Historia Moderna I
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História Moderna IAndreza Santos Cruz Maynard Dilton Cândido Santos Maynard São Cristóvão/SE 2009 História Moderna I Elaboração de Conteúdo Andreza Santos Cruz Maynard Dilton Cândido Santos Maynard Projeto Gráfico e Capa Hermeson Alves de Menezes Diagramação Neverton Correia da Silva Copyright © 2009, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS. FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Maynard, Andreza Santos Cruz. História Moderna I / Andreza Santos Cruz Maynard, Dilton Cândido Santos Maynard -- São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2009. M471h 1. História. I. Maynard, Dilton Cândido Santos. II. Título. CDU 94 Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho Vice-Reitor Angelo Roberto Antoniolli Chefe de Gabinete Ednalva Freire Caetano Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Antônio Ponciano Bezerra Vice-coordenador da UAB/UFS Vice-diretor do CESAD Fábio Alves dos Santos Coordenador do Curso de Licenciatura em História Lourival Santana Santos Diretoria Pedagógica Clotildes Farias (Diretora) Rosemeire Marcedo Costa Amanda Maíra Steinbach Ana Patrícia Melo de Almeida Souza Daniela Sousa Santos Hérica dos Santos Mota Janaina de Oliveira Freitas Diretoria Administrativa e Financeira Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor) Sylvia Helena de Almeida Soares Valter Siqueira Alves Núcleo de Tutoria Janaina Couvo Priscilla da Silva Goes (Coordenadora de Tutores do curso de História) Núcleo de Avaliação Guilhermina Ramos Elizabete Santos Núcleo de Serviços Gráficos e Audiovisuais Giselda Barros Núcleo de Tecnologia da Informação Fábio Alves (Coordenador) João Eduardo Batista de Deus Anselmo Marcel da Conceição Souza Michele Magalhães de Menezes Assessoria de Comunicação Guilherme Borba Gouy Pedro Ivo Pinto Nabuco Faro NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO Hermeson Menezes (Coordenador) Jean Fábio B. Cerqueira (Coordenador) Baruch Blumberg Carvalho de Matos Christianne de Menezes Gally Edvar Freire Caetano Gerri Sherlock Araújo Isabela Pinheiro Ewerton Jéssica Gonçalves de Andrade Lucílio do Nascimento Freitas Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo Péricles Morais de Andrade Júnior UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos” Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474 . ................... peste e fome: a formação do sistema econômico comercial ......Sumário AULA 1 Essa tal Idade Moderna: transição para novos tempos............... Sabás e perseguições ..... 47 AULA 6 A Contra-Reforma................................................................................................... 85 AULA 10 O Iluminismo................... 25 AULA 4 O Renascimento ............................................................................................. 67 AULA 8 O Absolutismo ........................................................................................................... 93 ............ novos mundos........................................... 15 AULA 3 Navegar é preciso: a expansão ultramarina europeia e a edenização do Novo Mundo ....................................................................... 35 AULA 5 A Igreja em transformação: a Reforma Protestante ...... 57 AULA 7 Cultos populares...................................................................... 75 AULA 9 As Revoluções Inglesas: a Revolução Gloriosa e o fim do absolutismo inglês ..............................................07 AULA 2 Guerras...................................................................................................... Aula ESSA TAL IDADE MODERNA: TRANSIÇÃO PARA NOVOS TEMPOS. apreender a importância desse momento da vida Ocidental. sultão do Império Otomano.wikimedia. na Espanha. em 3 de agosto de 1492.org) . o aluno deverá: identificar os principais traços que caracterizam o período entre os séculos XV e XVIII denominado como Idade Moderna. 2 e 3 . A figura 1 representa Maomé II.http://upload. 1 2 3 Os marcos históricos eleitos para demarcar o início da Idade Moderna variam. reconhecer a Idade Moderna como um período de transição. em 12 de outubro de 1492. Essa viagem culminou com o descobrimento da América. a figura 3 representa a partida da frota comandada por Cristóvão Colombo do porto de Palos. a imagem 2 mostra um exemplar da Bíblia de Guttemberg. OBJETIVOS Ao final desta aula. terminando em 1455. O processo de impressão dessa bíblia se iniciou por volta de 1450. PRÉ-REQUISITOS Leituras sobre a crise do Medievo. o primeiro livro impresso por Johannes Gutenberg. (Fonte: 1. e marcou o início da produção em massa de livros no Ocidente. considerando os valores e propostas surgidas no período. entrando em Constantinopla com seu exército. ressaltando os principais problemas a serem abordados por ela. Noções de História Econômica. em 1453. NOVOS MUNDOS 1 META Apresentar aspectos da disciplina História Moderna 1. Indubitavelmente um mundo novo se abriu. coloca um tom sobre o outro. em 1536. Os europeus não transportaram apenas ouro e prata do Novo Mundo. Levaram daqui também alguns males. as distâncias encurtaram. Desidério Erasmo nasceu em Rotterdam. Se o medievo foi um tempo para muitos marcado por uma quase imobilidade. afirmando que a Idade Moderna foi um período de transições. pois “tal atitude sugere o trejeito de que está para liberar gases do tubo digestivo ou. Novos tipos de embarcações transformaram vidas. O tempo e o espaço. Pois bem. Mudou também o jeito de governar e as formas de lidar com o sobrenatural. o pintor utiliza combinações de cores. e faleceu na Basiléia. um novo oceano. tomando-se como referência a percepção que alguns tiveram de que estavam vivendo um novo tempo” (FALCON. Determinemos. guerras. Mas como caracterizar a Idade Moderna? Eis uma das maiores dificuldades para quem se dedica ao estudo do período. por exemplo. A partir destes novos tempos insistia-se. De certo modo. s/d. não é correto dizer o mesmo do mundo a partir do século XV. Começamos. p. 2000. e aos modos à mesa.9). espanhóis e franceses ao mesmo tempo em que nativos americanos experimentavam doenças e uma mortandade inéditas. duas coordenadas fundamentais para o ofício do historiador. em 1467. Para alguns autores. até chegar ao que idealizou. as pessoas não ficassem a balançar sobre as cadeiras. 8 . mudanças varreram o mundo. Ao mesmo tempo. sem dúvida. na Suíça. Para atingir determinada tonalidade. ser analisadas. mas ainda não se vislumbrou nitidamente o novo. o tal “mundo moderno” – o período que vai da crise da sociedade feudal europeia no século XIV até as revoluções democrático-burguesas. Neste livro. Sua obra mais conhecida é O Elogio da Loucura (1509).História Moderna I INTRODUÇÃO Transição. durantes as refeições. é como a pintura de um quadro ou mesmo de uma casa. portanto. Suas críticas à postura da Igreja são vistas como uma antecipação da Reforma Protestante. O espaço. Estudou teologia em Paris e foi um influente pensador humanista. Na região hoje conhecida como Europa. O primeiro. ensina Erasmo de Rotterdam (ROTTERDAM. em linhas gerais. paradoxalmente. pelo menos se esforça para tanto”. pois os mapas tiveram que ser redesenhados para abrigar um novo continente. as enfermidades não ficaram restritas a um só grupo. Daí em diante a Terra tornou-se maior e. os homens experimentaram inovações que iam do jeito de navegar à composição dos cardápios. Expandiu-se. Não se trata apenas de periodizar. facilitaram compromissos. ainda que provisoriamente. abrange o século XV e se alarga até aproximadamente o alvorecer do século XVIII. Parece ser esta a melhor palavra a ser utilizada quando queremos caracterizar a Idade Moderna. festas e negócios. Claro. é a Europa Ocidental. circundaram a África. no século XVIII – pode ser visto como algo que “se reveste de uma série de especificidades que podem. falaremos de um tempo em que não se enxerga mais o antigo. No intervalo que se estende entre os séculos XV e XVIII. para que.140). p. nos Países Baixos. no caso aqui estudado. menor. Alimentos desconhecidos chegavam às mesas de italianos. a Europa espalha sua influência. E as opções para demarcar este período. Trata-se de um tempo com novas visões de mundo. Como explica Francisco José Calazans Falcon –. é possível perceber traços do cotidiano. Mas é possível considerar outros acontecimentos. 1 Mapa do mundo em 1722. formas de pensamento inovadoras. talvez a melhor opção fosse dar atenção às “vozes” da época.com/ UMA PERIODIZAÇÃO QUE VARIA A Idade Moderna foi. O marco mais comum é a tomada de Constantinopla pelos turcos. em ritmos e intensidades diversos. que formam o núcleo básico dessa transição” (FALCON. 2000. se corretamente questionadas. Se você pretende ter uma ideia de como homens e mulheres vivenciaram este período. sempre têm algo a nos dizer. da religião. As fontes históricas. da política. em 1453.googlepages. descobriram as belezas e agruras do Atlântico e. se consultarmos a bibliografia sobre o tema. mapas e pinturas do período. a realidade não é algo assim tão fácil de fixar nas páginas dos livros ou reter nas tintas e pincéis. como a invenção da imprensa através de caracteres móveis por Johann Gutenberg.ricardowerneck. da economia. em textos.Essa tal Idade Moderna: transição para novos tempos.12). “são mudanças ocorridas. tornaram-se senhores de parte considerável do mundo. novos mundos Aula Afinal de contas. conforme a sociedade. p. Nesta época. não espere que os relatos e imagens obtidas sejam fidedignos. sim. o período acima delimitado corresponde ao tempo em que os europeus avançaram sobre os mares. são diversas. em pouco tempo. Todavia. vê crescer seu poder. talvez por 9 . um período de transição. não é incorreto dizer que. Mundi de http://ceneviva. Claro. Afinal de contas. “a causa é escrava de memória. mulheres e crianças ainda morrem por intolerância religiosa mundo afora. Além disto. em cujo seio já se vislumbra. a teoria do progresso” (FALCON. poderíamos olhar para os céus e escolher mais outro ponto de partida. aos poucos. como a economia e a política. violenta ao nascer e provisória” (SHAKESPEARE.98).. indecisa. De um lado. Entre as suas obras mais conhecidas estão: Hamlet.História Moderna I Nicolau Copérnico nasceu em Torún. Aqui. os novos modos de se portar socialmente. Lentamente. em 1543. Independentemente deste ponto inicial. pode e deve ser atingida principalmente através do uso da razão. o importante é reconhecer que entre os séculos XV e XVI ocorreram transformações cruciais que “atingiram praticamente todos os níveis da existência social dos povos europeus em geral e. do outro. no mesmo país. e não mais será algo reservado a uns poucos clérigos. p. e faleceu em Frauenburgo. em especial. Otelo e Romeu e Julieta. 10 . no qual se promove o surgimento de uma nova concepção no estabelecimento da verdade. está no fato de que nela a religião não é mais a única instância de explicações. William Shakespeare Inglês. os habitantes das regiões centro-ocidentais da Europa” (FALCON. o misticismo. o irracional não desaparecem. neste imenso terreno do tempo que abarca a transição feudalismo/capitalismo. Nesta inquieta maré de mudanças. em 1473. 2000. O sentimento religioso. agora. com ela. E tais mudanças arquitetam uma espécie de bifurcação ideológica. convivemos com tudo isto hoje em dia. Ou seja. avança uma nova concepção terrena e humana de mundo. Outros campos. observa-se a diminuição das sombras da Metafísica e da Teologia. possível de se perceber já no nascer desta tal Idade Moderna. p. os motivos. Mas tudo pode ser também provisório. em certos casos de modo bastante discreto. ou a chegada de Cristovão Colombo à América (1492). apresentam transformações graduais. 2000. 2000. Em diversos campos do saber. Aliás. foi havendo uma tomada de consciência quanto à modernidade nascente. as novas rotas comerciais. os sinais.11). campos dominantes e centralizadores até então. fundou a astronomia moderna. as luzes (pensemos no ápice que será o século XVIII). ajudou a transformar a concepção do universo. A verdade. “nas sociedades ocidentais. Mas vamos com calma. e não mais apenas a versão revelada e eclesiástica. a verdade estará ao alcance do homem. dona de linguagem própria e leis. A diferença. Reforcemos: as coisas ocorrem de maneira lenta. em 1543. mas significativas. a religião. volta de 1442.23). É um tempo marcado ainda pela passagem da transcendência à imanência.. Ao publicar Sobre a revolução das esferas celestes. (15541616) considerado por muitos o maior dramaturgo que já existiu. E assim. as comparações. Defendeu a teoria do heliocentrismo e. alterado pelas metamorfoses contínuas que os novos tempos trazem. Polônia. O resultado deste conjunto de transformações é a formação de uma sociedade moderna e distinta daquelas que lhe haviam precedido. Tudo isto se desenha na ampla tela em que se pinta a Idade Moderna. Homens. o astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543). p. Macbeth. Como dirá um personagem de William Shakespeare (1554-1616). ganha força a secularização. época de uma expansão quase universal. e quando o progresso geral recomeça após essa regressão. H i s t o r i a d o r ao proceder uma caracterização da Europa Moderna. Mapa do veneziano Jerônimo Marini.inf. Aliás. p. a Idade Orbis Universalis. 2007. É ali que as mudanças cruciais acontecem. Segundo afirma Colin McEvedy. desta conscientização. o autor o construiu com Florença. a instrução e o conhecimento aumentaram século após século no nosso período” (McEVEDY. Mas trata-se de um progresso irregular. FARIA. a liderança econômica provinha do Sul da Itália e Espanha. Trevor-Roper. Influenciado pelos árabes. “a prosperidade. deste novo espírito chamado modernidade. MARQUES.10). e algumas vezes numa dada área – a Itália e a Espanha são exemplos disso – pode ter retrocedido durante longo período”. Lisboa. H.htm acesso em 23 out. http://www. aproximadamente. Conforme Trevor. como se pode perceber. 11 1 . a Idade Moderna experimenta diversas fases. novos mundos Aula Talvez uma coisa valiosa a ser dita inicialmente é que modernidade e Idade Moderna não são a mesma coisa. já no século XVII observa-se uma crise profunda. Uma liderança também intelectual. dos papagaios ou mesmo alternam como centrais: Gênova. nos apresenta a ideia britânico (1914de modernidade como uma continuidade com cortes. basicamente da Europa Roper Ocidental. o continente europeu vivenciou a Idade da Renascença.br/santos/ e Paris ditam economia. muito pouco suave: “há períodos de acentuada regressão. de 1512. Londres orientação para o Sul.novomilenio. se consideramos a Europa como um todo ou o norte da Europa em particular. produzem novos mapa83. que se desprende a concepção da História Moderna como uma época dessemelhante. Nestes tempos. sendo este uma derivação Inglaterra e o nado primeiro. É da visão desta nova sensibilidade.Essa tal Idade Moderna: transição para novos tempos. Porém.8). Roma. Hugh R. Os dois processos possuem. Podemos dizer que entre 1500 e 1620. portanto. O mundo europeu saído das crises que atingem países como Inglaterra. 2003. “certamente cada século teve suas recessões e colapsos. “del brazille”). vínculos essenciais. zismo alemão. o período 1500-1800 é marcado pelo progresso. um problema que atinge de maneiras diferentes a maior parte da Europa.2003) que se dedicou a estudar a Roper. Madrid. p. Entretanto. não se retoma necessariamente nas mesmas áreas” (Trevor-Roper Apud BERUTTI. Santa Cruz. Tempo iniciado Idade Moderna na pelo Renascimento e encerrado pelo Iluminismo. França no final do século XV é também a Europa Ocidental que vê nascer o século XVI experimentou um progresso quase geral. O italiano era um idioma a ser aprendido e as cidades italianas eram referências fundamentais nos negócios do mundo conhecido. Veneza. Ora.R. Moderna é marcada por cidades que se Provavelmente esta é a primeira carta geográfica a localizar o Brasil (antes Vera Cruz.2009. TrevorNesta obra falaremos. na geografia. na política e na economia. disputam o status de do mundo . os muitos espaços dominados por senhores feudais deram lugar a territórios organizados sob o controle de um Estado. ocorrem transformações cruciais. Por sua vez. RESUMO A Idade Moderna compreende um período de mudanças ocorridas entre os séculos XV e XVIII. 12 . na religião. Trata-se de um momento de ascensão da Europa e de seus Estados como os mais poderosos do globo terrestre. de forma a ressaltar este período como um momento de transição acentuada. na geografia. CONCLUSÃO O curso de História Moderna I. o Velho Mundo conheceu os tempos do Iluminismo. assim como nas artes. uma série de mudanças ocorrerá em diferentes esferas das sociedades. A partir da Europa. estabelecem doutrinas religiosas. O objetivo é apresentar de maneira sumária as alterações na visão de mundo. Transição para novos mundos. novos tempos. Entre os século XV e XVIII. com o fortalecimento do poder real. mas também não são mais hegemônicas. A monarquia é controlada. pela diminuição do poder da Igreja e pela ascensão do individualismo e da razão como aspectos centrais da vida em sociedade. a liderança intelectual passa à França. Graças a isto. Principalmente na Inglaterra. o período que vai de 1620 a 1660 envolveu revoluções. por exemplo. por suas particularidades. na política. Inglaterra e Holanda. Tais mudanças. de um corpo de leis e de um exército feitos para servir a um rei. Finalmente.História Moderna I saberes. As transformações ocorrem. marcado pela emergência de Estados organizados. Algumas das diversas mudanças ocorridas nestes dias serão estudadas mais adiante. estabelecem esta mesma época como um tempo de transições. com o Renascimento. com a descoberta de novas terras e mares. tem como alvo reflexões sobre as transformações experimentadas pela Europa entre meados do século XIV e o século XVIII. razão do conjunto de aulas que será apresentado neste livro. com a Reforma Protestante. Regiões mediterrâneas se viram para o norte em busca de ideias. a Europa mudou. enquanto o Parlamento e a burguesia ampliam seus poderes. pois as concepções típicas do medievo ainda não estão plenamente superadas. Aos poucos. entre 1660 e 1800. p. In: História Econômica Geral. 3 ed. 67-86. Trad. Buarque. Trad. Cyro. será fundamental quando for necessário realizar uma revisão ou preparar um texto sobre o assunto. Bernardo Joffily.M. Conceito de modernidade. Atlas de História Moderna (até 1815). 9-21. ROTTERDAM. 2003 (Coleção textos e documentos. Flávio. Colin. In: História Moderna através de textos. 3). HARMAN. A Revolução Científica. Erasmo. RODRIGUES. 10 ed. Adhemar. 2007. p. São Paulo: Universo Livros. Hamlet. novos mundos Aula ATIVIDADE A partir do que foi visto nesta aula. O texto desta aula inicial oferece informações diferenciadas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2000. Antônio Edmilson M. Tempos Modernos: ensaios de história cultural. Sérgio Bath. S/D. P. escreva por quais motivos podemos afirmar que a Idade Moderna envolve um tempo de transições. o aluno exercita a capacidade de criticar e estabelecer um sentido ao que foi lido. São Paulo: Contexto. McEVEDY. 13 . REFERÊNCIAS BERUTTI. Ricardo. inclusive. William. SHAKESPEARE. São Paulo: Ática. mas percebe-se que o cerne das suas transformações está entre os séculos XV e XVIII. São Paulo: Escala. Ao se esforçar para condensar aquilo que foi dito na aula em poucas linhas. AUTOAVALIAÇÃO Esta atividade exigirá do aluno algo básico para um historiador: a capacidade de síntese. FALCON. MARQUES. Adriana J. São Paulo: Contexto. Francisco José Calazans. São Paulo: Companhia das Letras. é importante que haja bastante atenção na confecção desta atividade. 1995.Essa tal Idade Moderna: transição para novos tempos. REZENDE. FARIA. Rodrigues. Por isto. Trad. (Série Princípios). 1997. Ela. 2007. Ele possui uma periodização variável (os manuais de História indicam momentos diferentes para o seu início e o seu término). De Pueris (Dos Meninos)/A Civilidade Pueril. 1 COMENTÁRIOS SOBRE A ATIVIDADE A Idade Moderna foi um período de transições por todas as alterações nela vivenciadas. Sistema econômico comercial. Fonte: http://www. 1999. com 19 anos. é representada como uma mulher que beira a loucura. 125min.sebodomessias. a fragilidade da figura real e as manipulações em torno desta personagem também podem ser exploradas através desta película. Suas vitórias como guerreira. Sinopse: Com a morte de Maria. Muito religiosa. as inquietações e os problemas ligados ao campo religioso. Elizabeth é coroada rainha da Inglaterra. Pode ser utilizado para abordarmos as práticas que caracterizam o Estado absolutista. não a livrarão de um destino cruel. seus inimigos não acreditam na capacidade da nova soberana em realizar as mudanças necessárias no reino dividido entre a fé católica e a protestante. Joana D’Arc. Observações: O filme enfatiza o desempenho dos espanhóis no sentido de estabelecer uma ligação política entre as coroas espanhola e inglesa. 14 . Capa do DVD do filme Joana D’Arc. 1998. Sinopse: Em meio à Guerra dos Cem Anos nasce Joana D’Arc (Milla Jovovich). Inglaterra. Luc. iletrada.files. Observações: O filme enfoca acontecimentos importantes na história da Guerra dos Cem Anos. Joana liderará o exército francês contra os inimigos. Shekhar.br. França. KAPUR. Elizabeth enfrentará intrigas palacianas. Joana D’Arc (1412-1430). Assim. Seu país encontra-se com dificuldades financeiras.com.História Moderna I FILMOGRAFIA RECOMENDADA BESSON.com.wordpress. 124 min. mística e apaixonada por sua terra. ao crescer ela acredita ter a missão de libertar seu país da dominação inglesa. As representações existentes no filme buscam evidenciar a ritualística da corte. Fonte: http://movieobserver. Capa do DVD do filme Elizabeth. A retomada de Reims por Joana. O filme pode despertar debates sobre o poder da fé e da religiosidade na formação de um povo. EUA. entretanto. Elizabeth. Conhecimentos gerais sobre a crise do medievo. Noções sobre a geografia da Europa.wikipedia. Leituras da aula anterior.http://pt.org) . O Cerco de Orleans (de 12 de outubro de 1428 a 08 de maio de 1429) marcou a primeira grande vitória de Joana D’Arc na Guerra dos cem anos e o início do declínio inglês nos outros estágios da guerra. pintura romântica representando Joana D’Arc na Batalha de Orleans. 2. PESTE E FOME: A FORMAÇÃO DO SISTEMA ECONÔMICO COMERCIAL 2 META Apresentar a conjuntura de crises produzidas no século XIV e suas relações com o surgimento de um novo comportamento diante da política. (Fontes: 1 e 2 .Aula GUERRAS. 1886-1890).Ilustração na Bíblia de Toggenburg (1411). em que um sacerdote reza por dois doentes com peste negra.Cerco de Orléans (Jules Eugène Lenepveu. PRÉ-REQUISITOS Noções de História Econômica. economia e religião. o aluno deverá: identificar as crises experimentadas pelos europeus no século XIV. destacar a importância da desagregação do sistema econômico funcional. pautado nas incumbências sociais de clérigos. OBJETIVOS Ao final desta aula. dos senhores de terras e dos servos. 1 2 1. O mesmo pode ser dito dos clérigos. os cavaleiros pouco puderam fazer. conflitos armados frequentes e a uma consequente redução populacional. a contínua expansão de áreas de cultivo era a única forma viável de manter a economia funcionando bem. exigiu um alargamento constante de zonas agricultáveis. Cabia aos servos produzir. aliadas a desastres naturais. Assim. A depressão experimentada resultava de um crescimento fomentado pela adoção de inovações técnicas. A funcionalidade de cada grupo social acabou duramente abalada. A partir das crises ocorridas na Baixa Idade Média. cuidar da terra. Mas o salto na produção de alimentos.. dois outros problemas afligem os europeus: por 16 . aos cavaleiros defender dos males desta vida. A produção esteve longe do esperado. honrar suas famílias. orando.. evitar os saques. durante as crises. Ainda assim. Neste mesmo período. Ao mesmo tempo. Por fim. Porém. o crescimento populacional paralisou. neste momento de crise. No século XIV a Europa diminuiu. Apenas com o advento de fomes violentas e generalizadas. aos clérigos estava reservada a tarefa de proteger a sociedade no universo sobrenatural. Lembremos: o arado representava uma ferramenta com ampla diferença nos resultados das colheitas da Europa. garantir o pão. os clérigos asseguravam a proteção divina ao povo. vencer torneios. Orar era a sua principal incumbência. O organograma seguinte ilustra as relações de dependência entre os três principais segmentos do medievo. O conjunto de problemas apresentados a seguir será fundamental para fraturar um modo de manter a economia. resultando em uma desorganização das atividades agrárias. e aos clérigos garantir a proteção contra as forças do além. juntamente com elas. Lavrar. UMA EUROPA MENOR. assim como facilitarão a concentração do poder nas mãos dos reis europeus. podemos observar mudanças que promoverão novos arranjos sociais. Elas garantiam aos cavaleiros a tranqüilidade necessária para cumprir as suas: proteger os seus senhores e aliados em guerras. esta sociedade de funções tripartidas entrou em declínio. Portanto. Eram estas as atribuições fundamentais dos servos. estabelecerão novos modos de organizar os negócios e lançarão as bases para as aventuras além-mar. para a chegada de novos personagens sociais.História Moderna I INTRODUÇÃO Já ao final do século XIII a Europa estava em crise. Nesta segunda aula estudaremos como. Uma primeira coisa a ser observada é que o Velho Continente experimentou mudanças climáticas. cada vez maior e de melhor qualidade. a população do continente continuou a crescer até cerca de 1310. estas crises abrem as portas para práticas comerciais inéditas e. Como fios de um único novelo. como da natureza. Era a Peste Negra.a região de Flandres. Mortífera na maior parte dos casos. a doença exerceu papel crucial no rumo da vida econômica do século XIV. Escócia.guerras. Itália. embora militar. havia a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Este conflito envolveu três importantes regiões econômicas: Inglaterra. subnutridos. Tudo isto provocou grandes destruições nos campos. atingindo a Europa impiedosamente. por outro. peste e fome: a formação do sistema econômico comercial Aula um lado. entre 1350 e 1450. Irlanda. um novo panorama econômico findou estabelecido.Guerras. A crise Agrária 2 Os problemas climáticos (nevascas. as dificuldades apareceram: as más colheitas provocaram surtos de fomes. A partir de tantos problemas. Tamanha penúria. homens e mulheres sucumbiram às epidemias. 17 . ficou pior graças aos problemas provocados pelas crises demográfica e monetária. houve exceções (1361-1362 e 1374-1375. incerteza e desespero levaram populações ao abate generalizado de animais domésticos. tiveram nos a produção agrícola europeia em fins dos apresentassem maior poderresistência.com observar as contribuições humanas para a construção de uma crise talvez sem precedentes nos campos da Europa. a traumática experiência da Peste Negra (1347-1350). o mundo experimentou uma pandemia (epidemia em grandes proporções) de uma doença que cruzou mares e montanhas. Os ingleses. Península Ibérica. ainda é possível Fonte: http://www. sempre difícil de ser controla. França e Flandres. por exemplo). O trigo era (na verdade. Fragilizados. em parte. estão as guerras constantes envolvendo regiões como França.brasilescola. quatrocentos. a crise agrária fomentou uma série de graves problemas. chuvas torrenciais ou secas prolongadas) A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi na verdade um conjunto foram essenciais para abalar gravemente de confrontos bélicos entre França e Inglaterra. vinda da Ásia. trazendo a morte por um mal desconhecido. Porém. Os conflfranceses adversários com grande capacidade de itos foram. 63% na Inglaterra e 73% na Renânia. E o que era difícil. não bastasse a força motivados por disputas por regiões de relevância econômica. Um dos resultados de tanta devastação foi a tendência de baixas no preço do trigo a partir de 1350. a zona do Báltico. as baixas no cereal chegam a 35% na Áustria. da e prevista em suas ações. A Crise Demográfica O grande problema para a demografia em meados do século XIV foi a Peste Negra. Alemanha. ainda é) um alimento fundamental na vida do europeu. Esta longa série de batalhas conheceu períodos de interrupção dos combates e mesmo paz. Entre 1348 e 1350. Claro. Entre os aspectos ligados a governos e comerciantes. Porém. Por conta disto. As comunidades religiosas.. cuja beleza supera a de qualquer outra da Itália. Um livro produzido sob os impactos da peste pode ajudar a entender os efeitos produzidos pela doença sobre os corpos e o imaginário dos europeus. fôra de um lugar para outro. nenhuma prevenção foi válida. a peste fez-se mais presente em núcleos urbanos do que nos campos. elaborado entre 1348 e 1353. Através da literatura. há alguns anos. pois ela vale a pena: . sobreveio a mortífera pestilência. de modo horripilante e de maneira milagrosa. muitos escritores. foram alvos fáceis da doença. quase ao principiar a primavera do ano referido. O texto revela forte crítica às instituições medievais e centraliza os valores humanos. Vamos a outro exemplo. podemos observar evidências dos problemas da Baixa Idade Média e das rupturas que se anunciavam.. tivera início nas regiões orientais.tínhamos atingido já o ano bem farto da Encarnação do Filho DECAMERÃO. na mui excelsa cidade de Florença. E como se desafiasse a força da Igreja. ou em razão de nossas iniqüidades. É verdade.História Moderna I Giovanni Boccaccio Escritor humanista italiano. Na cidade de Provença. atirada sobre os homens por justa cólera divina e para nossa exemplificação. poemas. nem valeu a pena qualquer providência dos homens. começou a mostrar. repletas de membros. a despeito de tudo. Por se propagar mais facilmente em lugares com maior concentração de pessoas. enfrentaram grandes dificuldades com a doença. por exemplo. As novelas inlfuenciam. Admirador de Dante Aligheri. Tal praga ceifara. Vejamos o que nos deixou Giovanni Boccaccio (1313-1375) em sua obra Decamerão. Por isto mesmo a doença atingiu mais aos pobres que aos ricos. publicou biografias de mulheres ilustres. a citação é longa. um divertido conjunto de cem novelas. ainda hoje. de 1348. A Peste Negra foi um problema menor em regiões de baixa densidade populacional. Cidades como Florença e Provença. mas ganhou notoriedade com Decamerão. naquelas plagas. A praga. A cidade 18 . uma enorme quantidade de pessoas vivas. Por iniciativa dos corpos superiores. a peste. os seus efeitos. para o Ocidente. Mas não reclame. de Deus. quando. Incansável. a enfermidade arrastou-se até mosteiros e abadias. e estendera-se de forma miserável. pois estes puderam fugir dos locais contaminados. outras. E assim problemas se acumularam. cada um deles esfregando-as na própria cara. morto por essa doença. principalmente nas axilas e virilhas. e entre preços e salários” (REZENDE. Septicêmica – o bacilo Pasteurella pestis passa diretamente para a corrente sanguínea. Pouco adiantaram as súplicas humildes. REZENDE. Tudo isto pressionava por meios de pagamentos. sacudiram-nas com o focinho. cresciam umas mais outras menos. Ocorre um “completo desequilíbrio entre oferta e demanda. 71). Com o tempo. apareciam no começo. algumas inchações. Os prejuízos provocados por ambas foram acompanhados de perto por mais outro grande problema: a crise monetária. Afinal de contas.. Depois dessa pandemia. mortífera em quase 100% dos casos. Muitos conselhos foram divulgados para a manutenção do bom estado sanitário..) . a Europa carecia de metais amoedáveis. entre outras vezes. sendo mortífera em 70% dos casos. às vezes por procissões de pessoas. A depressão chegou. peste e fome: a formação do sistema econômico comercial Aula ficou purificada de muita sujeira.tiveram os meus olhos (como há pouco se afirmou) certo dia. Num triste efeito dominó. Em Florença.Guerras. chamava-as o populacho de bubões. um novo cenário de crescimento começou a se desenhar.. a crise demográfica alimentou um colapso no campo. de início. os dois porcos caíram mortos por terra. Ou seja. a pandemia matou entre 25% e 35% da população europeia. não teve o mesmo comportamento que no Oriente. 2 As faces da peste negra: 1. A entrada nela de qualquer enfermo foi proibida. era sinal evidente de morte inevitável . ou na virilha ou na axila. feitas em número muito elevado. uma queda demográfica tão abrupta e de ampla abrangência simplesmente aprofundou a crise agrária e desarticulou governos e negócios. p. (. na Alemanha as mortes não foram tão acentuadas. segundo costumam fazer. Dois porcos. como se tivessem ingerido veneno. Neste.. letal em 100% dos casos. na França quase 70% da população morreu. (. Algumas destas cresciam como maçãs. houve várias epidemias da mesma doença: cinco no século XIV. 1997. dez no século XV (Cf. 19 . graças a funcionários que foram admitidos para esses trabalhos. Porém. A baixa na mão-de-obra. (BOCCACIO. Apenas uma hora depois. tanto em homens como nas mulheres. p..13--15). quando o sangue saía pelo nariz fosse quem fosse. 3. sobre trapos em tão má hora jogados à rua.) A peste. alinhadas. 1971.. a seguinte experiência: as vestes rôtas de um pobre sujeito. depois as seguraram com os dentes. após uma convulsões. Seus efeitos foram desiguais. Se. em Florença. às vezes por pessoas devotas isoladas. O Velho Mundo começou a experimentar o alargamento do mercado consumidor e a difusão da mão-de-obra assalariada. forçou o aumento dos salários. por exemplo. provocada pela perda de trabalhadores para a peste e para as guerras. e às vezes por outros modos dirigidas a Deus. 1997) EFEITOS DA PESTE NEGRA Os lamentos de Boccaccio não são à toa. Pulmonar – uma espécie de pneumonia (preferencialmente em estações frias). como um ovo. Bubônica – aparecimento de inchaço (bubões). foram jogadas à rua. 2. e promovessem um acúmulo de riquezas. contribuiu para a centralização administrativa lançada pelos monarcas dos Estados Nacionais. encontraram espaço para ganhar autonomia. Portanto. 2) crescente intromissão dos Estados na vida econômica. 3) apogeu das sociedades comerciais privadas. os negociantes recebem apoio dos Estados e formam as sociedades comerciais privadas. a partir das crises do século XIV. formadores do último elo da cadeia. Trata-se antes de uma relação tensa. com salários inesperadamente altos. por exemplo. podemos considerar alguns aspectos como fundamentais para a constituição do cenário dos séculos XV e XVI. grandes companhias de comércio. em 1349 ou na Inglaterra. as três crises (demográfica. Podemos dizer que foi uma crise de crescimento. os servos. 20 . sem dúvida. na qual os dois lados procuram tirar o melhor proveito disto. baseada no critério de funcionalidade.História Moderna I DEPOIS DA DEPRESSÃO Como se pode perceber. Isto. Observemos. em 1351). Aliás. assim. os clérigos pareciam não mais proteger. o que dizer deles? Suas funções de defesa também não eram mais plenamente cumpridas. Temos. Mas atenção: isto não deve levar à conclusão apressada de que se montou um Estado a serviço da burguesia nascente. A necessidade de desenvolver as atividades comerciais esbarra nas dificuldades com os meios de pagamento. Em meio aos tormentos. não se sustentava mais. como escreveu o já citado Boccaccio. Por fim. uma crescente procura de metais nobres e a reativação do comércio de artigos de luxo do Oriente. A intervenção estatal na economia começa a se tornar uma prática comum. as interferências estatais nos níveis de preços e salários (na França. que assumiram um caráter tipicamente capitalista. A crise generalizada abriu brechas para que parte dos excedentes dos senhores acabasse chegando aos servos. cavaleiros em suas armaduras reluzentes. A Igreja perdeu espaço. fruto das necessidades dos monarcas e da astúcia de comerciantes e nobres acaba delineando-se. Como contrapartida. Burgueses e Estados aproximam-se e estabelecem ajudas mútuas. Desestabilizada por tantos problemas a economia senhorial. eles sequer se protegiam. São eles: 1) falência da funcionalidade dos senhores laicos e da Igreja. E os senhores de terra. agrária e monetária) em conjunto provocaram um abalo geral sobre um sistema que se expandia há três séculos. Quais as consequencias de tudo isto? Uma inédita aliança. expediente que não experimentará grandes retrocessos desde então. Os reis necessitavam de finanças para bancar uma burocracia civil e militar visando taxar adequadamente suas populações. A África e a Ásia se tornam destinos imprescindíveis e a obtenção de novas rotas. outras onde predomina a vinha. Agora. A construção de um cenário de terrenos especializados. A obra de arte pode ser uma interessante fonte para a História. 1997. não a vê-lo como numa fotografia. a mudança de policulturas para monoculturas teve resultados importantes. alterou-se também a concepção que se tinha sobre o trabalho camponês. é preciso considerar a qualidade deste serviço. A ineficiência dos métodos de cultivo no campo. Assistese à decadência dos Eixos econômicos tradicionais. Claro. Assim. peste e fome: a formação do sistema econômico comercial Aula CONCLUSÃO Tudo isto foi acompanhado por um processo fundamental. Nesse sentido. e outras onde a pecuária se faz absoluta” (REZENDE. com as regiões especializadas em determinadas culturas. Como tudo que o homem tocou. senhores e clérigos. após isto. as atividades agrícolas foram regionalmente especializadas e promoveram o surgimento de áreas de monoculturas.). 21 . Afinal. áreas dedicas às plantas têxteis e tintoriais. escreva sobre os possíveis “sinais” de crise que você conseguiu identificar nelas. algo que modificou o jeito de lidar com a terra na Europa. Sabendo disto. Com isso havia menos braços para cuidar da lavoura. Um resultado crucial deste conjunto de crises que assolou o Velho Continente ao fim do século XIV foi a fratura no tradicional critério de funcionalidade entre servos. Tal problema alimentou dificuldades econômicas no Continente. Com isto nascem “áreas exclusivamente dedicadas à cultura de cereais. a arte pode ajudar a analisar o passado. 2 RESUMO O início da Idade Moderna apresenta sérios problemas herdados do Medievo. 78. procure informações sobre manifestações artísticas do período aqui analisado e.Guerras. A policultura europeia dava lugar a um uso mais racional dos solos. a Europa Centro-Atlântica surge para comandar a economia continental. sentiam e interpretavam os problemas e acontecimentos do seu tempo. aliada às sucessivas guerras e doenças do período contribuíram para a diminuição populacional na Europa. tendo sido responsável pela morte de 1/3 da população europeia. elas contribuíram para que os eixos econômicos tradicionais perdessem seu lugar. ATIVIDADE 1. p. A partir de um redimensionamento visando maior produtividade. como agiam. mas para ajudar a entender o que as pessoas faziam. necessidade inevitável. não apenas a quantidade dele. a peste negra merece destaque. Deste modo. O Mediterrâneo e o Báltico não mais alimentavam a Europa. Guimarães. 1971. BOCCACIO. 2ed. a aventura até o tal feudo é muito mais complicada do que parece. Bernardo Joffily. Giovanni. A morte se faz presente na arte. Ricardo. percebemos uma diversidade de possibilidades de abordagem. Sistema econômico comercial. Os “contratantes” de Brancaleone estão com um pergaminho (na verdade roubado de um cavaleiro ferido) que lhes dava a posse do reino de Aurocastro. BERUTTI. MARQUES. FARIA. Sinopse: Brancaleone de Norcia (Vittorio Gassman).p. Trad. Contudo. mas depois se juntam ao grupo um negociante judeu. 3). In: História Econômica Geral. Decamerão. Itália/Espanha/ França. numa nítida influência dos tempos da peste negra. São Paulo: Contexto. é contratado como líder de um pequeno e diversificado bando: inicialmente são três saqueadores.Quixote (1605). São Paulo: Abril Cultural.História Moderna I COMENTÁRIOS SOBRE A ATIVIDADE Entre as obras enfocando o período. A peste negra. Atlas de História Moderna (até 1815). AUTOAVALIAÇÃO A atividade de pesquisa exigirá do aluno capacidade de observação e reflexão sobre o conteúdo da aula. um atrapalhado cavaleiro. T. 3 ed. Flávio. A narrativa é inspirada em D. 1997. assim como a decadência da cavalaria são abordados na película. REFERÊNCIAS REZENDE. São Paulo: Contexto. A crise do feudalismo. Trad. a fome. um nobre de poucas posses. 1966. 2007. Será preciso ter atenção para interpretar as imagens e proceder a considerações sobre como os artistas representavam as mudanças trazidas nos momentos finais do medievo. as guerras. 22 . Mario. Adhemar. Colin. São Paulo: Companhia das Letras. O poder da Igreja e os problemas em torno da fé também são explorados pelo diretor. 10 ed. O Incrível Exército de Brancaleone .22-37. merece destaque a frequência de imagens ligadas ao universo sobrenatural. Porém. 120 min. 2003 (Coleção textos e documentos. In: História Moderna através de textos. Observações: Esta comédia italiana apresenta representações bastante interessantes sobre os problemas da Baixa Idade Média. p. Filmografia recomendada: MONICELLI. Cyro. de Miguel de Cervantes. 67-86 McEVEDY. opovo.com. peste e fome: a formação do sistema econômico comercial Aula 2 Capa do DVD do filme O Incrível exército de Brancaleone.br 23 . Fonte: http://blog3.Guerras. tecnológicas e culturais nelas envolvidas. (Fonte: http://pt.wikipedia. OBJETIVOS Ao final desta aula. Uzbequistão. para se chegar à Índia era preciso cruzar o Mar Mediterrâneo. Dias foi o primeiro europeu a navegar para além do extremo sul da África. continuada posteriormente por Vasco da Gama.Aula NAVEGAR É PRECISO: A EXPANSÃO ULTRAMARINA EUROPEIA E A EDENIZAÇÃO DO NOVO MUNDO 3 META Apresentar os fatores fundamentais que contribuíram para as Grandes Navegações do século XVI. o aluno deverá: identificar os principais fatores contribuintes para as Grandes Navegações do século XVI. antes de chegar ao Cabo da Boa Esperança. passando por Gênova e Veneza. reconhecer a importância de um ideal de propagação da fé e da crença em um “Paraíso terreal” entre os europeus nas Grandes Navegações. perceber os desdobramentos das Grandes Navegações para o mundo do século XVI. Mapa representando a Rota da Seda – conjunto de caminhos que liga a costa do mar Mediterrâneo à China. Afeganistão e Paquistão. atravessando 7 mil km entre os territórios dos atuais Iraque. PRÉ-REQUISITOS Leituras sobre a crise do Medievo. Irã. aumentando a necessidade da expansão marítima. Antes.wikipedia. dobrando. Noções de História Econômica.org) . o Cabo das Tormentas (futuro Cabo da Boa Esperança) e chegando ao Oceano Índico a partir do Atlântico. em 1488. A viagem de Bartolomeu Dias. e por onde eram transportadas mercadorias do Extremo Oriente para a Europa e o mundo árabe. A tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos (1453) inviabilizou o comércio europeu pela rota. considerando as transformações econômicas. (Fonte: http://pt. Turcomenistão.org) Painel representando Bartolomeu Dias e seus marinheiros em meio a uma tormenta. abriu o caminho maritimo para a Índia. ao mar temido. impunham aos homens dos seiscentos a urgência em lançar-se ao mar. Pó. 26 . a Europa passara por crises terríveis. a fome e as crises de subsistência atormentavam soberanos e comerciantes. Ano I. Reno.5. era mais importante que viver”. Entre elas. A Jerusalém nova. (Apocalipse. juntamente com Luís Vaz de Camões (1524-1580). História Viva. Portugal. A efervescência do Mercantilismo. Primeiro. passou por aproximadamente 21 crises de subsistência entre os séculos XIV e XV. compreende um empreendimento comercial. e uma terra nova.inf. mar. As dificuldades das viagens por terra. Fonte: http://www. especiarias e uma melhor sorte em suas vidas. Porque o primeiro céu e a primeira terra se foram. O que eles não disseram. pioneiro nas aventuras. nem tanto. A frase é de Pompeu. Naqueles tempos. (10648 a. foram os rios que tomaram viajantes das rotas terrestres: Sena. num dia de tempestade e vento muito forte. a crença em um novo Éden merece ser considerada. que precisava levar trigo de uma província para Roma e exortou os marinheiros a zarparem. Afinal de contas.2004. Viver. que da parte de Deus descia do céu. Sim.br A frase. 1 e 2) “Navegar é preciso. vi a cidade santa. MARTINS. Rodano. N a s c e u e m o rreu em Lisboa. metais preciosos. É considerado. a necessidade de novos terrenos. “foi o general romano Pompeu. sem dúvida alguma. XXI. E eu João. São várias as razões para navegar no século XVI. Porém. Adornada como uma esposa ataviada para seu esposo”.C ) general romano. o afastamento das costas se torna uma exigência daqueles que buscavam novas terras agricultáveis. Depois.História Moderna I INTRODUÇÃO “Eu vi um céu novo. Ou seja. viver não é preciso”.p. Eduardo. inspirada na afirmação em latim “ Navigare necesse. Danúbio. Navegar era preciso. pois o século XVI foi o século do transporte marítimo. a concepção das novas terras como espaços do sagrado. navegar. ao tenebroso inimigo de suas mulheres. é preciso considerar outras motivações. Saona. um dos principais expoentes da língua portuguesa. para cumprir a missão. n. Meno. na verdade é de outro autor . É quase impossível não lembrar dos versos de Fernando Pessoa (1888-1935). a gestação e o fortalecimento dos Estados Caravelas portuguesas.17 Fernando António Nogueira Pessoa foi um poeta e escritor lusitano. A primeira delas encontra-se na busca por alimentos. E o mar já não é. Negociantes da Itália e de outros países se envolvem diretamente no financiamento das viagens dos reinos ibéricos. de especiarias e ouro. vivere non est necesse”. quando falamos das Grandes Navegações. Loire.novomilenio. O período denominado pelos historiadores de “descobrimento” compreende desdobramentos das significativas mudanças ocorridas nas estruturas da sociedade europeia. O salto destes marujos rumo ao desconhecido. Segundo Eduardo Martins. possuíam 3 mastros e utilizavam velas latinas.educ. Fonte: http://blig.Navegar é preciso: a expansão Ultramarina Européia e a edenização. Pioneiro nas Grandes Navegações. Nesta em preitada. Este tipo de vela permitia navegar contra o vento e. É perceptível. teria respondido Vasco da Gama quando questionado sobre aquilo que buscava na Índia. com capacidade de transporte para 50 toneladas. é o lugar ideal para se controlar a economia-mundo” como escreveu Fernand Braudel (1996. diversas obras literárias ou mesmo certas ilustrações da época. a construção de novos tipos de embarcações – as caravelas – mais rápidas e seguras.uc. Eram barcos de cerca de 30 metros (tamanho máximo). Aula Nacionais. Observem-se os relatos dos viajantes. a aquisição de novas técnicas e instrumentos – o astrolábio. portugueses e espanhóis utilizaramnas. Ora. deste modo.mat. portugueses e espanhóis possuíram Fonte: http://www. o quadrante. antecipou-se aos lusitanos e atingiu o novo continente na altura da América Central. 22). 27 .pt uma visão edenizada do novo mundo. p. o genovês Cristóvão Colombo. em considerável parte destes. “de frente para o oceano. em 1500. Ainda em 1942.pt caça de novos territórios. Cabral pisou terras americanas mais ao sul. Dentro desse período. Portugal teve na Espanha seu grande rival durante os primeiros tempos do processo de “descoberta”. os portugueses acreditavam Bússola.fc.ig. maiores do que aquelas utilizadas nas tradicionais naus. assim como a criação da Escola de Sagres (localizada em Cabo São Vicente. a imagem da América como a de um “paraíso terreal”. Durantes as Grandes Navegações.com. evitar contratempos em regiões desconhecidas pelos exploradores.astro.br que encontrariam tanto soberanos 3 As caravelas foram inventadas entre os séculos XV e XVI. A embarcação poderia também carregar artilharia.ul. “Cristãos e especiarias”. Portugal) alteraram definitivamente a arte de navegar. embrenhando-se pelos mares do Oeste. Eram de fácil navegação. Portugal. Ceuta é atingida Astrolábio... em 1519. e inaugura o avanço europeu na Fonte: http://www. Em 1415. Anos depois. a bússola -. apropriando-se da tecnologia de Sagres. muitos Quadrante. financiado pela coroa espanhola. Em momentos como estes. Vasco da Gama percebeu que navegava em “mare islamicum”. Sofala. para desencanto dos exploradores. O paraíso estava distante daquela terra de “pagãos”. Colombo liderou a expedição que atingiu o continente americano em 12 outubro de 1492.. assim como em entrepostos que serviam de escala na viagem destes produtos rumo à Europa. O controle por eles exercido sobre o comércio de especiarias (canela. Uma tripulação inteira é queimada em meio aos avanços de Vasco e suas embarcações. Orbis universallis.22). Socotorá. Sob o patrocínio de Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela. Tantas atrocidades evidenciam o empenho português em deter o avanço mulçumano. Disponível em http://objdigital.br 28 . O Objetivo inicial da sua viagem era chegar às Índias. dispara os seus canhões vorazmente. a predominância era de mulçumanos. em desarticular as suas rotas comerciais. nozmoscada. chamados Reis Católicos da Espanha. pimenta. A violência passa a ser um expediente recorrente nas ações dos exploradores. Vasco da Gama ataca. Ao chegar à Índia. Mutila. caiu o véu de encantamento com as descobertas que pareciam envolver as navegações. cobra tributos. Chegou a receber os títulos de Grande Almirante do Mar Oceano. Porém. Acompanhado de pesada armada. demarcado e controlado pelos lusitanos. Em seu lugar. por exemplo. Moçambique. quanto povos de fé cristã. de 1552. e Cavalheiro da Corte dos Reis de Espanha.História Moderna I Cristóvão Colombo foi um navegador italiano. Há divergências quanto ao seu ano de nascimento (1437 ou 1448) e mesmo sobre o seu nome. Faleceu em 1509. O Oceano Índico era um terreno do Islã e o que ele. todos moradores de Meca (BRAUDEL. Foi assim. açafrão etc. Somo Quíso. O mar é percorrido. alimentara a fúria dos exploradores europeus.. apareceu o massacre. Vice-Rei e Governador Perpétuo das Índias. Biblioteca Nacional. provavelmente nascido em Gênova. Vasco. 1996. E pouco a pouco Lisboa avança: Quíloa.bn.). Vence os seus inimigos. Percebe-se que o poderio comercial mulçumano ameaçava Portugal. p. gengibre. Autor: Sebastian MUNSTER (1589 1552). ou seja. encontrou? “Tutti i mori della Mecca”. entre 1502 e 1505. nem cria substância alguma material ou corpórea. Foi utilizaaquilo que foi visto na selva brasileira. salvo raras exceções. p. um anel de suspensão e num ponteiro Aqui.vários tomos. Os trabalhos refletem basicamente duas coisas: 1. pelo posição dos astros sobrenatural? Poderíamos falar em homens abismados. So. política do século XVII. em 18 de julho de 1697. nem a Alguns dos seus textos mais conhecidos estão em Serrazão. Segundo o padre Antônio Vieira. marcadamente elogiosa. publicados em cumpriram-se apenas as profecias de Isaías” (VEJA. sacralizou o novo continente. Distantes dos problemas do solo ibérico. O astrolábio do assunto venha à tona. são a terra e Padre Antônio Vieira Religioso português. Mas se deixarmos nossos olhos posições das estreatentos aos escritos de alguns personagens daqueles tempos. Um mercador florentino chamado medicescreveu que “aqueles mesmo que na Espanha foram conhecidos como ho. que Deus tanto tempo antes prometeu que havia de criar?”. num primeiro instante. 3 29 . A América graduado na borda.597). Poderemos encontrar sinais de uma idealização era composto por um disco de latão das novas terras. Por fim o em Lisboa.76). (1608-1697) depois da primeira criação. Instrumento iniA força dos “signos do maravilhoso”. Poderia ser mens de má vida. extasiados com no céu. aos reis espanhóis: “ao levar adiante a empreitada dos índios. Depois. até os criminosos tornavam-se virtuosos. mudam de carregado para terra natureza” (GERBI. 2. apresenta-se. para determinar a Seria possível. foi substituído por um o europeu deslumbra-se com as belezas tropicais. que Deus tinha como escritor e orador jesuíta. nem a matemática. 1996. em meio ao do para a navegação racionalismo dos nossos dias.a intenção dos autores em construir uma imagem paradisíaca da América e mesmo do Brasil. O próprio Vieira respondeu ao escrever: “digo esta nova terra e estes novos céus. foi fundamental nas transformações ocorridas a partir do século XV. p. falar em um mundo fascinado pelo maravilhoso. A conclusão barcações e mesmo do negociante italiano não poderia ser outra: “mudando o céu. Faleceu na Bahia. Tal edenização manifesta-se em textos diferenciados. porque somente cria de novo as almas. É o já citado Cristóvão Colombo apresentou argumento semelhantes autor de uma obra respeitável. firme. a Sextante. “Deus não criou.. é conhecida a promessa divina ao personagem bíblico: “porque eis aqui estou em que crio uns céus novos. bre a existência do paraíso terreal. cialmente utilizado atravessou os mares e. Aula A crença do europeu na existência de um paraíso terreal. falar em medo ou angústia nas histórias do marítima a partir identificação das “descobrimento” e colonização? Talvez não. hante denominado Vamos aos exemplos. p.Evidencia-se aí a esperança ou a crença na existência de um paraíso terreal num ponto até então desconhecido. inicialmente. escrita característica para o Novo Mundo é. ao chegarem às Índias mudaram totalmente de condição. Entre os historiadores do período colonial. herdada da mentalidade medieval. 1991. que se destacou clérigo arremata: “esta é a terra nova e o céu novo. e que céus novos são estes. até então oculto. saudável e de clima ameno. algo a mais las. 2001. que são espirituais: logo que terra nova. como uma antítese do continente europeu.lina. Antes do sacerdote. A Europa doente e fria instrumento semelcontrastava com a América. nascido os céus do mundo novo descoberto pelos portugueses”. Tornou-se figura influente na prometido por Isaías” (VIEIRA. utilizado em emtornaram-se virtuosos e procuraram viver civilizadamente”.Navegar é preciso: a expansão Ultramarina Européia e a edenização..433). por exemplo? Cabe. nem os mapas me tiveram qualquer utilidade: mões (1679). a “cidade santa”. Rocha Pita (16601738) chegou a afirmar que “é enfim o Brasil o paraíso terreal descoberto”. p. longe de constituir uma especialidade hispânica e sobretudo castelhana. a fauna brasileira era também motivo de espanto a muitos colonos. cuja abreviatura era “X”. Sendo assim. Isto. eram o único aspecto lamentável no empreendimento das Grandes Navegações (PETER e REVEL. tudo aqui era dom de Deus . ele insinuava que desde o batismo estava ligado a São Cristóvão e. 30 . a tendência para se procurarem em todas as coisas os significados ocultos. de 1730. Ainda que para muitos a descoberta da América acabasse reduzindo-se a uma troca de males (a gripe do Velho Continente pela sífilis do Novo) o evento cristalizou-se como o instante de contato do europeu com um mundo paradisíaco. era associado na Índia ao Éden e ali “não faltava quem situasse. Deste modo. A partir da crença neste possível paraíso. foram alvos de especulações. 1976. Na sua História da América Portuguesa. do ceifador ou do moleiro”. a sua permanência na “idade do ouro”. por sua vez. para muitos colonos capaz de se converter em vegetal.História Moderna I e uma terra nova: e não persistirão na memória as primeiras calamidades. p. 1959. 17). contribuiria naturalmente para sua inclusão entre as aves paradisíacas” (HOLANDA. a antropofagia indígena. p. a “Jerusalém nova” (conforme GÊNESIS II. servindo de argumento para a edenização Novo Mundo. identificando-se com Cristo. pássaro que conforme Sérgio Buarque de Holanda. estava generalizada para todo o mundo ocidental” (HOLANDA. por completo. o ufanismo é constante no autor baiano: “o sol em nenhum outro hemisfério tem raios tão dourados” e “vastíssima região. LXV. Para alguns. Nem mesmo os choques entre os colonos e os nativos destruíram. 1976. alguns elementos simbólicos reforçaram a ideia de um “jardim delicioso”: a ausência de invernos com nevascas e chuvas de granizo certamente contribuía para a edenização da América. Como a flora. relaciona-se com o fato de que “durante o Renascimento e ao longo do século XVIII.236). Observe-se também que Colombo assinava no formato greco-latino Xpo Ferens. 8) não pareceu impossível àqueles que primeiramente aportaram na América.19) Com as primeiras explorações da nova terra.248). o Éden bíblico. esta imagem. felicíssimo terreno em cuja superfície tudo são frutos. é provável. em cujo centro tudo são tesouros” (PITA. Descrevendo nossas terras. a América parecia ser o local que Deus assegurou construir. nascera designado a grandes travessias. Não apenas o papagaio. 1959. nem subirão sobre o coração” (ISAÍAS. Conforme afirma Sérgio Buarque de Holanda: “como nos primeiros dias da criação. a possibilidade de haver encontrado o “jardim delicioso”. como este santo. não era obra do arador. mas também o beija-flor (que Fernão Cardim julgou ser uma borboleta que se convertia em pássaro formoso) e o louva-a-deus. além de diversos outros animais e insetos. políticas e tecnológicas. RESUMO As Grandes Navegações foram um empreendimento de muitas motivações. A crença dos ibéricos num “mar tenebroso” abriu as portas para a fé num “paraíso terreal” e nos movimentos para encontrá-lo acabaram por domar as águas temidas e rebatizá-las de Atlântico.Navegar é preciso: a expansão Ultramarina Européia e a edenização. a necessidade de ouro. no século XIX. mal pode sonhar”. portanto. Muito se deve às mudanças econômicas. contudo.um novo Éden de vastidão desmesurada. prata e especiarias ajudam a explicá-la. precisamos levar em conta outras facetas desta aventura. um milagre com que o homem preso nos limites do espaço pigmeu da Europa. o irlandês Thomas Moore (GERBI. a busca por terras agricultáveis. Contudo. na qual todos os aspectos aqui citados sejam considerados. E se a descoberta de tal “paraíso” por um lado motivou a vinda de tantos outros europeus. As montagens dos aparatos burocráticos e militares de Portugal e Espanha no Novo Mundo fizeram este trabalho. A aventura das Grandes Navegações requer uma explicação ampla. 3 CONCLUSÃO Certamente esta edenização sofreu fortes abalos com a efetiva colonização. Mesmo com todos os problemas. Uma delas é o caráter de uma cruzada em favor da propagação da fé levada adiante por muitos defensores das viagens.. Quão longe se iria sem as caravelas? Todavia. por outro auxiliou na arquitetura da imagem pecaminosa do nativo: diante de inúmeras riquezas sem. Conquistar o “paraíso” tornava-se. p. Dominar era preciso. ideologicamente justificável..257). Porém. A necessidade de alimentos. é aconselhável evitar buscar fatores explicativos isoladamente. Aula p. 1996. saber aproveitá-las. a América era “. Também é certo que esta sacralização da América não foi o único motivo para a “descoberta” e colonização do novo continente. sentenciaria. A afirmação da existência de um Paraíso em terra se adequou ao novo universo aberto aos europeus que chegaram primeiro à América.141-159). 31 . tal idealização possui grande valor. Antonello. de comparar construções. Ela objetiva motivar no leitor o desejo de observar os prováveis ganhos resultantes das transformações tecnológicas em diferentes tempos. de usar a viagem para refletir. Visão do Paraíso. Como se fazia uma viagem no século XIV? Quanto tempo levava para viajar de um país ao outro da Europa? E da Europa a qualquer outro continente conhecido? E no século XV? E no XXI? Faça uma pequena pesquisa sobre isto. 68-88 32 . São Paulo: Martins Fontes. nem sempre é confortável viajar. No século XXI. Fernand. As inovações reunidas para este empreendimento do século XVI propiciaram embarcações mais rápidas e seguras. O Novo Mundo: história de uma polêmica (1750-1900). sem necessariamente hierarquizá-las. Sugere ainda um procedimento básico de pesquisa. São Paulo: Companhia Editora Nacional. O JULGAMENTO DE Colombo. AUTOAVALIAÇÃO Esta atividade propõe-se a colocar para o aluno a necessidade de comparar formas de transporte. 1977. REFERÊNCIAS BÍBLIA SAGRADA. Depois. BRAUDEL.História Moderna I ATIVIDADE 1. p. 1996. Civilização Material. Economia e Capitalismo: séculos XV e XVIII. Depois. 1996. levantando dados sobre as formas de transporte humanas no tempo. EDELBRA: Erechim / RS. Veja. a velocidade ou o modo como somos obrigados a viajar muitas vezes retiram de nós a possibilidade de apreciar paisagens. HOLANDA. apesar de todos os avanços tecnológicos. com a coleta de informação e sua apresentação em forma escrita. reflita: o que mudou? Quais as vantagens e desvantagens de cada tempo? COMENTÁRIOS SOBRE A ATIVIDADE As Grandes Navegações marcam um avanço fundamental na história dos transportes. construa um quadro comparativo colocando ao lado das informações a fonte em que cada uma delas foi obtida. 1991. Sérgio Buarque de. mas também colocá-lo para refletir sobre os desdobramentos das viagens. 16 out. GERBI. 1979. Além disto. São Paulo: Companhia das Letras. alguém obstinado e tolerante. RJ Francisco Alves. É preciso estar atento para a maneira estereotipada com que alguns indígenas são apresentados. História da América portuguesa. 1992. Jaques. da Universidade de São Paulo. Colombo. PITA.p. Belo Horizonte: Itatiaia. do que propriamente a complexa teia de fatores que possibilitaram as Grandes Navegações. com cenas impactantes.). o homem. O Corpo: o homem doente e sua história. Ridley. possui seqüências que podem ser analisadas separadamente em aulas e seminários.quebarato. São Paulo: Ed. é representado como um idealista. França/Espanha/Estados Unidos/Inglaterra. J. Sebastião da Rocha. 141-159.br) do paraíso. Aula PETER. Após conseguir o apoio da Rainha Isabel de Castela (Sigourney Weaver). Sinopse: O filme narra a luta de Cristóvão Colombo (Gerard Depardieu) para convencer a Coroa Espanhola a financiar sua expedição com destino às Índias. 2001. 1976. Sermões. Capa do DVD do filme 1492: a conquista permeado de mortes.. Observações: Obra de fotografia cuidadosa. In: LE GOFF. 33 . 1976. O filme pode ser visto como um confronto entre a imagem idealizada das novas terras e a sua posterior transformação em território maldito. (org. P. O filme de Ridley Scott focaliza muito mais Colombo. Os desafios do mar são apenas o começo da aventura e tragédia em que se converteria a sua vida. São Paulo: Hedra. Na película. v. Antônio. VIEIRA. Pe. 1492: a conquista do Paraíso. acaba encontrando muito mais do que esperava.com. Jean Pierre e REVEL. Ele (Fonte: http://images.Navegar é preciso: a expansão Ultramarina Européia e a edenização.I Filmografia indicada: 3 SCOTT. traições e tristeza. Colombo parte em busca de ouro e especiarias.. e NORA. História: novos Objetos. Porém. Reconhecer a relevâncias das mudanças produzidas pelo Renascimento na vida europeia do século XVI. (Fonte: http://www. afresco de Michelângelo. Vista do teto da Capela Sistina/Vaticano. perceber a importância da história da arte como elemento articulador dos conteúdos na abordagem da História Moderna.com) . OBJETIVOS Ao final desta aula.Aula O RENASCIMENTO 4 META Apresentar características fundamentais do Renascimento Artístico experimentado pela Europa. PRÉ-REQUISITOS Leituras da aula anterior. 1508-1512. privilegiando as experiências na Itália. o aluno deverá: identificar os principais traços que caracterizam o chamado Renascimento.territorioscuola. O mesmo conjunto de mudanças eleva a razão abstrata como base para o Estado Moderno. existem apenas artistas”. através da arte não nos deparamos exatamente com um espelho da realidade. Com linguagem acessível e elegante. foi nomeado Membro do Império Britânico. o Renascimento marca o processo de construção do homem moderno e da sociedade contemporânea.wordpress. Porém.com) 36 . É deste jeito que Sir Ernst Gombrich. o livro foi um sucesso.1909-Londres. “típicos de comportamentos mais imperativos e representativos do nosso tempo”. Escreveu A História da Arte. p. Encontramos sinais. juntamente com Nicolau Maquiavel e Jean Bodin. Olhar atentamente para as manifestações artísticas de um povo também é estudar aspectos da sua vida cotidiana. e de uma ambição ilimitada. em particular.16). participa da “tríade fundadora” do conceito de Estado moderno. um desenho nítido e simétrico do passado. e ordenado Cavaleiro em 1972.História Moderna I Ernst Hans Josef Gombrich (Viena. Juntemos a tudo isto um inegável desejo de liberdade e autonomia de espírito. nos lembra Nicolau Sevcenko (SEVCENKO.2001). Entre os títulos que recebeu em reconhecimento ao seu trabalho. Afinal de contas. e instituindo uma moral própria e uma razão diferente do resto da sociedade: a razão de Estado.. e do pensamento político moderno em geral. O Leviatã desenhado por Abraham Bosse para a obra de Thomas Hobbes. livro originalmente publicado em 1950. ainda que embrionariamente. fronteiras e aduanas. São tempos em que se percebem sinais cada vez mais claros de individualismo. p. (Fonte: http://projetophronesis. trabalho fundamental para quem se dedique à crítica ou história da arte. dos movimentos da sua economia e religiosidade. o Estado moderno – pacificando as guerras feudais. Historiador da arte.5). unificando moedas. define a importância das manifestações artísticas como reflexos da vida em sociedade (GOMBRHICH. 1985. 1999. INTRODUÇÃO “Não existe arte. Um desejo de investigação.. Por isto. em 1966. conhecido historiador do assunto. impostos. pistas deixadas pelo tempo. Hobbes. de exploração do homem e de suas coisas. vendendo milhões de cópias e sendo traduzido em aproximadamente 30 idiomas. leis. do Racionalismo. esboçado em fins de Idade Média. traços. Foi no Renascimento que emergiu. é importante o estudo do Renascimento Artístico ocorrido na Europa entre os séculos XV e XVI. files. se considerarmos este mesmo princípio de mudanças contínuas. mas ao mesmo tempo complementares. mas também das suas imersões nas culturas do Oriente. Subproduto deste avanço é o surgimento de uma concorrência entre os indivíduos. Florença era um centro do humanismo. Florença vivenciou o amor dos artistas ao belo. pois nunca será o mesmo homem. 1985. Entre os florentinos logo se definiu uma das mais influentes correntes do pensamento humanista: “o platonismo. lembrava que um homem nunca entra mais de uma vez no mesmo rio. Ainda desajeitado. nascia o burguês. considerada “o palco mais prodigioso da efervescência renascentista”. a partir da ruptura de antigos laços de dependência. a Guerra dos Cem Anos (1346-1450) e as revoltas populares (consulte a aula 2). mas arrogante e exigente. a beleza era a manifestação do divino. 1985. Viu nascerem artistas como Michelangelo Buonarotti. tampouco o mesmo rio. A busca pelo belo representava o maior exercício 37 . p. Senhores e servos são lentamente eclipsados por patrões e empregados. como exemplo. Vejamos o que diz Sevcenko: “A nova camada dos mercadores enriquecidos.C.C) defendia a ideia de que tudo flui. p. procurava de todas as formas conquistar um poder político e um prestígio social correspondentes a sua opulência material” (SEVCENKO. Rica cidade. Em outras aulas. Assim. sobre como portar-se em certas ocasiões.5). a burguesia.-470 a. Uma crescente procura de produtos obtidos em feitorias comerciais fincadas no Oriente ocorre paralelamente às turbulências sociais e econômicas vividas pela Europa ao final do medievo.O Renascimento Aula ANTECEDENTES O filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso (540 a. 4 O RENASCIMENTO EM DUAS CIDADES: FLORENÇA E VENEZA No século XVI. cheio de consequências para toda a história das idéias e da arte do período” (SEVCENKO. compreenderemos um pouco do impacto das idas e vindas dos europeus por suas próprias terras. Ora.18). esta personagem invade a vida social europeia. o fortalecimento do individualismo. Esta efervescência dos negócios serviu como base para a gestação de um novo estilo de vida e de um novo tipo social. Sem saber ao certo como sentar-se adequadamente à mesa. como toda invasão. a chegada da burguesia provocou rebuliços. vimos que as mudanças vividas durante o início do Renascimento encontram pelo menos três fatores explicativos: a Peste Negra. a sua idealização. opostas. As Cruzadas também provocaram um empreendimento comercial. E. Para os platonistas. Juntemos a isto a adoção do trabalho assalariado como prática nas esferas produtivas. abraçaram ardorosamente o naturalismo e defenderam a supremacia natural da razão. De acordo com Sevcenko. ou seja. p.164). o Renascimento não pode e não deve ser visto como uma ruptura abrupta ou como um movimento unificado e homogêneo. o núcleo deste processo. o Cristianismo deveria centrar-se na leitura do evangelho (. o mais puro e sincero ato de adoração a Deus. Diferentemente da perspectiva adotada em Florença. Precisamos considerar um conjunto de alterações ocorridas na Europa há certo tempo. Era já o anseio da reforma da religião. desembocam neste movimento sem antecedentes. um grupo de intelectuais se mostrou inspirado pelo aristotelismo. sem dúvida. Contudo. Todavia.negaram a criação.. disciplina esta resultante da fusão entre a retórica e a filosofia” (SEVCENKO. a filosofia. no amor desprendido. p. 1985. do culto e da sensibilidade religiosa que se anunciava e que seria desfechada de forma radical.13).).. 1985. 38 . a matemática e a eloqüência. Mas o que foi o Humanismo? Nicolau Sevcenko. Ao se voltarem para a crítica ao saber produzido com a intenção de renovar e atualizar o conhecimento. personagem de William Shakespeare. por outros humanistas. variável de cidade para O H u m a n i s m o cidade. Através deste exercício crítico. Desligaram-se das preocupações teológicas. HUMANISTAS – CONCEITUAÇÃO INICIAL O Humanismo foi um movimento de renovação. interessados nos estudos dos fenômenos naturais. o movimento representava a busca pela renovação dos estudos tradicionais e possuía raízes no século XIV. 2003. a Medicina e a Teologia. Quem se atreve a mais. É diante destas referências que Macbeth. Mudanças que. p. a história. fracionando a cristandade. conjugadas. em Pádua. na simplicidade da fé e na reflexão interior. pode ser apontado cristão – Conforme no Humanismo. o Humanismo compreendeu um esforço em modificar a produção do saber. homem não o é” (SHAKESPEARE. fortemente influenciadas pela preocupação em enfatizar três campos: o Direito. a imortalidade da alma e os milagres. vemos emergir o antropocentrismo. como Lutero. pondera: “Atrevo-me a fazer tudo o que é próprio de um homem.20). Portanto. Os valores humanos passam a servir de coordenadas. Calvino e Melanchton” (SEVCENKO. “baseado no programa dos studios humanitatis (estudos humanos). Os artistas adeptos do platonismo pretendiam antes a superação da natureza pela perfeição absoluta. diversificado em suas manifestações. “segundo essa corrente. os humanistas ajudaram a modificar a posição do homem dentro dos debates do período. Os paduanos chegam a questionar os dogmas da Igreja . sob a influência de Veneza. inclusive aquele oriundo das universidades medievais. que incluíam a poesia.História Moderna I de virtude. no exemplo da vida de Cristo. o homem e suas experiências passam a ser o centro das preocupações. Mas não se deve achar que eles considerassem a arte simples imitação da natureza. estátuas talhadas. A Adoração dos Magos (1481-1482). poeta. província de Florença. pintado na Capella degli Strovegni. Tomemos como exemplo o afresco A Lamentação (1303-1310). a prática se repete: “muito mercador bem-sucedido queria legar sua imagem aos vindouros. findou sendo um “comprador de habilidades” (BAXANDALL. Ele nos ofereceu uma pioneira ruptura com padrões medievais. Bolonha.com 4 Giotto nasceu em Colle Vespignano. cientista. mas por impor à pintura um caráter dramático. Giotto fez algo extremamente difícil. Fonte: http://naturalpigments. na Itália. p. apurado pelas contínuas encomendas. Deste modo. matemático. escultor. respeitado pintor florentino. p. poemas foram escritos. a pintura de quadros era o investimento relativamente mais baixo. A Virgem dos Rochedos (1483-1486). Embora não sejam imagens tão sofisticadas quanto veremos depois em artistas como Leonardo Da Vinci (1452-1519). 1999. Suas pinturas apresentam um esforço para estabelecer certa individualidade nas fisionomias. 1991. As prósperas famílias de burgueses enriquecidos com o comércio. tinha que combater a cultura medieval. Para o historiador Michael Baxandall. Foi um renascentista de múltiplas ocupações: engenheiro. nas cercanias de Florença. muito burguês respeitável que fora eleito vereador ou burgomestre desejava ser pintado com as insígnias do seu cargo” (GOMBRICH. pintor.413). França e Países Baixos. nas vestes. Com o tempo. Os artistas serviam para isto. Há nela uma busca emocionada por expressões. país onde faleceu. alguém determinante “e não necessariamente benevolente: podemos chamá-lo o cliente. Eis apenas alguns dos seus trabalhos mais famosos: Mona Lisa (1503-1507). por dotar a imagem não apenas de uma dimensão de volume. botânico. de espaço. os novos príncipes. palácios construídos. Trabalhou a maior parte da vida em Milão. arquiteto.Itália. preparou o terreno para as mudanças que a arte sofreria nos anos do Renascimento. nasceu em Vinci.11. Mas era algo que conferia visibilidade significativa às ações dos “clientes”. 39 . A Lamentação. em Pádua. Ele descobriu caminhos. igrejas e catedrais erguidas. afrescos inventados. A melhor pintura produzida no século XV era realizada sob encomenda por um cliente que exigia sua execução conforme suas especificações”. o mecenas. Foi discípulo de Verocchio. músico. um dos mais importantes precursores do Renascimento italiano foi Giotto di Bondone (1266-1337). Entre os empreendimentos possíveis. Devemos entender o mecenas como um sujeito ativo deste processo. se quisesse se impor. além de pintor. os grandes clérigos disponibilizam parte de seus recursos para as artes. As cidades se embelezaram. Leonardo di ser Piero da Vinci. o termo mecenas soa restritivo. pela concorrência frente aos seus rivais nos círculos sociais. A Última Ceia (1495-1498). Entre os “vendedores de habilidades”. o cliente. na região da Toscana. arquiteto.O Renascimento Aula O MECENAS SURGE A cultura burguesa. mas viveu ainda em Roma. Graças a isto. Aluno do conhecido artista toscanês Cimabue. foi. 31). Veneza e na França. “abre-se um enorme fosso entre a arte voltada para a elite e presa a todos esses procedimentos científicos e a arte popular. Destacam-se: 1) a língua. p. Trabalhou na corte dos papas Júlio II e Leão X. que é mais proveitoso estudar as interações entre a cultura erudita e a cultura popular do que tentar definir o que os separa”. ao falarmos da produção renascentista. Claro. Peter Burke nos convida a olhar com um pouco mais de calma esta paisagem e perceber as relações contínuas e frutíferas entre os dois tipos de arte. em 1520. Uma destas inovações é o estabelecimento da perspectiva como primordial na construção das obras. muitas vezes não dominavam idiomas como o latim e o grego. Ou pelo menos. p. A Escola de Atenas (150910). Conforme Burke. Portanto. da harmonia no traçado e no uso das cores. isto não foi feito de uma hora para outra. lembramos que muitos artistas não eram letrados e aqueles que sabiam ler. Suas obras são conhecidas pela delicadeza e busca da perfeição. do outro. o artista ascende não mais como artesão. Os artistas observam pássaros. A NOVA POSIÇÃO DO ARTISTA Podemos dizer ainda que com o Renascimento nasce o orgulho de ser artista. progressos técnicos. mas como cientista.32). O historiador britânico observa que várias barreiras excluíram as pessoas do mundo da arte e da literatura renascentista. Os pintores deliciam seus clientes com a ilusão da profundidade. mas também considerar a capacidade dos artistas. novas técnicas surgiram. O casamento da Virgem (1504).sendo reconhecido como pintor e arquiteto. as tentativas para chegar a um equilíbrio. E qual o resultado de tanto esforço? Na interpretação de Nicolau Sevcenko. Foram muitas as experiências. de maneira muito razoável. Destacam-se entre suas principais obras: Madona e o Menino entronados com Santos (1504-1505). 2006.180). marcada por experiência. 2006. há nele um reconhecimento inédito desta person- 40 . em recepcionar e a assimilar ideias. cavalos. Foi discípulo de Perugino. devemos ir além da apropriação realizada nesta interação. a que se habituou chamar de primitiva” (SEVCENKO. p. “estudos recentes da cultura popular afirmaram. E. ampliam-se os quadros em que a sensação obtida é a de que se pode ir além da pintura. a de “elite” e a “popular”. com isto. mesmo sem o pleno domínio da escrita. ousadia.História Moderna I ARTE DE PESQUISA E INTERAÇÃO A arte do Renascimento é arte de pesquisa. Porém. E o mesmo deve valer para o seu público e clientes (BURKE. pois implica em leituras diferenciadas para a constituição das pinturas e esculturas. Ousam até a dissecar cadáveres. É arte feita de maneira meticulosa. Raffaello Santi (em italiano) nasceu em Urbino em 1483. A bela jardineira (1508). cheia de inovações. Graças ao uso gradativamente mais frequente da perspectiva. 2) a alfabetização. mas ficou conhecido como integrante da chamada Escola de Florença. artistas (pintores e escritores) foram buscar inspiração na herança popular.179-180). há a propagação das ideias e formas da elite para o povo. 3) Barreiras econômicas (BURKE. Novas cores. Isto faz uma diferença considerável. Ora. Faleceu em Roma. 1985. ele considera que é possível observar um processo interativo de mão dupla: por um lado. Transfiguração (1518-20). Por isto. Os renascentistas se abrem para a investigação da natureza. Mas quem são os músicos? Os pintores Jacopo Bassano (1510-1592). apresenta o cenário da festa. no contrabaixo. O mesmo pode ser vislumbrado na pintura As bodas de Caná. no nordeste da Itália. Ticiano Veccelli (1490-1576).com se Veronese seguisse de Paolo Veronese nasceu em Verona. Leonardo (pintado como Platão) e o próprio Rafael. a produção artística de Veronese se deu em Veneza. É conhecido pela propriedade e habilidade com que explora as cores. pela primeira vez os pintores se atrevem a pintar a si mesmos. Além de As bodas de Caná. nobres e pelos grandes senhores burgueses. Fonte: http://caminhodomeio. a pintura. Entretanto. mas ele acabou incorporando o topônimo relativo ao seu lugar de origem. mas não foi preso. 4 A Escola de Atenas. desfrutam desenvoltos de uma nova posição social.O Renascimento Aula agem. feita entre 1562 e 1563. de Paolo Veronese (1528-1588). Capítulo 2. Afinal de contas. os artistas são parte de um grupo seleto antes composto apenas por santos. Lá estão pintados Bramante (Euclides). de Rafael Sanzio (1483-1520). telas e paredes.wordpress. É assim em pinturas como A Escola de Atenas.wordpress. Reproduzidos em tinta. Quanta ousadia! É como As bodas de Caná. como Apeles. destacamos A ceia na casa de Levi (1573). Tintoretto (15181594) ao violino (ou lira da braccio) e o próprio Veronese. tocando um corneto soprano. Fonte: http://casoual. Cristo está nela. Ao centro. Chegou a ser convocado para dar esclarecimentos sobre suas pinturas à Inquisição.com Michelangelo (Heráclito). uma orquestra anima a festa. na viola tenor.files. Baseada na narrativa bíblica (João. versículos 1 a 11). Seu nome de batismo era Paolo Caliari. pela harmonia conferida às suas imagens. 41 . inserem-se em cenas clássicas.files. a corrupção. é regida por uma concorrência brutal? Tintoretto e Michelangelo tornaram-se homens isolados. O texto de Shakespeare nos coloca diante dos problemas que envolvem a loucura. p. um conjunto de manifestações que expressam a busca por uma explicação humanista da realidade. Nas palavras de Sevcenko. “a solidão irremediável do artista moderno é um passo para o seu encerramento na torre de marfim de seu ofício e seu mergulho na alienação completa” (SEVCENKO. Após ele. agora. da assinatura. p. ambas representavam a vanguarda da aventura burguesa da conquista de um mundo aberto e de riquezas infinitas” (SEVCENKO. cuida muitas vezes do esboço. É a peça de Shakespeare mais encenada no mundo. A divisão social do trabalho é uma delas. das partes mais visadas. O texto provavelmente foi escrito entre 1599 e 1601. em visita ao artista. Nela. as marcas e os dilemas do homem moderno. perto as ponderações de Macbeth. Ele era homem e podia se atrever. Observamos. Diversos artistas e aprendizes trabalham na composição de uma mesma obra. Mas como ter tempo para qualquer contemplação em uma sociedade que. 1985. de mesmo nome. da moralidade e da ambição. teria se abaixado para apanhar o seu pincel. 1985. o artista mais famoso. Mas é preciso pensar também que este reconhecimento teve consequências para o profissional da arte. a trama narra a tentativa de vingança de um jovem príncipe diante do assassinato do seu pai. Embora não seja possível comprovar. 42 . Michelangelo jamais escondeu a sensação de isolamento.História Moderna I Hamlet é o personagem central da tragédia. Marcado pelo individualismo e pelo racionalismo. planejado por sua própria mãe e por seu tio. abismados. Os renascentistas trazem consigo as contradições dos novos tempos.34). que publicou a sua autobiografia. aquele que de fato fora contratado para realizá-la. o baixista de Veronese. O prestígio evidenciado pela presença dos artistas nas obras acima mencionadas ganhou reforço a partir de obras pioneiras como as de Lorenzo Ghiberti (1378-1455). só o estabelecimento desta possibilidade indicia a valorização do artista. primeira biografia coletiva sobre os renascentistas.32). Situada na Dinamarca. de incompreensão. o Renascimento foi um movimento complexo. realmente “não havia mais como separar arte e ciência. capaz de ser envolvido em histórias deste tipo. contava-se que o Imperador Carlos V. no desencanto de figuras como Michelangelo e Hamlet. autor de A Vida dos Artistas. CONCLUSÃO O Renascimento compreendeu um momento fundamental na Idade Moderna. de autoria de William Shakespeare. os itinerários da vida diante da vingança. Sobre Ticiano. heranças do século XII. e Giorgio Vasari (1511-1574). da solidão. pelo uso da geometria. ele envolve um processo marcado pela ascensão individualismo. Nesta aula tratamos do Renascimento. Isto é. É necessário elencar os aspectos fundamentais do Renascimento. inserem-se em cenas clássicas. marca o processo de valorização do homem moderno. no caso das pinturas. COMENTÁRIO SOBRE A ATIVIDADE O Renascimento pode ser caracterizado como um movimento artístico iniciado na Itália. AUTOAVALIAÇÃO Esta atividade requer do aluno cuidado para a organização das ideias contidas no texto. A partir do que foi apresentado. A figura do artista passa a ocupar posição de destaque social. mas ao mesmo tempo é preciso refletir sobre o que os torna centrais. em que medida tais características são mesmo do Renascimento e até que ponto elas são uma apropriação de outros momentos da história europeia. pintam auto-retratos. Podemos indicar no mesmo movimento uma intensa rivalidade entre os artistas. que teve como epicentro a Itália. do racionalismo e de uma ambição ilimitada. por exemplo. Transformados em figuras fundamentais aos projetos de reis. Os pintores.O Renascimento Aula RESUMO O Renascimento artístico. Demarcado cronologicamente entre os séculos XV e XVI e agregando inquietações de períodos anteriores. elabore um quadro sintetizando as principais características do Renascimento. do antropocentrismo. 43 . desfrutam desenvoltos de uma nova posição social. Foi marcado por forte racionalismo e expressou a ascensão do individualismo. papas e burgueses. As obras de arte produzidas no período são caracterizadas por inovações técnicas e. os artistas aparecem como figuras de destaque na sociedade. 4 ATIVIDADE 1. Alda Porto. Michelangelo Buonarotti (Charlton Heston) recebe uma inesperada incumbência do Pontífice. A atuação de Rex Harrison é primorosa. Nicolau. O Renascimento. o artista recusa a tarefa. Carol. 65-108. como a insinuação de Bramante. Beatriz Viégas-Faria. O filme pode ajudar a promover debates também sobre as relações entre o Renascimento e o desencadeamento da Reforma Protestante. Filmografia indicada: REED. mas vê-se obrigado a fazê-la. É uma ótima ferramenta a ser utilizada em sala Capa do DVD do filme Agonia e Êxtase. Fonte: http://i.com.s8. 2 ed. Álvaro Cabral.br de aula. 1985. São Paulo: Atual. Trad. In: Variedades de história cultural. EUA.177-194 ELIAS. Michael. O Olhar Renascente: pintura e experiência na Itália da Renascença. V. SHAKESPEARE. um homem em busca de um ideal de beleza. 2003. O processo civilizador: uma história dos costumes. São Paulo: Nova Cultural. 1994. Peter. pois nele há diversas representações sobre as dificuldades do Vaticano para promover as artes.História Moderna I REFERÊNCIAS BAXANDALL. 138 min. Afirmando não ser pintor. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. Agonia e Êxtase. arquiteto de Júlio II. 1999. Trad. GOMBRICH. Júlio II encomenda a ele a pintura do teto da Capela Sistina. SEVCENKO. Rio de Janeiro: Paz e Terra. como um vilão. O filme apresenta Michelangelo como um artista angustiado. 1991. A partir daí se desenrola uma batalha entre duas visões de mundo e se narra a construção de uma das maiores obras de arte do mundo ocidental. Contudo. Ernst H. 44 . Rio de Janeiro: LTC. A Civilização como Transformação do Comportamento Humano. p. o mouro de Veneza. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. Romeu e Julieta/Macbeth/ Otelo. A História da Arte. deve-se ter atenção a certas representações da película. 1965. BURKE. Sinopse: Após ser acusado de escrever versos satíricos sobre o Papa Júlio II (Rex Harison). p. 16ed. Nobert. Cultura erudita e cultura popular na Itália renascentista. Observações: O filme é antecedido por um documentário de 12 minutos. William. 1. 2006. embora seja longo.. O príncipe jura vingança ao pai e quando o Claudius e Gertrude mandam vir amigos de Hamlet. Pouco depois. O velho rei informa ao filho que fora morto por uma trama de sua esposa seu irmão. Capa do DVD do filme Hamlet. 45 . século XVI. Contando com uma excelente atuação de Al Pacino. sobre as relações sociais na nascente Idade Moderna e sobre valores como o individualismo. EUA. Kenneth. EUA/ ING. Observações: O filme é baseado no texto de Shakespeare. O Mercador de Veneza. Pode ter algumas de suas sequências utilizadas em aulas e seminários. Hamlet.com não esconde a sua paixão pelo literato inglês. sua mãe. Sinopse: Veneza. o mercador Antonio (Jeremy Irons) realiza um empréstimo de três mil ducados com o judeu Shylock (Al Pacino). para ver o que há de errado com o moço. 138min.au BRANAGH.peninsulacinemas. aceitando a condição de lhe entregar um pedaço de sua própria carne caso a dívida não seja paga dentro do prazo acertado. Para ajudar ao amigo Bassânio (Joseph Fienes). Observações: Kenneth Branagh é considerado um dos melhores diretores de adaptações de Shakespeare para o cinema. Príncipe da Dinamarca. o rapaz vê o fantasma de seu pai e dele ouve um pedido de vingança. o jovem príncipe finge estar louco.O Renascimento Aula RADFORD. O filme é uma boa adaptação.impawards. Fonte: Ele atua também como diretor do filme e http://www. com. 4 Capa do DVD do filme Mercador de Veneza. Merece ser visto. Fonte: http://www. ele oferece representações sobre os preconceitos vividos pelos negociantes judeus. retorna ao Palácio de Elsinore e encontra seu tio Claudius (Derek Jacobi) casado com Gertrude (Julie Christie). 1996. feita de maneira cuidadosa. Sinopse: Hamlet (Kenneth Branagh). 242 min. Michael. org) .Aula A IGREJA EM TRANSFORMAÇÃO: A REFORMA PROTESTANTE 5 META Apresentar os acontecimentos que desencadearam a Reforma Protestante na Europa durante o século XVI. representando o momento em que Martinho Lutero afixa suas 95 teses sobre a reforma religiosa na porta da Catedral de Wittemberg. reconhecer os homens que estiveram envolvidos nas querelas que levaram ao rompimento com o poder papal. destacar os caminhos indicados para a salvação daqueles que se convertessem ao protestantismo. Cena do filme Lutero. de Eric Till. PRÉ-REQUISITOS Leituras das aulas anteriores. (Fonte: http://prayerfoundation. Conhecimentos gerais sobre a institucionalização da Igreja Católica no Medievo. em 1517. OBJETIVOS Ao final desta aula. o aluno deverá: enumerar as razões que levaram à Reforma Protestante. A compra de indulgências objetivava diminuir a carga de penitências. Deste modo. destruição e dificuldades diversas não foram suficientes para que a Igreja reorganizasse sua postura. os protestantes. Em lugar disto. principalmente porque a maioria das “relíquias” era forjada. 2007. exaurir finanças. próximo e identificado com seu povo. experimentado na primeira década do século XVI. Há tempos padres. as estratégias eram as mais variadas possíveis. língua e governante. Para se livrar do peso dos pecados. Instigada por esta situação. tema desta nossa aula. Vejamos como isto de deu. até a venda de indulgências.87). a simplicidade e a honestidade. calvinistas e anglicanos. não foi um movimento com objetivos de fracionamento. Por que tais definições são importantes? Pelo fato de que. divididos em três grandes grupos – luteranos. Objetos que supostamente pertenceram aos santos como por exemplo dentes. p. 48 . isto é. critica severamente a acumulação de dinheiro. como afirmou Lucien Febvre (1992. Através desta última prática. tendo enriquecido dentro de uma lógica feudal. os burgueses não encontravam respaldo às suas atividades no discurso da Igreja Católica que. muitos fiéis e clérigos demonstravam insatisfação com estas negociações. nova forma com a finalidade de aprimoramento” (LAROUSSE. enviava seus emissários às terras por ele dominadas apenas para cobrar impostos. território. a Reforma buscava superar deficiências de longa data vividas pela Igreja Católica. “reconstruir” ou “emendar” e “corrigir”. uma parte ou até a totalidade dos pecados de um fiel poderia ser perdoada a partir de determinadas somas em dinheiro. desde a comercialização de cargos eclesiásticos e relíquias. Mas a Igreja também vivenciava problemas de ordem política. Um líder que. Por sua vez. bispos e papas estavam afastados de ideais tipicamente cristãos como a solidariedade. fomes. encontrará definições como “formar de novo”. o Papa era uma figura distante. Tudo Simonia: a venda de pedaços sagrados. Evidentemente. a Reforma Protestante. o popular Dicionário Enciclopédico Ilustrado Larousse definirá a palavra “reforma” como “nova organização. mechas de cabelo e peças de vestuário eram considerados milagrosos. ao contrário do que aparentemente pode parecer. Os desdobramentos deste processo. Isso suscita um lucrativo comércio na Europa. da Itália.História Moderna I INTRODUÇÃO Quem se dispuser a verificar o sentido da palavra “reformar” em um dicionário como o Aurélio. a autoridade real entrou em atrito com as determinações papais. a obtenção de lucro. A formação das monarquias nacionais contribuiu para um incipiente sentimento de pertencimento a um Estado. Cada dia mais importante diante da lógica das monarquias nacionais. p. os empréstimos a juros. os cristãos deveriam confessar e praticar boas obras. As diversas crises pelas quais a Europa passou desde a chamada Baixa Idade Média ajudaram a fragilizar o poder clerical. Outro aspecto que alimentou uma reorganização da Igreja foi a chegada da burguesia como nova e influente fração social. corrigir. E para manter o luxo. arrancar recursos. Muito mais voltado para o sentido radical da palavra.2217). Guerras. levaram a uma separação inesperada entre clérigos e ao surgimento de um novo ramo cristão. garantindo o perdão total. o fausto parecia ser a marca da Igreja Católica. p. independência e autonomia” (FEBVRE. há muito. agiam como nobres. Contraditoriamente. Rafael e Michelangelo. Originário da Saxônia. dono de um “sentimento de importância social completamente novo.88). Obra monumental. no século XVI. e que sabiam reunir nas horas de crises todas as energias do país ao redor de sua pessoa e de sua dinastia” (FEBVRE. instalada no centro 5 Martinho Lutero. As mudanças oriundas desta insatisfação geraram uma nova configuração do universo religioso. como havia.org a catedral da cristandade. Era mestre e pregador na Catedral de Wittenberg. a Igreja era poderosa e rica. No início do século XVI. a Igreja ganhou um poderoso inimigo. 1992. Fonte: http://upload. bem servidos. A existência do “caminho do clero”. monge agostiniano e um dos diversos religiosos influenciados pelo humanismo cristão (ver aula sobre o Renascimento). os príncipes possuíam autonomia para resolver problemas em suas terras. um rei da França. servidão e cobranças de impostos. idealizada por Julio II. Assim. Nas palavras de Lucien Febvre.81). um rei da Inglaterra. Os embates foram liderados por Martinho Lutero (1483-1546). Fonte: http://www. É esta estratégia que começa a se desagregar a partir das polêmicas levantadas por Lutero.A Igreja em transformação: a Reforma Protestante Aula isto era classificado como pecado. cobrar impostos e exigir servidão. As riquezas da Igreja estavam assentadas em apropriações de terras. às margens do Reno.wikiJúlio II e Urbino Bramante. Lutero não disfarçou sua indignação diante das recorrentes cobranças de impostos pela Igreja. O burguês. “não havia um rei na Alemanha. p. ao enquadrar como pecaminosas as operações básicas na manutenção econômica da burguesia. Como isto se deu? Ocorre que o Papa Leão X necessitava de recursos para concluir a basílica de São Pedro. 49 . Até mesmo saques eram realizados com a anuência de tais nobres. numa típica moldura medieval de captação de recursos. a Alemanha não era um Estado centralizado politicamente. estes mesmos religiosos atacavam as atividades comerciais dos burgueses. portalefilosofia. A reunião de todos estes fatores estabeleceu um clima de animosidade frente aos dogmas católicos. Apesar da burguesia fragilizada. foi convocado o Concílio de Latrão. ricos. já representava um grupo diferenciado. prestigiosos. permitia rendimentos consideráveis aos religiosos que. Durante seu pontificado. As terras germânicas apresentavam uma curiosa contradição. Julio II colocou a primeira pedra na nova Basílica de São Pedro. decidir pela cunhagem das próprias moedas. Mesmo com a existência de um imperador. 1992. moldados principalmente pela necessidade de se ajustar aos avanços dos interesses burgueses. justamente por sua contraposição ao mundo burguês. alojados nos altos postos eclesiásticos. com Júlio II foi Papa entre 1503 e 1513. às monarquias nacionais e às ideias consideradas fundamentais ao universo cristão. na Alemanha. o templo seria media. e também de dignidade. Amigo e patrono de Bramante. 90). Evidentemente Lutero não adotaria uma posição destas isoladamente. From the French Revolution to the Present. “Na verdadeira religião Deus fala ao homem e o homem fala a Deus em uma linguagem clara. nervoso do catolicismo. que atribuía às boas ações peso crucial na redenção. Lutero queimou publicamente a bula papal contendo a sua excomunhão. O Papa exigiu desculpas formais do clérigo e. não sendo obedecido. e que todos compreendem”. vinculados pela fé. Na Dieta de Worms – instituição que reunia nobre germânicos – o monge reforçou suas críticas ao Papa e foi ouvido. as propostas de questionamento da autoridade papal. valorizava o uso das línguas nacionais. Além disto.com. direta. Este ponto se distanciava da perspectiva católica. ao distanciamento dos religiosos dos mais humildes encontravam ecos nos problemas enfrentados por Os grupos religiosos na Europa. 50 . as pregações de Martinho passaram a valorizar uma ligação sem maiores intermediários entre os homens e Deus. Penguin Atlas of World History. p. Explicitando a debilidade do poder papal. as críticas ao modo de vida clerical. Demonstrando sua indignação. em 31 de outubro de 1517. príncipe da Saxônia.História Moderna I Urbino Bramante Um dos arquitetos renascentistas mais conhecido. Para tanto. Século XVI. ao demasiado fausto da Igreja. Cf. Conforme a nova proposta de doutrina cristã. explicou Lucien Febvre (FEBVRE.wordpress. Digitalizado e disponível em http:// clioemquestao. Lutero elaborou uma nova doutrina religiosa. os recursos não eram suficientes e Leão X decidiu angariar divisas em terras alemãs. o exame dos textos bíblicos e a sua interpretação permitiriam aos fiéis as condições de salvação. Ficou famoso por seu trabalho sobre geometria de desenho de pers pectiva e acabou influenciando Michelangelo e Rafael. 1992. mas nas Escrituras. Abrigado no castelo do próprio Frederico. Lutero compartilhava valores tipicamente humanistas. Afinal de contas. assinou a excomunhão de Lutero. Vol. Contudo. algo que inflamou a revolta de Lutero. a verdade tinha um itinerário e ele era traçado a partir da palavra de Deus. As consequências não tardaram a chegar. o monge afixou 95 teses nas portas de Wittenberg. Conforme Lutero. incumbiu o dominicano Tetzel de negociar indulgências naquelas terras. baseada na fé como elemento essencial da salvação. A IGREJA SE TRANSFORMA As ideias de Martinho Lutero soaram como um sinal para os nobres alemães. Ao incentivar a leitura da Bíblia. Este exame será importante e incentivará uma série de novas interpretações sobre as escrituras. Ele mesmo traduziu a Bíblia para o alemão. através das quais criticava contundentemente a Igreja e o comportamento de seus membros. situada não nos lábios de padres ou papas. O religioso possuía proteção de Frederico.2. a maioria dos príncipes se inclinou para as perspectivas luteranas. Todavia. Entre os líderes dos camponeses. porém manteve a Alemanha desagregada em diversos Estados e ajudou a adiar em muitos anos a sua centralização política. 51 . Emergiram rebeliões no Centro e no Sul da Alemanha. Até mesmo porque Carlos estava ocupado demais combatendo a França e o Império Otomano para deter os príncipes adeptos do protestantismo. o próprio Lutero criticou Münzer. Curiosamente. Um conflito que só teve fim em 1555. interessados em manter seus territórios sobre controle. mas também colocaram em pauta as rivalidades regionais. disputando as riquezas de suas propriedades. não só reprovando suas ideias. algumas levadas adiante por camponeses que pretendiam se livrar dos laços de servidão. Como a Igreja Católica apoiava os Habsburgos. em 1525. inspirado por Lutero e defensor do extermínio da nobreza por seu afastamento dos princípios do Evangelho. Uma vitória que desarticulou as tentativas de inserção dos camponeses nas conquistas produzidas com a Reforma. um poderoso exército matou Münzer e mais de 100 mil camponeses. estava Thomas Münzer (1489 ou 1490-1525). O Imperador Carlos V e poderosos nobres católicos uniram forças contra um grupo de príncipes luteranos. concretizada apenas no século XIX. O conflito gerado pela excomunhão do sacerdote da saxônia abriu as brechas para que nobres de diversas partes da Alemanha se lançassem sobre os bens da Igreja Católica. através da assinatura da Paz de Augsburgo. Como resultado desta solidariedade de acaso. como também apoiando a repressão ao camponeses revoltosos. A celebração deste acordo colocou fim ao conflito. As tentativas da dinastia Habsburgo em criar um império unificado em um legítimo Estado nacional encontraram forte resistência dos príncipes. Esta situação gerou embates como aquele ocorrido em 1524. incorporando suas terras. Estas lutas entre senhores fomentaram outras revoltas. 5 GUERRAS RELIGIOSAS As ideias e a nova doutrina de Lutero ajudaram a inflamar os ânimos dos príncipes alemães contra a Igreja Católica.A Igreja em transformação: a Reforma Protestante Aula senhores de terras germânicos. Por meio deste documento. o perigo representado pelas revoltas no campo ajudou a selar uma aliança entre líderes católicos e luteranos da nobreza alemã. quando principados eclesiásticos foram atacados e nobres católicos resistiram à denominada “Rebelião dos Cavaleiros”. cada príncipe poderia estabelecer sua religião nos territórios sob seu controle. sem proceder maiores alterações no culto. aproximou-se e adotou as ideias protestantes. Abraçando esta nova perspectiva religiosa. O descontentamento do soberano inglês com a postura do líder da Igreja foi o catalisador de tensões envolvendo o Papado e a Coroa britânica. As ideias de Calvino ganharam espaço também na Holanda. o Papa não autorizou a anulação. Knox declarouse protestante em 1545. Chegou à Basileia. João Calvino. Porém. afirmando que a salvação não dependia exclusivamente dos homens. Nascido em Noyon. instituição nacional. Fonte: http:// www. Por volta de 1531. era um cenário propício para a difusão das ideias protestantes. as mudanças misturaram fatores políticos.com. Calvino estudou Direito na Universidade de Paris. Ali. mas do próprio Deus. 52 . No que se refere ao culto. A doutrina foi então se adaptando. Nesse interim se impenhou em alimentar o novo movimento que culminaria na rebelião contra a França e Roma. cidade situada no noroeste suíço. Mas o que trazia o calvinismo como doutrina? Embora apresente características muito semelhantes ao luteranismo. Nesta última. naqueles tempos território do Sacro Império Germânico. sem adoção de imagens. familiares. em tomar terras da Igreja). e na Escócia. Católico e desejoso por um filho. políticas (subjugar a Igreja ao Estado) se confundem e dão como resultado. fazendo dela a sua doutrina. 1509-1564). através do Ato de Supremacia.História Moderna I A REFORMA SE EXPANDE PELA EUROPA: OS CASOS DA FRANÇA E DA INGLATERRA Se o personagem que centralizou as atenções nas terras alemãs foi Martinho Lutero. e na Inglaterra.abril. a Igreja Anglicana. o religioso mudou-se para Genebra. o seu desejo por um herdeiro). cada vez mais identificada com a lógica mercantil. casar-se novamente com Ana Bolena. país em que motivações políticas foram mais do que suficientes para que João Knox (1514-1572) a introduzisse por lá. A região. percebe-se uma simplificação considerável do ritual: as cerimônias passam a envolver basicamente os comentários das Escrituras (base de toda a crença calvinista). econômicos e pessoais. na fronteira daquele país com a Alemanha e a França. o livro que sintetizava sua proposta de doutrina protestante: A Instituição da Religião Cristã. cidade em que moraria até a sua morte. a Reforma Protestante na França foi encabeçada por João Calvino (ou Jean Calvin. em 1536. Buscou proteção na Suíça. filho de pequenos burgueses. A partir disto.br João Knox Religioso escocês. Calvino ia além. Adotou a doutrina calvinista. A ideia dele era. Henrique VIII (1457-1509) solicitou a anulação do seu casamento com Catarina de Aragão. Calvino publicou sua obra mais conhecida. livre daquele compromisso. motivações pessoais (casamento do rei. Se Lutero afirmava que a salvação vinha pela fé. que conferiu tamanha graça a alguns. em 1534. O religioso viajou à Escócia entre 1555 e 1556. João Calvino foi perseguido e viu-se obrigado a deixar Paris. a perspectiva estabelecida por Calvino possui diferenças fundamentais e até mesmo radicais. econômicas (a pretensão da nobreza. com forte presença de comerciantes. No mesmo período. sendo desenvolvida após as turbulências iniciais provocadas por rupturas da magnitude de um cisma religioso. elementos que permanecem e traços que se alteram nesta nova doutrina. 5 Rainha Elizabeth I. Pouco tempo depois. Fonte: http://upload. Observam-se. conservando a hierarquia episcopal e parte do cerimonial católico. em 1549.wikimedia. em 1553. Através da Lei dos 39 artigos adotava-se o calvinismo. O anglicanismo passava. sintonizada com as ambições de reis e príncipes. portanto. Henrique VIII.A Igreja em transformação: a Reforma Protestante Aula Anos depois. Nova religião. Fonte: http://www.com. obra escrita em inglês. estabelecer novas normatizações como o Livro de Orações Comuns. a possuir um conteúdo marcadamente protestante (calvinista) ao mesmo tempo em que mantinha a formatação católica inicial. org. coube a Eduardo VI. adequada aos interesses mercantis. Mas foi sob o reinado de Elizabeth I (1558-1603) que a “Reforma Anglicana” se consolidou. filho de Henrique VIII. deste modo.iamthewitness. 53 . o mesmo soberano autorizou o casamento dos padres. O surgimento da nova doutrina. enquanto para banqueiros. mercadores e outros negociantes a nova religião era um meio seguro de aliar os anseios terrenos aos desígnios divinos. Aponte onde os dois discursos (aula e filme) se aproximam e distanciam. RESUMO A Reforma Protestante compreendeu um movimento surgido no século XVI que quebrou a hegemonia da Igreja Católica. COMENTÁRIOS SOBRE AS ATIVIDADES Durante o Início da Idade Moderna. Os primeiros estavam interessados em se apossar de terras e propriedades do Clero. uma série de mudanças abala a credibilidade da doutrina católica. mas as novas ideias sobre o papel da Igreja Católica se espalham por todo o continente. que já havia ganhado um novo continente e um novo mar. lucrar deixou de ser um pecado e tornou-se um sinal de benção divina. Luteranos. buscando confrontar as informações da aula com a fala dos personagens. professada por homens como Lutero e Calvino. ela cindiu a Igreja Católica de forma inédita e irrecuperável. Essa ruptura se inicia na Alemanha com Martinho Lutero. No filme Rainha Margot é possível evidenciar o esforço em estabelecer alianças entre católicos e protestantes visando encerrar conflitos religiosos e assegurar possibilidades de desenvolvimento do poder real. os católicos. chegando à França. o século XVI. Alemanha. De um lado. Depois das teses em Wittenberg. os protestantes (subdivididos em luteranos. Iniciada sem maiores pretensões. Inglaterra. 1994. Com o protestantismo. que abala o poder do catolicismo no mundo. aos Países Baixos. Interesses religiosos. ATIVIDADES 1. 136 min) e descreva as cenas em que aparecem os embates entre a fé católica e a protestante. a Reforma Protestante se consolidou. Em seguida utilize as informações desta aula para criticar as cenas elencadas. calvinistas e anglicanos). Assista ao filme A Rainha Margot (França. anglicanos e huguenotes se espalharam pelo mundo. dividindo os cristãos em dois grandes grupos. do outro. mas principalmente políticos e econômicos impulsionaram a Reforma Protestante. calvinistas. 54 .História Moderna I CONCLUSÃO E assim. funcionou como uma alternativa viável a nobres e burgueses. ganhou também uma nova religião. Observações: O filme aborda a história de Rodrigo Borgia. No entanto. ele irá perceber que o filme é rico. A película apresenta humanizada do universo religioso. no Conclave (“cum clave”) realizado em 1458. São Paulo: Editora Abril. 10 ed. RODRIGUES. determinar os rumos da cristandade participaram dezoito cardeais. seria eleito o Papa Alexandre VI (1492-1503). 1992 Filmografia indicada SCHREWE. precisa buscar outras formas de produção do conhecimento. que anos depois. jovem Cardeal nascido na Espanha. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Veja Larousse. Adhemar. Lucien. MOTA. 2003 (Coleção textos e documentos.(Org. 5 REFERÊNCIAS BERUTTI. Francisco José Calazans. São Paulo: Contexto. assim. Canadá.103-129. Tempos Modernos: ensaios de história cultural. ao ser obrigado a relacionar a fala dos personagens com a aula apresentada aqui. Flávio. Ele apresenta discussões bastante pertinentes sobre os negócios em torno dos cargos eclesiásticos e as disputas que abririam caminho para as reformas religiosas.p. 55 . 2 ed. então com 27 anos. 3). A Alemanha de 1517 e Lutero. Fonte: http:// www.A Igreja em transformação: a Reforma Protestante Aula AUTOAVALIAÇÃO Esta atividade exigirá que o aluno explore o filme como um meio através do qual se pode aprender e ensinar história.impawards. O Conclave. Rodrigues. Ricardo. 2000.).com. 2006. em 1431. cinco anos depois da queda de Constantinopla. Desta reunião para escolher um novo papa e. FARIA. situando a sucessão papal como um processo principalmente político e comercial. As Reformas. 99min. Antônio Edmilson M. In: História. SP:Ática. FALCON. Christoph. 2006. Carlos G. MARQUES. mas não é suficiente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. FEBVRE. Capa do DVD do filme O Conclave. Ele. como professor. Sinopse: O filme aborda a participação de Rodrigo Borgia (Manu Fullola). In: História Moderna através de textos. feito entre 1560 e 1566. PRÉ-REQUISITOS Leitura da aula sobre a Reforma Protestante. de Taddeo Zuccaro. Detalhe do afresco Concílio de Trento. OBJETIVOS Ao final desta aula. reconhecer a Contra-Reforma como um esforço da Igreja Católica para revigorar seus pilares diante das transições vivenciadas durante a Idade Moderna. Noções da História da Igreja Católica no Medievo.com) . (Fonte: http://vemfazerhistoria.Aula A CONTRA-REFORMA 6 META Expor os termos em que se deram a Contra-Reforma e suas implicações durante a Idade Moderna. o aluno deverá: identificar as principais iniciativas da Igreja Católica para conter o avanço do protestantismo.blogspot. Afinal de contas. provocou um abalo sem precedentes na Igreja Católica. uma instituição como esta.com. Após a fissura provocada por Martinho Lutero e seguidores. Conflitos religiosos na Europa da Contra-Reforma. a Igreja viu inúmeras ovelhas deixarem seu rebanho numa migração prejudicial em todos os sentidos. e via os protestantes se projetarem sobre a França e Países Baixos. 3. Mas.MULLET Apud BERUTTI.História Moderna I INTRODUÇÃO O Concílio de Trento Convocado pelo Papa Paulo III (14681549). mais sofisticada e incisiva do que a protestante. Vol.2. Indubitavelmente a Igreja Católica precisava oferecer uma resposta. MARQUES. em golpes rápidos. 5. sem autorização para variações locais ou mesmo nacionais. a Escandinávia. O reconhecimento da autoridade do Papa sobre as demais instituições eclesiásticas. que entrara no Medievo com força e pretensão de ocupar a lacuna deixada pelo Império Romano. Esta “resposta” ficou conhecida como Contra-Reforma. A Reforma Protestante. o catolicismo empreendeu um conjunto de duras réplicas ao avanço protestante. seria mais simples e relevante considerar tanto a Reforma quanto a resposta católica como movimentos ligados aos anseios dos religiosos por mudanças na vida e na postura dos cristãos desde os fins do medievo (Cf. Aliás.wordpress. Regiões como a Boêmia. 30 anos para ser um bispo). a mais demorada reunião de bispos da Igreja Católica (15451563) objetivou garantir a disciplina dos religiosos e a fé católica unificada. aparecem: 1. parte da Alemanha.Criou seminários para formação sacerdotal (seria necessário agora ter ao menos 25 anos para ser ordenado padre e. 2003). Melhor seria falar em uma Reforma Católica. tema da aula passada. From the French Revolution to the Present. 2. controlada por clérigos habilidosos e dedicados. pelo menos. em lugar de entrarmos numa polêmica de palavras como esta. Porém. que convencera a reis e generais. trata-se de um termo gerador de debates. ela havia perdido a Inglaterra. Trouxe de volta a Inquisição. Penguin Atlas of World History. A padronização da missa. Séculos XVI e XVII. a Áustria e a Hungria também assistiam a avanços protestantes. mas também por sacerdotes mais voltados aos negócios da fé do que aos fiéis. a palavra “Contra-Reforma” é por demais agressiva. Digitalizado e disponível em http:// clioemquestao. Cf. Proibiu a venda das indulgências. sobretudo os historiadores católicos. Entre os seus resultados. não se deixaria atacar sem uma devida reação. FARIA. que já passara por guerras e epidemias. 58 . 4. Senhora da Europa durante séculos. Para alguns. sendo ela a única autorizada a interpretar a Bíblia. Além disto. tarefa estratégica na Contra-Reforma. Por outro lado.br. Nesta busca por uma doutrinação mais acertada aos novos tempos. Por isto. Foi reativada por Pio VI em 1814. preparando seus quadros para os novos tempos. também ocorreram mudanças no âmbito interno. criada ainda em 1534. a delimitação de idades mínimas para o sacerdócio e o bispado são medidas relevantes. Foi eliminada em diversos países católicos entre 1759-1768 e 1773. As possíveis peculiaridades nacionais na realização das missas foram suprimidas. 59 . A obrigatoriedade da educação eclesiástica em seminários. Entre 1545 e 1563 (com interrupções).A Contra-Reforma Aula A contra-ofensiva nos domínios da fé motivou um novo planejamento do catolicismo. ajudando a rever também certas práticas que teriam sido alvo de críticas de diferentes setores. dedicadas a deter os protestantes. O culto aos santos e o uso de imagens também foram mantidos. a Contra-Reforma acabou ajudando ao florescimento de novas ordens religiosas. Dedicou-se também ao ensino. ocorreu o Concílio de Trento. Como resultado do Concílio. Fonte: http://www. Enfrentou problemas com os jansenistas e teve alguns dos seus teólogos criticados. as boas obras continuaram sendo consideradas um meio de salvação. algumas determinações foram tomadas em dois sentidos básicos: observam-se mudanças externas de forma a garantir a unidade da fé cristã. que encaminham a Igreja Católica para um controle mais apurado dos seus sacerdotes. Essa reunião clerical destinava-se a refletir sobre a doutrina católica. Inácio de Loyola. A mais conhecida provavelmente foi a Companhia de Jesus.com. por Inácio de Loyola (1491- 6 A Companhia (ou Sociedade) de Jesus (Societas Jesu) foi inicialmente um grupo missionário. as Escrituras continuaram como fontes da crença católica e reafirmou-se a primazia da Igreja na transmissão e interpretação da fé. Por isto. A Igreja tratou de disciplinar-se.etefmc. transformações impactantes ocorreram na formação sacerdotal. villanova. o que mostra a perenidade deste expediente da Igreja Católica e a influência das medidas adotadas no Concílio de Trento mesmo séculos depois.fordham. Chamamos a atenção para a presença de autores dos séculos XIX e XX. na África e nas Américas. foi fundamental para limitar a inserção da doutrina protestante na Ásia. censurava obras de autores como Abelardo e Erasmo de Rotterdam.2009) Autor Thomas Hobbes Rene Descartes Michel de Montaigne Benedict Spinoza Denis Diderot Stendhal (Henri-Marie Beyle) Victor Hugo Denis Diderot David Hume Immanual Kant Jean-paul Sartre Francês Francês Francês Escocês Alemão Francês 1828 1834/1869 1762-1806 1828 1827 1948 Todas as histórias de amor Os miseráveis A Enciclopédia Todos os trabalhos Crítica da Razão Pura Todos os trabalhos Nacionalidade Inglês Francês Francês Holandês Francês Publicação da obra/ Inserção no Index 1649/1703 1663 1676 1690 1762/1806 Obra(s) Todos os trabalhos Todos os trabalhos filosóficos Os ensaios Todos os trabalhos póstumos A Enciclopédia 60 . A criação do Index Librorum Prohibitorum (Índice dos Livros Proibidos) visava controlar a produção de livros e outros impressos que pudessem ajudar a difundir ideias adversas à fé católica. em 1564.edu 1556).História Moderna I O Índice dos Livros Proibidos. nomes como estes apresentados a seguir. Excerto do Index Librorum Prohibitorum (Índice dos Livros Proibidos) (http://www. Inúmeros autores acabaram entrando nesta listagem sinistra.html acesso em 22 set.edu/halsall/mod/indexlibrorum. Entre eles. os senhores da Igreja Católica identificaram um importante aliado dos protestantes e trataram de domá-lo. Anos depois. A ação dos padres jesuítas. Era a palavra escrita. IMAGEM 2 http://oldlibrarysite. educados dentro de rígidos princípios disciplinares. sobretudo nos países colonizados pelos ibéricos. publicado pela primeira vez em 1564. A cena pintada por Paolo é repleta de gente. Foi assim com um dos artistas mencionados na nossa aula sobre o Renascimento (ver aula 4). morto. O lugar. destruiu a pintura. Três meses depois foi chamado para prestar esclarecimentos à Inquisição. festiva. http://www. Golpes deste tipo funcionaram como um torniquete e limitaram os avanços protestantes na Itália. em 1571. aliás. Paolo Veronese. As vítimas da Contra-Reforma acabaram sendo envolvidas sob a denominação de “hereges” e. 6 Ceia em casa de Levi. A Igreja Católica evitava assim o avanço da doutrina rival. com praticamente apenas Cristo e os apóstolos. todo mundo. 61 . Paolo Veronese 1573. Veronese pintou a Última Ceia. seus clientes solicitaram aquilo que ele fazia melhor. Mas qualquer um que apresentasse postura suspeita poderia ser investigado. como era comum. Nosso amigo Veronese foi contratado para adornar um refeitório e. tudo poderia ser motivos para arranjar problemas. Poderoso entre os séculos XIII e XIV. em muitos casos. O alvo principal eram as novas doutrinas cristãs.hu. inclusive o próprio Veronese (novamente ele se insere na cena) aparece bem vestido. O pintor concluiu a pintura em abril de 1573. Trata-se de uma despedida em grande estilo. mas fugindo do modelo estabelecido por Leonardo Da Vinci. ou seja. provavelmente torturado e. já havia sido adornado por Ticiano. a pintura de uma ceia. neste rótulo. voltou à cena em 1542. quase tudo poderia entrar. na cidade de Veneza. Veronose ganhou notoriedade pelas pinturas de “ceias” como aquela registrada nas Bodas de Caná. João e S. Ele nos deu um exemplo curioso. Entre as medidas adotadas.A Contra-Reforma Aula O Index. em Portugal e na Espanha. inventado no século XVI. lembra? Bem. O trabalho seria realizado no convento dominicano de S. em tempos de desconfiança. O Santo Ofício. foi mais uma arma numa guerra de retomada de espaços. Paulo.wga. Dependia muito da interpretação que fosse feita sobre os seus atos. aprisionado. estava também a reedição de um velho expediente: O Tribunal da Inquisição. mas um incêndio. algo que ajuda a desmistificar um poder homogêneo e inclemente. O moleiro Domenico Scandela. p. entre 1600 e 1601. conhecido por Menocchio. Em lugar de mexer na pintura. Era 18 de julho e os inquisidores começaram com perguntas rotineiras. aqui em Veneza”. Disponível em: o que teria ocorrido com Menocchio: history. Ele não lembrava seus nomes. questionam. O que Menocchio teria feito? Segundo a documentação consultada por Carlo Ginzburg e analisada na obra O Queijo e os Vermes. Pedem-lhe então que ele diga o que acha ter ocorrido. no Friuli. Eu não me lembro ter feito outros” (YRIARTE. Veronese procura evidenciar que não é alguém sem amigos na Igreja: “Eu pintei um em Verona para os monges de S. Paolo revela: “Eu posso imaginar bem”. O pintor segue se defendendo: “Eu pintei outra no refeitório de S. Enquanto um prisioneiro padece sob tortura na “roda”da Inquisição Espanhola.com. Veronese foi mais prático. Entre os sofrimentos que enfrentou.32). foi aprisionado pela Inquisição e processado em 1583. 2003. O Inquisidor observa: “Mas não é Uma última Ceia”. Ginzburg tentou descrever mente. As perguntas seguem abordando os motivos para a pintura. Outro no refeitório dos Irmãos de S. o moleiro foi processado por duas vezes e acabou morto. região do montanhoso norte italiano.História Moderna I Veronese compareceu diante do Tribunal em um sábado. Continuam cercando-o: “Você pode imaginar quais as razões para isto?”. a acusação foi a de ter pronunciado “palavras heréticas” e “totalmente ímpias” sobre Jesus Cristo (GINZBURG. depois de muitas discussões sobre a forma como a cena bíblica foi retratada. está no refeitório. Sebastião em Veneza. Esta ousadia revela certa fragilidade da Inquisição em regiões como Veneza. O nosso próximo exemplo. O trabalho passou a se chamar Ceia em Casa de Levi. a sua confissão. Denunciado à Inquisição. com pena e papel. O pintor mantém a calma e responde: “Não”. monges ao fundo aguardam paciente.esteve a tortura. deu-lhe novo nome.Lázaro.howstuffworks.Giorgio. Todavia. no entanto. Ao final do processo. 62 . é de menor sorte. Veronese explica que fora contratado por dois religiosos do Monastério de San Giovanni e Paolo. as escolhas do pintor. Ao ser perguntado quanto pintou. outra em Pádua para os Padres de Madalena. Veronese responde: “Eu pinto e faço imagens”. nascido em 1532 na aldeia de Montereale. Percebeu o incômodo do Inquisidor e resolveu o problema. Perguntaramlhe qual a sua profissão. O Inquisidor: “Você sabe os motivos pelos quais você foi chamado aqui?”. os juízes exigem que o artista refaça a pintura e ele mesmo pague o material necessário para tanto. 2009). Enquanto o levantavam. continuavam a interrogá-lo. mas não consegui me lembrar”. Enquanto isso. pois afinal de contas era letrado. Com a ajuda dele.) Ordenaram que lhe fosse dado outro puxão. Respondeu: “Discuti com tantos que agora não me lembro”. Deste modo. a forma impiedosa como ela se manifestou no ataque aos “hereges”. relacionado a outros pequenos leitores que punham em contraste o conhecimento oriundo da tradição oral com aquele expressado nas tintas e tipos dos poucos livros que lhes chegavam às mãos. em novembro de 1599. Tiraram sua roupa e observaram – como era prescrito pelos regulamentos do Santo Ofício – se era apto para a tortura. Deram-lhe o primeiro puxão: “Ó Jesus. (. isto é. Foi preparado para a tortura com cordas: “Ó Senhor Jesus Cristo. barateados. Então foi amarrado e novamente lhe perguntaram a verdade sobre seus cúmplices. 2003. ó Jesus. Levaram-no para a câmara de tortura. Menocchio revelou ser um leitor voraz. ele nos informa sobre traços de sua época. misericórdia”. “Com quem você discutiu?” – perguntaram-lhe. mais acessíveis. repetindo sempre a mesma pergunta. Tal ousadia certamente teve na onda reformista lançada por Lutero um fator contribuinte. Em seguida: “Senhor. misericórdia. mas eu li por conta própria. chamava-os de ladrões. “tentando me lembrar com quem eu tinha discutido. mas um público diversificado de letrados. chegavam a lugares antes incomuns. 6 Embora Menocchio não possa ser considerado um caso típico. que a Reforma contribuiu para amplificar os questionamentos dos populares às práticas dos sacerdotes. Os livros. Entre estes livros. a resposta não podia ser mais direta: 63 . ai de mim. no idioma nacional. A história de Menocchio ajuda a evidenciar também a força da Inquisição. uma última tentativa de protelar a execução do moleiro friuliano foi feita por seu próprio inquisidor. eu não me lembro de ter discutido com ninguém.169-170). Respondeu: “Senhor. gritou: “Ai de mim. deixem-me em paz que direi qualquer coisa” (GINZBURG. coitado de mim. ousado a ponto de blasfemar publicamente e pretensioso em tentar enganar os inquisidores. coitado de mim”. Quando.. Mais uma vez respondeu: “Não me lembro”.. podemos dizer. Menocchio criticava os padres. é possível observar a Bíblia em vulgar. de enganadores. Jesus. disse. “Pensei muito”. mártir. Jesus. não apenas clérigos devidamente acostumados ao latim podiam manejar as Escrituras. misericórdia. não me lembro de ter discutido com ninguém”. se não quisesse ser torturado. Também podemos pensar na força da imprensa. por exemplo.A Contra-Reforma Aula Pediram-lhe que confessasse o nome de seus cúmplices. não sei nada”. Respondeu: “Jesus. eu poderia até morrer por ter seguidores ou companheiros. Senhor Jesus Cristo”. Durante os seus interrogatórios. p. a Igreja Católica. a divindade de Cristo Nosso Senhor.. principalmente pela Europa. A intolerância dos clérigos aflorou através da vontade de defender a sua fé. 2003. A jurisdição do Santo Ofício em casos de tamanha importância não pode de modo algum ser posta em dúvida.. A época era propícia a transformações e questionamentos. de manter sob controle seus fiéis. econômicos e religiosos numa Europa que se enchia de ouro e se apossava de outros continentes. esta preocupação em encerrar as discussões em torno de Domenico Scandela se relaciona com os problemas trazidos pela Reforma Protestante. Assim. a Igreja Católica buscava reafirmar seu lugar de destaque na vida de homens e mulheres modernos.História Moderna I Que Vossa Reverendíssima não falte aos procedimentos no caso daquele camponês (. teve seu poder abalado. ATIVIDADES 1.) indiciado por ter negado a virgindade da beatíssima Virgem Maria. 64 . não foram presas as únicas da Inquisição. execute implacavelmente tudo o que for necessário de acordo com os termos da lei (GINZBURG. contudo os clérigos não estavam dispostos a perder seus poderes políticos. Mas observamos como toda esta movimentação de silenciamento. evidentemente. A Inquisição foi a ferramenta mais incisiva na luta contra aqueles que punham a Santa Sé em dúvida. e a providência de Deus. COMENTÁRIOS SOBRE AS ATIVIDADES Em meio às mudanças perpetradas pelos novos tempos. A reativação deste aparelho jurídico pela Contra-Reforma fez milhares de vítimas. Com a Contra-Reforma. p. Com base no que foi dito nesta aula. a Igreja Católica não parou no tempo e buscou estratégias para disciplinar os fiéis e se aproximar deles. elenque as principais iniciativas tomadas pela Igreja Católica e relacione-as com as transformações pelas quais a Europa passava na Idade Moderna. CONCLUSÃO Menocchio e Veronse. RESUMO Durante a Idade Moderna uma das principais instituições europeias. como já lhe escrevi por ordem expressa de Sua Santidade. Nem que para isto fosse preciso matá-los. de preservar o espaço da sua Igreja.192). 2009.imageshack. Oficinas da história. O casório ocorre em 18 de agosto. O mais didático deles provavelmente é a sequência relativa à noite de São Sebastião. França. Natalie Zemon. A Rainha Margot. 2003. o aluno deverá relacionar as informações e estabelecer um olhar crítico sobre as transformações que a Europa vivenciou. Maria Betânia Amoroso. católica. Fonte: 65 . a película pode ser utilizada para apresentar aspectos das discussões sobre a concentração de poder necessária ao rei. http://img193. lançando um ponto de vista panorâmico sobre as principais mudanças ocorridas no continente entre os séculos XVI e XVIII. Trad.efn.p. Filmografia comentada CHÉREAU. Observações: Este é um filme que pode ajudar a refletir sobre diversos conteúdos. GINZBURG.html acesso em 17 out. Sinopse: Num quente mês de agosto de 1572. 10 ed. a bela jovem Marguerite de Valois (Isabelle Adjani). In: História Moderna através de textos. Carlo. Bartolomeu. 129-156. São Paulo: Contexto. Col. Dispon´vel em www. p. Flávio. 3). Programam-se três dias de festa. Ritos de violência. para obter a paz e consolidar o domínio da França em meio a guerras religiosas. Trad. Patrice. na noite de 24 de agosto ocorre o episódio que ficou conhecido como o Massacre de S. Porém. 3 ed. que oferece representações bastante instigantes sobre os atos de intolerância religiosa motivadores dos conflitos entre católicos e protestantes. Margot. O Queijo e os Vermes. In: Culturas do povo: sociedade e cultura no início da França moderna. FARIA. Report of the sitting of the Tribunal of the Inquisition on Saturday July eighteenth. 1573. Adhemar. irmã do rei Carlos I (Jean-Hugues Anglade). 1990. Paolo Veronese Before the Inquisition in Venice. Charles. Além disto. é obrigada por sua mãe . Ricardo. MARQUES.us. 6 REFERÊNCIAS BERUTTI. Rio de Janeiro: Paz e Terra.org/~acd/veronese. DAVIS.103-129. YRIARTE. bem como os desdobramentos desta Capa do DVD do filme A Rainha concepção na formação dos futuros governos absolutistas. 136 min. As Reformas.A Contra-Reforma Aula AUTOAVALIAÇÃO Ao arrolar o tema discutido nesta aula com as anteriores. 2003 (Coleção textos e documentos. 1994.a casar-se com o nobre protestante huguenote Henrique de Navarra (Daniel Auteuil). São Paulo: Cia da Letras. Mariza Corrêa.Catarina de Médici (Virna Lisi) . Noções sobre crença popular. aos últimos julgamentos por bruxaria na pequena povoação de Salém. Massachusetts.files. apreender o objetivo da tortura num processo inquisitorial. em outubro de 1692.com) . Cena do filme As bruxas de Salém. PRÉ-REQUISITOS Leituras da aula sobre Contra-Reforma. “Bruxas de Salém” refere-se ao episódio gerado pela superstição e pela credulidade que levaram. o aluno deverá: identificar os principais traços que caracterizam a bruxaria e feitiçaria na Europa Moderna. ressaltando o tratamento dispensado aos acusados pela Inquisição na Idade Moderna.wordpress. OBJETIVOS Ao final desta aula.Aula CULTOS POPULARES. na América do Norte. (Fonte: http://daemonologia. perceber a ligação entre as idéias sobre bruxas e o raio de ação da Inquisição. SABÁS E PERSEGUIÇÕES 7 META Apresentar aspectos da crença na bruxaria. Sobre isto ver: HARMAN. alquimista e filósofo alemão Albert Le Grand (Albrecht von Bollstädt. males. com um mel ou xarope com pouco de fermento e sal. para beber.M.cliquede mel. Uma triste concepção ganha espaço: o fim da idéia do homem como dono de lismo. baseada em Aristóteles. Precisamos abrir e J. da Revolução Científica uma posição singular no universo. considera-o finito e geocêntrico. Mas não só. uma tentativa de traçar um panorama Paulo: Ática. entender e reforçar que este período que humana. Cf. 1995.se estende dos fins da chamada Idade Média até pulsiva como Galileu.de novas doutrinas e de recrudescimento da indos de Nicolau Copérnico.2009. depois serão misturados com a mesma quantidade http://www. O livro é uma coletânea de leitura tradicional do cosmos. no universo dos letrados alterava as suas vidas? A Revolução Científica. teologica. Sua versão inicial começou a circular Revolução Científica . Liber Secretorum Alberti Magni de virtutibus herbarum. um a “pasta de em perfeita saúde. e lhe daremos de beber um eleituário. Galileu tolerância religiosa. saude.História Moderna I INTRODUÇÃO Eleituário amigdalites. A maneira de prepará-la é a seguinte: Trata-se de uma forma farmacêuDá-se de comer tremoços a um jovem de bom temperamento e tica. havendo a destruição do ponto de vista Nas aulas anteriores. Mesmo no caso de uma personagem im.Kepler e Isaac Newton. Os que fará nos dois dias seguintes serão coletados e conservados Disponível em: cuidadosamente. durante três dias.Como se curavam? Em que medida as mudanças mente neutra. no século práticas populares sobre como se proteger de XVII ele é entendido como infinito e heliocêntrico. seus debates diante da Igreja os gritos e tumultos que levam à Revolução Frandemonstraram o esforço pela independência do cesa não foi um domínio absoluto de letrados. com pão bem assado. (Série Princípios). lapidum et animalium quo- Começamos esta aula com uma receita do século XIII para tratar rumdam. P.177).br/Di2003. falamos da Idade renascentista da correspondência entre eventos Moderna como tempos de ascensão do racionaterrestres e os astros. p. Dipreciso rejeitar como inúteis os excrementos que fará no primeiro dia. cionario-Medico/ electuario/0/3713/ A heterodoxa receita (pelo menos. perfeito. Outros mundos e do Renascimento. Através Graças às descobertas da Revolução Científica. sem lhe dar outra coisa do que o que acabamos de dizer. os setores e. Era das Luzes. conhecimento natural frente ao controle teológico Como viviam as classes populares. o papel e a concepção os olhos para outros aspectos inerentes a este de homem se alteraram. Trad. a dele observamos as respostas da gente comum pluralidade de mundos deixa o firmamento im. falecido em 1280). purgativas ou outras tinto. aos nossos tempos) está na obra glossario/e/ acesso em 20 out. São Claro. Tempo de questionamentos habitados passam a ser considerados já no século aos dogmas da Igreja Católica. Francis Bacon. Houve uma inegável ampliação da crença na ciência e na capacidade tempo. Graças aos avanços propiciados pelos estu. só lhe daremos vinho pouco drogas calmantes. Sérgio Bath. (SALLAMANN. Embates como este consolidaram a prática da ciência como frentavam no seu dia a dia? Como se divertiam? uma atividade progressista e secular. Será atividades”. a afirmação da integridade e mais humildes? Quais os problemas que eles enda autoridade dos métodos científicos. cionário Médico. sobre este aspecto da história moderna exigiria 68 .aos desafios da vida. ao mesmo tempo. nascido entre 1193 e 1206. de autoria atribuída ao teólogo.Se no século XVI a por volta de 1245.com. de surgimento XVII. realizar curas e ajudar pessoas. Cultos populares, Sabás e Perseguições Aula muito mais tempo e leituras, pois não tratamos de uma, mas de múltiplas realidades. Aquilo que se viveu na Itália não foi, necessariamente, o que se experimentou na França, por exemplo. Paralelamente às conquistas e tropeços das sociedades que produziam avanços científicos, revoluções políticas, literárias, artísticas, religiosas, podemos perceber movimentações instigantes em camadas distantes das intrigas palacianas e dos tratados científicos. Como escreveu Laura de Mello e Souza: Ciência e Razão eram apenas uma face de realidade bem mais complexa. Enquanto as elites redescobriam Aristóteles ou discutiam Platão na Academia florentina, de Lourenço de Médicis, a quase totalidade da população européia continuava analfabeta. Praticamente alheia à matematização do tempo, tinha seu trabalho regido ainda pelos galos e pelos sinos (SOUZA, 1987, p.6). 7 E para esta gente simples, atenta às mudanças do clima, aos sinais da natureza, duas entidades eram fundamentais: Deus e o Diabo. Onipresentes na vida cotidiana , ambos eram pontos que tocavam os pobres e os ricos, reis e camponeses. Aliás, a existência do Diabo – voltamos a Laura de Mello e Souza – possuía uma credibilidade respeitável. Era algo bem mais fácil de ser aceito do que a possível órbita da Terra em relação ao Sol. Sabe-se inclusive que “Martinho Lutero, o Reformador, tinha a convicção de que o Demônio se deitava regularmente entre ele e sua mulher” (SOUZA, 1987, p.8). Esta crença num duelo entre o bem e o mal, entre o divino e o maligno, alimentou diversas interpretações. A mais terrível delas provavelmente foi aquela estabelecida pelo Tribunal do Santo Ofício, que promoveu uma verdadeira guerra contra as emissárias do Diabo, e escrevemos no feminino porque O Cavaleiro, o Diabo e a Morte (1513). O artista alemão Albrecht eram costumeiramente as mulheres as acusa- Dürer (1471-1528) coloca as forças malignas como companheiras cotidianas do guerreiro. Disponível em http:www. das. Eram elas as feiticeiras e, principalmente, fromoldbooks.org as bruxas. Havia uma diferença entre as duas, embora em determinados idiomas os termos apareçam como sinônimos. Enquanto a feiticeira age individualmente, ainda que com objetivos maléficos, a bruxa pertence a uma seita demoníaca. Ela se unia a Lúcifer através de um pacto, firmado nos sabás, 69 História Moderna I festas demoníacas nas quais se dançava, se bebia, participavase de orgias sexuais, cuspia-se em imagens de Cristo, pisava-se na Cruz, renegava-se o Salvador. Enquanto a feiticeira poderia provocar o mal, isto é, enquanto esta era uma mulher capaz de realizar práticas que trouxessem o mal, a bruxa era alguém de quem o mal irradiava. Ela própria, pela aliança firmada com Satã, era fonte do mal (Cf. SOUZA, 1987, p.59-60). A predisposição feminina era explicada pelo fato de que as mulheres eram as mais “suspeitas de conhecer as receitas para O diabo desreispeita uma mulher enfeitiçar”, sobretudo as mais pobres e idosas. As mulheres eram frívola. Malleus Maleficarum. Disponív- consideradas donas de uma natureza “mais sensível às ilusões el em: http://www.sacred-texts.com. diabólicas do que o outro (sexo)” (SALMANN, 2002, p.55). E assim, apontadas como principais inimigas da fé cristã, causadoras de problemas nas aldeias, nas cidades, nos casamentos e na saúde das pessoas, as bruxas encontraram suplícios diversos através das ações da Inquisição. Observa-se um importante deslizamento na concepção das bruxas entre o Medievo e a Idade Moderna. Ao atacar as feiticeiras na Idade Média, a Igreja não via nelas a fonte do mal, mas buscava combater resquícios pagãos, superstições, atos condenáveis. Não havia uma associação imediata com a heresia. Aliás, a Inquisição, ao ser retomada, trouxe à tona uma literatura estabelecida ainda no século XIV que instrumentalizou a caçada às bruxas. O tratado Malleus Maleficarum, escrito por Henry Institoris e Jacques Sprenger, traduzido como O Martelo Ilustração do Martelo das Bruxas. O das Bruxas, impresso em Estrasburgo, em 1486, foi a primeira diabo zoomórfico e uma amante bruxa aparecem em ilustração do manual obra moderna a tratar da bruxaria. Outro escrito importante de trabalho dos inquisidores. history. foi o Manual do Inquisidor, de 1376, de Nicolau Emérico. O howstuffworks.com. livro “propiciava ao clero o instrumental teórico necessário à perseguição das discípulas de satã” (SOUZA, 1987, p.27). E no olho do furacão da Contra-Reforma, a perseguição a todos os tipos de hereges ampliou os usos desta obra nos expedientes da Inquisição – sobretudo nos países ibéricos e na Itália – durante os processos movidos pelo Santo Ofício. Porém, é importante que se entenda que a Inquisição não foi reconhecida juridicamente e os tribunais diocesanos foram gradativamente desprovidos de poder. Segundo Jean-Michel Sallmann, “na época moderna, a grande caça aos bruxos é conduzida por tribunais laicos” (SALLMANN, 2002, p.40). O mesmo historiador explica que: “em toda parte em que a caça aos bruxos ficou famosa por seu vigor, deve ser citada somente a responsabilidade dos tribunais superiores senhoriais ou principescos” (SALMANN, 2002, p.41). A Inquisição em ação tortura um suspeito de heresia. Disponível em: Como explica Sallmann, “no fim do século XV e no começo http://www.lsg.musin.de. do XVI, o número de vítimas foi relativamente limitado e os tri- 70 Cultos populares, Sabás e Perseguições Aula bunais inquisitoriais conduziram a caça. Um século depois, os tribunais civis assumiram o controle da repressão e a levaram a um nível de severidade até então inusitado” (SALLMANN, 2002, p.36). Mesmo variando em sua influência de país para país, a caça às bruxas declarada pela Inquisição fez vítimas pela Europa. Entre tribunais marcadamente laicos e religiosos, homens e mulheres acabaram mortos, sobretudo no período que vai de 1560 a 1630. Entre 1561 e 1570, foram aproximadamente 3229 execuções na Alemanha; ao menos 2000 mortes na França (região da Lorena); na Suíça, entre os séculos XIV e XVII, foram aproximadamente 5417 execuções (Cf. SOUZA, 1987). O aparelho judiciário montado para perseguir aos hereges era temido e dava razões para isto. Como a confissão era imprescindível para que as penas fossem aplicadas no Antigo Regime, os interrogatórios ocorriam sob um forte clima de intimidação. A possibilidade da tortura não era pequena, e o depoente sabia disto. Os inquisidores eram instruídos para deixar isto claro, insinuando o risco de suplícios, da morte e da perdição da alma. A “pedagogia do medo” imposta pela Inquisição possuía dois alvos privilegiados: além da já mencionada bruxa, havia o judeu. Diferente da bruxa, perseguida por questões de fé, por emanar o mal, o judeu é alvo por questão de sangue, por “falta de limpeza de sangue” (TREVOR-ROPER Apud BERUTTI, FARIA, MARQUES, 2003, 158). Como escreveu Trevor-Roper: Nos períodos de intolerância, e de introversão, a sociedade cristã, tal como qualquer outra sociedade, procura bodes expiatórios. O judeu e a bruxa prestam-se igualmente para desempenhar esse papel, mas a sociedade decide-se pelo que está mais à mão. Os dominicanos, uma ordem internacional, odeiam-nos a ambos; mas enquanto nos Alpes e nos Pirineus perseguem as bruxas, em Espanha concentram-se nos judeus. O que não quer dizer que não haja bruxas em Espanha (...) Os inquisidores espanhóis tinham muitos judeus e mouros com que se ocupar e pouco tempo lhes sobrava para as bruxas (TREVORROPER Apud BERUTTI, FARIA, MARQUES, 2003, p.158). O que se percebe é que os inquisidores, na ânsia em punir os hereges, acabavam reduzindo todas as informações que os acusados forneciam durante os seus depoimentos a peças de um quebra-cabeça que eles já conheciam previamente. A imagem a ser obtida era a do sabá. Para Carlo Ginzburg, a festa pode ser apresentada, em seus aspectos básicos, da seguinte maneira: Bruxas e feiticeiros reuniam-se à noite, geralmente em lugares solitários, no campo ou na montanha. Às vezes, chegavam voando, depois de ter untado o corpo com ungüentos, montando bastões ou cabos de vassouras; em outras ocasiões, apareciam em garupas de animais ou transformados eles próprios em bichos. Os que vinham A Prova da Água. Entre os expedientes utilizados para identificar se a pessoa era mesmo uma bruxa, a “prova da água” era a mais comum, sendo aceita, inclusive, pelos tribunais. Mas o que era isto? Segundo Jean-Michel Sallmann, “consistia em mergulhar a suposta bruxa na água de um rio, de um charco ou de um canal, muitas vezes lastrada de uma pedra pesada”. Se a suposta bruxa flutuasse, o “Coisa Ruim” não teria pretendido que uma de suas adoradoras morresse. Assim, explica Sallmann, “era gerada a prova de comércio diabólico, e a bruxa executada imediatamente. Porém, se ela afundasse, seria considerada inocente” (SALLMANN, J.M. As bruxas: noivas de Satã. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.p.64). IMAGEM 5 Na ilustração, a anabatista Maria von Monjou é preparada para o afogamento em 1552. 7 71 orgias sexuais. Seguiam-se banquetes. estava “o sangue de um rato que servia como filtro. Elas mexiam todos os ingredientes e passavam por todas as partes de seus corpos com abundância até ficarem vermelhos e se sentirem bastante quentes.9).90 pela primeira vez deviam renunciar à fé cristã. São Paulo: Madras. Segundo Poitevin. nas noites de luar.p. p. CONCLUSÃO Assim. se reforçava a tradição oral e mantinha-se aberto o caminho para suspeitas e denúncias. tes do Diabo . danças. “descobriam. Margaret. 2001. banquetes. profanações. Robert Darnton. solanum somniferum e óleo. separando dali a parte mais grossa que ficava no fundo da água fervente. Um destes rótulos sociais. Les diables do século de sem os gatos que cruzavam lithographies detalhes de Eugène Modeste Edmond Le seus caminhos à noite. vassouras. 1832. fazia com que. um contemporâneo do século XVI informou que “a gordura de crianças ou de jovens era o líquido que usavam para misturá-los em um recipiente. suas peles começavam a sorver o líquido e ficar mais leve. Disponível em: http://gehspace. Outro desdobramento disto é a permanência de representações de bruxas Les diables de lithographies detalhes de Eugène Modeste Ed. Esta ilustração França. MURRAY.com. zoomorfismos. O culto das bruxas na Europa ocidental. serem levadas pelos ares”. p. as faziam. bruxas e feiticeiros recebiam ungüentos maléficos. Resultante deste esforço da Inquisição na redução de cultos populares ao sabá é o nosso desconhecimento sobre diversos aspectos da vida dos analfabetos. orgias sexuais. 2003.História Moderna I Conforme Margaret Murray (1863-1963). Disponível em: Http://gehspace. dos mais humildes na Idade Moderna. 2006. encontrando os ingredientes acima mencionados – unguentos . profanar os sacramentos e render homenagem ao diabo. danças – nas falas de depoentes desesperados. Entre os ingredientes mencionados.125). com os poros começando a se abrir. produzidos com gordura de criança e outros ingredientes (GINZBURG. conhecida pesquisadora britânica do assunto.Elas faziam aquela poção com seus rituais específicos que.com. então. os camponeses chutas. a capacidade mencionada por Ginzburg de bruxas e feiticeiros em se apresentarem aos sabás “transformados eles próprios As referências a relações sexuais entre Satanás e suas em bichos”. no dia seguinte. na adoradoras permanecem constantes mesmo após o caça perseguição às bruxas. 72 . os tribunais da Inquisição ajudaram a estabelecer estereótipos sobre as bruxas e mesmo sobre os judeus.como aliadas e como amanmond Le Poitevin.fim da XIX exemplifica tal perenidade. presente sob a forma humana (ou mais freqüentemente) como animal ou semi-animal. Desta maneira. da gente do campo.1832. como resultado. que as machucaduras haviam aparecido em mulheres que se acreditavam serem bruxas” (DARNTON. e guardavam essas partes para quando chegasse um momento oportuno de ser usado”. Antes de voltar para casa. Sabás e Perseguições Aula RESUMO Durante a Idade Moderna ocorrem várias mudanças. descreva como ocorria o sabá e quem se envolvia com este ritual. torturava e matava em nome da Santa Sé. Para obter a confissão dos acusados. julgava. Através da perseguição aos dissidentes da fé cristã. a instituição religiosa batia de frente com costumes populares de cura muito difundidos nas cidades e vilas e que passaram a ser interpretados como prática de bruxaria. A crença nos poderes sobrenaturais e malignos foi encarado como um entrave à fé católica. mas também de reafirmação do poder da Igreja Católica. Com a justificativa de que precisava combater a presença do mal aqui na terra a Inquisição prendia. os inquisidores lançavam mão de um arsenal de objetos e aparelhos desenvolvidos especificamente para causar dor ao corpo humano. 73 . mas também o exercício de lidar com informações de jornais e revistas. por exemplo. crianças. O Diabo era uma figura popular tanto no imaginário dos homens mais ricos. animais). seres sobrenaturais. feiticeiras e hereges envolvia um processo aterrorizante. 7 ATIVIDADES A partir do que foi visto nesta aula. mulheres. Depois pesquise em jornais e revistas recentes notícias sobre bruxaria nos últimos anos. podem-se destacar elementos como rituais de sacrifício. Procure perceber quem são os envolvidos em ambas as situações (homens. Até que ponto nossos “bruxos” atuais acompanham os modelos impostos pela Inquisição? COMENTÁRIOS SOBRE AS ATIVIDADES A Idade Moderna foi um período de afirmação da ciência. porções mágicas a base de ingredientes inusitados. mas o período também reflete algumas permanências. AUTOAVALIAÇÃO Esta atividade exigirá do aluno uma análise sintética sobre o que foi visto na aula. Em pleno século XXI ainda vivenciamos histórias que relatam a existência de bruxas e rituais sabáticos. quanto dos mais humildes. No caso da bruxaria. A caçada às bruxas. Embora a atividade proponha a busca de fontes contemporâneas.Cultos populares. o objetivo é que o aluno perceba como há uma construção específica dos tipos que se dizem pertencentes a determinados grupos. Compare os rituais descritos e confronte-os ao sabá. In: Os andarilhos do bem: feitiçarias e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. 10 ed. 5 ed. São Paulo: Ática. Jônatas Batista Neto. 3 ed. Flávio. São Paulo: Cia da Letras. Identificado o possível foco de bruxaria em Salém. 1987. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. 2 ed. São Paulo:Cia da Letras. 2003 (Coleção textos e documentos. 2006. Trad. Carlo. Capa do DVD do filme As bruxas de Salém. Sônia Coutinho.p. 2003. Nicholas. foi surpreendido num ritual demoníaco. História Noturna: decifrando o Sabá. O Queijo e os Vermes. Sinopse: Em 1692 um grupo de garotas de Salém. Apesar de não mostrar tortura física. Laura de Mello e. prisão e execução de alguns possíveis servos de Satã na Terra.bp. Maria Betânia Amoroso. As Batalhas Noturnas. tomada de depoimentos. 2000.História Moderna I BIBLIOGRAFIA BERUTTI. GINZBURG. 2001. Carlo. Os trabalhadores se revoltam: o grande massacre de gatos na Rua Saint-Severin.com) 74 . Giovanni. 3). 2002. Ricardo. Filmografia indicada: Hytner. 1996. As bruxas de Salém.p. Trad. Massachusetts. São Paulo: Cia da Letras. 1988. Mentalidades e Cotidiano. Margaret.90 SALLMANN.M. MARQUES. 2ed. Estados Unidos. SOUZA. C. GINZBURG. A feitiçaria na Europa Moderna. LEVI. FARIA. p. (Fonte: http://2. Adhemar. MURRAY. Rio de Janeiro: Objetiva. In: O Grande Massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. Observações: O filme apresenta os aspectos mais comuns num processo de perseguição às bruxas.143-165 DARNTON.blogspot. In: História Moderna através de textos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2003. o filme elucida os momentos da denúncia. Trad. GINZBURG. J. Rio de Janeiro: Graal. o local recebe a visita de um especialista que consulta livros sobre o tema. São Paulo: Contexto. 123 min. Robert. As bruxas: noivas de Satã.102-139. São Paulo: Madras. A comunidade instaura um processo para apurar o que aconteceu e as jovens apontam desafetos como as verdadeiras bruxas. O culto das bruxas na Europa ocidental. (Fonte: http://www. oferecer informações pontuais sobre o mercantilismo. Capa de edição brasileira do livro Linhagens do Estado absolutista. do historiador Perry Anderson.livrariamarxista. caracterizando-o como uma prática econômica típica dos regimes absolutistas. seus principais teóricos e as motivações para sua formulação. reconhecer características básicas do mercantilismo.Aula O ABSOLUTISMO 8 META Apresentar em seus aspectos básicos o regime de governo conhecido como Absolutismo. apreender a importância do governo de Luís XIV e do significado de suas práticas como modelos para outros soberanos absolutistas.br) . identificar os principais traços que caracterizam o absolutismo.com. exemplificar o regime absolutista a partir da figura de Luís XIV. o aluno deverá: apresentar os traços gerais do Absolutismo. Informações sobre os Estados Nacionais. PRÉ-REQUISITOS Leituras do capítulo anterior. OBJETIVOS Ao final desta aula. Neste sistema de governo. qual teria sido o resultado político disto tudo? Segundo o historiador britânico Perry Anderson. Perry Anderson Nascido em Londres. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. contribuiu como editor da New Left Review. Cada um. administrador e o juiz. o Absolutismo desliza para sua designação implícita ou explícita fundamentalmente como um tipo de Estado burguês. por exemplo. costumeiramente é possível identificar abordagens que apresentam o Absolutismo como um mecanismo de equilíbrio político entre a nobreza e a burguesia. ficou evidente que a existência de um rei forte era imprescindível. Todavia. sem limite algum. p. Mas como isto se deu? Como o Absolutismo se constituiu?Ao final do Medievo. Confunde-se com as noções de dominação e tirania (FERREIRA. Também não havia muitas rotas seguras e as surpresas nos caminhos poderiam ficar a cargo de um senhor de terras mais sagaz ou mesmo de saqueadores. exercendo de fato e de direito os atributos da soberania. Dicionário de Filosofia. 3 ed. É possível. atrapalhavam o bom andamento dos negócios. Deram-lhe exércitos profissionais. Por isto. mesmo assim. Os reis passaram então a colocar em funcionamento direitos que possuíam. principal periódico da esquerda britânica. que o Absolutismo é um sistema de governo em que o governante se investe de poderes absolutos. estabeleceram uma estrutura jurídica mais eficiente. senhor de um vasto território e de sua gente. Nesse sentido. foi a emergência do Absolutismo no século XVI. mas não exerciam (como a suserania. 4 ed. Podemos dizer. Nicola. os burgueses auxiliaram o rei. em 1938. evidentemente. Com este rei dotado de um corpo militar e burocrático. Aurélio Buarque de Holanda. impostos cobrados a cada canto. 2000. o poder estatal é exercido sem limitações ou restrições (ABBAGNANO. Perry Anderson destaca que as análises marxistas debatem até hoje a 76 . há exagero na afirmativa. p. arranjaram-lhe funcionários.historiador de formação política densa. O governante é simultaneamente o supremo legislador. desenhou-se de fato o Estado Moderno em sua forma clássica. 17). apresentou certas particularidades. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 1999. Vários países da Europa viveram a experiência de governos absolutistas. O ESTADO ABSOLUTISTA NO OCIDENTE Justamente por esta aliança ocasional. por exemplo). visando ao seu próprio bem.História Moderna I INTRODUÇÃO Diante de tantas transformações sofridas pela Europa desde fins da Idade Média. Nenhum governante absolutista jamais deteve tão amplo poder. São Paulo: Martins Fontes. Absolutismo foi um termo cunhado na primeira metade do século XVIII para indicar toda doutrina que defende o “poder absoluto” ou a “soberania absoluta” do Estado. traçar marcas comuns a todos eles. pois só ele poderia romper certas práticas feudais – moedas cunhadas diferentemente. 2). em última análise o regime deveria servir. Em poucas palavras. Por outro lado. na qual a nobreza permanecia dona de certas regalias. esta nova máquina política foi também. Porém. 77 . Essa nobreza passou por profundas metamorfoses nos séculos que se seguiram ao fim da Idade Média. podemos afirmar que os Estados monárquicos da Renascença foram em primeiro lugar e acima de tudo instrumentos modernizados para a manutenção do domínio da nobreza sobre as massas rurais. por sua própria natureza. Diluída no nível da aldeia. Um dispositivo que esperava sujeitar as massas camponesas à sua posição social tradicional. o Absolutismo nunca foi. ele nunca foi um árbitro entre a aristocracia e a burguesia.O Absolutismo Aula natureza social do Estado absolutista. cujos interesses coletivos. para a própria classe dominante. Ou seja. O Estado absolutista mantinha uma sociedade hierarquizada. mas nunca foi desalojada do domínio do poder político com o absolutismo. Enquanto a propriedade agrária aristocrática impedia o mercado livre na terra. Isto resultou num aparelho reforçado de poder real. Durante a Idade Moderna a classe dominante era a mesma do Medievo: a aristocracia feudal. em direção a uma cúpula centralizada e militarizada: o Estado absolutista. ela tornou-se concentrada no nível “nacional”. cuja função política permanente era a repressão das massas camponesas e plebeias na base da hierarquia social. o autor demonstra que o fim da servidão não significou aí o desaparecimento das relações feudais no campo. a mobilidade social e as relações de produção rurais permaneciam feudais. um suave processo de evolução: ele foi marcado por rupturas e conflitos extremamente agudos no interior da aristocracia feudal. dotada de uma força de coerção capaz de vergar ou disciplinar indivíduos ou grupos dentro da própria nobreza. 8 ENTENDENDO O ABSOLUTISMO O absolutismo funcionou como um aparelho de dominação feudal recolocado e reforçado. provocando a chamada Revolução Gloriosa. Entretanto. Nesta ótica. O poder de classe dos senhores feudais estava diretamente em risco com o desaparecimento gradual da servidão. Veremos que em países como a Inglaterra esta situação perdurará até o século XVII. O resultado disso foi o deslocamento da coerção político-legal no sentido ascendente. os elementos do Absolutismo são considerados capitalistas. introduzindo-o na discussão sobre a passagem do feudalismo ao capitalismo. e menos ainda um instrumento da burguesia nascente contra a aristocracia: ele era a nova carapaça política de uma nobreza atemorizada. isto justifica a obediência 78 . único procedimento viável para evitar o caos social. De certa forma. desafia a Igreja. as novas monarquias centralizadas produziram. Significou a indelével marca de nascença do Estado renascentista: com o seu surgimento. O soberano era o próprio país. O nacionalismo aqui presente era aparente. O domínio do Estado absolutista era o da nobreza feudal. Os Estados absolutistas não desenhavam a mobilização dos sentimentos patrióticos em seus súditos. dividem e conquistam territórios. no qual havia uma perpétua “sondagem dos pontos fracos do meio ambiente de um Estado ou dos perigos provenientes de outros Estados”. chancelarias permanentes. Jean Bodin (1530-1596). a ideia da necessidade do estabelecimento de um “contrato social”. Jacques Bossuet (1627-1704). As riquezas oriundas das novas terras eram providenciais na manutenção dos exércitos. O Estado absolutista se mostra personificado no rei. A existência de colônias na América contribuiu para o fortalecimento do Absolutismo em muitos países. avançam sobre seus territórios. com o estabelecimento das novas instituições das embaixadas fixas e recíprocas no exterior. um sistema formalizado de pressão e intercâmbio entre Estados. os escritos de nomes como estes ajudaram a consolidar. foram fundamentais. a importância em concentrar o poder totalmente nas mãos do governante. O que propunham tais pensadores? Ora. capaz de organizar a sociedade (Hobbes). Este poder conferido é um reflexo do próprio poder divino e. O Estado era concebido como o patrimônio do monarca. ABSOLUTISMO E BURGUESIA O paradoxo do absolutismo ocidental era que ele representava fundamentalmente um aparelho para a proteção da propriedade e dos privilégios aristocráticos. os meios através dos quais tal proteção era promovida pudessem simultaneamente assegurar os interesses básicos das classes mercantis e manufatureiras emergentes. entre a natureza e o programa do Estado absolutista e as operações do capital mercantil e manufatureiro. A nobreza podia confiar o poder à monarquia e permitir o enriquecimento da burguesia: as massas estariam ainda à sua mercê. Ele acumula funções. ao mesmo tempo. em última análise. havia um campo de compatibilidade potencial. Através da diplomacia. fortalecidos. O ABSOLUTISMO E SUAS BASES TEÓRICAS O absolutismo teve seus ideólogos. nasceu na Europa um sistema político internacional. nesta fase. pacifica-os.História Moderna I O NACIONALISMO Diplomacia Foi uma das grandes invenções institucionais da época. Thomas Hobbes (1588-1679). pois só há poder soberano quando o povo se despoja do seu poder e o transfere inteiramente ao governante. por exemplo. na época de transição para o capitalismo. Entre eles. pela primeira vez. retira dela atribuições. a renúncia a alguns dos direitos individuais em favor de um soberano. não o território. embora. Utilizam a diplomacia. Os reis. A instância última da legitimidade era a dinastia. nos conflitos políticos e militares que a todo o momento opunham reciprocamente os vários reinos da Europa Ocidental. relatórios diplomáticos. o Primogênito da França (Premier Fils de France). nasceu em Wesport. insinua esta intensa identificação. o jovem soberano começou a mostrar que havia aprendido as lições. Escreveu para Luís XIV o livro Discurso sobre a História Universal (1681). assim como havia uma profunda sintonia entre o soberano e o Estado. A sua obra mais conhecida é O Leviatã (1651). Tornou-se padre e doutor em teologia. tutor do filho mais velho de Luís XIII. Ao ser coroado Luís XIV. Porém.abbaye-saint-benoit. filósofo inglês. Jacques Bénigne Bossuet nasceu em Dijon. O homem é um ser belicoso para Hobbes. mas acreditava na manutenção da monarquia da França. ao se tornar bispo. estava destinado à morte. Luís XIV tinha ciência de que. 79 . na França. justificando a autoridade sem limites e invalidando o questionamento às determinações reais (Bossuet). que afirmava basicamente serem os poderes monárquicos concedidos por Deus. A conhecida afirmação “O Estado sou eu” (L’état c’est moi). atribuída a Luís. Afirmou que a primeira lei natural da humanidade é “guerra de todos contra todos”. de um país. a teoria do direito divino.O Absolutismo Aula 8 Thomas Hobbes. vale lembrar que o próprio rei demonstrava conhecer sua função enquanto representante de uma dinastia. que os súditos devem ao seu soberano (Bodin).ch. Deixou a corte em 1681. cultivando a amizade do Rei Sol. Defendeu o estabelecimento de um contrato social. Nele a teoria do direito divino era aplicada. como ser humano. LUÍS XIV – O REI SOL O reinado de Luís XIV (1661-1715) apresentou ao mundo provavelmente a melhor versão de um governo absolutista. inclusive. Viveu na corte de Luís XIV como seu tutor. Autor da obra Política segundo as Sagradas Escrituras (1701). fora educado por um teórico do Absolutismo. capaz de dotar o soberano de amplo poder e evitar o caos social no qual “o homem é lobo do homem”. Fonte: http:// www. Foi educado em colégio jesuíta. Bossuet foi. O Delfim. Durante o governo de Luís. óperas nas quais ele poderia representar o próprio Apolo. da qual depois foi professor. Luís teve a sorte de contar com artistas. uma ferramenta política fundamental. adequadamente submetidas a ele. inaugurou uma tradição e virou modelo para outros monarcas. Cuidadosos para manter seu poder.História Moderna I Jean Bodin nasceu em Angers. por balés. Estudou na Universidade de Toulouse.com. Graças a isto. Ao fazer isto. Inúmeros retratos foram pintados do rei. utilizando-a como um instrumento legitimador. estátuas equestres foram erguidas em sua homenagem. podemos acompanhar toda a sua vida. adolescente. Luís XIV foi pintado como Apolo. de 1576. Foi filósofo e magistrado. Alexandre. Procurando implementar uma imagem positiva sobre si e sobre os seus atos. pois há retratos de Luís bebê. entradas triunfais (a Entrée triomphante) em Paris após suas vitórias. O rei viu-se envolvido em diversos rituais. peças teatrais. Seus ministros atuavam como funcionários. Carlos Magno. por espetáculos e pelo exercício minucioso de produção da imagem do rei. o rei e seus conselheiros demonstraram grande preocupação com a imagem real.bp. 80 . Em seus 72 anos de reinado. a burguesia e a nobreza foram controladas. Fonte: http://2. o rei cercou-se das artes. Luís XIV. Em seu livro Seis Livros da República (Les Six Livres de la République). homem feito e idoso. Até o momento da sua morte foi representado. Bodin apresenta pioneirismo ao abordar de modo sistemático o problema da soberania. França. escritores e compositores habilidosos a seu serviço. garoto. Sua efígie aparecia em moedas comemorativas. Com a chegada de Luís XIV ao trono. diversas produções apareceram para representá-lo. O resultado desta preocupação foi um governo marcado por rituais solenes.blogspot. 3. Proteção da moeda e dos estoques de metais preciosos. no ano de sua morte. Protecionismo alfandegário às manufaturas existentes e incentivo às novas. entre 1667 e 1668. através da Guerra de Sucessão (1701-1714). Incentivou as exportações. Jean-Baptiste Colbert galgou vários postos no governo de Luís XIV. fomentou a produção de manufaturas. 2153 janelas. o monarca francês invadiu e participou pessoalmente da Guerra da Devolução. nascido em Reims. Neste ano. a grandiosidade e o fausto da sua corte foram materializados na construção do suntuoso Palácio de Versailles: 700 quartos. entre as principais características mercantilistas destacamos: 1. Por estas dimensões espantosas. Com esta força. Luís montou um exército poderoso e temido na Europa. Na França a intromissão do Estado foi maior do que na Inglaterra e isto teve efeitos no desenvolvimento tardio do capitalismo naquele país. Colbert contribuiu para o governo de Luís XIV. 5. 1250 lareiras. Rigoroso controle de qualidade de produção. nos Países Baixos. A manutenção de um braço militar era possível porque nos negócios Luís também mostrou desenvoltura. De modo panorâmico. promoveu um rígido protecionismo econômico. Mazarino havia contratado Colbert para cuidar das suas finanças e a satisfação do Cardeal lhe valeu o posto de Ministro de Estado. com aproximadamente 170 mil homens. Os números tendem a impressionar quando se trata de Luís XIV. O mais forte do Continente. complementando o nome do soberano: LOUIS LE GRAND. Seu funcionário para as finanças foi um certo burguês chamado Jean-Baptiste Colbert (1619-1683). O mesmo se dá com seu poderio militar. 81 . 4. buscou o estabelecimento de uma balança comercial favorável. Sua influência na economia francesa é tão significativa que o mercantilismo dos tempos de Luís XIV é chamado de Colbertismo. A indicação ao rei foi feita pelo poderoso Cardeal Mazarino (1602-1661). 51210 metros quadrados de área construída. venceu a Guerra da Holanda (1672-1678). 67 escadas. os retratos representavam o rei em solenidades oficiais. ajudando-o a racionalizar e a uniformizar a legislação da época. comprometendo seriamente o orçamento francês. As medidas de Colbert exemplificam os traços fundamentais do mercantilismo. além de contribuir para o povoamento do Canadá e fundar companhias de comércio. as instalações portuárias e constituir grandes companhias de navegação. Impulso do comércio exterior e balança comercial favorável. Dar as costas a uma imagem de Luís.O Absolutismo Aula Muitas vezes. 2. Tendo exercido cargos como “controlador geral das Finanças” e depois “Secretário de Estado na Marinha e na Casa Real”. a depender da situação. poderia ser uma ofensa tão grave quanto fazer o mesmo ao próprio rei. 700 hectares de parque. o adjetivo “grande” passou a ser utilizado e escrito. A grandeza do rei foi oficialmente estabelecida em 1671. Por sua vez. Contribui para a ruína de Nicolas Fouquet (1615-1680). em letras maiúsculas. 8 Filho de um comerciante. garantiu a coroa de seu neto Filipe V na Espanha. Versailles representou também alto custo de manutenção. Esforço para desenvolver a marinha mercante. qual a época em que o filme foi produzido? Como o mundo estava neste período? 82 . No que se refere ao seu aspecto econômico. o Absolutismo funcionou baseado em um conjunto de práticas econômicas chamadas de mercantilismo. O ministro das finanças de Luís. Estes problemas são os primeiros indícios das dificuldades que. sobre que época ele fala? E qual o tempo da narrativa do filme escolhido.História Moderna I CONCLUSÃO Porém. O melhor exemplo que se pode apontar de um soberano que aplicou os princípios do Absolutismo é Luís XIV. abrirão as marés de críticas ao Absolutismo na França e culminarão na queda do regime. durante a Revolução Francesa. ATIVIDADES 1. Entre os principais teóricos absolutistas podemos indicar: Jean Bodin. fomentou a implementação de práticas mercantilista. só foi sistematizada na primeira metade do século XVIII. porém. A doutrina que justificava o regime. em 1789. isto é. escolha um dos filmes indicados em nossa filmografia e elabore uma reflexão sobre como o Absolutismo é representado nele. acentuadas. monarca da França que ficou conhecido como o “Rei Sol”. Em tese. O regime revela uma complexa relação entre o rei. Nesta aula. Jean-Baptiste Colbert. as diversas guerras empreendidas pela França e o estilo de vida nada discreto de sua corte acabaram exaurindo as finanças do país e comprometendo a economia nacional. Responda aos seguintes questionamentos: o filme se afasta do texto? Em quais aspectos? Por quais motivos o diretor optou por tal interpretação do Absolutismo? Qual o tempo narrado no filme escolhido. RESUMO O Absolutismo nasceu no século XVI como uma resposta política ao contexto de crises vivenciadas pela Europa. falamos de um sistema que ficou conhecido por sua capacidade de centralizar o poder nas mãos do soberano e transformar a economia em um problema nacional. Jacques Bossuet e Thomas Hobbes. o absolutismo defende o “poder absoluto” ou a “soberania absoluta” do Estado. a burguesia e a nobreza. Sabendo disto. 1997. Perry. 3 ed. mas com os olhos e as pessoas do presente. é preciso entender que o filme não precisa ser uma reprodução do nosso texto. mas para que a entenda como uma produção de nossos dias. As comparações entre o tempo da narrativa e o tempo narrado podem ser bastante proveitosas. Maria Luiza X. Nicola. de A. Linhagens do Estado Absolutista. Cyro. de Shekhar Kapur. 8 AUTOAVALIAÇÃO A atividade proposta sugere ao aluno exercitar a sua capacidade crítica. 1986.54-66 REZENDE. Apresentam-se os momentos que antecedem aos conflitos entre as 83 . História Econômica Geral. se feitas com atenção. Rio de Janeiro: Perspectiva. REFERÊNCIAS ABBAGNANO. Filmografia recomendada e comentada: KAPUR. ANDERSON. “O Estado absolutista na Europa moderna”. Sistema econômico comercial. abordam aspectos do absolutismo. qualquer um deles. como uma interpretação do passado. Porém. 4 ed. 114 min. Adhemar Martins et alli. 3 ed. 1999. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Borges. 1994. MARQUES. Francisco José Calazans. 2003.p. mas com diferenças em seus enfoques. Shekhar. é importante também refletir sobre as razões para as escolhas feitas pela narrativa fílmica. Inglaterra. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Brasiliense. Sinopse: Continuação da narrativa fílmica de 1997 de Elizabeth. São Paulo: Contexto. In: História Moderna através de textos. São Paulo: Ática. São Paulo: Martins Fontes. FALCON. São Paulo: Contexto. 10 ed. FERREIRA.O Absolutismo Aula COMENTÁRIOS SOBRE AS ATIVIDADES Os filmes elencados na filmografia desta aula. Trad. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 2000. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Elizabeth: a Era de Ouro. Despotismo Esclarecido. Aurélio Buarque de Holanda. 2007. 1985. BURKE. Apontamos a observação do filme em relação ao conteúdo da aula não para que ele procure “erros” na produção cinematográfica. É importante respeitar a liberdade de criação do diretor. Peter. Elizabeth enfrenta um adversário inesperado: o amor. Possivelmente alguém da corte. Baseado em texto de Alexandre Dumas. o jovem rei da França manda aprisionar o irmão gêmeo na Bastilha. um prisioneiro que. explora cenários gigantescos e os coloca em contraste com as figuras humanas. É adequado observar os enquadramentos diferenciados do filme. Fonte: http://www. O filme aborda a intrigante história do “Homem da Máscara de Ferro”. Capa do DVD do filme Elizabeth: a Era de Ouro. O Homem da Máscara de Ferro. que parecem diminutas em diversas cenas. objetivando que ele nunca mais seja reconhecido. surge um plano para trocar os irmãos e trazer paz ao reino. 1998. Randall. Por seus hábitos.História Moderna I forças britânicas e a Invencível Armada de Felipe II.com. na França de Luís XIV. Observações: O filme mantém a qualidade fotográfica e os figurinos do primeiro filme. 132 min. Observações: O filme apresenta aspectos pertinentes com o Absolutismo. O diretor opta por filmar a rainha a partir de ângulos distanciados. Sinopse: Luís XIV. A partir de uma reunião de antigos e célebres mosqueteiros.projecao. WALLACE. todos os carcereiros e prisioneiros sabiam que se tratava de um homem educado. era obrigado a viver com a cabeça aprisionada em uma máscara de ferro. Além disto. Além disto. EUA.net. Capa do DVD do filme O Homem da Máscara de Ferro. Fonte: http://numberonestars. pode ser uma ferramenta para apresentar algumas das abordagens sobre o século XVIII e o Absolutismo. 84 . com. o aluno deverá: reconhecer o contexto que propiciou a eclosão de revoluções na Inglaterra. Capa do DVD do filme Morte ao rei. na Inglaterra. Identificar as principais mudanças ocorridas na Inglaterra no período das revoluções. que trata da deposição do Rei Carlos I pelos puritanos. PRÉ-REQUISITOS Leituras sobre o absolutismo. no curso da Revolução Puritana. OBJETIVOS Ao final desta aula.submarino. identificando os seus aspectos centrais. dirigido por Mike Barker. Noções da formação dos Estados Nacionais. em 1645. A película destaca a disputa pelo rumo do processo revolucionário ocorrida entre Lorde General Thomas Fairfax (membro da aristocracia que buscava uma reforma moderada) e o General Oliver Cromwell (que exigia a execução do Rei). líderes e desdobramentos.br) . apreender os desdobramentos políticos da Revolução Gloriosa.Aula AS REVOLUÇÕES INGLESAS: A REVOLUÇÃO GLORIOSA E O FIM DO ABSOLUTISMO INGLÊS 9 META Narrar e interpretar momentos fundamentais das revoluções experimentadas pela Inglaterra no século XVII. descrever as principais transformações na vida inglesa trazidas pela Ditadura Puritana. (Fonte: http://www. Após protestos do Parlamento. parecia não vir destes grupos. talvez sem perceber. pior. sem um herdeiro natural. tipo francês. deixando seu reino sem recursos e. Elizabeth pereceu.História Moderna I INTRODUÇÃO A sintonia entre o Parlamento inglês e seus soberanos é. gerava descontentamentos. No século XVII. ainda hoje. Mas. seu reino se valia de uma política tipicamente mercantilista para captar recursos. Fonte: http://www. além dos problemas na esfera econômica. fechou suas portas por sete anos. Em 1614. manufatureira. Por um lado.com. Jaime I. a situação não era. Os católicos eram uma minoria na Inglaterra. porém. Por isto. 86 . Isto. por exemplo. Jaime I simplesmente dissolveu o órgão. não estava disposto a compartilhar poder com a burguesia com. derrotado a Invencível Armada de Felipe II. O anglicanismo era a religião oficial na Inglaterra desde os dias de Henrique VIII (veja a nossa aula sobre a Reforma Protestante). mas. Lembremos que Elizabeth era representante da dinastia Tudor. os acontecimentos que desembocam na chamada Revolução Inglesa estão fortemente relacionados a questões religiosas. ele enfrentou a Conspiração da Pólvora. enquanto o novo soberano era um Stuart. Mas apesar de todo o seu vigor. por outro. Mas Jaime não possuía um exército tão amplo. tentou estabelecer um exército permanente. neste aspecto. A ausência de herdeiros elevou Jaime I a novo rei da Inglaterra. profissional e permanente como os seus pares franceses. A rainha não tivera filhos.iamthewitness. Fonte: http://galeon. A relação entre o rei e o Parlamento era delicada. não era possível ao rei estabelecer impostos sem prévia consulta aos parlamentares. Após prender e executar os conspiradores. o soberano inglês entrava em uma situação contraditória. O seu governo não foi tranquilo. um tanto nervosa. a Rainha Virgem. claro. ele aumentou os impostos sem consultar os parlamentares. Com Elizabeth. promoveu avanços importantes para a Inglaterra. Em 1605.hispavista. possuindo um papel social e político menor frente a grupos anglicanos. Conforme a legislação britânica. o reino havia dominado os mares. Em pouco tempo entrou em atrito com o Parlamento. A harmonia obtida por Elizabeth I. A morte da rainha gerou problemas. muito diferente. fundamental para a vida britânica. como tudo o que é humano. em 1588. O maior problema. Jaime I acompanhava as propostas do Absolutismo do Elizabeth. pelo anglicanismo. 2006). Este procurou profissionalizar o exército. ocasião que contaria com a presença do soberano. sem consultá-lo. Em 1625. presbiteriano. Os puritanos (artesãos. Em 1628. Além disto. Entrou em guerra com a França. 87 . Como se não bastasse tudo isto.com. Acabou ordenando o fechamento da instituição em 1625 e 1626. A austeridade dos puritanos. foi escolhido para detonálos. foram características que atraíram os burgueses. Carlos I. ampliando os impostos. Acabou morto. Há diversas referências a este episódio em um sucesso recente de bilheteria: o filme V de Vingança (EUA. A idéia era explodir. logo viram aquele que ficou conhecido como Short Parliament (Parlamento Curto).br numa clara demonstração da sua perspectiva absolutista. donos de oficinas. Porém. Jaime I morreu e foi sucedido por seu filho. Porém. Após este episódio.. assim como a sua valorização da poupança individual. com trinta e seis barris de pólvora. matar o rei Jaime I da Inglaterra. os parlamentares apresentaram a condição de que. o rei passou mais de uma década sem convocar o Parlamento e. familiares e de todos os membros daquela instituição. Aula A monarquia absolutista enxergava inimigos nos calvinistas. em 1640. sua família e membros importantes da aristocracia protestante. torná-lo permanente. pequenos e médios proprietários. E os escoceses continuavam a ser uma ameaça. Os frutos da guerra não foram positivos e o monarca se viu envolto em choques com o Parlamento. partidários do Ab- 9 A Conspiração da Pólvora compreendeu uma tentativa de católicos ingleses em. ao lado dos protestantes franceses. Guy Fawkes.portalartes. Fawkes foi surpreendido nos porões do Parlamento e preso. E na Inglaterra se estabeleceu a corrente mais radical do calvinismo. a Declaração de Direitos. Pretendia aumentar impostos com o aval do órgão. o puritanismo. o Parlamento inglês no momento em que se realizasse a solenidade de abertura de trabalhos. pois estes se opunham à ordem real via suas pregações. Reflexo disto foi a inserção significativa de calvinistas moderados no Parlamento inglês. acendeu o estopim para uma guerra civil. confessou o plano e delatou os parceiros.. provocando a saída de muitos deles em direção à América do Norte. após denúncia. O monarca dissolveu a instituição. comerciantes) rechaçavam o anglicanismo e a hierarquia clerical. para aceitar a solicitação. o monarca convocou novo Parlamento. por ser especialista em explosivos. Carlos precisava reforçar seu exército e se viu obrigado ao Parlamento novamente. Torturado.As Revoluções Inglesas: a Revolução Gloriosa e o fim do absolutismo. Em 1637. Tratava-se de um documento que limitava os poderes absolutistas do monarca. Carlos I substitui o culto protestante dos escoceses. Carlos reiniciou a perseguição aos puritanos. Não demorou até a população se levantar contra tal determinação. o rei deveria assinar a Bill Rights. Os políticos calvinistas. Carlos I. A ocasião se mostrou propicia para os ataques dos deputados. Anos depois. Carlos levou adiante a tentativa de subjugar os escoceses ao anglicanismo. num só ataque. Fonte: http://www. houve nova convocação parlamentar. Intensificou também as perseguições aos puritanos. Deste modo. Como os deputados questionaram suas tendências absolutistas. revoltando-se de tal maneira que invadiu a própria Inglaterra. uma luta religiosa contra o rei e os demais membros da alta nobreza. Não por acaso. desta vez.História Moderna I solutismo. Fonte: http://media-2. ele agiu sobre a esfera da vida cotidiana. O “LORDE PROTETOR” DA INGLATERRA Na prática. por exemplo. visando encerrar em seus calabouços os políticos revoltosos.briCromwell seu líder. Irritado com a resistência. De maneira previsível. Carlos I procurou refúgio na Escócia. Como se não bastassem os problemas com os escoceses e em seu próprio território. O resultado não poderia ser pior: a população se revoltou contra o monarca. Exército dos Cavaleiros. Carlos foi condenado à morte em 1649. A REPÚBLICA E CROMWELL. de modo a tentar impedir que o rei dissolvesse o Parlamento mais uma vez. proibindo tudo o que fosse considerado costume mundano. em 1642. vindo da pequena nobreza. Após ser derrotado na batalha de Naseby. foram proibidos. apoiou o Parlamento e obrigou o rei a fugir de Londres. Findou capturado e entregue pelos escoceses ao Parlamento inglês. Rebeliões foram sufocadas impiedosamente. Em contrapartida. as coisas tiveram outro rumo. chamado Oliver Cromwell (1599-1658).co. conhecidos como “Roundhead” (cabeças redondas) e sob a liderança de um puritano. Carlos I não respeitou o escrito e ordenou o fechamento do órgão. Desde o teatro até todos os tipos de jogos. o Parlamento arregimentou os revoltosos.uk. Fonte: http://www. o próprio rei invadiu o Parlamento.web. Nas mãos de Oliver Cromwell e de um Parlamento de maioria puritana. como os bailes. A alta nobreza correu em socorro do rei. sendo a violência utilizada contra católicos irlandeses e contra os escoceses. promoveu uma campanha que concebia a guerra como uma cruzada santa. sendo Batalha de Naseby. país que também se revoltou contra ele. A tensa situação gerou uma nova afirmação da Bill Rights. Além disto. myartprints. organizando. forças militares para apoiá-lo. Porém. estabeleceu-se uma república na Inglaterra. através do O l ive r C r o m we l l . Mas. é importante observar que Cromwell não foi um absolutista.com. constituído após um golpe de Estado liderado pelo próprio Cromwell. o governo de Cromwell foi muito parecido com o de um clássico governante absolutista. 88 . tannica. com ambições separatistas. Os deputados não aceitaram a ordem e se recusaram a deixar a Câmara dos Comuns. Carlos I viu-se enfrentando dificuldades com a Irlanda católica. este ficou conhecido como Long Parliament (Parlamento Longo). acusavam ministros de Carlos de traição. e até mesmo rir em voz alta. A partir daí. o que indicava a perpetuação do catolicismo no poder. Cromwell estabeleceu os Atos de Navegação. bem como a tentativa de estabelecer a tolerância religiosa. soberano da Holanda. seu filho. Lembremos que. Em 1654. Carlos II. o período conhecido como “Ditadura Puritana”. Por meio destes documentos. Jaime. foi indicado sucessor. No plano das relações internacionais. Ricardo. Cromwell atingiu o auge do seu poder. dividiu a Inglaterra em 12 províncias. então. O seu empenho em estabelecer um exército permanente. a Inglaterra não aprovava o catolicismo. imprimiu uma marca absolutista ao seu governo. os ingleses venceram o conflito. A esperança de que uma das filhas protestantes do soberano assumisse o poder caiu por terra quando Jaime II teve um filho. Sua relação com o Parlamento caracterizou-se por uma desconfiança frequente. Os holandeses obtinham lucros com os negócios marítimos na Inglaterra e a medida de Cromwell não os agradou em nada. Iniciava-se. sem condições para governar. em 1658. receosa de uma rebelião popular. foi entrar em contato com Guilherme de Orange. o Parlamento não via com bons olhos a perspectiva de um rei católico. mas. filho de Carlos I que havia sido executado por determinação de Cromwell. Carlos II. após tantos confrontos motivados por questões religiosas. James Francis Edward Stuart. foi levado ao trono inglês. Simpático ao catolicismo. ao mesmo tempo em que lançava um expediente claramente nacionalista. Após disputadas internas. os problemas continuaram e as possibilidades de novos conflitos armados no país preocupavam diversos grupos sociais. uma das filhas protestantes de Jaime II. aliás. como o pai. tinha no irmão Jaime II o sucessor. A alternativa encontrada pela burguesia. Quando Jaime II assumiu o trono. em 1660. já havia assumido publicamente a fé católica. Após a morte de Cromwell. a solução encontrada. a Inglaterra aprofundava suas relações mercantis e desenvolvia sua frota naval. casado com Maria II.. abriu mão do cargo. foi a recondução de um monarca ao poder. comerciantes e mesmo aos populares ingleses. além de identificar-se muito mais com os valores da burguesia urbana e com camadas médias do campo. que se proclamou Lorde Protetor da Comunidade Britânica. 9 89 . Afinal de contas. Assim. O novo governante.As Revoluções Inglesas: a Revolução Gloriosa e o fim do absolutismo. estabelecendo um administrador militar para cada uma delas. pelos Atos qualquer transporte de mercadorias para a Inglaterra deveria ser feito unicamente por navios ingleses ou por embarcações dos países de origem do produto. Evidentemente. um dos desdobramentos iniciais dos Atos de Navegação foi a guerra contra a Holanda. Buscando manter o poderio britânico nos mares. desagradava aos políticos. em lugar de promover uma aproximação com a aristocracia. Eles propuseram a Orange tomar o trono inglês.. desde Henrique VIII. Aula Ele recusou a coroa. Nele. O soberano inglês viu-se obrigado a fugir para a França (mantinha relações amistosas com Luís XIV. Apesar disto. propiciou avanços consideráveis ao mercado nacional britânico. Medidas adotadas pelo Parlamento inglês ajudaram a definir as características da monarquia inglesa e a afastar o país de uma perspectiva absolutista. RESUMO As revoluções inglesas do século XVII demarcam a ascensão do Parlamento sobre o rei britânico. embora tenha deixado marcas na forma intolerante de policiar a vida da população e de coibir uma série de atividades sociais. A experiência de governo de Oliver Cromwell. em 1688. 90 . estabeleceu o segundo Bill of Rights (Declaração de Direitos). ATIVIDADE 1. na Inglaterra. mas nem seu próprio exército o queria no poder. ele foi duramente criticado por negociantes estrangeiros com negócios em mares ingleses e por setores da burguesia que não pretendiam manter a intervenção estatal em seus negócios. serviu para proteger momentaneamente a fragilizada economia inglesa. Gradativamente. Após a fuga de Jaime II. Guilherme de Orange (chamado pelo Parlamento Guilherme III) e sua mulher foram considerados os novos soberanos ingleses. Com ela.História Moderna I Guilherme aceitou a proposta e desembarcou com suas tropas em Brixham. estratégia tipicamente mercantilista. Os novos tempos derrubariam as restrições mercantilistas absolutistas e propiciariam progresso à burguesia industrial e manufatureira. pois através dele ficava estabelecido que o governo não ficava mais a cargo do rei. Jaime II tentou resistir. Elas são também um claro sinal de questionamento aos princípios absolutistas e de afirmação do anglicanismo sobre quaisquer outras doutrinas religiosas. A fuga foi considerada pelo Parlamento como ato de abdicação. demarcava-se a preponderância do poder do Parlamento sobre a monarquia. o Parlamento retirou da realeza seus poderes. em 1689. A publicação dos Atos de Navegação. outra postura que incomodava aos ingleses). indicando documentos e momentos fundamentais. A Revolução Gloriosa se consolidava. Escreva como isto se deu. Este documento ajuda a marcar uma mudança importante na história política britânica. O Parlamento. concentrando na Câmara dos Comuns as atividades governamentais. buscando evitar novo avanço da sombra absolutista. São Paulo: Contexto. Aula COMENTÁRIOS SOBRE A ATIVIDADE As diferentes estratégias do Parlamento inglês no decorrer do século XVII ajudaram a reduzir o poder dos reis. REFERÊNCIAS BERUTTI. O século XX: o tempo das certezas.. 3 ed. 91 . evitava-se a concentração de poderes nas mãos dos monarcas. ao pensarmos as funções do Parlamento inglês. In: História Moderna através de textos.. REZENDE. É importante atentar para o fato de que. Atlas de História Moderna (até 1815). 1997. Cyro.9-21 FALCON. Antônio Edmilson M. ZENHA.). J. transformando-os em figuras de pouca intervenção na política e na economia. São Paulo: Contexto. Colin. devemos aproveitar estas observações sobre a importância de uma casa como esta para a reflexão sobre como é visto hoje a mesma instituição no Brasil.. 10 ed. Isto é.As Revoluções Inglesas: a Revolução Gloriosa e o fim do absolutismo. Adhemar. (Orgs. Tempos Modernos: ensaios de história cultural. 2000. REIS FILHO. Através de documentos como o Bill of Rights. Conceito de modernidade. As revoluções burguesas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 2000. São Paulo: Companhia das Letras.. Trad. Francisco José Calazans. 3). Ricardo. D. Flávio. Antônio Edmilson M. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.p. FARIA. algo que havia se mostrado desastroso. RODRIGUES. 2007. o Parlamento assegurava maior liberdade para os negócios e garantia a necessidade de soberanos anglicanos. Bernardo Joffily. 2003 (Coleção textos e documentos. RODRIGUES. 9 AUTOAVALIAÇÃO Nesta atividade o aluno deverá praticar a elaboração de sínteses sobre o conteúdo da aula.p. MARQUES. Além disto.77-150 McEVEDY. História Econômica Geral. In: FERREIRA. devemos colocar em perspectiva o nosso próprio Parlamento. pelo menos desde a morte de Elizabeth. C. História Moderna I Filmografia indicada HUGHES, Ken. Cromwell. Inglaterra, 1970. 145 min. Sinopse: A Inglaterra está à beira da guerra civil. O Parlamento em conflito e a morte do rei abrem as possibilidades para uma guerra pelo poder. Em meio ao caos da guerra civil, um homem tentará restabelecer ordem à sociedade e propagar a sua fé. Seu nome, Oliver Cromwell (Richard Harris). Observações: O filme narra um momento tumultuado da vida da Inglaterra no século XVII. O país enfrenta uma crise financeira, além de tensões crescentes no campo religioso e na política. Pode ser utilizado para apresentar representações sobre a forte sintonia entre política, economia e religião na Inglaterra seiscentista. Deve-se atentar para a representação de Cromwell como um reformador da política e da sociedade. Esta leitura atribuída ao personagem merece ser discutida em classe. Capa do DVD do filme Cromwell. Fonte: http://m3.photobucket.com. 92 Aula O ILUMINISMO 10 META Apresentar aspectos centrais do iluminismo, ressaltando sua localização, líderes e características. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: identificar os principais traços do movimento que ficou conhecido como Iluminismo; apreender a importância que os intelectuais adquiriram na política europeia durante a Idade Moderna; reconhecer o Iluminismo como um fenômeno localizado, mas capaz de se refletir na Europa e América do Norte. PRÉ-REQUISITOS Leitura da aula sobre absolutismo. Frontispício da Enciclopédia (1772), desenhado por Charles-Nicolas Cochin e gravado por BonaventureLouis Prévost. Esta obra está carregada de simbolismo: a figura do centro representa a verdade – rodeada por luz intensa (o símbolo central do iluminismo). Duas outras figuras à direita, a razão e a filosofia, estão a retirar o manto sobre a verdade. (Fonte: http://pt.wikipedia.org) História Moderna I INTRODUÇÃO Robert Darnton Historiador norte-americano nascido em 1939. Formado em Harvard, é especialista no século XVIII e no Iluminismo. Possui diversos livros publicados no Brasil, entre eles O Grande Massacre de Gatos. Descartes Fonte: http://www. amoeba.com. John Locke Disponível em: http://poliarquias. files.wordpress. com. O Absolutismo e suas práticas geraram questionamentos cada vez mais gradativos. O Iluminismo foi um movimento que colocou contra a parede os soberanos absolutistas, mas também as nobrezas europeias. Com ele ascendeu um grupo aparentemente diminuto de letrados que, pela força das suas ideias fizeram-se grandes. Suas propostas para renovar a sociedade tiveram eco mundo afora. Varreram nações inteiras. De leste o oeste, os ideais iluministas pareceram não apenas trafegar, mas foram apropriados, tomados de assalto por burgueses de várias partes do mundo. Nesta última aula falaremos um pouco deste movimento. Porém, talvez seja melhor esclarecer em que termos o Iluminismo se deu. Isto porque, como nos alerta Robert Darnton, um conhecido estudioso do assunto, os fundadores do Iluminismo certamente não o reconheceriam na boca de um crítico contemporâneo. Aliás, para Darnton, o Iluminismo foi um fenômeno circunscrito no espaço (Paris) e no tempo (primeira parte do século XVIII). Esse movimento teve suas raízes no século XVII. René Descartes (15961650) apresentou a mais sistemática e influente interpretação mecanicista da natureza (Cf. HARMAN, 1995, p. 41). Para ele, a realidade era composta por duas substâncias básicas. Uma delas era o espírito caracterizado pelo pensamento e a outra a matéria, caracterizada pela extensão espacial. A separação rígida da matéria e do espírito e a ênfase no movimento como base da explicação científica ofereciam um novo quadro conceitual para a teorização científica. Descartes promoveu a importância nas leis da mecânica, do estudo dos corpos em movimento e da sujeição das ideias a um programa de dúvida sistemática. O livro deste francês, intitulado Discurso do Método (1637), é um canto empolgado às virtudes da razão na obtenção da verdade, é uma apologia ao racionalismo. Outro nome a ser lembrado como precursor do movimento é John Locke [imagem] (1632-1704). Considerado o pai do liberalismo político, Locke rejeitou o absolutismo – foi um dos pensadores que influenciou na Revolução Gloriosa (ver aula 9) – e idealizava uma espécie de “contrato” entre a sociedade e o governo, algo mediado por uma constituição. Intelectual inglês, Locke defendeu a ideia de que todos têm direito à propriedade, à vida, à liberdade e a resistir contra tiranos. Ou seja, a propriedade e a vida só têm pleno sentido se há liberdade. Outro inglês, este um físico chamado Isaac Newton (1642-1727) também foi figura importante nos momentos que antecederam à ascensão do Iluminismo. Newton ajudou a mudar toda uma visão de mundo. Ele desenvolveu ideias de Nicolau Copérnico (1473-1543), Johannes Kepler (1751-1630), Galileu (1564-1642) e do próprio Descartes. Com Newton, a chamada “revolução científica”, iniciada com a publicação de Sobre a revolução 94 O Iluminismo Aula das esferas celestes.com. o engajamento com uma causa. Porém. Mas não nos enganemos. Lembremos que os humanistas do século XVI e suas preocupações em renovar os estudos. de philosophes. um inquieto cidadão parisiense chamado François-Marie Arouet. Disponível em: Mas os philosophes são diferentes. Através de uma rede que incluía intensa correspondência. José II (1780-1790). reunindo quase 130 colaboradores. Longe de seus inspiradores da Antiguidade Clássica. os philosophes formavam um forte sentido de nós contra eles – luz/trevas. encontros em saraus e cafés. Atraem as atenções dos reis e rainhas. 10 95 . publicações coletivas. conjunto e com autonomia considerável. como o Marquês de Pombal (1750-1777). lojas maçônicas e cafés. pois este foi um movimento principalmente de intelectuais. Em torno de suas ideias. soberanos absolutistas tentam mostrar que o seu tempo não passou. Ele foi preso por seus escritos satíricos e exilado na Inglaterra.google. em 1543. obra coletiva. Mas vejamos suas estratégias. São os déspotas esclarecidos: Frederico II (1712-1786). da Rússia. é verdade. Fonte: http://knol. Voltaire defendeu ardorosamente as liberdades individuais e se voltou contra o absolutismo e a Igreja.com. Ganham as atenções dos ricos e poderosos. mostrava-se favorável a um monarca que respeitasse os direitos naturais. em Isaac Newton atualizar o conhecimento. atingiu o seu auge. iluminar de cima para baixo. José I. São homens das letras agindo em http://idology. de Portugal. Provavelmente. poucos philosophes foram filósofos originais. Catarina II (17621796).files. críticas. É esta a pretensão de obras como a Enciclopédia (1751). Voltaire. da Áustria se cercam de philosophes. Eles avançam na conquista de salões e academias. O filósofo era um novo tipo social. o grande inspirador dos Enciclopédia. O que distingue os philosophes é o compromisso. 1694-1778). Mas é indubitavelmente no século XVIII que encontramos os primeiros philosophes (homens das letras). D. o mais representativo dos philosophes foi Voltaire (na verdade. Sim. alguém que hoje conhecemos como o intelectual. ministro de D. jornais e teatros. Outros fazem o mesmo. de Copérnico. os philosophes empreenderam variações sobre temas estabelecidos por seus predecessores. Formavam uma elite – pretendiam wordpress. Não são os primeiros. da Prússia. por fatores como estes. O Iluminismo surge de uma grande crise durante os últimos anos do reinado de Luís XIV. chegou a viver na corte de Frederico II. o sentido de participação em uma cruzada.edu. Outro iluminista de influentes escritos foi o Barão de Montesquieu (Charles de Montesquieu. fundamentais para a produção do conhecimento e da felicidade humanas. subordinadas à intervenção divina. A teoria desenvolvida por Montesquieu estabelecia que o equilíbrio dos poderes seria vital.20). shu. Criticou também o elitismo dos governos. Como movimento o iluminismo apresentou algumas características gerais. déspotas esclarecidos. O projeto iluminista de Rousseau mostrou-se distante de um culto exacerbado ao racionalismo. da política e mesmo da economia. o nobre francês propunha a separação dos poderes em Executivo. Com o Estado entrando em colapso. A defesa das liberdades política e econômica e da igualdade de todos perante a lei. Em sua obra mais conhecida. Através de uma obra fundamental chamada O Espírito das Leis. Deste modo. 3. 4. Um avanço demasiado do Executivo poderia gerar um Impeachment encabeçado pelo Legislativo e julgado pelo Judiciário. mas algumas das suas ideias. Judiciário e Legislativo.com. O movimento teve um epicentro. os letrados ligados à Corte passaram a questionar o absolutismo dos Bourbon e a ortodoxia religiosa por eles imposta. a livre iniciativa de estabelecer leis e organizar a sociedade. 1789-1775). bem aceito por setores médios (artesãos e camponeses) e camadas populares. como a crítica à propriedade privada (inevitável. O Contrato Social. Um último e diferenciado personagem foi o naturalista francês JeanJacques Rousseau (1712-1778) que diferenciava-se de outros iluministas. wikispaces. mas para ele carente de limitações). pois para ele isto poderia conduzir a um eclipse dos sentimentos. p. Vejamos algumas delas: 1. a busca deveria ser pela harmonia entre as três instâncias. Foi em Paris que o iluminismo “tomou corpo e se definiu como uma causa” (DARNTON. a igualdade natural entre eles. A concepção do universo como uma máquina regida por leis físicas racionalmente explicáveis e possíveis de análises. A valorização da investigação e da experiência como forma de conhecimento da natureza. Rousseau Disponível em: http://academic. 2005. 2. defendeu um modelo republicano e afirmou o povo como fonte de poder sendo. portanto. 96 . as ideias se difundiram para muitos outros pontos. Mas poderíamos questionar: o que há de novo com o Iluminismo? Não é a ideia e sim o espírito. A primazia da razão como guia para se obter o conhecimento. o pensador defendeu a liberdade dos homens. não estando. da sociedade.História Moderna I Montesquieu Disponível em: h t t p s : / / j s p i v e y. Como os demais philosophes ele criticava o Absolutismo. De lá. acabaram desagradando a setores da burguesia. Movimento iniciado por figuras importantes. aplaudido por influentes reis e rainhas. e dos governos absolutistas. Assim sendo. A crença nos direitos naturais à vida. Não é justo. é inegável que o Iluminismo teve desdobramentos significativos tanto no século XVIII quanto após ele. ao Mercantilismo e aos privilégios da nobreza e do clero. Por isto. como vimos. Ainda assim. Os philosophes. 6. a influência e os desdobramentos do Iluminismo na concepção do liberalismo econômico foram fundamentais para a gestação de novas práticas sociais em sintonia com o capitalismo. Tanto na América do Norte quanto na França. A independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789) são exemplos do influxo do movimento. A formação da opinião pública ocorre tanto nos mercados e tabernas quanto nas sociétes de pensée” (DARNTON. nos exige atenção contínua para as singularidades e limitações de cada época. p. 1998. Caminhar pelo passado é sempre tarefa tortuosa. boletins manuscritos. panfletos) do que desenvolver um sistema filosófico. à liberdade e à posse de bens materiais inerentes a todos os indivíduos. não devem ser comparados aos filósofos clássicos. Além disto. não pretendemos estabelecer aqui uma ligação direta entre eles e tudo o que ocorreu na Revolução Francesa e posteriormente a ela. Enciclopédia. devemos considerar que “a elaboração do significado tem lugar tanto nas ruas quanto nos livros.O Iluminismo Aula 5. contribuíram para o surgimento da Revolução Industrial na Inglaterra e para sua posterior difusão mundo afora. ao falarmos da força das ideias dos philosophes. precisamos saber que o Iluminismo não é a totalidade do pensamento ocidental no século XVIII. precisamos ter cuidado. Alguns dos seus críticos afirmavam que a 97 . Porém. no caso dos americanos. Como nos lembra Darnton.196). em lugar de enxergar as relações entre os escritos dos iluministas e os acontecimentos do seu tempo. 10 CONCLUSÃO Apesar da sua inegável relevância. “não é possível concluir que os fatos são explicados exclusivamente mediante o discurso filosófico ou que as pessoas comuns dependem dos filósofos para dar sentido à vida”. pois se concentraram antes em dominar o sistema de comunicação (cartas. no caso francês. o Iluminismo foi responsabilizado por muita coisa e a explicação para tantas outras. os pressupostos teóricos iluministas foram ferramentas fundamentais para a libertação da metrópole. A crítica ao Absolutismo. Eles se envolviam com uma causa. de sonhos do século XVIII. Portanto. ou se negaram a entender. duramente atacadas por ditaduras e fundamentalismos que jamais entenderam. embora os letrados de maior destaque criticassem o absolutismo. não foi trazida pela filosofia. 2005. tecnologia e pela doença (Cf. também conhecidos como philosophes. 2005). p. No entanto. defenderam a liberdade como princípio da vida social. resultante da Grande Navegações e das políticas mercantilistas. como lembra Darnton. os seus fomentadores mais conhecidos jamais ergueram um sistema (DARNTON. 2. 98 . os horrores vividos pela humanidade nos sombrios novecentos não podem e não devem ser vistos como uma continuidade. pela liberdade. Assista ao filme Maria Antonieta e escreva um comentário crítico sobre a influência dos intelectuais sobre o reinado de Luís XIV. Utilize trechos do filme para reforçar seus argumentos. Para alguns intérpretes mais apressados. DARNTON. RESUMO O Iluminismo foi um movimento que surgiu a partir de um grupo de intelectuais franceses. Os crimes cometidos pelo fascismo e pelo comunismo violaram princípios básicos do Iluminismo: o respeito pelo indivíduo.História Moderna I pretensão do Iluminismo à universalidade serviu na verdade como uma máscara para a hegemonia ocidental. em forma de pesadelo. mas pelo comércio. apresentavam uma peculiaridade. Porém. mercantilismo e os privilégios na nobreza. os nossos tristes tempos têm mostrado a difícil luta da humanidade para manter tais conquistas. seria possível ver no Iluminismo as próprias origens do totalitarismo – uma cadeia sinistra. estes homens. Contudo é preciso observar que a tragédia em que se converteu a conquista de territórios coloniais. por todos os direitos do homem. as ideias dos homens das letras nascidos no fértil Século das Luzes.31 -32). ATIVIDADE 1. Os iluministas tiveram ousadia em criticar o absolutismo e as diferenças consideradas naturais entre os homens. Consulte uma enciclopédia e descubra quais as ideias iluministas que mais influenciaram os norte-americanos a exigirem sua independência da Inglaterra. é importante observar as diferenças cruciais. que se estende do Terror da Revolução Francesa às experiências do fascismo e do comunismo no século XX. os déspotas esclarecidos. As ideias do grupo foram cooptadas por alguns monarcas. Se por um lado o Iluminismo tinha uma excessiva fé na razão. pretendiam iluminar de cima para baixo. Diferente dos seus dias. por outro lado. DARNTON. Rio de Janeiro: Graal. Robert. O processo do Iluminismo: os dentes falsos de George Washington. De modo semelhante. In: Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. Os trabalhadores se revoltam: o grande massacre de gatos na Rua Saint-Severin. e nem por isso partes dos argumentos dos iluministas foi deixada de lado. orientando e criticando os rumos da política francesa. São Paulo: Companhia das Letras. 2006.O Iluminismo Aula COMENTÁRIO SOBRE A ATIVIDADE As ideias iluministas nem sempre eram apropriadas em sua totalidade. apresenta os letrados que se aproximavam do rei em ação. (Série Princípios). DARNTON. In: O Grande Massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa5 ed. Robert. por exemplo. nem todos os iluministas serviam aos interesses dos norte-americanos. Sônia Coutinho. São Paulo: Ática. Trad. P. REFERÊNCIAS HARMAN. 1995. aconselhando. não viam com bons olhos as críticas ao absolutismo. Sérgio Bath. 2005. Trad. Os monarcas. 10 AUTOAVALIAÇÃO Essa atividade permite que o aluno perceba as diversas apropriações das ideias iluministas.M. E. 99 . A Revolução Científica. Sinopse: A princesa austríaca Maria Antonieta é enviada à França para se casar com o futuro Luís XVI. Maria Antonieta também recebia orientações e advertências sobre seu círculo de amizades e o grau de intimidade que deveria manter Capa do DVD do filme Maria Antonieta. o filme mostra que o monarca não precisava entender sobre conflitos militares.História Moderna I Filmografia recomendada: COPPOLA. 123 min. Disponível em: http://www. rei. Maria Antonieta. com o 100 . pois havia assessores especializados para indicar as decisões a serem tomadas.com. De forma caricatural. Observações: O filme apresenta a relevância dos conselheiros (intelectuais) junto ao rei Luís XVI. Seu descaso pela política francesa gera grande insatisfação popular. Até mesmo a rainha dispunha de um funcionário que lhe preparava relatórios sobre política e economia.impawards. que culpa a rainha de ter levado a França à bancarrota. Estados Unidos. Sofia. recria seu próprio mundo em meio a amizades e affairs. Recebida com desdém pela corte francesa. 2006.
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