Caicó/RN em papel e tinta: representações da cidade no jornal A Fôlha (1954-1958) Marcos Antônio Alves de Araújo1 Resumo:Partindo da perspectiva de que as cidades são representadas através de várias formas e expressas por meio de múltiplas linguagens humanas, objetivamos nesse artigo, tentar perceber as representações da cidade de Caicó/RN impressas nas páginas semanais do Jornal A Fôlha, durante os anos de 1954 a 1958. Diante disso, compreender a complexidade do espaço urbano de Caicó, representada nesse Jornal, se apresenta como uma tarefa escolhida por nós, na escrita e produção deste artigo. Para a composição desse corpo textual, utilizamos como metodologia, a leitura e a análise do discurso jornalístico publicado no periódico A Fôlha, sobretudo aquele referente às representações urbanas. Nesse sentido, após a realização das pesquisas nessa fonte histórica, atinamos que Caicó era representado e impresso pelo discurso jornalístico d’A Fôlha, como sendo uma cidade que, embora estivesse, na década de 50 do século XX, ordenada sob os moldes de uma moral cristã, se encontrava bifurcada entre o velho e o novo, o tradicional e o moderno, o padrão e o desvio, enfim, entre a norma e a transgressão. Assim, essa cidade, edificada sob pilares de uma tradição regional, ia, gradativamente, incorporando ao seu território urbano, signos da modernidade, novos equipamentos e serviços instalados que transformavam a paisagem da cidade e, conseqüentemente, modificavam o cotidiano de seus sujeitos praticantes. Palavras-Chave: Cidade, Espaço e Caicó. Abstract: Leaving of the perspective of that the cities are represented through some forms and express by means of multiple languages human beings, we objectify in this article, to try to perceive the representations of the city of Caicó/RN printed in the weekly pages of the periodical A Fôlha, during the years of 1954 the 1958. Ahead of this, to understand the complexity of the urban space of Caicó, represented in this periodical, if presents as a task chosen for us, in the writing and production of this article. For the composition of this literal body, we use as methodology, the reading and the analysis of the journalistic speech published in the periodic A Fôlha, over all that referring one to the urban representations. In this direction, after the accomplishment of the research in this historical source, we hit upon that Caicó was represented and printed matter for the journalistic speech of A Fôlha, as being a city that, even so was, in the decade of 50 of century XX, commanded under the molds of a Christian moral, if it found branched off between old and the new, traditional and the modern, the standard and the shunting line, at last, between the norm and the trespass. Thus, this city, built under pillars of a regional tradition, went, gradual, incorporating its urban territory, signs of modernity, new equipment and installed services that transformed the landscape of the city and, consequently, modified the daily one of its practicing citizens. Keywords: City, Space and Caicó. Geógrafo, mestre em Geografia e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN. E-mail:
[email protected] 1 Rev. Espacialidades [online ]. 2010, vol. 3, n. 2. 2 1 INTRODUÇÃO Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas das mãos, escritas em ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimões das escadas, nas antenas de pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelhas, entalhes, esfoladuras. Ítalo Calvino (1990) Nos últimos decênios, a cidade vem sendo objeto de estudo de diversos artesãos do saber e de distintos ramos do conhecimento científico, que despertados por suas curiosidades, mistérios, complexidades, medos, paradoxos e desejos, tecem, a partir de suas “agulhas teóricas”, reflexões, diálogos e discussões, a fim de desvendar, ou mesmo decifrar, um fragmento do emaranhado de questões e sinais que perpassam o seu âmbito. Desta forma, muito já se tem sido escrito sobre a urbe brasileira e mundial. Entre as inúmeras cidades que receberam certa atenção dos estudiosos, destacam-se as seguintes: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Campina Grande, Porto Alegre, Berlim, Nova York, Paris, Londres, Viena, dentre outras. Entremetentes, as escalpelações científicas que têm como objeto principal a cidade, têm passado, no transcorrer do tempo, por constantes mutações, denunciando a diversidade de olhares, mais precisamente aqueles que são lançados para a cidade moderna. Depois de repisadas leituras sobre o espaço citadino, temos a impressão, conforme aponta Sousa (2001, p. 1), da existência de fisionomias também heterogêneas, que têm marcado com mais inércia a historiografia brasileira e mundial nos últimos tempos, tais como: “cidade do progresso e civilização para certos olhares, cidade de capital e dos conflitos sociais para uns, cidade do espetáculo para outros, e ainda cidade disciplinar [...]”. Os estudos acerca da cidade começaram a ganhar relevância e proeminência no universo da produção acadêmica, mormente de antropólogos, historiadores, geógrafos, urbanistas e sociólogos, a partir do momento em que a sociedade passou a ocupar preponderantemente os espaços, do que hoje conhecemos por espaços urbanos. Em termos de Brasil, a apropriação dos espaços urbanos foi recrudescida e verticalizada após os anos 50 do século XX, com o processo de crescimento econômico, pautado na industrialização. A implementação desse processo levou uma considerável miríade de pessoas a buscar a urbe como espaço de residência, ocasionando, desse modo, uma Rev. Espacialidades [online ]. 2010, vol. 3, n. 2. Por entre as inúmeras artérias que atravessam.] de funções. natureza [. p. 3). ferro. símbolos. vol. 2005. assim como é prática de conferir sentidos e significados ao espaço e ao tempo. cimento. circulam sujeitos. visibilizada em tempos pretéritos como um organismo vivo.. vidro. À primeira vista. em proscênios onde são contracenados processos de urbanização caóticos.].. sensibilidades. . personagens. 2002. emoções e subjetividades. 3. sentimentos. p.. por trás dessa materialidade há essências. embora cada uma tenha suas devidas particularidades. Marcas que registram uma ação social de domínio e transformação. enfim [. espaço construído” (PESAVENTO. tijolo. Portanto. Rev. ao mesmo tempo que possibilita a gestão coletiva” (DANTAS. 24). as cidades brasileiras vêm se constituindo. que se realizam na e por causa da cidade” (PESAVENTO. que passaram a migrar das cartografias rurais para os territórios citadinos. Indubitavelmente.]. devaneios e perspectivas que ora são “fecundados” e “gestados”. 2002. a cidade é edificação de um “ethos. ora são simplesmente “abortados” e extirpados. 2010. Espacialidades [online ]. imaginamos que a cidade é formada por apenas um conteúdo morfológico. madeira. a cidade. Por isso. 24).. p. que implica na atribuição de valores ao que se convenciona chamar de urbano. materialidade erigida pela labuta humana. composta de “pedra. no tempo. morada dos deuses e demônios que garantem o controle de um território. É sociabilidade.. É ainda.]” (PESAVENTO. edificada somente por uma estrutura material. desejos e medos. práticas de interação e de oposição. a cidade é. sonhos. 2002. segrega e condena uma grande parte da população a maneiras pétreas de sobrevivência e condição humana. p. comportando sujeitos e liames sociais. a partir de sua ação sobre a natureza.. A cidade. andarilhos.. 2. nos últimos tempos. 24). dilaceram e esquartejam os espaços da cidade. Imbuída por uma conjunção de dados (des)harmônicos e (des)afinados.3 inversão no sentido de fixação dos habitantes. frutos do próprio crescimento econômico desigual que. se configura em uma multiplicidade de espaços marcados pela justaposição “[. é expressão de utopias. de um espaço natural” (PESAVENTO. caminhos. 2002. “grupos. “percepção de emoções e sentimentos. mormente. transeuntes. abriga em seu “ventre”. peremptoriamente. é produção de imagens e discursos que se colocam no lugar da materialidade e do social e que os representam [. p. Entretanto.. 24). n. p. o passado e o presente. caminharemos por trajetos distintos. a razão e a sensibilidade. a guerra e a paz. um hipertexto. Dessa maneira. personagens que urdem. é edificada por desejos e medos. Destarte. escavando as camadas de memória que se sobrepõem. 109). imagens. se imbricam e se dissolvem em suas paisagens urbanas. Ítalo Calvino (1990. No “cósmico” calidoscópico da cidade. e confundem o observador desatento”. 2. aberto e complexo da realidade. escrita diariamente em suas diversas páginas. a cidade é um palimpsesto. n. que permite a construção e permanência de identificações e práticas culturais de grupos ou agregados sociais diversos” (COSTA. a disciplina e a burla. constroem. como os sonhos. faz-se mister uma opção. pois não adianta libertar a cidade do minotauro e deixá-la entregue à tirania da realidade” (DANTAS. produzem e tramam no espaçotempo da urbe. o conflito e a harmonia. p. eventos e micro-eventos. e o arcaico e o moderno. p. as suas perspectivas enganosas. 7). indivíduos.4 praticantes. ao discorrer sobre as imagens e memórias que o jovem embaixador veneziano Marco Pólo encontra em suas missões e viagens diplomáticas realizadas pelo império do grande Kublai Khan. a paixão e o ódio. p. 2005. Todavia. que as suas regras sejam absurdas. 3. apreender a cidade é acicatar mecanismos e dispositivos “capazes de viabilizar um convívio mais democrático.44). histórias e micro-histórias. lembranças e esquecimentos. 2005. inculca que a cidade. em que cada aspecto da existência humana passa a ser expresso Rev. subjetividades. segundo Dantas (2005. Ciente de que na tentativa de perscrutar a cidade e de descortiná-la em suas diversas faces. o lugar e o não-lugar. a vida e a morte. polifonias. “ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto. vol. . sentimentos. 2010. um mosaico de vidas. a regra e o desvio. e que todas as coisas escondam uma outra coisa”. a diversidade e a singularidade. Em As cidades invisíveis. o efêmero e o permanente. Espacialidades [online ]. se entrecruzam. 7). Por representação. é extremamente pertinente deixarse guiar pelo campo metafórico aproximativo incursionando por sendas que “possibilitem ‘desvendar/encobrir’ as práticas que alimentam a arqueologia citadina. o silêncio e o ruído. Entre as múltiplas maneiras pelas quais é possível compreendê-la ou desnudá-la. a cidade se constitui em um emaranhado complexo de “apropriações espaciais. a ordem e o caos. Nesse contexto. compreendemos como algo que pode ser caracterizado como a imagem do mundo. está a perspectiva da representação do seu espaço urbano. que existe representando o real. cientificas ou filosóficas. traz uma imagem do espaço. seja ela oriunda das interpretações racionais. Mas. A representação se evidencia como o “[. n. inventam e reinventam uma multiplicidade de mecanismos. o próprio real. recriam.. 79). certamente parcial. que são sempre. anterior aos textos. Pouco a pouco ocupa o centro de nossas cenas científicas”. em última ou em primeira instância. considerada um elemento discursivo “contextual. Nesse sentido. Não obstante. estes criam..5 simbolicamente. não são “ornamentos anódinos e nem têm como princípio a indiferença e passividade. a uma “dada” regra. fisionomias. textos. induzem a certas condutas e afastam outras” (SEIXAS. “homogêneos e 2 Para Certeau (1994). ao mesmo tempo.. suscitada através de um sistema de idéias e imagens. Partindo da premissa de que representar se constituiria numa construção que os homens ordinários2 realizam na apropriação de objetos e de espaços. mas. BRESCIANI. Rev. p. Atinar essa representação citadina é navegar nas circunscrições de seus discursos.] resultado de uma interação social de relações complexas existentes no interior da cidade por diversos segmentos sociais” (SILVA. elas provocam sensações e sentimentos. ordinários para ser extraordinários. nas representações escritas vai progredindo. os homens ordinários são aqueles que estão. ao perceber a cidade como uma representação. Caminhante inumerável. hipertextos e enunciados. místicas. se não imperfeito. Nem os espera.) Este herói anônimo vem de muito longe. Ferrara (1986. mas só se realiza no encontro com o sujeito” (MARANDOLA.. composições. perlustramos suas diversas formas. p. em um determinado momento. práticas. 2006. de dispositivos e de artes de burlar essa ordem. mais exigente de todo processo de comunicação é o próprio universo. 3. Ainda de acordo com Certeau (1994. É o murmúrio das sociedades. não o refletindo. toda representação é gesto que codifica o universo. a uma tal disciplina. bem como as imagens. As representações. artes. a representação é emanada para compreender o mundo. p. . p. Imaginária ou simbólica. porque este objeto não pode ser exaurido. deixando de ser. vol. ou seja. 57). aparentemente. Personagem disseminado. submetidos a uma certa ordem. os homens ordinários não são apenas passivos a essa ordem imposta. 2004. objetivas. 7) enfatiza que: Toda representação é uma imagem. (. Dessa presença decorre sua exigência. a partir do momento em que põem em prática suas táticas desviacionistas. p. De todo o tempo. Enquanto representação. visto que todo processo de comunicação é. o homem ordinário é um “Herói comum. Assim. texturas. pelo contrário. 2010. Zomba deles. melodias e polifonias. 2001. arquiteturas. um simulacro do mundo a partir de um sistema de signos. a representação se constitui numa imagem parcial de uma determinada realidade social. 75). 2. Espacialidades [online ]. do que se infere que o objeto mais presente. 14-15). que enaltece e exalta o primeiro e almeja e deseja o segundo. tentar perceber as representações da cidade de Caicó/RN impressas nas páginas semanais do Jornal A Fôlha3. p. complexificando as múltiplas expressões fisionômicas dispostas no espaço” (DANTAS. na busca incessante de apreensão da cidade. 2005. Com intento de perceber as representações da cidade de Caicó. do Centro de Ensino Superior do Seridó – Campus de Caicó. e ainda está. Fustigado pela composição complexa da urbe e diante da concepção de que as representações citadinas são expressas de várias formas e através de múltiplas linguagens humanas. incrustada nos espaços centro-meridionais do estado do Rio Grande do Norte. 2010. elegemos como um dos baluartes teóricos desse artigo. pela tradição e pela modernidade. se apresenta como uma tarefa escolhida por nós. compreender a cidade de Caicó e toda sua complexidade representada nesse Jornal. Outrossim. a heterogeneidade de interesses e de idéias se mostra intrinsecamente vinculada à labuta cientifica do pesquisador. no interregno temporal de 1954 a 1958. sugerindo uma prática cultural de leitura em que compreender a semântica do espaço é adensar a confecção de cenários e sons. uma lacuna de trabalhos que abordem tal temática. Diante disso. elencamos como objetivo desse texto.6 ilegíveis. A escusa de se perscrutar as representações da cidade nesse periódico. vol. por meio de prospecções realizadas nessa fonte histórica. Espacialidades [online ]. n. . partimos do pressuposto de que uma reflexão dessa natureza. está ancorada na noção de espaço como uma edificação 3 O acervo do Jornal A Fôlha encontra-se atualmente sob a guarda do Laboratório de Documentação Histórica. utilizamos como procedimento metodológico. 15). fonte principal da escrita desse texto. ao contemplar o espaço. Rev. da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LABORDOC/CERES/UFRN). 3. destacamos. Para esta investida. decorre do fato de que é perceptível no contexto da produção do conhecimento cientifico local. Com efeito. mais precisamente nas terras semi-áridas da região do Seridó Potiguar. concomitantemente. sobretudo aquele referente às representações urbanas. 2. na escrita e produção deste artigo. uma forte ocorrência de imagens e discursos atinentes à cidade de Caicó como um espaço urbano marcado. ressaltamos que a cidade de Caicó estava nas décadas de 1950. as discussões concernentes à noção de espaço. no periódico A Fôlha. Para a composição desse artigo. Para efeito de uma localização geográfica. a leitura e a análise do discurso jornalístico publicado nas páginas no periódico A Fôlha. p. No mais. construções. suas organizações sócio-culturais. concreto e material. as fontes jornalísticas são imbuídas dessas representações. portadoras de significados espaciais provenientes do conúbio sujeito-objeto e “tatuadas” de percepções. é pensado e apreendido. Na maioria das vezes pensamos que o espaço é apenas aquele em que os elementos físicos ou naturais estão presentes. Espacialidades [online ]. sociabilidades. mas. 3. Vale destacar. seus prazeres. torna-se impossível “distanciar espaço de sociedade. de diferentes culturas e de heterogêneas representações. seu cotidiano. Ou seja. ainda entendemos essa categoria como um constructo humano. suas quimeras. [da mesma forma que]. refletirá as características do grupo que o criou” (CORRÊA.] não há sociedade sem espaço. reproduções. No espaço. 55). não deve. 2010. perceber esses espaços simbólicos e imaginários.7 sócio-histórica. nem num mero fulcro das relações travadas entre os indivíduos. resultado de seu trabalho social [e] como tal. Decerto. sobretudo. discursos e enunciados. sujeito de objeto. vivências. n. Esse espaço. o espaço é produto de uma multiplicidade de ações humanas. p. enfim. [. Por essa forma. A interpretação do espaço como uma invenção social e como uma representação da existência da espécie humana. como em outros ramos da ciência. enfim. que o espaço não se configura numa matéria inerte. comportando geometrias objetiváveis consubstanciadas aos processos sociais de forma mútua. 2. justamente. 1998. seus desejos. seus pensamentos. registro de variadas épocas. sendo “expressão da produção material do homem. Nessa concepção. vol. a “noção de Rev. espaço é aquele em que o homem tece suas vivências. uma produção erigida e inventada culturalmente e discursivamente. assim como não há espaço produzido sem sociedade” (BASTOS. mas parte constitutiva das consubstanciações “sociais. como sendo o resultado de uma prática de produção e tendo o homem como sujeito principal desse processo. as chamadas representações espaciais objetivam. 59-60). ainda pode ser imaginário e simbólico. ao contrário. os sujeitos tecem suas relações. suas experiências com o meio ambiente. p. humanas. o espaço.. seus sonhos. com base nas “teias” discursivas de Arrais (2004. como também. . 1990.. indissociável da sociedade. revestindo-se de simbologias e participando da construção de certas identidades”. produções.].. Na Geografia. Por espaço. incorporando significados que lhe são atribuídos por determinadas representações. indubitavelmente. 11). permitir a ocultação do indivíduo. imagens.. como reflexo e condicionante da sociedade. [. 3. Rev. profundamente complexo. fixos e fluxos. as manchetes.8 subjetividade implícita nesse conceito conduz à compreensão do espaço como marca e expressão das relações sociais” (ARRAIS. como artistas da escrita. 2010. A esse artista é lícito sentir dois processos que. os redatores do Jornal A Fôlha. que não se revela ao primeiro olhar” (NAXARA.. aquela mais aparente. produziram. que os homens pintam suas telas urbanas. simbólico. imagens da cidade. dinâmico. reflexo e condicionante social. as imagens. 2004. os eventos. construído pelos praticantes da cidade no transcurso dos processos históricoespaciais. o espaço se configura. um conjunto de símbolos e campo de lutas. com papel e tinta. podemos inferir que o espaço. O espaço urbano. selecionamos o próximo tópico como proscênio o qual teceremos. durante os idos de 1954 a 1958. os ditos. registraram e representaram o cotidiano. se confundem e se “entrelaçam. constroem suas obras de arte. as práticas e as sociabilidades urdidas na cidade de Caicó. no que diz respeito ao conhecimento da natureza pelos homens. 241) Diante do exposto. Esses redatores. não obstante. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões. é sobre a malha espacial. p. Espacialidades [online ]. n. Mediante os pressupostos de Corrêa (1995. enfim. 2004. constituindo uma tessitura complexa. em especial o urbano. mutável e. a partir da captação de aspectos e fragmentos do cotidiano urbano. 9). à sua problemática relação com ela. as multíplices representações da cidade de Caicó. ambíguo. as notícias. contraditório. É nessas dimensões que concebemos também o espaço urbano. mormente. articulações e fragmentações. as intertextualidades. da mesma forma que a sociedade. Nesses moldes. p. enfim. 2004. Nessa ótica. por meio de caminhadas pelos espaços jornalísticos. mistos e híbridos. p. mudando conspicuamente sua fisionomia. em uma pluralidade de formas e conteúdos. as colunas. analisando e interpretando. se imbricam. se constitui. multifacetado. esculpem suas esculturas. os scripts desse artigo. os acontecimentos. materializado nas formas espaciais”. composto de formas e essências. suscitam suas representações. o espaço urbano é a dimensão em que os “[. dialógico.] grupos sociais edificam obras materiais e inscrevem uma ordem simbólica” (ARRAIS. o espaço.. Por isso. 11). 18). como uma parcela da totalidade espacial. especificamente a citadina. lendo. p. . 2. sua morfologia e sua estrutura no decorrer da história. vol. é “fragmentado e articulado. paralelamente. Contudo. polarizando toda essa unidade espacial e algumas cartografias urbanas das plagas adjacentes. passando novamente a ser escrita e tipografada. para toda uma geração. descobri verdadeiras preciosidades. [. que circulou no interstício temporal equivalente aos anos de 1954 a 1967.. é realizar “uma viagem por vezes deliciosa ao passado. na década de 50 do século XX. O Jornal A Fôlha. conhecido como um legítimo representante de uma elite nostálgica. Lendo os escritos desse Jornal e folheando suas páginas obnubiladas. consultando-o..]. vol. Espacialidades [online ]. 101. 2. p. nos artigos e crônicas produzidas pelos intelectuais do aglomerado urbano e nas reclamações e críticas realizadas por sujeitos preocupados com a conservação da higiene física e moral da urbe. se articulavam. se amalgamavam e se imbricavam.. [. evocando lembranças e Rev. seções e anúncios redigidos pelas discentes do Educandário Santa Teresinha. data de circulação do primeiro periódico d’A Fôlha. a cidade de Caicó começava a ser representada nas páginas desse Jornal. político e cultural dessa região. galgando meticulosamente seu corpo.. Algumas são engraçadas. Ainda para Cirne (2004. o Jornal A Fôlha terminou por se configurar em um legítimo “marco cultural. no principal centro administrativo. matérias. nas colunas elaboradas pelos sacerdotes e seminaristas. tinha como integrantes responsáveis pela sua edição e circulação. tendo em vista que essa urbe se constituía. Trata-se de um verdadeiro documento museológico.9 2 CAICÓ IMPRESSA: REPRESENTAÇÕES DA CIDADE Aos seis de março de 1954. do Jornal A Fôlha.103).. Dessa forma. e o gerente Inácio Vale Sobrinho. n. a cidade de Caicó voltava a ter um veiculo de comunicação. convergindo para o seu âmbito. econômico. 2010.].. Impressa em notas. outras são surpreendentes. p. o Monsenhor Walfredo Gurgel. teve como fundador e diretor oficial. muitas terminam por ser o melhor retrato historiográfico da cidade”. 3. Além de Walfredo Gurgel. 101). cujos alvitres de uma “cidade/tradição” e o intento de erigir uma urbe moderna para a plaga do Seridó. a cidade de Caicó se apresentava nas falações veiculadas pelo Jornal A Fôlha. manusear as páginas. singramos pelos labirintos da cidade. obscurecidas e desgastadas pela ação do tempo. De acordo com Cirne (2004. [. [encontrando]. os redatores Genival Medeiros e Levi Dantas. pertinentes atividades e serviços públicos. como a autêntica Capital do Seridó. o Jornal A Fôlha.] um tesouro de preciosidades caicoenses”. . O termo flanando é derivado da metáfora do Flâneur. Para maiores detalhes atinentes a essa metáfora. a partir da leitura da textualidade do periódico. – 10ª ed. profundamente. focalizados pelos dispositivos disciplinares dos aparelhos panópticos6. enumerar e detectar os problemas que ocorriam nos espaços centrais e nas franjas urbanas. Sérgio Paulo. Destarte. nos “encantamos com os seus contornos. esses bairros. a edificação de pontes e a pavimentação de ruas. A ordem do discurso. . embora haja ainda as condutas e práticas desviacionistas. em outros territórios urbanos. 3. consultar: ROUANET. descrita por Walter Benjamim. 10). cada fragmento histórico do lugar era um verdadeiro enigma. identificados como os recortes urbanos desviantes. 2000. Neste caso. 4 Rev. ver: FOUCAULT. mergulhamos em sua história e ficamos embevecidos com sua construção/enredo” (MORAIS. n. calçadas. Nesse percurso. praças. passavam a entrar na ordem do discurso5. a degeneração dos costumes nos espaços das ruas. transformavam a paisagem citadina de Caicó. Michel. “garimpando e polindo o conhecimento. no decorrer dos decênios de 1950. constantes e intensas. avenidas e bairros da urbe. se caracterizava como uma visceral ameaça a efetivação dos projetos modernizadores. transgredindo os hábitos tradicionais e legitimando os insólitos. p. Nessa caminhada pela cidade. observando os contornos e as linhas urbanas. impressa nos espaços jornalísticos d’A Fôlha. as ações contra a manutenção da ordem e da moral citadina são.10 histórias adormecidas. Assim. revisitando lugares de memória e desbravando as geografias da urbe. embora esse processo fosse efetivado sob um substrato de tradição. 2010. para visibilizar e narrar as mudanças que estavam se processando em Paris no século XIX. se mostrava e se apresentava como uma cidade que. 10). Se os espaços centrais da cidade são perpassados pela moral urbana. se modernizava. e flanando4 por travessas. Espacialidades [online ]. 183). ruas. – São Paulo: Edições Loyola. majoritários na cidade. que eram representados por integrantes dos órgãos públicos municipais e da igreja católica. 1993. Decifrar os vários enigmas. destacando a utilização de medidas para o saneamento básico da cidade. como aqueles equivalente aos atuais bairros Itans e Paraíba. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. p. p. descortinamos uma Caicó que se insinuava. efetivadas. A razão nômade: Walter Benjamim e outros viajantes. 2. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ. 5 Sobre a ordem do discurso. 2000. permitiu-nos uma leitura da cidade” (MORAIS. 6 Para Foucault (1996. 2004. paulatinamente. Isso é conspícuo no fato de que. o panóptico se constitui numa “máquina de ver é uma espécie de câmara escura em que se espionam os indivíduos. possibilitavam a manutenção de políticas públicas que. vol. ela torna-se um edifício transparente onde o exercício do poder é controlável pela sociedade inteira”. Esses escritores ainda mencionavam os casos de homens comuns. ancorados numa lógica moral cristã. normalização e racionalização da cidade e de seus íncolas. Para fortalecer os discursos de que a Capital do Seridó. burlavam os planos e intentos de homogeneização. que espargidos nas noites urbanas. da infância perdida. 3.11 Se no periódico A Fôlha. que por volta dos idos da década de 1950. de homem e de cidade ideal. enquanto uma urbe com status de Capital do Seridó e ontologicamente ordeira. bem circunscritos. 2. na década de 1950. As indústrias instaladas na cidade. nas mesmas páginas desse veículo de comunicação eram publicadas uma grande miríade de reportagens que denunciavam a intensa corrupção e a degeneração dos valores por pessoas insólitas. assolavam as ruas da urbe. os pressupostos de higiene do corpo e dos costumes. Os discursos nostálgicos dos integrantes desse Jornal. a instalação de novos equipamentos urbanos aparecia em destaque como representações fiéis dos signos da modernidade. dos sujeitos que prostituíam e inebriavam seus corpos e. vol. tecendo suas espacialidades desviacionistas. tradicionais e para a construção de uma mentalidade de caráter progressista. ditos. a cidade de Caicó despontava como um centro de beneficiamento e comercialização do algodão. inerente aos projetos políticos/religiosos. beneficiavam o algodão. por situações criticas. que ecoavam pelas cartografias urbanas caicoenses. transitavam pelas ruas da cidade. outrossim. expressavam um prurido. o discurso impresso no Jornal A Fôlha partia de interesses e vontades políticas e de projetos religiosos. em virtude de seu crescimento urbano e econômico. Na década de 1950. em sua maioria. que promoviam Caicó. 2010. . Espacialidades [online ]. Embora no semanário d’A Fôlha fossem noticiadas matérias que apresentavam Caicó como uma cidade visceralmente ordeira. época que circulou o Jornal A Fôlha. de construção de um protótipo de família. subrepticiamente. perturbando a ordem urbana e dilapidando os alicerces tradicionais erguidos historicamente. eram evidenciados como itens forçosos para a conservação de hábitos. produzindo para a cidade uma postura de espaço propício à incorporação de elementos da modernidade. no que concerne ao seu âmbito moral. recusando-se a aceitar as regras de higiene elaboradas pelo órgão público municipal. Mediante essas premissas. que. produzido “em outros Rev. os escritores do Jornal discorriam sobre as condutas desviantes dos jovens. passava. n. Na verdade. Como exemplo da deflagração do processo de ocupação de áreas devolutas via surgimento e crescimento das usinas. a um centro de beneficiamento do produto. Com o funcionamento dessas usinas de beneficiamento e processamento do algodão e de fábricas para a industrialização de seus derivados. A. cresceram “[. A. p. Isso se constituía em tímidos exemplos e referências da efetivação do discurso de “modernização em voga no país a partir da década de 1950.. corolário do projeto de modernização da sociedade brasileira.] juntos. 94). p. podemos citar o caso do atual bairro Barra Nova. 2010. 94). atingiu [também a malha urbana de Caicó. principalmente os situados na Região de Patos” (MORAIS. vol. Exportadora Dinarte Mariz S. influenciava na melhoria de seus “[. 2. tendo a usina como ponto de partida” (MORAIS. 2005. Rev. Nesse processo. A. 169). n.12 municípios seridoenses. Espacialidades [online ]. Quando a usina não determinava o surgimento de um bairro..] serviços urbanos e no que se refere à geração de empregos com aproveitamento da mão-de-obra do próprio local” (MORAIS. O perfil industrial-urbano. p. (ALSECOSA)” (MORAIS. p. a cidade contava com “três usinas de beneficiamento de algodão: Diniz & Dantas S. 1999. o cotidiano urbano de Caicó começava a ganhar certa vitalidade e dinamicidade.. e Algodoeira Seridó Comércio e Industria S.. 96).. A cidade de Caicó passava de um mero entreposto de comercialização do algodão. 1999. embora em menor intensidade]” (MORAIS.. . no Oeste Potiguar e no Sertão Paraibano. as usinas funcionavam como “pólos dinamizadores tanto em termos de economia – oferta de empregos e circulação de capital – como no que se refere à expansão urbana – surgimento de bairros novos e crescimento de alguns já existentes” (MORAIS. 3. bairro e indústria. que nasceu a partir da instalação da usina ALSECOSA em seus espaços. 1999. 99). No decorrer do decênio de 1950. 1999. p. 2005. p. 168). a população urbana geminava. 2010. museu. abastecimento d’água. nesse interregno temporal.447 hab. para 11. para 16. hotel. Espacialidades [online ]. um espaço propício e interessante para estabelecimento de moradia fixa. passando. p.214 hab. a cidade de Caicó aumentava consideravelmente sua população. mormente. dentre outros. possibilitavam uma dinamização da economia dessa urbe. corresponde à fase de dinamismo econômico da cidade de Caicó. em 1960. que viam nesse município. mediante informações auferidas em Morais (1999. escolas públicas e privadas. 69). as seguintes estruturas e serviços no tecido espacial da urbe: [.775 hab. maternidade. tendo em vista que seus espaços urbanos tornaram-se focos de atração populacional. fórum municipal. decorrente do pináculo de produção e beneficiamento do algodão mocó. no ano de 1960.214 hab..13 Essa década.459 hab. que elegeu o espaço urbano como locus para a instalação das usinas” (MORAIS. vol. 1999. 1999. a cidade de Caicó dispunha ainda de “doçarias. de 24. p. respectivamente. 2. 93). 90). no ano de 1950. Além das usinas de beneficiamento. com o crescimento de sua mancha urbana. sobretudo aquele correspondente à década de 1950.233 residentes no espaço urbano. A cidade tornava-se atraente pelas boas expectativas.. que o território caicoense era procurado por pessoas oriundas de outros lugares. casas comerciais. Esse período. de 7. lojas maçônicas. emissora de rádio.] usinas de beneficiamento de algodão e fabricação de óleo comestível. p. n. Os equipamentos e serviços urbanos inseridos no espaço da cidade. a própria população do município crescia em ritmo acelerado.. . p. consoante Morais (2005. A instalação desses equipamentos e serviços refletiu diretamente na dinâmica demográfica da cidade. suscitadas através “do fortalecimento da cotonicultura e da modernização de seu setor de beneficiamento. clubes de serviços. em virtude das iniciativas governamentais e privadas foram instaladas. 251). parque de exposição. Enquanto. agências bancárias.. Rev. em 1950. Ademais.. para 27. pista de pouso. Isso é atinado quando debruçamos nosso olhar sobre as cifras dos censos demográficos da época e percebemos que entre os anos de 1950 a 1960. passando de 16. é marcado pela expansão citadina de Caicó. onde.. telefonia. 3. eletrificação. aquela que se apropriava das cartografias rurais decaia significativamente. cemitério. demonstrando assim. padarias e usinas de beneficiamento de arroz” (MORAIS. cinemas. estádio de futebol. assim como o período compreendido entre os anos de 1940 a 1970. sindicato de trabalhadores rurais. Também já existiam as pracinhas. que começava em Pedro Casé [o dono do cabaré mais cobiçado da cidade] e terminava pro’s lados de Ciço Vieira. em conformidade com a mesma fonte supracitada (MORAIS. A do Rosário era apenas um areial [.. Acerca do comércio nos proscênios urbanos de Caicó. que formavam o nosso ‘Cai Pedaço’. 1999. [. o seguinte perfil: Em 1950.] que iam dali contornando a usina de Dinarte Mariz até o bairro da Intendência. 90-91). n.. que se estendia um pouco mais com as ruas do ‘do Cateretê’. A cidade dispunha de representações de Companhias de Seguros e Capitalização Sul América. Eqüitativa dos Estados Unidos do Brasil. Caicó se limitava a um amontoado de casas. da Rua Marinheiro Manoel Inácio à Catedral de Sant’Ana. Sul América de Capitalização. 93). as da família Capitão (Rua Pires Ferreira). como referências as circunscrições espaciais existentes no tecido urbano da época. 92). Dr. na faixa quase urbana que se estendia dos cercados de ‘Zé Evaristo’. entre outras”. Havia também as casas perto da ‘Ladeira de João de Cândido’. possuía uma configuração espacial da sua cartografia urbana quase completamente incrustada nos espaços entre os “rios Barra Nova (sul-oeste) e Seridó (norte-oeste)” (MORAIS. o quarteirão do Hospital. “o Posto de Puericultura e o Hospital do Seridó.].14 No que concerne à organização espacial urbana de Caicó nos anos de 50. a cidade apresentava. batizada pelo povo ‘da Catedral’ e ‘da Matriz’. ‘Alto do Louvor’. as mesmas se resumiam ao Banco do Brasil e ao Banco Rural (MORAIS. estivas e cereais. No setor de saúde. lojas de tecido e farmácias. da Liberdade e de Sant’Ana. 1999.] No que se refere a instituições Rev. foram utilizados nesse discurso. ‘Berra Bode’. das calçadonas como chamávamos antigamente [.. uma ‘rua nova’ que ia até o Abrigo dos Velhos. Espacialidades [online ]. com base nas descrições meticulosas encontradas na Revista Caicó apud Morais (1999. 1999. vol. p. ou melhor. casas de “ferragens. provavelmente em outros ecoados por sujeitos de outrora na paisagem da urbe... Baseado nessas descrições constata-se que a cidade de Caicó. começando a Paraíba. 2. 3. p. fundada em 1947. Como se pode observar. a cidade contava com a Maternidade de Caicó. p.. casebres no ‘Salitre’ [. limitandose às empresas exportadoras de algodão. . José Augusto. 92). ‘Do Pinto’.] Era o tempo dos calçadões. onde tinha um açude com esse nome margeando a estrada que ia para o Itans. até o término dos anos 50. 2010. por trás do Quartel de Polícia e da bodega de Manoel Maria. os estabelecimentos públicos e privados enxertados na malha urbana e presentes na espacialização citadina de Caicó dos anos 50.. Quanto às agências bancárias. p. este era muito tênue e pequeno. Mas da bodega de Dona Rosa pra lá.. poucos moradores faziam companhia ao CDS. utensílios como “’fogão a gás não era novidade porque simplesmente não existia’. A educação era fator de preocupação por parte da população caicoense. A década de 50.. Apesar de na década de 1950. a educação funcionava como motivo de atração “populacional. Essa atividade era atenuada “[. que a percebia como uma possibilidade de um futuro promissor. estava. 2. 1999. apenas sete eram calçadas. entre outros fatores sociais. destacava-se a atuação do Rotary Club. para iluminar as primeiras horas da noite taciturna e enigmática da cidade.. 1999. n. Essa emissora era a única em funcionamento na cidade neste período. 1999.]. 92). “situado em uma área considerada o fim do mundo devido à sua distância do centro da cidade” (MORAIS. Caicó era servida por caminhões e mistos que mantinham linhas regulares. edificado nos idos de 1913. p. 92). a cidade de Caicó vivenciar um período de aclividade econômica. passou a chamar-se A Voz do Seridó a partir de 1957. [. em 1956. 92). principalmente para o GST [Ginásio Santa Teresinha] e o GDS [Ginásio Diocesano Seridoense]. em tempos antanhos. fundado no oitavo ano da década de 40 do século XX. 1999. Nesse sentido. 3.. Na década de 50. [. era feito através de jumentos.. p. Fundada “em 1954. p.]” (MORAIS. Em termos de articulação com cidades mais distantes. praças e avenidas diáfanas. Das 59 ruas que compreendiam a malha urbana. com irradiação de seu tecido urbano. para Campina Grande (PB) e Natal” (MORAIS. 88-89). 2010. Essa preocupação com o setor Rev. a cidade ainda era matizada pelas ondas da Rádio Difusora de Caicó. p. localizado no que em dias hodiernos conhecemos por bairro Barra Nova.15 públicas. 92).. vol. sendo depois extinta” (MORAIS.. acelerado de crescimento da cidade.. relativamente. O abastecimento d’água na cidade. p. O ritmo.] pela garantia de encontrar a água necessária no açude Itans. Em termos de serviços sociais prestados na cidade. 1999. foi instalado o escritório regional do Departamento de Estradas e Rodagens – DER” (MORAIS. adquirido em 1925.]. Espacialidades [online ]. correspondia a tempo em que ainda era necessária a luz gerada pelo motor da prefeitura. A cidade passou a receber alunos. p. 1999. . situado em área relativamente próxima ao perímetro urbano” (MORAIS.. que ecoavam pelas cartografias urbanas. O cemitério São Vicente de Paulo. que vinham de toda área por ela polarizada e até de outros estados [. 92). deixando as principais ruas. também era atribuído ao processo de desenvolvimento do setor educacional. era privilégio de uma dúzia de ricaços. do GDS. mesmo à custa de sacrifício. hoje é comum a qualquer pessoa mesmo pobre. espirituais e naturais para a consolidação do progresso na urbe. destacando a pertinência dos valores morais. . marco alvissareiro do progresso. é atinada no seguinte discurso veiculado no semanário de 5 de junho de 1954. Nessa perspectiva. vol.16 educacional. Malgrado. Por modesto que seja. Desse modo. digamos. representada nas figuras políticas. n. Essa elite. “além da Escola Normal Regional de Caicó. como o principal responsável na construção dessa obra. ao passo que a cidade de Caicó passava por mutações. a cidade de Caicó tinha 10 escolas de ensino primário. Os espaços do periódico A Fôlha se constituíam em uma ambiência adequada para o destaque da elite local. 3. como a Capital do Seridó. 2. responsáveis pelo crescimento de seu espaço urbano. do Jornal A Fôlha. Espacialidades [online ]. As estratégias desses políticos em tornar Caicó. Pedro Gurgel. 20 anos atrás. no ano de 1954. Nesse mesmo ano. 92). 1999. a elite caicoense. na esperança de que um dia chegue a cursar a escola superior e conquiste um diploma. arguto e viril a ser seguido. sendo que esta última funcionava no Grupo Escolar Senador Guerra” (MORAIS. destacando e enaltecendo o apoio e a eficiência do político Dinarte Mariz. mais precisamente por volta de 17 de Rev. do GST e de duas bibliotecas – Olegário Vale e Prof. o Jornal A Fôlha noticiava o início da edificação do aeroporto da cidade. de Dinarte Mariz e de Walfredo Gurgel. buscava cartografar e sanar a transgressão. graças à fundação de ginásios no interior do País. sobretudo. 2010. sobre o ensino secundário: O problema que mais preocupa os pais da classe média e pobre é o da instrução secundária dos filhos. a Capital do Seridó. exemplo fiel de homem forte. interessada em legitimar o discurso modernista sem ferir a ordem tradicional da cidade. novas práticas discursivas e desviacionistas eram tecidas por sujeitos que abalavam a organização higiênica e moral do espaço citadino. O que antigamente. foram peremptórias para que a cidade fosse contemplada com alguns equipamentos e serviços. No ramo da educação. que se promovia enquanto adepta aos discursos modernistas e partidária dos valores tradicionais do hercúleo caicoense. intentava a construção de um discurso identitário para a cidade de Caicó. visto por esse periódico. provenientes de seu crescimento urbano. procura o pai matricular o filho em um ginásio. p. hoje cartão-postal da urbe caicoense.. para economizar tempo. 3. vol. o 1º Batalhão Rodoviário era instalado em Caicó. que embora desejando os signos da modernidade e da urbanidade. . era erguido o símbolo de religiosidade da cidade. O caicoense herdou as tradições de antanho como o gosto do catolicismo verdadeiro. O telefone é indispensável para uma cidade como a nossa.. quase três quilômetros.17 fevereiro. obra que honra os sertões nordestinos. evitar longas caminhadas para tratar de assuntos que através dos fios telefônicos poderiam ser resolvidos.. nas fímbrias do discurso jornalístico. interligando o centro à zona norte da cidade.]. Este é algo que integra sua personalidade [.] cidade que tem crescido vertiginosamente. a introdução de telefones para uma urbe que se expandia e se modernizava. De uma extremidade a outra da cidade.]. 2010. Já em 1958. n.. com uma população de 15 mil habitantes. Rev. quando em passagem por Caicó. Digo-o sem tergiversar [. Espacialidades [online ].. mudava para Batalhão de Engenharia e Construção. o nome desse batalhão. o Arco do Triunfo da Virgem de Fátima. Urge. final de 1953 e início de 1954. O discurso paradoxal concernente ao desejo do moderno e a manutenção do tradicional. Ainda nesse ano e nos espaços da imprensa periódica desse Jornal. como uma cidade inerente ao consumismo e ao progresso. Bonita nas suas linhas.]. Caicó se mostrava.. Em breve será inaugurado o novo Hospital do Seridó. que sejam instalados os telefones. os redatores exigiam do então prefeito municipal Rui Mariz. Antes disso.. o Padre Emerson Negreiros comenta que: Caicó é uma cidade moderna. Sem telefone torna-se difícil uma assistência pronta em caso de acidente ou de socôrro urgente. Em 1957. pode ser percebido no seguinte fragmento narrativo haurido dos meandros do periódico. O caicoense assombra-nos sobretudo por uma espontânea sinceridade [. já que Caicó se configurava numa: [. preservava a pureza dos valores tradicionais de uma urbe sertaneja e interiorana. As distâncias dilatam-se cada vez mais. Nesse contexto. a cidade de Caicó era contemplada com a inauguração da ponte sobre o rio Seridó. publicado no dia 3 de abril de 1954.. portanto. 2. do Jornal A Fôlha. especificamente em sua edição de 10 de agosto. sendo implantado nos espaços do que atualmente conhecemos como bairro Nova Descoberta. Nas palavras dos redatores desse Jornal. Dessa maneira. dificultadas e incompreendidas. do Rev. a autoridade possa ser reconstituída e o núcleo familiar refeito. ao contrário. n. de mães irresponsáveis que deixavam seus filhos a mercê dos riscos na rua. faz-se mister discipliná-lo e higienizá-lo contra os males da inópia de ordem. 2010. Numa cidade sertaneja. Espacialidades [online ]. se jogar menos.. 3. jovens..] o que se percebe. se excluir as crianças. se beber menos. os contraventores da moral urbana também teciam suas artes de burlar a ordem católica. A rua não tem o que dar [. se multiplicam e funcionam como por encanto.]... somente assim.]. como um espaço amoral. Nas contigüidades da cidade. ricos ou pobres. insano e insalubre..18 Diante disso. Portanto. . edição e publicação do periódico A Fôlha.] No dia. nos dias atuais. vol. nem sempre são bem recebidas. se constituíam em práticas mórbidas que perturbavam a saúde da cidade. a falência deplorável de muitos pais e mães. porém. de filhos livres da dominação dos pais. atingissem o universo infanto-juvenil era notório no discurso jornalístico d’A Fôlha. o que se sente é que nesta cidade de Caicó. das zonas e da noite). católica. [. de religião. da casa e do dia) convivia com a cidade caótica (das casas de jogo. numa cidade sertaneja como a nossa na qual o alcoolismo torna uma virtude. vigora. 2. para que. ameaçando a construção de uma cidade culta e ordeira. a mais profunda crise de autoridade e de respeito a autoridade [. A cidade ordenada (da igreja. de prostitutas. meninos e meninas. tidos como. nesse dia se cantarão os primeiros aleluias de uma copiosa redenção. as suas amadas e encantadoras crianças. em primeiro lugar. contraventores da moral e da ordem urbana. dou exemplo. accessíveis a todos. no semanário de 10 de maio de 1958. cujos redimidos serão. como a nossa. mas.. aparece. O medo que as indisciplinas desses contraventores. A rua. as ações desviantes urdidas por aqueles sujeitos. abertos dia e noite.. De um lado. tecidas nas cartografias desviacionistas da urbe. nesse discurso. esta última produtora de sujeitos infames. vista por um lado como um território onde eram tecidas práticas desviantes. que poderá suceder? [. o nível moral social subir. que era responsável pela escrita. sobretudo. alcoólatras e rapazolas inconseqüentes em seus atos. pobres ou ricos. e na qual algumas medidas saneadoras esporadicamente aplicadas.. na qual cabarés e casas de jogo abrem. que em Caicó. de respeito e de temor a Deus. com base num fragmento textual colhido no periódico do dia 26 de junho de 1954. O pavor da criança e do jovem serem contaminados com essa indisciplina. precisando ser controlada para que não se alastrasse pelas sendas da cidade e contaminasse os habitantes saudáveis. que nunca souberam aquela arte de saber ser pai e saber ser mãe. permeava o imaginário da elite. ]. “como se fossem braços que se levantam para o céu invocando súplicas” (DANTAS. a elegância.]. 3.. uma remodelação “abriu as belas arcadas da nave central. 96). nos decênios de 50. o cinema existente na Praça da Liberdade desde 1936. que no mês de julho. 03 de julho de 1954). ou apenas. Caicó também era urbe.. é publicado uma matéria atinente às remodelações que esse templo religioso teria passado. a suntuosidade e o fausto da Festa de Sant’Ana. Espacialidades [online ]. e que. tudo numa harmonia que agrada e extasia” (A FÔLHA. com suas torres erguidas. Cirne (2004. encantavam as noites dos caicoenses.]..]. No periódico de 03 de julho de 1954. inicialmente. Esse novo espaço de sociabilidade e de encontro da população caicoense... O Ébrio [. Gilda [.19 Jornal A Fôlha. o senhor Bento Xavier d’Almeida. Sansão e Dalila [. 117-118).].. Além da cidade do Cine Pax das sextas-feiras.]. com uma capacidade de 298 lugares e somente 1 projetor. n. Conforme essa matéria. p. lamentava que o principal açude da cidade se tornasse “ponto de orgia. do Jornal A Fôlha. vol. desde as arcadas largas e simétricas às agulhas ogivas dos altares laterais.. inaugurado a era do filme sonoro na antiga Vila Nova do Príncipe” (CIRNE.. encenada nos proscênios do largo de Sant’Ana. pertencera ao Cel Celso Dantas. Essa festa era. durante 10 dias. passeios e banhos noturnos de homens e mulheres. administrador do açude Itans. Ao que tudo indica. Rev. Os melhores anos de nossas vidas [. Belinda [. arrola que filmes como “Luzes da cidade [. tornando-as mais agradáveis no escurinho do cinema.. 2010. Clóvis Medeiros adquiriu as estruturas do então Cine Pax do Senhor Aldo Medeiros (político e cineasta amador). Discorrendo sobre a memória do Cine Pax. As neves de Kilimandjaro [. 03 de julho de 1954). cujo idealizador foi o senhor Clóvis Medeiros. 2004. a beleza.. “em 1949. o Jornal A Fôlha também destacava a instalação de um cinema moderno na cidade. 116). [dentre outros]”. se “montava” e se ornava para mostrar toda a pompa. era chamado de Cinema Pax. 1996.]... colonial e gótico. a catedral de Sant’Ana apresentava a “combinação de estilos romano.. p. Cine Pax. portas e losangos no alto. tornando-a mais arejada e cheia de luz” (A FÔLHA.. p. mais precisamente na catedral. Em seu espaço endógeno.]. 2. na metade da década de 50 do século passado. .. que com esse procedimento estão mostrando aos visitantes que o caicoense está destruindo moralmente o melhor do município para passeios”.. O barco das ilusões [.]. O dia em que a Terra parou [... Não obstante. Era a rivalidade das cores que despertava tanta emulação [. Acabaram-se as tribunas e todos se nivelaram na igualdade dos lugares.] Não há mais circos [. se as do meu tempo. dos mais variados aspectos. sendo obnubiladas e silenciadas diante da diversidade de transformações que se efetivaram na cidade. nos recônditos mnemônicos de inúmeros praticantes da cidade. os caicoenses vivenciavam. 3. 2. o cronista. quando todos rezam e se vestem.. vol.. as festas de minha meninice. Desta forma.20 Nesse templo religioso. em seu discurso nostálgico. . Os meninos não querem mais saber das guloseimas. Os meninos não se davam ao luxo de namorar. as celebrações sagradas e profanas da Festa de Sant’Ana. Não havia retreta. autocognominado de W.. Os circos de cavalinhos constituíam a festa externa. saíam às passeatas. A banda de música vem de fora. ao longo dos tempos. De Açu chegavam as cargas de alfenins brancos com rodas encarnadas. na escrita. Não se conhecia a luz elétrica. Na alvorada chegavam das fazendas as famílias com cavalos gordos e bem tratados [. com mangas que desciam abaixo dos cotovelos. Em vez de cavalos médios e lustrosos. os pés-de-moleque e as puxa-puxas da velha Leonor.. dessa vez em 31 de julho. As moças vestidas de branco sem decotes. No primeiro domingo de festa. enfim. os caminhões poeirentos e roncadores. Faltava praça e coreto. nas crônicas. Os candeeiros se apagaram. n. Eram as delicias da meninada. ainda “vivem” e são toldados. em festivais de caridade. que em parelhas levantavam a poeira da rua. das cocadas [. Era bonito ver-se a entrada da alvorada na manhã de quarta-feira.. A banda de música sob a regência do maestro Manoel Fernandes. O cronista W. Rev. Durante o novenário.. expunham-se os alfenins tão cobiçados. Era o desfile da elegância daquele tempo. A matriz foi modelada. sem privilégios. Após a novena a luz fumarenta dos candeeiros. As passeatas desapareceram. Sua maior ambição eram os alfenins do Açu. a missa das 10 horas servia para a apresentação dos vestidos e dos chapéus..]. hodiernamente. A cidade cresceu unindo os dois rios Seridó e Barra Nova. Ainda no ano de 1954. usavam largas faixas de fitas azul ou encarnada de acordo com as suas preferências. nos relatos. pois as viagens se faziam de madrugada para evitar o calor do sol. em decorrência das próprias mudanças que se processaram no espaço urbano de Caicó. que vão. aspectos da festa vão sendo modificados ou mesmo ressignificados. nas fotografias.].. ano após ano. 2010. Como são diferentes! Naquele tempo a cidade que terminava onde hoje se encontra o mercado ficava apinhada de gente.] Não sei quais as festas melhores se as de hoje. se transformou. A tarde havia o passeio a cavalo. Os desfiles de moda são realizados nos clubes. era a grande atração. Espacialidades [online ]. recordo o passado. Paulatinamente. eu que já me encontro de cabelos brancos. Hoje tudo evoluiu. publicava o seguinte relato denotando as mudanças que ele atinava na Festa de Sant’Ana: Nesta festa de Sant’Ana. retalhos da Caicó de 1950 e de outros tempos. apresenta uma das muitas festas de Sant’Ana. escrutando os eventos.].. principalmente urbano. pela vida e pela morte. nos anos 50. 2. emerge uma Caicó inesquecível.. aqueles veiculados no periódico A Fôlha. de diversas espacialidades. no caso dos rapazes.] Caicó. de distintas e singulares estratégias e táticas de burlar a norma do forte. basicamente: [. Os documentos que compreendem o acervo do Jornal A Fôlha se apresentam como fontes preponderantes para desvendar as múltiplas faces e representações da cidade.. e a Festa dos Negros do Rosário.. sonhava-se. havia a Rua Seridó (e o rio do mesmo nome.] Como esquecer A Fôlha. cujas águas alimentavam a alegria e o imaginário das pessoas. que era..]”. de polimorfas práticas. a cidade praticada nos decênios de 50 e enunciada sob os moldes da moral cristã. com a Festa de Santana. pululada e bifurcada pela ordem e pelo caos. 3. dos fluxos de memórias de Cirne (1996. 3 CONCLUSÕES Os discursos jornalísticos. como naqueles materializados.. n. Como esquecer o Cinema Pax. tanto nos relatos orais. que se encontrava com o Barra Nova logo adiante). talvez mais substantiva (enquanto a outra em sua grandiosidade. Espacialidades [online ]. de seu Clóvis. p. do Monsenhor Walfredo Gurgel. havia a Praça da Liberdade. com sua vocação para o saber vivencial? Como esquecer seus crepúsculos? Como? Caicó era um caicó sertão seridó – e eu não sabia. mas como se sonhava em Caicó: sonhava-se com as vitórias do tradicional Caicó Esporte Clube. de fazer e de construir a urbe. como um espaço detentor de um cotidiano complexo e heterogêneo.. em nosso caso. sonhava-se com os gibis que seu Benedito trazia do Recife. “tatuado” de múltiplas faces.] Era uma cidade quase às escuras. no transcurso da década de 50 do século passado. Um cristalino caicó sertão seridó com o Açude Itans. bravo semanário das futilidades caicoenses? [... é representada. fevereiro ou março [. Contudo. de proteiformes conteúdos.. Um verdadeiro caicó sertão seridó com os eventuais circos que lá apareciam e aconteciam [.... o popular GDS – hoje CDS –. Não havia castelos falsos. [. Em compensação. Rev. de pensar. antes da televisão espaço onírico da cidade. mediante tantos fragmentos de lembranças evocados por esse autor. 2). de variadas condutas individuais. enfim de muitas artes de dizer. já famosa nos anos 50 [. seria mais adjetiva).21 Assim. as vivências. magia pura ao exibir Sansão e Dalila? [.. com as jovens do Colégio Santa Teresinha. sonhava-se com o cheiro de terra molhada após as primeiras chuvas de janeiro.] um só e definitivo alumbramento. 2010. vol. tão perto e tão longe [.] Como esquecer o Ginásio Diocesano Seridoense. .. se constituem em ricas possibilidades de leitura da cidade de Caicó e de seu cotidiano. talvez mais íntima. pelo ruído e pelo silêncio..]. ordenada sob os moldes de uma moral cristã. impossibilitando a saída de seu “universo”. andar pelas sendas da cidade impressas no semanário A Fôlha. essa cidade. os percursos urbanos impressos no Jornal A Fôlha. Ademais. signos da modernidade. incorporando ao seu território urbano. Percorrer seus espaços. parolado e diáfano. ia. os espaços. reconhecer seus lugares. embora enfrentando alguns percalços. entre a norma e a transgressão. Rev. balburdiado. esta é representada e impressa pelo discurso jornalístico d’A Fôlha. adentrar em seus territórios e perlustrar suas paisagens se dimensiona em uma atividade cautelosa. . Acreditamos que conseguimos trilhar. conseqüentemente modificavam o cotidiano dos sujeitos praticantes da cidade. Acerca dessa urbe. prazerosa. onde a cada descuido ou desatenção podemos nos perder e nos desorientar na imensidão de caminhos emaranhados e entretecidos. sombrio e obnubilado. embora estivesse na década de 50. as espacialidades. as burlas. as polimorfas histórias costuradas através dos fios da memória. é enveredar num pórtico de túnel por vezes. como sendo uma cidade que. laboriosa. n. por vezes. por vezes. gradativamente. pois a qualquer momento podemos cair num precipício ou mesmo afundar como numa areia movediça. 2010. Espacialidades [online ]. tácito. o padrão e o desvio. por vezes. as paisagens. atina-se que tentar galgar por entre os espaços discursivos dessa imprensa escrita. enfim. novos equipamentos e serviços instalados que transformavam a paisagem da urbe e. Nesse sentido. edificada sob pilares de uma tradição sertaneja. o tradicional e o moderno. enfim. Transitar pelas veredas do discurso jornalístico é incursionar num labirinto. meticulosa e metodologicamente traçada. se encontrava bifurcada entre o velho e o novo. ora ficamos desarvorados em suas cartografias textuais. vol.22 as práticas. Assim. 3. pelo menos parcialmente. se constitui em uma tarefa árdua. 2. dando uma certa contribuição ao desvendamento das múltiplas faces da cidade de Caicó e ao estudo de sua trajetória histórico-geográfica. que ora conseguimos sair de suas entranhas. Eugênia... FERRARA.15-37. v. – 10ª ed. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. In: ROSENDAHL. 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