Historia Do Brasil Nacao a Abertura Para o Mundo Vol.3 Introducao Pesquisavel

March 31, 2018 | Author: adppaula | Category: Republic, Brazil, Economics, Politics, Politics (General)


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. 1895 M AS P Pedro Bruno A pátria. RJ Benedito Calixto Proclainação da República. anos 1910 Acervo Iconographia. 142 x 126. 1893 Coleção Fadei.AO LADO Moeda de 2 mií-rás de 1910 Coleção particular Luiz Aranha Corrêa do lago.d. 1 9 1 9 Arquivo Histórico do Museu da República. Coleção particular João Emílio Gerodetti. 1S93 Centro Cultural São Paulo F O L H A DE R O S T O A. 1924 Óleo sobre tela. RJ CAPA Operários na fábrica de ferraduras Cia Martins Ferreira.A Santos Revolta da Armada. SP GUARDA Cédula de 20 iml-réis de 1925 Coleção particular Luiz Aranha Corrêa do Lago. SP Tarsila do A m a r a l Estrada de Ferro Central do Brasil. s.8 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de Sào Paulo CONTRACAPA Teatro Municipal de Seio Paulo Cartão-postal. RJ . RJ ABERTURAS Pedro Américo Paz e concórdia. br Eduardo Posada Carbó Inés Quintero Lilia Moritz Schwarcz JavierJ. Bravo Garcia Roberto Peith e Daniela Duarte Sônia Balady e Víadimir Saccheta Victor Burton Fernanda Mello e Flora de Carvalho Marcelo Xavier Amaia Gómez Clarisse Cintra Ronald Polito.fundacionmapfre. 1 0 3 j 2 2 2 4 1 . Ana Kronemberger e Nina lua . os autores Copyright © 2 0 1 2 desta edição. FUNDACIÓN Manuel Chust Calero Pablo Jiménez M A P Í R E e EDITORA OBJETIVA.com.com Jordi Canal Morei! Carlos Contreras Carranza Antonio Costa Pinto Joaquín Fermandois Huerta Jorge Gelman Nuno Gonçalo Monteiro Alicia Hernández Chávez Rua Cosme Velho.: 2 1 2 1 9 9 7824 | Fax: 2 1 2 1 9 9 7 8 2 5 www.A M E R I C A L A T I N A NA HISTORIA H I S T O R I A DO B R A S I L N A Ç A O : 1 8 0 8 . e m c o e d i ç ã o Burillo Carlos Malamud Rikles Carlos Martínez-Shaw Pedro Pérez Herrero Paseo de Recoletos. 23 | 28004 ! Madrid Tel.0 9 0 | Rio de Janeiro.objetiva. Rj Tel.2 0 1 0 CONTEMPORÂNEA VOLUME 3 A ABERTURA PARA O MUNDO 1889-1930 Pablo Jiménez Burillo Copyright © 2 0 1 2 dos textos.: 5 1 91 2 8 1 1 1 311 T e l e f a x : 5 1 91 5 8 1 1 7 95 www. CRONOLOGIA 13 INTRODUÇÃO LiliaMoritzSchwarcz 19* AS MARCAS DO PERÍODO PARTE 1 Lilia Moritz Schwarcz 35 POPULAÇÃO E SOCIEDADE PARTE 2 Hebe Mattos 85 A VIDA POLÍTICA PARTE 3 Francisco Doratioto 133 O BRASIL NO M U N D O PARTE 4 Gustavo H. Franco e Luiz Aranha Corrêa do Lago O PROCESSO ECONÔMICO PARTE 5 B ias Thomé Saliba 239 CULTURA CONCLUSÃO Lilia Moritz Schwarcz HISTÓRIA É S E M P R E RISCO ÍNDICE ONOMÁSTICO OS AUTORES 301 307 A ÉPOCA EM IMAGENS 309 295 173 . B. 28 de dezembro Morre Tereza Cristina. g de novembro Baile da Ilha Fiscal. Pedro 11 no Rio de Janeiro. 7 de dezembro Desembarque da família imperial em Portugal.CRONOLOGIA 1889 O Império brasileiro participa da exposição Universal de Paris. 15 de novembro Proclamação da República. 2 ode novembro A Argentina e o Uruguai são os primeiros países a reconhecer a República brasileira. . 17 de novembro Banimento da família imperial. 15 de junho Atentado contra d. Tratado das missões entre Brasil e Argentina. 14 de fevereiro Promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil. . 8 de outubro É inaugurado o Serviço de Bondes Elétricos. o primeiro serviço de bonde elétrico da América do Sul. 15 de novembro Instalada a Constituinte. Demissão do I a Gabinete republicano. Pedro de Alcântara em Paris. 1892 O militar Cândido Rondon inicia a instalação de linhas telegráficas no interior do Brasil.A ABERTURA 14 PARA O MUNDO 1890 20 de janeiro Concurso para o hino da República. 25 áe fevereiro Deodoro é eleito presidente e Floriano Peixoto seu vice. 1891 20 de janeiro Crise no governo Deodoro. 23 de agosto Morre Deodoro da Fonseca. 5 de dezembro Morre d. na cidade do Rio de Janeiro. 3 de novembro Deodoro decreta o fechamento do Congresso. apenas sete meses depois dos irmãos Lumière. 25 de setembro É decretado estado de sítio em quatro estados da federação e mais o Distrito Federal. reduto intelectual dos mais prestigiados na capital da República. 1895 Prudente de Morais indulta soldados do Exército. .1893 Início da Revolta Federalista no Rio Grande do Sul. Sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras. Terceira expedição contra Canudos e destruição do arraial. 1896 Primeira expedição contra o arraial de Canudos. um filme. no Rio de Janeiro. 1897 Segunda expedição contra Canudos. 3 de setembro Prudente de Morais é indicado candidato à sucessão presidencial. 6 de setembro Revolta da Armada no Rio de Janeiro. Setembro É inaugurada a Confeitaria Colombo. 1894 ia de março Prudente de Morais é eleito presidente. Paschoal Segreto e José Roberto da Cunha Sales exibem pela primeira vez no Brasil. em Paris. 29 de junho Morre Floriano Peixoto. 1906 Convênio de Taubaté.A ABERTURA 16 PARA O MUNDO 1898 Eleição de Campos Sales. 1908 Morre o escritor Machado de Assis. 1909 14 de junho Morre Afonso Pena e assume Nilo Peçanha. interinamente. 1900 Início da Política dos Governadores. no Rio de Janeiro. . 1904 Novembro Revolta da Vacina. 1905 15 de novembro Afonso Pena assume a presidência da República. no Rio de Janeiro. É inaugurada a avenida Central. 1902 1. 14 de julho É inaugurado o Teatro Municipal.de março Eleição de Rodrigues Alves. de autoria de Ernesto Joaquim Maria dos Santos. que só seria debelada em 1916. Pelo telefone.1910 15 de novembro Hermes da Fonseca assume a presidência. 22 de novembro Revolta da Chibata. 1918 17 áe janeiro Morte de Rodrigues Alves (eleito presidente). 1916 Venceslau Brás aprova proposta do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. É gravado o primeiro samba no Brasil. 1914 Hermes da Fonseca declara estado de sítio para o Rio de Janeiro. e faz sucesso no Carnaval do ano seguinte. 1917 Brasil entra na Guerra Mundial e rompe relações com Alemanha. 1912 Estoura a Guerra do Contestado. 25 de fevereiro Epitácio Pessoa é empossado. Greve geral operária em São Paulo. . Venceslau Brás assume a presidência. o Donga. Semana de Arte Moderna (em São Paulo). 1925 Confronto entre Coluna Prestes e tropas federais. Revolta do Encouraçado em São Paulo. 1927 A cidade do Rio de Janeiro ganha o seu primeiro plano de remodelação: o Plano Agache. 3 de novembro Getúlio Vargas recebe o poder de junta governativa. Início da "Coluna Prestes". .A ABERTURA 18 PARA O MUNDO 1922 Centenário da Independência. 1 ode março É eleito Arthur Bernardes. 5 de julho Sublevação do Forte de Copacabana e da Escola Militar. 26 de julho Assassinato de João Pessoa no Recife. Avanço da Coluna. 1926 Posse de Washington Luiz na presidência. 1930 Eleições presidenciais com a vitória de Júlio Prestes. 1924 Início do movimento revolucionário em São Paulo. tradicionalmente vigentes. moral. findas as formas de trabalho escravo e mandatório. no Brasil. M U I T O MAIS QUE U M N O M E " A virada do século x i x para o x x apresentou. características tão dramáticas quanto decisivas para o destino futuro do país. Todo o panorama otimista que antecedeu à República lembra o fenômeno que Hannah Arçndt chamou de "a era da assimilação". Essa parecia ser uma nova era em que. "sair do gueto". por demais vinculada à escravidão e.INTRODUÇÃO LILIA MORITZ SCHWARCZ AS MARCAS DO PERÍODO "SÓ U M N O M E . liberar-se do isolamento e acreditar na promessa da inclusão e da mobilidade ascendente. quando diferentes regiões do mundo — com a experiência moderna da emancipação e da assimilação. Um ano e meio após a Abolição caía a Monarquia. O cenário que então se abriu era propício a todo tipo de utopia e projeção. A República surgiu alardeando promessas de igualdade e de cidadania — uma modernidade que se impunha menos como opção e mais como etapa obrigatória e incontornável. isolada entre as demais forças políticas. que teve início já no contexto da Revolução Francesa — experimentaram uma espécie de suspensão das restrições de fundo legal. Em maio de 1888. cafés. teatros e uma sociabilidade urbana almejada em outras sociedades. político e social. O grande modelo civilizatório seria a França. uma vez que fomos a última nação do Ocidente a dar fim a esse tipo de sistema de trabalho compulsório e violento — ainda depois dos Estados Unidos (1865) e de Cuba (1886). com seus circuitos literários. ao final. Tal situação levou a um sentimento bastante generalizado de que era possível "erguer-se da escravidão". era tardiamente abolida a escravidão. e abertas (por meio da educação) as possibilidades de acesso à cidadania e às novas . R I O DE J A N E I R O . Esse cenário seria.Antônio Luís Ferreira Vista geral da missa campal realizada no Campo de São Cristóvão para comemorar a Abolição A Abolição foi ao mesmo tempo o último e o mais popular dos atos da Monarquia. 1 7 DE M A I O DE 1888 C O T E Ç Ã O DOM P E D R O DE O R L E A N S E B R A G A N Ç A . A L B Ú M E N . imaginou-se um novo mundo. convulsionado pela entrada dos racismos e das teorias raciais de toda ordem. A C E R V O I N S T I T U T O M O R E I R A S A I I E S . agora pautado na diferenciação . 5 X 2 G . A medida tardou e o Império pagaria caro por isso. mas possível. RIO DE J A N E T R O formas de inclusão. houve a retomada de um projeto hierárquico. 7 C M . 5 1 . não mais cerceado por modelos de hierarquia social estrita. agora justificadas por argumentos e teorias biológicas. Em vez da trajetória assimilacionista que se apresentava como estrada de percurso longo. que impuseram novas divisões entre os grupos humanos. na expressão de Leo Spitzer. em seu livro Vidas de entremeio. um novo "embaraço da marginalização". O resultado foi. porém. ou vinculados a critérios de origem ou nascimento. a oferecer uma miríade de possibilidades de inserção e identificação com uma ordem social consolidada em classes e com a crença internacional de que a cultura e a educação eram o principal veículo para a abolição das travas da escravidão e demais processos de servidão compulsória. geográfica e sexual. única e mandatória. expressaram-se movimentos opostos. Tratou-se. passaram a ter acesso a diferentes instituições de consagração e a galgar posições elevadas na hierarquia política do Império. tatuagens. religiosa. pois. cor de pele. tal abertura social — experimentada no Brasil no final do século xix. 27). Como mostra o antropólogo Louis Dumont. Deslumbramento diante das novas benesses das cidades e possibilidades de participação. Como mostra Maria Alice Rezende de Carvalho. mais do que as quimeras fáceis do progresso único e obrigatório. Nas novas urbes. mas também "pavor". em que se convenciam acerca do imperativo do progresso e da integração do Brasil a um Ocidente. bocas. repletos de "deslumbramento". 1 9 9 4 : 1 6 . faziam agora grande sucesso. Indivíduos outrora excluídos. Diferente da suposta marcha evolutiva. expressões faciais e uma série de "indícios" foram rapidamente transformados em "estigmas" definidores da criminalidade e da loucura. sob o guarda-chuva seguro da biologia. étnica. diante de um contexto que parecia até então se apresentar como um livro aberto. mas moldados por critérios considerados racionais e objetivos — porque biológicos —. Narizes. impunha-se agora uma acomodação incômoda entre o passado e o futuro. porque condicionados por realidades e hierarquias sociais. Contudo. "o mundo do asfalto e os bolsões da miséria" (Carvalho. mas não apenas — seria freada por novos critérios de alteridade racial. ocorreu uma sobreposição de temporalidades e a afirmação de uma modernidade periférica.1 7 . como negros.AS MARCAS Dü F b K l u u u racial — nova moeda corrente. justamente num mundo em que a percepção hierárquica das classes cedeu lugar a um ideário mais igualitário. numa época em que as principais cidades brasileiras passavam a anunciar novos repertórios acerca da vida em sociedade. por conta da cor ou origem. mestiços e também imigrantes. pavor em face do desmoronamento da ordem reconhecida ou das novas formas de segregação. de uma grande reversão de expectativas. O resultado foi a condenação generalizada de largos setores da sociedade. Diante de u m 21 . Um novo racismo científico. que acionava uma pletora de sinais físicos para definir a inferioridade e a falta de civilização. o racismo emergiu em finais do x i x . o novo e o velho. Tudo parecia sinalizar para uma integração sem obstáculos e barreiras intransponíveis. orelhas. Marcadores sociais de diferença dos mais vigorosos. assim como estabelecer uma ligação obrigatória entre aspectos "externos" e "internos" dos homens. Estava em curso um processo inédito. sobretudo. correspondia à visão das elites dirigentes. Esse tipo de interpretação. dos estrangeiros durante tanto tempo. práticas rituais legadas dos tempos da escravidão insistiam em dividir os mesmos espaços dessa urbanidade recém-inaugurada. ao mesmo tempo que se tornava mais corriqueiro questionar a existência de u m a só via que levaria à civilização. dos "trópicos plácidos". indígenas da floresta. reordenava-se a velha tópica do "paraíso terreal". o conceito de modernização combinou-se com o de tradição. eclodiram várias revoltas e manifestações de cunho popular. uma série de intelectuais anotava tais mudanças com grande desconfiança e ceticismo.22 republicanismo radical — que se manifestou nomeadamente na primeira década do século —. Palco do conflito. cada uma à sua maneira. Mas havia algo de incômodo e difícil nesse novo aglomerado ético que reunia urbanidade. que percebiam tais movimentos como "hordas anárquicas" — como se não passassem de manifestações "espontâneas e violentas" —. Um país de muitas raças convivendo em situação de . que implicava acelerada transformação do espaço urbano e sua eleição como novo lócus das representações. de um lado. no Brasil. a partir de abaixo-assinados. pelo movimento de reação "dos de baixo". sertanejos. aliando-se aos excluídos. e a partir de tantas novidades ofertadas por esse momento de mudanças velozes. de uma faxina social nas cidades e da evidência de novas formas de exclusão. Talvez por isso o movimento foi. as quais. ideário que inundou a imaginação local e. campanhas públicas e protestos organizados. os engenheiros converteram-se em símbolos máximos da modernidade. O dissenso estaria presente também nos jornais. ou ainda "pelo barulho e mobilização das multidões". na literatura. A cidade surgia assim reformada — de forma física e moral —. O fato é que no final do século x i x . afro-brasileiros. denunciavam as falácias desse processo que prometia a "civilização fácil". como bem mostra a historiadora Angela de Castro Gomes. seringueiros. Ao mesmo tempo. Dessa maneira. de acomodação e de transformação das grandes capitais nacionais. progresso e industrialização. a cidade era agora personificada pelas assim chamadas "camadas perigosas". traduzidas em cartões-postais brilhantes dessa nova era anunciada pela iluminação elétrica. a despeito dessa modernização não alcançar de modo homogêneo todo o país. ao mesmo tempo. que agiam de maneira ordenada. sem notar que eram antes associações dos mais variados tipos. Se. que apontavam para as novas estratificações urbanas e para a formação de grupos outrora integrados ou não evidentemente isolados: gaúchos. da "terra sem males". de outro. Rio de Janeiro Em de janeiro de 1906 foram inaugurados. A nova avenida. postes com iluminação elétrica. com seus prédios. símbolos da modernidade e do progresso.AS MARCAS DO PERÍODO Augusto Malta Avenida Central. de ponta 3 ponta da avenida Central. atual Rio Branco. FOTOGRAFIA. seria um dos grandes emblemas da nova República brasileira. lojas e população elegantes. 1906 A C E R V O I N S T I T U T O M O R E I R A S A L L E S . RIO DE J A N E I R O . pois. chamou para si as luzes e tratou de fazer pouco dos períodos que lhe antecederam. o período foi de grandes e "luminosas" produções sociais. De u m lado. possa prever. em pleno século XVIII. Aí estavam "dois Brasis" que eram na verdade um só. Muitas razões cercam a adoção costumeira de um nome. perdidos nos sertões. Dizem os historiadores franceses que a pecha que recaiu sobre a Idade Média. . longínquos na realidade e na imaginação. e igualmente não se desconhece o processo de institucionalização jurídica. nesse "tempo das catedrais". para além das cruzadas. definida pela indústria. da peste. expressas. É o caso da Revolução de 1 9 3 0 e do Estado que então se montou. Segundo essa visão. ou seu suposto fechamento e "mau tempo" (político e social). eis aí novas polarizações que se enraizavam no discurso local. Resta entender por que o nome "pegou". moral e político. os "demais Brasis". Talvez por isso. culturais e artísticas. tendo um ponto de vista destacado: o seu. uma nação dividida por tantas diferenças regionais e raciais. Foi a Renascença que definiu a si mesma como um novo nascimento (do nada) e condenou a Idade Média às trevas e ao escurecimento. Mas. Para começar. reduzem e selecionam. Jovem República. mais ingênua. De outro lado. como República Velha e não como República Nova. nada tem a ver com esse momento em particular. pelo mercado. como o tempo "das Trevas". pelas oportunidades de trabalho. mas também por uma política de exclusão e de distanciamentos. no período que vai de 1900 a 1930. ou simplesmente República. e passados os primeiros momentos. como diria Georges Duby.conflito social. que não pode ser exclusivamente atribuída a um descuido ou descaso da historiografia. o período largo desse volume tenha ficado conhecido. prontamente designado como "Novo" — Estado Novo. não seria a primeira vez que um novo momento atribuiu a si mesmo os méritos da "novidade" e jogou para outro período a designação de velho e ultrapassado. E o termo "velha" carrega aqui mais adjetivações do que uma primeira leitura. ou nas florestas fechadas. mas a conviver de maneira ambivalente e conflituosa. Ao contrário. legal e estatal por que passou a Primeira República. da fome. a cidade. a ver o passado a partir de lentes de curto alcance que o deformam. durante tanto tempo. estouraram muitos conflitos e não foram poucos os movimentos autoritários que procuraram assegurar o novo regime na marra — na base de muita eugenia e estado de sítio —. Novos momentos tendem. assim como o Iluminismo. caberia unicamente ao governo de Getúlio Vargas o estabelecimento de uma verdadeira res-publica e a introdução de uma realidade social. do isolamento. moral e política deveras moderna. outros motivos explicam a designação República Velha e. presas a u m processo de rebaixamento.AS MARCAS DO PERÍODO Entretanto. previa-se a mobilidade social e. Afinal. Razões de cunho político e social existiram. tão ameaçadora quanto embaraçosa. Durante o Império. de um processo de achatamento social que as convertia em classes médias destituídas e moradoras dos subúrbios das cidades. Finda a escravidão. e que passou a classificar os cidadãos com base em critérios raciais. pretensamente distante. por motivos econômicos. a alforria. Além do mais. por vezes. Ora. a instabilidade da posição desses grupos tornou-se evidente. esse foi um contexto em que as práticas coletivas de higienização e de aplicação do determinismo racial levaram a políticas de exclusivismo e de isolamento social. Não de 25 . Nesse contexto. largas parcelas dessa sociedade. viram suas pretensões ruírem. sociais e morais. tornava-se rapidamente realidade. largamente denunciadas pelos testemunhos de época. antigos privilégios e distinções mais próprios do Antigo Regime foram transformados e m tábula rasa nesse mundo de cidadãos desempatados por critérios raciais. diante da realidade que se abria. a qual. e. sobretudo. sendo a raça e a biologia bússolas a orientar a "nova civilização". e que se distinguiram por sua erudição e especialização. novas modalidades de hierarquia se estabeleceram. e pela própria natureza do regime escravocrata. mas não a social. havia também o medo da reescravização ou de novos trabalhos compulsórios. Esse perigo a que se viam expostas famílias cada vez mais remediadas. próprios e necessários em uma sociedade de tipo estamental cuja diferenciação era dada pelo nascimento. a persistência da expressão. a abolição "aboliu" um complexo sistema de mecanismos sociais de distinção. Muitos não toleravam ser confundidos e misturados com negros e mulatos recém-saídos da escravidão. sendo integrados a essa nova massa que agora ganhava a cidadania e a condição ampla de "libertos". definitivamente mestiçada. no limite.' a mobilidade individual. experimentaram nesse momento um processo de queda social. Afinal. com a República e a entrada em vigor de uma ordem social em mudança. Na verdade. Indivíduos que receberam educação esmerada em finais do xix. Muitas famílias que há muito tinham se separado das amarras do cativeiro viram-se. ademais. que reacendia sempre a imagem da escravidão. ou em maior escala. pós-escravidão. Outros constituíram novos laços de solidariedade e se dissociaram da imagem de libertos. o que significa dizer que a escravidão possibilitava. termo forte. insistia em se reapresentar. Por outro lado. e talvez seja por isso que a alcunha se enraizou. uma espécie de "intimidação social". a instabilidade política dos primeiros anos republicanos gerava temor e saudades da Monarquia. agora. Por aí se explicam projeções que atribuíram à princesa Isabel. em seu "Ensaio sobre o dom". mas daquela que. nominalmente. vista ao longe. e não como o resultado de luta e conflito. 1910 A C E R V O I N S T I T U T O M O R E I R A S A L L E S . feita a Abolição. benesse. CA. Ora. mostrou que faz parte da dádiva a obrigação de devolver. e era prontamente transformada em mítica. Isto é. O antropólogo Mareei Mauss. Se parte da população entendeu a Abolição como um processo verdadeiramente revolucionário.Vincenzo Pastore Mulheres negras sentadas em banco de praça não identificada em São Paulo Diferentes temporalidades conviviam nesse contexto: a rapidez da urbanização e os costumes herdados de tempos de outrora G E L A T I N A / P R A T A . por outro. o final do regime escravocrata e o beneplácito da Abolição. que trouxe a possibilidade de desenhar um futuro mais democrático e ínclusivo. lembrava segurança e calma. RIO DE J A N E I R O uma monarquia concreta. boa parte da população recém-liberta atribuiu à monarquia e . aquele que recebe um presente se sente compeiido a retribuí-lo — isso quando não se estabelecem graus de gratidão e de subserviência. ela foi percebida como "dádiva". mas não ruídos próprios à interpretação de cada autor. como veremos. sobre "População e sociedade". Em sua maior parte. Esse é o contexto das grandes imigrações. 27 . Criava-se assim uma monarquia sagrada. que se ensaiaram novos processos eleitorais (a despeito de serem ainda muito marcados pela fraude) e que se rascunharam os primeiros passos no sentido de se constituir uma sociedade cidadã com modelos inaugurais de participação. E a grita foi geral. Portanto. distantes do aspecto "terreno" dos nossos primeiros representantes republicanos. o corolário foi admitir fidelidade para aqueles considerados "os donos do ato". assim como as inúmeras demonstrações de simpatia e afinidade para com o regime monárquico. são ambivalentes as compreensões e recepções da República. entraves e ambigüidades. a despeito de cobrirem dimensões variadas e coincidirem em vários pontos. Mas é de bom-tom e alvitre manter distância das falas sempre assertivas das testemunhas e dos agentes de época. Dizia-se que essa era a "República que não foi". sobretudo em seus primeiros anos. É nesse momento que os diferentes poderes tomaram forma definida.AS MARCAS DO PERÍODO à princesa o mérito da "glória concedida". os vários textos. temiam-se novas escravizações. os imigrantes chegavam ao Brasil com o sonho da pequena propriedade. Afinal. Limpamos repetições. Assim como o contexto é diverso. com seu novo formato institucional e social. esse contingente populacional se dirigia a São Paulo. destituídos de carisma ou aceitação popular. No capítulo 1. E é junto a esse caldo de paradoxos e conflitos que se movem os diferentes capítulos e autores que fazem parte desse terceiro volume da coleção História do Brasil Nação. primeiro europeias e depois asiáticas. apresentam interpretações por vezes distintas — o que só destaca a importância da pesquisa historiográfica que se faz em diálogo. por mim redigido. Se tudo isso é fato. é igualmente verdade que foi com o novo regime que se forjou um processo claro de republicanização de nossos costumes e instituições. Na medida em que a libertação não foi assumida como ato político e devedor da própria organização do grupo. vão se delineando essas comunidades que aos poucos ganharam uma face marcadamente urbana. que em sua maior parte se limitaram a denunciar as arbitrariedades dessa nova ordem de Estado. será cheio de recuos. um rei e uma princesa imaginários — muito longe do sistema real —. a tradição se inscrevia em meio à modernidade e o novo se confundia com o velho. É nessa perspectiva que podemos entender movimentos como a Guarda Negra (grande defensora da realeza contra as manifestações republicanas). assim como se lamentava que a promessa de inclusão social tivesse resultado na mais absoluta exclusão. O processo. social e cultural. igualmente condicionado por seus "sertões". numa primeira fase. Na maior parte do tempo. criada em um país recém-saído de larga e arraigada experiência com a escravidão. Mesmo assim. nas cidades. e como mostra ainda Hebe Mattos. logradas nas fazendas de café: o "ouro negro" dos trópicos. pouco conhecidos. que irrompe na agenda dos estadistas republicanos. Em sua primeira fase. O objetivo é discutir o caráter particular da noção de cidadania. A rua se afirma como espaço do povo — esse novo agente social. a guerra civil foi um fantasma muito próximo durante os primeiros anos militares da República. já que a dívida passaria a fazer parte do cotidiano desses imigrantes que. Aí estava uma "moderna periferia da periferia" que. persistia uma feição isolada e esquecida do país. Urbanidade. De um lado. Ao lado das novas urbes. . A imigração se estenderia também para outras regiões do país e mudaria a feição local. a culinária e os costumes. sobretudo em São Paulo. punha em risco o espelho luminoso das novas cidades. De outro. industrialização e imigração constituíam apenas uma das faces desse largo Brasil. que Hebe Mattos captura no capítulo 2. no campo. os dialetos. paulistas e mineiros revezaram-se na presidência da República. de alguma maneira. o voto aberto levou a uma política restritiva e que fazia da afirmação da vontade um ato de coragem. a República conheceu um período militar marcado por um jacobinismo radical e viveu seus dias sob a égide da revolta e das mobilizações populares. a orquestração andava desafinada. se afundavam em meio às despesas e às dificuldades de ordem econômica. a exigência da alfabetização como critério eleitoral limitou em muito as possibilidades de participação da população nos sufrágios. o primeiro presidente civil. "A vida política — Além do voto: cidadania e participação política na Primeira República brasileira". Mas mesmo por lá. Prudente de Morais. Não por coincidência. encenadas e lideradas por imigrantes e nacionais. Esse ambiente é marcado por revoltas e greves.28 imantado pelas projeções de fortuna fácil. Se nas cidades ensaiavam-se as primeiras manifestações populares — exercício necessário para a plena cidadania que ainda estava por vir —. A partir daí começaria o declínio do jacobinismo radical e o início da assim chamada política dos estados ou dos governadores. que por vezes levava a desenlaces pouco desejados. Esse é o momento em que ocorrem as primeiras greves operárias. trataria de exonerar militares que ocupavam cargos no funcionalismo público. práticas de clientelismo ainda davam a tônica e o acento da política. prontamente abafadas por grupos armados. que desnudava o dissenso e a falta de um projeto único que combinasse modernidade e progresso. O resultado era muitas vezes desastroso. Na política externa. de que o Brasil fora governado como uma grande fazenda e que as decisões econômicas. Rio Branco não estaria mais à testa da política externa após 1 9 1 2 . hoje bastante questionada pela historiografia. respectivamente. assim como a relevância da política que fomentou a entrada de mão de obra imigrante em massa. exemplo que inauguraria uma espécie de modelo não intervencionista de participação. O lema "somos da América e queremos ser americanos" ganhou lugar diante do outrora influente: "somos da América mas queremos ser europeus. o país teria lucros com tal investida. Franco e Luiz Aranha Corrêa do Lago assinam conjuntamente o texto sobre economia. ensejou-se uma política de não intervenção na América Latina. destaca a importância dos anos que marcaram a Primeira República para a afirmação da soberania e da autonomia do país. sobretudo quando comparados a antigas modalidades imperiais. Nele põem abaixo interpretações que costumam afirmar que o período foi "tempo perdido" e que a economia da época ficou encastelada entre a política restritiva do Império e a industrialização por substituição de importações. uma missão médica à França. Ao contrário. dois aspectos se destacaram. e também não presenciaria os estragos da Primeira Guerra Mundial. percebe-se uma aproximação jamais conhecida com os Estados Unidos. Em primeiro lugar. os principais produtores de café (São Paulo) e leite (Minas Gerais) do país. se o papel inicial de Joaquim Nabuco foi fundamental. uma vez que ocupou papel mais ativo nos tratados de paz pós-conflito. ano de sua morte. apesar de sua contribuição ter sido pouco significativa: enviou 1 3 aviadores à Grã-Bretanha. autor da parte 3. mas também políticas e quiçá sociais. a formação de mercados consumidores no estrangeiro. uma vez que nessas regiões se concentravam. ministro das Relações Exteriores desde 1902. nesse sentido. E. sobre relações internacionais. No entanto. Sua avant première na política deu-se com o caso da Bolívia. Hebe mostra a relevância dos estados menores e das brechas deixadas pela rotinização da política..AS MARCAS DO PERÍODO dando ensejo a um fenômeno conhecido como "política do café com leite". Com isso não se pretendeu dizer. Gustavo H. Daí advém a máxima de época. Já Francisco Doratioto. que a política seria só e exclusivamente oligárquica. porém." Além dessa primeira característica. seguiram sempre uma mesma lógica. Como mostra Doratioto. o Brasil foi o único país sul-americano a participar do conflito. B. a atuação maior ficou por conta e responsabilidade de um dos grandes ícones do período: o barão do Rio Branco. alguns observadores do Exército e uma frota de seis navios que se dedicou a patrulhar o Mediterrâneo. que se apresentou após a crise de 29 . A indústria foi afetada em menor escala que a agricultura. De um lado. a indústria de que dispunha o Brasil não diferia do retrato de atraso econômico. Todas essas tendências pareciam favorecer a "vocação agrícola" do país e não o contrário. No período estabeleceu-se o Convênio de Taubaté. o texto mostra como o debate sobre a extensão da substituição de importações nesses anos permanece ainda vivo. que tomam a economia como uma operação de origem exclusivamente algébrica e "a política econômica como uma mera decorrência da ordem das parcelas". A política de estabilização do café deitaria água em 1929 por conta da depressão econômica e o final dos protecionismos. um período de maior prosperidade. O ensaio evita interpretações por demais esquemáticas. isso num período de grandes oportunidades e notável crescimento da economia internacional. O Brasil terminaria a Primeira República como um país pobre. mas também entre modelos do passado e do futuro. ou mesmo entre o conservadorismo monetário. que ficaria associado a nomes como Rodrigues Alves. o seu efeito sobre o crescimento global da economia se mostraria bastante limitado. seria interrompido o comércio com as "potências centrais". estabeleceram-se compromissos pesados entre as oligarquias. De outro. a imigração acelerou-se. apesar de ser. entre outros. com algum desenvolvimento dos setores secundário e terciário. ou soubesse administrar a posição de dominância que tinha no mercado de café. de longe. O conflito mundial que se agigantou em 1 9 1 4 acabou por afetar diretamente as exportações brasileiras. o mais populoso da América Latina e apresentar u m grande mercado interno potencial. bem como a exportação de outros produtos naturais. entretanto. até a Primeira Guerra Mundial o desempenho econômico foi bastante medíocre. Mesmo assim. mas. Tal prosperidade contrastava. pelo menos numa visão de curto prazo. Polêmico.Segundo os autores.1929. notadamente nas antigas regiões exportadoras do Nordeste. além de termos nos convertido no maior país exportador de café e borracha. Antes que o país aprendesse a lidar com esse paradoxo. como a indústria representava menos de 17% do PIB. e os interesses marcados pela lógica do mercado do café. a crise sacudiu os frágeis alicerces de nossa . a despeito de certa diversificação interna da economia. muitos mercados consumidores restringiriam suas importações de café. porém. Por outro lado. com a persistência de importantes bolsões de pobreza. aperfeiçoasse suas instituições e políticas na área monetária e cambial. que preparou o país para o domínio da economia do café. A retomada da normalidade no pós-Guerra não significou. Joaquim Murtinho e Leopoldo Bulhões. as quais. o que faz do "Brazíl. Esse período de nossa cultura. vai terminar os anos 1920 entre ansioso e angustiado para conhecer certa "brasilidade". essa é a época de uma geração vigorosa que conheceu os trabalhos de Mário de Andrade. Murilo Mendes. Vitor Brecheret. Guilherme de Almeida. conhecerá uma grande efervescência. diziam pretender "compreender o país" e criticar as teorias de fora: sejam as consideradas eurocêntricas. Paulo Prado. as grandes esperanças deram lugar a demonstrações de ceticismo. sejam os modelos raciais que condenavam nosso destino como povo miscigenado. que se deterá sobre o período de 1930 a 1964. no seu conjunto. expressa na publicação de poemas. quando não de revolta.AS MARCAS DO PERÍODO política econômica e fez com que as articulações para a chamada Revolução de 1930 ganhassem força. buscar certos modelos de identidade nacional. no dizer de Roberto Da Matta. na veiculação de filmes e peças de teatro. Sérgio Buarque de Holanda. Também a eclosão da Primeira Guerra Mundial marcaria fortemente nossa intelectualidade. construídos pelo sementeiro da especificidade: os trópicos e a até então surrada mestiçagem que de biológica se tornará cada vez mais sociocultural. Mas. 31 . que analisa a cultura no período. que inclui o Estado Novo. A última parte do livro. ainda no início do século. a pintura e até mesmo a cultura popular. piada do Emílio de Menezes. bonde de burro. Se tudo isso é fato. rever seu passado e projetar um novo futuro. à sua maneira." A frase irônica é do escritor Agripino Grieco e resume o fim de uma época e o começo de outra no cenário urbano do Rio de Janeiro — a grande vitrine mundana do Brasil na Mie époque. Gilberto Freyre. Com um texto bem-humorado e cheio de citações irreverentes. Como mostra o autor. "Hei de ter sempre a mentalidade de 1903: rua estreita. Brasil". clássico necessário para pensar o Brasil. Já disse Roberto Schwarz que no Brasil tudo parece "começar sempre do zero" e que por aqui o "nacional se descobre por subtração". o jornalismo. sempre pensado no plural. A modernidade era a grande preocupação dessa geração e por isso Elias percorre as diferentes áreas em que ela se expressaria: a educação. Humberto Mauro. as artes. Villa-Lobos. parecia ser hora de descobrir. Se o país começou a República encantado com a modernidade conhecida alhures. o sucesso ficaria muito aquém das expectativas iniciais. casa de pasto. isso sem esquecer a discussão do modernismo. ensaios e romances. é assinada por Elias Saliba. e que não se esgota em 1930. cada um. ele mostra como esse foi um momento marcado por paradoxos variados. Mas essa já é outra história a ser percorrida no próximo volume. Cândido Portinari. em todas. Num primeiro momento. o recifense. nosso pensamento age à maneira dos ameríndios: as coisas são primeiro nomeadas e depois se tornam úteis. prefiro o nome Primeira República. mas é igualmente correto pensar que nesse contexto. acharam feio o que não era espelho. um país urbano ladeado pela realidade isolada dos sertões distantes. como vimos. clientelismos com processos até então desconhecidos de institucionalização política e social. E certo que história não tem volta ou retorno. Não por acaso. Entre tantas faces. Aqui está um período polêmico. À maneira de Narciso. recebendo a moda. o do gaúcho e o do carioca. A classificação de República Velha foi o nome que vingou durante bom tempo. violência ou existência de "dois Brasis" não são privilégio ou monopólio da Primeira República. das mais gerais: passado a conviver com presente. Talvez por isso Jorge Luis Borges tenha escrito que "tudo que vale a pena tem nome". entre tantos outros — e a descoberta de u m país que começava a se olhar no espelho e. por certo. Voltemos à nossa querela. veremos a montagem de vários modernísmos — o paulista. os grevistas. A utilidade não vem do uso. pela separação entre as esferas pública e privada e pelo direito à cidadania. melhor ainda. Afinal. a vida social. Primeira pois teve o protagonismo do início (para o bem e para o mal) e porque ensejou múltiplas e complexas formas de exercício da cidadania. mas também os jornaleiros. Segundo ele. ambíguo e paradoxal. em que se batalhou por direitos. como é importante desconfiar das lutas políticas e simbólicas de uma época. o mineiro. O leitor verá.A ABBKLUKA 32 PARA O MUNDO Nessa. as manifestações políticas e as expressões da cultura popular. numa operação de contraposição. anotou que o homem é um animal classificador: primeiro classifica e depois passa a conhecer. algumas delas ainda hoje bastante desconhecidas. transporte acelerado com o ritmo do lombo de burro. repressão e exclusão social com processos de inclusão. em seu livro Pensamento selvagem. A denominação foi antes uma construção dos ideólogos do Estado Novo e representou forma de desqualificar o liberalismo (o grande inimigo em questão) e o próprio passado. a se reconhecer. mas igualmente afirmativo. exclusão. foi a maneira como os homens do Estado Novo viram primeiro a si mesmos e. a rua se converteu em local privilegiado. marcado por ambivalências. Esses mesmos modernismos representam os parâmetros finais deste terceiro volume. definiram tudo que os antecedeu. que vamos aqui apresentar. marcadas pelos ânimos exaltados de seu próprio tempo. cordel com literatura acadêmica. porém. maxixe e lundu com música clássica. O antropólogo Claude Lévi-Strauss. mas da necessidade de definir. em que tantos novos desafios se abriam — a inauguração de um regime político e de novas modalidades de convívio . o footing. Renato. Rio de Janeiro: UFRJ/Relume Dumará. .2 4 . no Brasil e na África Ocidental. . SP: Papirus. Revista do Departamento de História da UFF. Martha. São Paulo: Cosac Naify. Quatro vezes cidade. 1985. Vidas de entremeio: assimilação e marginalização na Áustria. Angela de Castro. 2003. 2002. Maria Sylvia de Carvalho. que perduram até os dias de hoje. ABREU. 1988. 2009. São Paulo: Companhia das Letras. PANDOLFI. Hannah. Claude.). Os bestializaáos: o Rio de Janeiro e a República que não foi. In: . 1990. ALBERTI. 1988. SCHWARZ. Georges. temos aqui experimentos novos e u m ótimo exemplo dos usos oficiais da memória e de suas disputas simbólicas. Que horas são? São Paulo: Companhia das Letras.Aconstrução da ordem e Teatro de sombras. DAMATTA. LESSA." Sette Letras. Carnavais. As barbas do imperador. São Paulo: Companhia das Letras. Teatro de sombras: a política imperial Rio de Janeiro: Vértice/Iupeij. 1994. Rio de Janeiro. A invenção republicana. 1 3 . BIBLIOGRAFIA AKENDT. Mareei. Origens do totalitarismo. 1 1 . 1992. Pensamento selvagem. 1780-1945. Lisboa: Tempo Social. DUMONT. v. Lilia Moritz. LÉVI-STRAUSS. 1970. SPITZER. Louis. Campinas. 2001. MAUSS. Maria Alice Rezende de. as bases e a decadência da Primeira República brasileira. São Paulo: Companhia das Letras. A formação das almas. Verena (Org. 0 tempo das catedrais. 2000. Dulce. Ensaio sobre a dádiva. Roberto.AS MARCAS DO PERÍODO social —. Rio de Janeiro: Iuperj. 1996. Campos Sales. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1996. CARVALHO. 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