gentium.sacerdote americano exemplar. estas considerações levam-me a uma última observação a propósito desta grande Catedral onde nos encontramos. de suscitar novas vocações e renovadas missões. Caros amigos. Jo 16. Como sabemos. 13). na estrutura da Igreja desejada por Deus é necessário distinguir entre os dons hierárquicos e os carismáticos (cf. Já tive a oportunidade de falar disto e do consequente dano para a comunidade dos fiéis. ou na herança espiritual de gerações de religiosas. consagrastes a vossa vida ao seguimento do Mestre divino no amor generoso e na plena fidelidade ao seu Evangelho. Estimados sacerdotes e religiosos. religiosos. hospitais e paróquias. e de orientar a Igreja como o Senhor prometeu no trecho evangélico desta manhã para a Verdade completa (cf. . tanto contemplativos como dedicados ao apostolado. orientando-a rumo ao céu. sois chamados a constituir forças de unidade no interior do Corpo de Cristo. enfermos ou aposentados. 4). a unidade de uma Catedral gótica não é a unidade estática de um templo clássico. que continuam a trabalhar eficazmente para resolver este problema. preparais o caminho para o Espírito. assim como os vossos irmãos e irmãs idosos. Dilectos presbíteros. Além disso. aqui desejo simplesmente assegurar-vos a minha proximidade espiritual. cada qual com o seu papel e a sua determinação. mas sim a unidade nascida da tensão dinâmica de diferentes forças que elevam a arquitectura. Todos vós que hoje apinhais esta Catedral. Uma vez que o Espírito nunca cessa de infundir os seus dons abundantes. Também aqui vemos a necessidade de reconhecer e respeitar os dons de cada membro do corpo. O Senhor Jesus Cristo conceda à Igreja que está na América um renovado sentido de unidade e de decisão. gostaria de dizer uma palavra acerca do abuso sexual que causou tanto sofrimento. clero. religiosas e leigos caminham na esperança e no amor recíproco e pela verdade. Aqui. no contexto da nossa necessidade de uma perspectiva assente na fé e de unidade e colaboração no trabalho da edificação da Igreja. fostes ordenados para o serviço deste Corpo. Também aqui podemos ver um símbolo da unidade da Igreja que é unidade como São Paulo nos disse de um corpo vivo. Mas são precisamente a variedade e a riqueza das graças concedidas pelo Espírito que nos convidam constantemente a discernir como estes dons devem ser inseridos de modo justo no serviço da missão da Igreja. e de purificação para cada uma das Igrejas e comunidades religiosas. orando a fim de que este seja um tempo de cura para cada indivíduo. Vós. Vós. como "manifestação do Espírito. consagraram a sua vida ao serviço do povo de Deus em inúmeras escolas. empenhemo-nos a ser testemunhas jubilosas da força transformadora do Evangelho! Estimados irmãos e irmãs. quando sairmos desta grande igreja. agradecer-vos porque doais o vosso amor também ao pobre Sucessor de São Pedro. Trabalhai com generosidade e alegria. elevemos o nosso olhar! E com grande humildade e confiança peçamos ao Espírito que nos torne capazes de crescer todos os dias na santidade que nos há-de transformar em pedras vivas no templo que Ele está a erguer precisamente agora. . a Igreja na América conhecerá uma nova Primavera do Espírito e indicará o caminho para aquela outra cidade maior. iremos como arautos da esperança para o meio desta cidade e a todos os lugares onde a graça de Deus nos colocou. edificando o seu Corpo místico e transmitindo a sua palavra salvífica como boa nova aos homens e às mulheres do nosso tempo. Deste modo. 23). cuja luz é o Cordeiro (cf. a nova Jerusalém. Nesta celebração eucarística. queremos dar graças ao Senhor porque nos permite reconhecê-lo na comunhão da Igreja e colaborar com Ele. Ap 21. dos refugiados. no meio do mundo. irradiando a luz de Cristo no mundo e animando os jovens a descobrir a beleza de uma vida doada inteiramente ao Senhor e à sua Igreja! Dirijo este apelo de maneira especial aos numerosos seminaristas e aos jovens religiosos e religiosas aqui presentes. então devemos empenhar-nos a fim de sermos os primeiros a buscar uma reconciliação interior mediante a penitência! Perdoemos as injustiças sofridas e sufoquemos todos os sentimentos de raiva e de contenda! Comprometamo-nos em ser os primeiros a demonstrar a humildade e a pureza de coração necessárias para nos aproximar-nos do esplendor da verdade de Deus! Em fidelidade ao depósito da fé confiado aos Apóstolos (cf. com todo o entusiasmo e a alegria que vos são concedidos pelo Espírito. Amém! Palavras de agradecimento no final da Santa Missa Neste momento só posso agradecer-vos o vosso amor à Igreja e a nosso Senhor. todavia. sede também os primeiros amigos dos pobres. dos doentes e de todos os que sofrem! Agi como faróis de esperança. Se quisermos ser verdadeiras forças de unidade. Cada um de vós ocupa um lugar particular no meu coração. um património que um dia também vós tereis que transmitir a uma nova geração. a uma obra começada por outros. em conformidade com as tradições mais nobres da Igreja neste país.Por conseguinte. dos estrangeiros. 20). 1 Tm 6. no coração desta metrópole agitada elas constituem um sinal vivo que recorda a aspiração constante do espírito humano de se elevar a Deus. porque Aquele que vós servis é o Senhor! Os pináculos das torres da Catedral de São Patrício são amplamente ultrapassadas pelos arranha-céus do perfil de Manhattan. pois Deus está a preparar também agora um banquete de alegria e de vida infinitas para todos os povos. Em seguida. Nunca esqueçais que sois chamados a dar continuidade. Bronx. São também as vossas orações e o vosso amor que me dão a certeza de que o Senhor me ajudará neste meu ministério. estou profundamente grato pelo vosso amor. Nesta terra de liberdade e de oportunidades. assim como dos fiéis leigos provenientes dos 50 Estados da União. a verdade que dá significado à existência humana. dos diáconos. 6). saúdovos a todos com grande afecto. pelas vossas orações. Cristo é o caminho que conduz ao Pai. 32. Portanto. a Igreja uniu rebanhos muito diferentes na profissão de fé e. o qual também era um homem com os seus defeitos e pecados. no final desta bonita Celebração. 17). Nesta Missa a Igreja que está nos Estados Unidos celebra o bicentenário da criação das sedes de Nova Iorque. dos consagrados e das consagradas. CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Yankee Stadium. por tudo o que me doastes durante a minha visita é a bênção que agora vos concedo. através das . dos sacerdotes. Agradeço ao Cardeal Egan as cordiais palavras de boasvindas que pronunciou em vosso nome. A minha resposta neste momento. A presença. Nova Iorque V Domingo de Páscoa. De pequeno rebanho como o descrito na primeira leitura.Procurarei fazer tudo o que for possível para ser um digno sucessor do grande Apóstolo. e a fonte daquela vida que é alegria eterna com todos os Santos no Reino dos céus. do Sucessor de Pedro. Filadélfia e Louisville com o desmembramento da sede-mãe de Baltimore. Boston. dos seus irmãos Bispos. a Igreja na América foi edificada na fidelidade aos dois mandamentos do amor a Deus e do amor ao próximo. 20 de Abril de 2008 Amados Irmãos e Irmãs em Cristo! No Evangelho que acabamos de ouvir. devido à graça do Senhor. A celebração de hoje é também um sinal do crescimento impressionante que Deus concedeu à Igreja no vosso País nos passados duzentos anos. manifesta de modo eloquente a nossa comunhão na fé católica que nos foi transmitida pelos Apóstolos. em volta deste altar. Lc 22. mas que no final permanece a rocha para a Igreja. E assim também eu com toda a minha espiritual pobreza posso ser. a verdade e a vida" (Jo 14. Levemos a sério o Senhor! Renovemos a fé n'Ele e coloquemos todas as nossas esperanças nas suas promessas! Com este encorajamento a perseverar na fé de Pedro (cf. porque Ele é "o caminho. por este período. o Sucessor de Pedro. Mt 16. Jesus diz aos seus Apóstolos que depositem n'Ele a sua confiança. sal da terra (cf. Além disso. Ao mesmo tempo. pode ser encontrada apenas na perda de si que é parte do mistério do amor. abrem-se-nos novos horizontes! À luz da fé. "Autoridade". encontramos também a inspiração e a força para nos tornarmos fermento do Evangelho neste mundo. Todos os sinais externos de identidade. destas palavras. a primeira leitura mostra como vemos na imposição das mãos sobre os primeiros diáconos.suas numerosas obras educativas. dos Actos dos Apóstolos. que Cristo escolheu e constituiu como testemunhas da sua ressurreição. todas as estruturas. é dom indefectível de Deus à sua Igreja. Só com a perda de si. o fruto da conversão à sua verdade. Palavras como estas representam uma "pedra de tropeço" para muitos contemporâneos. 33). à luz da nossa fé em Jesus Cristo "o caminho. Énos aqui recordada uma verdade fundamental: que a unidade da Igreja não tem outro fundamento a não ser o da Palavra de Deus. O Evangelho ensina-nos que a verdadeira liberdade. Tornamo-nos luz do mundo. Quando nos colocamos no "pensamento de Cristo" (cf. "obediência". uma unidade visível fundada sobre os Apóstolos. Mas. diz-nos o Senhor. nos reencontramos verdadeiramente a nós mesmos (cf. estas não são palavras que se pronunciam facilmente hoje. que é amor infinito. contribuiu de modo significativo também para o crescimento da sociedade americana no seu conjunto. que se tornou carne em Jesus Cristo nosso Senhor. "Na sua vontade está a nossa paz". ela mostra o poder da Palavra de Deus. dentro da comunhão da Igreja. aquela verdade que nos torna livres (cf. Mt 5. 5). associações ou programas. e vê a fonte da nossa felicidade definitiva nele. ao qual está confiado o "apostolado" de conformar as nossas vidas e o mundo no qual vivemos cada vez mais plenamente com o plano salvífico de Deus. sobretudo numa sociedade que justamente dá grande valor à liberdade pessoal. 5. por muito válidos ou até essenciais que sejam. A primeira leitura de hoje. e disto nasceu aquilo a que a Escritura chama "a obediência da fé" (Rm 1. como a unidade da Igreja é "apostólica". a verdade e a vida" chegamos a ver o sentido mais pleno. E esta liberdade na verdade tem no seu seguimento um novo e liberatório modo de olhar para a realidade. A verdadeira liberdade por isso é um dom gratuito de Deus. que ofusca as nossas percepções e enfraquece a nossa determinação. caritativas e sociais. Este grande resultado não se obteve sem desafios. vida sem fim. Jo 8. Lc 17. 32). Act 6. a liberdade dos filhos de Deus. Fl 2. isto é. proclamada eficazmente pelos Apóstolos e recebida na fé. A verdadeira liberdade floresce quando nos afastamos do jugo do pecado. Para ser francos. liberdade infinita. em Cristo. . para criar uma unidade capaz de transcender as divisões provenientes dos limites e das debilidades humanas. o valor e até a beleza. 7). existem em última análise apenas para apoiar e promover a unidade mais profunda que. 13-14). fala de tensões linguísticas e culturais presentes já no interior da primitiva comunidade eclesial. a não ser a de dirigir todos os pensamentos. é a pedra angular de um grande templo que é edificado ainda hoje no Espírito. Pensemos na fé forte que edificou a rede de igrejas. Quantos "sacrifícios espirituais agradáveis a Deus" foram oferecidos nos dois séculos transcorridos! Nesta terra de liberdade religiosa os católicos encontraram não só a liberdade de praticar a própria fé mas também de participar plenamente na vida civil. Nestes 200 anos o rosto da comunidade católica no vosso País mudou em grande medida. membros do seu corpo. palavras ou actos para a verdade do Evangelho e colocar todas as nossas energias ao serviço do Reino de Deus? Só assim podemos construir com Deus. mas inspiraram também neles um desejo de conhecer Deus para toda a vida. para edificar um futuro de esperança para as gerações futuras. Desafiam-nos a examinar as nossas consciências. Rm 5. povo adquirido. 5). sobre o fundamento que é Cristo (cf. amá-lo e servi-lo. mas são também um desafio a uma fidelidade cada vez maior à herança gloriosa recebida em Cristo (cf. os quais não só ensinaram às crianças a ler e a escrever. Só assim a nossa vida encontra o significado último e dá frutos duradouros. ressuscitado dos mortos. de saúde e sociais que há muito tempo são os sinais distintivos da Igreja nesta terra. a rejeitar satanás e todas as suas promessas vazias. Todos os dias nesta terra vós e muitos dos vossos vizinhos rezais ao Pai com as mesmas palavras do Senhor: "Venha a nós o Vosso Reino". no ministério quotidiano dos numerosos sacerdotes que empregaram a própria vida no cuidado das almas. na contribuição incalculável de numerosos consagrados e consagradas. 1 Cor 3. e tornados capazes de oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Ele (cf. 5) nascida da fé na palavra de Deus e da confiança nas suas promessas. Deve dar fruto no mundo em que viveis a vossa . Ef 1. sacerdócio real. Recordamos hoje os duzentos anos de um lavacro na história da Igreja nos Estados Unidos: o seu primeiro grande capítulo do crescimento. de instituições educativas. O Apóstolo diz-nos que Cristo. a purificar os nossos corações. Desafiam-nos a ser um povo da alegria. "Vós. nação santa. 1 Pd 2.A visão magnífica de um mundo transformado pela verdade libertadora do Evangelho está reflectida na descrição da Igreja que encontramos na segunda leitura de hoje. sois raça eleita. Qual é esta oferta que somos chamados a fazer. cooperando com os vizinhos para forjar uma sociedade democrática vibrante. Só assim podemos edificar algo que seja realmente duradouro. 9). arautos da esperança que não perece (cf. a fim de anunciardes as [Suas] virtudes" (1 Pd 2. 18). Esta oração deve forjar a mente e o coração de cada cristão nesta Nação. Estas palavras do apóstolo Pedro não nos recordam apenas a dignidade que nos é própria por graça de Deus. A celebração hodierna é mais do que uma ocasião de gratidão pelas graças recebidas: é uma chamada a prosseguir com determinação firme a usar sabiamente as bênçãos da liberdade. Pensemos nas seguintes ondas de emigrantes cujas tradições tanto enriqueceram a Igreja na América. levando consigo as próprias convicções morais na arena pública. abençoados com a liberdade dos filhos de Deus. 11). participando por graça na vida de Deus. mediante o Baptismo tornamo-nos "pedras vivas" daquele templo. Pensamos também nos numerosos pais e mães que transmitiram a fé aos filhos. porém. a renovar o compromisso baptismal. E nós. como os sete homens "cheios de Espírito e de sabedoria" aos quais os Apóstolos confiaram o cuidado da jovem Igreja. Queridos jovens amigos. que se disponibilizou para dar a própria vida pelos seus amigos (cf. pela esperança e pelo amor generoso por Cristo que vi no rosto de tantos jovens reunidos em Dunwoodie. na solicitude pelos pobres.existência e no modo em que construís a vossa família e a vossa comunidade. Sobre estas bases sólidas o futuro da Igreja na América deve também hoje iniciar a surgir. insisto convosco: abri os corações à chamada de Deus a segui-lo no sacerdócio e na vida religiosa. Spe salvi 32 ss. 8): são verdades que nos tornam livres! Trata-se das únicas verdades que podem garantir o respeito da dignidade e dos direitos de cada homem. mulher e criança no mundo. n. incluídos os mais indefesos entre os seres humanos. os necessitados e os sem voz. Num mundo em que. Homens e mulheres jovens da América. as crianças que ainda estão no seio materno para nascer. nem sequer as coisas temporais. não distante daqui.) nos quais o Reino de Deus se faz presente em todo o seu poder salvífico. Significa enfrentar os desafios do presente e do futuro confiantes na vitória de Cristo e empenhando-se pela difusão do seu Reino. Hb 13. desejo concluir acrescentando uma palavra de encorajamento para eles. Gaudium et spes. 2 de Outubro 1979. o desafio que o Sucessor de Pedro hoje vos apresenta. opondo-se aos falsos evangelhos de liberdade e de felicidade. "nenhuma actividade humana. Deve criar novos "lugares de esperança" (cf. adversidades ou escândalos. 7) fazei de modo que a vossa fé e o vosso amor dêem fruto ao socorrer os pobres. 10. Rezar com fervor pela vinda do Reino significa também estar constantemente alerta aos sinais da sua presença. Pode haver um sinal de amor maior do que este: seguir as pegadas de Cristo. Significa superar qualquer separação entre fé e vida. Eles são o futuro da Igreja e têm direito a todas as orações e apoio que lhe possamos dar. hoje e sempre" e as verdades perenes que têm fundamento n'Ele (cf. 36). pode subtrair-se ao domínio de Deus" (Lumen gentium. Ontem. que também vós vos possais levantar e assumir a responsabilidade que a fé em Cristo vos apresenta! Espero que encontreis a coragem de proclamar Cristo "o mesmo ontem. como o Papa João Paulo II falando neste mesmo lugar nos recordou. Assim. Lázaro continua a bater à nossa porta (Homilia no Yankee Stadium. É este. Jo 15. fiquei comovido pela alegria. Como "raça eleita. segui com fidelidade as pegadas de quantos vos precederam! Apressai a vinda do Reino de Deus nesta terra! As gerações passadas deixaram-vos uma herança extraordinária. nação santa". Significa ainda rejeitar a falsa dicotomia entre fé e vida política. na educação dos jovens. trabalhando pelo seu crescimento em cada sector da sociedade. Isto significa não perder a confiança face a resistências. pelos doentes e pelos estrangeiros. sacerdócio real. 13)? . sem nunca perder de vista a grande esperança que dá significado e valor a todas as outras esperanças que inspiram a nossa vida. Isto significa agir para enriquecer a sociedade e a cultura americana com a beleza e com a verdade do Evangelho. queridos amigos. porque como afirmou o Concílio Vaticano II. Também nos nossos dias a comunidade católica desta Nação foi grande no testemunho profético em defesa da vida. convido-vos a olhar para o futuro com esperança. Só Ele é o Caminho que conduz à felicidade que não termina. E fortalecidos pelo Espírito Santo. Aqui. e comprometer-se para que esta fé se manifeste numa proximidade efectiva aos pobres.No Evangelho de hoje o Senhor promete aos discípulos que farão obras ainda maiores que as suas (cf. Elevemos os olhos para ele. seja sempre mais conhecido e amado. começando pelo nosso egoísmo e pelas nossas paixões. desejo proclamar com vigor que a Palavra de Cristo não elimina as nossas aspirações por uma vida plena e livre. porque também agora está a preparar um lugar para nós na casa de seu Pai. "Bem-aventurados quantos acreditarem" (cf. Amados irmãos e irmãs no Senhor! Saúdo-vos com afecto e alegro-me por celebrar esta Santa Missa para agradecer a Deus a celebração biocentenária do momento em que a Igreja Católica começou a desenvolver-se nesta Nação. Queridos irmãos e irmãs. Deus vos abençoe! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI . Por isso. permitindo que Jesus entre nas vossas vidas. neste País de liberdade. 1 Pd 2. Dirijamo-nos a Jesus! Só Ele é o caminho que conduz à felicidade eterna. não sem dificuldades. a Verdade que satisfaz as mais nobres aspirações humanas e a Vida cheia de alegria pelo bem da Igreja e do mundo. Ao mesmo tempo. Sobretudo aos jovens confio a tarefa de fazer seu o grande desafio que crer em Cristo exige. trabalhemos com renovado zelo pela difusão do seu Reino. santa. e a vida que oferece alegria e esperança sempre nova a nós e ao nosso mundo. mas revela-nos a nossa verdadeira dignidade de Deus e encoraja-nos a lutar contra tudo o que nos escraviza. 12). Jo 14. unamos a nossa oração à sua. Olhando para o caminho de fé. 7). no estado sacerdotal ou religioso. católica e apostólica. como pedras vivas daquele templo espiritual que é a sua Igreja una. percorrido nestes anos. só Deus na sua providência sabe aquilo que a sua graça ainda deve realizar nas vossas vidas e na vida da Igreja nos Estados Unidos. assim como numa resposta generosa às chamadas que Ele continua a propor para que se deixe tudo e se inicie uma vida de total consagração a Deus e à Igreja. Verdade e Vida. a promessa de Cristo enche-nos de esperança certa. Queridos amigos. anima-nos a manifestar a nossa fé mediante a nossa vida de caridade e a fazer com que as nossas comunidades eclesiais sejam todos os dias mais acolhedoras e fraternas. louvamos ao Senhor pelos frutos que a sua Palavra produziu nestas terras e manifestamos-lhe o nosso desejo que Cristo. Entretanto. a verdade que satisfaz os desejos mais profundos de cada coração. Amém. Caminho. A sua morte. nesses anos exerceu a função de Presidente da Comissão doutrinal do Episcopado colombiano. Jesus diz: "Quem se ama a si mesmo. não morrer. Neste tempo de Páscoa. O Arcebispo D. encargo que desempenhou com reconhecida competência durante muito tempo. estas palavras adquirem uma eloquência ainda mais profunda e incisiva.Basílica Vaticana. a função de Coadjutor com direito de sucessão da Arquidiocese de Medellín. Diocese de Ibagué. mas quem se despreza a si próprio neste mundo. 24). Nasceu em Villahermosa. e pouco depois foi escolhido como Secretário-Geral do CELAM. Bispo Auxiliar de Bogotá. onde eu me encontrava em visita pastoral. da qual depois se tornou Pastor. suscitou em todos nós uma profunda emoção. Cardeal Alfonso López Trujillo. se aceitarmos morrer para o nosso egoísmo. O evangelista João prenuncia assim a glorificação de Cristo através do mistério da sua morte na cruz. enquanto damos a derradeira saudação ao nosso amado Irmão. no final da Santa Missa presidida pelo Cardeal Angelo Sodano. no Consistório de 2 de Fevereiro de 1983. 25). 23 de Abril de 2008 Estimados irmãos e irmãs "Se o grão de trigo. Terminou a sua formação teológica. João Paulo II pôs na sua cabeça o barrete cardinalício. A morte não tem a última palavra. em 1978. E o amor não morre. ensinou filosofia no seminário arquidiocesano e trabalhou durante muitos anos ao serviço de toda a Igreja na Colômbia. Bogotá onde. Decano do Colégio cardinalício. que chegou quando ele já parecia ter-se recuperado de uma forte crise de saúde começada há mais de um ano. elevei imediatamente a Deus uma oração em sufrágio pela sua alma e agora. Eis a renovada mensagem de esperança que recebemos hoje da Palavra de Deus. Nos Estados Unidos. Alfonso López Trujillo foi o mais jovem dos Cardeais quando. permanece ele só. Foi ainda Paulo VI que lhe confiou. é também verdade que Jesus indica o segredo para derrotar o poder da morte. não é o fim de tudo mas. o meu venerado Predecessor. redimida pelo sacrifício da Cruz. Continuou os estudos em Roma e foi ordenado sacerdote em Novembro de 1960. Em 1971 foi nomeado pelo Servo de Deus Paulo VI. entrou no seminário maior. mas se morrer. uno-me com afecto a todos vós para recordar com quanta generosidade o saudoso Purpurado serviu a Igreja e para dar graças ao Senhor pelos numerosos dons com que ele enriqueceu a pessoa e o ministério do nosso saudoso Irmão. se rejeitarmos fechar-nos em nós mesmos e fazemos da nossa vida um dom a Deus e aos irmãos. assegura para si a vida eterna" (Jo 12. dá muito fruto" (Jo 12. Se é verdade que nelas se sente uma certa tristeza pela iminente despedida dos seus discípulos. na Colômbia em 1935. O seu profundo . já estudante universitário. Portanto. e ainda criança transferiu-se com a família para a Capital. também nós poderemos conhecer a rica fecundidade do amor. já pode ser a passagem para a alegria da vida sem fim. lançado à terra. perde-se. precisamente à luz do prodígio da Ressurreição. Além disso. o zelo e a paixão com que ele trabalhou durante estes quase 18 anos. que orientou sabiamente de 1979 a 1983. Permaneceu impresso na memória de todos a sua comovedora intervenção na Assembleia do Sínodo dos Bispos de 1997: foi um verdadeiro cântico à vida. porque tudo aquilo que diz respeito à verdade se encontra no centro dos meus estudos". em seguida. tendo participado nas três Assembleias do Sínodo dos Bispos. amadurecido no prolongado período em que tinha trabalhado como Secretário do CELAM. Ele apresentou uma espiritualidade bastante concreta para quantos estão comprometidos na realização do projecto divino sobre a família. E acrescenta que a verdade no amor foi sempre para ele um "pólo existencial". a partir de 8 de Novembro de 1990. foi à afirmação da verdade que ele dedicou toda a sua existência. em que explica: "Escolhi pessoalmente o mote "Veritas in caritate". "Quando no meu trabalho disse ele falo dos ideais do matrimónio e da família. quando se dedicou a "aprofundar. Não podemos deixar de lhe agradecer a batalha tenaz que empreendeu em defesa da "verdade" do amor familiar e para a difusão do "Evangelho da família". E precisamente à família ele será chamado a dedicar de modo particular o seu empenhamento. particularmente ligadas ao calvário que teve de enfrentar a sua mãe. É o que testemunha um dos seus escritos. porque através dos meus pais pude constatar como é possível realizar ambos". em 1977. que constitui um precioso texto de formação para agentes pastorais e um instrumento para dialogar com o mundo contemporâneo sobre temas fundamentais de ética cristã. perderá as mais decisivas batalhas no terreno fascinante e misterioso da engenharia genética. e em 1980. quando João Paulo II o nomeou Presidente do Pontifício Conselho para a Família. sobre a catequese. que é Amor. Se o Cardeal López Trujillo fez da defesa e do amor pela família o compromisso distintivo do seu serviço no Pontifício Conselho do qual era Presidente. sobre a família. primeiro quando na Colômbia estava propenso a "encontrar o sentido de uma genuína libertação em âmbito teológico" e. mereceu-lhe a nomeação como Presidente deste importante Organismo eclesial. O saudoso Cardeal hauria o seu amor pela verdade do homem e pelo Evangelho da família. Fruto deste seu compromisso é o Lexicon. aqui em Roma. realizadas no Vaticano: em 1974. De 1987 a 1990 foi Presidente da Conferência Episcopal Colombiana. é natural que eu pense na família da qual venho. teve a oportunidade de ampliar o conhecimento das problemáticas da Igreja universal.conhecimento da realidade eclesial latino-americana. realizando uma acção incansável para a tutela e a promoção da família e do matrimónio cristão? Como deixar de lhe agradecer a coragem com que defendeu os valores não negociáveis da vida humana? Todos nós admiramos a sua actividade incansável. da consideração de que cada ser humano e cada família reflectem o mistério de Deus. neste instante. como colaborador . Como deixar de pôr em evidência. O entusiasmo e a determinação com que trabalhava neste campo eram o fruto da sua experiência pessoal. sobre a evangelização. cargo que o viu na vanguarda até ao momento da morte. proclamar e difundir o Evangelho da vida e o Evangelho da família. falecida com a idade de 44 anos devido a uma doença muito dolorosa. e sublinhou o facto de que se a ciência não se dedicar a compreender e a educar para a vida. no trecho do Apocalipse que foi proclamado. ouvimos que o Apóstolo Paulo. apesar das dificuldades e das tribulações. que já chegou ao sexto domingo. reinaremos com Ele" (2 Tm 2. exorta o seu fiel discípulo Timóteo à coragem e à perseverança no testemunho de Cristo. 27 de Abril de 2008 Prezados irmãos e irmãs Hoje realiza-se para nós. Se nos mantivermos firmes. 11-12). a alegria da futura "morada de Deus com os homens". Venerados Irmãos e caros amigos.do Santo Padre". nem dor. Amém! SANTA MISSA PARA A ORDENAÇÃO PRESBITERAL DE 29 DIÁCONOS HOMILIA DO PAPA BENTO XVI VI Domingo de Páscoa. por quem agora queremos rezar.. nem cobardes. 2). sempre fortalecido pela certeza de que "se com Ele morrermos.. e delineando ao nosso olhar os traços proféticos da "cidade santa". Ap 21. A generosidade do saudoso Cardeal. apraz-nos pensar que já chegou o querido Cardeal Alfonso López Trujillo. jamais afastemos o nosso olhar desta visão: contemplemos a eternidade antegozando. nos sirva de encorajamento a dedicar todos os nossos recursos físicos e espirituais em favor do Evangelho. 2). nem cobarde". Com efeito. também à custa de ser submetido a duras perseguições. Para cumprir a missão que Jesus nos confia. a "nova Jerusalém". de modo inteiramente particular. não podemos ser indolentes. porque as primeiras coisas passaram" (cf. e os anjos e os santos o acompanhem ao Paraíso: a sua alma sedenta de Deus possa finalmente entrar e repousar em paz para sempre. saúdo com carinho os 29 Diáconos que. a palavra que diz: "Multiplicastes a alegria. no "santuário" do Amor infinito. e sobretudo a festa da Ordenação de novos Sacerdotes. 4). a visão de um "novo céu" e de "uma nova terra" (21. à alegria de celebrar a Eucaristia no dia do Senhor acrescentam-se a exultação espiritual do tempo de Páscoa. onde o nosso Redentor enxugará todas as lágrimas dos nossos olhos. oferecendo à nossa contemplação. nem pranto. também com Ele viveremos. prisioneiro em Roma. já preparada. nem luto. Que o acolha Maria. daqui a . Enfim. aumentastes o júbilo" (Is 9. conclui: "Creio muito no valor desta luta decisiva para a Igreja e para a humanidade. e peço ao Senhor que me conceda a força para não ser indolente. nos estimule a trabalhar em defesa da vida humana. 1). especialmente em benefício das crianças em várias regiões do mundo. Juntamente convosco. A esta morada de luz e de alegria. e nos ajude a olhar constantemente para a meta da nossa peregrinação terrena. e onde "não haverá mais morte. como uma noiva adornada para o seu esposo" (21. Na segunda Leitura. E São João indica-nos qual é esta confortadora meta. traduzida em múltiplas obras de caridade. um renovado impulso à difusão do Evangelho. Aos cristãos de Corinto. diáconos como vós dilectos Ordenandos. o papel e o ministério do presbítero na comunidade cristã. e convido todos vós a dar graças a Deus pela dádiva destes Sacerdotes à Igreja. esta é também a vossa missão: anunciar o Evangelho a todos. de que se fala neste capítulo dos Actos dos Apóstolos. um conceito teológico. Gostaria de chamar imediatamente a atenção para a frase que encerra a primeira parte deste texto: "E houve grande alegria naquela cidade" (Act 8. que é também o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. para escapar da perseguição desencadeada em Jerusalém contra aqueles que se tinham convertido ao cristianismo. O que pode ser mais belo do que isto? O que pode ser maior e mais entusiasmante do que cooperar para propagar no mundo a Palavra de vida.pouco. a Ordenação dos novos Sacerdotes tem lugar no 4º Domingo de Páscoa. por conseguinte salienta São Lucas naquela cidade "houve uma grande alegria". os Apóstolos e os diáconos eram dotados do Espírito Santo com um poder extraordinário. porque na estação irrepetível da Igreja nascente. ressoou o anúncio de Cristo que abriu à alegria o coração de quantos O acolheram com confiança. O Apóstolo Paulo chama os ministros do Evangelho "servidores da alegria". Act 8. ainda que de modalidades indubitavelmente diferentes. algo que mudou a vida das pessoas: numa determinada cidade de Samaria. Nessa cidade de Samaria. mas refere-se a um acontecimento de circunstância. 8). Apoiemo-los com a intensa oração durante a presente celebração. ele conseguiu curar muitos enfermos. todos os discípulos. Manifesto o profundo reconhecimento a quantos os orientaram no seu caminho de discernimento e de preparação. aconteceu que os habitantes da localidade samaritana. iluminam sob outro ponto de vista a missão do sacerdote. A primeira Leitura. Então. Geralmente. No entanto também os trechos bíblicos. Pois bem. na segunda . chegou a acontecer algo que causou "grande alegria". excepto os Apóstolos. em espírito de ardente louvor ao Pai que os chamou. narra a missão do diácono Filipe em Samaria. no meio de uma população tradicionalmente desprezada e como que excomungada pelos judeus. graças à adesão deles ao Evangelho. Deste acontecimento doloroso derivou. que a liturgia hodierna oferece à nossa meditação. chamado Domingo do Bom Pastor. ao Filho que os atraiu a si e ao Espírito que os formou. acolheram por unanimidade o anúncio de Filipe e. Entre aqueles que se tinham dispersado estava também Filipe. de maneira misteriosa e providencial. 1). no período que se seguiu à violenta perseguição contra a Igreja em Jerusalém (cf. queridos diáconos que daqui a pouco sereis sacerdotes. mais que todos os outros. serão ordenados Presbíteros. para que todos experimentem a alegria de Cristo e haja alegria em cada cidade. tirada do capítulo 8 dos Actos dos Apóstolos. O ícone do Bom Pastor parece ser aquele que esclarece. Eis por que motivo. tanto na pregação como na acção taumatúrgica. um dos sete diáconos da Comunidade. mas este ano não foi possível. do que comunicar a água viva do Espírito Santo? Anunciar e testemunhar a alegria: este é o núcleo central da vossa missão. porque eu estava prestes a partir para a visita pastoral aos Estados Unidos da América. Esta expressão não transmite uma ideia. Estimados amigos. abandonaram a Cidade santa e dispersaram-se pelos seus arredores. o que tinha acontecido? O Autor sagrado narra que. pede ao Espírito Santo que consagre o candidato. e a liberdade do homem. expressando assim a invocação a Deus para que derrame o seu Espírito sobre eles e os transforme. que leva o Espírito Santo e o Filho a permanecerem nos discípulos. transmitindo-a a todos. que age através do Espírito Santo. de joelhos. 24). Este envia o Espírito como Defensor e Consolador. para que permaneça sempre com os fiéis. o diácono recebe a imposição das mãos e confia-se a esta mediação. Voltemos à primeira Leitura. Nessa oração silenciosa tem lugar o encontro entre duas liberdades: a liberdade de Deus. habitando dentro deles. o primeiro Paráclito é o Filho encarnado. mediante o qual daqui a pouco conferirei aos candidatos a dignidade presbiteral. movimento bem evocado pelo santo silêncio. Caros Ordenandos. Também na perícope evangélica voltamos a encontrar este misterioso "movimento" trinitário. A imposição das mãos exprime concretamente a modalidade específica deste encontro: a Igreja. no futuro deveis voltar sempre a este momento. que ele exprime. que em vós habite a alegria do Senhor. especialmente a quantos estão tristes e desanimados. Com efeito. num mundo muitas vezes triste e negativo. um tempo brevíssimo. tendo cumprido a sua missão. Ali fala-se de um encontro de oração. o próprio Jesus promete que pedirá ao Pai que mande aos seus o Espírito. que nos oferece outro elemento de meditação. Trata-se de poucos segundos. personalizada pelo Bispo em pé com as mãos estendidas. vindos de Jerusalém para visitar esta nova comunidade e para a confirmar na fé. A fim de serdes colaboradores da alegria dos outros. a este gesto que nada contém de mágico e no entanto é tão rico de mistério. porque aqui se encontra a origem da vossa nova missão. São palavras programáticas para cada sacerdote. porque quanto à fé estais firmes" (2 Cor 1. 16). advogado defensor. invisível. Sem pronunciar palavra. que é satanás. é o gesto fulcral também do rito de Ordenação. o segundo Sacramento da iniciação cristã. que abarca tudo dentro e fora. Podemos ver neste episódio um primeiro testemunho do rito da "Confirmação". que tem lugar precisamente na cidade samaritana evangelizada pelo diácono Filipe. o Bispo consagrante e depois dele os outros sacerdotes impõem as mãos na cabeça dos Ordenandos. ele escreve: "Não porque pretendamos dominar a vossa fé: queremos apenas contribuir para a vossa alegria. É um sinal inseparável da oração. a referência ao gesto ritual da imposição das mãos é mais significativo que nunca.Leitura. volta ao Pai. Também para nós aqui reunidos. O conjunto de gestos é importante. duas "colunas" da Igreja. definido como "outro Paráclito" (Jo 14. Quem a preside são os Apóstolos Pedro e João. é necessário que o fogo do Evangelho arda dentro de vós. tornando-os partícipes do Sacerdócio de Cristo. Graças à imposição das suas mãos. mas infinitamente mais importante é o movimento espiritual. que veio para defender o homem do acusador por antonomásia. da qual constitui um prolongamento silencioso. . Assim. Efectivamente. Somente então podereis ser mensageiros e multiplicadores desta alegria. mas repleto de extraordinária densidade espiritual. termo grego que equivale ao latino "ad-vocatus". No momento em que Cristo. Aqui. o Espírito Santo desceu sobre quantos tinham sido baptizados. 21).graças à mediação do Filho e do Espírito Santo. em Jesus e no Espírito. A nossa esperança. estes são os meus bons votos no dia de hoje. meditaias com frequência e sobretudo rezai com elas. 15). iluminar e santificar todos os outros relacionamentos. único e totalizador. Caríssimos. e Eu amá-lo-ei e manifestar-me-ei a ele" (Jo 14. Não as esqueçais. dentro do qual viver. e que no final repete: "Aquele que me ama. porque precisamente hoje Cristo vos torna partícipes do seu Sacerdócio. contextualmente. Acolhei-as com fé e com amor! Deixai que se imprimam no vosso coração. e compreendereis com alegria sempre nova como esta Palavra divina "caminhará" convosco e "crescerá" em vós. a este amor de Cristo que. "Se me amardes". no momento em que.] a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança" (1 Pd 3. será amado pelo meu Pai. Faço minhas e transmito-vos com afecto as suas palavras: "Venerai Cristo Senhor nos vossos corações e estai sempre prontos a responder [. não as percais pela vereda! Voltai a lê-las. tudo isto depende de uma condição que Cristo põe claramente no início: "Se me amardes" (Jo 14. a de Jesus Bom Pastor. Esperança que a partir de hoje se torna em vós "esperança sacerdotal". instituía a Eucaristia e o Sacerdócio. entre Deus Pai e os discípulos instaurase uma íntima relação de reciprocidade: "Eu estou em meu Pai. Não obstante tenham sido dirigidas aos Apóstolos. que se realiza na observância dos seus mandamentos.. que constituem os colaboradores mais próximos dos sucessores dos Apóstolos. Prezados amigos. a vossa esperança é Deus. Sem o amor por Jesus. mediante o Espírito permanece em nós. que habita em vós e dá forma às vossas aspirações segundo o seu Coração divino: esperança de vida e de perdão para as pessoas que forem confiadas aos vossos cuidados pastorais. respeitosos e convictos. A "vossa esperança" está ligada a esta "adoração". Porém.. Venerai Cristo Senhor nos vossos corações: ou seja. Assim. permanecei fiéis ao amor de Cristo. Hoje voltamos a ouvi-las como um convite a viver cada vez mais coerentemente a nossa vocação na Igreja: queridos Ordenandos. esperança de abertura à fé e ao encontro com Deus para quantos se aproximarem de vós na sua busca da verdade. junto do sepulcro do qual nos encontramos e a cuja intercessão gostaria de vos confiar de maneira especial. Jesus pronunciou estas palavras durante a última Ceia. deixai que vos acompanhem ao longo do caminho de toda a vossa existência. Amor primeiro e maior. tão significativo para vós: que a esperança arraigada na fé possa tornar-se cada vez mais vossa! E que possais ser cada vez mais suas testemunhas e seus dispensadores sábios e generosos dóceis e fortes. vós em mim e Eu em vós" (Jo 14. 15). a pessoa exclui-se do movimento trinitário e começa a fechar-se em si mesma. 20). purificar. Que vos acompanhe nesta missão e vos salvaguarde sempre a . vós escutais estas palavras com particular emoção. esperança de paz e de alívio para os sofredores e para os feridos da vida. como dizíamos. esperança de santidade e de fecundidade apostólica para vós e para toda a Igreja. cultivai uma pessoal relação de amor com Ele. Mais uma observação sobre a segunda Leitura: foi tirada da primeira Carta de Pedro. perdendo a capacidade de receber e comunicar Deus. num certo sentido elas são destinadas a todos os seus sucessores e aos sacerdotes. já integrados nesta nova família. que ouvimos na primeira Leitura. Esta comunidade encontrava-se reunida no mesmo lugar. O Livro dos Actos sublinha o facto de que "todos estavam unidos pelo mesmo sentimento. porque o Senhor havia descido sobre ele no meio de chamas. Por conseguinte. que vos exorto a acolher novamente. e os primeiros três são Pedro. o fogo adquire a forma de línguas que se pousam sobre cada um dos discípulos. O grupo constitui uma autêntica "qāhāl". 18). São palavras que fazem referência ao quadro precedente. 12-14). entregando-se assiduamente à oração" (1. encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar" (Act 2. João e Tiago. 14). em que se fazia memória do evento do Sinai quando Deus. A este "novo Israel" alude claramente o número total das pessoas. que "ficaram todos cheios de Espírito Santo" e. a Mãe de Jesus" e os "irmãos dele". O fumo que se elevava era como o de um forno. uma "assembleia" segundo o modelo da primeira Aliança. Voltamos a encontrar os elementos do vento e do fogo no Pentecostes do Novo Testamento. 25). mediante a qual ela recebe a sua unidade do Senhor. a oração é a principal actividade da Igreja nascente. para ser sinal da sua santidade (cf. Act 1. O capítulo é introduzido pela expressão: "Quando chegou o dia do Pentecostes. múltiplo do "doze" do Colégio apostólico. tinha proposto que Israel se tornasse a sua propriedade no meio de todos os povos. Segundo o Livro do Êxodo. o Cenáculo. 1). no segundo capítulo dos Actos dos Apóstolos.Virgem Maria. que se reunia assiduamente em Jerusalém depois da Ascensão ao céu de Jesus (cf. É uma descrição rica de pormenores: o lugar "onde habitavam" o Cenáculo é um ambiente "no andar de cima". festa da Aliança. mas sem ressonâncias de medo. em . Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica Vaticana Domingo. Êxodo 19). fundamentada não já em vínculos de sangue. em que Lucas descreveu a pequena companhia dos discípulos. Em particular. 11 de Maio de 2008 Amados irmãos e irmãs São Lucas insere a narração do evento do Pentecostes. e todo o monte estremecia violentamente" (19. "Maria. mas na fé em Cristo. deixando-se orientar pela sua vontade. Act 1. aquela antiga aliança foi acompanhada por uma terrificante manifestação de poder da parte do Senhor: "Todo o monte Sinai lê-se fumegava. a comunidade convocada para ouvir a voz do Senhor e caminhar pelas suas veredas. que era de "cerca de cento e vinte". juntamente com eles são mencionadas "algumas mulheres". mediante Moisés. os onze Apóstolos são enumerados por nome. como fez o Apóstolo João aos pés da Cruz. como Mãe e Estrela da vossa vida e do vosso sacerdócio. as "colunas" da comunidade. na manhã da festa judaica do Pentecostes. como demonstra também a opção de tirar à sorte para escolher aquele que passará a ocupar o lugar de Judas (cf. na fé. e onde está o Espírito de Deus. superando deste modo a maldição de Babel (cf. Mt 28. A Igreja que nasce no Pentecostes não constitui. "Societas Spiritus". a Igreja. No Pentecostes. que ouvimos. a Igreja católica não é uma federação de Igrejas. Sucessivamente. dela hão-de nascer outras comunidades em todas as regiões do mundo. universal. Uma comunidade que. Todavia. O livro dos Actos dos Apóstolos termina precisamente quando São Paulo. porque o Evangelho que lhe é confiado. todas e sempre. 32: PL 38. Gostaria de reflectir sobre um aspecto peculiar da acção do Espírito Santo. já antes dele Santo Ireneu tinha formulado uma verdade que me apraz recordar: "Onde está a Igreja. Lucas cita também os "estrangeiros de Roma" (Act 2. Haer. ali está o Espírito de Deus. ali estão a Igreja e todas as graças. realizações da una e única Igreja de Cristo. a força do Espírito Santo guiará os passos das testemunhas. Por conseguinte. ou seja. é necessário acrescentar mais um aspecto: o da visão teológica dos Actos dos Apóstolos a respeito do caminho da Igreja de Jerusalém até Roma. está destinado a todos os povos. Igrejas particulares que são. e o Espírito é a verdade. "começaram a falar outras línguas" (Act 2. universal. 19). que no próprio acto do seu nascimento a Igreja já é "católica". Mas já na narração dos Actos. uma comunidade particular a Igreja de Jerusalém mas sim a Igreja universal. "até aos extremos confins da terra" (Act 1. sobre o entrelaçamento entre multiplicidade e unidade. até Roma. No entanto. uma espécie de nova criação. não fosse católica não seria nem sequer Igreja. que cria unidade no amor e na aceitação recíproca das diversidades. afastar-se da Igreja significa rejeitar o Espírito" e. 19. neste sentido. Disto fala a segunda Leitura.virtude de tal efusão. 462). 24. pode libertar a humanidade da tentação constante de uma vontade de poder terreno que quer dominar e uniformizar tudo. sociedade do Espírito: assim Santo Agostinho chama a Igreja num dos seus sermões (71. Com efeito somente o Espírito Santo. E é imediatamente claro como este Espírito dá vida a uma comunidade que é uma só e. A partir do evento do Pentecostes manifestase plenamente esta união entre o Espírito de Cristo e o seu Corpo místico. 1). ao mesmo tempo. elas podem compreender-se e fecundar-se reciprocamente. Entre os povos representados em Jerusalém no dia do Pentecostes. discorrendo sobre a harmonia dos diversos carismas na comunhão do mesmo Espírito. mas pela força do Espírito de Deus. isto é. 7-9). No evento do Pentecostes torna-se clarividente que à Igreja pertencem múltiplas línguas e diferentes culturas. 10). 4). a Igreja é constituída não por uma vontade humana. através de um desígnio providencial. era "estrangeira" para a Igreja nascente: ela constituía o símbolo do mundo pagão em geral. Ela fala desde o início todas as línguas. mas uma única realidade: a prioridade ontológica cabe à Igreja universal. chega à capital do . São Lucas quer claramente transmitir uma ideia fundamental. ou seja. Naquele momento Roma ainda estava distante. este entrelaçamento revela-se com extraordinária evidência. Trata-se de um verdadeiro e próprio "baptismo" de fogo da comunidade. por conseguinte. III. que fala as línguas de todos os povos. A este propósito. em conformidade com a vontade e o mandato de Cristo ressuscitado (cf. acima de tudo. Gn 11. "excluir-se da vida" (Adv. 8). porque Roma representa o mundo inteiro e portanto encarna a ideia lucana da catolicidade. A expresão "shalom" não é uma simples saudação. que concorda muito bem com o mistério da Igreja criada pelo Espírito. escolhido e formado no meio de todos os povos. que Cristo instituiu no mesmo momento em que comunicou aos discípulos a sua paz e o seu Espírito. sem fazer compromissos com a mentalidade do mundo. que é a continuação do povo da eleição e torna próprias a sua história e a missão. com a pregação do Evangelho e com os sinais de amor e de misericórdia que a acompanham (cf. 21-23). Àqueles a quem perdoardes os pecados. quando apareceu no meio dos discípulos no Cenáculo na noite de Páscoa: "Shalom a paz esteja convosco!" (Jo 20. é o fruto da sua vitória na luta contra o espírito do mal. de forma insuficiente compreendido o dom da Reconciliação. que no dia de hoje elevamos a Deus em união espiritual com a Virgem Maria. o caminho da Palavra de Deus. Act 28. que pacifica dos corações! A paz de Cristo só se difunde através dos corações renovados de homens e de mulheres reconciliados. trata-se de uma paz "não como o mundo a oferece". mas como somente Deus a pode conceder. A Igreja realiza o seu serviço à paz de Cristo. porque o mundo não pode doar a paz de Cristo: eis como a Igreja pode ser fermento daquela reconciliação que provém de Deus. que à luz desta Palavra de vida se torne ainda mais ardente e intensa a oração. Mas não devemos pensar somente nestes acontecimentos "no vértice". Como é importante e. o bem inestimável da paz. 30-31). Mc 16. sinal e instrumento da paz de Deus para todos os povos. Esta é a palavra que saiu duas vezes da boca de Jesus ressuscitado. queremos dar graças a Deus por ter concedido ao seu povo. se carregar a Cruz como e com Jesus. da sua paz! Ao mesmo tempo renovemos a tomada de consciência da responsabilidade que está vinculada a este dom: a responsabilidade da Igreja de ser. que se tornaram servidores da justiça. se permanecer dócil ao Espírito e der testemunho do Evangelho. sobretudo na presença e acção comuns no meio dos homens. 19. Naturalmente. encetado em Jerusalém. prontos a espalhar pelo mundo a paz unicamente com a força da verdade. Procurei ser portador desta mensagem. a Mãe da Igreja. àqueles a quem os retiverdes. 20). Realizou-se a Igreja universal. Nesta solenidade do Espírito e da Igreja. alcança a sua meta. Jesus soprou sobre os Apóstolos e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo. Nesta altura. obtenha para as nossas comunidades e para . entre estes sinais é necessário ressaltar de maneira prioritária o Sacramento da Reconciliação. Portanto. é muito mais: é o dom da paz prometida (cf. ser-lhes-ão retidos" (Jo 20. ser-lhes-ão perdoados. Jo 14.21).império e aí anuncia o Evangelho (cf. infelizmente. e para concluir. Como ouvimos na página evangélica. Só pode sê-lo. Deste modo. para dirigir a minha palavra aos representantes dos povos. o Evangelho de João oferece-nos uma palavra. A Virgem da escuta. indo recentemente à sede da Organização das Nações Unidas. 27) e conquistada por Jesus ao preço do seu sangue. É precisamente isto que testemunham os santos e as santas de todos os tempos! Amados irmãos e irmãs. a Igreja católica. constitucionalmente. dizem-nos o nome do Inefável. Aliás. são verdadeiras hoje e serão verdadeiras para sempre. Hoje ouvimos um trecho do Livro do Êxodo no qual o que é totalmente excepcional Deus até proclama o próprio nome! Fá-lo na presença de Moisés. por assim dizer. 17 de Maio de 2008 Queridos irmãos e irmãs! É para mim uma grande alegria encontrar-me entre vós e celebrar para vós a Eucaristia. a sua realidade mais profunda. Mas Maria não falava de si. Amém! CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA PRAÇA DO POVO EM SAVONA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Sábado. A todos renovo em Cristo os meus votos de graça e paz. me apresentou à Comunidade diocesana. como com um amigo. no início da celebração. cheio de bondade e de fidelidade" (Êx 34. encontrando-me aqui em Savona. Agradeço também ao Senhor Presidente Municipal a saudação cordial que me quis dirigir em nome de toda a Cidade. D.todos os cristãos uma renovada efusão do Espírito Santo Paráclito. do qual provém o seu agir. mas pelo modo como Ele é. Vittorio Lupi. como Criador do universo e Senhor da história. aparecendo a 18 de Março de 1536 a um camponês. São palavras humanas. o Coração de Deus. os responsáveis de associações. Somos convidados a contemplar. Fidelidade. mas sugeridas e quase pronunciadas pelo Espírito Santo. filho desta terra? "Nossa Senhora da Misericórdia" é o título com que é venerada e dela temos há alguns anos uma grande imagem também nos Jardins do Vaticano. os diáconos. é Ele mesmo que nos fala de Si nas Escrituras e se revela. os sacerdotes. Nesta solenidade a liturgia convida-nos a louvar a Deus não simplesmente por uma maravilha por Ele realizada. e ainda mais pelos sentimentos de caridade e de esperança pastoral que manifestou. que é a de ser Unidade na trindade. 6). "Emitte Spiritum tuum et creabuntur. Queridos amigos. fazem-nos ver com os olhos da mente o rosto do Invisível. Toda a Sagrada Escritura nos fala d'Ele. como não deixar de me alegrar juntamente convosco pelo facto de este nome ser precisamente aquele com que se apresentou a Virgem Maria. et renovabis faciem terrae Enviai o vosso Espírito. com o qual falava face a face. Saúdo com afecto o vosso Pastor. vagaroso em encolerizar-se. máxima e profunda Comunhão de amor e de vida. e fá-lo com este nome tão antigo . tudo será recriado e renovareis a face da terra". mas sempre de Deus. E qual é este nome de Deus? Todas as vezes nos comove ouvi-lo: "Javé! Javé! Deus misericordioso e clemente. os religiosos. Elas dizemnos a verdade sobre Deus: eram verdadeiras ontem. Este nome é misericórdia. na festa solene da Santíssima Trindade. movimentos e comunidades eclesiais. Saúdo as Autoridades civis. pela beleza e pela bondade do seu ser. ao qual agradeço as palavras com que. nunca fala de si. Graça. Maria tornou-se assim e permanece para sempre a "Mãe da Misericórdia". Uma peregrinação que é também memória e homenagem ao meu venerado predecessor Pio VII. em Savona. também para os nossos dias. porque é a essência do próprio Deus. relativismo. para que todo o que n'Ele crer não pereça. quis ter necessidade de um "sim" humano. que é sinónimo de amor. mas de igual modo consciente da necessidade da conversão do coração dos pecadores. é antes de tudo uma peregrinação. no dia da Santíssima Trindade. No decorrer da história da Igreja. Ouvimo-lo há pouco no Evangelho de João: "Deus amou de tal modo o mundo. se despoja da sua glória para se doar a nós. compaixão. A vicissitude vivida pelo grande Pontífice na vossa terra convida-nos a ter sempre confiança na intercessão e na assistência materna de Maria Santíssima. mas precisamente sendo Amor é abertura. como se fez conhecer também aqui. o Espírito que sai do abraço divino pacífico para irrigar os desertos da humanidade. Como justamente observou o vosso Bispo.e sempre novo. de acordo com o Pai. Ele mais não deseja do que derramar sobre o mundo a superabundância da sua Graça. . que lhe deu o Seu Filho unigénito. nesta Cidade. do "sim" de uma mulher que se tornasse a Mãe do seu Verbo encarnado. 16): neste doar-se de Deus na Pessoa do Filho está em acção toda a Trindade: o Pai que põe à nossa disposição o que tem de mais querido. graça. Está aqui toda a essência do cristianismo. venho renovar a expressão do reconhecimento da Santa Sé e de toda a Igreja pela fé. sem nunca ceder a compromissos. o Filho que. cuja dramática vicissitude está indissoluvelmente ligada a esta cidade e ao seu Santuário mariano. mediante Maria. O exemplo de firmeza serena dado pelo Papa Pio VII convida-nos a conservar inalterada nas provações a confiança em Deus. mas tenha a vida eterna" (Jo 3. Ela ensina-nos a coragem para enfrentar os desafios do mundo: materialismo. Portanto. dispostos a pagar pessoalmente para permanecer fiéis ao Senhor e à sua Igreja. Por isso convidou à oração e à penitência. perdão. o amor e a coragem com que os vossos concidadãos apoiaram o Papa na sua residência forçada. São vicissitudes que os cidadãos desta cidade hoje podem recordar com orgulho. mesmo se permite à sua Igreja momentos difíceis. Jesus. é misericórdia. diálogo. conscientes de que Ele. a minha visita a Savona. Para esta obra da sua misericórdia Deus. misericórdia. dispondo-se a assumir a nossa carne. aquela página obscura da história da Europa tornou-se. Conservam-se numerosos testemunhos das manifestações de solidariedade prestados ao Pontífice pelos habitantes de Savona. Para quem se encontra em perigo. a Virgem Maria mais não fez do que convidar os seus filhos a voltar para Deus. acolhimento. Na verdade. rica de graças e de ensinamentos. por vezes também com risco pessoal. a bater com confiante insistência à porta do seu Coração misericordioso. homens pecadores. nunca a abandona. de graça. a confiar-se a Ele na oração. pela força do Espírito Santo. é salvação. da esperança e do amor. "Misericórdia e não justiça" implorou Maria. sabendo que certamente junto do seu Filho Jesus teria sido ouvida. Deus criou tudo para a existência e a sua vontade é sempre e unicamente vida. Deus é Uno porque é totalmente e só Amor. às fontes da fé. e na sua relação connosco. que lhe foi imposta por Napoleão Bonaparte. o Rosto humano da divina Misericórdia. laicismo. À distância de dois séculos. A aparição da Virgem, num momento trágico da história de Savona e a experiência terrível que aqui enfrentou o Sucessor de Pedro concorrem para transmitir às gerações cristãs deste nosso tempo uma mensagem de esperança, encorajam-nos a ter confiança nos instrumentos da Graça que o Senhor põe à nossa disposição em todas as situações. E entre estes meios de salvação, gostaria de recordar antes de tudo a oração: a oração pessoal, familiar e comunitária. Na hodierna festa da Trindade apraz-me ressaltar a dimensão do louvor, da contemplação, da adoração. Penso nas jovens famílias e gostaria de as convidar a não ter receio de experimentar, desde os primeiros anos de matrimónio, um estilo simples de oração doméstica, favorecido pela presença das crianças pequenas, que têm muita facilidade de se dirigirem espontaneamente ao Senhor e a Nossa Senhora. Exorto as paróquias e as associações a dar tempo e espaço à oração, porque as actividades são pastoralmente estéreis se não forem precedidas, acompanhadas e amparadas constantemente pela oração. E que dizer da Celebração eucarística, especialmente da Missa dominical? O Dia do Senhor está justamente no centro da atenção pastoral dos Bispos italianos: o Domingo deve ser redescoberto na sua raiz cristã, a partir da celebração do Senhor Ressuscitado, encontrado na Palavra de Deus e reconhecido no partir do Pão eucarístico. E depois também o Sacramento da Reconciliação exige que seja reavaliado como meio fundamental para o crescimento espiritual e para poder enfrentar com força e coragem os desafios actuais. Juntamente com a oração e com os Sacramentos, outros inseparáveis instrumentos de crescimento são as obras de caridade a serem praticadas com fé viva. Sobre este aspecto da vida cristã quis deter-me também na Encíclica Deus caritas est. No mundo moderno, que com frequência faz da beleza e da eficiência física um ideal que deve ser perseguido de qualquer forma, como cristãos somos chamados a encontrar o rosto de Jesus Cristo, "o mais belo dos filhos do homem" (Sl 44, 3), precisamente nas pessoas que sofrem e são excluídas. Infelizmente, são numerosas hoje as emergências morais e materiais que nos preocupam. A este propósito, aproveito de bom grado a ocasião para dirigir uma saudação aos presos e ao pessoal do Instituto penitenciário "Santo Agostinho" de Savona, que há tempos vivem uma situação de particular malestar. Dirijo uma saudação de igual modo calorosa aos doentes internados no Hospital, nas Casas de cura ou nas habitações privadas. Desejo dirigir uma palavra particular a vós, queridos sacerdotes, para expressar apreço pelo vosso trabalho silencioso e pela empenhativa fidelidade com que o desempenhais. Queridos irmãos em Cristo, acreditai sempre na eficiência do vosso quotidiano serviço sacerdotal! Ele é precioso aos olhos de Deus e dos fiéis, e o seu valor não pode ser quantificado em números nem estatísticas: os resultados conhecê-los-emos só no Paraíso! Muitos de vós estais em idade avançada: isto faz-me pensar naquele trecho maravilhoso do profeta Isaías, que diz: "Os adolescentes cansam-se, fatigam-se, e os jovens robustos podem vacilar, mas aqueles que confiam no Senhor renovam, as suas forças; têm asas como a águia, e voam velozmente, sem se cansar, e correm sem desfalecer" (Is 40, 30-31). Juntamente com os diáconos ao serviço da diocese, vivei a comunhão com o Bispo e entre vós, experimentando-a numa colaboração activa, no apoio recíproco e numa coordenada pastoral partilhada. Dai continuidade ao testemunho corajoso e jubiloso do vosso serviço. Ide em busca do povo, como fazia o Senhor Jesus: na visita às famílias, no contacto com os doentes, no diálogo com os jovens, tornandovos presentes em todos os ambientes de trabalho e de vida. A vós, queridos religiosos e religiosas, aos quais agradeço a presença, digo de novo que o mundo precisa do vosso testemunho e da vossa oração. Vivei a vossa vocação na fidelidade quotidiana e fazei da vossa vida uma oferenda agradável a Deus: a Igreja está-vos grata e encoraja-vos a perseverar no vosso serviço. Desejo dirigir uma especial e calorosa saudação naturalmente a vós jovens! Queridos amigos, ponde a vossa juventude ao serviço de Deus e dos fiéis. Seguir Cristo exige sempre a coragem de ir contracorrente. Mas vale a pena: este é o caminho da verdadeira realização pessoal e portanto da verdadeira felicidade. Com Cristo experimenta-se de facto que "há mais alegria em dar do que em receber" (Act 20, 35). Eis por que vos encorajo a levar a sério o ideal da santidade. Um conhecido escritor francês deixou-nos numa das suas obras uma frase que hoje gostaria de vos recomendar: "Há uma só tristeza: a de não ser santos" (Léon Bloy, La femme pauvre, II, 27). Queridos jovens, ousai comprometer a vossa vida em opções corajosas, não sozinhos, naturalmente, mas com o Senhor! Dai a esta Cidade o impulso e o entusiasmo que derivam da vossa experiência viva de fé, uma experiência que não mortifica as expectativas da vida humana, mas as exalta na participação na mesma experiência de Cristo. E isto é válido também para os cristãos em idade mais avançada. Os meus votos para todos vós são por que a fé no Deus Uno e Trino infunda em cada comunidade o fervor do amor e da esperança, a alegria de se amarem entre irmãos e de se porem humildemente ao serviço uns dos outros. É este o "fermento" que faz crescer a humanidade, a luz que brilha no mundo. Maria Santíssima, Mãe de Misericórdia, juntamente com todos os vossos Santos Padroeiros, vos ajude a trasformar em vida vivida a exortação do Apóstolo, que há pouco ouvimos. Com grande afecto a faço minha: "Sede alegres, trabalhai na vossa perfeição, confortai-vos, tende um mesmo sentir, vivei em paz. E o Deus do amor estará convosco" (2 Cor 13, 11). Amém! CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA PRAÇA DA VITÓRIA EM GÉNOVA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo, 18 de Maio de 2008 Queridos irmãos e irmãs No final de um intenso dia transcorrido nesta vossa cidade, encontramo-nos reunidos à volta do altar para celebrar a Eucaristia, na solenidade da Santíssima Trindade. Desta central Praça da Vitória, que nos acolhe para o coral rito de louvor e de acção de graças a Deus, com o qual se conclui a minha visita pastoral, transmito a mais cordial saudação a toda a comunidade civil e eclesial de Génova. Em primeiro lugar, saúdo com carinho o Arcebispo, Cardeal Angelo Bagnasco, a quem agradeço a amabilidade com que me recebeu e as emocionantes palavras que me dirigiu no início da Santa Missa. Além disso, como deixar de saudar o Cardeal Tarcisio Bertone, meu Secretário de Estado, exPastor desta antiga e nobre Igreja? Dirijo-lhe o meu mais sentido agradecimento pela sua proximidade espiritual e pela sua preciosa colaboração. Em seguida, saúdo o Bispo Auxiliar, D. Luigi Ernesto Palletti, os Bispos da Ligúria e os demais Prelados. Dirijo o meu deferente pensamento às Autoridades civis, às quais estou grato pela sua recepção e pelo apoio concreto que prestaram para a preparação e a realização desta minha peregrinação apostólica. Saúdo em particular o Ministro Cláudio Scaiola, em representação do novo Governo, que precisamente nestes dias assumiu as suas plenas funções ao serviço da amada nação italiana. Depois, dirijo-me com profundo reconhecimento aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos diáconos, aos leigos comprometidos, aos seminaristas e aos jovens. Caros irmãos e irmãs, a todos vós a minha afectuosa saudação. Faço o meu pensamento extensivo a quantos não puderam estar presentes, de modo especial aos enfermos, às pessoas sozinhas e a quantos se encontram em dificuldade. Confio ao Senhor a cidade de Génova e todos os seus habitantes nesta solene concelebração eucarística que, como todos os domingos, nos convida a participar de maneira comunitária na dúplice mesa da Palavra da Verdade e do Pão da Vida eterna. Na primeira Leitura (cf. Êx 34, 4b-6.8-9) ouvimos um texto bíblico que nos apresenta a revelação do nome de Deus. É o próprio Deus, o Eterno e o Invisível, quem o proclama passando diante de Moisés na nuvem, no monte Sinai. O seu nome é: "O Senhor, Deus misericordioso e clemente, vagaroso na cólera, cheio de bondade e de fidelidade". No Novo Testamento, São João resume esta expressão com uma única palavra: "Amor" (cf. 1 Jo 4, 8.16). Atesta-o também o Evangelho de hoje: "Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu único Filho" (Jo 3, 16). Por conseguinte, este nome exprime claramente que o Deus da Bíblia não é uma espécie de mónade fechada em si mesma e satisfeita com a sua própria auto-suficiência, mas é vida que deseja comunicar-se, é abertura e relação. Todas as palavras como "misericordioso", "clemente" e "cheio de bondade" nos falam de uma relação, em particular de um Ser vital que se oferece, que deseja preencher todas as lacunas, todas as faltas, que quer doar e perdoar, que deseja estabelecer um vínculo sólido e duradouro. A Sagrada Escritura não conhece outro Deus, a não ser o Deus da Aliança, que criou o mundo para incutir o seu amor em todas as criaturas (cf. Missal Romano, Prece Eucarística IV) e que escolheu um povo para estabelecer com ele um pacto nupcial, a fim de fazer com que ele se torne uma bênção para todas as nações e assim formar da humanidade inteira uma grande família (cf. Gn 12, 1-3; Êx 19, 3-6). Esta revelação de Deus delineou-se plenamente no Novo Testamento, graças à palavra de Cristo. Jesus manifestou-nos o rosto de Deus, uno na sua essência e trino nas pessoas: Deus é amor, Amor Pai Amor Filho Amor Espírito Santo. E é precisamente em nome deste Deus que o Apóstolo Paulo saúda as comunidades de Corinto, saudando-nos também a todos nós: "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus [Pai] e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós" (2 Cor 13, 13). Portanto, nestas leituras existe um conteúdo principal que diz respeito a Deus, e com efeito a solenidade de hoje convida-nos a contemplá-lo, o Senhor, enquanto num certo sentido nos convida a subir "ao monte", a exemplo de Moisés. À primeira vista, isto parece afastar-nos do mundo e dos seus problemas, mas na realidade descobrimos que é precisamente conhecendo Deus de perto que recebemos também as orientações fundamentais para esta nossa vida: um pouco como aconteceu com Moisés que, subindo ao monte Sinai e permanecendo na presença de Deus, recebeu a lei gravada nas tábuas de pedra, das quais o povo hauriu a orientação para prosperar, para encontrar a liberdade e para se formar como povo em liberdade e justiça. É do nome de Deus que depende a nossa história; e da luz do seu rosto, o nosso caminho. Desta realidade de Deus, que Ele mesmo nos fez conhecer revelando-nos o seu "nome", ou seja, o seu rosto, deriva uma certa imagem de homem, isto é, o conceito de pessoa. Se Deus é unidade dialógica, um Ser em relação, a criatura humana que é feita à sua imagem e semelhança reflecte esta constituição: portanto, ela é chamada a realizar-se no diálogo, no colóquio e no encontro: é um ser em relação. De modo particular, Jesus revelou-nos que o homem é essencialmente "filho", criatura que vive em relação com Deus Pai, e deste modo em relação com todos os seus irmãos e irmãs. O homem não se realiza numa autonomia absoluta, iludindo-se que é Deus mas, pelo contrário, reconhecendo-se como filho, criatura aberta, inclinada para Deus e para os irmãos, em cujo rosto encontra a imagem do Pai comum. Vê-se bem que este conceito de Deus e do homem se encontra na base de um correspondente modelo de comunidade humana e, por conseguinte, de sociedade. Trata-se de um modelo que se encontra antes de toda a regulamentação normativa, jurídica e institucional, mas diria mesmo antes das especificações culturais; um modelo de humanidade como família, transversal a todas as civilizações, que nós cristãos manifestamos afirmando que todos os homens são filhos de Deus e, por conseguinte, todos são irmãos. Trata-se de uma verdade que está desde o princípio por detrás de nós e, ao mesmo tempo, sempre à nossa frente, como um projecto para o qual devemos tender sempre, em cada construção social. É extremamente rico o Magistério da Igreja, que se desenvolveu precisamente a partir desta visão de Deus e do homem. É suficiente percorrer os capítulos mais importantes da Doutrina Social da Igreja, para a qual os meus venerados Predecessores ofereceram contribuições substanciais, de modo particular ao longo dos últimos cento e vinte anos, tornando-se autorizados intérpretes e guias do movimento social de inspiração cristã. Hoje aqui, gostaria de mencionar somente a recente Nota pastoral do Episcopado italiano "Regenerados para uma esperança viva": testemunhas do grande "sim" de Deus ao homem (29 de Junho de 2007). Esta Nota propõe duas prioridades: em primeiro lugar, a opção do "primado de Deus": toda a vida e obra da Igreja dependem do facto de reservar o primeiro lugar a Deus, mas não a um deus genérico, mas sim ao Senhor com o seu nome e o seu rosto, ao Deus da Aliança que fez sair o povo da escravidão do Egipto, ressuscitou Cristo dos mortos e quer orientar a humanidade para a liberdade na paz e na justiça. A outra opção consiste em pôr no centro a pessoa e a unidade da sua existência, nos diversos âmbitos em que se desenvolve: a vida afectiva, o trabalho e a festa, a sua própria fragilidade, a tradição e a cidadania. O Deus uno e trino e a pessoa em relação: estes são os dois pontos de referência que a Igreja tem a tarefa de oferecer a cada geração humana, como serviço à construção de uma sociedade livre e solidária. A Igreja fá-lo, indubitavelmente, com a sua doutrina, mas sobretudo mediante o testemunho que, não por acaso, é a terceira opção fundamental do Episcopado italiano: testemunho pessoal e comunitário, em que convergem a vida espiritual, a missão pastoral e a dimensão cultural. Numa sociedade tensa entre globalização e individualismo, a Igreja é chamada a oferecer o testemunho da koinonia, da comunhão. Esta realidade não vem "de baixo", mas é um mistério que, por assim dizer, tem as "raízes no céu": precisamente no Deus Uno e Trino. Ele, em si mesmo, é o eterno diálogo de amor que Jesus Cristo nos comunicou, entrando no tecido da humanidade e da história par a levar à plenitude. Então, eis a grande síntese do Concílio Vaticano II: a Igreja, mistério de comunhão, "é em Cristo como que sacramento ou sinal e também instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o género humano" (Constituição Lumen gentium, 1). Também aqui, nesta grande cidade, assim como no seu território, com a variedade dos respectivos problemas humanos e sociais, a comunidade eclesial, tanto hoje como ontem, é antes de tudo o sinal simples mas verdadeiro, do Deus Amor, cujo nome está gravado no profundo ser de cada pessoa e em qualquer experiência de autêntica socialidade e solidariedade. Estimados irmãos, depois destas reflexões, deixo-vos algumas exortações particulares. Tende a preocupação pela formação espiritual e catequética, uma formação "substanciosa", mais necessária do que nunca para viver bem a vocação cristã no mundo de hoje. Digo-o aos adultos e aos jovens: cultivai uma fé ponderada, capaz de dialogar em profundidade com todos, com os irmãos que não são católicos, com os não-cristãos e os não-crentes. Fazei prosperar a vossa generosa partilha com os pobres e os mais frágeis, segundo a prática originária da Igreja, haurindo sempre inspiração e força da Eucaristia, perene nascente de caridade. Com carinho especial, animo os seminaristas e os jovens comprometidos num caminho vocacional: não tenhais medo, aliás, senti a atracção das opções definitivas, de um itinerário formativo sério e exigente. Somente a medida alta do discipulado fascina e incute alegria. Exorto todos a crescer na dimensão missionária, que é coessencial para a comunhão. Com efeito, a Trindade é unidade e ao mesmo tempo missão: quanto mais intenso é o amor, tanto mais vigoroso é o impulso a infundir-se, a dilatar-se a comunicar-se. Igreja de Génova, permanece unida e sê missionária, para anunciar a todos a alegria da fé e a beleza de ser Família de Deus. O meu pensamento estende-se à cidade inteira, a todos os genoveses e a quantos vivem e trabalham neste território. Prezados amigos, olhai para o futuro com confiança e procurai construí-lo em conjunto, evitando facciosidades e particularismos, antepondo o bem comum aos interesses particulares, por mais legítimos que sejam. Gostaria de concluir, formulando os bons votos que tiro da maravilhosa oração de Moisés, que ouvimos na primeira Leitura: o Senhor caminhe sempre no meio de vós e faça de vós a sua herança (cf. Êx 34, 9). Obtenha-vos isto a intercessão de Maria Santíssima que os genoveses, tanto na pátria como no mundo inteiro, invocam como Nossa Senhora da Guarda. Com a sua ajuda e com o auxílio dos Santos Padroeiros destas vossas amadas cidade e região, a vossa fé e as vossas obras sejam sempre para louvor e glória da Santíssima Trindade. Seguindo o exemplo dos Santos desta terra, sede uma comunidade missionária: à escuta de Deus e ao serviço dos homens. Amém! SANTA MISSA E PROCISSÃO EUCARÍSTICA À BASÍLICA DE SANTA MARIA MAIOR NA SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Átrio da Basílica de São João de Latrão Quinta-feira, 22 de Maio de 2008 Queridos irmãos e irmãs! Depois do tempo forte do ano litúrgico, que centrando-se sobre a Páscoa se prolonga por três meses primeiro os quarenta dias da Quaresma, depois os cinquenta dias do Tempo pascal a liturgia faz-nos celebrar três festas que ao contrário têm um carácter "sintético": a Santíssima Trindade, depois o Corpus Christi, e por fim o Sagrado Coração de Jesus. Qual é exactamente o significado da solenidade de hoje, do Corpo e do Sangue de Cristo? A própria celebração que estamos a realizar no-lo diz, no desenvolvimento dos gestos fundamentais: antes de tudo reunimo-nos em volta do altar do Senhor, para estar na sua presença; em segundo lugar faremos a procissão, isto é, o caminhar com o Senhor; e por fim, o ajoelharmo-nos diante do Senhor, a adoração, que já inicia na Missa e acompanha toda a procissão, mas tem o seu ápice no momento final da bênção eucarística, quando todos nos prostraremos diante d'Aquele que se inclinou até nós e deu a vida por nós. Detenhamo-nos brevemente sobre estas três atitudes, para que sejam verdadeiramente expressão da nossa fé e da nossa vida. Portanto, o primeiro acto é o de reunir-se na presença do Senhor. É o que antigamente se chamava "statio". Imaginemos por um momento que em toda a cidade de Roma haja só este único altar, e que todos os cristãos da cidade sejam convidados a reunir-se aqui, para celebrar o Salvador morto e ressuscitado. Isto dá-nos a ideia daquilo que foi, nas origens, a celebração eucarística em Roma, e em muitas outras cidades onde chegava a mensagem evangélica: havia em cada Igreja particular um só Bispo e à sua volta, em volta da Eucaristia por ele celebrada, constituía-se a Comunidade, única porque era uno o Cálice abençoado e um o Pão partido, como ouvimos das palavras do apóstolo Paulo na segunda Leitura (cf. 1 Cor 10, 16-17). Vem à mente a outra célebre expressão paulina: "Não há judeu nem grego; não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo" (Gl 3, 28). "Todos vós sois um só"! Sente-se nestas palavras a verdade e a força da revolução cristã, a revolução mais profunda da história humana, que se experimenta precisamente em volta da Eucaristia: reúnem-se aqui na presença do Senhor pessoas diversas por idade, sexo, condição social, ideias políticas. A Eucaristia nunca pode ser um facto privado, reservado a pessoas que se escolheram por afinidades ou por amizade. A Eucaristia é um culto público, que nada tem de esotérico, de exclusivo. Também aqui, esta tarde, não fomos nós que escolhemos com quem nos encontrarmos, viemos e encontramo-nos uns ao lado dos outros, irmanados pela fé e chamados a tornarmo-nos um único corpo partilhando o único Pão que é Cristo. Estamos unidos independentemente das nossas diferenças de nacionalidade, de profissão, de camada social, de ideias políticas: abrimo-nos uns aos outros para nos tornarmos um só a partir d'Ele. Foi esta, desde os inícios, uma característica do cristianismo realizada visivelmente em volta da Eucaristia, e é necessário vigiar sempre para que as tentações frequentes de individualismo, mesmo se em boa fé, de facto não vão em sentido oposto. Portanto, o Corpus Christi recorda-nos antes de tudo isto: que ser cristãos significa reunir-se de todas as partes para estar na presença do único Senhor e tornar-se n'Ele um só. O segundo aspecto constitutivo é o caminhar com o Senhor. É a realidade manifestada pela procissão, que viveremos juntos depois da Santa Missa, quase como um seu prolongamento natural, movendo-nos atrás d'Aquele que é a Via, o Caminho. Com a doação de Si mesmo na Eucaristia, o Senhor Jesus liberta-nos das nossas "parálises", faz-nos levantar e faz-nos "proceder", isto é, faz-nos dar um passo em frente, e depois outro, e assim põe-nos a caminho, com a força deste Pão da vida. Como aconteceu ao profeta Elias, que se tinha refugiado no deserto por receio dos seus inimigos, e tinha decidido deixar-se morrer (cf. 1 Rs 19, 1-4). Mas Deus despertou-o do sono e fez-lhe encontrar ao lado um pão cozido: "Levanta-te e come disse-lhe porque ainda tens um caminho longo a percorrer" (1 Rs 19, 5.7). A procissão do Corpus Christi ensina-nos que a Eucaristia nos quer libertar de qualquer abatimento e desencorajamento, quer fazer-nos levantar, para que possamos retomar o caminho com a força que Deus nos dá mediante Jesus Cristo. É a experiência do povo de Israel no êxodo do Egipto, a longa peregrinação através do deserto, da qual nos falou a primeira Leitura. Uma experiência que para Israel é constitutiva, mas resulta exemplar para toda a humanidade. De facto, a expressão "nem só de pão vive o homem, mas... de tudo o que sai da boca do Senhor" (Dt 8, 3) é uma afirmação universal, que se refere a todos os homens enquanto homens. Cada um pode encontrar o próprio caminho, se encontrar Aquele que é Palavra e Pão de vida e se deixar guiar pela sua presença amiga. Sem o Deus-connosco, o Deus próximo, como podemos enfrentar a peregrinação da existência, quer individualmente quer em comunidade e família de povos? A Eucaristia é o Sacramento do Deus que não nos deixa sozinhos no caminho, mas se coloca ao nosso lado e nos indica a direcção. De facto, não é suficiente ir em frente, é preciso ver para onde se vai! Não é suficiente o "progresso", se não há critérios de referência. Aliás, se se andar fora do caminho, correse o risco de cair num precipício, ou contudo de se afastar mais rapidamente da meta. Deus criou-nos livres, mas não nos deixou sozinhos: Ele mesmo se fez "via" e veio caminhar juntamente connosco, para que a nossa liberdade tenha também o critério para discernir o caminho justo e percorrê-lo. E a este ponto não se pode deixar de pensar no início do "decálogo", os dez mandamentos, onde está escrito: "Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egipto, de uma casa de escravidão. Não terás outro Deus além de Mim" (Êx 20, 2-3). Encontramos aqui o sentido do terceiro elemento constitutivo do Corpus Christi: ajoelhar-se em adoração diante do Senhor. Adorar o Deus de Jesus Cristo, que se fez pão repartido por amor, é o remédio mais válido e radical contra as idolatrias de ontem e de hoje. Ajoelhar-se diante da Eucaristia é profissão de liberdade: quem se inclina a Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de nenhum poder terreno, mesmo que seja forte. Nós, cristãos, só nos ajoelhamos diante do Santíssimo Sacramento, porque nele sabemos e acreditamos que está presente o único Deus verdadeiro, que criou o mundo e o amou de tal modo que lhe deu o seu Filho único (cf. Jo 3, 16). Prostramo-nos diante de um Deus que foi o primeiro a inclinar-se diante do homem, como Bom Samaritano, para o socorrer e dar a vida, e ajoelhou-se diante de nós para lavar os nossos pés sujos. Adorar o Corpo de Cristo significa crer que ali, naquele pedaço de pão, está realmente Cristo, que dá sentido verdadeiro à vida, ao imenso universo como à menor criatura, a toda a história humana e à existência mais breve. A adoração é a oração que prolonga a celebração e a comunhão eucarística na qual a alma continua a alimentar-se: alimenta-se de amor, de verdade, de paz; alimenta-nos de esperança, porque Aquele diante do qual nos prostramos não nos julga, não nos esmaga, mas liberta-nos e transforma-nos. Eis por que reunir-nos, caminhar, adorar nos enche de alegria. Fazendo nossa a atitude adorante de Maria, que neste mês de Maio recordamos de modo particular, rezemos por nós e por todos; rezemos por todas as pessoas que vivem nesta cidade, para que Te possam conhecer, ó Pai, e Àquele que Tu enviaste, Jesus Cristo. E desta forma ter a vida em abundância. Amém. CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA EM SUFRÁGIO PELO CARDEAL BERNARDIN GANTIN HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica Vaticana Sexta-feira, 23 de Maio de 2008 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Amados irmãos e irmãs! "Profetiza por conseguinte e diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus: Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas" (Ez 37, 12). Ressoam cheias de esperança estas palavras tiradas do Livro do profeta Ezequiel. A liturgia repropõe-nas à nossa meditação enquanto estamos reunidos em volta do altar do Senhor para oferecer a Eucaristia em sufrágio do querido Cardeal Bernardin Gantin, que chegou ao final do seu caminho terreno na terça-feira, 13 de Maio passado. No povo oprimido e desencorajado, abatido pelos sofrimentos do exílio, o Senhor anuncia a restauração de Israel. Cenário grandioso, o que é evocado pelo profeta, que prenuncia a intervenção resolutiva de Deus na história dos homens, intervenção que supera quanto é humanamente possível. Quando nos sentimos cansados, incapazes, abatidos diante da realidade iminente, quando somos tentados a ceder à desilusão e até ao desespero, quando o homem é limitado a um amontoado de "ossos áridos", chegou o momento da esperança "contra qualquer esperança" (cf. Rm 4, 18). A verdade que a Palavra de Deus recorda com poder é que nada nem ninguém, nem sequer a morte, pode resistir à omnipotência do seu amor fiel e misericordioso. Esta é a nossa fé, fundada na ressurreição de Cristo; esta é a garantia confortadora que o Senhor nos repete também hoje: "Então reconhecereis que Eu sou o Senhor Deus, quando abrir as vossas sepulturas... Introduzirei em vós o meu espírito e vivereis" (Ez 37, 13-14). É nesta perspectiva de fé e de esperança na ressurreição que fazemos memória do venerado Cardeal Bernardin Gantin, fiel e devoto servo da Igreja por longos anos. É difícil sintetizar brevemente as funções, os cargos pastorais que em rápida sucessão caracterizaram as etapas da sua existência terrena que se concluiu, com 86 anos de idade, no hospital "Georges Pompidou" em Paris. Até ao fim quis dedicar-se com amável disponibilidade ao serviço de Deus e dos irmãos, mantendo-se fiel ao mote que escolhera por ocasião da Ordenação episcopal: "In tuo sancto servitio". A sua personalidade, humana e sacerdotal, constituía uma síntese maravilhosa das características da alma africana com as próprias do espírito cristão, da cultura e da identidade africana e dos valores evangélicos. Foi o primeiro eclesiástico africano que ocupou cargos de altíssima responsabilidade na Cúria Romana, e desempenhou-os sempre com aquele típico estilo humilde e simples, cujo segredo deve ser procurado provavelmente nas sábias palavras que a mãe lhe repetiu quando foi criado Cardeal, a 27 de Junho de 1977: "Nunca te esqueças da pequena aldeia da qual provimos". Muitas recordações pessoais me ligam a este nosso Irmão, a partir precisamente de quando juntos recebemos o barrete cardinalício das mãos do venerado Servo de Deus, o Papa Paulo VI, há 31 anos. Juntos colaborámos aqui, na Cúria Romana, tendo frequentes contactos, que me permitiram apreciar cada vez mais a sua prudente sabedoria, assim como a sua sólida fé e a sua sincera afeição a Cristo e ao seu Vigário no Benim. ofereceu o seu contributo em diversas outras Repartições e Congregações da Cúria. 12). 21). Três anos mais tarde tornouse Arcebispo de Cotonou. O Servo de Deus João Paulo II. amor que lhe fazia sentir o seu papel nos vários Cargos da Cúria como um serviço privado de ambições humanas. Queridos irmãos e irmãs. Paulo VI o quis em Roma como Secretário adjunto da Congregação para a Evangelização dos Povos. ao contrário passa rapidamente. a biografia do Cardeal Gantin que. para o essencial da vida que permanece. Regeu a diocese com dotes humanos e ascéticos. em 1971. No ministério pastoral do Cardeal Gantin sobressai um constante amor pela Eucaristia. amor que o tornava amável e disponível à escuta e ao diálogo com todos. conquistado" por Ele (cf. celebrando a última Santa Missa antes de deixar Roma. inscrita na Cúpula: "Daqui a única fé . o Papa. chamou-o a ocupar o cargo de Prefeito da Congregação para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. amor que o estimulava a olhar sempre. a 8 de Abril de 1984. cargo que desempenhou até 25 de Junho de há dez anos. como costumava repetir. Tinha apenas 34 anos quando em Roma. tendo alcançado a veneranda idade de 80 anos. onde retomou a actividade evangelizadora que tinha iniciado aquando da sua ordenação sacerdotal. assumindo em 1976 também a responsabilidade de Presidente do Pontifício Conselho Cor Unum. a 3 de Fevereiro de 1957. ele ressaltou a unidade que a Eucaristia cria na Igreja. celebrámos ontem a solenidade do Corpus Christi. Dois anos mais tarde nomeou-o Secretário da mesma Congregação e no final de 1975 escolheu-o como VicePresidente da Pontifícia Comissão "Justiça e Paz". o Benim: foi o primeiro Metropolitano africano de toda a África. além dos âmbitos acima citados. ao qual hoje prestamos a nossa grata homenagem. que o tornavam respeitável Pastor dedicado sobretudo ao cuidado dos sacerdotes e à formação dos catequistas até quando. Cinquenta e sete anos de sacerdócio. Foi este espírito que o levou. Fl 3. que encontra no Sucessor de Pedro o seu fundamento visível. quando o deixou por ter alcançado o limite de idade. foi imbuído de amor de Cristo. na capela do Colégio de Propaganda Fide. Capital da sua Pátria. em seguida tornou-se seu Presidente. que ouvimos na segunda leitura: "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Fl 1. recebeu a Ordenação episcopal. realizada no distante dia 14 de Janeiro de 1951 em Ouidah. Podemos dizer que também este nosso amigo e irmão. vem à mente a afirmação de São Paulo. O tema eucarístico volta na página evangélica proclamada nesta assembleia litúrgica. a 30 de Novembro de 2002. fonte de santidade pessoal e de sólida comunhão eclesial. E foi precisamente nesta mesma Basílica que. Na sua homilia citou a célebre frase do Bispo africano São Cipriano de Cartago. cinquenta e um de Episcopado e trinta e um de púrpura cardinalícia: eis a síntese de uma vida vivida pela Igreja. São João recorda como só comendo "a carne" e bebendo "o sangue" de Cristo podemos habitar n'Ele e Ele em nós. sem se perder com o que é contingente e que. mesmo rapidamente. porque foi totalmente "alcançado. a apresentar a renúncia a Decano do Colégio Cardinalício e a regressar entre o seu povo.na terra. O Apóstolo lê a própria existência à luz da mensagem de Cristo. Repercorrendo. No encontro com Cristo este nosso Irmão implore para nós. assim como os presbíteros e os diáconos. maris stella. D.resplandece para o mundo: daqui brota a unidade do sacerdócio". depois do Congresso Eucarístico de Bari inicia como peregrinação mariana. Poderia ser esta a mensagem que nós recolhemos do venerado Cardeal Gantin como seu testamento espiritual. Dirijo com grande alegria a todos vós a minha afectuosa saudação. e as diversas Autoridades civis e militares presentes. começa a cumprir-se a solene profecia da salvação: "Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher. para a qual todos estamos encaminhados. As palavras deste antigo hino são uma saudação na qual ressoa de certo modo a do Cordeiro de Nazaré. muito apropriado porque este Santuário como confirma a lápide sobre a porta central do átrio intitula-se à Virgem Santíssima "Anunciada". Assim seja! CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA PRAÇA DO SANTUÁRIO DE SANTA MARIA DE FINIBUS TERRAE EM SANTA MARIA DI LEUCA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Sábado. Esta esmagar-te-á a cabeça. juntamente com ele saúdo os outros Bispos da Região. da qual ele foi ternamente devoto a sua morte verificou-se numa significativa data mariana. numa aldeia pobre da Galileia. Saúdo com gratidão o Ministro Raffaele Fitto. acende-se para o género humano a esperança da salvação: uma filha do nosso povo encontrou graça aos olhos do Senhor. Vito De Grisantis por me ter convidado e pelo seu cordial acolhimento. todos os títulos marianos são como que geminados e florescidos por aquele primeiro nome com o qual o mensageiro celeste se dirigiu à Virgem: "Alegra-te. ao tentares . no Santuário de Santa Maria de finibus terrae. 13 de Maio. Ouvimo-lo no Evangelho de São Lucas. Na simplicidade da casa de Maria. "Ave. Agradeço com afecto ao Bispo. 14 de Junho de 2008 Queridos irmãos e irmãs! A minha visita à Apúlia a segunda. que a predestinou para ser a Mãe do Redentor. 28). Estrela do mar e Estrela da esperança. ó cheia de graça" (Lc 1. memória de Nossa Senhora de Fátima. as pessoas consagradas e todos os fiéis. o dom da paz. D. Rainha da África. / atque semper virgo. Seja Nossa Senhora quem o entrega nas mãos misericordiosas do Pai celeste e o introduz com alegria na "Casa do Senhor". em representação do Governo italiano. Quando Deus chama Maria "cheia de graça". em particular o Metropolitano de Lecce. quis que a liturgia fosse dedicada a ela. Acompanhe-o na última etapa da sua viagem terrena a nossa oração à Virgem Maria. e sobretudo para a sua amada África. neste lembo extremo da Itália e da Europa. De facto. / felix caeli porta!". entre a tua descendência e a dela. Cosmo Francesco Ruppi. / Dei Mater alma. Neste lugar historicamente tão importante para o culto da Bem-Aventurada Virgem Maria. como no início recordou o Bispo. ele teve medo e renegou-o três vezes: foi subjugado pela tempestade. para que corresponda às exigências do nosso tempo. a tradição faz remontar o primeiro anúncio do Evangelho nesta terra. se possa ainda . a Virgem libertou-nos não de um inimigo terreno. Quando o Senhor foi preso. seguindo a Estrela de Maria possamos orientar-nos na viagem e manter a rota para Cristo. Jesus segurou-o por uma mão e pô-lo em salvo (cf.mordê-la no calcanhar" (Gn 3. mas do antigo adversário. e nós hoje damos graças por termos sido objecto desta "pesca milagrosa". como escreve precisamente São Pedro. uma pesca que. Quis reevocar a história de São Pedro. especialmente nos momentos obscuros e agitados. a misericórdia de Deus retomou-o e. grande convertido. A ele. Por isso o povo cristão fez seu o cântico de louvor que os Judeus elevaram a Judite e que nós proclamámos há pouco como Salmo responsorial: "Tu és bendita do Senhor. A fé de Pedro e a fé de Maria conjugam-se neste Santuário. Para nos tornarmos pescadores com Cristo é preciso sermos primeiro "pescados" por Ele. Aqui pode-se alcançar o duplo princípio da experiência cristã: o mariano e o petrino. São Pedro é testemunha desta realidade. quando atravessavam o lago da Galileia com os outros discípulos. de modo que. 15). salva-me!". A sua barca. Mt 14. lançou as redes até aqui. "pescado" por Jesus. por tê-la vivido em primeira pessoa. dando um corpo humano Àquele que lhe teria esmagado a cabeça de uma vez para sempre. vim confirmar-vos na fé em Jesus Cristo. Depois este episódio revelou ser um sinal daquela prova pela qual Pedro devia passar no momento da paixão de Jesus. Eis por que. levantou-o da sua queda. 24-33). Pedro deu alguns passos entre as ondas mas depois sentiu-se afundar e então bradou: "Senhor. a "recomeçar a partir de Cristo". Sem violência. entre todas as mulheres da terra" (Jt 13. Maria ensina-vos a permanecer sempre em escuta do Senhor no silêncio da oração. único salvador do homem e do mundo. foi surpreendido pela tempestade. que dura há dois mil anos. minha filha. assim como São Paulo. Como Sucessor de Pedro e Bispo da Igreja fundada sobre o sangue destes dois eminentes Apóstolos. 23). Ambos. do qual daqui a poucos dias inauguraremos o bimilenário do nascimento. desfazendo-se em lágrimas. pelo poder do Espírito Santo. Uma noite. 9). juntos. à mercê das ondas. a renovar a vossa fé. Maria resplandece como Estrela de esperança. Mas quando os seus olhos se cruzaram com o olhar de Cristo. queridos irmãos e irmãs. para que o seu Verbo eterno. Jesus alcançou-os naquele momento caminhando sobre as águas. O apóstolo Pedro conheceu bem esta experiência. ajudar-vosão. não conseguia prosseguir. porque sei que este lugar e toda a vossa Igreja estão particularmente ligados ao Príncipe dos Apóstolos. mas com a coragem humilde do seu "sim". mas reflecte a de Cristo. Deus altíssimo. Sol que surgiu no horizonte da humanidade. Não brilha de luz própria. no mar da vida e da história. "nos chamou das trevas para a maravilhosa luz [de Deus]" (1 Pd 2. O Pescador. a acolher com generosa disponibilidade a sua Palavra com o profundo desejo de vos oferecerdes a vós próprios a Deus. e convidou Pedro a descer da barca e a aproximar-se. a vossa vida concreta. as Comunidades eclesiais são lugares onde as jovens gerações podem aprender a esperança. A Igreja existe segundo a vocação originária e a missão revelada a Abraão para ser uma bênção em benefício de todos os povos da terra (cf. Esta é a renovação social cristã. o primeiro serviço da Igreja é o de educar para o sentido social. de partilhar o Evangelho com todos. mas como confiança tenaz na força do bem. que ouvimos na segunda Leitura (Cl 3. revela-se capaz de exercer uma influência positiva também a nível social. Por isso. porque promove uma humanidade renovada e relacionamentos humanos abertos e construtivos. para a solidariedade e a partilha. não como utopia. e alegrei-me muito ao verificar. a unir-vos a Ele na oferenda do Sacrifício. é fundamental não só para a vossa vida de família eclesial. baseada na transformação das consciências. que a eficiência do testemunho é proporcionada à intensidade do amor. Lumen gentium. mas também para o vosso compromisso de animação da realidade social. A Igreja. Gn 12. 1-3). ele recorda-nos que a Igreja não tem confins. sinal e instrumento de unidade para todo o género humano (cf. nasceu universal e a sua vocação é falar todas as línguas do mundo. pela comunhão. A Igreja que está na Apúlia possui uma elevada vocação para ser ponte entre povos e culturas. O bem vence e. se antes não nos amarmos e não nos ajudarmos uns aos outros no âmbito da comunidade cristã. quer na carta do vosso Bispo quer também hoje nas suas palavras. De nada serve projectar-se até aos confins da terra. porque faz eco a uma das últimas palavras de Jesus aos seus discípulos. 12-17). também São Pedro vos ensinará a sentir e a crer com a Igreja. entre o Ocidente e o Oriente. com genuíno espírito evangélico. na realidade continua a agir no silêncio e na discrição dando frutos a longo prazo. no respeito e no serviço em primeiro lugar dos últimos e dos mais frágeis. na oração. "De finibus terrae": o nome deste lugar santo é muito belo e sugestivo. de o fazer chegar até aos extremos confins da terra. para ser. como em todo o Sul da Itália. culturais. nós sabemos bem. fará com que sintais o prazer e a paixão pela unidade. até os confins religiosos são para a Igreja um convite à evangelização na perspectiva da "comunhão das diversidades". a alegria de caminhar juntos com os Pastores. porque o Senhor Jesus foi muito claro sobre este aspecto. Dividido entre a Europa e o Mediterrâneo. se por vezes pode parecer derrotado pela prepotência e astúcia. étnicos. A Igreja nasceu no Pentecostes. estando dotada pelo seu Senhor de uma carga espiritual que se renova continuamente. e. transmitir-vos-á o anseio da missão. De facto.hoje "fazer carne" na nossa história. a exortação do apóstolo Paulo. De modo complementar. ao mesmo tempo. na formação moral. no Salento. Esta terra e este Santuário são de facto uma "vanguarda" nesta direcção. Maria ajudar-vos-á a seguir Jesus com fidelidade. para a atenção pelo próximo. 1). porque a oração dá a força de crer e . Queridos amigos. Aqui. Const. é universal. E os confins geográficos. sim. firmes na fé católica. quanto esta sensibilidade está viva e é sentida de modo positivo. com a linguagem do Concílio Ecuménico Vaticano II. num contexto que tende para incentivar mais o individualismo. a levar no coração a sua Ressurreição e a viver em docilidade constante ao Espírito do Pentecostes. agradecendo-lhe as palavras pronunciadas . Tu és modelo de fé e de esperança na força da verdade e do bem. de São Francisco. a dos Padres Trinitários e as outras que levais em frente no vosso território. de São Domingos. são sinais eloquentes deste estilo tipicamente eclesial de promoção humana e social. CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NO PORTO DE BRINDISI HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo. apraz-me recordar que a Comunidade cristã não pode e nunca quer substituir-se às legítimas e obrigatórias competências das Instituições. Portanto. A piedade mariana das populações formou-se sob a influência admirável da devoção basiliana à Theotokos. D. E alargando o olhar ao horizonte onde céu e mar se tocam. Vejo com alegria muitos jovens. Ao mesmo tempo. para fazer com que nos tornemos um só com Ele e entre nós. a partir das situações de maior malestar e dificuldade. que devem ser cuidadas e preservadas como sinal da rica herança religiosa e civil do vosso povo. E saúdo-vos também a vós. que permaneceste aos pés da cruz do teu Filho. dirigimo-nos agora a ti. que evoca as viagens missionárias de Pedro e de Paulo. o maior dom brotado do seu Coração divino e humano. Deste Santuário de Santa Maria de finibus terrae desejo ir em peregrinação espiritual aos vários Santuários marianos do Salento. e expressa em lindíssimas igrejas e simples edículas sagradas. Celebramos Cristo na Eucaristia.lutar pelo bem até quando humanamente se seria tentados ao desencorajamento e à renúncia. que participais espiritualmente mediante a rádio e a televisão. o pensamento dirige-se de novo à Virgem Santíssima. Dirijo em particular a minha saudação ao Pastor desta amada Igreja. aproveitando a ocasião da presença das Autoridades civis. As iniciativas que o Bispo citou na abertura a das Irmãs Marcelinas. o porto. Amém. que animaram a vigília desta noite. uma devoção cultivada depois pelos filhos de São Bento. 15 de Junho de 2008 Caros irmãos e irmãs No centro desta minha visita a Brindisi celebramos. Virgem Maria. aliás. verdadeiras gemas encastoadas nesta península lançada como uma ponte sobre o mar. Por fim. preparando-se para a Celebração eucarística. Saúdo com afecto todos vós. reunidos neste lugar tão simbólico. o Pão da vida partido e compartilhado. o mistério que é fonte e ápice de toda a vida da Igreja. Rocco Talucci. queremos confiar-te os povos que vivem nas margens do Mediterrâneo e os do mundo inteiro invocando para todos progresso e paz: "Dá-nos dias de paz / vigia sobre o nosso caminho / faz com que vejamos o teu filho / cheios de alegria no céu". estimula-as e ampara-as nas suas tarefas e propõese colaborar sempre com elas para o bem de todos. Com as palavras do antigo hino invocamos-te: "Rompe os vínculos aos oprimidos / dá a luz aos cegos / afasta de nós qualquer mal / pede para nós todos os bens". no Dia do Senhor. a quem transmito a minha cordial saudação. 8) é constituído pela narração da chamada e da missão dos doze Apóstolos. fazendo-a extensiva a todos os irmãos ortodoxos e de outras Confissões. embora só no Pentecostes há-de aparecer o novo rosto da Igreja: quando os Doze. a partir desta Igreja de Brindisi que pela sua vocação ecuménica nos convida a rezar e a comprometer-nos pela plena unidade de todos os cristãos. ao qual Deus propõe que se torne "a sua propriedade entre todos os povos" (cf. não somente em sentido moral. 2-6a) evoca a Aliança estabelecida junto do monte Sinai. dirijo o meu pensamento afectuoso aos presbíteros e aos diáconos. formulando votos de todo o bem pelo seu serviço. reunida num único Corpo do qual Cristo ressuscitado é a Cabeça e. nos quais desaparece o confim entre Antigo e Novo Testamento e se manifesta o desígnio perene do Deus da Aliança: o desígnio de salvar todos os homens mediante a santificação de um povo. Act 2. proclamarem o Evangelho falando todas as línguas (cf. que remontam aos doze filhos de Jacob. aos religiosos e a todos os fiéis. Saúdo com reconhecimento as Autoridades civis e militares que participam nesta liturgia. ao mesmo tempo. e renovar-se na sua vocação e no seu impulso missionário? Na primeira Leitura. 3-4). Estou particularmente feliz pela presença do Metropolita Gennadios. Encontramos aqui representada a "constituição" da Igreja: como não sentir o convite implícito. Mt 28. Êx 19. durante o êxodo do Egipto. quando Jesus chamou os Doze. Saúdo também os demais Bispos da Apúlia. É a lógica do Reino de Deus. o povo é chamado a tornar-se uma "nação santa". pondo os Doze no centro da sua nova comunidade. Por isso. um daqueles momentos que transcendem a própria história. não casualmente representada pela pequena semente que se torna uma árvore frondosa . Ele faz compreender que veio para completar o desígnio do Pai celeste. dirigido a cada Comunidade. 20). Em seguida. manifestar-se-á a Igreja universal. aos quais asseguro a lembrança na oração. É uma das grandes etapas da história da salvação. O modo como se deve entender a identidade deste povo manifestou-se gradualmente ao longo dos acontecimentos salvíficos já no Antigo Testamento. ajudam-nos a compreender a realidade da Igreja: a primeira Leitura (cf. o autor sagrado narra o pacto de Deus com Moisés e com Israel no Sinai. A solenidade das narrações da aliança do Livro do Êxodo deixa nos Evangelhos o lugar a estes gestos humildes e discretos. às religiosas. 36 10. que quiseram estar aqui connosco em fraterna comunhão de sentimentos. O Evangelho hodierno apresenta-nos um momento decisivo para esta revelação. depois. por Ele enviada a todas as nações. até aos extremos confins da terra (cf. Graça e paz da parte do Senhor a cada um e a toda a cidade de Brindisi! Os textos bíblicos. Mt 9. o Evangelho (cf. que ouvimos neste 11º Domingo do tempo comum. Com efeito. Dirijo uma saudação especial aos doentes do Hospital e aos prisioneiros do Cárcere. que gosta de realizar as maiores coisas de modo pobre e humilde. Nesta perspectiva.no início da Santa Missa. "cheios do Espírito Santo". Então. mas antes ainda e sobretudo na sua própria realidade ontológica. queria referir-se simbolicamente às tribos de Israel. Êx 19. que todavia contêm uma enorme potencialidade de renovação. 5). revelou-se plenamente com a vinda de Jesus Cristo. O estilo de Jesus é inconfundível: é o estilo característico de Deus. precisamente para curar este mundo. completos. porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores" (Rm 5. é o de ser santos. Esta obra de Cristo é sempre silenciosa. na pobreza da nossa vida cristã. às vezes até graves. mas prenunciam outra luta. portador de vida. perfeitos. Na segunda Leitura. Precisamente com estes inícios humildes o Senhor encoraja-nos porque. e de vida em abundância para toda a humanidade. este é o desígnio de Deus: difundir na humanidade e no cosmos inteiro o seu amor gerador de vida. esta força de paz e de verdadeira vida. cresce a frondosa árvore da verdadeira vida. mas ao mesmo tempo marcados pelos seus limites humanos. Não é um processo espectacular. do viver o Evangelho todos os dias. mas para que tal se tornassem. a Igreja pode cumprir a sua missão. um projecto que o Senhor quer actuar no respeito pela nossa liberdade. reflectem a mansidão e a compaixão do Coração de Cristo. . É sobre o binómio "santidade-missão" a santidade é sempre força que transforma os outros que a vossa Comunidade eclesial. santificam o mundo. para mudar desse modo também a história. ao contrário. Jesus não os chamou porque já eram santos. Portanto. comprometida como está no Sínodo diocesano. 8). Nesta perspectiva manifesta-se claramente como a santidade e a missionariedade da Igreja constituem dois lados da mesma medalha: somente enquanto santa. de nós emana uma força santificadora e transformadora que age também sobre os outros. que é aquele suscitado pelos poderes do mal. é um processo humilde que. não é espectacular. 31-32). Então a Igreja é. Portanto. sobre a história. é chamada e enviada a instaurar o Reino da vida e a expulsar o domínio da morte. o espaço de acolhimento e de mediação do amor de Deus. em Cristo. repleta do amor divino. e assim tornam-se santos. ouvimos a síntese do Apóstolo Paulo: "Deus demonstra o seu amor para connosco. Tudo como para nós. sim. Portanto. porque o amor por sua natureza não pode ser imposto. desprovidos destas manifestações. Eram crentes. em conformidade com Deus. como Cristo e juntamente com Ele. 1). traz consigo a verdadeira força do futuro e da história. triunfe Deus que é Amor. Em síntese a Igreja. Mt 13. está a medir-se neste momento. podemos ver a sua presença e ter assim a coragem de ir ao seu encontro e tornar presente nesta terra o seu amor. outro transtorno. e é precisamente em função de tal tarefa que Deus a escolheu e santificou como sua propriedade. queridos irmãos e irmãs. Os Doze deverão cooperar com Jesus na instauração do Reino de Deus. o seu senhorio benéfico. para que fossem transformados. Como para todos os cristãos. ou seja. é útil reflectir que os doze Apóstolos não eram homens perfeitos. A este respeito. o nosso primeiro dever. precisamente na humildade do ser Igreja. A Igreja é a comunidade dos pecadores que acreditam no amor de Deus e se deixam transformar por Ele. deste modo. os inícios da Igreja na Galileia são. cheios de entusiasmo e de zelo. O pacto do Sinai é acompanhado por sinais cósmicos que aterrorizam os israelitas. também na humildade da Igreja de hoje. Aos Doze ouvimo-lo Ele "deu o poder para expulsar os espíritos malignos e para curar qualquer espécie de doença e enfermidade" (Mt 10. Por conseguinte. ou seja. escolhidos pela sua irrepreensibilidade moral e religiosa. para que no mundo triunfe a vida de Deus. todavia.(cf. sede sinais e instrumentos da compaixão. 36). continuai o caminho empreendido com este espírito. fiéis leigos. a começar pela família. em primeiro lugar. 6). que deve tornar-se oração. é sinónimo de solidariedade e de partilha. dai também de graça!" (Mt 10. na sua recente Carta pastoral. aliás. Caros irmãos e irmãs. comprometidos na comunidade eclesial e na sociedade. pela graça do Baptismo e da Confirmação. e que agora tenciona promover mediante o Sínodo diocesano. tanto pessoalmente como de forma associada. O Evangelista frisa-o. como ovelhas sem pastor" (Mt 9. da misericórdia de Cristo. e é animada pela esperança. chamando a atenção para o olhar que Cristo dirige às multidões: "Vendo as multidões ele escreve Jesus teve compaixão. A compaixão cristã nada tem a ver com o pietismo. Animados pela esperança em que fostes salvos. que já está no mundo. até às comunidades paroquiais. e que em última análise coincide com a sua Pessoa e com o seu mistério de salvação onde Ele é o Reino de Deus. especialmente pelos pequeninos e pelos pobres. somos chamados a trabalhar na vinha do Senhor. Nestas expressões sente-se o amor de Cristo pela sua gente. depois da chamada dos Doze. É um caminho de santidade e de missão. 7)? É uma esperança que se fundamenta na vinda de de Cristo. a atitude interior que se traduz em vida concreta. faz-nos considerar que a Igreja é. veneradas na Catedral de Brindisi. de multiplicar os trabalhadores na messe do Senhor (cf. é um caminho que ele verificou amplamente no decurso da visita pastoral. a vós.À luz desta providencial Palavra de Deus. também vós irmãos e irmãs desta antiga Igreja de Brindisi. Pelo contrário. ou seja. Não nasce porventura da esperança a palavra que Jesus dirige aos Apóstolos: "Ide e anunciai: "O Reino do Céu está próximo"" (Mt 10. As relíquias de São Teodoro de Amaseia. Este desejo. todos vós sois destinatários do desejo de Jesus. sobre o qual o vosso Arcebispo vos convidou a reflectir. hoje tenho a alegria de confirmar o caminho da vossa Igreja. um grande "seminário". é a novidade do mundo como bem recordava no título o quarto Congresso eclesial italiano. os sinais do Reino de amor. Mas a missão de Jesus comunica-se de diversos modos a todos os membros do Povo de Deus. 8). ambos vindos do Oriente no século II para irrigar esta terra com a água viva da Palavra de Deus. Velem sobre vós os vossos Padroeiros São Leucio e Santo Oronzo. vos recordem que dar a vida por Cristo é a pregação mais eficaz. ressuscitai os mortos. reaparece esta atitude no mandato que Ele lhes dá de se dirigirem "às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 10. Ao Bispo e aos presbíteros. às associações e aos movimentos de compromisso apostólico. repito com fervor as palavras do Mestre divino: "Curai os doentes. E. faz-nos pensar em primeiro lugar nos seminaristas e no novo Seminário desta Arquidiocese. Penso nas pessoas consagradas que professam os votos de pobreza. Mt 9. penso nos cônjuges cristãos e em vós. 38). O Evangelho de hoje sugere-nos o estilo da missão. na variedade dos carismas e dos ministérios. virgindade e obediência. purificai os leprosos e expulsai os demónios. São Lourenço. Todos nós. de justiça e de paz que vem. Só pode ser a de Jesus: o estilo da "compaixão". Este mandato é dirigido ainda hoje. neste território. Recebestes de graça. porque estavam cansadas e abatidas. Prezados irmãos e irmãs de Brindisi. filho desta . celebrado em Verona: Cristo ressuscitado é a "esperança do mundo". em sentido lato. com o assistencialismo. O Espírito que agia em Cristo e nos Doze é o mesmo que actua em vós e que vos permite realizar no meio do vosso povo. O Espírito de verdade testemunha nos vossos corações. 22 de Junho de 2008 Senhores Cardeais Excelências Queridos Irmãos e Irmãs Enquanto estais reunidos para o 49º Congresso Eucarístico Internacional. Confio todos vós à protecção da Bem-Aventurada Virgem Maria. vos obtenha o dom de uma fraternidade autêntica. Dirijo o meu pensamento afectuoso aos sacerdotes. aos diáconos e a todos os fiéis presentes. Assim. na vida da Igreja e do mundo. para glória de Deus Pai e para a salvação do mundo. HOMILIA DO SANTO PADRE PRONUNCIADA EM LIGAÇÃO TELEVISIVA SATELITAR DIRECTA COM A ESPLANADA DE ABRAHAM NO QUEBEQUE (CANADÁ) NA CELEBRAÇÃO CONCLUSIVA DO 49º CONGRESSO EUCARÍSTICO INTERNACIONAL HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo. assim como a todos os católicos de Quebeque. A Virgem Santa vos ajude a permanecer no amor de Cristo. Ela é o sacramento por excelência. Trata-se de uma oportunidade para que cada um se recorde dos valores que animaram os pioneiros e os missionários no vosso país. "A Eucaristia. é a fonte e o ápice da acção e da vida da Igreja. contém em si todo o mistério da nossa salvação. para que possais dar frutos abundantes. Sacrosanctum concilium. Mãe da esperança e Estrela da evangelização. assim como todos os Cardeais e Bispos presentes. do Canadá inteiro e dos outros continentes. . 8). que quiseram participar na liturgia. recordando-se que existe uma fecundidade da Eucaristia na sua vida pessoal. Portanto. Enviado Especial para o Congresso. introduz-nos antecipadamente na vida eterna. é particularmente importante que os pastores e os fiéis se comprometam permanentemente a aprofundar este grandioso sacramento. cada um poderá confirmar a sua fé e cumprir cada vez melhor a missão que lhe é própria na Igreja e no mundo. Transmito também as minhas cordiais saudações às personalidades da sociedade civil. tornando-se na esteira de São Francisco de Assis apóstolo de paz numa Europa dilacerada por guerras e discórdias. e o Senhor Cardeal Jozef Tomko.cidade. Antes de tudo. Amém. dom de Deus para a vida do mundo": eis o tema escolhido para este novo Congresso Eucarístico Internacional. como recordava o Concílio Vaticano II (cf. sinto-me feliz por chegar até vós através da televisão e por me unir assim à vossa oração. Não me esqueço que no corrente ano o vosso país celebra o quarto século da sua fundação. A Eucaristia é o nosso tesouro mais precioso. gostaria de saudar o Cardeal Marc Ouellet. Arcebispo de Quebeque. 17). pelo contrário. e para os quais os cristãos devem haurir a própria força do mistério eucarístico. S. Eis alguns dos desafios que devem mobilizar todos os nossos contemporâneos. porque todos nós formamos um único corpo. e peço a todos os fiéis que respeitem o papel de cada indivíduo. tanto dos sacerdotes como dos leigos. por sua vez. do qual o Senhor é a Cabeça. que cada pessoa possa alimentar-se e fazer viver a sua família. Exorto especialmente os presbíteros a prestarem a devida honra ao rito eucarístico. o texto conciliar sobre a Liturgia. Sacrosanctum concilium. a Eucaristia é o sacramento da unidade da Igreja. É recebendo o Corpo de Cristo. que a paz e a justiça resplandeçam em todos os continentes. preparando-nos para ela e prolongando-a permitem-nos também entrar em comunhão com Cristo e através dele e com toda a Trindade. é o dia em . Santo Agostinho. Por conseguinte. Cada frase. a adoração do Santíssimo Sacramento assim tencionamos aprofundar a nossa comunhão. é preciso que lutemos sem cessar para que todas as pessoas sejam respeitadas desde a sua concepção até à sua morte natural. Nunca podemos esquecer que a Igreja está edificada em redor de Cristo e que. 11. entendendo a sua profundidade e vivendo-a com maior intensidade. no gesto eucarístico. dado que é a expressão por excelência do amor de Deus.testemunhai também vós Cristo diante dos homens. cada gesto tem um significado que lhe é próprio e encerra em si um mistério. Sermo 577). A liturgia não nos pertence:é o tesouro da Igreja. como recita a antífona do aleluia desta Missa. cf. Por isso. ela exorta-nos a comprometer-nos com todos os nossos irmãos para enfrentar os desafios presentes e para fazer do planeta um lugar onde é bom viver. no seguimento de São Paulo (cf. cada pessoa alcançará uma melhor compreensão do significado de cada um dos aspectos da Eucaristia. Temos que remontar sempre de novo à última Ceia na Quinta-Feira Santa. a assumirem um compromisso semelhante para a renovação da catequese da Eucaristia. de maneira individual e em grupo. uma vez que o Domingo. ensinem as crianças e os adolescentes a reconhecer o mistério fulcral da fé e a construir a sua vida à volta dele. A última Ceia é o locus da Igreja nascente. para dar testemunho corajoso do mistério. como já diziam Santo Agostinho. Deste modo. Espero sinceramente que este Congresso sirva de exortação a todos os fiéis. A recepção da Eucaristia. 11. a participação na Eucaristia não nos afasta dos nossos contemporâneos. especialmente revisitando e aprofundando. o sacrifício de Cristo é renovado constantemente e o Pentecostes torna-se sempre novo. In Ioannis Evangelium. "O Mistério da Fé": é isto que proclamamos em cada Missa. o seio que contém a Igreja de todos os tempos. Gostaria que cada um assumisse o compromisso de estudar este grande mistério. o primeiro dia da semana. de tal maneira que eles mesmos adquiram uma consciência eucarística genuína e. 1 Cor 10. Tomás de Aquino e Santo Alberto Magno. restituindo-lhes toda a sua dignidade. Possam todos vós tornar-vos cada vez mais profundamente conscientes da importância da Eucaristia dominical. quando recebemos o penhor do mistério da nossa redenção na Cruz. Na Eucaristia. a fim de nos tornarmos o que recebemos e de vivermos em comunhão com a Igreja. que as nossas sociedades ricas acolham as mais pobres. que recebemos a força "da unidade com Deus e de uns com os outros" (São Cirilo de Alexandria. Dina Bélanger e Kateri Tekakwitha. diante dos olhos da nossa alma. unindo-se deste modo ao seu sacrifício na Cruz. Marguerite d'Youville. "As preces e os ritos do sacrifício eucarístico fazem reviver incessantemente. Por outro lado. A Eucaristia ocupa um lugar totalmente especial na vida dos Santos. pág. Marie-Catherine de Saint-Augustin. . que contribuiu para a vida missionária da Igreja. como recorda o Concílio Vaticano II: "Toda a celebração litúrgica. anunciando a morte e a ressurreição de Cristo. Ponde-vos na sua escola. contudo. até que Ele venha (cf. antecipação do banquete no Reino eterno. Efectivamente. acima de tudo o pecado grave. Não obstante a nossa debilidade e o nosso pecado. toda a história da salvação. De certa maneira. Demos graças a Deus pela história de santidade do Quebeque e do Canadá. aqueles que não podem receber a comunhão por causa da sua situação encontram. Por isso.que damos honra a Cristo. Ela é mistério de aliança. por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja. em conformidade com o convite do Concílio (cf. Somos chamados a entrar neste mistério de aliança. é necessário que realizemos tudo o que estiver ao nosso alcance para O receber com um coração puro. A Eucaristia não é somente uma refeição entre amigos. 67). conformando cada vez mais a nossa vida com o dom recebido na Eucaristia. Gostaria de convidar também os pastores e os fiéis a prestarem uma atenção renovada à preparação para a recepção da Eucaristia. Ela tem um carácter sagrado. a pureza que o pecado manchou. no seguimento do ciclo litúrgico. 11). ela constitui uma "liturgia celeste". 7). Deus acompanha-vos e ampara-vos. que souberam doar a própria vida por Cristo. 1987. "pondo em sintonia a nossa alma e a nossa voz". Marie de l'Incarnation. o dia em que recebemos a força para viver todos os dias o dom de Deus. D. não tenhais medo. voltando a encontrar incessantemente. François de Laval. Eles pertencem à geração dos homens e das mulheres que fundaram e desenvolveram a Igreja no Canadá. e preocupando-vos em espalhar ao vosso redor os valores morais e espirituais que nos são concedidos pelo Senhor. fazei de cada dia uma oferenda para glória de Deus Pai e participai na construção do mundo. recordandovos com orgulho do vosso legado religioso e da sua difusão social e cultural. mediante o sacramento do perdão. numa comunhão de desejo e na participação na Eucaristia uma força e uma eficácia salvífica. Wege zur inneren Stille Aschaffenburg. opõe-se à acção da graça eucarística em nós. o pecado. fazendo-nos penetrar cada vez mais o seu significado" (Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein]. Isaac Jogues e Companheiros. é acção sagrada por excelência. é em nós que Cristo deseja fazer a sua morada. Jean de Brébeuf. Sacrosanctum concilium. a cujo título e grau de eficácia nenhuma outra acção da Igreja se equipara" (Sacrosanctum concilium. O vosso país honra de maneira particular os seus mártires do Canadá. a exemplo deles. fundador da primeira Diocese na América do Norte. 26). juntamente com Marguerite Bourgeoys. 1 Cor 11. em 2012. ele apresenta-se a si mesmo com estas . que se prepara para hospedar este encontro eclesial. invocado sobre o pão e o vinho. é com alegria que vos anuncio a sede do próximo Congresso Eucarístico Internacional.A fim de que ao povo de Deus nunca faltem ministros para lhe comunicar o Corpo de Cristo. Convido-vos também a transmitir aos jovens o apelo ao sacerdócio. Quem era este Paulo? No templo de Jerusalém. Peço ao Senhor que faça com que cada um de vós descubra a profundidade e a grandeza do mistério da fé. Enquanto vos confio à intercessão de Nossa Senhora. temos que pedir ao Senhor que conceda à sua Igreja o dom de novos sacerdotes. na Irlanda. Cristo. juntamente com todos os participantes no próximo Congresso. Eles não serão desiludidos. convido todos vós a unir-vos a mim em oração pelo bom êxito do próximo Congresso Eucarístico Internacional. Estou convicto de que. que terá lugar em 2012 na cidade de Dublim! Aproveito este ensejo para saudar calorosamente o povo da Irlanda. em Tarso da Cilícia. Que à imagem da Virgem Maria vos torneis disponíveis para a obra de Deus em vós. assim como a todas as pessoas presentes. Realizar-se-á em Dublim. Padroeira do Quebeque. vos acompanhem ao longo do vosso caminho quotidiano e da vossa missão. presente na Eucaristia. há dois mil anos. de Santa Ana. concedo uma afectuosa Bênção Apostólica a todos vós. no momento em que este significativo acontecimento na vida da Igreja chega ao seu final. Que as famílias constituam o lugar primordial e o berço das vocações. vindas de diferentes países do mundo. CELEBRAÇÃO DAS PRIMEIRAS VÉSPERAS DA SOLENIDADE DOS SANTOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO POR OCASIÃO DA ABERTURA DO ANO PAULINO HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica de São Paulo fora dos Muros Sábado. encontrará nele uma nascente de duradoura renovação espiritual. diante da multidão agitada que queria matá-lo. 28 de Junho de 2008 Santidade e Delegados fraternos Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos irmãos e irmãs! Estamos reunidos junto do túmulo de São Paulo. Queridos amigos. para que aceitem com alegria e não tenham medo de responder a Cristo. Antes de terminar. e o Espírito Santo. na actual Turquia. o qual nasceu. e de todos os Santos da vossa terra. mas fui educado nesta cidade [Jerusalém].. que recordamos com veneração. que me amou e se entregou a si mesmo por mim" (Gl 2. Saúdo os Delegados Fraternos das Igrejas que têm vínculos particulares com o apóstolo Paulo Jerusalém.palavras: "Sou Judeu. 3). É para mim motivo de profunda alegria que a abertura do "Ano Paulino" assuma um particular carácter ecuménico pela presença de numerosos delegados e representantes de outras Igrejas e Comunidades eclesiais. Antioquia. Saúdo em primeiro lugar Sua Santidade o Patriarca Bartolomeu I e os membros da Delegação que o acompanha. "Vivo na fé do Filho de Deus. apóstolo e propagador de Jesus Cristo.. como Ressucitado. no início do "Ano Paulino" que estamos a inaugurar. "Mestre dos gentios" esta palavra abre-se para o futuro. para todos os povos e todas as gerações. mas por amor a ele a Paulo e que. gostaria de escolher entre o rico testemunho do Novo Testamento três textos. ainda o ama. 2 Tm 1. Saúdo cordialmente os Irmãos das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais do Oriente e do Ocidente. para este bimilenário do nascimento do Apóstolo. nascido em Tarso da Cilícia. juntamente com todos vós que quisestes participar neste solene início do "Ano" dedicado ao Apóstolo das Nações. como nosso mestre. A sua fé é o ser . que recebo de braços abertos. mestre dos gentios na fé e na verdade" (1 Tm 2. parte deste centro. ou seja. Estamos portanto aqui reunidos para nos interrogarmos sobre o grande Apóstolo dos gentios. 7. assim ele se caracteriza a si mesmo num olhar rectrospectivo ao percurso da sua vida. Paulo não é para nós uma figura do passado. Por isso quis proclamar este especial "Ano Paulino": para o ouvir e para aprender agora dele. é a consciência do facto que Cristo enfrentou a morte não por qualquer coisa anónima. pelo Cardeal Arcipreste e por outras Autoridades religiosas. Não perguntamos apenas: Quem era Paulo? Perguntamos sobretudo: Quem é Paulo? O que me diz? Neste momento. 11). A sua fé é a experiência do ser amado por Jesus de modo muito pessoal. através da qual entrei na Basílica acompanhado pelo Patriarca de Constantinopla. 20). Tudo o que Paulo faz. Grécia e que formam o ambiente geográfico da vida do Apóstolo antes da sua chegada a Roma. Mas com isto o olhar não se dirige só ao passado. uma especial "Chama Paulina". assim como o numeroso grupo de leigos que de várias partes do mundo vieram a Roma para viver com ele e com todos nós estes momentos de oração e de reflexão. que Cristo se entregou por ele. irrevogavelmente superada. Mestre dos gentios. em todo o rigor da Lei de nossos pais e cheio de zelo pelas coisas de Deus. nos quais aparece a fisionomia interior. Ele é também o nosso mestre. a especificidade do seu carácter.. que permanecerá acesa durante todo o ano num braseiro especial colocado no quadripórtico da Basílica. Para solenizar esta data também inaugurei a chamada "Porta Paulina". nas quais estão radicadas as razões da unidade entre os discípulos de Cristo. apóstolo e propagador de Jesus Cristo. No final do seu caminho dirá de si: "Fui constituído. Chipre. Paulo quer falar connosco hoje. Nesta perspectiva quis acender." (Act 22. instruído aos pés de Gamaliel. na qual abre o seu coração diante dos leitores de todos os tempos e revela qual é o estímulo mais íntimo da sua vida. "a fé e a verdade".. Estamos portanto reunidos não para reflectir sobre uma história do passado. Na Carta aos Gálatas ele doou-nos uma profissão de fé muito pessoal. Os conceitos fundamentais do seu anúncio compreendem-se unicamente com base nele. A Igreja não é uma associação que pretende promover uma determinada causa. Liberdade e responsabilidade estão aqui unidas de modo inseparável. o sofrimento. Jesus identifica-se com a Igreja num só sujeito. uma opinião sobre Deus e sobre o mundo. A experiência do ser profundamente amado por Cristo tinha-lhe aberto os olhos sobre a verdade e sobre o caminho da existência humana aquela experiência abraçava tudo. A verdade era para ele demasiado grande para estar disposto a sacrificá-la em vista de um sucesso externo. que transformou a vida de Saulo. Nela.. fomos anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de muitas lutas. Quem ama Cristo como Paulo o amou. porque a sua vontade está ancorada na verdade e porque a sua vontade já não é simplesmente a sua vontade. Na busca da fisionomia interior de São Paulo gostaria. ele diz de si mesmo: "No meio de grandes obstáculos. deixando na terra uma multidão de seguidores que se ocupam da "sua causa". em segundo lugar. 4s). 7-8) ama e faz o que desejas. Este amor agora é a "lei" da sua vida e precisamente assim é a liberdade da sua vida. E assim esta mesma fé é amor por Jesus Cristo. é dada a resposta: "Eu sou Jesus que tu persegues" (Act 9. Paulo era livre como homem amado por Deus que. ele vive totalmente na responsabilidade deste amor e não assume a liberdade como pretexto para o arbítrio e para o egoísmo. ó Senhor?". Na primeira das suas Cartas. e todo o seu agir e sofrer só se explica a partir deste centro. nunca usa de adulação. A sua fé é o impacto do amor de Deus sobre o seu coração. arbítrio do eu autónomo. Mas o que o motivava no mais profundo do seu ser. trata-se da pessoa de Jesus Cristo. 39). ele é livre. era ser amado por Jesus Cristo e o desejo de transmitir aos outros este amor.atingido pelo amor de Jesus Cristo. como sabeis" (1 Ts 2.. Cristo não se retirou para o céu. Analisemos só uma das suas palavras-chave: a liberdade. Saulo. 2. Nela. Paulo persegue o próprio Jesus: "Tu persegues-me". Com efeito.. Paulo era uma pessoa capaz de amar. em virtude de Deus. porque o seu amor está junto com a vontade de Cristo e. dado que é um que ama. de recordar a palavra que Cristo ressuscitado lhe dirigiu no caminho de Damasco.5). no fundo já está contida toda a doutrina sobre a Igreja como Corpo de Cristo. De facto. mas integra-se na liberdade de Deus e dela recebe o caminho que se deve percorrer. a perseguição. Ele tem "carne e ossos" (Lc 24. in 1 Jo 7. Ao perseguir a Igreja. era capaz de amar juntamente com Ele. Para ele a verdade que tinha experimentado no encontro com o Ressuscitado merecia bem a luta. afirma o . desde modo. Nesta exclamação do Ressuscitado. Paulo é apresentado por muitos como homem combativo que sabe manobrar a espada da palavra. Primeiro o Senhor pergunta-lhe: "Saulo. porque me persegues?". não se trata de uma causa. com a vontade de Deus. um amor que o perturba profundamente e o transforma. pode deveras fazer o que deseja. Não procurou uma harmonia superficial. a que escreveu aos Tessalonicenses. A sua fé não é uma teoria.. À pergunta: "Quem és. Ele fala e age movido pela responsabilidade do amor. no seu caminho de apóstolo não faltaram contendas. Dado que está na responsabilidade do amor. No mesmo espírito Agostinho formulou a frase que depois se tornou famosa: Dilige et quod vis fac (Tract. que também como Ressuscitado permaneceu "carne". de que este Saulo era um perseguidor perigoso dos cristãos. Faz com que hoje se torne de novo realidade: há um só pão. esta palavra torna-se ao mesmo tempo um pedido urgente: reúne-nos a todos de qualquer divisão. da transformação e purificação do eu pela verdadeira liberdade. Cristo atrai-nos continuamente para dentro do seu Corpo. não pode ser servo da verdade nem pode servir a fé. 15). uma exortação que dirigiu da prisão a Timóteo. embora sendo muitos. A Eucaristia o centro do nosso ser cristãos funda-se no sacrifício de Jesus por nós. neste momento. Ananias recebeu o cargo de ir ter com o temido perseguidor e de lhe impor as mãos. "Sofre também tu juntamente comigo pelo Evangelho" diz o Apóstolo ao seu discípulo (2 Tm 1. Para Paulo a palavra sobre a Igreja como Corpo de Cristo não é uma comparação qualquer. obtém esta resposta: Este homem deve levar o meu nome diante dos povos e dos reis. À objecção de Ananias. "Eu mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelo Meu nome" (Act 9. mantê-lo distante de si. "Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?". mesmo sendo muitos. Ele infunde-nos a coragem e a força para sofrer com Cristo e por Ele neste mundo. Onde não existe nada pelo qual vale a pena sofrer. por isso nós. Paulo estava cego na sua habitação de Damasco. Supera de muito uma comparação. 16ss). "Porque me persegues?". que está no fim dos caminhos percorridos pelo apóstolo como um testamento. "Cabeça e Corpo" formam um único sujeito. dirá Agostinho. um único sujeito no mundo novo da ressurreição (cf. O encargo do anúncio e a chamada ao sofrimento por Cristo caminham inseparavelmente juntos. Enquanto. Nós vivemos deste amor que se doa. Está pessoalmente na sua Igreja. nós. mantém distante a própria vida e a sua grandeza. a verdade paga-se com o sofrimento. Com estas palavras dirige-se a nós. nasceu no sofrimento do amor. Ele tem um corpo. edifica o seu Corpo a partir do centro eucarístico. 1 Cor 6. formamos um só corpo. 8). A chamada a tornar-se o mestre das nações é ao mesmo tempo e intrinsecamente uma chamada ao sofrimento na comunhão com Cristo.Ressuscitado em Lucas. em virtude da qual todos. E acrescenta: assim como. o homem e a mulher se tornam uma só carne. depois do seu encontro com o Ressuscitado. ou seja. até a própria vida perde valor. sabendo que precisamente assim a nossa vida se torna grande. madura e verdadeira. Num mundo no qual a mentira é poderosa. somos um só corpo. porque todos participamos do mesmo pão" (1 Cor 10. 16ss). diante dos discípulos que o tinham considerado um fantasma. que para Paulo é o centro da existência cristã. que na Cruz encontra o seu ápice. À luz de todas as cartas de São Paulo vemos como no seu caminho de . Em tudo isto transparece o mistério eucarístico. escreve Paulo aos Coríntios (1 Cor 6. no qual Cristo doa continuamente o seu Corpo e faz de nós seu Corpo: "O pão que partimos não é comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão. não só Paulo. como também cada indivíduo pode experimentar de modo muito pessoal: ele amou-me e entregou-se a si mesmo por mim. 15s). Gostaria de concluir com uma palavra tardia de São Paulo. Quem quer evitar o sofrimento. Esta palavra. para que readquirisse a vista. que nos redimiu mediante a sua Paixão. face à morte. assim Cristo com os seus se torna um só espírito. remete para o início da sua missão. Não há amor sem sofrimento sem o sofrimento da renúncia de si. mas o próprio Senhor: Como pudestes dilacerar o meu Corpo? Diante do rosto de Cristo. segundo o Livro do Génesis. pela sua fé e pelo seu amor. e pedimos-lhe: Dá-nos também hoje testemunhas da ressurreição. Não se apresenta como acusação. Neste momento agradecemos ao Senhor. tornando-o luz dos povos e mestre de todos nós. CELEBRAÇÃO PARA A IMPOSIÇÃO DO PÁLIO A QUARENTA ARCEBISPOS METROPOLITANOS NA SOLENIDADE DOS SANTOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO HOMILIAS DO PAPA BENTO XVI E DO PATRIARCA ECUMÉNICO BARTOLOMEU I Basílica Vaticana Domingo. porque chamou Paulo. a Igreja de Roma celebra a solenidade dos grandes Apóstolos Pedro e Paulo como única festa no mesmo dia. que não procura o próprio interesse. uma nova comunidade.mestre das nações se tenha realizado a profecia feita a Ananias no momento da chamada: "Mostrar-lhe-ei quanto terá que sofrer pelo meu nome". fundando assim uma nova cidade. ao mesmo tempo. 29 de Junho de 2008 HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Santidade e Delegados fraternos Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Amados irmãos e irmãs Desde as épocas mais antigas. São Paulo. O seu sofrimento torna-o credível como mestre de verdade. arrebatados pelo teu amor e capazes de levar a luz do Evangelho ao nosso tempo. mas se compromete por Aquele que nos amou e se entregou a si mesmo por todos nós. agora eles Pedro e Paulo fazem parte de Roma: mediante o martírio. É assim que os canta o hino das segundas Vésperas. mas reconcilia. os dois Apóstolos indicam onde está a . segundo as palavras do hino das primeiras Vésperas: apresenta-se como força do amor que supera o ódio e a violência. mas pelo mérito dos santos que mataste com a espada sangrante". Em virtude do seu martírio. também Pedro se tornou cidadão romano para sempre. Através do seu martírio. mas como "luz áurea". não por teu mérito. eles tornaram-se irmãos. Tu ultrapassas toda a beleza do mundo. adornada de púrpura pelo sangue precioso de Príncipes tão excelsos. reza por nós! Amém. a sua glória. que remonta a Paulino de Aquileia (+806): "Ó Roma felix Roma feliz. 29 de Junho. são os fundadores da nova Roma cristã. a satisfação pessoal. O sangue dos mártires não invoca vingança. Através do martírio. o seu próprio martírio é a realização de um abraço fraterno. de anunciar o Evangelho até aos extremos confins do mundo. a cujo tribunal foi levado. 1s. No final deste encontro. Podemos dizer: no mais íntimo. "Quando eu for à Espanha. Paulo veio voluntariamente a Roma. mais que todos os outros. por assim dizer. Encontro um bonito sinal deste abraço interior em crescimento. e são fundadores de um renovado tipo de cidade. Roma constitui uma excepção. Nos escritos do Novo Testamento podemos. 8). Uma das imagens preferidas pela iconografia cristã é o abraço entre os dois Apóstolos a caminho do martírio. mas até agora fui impedido" (Rm 1. O facto de ter ido a . é a síntese de todo o seu anúncio e da sua fé. no testemunho pelo qual dão a vida. em geral. Pedro e Paulo estão em relacionamento recíproco para sempre. a realização da unidade no testemunho e na missão. é conhecida em toda a parte como exemplar (cf. falando agora do seu programa de ir até à Espanha. que se desenvolve apesar da diversidade dos temperamentos e das funções.). irei com a plenitude da bênção de Cristo" (15. Na saudação inicial da Carta diz que o mundo inteiro fala da fé dos cristãos de Roma. Paulo vá somente aos lugares onde o Evangelho ainda não tinha sido anunciado. Tiago. o percurso de ambos termina em Roma. indo até vós. E volta a Jerusalém. Embora. 29). 24). o abraço dos grandes Apóstolos. tornam-se evidentes duas coisas: Roma é para Paulo uma etapa a caminho da Espanha. acaso. no final. Mas num sentido ainda mais profundo. são um só. mas ao mesmo tempo como cidadão romano que. Gl 2. Rm 1. 13). para não arriscar a "correr ou ter corrido em vão" (Gl 2. três anos depois da sua conversão. que deve formar-se sempre de novo no meio da antiga cidade humana. Espero também receber a vossa ajuda para ir até lá. E depois escreve: "Quero que saibais que muitas vezes pensei em visitarvos. Ali ele encontra uma Igreja de cuja fé o mundo fala. confirmando deste modo a comunhão que os congrega no único Evangelho de Jesus Cristo (cf. Cefás e João estenderam a mão. 18). uma mensagem duradoura? Paulo chegou a Roma como prisioneiro. Por que? É porventura isto mais do que um simples caso? Há nisto. que continua a ser ameaçada pelas forças opostas do pecado e do egoísmo dos homens. portanto. Em virtude do seu martírio. Na união dos colaboradores torna-se visível de modo muito concreto a comunhão da única Igreja. 9). Mediante a mais importante das suas Cartas. ou seja segundo o seu conceito do mundo rumo à extremidade da terra. 14 anos depois. Roma encontra-se neste percurso. Eles morrem pelo único Cristo e. Pedro e Paulo encontraram-se em Jerusalém pelo menos duas vezes. espero ver-vos por ocasião da minha passagem. para expor "às pessoas mais notáveis" o Evangelho que ele anuncia. e que esta fé. no facto de que os colaboradores mencionados no final da Primeira Carta de São Pedro Silvano e Marcos são colaboradores igualmente estreitos de São Paulo. seguir o desenvolvimento do seu abraço. precisamente como cidadão recorreu ao imperador. vai a Jerusalém "para conhecer Cefás" (Gl 1. No final da Carta retoma este tema. Aqui. depois de ter desfrutado um pouco a vossa companhia" (15. "Sei que. Tudo começa quando Paulo. depois de ter sido preso em Jerusalém. Considera como sua missão a realização da tarefa recebida de Cristo. já se tinha aproximado interiormente desta cidade: à Igreja de Roma tinha dirigido o escrito que.verdadeira esperança. enquanto Pedro permanecesse com os Doze em Jerusalém. Enquanto ainda está a falar. na Carta aos Gálatas Paulo diz que Deus infundiu em Pedro a força para o ministério apostólico entre os circuncisos. fundamentada nos bens materiais. deve ser o lugar do encontro na única fé. vai à casa do centurião e prega. que podemos considerar um reflexo da pregação de São Pedro. 8). também. com uma única cultura nem com um só Estado. Todavia. Roma deve tornar visível a fé ao mundo inteiro. Que seja sempre a Igreja de todos. 39). Perante um desenvolvimento ulterior. que porém fazem explodir também novos contrastes e dão um renovado ímpeto aos antigos. da Igreja formada por judeus e pagãos. segundo a ordem de Deus. O caminho para Roma. porque Deus "purificou o seu coração mediante a fé" (Act 15. graças à rede mundial de informações e graças. 47). diante da morte de Jesus Cristo na cruz. Pedro que. faz parte integrante da sua trarefa de levar o Evangelho a todos os povos de fundar a Igreja católica universal. para lhe anunciar o Evangelho. Sem dúvida. temos ainda mais necessidade . da Igreja de todos os povos. 2. o Espírito Santo desce sobre a comunidade doméstica congregada e Pedro diz: "Poderá alguém recusar a água do baptismo aos que receberam o Espírito. o Novo Testamento não se pronuncia de modo directo. agora deixa a presidência da Igreja cristão-judaica a Tiago. à ligação de interesses comuns. como nós?" (Act 10. Mas por que motivo Pedro foi a Roma? Sobre isto. o episódio de Cornélio. Por uma ordem de Deus. No meio desta unidade exterior. O caminho de são Pedro para Roma. Pedro torna-se para a Igreja o intercessor dos pagãos. que não tem necessidade da Lei. e em Paulo para o ministério no meio dos pagãos (cf. 9). na esperança de que Israel inteiro aderisse a Cristo. formada por judeus e pagãos. como representante dos povos do mundo. foi o primeiro a abrir a porta aos pagãos. diz: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus!" (15. Os Actos dos Apóstolos descrevem como etapa decisiva para a entrada do Evangelho no mundo dos pagãos. seguindo também este uma ordem divina. torne presente a paz de Deus e a força reconciliadora do seu amor.Roma faz parte da universalidade da sua missão como enviado para junto de todos os povos. O desejo de São Paulo de ir a Roma sublinha como vimos entre as características da Igreja sobretudo a palavra "catholica". ele manda alguém ter com Pedro que. oferece-nos algumas indicações. hoje no mundo existem novas formas de unidade. Aos pés da Cruz nasce a Igreja dos povos: o centurião do pelotão romano de execução reconhece em Cristo o Filho de Deus. Mas esta designação só podia entrar em vigor. Graças à técnica igual em toda a parte. o Menor. o centurião da corte itálica. no meio das divisões deste mundo. E esta é a missão permanente de Pedro: fazer com que a Igreja nunca se identifique com uma só nação. Que reúna a humanidade para além de todas as fronteiras e. os Doze reconheceram a hora em que também eles tinham que partir para o mundo inteiro. que já antes da sua viagem externa ele tinha percorrido interiormente com a sua Carta. Assim no Concilio dos Apóstolos. está intimamente orientado para o momento em que o centurião romano. insere-se sobretudo sob a palavra "una": a sua tarefa consiste em criar a unidade da catholica. O Evangelho de São Marcos. O facto de ter ido a Roma é para ele expressão da catolicidade da sua missão. para se dedicar à sua verdadeira missão: ao ministério para a unidade da única Igreja de Deus. Junto da Cruz revela-se o mistério de Jesus Cristo. Na sua exortação aos presbíteros. Na encarnação Ele carregou todos nós a pequena ovelha chamada "homem" nos ombros. para que se tornem símbolo para a grei de Cristo. este gesto recorda-nos o Pastor que carrega nos seus ombros a pequena ovelha tresmalhada. 5. toma nos seus ombros cada um de nós. pertencem ao ministério conjunto dos Pastores da Igreja de Jesus Cristo. Todos nós somos copresbiteros. o pálio torna-se símbolo do nosso amor pelo Pastor Cristo e do nosso amar com Ele torna-se símbolo da vocação para amar os homens como Ele. Para o compreender. Mas este "com" tem mais dois significados. pode servir de ajuda uma palavra da Primeira Carta de São Pedro. ele São Pedro qualificase a si próprio como synpresbéteros . nele. É Ele. inseparavelmente à interrogação: "Amas-me. e leva-a novamente para o aprisco. inseparavelmente ligado ao primeiro. que tem perguntas a fazer. para Jesus Cristo?". Esta é a missão permanente de Pedro e também a tarefa especifica confiada à Igreja de Roma. que viestes a Roma para receber o pálio como símbolo da vossa dignidade e da vossa responsabilidade de Arcebispos na Igreja de Jesus Cristo. para apascentar a grei de modo justo. também tu aqueles que me pertencem? Trálos para mim. à qual vós presidis. que sozinha já não encontra o caminho para casa. na sua humanidade. se tornaram irmãos e irmãs. que recebeis "do" túmulo de São Pedro. Estimados Irmãos no Episcopado. Ninguém é Pastor sozinho. Quando recebemos o pálio sobre os ombros. um ministério que neles continua.da unidade interior. Os Padres da Igreja viam nesta pequena ovelha a imagem de toda a humanidade. juntamente com Ele: aqueles que estão em busca. amas-me tu mais do que estes?". 1). Ele pergunta-nos: "Levas. que provém da paz de Deus unidade de todos aqueles que. Encontramo-nos na sucessão dos Apóstolos só pelo facto de estarmos na . Assim. mediante Jesus Cristo. Ser Pastor na Igreja de Cristo significa participar nesta tarefa. que nos carrega. agora gostaria de me dirigir a vós. de toda a natureza humana. a fim de que O possam encontrar e. Todas as vezes que vestirmos o pálio do Pastor do rebanho de Cristo. a Palavra eterna. O Pastor que a traz novamente para casa só pode ser o Logos. juntamente comigo. os simples e os grandes. o autêntico Pastor da humanidade. quantos estão seguros de si e os humildes. que se extraviou e não encontra mais o caminho para casa. tem ainda um segundo significado. são-no juntamente com ele. E então vem-nos ao pensamento a narração do envio de Pedro por parte do Ressuscitado. torna-se símbolo da vocação para amar todos eles com a força de Cristo e em vista de Cristo. que o Bispo de Roma benze todos os anos na festa da Cátedra de Pedro pondoas assim de lado. Cristo ressuscitado une o mandato: "Apascenta as minhas ovelhas". deveríamos ouvir esta pergunta: "Amas-me?" e deveríamos deixar-nos interrogar acerca do acréscimo de amor que Ele espera do Pastor. Contudo. quer ter também homens que "carreguem" juntamente com Ele. O pálio foi tecido com a lã de ovelhas.copresbitero (cf. encontrar-se a si mesmos. Exprime também a realidade que hoje indicamos com a palavra "colegialidade" dos Bispos. a Palavra eterna do próprio Deus. cuja memória é o pálio. Quando o vestimos. Mas o pálio. No caminho da Cruz levou-nos e leva-nos para casa. Esta fórmula contém implicitamente uma afirmação do princípio da sucessão apostólica: os Pastores que se sucedem são Pastores como ele. os corifeus dos discípulos do Senhor". um através da cruz e o outro através da espada. da comunhão universal entre Pastor e rebanho. o pálio fala-nos da catolicidade da Igreja. 29) restituindo a honra e o amor. unindo-nos a Cristo. como garantia da unidade. Quando o mundo no seu conjunto se tornar liturgia de Deus. santificando-a. amado . a fim de que os pagãos se tornem oferta aceite e santificada pelo Espírito Santo" (cf. apostolica e. ele manifestou o essencial da sua missão. 16). sobre a qual a Igreja está alicerçada. movemo-nos "com passos exultantes". da parte da Santíssima Igreja de Constantinopla e dos seus filhos espalhados pelo mundo. Assim. Saudamos com profundo e devoto amor. as quais nesta cidade histórica fizeram a última confissão evidente de Cristo e aqui ofereceram a sua alma ao Senhor com o martírio. este "com" refere-se também à comunhão com Pedro e com o seu sucessor. 15. isto faz-me considerar de novo São Paulo e a sua missão. administrando como sacerdote o Evangelho de Deus. Amém. E enfim. onde o colégio dos Apóstolos encontra a sua continuação. E chegamos até vós "com a plenitude das bênçãos do Evangelho de Cristo" (Rm 15. para vir até vós para participar da vossa alegria na festa patronal da Antiga Roma. "os seguros e inspirados arautos. os Santos Apóstolos Pedro. O Senhor chama-nos a este ministério. Somente neste versículo Paulo recorre à palavra "hyerourgein" administrar como sacerdote juntamente com o termo "leitourgós" liturgista: ele fala da liturgia cósmica. naturalmente. Ele sabe que é chamado "a ser ministro de Jesus Cristo. uma vez que o rebanho é um só.comunhão do colégio. No capitulo 15 da Carta aos Romanos. entre os gentios. para que Ele nos ajude a cumpri-lo de modo justo. memória do Apóstolo Santo André. Esta é a finalidade derradeira da missão apostólica de São Paulo e da nossa missão. HOMILIA DO PATRIARCA ECUMÉNICO BARTOLOMEU I Santidade! Tendo ainda viva a alegria e a emoção da pessoal e abençoada participação de Vossa Santidade na festa patronal de Constantinopla. e Paulo: estas duas imensas colunas centrais de toda a Igreja elevadas aos céus. o "nós" dos Pastores faz parte do ser Pastores. assim como a razão mais profunda do seu desejo de ir a Roma. a única Igreja de Jesus Cristo. então terá alcançado a sua meta e estará são e salvo. A comunhão. do Fanar da nova Roma. Oremos nesta hora. com uma frase extraordinamente bonita. Vossa Santidade. E remete-nos para a apostolicidade: para a comunhão com a fé dos Apóstolos. em Novembro de 2006. a tornarmo-nos verdadeiros liturgistas de Jesus Cristo. irmão de André. celebrando junto com o nosso Irmão predilecto na terra de Ocidente. Finalmente. Fala-nos da Ecclesia una. em que o próprio mundo dos homens deve tornarse adoração de Deus e oblação no Espírito Santo. catholica. quando na sua realidade se tornar adoração. o primeiro a ser chamado. fala-nos precisamente também do facto que a Igreja é sancta e que o nosso agir é um serviço à sua santidade. Desejamos verdadeiramente e oramos muito por isso. prosperidade e que progridais dia e noite em direcção à salvação "fervorosos de espírito. como Éfeso. que neste percurso sagrado. "Ano do Apóstolo Paulo". dirigindo uma forte súplica e intercessão do divino Paulo ao Senhor por Vossa Santidade. no qual têm nas suas santas mãos um pequeno veleiro. no Oriente preparamo-nos também através do jejum feito em sua honra. desejando de coração "a todos os amados de Deus que estais em Roma" (Rm 1. como também Rodes e Creta e a localidade chamada "Bons-Portos". 12-13). estará presente também Vossa Santidade. sublinhando o ardente desejo em Cristo e o amor. paz.omaisrápidopossível. Santidade. Sabemos bem que tal desejo também é seu. desde o ano da salvação de 258. coisas que nos aproximam uns aos outros. como o vaso de eleição. Celebramos a sua memória. Tenha a certeza. O diálogo teológico entre as nossas Igrejas "na fé. No âmbito das manifestações relativas ao aniversário. verdade e amor". assim como também Vossa Santidade faz a partir de hoje até ao próximo ano. se Deus quiser. 7) que vivais com saúde. na direcção de uma positiva finalização. graças à ajuda divina. perseverantes na oração" (Rm 12. Paulo. no cumprimento dos dois mil anos do nascimento do grande Apóstolo.Irmão. o Oriente habitualmente honra-os através de um ícone comum. Pedro. no Ocidente e no Oriente. e em cada lugar elevaremos uma ardente oração por Vossa Santidade e pelos nossos irmãos da venerada Igreja Romano-Católica. como estamos certos de que Vossa Santidade nada deixará inobservado trabalhando pessoalmente. que simboliza a Igreja. dedicados ao serviço do Senhor. para alcançar o objecto de desejo final. pacientes na tribulação. caminhando connosco em espírito. nas quais venerámos inclusive o precioso local onde ocorreu o seu martírio. junto com os seus ilustres colaboradores através de uma perfeita eliminação das dificuldades encontradas pelo caminho. programamos entre outras coisas uma peregrinação sagrada a alguns monumentos da actividade evangélica do Apóstolo no Oriente. proclamámos 2008. Santidade. onde nos dias antecedentes. Exactamente este ósculo viemos dar-lhe. mas também o seu valor na Igreja e na sua obra regeneradora e salvífica durante os séculos. aglóriadeDeus. alegres na esperança. para que estas dificuldades sejam superadas e que os problemas se resolvam. Principalmente para sublinhar o seu valor em termos equitativos. Santidade. segundo a tradição da Igreja Antiga. ou abraçam-se e beijam-se em Cristo. dos trabalhos do Diálogo. . Perga e outras cidades da Ásia Menor. progride. além das notáveis dificuldades que subsistem e das conhecidas polémicas. honramos e veneramos devidamente tanto aquele que fez uma confissão salvífica da Divindade de Cristo. no dia 29 de Junho. o qual proclamou esta confissão e fé até aos confins do universo. Santidade. Em ambas as Igrejas. através de perigos e dificuldades inimagináveis. para construir a Igreja na Austrália? O pensamento detém-se de forma particular naquelas famílias de colonos a quem o Padre Jeremiah O’Flynn. como não pensar às falanges de sacerdotes. Chama-nos. e suplicamos-lhe. e sobretudo no sacrifício da Missa consumado sobre os altares de todo o mundo. a vida eterna e a grande misericórdia. para a conversão dos corações e o crescimento da Igreja na santidade. unidade e caridade. De forma muito especial. tenho a alegria de saudar os meus irmãos bispos e sacerdotes.E agora. que leva verdadeiramente à vida. Alegremo-nos pela sua fidelidade e perseverança e dediquemonos a levar por diante as suas canseiras em prol da difusão do Evangelho. terão a missão de edificar a casa de Deus para a próxima geração. a partilhar a sua auto-oblação. as pessoas consagradas e os leigos da arquidiocese de Sidney. sepultado e ressuscitado dentre os mortos. na terra "a união da fé e da comunhão do Espírito Santo" no "laço da paz" e no céu. 19 de Julho de 2008 Amados Irmãos e Irmãs. como os jovens israelitas da primeira leitura de hoje. Ao admirarmos este magnífico edifício. altar e vítima (cf. CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA COM OS BISPOS. Na liturgia da Igreja. a minha saudação vai para os seminaristas e para os noviços e noviças presentes entre nós: são. cada altar é símbolo de Jesus Cristo. confiou o Santíssimo Sacramento. que intercede eternamente por nós. venerando os padecimentos e a cruz de Pedro e abraçando a corrente e os estigmas de Paulo. também eles. um sinal de esperança e de renovação para o povo de Deus. que conceda a nós e a todos os filhos das Igrejas Ortodoxa e Romano-Católica espalhados pelo mundo. um «pequeno rebanho» que amou e preservou aquele tesouro precioso. NOVIÇOS E NOVIÇAS HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI Catedral de Sidney Sábado. membros do seu Corpo místico. como aqueles jovens israelitas. Como no-lo recorda vigorosamente o frontal esculpido. presente no meio da sua Igreja como sacerdote. Ele convida-nos a nós. entregando-o às gerações sucessivas que edificaram este grande tabernáculo para a glória de Deus. Amém. enquanto povo sacerdotal da . na hora de partir. religiosos e fiéis leigos que contribuíram. SEMINARISTAS. honrando a confissão. Preparamo-nos para celebrar a dedicação do novo altar desta veneranda catedral. Cristo tornou-Se nosso Sumo Sacerdote. glorificamos Deus três vezes santo. os diáconos. cada qual segundo a própria função. Crucificado. restituído à vida no Espírito e sentado à direita do Pai. o martírio e a venerada morte de ambos em nome do Senhor. Prefácio Pascal V). pela intercessão dos seus Protocorifeus apóstolos. Nesta nobre catedral. nova e eterna Aliança, a oferecer, em união com Ele, os nossos sacrifícios de cada dia pela salvação do mundo. Na liturgia de hoje, a Igreja recorda-nos que, à semelhança deste altar, também nós fomos consagrados, colocados «à parte» para o serviço de Deus e a edificação do seu Reino. Muitas vezes, porém, encontramo-nos imersos num mundo que quereria pôr Deus «de parte». Em nome da liberdade e autonomia humanas, o nome de Deus é passado em silêncio, a religião fica reduzida a devoção pessoal e a fé é banida da praça pública. Por vezes uma semelhante mentalidade, tão radicalmente contrária à essência do Evangelho, pode mesmo ofuscar a nossa própria compreensão da Igreja e da sua missão. Também nós podemos ser tentados a reduzir a vida de fé a uma questão de mero sentimento, enfraquecendo assim o seu poder de inspirar uma visão coerente do mundo e um diálogo rigoroso com tantas outras perspectivas que lutam por conquistar as mentes e os corações dos nossos contemporâneos. E todavia a história, incluindo a do nosso tempo, demonstra-nos que a questão de Deus não pode jamais ser silenciada, e também que a indiferença face à dimensão religiosa da existência humana em última análise diminui e atraiçoa o próprio homem. Porventura não é esta a mensagem proclamada pela arquitectura estupenda desta catedral? Não é porventura este o mistério da fé que é anunciado a partir deste altar em cada celebração da Eucaristia? A fé ensina-nos que em Jesus Cristo, Palavra encarnada, chegamos a compreender a grandeza da nossa própria humanidade, o mistério da nossa vida sobre a terra e o sublime destino que nos espera no céu (cf. Gaudium et spes, 24). Além disso, a fé ensina-nos que somos criaturas de Deus, feitas à sua imagem e semelhança, dotadas duma dignidade inviolável e chamadas à vida eterna. Sempre que se diminui o homem, é o mundo que nos rodeia a ficar diminuído; perde o próprio significado último e falha o seu objectivo. O que daí resulta é uma cultura, não da vida, mas da morte. Como se pode considerar isto um «progresso»? Pelo contrário, é um passo para trás, uma forma de retrocesso, que em última análise seca as próprias fontes da vida seja dos indivíduos seja da sociedade inteira. Sabemos que no fim de contas, como Santo Inácio de Loyola viu de forma muito clara, o único verdadeiro padrão com que se pode aferir qualquer realidade humana é a Cruz e a sua mensagem de amor gratuito que triunfa sobre o mal, o pecado e a morte, que cria vida nova e alegria perene. A Cruz revela que só nos reencontramos a nós mesmos dando as nossas vidas, acolhendo o amor de Deus como um dom não merecido e trabalhando por conduzir todo o homem e mulher para a beleza de tal amor e para a luz da verdade, a única que traz salvação ao mundo. Nesta verdade – o mistério da fé – é que fomos consagrados (cf. Jo 17, 17-19), e é nesta verdade que somos chamados a crescer, com a ajuda da graça de Deus, na fidelidade diária à sua palavra, dentro da comunhão vivificante da Igreja. E todavia como é difícil este caminho de consagração! Exige uma contínua «conversão», um morrer sacrifical para si mesmo que é a condição para pertencer plenamente a Deus, uma mudança da mente e do coração que gera verdadeira liberdade e uma nova amplitude de visão. A liturgia de hoje oferece-nos um símbolo eloquente daquela progressiva transformação espiritual a que é chamado cada um de nós. Desde a aspersão da água, passando pela proclamação da palavra de Deus, a invocação de todos os Santos, até à oração de consagração, à unção e à lavagem do altar, acabando este revestido de branco e adornado de luz – todos estes ritos nos convidam a reviver a nossa própria consagração no Baptismo. Convidam-nos a rejeitar o pecado e suas falsas seduções, e a dessedentarmo-nos cada vez mais profundamente na fonte vivificante da graça de Deus. Queridos amigos, que esta celebração com a presença do Sucessor de Pedro seja um momento de nova consagração e de renovação para toda a Igreja na Austrália. Desejo abrir aqui um parêntesis para confessar a vergonha que todos sentimos depois dos abusos sexuais sobre menores cometidos por alguns sacerdotes e religiosos desta nação. Lamento verdadeira e profundamente as moléstias e sofrimentos que as vítimas suportaram e asseguro-lhes, como seu Pastor, que também eu compartilho o seu sofrimento. Estes agravos, que constituem tão grave traição da confiança, devem ser condenados de modo inequívoco. Causaram grande sofrimento e prejudicaram o testemunho da Igreja. Peço-vos a todos que apoieis e assistais os vossos bispos, colaborando com eles no combate contra este mal. As vítimas devem receber de vós compaixão e tratamento e os responsáveis destes males devem ser levados diante da justiça. Constitui uma urgente prioridade a promoção dum ambiente mais seguro e sadio, especialmente para os jovens. Nestes dias caracterizados pela celebração da Jornada Mundial da Juventude, somos chamados a reflectir quão precioso é este tesouro que nos foi confiado, ou seja, os nossos jovens, e como à sua educação e resguardo tem sido dedicada grande parte da missão da Igreja neste país. Enquanto a Igreja na Austrália continua, no espírito do Evangelho, a enfrentar eficazmente este sério desafio pastoral, uno-me a vós na oração pedindo que este tempo de purificação traga consigo cura, reconciliação e uma fidelidade cada vez maior às exigências morais do Evangelho. Desejo agora dirigir aos seminaristas e aos noviços e noviças que aqui se encontram uma especial palavra de afecto e encorajamento. Queridos amigos, com grande generosidade vos encaminhastes por uma particular senda de consagração, radicada no vosso Baptismo e abraçada como resposta ao chamamento pessoal do Senhor. De variados modos, comprometestes-vos a aceitar o convite de Cristo para O seguir abandonando tudo e dedicando a vossa vida à busca da santidade e ao serviço do seu povo. No Evangelho de hoje, o Senhor chama-nos a «acreditar na luz» (cf. Jo 12, 36). Estas palavras possuem um significado especial para vós, amados jovens seminaristas e noviços. São um apelo a confiar na verdade da palavra de Deus e a esperar firmemente nas suas promessas. Convidam-nos a ver, com os olhos da fé, a obra infalível da sua graça ao nosso redor, mesmo nestes tempos tenebrosos em que todos os nossos esforços parecem ser vãos. Deixai que este altar, com a sua vigorosa imagem de Cristo Servo Sofredor, vos sirva de constante inspiração. Com certeza existem momentos em que todo o discípulo fiel sente o calor e o peso da jornada (cf. Mt 20, 12), e a luta para dar testemunho profético a um mundo que pode revelar-se surdo às exigências da palavra de Deus. Mas, não tenhais medo! Acreditai na luz. Tomai a peito a verdade que ouvimos hoje na segunda leitura: «Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre» (Heb 13, 8). A luz da Páscoa continua a afugentar as trevas. O Senhor chama-nos a caminhar na luz (cf. Jo 12, 35). Cada um de vós empreendeu a maior e mais gloriosa das batalhas, ou seja, a de ser consagrados na verdade, de crescer na virtude, de alcançar a harmonia entre pensamentos e ideais, por um lado, e palavras e acções, por outro. Penetrai sincera e profundamente na disciplina e no espírito dos vossos programas de formação. Caminhai dia-a-dia na luz de Cristo mediante a fidelidade à oração pessoal e litúrgica, alimentados pela meditação da palavra inspirada de Deus. Os Padres da Igreja gostavam de ver as Escrituras como um paraíso espiritual, um jardim onde podemos caminhar livremente com Deus, admirando a beleza e a harmonia do seu plano salvífico frutificando na nossa própria vida, na vida da Igreja e no curso de toda a história. Assim, que a oração e a meditação da palavra de Deus sejam a lâmpada que ilumina, purifica e guia os vossos passos ao longo do caminho que o Senhor traçou para vós. Fazei da celebração diária da Eucaristia o centro da vossa vida. Em cada Missa, quando se ergue o Corpo e o Sangue do Senhor no final da Oração Eucarística, levantai o vosso coração e a vossa vida em Cristo, com Ele e por Ele, na unidade do Espírito Santo, como amável sacrifício a Deus nosso Pai. Desta maneira, amados jovens seminaristas e noviços, tornar-vos-eis, vós próprios, altares vivos sobre os quais se faz presente o amor sacrifical de Cristo como inspiração e fonte de alimento espiritual para quantos encontrardes. Abraçando o chamamento do Senhor a segui-Lo em castidade, pobreza e obediência, empreendestes a viagem de um discipulado radical que fará de vós «sinais de contradição» (cf. Lc 2, 34) para muitos dos vossos contemporâneos. Modelai diariamente a vossa vida segundo a amorosa autooblação feita pelo próprio Senhor em obediência à vontade do Pai. Deste modo, descobrireis a liberdade e a alegria que podem atrair os outros àquele Amor que está para além de todo e qualquer outro amor enquanto sua fonte e suprema realização. Nunca esqueçais que a castidade por amor do Reino significa abraçar uma vida dedicada completamente ao amor, um amor que vos torna capazes de vos consagrardes sem reservas ao serviço de Deus para estar plenamente disponíveis para os irmãos e as irmãs, especialmente se necessitados. Os tesouros maiores que partilhais com os outros jovens – o vosso idealismo, a generosidade, o tempo e as forças – são os verdadeiros sacrifícios que depondes sobre o altar do Senhor. Oxalá tenhais sempre em grande consideração este carisma maravilhoso que Deus vos concedeu para a sua glória e a edificação da Igreja! Queridos amigos, deixai-me concluir estas reflexões chamando a vossa atenção para o grande vitral no coro desta catedral, onde Nossa Senhora, Rainha do Céu, aparece representada majestosamente no trono ao lado do seu divino Filho. O artista retratou Maria como a nova Eva que oferece uma maçã a Cristo, novo Adão. Este gesto simboliza a reviravolta que Ela deu à desobediência dos nossos primeiros pais, o fruto estupendo que a graça de Deus produziu na sua própria vida, e os primeiros frutos daquela humanidade redimida e glorificada que Ela precedeu na glória do paraíso. Peçamos a Maria, Auxílio dos cristãos, que sustente a Igreja na Austrália na sua fidelidade àquela graça com que o Senhor crucificado continua a «atrair a Si» a criação inteira e todo o coração humano (cf. Jo 12, 32). Que a força do seu Santo Espírito consagre na verdade os fiéis desta terra, produza abundantes frutos de santidade e de justiça para a redenção do mundo e guie a humanidade inteira para a plenitude de vida ao redor daquele Altar onde, na glória da liturgia celeste, somos chamados a cantar os louvores de Deus por toda a eternidade. Amen. CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA A XXIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI Hipódromo de Randwick Domingo, 20 de Julho de 2008 Queridos amigos, «Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós» (Act 1, 8). Vimos hoje cumprida esta promessa. No dia de Pentecostes, como ouvimos na primeira leitura, o Senhor ressuscitado, sentado à direita do Pai, enviou o Espírito sobre os discípulos reunidos no Cenáculo. Com a força deste Espírito, Pedro e os Apóstolos foram pregar o Evangelho até aos confins da terra. Em cada idade e nas mais diversas línguas, a Igreja continua a proclamar pelo mundo inteiro as maravilhas de Deus, convidando todas as nações e povos a abraçar a fé, a esperança e a nova vida em Cristo. Nestes dias, vim também eu como Sucessor de Pedro a esta maravilhosa terra da Austrália. Vim para confirmar-vos, meus jovens irmãos e irmãs, na vossa fé e abrir os vossos corações ao poder do Espírito de Cristo e à riqueza dos seus dons. Rezo para que esta grande assembleia, que congrega jovens «de todas as nações que há debaixo do céu» (Act 2, 5), se torne um novo Cenáculo. Que o fogo do amor de Deus desça sobre os vossos corações e os encha, a fim de vos unir cada vez mais ao Senhor e à sua Igreja e enviar-vos, como nova geração de apóstolos, para levar o mundo a Cristo. «Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós». Estas palavras do Senhor ressuscitado revestem-se de um significado particular para os jovens que vão ser confirmados, marcados com o dom do Espírito Santo, durante esta Santa Missa. Mas, tais palavras são dirigidas também a cada um de nós, isto é, a todos aqueles que receberam o dom do Espírito de reconciliação e da nova vida no Baptismo, que O acolheram nos seus corações como sua força e guia na Confirmação e que crescem diariamente nos seus dons de graça por meio da Sagrada Eucaristia. De facto, em cada Missa o Espírito Santo, invocado na oração solene da Igreja, desce novamente não só para transformar os nossos dons do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor, mas também para transformar as nossas vidas fazendo de nós, com a sua força, «um só corpo e um só espírito em Cristo». Mas, o que é este «poder» do Espírito Santo? É o poder da vida de Deus. É o poder do mesmo Espírito que pairou sobre as águas na alvorada da criação e que, na plenitude dos tempos, levantou Jesus da morte. É o poder que nos conduz, a nós e ao nosso mundo, para a vinda do Reino de Deus. No Evangelho de hoje, Jesus anuncia que começou uma nova era, na qual o Espírito Santo será derramado sobre a humanidade inteira (cf. Lc 4, 21). Ele próprio, concebido por obra do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, veio habitar entre nós para nos trazer este Espírito. Como fonte da nossa vida nova em Cristo, o Espírito Santo é também, de modo profundamente verdadeiro, a alma da Igreja, o amor que nos une ao Senhor e entre nós e a luz que abre os nossos olhos para verem as maravilhas da graça de Deus ao nosso redor. Aqui na Austrália, nesta grande «Terra Austral do Espírito Santo», tivemos todos uma inesquecível experiência da presença e da força do Espírito na beleza da natureza. Os nossos olhos abriram-se para contemplar o mundo circundante tal como verdadeiramente é: «repleto – como disse o poeta – da grandeza de Deus», cheio da glória do seu amor criador. Também aqui, nesta grande assembleia de jovens cristãos vindos de todo o mundo, tivemos uma experiência concreta da presença e da força do Espírito na vida da Igreja. Vimos a Igreja na profunda verdade do seu ser: Corpo de Cristo, comunidade viva de amor, que engloba pessoas de toda a raça, nação e língua, de todos os tempos e lugares, na unidade que brota da nossa fé no Senhor ressuscitado. A força do Espírito não cessa jamais de encher de vida a Igreja. Através da graça dos sacramentos dela, esta força flui também no nosso íntimo como um rio subterrâneo que alimenta o espírito e nos atrai e aproxima cada vez mais da fonte da nossa verdadeira vida, que é Cristo. Santo Inácio de Antioquia, que foi martirizado no início do século II, deixou-nos uma esplêndida descrição desta força do Espírito que habita dentro de nós. Falou do Espírito como de uma nascente de água viva que brotava no seu coração e lhe sussurrava: «Vem, vem para o Pai!» (cf. Aos Romanos 6, 1-9). No entanto esta força, a graça do Espírito, não é algo que possamos merecer ou conquistar; podemos apenas recebê-la como puro dom. O amor de Deus pode propagar a sua força, somente quando lhe permitimos que nos mude a partir de dentro. Temos de O deixar penetrar na crosta dura da nossa indiferença, do nosso cansaço espiritual, do nosso cego conformismo com o espírito deste nosso tempo. Só então nos será possível consentir-Lhe que acenda a nossa imaginação e plasme os nossos desejos mais profundos. Eis o motivo por que é tão importante a oração: a oração diária, a oração privada no recolhimento dos nossos corações e diante do Santíssimo Sacramento e a oração litúrgica no coração da Igreja. A oração é pura receptividade à graça de Deus, amor em acto, comunhão com o Espírito que habita em nós e nos conduz através de Jesus, na Igreja, ao nosso Pai celeste. Na força do seu Espírito, Jesus está sempre presente nos nossos corações, esperando serenamente que nos acomodemos em silêncio junto d’Ele para ouvir a sua voz, permanecer no seu amor e receber a «força que vem do Alto», uma força que nos habilita a ser sal e luz para o nosso mundo. Na sua Ascensão, o Senhor ressuscitado disse aos seus discípulos: «Sereis minhas testemunhas (…) até aos confins do mundo» (Act 1, 8). Aqui, na Austrália, damos graças ao Senhor pelo dom da fé que chegou até nós como um tesouro transmitido de geração em geração na comunhão da Igreja. Aqui, na Oceânia, damos graças de modo especial por todos os heróicos missionários, sacerdotes e religiosos diligentes, pais e avós cristãos, professores e catequistas que edificaram a Igreja nestas terras. Testemunhas como a Beata Mary MacKillop, São Peter Chanel, o Beato Peter To Rot e muitos outros. A força do Espírito, que se revelou nas suas vidas, está ainda em acção nas beneméritas iniciativas que deixaram, na sociedade que plasmaram e que agora é entregue a vós. Amados jovens, permiti que vos ponha agora uma questão. E vós o que é que deixareis à próxima geração? Estais a construir as vossas vidas sobre alicerces firmes, estais a construir algo que há-de durar? Estais a viver a vossa existência de modo a dar espaço ao Espírito no meio dum mundo que quer esquecer Deus ou mesmo rejeitá-Lo em nome de uma falsa noção de liberdade? Como estais a usar os dons que vos foram dados, a «força» que o Espírito Santo está pronto, mesmo agora, a derramar sobre vós? Que herança deixareis aos jovens que virão? Qual será a diferença impressa por vós? A força do Espírito Santo não se limita a iluminar-nos e a consolar-nos; orienta-nos também para o futuro, para a vinda do Reino de Deus. Que magnífica visão duma humanidade redimida e renovada entrevemos na nova era prometida pelo Evangelho de hoje! São Lucas diz-nos que Jesus Cristo é o cumprimento de todas as promessas de Deus, o Messias que possui em plenitude o Espírito Santo para comunicá-Lo à humanidade inteira. A efusão do Espírito de Cristo sobre a humanidade é um penhor de esperança e de libertação contra tudo aquilo que nos depaupera. Tal efusão dá nova vista ao cego, manda livres os oprimidos, e cria unidade na e com a diversidade (cf. Lc 4, 1819; Is 61, 1-2). Esta força pode criar um mundo novo, pode «renovar a face da terra» (cf. Sal 104, 30). Uma nova geração de cristãos, revigorada pelo Espírito e inspirando-se a uma rica visão de fé, é chamada a contribuir para a edificação dum mundo onde a vida seja acolhida, respeitada e cuidada amorosamente, e não rejeitada nem temida como uma ameaça e, consequentemente, destruída. Uma nova era em que o amor não seja ambicioso nem egoísta, mas puro, fiel e sinceramente livre, aberto aos outros, respeitador da sua dignidade, um amor que promova o bem de todos e irradie alegria e beleza. Uma nova era na qual a esperança nos liberte da superficialidade, apatia e egoísmo que mortificam as nossas almas e envenenam as relações humanas. Prezados jovens amigos, o Senhor está a pedir-vos que sejais profetas desta nova era, mensageiros do seu amor, capazes de atrair as pessoas para o Pai e construir um futuro de esperança para toda a humanidade. O mundo tem necessidade desta renovação. Em muitas das nossas sociedades, ao lado da prosperidade material vai crescendo o deserto espiritual: um vazio interior, um medo indefinível, uma oculta sensação de desespero. Quantos dos nossos contemporâneos escavaram para si mesmos cisternas rotas e vazias (cf. Jer 2, 13) à procura desesperada de sentido, daquele sentido último que só o amor pode dar!? Este é o dom grande e libertador que o Evangelho traz consigo: revela a nossa dignidade de mulheres e homens criados à imagem e semelhança de Deus; revela a sublime vocação da humanidade, que é a de encontrar a própria plenitude no amor; desvenda a verdade sobre o homem, a verdade sobre a vida. Também a Igreja tem necessidade desta renovação. Precisa da vossa fé, do vosso idealismo e da vossa generosidade, para poder ser sempre jovem no Espírito (cf. Lumen gentium, 4). Na segunda leitura de hoje, o apóstolo Paulo recorda-nos que todo o indivíduo cristão recebeu um dom, que deve ser usado para edificar o Corpo de Cristo. A Igreja tem uma especial necessidade do dom dos jovens, de todos os jovens. Ela precisa de crescer na força do Espírito, que agora mesmo vos enche de alegria a vós, jovens, e vos inspira a servir o Senhor com entusiasmo. Abri o vosso coração a esta força. Dirijo este apelo de forma especial àqueles que o Senhor chama à vida sacerdotal e consagrada. Não tenhais medo de dizer o vosso «sim» a Jesus, de encontrar a vossa alegria na realização da sua vontade, entregando-vos completamente para chegardes à santidade e pondo os vossos talentos a render para o serviço dos outros. Daqui a pouco celebraremos o sacramento da Confirmação. O Espírito Santo descerá sobre os candidatos; estes serão «marcados» com o dom do Espírito e enviados para ser testemunhas de Cristo. Que significa receber o «selo» do Espírito Santo? Significa ficar indelevelmente marcados, inalteravelmente mudados, significa ser novas criaturas. Para aqueles que receberam este dom, nada mais pode ser como antes. Ser «baptizados» no Espírito significa ser incendiados pelo amor de Deus. «Beber» do Espírito (cf. 1 Cor 12, 13) significa ser refrescado pela beleza do plano de Deus sobre nós e o mundo, e tornarse por sua vez uma fonte de refrigério para os outros. Ser «selados com o Espírito» significa além disso não ter medo de defender Cristo, deixando que a verdade do Evangelho permeie a nossa maneira de ver, pensar e agir, enquanto trabalhamos para o triunfo da civilização do amor. Ao elevar a nossa oração pelos confirmandos, pedimos também que a força do Espírito Santo reavive a graça da Confirmação em cada um de nós. Oxalá o Espírito derrame os seus dons em abundância sobre todos os presentes, sobre a cidade de Sidney, sobre esta terra da Austrália e sobre todo o seu povo. Que cada um de nós seja renovado no espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de piedade, espírito de santo temor de Deus. Pela amorosa intercessão de Maria, Mãe da Igreja, que esta 23ª Jornada Mundial da Juventude seja vivida como um novo Cenáculo, para que todos nós, inflamados no fogo do amor do Espírito Santo, possamos continuar a proclamar o Senhor ressuscitado atraindo para Ele todos os corações. Amen. SANTA MISSA NA SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Paróquia Pontifícia de S. Tomás de Vilanova, Castel Gandolfo Sexta-feira, 15 de Agosto de 2008 Estimados irmãos e irmãs Todos os anos, no meio do Verão, se comemora a Solenidade da Assunção da BemAventurada Virgem Maria, a mais antiga festa mariana. É uma ocasião para nos elevarmos com Maria às alturas do espírito, onde se respira o ar puro da vida sobrenatural e se contempla a beleza mais autêntica, a da santidade. O clima da celebração hodierna está inteiramente impregnado de alegria pascal. "Hoje assim canta a antífona do Magnificat Maria subiu ao Céu: alegrai-vos, com Cristo Ela reina para sempre. Aleluia!". Este anúncio fala-nos de um acontecimento totalmente único e extraordinário, mas que está destinado a encher de esperança e de felicidade o coração de cada ser humano. Com efeito, Maria é a primícia da humanidade nova, a criatura em que o mistério de Cristo encarnação, morte, ressurreição e ascensão ao Céu já teve o seu pleno efeito, resgatando-a da morte e levando-a de corpo e alma ao reino da vida imortal. Por isso a Virgem Maria, como recorda o Concílio Vaticano II, constitui para nós um sinal de esperança segura e de consolação (cf. Lumen gentium, 68). A festa hodierna impele-nos a elevar o olhar ao céu. Não se trata de um céu feito de ideias abstractas, nem sequer de um céu imaginário criado pela arte, mas do céu da realidade autêntica, que é o próprio Deus: Deus é o céu. E Ele é a nossa meta, a meta e a morada eterna, de onde vimos e para a qual tendemos. São Germano, Bispo de Constantinopla no século VIII, num discurso pronunciado na festa da Assunção, dirigindo-se à celeste Mãe de Deus, assim se expressava: "Tu és Aquela que, por meio da tua carne imaculada, uniste a Cristo o povo cristão... Como toda a pessoa sequiosa corre à fonte, assim também toda a alma corre a Ti, manancial de amor, e como todo o homem aspira a viver, a ver a luz que não conhece ocaso, assim também cada cristão aspira a entrar na luz da Santíssima Trindade, onde Tu já entraste". Estes são os sentimentos que nos animam no dia de hoje, enquanto contemplamos Maria na glória de Deus. Quando Ela adormeceu para este mundo, despertando no céu, na realidade simplesmente seguiu pela última vez o Filho Jesus na sua viagem mais longa e decisiva, na sua passagem "deste mundo para o Pai" (Jo 13, 1). Como Ele, juntamente com Ele, partiu deste mundo voltando "para a casa do Pai" (cf. Jo 14, 2). E tudo isto não está distante de nós, como talvez pudesse parecer num primeiro momento, porque todos nós somos filhos do Pai, de Deus, todos nós somos irmãos de Jesus e todos nós somos também filhos de Maria, nossa Mãe. E todos nós estamos orientados para a felicidade. A felicidade para a qual todos nós tendemos é Deus, e assim todos nós estamos a caminho daquela felicidade, que chamamos Céu, que na realidade é Deus. E Maria nos ajude, nos encoraje a fazer com que cada momento da nossa existência seja um passo neste êxodo, neste caminho rumo a Deus. Assim, nos ajude a tornar presente também a realidade do céu, a grandeza de Deus, na vida do nosso mundo. No fundo não é este o dinamismo pascal do homem, de cada homem que deseja tornar-se celeste, totalmente feliz, em virtude da Ressurreição de Cristo? E não é porventura este o início e a antecipação de um movimento que diz respeito a cada ser humano e ao cosmos inteiro? Aquela de quem Deus tinha tomado a sua carne, e cujo coração fora trespassado por uma espada no Calvário, encontrava-se associada por primeiro e de modo singular ao mistério desta transformação, para a qual todos nós tendemos, muitas vezes também nós trespassados pela espada do sofrimento neste mundo. A nova Eva seguiu o novo Adão no sofrimento, na Paixão e deste modo também na alegria definitiva. Cristo é a primícia, mas a sua carne ressuscitada é inseparável da carne da sua Mãe terrena, Maria, e nela toda a humanidade está envolvida na Assunção a Deus, e com Ela toda a criação, cujos gemidos e sofrimentos são como diz São Paulo as dores do parto da nova humanidade. Nascem assim os novos céus e a nova terra, onde já não haverá pranto, nem lamentações, porque não haverá mais morte (cf. Ap 21, 1-4). Como é grandioso o mistério de amor que hoje se repropõe à nossa contemplação! Cristo venceu a morte com a omnipotência do seu amor. Só o amor é omnipotente. Este amor impeliu Cristo a morrer por nós e assim a vencer a morte. Sim, unicamente o amor faz entrar no reino da vida! E Maria entrou após o Filho, associada à sua glória, depois que foi associada à sua paixão. Entrou com um ímpeto irrefreável, conservando depois de si mesma o caminho aberto para todos nós. É por isso que no dia de hoje a invocamos. "Porta do céu", "Rainha dos anjos" e "Refúgio dos pecadores". Sem dúvida, não são os raciocínios que nos fazem compreender estas realidades tão sublimes, mas sim a fé simples, pura, e o silêncio da oração que nos põe em contacto com o Mistério que nos ultrapassa infinitamente. A oração ajuda-nos a falar com Deus e a sentir como o Senhor fala ao nosso coração. Peçamos a Maria que nos conceda hoje o dom da sua fé, a fé que nos faça viver já nesta dimensão entre o finito e o infinito, a fé que transforma também o sentimento do tempo e do transcorrer da nossa existência, aquela fé na qual sentimos intimamente que a nossa vida não se encontra encerrada no passado, mas orientada para o futuro, para Deus, aonde Cristo e, depois dele, Maria nos precederam. Contemplando Nossa Senhora da Assunção no céu compreendemos melhor que a nossa vida de todos os dias, não obstante seja marcada por provações e dificuldades, corre como um rio rumo ao oceano divino, para a plenitude da alegria e da paz. Entendemos que o nosso morrer não é o fim, mas o ingresso na vida que não conhece a morte. O nosso crepúsculo no horizonte deste mundo é um ressurgir na aurora do mundo novo, do dia eterno. queridos amigos que na manhã de hoje participais nesta celebração. temos que anunciar com a nossa vida a Ressurreição de Cristo. enquanto nos acompanhas nas dificuldades do nosso viver e morrer diários. Hoje. Amados irmãos e irmãs. Mãe da Misericórdia. Obrigado por este bonito testemunho! Saúdo-vos a todos com grande afecto. Ajuda-nos a fazer como Tu fizeste". temos que aprender dela a tornar-nos sinais de esperança e de consolação. e por isto desejo expressar-vos imediatamente a minha admiração. ao qual agradeço as palavras afáveis pronunciadas no início da santa Missa também em nome dos outros Bispos."Maria. Saúdo as Autoridades civis e em particular o Presidente da Câmara Municipal. conserva-nos constantemente orientados para a verdadeira pátria da bem-aventurança. de tanta dor angustiada que se difunde pelo mundo. Presidente da Conferência Episcopal sarda. de modo especial a Comunidade dos Padres Mercedários. contemporaneamente. Aceitei de bom grado o convite para vir a esta vossa lindíssima Ilha por ocasião do centenário da proclamação de Nossa Senhora de Bonária como vossa Principal Padroeira. Giuseppe Mani. Diante do triste espectáculo de tanta alegria falsa e. que me dirigirá a saudação em seu nome e em nome da cidade. D. dirijamos em conjunto esta oração a Maria. os diáconos. nascente através da qual brotou a nossa vida e a nossa alegria. juntamente com a visão da maravilhosa natureza que nos circunda. Desejo ainda saudar os sacerdotes. 7 de Setembro de 2008 Queridos irmãos e irmãs! O espectáculo mais bonito que um povo pode oferecer é sem dúvida o da própria fé. fúlgida Porta do céu. Jesus Cristo. aos quais dirijo o meu cordial pensamento. vós ofereceis-me a da devoção fervorosa que sentis pela Virgem Santíssima. ó Mãe. E vejo que efectivamente tudo foi preparado de modo perfeito. CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA DIANTE DO SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DE BONÁRIA NA SARDENHA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo. Obrigado sobretudo pelo empenho com que quisestes preparar esta minha visita pastoral. e da inteira comunidade eclesial que vive na Sardenha. Neste momento verifico pessoalmente uma manifestação comovedora da fé que vos anima. começando pelo Arcebispo de Cágliari. "Ajuda-nos Tu. os . Saúdo as outras Autoridades presentes e a elas expresso o meu reconhecimento pela colaboração generosamente oferecida à organização da minha visita aqui na Sardenha. Amém!". da qual nasceu Jesus. procura em Deus a resposta e encontra-a na luz da Palavra e do Espírito Santo: "Eis que conceberá e dará à luz um filho. mãe de Nossa Senhora. que se chama Cristo" (Mt 1. Torna-se evidente a descontinuidade que existe no esquema da genealogia: não se lê "gerou". pela estima e pelo amor à sua esposa prometida? A beleza de Deus e a de Maria são. Por detrás dos seus pensamentos e das suas deliberações há o amor a Deus e a vontade firme de lhe obedecer. O Evangelista coloca depois na cena a figura de José. dos textos previstos para a festa da Natividade de Maria. que ele coloca no início do seu Evangelho como um prólogo. De modo totalmente especial. O Evangelho. "Jacob gerou a José. que há séculos foi estabelecida a 8 de Setembro. mas "Maria. com uma recordação cordial pelos idosos centenários. os jovens e todos os fiéis. no qual se anuncia o nascimento do Messias. a liturgia que é escola privilegiada da fé nos ensina a reconhecer no nascimento de Maria uma ligação directa com a do Messias. cf. que quer dizer: Deus connosco" (Mt 1. e quantos estão unidos a nós espiritualmente ou através da rádio e da televisão. . 23. Trata-se. será descendente do rei David. o seu drama interior. 14). fazendo desabrochar da humilde Virgem de Nazaré o fruto mais bonito da sua obra criadora e redentora. Filho de David. da qual nasceu Jesus. Mas como não sentir que a perturbação e depois a oração e a decisão de José são movidos. data em que em Jerusalém foi consagrada a basílica construída em cima da casa de Santa Ana. perdem-se nos tempos mais distantes. em particular à sua encarnação. na primeira leitura. os responsáveis das associações e dos movimentos eclesiais. em particular. ele sabe que entre elas não pode haver contradição. Também aqui o papel de Maria na história da salvação sobressai em toda a sua evidência: o ser de Maria é totalmente relativo a Cristo. betlemita como Ele. der à luz" (Mq 5. Ele. ultrapassam o eterno. 2). que pude saudar ao entrar na igreja. Mq 5. inseparáveis. uma página do apóstolo Mateus. Precisamente nisto se capta a beleza do desígnio de Deus. mas dada a circunstância particular a liturgia da Palavra propôs-nos leituras próprias das celebrações dedicadas à Bem-Aventurada Virgem. Mas o Evangelista fá-lo preceder da exposição da genealogia. o Domingo. ao mesmo tempo. Antes de tudo. e chama-l'O-ão Emmanuel. São leituras que de facto contêm sempre a referência ao mistério do nascimento. a sua fé robusta e a sua exemplar rectidão. é definido pelo profeta com uma expressão enigmática: "quando aquela que deverá dar à luz. Assim. saúdo os doentes e os que sofrem. com um pensamento particular pelos mais pequenos. O advento deste "Ungido do Senhor". Is 7. 1-4). no coração de José. a sua grandeza chegará "até aos extremos confins da terra" e tais serão também os confins da paz (cf. Estamos no dia do Senhor. mas a sua figura excederá os limites do humano: "as suas origens" diz "são da antiguidade". esposo de Maria. o oráculo maravilhoso do profeta Miqueias sobre Belém. que respeitando o humano o fecunda a partir de dentro. chamado Cristo". 16). propos-nos precisamente a narração do nascimento de Jesus. que marcará o início da libertação do povo. diz-nos o oráculo.religiosos e as religiosas. 28). assim como a de cada pessoa humana. Na predestinação de Jesus está inscrita a predestinação de Maria. no século V. Hb 10. A mártir Antónia Masina. Proto e Januário. Assim a fé radicou-se cada vez mais no coração dos fiéis até se tornar cultura e dar frutos de santidade. Efísio e Antíoco foram testemunhas da dedicação total a Cristo como verdadeiro Deus e Senhor. no suceder-se das invasões e das dominações. Aqui o apóstolo Paulo expressa em dois versículos de singular densidade a síntese do que é a existência humana sob o ponto de vista meta-histórico: uma parábola de salvação que parte de Deus e a Ele chega de novo: uma parábola totalmente movida e governada pelo seu amor. aquele "desígnio" que reencontramos na segunda leitura. sem que ela seja explicitamente nomeada: de facto ela é. em Cristo. o seu povo manifestou sempre fidelidade filial a Cristo e à Sé de Pedro. Gavino. A Sardenha nunca foi terra de heresias. Depois dos mártires. Assim também Saturnino. trouxeram a riqueza da sua tradição litúrgica e espiritual. Juntamente com as relíquias gloriosas de Agostinho. um exílio muito duro. mas germinou do sangue dos mártires que aqui doaram a sua vida como acto de amor a Deus e aos homens. eles trouxeram consigo a riqueza da sua fé. à condenação de Atanásio no Concílio de Milão de 335. graças à fé em Cristo e mediante a maternidade espiritual de Maria e da Igreja. O "eis-me" do Filho encontra o "eis-me" da Mãe (cf. primícia e modelo dos "que amam a Deus" (Rm 8. foram condenados ao exílio. sob a guia de Fulgêncio de Ruspe. Ao vir para a Ilha. mais uma vez. O testemunho do martírio conquistou um ânimo orgulhoso como o dos sardos. que percebemos a presença da Virgem Maria. Queridos amigos de Cágliari e da Sardenha. E é aqui. fundaram mosteiros e intensificaram a evangelização. Inácio de Láconi. Simplício. Sim. a contemplativa Gabriella Sagheddu e a irmã da caridade Giuseppina . Foram mais de cem Bispos que. precisamente de todos nós. também o vosso povo. a fé em Cristo permaneceu na alma das vossas populações como elemento constitutivo da vossa própria identidade sarda. instintivamente refractário a tudo o que vinha do mar. e por isto ambos. queridos amigos.Assim podemos. tiveram que sofrer o exílio. juntamente com Eusébio de Vercelli. Nicolau de Gésturi são os santos nos quais a Sardenha se reconhece. Trata-se de um desígnio salvífico totalmente permeado pela liberdade divina. assim como o "eis-me" de todos os filhos adoptivos no Filho. que defendeu a ortodoxia contra o arianismo e se opôs. Na Sardenha o cristianismo chegou não com as espadas dos conquistadores ou por imposição estrangeira. Lucífero e Eusébio. contemplar o lugar que Maria ocupa no desígnio salvífico de Deus. das quais vós ainda conservais os vestígios. neste espaço da liberdade humana. tirada da Carta aos Romanos. Foi nas vossas minas que ressoou pela primeira vez a Boa Nova levada pelo Papa Ponciano e pelo presbítero Hipólito e por tantos irmãos condenados ad metalla pela sua fé em Cristo. também ele de Cágliari. Luxório. que contudo espera uma contribuição fundamental da liberdade humana: a correspondência da criatura ao amor do Criador. foi chamado a inserir-se na "genealogia" espiritual do Evangelho. 6). Do exemplo dos mártires ganhou vigor o bispo Lucífero de Cágliari. chegaram da África romana numerosos Bispos que. não tendo aderido à heresia ariana. a Filha e a Esposa por excelência: Sa Mama. Confiemo-nos portanto à sua materna intercessão. Renovemos portanto com alegria a nossa consagração a uma Mãe tão solícita. Em todos estes aspectos do compromisso cristão podeis contar sempre com a guia e o apoio da Virgem Santa. reconhecendo nela a "Estrela da nova evangelização". A Esposa capaz de amor fiel e paciente. Estamos de facto hoje aqui para comemorar um grande acto de fé. hoje necessitadas como nunca de confiança e de apoio quer a nível espiritual quer social. refúgio e protecção para o povo sardo. Ela vos torne capazes de evangelizar o mundo do trabalho. da economia. especialmente com as duas guerras mundiais. para que a vida nasça e perdure. de sacrifício e de esperança. não podia ter outra protectora a não ser Nossa Senhora. a discrição. As gerações dos Sardos. Isposa de su Segnore". Ela é a Mãe. sequiosos de verdade e de ideais precisamente quando parece que os negam. que tem em si a força do carvalho. protege. vem a seca e ela ainda vence. o amor a Nossa Senhora. Esta fé simples e corajosa. Na época não podiam saber que o século XX teria sido muito difícil. Ajude-vos a encontrar as estratégias pastorais oportunas para fazer com que Cristo seja encontrado pelos jovens. da política. mas foi sem dúvida precisamente nesta consagração a Maria que encontraram em seguida a força para enfrentar as dificuldades que incumbiram. Na Sardenha estão dedicadas a Maria 350 igrejas e santuários. que por sua natureza possuem um novo impulso. dá a vida. A vossa Ilha. como gostais de cantar. o sentido do dever. A Mãe que ama. queridos amigos da Sardenha. Amém! . em cuja escola aprender como levar Cristo Salvador aos homens e às mulheres contemporâneos. Um povo de mães reflecte-se na humilde jovem de Nazaré. disto tenho a certeza.Nicóli são a expressão de uma juventude capaz de seguir grandes ideais. solícita ao tornar a sua casa bela e acolhedora. infurecem os incêndios mas ela germina de novo. Maria vos ajude a levar Cristo às famílias. Passam as tempestades mas ela resiste. onde se respira o perfume evangélico das virtudes próprias da vossa terra: a fidelidade. Só podia ser assim. que os vossos pais realizaram confiando a própria vida à Mãe de Cristo. Maria. continuarão a subir ao Santuário de Bonária para invocar a protecção da Virgem. pequenas igrejas domésticas e células da sociedade. que precisa de uma nova geração de leigos cristãos comprometidos. nas vossas famílias. quando a escolheram como Padroeira máxima da Ilha. conforta. a sobriedade. intercede por nós. Sei bem que Maria está no vosso coração. A Filha que honra a sua família. aconselha. capazes de procurar com competência e rigor moral soluções de desenvolvimento sustentável. Rainha da Paz e estrela da esperança. Mãe misericordiosa e poderosa. continua a viver nas vossas comunidades. Depois de cem anos queremos hoje agradecer-lhe a sua protecção e renovar-lhe a nossa confiança. sempre atenta às necessidades dos irmãos e das irmãs. que com o seu "sim" permitiu que o Verbo se fizesse carne. Nunca permanecerá desiludido quem se confia a Nossa Senhora de Bonária. a dignidade. E depois. Fiza. mas são com frequência vítimas do niilismo difundido. Maria é porto. obviamente. caracterizam o estilo do discípulo do Senhor e de modo particular do seu ministério ordenado. vínculo real de comunhão com Cristo morto e ressuscitado. contida no início da primeira Leitura: "Meu filho. 1-2). São Paulo resume nestas palavras a forma perfeita da existência cristã: é um estar com Jesus. estreitamente enlaçadas. O amado Defunto teve uma longa vida. assim para quantos são chamados a segui-lo mais de perto.). exorta o Eclesiástico. 8). 4-5). Sobretudo anima-nos a fé no Senhor ressuscitado. um ser n'Ele a tal ponto que esta comunhão supera o limiar de separação entre a vida terrena e o além. mas que contudo já podemos como o Apóstolo antecipar nesta vida. Humilha o teu coração e sê constante. Apraz-nos recordá-lo à luz da bela expressão do Eclesiástico. de modo que a própria morte do corpo já não é uma perda mas "um lucro" (ibid. . a vida interna se torna um combate espiritual.CAPELA PAPAL NAS EXÉQUIAS DO CARDEAL ANTONIO INNOCENTI PALAVRAS DO PAPA BENTO XVI NO FINAL DA CELEBRAÇÃO Altar da Cátedra. no qual se revive o Mistério pascal. Fé e sabedoria de vida. Ao dirigir a cada um de vós a minha cordial saudação. prepara a tua alma para a provação. agradeço em particular ao Cardeal Sodano que. que temeis o Senhor. empregue ao serviço do Senhor: já nos primeiros anos da adolescência ele se colocou no seguimento de Jesus. 10 de Setembro de 2008 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos irmãos e irmãs! Reunistes-vos em volta do altar do Senhor para acompanhar com a celebração do Sacrifício eucarístico. não te perturbes no tempo do infortúnio" (Eclo 2. a última viagem do amado Cardeal Antonio Innocenti. sobretudo graças ao sacramento da Eucaristia. Todos recordamos com afecto o nosso saudoso Irmão. porque no fogo se prova o ouro e os homens agradáveis a Deus no caminho da humilhação" (Eclo 2. que está sempre de certa forma diante de nós. "Confia em Deus e Ele te salvará" (Eclo 2. Trata-se naturalmente de uma meta. 21). Como para Jesus. se entrares para o serviço de Deus. até chegar àquela conformação total. e nas vicissitudes da tua humilhação tem paciência. entrando no Seminário Episcopal de Fiésole. Mas ao mesmo tempo sugere também atitudes de sabedoria: "Aceita tudo o que te acontecer. que se enfrenta e se vence correspondendo generosa e alegremente à graça de Deus e à sua indefectível fidelidade. presidiu à Santa Missa exequial. e ainda: "Vós. como Decano do Colégio Cardinalício. que é fonte de vida eterna para quantos crêem n'Ele e o seguem com amor. e isto torna a nossa oração ainda mais fervorosa e sentida. que o apóstolo Paulo confessava de si próprio: "Mihi vivere Christus est" (Fl 1. confiai n'Ele" (2. Com a extraordinária concisão que o Espírito Santo lhe inspirava. Basílica Vaticana Quarta-feira. 6). nele e através dele.. Palavras muito apropriadas neste momento. D. o Senhor concedeu à santa Igreja. AS RELIGIOSAS. foi enviado para Roma a fim de se especializar em teologia e em direito. às pessoas que lhe estavam próximas. onde será plena também a comunhão com os nossos irmãos. Depois da guerra. recebeu a Ordenação episcopal em 1968. mas quando já estava diante do pelotão de execução a ordem foi revogada. Por isso foi também preso e condenado ao fuzilamento. para que o acolha no seu reino de luz e de paz. Nomeado Representante Pontifício no Paraguai. viverá eternamente" (Jo 6. Entrou portanto no serviço diplomático da Santa Sé. então verdadeiramente para nós viver é Cristo e morrer equivale a passar plenamente para Ele e para a vida trinitária de Deus. rezemos para que a fé e a esperança deixem o lugar à "maior de todas" as realidades. e o então Substituto da Secretaria de Estado. Ao invocar para este nosso Irmão a materna intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria. infundindo coragem e alimentando em todos a fé e a esperança cristã. Com um novo e mais elevado título ele continuou a prestar a sua apreciada colaboração ao Sumo Pontífice. Presidente da Pontifícia Comissão para a preservação do património artístico e histórico da Igreja e da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei. na Europa e no Médio Oriente. 56. na Diocese de Fiésole e província de Arezzo. palavras que ele. 8. sem nunca esquecer a sua profunda e genuína inspiração sacerdotal. recomendemos a alma eleita ao Pai da vida. disse ter levado sempre no coração depois que. Originário de Poppi. As palavras do Senhor Jesus. recebeu a Ordenação sacerdotal em 1938 e. Naquele dramático período. Sucessivamente. Teve a ocasião de conhecer diversos países em África.58). depois de uma significativa experiência pastoral no mundo do trabalho. o que come deste pão. desde adolescente. Em Maio de 1985. Agora que passou o último limiar.13). "Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue fica em Mim e Eu nele. Giovanni Battista Montini. em 1980. que "nunca terá fim" (1 Cor 13. Aquele fundamento sobre o qual o Cardeal Innocenti construiu a sua vida. CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS COM OS SACERDOTES. como Prefeito da Congregação para o Clero. ensinou no Seminário e assistiu o Bispo nas visitas pastorais durante a segunda guerra mundial. Demos graças pelo dom de o termos conhecido e por todos os benefícios que. OS SEMINARISTAS E OS DIÁCONOS . Regressando à Diocese.Se a Eucaristia se torna forma da nossa existência. OS RELIGIOSOS. a caridade.. prodigalizando-se a favor dos irmãos. Depois foi chamado de novo a Roma a fim de assumir o cargo de Secretário da Congregação para os Sacramentos e o Culto Divino. são luz de fé e de esperança e conferem à nossa oração de sufrágio um fundamento sólido e seguro. Apraz-me concluir esta breve reflexão referindo-me ao moto episcopal do Cardeal Antonio Innocenti: "Lucem spero fide". convidou-o a frequentar a Pontifícia Academia Eclesiástica. tinha recebido o dom da vocação sacerdotal. distinguiu-se por abnegação e generosidade ao ajudar o povo e salvar quantos estavam destinados à deportação. foi enviado como Núncio Apostólico na Espanha. onde por duas vezes recebeu o meu venerado predecessor João Paulo II em visita pastoral. ele criou-o Cardeal e a partir daquele momento o nosso saudoso Irmão foi inserido ainda mais profundamente na vida da Igreja de Roma. que ressoaram nesta liturgia. completou os estudos teológicos em Roma. entre muitos outros. e a oração coral. Encontramo-nos aqui na igreja-mãe da diocese de Paris. é difícil não prorromper em acções de graças Àquele que criou a matéria e também o espírito. Grandes acontecimentos religiosos e civis tiveram lugar neste santuário. Queridos irmãos e irmãs. do pintor Charles Le Brun. Caros amigos das Igrejas e das Comunidades eclesiais não católicas. Basta recordar. É significativo que Deus tenha iluminado a sua alma precisamente durante o canto do Magnificat. Teatro de conversões menos conhecidas mas nem por . Senhores Capelães de Notre-Dame. Amados sacerdotes e diáconos. Senhores Cónegos do Cabido. Bendito seja Deus que nos concede a graça de Lhe oferecermos em homenagem a nossa oração vespertina. primeiro mártir. os escultores e os músicos deram o melhor de si mesmos. Paris Sexta-feira. que recorda ao mundo que o Omnipotente exaltou os humildes (cf. os nomes do arquitecto Jean de Chelles. confiar-Lhe as próprias esperanças e exprimir-Lhe o seu amor. Santa Padroeira destes lugares. elevando para Ele o louvor que merece com as palavras que a liturgia da Igreja herdou da liturgia sinagogal praticada por Cristo e seus primeiros discípulos. 12 de Setembro de 2008 Dilectos Irmãos Cardeais e Bispos. e os vossos antepassados vieram aqui louvar a Deus. onde os arquitectos. caminho para Deus. bendito seja Deus que vem em nossa ajuda – in adiutorium nostrum – para fazermos subir até Ele a oblação do sacrifício dos nossos lábios. 52). Os cristãos de Lutécia tinham já construído uma catedral dedicada a Santo Estêvão. louvor da Igreja ao Criador. eu que já tinha vindo aqui há um quarto de século pronunciar uma conferência sobre a catequese. quando a Igreja escuta o cântico da Virgem Maria. foi substituída por aquela que admiramos nos nossos dias. A arte. que se levanta no coração da cidade como sinal vivo da presença de Deus no meio dos homens. do escultor Nicolas Coustou e dos organistas Louis Vierne e Pierre Cochereau. À vista da beleza do edifício onde nos reunimos. Sim. a catedral de Notre-Dame. entre os séculos XII e XIV. a encontrar o caminho para uma experiência pessoal de Deus. que veio aqui assistir às Vésperas do dia de Natal de 1886. Lc 1. Bendito seja Deus que permite encontrarmo-nos neste lugar tão querido ao coração dos parisienses e de todos os franceses. A fé da Idade Média edificou as catedrais. ajudaram Paul Claudel.HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Catedral de Notre-Dame. O meu Predecessor Alexandre III pôs a sua primeira pedra e os Papas Pio VII e João Paulo II honraram-na com a sua visita. os pintores. sentindo-me feliz por me colocar agora no seu séquito. mas depois tornou-se demasiado pequena e progressivamente. E Santo Agostinho acrescenta: «Este Salmo aspira à Jerusalém celeste. homens e mulheres. Como diz sempre Santo Agostinho. Sob as abóbadas desta histórica Catedral. 126. Monsabré e Samson. sobre a fé do apóstolo Pedro. testemunha do intercâmbio incessante que Deus quis estabelecer entre Si mesmo e os homens. Laetatus sum in his quae dicta sunt mihi: a alegria do Salmista. Durante estas Vésperas. Muitos labutam na sua construção. mas entretanto. encerrada nas próprias palavras do Salmo. A nossa alegria é ir à casa do Senhor. germe e prefiguração da Jerusalém do Alto. porque é a casa de Deus» (Tract. . Quem mais poderia ser este Senhor. que alegria saber que estamos circundados de maneira invisível por uma tal multidão de testemunhas! O nosso caminho para a Cidade santa não seria possível. somos concidadãos dos santos e membros da família de Deus. Pois bem. aquela que desce até nós (cf. tendo posto a sua confiança em Cristo para conseguirem chegar lá. em vão labutam os construtores» (Enarr. «é o próprio Jesus Cristo. 1). difunde-se nos nossos corações e aí suscita um eco profundo. cantaram este Salmo precisamente aqui. Ap 21. «Se o Senhor não constrói a casa. porque. púlpito onde pregadores do Evangelho. Providencialmente. durante o exílio. As relíquias da Vera Cruz e da Coroa de Espinhos. mas se Ele não intervém na construção. encontramos companheiros que já viram a cidade santa e convidam-nos a correr para ela» (Enarr. senão nosso Senhor Jesus Cristo? Foi Ele que fundou a Igreja. na pátria gozaremos. que acabei de venerar como é costume desde São Luís para cá. todos os ministros dos sacramentos divinos. in Psal. Todos nós corremos. antes de nós. como os Padres Lacordaire. queridos amigos. sublinhado pela oblação do incenso que torna visível o nosso louvor a Deus. Agostinho interroga-se sobre quem possam ser estes trabalhadores. souberam transmitir a chama da própria paixão às mais variadas assembleias de ouvintes. que constitui a oferta do espírito dos homens ao Amor criador. 121. No nosso exílio suspiramos. in Psal. com o pensamento e em oração unimo-nos às vozes inumeráveis de quantos. ao longo de séculos e séculos. a Catedral de Notre-Dame permanece justamente um dos monumentos mais célebres do património do vosso país.. nosso Senhor. 2) para nos oferecer a mais bela das moradas. 2). Unimo-nos a estes peregrinos que subiam para Jerusalém e os degraus do seu Templo. em vão labutam os seus construtores» (Sl 126. esta casa não é senão o símbolo concreto da Jerusalém do Alto. receberam hoje um digno escrínio. as palavras do Salmista descrevem a emoção da nossa alma com uma precisão tal que não teríamos ousado sequer imaginar: «Alegrei-me quando me disseram: “Vamos para a casa do Senhor!”» (Sl 121. 2). que edifica a sua casa. que a construiu sobre a rocha. unimo-nos aos milhares de homens e mulheres que compreenderam que a sua peregrinação na terra haveria de encontrar a sua meta no céu. 121. «Se nela habitarmos – escreve Santo Hilário de Poitier –. in Psal. 1). Na realidade. É um cântico dos degraus.. 2). que não são feitos para pessoas que descem mas que sobem. ao que ele mesmo responde: «Aqueles que na Igreja pregam a Palavra de Deus.. a Jerusalém eterna..isso menos reais. se não o percorrêssemos na Igreja. acabou de ressoar a Palavra para ser a matéria do nosso sacrifício da tarde. queridos amigos. como nos ensinaram os Padres. permitindo-nos antegozá-la! Desde agora. a fim de que fôssemos adoptados como filhos» (Gl 4. em nós. 1). a Palavra lida e meditada na Igreja age em vós e transforma-vos. a beleza dos ritos nunca será bastante procurada. nem suficientemente cuidada nem assaz elaborada. Pomos a sua Palavra nos nossos lábios. para os resgatar mediante a oferta de Si mesmo no sacrifício da Cruz. Jo 1. De que maravilha se reveste a nossa acção ao serviço da Palavra divina! Somos os instrumentos do Espírito. A oferenda da nossa oração é-Lhe agradável e serve para Ele Se comunicar a quantos encontramos. que exorta e incute temor. A vossa catedral é um vivo hino de pedra e de luz em louvor deste acto único da história da humanidade: a Palavra eterna de Deus que entra na história dos homens na plenitude dos tempos. porque nos escolheu para sermos suas testemunhas até aos confins da terra. queridos . enquanto manifestação da Sabedoria de Deus. para a transmitir ao mundo. Sem dúvida. Ela. Cada manhã o próprio Senhor «abre-nos os ouvidos» (Is 50. nasceu sob a Lei. que desde sempre esteve junto d’Ele (cf. que é a Beleza infinita. As nossas liturgias da terra. porque nada é demasiado belo para Deus. E no decurso do dia inteiro. que será retomada durante a XII Assembleia do Sínodo dos Bispos no próximo mês de Outubro: «Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo» (Prólogo do Comentário a Isaías). a alma da nossa vida de sacerdotes. não tenhais medo de consagrar uma parte considerável do vosso tempo à leitura. as nossas celebrações aproximar-se o mais possível dela. de uma Virgem. «edifica. Cada manhã a Palavra desperta-nos. a Palavra de Deus torna-se matéria da oração de toda a Igreja. eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes». Segundo a célebre fórmula de São Jerónimo. mas é somente Deus que. 3). Na verdade. depois de termos estendido o ouvido para a sua boca.todos trabalhamos. à meditação da Escritura e à oração do Ofício Divino. Deus tem a humildade de passar através de nós para difundir a sua Palavra. A sua Palavra. 5). «A Palavra de Deus é viva. tendo-nos para isso eleito ainda antes da nossa concepção através de um dom misterioso da sua graça. como diz Paulo aos Efésios: «Ele abençoou-nos com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo» (1. 12). é-nos dada a Palavra de Deus para ser a alma do nosso apostolado. Quase sem dardes por isso. Tornamo-nos a sua voz. Estimados irmãos sacerdotes. o Verbo. todos edificamos». que abre o intelecto e guia para a fé o vosso sentimento» (Ibidem). inteiramente dedicadas a celebrar este acto único da história. ponto de chegada da nossa peregrinação na terra. não conseguirão nunca expressar totalmente a sua densidade infinita. Possam. 9). «para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei. As nossas liturgias terrestres não poderão ser senão um pálido reflexo da liturgia que se celebra na Jerusalém do céu. 4-5). nasceu de uma Mulher. A vós. com os salmos do Ofício de Leituras e das Laudes. vosso «conforto nas preocupações e nos sofrimentos» (Sb 8. que assim deseja dar testemunho da sua fidelidade a Jesus Cristo. O Filho de Deus encarnou no seio de uma Mulher. se se tornar «companheira» da vossa vida. acabará por ser vossa «conselheira de boas acções». porém. como escreve o autor da Carta aos Hebreus (4. a Verdade e a Vida (cf. filho. o Senhor Jesus instituiu o santíssimo sacramento do seu Corpo e Sangue. 32). comentais-lo na catequese que dirigis aos vossos irmãos e irmãs: colocai-o no centro da vossa vida. Vós sois destinados a tornar-vos depositários desta Palavra eficaz. do serviço ao próximo. Saúdo novamente com respeito e afecto os representantes das Igrejas cristãs e das Comunidades eclesiais. 24) e que quer fazer de nós um único rebanho sob a guia de um só pastor. que superará os séculos e o véu da morte – é precisamente a Palavra do Senhor. Conservai sempre em vós o gosto pela Palavra de Deus! Aprendei. Queridos consagrados. sabei ser testemunhas vivas da força infinita da Palavra divina! Quanto aos religiosos. nosso intercessor privilegiado no corrente ano. que cumpre o que diz. que todos nós podemos ser confiados a ela. 2). graças a ela. Ele mesmo disse: «O céu e a terra passarão. estendeis a vossa alma para Aquele que é o Caminho. Ninguém é demais na Igreja. Jesus Cristo. estimados diáconos. considerando que a palavra «obedecer» deriva do latim ob-audire. mas as minhas palavras não passarão» (Mt 24. perdoou os pecados. mas ajudando-os com amizade e eficiência. Rm 8. que significa estender o ouvido para algo ou para alguém. É o sentido desta unidade da . ele não hesitava em confiá-los «a Deus e à palavra da sua graça» (Act 20. expulsou os demónios. obediente e casto. continuai a amar a Palavra de Deus: vós proclamais o Evangelho no coração da celebração eucarística. que vieram rezar fraternalmente connosco as Vésperas nesta catedral. com a sua palavra. ninguém! Nela todos podem e devem encontrar o seu próprio lugar. alertando-os contra toda a forma de divisão. deixai-vos purificar todos os dias por Aquele que nos disse: «Todo o ramo que dá fruto. 6). garante a sua fecundidade espiritual. vivem a título particular da Sabedoria de Deus. uma escuta. E vós. etimologicamente. por nós. como na sua época fez São Paulo. se a meditardes diariamente. rezo pela unidade da Igreja. Obedecendo. Ao despedir-se em Mileto dos anciãos da cidade de Éfeso. reger e santificar. Se fez pobre. a bem dizer. Graças a ela. A vossa única riqueza – a única.seminaristas. 35). Com confiança indefectível na força de Deus que nos redimiu «na esperança» (cf. A vossa obediência é. que sois colaboradores eficazes dos Bispos e dos sacerdotes. esta Palavra é entregue como um bem precioso. Jo 14. revelou aos homens os mistérios escondidos do Reino. entrareis na própria vida de Cristo que sois chamados a difundir ao vosso redor. Ele [o Pai] poda-o para que dê ainda mais fruto» (Jo 15. mediante a sua palavra. A pureza da Palavra de Deus é o modelo da vossa própria castidade. a amar todos aqueles que encontrardes ao longo do vosso caminho. Através da sua palavra. curou os doentes. A força da Palavra de Deus é tão grande. Enfim. como Bento ensinava aos seus monges: «Ouve. a profissão dos conselhos evangélicos configurou-vos Àquele que. e que vos diz. Sem procurar ocupar o lugar dos sacerdotes. de toda a vossa diaconia. expressa mediante a sua Palavra. que vos preparais para receber o sacramento da Ordem a fim de participardes na tríplice tarefa de ensinar. religiosas e todas as pessoas consagradas. as instruções do mestre e presta atenção com o ouvido do teu coração» (Prólogo da Regra). Mãe de Deus. nomeadamente o Senhor Primeiro-Ministro. mediante o seu testemunho de vida e o seu ensinamento. contra toda a esperança Ela esperou na ressurreição do seu Filho. Agradeço a todas as Personalidades. Senhores Cardeais e amados Irmãos no Episcopado. porque acreditou no cumprimento das palavras que lhe tinham sido ditas da parte do Senhor (cf. 45).Palavra de Deus. um dos seus maiores Doutores. faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1. a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu. 38) – disse Ela com confiança absoluta. esta torna-se palavra d’Ela. Lc 1. CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA ESPLANADA DES INVALIDES HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Paris Sábado. Amados irmãos e irmãs. e a sua palavra nasce da Palavra de Deus» (Enc. que peço ardentemente ao Senhor que faça crescer em nós: não existe amor na Igreja sem o amor pela Palavra. Saúdo com alegria todas as Autoridades que me acolheram nesta nobre cidade. Jo 19. amou a humanidade a ponto de à mesma ser dada por Mãe (cf. no coração de Paris. asseguro-lhes a minha prece ardente pelo cumprimento da sua alta missão ao serviço dos seus concidadãos. esperar e amar convosco. no dia em que a Igreja universal festeja São João Crisóstomo. segundo os dois mandamentos que resumem toda a Sagrada Escritura. ensinainos a crer. penhor e garantia da unidade da Igreja. Jesus Cristo congrega-nos neste lugar admirável. Indicai-nos o caminho para o seu reino» (Enc. sinal. A nossa oração da tarde retoma o Magnificat d’Aquela que todas as gerações chamarão bem-aventurada. de maneira especial o Cardeal André Vingt-Trois. Fala e pensa com a Palavra de Deus. Maria «sente-Se verdadeiramente em casa na Palavra de Deus. Amen. . Irmãos e irmãs em Cristo. 13 de Setembro de 2008 Senhor Cardeal Vingt-Trois. Podemos dizer-lhe com serenidade: «Santa Maria. manifestou eficazmente aos cristãos o caminho a seguir. 27). que quiseram estar presentes aqui nesta manhã. 50). Mãe nossa. Spe salvi. que. não existem frutos de redenção sem amor a Deus e ao próximo. os Sacerdotes e os Diáconos que me rodeiam na celebração do Sacrifício de Cristo. Deus caritas est. 41). não há Igreja sem unidade em redor de Cristo Redentor. Saúdo também todos os Bispos. Esta fidelidade foi tão grande que se fez Encarnação: «Eis a serva do Senhor. dela sai e a ela volta com naturalidade. temos em Maria Santíssima o mais belo exemplo de fidelidade à Palavra divina. Por se terem apegado a isto.A primeira Carta de São Paulo dirigida aos Coríntios faz-nos descobrir. os seus próprios ídolos? Acaso não imitou – talvez sem dar por isso – os pagãos da Antiguidade. tentação de idolatrar um futuro que ainda não existe. a sede do ter. da sua própria verdade? Amados irmãos e irmãs. nunca . o único que indica ao homem o caminho para Deus. 23). em caso algum. acrescenta que esta condenação radical da idolatria não é. fugir dos ídolos significava deixar de honrar as divindades do Olimpo. Nos nossos juízos. neste ano paulino que foi inaugurado no dia 28 do passado mês de Junho. O ídolo é um engano. especialmente do próprio São Paulo (cf. 1 Cor 11. como os conselhos dados pelo Apóstolo continuem actuais. Impediam-lhe de reconhecer que Cristo é o único e o verdadeiro Salvador. «representação». desviando o homem do seu fim verdadeiro. o mundo antigo estava submetido ao culto dos ídolos. porque constituíam uma forte alienação e desviavam o homem do seu verdadeiro destino. esclarece ele. têm nariz e não cheiram» (vv. Então. Muito presentes em Corinto. 10). «fantasma». os erros do paganismo tinham que ser denunciados. simplesmente com as suas forças. deixar de lhes oferecer sacrifícios sangrentos. realizar a felicidade eterna na terra! São Paulo explica aos Colossenses que a cobiça insaciável é uma idolatria (cf. Como diz o Salmo 113. 1). escreve ele a uma comunidade muito marcada pelo paganismo e dividida entre a adesão à novidade do Evangelho e a observância de antigas práticas herdadas dos seus antepassados. uma verdadeira «peste» (Homilia 24 sobre a Primeira Carta aos Coríntios. Pois bem. «alguns desviaram-se da fé e enredaram-se em muitas aflições» (1 Tm 6. um «escândalo». que herdámos dos nossos Pais na fé. que tinha recebido a revelação do Deus único. São João Crisóstomo observa que São Paulo condena severamente a idolatria como uma «falta grave». têm ouvidos e não ouvem. O que é importante na minha vida? O que é que ponho em primeiro lugar? A palavra «ídolo» deriva do grego e significa «imagem». «vã aparência». 5) e recorda ao seu discípulo Timóteo que a avidez pelo dinheiro é a raiz de todos os males. «Fugi do culto dos ídolos» (1 Cor 10. obra das mãos humanas. julgando que o homem possa. Fugir dos ídolos era seguir a escola dos profetas do Antigo Testamento. que denunciavam a tendência do espírito humano a forjar para si mesmo falsas representações de Deus. 3. a única na qual podemos agir eficazmente? Tentação de idolatrar um passado que já não existe. O mundo contemporâneo não criou. estas são apenas «prata e ouro. Imediatamente. «figura». 4-5). À excepção do povo de Israel. esquecendo as suas carências. da felicidade de viver eternamente com Deus? Trata-se de uma questão que todo o homem honesto consigo mesmo não pode deixar de se colocar. uma condenação da pessoa idólatra. a pergunta que nos é colocada pela liturgia deste dia encontra a resposta nesta mesma liturgia. 14). mas também «espectro». têm olhos e não vêem. Têm boca e não falam. porque desvia da realidade quem o serve para o encerrar no reino da aparência. Porventura o dinheiro. porventura. a propósito das estátuas dos ídolos. No seu comentário a este texto. não será esta uma tentação própria da nossa época. do poder e mesmo do saber não desviaram o homem do seu Fim verdadeiro. Este convite a fugir dos ídolos permanece válido também nos dias de hoje. embora O esqueça tão frequentemente? Para O descobrirmos. nunca permitamos que se atenue. Como diz de modo magnífico o próprio São João Crisóstomo: «Passemos em revista as graças inefáveis de Deus e todos os bens que nos faz desfrutar. que nos vem de Cristo e nos é transmitida pelos Apóstolos e por toda a Igreja. 15).devemos confundir o pecado que é inaceitável. o Santíssimo Sacramento da presença real do Senhor na sua Igreja e na humanidade inteira. São Paulo faz apelo à razão dos seus leitores: «Falo-vos como a pessoas sensatas. Irmãos e irmãs. mas sobretudo da nossa fé. Milhões de vezes desde há vinte séculos. a Missa convida- . Pois bem. tornando-Se assim. Uma revelação extraordinária. em todo o caso. São Paulo pede-nos que façamos uso não apenas da nossa razão. todas as vezes que um sacerdote repete as palavras da consagração sobre o pão e o vinho. e é nisto que participamos» (Ibidem). para chegarmos à verdade do nosso ser. há quase dois mil anos: Cristo instituiu o sacramento da Eucaristia na noite de Quinta-Feira Santa. «mais íntimo a nós do que nós mesmos» (cf. o Senhor ressuscitado entregou-Se ao seu povo. presente na Eucaristia. de co-herdeiros do Filho de Deus» (Homilia 24 sobre a Primeira Carta aos Coríntios. Ele quis que o seu sacrifício estivesse de novo presente. com o pecador. o que nos permite unir a nossa acção de graças à do Salvador. por ter aproximado de Si aqueles que se tinham afastado. Confissões III. Ofereçamos-Lhe os maiores sinais de honra! Através das nossas palavras. O único Deus – Pai. Nada descuremos para Lhe manifestar o nosso respeito e o nosso amor. 6. segundo a fórmula de Santo Agostinho. a fé em Cristo ressuscitado. julgai vós mesmos o que estou a dizer-vos» (1 Cor 10. quando Lhe oferecemos este cálice. por ter feito de desesperados e ateus deste mundo um povo de irmãos. tanto na mais humilde das capelas como na mais grandiosa das basílicas ou das catedrais.11). rodeemos da maior veneração o sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor. que nos ajude a purificar-nos de todos os ídolos. propondo à nossa liberdade que a receba como um dom precioso. Em si mesma. Por conseguinte peçamos a Deus. Como chegar a Deus? Como chegar a encontrar ou reencontrar Aquele que o homem busca no mais profundo de si mesmo. dos nossos silêncios e dos nossos gestos. de maneira não sangrenta. o cálice de bênção que abençoamos é comunhão no Sangue de Cristo. que nos vê e ouve. é sempre susceptível de conversão e de perdão. o Filho eterno do Pai. Não há somente participação e partilha. 1). A razão nunca entra em contradição real com a fé. em nós e ao nosso redor. Com efeito – continua ele – «o que está no cálice é precisamente aquilo que escorreu do seu lado. e a própria razão pode forjar ídolos para si mesma. Nisto. Deus jamais pede ao homem que faça o sacrifício da própria razão. cujo estado de consciência não podemos julgar e que. o que é que a fé nos diz? O pão que partimos é comunhão no Corpo de Cristo. A Missa é o sacrifício de acção de graças por excelência. Filho e Espírito Santo – criou a nossa razão e dá-nos a fé. para chegarmos à verdade do seu Ser infinito. dando-Lhe graças por ter libertado o género humano do erro. há também «união» – diz ele. É o culto dos ídolos que desvia o homem desta perspectiva. quando comungamos. 21). 45). no seu Tratado sobre o sacerdócio. Pois bem. invocando o nome do Senhor» (Sl 116. obedece ao Espírito de Deus e o que. de nos ensinar os verdadeiros valores. Só Ele nos ensina a fugir dos ídolos. Deus está presente no altar. em nós. miragens do pensamento. lançar aqui um apelo cheio de confiança na fé e na generosidade dos jovens que se interrogam acerca da vocação religiosa ou sacerdotal: Não tenhais medo! Não tenhais medo de dar a vossa vida a Cristo! Nada jamais poderá substituir o ministério dos sacerdotes na vida da Igreja. procuramos colocar o nosso pensamento em sintonia com o de Deus? Quando agimos. como agradecer ao Senhor pela vida que Ele me deu? A resposta à pergunta do Salmista encontra-se no próprio Salmo. Quem é esta rocha. veremos que Ele pessoalmente nos ensinou a fugir dos ídolos. porque – como São Paulo insiste – «vós não podeis beber do cálice do Senhor e do cálice dos espíritos malignos» (1 Cor 10. porque misericordiosamente a própria Palavra de Deus responde às questões que formula. as nossas palavras e as nossas acções só adquirem a sua verdadeira dimensão. quem pode elevar o cálice da salvação e invocar o nome do Senhor por conta de todo o povo de Deus. Como dar graças ao Senhor por todo o bem que Ele nos faz. 13)? Porventura elevar o cálice da salvação e invocar o nome do Senhor não é precisamente o melhor meio para «fugir dos ídolos». Nada jamais poderá substituir uma Missa pela salvação do mundo. mostrou como a resposta do homem pode tardar a chegar. 48). mas encontra-Se também presente no altar do nosso coração quando. procuramos o bem do nosso interlocutor? Quando pensamos. senão atendo-nos às suas próprias palavras: «Elevarei o cálice da salvação. os valores eternos que jamais conhecerão ocaso. desejamos pertencer unicamente a Cristo. A Missa convida-nos a discernir aquilo que. Quando falamos. permanece à escuta do espírito do mal. cada vez que Cristo Se torna sacramentalmente presente na sua Igreja. queridos irmãos e irmãs. Finalmente. não deixeis sem resposta o chamamento de Cristo. celebrar a Eucaristia significa reconhecer que só Deus é capaz de nos dar a felicidade plena. como nos pede São Paulo? Cada vez que uma Missa é celebrada. queridos habitantes de Paris e da região parisiense. 12). retomando com gratidão – com «acção de graças» – o brado do Salmista: «Como retribuirei ao Senhor todo o bem que Ele me fez?» (Sl 116. Na Missa. mas ele é o exemplo vivo da acção de Deus sobre uma liberdade humana que se deixa modelar pela sua graça. em nós. procuramos espalhar o Amor que nos faz viver? São . se retomarmos as palavras que Cristo nos deixou no seu Evangelho. comungando. Por isso.nos também a fugir dos ídolos. se os referirmos à mensagem do Evangelho: «A boca fala da abundância do coração» (Lc 6. O recebemos no sacramento eucarístico. realiza-se a obra da nossa salvação. convidando-nos a construir a nossa casa «sobre a rocha» (Lc 6. Sim. São João Crisóstomo. Estimados jovens ou menos jovens que me escutais. senão Ele mesmo? Os nossos pensamentos. a não ser o sacerdote ordenado pelo Bispo para tal finalidade? Permiti-me. e também todos vós que viestes do resto da França e de outros países limítrofes. agora e pelos séculos dos séculos.João Crisóstomo diz ainda: «Pois bem. Queridos peregrinos. porque razão não manifestamos a mesma caridade? Porque razão. confio-vos. Bispo de Tarbes e Lourdes. possui as promessas da vida eterna. à acção poderosa e misericordiosa do Deus de amor que morreu por nós na Cruz e ressuscitou vitoriosamente na manhã de Páscoa. nesta luz. repito com São Paulo: Fugi do culto dos ídolos.) Ó homem. e se todos nos tornamos esta mesma substância. neste lugar chamado A gruta de Massabielle. A todos os homens de boa vontade que me ouvem. nosso Mestre e nosso Irmão. Cristo veio procurar-te. no dia 11 de Fevereiro de 1858. Esta Senhora dirigiu-se-lhe com bondade e doçura. 13 de Setembro de 2008 Amado D. vos revele a beleza do seu rosto de Ressuscitado! Que o Espírito Santo vos cumule com os seus dons e vos conceda a alegria de conhecerdes a paz e a luz da Santíssima Trindade. Bernadete Soubirous. nesta alegria de saber que Cristo está connosco até ao fim dos tempos. não porque os seus membros sejam mais santos do que os outros homens.. com respeito e confiança: «Ela tratava-me por vós (narra Bernadete) . Há cento e cinquenta anos. mais linda que tudo». uma jovem mulher «linda. pelo mesmo motivo. procurar a ti que estavas tão longe d’Ele. nesta força que o Espírito dá a todos os homens e a todas as mulheres que aceitam deixar-se agarrar por Ele. e tu não queres unir-te ao teu irmão?» (Homilia 24 sobre a Primeira Carta aos Coríntios. queridos cristãos de Paris e da França. mas porque Cristo fez esta promessa a Pedro: «Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. construída sobre a rocha de Cristo. não nos tornamos um só? (. uma simples adolescente de Lourdes. A esperança permanecerá sempre a mais forte! A Igreja. Largo do Rosário Sábado. Nesta esperança indefectível na presença eterna de Deus em cada uma das nossas almas. Quereis fazer-me o favor de vir aqui . 2). viu uma luz e.. Irmãos e Irmãs. se todos nós partilhamos o mesmo pão. Amen. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Lourdes. 18).. Perrier. e as portas do inferno não prevalecerão contra ela» (Mt 16. fora da povoação. Caros Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio. para Se unir a ti. não cesseis de fazer o bem! Que Deus nosso Pai vos atraia a Si e faça brilhar sobre vós o esplendor da sua glória! Que o Filho unigénito de Deus.. A Santíssima Virgem Maria. toda a comunhão dos Santos. Não causa maravilha que Maria seja bela. e conjuntamente tem aos seus pés a lua. a vida do Filho. tanto de Verão como de Inverno. Assim. Vindo em peregrinação aqui. que exprimem as suas preocupações e as suas necessidades. É nesta conversa. daí a importância que adquire aqui o símbolo da luz. A partir da quarta aparição. . as sombras da terra não impediram de brilhar a luz do céu: «A luz brilha nas trevas. neste diálogo repleto de delicadeza. visto que. Não tardaram a aparecer pessoas que confiaram a Bernadete uma vela para que a espetasse na terra ao fundo da gruta. para A glorificar. que é o vencedor. A partir daquele dia. do bem e de Deus. Bernadete já estava habitada pela luz de Massabielle. acendia cada manhã uma vela benzida e segurava-a na mão esquerda enquanto a Virgem se lhe manifestava. tão gloriosa e tão humana.durante os próximos quinze dias? (pergunta-lhe a Senhora) . de rejeição e pobreza.» (Jo 1. mas sobretudo a sua fé e a sua esperança. Contudo. Lourdes é um daqueles lugares que Deus escolheu para nele fazer resplandecer um raio particular da sua beleza. Quando rezamos o terço. a Mulher gloriosa do Apocalipse. Maria deixou a morte atrás de Si. o seu rosto tornava-se completamente radioso. Por nossa vez. a penitência e a conversão. Este facto confirma o carácter profundamente teocêntrico da oração do Rosário. está inteiramente revestida de vida. No entanto. Numerosas são as pessoas que o testemunharam: o encontro com o rosto luminoso de Bernadete impressionava os corações e os olhares. diante da Gruta. imagem da morte e da mortalidade. que dá ao nosso mundo a esperança de que tem necessidade.. Passado pouco tempo. voltemos o nosso olhar para Maria. que Se une a ela no momento da doxologia. na aparição de 25 de Março de 1858. Durante as aparições – há que o sublinhar – Bernadete reza o terço sob o olhar de Maria. Nesta tarde. Ela é o sinal da vitória do amor. Ela revela o seu nome assim: «Eu sou a Imaculada Conceição». e deixemos que seja Ela a conduzir-nos para Deus. Ela fixava-me como uma pessoa que fala a outra pessoa». de Cristo ressuscitado. de doença e incompreensão.. a Lourdes. era difícil viver no “cachot” (no “cárcere”). todo o povo de Deus. que representam as doze tribos de Israel. queremos entrar – na esteira de Bernadete – naquela extraordinária proximidade entre o céu e a terra que nunca falhou e não cessa de se consolidar. 1) que a Escritura nos descreve. Embora não faltando amor e afecto nas relações familiares. Tanto durante as aparições como quando ela as narrava.. Bernardete.. outras pessoas começaram também a depositar velas naquele lugar de luz e de paz. que a Senhora a encarrega de transmitir certas mensagens muito simples sobre a oração. desde então iluminam ininterruptamente o maciço rochoso da aparição. ao chegar à gruta. contemplamos aquela «Mulher revestida de sol» (Ap 12. traz na sua cabeça uma coroa de doze estrelas. brilha uma sarça ardente ateada pela oração dos peregrinos e dos doentes. noite e dia. 5). A própria Mãe de Deus fez saber que apreciava a homenagem tocante daqueles milhares de velas que. a vida quotidiana da família Soubirous era tecida de miséria e tristeza. 35). Como para todos os acontecimentos da vida de Cristo que Ela «conservava e meditava no seu coração» (Lc 2. a guerra. ou que carregam as consequências das injustiças. da solidão. Jesus Cristo. mas também um tempo de austera reflexão: as intenções que trazemos connosco sublinham a nossa profunda comunhão com todos os seres que sofrem. fala forte ao nosso íntimo. também ele encorajou vivamente a oração do terço. do ódio e da opressão. Possa Lourdes. Estes aliás estão representados na fachada da Basílica. da sua situação de emigrantes. o terrorismo. num diálogo autêntico e cordial com o seu Mestre! Pela boca de Bernadete. Este gesto resume por si só a nossa condição de cristãos a caminho: temos necessidade de luz e. Rezando com Maria. impede de nos propormos como guia para os nossos irmãos e impele-nos a desconfiar deles e a não se deixar guiar. incluindo mesmo os momentos mais escuros. a carestia. ao mesmo tempo. à sua liberdade de agir e de pensar. e um caminho luminoso abre-se na história dos homens. toca o nosso coração e diz muito mais do que qualquer palavra pronunciada ou ouvida. Pensamos nas vítimas inocentes que padecem a violência. que une eleitos do céu e peregrinos da terra. a fazer da nossa oração um acto de amor a Deus e de caridade fraterna. a lâmpada da fé. Sabemos como. Pensamos também naqueles que vivem problemas familiares ou que sofrem em consequência do desemprego. . Maria ensina-nos a rezar. levando a luz. nos novos mosaicos inaugurados no ano passado. da doença. dos flagelos e das calamidades. de esperança e de conversão. o nosso coração acolhe aqueles que sofrem. na sua vida e no seu ministério. 19). Como muitos dos seus Predecessores na Cátedra de Pedro. terra de luz. a lâmpada da esperança e do amor. a sua oração se apoiava na intercessão da Virgem Maria. somos chamados a tornar-nos luz. além disso. permanecer uma escola para aprender a rezar o Rosário. que introduz os discípulos de Jesus. A procissão de velas traduz aos nossos olhos de carne o mistério da oração: na comunhão da Igreja. fê-lo. Agora que cai a noite. Não quero além disso esquecer aqueles que sofrem por causa do nome de Cristo e que morrem por Ele. enriquecendo o Rosário com a meditação dos Mistérios Luminosos. a lâmpada da oração. Este caminhar na noite. a luz brota do diálogo entre o homem e o seu Senhor. O pecado torna-nos cegos. O meu venerado Predecessor João Paulo II veio duas vezes aqui a Lourdes. ouvimos a Virgem Maria pedir-nos para «vir aqui em procissão» rezar com simplicidade e fervor. Maria faz-nos compreender todas as etapas do ministério público como parte integrante da revelação da Glória de Deus.Maria oferece-nos o seu coração e o seu olhar para contemplarmos a vida do seu Filho. porque é um lugar de comunhão. da enfermidade. de uma maneira muito singular. dos atentados à sua dignidade humana e aos seus direitos fundamentais. Consequentemente como poderia a nossa vida não ficar transformada? Porque é que o nosso ser e a nossa vida inteira não deveriam tornar-se lugares de hospitalidade para o nosso próximo? Lourdes é um lugar de luz. sob o olhar de sua Mãe. Jesus diz-nos: «Permanecei com as vossas lâmpadas acesas» (Lc 12. Esta procissão é um momento de grande alegria eclesial. ao mesmo tempo. Anunciada nos Cânticos do Servo de Deus. a Cruz é sinal de esperança. uma morte que assinala o fim da morte. porque «Deus amou de tal modo o mundo. indicar a sua verdadeira fonte. basta amar. faz que eu veja a tua glória! Como sabemos. indica a muitos. 14). toda a nossa vida recebe luz. O encontro discreto com Bernadete e a Virgem Maria . traz a reconciliação. como diz São Paulo na Carta aos Efésios: «Cristo te iluminará» (Ef 5. a nossa oração já foi atendida e damos graças porque. Cl 3. É por isso que a vida na fé em Cristo morto e ressuscitado se torna luz. e São Pedro acrescenta: «Ele chamou-vos das trevas para a sua luz admirável» (1 Pd 2. Nesta vigília. que lhe deu o seu Filho unigénito. 51). a morte de Jesus é uma morte que se torna luz para os povos. Senhor. As aparições eram cheias de luz e Deus quis acender no olhar de Bernadete uma chama que converteu inúmeros corações. denominada esperança. permanece na luz e nele não há ocasião de queda» (1 Jo 2. mas sobretudo. agora Cristo pode dizer: «Vós sois a luz do mundo» (Mt 5. é de certo modo semelhante à luz celeste. São Leão Magno escreve: «Com efeito. as habita. no caminho do regresso. 16). «Tem de ser levantado o Filho do Homem. Faz que eu veja o meu pecado que me bloqueia. quem quer que viva piedosa e castamente na Igreja. que não somos a luz. Amanhã. os pobres e os pequeninos o primeiro lugar. 14). faz que eu veja!» (Mc 10. confiando-nos a preocupação de fazer resplandecer a luz da caridade. Pela Cruz. mas tenha a vida eterna» (Jo 3. 9). estandarte da vitória de Jesus. é revelada toda a profundidade do amor contido no desígnio original do Criador. é uma morte que.Temos necessidade de ser iluminados e repetimos a súplica do cego Bartimeu: «Mestre. 2). A Cruz constitui o supremo e perfeito acto de amor de Jesus. Viver o amor cristão é fazer entrar a luz de Deus no mundo e. Por ela. a fim de que todo aquele que n’Ele crer tenha a vida eterna» (Jo 3. para que todo aquele que n’Ele crer não pereça. 5). quem pensa nas coisas lá de cima e não nas da terra (cf. Como escreve o Apóstolo São João: «Aquele que ama a seu irmão. para onde os cristãos do mundo inteiro voltam o olhar desde que a Virgem Maria fez brilhar aqui a esperança e o amor. depois. que dá a vida pelos seus amigos. 14-15). mudam o seu modo de ver Deus. os outros e a si mesmas. compaixão e ternura. Quantas pessoas vêm aqui para ver – esperando talvez secretamente – se recebem algum milagre. ao mesmo tempo que produz o brilho de uma vida santa. Neste santuário de Lourdes. o nosso olhar volta-se para o sinal da nova Aliança para o qual converge toda a vida de Jesus. por ela tudo é restabelecido e levado à sua perfeição. 10). como uma estrela. A nós. A partir de então. reservando para os doentes. o caminho que leva a Deus» (Sermão III. tendo feito uma experiência espiritual de vida autenticamente eclesial. somos convidados a descobrir a simplicidade da nossa vocação: na realidade. a celebração da Exaltação da Santa Cruz far-nos-á entrar precisamente no coração deste mistério. Uma pequena chama. associada com a liturgia de expiação. força e esperança. Neste dia em que a liturgia da Igreja celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz. Levantando os olhos para o Crucificado. que Cristo é a nossa luz. Desde há 150 anos. “Ide dizer aos sacerdotes que se venha aqui em procissão e que se construa uma capela”. 11). 1020). a nossa força e a nossa luz. “Como é admirável possuir a Cruz! Quem a possui. obedecendo até à morte e morte de cruz (cf. eis-nos aqui esta manhã aos pés de Maria. prezado D. Jacques Perrier. de misericórdia. pelo caloroso acolhimento que me reservou e pelas amáveis palavras que me dirigiu. Que a Virgem Maria e Santa Bernadete vos ajudem a viver como filhos da luz para testemunhardes.pode mudar uma vida.8). Agradeço de modo particular a D. queridos peregrinos de Lourdes. na Sexta-Feira Santa. in Johan. para aprendermos na sua escola com a pequena Bernadete. O mesmo fizemos nós também. A minha gratidão estende-se também às Autoridades civis e militares que quiseram participar nesta Celebração eucarística. o Evangelho que acabastes de ouvir lembra-nos o significado deste grande mistério: Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único. os diáconos. a nossa vida! SANTA MISSA NO 150º ANIVERSÁRIO DAS APARIÇÕES HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Prairie. Lourdes Domingo. “Para ser curados do pecado. André de Creta. adoramos Aquele .. Perrier. sinal de reconciliação e de paz. O instrumento de suplício que. porque Elas estão presentes neste lugar de Massabielle para nos levar a Cristo. os vossos parentes e amigos. a Virgem Imaculada. irmãos e irmãs. Fil 2. os religiosos e as religiosas. e todas as vossas intenções a Nossa Senhora. É a mensagem que Bernadete recebeu da “bela Senhora” na aparição de 2 de Março de 1858. Homilia X na Exaltação da Cruz: PG 97. Bispo de Tarbes e Lourdes. especialmente os enfermos. O Filho de Deus tornou-se vulnerável. 14 de Setembro de 2008 Senhores Cardeais. tornou-se fonte de vida. todos os dias da vossa vida. para que os homens sejam salvos (cf. os sacerdotes.16). Viestes numerosos realizar esta peregrinação jubilar comigo e confiar as vossas famílias. tinha manifestado o juízo de Deus sobre o mundo. os Bispos. bem como a vós todos. a nossa esperança. Jo 3. os peregrinos não deixaram mais de vir à gruta de Massabielle para escutar a mensagem de conversão e de esperança que lhes é dirigida. Amados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Caros peregrinos. XII. Saúdo os Cardeais. olhamos para Cristo crucificado!” dizia Santo Agostinho (Tract. É pela sua Cruz que estamos salvos. assumindo a condição de servo. que é a nossa vida. possui um tesouro!” (S. de perdão. com audácia sempre maior. adoremo-Lo!”. que animou tantos homens e . Saberemos nós entender que. Confiamo-los a Maria. convidando-nos a voltarmonos para o seu Filho. é uma iniciação aos mistérios da fé que Bernadete recebe de Maria. A Igreja é enviada a todos os lugares do mundo para proclamar esta única mensagem e convidar os homens a acolhê-La mediante uma autêntica conversão do coração. nos revela que Ele é exaltado na glória. Mãe de Jesus e Mãe nossa. É este grande mistério que Maria nos confia esta manhã. Que no rasto dos grandes evangelizadores do vosso País. mais forte do que as nossas fraquezas e os nosso pecados. Maria vem ao nosso encontro para nos indicar os caminhos de uma renovação da vida das nossas comunidades e de cada um de nós. A Igreja recebeu a missão de mostrar a todos este rosto de um Deus que ama. no Crucificado do Gólgota. No meio de nós.que veio para assumir sobre si o pecado do mundo e dar-nos a vida eterna. a nossa dignidade de filhos de Deus. porque nos diz quanto Deus nos amou. por ocasião deste Jubileu. onde a Igreja pode fortalecer para proclamar. mergulhamos numa fonte viva onde a fé pode alcançar um novo vigor. único salvador de todos os homens. que Ela nos apresenta. Mais do que um simples sinal. “Vinde. que vive e age na sua Igreja e no mundo. Jesus. no mundo. Aquele que convida todo o ser humano a aproximar-se d’Ele com confiança. a fonte da salvação. nascido de Maria. pelo amor de Cristo. ofuscada pelo pecado. há um amor mais forte do que a morte. porque de uma árvore que trouxera a morte surgiu novamente a vida. todos aqueles que sofrem no coração ou no corpo. Acolhendo o seu Filho. o mistério de Cristo. em tantas regiões do mundo por nossos irmãos e irmãs sem número. na primeira aparição a Bernadete. De facto. A mesma convida-nos a dar graças a Deus. a fim de que o mundo possa ver até onde chegou o amor do Crucificado pelos homens. A força do amor é maior do que o mal que nos ameaça. Para acolhermos em nossas vidas esta Cruz gloriosa. Pois. o espírito missionário. nesta Cruz. Jesus tomou sobre si o peso de todos os sofrimentos e injustiças da nossa humanidade. Carregou as humilhações e as discriminações. O sinal da Cruz é de alguma forma a síntese da nossa fé. encontra-se Aquele que nos amou até ao ponto de dar a sua vida por nós. a levantar os olhos para a Cruz de Jesus a fim de encontrar nela a fonte da vida. Maria inicie o seu encontro com o sinal da Cruz. Ela convida todos os homens de boa vontade. manifestado em Jesus Cristo. E a Igreja convida-nos a erguer com ousadia esta Cruz gloriosa. as torturas padecidas. diz-nos que. é Filho de Deus. É este mistério da universalidade do amor de Deus pelos homens que Maria veio revelar aqui. por todos os homens. É sobre este madeiro que Jesus nos revela a sua soberana majestade. em Lourdes. É Ele que nos fará livres para amar como Ele nos ama e construir um mundo reconciliado. presente ao pé da Cruz. Hoje. a celebração do Jubileu das aparições de Nossa Senhora de Lourdes faz-nos entrar num caminho de fé e conversão. Esta missão. nos foi restituída? Voltemos o nosso olhar para Cristo. Sim. confiada por Jesus aos seus discípulos recebe aqui. é significativo que. um novo sopro. A oração é indispensável para acolher a força de Cristo. de uma verdadeira catequese que nos é proposta sob o olhar de Maria. É o caminho que Maria deixa aberto também ao homem. Encontra de novo a sua vocação originária de pessoa criada à sua imagem e semelhança. Deixando-se absorver pelas actividades corre-se o risco de fazer perder à oração a sua especificidade cristã e a . transparece a misericórdia de Deus. intensa e humilde. sobretudo através do acolhimento dos enfermos. a vocação primeira do santuário de Lourdes é ser um lugar de encontro com Deus na oração e um lugar de serviço aos irmãos. 36). Maria escolhe-a para transmitir a sua mensagem de conversão. porque “olhou para a humilde condição da Sua serva” (Lc 1. Deus caritas est.38). que jamais nos abandona! Maria vem recordar-nos que a oração. "Quem reza não desperdiça o seu tempo. a “bela Senhora” revela o seu nome a Benardete: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Seguindo o percurso jubilar na esteira de Bernadete. Ela é a beleza transfigurada. por conseguinte. deve ter um lugar central na nossa vida cristã.38). porque nos revela nossa dignidade de homens e mulheres. a de ter sido concebida sem pecado. baseada sobre o pleno reconhecimento da sua verdadeira dignidade. mas salvos na esperança. Trata-se. a imagem da nova humanidade. o homem torna-se sendo ele mesmo. Bernadete é a filha maior de uma família muito pobre. Queridos irmãos e irmãs. Entregar-se completamente a Deus é encontrar o caminho da verdadeira liberdade. oração e penitência. sempre disponível às necessidades dos seus filhos. Neste lugar. Maria revela-lhe assim a graça extraordinária que recebeu de Deus. continue a ser a vossa glória e o vosso compromisso.mulheres de França ao longo dos séculos. Porque voltando-se para Deus. dos pobres e de todas as pessoas que sofrem. mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a acção" (Enc. Maria exprime na verdade uma atitude de plena liberdade. e é frágil de saúde. Maria vem ao nosso encontro como mãe. que não possui ciência nem poder. Apresentando-se assim numa dependência total de Deus. uma esperança que nos permite enfrentar a nossa vida quotidiana. Deixemos que a Virgem nos ensine também a nós e nos guie pelo caminho que leva ao Reino do seu Filho! Prosseguindo na sua catequese. marcados sem dúvida pelo pecado. Praça de Espanha. é-nos lembrado o essencial da mensagem de Lourdes. n.25). Através da luz que emana do seu rosto. “Eis a escrava do Senhor. Maria é esta mulher da nossa terra que se entregou inteiramente a Deus e d’Ele recebeu o privilégio de dar a vida humana ao seu eterno Filho. confidente e perseverante. 8 de Dezembro de 2007). Homenagem à Virgem Maria. No seu caminho espiritual. a alimentar-se da Eucaristia. a haurir da oração a força para dar o testemunho e ser solidários com todos os seus irmãos em humanidade (cf. em plena sintonia com a palavra de Jesus: “Escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11. Este privilégio diz respeito também a nós. Deixemo-nos envolver pelo seu olhar: este diz-nos que somos todos amados por Deus. faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1. também os cristãos são chamados a fazer frutificar a graça do seu Baptismo. No entanto. 50). Graças ao seu "sim". O serviço prestado aos irmãos e irmãs abre o coração. Respondei generosamente ao Senhor! Só Ele pode satisfazer as aspirações mais profundas do vosso coração. Spe salvi. Felizes os homens e as mulheres que depositam a sua confiança n'Aquele que. nos deu sua Mãe para que fosse a nossa Mãe! Queridos irmãos e irmãs. na hora de oferecer a sua vida pela nossa salvação. Gosto de invocar Maria com Estrela da esperança (Enc. seja Maria a vossa confidente. nº. ela que soube falar a Bernadete respeitando-a e confiando nela. Por vossa vez. era uma jovem mulher de Nazaré que fazia a vida simples e corajosa das mulheres da sua aldeia. Maria ajude os que são chamados ao matrimónio a descobrir a beleza de um amor verdadeiro e profundo. Maria quer dizer também a vós que nenhum é indiferente para Deus. Nas estradas das nossas vidas. Caros amigos. A oração do Rosário. independentemente do seu País. não tenhais medo de dizer "sim" à chamada do Senhor. caros jovens. disse "sim" sem hesitar. Ela sentia como era débil diante da onnipotência de Deus. . quando Maria recebeu a visita do Anjo. Ele pousa o seu olhar amoroso sobre cada um de vós e chamavos a uma vida feliz e cheia de sentido. confiando nela. por vezes tão sombrias. E se Deus pousou de modo particular o seu olhar sobre ela. Introduz-nos na contemplação do rosto de Cristo. Sejam as famílias e as comunidades cristãs lugares onde possam nascer e amadurecer sólidas vocações ao serviço da Igreja e do mundo! A mensagem de Maria é uma mensagem de esperança para todos os homens e mulheres do nosso tempo. gostaria de reiterar toda a felicidade que há na doação total da própria vida ao serviço de Deus e dos homens. das famílias e das nações. ela é uma luz de esperança que nos ilumina e orienta no nosso caminho. mudando deste modo a história da humanidade. podemos alcançar abundantes graças. Ela acompanha-nos com a sua presença maternal no meio dos acontecimentos da vida das pessoas. a salvação entrou no mundo. ela abriu a Deus as portas do nosso mundo e da nossa história. vivido como dom recíproco e fiel! Aos que dentre vós Jesus chama a segui-Lo na vocação sacerdotal ou religiosa. tão querida a Bernadete e aos peregrinos de Lourdes. E convida-nos a viver como ela numa esperança invencível. Por meio do seu "sim" e com o dom generoso de si própria. nesta terra de França. Não vos deixeis desanimar diante das dificuldades! Maria turbou-se ao ouvir o anúncio do Anjo vindo para Lhe dizer que seria a Mãe do Salvador. recusando escutar os que pretendem que nós somos prisioneiros do destino. concentra em si a profundidade da mensagem evangélica. seguindo assim nos passos de Cristo servidor. No silêncio da oração. tornando-vos disponíveis. aqui presentes esta manhã ao redor da Cruz da Jornada Mundial da Juventude. A presença dos jovens em Lourdes é também uma realidade importante. Muitos são os que vindes a Lourdes para um serviço dedicado e generoso junto dos doentes ou de outros peregrinos. Nesta oração dos humildes. a Mãe do Senhor é venerada em numerosos santuários.sua verdadeira eficácia. quando Ele vos convida a segui-Lo. que manifestam assim a fé transmitida de geração em geração. 30): tornar-Se a Mãe de Cristo nos seus membros. Ao pé da Cruz cumpre-se a profecia de Simeão: o seu coração de Mãe é trespassado (cf. Maria vive hoje na alegria e glória da Ressurreição. ao celebrarmos a memória de Nossa Senhora das Dores. Spe salvi. Naquela hora. A Cruz é realmente o lugar onde se manifesta perfeitamente a compaixão de Deus pelo nosso mundo.Celebrada na sua Assunção. Heb 2. a profundidade desta aflição é apenas sugerida pelo tradicional símbolo das sete espadas. Jo 19. As lágrimas derramadas ao pé da Cruz transformaram-se num sorriso que nada mais apagará. Caros irmãos e irmãs! Ontem celebrámos a Cruz de Cristo. instrumento da nossa salvação. Jesus apresenta cada um dos seus discípulos à Mãe dizendoLhe: “Eis o teu filho” (cf. a Mãe de Cristo entrou na Paixão do Filho através da sua compaixão (cf. Queridos doentes. 10). Lc 2. Jo 19. Amen. também Maria terá certamente chorado diante do corpo torturado do Filho. brilha sobre nós e guia-nos no nosso caminho! (cf. Tal como Jesus chorou (cf. de modo a torná-La capaz de acolher a nova missão espiritual que o Filho Lhe confia imediatamente antes de “entregar o espírito” (cf. ensina-nos a crer. Hoje. que nos revela em plenitude a misericórdia do nosso Deus. Lourdes Segunda-feira. Enc. 35). prezados acompanhantes e enfermeiros. contemplamos Maria que partilha a compaixão do Filho pelos pecadores. 26-27). Indica-nos o caminho para o Reino do teu Filho Jesus! Estrela do mar. a sua discrição impede-nos de medir o abismo da sua dor. 35) pelo suplício infligido ao Inocente. Homilia do Domingo na Oitava da Assunção). 50). Seja sempre honrada com fervor em cada uma das vossas famílias. embora permaneça intacta a sua compaixão materna por nós. Jo 11. 15 de Setembro de 2008 Amados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio. nascido da sua carne. esperar e a amar contigo. Todavia. Atesta-o a intervenção da Virgem Maria em nosso . através da figura do discípulo amado. nas vossas comunidades religiosas e nas paróquias! Queira Maria velar sobre todos os habitantes do vosso belo País e sobre os numerosos peregrinos vindos de outros Países para celebrar este Jubileu! Seja para todos a Mãe que envolve carinhosamente os seus filhos tanto nas alegrias como nas provações! Santa Maria. Mãe de Deus e Mãe nossa. nº. SANTA MISSA COM OS DOENTES HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Sagrado da Basílica de Nossa Senhora do Rosário. é possível afirmar que este sofrimento levou-A também a Ela à perfeição (cf. Como afirmava São Bernardo. Como sucedeu com seu Filho Jesus. ela é a Padroeira amada do vosso País. concentrando a sua atenção de modo particular naqueles que. Maria ama cada um dos seus filhos. na Idade Média. A própria Escritura nos revela tal sorriso nos lábios de Maria. sem a ajuda da graça divina. que somos nós. Aquele sorriso. Aqui em Lourdes. Maria fez-lhe conhecer antes de mais nada o seu sorriso. uma confidência inabalável: a oração Memorare (“Lembrai-Vos”) exprime muito bem este sentimento. meu Salvador” (Lc 1. Bernadete contemplou de maneira muito especial este sorriso de Maria. mas também a solidariedade de quantos se acham intimamente unidos a nós pelo laço da fé. é a justa expressão da relação viva e profundamente humana que nos liga Àquela que Cristo nos deu por Mãe. ama-os. Quando a palavra já não consegue encontrar expressões adequadas. Antes de apresentar-Se-lhe alguns dias mais tarde como “a Imaculada Conceição”. dirige-se de modo especial para os que sofrem. vislumbrando de longe este vínculo materno que une a Mãe de Cristo e o povo crente. E quem de mais íntimo poderíamos nós ter além de Cristo . antes. toma-nos por suas testemunhas. para que uma tal alegria se torne também nossa. Procurar o sorriso de Maria não é uma questão de sentimentalismo devoto ou antiquado. aquele sorriso que os artistas. O Salmista. 46-47). uma dignidade que nunca se extingue em quem está doente. subentra a necessidade duma presença carinhosa: procuramos então a solidariedade não só daqueles que compartilham o nosso próprio sangue ou estão ligados connosco por vínculos de amizade. No sorriso da mais eminente de todas as criaturas. a fim de que nele possam encontrar conforto e alívio. quando canta o Magnificat: “A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus. Este sorriso de Maria é para todos: no entanto. como o Filho d’Ela na hora da Paixão. E cada proclamação do Magnificat faz de nós testemunhas do seu sorriso. Foi esta a primeira resposta dada pela Bela Senhora à jovem vidente. no povo de Deus. como que por antecipação. abale as mais firmes certezas da confiança e chegue por vezes até a fazer desesperar do sentido e valor da vida. Há combates que o homem não pode sustentar sozinho.socorro ao longo da história e não cessa de suscitar por Ela. Acontece infelizmente – bem o sabemos – que o sofrimento prolongado quebre os equilíbrios melhor consolidados duma vida. tão prodigiosamente souberam representar e engrandecer. durante a aparição de 3 de Março de 1858. Maria. sempre os cristãos procuraram o sorriso de Nossa Senhora. por vontade de Cristo na Cruz. simplesmente porque são seus filhos. que queria saber a sua identidade. se acham mergulhados no sofrimento. partilha com os futuros filhos. E assim. que a nós se dirige. verdadeiro reflexo da ternura de Deus. é a fonte duma esperança invencível. Quando a Virgem Maria dá graças ao Senhor. reflecte-se a nossa dignidade de filhos de Deus. profetiza a respeito da Virgem Maria: “Os grandes do povo procurarão o teu sorriso” (Sal 44. a alegria que mora no seu coração. Desejar contemplar este sorriso da Virgem não é de forma alguma deixar-se dominar por uma imaginação descontrolada. 13). solicitados pela Palavra inspirada da Escritura. como se tal fosse a porta mais apropriada para a revelação do seu mistério. para dessedentar-se nesta “Fonte de amor” e deixar-se conduzir até à única fonte da salvação. é a inspiração – diz o Salmo 44 – daqueles que são “os grandes do povo” (v. a Lourdes. de modo especial. e melhor do que qualquer outra mãe. Junto d’Ela. Procurar este sorriso significa em primeiro lugar perceber a gratuidade do amor. Maria é a educadora do amor. descobriram e experimentaram a doce maternidade da Virgem Maria. Inúmeros são aqueles que. 13). pelo contrário. Ele mesmo foi provado em tudo” (Heb 4. aqueles que possuem a maturidade espiritual mais elevada e sabem por isso reconhecer a sua fraqueza e pobreza diante de Deus. 38). correram rios de água viva. E nós sabemos o que agrada a Maria pelas palavras que Ela mesma dirigiu aos serventes em Caná: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2. brota um amor gratuito que suscita uma resposta filial. correrão rios de água viva” (Jo 7. através da graça da Unção . a despedida deste mundo na hora querida por Deus. mergulhando nas piscinas de Lourdes. dizer àqueles que sofrem e a quantos lutam e se sentem tentados a virar as costas à vida: Voltai-vos para Maria! No sorriso da Virgem. chamada a aperfeiçoar-se sem cessar. É por isso que tantos doentes vêm aqui. na obra A alma de todo o apostolado. tal como a criança procura suscitar o sorriso da mãe fazendo aquilo que é do agrado dela. propunha ao cristão fervoroso frequentes “trocas de olhar com a Virgem Maria”! Sim. “Do seio daquele que acredite em Mim – disse Jesus –. Eles são capazes de nos compreender e perceber a dureza do combate que travamos contra o mal e o sofrimento. 15). A Carta aos Hebreus. a Imaculada? Mais do que qualquer outrem. entenda-se. do coração de Maria. que vêm regar a história dos homens. O sorriso de Maria é uma fonte de água viva. Cristo dispensa a sua salvação através dos sacramentos e. Maria é Aquela que acreditou e. encontra-se misteriosamente escondida a força para continuar o combate contra a doença e a favor da vida. significa também saber suscitar este sorriso com o nosso empenho em viver segundo a palavra do seu dilecto Filho. apercebemo-nos de que a nossa única riqueza é o amor que Deus nos tem e que passa através do Coração d’Aquela que Se tornou nossa Mãe. Queria. referindo-se a Cristo. sem medo nem mágoa. agarrando-se a Ela para melhor se prenderem ao Senhor! Na sequência litúrgica desta festa de Nossa Senhora das Dores. Como toda a mãe. Naquela manifestação muito simples de ternura que é o sorriso. humildemente. Jesus Salvador. Maria é honrada sob o título de “Fons amoris”. é o sinal humilde desta realidade espiritual. do seu seio. Realmente. “Os grandes”. “Fonte de amor”. Do seu coração de crente e de mãe corre uma água viva que purifica e cura. quando. Quão justa era a intuição daquela bela figura espiritual francesa que foi o Padre JeanBaptiste Chautard. às pessoas que estão doentes ou são portadoras de qualquer deficiência. 5). aqui em Lourdes. na ordem da fé.e da sua santa Mãe. encontra-se igualmente a graça para aceitar. afirma que Ele não é alguém incapaz de “compadecer-Se das nossas fraquezas. A fonte indicada por Maria a Bernadete. o seu Filho. procurar o sorriso da Virgem Maria não é um pio infantilismo. dos Enfermos. não é médico à maneira do mundo. Desejo enfim encorajar aqueles que. Recebendo o sacramento dos doentes. contribuem para o cuidado dos doentes com competência e generosidade. nas paróquias ou. é necessário ter percorrido já um longo caminho em união com Jesus. 30). A presença de Cristo vem quebrar o isolamento que a dor provoca. recebeu este sacramento quatro vezes. Ele não fica fora do sofrimento que se experimenta. Convido as pessoas que vão receber a Unção dos doentes durante esta Missa a abrirem-se a uma tal esperança. segundo a expressão de Bernadete. Por isso é difícil suportá-lo. nesta importante e delicada missão. quero dizer quão precioso é o seu serviço. originários de todas as dioceses de França e de mais longe ainda. A própria Bernadete. Possais vós sentir sempre. é possível imediatamente desde já abandonar-se à misericórdia de Deus tal como esta se manifesta por meio da graça do sacramento dos doentes. fortalecidos pela promessa que Ele nos fez. neste sentido. A graça própria deste sacramento consiste em acolher em si mesmo Cristo médico. Eles são os braços da Igreja. os bispos franceses. para a suportar e viver com ele. o apoio eficaz e fraterno das vossas comunidades! E. ou aceitar. Dirijo uma saudação afectuosa aos componentes do Serviço de Saúde e Enfermagem. o jugo da doença e do sofrimento pesa cruelmente. “tudo sofrer em silêncio para comprazer Jesus”. os bispos estrangeiros e os sacerdotes que. Não nos habituamos nunca à sua presença. em nome da sua fé. no decurso duma existência frequentemente marcada pela doença. o sofrimento é sempre um estranho. são acompanhadores dos enfermos e dos homens marcados pelo sofrimento no mundo. fontes de água viva. Cristo. como aqui. Obrigado pelo vosso serviço junto ao Senhor que sofre. saúdo e agradeço também de modo particular meus irmãos no episcopado. Para cada um. porém. todos eles. humilde serva. na fidelidade a seu Filho. Para se poder dizer isto. Em contrapartida. Para nos curar. e mais difícil ainda – como fizeram algumas grandes testemunhas da santidade de Cristo – acolhê-lo como parte integrante da própria vocação. O homem deixa de carregar sozinho a sua provação. se prodigalizam ao longo de todo o ano à volta dos doentes que vêm em peregrinação a Lourdes. para que vós próprios vos torneis. Mt 11. De igual modo ao pessoal de acolhimento. Sem a ajuda do Senhor. LG 63-65). que o seu jugo será fácil de levar e leve o seu peso (cf. nos santuários. O Concílio Vaticano II apresentou Maria como a figura na qual está compendiado todo o mistério da Igreja (cf. Maria confia-vos o seu sorriso. bem como a todas as pessoas que por diversos títulos. de modo particular nas capelanias dos hospitais. aos maqueiros e aos acompanhantes que. sendo esta convidada a estar atenta como Ela às pessoas que sofrem. mas alivia-o vindo habitar naquele que está atingido pela doença. nos hospitais e noutras instituições. . acolhem e visitam os doentes. A sua vida pessoal apresenta o perfil da Igreja. não desejamos levar outro jugo que não seja o de Cristo. O serviço de caridade que prestais é um serviço mariano. isto é. mas enquanto membro sofredor de Cristo. fica conformado a Ele que Se oferece ao Pai e n’Ele participa no parto da nova criação. A sua presença dinâmica arrebata-nos para nos fazer seus. Em recordação daquele acontecimento. pela nossa salvação e do mundo inteiro. que durava oito dias. Do mesmo modo vós também. que se renova em cada altar. A presença real de Cristo faz de cada um de nós a sua "casa". Vós que sois a estrela da manhã. atrai-nos com o vigor do seu amor. três anos depois do Templo ter sido profanado por Antioco Epifane (cf. a porta do céu e a primeira criatura ressuscitada. inicialmente ligada ao Templo onde o povo ia em procissão para oferecer sacrifícios. era também animada pela iluminação das casas e.Aquilo que estais fazendo. a habitação do Espírito Santo. Na primeira leitura ouvimos a narração da purificação do Templo e da dedicação do novo altar dos holocaustos. "Aproximai-vos do Senhor. para nos assimiliar a si. por obra de Judas Macabeu em 164 a. mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus escreve o Apóstolo. com razão. como pedras vivas. fazeis-lo em nome da Igreja. nós Vos rezamos! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo.C. todos os dias vai ser oferecido o sacrifício de Cristo! Neste altar Ele continuará a imolar-se. como deve ser grande a nossa alegria. foi instituída a festa da dedicação. conscientes de que no altar. No Mistério eucarístico. sob esta forma. Jesus torna-se realmente presente. 21 de Setembro de 2008 Caros irmãos e irmãs A hodierna Celebração é rica como nunca de símbolos e a Palavra de Deus que foi proclamada ajuda-nos a compreender o significado e o valor de quanto estamos a realizar. a pedra viva rejeitada pelos homens. Esta festa. entrai na construção de um templo espiritual. porque Vós escolhestes Bernadete na sua miséria. fazendo de nós um só com Ele. Mas queridos irmãos e irmãs. sobreviveu depois da destruição de Jerusalém. que nos preparamos para consagrar. a alegria e o júbilo que caracterizaram aquele acontecimento. Possais vós levar o seu sorriso a todos! Ao concluir. Nossa Senhora de Lourdes”. de quem Maria é a imagem mais pura. e todos juntos formamos a sua Igreja. 1 Mac 4. o edifício espiritual de que também São Pedro fala. 52-59). O Autor sagrado ressalta. levando-nos a sair de nós mesmos para nos unirmos a Ele. no sacramento da Eucaristia. o reflexo da luz de Cristo. formando um sacerdócio santo. desejo unir-me à oração dos peregrinos e dos doentes e retomar juntamente convosco um pedaço da oração a Maria feita para a celebração deste Jubileu: “Porque Vós sois o sorriso de Deus. destinado a oferecer . com os nossos irmãos e as nossas irmãs cujos corações e corpos estão a sofrer. como podemos apresentar-nos diante do altar de Deus divididos. reconciliação indispensável para apresentar dignamente a oferenda ao altar. tirada do Apocalipse. no âmago do mistério eucarístico. Ap 8. onde entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus. recebei-nos. os discípulos do Senhor anunciam a sua paixão e morte até que Ele venha na glória (cf. É um breve. 21-27. quando são vinculados pela caridade tornam-se verdadeiramente casa de Deus que não tem medo de desabar (cf. 4-5). De forma concreta. desejais continuar a tornar cada vez mais hospitaleira e decorosa. A este propósito. aproximar-vos-eis dele sempre com o coração disposto a acolher o amor e a difundi-lo. mútua e intimamente justapostos e unidos. Por conseguinte. 10-20. Is 1. que hoje admiramos na sua beleza renovada e que. Mq 6. o centro. Serm.. Santo Agostinho observa que mediante a fé os homens são como madeiras e pedras extraídas dos bosques e dos montes para a construção. mas urgente e incisivo apelo à reconciliação fraterna. 6-8). quando são acompanhadas pela caridade. um convite constante ao amor. realizando a oferenda do pão e do vinho. mas só se tornam casa do Senhor. Efectivamente. Lumen gentium. O altar do sacrifício torna-se. Um compromisso que empenha todos vós e que. 6). Preparase deste modo para entrar. Na liturgia romana o sacerdote. Cristo amou-a e por Ela se entregou a fim de a santificar" (Ibid. é porventura possível comunicar com o Senhor.sacrifícios espirituais por meio de Jesus Cristo" (1 Pd 2. "esposa imaculada do Cordeiro imaculado. a caridade que "jamais passará" (1 Cor 13. Quase desenvolvendo esta bonita metáfora. 8). Aliás. inclinado sobre o altar reza abnegadamente: "Humildes e arrependidos. mostrando no mistério o esplendor da Igreja. que a vossa alma se abra ao perdão e à reconciliação fraternal. cada Celebração eucarística já antecipa o triunfo de Cristo sobre o pecado e sobre o mundo. a receber e a conceder o perdão. uma exortação que retoma o ensinamento já presente na pregação profética. se não comunicamos entre nós? Então. Estas reflexões são suscitadas em nós pelo rito que nos preparamos para celebrar nesta vossa Catedral. seja para vós amados irmãos e irmãs. cada vez que vos aproximais do altar para a Celebração eucarística. sobre o altar de ouro que está diante do trono de Deus" (cf. com razão. em primeiro lugar. é a energia espiritual que une quantos participam no mesmo sacrifício e se alimentam do único Pão partido para a salvação do mundo. no cerne daquela liturgia celestial à qual se refere a segunda leitura. esquadrejadas e alisadas. depois. Mt 5.. também os profetas denunciavam com vigor a inutilidade daqueles gestos de culto. especialmente nos relacionamentos com o próximo (cf. por vossa vez prontos para perdoar. afastados uns dos outros? Este altar. sobre o qual daqui a pouco se renovará o sacrifício do Senhor. Portanto. 3). o ponto de encontro entre o Céu e a terra. prontos para aceitar as desculpas de quantos vos feriram e. São João apresenta um anjo que oferece "uma grande quantidade de incenso para arder. com toda a assembleia dos fiéis. da única Igreja que é celeste e ao mesmo tempo peregrina na terra. Quando os fiéis estão reciprocamente ligados segundo uma determinada ordem. de certa forma. n. são desbastadas. juntamente com as preces de todos os santos. poderíamos dizer. . da catequese e da pregação. 23-24). 336). Am 5. o amor de Cristo. através do baptismo. Com efeito. 8). desprovidos de correspondentes disposições morais. exige de toda a Comunidade diocesana o crescimento na caridade e na dedicação apostólica e missionária. oferece-nos uma importante lição de vida o trecho evangélico que há pouco foi proclamado (cf. ó Senhor: que seja do vosso agrado o nosso sacrifício que hoje se realiza diante de Vós". na celebração do décimo aniversário da sua consagração episcopal. o Ambão e o Altar. Invoco. Uma saudação às Autoridades que nos honram com a sua presença e. Indubitavelmente. como o vosso Pastor recordou. a quem também estou reconhecido pelas distintas palavras que me dirigiu no início da Santa Missa. fruto do amor livre e gratuito de Deus. Neste dia. ou seja. as famílias. entre as várias agregações laicais. Dirijo agora a minha cordial saudação ao vosso Bispo. desafios e problemas. Oremos por esta intenção. a comunhão eclesial constitui também uma tarefa confiada à responsabilidade de cada um. em primeiro lugar. acrescentando-se àquelas que ao longo dos séculos caracterizaram a vida da Igreja de Albano. mas também são grandes as esperanças e as oportunidades para anunciar e testemunhar o amor de Deus. que no dia de hoje se une à nossa alegria. vos abra aos seus horizontes de esperança e alimente em vós o impulso missionário rumo aos vastos horizontes da nova evangelização. com oportunas intervenções que incluíram a Cátedra episcopal. os jovens. e do Apóstolo São Mateus. que coroa os esforços. que é o Espírito do Pentecostes. o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Albano. consagrados e leigos. dando continuidade à nossa Celebração eucarística. Titular desta vossa Diocese Suburbicária. Expresso-lhe sentimentos de bons votos. No entanto. as crianças e os enfermos. Decano do Colégio Cardinalício. sempre presente e activo na história. Dirijo uma especial saudação ao Cardeal Angelo Sodano. Titular desta Catedral. os idosos. Saúdo os demais Prelados aqui presentes. Marcello Semeraro. enquanto abraço com carinho todos os fiéis da Comunidade diocesana espiritualmente aqui congregada. as pessoas consagradas. Trata-se também de cultivar a comunhão eclesial que é antes de tudo um dom. que Maria vos conceda escrever nesta nossa época mais uma página de santidade quotidiana e popular. algo divinamente eficaz. de quem a liturgia hodierna faz memória. os sacrifícios e o compromisso por vós realizados para dotar esta Catedral de um renovado espaço litúrgico. Que o Senhor vos permita viver uma comunhão cada vez mais convicta e diligente. a quem agradeço o convite e as amáveis expressões de boas-vindas com que desejou receber-me em nome de todos vós. a intercessão maternal da Bem-Aventurada Virgem Maria. D. Invoco sobre todos a salvaguarda celeste de São Pancrácio. os presbíteros. de modo particular. entre as diversas comunidades cristãs do vosso território.trata-se de testemunhar com a vida a vossa fé em Cristo e a confiança total que nele depositais. na colaboração e na co-responsabilidade a todos os níveis: entre presbíteros. O Espírito do Senhor ressuscitado. . uma graça. não faltam dificuldades. para além de toda a aparência contrária. . Homilias de Sua Santidade Bento XVI Ano de 2007 . e ouve-o pronunciar com terna doçura pela sua Mãe. no sentido mais verdadeiro. Maria é mãe. mas mãe virgem. 4). Invoca a paz para o mundo. Mas não entrou o Verbo eterno no tempo próprio por meio de Maria? Recorda-o o apóstolo Paulo na segunda Leitura. como os Evangelhos no-lo apresentam. como o meu venerado predecessor. diversos factos e realidades messiânicas. e fá-lo através de Maria. Por fim. Oito dias depois do nascimento de Jesus.FESTA DA MÃE DE DEUS XL DIA MUNDIAL DA PAZ HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Segunda-feira 1° de Janeiro de 2007 Queridos irmãos e irmãs! A liturgia de hoje contempla. e a todos confiou da cruz à sua solicitude materna. e repete que nasceu da Virgem. como num mosaico. pessoa divina. mediadora e cooperadora de Cristo (cf. cf. Na liturgia de hoje sobressai a figura de Maria. Gl 4. A liturgia medita hoje sobre o Verbo feito homem. a paz de Cristo. a solenidade não celebra uma ideia abstracta. a Theotókos. mas virgem mãe. a qual é. Maria é Mãe espiritual de toda a humanidade. Maria é virgem. durante o Concílio Vaticano II. que é um ulterior período de tempo que nos é oferecido pela Providência divina no contexto da salvação inaugurada por Cristo. o Servo de Deus Paulo VI quis proclamar a 21 de Novembro de 1964. porque Jesus derramou o seu sangue na cruz por todos. aquela que "deu à luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos dos séculos" (Antífona de entrada. sua mãe. 60-61). Maria é também Mãe da Igreja. Reflecte sobre a circuncisão de Jesus como rito de agregação à comunidade. Lumen gentium. Começamos um novo ano solar. Sedúlio). Homem-Deus. mas um mistério e um acontecimento histórico: Jesus Cristo. nasceu da Virgem Maria. Recorda o nome dado ao Messias. porque se integram e se qualificam reciprocamente. Mãe de Deus. mas a atenção concentra-se particularmente sobre Maria. Portanto. Se omitirmos um dos dois aspectos não se compreende plenamente o mistério de Maria. Mãe de Cristo. Tratase de duas prerrogativas que são sempre proclamadas juntas e de maneira inseparável. . e contempla Deus que deu o seu Filho Unigénito como chefe do "novo povo" por meio de Maria. que escutámos há pouco. verdadeira Mãe de Jesus. afirmando que Jesus nasceu "de uma mulher" (cf. recordamos a Mãe. Além da maternidade hoje é posta em evidência também a virgindade de Maria. está revestido da mesma dignidade de pessoa. infelizmente sempre presentes. 16). Trata-se de um compromisso que compete de maneira peculiar ao cristianismo. meu Secretário de Estado. cultura nem religião. Neste clima de oração e de gratidão ao Senhor pelo dom de um novo ano. que este ano tem como tema: "A pessoa humana. que quiseram participar nesta solene celebração. com frequência esquecidos pela vasta opinião pública. Precisamente porque criado à imagem e semelhança de Deus (cf. chamado "a ser incansável promotor de paz e acérrimo defensor da dignidade da pessoa humana e dos seus direitos inalienáveis" (Ibid. sem distinção de raça. coração da paz". Por isso. Gn 1. face ao prevalecer de conflitos armados. mas "na mesma . para que em nome de Deus se construa um mundo no qual os direitos fundamentais do homem sejam respeitados por todos. para ser duradouro. deve ser respeitado. Os votos que formulo diante dos representantes das Nações aqui presentes são por que a Comunidade internacional una os próprios esforços. a habitual Mensagem. Saúdo cordialmente o Cardeal Tarcisio Bertone. que continuam a persistir em diversas regiões da terra. o dia no qual se resolva definitivamente o conflito em acto que perdura há demasiado tempo? Um acordo de paz. Mas para que isto se realize é necessário que o fundamento destes direitos seja reconhecido não em simples acordos humanos. iniciemos portanto este novo ano. diante das situações de injustiça e de violência. e ao perigo do terrorismo que perturba a serenidade dos povos. é "simultaneamente um dom e uma missão" (n.. recordei na Mensagem. sinto-me feliz por dirigir o meu pensamento deferente aos ilustres Senhores Embaixadores do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé. como se fosse um objecto.Olhando para Maria. construindo a paz. Estou profundamente convicto de que "respeitando a pessoa se promove a paz e. Saúdo o Cardeal Renato Raffaele Martino e os componentes do Pontifício Conselho "Justiça e Paz". como uma ocasião providencial para contribuir para a realização do Reino de Deus. expressando-lhes o meu profundo agradecimento pelo compromisso com que promovem quotidianamente estes valores tão fundamentais para a vida da sociedade. que recebemos das mãos de Deus como um "talento" precioso para fazermos frutificar. tarefa que devemos realizar com coragem sem nunca nos cansarmos. Face às ameaças à paz. Por ocasião do Dia Mundial da Paz. assim como a todos os homens e mulheres de boa vontade. Como não dirigir o olhar mais uma vez para a dramática situação que caracteriza precisamente aquela Terra onde nasceu Jesus? Como não implorar com oração insistente que também naquela região chegue o mais depressa possível o dia da paz. 27). 1). 3): dom que devemos invocar com a oração. torna-se como nunca necessário comprometer-se juntos pela paz. 16). A narração evangélica que ouvimos mostra o cenário dos pastores de Belém que se dirigem à gruta para adorar o Menino. Esta. e jamais razão alguma pode justificar que se disponha dele a seu bel-prazer. assentam-se as premissas para um autêntico humanismo integral" (Mensagem. cada indivíduo humano. deve basear-se sobre o respeito da dignidade e dos direitos de cada pessoa. dirigi aos Governantes e aos Responsáveis das Nações. Lc 2. depois de ter recebido o anúncio do Anjo (cf. Is 60. "O Senhor te abençoe e te guarde!.). "manifestação" de Cristo às Nações. o Messias anunciado pelos profetas. A glória do Senhor resplandece sobre a Cidade santa e atrai antes de tudo os seus filhos deportados e dispersos.26). 1-6).. 24. se os elementos constitutivos da dignidade humana são confiados às variáveis opiniões humanas. Isto preservá-los-á do risco. mesmo se proclamados solenemente. Na primeira Carta ouvimos o profeta. De facto. Por isso. que. indica aquele conjunto de bens em que consiste "a salvação" que trouxe Cristo. cuja última palavra é "paz". Mãe de Deus. infelizmente sempre latente. Peçamos-lhe que ilumine os nossos olhos. personagens misteriosas que vieram do Oriente. acabam por se tornar frágeis e com diversas interpretações. Ele fez-se homem e nasceu numa gruta em Belém para trazer a sua paz aos homens de boa vontade. portanto. O Senhor volte para ti a sua face e te dê paz! (Nm 6. 13). que nos ajude a acolher o Filho e.. Isto significa a intensidade e a força da bênção. A paz é assim verdadeiramente o dom e o compromisso do Natal: o dom. enriquecendo-a com os seus bens (cf. no meio das trevas e entre as neblinas da terra. de resvalar para uma interpretação meramente positivista" (Ibid. para que saibamos reconhecer o Rosto de Cristo no rosto de cada pessoa humana. contemplar Jerusalém como um farol de luz. n'Ele. que deve ser acolhido com humilde docilidade e invocado constantemente com orante confiança. Pedimos a Maria. que são representadas pelos Magos. É esta a fórmula de bênção que ouvimos na primeira Leitura. também os seus direitos. Na segunda Leitura foi-nos reproposto o que o apóstolo Paulo escreveu .natureza do homem e na sua inalienável dignidade de pessoa criada por Deus" (Mensagem. que faz de cada pessoa de boa vontade um "canal de paz". a verdadeira paz. inspirado por Deus. orienta o caminho de todos os povos. nós cristãos reconhecemos n'Ele o Príncipe da paz. coração da paz! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI POR OCASIÃO DA SANTA MISSA NA SOLENIDADE DA EPIFANIA Solenidade da Epifania do Senhor Sábado 6 de Janeiro de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Celebramos com alegria a solenidade da Epifania. mas ao mesmo tempo também as nações pagãs. o compromisso. "É. É tirada do livro dos Números: nela é repetida três vezes o nome do Senhor. meta da peregrinação dos povos em busca da salvação. A palavra bíblica shalom. que de todas as partes vêm a Sião como uma prática comum. aos que o acolhem com fé e amor. importante que os Organismos internacionais não percam de vista o fundamento natural dos direitos do homem. que traduzimos por "paz". Celebramos Cristo. sobressaiu impelente. o servo de Deus Paulo VI. a partir da manifestação de um Deus que se revelou na história como luz do mundo. por iniciativa amorosa de Deus. hoje.aos Efésios. onde o centro já não podia continuar a ser a Europa e nem sequer aqueles a que chamamos o Ocidente e o Norte do mundo. justiça e paz. luz do mundo. se não nos podemos aproximar de novo de Deus e encontrar Deus entre nós. no início do terceiro milénio encontramo-nos no âmago desta fase da história humana. Daqui a pouco no Prefácio cantaremos: "Hoje em Cristo luz do mundo / Tu revelaste aos povos o mistério da salvação". logo após o Concílio. a 26 de Março de 1967. Na verdade. Esta constatação impunha-se com evidência crescente. A solenidade de hoje pode oferecer-nos esta perspectiva. pensando no mundo actual. que já está tematizada na palavra "globalização". há precisamente quarenta anos. precisamente porque estamos envolvidos nele: um risco grandemente fortalecido pela mídia. que precisamente o convergir de Judeus e Gentios. E apraz-me acrescentar que. gostaria de voltar aquanto disseram em relação a isto os Padres do Concílio Vaticano II. onde reinarão liberdade. Já antes do Concílio Vaticano II consciências iluminadas de pensadores cristãos tinham intuído e enfrentado este desafio epocal. Sobressaía a exigência de elaborar uma nova ordem mundial política e económica. E vemos cada vez mais que não podemos promover . uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal missão está ainda no começo" (cf. que. Cristo ainda é lumen gentium. Ef 3. a partir do vértice da sua hierarquia.5-6). a "graça" de que Deus o tinha constituído ministro (cf. um renovado humanismo. mas ele ainda não chegou ao seu cumprimento. espiritual e cultural. ao iniciar a sua Encíclica sobre a missão da Igreja. Surgem então espontâneas algumas perguntas: em que sentido. 1). No coração da Igreja. o desejo de uma nova epifania de Cristo para o mundo. todo o Concílio Vaticano II foi movido pelo anseio de anunciar à humanidade contemporânea Cristo. um mundo que a época moderna tinha transformado profundamente e que pela primeira vez na história se encontrava a fazer frente ao desafio de uma civilização global. na única Igreja de Cristo era "o mistério" manifestado na plenitude do tempo. por outro parecem enfraquecer as nossas capacidades de uma síntese crítica. luz das nações? A que ponto chegou se assim se pode dizer este itinerário universal dos povos em direcção a Ele? Está numa fase de progresso ou de regresso? E ainda: quem são hoje os Magos? Como podemos interpretar. mas ao mesmo tempo e sobretudo. dedicou ao desenvolvimento dos povos a Encíclica Populorum progressio. hoje damonos conta de como é fácil perder de vista os termos deste mesmo desafio. Pois bem. uma nova ordem mundial económica e política não funciona se não há uma renovação espiritual. estas misteriosas figuras evangélicas? Para responder a estas perguntas. se por um lado multiplica indefinidamente as informações. Transcorreram vinte séculos desde quando este mistério foi revelado e realizado em Cristo. O amado Predecessor João Paulo II. suscitado pelo Espírito Santo. para guiar e introduzir finalmente a humanidade na terra prometida. isto é. 2-3a. escreveu que "no final do segundo milénio. Por outro lado. isto é. Redemptoris missio. E é Cristo. Gostaria hoje de fazer minhas aquelas Mensagens conciliares. isto é. que é o Pai dos homens. que se nos apresenta na manjedoura de Belém. continuam os Padres conciliares. na Mensagem dirigida aos Governantes. que veio para nos dizer e fazer compreender que todos somos irmãos. definitivamente. e encontremos com o desejo de procurar ainda". aprofundar e doar aos outros. Não há só a peregrinação do homem para Deus. Mas não vos esqueçais: é Deus. o Deus vivo e verdadeiro. que nada perderam da sua actualidade. a segunda "Aos homens de pensamento e de ciência". possuindo a verdade. mostra-nos Deus que por sua vez está em peregrinação em direcção ao homem. por assim dizer. a 8 de Dezembro de 1965. muitas vezes um pouco confundida que. Felizes os que. na "Mensagem aos homens de pensamento e de ciência". a continuam a procurar. Queridos irmãos e irmãs. a não ser Deus que saiu. a científica e a religiosa. quando os Padres conciliares dirigiram à humanidade inteira algumas "Mensagens". o próprio Deus se pôs a caminho em direcção a nós: quem é de facto Jesus. Refiro-me às guias espirituais das grandes religiões não cristãs. voltemos àquele momento de especial graça que foi a conclusão do Concílio Vaticano II. podemos portanto reconhecer nas figuras dos Magos uma espécie de prefiguração destas três dimensões constitutivas do humanismo moderno: a dimensão política. . sem jamais desesperar da verdade" é este de facto o grande perigo: perder o interesse pela verdade e procurar apenas o agir. sem nunca renunciar. por amor. que pode transformar a história das Nações e do mundo? E ainda. à qual o Concílio não dirigiu mensagem alguma mas que esteve muito presente na sua atenção na Declaração conciliar Nostra aetate. fez-se história na nossa história. por amor veio trazer-nos o germe da vida nova (cf. não a tendo encontrado. a eficiência. 3-6) e lançá-la nos sulcos da nossa terra. o único. seu Filho eterno. se lê: "Compete a vós. de si mesmo para vir ao encontro da humanidade? Ele. A primeira destinavase "Aos Governantes". num movimento de pesquisa. os promotores da ordem e da paz entre os homens. mesmo se algumas vezes a estrela se esconde. Como por exemplo onde. É Ele. tem o seu ponto de chegada em Cristo. porque é Ele que conduz a história humana e que. e a que ponto está a sua e a nossa "viagem?". para a renovar. Como não reconhecer nestas palavras dos Padres conciliares o vestígio luminoso de um caminho. São duas categorias de pessoas que de certa forma podemos ver representadas nas figuras evangélicas dos Magos. lemos: "Continuai a pesquisar. se não se nos manifesta a luz de um Deus que nos mostra o seu rosto. floresça e dê fruto. Jo 3. o pragmatismo! "Recordai-vos. que nos aparece na Cruz.sozinhos a justiça e a paz. Quem são portanto os "Magos" de hoje. para que germine. Santo Agostinho: "Procuremos com o desejo de encontrar. Gostaria de acrescentar a terceira. ser na terra. pode induzir os corações a renunciar às paixões pervertidas que geram a guerra e o sofrimento". caminham rumo a ela de coração sincero: que eles procurem a luz futura com a razão de hoje. o grande artífice da ordem e da paz na terra. Felizes os que. A Epifania no-lo mostra em estado de "peregrinação". até à plenitude da luz!". À distância de dois mil anos. das palavras de um vosso grande amigo. Ao mesmo tempo. Mas também a estrela não teria sido suficiente. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA FESTA DO BAPTISMO DO SENHOR . que contribuíram para edificar a humanidade com a sua sabedoria e com os seus exemplos de virtudes. Mt 2. espelhando-se em Maria. a todos os homens do nosso tempo. que eles tinham visto "surgir" e que tinha parado precisamente ali onde se encontrava o Menino (cf. Ele é o Tudo e a Igreja existe unicamente para permanecer unida a Ele e dá-Lo a conhecer ao mundo. Assim seja. esclarecer. povos da terra. Os Chefes dos povos. Mt 2. comportaram-se como os pastores de Belém: reconheceram o sinal e adoraram o Menino. Queridos irmãos e irmãs. ninguém tenha receio de Cristo e da sua mensagem! E se ao longo da história os cristãos. Exigente e sempre actual antes de tudo para a Igreja que. Ajudenos a Mãe do Verbo encarnado a sermos discípulos dóceis do seu Filho. 9). mas na pobreza de uma cabana em Belém (cf. Como foi possível? Que convenceu os Magos que aquele menino era "o rei dos Judeus" e o rei dos povos? Certamente persuadiu-os o sinal da estrela. deixai-vos arrebatar pelo seu amor e encontrareis o caminho da paz. ao ouvir estas palavras dos Magos. convidando-os a confrontar-se com a luz de Cristo. se os Magos não fossem pessoas intimamente abertas à verdade. está chamada a mostrar Jesus aos homens. "Vimos a sua estrela no oriente e viemos para adorar o Senhor" (Aclamação ao Evangelho. Deixai-vos iluminar por Ele. não no quadro de um palácio real.Isto foi dito nas duas Mensagens conciliares. nada mais do que Jesus. revelar. que veio não para abolir. Luz das nações. os Magos propendiam para a meta da sua busca. por vezes o traíram com os seus comportamentos. De facto. sendo homens limitados e pecadores. cf. devem apoiar-se com os representantes das grandes tradições não cristãs. oferecendo-lhe os dons preciosos e simbólicos que tinham levado consigo. O exemplo dos Magos de então é um convite também para os Magos de hoje a abrir as mentes e os corações e a oferecer-lhe os dons da sua busca. Ele contém uma mensagem exigente e sempre actual. Cristo é luz. os pesquisadores e os cientistas. O que nos surpreende sempre. mas para levar a cumprimento o que a mão de Deus escreveu na história religiosa das civilizações. mas apenas iluminar. e quando a encontraram. hoje mais do que nunca. 2). detenhamo-nos também nós idealmente diante do ícone da adoração dos Magos. e a luz não pode obscurecer. A eles. Portanto. 11). Ao contrário do rei Herodes. sobretudo nas "grandes almas". gostaria de repetir hoje: não tenhais medo da luz de Cristo! A sua luz é o esplendor da verdade. tomado pelos seus interesses de poder e de riquezas. mesmo sendo homens cultos. é que eles se prostaram em adoração diante de um simples menino nos braços da sua mãe. isto faz sobressair ainda mais que a luz é Cristo e que a Igreja a reflecte unicamente permanecendo unida a Ele. Mt 2. 22). 21). Cada filho que nasce. sobre estas nossas crianças que. mas uma realidade. E do céu voltemos ao Evangelho naquele dia desceu uma voz que disse a Jesus: "Tu és o meu Filho muito amado" (Lc 3. Deus confia-o aos seus pais: então. nesta maravilhosa Capela Sistina. celebração que. um dom a acolher com amor e a conservar com cuidado. os torna seus filhos. na comunhão com o Pai. o Evangelista diz-nos que o céu se abriu acima do Senhor em oração. como eu dizia. O Baptismo é adopção e assunção na família de Deus. o Baptismo de treze crianças. amorosamente cuidado por Maria e José. Neste momento podemos pensar que o céu está aberto também aqui. onde estes pequeninos possam crescer não apenas em boa saúde. Tendo também Ele recebido o Baptismo. Há pouco ouvimos a narração do Evangelista Lucas. O tempo de Natal. que apresenta Jesus confundido no meio do povo. onde a criatividade de Michelangelo e de outros artistas insignes soube realizar obras-primas que ilustram os prodígios da história da salvação. Quanto mais vivemos em contacto com Jesus na realidade do nosso Baptismo. através do sacramento do Baptismo. O céu abre-se sobre nós no Sacramento. fez-nos contemplar o Menino Jesus na pobre gruta de Belém. Além disso. "estava diz-nos São Lucas em oração" (3. entram em contacto com Jesus. Jesus fala com o seu Pai. de paciência e de harmonia para todas as famílias cristãs. Cada criança que nasce traz-nos o sorriso de Deus e convida-nos a reconhecer que a vida é uma sua dádiva. Jesus entra em contacto com o Pai e o céu abre-se sobre Ele. Exactamente por isso o Baptismo deve ser administrado em nome da Santíssima Trindade. Rezo ao Senhor para que também as vossas famílias sejam lugares hospitaleiros. enquanto vai ter com João Baptista para ser baptizado. que termina precisamente hoje. sempre e em cada momento. mas inclusive na fé e no amor a Deus que hoje. mediante o Baptismo. onde vive a Sagrada Família. falou inclusive de mim.Domingo. E gostaria de saudar em primeiro lugar todos vós que estais aqui presentes: os pais. mas também de nós e por nós. 7 de Janeiro de 2007 Estimados irmãos e irmãs Encontramo-nos novamente este ano para uma celebração muito familiar. de cada um de nós e por cada um de nós. com o Filho e com o Espírito Santo. os padrinhos e as madrinhas. Estas palavras não são apenas uma fórmula. tanto mais o céu se abre sobre nós. berço da vida e do amor! A casa de Nazaré. No Baptismo. é modelo e escola de simplicidade. E estamos convictos de que Ele falou não só por si mesmo. . na comunhão com a Santíssima Trindade. O rito do Baptismo destas crianças realiza-se no dia em que celebramos a festa do Baptismo do Senhor. o Pai celeste repete estas palavras também a cada uma destas crianças. como é importante a família fundada no matrimónio. os parentes e os amigos que acompanham estes recém-nascidos num momento tão importante para a sua vida e para a Igreja. encerra o tempo de Natal. Ele diz: "Tu és o meu filho". corpo e alma. mas nesta família que Ele constitui para si há também uma Mãe. Pois bem. De filhos de pais humanos que são. Mas agora temos que voltar ao Evangelho. A família de Deus constrói-se na realidade concreta da Igreja. da fecundidade. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo" (Lc 3. Com estas palavras. um orientar-se do homem para Deus. um acto de penitência. agora. impõe-se a pergunta: em que consiste o fogo a que São João Baptista se refere? Para ver esta realidade do fogo. Tertuliano queria dizer que Cristo jamais existe sem a Igreja. 16). uma simples decisão subjectiva que eu tomo. Num escritor eclesiástico dos séculos II-III. porém. se não tiver também a Igreja como Mãe. Ele afirma: "Cristo nunca existe sem água". onde João Baptista diz: "Eu baptizo-vos em água. em que a matéria é adquirida e começa a fazer parte da acção divina. E assim. com a oração para . é assunção na família da Igreja e. em que São Paulo nos diz: somos salvos "em virtude da misericórdia de Deus. mediante um novo nascimento e renovação no Espírito Santo" (Tt 3.. nos inserimos como irmãos e irmãs na realidade da Igreja. poderíamos dizer mesmo algo material. No Baptismo cristão. A espiritualidade do homem investe o homem na sua totalidade. podemos recitar o "Pai-Nosso" ao nosso Pai celestial. enquanto filhos de Deus. Para os Padres da Igreja. contemporaneamente. A acção de Deus em Jesus Cristo tem uma eficácia universal. A água é o elemento da fecundidade. Toda a realidade da terra é interpelada. Agora podemos perguntar por que motivo precisamente a água é o sinal desta totalidade. não é apenas algo espiritual. mas vai chegar alguém mais forte do que eu. já diziam os antigos escritores cristãos. 5). Assim vemos novamente que o cristianismo não é uma realidade somente espiritual. instituído por Cristo. Tertuliano. mas que é algo concreto. devemos observar que o Baptismo de João era um gesto humano. No Baptismo somos adoptados pelo Pai celeste. O Baptismo não diz respeito exclusivamente à alma. O homem não poderá ter Deus como Pai.. em todas as grandes religiões a água é vista como símbolo da maternidade. O Baptismo não é somente uma palavra. mas implica inclusive a matéria. individual. inserção como irmãos e irmãs na grande família dos cristãos. um caminhar para Deus com as próprias forças. a Igreja-Mãe. E somente se. Cristo adquire a carne e isto continua nos sacramentos. Mas agora devemos meditar sobre as palavras da segunda leitura desta liturgia. passam a ser também filhos de Deus no Filho de Deus vivo. A distância seria demasiado grande. Em Jesus Cristo vemos que Deus vem ao nosso encontro. não agimos sozinhos com o desejo de sermos purificados. Sem água não há vida.Assinalam o momento em que os vossos filhos renascem como filhos de Deus. Um novo nascimento. Era somente um desejo humano. isto não é suficiente. com a finalidade de pedir perdão pelos pecados e a possibilidade de começar uma nova existência. A adopção como filhos de Deus. Esta prece supõe sempre o "nós" da família de Deus. a água torna-se o símbolo do seio materno da Igreja. encontra-se uma palavra surpreendente. do Deus trinitário. Vimos a água. presente no Baptismo com a água. é Jesus que age através do Espírito Santo. Ele assume e torna os seus filhos vossos filhos. nosso Salvador. da comunidade eclesial. Ensinai-os a rezar e a sentir-se membros activos da família de Deus concreta. a amá-lo com todas as forças e a servi-lo fielmente. a oração que constitui o segredo da perseverança cristã. não esqueçais que é o vosso testemunho. Por isso. são ainda incapazes de colaborar. Estes vossos filhos. que imprimiu o seu selo nas nossas almas. Naturalmente. Estas duas coisas devem caminhar juntas. Sede os seus primeiros educadores na fé. Sobretudo. adquire valor e significado particulares a vossa presença. que agora baptizaremos. a fim de que possam realizar até ao fim o projecto de salvação que Deus tem para cada um. Vigiai sempre sobre estes vossos pequeninos para que. Ele age somente com a nossa liberdade. convidanos a cooperar com o fogo do Espírito Santo. Ele contém os elementos essenciais da nossa fé e poderá ser instrumento mais útil e imediato do que nunca para crescerdes. Não podemos renunciar à nossa liberdade. padrinhos e madrinhas. queridos pais e mães. no conhecimento da fé católica e para a poder transmitir integral e fielmente aos vossos filhos. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA FESTA DE CONVERSÃO DO APÓSTOLO SÃO PAULO Basílica de São Paulo Fora dos Muros Quinta-feira. Deus interpela a nossa liberdade. O Baptismo permanecerá durante toda a vida um dom de Deus. apresentado na hodierna liturgia como o Filho predilecto de Deus. Embora tomados pelas actividades quotidianas muitas vezes frenéticas. No Baptismo é o próprio Deus que age. Mas depois será a nossa cooperação. É Deus que age. o vosso exemplo. a disponibilidade da nossa liberdade a dizer o "sim" que há-de tornar eficaz a acção divina. vós mesmos. Podereis receber uma contribuição importante do estudo atento do Catecismo da Igreja Católica ou do Compêndio deste mesmo Catecismo. oferecendo juntamente com os ensinamentos também os exemplos de uma vida cristã coerente. não deixeis de cultivar. que incide em maior medida sobre o amadurecimento humano e espiritual da liberdade dos vossos filhos.alcançar o perdão. crescendo. No Baptismo cristão está presente o fogo do Espírito Santo. e não apenas nós. Deus não age de modo mágico. aprendam a conhecer Deus. 25 de Janeiro de 2007 . À Virgem Mãe de Deus. de manifestar a sua fé. confiemos estas crianças e as suas famílias: que vele Maria sobre elas e as acompanhe sempre. e a vossa. Deus está presente aqui e hoje. pessoalmente e em família. Esta mensagem encontra-se em toda a pregação e obra de Jesus. deixando a região de Tiro.Estimados irmãos e irmãs Durante a "Semana de Oração". mas da palavra criadora que provém da boca de Deus. Ele diz que "uma só é necessária" (Lc 10. As situações de racismo. . "tanto mais eles o apregoavam" (Mc 7. provavelmente a língua das pessoas presentes e do próprio surdo-mudo. 36). Com efeito. a Marta preocupada com muitas coisas. 56). expressão que o Evangelista traduz em grego ("dianoíchtheti"). a escuta da Palavra de Deus é prioritária para o nosso compromisso ecuménico. também na Decápole apresentam um doente a Jesus. são contrárias ao desígnio de Deus. consequência do pecado. É uma situação emblemática também nos dias de hoje. A este propósito. que atravessava as aldeias. se dirige para o lago da Galileia. cidades ou campos e. E de tal contexto resulta que esta única coisa é a escuta obediente da Palavra. onde quer que entrasse. 37). Os ouvidos do surdo-mudo abriram-se. tema bíblico proposto pelas Comunidades cristãs da África do Sul. ordena: "Abre-te!". Mc 7. Ouvir a Palavra de Deus em conjunto. "colocavam os doentes nas praças e rogavam-lhe que os deixasse tocar pelo menos as franjas das suas vestes. Jesus recomenda que nada se diga acerca do milagre. de exploração. E o comentário admirado de muitas pessoas que tinham assistido reitera a pregaçao de Isaias para o advento do Messias: "Faz ouvir os surdos e falar os mudos" (Mc 7. de conflito. não poder ouvir nem falar. ou seja. não pode constituir um sinal de falta de comunhão e um sintoma de divisão? A divisão e a incomunicabilidade. A cura do surdo-mudo. na perspectiva crista. e rogam-lhe que imponha as mãos sobre ele. 31). Com efeito. de doença e de sofrimento em que elas se encontram. E quantos o tocavam ficavam curados" (Mc 6. Como noutras regiões. Meditemos juntos sobre as palavras do Evangelho de Marcos. região multiétnica e plurirreligiosa (cf. 28). suscitam nas mesmas uma forte exigência de ouvir a palavra de Deus e de falar com coragem. a escuta é prioritária. Pronuncia esta ordem em aramaico ("Effathá!"). sobre a qual meditamos nestes dias. Jesus afirma de modo explicito: "Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática" (Lc 11. voltando os olhos para o céu. A Igreja não se faz a si mesma e não vive por si própria. que anuncia a vinda do Reino de Deus e a cura da incomunicabilidade e da divisão. porque "falar" e "ouvir" são condições essenciais para construir a civilização do amor. quanto mais o recomendava. um homem surdo e tartamudo ("moghílalon"). Por isso. evocado também no rito do baptismo é que. que se encerra esta tarde. não somos nós que realizamos ou organizamos a unidade da Igreja. ser surdo-mudo. As palavras "Faz ouvir os surdos e falar os mudos" constituem uma boa notícia. porque o consideram um homem de Deus. Jesus afasta-se com o surdo-mudo para longe da multidão e realiza gestos que significam um contacto salvífico mete-lhe os dedos nos ouvidos e com a sua saliva toca a língua do doente e em seguida. intensificou-se nas várias Igrejas e Comunidades eclesiais do mundo inteiro a comum invocação ao Senhor pela unidade dos cristãos. de pobreza. 37). Antes. No corrente ano a África ofereceu-nos um tema de reflexão de grande importância religiosa e política. soltou-se a prisão da sua língua "e falava correctamente" ("orthos"). Todavia. há pouco proclamadas: "Faz ouvir os surdos e falar os mudos" (Mc 7. O primeiro ensinamento que tiramos deste episódio bíblico. atravessando o território da chamada "Decápole". pela própria impossibilidade de se fazer compreender nas suas suas necessidades. 42). acontece quanto Jesus. é indispensável "expor com toda a clareza a doutrina completa" em vista de um diálogo que enfrente. É quanto os cristãos do mundo inteiro realizam durante esta "Semana" especial. que são válidas para todos. como resposta à escuta da Palavra. ao mesmo tempo. Além disso. na escuta da Palavra. aceitando as suas exigências. elevando a sua oração confiante a fim de que todos os discípulos de Cristo sejam um só e para que. O diálogo ecuménico exige a correcção evangélica fraternal e leva a um recíproco enriquecimento espiritual na partilha das autenticas experiências de fé e de vida crista. que estão a participar na presente celebração. ou seja. Efectivamente. o diálogo entre as Igrejas e as Comunidades eclesiais. mas acrescentaram uma perspectiva relativa à própria Igreja católica: "Deste diálogo afirma o texto do Concilio surgirá mais claramente qual é a verdadeira situação da Igreja católica" (Unitatis redintegratio. Neste clima de intensa comunhão. Mt 13. aos religiosos. O Decreto do Concilio Vaticano II sobre o Ecumenismo salientou o facto de que se os cristãos não se conhecerem reciprocamente nem sequer será imaginável alcançar progressos no caminho da comunhão. com a graça de Deus. aos venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio. é preciso implorar incansavelmente a assistência da graça de Deus e a iluminação do Espírito Santo. ao Senhor Cardeal Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. a leitura ligada à oração. que representam toda a comunidade diocesana de Roma. De modo especial. assim como em todas as circunstâncias oportunas. que nunca envelhece e jamais se esgota. Devemos perguntar-nos: nós. ou a quem a esqueceu e sepultou sob os espinhos das preocupações e dos enganos do mundo (cf. como fizeram aqueles que eram as testemunhas da cura do surdo-mudo na Decápole? O nosso mundo tem necessidade deste testemunho. tudo isto constitui um caminho a percorrer para alcançar a unidade na fé. aos Monges beneditinos. Por isso. Na escuta e no diálogo. Para que isto aconteça. podemos convergir para a sua Palavra. desejo dirigir a minha cordial saudação a todos os presentes: ao Senhor Cardeal Arcipreste desta Basílica. no diálogo ouvimos e comunicamo-nos uns com os outros. àqueles que nunca a ouviram.praticar a lectio divina da Bíblia. debata e vença as divergências existentes entre os cristãos mas. possam dar um testemunho concorde aos homens e às mulheres do nosso tempo. Sem dúvida. ou que farão na Novena que precede o Pentecostes. quem se coloca à escuta da Palavra de Deus pode e deve falar e transmiti-la aos outros. espera sobretudo o testemunho conjunto dos cristãos.. na comunhão dos fiéis de todos os tempos. renovando a significativa tradição de concluir em conjunto a "Semana de Oração" no . O diálogo honesto e leal constitui o instrumento imprescindível da busca da unidade. deixar-se surpreender pela novidade da Palavra de Deus. confrontamo-nos e. cristãos. ouvir e estudar. e aos demais Cardeais. n. às religiosas e aos leigos. É necessário falar correctamente (orthos) e de maneira compreensível. superar a nossa surdez por aquelas palavras que não concordam com os nossos preconceitos e as nossas opiniões. 11). a escuta de Deus que fala implica também a escuta uns dos outros. não nos tornamos porventura demasiado mudos? Não nos falta acaso a coragem de falar e de testemunhar. 22). 9). "o modo e o método de enunciar a fé católica não devem de forma alguma servir de obstáculo ao diálogo com os irmãos" (Ibid. gostaria de saudar os Irmãos das outras Igrejas e Comunidades eclesiais. os Padres conciliares não entreviram uma utilidade que visa exclusivamente o progresso ecuménico. À intercessão de São Paulo. quanto antes. Damos graças a quantos contribuíram para intensificar o diálogo ecuménico com a oração. Seguindo o exemplo de Don Bosco teria desejado viver a sua vocação de salesiano em contacto directo com a juventude. com uma intervenção adequada na área subjacente ao altar-mor. animada pela juventude do seu acentuado espírito missionário.dia em que comemoramos a fulgurante conversão de São Paulo no caminho de Damasco. o amado e venerado Cardeal Antonio María Javierre Ortas. Manifesto as minhas congratulações por esta importante iniciativa. Encontrouse circundado. As palavras do idoso Simeão que estreita entre os seus braços o Menino Jesus. com esta celebração. Ele foi assim apóstolo nos ambientes da Universidade e da Cúria Romana. conservando sempre a esperança que o Senhor nos infunde. tanto com as Igrejas do Oriente como as Igrejas e as Comunidades eclesiais do Ocidente. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENE CONCELEBRAÇÃO DAS EXÉQUIAS DO CARDEAL ANTONIO MARÍA JAVIERRE ORTAS Basílica Vaticana. para que o mundo creia" (Jo 17. Nascido em Siétamo. pensando neste nosso Irmão que chegou ao ocaso da sua vida terrena. dia seguinte à memória litúrgica de São João Bosco. que pudemos experimentar nos numerosos encontros fraternais e nos diálogos promovidos ao longo do ano de 2006. Senhor. 21). deixarás ir em paz o teu servo" (Lc 2. no dia em que a liturgia recorda a Apresentação do Senhor no Templo. À sua família religiosa une-se hoje a Cúria Romana. em terra de missão. Façamos nossas estas palavras.. pela oração coral de sufrágio que os Salesianos costumam elevar pelos Irmãos e Irmãs defuntos precisamente no dia depois da festa do Fundador. É a oração que a Igreja eleva a Deus quando cai a noite. possa realizar-se o ardente anseio de unidade do seu Filho divino: "Para que todos sejam um só. junto do qual nos encontramos. mas a Providência chamou-o para outras funções. a 21 de Fevereiro de 1921. sem perder ocasião alguma para desempenhar uma intensa actividade espiritual no âmbito mais propriamente teológico e no mais amplo da . segundo a tua palavra. unem-se os parentes e os amigos. teve em dom uma longa existência. depois dos quais se desejou torná-lo visível aos peregrinos. enquanto acompanhamos o Cardeal Javierre Ortas na sua viagem rumo à casa do Pai. e é muito significativo recordá-la hoje. partiu para o Céu um seu filho espiritual. incansável construtor da unidade da Igreja. tiradas do seu diário espiritual. Nestes acontecimentos foi possível sentir a alegria da fraternidade. "Misericordias Domini in aeternum cantabo. com a oferta do seu sofrimento e com a sua obra incansável.. Estou feliz por evidenciar o facto de que o sepulcro do Apóstolo das Nações. juntamente com a tristeza pelas tensões que subsistem. na Diocese de Huesca. 2 de Fevereiro de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Ontem. A Virgem Maria faça com que. ressoam nesta circunstância com particular emoção: "Nunc dimittis servum tuum Domine. confio os frutos da escuta e do testemunho conjunto.. secundum verbum tuum in pace Agora. É sobretudo ao nosso Senhor Jesus Cristo que damos graças fervorosas por tudo. recentemente foi objecto de investigações e de estudos. 29). no momento da sua partida. Cristo actualiza em plenitude o seu único Sacerdócio". sobretudo animando grupos de professores e de religiosos. Esta é uma das expressões de Jesus que encerram numa síntese todo o seu mistério. Na expectativa de partilhar também nós. sempre disponível e cordial. É uma alegria reviver os sentimentos da nossa ordenação. Filho da pátria de Santa Teresa e de São João da Cruz. Santidade.. / Quen a Dios tiene / nada le falta /. quantas vezes rezou no seu coração: "Nada te turbe. Sim. o cântico que ressoou no Salmo responsorial: "Dominus pascit me. É confortador ouvi-la e meditá-la enquanto rezamos pela alma sacerdotal que encontrou na Eucaristia o centro da sua vida. a nós que ainda somos peregrinos com ele que já chegou à meta. O seu foi um serviço eclesial. / nada te espante. e o pão que Eu hai-de dar é a minha carne. o querido Cardeal defunto participa com alegria da mesa celeste. mas também pelo afecto à sua venerada pessoa. sacramento do Sacrifício. este eterno convívio de amor. Depois. Agora. ibi me collocavit" (Sl 22. por ocasião do 50º aniversário da sua Ordenação sacerdotal. deixou-nos de modo bastante imprevisto. 4). A comunhão sacramental. 51). Cuente. Ressoam no coração as palavras de Cristo que escutámos há pouco no Evangelho: "Eu sou o pão vivo. ele escreveu: "Huelga repetir en esta ocasión mi voluntad incondicionada de servicio. íntima e perseverante. De facto. ele experimenta em cada momento quanto o salmista afirma com confiança: "Nam et si ambulavero in valle umbrae mortis. e que este nosso Irmão escolheu como mote episcopal: "Ego vobiscum sum" (Mt 28. Ontem. seguindo o exemplo de São João Bosco. através do seu apostolado. non timebo mala. para o homem que vive em Cristo a morte não assusta. onde a morte é eliminada para sempre e as lágrimas são enxugadas em todos os rostos (cf... Precisamente porque estava habituado a viver . e como capelão entre os universitários. o Cardeal Javiere Ortas quis que a sua existência pessoal e a sua missão eclesial fossem uma mensagem de esperança. Is 25. pude ter nas minhas mãos algumas cartas que o Cardeal Javierre dirigiu ao amado João Paulo II e das quais sobressai precisamente esta referência privilegiada à Eucaristia. quando o Senhor quiser. Mesmo tendo chegado a uma idade notável. que a envolve toda. "Tu mecum es": esta expressão remete para outra que Jesus ressuscitado dirigiu aos Apóstolos. 20). Morrer então é um "lucro" porque só morrendo se pode realizar plenamente aquele "ser-em-Cristo" do qual a comunhão eucarística é penhor nesta terra. na carta de agradecimento ao Santo Padre para os bons votos que lhe enviara escreveu: "Na época da minha ordenação em Salamanca o sacerdócio gravitava integralmente em volta da Eucaristia. 8). viverá eternamente./ Solo Dios basta". quoniam tu mecum es" (22. Lo imagino gravitando por completo en torno a la EUCARISTIA toda maiúscula Todo gira en torno ese baricentro". é quanto diz de si o apóstolo Paulo escrevendo aos Filipenses: "Mihi vivere Christus est" (Fl 1. Em 1992.. irmana-nos agora. esforçou-se por comunicar a todos que Cristo está sempre connosco. fiel e generoso. conscientes de que na Eucaristia.cultura. Estimulados pela fé. 21). com o Corpo e o Sangue de Cristo. et nihil mihi deerit: in loco pascuae. 12). con mi esfuerzo sincero de conducir a término el cometido que se me ha encomendado. naquele convívio messiânico do qual fala Isaías na primeira Leitura. realiza uma transformação profunda da pessoa e o fruto deste processo interior. no momento em que recebeu a nomeação para Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão. pela vida do mundo" (Jo 6. Ele. estamos agora reunidos à volta do altar do Senhor e aprestamo-nos para oferecer por ele o Sacrifício eucarístico. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CELEBRAÇÃO DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS Basílica de Santa Sabina no Aventino Quarta-feira. ou: "Recorda-te que és pó e em pó te hás-de tornar". a Quarta-Feira de Cinzas é considerada a "porta" da Quaresma. Na sua tradição. era profundamente devoto a Maria. isto é. as calamidades que afligiam naquele tempo a terra de Judá estimulam o autor sagrado a encorajar o povo eleito à conversão. mas indica-nos também os instrumentos ascéticos e práticos para o percorrer frutuosamente. 21 de Fevereiro de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Com a procissão penitencial entrámos no clima austero da Quaresma e introduzindo-nos na Celebração eucarística rezámos há pouco para que o Senhor ajude o povo cristão a "iniciar um caminho de verdadeira conversão para enfrentar vitoriosamente com as armas da penitência o combate contra o espírito do mal" (Oração da Colecta). De Nossa Senhora. "la despedida se nimba de esperanza y de gozo". tirada do livro do profeta Joel (2. Deixou o cargo de Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos "em ponta de pés" para se dedicar ao serviço que nunca se deve deixar: a oração. tenho a certeza de que no Céu onde confiamos que o Senhor o tenha acolhido no seu abraço paterno continua a rezar por nós. com extrema amabilidade. Com estas palavras inicia a Primeira Leitura. a hodierna liturgia e os gestos que a distinguem formam um conjunto que antecipa de modo sintético a própria fisionomia de todo o período quaresmal. Ao receber daqui a pouco as cinzas sobre a cabeça. amada e venerada com o título de Auxiliadora. o Cardeal Javierre Ortas. que nos conduz ao abraço do Redentor: é maravilhoso escrevia ele pensar que não importa a série dos pecados da nossa vida. no momento de se despedir do ministério activo na Cúria. a voltar com . E agora que o Pai celeste o quis consigo. com gemidos". que basta erguer os olhos e ver o gesto do Salvador que nos acolhe um por um com bondade infinita. a Igreja não se limita a oferecer-nos a temática litúrgica e espiritual do itinerário quaresmal. No brasão deste nosso saudoso Irmão está representada uma barca ancorada a duas colunas: a barca é a Igreja. Apraz-me concluir com uma reflexão sua. "Convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns. 12). Os sofrimentos. Nesta perspectiva. "Ancilla Domini".amparado por estas convicções. procurou imitar o estilo de um serviço discreto e generoso. podia escrever de novo ao Papa palavras repletas de esperança: "No me resta sino impetrar que el Señor utilice en registro divino la bondad de su Vicario cuando en la tarde de la vida no lejana suene para mi la hora del examen sobre el amor". o timoeiro é o Papa e as duas colunas são a Eucaristia e Nossa Senhora. concluía ele. ouviremos mais uma vez um claro convite à conversão que pode expressar-se numa fórmula dupla: "Convertei-vos e acreditai no evangelho". De facto. Precisamente devido à riqueza dos símbolos e dos textos bíblicos. Sendo filho digno de Don Bosco. com lágrimas. não é uma simples recordação do passado. O convite que Joel dirige aos seus ouvintes também é válido para nós. São Paulo. De facto. A Roma cristã era vista como uma reconstrução da Jerusalém do tempo de Jesus dentro dos muros da Cidade. como nos recordou São Paulo na Segunda Leitura. a procissão penitencial da Quarta-Feira de Cinzas parte de Santo Anselmo e conclui-se nesta basílica de Santa Sabina. Jerusalém se tivesse transferido para Roma. o caminho da conversão e da reconciliação. para chegar à glória da Jerusalém celeste onde Deus habita. seja oferecida ao pecador. 13). tinha elaborado uma singular geografia da fé. mas ouvi a voz do Senhor". Rito que assume um dúplice significado: o primeiro relativo à mudança interior. o grande Salmo penitencial. como ouvimos no Canto ao Evangelho: "Hoje não endureçais os vossos corações. referindo-se às palavras do profeta Isaías. No Evangelho que foi proclamado. 21). recorda o profeta. com a chegada dos apóstolos Pedro e Paulo e com a destruição do Templo. Eis por que assume um forte impacto espiritual a exortação que Paulo dirige aos cristãos de Corinto: "Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus". apelámo-nos à misericórdia divina. Amados irmãos e irmãs. para nos deixarmos reconciliar com Deus em Cristo Jesus. E este dia é agora. E assim. 6. partindo da ideia que.confiança filial ao Senhor dilacerando o seu coração e não as vestes. ao contrário. pedimos ao Senhor que o poder do seu amor nos volte a dar a alegria de sermos salvos. que daqui a pouco renovaremos. de "dia da salvação". pretende ajudar os fiéis a percorrer um caminho interior. enquanto o segundo recorda a precariedade da condição humana. A liturgia da Quarta-Feira de Cinzas indica assim na conversão do coração a Deus a dimensão fundamental do tempo quaresmal. no dia da salvação. A este propósito é interessante recordar que a antiga liturgia romana. O dia terrível transformou-se na Cruz e na Ressurreição de Cristo. nele. a possibilidade de uma reconciliação autêntica. Só Cristo pode transformar qualquer situação de pecado em novidade de graça. temos quarenta dias para aprofundar esta extraordinária experiência ascética e espiritual. 20. O Apóstolo apresenta-se como embaixador de Cristo e mostra claramente como precisamente através d'Ele. nem uma antecipação vazia do futuro. onde tem lugar a primeira estação quaresmal. à penitência ressoa hoje com toda a sua força. para que nos tornássemos. porque pecámos". justiça de Deus" (2 Cor 5. encontrando o Senhor experimentamos a alegria do seu perdão. à conversão e à penitência. Enquanto Joel falava do futuro dia do Senhor como de um dia de terrível juízo. isto é a cada um de nós. ínsita na tradição das igrejas "estacionais" da Quaresma. Jesus indica quais são os instrumentos úteis para realizar a autêntica renovação interior e comunitária: as . paciente e rico em misericórdia e se compadece da desgraça" (2. 2). queridos irmãos e irmãs. Proclamando o Salmo 50. ele "é clemente e compassivo. Aqui em Roma. "Aquele que não havia conhecido o pecado diz ele Deus o fez pecado por nós. Esta é a chamada muito sugestiva que nos vem do tradicional rito da imposição das cinzas. Esta nova geografia interior e espiritual. quase respondendo às palavras do profeta. Não hesitemos em reencontrar a amizade de Deus perdida com o pecado. O apelo à conversão. através das estações quaresmais. O futuro dia do Senhor tornou-se o "hoje". para que o seu eco nos acompanhe em cada momento da vida. como é fácil compreender das duas fórmulas diversas que acompanham o gesto. e ainda: "Este é o tempo favorável. iniciamos o tempo favorável da Quaresma. é este o dia da salvação" (5. fizemos nossa a invocação do refrão do Salmo responsorial: "Perdoai-nos Senhor. fala de "momento favorável". Com este espírito. mentem elevas: com o jejum elevas o espírito" (Prefácio IV). Pedimos a Maria que nos acompanhe para que.. que devem ser realizados para agradar a Deus e não para obter a aprovação e o consenso dos homens. e como timoneiros reorganizamos a nave do nosso espírito para enfrentar as ondas das paixões. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA CAPELA DO PRESÍDIO DE CASAL DEL MARMO EM ROMA Domingo. no início deste jejum. na qual Cristo renova o sacrifício redentor da Cruz. certamente não nasce de motivações de ordem física ou estética. São as três práticas fundamentais queridas também à tradição hebraica. "Este sacramento que recebemos. quase no regresso de uma Primavera espiritual forjamos as armas como os soldados. a oração e a penitência (o jejum). interiormente renovados e reconciliados com Deus e com os irmãos. porque contribuem para purificar o homem aos olhos de Deus (cf. que o torne mais atento e disponível à escuta de Deus e ao serviço dos irmãos. no final da Quaresma. A este propósito. Mt 6. a oração. Estes gestos exteriores. cada cristão pode perseverar no itinerário que hoje empreendemos solenemente. Na mensagem para a Quaresma.obras de caridade (a esmola). mas brota da exigência que o homem tem de uma purificação interior que o desintoxique da poluição do pecado e do mal. as paixões negativas e os vícios. Recorda-nos isto também um dos Prefácios quaresmais onde. são por Ele aceites se expressam a determinação do coração a servi-l'O. que o eduque para aquelas renúncias saudáveis que libertam o crente da escravidão do próprio eu. o soldado limpa as armas e treina o cavalo para a luta. com simplicidade e generosidade.. 1-6. o viandante revigorado prepara-se para a longa viagem e o atleta depõe as vestes e prepara-se para as competições. em relação ao jejum. possamos contemplar o Senhor ressuscitado. o jejum juntamente com qualquer outro esforço sincero de conversão encontram o seu significado mais alto e valor na Eucaristia. o agricultor lima a foice. As obras de caridade (a esmola). ao qual a Igreja nos convida neste tempo forte. centro e ápice da vida da Igreja e da história da salvação. lemos esta singular expressão: "ieiunio. santifique o nosso jejum e o torne eficaz para a cura do nosso espírito". Haurindo daquela fonte inexaurível de amor que é a Eucaristia. O jejum. Por esta razão o jejum e as outras práticas quaresmais são consideradas pela tradição cristã "armas" espirituais para combater o mal. Como viandantes retomamos a viagem rumo ao céu e como atletas preparamo-nos para a luta com o despojamento de tudo" (Homilias ao povo antioqueno. "Como no findar do Inverno escreve ele volta a estação do Verão e o navegante arrasta para o mar a nave.16-18). 18 de Março de 2007 . apraz-me ouvir de novo convosco um breve comentário de São João Crisóstomo. assim também nós. convidei a viver estes quarenta dias de especial graça como um tempo "eucarístico". ó Pai assim rezamos no final da Santa Missa nos ampare no caminho quaresmal. 3). limamos a foice como os agricultores. como é difícil amar seriamente. uma oração. assistentes. aos responsáveis. faz-se cada vez mais vivo o sentimento de que esta . também aqui é sempre o mesmo. D. portanto. gostaria de estar a sós e ter a vida inteira totalmente para mim. pouco a pouco. Giorgio Caniato. porque deseja uma mudança. Inspector-Geral dos Capelães dos Institutos de Prevenção e Penais. possa fazer o que me agrada. aos voluntários. sente também aqui o tédio. E. e o vosso Capelão. em que se renova o dom do amor de Deus: amor que nos consola e dá paz. E num primeiro momento poderíamos talvez pensar por alguns meses tudo corre bem: ele acha bom ter finalmente alcançado a vida. especialmente nos momentos difíceis da vida. devo encontrar outra vida. uma leitura da Bíblia Sagrada. contudo. mas também interiormente. têm do que viver. não permanecer no cárcere desta disciplina da casa. Na Celebração Eucarística. a quem estou grato por se terem feito intérpretes dos vossos sentimentos no início da Santa Missa. com todas as suas belezas. ao Chefe do Departamento da Justiça Juvenil. ele pensa: mas não. uma vida livre desta disciplina e destas normas dos mandamentos de Deus. fazer tudo o que é bonito. Ambos os filhos vivem em paz. mais ainda: Ele vem para nos iluminar com o seu ensinamento na Liturgia da Palavra e para nos alimentar com o seu Corpo e o seu Sangue na Liturgia Eucarística e na Comunhão. sente-se feliz. levar a vida com toda a sua beleza e a sua plenitude. insatisfatória: não pode ser esta pensa ele toda a vida: levantar todos os dias. Mas por detrás das pessoas aparecem dois projectos de vida bastante diferentes. gradualmente o filho mais jovem julga esta vida tediosa. aquilo que me agrada. Saúdo o Cardeal Vigário e o Bispo Auxiliar. É provável que fosse distante geograficamente. a quem manifesto um especial reconhecimento. aos familiares e a todos os presentes. o segredo da vida? Voltemos ao Evangelho. vendem bem os seus produtos e a vida parece ser boa. ignorar estas normas de um Deus que está distante. às outras Autoridades que intervieram. segundo as tradições de Israel. e o momento mais importante do nosso encontro é a Santa Missa. Deputado Clemente Mastella.. em que eu seja verdadeiramente livre. vem para nos tornar capazes de amar e. gostaria de dirigir a minha saudação a cada um de vós: ao Ministro da Justiça. Benedetto Tuzia. Ele vem para nos ensinar e amar. ele parte para uma terra muito distante. Saúdo de modo particular Mons. fazer tudo o que quero. talvez digais.. aliás. como diz o Evangelho. Mas. Neste clima de oração. O pai é muito atencioso e generoso. e depois ir trabalhar e no final novamente uma oração. Sra. E no final permanece um vazio cada vez mais inquietador. assim. e respeita a liberdade do filho: é ele que deve encontrar o seu projecto de vida. Todavia. Assim. Assim. viver bem! Qual é o segredo do amor. educadores e funcionários desta estrutura penal juvenil. digamos. às 6 horas e depois. E assim decide pretender todo o seu património e partir. é o próprio Cristo que se faz presente no meio de nós. Agora a sua ideia é: liberdade. capazes de viver. a vida é mais do que isto. é só trabalho. Melita Cavallo. são agricultores abastados e. das ordens do pai. Mas depois. Agora.Estimados irmãos e irmãs Queridos jovens Vim visitar-vos de bom grado. Neste Evangelho aparecem três pessoas: o pai e os dois filhos. porque quer uma vida totalmente diversa. dia após dia. E no final inclusive o dinheiro termina. oferece-lhe uma festa e a vida pode começar de novo. falta o grande sentido do ser homem. Sem dúvida. com a sua Palavra. viver pelos outros. a disciplina de cada dia cria a verdadeira festa e a verdadeira liberdade. Isto não impede que todos nós sejamos tocados e todos possamos entrar com o nosso caminho interior na profundidade do Evangelho.ainda não é a vida. devo recomeçar. muito melhor tomar todas as liberdades. (Nós. também no futuro a sua vida não será fácil. talvez. para o crescimento da comunidade humana. na comunhão da grande Família de Deus. na comunhão da própria família. diz ele. a partir desta festa. o filho mais jovem põe-se a caminho para regressar. Tudo se torna vazio: também agora se repropõe a escravidão de fazer as mesmas actividades. contribuído para fazer crescer este mundo. que se torna mais livre e mais bonito.. no qual nos foi mostrado realmente o rosto de Deus). Também ele. Neste caminho interior. As nossas situações são diferentes e cada um tem o seu mundo. Então.. não gostaria de discorrer sobre estes pormenores: deixemos que cada um de nós tenha o seu modo de aplicar este Evangelho a si mesmo. Devo partir de novo com outro conceito. continuando com todas estas coisas. um caminho interior. o que é não viver. E chega à casa do pai. o comprometer-se não por si mesmo mas pelos outros amplia a vida. mas ele já está plenamente consciente de que uma vida sem Deus não funciona: falta o essencial. conhecendo a finalidade da sua vida. Agora não gostaria de falar do outro filho. Assim começa o novo caminho. Ele entendeu que só podemos conhecer Deus com base na sua Palavra. falta a luz. e o jovem julga que o seu nível de vida é inferior ao dos porcos. falta o porquê. O filho compreende que precisamente o trabalho. a disciplina. que lhe tinha deixado a sua liberdade para lhe dar a possibilidade de compreender interiormente o que é viver. ao contrário. porque se experimenta a satisfação de ter. no seu íntimo deveria "voltar para casa" e compreender de novo o que é a vida. que ficou em casa. O jovem compreende que os Mandamentos de Deus não são obstáculos para a liberdade e para uma vida bela. O pai abraça-o com todo o seu amor. para recomeçar a sua vida. no final. E precisamente este esforço de se comprometer no trabalho dá profundidade à vida. contribuindo para a construção da casa e da sociedade em comunhão com o Criador. mas na sua reacção de inveja vemos que interiormente também ele sonhava que seria. adivinhando o projecto que Deus tinha para ele. neste amadurecimento de um novo projecto de vida. contribuir para a construção do mundo. podemos acrescentar que sabemos quem é Deus através de Jesus. levar a vida só para mim. vivendo depois também o caminho exterior. Assim regressa a casa interiormente maduro e purificado: compreendeu o que é viver. . começa a reflectir e pergunta se era realmente aquele o caminho da vida: uma liberdade interpretada como fazer tudo o que quero. mas são os indicadores da vereda pela qual caminhar para encontrar a vida. cristãos. a vida afasta-se cada vez mais. viver. a humildade. entender que só se vive verdadeiramente com Deus. do trabalho. porque já compreendeu que o caminho empreendido era errado. ou se ao contrário não seria talez mais vida. Entende que também o trabalho. Agora. O jovem reflecte e considera todos estes novos aspectos do problema e começa a ver que era muito mais livre em casa. sendo também ele proprietário. as tentações voltarão. Devemos compreender o que é a liberdade e o que é a aparência da liberdade. devemos abandonar a atitude egoísta do filho mais velho. Portanto. exposta ao mal. Neste tempo de Quaresma a Igreja ajuda-nos a percorrer este caminho interior e convida-nos à conversão que. restitui-nos a dignidade de seus filhos. estamos no tempo da Quaresma. dos quarenta dias antes da Páscoa. O homem é uma criatura na qual Deus imprimiu a sua imagem. e esquece que também ele tem necessidade do perdão. porém. fonte e escola do amor. nós vivemos com os outros. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PRESIDIDA NA PARÓQUIA ROMANA DE SANTA FELICIDADE E FILHOS MÁRTIRES Domingo. e que agora invoco de modo particular sobre cada um de vós e sobre as pessoas que vos são queridas. Pelo contrário. como fez o filho pródigo. assim. antes de ser um esforço sempre importante para mudar os nossos comportamentos. como hoje. E finalmente o homem é uma pessoa livre. Além disso. mesmo se grandes. abandonando o pecado e escolhendo voltar para Deus. Ao mesmo tempo. Obtenham-nos este dom Maria Virgem e São José. A liberdade. cuja festa será amanhã. tornamo-nos capazes de viver este amor. mas pode tornar-se inclusive um plano inclinado sobre o qual escorregar rumo ao abismo do pecado e do mal e. uma entidade isolada que vive somente para si mesma e deve ter a vida unicamente para si própria. ao acolhimento e ao perdão dos irmãos. participamos na Eucaristia. redescubramos este sacramento do perdão. que faz brotar a alegria num coração renascido para a vida verdadeira. 25 de Março de 2007 Queridos irmãos e irmãs da Paróquia de Santa Felicidade e filhos mártires . em Jesus. Porém. é uma oportunidade para decidir levantar-nos e recomeçar. meu padroeiro. capaz de bem.Só mais algumas breves observações. ou seja. é preciso que decidamos caminhar rumo a Jesus. é um trampolim de lançamento para mergulhar no mar infinito da bondade divina. uma criatura que é atraída no horizonte da sua Graça. Cada vez que. voltando interior e exteriormente ao pai. fecha o coração à compreensão. não prejudicam a fidelidade do seu amor. O Evangelho ajuda-nos a compreender quem é verdadeiramente Deus: Ele é o Pai misericordioso que. Os erros que cometemos. que condena facilmente os outros. entregando-nos aos outros. nos ama sem medidas. poderíamos dizer. esta parábola ajuda-nos a compreender quem é o homem: não é uma "mónada". mas é também uma criatura frágil. de anunciá-lo e de testemunhá-lo com a nossa vida. seguro de si. Percorramos este é o imperativo da Quaresma juntos este caminho de libertação interior. encontramos a vida. fomos criados com os outros e somente permanecendo com os outros. Prezados amigos. No sacramento da confissão podemos sempre recomeçar de novo a vida: Ele acolhenos. perder também a liberdade e a nossa dignidade. Aqui. transforma-nos e torna-nos por nossa vez capazes de O seguir fielmente. os catequistas. a verdadeira provisão é o seu amor. que aqui se reúne todos os domingos para a Santa Missa celebrada na língua que lhe é própria. mas quando regressam ficam cheios de júbilo porque Deus está presente e. Como pode uma comunidade cristã manter-se fiel a este seu mandato? Como pode tornar-se cada vez mais uma família de irmãos animados pelo Amor? A Palavra de Deus que acabamos de ouvir. os religiosos. Pe. de toda a sociedade. bastante numerosa no vosso território. e que ressoa com eloquência singular no nosso coração durante este tempo quaresmal. 43. certamente não faltam situações de dificuldade. sem qualquer distinção de raça nem de cultura. Enzo Dieci. os leigos comprometidos e quantos oferecem de diversas maneiras a própria contribuição às múltiplas actividades da Paróquia pastorais. Saúdo os demais sacerdotes. que é a raiz de todo o mal. Estes víveres são a escuta dócil da sua Palavra. realizará também no futuro "grandes coisas por nós". como no passado. Mas a intervenção divina. esta esperança que depois de tempos difíceis o Senhor mostre sempre a sua presença e o seu amor. consequentemente. pode facilitá-lo. Esta mesma consciência. Eusébio Mosca. a página evangélica deste dia ajuda-nos a compreender que somente o amor de Deus pode mudar a partir de dentro a existência do homem e. não podemos esquecer que Ele é sobretudo amor: se odeia o pecado. um compromisso constante em vista de dar testemunho do facto que o amor de Deus. aos jovens e às famílias. quando partem vão a chorar. deve animar toda a comunidade cristã dotada pelo seu Senhor de abundantes provisões espirituais para atravessar o deserto deste mundo e para o transformar num jardim fértil. tanto material como moral. situações que exigem de vós. No fundo. as religiosas. de diálogo e de perdão. os Sacramentos e todos os outros recursos espirituais da liturgia e da oração pessoal. Estendo a minha saudação a todos os habitantes do bairro Fidene são numerosos composto cada vez mais por pessoas que provêm de outras regiões da Itália e de vários países do mundo. porque só o seu amor infinito o liberta do pecado. aos quais a paróquia está confiada desde o seu nascimento. de formação e de partilha fraterna. é porque ama infinitamente cada pessoa humana. prezados amigos. . Em última análise. dirijo o meu pensamento ao Cardeal Vigário e ao Bispo Auxiliar. saúdo com afecto os Padres Vocacionistas. O amor. recorda-nos que a nossa peregrinação terrena está repleta de dificuldades e de provações. chamado também Domingo da Paixão. invoca o Senhor para que intervenha a favor dos "prisioneiros" que. D. chamada a anunciar o Evangelho e a ser lugar de acolhimento e de escuta. como o caminho do povo eleito no deserto. Em particular. antes de chegar à terra prometida. 1920). e de modo especial o vosso pároco. No sulco daquilo que a liturgia nos propôs no domingo passado. Ao profeta faz eco o Salmo responsorial: enquanto evoca a alegria do regresso do exílio babilónico. educativas e de promoção humana destinadas com atenção prioritária às crianças. Saúdo a comunidade filipina. como noutras partes.Vim de bom grado visitar-vos neste V Domingo de Quaresma. que levou Jesus a imolar-se por nós. manifestando-se plenamente em Cristo crucificado e ressuscitado. assegura Isaías na primeira Leitura. esta é a missão de cada comunidade paroquial. a quem agradeço as amáveis palavras com que me apresentou brevemente a realidade da vossa comunidade. abarca todos de modo concreto. Em primeiro lugar. Além disso. transformando as estepes numa terra confortável e rica de águas (cf. Dirijo a todos vós a minha cordial saudação. e a sua fidelidade é tão profunda que não se deixa desanimar nem sequer pela nossa rejeição. Ama cada um de nós. em 1958. Se é verdade que Deus é justiça. teria dito: Nem Eu te condeno. 10). O comentário de Santo Agostinho é conciso e eficaz: "Relicti sunt duo: misera et misericordia. 5). Ev. Ele. acrescenta que com estas suas palavras obriga os acusadores a entrarem em si mesmos e. e vive como quiseres. que segundo a lei mosaica não deixava espaço a dúvidas. mas fica impressionado. e doravante não tornes a pecar". . Por isso. o Senhor respeita a lei e não abandona a sua mansidão". reflectindo sobre si próprios. mas a sua finalidade consiste em salvar uma alma e revelar que a salvação só se encontra no amor de Deus. 33. "respondendo. 7) e dê início à lapidação. E respondelhe de modo surpreendente: "Nem Eu te condeno. por isso há-de morrer na cruz e o Pai ressuscitá-lo-á no terceiro dia. não o pecador.. Caros amigos. que no Novo Testamento só é utilizado aqui). Portanto. 10). tract. Eles conhecem a sua misericórdia e o seu amor pelos pecadores. embora fosse sem pecado. 6). Mas disse: "Vai. onde estão eles? Ninguém te condenou?" (Jo 8. segundo a prescrição contida no Livro do Levítico (cf. Depois. do qual se fala pouco nesta nossa época. que o evangelista não revela. assistimos a uma disputa entre Jesus. se tivesse tolerado o pecado. Portanto. Vai. Jesus não começa com os seus interlocutores um debate teórico sobre o trecho da lei de Moisés: não lhe interessa vencer uma disputa académica a propósito de uma interpretação da lei mosaica. No seu comentário. Vai. 11).hoje Jesus exorta-nos à conversão interior: explica-nos o motivo pelo qual nos perdoa e ensina-nos a fazer do perdão recebido e oferecido aos irmãos o "pão quotidiano" da nossa existência. da palavra de Deus que ouvimos sobressaem indicações concretas para a nossa vida. Jesus veio para nos dizer que nos quer a todos no Paraíso. em primeiro lugar. Jesus coloca-se imediatamente a favor da mulher. Citando a lei de Moisés. Com efeito. os escribas e os fariseus. e que o inferno. que permaneceu inclinado a escrever no pó. existe e é eterno para quantos fecham o coração ao seu amor. descreve-se um breve e comovedor diálogo entre Jesus e a pecadora. a propósito de uma mulher surpreendida em adultério flagrante e. Eu libertar-te-ei de toda a pena e de todo o sofrimento. em que se encontram confrontadas a miséria do homem e a misericórdia divina. Ao comentar o Evangelho de João. também neste episódio compreendemos que o nosso verdadeiro inimigo é o apego ao pecado. agora eleva o seu olhar e encontra o da mulher. até aos últimos". os acusadores que queriam provocar Jesus vão-se embora "a começar pelos mais velhos. O trecho evangélico narra o episódio da mulher adúltera. uma mulher acusada de um grande pecado e Aquele que. e doravante não tornes a pecar" (8. um após outro. o Mestre divino permanece a sós com a mulher. detenhamo-nos a contemplar esta cena. assumiu os nossos pecados. 33. tract. seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra" (Jo 8. Santo Agostinho comenta ainda: "O Senhor condena o pecado. a descobrirem-se também eles pecadores. por maiores que sejam os teus pecados. um por um foram-se embora" (In Io. Santo Agostinho observa que. os pecados do mundo inteiro.. Todavia. escrevendo no chão palavras misteriosas. E não é irónico. e depois pronunciando aquela frase que se tornou famosa: "Quem de vós estiver sem pecado (usa o termo anamártetos. quando lhe pergunta: "Mulher. Ele não disse isto" (In Io. os impiedosos acusadores da mulher provocam Jesus chamando-lhe "mestre" (Didáskale) e perguntam-lhe se é justo lapidá-la. Foi por isso que veio à terra. em duas cenas sugestivas: na primeira. 20. Quando todos se foram. Todavia. Dilectos irmãos e irmãs. e estão curiosos de ver como reagirá num caso como este. Na segunda cena. "atingidos por estas palavras como por uma flecha tão grande como uma trave. só permanecem as duas: a miserável e a misericórdia" (Ibidem). condenada à lapidação. Ev. como aconteceu com o Apóstolo Paulo. Assim aconteceu com os filhos e. sublinha-se o facto de que não há perdão sem arrependimento. A atitude de Jesus torna-se. que encontramos no Evangelho de Lucas (cf. põe-se em evidência o facto de que o perdão divino e o seu amor recebido com coração aberto e sincero nos incutem a força de resistir ao mal e de "não tornarmos a pecar". que amanhã havemos de contemplar no mistério da Anunciação e a quem confio cada um de vós e toda a população deste bairro de Fidene. Concede-lhe o perdão. no caminho quaresmal que estamos a percorrer e que se aproxima rapidamente da sua conclusão. e que o seu amor é nascente de alegria e de paz. Num caso. Aqui. um modelo a seguir para cada comunidade. comparado com o supremo conhecimento de Jesus Cristo. também vós possais exclamar com sinceridade: "Na verdade. o mandamento novo que nos foi deixado por Jesus na noite em que foi traído: "Assim como Eu vos amei. em tudo isso só vejo dano. 8). de nos deixarmos arrebatar pelo amor de Deus. Estimados irmãos e irmãs.que pode levar-nos ao fracasso da nossa existência. é força que nos impele poderosamente ao longo do caminho da santidade. a fim de ganhar Cristo" (Fl 3. que tem por tema. 7. aqui. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CELEBRAÇÃO DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA EM PREPARAÇÃO PARA A XXII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE Quinta-feira. que se torna a nossa força. se necessário inclusive até ao martírio. a mulher adúltera simplesmente recebe o perdão de maneira incondicionada. Jesus despede-se da mulher adúltera com esta exortação: Vai. padroeiros da vossa Paróquia. e doravante não tornes a pecar". como sabeis. sem desejo do perdão. 34). Num episódio análogo. . Amém. O exemplo e a intercessão destes vossos Santos sejam para vós um encorajamento constante a seguir o caminho do Evangelho sem hesitações e sem compromissos. Ele recebe e manda em paz uma mulher que se arrependeu. meu Senhor. com a intrépida mãe Felicidade. 29 de Março de 2007 Queridos amigos! Encontramo-nos esta tarde. tudo desprezei e tenho em conta de esterco. sucessivamente. Em ambos os casos para a pecadora arrependida e para a mulher adúltera a mensagem é uma só. 36-50). sejamos acompanhados pela certeza de que Deus nunca nos abandona. o da pecadora arrependida. Que vos alcance esta generosa fidelidade a Virgem Maria. Por Ele. chamada a fazer do amor e do perdão o coração palpitante da sua vida. nas proximidades da XXII Jornada Mundial da Juventude. Que por sua intercessão o Senhor vos conceda encontrar-vos cada vez mais profundamente com Cristo e segui-lo com dócil fidelidade para que. deste modo. a fim de que "doravante" não volte a pecar. vós também vos deveis amar uns aos outros" (Jo 13. sem abertura do coração ao perdão. ao contrário. o Servo de Deus João Paulo II. os sacerdotes presentes. 13. 17-18). nem a inclinação para o pecado. fechou-se ao amor de Deus. IV. assume um profundo e alto significado. "no início do ser cristão não está uma decisão ética ou uma grande ideia. PG 3. o amor e a misericórdia de Deus movem o vosso coração. Mas no sacrifício da Cruz Deus continua a repropor o seu amor. 2 Cor 5. Todas as vezes que o fizerdes com fé e devoção. que iniciou com a criação. De facto. No coração de cada homem. 1999) a fim de que. é-nos dada a oportunidade de nos aproximar-mos do Sacramento da confissão. Sim. escreveu já na sua primeira Encíclica Redemptor hominis: "O homem não pode viver sem amor. 1). mas também com a palavra eros. O encontro de hoje. também esta tarde. mas culmina na alegria da Ressurreição e Ascensão ao céu e no dom do Espírito Santo. que dá à vida um novo horizonte e com isso a orientação decisiva" (n. O meu amado Predecessor. mas o encontro com um acontecimento. mas estimula-o a unir-se ao amado" (De divinis nominibus. Queridos jovens da Diocese de Roma. naquele esvaziamento e humilhante abaixamento do Filho de Deus que ouvimos proclamar pelo apóstolo Paulo na primeira Leitura. Espírito do amor por meio do qual. "não permite que o amante permaneça em si mesmo. unidos a Cristo. como já antecipou a vossa porta-voz. dirigindo um pensamento especial aos confessores que daqui a pouco estarão à vossa disposição. 17)" (Ibid. Um amor crucificado. se ele não se encontra com o amor. a sua paixão pelo homem. Aliás. Gn 3. naquela kenose de Deus. os Bispos Auxiliares. aguarda o "sim" das suas criaturas como um jovem esposo o da sua esposa". que se expressa em plenitude na Cruz. infundida na nossa alma pelo Espírito Santo para a curar do pecado e a santificar" (CIC. com uma Pessoa. nos tornemos novas criaturas (cf. dado que esta vida nova não suprimiu a debilidade da natureza humana. Saúdo o Cardeal Vigário. Ainda mais. enquanto é amor que oferece ao homem tudo o que Deus é. De facto. à qual agradeço as palavras que me dirigiu em vosso nome no início da celebração. é um encontro à volta da Cruz. Ele permanece por si próprio um ser incompreensível. . o Omnipotente. ou seja. aquela força que. se não participa dele plenamente" (n. se não lhe for revelado o amor. porque. ao aproximar-vos do Sacramento da confissão. mendigo de amor. na ilusão de uma impossível auto-suficiência (cf. chegando a "mendigar" o amor da sua criatura. 10). se não encontra o amor verdadeiro nem sequer se pode considerar plenamente cristão. 712).Saúdo cordialmente todos vós que viestes das várias paróquias de Roma. com o Baptismo vós já nascestes para a vida nova em virtude da graça de Deus. uma celebração da misericórdia de Deus que cada um de vós poderá experimentar no Sacramento da confissão. "amor oblativo que procura exclusivamente o bem do próximo".). como revelei na Encíclica Deus caritas est. como fiz notar na Mensagem para esta Quaresma. podereis fazer a experiência do "dom gratuito que Deus nos faz da sua vida. se não o experimenta e não o faz próprio. serão perdoados os pecados e concedidos o perdão e a paz. há sede de amor. Esta tarde. a sua vida é destituída de sentido. é descritível com a palavra agape. o cristão não pode viver sem amor. Mas. como se expressa o Pseudo-Dionísio. que não se detém no escândalo da Sexta-Feira Santa. O amor de Deus pelo homem. O amor de Deus por nós. seduzida pelas mentiras do Maligno. a Cruz revela a plenitude do amor de Deus por nós. Infelizmente "desde as suas origens a humanidade. fez-se visível no mistério da Cruz. é também um amor no qual o "próprio coração de Deus. no magnífico hino a Cristo da Carta aos Filipenses. nos grupos. nos movimentos. o mundo espera este vosso contributo para a edificação da "civilização do amor". exprimis a dor pelos pecados cometidos. Na segunda parte do mandamento novo o Senhor diz: "vós também vos deveis amar uns aos outros" (Jo 13. das penas temporais que são consequência do pecado. pelo menos em parte. Doando-vos a Deus e ao irmãos. para o ministro de Cristo. Queridos jovens. Experimentar assim o "perdão dos pecados. para que. nos relacionamentos com os vossos amigos e também com quem vos ofendeu. também devem pagar: o preço do sacrifício e da abnegação. por nossa vez. Amém! . plenamente livre e fonte de alegria. somos readmitidos à plena comunhão com Deus e com a Igreja. o aumento das forças espirituais para o combate cristão de cada dia" (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. aquele preço que Cristo pagou primeiro e que todos os seus discípulos. Com o lavacro penitencial deste Sacramento. aprendamos a amar os irmãos com o seu próprio amor. e a consolação do espírito. experimentareis a alegria de quem não se fecha em si mesmo num egoísmo com frequência asfixiante. a reconciliação com a Igreja. com o firme propósito de não voltar a pecar no futuro e com a disponibilidade para aceitar com alegria os actos de penitência que ele vos indica para reparar o dano causado pelo pecado. a paz e a serenidade da consciência. e assim ao próprio Cristo. para vos comprometer nas comunidades paroquiais. tem um preço. a recuperação. a uma vida de especial consagração estai prontos para responder com um "sim" generoso e sem sujeições. da fidelidade e da perseverança sem os quais não há nem pode haver verdadeiro amor. queridos jovens amigos de Roma. A ele. Saindo desta celebração. Mas tudo isto. mas não é suficiente! Cristo atrai-nos a si para se unir com cada um de nós. Não desanimeis e tende sempre confiança em Cristo e na sua Igreja! O Papa está convosco e garante-vos uma recordação quotidiana na oração.depois de um atento exame de consciência. estai preparados para "ousar" o amor nas vossas famílias. 310). a remissão da pena eterna merecida por causa dos pecados mortais e. 48). como sempre. Certamente Ele espera que nos deixemos atrair pelo seu amor e que experimentemos toda a sua grandeza e beleza. certamente. como Ele nos amou. Se o Senhor chama alguns de vós. vivei o noivado no amor verdadeiro. há tanta necessidade de uma renovada capacidade de amar os irmãos. Mãe de misericórdia. 34). mesmo se de modo muito inferior em relação ao Mestre. Estai preparados para incidir com um testemunho autenticamente cristão nos ambientes de estudo e de trabalho. com os corações replectos da experiência do amor de Deus. jovens noivos. se foi perdida. "O horizonte do amor é verdadeiramente infinito: é o mundo inteiro!" (Mensagem para a XXII Jornada Mundial da Juventude). para que vos acompanhe e vos ampare sempre. Os sacerdotes que vos seguem e os vossos educadores têm a certeza de que. confiando-vos particularmente à Virgem Maria. conseguireis ser competentes na difícil tarefa para a qual o Senhor vos chama. que requer sempre o respeito recíproco. Hoje. com a graça de Deus e com o socorro constante da sua divina misericórdia. do estado de graça. Vós. nas associações e em todos os âmbitos da sociedade. companhia fiável porque é "sacramento universal de salvação" (Lumen gentium. casto e responsável. Submetemo-nos a Ele. Como eles louvamos o Senhor em coro por todos os prodígios que vimos. reconhecemos Jesus como o Filho de David. é contudo também expressão do nosso "sim" a Jesus e da nossa disponibilidade a ir com Ele aonde quer que nos leve. A procissão dos Ramos é como aquela vez para os discípulos antes de tudo expressão de alegria. no segredo. porque Ele nos concede ser seus amigos e porque nos deu a chave da vida. no qual temos confiança e que seguimos. também nós vimos e ainda vemos os prodígios de Cristo: como Ele leva homens e mulheres a renunciar aos confortos da própria vida e a colocar-se totalmente ao serviço dos que sofrem. em festa jubilosa.CELEBRAÇÃO DO DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Praça de São Pedro XXII Jornada Mundial da Juventude Domingo. porque podemos conhecer Jesus. no qual se tornou visível para nós o Rosto de Deus e graças ao qual o coração de Deus está aberto a todos nós. Significava empreender uma nova . acompanham o Senhor na sua entrada em Jerusalém. A expressão "seguimento de Cristo" é uma descrição de toda a existência cristã em geral. o verdadeiro Salomão o Rei da paz e da justiça. como Ele. 1 Rs 1. dissemos. com os primeiros discípulos. No Evangelho de Lucas a narração do início do cortejo nas proximidades de Jerusalém é composta em parte literalmente segundo o modelo do rito da coroação com o qual. Reconhecê-l'O como Rei significa: aceitá-l'O como Aquele que nos indica o caminho. a criar a paz onde reinava a inimizade. 33-35). Significa ver n'Ele a autoridade à qual nos submetemos. Esta alegria. A procissão é antes de tudo um testemunho jubiloso que prestamos a Jesus Cristo. Em que consiste? O que significa concretamente "seguir Cristo?". toda a sua vida para andar com Jesus. a suscitar a reconciliação onde havia o ódio. para dar lugar no mundo à verdade. Significa aceitar dia após dia a sua palavra como critério válido para a nossa vida. induz homens e mulheres a fazer o bem ao próximo. A exortação que estava hoje no início da nossa liturgia interpreta portanto justamente a procissão também como representação simbólica do que chamamos "seguimento de Cristo": "Pedimos a graça de o seguir". 1 de Abril de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Na procissão do Domingo de Ramos associamo-nos à multidão dos discípulos que. Sim. o sentido era muito simples e imediato: significava que estas pessoas tinham decidido abandonar a sua profissão. Assim a procissão dos Ramos é também uma procissão de Cristo Rei: nós professamos a realeza de Jesus Cristo. como Ele dá coragem a homens e mulheres de se oporem à violência e à mentira. que está no início. segundo o Primeiro Livro dos Reis. No início. Salomão foi revestido como herdeiro da realeza de David (cf. os seus negócios. porque a sua autoridade é a autoridade da verdade. Voltemos à liturgia e à procissão dos Ramos. o seguimento era uma coisa exterior e. Um coração que permanece transparente como água nascente. porque não conhece a falsidade. pelo amor. levantai-vos. que já não tinha o seu ponto de referência nos negócios. subimos e encontramos as purificações que nos conduzirão verdadeiramente àquela altura para a qual o homem é destinado: a amizade com o próprio Deus. dizem e fazem. Não deixar que a pergunta sobre Deus se dissolva nas nossas almas. mas de reconhecer ao contrário como critérios autênticos a verdade e o amor. em Jesus Cristo eles tornaram-se pessoa. A que renúncia do que era próprio isto obrigasse. Perdendo-me reencontro-me. mas que se abandonava totalmente à vontade do Outro. que dissuasão de si mesmos. O desejo de O conhecer conhecer o seu Rosto. E consideremos bem que verdade e amor não são valores abstractos. pergunta o Salmo. portas antigas. Assim. que era também em Israel um canto processional usado para a subida ao monte do templo. chegar à altura verdadeira. Perscrutar Deus e procurar Deus. Nela a liturgia prevê como canto o Salmo 24 [23]. para procurar o seu rosto. Os que sobem e desejam chegar deveras ao cimo. Estar à sua disposição já se tinha tornado a razão de vida. O Salmo 24 [23] que fala da subida que termina com a liturgia de entrada diante do pórtico do templo: "Levantai. e entre o rei da glória". não se contentar com o que todos pensam. O desejo do que é maior. me precede e me indica o caminho. o interior era a nova orientação da existência. e indica duas condições fundamentais. A outra condição muito concreta para a subida é esta: pode estar no lugar santo "quem tem mãos inocentes e coração puro". os vossos frontais.. muito interior. a carreira e o sucesso como finalidade última da minha vida. em Jesus Cristo. Exige que eu deixe de me fechar no meu eu. ao mesmo tempo. Ao segui-l'O entro ao serviço da verdade e do amor. Queridos jovens amigos como é importante hoje precisamente isto: não se deixar simplesmente levar aqui e ali na vida. considerando a minha auto-realização a razão principal da minha vida. Coração puro quando é puro um coração? É puro um coração que não finge e não se mancha com mentiras nem hipocrisia. um coração cujo amor é verdadeiro e não apenas paixão de um momento. Exige que eu me dedique livremente a Outro pela verdade. Trata-se de escolher entre viver só para mim mesmo ou doar-me pela coisa maior. com subornos.profissão: a de discípulos. Mãos inocentes e coração puro: se nós caminhamos com Jesus. na vontade pessoal. O Salmo interpreta a subida interior da qual a subida exterior é imagem e nos explica assim mais uma vez o que significa subir com Cristo. ó portas. É puro um coração que não se aliena com o inebriamento do prazer.. Mãos inocentes mãos que não são usadas para actos de violência. São mãos que não estão sujas pela corrupção. O conteúdo fundamental desta profissão era andar com o mestre. podemos reconhecê-lo de modo bastante claro em algumas cenas dos Evangelhos. confiar-se totalmente à sua guia. na profissão que dava de que viver. devem ser pessoas que se interrogam sobre Deus. O aspecto exterior era o caminhar atrás de Jesus nas suas peregrinações através da Palestina. Pessoas que perscrutam à sua volta para procurar Deus. . Mas evidencia-se com isto o que significa para nós o seguimento e qual é a sua verdadeira essência para nós: trata-se de uma mudança interior da existência. Trata-se da decisão fundamental de não considerar a utilidade e o lucro. por Deus que. "Quem subirá o monte do Senhor?". para o Deus que por ti se fez sofredor. às portas dos nossos corações. imaginando os sentimentos que se juntam neste momento no seu coração. e os numerosos fiéis que de todas as partes da Itália e do mundo marcaram encontro hoje aqui. na Praça de São Pedro. os numerosos jovens que o Papa João Paulo II amava com singular paixão. Eis o apelo que neste momento deixamos penetrar no nosso coração. Dirijo uma saudação particular ao Cardeal Stanislaw Dziwisz. Saúdo os outros Cardeais. Ao mesmo tempo. os Bispos. que quisestes participar nesta Santa Missa. . Era uma bonita imagem para o mistério do próprio Jesus Cristo que. que após este bater se abria. zeloso pastor e corajoso profeta de esperança. os religiosos e as religiosas presentes. do lado de um mundo que não conseguia encontrar o acesso para Deus. a porta entre Deus e os homens. ao chegar diante da igreja. os peregrinos que vieram propositadamente da Polónia. 2 de Abril de 2007 Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Estimados irmãos e irmãs! Há dois anos. Mas também do outro lado o Senhor bate com a sua cruz: bate às portas do mundo. Com a Cruz Jesus abriu de par em par a porta de Deus. bateu do lado do mundo à porta de Deus. teu Senhor e teu Deus. testemunha incansável e apaixonado servidor do amor de Deus. Amém. um pouco depois desta hora. na recordação indelével da grande devoção com que ele celebrava os santos Mistérios e adorava o Sacramento do altar. E fala-nos mais ou menos assim: se as provas que Deus na criação te dá da sua existência não conseguem fazer com que te abras a Ele. os sacerdotes. para que Ele. batia com força com a haste da cruz da procissão na porta ainda fechada.Na antiga liturgia do Domingo de Ramos o sacerdote. possa no seu Filho entrar neste nosso tempo. O Senhor nos ajude a abrir a porta do coração. oferecemos o Sacrifício eucarístico em sufrágio da sua alma eleita. Com a presente celebração queremos antes de tudo renovar a Deus a nossa acção de graças por no-lo ter concedido por 27 anos como pai e guia segura na fé. que pessoalmente sofre contigo vê que eu sofro por amor a ti e abre-te a mim. com o madeiro da cruz. Arcebispo de Cracóvia. a porta do mundo. Agora ela está aberta. alcançar a nossa vida. o Deus vivente. partia deste mundo para a casa do Pai o amado Papa João Paulo II. centro da sua vida e da sua incansável missão apostólica. se a palavra da Escritura e a mensagem da Igreja te deixam indiferente então olha para mim. que assim com frequência e em tão grande número estão fechadas para Deus. com a força do seu amor que se doa. Desejo expressar o meu reconhecimento a todos vós. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA EM SUFRÁGIO PELO SEU PREDECESSOR JOÃO PAULO II NO SEGUNDO ANIVERSÁRIO DA MORTE Segunda-feira. Especialmente com o lento.. Hoje leva-nos a Betânia. para o qual é chamada a nossa atenção. um amor superabundante. profunda amargura porque aquela Páscoa podia ser a última. testemunho eloquente do poder de Cristo sobre a morte. mas dele puderam gozar também todos os que o conheceram de longe. 7). um misto de alegria e de sofrimento: alegria jubilosa pela visita de Jesus e dos seus discípulos. pela ressurreição de Lázaro. 3). evang. como aquele perfume "muito precioso" derramado sobre os seus pés. precisamente "seis dias antes da Páscoa" como escreve o evangelista João Lázaro. entrámos ontem. Como sacerdote e como Bispo. O nome do Senhor é louvado por merecimento dos bons cristãos" (In Io. com o Domingo de Ramos. depende da Cruz. Desde a infância e a juventude ele conheceu o sofrimento e a morte.22). 19.. progredir da doença. mediante a própria presença do redivivo Lázaro. o respeito e o afecto que crentes e não-crentes lhe manifestaram por ocasião da sua morte não é porventura um testemunho eloquente? Escreve Santo Agostinho. anúncio . pela Páscoa já próxima. e por isto agradecemos a Deus. como faziam temer as conspirações dos Judeus que desejavam a morte de Jesus e as ameaças contra o próprio Lázaro do qual se projectava a eliminação. tr. fizeram conhecer aos homens do nosso tempo que Jesus Cristo era verdadeiramente o seu "tudo". A narração evangélica confere um clima pascal intenso para a nossa meditação: a ceia de Betânia é prelúdio para a morte de Jesus. mas implacável. a sua existência fez-se totalmente uma oferenda a Cristo. Para nós. comentando este trecho do Evangelho de João: "A casa encheu-se de perfume. isto é. nas margens do lago da Galileia: "Segue-Me. levou muito seriamente a chamada de Cristo ressuscitado a Simão Pedro. "tomando uma libra de perfume de nardo puro. nós sabemo-lo. isto é. no sinal da unção que Maria fez em homenagem ao Mestre e que Ele aceitou em previsão da sua sepultura (cf. porque o amor do Papa Wojtyla por Cristo superabundou. e a Liturgia faz-nos reviver os últimos dias da vida terrena do Senhor Jesus. Tu. e ainda mais o calvário da agonia e a morte serena do nosso amado Papa. reunidos em oração na recordação do meu venerado Predecessor. Mas é também anúncio da ressurreição. Trata-se de um daqueles pormenores da vida de Jesus que São João recolheu na memória do seu coração e que contém uma inexaurível carga expressiva. Ele fala do amor a Cristo. e sobretudo como Sumo Pontífice. onde. Evoca o testemunho luminoso que João Paulo II ofereceu de um amor a Cristo sem reservas e sem se poupar. 50. Na vida de Karol Wojtyla a palavra "cruz" não foi apenas uma palavra. de alto preço. Há um gesto. É verdade: o intenso e frutuoso ministério pastoral. 3). Jo 12. em todas as regiões do mundo. Sem dúvida. poderíamos dizer. a narração da ceia de Betânia tem em si uma ressonância pungente. magnânimo. segue-Me" (Jo 21. ungiu os pés de Jesus" (Jo 12.. o mundo encheu-se da boa fama. Além da plenitude do significado pascal. e que ainda hoje fala de modo singular aos nossos corações: Maria de Betânia a um certo ponto. O perfume agradável é a boa fama. que pouco a pouco o despojou de tudo. 7). Um acontecimento que escandalizou sintomaticamente Judas Iscariotes: a lógica do amor confronta-se com a do proveito. quem beneficiou dele fomos nós que lhe estivemos próximos. repleta de afecto e devoção. o gesto da unção de Maria de Betânia é rico de ecos e de sugestões espirituais. na Semana Santa. O "perfume" do seu amor "encheu toda a casa" (cf. A fecundidade deste testemunho. nesta perícope evangélica. porque era muito forte e intenso. A estima.. Jo 12. Marta e Maria ofereceram uma ceia ao Mestre.O segundo aniversário do piedoso falecimento deste amado Pontífice celebra-se num contexto muito propício para o recolhimento e para a oração: de facto. toda a Igreja. o Mestre voltou. O perfume da fé. e murmurou: "Deixai-me ir com o Senhor" (cf. quis participar em todas as orações quotidianas e na Liturgia das Horas. "Servo de Deus": ele o foi e assim o chamamos agora na Igreja. O Totus tuus do amado Pontífice nos estimule a segui-lo pelo caminho da doação de nós próprios a Cristo por intercessão de Maria. para que leve às nações a verdadeira justiça. ". sê forte e corajoso no teu coração. Sim. o fizera chamar. que da casa do Pai disto temos a certeza não deixa de acompanhar o caminho da Igreja: "Espera no Senhor. abandonando-se totalmente à sua vontade. encheu a Praça de São Pedro. Durante o último dia de vida. na esperança repleta de fé da ressurreição." (Is 42. com as palavras do cerimonial: "Magister adest et vocat te O Mestre está aqui e chama-te"? A 2 de Abril de 2005. / fiz repousar sobre ele o meu espírito. a 16 de Outubro de 1978. as virtudes e a fama de santidade. desta vez sem intermediários. temos a impressão de ouvir da viva voz do amado João Paulo II. que o nosso coração se fortaleça. no qual a Minha alma se deleita. que ouvimos na primeira Leitura: "Eis o Meu servo que eu amparo / o meu eleito. do evangelista João..vivente da sua paixão. Com a ajuda das pessoas que o assistiam. O seu pontificado desenvolveu-se no sinal da "prodigalidade".. enquanto progride rapidamente o seu processo de beatificação. repetindo o Totus tuus. adormeceu no Senhor. Desde há muito tempo ele preparava-se para este encontro com Jesus. 3). como documentam as diversas redacções do seu testamento. O Senhor chamou-o ao seu serviço pelo caminho do sacerdócio e abriu-lhe pouco a pouco horizontes cada vez mais amplos: da sua Diocese até à Igreja universal. que resplandecerá na Vigília pascal depois da dramática escuridão da Sexta-Feira Santa. Como o seu divino Mestre. do qual foi encerrada precisamente esta manhã o inquérito diocesano sobre a vida. do despender-se generoso sem hesitações.E a casa encheu-se com o cheiro do perfume" (Jo 12. olhando já para a luz da ressurreição de Cristo. e no-la obtenha precisamente Ela. efeito daquele "perfume" que alcançou todos. Na comunhão dos santos. para o chamar e levar para casa. 223). enquanto confiamos nas suas mãos maternas este nosso pai. Verdadeiramente. S. Espera no Senhor" (Sl 26. e confiavase a Maria. fazer a adoração e a meditação. irmão e amigo para que em Deus repouse e rejubile na paz. . próximos e distantes. Por isso podemos dedicarlhe as palavras do primeiro Poema do Servo do Senhor. Voltemos a esta anotação.. 14). queridos irmãos e irmãs. p. tão sugestiva. Dziwisz. 1). Morreu rezando. O que aconteceu depois da sua morte foi.. pediu que lhe fosse lido precisamente o Evangelho de João. Esta dimensão de universalidade chegou à máxima expansão no momento da sua morte. da esperança e da caridade do Papa encheu a sua casa. por Aquele que. e arda de esperança! Com este convite no coração prossigamos a Celebração eucarística. E ele. vigília do Domingo da Divina Misericórdia.paraacasa do Pai. respondeu imediatamente com o seu coração intrépido. Una vita con Karol. acontecimento que o mundo inteiro viveu com uma participação jamais vista na história. e os atraiu para um homem que Deus tinha progressivamente conformado com o seu Cristo. encheu a Igreja e propagou-se no mundo inteiro. mais uma vez. O que o movia a não ser o amor místico por Cristo. o Salmo responsorial colocou nos nossos lábios palavras repletas de confiança. ele viveu a sua agonia em oração. Durante as longas pausas na Capela particular falava com Ele. para quem crê. Queridos irmãos e irmãs. "Servo de Deus": um título particularmente apropriado para ele. a Virgem Maria. para o que aconteceu no Baptismo. até à morte de cruz" (cf. ofereceu-se para assumir a tarefa dos sacerdotes e dos sábios. o cansaço. as esperanças e as desilusões. o soberano anuiu. Fl 2. no que diz respeito ao vosso passado..despojou-se de si mesmo. usa explicitamente a imagem da veste: "todos os que fostes baptizados em Cristo. tornar-nos semelhantes a Deus. 27). Ele doa-nos as suas vestes e elas não são algo externo. Mas então ele quis pelo menos saber o que fazia Deus. o intercâmbio sagrado: assumiu o que era nosso. mas é Cristo que vive em mim" assim descreve Paulo na Carta aos Gálatas (2.Amém. [Deveis] revestir-vos do homem novo. humilhou-se a si mesmo. aparecendo com a forma humana. se compenetram reciprocamente. O que na Carta aos Gálatas expõe como simples "facto" do baptismo o dom do novo ser Paulo no-lo apresenta na Carta aos Efésios como uma tarefa permanente: deveis "despojar-vos do homem velho. Deus realizou como dizem os Padres o sacrum commercium. Eis quanto se cumpre no Baptismo: nós revestimo-nos de Cristo. SANTA MISSA CRISMAL HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Basílica Vaticana Quinta-feira Santa 5 de Abril de 2007 Queridos irmãos e irmãs! O escritor russo Leon Tolstoi descreve numa pequena narração acerca de um soberano que pediu aos seus sacerdotes e sábios que lhe mostrassem Deus para que o pudesse ver. posta de parte a mentira. Significa que entramos numa comunhão existencial com Ele. vos revestistes de Cristo" (Gl 3. O rei aprendeu dele que os seus olhos não eram suficientes para ver Deus. São Paulo. Cristo vestiu as nossas vestes: o sofrimento e a alegria de ser homem. a sede. De facto. o receio da morte. Por isso. E eis que chega a resposta: "É isto que Deus faz". mas estimulado pela curiosidade pela informação esperada. 6 ss. para que pudéssemos receber o que era seu. Com hesitação. Os sábios não foram capazes de satisfazer este desejo. 2) o acontecimento do seu baptismo.. o Filho de Deus Deus verdadeiro de Deus verdadeiro deixou o seu esplendor divino: ". entregou a sua roupa real ao pastor e fez-se vestir com o hábito simples do homem pobre. a fome.... criado em conformidade com Deus na justiça e na santidade verdadeiras. "Para poder responder a esta sua pergunta disse o pastor ao soberano devemos trocar a roupa". que o seu e o nosso ser confluem. E deu-nos as suas "vestes". "Já não sou eu que vivo. Então um pastor. que estava precisamente a regressar do campo. cada qual diga a verdade ao . todas as nossas angústias até à morte.).. assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. uma nova comunhão existencial com Cristo. falar e agir in persona Christi. não vivam mais para si mesmos. Este evento. como uma espécie de capucho. Pornos à disposição de Cristo significa que nos deixamos atrair para dentro do seu "por todos": estando com Ele podemos ser verdadeiramente "para todos". por seu lado pretendem ilustrar o que significa "revestir-se de Cristo". O facto de estarmos no altar." (Ef 4. assim também no sacerdócio se tem um intercâmbio: na administração dos Sacramentos. Vesti-los deve significar para nós mais que um facto exterior: é entrar sempre de novo no "sim" do nosso encargo naquele "já não sou eu" do baptismo que a Ordenação sacerdotal nos dá de modo novo e ao mesmo tempo nos pede.. Se vos irardes não pequeis. 15). no interior da Igreja. entregar-nos a Ele como Ele se doou a nós. vestidos com os paramentos litúrgicos. casualmente os olhos e os ouvidos gostariam de captar. falar e agir atraio também o povo dentro da comunhão com Ele. Nos sagrados mistérios ele não se representa a si mesmo e não fala expressando-se a si mesmo. é representado sempre de novo em cada Santa Missa mediante o revestir-nos dos paramentos litúrgicos. os sentidos não devem ser atraídos pelo que ali. 22-26). o que expressamos com o nosso "Adsum estou pronto". No passado e nas ordens monásticas ainda hoje ele era colocado primeiro sobre a cabeça. . (2 Cor 5. E o olhar do meu coração deve estar dirigido para o Senhor que está no meio de nós: eis o que significa ars celebrandi o justo modo de celebrar. Esta teologia do Baptismo volta de maneira nova e com insistência nova na Ordenação sacerdotal.. assim como se desenvolveram ao longo do tempo... tornando-se assim um símbolo da disciplina dos sentidos e do pensamento necessário para uma justa celebração da Santa Missa. deve tornar claramente visível aos presentes e a nós próprios que estamos ali "na pessoa do Outro". Portanto. para que. In persona Christi no momento da Ordenação sacerdotal. O meu coração deve abrir-se docilmente à palavra de Deus e estar recolhido na oração da Igreja. Começamos com o amicto. então com o meu ouvir. um intercâmbio do destino. Assim nos Sacramentos torna-se visível de modo dramático o que significa em geral ser sacerdote. precisamente. Pomo-nos à disposição d'Aquele que "morreu por todos. Revestir-se com as vestes sacerdotais outrora acompanhava-se com as orações que nos ajudam a compreender melhor cada um dos elementos do ministério sacerdotal. As vestes sacerdotais. Neste gesto exterior ela deseja tornar-nos evidente o acontecimento interior e a tarefa que nos vem dele: revestir-nos de Cristo. Os pensamentos não devem vaguear aqui e ali por detrás das preocupações e das expectativas da vida quotidiana. gostaria de explicar nesta Quinta-Feira Santa a essência do ministério sacerdotal interpretando os paramentos litúrgicos que. a Igreja tornou-nos visível e alcançável esta realidade das "vestes novas" também externamente mediante o facto de termos sido revestidos com os paramentos litúrgicos. Se eu estou com o Senhor. queridos irmãos. durante a consagração sacerdotal: eu estou aqui para que possas dispor de mim. o sacerdote age e fala agora "in persona Christi".seu próximo pois nós somos membros uns dos outros. Como no Baptismo é doado um "intercâmbio de vestes". são uma profunda expressão simbólica do que significa o sacerdócio. o "revestir-se de Cristo". para que o meu pensamento receba a sua orientação das palavras do anúncio e da oração. os que vivem. mas fala pelo Outro por Cristo. deveríamos perguntar-nos se vestimos este hábito do amor. de modo novo. que torna fidedigno e iluminado o nosso espírito obscurecido. enquanto segundo ele a versão transmitida por Mateus trataria a antecipação deste banquete nupcial na liturgia e na vida da Igreja. o amor. da qual Ele nos fala na parábola do banquete de Deus. 14). nos transforma a nós próprios em "luz no Senhor". 8-13). E só porque o seu amor é maior do que todos os meus pecados. Hom.000 eleitos não eram dignas de Deus por seu mérito. Já quando era pequeno. 38. Ele está convicto de que a parábola de Lucas fala do banquete nupcial escatológico. Agora que nos preparamos para a celebração da Santa Missa. que apesar de todas as nossas trevas. A oração tradicional quando se veste a casula vê representado nela o jugo do Senhor que a nós sacerdotes foi imposto. "Em que condição nos queremos aproximar da festa do céu. para que sejamos pessoas luminosas e não pertencentes às trevas. que nos tire qualquer sentido de auto-suficiência e que nos revista verdadeiramente com as vestes do amor.Os textos da oração que a alva e a estola interpretam estão ambas na mesma direcção. nas trevas. Quando nos aproximamos da liturgia para agir na pessoa de Cristo todos nos apercebemos de quanto estamos longe d'Ele. de que fala o Evangelho. são apenas o reflexo da cegueia interior do coração (cf. Uma pessoa sem amor é escura dentro. pergunta o Papa. que depois é posto fora. as orações recordam também as palavras do Apocalipse segundo as quais as vestes dos 144. mais uma breve palavra em relação à casula. se não vestimos o hábito nupcial isto é. Evocam a veste dominical que o pai ofereceu ao filho pródigo quando regressou a casa esfarrapado e sujo. a veste branca da vida nova. Gregório distingue entre a versão de Lucas da parábola e a de Mateus. . O Papa responde: "A veste do amor". Só Ele nos pode dar a veste dominical. de estar ao seu serviço. Mas com a veste de luz que o Senhor nos doou no Baptismo e. As trevas externas. Pedimos ao Senhor que afaste qualquer hostilidade do nosso coração. Portanto. tornar-nos dignos de presidir à sua mesa. É este amor que torna brancas as nossas vestes sujas. E eis que nesta multidão encontra também um hóspede sem hábito nupcial. quanta sujeira existe na nossa vida. O Apocalipse comenta que eles tinham lavado as suas vestes no sangue do Cordeiro e que deste modo elas estavam brancas como a luz (cf. Nas homilias de São Gregório Magno encontrei a este propósito uma reflexão digna de realce. entre os seus hóspedes aos quais tinha oferecido o hábito novo. o único que nos pode tornar livres?". o que falta ainda? Que hábito nupcial deve ainda ser acrescentado?". caso contrário não estariam na Igreja. Ao vestir a alva deveríamos recordar-nos: Ele sofreu também por mim. E infelizmente. E recorda a palavra de Jesus que nos convida a carregar o seu jugo e a aprender d'Ele. Ap 7. Por fim. o rei encontra alguns que não vestem o hábito cor de púrpura do dúplice amor para com Deus e para com o próximo. Em Mateus e só em Mateus de facto o rei vai à sala apinhada para ver os seus hóspedes. posso representálo e ser testemunha da sua luz. podemos pensar também na veste nupcial. Assim. na Ordenação sacerdotal. Então Gregório pergunta: "Mas que espécie de hábito era o que ele não tinha? Todos os que estão reunidos na Igreja receberam o hábito novo do baptismo e da fé. perguntei: mas quando se lava uma coisa no sangue. certamente não fica branca! A resposta é: o "sangue do Cordeiro" é o amor de Cristo crucificado. esta invenção do seu amor por nós. pode ter existido uma festa de Primavera dos nómades. Israel não devia esquecer que Deus tinha assumido pessoalmente a história do seu povo. Ele. para assim conhecermos cada vez mais como é bom carregar o seu jugo.que é "manso e humilde de coração" (Mt 11. IV. ou eucaristia: bendizer a Deus torna-se . O agradecer e o bendizer a Deus alcançavam o seu ápice na berakha. então estas nossas lamentações dissipam-se. que em grego se chama eulogia. Peçamos-lhe que nos ajude a tornarmo-nos com Ele pessoas que amam. é tremendamente pesado neste mundo. Ele pode conhecer directamente em si mesmo o que nós experimentamos quanto nos é exigido. Carregar o jugo do Senhor significa antes de tudo: aprender d'Ele. é descrita a celebração da Páscoa de Israel. A palavra da comemoração estava circundada por palavras de louvor e de acção de graças. com todo o poder que ele tinha à sua disposição. encontrava-se o cordeiro como símbolo da libertação da escravidão no Egipto. para Israel ela transformou-se numa festa de comemoração. Disc. São Gregório Nazianzeno certa vez perguntou-se porque é que Deus se quis fazer homem. o sofrimento. O seu jugo é o de amar com Ele. o Deus misterioso e escondido. o haggadah pascal fazia parte integrante da refeição cujo prato-base era cordeiro: a recordação narrativa do facto de que foi o próprio Deus quem libertou Israel "com as mãos elevadas". Estar sempre dispostos a ir à sua escola. 5 de Abril de 2007 Caros irmãos e irmãs Na leitura do Livro do Êxodo. 29). e que esta história estava continuamente fundamentada na comunhão com Deus. de esperança. Mas olhando depois para Ele que carregou tudo que em si sentiu a obediência. Amém. teol. o teu jugo não é minimamente leve. Todavia. Quanto mais amarmos. tiradas dos Salmos. Por isso. Aliás. revelara-se mais forte do que o faraó. que acabamos de ouvir. e com Ele nos tornarmos pessoas que amam. No centro da ceia pascal. tanto mais leve se tornará para nós o seu jugo aparentemente pesado. do modo como na Lei mosaica tinha encontrado a sua forma vinculante. A parte mais importante e para mim mais comovedora da sua resposta é: "Deus queria dar-se conta do que significa para nós a obediência e queria medir tudo com base no próprio sofrimento. Na origem. ao mesmo tempo. de acção de graças e. Israel não devia esquecer-se de Deus. D'Ele devemos aprender a mansidão e a humildade a humildade de Deus que se mostra no seu ser homem. toda a escuridão. SANTA MISSA «IN CAENA DOMINI» HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Basílica de São João de Latrão Quinta-feira Santa. ordenada segundo determinadas regras litúrgicas. 6). Às vezes gostaríamos de dizer a Jesus: Senhor. Deste modo. quanta indulgência merecemos calculando com base no seu sofrimento a nossa debilidade" (Discurso 30. a debilidade. temos que compreender a nova Páscoa. Ele celebrou a Páscoa com os seus discípulos. A nação ainda sofria como pequeno povo no campo das tensões entre os grandes poderes. pelo menos um dia antes celebrou-a sem o cordeiro. todavia. o Evangelho de João e aquilo que. para tornar assim evidente a verdade mais profunda: Jesus é o novo e autêntico Cordeiro. Ele mesmo ofereceu a própria vida. No momento em que oferecia aos discípulos o seu corpo e o seu sangue. Jesus celebrou a Páscoa sem cordeiro e sem templo e. isto significa que Ele morreu na vigília da Páscoa e. à maneira da comunidade de Qumran. segundo o calendário de Qumran. por outro. provavelmente. contudo possui um elevado grau de probabilidade. ao mesmo tempo. de múltiplos significados. Moisés? O sangue de um cordeiro purifica os homens? Salva-os da morte? Como pode o sangue de um animal purificar os homens. segundo os três Evangelhos sinópticos. eram imolados os cordeiros pascais. Jesus celebrou a Páscoa sem o cordeiro. Entretanto. a descoberta dos escritos de Qumran levou-nos a uma possível solução convincente que. Assim. Portanto. entregou-se a si mesmo. o seu corpo e o seu sangue. Jesus morreu na cruz precisamente no momento em que. Segundo João. que derramou o seu sangue por todos nós. em cuja forma tradicional Ele inseriu a novidade da oferta do seu corpo e do seu sangue. não pôde pessoalmente celebrar a ceia pascal pelo menos é assim que parece. nos comunicam Mateus. como João Baptista tinha prenunciado no início do ministério público de Jesus: "Aí está o Cordeiro de Deus. A oferenda apresentada a Deus volta abençoada para o homem. Ele mesmo era o Cordeiro esperado. no templo. a expressão da expectativa e da esperança em Alguém que podia realizar aquilo de que o sacrifício de um animal não era capaz. o verdadeiro. portanto. A sua morte e o sacrifício dos cordeiros coincidiram. esta contradição parecia insolúvel. Porém. Nas narrações dos Evangelistas existe uma aparente contradição entre. ter o poder contra a morte? Com efeito continua São João Crisóstomo o cordeiro podia constituir somente um gesto simbólico e. salvar os homens. esperança: Completai aquilo que começastes! Concedei-nos a liberdade definitiva! Jesus celebrou esta ceia. juntamente com os seus na noite precedente à sua Paixão. recordar-se com gratidão da acção de Deus no passado tornava-se súplica e. aliás. A maioria dos exegetas julgava que João não queria comunicar-nos a verdadeira data histórica da morte de Jesus. Somente assim a Páscoa alcançaria o seu verdadeiro sentido. antecipou a sua morte de modo coerente com a sua palavra: "Ninguém me tira a vida. a última Ceia de Jesus foi uma ceia pascal. Jesus deveras derramou o seu sangue na vigília da Páscoa. Até há alguns anos. não sem cordeiro nem sem templo". certa vez São João Crisóstomo escreveu: "O que estás a dizer. 29). E Ele mesmo é o templo verdadeiro. Marcos e Lucas. não sem o cordeiro: em lugar do cordeiro. mas tinha escolhido uma data simbólica. embora ainda não seja aceite por todos. Nas suas catequeses eucarísticas. Porém. Ele cumpria realmente esta afirmação.bênção para aqueles que bendizem. portanto. No entanto. Com base neste contexto. portanto. na hora da imolação dos cordeiros. que vai tirar o pecado do mundo!" (Jo 1. Tudo isto lançava uma ponte do passado ao presente e rumo ao futuro: ainda não se tinha completado a libertação de Israel. podemos dizer que quanto foi mencionado por João é historicamente exacto. Agora. que Ele nos entregou na Sagrada Eucaristia. que não reconhecia o templo de Herodes e estava à espera do novo templo. o templo . por um lado. sou Eu que a dou por mim mesmo" (Jo 10. Assim. 18). O haggadah pascal. nele. Dela provinha o novo dom por Ele oferecido. o amor no qual Ele se entrega livremente por nós. Peçamos-lhe que nos atraia com a Sagrada Comunhão cada vez mais para junto de si. nelas. sou Eu que a dou por mim mesmo".vivo onde Deus tem a sua morada e onde nós podemos encontrar Deus e adorá-lo. Rezemos para que Ele nos ajude a não conservar a vida para nós mesmos. tornou-se memória da cruz e da ressurreição de Cristo uma memória que não recorda simplesmente o passado. A palavra encontra-se no Salmo 138 e ali tem inicialmente um significado distinto. Oremos ao Senhor para que nos ajude a compreender cada vez mais profundamente este mistério maravilhoso. Agora. a oração de bênção e de acção de graças de Israel. O seu sangue. VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Basílica de São Pedro Sábado Santo 7 de Abril de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Desde os tempos mais antigos a liturgia do dia de Páscoa começa com as palavras: Resurrexi et adhuc tecum sum — ressuscitei e estou sempre contigo. E deste modo ela permanece na Sagrada Eucaristia. onde podemos celebrar a nova Páscoa com os Apóstolos ao longo dos tempos. Este Salmo é um canto de admiração pela onipotência e onipresença de Deus. Templo. mas a oferecê-la a Ele e. Assim. E assim a berakha. encontrou a resposta naquele que por nós se tornou Cordeiro e. desta forma. E suas mãos são boas . aquele sangue pode salvar-nos. A liturgia vê nisto a primeira palavra do Filho dirigida ao Pai depois da ressurreição. de certa forma desprovido de eficácia. em que o Senhor abençoa as nossas oferendas pão e vinho para. que só pode vir daquele que Ele mesmo é. contemporaneamente. um de nós. ressuscitar. a fim de o amarmos sempre mais e. depois da volta da noite da morte ao mundo dos vivos. O seu amor. É da Cruz de Cristo que provém o dom. o amor daquele que é Filho de Deus e. para que O amemos cada vez mais. "Ninguém me tira a vida. A mão do Pai sustentou-O também nesta noite. um canto de confiança naquele Deus que jamais nos deixa cair das suas mãos. a comemoração da acção salvífica de Deus. que era a imolação do cordeiro inocente e imaculado. ao mesmo tempo. verdadeiro homem. Ele oferece-a a nós. é que nos salva. a fim de que os homens encontrem a vida a vida verdadeira. a trabalhar juntamente com Ele. O gesto nostálgico. no centro da nova Páscoa de Jesus encontrava-se a Cruz. e assim Ele pode levantar-se. tornou-se a nossa Celebração Eucarística. mas atrai-nos à presença do amor de Cristo. puseste sobre mim a tua mão. se entregar a si mesmo. a Verdade e a Vida! Amém. o Caminho. Mesmo que me aposse das asas da aurora. no abismo da morte e trouxe a luz. ali eu te espero e transformo para ti as trevas em luz. assim. 1. é certo: “Estais à minha frente e atrás de mim. Paulo: “Já não sou eu quem vivo. Tanto nesta vida como depois da morte ele está com Cristo – já não existe uma verdadeira diferença.mãos. lida como diálogo do Ressuscitado conosco. O orante imagina uma viagem através de todas as dimensões do universo — que lhe acontecerá? “Se subir aos céus. mas graças a Ele. e agora ressuscitei e permaneço para sempre seguro pelas tuas mãos”. é ao mesmo tempo uma explicação daquilo que acontece no Batismo. sobre mim repousa a Vossa mão”. 8-12).).. Mas esta palavra do Ressuscitado ao Pai tornou-se também uma palavra que o Senhor dirige a nós: “Ressuscitei e estou contigo para sempre”. viajei até às extremas profundezas da terra. e a trevas tornaram-se luz. A minha mão de mantém. o Batismo é mais do que um lavacro. para que vivamos com Ele e. mesmo aí. por isso. Esta palavra do Salmo. Tanto nesta vida como depois da morte estamos com Cristo e. Por isso a Igreja justamente pode considerar a palavra de agradecimento e de confiança como palavra do Ressuscitado dirigida ao Pai: “Sim. diz com palavras misteriosas que no Batismo fomos “enxertados” de forma semelhante à morte de Cristo. 4. se descer aos infernos. seria bem melhor. 9-10). Se eu disser: “ao menos as trevas me cobrirão. aceitando uma espécie de morte do nosso eu. Na Carta aos Efésios lemos que Ele desceu nas regiões mais profundas da terra e que Aquele que desceu é o mesmo que também subiu acima de todos os céus para encher o universo (cf. Estou presente até mesmo nas portas da morte. daquele momento em diante. e a vossa dextra me segura. Onde quer que possas cair. Assim. É mais do que a inserção numa comunidade. Paulo no-lo diz de forma clara na sua Carta aos Filipenses: “Para mim o viver é Cristo. depomos a nossa vida em suas mãos. No Batismo nos doamos a Cristo – Ele nos assume em si.. É um novo nascimento. igualmente. 21ss. então isto significa também que o confim entre morte e vida se torna permeável. ainda posso trazer fruto.. vejo-me apertado entre estas duas coisas: ser libertado – ou seja. cairás em minhas mãos. De fato. No Batismo abandonamos a nós mesmos. para poder dizer com S. lá Vos encontro. Paulo escreveu: “Nenhum de nós vive para si mesmo. é Cristo que vive em mim”.. Deste modo a visão do Salmo tornou-se realidade. a morte já não é um verdadeiro limite. ou uma purificação. a Vossa mão me conduz. A passagem da Carta aos Romanos.] tanto faz a luz como as trevas” (Sl 139[138]. No dia de Páscoa a Igreja nos diz: Jesus Cristo cumpriu para nós esta viagem através das dimensões do universo. e nenhum de nós . para os outros. Se nos doamos deste modo. para que depois não vivamos mais para nós mesmos. Mas se permaneço nesta vida. Sim. diz a cada um de nós. e for morar nos confins do mar. justiçado – e ser com Cristo. que acabamos de ouvir. Aos Romanos. com Ele e n'Ele. Um reinício da vida. nem sequer as trevas serão bastante escuras para Vós [.”. mas permanecer nesta vida é mais necessário para vós” (cf. Onde ninguém já não pode acompanhar-te e onde nada podes levar. Na escuridão impenetrável da morte Ele entrou como luz – a noite fez-se luminosa como o dia. levantai-vos. 7ss. e ouvistes a minha voz” (Jn 2. Elas agora já não são intransponíveis. No Batismo. Ele encontra Adão e todos os homens que esperam na noite da morte. com toda a sua insuficiência. Mas precisamente por isso não estamos sós nem sequer na morte. pode-se perguntar: Mas o que significa esta imagem? Que novidade realmente aconteceu ali através de Cristo? Sendo a alma do homem por si própria imortal desde a criação. a radicalidade do seu amor é a chave que abre esta porta. Contudo. O Filho de Deus na encarnação fez-se uma só coisa com o ser humano – com Adão. 12). Voltemos à noite do Sábado Santo. Porém. A sua Cruz. nada pode contentar o homem eternamente.. as trevas são como a luz” (cf. mas deseja-o: “Clamei a vós. Ele cumpre o caminho da encarnação. Com a sua morte Ele leva Adão pela mão. O que acontece então? Visto que não conhecemos o mundo da morte. Jesus que entra no mundo dos mortos leva os estigmas: as suas feridas. Ele carrega realmente a ovelha perdida sobre os seus ombros e a leva para casa. Uma eternidade sem esta união com Deus seria uma condenação. Este amor é mais forte que a morte.” Só o Cristo ressuscitado pode elevar-nos até à união com Deus. são amor que vence a morte. ninguém dali pode voltar para trás. Queridos batizandos. qual foi a novidade que Cristo trouxe? Sim. Os ícones pascais da Igreja oriental mostram como Cristo entra no mundo dos mortos. Ele nos envolve e nos leva. junto com Cristo. 3). nos libertamos do medo. podemos representar este processo de superação da morte somente com imagens que permanecem sempre pouco apropriadas. mesmo depois da sua queda.. Acompanhados por Ele. os vossos dintéis. Sl 139 [138]. A sua veste é luz. sendo Deus.). as portas irrevogáveis. já fizemos a viagem cósmica até às profundezas da morte. Mas só naquele momento. a alma é imortal. se fez homem para poder morrer – este amor tem a força para abrir esta porta. Vivemos sustentados pelo seu Corpo. porém. esta é a novidade do Batismo: nossa vida pertence a Cristo. acolhidos por Ele no seu amor. aliás. leva todos os homens em expectativa para a luz. Cristo. elas nos ajudam a entender algo do mistério. A sua Cruz abre de par em par as portas da morte. A liturgia aplica à descida de Jesus na noite da morte a palavra do Sl 24 [23]: “Levantai. O amor d'Aquele que. os seus padecimentos tornaram-se poder. onde quer que formos – Ele que é a própria Vida. porque o homem de forma singular está na memória e no amor de Deus. “A noite é clara como o dia.] Quer vivamos. Porém. mas estamos com Ele que vive sempre. agora.. se não o estar com Deus. Mas a sua força não basta para elevar-se até Deus. ó pórticos. quer morramos. em que cumpre o extremo ato de amor descendo na noite da morte. No Credo professamos a respeito do caminho de Cristo: “Desceu à mansão dos mortos”. Não existe uma chave para esta porta férrea. O homem não consegue chegar ao alto. e em comunhão com o seu . À sua vista parece até ouvir a oração de Jonas: “Clamei a vós do meio da morada dos mortos. não a nós mesmos.morre para si mesmo [. Não temos asas que poderiam levar-nos até aquela altura. ó pórticos eternos!” A porta da morte está fechada. pertencemos ao Senhor” (Rm 14. porque Deus é luz. possui a chave. onde nossas forças não podem chegar.. Neste dia. sabendo que precisamente assim também nos elevamos com Ele. Em seguida teriam deposto a veste branca. ao mesmo tempo. deviam conservá-la diligentemente para assim levar a este nosso mundo algo da luminosidade e da bondade de Deus. Ele viveu sob dois regimes ditatoriais e. portanto. mostra hoje também que o amor é mais forte do que o ódio. Há dois anos. que das profundezas gritam por ti! Ajuda-nos a levar-lhes a tua luz! Ajuda-nos a chegar ao “sim” do amor. É a misericórdia que põe um limite ao mal. que nos faz descer e por isso mesmo elevevarmo-nos juntamente contigo! Amém. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NO DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRIDA E VIGÍLIA DO SEU OCTOGÉSIMO ANIVERSÁRIO Domingo. o domingo de hoje tem o nome de Domingo "in Albis". E só assim a morte é vencida. depois das primeiras Vésperas desta Festa. Desce também nas noites e na mansão dos mortos deste nosso tempo moderno e segura pela mão aqueles que esperam. A força através da qual nos leva consigo. é a força pela qual Ele se eleva. Unidos ao seu amor. Leva-os para a luz! Permanece também comigo nas minhas noites escuras e leva-me para fora! Ajuda-me.Corpo alcançamos o coração de Deus. a necessidade e a violência. além da morte e a partir de Deus. e não menos fortemente. pelas quais o mundo também neste nosso tempo está afligido. Mas experimentou também. Nela expressa-se a natureza muito peculiar de Deus a sua santidade. a chama delicada da verdade e do bem que o Senhor tinha acendido neles. o poder da verdade e do amor. mas a nova luminosidade que lhes foi comunicada tinham que a incluir na sua vida quotidiana. O Santo Padre João Paulo II quis que fosse celebrada neste domingo a Festa da Divina Misericórdia: na palavra "misericórdia". O amor O fez descer e. símbolo da luz que o Senhor lhes tinha doado no Baptismo. Tende confiança diz-nos . no contacto com a pobreza. Este é o júbilo da Vigília Pascal: nós somos livres. Rezemos. somos livres e nossa vida é esperança. levados sobre as asas do amor. 15 de Abril de 2007 II Domingo de Páscoa e da Divina Misericórdia Queridos irmãos e irmãs! Segundo uma antiga tradição. ajuda-nos a descer contigo na escuridão daqueles que estão à espera. Ao morrer ele entrou na luz da Divina Misercórdia da qual. nesta noite: Senhor. Mediante a ressurreição de Jesus o amor revelou-se mais forte do que a morte. Que é mais forte do que a morte. como pessoas que amam descemos juntos com Ele nas trevas do mundo. os neófitos da vigília pascal vestiam mais uma vez a sua veste branca. ele encontrava resumido e novamente interpretado para o nosso tempo todo o mistério da Ressurreição. mais forte do que o mal. a presença de Deus que se opõe a todas estas forças com o seu poder totalmente diverso e divino: com o poder da misericórdia. agora nos fala de modo novo. experimentou profundamente o poder das trevas. João Paulo II terminava a sua existência terrena. Dirijo um deferente e grato pensamento às Personalidades políticas e aos membros do Corpo Diplomático. a liturgia não deve servir para falar do próprio eu. o povo levava os doentes às praças. pude fazer a experiência do que significa paternidade. ocorre uma coincidência para mim significativa: posso dirigir o meu olhar para trás.. ouvi e narrarei a todos vós. na qual se abre de par em par o confim entre vida e morte. Metropolita de Pergamo. Precisamente nestes dias iluminados de modo particular pela luz da divina misericórdia. Esta sombra. Sempre considerei um grande dom da Misericórdia Divina que o nascimento e o renascimento me tenham sido concedidos. no sinal do início da Páscoa. "Vinde.. que se fez competente intérprete dos sentimentos comuns. cobriu a minha vida desde . agradeço a Deus porque pude fazer a experiência do que significa "família". de forma que a palavra sobre Deus como Pai se tornou para mim compreensível a partir de dentro. Obviamente. Por fim. com a sua ajuda. quando Pedro passava. saúdo com afecto fraterno. nasci membro da minha própria família e da grande família de Deus. Estamos aqui reunidos para reflectir sobre o cumprimento de um breve período da minha existência. mas nela alcança-se a própria sabedoria de Deus a Sabedoria eterna. juntos. Sua Eminência Ioannis. Saúdo antes de tudo os Senhores Cardeais. para os 80 anos de vida. Agradeço de modo particular porque. para que.ele na Divina Misericórdia! A Misericórdia é a veste de luz que o Senhor nos concedeu no Baptismo. Saúdo quantos estão aqui reunidos para celebrar comigo esta circunstância. pelos conselheiros e amigos que Ele me deu. o Senhor Cardeal Angelo Sodano. Diante dele nós temos uma responsabilidade. Saúdo os Arcebispos e Bispos. da minha Diocese. sempre aberta a quem procura refúgio e precisamente assim é capaz de me dar a liberdade. o enviado pessoal do Patriarca ecuménico Bartolomeu I. no mesmo dia. que me quiseram honrar com a sua presença. Agradeço a Deus pela minha irmã e pelo meu irmão que. desde o primeiro dia. A sombra de Pedro. de forma que pouco a pouco podemos aprender a caminhar com firmeza. entre os quais os Auxiliares da Diocese de Roma. com base na experiência humana foi-me aberto o acesso ao grande e benévolo Pai que está no céu. ela deve crescer em nós todos os dias. os Religiosos e as Religiosas e todos os fiéis presentes. Não devemos deixar que esta luz se apague. ao contrário. porque na sua justiça transparece sempre a misericórdia e a bondade com a qual aceita também a nossa debilidade e nos ampara. Assim. no mesmo dia. pude entrar e crescer na grande comunidade dos crentes. agradeço por ter podido aprender tantas coisas beneficiando da sabedoria desta comunidade. para levar ao mundo o feliz anúncio de Deus. no alvorecer da Igreja nascente. diz o Salmo (65[66]. entre céu e terra. dirigindo um pensamento de gratidão ao Decano do Colégio Cardinalício. mediante a comunidade da Igreja católica. saúdo os Prelados e os outros membros do Clero. provinha da luz de Cristo e por isso tinha em si algo do poder da sua bondade divina. na qual estão contidas não só as experiências humanas desde os tempos mais remotos: a sabedoria desta comunidade não é apenas sabedoria humana. mas ao mesmo tempo Ele dá-nos confiança. Sim. Na primeira leitura deste domingo é-nos narrado que. Agradeço a Deus porque pude fazer a experiência profunda do que significa bondade materna. de si mesmo. por assim dizer. aquilo que Ele fez para mim". me estiveram fielmente próximos ao longo da minha vida. Agradeço a Deus pelos companheiros que encontrei no meu caminho. 16). expressando apreço pelo gesto gentil e desejando que o diálogo teológico católico-ortodoxo possa prosseguir com renovado entusiasmo. a sua sombra os cobrisse: atribuía-se a esta sombra uma força restabelecedora. de facto. todavia. a própria vida pode servir para anunciar a misericórdia de Deus. mas era sobretudo um homem cheio de uma fé apaixonada em Cristo. a consciência da pobreza da minha existência perante esta tarefa para mim era pesada. Prosseguindo o caminho da vida vem ao meu encontro depois um dom novo e exigente: a chamada para o ministério sacerdotal.o início. Ele. não é só o Senhor. O Senhor levou consigo na eternidade as suas feridas. É poder da Divina Misericórdia. para estar na luz de Cristo! Nascimento e renascimento. no Evangelho. E quanta confiança infundiam as palavras de Jesus. ouvimos o mesmo: o Senhor sopra sobre os seus discípulos. As feridas são para nós o sinal de que Ele nos compreende e de que se deixa ferir pelo amor para connosco. Pedro era um homem com todas as debilidades de um ser humano. em nome de Cristo. Ele colocou sobre mim a sua mão e não me abandonará. ajudando-nos assim a . Estas suas feridas como podemos nós tocá-las na história deste nosso tempo! De facto. Na festa dos santos Pedro e Paulo de 1951 havia mais de quarenta companheiros encontrámo-nos na catedral de Freising prostrados no chão e sobre nós foram invocados todos os santos. a sua força unificadora. família terrena e grande família de Deus este é o grande dom das múltiplas misericórdias de Deus. ser-lhes-ão perdoados. então podemos. além da identidade humana do Jesus de Nazaré. o Senhor. infunde em nós a consciência do dever interior de amar. nos alivia continuamente da nossa debilidade e precisamente assim. d'Aquele que perdoa também a nós. O Espírito de Jesus Cristo é poder de perdão. porque provém precisamente do próprio Cristo. ver também continuamente quanto Deus é bom connosco.".. mas amigos". nos foi imposta. mesmo imersos nela. fosse invocada sobre nós. Que certeza da sua misericórdia e que conforto elas significam para nós! E que segurança nos dão sobre o que Ele é: "Meu Senhor e meu Deus!". É suficiente que tenhamos o coração vigilante para as poder sentir. Hoje. do dever de corresponder à sua confiança com a nossa fidelidade. Somos demasiado inclinados para sentir apenas a fadiga quotidiana que. Ele concede-lhes o seu Espírito o Espírito Santo: "Àqueles a quem perdoardes os pecados. na sua verdadeira e mais profunda identidade: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20. Estas palavras eram então pronunciadas no momento em que é conferida a faculdade de administrar o Sacramento da reconciliação e assim. Concede a possibilidade de iniciar de novo sempre de novo. que depois durante a liturgia da Ordenação pudemos ouvir dos lábios do Bispo: "Já não vos chamo servos. repleto de amor por Ele. e aprendi que ela é uma sombra boa uma sombra restabelecedora. Através da sua fé e do seu amor a força restabelecedora de Cristo. como filhos de Adão. era confortador o facto de que a protecção dos santos de Deus. A amizade de Jesus Cristo é amizade d'Aquele que faz de nós pessoas que perdoam. Pude fazer delas uma experiência profunda. Ele é um Deus ferido. chegou aos homens mesmo se misturada com toda a debilidade de Pedro! Procuremos também hoje a sombra de Pedro. Ouvimos no trecho evangélico de hoje a narração do encontro do apóstolo Tomé com o Senhor ressuscitado: ao apóstolo é concedido que toque nas suas feridas para assim o reconhecer reconhece-o. o fundamento sobre o qual nos apoiamos. Sim. Mas se abrirmos o nosso coração. deixou-se ferir por amor para connosco. 28). E como constituem para nós um dever de nos deixarmos por nossa vez por Ele! As misericórdias de Deus acompanham-nos dia após dia. de perdoar os pecados. Sabia que não iria ficar sozinho.. mas é também amigo. vivos e mortos. Ele deixa-se ferir sempre de novo por nós. como Ele pensa em nós nas pequenas coisas. enquanto tudo parecia terminado.. eles não o reconhecem imeditamente (cf. Na Bíblia. No entanto. é ainda Jesus que vem ao encontro dos seus amigos. precisamente há trinta anos. Amém". que narra a pesca milagrosa. Mas. 4). isto é. lugar que traz à mente as dificuldades e as tribulações da vida.alcançar as grandes. juntamente com o tempo concedido. Ouvimos de novo estas palavras de Jesus no trecho evangélico que acaba de ser proclamado. No livro do Êxodo. eles tinham voltado para a sua terra e para o seu trabalho de pescadores. agora encontravam-se com a rede vazia. "da coluna de fogo e da nuvem" para salvar o seu povo em fuga do Egipto (cf. Mas eis que ao amanhecer Jesus vai ao seu encontro. encontram o Senhor ressuscitado. Era difícil para os discípulos compreender aquilo que tinha acontecido. e haveis de encontrar!" (Jo 21. a "aurora" indica com frequência o momento de intervenções extraordinárias de Deus. contudo. multiplicar o amor e aumentar a paz. com aquela oração que. Que ele me torne. 31). como no caminho de Emaús. Repetidamente vejo com alegria reconhecida quanto é grande o número dos que me apoiam com a sua oração. escrevi na imagem-recordação da minha sagração episcopal. 24). por exemplo. Por isso gostaria neste momento de agradecer de coração ao Senhor e a todos vós. Desta vez encontra-os à margem do mar. v. sem peixes. que com a sua fé e o seu amor me ajudam a desempenhar o meu ministério. que são indulgentes com a minha debilidade. de novo. suficiente para a sua tarefa e útil para a vossa edificação e me conceda um desempenho do meu serviço que. E ainda é ao surgir da manhã que Maria Madalena e as outras mulheres. Também no trecho evangélico que estamos a meditar já passou a noite e aos discípulos provados . "Rezai ao nosso bom Deus. e isto deixa entender o clima de dispersão e de confusão que reinava na sua comunidade (cf. Mt 26. servo miserável. o Senhor intervém. encontra-os ao amanhecer. o Senhor trouxe também uma ajuda nova na minha vida. Mc 14. isto aparece como o balanço da sua experiência com Jesus: tinham-no conhecido. Depois do "escândalo" da Cruz. tendo corrido ao sepulcro. depois de uma fadiga inútil que tinha durado a noite inteira. à margem do mar de Tiberíades. 21 de Abril de 2007 Amados irmãos e irmãs "Lançai a rede. "na vigília da manhã". estavam ao lado dele e Ele tinha-lhes prometido muitas coisas. Tinham voltado para a vida anterior. 6). aumente a minha dedicação. Com o peso aumentado pela responsabilidade. VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE A VIGEVANO E PAVIA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PRESIDIDA NA PRAÇA DUCAL DE VIGEVANO Sábado. reconhecendo também na sombra de Pedro a luz benéfica de Jesus Cristo. De certo modo. para que se digne fortalecer nos nossos dias a fé.. para aquelas actividades que desempenhavam antes de encontrarem Jesus. Êx 14. A sua rede está vazia. Gostaria de concluir esta homilia com a oração do Santo Papa Leão Magno. Elas estão inseridas na narração da terceira aparição do Ressuscitado aos discípulos. 27. cuja preciosa colaboração é indispensável para a vida das várias comunidades. o Senhor diz: "Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar!" (v. sem se preocupar com os cansaços e as dificuldades. Caros irmãos e irmãs. e agradeço-lhe as cordiais palavras que me dirigiu no início da Celebração. quando é escuro. 7). por um lado. Esta fachada. Porém. vos repete: "Lança a rede. Estendo a minha saudação às pessoas consagradas. Dirijo uma especial e calorosa saudação aos sacerdotes. também no nosso. que são a esperança da Diocese. Ela foi idealizada pelo ilustre Bispo de Vigevano. Enfim. Igreja de Vigevano. o Espírito do Senhor pode tornar eficaz a missão da Igreja no mundo. com a sua arquitectura singular. 6). e não de manhã. possa esta tarde a Igreja que está em Vigevano repetir com o entusiasmo de João: Jesus Cristo "é o Senhor!". através dos meus lábios. v. assim em todos os tempos. Cláudio Baggini. para acompanhar este encontro mediante a televisão. e a quantos participam nesta assembleia eucarística nas praças e nas ruas adjacentes a esta sugestiva Praça Ducal. Prezados irmãos e irmãs. Saúdo com afecto o vosso Bispo. os discípulos confiaram em Jesus e o resultado foi uma pesca milagrosamente abundante. a tal ponto que mal conseguiam arrastar a rede. quando a água já é transparente. cientista de fama europeia. Normalmente. É a confiante adesão à sua palavra que há-de tornar fecundos os vossos esforços pastorais. Juan Caramuel. que temos de nos comprometer nas actividades pastorais como se o resultado dependesse totalmente dos nossos esforços.pelo cansaço. os peixes caem na rede durante a noite. vim ao meio de vós sobretudo para vos encorajar a serdes testemunhas destemidas de Cristo. dirige-se a Pedro e diz: "É o Senhor!" (v. iluminado pelo amor. une harmoniosamente o templo à praça e ao castelo . 6). faz-nos compreender que o verdadeiro bom êxito da nossa missão é totalmente dom da Graça. o meu pensamento dirige-se aos fiéis reunidos nas várias paróquias. "É o Senhor!": esta sua profissão de fé espontânea é também para nós um convite a proclamar que Cristo ressuscitado é o Senhor da nossa vida. como a dócil adesão à palavra do Senhor fez com que se enchesse a rede dos discípulos. D. não se pode esquecer que Jesus é capaz de inverter tudo num momento. congratulandome pela generosidade com que desempenham o seu serviço eclesial. Nesta altura João. e hás-de encontrar!". E então. Com efeito. saúdo o Metropolita Cardeal Dionigi Tettamanzi. juntamente com ele. Por outro. que tem o seu centro espiritual na Catedral. Nos misteriosos desígnios da sua sabedoria. como o cansaço nocturno dos Apóstolos. D. aos agentes pastorais e a todos os fiéis leigos. A página evangélica que ouvimos recorda-nos. que tem como moldura a artística fachada da Catedral. cujo 4º centenário de nascimento recordasdes solenemente nos meses passados. Quando o trabalho na vinha do Senhor parece ser vão. Deus sabe quando é o tempo de intervir. porém. os Bispos lombardos e os outros Prelados. decepcionados por não terem pescado nada. em cujo adro estamos a celebrar a Eucaristia. O olhar perspicaz do discípulo que Jesus amava ícone do crente reconhece o Mestre presente à margem do lago. é com grande alegria que me encontro no meio de vós: agradeçovos e saúdo todos cordialmente. Não pode faltar um pensamento carinhoso aos seminaristas. dirijo uma saudação deferente às Autoridades civis. devido à grande quantidade de peixes pescados (cf. Depois. às quais estou grato pela significativa mensagem de cortesia que a sua presença exprime. Saúdo-vos como representantes do Povo de Deus reunido nesta Igreja particular. E possa a vossa Comunidade diocesana ouvir o Senhor que. teve a oportunidade de vos exortar a "fazer-vos ao largo e a não ter medo de avançar ao mar aberto" (Insegnamenti. como para os discípulos. promovendo a solidariedade e o respeito pela dignidade humana. Esta escuta dócil encontra para vós actuação concreta nas decisões do vosso último Sínodo diocesano. 1. Carregar os pesos uns dos outros. das associações e dos vários grupos de compromisso apostólico. tanto pela formação como pela animação espiritual. como também daqueles que denominamos "distantes". dos fiéis leigos. Também a vós. que terminou em 1999. pág. com uma proposta de vida arraigada no Evangelho e no ensinamento da Igreja testemunharam. No final deste caminho sinodal. Que vos seja de guia constante esta palavra do Senhor: "Todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13. Esta luminosa herança espiritual. deste vosso rico património cristão. e haveis de encontrar!" (Jo 21. social e cultural. 6). colaborar. E que dizer. 35). pelo que somente trabalhando em favor das famílias é possível renovar o tecido da comunidade eclesial vejo que estamos de acordo e da própria sociedade civil. que se encontrou convosco no dia 17 de Abril de 1999 numa Audiência especial. encorajo-vos a continuar a cuidar dos jovens. Esta vossa Terra é rica de tradições religiosas. Além disso. as comunidades e os grupos laicais. não vos canseis de promover de modo orgânico e aprofundado uma pastoral vocacional que ajude os jovens na busca de um verdadeiro significado a dar à sua existência. Nunca se extinga nos vossos corações o entusiasmo missionário suscitado na vossa Comunidade diocesana por aquela Assembleia providencial. o que significa concretamente o convite de Cristo a "lançar a rede"? Significa em primeiro lugar. redescoberta e alimentada. caritativa. "Lançai a rede. 764). Portanto. ponde-vos à escuta da sua palavra e meditai-a todos os dias. Este estilo de comunhão exige a contribuição de todos: do Bispo e dos sacerdotes.. inspirada e desejada pelo saudoso Bispo D. em plena sintonia entre si. como válido apoio de uma convivência livre e justa. que tinha ardentemente desejado uma visita do Papa a Vigevano. XXII. especialmente nas dificuldades sociais do final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. simbolizando assim a síntese admirável de uma tradição em que se entrelaçam as duas dimensões essenciais da vossa Cidade: a civil e a religiosa. enfim. acreditar nele e confiar na sua palavra. actuando sempre em harmonia com a pastoral diocesana e segundo as indicações do Bispo. Amada Comunidade eclesial de Vigevano. Uma contribuição indispensável para a evangelização pode ser oferecida pelas associações.com a sua torre. como a eles. como peças de um mosaico. sentir-se co-responsáveis é o espírito que deve animar constantemente a vossa Comunidade.. não pode deixar de representar um ponto de referência seguro para um serviço eficaz ao homem do nosso tempo e para um caminho de civilização e de progresso autêntico. a arte e a cultura. Ao longo dos séculos. Expressão mais eloquente do que nunca. os autênticos valores evangélicos. são as figuras exemplares de sacerdotes e de leigos que. formarão uma Igreja particular viva. Nesta perspectiva. 1999. Seguindo as orientações fundamentais do Sínodo e as directrizes do vosso Pastor actual. As paróquias singularmente. compartilhar. . a fé forjou o seu pensamento. da família? É o elemento-chave da vida social. Jesus pede que O sigais com fé sincera e sólida. Giovanni Locatelli. organicamente inserida em todo o Povo de Deus. dos religiosos e das religiosas. de fermentos espirituais e de uma vida cristã diligente. o amado João Paulo II. tanto dos "próximos". permanecei unidos entre vós e abri-vos aos vastos horizontes da evangelização. particularmente atenta aos mais necessitados. Dilectos irmãos e irmãs da Diocese de Vigevano! Finalmente. hoje tenho a alegria de visitar a vossa Diocese e o momento culminante deste nosso encontro é também aqui a Santa Missa. com um corajoso estilo missionário. Estas duas extraordinárias figuras de discípulos fiéis de Cristo constituem um sinal eloquente das grandes obras realizadas pelo Senhor na Igreja de Vigevano. que vós venerais com o título de Madonna della Bozzola.. Este mandato de Jesus foi docilmente acolhido pelos santos e a sua existência experimentou o milagre de uma pesca espiritual abundante. à qual ele opôs tenazmente o ardor da caridade. Então. falecido com apenas 29 anos no campo de concentração de Hersbruck. e haveis de encontrar!". A cansativa mas infrutuosa pesca nocturna dos discípulos é admoestação perene para a Igreja de todos os tempos: sozinhos."Lançai a rede. sem Jesus. nada podemos fazer! No compromisso apostólico as nossas forças não são suficientes: sem a Graça divina o nosso trabalho. leigo da Acção Católica. e o Servo de Deus Teresio Olivello. para que obtenha uma renovada efusão do Espírito Santo sobre esta querida Diocese. sinal do poder dinâmico da palavra e da presença do Senhor. e os outros Prelados da . Arcebispo de Milão. o Bispo Giovanni Giudici. certamente experimentará uma pesca milagrosa. que soube ir ao encontro das pobrezas espirituais do seu tempo. que tornam manifesta a acção da Graça e são para o Povo de Deus um encorajamento a seguir Cristo pela exigente vereda da santidade. resulta ineficaz. mesmo que seja bem organizado. esteja pronta a "lançar" as redes. com renovada generosidade. o Bispo Giovanni Volta. atento aos mais distantes e particularmente aos jovens. Reflecti-vos nestes modelos. que confere incessantemente ao seu povo uma "renovada juventude do Espírito" (Colecta). 22 de Abril de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Ontem à tarde encontrei-me com a comunidade diocesana de Vigevano e o centro desta minha visita pastoral foi a Concelebração eucarística na Praça Ducal. cuja causa de beatificação está em curso: o venerável Francisco Pianzola. dirijo o meu pensamento à Mãe de Deus. VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE A VIGEVANO E PAVIA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA ESPLANADA DOS "ORTI BORROMAICI" DE PAVIA Domingo. Penso de modo especial nos vossos Padroeiros celestiais: Santo Ambrósio. sacerdote animado por um ardente espírito evangélico. Confio-lhe cada uma das vossas Comunidades. o emérito. o Pastor da vossa diocese.. vítima sacrifical de uma violência brutal. Oremos em conjunto a fim de que a vossa Comunidade diocesana saiba acolher com alegria o mandato de Cristo e. Saúdo com afecto os Irmãos que concelebram comigo: o Cardeal Dionigi Tettamanzi. Penso também em dois filhos ilustres desta terra. São Carlos Borromeu e o Beato Mateus Carreri. agora começasse a agir de novo. mas de modo especial a todos nós aqui. o Ressuscitado. mostra o caminho. tendo declarado Jesus réu de morte. então circundada e assediada pelos Vândalos. para todos os homens Ele é o "chefe" que precede pelo caminho. converte os teus irmãos" (Lc 22. para o seu povo de Israel". se olharmos para eles. em particular Pedro. Depois de bastante confusão de uma história agitada. Poderíamos por isso olhar para o próprio Pedro. palavras que neste momento pretendem alcançar também o nosso coração. também de vós. e faço o meu pensamento extensivo a toda a população desta antiga e nobre cidade e da Diocese. Esta breve catequese de Pedro não era válida só para o Sinédrio. aos doentes e a todos os fiéis. alguns trechos da pregação com que os Apóstolos. E aonde conduz este "chefe". não podia tolerar que a sua força restabelecedora se fizesse novamente presente e em volta deste nome se reunissem pessoas que acreditavam n'Ele como no Redentor prometido. O efeito da morte e ressurreição de Jesus é totalmente diverso. Os Apóstolos são acusados. Na hodierna leitura os Apóstolos estão diante do Sinédrio diante desta instituição que. são as palavras-chave da catequese de Pedro. de recomeçar. correspondentes aos dois títulos de Cristo "cabeça". Que significam? O caminho que devemos fazer o caminho que Jesus nos indica. Pois Jesus. Ela fala a todos nós. conduz à conversão cria o espaço e a possibilidade de se corrigir. A reprovação é: "Quereis fazer pesar sobre nós o sangue daquele homem": a esta acusação Pedro responde com uma breve catequese sobre a essência da fé cristã: "Não.Lombardia. Estou grato aos Representantes do Governo e das Administrações locais pela sua presença. Poderíamos olhar para Paulo como para um grande convertido. uma vez convertido. No tempo pascal a Igreja apresenta-nos. aos religiosos e às religiosas. ao qual o Senhor no cenáculo disse: "E tu. mediante a pregação dos Apóstolos. o que traz este "salvador"? Ele. depois da Páscoa convidavam Israel à fé em Jesus Cristo. fundando assim a Igreja. nos quais. aos jovens. aos diáconos. A cidade de Pavia fala de um dos maiores convertidos da história da Igreja: Santo Aurélio Agostinho. chama-se "conversão". e o "salvador" que torna justa a nossa vida. As duas expressões "conversão" e "perdão dos pecados". Mas o que é? O que é preciso fazer? Em cada vida a conversão tem a sua própria forma. e assim agora ele pertence de modo particular a esta cidade e nela e dela fala a todos nós. . 32). Dirijo a minha saudação cordial aos sacerdotes. e "salvador". assim nos diz São Pedro. aos responsáveis das associações laicais. archegós em grego. Mas no decorrer da história da cristandade o Senhor enviou-nos modelos de conversão. Deus fê-lo "chefe e salvador" de todos. não podia tolerar que este Jesus. em cada domingo. E para todas as gerações. o rei dos Lomgobardos adquiriu os seus despojos para a cidade de Pavia. porque todo o homem é algo de novo e nenhum é o duplicado de outro. o Ressuscitado. na África. podemos encontrar orientação. não queremos fazer pesar o seu sangue sobre vós. à humanidade. E Ele concede o perdão dos pecados introduz-nos na relação justa com Deus e assim na justa relação de cada qual consigo mesmo e com o próximo. Ele faleceu a 28 de Agosto de 430 na cidade portuária de Hipona. de se arrepender. vive também hoje. assim também depois dele a vida de Agostinho permaneceu. 3. Seguindo atentamente o curso da vida de Santo Agostinho. O amor por este nome diz-nos tinha-o bebido com o leite materno (cf. de onde vimos nós mesmos. A paixão pela verdade é a verdadeira palavra-chave da sua vida. este Logos permanecia distante e abstracto. Tudo o que não tinha o nome de Cristo. mesmo se de forma diversa. Queria conseguir saber o que é o homem. Desejava encontrar a vida recta e não simplesmente viver cegamente sem sentido e sem meta. podemos ver que a conversão não foi um acontecimento de um único momento. esta mesma filosofia não lhe indicava caminho algum para o alcançar. mas precisamente um caminho. Assim podemos falar das "conversões"de Agostinho que. Quem lê As Confissões pode partilhar o caminho que Agostinho teve que percorrer numa longa luta interior para receber finalmente.No seu livro "As Confissões". quando fez colocar nas paredes os Salmos penitenciais para os ter sempre diante dos olhos. Queria encontrar a verdade. Agostinho ilustrou de modo comovedor o caminho da sua conversão. 8). não lhe era suficiente. E há ainda uma peculiaridade. que vive com a . Conf. Ele narra-nos que. Como antes do Baptismo. A primeira conversão fundamental foi o caminho interior para o cristianismo. por um lado. para o "sim" da fé e do Baptismo. um caminho de conversão até à sua última doença. o Logos fez-se carne. E podemos ver que. através da filosofia platónica. na noite de Páscoa de 387. À humildade da encarnação de Deus deve corresponder é este o grande passo a humildade da nossa fé. Só na fé da Igreja encontrou depois a segunda verdade fundamental: o Verbo. e contudo havia nele algo de particular: permaneceu sempre uma pessoa em busca. como também por todas as perguntas e problemas de um homem jovem. Mas conhecer verdadeiramente este Deus e familiarizar deveras com aquele Jesus Cristo e chegar a dizer-Lhe "sim" com todas as consequências esta era a grande luta interior dos seus anos juvenis. de facto. na fonte baptismal este caminho ainda não tinha terminado. era filho do seu tempo. Mas a filosofia. tinha tomado conhecimento e reconhecido que "no princípio era o Verbo" o Logos. Qual foi o aspecto essencial deste caminho? Agostinho. A paixão pela verdade guiou-o realmente. outras vezes de modo mais claro que Deus existe e que Ele se ocupa de nós. E sempre acreditou por vezes bastante vagamente. profundamente condicionado pelos costumes e paixões nele dominantes. na fonte baptismal o Sacramento que marcou a grande mudança da sua vida. Estava sempre atormentado pela questão da verdade. que lhe mostrava que o princípio de tudo é a razão criadora. Gostaria de falar brevemente de três grandes etapas deste caminho de conversão. que com o Baptismo que lhe foi administrado pelo Bispo Ambrósio na catedral de Milão tinha alcançado a sua meta. E assim ele nos alcança e nós o alcançamos. para onde vamos e como podemos encontrar a vida verdadeira. 4. que depõe a soberba pedante e se inclina para pertencer à comunidade do corpo de Cristo. de três "conversões". foram uma única grande conversão na busca doRosto de Cristo e depois no caminhar juntamente com Ele. de onde provém o mundo. Vivia como todos os outros. a razão criadora. quando se auto-excluiu de receber a Eucaristia para repercorrer o caminho da penitência e receber a salvação das mãos de Cristo como dom das misericórdias de Deus. Nunca se contentou com a vida como ela se apresentava e como todos a viviam. contudo. tinha meditado no meu coração e meditado uma fuga na solidão. que não falava bem latim e tinha dificuldade em pregar. contestar os opositores. sustentar os débeis.. retomar. a vida de Agostinho estava fundamentalmente mudada. Agora já não podia dedicar-se unicamente à meditação na solidão. não foi escrita. Tinha que viver com Cristo por todos. Aprender a humildade da fé na Igreja corpórea de Jesus Cristo. estar à disposição de todos é uma grande tarefa. Serm 340. 70). um pequeno mosteiro. 10. mostrar aprovação aos bons. aliás. foi destinado o segundo lugar no timão. tolerar os maus e amar todos" (cf. Ep. na sua homilia não ocasionalmente disse que tinha a intenção de escolher um sacerdote ao qual confiar a tarefa da pregação. libertar os oprimidos. 43. 21. corpórea.. Conf. 4). na qual participou na catedral. com o Deus vivo.Igreja e só assim entra na comunhão concreta. um grande peso. Agostinho escreveu ao Bispo Valério: "Sentia-me como alguém que não sabe segurar o remo e ao qual. 3). descreveu-o assim: "Corrigir os indisciplinados. estimular os negligentes. lutando e sofrendo. para que fosse consagrado sacerdote ao serviço da cidade. Agora a sua vida devia estar dedicada totalmente ao diálogo com Deus e à reflexão e contemplação da beleza e da verdade da sua Palavra. Foi esta a segunda conversão que este homem. edificar. Tinha que traduzir os seus conhecimentos e os seus pensamentos sublimes no pensamento e na linguagem do povo simples da sua cidade. O que tinha acontecido? Depois do seu Baptismo.). que tinha sonhado. Agostinho tinha decidido regressar à África onde fundou. 1s. A grande obra filosófica de toda uma vida. confortando-me com estas palavras: "Cristo morreu por todos. naquele período nasceu uma série de preciosas obras filosófico-teológicas. não se contentar com o que todos dizem e fazem. juntamente com os seus amigos... O bom sonho da vida contemplativa tinha esvaecido. "Continuamente pregar. confortar os pusilânimes. um homem de proveniência grega. O que agora constituía a sua vida diária. Logo depois desta sua consagração forçada. para que aqueles que vivem já não vivam para si. durante os quais pensava ter alcançado a meta da sua vida. do Logos encarnado. discutir. O Bispo da cidade. A sua segunda conversão Agostinho descreve-a no final do décimo livro das suas Confissões com as palavras: "Oprimido pelos meus pecados e pelo peso da minha miséria. impedir os litigiosos. Imediatamente o povo circundou Agostinho e levou-o para a frente com determinação. Não distrair o olhar do Deus eterno e de Jesus Cristo. Não devo dizer como tudo isto nos diga respeito: permanecer pessoas em busca. Mas tu impedistemo-lo. ajudar os necessitados. quatro anos depois do baptismo. que desejava conquistar para o seu mosteiro. mas para aquele que morreu por todos"" (2 Cor 5. foi reconhecido. 15. ele foi visitar na cidade portuária de Hipona um amigo. teve que realizar continuamente: sempre de novo estar ali . No seu lugar foi-nos dada uma coisa mais preciosa: o Evangelho traduzido na linguagem da vida quotidiana e dos seus sofrimentos. uma fadiga imane" (Serm 339. Em 391. Assim ele passou três anos felizes. Mas na liturgia dominical. E daqui derivavam aquelas lágrimas que alguns irmãos na cidade me viram derramar no tempo da minha ordenação" (cf. Mas toda a Igreja todos nós. 19. incluídos os Apóstolos devemos rezar todos os dias: perdoai-nos os nossos pecados assim como nós os perdoamos a quem nos tem ofendido" (cf. na maior medida possível. O seu primeiro ciclo de homilias. VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE A VIGEVANO E PAVIA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS NA BASÍLICA DE «SAN PIETRO IN CIEL D'ORO» DE PAVIA Domingo. quando nos tornamos como Ele pessoas de misericórdia. Há ainda uma terceira etapa decisiva no caminho de conversão de Santo Agostinho. a conversão necessária e assim nos conduza para a vida verdadeira. Cerca de vinte anos depois. "perfeito". Retract. segundo o Sermão da montanha. I. no qual revê de modo crítico as suas obras redigidas até àquele momento. É a forma na qual no início eu a tinha concebido.para todos. Nestas homilias pode-se ver ainda todo o entusiasmo da fé acabada de encontrar e vivida: a firme convicção de que o baptizado. ele pediu um período de férias para poder estudar mais profundamente as Sagradas Escrituras. pode ser. precisamente. Neste momento agradecemos a Deus pela grande luz que se irradia da sabedoria e da humildade de Santo Agostinho e pedimos ao Senhor para que conceda a todos nós. nelas explicava o caminho da vida recta. juntamente com Cristo. não só a humildade de traduzir os seus grandes conhecimentos na simplicidade do anúncio. oferecer a própria vida. desejando vir venerar os despojos . referiu-se ao Sermão da montanha. depois desta pausa de reflexão. 22 de Abril de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Neste seu momento conclusivo. não para a própria perfeição. entretanto. para que os outros pudessem encontrar n'Ele a Vida verdadeira. Agostinho tinha aprendido um último grau de humildade não só a humildade de inserir o seu grande pensamento na fé humilde da Igreja. vivendo totalmente segundo a mensagem de Cristo. mas também a humildade de reconhecer que a ele mesmo e a toda a Igreja peregrina era e é continuamente necessária a bondade misericordiosa de um Deus que perdoa sempre e nós acrescentava tornamo-nos semelhantes a Cristo. Em relação ao ideal da perfeição nas suas homilias sobre o Sermão da montanha escreve: "Entretanto compreendi que só um é verdadeiramente perfeito e que as palavras do Sermão da montanha estão totalmente realizadas num só: em Jesus Cristo. "da vida perfeita" indicada de modo novo por Cristo apresentava-a como uma peregrinação ao monte santo da Palavra de Deus. Depois da sua Ordenação sacerdotal. Agostinho escreveu um livro intitulado As Retratações. o único Perfeito. Amém. 1-3). fazendo correcções onde. dia após dia. tinha aprendido coisas novas. a minha visita a Pavia adquire a forma da peregrinação. sempre de novo. Só quem vive na experiência pessoal do amor do Senhor está em condições de exercer a tarefa de guiar e acompanhar outros no caminho do . mas foi Ele que nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo 4. Queridos irmãos e irmãs. leigos consagrados e seminaristas. e por isso. sobretudo a sua primeira parte. encarnada em Jesus Cristo: Deus é amor. religiosos e religiosas. a esta Comunidade diocesana que com tanta veneração conserva as suas relíquias: o Amor é a alma da vida da Igreja e da sua acção pastoral. gostaria de recolher aqui. Esta mensagem vem-nos do encontro entre a Palavra de Deus e a experiência pessoal do grande Bispo de Hipona. 8. aqui. Cordeiro imolado e ressuscitado. como a minha pessoal devoção e reconhecimento àquele que grande parte teve na minha vida de teólogo e de pastor. de nada me aproveita" (cf. Verbo encarnado. diante do túmulo de Santo Agostinho. Padre Robert Francis Prevost. A Providência quis que a minha viagem assumisse o carácter de uma verdadeira visita pastoral.mortais de Santo Agostinho. é a revelação do rosto de Deus-Amor a cada ser humano a caminho pelas veredas do tempo rumo à eternidade. Paulo VI. gostaria de entregar idealmente à Igreja e ao mundo a minha primeira Encíclica. colocando-me no seguimento dos ensinamentos do Concílio Vaticano II e dos meus venerados Predecessores João XXIII. Deus é amor (1 Jo 4. Ouvimos a breve Leitura bíblica das segundas Vésperas do Terceiro Domingo de Páscoa (Hb 10. João Paulo I e João Paulo II. graças ao qual. ao contrário. sumo e eterno Sacerdote. mas diria antes ainda de homem e de sacerdote. meditou.16). ao Padre Provincial e a toda a comunidade agostiniana. 27) a única na qual o coração do homem encontra a paz. Jo 21. Sobre este mistério Santo Agostinho fixou o olhar e nele encontrou a Verdade que tanto procurava: Jesus Cristo. no qual se cumpriu a obra da Redenção. é amplamente devedora ao pensamento de Santo Agostinho. que contém precisamente esta mensagem central do Evangelho: Deus caritas est. Tudo deve partir daqui e tudo aqui deve conduzir: cada acção pastoral. em particular. que a humanidade contemporânea tem necessidade desta mensagem essencial. fez-lhe encontrar a "beleza antiga e sempre nova" (Conf. cada desenvolvimento teológico. A luz deste amor abriu os olhos de Agostinho. junto do sepulcro do Doctor gratiae. Eis então a mensagem que ainda hoje Santo Agostinho repete a toda a Igreja e.. do núcleo central do Cristianismo. 10). exaltado à glória do Pai depois de ter se oferecido a si mesmo como único e perfeito sacrifício da nova Aliança. Trata-se aqui do coração do Evangelho. pregou em todos os seus escritos. uma mensagem significativa para o caminho da Igreja. Esta Encíclica. É com alegria que saúdo todos vós. 3): todos os carismas perdem o sentido e o valor sem o amor.. todos concorrem para edificar o Corpo místico de Cristo. 15-17). 1 Cor 13. nestes momentos de oração. e o cantou. Como diz São Paulo: "se não tiver caridade. e sobretudo testemunhou no seu ministério pastoral. Renovo com afecto a saudação ao Bispo Giovanni Giudici e apresento-a de modo especial ao Prior-Geral dos Agostinianos. para expressar tanto a homenagem de toda a Igreja Católica a um dos seus "padres" maiores. queridos sacerdotes. que foi um apaixonado do Amor de Deus. Ouvimo-lo esta manhã no diálogo entre Jesus e Simão Pedro: "Tu amas-Me?. X. Escreve o Apóstolo João num trecho que se pode considerar paralelo ao que agora foi proclamado pela Carta aos Hebreus: "Nisto consiste o Seu amor: não fomos nós que amamos a Deus. Apascenta as minhas ovelhas" (cf. Estou convicto. 12-14): a Carta aos Hebreus colocou diante de nós Cristo. para responder à chamada do Senhor. a soma de indivíduos que vivem uma religiosidade privada. isto é. Seguindo os passos de Agostinho. Encorajo-vos a progredir no testemunho pessoal e comunitário do amor laborioso. inevitavelmente contra a corrente em relação aos critérios do mundo. a sua mensagem de reconciliação e de perdão. respeitoso e cordial. Acompanhe-nos sempre a Virgem Maria. partilhar convosco estes momentos junto do túmulo de Santo Agostinho: a vossa presença deu à minha peregrinação um sentido eclesial mais concreto. Só n'Ele. Queridos irmãos e irmãs. em particular. Assim é para nós. Agostinho viveu em primeira pessoa e explorou profundamente as interrogações que o homem leva no coração e sondou as capacidades que ele tem de se abrir ao infinito de Deus. chama-vos e ao mesmo tempo estimula-vos a estar atentos às necessidades materiais e espirituais dos irmãos. sede também vós uma Igreja que anuncia com franqueza a "feliz notícia" de Cristo. Queridos irmãos e irmãs. O serviço da caridade. Vi que o vosso primeiro objectivo pastoral é guiar as pessoas à maturidade cristã. realmente um dom. foi para mim um dom. enquanto. enquanto vos concedo com grande afecto a Bênção Apostólica. *** Saudação às crianças fora da Basílica . Palavra pronunciada pelo Pai por nós. é uma comunidade na qual se é educados para o amor. a vossa pertença à Igreja e o vosso apostolado resplandeçam sempre pela liberdade de qualquer interesse individual e pela adesão sem reservas ao amor de Cristo. A Igreja é uma comunidade de pessoas que crêem no Deus de Jesus Cristo e se comprometem a viver no mundo o mandamento da caridade que Ele deixou. e esta educação verifica-se não apesar. animada pela caridade eclesial. A maturação pessoal. Portanto. Na escola de Santo Agostinho repito esta verdade a vós como Bispo de Roma. Assim foi para Pedro. porque a Igreja não é uma simples organização de manifestações colectivas nem. Regressamos daqui levando no coração a alegria de ser discípulos do Amor. É Ele a resposta mais verdadeira à expectativa dos seus corações inquietos pelas tantas perguntas que se têm dentro. permite também crescer no discernimento comunitário. Servir Cristo é antes de tudo questão de amor. cujo segredo está em Cristo. mas que deve ser sempre testemunhado com um estilo humilde. com alegria sempre nova. precisam de receber o anúncio da liberdade e da alegria. a sua proposta de vida. ao contrário.seguimento de Cristo. Encorajo-vos a prosseguir a "medida alta" da vida cristã. Os jovens. na capacidade de ler e interpretar o tempo presente à luz do Evangelho. mas através dos acontecimentos da vida. Aprecio esta prioridade concedida à formação pessoal. para Agostinho e para todos os santos. que justamente concebeis sempre relacionado com o anúncio da Palavra e com a celebração dos sacramentos. se encontra aquela união de verdade e amor no qual se encontra o sentido pleno da vida. a cuja protecção materna confio cada um de vós e os vossos queridos. que encontra na caridade o vínculo da perfeição e que se deve traduzir também num estilo de vida moral inspirado no Evangelho. a acolho convosco como cristão. queridos Diáconos. O seu amor é particularmente para vós. Até à próxima. como Bispo e Pastor de Roma. Começareis assim a fazer parte do nosso "presbyterium". um significado particular. que ele usa apenas em referência a Jesus e à sua missão. 28). . os jovens. Jesus é o verdadeiro Pastor de Israel. A densidade teológica do breve trecho evangélico. 23). Jo2. me sinto feliz por conferir a Ordenação sacerdotal. os rapazes e as moças. Jesus fala de si como do Bom Pastor que dá a vida eterna às suas ovelhas (cf. ajudanos a compreender melhor o sentido e o valor desta solene Celebração. Significativamente à palavra "pastor" o evangelista acrescenta o adjectivo kalós. A imagem do pastor está muito radicada no Antigo Testamento e é muito querida à tradição cristã. 29 de Abril de 2007 Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado Estimados Ordenandos Amados irmãos e irmãs! O hodierno IV Domingo de Páscoa. Prossigamos no amor ao Senhor! Rezai por mim. Juntamente com o Cardeal Vigário. É um dia absolutamente singular sobretudo para vós. aos quais. bom. porque o Filho do homem que quis partilhar a condição dos seres humanos para lhes doar a vida nova e conduzi-los à salvação. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA A ORDENAÇÃO DE 22 SACERDOTES NO DOMINGO DO BOM PASTOR Domingo. Vós estais de maneira especial próximos do Senhor. eu rezo por vós. e portanto possui uma indubitável relevância messiânica (cf. Também na narração das bodas de Caná o adjectivo kalós é usado duas vezes para conotar o vinho oferecido por Jesus e é fácil ver nele o símbolo do vinho bom dos tempos messiânicos (cf. na despedida desta maravilhosa cidade de Pavia. O título de "pastor de Israel" é atribuído pelos Profetas ao futuro descendente de David. poder ver as crianças.10). que estamos reunidos nesta Basílica Vaticana. agradeço ao Senhor pelo dom do vosso sacerdócio. que enriquece a nossa Comunidade de 22 novos Pastores. que há pouco foi proclamado. Jo 10. reveste para nós. tradicionalmente dito do "Bom Pastor". com os Bispos Auxiliares e com os sacerdotes da Diocese.Queridas crianças! É para mim uma grandíssima alegria. Ez 34. de que ouvimos falar. por sua vez. sereis chamados a difundir a semente da sua Palavra. 52). para renovar o sacrifício da Cruz. Ele conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas conhecem-no. também a vida por Ele. Jo 10. do modo de entrar nos seus sentimentos. O Sacramento da Ordem que estais para receber far-vos-á participar da mesma missão de Cristo. um conhecimento de amor em virtude do qual o Pastor convida os seus a segui-lo. Assim aconteceu no início do cristianismo com os primeiros discípulos. 27-28). enquanto. Vale a pena ressaltar as últimas palavras do trecho dos Actos dos Apóstolos que ouvimos: "Os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo" (13. de quem é fiel e de quem sabe que. . por nós. como escutámos na primeira Leitura. e que se manifesta plenamente no dom que lhes faz da vida eterna (cf. queridos Ordenandos. imolando-se na Cruz. se o seguirdes fielmente. o apóstolo de Cristo não perde a alegria.12). A bondade do Senhor está sempre convosco e é forte. aliás é a testemunha daquela alegria que brota do ser com o Senhor. que repete nos versículos seguintes (15. 4. quando Jesus "depôs" as suas vestes para depois "as retomar" (cf. o Evagelho se ia difundindo entre consolações e dificuldades. que pouco antes tinha dito: "O bom pastor oferece a vida pelas suas ovelhas" (cf. como o Pai o conhece a Ele e Ele ao Pai (cf. mas de uma relação pessoal profunda. a certeza que Cristo não nos abandona e que obstáculo algum poderá impedir a realização do seu desígnio universal de salvação seja para vós motivo de constante conforto também nas dificuldades e de esperança inabalável. No hodierno Dia Mundial de Oração pelas Vocações. do amor por Ele e pelos irmãos. João utiliza o verbo tithénai oferecer. tornar-se-á com a ajuda de Jesus um bom pastor. aprendereis a traduzir na vida e no ministério pastoral o seu amor e a sua paixão pela salvação das almas. Não se trata de mero conhecimento intelectual. a vossa escola quotidiana de santidade. Cada um de vós. Apesar das incompreensões e dos contrastes. rezemos para que todos os que são escolhidos para uma missão tão excelsa sejam acompanhados da orante comunhão de todos os fiéis. Cristo é o verdadeiro Bom Pastor que deu a vida pelas suas ovelhas. a semente que traz em si o Reino de Deus. que hoje vos chama a uma amizade mais íntima com Ele. às minhas ovelhas) a vida eterna e nunca hão-de perecer" (Jo 10. a dispensar a divina misericórida e a alimentar os fiéis na mesa do seu Corpo e do seu Sangue. se necessário for. encontramos o mesmo verbo na narração da Última Ceia. de modo a poder oferecê-la e depois retomá-la livremente. Para serdes seus dignos ministros devereis alimentar-vos incessantemente da Eucaristia. Jo 10. Se o ouvirdes com docilidade. um conhecimento do coração. Aproximando-vos do altar. Jo 13. Assim afirma Jesus. descobrireis cada vez mais a riqueza e a ternura do amor do Mestre divino.18). se pode confiar. Queridos Ordenandos. próprio de quem ama e de quem é amado. pronto para dar. que este ano tem como tema "A vocação ao serviço da Igreja-comunhão". fonte e ápice da vida cristã. 28)."Dou-lhes (isto é. 14-15). Jo 10. de comunhão com Jesus. É claro que deste modo se deseja afirmar que o Redentor dispõe com absoluta liberdade da própria vida. 11).17. depois da ressurreição. que sob a Cruz se uniu ao Sacrifício do seu Filho e. mas amigos". com a nossa solidariedade espiritual. neste Dia pelas Vocações. e estejam prontos para renovar todos os dias a Deus o seu "sim". que continue a suscitar muitos e santos presbíteros. Ela. guiar e amar o rebanho que Jesus adquiriu com o preço do seu sangue. Acolhei e cultivai esta amizade divina com "amor eucarístico"! Acompanhe-vos Maria. só assim se pode desempenhar com alegria a missão de conhecer. parentes. ajude vós e cada um de nós. a deixar-nos transformar interiormente pela graça de Deus. sem hesitações. . é ainda a vós. Rezemos para que sejam fiéis à missão a que hoje o Senhor os chama. o seu "eis-me". que me dirijo com afecto. Queridos irmãos e irmãs que participais nesta sugestiva celebração. OFM HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Aeroporto "Campo de Marte". e em primeiro lugar vós. a estes nossos irmãos no Senhor. E peçamos ao Senhor da messe. Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI AO BRASIL POR OCASIÃO DA V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE SANTA MISSA E CANONIZAÇÃO DE FREI ANTÔNIO DE SANT'ANNA GALVÃO. Mãe celeste dos Sacerdotes. 11 de Maio de 2007 Senhores Cardeais Senhor Arcebispo de São Paulo e Bispos do Brasil e da América Latina Distintas autoridades Irmãs e Irmãos em Cristo. Neste momento tão solene e importante da vossa existência. familiares e amigos destes 22 Diáconos que daqui a pouco serão ordenados presbíteros! Envolvamo-los. prossegue no seminário e inclui todos os que têm a solicitude pela salvação das almas. queridos irmãos no Sacerdócio. queridos Ordenandos. São Paulo Sexta-feira. A vós hoje Jesus repete: "Já não vos chamo servos. no Cenáculo recebeu juntamente com os Apóstolos e com os outros discípulos o dom do Espírito. totalmente dedicados ao serviço do povo cristão.Rezemos para que cresça em cada paróquia e comunidade cristã a atenção pelas vocações e pela formação dos sacerdotes: ela inicia na família. Só assim é possível ser imagens fiéis do Bom Pastor. Deus caritas est. a toda a comunidade franciscana e. Nesta solene celebração eucarística foi proclamado o Evangelho no qual Cristo. nos permite saborear um vestígio da sua presença. irradiam a espiritualidade e o carisma do primeiro brasileiro elevado à glória dos altares. Ele se revela através da sua Palavra. até ao Coração trespassado na cruz. na sua amorosa providência deixou-nos um sinal visível da sua presença. porque fez em nós grandes coisas. porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos» (Mt 11. guiou o caminho da Igreja nascente" (Carta encl. "procura conquistar-nos . nos Sacramentos. por sua admirável providência. que com tanto esmero empenhou-se pela causa do Frei Galvão. especialmente da Eucaristia. e a atenção do seu predecessor. de modo especial as monjas concepcionistas que. Sim. Saúdo com afeto. Deus vem ao nosso encontro. Alegremos-nos no Senhor. 2. proclama: «Eu te bendigo. através da ação dos Apóstolos. Quero agradecer as carinhosas palavras do Arcebispo de São Paulo. neste dia em que contemplamos outra das maravilhas de Deus que. Por isso. de prudente e sábio orientador das almas que o procuravam e de grande devoto da Imaculada Conceição de Maria. Louvemos todos nós. produziu frutos significativos através do seu testemunho de fervoroso adorador da Eucaristia. neste ato de entrega de Amor representado no Santo Sacrifício do Altar. Senhor do céu e da terra. sinto-me feliz porque a elevação do Frei Galvão aos altares ficará para sempre emoldurada na liturgia que hoje a Igreja nos oferece. quer sejam moradores desta grande cidade ou vindos de outras cidades e nações. minhas palavras e as expressões do meu afeto possam entrar em cada casa e em cada coração. D.até à Última Ceia. .2] 1. em atitude de grande enlevo. Tenham certeza: o Papa vos ama. que foi a voz de todos vós. Hoje. evangelicamente vivido. Odilo Scherer. Por isso. Demos graças a Deus pelos contínuos benefícios alcançados pelo poderoso influxo evangelizador que o Espírito Santo imprimiu em tantas almas através do Frei Galvão. cantemos ao Senhor as suas maravilhas. O carisma franciscano. Pai. a vida da Igreja é essencialmente eucarística. povos do Brasil e da América. o Cardeal Cláudio Hummes. Agradeço a presença de cada um e de cada uma. até as aparições e as grandes obras pelas quais Ele. Alegro-me que através dos meios de comunicação. da Capital paulista.«Bendirei continuamente ao Senhor / seu louvor não deixará meus lábios» [Sl 33. a Divina sabedoria permite que nos encontremos ao redor do seu altar em ato de louvor e de agradecimento por nos ter concedido a graça da Canonização do Frei Antônio de Sant’Ana Galvão. do Mosteiro da Luz. e vos ama porque Jesus Cristo vos ama. 17). de quem ele se considerava ‘filho e perpétuo escravo’. O Senhor.25). não deixemos de louvar ao nosso Deus. os fiéis devem procurar receber e reverenciar o Santíssimo Sacramento com piedade e devoção. pois era zeloso. Eram pobres. aquilo que a Câmara do Senado de São Paulo escreveu ao Ministro Provincial dos Franciscanos no final do século XVIII. o mesmo Cristo. Pessoas de toda a geografia nacional iam ver Frei Galvão que a todos acolhia paternalmente. o Pão vivo que desceu do Céu vivificado pelo Espírito Santo e vivificante porque dá Vida aos homens. doentes no corpo e no espírito que lhe imploravam ajuda. Unidos em comunhão suprema com o Senhor na Eucaristia e reconciliados com Deus e com o nosso próximo. por isso a conversão dos pecadores era a grande paixão do nosso Santo. neste sentido. ou seja. querendo acolher ao Senhor Jesus com fé e sempre. com o próximo e consigo mesmos? De elevado significado foi. Na Sagrada Eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja. nossa Páscoa. sabendo recorrer ao Sacramento da reconciliação para purificar a alma de todo pecado grave. 12. levantado no alto pelo sacerdote. Muito procurado para as confissões. inspirando-nos no exemplo do Santo de Guaratinguetá? A fama da sua imensa caridade não tinha limites. seremos portadores daquela paz que o mundo não pode dar. E que fruto nos pede Ele. A Irmã Helena Maria. Significativo é o exemplo do Frei Galvão pela sua disponibilidade para servir o povo sempre quando era solicitado. através dos seus ministros ordenados. Por sua vez. em atitude constante de adoração. sábio e prudente. Jo 15. Esta misteriosa e inefável manifestação do amor de Deus pela humanidade ocupa um lugar privilegiado no coração dos cristãos. Uma característica de quem ama de verdade é não querer que o Amado seja ofendido. senão que saibamos amar. pela exemplaridade com que estes cumprem os ritos prescritos que estão sempre a indicar na liturgia eucarística o cerne de toda obra de evangelização. depois da Consagração do pão e do vinho. testemunhou aquilo que Frei Galvão disse: "Rezai para que Deus Nosso Senhor levante os pecadores com o seu potente braço do abismo miserável das culpas em que se encontram". dispensador da caridade especialmente dos pobres e dos enfermos. definindo Frei Galvão como "homem de paz e de caridade". Eles devem poder conhecer a fé da Igreja. 3. . Possa essa delicada advertência servir-nos de estímulo para reconhecer na misericórdia divina o caminho para a reconciliação com Deus e com o próximo e para a paz das nossas consciências. como fazia Frei Galvão em "laus perennis". que foi a primeira "recolhida" destinada a dar início ao "Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição". Poderão os homens e as mulheres deste mundo encontrar a paz se não se conscientizarem acerca da necessidade de se reconciliarem com Deus.16). Mas logo a seguir acrescenta: que «deis fruto e o vosso fruto permaneça» (cf. ou o adorarmos com devoção exposto no Ostensório renovemos com profunda humildade nossa fé. 4. Que nos pede o Senhor?: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amo». quando necessário. Conselheiro de fama.Quando contemplarmos na Santa Missa o Senhor. pacificador das almas e das famílias. que deveriam fazer parte da vida normal de cada cristão.13). que vivemos numa época tão cheia de hedonismo. este nosso Santo entregou-se de modo irrevocável à Mãe de Jesus desde a sua juventude. de uma alma apaixonada. a Virgem Puríssima. Ele mesmo amou até entregar sua vida por nós sobre a Cruz. levam em si mesmas este sigilo divino. pois só aos que se ama desta maneira. se encontra particularmente ligada a nós neste momento. de Deus por todos os seus filhos? Maria. assumiu com voz profética a verdade da Imaculada Conceição. Esta é a recomendação final que o Senhor nos dirige. Também a ação da Igreja e dos cristãos na sociedade deve possuir esta mesma inspiração. meu Senhor". a Mãe de Deus e Mãe nossa. que belo exemplo a seguir deixou-nos Frei Galvão! Como soam atuais para nós. a fim de responder generosamente aos desafios que a Igreja no Brasil e na América Latina está chamada a enfrentar? 5. Não será esta misteriosa presença da Virgem Puríssima. para que nele nossos povos tenham vida". As pastorais sociais se forem orientadas para o bem dos pobres e dos enfermos. Ela. O Senhor conta conosco e nos chama amigos. querendo pertencer-lhe para sempre e escolhendo a Virgem Maria como Mãe e Protetora das suas filhas espirituais. quer ser o sigilo definitivo do nosso encontro com Deus. Como sabemos a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano terá como tema básico: "Discípulos e missionários de Jesus Cristo. De fato. que concebeu em seu seio o Redentor dos homens e foi preservada de toda mancha original. de almas claras. a devoção mariana é garantia certa de proteção maternal e de amparo na hora da tentação. É preciso dizer não àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento. a Tota Pulchra. São palavras fortes. de inteligências simples que rejeitem ser consideradas criaturas objeto de prazer. ao mesmo tempo materno. diz o Senhor no Evangelho. seja ele consagrado ou não. nosso Salvador. vós todos que estais aflitos sob o fardo. se é capaz de dar a vida proporcionada por Jesus com sua graça. e eu vos aliviarei». Queridos amigos e amigas.28). O mundo precisa de vidas limpas. e que despertam desejos de fidelidade a Deus dentro ou fora do matrimônio. quando invocarmos proteção e auxílio à Senhora Aparecida? Vamos depositar em suas . (Mt 11. Como não ver aqui este sentimento paterno e. É neste momento que teremos em Nossa Senhora a melhor defesa contra os males que afligem a vida moderna. «Vinde a mim. Não há fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora. Frei Galvão.v. as palavras que aparecem na Cédula de consagração da sua castidade: "tirai-me antes a vida que ofender o vosso bendito Filho.Jesus abre o seu coração e nos revela o fulcro de toda a sua mensagem redentora: «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos» (ib. Como não ver então a necessidade de acudir com renovado ardor à chamada. nosso amigo! Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI AO BRASIL POR OCASIÃO DA V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE SANTA MISSA DE INAUGURAÇÃO DA V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Esplanada do Santuário de Aparecida VI Domingo de Páscoa. bem como aos enfermos e aos anciãos. quis definir os santos da nossa época como verdadeiros reformadores. na convicção de que não só é possível. dos seminaristas e de todos os vocacionados para a vida religiosa. por ocasião da abertura da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe. 6. dos quais nos vêm. nesta imensa Eucaristia. deixai-me concluir evocando a Vigília de Oração de Marienfeld na Alemanha: diante de uma multidão de jovens. Saúdo com deferência as Autoridades civis e militares que nos honram com a sua presença. Deste Santuário estendo o meu pensamento. juntamente com a fé é a maior graça que o Senhor pode conceder a uma criatura: o firme anseio de alcançar a plenitude da caridade. Deus disse: «Sede santos. este dom que. às famílias. irmãs e irmãos no Senhor! Não existem palavras para exprimir a alegria de encontrar-Me convosco para celebrar esta solene Eucaristia. todas as bênçãos do céu. Dom Raymundo Damasceno Assis. cada qual no seu estado de vida. de modo especial às comunidades de vida consagrada. para revelar ao mundo o verdadeiro rosto de Cristo. A todos saúdo com muita cordialidade. do primeiro ao último. Queridos amigos. a Deus Espírito Santo. a Deus Filho. 13 de Maio de 2007 Veneráveis Irmãos no Episcopado. a mudança decisiva do mundo" (Homilia. agradecendo as palavras que Me foram dirigidas em nome de toda a assembléia. e os Cardeais Presidentes desta Conferência Geral.44). 20/08/2005). aos jovens engajados em movimentos e associações. com muito afeto e oração. Agradeçamos a Deus Pai. como Eu sou santo» (Lv 11. como também necessária a santidade. queridos sacerdotes e vós todos. a todos aqueles que se nos unem espiritualmente neste dia.mãos santíssimas a vida dos sacerdotes e leigos consagrados. A . de modo particular ao Arcebispo de Aparecida. Este é o convite que faço hoje a todos vós. E acrescentava: "só dos Santos. por intercessão da Virgem Maria. só de Deus provém a verdadeira revolução. lembra o ensinamento de Jesus Cristo (cf. recorreu a uma Carta especial enviada pelo Papa Pio XII (doze). emanada pelo Espírito Santo. a exemplo de Maria. o qual. testemunharam a proximidade da Igreja universal . que com alegria acolhemos. mistério de comunhão com Cristo no Espírito Santo. Sacramentum caritatis. é o resultado da mesma natureza da Igreja. com o coração aberto e dócil. e a Igreja é convidada a intensificar a invocação ao Espírito Santo. que vem posta por escrito numa carta e confiada a dois delegados. como Mãe e Mestra. Esta tarde terei a possibilidade de entrar no mérito dos conteúdos sugeridos pelo tema da vossa Conferência. No caso das Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano e Caribenho. que considerou a questão se aos pagãos convertidos ao cristianismo dever-se-ia impor a observância da lei mosaica.. refere-se ao assim chamado “Concílio de Jerusalém”. Os chefes da Igreja discutem e se defrontam. transcreve a decisão final. pelo poder do Espírito Santo. pode fazer desta reunião um autentico acontecimento eclesial. nas Conferências de Medellín. só a caridade de Cristo. sempre porém em atitude de religiosa escuta da Palavra de Cristo no Espírito Santo. foi o Bispo de Roma que se dirigiu à sede da reunião continental para presidir as fases iniciais. tanto nas pequenas como nas grandes assembléias. Não é uma simples questão de procedimento. a fim de que. Esta página dos Atos nos é muito apropriada. 22-29). por termos vindo aqui para uma reunião eclesial. Com devoto reconhecimento dirigimos o nosso pensamento aos Servos de Deus Paulo VI (sexto) e João Paulo II (segundo) que. deixando de lado a discussão sobre “os Apóstolos e os anciãos” (15. Demos agora espaço à Palavra de Deus. O lugar é o Santuário nacional de Nossa Senhora Aparecida. no final podem afirmar: «Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós . Por isso. Este é o “método” com o qual nós agimos na Igreja.» (At 15. nosso Pai. nas outras. realizada no Rio de Janeiro em 1955 (mil novecentos e cinqüenta e cinco). coração mariano do Brasil: Maria nos acolhe neste Cenáculo e.28). a primeira.13). nos ajuda a elevar a Deus uma prece unânime e confiante. um momento de graça para este Continente e para o mundo inteiro. Puebla e Santo Domingo. Jo 16. O texto. Nossa Senhora da Conceição. tirada dos Atos dos Apóstolos. porque põe na sua base a oração e a Eucaristia. como nos narra o Evangelho de hoje. Fala-nos do sentido do discernimento comunitário em torno dos grandes problemas que a Igreja encontra ao longo do seu caminho e que vem a ser esclarecidos pelos “Apóstolos” e pelos “anciãos” com a luz do Espírito Santo. de venerada memória. Jo 14.13). O tempo é o litúrgico do sexto Domingo de Páscoa: está próxima a festa de Pentecostes. e da parte do Senhor Jesus Cristo» (1Cor 1.26) ajudando assim a comunidade cristã a caminhar na caridade em busca da verdade plena (cf. Cristo possa novamente “fazer-se carne” no hoje da nossa história. A primeira Leitura. até a atual..todos quero dizer: «Graça e paz da parte de Deus. Com efeito. a fim de que seja entregue à comunidade de Antioquia (vv. Considero um dom especial da Providência que esta Santa Missa seja celebrada neste tempo e neste lugar.4-21). Esta celebração litúrgica constitui o fundamento mais sólido da V (Quinta) Conferência. pobre em espírito.22)..». A fidelidade de Jesus à vontade do Pai pode transmitir-se aos discípulos graças ao Espírito Santo..’ » (Jo 20. A vós também. Espírito Paráclito. Especialmente no Evangelho de São João. aflita. porque os homens e os povos «tenham a vida e a tenham em abundância» (Jo 10. O Espírito acompanha a Igreja no longo caminho que se estende entre a primeira e a segunda vinda de Cristo: «Vou. mansa.23-24). Ele acendeu no mundo o fogo da caridade de Deus (cf. observará a minha palavra». a fim de que contemplem a sua Face. misericordiosa. educa-os para que escutem a sua Palavra. «Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós . Tempo da Igreja. que derrama o amor de Deus nos seus corações (cf. Mt 5. O Novo Testamento apresenta-nos a Cristo como missionário do Pai. tendo no coração a paz que Jesus nos deixou e que o mundo não pode dar (cf.26). Entre a “ida” e a “volta” de Cristo está o tempo da Igreja. a comunidade de fiéis.5). queridos amigos. que rendeu trinta.49). «Se alguém me ama. assim o nosso amor por Jesus se demonstra na obediência pelas suas palavras. Ad-vocatus. 26-27). Rm 5. estão também estes pouco mais de cinco séculos em que a Igreja fez-se peregrina nas Américas. graças à ação do Espírito Santo. tempo do Espírito Santo: Ele é o Mestre que forma os discípulos: fá-los enamorar-se de Jesus. em proporção. Jesus diz: « A palavra que tendes ouvido não é minha. que esta consignação acontece no Espírito Santo: «Soprou sobre eles dizendo: ‘Recebei o Espírito Santo.21). porque a missão da Igreja subsiste somente em quanto prolongação daquela de Cristo: «Como o Pai me enviou. O evangelista põe em relevo. Como Jesus transmite as palavras do Pai. pacífica. E como o amor pelo Pai levava Jesus a alimentar-se da sua vontade. a maior parte da Comunidade católica. que representais a Igreja na América Latina.. sessenta e até mesmo o cento por um. inclusive de forma plástica. Jo 14. Esta é a Igreja: nós. livres de inquietação e de temor. que se fez “menor” por nossa causa. É o amor que dá a vida: por isso a Igreja é convidada a difundir no mundo a caridade de Cristo. com os seus Pastores chamados a fazer de guia do caminho. somos convidados a fixar nosso olhar n’Ele. e volto a vós» (Jo 14. assim o Espírito recorda à Igreja as palavras de Cristo (cf. assim também eu vos envio a vós» (Jo 20. «A palavra que tendes ouvido não é minha. mas sim do Pai que me enviou» (Jo 14. Defensor e Consolador. A missão de Cristo realizou-se no amor. também no texto de hoje. pura de coração. Espírito do Pai mandado em nome do Filho Jesus.3-10). Jo 14. sedenta de justiça. Jesus torna-se a “Via” na qual caminha o discípulo. Ele nos faz viver na presença de Deus. estão esses dois mil anos transcorridos até agora.. Da mesma forma.10). disse Jesus aos Apóstolos. tenho a alegria entregar de . diz Jesus no início do trecho evangélico de hoje. juntos com o Espírito Santo. que é o seu Corpo. na escuta da sua Palavra. Lc 12. mas sim do Pai que me enviou» (Jo 14. Deste modo. difundindo nos fiéis a vida de Cristo através dos Sacramentos e lançando nestas terras a boa semente do Evangelho. perseguida por causa da justiça (cf.nas Igrejas que estão na América Latina e que constituem. Neste momento.28). Jesus fala de si tantas vezes a propósito do Pai que O enviou ao mundo. o Povo de Deus.24). Espírito d’Aquele que é “maior” de todos e que nos foi dado mediante Cristo. conforma-os à sua Humanidade bem-aventurada. novo idealmente a minha Encíclica Deus caritas est. ¡la paz que Cristo conquistó para vosotros con su Cruz! Ésta es la fe que hizo de Latinoamérica el “Continente de la Esperanza”. A Igreja se sente discípula e missionária desse Amor : missionária somente enquanto discípula. “la esposa del Cordero” (Ap 20. No es una ideología política. Ela cresce muito mais por “atração”: como Cristo “atrai todos a si” com a força do seu amor. en la que nada es simplemente decorativo. que reveló su rostro en Jesucristo. 1). aunque aún no haya alcanzado su plenitud. o sea. muerto y resucitado en Jesucristo. Pero la gloria de Dios es el Amor. es la fe en Dios Amor. Si la belleza de la Jerusalén celeste es la gloria de Dios. A Igreja não faz proselitismo. Escribe el vidente Juan que ésta “bajaba del cielo.27). la patria que nos espera y por la cual suspiramos. sino que todo contribuye a la perfecta armonía de la Ciudad santa. Ef 5. Es llamada “novia”. com a qual quis indicar a todos o que é essencial na mensagem cristã. los dolores y las angustias de la humanidad contemporánea. por tanto la Jerusalén celeste es icono de la Iglesia entera. por Deus que nos amou e nos ama por primeiro (1Jo 4. Este icono estupendo tiene un valor escatológico: expresa el misterio de belleza que ya constituye la forma de la Iglesia. santa y gloriosa. éste es su patrimonio más valioso: la fe en Dios Amor. assim a Igreja cumpre a sua missão na medida em que. Gaudium et spes. Vosotros creéis en el Dios Amor: ésta es vuestra fuerza que vence al mundo. sin mancha ni arruga (cf. Es la meta de nuestra peregrinación. es precisamente y solamente en la caridad cómo podemos . Yo os lo confirmo y. con palabras de esta Quinta Conferencia. La segunda Lectura nos ha presentado la grandiosa visión de la Jerusalén celeste.10). associada a Cristo. iluminada en el centro y en todas partes por la presencia de Dios-Caridad. y vosotros respondisteis a su llamado con la generosidad y el compromiso que os caracterizan. porque en ella se realiza la figura nupcial que encontramos desde el principio hasta el fin en la revelación bíblica. os digo: sed discípulos fieles. enviada por Dios trayendo la gloria de Dios” (Ap 21. Éste es el rico tesoro del continente Latinoamericano. especialmente de los más pobres y de los que sufren (cf. isto é capaz de deixar-se sempre atrair. Queridos hermanos y hermanas. el auténtico fundamento de esta esperanza que produjo frutos tan magníficos desde la primera evangelización hasta hoy. ni un movimiento social. como tampoco un sistema económico. encarnado. para ser misioneros valientes y eficaces. no debe ser motivo de evasión de la realidad histórica en que vive la Iglesia compartiendo las alegrías y las esperanzas. Verla con los ojos de la fe. com renovado enlevo. La Ciudad-Esposa es patria de la plena comunión de Dios con los hombres. su amor.10). porque la presencia de Dios y del Cordero es inmanente y la ilumina desde dentro. la alegría que nada ni nadie os podrá arrebatar. ella no necesita templo alguno ni ninguna fuente externa de luz. El Papa Juan Pablo II os convocó para una nueva evangelización. Es una imagen de espléndida belleza. Así lo atestigua la serie de Santos y Beatos que el Espíritu suscitó a lo largo y ancho de este Continente. que culminou no sacrifício da Cruz. contemplarla y desearla.9). cumpre a sua obra conformando-se em espírito e concretamente com a caridade do seu Senhor. Amém.23). Saúdo. porque . os Senhores Cardeais. 30). 31). que renova o baptismo da Igreja no Espírito Santo. da Irlanda. como "arquitecta" (8. Na primeira Leitura. que participamnestacelebração. dirigimos por assim dizer o olhar para "o céu aberto" para entrar com os olhos da fé nas profundezas do mistério de Deus. resplandecente da glória de Deus. 3 de Junho de 2007 Queridos irmãos e Irmãs! Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. contemplamola sobretudo naqueles que há pouco propus à veneração da Igreja universal: Jorge Preca.49) para irradiar no Continente e em todo o mundo a santidade de Cristo. Por eso. entra em cena a Sabedoria. Quien ama al Señor Jesús y observa su palabra experimenta ya en este mundo la misteriosa presencia de Dios Uno y Trino. que está ao lado de Deus como assistente. que se reflecte na vida dos Santos. É no meio dos seres humanos que lhe apraz habitar. Enquanto nos deixamos envolver por este excelso mistério. aqui reunidos para prestar homenagem a estas testemunhas exemplares do Evangelho. en cierto modo. dirijo a minha cordial saudação. nos séculos dos séculos. os Senhores Presidentes das Filipinas. antecipação da Cidade santa.¡Qué magnífica vocación! Uma Igreja inteiramente animada e mobilizada pela caridade de Cristo. como hemos escuchado en el Evangelio: “Vendremos a él y haremos morada en él” (Jn 14. Uno na substância e Trino nas pessoas: Pai. depois de ter revivido o acontecimento de Pentecostes.acercarnos a ella y. é a imagem histórica da Jerusalém celeste. habitar en ella. todo cristiano está llamado a ser piedra viva de esta maravillosa “morada de Dios con los hombres”. os venerados Irmãos no Episcopado. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE O RITO DE CANONIZAÇÃO DE TRÊS PRESBÍTEROS E UMA RELIGIOSA Solenidade da Santíssima Trindade Domingo. que é a força da santidade. de Malta e da Polónia. Após o tempo pascal. Carlos de Santo André Houben e Maria Eugénia de Jesus Milleret. tirada do Livro dos Provérbios. A própria Sabedoria confessa: "brincando sobre o globo de sua terra e achando as minhas delícias junto dos filhos do homem" (8. com o Pai e o Espírito Santo. admiramos a glória de Deus. É maravilhosa a "panorâmica" sobre a criação observada com os seus olhos. Ela emana uma força missionária irresistível. as Delegações governativas e as outras Autoridades civis. Cordeiro imolado por amor. Simão de Lipnica. A todos os peregrinos. A Ele seja dada glória. Lc 24. Filho e Espírito Santo. em particular. A Virgem Maria alcance para a América Latina e no Caribe ser abundantemente revestida da força do alto (cf. isto é. "o Santo e o Justo" (Act 3. Cada um dos Santos participa da riqueza de Cristo retomada pelo Pai e comunicada no tempo oportuno. 15) é propriamente só Jesus Cristo. nascido em La Valletta na ilha de Malta. na variedade e beleza dos seus elementos. o caminho da Cruz. Também aqui. As "tribulações" não estão em contraste com esta esperança. Dominum et vivificantem. Cl 1. são os santos. Ele é a Sabedoria encarnada. 25-27). Jo 1. pelas almas santas e forma os amigos de Deus e os profetas" (Sb 7. aliás. dos baptizados. Esta última sugestiva expressão convida a considerar a multiforme e inexaurível manifestação da santidade no povo de Deus ao longo dos séculos. Pessoa-dom". formando amigos de Jesus e testemunhas da sua santidade. 5). 14). o Evangelho sugeriu-nos que Deus Pai continua a manifestar o seu desígnio de amor mediante os santos. E Jesus quer fazer também de nós amigos seus. A Sabedoria de Deus manifesta-se na criação. "a imagem do Deus invisível" (Cl 1. 15). É sempre a mesma santidade de Jesus. Por meio de Cristo. de modo especial mediante os santos e as santas. o Logos criador que encontra a sua alegria em habitar entre os filhos dos homens. É através de Cristo que o dom do Espírito passa. 27).reconhece neles a imagem e a semelhança do Criador. de forma que possamos testemunhar a sua santidade. a sua verdade. que o Espírito plasma nas "almas santas". nos quais transparece com grande vigor a sua luz. como diz Ele mesmo no trecho evangélico de hoje: "Tudo quanto o Pai tem é Meu" (Jo 16. N'Ele aprouve a Deus pôr "toda a plenitude" (cf. onde realmente se manifesta a sua beleza e a sua grandeza. bondade e verdade. Precisamente neste dia abrimos o nosso coração para que também na nossa vida cresça a amizade por Jesus. esperança da glória" (1. acontece o que já observámos em relação à Sabedoria: o Espírito de verdade revela o desígnio de Deus na multiplicidade dos elementos da criação somos gratos por esta visibilidade da beleza e da bondade de Deus nos elementos da criação e fá-lo sobretudo mediante as pessoas humanas. mas as suas obrasprimas. Realiza-se assim quanto diz São Paulo na Carta aos Colossenses: "Cristo em vós. o "Santo". Esta relação preferencial da Sabedoria com os homens faz pensar num célebre trecho de outro livro sapiencial. renova todas as coisas. "por meio do Espírito Santo" que lhes foi doado (cf. 10). Ela derrama-se. "santa". através da "paciência" e da "virtude provada" (Rm 5. da Sabedoria de Deus encarnada em Cristo e comunicada pelo Espírito Santo. de geração em geração. no meio dos quais armou a sua tenda (cf. "Pessoa-amor.. 19). o Espírito de Deus chega até nós como princípio de vida nova. como o definiu o Servo de Deus João Paulo II (Enc. o Livro da Sabedoria: "Ela é um sopro do poder de Deus.. Foi um sacerdote totalmente dedicado à evangelização: . é imutável em si mesma. concorrem para a realizar. 3-4): é o caminho de Jesus. ou. o seu amor. 14). De facto. Na mesma perspectiva. é sempre Ele. Um amigo de Jesus e testemunha da santidade que vem d'Ele foi Jorge Preca. Rm 5. O Espírito coloca o amor de Deus no coração dos crentes na forma concreta que Jesus de Nazaré tinha no homem. No trecho da Carta do apóstolo Paulo aos Romanos encontramos uma imagem semelhante: a do amor de Deus "derramado nos corações" dos santos. Embora sendo única tudo pode. obrigado pelo vosso compromisso! que tem por objectivo garantir às paróquias o serviço qualificado de catequistas bem preparados e generosos. a sua solicitude compassiva e o seu toque taumatúrgico. contraindo essa doença que o levou também à morte. Na doença e no sofrimento reconheceu o rosto de Cristo crucificado. uma formação intelectual. e assim o Senhor pôde servir-se dele para dar vida a uma obra benemérita. no caso do sacerdote passionista. em Malta e no mundo. com os escritos. o seu Superior observou: "O povo já o declarou santo". Uma oração que poderíamos repetir também nós. o eco fiel da voz de Cristo. cheio da misericórdia que hauria da Eucaristia. deixando-lhe o tempo de caminhar ao seu ritmo. Na verdade. sabendo dar a sua contribuição à . em resposta aos apelos do seu tempo. quanto te sou devedor! Obrigado. O novo santo.com a pregação. com o exemplo da sua vida. e com a força do Espírito deu testemunho perante o mundo do amor do Pai. a cuja devoção tinha dedicado toda a sua vida. observamos como este amor foi prodigalizado numa vida totalmente dedicada ao cuidado das almas. grande filho da terra polaca. Hauriu em abundância das torrentes de água viva que brotava do lado trespassado. Ao longo dos numerosos anos de ministério sacerdotal na Inglaterra e na Irlanda. Durante as exéquias deste sacerdote muito amado. Simão de Lipnica. da qual nos poderíamos apropriar. da doença. de prosseguir a sua busca interior que a levaria a doar-se totalmente ao Senhor na vida religiosa. Hoje de modo particular confiamos à sua protecção todos os que sofrem por causa da pobreza. Cristo. A expressão do Evangelho de João "Verbum caro factum est" orientou sempre a sua alma e a sua acção. da solidão e da injustiça social. Alma profundamente sacerdotal e mística. a Cristo e aos irmãos. testemunha de Cristo e seguidor da espiritualidade de São Francisco de Assis. trabalhava nela. ele efundia-se em impulsos de amor a Deus. Verbo encarnado. moral e espiritual. o povo o procurava para obter conselhos sábios. De facto. à Virgem Maria e aos Santos. afectuosamente chamado Padre Carlos de Mount Argus. como ela mesma ressaltou. presente no mais profundo do seu coração. Assim. não hesitou em levar ajuda aos doentes atingidos pela peste. Carlos de Santo André Houben. mesmo se não se apercebeu disso completamente naquele momento. Ela compreendia sobretudo a importância de transmitir às jovens gerações. a Jesus. em particular às jovens. Senhor Deus. antes de tudo. Gostava de repetir: "Senhor Deus. viveu numa época distante. a sua primeira comunhão foi um tempo forte. com a guia espiritual e a administração dos Sacramentos e. que fizesse delas adultas capazes de se ocupar da vida da sua família. São Jorge Preca ajuda a Igreja a ser sempre. Maria Eugénia Milleret recorda-nos antes de tudo a importância da Eucaristia na vida cristã e no crescimento espiritual. e perdoa-me Senhor Deus!". Através da sua intercessão pedimos para nós a graça do amor perseverante e activo. mas precisamente hoje é proposto à Igreja como modelo actual de um cristão que animado pelo espírito do Evangelho está pronto a dedicar a vida pelos irmãos. "O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado". a "Sociedade da Doutrina Cristã". Que os jovens não receiem acolher estes valores morais e espirituais. Durante toda a sua existência encontrou a força para a sua missão na vida de oração. louvar e agradecer publicamente ao Senhor. o Mistério que constitui o coração da Igreja. o dia em que Cristo. Portanto a do Corpus Christi é uma festa singular e constitui um encontro importante de fé e de louvor para cada comunidade cristã. É uma festa instituída para adorar. / et vinum in sanguinem É certeza para nós cristãos: / transforma-se o pão em carne. / o vinho torna-se sangue". Amém. 1). a Rainha dos Santos. 7 de Junho de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Cantámos há pouco na sequência: "Dogma datur christianis. um cântico de louvor para glória da Santíssima Trindade. nos quais resplandece a sua glória. e a intercessão destes quatro novos "Irmãos maiores" que hoje veneramos com alegria. deixemo-nos guiar pelos seus ensinamentos. vivê-los com paciência e fidelidade. ao mundo inteiro. Queridos irmãos e irmãs. A Celebração eucarística desta tarde reconduz-nos ao clima espiritual da Quinta-Feira Santa. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO Basílica de São João de Latrão. 1). Mt 10. Desta forma construirão a sua personalidade e prepararão o seu porvir. revelando-nos o amor infinito de Deus por todo o homem" (n. que "no Sacramento eucarístico continua a amar-nos "até ao fim". Eis por que deve ser proclamado e exposto abertamente. Obtenha-nos esta graça Maria. Que o exemplo de Santa Maria Eugénia convide os homens e as mulheres de hoje a transmitir aos jovens os valores que os ajudem a tornar-se adultos fortes e testemunhas jubilosas do Ressuscitado. associando incessantemente contemplação e acção. Reafirmamos hoje com grande entusiasmo a nossa fé na Eucaristia. Deixemo-nos atrair pelos seus exemplos. quase em obediência ao convite de Jesus para "proclamar sobre os telhados" o que Ele nos transmitiu no segredo (cf. / quod in carnem transit panis. para que toda a nossa existência se torne. Na recente Exortação póssinodal Sacramentum caritatis recordei que o Mistério eucarístico "é o dom que Jesus Cristo faz de si mesmo. mas destinava-se a todos. 27). damos graças a Deus pelas maravilhas que realizou nos Santos. até à doação do seu corpo e do seu sangue" (Sacramentum caritatis. Os Apóstolos receberam do Senhor o dom da Eucaristia na intimidade da Última Ceia. na vigília da sua Paixão. instituiu no Cenáculo a santíssima Eucaristia.Igreja e à sociedade. É uma festa que teve origem num determinado contexto histórico e cultural: nasceu com a finalidade de reafirmar abertamente a fé do Povo de Deus em Jesus Cristo vivo e realmente presente no santíssimo Sacramento da Eucaristia. como a deles. O Corpus Christi constitui assim uma retomada do mistério da Quinta-Feira Santa. para que todos possam . 11b-17). Jo 6.48). possa "imprimir a sua eficiência inexaurível em todos os dias da nossa vida mortal" (Insegnamenti. narrando o milagre da multiplicação dos dois peixes e dos cinco pães com que Jesus deu de comer à multidão "numa zona deserta" conclui dizendo: "Todos comeram e ficaram saciados" (cf. 779). "é certeza para nós cristãos: / o pão transforma-se em carne. No trecho evangélico há pouco proclamado São Lucas. E por graça do Senhor. É esta. queridos amigos. assim para cada geração cristã a Eucaristia é alimento indispensável que ampara enquanto atravessa o deserto deste mundo. Mas com humilde confiança. quem come deste pão viverá eternamente" (cf. 68). e nós proclamamos: "A quem iremos nós. Jo 6. para que todos. A Eucaristia é o alimento destinado àqueles que no Baptismo foram libertados da escravidão e se tornaram filhos. Mas Jesus vem ao nosso encontro e infunde-nos segurança: Ele mesmo é "o pão da vida" (Jo 6. Precisamente porque se trata de uma realidade misteriosa que ultrapassa a nossa compreensão. porque a Eucaristia é para todos. A Sequência do seu ponto culminante. De facto é desejo do Senhor que cada ser humano se alimente da Eucaristia. fez-nos cantar: "Ecce panis angelorum. para que. 51). comentando a exclamação do sacerdote depois da consagração: "Mistério da Fé!". escrevi: com estas palavras ele "proclama o mistério celebrado e manifesta o seu enlevo perante a conversão substancial do pão e do vinho no corpo e sangue do Senhor Jesus. Em primeiro lugar gostaria de ressaltar este "todos". é o alimento que ampara no longo caminho do êxodo através do deserto da existência humana. hoje. mas ao contrário a mortificam. Então como agora. a Igreja faz sua a fé de Pedro e dos outros Apóstolos. ressequido por sistemas ideológicos e económicos que não promovem a vida. 2658). um mundo no qual domina a lógica do poder e do ter em vez da do serviço e do amor. p. a Eucaristia permanece "sinal de contradição" e não pode deixar de sê-lo. festa do Corpus Christi. uma realidade que supera qualquer compreensão humana" (n. Foi assim desde o dia em que. 6). recebendo-o possam ser curados e renovados pela força do seu amor. Renovemos também nós esta tarde a profissão de fé em Cristo vivo e presente na Eucaristia. porque um Deus que se faz carne e se sacrifica a si mesmo pela vida do mundo põe em dificuldade a sabedoria dos homens. a herança perpétua e viva que Jesus nos deixou no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. com a procissão e a adoração coral da Eucaristia chamamos a atenção sobre o facto de que Cristo se imolou pela humanidade inteira. A sua passagem entre as casas e pelas estradas da nossa Cidade . vivida. um mundo no qual com frequência triunfa a cultura da violência e da morte. Sim. / pão dos peregrinos. Senhor? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6. Repetiuno-lo nas palavras do Cântico ao Evangelho: "Eu sou o pão vivo descido do céu. como disse o venerado Papa Paulo VI. Como o maná para o povo de Israel. Não pode ser de outra forma. Sempre na Exortação pós-sinodal. nós somos filhos. Jesus declarou abertamente ter vindo para nos dar em alimento a sua carne e o seu sangue (cf. 35. Se na Quinta-Feira Santa é ressaltado o vínculo estreito que existe entre a Última Ceia e o mistério da morte de Jesus na cruz. Lc 9. não devemos surpreender-nos se também hoje muitos têm dificuldade em aceitar a presença real de Cristo na Eucaristia. da Samaria e da Judeia. / verdadeiro pão dos filhos". A linguagem pareceu "dura" e muitos se retiraram.encontrar "Jesus que passa" como acontecia pelas estradas da Galileia. na sinagoga de Cafarnaum. Herança que pede para ser constantemente considerada. / o sangue faz-se vinho". V [1967]. e com eles proclama. / factus cibus viatorum: / vere panis filiorum Eis o pão dos anjos. . que Ele transforma em doação de amor por todos. já agora ouvimos a sua voz que repete. assim como aos numerosos presbíteros e diáconos. Portanto. Entretanto. queridos irmãos e irmãs de Roma. reunidos nesta histórica Praça em redor da Eucaristia: saúdo-vos a todos com afecto. para que Ele caminhe onde nós caminhamos. A festa do Corpus Christi quer tornar perceptível. mas para sempre. amparados pela esperança de o poder ver um dia face a face revelado no encontro definitivo.) Tu que tudo sabes e podes. para que Ele viva onde nós vivemos. 17 de Junho de 2007 Queridos irmãos e irmãs! . que em cada Eucaristia. 26). De facto. / conduz os teus irmãos / à mesa do céu / na alegria dos teus santos". / ó Jesus. Nós caminhamos pelas estradas do mundo sabendo que O temos ao nosso lado. na quotidianidade da nossa vida. não obstante a surdez do nosso ouvido interior. como lemos no Livro do Apocalipse: "Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta. No final da Celebração eucarística unir-nos-emos em procissão. nós "anunciamos a morte do Senhor até que ele venha" (1 Cor 11.). e aos numerosos fiéis leigos. A minha saudação dirige-se antes de tudo ao Cardeal Vigário e aos Bispos Auxiliares.. 88). Amém! VISITA PASTORAL DO PAPA BENTO XVI A ASSIS HOMILIA DO SANTO PADRE DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PRESIDIDA NA PRAÇA INFERIOR DA BASÍLICA DE SÃO FRANCISCO Domingo. sobressai um segundo elemento: o milagre realizado pelo Senhor contém um convite explícito a oferecer cada qual a própria contribuição. de paz e de amor. Imergi-lo-emos. No trecho evangélico. O nosso Redentor dirige este convite de modo particular a nós. / que nos alimentas na terra. aos religiosos e às religiosas. também na desta tarde. piedade de nós (. de vida imortal. verdadeiro pão. 20). sabemos como nos recordou o apóstolo Paulo na Carta aos Coríntios. aos demais venerados Irmãos Cardeais e Bispos. Os dois peixes e os cinco pães indicam a nossa contribuição. como que para levar idealmente o Senhor Jesus por todas as estradas e bairros de Roma. Jesus bate à porta do nosso coração e pede-nos para entrar não só pelo espaço de um dia. por assim dizer. a Eucaristia é uma chamada à santidade e à doação de si aos irmãos. juntamente com Jesus. pão partido para a vida do mundo" (ibid. Acolhamo-lo com alegria elevando-lhe a coral invocação da Liturgia: "Bom Pastor. Eu estarei na minha casa e cearei com ele e ele comigo" (Ap 3. porque "a vocação de cada um de nós é ser. este bater do Senhor. pobre mas necessária. "Ainda hoje Cristo escrevi na citada Exortação póssinodal continua a exortar os seus discípulos a comprometerem-se em primeira pessoa" (n.será para quantos nela habitam uma oferenda de alegria. Domenico Sorrentino. é miséria porque pode fazer mau uso da liberdade que é o seu grande privilégio. É escolhido num momento difícil e colocado ao lado do rei Saul. a arranca ao seu esposo. parecia-lhe amargo ver os leprosos. 2 Test 1: FF 110). assim como os Pastores das Igrejas da Úmbria. O desígnio de Deus refere-se também à sua descendência. de arte e de cultura. Dirijo uma saudação afectuosa aos filhos de Francisco. Não lhe faltava. Mas ainda estava muito longe do amor cristão que se doa sem limites ao outro. aqui presentes com os seus Ministros-Gerais das várias Ordens. Eis o caminho da conversão. como nos recordou D. pondo-nos diante dos olhos três figuras de convertidos. tirado do segundo livro de Samuel. ordenando depois friamente o assassínio dele. ao qual agradeço de coração. Isto faz arrepiar: como pode. "filho de David". seguindo sonhos vãos de glória terrena. acabando por se pôr contra o seu Criador. Contrasta muito mais com a baixeza em que ele cai. De quanto os biógrafos narram dos seus anos juvenis. O pecado impedia-lhe . na qual se reúnem oito séculos de santidade. no Testamento redigido nos últimos meses da sua existência. o poder. A Palavra de Deus há pouco proclamada ilumina-nos. ao mesmo tempo. Como ele mesmo recorda. a opinião pública. um dos seus guerreiros mais fiéis. Para compreender a tensão dramática deste diálogo. esclarece as fibras íntimas da consciência. meu Legado para as duas Basílicas papais desta Cidade. É um horizonte designado pela vicissitude de amor com que Deus escolhe Israel como seu povo. põe a cru um rei no ápice do seu apogeu político. Mas o próprio Francisco. onde não contam os exércitos. David é uma cadeia desta história da contínua solicitude de Deus pelo seu povo. era pecado conceber e organizar uma vida toda centrada sobre si. Profundamente atingido por esta palavra. uma natural generosidade de alma. Expresso o meu cordial obséquio ao Presidente do Conselho dos Ministros e a todas as Autoridades civis que me quiseram honrar com a sua presença. coloca-se ao lado de David para nos convidar para este caminho. imagem de grandeza histórica e religiosa. proferida pelo profeta Natan. enquanto celebramos a Eucaristia no sugestivo cenário desta praça. No centro deste diálogo há uma sentença arrasadora. O trecho que lhe diz respeito. Francisco. Além das manifestações individuais. olha para os seus primeiros vinte e cinco anos como para um tempo em que "estava nos pecados" (cf. nada faz pensar em quedas tão graves como a atribuída ao antigo rei de Israel. quando era o "rei das festas" entre os jovens de Assis (cf. cair tão em baixo? O homem é verdadeiramente grandeza e miséria: é grandeza porque tem em si a imagem de Deus e é objecto do seu amor. 2 Cel I. as gentis palavras que me dirigiu. que encontrará em Cristo. o rei desenvolve um arrependimento sincero e abre-se à oferta da misericórdia. A figura de David é assim. com que a Parábola de Deus. O verdadeiro Deus. obcecado pela paixão por Betsabeia. Falar de conversão significa ir ao centro da mensagem cristã e ao mesmo tempo às raízes da existência humana. Com ele saúdo toda a Igreja de Assis-Nocera Umbra-Gualdo Tadino. Dirijo um pensamento grato ao Cardeal Attilio Nicora. pronunciado por Natan sobre David. mas que caiu no nível mais baixo da sua vida moral. um eleito de Deus. ligada ao projecto messiânico. 7: FF 588). A primeira é a de David.Que nos diz hoje o Senhor. para se tornar depois seu sucessor. a sua plena realização. "Tu és aquele homem": esta palavra obriga David às suas responsabilidades. mas onde se está a sós com Deus. é preciso ter presente o horizonte histórico e teológico no qual ele se situa. 3. Hoje. quando. de devoção. estabelecendo com ele uma aliança e preocupando-se por lhe garantir terra e liberdade. ligados ao nome de Francisco de Assis? Hoje aqui tudo fala de conversão. apresenta-nos um dos diálogos mais dramáticos do Antigo Testamento. Ef 2. . O sinal da cruz. 15). Servir os leprosos. Cristo "é a nossa paz. 14). até viver da sua mesma vida? "Estou crucificado com Cristo! Já não sou eu que vivo. Paulo ergue-se como testemunha e divulgador da graça. comandada pela iniciativa da graça e pelo amor de Deus: "O Senhor diz ele conduziu-me ao meio deles" (2 Test 2: FF 110). Paulo tinha compreendido que em Cristo toda a lei se cumpre e quem adere a Cristo une-se a Ele. e realiza-se plenamente. por assim dizer. a carne. que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim" (Gl 2. Gl 6. E como se pode responder a este amor. Este vínculo com a sua vida apostólica aparece com clareza nas palavras conclusivas da sua defesa da liberdade cristã no final da Carta aos Gálatas: "Daqui em diante. No caminho de Damasco. cumpre a lei. vanificando assim a novidade de Cristo e a universalidade da sua mensagem. reconhecendo e amando-o nos irmãos. inscrito em longas paixões na carne de Paulo. com a aplicação da palavra "estigmas". Falando do seu estar crucificado com Cristo. que reconcilia os próximos e os distantes na sua cruz (cf. não decidem os argumentos do nosso pensamento. E assim pode dizer que não é a circuncisão que o salva: os estigmas são a consequência do seu baptismo. na medida em que vive com Deus e de Deus. é Cristo que vive em mim" (Gl 2. a comunhão vivida e suportada com Jesus. "social". Na contenda sobre o modo correcto de ver e de viver o Evangelho. a expressão do seu morrer com Jesus dia após dia. 20a). vivo-a na fé do Filho de Deus.. É a primeira vez. o costume antigo de imprimir na carne do escravo a marca do seu proprietário. envolvendo também o corpo.dominar a repugnância física para reconhecer neles irmãos a serem amados. converter-nos ao amor é passar da amargura à "doçura". é o seu orgulho: legitima-o como verdadeiro servo de Jesus. na história do cristianismo. de resto. Sim. sobressai outro aspecto do caminho de conversão. a todas as nações tinha-se tornado a sua missão. 17). não foi só um gesto de filantropia. A sua confissão muito pessoal de amor expressa ao mesmo tempo também a comum essência da vida cristã: "a vida que agora vivo na carne. O contexto das suas palavras é o debate no qual a comunidade primitiva se encontrou envolvida: nela muitos cristãos provenientes do judaísmo tendiam a ligar a salvação com o cumprimento das obras da antiga Lei. Paulo menciona. que aparece a palavra "estigmas de Jesus". não só nas ideias ou nas palavras. São Paulo não só menciona o seu novo nascimento no baptismo. mas desde o profundo da existência. Levar Cristo. pois trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus" (6. o rosto radioso e a voz forte de Cristo tinham-no arrancado ao seu zelo violento de perseguidor e tinham acendido nele o novo zelo do Crucificado. o sinal seguro do seu ser nova criatura (cf. O servo era assim "estigmatizado" como propriedade do seu dono e estava sob a sua protecção." (Ef 2. A conversão levou-o a exercer misericórdia e obteve-lhe também misericórdia. meus queridos irmãos e irmãs. uma conversão. mas uma verdadeira experiência religiosa. chegando a beijá-los. são os seus estigmas. protegido pelo amor do Senhor. da tristeza à alegria verdadeira. O homem é verdadeiramente ele mesmo. Foi então que a amargura se transformou em "doçura de alma e corpo" (2 Test 3: FF 110). o apóstolo Paulo. decide a realidade da vida. 20b). mas toda a sua vida ao serviço de Cristo.. As marcas recebidas numa longa história de paixão são testemunho da presença da cruz de Jesus no corpo de São Paulo. Ele que de dois povos fez um só. no fim. Quem no-lo explica é outro grande convertido. No trecho da Carta aos Gálatas. a não ser abraçando Cristo crucificado. 11-22). e com Cristo o único Deus. destruindo o muro de inimizade. ninguém me moleste. repara a minha casa" (2 Cel I. o abaixar-se de Deus na carne do Filho do homem. da criação. porque muito amou. O que foi. ricas de contemplação e de louvor. da história. Ef 2. que quis reunir aqui. A misericórdia não muda os aspectos do pecado. 6. Não posso esquecer. neste contexto. À pecadora do Evangelho muito é perdoado. 3). Ele podia verdadeiramente dizer com Paulo: "Já não sou eu que vivo. 10: FF 593). 7). a sua contemplação da paixão em La Verna. a vida de Francisco convertido a não ser um grande acto de amor? Revelam-no as suas orações fervorosas. o propósito de uma vida nova. o seu terno abraço de Menino divino em Greccio. de certa forma. o seu caminho não foi mais que o esforço quotidiano de se identificar com Cristo. deve-se observar que a misericórdia de Jesus não se expressa pondo entre parêntesis a lei moral. o arrependimento sincero. o seu "viver segundo a forma do santo Evangelho" (2 Test 14: FF 116). Para Jesus. o bem é bem. mas queima-os num fogo de amor. Foi uma . um coração capaz de amar sem explorar. em 1996. Fl 2. lavando com as lágrimas os seus pés e secando-os com os cabelos. tornando-se uma imagem completa que explica aquela sua vivência típica. a promoção do diálogo entre todos os homens. lhe fez intuir. por muitos explorada e por todos julgada. Mas também o é a partir de Cristo. antes de marcar o seu corpo em La Verna. Francisco de Assis entrega-nos hoje de novo todas estas palavras de Paulo. o eterno "Logos". no trecho acabado de ler do Evangelho de Lucas. É esta sua conversão a Cristo. explica-nos o dinamismo da conversão autêntica. No olhar e no coração de Jesus ela recebe a revelação de Deus-Amor! Evitando equívocos. os representantes das confissões cristãs e das diversas religiões do mundo. Desde quando o rosto dos leprosos. beijando-os e perfumando-os com ólio perfumado. o mistério da "kenose" (cf. até ao desejo de "se transformar" n'Ele. O próprio Jesus. Francisco é um verdadeiro mestre nestas coisas. a sua opção pela pobreza e o seu procurar Cristo no rosto dos pobres. como a busca da paz. Jo 1. para um encontro de oração pela paz. É Cristo o próprio princípio da criação. é Cristo que vive em mim". É Cristo a verdade divina. é Cristo "a nossa paz" (cf. O seu modo de se colocar diante de Jesus. a iniciativa do meu Predecessor de santa memória. Ele apaixonou-se por Cristo. dado que n'Ele tudo foi feito (cf. amados por amor a Deus. a salvaguarda da natureza. Deve reconhecer-se que esta mulher tinha ousado muito. indicando-nos como modelo a mulher pecadora resgatada pelo amor. que implica o reconhecimento da lei de Deus. Este afecto purificante e restabelecedor realiza-se se há no homem uma correspondência de amor. Em Jesus Deus vem dar-nos o amor e pedir-nos o amor. era feito para escandalizar aqueles que viam as pessoas da sua condição com o olhar impiedoso de juiz. João Paulo II. no qual qualquer "dia-logos" no tempo encontra o seu fundamento último. meus queridos irmãos e irmãs. As chagas do Crucificado feriram o seu coração. Falemos agora do centro evangélico da hodierna Palavra de Deus. desde quando depois a voz do Crucifixo de São Damião lhe colocou no coração o programa da sua vida: "Vai. Finalmente encontrou em Jesus um olhar puro. De facto. com a força do seu testemunho. Ao contrário. em virtude da qual ele se nos mostra tão actual também em relação aos grandes temas do nosso tempo. Francisco encarna profundamente esta verdade "cristológica" que está nas raízes da existência humana. impressiona a ternura com que Jesus trata esta mulher. 14). o mal é mal. Francisco.Queridos amigos. opõe-se ao espírito de violência. não conseguir conjugar o acolhimento. anunciando Cristo como caminho. a fidelidade sobretudo a Cristo crucificado e ressuscitado não se expressa em violência e intolerância. no Evangelho. o diálogo e o respeito por todos com a certeza de fé que cada cristão. no compromisso pela paz e pela reconciliação. é Padroeiro. crendo firmemente que Deus prepara para os seus servos bons e fiéis o prémio da vida que não terá fim. Com ele e para ele desejamos confessar. nem franciscana. é obrigado a cultivar. do modo como o Santo de Assis. A escolha de celebrar aquele encontro em Assis era sugerida precisamente pelo testemunho de Francisco como homem de paz. Não poderia ser atitude evangélica. no diálogo. num anúncio que faz apelo à liberdade e à razão. juntamente com Santa Catarina de Sena. 19 de Junho de 2007 Há pouco. ouvimos estas palavras de Cristo: "Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia" (Jo 6. Ao mesmo tempo. para toda a Igreja que está na Itália. verdade e vida do homem (cf. Assis diz-nos que a fidelidade à própria convicção religiosa. a graça de uma autêntica e plena conversão ao amor de Cristo. dado que a sua vida e a sua mensagem se baseavam tão visivelmente sobre a escolha de Cristo. a luz do Pobrezinho sobre esta iniciativa era uma grande garantia de autenticidade cristã. que a partir daquele evento se continua a difundir no mundo. O "espírito de Assis". da qual ele. enquanto reunidos à volta do Altar. com particular intensidade. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA BASÍLICA DE SÃO PEDRO ÀS SOLENES EXÉQUIAS DO CARDEAL ANGELO FELICI Terça-feira. . nos preparamos para dar a última saudação. Com esta fé ele celebrou o Sacrifício divino. com esta fé hauriu da Eucaristia a força para desempenhar o seu zeloso trabalho na vinha do Senhor! Confiamos que agora o Pai o tenha acolhido na sua casa para participar no convívio do céu. a consciência de que na Eucaristia somos misteriosamente tornados partícipes da morte e da ressurreição do Senhor. ao nosso venerado Irmão. mas no sincero respeito do outro. para o qual muitos olham com simpatia também de outras posições culturais e religiosas.intuição profética e um momento de graça. único Salvador do mundo. o Cardeal Angelo Felici. que rejeitavam a priori qualquer tentação de indiferentismo religioso. Foi esta a fé que guiou a longa e fecunda existência sacerdotal do Cardeal Felici. procurando na Eucaristia a referência constante do seu itinerário espiritual. para as Igrejas que estão na Úmbria. Elas iluminam a nossa fé e sustentam a nossa esperança no momento triste e solene que estamos a viver. com sentimentos de afecto e de fervoroso reconhecimento. Que Francisco de Assis obtenha para esta Igreja particular. Jo 14. como recordei há alguns meses na minha carta ao Bispo desta Cidade por ocasião do vigésimo aniversário daquele acontecimento. que em nada se relacionaria com o autêntico diálogo inter-religioso. para as numerosas pessoas que no mundo o invocam. 54). 6). ao abuso da religião como pretexto para a violência. o Servo de Deus Paulo VI nomeou-o Subsecretário da que na época se chamava Congregação para os Assuntos Eclesiásticos Extraordinários. Portanto. Poderíamos dizer que estas palavras sintetizam de modo eficaz a intenção profunda que orientou a vida e o ministério eclesial do saudoso Cardeal. o queira admitir para contemplar a luz radiosa do seu Rosto glorioso. enquanto nos preparamos para dar a extrema saudação a este nosso venerado Irmão. ocupando em seguida o cargo de Presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei até ao ano 2000. Naquele mesmo período uniu ao serviço à Santa Sé o ensino do estilo diplomático aos alunos da Pontifícia Academia Eclesiástica até quando. Originário da antiga e nobre cidade de Segni. reconhecendo a caridade com que o saudoso Cardeal trabalhou durante a sua longa vida terrena. com quase vinte e três anos. o seu Senhor (cf. 16). 12). De facto. pondo em realce o escrupuloso sentido do dever que o distinguia e a sua solícita execução das directrizes ao enfrentar os problemas e os assuntos públicos da Igreja universal. e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos" (1 Jo 3. por ocasião das suas peregrinações apostólicas na França. colaborando estreitamente com o Sucessor de Pedro. pôde recolher nos vários campos da sua iluminada e preciosa actividade pastoral e diplomática. reavivem . onde realizou os estudos de filosofia e teologia. sendo nomeado Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. em Julho de 1967. Em 1976 tornou-se Representante Pontifício em Portugal. Apraz-me recordar aqui o que o Servo de Deus João Paulo II lhe escreveu por ocasião do seu 50º aniversário de Sacerdócio e 25º de Episcopado. as palavras do Livro da Sabedoria.Reunidos à volta do Altar. rezamos para que este nosso irmão no sacerdócio possa ver face a face Jesus Cristo. recebeu a Ordenação sacerdotal. O seu ministério episcopal afirmava o Papa foi totalmente dedicado ao bem dos fiéis. trabalhando primeiro com o Cardeal Tardini e depois com o Cardeal Cicognani. à missão benéfica dos Pontífices Romanos e da Sé Apostólica. que foram proclamadas há pouco. Pedimos ao Bom Pastor que. Serviço que o amado e venerado Cardeal Felici desempenhou até 1995. foi criado Cardeal com o Título dos Santos Brás e Carlos "in Catinari". 1 Cor 13. Neste momento ressoa no nosso coração com eco singular a exortação do apóstolo João: "Nisto conhecemos a caridade: Ele (Jesus) deu a Sua vida por nós. com a ajuda da graça divina. tendo entrado a 1 de Julho de 1945 na Secretaria de Estado. Por esta sua competência e pela provada fidelidade. onde obteve o Doutoramento em Direito Canónico. A sua formação intelectual prosseguiu então no campo jurídico: frequentou os cursos Utriusque Iuris do Ateneu Lateranense e em seguida passou para a Universidade Gregoriana. Chamado em 1988 para Roma. Tendo recebido o Subdiaconado. Desejamos agora dar graças ao Senhor pela abundante messe de frutos apostólicos que ele. depois de três anos foi para Paris onde teve a ventura de acolher por três vezes o amado João Paulo II. foi eleito Arcebispo e enviado como pró-Núncio Apostólico nos Países Baixos onde permaneceu por nove anos. o adolescente Angelo Felici respondeu imediatamente à chamada do Senhor e foi acolhido no Pontifício Colégio Leoniano de Anagni. que na terra se esforçou por servir com amor. adquiriu uma notável experiência nas relações da Santa Sé com os Estados. foi imediatamente orientado para a Pontifícia Academia Eclesiástica e a 4 de Abril de 1942. O seu sacerdócio foi em prática totalmente dedicado a servir a Sé Apostólica. dirijo-me deferentemente aos Metropolitas . e na tua Santíssima Mãe. 28 de Junho de 2007 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos irmãos e irmãs! Nestas Primeiras Vésperas da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo fazemos grata memória destes dois Apóstolos. que retribui a presença da Delegação da Santa Sé em Istambul. que este nosso irmão amou e invocou como Mãe terna e solícita. Quantas vezes ele terá repetido as palavras desta oração. ó Senhor esperei. que representa a Mater Salvatoris. Sim. Entre os seus documentos encontrou-se um comovedor testemunho. nos seja constante admoestação a permanecer vigilantes na oração e a perseverar humilde e fielmente no trabalho ao serviço da Igreja. os religiosos e os fiéis leigos aqui reunidos. estou feliz por saudar todos vós. juntamente com o de muitas outras testemunhas do Evangelho.no nosso coração a luz da confiança no Deus da vida: "As almas dos justos estão nas mãos de Deus" (3. as almas dos amigos de Deus repousam na paz do seu coração. tornou fecunda a Igreja de Roma. Dirijo uma saudação especial à Delegação do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla. com Aquele que "com a sua vitória nos redime da morte e nos chama consigo à vida nova" (cf. O Cardeal Angelo Felici confiou a sua vida e a sua morte à Mãe do Salvador e precisamente a Ela desejamos entregar a sua alma. speravi. "In Te. o receba agora entre os seus braços como filho caríssimo e o acompanhe ao encontro com Cristo. escrita por seu punho em previsão da última partida! Podemos considerá-las como o testamento espiritual que ele nos deixa: palavras que. Prefácio dos Defuntos. melhor que qualquer outra consideração. que devemos alimentar sempre. queridos irmãos e irmãs. venerada na Capela do Pontifício Colégio Leoniano lugar dos seus estudos juvenis que tem no dorso esta invocação: "Em Ti. non confundar in aeternum". só quem n'Ele confia não estará confundido eternamente. estes encontros e iniciativas não constituem simplesmente um intercâmbio de cortesias entre Igrejas. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NAS PRIMEIRAS VÉSPERAS DA SOLENIDADE DOS SANTOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO Basílica de São Paulo fora dos Muros Quinta-feira. Domine. Esta certeza. que eu não esteja confundido eternamente". Na sua recordação. as religiosas. os eclesiásticos. Com estes sentimentos. Maria. mas querem exprimir o compromisso comum a fazer todo o possível para apressar o tempo da plena comunhão entre o Oriente e o Ocidente cristãos. por ocasião da festa de Santo André. 1). Como tive a oportunidade de dizer há alguns dias. Uma pequena imagem. cujo sangue. a começar pelo Senhor Cardeal Arcipreste e demais Cardeais e Bispos presentes. V). hoje nos ajudam a reflectir e a rezar. Certamente o saudoso Cardeal Angelo Felici aguardou a morte e preparou-se para ela com este espírito e com esta consciência. o Senhor Abade e a Comunidade beneditina a quem está confiada esta Basílica. A alma do justo encontra repouso em Deus. Celebremos pois este dia de festa. São João Crisóstomo escreve que "o céu não é tão esplêndido. embora cada um tenha tido uma missão diferente a cumprir: Pedro. apóstolo por vocação" (1. cujas relíquias são conservadas com grande veneração nesta Basílica. superiores a quanto se possa dizer. aquela unidade pela qual São Pedro e São Paulo consumaram a sua existência até ao supremo sacrifício do sangue. Utiliza o termo servo. a tradição cristã considerou Pedro e Paulo inseparáveis um do outro. quando o sol difunde os seus raios. os teus verdadeiros pastores. narra que exactamente a pouca distância deste lugar aconteceu o último encontro entre eles. porque a eleição os tornou semelhantes. iguais" (In natali apostol. poder-se-ia dizer que hoje a Igreja de Roma celebra o dia do seu nascimento.. quanto a cidade de Roma.. o Senhor. 69.. nada que os divida. Uma tradição antiquíssima. Esta Basílica. que remonta aos tempos apostólicos. 6-7). apresentando-se como "servo de Cristo Jesus. que irradia o esplendor daquelas chamas ardentes (Pedro e Paulo) pelo mundo inteiro. que viu eventos de profundo significado ecuménico. Mas também eles eram um só. dirigindo-se à Cidade: "Estes são os teus santos padroeiros. com as cenas do martírio de ambos. em primeiro lugar. Paulo seguiu.. assim Pedro e Paulo foram considerados os fundadores da Igreja de Roma. embora a relação entre eles não fosse isenta de tensões. a liturgia oferece à nossa meditação este notável texto de Santo Agostinho: "Um só dia é consagrado à festa dos dois apóstolos. e que traduz do . Além disso. e Paulo tornou-se o Apóstolo dos pagãos. confessou a fé em Cristo. No início da Carta aos Romanos. Por mais diferentes que humanamente sejam um do outro e. como há pouco ouvimos. antes do martírio: os dois ter-se-iam abraçado. Pedro precedeu. Nesta tarde o nosso olhar dirige-se para São Paulo. 7. Do Apóstolo Pedro faremos memória particularmente amanhã. 1). a Rm 32).Emanuel e Gennadios. a quem transmito um pensamento agradecido e cordial. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes. ao celebrarmos o divino Sacrifício na Basílica Vaticana. aos quais se faz remontar o nascimento de Roma. Em Roma o vínculo que une Pedro a Paulo na missão assumiu desde os primeiros séculos um significado muito específico.8).. que para te fazer digna do reino dos céus. abençoando-se reciprocamente. Como os míticos irmãos Rómulo e Remo. ele saúda a comunidade de Roma. Com carismas diversos trabalharam por uma única causa: a construção da Igreja de Cristo. Pedro e Paulo aparecem contudo como os iniciadores de uma nova cidade. como concretização de um modo novo e autêntico de ser irmãos. Pedro fundou a primeira comunidade dos cristãos provenientes do povo eleito. E São Leão Magno comenta: "Dos seus méritos e das suas virtudes. nada devemos pensar que os oponha. que indica uma relação de total e incondicionada pertença a Jesus. E sobre a porta principal desta Basílica eles estão representados em conjunto. tornado possível pelo Evangelho de Jesus Cristo. São Leão Magno disse. Desde o início. por estas duas colunas da Igreja" (Comm.. Este é o motivo pelo qual amamos esta cidade. No Ofício das Leituras.. eram um só. a fadiga e o final. Por isso. portanto. hoje Roma compreende com mais consciência qual é a sua missão e a sua grandeza. consagrado a nós pelo sangue dos apóstolos" (Discurso 295. A este propósito. já que os dois Apóstolos lançaram os seus fundamentos. enviados pelo querido Irmão Bartolomeu I. 7). edificaram muito melhor e mais felizmente do que os que actuaram ao lançar os primeiros fundamentos dos teus muros" (Homilia 82. edificada sobre o lugar onde ele sofreu o martírio. em grego doulos. recorda-nos como é importante orar juntos para implorar o dom da unidade. e Paulo obteve o dom de poder aprofundar a sua riqueza. estou feliz por anunciar oficialmente que ao Apóstolo Paulo dedicaremos um especial Ano jubilar. nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus. desde 28 de Junho de 2008 até 29 de Junho de 2009. nos lugares de culto por parte de Instituições religiosas. não por autocandidatura. culturais e ecuménicos. nos Santuários. e a linguagem desprezível" (2 Cor 10. passou sem hesitação para o lado do Crucificado e seguiu-O sem titubear. dificuldades e perseguições: "Nem a morte. Como é actual. nem a altura. nem a profundidade. inserido pelos historiadores entre os anos 7 e 10 d. nem o futuro. 1 Cor 15. Precisa de testemunhas e de mártires como São Paulo: outrora violento perseguidor dos cristãos. iniciativas semelhantes poderão ser realizadas nas Dioceses. onde desde há vinte séculos se conserva sob o altar papal desta Basílica o sarcófago. verdadeiro património da humanidade redimida por Cristo. Por conseguinte. os extraordinários resultados apostólicos que conseguiu não podem ser atribuídos a uma brilhante retórica ou a requintadas estratégias apologéticas e missionárias. uma especial atenção poderá ser prestada às peregrinações. por Ele sofreu e morreu. sabemos que Paulo não era um orador hábil. portanto.C. Disto podemos aprender uma lição muito importante para cada cristão. No seu epistolário. Queridos irmãos e irmãs. nosso Senhor" (8. 38-39). Ele foi escolhido "para anunciar o Evangelho de Deus" (Rm 1. isto é. partilhava com Moisés e com Jeremias a falta de talento oratório. aludindo assim aos grandes servos que Deus escolheu e chamou para uma missão importante e específica. Também serão promovidos Congressos de estudos e especiais publicações sobre os textos paulinos. nem a vida escrevia aos Romanos nem os anjos. também hoje Cristo precisa de apóstolos prontos a sacrificar-se a si mesmos. aliás. Este "Ano Paulino" poderá desenvolver-se de modo privilegiado em Roma. a fim de fazer conhecer cada vez mais a imensa riqueza do ensinamento contido neles. 1. Das suas Cartas. nem os principados. consigo mesmo e com os outros. nem o presente. 2 Cor 4. comentavam sobre ele os seus adversários. Viveu e trabalhou por Cristo. faltará o argumento decisivo da verdade. 9-10. 1). por ocasião do bimilenário do seu nascimento. Paulo está consciente de ser "apóstolo por vocação". da qual a própria Igreja depende. todas elas inspiradas na espiritualidade paulina. que têm o nome de São . 10). que está em Cristo Jesus. 15). Na Basílica Papal e na adjacente e homónima Abadia Beneditina. "A sua presença corporal é débil. Além disso. para propagar o anúncio da Graça divina que reconcilia em Cristo o homem com Deus. contém os restos mortais do Apóstolo Paulo. dedicação esta que não temia riscos. hoje. nem por encargo humano. em todas as situações. poderá ter lugar uma série de eventos litúrgicos. como nas origens.hebraico 'ebed. que segundo o parecer unânime dos peritos e pela incontestada tradição. mas somente por chamada e eleição divinas. que de várias partes virão de forma penitencial ao túmulo do Apóstolo para encontrar a renovação espiritual. Onde faltar esta disponibilidade. quando no caminho de Damasco caiu no chão fulgurado pela luz divina. O sucesso do seu apostolado depende sobretudo de um envolvimento pessoal no anúncio do Evangelho com total dedicação a Cristo. Gl 1. No mundo inteiro. de estudo ou de assistência. na medida em que os que dela fazem parte estiverem dispostos a cumprir pessoalmente a sua fidelidade a Cristo. como também várias iniciativas pastorais e sociais. o seu exemplo! E exactamente por isso. A acção da Igreja somente é crível e eficaz. muitas vezes o Apóstolo das Nações repete que tudo na sua vida é fruto da iniciativa gratuita e misericordiosa de Deus (cf. nem as potestades. Gennadios. Enfim. que acolho com cordial reconhecimento. Está também presente. João. para receber o Pálio. Mt 16. por ocasião do bimilenário do seu nascimento. onde celebrei as Primeiras Vésperas da hodierna Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. enquanto volto a pensar no dia 30 do passado mês de Novembro. Queira ele guiar-nos e proteger-nos nesta celebração bimilenária. Mateus recorda a atribuição a Simão. Saúdo o Metropolita greco-ortodoxo da França. confere a Pedro o poder das chaves (cf. Jo 6. Mt 16. depois do milagre dos pães e do discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum (cf. nesta perspectiva. A festa de hoje oferece-me a oportunidade de voltar a meditar mais uma vez sobre a confissão de Pedro. por parte de Jesus. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA A BÊNÇÃO E IMPOSIÇÃO DOS PÁLIOS A 46 ARCEBISPOS METROPOLITANOS Basílica de São Pedro. o Metropolita de Sassima. Hoje de manhã. . Estão presentes. aos quais dirijo a minha especial saudação. prodigalizou-se totalmente pela unidade e pela concórdia de todos os cristãos. Emanuel. O Apóstolo das Nações. 66-70). e o Diácono André. do apelativo Cefas. sede bem-vindos. Mc 8. uma eminente Delegação. Estimados irmãos. por sua vez. momento decisivo no caminho dos discípulos com Jesus. 18-22). enviada pelo Patriarca Ecuménico de Constantinopla Bartolomeu I. "Pedra". se realizará desde 28 de Junho de 2008 até 29 de Junho de 2009. particularmente comprometido em levar a Boa Nova a todos os povos. 27-30. durante a celebração dos vários momentos do bimilenário paulino: refiro-me à dimensão ecuménica. os Arcebispos Metropolitanos nomeados durante o último ano. Lc 9. para a festa de Santo André. Os Evangelhos sinópticos inserem-no nos arredores de Cesareia de Filipe (cf. 13-20. ajudando-nos a progredir na busca humilde e sincera da unidade plena de todos os membros do Corpo místico de Cristo. 17-19). encontramo-nos junto do sepulcro de São Pedro. segundo a tradição. conserva-nos mais uma significativa confissão de Pedro. contudo. Todos os anos.Paulo ou que se inspiram na sua figura e no seu ensinamento. quando me encontrava em Istambul Constantinopla. Jesus afirma que "sobre esta pedra" deseja edificar a sua Igreja e. a visita que fazemos uns aos outros constitui um sinal de que a busca da plena comunhão está sempre presente na vontade do Patriarca Ecuménico e do Bispo de Roma. No texto que acaba de ser proclamado. Ao lado do sepulcro do Apóstolo das Nações prestei homenagem à sua memória e anunciei o Ano Paulino que. 29 de Junho de 2007 Amados irmãos e irmãs Ontem à tarde fui à Basílica de São Paulo fora dos Muros. há um aspecto especial que deverá ser cuidado com particular atenção. 29). mas não basta. Evidentemente. é o mesmo que ainda mergulhado na história depois do baptismo no Jordão. tornando-se a comunidade dos que acreditam nele. Jo 1. . trata-se de ir em profundidade. Sucessivamente. discípulos de hoje. O Jesus. Segundo alguns estudiosos. a afirmação é: "O Messias de Deus" (9. 35-42). mas permanecendo firmemente alicerçado nas vicissitudes históricas precedentes à Pascoa. Também hoje é assim: muitos se aproximam de Jesus. e estaria até mesmo ligada a uma aparição pessoal de Jesus ressuscitado a Pedro. a sua missão salvífica. a partir de fora. também a nós. de reconhecer a singularidade da pessoa de Jesus de Nazaré. existem dois modos de "ver" e de "conhecer" Jesus: o primeiro o da multidão é mais superficial. sócio dos dois irmãos Simão e André.. Efectivamente. depois da pregação na Galileia. tudo isto foi em seguida iluminado pela experiência pascal. Os discípulos estão envolvidos nesta decisão: Jesus convida-os a fazer uma opção que os levará a distinguir-se da multidão. se aproximou dos quatro irmãos pescadores. Muitas vezes Jesus é considerado também como um dos grandes fundadores de religiões. Grandes estudiosos reconhecem a sua estatura espiritual e moral.. e chamou-os a segui-lo para serem "pescadores de homens" (cf. em Lucas. Mc 1. Queremos fazer nossa a resposta de Pedro. de quem cada um pode haurir algo para formar a sua própria convicção. citado pela liturgia desde dia. confiou a Pedro uma tarefa especial. Ele disse: "Tu és Cristo" (8. válidas também para nós. 20). o Filho de Deus vivo" (16. o início da Igreja. em João: "Tu és o Santo de Deus" (6. Confúcio. a sua "família". enfim. o cargo conferido pelo Senhor a Pedro está radicado no relacionamento pessoal que o Jesus histórico teve com o pescador Simão. ressoa: "Tu és Cristo. 42). Isto não é falso. bem como a sua influência sobre a história da humanidade. 9). Sócrates e outros sábios e grandes personagens da história. Jesus repete a sua pergunta: "E vós. é inadequado. por assim dizer. e o segundo o dos discípulos é mais intenso e autêntico. como nessa época. Com a dúplice interrogação: "Quem dizem as pessoas Quem dizeis vós que Eu sou?". não conseguem reconhecê-lo na sua unicidade. também hoje as "pessoas" têm diferentes opiniões sobre Jesus. desta forma reconhecendo nele uma especial dádiva de fé por parte do Pai celeste. que depois da ressurreição chamou Saulo. a confissão de Simão tem lugar num momento decisivo da vida de Jesus quando. Jesus convida os discípulos a tomarem consciência desta diferente perspectiva. Vem à mente aquilo que Jesus disse a Filipe. Portanto. uma aparição análoga à que Paulo teve no caminho de Damasco. As pessoas pensam que Jesus é um profeta. Na realidade. Com efeito. 16-20). a sua novidade. 69). comparando-o com Buda. Ele foi procurá-los à margem do lago de Galileia. também ele pescador e. Filipe?" (Jo 14. a partir do primeiro encontro com ele.Destas narrações sobressai claramente o facto de que Pedro é inseparável do encargo pastoral que lhe foi confiado em relação à grei de Cristo. Ressalta-o o Evangelista João. em Mateus. então discípulos de João Baptista (cf. e não me conheces. durante a última Ceia: "Estou há tanto tempo convosco. de modo particular. Ele se dirige resolutamente rumo a Jerusalém para completar. juntamente com seu irmão Tiago. Todas elas são respostas correctas. mediante a morte na cruz e a ressurreição. a fórmula que ali aparece pressupõe o contexto pós-pascal. Segundo o Evangelho de Marcos. quem dizeis que Eu sou?". Porém. Em conformidade com todos os Evangelistas. chamar-te-ás Cefas (que quer dizer Pedra)" (Jo 1. quando lhe disse: "Tu és Simão. Reflictamos. E como então. sobre o texto de Mateus. 16). Podiam expressar a sua fé com os títulos da tradição judaica: "Cristo". E também o contrário é verdade: o acontecimento da Cruz somente revela o seu sentido integral. podemos sentir-nos e ser todos um só. Mas para aderir verdadeiramente à realidade. como na época de Jesus. "Cristo de Deus". porque ainda não consegue compreender. Caros irmãos e irmãs. unicamente à luz do mistério da sua morte e ressurreição. desde o início. e reivindica para si a mesma autoridade de Deus. de nós cristãos de hoje. esta tem sido inclusive a nossa fé. do que perdermos a própria vida por fidelidade ao amor. um "modo" escandaloso para os discípulos de todos os tempos. mas o próprio Deus que se fez homem. Em nome dos Santos Pedro e . até mesmo paradoxal em relação às concepções correntes. sobre o seu modo absolutamente singular de ser o Messias e o Filho de Deus. da parte de Jesus. ultrapassava a sua capacidade de compreender. com a sua vida. Ouvindo-o pregar. sobre qual depois construiria a sua nova comunidade. mas o Filho de Deus. e o tentador induz-nos a pensar que é mais sábio preocupar-nos em salvar-nos a nós mesmos. para as pessoas às quais Jesus falava? O que continua a sê-lo também para muitas pessoas de hoje? Difícil de aceitar é o facto de que Ele pretende ser não somente um dos profetas. vendo-o curar os doentes. temos que reconhecer que. O instinto impele a evitá-la. mas depois deve progredir ainda mais. Com efeito. Estes textos dizem claramente que a integridade da fé cristã é dada pela confissão de Pedro. dilaceraram a unidade da Igreja. 23). para utilizar as palavras pronunciadas pelo centurião diante do Crucificado (cf. E a fé dos discípulos teve que se adaptar progressivamente. tudo isto era maior do que eles. Um anúncio diante do qual Pedro reage. motivo pelo qual Jesus insiste sobre ele vigorosamente. sempre surpreendente. graças à acção do Espírito Santo. não é suficiente possuir a justa confissão de fé: é necessário aprender sempre de novo do Senhor. "o Filho de Deus vivo" compreendemse de maneira autêntica. e não segundo Deus (cf. Contudo. é uma peregrinação rumo à plenitude daquela verdade que o Pescador da Galileia professou com uma convicção apaixonada: "Tu és Cristo. além disso. Claramente. "Filho de Deus". ou seja. Um "caminho" estreito. O que era difícil aceitar. o seu próprio modo de ser o Salvador e o caminho ao longo do qual segui-lo. não apenas um homem enviado por Deus. no sentido mais elevado deste termo. "era verdadeiramente o Filho de Deus". com consequências que perduram até aos dias de hoje. lhe atribuiu a característica de "rocha".a Igreja. 39). "Senhor". na profissão de fé de Pedro. que inevitavelmente são impelidos a pensar em conformidade com os homens. ao longo dos séculos. também para o fiel. não obstante as divisões que. Mt 16. da sua iminente paixão. ou seja. Também hoje. trata-se de um elemento fundamental. revelou o seu significado integral. Ela apresenta-se-nos como uma peregrinação que tem o seu momento fontal na experiência do Jesus histórico. Solidamente alicerçada na "rocha" de Pedro. os títulos atribuídos a Ele por Pedro Tu és "Cristo". aqueles títulos deviam de alguma forma ser redescobertos na sua verdade mais profunda: o próprio Jesus. o Filho de Deus vivo" (Mt16. a Cruz é sempre dura de aceitar. por fidelidade ao Filho do Deus que se fez homem. a confissão de Pedro é sempre seguida pelo anúncio. Mc 15. encontra o seu fundamento no mistério pascal. Com efeito. Nos Evangelhos sinópticos.O paralelismo entre Pedro e Paulo não pode diminuir o alcance do caminho histórico de Simão com o seu Mestre e Senhor que. que padeceu e morreu na cruz. evangelizar os pequeninos e os pobres e reconciliar os pecadores. Esta foi também a fé da Igreja ao longo da história. gradualmente os discípulos conseguiram compreender que Ele era o Messias. 16). iluminada pelo ensinamento de Jesus sobre o seu "caminho" rumo à glória. porque "este homem". Este poder parecia ilimitado. Esta mesma interpretação da história como luta entre dois amores. que queria devorar o Deus que se fez Menino. que agora ouvimos. propagandístico do império romano era tal. com uma manifestação impressionante e inquietadora do poder sem a graça. Santo Agostinho diz uma vez que toda a história humana. que parecia capaz de realizar tudo? E no entanto. Parecia impossível que. sem o amor. o poder militar. é uma luta entre dois amores: o amor de Deus até à perda de si mesmo. e muito menos de vencer. E assim. a história do mundo. que sustentou a fé de Pedro e dos outros Apóstolos. As palavras da Sagrada Escritura transcendem sempre o momento histórico. a Igreja. a nossa própria fé: Rainha dos Apóstolos. fortíssimo. Vemos de novo realizado este poder. para ele este dragão realizava-se no poder dos imperadores romanos anticristãos. Aqui. até ao dom de si próprio. entre o amor e o egoísmo. e . estes dois amores aparecem em duas grandes figuras. penetravam todos os ângulos. o último ângulo. Em primeiro lugar. político. Quem podia opor-se a este poder omnipresente. do terror e da violência. juntamente com os nossos Irmãos provenientes de Constantinopla aos quais volto a agradecer a presença nesta nossa celebração o compromisso a cumprir até ao fim o desejo de Cristo. que nos quer plenamente unidos. que diante dele a fé. de Nero a Domiciano. há o dragão vermelho. do egoísmo absoluto. este dragão indica não apenas o poder anticristão dos perseguidores da Igreja daquela época. venceu o amor de Deus. a fé pudesse sobreviver diante deste dragão tão forte. sabemos que no final venceu a mulher inerme. mas também as ditaduras materialistas anticristãs de todos os períodos. nem o ódio. a longo prazo. Com os Arcebispos concelebrantes. No momento em que São João escreveu o Apocalipse. esta força do dragão nas grandes ditaduras do século passado: a ditadura do nazismo e a ditadura de Stalin tinham todo o poder. até ao ódio pelos outros. sem possibilidade de sobreviver. parecia-se com uma mulher inerme. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA NA SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA Castel Gandolfo. e o amor de si até ao desprezo de Deus. não venceu o egoísmo. Que nos oriente e nos acompanhe sempre com a sua intercessão a Santa Mãe de Deus: a sua fé indefectível. aparece também na leitura tirada do Apocalipse. continue a apoiar também a fé das gerações cristãs.Paulo. 15 de Agosto de 2007 Caros irmãos e irmãs Na sua grande obra "A Cidade de Deus". rogai por nós! Amém. e o império romano abriu-se à fé cristã. acolhamos o dom e a responsabilidade da comunhão entre a Sé de Pedro e as Igrejas Metropolitanas confiadas aos seus cuidados pastorais. renovemos hoje. mas inclusive agora é verdade que Deus é mais forte que o dragão. mas um perder-nos que na realidade é o único caminho para nos encontrarmos verdadeiramente a nós mesmos. em todas as diversas situações da Igreja ao longo dos tempos. vence. E de novo. parece absurdo. Perseguida em todos os tempos. imagem da morte e da mortalidade. como diz o Evangelho. da vitória do bem. . A "mulher revestida de sol" constitui o grande sinal da vitória do amor. e é também um convite a imitar Maria naquilo que Ela mesma disse: eu sou a serva do Senhor. é algo de um tempo passado. é alimentado em si mesmo com o pão da Sagrada Eucaristia. que é um perder-nos. ela deve dar de novo à luz Cristo. Somente é válido levar a vida em si mesma. Vemos certamente que também hoje o dragão quer devorar Deus. Em todas as gerações. Mas na realidade. a garantia do amor de Deus contra todas as ideologias do ódio e do egoísmo. Assim devemos viver. por Deus e pelo próximo. o egoísmo e a diversão. Um grande sinal de consolação. Maria deixou atrás de si a morte. ou seja. contra todas as ameaças do dragão. nas diversas regiões do mundo. que dá à luz com um brado de dor. Existe na forma das ideologias materialistas. E assim a festa da Assunção é o convite a ter confiança em Deus. Esta é a vida. que vence o amor. propagandista. agora vemos outra imagem: a mulher revestida de sol. tendo a lua aos seus pés. Também agora este dragão parece invencível. Só valem o consumo. circundada e penetrada pela luz de Deus. Este é o primeiro significado da mulher. está totalmente revestida de vida. Um primeiro significado. a Igreja peregrina de todos os tempos. com toda a sua força mediática. é absurdo observar os mandamentos de Deus. para encontrarmos a verdadeira vida. Esta é a lição: percorrer o seu caminho. E precisamente assim. Mas em todos os tempos a Igreja. A luta já é algo ultrapassado. e ponho-me à disposição do Senhor. Também esta imagem é multidimensional. vítima do dragão. a minha vida eram dom de mim mesma. diversos. de Deus. Maria totalmente revestida de sol. Ainda hoje este Deus frágil é forte: é a verdadeira força. percorremos o caminho do amor. Maria que vive totalmente em Deus. Não tenhais medo deste Deus aparentemente frágil. opor-se a esta mentalidade predominante. circundada por doze estrelas. por toda a comunhão dos santos. diz-nos: ânimo. também neste caso no final o amor foi mais forte do que o ódio. dar a nossa vida e não tomar a vida. levá-lo ao mundo com grande dor deste modo doloroso. no fim vence o amor! A minha vida consistia em dizer: sou a serva de Deus. isto é. que Maria chegou a ser. Tendo assim considerado as diversas configurações históricas do dragão. Circundada pelas doze estrelas. impossível. posta na glória. vive também da luz de Deus e. Mas depois esta mulher que sofre. é que é Nossa Senhora. Também hoje existe o dragão. pelas doze tribos de Israel. E assim em toda a tribulação. tendo aos pés a lua.a mulher. E é a presença. Hoje parece impossível que ainda se pense num Deus que criou o homem e que se fez Menino. por todo o Povo de Deus. sofrendo. que se fez Menino. da vitória de Deus. tendo sido elevada em corpo e alma à glória de Deus. a Igreja. tende a coragem de viver assim também vós. E agora esta vida de serviço chega à verdadeira vida. sem dúvida. é também a Igreja. ela vive quase no deserto. de modos novos. e que seria o verdadeiro dominador do mundo. Tende confiança. que deve fugir. Tomar neste breve momento da vida tudo aquilo que é possível. que nos dizem: é absurdo pensar em Deus. tendo ultrapassado a morte. o Povo de Deus. e assim. e não o egoísmo. Contemplemos Maria. Francesco Rutelli. também nós nos aproximamos da "reunião festiva e da assembleia dos primogénitos inscritos nos céus". dirijo a todos vós os meus mais cordiais cumprimentos. Uma vez mais. as palavras da carta aos Hebreus: "Vós aproximastes-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo". as religiosas e quantos prepararam com cuidado esta importante manifestação de fé. Angelo Bagnasco. com a solene Concelebração Eucarística. Dirijo enfim uma deferente saudação às Autoridades civis e militares aqui presentes. Pedimos-te juntamente com toda a Igreja: Santa Maria. Deixemo-nos encorajar para a fé e para a festa da alegria: Deus vence. Dep. com uma lembrança especial ao Vice-Presidente do Conselho dos Ministros. 2 de Setembro de 2007 Queridos irmãos e irmãs Amados jovens amigos Depois da vigília desta noite. os religiosos. o nosso encontro lauretano conclui-se agora em redor do altar. Este é verdadeiramente um dia de graça! As Leituras que acabamos de ouvir ajudamnos a compreender como é maravilhosa a obra realizada pelo Senhor. a Assunta. que nos trouxe aqui a Loreto. que se fez intérprete dos vossos sentimentos comuns. O amor é mais forte que o ódio. num certo sentido. Neste nosso encontro no Santuário da Virgem cumprem-se. orai por nós pecadores. em tão grande número e num jubiloso clima de oração e de festa. VISITA PASTORAL DO PAPA BENTO XVI A LORETO POR OCASIÃO DO ÁGORA DOS JOVENS ITALIANOS HOMILIA DO SANTO PADRE NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA ESPLANADA DE MONTORSO Domingo. Saúdo o Arcebispo de Loreto. A fé aparentemente frágil é a verdadeira força do mundo. que nos recebeu com carinho e atenção. Saúdo de modo especial os Bispos e agradeço ao Arcebispo D. E digamos com Isabel: bendita sois Vós entre todas as mulheres. Assim. Celebrando a Eucaristia à sombra da Santa Casa. podemos experimentar a alegria de nos encontrarmos diante "do Deus Juiz de todos e dos . Saúdo depois os sacerdotes. agora e na hora da nossa morte! Amém. que falou aos homens muitas vezes e de diversos modos (cf. Deus que se fez homem. está próxima de vós nos momentos de alegria e de festa. ela sustém-vos com os dons da graça sacramental e acompanha-vos no discernimento da vossa vocação. na plenitude dos tempos desejou estabelecer com os homens um pacto novo. assumiu em Maria a nossa própria carne. selando-o com o sangue do seu Filho unigénito. diz-nos o trecho de Ben Sira (3. Mãe do Redentor e nossa Mãe. Caros jovens. para a Santa Casa de Nazaré. Juntamente com Maria. vamos sobretudo ao encontro do "Mediador da Nova Aliança". Portanto. 48a). Deus procurou um coração jovem e encontrou-o em Maria. A humildade de Maria é aquilo que Deus aprecia mais do que qualquer outra coisa nela. Foi deste encontro de humildade que nasceu Jesus. e Jesus no Evangelho. de prova e de confusão. busca jovens com um coração generoso. Não é porventura uma feliz coincidência que esta mensagem nos seja transmitida precisamente aqui em Loreto? Aqui. Para levar a cabo a sua Aliança. queridos jovens. Para acolher uma proposta fascinante como a que o próprio Jesus nos apresenta. tomou parte na nossa vida e quis compartilhar a nossa história. a humildade do Criador e a humildade da criatura. ela olha para vós com imenso carinho. naturalmente. oferecendo a sua Aliança e encontrando muitas vezes resistências e rejeições. depois da parábola . para estabelecer com Ele uma Aliança. capazes de reservar espaço para Ele na sua vida.espíritos dos justos. Eis por que motivo. nosso Senhor Jesus Cristo (cf. que se realiza à sombra de um Santuário mariano. que atingiram a perfeição". 16-22. convida-nos a olhar para Nossa Senhora. 1). Jesus tem uma predilecção pelos jovens. definitivo e irrevogável. 17-22). Hb 12. 22-24). Mc 10. mas nunca se cansa de lhes propor metas mais excelsas para a própria vida: a novidade do Evangelho e a beleza de um procedimento santo. perguntemo-nos: como foi que Maria viveu na sua juventude? Como foi que nela o impossível se tornou possível? É Ela mesma que no-lo revela no cântico do Magnificat: Deus "viu a humildade da sua serva" (Lc 1. e a humildade de Maria que O recebeu no seu seio. a fim de serem protagonistas da Nova Aliança. no meio dos vossos amigos. o nosso pensamento dirige-se. Ainda hoje Deus está à procura de corações jovens. 18). a Igreja continua a ter a mesma atenção. que é o Santuário da humildade: a humildade de Deus que se fez carne. E é exactamente sobre a humildade que nos falam as outras duas Cartas da hodierna Liturgia. "Quanto maior fores. O Pai celestial. Mt 19. Mas o que faz tornar-se verdadeiramente "jovem" em sentido evangélico? Este nosso encontro. como é oportunamente evidenciado pelo diálogo com o jovem rico (cf. que se fez pequenino. Filho de Deus e Filho do homem. Hb 1. capaz de se deixar interpelar pela sua novidade. morto e ressuscitado para a salvação de toda a humanidade. é necessário ser jovem interiormente. Seguindo o exemplo do seu Senhor. tanto mais te deves humilhar. e assim encontrarás benevolência diante de Deus". Jesus Cristo. para empreender novos caminhos juntamente com Ele. no interior das vossas comunidades eclesiais e nos vários ambientes em que viveis e trabalhais. deixai-vos empenhar na vida nova que brota do encontro com Cristo e sereis capazes de vos tornar apóstolos da sua paz nas vossas famílias. "jovem mulher". respeita a sua liberdade. 7-8). São Gabriel dell'Addolorata. conclui: "Aquele que se exalta será humilhado. mas porque. porque só deste modo poderemos tornar-nos instrumentos dóceis nas suas mãos. Queridos amigos. em Francisco de Assis e em Catarina de Sena. manifestada por Jesus Cristo. de muitas partes. mas sim da coragem. Prezados amigos. que nasceu não distante daqui. permitindo-lhe fazer em nós grandes coisas. parece mais provocatória do que nunca para a cultura e a sensibilidade do homem contemporâneo. O Senhor realizou maravilhas em Maria e nos Santos! Penso. mas que para Deus não são anónimos. temos de confiar-nos humildemente ao Senhor. e o profundo interesse pelo bem comum. se humilhou a si mesmo. alguém que nada tem a dizer ao mundo. pela prepotência e pelo sucesso custe o que custar. Hoje esta perspectiva. E no entanto. É o caminho escolhido por Cristo. que chegam até vós sobretudo através dos mass media. Não tenhais medo de ser diferentes e criticados por aquilo que pode parecer uma derrota ou estar fora de moda: os vossos coetâneos. relacionamentos afectivos sinceros e puros.daqueles que foram convidados para as bodas. E penso inclusive nos numerosos rapazes e moças que pertencem à plêiade dos Santos "anónimos". e quem se humilha será exaltado" (Lc 14. esta é a via-mestra. "identificado como homem. A mensagem é a seguinte: não sigais o caminho do orgulho. como Santa Gema Galgani. Santa Maria Goretti. 11). não tenhais medo de preferir os caminhos "alternativos". Penso também em jovens esplêndidos. Seguindo Cristo e imitando Maria. Para Ele. em detrimento do ser. pelo aparecer e pelo ter. um derrotado. cada pessoa individualmente é única. O homem humilde é visto como um renunciatário. por exemplo. somos chamados a ser santos! . difundem modelos de vida caracterizados pela arrogância e pela violência. mas inclusive os adultos. Todos nós. São Luís Gonzaga. um estilo de vida sóbrio e solidário. devemos ter a coragem da humildade. que desejais seguir Cristo e fazer parte da sua Igreja. tenho a impressão de vislumbrar nesta palavra de Deus sobre a humildade uma mensagem importante e mais actual do que nunca para vós. e vós bem o sabeis. Padroeiros da Itália. representa o modo de agir do próprio Deus. tornando-se obediente até à morte. mas sim o itinerário da humildade. o caminho da humildade não é portanto a vereda da renúncia. São Domingos Sávio. e nos Beatos Piergiorgio Frassati e Alberto Marvelli. Estimados jovens. com o seu nome e o seu rosto. e morte de cruz" (Fl 2. indicada pelas Escrituras. Não é o êxito de uma derrota. Ide contra a corrente: não escuteis as vozes interessadas e sedutoras que hoje. indicados pelo amor autêntico. vós sois destinatários! Sede vigilantes! Sede críticos! Não sigais a onda produzida por esta poderosa acção de persuasão. e especialmente aqueles que parecem mais distantes da mentalidade e dos valores do Evangelho. um compromisso honesto no estudo e no trabalho. em primeiro lugar. e não apenas porque a humildade é uma grande virtude humana. o Mediador da Nova Aliança que. De quantas mensagens. mas o resultado de uma vitória do amor sobre o egoísmo e da graça sobre o pecado. têm uma profunda necessidade de ver alguém que ousa viver em conformidade com a plenitude de humanidade. Estimados jovens. e que não consiste antes de tudo no haver ou no poder. Olhemos sobretudo para Maria: na sua escola. É assim que se edifica a cidade de Deus com os homens. Antes que seja demasiado tarde. Um dos campos em que parece urgente actuar é. de promover a sensibilidade sobre as problemáticas da salvaguarda da criação. Ap 21. Caros jovens. Não podemos definir-nos discípulos de Jesus. o da salvaguarda da criação. Na Igreja nós aprendemos a amar. sem reservas nem compromissos. educando-nos para a recepção gratuita do próximo. A motivação fundamental que une os crentes em Cristo não é o sucesso. os pobres e os últimos. também nós como Ela podemos fazer a experiência daquele sim de Deus à humanidade da qual derivam todos os sins da nossa vida. um bem que é tanto mais autêntico. presta-se atenção sobretudo à água. é preciso tomar decisões corajosas. a humildade que o Senhor nos ensinou e que os Santos puderam testemunhar. mas o bem. Bem sei que muitos de vós já se dedicam com generosidade ao testemunho da própria fé nos vários âmbitos sociais. No corrente ano. se não amamos e não seguimos a sua Igreja. A Igreja é a nossa família. sobretudo na participação eucarística. mas sim no ser. em que são evidentes os sinais de um desenvolvimento que nem sempre soube tutelar os delicados equilíbrios da natureza. apreciei a iniciativa da Igreja italiana. os desafios que deveis enfrentar são numerosos e grandes! Porém. constitui um estilo de vida de modo algum renunciatário. quanto mais é compartilhado. seguir Cristo comporta além disso o esforço constante em vista de dar a própria contribuição para a edificação de uma sociedade mais justa a solidária. como vedes. actuando no sector do voluntariado. cada qual segundo a originalidade da sua própria vocação. Às novas gerações é confiado o porvir do planeta. se não for compartilhado de maneira equitativa e pacífica. proclamando um Dia nacional que se celebra precisamente no dia 1 de Setembro. onde todos possam gozar dos bens da terra. São necessários um sim decisivo à tutela da criação e um compromisso vigoroso em vista de inverter as tendências que correm o risco de levar a situações de degradação irreversível. na qual o amor ao Senhor e aos irmãos. a atenção solícita às pessoas que se encontram em dificuldade. O nosso compromisso quotidiano consista em vivermos aqui na terra como se estivéssemos lá no alto. é o compromisso diário a construir a comunhão e a unidade. que é a Igreja. da paz e da justiça em todas as comunidades. uma cidade que contemporaneamente cresce a partir da terra e desce do Céu. 2-3). infelizmente vai tornar-se um motivo de tensões duras e conflitos ásperos. sentir-se Igreja é uma vocação à santidade para todos. sem dúvida. Portanto. o primeiro deles permanece sempre o do seguimento de Cristo até ao fim. um bem extremamente precioso que. . nos faz experimentar a alegria de poder antegozar já agora a vida futura que será totalmente iluminada pelo Amor. que saibam criar de novo uma forte aliança entre o homem e a terra. vencendo toda a resistência e superando toda a incompreensão. trabalhando para a promoção do bem comum. E seguir Cristo significa sentir-se como uma parte viva do seu corpo. É verdade. Por isso. uma vez que se desenvolve no encontro e na colaboração entre os homens e Deus (cf. não posso deixar de vos convidar a ter em vista o grandioso encontro do Dia Mundial da Juventude. peregrinos. Ajuda-nos. como afirma hoje o trecho evangélico Ele será a paz (cf. discípulos apaixonados do teu Filho Jesus. Enfim. como Tu mesma foste. Mostra a nós. feito de escuta. um lugar de paz e de unidade reconciliada. as preocupações e as esperanças do seu íntimo. de diálogo e de missão. a fim de que sejam jubilosos e incansáveis missionários do Evangelho no meio dos seus coetâneos. 4). no qual Deus está connosco. modelo de humildade e de coragem. 8 de Setembro de 2007 Queridos irmãos e irmãs Com a nossa grande peregrinação a Mariazell celebramos a festa patronal deste Santuário. na conclusão do vosso segundo ano do Ágora. a fim de poderdes continuar com entusiasmo o caminho do Ágora. Concluindo hoje o primeiro ano com este maravilhoso encontro. deixando-me orientar pela Palavra de Deus. continuarei a permanecer ao vosso lado mediante a oração e com o afecto. que tencionam ser um encorajamento paternal a seguirdes Cristo para assim serdes testemunhas da sua esperança e do seu amor. a sermos dóceis ao Espírito Santo.Dilectos jovens amigos. Fazemos uma pausa junto da Mãe do Senhor e imploramo-la: Mostra-nos Jesus. agora desejei confiar-vos estas minhas considerações. . pessoas que rezam trazendo consigo os desejos dos seus corações e dos seus Países. depois de ter ouvido as vossas reflexões da tarde de ontem e desta noite. Virgem de Nazaré. sustenta e acompanha estes jovens. ajuda-nos a tornar-nos cada vez mais santos. Portanto. que terá lugar em Julho do ano próximo em Sydney. em todos os recantos da Itália. Aqui experimentamos Jesus Cristo. voltemos mais uma vez os nossos olhos para Maria. Inserimo-nos hoje na grande peregrinação de muitos séculos. meditando sobre a Mensagem que aprofunda o tema do Espírito Santo para viver em conjunto uma nova Primavera do Espírito. Convido-vos a preparar-vos para aquela grande manifestação de fé juvenil. Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI À ÁUSTRIA POR OCASIÃO DO 850º ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DO SANTUÁRIO DE MARIAZELL HOMILIA DO SANTO PADRE NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA POR OCASIÃO DO 850º ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DO SANTUÁRIO Sábado. Quanto a mim. espero-vos em grande número também na Austrália. a festa da Natividade de Maria. este singular percurso trienal. Assim Mariazell tornou-se para a Áustria. 5. Aquele que é ao mesmo tempo o caminho e a meta: a verdade e a vida. Há 850 anos vêm aqui pessoas de vários povos e nações. e muito para além das suas fronteiras. todos têm necessidade. Isto confere também ao caminho e à fadiga que ele comporta uma sua beleza. Também hoje não é suficiente ser e pensar de qualquer forma como todos os demais. É o âmago da peregrinação. 18). A genealogia com as suas figuras luminosas e obscuras. Temos necessidade deste coração inquieto e aberto. nos podia revelar Deus revelar-nos também quem somos nós. o âmago da crise do Ocidente. justamente. O impulso rumo à fé cristã. a caminhar sempre de novo para Cristo. para a salvação do homem. daquele Deus que nos mostrou o seu rosto e abriu o seu coração: Jesus Cristo. Esta resignação perante a verdade é. mas procuravam a estrela que podia indicar-lhes o caminho rumo à própria Verdade. Deus dá-nos a liberdade e. Isabel.O trecho evangélico que acabamos de escutar. João. por caminhos breves e longos. Precisamos de Deus. Ele apresenta a história de Israel a partir de Abraão como uma peregrinação que. do íntimo do próprio Deus. Dado que o seu coração estava em expectativa. Mas sempre de novo o Senhor tinha suscitado também pessoas que se deixaram levar pela nostalgia da meta. mas apenas ser conquistados por Aquele que nos comoveu interiormente e nos encheu de dons. se nós cristãos o chamamos o único Mediador da salvação válido para todos. mas também e vemo-lo tornar-se uma terrível ameaça. que a todos interessa e do qual. demonstra-nos que Deus pode escrever direito também pelas linhas tortas da nossa história. Se não existe para o homem uma verdade. Ana. haviam pessoas em expectativa que não se contentavam com o que todos faziam e pensavam. o início da Igreja de Jesus Cristo foi possível. segundo a minha convicção. alarga ulteriormente o nosso olhar. O projecto da nossa vida vai mais além. Portanto. onde os mensageiros de Jesus chegaram. não pode sequer distinguir entre o bem e o mal. sabe encontrar na nossa falência caminhos novos para o seu amor. orientando para ela a própria vida. Sem dúvida. os Doze e muitos outros. a destruição do homem e do mundo. isto não significa minimamente desprezo das outras religiões nem absolutização soberba do nosso pensamento. Maria e José. Simeão. no fundo. ele. assim só Ele. . Deus não falha. uma garantia que Deus não nos deixa cair. Assim esta genealogia é uma garantia da fidelidade de Deus. contudo. Entre os peregrinos da genealogia de Jesus haviam alguns que tinham esquecido a meta e queriam designar-se a si mesmos como meta. rumo ao Deus vivente. afirma que Ele é o Deus Unigénito que está no seio do Pai (cf. a nossa fé opõe-se decididamente à resignação que considera o homem incapaz da verdade como se ela fosse demasiado grande para ele. eles podiam reconhecer em Jesus Aquele que Deus tinha enviado e assim tornar-se o início da sua família universal. Só Ele é Deus e por isso só Ele é a ponte. existem muitas personalidades grandiosas na história que fizeram belas e comovedoras experiências de Deus. mas perscrutaram longe na busca de algo maior: Zacarias. Jo 1. que verdadeiramente põe em contacto imediato Deus e o homem. com os seus sucessos e as suas falências. para que pudéssemos por nossa vez fazer dons também aos outros. da Europa. E então os grandiosos e maravilhosos conhecimentos da ciência tornam-se ambíguos: podem abrir perspectivas importantes para o bem. com subidas e descidas. porque existiam em Israel pessoas com um coração em busca pessoas que não se contentaram com o costume. e um convite a orientar a nossa vida sempre de novo para Ele. Ir em peregrinação significa estar orientados para uma certa direcção. caminhar rumo à meta. em definitiva. De facto. conduz por fim a Cristo. porque quer na área do Mediterrâneo quer na Ásia próxima e média. de onde vimos e para onde vamos. A Igreja das nações tornouse possível. "Contemplar Cristo". . Mas sem dúvida. Nós confiamo-nos a esta amizade. Assim Ele é uma imagem do Deus vivo. no qual Ele se deixa pregar na cruz por nós. nas quais deseja vir ao nosso encontro. Vemo-lo em duas imagens: como menino nos braços da Mãe e. mas só receber e transmitir como dom. "Mostra-nos Jesus!". como crucifixo. um pedido que se dirige em particular a Maria. para nos dar a sua vida. A verdade demonstra-se a si mesma no amor. Nunca é propriedade nossa. para o homem em busca. e talvez não tenhamos muita confiança no futuro. Devemos transmiti-la como dom do mesmo modo como a recebemos. que constitui a sua força. diz o Senhor aos seus. há futuro. Este é antes de tudo o gesto da Paixão. 15). Se este receio. é o próprio Deus. Mas porque o cristianismo é mais que moral. é o dom de uma amizade. Deus não vem com a força exterior. devido à nossa história temos medo de que a fé na verdade inclua intolerância. precisamente por isto tem em si também uma grande força moral da qual nós. as crianças doentes e que sofrem. É o dom de uma amizade que perdura na vida e na morte: "Já não vos chamo servos. Moribundo. Dela somos testemunhas. interiormente em busca do Rosto do Redentor. Mas os braços alargados são ao mesmo tempo a atitude do orante. Deus fez-se pequenino para nós. Este convite. do modo como ela nos foi doada. Jo 15. Deus remiu o mundo não com a espada. no final. chegou o momento de olhar para Jesus como o vemos aqui no santuário de Mariazell. de uma série de pedidos e de leis. "Contemplar Cristo!". que nos deu Cristo como seu Filho: "Mostra-nos Jesus!". como também o amor nunca se pode produzir. Se nós o fizermos. Ele propõe-nos o Tu. que tem as suas boas razões históricas. Nós. mas com a Cruz. Por isso os braços alargados do Crucificado são. a descer dos altos tronos e aprender a sermos crianças diante de Deus. Onde estiver Deus. um nosso produto. mas vem na impotência do seu amor. mas amigos" (cf. Estas duas imagens da basílica dizem-nos: a verdade não se afirma mediante um poder externo. Pede o nosso amor. e assim transformou-a num acto de amor a Deus e aos homens. O menino Jesus recordanos naturalmente também todas as crianças do mundo. a Ele podemos confiar-nos. nos invade. As crianças que vivem na pobreza. "Contemplar Cristo": lancemos ainda brevemente um olhar para o Crucifixo em cima do altar-mor. uma posição que o sacerdote assume quando na oração alarga os braços: Jesus transformou a paixão o seu sofrimento e a sua morte em oração. Convida-nos também a nós a fazermo-nos pequeninos. também um gesto de abraço. confiamos nesta força da verdade. Pede que confiemos n'Ele e que assim aprendamos a estar na verdade e no amor. A Europa tornou-se pobre de crianças: nós queremos tudo para nós mesmos. transforma-se sempre de novo num pedido espontâneo. mas também as alegres e sadias. apresentando-O a nós antes de tudo como menino. Precisamos desta força interior da verdade. damo-nos conta de que o cristianismo é algo mais e diferente de um sistema moral. como cristãos. deseja conter-nos nas mãos do seu amor. perante os desafios do nosso tempo. mas é humilde e doa-se ao homem unicamente mediante o poder do seu ser verdadeira. rezamos assim também fora deste momento. com o qual Ele nos atrai para si. Ele entrega-se nas nossas mãos. que são exploradas como soldados.Nós temos necessidade da verdade. Assim rezamos hoje com todo o coração. é o mote deste dia. Jesus alarga os braços. no altar principal da basílica. Mas a terra só não terá futuro quando se extinguirem as forças do coração e da razão iluminada pelo coração quando o rosto de Deus já não resplandecer sobre a terra. que nunca conheceram o amor dos pais. Maria responde. VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI À ÁUSTRIA POR OCASIÃO DO 850º ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DO SANTUÁRIO DE MARIAZELL HOMILIA DO SANTO PADRE NA SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA CATEDRAL DE SANTO ESTÊVÃO . em qualquer momento. na Áustria. um "sim" a um amor responsável (sexto mandamento). gostaria de retomar quanto já foi dito nas intenções de oração. Este mesmo pedido acompanhar-nos-á quando voltarmos à nossa vida quotidiana. também gostaria de recordar os dois peregrinos que morreram aqui. nestes dias. nos deixa a nossa liberdade. quando olhamos para Maria. Assim podemos encontrar o caminho justo. É um "sim" à família (quarto mandamento). contudo. Se com Jesus Cristo e com a sua Igreja relemos de maneira sempre nova o Decálogo do Sinai. Podemos esperar que a Mãe de Deus os tenha conduzido directamente diante de Deus. Gostaria de tranquilizar todas estas pessoas com a minha oração. um "sim" à solidariedade. Com este pedido à Mãe do Senhor pusemo-nos a caminho em direcção a este lugar. à responsabilidade social e à justiça (sétimo mandamento). a minha compaixão e com o meu sofrimento e tenho a certeza de que quantos tiverem a possibilidade. "Mostra-nos Jesus!". que nos leva e. hoje incluíos na minha oração durante a Santa Missa. Depois. por causa das inchentes e sofreram danos. O Decálogo é antes de tudo um "sim" a Deus. E sabemos que Maria satisfaz a nossa oração: sim. a torna verdadeira liberdade (os primeiros três mandamentos). descendo às suas profundezas. vivemos estes múltiplos "sins" e ao mesmo tempo temo-los como indicadores do percurso neste nosso momento do mundo. aliás. um "sim" à vida (quinto mandamento). Em virtude do poder da nossa amizade com o Deus vivo. a um Deus que nos ama e nos guia. segui-la passo a passo. *** A oração do Papa pelos dois peregrinos falecidos e por quem sofreu graves danos pelas enchentes Queridos irmãos e irmãs! Antes do encontro com os Conselhos paroquiais e antes de vos entregar o Evangelho e os Actos dos Apóstolos.temos tanta necessidade. São muitas as pessoas que aqui. então revela-se-nos como um grande. estão a sofrer. válido e permanente ensinamento. cheios de confiança jubilosa de que o caminho leva à luz na alegria do Amor eterno. ela mostra-nos Jesus. Amém. porque tinham vindo em peregrinação para encontrar Jesus juntamente com ela. mostrarão solidariedade e os ajudarão. um "sim" à verdade (oitavo mandamento) e um "sim" ao respeito das outras pessoas e do que lhes pertence (nono e décimo mandamentos). sobretudo. Há. anunciar a um mundo repleto de suposta erudição e de formação fictícia ou verdadeira como também em particular aos pobres e aos simples o . E deste modo se inscreve na nossa existência concreta. no ano de 304 quando. Sem o dom do Senhor. que nos sustenta até depois da morte. Quereríamos objectar: mas o que estais a dizer. "Quem não renuncia às suas propriedades e não deixa também os vínculos familiares. então compreenderemos que Jesus não exige de todos a mesma coisa. entre homem e mulher? Não precisamos do amor da vida. Na palavra dominicum/dominico estão entrelaçados indissoluvelmente dois significados. Também nós necessitamos do contacto com o Ressuscitado. que nos doa um espaço de liberdade. "Sine dominico non possumus". do amor entre pais e filhos. Para aqueles cristãos a Celebração eucarística dominical não era um preceito mas uma necessidade interior. corpórea e comunitária. sem o Dia do Senhor não podemos viver: responderam alguns cristãos em Abitínia. subjectivo: o encontro com o Senhor se inscreve no tempo através de um dia estabelecido. Todavia. foram levados diante do juiz e interrogados porque tinham realizado de domingo a função religiosa cristã. da alegria de viver? E não são necessárias também pessoas que investem nos bens deste mundo e edifiquem a terra que nos foi dada de maneira que todos possam ter parte nos seus dons? Não nos foi confiada também a tarefa de prover ao desenvolvimento da terra e dos seus bens? Se escutarmos melhor o Senhor e. Senhor? Porventura o mundo não tem necessidade da família? Não tem por acaso necessidade do amor paterno e materno. ao Senhor que nos fala através dela. não é somente um contacto espiritual.Viena. cuja unidade devemos aprender a perceber. se prestarmos atenção agora à hodierna passagem evangélica. nos assustaremos. Deixar ou trair este centro tiraria à vida o seu fundamento. Dá ao nosso tempo. o dom do Senhor este dom é Ele mesmo: o Ressuscitado. cristãos de hoje? Sim. e portanto à nossa vida no seu conjunto. antes de tudo. que nos faz olhar para além do activismo da vida quotidiana em direcção do amor criador de Deus. de cujo contacto e proximidade os cristãos têm necessidade para ser eles mesmos. vale também para nós. Eles devem. um centro. Precisamos deste encontro que nos reúne. mesmo sabendo que o facto era punido com a morte. No Evangelho de hoje Jesus fala directamente do que não é tarefa de muitos que o seguiam na peregrinação para Jerusalém. uma ordem interior. superar o escândalo da Cruz e depois estar prontos a deixar deveras tudo e aceitar a missão aparentemente absurda de ir até aos confins da terra e. com a sua escassa cultura. escutá-lo no conjunto de tudo o que Ele nos diz. não pode ser meu discípulo". surpreendidos durante a Celebração eucarística dominical. do qual provimos e para o qual estamos a caminho. Contudo. a própria vida é vazia. interno. que é temporalidade. Sem Ele que sustenta a nossa vida. que era proibida. Esta atitude dos cristãos de então tem relevância também para nós. a sua dignidade interior e a sua beleza. actual Tunísia. antes de mais. mas que é chamada específica dos Doze. Cada um tem a sua tarefa pessoal e o tipo de seguimento projectado por Ele. 9 de Setembro de 2007 Queridos irmãos e irmãs! "Sine dominico non possumus!". que precisamos de uma relação que nos apoie e dê orientação e conteúdo à nossa vida. é dirigida antes de tudo aos Doze. se não compreendermos o que conta verdeiramente na vida. Apenas o amor de Deus. não nos preocuparmos e. tornando-se sinais luminosos do seu amor! Basta pensar em pessoas como Bento e Escolástica. Do que se trata em última análise. porque em todos os séculos nos doou homens e mulheres que por amor a Ele deixaram tudo. desse modo. a sua chamada naturalmente. dessa maneira. Quem volta atrás para procurar a si mesmo e quer ter o outro somente para si. Este é o centro do que o Senhor nos quer comunicar no trecho evangélico aparentemente tão severo deste Domingo. Contudo. requer sempre deixar-se a si mesmo. Isabel da Turíngia e Edvige da Silésia.. acaba por ser um tempo vazio que não nos reforça nem recria. transformou-se num fim-de-semana. Inácio de Loyola. E rezemos ao Senhor para que também no nosso tempo conceda a muitas pessoas a coragem de deixar tudo. podemos perceber que o Senhor não fala somente de alguns poucos e da sua tarefa particular. o amor de Deus feito homem. cada um de nós o sabe. . na qual uma grande multidão o acompanha. para sofrer em primeira pessoa o martírio. perdê-la-á. que se perdeu a si mesmo por nós. "Sine dominico non possumus!". o tempo livre é algo bom e necessário.). mas quem perder a própria vida por minha causa. vale também aqui que todo o saber do mundo não serve se não aprendermos a viver.Evangelho de Jesus Cristo. perdendo-se ou condenando-se a si mesmo?" (Lc 9. Em todos os tempos Ele chama algumas pessoas para contar exclusivamente com Ele. Especialmente na pressa do mundo moderno. Sem este mais profundo perder-se a si mesmo não há vida. Mas se o tempo livre não tem um centro interior. dá ao Domingo a sua alma". Com a sua palavra Ele dá-nos a certeza de que podemos contar com o seu amor. O tempo livre necessita de um centro o encontro com Aquele que é a nossa origem e a nossa meta. salvá-la-á. em tempo livre. que neles se torna próxima e compreensiva para nós. Devem estar prontos.". alcança todos os séculos. perdê-la-á. se nos dedicarmos agora novamente ao Evangelho. De facto. O irrequieto desejo de vida que actuamente não dá paz aos homens acaba no vazio da vida perdida: "Quem perder a própria vida por minha causa. Teresa d'Ávila. para deixar todo o resto e estar totalmente à sua disposição e. Sem o Senhor e o dia que lhe pertence não se realiza uma vida completa. Reconhecer isto é a sabedoria da qual nos falou a primeira leitura. o Cardeal Faulhaber. tomá-la só para si mesmo. nas nossas sociedades ocidentais. diz o Senhor: um deixar-se a si mesmo do modo mais radical é possível somente se com isto no final não caímos no vazio. com a sua vida inteira. 24s. à disposição dos outros: para criar um oásis de amor abnegado num mundo no qual muito frequentemente parecem valer só o poder e o dinheiro. Damos graças ao Senhor. além do momento histórico. O Domingo. O meu grande predecessor na sede episcopal de München und Freising. Madre Teresa de Calcutá e Padre Pio! Estas pessoas. do qual provém uma orientação para o todo. entregando-se por nós. exprime-o outra vez assim: "Quem quiser salvar a sua vida. Quem quiser somente possuir a própria vida. Francisco e Clara de Assis. para estar à disposição de todos. encontrarmos deveras a vida. no seu caminho na vastidão do mundo. o fulcro do que Ele quer vale para todos. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro. Se a palavra de Jesus nesta peregrinação a Jerusalém. expressou-se assim certa vez: "Dá r alma o seu Domingo. para testemunhar o Evangelho do Senhor crucificado e ressuscitado. E o amor requer sempre o sair de si mesmo. torna possível que também nós nos tornarmos livres. perde assim a si mesmo e ao outro.. Somente quem se doa recebe a sua vida. foram uma interpretação da palavra de Jesus. Por outras palavras: somente aquele que ama encontra a vida. mas nas mãos do Amor eterno. os jovens e quantos estão activamente comprometidos nas paróquias. deveríamos acolher conscientemente também esta dimensão do Domingo. Saúdo-vos a todos com afecto. do sabbat. Voltei com alegria para me encontrar com a vossa comunidade diocesana. mas uma pessoa pertencente pessoalmente r família. religiosos e religiosas. Nós mesmos temos necessidade deste olhar de bondade. que por diversos anos foi de modo particular também a minha e que é para mim sempre querida. o seu Amor. um repouso que abraça todos os homens. Numa época em que por causa das nossas intervenções humanas. até r vida de todos os dias. faz com que esta consciência nos penetre profundamente na alma e que possamos sentir assim a alegria dos redimidos. pois era o dia da ressurreição. o primeiro dia depois assimilou progressivamente a herança do sétimo dia. Assim percebemos neste dia algo da liberdade e da igualdade de todas as criaturas de Deus. Participamos no repouso de Deus. ao qual agradeço as bonitas palavras de boas-vindas com as quais me recebeu em vosso nome. movimentos. nos redimiu e adoptou como filhos amados. Senhor. Ser filho significa sabia-o muito bem a Igreja primitiva ser uma pessoa livre. mediante o seu Filho. Se nós pertencemos àquele Deus que é o poder sobre todos os poderes. Saúdo o Comissário da Prefeitura de Velletri. Mas muito cedo a Igreja tomou consciência também do facto de que o primeiro dia da semana é o da manha da criação. que me sucedeu como Cardeal Titular desta Diocese. Por isso o Domingo na Igreja é também a festa semanal da criação festa da gratidão e da alegria pela criação de Deus. os Presidentes . Depois. Amém.Exactamente porque no Domingo se trata em profundidade do encontro. associações e nas várias actividades diocesanas. Saúdo. nos escutou verdadeiramente na comunhão consigo mesmo. Peçamos pelo olhar de bondade de Deus. na Palavra e no Sacramento. a criação parece estar exposta a múltiplos perigos. sabemos que Deus nos adoptou como filhos. Vincenzo Apicella. sacerdotes. E significa ser herdeiro. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SANTA MISSA CELEBRADA DURANTE A VISITA PASTORAL À DIOCESE SUBURBICÁRIA DE VELLETRI-SEGNI Domingo. Ao pedir sabemos que este olhar já nos foi doado. agentes de pastoral. aceitando o vosso repetido convite. o querido D. saúdo o vosso Pastor. Sim. Saúdo os demais Bispos. e somos herdeiros. Os primeiros cristãos celebraram o primeiro dia da semana como Dia do Senhor. o dia no qual Deus disse: "Faça-se a luz!" (Gn 1. A herança que Ele nos deixou é Ele mesmo. Na oração deste Domingo recordemos sobretudo que Deus. 23 de Setembro de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Voltei de bom grado entre vós para presidir esta solene celebração eucarística. para além do Domingo. Para a Igreja primitiva. em primeiro lugar. a luz desse dia abraça a inteira realidade. com Cristo ressuscitado. peçamos que olhe com benevolência para os crentes em Cristo e nos conceda a verdadeira liberdade e a vida eterna. não um servo. aliás. então não temos medo e somos livres. o Senhor Cardeal Francis Arinze. 3). capaz de imprimir à existência humana uma orientação e um valor absolutamente novos. da Baviera. 8). o evangelista que mais que os outros se preocupa por mostrar o amor que Jesus tem pelos pobres. Alegro-me por terdes escolhido como guia do itinerário espiritual e pastoral da Diocese precisamente esta expressão: "Nós reconhecemos e cremos no amor que Deus nos tem". que torna o crente e a comunidade cristã fermento de esperança e de paz em todos os ambientes. para garantir o seu futuro. a breve parábola concluiu-se com estas palavras: "O senhor elogiou o administrador desonesto por ter procedido prudentemente" (Lc 16. aos bens materiais e a tudo o que nos impede de viver em plenitude a nossa vocação para amar Deus e os irmãos. como ulterior sinal do meu afecto e da minha benevolência. a vida é sempre uma opção: entre . Mas que nos quer dizer Jesus com esta parábola? Com esta conclusão surpreendente? À parábola do administrador infiel. o evangelista faz seguir uma breve série de afirmações e de advertências sobre a relação que devemos ter com o dinheiro e com os bens desta terra. porque cremos no amor. Deus é amor: com estas palavras inicia a minha primeira Encíclica. O amor faz viver a Igreja. mas como um exemplo a ser imitado pela sua habilidade previdente. Laços de amizade unem a minha terra natal com a vossa: disto dá testemunho a coluna de bronze que me foi oferecida em Marktl am Inn em Setembro do ano passado. E é esta a nossa missão comum: ser fermento de esperança e de paz. São Lucas. A este propósito desejo agradecer os doadores. vendo bem. São pequenas frases que convidam a uma opção que pressupõe uma decisão radical. 1-13). sei que vos preparastes para esta minha visita através de um intenso caminho espiritual. De facto. por cem municípios da Baviera. como já disse. mas astuto: o Evangelho não no-lo apresenta como modelo para seguir na sua desonestidade. ofereceu-nos diversos temas de reflexão sobre os perigos de um excessivo apego ao dinheiro. 6). em particular da Alemanha. A nossa assembleia litúrgica de hoje não pode deixar de se centralizar sobre esta verdade essencial. o Senhor reserva-nos um sério e muito saudável ensinamento. que nos honram com a sua presença. por ocasião da viagem apostólica na Alemanha. quase uma similar desta coluna que será colocada aqui em Velletri. Nos domingos passados. Também hoje. O amor é a essência do Cristianismo. para se unirem a nós neste dia de festa. que diz respeito ao centro da nossa fé: a imagem cristã de Deus e a consequente imagem do homem e do seu caminho. sobre o amor de Deus. procura com astúcia pôr-se de acordo com os devedores. atentos especialmente às necessidades dos pobres e dos necessitados. Na realidade. Ela será o sinal da minha presença espiritual entre vós. adoptando como lema um versículo muito significativo da Primeira Carta de João: "Nós reconhecemos e cremos no amor que Deus nos tem" (4. É sem dúvida um desonesto. através de uma parábola que provoca em nós uma certa admiração porque se fala de um administrador desonesto que é elogiado (cf. Obrigado a todos vós! Queridos irmãos e irmãs. fá-la vivê-lo sempre até ao fim dos tempos. e dado que ele é eterno. Lc 16. uma constante tensão interior.Municipais da Diocese de Velletri-Segni e as outras Autoridades civis e militares. Recentemente foi-me oferecida. o escultor e os presidentes municipais que vejo aqui presentes com tantos amigos. Deus caritas est. Como sempre o Senhor inspira-se em acontecimentos da vida quotidiana: narra sobre um administrador que está para ser despedido pela desonesta gestão dos negócios do seu patrão e. Saúdo quantos vieram de outras partes. Acreditamos no amor: esta é a essência do cristianismo. Na realidade. e se necessário ao martírio. Se amar Cristo e os irmãos não é considerado como uma espécie de acessório e superficial. entre bem e mal. é possível corrigir a rota e orientá-la para um desenvolvimento equitativo. estar dispostos a renúncias radicais. Da mesma opção fundamental que se deve fazer todos os dias fala hoje na primeira leitura o profeta Amós. e quem é infiel no pouco também é infiel no muito" (Lc 16. a única maneira de fazer frutificar para a eternidade os nossos talentos e capacidades pessoais assim como as riquezas que possuímos é partilhá-las com os irmãos. É necessária portanto uma decisão fundamental entre Deus e mamon. O Apóstolo convida em primeiro lugar a rezar pelos que desempenham tarefas de responsabilidade na comunidade civil. Com palavras fortes. abrindo o coração. garantindo a paz e "uma vida calma e tranquila com toda a piedade e dignidade" para todos (1 Tm 2. entre egoísmo e altruísmo. Podemos então dizer. contributo espiritual para a edificação de uma Comunidade eclesial fiel a Cristo e à construção de uma sociedade mais justa e solidária. se tendem para realizar o bem. Diz Jesus: "Quem é fiel no pouco também é fiel no muito. para o bem comum de todos. 2). é necessária a escolha entre lógica do lucro como critério último no nosso agir e a lógica da partilha e da solidariedade. porque ele explica das suas decisões. 5). Portanto. muito mais nós cristãos nos devemos preocupar por prover à nossa felicidade eterna com os bens desta terra (cf. como exorta o apóstolo Paulo na segunda Leitura. poderíamos dizer que na riqueza é indicado o ídolo ao qual se sacrifica tudo para alcançar o próprio sucesso material e assim este sucesso económico torna-se o verdadeiro deus de uma pessoa.honestidade e desonestidade. Na realidade. Mas. trata-se da decisão entre o egoísmo e o amor. Am 4. mas antes como a finalidade verdadeira e última de toda a nossa existência. se exprime num amor sincero a todos e se manifesta na oração. Quando. Sermo 359. incrementa a desproporção entre pobres e ricos. assim como uma exploração destruidora do planeta. ou dedicarse-á a um e desprezará o outro". Uma generosidade que. entre a justiça e a desonestidade. como ontem. de amar como Jesus. mostrando-nos deste modo bons administradores de quanto Deus nos confia. prevalece a lógica da partilha e da solidariedade. a vida do cristão exige a coragem de ir contra a corrente. Com efeito. que chegou ao sacrifício de si na cruz. . Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" (Lc 16. 10). entre fidelidade e infidelidade. ou seja. é preciso saber fazer opções básicas. A lógica do lucro. 10-11). a sentimentos de generosidade autêntica. se há quem está pronto a qualquer tipo de desonestidade para se garantir um bem-estar material sempre aleatório. derivam consequências positivas. ou há-de aborrecer a um e amar o outro. entre Deus e Satanás. que por meio das riquezas terrenas devemos conquistar as verdadeiras e eternas: de facto. É incisiva e peremptória a conclusão do trecho evangélico: "Servo algum pode servir a dois senhores. O cristão deve rejeitar com energia tudo isto. num desprezo dos pobres e numa exploração da sua situação em próprio benefício (cf. ao contrário. nunca falte a nossa oração. ao contrário. é um gesto grandioso de caridade rezar pelos outros. se é prevalecente. parafraseando uma consideração de Santo Agostinho. Hoje. ele estigmatiza um estilo de vida típico de quem se deixa absorver por uma busca egoísta do proveito de todos os modos possíveis e que se traduz numa sede de lucro. 13): Mamon é uma palavra de origem fenícia que evoca segurança económica e sucesso nos negócios. diz Jesus: "É preciso decidir-se. Mokrzycki que. ao qual Mons. dos ensinamentos do Concílio Vaticano II e do Magistério da Igreja. Eles são Mons. Em relação a isto. expressando deste modo uma correspondência íntima entre o ministério do Bispo e a . Mons.Queridos irmãos e irmãs. também foi meu secretário com grande humildade. Mons. todos os vossos propósitos e projectos pastorais. e Mons. cuja imagem está conservada e é venerada nesta vossa bonita Catedral. serviu durante muitos anos como secretário o Santo Padre João Paulo II e depois da minha eleição para Sucessor de Pedro. GABRIEL E RAFAEL Sábado. demos graças a Deus com toda a nossa vida (cf. Gabriel e Rafael. que está suportando uma série de transformações. Com ele saúdo o amigo do Papa João Paulo II. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI POR OCASIÃO DA ORDENAÇÃO EPISCOPAL A SEIS NOVOS BISPOS NA FESTA DOS ARCANJOS MIGUEL. revelou-se oportuna como nunca a sua Carta Pastoral do passado mês de Dezembro com o convite a colocar-se na escuta atenta e perseverante da Palavra de Deus. Desejo a todos as bênçãos do Céu pelas suas fadigas que visam manter activa na sua Terra e transmitir às futuras gerações a força restabelecedora do Evangelho de Cristo. Dirijo uma saudação particular a Mons. alguns dos quais encontrei na passada segunda-feira. O meu pensamento dirige-se também aos Bispos greco-católicos. e à Igreja ortodoxa da Ucrânia. Tommaso Caputo. Dirijo a todos a minha cordial saudação com um abraço fraterno. Mons. A protecção materna de Maria acompanhe o caminho de vós aqui presentes e de quantos não puderam participar na nossa Celebração eucarística de hoje. Mokrzycki dará a sua ajuda como Coadjutor. Francesco Brugnaro. o Cardeal Marian Jaworski. Sergio Pagano. conduza uma acção pastoral cada vez mais orgânica e partilhada. e faça com que erguendo para o céu as mãos livres e puras. chamados a desempenhar funções diversas ao serviço da única Igreja de Cristo. competência e dedicação. juntamente com o actual Cardeal Stanislaw Dziwisz. Colecta). ao desenvolvimento do sector "terciário" e ao estabelecimento nos centros históricos de muitos imigrados. Coloquemos nas mãos de Nossa Senhora das Graças. Mieczyslaw Mokrzycki. devido à transferência de muitas famílias jovens provenientes de Roma. Isto faz-nos recordar que na antiga Igreja já no Apocalipse os Bispos eram classificados como "anjos" da sua Igreja. as crianças. 29 de Setembro de 2007 Queridos irmãos e irmãs! Estamos reunidos em volta do altar do Senhor para uma circunstância ao mesmo tempo solene e feliz: a Ordenação episcopal de seis novos Bispos. os idosos. Saúdo também os Bispos latinos da Ucrânia. Gianfranco Ravasi. Maria nos livre da ambição das riquezas. vele a Virgem Santa sobre os doentes. que estão aqui em Roma para a sua visita "ad limina Apostolorum". Celebramos esta Ordenação episcopal na festa dos três Arcanjos que na Escritura são mencionados pelo nome: Miguel. Mons. e sobre quantos se sentem sós e abandonados ou se encontram em particulares necessidades. rezemos em particular para que a vossa comunidade diocesana. De modo especial. seguindo as indicações que o vosso Bispo está a oferecer com evidente sensibilidade pastoral. Vincenzo Di Mauro. Mas o dragão não acusa só Deus. O Bispo deve ser um orante.missão do Anjo. Eles chamam-no a reentrar em si mesmo. Queridos amigos. Deus é mais íntimo a cada um de nós de quanto o somos nós próprios. Os Anjos falam ao homem do que constitui o seu verdadeiro ser. Antes de tudo está Miguel. É a perene tentativa da serpente de fazer crer aos homens que Deus deve desaparecer. que deveis preceder na sua peregrinação. A fé em Deus defende o homem em todas as suas debilidades e insuficiências: o esplendor de Deus resplandece sobre cada indivíduo. diz o Breviário da Igreja a propósito dos santos Bispos. Encontramos o Arcanjo Gabriel sobretudo na preciosa narração do anúncio a Maria da encarnação de Deus. do que na sua vida com muita frequência está velado e sepultado. fazer espaço para Deus no mundo contra as negações e defender assim a grandeza do homem. a permanecer e tornar-se sempre mais. como homem de Deus. tanto mais compreende também as pessoas que lhe estão confiadas e pode tornar-se para elas um anjo um mensageiro de Deus. E o que se poderia dizer e pensar de maior sobre o homem a não ser que o próprio Deus se fez homem? A outra função de Miguel. Quem acusa Deus. orientada. Deus está inscrito nos seus nomes. não enobrece o homem. Tudo isto se torna ainda mais claro se olharmos agora para as figuras dos três Arcanjos cuja festa a Igreja celebra hoje. mas priva-o da sua dignidade. podem estar também muito próximos do homem. Os três nomes dos Arcanjos terminam com a palavra "El". deveríamos tornar-nos sempre de novo anjos uns para os outros anjos que nos afastam dos caminhos errados e nos orientam sempre de novo para Deus. A sua verdadeira natureza é a existência em vista d'Ele e para Ele. pessoas que amam em comunhão com Deus-Amor. 12. Explica-se precisamente assim também o segundo aspecto que caracteriza os Anjos: eles são mensageiros de Deus. 21. que significa "Deus". com todo o seu ser para Deus. Se a Igreja antiga chama os Bispos "anjos" da sua Igreja. tocando-o da parte de Deus. Exactamente porque estão junto de Deus. que as ajuda a encontrar a sua verdadeira natureza. através dela. Gabriel é o mensageiro da encarnação de Deus. Neste sentido também nós. devem viver orientados para Deus. o próprio Deus pede a Maria o seu "sim" para a proposta de se tornar a Mãe do Redentor: dar a sua carne . 10). como diz João. Por um lado. "Multum orat pro populo" "Reza muito pelo povo". que os acusava de dia e de noite diante de Deus" (12. seres humanos. 26-38). Quem põe Deus de lado. O Apocalipse chama-o também "o acusador dos nossos irmãos. a encontrar a alegria na fé e a aprender o discernimento dos espíritos: a acolher o bem e a recusar o mal. Então o homem torna-se um produto defeituoso da evolução. acusa também o homem. Trazem Deus aos homens. como nos refere São Lucas (1. Mas o que é um Anjo? A Sagrada Escritura e a tradição da Igreja deixam-nos entrever dois aspectos. abrem o céu e assim abrem a terra. 1). na Carta do Apóstolo São Judas Tadeu e no Apocalipse. Quanto mais o fizer. Encontramo-lo na Sagrada Escritura sobretudo no Livro de Daniel. a si mesmas. A partir da tarefa do Anjo pode-se compreender o serviço do Bispo. Deste Arcanjo tornam-se evidentes nestes textos duas funções. Dn 10. segundo a Escritura. na sua natureza. da "serpente antiga". é a de protector do Povo de Deus (cf. É tarefa do Bispo. que Deus é um obstáculo para a nossa liberdade e que por isso devemos desfazer-nos dele. em virtude da esperança da fé. para que eles se possam tornar grandes. Ele defende a causa da unicidade de Deus contra a soberba do dragão. sede verdadeiramente "anjos da guarda" das Igrejas que vos serão confiadas! Ajudai o povo de Deus. e a viver a ideia que Deus tem delas. pretende dizer precisamente o seguinte: "os próprios Bispos devem ser homens de Deus. Ele bate à porta de Maria e. De facto. o Anjo é uma criatura que está diante de Deus. alguém que intercede pelos homens junto de Deus. Também hoje Ele tem necessidade de pessoas que. que por nós subiu à cruz. no sentido mais profundo da palavra. ao Filho de Deus. Repetidas vezes o Senhor bate às portas do coração humano. aos homens de todos os tempos: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta. Ele cura a comunhão importunada entre homem e mulher. Este homem ferido. Quando Jesus envia os seus discípulos em missão. sempre de novo. para a reconciliação do universo. é o pecado. somos todos nós. com a tarefa do anúncio do Evangelho está sempre ligada a de curar. é o serviço de Rafael confiado dia após dia ao sacerdote e de modo especial ao Bispo. Todos sabemos quanto estamos hoje ameaçados pela cegueira para Deus. nos tornamos cegos para a luz de Deus. . podereis também assumir a função de Gabriel: levar a chamada de Cristo aos homens. A verdadeira ferida da alma. Cura o seu amor. o Livro de Tobias fala da cura dos olhos cegos. Assim. torna-se silenciosamente uma testemunha do amor de Deus. por assim dizer. é a força restauradora que. Anunciar o Evangelho. no sacramento da Penitência que. servindo assim para a unificação entre Deus e o mundo. compete-vos bater à porta dos corações dos homens. Entrando vós mesmos em união com Cristo. Como é grande o perigo de que. Na narração de Tobias esta cura é referida com imagens legendárias. rasgam e destroem o seu amor. acolhendo e curando a pessoa ferida que jaz à beira da estrada.humana ao Verbo eterno de Deus. E só se existe um perdão em virtude do poder de Deus. Ele bate para que o deixemos entrar: a encarnação de Deus. estabelecido na criação e ameaçado de muitas formas pelo pecado. Deve ser o "anjo" curador que os ajuda a ancorar o seu amor no sacramento e a vivê-lo com empenho sempre renovado a partir dele. São Rafael é-nos apresentado sobretudo no Livro de Tobias como o Anjo ao qual é confiada a tarefa de curar. o seu fazer-se carne deve continuar até ao fim dos tempos. porque o homem precisa sobretudo da verdade e do amor. Ao sacerdote é confiada a tarefa de guiar os homens sempre de novo ao encontro da força reconciliadora do amor de Cristo. perante tudo o que sabemos sobre as coisas materiais e que somos capazes de fazer com elas. o motivo de todas as outras nossas feridas. através dele. em todas as confusões. é um sacramento de cura. com necessidade de curas. de facto. No Novo Testamento. Ele faz do matrimónio um sacramento: o seu amor. No Apocalipse diz ao "anjo" da Igreja de Laodiceia e. somos espontaneamente levados a pensar também no sacramento da Reconciliação. Cristo bate. dá a capacidade da reconciliação. em nome de Cristo. é curado pelo facto de que Cristo o acolhe no seu amor redentor. 20). Todos devem estar reunidos em Cristo num só corpo: dizem-nos isto os grandes hinos sobre Cristo na Carta aos Efésios e na Carta aos Colossenses. a ordem do matrimónio. Afasta os demónios que. purifica a atmosfera e cura as feridas. Do Arcanjo Rafael são referidas no Livro de Tobias duas tarefas emblemáticas de cura. podemos ser curados. entrarei em sua casa e cearei com ele" (3. Purifica a atmosfera entre os dois e confere-lhes a capacidade de se receberem reciprocamente para sempre. O Senhor está à porta à porta do mundo e à porta de cada um dos corações. podemos ser remidos. lhe põem à disposição a própria carne. Curar esta cegueira mediante a mensagem da fé e o testemunho do amor. O bom Samaritano. Em segundo lugar. já em si é curar. que lhe doam a matéria do mundo e da sua vida. em virtude do poder do amor de Cristo. Queridos amigos. às pessoas idosas. Permanecei no seu amor! Permanecei naquela amizade com Ele cheia de amor que Ele neste momento vos doa de novo! Então a vossa vida dará fruto um fruto que permanece (Jo 15. as religiosas e as demais pessoas consagradas. 21 de Outubro de 2007 Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Ilustres Autoridades Caros irmãos e irmãs Foi com grande alegria que aceitei o convite para visitar a comunidade cristã que vive nesta histórica cidade de Nápoles. pois Nápoles é sempre bonita! . me dirigiu no início desta solene Celebração eucarística. saúdo toda a família dos fiéis e todos os cidadãos de Nápoles: amados amigos. Para que isto vos seja concedido. que de bom grado faço extensivo a quantos nos acompanham através da rádio e da televisão. cujo quinto centenário da morte se celebra no corrente ano. diz-nos hoje o Senhor no Evangelho (Jo 15. a começar pelo Presidente do Conselho dos Ministros. Saúdo com afecto os Bispos Auxiliares e o presbitério diocesano. dirijo o meu pensamento cordial. transmito o meu abraço fraterno e um agradecimento especial pelas palavras que. 16). assim como os religiosos. queridos amigos. HOMILIA DO SANTO PADRE DURANTE A SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA Praça do Plebiscito Domingo. 9). congregados nesta Praça diante da monumental Basílica dedicada a São Francisco de Paula."Permanecei no meu amor". também no vosso nome. Cumprimento as ilustres Autoridades civis e militares que nos honram com a sua presença. Em síntese. porque conheço o seu zelo apostólico. E o mau tempo não nos desencoraja. especialmente às comunidades de clausura. Enviei-o para junto da vossa Comunidade. pelo Presidente da Câmara Municipal de Nápoles e pelos Presidentes da Província e da Região. àquelas que se encontram nos hospitais. os catequistas e os leigos. e estou feliz por constatar que vós o estimais pelos seus dotes de mente e de coração. Ao vosso Arcebispo. queridos irmãos. de modo particular os jovens activamente comprometidos nas várias iniciativas pastorais. nas prisões e àqueles com os quais não me poderei encontrar nesta minha breve permanência napolitana. todos rezamos por vós neste momento. No momento da Ordenação episcopal Ele di-lo de modo particular a vós. Amém. apostólicas e sociais. A todos vós. Cardeal Crescenzio Sepe. estou no meio de vós para compartilhar convosco a Palavra e o Pão da Vida. 1). sem que me escuteis. brota espontaneamente do coração a súplica do antigo profeta: "Até quando. No entanto. não vos haverá de render justiça no tempo devido? A fé asseguranos que Deus ouve a nossa oração e nos atende no momento oportuno. pois abre a terra à força divina e à força do bem. sem que me salveis?" (Hab 1. se sentem impotentes diante do perdurar do malestar social e são tentadas pelo desânimo. como certamente é também a vossa. uma vez que a fé é esperança. encontrará a fé sobre a terra?" (Lc 18. Com efeito. fictícia e pouco incisiva em relação a uma realidade social com tantos problemas como a vossa. Trata-se das figuras da viúva. nos últimos. mas destinada a iluminar profundamente a consciência desta vossa Igreja e desta vossa Cidade. A resposta a esta premente invocação é uma só: Deus não pode mudar as situações sem a nossa . é necessário revigorar a esperança. não obstante a experiência quotidiana pareça desmentir esta certeza. Senhor. é ouvida por um juiz desonesto! Como poderíeis pensar que o vosso Pai celestial. tornando-se um suspiro do espírito. a oração faz-se perseverante e insistente. Lc 18. Trata-se de uma pergunta que nos faz pensar. pedirei socorro. é a fé e a expressão da fé é a oração. Lc 18. fiquei impressionado com o facto de que hoje a Palavra de Deus tem como tema principal a oração. bom. 1-8) faz pensar nos "pequeninos". fiel e poderoso. reflectindo sobre ela. de que os jornais nem sequer chegam a falar. Acreditamos e confiamos em Vós! Aumentai a nossa fé! As Leituras bíblicas que ouvimos apresentam-nos alguns modelos nos quais nos devemos inspirar nesta nossa profissão de fé. Resumi-la-ia deste modo: a força. Como pudemos ouvir no final do Evangelho. a oração torna-se a maior força de transformação do mundo. "a necessidade de rezar sem jamais se cansar". de que fala o livro do Êxodo. queremos repetir em conjunto e com coragem humilde: Senhor. A viúva do Evangelho (cf. É a oração que conserva acesa a chama da fé. diante de certos acontecimentos de crónica. 8). Jesus pergunta: "Quando o Filho do homem voltar. que é sempre também uma profissão de esperança. que encontramos na parábola evangélica. e a de Moisés. no final. a vossa vinda ao meio de nós nesta celebração dominical encontra-nos congregados com a chama da fé acesa. ou de numerosas dificuldades da vida. que se alicerça na fé e se exprime numa prece infatigável. Deste modo. que sofrem devido às prepotências. Jesus reitera-lhes: observai com que tenacidade esta pobre viúva insiste e. compreende-se que esta Palavra contém em si uma mensagem que certamente vai contra a corrente. aliás. Diante de realidades sociais difíceis e complicadas. esta poderia parecer uma mensagem não muito pertinente. mas também em numerosas pessoas simples e justas. 2).Meditando sobre as Leituras bíblicas deste domingo e pensando na realidade de Nápoles. Até quando clamarei: "Violência!". reconhecido como Pai bom e justo. Qual será a nossa resposta a esta inquietante interrogação? Hoje. como diz o Evangelho (cf. muda o mundo e o transforma no Reino de Deus. Quando a fé está repleta de amor a Deus. um brado da alma que penetra o Coração de Deus. que deseja somente o bem dos seus filhos. À primeira vista. que silenciosamente e sem clamores. Deus estava com o seu povo. máxima expressão da fé no poder de Deus. as suas mãos elevadas para o Pai e abertas para o mundo exigem outros braços.16. 4. tem a índole da "competição". para que em conjunto possais enfrentar todos os dias a boa batalha do Evangelho. também vós perseverai na oração pelos fiéis e com os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais. Anunciai a palavra. nos bairros históricos do centro e nas periferias novas e anónimas. Parece incrível. dilectos Pastores da Igreja que está em Nápoles. de desemprego ou subemprego. até ao fim do mundo. porque se põe com determinação ao lado do Senhor para combater a injustiça e vencer o mal com o bem. E agora. insisti em todas as ocasiões. Por conseguinte. do intimismo consolatório: é força de esperança. na posição da pessoa em oração. ou seja da luta. que é Amor e não nos abandona. voltemos a considerar a realidade da vossa Cidade. A oração que Jesus nos ensinou. insinuando-se no tecido da vida social. oportuna e inoportunamente. outros corações que continuem a oferecer-se com o seu próprio amor. desejava a sua vitória. que crescem em ambientes onde prosperam a ilegalidade. de carência de alojamentos. Moisés estava no cimo da colina com as mãos levantadas. a oração cristã não é expressão de fatalismo nem de inércia mas. Porém. Dirijo-me de maneira particular a vós. E como Moisés na montanha. dando assim testemunho de que a verdade do Amor é mais forte que o ódio e a morte. Estas mãos erguidas do grande comandante garantiram a vitória de Israel. mas inclusive do facto de que a violência infelizmente tende a tornar-se uma mentalidade difundida.conversão. Isto sobressai também da primeira Leitura. onde não faltam energias sadias e gente boa. 8-13a). que rejeitam qualquer tipo de violência. Não se trata apenas do repreensível número de crimes cometidos pela "camorra". há também o triste fenómeno da violência. a clandestinidade e a cultura do arranjar-se. é a arma dos pequeninos e dos pobres de espírito. e a nossa verdadeira conversão tem início com o "clamor" da alma. de falta de perspectivas futuras. respondem-lhe com a violência evangélica. a célebre narração da batalha entre os israelitas e os amalecitas (cf. culturalmente preparada e com um profundo sentido da família. é o oposto da evasão da realidade. Êx 17. Além disso. com o risco de atrair especialmente os jovens. para muitos não é simples viver: há numerosas situações de pobreza. com que o Redentor venceu a batalha decisiva contra o inimigo infernal. . que implora perdão e salvação. repreendei e exortai com toda a magnanimidade e doutrina (cf. 2). Enquanto Josué e os seus homens enfrentavam os adversários no campo. Aliás. culminada no Getsémani. mas condicionava esta sua intervenção às mãos levantadas de Moisés. pelo contrário. interiormente iluminados pela Palavra de Deus. admoestai. O que determinou a sorte daquele árduo conflito foi precisamente a oração dirigida com fé ao Deus verdadeiro. 14. 2 Tm 3. enquanto faço minhas as palavras que São Paulo dirige a Timóteo e que pudemos ouvir na segunda Leitura: permanecei firmes naquilo que aprendestes e estai convictos disto. A sua luta. mas é assim: Deus tem necessidade das mãos erguidas do seu servo! Os braços levantados de Moisés fazem pensar nos braços de Jesus na Cruz: braços abertos e pregados. mas há sangue que exprime amor e vida: o Sangue de Jesus e dos Mártires. É isto que está a realizar com zelo apostólico também o vosso Arcebispo. Certamente. Formulo este convite a todos os homens e mulheres de boa vontade.Então. em Novembro de 1990: uma visita que promoveu o renascimento da esperança. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CAPELA PAPAL EM SUFRÁGIO PELOS CARDEAIS E PRELADOS FALECIDOS DURANTE O ANO Segunda-feira. Em Nápoles esta semente existe e actua. 5 de Novembro de 2007 Venerados e dilectos Irmãos . começando a partir da formação das consciências e transformando as mentalidades. e que ajude os jovens a gerirem o tempo livre! É necessária uma intervenção que empenhe todos na luta contra todas as formas de violência. como é importante intensificar os esforços em vista de uma séria estratégia de prevenção que vise a escola e o trabalho. enquanto se realiza aqui em Nápoles o encontro entre os líderes religiosos para a paz. apesar dos problemas e das dificuldades. Oremos ao Senhor para que faça crescer na comunidade cristã uma fé autêntica e uma esperança sólida. Sim. veio aqui pela segunda vez. com a sua ajuda. Prezados irmãos e irmãs. A missão da Igreja consiste em nutrir sempre a fé e a esperança do povo cristão. como hoje. o amado Papa João Paulo II visitou Nápoles pela primeira vez em 1979: era. como o do vosso amado Padroeiro São Januário. em particular de São Januário. Há sangue que é sinal de morte. que reza assim: "A semente da esperança é talvez a menor. que recentemente escreveu uma Carta pastoral com um título significativo: "O sangue e a esperança". Gostaria de concluir. fazendo minha uma expressão contida na Carta pastoral do vosso Arcebispo. que se comprometam para difundir os valores do Evangelho na sociedade. as atitudes e os comportamentos de todos os dias. é manancial de vida nova. mas pode dar vida a uma árvore frondosa e produzir muitos frutos". a verdadeira esperança nasce somente do Sangue de Cristo e do sangue derramado por Ele. Peçamos para isto a ajuda de Maria e dos vossos Santos Protectores. domingo 21 de Outubro! Depois. que tem como tema: "Para um mundo sem violência Religiões e culturas em diálogo". precisa de fiéis que voltem a depositar plena confiança em Deus e. capaz de contrastar com eficácia o desencorajamento e a violência. mas antes ainda de uma profunda renovação espiritual. Nápoles tem necessidade de intervenções políticas adequadas. Esta foi a graça mais preciosa de toda a sua vida. confiemos ao Pai eterno os Patriarcas.Depois de ter comemorado todos os fiéis defuntos na sua celebração litúrgica. aqui podemos igualmente ouvir que Ele reza ao Pai a fim de poder ter consigo. Ângelo Felici.. daquele "mundo" que "não O conheceu" (Jo 17. 29) e que juntos são um só (cf. De igual modo. 26): uma experiência de comunhão divina que. a oração do Senhor estende-se a todos os discípulos de todos os tempos. que estão ao seu lado durante a última Ceia. e vai ao encontro dela com a certeza de que o Pai realizará nele a antiga profecia que ouvimos hoje na primeira leitura bíblica: "Dar-nos-á de novo a vida em dois dias / ao terceiro dia levantar-nos-á / . Jesus fez-lhes conhecer o nome de Deus. meditar sobre a confiança de Jesus no seu Pai e assim deixar-se envolver pela luz tranquila deste abandono absoluto do Filho à vontade do seu "Abbá". Jesus sabe que o Pai está sempre com Ele (cf. À luz destas palavras do Senhor. uma "imersão" no amor de Deus (cf. em vista de a transfigurar e preparar para a glória da vida eterna. para além da morte. chamados pelo Senhor. imaculada e indefectível" (1 Pd 1. Lc 12. Durante a sua existência temporal. permaneceu em cada um deles (cf. porém. em vista de os destinar para seguir o seu Filho mais de perto. 25). São homens que o Pai "enviou" a Cristo. deixaram este mundo. tende a ocupar a existência inteira. aos venerados Irmãos pelos quais nós estamos a oferecer a presente Eucaristia. tanto pelas vicissitudes pessoais como pelo ministério exercido. chamou-os a tornarem-se amigos de Jesus. ao longo do ano. quero que onde Eu estiver. É consolador e salutar. Contudo.. Recordo com carinho fraterno os nomes dos saudosos Purpurados: Salvatore Pappalardo. que pudemos ouvir no trecho evangélico: "Pai. não obstante o pesar da separação. mas também por aqueles que hão-de crer em mim" (Jo 17. 50). Pensando na pessoa e no ministério de cada um deles. na oração do próprio Jesus. os Arcebispos e os Bispos defuntos. Jo 17. Ele disse: "Não rogo somente por eles. na morada da sua glória eterna. todos os discípulos mortos no sinal da fé. elevemos a Deus sentidas acções de graça pelo dom que neles Ele ofereceu à Igreja e por todo o bem que. foram homens com diferentes características. Frédéric Etsou-Nzabi Bamungwabi. Adam Kozlowiecki e Rosalio José Castillo Lara. Receberam-na como sorte na terra. admitindo-os à participação no amor da Santíssima Trindade. A prece de sufrágio da Igreja "apoia-se". eles conseguiram realizar. 30) Ele sabe que a própria morte deve ser um "baptismo". Tirando-os do mundo. de modo particular aos Apóstolos. e deste modo a própria Pessoa do Filho. Jo 8. estejam também comigo aqueles que Tu me enviaste" (Jo 17. E se ali rezava para que todos sejam "um só. participam nos céus desta "herança incorruptível. Jean-Marie Lustiger. para que assim o mundo creia" (v. o nosso pensamento neste momento dirige-se. O amor do Pai pelo Filho entrou neles. com a sua ajuda. "Aqueles que Tu me enviaste": esta é uma bonita definição do cristão como tal. Com efeito. 21). António Maria Javierre. 4). 20). em virtude do Espírito Santo. Jesus refere-se aos seus discípulos. pouco antes. Jo 10. Sem dúvida. Edouard Gagnon. de maneira especial. todos receberam em comum o elemento mais importante: a amizade com o Senhor Jesus. por assim dizer. ou seja. na oração pelos defuntos. por sua natureza. mas que obviamente pode ser aplicada de modo particular a quantos Deus Pai escolheu entre os fiéis. expressando também para eles o nosso reconhecimento em nome de toda a Comunidade católica. encontramo-nos segundo a tradição nesta Basílica vaticana para oferecer o Sacrifício eucarístico em sufrágio pelos Cardeais e Bispos que. como sacerdotes. 24). e agora. aprisionado. ressuscitado (cf. experimentaram toda a sua ressonância existencial. 6). Sl 41. Agora. eles chegaram à pátria. O Salmo responsorial pôs nos nossos lábios o anseio arrebatador de um levita que. 2). O "eu" de Jesus torna-se um novo "nós". assumindo também sobre si as acusações e os desprezos de quantos. porque Cristo entrou em nós no santuário do céu e quer conduzir-nos para lá. Mt 16. autêntico e fiel. como cantava com expressões admiráveis São João da Cruz. desmentiu por inconstância e superficialidade. quando revela de maneira aberta aos discípulos aquilo que o espera em Jerusalém: deverá ser rejeitado pelos chefes. os nossos queridos e saudosos Irmãos recitaram tal Salmo numerosas vezes. 1-3). e o "nós" da sua Igreja. nomeadamente nos seus reiterados anúncios da paixão. Trata-se de uma sede que. 24 de Novembro de 2007 . O Salmista reserva espaço às lamentações da alma. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica Vaticana Sábado. condenado à morte e. E esta identificação é revigorada em quantos. Hb 9. 3). Ali. juntamente com a Bem-Aventurada Virgem Maria e com todos os Santos. O "nós" do povo concentra-se no "eu" de Jesus. Ao contrário. uma esperança que não desilude. infelizmente. Esta sede contém uma verdade que não atraiçoa. Na luz de Cristo e do seu mistério pascal. mas no centro e no final do seu hino admirável um estribilho repleto de confiança: "Por que estás triste. quando se comunica àqueles que são incorporados nele mediante o Baptismo. do qual começamos a fazer parte com o Sacramento do Baptismo. ilumina o caminho para a fonte da vida. 21). por um especial chamamento do Senhor. do Deus vivo! / Quando poderei contemplar a face de Deus?" (Sl 42 [41]. o amor a Deus Pai torna-se plenamente sincero. no final do seu exílio terrestre. dizem na hora da prova: "Onde está o teu Deus?".e viveremos na sua presença" (Os 6. "A minha alma tem sede de Deus. 24). possam eles contemplar finalmente nisto consiste a nossa oração o rosto de Deus e cantar eternamente os seus louvores. / Ele é o meu Deus e Salvador" (v. Jo 14. deseja ali regressar para estar novamente diante do Senhor (cf. mas no próprio céu (cf. 1-3). depois de nos ter preparado um lugar (cf. Este oráculo do profeta Oseias refere-se ao povo de Israel e expressa a confiança no socorro do Senhor: uma confiança que por vezes o povo. no terceiro dia. morte e ressurreição. chegando mesmo a abusar da benevolência divina. Ele assume em si toda a realidade do antigo Israel e leva-a ao seu cumprimento. na Pessoa de Jesus. Como sacerdotes. a quem crê. foram configurados com Ele na Ordem sagrada. não entraram num templo construído pelas mãos do homem. Esta singular confiança de Cristo passou para nós mediante o dom do Espírito Santo à Igreja. / e te perturbas? Confia em Deus: ainda O hei-de louvar. minha alma. estas palavras revelam toda a sua verdade maravilhosa: nem sequer a morte pode tornar vã a esperança de quem crê. Com esta fé e esta esperança. também através da noite mais obscura. Seguindo o caminho aberto pelo seu Senhor ressuscitado. longe de Jerusalém e do templo. Neste clima de alegria e de entendimento espiritual apresento com afecto a minha saudação a cada um de vós. que Deus de todas as graças chamou a si pouco antes da nomeação. Com a celebração de hoje. sois inseridos a pleno título na venerada Igreja de Roma. saúdo todos os que se reuniram para os honrar e expressar em jubilosa alegria a sua estima e afecto. A própria cerimónia na sua estrutura põe em realce o valor da tarefa que os novos Cardeais são chamados a desempenhar cooperando estreitamente com o Sucessor de Pedro. queridos Irmãos.Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos irmãos e irmãs! Nesta Basílica Vaticana. da qual o Sucessor de Pedro é o Pastor. ao saudoso D. o testemunho daquela singular unidade que estreita os Cardeais em volta do Papa. com a imposição do barrete e a atribuição do título. queridos Irmãos. que em vosso nome me dirigiu gentis e devotas expressões. mas em toda a Igreja. escolhidos para ser. à cidade de Roma e ao mundo inteiro. aos amigos. Os tempos mudaram e a . A celebração do Consistório é sempre uma providencial ocasião para oferecer urbi et orbi. e não só naqueles que com estes ritos são admitidos a entrar no Colégio Cardinalício. A minha saudação cordial dirige-se agora aos Senhores Cardeais presentes e também aos que não puderam estar fisicamente connosco. coração do mundo cristão. enquanto desempenhavam funções pastorais e litúrgicas nas várias igrejas. Saúdo e agradeço ao Arcebispo Leonardo Sandri. Por fim. vós. cujos componentes. que é devido. segundo uma antiga instituição. Além disso desejo dirigir um pensamento. os conselheiros e colaboradores mais próximos na chefia da Igreja. assim como aos familiares. que a partir de hoje sois membros do Colégio Cardinalício. realçando ao mesmo tempo o significado e a importância do momento eclesial que estamos a viver. É um acontecimento que suscita todas as vezes uma emoção especial. feliz por este eloquente sinal de unidade católica. para lhe oferecer outra coroa: a da glória eterna em Cristo. e convida o povo de Deus a rezar para que no seu serviço estes nossos Irmãos permaneçam sempre fiéis a Cristo até ao sacrifício da vida se for necessário. mas idealmente estão unidos a nós. aos religiosos e às religiosas e aos fiéis de cada uma das Igrejas locais das quais provem os neo-Purpurados. No Colégio dos Cardeais revive assim o antigo presbyterium do Bispo de Roma. e se deixem guiar unicamente pelo seu Evangelho. Ignacy Jez. aos sacerdotes. Bispo de Roma. renova-se hoje um significativo e solene acontecimento eclesial: o Consistório ordinário público para a criação de 23 novos Cardeais. Estreitamo-nos portanto com fé em redor deles e elevemos antes de tudo ao Senhor o nosso agradecimento orante. Nesta circunstância tão solene é-me grato também dirigir uma saudação respeitosa e deferente às Representações governativas e às Personalidades aqui reunidas de todas as partes do mundo. não lhe deixavam faltar a sua preciosa colaboração no que dizia respeito ao cumprimento das tarefas relacionadas com o seu ministério apostólico universal. neste momento de alegria. É Jesus quem lho faz compreender. põe em realce este crescimento providencial e evidencia ao mesmo tempo as mudadas exigências pastorais às quais o Papa deve responder. no final dos tempos. é-me grato confirmar-vos o meu sincero apreço pelo serviço fielmente prestado em tantos anos de trabalho nos diversos âmbitos do ministério eclesial. Entre elas. de maneira especial. desejamos reafirmar a solidariedade da Igreja inteira para com os cristãos daquela amada terra e convidar a invocar de Deus misericordioso. para todos os povos envolvidos. Ouvimos há pouco a Palavra de Deus que nos ajuda a compreender melhor o momento solene que estamos a viver. Portanto. outros estão no serviço directo da Sé Apostólica. os dois sabem bem o que desejam. o advento da desejada reconciliação e da paz. queridos e venerados Irmãos neo-Cardeais. Sei bem quanta fadiga e sacrifício exige hoje a solicitude pelas almas. às mais provadas pelo sofrimento. Cada um de vós. serviço que agora. Ele corrige a concepção grosseira do mérito. com a elevação à púrpura. para as queridas comunidades cristas que se encontram no Iraque? Estes nossos irmãos e irmãs na fé experimentam na própria carne as consequências dramáticas do perseverar de um conflito e vivem actualmente uma frágil e delicada situação política como nunca. segundo a qual o homem pode adquirir direitos em relação a Deus. Chamando a entrar no Colégio dos Cardeais o Patriarca da Igreja Caldeia pretendi expressar de modo concreto a minha proximidade espiritual e o meu afecto por aquelas populações. assim como os outros dez. em estreitíssima comunhão com o Bispo de Roma. desafios e dificuldades de vários tipos. a ambição leva os filhos de Zebedeu a reivindicar para si próprios os lugares melhores no reino messiânico. . mas prevalece o arrivismo dos discípulos sobre o receio que por um momento se tinha apoderado deles. Penso agora com afecto nas comunidades confiadas aos vossos cuidados e. Juntos. Na corrida aos privilégios. que eles tem. queridos e venerados Irmãos. fala praticamente todas as línguas do mundo e a ela pertencem povos de todas as culturas. como não dirigir o olhar com apreensão e afecto. No trecho evangélico Jesus acabou de recordar pela terceira vez o destino que o esperava em Jerusalém. Por isso. na circunstância que estamos a viver. Depois da confissão de Pedro em Cesareia e da discussão pelo caminho sobre qual deles fosse o maior. Mas na realidade não sabem o que estão a pedir. falando em termos muitos diferentes acerca do "ministério" que os aguarda. mas conheço a generosidade que apoia a vossa actividade apostólica quotidiana. representa portanto uma porção do articulado Corpo místico de Cristo que é a Igreja difundida em toda a parte. a catolicidade da Igreja reflecte-se bem na composição do Colégio dos Cardeais: muitíssimos são Pastores de comunidades diocesanas. A diversidade dos membros do Colégio Cardinalício. a universalidade. quer por proveniência geográfica quer cultural.grande família dos discípulos de Cristo hoje está disseminada em todos os continentes até aos recantos mais remotos da terra. outros ainda prestaram beneméritos serviços em sectores pastorais específicos. sois chamados a cumprir com uma responsabilidade ainda maior. não obstante a sua "virtuosa" indignação. "melhor é padecer praticando o bem. o Senhor pede-vos e confia-vos o serviço do amor: amor a Deus. A Maria. Queridos irmãos e irmãs. amor aos irmãos com a máxima e incondicionada dedicação. e a eles entregarei o anel.Queridos e venerados Irmãos. 1 Pd 3. isto é. Será uma ocasião importante e oportuna como nunca para reafirmar a nossa unidade em Cristo e para renovar a comum vontade de o servir com generosidade total. o evangelista Marcos recorda-nos que todos os verdadeiros discípulos de Cristo podem aspirar por uma só coisa: partilhar a sua paixão. para vossa defesa. não consiste em dominar. e que realizeis tudo isto "com doçura e respeito. Queridos Irmãos. Sede apóstolos de Deus que é Amor e testemunhas da esperança evangélica: é isto que o povo cristão espera de vós. amanha. se é essa a vontade de Deus. isto é. Rainha dos Apóstolos. 17). seja penhor para os novos Cardeais e para todos nós da constante efusão do Espírito Santo que guia a Igreja no seu caminho na história. Esta responsabilidade não exime dos riscos mas. O cristão é chamado a assumir a condição de "servo" seguindo as pegadas de Jesus. a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança" (1 Pd 3. Jesus repete hoje a cada um de nós que Ele "não veio para ser servido. Não a busca do poder e do sucesso. que abraceis e partilheis a sua causa. nesta mesma Basílica. juntamente com os novos Cardeais. de facto. terei a alegria de celebrar a Eucaristia. usque ad sanguinis effusionem. do que fazendo o mal" (1 Pd 3. mas para servir e dar a vida em resgate por muitos" (Mc 10. como recita a fórmula para a imposição do barrete e como mostra a cor vermelha do vestuário que vestis. sem reivindicar recompensa alguma. A hodierna cerimónia ressalta a grande responsabilidade que pesa em relação a cada um de vós. recorda ainda São Pedro. com aquela humildade interior que é fruto da cooperação com a graça de Deus. dirigimo-nos agora com confiança. com doçura e respeito. mas em servir. 45). para que respondam ao dom recebido com dedicação plena e constante. A verdadeira grandeza crista. e que tem a sua confirmação nas palavras do apóstolo Pedro que há pouco escutamos: "Venerai Cristo Senhor nos vossos corações e estai sempre prontos a responder. na solenidade de Cristo Rei do Universo. Cristo pede que confesseis diante dos homens a sua verdade. venerados e queridos Irmãos. 15). hoje. A sua presença espiritual. 15-16). entrando a fazer parte do Colégio dos Cardeais. despendendo a vida pelos outros de modo gratuito e abnegado. com uma consciência recta" (cf. Amém! CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA COM OS NOVOS CARDEAIS ENTREGA DO ANEL CARDINALÍCIO HOMILIA DO PAPA BENTO XVI . neste cenáculo singular. Acompanhai-os com a vossa oração. mas o dom humilde de si pelo bem da Igreja deve caracterizar cada um dos nossos gestos e palavras. amor à Igreja. Eis o ideal que deve orientar o vosso serviço. Ao contrário. no outro. o Rei Messias dizem eles salva-te a ti mesmo e desce da cruz. 25 de Novembro de 2007 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Ilustres Senhores e Senhoras Queridos irmãos e irmãs! Este ano a solenidade de Cristo Rei do Universo. e também um dos dois ladrões. especialmente os provenientes das Dioceses confiadas à guia pastoral de alguns novos Cardeais. Devemos partir do acontecimento central: a Cruz. Toda a hierarquia da Igreja. que implicitamente confessa a realeza do justo inocente e implora: "Recorda-te de mim. 10. como Cordeiro imolado. quando estivesse no seu Reino. 42). segundo a narração do evangelista Lucas. na cruz. O conjunto é dominado pela figura de Cristo. mesmo se escondida pelo desfiguramento da cruz. em verdade te digo. Santo Ambrósio observa: "Ele pedia ao Senhor para que se recordasse dele. os religiosos e as religiosas e todos os fiéis. No Calvário confrontam-se duas atitudes opostas. os numerosos Bispos e sacerdotes. porque onde está Cristo ali está o Reino" (Exposição do Evangelho segundo Lucas. diante do qual todos somos irmãos. A vida é estar com Cristo. é enriquecida pelo acolhimento no Colégio Cardinalício de 23 novos membros que. Segundo o evangelista João a glória divina já está presente. Jesus revela a própria glória permanecendo ali. cada carisma e ministério.Basílica Vaticana Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo Domingo. Aqui Cristo manifesta a sua singular realeza. o único Senhor. tudo e todos estamos ao serviço do seu senhorio. dirigem-se com desprezo ao Crucificado: se tu és o Cristo. Com ele declara-se imediatamente o outro ladrão. 43). hoje estarás comigo no Paraíso. Mas também na linguagem de Lucas o futuro é antecipado para o presente quando Jesus promete ao bom ladrão: "Hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23. sinto-me feliz por saudar as Delegações que vieram de diversos Países e o Corpo Diplomático junto da Santa Sé. segundo a tradição. Depois. o hino cristológico com que São Paulo introduz a Carta aos Colossenses. caracterizado e iluminado pelas Leituras bíblicas. Algumas personagens aos pés da cruz. fazendo-a extensiva com afecto fraterno a todos os Cardeais presentes. São Cirilo de Alexandria comenta: "Vê-lo crucifixo e chamá-lo rei. a Crucifixão. . quando estiveres no teu reino" (Lc 23. num lado a unção real de David por parte dos anciãos de Israel. A celebração litúrgica de Cristo-Rei oferece à nossa celebração um quadro muito significativo. A cada um deles dirijo a minha saudação cordial. coroamento do ano litúrgico. Crês que aquele que suporta escárnio e sofrimento chegará à glória divina" (Comentário a Lucas. mas o Senhor respondeu-lhe: Em verdade. Homilia 153). Encontramo-nos como que diante de um majestoso afresco com três grandes cenários: no centro. convidei hoje a celebrar comigo a Eucaristia. Observa ainda Santo Ambrósio: "Justamente a inscrição está no cimo da cruz. e a morte na cruz de Jesus é o maior acto de amor de toda a história. 2). Deus reconciliou consigo todas as criaturas. a nossa amizade porque só nesta relação íntima e profunda contigo. Se agora dirigirmos o olhar para a cena da unção real de David. podeis dizer a Jesus: "Nós consideramonos os teus ossos e a tua carne" (2 Sm 5. na qual fomos "transferidos". não é algo que apenas se entrevê de longe. "plenitude" de qualquer realeza e "cabeça do corpo" místico que é a Igreja (cf. No que se refere ao primeiro aspecto o senhorio de Cristo consiste no facto de que "por Ele e para Ele. no anel cardinalício. ressuscitando-o dos mortos tornou-o primícias da nova criação. A acusação: "Este é o Rei dos Judeus". 113). estabelecem um pacto de aliança com David. esposa de Cristo. 1). todas as coisas foram criadas. Pertencemos-Te. 18-20). estabeleceu a paz entre o céu e a terra. sois constantemente chamados a dar a vida pela Igreja. Se referirmos esta figura a Cristo. Esta acção de graças abre o ânimo de São Paulo à contemplação de Cristo e do seu mistério nas suas duas dimensões principais: a criação de todas as coisas e a sua reconciliação. e contigo queremos formar uma só coisa. porque Deus é amor. colocando o anel cardinalício. Os anciãos de Israel vão a Hebron. O cenário da crucifixão. Jesus nosso Rei e Senhor. queridos Irmãos Cardeais. graças à obra redentora do Filho de Deus (cf. Ef 5. no qual se rasga o "véu do templo" e aparece o Santo dos Santos. constitui o momento da verdade. que a amou e se entregou a si mesmo por ela (cf. pelo facto de que o reino de Cristo. apresentada pela primeira Leitura. queridos Irmãos neo-Cardeais.. Assim. chama a nossa atenção um aspecto importante da realeza. e todas subsistem n'Ele" (Cl 1. parece-me que esta mesma profissão de aliança se presta muito bem para ser feita vossa. Cl 1. contudo resplandecia do alto da cruz com uma majestade real" (ibid. 25). Cl 1. porque mesmo estando o Senhor Jesus na cruz. Em Jesus crucificado acontece a máxima revelação de Deus possível neste mundo. A mãe Igreja.121). A segunda dimensão centraliza-se no mistério pascal: mediante a morte na cruz do Filho. querem formar uma só coisa. está representada precisamente a crucifixão. torna-se assim a proclamação da verdade. nos quatro Evangelhos. Antes de mais. evento . Estamos de novo diante da cruz. mas é realidade da qual fomos chamados a ser parte. escrita numa tábua pregada no alto da cruz.. fazemos nosso o sentimento de alegria e de gratidão do qual ele brota. doa-vos esta insígnia como memória do seu Esposo. És Tu o pastor do Povo de Deus. declarando que se consideram unidos a ele e. Nesta solene Celebração eucarística desejamos renovar o nosso pacto contigo. que formais o "senado" da Igreja. têm sentido e valor a dignidade que nos foi conferida e a responsabilidade que ela exige. Também vós. Pois bem. a sua dimensão "corporativa". 10. o "destino dos santos na luz". 16). isto é. Isto. com ele. sobre qual trono Ele foi elevado e como foi fiel até ao fim para vencer o pecado e a morte com a força da misericórdia divina. será sempre para vós um convite a recordar de que Rei sois servos. 2 Sm 5.. que daqui a pouco entregarei aos novos membros do sagrado Colégio. 12-14). Tu és a cabeça da Igreja (cf. Resta-nos agora para admirar a terceira parte do "tríptico" que a Palavra de Deus nos apresenta: o hino cristológico da Carta aos Colossenses. 6). o 121: pertence aos chamados "cânticos das ascensões" e é o hino de alegria dos peregrinos que sobem à cidade santa. a nossa tarefa. 20)! Pois bem. mas capaz de antecipar.central do mistério de Cristo. E para mim é motivo de conforto poder contar sempre convosco. Cl 1. Como não sentir um arrebatamento de entusiasmo repleto de gratidão por termos sido admitidos a contemplar o esplendor desta revelação? Como não sentir ao mesmo tempo a alegria e a responsabilidade de servir este Rei. Ouvimos no hino cristológico a grande notícia: aprouve a Deus "pacificar" o universo mediante a cruz de Cristo (cf. João Paulo I e João Paulo II. Encontrem em vós plena adesão as palavras do Salmo: "Pedi a paz para Jerusalém"! (v. 1). esperança para cada homem e para toda a família humana. como sinal da paz que Jesus veio instaurar no mundo. de qualquer modo. a Jerusalém celeste. morto e ressuscitado. e agora sois chamados a assumir nela uma tarefa da mais alta responsabilidade. Na visão paulina a cruz está situada no âmbito de toda a economia da salvação. mesmo se inclui também a sabedoria e o conhecimento. podemos referir-nos agora ao texto do Salmo responsorial. porque se trata do máximo dom que recebeu sem merecimento algum e que é chamada a oferecer gratuitamente à humanidade de cada época. os meus venerados Predecessores. como horizonte de significado e de salvação. É a nova Jerusalém. está estreitamente relacionado com esta missão um aspecto que gostaria de mencionar e confiar à vossa oração: a paz entre todos os discípulos de Cristo. Em Jerusalém nós reconhecemos a figura da Igreja. teria instaurado na plenitude dos tempos. sinal e instrumento de unidade para todo o género humano (cf. Recomendo. Dedicastes a vossa vida ao serviço da Igreja. foram autênticos arautos da realeza de Cristo no mundo contemporâneo. de testemunhar com a vida e com a palavra o seu senhorio? É esta. onde a realeza de Jesus se abre em toda a sua amplitude cósmica. filho de David. A Igreja é depositária do mistério de Cristo: e isto em toda a humildade e sem sombras de orgulho ou arrogância. aquela paz que o Messias. É o mistério de Cristo: é o próprio Cristo. quer colegial quer singularmente. No seguimento do Concílio Ecuménico Vaticano II. todos juntos recomendamos . Lumen gentium. Queridos Irmãos Cardeais. constituído Rei do universo. para que a Igreja seja "firme e compacta" (v. para que também eu cumpra esta tarefa fundamental do ministério petrino. de modo particular. A oração pela paz e a unidade constitua a vossa primeira e principal missão. ainda imperfeita porque peregrina na história. venerados Irmãos Cardeais: anunciar ao mundo a verdade de Cristo. a Igreja é aquela porção de humanidade na qual já se manifesta a realeza de Cristo. Este texto do Apóstolo expressa uma síntese de verdade e de fé tão poderosa que não podemos deixar de nos admirar profundamente. que tem como manifestação privilegiada a paz. não é gnose. sacramento de Cristo e do seu Reino. Em conclusão. este Salmo expressa bem o fervoroso cântico de amor pela Igreja que vós certamente levais no coração. e chegando às suas portas lhe dirigem a saudação de paz: shalom! Segundo a etimologia popular Jerusalém era interpretada precisamente como "cidade da paz". 3). Logos encarnado. aliás. Por fim. os Servos de Deus Paulo VI. Não é filosofia. Senhor da vida e Príncipe da paz.). v. no horizonte da história. excede a história: trata-se do acontecimento constituído por Jesus de Nazaré. que "é fiel" (v. As antífonas destas primeiras Vésperas estão totalmente orientadas. 1° de Dezembro de 2007 Caros irmãos e irmãs O Advento é. através da sua vida terrena e da sua pregação e. nos revelou mediante a sua encarnação. Maria Santíssima. Toda esta liturgia vespertina convida à esperança indicando.esta vossa missão sob a protecção vigilante da Mãe da Igreja. as comunidades e os fiéis individualmente possam lê-la e meditá-la. faz referência explícita à vinda final de Cristo. 5. que "amou de tal modo o mundo. no Credo nós professamos que Jesus Cristo é "Deus de Deus. 23-24). a luz do Salvador que há-de vir: "Nesse dia brilhará uma grande luz" (2ª ant. a fim de que os homens e. enquanto se preparam para celebrar a grande festa do nascimento de Cristo Salvador. sobretudo. para esta perspectiva. que promana do futuro de Deus. juntamente com eles. mas sobretudo encoraja-os a terem confiança em Deus. com a sua morte e ressurreição. para assim redescobrir a beleza e a profundidade da esperança cristã. A breve Leitura. esta atitude fundamental do espírito desperta no coração dos cristãos que. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica Vaticana Sábado. que foi publicada ontem. A esperança verdadeira e segura está fundamentada na fé em Deus Amor. comprometida a semear nos sulcos da história o Reino de Cristo. 23). com diversos matizes. que lhe deu o seu único Filho" (Jo 3. durante a preparação para o Santo Natal. o Filho unigénito. A primeira parte do Advento insiste precisamente sobre a parusia. Cada ano. ela está ligada inseparavelmente ao conhecimento do rosto de Deus. 16). mas alicerça-se num acontecimento que se insere na história e. por excelência. o Colégio Cardinalício e toda a Comunidade católica. 24) e não deixará de realizar a santificação naqueles que corresponderem à sua graça.). tirada da primeira Carta aos Tessalonicenses (cf. confiamos os novos Purpurados. a nossa esperança não está desprovida de um fundamento. sobre a última vinda do Senhor. já se manifestou na plenitude dos tempos. O Apóstolo exorta os cristãos a conservarem-se irrepreensíveis. Esta luz. aquele rosto que Jesus. "O seu esplendor enche o universo" (Antífonas ao Magnificat). Com efeito. por isso. Luz de Luz". todas as . Pai misericordioso. "O Senhor virá em toda a sua glória" (3ª ant. É-me grato oferecê-la idealmente a toda a Igreja neste primeiro Domingo de Advento a fim de que. Ao tema da esperança desejei dedicar a minha segunda Encíclica. reavivam a expectativa da sua vinda gloriosa no fim dos tempos. recorrendo precisamente ao termo grego parusia (cf. A ela. o tempo da esperança. ao mesmo tempo. O evangelista João aplica a Jesus o título de "luz": é um título que pertence a Deus. Com efeito. unida ao Filho no Calvário e elevada como Rainha à sua direita na glória. um novo espaço para que volte a entrar em si mesma. Por conseguinte. Jo 10. é a realidade de Deus. mas certa e confiável. a descoberta surpreendente: a minha. Na realidade. Sabe que quem O rejeita não conheceu o seu verdadeiro rosto. Deus feito homem. a celebração do Advento é a resposta da Igreja Esposa à iniciativa sempre nova de Deus Esposo. como sobressai do Novo Testamento e é acentuadamente assinalado pelas Cartas dos Apóstolos. antes de abraçar a fé em Cristo. Esta expressão parece mais actual do que nunca. mediante a Palavra e os Sacramentos. exactamente como o seu amor . então. Deus oferece mais tempo. "que é. porque está "ancorada" em Cristo. a plenitude da vida para a qual cada ser humano está. que coloquemos a nossa mão na sua e nos recordemos que somos seus filhos. 8). desprovidas do seu relevo simbólico. que era e que há-de vir" (Ap 1.criaturas. eles viviam "sem esperança e sem Deus neste mundo" (2. ou seja. Nesta perspectiva. que abramos o nosso coração ao seu amor. É como se viesse a faltar a dimensão da profundidade e todas as coisas permanecem niveladas. a fim de que se ponha novamente a caminho. induzindo-o a pensar que dentro dele e ao seu redor reina o vazio: nada antes do nascimento. E fá-lo. possa privar-se desta riqueza? Deus conhece o coração do homem. indo ao seu encontro para "procurar e salvar o que estava perdido" (Lc 19. orientado. da sua "saliência" em relação à simples materialidade. ao contrário. Deus ama-nos e precisamente por este motivo espera que nós voltemos para Ele. Através da Igreja. 12). intimamente orientada para Ele. uma nova esperança distinguia os cristãos daqueles que viviam a religiosidade pagã. 10). por assim dizer. o Advento é um tempo favorável para a redescoberta de uma esperança não vaga nem ilusória. possam ter vida em abundância (cf. São Paulo recorda-lhes que. quando falta Deus. a mais próxima do Eterno. e aquilo que denominamos "além": não se trata de um lugar aonde terminaremos depois da morte. Tudo perde a sua "consistência". a Deus. Eis. Desde o início. O ser humano pode apagar em si mesmo a esperança. deseja falar à humanidade e salvar os homens de hoje. e por isso não cessa de bater à nossa porta. O homem é a única criatura livre de dizer "sim" ou "não" à eternidade. rochedo da nossa salvação. Esta expectativa de Deus precede sempre a nossa esperança. a nossa esperança é precedida pela expectativa que Deus cultiva a nosso respeito! Sim. eliminando Deus da sua própria vida. por causa do paganismo dos nossos dias: podemos referi-la de modo particular ao niilismo contemporâneo. À humanidade que já não tem tempo para Ele. que corroi a esperança no coração do homem. A esta expectativa do homem. nada depois da morte. Deus respondeu em Cristo com o dom da esperança. como peregrino humilde em busca de hospitalidade. Eis por que motivo o Senhor concede um novo período à humanidade: a fim de que todos possam chegar a conhecê-lo! Este é também o sentido de um novo ano litúrgico que tem início: é uma dádiva de Deus. Está em jogo a relação entre a existência aqui e agora. para reencontrar o sentido da esperança. Como é que isto se pode verificar? Como pode acontecer que a criatura "feita por Deus". 10). Escrevendo aos Efésios. que deseja novamente revelar-se no mistério de Cristo. falta a esperança. Virgem da expectativa e Mãe da esperança. X. se não se tivesse feito homem e habitado entre nós" (Conf. 43. Lc 1. 29). Ó Maria. O que é que faz progredir o mundo. A razão pela qual podemos ir em frente com alegria. 69. pelo menos implícita. No coração do homem a esperança está inscrita de maneira indelével. Durante as próximas semanas. através das dificuldades e dos afãs. a liturgia oferecerá à nossa . 2 de Dezembro de 2007 Queridos irmãos e irmãs! "Vamos com alegria para a casa do Senhor". se comprometem todos os dias a fazer o melhor que podem. cit. 1 Jo 4. Santo Agostinho escrevia: "Poderíamos pensar que a vossa Palavra se tinha afastado da união com o homem e desesperado de nos salvar. a esperança cristã chama-se "teologal": Deus é a sua fonte. como nos exortou a fazer o apóstolo Paulo. a não ser a confiança que Deus tem no homem? É uma confiança que encontra o seu reflexo nos corações dos pequeninos e dos humildes quando. a experiência demonstra-nos que é precisamente assim. da esperança que o homem nutre por um futuro aberto à eternidade de Deus. no lugar de trabalho. A esta esperança do homem. reaviva em toda a Igreja o espírito do Advento. in Spe salvi. Amém VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE BENTO XVI AO HOSPITAL ROMANO "SÃO JOÃO BAPTISTA" DA SOBERANA ORDEM MILITAR DE MALTA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI 1º Domingo de Advento.nos alcança sempre primeiro (cf. primeiro domingo do Advento. Deus respondeu nascendo no tempo como pequeno ser humano. interpretam bem os sentimentos que ocupam o nosso coração hoje. Estas palavras. Cada criança que nasce é sinal da confiança de Deus no homem e é uma confirmação. correspondendo à expectativa que Deus tem acerca dele. onde veio e onde virá de novo para nos visitar o Sol que nasce do alto (cf. consiste no facto de que a nossa salvação já está próxima. De resto. 10). Neste sentido. que repetimos no refrão do Salmo responsorial. Então. na escola e nos vários âmbitos da sociedade. 78). Cada um dos homens é chamado a esperar. o seu ponto de apoio e o seu termo. Que grande consolação há neste mistério! O meu Criador inseriu no meu espírito um reflexo do seu desejo de vida para todos. dia após dia. e é para a vida eterna e bem-aventurada que nós fomos criados. Cristo nosso Deus. para que a humanidade inteira volte a pôr-se a caminho rumo a Belém. a realizar o pouco de bem que contudo aos olhos de Deus é muito: na família. O Senhor vem! Com esta consciência empreendemos o itinerário do Advento. preparando-nos para celebrar com fé o extraordinário acontecimento do Natal do Senhor. porque Deus nosso Pai é vida. deixemo-nos orientar por Aquela que trouxe no coração e no ventre o Verbo encarnado. para entregar idealmente a Encíclica à comunidade cristã de Roma e. Precisamente porque é tempo de expectativa. exortar-nos-á a ir ao seu encontro. Com estes votos que o sacerdote dirige à assembleia no início da Santa Missa. 24). Na Encíclica escrevo entre outras coisas que "precisamos das esperanças menores ou maiores que. amparados pela solidariedade. aquelas não bastam.reflexão textos do Antigo Testamento. A certeza de que só Deus pode ser a nossa firme esperança anime todos nós. em primeiro lugar. O Papa está espiritualmente próximo de vós e garante-vos a sua oração quotidiana. dos médicos e dos enfermeiros e de quantos prestam de diversos modos a sua obra no hospital. saúdo-vos cordialmente. como vós. reunidos esta manhã nesta casa na qual se luta contra a doença. graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente:. com um particular pensamento para o Director. ainda que custoso" (n.1). Saúdo. nos mantêm a caminho. dirigido pela Associação dos Cavaleiros Italianos da Soberana Ordem Militar de Malta. procuremos também nós preparar o nosso coração para acolher o Salvador que virá para nos mostrar a sua misericórdia e para nos doar a salvação. o Cardeal Vigário Camillo Ruini e o Cardeal Pio Laghi. 31). o presente. sabendo que ele próprio nos visita constantemente. queridos doentes e aos vossos familiares. Esta grande esperança só pode ser Deus. da certeza de que há um Deus que não nos abandona. que recordam aquele desejo vivo e constante que manteve desperta no povo judaico a expectativa da vinda do Messias. em particular. "o Deus da esperança que nos enche de toda a alegria e paz na fé pelo poder do Espírito Santo. não podemos conseguir" (n. Queridos irmãos e irmãs. Patrono da Soberana Ordem Militar de Malta. Mas sem a grande esperança. os Prelados e os sacerdotes presentes. ao qual agradeço os sentimentos expressos em nome da Direcção. Mas a saudação mais afectuosa dirige-se a vós. que convosco partilham ansiedades e esperanças.. Príncipe e Grão-Mestre da Soberana Ordem Militar de Malta. os capelães e as irmãs que prestam aqui o seu serviço. esteja convosco!". do pessoal administrativo. Porque precisamente sofrendo como doentes precisamos da esperança. que nos leva pela mão e nos acompanha com amor. . Faço a minha saudação extensiva às distintas Autoridades. que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que. o Advento é tempo de esperança e à esperança cristã quis dedicar a minha segunda Encíclica apresentada anteontem oficialmente: ela começa com as palavras dirigidas por São Paulo aos cristãos de Roma: "Spe salvi facti sumus na esperança é que fomos salvos" (8. E gostaria de aproveitar a minha visita ao vosso hospital. Saúdo com deferência Sua Alteza Eminentíssima Fra Andrew Bertie. para nele encontrar as razões daquela "esperança fidedigna. sozinhos. a todos os que.. que deve superar tudo o resto. Vigilantes na oração. convida-vos a encontrar em Jesus apoio e conforto e a nunca perder a confiança. A liturgia do Advento repetir-nos-á ao longo das próximas semanas que não nos cansemos de o invocar. aos quais transmito o meu agradecimento pelas palavras que me dirigiram no início da Celebração. assim como para o Representante dos doentes. estão em contacto directo com o sofrimento e com a doença. É um texto que vos convido a aprofundar. dia após dia. exorta o Apóstolo. nos acontecimentos de cada dia. Os hospitais e as casas de cura. um serviço que exige abnegação e espírito de sacrifício. é tempo de converter-se. onde ao lado do pessoal médico trabalham com generosa dedicação numerosos voluntários. não se cansa de nos visitar no fim dos tempos. que no Natal veio entre nós e voltará glorioso no fim dos tempos. A Igreja. que desde o início se dedicou à assistência dos peregrinos na Terra Santa mediante um HospícioEnfermaria. Queridos Cavaleiros da Soberana Ordem Militar de Malta. com os vossos gestos e palavras. porque a sua vinda não pode ser programada ou prognosticada. sabei reconhecer e servir o próprio Cristo. Sim! Abramos o coração a cada pessoa. 12). Pede-nos e admoesta-nos que o esperemos vigilantes. precisamente porque habitados por pessoas provadas pelo sofrimento. tornou-se particularmente "próxima" de quantos sofrem. Enquanto perseguia a finalidade da defesa cristã. procurais fazer neste hospital onde no centro das preocupações de todos está o acolhimento amoroso e qualificado dos doentes. tendo surgido nos anos 70 do século passado. No início de um novo ano litúrgico. procurai. enfermeiros e todos vós que aqui trabalhais. a tutela da sua dignidade e o compromisso de melhorar a sua qualidade de vida. a graça dos Sacramentos. os sinais do seu amor misericordioso. À "vigilância". queridos médicos. como nos recorda São Paulo na segunda Leitura. que são a Palavra de Deus. as virtudes teologais e cardeais. para se predispor confiantes a acolher "o Senhor que há-de vir". podem tornar-se lugares privilegiados onde testemunhar o amor cristão que alimenta a esperança e suscita propósitos de solidariedade fraterna. Para compreender bem esta "missão". "Já é hora de despertardes do sono" (Rm 13. de despertar do sono do pecado. 42). "revestir as armas da luz" (Rm 13. Testemunho deste amor fraterno é também este hospital que. Por isso. Jesus.Na prova e na doença Deus visita-nos misteriosamente e. renovemos os nossos bons propósitos de vida evangélica. fazei-lhe sentir. se nos abandonarmos à sua vontade. Em cada doente. lutai contra o mal e abandonai o pecado que torna tenebrosa a nossa existência. os dons do Espírito. . especialmente os pobres e marginalizados. através dos séculos. queridos irmãos e irmãs. sois chamados a prestar um importante serviço aos doentes e à sociedade. se tornou hoje um presídio de alto nível tecnológico e uma casa de solidariedade. 11). Deste espírito se fez partícipe a vossa benemérita Soberana Ordem Militar de Malta. exorta-nos a página evangélica há pouco proclamada: "Vigiai. não se cansa de nos visitar continuamente. a Soberana Ordem de Malta prodigalizava-se para curar os doentes. Na Colecta rezámos assim: "Ó Deus. que aliás é a palavra-chave de todo este período litúrgico. porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor" (Mt 24. quem quer que ele seja. É o que vós. pois. porque fazendo o bem a quantos estão em necessidade dispomo-nos para acolher Jesus que neles nos vem visitar. podemos experimentar o poder do seu amor. suscita em nós a vontade de ir ao encontro do teu Cristo que há-de vir com as boas acções". especialmente se está em dificuldade. o Advento é tempo de oração e de expectativa vigilante. ou seja. mas será improvisa e imprevisível. adverte Ele. Agora Deus chamou-o a Si após uma longa jornada terrena. se torna por vezes quase insuportável. 37-38). quando os homens comiam e bebiam despreocupados. 14 de Dezembro de 2007 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos Irmãos e Irmãs! Reunidos em oração em volta dos seus despojos mortais. Só quem vigia não é colhido de surpresa. na saúde e na doença. na convicção de que Ele se pode tornar presente todos os dias. Mt 24. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Basílica Vaticana Sexta-feira. dirijamos confiantes o olhar para o Céu de onde nos vem a única luz que pode iluminar o mistério da vida e da morte. prossigamos a Celebração eucarística. O que nos quer fazer compreender o Senhor com esta admoestação. para o acolher nos Seus braços paternos e misericordiosos. Amém. e foram colhidos impreparados pelo dilúvio (cf. pois. 37). porque quando sentimos a proximidade de Cristo vivo há remédio para o sofrimento. que já está neste mundo. preparemonos para o encontrar na sua vinda última e definitiva. Escutemos o convite de Jesus no Evangelho e preparemo-nos para reviver com fé o mistério do nascimento do Redentor. com o advento do Salvador "o sofrimento sem deixar de o ser torna-se apesar de tudo canto de louvor" (Enc. enquanto nos prepara para reviver o dom do Natal do Redentor. A sua passagem é sempre fonte de paz e. preparemo-nos para acolher o Senhor no seu incessante vir ao nosso encontro nos acontecimentos da vida. Virgem da expectativa e da esperança.. da Congregação salesiana na qual emitiu a primeira profissão a 15 de Agosto de 1928. Spe salvi. já está presente a sua alegria. invocando sobre os doentes. como também da alegria. herança da natureza humana.. O tempo litúrgico do Advento. a não ser que não nos devemos deixar absorver pelas realidades e preocupações materiais até ao ponto de ser por elas seduzidos? Devemos viver sob o olhar do Senhor. na alegria e no sofrimento. nos estimula também a projectar- . Ele partilhou connosco muitos anos de trabalho na vinha do Senhor. "Vigiai. transmitamos ao querido Cardeal Alfons Maria Stickler a última saudação. ". que encheu o universo de alegria. seus familiares e sobre quantos trabalham neste hospital e sobre toda a Ordem dos Cavaleiros de Malta a protecção materna de Maria. Enquanto nos estreitamos com afecto ao redor dos familiares. e de todos os que o conheceram e estimaram. se o sofrimento. Que não vos aconteça. Confortados por esta palavra. o que aconteceu no tempo de Noé. e conclui: "Exultai e alegrai-vos. E acrescentou: "Como salesiano sigo três ideais que nos foram transmitidos por Dom Bosco: o amor pela Eucaristia. a orientação de toda a vicissitude humana do querido Cardeal Stickler emerge do seu testamento espiritual. A este propósito. sabemos que não podemos nem devemos esperar aplausos nem reconhecimentos nesta terra. no passado e no presente". como repetimos todos os dias na celebração eucarística. aguardamos procurando viver na nossa peregrinação sobre a terra "livres do pecado e seguros de todas as inquietações". como estas palavras tenham sido a guia de todas as suas escolhas e decisões. nas oito bemaventuranças colocadas na abertura do Sermão da Montanha. acrescenta outra: "Bemaventurados sereis quando vos insultarem e perseguirem e. A verdadeira recompensa do discípulo fiel está "nos céus": é o próprio Cristo. Todos os meus esforços e estudos serviram para aprofundar sobretudo o saber religioso com plena fidelidade ao Papa". de seus representantes e membros. disserem todo o género de calúnias contra vós. às vezes escandalosa. Todos nós. não obstante as fragilidades e debilidades. O inteiro projecto de vida do cristão só pode ser modelado sobre Cristo. por Minha causa". mentindo. Para este nosso irmão realizouse a "bem-aventurada esperança" que. "também com Ele reviveremos. Ele também nos negará" (2 Tm 2. onde escreveu: "Toda a minha vida foi um desígnio e uma realização superior. 11-12). "não obstante a nossa debilidade. quantas vezes o Cardeal Alfons Maria Stickler terá lido e meditado a página evangélica que também hoje foi proclamada na nossa assembleia! O evangelista Mateus. Conhecia as contrariedades e os desafios com os quais os cristãos devem confrontar-se nesta nossa época. que com o Baptismo fomos chamados a seguir e servir Jesus. tudo com Ele. O Apóstolo das Nações recordou-nos há pouco que se morrermos com Cristo.nos com confiança para a sua última e definitiva vinda. sempre seja animado por uma adesão humilde à sua vontade! Assim. 11-12). a devoção a Nossa Senhora e a fidelidade ao Santo Padre". e concluia que somente um verdadeiro amor por Cristo pode torná-los corajosos e perseverantes na defesa das verdades da fé católica. por Ele e n'Ele pela glória de Deus Pai. que nos acompanhará ao longo de todo o ano litúrgico. porque grande será a vossa recompensa nos Céus" (Mt 5. mas se O negarmos. reinaremos com Ele. à qual eu não pude agir de outro modo com frequência nem com plena avaliação de causa a não ser . "Na base da minha actividade escreveu há alguns anos sempre esteve o ideal da fé e da vida cristã que está centrado em Cristo Redentor e depois Fundador da Igreja. não foi esta fundamental verdade que orientou a existência deste nosso irmão? Ele tinha escolhido como mote episcopal "Omnia et in omnibus Christus" e explicava. Porventura. Sabia bem que amar Cristo é amar a sua Igreja. que é sempre santa. como anota no testamento espiritual. Jamais esqueçamos esta verdade! Não cedamos à tentação de procurar sucessos e apoios humanos mas sim contemos só e sempre com Aquele que veio ao mundo para nos salvar e sobre a cruz nos redimiu! Seja qual for o serviço que Deus nos chama a desempenhar na sua vinha. queridos irmãos e irmãs. se perseverarmos. já no entardecer dos seus anos. Quarta-feira passada a morte introduziu-o no reino da paz e da luz eterna. na esperança e na caridade e conduz-me. começou a ensinar na Faculdade de Direito Canónico na Universidade Salesiana. Que o acompanhem São João Bosco e os Santos e os Beatos salesianos. perdoa a minha fraqueza na fé. Foi para ele uma verdadeira surpresa a nomeação por parte do Servo de Deus Papa Paulo VI. para onde depois ela foi transferida. Assim. no dia 27 de Março de 1937 na Arquibasílica Lateranense. e sucessivamente em Turim e Roma. ó Deus. como observou no seu testamento. Nós.consentir. e também de muitas instituições culturais internacionais. Na primeira Leitura. Uma existência totalmente dedicada primeiro ao ensino e depois ao serviço à Santa Sé. na Áustria inferior. espero. onde pôde desenvolver uma intensa actividade de estudo. Ao terminar o seu serviço activo à Santa Sé. Participou de três Comissões do Concílio Vaticano II e foi Consultor de Congregações Romanas. este nosso amigo continuou a desempenhar a sua acção cultural e pastoral. Todos os dias. que no ano seguinte lhe confiou também o encargo de pró-Arquivista da Santa Igreja Romana e no dia 25 de Maio de 1985 quis condecorá-lo com a dignidade cardinalícia. Nascido em Neunkirchen. unimonos à invocação com a qual o Cardeal Stickler encerra o testamento espiritual: "Creio. 3). como fazia desde o primeiro ano de profissão religiosa. amo. a 23 de Agosto de 1910. Amém". de 1953 a 1958. ao reino do Teu amor. depois na Áustria. a Prefeito da Biblioteca Apostólica Vaticana. Decano da Faculdade de Direito Canónico e depois Magnífico Reitor (1958-1966) e Director do recém-fundado Institutum Altioris Latinitas até 1968. e por ele era persuadido de que se pôde ser útil em algo à Congregação e à Igreja "era devido ao Espírito Santo". invocava o Espírito Santo com o hino Veni Sancte Spiritus. com afecto e reconhecimento. membro da Comissão para o novo Código e do Pontifício Comité de Ciências Históricas. Ao completar o curso académico no Institutum Utriusque Iuris do Apollinare. Alfons Maria entrou jovem no noviciado da Congregação salesiana na Alemanha e. sobre quem escreveu: "Nossa Senhora será no momento da minha morte a verdadeira mãe que doa o seu amor e a sua misericórdia também aos filhos menos fiéis". foi ordenado Sacerdote há 70 anos. A 8 de Setembro de 1983 foi chamado para ser pró-Bibliotecário da Santa Igreja Romana e a 1 de Novembro sucessivo. o Profeta Daniel recordou que "os que tiverem sido sensatos resplandecerão como a luminosidade do firmamento e os que tiverem levado muitos aos caminhos da justiça brilharão como estrelas com um esplendor eterno" (Dn 12. em Turim e em Roma. . É o nosso fraterno desejo que possa agora gozar a merecida recompensa e contemplar o esplendor da Verdade eterna. ao mesmo tempo que se dedicava ainda mais à reflexão e à oração. toda a minha vida era e é obra da Divina Providência". teve "em idade avançada a grande graça da plenitude do sacerdócio pelas mãos do próprio Santo Padre" João Paulo II. da qual dão concreto testemunho vários volumes e ensaios de História do Direito canónico por ele editados. concluídos os estudos filosóficos e teológicos primeiro na Alemanha. em 1971. Nessa Universidade tornou-se. Que assim seja para este nosso estimado Irmão no sacerdócio e no episcopado! Que o acolha Maria Santíssima. alegrai-vos. honra os Mártires Portuenses como seus co-Padroeiros. repito. que se encontra no mesmo lugar onde o meu amado predecessor. sem se cansar" (Is 40.. 31). "Mas aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças garante o profeta têm asas como águia. [E ainda. queridos irmãos da Paróquia de Santa Maria do Rosário "ai Martiri Portuensi". 16 de Dezembro de 2007 Queridos irmãos e irmãs! "Alegrai-vos sempre no Senhor. e voam velozmente. Na verdade. A este propósito. a 8 de Novembro de 1998. 4-5). Arcebispo-Prelado de Pompeia: Santuário mariano com que a vossa paróquia estabeleceu uma união espiritual. Hoje temos mais um motivo para nos alegrarmos. na Alemanha. celebrou a santa Missa por ocasião da sua visita pastoral à vossa comunidade. graças a São Bonifácio que ali levou as relíquias. Faustino e Viatrice (Beatriz) vítimas da perseguição desencadeada no ano de 303. na igreja de S. 35. o Servo de Deus João Paulo II.VISITA PASTORAL À PARÓQUIA ROMANA DE SANTA MARIA DO ROSÁRIO "AI MARTIRI PORTUENSI" HOMILIA DO PAPA BENTO XVI III Domingo de Advento. e deles fugirão a tristeza e os gemidos" (ibid. cujas relíquias são conservadas. Também eu me uno de bom grado à vossa alegria por terdes finalmente uma igreja acolhedora e funcional. em parte em Roma. Os jovens mártires que então morreram para dar . porque nos vem salvar. é preciso que fortaleçamos os nossos corações porque "o Senhor está próximo". O Senhor está perto" (Fl 4. "serão repletos de gozo e alegria. A dedicação desta igreja paroquial adquire um significado verdadeiramente especial para vós que habitais neste bairro. todo o Advento é um convite a rejubilar porque "o Senhor vem". O lugar em que ela foi construída recorda um passado de resplandecentes testemunhos cristãos. 10)]. Ressoam confortadoras quase todos os dias. onde a tradição quer que tenham sido sepultados três irmãos Simplício. Nicolau "in Carcere" no Monte Savello.. precisamente por isso é chamado domingo "Gaudete". encontram-se precisamente aqui nas redondezas as catacumbas de Generosa. De facto. Carlo Liberati. devemos abandonar a tristeza e o desânimo. e em parte em Fulda. nestas semanas. que é a dedicação da vossa igreja paroquial. cidade que desde o século VIII. as palavras do profeta Isaías dirigidas ao povo judeu exilado na Babilónia depois da destruição do templo de Jerusalém e desanimado por não saber se pode regressar à cidade santa em ruínas. e também D. A liturgia do Advento repete-nos constantemente que devemos despertar do sono dos hábitos e da mediocridade. A solene liturgia da dedicação deste templo constitui uma ocasião de intenso júbilo espiritual para todo o Povo de Deus que vive neste bairro. saúdo o representante do Bispo de Fulda. Com este convite à alegria tem início a antífona de entrada da Santa Missa neste terceiro domingo do Advento que. jovens. eu agradeça a quantos contribuíram para a construir. Saúdo as Irmãs Oblatas do Divino Amor e as Missionárias de São Carlos que prestam com dedicação o seu serviço nesta comunidade. Neste domingo. é-me grato encorajar quantos com a Cáritas paroquial procuram ir ao encontro das tantas exigências do bairro.testemunho a Cristo não são porventura um poderoso estímulo para vós. que de vários modos vos comprometestes para a realização deste centro paroquial. Queridos amigos! Vivemos hoje um dia que coroa os esforços. Charles McCarthy. à qual desde 1997 está confiado o cuidado pastoral desta paróquia. saúdo as Autoridades presentes e as personalidades que quiseram participar nesta nossa assembleia litúrgica. embora de formas diversas. Secretário da Obra Romana para a Preservação da Fé e para a Provisão de novas igrejas em Roma. Gostaria depois de saudar o Bispo Auxiliar do Sector Oeste. Pe. cristãos de hoje. Saúdo os sacerdotes seus colaboradores pertencentes à Fraternidade Sacerdotal dos Missionários de São Carlos Borromeu. que se vai juntar aos mais de cinquenta já activos graças ao notável esforço económico da Diocese. Massimo Camisasca. famílias e idosos que animam a vida da paróquia. a Renovação Carismática Católica. que é precisamente dedicado ao apoio desta merecedora obra. a mensagem salvífica de Cristo é contrastada e os cristãos. a perseverar no seguimento fiel de Jesus Cristo? E a protecção da Virgem do Santo Rosário não vos pede acaso que sejais homens e mulheres de profunda fé e de oração como foi ela? Também hoje. Sei quanto a Diocese de Roma se está a empenhar há já muitos anos para garantir a cada bairro de uma cidade em constante crescimento ambientes paroquiais adequados. peço a todos que prossigais neste compromisso com generosidade. Mons. a Fraternidade de Santa Maria dos Anjos e o grupo de voluntariado Santa Teresinha. o vosso Pároco. são chamados a dizer a razão da sua esperança. entre os quais a Juventude Ardente Mariana. Dirijo também uma saudação cordial aos vários movimentos eclesiais presentes. e com ele ao Bispo Auxiliar Ernesto Mandara. Por fim. A hodierna celebração é rica como nunca de palavras e de símbolos que nos ajudam a compreender o valor profundo do que estamos a . as canseiras. D. desejosa de ter um espaço reservado definitivamente ao culto de Deus. os sacrifícios realizados e o compromisso das comunidades para se constituírem comunidade cristã madura. queridos paroquianos. e representada aqui pelo Superior-Geral. que esta nova igreja seja um espaço privilegiado para crescer no conhecimento e no amor d'Aquele que daqui a poucos dias acolheremos na alegria do seu Natal como Redentor do mundo e nosso Salvador. de outros modos mas não menos que outrora. aproveitando da dedicação desta nova bonita igreja. Comunhão e Libertação. de tantos fiéis e cidadãos de boa vontade e à colaboração das instituições públicas. ao Cardeal Vigário. em primeiro lugar. ao qual agradeço de coração as calorosas palavras que me quis dirigir no início da nossa solene celebração. a oferecer ao mundo o testemunho da Verdade do Único que salva e redime! Portanto. e todos os grupos de crianças. Saúdo e agradeço. Além disso. Benedetto Tuzia. sobretudo respondendo às expectativas dos mais pobres e necessitados. Saúdo e agradeço em particular a vós. Permiti agora que. É portanto o livro das novas origens de uma comunidade. que favorece o recolhimento e suscita alegria. O autor descreve-a como cidade maravilhosa. Portanto. queridos paroquianos. O projecto de Deus para a sua Igreja e para toda a humanidade é uma cidade santa. Neemias. ano após ano. . tirada do Apocalipse. E para construir este templo vivo. muita emoção? Neste momento quantas recordações afluem à vossa mente! Quanta canseira para construir. quantas dificuldades! Mas agora é-nos dada a oportunidade de proclamar e ouvir a palavra de Deus numa bonita igreja. a alegria de saber que está presente não só a Palavra de Deus. Não suscita também em nós. por vós formado. e é cheio de esperança. Na segunda leitura. para ter força do Senhor. quantos projectos. e tudo se desenvolve num clima de grande intensidade espiritual. A solicitude que demonstramos justamente pelo edifício material aspergindo-o com água benta. Jerusalém. esta nova cidade de Deus nas nossas cidades. que desce do céu e resplandece de glória divina. e um leigo. um livro que nos narra a recomposição da comunidade judaica depois do exílio. A primeira leitura é tirada do profeta Neemias. espalhando incenso seja sinal e estímulo de uma solicitude mais intensa na defesa e promoção do templo das pessoas.realizar. Demos graças a Deus pelos seus dons e agradeçamos a todos os que foram artífices da construção desta igreja e da comunidade viva que nela se reúne. ungindo-o com óleo. depois da dispersão e da destruição de Jerusalém. que são respectivamente a autoridade religiosa e a autoridade civil daquele tempo. mas o próprio Senhor. depois da dispersão. e as numerosas actividades pastorais. e por fim esclarece que ela se baseia na pessoa e na mensagem dos apóstolos. a catequese. caritativas. ouvir em liberdade a palavra de Deus e recomeçar a história da salvação. comparando-a às gemas mais preciosas. O texto descreve o momento solene no qual se reconstitui oficialmente. uma igreja que quer ser chamada constante a uma fé firme e ao compromisso de crescer como comunidade unida. esta leitura veterotestamentária. No trecho acabado de ler estão no centro duas grandes figuras: um sacerdote. a comunidade! Quantos sonhos. colhamos brevemente o ensinamento que nos vem das leituras há pouco proclamadas. E Neemias admoesta-os dizendo que aquele é um dia de festa e que. e que a comunidade viva é mais sagrada que o templo material que consagramos. é o momento da reproclamação pública da lei que é o fundamento de vida desta comunidade. é preciso alegrar-se. para construir este templo que sois vós são necessárias muitas orações. Esdras. Ao dizer isto o evangelista João sugere-nos que a comunidade viva é a verdadeira nova Jerusalém. missionárias e culturais que mantêm "jovem" a vossa promissora paróquia. a pequena comunidade judaica. é preciso valorizar todas as oportunidades que oferecem a liturgia. é-nos narrada uma visão maravilhosa. depois da tragédia da destruição de Jerusalém. expressar reconhecimento pelos dons de Deus. Alguns começam a chorar pela alegria de poder novamente. A palavra de Deus é força e alegria. mesmo se as dificuldades ainda são grandíssimas. Que ela nos obtenha que se realize para nós. a página evangélica que acabamos de ouvir. neste dia. tudo faz referência a Ele. para o povo ele pertence à categoria das grandes personalidades religiosas.Por fim. associado precisamente por esta sua fé em Jesus. em particular com Pedro: um diálogo todo centralizado na pessoa do Mestre divino. vive na comunidade. Pedro. E Jesus. que uma grande personalidade religiosa da história: é o Messias é Cristo. pedimos-lhe que suscite muitas e santas vocações sacerdotais. é a rocha sobre a qual a Igreja está fundada. o pobre homem com todas as suas debilidades e com a sua fé. Desta forma. outros pensam que é Elias que regressou à terra. reúne-nos na grande comunidade da Igreja de todos os tempos e de todos os lugares. o compromisso apostólico e missionário de cada fiel é proclamar e testemunhar com as palavras e com a vida que Ele. o Filho de Deus feito homem. tudo é relativo a Ele. que torne todos os paroquianos disponíveis para seguir o exemplo dos santos Mártires Portuenses. religiosas e missionárias. em estreita comunhão com o Sucessor de Pedro como rocha da unidade. e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. sobre a qual é construída toda a Igreja e assim também esta paróquia. narra este diálogo entre Jesus e os seus. é o nosso único Salvador. ao contrário. outros ainda que é o profeta Jeremias. A acção dos Bispos e dos presbíteros. o Senhor. Assim seja! MISSA DA MEIA NOITE SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI Basílica Vaticana 25 de Dezembro de 2007 . o Filho do Deus vivo. Pedimos a Jesus que guie a vossa comunidade e a faça crescer cada vez mais na fidelidade ao seu Evangelho. 10). Portanto. E encontramos Jesus na escuta da Sagrada Escritura. O povo intuiu nele alguma coisa. Pedro. E Cristo Senhor diz-lhe respondendo solenemente: Tu és Pedro. Só a alegria do Senhor e a força da fé n'Ele podem de facto tornar proveitoso o caminho da vossa paróquia. declara que Jesus é mais que um profeta. mais uma vez. na fé da comunidade paroquial. em nome dos discípulos que conhecem Jesus de perto. Rainha do Rosário. Ne 8. alguns pensam que é João Baptista redivivo. tudo na igreja-edifício e na Igreja-comunidade fala de Jesus. vemos que é Jesus Cristo a verdadeira rocha indefectível sobre a qual se baseia a nossa fé. em qualquer dos casos. torna-se a pedra. a palavra conclusiva da primeira leitura: "A alegria do Senhor seja a nossa força" (cf. Confiamos esta nossa oração nas mãos maternas de Maria. está presente e faz-se nosso alimento na Eucaristia. não há lugar para Ele. a cada individuo e à sociedade no seu todo. mas não é ouvido. para que o Menino pudesse ser bem acolhido. estas palavras aplicam-se a nós. Tal como encontramos em Lucas o amor de Maria. para Deus. assim também João nos diz: «Mas. De algum modo a humanidade espera Deus. o Verbo criador primordial entra no mundo. que saísse do seu esconderijo. a notícia negativa não é a única. Tanto menos pode entrar o outro. por não terem lugar na hospedaria» (cf. Está tão ocupada consigo mesma. a nova cidade. ao qual porás o nome de Jesus. A breve anotação «envolveu-O em panos» deixa-nos intuir algo da santa alegria e do zelo silencioso de tal preparação. sente necessidade tão imperiosa de todo o espaço e de todo o tempo para as próprias coisas. Podemos imaginar com quanto cuidado interior. Aplica-se depois a Israel: o enviado chega junto dos Seus. ou temos todos os espaços do nosso pensamento. Lc 2. e os Seus não O acolheram» (1. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo» (cf. do meu afecto? Para o doente que precisa de ajuda? Para o prófugo ou o refugiado que procura asilo? Temos nós tempo e espaço para Deus? Pode Ele entrar na nossa vida? Encontra um espaço em nós. Lc 1. não tem lugar para Ele. e a fidelidade de São José. a mãe.Amados irmãos e irmãs. da nossa acção. a quantos O receberam. vindos de longe. o novo mundo. Isto aplica-se antes de mais a Belém: o Filho de David vem à sua cidade. ainda que sob figuras confusas: que Deus viesse cuidar de nós. Envolveu-O em panos e recostou-O numa manjedoura. Estas frases não cessam de tocar os nossos corações. não é acolhido. E quanto mais ricos se tornam os homens. tanto mais preenchem tudo de si mesmos. 12). que o mundo fosse salvo e tudo se renovasse. mas tem de nascer num curral. 11). fixando-se no essencial. Chegou o momento que o Anjo tinha preanunciado em Nazaré: «Hás-de dar à luz um filho. nem a última que encontramos no Evangelho. Estavam prontos os panos. com quanto amor Se preparou Maria para aquela hora. deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1. Mas quando chega o momento. da minha palavra. mas não O querem. Na realidade aplica-se à humanidade inteira: Aquele por Quem o mundo foi feito. cresce silenciosamente a nova casa. a começar do curral. A mensagem de Natal levanos a reconhecer a escuridão dum mundo fechado. aprofundou a breve notícia de São Lucas sobre a situação de Belém: «Veio para o que era Seu. Temos nós tempo para o próximo que necessita da nossa. que não resta nada para o outro: para o próximo. porém. João. e teve o seu filho primogénito. 31-32). «Chegou o dia de Maria dar à luz. Na hospedaria. Em última análise. na hospedaria. a vigilância dos pastores e a sua grande alegria. a sua proximidade. tal como encontramos em Mateus a visita dos doutos Magos. da nossa vida ocupados para nós mesmos? Graças a Deus. 6-7). Chegou o momento que Israel aguardava há muitos séculos. do exterior. não havia lugar. Existem aqueles que O acolhem e deste modo. no seu Evangelho. durante tantas horas sombrias – o momento de algum modo esperado por toda a humanidade. para o pobre. e deste modo clarifica sem dúvida . porque. Mas é assim mesmo que se constrói o verdadeiro palácio davídico. Nalgumas representações natalícias da Baixa Idade Média e princípios da Idade Moderna. o curral aparece como um palácio arruinado. isso mesmo. Embora não tendo qualquer base histórica. Ainda se pode reconhecer a grandeza de outrora. E que diria ele. Ele encontra um espaço. tinham perdido o seu esplendor por causa do . nas suas homilias natalícias. Mas isto diz-nos também que Deus não Se deixa fechar fora. Através da palavra do Evangelho. é um simples artesão. ou seja. O novo trono. de maneira quase profética. Os elementos do mundo estavam oprimidos. a Cristo. recomeça a realeza davídica de maneira nova: naquele Menino envolvido em panos e recostado numa manjedoura. para servir aqueles que louvam a Deus. Quando Samuel o procurou para a unção. Quer sejamos pastores quer sejamos sábios. mundo novo. desenvolveu a mesma ideia a partir da mensagem de Natal do Evangelho de João: «Levantou a sua tenda no meio de nós» (Jo 1. a luz do Redentor entra na nossa vida. a luz e a sua mensagem convida-nos para nos pormos a caminho. com Ele. Gregório de Nissa. O próprio David começara por ser pastor. na liturgia sagrada. homens novos. o palácio tornou-se uma cabana. as paredes caíram: tornou-se. exposto por todo o lado à dor e ao sofrimento. O novo trono – a Cruz – é o termo correlativo ao novo início no curral. o descendente de David. Outros dominam sobre a Terra Santa. a verdadeira realeza. E aplica-a ao universo inteiro lacerado e desfigurado pelo pecado. ou seja. existem homens que vêem a sua luz e a transmitem. No curral de Belém. mas agora foi à ruína. e. Gregório aplica esta imagem da tenda ao nosso corpo. tinha perdido a dignidade para que tinha sido feito. O trono de David. tornando-se assim homens de Deus. é a Cruz. esta interpretação. 14). cuja palavra-chave os Anjos cantam na hora do seu nascimento: «Glória a Deus nas alturas. donde este David atrairá a Si o mundo. o Anjo fala-nos também a nós. ao bem. o poder da bondade que se dá: tal é a verdadeira realeza. Anselmo de Cantuária descreveu antecipadamente aquilo que vemos hoje num mundo inquinado e ameaçado no seu futuro: «Tudo estava como que morto. se tivesse visto as condições em que hoje se encontra a terra por causa do abuso das energias e da sua exploração egoísta e sem respeito algum? Uma vez. lá precisamente onde se verificara o ponto de partida. sairmos da mesquinhez dos nossos desejos e interesses a fim de irmos ao encontro do Senhor e adorá-Lo. encontra-se vazio. e paz na terra aos homens que Ele ama». homens que depõem a sua vontade na d’Ele. O poder que provém da Cruz. José.uma realidade que vemos diariamente. um curral. parecia impossível e absurdo que semelhante jovem-pastor pudesse tornar-se o portador da promessa de Israel. Este novo palácio é muito diverso do modo como os homens imaginam um palácio e o poder real: é a comunidade daqueles que se deixam atrair pelo amor de Cristo e. O curral torna-se palácio: é precisamente a partir deste início que Jesus edifica a grande comunidade nova. na realidade. Adoramo-Lo abrindo o mundo à verdade. que ficou como tenda consumida e frágil. ao serviço de quantos vivem marginalizados e nos quais Ele nos espera. para o qual estava prometida uma duração eterna. entrando nem que seja para o curral. uma humanidade nova. se tornam um só corpo. no seu aspecto metafórico. exprime contudo algo da verdade que se encerra no mistério do Natal. Segundo os Padres. deste modo. porque viveriam mais perto de Deus. E o coração de Deus. por isso lá nasce o canto. expressão esta que se refere à humildade. de o homem estar de novo unido a Deus. de obter novamente a sua verdadeira luz. para o quais não tinham sido criados» (PL 158. Temos. mas à geografia do coração. Cristo não reconstrói um palácio qualquer. é verdade. . Assim. o coração de Deus! Então a sua alegria tocar-nos-á a nós e tornará mais luminoso o mundo. Do mesmo modo que o pecador é chamado “terra”. Na realidade. Amen. Quero. mas sim “O Senhor está perto dos contritos de coração” (Sal 34/33. os quais não podem estar senão num lugar. Por isso. na unificação das alturas com a realidade cá de baixo. 17). criando assim a verdadeira música que decai quando perdemos este “cantar-com” e “ouvircom”. nesta Noite santa. ao universo a sua beleza e dignidade: é isto que tem início no Natal e faz rejubilar os Anjos. ponhamo-nos a caminho. 19). inclinou-Se até ao curral: a humildade de Deus é o céu. faz parte do canto natalício dos Anjos que. O canto litúrgico – sempre segundo os Padres – possui uma dignidade própria particular pelo facto de ser um cantar juntamente com os coros celestes. se se acreditasse que o lugar de Deus seria nos céus enquanto as partes mais altas do mundo. céu e terra se encontrarem novamente unidos. Anjos e homens possam cantar juntos e que. e. na sintonia entre querer humano e querer divino. citar uma singular afirmação de Santo Agostinho. na Noite santa. A terra é posta de novo em ordem pelo facto de ser aberta a Deus. ele interroga-se: O que é isto. então tocamos o céu. até junto do Menino no curral! Toquemos a humildade de Deus. in monte II 5. O céu veio à terra. Ora não está escrito: “O Senhor está perto de quantos habitam nas alturas ou nas montanhas”. então as aves seriam mais felizardas do que nós. Veio para restituir à criação. No curral de Belém. no termo da nossa meditação natalícia. É o encontro com Jesus Cristo que nos torna capazes de ouvir o canto dos Anjos. Deste modo. o Natal é uma festa da criação reconstruída. É a partir deste contexto que os Padres interpretam o canto dos Anjos na Noite santa: é a expressão da alegria pelo facto de as alturas e a realidade cá de baixo. Ao interpretar a invocação da Oração do Senhor «Pai Nosso que estais nos céus». mas sempre corpos são. os corpos mais elevados do universo. Com a humildade dos pastores. o céu? E onde é o céu? Segue-se uma resposta surpreendente: «…que estais nos céus – isto significa: nos santos e nos justos. por isso lá se acende a alegria. o curral na mensagem de Natal representa a terra maltratada. 955s). a sua dignidade. de lá emana uma luz para todos os tempos. E se formos ao encontro desta humildade. agora. O céu não pertence à geografia do espaço.abuso de quantos os tornavam servos dos seus ídolos. recupera a sua beleza. por contraposição também o justo pode ser chamado “céu”» (Serm. a beleza do universo se exprima na beleza do canto de louvor. Então a própria terra se torna nova. tocam-se céu e terra. os céus. retomando a perspectiva de Gregório. demos-lhe graças em conjunto. 31 de Dezembro de 2007 Prezados irmãos e irmãs Também neste ano. já na sua iminente conclusão. nascido de uma mulher" (Gl 4. vivendo a sua singularíssima relação materna com o Filho. Mãe de Deus. porque Maria é a Mãe do Salvador. saúdo o Cardeal Vigário. Deste modo. . compartilhou a sua missão por nós e pela salvação de todos os homens. Asseguro a todos a minha proximidade cordial. Maria é uma criatura. uma relação absolutamente única. Queridos irmãos e irmãs. Em primeiro lugar. Transmito a minha saudação a cada um de vós.PRIMEIRAS VÉSPERAS DA SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS E RECITAÇÃO DO "TE DEUM" HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Segunda-feira. falando sobre a libertação do homem realizada por Deus mediante o mistério da Encarnação. São Paulo refere-se de maneira discreta Àquela por meio de quem o Filho de Deus entrou no mundo: "Quando chegou a plenitude do tempo escreve ele Deus enviou o seu Filho. O tempo transcorre e a sua passagem inexorável leva-nos a dirigir o olhar com íntimo reconhecimento Àquele que é eterno. mulher singular porque é chamada a cumprir uma missão que a coloca numa relação profundamente estreita com Cristo: aliás. por conseguinte. estamos reunidos na Basílica Vaticana para celebrar as primeiras Vésperas da Solenidade de Maria Santíssima. tirada da Carta aos Gálatas. corroborada por uma lembrança constante na oração. assim como os numerosos fiéis leigos aqui congregados. os sacerdotes e as pessoas consagradas. À contemplação do mistério da maternidade divina une-se. Maria constitui para a Igreja a sua imagem mais genuína: Aquela em quem a Comunidade eclesial deve descobrir continuamente o sentido autêntico da sua vocação e do seu próprio mistério. a quantos vivem em condições de dificuldade e de privação. ao Senhor do tempo. No entanto. a Igreja vislumbra nela os traços da sua própria fisionomia: Maria vive a fé e a caridade. com igual evidência podemos e devemos afirmar que Ela é também a nossa Mãe porque. o cântico da nossa acção de graças pelo ano de 2007 que termina e pelo ano de 2008 que já vislumbramos. de maneira especial. a Igreja contempla os lineamentos de Maria de Nazaré. Na breve leitura que acabamos de ouvir. os Bispos Auxiliares. Contemplando-a. Maria colabora na iniciativa de salvação de toda a humanidade. A liturgia faz coincidir esta significativa festividade mariana com o final e o início do ano solar. enquanto torno o meu pensamento extensivo a toda a população de Roma e. 4). em nome de toda a Comunidade diocesana de Roma. também Ela salva pelo único Salvador. Nesta "mulher". Saúdo o Senhor Presidente da Câmara Municipal e as Autoridades presentes. quot. além disso. Precisamente nesta perspectiva. interpelam os fiéis e os homens de boa vontade? Para dizer tudo com uma palavra. que constitui o mal "obscuro" da sociedade ocidental moderna. para resgatar aqueles que se encontravam sob o domínio da Lei. assim como alhures. é confortador constatar que o trabalho empreendido ao longo destes últimos anos por parte das paróquias. ó Senhor. procuremos fazer face a esta emergência. pág. afirma-se que "Deus enviou o seu Filho. Eis por que motivo nesta noite cada uma das comunidades cristãs se reúne e entoa o cântico do Te Deum. havemos de rezar: "Te ergo. não poucos.. mostrando como o facto do Filho ter assumido a natureza humana abriu a perspectiva de uma mudança radical da própria condição do homem. a fim de recebermos a adopção de filhos" (Gl 4. pela profanação do corpo e pela banalização da sexualidade. indubitavelmente. como enumerar os múltiplos desafios que. que redimistes com o vosso sangue precioso". impedindo-as de olhar para o futuro com confiança. 4-5). considerando os numerosos benefícios e a sua assistência constante que pudemos experimentar no arco dos doze meses transcorridos.. quos pretioso sanguine redemisti Socorrei os vossos filhos. sobretudo os jovens. ó Senhor. rezaremos: "Salvum fac populum tuum. ed. Ali. . nós vos suplicamos ó Senhor. diante do Santíssimo Sacramento. a dificuldade que se sente na transmissão às novas gerações dos valores-base da existência e de um comportamento recto (cf. são atraídos por uma falsa exaltação. Não é este porventura um motivo fundamental para elevar a Deus a nossa acção de graças? Uma acção de graças que não pode deixar de ser ainda mais motivada no final de um ano. Sem clamores e com confiança paciente. olhai e protegei os vossos filhos que constituem a vossa herança". 4). ou melhor. esta é a nossa oração: Socorrei. se as deficiências são evidentes. Domine. com a vossa misericórdia os habitantes da nossa Cidade em que. homens livres da lei do pecado. quando entoarmos o Te Deum. para nos fazer como Ele: filhos no Filho. tuis famulis subveni. encontrando-me com os participantes no Congresso diocesano. e. no encerramento deste nosso encontro litúrgico. de L'Osservatore Romano de 13 de Junho de 2007. ou seja. também em Roma se sente aquele défice de esperança e de confiança na vida. tradicional hino de louvor e de acção de graças à Santíssima Trindade. este breve mas intenso trecho paulino tem continuidade. contudo não faltam luzes nem motivos de esperança. Assim faremos também nós. comunicando-nos o seu ser Filho do Pai. acima de tudo no âmbito da família. Ó Senhor. et benedic hereditati tuae Salvai o vosso povo. para responder àquela grande "emergência educativa" sobre a qual pude discorrer no dia 11 do passado mês de Junho. No entanto. O Verbo encarnado transforma a existência humana a partir de dentro. Ele fez-se como nós. Cantando. dos movimentos e das associações para a pastoral da família continua a desenvolver-se e a produzir os seus frutos. quaesumus. portanto. ligados ao consumismo e ao secularismo. graves carências e pobrezas pesam sobre a vida das pessoas e das famílias. olhai e protegei de maneira particular a comunidade diocesana comprometida com vigor crescente nas fronteiras da educação.Sucessivamente. Hoje à noite. sobre os quais implorar a especial bênção divina. com esta solene proclamação da nossa esperança. prevista para o próximo mês de Abril. e somente assim ela constitui verdadeiramente uma esperança também para cada um de nós (cf. Abençoai. Cristo é a nossa esperança "confiável". Deste modo. recentemente. O hino majestoso do Te Deum termina com este brado de fé. speravi: non confundar in aeternum Senhor. se consagraram ao sacerdócio para a Diocese de Roma: actualmente. Estimados irmãos e irmãs da Igreja de Roma. rejuvenesce a idade média do clero e é possível enfrentar o incremento das necessidades pastorais. aumenta a necessidade de novos centros paroquiais. que entram pela primeira vez na sua nova igreja. vinte e oito diáconos aguardam a Ordenação presbiteral. Vós sois a nossa esperança. de total confiança em Deus. e foi a este tema que consagrei a recente Carta Encíclica intitulada Spe salvi.Ó Senhor. n. De maneira especial nas periferias. a nossa esperança é sempre. na véspera de um novo ano. Neste contexto. ó Senhor. No entanto. é oportuno dar início a algo de semelhante. inclusivamente no âmbito das escolas. de maneira essencial. a fim de que se possa construir um porvir melhor para a cidade inteira. É bonito sentir intimamente o júbilo e a gratidão dos habitantes de um bairro. Domine. como deixar de dar graças a Deus pelo precioso serviço pastoral oferecido ao mundo pelas Universidades romanas? Apesar das não poucas dificuldades. mas também ir ao encontro de outras dioceses. os numerosos jovens e adultos que. não ficaremos confundidos para sempre". Estes são os meus bons votos para todos. bons votos estes que confio à intercessão maternal de Maria. "In te. ao longo das últimas décadas. protegei igualmente as iniciativas missionárias que interpelam o mundo juvenil: elas estão a aumentar e vêem um número já relevante de jovens assumir pessoalmente a responsabilidade e a alegria do anúncio e do testemunho do Evangelho. Mãe de Deus e Estrela da Esperança. Amém! . tive o prazer de consagrar o último daqueles que já tinham sido concluídos: a Paróquia de Santa Maria do Rosário dos Mártires Portuenses. também esperança para os outros. peçamos ao Senhor que faça de cada um de nós um autêntico fermento de esperança nos vários ambientes. 48). embora actualmente haja oito deles em fase de construção depois que eu mesmo. . Homilias de Sua Santidade Bento XVI Ano de 2006 . Gl 4. a Theotokos.. Juntamente com ele. no pensamento semítico a bênção do Senhor produz. Encontramo-nos na presença de um texto muito significativo. 1° de Janeiro de 2006 Amados irmãos e irmãs Na hodierna liturgia o nosso olhar continua a voltar-se para o grande mistério da encarnação do Filho de Deus enquanto. somos como que convidados a colocarmo-nos na sua escola. a eficácia da bênção é concretizada de maneira mais específica por parte de Deus que nos protege (cf. na primeira leitura. meu Secretário de Estado. trata-se da bênção que os sacerdotes costumavam invocar sobre o povo no final das grandes solenidades litúrgicas. Aqui. endereçada aos cristãos e a todos os homens e mulheres de boa vontade. é como se a liturgia quisesse encorajar-nos a invocar. que dá os seus primeiros passos.26).. v. o Apóstolo refere-se de maneira muito discreta àquela. a fim de que ele seja para todos nós um ano de prosperidade e de paz. Fazendo-nos ouvir esta antiga bênção.FESTA DA MÃE DE DEUS E XXXIX DIA MUNDIAL DA PAZ HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo. mas tende a realizar aquilo que afirma. A salvação é um dom de Deus. No trecho paulino que ouvimos (cf. Um texto que não se limita a uma simples enunciação de princípio. particularmente na festa do ano novo. a Mãe de Deus. para que Ela nos ensine a acolher na fé e na oração a salvação que Deus deseja derramar sobre quantos confiam no seu amor misericordioso. 25) e que nos concede a paz. . a bênção do Senhor sobre o novo ano. No início de um novo ano. que participam na hodierna celebração litúrgica. Estou-lhes particularmente reconhecido pelo compromisso que têm assumido na difusão da Mensagem anual para o Dia Mundial da Paz. tornam ainda mais solene esta Santa Missa. que nos oferece a abundância da felicidade. por nossa vez. contemplamos a maternidade da Virgem Maria. do mesmo modo como a maldição dá lugar à desgraça e à ruína. 24). saúdo o Cardeal Renato Raffaele Martino e todos os componentes do Pontifício Conselho "Justiça e Paz". 24. que se repete no início de cada versículo. no início de um novo ano solar. Como se sabe. E é precisamente estes bons votos que gostaria de dirigir aos ilustres Embaixadores do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé. que nos é propício (cf. mediante a qual invocamos de Deus a dádiva da paz para o mundo inteiro. pela sua própria força. Além disso. ela foi-nos apresentada como bênção: "Que o Senhor te abençoe e proteja. mediante a qual o Filho de Deus entra no mundo: Maria de Nazaré. v. te mostre o seu rosto e te conceda a paz" (Nm 6. Saúdo o Cardeal Angelo Sodano. 4). Dirijo uma saudação especial também aos numerosos pueri cantores que. com particular ênfase. ou seja. com o seu canto. cadenciado pelo nome do Senhor. na escola da discípula fiel do Senhor. o bem-estar e a salvação. constantemente à escuta da palavra eterna. Lc 2.Quando escolhi para a Mensagem do presente Dia Mundial da Paz o tema: "Na verdade. o niilismo e o fundamentalismo fanático torna-se mais necessário do que nunca trabalhar em conjunto pela paz! É preciso um "sobressalto" de coragem e de confiança em Deus e no homem. de tal maneira que cada comunidade cristã consiga tornar-se "fermento" de uma humanidade renovada no amor. para adorar o Menino (cf. se todos não se orientarem. que vive na Palavra de Deus. 77). como infelizmente também nos dias de hoje. que a humanidade não conseguirá "edificar em toda a parte um mundo verdadeiramente mais humano para todos os homens. é uma missão exigente que os impele a anunciar e a dar testemunho do "Evangelho da Paz". conservava todos estes factos e meditava sobre eles no seu coração" (Lc 2. Diante da persistência de situações de injustiça e de violência. empreende quase naturalmente o caminho da paz" (n. obedientes ao mandato do anjo e dóceis à vontade de Deus. com a Constituição pastoral Gaudium et spes. proclamando que o reconhecimento da plena verdade de Deus constitui a condição prévia e indispensável para a consolidação da verdade da paz. Em particular. não era muito diferente do nosso. entre outras coisas. "Maria. as organizações internacionais e as potências mundiais. a imagem mais facilmente acessível a cada um de nós. em que se afirma. diante daquelas que se apresentam como as novas e mais insidiosas ameaças à paz o terrorismo. desejei exortar a Organização das Nações Unidas a tomar uma renovada consciência das suas responsabilidades na promoção dos valores da justiça. que o evangelista Lucas nos descreve na sua pobreza e na sua simplicidade. O primeiro dia do ano é colocado sob o sinal de uma mulher. do homem que se deixa iluminar pela verdade. a paz". Maria conserva no seu coração as palavras . onde pudemos contemplar a cena dos pastores a caminho rumo a Belém. desejei manifestar a convicção de que "sempre que o homem se deixa iluminar pelo esplendor da verdade. Como deixar de ver uma realização eficaz e apropriada disto no trecho evangélico que acaba de ser proclamado. da solidariedade e da paz. no horizonte mundial delineavam-se tensões de vários tipos. num mundo cada vez mais assinalado pelo vasto fenómeno da globalização. Maria. para escolher percorrer o caminho da paz. Possa esta consciência aumentar cada vez mais. O Evangelista Lucas descreve-a como a Virgem silenciosa. porém. que continuam a oprimir várias regiões da terra. Se a paz é a aspiração de cada pessoa de boa vontade. para os discípulos de Cristo ela representa um mandato permanente que a todos compromete. O momento histórico em que a Constituição Gaudium et spes foi promulgada. com espírito renovado. valorizando também a admirável herança que nos foi legada pelo Concílio Vaticano II. para a verdadeira paz" (n. no dia 7 de Dezembro de 1965. 3). 16)? Não são acaso aqueles pastores. 19). nessa época. E isto por parte de todos: cada indivíduo e cada povo. tornando-se assim capaz de construir um mundo de paz? A paz! Esta grande aspiração do coração de cada homem e de cada mulher edifica-se dia após dia com a contribuição de todos. e mais adiante acrescenta: "Deus é amor". difundindo-se como círculos concêntricos. os Magos do Oriente são atraídos por esta luz. simbolicamente indicada pela estrela que guiou a viagem dos Magos. Mas o que é esta luz? É apenas uma sugestiva metáfora. que surgiu no Natal. vão imediatamente à gruta e nela encontram o "sinal" que lhes fora preanunciado: um menino envolvido em panos e colocado numa manjedoura (cf. a luz de Cristo irradia-se sobre a terra. José e os pastores. unindo-as como num mosaico. que hoje se manifesta aos povos. que é o mesmo ontem. por fim. ou a imagem corresponde a uma realidade? O apóstolo João escreve na sua Primeira Carta: "Deus é luz e n'Ele não há trevas" (1 Jo 1. porque as suas obras eram más" (Jo 3. Príncipe da Paz. manifesta-se um movimento de atracção para o centro. os anawim. 5). Os pastores. que leva a cumprimento o movimento já inscrito na Antiga . O esplendor de Cristo. Seguindo o exemplo da Virgem Santa. colocadas juntas. aos quais é anunciada a Boa Nova. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI POR OCASIÃO DA SANTA MISSA NA SOLENIDADE DA EPIFANIA Sexta-feira. aprende a compreendê-las. mas temor e reacções hostis. Com a sua ajuda maternal. A Epifania é mistério de luz. os pobres. Hb 13. Mas a verdadeira fonte luminosa. que constituem as primícias dos povos pagãos. 8). avisados pelo anjo. resplandece hoje e manifesta-se a todos. desejamos comprometer-nos a trabalhar alacremente na "construção" da paz. ajudam-nos a compreender melhor: a luz. revelado na Pessoa do Verbo encarnado. 12). No mistério do Natal. onde a notícia do nascimento do Messias é levada paradoxalmente pelos Magos. Antes de tudo sobre a Sagrada Família de Nazaré: a Virgem Maria e José são iluminados pela presença divina do Menino Jesus. e os homens preferiram as trevas à Luz. Permanecem na penumbra os palácios do poder de Jerusalém. 78). também nós queremos aprender a tornar-nos atentos e dóceis discípulos do Senhor. 1)). na esteira de Cristo. Portanto. os quais. queremos deixar-nos orientar sempre e unicamente por Jesus Cristo. ao lado de um movimento de irradiação para o exterior. hoje e para sempre (cf. Lc 2. e não suscita alegria. é o amor de Deus. "que das alturas nos visita como sol nascente" (Lc 1. representam aquele "resto de Israel". onde permanecem em silenciosa adoração Maria. Estas duas afirmações. 6 de Janeiro de 2006 Amados irmãos e irmãs! A luz que no Natal brilhou na noite iluminando a gruta de Belém. Misterioso desígnio divino: "a Luz veio ao mundo. A luz do Redentor manifesta-se depois aos pastores de Belém. Na sua escola. atinge os Magos. juntamente com Maria e José.que provêm de Deus e. é Cristo. No mistério da Epifania. A fonte deste dinamismo é Deus. por assim dizer. são as duas faces da mesma medalha. 4). 9-10). 6-8). Os Magos adoraram um simples Menino nos braços da Mãe Maria. são o seu "nome". São palavras que a Igreja usa para realçar a dimensão "epifânica" da Encarnação: fazer-se o Filho de Deus. o seu entrar na história é um momento culminante da auto-revelação de Deus a Israel e a todos os povos. segundo as Escrituras. ao mesmo tempo e inseparavelmente. teu povo" (Lc 2. este versículo do Salmo 97: "O Senhor anunciou a sua vitória. isto é. "cidade de Davide" (Lc 2. inspirado por Deus. 6). que "os gentios são admitidos à mesma herança. 2). Deus revelou-se na humildade da "forma humana". porque reconheceram n'Ele a fonte da dupla luz que os tinha guiado: a luz da estrela e a luz das Escrituras. "Luz para se revelar às nações e glória de Israel. Reconheceram n'Ele o Rei dos Judeus. "Graça e fidelidade" (Sl 88. A luz que ilumina os povos a luz da Epifania provém da glória de Israel a glória do Messias nascido. isto é. na solenidade da Epifania. sepultado e ressuscitado". "misericórdia e verdade" (Sl 84. o ponto de chegada de um "êxodo".Aliança. destinado a ser conhecido e santificado pelos homens de todas as línguas e nações. É o paradoxo cristão. mas revela uma sua dimensão perene e constitutiva. mas também o Rei de todas as nações. De facto. 11) são o conteúdo da glória de Deus. O rosto do Filho revela fielmente o do Pai. quando os pais o apresentarão no templo. Uno na substância e Trino nas Pessoas. a pobreza. Precisamente este escondimento constitui a mais eloquente "manifestação" de Deus: a humildade. uma total "epifania". a liturgia prevê o chamado "Anúncio da Páscoa": o ano litúrgico. aliás de crucificado (cf. Ele é a meta final da história. Por isso. em cujo centro está "o Tríduo do Senhor crucificado. membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa. Eis por que o mistério do Natal é. é precisamente permanecendo fiel ao pacto de amor com o povo de Israel que Deus revela a sua glória também aos outros povos. na realidade. Ef 1. como. 2). em Belém. Na liturgia do Tempo do Natal recorre com frequência. A um olhar superficial a fidelidade de Deus a Israel e a sua manifestação aos povos poderiam parecer aspectos entre si divergentes. A manifestação aos Magos não acrescenta algo de alheio ao desígnio de Deus. glória de Israel. de facto. que culmina na sua morte e ressurreição. Fl 2. Mas este "conteúdo" é inseparável do "método" que Deus escolheu para se revelar. 32). o da fidelidade absoluta à aliança. resume toda a parábola da história da salvação. que atrai a si tudo e todos. A Pessoa encarnada do verbo apresenta-se assim como princípio de reconciliação e de recapitulação universal (cf. . segundo as Escrituras. em Cristo Jesus. na "condição de servo". O Senhor Jesus é. No Menino de Belém. exclamará o idoso Simeão apertando o menino entre os braços. por meio do Evangelho" (Ef 3. de um caminho providencial de redenção. revelou aos povos a sua justiça" (v. que alcança o seu auge em Cristo. a mesma ignomínia da Paixão fazemnos conhecer como Deus é verdadeiramente. como refrão. É esta a finalidade do Baptismo. reflectindo-a em si mesma como a lua reflecte a luz do sol. mediante o testemunho do amor. mas formada por homens e mulheres com os seus limites e erros. que está no Céu" (Mt 5. que ao conceder-nos o Espírito Santo pode transformar a nossa miséria e renovar-nos constantemente. Ela está chamada a fazer resplandecer no mundo a luz de Cristo.. Lumen gentium. que escolheu iluminar o mundo mediante a sua Igreja (cf. luz do mundo e meta final da história. Assim seja! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA FESTA DO BAPTISMO DO SENHOR Capela Sistina. deverão atrair. a Mãe de Cristo e da Igreja. que está a chegar a tua luz. todos os homens para Deus: "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens. na abertura do coração à força da graça e na adesão fiel à palavra do seu Filho. Vat. não podemos deixar de sentir toda a insuficiência da nossa condição humana. nós. membros da Igreja. É isto que os discípulos de Cristo deverão realizar: ensinados por Ele a viver no estilo das Bem-Aventuranças. "Como poderá acontecer isto?". resplandece. vendo as vossas boas obras.. marcada pelo pecado. 1-3). como aquela maravilhosa de Isaías que ouvimos há pouco: "Levanta-te. As nações caminharão à tua luz. É Ele a luz dos povos. E precisamente ela. nos oferece a resposta: com o seu exemplo de total disponibilidade à vontade de Deus "fiat mihi secundum verbum tuum" (Lc 1. lumen gentium.No contexto litúrgico da Epifania manifesta-se também o mistério da Igreja e a sua dimensão missionária. glorifiquem o vosso Pai. Jerusalém. Ao ouvir estas palavras de Jesus. Na Igreja tiveram cumprimento as antigas profecias relativas à cidade santa de Jerusalém. Const. 1). 38) ela ensina-nos a ser "epifania" do Senhor. É Cristo. só Ele. 8 de Janeiro de 2006 Queridos pais padrinhos e madrinhas! Amados irmãos e irmãs! O que acontece no Baptismo? O que esperamos do Baptismo? Vós destes uma resposta à entrada nesta Capela: esperamos para os nossos filhos a vida eterna. Conc. interrogamo-nos também nós com as palavras que a Virgem dirigiu ao arcanjo Gabriel. e os reis ao esplendor da tua aurora" (Is 60. 16). II. de modo que. A Igreja é santa. Mas como pode ser realizado? Como pode o Baptismo dar a vida eterna? O que é a vida eterna? . Dar-lhe-á amizade.Poder-se-ia dizer com palavras mais simples: esperamos para estas nossas crianças uma vida boa. o Baptismo insere na comunhão com Cristo e assim dá vida. Esta companhia de amigos. deve ser vivido. Palavras de luz que respondem aos grandes desafios da vida e dão a indicação justa sobre o caminho a empreender. A que dizemos "não"? Só assim podemos compreender ao que desejamos dizer "sim". Agora. a vida verdadeira. que tem nas mãos as chaves da vida. Estar na companhia. com Aquele que é o Sacramento da vida. estas palavras não nos dizem muito. Esta companhia oferece à criança consolo e conforto. E assim chegamos à segunda resposta. À pergunta: "Como acontecerá isto?" podemos dar duas respostas. porque é comunhão com Aquele que venceu a morte. porque esta companhia de amigos é a família de Deus. na nossa Europa. sessenta. Então devemos aprofundar um pouco os conteúdos destes "não". no vale escuro da morte. ao diabo. nunca desaparecerá. a felicidade também num futuro ainda desconhecido. são a vida e uma vida sem amor não é vida podemos dizer que esta companhia com Aquele que é vida realmente. significa estar em comunhão com Cristo. também nos dias de sofrimento. dar-lhe-á consolo. nas noites escuras da vida. setenta anos. seguir-se-á um segundo diálogo de grande importância. vida. mas talvez porque as ouvimos demasiadas vezes. esta companhia de amigos é eterna. Interpretamos desse modo o primeiro diálogo que tivemos aqui. ao pecado. responderá à vossa expectativa. dirigimo-nos ao Senhor para obter dele este dom. a vida. neste segundo diálogo. Mas um dom deve ser acolhido. O conteúdo é este: o Baptismo como vimos é um dom. Sim. que é vida e dá amor eterno além da morte. terá sempre a amizade certa d'Aquele que é a vida. na qual agora a criança é inserida. o dom da vida. Esta família de Deus. o amor de Deus também no limiar da morte. . acompanhá-la-á sempre. a tudo o que não está em sintonia com a vida da família de Deus. Nós não somos capazes de garantir este dom durante todo o tempo futuro desconhecido e. sobre um ponto temos a certeza: a família de Deus estará sempre presente e quem pertence a esta família nunca ficará só. E esta companhia. absolutamente fiável. esta família de Deus. Conhecemos bem estas coisas. depois da bênção da água. Um dom de amizade exige um "sim" ao amigo e um "não" a tudo o que não for compatível com esta amizade. à vossa esperança. na entrada da Capela Sistina. Ninguém sabe o que acontecerá no nosso planeta. Diz-se "não" e renuncia-se às tentações. Mas. A primeira: no Baptismo cada criança é inserida numa companhia de amigos que nunca a abandonará na vida nem na morte. esta família dar-lhe-á palavras de vida eterna. o "não" e o "sim" são pronunciados três vezes. nos próximos cinquenta. que tem em si a promessa da eternidade. na família de Deus. conforto e luz. com a verdadeira vida em Cristo. por isso. E se podemos dizer que amor e verdade são fontes de vida. E assim. Esta companhia. à promessa da vida na abundância. a uma razão criadora que dá sentido à criação e à nossa vida. é um grande "sim" à vida. "sim" à verdade (oitavo mandamento). Era o "não" aos espectáculos onde a morte. um mero objecto. uma verdadeira perversão da alegria. a um Deus concreto que nos dá a vida e nos mostra o caminho da vida. podemos dizer que também no nosso tempo é necessário dizer "não" à cultura amplamente dominante da morte. o conteúdo desta cultura da vida. a cultura da vida. na fuga do real para o ilusório. Por conseguinte. a um Deus que não permaneceu escondido mas que tem um nome. mas se torna mercadoria. mas que na realidade era uma "anticultura" da morte. era abuso do corpo como mercadoria e como comércio. É esta a filosofia da vida. nos jardins de Nero. a crueldade. Também poderíamos dizer que o rosto de Deus. entra na vida de todos os dias. que se torna concreta. na droga. que se torna uma "coisificação" por assim dizer do homem. a esta "pompa" de uma vida aparente que na realidade é apenas instrumento de morte. dos tempos antigos até hoje. corpo e sangue. ao engano. que não são um pacote de proibições. também o "sim" se desenvolve em três decisões: "sim" ao Deus vivo. onde os homens eram acendidos como tochas vivas. "sim" à vida (quinto mandamento). que tem palavras. "sim" à comunhão da Igreja. no engano. praticável e bela na comunhão . das suas liberdades. a esta "anticultura" dizemos "não". isto é. A crueldade e a violência tinham-se tornado um motivo de divertimento. entra na nossa profissão. à responsabilidade social. para uma felicidade falsa que se expressa na mentira. "sim" ao amor responsável (sexto mandamento). que entra no nosso tempo. Uma "anticultura" que se manifesta. A esta promessa de aparente felicidade. esta "anticultura" da morte era uma perversão da alegria. Pensemos no que acontecia no Coliseu ou aqui. digno de um amor pessoal que exige fidelidade. daquela aparência de vida que parecia vir do mundo pagão. Assim como naquele diálogo baptismal o "não" se desenvolve em três renúncias. E se agora reflectimos. que já não é considerado pessoa. na qual Cristo é o Deus vivo. ou seja. era um "não" a uma cultura aparentemente de abundância da vida. a um Deus criador. que se exprime numa sexualidade que se torna puro divertimento sem responsabilidade. no desprezo do próximo. Por isso o "sim" cristão. do verdadeiro sentido da vida. na injustiça. "sim" a Cristo. Esta "pompa diabuli". "sim" à solidariedade. por exemplo. da solidariedade. do seu modo de viver apenas segundo o que agradava. era amor à mentira. de "não". à justiça (séptimo mandamento). "sim" ao respeito do próximo e do que lhe é próprio (nono e décimo mandamentos). a violência se tinham tornado divertimento. isto é. para cultivar a cultura da vida. o conteúdo do nosso grande "sim". da responsabilidade pelos pobres e pelos que sofrem. se expressa nos dez Mandamentos. o "sim" ao vencedor da morte e o "sim" à vida no tempo e na eternidade. São um "sim" à família (quarto mandamento). mas na realidade apresentam uma grande visão de vida. Este é o nosso "sim" a Cristo.Na Igreja antiga estes "não" eram resumidos numa palavra que para os homens daquele tempo era muito compreensível: renuncia-se assim se dizia à "pompa diabuli". e é "sim" ao grande dom da verdadeira vida. a unção com o óleo. queridos pais e irmãos. porque Deus não se esconde atrás das nuvens do mistério impenetrável. a anual Semana de oração pela unidade dos cristãos. Queridos padrinhos e madrinhas. temos os gestos e os símbolos. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI POR OCASIÃO DO ENCERRAMENTO DA SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS Basílica de São Paulo fora dos Muros Quarta-feira. a verdadeira. o qual se doa a nós no Baptismo e depois na Eucaristia. para que tenham realmente a vida. como expressão da verdade que resplandece nas obscuridades da história e nos indica quem somos. E por fim a chama da candeia. A água é o símbolo da vida: o Baptismo é vida nova em Cristo. mas. na grande família da Igreja. porque a cruz é o resumo da vida de Jesus. mostrou-se. a vida eterna. abriu os céus. mas farei deles um breve elenco. Além das palavras.com Cristo. O Baptismo é dom de vida. 25 de Janeiro de 2006 Queridos irmãos e irmãs! Neste dia. na qual com particular intensidade pedimos a Deus . da beleza. da saúde. O primeiro gesto já o realizámos: é o sinal da cruz. dizendo "não" ao ataque da morte que se apresenta com a máscara da vida. fala connosco e está connosco. reunidos em fraterna assembleia litúrgica. as vestes brancas e a chama da candeia. no qual se celebra a conversão do Apóstolo Paulo. que se fez presente no rosto de Cristo. É um "sim" ao desafio de viver verdadeiramente a vida. agradeçamos neste dia ao Senhor. que nos é dado como escudo que deve proteger este menino na sua vida. Depois há os elementos: a água. É significativo que a memória da conversão do Apóstolo das Nações coincida com o último dia desta importante Semana. O óleo é o símbolo da força. da cultura da vida. vive connosco e guia-nos na nossa vida. concluímos. como expressão da cultura da beleza. o Deus vivo. Disse isto no breve comentário às palavras que no diálogo baptismal interpretam o que se realiza neste Sacramento. Depois a veste branca. porque é realmente belo viver em comunhão com Cristo. como disse o Evangelho de hoje. que caminha connosco na companhia dos seus amigos. é como um "indicador" para o caminho da vida. Amém. Agradeçamos ao Senhor por este dom e rezemos pelas nossas crianças. de onde provimos e para onde devemos ir. sente que foi um obstáculo à difusão da mensagem de Cristo. que com o sangue da sua Paixão abateu o "muro da separação" da "inimizade" (Ef 2. invocando sobre ele a luz e a força do Espírito Santo. as divisões. a fim de que favoreça cada vez mais a fraterna comunhão entre todos os cristãos. fazendo nossa a invocação que o próprio Jesus elevou ao Pai pelos seus discípulos: "para que todos sejam um só. ao conjunto. sou o que sou e a graça que me foi concedida. 7). assim forma a Igreja qual comunidade de amor. a caridade divina é a força que transforma a vida de Saulo de Tarso e faz dele o Apóstolo das Nações. mas também muito mais adiante. Como tu. Em particular. 8. Quis dedicar a minha primeira Encíclica ao tema do amor. 16)? O verdadeiro amor não anula as legítimas diferenças. queridos irmãos e irmãs. pois cremos nele" (1 Jo 4. É o mistério da comunhão. não deixará de conceder a quantos o invocam com fé a força para cicatrizar todas as dilacerações. Diante de vós. do Amor que é Deus. Contudo. de tradições. o que devemos dizer nós que "conhecemos o amor que Deus nos tem. não foi estéril" (1 Cor 15. 1). a qual foi publicada precisamente hoje e esta feliz coincidência com a conclusão da Semana de oração pela unidade dos cristãos convida-nos a considerar este nosso encontro. Ut unum sint. "preside à caridade" (Ad Rom 1.o dom precioso da unidade entre todos os cristãos. Deus é amor. A aspiração de cada Comunidade cristã e de cada fiel à unidade e a força para a realizar são um dom do Espírito Santo e caminham juntas com uma fidelidade ao Evangelho cada vez mais profunda e radical (cf. da abnegação de si mesmo e da libérrima efusão da caridade" (Decr. Na primeira. 21). mas que do interior dá forma. embora mantendo a sua dolorosa gravidade. Se já sob o perfil humano o amor se manifesta como uma força invencível. compondo em unidade uma multiforme riqueza de dons. É que os anseios de unidade nascem e amadurecem a partir da renovação da mente. ápice da divina revelação. é preciso partir sempre deste ponto: Deus caritas est. Deus caritas est (1 Jo 4. Enc. por assim dizer. todo o caminho ecuménico na luz do amor de Deus. segundo a expressão de Santo Inácio de Antioquia. 10). A Igreja de Roma está ao serviço desta unidade de amor que. 15). Damo-nos conta de que na base do compromisso ecuménico está a conversão do coração. estás em Mim e Eu em Ti. O Senhor Jesus. Por um lado. Unitatis redintegratio. São Paulo confessa que a graça de Deus operou nele o acontecimento extraordinário da conversão: "Pela graça de Deus. O tema do amor liga em profundidade as duas breves leituras bíblicas da hodierna liturgia vespertina. parecem superáveis e não nos desencorajam. desejo hoje renovar a entrega a Deus do meu peculiar ministério petrino. Pai. para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste" (Jo 17. Sobre esta sólida rocha apoia-se a inteira fé da Igreja.16). 14). Ao escrever aos cristãos de Corinto. que assim como une o homem e a mulher naquela comunidade de amor e de vida que é o matrimónio. mas ao mesmo tempo vive na alegria de ter encontrado o Senhor ressuscitado . mas harmoniza-as numa unidade superior. como afirma claramente o Concílio Vaticano II: "Não há verdadeiro ecumenismo sem conversão interior. que não é imposta do exterior. baseia-se nela a paciente busca da plena comunhão entre todos os discípulos de Cristo: ao fixar o olhar nesta verdade. Quando os cristãos se congregam para rezar. intensificamos a nossa oração comum pela unidade. perguntou: "Quem és Tu. à oração comum. É isto que atrai o coração de Deus. O verbo que o evangelista usa para "se unirem" é synphonesosin: há a referencia a uma "sinfonia" dos corações. obtendo aquela resposta que está na base da sua conversão: "Eu sou Jesus. a quem tu persegues" (Act 9. que é um meio necessário e eficaz como nunca. 6-11. São João Crisóstomo interroga-se: "Pois bem. Saulo ouviu a inquietante pergunta: "Porque me persegues?". que a Igreja forma um corpo único. Senhor?". 60. Por conseguinte. que implora de maneira "sinfónica" o dom da unidade. para pedir qualquer coisa. Caindo ao chão e perturbado interiormente. sinto uma alegria imensa por ver uma assembleia tão numerosa em oração. Paulo compreendeu num instante o que teria expressado depois nos seus escritos. a sintonia na oração manifesta-se importante para as finalidades do seu acolhimento por parte do Pai celeste. Jesus diz: "Se dois de entre vós se unirem. Esta tarde. Act 9. Analisando depois mais profundamente estes versículos evangélicos.e de ter sido iluminado e transformado pela sua luz. 22). não existem dois ou três que se reúnem no seu nome? Existem responde ele mas raramente" (Homilias sobre o Evangelho de Mateus. cujo desígnio e generosidade superam a compreensão do homem e as suas expectativas pedidas e aguardadas. No caminho de Damasco. 3-9. Contando precisamente com a bondade divina. enfim. 26. É a presença de Cristo que torna eficaz a oração comum de quantos estão reunidos no seu nome. acontecimento tão importante para a Igreja inteira que nos Actos dos Apóstolos a ele se faz referência três vezes (cf. A Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concilio Vaticano II refere-se precisamente a este trecho do Evangelho para indicar uma das formas da presença de Cristo: "está presente. "No caminho ecuménico para a unidade. o próprio Jesus está no meio deles. que ouvimos há pouco. 12-18). quando a Igreja reza e canta. Eles são um com Aquele que é o único mediador entre Deus e os homens. Isto certamente não significa que a resposta de Deus seja de qualquer forma determinada pelo nosso pedido. Assim de perseguidor dos cristãos tornou-se o Apóstolo das Nações. Ao comentar este texto do evangelista Mateus. à união orante daqueles que se consagram à volta do próprio Cristo" (n. 3). do qual Cristo é a Cabeça. a primazia pertence. 4-5). 7). Pedir juntos já assinala um passo rumo à unidade entre os que pedem. Ele conserva uma constante memória daquele acontecimento que mudou a sua existência. sem dúvida. 20" (Sacrosanctum concilium. o amor age como princípio que une os cristãos e faz com que a sua oração unânime seja ouvida pelo Pai celeste. 19). Dirijo a todos e a cada um a . Eu estou no meio deles". como recordou João Paulo II na Enciclica Ut unum sint. compreendemos melhor a razão pela qual o pai responderá positivamente ao pedido da comunidade crista: "Pois diz Jesus onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome. 22. Sabemo-lo bem: a desejada consecução da unidade depende em primeiro lugar da vontade de Deus. hão-de obtê-la de meu Pai que está no céu" (Mt 18. Ele que prometeu: "Onde estiverem dois ou tres reunidos em meu nome. na Terra. Eu estou no meio deles" (Mt 18. No trecho evangélico de Mateus. A recomposição da nossa unidade dará maior eficiência à evangelização. o amado João Paulo II prosseguiu com perseverança a tradição de concluir aqui a Semana de oração. Saúdo com afecto particular os irmãos das outras Igrejas e Comunidades eclesiais desta Cidade. é a condição para que a luz de Cristo se difunda mais eficazmente em todas as partes do mundo e os homens se convertam e sejam salvos. ao mesmo tempo simples e solene. Lc 2. aliás retomemos o caminho juntos com mais entusiasmo. Esperança de renovação e unidade na Europa". nós cristãos temos a tarefa de ser. "luz do mundo" (Mt 5. o Consagrado do Pai.minha cordial saudação. queridos irmãos e irmãs. reconhecem naquele Menino o Messias tão esperado e profetizam sobre Ele. Em seguida. precisamente nesta Basílica. primogénito da nova humanidade. 2 de Fevereiro de 2006 Queridos irmãos e irmãs! A hodierna festa da Apresentação de Jesus no Templo. celebrou a primeira oração comum. na conclusão do Concilio Vaticano II. apresenta diante dos nossos olhos um momento particular da vida da Sagrada Família: segundo a lei moisaica. 22). A unidade é a nossa missão comum. de Comunidades cristas e de órgãos ecuménicos que iniciam a preparação da Terceira Assembleia Ecuménica Europeia. Tenho a certeza de que esta tarde os dois olham para nós do Céu e se unem à nossa oração. 14). na Europa e entre todos os povos. Queira Deus conceder que alcancemos depressa a desejada plena comunhão. o Servo de Deus Paulo VI. no qual a Santa Igreja celebra Cristo. de feliz memória. . Simeão e Ana. em Setembro de 2007. o menino Jesus é levado por Maria e José ao templo de Jerusalém para ser oferecido ao Senhor (cf. com a solene presença dos Padres conciliares e com a participação activa dos Observadores das outras Igrejas e Comunidades eclesiais. d'Ele imploramos humilde e incansavelmente o precioso dom da unidade e da paz. Nós prosseguimos atrás da sua presença indefectível. a 5 de Dezembro de 1965. Cristo precede-nos e acompanha-nos. sobre o tema: "A luz de Cristo a todos ilumina. programada para Sebiu. unidos no único baptismo. de Conferencias Episcopais. inspirados por Deus. Sim. Acabaram de transcorrer 40 anos desde quando. FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Quinta-feira. quarenta dias depois do seu nascimento. que nos torna membros do único Corpo místico de Cristo. Quanto caminho temos à nossa frente! Mas não percamos a confiança. na Roménia. Estamos na presença de um mistério. Entre os que participam desta nossa assembleia desejaria saudar e agradecer de modo especial o grupo dos delegados de Igrejas. A sua expectativa transforma-se assim em luz que ilumina a história. ofereceu. tornou-se para todos os que Lhe obedecem fonte de salvação eterna» (cf. A Sagrada Família cumpre tudo o que a Lei prescrevia: a purificação da mãe.encontraram eco no coração da profetiza Ana. Ele inicia. Lc 2.34). uma vez atingida a perfeição.«Os meus olhos viram a tua salvação» (Lc 2. Estas palavras comunicam toda a intensidade do desejo que animou a expectativa da parte do povo hebreu ao longo dos séculos. Estas pessoas justas e piedosas. Levando o Filho a Jerusalém. Cristo. 7-8). aprendeu a obedecer. 30) .A sugestiva procissão dos Círios no início da nossa celebração fez-nos reviver a majestosa entrada. Entra finalmente na sua casa «o cordeiro da aliança» e submete-se à Lei: vai a Jerusalém para entrar. 7-9). As palavras que neste encontro vêm aos lábios do idoso Simeão . A primeira pessoa que se une a Cristo no caminho da obediência. para expiar os pecados do povo» (Hb 2. Ressalta bem isto a Carta aos Hebreus quando diz: «Quando vivia na carne.. O significado deste gesto adquire uma perspectiva mais ampla no trecho da Carta aos Hebreus. entre os braços da sua mãe. Cristo vem como novo «sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus. d’Aquele que é «o rei da glória» (Sl 23. da fé provada e do sofrimento partilhado é a sua mãe. envolvidas pela luz de Cristo. podem contemplar no Menino Jesus «a consolação de Israel» (Lc 2. . proclamado hoje como segunda Leitura. a andar pelo caminho da obediência. a Virgem Mãe oferece-o a Deus como verdadeiro Cordeiro que tira os pecados do mundo: apresenta-o a Simeão e a Ana como anúncio de redenção. que percorrerá até ao fim. ainda Criança. 17). O texto evangélico mostra-no-la no gesto de oferecer o Filho: uma oferenda incondicional que a envolve em primeira pessoa: Maria é a Mãe d’Aquele que é «glória do seu povo. orações e súplicas. Simeão é portador de uma antiga esperança e o Espírito do Senhor fala ao seu coração: por isso pode contemplar aquele que muitos profetas e reis tinham desejado ver. Reconhece naquele Menino o Salvador.. apresenta-o a todos como luz para um caminho seguro pela via da verdade e do amor. eliminando qualquer divisão e abatendo todos os muros de separação. Na primeira Leitura a Liturgia fala do oráculo do profeta Malaquias: «Imediatamente entrará no seu santuário o Senhor» (Mal 3. deverá ser trespassada pela espada do sofrimento. 32. luz que ilumina as nações. Israel» e «luz que ilumina as nações» (cf. na sua alma imaculada. E ela mesma. Mas quem é o Deus poderoso que entra no Templo? É um Menino. sofrendo e. 1). a Virgem Maria. na casa de Deus. o mediator que une Deus e o homem abolindo as distâncias. Apesar de ser Filho de Deus. Observamos assim que a mediação com Deus já não se realiza na santidade-separação do sacerdócio antigo. é o Menino Jesus. mas na solidariedade libertadora com os homens. Nele é-nos apresentado Cristo. mostrando assim que o seu papel na história da salvação não termina no mistério da Encarnação.. 25). a oferenda do primogénito a Deus e o seu resgate mediante um sacrifício. Hb 5. Maria. cantada no Salmo responsorial. em atitude de obediência.. mas se completa na amorosa e dolorosa participação na morte e na ressurreição do seu Filho. queridos irmãos e irmãs que abraçastes a vocação de especial consagração. a fidelidade aos jejuns semanais. mulher sábia e piedosa que interpreta o sentido profundo dos acontecimentos históricos e da mensagem de Deus neles escondido. é ao mesmo tempo um estímulo a promover em todo o povo de Deus o reconhecimento e a estima por quem se consagrou totalmente a Deus. Queridos irmãos e irmãs. Dirijo uma saudação especial a D. para vos saudar com afecto e vos agradecer de coração a vossa presença. Franc Rodé. como círios acesos. Ana é «profetiza». Dirijo-me agora de modo especial a vós. e que deverá sofrer muito por parte de quantos o rejeitarão. É este o primeiro serviço que a vida consagrada presta à Igreja e ao mundo. e a «luz» e a «glória» tornam-se uma revelação universal. irradiai sempre e em toda a parte o amor de Cristo.mas intui no espírito que em seu redor se jogará o destino da humanidade. também a dedicação concreta das pessoas consagradas a Deus e aos irmãos se torna sinal eloquente da presença do Reino de Deus no mundo de hoje. a participação na expectativa de quantos aspiravam pelo resgate de Israel concluem-se no encontro com o Menino Jesus. A prolongada viuvez dedicada ao culto no templo. Maria Santíssima. proclama a sua identidade e a missão de Messias com as palavras que formam um dos hinos da Igreja nascente. nesta festa da Apresentação do Senhor a Igreja celebra o Dia da Vida Consagrada. é parábola viva do «Deus connosco». Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A VISITA À PARÓQUIA DE SANTA ANA NO VATICANO . O vosso modo de viver e de trabalhar é capaz de manifestar sem atenuações a plena pertença ao único Senhor. que concelebram comigo esta Santa Missa. De facto. O Senhor renove todos os dias em vós e em todas as pessoas consagradas a resposta jubilosa ao seu amor gratuito e fiel. a Mulher consagrada. luz do mundo. do qual irradia toda a exultação comunitária e escatológica da expectativa salvífica realizada. Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. No meio do Povo de Deus eles são como sentinelas que distinguem e anunciam a vida nova já presente na nossa história. O entusiasmo é tão grande que viver e morrer são a mesma coisa. como a vida de Jesus. Trata-se de uma ocasião oportuna para louvar o Senhor e agradecer-lhe pelo dom inestimável que a vida consagrada representa nas suas diferentes formas. e aos seus colaboradores. vos ajude a viver plenamente esta vossa especial vocação e missão na Igreja para a salvação do mundo. Por isso pode «louvar a Deus» e falar «do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém» (Lc 2. a vossa entrega total nas mãos de Cristo e da Igreja é um anúncio forte e claro da presença de Deus numa linguagem compreensível para os nossos contemporâneos. 38). na sua obediência e dedicação ao Pai. Queridos irmãos e irmãs. juntamente com Ele. Jesus está em diálogo com o Pai e eleva a sua alma humana na comunhão com a pessoa do Filho. na qual ela teria sido precisamente o lugar do cumprimento. avós. este Evangelho ensina-nos o centro da fé e da nossa vida. as curas. E precisamente com este conteúdo da liturgia dominical o Senhor encontra-se connosco. precisamente aqui na igreja de santa Ana nos dá a ocasião para dizer um sentido obrigado a todas as mulheres que animam esta paróquia. E parece-me que este Evangelho com este episódio aparentemente tão modesto. de modo que a humanidade do Filho. a estar à disposição dos outros. das idolatrias. de estarmos de pé diante de Deus e diante dos homens. O Senhor dá-nos a sua mão. ajuda-a a levantar-se e a mulher está curada e começa a servir. As mulheres são também as portadoras da palavra de Deus do Evangelho. vemos que não fazem só serviços exteriores. Neste episódio sobressai simbolicamente toda a missão de Jesus. e assim torna possível também para nós a verdadeira oração. doente com febre. Jesus vindo do Pai vai à casa da humanidade. mas de madrugada quando ainda está escuro levanta-se e sai à procura de um lugar deserto para rezar. isto . o esquecimento de Deus. santa Ana introduz a grande filha. que estão disponíveis. Surge aqui o verdadeiro centro do mistério de Jesus. nós rezamos com Jesus e assim entramos em contacto real com Deus. eleva-nos e cura-nos sempre de novo com o dom da sua palavra. mulheres nas diversas profissões. Nossa Senhora. Mas também a segunda parte deste episódio é importante. levanta-nos e cura-nos. esta é a fonte e o centro de todas as actividades de Jesus. Começa imediatamente a trabalhar. nas Sagradas Escrituras. a alma da paróquia. desta forma.Domingo. com o dom de si mesmo. na nossa terra. Dá-nos a capacidade de nos erguermos. os milagres e por fim a paixão. às mulheres que servem em todas as dimensões. saem deste centro. e assim torna-se representação de tantas boas mulheres. diz o Evangelho. entramos no mistério do amor eterno da Santíssima Trindade. esta mulher curada naquele momento põe-se a servi-los. e são a alma da família. são verdadeiras evangelistas. E. Na liturgia Jesus reza connosco. na esperança de Israel. guia-nos pela mão. mães. muito bonito mas também cheio de significado. que nos ajudam sempre de novo a conhecer a palavra de Deus não só com o intelecto. e assim dissipa a obscuridade das ideologias. cura-nos da febre das nossas paixões e dos nossos pecados mediante a absolvição no sacramento da reconciliação. do seu ser com o Pai. e encontra uma humanidade doente. Voltemos ao Evangelho: Jesus dorme na casa de Pedro. se levantam e servem. O Senhor vai à casa de Simão Pedro e André e encontra a sogra de Pedro doente com febre. olhando para a pintura em cima do altar. pega-nos pela mão com a sua palavra. toma-a pela mão. E aqui. 5 de Fevereiro de 2006 Queridos irmãos e irmãs! O Evangelho que agora ouvimos começa com um episódio muito simpático. vemos a sua pregação. Toma a nossa mão nos sacramentos. mas também com o coração. as idolatrias. Jesus fala com o Pai. fala no diálogo trinitário com o Pai. com aquela febre que são as ideologias. E faz isto em todos os séculos. desta forma. as destruições da dignidade do homem são as destruições fundamentais e a renovação só pode vir do regresso de Deus. e onde for feita a vontade de Deus está presente o Reino de Deus. diz-nos: só Deus é a redenção do homem. o Reino de Deus é a presença de Deus. vencer as forças do mal. Só quando primeiro há a palavra de Deus. todos te procuram. Deus é o nosso criador. começa também na terra um pouco de céu. devo ir a outros lugares para anunciar Deus e para afastar os demónios. O Reino de Deus é o centro do seu anúncio. que "venha o Reino de Deus" e "seja feita a vossa vontade" são dois aspectos diversos da mesma medalha. que seja importante só o progresso técnico-material. E como disse o Pe. O próprio Evangelho com a sua continuação confirma isto em grande medida. Os Bispos italianos quiseram recordar na sua mensagem o dever prioritário de "respeitar a vida". mas para trazer a condição fundamental da nossa dignidade. Deus como fonte e centro da nossa vida. Vemos no "Pai nosso" como os três primeiros pedidos se referem precisamente a esta primazia de Deus: que o nome de Deus seja santificado. Deus deu-nos a vida. mas há uma hesitação em ajudar-nos na pastoral. a Igreja celebra hoje na Itália o Dia pela Vida. porque se trata de um bem "indispensável". Os apóstolos dizem a Jesus: volta. Pois o Reino de Deus não é uma série de coisas. a nossa dignidade. mas simplesmente quem a preserva e administra. Esta verdade que o homem é o guarda e o administrador da vida constitui um . E ele responde: não. E sob a primazia de Deus nasce automaticamente esta prioridade de administrar. do reconhecimento da centralidade de Deus. Onde Deus não está. não só a economia foi destruída. Mas é verdade o contrário disse onde não há a palavra de Deus o desenvolvimento não funciona. e não dá resultados positivos. é que as coisas materiais podem correr bem. parece que consideram a pastoral inútil. Ele indica esta prioridade com grande clareza: não vim curar faço também isto. isto é. foi para isto que vim. para nos trazer o anúncio de Deus. É sobretudo a ele que nos devemos dirigir. o homem imagem de Deus é protegido por uma dignidade que depois ninguém pode violar. o homem deixa de ser respeitado.é. As destruições morais. Nestes dias um Bispo do Congo em visita ad Limina disse-me: os europeus dão-nos generosamente muitas coisas para o desenvolvimento. as forças do mal. Jesus veio está escrito no texto grego: "saí do Pai" não para trazer os confortos da vida. a primazia de Deus. que o respeito do mistério divino esteja vivo e anime toda a nossa vida. Só quando o esplendor de Deus resplandece no rosto do homem. a união do homem com Deus. como nos Estados onde Deus tinha sido abolido. só quando o homem está reconciliado com Deus. de preservar a vida do homem. criada por Deus. isto é. A primazia de Deus. onde se faz a vontade de Deus já existe o céu. mas sobretudo as almas. mas como sinal mas vim para vos reconciliar com Deus. o homem não é dono da vida. Gioele. É para este objectivo que Jesus nos quer guiar. E podemos ver na história do século passado. a presença de Deus e. A cultura moderna enfatizou legitimamente a autonomia do homem e das realidades terrenas. ocupando-se delas. Mas como afirmou claramente o Concílio Vaticano II. porque "a criatura sem o seu Criador perde o sentido" (Gaudium et spes. De resto. duas mentalidades opõem-se de maneira inconciliável. e a respeitá-las. Ele apresenta-se hoje como "sinal de contradição" em relação à mentalidade dominante. Angelo Comastri. se se considera dono ou preservador. Rizzato. verificamos que. saúdo D. os jovens e quantos habitualmente frequentam esta Igreja. Disto podemos concluir que o respeito pleno da vida está ligado ao sentido religioso. deriva do verbo latino respicereguardar. meu Esmoler. e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu no início. invoquemos juntos a intercessão de santa Ana para a vossa comunidade paroquial. vossa celeste Padroeira. Para nos expressarmos em termos simplificantes. e todos os presentes. apesar de haver em sentido geral uma ampla convergência sobre o valor da vida. plenamente iluminado pela revelação bíblica. Queridos irmãos e irmãs. fazendo delas um uso desatinado. a não se apropriar delas. como fundamento transcendente. que saúdo com afecto. meu Vigário-Geral para a Cidade do Vaticano. D. elas correm o risco de estar à mercê do livre arbítrio do homem que pode dispor delas como vemos. Saúdo em particular o Pároco. Em última análise. Gioele. desenvolvendo assim uma perspectiva querida ao Cristianismo. saúdo depois os Padres Agostinianos com o seu Prior-Geral. seja qual for a religião a que pertencem. 36). HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A SANTA MISSA COM O RITO DA IMPOSIÇÃO DAS CINZAS Basílica de Santa Sabina. De facto.ponto qualificante da lei natural. se esta autonomia leva a pensar que "as coisas criadas não dependem de Deus. à atitude interior com a qual o homem se coloca em relação à realidade. contudo quando se chega a este ponto. Sobre todos vigie santa Ana. poderíamos dizer: uma das duas mentalidades considera que a vida humana esteja nas mãos do homem. É significativo que o documento conciliar. 1º de Março de 2006 . Pe. a palavra "respeito". e obtenha para cada um o dom de ser testemunha do Deus da vida e do amor. no trecho citado. de modo especial as crianças. e indica o modo de ver as coisas e as pessoas que conduz a reconhecer nelas a consistência. e que o homem as pode usar sem as relacionar com o Criador". se as criaturas forem privadas da sua referência a Deus. a da Encarnação de Deus. a outra reconhece que ela está nas mãos de Deus. afirme que esta capacidade de reconhecer a voz e a manifestação de Deus na beleza da criação seja característica de todos os crentes. então dá-se origem a um desequilíbrio profundo. Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado Amados irmãos e irmãs! A procissão penitencial, com a qual iniciámos a celebração de hoje, ajudou-nos a entrar no clima típico da Quaresma, que é uma peregrinação pessoal e comunitária de conversão e de renovação espiritual. Segundo a antiquíssima tradição romana das stationes quaresmais, durante este tempo os fiéis, juntamente com os peregrinos, todos os dias se reúnem e páram statio diante de uma das numerosas "memórias" dos Mártires, que constituem os fundamentos da Igreja de Roma. Nas Basílicas, onde estão expostas as suas relíquias, é celebrada a Santa Missa precedida de uma procissão, durante a qual se cantam as ladainhas dos Santos. Faz-se assim memória de quantos, com o seu sangue, deram testemunho de Cristo, e a sua evocação torna-se estímulo para cada cristão a renovar a própria adesão ao Evangelho. Não obstante o passar dos séculos, estes ritos conservam o seu valor, porque recordam como é importante, mesmo no nosso tempo, acolher sem compromissos as palavras de Jesus: "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, cada dia, e siga-Me" (Lc 9, 23). Outro rito simbólico, gesto próprio e exclusivo do primeiro dia da Quaresma, é a imposição das Cinzas. Qual é o seu significado mais profundo? Certamente não se trata de mero ritualismo, mas de algo bastante profundo, que toca o nosso coração. Ele faznos compreender a actualidade da admoestação do profeta Joel, que ressoou na primeira Leitura, advertência que conserva também para nós a sua validez saudável: aos gestos exteriores deve corresponder sempre a sinceridade da alma e a coerência das obras. De facto, para que serve pergunta o autor inspirado rasgar as vestes, se o coração permanece distante do Senhor, isto é, do bem e da justiça? Eis aquilo que conta deveras: voltar para Deus, com o coração sinceramente arrependido, para obter a sua misericórdia (cf. Jl 2, 12-18). Um coração renovado e um espírito novo: é isto que pedimos com o Salmo penitencial por excelência, o Miserere, que hoje cantamos com o refrão "Perdoai-nos, Senhor, porque pecámos". O verdadeiro crente, consciente de ser pecador, aspira inteiramente espírito, alma e corpo pelo perdão divino, como por uma nova criação, capaz de lhe restituir alegria e esperança (cf. Sl 50, 3.5.12.14). Outro aspecto da espiritualidade quaresmal é aquilo que poderíamos definir "agonístico", e sobressai na hodierna celebração "colecta", quando se fala de "armas" da penitência e do "combate" contra o espírito do mal. Todos os dias, mas sobretudo na Quaresma, o cristão deve enfrentar uma luta, como a que Cristo empreendeu no deserto da Judeia, onde durante quarenta dias foi tentado pelo diabo, e depois no Getsémani, quando rejeitou a extrema tentação aceitando totalmente a vontade do Pai. Trata-se de uma batalha espiritual, que se destina contra o pecado e, por fim, contra satanás. É uma luta que envolve totalmente a pessoa e exige uma vigilância atenta e constante. Santo Agostinho observa que quem deseja caminhar no amor de Deus e na sua misericórdia não pode contentar-se com a libertação dos pecados graves e mortais, mas "pratica a verdade reconhecendo também os pecados que se consideram menos graves... e vem à luz cumprindo obras dignas. Também os pecados menos graves, se forem descuidados, proliferam e causam a morte" (In Io. evang. 12, 13, 35). Por conseguinte, a Quaresma recorda-nos que a existência cristã é um combate incessante, no qual devem ser utilizadas as "armas" da oração, do jejum e da penitência. Lutar contra o mal, contra qualquer forma de egoísmo e de ódio, e morrer para si mesmos para viver em Deus é o itinerário ascético que cada discípulo de Jesus está chamado a percorrer com humildade e paciência, com generosidade e perseverância. O dócil seguimento do Mestre divino torna os cristãos testemunhas e apóstolos de paz. Poderíamos dizer que esta atitude interior nos ajuda a ressaltar melhor também qual deva ser a resposta cristã à violência que ameaça a paz no mundo. Certamente não é a vingança, nem o ódio, nem sequer a fuga num espiritualismo falso. A resposta de quem segue Cristo é ao contrário a de percorrer o caminho escolhido por Aquele que, face aos males do seu tempo e de todos os tempos, abraçou decididamente a Cruz, seguindo o caminho mais longo mas mais eficaz do amor. Nas suas pegadas e unidos a Ele, todos nós devemos comprometer-nos na oposição ao mal com o bem, à mentira com a verdade, ao ódio com o amor. Na Encíclica Deus caritas est quis apresentar este amor como o segredo da nossa conversão pessoal e eclesial. Reevocando as palavras de Paulo aos Coríntios: "O amor de Cristo nos constrange" (2 Cor 5, 14), realcei como "a consciência de que, n'Ele, o próprio Deus Se entregou por nós até à morte, deve induzirnos a viver, não mais para nós mesmos, mas para Ele, para os outros" (n. 33). O amor, como recorda Jesus hoje no Evangelho, deve transformar-se em gestos concretos para o próximo, especialmente para os pobres e os necessitados, subordinando sempre o valor das "boas obras" à sinceridade da relação com o "Pai que está nos céus", que "vê o oculto" e que "recompensará" todos os que fazem o bem de maneira humilde e abnegada (cf. Mt 6, 1.4.6.18). A concretização do amor constitui um dos elementos fundamentais da vida dos cristãos, que são encorajados por Jesus a serem luz do mundo, para que os homens, vendo as suas "boas obras", glorifiquem a Deus (cf. Mt 5, 16). Esta recomendação chega até nós oportuna como nunca no início da Quaresma, porque compreendemos cada vez mais que "para a Igreja, a caridade não é uma espécie de actividade de assistência social... mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência" (Deus caritas est, 25, a). O amor verdadeiro manifesta-se em gestos que não excluem ninguém, a exemplo do bom Samaritano que, com grande abertura de alma, ajudou um desconhecido em dificuldade, encontrado "por acaso" na beira da estrada (cf. Lc 10, 31). Senhores Cardeais, venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, queridos religiosos, religiosas e fiéis leigos, a quem saúdo com profunda cordialidade, entramos no clima típico deste período litúrgico com estes sentimentos, deixando que a palavra de Deus nos ilumine e nos guie. Na Quaresma sentiremos ressoar com frequência o convite a converter-nos a a crer no Evangelho, e seremos constantemente estimulados a abrir o espírito ao poder da graça divina. Façamos tesouro dos ensinamentos que a Igreja nos oferecerá abundantemente nestas semanas. Animados por um forte compromisso de oração, decididos a um esforço maior de penitência, de jejum e de atenção carinhosa para com os irmãos, caminhemos rumo à Páscoa, acompanhados pela Virgem Maria, Mãe da Igreja e modelo de cada autêntico discípulo de Cristo. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A SANTA MISSA COM O RITO DA IMPOSIÇÃO DAS CINZAS Basílica de Santa Sabina, 1º de Março de 2006 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado Amados irmãos e irmãs! A procissão penitencial, com a qual iniciámos a celebração de hoje, ajudou-nos a entrar no clima típico da Quaresma, que é uma peregrinação pessoal e comunitária de conversão e de renovação espiritual. Segundo a antiquíssima tradição romana das stationes quaresmais, durante este tempo os fiéis, juntamente com os peregrinos, todos os dias se reúnem e páram statio diante de uma das numerosas "memórias" dos Mártires, que constituem os fundamentos da Igreja de Roma. Nas Basílicas, onde estão expostas as suas relíquias, é celebrada a Santa Missa precedida de uma procissão, durante a qual se cantam as ladainhas dos Santos. Faz-se assim memória de quantos, com o seu sangue, deram testemunho de Cristo, e a sua evocação torna-se estímulo para cada cristão a renovar a própria adesão ao Evangelho. Não obstante o passar dos séculos, estes ritos conservam o seu valor, porque recordam como é importante, mesmo no nosso tempo, acolher sem compromissos as palavras de Jesus: "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, cada dia, e siga-Me" (Lc 9, 23). Outro rito simbólico, gesto próprio e exclusivo do primeiro dia da Quaresma, é a imposição das Cinzas. Qual é o seu significado mais profundo? Certamente não se trata de mero ritualismo, mas de algo bastante profundo, que toca o nosso coração. Ele faznos compreender a actualidade da admoestação do profeta Joel, que ressoou na primeira Leitura, advertência que conserva também para nós a sua validez saudável: aos gestos exteriores deve corresponder sempre a sinceridade da alma e a coerência das obras. De facto, para que serve pergunta o autor inspirado rasgar as vestes, se o coração permanece distante do Senhor, isto é, do bem e da justiça? Eis aquilo que conta deveras: voltar para Deus, com o coração sinceramente arrependido, para obter a sua misericórdia (cf. Jl 2, 12-18). Um coração renovado e um espírito novo: é isto que pedimos com o Salmo penitencial por excelência, o Miserere, que hoje cantamos com o refrão "Perdoai-nos, Senhor, porque pecámos". O verdadeiro crente, consciente de ser pecador, aspira inteiramente espírito, alma e corpo pelo perdão divino, como por uma nova criação, capaz de lhe restituir alegria e esperança (cf. Sl 50, 3.5.12.14). Outro aspecto da espiritualidade quaresmal é aquilo que poderíamos definir "agonístico", e sobressai na hodierna celebração "colecta", quando se fala de "armas" da penitência e do "combate" contra o espírito do mal. Todos os dias, mas sobretudo na Quaresma, o cristão deve enfrentar uma luta, como a que Cristo empreendeu no deserto da Judeia, onde durante quarenta dias foi tentado pelo diabo, e depois no Getsémani, quando rejeitou a extrema tentação aceitando totalmente a vontade do Pai. Trata-se de uma batalha espiritual, que se destina contra o pecado e, por fim, contra satanás. É uma luta que envolve totalmente a pessoa e exige uma vigilância atenta e constante. Santo Agostinho observa que quem deseja caminhar no amor de Deus e na sua misericórdia não pode contentar-se com a libertação dos pecados graves e mortais, mas "pratica a verdade reconhecendo também os pecados que se consideram menos graves... e vem à luz cumprindo obras dignas. Também os pecados menos graves, se forem descuidados, proliferam e causam a morte" (In Io. evang. 12, 13, 35). Por conseguinte, a Quaresma recorda-nos que a existência cristã é um combate incessante, no qual devem ser utilizadas as "armas" da oração, do jejum e da penitência. Lutar contra o mal, contra qualquer forma de egoísmo e de ódio, e morrer para si mesmos para viver em Deus é o itinerário ascético que cada discípulo de Jesus está chamado a percorrer com humildade e paciência, com generosidade e perseverância. O dócil seguimento do Mestre divino torna os cristãos testemunhas e apóstolos de paz. Poderíamos dizer que esta atitude interior nos ajuda a ressaltar melhor também qual deva ser a resposta cristã à violência que ameaça a paz no mundo. Certamente não é a vingança, nem o ódio, nem sequer a fuga num espiritualismo falso. A resposta de quem segue Cristo é ao contrário a de percorrer o caminho escolhido por Aquele que, face aos males do seu tempo e de todos os tempos, abraçou decididamente a Cruz, seguindo o caminho mais longo mas mais eficaz do amor. Nas suas pegadas e unidos a Ele, todos nós devemos comprometer-nos na oposição ao mal com o bem, à mentira com a verdade, ao ódio com o amor. Na Encíclica Deus caritas est quis apresentar este amor como o segredo da nossa conversão pessoal e eclesial. Reevocando as palavras de Paulo aos Coríntios: "O amor de Cristo nos constrange" (2 Cor 5, 14), realcei como "a consciência de que, n'Ele, o próprio Deus Se entregou por nós até à morte, deve induzirnos a viver, não mais para nós mesmos, mas para Ele, para os outros" (n. 33). O amor, como recorda Jesus hoje no Evangelho, deve transformar-se em gestos concretos para o próximo, especialmente para os pobres e os necessitados, subordinando sempre o valor das "boas obras" à sinceridade da relação com o "Pai que está nos céus", que "vê o oculto" e que "recompensará" todos os que fazem o bem de maneira humilde e abnegada (cf. Mt 6, 1.4.6.18). A concretização do amor constitui um dos elementos fundamentais da vida dos cristãos, que são encorajados por Jesus a serem luz do mundo, para que os homens, vendo as suas "boas obras", glorifiquem a Deus (cf. Mt 5, 16). Esta recomendação chega até nós oportuna como nunca no início da Quaresma, porque compreendemos cada vez mais que "para a Igreja, a caridade não é uma espécie de actividade de assistência social... mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência" (Deus caritas est, 25, a). O amor verdadeiro manifesta-se em gestos que não excluem ninguém, a exemplo do bom Samaritano que, com grande abertura de alma, ajudou um desconhecido em dificuldade, encontrado "por acaso" na beira da estrada (cf. Lc 10, 31). Senhores Cardeais, venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, queridos religiosos, religiosas e fiéis leigos, a quem saúdo com profunda cordialidade, entramos no clima típico deste período litúrgico com estes sentimentos, deixando que a palavra de Deus nos ilumine e nos guie. Na Quaresma sentiremos ressoar com frequência o convite a converter-nos a a crer no Evangelho, e seremos constantemente estimulados a abrir o espírito ao poder da graça divina. Façamos tesouro dos ensinamentos que a Igreja nos oferecerá abundantemente nestas semanas. Animados por um forte compromisso de oração, decididos a um esforço maior de penitência, de jejum e de atenção carinhosa para com os irmãos, caminhemos rumo à Páscoa, acompanhados pela Virgem Maria, Mãe da Igreja e modelo de cada autêntico discípulo de Cristo. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA OS TRABALHADORES Domingo, 19 de Março de 2006 Amados irmãos e irmãs Juntos ouvimos uma famosa e bonita página do Livro do Êxodo, em que o autor sagrado narra a entrega a Israel do Decálogo por parte de Deus. Um pormenor chama imediatamente a nossa atenção: a enunciação dos dez mandamentos é introduzida por uma significativa referência à libertação do povo de Israel. O texto diz: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão" (Êx 20, 2). Por conseguinte, o Decálogo deseja ser uma confirmação da liberdade conquistada. Com efeito, se considerarmos profundamente, os mandamentos são o instrumento que o Senhor nos concede para defender a nossa liberdade, tanto dos interiores condicionamentos das paixões, como dos abusos exteriores dos mal-intencionados. Os "não" dos mandamentos são outros tantos "sim" ao crescimento de uma liberdade autêntica. Há uma segunda dimensão do Decálogo, que deve ser também ressaltada: mediante a Lei dada através de Moisés, o Senhor revela que deseja estabelecer um pacto de aliança com Israel. Portanto, mais do que uma imposição, a Lei é uma dádiva. Mais do que determinar o que o homem deve fazer, ela quer manifestar a todos a opção de Deus: Ele está da parte do povo eleito; libertou-o da escravidão e circunda-o com a sua bondade misericordiosa. O Decálogo é testemunho de um amor de predilecção. A Liturgia de hoje oferece-nos uma segunda mensagem: a Lei mosaica encontrou o seu pleno cumprimento em Jesus, que revelou a sabedoria e o amor de Deus mediante o mistério da Cruz, "escândalo para os judeus e loucura para os gentios como nos disse São Paulo na segunda leitura mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos... é poder e sabedoria de Deus" (1 Cor 1, 23-24). É precisamente a este mistério que faz referência a página evangélica que acaba de ser proclamada: Jesus expulsa do templo os vendilhões e os cambistas. O Evangelista oferece a chave de leitura deste episódio significativo, através do versículo de um Salmo: "O zelo da tua casa me consome" (Sl 69 [68], 10). E Jesus é "consumido" por este "zelo" pela "casa de Deus", utilizada para finalidades diferentes daquelas para as quais seria destinada. Diante do pedido dos responsáveis religiosos, que pretendem um sinal da sua autoridade, no meio da admiração dos presentes, Ele afirma: "Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!" (Jo 2, 19). Palavras misteriosas, incompreensíveis naquele momento, mas que João volta a formular para os seus leitores cristãos, observando: "Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo" (Jo 2, 21). Os seus adversários teriam destruído aquele "templo", mas depois de três dias Ele tê-lo-ia reconstruído mediante a ressurreição. A dolorosa e "escandalosa" morte de Cristo seria coroada pelo triunfo da sua gloriosa ressurreição. Enquanto neste período quaresmal nos preparamos para reviver no Tríduo pascal este acontecimento central da nossa salvação, já fixamos o nosso olhar no Crucificado, vislumbrando nele o esplendor do Ressuscitado. Dilectos irmãos e irmãs, a hodierna Celebração eucarística, que une a recordação de São José à meditação dos textos litúrgicos do terceiro domingo de Quaresma, oferece-nos a oportunidade de considerar, à luz do mistério pascal, outro aspecto importante da existência humana. Refiro-me à realidade do trabalho, hoje inserida no cerne de mudanças rápidas e complexas. Em diversas páginas, a Bíblia demonstra que o trabalho pertence à condição originária do homem. Quando o Criador plasmou o homem à sua imagem e semelhança, convidou-o a cultivar a terra (cf. Gn 2, 5-6). Foi por causa do pecado dos seus antepassados que o trabalho se tornou um cansaço e um sofrimento (cf. Gn 3, 6-8), mas no projecto divino ele mantém inalterado o seu valor. Tornando-se em tudo semelhante a nós, o próprio Filho de Deus dedicou-se durante muitos anos as actividades manuais, a ponto de ser conhecido como o "filho do carpinteiro" (cf. Mt 13, 55). A Igreja manifestou sempre, especialmente ao longo do século passado, a sua atenção e solicitude por este âmbito da sociedade, como testemunham as numerosas intervenções sociais do Magistério e a acção de múltiplas associações de inspiração cristã, algumas das quais hoje estão aqui reunidas para representar todo o mundo dos trabalhadores. É com prazer que vos recebo, queridos amigos, e transmito a cada um de vós a minha cordial saudação. Dirijo um pensamento especial a D. Arrigo Miglio, Bispo de Ivrea e Presidente da Comissão Episcopal Italiana para os Problemas Sociais e o Trabalho, para a Justiça e a Paz, que se fez intérprete dos sentimentos de todos e me transmitiu as amáveis expressões de bons votos por ocasião da minha festa onomástica. Estou-lhe profundamente agradecido por isto. O trabalho reveste uma importância primária para a realização do homem e para o desenvolvimento da sociedade, e por este motivo é necessário que ele seja sempre organizado e levado a cabo no pleno respeito da dignidade humana e ao serviço do bem comum. Ao mesmo tempo, é indispensável que o homem não se deixe escravizar pelo trabalho, que não o idolatre, com a pretensão de encontrar nele o sentido último e definitivo da vida. A este propósito, é oportuno o convite contido na primeira leitura: "Recorda-te do dia de sábado, para o santificares. Trabalharás durante seis dias e farás todo o teu trabalho. Mas o sétimo dia é o sábado, consagrado ao Senhor, teu Deus" (Êx 20, 8-9). O sábado é um dia santificado, ou seja, consagrado a Deus, em que o homem compreende melhor o sentido da sua existência e também da actividade de trabalho. Por conseguinte, é possível afirmar que o ensinamento bíblico sobre o trabalho encontra a sua coroação no mandamento do descanso. Oportunamente, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja faz a seguinte observação a este propósito: "Ao homem, vinculado à necessidade do trabalho, o descanso abre a perspectiva de uma liberdade mais completa, a do sábado eterno (cf. Hb 4, 9-10). O descanso permite que os homens se recordem das obras de Deus, desde a Criação até à Redenção, revivendo-as e reconhecendo-se eles mesmos como sua obra (cf. Ef 2, 10), e dando-lhe graças pela sua própria vida e subsistência, a Ele que é o seu Autor" (n. 258). A actividade de trabalho deve ser útil para o verdadeiro bem da humanidade, permitindo "ao homem, individualmente considerado ou em sociedade, cultivar e realizar a sua vocação integral" (Gaudium et spes, 35). Para que isto se verifique, não basta a qualificação técnica e profissional, contudo necessária; não é suficiente sequer a criação de uma ordem social justa e atenta ao bem de todos. É preciso viver uma espiritualidade que ajude os fiéis a santificar-se através do seu próprio trabalho, imitando São José, que tinha de prover todos os dias às necessidades da Sagrada Família com as suas mãos e, por isso, a Igreja indica-o como Padroeiro dos trabalhadores. O seu testemunho demonstra que o homem é sujeito e protagonista do trabalho. Gostaria de confiar-lhe os jovens que têm dificuldade de se inserir no mundo do trabalho, os desempregados e aqueles que sofrem em virtude das necessidades devidas à crise difundida no mundo do trabalho. Juntamente com Maria, sua Esposa, São José vele sobre todos os trabalhadores e obtenha a serenidade e a paz para as famílias e para toda a humanidade. Fixando o seu olhar neste grande Santo, os cristãos aprendam a testemunhar, em todos os ambientes de trabalho, o amor de Cristo, fonte de solidariedade genuína e de paz estável. Amém! CONSISTÓRIO ORDINÁRIO PÚBLICO PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS CARDEAIS HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Sexta-feira, 24 de Março de 2006 Venerados Cardeais Patriarcas e Bispos Ilustres Senhores e Senhoras Amados irmãos e irmãs! Nesta vigília da solenidade da Anunciação do Senhor, o clima penitencial da Quaresma deixa espaço para a festa: de facto, hoje, o Colégio dos Cardeais enriquece-se com quinze novos cardeais. Antes de tudo, queridos Irmãos, a quem tive a alegria de criar Cardeais, é a vós que dirijo a minha saudação com profunda cordialidade, enquanto agradeço ao Cardeal William Joseph Levada pelos sentimentos e pensamentos que há pouco me expressou em nome de todos vós. Depois, alegro-me por saudar os outros Senhores Cardeais, os venerados Patriarcas, os Bispos, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas e os numerosos fiéis, de modo particular os familiares, aqui reunidos para estar próximos, na oração e na alegria cristã, dos novos Purpurados. Acolho com especial reconhecimento as distintas Autoridades governativas e civis, que representam diversas Nações e Instituições. O Consistório Ordinário Público é um acontecimento que manifesta com grande eloquência a natureza universal da Igreja, difundida em todas as partes do mundo para anunciar a todos a Boa Nova de Cristo Salvador. O amado João Paulo II celebrou nove, contribuindo assim de modo determinante para renovar o Colégio Cardinalício, segundo as orientações que o Concílio Vaticano II e o Servo de Deus Paulo VI tinham dado. Se é verdade que no decurso dos séculos muitas coisas mudaram no que se refere ao Colégio cardinalício, não mudaram contudo a substância e a natureza essencial deste importante organismo eclesial. As suas antigas raízes, o seu desenvolvimento histórico e a sua actual composição formam deveras uma espécie de "Senado", chamado a cooperar estreitamente com o Sucessor de Pedro no cumprimento das tarefas relacionadas com o seu ministério apostólico universal. A Palavra de Deus, que há pouco foi proclamada, dá-nos uma retrospectiva temporal. Com o evangelista Marcos remontamos à própria origem da Igreja e, em particular, à origem do ministério petrino. Revimos com o olhar do coração o Senhor Jesus, para louvor e glória do qual o acto que estamos a cumprir está totalmente orientado e é dedicado. Ele disse-nos palavras que nos trouxeram à mente a definição do Romano Pontífice querida a são Gregório Magno: "Servus servorum Dei". De facto, Jesus, explicando aos doze Apóstolos que a sua autoridade deveria ser exercida de um modo muito diferente da dos "chefes das nações", resume esta modalidade no estilo do serviço: "Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servidor (διάκονος); e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Aqui Jesus emprega a palavra mais forte (δουλος)" (Mc 10, 43-44). A disponibilidade total e generosa em servir os outros é o sinal distintivo daqueles aos quais, na Igreja, é conferida autoridade, porque assim foi para o Filho do homem, o qual "não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por todos" (Mc 10, 45). Mesmo sendo Deus, ou melhor, estimulado precisamente pela sua divindade, Ele assumiu a forma de servo "formam servi" como admiravelmente se exprime o hino a Cristo contido na Carta aos Filipenses (cf. 2, 6-7). O primeiro "Servo dos servos de Deus" é portanto Jesus. A seguir a Ele, e unidos a Ele, os Apóstolos; e entre eles, de modo especial, Pedro, ao qual o Senhor confiou a responsabilidade de guiar o seu rebanho. É tarefa do Papa ser o primeiro que se faz servo de todos. O testemunho desta atitude sobressai claramente na primeira Leitura desta Liturgia, que nos propõe uma exortação de Pedro aos "presbíteros" e aos idosos da comunidade (cf. 1 Pd 5, 1). É uma exortação feita com aquela autoridade que o Apóstolo tem pelo facto de ter sido testemunha dos sofrimentos de Cristo, Bom Pastor. Sente-se que as palavras de Pedro provêm da experiência pessoal do serviço ao rebanho de Deus, mas antes e ainda mais se fundam sobre a experiência directa do comportamento de Jesus: do seu modo de servir até ao sacrifício de si, do seu humilharse até à morte de cruz, confiando unicamente no Pai, que o exaltou no momento oportuno. Pedro, como Paulo, foi intimamente "conquistado" por Cristo "comprehensus sum a Christo Iesu" (cf. Fl 3, 12) e como Paulo pode exortar os idosos com total autoridade, porque já não é ele que vive, mas é Cristo que vive nele "vivo autem iam non ego, vivit vero in me Christus" (Gl 2, 20). Sim, venerados e queridos Irmãos, quanto o Príncipe dos Apóstolos afirma é adequado particularmente para quem está chamado a vestir a púrpura cardinalícia: "Aos presbíteros que há entre vós, eu presbítero como eles e que fui testemunha dos padecimentos de Cristo e também participante da glória que se há-de manifestar dirijovos esta exortação" (1 Pd 5, 1). São palavras que, também na sua estrutura essencial, recordam o ministério pascal, particularmente presente no nosso coração nestes dias de Quaresma. São Pedro relaciona-as consigo próprio sendo "idoso como eles" (συμπρεσβύτερος), dando a entender com isto que o idoso na Igreja, o presbítero, devido à experiência acumulada com os anos e às provações enfrentadas e superadas, deve estar particularmente "sintonizado" com o íntimo dinamismo do mistério pascal. Quantas vezes, queridos Irmãos que daqui a pouco recebereis a dignidade cardinalícia, encontrastes nestas palavras motivo de meditação e de estímulo espiritual para seguir as pegadas do Senhor crucificado e ressuscitado! Elas terão uma confirmação ulterior e comprometedora naquilo que a nova responsabilidade exigirá de vós. Mais estreitamente ligados ao Sucessor de Pedro, sereis chamados a colaborar com ele no cumprimento do seu peculiar serviço eclesial, e isto significará para vós ter uma participação mais intensa no ministério da Cruz na partilha dos sofrimentos de Cristo. E todos nós somos realmente testemunhas dos seus sofrimentos hoje, no mundo e também na Igreja, e precisamente assim também somos partícipes da sua glória. Isto permitir-vos-á haurir mais abundantemente da fonte da graça e difundir ao vosso redor de modo mais eficaz os seus frutos benéficos. Venerados e amados Irmãos, gostaria de resumir o sentido desta vossa chamada na palavra que coloquei no centro da minha primeira Encíclica: caritas. Ela associa-se bem também à cor da veste cardinalícia. A púrpura que vestis seja sempre expressão da caritas Christi, estimulando-vos a um amor apaixonado por Cristo, pela sua Igreja e pela humanidade. Agora tendes mais um motivo para procurar reviver os mesmos sentimentos que levaram o Filho de Deus feito homem a derramar o seu sangue em expiação pelos pecados da humanidade inteira. Conto convosco, venerados Irmãos, para anunciar ao mundo que "Deus caritas est". depois do Consistório de ontem. é-nos revelado que por obra do Espírito Santo o Verbo divino se fez carne e veio habitar no meio de nós. Conto convosco para que o esforço comum de fixar o olhar no Coração aberto de Cristo torne mais seguro e veloz o caminho rumo à plena unidade dos cristãos. 25 de Março de 2006 Senhores Cardeais e Patriarcas! Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos irmãos e irmãs! É grande motivo de alegria para mim presidir a esta Concelebração com os novos Cardeais. da qual o Filho de Deus tomou o sangue que depois derramou na Cruz como testemunho supremo da sua caridade. e para fazê-lo antes de mais mediante o testemunho de comunhão sincera entre os cristãos: "Por isso é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13. queridos Irmãos Cardeais.conto com todo o Colégio do qual começais a fazer parte. em todas as Comunidades e Institutos religiosos. Conto convosco para que. apostólica e de animação social. e considero providencial que ela se realize na . Confio estes votos nas mãos maternas da Virgem de Nazaré. Por intercessão de Maria. Que ela seja verdadeiramente símbolo do fervoroso amor cristão que transparece da vossa existência. CONSISTÓRIO ORDINÁRIO PÚBLICO PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS CARDEAIS HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA A ENTREGA DO ANEL CARDINALÍCIO AOS NOVOS PURPURADOS Sábado. graças à atenta valorização dos pequeninos e dos pobres. Apraz-me ver tudo isto simbolizado na púrpura com a qual sois distinguidos. para fazer com que o princípio da caridade se possa irradiar e consiga vivificar a Igreja em todos os graus da sua hierarquia. cada vez mais plenamente conformes com Cristo. possamos dedicar-nos incansavelmente à edificação da Igreja e à difusão do Evangelho no mundo. desça abundantemente sobre os novos Cardeais e sobre todos nós a efusão do Espírito de verdade e de caridade para que. que nos preparamos para celebrar. No ministério da Anunciação. Conto convosco. em qualquer iniciativa espiritual. a Igreja ofereça ao mundo de maneira incisiva o anúncio e o desafio da civilização do amor. 35). exige o seu livre consentimento.. Tudo provém dela. pelo meu amado Predecessor. É um título expresso de maneira passiva. por isso. para fazer. porque acolhe com disponibilidade pessoal a vaga de amor divino que recai sobre ela. A importância do princípio mariano na Igreja foi particularmente ressaltada. 7). de Cristo e da Virgem. 38). em relação a isto.P"D4JTµX<0. ó Anjo. poder realizar esta sugestiva celebração na solenidade da Anunciação do Senhor! Quanta luz podemos haurir deste mistério para a nossa vida de ministros da Igreja. cheios de reconhecimento. Devem referir-se a Cristo. E contudo (precisamente hoje contemplamos este aspecto do Mistério) a Fonte divina flui através de um canal privilegiado: a Virgem Maria.. Maria. Celebrando a Encarnação do Filho não podemos. faça-se em mim segundo a Tua palavra" (Lc 1. 7). 28). Na segunda Leitura ouvimos a maravilhosa página na qual o Autor da Carta aos Hebreus interpreta o Salmo 39 precisamente à luz da Encarnação de Cristo: "Eis que venho. não a chama com o nome terreno. Santo Agostinho. "amada" (cf. o Papa João Paulo II. queridos novos Cardeais. que ainda é mais originário e fundamental. É Ele que nós celebramos sempre: o Emanuel.V. de aquaeductus (cf. A resposta. 6). Que grande dom. Mariae: PL183. por meio do qual se cumpriu a vontade salvífica de Deus Pai. porque aconteceu isto em Maria?".solenidade litúrgica da Anunciação do Senhor. o Verbo eterno começou a existir como ser humano no tempo. e que ele não tem comparação em toda a Sagrada Escritura (cf. deixar de rezar à Mãe. a sua resposta pessoal e originária: no ser amada Maria é plenamente activa. ó cheia de graça" (cf. Irmãos.. que na obediência ao Pai realiza totalmente a própria liberdade. mas esta "passividade" de Maria. assim como Deus a vê desde sempre e a qualifica: "Cheia de graça grazia plena". a tua vontade" (Hb 10. "entrando nela". Em particular vós. o Cordeiro. quando do fundo do coração respondeu: "Eis. na Encarnação do Filho de Deus nós reconhecemos o início da Igreja. Verbo encarnado. que se reflectem um no outro e que formam um único Amen à vontade de amor de Deus. Qualquer realização da história da Igreja e também todas as suas instituições se devem referir àquela Fonte originária. Sermo in Nativitate B. ela acolheu-o e. Na sua orientação espiritual e no seu ministério incansável tornou-se evidente aos olhos de todos a presença de Maria . De facto. pergunta: "Diz-me. adoramos. Orígenes observa que nunca um semelhante título foi dirigido a um ser humano. o mariano. está contida nas próprias palavras da saudação: "Salve. em sintonia com o seu lema Totus tuus. Lc 1. Com uma imagem eloquente são Bernardo fala. ó Deus. Também nisto ela é discípula perfeita do seu Filho.. 437-448). Sermo 291. diz o Mensageiro. mas com o seu nome divino. nós permanecemos assombrados e. o Deus-connosco. que no original grego é 6. no qual sobressai de modo particular o princípio petrino da Igreja. que apoio podeis ter para a vossa missão de eminente "Senado" do Sucessor de Pedro! Esta providencial coincidência ajuda-nos a considerar o acontecimento de hoje. In Lucam 6. Face ao mistério destes dois "Eis". que desde sempre e para sempre é a "amada" do Senhor. à luz do outro princípio. imaginando que se dirigia ao Cordeiro da Anunciação. A ela foi dirigido o anúncio angélico. depois do Concílio. De facto. De geração em geração permanece viva a admiração por este mistério inefável. Irmãos. o "melhor caminho de todos". seja movido pela caridade e tenda para a caridade. àquele mistério de acolhimento do Verbo divino. Por isso. A iniciativa da Virgem foi um gesto de caridade autêntica. como escreve o apóstolo Paulo (cf. estão chamadas a acolher com plena disponibilidade o mistério de Deus . dirigido ao mesmo tempo ao Senhor Jesus. Por conseguinte. Entre Maria e a Igreja existe de facto uma conaturalidade que o Concílio Vaticano II realçou em grande medida com a feliz escolha de colocar o tema sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria na conclusão da Constituição sobre a Igreja. e à sua santa Igreja. a Lumen gentium. Trata-se de um vínculo que em todos nós tem naturalmente um forte eco afectivo. que vos recorda o vosso estar antes de tudo unidos a Cristo. O anel é sempre sinal nupcial. Também por isto nos ilumina o mistério que hoje celebramos. onde.como Mãe e Rainha da Igreja. Mais do que nunca esta presença materna foi por ele sentida no atentado de 13 de Maio de 1981 na Praça de São Pedro. por obra do Espírito Santo. As duas dimensões da Igreja. Como recordação daquele trágico acontecimento ele quis que um mosaico que representa a Virgem dominasse. a partir mais uma vez de uma doação nupcial. 13). que daqui a pouco vos entregarei. humilde e corajosa. Podemos encontrar o tema do relacionamento entre o princípio petrino e o mariano também no símbolo do anel. isto é. que vos escolheu e vos constituiu. o carisma "maior". antes de tudo. sobre a Praça de São Pedro. para realizar a missão de esposos da Igreja. qualquer instituição e ministério. Rito da Ordenação dos Bispos). que precisamente há um ano entrava na última fase. Quase todos vós já o recebestes no dia da vossa ordenação episcopal. Quem ama esquece-se a si mesmo e coloca-se ao serviço do próximo. Eis a imagem e o modelo da Igreja! Todas as Comunidades eclesiais. possui um valor objectivo. também o de Pedro e dos seus sucessores. a Aliança entre Deus e a humanidade foi selada de modo perfeito. deseja confirmar e fortalecer esse compromisso. 31. no espaço pleno da graça do seu "sim" à vontade de Deus. movida pela fé na Palavra de Deus e pelo estímulo interior do Espírito Santo. 39). Neste mundo tudo é passageiro. como a Mãe de Cristo. De facto. para acompanhar os momentos culminantes e o caminho quotidiano do seu longo pontificado. que estais chamados a servir com amor esponsal. melhor do que qualquer outro. está "incluído" sob o manto da Virgem. 13. Tudo na Igreja. dolorosa e ao mesmo tempo triunfal. mariana e petrina. foi a de ir "depressa" a casa da sua prima Isabel para lhe prestar o seu serviço (cf. O anel que hoje vos entrego. como expressão de fidelidade e de compromisso de guardar a santa Igreja. receber o anel seja para vós como renovar o vosso "sim". verdadeiramente pascal. O ícone da Anunciação. Lc 1. Na eternidade só o Amor permanece. comprometamo-nos a verificar que tudo. no valor supremo da caridade. assim como na actividade eclesial na qual estamos inseridos. encontramse portanto naquela que constitui a tarefa de ambas. 1 Cor 12. faz-nos compreender com clareza como tudo na Igreja remonte a isso. próprio da dignidade cardinalícia. do alto do Palácio Apostólico. ao vosso "eis-me". na vossa vida pessoal. esposa de Cristo (cf. mas. aproveitando o tempo propício da Quaresma. o primeiro acto que Maria realizou depois de ter acolhido a mensagem do Anjo. Mas depois vê que através dos castigos Deus persegue um desígnio de misericórdia. 2 Cor 36. religiosos e leigos. rei da Pérsia. 14-16. que experimenta a punição de Deus como consequência do seu comportamento rebelde: o templo é destruído e o povo exilado deixa de ter uma terra. para que o Colégio dos Cardeais seja sempre mais fervoroso de caridade pastoral. Ao perseguir esta finalidade. para louvor e glória da Santíssima Trindade. É espontâneo perguntar: mas qual é o motivo pelo qual nos devemos alegrar? Certamente um motivo é o aproximar-se da Páscoa.19-23): o autor sagrado propõe uma interpretação sintética e significativa da história do povo eleito. tirada do Livro das Crónicas do Antigo Testamento (cf. diáconos. a unir-vos na invocação do Espírito Santo. Deus caritas est. tradicionalmente designado como domingo "Laetare". E então o Senhor. demonstrando a primazia absoluta da sua iniciativa sobre qualquer esforço meramente humano. apesar da nossa indignidade. é para mim de grande apoio e conforto. com a primeira Encíclica. Este é o caminho sobre o qual quis iniciar o meu pontificado convidando todos. ó Senhor. No texto que ouvimos a ira e a misericórdia do Senhor confrontam-se numa sequência com aspectos dramáticos. como "comunidade de amor" (cf. está repleto de uma alegria que de certa forma atenua o clima penitencial deste tempo santo: "Alegra-te Jerusalém diz a Igreja no cântico de entrada Exultai e rejubilai.que vem habitar nelas e as estimula pelos caminhos do amor. Segunda parte). É quanto sobressai da primeira leitura. servir-se-á de um pagão. realmente parece ter sido esquecido por Deus. A este convite contido na antífona da entrada faz eco o refrão do Salmo responsorial: "A tua recordação. A razão mais profunda consiste contudo na mensagem oferecida pelas leituras bíblicas que a liturgia hoje propõe. e envolve-nos com a sua ternura inexaurível. Será a destruição da cidade santa e do templo como foi dito será o exílio que toca o coração do povo e o faz voltar para o seu Deus para o conhecer mais profundamente. Pensar em Deus dá alegria. nós somos os destinatários da misericórdia infinita de Deus. Elas recordam que. a edificar a Igreja na caridade. Deus ama-nos de um modo que poderíamos classificar "obstinado". sacerdotes. vós que vivíeis na tristeza". a vossa proximidade. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A MISSA NA PARÓQUIA ROMANA DE "DEUS PAI MISERICORDIOSO" Domingo. mas no final triunfa o amor. é a nossa alegria". venerados Irmãos Cardeais. Como não recolher da recordação daqueles acontecimentos distantes uma mensagem válida para . para ajudar toda a Igreja a irradiar no mundo o amor de Cristo. E por este motivo vos agradeço. porque Deus é amor. enquanto convido todos vós. cuja previsão nos faz pregustar a alegria do encontro com Cristo ressuscitado. 26 de Março de 2006 Amados irmãos e irmãs! Este quarto domingo de Quaresma. para libertar Israel. Ciro. espiritual e efectiva. como escrevi na Encíclica Deus caritas est. Sabemos que aquele "dar" da parte do Pai teve um desenvolvimento dramático: chegou até ao sacrifício do Filho na cruz. Por conseguinte. Desta experiência. membro do Sinédrio de Jerusalém. no centro da nossa meditação deve portanto estar a Cruz. rico em misericórdia. uma existência marcada pelo amor. Quantos. pelo amor imenso com que nos amou. na qual se expressou de modo total a ternura redentora de Deus. Para expressar esta realidade de salvação o Apóstolo. deu-nos a vida com Cristo" (Ef 2. eleos. precisamente a nós que estávamos mortos pelas nossas faltas. . mas de modo particular neste tempo quaresmal. É a glória do Crucificado que cada cristão está chamado a compreender. atraído pelas palavras e pelo exemplo do Senhor. a fé cristã não é ideologia. que é individual e comunitária. com o qual Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-lo o amor na sua forma mais radical" (n. Nele podemos compreender a verdade da vida e obter a salvação. incluindo o nosso? Pensando nos séculos passados podemos ver como Deus continue a amar-nos também através dos castigos. como testemunham os santos. 16). à procura de Jesus e da sua Igreja. Como responder a este amor radical do Senhor? O Evangelho apresenta-nos uma personagem de nome Nicodemos.todos os tempos. ao lado da palavra misericórdia. retomada e ulteriormente ampliada na bonita frase de abertura da página evangélica que ouvimos: "Deus amou de tal modo o mundo. definitivamente. Sempre. usa a do amor. que hesita a realizar o salto da fé. Pressente o fascínio deste Rabbi tão diferente dos outros. Foi quanto nos confirmou. Eis por que na Cruz. o "sinal" por excelência que nos foi dado para compreender a verdade do homem e a verdade de Deus: todos nós fomos criados e remidos por um Deus que por amor imolou o seu único Filho. agape. a sua morte é um sinal completamente singular. Se toda a missão histórica de Jesus é sinal eloquente do amor de Deus. o apóstolo Paulo recordando-nos que "Deus. que vai de noite procurar Jesus. Trata-se de um homem bondoso. nela contemplamos a glória do Senhor que resplandece no corpo martirizado de Jesus. Os desígnios de Deus. à procura da misericórdia divina. "cumpre-se aquele virar-se de Deus contra Si próprio. brota um novo modo de pensar e de agir: tem origem. na segunda leitura. Este é o anúncio central da Igreja. e aguardam um "sinal" que toque a sua mente e o seu coração! Hoje como naquela época o evangelista recorda-nos que o único "sinal" é Jesus elevado na Cruz: Jesus morto e ressuscitado é o sinal absolutamente suficiente. A Cruz a doação de si mesmo por parte do Filho de Deus é. também quando passam através das provações. para que todo o que n'Ele crê não pereça. andam à procura de Deus. têm sempre por finalidade um êxito de misericórdia e de perdão. sobressai o seu ser amor. 12). 4-5). que lhe deu o Seu Filho único. que permanece inalterável nos séculos. mas que tem medo perante o próximo. mas encontro pessoal com Cristo crucificado e ressuscitado. a viver e a testemunhar com a sua existência. Precisamente nesta doação total de si sobressai a grandeza de Deus. mas tenha a vida eterna" (Jo 3. mas não consegue subtrair-se aos condicionamentos do ambiente contrário a Jesus e permanece hesitante no limiar da fé. também no nosso tempo. 4 de Abril de 2005). este mistério é particularmente eloquente na vossa paróquia. Formulo de coração estes votos e saúdo-vos cordialmente. Gianfranco Corbino. para que reunisse de maneira eficaz o significado daquele acontecimento espiritual extraordinário. queridos irmãos e irmãs. renovados no espírito e com o coração rejubilante correspondamos ao amor de Deus eterno e desmedido. Nos desígnios divinos estava escrito que ele nos deixasse precisamente na vigília daquele dia. Queridos amigos. começando pelos sacerdotes que se ocupam da vossa comunidade sob a guia do pároco. titular da vossa igreja. Depois.Queridos amigos. Ela foi querida como sabemos bem pelo meu amado Predecessor João Paulo II em recordação do Grande Jubileu do Ano 2000. "Mãe da santa alegria". Depois. volta-me à mente o texto que João Paulo II tinha preparado para o encontro com os fiéis no dia 3 de Abril. que transcorreu os seus primeiros tempos em condições precárias. acrescentou: "Quanta necessidade tem o mundo de compreender e de acolher a Misericórdia Divina!" (Regina Coeli. da liturgia e da caridade. sábado. que por vezes parece estar perdida e dominada pelo poder do mal. ao Vice-Gerente e ao Bispo do sector Leste de Roma. O Papa neste último texto. 2 de Abril todos recordam bem e por isso não pôde pronunciar aquelas palavras. esforçando-vos por fazer da vossa paróquia uma verdadeira família na qual a fidelidade à Palavra de Deus e à Tradição da Igreja se torne dia após dia cada vez mais a regra de vida. com uma bonita apresentação deste edifício. Compreender e acolher o amor misericordioso de Deus: seja este o vosso compromisso antes de tudo no âmbito das famílias e depois em todos os sectores do bairro. aguardando o completamento das actuais estruturas. como nos exorta hoje a liturgia. dedicada a "Deus Pai misericordioso". Sei que a vossa comunidade é jovem. reconcilia e abre o coração à esperança. Camillo Ruini e ao Cardeal Crescenzio Sepe. Fazei-lhes apreciar não só a beleza do edifício sagrado. que se revelou de modo total e definitivo no mistério da Cruz. ao qual nos convida o domingo Laetare. Aquele amor que é o verdadeiro segredo da alegria cristã. O Papa tinha escrito assim: "À humanidade. mas sobretudo a riqueza de uma comunidade viva. e a quantos cooperam activamente nos vários serviços paroquiais. Meditando sobre a misericórdia do Senhor. sei que esta vossa igreja. domingo in Albis do ano passado. Pai misericordioso. Pe. Também sei que as dificuldades do início em vez de vos desencorajarem vos estimularam a um compromisso apostólico comum. prossegui o caminho empreendido. Amém! . tendo apenas dez anos de vida. o Senhor ressuscitado oferece em dom o seu amor que perdoa. ao qual dirijo a minha sincera gratidão por se ter feito intérprete dos vossos sentimentos. Dirigindo o olhar para Maria. que testemunha o amor de Deus. que agora me apraz repropor-vos. desta "barca" de Pedro e do Senhor. É um amor que converte os corações e dá a paz". com uma atenção particular ao campo da catequese. do egoísmo e do receio. para que. faço a minha saudação extensiva ao Cardeal Vigário. devido à sua estrutura arquitectónica original. que é como um testamento. é meta de muitos visitantes. pedimos-lhe que nos ajude a aprofundar as razões da nossa fé. que acabámos de ouvir. especialmente da Polónia. 3 de Abril de 2006 Queridos irmãos e irmãs Nestes dias está particularmente viva na Igreja e no mundo a memória do Servo de Deus João Paulo II. que ofereceu a sua existência a Deus e à Igreja. deixando-nos iluminar pela Palavra de Deus. tem piedade de nós". havia uma tirada da "Ladainha de Jesus Cristo Sacerdote e Vítima". Pontífice que te entregaste a ti mesmo a Deus como oferenda e vítima. fonte de incansável dedicação apostólica. Na segunda Leitura. Ele provou-os como ouro no crisol e aceitou-os como um holocausto" (3. na base desta oferta total de si estava a fé. para lhe manifestar o testemunho de estima. a sua pureza e a . e aplica-a à fé (cf. "Deus provou-os afirma o autor sagrado e achou-os dignos de si. de carinho e de profundo reconhecimento. também São Pedro recorre à imagem do ouro provado com o fogo. há um ano. Na primeira Leitura. que acabámos de ouvir. que ele desejou inserir no final do seu livro Dom e Mistério. 5-6). pp. enquanto hoje nos encontramos nesta mesma Praça de São Pedro para oferecer o Sacrifício eucarístico em sufrágio de sua alma eleita. dos sacerdotes e dos religiosos. era sinal de uma oferenda total a Deus. Quantas vezes ele repetiu esta invocação! Ela expressa bem o carácter intimamente sacerdotal de toda a sua vida. Com a vigília mariana de ontem à noite pudemos reviver o momento exacto em que. Pontifex qui tradidisti semetipsum Deo oblationem et hostiam Jesus. que compensa incomensuravelmente os sofrimentos e as provações enfrentadas ao longo da vida. O termo "holocausto" faz referência ao sacrifício em que a vítima era inteiramente queimada. 7). 1 Pd 1. Naturalmente. dos Bispos. 113-116): "Jesu. além dos Cardeais. Entre as invocações que lhe eram queridas.HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CAPELA PAPAL EM SUFRÁGIO DE JOÃO PAULO II Segunda-feira. tirada do Livro da Sabedoria. Queremos rezar por este amado Pontífice. consumada pelo fogo. Esta expressão bíblica faz-nos pensar na missão de João Paulo II. Ele nunca ocultou o seu desejo de se tornar cada vez mais um só em Cristo Sacerdote. publicado por ocasião do 50º aniversário do seu Sacerdócio (cf. Saúdo com afecto. Com efeito. mediante o Sacrifício eucarístico. no primeiro aniversário da sua morte. teve lugar o seu piedoso trânsito. nas dificuldades da vida é sobretudo a qualidade da fé de cada um que é provada e verificada: a sua solidez. os numerosos peregrinos vindos de muitas regiões. vivendo a dimensão sacrifical do seu sacerdócio especialmente na celebração da Eucaristia. foi-nos recordado qual é o destino final dos justos: um destino de imensa felicidade. 8). que Deus tinha dotado de múltiplos dons humanos e espirituais. também o Evangelista desejou receber Maria na sua casa: "Et ex illa hora accepit eam discipulus in sua" (Jo 19. que orienta solidamente a sua Igreja. Quem teve a oportunidade de o conhecer de perto. 27). apóstolos incansáveis do seu Filho . manifestou-se cada vez mais como uma "rocha" na fé. no meio dos Apóstolos. imitou de modo singular. que foi a sua agonia e a sua morte. Estas palavras do Senhor moribundo eram particularmente queridas a João Paulo II. "o mesmo ontem. o "discípulo amado" que permaneceu aos pés da Cruz ao lado de Maria na hora do abandono e da morte do Redentor. não deixou de difundir durante o seu longo Pontificado a sua influência benéfica em toda a Igreja. Sentimos ressoar na nossa alma os seus reiterados convites a progredir sem medo pelo caminho da fidelidade ao Evangelho. esta tarde o nosso pensamento volta com emoção ao momento da morte do amado Pontífice. quem abre o próprio coração a Maria. Estimados irmãos e irmãs. Sucessor de Pedro. um manancial de paz e de alegria. 26-27). Poderíamos dizer que ele. Uma fé convicta. a força do Espírito de Jesus seja para todos. nos ajude a ser em todas as circunstâncias. resume bem esta experiência espiritual e mística. livre de temores e compromissos. Como o Apóstolo. Mãe da Igreja. desta forma. mas ao mesmo tempo o coração é como que impelido a olhar para a frente. Voltam à nossa mente as suas incessantes exortações a cooperarmos com generosidade para a realização de uma humanidade mais justa e solidária. João. hoje e pelos séculos" (Hb 13. O lema presente no brasão do Pontificado do Papa João Paulo II. de tornar Maria partícipe da própria vida. A página do Evangelho que foi proclamada ajuda-nos a compreender mais um aspecto da sua personalidade humana e religiosa. de maneira a experimentar que. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo em Cristo. o rumo decisivo" (Deus caritas est. para sermos anunciadores e testemunhas de Cristo no terceiro milénio. Totus tuus. como ele. forte e autêntica. pôde como que tocar com a mão aquela sua fé genuína e sólida que. numa vida orientada completamente para Cristo. e especialmente graças a esta última "viagem".sua coerência com a vida. o saudoso Pontífice. por meio de Maria: "Ad Iesum per Mariam".. E a Virgem Maria. 1). como foi para o Papa João Paulo II. na realidade é por Ela acolhido e se torna seu. Vendo-os ali perto narra o Evangelista Jesus confiou-os um ao outro: "Mulher. num crescendo que alcançou o próprio ápice nos últimos meses e dias da sua vida. e é o encontro com Ele "que dá à vida um novo horizonte e. também graças às numerosas peregrinações apostólicas a todas as regiões do mundo. a sermos promotores de paz e construtores de esperança. se impressionou o círculo dos seus colaboradores.) Eis a tua mãe!" (Jo 19. passando através da purificação das fadigas apostólicas e da enfermidade. A expressão "accepit eam in sua" é particularmente densa: indica a decisão de João. Nós acreditámos no seu amor. Pois bem. eis o teu filho! (. que contagiou o coração de muitas pessoas. Queridos irmãos e irmãs.. divino Amém! e profetas do seu amor misericordioso. SANTA MISSA DO DOMINGO DE RAMOS XXI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo, 9 de Abril de 2006 Amados irmãos e irmãs Há vinte anos, graças ao Papa João Paulo II, o Domingo de Ramos tornou-se de modo particular o dia da juventude o dia em que os jovens do mundo inteiro vão ao encontro de Cristo, desejando acompanhá-lo pelas suas cidades e pelos seus países, a fim de que Ele permaneça no meio de nós e possa estabelecer a sua paz no mundo. Se quisermos ir ao encontro de Jesus e assim caminhar juntamente com Ele ao longo do seu caminho, deveremos contudo perguntar: qual é o caminho pelo qual Ele tenciona orientar-nos? O que nós esperamos dele? O que Ele espera de nós? Para compreender aquilo que aconteceu no Domingo de Ramos e descobrir o que isto significou não só naquela época, mas também o que significa para todos os tempos, revela-se importante um pormenor, que se tornou inclusive para os seus discípulos a chave para a compreensão deste acontecimento quando, após a Páscoa, eles voltaram a percorrer com um novo olhar aqueles dias tumultuosos. Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento. Recordaram, diz João, que no profeta Zacarias se lê: "Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei che chega sentado na cria de uma jumenta" (Jo 12, 15; cf. Zc 9, 9). Para compreender o significado da profecia e, deste modo, do próprio agir de Jesus, devemos ouvir todo o texto de Zacarias, que continua assim: "Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro, e do rio às extremidades da terra" (9, 10). Com isto, o profeta afirma três coisas sobre o rei que háde vir. Em primeiro lugar, diz que ele será um rei dos pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres. Neste caso, a pobreza é entendida no sentido dos anawim de Israel, daquelas almas crentes e humildes que encontramos em redor de Jesus na perspectiva da primeira Bem-Aventurança do Sermão da Montanha. Um indivíduo pode ser materialmente pobre, mas ter o coração cheio de desejo da riqueza material e do poder que deriva da riqueza. Precisamente o facto de viver na inveja e na avidez demonstra que, no seu coração, ele pertence aos ricos. Deseja alterar a repartição dos bens, mas para chegar a estar pessoalmente na situação dos ricos de antes. A pobreza, no sentido de Jesus no sentido dos profetas pressupõe sobretudo a liberdade interior do desejo da posse e da avidez do poder. Trata-se de uma realidade maior do que uma simples repartição diferente dos bens que, todavia, permaneceria no campo material, tornando aliás os corações ainda mais duros. Trata-se, em primeiro lugar, da purificação do coração, graças à qual se reconhece a posse como responsabilidade, como dever em relação aos outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se orientar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9). A liberdade interior é o pressuposto para a superação da corrupção e da avidez, que já devastam o mundo; esta liberdade só pode ser encontrada se Deus se tornar a nossa riqueza; só pode ser encontrada na paciência das renúncias quotidianas, nas quais ela se desenvolve como autêntica liberdade. É o rei, que nos indica o caminho rumo a esta meta Jesus é Ele que aclamamos no Domingo de Ramos; é a Ele que pedimos paraque nos acompanhe ao longo deste seu caminho. Em segundo lugar, o profeta mostra-nos que este rei será um rei de paz: Ele exterminará os carros de guerra da terra e os cavalos de batalha, quebrará os arcos de guerra e proclamará a paz. Na figura de Cristo isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Ela é o arco quebrado, de certa maneira o novo e autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança uma ponte sobre os abismos e entre os continentes. A nova arma, que Jesus coloca nas nossas mãos, é a Cruz sinal de reconciliação e de perdão, sinal do amor que é mais forte do que a morte. Cada vez que fazemos o sinal da Cruz devemos recordar que não podemos opor-nos a uma injustiça com outra injustiça, a uma violência com outra violência; devemos recordar que só podemos vencer o mal com o bem, jamais retribuindo o mal com o mal. A terceira afirmação do profeta é o prenúncio da universalidade. Zacarias diz que o reino do rei da paz se difunde "de um mar ao outro... até às extremidades da terra". Aqui, a antiga promessa da Terra, feita a Abraão e aos Padres, é substituída por uma nova visão: o espaço do rei messiânico já não é um determinado país que em seguida se separaria necessariamente dos outros e portanto, de modo inevitável, tomaria uma posição também contra os demais países. O seu país é a terra, o mundo inteiro. Ultrapassando toda a delimitação, na multiplicidade das culturas, Ele cria a unidade. Penetrando com o olhar as nuvens da história, que separavam o profeta de Jesus, vemos nesta profecia emergir de longe na profecia a rede das comunidades eucarísticas que abraça a terra, o mundo inteiro uma rede de comunidades que constituem o "Reino da paz" de Jesus, de um mar ao outro, até às extremidades da terra. Ele vem a todas as culturas e a todas as regiões do mundo, a toda a parte nas cabanas mais miseráveis e nos campos mais pobres, assim como no esplendor das catedrais. Em todos os lugares Ele é o mesmo, o Único, e assim todos os orantes congregados, na oração com Ele, encontram-se também unidos entre si num único corpo. Cristo domina, tornando-se Ele mesmo o nosso pão e entregando-se a nós. É desta maneira que Ele edifica o seu Reino. Esta união torna-se totalmente clara na outra palavra veterotestamentária, que caracteriza e explica a liturgia do Domingo de Ramos e o seu clima especial. A multidão aclama Jesus: "Hosana! Bendito seja o que vem em nome do Senhor" (Mc 11, 9; Sl 118 [117], 25 s.). Esta palavra faz parte do rito da festa dos tabernáculos, durante o qual os fiéis caminham em redor do altar, tendo nas mãos alguns ramos compostos de palmas, mirtos e salgueiros. Pois bem, com as palmas nas mãos, as pessoas elevam este clamor diante de Jesus, em Quem vislumbram Aquele que vem em nome do Senhor: com efeito, a expressão "Aquele que vem em nome do Senhor" tornou-se há muito tempo a designação do Messias. Em Jesus reconhecem Aquele que verdadeiramente vem em nome do Senhor e traz a presença de Deus ao meio de nós. Este brado de esperança de Israel, esta aclamação a Jesus durante o seu ingresso em Jerusalém, na Igreja tornou-se justamente a aclamação Àquele que, na Eucaristia, vem ao nosso encontro de um modo novo. Com o brado do "Hosana!" saudamos Aquele que, em carne e sangue, trouxe a glória de Deus à terra. Saudamos Aquele que veio e todavia permanece sempre Aquele que há-de vir. Saudamos Aquele que, na Eucaristia, vem sempre de novo a nós em nome do Senhor, unindo deste modo na paz as extremidades da terra. Esta experiência da universalidade constitui uma parte essencial da Eucaristia. Quando o Senhor vem, nós saímos dos nossos particularismos exclusivos e entramos na grande comunidade de todos aqueles que celebram este santo sacramento. Entramos no seu reino de paz e, de certo modo, saudamos nele também todos os nossos irmãos e irmãs, aos quais Ele vem, para se tornar um verdadeiro reino de paz no meio deste mundo dilacerado. As três características anunciadas pelo profeta pobreza, paz e universalidade são resumidas no sinal da Cruz. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, contudo, desejamos a vida inteira sem limites e sem renúncias. Queremos viver, somente viver. Não nos deixamos condicionar por preceitos nem por proibições; nós desejamos a riqueza e a plenitude assim se dizia e ainda se diz. Tudo isto parece convincente e cativante; é a linguagem da serpente que nos diz: "Não vos amedronteis! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!". Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz. Hoje a Cruz, que ultimamente esteve no centro da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, será entregue a uma especial delegação, para que comece o caminho rumo a Sidney onde, em 2008, os jovens do mundo inteiro tencionam reunir-se de novo à volta de Cristo para construir juntamente com Ele o reino da paz. De Colónia a Sidney um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho através de um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é o caminho indicado pelo profeta, o caminho que vai de um mar ao outro, e do rio até às extremidades da terra. Trata-se do caminho daquele que, no sinal da Cruz, nos comunica a paz e nos faz ser portadores da reconciliação e da sua paz. Estou grato aos jovens que agora levarão pelos caminhos do mundo esta Cruz, na qual podemos como que tocar o mistério de Jesus. Peçamos-lhe, contemporaneamente, que Ele nos toque também a nós e abra os nossos corações a fim de que, seguindo a sua Cruz, sejamos mensageiros do seu amor e da sua paz. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA MISSA CRISMAL DE QUINTA-FEIRA SANTA Basílica de São Pedro 13 de Abril de 2006 Queridos irmãos no episcopado e no sacerdócio Prezados irmãos e irmãs A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta. O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério. Por isso, voltemos a reflectir sobre os sinais em que o Sacramento nos foi concedido. No centro encontra-se o antiquíssimo gesto da imposição das mãos, com o qual Ele tomou posse de mim, dizendo-me: "Tu pertences-me". Mas com isto disse também: "Tu estás sob a protecção das minhas mãos. Tu encontras-te sob a protecção do meu coração. Tu estás conservado na palma da minha mão e é precisamente assim que te encontras na vastidão do meu amor. Permanece no espaço das minhas mãos e dá-me as tuas". Além disso, recordemos que as nossas mãos foram ungidas com o óleo, que é o sinal do Espírito Santo e da sua força. Por que precisamente as mãos? A mão do homem é o instrumento do seu agir, é o símbolo da sua capacidade de enfrentar o mundo, exactamente de "o tomar pela mão". O Senhor impôs as suas mãos sobre nós e agora quer as nossas mãos a fim de que, no mundo, se tornem suas. Deseja que elas não sejam mais instrumentos para tomar as coisas, os homens e o mundo para nós, para o reduzir à nossa posse mas, ao contrário, para que transmitam o seu toque divino, colocando-se ao serviço do seu amor. Quer que elas sejam instrumentos do serviço e, portanto, expressão da missão de toda a pessoa que se faz garante dele e que O transmite aos homens. Se as mãos do homem representam simbolicamente as suas faculdades e, em geral, a técnica como poder de dispor do mundo, então as mãos ungidas devem constituir um sinal da sua capacidade de doar, da criatividade no acto de plasmar o mundo com o amor e para isso, sem dúvida, temos necessidade do Espírito Santo. No Antigo Testamento, a unção é sinal da admissão para um serviço: o rei, o profeta, o sacerdote faz e dá mais do que aquilo que deriva da sua pessoa. De certo modo, é despojado de si próprio em função de um serviço, em que se põe à disposição de alguém que é maior do que ele. Se hoje Jesus se apresenta no Evangelho como o Ungido de Deus, como Cristo, então isto quer dizer precisamente que Ele age por missão do Pai e na unidade com o Espírito Santo e que, desta forma, entrega ao mundo uma nova realeza, um novo sacerdócio, um renovado modo de ser profeta que não busca a si mesmo, mas vive para Aquele em vista de quem o mundo foi criado. Hoje voltemos a colocar as nossas mãos à sua disposição e peçamos-lhe que nos tome novamente pelas mãos e que nos oriente. No gesto sacramental da imposição das mãos por parte do Bispo foi o próprio Senhor que impôs as suas mãos sobre mim. Este sinal sacramental resume todo um percurso existencial. Uma vez, como aconteceu com os primeiros discípulos, encontrámos o Senhor e ouvimos a sua palavra: "Segue-me!". Talvez, inicialmente, O tenhamos seguido de maneira um pouco instável, olhando para trás e perguntando-nos se tal caminho era realmente o nosso. E numa certa altura do caminho, talvez tenhamos vivido a experiência de Pedro depois da pesca milagrosa, ou seja, talvez nos tenhamos assustado pela sua grandeza, pela enormidade da tarefa e pela insuficiência da nossa pobre pessoa, a ponto de desejarmos recuar: "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador" (Lc 5, 8). Mas em seguida, com grande bondade, Ele, pegou-nos pela mão, atraiu-nos a Si e dissenos: "Não tenhas medo! Eu estou contigo. Não te deixo, mas também tu não me deixes!". E, certas vezes, com cada um de nós talvez tenha acontecido a mesma coisa que aconteceu com Pedro quando, caminhando sobre as águas ao encontro do Senhor, repentinamente sentiu que a água não o sustentava e que estava prestes a afundar. E como Pedro, também nós bradámos: "Salva-me, Senhor!" (Mt 14, 30). Vendo a violência da natureza, como podíamos passar pelas águas ruidosas e espumosas do século passado e do último milénio? Mas então olhámos para Ele... e Ele agarrou-nos pela mão e atribuiu-nos um novo "peso específico": a ligeireza, que deriva da fé e nos atrai rumo ao alto. E depois estende-nos a mão, que apoia e orienta. É Ele que nos sustenta. Fixemos sempre de novo o nosso olhar nele e estendamos-lhe as mãos. Deixemos que a sua mão nos arrebate e assim não afundaremos, mas serviremos a vida, que é mais forte do que a morte; e o amor, que é mais vigoroso do que o ódio. A fé em Jesus, Filho do Deus vivo, é o instrumento através do qual sempre de novo tomamos a mão de Jesus e mediante o qual Ele toma as nossas mãos e nos orienta. Uma das minhas orações preferidas é a súplica que a liturgia coloca nos nossos lábios, antes da Comunhão: "...nunca permitas que eu me separe de ti". Peçamos para jamais permanecermos fora da comunhão com o seu Corpo, com o próprio Cristo, para nunca ficarmos fora do mistério eucarístico. Peçamos que Ele jamais deixe a nossa mão... O Senhor impôs as suas mãos sobre nós. E expressou o significado deste gesto com as seguintes palavras: "Já não vos chamo servos, visto que o servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi do meu Pai" (Jo 15, 15). Já não vos chamo servos, mas amigos: nestas palavras poder-se-ia chegar a ver a instituição do sacerdócio. O Senhor faz-nos seus amigos; confia-nos tudo; e confia-nos a Si mesmo, de tal modo que possamos falar com o seu Eu in persona Christi capitis. Que confiança! Ele colocou-se realmente nas nossas mãos. Todos os sinais essenciais da Ordenação sacerdotal são, em última análise, manifestações desta palavra: a imposição das mãos; a entrega do livro da sua palavra, que Ele nos confia; a entrega do cálice, com o qual nos transmite o seu mistério mais profundo e pessoal. De tudo isto faz parte também o poder de absolver: Ele faz-nos participar inclusive na sua consciência, em relação à miséria do pecado e a toda a obscuridade do mundo, enquanto coloca nas nossas mãos a chave para reabrir a porta da casa do Pai. Já não vos chamo servos, mas amigos. Este é o profundo significado do ser sacerdote: tornar-se amigo de Jesus Cristo. Por esta amizade devemos renovar todos os dias o nosso compromisso. Amizade significa comunhão no pensamento e na vontade. Devemos exercitar-nos nesta comunhão de pensamento com Jesus, diz-nos São Paulo na Carta aos Filipenses (cf. 2, 2-5). E esta comunhão de pensamento não é algo unicamente intelectual, mas sim comunhão dos sentimentos e da vontade e, por conseguinte, também do agir. Isto significa que devemos conhecer Jesus de modo cada vez mais pessoal, ouvindo-O, vivendo juntamente com Ele, permanecendo ao seu lado. Ouvi-lo na lectio divina, ou seja, lendo a Sagrada Escritura de uma forma não académica, mas espiritual; assim aprendemos a encontrar Jesus presente que nos fala. Devemos raciocinar e reflectir sobre as suas palavras e o seu agir diante dele e com Ele. A leitura da Sagrada Escritura é oração, deve ser oração deve emergir da oração e conduzir à oração. Os Evangelistas dizem-nos que o Senhor durante noites inteiras se retirava reiteradamente "no monte" para rezar sozinho. Também nós temos necessidade deste "monte": trata-se da altura interior que devemos escalar, o monte da oração. É somente assim que a amizade se desenvolve. Só deste modo podemos realizar o nosso serviço presbiteral, somente assim podemos anunciar Cristo e o seu Evangelho aos homens. O simples activismo pode chegar a ser heróico. Mas se não nascer da profunda e íntima comunhão com Cristo, no final de contas o agir exterior permanecerá infecundo e perderá a sua eficácia. O tempo que dedicamos a isto é verdadeiramente um tempo de actividade pastoral, de um serviço autenticamente pastoral. O sacerdote deve ser sobretudo um homem de oração. No seu activismo frenético, o mundo perde com frequência a orientação. O seu agir e as suas capacidades serão destruidores, se definharem as forças da oração, das quais brotam as águas da vida, capazes de fecundar a terra árida. Já não vos chamo servos, mas amigos. O núcleo do sacerdócio é o facto de sermos amigos de Jesus Cristo. Somente assim podemos falar verdadeiramente in persona Christi, embora a nossa distância interior de Cristo não possa comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. É deste modo que O reconhecemos e saímos da ignorância dos simples servos. Assim aprendemos a viver, a sofrer e a agir com Ele e por Ele. A amizade com Jesus é, por antonomásia, sempre amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo inteiro, com a cabeça e o corpo; na videira exuberante da Igreja, animada pelo seu Senhor. Somente nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivo da Igreja, que abraça todas as épocas, a Bíblia fragmenta-se em escritos frequentemente heterogéneos e assim torna-se um livro do passado. Ela só é eloquente no presente, onde há a "Presença" onde Cristo permanece nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja. Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência. O mundo tem necessidade de Deus não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em Si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós, e nós nele. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto. Gostaria de concluir esta homilia com uma palavra de Andrea Santoro, daquele sacerdote da Diocese de Roma, que foi assassinado em Trebizonda enquanto rezava; o Cardeal Cè transmitiu-a a nós durante os Exercícios espirituais. A palavra diz: "Encontro-me aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça, emprestando-lhe a minha carne... só nos tornamos capazes de salvação, oferecendo o nosso próprio corpo. Temos que suportar o mal do mundo e compartilhar o sofrimento, absorvendo-os no nosso corpo até ao fim, como fez Jesus". Jesus assumiu a nossa carne. Entreguemos-lhe a nossa para que, deste modo, Ele possa vir ao mundo e transformá-lo. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA "IN CENA DOMINI" Basílica de São João de Latrão Quinta-feira Santa, 13 de Abril de 2006 Queridos irmãos no episcopado e no sacerdócio Amados irmãos e irmãs! "Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer. Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim. "Vós estais limpos, mas não todos", diz o Senhor (Jo 13, 10). Nesta frase revela-se o grande dom da purificação que Ele nos faz, porque deseja estar à mesa juntamente connosco, deseja tornar-se o nosso alimento. "Mas não todos" existe o obscuro mistério da recusa, que com a vicissitude de Judas nos torna presentes e, precisamente na Quinta-Feira Santa, no dia em que Jesus faz a oferenda de Si, nos deve fazer reflectir. O amor do Senhor não conhece limites, mas o homem pode pôr-lhe um limite. "Vós estais limpos, mas não todos": o que é que torna o homem impuro? É a recusa do amor, o não querer ser amado, o não amar. É a soberba que julga não precisar de purificação alguma, que se fecha à bondade salvífica de Deus. É a soberba que não quer confessar nem reconhecer que precisamos de purificação. Em Judas vemos a natureza desta recusa ainda mais claramente. Ele avalia Jesus segundo as categorias do poder e do sucesso: para ele só o poder e o sucesso são realidades, o amor não conta. E ele é ávido: o dinheiro é mais importante do que a comunhão com Jesus, mais importante do que Deus e o seu amor. E assim torna-se também mentiroso, ambíguo e vira as costas à verdade; quem vive na mentira perde o sentido da verdade suprema, de Deus. Desta forma ele endurece-se, torna-se incapaz da conversão, da volta confiante do filho pródigo, e deita fora a vida destruída. "Vós estais limpos, mas não todos". Hoje, o Senhor admoesta-nos perante aquela autosuficiência que põe um limite ao seu amor ilimitado. Convida-nos a imitar a sua humildade, a confiar-nos a ela, a deixar-nos "contagiar" por ela. Convida-nos por muito desorientados que nos possamos sentir a voltar para casa e a permitir que a sua bondade purificadora nos reanime e nos faça entrar na comunhão da mesa com Ele, com o próprio Deus. Acrescentamos uma última palavra deste inexaurível texto evangélico: "dei-vos exemplo..." (Jo 13, 15); "também vós vos deveis lavar os pés uns aos outros" (Jo 13, 14). Em que consiste "lavar os pés uns aos outros"? Que significa concretamente? Eis que, qualquer obra de bondade pelo outro especialmente por quem sofre e por quantos são pouco estimados é um serviço de lava-pés. Para isto nos chama o Senhor: descer, aprender a humildade e a coragem da bondade e também a disponibilidade de aceitar a recusa e contudo confiar na bondade e perseverar nela. Mas existe ainda uma dimensão mais profunda. O Senhor limpa-nos da nossa indignidade com a força purificadora da sua bondade. Lavar os pés uns aos outros significa sobretudo perdoar-nos incansavelmente uns aos outros, recomeçar sempre de novo juntos, mesmo que possa parecer inútil. Significa purificar-nos uns aos outros suportando-nos mutuamente e aceitando ser suportados pelos outros; purificar-nos uns aos outros doando-nos reciprocamente a força santificadora da Palavra de Deus e introduzindo-nos no Sacramento do amor divino. O Senhor purifica-nos e, por isso, ousamos aceder à sua mesa. Peçamos-lhe que conceda a todos nós a graça de podermos ser, um dia e para sempre, hóspedes do eterno banquete nupcial. Amém! não ao dos mortos. A discussão. o Vivente. incluiria. a ressurreição de Cristo é exactamente algo mais. Não está aqui: ressuscitou» (Mc 16. chama-nos a segui-Lo a Ele. Heb 13. como foi possível acontecer isso? Que forças intervieram lá? Decisivo é o facto de que este homem Jesus não estava só. alegramo-nos porque – como proclamamos no rito do Círio Pascal – Ele é o Alfa e simultaneamente o Ómega. É – se nos é permitido por uma vez usar a linguagem da teoria da evolução – a maior «mutação». Ele está vivo. a ressurreição está de tal modo colocada fora do nosso horizonte. 8). que. não era um Eu fechado em si mesmo. 6). irrelevante precisamente porque não nos diria respeito. como nunca se tinha verificado na longa história da vida e dos seus avanços: um salto para uma ordem completamente nova. e portanto a sua existência é não apenas de ontem. Deste modo se dirige às mulheres. Mas. 10). e como vivente caminha à nossa frente. e nada mais… de que modo isso teria a ver connosco? Mas. um teólogo alemão afirmou ironicamente que o milagre dum cadáver reanimado – se é que isso verdadeiramente se verificou. Na Páscoa. «Ressuscitou… Não está aqui». o seu corpo não conheceu a corrupção. que teve início com os discípulos. Mas. Ele era um só com o Deus vivo.VIGÍLIA PASCAL HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI Basílica Vaticana Sábado Santo. o Crucificado. mas de hoje e por toda a eternidade (cf. porém. revestido de luz. alegramo-nos porque Cristo não ficou no sepulcro. enquanto desciam do monte da Transfiguração. o evangelista diz o mesmo a nós: Jesus não é um personagem do passado. é uma realidade diversa. unido de tal . e a encontrar deste modo também nós o caminho da vida. 15 de Abril de 2006 «Procurais Jesus. Todavia. A primeira vez que Jesus falou da cruz e da ressurreição aos discípulos. em absoluto o salto mais decisivo para uma dimensão totalmente nova. para o mundo no seu todo e para mim pessoalmente? Antes de mais nada: o que é que aconteceu? Jesus já não está no sepulcro. interrogavam-se o que queria dizer «ressuscitar dos mortos» (Mc 9. pois. pertence ao mundo dos vivos. nesta noite santa. que vão ao túmulo procurar o corpo de Jesus. o mensageiro de Deus. reentrando em nós mesmos. damos connosco a continuar a discussão dos discípulos: Em que consiste propriamente o «ressuscitar»? Que significado tem para nós? Para o mundo e a história no seu todo? Uma vez. Está numa vida inteiramente nova. as seguintes questões: O que é que sucedeu então? Que significado tem isso para nós. Com efeito. não acreditava – seria. se tivesse sido reanimado uma vez apenas um tal. facto em que ele. estes. que tem a ver connosco e diz respeito a toda a história. tudo somado. pôde deixar-Se matar. Encontrava-Se. quando muito. O Baptismo é algo muito diverso de um acto de socialização eclesial. através da morte. A ressurreição foi como que uma explosão de luz. mas já não sou eu. Ele existe ainda. É claro que este acontecimento não é um milagre qualquer do passado.modo a Ele que formava com Ele uma única pessoa. Por amor. é mais forte do que a morte. O próprio eu. O Baptismo significa precisamente isto: que não está em questão um facto do passado. à primeira vista talvez surpreendente mas totalmente real. O meu eu próprio é-me . as suas palavras conclusivas encerram o núcleo desta biografia: «Já não sou eu que vivo. uma comunhão existencial com o amor de Deus. Na Última Ceia. a começar de Cristo. É um salto de qualidade na história da «evolução» e da vida em geral para uma nova vida futura. A sua comunhão existencial com Deus era. Com estas palavras. o Baptismo faz parte da Vigília Pascal. cuja realização ou não. transforma-o e atraio a si. na qual. De facto. e já não existe. Paulo não descreve qualquer experiência mística que porventura lhe tivesse sido concedida e que poderia interessar-nos. e este amor é a verdadeira força contra a morte. nos pudesse ser indiferente. uma explosão do amor que desfez o nó até então indissolúvel entre «morre e transforma-se». em concreto. 20). e através da qual surge um mundo novo. como se verifica isto? Como pode este acontecimento chegar efectivamente até mim e atrair a minha vida para si e para o alto? A resposta. Não. renascimento. transformação numa vida nova. é Cristo que vive em mim» (Gal 2. Mas. Vivo. da vida. no fundo. desabrochou de novo. é: tal acontecimento chega até mim através da fé e do Baptismo. Ele antecipou a morte e transformou-a no dom de Si mesmo. de modo transformado. mas precisamente assim rompeu o carácter definitivo da morte. É realmente morte e ressurreição. A sua morte foi um acto de amor. que São Paulo nos ofereceu na sua Carta aos Gálatas. era uma comunhão existencial com Deus e um ser inserido em Deus. Como podemos compreendê-lo? Penso que será mais fácil de esclarecer o que acontece no Baptismo se formos ver a parte final da breve autobiografia espiritual. para um mundo novo que. mas que englobava e penetrava o seu ser. esta frase é a expressão do que aconteceu no Baptismo. Aquela inaugurou uma nova dimensão do ser. a identidade essencial do homem – deste homem. É também mais do que uma simples lavagem. Ele era um só com a vida indestrutível. num abraço com Aquele que é a própria vida. Atravessou um «não» e encontra-se continuamente neste «não»: Eu. um abraço não apenas sentimental. porque n’Ele estava presente a dimensão definitiva da vida. Paulo – foi modificada. do que uma espécie de purificação e embelezamento da alma. sob o ponto de vista histórico. mas partindo de outro lado. de um rito um pouco fora de moda e complicado para acolher as pessoas na Igreja. Por isso. mas que um salto de qualidade da história universal chega até mim envolvendo-me para me atrair. como se evidencia também nesta celebração com a administração dos Sacramentos da Iniciação cristã a alguns adultos originários de vários Países. se integrou também a matéria. incessantemente penetra já neste nosso mundo. A sua própria vida não era própria apenas d’Ele. de modo que esta. Podemos exprimir a mesma coisa uma vez mais. e por isso não podia realmente ser-Lhe tirada. mas já «não» eu. por assim dizer. uma vez mais e sob outro aspecto. mas um. Só Ele traz consigo toda a «promessa». isto é. cheios de alegria. A ressurreição é um acontecimento cósmico. trabalhado. não a possuímos por nós mesmos nem a temos em nós mesmos. isto é. fala da «promessa» dizendo que esta foi feita no singular – a um só: a Cristo. ressuscitando de entre os mortos. sabendo que Ele nos segura firmemente. Esta libertação do nosso eu do seu isolamento. ao Senhor ressuscitado nos agarramos. a ressurreição alcançou-nos e agarrou-nos. mesmo quando as nossas mãos se debilitam. transformamos o mundo. Viveremos através da comunhão existencial com Ele. a fórmula da ressurreição dentro do tempo. Mas o que é feito então de nós? Vós tornastes-vos um em Cristo – responde Paulo (Gal 3. Deste modo ficamos associados a uma nova dimensão da vida. a bem-aventurada imortalidade. um único. não poderia torná-la uma vida verdadeira. A grande explosão da ressurreição agarrou-nos no Baptismo para nos atrair. e vós vivereis» – diz Jesus no Evangelho de João (14. do ser cristão. que engloba céu e terra e os associa um à outra. mas já não eu: tal é a fórmula da existência cristã fundada no Baptismo. 28). este achar-se num novo sujeito é encontrar-se na imensidão de Deus e ter sido arrebatado para uma vida que saiu. vem-nos de viver com Ele e de amar com Ele. 19) aos seus discípulos. é eterno. Viver a própria vida como um contínuo entrar neste espaço aberto: tal é o significado do ser baptizado. A vida eterna. A mera indestrutibilidade da alma não poderia por si só dar um sentido a uma vida eterna. um único sujeito novo. A vida vem-nos de ser amados por Aquele que é a Vida. Rejubile também a terra». é o próprio Deus. na qual nos encontramos já de algum modo inseridos. aberto por meio da inserção no Outro. e assim seguramos também as mãos uns dos outros. «Eu vivo. e o programa que se opõe à corrupção e à ambição do poder e do possuir. A ela. tornamo-nos um único sujeito. iluminou o género humano com a sua luz e a sua paz e vive glorioso pelos séculos dos séculos». É a fórmula que contrasta todas as ideologias da violência. Não um só. do contexto do «morre e transforma-se». a nós. no Qual adquire o seu novo espaço de existência.tirado e inserido num novo sujeito maior. mas já não eu: é este o caminho da cruz. Eu. mas ao invés por meio duma relação – por meio da comunhão existencial com Aquele que é a Verdade e o Amor e. quando. consequentemente. abrindo assim precisamente a estrada para a alegria verdadeira e duradoura. Tenho de novo o meu eu. o caminho que «cruza» uma existência fechada apenas no eu. mas já não eu: se vivemos deste modo. não apenas um só. É esta a alegria da Vigília Pascal. através do estar inseridos n’Ele que é a própria vida. no meio das tribulações do nosso tempo. Amen! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA . mas agora transformado. Eu. Deste modo podemos. Agarramo-nos à sua mão. já agora. Paulo explica-nos a mesma coisa. A ressurreição não passou. no terceiro capítulo da Carta aos Gálatas. juntamente com a Igreja cantar no Precónio: «Exulte de alegria a multidão dos anjos (…). Eu. E ainda com o Precónio podemos proclamar: «Jesus Cristo vosso Filho (…). e o nascimento da Guarda Suíça Pontifícia. ao qual se faz remontar a origem dos Museus do Vaticano. e contextualmente afirma que esta plenitude de vida consiste na amizade com Deus. no dia 22 de Janeiro de há 500 anos os primeiros 150 Guardas chegaram a Roma depois do pedido do Papa Júlio II e entraram ao seu serviço no Palácio Apostólico. Este Livro é no seu conjunto um hino de louvor à Sabedoria divina. recordamos estes acontecimentos históricos para deles tirar ensinamento. que aconteceram numa Roma e numa Europa tão diversas da situação actual? Antes de tudo para honrar o Corpo da Guarda Suíça. reedificada por cima da constantiniana. apresentada como o tesouro mais precioso que o homem possa desejar e descobrir. Aquele corpo escolhido foi depressa chamado a demonstrar a sua fidelidade ao Pontífice: em 1527 Roma foi invadida e saqueada e a 6 de Maio. efémero.POR OCASIÃO DO V CENTENÁRIO DA GUARDA SUÍÇA PONTIFÍCIA Sábado. A Sabedoria diz o texto "forma amigos de Deus" (Sb 7. O Salmo 89 recorda que esta sabedoria é concedida a quem aprende a "contar os seus dias" (v. fá-la crescer a partir de dentro para a medida plena da sua maturidade. o bem mais precioso do qual dependem todos os outros bens. ó Deus. 6 de Maio de 2006 Queridos irmãos e irmãs! Estamos a comemorar este ano alguns acontecimentos significativos que aconteceram em 1506. a colocação da primeira pedra desta Basílica de São Pedro. caduco. 45). que a partir de então foi sempre reconfirmado na sua missão. na consonância íntima com o seu ser e com o seu querer. centro espiritual da pessoa. que celebramos com especial alegria no tempo pascal. ao mesmo tempo. 12). o refrão do Salmo responsorial fez-nos rezar: "Dai-nos. também em 1970 quando o Servo de Deus Paulo VI dissolveu todos os outros corpos militares do Vaticano. a sabedoria do coração". 27): esta é uma bonita expressão que. para que possamos reconhecer o desígnio de Deus e seguir a sua vontade. O lugar interior no qual a Sabedoria age é aquele ao qual a Bíblia chama o coração. Por que recordar hoje estes eventos tão distantes. isto é. Por isso. isto é. precisamente há quinhentos anos: a descoberta do grupo escultural do Laocoonte. um sentido que supera a própria morte porque coloca em comunhão real com Deus. à luz da Palavra de Deus. enquanto os restantes 42 o puseram a salvo no Castelo de Sant' Angelo. e que o homem pecador não pode e não deve esconder-se diante de Deus. Lc 24. Mas. As Leituras bíblicas da liturgia de hoje ajudamnos nisto e Cristo Ressuscitado. mas deve reconhecer . abre-nos a mente à compreensão das Escrituras (cf. 147 Guardas Suíços morreram na defesa do Papa Clemente VII. atribuído tradicionalmente ao grande rei Salomão. a reconhecer que tudo o resto na vida é transitório. realça o aspecto "formativo". por outro lado. De facto. Pela Sabedoria vale a pena renunciar a qualquer outra coisa. e sobretudo. porque só ela dá sentido pleno à vida. A primeira Leitura é tirada do Livro da Sabedoria. que a Sabedoria forma a pessoa. Hoje de modo particular desejamos recordar este último acontecimento. isto é. Quem escolhe Jesus encontra o tesouro maior. Este tema do "deixar" para "encontrar" está no centro do trecho evangélico que há pouco escutámos. Mt 19. Jo 10. Procuremos. sobretudo para os jovens. a pérola preciosa (cf. 18-19). 10). Entre as numerosas expressões da presença dos leigos na Igreja católica. onde os critérios de valor deste mundo são caducos e até invertidos. nas quais habita toda a plenitude de Deus (cf. de que é rico também hoje o Povo de Deus peregrino na história. quer na comunidade cristã quer no mundo. 17). revestido de temperança. A resposta de Cristo revela quanto é imenso o seu coração: aos Doze promete que participarão da sua autoridade no novo Israel. E acrescenta: "Quem deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e estimado pelos homens. Quem reconheceu n'Ele a Sabedoria encarnada e deixou tudo por Ele. entra com Ele no seu Reino. garante a todos que "todo aquele que tiver deixado" os bens terrenos pelo seu nome. Depois do episódio do "jovem rico". Mt 13.aquilo que é. aos discípulos. torna-se "realizador de paz". Poderíamos interrogar-nos se esta visão do homem pode constituir um ideal de vida também para os homens do nosso tempo. portanto. aquilo que leva à paz e à edificação mútua" (Rm 14. que ao contrário deixaram tudo para estar com Ele (cf. Quem aceita esta verdade e se dispõe a acolher a Sabedoria recebe-a em dom. à luz da revelação de Cristo e do seu mistério de salvação. Jo 1. depois de ter exortado os cristãos a deixarem-se guiar sempre pela caridade e a não ser motivo de escândalo para quantos são débeis na fé. porque Ele é a Sabedoria divina encarnada (cf. a procura e a encontra em Cristo. criatura necessitada de piedade e de graça. Então. E quem acolhe a bondade. que veio ao mundo para que a humanidade tenha a vida em abundância (cf. 44-46). recorda que o Reino de Deus "é justiça. depois. 27). atraído pela sabedoria. a Palavra de Deus oferece-nos portanto uma visão completa do homem na história: quem. um texto que pertence à parte exortativa da Carta aos Romanos. Na perspectiva do binómio Sabedoria-Cristo. o apóstolo Pedro pergunta ao Senhor qual a recompensa que caberá a eles. deixa tudo por Ele recebendo em troca o dom inestimável do Reino de Deus e. Que isto seja possível demonstram-no os numerosos testemunhos de vida cristã pessoal e comunitária. O apóstolo Paulo. encontra-se também a . 14). As "obras da paz" constituem uma expressão sintética e completa da sabedoria bíblica. torna-se semente do Reino de Deus que já está presente e progride para a plena manifestação. pela Sabedoria vale a pena renunciar a tudo. justiça e fortaleza as virtudes "cardeais" vive na Igreja o testemunho da caridade. "receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna" (Mt 19. Mt 19. Uma das definições mais bonitas do Reino de Deus encontrámo-la na segunda Leitura. Cl 2. 22). que dá valor a tudo o resto. tirado do capítulo 19 de São Mateus. prudência. a beleza e a verdade superiores de Cristo. 29). paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14. 9). o qual não tinha tido a coragem de se desapegar das suas "muitas riquezas" para seguir Jesus (cf. ser Guardas Suíços significa aderir sem limites a Cristo e à Igreja. que é muito singular porque se trata de jovens que. sempre animados pelo espírito de fé e de amor à Igreja. que assinala o momento espiritualmente mais significativo da vossa festa. 7 de Maio de 2006 Queridos Irmãos e Irmãs Dilectos Ordenandos Prezados amigos. com coragem e fidelidade. o serviço no Vaticano contribuiu para maturar a resposta à vocação sacerdotal ou religiosa. assim como os numerosos familiares e amigos. sois introduzidos como pastores ao serviço do Pastor supremo Jesus Cristo. para outros prolonga-se até se tornar opção para toda a vida. A cada um deles e a todos os Guardas Suíços desejo renovar a minha saudação mais cordial. São Sebastião e São Nicolau de Flüe vos ajudem a desempenhar o vosso trabalho quotidiano com generosa dedicação. é o próprio Senhor que no Evangelho nos fala do serviço em favor do rebanho de Deus. Uno na recordação as Autoridades que vieram de propósito da Suíça e as outras Autoridades civis e militares. para vós e para os defuntos do vosso Corpo ofereço de modo especial esta Eucaristia. expresso o merecido e sentido agradecimento. A Virgem Maria e os vossos Padroeiros São Martinho. se põem ao serviço do Sucessor de Pedro. e digo-o com profundo prazer. Fazendo-me idealmente intérprete dos Pontífices que ao longo dos séculos o vosso Corpo serviu fielmente. Para alguns deles a pertença a este Corpo de Guarda limita-se a um período de tempo. mediante o Sacramento da Ordenação sacerdotal. olhando para o futuro. os Capelães que animaram com o Evangelho e a Eucaristia o serviço quotidiano dos Guardas. para que a Sabedoria divina vos torne autênticos amigos de Deus e servos do seu Reino de amor e de paz. DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES DOMINGO DO BOM PASTOR HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo. Para alguns. Alimentai-vos do Pão eucarístico e sede antes de tudo homens de oração. vos convido a ir em frente acriter et fideliter. A imagem do pastor vem de longe. prontos por isso a dar a vida. No Sacrifício de Cristo assume plenitude de significado e de valor o serviço oferecido pela vossa longa multidão nestes 500 anos. . Queridos amigos. enquanto. seguindo prevalecentemente o itinerário da via Francígena.da Guarda Suíça Pontíficia. nesta hora em que vós. mas dentro permanece-se sempre Guardas Suíços. motivados pelo amor a Cristo e à Igreja. O serviço efectivo pode terminar. Quiseram dar testemunho disto os cerca de oitenta ex-Guardas que de 7 de Abril a 4 de Maio fizeram uma extraordinária marcha da Suíça até Roma. Mas para todos. realize em comunhão com Cristo o serviço do único Pastor. foram efectivamente pastores de rebanhos. Esta é a autêntica ascese. não servir. Jesus anuncia que esta hora já chegou: Ele mesmo é o Bom Pastor. 7). ser uma personagem. através dele e com Ele. servir o outro. dos chefes políticos e religiosos. Agora. colocar-se à disposição dos homens que Ele procura. Esta palavra. em quem o próprio Deus cuida da sua criatura. é um ladrão e salteador" (Jo 10.. Ezequiel traçou a imagem do próprio Deus como Pastor do seu povo. É a imagem do homem que. a fim de que eu O sirva e siga o seu chamamento. de procurar uma posição por meio da Igreja: servir-se. 1 Pd 5. O Evangelho que ouvimos neste domingo é apenas uma parte do grande discurso de Jesus sobre os pastores. antes de serem chamados a tornar-se chefes e pastores do Povo de Deus. Deus disse: "Como o pastor se preocupa com o seu rebanho. Jesus. de se tornar pastor com Ele e por Ele. em quem Deus como homem quer ser o nosso Pastor. 4). a única subida legítima rumo ao ministério do pastor é a cruz. quer tornar-se importante. aonde legitimamentenãopoderia chegar. "Subir" aqui pode-se ver também a imagem do carreirismo. ao contrário. talvez seja útil recordar brevemente a parte precedente do discurso sobre os pastores no qual Jesus. mesmo que este . reunindo os seres humanos e conduzindoos à verdadeira pastagem. No Antigo Testamento.emgrego evoca a imagem de alguém que escala um recinto para ir. diz algo que nos surpreende: "Eu sou a porta" (Jo 10. da tentativa de chegar "ao alto". esta é a verdadeira porta. assim. o Senhor diz-nos três coisas sobre o verdadeiro pastor: ele dá a própria vida pelas suas ovelhas. diante do fracasso dos pastores de Israel. e está ao serviço da unidade. a fim de que Ele disponha de mim. 12).. a imagem daquele que tem em vista a sua própria exaltação e não o humilde serviço a Jesus Cristo. ultrapassando."sobe" anabainei. e assim tenciona dizer que só é possível ser pastor da grei de Jesus Cristo por meio dele e na mais íntima comunhão com Ele. a quem o Senhor ressuscitado tinha confiado a função de apascentar as suas ovelhas. sobe por outro lado. qualifica Jesus como o "Archipoimen" o Supremo Pastor (cf. conhece-as e elas conhecem-no. os reis costumavam designar-se a si mesmos como pastores dos seus povos. Antes de reflectir sobre estas três características essenciais do ser pastor. 1). o homem. Entra-se no sacerdócio através do Sacramento e isto significa precisamente: mediante a entrega de si mesmo a Cristo.No Antigo Oriente.. assim me preocuparei com o meu" (Ez 34. No entanto.. Jesus põe em evidência de maneira muita clara esta condição fundamental. que Ele quer conduzir pelo caminho da vida. afirmando: "Quem. Não desejar tornar-se pessoalmente alguém mas. partindo dele e agindo em vista dele. É precisamente isto que se exprime no Sacramento da Ordenação: mediante o Sacramento o sacerdote é totalmente inserido em Cristo a fim de que. Nas dificuldades do período do exílio. São Pedro. Neste trecho. isto é. Moisés e David. Através do profeta. através do sacerdócio. É através dele que se deve entrar no serviço de pastor. antes de se designar a si mesmo como Pastor. servir Cristo e. em que o sacrifício de Jesus na Cruz permanece contínua e realmente presente no meio de nós. Nesta frase. me anima. Por . justamente. Entregar a vida. A Eucaristia deve tornar-se para nós uma escola de vida. É precisamente assim que vivemos a experiência da liberdade. que ele não pode ser aquilo de que estão à procura. precisar de mim no momento.venha a entrar em oposição com os meus desejos de auto-realização e estima.. de tal maneira que através de nós o próprio Cristo apascente. quer dizer conhecê-lo e amá-lo cada vez mais. para que Cristo cresça em nós. Quando se dão conta de que alguém fala unicamente em seu próprio nome e só haure de si mesmo. e a relação entre Jesus e os homens que lhe são confiados. isto é. para que a nossa vontade se una à sua e o nosso agir se torne um só com o seu. Nós devemos doá-la no dia-a-dia. do Pai. são duas relações que parecem totalmente diferentes e aqui encontramse entrelaçadas uma com a outra: a relação entre Jesus e o Pai. abre-se a porta da relação que o homem aguarda. então intuem que é demasiado pouco. por esta intenção queremos rezar sempre de novo. não tomá-la. doando-se a si mesmo mediante as nossas mãos. É muito importante para o sacerdote a Eucaristia quotidiana. a voz do Criador. A vida não se entrega somente no momento da morte. desejamos empenhar-nos especificamente neste sentido. a cada um de nós. pertencem ao Pai e estão à procura do Criador. e não apenas num passado longínquo. Ele entrega-se a si mesmo. Devo aprender dia após dia a abandonar-me a mim mesmo. que é Cristo. Como segunda coisa. Observemos agora mais de perto as três afirmações fundamentais de Jesus sobre o bom pastor. no facto de sermos úteis. afirma: o pastor dá a vida pelas suas ovelhas. Entrar pela porta. A primeira. no final de contas. Na Sagrada Eucaristia. Por isso. que com grande vigor permeia todo o discurso sobre os pastores. Somente aquele que entregar a própria vida encontrá-la-á. o Senhor diz-nos: "Eu. que por nós se despoja da sua glória divina. experimentando ao mesmo tempo a alegria de saber que Ele está presente. assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai" (Jo 10. me acolhe. conheço as minhas ovelhas. mesmo que outras coisas me pareçam mais bonitas e mais importantes. 1415). A liberdade de nós próprios. na qual se expõe sempre de novo a este mistério. quando numa pessoa ressoa uma outra voz. É exactamente assim. o Senhor. O mistério da Cruz encontra-se no centro do serviço de Jesus como pastor: este é o grande serviço que Ele presta a todos nós. de sermos pessoas das quais o mundo tem necessidade. realiza isto todos os dias. ambas as relações caminham mesmo juntas porque os homens. Porém. que a nossa união com Ele se torne cada vez mais profunda. É necessário que eu aprenda diariamente que não possuo a minha vida para mim mesmo. e nem apenas na forma do martírio. a pôr-me à disposição para aquilo que Ele. No entanto. a vastidão do ser. se deixa humilhar até à morte de Cruz e assim se entrega a si mesmo a todos. E a partir disto aprendemos também o que significa celebrar a Eucaristia de maneira adequada: trata-se de um encontro com o Senhor. coloca-se sempre de novo nas mãos de Deus. onde aprendemos a doar a nossa própria vida. e as minhas ovelhas conhecem-me. entregandose a nós. que a nossa vida se torna importante e bela. de Deus. no âmago da vida sacerdotal encontra-se a Sagrada Eucaristia. Estimados amigos. entregandose a si mesmo a mim. me carrega sempre de novo e me dá a mão.. de algo.. A fim de que este modo de conhecer com o Coração de Jesus e de não me unir a mim mesmo. Obviamente um sacerdote. O seu conhecer as ovelhas deve ser sempre também um conhecer com o coração. sem uma profunda aceitação do outro. em última análise isto só pode realizar-se se o Senhor abrir o nosso coração. . que não são deste redil. somente se o nosso conhecimento não vincular as pessoas ao nosso pequeno "eu" particular. e haverá um só rebanho e um só pastor" (Jo 10. ao nosso próprio coração mas. mas do verdadeiro Pastor. Em primeiro lugar. 52). de ir ao seu encontro. sobressai acima de tudo o horizonte universal do agir de Jesus. na sua profecia sobre o pastor. sofreu. A Igreja jamais deve contentar-se com a plêiade daqueles que. mas também para congregar na unidade os filhos de Deus que estavam dispersos" (Jo 11. de matar Jesus. um pastor de almas. deve preocupar-se por todos e com todos. somente então podemos compreender autenticamente os homens. A Igreja não pode retirar-se comodamente nos limites do seu ambiente. a unidade paga-se com a Cruz. do que a nação inteira perisse. 16). fazer-lhes sentir o Coração de Jesus. tornando-o assim livre e aberto. no nosso íntimo.. mas que o guie rumo a Jesus. hão-de ouvir a minha voz. Obviamente. O pastor não pode contentar-se com o conhecimento de nomes e de datas. por todos nós. quando Caifás disse que seria melhor se um só morresse pelo povo. E não só pela nação. E assim também nós. trata-se agora não só da unificação do Israel disperso. mas da unificação de todos os filhos de Deus. para que isto nos seja concedido. ela alcançou e dizer que os outros estão bem assim: os muçulmanos.conseguinte. É a mesma coisa que João repete depois da decisão que o sinédrio tomou. Revela-se a relação entre a Cruz e a unidade. somente à luz de Deus é possível compreender a profundidade do homem. nos tornamos próximos uns dos outros. devemos "traduzir" esta grande tarefa nas nossas respectivas missões. nas palavras de Jesus está também encerrada toda a tarefa pastoral prática de seguir os homens. se fez homem em Jesus Cristo. assim deve ser portanto no nosso caso. Enfim. o Coração do Senhor. é fundamental o conhecimento prático e concreto das pessoas que me são confiadas e obviamente é importante compreender este "conhecer" os outros em sentido bíblico: não existe um verdadeiro conhecimento sem amor. mas ao Coração de Jesus e de criar assim uma comunidade autêntica. os hindus e assim por diante. da humanidade da Igreja dos judeus e dos pagãos. João recorda nestas palavras de Caifás uma palavra profética e acrescenta: "Jesus devia morrer pela nação. o Senhor fala-nos do serviço da unidade. queremos pedir sempre de novo ao Senhor. Sem dúvida. Se Ezequiel. tinha em vista o restabelecimento da unidade entre as tribos dispersas de Israel (cf. Assim. sem uma relação interior. Ez 34. Todavia. De modo geral. Ela tem a responsabilidade da solicitude universal. aquele Deus que. a fim de que ela reconheça Deus. morreu e ressuscitou. entre os homens. devemos viver a relação com Cristo e através dele com o Pai. um conhecer que não vincule o homem a mim. quem nos ouve dá-se conta de que não falamos de nós mesmos. 22-24). confiado ao pastor: "Tenho ainda outras. ao contrário. num dado momento. A missão de Jesus diz respeito à humanidade inteira e. por isso. Deve ser um conhecer com o Coração de Jesus e para Ele orientado. de se abrir às suas necessidades e às suas exigências. à Igreja é confiada uma responsabilidade por toda a humanidade. Todavia. na véspera do Pentecostes. devemos também sempre de novo como diz o Senhor sair "pelas estradas e caminhos" (Lc 14. e a leva para casa. Ela tornou-se a imagem do verdadeiro Pastor. E acrescentou: "Desta terra!". a imagem daquele que tomou sobre os seus ombros a ovelha perdida. Confiemo-nos a Ele. a fim de que vos ajude a tornar-vos. ou por ele ainda não foram tocados interiormente. Prezados amigos. possui muitas formas. Talvez estas imagens façam parte do sonho idílico da vida campestre que tinha fascinado a sociedade dessa época. inclusive àqueles homens que até agora não ouviram falar dele. constitua um sinal da presença de Deus no mundo. Todavia. 23) para transmitir o convite de Deus ao seu banquete. como pedras vivas. com uma solene cerimónia fúnebre. João Paulo II pronunciou as significativas palavras da oração: "Desça o teu Espírito e renove a face da terra". Faço-as minhas e dou graças ao Senhor que me concedeu poder chegar aqui a esta histórica Praça. Aqui. a fim de que Ele vos conduza e vos carregue todos os dias. cujo 25s aniversário da morte estamos a recordar nestes dias. Faz parte dele sempre também o compromisso pela unidade interior da Igreja para que ela. serviço em prol da unidade. o único que pode criar tal unidade. edificam a Igreja e assim constróem e ao mesmo tempo sustentam também o sacerdote. começou a sua homilia em Varsóvia o meu amado Predecessor João Paulo II. além de todas as diversidades e limites. "juntamente convosco desejo elevar um cântico de gratidão à Providência. há 27 anos. que me permite estar hoje aqui como peregrino". Jesus Cristo. Com estas palavras. que é a humanidade. . por sua vez. 26 de Maio de 2006 Louvado seja Jesus Cristo! Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo Senhor. Este serviço universal. A Igreja antiga encontrou na escultura do seu tempo a figura do pastor que carrega uma ovelha nos próprios ombros. nós vos confiamos especialmente nesta hora. do grande Primaz da Polónia. Cardeal Stefan Wyszynski. para os cristãos esta figura tornava-se com toda a naturalidade a imagem daquele que se encaminhou para buscar a ovelha tresmalhada: a humanidade. Neste mesmo lugar houve a despedida. bons pastores da sua grei. Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI À POLÓNIA HOMILIA DO SANTO PADRE DURANTE A SANTA MISSA CELEBRADA NA PRAÇA "PILSUDSKI" Varsóvia. No entanto. que nela procuram o caminho da vida e que. por meio dele e com Ele.deve em primeiro lugar preocupar-se com aqueles que crêem e vivem com a Igreja. a imagem daquele que nos acompanha nos nossos desertos e nas nossas confusões. na sua opinião. Ao longo da história da Igreja. da atenção pela verdade nasceu a Tradição da Igreja. se não houvesse a Jasna Góra e todo este período de história da Igreja na nossa Pátria. A fé. entre a fé e a prática da vida inspirada nos mandamentos. Acabamos de ouvir as palavras de Jesus: "Se me tendes amor. "Permanecei firmes na fé!". 17). 7). Como nos séculos passados. que por sua vez a comunicaram às gerações sucessivas. Muitos pregadores do Evangelho deram a vida precisamente em virtude da fidelidade à verdade da palavra de Cristo. ignorando esta Tradição plurissecular. preocupando-se em transmiti-la intacta aos seus sucessores. Tal acção manifesta-se como força interior que harmoniza os corações dos discípulos com o Coração de Cristo e torna-os capazes de amar os irmãos como Ele mesmo os amou. pela vossa presença e pela vossa oração. se não houvesse a tua fé. Assim a fé é um dom. até aos nossos dias. "Ele vos dará outro Paráclito o Espírito da Verdade". João Paulo II escreveu ao Cardeal Wyszynski: "Na Sé de Pedro não haveria este Papa polaco. Sl 78. e a pregação surge pela palavra de Cristo". por tudo aquilo que se realizou na vossa Pátria e no mundo inteiro. 15-17a). afirma São Paulo (Rm 10. . mas ao mesmo tempo constitui uma tarefa. Como deixar de dar graças a Deus. As pessoas. Agradeço ao Cardeal Primaz as palavras que me dirigiu. hoje. ligado ao teu serviço de Bispo e de Primaz" (Carta de João Paulo II aos Polacos. durante o Pontificado de João Paulo II? Diante dos nossos olhos houve mudanças de inteiros sistemas políticos. 23 de Outubro de 1978). económicos e sociais. As três dimensões da fé são fruto da acção do Espírito Santo. Procura-se criar a impressão de que tudo é relativo: também as verdades da fé dependeriam da situação histórica e da avaliação humana. mas também através das próprias vicissitudes humanas. reconquistaram a liberdade e o sentido da dignidade: "Não esqueçamos as grandes obras de Deus" (cf. "surge da pregação. que hoje repleto de temor de Deus mas também de confiança começa o novo Pontificado. cumprireis os meus mandamentos. em diversos países. Saúdo todos os Bispos aqui presentes. o Espírito da Verdade" (Jo 14. Estou feliz pela participação do Senhor Presidente e das Autoridades estatais e locais. gostariam de falsificar a palavra de Cristo e tirar do Evangelho as verdades que. como conhecimento e profissão da verdade sobre Deus e sobre o homem. também a vós. Jesus revela o profundo vínculo que existe entre a fé e a profissão da Verdade divina. que não cedeu diante da prisão e do sofrimento. que uniram estas pessoas tão vigorosamente à história deste povo e da Igreja que vive aqui.Deus uniu estas duas pessoas não apenas mediante a mesma fé. Abraço com o coração todos os Polacos que vivem na pátria e no estrangeiro. Dou-vos graças. E assim. No início do seu Pontificado. são demasiado incómodas para o homem moderno. os Apóstolos anunciaram a palavra de Cristo. e Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco. esperança e amor. também hoje há pessoas ou ambientes que. entre a fé e a dedicação a Jesus Cristo no amor. a tua esperança heróica e a tua confiança incondicionada na Mãe da Igreja. Nestas palavras. Não devemos cair na tentação do relativismo ou da interpretação subjectivista e selectiva das Sagradas Escrituras. não passará um só jota ou um só ápice da Lei. das pessoas com quem nos encontramos e das situações de vida quotidiana. e também todos os cristãos são chamados a compartilhar esta responsabilidade. com todo o entendimento e com todas as forças. uma relação fundamentada no amor daquele que nos amou primeiro (cf. juntamente com o Papa. 11). Jo 4. são responsáveis pela verdade do Evangelho. A fé consiste num íntimo relacionamento com Cristo. Todavia. sem que tudo se cumpra" (Mt 5.Porém. Amá-lo significa permanecer em diálogo com Ele. Com efeito. O amor a Cristo expressa-se na vontade de sintonizar a própria vida com os pensamentos e os sentimentos do seu Coração. "Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. revigorada com a oração incessante.. da vida. reveladas no Sinai.". Jesus mostrou-nos com uma nova clareza o centro unificador das leis divinas. o amor a Deus e ao próximo: "Amar [a Deus] com todo o coração. Confiando-nos a Cristo nada perdemos. isto é. Isto realiza-se mediante a união interior baseada na graça dos Sacramentos. aceitando as autorizadas indicações nele contidas. 17-18).. Contudo. Este é o motivo pelo qual Jesus disse aos Apóstolos: "Se me tendes amor. "Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós" (Rm 5. Nas suas mãos a nossa vida assume um verdadeiro sentido. 8). Somente a verdade íntegra nos pode abrir à adesão a Cristo morto e ressuscitado pela nossa salvação. até à oferta total de si mesmo. Mas quais são os mandamentos de Cristo? Quando o Senhor Jesus ensinava às multidões. da morte e das realidades futuras. A fé não significa somente aceitar um certo número de verdades abstractas acerca dos mistérios de Deus. Que outra resposta podemos dar a um amor tão grande assim. o louvor. do homem. Cristo afirma: "Se me tendes amor. cumprireis os meus mandamentos". mesmo quando ela é exigente e humanamente difícil de ser compreendida. mas tudo adquirimos. a Igreja não pode fazer calar o Espírito de Verdade. mas levá-los à perfeição. segui-lo fielmente também ao longo da Via-Sacra. Porque em verdade vos digo: até que passem o céu e a terra. Não vim revogá-los. na esperança que depressa chegue a manha da ressurreição. viver a própria fé como relacionamento de amor com Cristo significa também estar pronto a renunciar a tudo aquilo que constitui a negação do seu amor. para conhecer a sua vontade e para a realizar prontamente. Não pode faltar uma escuta atenta das inspirações que Ele suscita através da sua Palavra. não deixava de confirmar a lei que o Criador tinha inscrito no coração do homem e depois formulado nas tábuas do Decálogo. Os Sucessores dos Apóstolos. a acção de graças e a penitencia. a não ser a de um coração aberto e pronto a amar? Mas o que significa amar Cristo? Quer dizer confiar nele inclusive na hora da prova. e amar o próximo como a si mesmo vale mais do que todos os . Cada cristão é chamado a confrontar incessantemente as suas convicções pessoais com os preceitos do Evangelho e da Tradição da Igreja no compromisso de permanecer fiel à palavra de Cristo. Mt 11. Mt 5. aqueles que choram. a fé enquanto adesão a Cristo revela-se como amor que leva a promover o bem que o Criador inseriu na natureza de cada uma e de cada um de nós. a vós transmitida pelas gerações precedentes. porque estais assim a olhar para o céu?" (Act 1. 33). o legado do pensamento e do serviço daquele grande Polaco que foi o Papa João Paulo II. Permanecei firmes na fé. João Paulo II disse: "Nos nossos dias.holocaustos e todos os sacrifícios" (Mc 12. Rainha da Polónia. 2 de Junho de 1979). 11) Irmãos e irmãs. Neste espírito. Há 27 anos. transmiti-a aos vossos filhos. 28 de Maio de 2006 "Homens da Galileia. hoje. que experimentastes de maneira tão abundante através do Espírito Santo na vossa história. dai testemunho da graça. Peço-vos que cultiveis esta rica herança de fé. cujo centro é Cristo. na personalidade de cada homem e de tudo o que existe no mundo. Quem acredita e ama deste modo torna-se construtor da verdadeira "civilização do amor". os que são perseguidos por causa da justiça. . neste lugar. que desta forma se torna um "fardo leve" (cf. carrega juntamente connosco e em nós o "jugo" da lei. vos mostre o caminho rumo ao seu Filho e vos acompanhe para um futuro feliz e repleto de paz. Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI À POLÓNIA HOMILIA DO SANTO PADRE DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NO PARQUE DE BŁONIA Cracóvia. Que Maria. Desta vez ela é dirigida a todos nós: "Porque estais a olhar para o céu?". Aliás. Jesus cumpriu toda a lei.. Jesus formulou a sua lista de atitudes interiores daqueles que procuram viver profundamente a sua fé: bem-aventurados os pobres de espírito. Caros irmãos e irmãs. a Polónia tornouse terra de testemunho particularmente responsável" (Varsóvia. os misericordiosos. Unindo-se a nós mediante o dom do Espírito Santo. 3-12). na sua vida e no seu mistério pascal. os que tem fome e sede de justiça. os pacificadores. Nunca falte nos vossos corações o amor a Cristo e à sua Igreja. na esplanada de Błonia de Cracóvia ressoa de novo esta pergunta narrada nos Actos dos Apóstolos. os mansos. Na resposta a esta pergunta está contida a verdade fundamental sobre a vida e sobre o destino do homem.. os puros de coração. 30). (cf. estamos radicados nela. tensões. condenando-se desta forma a uma existência na qual entram o mal. Aqui praticamos o bem nos vastos campos da existência quotidiana. o pensamento e o coração para o mistério inefável de Deus. O Deus omnipotente. a fixar o céu. dela crescemos. permanecendo na terra. Durante a liturgia encontrava-se com o povo de Deus quase em todas as partes do mundo. e também na espiritual: nas relações recíprocas. tirou-o do nada. para nós aquele acontecimento de há dois mil anos é muito claro. Somos chamados a olhar na direcção da realidade divina. lugar no qual várias vezes celebrou o Santo Padre João Paulo II durante as suas inesquecíveis viagens apostólicas no País natal. 9-10). Mas também sabemos que o próprio Deus não se resignou a essa situação e entrou directamente na história do homem. a qual se tornou história da salvação. Não sabemos se se aperceberam naquele momento do facto de que precisamente diante deles se estava a abrir um horizonte magnífico. mas não há dúvida de que todas as vezes a celebração da Santa Missa na esplanada de Błonia em Cracóvia. é preciso deter-se na segunda parte do interrogativo contido na primeira página dos Actos: "Porque estais assim a olhar para o céu?". mas também na profunda consciência que mais cedo ou mais tarde este caminho chegará ao fim. Somos chamados. Ali está contido o sentido definitivo da nossa vida. porque o Criador nos colocou como coroamento da obra da criação. criou o cosmos. Mas sabemos que o homem se perdeu. Aqui experimentamos a fadiga do viandante a caminho rumo à meta pelas estradas complicadas. a orientar a atenção. em conformidade com o seu desígnio inefável de amor. Estavam portanto fixando o céu. na edificação da comunidade humana. a realidade terrena: "Porque estais?" Porque estais na terra? Respondemos: estamos na terra. entre hesitações. nas quais está inscrita a vida do homem: a terrena e a celeste. que era elevado ao céu. Queridos irmãos e irmãs. Contudo. abusou do dom da liberdade e disse "não" a Deus. E depois de ter feito esta obra. na cultura. 26-27).A pergunta em questão refere-se a duas atitudes relacionadas com as suas realidades. Concedeu-lhe a dignidade de filho de Deus e a imortalidade. no âmbito da esfera material. para a qual o homem está orientado desde a criação. criado à própria imagem e semelhança (cf. porque acompanhavam com o olhar Jesus Cristo. E é então que nasce a reflexão: só isto? A terra na qual "nos encontramos" é o nosso destino definitivo? Neste contexto. infinito. Talvez o tenham compreendido só no dia de Pentecostes. Lemos que quando os Apóstolos tentaram chamar a atenção do Ressuscitado sobre a questão da reconstrução do reino terrestre de Israel. incertezas. com profunda emoção celebro hoje a Eucaristia na esplanada de Bonia de Cracóvia. . para onde Jesus se afastava" (Act 1. Ele "foi elevado ao céu à vista deles e uma nuvem subtraiu-o ao seu olhar". Gn 1. crucificado e ressuscitado. "Estamos na terra". o ponto de chegada definitivo da peregrinação terrena do homem. o pecado. chamou o homem à existência. iluminados pelo Espírito Santo. era para ele um acontecimento excepcional. E eles "estavam com os olhos fixos no céu. o sofrimento e a morte. Primeiro. os sacerdotes. Saúdo toda a Polónia! Saúdo as crianças e a juventude. Saúdo os Polacos que vivem fora dos confins da Pátria. Cracóvia. é também a minha Cracóvia! É também uma Cracóvia querida ao coração de grandes multidões de cristãos em todo o mundo. Desejo assumir estas palavras. Durante a última Santa Missa celebrada neste lugar a 18 de Agosto de 2002. como peregrino sobre as pegadas do meu Predecessor.".Voltava aqui com o pensamento e com o coração às raízes. o Senhor Primeiro-Ministro. os Bispos. "de um País distante". fixando-vos nos olhos. por João Paulo II. que estão privados da alegria de viver. dirige-se a cada um de nós. experimentar a vossa fé da qual ele tirou a linfa vital. disse com saudades: "Permiti que eu. A fé é um acto humano muito pessoal . a 10 de Junho de 1979. No início do segundo ano do meu pontificado vim à Polónia e a Cracóvia por uma necessidade do coração.. A exortação encerrada nestas palavras dirige-se a todos nós que formamos a comunidade dos discípulos de Cristo. o mote da minha peregrinação em terra polaca. na homilia disse: "Estou grato pelo convite para visitar a minha Cracóvia e pela hospitalidade que me foi oferecida" (n. até onde o meu olhar alcança e mais além. os quais sabem que João Paulo II chegou à colina do Vaticano desta cidade. pelas cordiais palavras de boas-vindas. Desejava antes de tudo encontrar-me com os homens vivos. as pessoas consagradas e os nossos hóspedes provenientes de numerosos Países. o qual. é constituído pelas palavras: "Permanecei firmes na fé". Abraço com o coração todos os que participam na nossa Eucaristia por meio da rádio e da televisão. Saúdo cordialmente todas as pessoas reunidas na esplanada Błonia de Cracóvia. Queria respirar o ar da sua Pátria. da esperança e da caridade deixada ao mundo. a cidade de Karol Wojtyla e de João Paulo II. especialmente dos limítrofes. os representantes das Autoridades do Estado. os doentes e quantos sofrem no espírito e no corpo. Saúdo o Senhor Cardeal Francesco Macharski e todos os Senhores Cardeais. Arcebispo Metropolitano de Cracóvia. das territoriais e locais. Agradeço ao Cardeal Stanislaw Dziwisz. fazê-las minhas e repeti-las hoje: agradeço-vos de coração "pelo convite para visitar Cracóvia e pela hospitalidade que me oferecestes". esta Cracóvia da qual cada pedra e cada tijolo me são queridos. no mundo inteiro. 2). e de modo particular a vós. Durante a primeira peregrinação à Polónia. dirija mais um olhar sobre Cracóvia. Desejaria estreitar a mão de cada um de vós. Daqui via Cracóvia e toda a Polónia. Saúdo todos os que com o seu trabalho de cada dia multiplicam o bem deste País. Saúdo o Senhor Presidente da República. Queria olhar para a terra na qual nasceu e onde cresceu para assumir o incansável serviço a Cristo e à Igreja universal. da colina de Wawel. E que daqui olhe mais uma vez para a Polónia. nas pegadas de João Paulo II. antes de vos deixar. no final da sua homilia nesta esplanada. Aqui desejo também pedir a Deus que conserve em vós a herança da fé. as famílias e as pessoas sozinhas. às fontes da sua fé e do seu serviço na Igreja. e assegurar-me que estais firmes na fé. se tornou um País querido a todos.. os seus concidadãos. Queridos irmãos e irmãs. graças a este acontecimento. Deus concedeu-nos um espírito de sabedoria e "os olhos do nosso coração. sobre nós mesmos e sobre a realidade que nos circunda. 1820). Esta vossa vocação é sempre actual. mas a Cristo. recordando as palavras que João Paulo II pronunciou aqui no ano de 1979: "Deveis ser fortes. os crentes. 8). proclamai o Evangelho a toda a criatura. inefável.20). a vossa terra tornou-se lugar de um particular testemunho de fé em Jesus Cristo. Queridos irmãos e irmãs! Juntamente com a eleição de Karol Wojtyla para a Sede de Pedro ao serviço de toda a Igreja. que riqueza de glória contém a herança que Ele nos reserva entre os santos e como é extraordinariamente grande o seu poder para connosco. e talvez ainda mais a partir do momento da bemaventurada morte do Servo de Deus. Este acto de aceitação da verdade revelada. que descerá sobre vós. de acordo com a eficácia. Ef 1. com a sua força poderosa" (cf. mas ainda mais importante é aquele em quem cremos. Elas constituíram e continuam constantemente a constituir um desafio para todos os que admitem pertencer a Cristo. No dia da sua ascensão ao céu disse aos Apóstolos: "Ide pelo mundo inteiro. É Ele quem nos ensina uma missão. confiar o nosso destino a Ele. a do Espírito Santo.. Não se concede facilmente um consentimento a este limite da razão. que dá a perfeita alegria de viver e não permite entristecer o Espírito Santo! Deveis ser fortes de amor. confirmando a palavra com os sinais que o acompanhavam" (Mc 16. Devemos ser testemunhas de Jesus que vive na Igreja e nos corações dos homens. por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo" (Act 1. 15. inimaginável. também a invisível. para os quais a sua causa é a mais importante. Há séculos estas palavras chegaram também à terra polaca. São Paulo fala-nos disto no trecho da Carta aos Efésios que foi lido hoje. E é precisamente aqui que a fé se manifesta na sua segunda dimensão: a de se confiar a uma pessoa não a uma pessoa ordinária. para continuar o meu ministério. o Senhor cooperava com eles. Qua ao mundo não falte o vosso testemunho! Antes de regressar a Roma. foram pregar por toda a parte. exorto todos vós. e sereis minhas testemunhas em Jerusalém. que é mais forte que . Deveis ser fortes com a força da esperança. Ouvimos hoje as palavras de Jesus: "Ides receber uma força. e fazer com que este vínculo seja o fundamento de toda a vida. Eles. caríssimos irmãos e irmãs! Deveis ser fortes com aquela força que brota da fé! Deveis ser fiéis! Hoje mais do que em qualquer outra época tendes necessidade desta força. alarga o horizonte do nosso conhecimento e permite-nos alcançar o mistério no qual a nossa existência está imergida. partindo.que se realiza em duas dimensões. Vós mesmos sois chamados a prestar este testemunho diante do mundo inteiro. Crer significa abandonar-se a Deus. É importante aquilo em que cremos. É preciso aceitar o que Deus nos revela sobre si mesmo. Crer significa estabelecer um vínculo muito pessoal com o nosso Criador e Redentor em virtude do Espírito Santo. para sabermos que esperança nos vem do seu chamamento.. Crer significa antes de tudo aceitar como verdade aquilo que a nossa mente não compreende totalmente. para que eu possa cumprir a missão que me foi confiada por Cristo. de verdade e de paz. madura.. o grande diálogo com o homem e com o mundo nesta etapa da nossa história: diálogo com o homem e com o mundo. Bento XVI. consciente. tendo também em consideração a memória do vosso Concidadão que. Homilia. Também eu. Agradeço-vos a vossa participação e dirijo a cada um . Peço-vos que testemunheis com coragem o Evangelho perante o mundo de hoje. aos abandonados. da justiça. e renovar o compromisso de lhe serdes discípulos fiéis neste nosso tempo. Deveis ser fortes com a força da fé. que nos ajuda a estabelecer. vos peço que olheis da terra para o céu que fixeis Aquele que desde há 2000 anos é seguido pelas gerações que vivem e se sucedem nesta nossa terra. aos desesperados. da solidariedade e da misericórdia. vós representais aqui todos os membros dos Movimentos eclesiais e das novas Comunidades. fez isto com extraordinária força e eficiência.. Fazendo o bem ao próximo e mostrando-vos solícitos pelo bem comum.. E recordai-vos também de mim nas vossas orações e nos vossos sacrifícios. espiritualmente reunidos em redor do Sucessor de Pedro para proclamar a alegria de crer em Jesus Cristo. como Sucessor de São Pedro.a morte. 3 de Junho de 2006 Amados irmãos e irmãs Viestes verdadeiramente em grande número esta tarde à Praça de São Pedro. comprometei-vos com fervor na consolidação do seu Reino na terra: o Reino do bem. responsável.. 4). aos que sofrem. n. Peço-vos que permaneçais firmes na fé! Permanecei firmes na esperança! Permanecei firmes na caridade! Amém! CELEBRAÇÃO DAS PRIMEIRAS VÉSPERAS DA VIGÍLIA DE PENTECOSTES ENCONTRO COM OS MOVIMENTOS ECLESIAIS E AS NOVAS COMUNIDADES HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Sábado. Fortalecidos pela fé em Deus. Agradeço-vos de coração! Pertencentes a diversos povos e culturas. da esperança e da caridade. testemunhai que Deus é amor. como vos recordáveis do meu grande Predecessor. a todos os que têm sede de liberdade. Sucessor do Papa João Paulo II. levando a esperança aos pobres. para participar na Vigília de Pentecostes. reencontrando n'Ele o sentido definitivo da existência. Por fim. peço-vos que partilheis com os outros povos da Europa e do mundo o tesouro da fé. radicado no diálogo com o próprio Deus com o Pai por meio do Filho no Espírito Santo diálogo da salvação" (10 de Junho de 1979. ou seja. ouvimos como que o gemido da criação. Aqui. Stanislaw Rylko. nesta Vigília de Pentecostes. o hino refere-se aos primeiros versículos da Bíblia que. Espírito Criador. O Pentecostes não é apenas a origem da Igreja e por isso. Na sua vastidão e na lógica omnicompreensiva das suas leis. crê no Espírito Criador. Queridos amigos. pairava o Espírito de Deus. quantos trabalham no Pontifício Conselho para os Leigos. Vem. o Pentecostes é também uma festa da criação. Volta com emoção à nossa memória o encontro análogo que teve lugar nesta mesma Praça. Sim. ajudando-os a serem testemunhas de esperança. Diante das múltiplas formas de abuso da terra que hoje vemos. Rm 8. toma consciência do facto de que não podemos usar e abusar do mundo e da matéria como de um simples objecto da nossa acção e da nossa vontade. Ali afirma-se sobretudo que acima do caos. Saúdo os responsáveis das vossas numerosas realidades eclesiais... Precisamente quem. que a criação espera com impaciência a revelação dos filhos de Deus. em particular. que mostram como é viva a acção do Espírito Santo no Povo de Deus. aos religiosos e às religiosas. contam com homens e mulheres que realmente sejam . E por este motivo reflecte inclusive a sabedoria de Deus. com o amado Papa João Paulo II. a sua festa. O mundo não existe por si mesmo. da Palavra criadora de Deus. que temos o dever de considerar a criação como um dom que nos foi confiado não para a destruição. Saúdo as pessoas que prepararam este acontecimento extraordinário e. Josef Clemens. ele acompanhou-vos e orientou-vos durante todo o seu Pontificado. e podemos sê-lo porque no baptismo o Senhor nos tornou assim. nós perguntamo-nos: quem ou o que é o Espírito Santo? Como podemos reconhecê-lo? De que modo vamos a Ele e Ele vem a nós? O que realiza? Uma primeira resposta recebêmo-la do grande hino pentecostal da Igreja. com o recurso a imagens. a criação e a história elas esperam por nós. sobre as águas do abismo. de modo especial. várias vezes definiu "providenciais" as vossas Associações e Comunidades.de vós a minha cordial saudação.". mas para que se torne o jardim de Deus e assim um jardim do homem. que a criação espera.. D.. Agora. exprimem a criação do universo. repletas daquele fogo de amor que é precisamente o dom do Espírito Santo. aos venerados Irmãos no episcopado e no sacerdócio. O mundo em que vivemos é obra do Espírito Criador. juntamente com o Secretário D. Grande evangelizador da nossa época. Exorta-nos ao temor reverencial. no dia 30 de Maio de 1998. provém do Espírito criativo de Deus. ela deixa entrever algo do Espírito Criador de Deus. como cristão. 22). nós queremos ser estes filhos de Deus. de que fala São Paulo (cf. Creator Spiritus. a quem agradeço também as cordiais expressões que me dirigiu no início da Liturgia das Vésperas. para se tornar livre e alcançar o seu esplendor. começamos a compreender as palavras do Apóstolo. Transmito o meu pensamento carinhoso em primeiro lugar aos Senhores Cardeais. e o Presidente. sobretudo porque o Espírito santificador se serve delas para despertar a fé nos corações de numerosos cristãos e para fazer com que eles redescubram a vocação recebida mediante o Baptismo. com o qual começamos as Vésperas: "Veni. No seu Evangelho. Ele quer mais. em seguida. Se contemplamos a história. por assim dizer. Ele deve morrer e ressuscitar. a boa criação de Deus foi coberta por um estrato maciço de escórias que torna. O Deus misterioso não constitui uma solidão infinita. morte e ressurreição. Jesus não nos deixou somente olhar na intimidade de Deus. Todavia. Por meio de Jesus nós lançamos. o Espírito Santo. pelas barbáries da avidez de poder. Se do olhar sobre a criação pensamos que podemos entrever o Espírito Criador. Precisamente o Deus trino é o Deus uno. assim como com o despertar do Espírito de Deus nos corações dos homens voltou o fulgor do Espírito Criador também sobre a terra um esplendor que tinha sido ofuscado. Mas Jesus não se contenta com vir ao nosso encontro. Ele entrou na história e assim fala-nos de uma maneira nova. um olhar sobre a intimidade de Deus. na sua palavra. paixão. Deseja a unificação. Ele vem ao nosso encontro através da criação e da sua beleza. já emana dele e entra nos nossos corações.filhos de Deus e se comportem de modo consequente. . Por isso. Deste modo encontramos uma primeira resposta à pergunta sobre o que é o Espírito Santo. por assim dizer. o que Ele põe em acção e como é que podemos reconhê-lo. amor e força. E ali vemos algo totalmente inesperado: em Deus existe um Eu e um Tu. ao longo da história dos homens. Nós não devemos somente conhecer algo dele. Esta unidade de amor. Deus também como que saiu da sua intimidade e veio ao nosso encontro. a consciência da existência do Criador. por assim dizer. mas o seu Espírito. Este é o significado das imagens do banquete e das bodas. contudo. unindo-nos deste modo com o próprio Jesus e com o Pai com o Deus Uno e Trino. que é Deus e está no seio do Pai. se não impossível. que faz deles um único Deus. Todavia. o próprio Deus fez-se homem e permitiu-nos. Isto acontece sobretudo na sua vida. de qualquer maneira difícil reconhecer nela o reflexo do Criador embora diante de um pôrdo-sol no mar. Mas o Espírito Criador vem em nossa ajuda. este Espírito que o nosso hino qualifica como luz. durante uma excursão à montanha ou à vista de uma flor desabrochada desperte em nós. vemos que em redor dos mosteiros a criação conseguiu prosperar. E a mesma coisa acontece de novo em redor de Francisco de Assis acontece em toda a parte onde às almas chega o Espírito de Deus. O Filho unigénito. como um poder que plasma as leis do mundo e a sua ordem e. constitui uma unidade muito mais sublime de quanto poderia ser a unidade de uma última partícula indivisível. como que uma matemática criativa. foi Ele quem O deu a conhecer" (Jo 1. Em Jesus Cristo. Ele é Amor. inclusive como beleza agora é-nos dado saber: o Espírito Criador tem um Coração. Existe o Filho que fala com o Pai. com Ele. o próprio Deus. 18). que é Deus. João expressou-o assim: "A Deus. e por vezes até quase extinto. Ele é um acontecimento de amor. a atmosfera do doar e do amar. sempre de novo e como que espontaneamente. Porque agora já não se encontra num determinado lugar. jamais alguém O viu. lançar um olhar na intimidade do próprio Deus. mas através dele mesmo temos o dever de ser atraídos a Deus. E ambos são um só no Espírito Santo que é. que é o doar-se de Deus. onde e como é que encontramos a "vida"? Espontaneamente. Sobre o pastor. gostaria de relevar dois aspectos: o Espírito Santo. Estimados amigos. onde o homem somente se apodera da vida em vez de a entregar. uma comunhão em que somos introduzidos pelo Espírito Santo. 18). vem a nós e atrai-nos para dentro de si. Quanto mais alguém entrega a sua vida pelos outros. Se quisermos proteger a vida. deste modo nós não encontramos a vida. e agora sentia-se livre. no Evangelho. E emerge a dúvida se. A palavra de Jesus sobre a vida em abundância encontra-se no discurso do Bom Pastor. ela não pode ser encontrada. mais pobre. Ele pediu a parte de património que lhe cabia. porque ela parece tirar espaço à própria vida. que conhece as pastagens os lugares onde brotam as nascentes da vida. fonte viva. mas sou Eu que a ofereço livremente" (cf. no final de contas. na grande ilusão. denominado no hino das Vésperas como "fons vivus". É isto que devemos aprender de Cristo. quando é doada. e a tenham em abundância". A vida só se encontra. Mas de que se trata. Encontramos a vida na comunhão com Aquele que é a vida em pessoa na comunhão com o Deus vivo. e através dele o próprio Deus. termina-se facilmente por se refugiar na droga. ela torna-se cada vez mais vazia. Observemos ambas um pouco mais de perto. ali está-se disposto a excluir a vida inerme nascitura. tanto mais copiosamente corre o rio da vida. ali está em perigo também a vida dos outros. Qual é o efeito disto? Em primeiro lugar. viver é verdadeiramente um bem. A pastagem é o próprio Deus que. Todos nós aspiramos à vida e à liberdade. são Movimentos pela vida sob todos os aspectos. na comunhão da fé. a própria vida deve . é a Palavra de Deus como a encontramos na Escritura. queria simplesmente viver.O Pentecostes é isto: Jesus. Jo 10. No final. deste modo. dá-nos a vida e a liberdade. Onde já não corre a verdadeira fonte da vida. É uma palavra que se põe num duplo contexto. "Ele envia o Espírito Santo" assim se expressa a Escritura. queria finalmente viver já sem o peso dos afazeres de casa. desejando tomar posse dela. onde correm as fontes da vida. penso que a esmagadora maioria dos homens tem o mesmo conceito de vida do filho pródigo. acabou por se tornar guardião de porcos e chegou mesmo a invejar aqueles animais tão vazia se tinha tornado esta sua vida. Jesus diz-nos que ele entrega a sua vida. por meio de quem Deus vem a nós. tão inútil! E vã revelava-se inclusive a sua liberdade. diz Jesus no Evangelho de João (10. 10). quando caminhamos em companhia do Pastor. pelo próprio bem. os Movimentos nasceram precisamente da sede da vida verdadeira. então temos que voltar a encontrar sobretudo o manancial da vida. na fé da Igreja. só viver. que é puro dom. é isto que nos ensina o Espírito Santo. Em segundo lugar. A pastagem. beber na abundância da vida e nada perder daquilo que de precioso ela pode oferecer. aprendemos a conhecer através do poder do Espírito Santo. Porventura não acontece também assim nos nossos dias? Quando o homem quer somente apoderar-se da vida. "Ninguém tira a minha vida. o Senhor diz-nos que a vida desabrocha. Receber da vida tudo o que ela pode oferecer. Gozá-la plenamente viver. "Eu vim para que tenham vida. Não. Ele deseja a vida e por isso quer ser totalmente livre. é válido sempre este princípio: a liberdade e a responsabilidade caminham juntas.15). O tema da liberdade já foi mencionado há pouco. em que existiam os escravos. embater-se-á depressa com o outro que quer viver desta mesma maneira. a quem pertencem as coisas e que por isso não permite que as mesmas sejam destruídas. que visa cortar para si mesma uma fatia do bolo de todos. tinham também uma responsabilidade. a fonte criativa da vida. É por Ele que clamamos: Abbá. por um certo Estado. Ensina-nos a contemplar o mundo. desta liberdade genuína. A consequência necessária deste conceito egoísta de liberdade é a violência. Seguir exclusivamente o meu desejo e a minha vontade. A verdadeira liberdade demonstra-se na responsabilidade. Esta é a liberdade verdadeira. mas fazemo-lo porque temos pessoalmente a responsabilidade pelo mundo. Nós desejamos a liberdade verdadeira e grande. para a qual o Espírito Santo nos quer conduzir. etc. a Sagrada Escritura une o conceito de liberdade ao de progenitura. Ele compromete-nos nesta mesma responsabilidade de Deus pelo seu mundo. O que é que isto significa? São Paulo pressupõe nisto o sistema social do mundo antigo. aos quais nada pertencia e que por isso não podiam interessar-se por um recto desenvolvimento dos acontecimentos. mesmo que venha a faltar aos demais. . com a vida. Ao contrário. Todas as responsabilidades mundanas. Ali queremos aprender esta verdadeira liberdade. ser livre significa poder fazer tudo o que desejo. são contudo responsabilidades parciais. num modo de agir que assume sobre si a co-responsabilidade pelo mundo. que eram também os herdeiros e que por este motivo se preocupavam com a conservação e a boa administração da sua propriedade ou com a preservação do Estado. construir escolas de liberdade. Correspondentemente havia os filhos. Livre é o filho. por um determinado âmbito. torna-nos filhos e filhas de Deus. São Paulo diz: "Vós não recebestes um Espírito que vos escraviza e volta a encher-vos de medo. não ter que aceitar qualquer critério fora e acima de mim mesmo. o próximo e nós mesmos com os olhos de Deus. porque amamos a verdade e o bem. Nesta visão. O Espírito Santo. Prescindindo do contexto sociológico daquela época. Com a partida do filho pródigo estão vinculados precisamente os temas da vida e da liberdade. por si mesmo e pelos outros. então temos o dever de nos deixarmos vivificar pelo Espírito Santo. demonstrar aos outros. a liberdade dos filhos de Deus. a destruição recíproca da liberdade e da vida. e não aquela dos escravos. Neste mundo. pelo contrário. a dos herdeiros.ressurgir em toda a sua beleza e sublimidade. tão repleto de liberdades simuladas que aniquilam o meio ambiente e o homem. pela humanidade inteira. de que falamos. que não são livres de agir de outra forma. Quem vive assim. ó Pai!" (Rm 8. mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. porque amamos o próprio Deus e portanto também as suas criaturas. Nós realizamos o bem não como escravos. Dado que eram livres. queremos com a força do Espírito Santo aprender em conjunto a liberdade autêntica. Os Movimentos eclesiais querem e devem ser escolas de liberdade. Ele quer a vossa multiformidade. A Nicodemos que. Nos seus dons o Espírito é multiforme. O Espírito Santo age corporalmente. 11). Lc 24. Ele não sopra em toda a parte. o seu sopro não nos dispersa. Com o seu sopro. No entanto. contém junturas (cf. Trata-se de três dons inseparáveis entre si. Na Carta aos Efésios. E com que multiformidade e corporeidade o faz! É também precisamente aqui que a multiplicidade e a unidade são inseparáveis entre si. parece contrariamente afastar-nos dela. os Profetas. o Espírito que une o Pai ao Filho no Amor que. se olhamos esta assembleia aqui na Praça de São Pedro então compreendemos como Ele suscita sempre novas dádivas. porque a verdade une como o amor une. 4. virando uma vez aqui e a outra ali. Ele permaneceu o Encarnado ressuscitou Aquele que assumiu a nossa carne e continua sempre a edificar o seu Corpo. e como. Por isso. doa e recebe. Ele une-nos de tal modo. 28). em todas as épocas da história. age corporalmente. e deseja que sejais o seu único corpo. O Espírito sopra onde quer. como verificais que Eu tenho" (cf. na sua busca da verdade. nele a multiplicidade e a unidade caminham juntas. no entanto. 16). no único Deus. Aos discípulos que O consideravam somente um "espírito". e não apenas sob os pontos de vista subjectivo. . Se consideramos a história. e a sua vontade é a unidade que se faz corpo. Ele sopra onde quer. o Espírito Santo impele-nos rumo a Cristo. o Espírito Santo oferece também a unidade. num primeiro momento. Para a compreender. como podemos ver aqui. permiti-me dizer ainda uma breve palavra sobre a unidade. uma ideia. Cristo ressuscitado não é um fantasma. Ao doar a vida e a liberdade. e chega a enumerá-las: são os Apóstolos. fazendo de nós o seu Corpo. na união com as ordens duradouras as junturas da Igreja. vai de noite ter com Jesus com as suas interrogações. São Paulo diz-nos que este Corpo de Cristo. que certa vez São Paulo pôde dizer: "Todos vós sois um só em Cristo Jesus" (Gl 3. não é somente um pensamento. sempre de novo. Isto é válido para Cristo ressuscitado. observamos como são diferentes os órgãos que Ele cria. Já falei demasiado. Mas a vontade do Espírito não é arbítrio. 4. 39). mas reúne-nos. um simples espírito um fantasma não tem carne nem ossos. E fá-lo de maneira inesperada. que é a Igreja. os Evangelistas.que somos livres e como é bonito ser verdadeiramente livres na autêntica liberdade dos filhos de Deus. O Espírito Santo é o Espírito de Jesus Cristo. os Pastores e os Mestres (cf. É a vontade da verdade e do bem. a unidade que encontra o mundo e o transforma. com os sucessores dos Apóstolos e com o Sucessor de São Pedro. em lugares imprevistos e de maneiras precedentemente inimagináveis. Ele responde: "O Espírito sopra onde quer" (Jo 3. pode ser-nos útil uma frase que. 8). "espiritual". Cristo ressuscitado disse: "Sou Eu mesmo! Tocaime e olhai. porque é portador de uma boa notícia destinada a todos os homens e a todos os povos. Quem encontrou algo de verdadeiro. Ele conduz-nos rumo a Cristo. quer a totalidade. "É a partir dele [de Cristo] diz-nos São Paulo que o Corpo inteiro. No entanto. de maneira totalmente particular. a pérola inestimável! corre para o compartilhar em toda a parte. Uma vez mais: o Espírito sopra onde quer. É exclusiva e precisamente assim que a unidade alcança a sua força e a sua beleza. O Espírito Santo oferece aos fiéis uma visão superior do mundo. que Ela suplique a realização concreta das mesmas. aos pobres. a fim de que nesta nossa época consiga realizar-se a experiência de um renovado Pentecostes. mas demonstra-nos também que age em vista do único corpo e na unidade do único corpo. porque sabe que recebeu a adopção de filho. na graça do Espírito Santo.Ele não nos poupa o cansaço de aprender o modo de nos relacionarmos uns com os outros. a fim de que a vida da pessoa. por meio de toda a espécie de junturas que O sustentam. porque tudo é dádiva. Deposito as intenções dos vossos Movimentos e das vossas Comunidades no Coração da Santíssima Virgem Maria. da vida e da história. presente no Cenáculo juntamente com os Apóstolos. peço-vos que sejais ainda mais. porque o Espírito de Deus precede a sua acção no "coração" dos homens e como semente nas mais diversificadas culturas e religiões. por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. a sua presença demonstra-se finalmente também no impulso missionário. a fim de que a celebração da Solenidade do Pentecostes seja como um fogo ardente e um vento impetuoso para a vida cristã e para a missão de toda a Igreja. Fá-lo sem fronteiras. bem ajustado e unido. 16). a sua vontade é a unidade. Participai na edificação do único corpo! Os pastores estarão atentos a não apagar o Espírito (cf. abrindo as portas a Cristo. O Espírito Santo deseja a unidade. no seu Corpo. e vós não cessareis de oferecer as vossas dádivas à comunidade inteira. em todos os âmbitos da sua existência. E fá-lo sem qualquer temor. a civilização do amor. Por este motivo. muito mais. invoco a efusão dos dons do Espírito. Este é o melhor serviço da Igreja aos homens e. colaboradores no ministério apostólico universal do Papa. 1 Ts 5. realiza o seu crescimento como Corpo. Portanto oremos ao Deus Pai. e sem desânimo. fazendo deles guardiães da esperança que não engana. segundo uma força à medida de cada uma das partes. Estimados amigos. de belo e de bom na sua própria vida o único tesouro autêntico. na família e no trabalho. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENIDADE DE PENTECOSTES . 19). uma ordem mais justa na sociedade e a convivência pacífica entre as nações encontrem em Cristo a "pedra angular" sobre a qual construir a autêntica civilização. Sobre todos vós. sem qualquer presunção. para se construir a si próprio no amor" (Ef 4. Sem dúvida. 3). cultura. O Povo de Deus. pediu que permanecessem juntos para se prepararem para receber o dom do Espírito Santo. E eles reuniram-se em oração com Maria no Cenáculo à espera do acontecimento prometido (cf. mostra que a sua presença une e transforma a confusão em comunhão. Permanecer juntos foi a condição exigida por Jesus para receber o dom do Espírito Santo. torna os corações capazes de compreender as línguas de todos. erguem muros de indiferença. As imagens que São Lucas usa para indicar o irromper do Espírito Santo o vento e o fogo recordam o Sinai. pressuposto da sua concórdia foi uma oração prolongada. 3ss). O próprio Jesus tinha preparado os Onze para esta missão aparecendo-lhes várias vezes depois da sua ressurreição (cf. porque restabelece a ponte da comunicação autêntica entre a Terra e o Céu. teve assim início a missão da Igreja no mundo. A universalidade da salvação é significativamente evidenciada pelo elenco das numerosas etnias a que pertencem todos os que ouvem o primeiro anúncio dos Apóstolos (cf. encontramos delineada uma formidável lição para cada comunidade cristã. O Espírito Santo é Amor. Êx 19. O Espírito Santo. 3). Diferentemente do que tinha acontecido com a torre de Babel (cf. Act 2. tinham acabado por destruir a sua própria capacidade de se compreenderem reciprocamente. que Israel celebrava cinquenta dias depois da Páscoa. A festa do Sinai. O orgulho e o egoísmo do homem geram sempre divisões. Act 2. ordenou que "não se afastassem de Jerusalém. São Lucas quer representar o Pentecostes como um novo Sinai. Falando de línguas de fogo (cf. Jo 11. Antes da ascensão ao Céu.14). quando os homens. intencionados a construir com as suas mãos um caminho para o céu. Act 1. hoje é ampliado a ponto de não conhecer qualquer fronteira de raça. mas que aguardassem que se cumprisse a promessa do Pai" (cf. 1-9). 4 de Junho de 2006 Queridos irmãos e irmãs! No dia de Pentecostes o Espírito Santo desceu com poder sobre os Apóstolos. como a festa do novo Pacto. onde Deus se tinha revelado ao povo de Israel e lhe tinha concedido a sua aliança (cf. Desta forma. 9-11). era a festa do Pacto. Por vezes pensa-se que a eficiência missionária dependa principalmente de uma programação atenta e da sucessiva inteligente realização mediante um empenho concreto. Act 1. que tinha encontrado no Sinai a sua primeira configuração. A Igreja é católica e missionária desde a sua origem. espaço ou tempo. 4-5).Domingo. ao contrário. Act 1. mas antes de qualquer resposta nossa é necessária a sua iniciativa: é o seu Espírito o verdadeiro protagonista da Igreja. de ódio e de violência. isto é. com o dom das línguas. As raízes do nosso ser e do nosso agir estão no silêncio sábio e providente de Deus. o Senhor pede a nossa colaboração. na qual a Aliança com Israel se alargaatodos os povos da Terra. No Pentecostes o Espírito. . não são simplesmente palavras. Todos beberam dele. tomou o cálice. amor do Pai que o concedeu. mas antecipado também no futuro a vinda do Reino de Deus ao mundo. deu graças e entregou-lho. como compreender o segredo do Amor? A página evangélica conduz-nos hoje ao Cenáculo onde. Espírito Santo. mas no momento os Apóstolos não são capazes de carrregar o seu peso (cf. Ele é uma pessoa que.Mas como entrar no mistério do Espírito Santo. 22-24). isto é. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI Quinta-feira. ser "expressão e instrumento do amor que d'Ele promana" (Deus caritas est 33). e será o Espírito que dará a conhecer que a obra de Cristo é obra de amor: amor d'Ele que se ofereceu. enche os corações dos teus fiéis e acende neles o fogo do teu amor!". É este o mistério do Pentecostes: o Espírito Santo ilumina o espírito humano e. o Senhor tomou o pão nas suas mãos assim ouvimos há pouco no Evangelho e. que vai ser derramado por todos"" (Mc 14. fala de uma sua misteriosa partida e há muitas outras coisas ainda para dizer. o Espírito do Pai. Estas palavras são inexauríveis. indica o caminho para se tornar mais semelhantes a Ele. e não só uma parte de si. Jesus. como sinal da sua presença. partiu-o e "entregou-o aos discípulos. Mas os sinais . como na sua origem. mediante os sinais. entretanto não os abandonará. escolheu pão e vinho. dizendo: "Tomai: isto é o meu corpo". O Ressuscitado não está dividido. Aquilo que Jesus diz. se aproxima de nós e se une a nós. 12). Gostaria de meditar convosco neste momento apenas um aspecto. revelando Cristo crucificado e ressuscitado. E Ele disse-lhes: "Isto é o meu sangue da aliança. Para os confortar explica o significado do seu afastamento: irá mas voltará. durante a Ceia pascal. não os deixará órfãos. Toda a história de Deus com os homens está resumida nestas palavras. A razão é que as palavras de Jesus suscitam interrogativos preocupantes: Ele fala do ódio do mundo para com Ele e para com os seus. a Igreja hoje reza: "Veni Sancte Spiritus! Vem. o acontecimento central da história do mundo e da nossa vida pessoal. O que Jesus diz. um sentido de desorientação entristece os Apóstolos. é acontecimento. Jo 16. tendo pronunciado a bênção. Com cada um dos dois sinais doa-se totalmente. Amém. Não foi só recolhido e interpretado no passado. tendo terminado a última Ceia. Enviará o Consolador. 15 de Junho de 2006 Queridos irmãos e irmãs! Na vigília da sua Paixão. Depois. Reunida com Maria. quando lhe foi feito o pedido da parte de alguns para se encontrarem com Ele.representam. olhando mais de perto. com o seu típico manifestar-se. A sinergia das forças que torna possível no nosso pobre planeta o mistério da vida e a existência do homem. pressupõe morrer e ressuscitar do grão. aos quais em primeiro lugar o Senhor destinou a sua proximidade. E agora podemos alargar um pouco mais esta oração da Igreja. Mas ainda não explicamos profundamente a mensagem deste sinal do pão. para a unificação com o próprio Criador. 24). da qual temos necessidade para preparar o pão. do sol e da chuva. dá o fruto e a vida nova. a criação inclina-se para a divinização. não a podemos produzir nós. As culturas do Mediterrâneo. Contudo o pão não é simples e somente o nosso produto. Só através do morrer consegue ressuscitar. Assim começamos a compreender porque o Senhor escolhe este pedaço de pão como símbolo seu. o grão moído. dá muito fruto" (Jo 12. o trabalho quotidiano de quem cultiva a terra. para que aprendamos a compreender um pouco mais o mistério de Jesus Cristo. intuíram profundamente este mistério. vem ao nosso encontro em toda a sua maravilhosa grandeza. isto é. não morrer. querem falar-nos. não é merecimento nosso. A farinha. cada aspecto particular do Seu mistério e. Durante a procissão e a adoração nós olhamos para a Hóstia consagrada o tipo mais simples de pão e de alimento. O Senhor mencionou o seu mistério mais profundo no Domingo de Ramos. A criação com todos os seus dons aspira para além de si mesma a algo de maior. em verdade vos digo: se o grão de trigo. Nele está contida a fadiga humana. No pão feito de grãos moídos está encerrado o mistério da Paixão. Pressupõe a sinergia das forças da terra e dos dons do alto. vemos este pequeno pedaço de Hóstia branca. além da síntese também de natureza e de espírito que. dizendo: o pão é fruto da terra e. assim como a actividade e o espírito do homem. no qual se fala da desertificação e sentimos sempre de novo denunciar o perigo de que homens e animais morram de sede nestas regiões sem água neste período damo-nos conta da grandeza do dom também da água e de quanto somos incapazes de o obter sozinhos. Céu e terra. Na sua resposta a esta pergunta encontra-se a frase: "Em verdade. como uma síntese da criação. A oração com a qual a Igreja durante a liturgia da Missa entrega este pão ao Senhor. semeia e recolhe e finalmente prepara o pão. uma coisa feita por nós. nos séculos antes de Cristo. de certa forma. Além da síntese das próprias forças. sentimos no pedaço de pão. Assim vemo-lo como o alimento dos pobres. Então. Com base na experiência deste . para as santas núpcias. este pão dos pobres. Num período. a seu modo. fica ele só. Ao ser moído e cozido ele tem em si mais uma vez o mesmo mistério da Paixão. mas. só o Criador lhe podia conferir a fertilidade. se morrer. Porque o facto que a terra dá frutos. ao mesmo tempo. do céu. concorrem. E também a água. lançado à terra. é fruto da terra e portanto também dom. feito apenas com farinha e água. qualifica-o como fruto da terra e do trabalho do homem. mediante o qual Ele se doa a si mesmo. de certa forma. para dentro do seu mistério. Mas. 1Cor 10. mas encontramos também a Paixão. Assim o sinal do pão torna-se ao mesmo tempo esperança e tarefa. Através do seu sofrer e morrer livremente. o sinal da criação fala-nos. e com isto esperança viva e fidedigna: Ele acompanha-nos em todos os nossos sofrimentos até à morte. por meio do qual nos quer transformar como transformou a Hóstia. . a Cruz de Jesus e a sua ressurreição. Na festa de Corpus Christi olhamos sobretudo para o sinal do pão. o vinho expressa o requinte da criação: a festa da alegria que Deus nos quer oferecer no fim dos tempos e que já antecipa agora sempre de novo levemente mediante este sinal. as uvas devem amadurecer sob o sol e sob a chuva e deve ser esmagada: só através desta paixão amadurece um vinho precioso. se humilhou até à morte na cruz e assim abriu a todos nós a porta da vida. como que uma promessa da natureza de que isto deveria ter existido: o Deus que morre neste mundo conduz-nos à vida. os homens descobriram como que uma expectativa da natureza. O céu da natureza parecia-lhes como que uma promessa divina no meio das trevas do sofrimento e da morte que nos são impostos. Nestes mitos a alma dos homens. davam vida nova. um só corpo. A Doutrina dos doze Apóstolos. enquanto o pão nos remete para a quotidianidade. Nós próprios. também a tua Igreja dos confins da terra seja reunida no teu Reino" (IX. morrendo e ressuscitando. Mas o vinho também fala da Paixão: a videira deve ser podada repetidamente para assim ser purificada. devemos tornar-nos um só pão. A Igreja primitiva encontrou ainda no pão outro simbolismo. Os caminhos que Ele percorre connosco e através dos quais nos conduz à vida são caminhos de esperança. De maneira análoga nos fala também o sinal do vinho. 4). um livro escrito por volta do ano 100. Então encontramos a grandeza do seu dom. 17). contém entre as suas orações a afirmação: "Assim como este pão partido estava disperso pelas colinas e ao ser recolhido se tornou uma só coisa. O pão feito por muitos grãos encerra também um acontecimento de união: o tornar-se pão dos grãos moídos é um processo de unificação. Na procissão nós seguimos este sinal e assim seguimos a Ele próprio. No pão e no seu transformar-se. Mediante este olhar em adoração.morrer e ressurgir conceberam mitos de divindades que. diz-nos São Paulo (cf. Ele atrai-nos para si. Ele recorda-nos também a peregrinação de Israel durante os quarenta anos no deserto. Ele tornou-se pão para todos nós. O que nos mitos era expectativa e que no mesmo grão está escondido como sinal da esperança da criação isto aconteceu realmente em Cristo. A Hóstia é o nosso maná com o qual o Senhor nos alimenta é verdadeiramente o pão do céu. Quando nós olhamos para a Hóstia consagrada em adoração. inclinam-se para aquele Deus que se fez homem. sendo muitos. para a simplicidade e para a peregrinação. a das chaves e a de ligar e desligar. . Reúne-nos de todos os confins da terra. mas torna-se mais claro para nós. Trata-se sempre da mesma tarefa. explicou sempre de novo: desejaria ao contrário chamar a atenção para o lugar geográfico e para o contexto cronológico destas palavras. mediante o "sim" à cruz. 18). é útil recordar-se de que os Evangelhos nos narram três situações diversas nas quais o Senhor. olha para a fome física e psíquica que a atormenta! Concede aos homens pão para o corpo e para a alma! Dá-lhe trabalho! Concede-lhe luz! Concede-te a ti mesmo a ela! Purifica e santifica todos nós! Faz-nos compreender que só mediante a participação na tua Paixão. No Evangelho de São Mateus que ouvimos há pouco. O que diz exactamente o Senhor a Pedro com estas palavras? Que promessa lhe faz com elas e que cargo lhe confia? E que diz a nós ao Bispo de Roma. A promessa é feita perto das fontes do Jordão. 29 de Junho de 2006 "Tu és Pedro. Pedro faz sua a confissão a Jesus reconhecendo-o como Messias e Filho de Deus. sempre de maneira diversa. que está na Cátedra de Pedro. e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16. e à Igreja de hoje? Se quisermos compreender o significado das palavras de Jesus. Neste momento não pretendo interpretar mais uma vez estas três imagens que a Igreja. Com base nisto é-lhe conferida a sua tarefa particular mediante três imagens: a da rocha que se torna pedra de fundamento ou pedra angular. transmite a Pedro a tarefa que lhe competirá. que vagueia insegura entre tantas interrogações. pela diversidade das situações e das imagens usadas o que nele interessava e interessa o Senhor. na fronteira com a terra judaica. ao longo dos séculos. às purificações que nos impões. à renúncia.E imploramo-l'O: guia-nos pelos caminhos desta nossa história! Mostra sempre de novo à Igreja e aos seus Pastores o caminho justo! Olha para a humanidade que sofre. a nossa vida pode amadurecer e alcançar o seu verdadeiro cumprimento. no confim com o mundo pagão. une a humanidade dilacerada! Concede-nos a tua salvação! Amém! CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA A BÊNÇÃO E IMPOSIÇÃO DOS PÁLIOS NA SOLENIDADE DOS SANTOS PEDRO E PAULO HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Quinta-feira. Une a tua Igreja. qualifica-se como "testemunha dos sofrimentos de Cristo e partícipe da glória que deve manifestar-se" (5. antes da Igreja em geral: continuamente o Senhor está a caminho da Cruz. pela primeira vez. sob as espécies do pão e do vinho. através de homens débeis. 21). a sua Igreja. cresce como o templo de Deus novo e vivente neste mundo. o próprio Deus chegue ao mundo. Mediante a Eucaristia os discípulos tornam-se a sua casa viva que. Esta vez as palavras de Jesus dirigidas a Simão encontram-se imediatamente depois da instituição da Santíssima Eucaristia. durante a Última Ceia. está a caminho porque através d'Ele. Também hoje o Senhor ordena às águas e demonstra-se o Senhor dos elementos. diz aos discípulos que este caminho para a Cidade Santa é o caminho da Cruz: "A partir desse momento. assim como Ele próprio se . da parte dos anciãos. Jesus Cristo começou a fazer ver aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito. mas também a realidade de uma nova comunhão entre eles que se prolonga nos tempos "até à Sua vinda" (cf. 26). dos sumos sacerdotes e dos doutores da Lei. E assim Jesus. E contudo. precisamente na Igreja sofredora Cristo é vitorioso. na barca da Igreja. Através da Eucaristia o Senhor doa aos seus não só a si mesmo. Apesar de tudo. ressuscitar" (Mt 16. Neste sentido Pedro. da humilhação do servo de Deus sofredor e morto. ser morto e. na sua Primeira Carta. sempre de novo se procura pô-lo fora do mundo. a fé n'Ele retoma força sempre de novo. para que resplandeça no mundo a luz da sua palavra e a presença do seu amor. que com as suas águas penetram nela e parecem condená-la a afundar. Lc 22. de Cristo crucificado e ressuscitado. por um lado. demonstra que é Ele mesmo quem constrói. mas ao mesmo tempo está também sempre a caminho da vastidão do mundo. ao longo da história. A Igreja e nela Cristo sofre hoje também. fala do que significa ser discípulos. 1).O momento da promessa marca uma viragem decisiva no caminho de Jesus: agora o Senhor encaminha-se para Jerusalém e. mas ao mesmo tempo também a força de Deus: precisamente na debilidade dos homens o Senhor manifesta a sua força. Para a Igreja a Sexta-Feira Santa e a Páscoa existem sempre juntas. Podemos ver na instituição da Eucaristia o verdadeiro e próprio acto fundador da Igreja. O Senhor acabou de se oferecer aos seus. logo após a instituição do Sacramento. confere de novo uma tarefa especial a Pedro (cf. Assim também no ministério de Pedro se revela. ao terceiro dia. a debilidade do que é próprio do homem. Dirijamo-nos agora ao Evangelho de São Lucas que nos narra como o Senhor. o "ministério" na nova comunidade: diz que ele é um compromisso de serviço. Nela Cristo é sempre escarnecido de novo e atingido. Ele permanece na sua barca. ela é sempre tanto o grão de mostarda como a árvore entre cujos ramos os pássaros do céu fazem o ninho. 1 Cor 11. 31-33). Os dois aspectos caminham juntos e determinam o lugar interior da Primazia. Sempre de novo a pequena barca da Igreja é abalada pelo vento das ideologias. na qual Ele nos precede como Ressuscitado. Esta oração de Jesus é ao mesmo tempo promessa e tarefa. e que isto supere as nossas forças e nos oprima demasiado. Deus concede a Satanás a liberdade exigida precisamente para poder com ela defender a sua criatura. Bradaremos sempre de novo a Deus: Ai de mim. O olhar de Jesus realiza a transformação e torna-se a salvação de Pedro: Ele. o Filho do Deus vivo" (Mt 16. 62). para . fortalece os teus irmãos" (Lc 22. "E tu. Por isso o Senhor não reza só pela fé pessoal de Pedro. Com frequência parece-nos que Deus conceda demasiada liberdade a Satanás. "E tu. No caso de Job.. É precisamente isto que Ele pretende dizer com as palavras: "E tu. no qual Satanás pede a Deus a faculdade de atingir Job. que lhe conceda a faculdade de nos despertar de maneira demasiado terrível. negará que conhece Jesus. 32). precisamente também perante a cruz e todas as contradições do mundo: é esta a tarefa de Pedro. apegar-nos a ela e ter a sua certeza. o homem e a si mesmo. Diz que Satanás pediu para poder examinar os discípulos como o grão. chorou amargamente" (22. E então dirige-se a Pedro. mas pela sua fé como serviço aos outros. 61). 32).. fortalecê-la sempre de novo. mas que no homem tudo tem sempre e unicamente por objectivo a utilidade. ocupam uma responsabilidade. "saindo para fora. O diabo o caluniador de Deus e dos homens quer provar com isto que não existe uma verdadeira religiosidade. que lhe prediz a queda. Ninguém consegue sozinho. para que a tua fé não desapareça" (Lc 22. protege-nos! De facto Jesus continua: "Mas eu roguei por ti. 16). A oração de Jesus é o limite colocado ao poder do maligno." (Lc 22. Eis: nunca permitir que esta fé se torne muda. também lhe promete a conversão: "Voltando-se. Elas profetizam a debilidade de Simão que. perante uma serva e um servo. uma vez convertido" estas palavras são ao mesmo tempo profecia e promessa. A Oração de Jesus tutela a fé de Pedro. Queremos implorar sempre de novo este olhar salvador de Jesus: para todos os que. para que a tua fé nunca desfaleça". na Igreja.. aquela fé que ele lhe confessou em Cesareia de Filipe: "Tu és Cristo. Por mais que Pedro pareça ser capaz e bom já no primeiro momento da prova falha. olha para a miséria dos teus discípulos. Acontece assim também com os discípulos de Jesus Deus dá uma certa liberdade a Satanás em todos os tempos. A oração de Jesus é a protecção da Igreja. Isto recorda o trecho do Livro de Job.encontra no meio deles como Aquele que serve. Podemos refugiar-nos sob esta protecção. Através desta queda de Pedro e com ele qualquer sucessor seu deve aprender que a própria força sozinha não é suficiente para edificar e guiar a Igreja do Senhor. o Senhor fixou os olhos em Pedro. uma vez convertido. uma vez convertido" o Senhor. Mas como nos diz o Evangelho Jesus reza de modo especial por Pedro: ".. deve como diz Santo Inácio de Antioquia presidir à caridade: presidir à comunidade daquele amor que provém de Cristo e. Nós sentimos que partilhamos o desejo ardente expresso um dia pelo Patriarca Atenágoras e pelo Papa Paulo VI: beber juntos do mesmo Cálice e comer juntos do mesmo pão que é o próprio Senhor. através da Cruz.todos os que sofrem devido às confusões deste tempo. Jesus prediz a Pedro que o seu caminho irá em direcção à cruz. em simultâneo com o dom da Santíssima Eucaristia. as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja que Ele edificou sobre Pedro (cf. Também aqui se compenetram reciprocamente a Cruz e a Ressurreição. É o poder do bem da verdade e do amor. Mt 16. a sua promessa é verdadeira: os poderes da morte. Nesta Basílica erigida em cima do túmulo de Pedro um túmulo pobre vemos que o Senhor vence sempre precisamente assim. Sim. O cargo de Pedro está ancorado na oração de Jesus. E agradecemos ao Senhor que nos encontremos unidos na confissão que Pedro fez em Cesareia de Filipe a todos os discípulos: "Tu és Cristo. sempre de novo. o . que este dom nos seja concedido depressa. 15-19). mantê-la presente no mundo como unidade também visível. Saúdo-vos cordialmente juntamente com quantos vos acompanharam. continua a edificar pessoalmente. A terceira referência à Primazia encontra-se no Evangelho de São João (21. juntamente com toda a Igreja de Roma. Imploramos de novo. E o Senhor confia-lhe este cargo no contexto da Ceia. que é mais forte que a morte. co-Presidente da Comissão Mista Internacional para o diálogo teológico entre católicos e ortodoxos. nesta ocasião. O seu poder não é um poder segundo as modalidades deste mundo. O Senhor ressuscitou. ultrapassa os limites do privado para levar o amor de Cristo até aos confins da terra. fundada na instituição da Eucaristia. precisamente desta forma. olha para nós sempre de novo e assim eleva-nos de todas as nossas quedas e toma-nos nas tuas mãos bondosas. O Senhor confia a Pedro a tarefa pelos irmãos através da promessa da sua oração. Saúdo também com alegria particular a Delegação do Patriarcado Ecuménico presidida por Sua Eminência Joannis Zizioulas. A Igreja. Ele. e como Ressuscitado confia a Pedro o seu rebanho. que torna evidente o desejo e o compromisso de progredir mais rapidamente pelo caminho da unidade plena que Cristo invocou para todos os seus discípulos. que viestes de numerosos Países do mundo para receber do Sucessor de Pedro o Pálio. Nesta solenidade dos santos Apóstolos Pedro e Paulo dirijo-me de modo especial a vós. Estou grato ao Patriarca Bartolomeu I e ao Santo Sínodo por este sinal de fraternidade. encarnada. Metropolitano de Pérgamo. queridos Metropolitanos. 18) e que Ele. A tarefa de Pedro é presidir a esta comunhão universal. para os grandes e para os pequenos: Senhor. É isto que lhe dá a segurança da sua perseverança através de todas as misérias humanas. no seu íntimo é comunidade eucarística e desta forma comunhão com o Corpo do Senhor. 9 de Julho de 2006 Queridos irmãos e irmãs! Nesta Santa Missa que tenho a imensa alegria de presidir. 16). verdadeiras testemunhas dos seus sofrimentos e partícipes da glória que deve manifestar-se (1 Pd 5. . e na tua mãe Eunice e que. Loide. escolheste Israel entre todos os povos" (4. Assim. Ester confessa: "No seio da família. precisamente nesta hora da nossa história. e também por muitas outras que. se encontre também em ti" (2 Tm 1. Todos recebemos de outros a vida e as verdades básicas para ela. e estamos chamados a alcançar a perfeição em relação e comunhão amorosa com os demais. VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI A VALÊNCIA (ESPANHA) POR OCASIÃO DO V ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS HOMILIA DO SANTO PADRE NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA POR OCASIÃO DO ENCERRAMENTO DO V ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS Cidade das Artes e das Ciências Domingo. que se encontrava já na tua avó. 5). filial e comunitária. Louva a fé sincera de Timóteo e recorda-lhe: "a tua fé. Queremos levar juntos esta confissão ao mundo de hoje. Os testemunhos de Ester e Paulo. estou seguro. que ouvimos antes nas leituras. expressa esta dimensão relacional. Amém. Desejo saudar-vos a todos e expressar-vos o meu grande afecto com um abraço de paz. e é o âmbito no qual o homem pode nascer com dignidade. Nenhum homem se deu o ser a si mesmo nem adquiriu sozinho os conhecimentos elementares da vida. mostram como a família está chamada a colaborar na transmissão da fé. Nestes testemunhos bíblicos a família compreende não só pais e filhos. a família apresenta-se-nos como uma comunidade de gerações e garante de um património de tradições. ouvi desde criança. crescer e desenvolver-se de maneira integral. 1). mas também avós e antepassados. Paulo segue a tradição dos seus antepassados judeus prestando culto a Deus com consciência pura. dou graças ao Senhor por todas as amadas famílias que se reuniram aqui formando uma multidão jubilosa. concelebrando com numerosos Irmãos no Episcopado e com um grande número de sacerdotes. seguem esta celebração através da rádio e da televisão. Senhor.Filho do Deus vivo". Ajudenos o Senhor a sermos. de terras longínquas. A família. fundada no matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher. que é Pai. A memória deste Pai ilumina a identidade mais profunda dos homens: de onde vimos. provimos de nossos pais e somos seus filhos. em qualquer paternidade e maternidade humana está presente Deus Criador. sobretudo. no encontro com Deus. Deste modo. que o ama por si mesmo e o chama à filiação divina. Certamente. a de um Deus do qual todos procedem e ao qual todos estão chamados a responder. na origem de todo o ser humano não existe a sorte ou a casualidade. Por isso. os pais têm o direito e o dever inalienável de o transmitir aos filhos: educá-los no descobrimento da sua identidade.Quando uma criança nasce. na prática responsável da sua liberdade moral e da sua capacidade de amar através da experiência de serem amados e. Portanto. fazendo crescer neles a capacidade de discernimento. Com o dom da vida recebe todo um património de experiência. será favorecido que os filhos . Contudo. Na origem de todos os homens e. com o testemunho constante do amor conjugal dos pais. e com o acompanhamento comprometido da comunidade cristã. qualquer paternidade e maternidade. Mesmo se ninguém responde por outro. verdadeiro Filho de Deus e homem perfeito. mas também de Deus. Com o passar dos anos. por conseguinte. que tem raízes muito mais antigas. A Ester. com a memória de seus antepassados e do seu povo. mas um projecto de amor de Deus. sem dúvida os pais cristãos estão chamados a dar um testemunho crível da sua fé e esperança cristã. Por isso os esposos devem acolher a criança que nasce como filho que não é unicamente seu. Deste modo são capazes de elaborar uma síntese pessoal entre o que receberam e o que é novo. também precisará de ser cultivado com sabedoria e doçura. que nos criou à sua imagem e nos chamou para sermos seus filhos. este dom de Deus que os pais contribuíram para apresentar aos olhos dos pequeninos. e qualquer família tem o seu princípio em Deus. através do relacionamento dos seus pais começa a fazer parte de uma tradição familiar. seu pai tinha transmitido. quem somos e quanto é grande a nossa dignidade. vivido e impregnado de fé. mas uma acção contínua da graça de Deus que chama e da liberdade humana que pode ou não aderir a essa chamada. mas também vimos de Deus. Filho e Espírito Santo. Ele sabia de quem provinha e de quem provimos todos: do amor de seu Pai e nosso Pai. A memória de Deus Pai que elegeu o seu povo e que actua na história para a nossa salvação. A este respeito. Os filhos crescem e maturam humanamente na medida em que acolhem com confiança esse património e essa educação que vão assumindo progressivamente. Foi o que nos revelou Jesus Cristo. a fé não é uma mera herança cultural. e que cada indivíduo e geração estão chamados a realizar. Devem preocupar-se por que a chamada de Deus e a Boa Nova de Cristo cheguem aos seus filhos com a maior clareza e autenticidade. introduzi-los na vida social. qualquer geração. a educação cristã é educação da liberdade e para a liberdade. sem qualquer referência a uma verdade objectiva prévia como a dignidade de cada ser humano e os seus deveres e direitos inalienáveis. Permanecei no meu amor" (Jo 15. do qual procedemos. 9). Por isso. constróem a fraternidade da caridade e apresentam-se como testemunhas e cooperadores da fecundidade da Mãe Igreja. assim.façam seu o dom da fé. A experiência de sermos acolhidos e amados por Deus e pelos nossos pais é a base sólida que favorece sempre o crescimento e desenvolvimento autênticos do homem. se ajudem mutuamente a conservar a graça no decorrer de toda a sua vida. seguindo o seu próprio caminho. 60). que não são livres de agir de outra forma. numa grande fidelidade de amor. e a sairmos de nós mesmos para entrarmos na comunhão com o próximo e com Deus. Familiaris consortio. como símbolo e participação do amor com que Cristo amou a sua Esposa e por Ela se entregou" (Lumen gentium. 41). exemplo de liberdade filial. a cujo serviço deve estar todo o grupo social. porque amamos a verdade e o bem. A alegria amorosa com que os nossos pais nos acolheram e acompanharam nos primeiros passos neste mundo é como um sinal e prolongamento sacramental do amor benevolente de Deus. . A Igreja não cessa de recordar que a verdadeira liberdade do ser humano deriva do facto de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. que nos ensina a comunicar aos demais o seu próprio amor: "Assim como o Pai me tem amor. e que eduquem na doutrina cristã e nas virtudes evangélicas a prole que receberem amorosamente de Deus. iluminando a vida familiar à luz da fé e louvam a Deus como Pai. à margem da sua relação com os demais e sem o sentido da responsabilidade para com o próximo. porque amamos o próprio Deus e portanto também as suas criaturas. assim Eu vos amo a vós. Oferecem. como se ele se tivesse feito sozinho e se bastasse a si mesmo. quando todos se reúnem para ler a Bíblia. A família cristã transmite a fé quando os pais ensinam os seus filhos a rezar e rezam com eles (cf. Esta é a liberdade verdadeira. "Nós realizamos o bem não como escravos. A este propósito o Concílio Vaticano II ensina que "os cônjuges e pais cristãos. para a qual o Espírito Santo nos quer conduzir" (Homilia na Vigília de Pentecostes). mas fazemo-lo porque temos pessoalmente a responsabilidade pelo mundo. Jesus Cristo é o homem perfeito. Procura-se organizar a vida social só a partir de desejos subjectivos e transitórios. quando os aproximam dos sacramentos e os vão introduzindo na vida da Igreja. a todos o exemplo de um amor incansável e generoso. Na actual cultura exalta-se com muita frequência a liberdade do indivíduo concebido como pessoa autónoma. descubram com ela o sentido profundo da própria existência e se sintam alegres e gratos por isso. que tanto nos ajuda a amadurecer no caminho para a verdade e para o amor. uma prefiguração de Maria. além disso. a igualdade e a verdadeira liberdade da pessoa humana. Desta forma. a arte de amar. A Igreja orante viu nesta humilde rainha. Maria é a imagem exemplar de todas as mães. A família cristã pai. 86). A presença do Espírito ajudará os esposos a não perder de vista a fonte e medida do seu amor e entrega. assim como a melhor garantia para assegurar a dignidade. o Espírito suscitará neles o anseio do encontro definitivo com Cristo na casa de seu Pai e nosso Pai. de Valência. que é. da sua grande missão como guardiãs da vida. a origem da família. Portanto. Voltemos por um momento à primeira leitura desta Missa. com todos os homens de boa vontade. Neste sentido. Por isso. tirada do livro de Ester. quero fazer chegar a todas as famílias do mundo. que intercede com todo o seu ser pelo seu povo que sofre. filhos está portanto chamada a cumprir os objectivos assinalados não como algo imposto de fora. É esta a mensagem de esperança que.Para progredir nesse caminho de maturidade humana. mas como um dom da graça do sacramento do matrimónio infundida nos esposos. que seu Filho nos deu a todos como Mãe. Tomás "da Villanova" em Castel Gandolfo Terça-feira. ele não deixará de lhes comunicar o amor de Deus Pai manifestado e encarnado em Cristo. Se eles permanecerem abertos ao Espírito e pedirem a sua ajuda. mãe. para que unindo as suas forças e com uma pluralidade legítima de iniciativas. "desejo convidar todos os cristãos a colaborar. e a colaborar com ele para o reflectir e encarnar em todas as dimensões da sua vida. da sua missão de ensinar a arte de viver. a Igreja ensina-nos a respeitar e a promover a maravilhosa realidade do matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher. 15 de Agosto de 2006 . que protege com o seu amor a família de Deus que peregrina neste mundo. que vivem a responsabilidade própria no serviço à família" (Familiaris consortio. reconhecer e ajudar esta instituição é um dos maiores serviços que se possam prestar hoje ao bem comum e ao verdadeiro desenvolvimento dos homens e das sociedades. contribuam para a promoção do verdadeiro bem da família na sociedade actual. carinhosa e corajosamente. Amém! SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Paróquia Pontifícia de S. uma prefiguração da Mãe. desejo realçar a importância e o papel positivo que realizam as diversas associações familiares eclesiais em favor do matrimónio e da família. sobretudo sobre "a Santa". é bendita para sempre. tornou-se morada e assim abriu a terra ao céu. já O tinha concebido na alma". já está preparada esta morada para sempre. Nós não louvamos a Deus suficientemente calando-nos acerca dos seus santos. aqui expresso também com estas palavras. que se tornou a sua morada na terra. a Igreja não inventou algo "ao lado" da Escritura: respondeu a esta profecia feita por Maria naquela hora de graça. Deste modo. que constituem o verdadeiro espelho da sua luz. com várias indicações faz compreender que Maria é a verdadeira Arca da Aliança. O que desejam todas as culturas isto é. a devoção mariana do Povo de Deus até ao fim dos tempos. A luz simples e multiforme de Deus manifesta-senos precisamente na sua variedade e riqueza somente no rosto dos santos. Maria diz: "De hoje em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada". É bem-aventurada porque está unida a Deus.Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Prezados irmãos e irmãs No Magnificat o grande cântico de Nossa Senhora que acabámos de ouvir no Evangelho encontramos uma palavra surpreendente. tornando-se presente nesta terra. Quando Maria dizia: "Eu sou a tua serva. talvez arbitrárias. e a Igreja venerando Maria responde a uma ordem do Espírito Santo. . "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada". nela já está preparada a sua morada eterna. A Mãe do Senhor profetiza os louvores marianos da Igreja para todo o futuro. Reservou ao Senhor o espaço da sua alma e assim tornou-se realmente o autêntico Templo onde Deus encarnou. E é nisto que consiste todo o conteúdo do dogma da Assunção de Maria à glória do céu de corpo e alma. E estas palavras de Maria não eram somente pessoais. Nós podemos louvar Maria. Maria. E Maria. que Deus habite no meio de nós realiza-se aqui. Em Maria realmente habita Deus. uma morada. É uma verdadeira profecia. a sua bondade e a sua misericórdia. continua e completa aquilo que Isabel disse. que o mistério do Templo a morada de Deus aqui na terra foi completado em Maria. no Evangelho que há pouco ouvimos. inspirada pelo Espírito Santo. como morada de Deus na terra. de corpo e alma. Este é o contexto da presente Solenidade. afirmando: "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada". Maria torna-se a sua tenda. podemos ver mais do que de outras maneiras a beleza de Deus. São Lucas. venerar Maria. Exactamente quando contemplamos o rosto de Maria. vive com Deus e em Deus. Isabel tinha clamado repleta do Espírito Santo: "Bendita aquela que acreditou". E Há muitas moradas na casa do meu Pai". O Senhor. Podemos realmente sentir a luz divina neste rosto. Como afirma São Lucas. Louvando Maria. faz aquilo que deve fazer. na vigília da sua Paixão. disse: "Eu vou preparar-vos. porque é "bem-aventurada". tornando-se presente aqui na terra. faça-se em mim segundo a tua vontade" preparava aqui na terra a morada para Deus. na casa do Pai. ao despedir-se dos seus. Santo Agostinho diz: "Antes de conceber o Senhor no corpo. também cheia do Espírito Santo. esta Mulher que é Maria. um estilo de vida. Parecem invencíveis. a fé em Deus. Ele tem o futuro nas suas mãos. Temor de Deus é aquele sentido de responsabilidade que nós devemos ter. é a fé. o nosso futuro é luz e temos a orientação para a nossa vida. talvez. à veneração. Crer não significa acrescentar uma opinião às outras. E a convicção.Maria é "bem-aventurada" porque se tornou totalmente. para além deste acto fundamental da fé. como podemos encontrar a vereda da felicidade. contribuir para a vitória do bem e da paz. creio que no Filho encarnado Vós estais presente no meio de nós". Crer. E realmente Deus é vulnerável no mundo. a preocupação de não destruir o amor sobre o qual está depositada a nossa vida. parece indefesa. E se Deus existe. uma tomada de posição para a vida inteira. está nas mãos de Deus. uma palavra que conhecemos pouco ou da qual não gostamos muito. que é um acto existencial. diante do dragão. vulnerável. mas Maria diz-nos que não o são. que Ele vence. E crer não é apenas um tipo de pensamento. "Todas as gerações te chamarão bem-aventurada": isto quer dizer que o futuro. a vida é vazia. pouco nos importa se são verdadeiras ou falsas. Como filhos. Contudo. "temor de Deus" não quer dizer angústia. Esta é. é. a unir-me a Deus e assim a encontrar o lugar onde viver e o modo como viver. é o amor que vence e não o ódio. um agir. do "temor de Deus". não sentimos angústia em relação ao Pai. é algo totalmente diferente. assim armado. o dragão que é a representação de todos os poderes da violência do mundo. tão forte. orienta a minha vida. responsabilidade pela porção do mundo que nos for confiada na nossa vida. com toda a Escritura. Fala. dizer: "Sim. acredito que Vós sois Deus. naquele Deus que se manifestou em Jesus Cristo e que se faz sentir na palavra divina da Sagrada Escritura. Responsabilidade pela boa administração desta parte do mundo e da história que nós somos. e assim contribuir para a justa edificação do mundo. o porvir pertence a Deus. O primeiro e fundamental acto para se tornar morada de Deus e para assim encontrar a felicidade definitiva é crer. Se isto é verdade. Por isso. como já dissemos. Todavia. tudo se transforma. Maria não nos convida apenas à admiração. Acreditar significa seguir as indicações que nos foram deixadas pela Palavra de Deus. porque é o Amor. Sobre muitas informações. o futuro é vazio. no final é a paz que vence. mas também nos orienta. nos indica o caminho da vida e nos mostra como podemos tornar-nos bem-aventurados. Mas se Deus não existe. Maria. Sem dúvida. Agora ouçamos uma vez mais a palavra de Isabel. . de corpo e alma e para sempre a morada do Senhor. acrescenta mais uma palavra: "A sua misericórdia estende-se sobre aqueles que o temem". a fé que Deus existe não é uma informação como as outras. mas temos temor de Deus. acreditar constitui a orientação fundamental da nossa vida. completada no Magnificat de Maria: "Bendita aquela que acreditou". de que fala a primeira leitura de hoje. e o amor é vulnerável. a vida é luz. A Mulher é o que nos indicam a primeira leitura e o Evangelho é mais vigorosa porque Deus é mais forte. E quem vence não é o dragão. pois não mudam a nossa vida. que é a Igreja. impelindo-me a apegar-me a Deus. uma ideia. Esta é a grande consolação contida no dogma da Assunção de Maria de corpo e alma à glória do céu. mas vejamos também esta consolação como um compromisso para nós. daquele Deus que se fez homem e. mesmo sendo de origem davídica. para que nos ajude em ordem à vitória da paz hoje: "Rainha da Paz. na qual se começa a ser soberbos. Estou contente por poder visitar mais uma vez os lugares que me são familiares. Agradeço a Deus esta bela Pátria e as pessoas que fizeram com que ela fosse a minha Pátria. formando o meu pensamento e os meus sentimentos: os lugares nos quais aprendi a crer e a viver. Mas com o tema "Deus" está relacionado o tema social: a nossa responsabilidade recíproca. enquanto há o perigo de que a preocupação pelo direito dos pobres venha a faltar. mas no final morreu na pobreza extrema da Cruz. da paz. Demos graças ao Senhor por esta consolação. 10 de Setembro de 2006 Queridos irmãos e irmãs! Em primeiro lugar gostaria mais uma vez de vos saudar a todos com afecto: sinto-me feliz. 4). Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI A MÜNCHEN. Isto é expresso de modo dramático na segunda leitura. grita o profeta Isaías (35. acentuando de acordo com as circunstâncias um ou outro dos seus aspectos. que no fundo permanece um só. real. deixa intuir a imagem de Jesus. como já disse. por me poder encontrar de novo entre vós e celebrar juntamente convosco a Santa Missa. E oremos a Maria. . levando-nos assim pelo caminho recto da vida. na qual Tiago. nas suas palavras. Elas desenvolvem um duplo tema. um parente próximo de Jesus. Tiago. em vista de nos colocarmos do lado do bem. isto é. É uma ocasião para agradecer a quantos vivos e mortos me guiaram e acompanharam. Ele dirige-se a uma comunidade. nos fala. que tiveram uma influência determinante sobre a minha vida. tornou-se um homem simples entre os homens simples. Querem guiar-nos para Deus. a nossa responsabilidade pela supremacia da justiça e do amor no mundo. roga por nós". não se sentou num trono. Rainha da Paz. ALTÖTTING E REGENSBURG (9-14 DE SETEMBRO DE 2006) HOMILIA DO SANTO PADRE DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA ESPLANADA DE NEUE MESSE (NOVA FEIRA) München. porque nela se encontram também pessoas ricas e distintas. A Carta de Tiago e o trecho evangélico dizem de diferentes maneiras a mesma coisa. "Eis o vosso Deus!". Acabámos de ouvir as três leituras bíblicas que a liturgia da Igreja escolheu para este domingo. As três leituras falam de Deus como centro da realidade e da nossa vida pessoal. é o termo de comparação pela fé e pelo amor de Deus. Mas. introdulos na igualdade e na fraternidade. mas significa que Deus deve tornar-se a força determinante para a nossa vida e para o nosso agir. Os Padres falam dos homens e para os homens do seu tempo. Isaías. simplesmente. rezamos para que a vontade de Deus determine agora a nossa vontade e assim Deus reine no mundo. a lei da realeza de Deus. portanto. também "lei da liberdade": se todos pensam e vivem segundo Deus. É isto que pedimos quando rezamos: "Venha o vosso Reino". Os nossos sentidos interiores correm o perigo de se apagarem. O evangelista . e Tiago. O que se diz acerca dele parece-nos pré-científico. O horizonte da nossa vida é limitado de modo preocupante. pôs um pouco de saliva na língua do doente e disse: "Effatha" "Abre-te!". mas atinge também o nosso coração. Mas toda a vicissitude apresenta outra dimensão. 8) deixando entrever a palavra profética de Jesus: a realeza de Deus. que nós próprios talvez nem sequer desejemos experimentar. Com a falta desta percepção é limitado de maneira drástica e perigosa o alcance da nossa relação com a realidade. Ao contrário. fala logicamente também de Deus. Não existe apenas a surdez física. Isto diz respeito obviamente a todos nós: Jesus indica-nos a direcção do nosso agir. então tornamo-nos todos iguais. O Evangelho narra-nos que Jesus colocou os dedos nos ouvidos do surdo-mudo. a quantos são postos na margem da sociedade. Também ali encontramos de novo os dois aspectos do único tema. proporcionando-lhes assim a possibilidade de viver e decidir juntos.O amor ao próximo. No fundo desejamo-lo verdadeiramente? Estamos a orientar a nossa vida naquela direcção? Tiago chama a "lei real". Com a debilidade dos ouvidos ou até com a surdez em relação a Deus perde-se naturalmente também a capacidade de falar com Ele ou d'Ele. do qual somos filhos. Esta oração dirige-se sem dúvida em primeiro lugar a Deus. 2. rezemos para que a justiça e o amor se tornem forças decisivas na ordem do mundo. que os Padres da Igreja ressaltaram com insistência e que hoje diz respeito de modo especial também a nós. tornamo-nos livres e desta forma nasce a verdadeira fraternidade. Não pedimos uma coisa qualquer distante. que em primeiro lugar é solicitude pela justiça. falando da ordem social como expressão irrenunciável da nossa fé. o domínio de Deus. Cura-os e. já inadequado ao nosso tempo. não o conseguimos ouvir mais são demasiadas as frequências diferentes que ocupam os nossos ouvidos. falando de Deus "Eis o vosso Deus" fala ao mesmo tempo da salvação para os que sofrem. Isto não indica um reino qualquer que chegará de vez em quando. Mas o que dizem refere-se de modo novo também a nós homens modernos. Existe uma debilidade dos ouvidos em relação a Deus da qual sofremos sobretudo neste nosso tempo. falta-nos uma percepção decisiva. na primeira leitura. Mas agora devemos dirigir a nossa atenção ao Evangelho que narra a cura de um surdomudo realizada por Jesus. Nós. Tiago chama-o "lei real" (cf. que exclui em grande medida o homem da vida social. Jesus dedica-se aos que sofrem. desta forma. e contudo não pertence a um passado distante: Jesus realiza a mesma coisa de modo novo e repetidas vezes também hoje. Sempre de novo. capacidades técnicas e instrumentos. encontro imediatamente as portas abertas. acreditado e amado. O Baptismo abre um caminho. me contaram como os católicos alemães os ajudaram de maneira grandiosa na reconstrução das suas igrejas gravemente em ruínas devido aos decénios do domínio comunista. um ou outro Bispo africano diz: "Se apresento na Alemanha projectos sociais. para que por exemplo a Sida possa ser combatida enfrentando verdadeiramente as suas causas profundas e curando os doentes com a devida atenção e com amor. Também os Bispos dos Países Bálticos. ali levaremos muito pouco. o seu ouvir o Pai e falar com Ele. habilidades. O caminho do ser baptizados deve tornar-se um processo de desenvolvimento progressivo. A questão social e o Evangelho são entre si inseparáveis.conservou-nos a palavra aramaica original que Jesus então pronunciou. A Igreja católica na Alemanha é grandiosa nas suas actividades sociais. o Sacramento do Baptismo. que o Deus de Jesus Cristo deve ser conhecido. quando Deus vem a faltar na nossa vida e no nosso mundo? Antes de fazer outras perguntas gostaria de contar algumas das minhas experiências feitas nos encontros com os Bispos do mundo inteiro. Onde dermos aos homens só conhecimentos. durante as suas visitas "ad Limina". no qual nós crescemos na vida de comunhão com Deus. Contudo. . 18): mediante a fé. mesmo se já não temos ouvidos nem olhos para Deus e vivemos sem Ele. Introduz-nos na comunidade dos que são capazes de ouvir e de falar. que vieram antes das férias. alcançando assim também um olhar diferente sobre o homem e sobre a criação. O Evangelho convida-nos a tomar consciência de que em nós existe uma deficiência em relação à nossa capacidade de percepção uma carência que inicialmente não sentimos como tal. Mas é verdade que tudo procede normalmente. É evidente que existe em alguns a ideia de que os projectos sociais devem ser promovidos com a máxima urgência. nada possui de mágico. na sua disponibilidade para ajudar onde quer que haja necessidade. a experiência daqueles Bispos é precisamente que a evangelização deve ter a precedência. No Baptismo Ele realizou sobre nós este gesto do tocar e disse: "Effatha!" "Abre-te!". os Bispos. porque aparentemente tudo procede de modo normal. ultimamente da África. porque precisamente o restante é recomendado devido à sua urgência e racionalidade. Mas se apresento um projecto de evangelização. encontro bastantes reticências". para nos tornar capazes de ouvir Deus e para nos dar de novo a possibilidade de falar com Ele. para que também as coisas sociais possam progredir. O que ali é narrado é uma coisa única. Jo 1. Mas. contam-me com gratidão a generosidade dos católicos alemães e encarregam-me de me fazer intérprete desta sua gratidão o que agora desejo fazer publicamente. deve converter os corações. Jesus quer partilhar connosco o seu ver Deus. Mas este acontecimento. para que se dê início à reconciliação. o único que viu Deus e portanto pôde falar d'Ele (cf. transferindo-nos assim directamente para aquele momento. introduz-nos na comunhão com o próprio Jesus. de vez em quando. enquanto que as coisas que se referem a Deus ou até à fé católica são coisas bastante particulares e menos prioritárias. O mundo precisa de Deus. Não faltamos ao respeito pelas outras religiões e culturas. as populações da África e da Ásia admiram as capacidades técnicas do Ocidente e a nossa ciência.Então manifestam-se muito depressa os mecanismos da violência. considerando que esta é a forma mais sublime da razão. se Deus estiver de novo presente para nós e em nós. o Filho de Deus encarnado que aqui nos olha com tanta insistência. o ouçam. para a qual nos convida na liturgia e cuja fórmula essencial nos deixou no Pai-Nosso. o procurem. Queridos amigos. que deve ser imposta também às suas culturas. este cinismo não é o tipo de tolerância e de abertura cultural que os povos esperam e que todos nós desejamos! A tolerância da qual temos urgente necessidade inclui o temor de Deus o respeito por aquilo que para outros é sagrado. Não impomos esta fé a ninguém. ao seu agir e à sua palavra. 4). torna-se a capacidade para alcançar o poder um poder que algumas vezes deveria trazer o direito. nem ao respeito profundo pela sua fé. "o amor até ao fim". Um semelhante género de proselitismo é contrário ao cristianismo. perdem-se. Mas o mesmo profeta revela depois em que ela consiste: na bondade restabelecedora de Deus. mas no desprezo de Deus e no cinismo que considera o desprezo do sagrado um direito da liberdade e eleva a utilidade ao supremo critério moral para os futuros sucessos da pesquisa. mas é precisamente destes critérios que tudo depende: critérios que não são apenas teorias. Os critérios segundo os quais a técnica entra ao serviço do direito e do amor. que cure de novo a nossa debilidade dos ouvidos em relação a Deus. É este o Deus do qual temos necessidade. o profeta dirige-se a um povo oprimido dizendo: "A vingança de Deus virá" (Vulg. Portanto. este respeito por aquilo que os outros consideram sagrado pressupõe que nós mesmos aprendamos de novo o temor de Deus. mas que nunca será capaz de o fazer. A explicação definitiva da palavra do profeta. e a capacidade de destruir e de matar torna-se a capacidade prevalecente. Este sentido de respeito só pode ser regenerado no mundo ocidental se crescer de novo a fé em Deus. afastamo-nos cada vez mais da reconciliação. Desta forma. A verdadeira ameaça à sua identidade não a vêem na fé cristã. Nós aqui reunidos pedimos ao Senhor com todo o coração que pronuncie de novo o seu "Effatha!". A fé pode desenvolver-se unicamente na liberdade. que nos torne capazes de ver e de ouvir. De qual Deus? Na primeira leitura. Pedimos-lhe que nos ajude a reencontrar a palavra da oração. mas que iluminam o coração orientando assim a razão e o agir pela recta via. encontramo-la n'Aquele que morreu na Cruz: em Jesus. mas ao mesmo tempo assustam-se perante um tipo de razão que exclui totalmente Deus da visão do homem. se confessarmos em voz alta e sem meios termos . Mas é à liberdade dos homens que apelamos para que se abram a Deus. 35. do compromisso comum pela justiça e pelo amor. Sem dúvida. Nós precisamos de Deus. A sua "vingança" é a Cruz: o "Não" à violência. Podemos intuir facilmente como o povo imagina essa vingança. da nossa vida. a sua misericórdia. O que nos disse neste trecho que há pouco nos foi lido? Ele fala de um mundo reconciliado.aquele Deus que opõe à violência o seu sofrimento. chamado Apocalipse. e em frente. como limite e superação. Bem. em direcção ao futuro. diz a nossa Leitura. como disse Jesus certa vez. Não queremos dizer no final: tomei a estrada errada. Mas. progredindo rumo ao futuro. é: essas pessoas vivem com Deus. tribos. E queremos encontrar a estrada certa: descobrir a vida verdadeira. que perante o mal e o seu poder eleva. para que Ele esteja no meio de nós e nos ajude a ser suas testemunhas credíveis. onde ninguém pode chegar. escutemos agora o vidente do Apocalipse. não acabar num beco sem saída ou no deserto. Nós queremos alegrarnos com a vida. Ele armou a sua tenda no meio de nós: em Jesus tornou-se um de nós. com carne e sangue como nós. Com efeito. 15). De um mundo no qual homens "de todas as nações. 9) estão reunidos na alegria. Ao vidente é concedido olhar para o alto. Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI A MÜNCHEN. onde se lê: "E o Verbo fezse homem e veio habitar connosco" (1. Então perguntamo-nos: "Como pode acontecer isto? Qual é a estrada que leva a esta situação?". povos e línguas" (7. A Ele dirigimos a nossa súplica. E perguntamo-nos ainda: "O que é esta "tenda de Deus"? Onde está? Como podemos chegar até ela?". E na Ascensão não foi para um lugar longe de nós. durante a nossa vida estamos todos a caminho. a minha vida faliu. A sua tenda. 14). 10 de Setembro de 2006 Queridas crianças da Primeira Comunhão Estimados pais e educadores! Queridos irmãos e irmãs! A leitura que acabámos de ouvir é um trecho do último livro dos escritos neotestamentários. "ter vida em abundância". O vidente refere-se talvez ao primeiro capítulo do Evangelho de João. Esta é a sua tenda. num lugar muito distante do universo. precisamente desse modo ele fala também da terra e do presente. não deu certo. a mais importante. Ele mesmo com o seu . Deus não está longe de nós. Mas. Ele "abrigá-los-á na sua tenda" (7. queremos. a primeira coisa. no céu. ALTÖTTING E REGENSBURG (9-14 DE SETEMBRO DE 2006) HOMILIA DO SANTO PADRE NA SOLENE CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS NA CATEDRAL DE MÜNCHEN Domingo. uma pessoa de verdade e de bondade uma pessoa da qual transparece o esplendor do bem. isto é Jesus. Podemos tratá-lo por Tu e falar com Ele. com a Igreja. Queridos pais! Gostaria de vos convidar vivamente a ajudar as vossas crianças a crer. a nossa Leitura dá duas respostas. no qual Deus se doa a nós. O vidente dá-nos a segunda resposta à pergunta "onde encontramos Jesus" novamente na sua linguagem cifrada. a ficção. na fé e na vida com Ele. o seu amor toca-nos profundamente para nos purificar e nos tornar luminosos. contudo. por Ele conservado até à morte cruenta. na qual Deus fala e vive connosco. E faz isto sobretudo na santa Comunhão. o mal em geral. a acompanhá-las no seu caminho rumo a Jesus e . tornamo-nos pessoas claras. guia os homens às fontes da vida. Repito: em Jesus é Deus que "acampa" no meio de nós. Isto parece-nos muito estranho. e se estivermos atentos. convidar-vos a acompanhá-las no seu caminho rumo à Primeira Comunhão. o Sacramento da Comunhão. por assim dizer. Sem água não existe vida. A Sagrada Escritura. é somente o início. um caminho que continua também depois. adequadas a Deus. Ao caminhar com Jesus. o branco era a cor da luz. O Cordeiro. depomos as trevas. torna-te tu mesmo uma pessoa luminosa.Corpo. O acto do Baptismo. da bondade do próprio Deus. A palavra acerca do "sangue do Cordeiro" refere-se ao amor de Jesus. 14). Mas algo mais pertence a essas fontes: em verdade. Podemos constatar isto: mediante a Eucaristia. e ao mesmo tempo humano. tornando-nos limpos para sermos adequados a Deus. Segundo a ideia do mundo antigo. que nos guia para as fontes da vida verdadeira. Fala dos homens reconciliados que "lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro" (7. Escutámos que no banho do amor as vestes tornaram-se cândidas. As vestes brancas significam que na fé nos tornamos luz. na qual podemos. Deste modo é que devemos receber a santa Comunhão: como encontro com Jesus. é a purificação na qual Ele nos imerge no Baptismo a purificação com a qual nos lava. Sabiam-no bem as pessoas cuja pátria confinava com o deserto. faz parte dessas fontes. a mentira. O hábito baptismal e o da Primeira Comunhão que vestis querem recordar-nos e dizer-nos: mediante a convivência com Jesus e com a comunidade dos crentes. Este amor divino. com o próprio Deus. na qual Deus nos fala e nos diz como viver de modo justo. para podermos viver na sua companhia. beber directamente na fonte da vida: Ele vem a nós e une-se a cada um de nós. Assim a água nascente tornou-se para eles o símbolo por excelência da vida. a autêntica fonte é o próprio Jesus. forma-se uma comunidade que ultrapassa todos os confins e abraça todas as línguas vemos isso aqui: estão presentes Bispos de todas as línguas e de todas as partes do mundo através da comunhão forma-se a Igreja universal. ouvimos também que Ele responde. Ele escuta-nos. permanece entre nós como um de nós. Ele diz que o Cordeiro guia a multidão de pessoas de todas as culturas e nações às fontes de água viva. Mas repito também: Onde é que isto acontece realmente? À pergunta. Constitui uma menção ao Baptismo na linguagem cifrada do vidente. escola e paróquia caminham juntos e ajudam-nos a encontrar a estrada rumo às fontes da vida e. acompanhai as vossas crianças à igreja para participar na Celebração eucarística de domingo! Vereis que isto não é tempo perdido. ao contrário. se juntos participais na Liturgia dominical. queridas crianças. e não os critérios que dão uma orientação e um sentido aos conhecimentos e às habilidades. dando-lhe o seu centro. Queridos professores de religião e caros educadores! Peço-vos de coração para manter presente na escola a busca de Deus. Queridos Pastores de almas e todos vós que desempenhais actividades de ajuda na paróquia! A vós peço para fazer todo o possível a fim de tornar a paróquia uma pátria interior para as pessoas uma grande família.com Jesus. A oração leva-nos não somente para Deus. e experimenta-se esta sua proximidade na oração. todos nós desejamos verdadeiramente "a vida em abundância". aprendendo mediante a liturgia. Amém. queridos pais e queridos educadores. a catequese e todas as manifestações da vida paroquial a caminhar juntos na estrada da vida verdadeira. Estimulai os alunos a fazer perguntas não somente sobre isto ou aquilo o que também é positivo mas a perguntar sobretudo acerca do "de onde" e do "para onde" da nossa vida. É uma força de paz e de alegria. mas também uns em direcção aos outros. daquele Deus que em Jesus Cristo se tornou visível para nós. ALTÖTTING E REGENSBURG (9-14 DE SETEMBRO DE 2006) HOMILIA DO SANTO PADRE DURANTE A SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA PRAÇA DO SANTUÁRIO DE ALTÖTTING . na qual experimentamos ao mesmo tempo a família ainda maior da Igreja universal. Os três lugares da formação família. A vida em família torna-se mais cordial e adquire um alívio mais amplo se Deus estiver presente. toda a semana torna-se mais bonita. E. O domingo torna-se mais bonito. é o que mantém a família verdadeiramente unida. por favor. VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI A MÜNCHEN. Sei que no nosso mundo pluralista é difícil iniciar na escola o discurso sobre a fé. Peço-vos. Ajudai-os a perceber que todas as respostas que não chegam até Deus são demasiado curtas. Mas não é de facto suficiente que as crianças e os jovens adquiram na escola somente alguns conhecimentos e algumas habilidades técnicas. rezai juntos também em casa: à mesa e antes de dormir. no salmo responsorial e no trecho evangélico deste dia encontramos três vezes. é praticamente a Igreja orante em pessoa. Na Terra Santa. isto pode parecer um diálogo totalmente humano entre a Mãe e o Filho e. Assim. Todavia. Enfim. À primeira vista. engrandece o Senhor". produza vinho.Segunda-feira. deixá-lo entrar no nosso tempo e no nosso agir: esta é a essência mais profunda da verdadeira oração. contando com a sua fantasia e a sua disponibilidade em socorrer. Vale a pena mergulhar um pouco mais profundamente na escuta deste trecho evangélico: para compreender melhor Jesus e Maria. mas diz-lhe somente: "Não têm vinho" (Jo 2. 3). No Livro dos Actos encontramo-la no meio da comunidade dos Apóstolos que se reúnem no Cenáculo e invocam o Senhor que subiu ao Pai. Ela confia uma necessidade humana ao seu poder a um poder que vai para além da habilidade e da capacidade humanas. o homem não é diminuído: ali também o homem é engrandecido e o mundo luminoso. E assim juntamente com a grande comunidade dos santos e como seu centro. cantando juntamente com Maria o grande louvor entoado por Ela. nelas participava todo o povoado. 5). quando Isabel a chamou bem-aventurada em virtude da sua fé. Maria não dirige um verdadeiro pedido a Jesus. como pessoa que reza. e Maria simplesmente refere tal facto a Jesus. Simplesmente confia a situação a Jesus. de bênção pelas suas grandes obras. mas precisamente para aprender também de Maria a rezar da maneira justa. e ainda menos que Jesus exerça o seu poder. realize um milagre. efectivamente. é um diálogo repleto de profunda humanidade. no diálogo com Jesus. Onde Deus é engrandecido. vós sereis baptizados no Espírito Santo" (Act 1. nas palavras simples da Mãe de Jesus identificamos dois . Trata-se de uma prece de acção de graças. deixando-lhe a decisão sobre como agir. Engrandecer Deus significa dar-lhe espaço no mundo. neste trecho evangélico Maria dirige ao seu Filho um pedido em favor dos amigos que se encontram em dificuldade. de modo sempre diferente. pedindo ao seu Filho que envie novamente o seu Espírito à Igreja e ao mundo. Agora os esposos encontram-se em dificuldade. encontra-se também hoje diante de Deus e intercede por nós. de alegria em Deus. a fim de que cumpra a sua promessa: "Dentro de pouco tempo. na própria vida. que intercede. Maria guia a Igreja nascente na oração. E assim. Nós respondemos a esta leitura. e que renove a face da terra. 11 de Setembro de 2006 Caros irmãos no ministério episcopal e sacerdotal Amados irmãos e irmãs Na primeira leitura. Maria dirige-se a Jesus não simplesmente como a um homem. a Mãe do Senhor. Maria. Não lhe pede algo específico. O teor deste canto sobressai imediatamente nas primeiras palavras: "A minha alma glorifica isto é. vemo-la realmente como Mãe que suplica. as bodas festejavam-se durante uma semana inteira. e portanto consumiam-se grandes quantidades de vinho. qualquer que ela venha a ser. Jo 19. 38). dando-lhe confiança na convicção de que a sua resposta. entregou a sua vontade. Mas a este primeiro aspecto. Por que motivo Ele não diz: mãe? Na realidade. em que Jesus lhe dirá: "Mulher. à qual as pessoas há gerações se põem em peregrinação aqui em Altötting. a nossa Mãe: aparentemente pouco afectuoso. será o nosso. as necessidades e as situações de dificuldade.elementos: por um lado. De Maria aprendemos a bondade pronta a ajudar. Assim. Esta é a Mãe. a companheira do Redentor. já estamos no bom caminho para compreender a sua resposta. no Evangelho de João. É aqui na Sagrada Escritura que vemos pela primeira vez a bondade da Mãe pronta a ajudar. que brotou das profundidades do seu coração. Penso que podemos compreender muito bem a atitude e as palavras de Maria. E não apenas o teu corpo: com o "sim". Mas agrada-nos ainda menos aquilo que em seguida. Por conseguinte. o sangue o teu corpo. infundindo-a na vontade de Deus: "Eis a serva do Senhor. sua mãe. une-se mais um que facilmente nos passa despercebido: Maria remete tudo ao juízo do Senhor. com amor materno. no qual Ela diz: "Faça-me em mim segundo a tua palavra" (Lc 1. Ele remete ao futuro. faça-me em mim segundo a tua palavra" (Lc 1. por mais razoáveis que nos possam parecer. Confiamos-lhes as nossas preocupações. por mais importantes que sejam. Por outro lado. este título exprime a posição de Maria na história da salvação. este apelativo expressa ao contrário a grandeza da sua missão perene. eis a tua mãe!" (cf. o meu verdadeiro bem. tornando-se um só. Adão sente-se sozinho como ser humano. Gostaríamos de objectar: tens muito a ver com Ela! Foi Ela quem te deu a carne. a mãe de todos os seus discípulos. carregou-te no seu seio e. 4). que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora" (Jo 2. É assim que Ela nos ensina a rezar: não desejar afirmar diante de Deus a nossa vontade e os nossos desejos. Esta é a sua atitude fundamental permanente. mas também a humildade e a generosidade de aceitar a vontade de Deus. 26-27). Então é criada Eva. em quem temos confiança. Jesus diz a Maria: "Mulher. contudo. em quem ele encontra a companheira que esperava e a quem chama com o título de "mulher". Já o apelativo não nos agrada: "Mulher". a atenção materna com que sente a dificuldade do próximo. vemos a sua bondade cordial e a sua disponibilidade a ajudar. mas levá-los até à sua presença e deixar que Ele decida o que tenciona fazer. Maria representa a nova e definitiva mulher. à hora da crucifixão. Mas se falamos assim com Jesus. indica antecipadamente a hora em que Ele fará da mulher. introduziute na vida e ambientou-te no seio da comunidade do povo de Israel. muito conhecido por todos. a sua solicitude carinhosa pelos homens. há o diálogo que Maria mantém com o Arcanjo Gabriel. eis o teu filho filho. em Caná. Pois tudo isto deve evocar na nossa memória o facto de que por ocasião da Encarnação de Jesus existem dois diálogos que caminham juntos e se fundamentam um ao outro. Em Nazaré. este título evoca a narração da criação de Eva: no meio da criação com todas as suas riquezas. . Em primeiro lugar. 38). temos ainda maior dificuldade de entender a resposta de Jesus. É precisamente para ali que remete a sua Mãe. 5). também a necessidade do momento é resolvida de modo verdadeiramente divino. é ali que sobressai a resposta às nossas interrogações. Jesus não realiza um prodígio. depois da resposta de Jesus. É este ponto da sua profundíssima unidade que o Senhor tem em vista com a sua resposta.. quando diz que as palavras tiradas do Salmo 40 se tornaram como que um diálogo entre Pai e Filho um diálogo em que tem início a Encarnação. O "sim" do Filho: "Venho para fazer a tua vontade". Ele age sempre a partir do Pai. que parece rejeitar o pedido. e deste modo o Verbo torna-se carne em Maria. deposita o seu Corpo nas nossas mãos e no nosso coração: esta é a hora das núpcias. que tem isso a ver contigo e comigo?". Sl 40.. Não. a hora da qual brota o Sacramento. . e o "sim" de Maria: "Faça-me em mim segundo a tua palavra" este dúplice "sim" torna-se um único "sim". um diálogo por assim dizer no interior de Deus. em última análise. compreendemos agora também a segunda frase da resposta de Jesus: "Ainda não chegou a minha hora". Também nós devemos aprender sempre de novo a caminhar rumo rumo a este ponto. Ele antecipa a sua hora já no momento presente. a hora da união entre Deus e o homem. mas transforma as bodas humanas numa imagem das núpcias divinas. deixa que o seu corpo seja dilacerado e assim se entrega a Si mesmo a nós para sempre. tornando-se um só connosco união entre Deus e o homem. O Filho eterno diz ao Pai: "Tu não quiseste sacrifício nem oferenda. As bodas tornam-se imagem daquele momento. cf. que Ela quis inserir também o seu pedido. a obediência do Filho faz-se corpo. 57. A partir dali. e é precisamente isto que O une a Maria. Ele não "produz" simplesmente vinho. A hora da Cruz. para fazer. em que Jesus leva o seu amor até ao extremo. Aquilo que mais profundamente têm a ver um com o outro é este dúplice "sim". Jesus jamais age exclusivamente sozinho. 6-8). Por isso. em cuja coincidência teve lugar a Encarnação. do qual nos faz menção a Carta aos Hebreus. mas preparaste-me um corpo. Neste dúplice "sim". ó Deus.. Maria dá-lhe um corpo. Eis que venho. neste "sim" conjunto à vontade do Pai. nesta unidade de vontade com o Pai. a tua vontade" (Hb 10. para as quais o Pai convida através do Filho e nas quais Ele confere a plenitude do bem. surpreendentemente e com simplicidade Ela pode dizer aos servos: "Fazei tudo o que Ele vos disser" (Jo 2.Mas existe um texto paralelo a este. mediante o qual anuncia a sua hora. é totalmente particular. A hora de Jesus ainda não chegou. Ele realiza um sinal. no sinal do dom festivo. mas no sinal da transformação da água em vinho. em que Ele se entrega realmente a nós em carne e sangue. mediante o seu "sim". "Mulher. não brinca com o seu poder numa situação que.. É ali. porque foi ali. Assim. e o pedido inicial é ultrapassado amplamente. nunca para agradar os outros. a hora das bodas. representada pela abundância do vinho. que se encontra a solução. também precisamente na Eucaristia. pedindo que ela chegue já agora e que se entregue a nós. religiosos e membros da Pontifícia Obra para as Vocações de Especial Consagração na Basílica de Santa Ana. pela Mãe de todos os fiéis. na antiga sala do tesouro. Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI A MÜNCHEN. Peçamos-lhe o dom de O reconhecer e compreender cada vez mais. a sua hora definitiva será o seu retorno no final dos tempos. a Igreja implora sempre de novo esta antecipação da "hora". No Cânone. 11 de Setembro de 2006 Estimados amigos Neste lugar de graça. Através dela queremos permanecer em diálogo com o Senhor. Assim desejamos deixar-nos orientar por Maria. E não permitamos que o nosso receber seja reduzido unicamente ao momento da Comunhão. Ele chama cada um pelo nome. rogai por nós. Altötting.A sua "hora" é a Cruz. aprendendo deste modo a recebê-lo melhor. A adoração do Senhor na Eucaristia encontrou em Altötting. religiosas. Ele antecipa de forma incessante esta hora definitiva. mas para cada um de nós o Senhor tem um seu plano. Estamos aqui congregados para nos interrogarmos sobre a nossa vocação ao serviço de Jesus Cristo e para compreender esta nossa vocação sob os olhos de Santa Ana. fá-lo por intercessão da sua Mãe. por intercessão da Igreja. reunimo-nos seminaristas a caminho do sacerdócio. como em Caná rogastes pelos esposos! Guiai-nos sempre de novo rumo a Jesus. Ele permanece presente na Hóstia santa e espera-nos continuamente. pela Mãe das Graças de Altötting. Senhor Jesus!". onde se manifesta sempre já neste momento. ALTÖTTING E REGENSBURG (9-14 DE SETEMBRO DE 2006) HOMILIA DO SANTO PADRE NAS VÉSPERAS MARIANAS COM OS RELIGIOSOS E OS SEMINARISTAS NA BASÍLICA DE SANTA ANA Altötting. Por conseguinte. E sempre de novo. a Mãe do Senhor. que O invoca nas preces eucarísticas: "Vem. rumo àquela "hora" de Jesus. em cuja casa amadureceu a maior vocação da história da salvação. o Anjo não entra de modo visível. Santa Mãe de Deus. No nosso quarto. diante do Santuário da sua Filha. Maria recebeu a sua vocação dos lábios do Anjo. um novo lugar. a nossa tarefa . Maria e Jesus caminham juntos. presbíteros. Acontece como com André. caminham sempre em Deus. afirma: "Estabeleceu Doze para estarem com Ele e para os enviar. diz-nos Ele mediante o profeta Isaías (43. a messe de Deus é grande e espera trabalhadores: no chamado Terceiro Mundo na América Latina. aqui na Alemanha. mas não eram capazes de ver como orientar bem a sua vida. . Onde vamos. te chamei pelo teu nome". bem como na vastidão da Rússia é verdade que a messe poderia ser grande. Mas também no chamado Ocidente. que agiram correctamente com o dom que lhes foi confiado. Senhor. Senhor. Porém. "E levou-o até Jesus". Permanecer com Ele e ser enviados duas coisas inseparáveis entre si. corajosas e fiéis. de testemunhas para Vós. portanto. Quem está com Ele não conserva para si mesmo aquilo que encontrou.. olhai a tribulação desta nossa hora.. na narração da escolha dos Doze. 37s. que ao seu irmão Simão disse: "Encontrámos o Messias!" (Jo 1. na África. colocar-se a caminho rumo às pessoas estas duas coisas são paralelas e. ao mesmo tempo. "Nada temas.." (Mc 3. mas os trabalhadores são poucos. na Ásia as pessoas esperam arautos que anunciem o Evangelho da paz. acrescenta o Evangelista (Jo 1. Permanecer com Ele e. o Papa Gregório Magno disse uma vez que os anjos de Deus. Acontece hoje. quando dizemos "sim" à chamada do Senhor? A descrição mais concisa da missão sacerdotal que é válida analogamente também para as religiosas e os religiosos é-nos oferecida pelo Evangelista Marcos que. mas deve transmiti-lo. constituem a essência da vocação espiritual do sacerdócio. como outrora.). Sabemos que o Senhor procura trabalhadores para a sua messe. quando o Senhor foi tomado pela compaixão diante das multidões que lhe pareciam como ovelhas sem pastor pessoas que provavelmente sabiam muitas coisas. disse o Anjo a Maria. Rogai. 14). a qualquer distância que cheguem com as suas missões. de pessoas que indiquem o caminho rumo à "vida em abundância"! Vede o mundo e também agora deixai-vos tomar pela compaixão! Olhai o mundo e enviai trabalhadores! Com este pedido nós batemos à porta de Deus. ao Senhor para que envie trabalhadores para a sua messe!" (Mt 9. Foi por isso que nos reunimos aqui: para apresentar este pedido ao Senhor da messe. 41). para O seguir e no final para sermos servos fiéis. Numa das suas homilias. 42). como enviados. 1) a cada um de nós. a mensagem do Deus que se fez Homem. Sim. porque Eu.. Vós quereis-me? Isto não seria porventura demasiado grande para mim? Não sou talvez demasiado pequeno para isto? "Não temas". Somente quem permanece "com Ele" aprende a conhecê-lo e pode anunciá-lo autenticamente.consiste em tornarmo-nos pessoas em escuta. mas é também com este mesmo pedido que o Senhor bate ao nosso próprio coração. que tem necessidade de mensageiros do Evangelho. Foi Ele mesmo que o disse: "A messe é grande. faltam homens que estejam dispostos a tornar-se operários na messe de Deus. capazes de ouvir a sua chamada. na medida em que lhes for possível" (Gesammelte Werke VII. assim nos diz. Quem o encontrou. Numa das suas parábolas. o Senhor narra-nos acerca do tesouro escondido no campo. que escreve numa das suas cartas: "O Senhor está presente no tabernáculo com divindade e humanidade. E porque sabe que nós. uma vez que o tesouro escondido ultrapassa todos os outros valores. mas procurar também a palavra que o Senhor actualmente me dirige. Altötting obteve uma nova "sala do tesouro". O tesouro escondido. celebrada sempre com profunda participação interior. Gostamos de estar com o Senhor! Ali podemos falar de tudo com Ele. é o Reino de Deus é o próprio Jesus. o verdadeiro tesouro. E falando dos anjos. está presente na santa Hóstia para O podermos receber sempre. objectos preciosos da história e da piedade. vende todos os seus bens para poder comprar o campo. a força interior que os sustém. contudo envolvendo também quantos não têm tempo nem possibilidade de tal oração.Estão sempre com Ele. Aquilo que fazem torna-se um activismo vazio. Graças ao Bispo D. estamos com Ele. temos necessidade da sua proximidade pessoal. se unimos a nossa palavra e o agir à palavra que nos precede e ao rito da celebração eucarística. Lá onde outrora eram conservados os tesouros do passado. Se a celebramos verdadeiramente como pessoas orantes. A consequência. hoje encontra-se o lugar para o verdadeiro tesouro da Igreja: a presença permanente do Senhor no Sacramento. em virtude das grandes tarefas. o bem que está acima de todos os demais bens. a coisa primordial e mais importante para o sacerdote é a Missa quotidiana. Somente na adoração desta sua presença aprendemos a recebê-lo de maneira justa aprendemos a comungar. Somente assim seremos capazes de anunciar a Palavra sagrada aos homens deste nosso tempo. é sentir-se atraídos e de parar ali de vez em quando. a Santa coPadroeira da Europa. devemos dedicar-nos sempre de novo à leitura espiritual da Sagrada Escritura. Um modo fundamental de estar com Ele é a Liturgia das Horas: nela oramos como homens necessitados do diálogo com Deus. como Palavra presente e viva de Deus. Schraml. 136 f). aprendemos a celebração da Eucaristia a partir de dentro. A fim de que a nossa Celebração eucarística e a Liturgia das Horas permaneçam repletas de significado. Ele está ali. . mas para nós: porque a sua alegria consiste em estar com os homens. Uma maneira essencial de permanecer com o Senhor é a Adoração eucarística. para quantos pensam e sentem normalmente. Ele. como somos. não para si mesmo. o Senhor que hoje me interpela por meio desta palavra. deveriam "estar com Ele" sempre. não somente decifrar e explicar as palavras do passado. apesar da sua actividade talvez heróica. perdendo ali enfim. o Reino em pessoa. São Gregório pensou também nos bispos e nos sacerdotes: aonde quer que vão. A prática afirma: onde os sacerdotes. se na comunhão nos deixamos realmente abraçar por Ele e se O acolhemos então. Estar com Ele como é que isto se pode realizar? Bem. Gostaria de recordar neste contexto uma bonita citação de Edith Stein. permitem que o acto de estar com o Senhor se reduza cada vez mais. as nossas súplicas e as nossas esperanças. Como o Senhor propõe na parábola. enviai trabalhadores para a vossa messe! Ajudai-me a ser um bom trabalhador da vossa messe!". A nossa gratidão. Deste olhar. Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI A MÜNCHEN. Ele renunciou a uma grande herança. ele escolheu para si realmente o último lugar. Aqui em Altötting pensamos. por isso. Mediante a sua bondade e a sua humanidade ele transmitiu-lhes.Podemos apresentar-lhe as nossas interrogações. para que nos ajude a conservar o olhar fixo no Senhor e que deste modo ele nos ajude a levar o amor de Deus aos homens. realizou precisamente aquilo que São Marcos nos diz dos Apóstolos: o "estar com Ele" e o "ser enviado" para os homens. uma mensagem que valia mais do que simples palavras. estava e ainda hoje está totalmente à disposição dos homens: as pequenas tábuas votivas demonstram-no de modo concreto. para o provocar. que levou a sua vida totalmente no "estar com Jesus" e que. de modo particular no bom frei Konrad. porque queria seguir Jesus Cristo sem reservas e permanecer totalmente com Ele. nesta Basílica. pensemos na importância da família como ambiente de vida e de oração. 12 de Setembro de 2006 Amados irmãos no ministério episcopal e sacerdotal! Queridos irmãos e irmãs! . Da sua cela podia contemplar sempre o tabernáculo. e às vezes com impaciência e confusão. onde se aprende a rezar e onde podem amadurecer as vocações. dirigimos o nosso pensamento a Maria. ele aprendeu a bondade inesgotável com que tratava as pessoas. sem muitas palavras. Aqui. ALTÖTTING E REGENSBURG (9-14 DE SETEMBRO DE 2006) HOMILIA DO SANTO PADRE NA SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NO ISLINGER FELD Regensburg. o lugar do humilde frade porteiro. as nossas preocupações e as nossas angústias. Roguemos ao santo frei Konrad. e com ela na importância das mães e dos pais. As nossas alegrias. "estar com Ele" sempre. que batiam quase ininterruptamente à sua porta por vezes até com maldade. as nossas decepções. naturalmente. E pensemos na sua santa mãe Ana. Na sua portaria. Ali podemos também repetir-lhe sempre de novo: "Senhor. das avós e dos avôs. para a minha pobre pessoa. Contudo agora. fizestes isto na solidariedade da fé. foram preparados alojamentos. assim como empresas e pessoas individualmente. de Cristo e da sua obra da salvação. neste caso também só posso dizer um humilde "obrigado!" por um empenho como este. que o Senhor ressuscitado entregou aos discípulos para todos os tempos quando lhes disse: "Ide. Reunimo-nos para uma festa da fé. baptizando-os em nome do Pai. o passado. colaboraram para embelezar a minha pequena casa e o meu jardim. e segundo a sua história não é mais do que uma amplificação da fórmula baptismal. o Senhor fala acerca disto com o Pai dizendo: "Quiseste revelar estas coisas aos pequeninos aos que são capazes de ver com o coração" (cf. e a alegria que agora sentimos graças à vossa preparação. . Não podia imaginar e agora só o sei em resumo quanto trabalho até aos mínimos pormenores era necessário para que pudéssemos estar aqui todos juntos deste modo. Não fizestes tudo isto só para um homem. pois. No final. o futuro. Dá-nos a alegria em Deus. A Igreja. Mt 11. a eternidade e por isso nunca termina. Permiti que retome mais uma vez o lema destes dias e que expresse a minha alegria porque aqui podemos vê-lo concretizado: a fé reúnenos e proporciona-nos uma festa. vendo as árvores uma por uma."Quem acredita nunca está sozinho". as estradas de acesso e de partida estão livres. cada um de vós a receba centuplicada. etc. o presente. Por tudo isto só posso dizer um simples "muito obrigado!". surge a pergunta: mas na realidade em que cremos? Que significa crer? Pode existir realmente uma coisa como esta no mundo moderno? Vendo as grandes "Sumas" de teologia redigidas na Idade Média ou pensando na quantidade de livros escritos todos os dias a favor ou contra a fé. De facto. que nasce do sermos tocados por Jesus Cristo. deixando-vos guiar pelo amor ao Senhor e à Igreja. O Senhor vos recompense por tudo. Fiquei comovido quando ouvi dizer que muitas pessoas. o Credo compõe-se só de três partes principais. a alegria pela criação e pelo estar juntos. do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28. E contudo. somos tentados ao desencorajamento e a pensar que tudo isto é muito complicado. graças a elas encontra-se aqui na colina a Cruz como sinal de Deus pela paz no mundo. homens e mulheres. não se vê mais o bosque. na qual está expresso tudo o que é essencial: é o chamado "Credo dos Apóstolos". 25). por seu lado. sobretudo das escolas profissionais de Weiden e Amberg. 19). até à ressurreição dos mortos e à vida eterna. Sei que anteriormente esta festa exigiu muita fadiga e muito trabalho. a segurança e a ordem estão garantidas. Normalmente ele está subdividido em doze artigos segundo o número dos doze Apóstolos e fala de Deus. É verdade: a visão da fé inclui céu e terra. no seu núcleo é muito simples. Criador e Princípio de todas as coisas. Mas na sua concepção básica. Um pouco confundido perante tanta bondade. Através das notícias dos jornais pude aperceber-me do número de pessoas que empenharam o seu tempo e as suas forças para preparar esta esplanada de maneira tão digna. oferece-nos uma pequena "Suma". fazei discípulos de todas os povos. Tudo isto é um sinal de verdadeira humanidade. acolhendo-nos assim como filhos na família do próprio Deus. No fim de contas. estranhamente produz um cosmos ordenado de maneira matemática e também o homem. Deus vem ao nosso encontro. no fundo. na medida das nossas possibilidades. Assim a fé. permanece a alternativa: o que existe na origem? A razão criadora. Porque o Baptismo significa que Jesus Cristo. nenhum dos filhos de Deus! Nós cremos em Deus. não é uma teoria. ou a Irracionalidade que. o Espírito Criador que tudo realiza e suscita o desenvolvimento. Com esta fé não precisamos de nos esconder. 15)! Nós cremos em Deus. é sempre também esperança. e isto traz consigo também a esperança e o amor. nos adopta como seus irmãos e irmãs. que é para nós origem e futuro. sem Deus. 3. por assim dizer. também uma coisa irracional. Naquele Deus que entra em relação connosco. a sua razão. a Razão e não a Irracionalidade. Está precisamente ancorado no acontecimento do Baptismo num acontecimento de encontro de Deus com o homem. Afirmam-no as partes principais do Credo e ressalta isto sobretudo a sua primeira parte. Deus. Esta é a primeira coisa: nós simplesmente cremos em Deus. quem acredita nunca está sozinho. sobre todo o universo. Sim. Apresenta-se de novo a pergunta: Mas é possível ainda hoje? É uma coisa razoável? Desde o iluminismo. e as contas sobre o mundo. também a nós na sua Primeira Carta (cf. Sentimos alegria em poder conhecer Deus! E procuramos demonstrar também aos outros a racionalidade da fé. seria apenas um resultado casual da evolução e por conseguinte. porque o amor de Deus nos quer "contagiar". vem ao nosso encontro e deste modo aproxima-nos entre nós. privada de qualquer razão. com eles. Encaminhemo-nos também nós para Deus e assim iremos uns ao encontro dos outros! Não deixemos sós. Cremos em Deus em Deus. Como segunda coisa podemos constatar: o Credo não é um conjunto de sentenças. no mistério do Baptismo. princípio e fim da vida humana. inclina-se sobre o homem. sem Ele não quadram. na qual Deus seja supérfluo. Nós cremos que na origem está o Verbo eterno. é a certeza de que nós temos um futuro e não cairemos no vazio. Criador do céu e da terra" creio no Espírito Criador. pelo menos uma parte da ciência empenha-se com primor a procurar uma explicação do mundo. Mas todas as vezes que poderia parecer que quase se conseguiu chegar a esta conclusão manifestava-se sempre de novo: as contas não quadram! As contas sobre o homem. deste modo faz com que sejamos uma grande família na comunidade universal da Igreja. Mas ela. E assim Ele deveria tornar-se inútil também para a nossa vida. É esta a nossa decisão básica. então.Nesta visão demonstram-se duas coisas: a fé é simples. Nós cristãos dizemos: "Creio em Deus Pai. seres humanos. Por conseguinte. como exortou explicitamente São Pedro os cristãos do seu tempo e. não quadram. não devemos recear que nos encontramos com ela num beco sem saída. E a fé é amor. contemporaneamente. Mas agora segue-se imediatamente a segunda pergunta: . perante a injustiça não devemos permanecer indiferentes. então recordemo-nos das palavras de São João: "Filhinhos meus. cremos precisamente naquele Deus que é o Espírito Criador. 24)! A segunda parte do Credo conclui-se com a perspectiva do Juízo final e a terceira com a da ressurreição dos mortos. Mostrou-se como homem. se alguém pecar. porventura não desejamos todos que um dia seja feita justiça para todos os condenados injustamente. Devemos compreender a nossa missão na história e procurar corresponder-lhe. Para esta finalidade. Deus não nos deixa vacilar no vazio. as destruições da imagem de Deus por causa do ódio e do fanatismo. A fé não nos quer fazer medo. 9). esta união de tantos fragmentos de história que parecem privados de sentido. nem abusar dela. para quantos sofreram ao longo da vida. dirigimos o nosso olhar para o Senhor que aqui. Jesus Cristo" (1 Jo 2. Durante esta celebração solene da Eucaristia. A quem tem este nome a minha mãe e a minha irmã tinham esse nome. de forma que os integram num todo no qual dominem a verdade e o amor: é isto que se compreende com o conceito de Juízo do mundo. no fim se dissolva. mas. está elevado na cruz e pedimos-lhe a grande alegria que Ele prometeu aos discípulos na hora da sua despedida (cf. que tudo tenha um sentido? Esta afirmação do direito. temos junto do Pai um advogado. A segunda parte do Credo diz-nos mais. Ele é tão grande que pode permitir-se de se fazer pequeníssimo. a Mãe do Senhor. Esta Razão criativa é Bondade. Ama-nos a tal ponto que se deixa pregar na Cruz. diante de nós. Só isto nos liberta do receio de Deus um sentimento do qual. escrevo-vos estas coisas para que não pequeis. que todos possam tornar-se alegres. Só olhando para Jesus Cristo. também não devemos tê-la simplesmente para nós. a nossa alegria em Deus alcança a sua plenitude. e pela salvação de todo o mundo são necessárias. "Quem me vê. quando responsabilidade e preocupação tendem a tornar-se receio. pois Deus é maior que o nosso coração e conhece tudo" (1 Jo 3.em que Deus? Pois bem. é importante dizer com clareza em qual Deus nós cremos e professar convictos este rosto humano de Deus. Celebramos hoje a festa do "Nome de Maria". que conhecemos as patologias e as doenças mortais da religião e da razão. Jo 16. Maria. 1). "Mesmo quando o nosso coração nos acuse. se torna alegria remida. mas quer chamar-nos à responsabilidade! Não devemos desperdiçar a nossa vida. para levar os sofrimentos da humanidade até ao coração de Deus. vê o Pai". em definitiva. e depois de uma vida cheia de sofrimentos foram engolidos pela morte? Não queremos porventura todos que o excesso de injustiça e de sofrimento. que vemos na história. Ela tem um rosto. Juízo talvez com isto nos seja inculcado de novo o medo? Mas. como recordou o Bispo desejaria portanto expressar os meus votos mais cordiais pelo seu onomástico. Hoje. nasceu o ateísmo moderno. É Amor. Só este Deus nos salva do medo do mundo e da ansiedade perante o vazio da própria existência. do povo fiel . diz Jesus (Jo 14. cada um deve dar a sua contribuição. Mas. da qual tudo provém e na qual também nós temos a origem. 20). Razão criativa. tornando-nos seus coniventes ou até cúmplices. Não receio mas responsabilidade responsabilidade e preocupação pela nossa salvação. Deus assumiu um rosto humano. podemos crescer contemporaneamente na unidade também entre nós. ALTÖTTING E REGENSBURG (9-14 DE SETEMBRO DE 2006) DISCURSO NA CELEBRAÇÃO ECUMÉNICA NA CATEDRAL DE REGENSBURG Terça-feira. por assim dizer. Daqui a poucos dias será retomado em Belgrado o diálogo teológico sobre o tema fundamental da koinonia. Entre os participantes nestas Vésperas. cheia de solicitude materna e de amor. pessoalmente. como professor em Bonn. Acolhamos também nós Maria como a estrela da nossa vida. A nossa koinonia é. que nos tornam felizes em Deus e alegres pela nossa fé n'Ele. nele. a mulher que sente as necessidades do próximo e. da comunhão nas duas dimensões que a Primeira Carta de João nos indica imediatamente no início. gostaria de saudar cordialmente os representantes da Igreja ortodoxa. no primeiro capítulo. cristãos ortodoxos. acrescentavam-se ulteriores encontros: nos Simpósios sobre o "Spindlhof" e por causa dos bolsistas que estudaram aqui. Estou feliz por rever alguns rostos que desde há muito tempo me são familiares e por reencontrar reavivadas as antigas amizades. Assim a conhecemos desde as núpcias de Caná: como a mulher bondosa. quem crê nunca está sozinho. . que nos introduz na grande família de Deus! Sim. dirigindo-nos ao Senhor. O coração desta liturgia são os salmos. as apresenta ao Senhor. ou seja. que em seguida se tornaram Metropolitas: Stylianos Harkianakis e Damaskinos Papandreou.recebeu o título de Advocata: ela é a nossa advogada junto de Deus. Trata-se de uma hora de gratidão pelo facto de que podemos assim recitar juntos os salmos e. onde confluem a Antiga e a Nova Aliança e a nossa oração une-se ao Israel crente que vive na esperança. os cristãos acolheram com gratidão este testamento de Jesus. Hoje ouvimos no Evangelho como o Senhor a dá como mãe ao discípulo predilecto e. nas pessoas de dois jovens Arquimandritas. Considero desde sempre um grande dom da Providência o facto de que. 12 de Setembro de 2006 Dilectos irmãos e irmãs em Cristo Reunimo-nos. tive a oportunidade de conhecer e de apreciar a Igreja ortodoxa. Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI A MÜNCHEN. Em Regensburg. a todos nós. graças às iniciativas do Bispo Graber. católicos e protestantes e juntamente connosco há também alguns amigos judeus para entoar em conjunto os louvores vespertinos de Deus. Em todas as épocas. e junto da Mãe encontraram sempre de novo aquela segurança e esperança confiante. entretanto. Pois por causa dos acontecimentos dramáticos do nosso tempo. de certo modo. mas na vida dos fiéis tenho esta impressão hoje está pouco presente. "Para que o mundo creia". até ao memorável encontro com o saudoso Bispo Hanselmann aqui em Regensburg um encontro que contribuiu de modo essencial para alcançar uma conclusão concorde. a comunhão com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. também o "Conselho Mundial das Igrejas Metodistas" aderiu a tal Declaração. Jo 17. O tema central de toda a Carta aparece no versículo 15: "Quem . Ouçamos agora. Por detrás deste debilitamento do tema da justificação e do perdão dos pecados encontra-se. através da qual o mundo pode reconhecer que Jesus Cristo é verdadeiramente o Enviado de Deus. O consenso acerca da justificação permanece para nós um grande compromisso que na minha opinião na realidade ainda não foi totalmente alcançado: na teologia a justificação é um tema essencial. 3). somos "modernos" já não existe a consciência de que perante Deus realmente temos dívidas e que o pecado é uma realidade que só pode ser superada por iniciativa de Deus. que o Senhor tornou possível mediante a sua Encarnação e a efusão do Espírito. assim como a comunhão entre nós na fé legada pelos Apóstolos. esta comunhão com Deus cria também a koinonia entre os homens. o Filho de Deus. é necessário que nós sejamos um só: a seriedade deste compromisso deve animar o nosso diálogo. como participação na fé dos Apóstolos e como comunhão na fé uma comunhão que na Eucaristia se torna "corpórea". um enfraquecimento do nosso relacionamento com Deus. Também este contexto desperta muitas lembranças no meu íntimo: recordações de amigos do círculo "Jäger-Stählin". a nossa tarefa primordial talvez consista em redescobrir de outra forma o Deus vivo na nossa vida. o tema do perdão recíproco manifesta-se de novo em toda a sua urgência. Obviamente. aquilo que há pouco São João queria dizer-nos na leitura bíblica. é a comunhão com o próprio Deus Trino. se aprofundem e amadureçam até à plena unidade. o Salvador do mundo (cf. 21). Além disso. que já faleceram. edificando a única Igreja que se propaga para além de todos os confins (cf. no nosso tempo e na nossa sociedade. estamos pouco conscientes do facto de que nos é necessário sobretudo o perdão de Deus. com estas lembranças mistura-se a gratidão pelos encontros deste momento. no Espírito Santo. penso de modo particular no compromisso da pesquisa cansativa para alcançar o consenso acerca da justificação. Recordo todas as fases daquele processo. a justificação por meio dele. Espero e rezo a fim de que estes diálogos dêem fruto e que a comunhão com Deus vivo que nos vincula. Em grande parte da consciência moderna e todos nós. Estou feliz porque. a este propósito. Por isso. Saúdo de coração inclusive os amigos das várias tradições da Reforma. na realidade.antes de mais nada. 1 Jo 1. Gostaria de sublinhar de maneira particular três afirmações deste texto complexo e rico. como já antes nos versículos 2 e 3 do capítulo 4. "A Deus jamais alguém O viu. que somente mediante o encontro com Jesus Cristo a vida se torna verdadeiramente tal? Ser testemunha de Jesus Cristo significa sobretudo: ser testemunha de um determinado modo de viver. A palavra central desta frase é: μαρτυρουˆ μεν nós testemunhamos. que é Deus e está no seio do Pai. a fim de podermos dar testemunho como videntes. para poder tornar videntes também os homens do nosso tempo. No versículo 9 diz-se que Deus enviou o Filho ao mundo. Porém. modo. somos facilmente tentados a atenuar um pouco esta confissão central ou mesmo a ocultá-la. ele pode ser testemunha. Não podemos talvez constatar hoje. Assim. O Filho unigénito. Deus permanece nele e ele em Deus". a fim de que este fundamento comum se fortaleça cada vez mais. possam voltar a ver Jesus. nós devemos dar novamente testemunho das orientações que tornam a vida autenticamente tal. É importante que questionemos de modo completo. Mas assim não prestamos um serviço ao encontro. a fim de que nós tivéssemos vida. Deste. a fé no facto de que Jesus é o Filho de Deus que se tornou carne. Portanto. sabemo-lo através de Jesus Cristo: do único que é Deus. pressupõe que também nós as gerações sucessivas sejamos capazes de nos tornarmos videntes. a imagem que nós temos de Deus. por sua vez. Num mundo repleto de confusão. só tornamos Deus menos acessível aos outros e a nós mesmos. foi Ele quem O deu a conhecer". consigam redescobrir Deus! Para que. Quem é Deus. com a sua vida e com a morte. O autor da Carta diz de si mesmo: "Nós O contemplamos". Dele fala o versículo 14. Porque viu. a responsabilidade dos cristãos consiste em tornar visíveis as orientações de uma . Na época dos encontros multirreligiosos. onde se lê: "Nós O contemplamos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo". É mediante Ele que entramos em contacto com Deus. e não somente fragmentário. já chegamos ao segundo tema. A palavra subjacente μάρτυς evoca o facto de que a testemunha de Jesus Cristo deve afirmar o seu testemunho com toda a sua existência. Queremos rezar. nem ao diálogo. de tal forma que eles. em quem vemos o Pai. lêse no final do prólogo do quarto Evangelho (Jo 1. Temos o dever de assumir com grande determinação esta importante tarefa comum de todos os fiéis: nesta hora. 18). através do mundo inteiro por eles mesmos construído. Para sermos capazes disto. Uma vez mais. somos testemunhas. no fundo. nos distingue como cristãos: ou seja. que eu desejava abordar. o Filho enviado por Deus.confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus. através de todas as barreiras históricas. Nesta nossa comum confissão e nesta nossa tarefa conjunta não existe qualquer divisão entre nós. oremos a Deus para que nos faça ser videntes! Ajudemo-nos uns aos outros a desenvolver esta capacidade. João ressalta a confissão que. A confissão deve tornar-se testemunho. a nossa comunhão pessoal com Cristo e o nosso amor por Ele devem crescer e aprofundar-se. No seu estilo de vida Ele resumiu todas as palavras da Escritura: "Escutai-o!" (Mc 9. 7). No versículo 16 do nosso texto encontra-se esta palavra maravilhosa: "Nós cremos no amor". na dispersão da vida quotidiana. mas apenas algumas ideias para fazer a meditação. nem de exaltação. é clara podemos dizer é interpretada na oração deste dia que. é autenticamente a síntese da Lei e dos Profetas. é algo totalmente sóbrio e realista. a Palavra que vem de Deus. Nas palavras tornar presente a Palavra. e de outros tempos. como nos foram esclarecidas em Jesus Cristo. a Palavra que é Deus. o amor que nos ensina João. . mesmo se bastante variada no texto italiano. e especialmente do trecho que ouvimos. 21). Nela tudo está "entrelaçado". uma união permanente com Deus. o amor. nada tem de sentimental. Procurei explicar um pouco disto na minha Encíclica Deus caritas est. de tal forma que se manifeste como força do amor. A missão de São Bruno. Esta é a palavra-guia de toda a Carta. É esta a sua missão: na loquacidade do nosso tempo. Demos testemunho da nossa fé. tornar presentes as palavras essenciais. Silêncio e contemplação: a bela vocação do teólogo é falar. é um tudo que na vida quotidiana deve ser "desenvolvido" sempre de novo. nesta Leitura. Assim. Sim. o homem pode acreditar no amor. todavia. Ágape. Silêncio e contemplação característica de São Bruno servem para poder encontrar na dispersão de cada dia esta profunda e contínua união com Deus. Esta é a finalidade: que na nossa alma esteja sempre presente a união com Deus e transforme todo o nosso ser. o santo de hoje. "para que o mundo creia" (Jo 17. chegamos à terceira palavra que. eu desejava frisar: ágape amor. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA COM OS MEMBROS DA COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL Sexta-feira. na inflação das palavras. Mas silêncio e contemplação têm uma finalidade: servem para conservar. nos recorda que a sua missão foi silêncio e contemplação. O ágape.vida recta. 6 de Outubro de 2006 Queridos Irmãos e Irmãs! Não preparei uma verdadeira homilia. Na realidade. a este caminho da purificação. O Senhor convida-nos. Por outras palavras. e portanto para a purificação das palavras do mundo. a não ser mediante um processo de purificação do nosso pensar. para que o falar de Deus. no seu ser com o Pai do qual provêm as palavras. Neste contexto vem-me em mente uma lindíssima palavra da Primeira Carta de São Pedro. e desta forma guiar à recta palavra e à recta acção. que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra. A "castidade" à qual o apóstolo Pedro faz alusão não é submeter-se a estes protótipos. como diz a Escritura. Em latim soa assim: "Castificantes animas nostras in obedientia veritatis". somos convidados para este caminho da renúncia a palavras nossas. E o nosso falar e pensar deveria servir apenas para que possa ser ouvido. Deus não é o objecto. Só quando alcançamos aquele silêncio do Senhor. e assim Deus seja realmente não objecto. alcançamos a verdadeira profundidade da Palavra e podemos ser autênticos intérpretes da palavra. que deve ser sobretudo também um processo de purificação das nossas palavras? Como poderemos abrir o mundo. mas permanece no nosso pensar. no primeiro capítulo. tornar presente Deus nas palavras. o sujeito falante. Esta é a nossa concepção normal. e partindo deste ponto. a subir . a Palavra redentora. Assim de novo. E desta forma podemos ser verdadeiramente portadores da verdade. falando. à Palavra sem entrar no silêncio de Deus. temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação. Deste silêncio da comunhão com o Pai. falar para encontrar aplausos. versículo 22. e primeiro nós mesmos. falar orientando-se segundo o que os homens querem ouvir. São Tomás de Aquino. Deus é o sujeito da teologia. do qual procede a sua Palavra? Para a purificação das nossas palavras. no seu ser com o Pai.Mas como poderemos. Quem fala na teologia. mas procurar a obediência à verdade. mas realmente purificados e tornados castos pela obediência à verdade. sendo parte deste mundo com todas as suas palavras. porque o Senhor deve ser conhecido no seu silêncio". As palavras de Jesus nasceram no seu silêncio no Monte. esta disciplina até severa da obediência à verdade que nos torna colaboradores da verdade. a Palavra de Deus possa encontrar espaço no mundo. para que as nossas palavras sejam só instrumento mediante o qual Deus possa falar. podemos realmente começar a compreender a profundidade destas palavras. nascem as palavras e só chegando a este ponto. A análise das palavras de Jesus chega até um certo ponto. é considerado como uma espécie de prostituição da palavra e da alma. E penso que esta seja a virtude fundamental do teólogo. com uma longa tradição. mas sujeito da teologia. falar em obediência à ditadura das opiniões comuns. porque não falemos neste rio de palavras de hoje. do estar imerso no Pai. diz que na teologia Deus não é o objecto do qual falamos. a verdade fale em nós. Isto faz-me pensar em Santo Inácio de Antioquia e numa sua bonita expressão: "Quem compreendeu as palavras do Senhor compreende o seu silêncio. deveria ser o próprio Deus. A obediência à verdade deveria "castificar" a nossa alma. boca da verdade. não procurar os aplausos. Os seus amigos perguntaram-lhe: Mestre. tendo confiança na palavra de Deus. se tivesse respondido positivamente ao convite de Jesus. dê realmente o grão da Palavra de Deus. porque não falas. porque as nossas palavras tornam-se demasiado pequenas. O grande conhecedor de São Tomás. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA A CANONIZAÇÃO DE QUATRO BEATOS Domingo 15 de Outubro de 2006 Queridos irmãos e irmãs! Quatro novos Santos são hoje propostos à veneração da Igreja universal: Rafael Guízar y Valencia. A palha dá o grão e é este o grande valor da palha. O Evangelho termina com as palavras: "Quem vos ouve. Agora confronta-se com a grandeza de Deus. fez também a luta com Deus diante das injustiças evidentes com as quais o tratava. Silêncio diante da grandeza de Deus. Nessas últimas semanas não escreveu mais. é espontâneo pensar no "jovem rico". Este jovem permaneceu anónimo. diria. é a mim que ouve". e no seu silêncio. para que o modo de trabalhar. não falou mais. e assim diz: "Por duas vezes falei. É também uma indicação. não continuarei". aprender de novo o verdadeiro sentido das palavras. E também a palha das palavras permanece válida como portadora de grão. Dá o grão. renuncia a si . Rosa Venerini e Théodore Guérin. É verdade que quem me escuta. Isto faz-me pensar nas últimas semanas da vida de São Tomás. se. uma relativização do nosso trabalho e ao mesmo tempo uma valorização do nosso trabalho. Job tinha gritado a Deus. escuta realmente o Senhor? Rezemos e trabalhemos para que seja sempre mais verdadeiro que quem nos ouve. porque não escreves? E ele respondeu: perante tudo o que vi agora todas as minhas palavras parecem palha. Os seus nomes serão recordados sempre. Por contraste. Mas isto é também para nós. ao contrário. Deste acontecimento entrevê-se imediatamente o tema da Liturgia da Palavra deste domingo: se o homem depõe a sua segurança nas riquezas deste mundo não alcança o sentido pleno da vida nem a verdadeira alegria. ter-se-ia tornado seu discípulo e provavelmente os Evangelistas teriam registado o seu nome. a nossa palha. o padre Jean-Pierre Torrel. diz-nos que não interpretemos mal estas palavras. Filippo Smaldone. ouça Cristo.com Ele ao Monte. do qual fala o Evangelho agora proclamado. E compreende que diante da verdadeira grandeza de Deus todo o nosso falar é só pobreza e não alcança nem sequer de longe a grandeza do seu ser. A palha não é nada. Dizendo isto chegamos às duas leituras de hoje. Mc 10. Dt 30. também os novos Santos percorreram este itinerário evangélico exigente mas que satisfaz. Jo 1. As riquezas terrenas ocupam e preocupam a mente e o coração. O Santo é exactamente aquele homem. É necessário. 21). Por isto Jesus afirma no Evangelho que para "entrar na vida" é necessário observar os mandamentos (cf. 10). Eis então o ensinamento para os discípulos: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!" (Mc 10. "investidas" pelo Reino dos céus. como santa Teresa de Jesus que hoje recordamos. e numerosos outros amigos de Deus. Compreender isto é fruto daquela sabedoria da qual fala a primeira Leitura. na realidade ganha tudo. 45-46). fez-se próxima do seu coração (cf. O jovem rico não consegue dar este passo. Sab 7. e renunciaram a tudo para serem seus amigos. Portanto. Tg 3. 23). para alcançar a salvação é preciso abrir-se na fé à graça de Cristo. mas sim na escolha do Reino de Deus como "pérola preciosa" pela qual vale a pena vender tudo o que se possui (cf. como diz São Paulo. "porque a sua claridade jamais se extingue" (Sab 7. mas da Graça. Portanto. por assim dizer. mas por um caminho diferente daquele que o jovem rico imaginava: isto é. Obviamente. Ela foi-nos dito é mais preciosa que a prata ou o ouro. e receberam "o cêntuplo" já na vida terrena juntamente com provas e perseguições. No Decálogo está contida a Sabedoria de Deus. deixa tudo para o seguir. Apesar de ter sido alcançado pelo olhar cheio de amor de Jesus (cf.mesmo e aos seus bens pelo Reino dos céus. a saúde e a própria luz. aquela mulher que. isto é. 17). Como Pedro e os Apóstolos. 17). De facto. Os santos tiveram a humildade e a coragem de lhe responder "sim". mas não é suficiente! De facto. E São João recorda que a lei foi dada por Moisés. esta sabedoria não se reduz unicamente à dimensão intelectual. Jesus não diz que são más. . respondendo com alegria e com generosidade à chamada de Cristo. contudo. e depois com a vida eterna. o seu coração não conseguiu desapegar-se dos numerosos bens que possuía. 19). uma condição exigente: "Vem e segue-Me" (Mc 10. ela não permaneceu longe do homem. uma prestação legal. É um dom que vem do alto (cf. aparentemente perde muito. se forem empregues para ajudar quem está na pobreza. mais que a beleza. enquanto a Graça e a Verdade vieram por meio de Jesus Cristo (cf. Mt 13. o qual pretende de nós. e obtémse com a oração (cf. não mediante uma obra boa. mas que afastam de Deus se não forem. Mc 10. a salvação não provém da lei. É muito mais. 14). como a chama o Salmo 89. 7). assumindo forma na lei da Primeira Aliança estabelecida entre Deus e Israel mediante Moisés. 21). Jesus pode verdadeiramente garantir uma existência feliz e a vida eterna. é "a Sabedoria do coração". de Deus. Neles reencontramos a experiência de Pedro actualizada: "Aqui estamos nós que deixámos tudo e Te seguimos" (Mc 10. Por ter vivido heroicamente a sua caridade chamavam-lhe o "Bispo dos pobres". mas garantindo sempre a preparação dos alunos. como um exemplo dos que deixaram tudo para "seguir Jesus". que penetra no mais profundo do espírito (cf. foi sobretudo testemunha e servo da caridade. pronta a abandonar tudo para cumprir a vontade de Deus. São Filippo Smaldone via reflectida nos surdos-mudos a imagem de Jesus e costumava repetir que. No seu ministério sacerdotal e em seguida episcopal. Gostava de repetir: "estou presa a tal ponto na vontade divina. desta forma. . p. 30).Assim fizeram os novos quatro Santos. Sendo a formação dos sacerdotes uma das suas prioridades. Hb 4. O evangelho que ouvimos ajuda-nos a compreender a figura de São Rafael Guízar y Valencia. o modo mais apropriado naquela época para evangelizar o povo. inclusive entre "perseguições" sem trégua (cf. para que considerem fundamental nos programas pastorais. que manifestavademodoeminente no serviço aos pobres. e por isso costumava exclamar: "Um bispo pode não ter a mitra. Sacerdote de coração grande. São Filippo Smaldone. porque do seminário depende o futuro da sua diocese". filho da Itália meridional. Por isso recebeu "o cêntuplo" e. o báculo e até a catedral. que hoje veneramos de modo particular. 12). 515). também é preciso ajoelhar-nos diante de um surdo-mudo. desprendeu-se dos seus bens e nunca aceitou favores dos poderosos. e que está difundida em diversas partes da Itália e do mundo. Este Santo foi fiel à palavra divina. em particular aos surdos-mudos. na sua formação segundo o coração de Cristo. alimentado pela oração constante e pela adoração eucarística. Aceitemos do seu exemplo o convite para considerar sempre indissolúveis o amor à Eucaristia e o amor ao próximo. aos quais se dedicou totalmente. assim como nos prostramos diante do Santíssimo Sacramento. O seu único tesouro está no céu: é Deus. mas nunca lhe deve faltar o seminário. Aliás. que considerava "a pupila dos seus olhos". ou então ofereciaos em seguida. usando o seu Catecismo da doutrina cristã. A obra que ele iniciou continua graças à Congregação das Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações por ele fundada. "viva e eficaz". Imitando Cristo pobre. Bispo de Veracruz na querida nação mexicana. Com este profundo sentido de paternidade sacerdotal enfrentou novas perseguições e desterros. foi um incansável pregador de missões populares. reconstruiu o seminário. pôde ajudar os pobres. Mc 10. nem vida: desejo viver o que Ele quer. 28). que não me importa nem morte. soube conciliar na sua vida as melhores virtudes próprias da sua terra. e desejo servi-lo em tudo o que lhe apraz. só podemos obter a verdadeira capacidade de amar os irmãos no encontro com o Senhor no sacramento da Eucaristia. e nada mais" (Biografia Andreucci. além do espírito de pobreza e de evangelização. Que o exemplo de São Rafael Guízar y Valencia seja uma chamada para os irmãos bispos e sacerdotes. Santa Rosa Venerini é outro exemplo de discípula fiel de Cristo. a fomentação de vocações sacerdotais e religiosas. São Filippo Smaldone. Com grande confiança na Divina Providência. A sua força interior estimulava-a a dedicar especial atenção aos pobres. suscite no povo cristão homens e mulheres como São Rafael Guízar y Valencia. com sólidas referências ao ensinamento doutrinal da Igreja. Ali. Maria. Estas palavras inspiraram numerosos Cristãos ao longo da história da Igreja para seguir Cristo numa vida de pobreza radical. pedindo ao Senhor orientação para a nova fundação. as Irmãs dirigiam muitas escolas e orfanatos no Estado de Indiana. que hoje resplandece na Igreja com beleza especial. que respondeu sem hesitações à chamada do divino Mestre. a única que salva o mundo. Depois. fizeram uma capela no meio da floresta. confiando na Providência Divina. Amém! . Queridos irmãos e irmãs. na oração e numa confiança infinita na divina Providência. Ajoelhavam-se diante do Santíssimo Sacramento e davam graças. de uma simples cabana. Jesus convida também a nós. No momento da sua morte. e dedicou-se ao trabalho do ensino nas escolas. dá o dinheiro aos pobres. encontrava a força e a audácia para as concretizar na Eucaristia. a segui-lo para termos como herança a vida eterna. vende tudo o que tens. para que se deixem conquistar por Cristo. pelo seu olhar repleto de amor. Santa Rosa Venerini e Santa Théodore Guérin. A Madre Théodore Guérin é uma bela figura espiritual e um modelo de vida cristã. em 1856.. demos graças ao Senhor pelo dom da santidade. Depois de uma longa viagem entre terra e mar. a Madre Théodore superou muitos desafios e perseverou no trabalho para o qual o Senhor a tinha chamado. E como é actual e importante também para a sociedade de hoje o serviço que elas desempenham no campo da escola e sobretudo da formação da mulher! "Vai. Entre estes generosos discípulos de Cristo encontrava-se a jovem francesa. decididos a fazer própria a lógica da doação e do serviço. "quanto bem foi realizado pelas Irmãs de Saint Mary-of-the-Woods! Quanto bem ainda pode ser realizado se permanecerem fiéis à sua santa vocação!". depois vem e segue-Me". com a tarefa de orientar a nova comunidade em Indiana. A Madre Théodore Guérin entrou na Congregação das Irmãs da Providência em 1823. Ela esteve sempre disponível para as missões que a Igreja lhe solicitava.Deste seu abandono a Deus brotava a actividade clarividente que desempenhava com coragem a favor da elevação espiritual e da autêntica emancipação das jovens mulheres do seu tempo. em 1839. foi enviada pela Superiora para os Estados Unidos da América. dispostos a abandonar tudo pelo Reino de Deus. por ela fundada. Rainha dos Santos. O seu testemunho exemplar ilumine e encorage especialmente os jovens. Santa Rosa não se contentava em dar às jovens uma adequada instrução. Nas suas palavras. sobretudo às crianças. O seu mesmo estilo apostólico continua a caracterizar ainda hoje a vida da Congregação das Mestras Pias Venerini.. como a estes Santos. o grupo de seis irmãs chegou à localidade de "Saint Mary-of-the-Woods". mas preocupava-se em lhes garantir uma formação completa. é a âncora de salvação que nos ajuda a superar as dificuldades aparentemente insuperáveis e nos permite entrever a luz da alegria também além da escuridão do sofrimento e da morte. Apraz-nos pensar no querido Cardeal Monduzzi entre os braços amorosos do Pai celeste. A página evangélica oferece-nos depois a certeza confortadora de que ninguém é excluído do amor d'Aquele que. há pouco proclamada. estejais vós também" (Jo 14. para a reprovação eterna" (Dan 12. outras para a ignomínia. Col 1. não serão desiludidos porque participarão da mesma luz divina e receberão de Deus a vida que não tem fim. recebida desde a primeira infância em família e na comunidade cristã de Brisighella. Jesus pronunciava estas palavras no clima trepidante do Cenáculo. para que. 2). onde Eu estiver. E o profeta Daniel acrescenta: "Os que tiverem sido sensatos resplandecerão como a luminosidade do firmamento. sobretudo nos mais difíceis. 12. entrando ainda jovem no Seminário diocesano de Faenza. Na primeira Leitura. que o chamou a si depois de ter padecido uma longa doença. Perante o silêncio da morte e do não cumprir-se das expectativas humanas. Graças ao exemplo e aos ensinamentos dos pais. que nos acompanha em cada momento. no final da sua existência terrena. densas de conforto. Na hora da provação e do abandono sentimos ressoar. o Senhor preparava o seu coração para receber o grande dom da vocação sacerdotal. além das aparências.HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA MISSA DAS EXÉQUIAS DO CARDEAL DINO MONDUZZI Segunda-feira. onde nascera a 2 de Abril de 1922. onde fez os . O texto sagrado põe em evidência a sabedoria de quem depôs unicamente no Senhor a própria esperança e ensinou aos demais a fazer o mesmo. quando Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar. animada por uma fé evangélica simples e profunda. Repercorremos com a memória a sua não breve existência. 12). 1).. em Cristo... dos sacerdotes e dos educadores da Associação de Acção Católica à qual aderiu quando ainda era criança. virei outra vez e levar-vos-ei Comigo. O Senhor Jesus garante-nos que "na casa de Meu Pai há muitas moradas. 2-3). Ele respondeu com imediata generosidade à chamada de Deus. "nos fez dignos de participar da sorte dos santos na luz" (cf. distingue-se o amor de Deus fiel às promessas. radicada numa fé sólida na palavra de Cristo. uns para a vida eterna. A esperança cristã. ouvimos estas palavras: "Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão. Estes. estas suas palavras: "Não se turve o vosso coração: Credes em Deus. Como aos discípulos também a nós hoje Jesus dirige o seu encorajamento para que enfrentemos as vicissitudes da vida com plena confiança na sua presença misteriosa. pouco antes que iniciasse a sua paixão. sentimos viva a esperança cristã de que. 3). e os que tiverem levado muitos aos caminhos da justiça brilharão como estrelas com um esplendor eterno" (Ibid. 16 de Outubro de 2006 Queridos irmãos e irmãs! Com esta celebração eucarística despedimo-nos do querido Cardeal Monduzzi. crede também em Mim" (Jo 14. E. que dava tantas esperanças numa zona caracterizada por uma grave depressão humana. depois de um longo itinerário humano e sacerdotal. que a ele se dirigiam apresentando os pedidos mais diversificados. o servo de Deus João Paulo II. nos canteiros de obra. . Ele trabalhou pelo Reino dos céus vendo nos encontros com o povo ocasiões preciosas para suscitar o desejo pelas coisas do alto e o amor à Igreja "semente e início" do Reino de Deus. suportando dificuldades e sofrimentos. em todas as circunstâncias ele soube encontrar na virtude da paciência a via-mestra para conformar a sua vida com Cristo. tornando-o conforme ao Seu corpo glorioso" (Fl 3. com o calor e a simpatia que provinham da sua fé convicta e das suas origens. tenacidade e canseira junto das famílias. iniciou o ministério sacerdotal na diocese. De facto. Na segunda Leitura que foi proclamada na nossa assembleia orante. ele inspirava-se constantemente no mote episcopal que escolhera: "Patientiam praeficere caritati". Tendo sido ordenado sacerdote em 1945 na sua cidade de Brisighella. foi chamado a fazer parte do grupo de sacerdotes e leigos empenhados em interessantes actividades pastorais de despertamento religioso e moral. o apóstolo Paulo recorda aos Filipenses que "nós somos cidadãos do Céu e de lá esperamos o Salvador. O Cardeal Monduzzi. Ele sentia-se um humilde colaborador da missão confiada por Cristo a Pedro e aos seus Sucessores. depois da Reforma da Cúria querida pelo servo de Deus Paulo VI.estudos primários. na organização dos grandes momentos eclesiais ou na prática quotidiana do seu ministério de Prefeito da Casa do Papa. Na conclusão de uma longa e fiel colaboração com o Sucessor de Pedro. foi nomeado Secretário e Regente do Palácio Apostólico. 20-21). o Senhor Jesus Cristo. Com eles. em 1967. Como Prefeito da Casa Pontifícia teve a oportunidade de se encontrar com os homens mais poderosos do mundo. e procurando exercer a caridade para com todos. liceais e teológicos. Nesta função ele confirmou os seus não comuns dotes organizativos quer na actividade quotidiana da Prefeitura da Casa Pontifícia. em 1959 foi chamado ao serviço da Santa Sé para desempenhar o cargo de Secretário no Escritório do Mestre de Câmara e. denominadas "Missões sociais". chega agora à pátria celeste. Depois destes anos de intenso trabalho apostólico. incluiu-o entre os membros do Colégio Cardinalício. transferindo-se pouco tempo depois para Roma. no Consistório público de 21 de Fevereiro de 1998. que em 1986 foi coroado pela nomeação para Prefeito da Casa Pontifícia e pela elevação a Bispo Titular de Capri. nos centros paroquiais. Esta forma moderna de evangelização levou-o à Calábria e à Sardenha e preparou-o para o compromisso quase pioneirista de capelão dos assalariados e dos agricultores junto do Órgão para a Reforma Agrária do Fucino. Ele transformará o nosso corpo miserável. quer nas viagens apostólicas do Papa na Itália. que recebeu com gentileza. O seu foi um longo e apreciado serviço prestado a quatro Pontífices. tendo terminado os estudos jurídicos. Durante cerca de dez anos ele esteve presente com paciência. como também com as pessoas comuns. pátria prometida aos que empregam a vida ao serviço de Deus e dos irmãos. onde. na qual Cristo Senhor nos convoca. de maneira eminente. envolvendo milhares de apaixonados. que transfigurará o seu corpo consumido pela doença conformando-o com o Corpo glorioso de Cristo. encontre no Senhor Jesus o amigo fiel que o leva consigo para lhe atribuir um lugar na casa do Pai.Confiamo-lo agora à paterna bondade de Deus. Hoje. reavivada pelo sopro de um novo Pentecostes. queridos delegados da Diocese e das agregações laicais. a misericórdia divina. que se reúne hoje em redor do Sucessor de Pedro. no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. este espaço hospeda Jesus ressuscitado. O centro de cada acontecimento eclesial é a Eucaristia. realmente presente na sua Palavra. para ele. se lhe mostre como Mãe de misericórdia e o acolha na comunhão dos Santos. damos graças ao Senhor pelo bem que ele realizou e invocamos ao mesmo tempo. habitação de luz e de paz. 19 de outubro de 2006 Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio! Queridos irmãos e irmãs! Nesta Celebração eucarística vivemos o momento central do IV Congresso nacional da Igreja na Itália. A vós. Ao prestar ao amado Cardeal Monduzzi a extrema saudação. Saúdo e abraço espiritualmente toda a . que faço extensiva a quantos se unem a nós através da rádio e da televisão. venerados Irmãos Bispos. nos alimenta e nos envia. a vós religiosas. na assembleia do Povo de Deus com os seus Pastores e. Amém. que ele amou ternamente. para efundir o seu Espírito sobre a Igreja que está na Itália. mas manifestações desportivas. VISITA PASTORAL DE SUA SANTIDADE BENTO XVI A VERONA POR OCASIÃO DO IV CONGRESSO NACIONAL DA IGREJA ITALIANA HOMILIA DO SANTO PADRE Estádio Municipal "Bentegodi" Quinta-feira. que foi chamado a dirigir a Casa do Vigário de Cristo e que fizera do acolhimento a dimensão primária da sua vida sacerdotal. Ele. a vós. Cristo vem hoje a este moderno areópago. É significativo que o lugar pré-escolhido para esta solene liturgia seja o estádio de Verona: um espaço onde habitualmente não se celebram ritos religiosos. com os Presbíteros e os Diáconos. saiba "comunicar o Evangelho a um mundo em mudança". A Virgem Maria. religiosos e leigos comprometidos dirijo a minha saudação mais cordial. como propõem as orientações pastorais da Conferência Episcopal Italiana para o decénio 2000-2010. para que. como predisse o profeta. tendo subido ao céu à direita do Pai. A sua ressurreição é o mistério qualificante do Cristianismo. D. Este texto constituiu o eixo principal do itinerário de preparação para este grande encontro nacional. na realidade. que há pouco foram proclamadas. o Cardeal Dionigi Tettamanzi e os demais membros da Comissão preparatória. o símbolo do qual atingiu a pregação inicial e que continua inalterado a alimentar o Povo de Deus. que constitui a substância de toda a mensagem evangélica. também eu exclamo com alegria: "Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Pd 1. Giuseppe Betori. efundiu sobre nós o Espírito Santo. mesmo da que acabámos de ouvir na primeira Leitura. regenerada e regenerante. Da força deste amor. e tornam-se sempre de novo. Ele. que é o encontro final com nosso Senhor e Salvador. 3-4. O seu amor nos basta. porque mediante a ressurreição do seu Filho nos regenerou e. esperança do mundo". reconstrutores de ruínas. Desejo expressar de modo especial o meu apreço a quantos se empenharam longamente para preparar e organizar este Congresso: o Presidente da Conferência Episcopal Camillo Ruini. como se exprime o apóstolo Pedro no início da sua Primeira Carta. As Leituras bíblicas. estimados por todos como raça abençoada pelo Senhor (cf. dirijo um agradecimento cordial aos profissionais da comunicação que seguem os trabalhos desta importante assembleia na Igreja Italiana. nunca podem afectar a profunda alegria que nos provém por sermos amados por Deus. por muito dolorosas e pesadas. na sua próvida misericórdia. Dirijo também um cordial pensamento ao Senhor Presidente do Conselho dos Ministros e às outras distintas Autoridades presentes. tirada da parte final do Livro do profeta Isaías. nos deu uma esperança invencível na vida eterna. a Primazia e o campo de Deus. 3). ao qual estou grato pelas gentis palavras que me dirigiu no início da celebração em nome desta amada comunidade de Verona que nos acolhe. nos faz abraçar com um só olhar Cristo e a Igreja: o Ressuscitado e os ressuscitados. de modo que nós vivemos no presente sempre propensos para a meta. nasce e renova-se constantemente o nosso testemunho cristão. é Cristo. por fim. O mistério da ressurreição do Filho de Deus. primícia da humanidade nova. Flavio Roberto Carraro. o povo dos "pobres" que abriram o coração ao Evangelho e se tornaram. nasceu. Fortalecidos por esta esperança não tenhamos receio das provas. restauradores de cidades desoladas. O conteúdo do "kerygma". De Cristo Ressuscitado. o Filho de Deus feito Homem. com os colaboradores dos vários escritórios. o Secretário-Geral. acontecimento que regenerou os crentes numa esperança viva.Comunidade eclesial italiana. morto e ressuscitado por nós. É ali que se radica o nosso "Credo". o Bispo de Verona. que. Como seu sucessor. Is 61. do anúncio. "sobreiros de justiça". que. A Palavra de Deus põe em evidência a resurreição de Cristo. cremos n'Ele e amámo-lo (cf. para . 1 Pd 1. 3-9). Corpo de Cristo vivo. iluminam o tema do Congresso: "Testemunhas de Jesus ressuscitado. na fé.9). o cumprimento superabundante de todas as profecias de salvação. a Pedra angular e as pedras vivas. D. mesmo sem o ver. da fé firme na ressurreição de Jesus que funda a esperança. deu o seu Filho por nós e nós. "Testemunhas de Jesus ressuscitado": esta definição dos cristãos deriva directamente do trecho do Evangelho de Lucas hoje proclamado. meio poderoso das nossas certezas. são enviados por Cristo a prosseguir a sua mesma missão (cf. fulcro portante da nossa fé. Só de Deus pode vir a mudança decisiva do mundo. Só a partir da Ressurreição se compreende a verdadeira natureza da Igreja e do seu testemunho. qualquer dúvida e cálculo humano. enfrentou sem receio duras perseguições e o martírio. 8.usar outra imagem da Primeira Carta de Pedro (cf. com a primeira comunidade apostólica. A fé pascal enchia o seu coração de um fervor e de um zelo extraordinário. Então é preciso fazer um amplo e pormenorizado esforço para que cada cristão se transforme em "testemunha" capaz e pronta a assumir o compromisso de explicar a todos e sempre o motivo da esperança que o anima (cf. Testemunhas de Jesus ressuscitado. E assim. Aquele "de" deve ser compreendido bem! Significa que a testemunha "de" Jesus ressuscitado lhe pertence. Act 1. sem recursos humanos e fortes unicamente da sua fé. Nós somos hoje os herdeiros daquelas testemunhas vitoriosas! Mas precisamente desta constatação surge a pergunta: que acontece à nossa fé? Em que medida sabemos hoje anunciá-la? A certeza de que Cristo ressuscitou garante-nos que nenhuma força contrária poderá destruir a Igreja. com numerosos testemunhos de mártires. Jo 20. mas testemunhas pré-escolhidos e responsáveis de uma revelação com a qual estava relacionada a salvação dos seus contemporâneos e de todas as gerações futuras. mas é o seu fruto. vento impetuoso que afasta qualquer receio e indecisão. que deixaram vestígios perenes em todas as partes da bonita península na qual vivemos. Escreve o apóstolo João: "esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé" (1 Jo 5. e não algo separado do mistério pascal. 4-8). mas é preciso que esta fé se torne vida em cada um de nós. fazê-lo . 21-23). A verdade desta afirmação está também documentada na Itália há quase dois milénios de história cristã. De facto. e precisamente como tal lhe pode prestar um válido testemunho. 4b). da morte e da outra vida. 1 Pd 3. Eles já tinham a percepção clara de não serem simplesmente discípulos de uma doutrina nova e interessante. e imprimia às suas palavras uma irresistível energia de persuasão. 15). a nossa fé tem fundamento. Alguns deles foram recordados no início do Congresso e os seus rostos acompanham os seus trabalhos. Anima-nos também a consciência de que só Cristo pode satisfazer plenamente as expectativas profundas de cada coração humano e responder às interrogações mais preocupantes acerca do sofrimento. que os tornava prontos para enfrentar todas as dificuldades e até a morte. mas também dos Actos dos Apóstolos (cf. recebendo o Espírito Santo. de santos e beatos. manifestação e actuação por parte de quantos. da injustiça e do mal.22). um grupo de pessoas. Assim aconteceu no início. e assim deve acontecer também agora. Portanto. coração do Cristianismo. Por isso é preciso anunciar de novo com vigor e alegria o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo. 2. pode falar dele. a partir do dia de Pentecostes a luz do Senhor ressuscitado transfigurou a vida dos Apóstolos. é para o mundo. Para os cristãos. porque são de Cristo e de Deus na medida em que morrem com Ele para o pecado e ressuscitam com Ele para a vida nova do amor. não se afastar de Jerusalém. sem a força interior do Espírito do Ressuscitado. e vive e reina nos séculos dos séculos. sepultada no baptismo. e isto precisamente porque Cristo é Deus. Nestes dias do Congresso eclesial nacional. isto é. 49). curai as feridas dos corações dilacerados. Só se. o Evangelho não muda. Vox Patrum. a libertação dos presos. Como diz Santo Agostinho: "Acreditaste. Lc 24. foi morta na cruz. na qual não viveste bem: ressurja a nova" (Sermão Guelf. proclamai a liberdade dos escravos. o supremo Acto de amor de Deus pela humanidade. Ide agora. Cristo é esperança para o mundo porque ressuscitou. da não-violência. para receber de novo o dom do Alto. promulgai o ano de misericórdia do Senhor (cf. do serviço. da qual haurir dos Sacramentos a "unção" do Espírito Santo. É preciso permanecer em oração com Maria. como Cristo. assim como os cristãos não devem ser do mundo. é no mundo. reviveu a experiência originária do Cenáculo. que é Cristo Senhor. Is 61. e ressuscitou porque é Deus. do perdão. os meus votos. é "o Santo" (em hebraico Qadosh). 1-2). A Boa Nova permanece sempre a mesma: Cristo morreu e ressuscitou para a nossa salvação! Levai a todos em seu nome o anúncio da conversão e do perdão dos pecados. São tantas as situações difíceis que esperam uma intervenção resolutiva! Levai ao mundo a esperança de Deus. reuniu-se. os cristãos podem ser esperança no mundo e para o mundo.conhecer. 177). Também os cristãos podem levar a esperança ao mundo. consagrados pela sua "unção"! Levai a boa nova aos pobres. IX. a Mãe que Cristo nos deu da Cruz. permanecer na "cidade" onde se consumou o mistério da salvação. Num mundo que muda. não forem do mundo. como disse Jesus aos discípulos. cidadãos do mundo. É exactamente o contrário do que acontece para a outra expressão: "esperança do mundo". a Igreja que está na Itália. Pellegrino. permanecer em Jerusalém só pode significar permanecer na Igreja. erguei as velhas ruínas. . que certamente todos vós partilhais. A esperança. Is 61. são por que a Igreja na Itália possa partir de novo deste Congresso como que estimulada pela palavra do Senhor ressuscitado que repete a todos e a cada um: sede no mundo de hoje testemunhas da minha paixão e da minha ressurreição (cf. Para a receber é necessário. o qual ressuscitou dos mortos. obedecendo ao mandamento do Senhor ressuscitado. em M. Sabemos bem que isto não é possível sem estar "revestidos do poder do alto" (Lc 24. guiar para ele. a "cidade de Deus". Reconstruí os antigos desabamentos. 4). mas sede vós os primeiros a dar testemunho de uma vida convertida e de perdão. foste baptizado: morreu a vida velha. 48). Foi sepultada a velha. restaurai as cidades desoladas (cf. Amém. Queridos irmãos e irmãs. que é Cristo. porque Cristo não é do mundo. Aqui a preposição "do" não indica absolutamente pertença. transmitir a sua presença. I). viverá: e todo aquele que vive e crê em Mim. depois de ter feito os estudos primários no seminário arquiepiscopal de Sassari e os secundários no seminário regional de Cagliari. Na primeira Leitura. mais uma vez na Basílica de São Pedro. Obteve também o título de Advogado da Rota frequentando o "Studium Sacrae Romanae Rotae". o Cardeal Mario Francesco Pompedda. iniciou a trabalhar no Tribunal da Rota Romana com vários encargos. reencontramo-nos reunidos em oração para dar a última saudação a outro irmão nosso. A sua preparação teológica. no Pontifício Instituto Bíblico e na Pontifícia Universidade Lateranense. nunca morrerá" (Jo 11. para Prelado Auditor. Foi ordenado sacerdote a 23 de Dezembro de há 55 anos nesta mesma Basílica de São Pedro. escutamos palavras cheias de conforto: "Eis que vou introduzir em vós o sopro da vida para que revivais. bíblica e especialmente jurídica fez . Sabereis assim que eu sou o Senhor" (37. o servo de Deus João Paulo II. tirada do livro do profeta Ezequiel. quando fará ressurgir os mortos para a vida sem fim. que o Senhor chamou a si. em 1955.6). teológica e jurídica em Roma na Pontifícia Universidade Gregoriana. na Sardenha e. 20 de Outubro de 2006 Queridos irmãos e irmãs! À distância de poucos dias. E ainda nesta Basílica foi consagrado Bispo com o título arquiepiscopal de Bisarcio pelo meu Predecessor. A descrição que Ezequiel traça de "um exército muito numeroso" faz-nos pensar numa multidão de salvos. celebra-se o seu funeral. O Cardeal Mario Francesco Pompedda viveu e morreu com esta certeza.HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENE CONCELEBRAÇÃO DAS EXÉQUIAS DO CARDEAL MARIO FRANCESCO POMPEDDA Sexta-feira. Diz Jesus no Evangelho: "Quem crê em Mim. que ilumina a nossa fé e ampara a nossa esperança: a morte não tem a última palavra sobre o destino do homem. Tinha nascido a 18 de Abril de 1929 em Ozieri. até à nomeação para Defensor do vínculo e sucessivamente. depois de um longo período de sofrimento. ainda que esteja morto. e enquanto se destrói a habitação deste exílio terreno. Hoje. 5. em 1969. "A vida não é tirada diz-nos a Liturgia mas transformada. A visão do profeta projecta-nos para o triunfo definitivo de Deus. 25-26). entre os quais nos apraz pensar que esteja também este nosso irmão.. Em 1993 tornouse Decano do mesmo Tribunal e Presidente do Tribunal de Apelação do Estado da Cidade do Vaticano. Nestes momentos de tristeza e dor vem em nossa ajuda a palavra de Deus. Empregou toda a sua vida ao serviço da Santa Sé desde quando. a 6 de Janeiro de 1998. completou a formação filosófica.. é preparada uma habitação eterna no céu" (Prefácio dos defuntos. até assumir a alta responsabilidade de Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica e de Presidente do Tribunal de Apelação do Estado da Cidade do Vaticano. exercendo o ministério sacerdotal durante trinta anos na paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe no Monte Mário. a 21 de Fevereiro de 2001. Com os limites de qualquer criatura humana. seremos salvos da ira. confiando-o à celeste protecção de Maria. Com muito mais razão. pelo facto de Cristo haver morrido por nós. Quando. A última etapa do seu caminho terreno foi marcada por uma doença. Comunicava a quantos o encontravam a solidez da sua fé e iluminava as consciências com os princípios e os ensinamentos da doutrina católica. 16). justificados agora pelo Seu sangue. nos . 40). Jesus não elimina a morte. Jo 1. há cinco anos. Assimilando desta forma à paixão de Cristo. e na sua misericórdia o introduza no Reino da luz e da paz.dele um competente colaborador de diversos Dicastérios da Cúria Romana. este nosso amigo e irmão teve que se desapegar progressivamente de tudo para se abandonar sem hesitações à vontade divina. o Pai celeste. quando ainda éramos pecadores. faleceu o Cardeal Mario Francesco Pompedda. o repouso prometido aos seus amigos. A confiança em Cristo guiou sempre. a este propósito. Unidos com afecto em volta dos despojos mortais do Cardeal Pompedda. São Paulo recorda na Carta aos Romanos: "Deus demonstra o seu amor para connosco. "Soli Dei" foi o mote que escolheu aquando da sua eleição para Arcebispo. a existência do Cardeal Pompedda. só em Deus pôde encontrar verdadeiro conforto nos momentos do sofrimento e da provação e agora é Ele. Quem crê em Cristo tem a vida eterna. por Ele mesmo" (5. O Senhor lhe conceda. Esta consciência ilumina e orienta a existência de todos os crentes. ele sentiu ainda mais o valor e a responsabilidade de dever servir e testemunhar o Evangelho "usque ad effusionem sanguinis". pedimos a Deus para vivermos constantemente inclinados para Cristo que "assumindo sobre si a nossa morte. E com Ele derrotaram-na também os que n'Ele crêem e haurem da sua plenitude graça sobre graça (cf. Ao trabalho quotidiano na Rota Romana e depois na Assinatura Apostólica. 8-9). mas de modo particular nos últimos meses. que o acolhe com os braços abertos no seu amor misericordioso. Ela permanece como uma grande dívida a pagar ao nosso limite humano e ao poder do mal. portanto. esforçou-se por servir Cristo servindo a Igreja. ao ensinamento na Faculdade de Direito Canónico da Pontifícia Universidade Gregoriana e do Ateneu Romano da Santa Cruz. Com a certeza de que Cristo é o vencedor da morte e com a esperança de sermos por Ele ressuscitados no último dia. cuja alma agora confiamos à misericórdia do Pai. as palavras que ouvimos há pouco no Evangelho: "E a vontade de Meu pai é esta: que todo aquele que vê o Filho e acredita n'Ele tenha a vida eterna. Mas com a sua ressurreição Ele derrotou a morte para sempre. e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia" (Jo 6. que praticamente lhe impediu de desempenhar qualquer actividade. foi criado Cardeal pelo amado João Paulo II. No seu êxodo deste mundo acompanhamo-lo com a nossa oração fraterna. colaborando com o Sucessor de Pedro nos vários cargos que a pouco e pouco lhe foram confiados. Como ressoam confortadoras. o Cardeal Pompedda uniu a actividade pastoral. por intercessão da Virgem Santíssima. No dia de hoje. Este povo compreende os santos do Antigo Testamento. os do Novo Testamento. 1 de Novembro de 2006 Amados irmãos e irmãs A nossa celebração eucarística inaugurou-se hoje com a exortação "Alegremo-nos todos no Senhor". e manifesta a sua beleza de esposa imaculada de Cristo. Na primeira Leitura. A liturgia convida-nos a compartilhar o júbilo celeste dos santos. Todos eles são irmanados pela vontade de encarnar o Evangelho na sua existência. que procuraram cumprir com amor e fidelidade a vontade divina. de todas as nações. mas os baptizados de todas as épocas e nações. Com esta interrogação tem início uma famosa homilia de São Bernardo para o dia de Todos os Santos. a saborear a sua alegria. para a qual a liturgia de hoje nos exorta a levantar o olhar. 9). a partir do justo Abel e do fiel Patriarca Abraão. nascente e modelo de toda a santidade. a Igreja festeja a sua dignidade de "mãe dos santos. E actual é inclusive a resposta que o Salmo nos oferece: "Os nossos santos diz não têm . É uma pergunta que se poderia fazer também hoje. mas uma multidão inumerável. como astros repletos de glória. Os santos não são uma exígua casta de eleitos. Manzoni). Sem dúvida. De uma grande parte deles não conhecemos os rostos e nem sequer os nomes. que ninguém podia contar. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA NA SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS Quarta-feira. que é o Espírito Santo. povos e línguas" (Ap 7. mas com os olhos da fé vemo-los resplandecer. II). o autor do livro do Apocalipse descreve-os como "uma multidão enorme. esta nossa solenidade?". Em tal multidão não estão somente os santos oficialmente reconhecidos. tribos. Mas "para que servem o nosso louvor aos santos. e precisamente neles saboreia a sua glória mais profunda. os numerosos mártires do início do cristianismo e também os beatos e os santos dos séculos seguintes. imagem da cidade divina" (A. mas é nos santos que ela reconhece os seus traços característicos. o nosso tributo de glória. sob o impulso do eterno animador do Povo de Deus.libertou da morte e sacrificando a sua vida nos abriu a porta para a vida imortal" (Prefácio dos defuntos. no firmamento de Deus. não lhe faltam filhos obstinados e até rebeldes. até às testemunhas de Cristo desta nossa época. Os seus nomes estão inscritos no livro da Vida (cf. precisamente assim encontra a própria vida (cf. Depois. embora siga diferentes percursos. nos tornou seus filhos adoptivos. o Pai há-de honrá-lo" (Jo 12. Portanto. dóceis aos desígnios divinos. 12). 24-25). com uma vida de filhos reconhecidos? Em Cristo. na grande família dos amigos de Deus. e isto impele-nos. sinto-me arder de grandes desejos" (Disc. vem a resposta positiva: é preciso sobretudo ouvir Jesus e depois segui-lo sem desanimar diante das dificuldades. 14). Jo 12. realmente. a amar os irmãos. O amar implica sempre um acto de renúncia a si mesmo. "Se alguém me serve Ele admoesta-nos que me siga. perseguições e o martírio.). Perseveraram no seu compromisso. amigos de Deus? A esta interrogação podese responder antes de tudo de forma negativa: para ser santo não é necessário realizar acções nem obras extraordinárias. e hoje proposta de novo solenemente à nossa atenção. 2. ali estará também o meu servo. quando penso nos santos. e onde Eu estiver. despertar em nós o grande desejo de ser como os santos: felizes por viver próximos de Deus. a sua morada eterna é o Paraíso. portanto. e. como o grão de trigo sepultado na terra. o Apóstolo João observa: "Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu. devo confessar que. 364ss. 5. é sobretudo um dom de Deus. porque a única verdadeira causa de tristeza e de infelicidade para o homem é o facto de viver longe de Deus. nem possuir carismas excepcionais. Descobrimos que somos amados por Ele de modo infinito. Portanto. a experimentar a alegria daqueles que confiam em Deus. . e é precisamente assim que nos torna felizes. o significado da solenidade hodierna: contemplando o exemplo luminoso dos santos. Eis. Ap 20. por nossa vez. Ser santo significa: viver na intimidade com Deus. "vêm da grande tribulação lê-se no Apocalipse lavaram as suas túnicas e branquearam-nas no sangue do Cordeiro" (Ap 7. Na nossa vida tudo é dom do seu amor: como permanecer indiferente diante de um mistério tão grande? Como deixar de responder ao amor do Pai celestial. 1). enfrentaram por vezes provações e sofrimentos indescritíveis. aceita morrer para si mesmo. e nada lhes advém do nosso culto. Mas como é que podemos tornar-nos santos. viver na sua família. Na segunda Leitura. Quem nele confia e o ama com sinceridade. na sua luz. tanto mais entraremos no mistério da santidade divina. O exemplo dos santos constitui para nós um encorajamento a seguir os mesmos passos. Com efeito. três vezes Santo (cf. Por minha vez. Se alguém me servir. perdê-la-á. reiterada com vigor pelo Concílio Vaticano II. Opera Omnia Cisterc. A experiência da Igreja demonstra que cada forma de santidade. mas é possível para todos porque. em Jesus. As biografias dos santos descrevem homens e mulheres que. passa sempre pelo caminho da cruz. o "perder-se a si próprio". se perde a si mesmo. A santidade exige um esforço constante. Esta é a vocação de todos nós. e quem se entrega. o somos!" (1 Jo 3. entregou-se inteiramente a nós e chamanos a um profundo relacionamento pessoal com Ele. mais do que uma obra do homem. quanto mais imitarmos Jesus e permanecermos unidos a Ele. é Deus que nos amou primeiro e. a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus. 26).necessidade das nossas honras. Ele sabe que quem procura conservar a sua vida para si mesmo. 3). pelo caminho da renúncia a si mesmo. Is 6. à vocação divina. Jesus. os pacificadores. Por conseguinte. Mc 10. 25). os que sofrem perseguição por causa da justiça (cf. As Bem-Aventuranças revelam-nos a fisionomia espiritual de Jesus e assim exprimem o seu mistério. o Bem-Aventurado por excelência é somente Ele. com a Igreja triunfante na glória. como ramos. Com efeito. aquele que tem fome e sede de justiça. Jesus diz: Bem-aventurados os pobres de espírito. que é mistério da verdadeira bem-aventurança. Na medida em que aceitamos a sua proposta e nos colocamos no seu seguimento cada qual nas suas próprias circunstâncias também nós podemos participar das Bem-Aventuranças. os misericordiosos. Mt 5. convida-nos ao seguimento de Jesus e. Invoquemos especialmente Maria. o impossível torna-se possível e até um camelo pode passar pelo fundo de uma agulha (cf. No Prefácio proclamaremos que os santos são nossos amigos e modelos de vida. Daqui a pouco tornar-se-á presente de modo mais excelso Cristo. Ela. estímulo e alimento de santidade. deste modo. segundo o seu exemplo. que há pouco ouvimos ressoar nesta Basílica. Ele é o verdadeiro pobre de espírito. bem-aventurados os puros de coração. o puro de coração. a solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos ajudaram-nos a meditar sobre a meta final da nossa peregrinação terrena. 48). Ele sofre perseguição por causa da justiça. nos faça ser fiéis discípulos do seu Filho Jesus Cristo! Amém. 4 de Novembro de 2006 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado Prezados irmãos e irmãs Nos dias passados. ao anúncio das Bem-Aventuranças. agora entramos no coração da Celebração eucarística. verdadeira Videira à qual. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA EM SUFRÁGIO PELOS CARDEAIS E BISPOS FALECIDOS NO ÚLTIMO ANO Sábado. o mistério da Morte e da Ressurreição. Na realidade. somente com a sua ajuda podemos tornar-nos perfeitos como é perfeito o Pai celeste (cf. da Paixão e da alegria da Ressurreição. com a sua ajuda. Este mistério. Estimados irmãos e irmãs. mais íntima será a comunhão da Igreja que peregrina no mundo. o aflito. o manso. o pacificador. estão unidos os fiéis que vivem na terra e os santos do céu. ao caminho que conduz a ela. Neste . os mansos. o misericordioso. bem-aventurados os aflitos. Mt 5. Juntamente com Ele. 3-10). Mãe do Senhor e espelho de toda a santidade. Invoquemo-los para que nos ajudem a imitá-los e comprometamo-nos a responder com generosidade. quem tem fome e sede de justiça.Assim chegamos ao Evangelho desta festa. a Toda Santa. que marcou para cada um deles. Lc 10. 1-14). mas revestido de Cristo: assim o baptizado atravessa o limiar da morte e se apresenta diante do Deus justo e misericordioso. ela torna-se plenamente solidária com os homens. vem habitar no mundo. recebida no Baptismo. Dino Monduzzi e Mário Francesco Pompedda. Pelos lábios do profeta. 20). representa portanto este povo que volta a adquirir vigor de esperança para regressar à sua pátria. Rezar pelos finados é um ritual nobre. encarnada em Jesus. Mas o longo e articulado oráculo de Ezequiel. A sugestiva imagem dos ossos que se reanimam. fazendo-os regressar ao país de Israel. a visão dos ossos ressequidos adquire o valor de uma parábola universal sobre o género humano. pondo-se novamente em movimento. diante do qual nada é impossível. responde à necessidade de esperança dos Israelitas deportados para a Babilónia. enquanto voltamos a ouvir os nomes dos saudosos Purpurados.clima espiritual. . transmitindo-lhes o alegre anúncio da vida eterna. Despojado de tudo. a Comunidade dos fiéis oferece o Sacrifício eucarístico e outras preces de sufrágio por aqueles que a morte chamou a passar do tempo para a eternidade. trata-se de uma das páginas bíblicas mais significativas e impressionantes que se presta a uma leitura dupla. Raul Francisco Primatesta. Pio Taofinu'u. 37. À luz do mistério pascal de Cristo. Esta fé encontrará o seu cumprimento no Novo Testamento. que pressupõe a fé na ressurreição dos mortos. como certo dia Jesus disse aos Apóstolos. No plano histórico. assinala ao mesmo tempo um passo decisivo no caminho rumo à fé na ressurreição dos mortos. enquanto se abre definitivamente o caminho que conduz à Terra prometida. de modo completo. Louis-Albert Vachon. o Senhor anuncia-lhe que os tirará deste pesadelo. Sem dúvida. desanimados e aflitos porque tiveram que enterrar os seus entes queridos numa terra estrangeira. Revemos os seus rostos. mas não daquela Graça e daquele "cariz" sacramental. Há pouco ouvimos a descrição da visão dos ossos ressequidos do profeta Ezequiel (cf. que nos são familiares. Este anúncio de esperança é proclamado até às profundezas do além. Johannes Willebrands. em conformidade com aquilo que a Sagrada Escritura e. Recordar os nomes destes nossos irmãos na fé remete-nos para o sacramento do Baptismo. assim como para cada cristão. mas basta-nos a certeza consoladora de que. em virtude dos quais fomos associados de maneira indissolúvel ao mistério pascal de nosso Senhor e Salvador. a entrada na comunhão dos santos. A fim de que a túnica branca. o Evangelho nos revelaram. os seus nomes "estão escritos no Céu" (cf. seja purificada de todas as impurezas e de qualquer mancha. que sob muitos aspectos é um vale de desolação. A Palavra divina. peregrino no exílio terrestre e submetido ao jugo da morte. Gostaria de mencionar também cada um dos Arcebispos e dos Bispos. que nos deixaram nos meses passados: Leo Scheffczyk. hoje encontramo-nos em redor do altar do Senhor para celebrar a Santa Missa em sufrágio pelos Cardeais e Bispos que Deus chamou para junto de si ao longo do último ano. que exalta o poder da palavra de Deus. Angel Suquía Goicoechea. No final da vida. a morte priva-nos de tudo aquilo que é terreno. depositando a sua confiança no Pai e no Filho (cf. Roguemos ao Senhor para que conceda a estes nossos dilectos Irmãos Cardeais e Bispos defuntos. alimentando-se constantemente da participação na Eucaristia. nesta fé viveram os venerados Cardeais e Bispos defuntos. confioou-os ao Pai (cf. Eles pertencem ao número daqueles homens que em conformidade com a expressão do Evangelho de João o Pai confiou ao Filho "do meio do mundo" (cf. com Ele. alicerçando-nos na intercessão de Maria Santíssima e nas preces de muitas pessoas que os conheceram e estimaram as suas virtudes cristãs. . pudemos ouvir de novo os primeiros versículos da grande oração de Jesus. consciente de que a revelação do "nome" de Deus. e a Jesus Cristo. que é sacerdotal por antonomásia. Através deste itinerário sacramental. estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste. Jo 17. Mc 8.No trecho evangélico. As palavras angustiantes do Senhor mostram que o fim derradeiro de toda a "obra" do Filho de Deus encarnado consiste em dar aos homens a vida eterna (cf. 24). Conhecer Jesus significa conhecer o Pai. A esta oração do Senhor. nós oferecemos a nossa oração em união com o Sacrifício eucarístico. Esta vocação. Na Igreja cada um deles foi chamado a sentir como suas. Jo 17. recitada no capítulo 17 de São João. Peçamo-lo. Queridos irmãos e irmãs. Nesta expressão sente-se ressoar a voz orante da comunidade eclesial. evangelicamente.17 e 20-21) e disse-lhes de modo particular: "Quero que onde Eu estiver. 2). equivale à dádiva da vida eterna. para que contemplem a minha glória" (Jo 17. Estimados irmãos e irmãs. da Luz e do Amor. 15. as palavras do Apóstolo Paulo: "Para mim. alcançarem a meta tão desejada. que confiamos à misericórdia divina. fortaleceu-se neles mediante o sacramento da Confirmação e as três Ordens sagradas. Jesus diz também em que consiste a vida eterna: "que te conheçam a ti. a quem Tu enviaste" (Jo 17. e colocá-las em prática. 21). de tal forma que o morrer não é mais uma perda uma vez que. há pouco proclamadas na segunda leitura. deseja unir-se no dia de hoje a nossa prece de sufrágio. a plenitude da vida. que daquela única oblação salvífica constitui a representação real e actual. 9). Cristo substanciou a sua invocação ao Pai na oblação de si na Cruz. e eles "receberam-nas" e "acreditaram". 35) mas sim um "lucro": o de encontrar finalmente Jesus e. hoje nós agradecemos de modo especial a Deus por ter dado a conhecer o seu nome a estes Cardeais e Bispos que nos deixaram. Jo 17. viver é Cristo" (Fl 1. Nesta Sagrada Eucaristia reunimos todas as acções de graça e todas as súplicas. recebida pelo Senhor. já tinham "perdido" tudo pelo Senhor e pelo Evangelho (cf. A cada um deles Cristo "transmitiu as palavras" do Pai. recebida no Baptismo. Rogou por eles (cf. que hoje de manhã estamos a recordar. enquanto conhecer o Pai quer dizer entrar em comunhão concreta com a própria Origem da Vida. Jo 17. 6). 3). único Deus verdadeiro. o seu "ser em Cristo" foi-se consolidando e aprofundando. para o bem das suas almas e de todos os finados. 8). Amém. Jo 17. porque me abandonaste? Como pudeste esquecer-te de mim? Agora quase já não existo. Com cada "não" humano é acrescentada uma nova dimensão do seu amor.. o profeta tinha dito que o mundo inteiro "todos os joelhos" se teriam dobrado diante deste Deus impotente. e precisamente desta forma se deixou cair da sua altura. E a Carta aos Filipenses o confirma: agora isto aconteceu. grita: "Meu Deus. Mas a fantasia de Deus. já não falas. até às cabanas mais humildes. leva deveras o homem a dobrar os joelhos. Por isso. No grande hino a Cristo da Carta aos Filipenses com o qual iniciámos. o qual não estava satisfeito com a amizade de Deus. agora. deixa existir a liberdade do homem.HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A SANTA MISSA COM OS BISPOS DA SUÍÇA Terça-feira. o Salmo responsorial e o Evangelho têm um tema comum que poderia ser resumido na frase: Deus não falha. o Crucificado está presente. e assim transforma . como se ele pudesse existir por si só. e assim vence o mundo com o seu amor. Considerou a amizade uma dependência e considera-se um deus. a força criadora do seu amor é maior do que o "não" humano. enraíza o ser homem de modo irrevogável e desce aos abismos mais profundos do ser homem. e esta diz continuamente "não". à sua história e à criação. disse "não" para se tornar ele mesmo um deus. cap. e Ele encontra um caminho novo. era demasiado pouco para ele. pretendendo ele mesmo ser um deus. Vence a soberba com a humildade e com a obediência da cruz. maior. o que também nós podemos experimentar hoje de maneira maravilhosa: em todos os continentes. antes de tudo de Israel sofredor e. tinha profetizado.. meu Deus. ouvimos antes de tudo uma alusão à história de Adão. Deus aproximou-se das nações. Mas Deus não falha. Por meio da cruz de Cristo. Como Salmo responsorial cantámos a segunda parte do Salmo da paixão 21/22. saiu de Israel e tornou-se o Deus do mundo. E assim acontece agora o que Isaías. Deus "falha" em Adão e assim aparentemente ao longo de toda a história. Por que me abandonaste?". com os justos sofredores de todos os tempos abandonados por Deus. abaixa-se até à cruz. diante de Deus mudo que o abandonou. 7 de Novembro de 2006 Queridos irmãos! Os textos escutados a Leitura. através do seu amor. E agora o mundo dobra os joelhos diante de Jesus Cristo. O Deus que tinha "falhado". Jesus identifica-se com Israel sofredor. porque agora ele mesmo se torna homem e recomeça assim uma nova humanidade. Na época em que Israel estava no exílio e tinha desaparecido do mapa. para realizar o seu sim ao homem. Ou mais exactamente: no início Deus falha sempre. 45. o sofrimento por ser esquecido leva-o até ao coração do próprio Deus. e leva o grito do abandono de Deus. Tu já não ages. É o salmo do justo sofredor. agora são convidados para encher a sala. a sua chamada termina com o "não" dos homens. por fim. a seguir o ensinamento de não convidar os amigos que retribuiriam tal gesto. Encontramos quatro textos: primeiro a cura do hidrópico. Mas aqui também: Deus não falha. os pobres que precisam dele. e só quando estas pessoas recusaram e permaneceu apenas um pequeno grupo de pobres. que estão fora. E depois o Salmo diz: "Hãode lembrar-se do Senhor e voltar para Ele todos os confins da terra". o convite de Deus alarga-se Lucas narra-nos isto em duas fases: primeiro. torna-se universal. Não vêm. Pudemos supor que Lucas tenha compreendido estas duas fases no sentido de que os primeiros a entrar na sala foram os pobres de Israel e depois dado que não são suficientes. esta mensagem será anunciada aos pagãos e eles ouvi-la-ão. mas os que verdadeiramente têm fome. precisamente. Dá-lhes a abundância de que precisam: doa Deus. não vêm. E. que nada lhe podem dar. mas que não podem retribuir o convite. o Reino de Deus na Sua pessoa. O amor de Deus. Agora Deus faz o que disse ao fariseu: Ele convida os que nada possuem. ele vai em direcção aos pagãos. Com esta confiança conclui-se a mensagem de falimento: Eles ouvirão. autorizados dizem "não" ao convite de Deus. Os que não pertencem a Deus. Agora Deus sacia os homens em todo o mundo. viu certamente nisto a representação antecipada rica de imagens dos acontecimentos que depois narra nos Actos dos Apóstolos. pelas estradas do campo. a Igreja dos pagãos . a mensagem do Evangelho. Os primeiros a serem convidados recusam. aos que não estão convidados por ninguém na mesma cidade. abraça a totalidade. anuncia-lhes o mistério de Jesus Cristo. a que recitámos. e ele despede-se deles com estas palavras: Pois bem. que é Ele próprio. doa-se a si mesmo. A sala de Deus permanece vazia. E Lucas que nos transmitiu este Evangelho. e depois. É a eucaristia universal que provém da cruz. aos abandonados. É o que Jesus experimenta na fase final da sua actividade: os grupos oficiais. Da cruz deriva a Igreja universal. ao mundo dos gentios. visto que não ouvis. E depois acontece a segunda fase. Desta forma Deus faz o que ouvimos no Evangelho de ontem (O Evangelho de hoje faz parte de um pequeno simpósio no âmbito de uma ceia em casa de um fariseu. Sai para fora da cidade. precisamente onde isto acontece: Paulo começa a sua missão sempre na sinagoga. A segunda parte do Salmo. Deus vai além do hebraísmo e abraça o mundo inteiro para o unir no banquete dos pobres. estão convidados os desabrigados. segue a nossa narração). sendo o ambiente de Deus maior o convite alarga-se para fora da Cidade Santa. finalmente até Roma. o convite é feito aos pobres. Assim o Evangelho. que têm verdadeiramente fome. depois a palavra sobre os últimos lugares. que não o podem convidar. diz-nos o que disso deriva: os pobres comerão e serão saciados. através deste percurso de crucifixão sempre novo. Em Roma Paulo chama a si os chefes da sinagoga. De novo o falimento de Deus. Mas estes se recusaram. o banquete parece ter sido preparado em vão. pelos que foram convidados primeiro. A sua mensagem.o mundo. A sala vazia torna-se uma oportunidade para chamar um número maior de pessoas. conhecemos todas as formas nas quais se apresenta este "não. a partir de Adão. o experimentarmos. para que se encha totalmente. para o seu banquete. Como nos devemos comportar? Em primeiro lugar devemos fazer a pergunta: por que acontece precisamente assim? Na sua parábola o Senhor menciona dois motivos: a posse e as relações humanas. nunca tiveram "gosto" de Deus. Também hoje encontrará novos caminhos para chamar os homens e quer-nos ter consigo como seus mensageiros e servos. o próprio Deus. não têm tempo para se encontrar com o Senhor. deveríamos perguntar: Que significa tudo isto para nós? Antes de tudo significa uma certeza: Deus não falha. só então vamos ao banquete. agora em grande parte se recusam. tenho coisas mais importantes para fazer". Conhecemos as igrejas que se tornam cada vez mais vazias. mas precisamente por isso não falha. Durante as visitas ad limina ouço falar de muitas coisas graves e difíceis. no qual é oferecido o dom precioso. porque disso surgem novas oportunidades de misericórdia maior. Portanto. para receber o alimento dos pobres. do qual é tirada a hodierna Antífona da Comunhão: saboreai. nem sequer hoje. por assim dizer. que eles vêm. Noutra homilia São Gregório Magno aprofundou ulteriormente a mesma questão. para que possam sentir de novo o gosto de Deus. Precisamente no nosso tempo conhecemos muito bem o "dizer não" de quantos foram convidados primeiro. São Gregório Magno na sua exposição deste texto procurou analisar mais profundamente e perguntou: mas como é possível que um homem diga "não" ao que há de maior. que feche em si mesmo a própria existência? E responde: Na realidade. Mesmo se experimentamos tantos "não". De facto. mas sempre precisamente do Terceiro Mundo ouço também isto: que os homens ouvem. a ponto de pensarem que já não precisam de mais nada para encher totalmente o seu tempo e. a cristandade ocidental. provai e vereis. E só se nós. a sua existência interior. nunca experimentaram como é bom ser "atingidos" por Deus! Falta-lhes este "contacto" e com ele o "gosto de Deus". isto é. provai e então vereis e sereis iluminados! A nossa tarefa é contribuir para que as pessoas possam provar. Não falha porque não se subtrai à perspectiva de solicitar os homens para que venham sentar-se à sua mesa. que não tenha tempo para o que é mais importante. De toda esta história de Deus. que na realidade deveriam conhecer a grandeza do convite e deveriam sentir-se atraídos por ele. podemos concluir: Ele não falha. e interrogou-se: Como é possível que o homem nem . disso podemos ter a certeza. por conseguinte. que também hoje a mensagem vai pelas estradas até aos confins da terra e que os homens afluem para a sala de Deus. nunca fizeram a experiência de Deus. São Gregório cita o Salmo. Deus não falha. que envolvem totalmente as pessoas. os novos "primeiros convidados". e a sua fantasia é inexaurível. E assusta-nos e perturba-nos ser testemunhas deste desculpar-se e recusar-se dos primeiros convidados. Não falha porque encontra sempre novas formas para alcançar os homens e para abrir mais a sua grande casa. "Falha" continuamente.formar-se-á. Formou-se e continua a formar-se. porque também nós corremos um perigo: podemos fazer muito. Nós aprendemos os sentimentos de Jesus Cristo quando aprendemos a pensar com Ele e portanto. Sentimos como é bom que Ele exista e que podemos conhecê-lo que o conhecemos no rosto de Jesus Cristo. quer no campo eclesiástico. mas do Deus que tem o rosto de Jesus Cristo. sem encontrar Deus..sequer queira "provar" Deus? E responde: Quando o homem está totalmente absorvido pelo seu mundo. quer no que permanece totalmente junto de nós próprios. que sofreu por nós. com tudo o que pode produzir ou compreender por si. pelo seu amor e para ver com Ele. que tenhamos em nós próprios a percepção da sua excelência. deixe de compreender o olhar de Deus. porque os sentidos correspondentes nele tornaram-se áridos. Considero. como diz São Gregório. a confiança em que Ele é sempre o mais forte. na oração. era uma época muito semelhante à nossa. os sentidos dirigidos a Deus debilitam-se. o ser olhado por Ele esta preciosidade que é o facto de que o seu olhar me alcance! Penso que São Gregório Magno tenha descrito exactamente a situação do nosso tempo de facto. e precisamente não de um deus qualquer. pelo seu zelo. quando aprendemos a pensar também no seu falimento e no seu superar o falimento. ver o mundo. tornam-se incapazes de compreender e sentir. Se considerarmos estes seus sentimentos. que em nós se fortaleçam os sentidos dirigidos a Deus. não se desenvolveram mais. e partindo d'Ele. O compromisso substitui a fé. E ainda surge a pergunta: como nos devemos comportar? Penso que a primeira coisa seja fazer o que o Senhor nos diz hoje na Primeira Leitura e que São Paulo nos grita em nome de Deus: "Tende os mesmos sentimentos de Jesus Cristo! Touto phroneite en hymin ho kai en Christo Iesou". desperta em nós o amor por Ele. o Deus vivo.. mas também um pensar do coração.. as empíricas. então até entre os muitos "não" encontramos de novo os homens que O esperam e que com frequência talvez sejam excêntricos a parábola di-lo claramente mas que contudo são chamados a entrar na sua sala. se começarmos a exercitar-nos a pensar como Ele e com Ele. Isto anima também o nosso agir. tudo para Deus. em aprender os sentimentos de Deus no rosto e nos sofrimentos dos homens. portanto. Quando usa demasiado as demais percepções. Aprendei a pensar como Cristo pensou. que deveríamos comprometer-nos sobretudo: na escuta do Senhor. com outras palavras: trata-se da centralidade de Deus. Mais uma vez. pelas coisas materiais. a sua capacidade de percepção em relação a Deus enfraquece-se. ao aumentar-se do seu amor no falimento. Ele já não percebe o Divino. Isto é . podemos dizer. que este sentido morra. com tudo o que é realizável e que lhe confere sucesso. para desta forma sermos contagiados pela sua alegria. então desperta em nós a alegria para com Deus. mas depois esvazia-se interiormente. Se conseguirmos fazer isto. Penso que esta seja a primeira coisa: que nós próprios entremos num contacto vivo com Deus com o Senhor Jesus. e que o homem. com aquilo que pode fazer. sim. na participação íntima dos sacramentos. então pode acontecer que precisamente o sentido de Deus se esvaneça. aprendei a pensar com Ele! E este pensar não é só o do intelecto. no Concílio ecuménico de 431. Há tantos problemas que podem ser elencados. a pouco mais de um ano do início do seu Pontificado. fundamentado numa fé profunda e numa . endireite. rege quod est devium". penso. VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI À TURQUIA (28 DE NOVEMBRO . há outro meu Predecessor. Ângelo Roncalli. aprazme recordar uma expressão que se lê no seu Jornal da alma: "Gosto muito dos turcos. sana quod est saucium. foi solenemente confessado e proclamado. A este propósito. se Deus não se torna de novo visível no mundo. mas sim como Representante pontifício. 29 de Novembro de 2006 Queridos irmãos e irmãs Nesta celebração eucarística. riga quod est aridum. aprecio as qualidades naturais deste povo. nestes dias. A este lugar. que neste país não esteve como Papa. 741). mistério que aqui em Éfeso. vieram em peregrinação os meus venerados Predecessores. Amém. que tem também o seu lugar preparado no caminho da civilização" (n. invocando-O: "Lava quod est sordidum. Além disso. Ele nutria grande estima e admiração pelo povo turco. o qual esteve neste Santuário no dia 30 de Novembro de 1979. hoje decide-se o destino do mundo nesta situação dramática: se Deus o Deus de Jesus Cristo existe e é reconhecido como tal.importante hoje. ou se desaparece. aqueça. que devem ser resolvidos. ele deixou à Igreja e ao mundo o dom de uma atitude espiritual de optimismo cristão. fove quod est frigidum. Nós preocupamo-nos por que esteja presente. de Janeiro de 1935 a Dezembro de 1944. Que devemos fazer? Em última análise? Dirigimo-nos a Ele! Nós celebramos esta Missa votiva do Espírito Santo. Invoquemo-l'O para que irrigue. Todavia.1º DE DEZEMBRO DE 2006) HOMILIA DO SANTO PADRE NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NO SANTUÁRIO DE "MERYEM ANA EVÍ" Éfeso. para que nos preencha com a força da sua sagrada chama e renove a terra. Flecte quod est rigidum. Por isto o imploramos de coração neste momento. um dos mais queridos da Comunidade cristã. os Servos de Deus Paulo VI e João Paulo II. se não se torna determinante na nossa vida e se não entra também através de nós de maneira determinante no mundo. mas que todos nunca são resolvidos se Deus não for colocado no centro. e cuja recordação ainda suscita muita devoção e simpatia: o Beato João XXIII. queremos louvar o Senhor pela maternidade divina de Maria. Neste aspecto. A maternidade de Maria. para o encorajar e para lhe manifestar o carinho da Igreja inteira. Paulo afirma não só que Jesus Cristo nos trouxe a paz. nos primórdios. 26). iniciada com o fiat de Nazaré. o germe da Igreja e da nova humanidade. Em particular. Foi assim que o Filho de Deus cumpriu a sua missão: tendo nascido da Virgem para compartilhar em tudo excepto no pecado a nossa condição humana. pelo vosso testemunho e pelo vosso serviço à Igreja nesta terra abençoada onde. D. cujo núcleo primordial é precisamente este vínculo novo entre a Mãe e o discípulo. De Orat. Arcebispo Emérito de Izmir. Ouvimos o trecho do Evangelho de João. A primeira Leitura apresentou aquilo que se pode definir como o "evangelho" do Apóstolo das nações: todos. ampliou a sua maternidade a todos os homens e. o texto contém a expressão que escolhi como lema da minha viagem apostólica: "Ele. Inspirado pelo Espírito Santo. Ao ver do alto da cruz a Mãe e ali ao seu lado o discípulo tão amado. ao contrário. é o próprio autor do quarto Evangelho. Deste modo. Animado por este espírito. 1): a Família "reunida pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (São Cipriano. Luigi Padovese. e outros que vieram de diversas partes do mundo.união constante com Deus. os sacerdotes e as religiosas. Saúdo. cumpre-se aos pés da Cruz. É com grande afecto que saúdo todos vós aqui presentes. mesmo os pagãos. chamando-lhe "mulher". Constituição Lumen gentium. referindo-se ao mistério da Cruz: derramando "o seu sangue" Ele diz oferecendo em sacrifício a "sua carne". de modo particular. de maneira particular. Cristo moribundo reconheceu as primícias da nova Família que Ele tinha vindo formar no mundo. Cristo. Por isso. são chamados a participar em Cristo no mistério da salvação. 23: PL 4. Ruggero Franceschini. aos discípulos de Jesus. D. mas que Ele mesmo "é" a nossa paz. dirijo-me a esta nação e. Jesus destruiu a inimizade "em si mesmo" e criou "em si próprio. Se é verdade como observa Santo Anselmo que "no momento do fiat Maria começou a trazer todos nós no seu seio". dirigiu-se a Maria. um só homem . 14). é a nossa paz" (Ef 2. eis o teu filho!" (Jo 19. fiéis de Izmir. no momento de voltar para o Pai deixou no mundo o sacramento da unidade do género humano (cf. Obrigado pela vossa presença. Arcebispo de Izmir. o único dos Apóstolos que permaneceu no Gólgota juntamente com a Mãe de Jesus e com outras mulheres. Iskenderun e Antakia. ao "pequeno rebanho" de Cristo que vive aqui. de dois. Dom. a vocação e a missão maternais da Virgem em relação aos crentes em Cristo teve início quando Jesus lhe disse: "Mulher. D. Testemunha privilegiada deste acontecimento. 536). que convida a contemplar o momento da Redenção quando Maria. Giuseppe Bernardini. Mersin. assim como aqueles que não puderam participar desta celebração mas estão espiritualmente unidos a nós. unida ao Filho na oferta do Sacrifício. utilizou quando a confiou ao discípulo: "Eis a tua mãe!" (Jo 19. de modo particular. E justifica tal afirmação. e não "mãe". termo este que. a maternidade divina e a maternidade eclesial permanecem unidas de maneira indissolúvel. João. 27). a comunidade cristã conheceu grandes desenvolvimentos. como testemunham também as numerosas peregrinações que vêm à Turquia. Pois bem. destinada a acolher um povo que se tornasse uma bênção para todos os povos (cf. E a Virgem Maria. que "os gentios são admitidos à mesma herança. Explica-o escrevendo. Ef 2. representam e edificam no mundo e ao longo da história. porque todas provêm do mesmo Deus. se realizou e se revelou: isto é. "Graça" é a força que transforma o homem e o mundo: "paz" é o fruto maduro de tal transformação. / Uma nação não levantará a espada contra outra. No plano histórico-salvífico este "mistério" realiza-se na Igreja. Desta parte da Península anatólica. Desta paz universal. Gn 12. O Apóstolo das nações observa que Cristo. 14): esta afirmação refere-se. às relações entre povos e civilizações presentes no mundo. Para esta . porém. 1). como afirma na introdução da Carta. é a Mãe daquele mistério de unidade que Cristo e a Igreja. Paz para a humanidade inteira! Possa cumprir-se depressa a profecia de Isaías: "Transformarão as suas espadas em relhas de arados. verdadeiramente imprevisível. que somente na plenitude dos tempos. Paulo sabe que foi enviado para anunciar um "mistério". 2). ponte natural entre continentes. como pelos judeus e pelos muçulmanos: é a terra de Abraão. cidade abençoada pela presença de Maria Santíssima sabemos que Ela é amada e venerada inclusive pelos muçulmanos elevemos ao Senhor uma especial oração pela paz entre os povos. estes Ritos constituem uma expressão daquela admirável variedade que adorna a Esposa de Cristo. 14-16). de Isaac e de Jacob. O Apóstolo explica em que sentido. membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa. daqui de Éfeso. trata-se de uma afirmação que pode também ampliar-se. em foices. Com efeito. um desígnio divino. e que é assim considerada tanto pelos cristãos. contanto que saibam convergir na unidade e no testemunho comum. Ef 2. a Igreja não constitui apenas um instrumento da unidade. / e não se adestrarão mais para a guerra" (2. único Criador e Senhor do universo. a paz messiânica se realizou na própria Pessoa de Cristo e no seu mistério salvífico. à relação entre judeus e gentios em vista do mistério da salvação eterna. judeus e pagãos se encontram na unidade. / e as suas lanças. 6). Cristo "veio para anunciar a paz" (cf. ou seja. que é o novo Povo em que. inseparavelmente. nosso Pai. 17) não só aos judeus e não-judeus. à comunidade cristã que habitava aqui em Éfeso: "Aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso" (Ef 1. e isto é um motivo de alegria e de louvor a Deus. "dos dois povos. desta paz a Igreja está chamada a ser não somente anunciadora profética mas. torna-se mais profundo e intenso o anseio pela plena comunhão e concórdia entre todos os cristãos. ainda mais. invocamos a paz e a reconciliação sobretudo para aqueles que habitam na Terra que chamamos "santa". O Apóstolo deseja-lhes "graça e paz da parte de Deus. Cristo é a paz. mas a todas as nações. 1-3). no plano analógico. por meio do Evangelho" (Ef 3. "sinal e instrumento". Confortados pela Palavra de Deus. nomeadamente. Cristo é a graça. Mãe de Cristo e da Igreja. Precisamente nesta perspectiva de pacificação universal. Na celebração hodierna estão presentes fiéis católicos de diversos Ritos. derrubando o antigo muro de separação. enquanto se encontra prisioneiro. todos nós temos necessidade. em Cristo. e do Senhor Jesus Cristo" (Ef 1.novo" (cf. mas é também o seu sinal eficaz. em Cristo Jesus. fez um só" (Ef 2. 4). Como Cristo. 47-48). que quiseram unir-se a nós para esta celebração. em relação à comunidade cristã que aqui. Amém! VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI À TURQUIA (28 DE NOVEMBRO . o cântico de louvor que a Virgem de Nazaré proclamou no encontro com a idosa parente Isabel (cf. . venerados Irmãos. Lc 1. Sua Santidade Bartolomeu I. E Tu. o "Magnificat" do louvor e da acção de graças a Deus. na comunhão e na partilha dos esforços pastorais. Mãe de Deus. deve ser exemplar a unidade entre os Ordinários na Conferência Episcopal. Queridos irmãos e irmãs. 11). não só meus mas também da Igreja universal. 20). Desejo saudar antes de tudo o Patriarca de Constantinopla. é realmente uma minoria e enfrenta todos os dias não poucos desafios e dificuldades.1º DE DEZEMBRO DE 2006) HOMILIA DO SANTO PADRE NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA CATEDRAL DO ESPÍRITO SANTO Istambul. que me apraz recordar também nesta nossa celebração. na Turquia. acompanha sempre o nosso caminho! Santa Maria. Com confiança sólida cantemos. Cantemo-lo com alegria. Lc 1. 39). sinto-me feliz por me encontrar com a comunidade católica de Istambul e por celebrar com ela a Eucaristia para dar graças ao Senhor por todos os seus dons. como ladainha ao Salmo responsorial. com esta visita desejei fazer sentir o amor e a proximidade espiritual. também quando somos provados por dificuldades e perigos. Mãe da Igreja. que vê a humildade da sua serva (cf. Expresso-lhes a minha profunda gratidão por este gesto fraterno que honra toda a comunidade católica. 50). juntamente com Maria. André Santoro. 1 de Dezembro de 2006 Queridos Irmãos e Irmãs! No final da minha viagem pastoral na Turquia. assim como o Patriarca arménio. Ressoaram consoladoras nos nossos corações as palavras do Salmista: "O amor e a fidelidade vão encontrar-se. Sua Beatitude Mesrob II. Maria ensinanos que a fonte da nossa alegria e o nosso único apoio firme é Cristo. ora por nós! Aziz Meryem Mesih'in Annesi bizim icin Dua et". "Eu estarei sempre convosco" (Mt 28. e repete-nos as suas palavras: "Não temais!" (Mc 6. A liturgia de hoje fez-nos repetir. como demonstra o bonito testemunho do sacerdote romano Pe. / Vão beijar-se a justiça e a paz" (Sl 84.finalidade. Queridos Irmãos e Filhos da Igreja católica. viver segundo o Espírito. "porque é sempre o mesmo Deus que age em todos". o amor transcendente de Deus. chamados pelo Senhor a guiar o seu povo tornando-nos servos seguindo os seus passos. porque não foi a carne nem o sangue que to revelou. Bispos. amemos os nossos irmãos como ele nos amou (cf. Saúdo por fim os representantes das outras comunidades eclesiais e das outras religiões que quiseram estar presentes entre nós. nosso Pai. Jo 13. das funções e das actividades. repetindo-vos as palavras de São Paulo aos Gálatas: "Graça e paz da parte de Deus. 34). Desejo agradecer às Autoridades civis aqui presentes o seu caloroso acolhimento. não significa viver apenas para si. Bispos. 5). e a vida de Cristo tornou-se a nossa. a sua Igreja. Como nos recordou agora São Paulo. "fomos dessedentados pelo único Espírito". Sim. Ele suscita em nós o verdadeiro conhecimento de Jesus e coloca nos nossos lábios as palavras da fé para que possamos reconhecer o Senhor. sinto o dever de recordar de modo especial as numerosas testemunhas do Evangelho de Cristo que nos estimularam a trabalhar juntos pela unidade de todos os seus discípulos. Manifestar o Espírito. tornando-se no seu seguimento servo dos próprios irmãos. Eis um ensinamento muito concreto para cada um de nós. tão numerosa na variedade dos dons. aprender a conformar-se constantemente com o mesmo Cristo Jesus. a todos nós discípulos de Cristo que progredimos com lentidão e com as nossas pobrezas pelo caminho que conduz à unidade. Simão. desejo dar graças a Deus por tudo o que realizou na história dos homens e invocar sobre todos os dons do Espírito de santidade. São Paulo acrescenta: "Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para benefício de todos". entre as exacerbadas tensões do mundo. todos fomos imergidos na morte e ressurreição do Senhor. a agir incessantemente "em vista do bem de todos". Este desejo ainda não se realizou. Como não pensar nos diversos acontecimentos que forjaram precisamente aqui a nossa história comum? Ao mesmo tempo. n. saúdo-vos a todos com alegria. 17). pondo a perspectiva ecuménica no . nesta mesma catedral. mas o meu Pai que está no Céu" (Mt 16. filho de Jonas. mas sim. isto é válido tanto para todos os ministros do Senhor como para todos os fiéis: recebendo o sacramento do Baptismo. o Espírito é a fonte permanente da nossa fé e da nossa unidade. 3). manifestado no Filho Jesus Cristo" (Homilia na catedral de Istambul. presbíteros e diáconos. mas o desejo do Papa é sempre o mesmo e estimula-nos. e ao mesmo tempo já una. e do Senhor Jesus Cristo!" (Gl 1. religiosas e leigos. na verdade e na caridade! Nesta catedral do Espírito Santo. pertencentes às diferentes comunidades da cidade e aos diversos ritos da Igreja. Jesus já o dissera a Pedro depois da Confissão da fé em Cesareia: "És feliz. Há vinte e seis anos. para que vivamos como ele. para testemunhar melhor. religiosos. somos felizes quando o Espírito Santo nos abre para a alegria de crer e quando nos faz entrar na grande família dos cristãos. o meu predecessor o Servo de Deus João Paulo II desejava que o alvorecer do novo milénio pudesse "surgir sobre uma Igreja que reencontrou a sua plena unidade. em particular a todos os que permitiram que esta viagem pudesse realizar-se. a Igreja descobre que possui a riqueza de um bem ainda maior. portanto. ressuscitado. dignidade. de transmitir aos homens e às mulheres deste tempo uma boa nova que não ilumina apenas mas transforma a sua vida. Juntamente com ela rezamos agora a Cristo Senhor: envia o teu . estreitas umas às outras para formar um só edifício. as vossas comunidades conhecem o humilde caminho de acompanhamento de todos os dias com os que não partilham a nossa fé mas que declaram "ter a fé de Abraão e que adoram connosco o Deus uno e misericordioso" (Lumen gentium. 16). como não recordar a outra bonita imagem que São Paulo usa para falar da Igreja. Esta água jorrante. O Evangelho de São João acabou de o proclamar: "Rios de água viva jorrarão do seu seio". a da construção cujas pedras estão todas unidas. mas é uma Pessoa. Como poderiam os cristãos conservar só para si o que receberam? Como poderiam confiscar este tesouro e esconder esta fonte? A missão da Igreja não consiste em defender poderes. presença viva de Deus no meio de nós e no mais profundo de nós mesmos. neste momento confiemos o nosso desejo de servir o Senhor à Virgem Maria. chegando até a vencer a própria morte. "rios de água viva". um dom que ninguém pode interromper e que dá vida. ou seja. ela recebeu a tarefa de anunciar o seu Evangelho até aos confins da terra (cf. Mãe de Deus e Serva do Senhor. Esta Boa Nova não é apenas uma Palavra. consideração por si mesmos e pelos seus irmãos. na qual tudo se apoia. participar na Vida de Cristo. Sabeis bem que a Igreja nada pretende impor a ninguém. Vivei entre vós segundo a palavra do Senhor: "Por isso é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13. Jesus Cristo que nos amou até ao fim na Cruz e que nos deu o seu Espírito. Irmãos e Irmãs. 35). é Cristo? É ele a fonte da vida nova que nos é dada pelo Pai. Ela rezou no cenáculo juntamente com a comunidade primitiva. a água que saiu do lado trespassado na cruz tornou-se uma fonte jorrante. 19). estai sempre atentos aos que têm sede de justiça. nem em obter riquezas. Irmãos e Irmãs. na expectativa do Pentecostes. Num mundo em que os homens têm tanta dificuldade de dividir entre si os bens da terra e no qual começamos justamente a preocupar-nos pela escassez da água. os profetas Zacarias e Ezequiel vêem-na brotar do lado do templo. e cuja pedra angular. paz. Mt 28. ao serviço do bem de todos. Corpo de Cristo. a sua missão é oferecer Cristo. Sede sempre abertos ao Espírito de Cristo e. o bem mais precioso do homem que o próprio Deus nos deu no seu Filho. o próprio Cristo. vivo! Com a graça dos Sacramentos. Então viveremos realmente segundo o Espírito de Jesus.primeiro lugar das nossas preocupações eclesiais. e que deseja simplesmente poder viver livremente para revelar Aquele que ela não pode esconder. Reunidos esta manhã nesta casa de oração consagrada ao Senhor. este bem tão precioso para a vida do corpo. para regenerar as águas do Mar morto: imagem maravilhosa da promessa de vida que Deus sempre fez ao seu povo e que Jesus veio realizar. esta água viva que Jesus prometeu à Samaritana. no Espírito Santo. No início de um novo ciclo anual. Esta expressão tão sintética contém em si uma força de sugestão sempre nova. de um presente contínuo. anunciar que "Deus vem" equivale simplesmente a anunciar o próprio Deus. Em qualquer momento. acontece agora e voltará a acontecer. através de uma sua característica essencial e qualificadora: o seu ser o Deus-quevem. sobre toda a Igreja. o verbo "vir" aparece aqui como um verbo "teológico" e mesmo "teologal". porque diz algo que se refere à própria natureza de Deus. quer vir. não amanhã. de tudo o que impede a nossa verdadeira felicidade. deseja encontrar-nos e visitar-nos. de Isaac e de Jacob". a liturgia convida a Igreja a renovar o seu anúncio a todos os povos e resume-o com duas palavras: "Deus vem". "Deus vem". de uma acção sempre em acto: aconteceu. na repetição dos dias. Senhor. em última análise. mas hoje. É um Pai que nunca cessa de pensar em nós e. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CELEBRAÇÃO DAS PRIMEIRAS VÉSPERAS DO 1º DOMINGO DO ADVENTO Altar da Confissão da Basílica de São Pedro Sábado. Ouçamo-la novamente: "Transmiti aos povos este anúncio: eis que vem Deus. no respeito extremo pela nossa liberdade. habitar no meio de nós. das semanas e dos meses: Acorda! Recorda que Deus vem! Não ontem. O seu "vir" é impelido pela vontade de nos libertar do mal e da morte. O Advento exorta os fiéis a tomarem consciência desta verdade e de agirem consequentemente. o nosso Salvador". Ressoa como um apelo saudável. agora! O único Deus verdadeiro. Deus vem para nos salvar. Paremos um momento para reflectir: não se usa o passado Deus veio nem o futuro Deus virá mas sim o presente: "Deus vem". . mas é o Deusque-vem. desinteressando-se por nós e pela nossa história. "o Deus de Abraão.Espírito Santo. ou seja. permanecer connosco. Por conseguinte. Trata-se. que ele habite em cada um dos seus membros e faça deles mensageiros do teu Evangelho! Amém. 2 de Dezembro de 2006 Estimados irmãos e irmãs A primeira antífona desta celebração vespertina apresenta-se como abertura do tempo do Advento e ressoa como antífona de todo o ano litúrgico. não é um Deus que está no céu. infelizmente. as "boas obras" são essenciais e inseparáveis da oração. . ou seja. homens de todas as nacionalidades e culturas. Portanto. profundamente inscrita na história da humanidade. na última. embora diferente pelas suas motivações. o Advento é mais adequado a ser um tempo vivido em comunhão com todos aqueles e graças a Deus são numerosos que esperam num mundo mais justo e mais fraterno. que poderíamos chamar "encarnação espiritual". manifestar-se-á como a nossa vida: é nela que se encontram o nosso descanso e a nossa consolação" (Disc. Neste compromisso pela justiça podem encontrar-se juntos. Nos primeiros dias. que tem lugar na alma dos fiéis e lança como que uma "ponte" entre a primeira e a última. em vista de um futuro de justiça e de paz. Gl 4. mediante a oração. como pude recordar também na peregrinação dos dias passados na Turquia. sinal e instrumento eficaz também desta expectativa de Deus. 4). 1). sobre o Advento. ajudando a humanidade a ir ao encontro do Senhor que vem. assim cada alma e toda a Igreja são chamadas. na plenitude dos tempos (cf. A paz é a meta à qual toda a humanidade aspira! Para os que crêem. a liturgia do Advento evidencia o facto de que a Igreja dá voz à expectativa de Deus. a "paz" é um dos mais bonitos nomes de Deus. que São Bernardo chama "intermédia" e "oculta". Efectivamente. Catequese 15. Um cântico de paz ressoou nos céus. na sua peregrinação terrena. Assim. pode-se reconhecer uma terceira. a comunidade cristã pode apressar a sua vinda final. por assim dizer. De uma forma que somente Ele conhece. 870). todos são animados por uma aspiração comum. Além disso. O tempo do Advento é vivido inteiramente segundo esta polaridade. 1: PG 33. com que pedimos ao Pai celeste que suscite em nós "a vontade de ir com boas obras ao encontro" de Jesus que vem. "Na primeira escreve São Bernardo Cristo foi a nossa redenção. que venha a nós o seu Reino de justiça e de paz. como demonstram também os textos da hodierna celebração vespertina. trata-se de uma expectativa sufocada ou desviada para falsas direcções. o arquétipo é sempre Maria. mas não só. para reconhecer nele a "plenitude do tempo". Cirilo de Jerusalém. Nesta perspectiva. Como a Virgem Maria conservou no seu coração o Verbo que se fez carne. que seja feita a sua Vontade assim na terra como no céu. como recorda a prece deste primeiro Domingo do Advento. crentes e não-crentes. aproximando-se o Natal.Os Padres da Igreja observam que o "vir" de Deus contínuo e. Como Corpo misticamente unido a Cristo Cabeça. quando Deus se fez homem e nasceu de uma mulher. de certa maneira. dá-se relevo à última vinda do Senhor. a Igreja é sacramento. 5. Para esta vinda de Cristo. conatural ao seu próprio ser concentra-se nas duas vindas principais de Cristo: a da sua Encarnação e a do seu retorno glorioso no fim da história (cf. comecemos este novo Advento um período que nos é concedido pelo Senhor do tempo despertando nos nossos corações a expectativa de Deus-que-vem e a esperança de que o seu Nome seja santificado. prevalecerá ao contrário a memória do acontecimento de Belém. que deseja a compreensão de todos os seus filhos. E fá-lo antes de tudo. Entre estas duas vindas "manifestas". Depois. a esperar Cristo que vem e a acolhê-lo com fé e amor sempre renovados. dando significado e esperança à vida das pessoas e das famílias. Ela vai unir-se aos mais de cinquenta edifícios paroquiais já realizados nestes anos. Saúdo com carinho cada um de vós. e ainda mais pelo início efectivo das suas actividades. Secretário da Obra Romana para a Preservação da Fé e para a Provisão de novas igrejas em Roma. a fim de que os bairros que ainda estão desprovidos da sua sede paroquial possam tê-la quanto antes. já há dezasseis anos. Peço a todos os fiéis e cidadãos de boa vontade que dêem continuidade a este compromisso com generosidade. Camillo Ruini. Saúdo o vosso Pároco. A solene liturgia da dedicação de uma igreja é um momento de intensa e comum alegria espiritual para todo o povo de Deus que vive no seu território: uno-me de todo o coração a esta vossa alegria. 10 de Dezembro de 2006 Prezados irmãos e irmãs da Paróquia de "Santa Maria Estrela da Evangelização" Estou feliz por me encontrar no meio de vós para a dedicação desta nova e bonita igreja paroquial: é a primeira que. Ernesto Mandara. deixemo-nos orientar pela Virgem Maria. Mãe de Deus-que-vem. contribuíram para a realização deste novo centro paroquial. graças aos esforços económicos envidados pelo Vicariato. . Amém. Mãe da Esperança. os membros do Conselho Pastoral Paroquial e os outros leigos comprometidos nas várias actividades pastorais. Ela. Saúdo com afecto o Cardeal Vigário de Roma. com o Pai e com o Espírito Santo. nos conceda que sejamos encontrados santos e puros no amor.Nesta expectativa. Sobretudo no nosso contexto social. sejam dados louvor e glória por todos os séculos. desde quando assumi o ministério de Bispo de Roma. a quem. o Bispo Auxiliar do Sector Sul. que daqui a poucos dias celebraremos como Imaculada. Paolino Schiavon e o Bispo Auxiliar D. a Diocese de Roma dedica à sensibilização e à angariação de fundos para a realização de novas igrejas nas periferias da cidade. os sacerdotes seus colaboradores. a vários níveis. Esta paróquia é inaugurada durante o período do Advento que. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA A DEDICAÇÃO DA IGREJA DE SANTA MARIA ESTRELA DA EVANGELIZAÇÃO Roma. à contribuição de tantos fiéis e à atenção das autoridades civis. A vossa comunidade é viva e jovem! Jovem pela sua fundação. Dirijo o meu agradecimento a eles e a quantos. amplamente secularizado. a paróquia constitui um farol que irradia a luz da fé e assim vai ao encontro dos desejos mais profundos e genuínos do coração do homem. dedico ao Senhor. quando vier nosso Senhor Jesus Cristo. D. ocorrida em 1989. Isto acontece no primeiro dia do ano. Assim. Em síntese. é a Palavra de Deus que volta a edificar a cidade. Nestas três leituras que ouvimos. porque neste bairro de "Torrino Nord" é jovem a maioria das famílias e. A verdadeira justiça não pode ser inventada pelo homem: ao contrário. se em última análise deve levar à justiça. tão necessária. por assim dizer. Ouçamos agora um pouco mais de perto o que nos dizem estas três leituras. Estou convicto de que. torna-se presente como uma força que. E sabe que esta constituição. a Palavra de Deus que reúne os homens. a confissão de Jesus Cristo como Filho de Deus encarnado. estamos a dedicar uma igreja um edifício em que Deus e o homem querem encontrar-se. Ela torna-nos presente o acontecimento do Sinai: a santa Palavra de Deus.Jovem. há a narração da nova construção do povo de Israel. Por conseguinte. onde nos sentimos atraídos por Deus. tem que vir de Deus. Por conseguinte. é solenemente lida e explicada. na segunda. se antes não for reconstituído o próprio povo como povo se não se torna concreto um critério comum de justiça que una todos e regulamente a vida e a actividade de cada um. há numerosas crianças e adolescentes. na terceira. da cidade santa de Jerusalém e do templo depois da volta do exílio. de uma lei fundamental para a sua vida. O povo que regressou tem necessidade. ela deve ser descoberta. expressa primeiro por Pedro. que é a Justiça. se deve ser justa e duradoura. inaugura uma nova hora da história. em conjunto e em espírito de comunhão sincera. estamos diante de três grandes temas: na primeira leitura. portanto. sob aspectos muito diferentes entre si. que indica aos homens o caminho da justiça. ao mesmo tempo. Estimados irmãos e irmãs. Antes de tudo. que deste modo deu início àquela Igreja viva que se manifesta no edifício material de cada igreja. de uma "constituição". a partir de dentro. e enfim. uma casa que nos reúne. vos comprometereis na preparação para os sacramentos da iniciação cristã e ajudareis os vossos jovens. o povo tendo voltado encontra-se diante de um país deserto. não pode progredir. e o facto de estarmos reunidos com Deus une-nos uns aos outros. que doravante poderão encontrar aqui um lugar hospitaleiro e estruturas adequadas. o significado de um edifício sagrado como casa de Deus e como casa dos homens. Após o grande optimismo da repatriação. O que a leitura nos narra é uma evocação do evento do Sinai. não pode ser fruto de uma sua invenção autónoma. que dá sentido e ordem ao nosso tempo. a cidade de Deus que. A Palavra de Deus inaugura um novo ano. edifica novamente o país. Como voltar a construí-lo? A reconstrução externa. à vossa comunidade compete a árdua e fascinante tarefa de educar os próprios filhos para a vida e a alegria da fé. se manifesta como esposa. A Palavra de Deus é sempre uma força de renovação. a crescerem no amor e na fidelidade ao Senhor. . As três leituras desta liturgia solene querem mostrar-nos. E chama-lhe "espírito vivificador" (1 Cor 15. Com Ele. A cidade é esposa. com Ele. na fracção do pão. Contudo. O edifício da igreja existe para que a Palavra de Deus possa ser ouvida. Zc 2. 1 Cor 6. se tornam "uma só carne". encontra-se a alegria: os homens são convidados a participar no banquete solene. existe. que é a nossa força. a unir todos na comunhão da alegria que se fundamenta na Palavra de Deus. 17. Existe ainda para que possamos aprender a viver a alegria do Senhor. O próprio Deus é a defesa viva da cidade. Palavra de Deus e edificação da cidade. sem a Palavra de Deus não há cidade. para a comunhão com Deus e entre os homens. não só naquela época. Ef 5. são exortados a ajudar quem nada tem e. Oremos ao Senhor para que nos faça alegrar-nos com a sua Palavra. tornamo-nos uma só coisa. o último Adão: o homem definitivo. existe para que aí possa começar a festa na qual Deus quer que toda a humanidade participe. Referese ao novo povo que. em que desde já se está a formar a cidade futura. no seu amor. Assim.). 29 ss. a não ser a Palavra de Deus. Paulo chama Cristo o novo. muito concretos e até prosaicos. é uma Palavra que constrói. não somente no fim dos tempos. mediante o amor de Cristo.). 8 s. portanto. A Cidade . com imagens grandiosas. a narração veterotestamentária introduz-nos na visão do Apocalipse. a renovação da revelação do Sinai depois do exílio serviu. mas leva a edificar. mas sempre. por outro. Não é simplesmente um edifício de pedra. Julgo que não é difícil ver que agora estas palavras do Antigo Testamento constituem para nós uma realidade. estão em estreita relação: por um lado. que ouvimos como segunda leitura. Uma palavra profética daquela época afirma que o próprio Deus serve de muro em redor de Jerusalém (cf. explicada e compreendida no meio de nós. para que a Palavra de Deus possa agir entre nós como uma força que cria a justiça e o amor. se torna um único corpo com Cristo (cf. Gostaria de lançar luz somente sobre dois aspectos desta visão. De modo particular. à uma primeira leitura nos seus pormenores. mas desde já. 1 Cor 10. nem comunidade. para que este júbilo nos renove a nós e o mundo! A leitura da Palavra de Deus. Esta comunhão expressou-se na reedificação do templo. e não há outra fonte para descobrir e dar força a este conhecimento da justiça e do bem. deste modo. a Palavra de Deus não permanece somente um discurso. A última palavra desta leitura é a bonita expressão: o júbilo do Senhor é a nossa força. da cidade e dos seus muros. 16 s. no Livro de Neemias. constituem um tema autenticamente espiritual e teológico. Assim como o homem e a mulher.No final da leitura. "um só espírito" (cf. a Igreja torna-se espírito vivificador. Ele existe para que seja despertado em nós o conhecimento da justiça e do bem. Tudo o que. 45). Os textos seguintes de Neemias sobre a construção dos muros da cidade mostram-se. se afirma acerca da cidade refere-se a algo de vivo: à Igreja de pedras vivas. que nos torne felizes com a fé. também Cristo e a humanidade congregada na Igreja se tornam.). torna-se verdadeiramente o Pão de que vivemos. deste modo. ora por nós. evocam precisamente os Apóstolos: a sua fé constitui a verdadeira luz que ilumina a Igreja. é o fundamento sobre o qual ela está alicerçada. nos lugares onde serão feitas as unções.santa. o Filho do Deus vivo. é também o fundamento sobre o qual nos encontramos. 14). Nós. Esperá-lo. vivemos da Verdade. que aqui honramos como Estrela da Evangelização. se faça espaço à Palavra de Deus. Maria ofereceu-se inteiramente a Deus. como morada. dentro de nós. A Palavra é carne. Assim o Evangelho finalmente nos introduz na hora que hoje estamos a viver.). Ela entrega-se-nos sob as aparências do pão e. que nós podemos tocá-lo e que Ele vive connosco. Esta é a finalidade mais profunda da existência deste edifício sagrado: a igreja existe porque nela encontramos Cristo. Esta Verdade é Pessoa: ela fala-nos e nós falamos-lhe. ao mesmo tempo. As pequenas velas que acendemos nas paredes da igreja. sobre os quais estão inscritos os nomes dos doze Apóstolos. em que já não existe um templo porque é habitada por Deus. Deus fez-se homem e entrega-se-nos no mistério da Santíssima Eucaristia. constitui a imagem desta comunidade que se forma a partir de Cristo. Ajuda-nos a ser. constitui o lugar de encontro entre nós. contemplá-lo. Conduznos rumo a Maria. a Palavra fez-se homem (cf. homens. Na hora decisiva da história humana. Maria diz-nos o que é o Advento: ir ao encontro do Senhor que vem em nossa direcção. dizemos a Jesus: "Tu és Cristo. é a luz através da qual vemos. por intermédio do ministério da sucessão apostólica: mediante os Bispos. Mt 5. a Palavra possa também nos dias de hoje fazer-se homem. escutá-lo. O júbilo de Deus é realmente a nossa força. Venhamos ao Evangelho. A fé dos Apóstolos não é algo antiquado. assim. Deus tem um rosto. Em Jesus Cristo. Amém! . 14 ss. O outro aspecto que quereria mencionar aqui são os doze fundamentos da cidade. A Palavra de Deus não é apenas palavra. E. Deus tem um nome. A Igreja é o lugar de encontro com o Filho de Deus vivo e. ela está presente no meio de nós como Pessoa. em virtude do Evangelho. mas seres humanos são os Apóstolos com o testemunho da sua fé. Jo 1. Com Pedro. dentro de nós. Mãe de Deus. Por meio dela. Nela e dela o Filho de Deus assumiu a carne. luz para o mundo. Ajuda-nos a não ocultar a luz do Evangelho debaixo do alqueire da nossa pouca fé. a fim de que vivamos o Evangelho. para que. a fim de que os homens possam ver o bem e dar glória ao Pai que está nos céus (cf. o Filho do Deus vivo". Em Cristo. Os Apóstolos permanecem como os fundamentos essenciais da nova cidade. Uma vez que é verdade. o seu corpo e a sua alma. É assim que a saudamos como Estrela da Evangelização: Santa Maria. Desta forma. Os fundamentos da cidade não são pedras materiais. da Igreja. Quantas vezes já o ouvimos! A profissão de fé de Pedro constitui o fundamento inabalável da Igreja. Esta é a alegria que Deus nos concede: que Ele se fez um de nós. Maria diz-nos por que motivo existem os edifícios das igrejas: eles existem para que. O sinal de Deus é que Ele faz-se pequeno por nós. Tira-nos o medo da sua grandeza. acolhê-Lo. na cidade de David. A nós também não e nos dado um sinal distinto. Os pastores. que é o Messias Senhor. Ele pede o nosso amor: por isto faz-se menino. O sinal de Deus é o menino carente de ajuda e pobre. O sinal de Deus é o menino. na sua tradução grega do Antigo Testamento.28). precisa dos cuidados maternos. na Noite santa. por isso. disseram aos pastores e que agora a Igreja grita para nós: «Nasceu-vos hoje. mas numa manjedoura.11ss). Isto vos servirá de sinal: achareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2.23. mediante o qual aprendemos espontaneamente a entrar nos seus sentimentos. . um filho nos foi concedido. nada de extraordinário. que escutamos na primeira leitura: «Um Menino nasceu para nós. 24 de Dezembro de 2006 Amados irmãos e irmãs! Acabamos de ouvir no Evangelho a palavra que os Anjos. mediante a mensagem do Evangelho. Rom 9. Os Padres da Igreja. a Palavra eterna fez-se pequena . O anjo de Deus. Assim nos ensina a amar os frágeis. como todos os meninos. Deus fez-se pequeno a fim de que nós pudéssemos compreendê-Lo. Não nos quer dominar com a força.aprendemos a viver com Ele e a praticar com Ele a humildade da renúncia que faz parte da essência do amor. O sinal de Deus é a simplicidade. Este é o seu modo de reinar. Nada de maravilhoso. um Salvador. um menino que nasceu num estábulo e. Verão só um menino envolto em panos que.5). nos convida também a encaminhar-nos com o coração para ver o menino que jaz na manjedoura. Tem o poder sobre os ombros» (Is 9. para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Nada mais quer de nós senão o nosso amor. Ele abreviou-a» (Is 10. Deste modo. Fez-se menino.tão pequena a ponto de caber numa manjedoura. Os Padres interpretavam num duplo sentido. no seu pensamento e na sua vontade . O mesmo Filho é a Palavra. encontravam uma palavra do profeta Isaías que Paulo também cita para mostrar como os novos caminhos de Deus já fossem anunciados no Antigo Testamento. Ele não vem com poder e grandiosidades externas. Assim. o Logos. não está deitado num berço. Deus nos ensina a amar os pequeninos. nada de magnífico é dado como sinal aos pastores. amá-Lo. Assim se lia: «Deus tornou breve a sua Palavra. Ele vem como menino .inerme e necessitado da nossa ajuda. poderão ver que neste menino tornou-se realidade a promessa do profeta Isaías. somente com o coração.MISSA DA MEIA NOITE SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI Basílica Vaticana Domingo. te fazem presentes. Não é mais desconhecido. são introduzidas num mundo de violência. atraiu a si próprio para o alto o nosso tempo. O Natal veio a ser a festa dos dons para imitar Deus que por nós doou-se a si próprio.] Amarás a teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22. a nossa alma e a nossa mente fiquem tocados por este fato! Entre os inúmeros dons que compramos e recebemos não esqueçamos o verdadeiro dom: de doarmos-nos mutuamente algo de nós próprios! De doarmos-nos mutuamente o nosso tempo. mas convida os que não são convidados por ninguém e não poderão convidar-te» (cf. Assim desvanece-se a agitação. para os doutos que.. Não é inalcançável para o nosso coração. como soldados. Ele não está mais longe. A Palavra que Deus nos comunica nos livros da Sagrada Escritura. interpela-nos o Deus que se fez pequeno. se nos custa encontrá-lo com a nossa capacidade metal? Como amá-Lo com todo o nosso coração e a nossa alma. Extensa e complicada não só para as pessoas simples e analfabetas. Deste modo brota a alegria. fez-se dom. a crianças que sofrem a miséria e a fome.na palavra: «Amarás ao Senhor. sem quase conseguir mais encontrar uma visão de conjunto.Ele diz . Nelas todas é o menino de Belém que nos interpela. com toda a tua alma e com toda a tua mente [. dissolveu toda ambigüidade. Assim mesmo fez o Senhor: Ele nos convida ao seu banquete de bodas que não podemos retribuir. se este coração consegue entrevê-Lo só de longe e contempla tantas coisas contraditórias no mundo que velam o seu rosto diante de nós? Neste ponto se encontram os dois modos com os quais Deus «abreviou» a sua Palavra. a crianças que não experimentam sequer amor. tornou-se extensa. Imitemos-lo! . Fez-se menino por nós e. surgem as perguntas: como podemos amar Deus com toda a nossa mente. e peçamos-lhe que nos ajude a fazer o que podamos para que seja respeitada a dignidade das crianças. Isto também significa precisamente: Quando deres um presente de Natal não o faças só aos que. Lc 14. mas inclusive muito mais para os entendidos de Sagrada Escritura. Tudo aquilo que nos ensina a Lei e os profetas está resumido . E lembremos nos banquetes festivos destes dias a palavra do Senhor: «Quando deres um banquete. se nos revela tão pouco amável. e não das coisas materiais necessárias para viver. vão retribuir-te.nos ensina a respeitar as crianças. Rezemos nesta noite. perdiam-se nas particularidades e nos respectivos problemas. Está tudo aí toda a fé se resolve neste único ato de amor que abraça Deus e os homens. Deus. De abrir o nosso tempo para Deus.12-14). Doou-se a si próprio. com freqüência. Ele. Com isto chegamos ao segundo significado que os Padres encontraram na frase: «Ele abreviou-a». que só podemos receber com alegria. com todo o teu coração. Fez-se o nosso próximo. por sua vez. para que o esplendor do amor de Deus acaricie todos estas crianças. a crianças que são obrigadas a mendigar. assim se cria a festa. para que desponte a luz do amor da qual mais precisa o homem. Jesus «abreviou» a Palavra . Logo a seguir. Perde tempo conosco. porém. mas fá-lo aos que não o recebem de ninguém e que nada podem retribuir-te. Dirige-o a crianças que. ao longo dos tempos. O menino de Belém dirige o nosso olhar a todas as crianças que sofrem e são abusadas no mundo. claramente. Deixemos que o nosso coração. o Eterno que supera o tempo. por nós. teu Deus. com isto. não convides os que..fez-nos rever a sua mais profunda simplicidade e unidade. por sua vez. restabelecendo também deste modo a imagem do homem que. os nascidos como não nascidos. assumiu o tempo.37-40). portanto. necessitam. Interpretaram assim o texto no sentido de que haveria um símbolo dos judeus e dos pagãos . de toda a humanidade . de um pedacinho de pão. Amém.20). a manjedoura dos animais veio a ser o símbolo do altar. também nos ilumine e que se cumpra em todo o mundo aquilo que os anjos cantaram naquela noite: «Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por Ele amados». Ele se nos doa si próprio. assim. Uma vez mais vemos como Ele se fez pequeno: na humilde aparência da hóstia. Por isto. Precisa de alimento para a sua alma: precisa de um sentido que encha a sua vida. enfim. precisa de pão. Lc 2. Peçamos que nos ajude a vê-Lo com aquele amor com que Maria o contemplava. de um novo modo! Surge. para depois redescobrir a Deus. a partir dos homens. de um salvador: daquele Deus que se fez menino.Amemos a Deus e. Aos pastores foi dito que teriam encontrado o menino numa manjedoura para animais. ao seu modo. E.3) os Padres deduziram que junto à manjedoura de Belém estavam um boi e um asno. para viver. Lendo Isaías (1. o menino no qual Deus se fez pequeno por nós. peçamos por que a luz que viram os pastores. para receber assim a alegria com a qual eles voltam para casa (cf. Mas não vive só de pão. Peçamos que nos dê a humildade e a fé com a qual São José contemplou o menino que Maria tinha concebido pelo Espírito Santo. PRIMEIRAS VÉSPERAS DA SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS E RECITAÇÃO DO "TE DEUM" HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Domingo. por Ele. ainda um terceiro significado da afirmação sobre a Palavra feita «breve» e «pequena». 31 de Dezembro de 2006 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado Ilustres Autoridades Estimados irmãos e irmãs . que eram os verdadeiros habitantes do estábulo. sobre o qual jaz o Pão que é o mesmo Cristo: o verdadeiro alimento para os nossos corações. também ao homem.que. do fruto da terra e do seu trabalho. Rezemos ao Senhor para que nos dê a graça de ver nesta noite o presépio com a simplicidade dos pastores. uns e outros. segundo os Padres. De tudo isto nos diz o sinal que foi dado aos pastores e que nos vem dado: o menino nos foi dado. O homem. as tristezas e as angústias dos homens de hoje. Por conseguinte. é o acontecimento qualitativamente mais importante de toda a história. confrontam-se duas avaliações diferentes da dimensão do "tempo". ao contrário. está ligado à dimensão do tempo. até à sua morte e ressurreição. . também a posteriori.Estamos reunidos na Basílica do Vaticano para dar graças ao Senhor no final do ano. Constituição Gaudium et spes. vivida muitas vezes como evasão da realidade. muito sugestivo. quando o Filho de Deus nasceu no mundo. do valor imenso da sua vinda e do respeito infinito de Deus por nós homens e pela nossa história. Por um lado. a outra à solenidade litúrgica de Maria Santíssima Mãe de Deus. enquanto o segundo é próprio dos fiéis. quando a gravidez de Maria chegou ao seu fim. contemporaneamente. da sua humildade. sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem" (Concílio Vaticano II. depois de conhecermos toda a vicissitude de Jesus. num particular clima espiritual que nos convida à reflexão. "a terra como afirma um Salmo deu os seus frutos" (Sl 66. O primeiro tema. os religiosos e as religiosas. Nós somos testemunhas da sua glória e. Saúdo de maneira especial o Presidente da Câmara Municipal de Roma e as demais Autoridades aqui presentes. no contexto contemporâneo. se caracterizam predominantemente pela diversão. confortada pela sua luz. podemos afirmá-lo. aquela que São Paulo denomina como "plenitude dos tempos" (Gl 4. Juntamente com Ela. as pessoas consagradas e os numerosos fiéis leigos que representam toda a comunidade eclesial de Roma. que vivemos dois mil anos depois de tal acontecimento. novo Sol que surgiu no horizonte da humanidade e. a ter o cuidado de lhe apresentar "as alegrias e as esperanças. O tempo das promessas cumpriu-se e. O seu entrelaçamento confere a esta celebração vespertina uma índole singular. é o acontecimento da Encarnação que "preenche" a história de valor e de significado. os venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado. O primeiro evento é comum a todos. 4). Nas últimas horas de cada ano solar assistimos à repetição de certos "ritos" mundanos que.1). ou seja. por outro. Como deve ser diferente a atitude da Comunidade cristã! A Igreja é chamada a viver estas horas. e para entoar em conjunto o Te Deum. o momento culminante da história do universo e do género humano. Saúdo em primeiro lugar os Senhores Cardeais. que conclui a oitava do Santo Natal. 7). prenunciada pelos Profetas. Nós. Nesta tarde de 31 de Dezembro entrelaçam-se duas perspectivas diferentes: uma está vinculada ao fim do ano civil. o ciclo solar com os seus ritmos. tornando seus os sentimentos da Virgem Maria. como que para exorcizar os seus aspectos negativos e para propiciar uma sorte improvável. Não são as coordenadas histórico-políticas que condicionam as opções de Deus mas. Agradeço de coração a todos vós que quisestes unir-vos a mim numa circunstância tão significativa. à qual confere o seu sentido último e completo. por assim dizer. A vinda do Messias. é convidada a conservar o seu olhar fixo no Menino Jesus. uma quantitativa e outra qualitativa. Na expressão "Deus enviou o seu Filho. em 431. PG 14. Maria. nascido de mulher" (Gl 4. Ele provém dela. é Filho de uma mulher. é gerado por Ele e. Lc 1. e que depois da vinda do Messias a história não terminasse. De tudo isto é símbolo concreto. mas "a partir de dentro". que não disse: nascido através de uma mulher. Este estilo de Deus fez com que se tornasse necessário um longo período de preparação para chegar de Abraão a Jesus Cristo. tornando-se pequenina semente para conduzir a humanidade à sua plena maturidade. uma fé límpida. durante a viagem apostólica à Turquia. Este título. cidade aonde tive a alegria de ir em peregrinação há um mês. pela Itália. que é a Mãe da Misericórdia encarnada. genuína. aparece talvez pela primeira vez precisamente na área de Alexandria do Egipto onde. ao mesmo tempo. Maria acreditou e por isso é bem-aventurada (cf. Esta observação perspicaz do grande exegeta e escritor eclesiástico é importante: com efeito. 45). tomando a carne "de" Maria. nascido de mulher" encontra-se resumida a verdade fundamental sobre Jesus como Pessoa divina. 23). A Ela. O que é impossível para o homem. ele foi definido dogmaticamente só dois séculos mais tarde. o que contudo fez. enquanto se encerra o ano de 2006 e já se entrevê a aurora de 2007. ao mesmo tempo. 4). Voltando a pensar exactamente nesta visita inesquecível. também divino. 37). Ele é o Filho de Deus. poderíamos dizer sacramento. Mt 9. sentimos a necessidade de invocar de modo inteiramente especial a intercessão materna de Maria Santíssima pela cidade de Roma. que um evento humano e. como posso deixar de expressar toda a minha gratidão filial à Santa Mãe de Deus. nada é impossível" (Lc 1. confiemos sobretudo as situações em que somente a graça do Senhor pode trazer a paz. No trecho da Carta aos Gálatas.Ele não preencheu o tempo. "Para Deus. se o Filho de Deus tivesse nascido somente "através" de uma mulher. mas continuasse o seu percurso. a maternidade de Maria é verdadeira e plenamente humana. mas sim: nascido de uma mulher" (Comentário à Carta aos Gálatas. disse à Virgem o Anjo que lhe anunciava a sua maternidade divina. na realidade não teria assumido a nossa humanidade. Portanto. É de Deus e de Maria. No final de um ano. que assumiu completamente a nossa natureza humana. peçamos à Mãe de Deus que nos obtenha o dom de uma fé amadurecida: gostaríamos que esta fé se assemelhasse na medida do possível à sua. pela Europa e pelo mundo inteiro. São Paulo afirma: "Deus enviou o seu Filho. a maternidade de Maria. no final dos tempos. aparentemente igual mas na realidade já visitada por Deus e orientada rumo à segunda e definitiva vinda do Senhor. Portanto. torna-se possível para aquele que crê (cf. 1298). que acabamos de ouvir. que em grego se diz Theotókos. na primeira metade do século III viveu o próprio Orígenes. inserindo-se nele do alto. Por isso. Mãe de Deus: cada vez que recitamos a Ave-Maria dirigimo-nos à Virgem com este título: suplicando-lhe que ore "por nós. a Mãe de Jesus pode e deve chamar-se Mãe de Deus. pela particular salvaguarda que me concedeu naqueles dias de graça? Theotókos. Orígenes comenta: "Observa bem. pelo Concílio de Éfeso. pecadores". o alívio e a justiça. Contudo. humilde e ao . Que Tu sejas sempre agradecida e abençoada. uma fé autêntica e pura. ó Maria. sempre e para todos. Amém! . impregnada de esperança e de entusiasmo pelo Reino de Deus. certeza absoluta de que Deus só deseja amor e vida.mesmo tempo corajosa. Santa Mãe de Deus. Obtém-nos. uma fé separada de todo o fatalismo e totalmente orientada para cooperar em plena e jubilosa obediência à vontade divina. Homilias de Sua Santidade Bento XVI Ano de 2005 . mas o guia através dos tempos. Por outro lado. conformado com o seu Mestre e Senhor. de amor e de espiritual solidariedade. 1 Pd 1. sinto viva em mim uma profunda gratidão a Deus. E considero este facto uma graça especial que me foi obtida pelo meu venerado Predecessor. Graça e paz em abundância para todos vós (cf. que como nos faz cantar a liturgia não abandona o seu rebanho. sob a guia de quantos Ele mesmo elegeu vigários do seu Filho e constituiu pastores (cf. parece que vejo os seus olhos sorridentes e que ouço as suas palavras. João Paulo II. através da sua Igreja. e os dias que se seguiram. A morte do Santo Padre João Paulo II. como Sucessor do Apóstolo Pedro nesta Sede de Roma. O grande sofrimento pelo seu desaparecimento e o sentido de vazio que deixou em todos foram atenuados pela acção de Cristo ressuscitado. 20 de Abril de 2005 Venerados Irmãos Cardeais Caríssimos Irmãos e Irmãs em Cristo Vós todos. dirigidas neste momento particularmente a mim: "Não tenhas medo!". que se manifestou durante longos dias na coral onda de fé. diante da Igreja universal. este reconhecimento íntimo por um dom da divina misericórdia prevalece apesar de tudo no meu coração. Prefácio dos Apóstolos I). homens e mulheres de boa vontade! 1."SANTA MISSA PELA IGREJA UNIVERSAL" PRIMEIRA MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI NO FINAL DA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA COM OS CARDEAIS ELEITORES NA CAPELA SISTINA Quarta-feira. Na hora da morte. . que teve o ponto mais alto nas suas solenes exéquias. Lumen gentium. Caríssimos. um sentido de inaptidão e de humana perturbação pela responsabilidade que ontem me foi confiada. deseja formar. Por um lado. 1). foram para a Igreja e para o mundo inteiro um tempo extraordinário de graça. Podemos dizê-lo: os funerais de João Paulo II foram uma experiência verdadeiramente extraordinária na qual se sentiu de certa forma o poder de Deus que. 2)! Convivem no meu coração nestas horas dois sentimentos contrastantes. Tenho a impressão de sentir a sua mão forte que estreita a minha. João Paulo II coroou o seu longo e fecundo Pontificado. reunindo-o à sua volta e fazendo com que toda a família humana se sentisse mais unida. de todos os povos. uma grande família. mediante a força unificadora da Verdade e do Amor (cf. confirmando na fé o povo cristão. e a solene afirmação do Senhor: "Tu és Pedro. quis-me "pedra" sobre a qual todos possam apoiarse com segurança. do mesmo modo o Sucessor de Pedro e os Bispos. . Com o Grande Jubileu foi introduzida no novo milénio levando nas mãos o Evangelho. há dois mil anos. sempre dócil às inspirações do seu Espírito. activa e sábia colaboração. A vós. para que eu seja corajoso e fiel Pastor do seu rebanho. mesmo se na diversidade dos papéis e das funções do Romano Pontífice e dos Bispos. Assim como Pedro e como os outros Apóstolos constituíram por vontade do Senhor um único Colégio apostólico. segundo o seu ensinamento e exemplo. em particular. Uma Igreja que. o Filho de Deus vivo". por esta vereda pela qual caminharam os meus venerados Predecessores. Esta comunhão colegial. Preparo-me para empreender este peculiar ministério. mais livre. sucessores dos Apóstolos o Concílio recordou-o com vigor (cf. 22) devem estar entre si intimamente unidos. para que eu possa ser verdadeiramente o Servus servorum Dei.. Ele deixa uma Igreja mais corajosa. chamou-me a suceder a este grande Papa. eu. Surpreendendo qualquer minha previsão. Domine. 3. Parece que ouço as palavras de Pedro: "Tu és Cristo. speravi. aplicado ao mundo actual através da autorizada repetida leitura do Concílio Vaticano II. Sucessor de Pedro. a Providência divina. dar-te-ei as chaves do Reino do Céu" (Mt 16. repito com trepidação as palavras trepidantes do pescador da Galileia e ouço novamente com íntima emoção a promessa tranquilizante do divino Mestre. Senhores Cardeais. olha com serenidade para o passado e não tem medo do futuro.. 15-19). o testemunho do Papa João Paulo II. e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16. Peço-Lhe que auxilie a pobreza das minhas forças. Tenho às minha frente. é certamente desmedido o poder divino sobre o qual posso contar: "Tu és Pedro. com o ânimo grato pela confiança que me demonstrastes. 18). também eu pretendo prosseguir unicamente preocupado em proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo. Nestas horas penso de novo em tudo o que aconteceu na região de Cesareia de Filipe. através do voto dos venerados Padres Cardeais. peço que me apoieis com a oração e a constante. Ao escolher-me para Bispo de Roma. o ministério "petrino" ao serviço da Igreja universal. É em primeiro lugar a Cristo que renovo a minha total e confiante adesão: "In Te. e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. está ao serviço da Igreja e da unidade na fé.Como não nos sentirmos amparados por este testemunho? Como não sentir o encorajamento que provém deste acontecimento de graça? 2. o Senhor quis-me para seu Vigário. com humilde abandono nas mãos da Providência de Deus. da qual depende em grande medida a eficiência da acção evangelizadora no mundo contemporâneo. Lumen gentium. Tu és o Cristo! Tu és Pedro! Parece-me reviver a mesma cena evangélica. Se é enorme o peso da responsabilidade que recai sobre os meus pobres ombros. mais jovem. Por conseguinte. Peço também a todos os Irmãos no Episcopado que me acompanhem com a oração e com os conselhos. non confundar in aeternum!". neste ano deverá ser celebrada com particular relevo a Solenidade do Corpus Domini. especialmente para com os mais pobres e pequeninos. que continua a oferecerse a nós. o meu Pontificado começa no momento em que a Igreja está a viver o especial Ano dedicado à Eucaristia.III. chamando-nos a participar da mesa do seu Corpo e do seu Sangue. os Documentos conciliares não perderam actualidade. que se desenvolverá sobre o tema: "A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja". sobretudo mediante a solenidade e a rectidão das celebrações. Peço isto de modo especial aos Sacerdotes. 1). ao preparar-me para o serviço que é próprio do Sucessor de Pedro. escreveu na sua última Carta para a Quinta-Feira Santa (n. como muitas vezes realçou o meu venerado Predecessor João Paulo II. em primeiro lugar a comunhão entre todos os fiéis. O Sacerdócio ministerial nasceu no Cenáculo. "A existência sacerdotal deve a título especial tomar "forma eucarística"". 57-58). Com o passar dos anos. De maneira mais do que nunca significativa. Por conseguinte. da Jornada Mundial da Juventude em Colónia.Justamente o Papa João Paulo II indicou o Concílio como "bússula" com a qual orientar-se no vasto oceano do terceiro milénio (cf. não pode deixar de constituir o centro permanente e a fonte do serviço petrino que me foi oferecido. no seguimento dos meus Predecessores e em fiel continuidade com a bimilenária tradição da Igreja. ao contrário. Também no seu Testamento espiritual ele anotava: "Estou convencido que ainda será concedido às novas gerações haurir das riquezas que este Concílio do século XX nos concedeu" (17. 4. A Eucaristia torna constantemente presente Cristo ressuscitado.2000). Carta apost. Da comunhão plena com Ele brotam todos os outros elementos da vida da Igreja. juntamente com a Eucaristia. Depois. . Para esta finalidade contribui antes de mais a devota celebração quotidiana da sua santa Missa. Peço a todos que intensifiquem nos próximos meses o amor e a devoção a Jesus Eucaristia e que exprimam de modo corajoso e claro a fé na presença real do Senhor. o compromisso de anúncio e testemunho do Evangelho. Novo millennio ineunte. Como não tirar desta providencial coincidência um elemento que deve caracterizar o ministério para o qual fui chamado? A Eucaristia. o fervor da caridade para com todos. também eu. Por conseguinte. desejo afirmar com vigor a vontade decidida de prosseguir no compromisso de actuação do Concílio Vaticano II. em Agosto. a Eucaristia estará no centro. centro da vida e da missão de cada Sacerdote. os seus ensinamentos revelam-se particularmente pertinentes em relação às novas situações da Igreja e da actual sociedade globalizada. nos quais penso neste momento com grande afecto. coração da vida cristã e fonte da missão evangelizadora da Igreja. Celebrar-se-á precisamente este ano o 40º aniversário da conclusão da Assembleia conciliar (8 de Dezembro de 1965). É diante d'Ele. Quem me segue não andará nas trevas. que cada um de nós se deve apresentar. Deste supremo anseio do Mestre divino o Sucessor de Pedro deve ocupar-se de modo muito especial. 6. perturbada por incertezas e temores. 12). se interroga sobre o seu futuro. este é o seu impelente dever. reuniram-se os Chefes das Nações. A Igreja de hoje deve reavivar em si mesma a consciência da tarefa de repropor ao mundo a voz d'Aquele que disse: "Eu sou a luz do mundo. No seguimento dos seus Predecessores. na autoconsciência de que um dia Lhe deve prestar contas por tudo o que fez ou não em relação ao grande bem da plena e visível unidade de todos os seus discípulos. mas terá a luz da vida" (Jo 8. Para ele olhou com confiança todo o mundo. supremo Juiz de cada ser vivo. o aprofundamento das motivações históricas de opções feitas no passado também é indispensável. amplificada até aos confins do planeta pelos meios de comunicação social. único Senhor de todos. 32). a ele foi confiada a tarefa de confirmar os irmãos (cf. na qual Pedro derramou o seu sangue. Pareceu a muitos que aquela intensa participação. Alimentados e sustentados pela Eucaristia. os católicos não podem deixar de se sentir estimulados a tender para aquela unidade plena que Cristo desejou ardentemente no Cenáculo. Por conseguinte. volto com a memória à inesquecível experiência vivida por todos nós por ocasião da morte e dos funerais do saudoso João Paulo II. num inesquecível abraço de afecto e de admiração. fosse como um coral pedido de ajuda dirigido ao Papa da parte da humanidade de hoje que. Mas o que é mais urgente é aquela "purificação da memória". colocados na terra nua. o actual Sucessor assume como compromisso primário o de trabalhar sem poupar energias na reconstituição da plena e visível unidade de todos os seguidores de Cristo. Lc 22. com plena consciência. e sobretudo jovens. O actual Sucessor de Pedro deixa-se interpelar em primeira pessoa por esta exigência e está disposto a fazer tudo o que estiver em seu poder para promover a fundamental causa do ecumenismo. tantas vezes recordada por João Paulo II. Ao empreender o seu ministério o novo . enternecendo cada um àquela conversão interior que é o pressuposto de qualquer progresso pelo caminho do ecumenismo. pessoas de todas as camadas sociais. O diálogo teológico é necessário. São necessários gestos concretos que entrem nos corações e despertem as consciências. no início do seu ministério na Igreja de Roma. envia também a eles nesta ocasião a saudação mais cordial em Cristo. Ele está consciente de que para isto não são suficientes as manifestações de bons sentimentos. Neste momento. ele está plenamente determinado a cultivar todas as iniciativas que possam parecer oportunas para promover os contactos e o entendimento com os representantes das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais. Aliás. a única que pode predispor os ânimos ao acolhimento da plena verdade de Cristo.5. Esta é a sua ambição. Em volta dos seus despojos mortais. De facto. amados jovens. Dirijo-me a todos com simplicidade e afecto. também eu Lhe renovo a minha incondicionada promessa de fidelidade. venerados Irmãos Cardeais. em cujas mãos confio o presente e o futuro da minha pessoa e da Igreja. afectuosa Bênção. SANTA MISSA IMPOSIÇÃO DO PÁLIO E ENTREGA DO ANEL DO PESCADOR PARA O INÍCIO DO MINISTÉRIO PETRINO DO BISPO DE ROMA . de me encontrar com Eles em Colónia por ocasião da próxima Jornada Mundial da Juventude. é a oração que brota espontânea do meu coração. Mane nobiscum. porque da compreensão recíproca surgem as condições de um futuro para todos. na busca do verdadeiro bem do homem e da sociedade. a quantos participam neste rito e a todos os que escutam através da televisão e da rádio uma especial. o eternamente jovem. Para amparar esta promessa invoco a intercessão materna de Maria Santíssima. que forma o tema dominante da Carta apostólica de João Paulo II para o Ano da Eucaristia.Papa sabe que a sua tarefa é fazer resplandecer aos olhos dos homens e das mulheres de hoje a luz de Cristo: não a sua. interlocutores privilegiados do Papa João Paulo II. Convosco. Como Pedro. futuro e esperança da Igreja e da humanidade. Domine! Permanece connosco. ouvindo as vossas expectativas com a intenção de vos ajudar a encontrar sempre mais em profundidade o Cristo vivo. dirijo o meu abraço afectuoso na expectativa. Senhor! Esta invocação. Ele é o único que pretendo servir dedicando-me totalmente ao serviço da sua Igreja. respeitador da dignidade de cada ser humano. Com esta consciência dirijo-me a todos os que seguem outras religiões ou que simplesmente procuram uma resposta para os interrogativos fundamentais da existência e ainda não a encontraram. Penso em particular nos jovens. enquanto me preparo para iniciar o ministério ao qual Cristo me chamou. Com estes sentimentos concedo a vós. 7. Não pouparei esforços nem dedicação para prosseguir o prometedor diálogo iniciado pelos meus venerados Predecessores com as diversas civilizações. se Deus quiser. continuarei a dialogar. A eles. Intervenham com a sua intercessão também os Santos Apóstolos Pedro e Paulo e todos os Santos. mas a verdadeira luz do próprio Cristo. Peço instantemente a Deus a unidade e a paz para a família humana e declaro a disponibilidade de todos os católicos na cooperação de um autêntico desenvolvimento social. para garantir que a Igreja quer continuar a tecer com eles um diálogo aberto e sincero. neste momento. Nós sabemos que a sua chegada era esperada. Os numerosos santos de Deus protegem-me. sabendo que teriam estado no cortejo vivo que o teria acompanhado no além. e também hoje. queridos amigos. que estávamos circundados. Mas não deu este passo sozinho. representados por alguns dos grandes nomes da história de Deus com os homens. Agora sabemos que ele está entre os seus e está verdadeiramente em sua casa. nunca está sozinho nem na vida nem na morte. até à glória de Deus. à comunidade dos santos não pertencem só as grandes figuras que nos . 115 Bispos. a vossa indulgência. Desta forma. os seus irmãos na fé. quando as cantamos de novo com a invocação: Tu illum adiuva ampara o novo sucessor de São Pedro. Como podíamos reconhecer o seu nome? Como podiam. nestes dias tão intensos. Naquele momento nós pudemos invocar os santos de todos os séculos. frágil servo de Deus. o vosso amor. Todas as vezes. de modo totalmente particular ouvi este cântico orante como um grande conforto. Como posso fazer isto? Como serei capaz de o fazer? Todos vós. Quem crê. a vossa fé e a vossa esperança acompanhamme. conduzidos e guiados pelos amigos de Deus. amparam-me e guiam-me. De novo. queridos amigos. eu. E a vossa oração. também em mim se reaviva esta autoconsciência: não estou sozinho. o cântico das ladainhas dos Santos nos acompanhou: durante o funeral do nosso Santo Padre João Paulo II. Não devo carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho. encontrar aquele ao qual o Senhor desejava conferir a missão de ligar e desligar? Mais uma vez. que realmente supera qualquer capacidade humana. 24 de Abril de 2005 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no episcopado e no sacerdócio Distintas Autoridades e Membros do Corpo Diplomático Caríssimos Irmãos e Irmãs! Por três vezes. para eleger aquele que o Senhor tinha escolhido. Quanto nos sentimos abandonados depois da perda de João Paulo II! O Papa que por 26 anos foi o nosso pastor e guia no caminho através deste tempo. por ocasião da entrada dos Cardeais em Conclave. devo assumir esta tarefa inaudita. De facto.HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Praça de São Pedro Domingo. provenientes de todas as culturas e países. acabaste de invocar todos os santos. Ele cruzou o limiar para a outra vida entrando no mistério de Deus. nós o sabíamos: sabíamos que não estávamos sós. E agora. os seus amigos. fomos confortados cumprindo a solene entrada em conclave. tocar o Ressuscitado. da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele. pode ser considerado como uma imagem do jugo de Cristo. ao mesmo tempo. A Igreja é viva saúdo assim com grande alegria e gratidão todos vós. diáconos. Foi-nos concedido experimentar a alegria que ele prometeu. nós que vivemos do dom da carne e do sangue de Cristo. O meu pensamento. a Igreja é viva eis a maravilhosa experiência destes dias. agentes de pastoral. não faltarão outras ocasiões para o fazer. crentes e não crentes. Queridos amigos! Neste momento não temos necessidade de apresentar um programa de governo. Saúdo a vós. e a vós irmãos do povo judaico. religiosos e religiosas. porque verdadeiramente ele ressuscitou. ainda não estão em plena comunhão connosco. que o Bispo desta cidade. tecido em lã pura. do Filho e do Espírito Santo. que os Bispos de Roma usam desde o século IV. Ela leva em si o futuro do mundo e por isso mostra também a cada um de nós o caminho para o futuro. depois de um breve tempo de obscuridade. de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história. testemunhas da transfigurante presença de Deus. com a Igreja inteira. por meio do qual ele nos quer transformar e tornar-nos semelhantes a si mesmo. O meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade. que estais aqui reunidos. A Igreja é viva ela é viva. assume sobre os seus ombros. que afunda as suas raízes nas irrevogáveis promessas de Deus. presente no rosto do Santo Padre nos dias de Páscoa. já tive ocasião de os expor na mensagem de quarta-feira 20 de Abril. Precisamente nos tristes dias da doença e da morte do Papa isto manifestou-se de modo maravilhoso aos nossos olhos: que a Igreja é viva. nós baptizados em nome do Pai. não perseguir ideias minhas. tocámos nas suas feridas. gostaria simplesmente de procurar comentar os dois sinais com os quais é representada liturgicamente a assunção do Ministério Petrino. caríssimos sacerdotes. porque Cristo é vivo. O primeiro sinal é o Pálio. Sim. Mas em todos esses dias também pudemos. o Servo dos Servos de Deus. Saúdo a vós. Em vez de expor um programa. catequistas. E a Igreja é jovem. como fruto da sua ressurreição. num sentido profundo. Alguns aspectos daquilo que eu considero minha tarefa. pondo-me contudo à escuta. por fim quase como uma onda que se expande dirige-se a todos os homens do nosso tempo. em todas as expressões da vida. O discurso torna-se repleto de afecto também na saudação que dirijo a quantos. irmãos leigos. Todos nós somos a comunidade dos santos. A Igreja é viva e nós vemo-lo: experimentamos a alegria que o Ressuscitado prometeu aos seus. contemplámos o mistério da paixão de Cristo e. estes dois sinais reflectem também exactamente o que é proclamado nas leituras de hoje. renascidos no sacramento do Baptismo. que me é colocado sobre os ombros. No sofrimento. Este antiquíssimo sinal. venerados Irmãos Cardeais e Bispos. . imersos no grande espaço da construção do Reino de Deus que se expande no mundo. a quem nos sentimos ligados por um grande património espiritual comum. contudo. O jugo de Deus é a vontade de Deus.precederam e das quais conhecemos os nomes. o deserto da fome e da sede. no deserto. devem pôr-se a caminho.. para conduzir os homens fora do deserto. era o seu grande privilégio. já não encontra o caminho. Na realidade o simbolismo do Pálio é ainda mais concreto: a lã do cordeiro pretende representar a ovelha perdida ou também a doente e frágil. mas purifica-nos talvez de maneira até dolorosa e assim conduz-nos a nós mesmos. Não é o poder que redime. para reencontrar a ovelha e segui-la. da amizade com o Filho de Deus. Esta era uma imagem do seu poder. conhecer qual é o caminho da vida eis a alegria de Israel. mas tornaram-se escravos dos poderes da exploração e da destruição. E de igual modo todos temos necessidade da sua plenitude. Quantas vezes nós desejaríamos que Deus se mostrasse mais forte. Desta forma.. das quais o pastor podia dispor como lhe aprazia. Esta é também a nossa alegria: a vontade de Deus não nos desvia. 14 s). que o pastor procura no deserto. diz Jesus de si mesmo (cf. de que falam a segunda leitura e o Evangelho. Esta vontade não é para nós um peso exterior. de toda a história. do amor destruído. uma imagem cínica: os povos eram para eles como ovelhas. O Filho de Deus não tolera isto. que o pastor coloca sobre os ombros e conduz às águas da vida. justificando a destruição daquilo que se opõe ao progresso e à libertação da humanidade. da solidão. O símbolo do cordeiro tem ainda outro aspecto. do esvaziamento das almas que perderam a consciência da dignidade e do caminho do homem. Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo. para lugares da vida. pôs-se do lado dos cordeiros. A santa preocupação de Cristo deve animar o pastor: para ele não é indiferente que tantas pessoas vivam no deserto. No Antigo Oriente era costume que os reis se designassem como pastores do seu povo. os tesouros da terra já não estão ao serviço da edificação do jardim de Deus. Há o deserto da pobreza. porque os desertos interiores tornaram-se tão amplos. O Deus. Nós sofremos pela paciência de Deus. Levanta-se de ímpeto.que nós aceitamos. era para os Padres da Igreja uma imagem do mistério de Cristo e da Igreja. E existem tantas formas de deserto. que nos oprime e nos priva da liberdade. Por isso. como Cristo. Enquanto o pastor de todos os homens. que oferece a sua vida pelas ovelhas. se tornou ele mesmo cordeiro. vencesse o mal e criasse um mundo melhor. leva a nossa humanidade. Ele não pode abandonar a humanidade numa condição tão miserável. mas o amor! Este é o sinal de Deus: Ele mesmo é amor. Jo 10. Carrega-a sobre os ombros. Mas ao mesmo tempo convida-nos a levar-nos uns aos outros. daqueles que são esmagados e mortos. A humanidade todos nós é a ovelha perdida que. diz-nos que o . a vida em plenitude. Conhecer o que Deus quer. não servimos só a Ele mas à salvação de todo o mundo. abandona a glória do céu. até à cruz. Todas as ideologias do poder se justificam assim. e os Pastores nela. Há o deserto da obscuridão de Deus. o Deus vivo. Ofereço a minha vida pelas minhas ovelhas". leva-nos a nós mesmos Ele é o bom pastor. o deserto do abandono. Que atingisse duramente. no qual todos podem viver. A Igreja no seu conjunto. Precisamente assim Ele se revela como o verdadeiro pastor: "Eu sou o bom pastor. que se tornou cordeiro. Assim o Pálio se torna o símbolo da missão do pastor. para Aquele que dá a vida. A parábola da ovelha perdida. O Pálio diz antes de tudo que todos nós somos guiados por Cristo. para a vida. para Cristo. 11). Ele ordena-lhes que voltem a pescar mais uma vez e eis que a rede se enche tanto que eles não conseguem tirá-la para fora da água. para que eu aprenda cada vez mais a amar o Senhor. a Santa Igreja. Mas na missão do pescador de homens acontece o contrário. lançarei as redes! E eis o conferimento da missão: "Não tenhas receio. da palavra de Deus. Apascentar significa amar. na verdadeira vida. cada um de vós singularmente e todos vós juntos. O segundo sinal. 1-11). e a mim. Ele é privado do seu elemento vital para servir de alimento ao homem. criado para a água. neste momento. durante a qual tinham lançado as redes sem pescar nada. para que eu não fuja. rumo à luz de Deus. Rezai por mim. Os Padres dedicaram um comentário muito particular a esta tarefa. começa verdadeiramente a vida. corresponde a uma narração do início: também então os discípulos não tinham pescado nada durante toda a noite. é a entrega do anel do pescador. assim como ama Cristo. por receio. o alimento da sua presença. Só quando encontramos em Cristo o Deus vivo. É precisamente assim: nós existimos para mostrar Deus aos homens. É precisamente assim na missão de pescador de homens. diante dos lobos. "Apascenta as minhas ovelhas". também então Jesus tinha convidado Simão a fazer-se ao largo mais uma vez. a rede não se rompeu" (Jo 21. para que eu aprenda a amar cada vez mais o seu rebanho vós. com o qual é representado na liturgia de hoje o início do Ministério Petrino. diz Cristo a Pedro.mundo é salvo pelo Crucificado e não por quem crucifica. no final do caminho terreno de Jesus com os seus discípulos. Esta narração. o alimento da verdade de Deus. . porque tu o dizes. para conquistar os homens para o Evangelho para Deus. Não somos o produto casual e sem sentido da evolução. deu a admirável resposta: Mestre. é necessário conduzir os homens para fora do mar salgado de todas as alienações rumo à terra da vida. Significado da entrega do anel do pescador: conquistar os homens para o Evangelho Uma das características fundamentais deve ser a de amar os homens que lhe foram confiados. acontece depois de uma pesca abundante: depois de uma noite. que ainda não era chamado Pedro. no seguimento de Cristo. 153 peixes grandes: "E apesar de serem tantos. Rezai por mim. os discípulos vêem na margem do lago o Senhor Ressuscitado. Nós homens vivemos alienados. Rezai uns pelos outros. que ele nos oferece no Santíssimo Sacramento. E Simão. nas águas salgadas do sofrimento e da morte. Queridos amigos neste momento eu posso dizer apenas: rezai por mim. é mortal ser tirado para fora do mar. e amar quer dizer também estar prontos para sofrer. num mar de obscuridade sem luz. para que o Senhor nos guie e nós aprendamos a guiar-nos uns aos outros. de futuro. Eles dizem assim: para o peixe. E só onde se vê Deus. que ouvimos no Evangelho. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. conhecemos o que é a vida. O mundo é redimido pela plenitude de Deus e destruído pela impaciência dos homens. A chamada de Pedro para ser pastor. a cujo serviço se encontra. Amar significa: dar às ovelhas o verdadeiro bem. A rede do Evangelho tira-nos para fora das águas da morte e conduz-nos ao esplendor da luz de Deus. Também hoje é dito à Igreja e aos sucessores dos apóstolos que se façam ao largo no mar da história e que lancem as redes. serás pescador de homens" (Lc 5. nada absolutamente nada daquilo que torna a vida livre. se o tivessem deixado entrar e concedido a liberdade à fé. bela e grande. Amém. por Cristo. único. Não há nada mais belo do que ser alcançados. queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada. do arbítrio. à sua dignidade. nada perde. Faz com que sejam um só pastor e um só rebanho! Não permitas que a tua rede se rompa e ajuda-nos a ser servos da unidade! Neste momento a minha recordação volta ao dia 22 de Outubro de 1978. Ainda. . O Papa falava também a todos os homens. ele ter-lhes-ia certamente tirado algo: o domínio da corrupção. se deixarmos entrar Cristo totalmente dentro de nós. sobretudo aos jovens. os quais tinham medo que Cristo pudesse tirar algo ao seu poder. Também estas Eu preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz. Quem se doa por Ele. aos poderosos do mundo. Só nesta amizade experimentámos o que é belo e o que liberta. E a narração dos 153 grandes peixes termina com a gloriosa constatação: "apesar de serem tantos. cada um de nós é amado. "Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. do pescador de homens muitas vezes pode parecer cansativa. abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. de vos dizer hoje. eu gostaria com grande força e convicção. Senhor. porque em definitiva é um serviço à alegria. e façamos o possível para percorrer o caminho rumo à unidade. Porventura não temos todos nós. medo. a rede não se rompeu" (Jo 21. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar com os outros a Sua amizade. à alegria de Deus que quer entrar no mundo. Mas não não devemos estar tristes! Alegremo-nos pela tua promessa. e haverá um só rebanho e um só pastor" (Jo 10. de um modo ou de outro. amado Senhor.Cada um de nós é querido. 11). agora ela rompeu-se! Poderíamos dizer que sofremos. se nos abrirmos completamente a Ele. da perturbação do direito. diz Jesus no final do sermão do bom pastor. Sim. ele dá tudo. Façamos memória dela na oração ao Senhor. recorda-te de tudo o que prometeste. 16). que tu prometeste. e continuamente. abri de par em par as portas a Cristo!" O Papa dirigia-se aos fortes. cada um é necessário. A tarefa do pastor. Mas não teria tirado nada do que pertence à liberdade do homem. quando o Papa João Paulo II deu início ao seu ministério aqui na Praça de São Pedro. Ai de mim. que torna a vida tão bela? Não arriscamos depois de nos encontrarmos na angústia e privados da liberdade? E mais uma vez o Papa queria dizer: não! Quem faz entrar Cristo. à edificação de uma sociedade justa. recebe o cêntuplo. surpreendidos pelo Evangelho. Gostaria de realçar aqui mais uma coisa: quer na imagem do pastor quer na do pescador sobressai de maneira muito explícita a chamada à unidade. ressoam aos meus ouvidos as suas palavras de então: "Não tenhais medo. como pedintes: sim. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Assim. que não desilude. partindo da experiência de uma longa vida pessoal. Mas é bela e grande. medo de que Ele possa tirar-nos algo da nossa vida? Não temos porventura medo de renunciar a algo de grandioso. Sim. como Sucessor de Pedro. 1). por assim dizer. de modo singular. apóstolo por vocação" (cf. mas também em nome da amada Diocese de Roma. 2 Cor 5. me confiou "a solicitude por todas as Igrejas" (2 Cor 11. 31). para que eu não tenha paz perante as urgências do anúncio evangélico no mundo de hoje. depois de ter longamente pregado o Reino de Deus (Act 28. porque Deus. que o tinha "conquistado" (cf. a sua Carta mais importante sob o perfil doutrinal. Queridos amigos. Rm 1. um gesto de fé. até chegar a esta Cidade. testemunhada por mais de cem viagens apostólicas além dos confins da Itália. 5). 25 de Abril de 2005 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Amados Irmãos e Irmãs no Senhor! Dou graças a Deus que. Uma peregrinação. 14)? Que o Senhor alimente também em mim um amor semelhante. às raízes da missão. Para mim. estimulando-o a anunciar o Evangelho aos gentios. 12) e enviado. Encontra-se diante dos nossos olhos o exemplo do meu amado e venerado predecessor João Paulo II. deu com o sangue o extremo testemunho ao seu Senhor. da qual o Senhor me constituiu Bispo e Pastor. o Apóstolo escreveu aos cristãos desta Cidade. foi proclamada a parte inicial. Ainda antes que a Providência o guiasse até Roma. também a Paulo. capital do Império. me concede deter-me em oração junto do sepulcro do apóstolo Paulo. e da Igreja universal confiada à minha solicitude pastoral. 28). um Papa missionário. O que o impulsionava a um semelhante dinamismo a não ser o mesmo amor de Cristo que transformou a existência de São Paulo (cf. é verdadeiramente inimitável. esta é uma peregrinação tão desejada. estou aqui para reavivar na fé esta "graça do apostolado".HOMILIA DO PAPA BENTO XVI POR OCASIÃO DA VISITA À BASÍLICA DE SÃO PAULO FORA DOS MUROS Segunda-feira. Fil 3. que realizo em meu nome. daquela missão que Cristo ressuscitado confiou a Pedro. Há pouco. E mais adiante acrescenta: "Por Ele [Cristo] recebemos a graça de sermos Apóstolos. um denso preâmbulo no qual o Apóstolo saúda a comunidade de Roma apresentando-se como "servo de Jesus Cristo. . cuja intensa actividade. onde. segundo outra expressão do Apóstolo dos gentios. aos Apóstolos e. a sua tarefa primária é a evangelização. A Igreja é por sua natureza missionária. no início do meu ministério de Sucessor de Pedro. a fim de levarmos à obediência da fé todos os gentios" (Rm 1. Realçou bem isto o Papa João Pualo II. exortando os seus monges a "nada antepor absolutamente ao amor de Cristo" (cap. juntamente com o de Pedro e de tantas outras testemunhas do Evangelho. para que a luz da sua verdade seja irradiada a todos os homens. O século XX. De facto. foi um tempo de martírio.. I. in Ps. Inscr.. a fim de que "a palavra de Deus seja difundida e acolhida com honra" e o Reino de Deus seja anunciado e instaurado em toda a terra" (n. todos nós o sabemos. No final. No início do terceiro milénio.. Inácio de Ant.. 1). "Ad gentes". no início do terceiro milénio é lícito esperar um renovado florescimento da Igreja. Apraz-me recordar aqui o mote que São Bento escreveu na sua Regra. Enarr. e a todo o Povo de Deus. precisamente. a vocação no caminho de Damasco levou Paulo precisamente a isto: a fazer de Cristo o centro da sua vida. Ad Rom. 508)" e que "é obrigação dos seus sucessores perpetuar esta obra. e o seu sangue. deixando tudo pela sublimidade do Seu conhecimento e do seu mistério de amor.O Concílio Ecuménico Vaticano II dedicou à actividade missionária o Decreto denominado. ao pedir à Igreja para "actualizar o Martirológio" e canonizando e beatificando numerosos mártires da história recente. sobretudo onde ela sofreu em maior medida pela fé e pelo testemunho do Evangelho. 4). cada vez mais conformada com o seu Senhor. Por conseguinte. em particular ao seu Bispo. 252). 5).. A paixão por Cristo levou-o a pregar o Evangelho não só com as palavras. especialmente aos pagãos. seguindo as pegadas de Cristo "pregaram a palavra da verdade e fundaram Igrejas" (S. a alegria de anunciar e testemunhar a todos a Boa Nova de Cristo Salvador. "para glória do seu nome" (Rm 1. 44. mas com a própria vida. Paulo anunciou Cristo com o martírio. Confiamos estes votos à intercessão de São Paulo. 23: PL 36. antes de tudo com o testemunho da santidade. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA COMO BISPO DE ROMA NA BASÍLICA DE SÃO JOÃO DE LATRÃO . se o sangue dos mártires é semente para novos cristãos. irrigou esta terra e tornou fecunda a Igreja de Roma. Aug. a Igreja sente com renovada vivacidade que o mandato missionário de Cristo é actual como nunca.: Funk. que preside à comunhão universal da caridade (cf. Que ele obtenha à Igreja de Roma. S. contemplado na oração. O Grande Jubileu do Ano 2000 conduziu-a a "voltar a partir de Cristo". e comprometendo-se depois a anunciá-lo a todos. o qual recorda que "os Apóstolos. tudo nos foi dito. por isso a missão do Espírito é introduzir a Igreja de maneira sempre nova. O Senhor ouve-nos sempre. Mas a nossa capacidade de compreensão é limitada. e Deus não pode dar mais do que a Si próprio. mas que agora. na grandeza do mistério de Cristo. E só graças a Ele. Mas Ele esperanos sempre. o ser humano foi conduzido até ao interior da própria vida de Deus. O que nos quer dizer então a Festa da Ascensão do Senhor? Não nos quer dizer que o Senhor foi para um lugar distante dos homens e do mundo. assim o Espírito Santo é intérprete de Cristo. O Senhor promete aos discípulos o Seu Espírito Santo. Ele o Filho Eterno guiou o nosso ser humano até à presença de Deus. E dado que Deus abraça e ampara toda a criação. Não: "receberá do que é meu". não pode haver outra revelação capaz de comunicar em maior medida ou de completar. no fim. O homem encontra espaço em Deus. A primeira leitura que escutámos diz-nos que o Espírito Santo será "força" para os discípulos. através de Cristo. A Ascensão de Cristo não é uma viagem no espaço em direcção aos astros mais remotos. sendo Ele próprio a Palavra viva de Deus. Jesus disse tudo aos Seus discípulos. para sempre. conseguimos compreender também o significado da Cátedra. todos os podem chamar. E como Cristo diz apenas aquilo que sente e recebe do Pai. ou paralelamente a isto.Sábado. No centro deste dia. a Revelação de Cristo. Em Jesus. tudo nos foi dado. e está sempre perto de nós. está próximo de cada um de nós. levou consigo a carne e o sangue numa forma transfigurada. . Nele. 14). Significa que Ele pertence completamente a Deus. também os astros são feitos de elementos físicos como a Terra. não há qualquer revelação pneumática ao lado da de Cristo como dizem alguns nenhum segundo nível de Revelação. graças ao mistério da sua elevação. O Espírito nada acrescenta de novo nem de diverso ao lado de Cristo. Além disto. que é por sua vez o símbolo do poder e da responsabilidade do Bispo. Das leituras da liturgia de hoje aprendemos também algo mais sobre a solidez com que o Senhor realiza este Seu estar perto de nós. encontramos Cristo. Podemos afastar-nos dele interiormente Podemos viver voltando-lhe as costas. 7 de Maio de 2005 Estimados Padres Cardeais Queridos Irmãos no Episcopado Amados Irmãos e Irmãs Neste dia. Não nos conduz a outros lugares. porque. diz Cristo no Evangelho (Jo 16. a Ascensão do Senhor significa que Cristo não se afastou de nós. o Evangelho acrescenta que será guia para a Verdade total. é o dia em que na Itália a Igreja celebra a Festa da Ascensão do Senhor. distantes de Cristo. Cada um de nós pode chamá-Lo por tu. no qual posso pela primeira vez tomar posse da Cátedra do Bispo de Roma como sucessor de Pedro. no Filho. de geração em geração. A Ascensão de Cristo significa que Ele não já pertence ao mundo da corrupção e da morte que condiciona a nossa vida. de certa forma. Deus doou-se a nós completamente isto é deu-nos tudo. "Receberá do que é meu". graças ao Seu ser com o Pai. uma vez convertido.. contudo. no decorrer dos séculos acenderam e acenderão novamente de forma sempre renovada a chama da fé. o Pai. e um só é o Senhor Jesus Cristo. disse: "Embora haja pretensos deuses. Aquele que se senta na Cátedra de Pedro deve recordar as palavras que o Senhor disse a Simão Pedro durante a Última Ceia: ". cresceu de "Jerusalém. tendo feito a experiência directa d'Ele. em primeiro lugar. a seu modo. 3). No sacramento da ordenação episcopal são-lhe conferidos o poder e a graça necessárias para este serviço. Ao mesmo tempo. aos Bispos. tudo nos é sempre e já doado. no encontro inexaurível com o Senhor encontro mediado pelo Espírito Santo aprende sempre algo de novo. Assim. Cada cristão. com particular ênfase. repletos de Cristo. em nome dos apóstolos. Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Cristo ressuscitado precisa de testemunhas que O encontraram.. Foi assim que a Igreja. por meio do qual tudo existe e mediante o qual nós existimos" (1 Cor 8. 6869).. homens dos quais emanava e emana uma luz resplandecente. quer no céu quer na terra... até aos extremos confins da terra". Quando lemos os nomes dos santos podemos ver quantas vezes eles foram e continuam a ser em primeiro lugar homens simples. 32). cada vez mais antiga e nova.mas conduz-nos cada vez mais dentro da luz de Cristo. ao mesmo tempo. Mas a primeira leitura diz-nos também uma segunda palavra: sereis minhas testemunhas. cada geração. alcançando todos os homens e mulheres que. a Cátedra deste credo. 16). pode e deve ser testemunha do Senhor ressuscitado. por assim dizer. 5-6). Homens que.. a Revelação cristã é. Mas ele também pode ter a consciência de que do Senhor lhe vem a força para confirmar os seus irmãos na fé e mantê-los unidos na confissão de Cristo crucificado e ressuscitado.. Por isso. fortalece os teus irmãos. Através das testemunhas foi construída a Igreja começando por Pedro e por Paulo. Esta é a tarefa de todos os Sucessores de Pedro: ser a guia na profissão de fé em Cristo. compete a responsabilidade pública de fazer com que a rede deste testemunho permaneça no tempo. isto é. como diz a leitura. Do alto desta Cátedra o Bispo de Roma deve repetir constantemente: Dominus Jesus "Jesus é o Senhor". a família de Cristo... o Filho do Deus vivo. e pelos Doze. Nesta rede de testemunhas. como escreveu Paulo nas suas cartas aos Romanos (10... capaz de guiar até Cristo. Aos Coríntios. A Cátedra de Pedro obriga todos os que dela são titulares a dizer como já fez Pedro num momento de crise dos discípulos quando muitos queriam afastar-se: "A quem iremos nós. Na primeira carta de São Paulo aos Coríntios." (Lc 22. para nós. Foi Pedro quem expressou primeiro. compete ao Sucessor de Pedro uma tarefa especial. 9) e aos Coríntios (1 Cor 12. A Cátedra de Roma é. a profissão de fé: "Tu és o Cristo. um só é Deus. encontramos a narração mais antiga que . o Espírito Santo é a força através da qual Cristo nos faz experimentar a sua proximidade. o Filho do Deus vivo" (Mt 16. Mas esta sinfonia é dotada também de uma estrutura bem definida: aos sucessores dos Apóstolos. Por isso. Aquele que é titular do ministério petrino deve ter a consciência de que é um homem frágil e débil como são frágeis e débeis as suas próprias forças constantemente necessitado de purificação e de conversão. e tu. Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus" (Jo 6. O podem testemunhar. de homens que o conheceram intimamente através da força do Espírito Santo. mas é uma tirania que reduz o ser humano à escravidão. ao terceiro dia. realçou de maneira inequivocável a inviolabilidade do ser humano. Paulo recolheu-a fielmente das testemunhas. . e sobre ele recai a responsabilidade de fazer com que esta Palavra continue a estar presente na sua grandeza e a ressoar na sua pureza. daquela Igreja confiada a Pedro e ao colégio dos apóstolos até ao fim dos tempos. cujo pensar e querer são leis. torna-se vítima das controvérsias dos peritos. aparentemente benévolas para com o homem. O poder conferido por Cristo a Pedro e aos seus sucessores é. Por isso é necessário um mandato maior. O Papa João Paulo II fez isto quando. perante as erradas interpretações da liberdade. a Sagrada Escritura. Não é assim. perante todas as tentativas. O Bispo de Roma senta-se na Cátedra para dar testemunho de Cristo. Esta narração fala primeiro da morte do Senhor pelos nossos pecados. tanto perante todas as tentativas de adaptação e de adulteração. depois dele.possuímos da ressurreição. mas vincular-se constantemente a si e à Igreja à obediência à Palavra de Deus. O Papa tem a consciência de que está. que não pode surgir unicamente das capacidades humanas. e depois diz: "apareceu a Cefas e depois aos Doze" (1 Cor 15. aquele poder de ensinar que faz parte essencial do mandato de ligar e desligar conferido pelo Senhor a Pedro e. aos Doze. ligado à grande comunidade da fé de todos os tempos. é resumido o significado do mandato conferido a Pedro até ao fim dos tempos: ser testemunha de Cristo ressuscitado. O Papa não é um soberano absoluto. Este poder de ensinamento assusta muitos homens dentro e fora da Igreja. É o símbolo da potestas docendi. de modo que não seja fragmentada pelas contínuas mudanças das modas. A liberdade de matar não é uma liberdade. nas suas grandes decisões. na interpretação. não é capaz de nos fornecer. um mandato para servir. mas está ao serviço da Palavra de Deus. cuja compreensão aumenta sob a inspiração do Espírito Santo. a inviolabilidade da vida humana desde a concepção até à morte natural. Mas a ciência sozinha não nos pode fornecer uma interpretação definitiva e vinculante. na Igreja. Na Igreja. pertencem um ao outro de modo indissolúvel. o trabalho dos sábios é para nós um grande contributo para poder compreender aquele processo vivo com o qual a Escritura cresceu e para compreender a sua riqueza histórica. da sua sepultura. Ele não deve proclamar as próprias ideias. Assim. Assim. da sua ressurreição. Onde a Sagrada Escritura é separada da voz viva da Igreja. Por isso é necessária a voz da Igreja viva. em sentido absoluto. 5). mais uma vez. conferido aos apóstolos. tudo o que eles têm para nos dizer é importante e precioso. aquela certeza com a qual podemos viver e pela qual podemos até morrer. às interpretações vinculantes que cresceram ao longo do caminho peregrinante da Igreja. se não é uma soberba em oposição à liberdade de pensamento. O poder de ensinar. e o ministério da interpretação autêntica. como diante de qualquer oportunismo. Sem dúvida. obriga a um compromisso ao serviço da obediência à fé. Ao contrário: o ministério do Papa é garantia da obediência a Cristo e à Sua Palavra. o seu poder não é superior. Perguntam-se se ela não ameaça a liberdade de consciência. teria arrebatado tudo a si. graças à Eucaristia. a palavra amor. O amor é o cumprimento da lei. o Bispo de Roma. é o critério de qualquer doutrina. devem ser uma só coisa: toda a doutrina da Igreja. Queridos Romanos. todos nascemos em Roma. no final. Obrigado pela vossa generosidade. Ele oferece-se sempre de novo. E todos nós desejamos procurar ser cada vez mais católicos cada vez mais irmãos e irmãs na grande família de Deus. no final. um hino de louvor a Sião. desejo agradecer de coração ao Vigário para a Diocese de Roma. Uma sede que se tornou definitiva através do martírio com o qual ligou para sempre a sua sucessão em Roma. Presidir na doutrina e presidir no amor. oferecem o seu contributo para construir aqui a casa viva de Deus. Ele mantém a sua promessa. Mas. referia-se ao mistério da Eucaristia.. mãe de todos os povos. agora eu sou o vosso Bispo. sua sede definitiva. vindo de Antioquia. 40). Foi graças a este centro e coração. enquanto amor presente de Jesus Cristo.A Cátedra é repetimos mais uma vez símbolo do poder de ensinamento. Não sabemos com certeza o que Inácio pensava exactamente quando usou estas palavras. estava destinado ao martírio que teria que sofrer em Roma. o vosso Bispo. Na sua carta aos Romanos refere-se à Igreja de Roma como "Àquela que preside no amor". aos Bispos auxiliares e a todos os seus colaboradores que. E a Eucaristia. conduz ao amor. Amém. nele. Ele deixa que trespassem o seu coração sempre de novo. Por fim. aquela família na qual ninguém é estrangeiro. Assim desejo procurar ser. da Cruz. Graças à Eucaristia a Igreja renasce sempre de novo! A Igreja mais não é do que aquela rede a comunidade eucarística! na qual todos. de certa forma. 10). querido Cardeal Camillo Ruini. De igual modo. Mas na Igreja antiga. expressão muito significativa. de todo o coração." (v. para que a Palavra de Deus a verdade! possa resplandecer entre nós. recebendo o mesmo Senhor. todos somos também romanos. também nós podemos dizer: como católicos.. dirigiu-se para Roma. como não recordar as palavras que Santo Inácio de Antioquia escreveu aos Romanos? Pedro. 5). falando da Cátedra do Bispo de Roma. cantava Israel e canta a Igreja: "De Sião há-de dizer-se: todos lá nascemos. Nele. Nele. Com as palavras do Salmo 87. agape. por seu lado. obrigado pela paciência que tendes comigo! Como católicos. como fiéis. Inácio. de certo modo. Na Eucaristia. obrigado pela vossa simpatia. permanecendo Bispo de Antioquia. que é um poder de obediência e de serviço. que os santos viveram. escrevia São Paulo aos Romanos (13. a promessa que. Do amor dependem a Lei e os Profetas (Mt 22. HOMILIA PAPA BENTO XVI DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA A ORDENAÇÃO DE 21 SACERDOTES NA SOLENIDADE DE PENTECOSTES . a sua primeira sede. Neste mistério o amor de Cristo torna-se sempre tangível entre nós. indicando-nos o caminho da vida. nós próprios aprendemos o amor de Cristo. levando o amor de Deus ao mundo de maneiras e formas sempre novas. nos tornamos um só corpo e abraçamos o mundo inteiro. judeus e gregos. "Judeus piedosos provenientes de todas as nações que há debaixo do céu" (Act 2. O povo de Deus que tinha encontrado no Sinai a sua primeira configuração. Ultrapassa a ruptura que teve início em Babel a confusão dos corações. num só Espírito. 5). a Igreja. A leitura dos Actos dos Apóstolos narra como. Só assim a obra de libertação. Naquele dia encontravam-se em Jerusalém. que atingiram a comunidade dos discípulos de Cristo reunida no cenáculo. escravos e livres. Por isso o dom da lei no Sinai não foi uma restrição ou uma abolição da liberdade mas o fundamento da verdadeira liberdade. no dia de Pentecostes. O novo povo de Deus. que abre para cada um o seu âmbito. de festa da sementeira. o Espírito Santo. sob os sinais de um vento poderoso e de fogo. Só numa ordenada harmonia das liberdades. O Espírito Santo concede o dom da compreensão. se pode ter uma liberdade comum. 15 de Maio de 2005 Queridos Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Caríssimos Ordenandos Amados Irmãos e Irmãs! A primeira leitura e o Evangelho do Domingo de Pentecostes apresentam-nos duas grandes imagens da missão do Espírito Santo. E eis que se manifesta o dom característico do Espírito Santo: todos compreenderam as palavras dos apóstolos: "Cada um os ouvia falar na sua própria língua" (Act 2. tornou-se a festa que recordava a conclusão da aliança no Sinai. São Paulo explica e realça isto na segunda leitura. fomos todos baptizados para formar um só corpo. um conjunto de liberdades. se tinha cumprido plenamente: a liberdade humana é sempre uma liberdade partilhada. segundo quanto referem os Actos dos Apóstolos. é um povo que provém de todos os povos. irrompe na comunidade orante dos discípulos de Jesus e dá assim origem à Igreja. para uma disposição ordenada das liberdades humanas não podem faltar os mandamentos que o próprio Deus dá. Deus demonstrou a sua presença ao povo através do vento e do fogo e depois ofereceu-lhe a sua lei. o Pentecostes. e todos bebemos de um só . é agora ampliado até ao ponto de já não conhecer fronteira alguma. esta é a sua essência mais profunda. constituíram um ulterior desenvolvimento do acontecimento do Sinai e conferiram-lhe uma nova amplitude. 6). quando diz: "De facto. Assim Israel tornou-se plenamente povo precisamente através da aliança com Deus no Sinai. A Igreja desde o início é católica. E dado que um justo ordenamento humano se pode reger apenas se provém de Deus e se une os homens na perspectiva de Deus. O encontro com Deus no Sinai poderia ser considerado como o fundamento e a garantia da sua existência como povo. O vento e o fogo. que começara com o êxodo do Egipto.Domingo. a lei dos 10 mandamentos. Para Israel. que nos faz ser uns contra os outros o Espírito abre as fronteiras. Espírito" (1 Cor 12. continuamente. não obstante todas as suas limitações. 23). O sopro do seu amor. nós elevamo-nos até Ele e até Deus: Deus é Amor e por isso descida. uma alusão à narração da criação do homem no Génesis. que encontramos no Evangelho. ficarão retidos" (Jo 20. Nesta ponte. que como único pão a todos alimenta na Eucaristia e nos atrai para si no seu corpo martirizado na cruz. alcançar aquele que tem necessidade de nós. Precisamente assim. Nos homens. existe agora algo absolutamente novo o sopro de Deus. Mas precisamente por isso faz compreender toda a grandeza do acontecimento de Pentecostes. ficarão perdoados. continuamente. queremos pôr-nos a salvo e não ser incomodados pelos outros nem por Deus. que ele lança entre céu e terra. para Pentecostes. abaixando-nos. a verdadeira altura do ser humano. que provém totalmente da terra. A Igreja deve tornar-se sempre de novo aquilo que ela já é: deve abrir as fronteiras entre os povos e romper as barreiras entre as classes e as raças. de modo que nos possamos tornar o povo de Deus proveniente de todos os povos ainda mais. "A paz esteja convosco": esta saudação do Senhor é uma ponte. também nós devemos alcançar o próximo. O Senhor sopra sobre os discípulos. abaixamento. Por isso. Precisamente descendo com Cristo. diz-nos São Paulo: em Cristo. àqueles a quem os retiverdes. o seu Espírito. até Ele. onde está escrito: "O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insufloulhe pelas narinas o sopro da vida" (Gn 2. devemos sempre de novo passar de Babel. da sua verdade e da sua bondade. 21). antes de mais. 7). O homem é esta criatura misteriosa. que o amor nos pede. sempre juntamente com Ele. saindo de nós mesmos. devemos continuamente pedir que o Espírito Santo nos abra. também Eu vos envio a vós" (Jo 20. Reconhecemos aqui. nós devemos tornar-nos um só corpo e um só espírito. nós alcançamos a altura de Jesus Cristo. 13). para que ele venha ao nosso encontro vencendo os nossos fechamentos e trazendo-nos a sua saudação. O sopro de Jesus é o Espírito Santo. Ele desce por esta ponte até nós e nós podemos subir. do fechamento em nós mesmos. Depois disto. é muito mais discreta. e ao mesmo tempo é a verdadeira subida. "A paz esteja convosco": esta saudação do Senhor é uma ponte que ele lança entre céu e terra A segunda imagem do envio do Espírito. À saudação de paz do Senhor seguem-se dois gestos decisivos para o Pentecostes: o Senhor deseja que a sua missão continue nos discípulos: "Assim como o Pai me enviou. podemos suplicar continuamente o Senhor por isso. Jesus sopra sobre os apóstolos e dá-lhe de maneira renovada. A vida de Deus habita em nós. Nela não podem haver esquecidos nem desprezados. O Senhor Ressuscitado entra através das portas fechadas no lugar onde os discípulos se encontravam e saúda-os duas vezes dizendo: a paz esteja convosco! Nós. Àqueles a quem perdoardes os pecados. sopra sobre eles e diz: "Recebei o Espírito Santo. o sopro de Deus. fechamos as nossas portas. Portanto. Vento e fogo do Espírito Santo devem infatigavelmente abater aquelas barreiras que nós homens continuamos a erguer entre nós. por esta ponte de paz. e assim dá-lhes o Espírito Santo. maior. nos conceda a graça da compreensão. Assim podemos ver aqui também uma alusão ao baptismo e à confirmação a . mas no qual foi posto o sopro de Deus. Na Igreja existem unicamente irmãos e irmãs livres em Jesus Cristo. quando Jesus apareceu aos seus Apóstolos para lhes ensinar o que se deseja dizer? Não podemos porventura ver nisto a prefiguração do servo de Jahwé. ele transforma o mundo com o amor que nos doa. O perdão vem da cruz. doa a verdadeira paz.esta nova pertença a Deus. E unicamente esta graça pode transformar o mundo e edificar a paz. terremoto e fogo. guia uns para os outros. 1 Re 19. vento. aquele que. o Senhor diz: paz a vós paz a ti! Quando o Senhor diz isto. o Senhor relaciona o poder de perdoar. O que aconteceu na noite de Páscoa. da fé no Deus único. A cada um de vós. a receber vida d'Ele. Elias deve aprender a compreender a voz leve de Deus e. No Oreb ele deve aprender que Deus não está no vento. Elias. Mas Deus não está presente em tudo isto. não clamará nas ruas" (42. dos quais nos fala o Antigo Testamento. porque ele mesmo sofreu as consequências da culpa e dissolveu-as na chama do seu amor. 14). Ele experimenta. assim. no fogo. Êx 19 ss. do qual Isaías diz: "Ele não gritará. Nesta saudação do Senhor. seguindo o mandamento de Deus. que abre e faz superar Babel. O cenário de Pentecostes do Evangelho de João fala a vós e de vós. não doa uma coisa qualquer mas doa-se a Si mesmo. com o seu sofrimento. naquele lugar. à Santa Eucaristia. O seu coração aberto na cruz é a porta pela qual entra no mundo a graça do perdão. Esta saudação situa-se no centro da . de certa forma. Ef 2. podemos recordar-nos do contraste entre dois episódios. é a força do perdão. a narração misteriosa de Elias no Monte Oreb. desta forma. nos doou o poder do perdão. Jesus pode conceder o perdão e o poder de perdoar. a reconhecer antecipadamente que venceu o pecado não com a força mas com a sua Paixão. de modo que ele inspire em nós a vida autêntica a vida da qual morte alguma pode privar. no Monte Carmelo. por outro. deve reacender a chama da fé no monte de Deus e reconduzi-la a Israel. Com o seu sopro. A força. Por um lado encontra-se a narração do fogo. Elias tinha-se salvado da ira de Acab e de Gezabele. Então ele apercebe-se de um murmúrio doce e leve. O dom da aliança divina. podemos entrever também uma referência ao grande mistério da fé. peregrinou até ao Monte Oreb. parecia ter desaparecido em Israel. Depois dos dramáticos acontecimentos do Monte Carmelo. que aconteceram no Sinai. o vento poderoso do 50º dia e o leve sopro de Jesus na noite de Páscoa. não levantará a voz. De facto. na qual ele se doa a nós continuamente e. Queridos ordenandos! Desta forma a mensagem de Pentecostes dirige-se agora directamente a vós.). 11-18). Ouvimos anteriormente que o Espírito Santo une. Esta é a forma com a qual Cristo vence. ele mesmo é a paz (cf. Por conseguinte. de modo muito pessoal. com o dom do Espírito Santo. Se compararmos os dois acontecimentos de Pentecostes. matando os profetas de Baal. no terremoto. E Deus fala-lhe com esse sopro leve (cf. Mas desta forma não pôde restabelecer a fé. abate as fronteiras. 2)? Não sobressai talvez assim a humilde figura de Jesus como a verdadeira revelação na qual Deus se manifesta a nós e nos fala? Não são porventura a humildade e a bondade de Jesus a verdadeira epifania de Deus? Elias. que o Senhor nos concede. que precedem a promulgação dos 10 Mandamentos e a conclusão da aliança (cf. do trovão e do vento. tinha procurado combater o afastamento de Deus com o fogo e com a espada. O texto do Evangelho convidanos a isto: a viver sempre no espaço do sopro de Jesus Cristo. Todos nós somos inseridos na rede da obediência à palavra de Cristo. Precisamente neste vínculo comum com o Senhor nós podemos e devemos viver o dinamismo do Espírito. O Espírito Santo veio. na comunhão com o bispo e com o Sucessor de São Pedro. Com a ordenação sacerdotal vós inseristes-vos na missão dos apóstolos. Considerai como centro de cada um dos vossos dias poder celebrá-la de modo digno. a quem está em dúvida. Ressoa depois. no sacramento do sacerdócio. a partir do Pentecostes. tornar-nos inquietos. vós sois inseridos na grande multidão dos que. a cada um de vós. E o mal pode ser vencido unicamente com o perdão. uma segunda palavra do Ressuscitado: "assim como o Pai me enviou. Por fim. que aqui em Roma é também o vosso bispo. Fazei como São João. Nada pode melhorar no mundo. vida e amor. há o poder do perdão. 21). para levar a quem sofre. Como o Senhor saiu do Pai e nos doou luz. no Evangelho que acabámos de escutar. só o Senhor o pode dar. No seu nome vós podeis dizer: este é o meu corpo este é o meu sangue. receberam a missão apostólica. Através deste ministério. assim a missão deve continuamente pôr-nos em movimento. Deixai-vos renovar continuamente pelo seu amor materno. Vós sois inseridos na comunhão do presbitério. que o acolheu no íntimo do próprio coração. queridos ordenandos. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SANTA MISSA POR OCASIÃO DA SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO . a alegria de Cristo. mas realmente o destrói. Isto pode verificar-se unicamente com o sofrimento e aconteceu realmente com o amor sofredor de Cristo. E manifesta-se precisamente ordenando a missão. O sacramento da penitência é um dos tesouros preciosos da Igreja. Deixai-vos atrair sempre de novo pela Santa Eucaristia. na comunhão de vida com Cristo. Cristo diz isto. Sem dúvida. e também a quem hesita. com o qual continua o ministério dos apóstolos. porque nos conduz nos espaços livres e nos horizontes amplos da verdade. deve ser um perdão eficaz. à palavra daquele que dá a verdadeira liberdade. do qual nós haurimos o poder do perdão. a partir dela. Por fim. Ajudai-os.vossa missão sacerdotal: o Senhor confia-vos o mistério deste sacramento. a levar a paz de Cristo ao mundo. mas não é amorfo. Um perdão que não afasta o mal só com palavras. se o mal não for vencido. Mas este perdão. Conduzi os homens sempre de novo a este mistério. O Senhor abençoe o vosso caminho sacerdotal! Amém. porque só no perdão se realiza o verdadeiro renovamento do mundo. também Eu vos envio a vós" (Jo 20. Aprendei dela a amar Cristo. É um Espírito ordenado. recomendo-vos o amor à Mãe do Senhor. de modo muito pessoal. Também a Quinta-Feira Santa conhece uma sua procissão eucarística. o dom da Eucaristia. Jesus precede-nos junto do Pai. 6s. na noite da traição. que lhes diz: "Ide. . Nas narrações da Ressurreição há uma característica comum e fundamental. Só desta forma. vence as trevas do mal. os discípulos vêem Jesus. 2s. Na procissão da Quinta-Feira Santa. verdadeiro maná. celebrava-se a noite de Páscoa em casa. por parte do Ressuscitado. Estas duas direcções do caminho do Ressuscitado não se contradizem. verdadeira "caput mundi". instituída no Cenáculo. eleva-se à altura de Deus e convida-nos a segui-lo. Na festa de Corpus Christi.Acarne torna-se pão de vida. Jo 14. no monte.alimentoinexaurível para todos osséculos. mas na alegria da Ressurreição. a Igreja revive o mistério da Quinta-Feira Santa à luz da Ressurreição. a Igreja acompanha Jesus ao monte das Oliveiras: a Igreja orante sente um desejo profundo de vigiar com Jesus. pois ainda não subi para o Pai. A outra direcção do preceder.. O Senhor ressuscitou e precedeu-nos.. 19). Lá o vereis" (Mt 28. Por isso o caminho dos apóstolos prolongou-se até aos "confins da terra" (cf. os anjos dizem: o Senhor "vai à vossa frente para a Galileia.. podemos dizer que este "preceder" de Jesus exige uma dupla direcção. nas palavras de Jesus a Madalena: "Não me detenhas. aparece no Evangelho de São João. na noite da indiferença de muitos.. Fazia-se assim memória da primeira Páscoa. encontra o seu cumprimento: Jesus entrega realmente o seu corpo e o seu sangue. Em Israel. 17).). assim São Pedro e São Paulo foram até Roma. mas indicam ao mesmo tempo o caminho do seguimento de Cristo. vence a noite. Jesus. Considerando isto mais de perto. cidade que na época era o centro do mundo conhecido. protegia contra o exterminador. na intimidade da família. aspergido na arquitrave e nos portais das casas. levando o dom do seu amor aos homens de todos os tempos." (Jo 20. João de Latrão Quinta-feira. sai e entrega-se ao traidor. Atravessando o limiar da morte. torna-se pão vivo. A verdadeira meta do nosso caminho é a comunhão com Deus o próprio Deus é a casa com muitas moradas (cf. Mas só podemos subir a esta morada indo "em direcção à Galileia" indo pelos caminhos do mundo. 7). no Egipto da noite em que o sangue do cordeiro pascal. a Galileia era considerada como a porta que se abre para o mundo dos pagãos. retomamos esta procissão. ao exterminador e. Em Israel. fazei discípulos de todos os povos" (Mt 28.). com a qual a Igreja repete o êxodo de Jesus do Cenáculo para o monte das Oliveiras. 26 de Maio de 2005 Amados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos irmãos e irmãs! Na festa de Corpus Christi. precisamente assim. o Senhor. A primeira é como ouvimos a Galileia. de não o deixar sozinho na noite do mundo. E na realidade precisamente na Galileia. Act 1.Basílica de S. levando o Evangelho a todas as nações. naquela noite. o próprio sangue a Jesus e tornou-se tenda viva do Verbo. a força do sacramento da Eucaristia vai além das paredes das nossas Igrejas. o Senhor está sempre a caminho no mundo. d'Aquele que é o meu Criador e Redentor. 26s. Nós confiamos estas estradas. os receios toda a nossa vida. dia após dia. é realmente um encontro entre duas pessoas. cada vez mais. requer a vontade de seguir Cristo. precisamente fazendo isto. Bebei todos" (Mt 26. chamada pelo querido Papa João Paulo II "Mulher eucarística". rumo à "via crucis". todo o nosso estar na presença de Cristo. Que as nossas estradas sejam de Jesus! Que as nossas casas sejam para Ele e com Ele! A nossa vida de todos os dias estejam penetradas da sua presença. Por isso. O Senhor instituiu o Sacramento no Cenáculo. a Mãe do Senhor.. este acto de "comer". Este aspecto universal da presença eucarística sobressai na procissão da nossa festa. Sem dúvida. circundado pela sua nova família. desta intimidade. A procissão pretende ser uma bênção grande e pública para a nossa cidade: Cristo é. A procissão de Corpus Christi. para que nos ajude a segui-lo fielmente. Por isso. a minha transformação e conformação com Aquele que é Amor vivo.. respondem ao seu mandamento: "Tomai e comei". A nossa procissão termina diante da Basílica de Santa Maria Maior. em pessoa. de seguir Aquele que nos precede. A finalidade desta comunhão. Neste Sacramento. Verdadeiramente Maria.). como um simples bocado de pão. Pedimos a Ela. Por isso. responde de maneira simbólica ao mandamento do Ressuscitado: precedo-vos na Galileia. Comer este pão é comunicar. estas casas a nossa vida quotidiana à sua bondade. que é dom muito pessoal do Senhor. pelos caminhos da nossa vida. a Eucaristia é um mistério de intimidade. Deste modo. ao contrário. na liturgia da Igreja antiga. examine-se cada um a si próprio e só então coma deste pão e beba deste vinho. é deixar-se penetrar pela vida d'Aquele que é o Senhor. esta comunhão exige a adoração. colocamos sob o seu olhar os sofrimentos dos doentes. acompanhamos o Ressuscitado no seu caminho pelo mundo inteiro como dissemos. Não se pode "comer" o Ressuscitado. Contudo." (1 Cor 11. as tentações. a adoração e a procissão fazem parte de um único gesto de comunhão. deste comer. deixando-se penetrar no corpo e no espírito pela sua presença. presente na figura do pão.. ensina-nos o que significa entrar em comunhão com Cristo: Maria ofereceu a própria carne. presente na figura do pão. pelas estradas da nossa cidade.A procissão da Quinta-Feira Santa acompanhou Jesus na sua solidão. levai o Evangelho a todas as nações. a solidão dos jovens e dos idosos. nossa santa Mãe.. a distribuição da sagrada comunhão era introduzida com as palavras: Sancta sanctis o dom sagrado destina-se aos que são tornados santos. E. respondia-se à admoestação dirigida por São Paulo aos Coríntios: "Portanto. respondemos também ao seu mandamento: "Tomai e comei. é a assimilação da minha vida à sua. Amém! . é entrar em comunhão com a pessoa do Senhor vivo. Esta comunhão. Nós levamos Cristo. para que nos ajude a abrir. no encontro com Nossa Senhora. a bênção divina para o mundo o raio da sua bênção abranja todos nós! Na procissão de Corpus Christi. 28). Ide até aos confins do mundo. para a fé. pelos doze apóstolos. prefiguração e antecipação da Igreja de todos os tempos. Com este gesto. Neste importante encontro eclesial também teria desejado. estar presente o meu venerado e amado Predecessor. . quando o imperador Diocleciano proibiu aos cristãos. as religiosas e os leigos. o teu Deus" (Salmo Responsorial). em Bari. para o Congresso Eucarístico Nacional. Foram presos e levados para Cartago para serem interrogados pelo pró-Cônsul Anulino. de se reunirem ao domingo para celebrar a Eucaristia e de construir lugares para as suas assembleias. exprime muito bem o sentido desta Celebração eucarística: reunimo-nos para louvar e bendizer ao Senhor. fortalecer os vínculos de comunhão que me ligam à Igreja que está na Itália e aos seus Pastores.HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CONCLUSÃO DO CONGRESSO EUCARÍSTICO ITALIANO Solenidade de Corpus Christi Bari. o Arcebispo de Bari. Saúdo também as Autoridades. louva. que com a sua agradável presença realçam como os Congressos Eucarísticos fazem parte da história e da cultura do povo italiano. sob pena de morte. O tema escolhido "Sem o Domingo não podemos viver" leva-nos ao ano 304. Eis a razão que levou a Igreja italiana a encontrar-se aqui. que ele já pode contemplar directamente. D. celebravam a Eucaristia desafiando as proibições imperiais. e ao mesmo tempo. que hoje chega à sua conclusão. uma pequena localidade na actual Tunísia. de possuir as Escrituras. cooperaram para a organização do Congresso. Em Abitene. Sião. O convite do Salmista. o Papa João PauloII. os sacerdotes. Também eu me quis unir hoje a todos vós para celebrar com particular realce a Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo. ao qual agradeço as palavras gentis. Jerusalém. expressão da identidade da comunidade cristã e centro da sua vida e da sua missão. bom Pastor. e desta forma prestar homenagem a Cristo no Sacramento do seu amor. Francesco Cacucci. Saúdo com afecto todos vós que participais nesta solene liturgia: o Cardeal Camillo Ruini e os outros Cardeais presentes. 29 de Maio de 2005 Caríssimos Irmãos e Irmãs! "Glorifica o Senhor. quis apresentar o domingo como "Páscoa semanal". reunidos em casa de Octávio Félix. os religiosos. de várias formas. como sabeis. os Bispos da Apúlia e os que vieram em grande número de todas as partes da Itália. Este Congresso Eucarístico. 49 cristãos foram surpreendidos um domingo enquanto. Sentimo-lo próximo de nós e connosco glorifica Cristo. em particular os jovens e também todos os que. que ressoa também na Sequência. de nós que estamos a caminho neste mundo rumo à terra prometida do Céu. neste deserto. que é o Senhor da vida. a sua fé. àquele primeiro anúncio. quem come mesmo deste pão viverá eternamente" (Jo 6. Dia do Senhor. devemos reflectir. mesmo se não existem estas proibições do imperador. queria preparar o povo da Nova Aliança. mas venceram: agora. muitas vezes marcado pelo consumismo desenfreado. entre outras. O Filho de Deus. os 49 mártires de Abitene foram mortos. vai em auxílio do povo hebreu em dificuldade com o dom do maná. Respondeu: "Sine dominico non possumus": isto é. cristãos do século XXI. nós recordámo-los na glória de Cristo ressuscitado. é a ocasião propícia para haurir a força d'Ele. No diálogo que há pouco o Evangelho nos referiu. Depois de atrozes torturas. um peso sobre os nossos ombros. Sob um ponto de vista espiritual. 3). o preceito festivo não é um dever imposto pelo exterior. tendo-se feito carne. 58). tirada do Livro do Deuteronómio. Também para nós não é fácil viver como cristãos. e assim pode encontrar a energia necessária para o caminho que devemos percorrer todas as semanas. sem nos reunirmos em assembleia ao domingo para celebrar a Eucaristia não podemos viver. Ele está connosco. Faltar-nos-iam as forças para enfrentar as dificuldades quotidianas sem sucumbir. começou a discutir e a protestar: "Como pode Ele dar-nos a sua carne a . o povo. Seguir a Palavra de Deus e caminhar com Cristo significa para o homem realizar-se a si mesmo. não arbitrário: a via que Deus nos indica na sua Palavra vai na direcção inscrita na própria essência do homem. a Palavra de Deus e a razão caminham juntas. em vez de rejubilar. podia tornar-se pão. Ele disse: "Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele" (Jo 6. Precisamos deste pão para enfrentar as fadigas e o cansaço da viagem. a resposta que um tal Emérito deu ao pró-Cônsul que lhe perguntava por que motivo violaram a ordem severa do imperador. Por conseguinte. o mundo no qual nos encontramos. 15) do qual nos falou a primeira leitura. Fazendo alusão à Eucaristia disse: "Este é o pão que desceu do céu. 56). Ao contrário. mas de tudo o que sai da boca do Senhor" (Dt 8. pode parecer um deserto não menos áspero do que aquele "grande e assustador" (Dt 8. alimentar-se do Pão eucarístico e experimentar a comunhão dos irmãos e irmãs em Cristo é uma necessidade para o cristão. perdê-la equivale a perder-se a si próprio. Sobre a experiência dos mártires de Abitene também nós. para lhe fazer compreender que "nem só de pão vive o homem. participar na Celebração dominical. Um caminho. O Senhor não nos deixa sozinhos neste caminho. não é como aquele que os antepassados comeram. aliás. pela indiferença religiosa. Confirmaram assim. Morreram.Foi significativa. No Evangelho de hoje Jesus explicou-nos para que pão Deus. é uma alegria. com a efusão do sangue. por um secularismo fechado à transcendência. Deus. aliás. e ser assim alimento do seu povo. O Domingo. pois eles morreram. Ele deseja partilhar o nosso destino até se identificar connosco. através da doação do maná. Como não se alegrar com uma promessa como esta? Contudo ouvimos que. Não foi porventura isto que nos disse o apóstolo Paulo na leitura que há pouco ouvimos? Ao escrever aos Coríntios. na África. tão partícipe das suas vicissitudes. E vemos a beleza desta comunhão que a Sagrada Eucaristia nos proporciona. porque todos participamos desse único pão" (1 Cor 10. na Ásia. Por isso é preciso aprender a grande lição do perdão: não deixemos que o nosso ânimo seja corroído pelo ressentimento. com plena consciência fazemos nossa: "A quem iremos nós. 53). Só na unidade o podemos receber. Perante os murmúrios de protesta. devemos também mover-nos para irmos uns ao encontro dos outros. Mas permanecem em toda a sua clareza as palavras que Cristo pronunciou naquela ocasião: "Em verdade. teria podido dizer. faz-nos sair de nós próprios para fazer de todos nós uma só coisa com Ele. Na verdade. de um Deus que se coloca nas nossas mãos e que nos ama. Se nos quisermos apresentar a Ele. A consequência é clara: não podemos comunicar com o Senhor. na Oceânia. à eventual aceitação das suas desculpas. Na verdade precisamos de um Deus que esteja próximo. Precisamos de um Deus que esteja próximo.comer? (Jo 6. somos um só corpo. ao seu alcance. Mas Jesus não recorreu a semelhantes atenuações. Isto significa que nós só o podemos encontrar juntamente com os outros. não tereis a vida em vós" (Jo 6. Levantam-se então questões que pretendem demonstrar. vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue. Graças a Deus. não vos preocupeis! Falei de carne. Jesus poderia ter optado por palavras tranquilizantes: "Amigos. abramos o coração à compreensão em relação a ele. 17). mas abramos o coração à magnanimidade da escuta do próximo. O Cristo que encontramos no Sacramento é o mesmo aqui em Bari como em Roma. No fundo. Jo 6. . Manteve firme a própria declaração. hoje. poderíamos pensar que o povo não queira Deus tão próximo. para nos assimilar a si. nós. Senhor? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6. todo o seu realismo. mas trata-se apenas de um símbolo. É o único e o mesmo Cristo que está presente no Pão eucarístico de qualquer lugar da terra. no fim. Pedro deu uma resposta que também nós. sem comunicar entre nós. Na Eucaristia Cristo está realmente presente entre nós. ele afirma: "Uma vez que há um único pão. sobre a qual gostaria ainda de falar antes de concluir. 52). 67). A sua presença não é estática. O que pretendo dizer é unicamente uma profunda comunhão de sentimentos". aquela atitude repetiu-se muitas outras vezes ao longo da história. para nada alterar do concreto do seu discurso: "Também vós quereis ir embora?" (Jo 6. embora muitos. 68). perguntou. Desta forma. Ele insere-nos também na comunidade dos irmãos e a comunhão com o Senhor é também e sempre comunhão com as irmãs e irmãos. que uma semelhante proximidade é impossível. Alcançamos aqui uma ulterior dimensão da Eucaristia. Aliás. em verdade. na Europa como na América. à generosa oferta das próprias. 66). Ele demonstrou-se disposto a aceitar até a deserção dos seus próprios apóstolos. É uma presença dinâmica. também diante da deserção de muitos dos seus discípulos (cf. que nos prende para nos fazer seus. em definitiva também com frequência o queremos um pouco distante de nós. Cristo atrai-nos a si. O povo quer que ele seja grande e. com a vitória de Cristo sobre a morte. São necessários gestos concretos que entrem nos ânimos e despertem as consciências. Mensagem à Igreja universal. de Cristo "nossa paz" (Ef 2. nós devemos redescobrir a alegria do domingo cristão. gostaria de repetir a minha vontade de assumir como compromisso fundamental o de trabalhar com todas as energias para a reconstituição da unidade plena e visível de todos os seguidores de Cristo. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENIDADE DOS SANTOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO . 9. que é o sacramento do mundo renovado. Recolhendo-se em volta da mesa eucarística. a comunidade íase modelando como novo povo de Deus. Peço a todos vós que tomeis com decisão o caminho daquele ecumenismo espiritual. "Como poderemos viver sem Ele?". aquele no qual. Precisamente por isto o domingo era considerado pela comunidade cristã dos primeiros tempos como o dia em que teve início o novo mundo. Precisamente aqui. que nas Escrituras é o dia da criação do mundo. Santo Inácio de Antioquia qualificava os cristãos como "aqueles que alcançaram a nova esperança". Muito mais nos devemos. começou a nova criação. Mas infelizmente os cristãos estão divididos. pelo qual também os profetas esperaram?" (Epist. cidade generosa que conserva os ossos de São Nicolau. o único que pode criar unidade. 14). e apresentava-os como pessoas "viventes segundo o domingo" ("iuxta dominicam viventes"). sentir estimulados a tender com todas as forças para aquela unidade plena que Cristo desejou ardentemente no Cenáculo. 20 de abril de 2005). feliz Bari. 1-2). ao mundo. Capela Sistina. terra de encontro e de diálogo com os irmãos cristãos do Oriente. amparados pela Eucaristia. A ressurreição de Cristo aconteceu no primeiro dia da semana. Precisamente disto brota a nossa oração: que também os cristãos de hoje reencontrem a consciência da importância decisiva da Celebração dominical e saibam tirar da participação na Eucaristia o estímulo necessário para um novo compromisso no anúncio. Nesta perspectiva o Bispo antioqueno perguntava: "Como poderemos viver sem Aquele. solicitando cada um àquela conversão interior que é pressuposto de qualquer progresso no caminho do ecumenismo (cf. Estou consciente de que para isto não são suficientes as manifestações de bons sentimentos. Sentimos ressoar nestas palavras de Santo Inácio a afirmação dos mártires de Abitene: "Sine dominico non possumus". em Bari.A Eucaristia repetimo-lo é sacramento de unidade. precisamente no sacramento da unidade. que na oração abre as portas ao Espírito Santo. ad Magnesios. Devemos redescobrir com orgulho o privilégio de poder participar na Eucaristia. Queridos amigos que viestes a Bari de várias partes da Itália para celebrar este Congresso eucarístico. santa. 29 de Junho de 2005 Queridos Irmãos e Irmãs! A festa dos santos Apóstolos Pedro e Paulo é ao mesmo tempo uma grata memória das grandes testemunhas de Jesus Cristo e uma solene confissão em favor da Igreja una. da fé e da oração de Israel. O grande salmo da Paixão. católica e apostólica. Diz: "A Igreja espalhada em todo o mundo conserva esta doutrina e esta fé com diligência. cumprindo assim a promessa com a qual o salmo se concluía. faz parte também do anúncio da Antiga Aliança a missão a todo o mundo: o povo de Israel estava destinado a ser luz para os povos. Estrangeiros tornaram-se amigos. hão-de prostrar-se diante dele todos os povos e nações" (Sl 21. meu Deus. no século II. santificada pelo Espírito Santo. reconhecemo-nos irmãos. à cidade que era o lugar de convergência de todos os povos e que por isso podia tornar-se antes de qualquer outra. não obstante todos os confins. 16). é uma imagem da família da Igreja distribuída sobre toda a terra. Empreendendo a viagem de Jerusalém para Roma. A catolicidade exprime só uma dimensão horizontal. O verdadeiro fundador da teologia católica. 28). para olhar para o único Deus. esta vitória de Deus devia ser agora anunciada a todos os povos. certamente ele sabia que era guiado pelas vozes dos profetas. É sinal do Pentecostes a nova comunidade que fala em todas as línguas e une todos os povos num único povo. unidade que permanece contudo multiplicidade. por que me abandonaste?" Jesus pronunciou na cruz. A nossa assembleia litúrgica. Quando Pedro e Paulo vieram a Roma o Senhor. De facto. contudo. só abrindo-nos a Ele nos podemos tornar verdadeiramente uma coisa só. cujo primeiro versículo "Meu Deus. Como Paulo.Quarta-feira. numa família de Deus e este sinal tornou-se realidade. A finalidade da missão é uma humanidade que se tornou uma glorificação viva de Deus. este salmo terminava com a visão: "Hão-de lembrar-se do Senhor e voltar-se para Ele todos os confins da terra. a fim de que a oferenda dos gentios. assim também Pedro veio a Roma. nos devemos encaminhar sempre de novo. que administra o Evangelho de Deus como um sacerdote. o salmo 21. expressou este vínculo entre catolicidade e unidade de maneira muito bonita. o culto verdadeiro que Deus espera: eis o sentido mais profundo da catolicidade uma catolicidade que já nos foi doada e para a qual. a reunião de muitas pessoas na unidade. Santo Ireneu de Lião. pessoas de numerosas culturas e nações. lhe seja agradável" (Rm 15. formando quase uma única família: a mesma fé . e cito-o. É antes de tudo uma festa da catolicidade. Da palavra de Paulo sobre a universalidade da Igreja já vimos que faz parte desta unidade a capacidade que os povos têm de se superar a si mesmos. a expressão da universalidade do Evangelho. Com isto é levada a cabo a missão de São Paulo. que iniciara aquele Salmo na cruz. tinha ressuscitado. na qual estão reunidos Bispos provenientes de todas as partes do mundo. Catolicidade significa universalidade multiplicidade que se torna unidade. que sabia "ser para os gentios um ministro de Cristo Jesus. exprime também uma dimensão vertical: só dirigindo o olhar para Deus. que nos ajuda a conhecer melhor e depois também a viver melhor a fé que nos une: o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. sendo Ele mesmo o caminho. do Egipto. aliás. "Eu sou aquele que sou" este misterioso nome de Deus proposto na Antiga Aliança está ali representado como o seu próprio nome: tudo o que existe vem d'Ele. como arauto do Evangelho. daquele momento em diante abrange todos os povos. nem as da Espanha. da Líbia. Esta verdade sobre a essência do nosso ser. nem as do centro da terra. porque a verdade fundamental sobre a nossa vida. São Marcos diz-nos que Jesus chamou os Apóstolos para que "andassem com Ele e também para os enviar" (Mc 3. Parece quase uma . O que significa? O Senhor instituiu doze Apóstolos. une-nos e faz de nós irmãos. mas ao mesmo tempo. tendo-se já tornado universal. Dissemos que catolicidade da Igreja e unidade da Igreja caminham juntas. Resumem por assim dizer de modo visível o que a palavra desenvolve nos pormenores. 2). Sinto-me feliz porque ontem na festa de santo Ireneu e vigília da solenidade dos santos Pedro e Paulo pude entregar à Igreja uma nova guia para a transmissão da fé. do Oriente. é recapitulado neste livro. se mostrou a nós. indicando-os como arquétipos do povo de Deus que. está sempre perto de nós e ao mesmo tempo precede-nos sempre: como "indicador" no caminho da nossa vida. da Gália. No início está um ícone de Cristo do século VI. O que no grande Catecismo. que tem nas mãos. que depois devem ser interpretados na linguagem quotidiana e concretizados sempre de novo. a mesma pregação. I 10. E por isso é único. As Igrejas da Alemanha não têm uma fé ou tradição diversas. mediante os testemunhos dos santos de todos os séculos e com as reflexões maduradas na teologia. Catolicidade e unidade caminham juntas. sobre o nosso "de onde?".com uma só alma e um só coração. nos seus conteúdos fundamentais. quatorze imagens associadas aos vários campos da fé convidam à contemplação e à meditação. é apresentado em pormenor. Não se pode ler este livro como se lê um romance. penetre na alma. verdade que de Deus se tornou visível. tradição como se tivesse uma só boca. haer. 14). também está sempre presente. sobre o nosso viver e o nosso morrer. ensinamento. São diversas as línguas segundo as religiões. O livro estrutura-se como diálogo de perguntas e respostas. mas a força da tradição é única e a mesma. mediante as imagens. Ele é a fonte originária de todos os seres. E a unidade tem um conteúdo: a fé que os Apóstolos nos transmitiram da parte de Cristo. É preciso meditá-lo com calma em cada uma das suas partes e permitir que o seu conteúdo. Espero que seja acolhido desta forma e se possa tornar uma boa guia na transmissão da fé. a si mesmo. como o sol criatura de Deus é um só e idêntico em todo o mundo. assim a luz da verdadeira pregação resplandece em toda a parte e ilumina os homens que desejam chegar ao conhecimento da verdade" (Adv. assim como doze eram os filhos de Jacob. A unidade dos homens na sua multiplicidade tornou-se possível porque Deus. O facto que ambas as dimensões se tornem visíveis a nós nas figuras dos santos Apóstolos indicanos já a característica sucessiva da Igreja: ela é apostólica. este único Deus do céu e da terra. que se encontra no monte Athos e representa Cristo na sua dignidade de Senhor da terra. se tornou visível quando Ele se mostrou a nós e em Jesus Cristo nos mostrou o seu rosto. Jesus Cristo. Com isto não queremos esquecer que o sentido de todas as funções e ministérios no fundo é que "cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus. O pálio é a expressão da nossa missão apostólica. e continua: "Onde quer que sejam enviados. É expressão da nossa comunhão. graças às testemunhas que o Senhor. impedindo assim que todos nós escorreguemos para falsas autonomias. assim como com a apostolicidade. mas também rico de desejo de Deus. que muito facilmente se transformam em particularismos da Igreja e podem comprometer a sua independência. Com a unidade. 13). A Palavra de Deus não está só escrita mas. Ele diz que os anjos são sempre enviados e ao mesmo tempo estão sempre diante de Deus. que reúne visivelmente a Igreja de todas as partes e de todos os tempos. mas existe ao mesmo tempo uma continuidade na missão apostólica. 13.16). caminham sempre no seio de Deus" (Homilia 34. ajudar o mundo para que creia. Nós diríamos: ou estão com Ele ou são enviados e põem-se a caminho. que nos ajuda a desfazer tal contradição. Fizemo-lo abençoar. estamos contudo unidos na sucessão apostólica. podemos fazer esta aplicação: os Apóstolos e os seus sucessores deveriam estar sempre com o Senhor e precisamente assim onde quer que vão estar sempre em comunhão com Ele e viver desta comunhão. A Igreja é apostólica. que é enviada pelo Patriarca Ecuménico Bartolomeu I. porque confessa a fé dos Apóstolos e procura vivê-la. para que cresça o corpo de Cristo "para se construir a si próprio no amor" (Ef 4. 4). ao homem adulto. Assim me dirijo agora a vós. E com isto expressou o princípio da sucessão apostólica: o mesmo ministério que ele tinha recebido do Senhor continua agora na Igreja graças à ordenação sacerdotal. Nesta perspectiva saúdo de coração e com gratidão a delegação da Igreja ortodoxa de Constantinopla. onde quer que vão. pondo-o ao lado do seu túmulo. e por conseguinte. estamos profundamente unidos uns aos outros pelo ministério episcopal e pelo sacramento do sacerdócio e confessamos juntos a fé dos Apóstolos como nos é dada nas Escrituras e como é interpretada nos grandes Concílios. permanece palavra viva. Existe uma unicidade que caracteriza os Doze chamados pelo Senhor. Guiada pelo Metropolita Ioannis. reconhecemos novamente a nossa missão comum de testemunhar juntos Cristo Senhor e. São Pedro na sua primeira carta qualificou-se como "copresbítero" com os presbíteros aos quais escreve (5. Estais para receber o pálio das mãos do Sucessor de Pedro. ao qual dirijo um pensamento cordial. como pelo próprio Pedro. E suplicamos ao Senhor com todo o coração para que nos guie à unidade plena de forma . está relacionado o serviço petrino. Mesmo se ainda não concordamos sobre a questão da interpretação e do alcance do ministério petrino. inseriu no ministério apostólico. Neste momento do mundo cheio de cepticismo e de dúvidas. O Apocalipse qualificou os Bispos como "anjos" da sua Igreja. queridos irmãos Bispos. Saúdo-vos com afecto. 1). Agora ele é expressão da nossa responsabilidade comum diante do "supremo pastor". no sacramento. à medida completa da plenitude de Cristo". com base naquela unidade que já nos é dada.contradição. juntamente com os vossos familiares e com os peregrinos das respectivas Dioceses. do qual fala Pedro (1 Pd 5. veio a esta nossa festa e participa na nossa celebração. Há uma palavra do Santo Papa Gregório Magno sobre os anjos. que no ministério petrino tem a sua garantia visível. 16. É precisamente disto que se nos mostra toda a grandeza da revelação que quase inscreveu no coração do próprio Deus as feridas. ela se torne cada vez mais a força que plasma a nossa vida. O Evangelho deste dia fala-nos da confissão de São Pedro que deu origem ao início da Igreja: "Tu és Cristo. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO CELEBRADA NA PARÓQUIA PONTIFÍCIA DE S. encontra-se o mistério sacerdotal de Jesus. 19). que ele declara o Santo de Deus. está no contexto do discurso eucarístico. A confissão de Pedro em favor de Cristo. fazendo alusão ao sacrifício da sua morte (Jo 17. diz que se santifica pelos discípulos. consiste de facto de pecadores todos nós o sabemos e vemos. mas na concretização do seu próprio Corpo e Sangue. Assim. rezemos para que irradiando-se da Celebração eucarística. Mas ela é sempre de novo santificada pelo Santo de Deus. pelo amor purificador de Cristo. pela vida do mundo" (Jo 6. TOMÁS DE VILLANOVA Castel Gandolfo. Deus não falou apenas: amou-nos de modo muito realista. mas ainda não da Igreja santa. Peçamos ao Senhor para que a verdade desta palavra se imprima profundamente. A palavra "o Santo de Deus" no Antigo Testamento indicava Aarão como Sumo Sacerdote que tinha a tarefa de realizar a santificação de Israel (Sl 105. Tendo falado hoje da Igreja una. cf. o seu sacrifício por todos nós. Sr 45. na grande oração sacerdotal. cada um de nós pode dizer pessoalmente com São Paulo: "Vivo na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gl 2. 6). católica e apostólica. no nosso coração. A Igreja não é santa por si só. o Filho de Deus vivo" (Mt 16. 16). Com isto Jesus exprime implicitamente a sua função de verdadeiro Sumo Sacerdote que realiza o mistério do "Dia da Reconciliação". a única que pode criar a unidade. amounos até à morte do próprio Filho. desejamos recordar neste momento outra confissão de Pedro pronunciada em nome dos Doze no momento do grande abandono: "Por isso nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus" (Jo 6. 15 de Agosto de 2005 . com a sua alegria e responsabilidade. não apenas nos ritos substitutivos. 20). O que isto significa? Jesus.que o esplendor da verdade. no quadro desta confissão. se torne de novo visível no mundo. 69). Então. 51). no qual Jesus anuncia o grande Dia da Reconciliação mediante a oferenda de si mesmo em sacrifício: "O pão que Eu hei-de dar é a minha carne. Podemos dizer que este seu cântico é um retrato. Antes pensava-se e acreditava-se que. Este também era o pensamento do filho pródigo. seja grande na sua vida. Para nós o céu já não é uma esfera muito distante e desconhecida. também nós somos grandes. Neste cântico maravilhoso reflecte-se toda a alma. é a nossa Mãe. A nossa vida não é oprimida. O céu está aberto. A festa da Assunção é um dia de alegria. tornou-se escravo. Foi-se embora para cidades longínquas e consumiu o património da sua vida. o Presidente da Câmara e todos vós. Sempre mais se pensou e também se disse: "Mas este Deus não nos deixa a nossa liberdade. Deus venceu. no qual podemos vê-la precisamente como é. Não teme que Deus possa ser um "concorrente" na nossa vida. todos os sacerdotes. o qual não entendeu que. No Evangelho ouvimos o Magnificat. aliás. quando disse ao discípulo e a todos nós: "Eis a tua Mãe!" No céu temos uma Mãe. Assim é também na época moderna. Ele inicia com a palavra "Magnificat": a minha alma "engrandece" o Senhor. era "livre". inspirada pelo Espírito Santo. toda a personalidade de Maria. precisamente pelo facto de estar na casa do pai. o Bispo de Albano. Esta foi também a maior tentação da época moderna. ou seja. esta grande poesia pronunciada pelos lábios. Venceu a vida. No céu temos uma mãe. que nos possa tirar algo da nossa liberdade. Portanto. Gostaria de realçar somente dois pontos deste grande cântico. o céu tem um coração. Saúdo o Cardeal Sodano. Obrigado pela vossa presença. O facto de que os nossos antepassados pensassem o contrário foi o núcleo do pecado original. pelo coração de Maria. Sem este Deus nós mesmos seremos deuses. mas elevada e alargada: justamente então torna-se grande no esplendor de Deus. Pensavam que deveriam pôr Deus de lado a fim de ter espaço para eles mesmos. Temiam que se Deus tivesse sido grande demais teria tirado algo da sua vida. Deus deve desaparecer.Caros Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos Irmãos e Irmãs Antes de tudo. "proclama grande" o Senhor. em vez de ser livre. fazendo o que queremos nós". Que Deus tem a verdadeira força e a sua força é bondade e amor. dirijo uma cordial saudação a todos vós. queremos ser autónomos. Ele constituiu-a nossa Mãe. afastando Deus e sendo . em toda a beleza da vida. é um verdadeiro ícone de Maria. esteja presente entre todos nós. Maria foi elevada ao céu em corpo e alma: também para o corpo existe um lugar em Deus. independentes. se Deus é grande. a Mãe do Filho de Deus. E a Mãe de Deus. Ela sabe que. torna estreito o espaço da nossa vida com todos os seus mandamentos. Maria deseja que Deus seja grande no mundo. É uma grande alegria para mim celebrar a Missa nesta bela igreja paroquial no dia da Assunção. entendeu que somente retornando à casa do pai teria podido ser livre verdadeiramente. do nosso espaço vital com a sua grandeza. O amor venceu. justamente por se ter distanciado do pai. Mostrou-se que o amor é mais forte do que a morte. Ele mesmo o disse. No final compreendeu que. dos últimos três ou quatro séculos. bom: torna-se também forte e corajoso. este ser totalmente familiar com a palavra de Deus dá-lhe também a luz interior da sabedoria. a amar a palavra de Deus. contudo. estava imbuída da palavra de Deus. começando de manhã com a oração. Apliquemos isto à nossa vida. o homem não se torna grande. Se Deus entra no nosso tempo. vemos que Maria era. mas tornar Deus presente. Na vida pública é importante que Deus esteja presente. e quem fala com Deus fala bem. Segunda observação. assim. dar espaço todos os dias a Deus na nossa vida. sobretudo participando na Liturgia. feito de palavra de Deus. Mas. as suas palavras as palavras de Deus. todo o tempo se torna maior. Dessa maneira. se não os contrastes tornam-se inconciliáveis. é inundada pela palavra de Deus. pensava com as palavras de Deus. perde a dignidade divina. onde desaparece Deus. nos tornaríamos realmente livres. mais rico. tão bondosa. É importante que Deus seja grande entre nós. a pensar com a palavra de Deus. E podemos fazê-lo de diversíssimos modos: lendo a Sagrada Escritura. como tal. Isto quer dizer. na vida pública e na vida privada. é um "tecido" feito totalmente com "fios" do Antigo Testamento. por assim dizer. Abre-o para a nossa vida e torna-o presente na nossa vida. vivia da palavra de Deus. fazer com que Ele seja grande na nossa vida. dando o domingo a Deus. uma estrada comum. mais amplo. convida-nos a conhecer a palavra de Deus. na qual no decurso do ano a Santa Igreja nos abre diante todo o livro da Sagrada Escritura. por exemplo. assim também nós nos tornamos divinos. Não perdemos o nosso tempo livre se o oferecermos a Deus. "em casa" na palavra de Deus. Esta poesia de Maria o Magnificat é toda original. ao mesmo tempo. a viver com a palavra de Deus. que Deus esteja presente na nossa vida comum.autónomos. através da Cruz nos edifícios públicos. . com a força de Deus que resiste ao mal e promove o bem no mundo. Com Maria devemos começar a entender que é assim. Maria vive da palavra de Deus. E. deixando de existir o reconhecimento da dignidade comum. Foi precisamente quanto a experiência desta nossa época confirmou. ao contrário. todo o esplendor da dignidade divina então é nosso. Tem critérios de juízo válidos para todas as coisas do mundo. Não devemos distanciar-nos de Deus. prudente e. Somente se Deus é grande. Na medida em que falava com as palavras de Deus. E este estar imersa na palavra de Deus. Era invadida pela luz divina e por isso era tão esplêndida. e depois dando tempo a Deus. os seus pensamentos eram os pensamentos de Deus. o homem também é grande. Maria fala connosco. podendo fazer quanto quiséssemos sem que ninguém pudesse dar-nos alguma ordem. pode ser usado e abusado. Quem pensa com Deus pensa bem. Torna-se sábio. porque somente se Deus está presente temos uma orientação. perde o esplendor de Deus no seu rosto. fala a nós. seguindo somente as nossas ideias. tão radiante de amor e de bondade. No fim resulta somente o produto de uma evolução cega e. Tornemos grande Deus na vida pública e na vida privada. ao mesmo tempo. a nossa vontade. amado Irmão no Episcopado. Estando em Deus. 21 de Agosto de 2005 Palavras do Santo Padre no início da Concelebração Estimado Cardeal Meisner Queridos jovens! Gostaria de te agradecer cordialmente. Esplanada de Marienfeld Domingo. interpreta a realidade da nossa vida. está perto de cada um de nós. e sendo Mãe do Filho. está sempre perto. que está no "interior" de todos nós. ajuda-nos a entrar no grande "templo" da palavra de Deus. Maria é elevada em corpo e alma à glória do céu e com Deus e em Deus é rainha do céu e da terra. na sua bondade. Quando estava na terra podia somente estar perto de algumas pessoas. Neste dia de festa. Estando em Deus e com Deus. damos graças ao Senhor pelo dom da Mãe e rezemos a Maria. Precisamente porque está com Deus e em Deus. Podemos confiar sempre toda a nossa vida a esta Mãe. à qual podemos dirigir-nos em todos os momentos. Maria participa nesta aproximação de Deus. que recentemente publicámos. no qual a palavra de Deus é aplicada à nossa vida. VIAGEM APOSTÓLICA A COLÓNIA POR OCASIÃO DA XX JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE SANTA MISSA NA ESPLANADA DE MARIENFELD HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Colónia. está tão distante de nós? É verdadeiro o contrário. está pertíssimo de cada um de nós. a aprender a amá-la e a estar como Maria. recebemos bondade e força no mesmo momento. pode ajudar-nos com a sua bondade materna e é-nos dada como disse o Senhor como "mãe".Penso ainda no "Compêndio do Catecismo da Igreja Católica". pelas tuas palavras comovedoras que tão oportunamente nos introduzem nesta celebração litúrgica. a fim de que nos ajude a encontrar o caminho justo todos os dias. que está próximo de nós. conhece o nosso coração. Desse modo a vida torna-se luminosa e temos o critério como base para julgar. pode ouvir as nossas orações. Devido às dificuldades . que não está longe de nós. Porventura. imbuídos desta palavra. participa no poder do Filho. Teria gostado de percorrer com o "papamóvel" todo o território em comprimento e largura para estar possivelmente próximo a cada um individualmente. Ela escuta-nos sempre. Amém. falando aos discípulos também com palavras que contêm a suma da Lei e dos Profetas: "Isto é o Meu corpo dado em sacrifício por vós. Mas depois acontece uma coisa nova. 1 Cor 15. uma transformação do mundo. Isto é o cálice da Nova Aliança no meu Sangue". Que nos faça o dom de celebrar dignamente os Santos Mistérios. Ele agradece a Deus não só pelas grandes obras do passado. Pois este é o único acto central de transformação capaz de renovar verdadeiramente o mundo: a violência transforma-se em amor e. *** Caríssimos jovens! Diante da Hóstia sagrada. e ao mesmo tempo. uns dos outros. Com a Celebração eucarística encontramo-nos naquela "hora" de Jesus da qual nos fala o Evangelho de João. Foi esta a transformação substancial que se realizou no cenáculo e que estava destinada a suscitar um processo de transformações cuja finalidade última é a transformação do mundo até àquela condição em que Deus será tudo em todos (cf. confere-lhes o mandato de dizer e fazer sempre de novo em sua memória o que está dizendo e fazendo naquele momento. de qualquer forma. todos os homens aguardam no seu coração uma mudança. o memorial da acção libertadora de Deus que tinha guiado Israel da escravidão para a liberdade. na qual Jesus para nós se fez pão que do interior ampara e alimenta a nossa vida (cf Jo 6. Recita sobre o pão a oração de louvor e de bênção. 35). aceita-a no seu íntimo e transforma-a numa acção de amor. agradece-lhe a própria exaltação que se há-de realizar mediante a Cruz e a Ressurreição. Ele antecipa a sua morte. O que está a acontecer? Como pode Jesus distribuir o seu Corpo e o seu Sangue? Ao fazer do pão o seu Corpo e do vinho o seu Sangue. Aquilo que do exterior é violência brutal. por assim dizer. Desde sempre. E porque este acto transforma a morte em vida.dos caminhos não era possível mas saúdo cada um de vós de todo o coração. começámos ontem à noite o caminho interior da adoração. 28). que não podemos ser para Ele uma casa apropriada. Todos nós formamos juntos a Igreja viva e agradecemos ao Senhor esta hora na qual Ele nos concede o mistério da sua presença e a possibilidade de estar em comunhão com Ele. A morte está. Mediante a Eucaristia esta sua "hora" torna-se a nossa hora. a morte em vida. a ceia pascal de Israel. já está presente nela a ressurreição. O Senhor vê e ama cada pessoa. ferida intimamente. por conseguinte. Esta é. Ele celebrou. Todos sabemos que somos imperfeitos. a nós homens. juntamente com os discípulos. a morte como tal já está superada a partir do seu interior. E assim distribui o pão e o cálice. Na Eucaristia a adoração deve tornar-se união. de modo que jamais poderá ser ela a última palavra. . torna-se do interior um gesto de amor que se doa totalmente. Jesus segue os ritos de Israel. Por isso começamos a Santa Missa reunindo-nos e pedindo ao Senhor que afaste de nós tudo o que nos separa d'Ele e nos separa. a sua presença no meio de nós. Nós próprios devemos tornar-nos Corpo de Cristo. por conseguinte. considerar-se absolutamente autónomos. a transformação não deve deter-se. Só esta íntima explosão do bem que vence o mal pode suscitar depois a corrente de transformações que. A novidade que ali se verificou. A palavra grega ressoa proskynesis. A palavra latina para adoração é ad-oratio contacto boca a boca. como o Totalmente Outro. O Corpo e o Sangue de Cristo são-nos dados para que nós mesmos. beijo. estava na nova profundidade da antiga oração de bênção de Israel. mesmo se a nossa ambição de liberdade num primeiro momento resiste a esta perspectiva. o reconhecimento de Deus como a nossa verdadeira medida. cuja norma aceitamos seguir. torna-se união. mas orientar-se segundo a medida da verdade e do bem. A sua dinâmica penetra-nos e de nós deseja propagar-se aos outros e difundir-se em todo o mundo. de resto. A submissão torna-se união.querendo usar uma imagem que conhecemos muito bem. Assim. Todas as outras mudanças permanecem superficiais e não salvam. desta forma. Jesus não nos deixou a tarefa de repetir a Ceia pascal que. e nós estamos n'Ele. porque não nos impõe coisas alheias. para que o seu amor se torne realmente a medida dominante do mundo. Pão e vinho tornam-se o seu Corpo e o seu Sangue. Mas a este ponto. nos tornarmos nós próprios verdadeiros e bons. Jesus pode distribuir o seu Corpo. porque Aquele ao qual nos submetemos é Amor. Entramos nela mediante a palavra do poder sagrado da consagração uma transformação que se realiza mediante a oração de louvor. porque realmente se doa a si mesmo. Ela significa o gesto da submissão. mudarão o mundo. Esta primeira e fundamental transformação da violência em amor. Voltemos de novo à Última Ceia. mas isto significa que entre nós nos tornamos uma só coisa. que nos coloca em continuidade com Israel e com toda a sua história . antes. da morte em vida arrasta depois consigo as outras transformações. que desde então se torna a palavra da transformação e nos concede a participação na "hora" de Cristo. Fazê-la completamente nossa só será possível na segunda passagem que a Última Ceia nos apresenta. é aqui que deve começar plenamente. abraço e. seus consaguíneos. a cisão nuclear que o ser leva no seu íntimo a vitória do amor sobre o ódio. Este gesto é necessário. e nós podemos entrar neste dinamismo. Todos comemos o único pão. submissão adquire um sentido. mas liberta-nos em função da verdade mais íntima do nosso ser. por nossa vez. Deus já não está só diante de nós. Está dentro de nós. sejamos transformados. a vitória do amor sobre a morte. pouco a pouco. Por isso. falamos de redenção: aquilo que do mais íntimo era necessário concretizou-se. Deixou-nos a tarefa de entrar na sua "hora". Significa que liberdade não quer dizer gozar a vida. Encontro uma alusão muito bela neste novo trecho que a Última Ceia nos concedeu na acepção diferente que a palavra "adoração" tem em grego e em latim. A adoração. como aniversário. fundamentalmente amor. para. dissémos. não é repetível a nosso bel-prazer. e assim transformação a partir do Senhor: presença da sua "hora". Parece que tudo caminha igualmente sem Ele. devemos aprender a amá-la. Queridos amigos! Algumas vezes. Na manhã de Páscoa. não raramente a religião se torna quase um produto de consumo. Não quero desacreditar tudo o que existe neste contexto. É belo que hoje. Mas se vos empenhardes. Mas para dizer a verdade. não. Esta oração chamada pela igreja "oração eucarística" realiza a Eucaristia. Não vos deixeis dissuadir de participar na Eucaristia dominical e de ajudar também os outros a descobri-la. Escolhe-se aquilo de que se gosta. se a Igreja nos diz que a Eucaristia faz parte do domingo. A hora de Jesus é a hora em que o amor vence. para que dela emane a alegria da qual temos necessidade.da salvação. que é a tradução da palavra hebraica beracha agradecimento. louvor. Não é positivismo ou ambição de poder. de insatisfação de tudo e de todos. e alguns sabem até tirar . A hora de Jesus quer tornar-se a nossa hora e tornar-se-á a nossa hora se nós. Ela é palavra de poder. juntamente com o sábado. Sem dúvida. no qual a bondade misericordiosa de Deus permite sempre um novo início para a nossa vida. teria sido o seu dia. Mas existe. mediante a celebração da Eucaristia. primeiro as mulheres e depois os discípulos tiveram a graça de ver o Senhor. devemos aprender a compreendê-la cada vez mais nas suas profundidades. o domingo. o dia de Cristo. É espontâneo exclamar: não é possível que esta seja a vida! Deveras. o domingo seja um dia livre ou. Daquele momento em diante eles souberam que agora o primeiro dia da semana. mas ao contrário é o próprio Deus vivo que nos prepara uma festa. e ao mesmo tempo nos dá a novidade para a qual tendia por sua íntima natureza aquela oração. Por outras palavras: foi Deus que venceu. constitua até o chamado "fim-de-semana" livre. bênção. Em vastas partes do mundo existe hoje um estranho esquecimento de Deus. nos deixarmos envolver por aquele processo de transformações que o Senhor tem por finalidade. Criação e redenção caminham juntas. também um sentimento de frustração. juntamente com o esquecimento de Deus existe um "boom" do religioso. porque Ele é Amor. Eis por que chamamos a este acontecimento Eucaristia. O dia do início da criação tornava-se o dia da renovação da criação. em muitas culturas. num primeiro momento. A Eucaristia deve tornar-se o centro da nossa vida. este tempo livre permanece vazio se nele não está Deus. Quem descobriu Cristo deve conduzir a Ele os outros. Comprometámo-nos neste sentido vale a pena! Descubramos a profunda riqueza da liturgia da Igreja e a sua verdadeira grandeza: não somos nós que fazemos festa para nós. Com o amor pela Eucaristia redescobrireis também o sacramento da Reconciliação. pode parecer bastante incómodo ter que programar no domingo também a Missa. É preciso transmiti-la. que transforma os dons da terra de maneira totalmente nova na doação de si da parte de Deus e envolve-nos neste processo de transformação. Pode existir nisto também a alegria sincera da descoberta. Uma grande alegria não se pode ter para si. verificareis depois que é precisamente isto que dá o justo centro ao tempo livre. Por isso o domingo é tão importante. Contudo. ao mesmo tempo. E assim. Com isto pretende dizer: porque recebemos o mesmo Senhor e Ele nos acolhe e nos atrai para dentro de si. São eles que garantem que não se anda à procura de caminhos privados. Sei que vós. "Uma vez que há um só pão. como jovens. aspirais pelas coisas grandes. por exemplo. na qual a fé dos séculos está explicada de maneira sintética: o Catecismo da Igreja Católica. Ajudai. queridos amigos. Então deixaremos de nos adaptar a ir vivendo preocupados unicamente com nós próprios. tanto pelo que está perto como pelo que está externamente distante. é importante conhecer a fé da Igreja que nos apresenta o sentido da Escritura. mas veremos onde e como somos necessários. embora sendo muitos. por conseguinte. mas é também importante conservar a comunhão com o Papa e com os Bispos. Obviamente. Formai comunidades com base na fé! Nos últimos decénios surgiram movimentos e comunidades nas quais a força do Evangelho se faz sentir com vivacidade. o querido Papa João Paulo II. Deve mostrar-se na capacidade do perdão. São dois livros fundamentais que gostaria de recomendar a todos vós. naquela grande família de Deus que o Senhor fundou com os doze Apóstolos. existem formas de voluntariado. nos indicaram. Deve manifestar-se na disponibilidade para partilhar. É o Espírito Santo que guia a Igreja na sua fé crescente e que a fez e faz penetrar cada vez mais nas profundezas da verdade (cf. Por isso. A espontaneidade das novas comunidades é importante. Hoje. Vivendo e agindo assim bem depressa nos daremos conta de que é muito mais belo ser úteis e estar à disposição do próximo do que preocupar-se unicamente das comodidades que nos são oferecidas. Isto deve manifestar-se na vida. Jo 16. que quereis comprometer-vos por um . não podemos ignorar quantos sofrem. mas que nos diz sempre respeito de perto. juntos. Mas a religião procurada a seu "bel-prazer" no fim não nos ajuda. Procurai a comunhão na fé como companheiros de caminho que. recentemente apresentar o Compêndio desse Catecismo. 13). os livros sozinhos não são suficientes. mas que se está a viver. Se pensamos e vivemos em virtude da comunhão com Cristo. Deve manifestar-se no compromisso pelo próximo. Eu mesmo pude. então abrem-se os nossos olhos. como pioneiros. Deve manifestar-se na sensibilidade pelas necessidades do próximo. somos uma só coisa também entre nós. É cómoda. abandonar os idosos na sua solidão. deixou-nos uma obra maravilhosa. nós. que foi eleborado também a pedido do defunto Papa. 17). modelos de serviço recíproco. dos quais precisamente a nossa sociedade tem urgente necessidade.dela um proveito. João Paulo II. formamos um só corpo" diz São Paulo (1 Cor 10. ao contrário. mas no momento da crise abandona-nos a nós próprios. Não devemos. continuam a seguir o caminho da grande peregrinação que os Magos do Oriente. Devo voltar mais uma vez à Eucaristia. os homens a descobrir a verdadeira estrela que nos indica o caminho: Jesus Cristo! Procuremos nós próprios conhecê-lo sempre melhor para poder de maneira convincente guiar também os outros para Ele. é tão importante o amor pela Sagrada Escritura e. a capacidade de amar também Ele mesmo. sobretudo mediante o vosso amor. muitas vezes mais vinagre do que vinho? Autocomiseração. por conseguinte. do seu amor por Israel. na medida em que me respondes com amor". por sua vez. o pão representa tudo aquilo de que o homem tem necessidade para a sua vida quotidiana. que acabámos de ouvir. O vinho. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA DE ABERTURA DA XI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS Domingo. e tu és a minha imagem. o primeiro pensamento das leituras hodiernas é este: no homem. tornaram-se imagem também do dom do amor. conflito e indiferença? . Deus infundiu a capacidade de amar e. Ele quer ser amado por nós: um apelo semelhante não deveria. dá-nos a festa em que ultrapassamos os limites da quotidianidade: o vinho "alegra o coração". Na Sagrada Escritura. diz-nos. começa como cântico de amor: Deus criou uma vinha para si esta é uma imagem da história de amor pela humanidade. que Ele escolheu para si. E assim a leitura do profeta. Deus deseja falar ao coração do seu povo e também a cada um de nós. exprime a excelência da criação. Ele vem ao nosso encontro. Deus espera-nos. criado à sua imagem. demonstrai-o ao mundo. vem ao meu encontro. em que inauguramos o Sínodo sobre a Eucaristia. Caminhemos em frente com Cristo e vivamos a nossa vida como verdadeiros adoradores de Deus! Amém. "Eu mesmo sou o amor. que aguarda precisamente este testemunho dos discípulos de Jesus Cristo e que. Encontrará Ele uma resposta? Ou acontece connosco como aconteceu com a vinha. talvez. "Criei-te à minha imagem e semelhança". na medida em que em ti brilha o esplendor do amor. 2 de Outubro de 2005 Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio! Queridos Irmãos e Irmãs! A leitura tirada do profeta Isaías e o Evangelho deste dia expõem diante dos nossos olhos uma das grandes imagens da Sagrada Escritura: a figura da videira. que torna possível a vida. Com o cântico de amor do profeta Isaías. mas ela produziu uva azeda"? A nossa vida cristã não é. e com ele a videira. poderá descobrir a estrela que nós seguimos. tocar o nosso coração? Precisamente nesta hora em que celebramos a Eucaristia. Demonstrai-o aos homens. A água dá fertilidade à terra: é o dom fundamental. em que podemos fazer alguma experiência do sabor do Divino. da qual Deus diz em Isaías: "Ele esperou que produzisse uva. porventura.mundo melhor. diz o Salmo. o seu Criador. Assim o vinho. Portanto. a realidade do mundo e da nossa vida.Com isto chegámos. O juízo que Isaías previa realizou-se nas grandes guerras e exílios.. Este aspecto é salientado plenamente na parábola de Jesus: os arrendatários não querem ter um patrão e estes arrendatários constituem um reflexo também para nós. Também de nós pode ser tirada a luz. virei ter contigo e retirarei o teu candelabro da sua posição" (2. a quem a criação.14). a imagem muda: a videira produz uva boa. usurpamo-la. ao contrário. e agimos bem se deixarmos ressoar esta admoestação em toda a sua seriedade na nossa alma. à Europa e ao Ocidente em geral. A tolerância que. no fundo revela-se que. o Senhor anuncia o juízo à vinha infiel. Assim. pessoalmente e sozinhos. Mas depois falam também da história que aconteceu sucessivamente do fracasso do homem. automaticamente. Deus é um obstáculo para nós. não é tolerância mas hipocrisia. Com este Evangelho.. A uva azeda é. Ou faz-se dele uma simples frase devota. Deus tinha plantado videiras excelentes e. todavia. devastado pelos javalis. Porém. à Igreja na Europa. Nós homens. é o próprio Deus que é desprezado. a ponto de perder todo o significado. No Antigo Testamento. No Evangelho. Sem dúvida. banido da vida pública. Elas falam em primeiro lugar da bondade da criação de Deus e da grandeza da eleição com que Ele nos procura e nos ama. ou Ele é totalmente negado. deseja-se somente gozar do próprio poder. ao segundo pensamento fundamental das leituras hodiernas. do direito doado por Deus. pelo desprezo do homem por parte do homem. bradando ao mesmo tempo ao Senhor: "Ajuda-nos a converter- . admite Deus como opinião particular. mas que lhe rejeita o domínio público. te arrependeres. Mas a ameaça de juízo diz respeito também a nós. o Senhor brada também aos nossos ouvidos as palavras que. a violência. por obra dos Assírios e dos Babilónicos. é confiada para ser administrada. amadureceu a uva azeda. que fazem as pessoas gemer sob o jugo da injustiça. para gozar egoistamente sozinho dos frutos da terra. pode-se expulsar o Filho para fora da vinha e matá-lo. lá onde o homem se torna o único senhor do mundo e proprietário de si mesmo. o derramamento de sangue e a opressão. Porém. Espancam e matam os seus mensageiros e matam também o seu filho. Queremos ser os seus senhores. com o desprezo da Torah. O juízo anunciado pelo Senhor Jesus refere-se sobretudo à destruição de Jerusalém no ano 70. Não estão dispostos a entregá-la ao proprietário. por assim dizer. chegamos ao terceiro elemento das leituras hodiernas. Desejamos possuir o mundo e a nossa própria vida de modo ilimitado. mas os arrendatários conservam-na para si mesmos. apoderam-se daquilo que não lhes pertence. dirigiu à Igreja de Éfeso: "Se não. Mas assim a vinha transforma-se muito cedo num terreno inculto. em primeiro plano há a acusação pela violação da justiça social. 5). Sl 79. A sua motivação é simples: querem tornar-se eles mesmos proprietários. Perguntamo-nos: em que consiste esta uva azeda? A uva boa que Deus esperava diz o profeta consistiria na justiça e na rectidão. por assim dizer. como nos diz o Salmo responsorial (cf. Lá só pode predominar o arbítrio do poder e dos interesses. não pode existir a justiça. Tanto no Antigo como no Novo Testamento. no Apocalipse. 42. o próprio Cristo tornou-se a videira. forma-se um novo edifício. anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha.nos! Concede-nos a todos a graça de uma verdadeira renovação! Não permitas que se apague a tua luz no meio de nós! Reforça a nossa fé. para que dóceis ao Espírito Santo possamos ajudar o mundo a tornarse em Cristo e com Cristo a fecunda videira de Deus. a partir da Cruz Ele atrai-nos todos a si (cf. e esta videira produz sempre bom fruto: a presença do seu amor por nós." (Mt 21. que é Ele mesmo. Assim. porque Jesus a transformou num gesto oblativo. 32) e torna-nos ramos da videira. o verdadeiro êxito da história da vinha de Deus. juntamente com as diversas Comunidades das quais vindes e que aqui representais. nesta altura surge em nós a pergunta: "Mas não há qualquer promessa. Jo 12. O seu sangue é dom. estas parábolas levam finalmente ao mistério da Eucaristia. 1 Cor 11. então também nós produziremos fruto. Com estas palavras do Senhor. Na Sagrada Eucaristia. transformou o seu sangue no vinho do verdadeiro amor e assim transforma o vinho no seu sangue. Quem permanece em mim e Eu nele.. No final Ele vence. Uma alusão velada a isto já se encontra na parábola da vinha. qualquer palavra de conforto na leitura e na página evangélica de hoje? A última palavra é a ameaça?". 26). em que o Senhor nos oferece o pão da vida e o vinho do seu amor. Nós celebramos a Eucaristia. João explica-nos o último. embora não seja directamente narrada. que nela permanece presente. Também ali a morte do Filho não é o fim da história. Deste modo. Rezemos ao Senhor para que nos conceda a sua graça. é amor. 5). antecipou a sua morte e transformou-a no dom de si mesmo. os ramos. tirado do Evangelho de João: "Eu sou a videira. do descontentamento em relação a Deus e à sua criação. e por isso é o verdadeiro vinho que o Criador esperava. Da morte do Filho nasce a vida. Mas Jesus exprime esta morte mediante uma nova imagem tirada do Salmo: "A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular.. No cenáculo. mas o vinho bom da alegria de Deus e do amor ao próximo. Mas sabemos também que desta morte brota a vida. mas sobretudo para que vivamos da sua força. conscientes de que o seu preço foi a morte do Filho o sacrifício da sua vida. diz São Paulo (cf. Deus não fracassa. a nossa esperança e o nosso amor. Invoquemos este dom por intermédio de Maria. prezados Padres sinodais. num acto de amor radical. e esta é a última e essencial palavra. Amém! . e nos convida para a festa do amor eterno. Cada vez que comemos deste pão e bebemos deste cálice. Ouvimo-la no versículo do Aleluia. que em Caná mudou a água em vinho. então também de nós não sairá mais o vinagre da auto-suficiência. esse produz muito fruto" (Jo 15. Porém. para podermos produzir bons frutos!". Não! Há a promessa. que é indestrutível. Ele. mudando-a assim no íntimo: o amor venceu a morte. vós. para que nas três semanas do Sínodo que estamos a começar não somente digamos belas palavras sobre a Eucaristia. a quem saúdo com grande afecto. vence o amor. proposta pelo Evangelho de hoje e nas suas palavras conclusivas. Se permanecermos unidos a Ele. 22). num acto de amor. uma nova vinha. Sl 117. que continuou em Roma.3). e em 1938 foi ordenado sacerdote.. Sir 1. conserva-te unido a Ele e não te separes.. sinónimo por sua vez daquela felicidade realizada e eterna que é fruto da misericórdia divina. Sir 1. proveniente de Lapìo. como diz ainda o Sirácide. Precisamente no início ele escreve: "Agradeço à Santíssima Trindade ter-me criado. pela qual despendeu a sua vida. queridos e venerados Irmãos. no final de uma longa peregrinação terrena. porque este nosso irmão procurou servir fielmente a santa Igreja..14). Daqui brota a paz (cf. a alma recolhe-se numa atitude de gratidão íntima e comovida.9). na Universidade Gregoriana. "Agradeço à Santíssima Trindade. que nos vê reunidos à volta dos despojos mortais do saudoso Cardeal Giuseppe Caprio. É o mesmo sentimento de profunda confiança no Senhor da qual nos falou a primeira Leitura. Também nós. Quem vive no santo temor do Senhor encontra a verdadeira paz e... 13). tirada do Livro do Sirácide: "Vós que temeis o Senhor. na sua misericórdia.": não se encontra porventura nestas palavras a síntese da vida de um cristão? No final das jornadas terrenas. Lemos no testamento: "Agradeço [a Deus] com o coração repleto de confusão e de reconhecimento.2). na oração. ter-me chamado ao sacerdócio".. ao serviço da Santa Sé.. . ao qual damos a nossa extrema saudação. vou preparar um lugar" (Jo 14. 16). enquanto nos preparamos para oferecer pela sua alma o sacrifício eucarístico.. O jovem Giuseppe Caprio. que o conduziu de uma pequena cidade da Irpínia a várias partes do mundo e especialmente a Roma. Deus. As palavras do Senhor Jesus iluminam-nos e confortam-nos. No sábado passado ele deixou-nos. que desde os primeiros anos da minha juventude me ensinou a amar a Deus e a obedecer à sua lei". 18 de Outubro de 2005 "Não se perturbe o vosso coração.. / . 7. nesta hora de triste oração. 1. reconhecendo tudo como dom e preparando-se para o abraço definitivo com Deus-Amor. apresentou-se para servir o Senhor no Seminário de Benevento. "Meu filho. perdoe qualquer eventual culpa do amado Cardeal Caprio e o receba no seu reino de luz e de paz. 12. / a alegria eterna e a misericórdia" (2. No seu testamento reencontramos a confiança serena à qual Cristo convida os seus discípulos. para teres bom êxito no teu momento derradeiro" (Sir 2. mas rica de virtudes cristãs.HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NAS EXÉQUIAS DO CARDEAL GIUSEPPE CAPRIO Terça-feira. confiai nele / . "no dia da sua morte será abençoado" (1. nos associamos neste momento à sua acção de graças. obtendo o Diploma em teologia e a Licenciatura em Direito Canónico. contai com a prosperidade. Ali iniciou os estudos.. esperai a sua misericórdia. 1. se entrares para o serviço de Deus. O temor ao Senhor é o princípio e a plenitude da sabedoria (cf. remido e feito nascer numa família pobre de meios materiais. em 1961.centro e forma da vida sacerdotal. o período de domicílio forçado na Nunciatura em Nanquim. a Saigon. Apraz-me testemunhar aqui a devoção mariana do Cardeal Giuseppe Caprio. SOLENE CONCLUSÃO DA XI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS. a fim de que. sol sem ocaso. cada um na sua ordem: primeiro Cristo. em plena adesão ao espírito do Concílio. que é primícias. 20). os que são de Cristo (cf. entre os quais o de Substituto da Secretaria de Estado e de Presidente da Administração do Património. porque o Senhor a venceu de uma vez para sempre. reservando-lhe um lugar preparado para os seus amigos. a vida e o ministério do Cardeal Caprio encontraram o seu ponto de profunda unidade. que precisamente ali. me obtenha o perdão e a misericórdia". como. como sobressai no seu testamento: "Confio escreve a minha alma à Santíssima Virgem de Pompeia. mas que já não domina os crentes. Façamos nossa esta sua oração no actual momento de sofrimento e de profunda esperança. ao apresentá-la ao seu Filho Jesus Cristo. DO ANO DA EUCARISTIA . A presença de Cristo ressuscitado foi certamente o conforto nos momentos mais difíceis. servos fiéis do Evangelho e da Igreja. e depois regressou a Roma para o serviço directo à Sé Apostólica em importantes cargos. "último inimigo" (1 Cor 15. todos receberão a vida. em particular. a Nova Deli e. No seu testamento ele escreve: "elevo o meu pensamento reconhecido e devoto ao Sumo Pontífice. Não foi porventura da Eucaristia que o Cardeal Caprio pôde haurir a energia espiritual para aceitar dia após dia a missão que lhe foi confiada pelos Superiores e para a cumprir com amor até ao final? "Pax in virtute": o saudoso Cardeal Caprio escolheu este mote quando. nas diversas deslocações que para ele comportou o serviço diplomático da Santa Sé. rumo a Cristo. A liturgia aplica este trecho paulino à Virgem Maria na solenidade da sua Assunção ao Céu. e a sucessiva obrigação de deixar a China. isto é. ao qual devemos pagar a dívida contraída pelo pecado original. o beato Papa João XXIII o nomeou Arcebispo. "Cristo ressuscitou dos mortos. Dele foram reconhecidas a visão de conjunto dos problemas da Igreja e a preocupação constante em considerar os aspectos administrativos na sua relação com os interesses superiores. com a sua vinda. em 1951. como primícias dos que morreram" (1 Cor 15. 22-23). Apraz-me pensar. transcorreu um breve período como pró-Núncio na Índia. Depois de ter participado no Concílio Vaticano II. a Bruxelas. De Roma a Nanquim. no altar. 1 Cor 15. por fim de novo a Roma. 26). a Taipé. depois. Em Cristo. A luz de Jesus ressuscitado ilumina as trevas da morte. Com afecto e gratidão acompanhamos este nosso irmão na última viagem rumo ao Oriente verdadeiro. com a plena confiança de que Deus o receberá de braços abertos. especialmente nestes dias em que toda a Igreja está como que concentrada no mistério eucarístico. que me concedeu a insigne honra de o representar em tantos países e os quais sempre servi com fidelidade e amor filial". teu Deus. sem acrescentar um mandamento inédito.. O dúplice mandamento do amor de Deus e do próximo contém os dois aspectos de um único dinamismo do coração e da vida. 5. A Palavra do Senhor. Lv 19. Além disso celebra-se hoje o Dia Missionário Mundial. juntamente com os seus Pastores. e depois aos peregrinos vindos de várias nações. aos Padres Sinodais em primeiro lugar. para festejar os novos Santos. Assim. recorda-nos que no amor se resume toda a lei divina.E CANONIZAÇÃO DOS BEATOS: JOSÉ BILCZEWSKI CAETANO CATANOSO SIGISMUNDO GORAZDOWSKI ALBERTO HURTADO CRUCHAGA FÉLIX DE NICÓSIA HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI Praça de São Pedro Dia Missionário Mundial Domingo 23 de outubro de 2005 Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio! Queridos irmãos e irmãs! Neste XXX Domingo do tempo comum. que há pouco ressoou no Evangelho.. Dt 6. Ele comunica-nos este seu . e o religioso Capuchinho Félix de Nicósia. dedicada precisamente ao mistério eucarístico na vida e na missão da Igreja. Dirijo com alegria a minha saudação a todos os presentes. Na Eucaristia nós contemplamos o Sacramento desta síntese viva da lei: Cristo entrega-nos em si mesmo a plena realização do amor a Deus e do amor aos irmãos. A liturgia de hoje convida-nos a contemplar a Eucaristia como fonte de santidade e alimento espiritual para a nossa missão no mundo: este sumo "dom e mistério" manifesta e comunica a plenitude do amor de Deus. mas realizando em si mesmo e na própria acção salvífica a síntese viva das duas grandes palavras da antiga Aliança: "Amarás o Senhor. os presbíteros Caetano Catanoso. Concluem-se contemporaneamente o Ano da Eucaristia e a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos. a nossa Celebração eucarística enriquece-se de diversos motivos de agradecimento e de súplica a Deus. Jesus leva a cumprimento a revelação antiga. enquanto serão daqui a pouco proclamados santos cinco Beatos: o Bispo José Bilczewski." e "Amarás o próximo como a ti mesmo" (cf. Sigismundo Gorazdowski e Alberto Hurtado Cruchaga. 18). com todo o teu coração. encontro anual que desperta na Comunidade eclesial o impulso para a missão. Dedicava um tempo particularmente longo à adoração eucarística.amor quando nos alimentamos do seu Corpo e do seu Sangue. que se quis identificar com o Senhor e amar os pobres com o seu amor. oferecendolhes um ambiente familiar cheio de calor humano. São Caetano Catanoso foi cultor e apóstolo da Sagrada Face de Cristo. O santo José Bilczewski foi um homem de oração. 9).39). Fundou El Hogar de Cristo para os mais necessitados e para os sem-tecto. Por esta beleza e verdade está pronto a renunciar a tudo. estou contente". também a si mesmo. Pão vivo. que experimenta no serviço humilde e abnegado do próximo. Senhor. O santo é aquele que. 37. ainda teve forças para repetir: "Estou contente. consolidada pela oração e pela adoração da Eucaristia. a Congregação das Irmãs de São José e muitas outras instituições caritativas. sentindo-se de tal forma atraído pela beleza de Deus e pela sua perfeita verdade. deixou-se sempre guiar pelo espírito de comunhão. teu Deus. Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22. "Amarás ao Senhor. A formação que recebeu na Companhia de Jesus. o rosário e as outras práticas de piedade marcavam as suas jornadas. a meditação.. Esta conversão é o princípio do caminho de santidade que o cristão está chamado a realizar na sua existência. Pode então realizar-se em nós quanto escreve São Paulo aos Tessalonicenses na segunda Leitura de hoje: "convertestes-vos dos ídolos de Deus. A Santa Missa. alimentados por Cristo. que se revela plenamente na Eucaristia. o facto de que hoje a Igreja indique a todos os seus membros cinco novos Santos que. sendo um verdadeiro contemplativo na acção. "A Sagrada Face afirmava é a vida. Como é providencial. nesta perspectiva. progressivamente por ele é transformado. levou-o a deixar-se conquistar por Cristo. aos pobres e aos necessitados. 6-7). para servirdes o Deus vivo e verdadeiro" (1 Ts 1. sendo uma imagem viva do mestre "manso e humilde de coração". Para ele é suficiente o amor de Deus. sobretudo de quantos não são capazes de retribuir. Sigismundo Gorazdowski. eles amaram o Senhor com todo o coração e ao próximo como a si mesmos "tendo-vos assim tornado modelo para todos os crentes" (1 Ts 1. a Liturgia das Horas. No amor e na entrega total à vontade de Deus encontrou a força para o apostolado. ao fundar a Associação dos sacerdotes. Ele é a minha força". expressando assim a alegria com que sempre viveu. com todo o teu coração. entre as grandes dores da enfermidade. No seu ministério sacerdotal ele sobressaía pela sua sensibilidade e disponibilidade para com o próximo. O profundo conhecimento teológico. Foi este o programa de vida do santo Alberto Hurtado. a fé e a devoção eucarística de José Bilczeski fizeram dele um exemplo para os sacerdotes e uma testemunha para todos os fiéis.. No final dos seus dias. Com uma feliz intuição ele conjugou esta . Viver a oferta de Cristo estimulou-o a dedicar-se aos doentes. se converteram ao amor e por ele orientaram toda a sua existência! Em diversas situações e com vários carismas. Também o santo Sigismundo Gorazdowski se tornou famoso pela devoção fundada na celebração e na adoração da Eucaristia. está presente no nosso coração: ela não permanecerá sem fruto. mostrando-nos que a alegria verdadeira e duradoura. convosco e em nome de todo o Episcopado. confiadas aos seus cuidados pastorais. Assim se expressava: "Se queremos adorar a Face real de Jesus. encontramo-lo na divina Eucaristia. transmitiu o espírito de caridade. vivido e concretizado no amor ao próximo. a reavivar o seu compromisso de fidelidade. Sobre o mistério eucarístico. de humildade e de sacrifício. para glória do Pai. é fruto do amor. ao cuidado das vocações sacerdotais.devoção à piedade eucarística. acalentados no coração pela palavra do Ressuscitado e iluminados pela sua presença viva reconhecida ao partir do pão. foi gradualmente plasmado e transformado pelo amor de Deus. funda-se o celibato que os presbíteros receberam como dom precioso e sinal do amor indiviso a Deus e ao próximo. alegres e tristes: "Seja por amor de Deus". assim como aos seus sacerdotes e fiéis. aos pobres. também nós retomamos o nosso caminho animados pelo desejo ardente de testemunhar o mistério deste amor que dá esperança ao mundo. ilustre filho da terra da Sicília. ministros da Eucaristia. austero e penitente. em primeiro lugar os sacerdotes. São Félix de Nicósia amava repetir em todas as circunstâncias. Os trabalhos sinodais permitiram que aprofundássemos os aspectos salientes deste mistério dado à Igreja desde o início. onde o Corpo e Sangue de Jesus Cristo se esconde sob o branco véu da Hóstia a Face de Nosso Senhor". A Missa quotidiana e a frequente adoração do Sacramento do altar foram a alma do seu sacerdócio: com fervor e incansável caridade pastoral ele dedicou-se à pregação. à catequese. durante três semanas vivemos juntos um clima de renovado fervor eucarístico. Ao concluir-se o Ano da Eucaristia. desejo garantir a todos os Prelados chineses que os acompanhamos com a oração. Queridos e venerados Padres Sinodais. Contudo. regressaram sem hesitações a Jerusalém e tornaram-se anunciadores da ressurreição de Cristo. como não dar graças a Deus pelos numerosos dons concedidos à Igreja neste tempo? E como não retomar o convite do amado Papa João Paulo II a "recomeçar a partir de Cristo"? Como os discípulos de Emaús que.. aos doentes. Também para os leigos a espiritualidade eucarística deve ser o motor interior de todas as actividades e dicotomia alguma é admissível entre a fé e a vida na sua missão de animação cristã do mundo. Frei Félix ajuda-nos a descobrir o valor das pequenas coisas que enriquecem a vida e ensina-nos a colher o sentido da família e do serviço aos irmãos.. ao ministério das Confissões. Com profundo pesar sentimos a falta dos seus representantes. O difícil caminho das comunidades. de enviar uma saudação fraterna aos Bispos da Igreja na China. pela qual aspira o coração de cada ser humano. Gostaria agora. que ele fundou. celebrado e adorado. . Este humilde Frade capuchinho. que animou toda a sua existência. A contemplação da Eucaristia deve estimular todos os membros da Igreja. porque é uma participação no Mistério pascal. Assim podemos compreender bem quanto era intensa e concreta nele a experiência do amor de Deus revelado aos homens em Cristo. Às Irmãs Verónicas da Sagrada Face. fiel às mais genuínas expressões da tradição franciscana. estreitando-se em oração junto do Senhor e oferecendo o seu Sacrifício redentor em sufrágio dos fiéis defuntos. consciencializa-se cada vez mais de que o sacrifício de Cristo é "para todos" (Mt 26. realizando plenamente a sua missão de "sinal e instrumento. Ainda hoje. no qual a fé sublima sentimentos profundamente inscritos no coração humano. O mistério da comunhão dos santos ilumina de modo particular este mês e toda a parte final do ano litúrgico. como diz são Paulo. ajuda-nos a "permanecer" no amor de Cristo. Dócil à acção do Espírito e atenta às necessidades dos homens. De modo particular. Queridos amigos. Ajuda-nos Maria. todos devemos recomeçar a partir da Eucaristia. a inamorarmo-nos dela. por vezes até com o sacrifício da vida. para sermos por Ele intimamente renovados. Cristo continua a exortar os seus discípulos: "dai-lhes vós mesmos de comer" (Mt 14. da unidade de todo o género humano" (Lumen gentium. e vive-o. orientando a meditação sobre o destino terreno do homem à luz da Páscoa de Cristo. 28) e que a Eucaristia estimula o cristão a ser "pão repartido" para os outros. cada vez mais. farol de luz.Coloca-se bem nesta perspectiva eucarística o hodierno Dia Missionário Mundial.. sobretudo no dia do Senhor. para a qual o venerado Servo de Deus João Paulo II deu como tema de reflexão: "Missão: Pão repartido para a vida do mundo". 5). a Igreja será então.. Nela tem o seu fundamento aquela esperança que. perante as multidões. . nós hoje oferecemo-lo pelos Cardeais e Bispos que nos deixaram durante o último ano. os missionários anunciam e testemunham o Evangelho. segundo a sua vocação. A Comunidade eclesial quando celebra a Eucaristia. 1). 16) e. a comprometer-se por um mundo mais justo e fraterno. A grande família da Igreja encontra nestes dias um tempo de graça. em seu nome. de verdadeira alegria e de esperança. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA EM SUFRÁGIO PELOS CARDEAIS E BISPOS FALECIDOS DURANTE O ANO Sexta-feira. 11 de Novembro de 2005 Senhores Cardeais Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado O mês de Novembro assume uma sua peculiar tonalidade espiritual pelos dois dias com que inicia: a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos. é tal que "não desilude" (cf. A celebração hodierna insere-se neste contexto. Rm 5. Mulher eucarística. 10). neste mesmo período. que tive a honra de presidir também nos dias inesquecíveis a seguir ao falecimento do amado Papa João Paulo II. Deus veio verdadeiramente ao nosso encontro. 1). disse: "Este é o Meu sangue. O trecho do livro do Sirácide contém primeiro uma exortação à perseverança nas provações e. 6). Jaime Sin e. a Sabedoria recomenda: "Conserva-te unido a Ele ao Senhor e não te separes. precisamos de alguém que conheça bem o caminho.Fiz parte por muito tempo do Colégio Cardinalício. 3). crede também em mim" (Jo 14. conscientes de que a sua intercessão continua ainda mais intensa do Céu. Hoje confiamos ao Senhor. que Jesus pronunciou ainda na Última Ceia quando. Corrado Bafile. as dos Arcebispos e Bispos que. põe em Deus a sua confiança. concluíram a sua jornada terrena. 28). Nisto. 2). Este convite à confiança relaciona-se directamente com o início da perícope do Evangelho de são João há pouco proclamada: "Não se perturbe o vosso coração diz Jesus aos Apóstolos na Última Ceia credes em Deus. Jan Pieter Schotte. juntamente com as suas almas. . Quem confia em Jesus. entre outros muito luminosos. encontra as mais insidiosas. "Vós que temeis o Senhor. sangue da Aliança. é o equivalente de outra palavra. enviou o seu Filho. não só para o indicar a nós. o exemplo muito precioso da oração. aliás. Giuseppe Caprio. Ao homem que atravessa as vicissitudes da vida. por conseguinte. "Ninguém pode ir até ao Pai senão por por mim" (Jo 14. Nós. mas nele podemos ter fé total e incondicionada. E Deus. Nos últimos doze meses os venerados Irmãos Cardeais que passaram "para a outra margem" são cinco: Juan Carlos Aramburu. afirma Jesus. Também os "lugares" na casa do Pai são "muitos". tomando o cálice. um convite à confiança em Deus. a alegria eterna e a misericórdia" (Sir 2. 4). do qual também fui decano por dois anos e meio. mas. para teres bom êxito no teu momento derradeiro" (Sir 2. na luz da Palavra que Deus nos dirigiu nesta liturgia. como demonstra amplamante a experiência dos santos. Deus é verdadeiro Homem. Quem se coloca ao serviço do Senhor e dedica a sua vida ao mistério eclesial não está livre das provas. há menos de um mês. confiai nele. de um irmão que nos pegue pela mão e nos acompanhe até à "casa do Pai" (Jo 14. temos necessidade de um amigo. para perdão dos pecados" (Mt 26. 6). O coração humano. contai com a prosperidade. mas para se fazer ele mesmo o "caminho" (Jo 14. sinto-me particularmente ligado a esta singular comunidade. sempre inquieto enquanto não encontrar um porto seguro na sua peregrinação. Ele deixou-nos. Mas viver no temor de Deus liberta o coração de qualquer receio e emerge-o no abismo do seu amor. De facto. porque como afirma ele próprio após ter-se dirigido a Filipe ele está no Pai e o Pai está nele (cf. e também neste momento nós recolhemos a sua herança espiritual. Jo 14. no seu amor "superabundante" (Ef 2.. seres humanos. que vai ser derramado por muitos. no sentido de que junto de Deus há lugar para "todos" (cf. 2). 8-9).. considerando bem. Portanto. Elevemos juntos a oração por cada um deles. Aquele "ninguém" não admite excepções. alcança finalmente a sólida rocha onde parar e repousar. Jo 14. mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O Salmo responsorial (121/122) e a segunda Leitura (1 Jo 3. O Apóstolo João. .. ao mesmo tempo. depois de um longo caminho. a expectativa da manifestação plena desta realidade: "Agora já somos filhos de Deus. Invocamos a intercessão de são Pedro e da Bem-Aventurada Virgem Maria. Ao cantarmos juntos os Salmos. chegavam cheios de alegria às suas portas: "Que alegria quando me disseram: / "Vamos para a casa do Senhor"! / Os nossos pés detêm-se / às tuas portas. Amém. elevamos os nossos corações a Deus. convidando-nos a imitar espiritualmente os peregrinos que "subiam" à cidade santa e. repleta de gratidão. Prefácio do Advento II/A). Venerados e amados Irmãos. na medida em que são autênticos. porque o veremos tal como Ele é" (1Jo3. quando Ele se manifestar. é inestimável o dom que o Pai fez à humanidade enviando o Filho unigénito. "A quem muito foi dado diz o Senhor muito será exigido. para que preencham as lacunas devidas à fragilidade humana. ou reconduzem a Ele. não existem outros. que é tanto maior quanto mais estreita é a relação que dele deriva com Jesus. O Salmista faz-nos cantá-la como hino a Jerusalém. Missal Romano. na sua Primeira Carta. 1-2) dilatam os nossos corações com a admiração da esperança. E os que parecem "outros". A este dom corresponde uma responsabilidade. ou não levam à vida. oferecemos por eles os merecimentos da paixão e morte de Cristo. Por conseguinte. oferecemos a Divina Eucaristia pelos Purpurados e Prelados que há pouco nos precederam na passagem derradeira para a vida eterna. ó Jerusalém" (Sl 121. à qual fomos chamados. seremos semelhantes a Ele.. expressa-a comunicando-nos a certeza. na confiante esperança de poder um dia unirmo-nos a eles para gozar da plenitude da vida e da paz. muito será pedido" (Lc 12. 2). Por este motivo. com o coração voltado para este mistério de salvação. para que os acolham na casa do Pai. e a quem muito foi confiado. 48). HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CELEBRAÇÃO DAS PRIMEIRAS VÉSPERAS DO I DOMINGO DO ADVENTO 26 de Novembro de 2005 Queridos Irmãos e Irmãs! Com a celebração das Primeiras Vésperas do I Domingo do Advento iniciamos um novo Ano Litúrgico. enquanto damos graças a Deus por todos os benefícios que ele concedeu aos nossos Irmãos defuntos. colocando-nos numa atitude espiritual que caracteriza este tempo de graça: a "vigília na oração" e a "alegria no louvor" (cf. 1-2). de nos termos tornado filhos de Deus e.Jesus é o caminho aberto para "todos". escrita provavelmente no ano 51. a tua vida? Esta é a voz do Senhor. Podemos imaginar a trepidação da Virgem Maria com um grande acto de fé. a garantia que isto possa acontecer é oferecida pela fidelidade do próprio Deus. E assim. não podia imaginar como teria sido realizada esta vinda. Eis a vinda do Senhor. O bom voto consiste em que cada um seja santificado por Deus e se conserve irrepreensível em toda a sua pessoa "espírito. queria realizar a sua vinda. estava inteiramente à espera da vinda do Senhor. Trata-se de dois versículos contidos na parte conclusiva da Primeira Carta de são Paulo aos Tessalonicenses (1 Ts 5. a garantia do seu cumprimento. O que é esta vinda? Envolve-nos ou não? Para compreender o significado desta palavra e. o seu amor paterno. Nesta sua primeira carta sente-se. diz sim: "Eis a escrava do Senhor". de obediência. alma e corpo" para a vinda final do Senhor Jesus. o teu tempo. queria encarnar-se no seu ventre. O primeiro exprime os bons votos do Apóstolo à comunidade. Pelas palavras. quer entrar através de nós. a nossa vida pessoal. o coração pulsante do Apóstolo. Contudo. "vinda". da oração do Apóstolo por esta comunidade e pelas comunidades de todos os tempos também por nós devemos olhar para a pessoa graças à qual se realizou de modo único. Muito surpreendente foi para ela o momento em que o Arcanjo Gabriel entrou na sua casa e lhe disse que o Senhor. por assim dizer. o Salvador. aliás podemos dizer materno. E sente-se também a sua ansiosa preocupação para que não se apague a fé desta Igreja nova. podemos ver como realmente Ela vivia imersa nas palavras dos Profetas. circundada por um contexto cultural em muitos sentidos contrário a fé. singular. . 23-24). detenhamo-nos na breve Leitura bíblica há pouco proclamada. tornou-se "morada" do Senhor. por ela e através dela. em latim "adventus": "advento". não há somente a última vinda no final dos tempos: num certo sentido o Senhor deseja vir sempre através de nós. O conteúdo da oração que ouvimos é que sejam santos e irrepreensíveis no momento da vinda do Senhor. Talvez esperasse uma vinda na glória. Assim Paulo conclui a sua Carta com um desejo. que quer entrar também no nosso tempo. por esta nova comunidade. o segundo oferece. poderíamos até dizer com uma oração. a vinda do Senhor: a Virgem Maria. E bate à porta do nosso coração: estás disposto a conceder-me a tua carne. A palavra central desta oração é "vinda". Devemos perguntarmo-nos: o que quer dizer vinda do Senhor? Em grego é "parusia". pelos gestos narrados no Evangelho. que não deixará de realizar a obra iniciada nos crentes. Dissemos que esta vinda é singular: "a" vinda do Senhor. que nos ensina a viver em religiosa escuta da palavra de Deus. verdadeiro "templo" no mundo e "porta" através da qual o Senhor entrou na terra. Ele procura também uma morada viva. Maria pertencia àquela parte do povo de Israel que na época de Jesus esperava com todo o coração a vinda do salvador. ainda mais do que nas outras. Queremos novamente aprender isto no tempo do Advento: o Senhor possa vir também através de nós.Seguindo o exemplo de Maria Santíssima. Todavia. portanto. Esta primeira Carta aos Tessalonicenses é a primeira de todas as cartas de são Paulo. transformando antes de tudo o coração e. Diante de Cristo que vem. Assim. o homem sente-se interpelado com todo o seu ser. para se encontrar "nele" no momento do seu retorno. alma e corpo". podemos dizer que esta oração. do seu amor indefectível. para louvor e glória de Deus Pai. Pai. que ele procura inculcar nos fiéis da comunidade por ele fundada e que podemos resumir desta maneira: Deus chama-nos à comunhão consigo. mas o ser humano é chamado a corresponder com todo o seu ser. em cada pessoa se resume a inteira obra da criação e da redenção. a partir deste centro. indicando assim a inteira pessoa humana. Homem perfeito. que não nos deixa sozinhos. Filho e Espírito Santo. ou melhor. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NO 40º ANIVERSÁRIO DO ENCERRAMENTO DO CONCÍLIO VATICANO II E SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO 8 de Dezembro de 2005 Amados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio Queridos Irmãos e Irmãs! . que Deus. sem que nada dele seja excluído. que no ventre da Virgem formou Jesus. está a realizar desde o início até ao fim do cosmos e da história. todo o resto. A santificação é dom de Deus e iniciativa sua. quem realiza na pessoa humana o admirável projecto de Deus. Maria Santíssima. É precisamente o Espírito Santo. a primeira vinda de Cristo está no centro e a sua vinda gloriosa no final. E como na história da humanidade. nos ajude a fazer deste tempo do advento e de todo o novo Ano litúrgico um caminho de autêntica santificação. Virgem fiel. psíquica e espiritual. por assim dizer. está contido no presente. este bom voto expresso pelo Apóstolo contém uma verdade fundamental.Portanto. como um pai e uma mãe nunca deixam de seguir os próprios filhos no seu caminho de crescimento. não nos abandona nem sequer por um momento. que o Apóstolo resume nos termos "espírito. na presença de Deus. cada existência pessoal está chamada a comparar-se com Ele de modo misterioso e multiforme durante a peregrinação terrena. O futuro. e Ele mesmo se compromete a fazer com que cheguemos preparados a este encontro final e decisivo. como unidade articulada de dimensão somática. que se realizará plenamente com a vinda de Cristo. Filho e Espírito Santo. é muito mais do que uma moldura: é uma orientação de todo o seu caminho. remete-nos para a grande Crente que. aprende a compreendê-las (cf. dizem os Padres. prestando homenagem à Mãe de Deus. 19.. em todas as turbulências que afligem a Igreja sofredora e fatigante. segundo a vontade de João XXIII. ela é. Cristo é inseparável do seu Corpo que é a Igreja. com este título o Papa resumia a doutrina mariana do Concílio e oferecia a chave para a sua compreensão. Maria não se coloca somente numa relação singular com Cristo. entregou-se inteiramente a Cristo e. Uma moldura mariana circunda o Concílio. disse que os Padres se tinham reunido na sala do Concílio "cum Maria. um único sujeito vivo. se coloca nas mãos de Deus. Cidade do Vaticano 1966. No seu discurso por ocasião da promulgação da Constituição conciliar sobre a Igreja. permanece aos pés da cruz. 12-14). por assim dizer. Remete-nos. Act 1. quanto mais a pessoa humana se entrega. da mesma forma que ela e Cristo são inseparáveis. espontânea e repentinamente os Padres se levantaram das suas cadeiras e aplaudiram de pé. também no seu nome. Sim. Lc 2. Permanece indelével na minha memória o momento em que. Ela é o seu verdadeiro centro em que confiamos. remete-nos para a Mãe humilde que. O Concílio queria dizer-nos isto: Maria está tão entrelaçada no grande mistério da Igreja. porque Cristo é homem para os homens e todo o seu ser é um "ser para nós". pág. ao mesmo tempo. tanto mais se encontra a si mesma.Há quarenta anos. Paulo VI tinha qualificado Maria como "tutrix huius Concilii" "protectora deste Concílio" (cf. totalmente despojada de si mesma. Permanecendo totalmente unida a Cristo. como então remetia os Padres do Concílio. ouvindo as suas palavras: "Mariam Sanctissimam declaramus Matrem Ecclesiae" "declaramos Maria Santíssima Mãe da Igreja". que vive na Palavra de Deus. com Ele. no dia 8 de Dezembro de 1965. com uma alusão inconfundível à narração do Pentecostes. quando a missão do Filho o exige. Na realidade. à nossa Mãe. Oecumenicum Concilium Vaticanum II. no dia 11 de Outubro de 1962. formando juntamente com ela. e teve o seu encerramento no dia da Imaculada. na Praça diante desta Basílica de São Pedro. antecipa-a na sua pessoa e. à Mãe da Igreja. Matre Iesu" e. embora muitas vezes a sua periferia pesa na nossa alma. dele agora sairiam (Ibid. transmitido por Lucas (cf. Constitutiones Decreta Declarationes. quis tornar-se seu filho. o Filho de Deus que. reunindo-as como num mosaico. permanece sempre a sua estrela da salvação. Ele tinha sido inaugurado. então festa da Maternidade de Maria. enquanto os discípulos fogem. como homem. é entregue como dom a todos nós. Com efeito. Ela pertence também de modo integral a nós. Efectivamente. por assim dizer. que ela e a Igreja são inseparáveis. pág. para a mulher corajosa que. abandonando-se à sua vontade. para a imagem da Virgem à escuta. podemos dizer que Maria está próxima de nós como nenhum outro ser humano. A Mãe da Cabeça é também a Mãe de toda a Igreja. Como Cabeça. que conserva no seu coração as palavras que lhe vêm de Deus e. repleta de confiança.985).51). se põe de lado e. No contexto da promulgação da Constituição sobre a . Maria reflecte a Igreja. o Papa Paulo VI concluiu solenemente o Concílio Vaticano II. 983) e. ou seja. os leigos e os religiosos na sua comunhão e nos seus relacionamentos. a Virgem de Nazaré.. e como novamente parecia no tempo de Maria. Nela está presente o verdadeiro Sião. ela diz "sim" ao Senhor. A segunda imagem é muito mais difícil e obscura. Na humildade da casa de Nazaré vive o Israel santo. sobre os sacerdotes. Esta metáfora tirada do Livro do Génesis fala-nos de uma grande distância histórica. brota do tronco abatido de David. fizeram referência. Mas este aspecto "petrino" da Igreja está incluído no "mariano". Deus não fracassou. precisamente com a intenção de iluminar a estrutura interior do ensinamento sobre a Igreja. que se desenvolveu no Concílio. é "o santo resto" de Israel ao qual os profetas. Ele faz ver que Maria. mas no coração do homem vivo. 4). prenuncia-se que a linhagem da mulher e nela . da vinda do Messias. Prediz-se que durante toda a história continuará a luta entre o homem e a serpente. para podermos também nós. encontramos a essência da Igreja de modo não deformado. O Senhor habita nela. é também prenunciado que "a estirpe" da mulher um dia vencerá e esmagará a cabeça da serpente. que não habita em edifícios de pedra. Porém. Deus salvou e salva o seu povo. em todos os períodos de dificuldade e de trevas. O Concílio Vaticano II devia expressar-se acerca dos componentes institucionais da Igreja: sobre os Bispos e sobre o Pontífice. a Imaculada. Em primeiro lugar. na obscura noite invernal da história. quando Israel se tornou definitivamente um povo sem importância. Deus não fracassou. Cl 1.. da morte. É nela que se cumpre a palavra do Salmo: "A terra produziu o seu fruto" (67.Igreja. especialmente do profeta Sofonias. (é) simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação. A saudação do Anjo é tecida com fios do Antigo Testamento. assim se expressavam os Padres. segundo a palavra de são Paulo. a Imaculada"? Este título tem algo a dizer-nos? A liturgia hodierna esclarece-nos o conteúdo desta palavra com duas imagens grandiosas. e nela encontra o lugar do seu repouso. humilde mulher de província que vem de uma estirpe sacerdotal e traz em si o grande património sacerdotal de Israel. devia descrever a Igreja a caminho que. Mas agora devemos perguntar-nos: o que significa "Maria. assim como Ele quis que fôssemos desde o princípio (cf. Ela é o botão do qual deriva a árvore da redenção e dos redimidos. 8). como podia parecer já no início da história com Adão e Eva. apresentar-nos "imaculados" diante do Senhor. 21. e somente com dificuldade pode ser esclarecida. Ef 1. há a maravilhosa narração do anúncio a Maria. Ela é a casa viva de Deus. o resto puro. a morada pura e viva de Deus. Em Maria. Maria é o Israel santo. coloca-se plenamente à sua disposição e assim torna-se o templo vivo de Deus." (Lumen gentium. somente durante a história foi possível desenvolver uma compreensão mais profunda daquilo que ali é mencionado. Ela é o rebento que. "contendo pecadores no seu próprio seio. tornando-se uma nova força que orienta e impregna o mundo. numa região ocupada. o Papa Paulo VI esclareceu tudo isto mediante um novo título arraigado de modo profundo na Tradição. Do tronco abatido resplandece de novo a sua história. entre o homem e os poderes do mal e da morte. com poucos sinais reconhecíveis da sua santidade. 7). Dela devemos aprender a tornarmo-nos nós mesmos "almas eclesiais". ou durante o período do exílio babilónico. que o obriga. juntamente com a Igreja crente e orante. Ele tentado pelas palavras da serpente. não encontraremos a vida. que não lhe parece confiável. Amor não é dependência. segundo a vontade de Deus. o . se vivermos segundo a verdade do nosso ser. Não quer contar com o amor. na morte. quando O tivermos posto de lado. uma medida que está inscrita nele e que o torna imagem de Deus e. Nós vivemos do modo justo. Então. alimenta a suspeita de que Deus. O homem não deseja receber de Deus a sua existência e a plenitude da sua vida. no fundo. que faça parte do verdadeiro ser homem. e uns para os outros. chamamos pecado original. Quer haurir ele mesmo.a mulher e a própria mãe vencerá e que assim. em última análise. o pecado hereditário. ela mesma é limitada. dado que ela lhe confere o poder. tira algo da sua vida. mas a medida intrínseca da sua natureza. mas a história de todos os tempos. então poderemos começar a compreender o que é o pecado original. devemos dizer que com esta narração se descreve não só a história do princípio. mas defenderemos o interesse da morte. criatura livre. somente deste modo podemos realizar na plenitude a nossa liberdade. Qual é o quadro que nesta página nos é apresentado? O homem não confia em Deus. tem como objectivo o poder com que deseja ter nas suas mãos. Deus vencerá. e também o que é a tutela contra este pecado hereditário. de se fazer deus elevando-se ao nível d'Ele e de vencer com as próprias forças a morte e as trevas. que falte algo na sua vida: a dimensão dramática do ser autónomo. Tudo isto é narrado com imagens imortais na história do pecado original e da expulsão do homem do Paraíso terrestre. O homem vive na suspeita de que o amor de Deus cria uma dependência e que é necessário libertar-se desta dependência para ser plenamente ele mesmo. Em vez de visar o amor. em síntese. Estimados irmãos e irmãs! Se reflectirmos sinceramente sobre nós mesmos e sobre a nossa história. seja tediosa. confia na mentira e não na verdade. assim. Se nós vivermos contra o amor e contra a verdade contra Deus então destruir-nos-emos uns aos outros e aniquilaremos o mundo. mediante o homem. de modo autónomo. Precisamente na festa da Imaculada Conceição manifesta-se em nós a suspeita de que uma pessoa que não peque de modo algum. a liberdade de dizer não. mas dom que nos faz viver. e assim mergulha com a sua vida no vazio. na comunhão das liberdades: a liberdade pode desenvolver-se unicamente se vivermos do modo justo uns com os outros. Se. Porque a vontade de Deus não é para o homem uma lei imposta a partir de fora. o que é a redenção. a própria vida. da árvore da ciência. A esta gota de veneno. e que todos trazemos dentro de nós próprios uma gota do veneno daquele modo de pensar explicado nas imagens do Livro da Génesis. nos colocarmos à escuta diante deste texto. ele conta unicamente com a ciência. ou seja. o poder de plasmar o mundo. que Deus é um concorrente que limita a nossa liberdade e que nós só seremos plenamente seres humanos. portanto. Só a podemos possuir como liberdade compartilhada. E ao fazê-lo. A liberdade de um ser humano é a liberdade de um ser limitado e. todos podem dirigir-se na própria debilidade e no próprio pecado. até às montanhas e até ao meio dos espinhos e das sarças dos pecados deste mundo. porque Ela tudo compreende e para todos constitui a força aberta da bondade criativa. reservando para nós mesmos um pouco de liberdade contra Deus. pelo menos um pouco. É sobretudo isto que devemos aprender no dia da Imaculada: o homem que se abandona totalmente nas mãos de Deus não se torna um fantoche de Deus. O homem que se coloca nas mãos de Deus não se afasta dos outros. pelo contrário. Vemo-lo em Maria. porque graças a Deus e juntamente com Ele se torna grande. Ela dirige-se a nós. Contudo.W. Nela a bondade de Deus aproximou-se e aproxima-se muito de nós. para experimentar a plenitude do ser. mas o prejudica e faz com que se torne menor. v. talvez até necessário. ou seja. pensamos que o mal no fundo seja bem. O homem que recorre a Deus não se torna menor.descer às trevas do pecado e o desejar realizar sozinho. para nos tornarmos realmente nós próprios. que devemos pôr à prova esta liberdade também contra Deus. Maria está diante de nós como sinal de consolação. Assim. em última análise. tanto mais próximo está dos homens. quando diz que é a força "que deseja sempre o mal e realiza sempre o bem" (J. da Mãe que compartilha o sofrimento e o amor. não o torna mais puro nem mais rico. ele não perde a sua liberdade. É nela que Deus imprime a sua própria imagem. verdadeiramente ele mesmo. que somente então seja possível desfrutar até ao fim toda a vastidão e a profundidade do nosso ser homens. uma Mãe à qual. E assim vemos que também a imagem da Virgem das Dores. em qualquer necessidade. quando olhamos para o mundo à nossa volta. que não eleva o homem mas o rebaixa e humilha. Quanto mais próximo de Deus o homem está. Julgamos que Mefistófeles o tentador tem razão. Fausto I. O facto de Ela estar totalmente junto de Deus é a razão pela qual se encontra também próxima dos homens. Em síntese. Goethe. mas maior. é uma verdadeira imagem da Imaculada. a grande e criativa vastidão da liberdade do bem. Como Mãe que se compadece. dizendo: "Tem a coragem de ousar com Deus! Tenta! Não tenhas medo d'Ele! Tem a coragem de arriscar com a fé! Tem a coragem de arriscar com a bondade! . divino. Somente o homem que confia totalmente em Deus encontra a verdadeira liberdade. uma maçadora pessoa consencientemente. Maria é a figura antecipada e o retrato permanente do Filho. Por isso. retirando-se na sua salvação particular. Mediante o ser e o sentir juntamente com Deus. podemos ver que não é assim. deixando-se ferir pela coroa de espinhos destes pecados. para salvar a ovelha e para a reconduzir a casa. 3). pode ser a Mãe de toda a consolação e de toda a ajuda. seja um bem. que dele temos necessidade. que o mal envenena sempre. de encorajamento e de esperança. Pensamos que pactuar com o mal. só então o seu coração desperta verdadeiramente e ele torna-se uma pessoa sensível e por isso benévola e aberta. do ser verdadeiramente nós mesmos. que não o enobrece. a imagem daquela que vai à procura da ovelha perdida. o seu coração alargou-se. de Quem nesta igreja celebrei muitas vezes o Sacrifício eucarístico e administrei os Sacramentos. Recordo-me muito bem daquele 15 de Outubro de 1977.Tem a coragem de arriscar com o coração puro! Compromete-te com Deus. num sentido muito verdadeiro e concreto. em que celebrais o 60º aniversário da erecção da vossa paróquia. é realmente uma grande alegria. Esta visita a Santa Maria Consoladora. o 50º aniversário da ordenação sacerdotal do nosso caríssimo pároco Mons. Trata-se de um vínculo que não diminuiu. porque a bondade infinita de Deus jamais se esgota!". mais profundo. Um vínculo no Senhor Jesus Cristo. Enrico Pomili e o Pe. pelo facto de ser já Bispo de Roma e vosso Bispo. Ennio Appignanesi. Um laço de afecto e de amizade. Eis que nos encontramos de novo todos juntos aqui! Para mim. em particular ao vosso pároco e aos outros sacerdotes da paróquia. A partir de então. Enrico já disse se realiza neste ano. O pároco era o Pe. e finalmente o 25º aniversário de episcopado de D. Queremos pedir-lhe que ponha Maria no nosso caminho. primeira paróquia romana que visito depois do Senhor me ter chamado para ser Bispo de Roma. Ennio . é de facto para mim. quando tomei posse desta minha Igreja titular. Franco Camaldo. um retorno a casa. Enrico Pomili. 18 de Dezembro de 2005 Queridos irmãos e irmãs Para mim é realmente uma grande alegria estar aqui convosco na manhã de hoje e celebrar a Santa Missa convosco e para vós. e então verás que precisamente assim a tua vida se há-de tornar ampla e iluminada. sua Mãe e Mãe da Igreja. que realmente aqueceu o meu coração e que o aquece também hoje. queremos agradecer ao Senhor o grande sinal da sua bondade. estou particularmente feliz porque a minha visita hodierna como o Pe. que nos concedeu em Maria. quando me tornei Cardeal titular da Diocese suburbicária de Velletri e Segni. e os vice-párocos o Pe. mas repleta de surpresas infinitas. Neste dia de festa. Um laço que adquiriu uma dimensão nova e mais profunda. Amém! HOMILIA DO PAPA BENTO XVI DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NA PARÓQUIA ROMANA DE SANTA MARIA CONSOLADORA Domingo. Um laço que me uniu a todos vós. não tediosa. O mestre-de-cerimónias que me tinha sido designado era Mons. Além disso. o nosso vínculo recíproco tornou-se progressivamente mais forte. Piero Marini. como luz que nos ajuda a tornar-nos também nós luz e a levar esta luz pelas noites da história. "paz". "alegra-te". D. Saúdo o Cardeal Vigário. que para mim é uma das páginas mais bonitas da Sagrada Escritura. rejubila". O seu Magnificat é um tecido feito com os fios do Antigo Testamento. ao entrar na casa de Maria. "Kaire". dirigidas a Israel. à "filha de Sião". Dirijo uma saudação afectuosa aos vossos actuais vigários paroquiais e às religiosas de Santa Maria Consoladora. E agora o que é surpreendente. manifesta-se-lhe com clareza que é precisamente ela a . Maria". Maria. enquanto a saudação no mundo grego era "Kaire". Agora. mas também o mundo na sua totalidade. desejamos meditar brevemente o belíssimo Evangelho deste quarto Domingo do Advento. especialmente para os pobres e para as crianças. É supreendente que o Anjo. preciosas colaboradoras da paróquia e verdadeiras portadoras de misericórdia e de consolação neste bairro. e que faz Maria reflectir. E gostaria para não me prolongar demasiadamente de reflectir apenas sobre três palavras deste rico Evangelho. Com os mesmos sentimentos saúdo cada um de vós. teve lugar também a abertura ao mundo dos povos. Ennio Appignanesi. e Mons. podemos estar persuadidos de que a Santa Virgem compreendeu imediatamente que estas palavras eram do profeta Sofonias. E quando os gregos. E aqui está o primeiro elemento que surpreende: a saudação entre os judeus era "Shalom". puderam ver nele uma mensagem importante: puderam compreender que com o início do Novo Testamento. Titular desta igreja e portanto meu sucessor neste Título. que incluía não só o povo hebreu. leram este Evangelho. cumprimente com a saudação dos gregos: "Kaire". diz a Israel: "Alegra-te.Appignanesi. todos os povos. de vários modos. um ano em que temos motivos especiais para dar graças ao Senhor. à universalidade do Povo de Deus. presentes em Casal Bertone a partir de 1932. já saudámos D. Portanto. que foi vosso vigário paroquial. filha de Sião. a que se referia esta página de Lucas. Luigi Moretti. Bispo do Sector Leste de Roma. Sabemos que Maria conhecia bem as Sagradas Escrituras. se prodigalizam nos serviços paroquiais. "alegra-te". Mas é oportuno relevar imediatamente que as palavras do Anjo são a retomada de uma promessa profética do Livro do profeta Sofonias. é que tais palavras endereçadas a todo o Israel são dirigidas de modo especial a ela. outrora vosso amadíssimo pároco. Por isso. o Cardeal Ricardo Maria Carles Gordó. quarenta anos mais tarde. o Anjo diz: "Saúdo-te. todas as famílias da paróquia e aqueles que. "alegra-te. O profeta Sofonias. Mas a palavra grega subjacente. Enrico. Agora. considerada como morada de Deus. o Cardeal Giovanni Canestri. Na tradução italiana. saúdo com carinho precisamente Mons. inspirado por Deus. significa por si só "rejubila". Massimo Giustetti. Camillo Ruini. Aqui encontramos quase literalmente aquela saudação. o Senhor está contigo e acolhe-te na sua morada". e agradeço-lhe as palavras tão amáveis que me dirigiu. E assim. Nesta saudação grega do Anjo manifesta-se a nova universalidade do Reino do verdadeiro Filho de David. que foi vosso pároco. A primeira palavra que gostaria de meditar convosco é a saudação do Anjo a Maria. e o Vice-Gerente. que o sabemos desde sempre. sentiam-se circundados por numerosas divindades. que o anjo Gabriel tem com Maria. ou simplesmente nenhum Deus. Maria foi imediatamente transmitir a sua alegria à prima Isabel. e nós podemos tratar este Deus por "tu". . ama-nos. a palavra: "rejubila. têm necessidade de anestesias para poder viver. Mas quando olhamos para o mundo de hoje. de que o profeta falou. porque para eles não era claro se existia um Deus bom ou um Deus mau. talvez perigoso. E então ouviram dizer: "Rejubila. se fizessem algo em favor de uma delas. um mundo obscuro. devemos constatar que também ele é dominado pelos temores. começa realmente o Novo Testamento. não nos surpreendamos. acerca do nascimento de João Baptista. sem jamais saber como se salvar de tais forças. a outra podia ofender-se e vingar-se. de um coração vivo. Somente com este diálogo. E assim. Deus está próximo de nós. opostas entre si. onde Deus está ausente. Uma alegria deve ser comunicada. Era um mundo de medo. podemos dizer que a primeira palavra do Novo Testamento é um convite à alegria: "rejubila. pelas incertezas: é um bem ser homem. uma morada não feita de pedras. Que indicação! E assim podemos compreender que Maria começa a reflectir com particular intensidade sobre o que quer dizer esta saudação. porque o anúncio feito pelo Anjo a Zacarias. E desde que foi elevada ao Céu. porque Deus está contigo. é uma palavra que inaugura realmente um tempo novo. circundados por demónios perigosos. Assim. a Virgem. sentiu profundamente esta alegria. tão próximo que se faz criança. Portanto. alegra-te!". a alegria deve ser sempre compartilhada. Esta alegria que o homem recebeu. Esta é a primeira palavra que ressoa no Novo Testamento como tal. católicos. ou não? É realmente um bem existir? Ou porventura tudo é negativo? E na realidade vivem num mundo obscuro. com um acto de fé devemos aceitar e compreender de novo. não sintamos com vivacidade esta alegria libertadora. e que portanto o Senhor tem uma intenção especial para ela. Deus não está distante de nós. ou não? É um bem viver."filha de Sião". estes demónios nada são. está connosco". nas profundezas do coração. Mas detenhamo-nos agora sobretudo na primeira palavra: "rejubila. a qual está chamada a ser a verdadeira morada de Deus. está connosco. O Novo Testamento é verdadeiramente "Evangelho". Sobretudo o mundo grego sentiu esta novidade. não pode conservá-la somente para si mesmo. existe o Deus verdadeiro e este Deus verdadeiro é bom. viviam num mundo de medo. é uma palavra que ainda ressoa no limiar entre os dois Testamentos. uma em contraste com a outra. a ponto de temerem que. Esta é a grande alegria que o cristianismo anuncia. A religião dessa época falava-lhes de muitas divindades: por isso. a "Boa Nova" que nos traz alegria. mas de carne viva. uma palavra de redenção. Caríssimos. Conhecer este Deus é verdadeiramente a "boa nova". alegra-te!". não é desconhecido. que na realidade Deus deseja tomar como seu verdadeiro templo precisamente ela. conhece-nos. está connosco a ponto de se ter feito homem!". esta palavra libertadora: "rejubila!". Talvez nós. enigmático. com uma pequena ajuda. temos um sistema de certezas muito desenvolvido: é bom que elas existam. A terceira palavra: no fim do diálogo. coloca-se dentro desta vontade. Contudo. procuremos transmitir a alegria mais profunda. que transmite alegria. Maria volta à palavra do Anjo e sente interiormente o eco da mesma: "Não tenhas medo. confiança e bondade. segundo a tua vontade". naquele momento em que ela podia ceder ao medo. insere toda a sua existência. A única certeza válida em tais momentos é a aquela nos provém do Senhor. a nossa Mãe. sabemos que no momento do sofrimento profundo. Na realidade. e que nos convida. tornando-se a grande Consoladora. Maria diz "sim" àquela vontade divina. O verdadeiro presente de Natal é a alegria. medo da solidão e medo da morte. mas no final caímos nas mãos de Deus. havia motivo para ter medo. caminha rumo à Ressurreição. ser a mãe do Rei do Universo. também a nós. com um perdão. Oremos para que na nossa vida transpareça esta presença da alegria libertadora de Deus. Maria antecipa a terceira invocação do Pai-Nosso: "Seja feita a vossa vontade". E assim.distribui alegrias pelo mundo inteiro. tu carregas Deus. pois como era grande o peso de carregar agora o fardo do mundo sobre si mesma. com um grande "sim". em várias situações. uma vontade aparentemente demasiado grande para um ser humano. é Deus quem te carrega!". durante a vida pública. No momento em que Simeão lhe diz: "Este teu filho será um sinal de contradição. ouvindo-a de novo. e as mãos de Deus são benignas. Esta palavra: "Não tenhas medo!" sem dúvida penetrou profundamente no coração de Maria. Este é o verdadeiro compromisso do Advento: levar a alegria aos outros. a anunciar a alegria. Em particular. se desencadeiam as contradições ao redor de Jesus. Maria responde ao Anjo: "Eu sou a Serva do Senhor. Não tenhas medo!". e não as prendas caras que exigem tempo e dinheiro. esta palavra. Nós podemos vacilar. mas Deus carrega-te a ti. e o júbilo distribuído voltará para nós. Neste nosso mundo. Nós podemos transmitir esta alegria de modo simples: com um sorriso. a Virgem voltou a reflectir esta palavra. uma espada traspassará o teu coração". ela volta a pensar: "Não tenhas medo!" e prossegue em frente. Maria diz-nos. corajosamente. na vontade de Deus e assim abre a porta do mundo a . com um gesto bom. no encontro ao longo do caminho do Calvário e depois aos pés da Cruz. sustentada pela fé. permanece ao lado do Filho moribundo e. Por fim. a de ter conhecido Deus em Cristo. nenhuma certeza poderá proteger-nos. que nos diz também a nós: "Não tenhas medo. quando tudo parece terminado. A segunda palavra que gostaria de meditar é também do Anjo: "Não tenhas medo. Já recordei que este nosso mundo é um mundo de temores: medo da miséria e da pobreza. E quando. ela volta a ouvir no coração a palavra do Anjo: "Não tenhas medo!". Ela diz "sim" à grande vontade de Deus. eu estou sempre contigo". Assim. diz ele. Nós podemos imaginar como. Levemos esta alegria. também a nós. e muitos dizem: "É louco". "Não tenhas medo!". Faça-se em mim. na hora da última solidão da morte. ao Pentecostes e à fundação da nova família da Igreja. Maria!". medo das enfermidades e dos sofrimentos. ser a mãe do Filho de Deus! Um peso acima das forças de um ser humano! Mas o Anjo diz: "Não tenhas medo! Sim. que nos conceda também esta alegria de estar com Deus e que nos oriente rumo ao seu Filho. também tu diz: "Seja feita a tua vontade". 24 de Dezembro de 2005 «O Senhor disse-Me: “Tu és meu filho. as portas deste mundo. o Filho de Deus. a vontade de Deus concede-nos asas para voar alto. também a nós.Deus. e assim com Maria também nós podemos ousar abrir a Deus a porta da nossa vida. Somos tentados a preferir a nossa vontade. Ele é Pai. O hoje eterno de Deus desceu ao hoje efémero do mundo e arrasta o nosso hoje passageiro para o hoje perene de Deus. nossa Mãe. . Outrora. Inicialmente. É a Ele que o Pai diz: «Tu és meu filho». Na noite de Belém. à Vida verdadeira. O Menino no presépio é verdadeiramente o Filho de Deus. este Salmo pertencia ao ritual da coroação dos reis de Judá. para que O possamos amar. Adão e Eva. porque esta vontade é boa". Com estas palavras do Salmo segundo. que de facto eram mais a expressão duma esperança que realidade presente. ganharam um sentido novo e inesperado. tinham fechado esta porta. para que nos infunda a coragem de pronunciar este "sim". pode parecer um peso insuportável. um jugo que não é possível carregar. dizendo "sim" à sua vontade. no qual o rei ficava. sentia-se de modo particular filho de Deus. Mais ainda: em Jesus Cristo. mas na realidade. O povo de Israel. por causa da sua eleição. com o seu "não" à vontade de Deus. adoptado por Deus. Eu hoje Te gerei”». a pronunciar este "sim". Deus não é perene solidão. Deus é tão bom que renuncia ao seu esplendor divino e desce ao estábulo para que O possamos encontrar e. na qual celebramos o nascimento do nosso Redentor Jesus Cristo no estábulo de Belém. a Igreja dá início à Santa Missa da vigília de Natal. Deus é tão grande que Se pode fazer pequeno. Deus é tão poderoso que Se pode fazer inerme e vir ter connosco como menino indefeso. mas Ela diznos: "Tem coragem. mas um círculo de amor no recíproco dar-se e um dar-se sem cessar. estas palavras. Oremos a Maria Consoladora. que às vezes parece tão difícil. Filho e Espírito Santo. a sua entronização era vivida como um acto solene de adopção por parte de Deus. a vontade de Deus não é um peso. o próprio Deus Se fez homem. envolvido no próprio mistério de Deus. Uma vez que o rei era a personificação daquele povo. de certo modo. Amém! MISSA DA MEIA NOITE SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI Basílica Vaticana Sábado. "Seja feita a vontade de Deus": Maria convida-nos. conscientes de que esta vontade é o verdadeiro bem e nos orienta para a felicidade autêntica. Mãe da Igreja. 1). Eu hoje Te gerei». Onde há amor. A palavra «luz» permeia toda a liturgia desta Santa Missa. de amor. tornarmo-nos semelhantes a Ele. Ao longo de todos os séculos. para nos dizer: o verdadeiro mistério do Natal é o esplendor interior que irradia deste Menino. todos nós levemos. Ouçamos uma segunda palavra da liturgia desta Noite santa. o mundo permanece na escuridão. Deus mostra a sua glória – a glória do amor. Se olharmos os Santos – desde Paulo e Agostinho até São Francisco e São Domingos. um rasto de luz. 11). aí irradia a luz pelo mundo. escolheu o Menino no presépio: Deus é assim. Onde aparece a glória de Deus. naquele Menino. 9). Deste modo. aí desabrochou também a caridade – a bondade para com todos. E em todo o menino brilha algo da luz daquele hoje. a sua bondade chegue também a nós. Além disso. desde Francisco Xavier e Teresa de Ávila até à Irmã Teresa de Calcutá – vemos esta corrente de bondade. Deixemos que se comunique a nós esse esplendor interior. a luz ao mundo! Não deixemos que esta chama luminosa se apague por causa das correntes frias do nosso tempo! Guardemo-la fielmente e demo-la aos outros! Nesta noite. Mas luz significa sobretudo conhecimento. de verdade atravessa os séculos. envolveu homens e mulheres. este caminho de luz que se inflama. Por fim. aprendemos a conhecê-Lo. apareceu a grande luz que o mundo espera. Juntamente com a árvore de Natal. no mistério de Belém.assim. da proximidade de Deus que devemos amar e à qual nos devemos submeter – em todo o menino. 5). tomada agora do Livro do profeta Isaías: «Para os que habitavam na terra da escuridão. Onde despontou a fé naquele Menino. o Evangelho narra-nos que apareceu a glória de Deus aos pastores e «cercou-os de luz» (Lc 2. significa verdade em contraposição com a escuridão da mentira e da ignorância. A luz é fonte de vida. a graça do perdão. a mesma coisa que o hebraico exprime com as palavras «uma luz brilhou»: a «manifestação» – a «epifania» – é a irrupção da luz divina no mundo cheio de escuridão e de problemas insolúveis. uma luz começou a brilhar» (9. A palavra «manifestou-se» diz. a carinhosa atenção pelos débeis e os doentes. a luz significa também amor. Contra a violência deste mundo. «cercou-os de luz». que acenda no nosso coração a chama da bondade de Deus. Como próprio sinal. onde há ódio. para que nós pudéssemos viver com Ele. A luz de Belém nunca mais se apagou. Aparece um novo aceno no texto da carta de São Paulo a Tito: «Manifestou-se a graça» (2. no estábulo de Belém. Naquele Menino deitado na manjedoura. Deus opõe. diz-nos São João (1 Jo 1. A partir de Belém. naquele Deus que Se fez Menino. «Deus é luz e n’Ele não há trevas». . a luz faz-nos viver. É verdade. sempre de novo. a sua bondade e chamanos a seguir o Menino. em língua grega e neste contexto. com o nosso amor. Deste modo. Deus tornou-Se um de nós. indica-nos a estrada. os nossos amigos austríacos trouxeram-nos também uma pequena chama que tinham aceso em Belém. levanta-se uma luz no mundo. em que Ele mesmo Se entrega em dom e Se despoja de toda a grandeza para nos conduzir pelo caminho do amor. em que voltamos o nosso olhar para Belém. O Natal é isto: «Tu és meu Filho. se nos comunique e continue a agir por nosso intermédio. enquanto gera calor. mesmo na criança ainda não nascida. etc. diz-se: «A paz não terá fim». o seu coração estava aberto. pelo menos sofrem com isso. Peçamos-Lhe para fazer com que não encontre fechado o nosso coração. Mas. nas palavras de Jesus. Isaías chama-Lhe «Príncipe da paz». E isto é o que interessa a Deus. Pensam que não têm necessidade de Deus. perto das suas ovelhas. estende-se uma rede de paz sobre o mundo inteiro. Dá-no-la para . A propósito do seu reino. Eram almas simples. A sua vida não estava fechada em si mesma. e com ela a sua paz. a palavra paz assumiu entre os cristãos um significado de todo especial: tornou-se um nome para designar a Eucaristia. Que significa esta mudança? Deixou de ter valor a boa vontade? Ponhamos melhor a questão: Quais são os homens que Deus ama e porque é que os ama? Porventura Deus é parcial? Porventura ama apenas certas pessoas. De certo modo. deixando as outras entregues a si mesmas? O Evangelho responde a estas perguntas. eram considerados pouco sérios e. está presente a paz de Cristo. que moralmente talvez sejam igualmente miseráveis e pecadores. Outrora lia-se: «…aos homens de boa vontade». não eram admitidos como testemunhas. Há pessoas individuais – Maria. Simeão. Cristo dá-Se a nós. no mais fundo de si mesmos. O Evangelho evidencia uma característica que mais tarde. diz-se: «…aos homens que Ele ama». algumas pessoas têm a sua alma fechada. As comunidades reunidas à volta da Eucaristia constituem um reino da paz largo como o mundo. Quando celebramos a Eucaristia. Estavam à espera da luz que lhes indicasse o caminho. em tribunal. Deus procura pessoas que levem e comuniquem a sua paz. o seu amor não encontra qualquer acesso a eles. José. Ele ama a todos. porque todos são criaturas suas. No Evangelho. este ângulo da terra que. embora não tenham uma ideia precisa dela. encontramo-nos em Belém. Sabem que têm necessidade da sua bondade. se por este termo entendemos pessoas de virtudes heróicas. estavam à espera d’Ele. não O querem. Que espécie de homens são eles? No seu ambiente. Isabel. detenhamo-nos nos pastores. quem eram na realidade? Certamente não eram grandes santos. Mas vale também num sentido mais profundo: estavam disponíveis à palavra de Deus. Ana. na nova tradução. Através de todos os lugares onde se celebra a Eucaristia. disponibilidade para se porem caminho. Senhor.queremos também rezar de modo especial pelo lugar do nascimento do nosso Redentor e pelos homens que lá vivem e sofrem. como pátria vossa. Nesta. os pastores eram desprezados. mostrando-nos algumas pessoas concretas amadas por Deus. Nesta noite. Mas. A sua vigilância era disponibilidade – disponibilidade para ouvirem. Estes esperam Deus. e assim nos dá a sua paz. Zacarias. Mas há também dois grupos de pessoas: os pastores e os sábios do Oriente. No seu íntimo. Esforcemo-nos por nos tornarmos capazes de ser portadores activos da sua paz – precisamente no nosso tempo. havia de ter um papel importante: eram pessoas vigilantes. Ao Menino que anuncia. tanto amais! Fazei que resplandeça lá a vossa luz! Fazei que lá chegue a paz! Com o termo «paz». Outros. Queremos rezar pela paz na Terra Santa: Olhai. os chamados reis magos. Além disso. a luz de Deus pode entrar. é anunciado aos pastores: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra…». na «casa do pão». aberto à expectativa. chegamos à terceira palavra-mestra da liturgia desta Noite santa. Isto vale primariamente em sentido exterior: de noite vigiavam. 31 de Dezembro de 2005 Caros irmãos e irmãs No final de um ano. De Civitate Dei. XVIII. esta noite encontramo-nos juntos para elevar um hino de agradecimento a Deus. é testemunha fiel de um amor que não morre. onde reinar o ódio! Fazei que surja a luz.. transbordando em acções de graças" (Cl 2. supera "as aflições e dificuldades internas e externas". 8). onde houver discórdia. o mistério do seu Senhor. em Cristo. com paciência e com amor. Senhor do tempo e da história. 17). Meu pensamento dirige-se. o amado Papa João Paulo II. louvar e agradecer Àquele que. 51. onde dominarem as trevas! Fazei que nos tornemos portadores da vossa paz! Amen. até ao dia em que finalmente resplandecerá na plenitude da luz" (Lumen gentium. Deste modo. suplicamos: Senhor. pela última vez. ao longo dos séculos. 2). mesmo que sob a sombra dos sinais.. Sim. e revela "fielmente ao mundo. de um amor que envolve os homens de qualquer raça e cultura. Como recorda o Concílio Vaticano II. Corpo do Senhor e templo do Espírito Santo e. cabeça de todos.. agora é a minha vez de recolher idealmente de todas as partes da terra o cântico de louvor e de agradecimento que se eleva a Deus. se fez voz do Povo de Deus para dar graças ao Senhor pelos numerosos benefícios concedidos à Igreja e à humanidade. Na mesma sugestiva moldura da Basílica Vaticana.. Sustentada pelo Espírito Santo. A Igreja vive de Cristo e com . haurindo força da ajuda do Senhor. "a Igreja simultaneamente ora e trabalha para que toda a humanidade se transforme em povo de Deus. Por isso. ao concluir-se o ano de 2005 e na vigília de 2006. é nosso dever. podemos dizer que a Igreja vive para louvar e agradecer a Deus. 6-7). mais do que uma necessidade do coração. há doze meses quando. disseminando de modo fecundo princípios de verdadeira vida. eterno. se dê ao Pai e Criador de todas as coisas toda a honra e toda a glória" (Lumen gentium. para que nos tornemos obreiros de paz e contribuamos assim para a paz no mundo. PRIMEIRAS VÉSPERAS DA SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS E RECITAÇÃO DO "TE DEUM" HOMILIA DO PAPA BENTO XVI Sábado. firmes na fé. com profundo e espiritual sentimento.que levemos a luz da paz no nosso íntimo e a comuniquemos aos outros. nos acompanha no tempo sem jamais nos abandonar e vigia sempre sobre a humanidade com a fidelidade do seu amor misericordioso. que para a Igreja e para o mundo foi riquíssimo de acontecimentos. realizai a vossa promessa! Fazei que. ao lembrar do mandamento do Apóstolo: "Caminhai. como nesta noite. nasça a paz! Fazei que desponte o amor. Portanto. ela "prossegue a sua peregrinação entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus (Santo Agostinho. Esta mesma "acção de graças". e renovo a todos a expressão da minha proximidade espiritual. foi visitada por muitas Igrejas e Comunidades eclesiais. para aprofundar o diálogo da verdade na caridade. faço-me voz sobretudo da Igreja de Roma. nos doze meses transcorridos. No que diz respeito ao caminho da Diocese de Roma. acompanha o caminho do homem. os Bispos Auxiliares. Enquanto consideramos os múltiplos acontecimentos que assinalaram o decurso dos meses neste ano que se está a concluir. para a defender e promover? A Igreja quer ser sempre acolhedora. que é realizada nas paróquias. para que aqueles que acolhem Cristo tenham vida e a tenham em abundância. em particular de João Paulo II. ou são vítimas involuntárias de interesses egoístas. e em muitas ocasiões repetiu. fazendo dela uma oração coral. quantos perderam a esperança num fundado sentido da própria existência. com a plenitude dos seus dons. e ela. Também muitos crentes de outras religiões quiseram testemunhar a própria estima cordial e fraterna a esta Igreja e ao seu Bispo.Cristo. também eu quis oferecer a minha contribuição intervindo. que une todos os baptizados e experimentar juntas o mais vivo desejo da plena comunhão. quero lembrar de modo especial quem se encontra em dificuldade: as pessoas mais pobres e abandonadas. para elevar ao Céu o cântico comum de louvor e de acção de graças. conscientes de que no encontro sereno e respeitoso subjaz um espírito de acção concorde a favor da humanidade inteira. No início desta celebração. que a crise da família constitui um grave dano para a nossa civilização. sem que se lhes peça a adesão ou opinião. cantámos juntos com fé o "Te Deum". que a ela dedicou múltiplas intervenções. Esta noite. Ela. os sacerdotes. guiando-a ao longo dos séculos. São muitos os motivos que tornam intensa a nossa acção de graças. Estendo o meu pensamento à inteira comunidade romana. agrada-me deter-me brevemente sobre o programa pastoral diocesano. os religiosos e os fiéis leigos provenientes das várias paróquias. a nossa Igreja de Roma. na tarde de 6 de Junho passado. escolhendo como tema: "Família e comunidade cristã: formação da pessoa e transmissão da fé". na verdade e na caridade. que este ano fixou a sua atenção na família. nas prefeituras e nas várias agregações eclesiais. no Congresso diocesano de São João de Latrão. . E o que dizer de tantas pessoas de boa vontade que dirigiram o próprio olhar para esta Sede com a vontade de um diálogo profícuo sobre os grandes valores concernentes à verdade do homem e da vida. Permita o Senhor que o esforço comum conduza a uma renovação autêntica das famílias cristãs. Aproveito a ocasião para saudar os representantes da Comunidade religiosa e civil de Roma presentes nesta celebração de fim de ano. Ele estava convicto. iluminados pela Palavra de Deus. A família sempre esteve no centro da atenção dos meus venerados Predecessores. Ele oferece-lhe o seu amor esponsal. Em primeiro lugar saúdo o Cardeal Vigário. Estou feliz porque o programa da Diocese está a desenvolver-se positivamente com uma minuciosa acção apostólica. Precisamente para acentuar a importância da família fundada sobre o matrimónio na vida da Igreja e da sociedade. da qual o Senhor me chamou para ser Pastor. saúdo também o Presidente da Câmara Municipal da Cidade e as demais Autoridades. Theotókos. Peçamos a Maria que interceda por nós. a Ele entreguemos a nossa aspiração para que cada pessoa seja acolhida na própria dignidade de filho de Deus. A oito dias do nascimento de Jesus. A sua materna protecção nos acompanhe hoje e sempre. Ao despedirmo-nos do ano que se encerra e encaminharmo-nos para o novo. Mãe de Deus. que veio habitar no meio de nós. que sabe dirigir todas as coisas para o bem.Fazendo nossos os seus sofrimentos. para que Cristo nos acolha um dia na sua glória. Ao Senhor da vida peçamos para aliviar com a sua graça as penas provocadas pelo mal e para continuar a dar vigor à nossa existência terrena. doando-nos o Pão e o Vinho da salvação. Amém! . mas também quem ajuda e ensina a viver. o seu corpo. a liturgia destas primeiras Vésperas introduz-nos na festa de Maria. E é ela que nos apresenta o Verbo eterno do Pai. 4) foi escolhida por Deus para ser a Mãe do Salvador. para sustentar o nosso caminho rumo à pátria do Céu. celebramos Aquela que "quando chegou a plenitude do tempo" (Gl 4. confiemos-las a Deus. Mãe de Jesus. na assembleia dos Santos: Aeterna fac cum sanctis tuis in gloria numerari. a quem deu o seu sangue. Maria é Mãe. Mãe é quem dá a vida.
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