HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA MARIA CRISTINA DE ASSIS Introdução Neste curso, vamos abordar a língua portuguesa sob uma perspectiva histórica, partindo de sua origem latina na Península Ibérica. Compreendemos que a mudança linguística está relacionada ao processo de modificação sociocultural de um povo, isto é, a história de uma língua está ligada à história do seu povo, aos acontecimentos de natureza política e social. A preocupação em explicar as alterações ocorridas nas línguas pertence ao domínio da Linguística Histórica, disciplina que busca investigar mudanças – fônicas, mórficas, sintáticas e semântico‐lexicais – ao longo do tempo histórico, em que uma língua ou família de línguas é utilizada por seus falantes em determinado espaço geográfico e em determinável território, não necessariamente contínuo. Estão relacionados a essa área dois tipos de estudos linguísticos: Em sentido amplo (Lato sensu) – os que se baseiam em dados contextualizados, isto é, datados e localizados (quando sabemos onde e quando foram produzidos). Em sentido estrito (Strictu sensu) – os que investigam as mudanças que ocorreram nas línguas através do tempo, levando em consideração fatores intralinguísticos ou estruturais e fatores extralinguísticos ou sócio‐ históricos. Nesse sentido, é possível estudar a história de várias línguas ou apenas de uma língua. Ivo Castro conceitua História da Língua como o estudo das relações estabelecidas entre uma língua e a comunidade que a fala, ao longo da história dessa comunidade. Em geral, apontam‐se duas perspectivas de estudo de história da língua: história externa – abrange acontecimentos políticos, sociais e culturais, que repercutem na língua; história interna – descreve a evolução fonética, morfológica, sintática e semântica da língua. Nem sempre é possível explicar como ocorrem determinadas mudanças linguísticas. Nas escolas de ensino fundamental e médio, o estudo da língua numa perspectiva sincrônica adotada pelas gramáticas tradicionais favorece o surgimento de regras e exceções, fazendo com que o aluno sinta dificuldades para entender alguns fatos da língua. Vejamos alguns dos questionamentos que podem surgir, ao estudar a língua portuguesa: Como explicar o número reduzido de palavras proparoxítonas no léxico da língua portuguesa? Se a gramática ensina que na língua portuguesa temos apenas os gêneros masculino e feminino, por que os pronomes isto, isso, aquilo são classificados como pertencentes ao gênero neutro? Qual a relação entre palavras como mácula e mancha, cátedra e cadeira, solitário e solteiro? Por que achamos tão parecido o português e o espanhol? Respostas para essas e outras perguntas podem ser encontradas analisando‐se a língua numa perspectiva histórica. É o que veremos a seguir. UNIDADE I DAS ORIGENS À FORMAÇÃO DO GALEGO-PORTUGUÊS Antes dos romanos Substrato linguístico é a A língua portuguesa pertence ao grupo das línguas românicas, influência da língua de um povo também chamadas de neolatinas, resultado das transformações que vencido sobre a qual se sobrepõe a língua do vencedor. aconteceram no latim vulgar levado à Península Ibérica. O latim nasceu na Itália, numa região chamada Lácio, pequeno distrito à margem do rio Superstrato - a língua do povo vencedor deixa marcas na língua Tibre e foi levado ao território ibérico pelas legiões romanas. do povo vencido, permanecendo Antes do estabelecimento do domínio romano na região, os esta última. povos que habitavam a Península eram numerosos e apresentavam língua e cultura bastante diversificadas. Havia duas camadas de Adstrato - Toda língua que vigora ao lado de outra, num território população muito diferenciadas: a mais antiga ‐ Ibérica ‐ e outra mais dado e que nela interfere como recente ‐ os Celtas, que tinham o seu centro de expansão nas Gálias. manancial permanente de Muito pouco se conservou das línguas pré‐romanas. Outros povos empréstimo. (Mattoso Camara) haviam‐se fixado na Península Ibérica: iberos, celtas, fenícios, gregos e cartagineses. A partir do século VIII a.C., os celtas começaram a invadir a Península Ibérica. Embora o domínio céltico não tenha se exercido pacificamente, tiveram uma influência profunda que perdurou mais ou menos até a conquista romana. Com o correr dos séculos, os celtas mesclaram‐se com os iberos, dando origem aos povos celtiberos. Mais tarde, outros povos, os fenícios, os gregos e os cartagineses formaram colônias comerciais em vários pontos da península. Como os cartagineses pretendessem apoderar‐se do território peninsular, os celtiberos chamaram em socorro os romanos. Por esse motivo, no século III a.C., os romanos invadiram o território, com o objetivo de deter a expansão dos cartagineses. Com as Guerras Púnicas — luta entre romanos e cartagineses —, a Península Ibérica passou para o domínio de Roma. Embora a invasão tenha ocorrido no século III a.C., a anexação como província só ocorreu no ano de 197 a.C. Entre os habitantes da península, os lusitanos, povo de origem céltica chefiados por Viriato, resistiram aos romanos. Depois do seu assassinato (cerca 140 AC), Decius Junius Brutus pôde marchar para o norte, através do centro de Portugal, atravessou o rio Douro e subjugou a Galiza. Os celtiberos terminaram adotando a língua e os costumes dos romanos. Os romanos encontraram a Península muito desunida, pois, além da variedade étnica, a difícil estrutura geográfica contribuía para a fragmentação. São de origem celtibérica: Camisa, saia, cabana (cappana), cerveja (cerevisia), légua (leuca), carro (carrus), manteiga (mantica), gato (cattus) etc a língua e os costumes romanos foram progressivamente assimilados. uma fase intermediária de marginalidade..C. entre hispânicos e romanos pode ser dividido em três fases. O território ocupado pelos romanos em sua expansão. basicamente no vocabulário. Sudoeste da Europa. na Península Ibérica. modificando o menos possível as unidades territoriais que encontravam. A implantação do latim na Península Ibérica constituiu um fator decisivo para a formação da língua portuguesa. sarna. todas integradas na unidade imperial até o século V d. todos os povos da Península adotaram o latim como língua e se cristianizaram. passou a servir de veículo a uma cultura mais avançada. fez desaparecer. ‐orro. Esta última sofreu nova divisão em duas outras províncias. A influência céltica é . em duas grandes províncias. O território da Península Ibérica (século I a. Os vestígios da língua ibérica no vocabulário português são poucos: bezerro. constituía‐se de diversas províncias: a Hispânia. e ocorreu no século II a. a Península Ibérica estava totalmente latinizada (no século I d. a România. nos atos oficiais.A romanização da Península Ibérica Os romanos implantaram habilmente sua civilização na Península Ibérica. além dos sufixos ‐arra. Com exceção dos bascos. que consistem em um momento inicial de expectativa. a vitória da cultura romana. implantaram o serviço militar e construíram escolas. mesclado de elementos celtas e ibéricos.. fase de bilinguismo.). conquistaram a Hispânia e impuseram a sua civilização. de maneira que a Península Ibérica chegou ao século V d. enquanto durou o apogeu do Império Romano. a Gallaecia. É formada por A romanização foi condicionada por fatores diferentes. baía. em que as diferentes culturas se confrontam.) foi dividido.C. ou seja. as línguas nativas dos primitivos habitantes e passou a sofrer o influxo dos A Península Ibérica está situada no substratos céltico. a Gália. inicialmente. a Dácia. o latim apresentava feições particulares. organizaram comércio e serviço de correio. completamente romanizada. Além disso. a Bética e a Lusitânia. imposto como idioma oficial nas transações comerciais. mas gradativamente. fazendo praticamente desaparecer as línguas nativas. a Itália. O Latim Vulgar. depois de longas lutas. utilizado nas diversas regiões conquistadas pelos romanos. Dessa forma. Quando ocorreu a queda do Império Romano. O latim.C. Há vestígios apenas na área do vocabulário. A romanização da Península não se deu de maneira uniforme. cama. arroio. Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior. esquerdo. ‐erro.C. como Portugal e Espanha. Nesse quadro de mistura étnica. ibérico e ligúrico. por último. o latim foi‐se impondo. além do território ultramarino de Gibraltar cuja o prestígio de Roma e a dispersão das tribos.C. em que ocorre a romanização. politicamente pertencendo ao Império Romano e linguisticamente falando a língua de Roma — o latim. em que há participação nas duas culturas. ‐urro. Esse período do contato soberania pertence ao Reino Unido. onde se estendia uma antiga província romana. quando as legiões de Roma. cola. palavras transmitidas através do árabe. alambique. longobardos. esmeril. crisma. os visigodos conquistaram e incorporaram o território a partir de 585 até 711. Fundaram um reino muito extenso. raça. governar. como esmeralda (provençal). trégua (triggwa). Moçárabes – termo que alcaparra. Figura 1‐ Reinos bárbaros defendendo a religião cristã. os árabes invadiram a Europa. como também eram chamados. farol. o reino suevo reduziu‐se à Gallecia a aos bispados lusitanos de Viseu e Conimbriga (Coimbra). francos. resistindo por muito tempo aos visigodos. Além disso. no século V. tendo como língua o latim vulgar na sua Fonte: http://4. mas dos incorporaram‐se ao idioma através da Ciência e da Tecnologia: telefone. de acordo com o ingresso ao léxico português: palavras da época anterior aos romanos. fundiram‐se com a população românica. lutou até 711 contra a invasão árabe. casa. mapa. bico. os visigodos romanizaram‐se. o último rei godo. palavras que. normandos. Outros povos bárbaros. na colonização grega (perderam‐se ou se confundiram com as latinas): bolsa. quais receberam profundas fonema. palavras que ingressaram no vocabulário. não conseguiram impor‐se aos povos . homeopatia. Coimbra (Conimbriga). a unidade romana rompeu‐se totalmente. costumes exceto na religião. sem adotarem língua. Os vocábulos gregos podem ser divididos em quatro grupos. vindos do Norte da África. quilate.bp.C. cara.maior na fonética do que no vocabulário: brio. a partir do século XVI. como acelga. bíblia. palavras de origem medieval. espora (spaura). touca e os topônimos Bragança. VIII d. légua. viviam subjugados aos árabes. Por outro lado. e também assentaram domínios na península. pois continuavam cristãos. possivelmente incorporadas ao léxico latino. ou seja.blogspot. Em 570. alamanos. fugindo dos hunos. elmo (helms). A contribuição de vocábulos fenícios ao influências na linguagem e nos vocabulário português é mínima: saco (fenícia). costumes e religião diferentes dos peninsulares. monge (provençal). (púnico). loja (laubja). Os suevos e os visigodos estabeleceram‐se na península: os suevos implantaram‐se.bmp bérbaros: guerra (wuerra). a religião e os costumes. diabo. Posteriormente vieram os visigodos e os alanos. Os mouros. branco (blank) etc No séc. saxões. Rodrigo. Com o domínio visigótico. apóstolo. Tratava‐se de um povo de cultura. pelo estreito de Gibraltar. contribuíram a dissolução do império romano e provocaram a diversificação do latim falado (o escrito permaneceu como língua de cultura). raio. que ingressaram por intermédio designa os povos cristãos que das línguas românicas. guitarra e finalmente. Invasões dos bárbaros e dos árabes Já estava o latim bastante modificado quando os bárbaros germânicos invadiram a Península Ibérica. fresco (frisk). espalharam‐se por todo o Império Romano: burgundos. Os primeiros que chegaram foram os suevos e os vândalos. adotaram o cristianismo como religião e assimilaram o latim vulgar.. microscópio. Algumas contribuições das línguas dos /S8t5Cgt404I/AAAAAAAAADQ/tAv2gTQbi ew/s1600/REINOS+BARBAROS+495. com o advento do Cristianismo: anjo.com/_0hasQbYINU8 feição hispano‐românica. malha. adaga. Em Alcama. pode‐se dizer que houve tolerância entre mouros e moçárabes. Raimundo governador do condado da Galiza e ofereceu‐lhe em casamento a filha D. aldeia. Afonso Para recompensá‐los pelos serviços prestados na conquista. nobres de diferentes regiões participaram da guerra santa. a viúva envolveu‐se com um fidalgo galego D. D. arroz. azeite. zero. Figura 2 Mapa da Reconquista cristã do território de Portugal almoxarife. D. ou terra dos castelos. nas Astúrias. (711 a 1492). onde levantaram castelos que deram origem ao reino de “Castilla”. o árabe é adotado como língua oficial. alicate. Fernão Peres . distinguiram‐se nessas lutas. exceto na religião. tampouco absorveram a cultura cristã. os muçulmanos. algarismo. território desmembrado da Galiza. Do ponto de vista cultural. bem como a definição do território português. Urraca. Anos após a morte do conde. pois continuavam cristãos. azulejo. Esse movimento foi alastrando‐se para o sul. por isso. Afonso VI. D. mas nenhuma integração. matemática. apesar de todas as influências sofridas por parte dos vários povos. cuscus. Tareja (Teresa). nas regiões conquistadas. alcova. do qual era dependente. corcel. alcachofra. Henrique deu o governo do Condado Portucalense. Raimundo e D. que haveria de ser o fundador e o primeiro rei de Portugal. Figura 3‐D. alface. rei de Leão e Henriques Castela nomeou D. comércio e indústria. junto ao rio Douro. Muçulmanos e cristãos desencadeiam uma guerra religiosa durante sete séculos de ocupação. açude. da Península Ibérica ‐. Tiveram quatro filhos. alazão. dos quais apenas um era varão. . alface. álgebra. receberam maior influência dos árabes na linguagem e nos costumes. das artes e das letras: filosofia. Castela e Aragão. Entretanto. agricultura. algodão. continuou sendo a língua oficial. chamado Afonso Henriques. a língua latina. e a mão da outra filha. alcaide. refém e inúmeras outras. açúcar. alfinete. descendentes dos reis da França. Desde 711. Algumas contribuições árabes ao vocabulário português atual são arroz. alvará. o rei visigodo Pelágio derrotou os árabes dando o início à Reconquista. No reinado dos reis católicos da Espanha. Dom Afonso Henriques tinha apenas três anos quando seu pai morreu e. recuperando os territórios perdidos que originaram os reinos de Leão. alferes. no ano de 718. A D. Fernando e Isabel. A Reconquista e a Formação do Reino de Portugal Os cristãos refugiaram‐se no norte da península. através das cruzadas – lutas para expulsar os mouros. conde de Borgonha. Nas regiões dominadas pelos árabes viviam os moçárabes.subjugados. No período da dominação árabe. mas a população continuou a falar o romance. encerrou‐se o período de dominação dos árabes e teve o importante papel de desencadear a formação de Portugal como Estado monárquico. a península passou por um surto de desenvolvimento nos campos da ciência. alfândega. sua mãe assumiu o governo do condado. história. almofada. Dois nobres franceses. Henrique. Com a finalidade de libertar o território ibérico. medicina. o latim vulgar veio a fracionar‐se em diferentes dialetos. afirmando a independência portuguesa face à Galiza. conservadora e resistente às inovações. Revestiu‐se de dois aspectos que. numa luta conhecida como a Batalha de S. observando‐se as evoluções características de cada uma é possível reconstruir o étimo latino. Era uma Cartórios. a forma original comum a todas elas. a exemplo do que ocorre com todas as línguas. Outra maneira de conhecer o latim vulgar é através de algumas atestações escritas como os graffiti de Pompeia. chamado pelos romanos de sermo urbanus. como Cícero. na região central e leste da Península. ou seja. conde de Borgonha. absorvendo os demais falares itálicos. sagrou‐se rei de Portugal. caracterizava‐se pelo apuro do vocabulário e pela elegância do estilo. Afonso Henriques lutou contra as tropas de sua mãe. sem preocupação com a correção gramatical. Conhecida como uma língua artificial e rígida. exclusivamente língua era praticada por uma elite e usada nas escolas e nas obras dos escrito. Sinônimo de prestígio. O estudo do latim vulgar pode ser feito de duas maneiras. isto é. colonos e funcionários romanos a todas as regiões porque era mesclado de do Império Romano. era a língua literária. porém polida e requintada. Mistura das formas variedade falada que servia de instrumento de comunicação diária. era o latim dos tabeliães grandes escritores latinos. Era escrituras. essas terras viriam a se tornar território do Estado espanhol. com o passar do tempo. correção das formas errôneas usuais pelos gramáticos (Appendix Probi). os leoneses e os castelhanos avançavam para o sul. O idioma. originando o território português. por meio da retratação de personagens populares (Satiricon). os grupos populacionais do norte foram‐se instalando mais a sul. principalmente dos últimos tempos (escritores da decadência romana. Inicialmente o latim era uma língua tosca e rude. o que resultou. foi forma embrionária das línguas românicas. o jovem D. escritores pagãos). com latinas com formas romances – finalidades práticas e comerciais. D. expressão latim vulgar refere‐se à língua com todas as suas variedades. Sujeito a influências locais de costumes. não era rigorosamente uniforme. vulgarismos em obras de comediógrafos. ‐ Em 1139. Também chamado de sermo vulgaris. depois de ter definitivamente expulsado os mouros na Batalha de Ourique. César. ocupando as terras até então dominadas pelos árabes. logo a seguir. que tinha a intenção de submeter ao controle da Galiza o Condado Portucalense. clima vocábulos romances e e outros fatores. Uma delas é a reconstrução linguística. Em 1128. A e copistas da Idade Média. Virgílio e Horácio. da comparação entre as diferentes línguas românicas. usado nos documentos públicos. o que significa dizer que é o próprio latim diversificado de suas origens. mas foi. tornaram‐se cada vez mais distintos: o clássico e o vulgar. que buscava a correção gramatical e estilística. cartas pessoais. à medida que o Império Romano se expandia. provinciais. À medida que as batalhas aconteciam e novas terras eram reconquistadas. erros ocasionais dos próprios escritores cultos. gradativamente. nos Fóruns e usado pelo povo. a O latim bárbaro. nas línguas românicas. inscrições em lousas confeccionadas por artistas plebeus. Mamede. raças. Mudanças linguísticas do latim ao galego-português Dissemos anteriormente que a língua portuguesa é uma língua neolatina. Mais tarde. Do mesmo modo. Afonso Henriques. O latim clássico. Alguns documentos também atestam .de Trava. Chamava-se bárbaro levado pelos soldados. as glosas: espécie de dicionário (glossário) para leitura dos autores latinos. V. ă a a prātu > prado. ĭ ê (fechado) ê (fechado) cēra> cera. as diferenças de duração foram‐se associando às de timbre. uma tendência para as vogais átonas caírem. da Bíblia por São Jerônimo).essa variedade do latim: Perigrinatio ad loca sancta (Sancta Aetereae) – séc. IV. áquila > águia ĕ é (aberto) é (aberto) mĕlle>mel. De Architetura ‐ Séc. Embora se tratasse da mesma língua. bŭcca>boca ū u u pūro > puro. É importante ressaltar que algumas características existiam também no latim clássico. alacrem (latim clássico) > alacrem (latim vulgar) > alegre (português). enquanto pōpulum (ô longo) significava choupo. O latim clássico caracterizava‐se pela existência de cinco vogais. lŭto (u breve) significava lodo enquanto lūto (u longo) significava lodo. na morfologia. no latim vulgar. Eis o quadro comparativo das vogais tônicas no latim clássico e vulgar: Latim clássico Latim vulgar Português Exemplos ā. De Medicam pecorum – séc. sendo que cada uma dessas vogais podia ser longa ou breve. como ocorre nos exemplos a seguir: conducere (latim clássico) > conducere (latim vulgar) = conduzir (português). e essa distinção fonológica estava aliada a uma diferença no significado das palavras: pŏpulum (ó breve) significava povo. mas se acentuaram no latim vulgar. IV. nĕbulam > névoa ē. Vulgata (Trad. rīvum > rio ŏ ó (aberto) ó (aberto) prŏba > prova. no léxico e na sintaxe e a presença de características de uma ou de outra variedade atesta a origem das línguas românicas. Mulomediinz Chironis (Tratado de veterinária) – séc. As palavras desconhecidas do povo aparecem nessas glosas acompanhadas das formas correspondentes semânticas mais familiares e tomadas à língua viva da época. São algumas das particularidades do latim vulgar em relação ao latim clássico: a) Em relação à fonética. pĭra > pêra ī i i f ī lu > fio. uma mudança importante foi a perda das oposições de quantidade. evitando o uso de palavras proparoxítonas. ŭ ô (fechado) ô (fechado) amōre > amor. as variedades clássica e vulgar do latim apresentavam diferenças na fonética. ā ē ī ō ū = fechadas ă ĕ ĭ ŏ ŭ = abertas No latim vulgar. pāce > paz ăqua > água. de modo que o timbre passou a ser distintivo e a diferença de duração de na pronúncia das vogais desapareceu. . secūrum > seguro Quadro 1: Quadro comparativo das vogais tônicas no latim clássico e vulgar b) Havia. I. rŏtam > roda ō. havia predominância de uso de vocábulos mais populares e afetivos com sufixos diminutivos. rosæ nominativo ‐ sujeito e nome predicativo 2ª declinação lupus. fructus. o latim clássico caracterizava‐se por um vasto sistema de flexão (cinco declinações e seis casos) que se reduziram a três no latim vulgar. parentes: pai ou mãe ( latim clássico). Enquanto o latim clássico usava a palavra equus (cavalo de montaria). comprar (latim vulgar) f) Do ponto de vista morfológico. amicos. cantus acusativo ‐ objeto direto 5ª declinação dies. embora originalmente essa palavra tivesse outra significação (cavalo de lavoura). Como o plural dos nomes masculinos e femininos terminava com s em qualquer das declinações. lupi vocativo ‐ chamamento 3ª declinação ovis. i) Decorrente da redução das declinações. Latim vulgar Latim clássico Português apprendere discere aprender bucca os boca casa domus casa d) Outra característica do latim vulgar que permaneceu no português foi a preferência pelas palavras compostas. vinus (vinho). g) Declinações Casos 1ª declinação rosa. amores. houve o desaparecimento do gênero neutro e masculino e feminino passaram a ser indicados por o e a. no lugar das palavras simples usadas no latim clássico: Latim clássico Latim vulgar Português ovis → ovicula ovelha spes → *sperantia esperança cor → *coratio coração e) Algumas palavras do latim clássico recebiam uma significação especial no latim vulgar: • parens. ovis genitivo ‐ adj. este se tornou o sinal da desinência do plural: rosas. dies. no sentido de cavalo. o latim vulgar preferia utilizar caballus com o mesmo sentido. restritivo 4ª declinação cantus. respectivamente: caelus (céu). fatus . diei dativo ‐ objeto indireto ablativo‐ complemento circunstancial e agente da passiva h) Terminação s como marca de número plural. viagem (latim vulgar) • comparare: preparar ( latim clássico). O português adotou a palavra cavalo do latim vulgar. O plural português originou‐se do acusativo latino. parentes (latim vulgar) • viaticum: provisão (latim clássico). c) No léxico. enquanto ligna (linha). Latim clássico Latim vulgar Português liber illu libru ou unu libru o livro ou um livro O latim clássico formava os comparativos e superlativos através de sufixos. intermediário entre o clássico e o vulgar. com tema em a passaram a feminino). j) Analitismo: o latim clássico não possuía artigos. surgindo no latim vulgar a forma analítica ou composta. o latim clássico era uma língua sintética. enquanto o latim vulgar utilizava formas analíticas na formação dos graus dos adjetivos. Hominem diligit Deus. enquanto o latim vulgar apresentava pronomes demonstrativos e o numeral unus com o valor de determinativo (artigo definido e indefinido). A frase portuguesa Deus ama o homem poderia ser dita em latim clássico das seguintes maneiras: Deus hominem diligit. opera (obra) milia (milha). Diligit Deus hominem. Além de latim clássico e vulgar. como consequência da redução dos casos. do gênero neutro passaram para o masculino). havia outras modalidades do latim. com tendência à ordem inversa. como o baixo‐latim. A variante familiar era usada nas conversações e nas cartas das pessoas instruídas. isto é. o latim vulgar usava‐as com maior frequência. Nessa variante foram escritos os trechos bíblicos e em que foi divulgada a doutrina cristã. Latim clássico Latim vulgar Português dulcior magis ( plus) dulce mais doce dulcissimus multu dulce muito doce (dulcíssimo) Do mesmo modo. k) Na sintaxe. l) Enquanto no latim clássico as preposições eram poucas. . enquanto o latim vulgar era analítico. Petri liber (latim clássico) Liber de Petro (latim vulgar) Como resultado desses traços acima. Hominem Deus diligit. (fato). as formas simples substituídas por formas perifrásticas: cantabo>cantare habeo. nos verbos. mediante advérbios magis (na Península Ibérica e na Romênia) e plus (na Gália e na Itália) antepostos ao adjetivo. A forma passiva sintética do comparativo e superlativo do latim clássico desapareceu. havia liberdade de colocação das palavras na frase. Muitas dessas características apresentadas foram herdadas nas línguas românicas. São documentos públicos. testamentos. falada a princípio na região noroeste da Península Ibérica e levada. A Pedro Gonçalves. et meum lectum cum almuzala et cum mea manta nova. documentos escritos em latim bárbaro atestam a existência de palavras e expressões do romanço galaico‐português. completo e com tudo o que lhe pertence. estropiado. mālum (maçã) b) Monotongação de æ e œ: cælum> céu. conelio (coelho. A Maria. Souto. a) Generalização do acento de intensidade e perda da oposição quantitativa das vogais: regină (nom. para o sul. Até o fim do período imperial. leis forais. doações. contratos de compra e venda e também documentos jurídicos. I capra et II quartarios de pan et I arca et I telega de pan in quocumque anno. mas. Nessa época. posteriormente. como cartas. algumas das principais mudanças que ocorreram no latim falado à época do Império estendem‐se às demais línguas românicas. Ismael Coutinho e Carolina Michäelis. Diversos autores. e bem assim o meu leito com a coberta e a minha manta nova. apenas falado: estrata (estrada. localizada em Braga. meu abade. Ad gafos de Vimarais et de Bragaa et de Barcelos singulas telegas. Vejamos um testamento escrito em 1177. como Leite de Vasconcelos. meum abbatem. A Maria Plágia deixo 1 ovelha e uma cabra com a sua cria. Ad Sanctum Martinum de Candaosu II morabitinos de hereditate de Portela de Lectões. Guimarães.) > regina (rainha). todos escritos em cartórios. numa forma pseudolatina. em que Dona Urraca Pedro deixa alguns bens à Igreja do antigo Mosteiro de São Salvador do Souto. mistura de formulários tabeliônicos com locuções e vocábulos do romanço. pretensiosamente gramatical. na verdade. Ordeno que Pedro Pelágio viva até à morte nas próprias casas em que mora. 1 ovelha. Ad Mariam Pelagiz I ovelia. o latim falado no Oeste da Península Ibérica conhece as evoluções gerais do mundo romano. deixo 1 ovelha e 1 cabra. Urraca Pedro. lat. inquirições sobre propriedades. Martinho de Candosa 2 morabitinos ( antiga moeda gótica) da herança da Portela de Leitões. Acentuaram‐se as características distintivas dos romances peninsulares: a) Algumas das principais transformações do latim imperial da península ibérica aos falares românicos. lat.) reginā (abl. outras são exclusivas do português. ovicula). c) Síncope das vogais mediais (tendência a evitar proparoxítonas): ocŭlum>oclu= olho. no qual morou Mendo Luz. Ad Petrum Gunsalviz. inorgânico. donec habeat virum. . A S. Aos gafos (leprosos) de Guimarães. Mando ut Petrus Pelagiz teneat in vita sua ipsas casas in quibus morat. Do ponto de vista linguístico. mălum (mal). e 1 cabra e 2 quarteiros de pão ( cerca de 32 alqueires) e 1 arca e 1 teiga de pão todos os anos. Em português de hoje: Eu. filha de Pedro Calvo. in quo moravit Menendus Luz. língua corrente. calĭdum > caldu = caldo. ovelia (ovelha. lat. artigulo (artigo. depois. lego ao mosteiro de São Salvador do Souto o meu corpo e o meu próprio casal. tabelionário. naquele latim bárbaro. Mando ego Horraca Petri meum corpus ad monasterium Sancti Salvatoris de Sauto et ipsum meum casalem de Rial integrum cum omnibus que ad illum pertinent. vai adquirindo características próprias. de Braga e de Barcelos deixo 1 teiga (antiga medida de cereais) a cada. e voc. via). até que se case. com o movimento da Reconquista. I ovelia et I capra. estabelecem o século IX como o estágio de definição do romanço galaico‐português. cuniculum). lat articulum). e. . c. hodie (hoje). p. ŏ (port. essencialmente falada ao longo dos séculos nas diferentes regiões do Império Romano. explicando se as afirmativas são verdadeiras ou falsas e justifique sua resposta. teneo (tenho). ge. questiona‐se: a. 4) Escolha duas alternativas abaixo. nos territórios ocupados por Roma. Em que se distinguia do latim literário? 2) Apresente evidências lexicais que confirmem a afirmação: “É no latim vulgar que têm origem as línguas românicas”.>it. centum (cento > cem). filium (filho). d) Consonantização de semivogais latinas I e U: iocu > jogo. rŭssĕum (roxo) g) Queda do n antes de s: ansa (asa) h) Evolução do grupo consonantal ci (port. − O período de abrangência.>ch): nocte > *noyte > noite (português) e > noche (castelhano) j) Ditongação/não ditongação de ĕ. ci. 3) Quais as ações dos romanos para impor sua cultura e sua língua aos territórios conquistados? Cite duas delas. e. − O aspecto cultural. 6) Explique a origem do morfema “a” como característica do feminino em português. 5) Explique de que modo a Reconquista contribuiu para a expansão do galego‐português em território português. > eu. As características distintivas dos romances se acentuaram de maneira mais acentuada durante o domínio dos árabes. pretium (preço). gi. como também lingüisticamente. focalizando: − O aspecto lingüístico. o. d. Os árabes conseguiram dominar a Península Ibérica não só politicamente. Quando os bárbaros invadiram a Península Ibérica. platea (praça) . a. b. uacca > vaca e) Sonorização das consoantes surdas: lŭpu > lobo (influência dos germânicos). ss: ciuitātem (cidade). (CARDEIRA 2006. cast. ni. Durante as conquistas. Podemos afirmar que o Latim Clássico e o Latim Vulgar eram duas línguas distintas. 7) Fale sobre a invasão dos árabes na Península Ibérica. cast. f) Palatalização dos grupos ce. seniorem (senhor). regina (rainha).>lh. impuseram sua língua como oficial da região. facio (faço). frigidum (frio). cast. uo) EXERCÍCIOS 1) Sabe‐se que o chamado latim vulgar era uma língua viva. De que maneira podemos conhecer esse latim? b. − A relação dos mouros com os peninsulares. le. >j): auricŭla> orec’la> orelha (português) e >oreja (castelhano) i) Evolução do grupo ct (port. 21). vídeo (vejo). spongia (esponja). ly. a língua latina foi imediatamente adotada pelos vencidos. No período iniciado a partir do século V. UNIDADE II O GALEGO-PORTUGUÊS AO PORTUGUÊS MODERNO: origens. que trazem consigo o galego‐português. ocorre a grande diferenciação do latim na multiciplicidade de falares. (Afonso I). . A expansão territorial amplia‐se em direção ao sul com a Tomada de Faro. os Romanços (ou romances). Portugal vai estendendo os limites do reino de Portugal através de lutas contra os árabes. incluindo o Português. características e expansão Os fatos históricos Após a batalha de São Mamede. A capital do reino se desloca de Guimarães. A partir do início do século IX. 1255). define‐se a fronteira ao norte e o reino português separa‐se da Galiza. fixam‐se os limites atuais de Portugal. Esse fato tornou bastante inovadora a variedade do latim vulgar levado para o noroeste da Península. para Coimbra (libertada em 1064) até fixar‐se em Lisboa (Afonso III. denominação dada aos idiomas de transição entre o latim e as línguas românicas. os territórios ocupados passam a ser habitados por colonos do norte. Dom Afonso Henriques proclama‐se como primeiro rei de Portugal. À medida que o território português se desenvolve em direção ao sul. Aclamação de Afonso Henriques Na Península Ibérica. conhecido como latim Lusitânico. vocábulos das diferentes línguas preexistentes ao latim incorporaram‐se ao vocabulário latino. termos germânicos e árabes incorporaram‐se ao vocabulário latino. 1249 e. finalmente. com a conquista do Algarve. autores galegos e portugueses e até leoneses e castelhanos. Vejamos. Descoberto em 1878. há composições de todos os gêneros. Entre as suas 1. • Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa (antigo Colocci‐Brancuti) – copiado na Itália. fixou os limites atuais de Portugal. quando a chancelaria régia adota o português como língua escrita. por vezes com traços populares. há composições de todos os gêneros. Ao se separar da Galiza. rei de Castela e de Leão a partir de 1252. Nos cancioneiros. mais antigo códice de poesia profana. Em galego‐português são escritos os primeiros documentos oficiais e textos literários não latinos da região. Dinis. na biblioteca do conde Paulo Brancutti do Cagli. o sábio (1221‐1284). IX. Outros documentos dão testemunho como o Testamento de Afonso II e a Notícia de Torto. em peças de utilidades. fato explicável por serem desertas as terras reconquistadas e repovoadas por colonos vindos da Galiza. onde se encontra desde 1924. A poesia lírica floresce entre finais do século XIII a meados do século XIV. em Ancona. provavelmente nos primeiros anos do século XVI. ou em monumentos. também conhecido como galaico‐português ou português antigo. muitos apresentam influência de línguas do norte (leonês). Simultaneamente ao avanço dos cristãos para o sul. Cantigas d’escarnho e de maldizer – poemas satíricos. . foi adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa. Portugal foi estendendo os seus limites através de lutas contra os árabes e. Cancioneiro da Ajuda ‐. escritas numa língua complexa baseada nos falares da Galiza e no norte de Portugal: presença de arcaísmos. são inspiradas nas muwaššahas. as cantigas foram conservadas em compilações. as poesias coletadas encontram‐se em três categorias: Cantigas d’amigo – poemas de amor. O romanço galego‐português. além das cantigas de Santa Maria: • Cancioneiro da Ajuda – organizado ao tempo dos trovadores (copiado em fins do século XIII ou princípios do século XIV‐ na época ainda não havia imprensa). de frequente inspiração provençal. além de testamentos. • Cancioneiro da Vaticana – copiado na Itália. documentos. vem se efetivar com a expulsão dos mouros em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o país. poemas dos séculos XI e XII. Encontra‐se na Biblioteca da Ajuda. Trazem uma língua mais espontânea e diversificada que a dos Cancioneiros. Os documentos no português antigo começam a surgir por volta do século XIII. como os cancioneiros (coletâneas de poemas medievais). começando o processo de diferenciação do português em relação ao galego‐português. em que fala a mulher. não raro extremamente grosseiros. quase todas são de amor. As primeiras palavras portuguesas surgem por volta do séc. escritos em hebraico ou em árabe. nos quais é o homem quem fala e.664 cantigas.205 cantigas. consolidou‐se como língua falada e escrita da Lusitânia. no início do reinado de D. que começou com a independência de Portugal (1185). Escritas em galego‐ português. finalmente. de 1214. provavelmente nos primeiros anos do século XVI. em Lisboa. Entre as suas 1. O galego absorvido pela unidade castelhana e o português tornando‐se língua nacional de Portugal. menos rico quanto ao número de textos conservados. foros. A separação entre o galego e o português. Das suas 310 cantigas. os dialetos do norte interagem com os dialetos moçárabes do sul. • Cantigas de Santa Maria – de Afonso X. títulos de venda. com a conquista do Algarve. Cantigas d’amor – poemas mais eruditos. mia senhor branca e vermelha. recordar quando vos eu vi em saia! Mao dia que me levantei. é considerada um dos mais antigo texto escritos em galego‐português (1189 ou 1198). apelidada "A Ribeirinha". e ben vos semelha E. E. viu a mais bela). Maria Paes Ribeiro. "No mundo nom me sei parelha. de precioso de vós ouve nem ei valia d'ua correa". / quereis que eu vos descreva (retrate) / quanto eu vos vi sem manto (saia: roupa íntima) / Maldito dia! me levantei / que não vos vi feia (ou seja. o primeiro documento real datado e escrito em português. Aqui significa de valioso. de Paio Soares de Taveirós de Paio Soares de Taveirós. Parelha: do latim paricula (coisa alguma.. amante do rei D. Foi dedicada a D. Pertence ao Cancioneiro da Ajuda. mia senhor. Afonso II Vejamos a seguir o Testamento de d. Sancho I. filha de don Pai / Moniz. temporal (enquanto) ca ja moiro por vos ‐ e ai Ca: do latim quia>ca. ai / tudo me foi muito mal / e vós. semelhante) mentre me for' como me vai. O texto é de 27 de junho de 1214. . filha de don Paai Moniz. manto pois eu.. Mentre: conj. minha senhora. guarvaya: peça de vestuário. A cantiga a seguir. Afonso II (séc. Mia > mĩa>minha queredes que vos retraia Queredes> quereis.semelha: O sentido é “e a vós bem vos parece” d'aver eu por vós guarvaia. Valia d’ua Correa =sem valor No mundo ninguém se assemelha a mim / enquanto a minha vida continuar como vai / porque morro por ti e ai / minha senhora de pele alva e faces rosadas. capa. XIII). mesmo que sem valor. minha senhora. Moiro: Depoente de orio>moiro. mia senhor. Significa porque. que vos enton nom vi fea! " fea: do latim foeda não vi feia (Litote – Ele a viu linda) "E. como mimo (ou prova de amor) de vós nunca recebi / algo. desde aquele dia. des aquel di' . Muin: do latim multu>muito e vós. ai! me Senhor: senhora foi a mim muin mal. d'alfaia nunca D’alfaia – do árabe: bens de valor. a Cantiga da Ribeirinha. Retraia: latim retrahere>retrair= retratar. e bem vos parece / de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas) / pois eu. Figura 4 Testamento de D. d) conffusão entre as ggrafias (indistin nção entre i – u. g) orização do t em sono m d. EE ssi este forr/morto senn semmeel. s (intervo ocálico) e z. ch e x. P P(ri)meiram m(en)te mãd do q(ue) meu u filio infante don Sanccho q(ue) ei da raina ddona Orraca a agia meu rreino entegg(ra)m(en)tee e en paz. além do uso o da consoante nasal: razõ. O português arcaico utilizava alfab beto com lettras simples do alfabeto latiino (menos o o k) e as gem minadas ss e rr. separação e abreviação dee palavras. nas orden ns religiosas. a a saude de m mia alma e a a proe de mmia molier ra aina dona O Orraca e de me(us) filios e de m me(us) uasssalos e de to odo meu reiino fiz mia m mãda p(er) q(ue) de/po os mia mortte mia mo olier e me(u us) filios e m meu reino e mme(us) uasssalos e todaas aq(ue)lass cousas q(u ue) De(us) m mi deu en poder sten en paz e en n folgãcia. com raaras escritass etimológiccas. a grafia era essencialmente fonética. a proe: (lat. Temẽte: tem mendo mãd da: testamentto glossário glossário l ái Saude: salvaçção n: (de estare> stent) estejam sten m Molier: (lat. razzom. f) troca do nn por nh e l por lh.: consssa . n nas cortes..: barette (barrete).. Observva‐se a distinção o de sonss s e ç. con nsoante diferen nte do [š]‐ ao qual se aplica a ggrafia x: Sancho o. i) emp prego de r simples com valor d de geminado: ex. a leitura eraa feita oralm mente e os livvros eram ditado os para serem m copiados.. semin nem) semente e. c) Uso do til (~) como o sinal de nasalização das vogaais. razon. A língua era escrita p para ser ouvvida.. chus. e j – v) e) emp prego arbitrário o do y. velh ha. descendência Característiccas do galego-português No o galego‐po ortuguês. Eu rei don n Afonso peela gracia de Deus rei dde Portugal. aas cantigas erram recitadaas. E ssi filio barrõ nõ ouuerrmos. h) junçção. Para se ter uma ideia. folllicare) descanso. 1.p prode>proe) proveito tran nquilidade sem mel: (lat. A partir d da segunda m bservou‐se o estabelecim metade do sééculo XIII. a maiior filia q(uee) ouuuermos agia'o . a) Uso de ch para a affricada [tš]. decorrendo o daí grafias diferentes p para as mesm mas palavrass. terra (terra) j) emp prego do ss com m som de z: ex. o maior ffilio q(ue) ou uuer da rainna dona Orrraca agia o reino enteggram(en)te e en paz.: ch so z so oava como dz: ccozer (codzer) x so oava como ch: lluxo > luxo ç so oava como ts: p paço (patso) b) Uso da grafia das ggrafias de origeem provençal n nh e lh para o [[n] palatal e o [l] palatal só começam a ser usadas a partir de 1250 0: gaanhar. seendo san no e saluo.. temẽtee o dia de mmia morte. M Muliere) mulh her folg gãcia: (lat. oava como tch: chuva (tchuva)) ex. ob mento de certtas tradiçõess gráficas. En'o noome de Deus. poer.: smeralda. matarom d) formas terminadas em ‐eo que hoje corresponde a ‐eio ex.:creer.: uez (vez). Na morfologia e na sintaxe. aver.: creo. tela> te‐a. doer. coor c) formas verbais com terminação ‐om corresponde a ao: ex. hoje. veo. k) emprego de li por lh e ni por nh: ex. Moderno). 4. b) /dz/ ‐ prezar (hoje /z/). meestre.: sex (seis).:filia (filha). vinu> vĩ‐o.: pudiam n) como g (brando) soava o i ou o j: ex. As terminações latinas –ANU. SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL ANTIGO ANTIGO MODERNO MODERNO MANU Mão Mãos Mão Mãos PANE Pã Pães Pão Pães CORATIONE coraçõ corações Coração corações 5. quando no final do vocábulo. manu>mã‐o.: traie o) o h inicial comumente não se grafava: ex. tinha o som de eis: ex. no port. cem. feo . vidi> vi‐i. observou‐se a criação de fonemas novos do galego‐português a) /ts/ ‐ cidade. teer.: omem. ‐ANT. omilde p) eram de uso muito frequente as palavras iniciadas por grupos consonantais: ex. meo. perdiçon. faço (hoje /s/). tenio (tenho) l) emprego de e no lugar de i quando se seguia um o: ex. ‐ONE e –UNT evoluíram para –ao.: peor (pior) m) o o surdo grafava‐se u ex. esponja (hoje /ž/). lex (leis). f) /nh/ ‐ senhor. e) /lh/ ‐ filho. Ex. solo> so‐o. tenho (sem mod.: vierom. ‐ã e –ô. d) /š/ ‐ roxo (ssy. c) /dž/ ‐ gente. Da perspectiva fonética. Abundância de sequências hiáticas resultantes da síncope das oclusivas sonoras e de N e L intervocálicos. observam‐se as seguintes características a) inúmeros substantivos e adjetivos com a terminação ‐on que corresponde hoje a –ão: ex:. sse) – sem modo no port. vejo. caualgar (cavalgar) 2. praça. ‐ANE. leer. preço. spargir. star q) o x. 3. Moderno). rex (reis) r) o u representava o v no começo ou no meio da palavra: ex. coraçon b) grafia e pronúncia de vogais que hoje são craseadas: ex. manteúdo.: e começarom de fugir começou hir em pos ella outro caminho conven a buscar x) as formas tônicas dos pronomes pessoais: mi ou mim. o verbo podia estar no singular: ex. concordando com o objeto direto. ourívezes.. tribo. a infante l) flexão de número: muitos hoje invariáveis eram flexionados antigamente.: Cujo filho és? . regente. ‐or.: amades. Constituíam exceções as palavras cortês e montês.: correspondudo.: sinal sinaes cruel cruees v) quando o sujeito era um coletino no plural. aquesto ( isto). ti.: defeso ( defendido).: colheito ( colhido) coseito. : senhor (masc.. E Judas dezia a Josef que tomasse ele per servo.: al ( outra coisa).: quem vus ouve.: como se não a tivera merecida r) pleonasmos nas frases negativas: ex. ouvinte q) particípio passado da ativa. alferezes m) mudança de gênero: ex. ex. aquello ( aquilo). credes. Ex. agente.: fim. e ‐ês uniformes quanto ao gênero. ex. mar planeta e cometa eram femininos. vós. ex. si. que eram biformes: ex. coragem e linguagem eram masculinos n) tempos verbais hoje inteiramente desconhecidos ex. eles e elas podiam ter a função de objeto direto ex.e) desinência da 2ª pessoa do plural em ‐des ex.: e hi moreo grandes gentes w) infinitivo regido de preposição. devedes.: cada dia se negavam nesta casa per as irmãs solteiros e outras coisas.: ao mercador ali distante. sabudo. min ouve. ( maltratado) g) particípios em ‐eso também correspondentes aos terminados em ‐ido. maltreito.: como teve feita a petiçon o) particípios presentes no desempenho de sua função própria. mas cai no plural: ex. f) particípios verbais em ‐eito correspondentes aos terminados em ‐ido ex. após certos verbos quer transitivos quer intransitivos: ex. s) emprego da preposição para assinalar ideia de partitivo: t) passiva pronominal com agente expresso: ex.) língua português. nós. prendudo i) verbos terminados em ‐er correspondentes hoje aos terminados em ‐ir ex. ofeso ( ofendido) h) particípios em ‐udo igualmente correspondentes aos terminados em ‐ido ex. u) nomes terminados por –l‐: o l mantém‐se no singular. k) nomes terminados em ‐nte. caer j) emprego de formas pronominais hoje completamente fora de uso ex.: aquela nocte toda nenhũa irmã non dormyo. y) orações interrogativas diretas e indiretas podiam principiar pelo pronome cujo. e fem.: confunder. ex. entendudo. e ainda ele. (estando) p) e assim também se empregavam as formas: amante. a fome e a guerra que devastou a Europa. trouve (trouxe). . e viesse reinar pessoalmente em Portugal. ende (inde‐ daí. Os deslocamentos da Universidade em Lisboa (1288/1290) no eixo Lisboa‐Coimbra e.: doma (semana) ardileza (valentia) fuiza (confiança) esguardar (olhar) dultar (recear) pestinença (peste) dividos(parentes) lavrar (costurar) aficar (teimar) leixar (deixar) c) emprego de termos hoje completamente desaparecidos: ex. encerrando vários conflitos contra aquele reino. como o Mosteiro de Alcobaça e o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. em 14 de agosto de 1384. casara‐se com o rei de Castela. o português. sua única filha D. A Casa de Avis promove o surgimento de inovações sociais e culturais em Portugal. São criadas algumas instituições. o declínio das zonas rurais e o crescimento da burguesia urbana somam‐se à peste. asinha (depressa). João I. como a criação de escolas e bibliotecas. a viúva de D. Na Batalha de Aljubarrota. passou a governar o reino como regente até que um filho de D. Ao morrer D. Fernando I. mentre (enquanto). Do português Médio ao Clássico No começo do século XV. peró (porisso). Beatriz completasse 14 anos. letrados e professores nas cortes e residências dos burgueses mais ricos. descendente de Dom Afonso Henriques. o eixo do domínio da língua portuguesa. Do ponto de vista lexical. a contratação de escrivães. antes moçárabe. que desempenham importante papel cultural. o Mestre de Avis é aclamado rei de Portugal. disso). o Mestre de Avis do rei em Lisboa tornam essa região. Beatriz deveria sucedê‐lo. dando origem a uma nova dinastia. D. a depressão econômica. estende‐se a todos os ramos do pensamento. estê (esteja). D. outras mudanças ocorrem na nação portuguesa. Há necessidade de afirmação nacional e de consolidação da nova monarquia. Fernando. além da residência Figura 5 ‐D. Acontecimentos como a crise da dinastia. A linguagem vulgar. Leonor Teles. João I. ainda criança. observam‐se as particularidades a seguir: a) emprego da palavra homem com sentido de alguém b) emprego de muitos vocábulos desusados nas épocas subsequentes e hoje totalmente desaparecidos: ex. da Dinastia de Borgonha. ou seja. D. Beatriz. Isso provocou revoltas populares e apoio dos burgueses ao Mestre de Avis contra a antiga nobreza que apoiava Castela. As inovações que surgem na língua portuguesa apresentam características do sul e se constituem a norma a ser seguida e Lisboa torna‐se modelo urbano e linguístico. definitivamente em Coimbra (1537). Em consequência dos descobrimentos e das conquistas ultramarinas. o Sábio. o Navegante. João I escreveu o Leal Conselheiro e o Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sella e incentivou a expansão de Portugal e a exploração marítima. colonizando‐os no século seguinte. No final do século XIV. como consequência. Em 1415. D. Vasco da Gama chegou à Índia em 1498 e. conde de Barcelos. de origem chinesa. do Séc. kesu (queijo). durante o reinado de D. além da esfera eclesiástica. A composição das obras em língua portuguesa deixa o latim limitado a tratados de filosofia. D. novas gentes. o Livro das horas de Santa Maria. a poesia palaciana. Extinta a escola literária galego‐portuguesa. Henrique. os nobres valorizam a cultura e interessam‐se pela tradução e pela leitura de novelas de cavalaria. aconteceu a Tomada de Ceuta. e o Livro de Linhagens. e chá. Entre os séculos XIV e XVI. . A literatura passa a envolver outras áreas. filho de D. publicado pela Revista de Língua Portuguesa em 1921. a língua portuguesa deixou marcas em outros idiomas. Duarte (o Rei Eloquente. Por outro lado. de origem malaia. de dom Pedro. Figura 6 Viagens de Vasco da Gama cresceu o número de italianismos e palavras eruditas derivadas das gregas. comentado pelo filólogo Sousa da Silveira. rei Filósofo). embora os mosteiros de Santa Cruz de Coimbra e de Alcobaça ainda se mantenham como centros de cultura. kamija (camisa). paralelamente à prosa. Vejamos a seguir um trecho do Livro de Esopo. o império português de ultramar foi construído. os Salmos certos para finados. O surgimento da imprensa permitiu maior difusão e acessibilidade de livros e. aconteceu o Descobrimento do Brasil e de outras regiões em Malaca. Pedro. no japonês. Na literatura. lugares e animais exóticos. Dom João promoveu a Tradução do Novo Testamento e escreveu o Livro de Montaria. que trata da caça ao javali. Portugal passou a ser a ponte entre a Europa e a novas culturas. Seguiu‐se um período de normalização e elaboração da língua portuguesa. Além disso. como: no malaio encontram‐se as palavras kadera (de cadeira). com a Crônica Geral de Espanha (1344). Ele escreveu um pequeno tratado de teologia. a historiografia florescimento e cria‐ se o cargo de cronista‐mor do reino (Fernão Lopes). Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança. China e Japão. seu irmão. Por outro lado. redigida por ordem de Afonso X. com o Renascimento. entre outros. D. bisukettu (biscoito). teologia ou científicos. como consequência de uma crescente valorização aos modelos gregos e latinos. em 1500.XIV. Duarte. Nesse tempo. uma nova atividade poética. furasuko (frasco). tem início o desenvolvimento da prosa literária em português. estabeleceu‐se na vila marítima de Sagres para dirigir as navegações. Essas descobertas acabaram por se refletir no ingresso ao vocabulário de novos termos. os portugueses já haviam descoberto os arquipélagos de Madeira e dos Açores. a língua portuguesa recebeu influências das línguas dos locais para onde foi levada. surge na corte. o aumento da produção literária. escreveu o Livro da virtuosa benfeitoria. como jangada. no quicongo (língua da África). centrada no eixo centro‐meridional: características linguísticas arcaicas se extinguiram e mudanças linguísticas iniciadas nos séculos anteriores se concretizaram. lozo (arroz). Em 1488. No século XIV. habitante de vila. ou. E levou‐a a sua casa e mandou fazer (12) mui grande fogo e tirou a serpente do seo (11) e pose‐a (13) acerca dele e aqueentava‐(14)a o milhor (15) que ele podia. ao lado. potionis = acção de beber. como fez esta coobra (28). potione > poção (= beberagem medicinal). que deu mao galardon aaquel (29) que a livrou do perigoo da morte. bebida. Comentário (1) fremoso = fermoso. sign. dócil. (24) estoria = história. castelhanismo. por que a via assi (10) morta de frio. lat. (9) doo = dó (pena. v. A conservação do ‐l‐ intervocálico mostra que a palavra é um latinismo. (15) milhor. veendo (20) esto (21). (16) foi (= ficou). pose‐a = pô‐la. (11) seo (=seio). a contracta tão é que hoje se empregaria aqui. Em latim há o verbo potare (= beber). potio. e tomou‐a e meteu‐a no seo (11). (12) fazer. Sinu. (5) non sabia de si parte = não dava acordo de si. E o vilão. port. o radical cal‐ vê‐se em calor. vio a dita serpente muito fremosa con muitas diversas colores (8) e ouve doo (9) dela. sempre deles averemos maos merecimentos. calere = estar quente. Conta‐se que no tempo do inverno una serpente mui fremosa (1) jazia a riba (2) duna auga (3) corrente e jazia tanto (4) fria con o regelado. do lat. que non sabia de si parte. escaldar. forma antiga = melhor. pôr). inteiramente sem vontade. deitando contra ele peçonha (18) pela boca (19). ripa. (18) peçonha = veneno. cálido. talvez. a riba = à margem. (22) ataa = até. forma activa. caldeira. (2) riba < lat. preposição = por. ao pé (3) auga < lat. se algunu ben lhe fazemos. . (6) vilão < villanu. (10) assi = assim. (6) passando per (7) o dito ribeiro. aprumou‐se. do lat. potável (água potável. contrapõe‐se à ideia acima expressa por jazia e sem saber de si parte: há pouco era uma coisa inerte. levantou‐se em pee = levantou‐se. e queria‐o morder. cujo radical pot‐ se mostra no adj. En aquesta (23) estoria (24) o doutor nus (25) ensina que non devemos ajudar os maos omenes (26) quando os veemos (20) en algunus perigoos (27). Ouve (= houve) doo = teve pena. rescaldo. já mostra a sua intenção perversa. quando a serpente foi (16) bem queente (14). vio‐se poderosa e levantou‐ se em pee (17) contra o vilão. O lat. ataa (22) que a lançou fóra de casa con gran trabalho. (8) colores = cores. compaixão). camponês. bebida com veneno. ergueu‐se. auga = água. videre > veer > ver. (19) boca < lat. (13) pose (= pôs. (14) aqueentava = aquentava. (4) tanto: forma plena. e. O subst. (21) esto = isto. mas significação passiva: ser feito. (7) per. beberagem medicinal. formosu. (20) veendo = vendo. Significa margem. isto é. (17) pee (< pede) = pé. bucca. aqua. boa para beber). (23) aquesta = esta. (5) E unu vilão. fez quanto pôde. por que. agora já se levanta. observa‐se aqui o hiato ee resultante de queda de consoante intervocálica. mas a oposição entre os dois pares de fonemas continuava a manter‐se. as duas africadas /ts/ e /dz/ tinham perdido o seu elemento oclusivo inicial. quando as dentais perdem o elemento oclusivo inicial. e c antes de e e i: ex. ex. (29) aaquel = àquele.: senu>s ‐o: seio c) Encontros vocálicos provindos da queda de –d‐ nas desinências verbais (2ª pessoa do plural): amades> ama‐es>amais d) Sistema de redução das consoantes sibilantes. assim. forma normal tirada do plural homines (hómenes). Desde então. a que correspondiam os grafemas[c. Evolução fonética do português europeu do período Médio ao Clássico a) Redução do sistema das africadas. ex. b) Eliminação dos encontros vocálicos • Desenvolvimento de uma consoante entre duas vogais: Ex. constituídas por consoante dental [t] ou velar[k] e elemento vocálico palatal . e) Unificação dos substantivos singulares anteriormente em –ã‐o. periculu > perígoo > perigo.z]. Por volta de 1500.porque o seu ponto de articulação não era o mesmo. as sibilantes surdas e sonoras apicoalveolares.: sardina>sardĩ‐a>sardinha • Contração das duas vogais numa vogal única: Ex.ss] e se opunham às predorsodentais. ‐an e –on: Os nomes portugueses terminados em – ão têm origem em palavras latinas de diferentes terminações: .: paço e passo confundidos. (26) omenes = homens. ex. No sistema arcaico.a distinção torna‐se menos clara. herdadas do sistema latino eram grafadas [s. em posição intervocálica: Pre‐dorsodentais Apico‐alveolares Surdas /s/ escrito c. idênticas as do Frances.: passo Sonoras /z/ escrito z: ex. Mas o sistema evolui no sentido do desafricamento e. ex. Tínhamos. o português comum reduziu a dois os quatro fonemas. No Português Antigo. colubra. — Uma predorsodental sonora /z/. (27) Do lat. do lat. e essa redução fez‐se em favor das predorsodentais.: paço /ś/ escrito s‐ e ss.:coser No final do século XVI.ç.: credo> cre‐o>creio • Contração de uma vogal nasal e de uma vogal oral em ditongo nasal: Ex. (25) nus = nos. (28) coobra = cobra. em que as apicais eram fricativas e as dentais africadas.: cozer /ź/ escrito –s.: lana> lã‐a>lã • Contração de duas vogais orais num ditongo oral: Ex.: cozer e coser confundidos. a correspondência entre grafia e etimologia era quase sistemática. os dois fonemas seguintes: — Uma predorsodental surda /s/. . e ainda aos dialetos arcaizantes do português No teatro. Esses estudiosos – gramáticos. ainda no ano de 1536. em geral. descrito em suas características. modificando as estruturas culturais portuguesas. faz frio). foi representado o último ato de Gil Vicente (Floresta de enganos). entre o Português Médio e o Clássico. A língua já não era encarada apenas como um meio de transmitir uma mensagem. Do português Clássico ao Moderno A produção escrita ampliou a reflexão sobre a língua portuguesa. e vem juntar‐se aos documentos literários e não literários. estudado. ortógrafos e os pedagogos representam o testemunho direto para o conhecimento da língua falada. a sonora [ž] diante de uma consoante sonora (ex. também representante da literatura Figura 7 ‐ Grammatica da lingoagem portuguesa de João de Barros pré‐clássica. e morria Garcia de Resende. o que significa que se trata de duas realizações fonéticas de um único fonema. cabo e cavo g) Pronúncia chiante de s e z implosivos.: vista. Essas gramáticas trazem informações sobre a construção das palavras e das frases e servem de fontes para o estudo da língua através de informantes que refletem sobre mudanças linguísticas. Como podemos ver. tornando‐se o foco principal do Humanismo português. no português europeu normal atual. todos os s e todos os z implosivos — ou seja. Conforme Paul Teyssier. O ensino. passou a ser analisado. então. O português.: atrás. ‐anu > ‐ão ‐one > ‐om> ão – ane > ‐ã > ‐ão –udine > ‐om > ‐ão s – manu > mão s – leone > leom > leão s – cane > cã > cão s – multitudine > multidom > multidão p – manos > mãos p – leones > leões p – canes > cães p – multitudines > multidões f) Permanência da distinção entre /b/ e /v/ no português comum: bala e vala. Gramática da Língua Portuguesa (1540). A Universidade instala‐se definitivamente em Coimbra. em posição final de sílaba — são pronunciados como chiantes ([š] ou [ž]). favorecem o surgimento das primeiras gramáticas do português: a Grammatica da linguagem portuguesa de Fernão de Oliveira (1536) e a de João de Barros. que representava a transição entre a cultura e as línguas medievais e o Renascimento. estava nas mãos dos jesuítas e o desenvolvimento cultural condicionado pela censura. A regra de repartição é a seguinte: a surda [š] em final absoluta (ex.: mesmo. uma vez) ou diante de uma consoante surda (ex. em 1555. lexicógrafos. mas como objeto de estudo em si. inúmeros e importantes acontecimentos ocorreram neste momento. A realização surda ([š]) ou sonora ([ž]) da chiante é automaticamente determinada pela posição desta consoante. atrás dele). LETRAS | 77 . tinha características bastante peculiares e caracterizava‐se pela presença de lusismos no léxico. Ressalte‐se que esse bilinguismo não era encarado como traição para com o seu país. a confusão entre v e b (vós>bos. Portugal e Espanha se unem em decorrência de casamentos entre reis portugueses e princesas espanholas. vocabulários. vida>bida). O interesse dos gramáticos em fixar uma norma da língua para ser ensinada poderia representar o nacionalismo e o ideal unificador e expansionista que vigoravam em Portugal. entre eles. entre os quais bobo. de Luis de Camões (1572). em 1576. podemos citar Gil Vicente. André de Resende. em valorizá‐la e louvá‐ la como instrumento de consolidação do império. moreno. como já vimos. apesar de não fazer parte da norma. Além do interesse linguístico. a descoberta do ouro no Brasil faz com que milhares de portugueses emigrem para a colônia. A visão humanista do mundo chegou a Portugal através de Sá de Miranda. a língua entrou na sua fase clássica do período moderno: em Os Lusíadas. caudilho. a importação de produtos manufaturados. Luís de Camões. tanto na estrutura da frase quanto na morfologia. são estas que se seguem. a dominação espanhola resultou em um interesse cada vez maior na língua e literatura castelhana. Nos meados do século XV a fins do século XVII. isto é. como um traço dialetal. Essa nova visão possibilitou a criação de novos gêneros literários e a utilização da língua cada vez mais elaborada.s. Durante esse período. na morfologia e na sintaxe. Do ponto de vista linguístico e literário. do crescimento da nobreza e da alta burguesia que monopolizavam o comércio.z. mas foi durante o Renascimento que muitos empréstimos eruditos foram extraídos de obras de LETRAS | 78 . permitindo o ingresso de inúmeros vocábulos castelhanos. gado. o português já é. entre outros fatores. a valorização ao modelo clássico fez retomar‐se o modelo frasal latino. castanhola. Por outro lado. convem a saber: c. havia também o interesse em divulgar a língua. Basta citar a Ortographia da Língua Portuguesa de Nunes Leão que. em relação à subordinação e ao léxico. muitos autores portugueses são bilíngues.e isto nace de não saberem muitos a diferença que há de hũas as outras na pronunciação. Em regras que ensinam a Maneira de Escrever a Orthographia da Lingua Portuguesa (1574). entre outros. muito próximo do atual. arquétipo. A base lexical do português é. já apresentava o betacismo. pandeiro. pelo contrário. Nesse contexto. hemisfério. Diversas mudanças linguísticas ocorridas na língua podem ser encontradas em textos dos séculos XIV e XV. dicionários e gramáticas. Portugal havia se transformado em um dos mais prestigiados Estados europeus. bolero. e em que se cometem mais vícios nesta nossa linguagem. galã. No início do século XVI. inserindo inúmeros latinismos no acervo vocabular português: indômito. Magalhães de Gândavo afirma. referindo‐ se à redução do sis/tema de sibilantes do português antigo: As letras que se costumam muitas vezes trocar huas por outras. vosso>bosso. Sá de Miranda. principalmente a sintaxe. de origem latina. granizo. mas logo as despesas com tornam‐se maiores que as receitas. decorrentes dos custos em defesa império. A morfologia e a sintaxe da língua definiram‐se com as primeiras gramáticas.através de cartinhas (cartilhas). gramáticas. silêncio / seenço. Como consequência. o português é uma língua que se encontra ainda em expansão e com o padrão linguístico firmado por literatura. mas só foi definitivamente instalada em Coimbra em 1537. LETRAS | 79 . O documento designa D. É o reflexo das profundas transformações na sociedade e na mentalidade do povo lusitano. Texto: 1537 1º de março: Eu elRey ffaço saber a vos lemtes officiaes e estudantes da vniversidade dos meus estudos de Coimbra que eu ey por bem que emquanto não for elegido Reitor para Reger eses estudos segº forma dos estatutos delles ou por minha provisam tenha o dito cargo do Rector Dom garçia dalmeida noteficovollo asy e mandovos que o ajaes por Rector desa vniversidade e lhe obedeçaes em todo o que no dito cargo de Reitor toca nas cousas do Regimento e governança desa vniversidade somente porquanto no que toca aos colegios de sancta cruz entendera o padre frey bras de braga governador do dito mosteiro comprio asy posto que esto não pase pela chancelaria amRq da mota o fez em evª ao primeiro dia de março de mil bj XXX bij anos. cães e leões). áureo / ouro. há hoje no português uma série de adjetivos com radical distinto do respectivo substantivo: ocular / olho. joelho / geolho ). assim como o feminino dos adjetivos em ao. no texto seguinte. moldada pelo Renascimento. minto. a mais antiga do país. Vemos. do século XIV ao XVI.: são ‐ sã. daí por diante. b) Na morfologia do verbo. Em outros casos. digital / dedo. ex.escritores romanos. um documento de D. pouco variarão. capilar / cabelo. ardo. pelos Descobrimentos e pela Inquisição. Esse processo é responsável pela coexistência de raízes distintas para termos do mesmo campo semântico. ortografias e dicionários. o idioma nacional. c) As primeiras pessoas do tipo senco. Nesse período. ocorreu a substituição de muitos termos populares por termos eruditos (palácio / paaço. pluvial / chuva). os paradigmas simplificam‐se sob o efeito da analogia. ex. d) Os particípios passados em udo da segunda conjugação cedem lugar a ido. Rey” O português sofreu. arço são substituídas por sinto. uma série de transformações que fixaram a morfologia e a sintaxe de tal modo que. fixa‐se o modelo linguístico ‐ a norma –. em 1290. representando a expressão do sentimento de nacionalidade. O conteúdo do texto é perfeitamente inteligível. com o nome de Estudos Gerais. João III. apesar de o texto ser do século VI. A Universidade de Coimbra. formoso / fremoso. Ao final do século XVII. em vez de se partir do termo popular português correspondente. Citaremos algumas das transformações apontadas por Teyssier (1994): a) A morfologia do nome e do adjetivo absorve as consequências das evoluções fonéticas: os plurais dos nomes em ao são fixados (tipo mãos. Por esse caminho que se desenvolveu um processo de derivar palavras do latim literário. rei de Portugal. louvar / loar. menço. Dinis.: perdudo > perdido. Garcia de Almeida reitor da Universidade. foi fundada pelo rei D. ao mesmo tempo em que se torna o modelo de uma instituição social. Do período clássico ao moderno. LETRAS | 80 . o português tornou‐se instrumento de comunicação de mais de duzentos milhões de pessoas. h) O emprego do homem.: quero do pão. foram criados o Colégio dos Nobres. ampliando o interesse de autores como Luís Caetano de Lima. ta. intelectual. eficacia. O programa do Colégio dos Nobres promovia o ensino de português e das línguas modernas. f) Sao eliminadas as formas átonas dos possessivos femininos (ma. e) Plurais dos substantivos e adjetivos em ‐l. com suas riquezas agrícolas e minerais. o contato com outros povos e com outras culturas resultou em uma grande diversidade de falares. Portugal encontrava‐se dividido entre o Brasil. Com a expulsão dos jesuítas. infruencia. com as inovações tecnológicas que promoviam o avanço do conhecimento científico. O período Moderno da língua portuguesa tem início século XVIII. mas em combinação com o artigo definido e pelo que suplanta polo. desaparece i) durante o mesmo período. ex. Em Portugal. plural sois (escrito então soes). responsável pela publicação de documentos medievais importantes. promove um saber de cunho racionalista e apoia a pesquisa científica.apropriar. plural crueis (escrito cruees ou crueis). fez o português metropolitano afastar‐se do que era falado nas colônias. Além disso. a Impressão Régia. Das reformas pombalinas resultou o avanço da alfabetização. possibilitaram as reformas impostas pelo Marquês de Pombal. sa). Jerônimo Contador de Argote entre outros. cruel. entrepretar. na periodização proposta por muitos autores atuais. com o sentido do “on” Frances. por. infinito. asiáticos e americanos. a etimologia e a realidade fonética. circostancia. Diversas personalidades. como Rafael Bluteau e Luís António Figura 8 ‐ Marquês de Pombal Verney destacaram‐se pelo desenvolvimento de métodos experimentais para ensino de português e sobre seus estudos sobre a língua portuguesa. j) A volta ao latim ‐ abstinência. os Estudos Menores e a Academia Real das Ciências. encorrer. Monte Carmelo. letradura.fugitivo. ex. A transplantação para outros países. por sua vez. O tema da ortografia dividia‐se entre a tradição gráfica. pelas questões gramaticais e ortográficas. africanos. A influência francesa. o espanhol é substituído pelo francês como segunda língua de cultura. embora não tenha impedido a intercomunicação entre os falantes europeus. insensibilidade. o crescimento no número de mestres de ler e escrever. Em 1759. circonspecto. e a Europa. g) Os anafóricos em e (h)i desaparecem como palavras independentes.: sol. Madureira Feijó. sentida principalmente em Portugal. assim como o partitivo. A Academia. As duas preposições per e por reduzem‐se a uma única. a Companhia de Jesus foi expulsa de Portugal. evidente. a fundação de uma tipografia oficial. encerrando um longo período de dominação dos jesuítas no ensino. abranger. ditongo nasal que aparece em posição final nas palavras em –em ou ‐ens (ex. que tem Gonçalves Viana como um dos integrantes da comissão. O grande número de novos termos estimula a criação de uma comissão composta por representantes dos países de língua portuguesa. a partir do século XIX. Na segunda metade do século XIX. Nessa reforma desaparecem o grupo das consoantes dobradas (abbate=abade/ vacca=vaca/ allgumas=algumas/ flamma=flama) o grupo ph (pharmácia= farmácia) e alguns exageros pseudos‐etimológicos. Em 1911 o governo nomeia uma comissão para estabelecer a ortografia a usar nas publicações oficiais. Os jornais e as revistas chegam a um público cada vez mais vasto. perturbações políticas e sociais sacudiram a Europa. enquanto. que traz um panorama da nova ciência da linguística.: bem. dando início a uma série de conflitos que resultará no fim do antigo regime. No século XIX. A partir de 1880. os ingleses combatem os franceses. Intelectuais como Almeida Garret e Alexandre Herculano apoiam a revolução liberal e se empenham na difusão da literatura popular e verdadeiramente nacional. tens. ao ensino da língua portuguesa alia‐se o propósito de compreender e descrever o funcionamento da língua. ao vocabulário português integram‐se novos termos de origem latina e grega. check‐up e software). homens) b) [ ] tônico > [a] diante de consoante palatal: ex. em Estrematura. As invasões francesas provocam a fuga da corte portuguesa para o Brasil. Nem sempre o ingresso de novos termos no vocabulário é percebido como algo positivo. A língua portuguesa. correm. em registros formais. em todos os distritos foi criado um Liceu. Pronúncia uvular do /r/ forte – em Portugal. mesmo em final de sílaba no interior da palavra é pronunciado [r] (r brando de caro. ‐ [e] > [a] antes de iode ou consoante palatal a) ei ([ey]) > [ay] ditongo oral. e em ([ěŷ]) [aŷ]. já se aproximando da ortografia de hoje. Vejamos algumas delas: 1. em Portugal. Inovações fonéticas do século XIX Poucas são as inovações fonéticas na língua portuguesa. em 1807. abrangendo toda a classe média e. esses termos designam avanços tecnológicos da época (como automóvel e televisão) e termos técnicos em inglês em ramos como as ciências médicas e a informática (por exemplo. o r intervocálico é brando. Tem início uma revolução liberal para recolocar o centro da decisão política em Lisboa e instituir um regime constitucional. A partir dos séculos XIX e XX. como o trabalho de Adolfo Coelho. O crescimento do ensino e da imprensa e o crescimento econômico e demográfico trouxeram um grande empenho no estudo da língua portuguesa e na fixação e divulgação da norma culta. todos esses estudos são publicados pela Revista Lusitana. espelho ([ispalhu]). LETRAS | 81 . vejo ([važu]) 2. nas outras posições. tem. para o que foi eleita a variedade linguística falada na especialmente na Corte.: venho ([vanhu]). para uniformizar o vocabulário técnico e evitar o agravamento do fenômeno de introdução de termos diferentes para os mesmos objetos. como em carro. Em geral. em 1990. em 1837. pronunciam‐se [aŷ] e nao [ĕŷ]. Compreende: a) Lusitânia Antiga – Portugal (berço da língua portuguesa). mais ou menos distanciada em relação Provérbio guineense à norma europeia. línguas indígenas. baseando‐se no conceito de România. em Portugal. primeiro ou primero). as relações entre colonizadores portugueses e populações locais. Koca fichadu ka ta ientra moska (em Dos fatores acima citados resultam duas situações diferentes: a boca fechada não entra mosca). a quantidade de falantes portugueses que foram para um mesmo destino. LETRAS | 82 . terceira Crioulos – variedades linguísticas de entre as línguas ocidentais. em trabalho sobre a língua portuguesa no mundo. após o inglês e o castelhano. como nas palavras lei e primeiro. no período das grandes Navegações. Em outros. A língua portuguesa no mundo Como vimos anteriormente. Madeira (arquipélago descoberto oficialmente pelos portugueses em 1419‐1420) e Açores (1431 é tradicionalmente considerado como o do descobrimento). Vejamos essa classificação: Por Lusitânia – espaço geolinguístico ocupado pela língua portuguesa. O português é a oitava língua mais falada do planeta. e. é hoje avaliado entre 200 e 240 milhões de pessoas. Guiné‐Bissau. com estrutura gramatical muito simplificada que que as consequências linguísticas decorrentes da exportação do irá se complexificando à medida das português para outros territórios dependem de diferentes fatores: necessidades comunicativas de seus falantes. tornada língua oficial. Muitos países da África ainda conservam seus crioulos. c. base portuguesa com influência das É importante ainda ressaltar. a língua portuguesa foi levada a diversos continentes: Ásia. exploração. a. Moçambique. correm [corrâŷ]. no conjunto de sua unidade e variedades. conforme alerta Castro (1991). Tendências atuais da evolução • No Brasil. esses ditongos tendem a pronunciar‐se como bem [bâŷ]. e) Lusitânia Dispersa – comunidades de fala portuguesa espalhadas pelo mundo não lusófono. Silva Elia (1989). (Esperança Cardeira). Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.) influenciava na variedade do português. para o ditongo ei. b. porém. convivendo em maior ou menor grau com a língua portuguesa. os crioulos praticamente já desapareceram como o crioulo indo‐português nas costas da Índia. faz uma classificação dos países de língua portuguesa. tem [sâŷ]. conserva‐se a pronúncia de [ey] ou algumas vezes monotonga‐ se (ê): lei. África América. d) Lusitânia Perdida ‐ regiões da Ásia ou da Oceania onde já não há esperança de sobrevivência para a língua portuguesa. língua portuguesa afirma‐se. comércio etc. o interesse dos falantes em relação às regiões (colonização. Há dois aspectos a serem considerados: O mundo lusófono. 3. Línguas de emergência tornadas línguas maternas. ou seja. b) Lusitânia Nova ‐ Brasil c) Lusitânia Novíssima – cinco nações africanas constituídas em consequência do processo de “descolonização” e que adotaram o português como língua oficial: Angola. em consequência do afluxo de correntes imigratórias. o povo que fala português. suplantando as línguas nativas e a criação de crioulos de base portuguesa. b) Língua materna – é a língua de nascimento dos portugueses. aicaná ou mundé. Em decorrência desse caráter. fundador da Universidade Portuguesa (1290). nhambiquara. não encontrado em nenhuma das outras faces da Lusitânia. No Brasil. pano. Os espanhois e portugueses usavam a expressão língua geral para qualificar línguas indígenas de grande difusão numa área: quéchua (Peru. mura. nas cátedras. a LETRAS | 83 .observatorio‐lp. c) Língua oficial – adotada nos atos e documentos públicos desde o reinado de D. auaquê. Figura 9 ‐ Países de língua portuguesa Fonte: http://www. guarani (Paraguai. É traço exclusivo do falar europeu. O Professor Aryon Rodrigues distingue as línguas entre troncos (Tupi e Macro‐Jê). d) Língua nacional – falada em toda a extensão do Portugal continental e insular. século XVII). entre outras) e línguas isoladas. Apresenta grande unidade. o carajá. século XVI). e) Língua de cultura – ostenta um dos mais ricos patrimônios literários do mundo ocidental. Lusitânia Nova A língua falada no Brasil apresenta os mesmos traços sociolinguísticos que os do português europeu. na verdade falares. Em seu lugar será colocado o de língua transplantada. famílias (Caribe. com exceção de língua‐berço. Aruaque/Arauá e famílias menores ao sul do Amazonas (guaicuru. catuquina) e famílias menores ao norte do Rio Amazonas (tucano. Dinis. pouco diferem entre si. txapacura. Na época do Descobrimento. já que os chamados dialetos. tornou‐se língua padrão: é ensinada nas escolas e à que recorrem as pessoas cultas em situações formais (no púlpito. utilizada em editoriais da grande imprensa. o coaiá. os portugueses encontraram a terra brasileira povoada de tribos indígenas que falavam cerca de 350 línguas diferentes.sapo. na tribuna parlamentar ou judiciária).pt/pt Lusitânia Antiga A língua falada no português europeu apresenta os seguintes traços sociolinguísticos: a) Língua‐berço ‐ fonte de todos os falares. por algum tempo. de origem banto (Rio de Janeiro. ou amazônica (nheengatu). trazidas pelos escravos negros também foram sendo absorvidas pela língua portuguesa. falada nas áreas mais afastadas do centro administrativo da Colônia (Bahia). que servem de fato como instrumento de comunicação no cotidiano. podendo dizer‐se que abrange somente o léxico local. o Brasil recebeu novos contingentes imigratórios. Nas situações da vida cotidiana são utilizadas também LETRAS | 84 . A variedade oficial da língua assemelha‐se ao modelo europeu. em geral arcaísmos ou dialectalismos lusitanos semelhantes aos encontrados no Brasil. As línguas africanas. no ensino. principalmente após a Independência (1822). em língua geral dos negros). Minas Gerais: quimbundo). ainda. da terceira geração em diante.denominação que se firmou foi a de língua brasílica (século XVII). Amazonas e Brasília. Aos poucos. outra. Distinguiram‐se na agricultura e na criação de centros urbanos. espanhois e alemães. onde o português se implantou mais fortemente como língua falada. a do Norte ainda resistia na região amazônica durante o século XIX. bilíngues a princípio. ao Sul. da imprensa. Mato Grosso. permaneceram inicialmente no Rio de Janeiro. para designar a língua popular. sobretudo italianos. alemães. vão se tornando falantes do português. de procedência sudanesa (Bahia: nagô ou iorubá – que se converteu. na região de Petrópolis. Posteriormente. Os japoneses destacam‐se na agricultura. da conversa do dia‐a‐dia. ao Norte. vestígios de antigos crioulos de escravos. faladas por imigrantes. há cerca de 170 línguas índias e. Eram duas as principais correntes de afluxo africano para o Brasil: uma. e a língua geral do Norte. Castro (1991) lembra que a rigor a população brasileira não é monolíngue em português: há outras línguas europeias. à medida que se integram aos novos costumes. Ainda segundo Elia (1989:29). ao lado de numerosas línguas nativas. a aculturação entra num ritmo mais rápido e decisivo. As línguas gerais foram progressivamente sendo substituídas pelo português. que proibia o uso da língua geral nas escolas. A partir da segunda metade do século XVIII foi‐se acentuado o predomínio do idioma português. o português concorreu com as línguas dos africanos de diferentes grupos étnicos. A influência das línguas negras sobre o português de Angola e Moçambique foi muito leve. e os seguintes. que tem no português a língua das escolas. deslocaram‐se para o Sul. Paraná. à nova pátria. de 3 de maio de 1757. na imprensa e nas relações internacionais. comum a índios missionados e aculturados e não‐índios. da literatura. Os primeiros imigrantes. Nos demais países africanos de língua oficial portuguesa. processo oficializado pela “Lei do Diretório”. A do Sul deve ter desaparecido no decorrer do século XVIII. com base na língua dos índios tupis. Aryon Rodrigues salienta a existência de duas línguas gerais: a língua geral do Sul. ou Paulista (abanheenga). encontrando‐se hoje principalmente em São Paulo. originando um notável surto industrial e a plantação de vinhedos no Rio Grande do Sul. embora com alguns traços próprios. Lusitânia Novíssima Em Angola e Moçambique. Os italianos fixaram‐se em São Paulo e na serra Gaúcha. do rádio. Pará. esses imigrantes. Além da língua geral e das inúmeras línguas indígenas. do Marquês de Pombal. o português é utilizado na administração. ao sul (Santiago. É a língua de comunicação usada pelo Governo e utilizada na alfabetização de adultos. Segundo Castro (19. o crioulo da Guiné. raciais e culturais com o Brasil... Do ponto de vista de suas línguas nativas — quase todas da família banto — é uma nação plurilíngue. mas no interior a hegemonia pertence aos falares nativos. mas a necessidade de intercomunicação entre as diferentes etnias dentro do mesmo território colonial português levou à formação de um falar de intercâmbio. A língua portuguesa foi se consolidando como língua de cultura e se tornou língua oficial. no ensino e precariamente na informação escrita. é a que tem mais ligações históricas. todas ágrafas. particularmente solenes Guiné Bissau Por conta da ocupação precária na Guiné. ao norte (ilhas de S. Moçambique O português é a língua oficial falada por 25% da população. Brava). Presente em obras literárias. 60% dos moradores declaram que o português é sua língua materna. língua do colonizador. ainda ágrafa. Cabo Verde Em Cabo Verde fala‐se um crioulo que mescla o português arcaico a línguas africanas. predominando nas zonas urbanas ou urbanizadas. discursos. Os países africanos de língua oficial portuguesa apresentam as seguintes características: Angola De todas as nações africanas de expressão portuguesa. o ovibundo e o quibundo.2% a considera como língua materna. que veio a ser uma língua veicular. Vicente e Santo Antão) e o de Sotavento. é usado como forma de comunicação. há pelo menos dois grupos crioulos: o de Barlavento. ‐ um português rudimentar.línguas nacionais ou crioulos de origem portuguesa. ‐ um português regional correto mas polvilhado de modismos e regionalismos. O português é a língua oficial e a língua de ensino no país. o português é não criou raízes no solo guineense. Podem‐se encontrar diferentes níveis do seu uso: ‐ um português vernáculo falado e escrito por determinada camada culta da população. entre falantes das línguas nativas. o chacue. falado por camadas populares em determinados momentos. Em 1983. Fogo. Essa convivência com línguas locais vem causando um distanciamento entre o português regional desses países e a língua portuguesa falada na Europa. a situação normal do falante guineense é o ser bilíngue: fala a sua língua materna e fala o LETRAS | 85 . O português. aproximando‐se em muitos casos do português falado no Brasil. como ‘língua veicular”. Segundo Elia. mas maioria da população fala línguas do grupo banto. revistas. espécie de denominador comum entre várias dessas línguas. Há uma predominância de línguas nativas. mas apenas 1. A língua oficial convive com o bacongo. outrora bastante numerosos. o porrtuguês foi largamente utilizado no os portos daa Índia e su udeste da Ásia. por opeu. na Malásia. território sob adm ministração porttuguesa até 1975. éé a mais falad da. on nde dentre aas línguas esttrangeiras. Lusitânia Peerdida Nos sécculos XVI e XVII. como línguaa oficial e dee instrução. de Macau. São Tomé e Príncipe A maio oria da popu ulação fala as a línguas lo ocais forro e e moncó. aléém de línguaas de Angola. Um ma minoria faala e escreve o portuguêss. como exemplo. possessão portuguessa até 1961. • no eestado indiano de Goa. Lusitânia Diispersa pós a fase co Ap olonizadora d das Grandes Navegaçõess. Á entretanto atualmente ele só sobreevive na sua fforma padrão em alguns pontos isolaados: • em Macau. na Índia. o ao lado o do chinês. o idioma português p dispersou‐se pelo mundo o não lusófo ono. Jaipur e Diu. territó ório chinês sob administração o portuguesa até 1999. com a miggração da forrça de traballho portugueesa. na Indonéssia (em algum mas des ou regiões há tambéém grupos qu dessas cidad ue utilizam o o português).crioulo. do Timor. e de Java. 11 1% o português e o restantee inúmeras líínguas africaanas. • no TTimor leste. mas só é uttilizado pela adm ministração e falado por uma parte minoritária da populaçãão. do Sri‐Lankka. os crioulos d Do da Ásia e Oceeania. subsistem aapenas os de e Damão.. A lín ngua local é o teetum. O po ortuguês é umaa das línguas oficiais. Agora é com Faça um ma paráfrasee do texto segguinte: você LETRAS | 86 6 . 4 44% da popu ulação fala um crioulo. de Málaaca. Em 1983. americano ou euro o a França. quando foi invadido e aneexado ilegalmen nte pela Indonéésia. O português existe em siituação de bilinguismo (ssem falantess exclusivos). on nde vem sendo o substituído peelo konkani (lín ngua oficial) e p pelo inglêês. mas umaa parcela da pop pulação dominaa o português. E casou a filha mayor com o duque de Cornoalha. Mas ella. LETRAS | 87 . 8) Explique o conceito de línguas crioulas. com exemplos.LENDA DO REI LEIR Este rrey Leyr nõ ouue filho. filharom‐lhe seus gemrros a terra e foy mallandamte e ouue a tornar aa merçee delrrey de Framça e de sa filha. disse a outra que o amaua tanto como ssy meesma. E elle quis‐lhe mall por em e por esto nõ lhe quis dar parte no rreyno. e nom curou da meor. que o amaua tanto como deue d’amar filha a padre. 2) Como explicar a origem do plural dos nomes em –ão em língua portuguesa? 3) Qual a importância de Luís de Verney e Rafael Bluteau para o estudo da língua portuguesa? 4) Qual o principal interesse dos estudos sobre a língua portuguesa no século XVII? 5) Qual a maior contribuição da dinastia dos Avis para a língua portuguesa? 6) Cite. e casou a outra com rrey de Scocia. mas ouue tres filhas muy fermosas e amaua‐as mujto. casou‐ sse melhor que neẽhuũa das outras. Disse a mayor que nõ auia cousa no mumdo que tãto amasse como elle. e disse a terçeira. duas principais inovações lingüísticas no galego‐português. E elles receberõ‐no muy beẽ derom‐lhe todas as cousas que lhe forom mester e homrrarõ‐no. a que nõ quis dar parte do rreyno. E depois seu padre della. E huũ dia ouuve sas rrazõoes com ellas e disse‐lhes que lhe dissessem uerdade quall dellas o amaua mais. em sa velhice. mentre foy uiuo e merreo em seu poder. 1) Reveja as características linguísticas do texto anterior e aponte a que período da língua ele pertence. 7) Fale sobre os objetivos portugueses para empreender as grandes navegações. por sua vemtujra. que era a meor. 9) Discuta a influência do português 10) Pesquise e fale sobre a situação atual do português no mundo. a meor. ca se pagou della elrrey de Framça e filhou‐a por molher. com a fundação de São Paulo. começou a entrada para o interior. e posteriormente Rio de Janeiro preencheram apenas as funções políticas e administrativas. tanto entre o português e as línguas indígenas quanto entre as línguas africanas. b) a estrutura social da comunidade falante do português no Brasil. Além disso. d) o papel desempenhado pelos agentes promotores da normativização linguística. devido à grande extensão territorial. De início. sintático e lexical (Guy. as classes trabalhadoras e a [população]rural e urbana de classes baixas que falam as variedades não padrão. No século XVII. completamente distinta da de Portugal. destacando‐se a figura dos primeiros colonizadores. o que é previsível. num determinado lugar.79). a fim de caracterizar o comportamento linguístico dos portugueses e de seus descendentes e o dos aloglotas. p. o português popular do Brasil. No momento atual. 1995). tomando posse em nome do rei D. No entanto. desde as primeiras manifestações sobre a natureza da língua do Brasil. no Brasil. o Brasil permaneceu um país essencialmente rural: suas capitais. inúmeras polêmicas sobre a existência ou não de uma nova língua. já que o país não tinha universidade nem topografia. A língua portuguesa transplantada para o Brasil no século XVI foi aos poucos assumindo uma feição peculiar face ao português de Portugal. é consenso entre os estudiosos da língua portuguesa que a diferença linguística em função da classe social é mais evidente que a variação dialetal. mas a colonização só começa em1532 com a atribuição das 15 capitanias hereditárias. só o litoral é colonizado. isto é. favorecendo o surgimento de estudos que focalizam principalmente os tópicos: a) a transplantação do português para o Brasil. A feição peculiar que a língua portuguesa vem adquirindo em relação ao português europeu tem provocado. ainda no século XIX. Pedro Álvares Cabral chega às costas do Brasil. investiga‐se a possível formação de pidgins e crioulos. c) o contato linguístico. LETRAS | 88 . o país apresenta diversidade em relação a dialetos regionais e diferenças urbano‐rurais. o estado de Minas Gerais foi ocupado.” Quando se comparam o dialeto padrão das classes média e alta com o dialeto popular de falantes das classes trabalhadoras e as de classe mais baixa em uma única cidade brasileira. Durante o período colonial. percebe‐se que são encontradas fortes diferenças nos níveis fonológico. que ressalta: “As diferenças na maneira de falar são maiores. para determinar quem foram e qual a região de Portugal de que vieram. Manuel de Portugal. enquanto os falantes do padrão culto são minoria. UNIDADE III O PORTUGUÊS NO BRASIL A 22 de Abril de 1500. Além disso. entre um homem culto e o vizinho analfabeto que entre dois brasileiros do mesmo nível cultural originários de duas regiões distantes uma da outra. devido à exploração do ouro. especialmente a escola. formam a maioria. Salvador. já que intelectual e culturalmente seu papel era limitado. Esse é o pensamento de Teyssier (1994. como o espanhol. Castilho (1992) destaca a existência de alguns fenômenos fonéticos que apontam para uma suposta predominância do português meridional. De acordo com Teyssier (1994). Atualmente distribuem‐se em dois troncos (Tupi e Macro‐Jê) e em diversas famílias (Caribe. quanto pela concorrência de outras línguas europeias. habitantes do litoral. permitindo o surgimento cada vez maior de núcleos em que se praticava a criação do gado de corte. mais de um milhão deles que apresentavam. que não reflete a diversidade desses povos. 1988) Outros defendem a predominância de falares do Sul (ANTENOR NASCENTES). tanto por causa da indianização do colonizador português. outros núcleos são formados com a descoberta do ouro nas Minas Gerais e a ação dos bandeirantes (TEYSSIER. APUD ELIA:1989). SILVA NETO. foi aumentando a penetração em direção ao interior. vindos de todas as regiões da metrópole. foram os que mais conviveram com os brancos. algo em torno de 350 línguas diferentes. uma espécie de segunda língua para os não tupis. Finalmente. o francês e o holandês (Villalta. bem mais complexas que o tupi e conservadas por muitos deles. 1997). Os tupis. Eles falavam principalmente o tupi. das províncias ou dos campos foi crescendo. os portugueses encontraram a terra povoada de índios. os colonos portugueses elaboraram uma koiné por eliminação de todos os traços marcados dos falares portugueses do Norte e por generalização das maneiras não marcadas do Centro‐Sul Os índios Na chegada ao Brasil. ao chegarem ao Brasil. famílias menores ao sul e ao norte do Amazonas) (RODRIGUES. com a implantação das capitanias hereditárias. Esses últimos eram conhecidos como Tapuias ou Nheengaíbas (língua ruim). E alerta para a existência de fortes evidências demográficas e linguísticas sustentando a influência açoriana no povoamento de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. do ponto de vista linguístico. 1988). Muitos estudiosos consideram que a língua falada pelos colonizadores era uma língua comum. o que tem contribuído para rejeitar a hipótese meridionalista. O processo de colonização do Brasil se deu efetivamente a partir de 1532. com a devastação das matas litorâneas para produzir cana‐de‐açúcar e extrair lenha. denominados genericamente de Tupinambás. desde as décadas iniciais do século XVI. 1994. sem predomínio de um falar regional (SILVA NETO. em que quase ficou relegada ao esquecimento. que ocorreu depois de 1550. Aruaque/Arauá. CASTRO. 1991. LETRAS | 89 . iniciando‐se pelo litoral. mas afirma que foi constatada em Portugal a irradiação de falares meridionais. Eram línguas travadas. nivelada por fatos históricos. Posteriormente. A transplantação: os portugueses A língua portuguesa percorreu um caminho longo. uma grande diversidade. O número de colonizadores que se transportavam para o novo continente. denominação atribuída pelos jesuítas. A comunicação entre as diversas tribos era feita através de uma espécie de língua franca. a do Sul. proibindo o uso da língua geral e obrigando o uso oficial da língua portuguesa. A descoberta do ouro nas Minas Gerais favoreceu o desenvolvimento da vida urbana. Castilho (1992) aponta como uma das causas dessa substituição a extrema fragmentação do quadro linguístico. é fundamental o estudo de Aryon Rodrigues (1986: 99‐109). Surgiu então a expressão língua geral1. apresenta uma caracterização diatópica e diacrônica das línguas gerais. onde sofreu uma evolução.107). em contraste com a economia açucareira. “fácil. a dificuldade está em ter muitas composições” (RODRIGUES. e mesmo usada por grupos falantes de outros idiomas.. provocou a intensificação das correntes migratórias. sobretudo. enquanto na costa. Teyssier (1994) acrescenta outras causas para a decadência da língua geral: • A chegada de imigrantes portugueses. a paulista e a amazônica (MATTOS E SILVA. tanto externa quanto internamente. A língua geral predominava. em que. Aryon Rodrigues (apud ELIA. O tupi era utilizado pelos bandeirantes. heterogeneidade que se tornará mais complexa ao longo da diacronia da colonização(. fixada em catecismos. com precisão. em 17 de agosto de 1758.1977. se estenderam. penalidades que variavam de acordo com o grupo social a que pertenciam. 286) LETRAS | 90 . o português se impunha. de base tupi. em 1759. a todo o Brasil. O tupi dos jesuítas. que se implantou no Norte do Brasil. mas para os jesuítas. a língua geral perdia seus principais protetores. p. • O Diretório do Marquês de Pombal. As decisões do Diretório se aplicaram primeiro ao Pará e ao Maranhão e. é conhecida como nheengatu. 1983. um tupi simplificado. 1975). que passou a ser encarada pelos conquistadores como “invenção verdadeiramente abominável e diabólica”. e. O alvará do Marquês de Pombal proibia o uso da língua geral.. p. os jesuítas procuraram aprender o tupi. despojado de seus traços fonológicos e gramaticais mais típicos. e copiosa. 1997). que serviu de veículo escrito à literatura. em São Paulo e no Amazonas. Os contatos iniciais dos mercadores e exploradores com os gentios ocorriam através de “um jargão de base tupi”. ainda. Por considerarem que a variedade de línguas impedia a conversão. Para a compreensão do que se chama genericamente língua geral. Essa língua foi estudada. 1989) aponta para a existência de duas línguas gerais: a língua geral do Sul (ou paulista) e a língua geral do Norte (ou amazônica). a pregação deveria ser feita na língua daquele a converter (ROSA. 1 A denominação..23). p. e elegante. Com a expulsão dos jesuítas. pelas famílias de portugueses e índios. decidia que tipos de penalidades deveriam ser aplicados aos que permanecessem falando a língua geral. Progressivamente as línguas gerais foram sendo substituídas pelo português.). • A expulsão dos Jesuítas. que indicava a língua de uso mais extenso numa região. ensinado nas escolas. caracterizada pelo isolamento rural (PESSOA. “para se adaptar à consciência linguística dos brancos (CÂMARA JR. em seguida. e que durante muito tempo viveu lado a lado com a língua portuguesa. genérica e no singular recobre uma grande diversidade. dicionários e gramáticas e institucionalizada como língua de contato entre colonizadores e índios. e suave. já no plural. conforme alerta Mattos e Silva: só podemos idealizar essa língua geral como heterogênea desde o século XVI. abanheenga Até o século XVIII ocorreu uma situação de bilinguismo e um número maior de indígenas. 2001. ). ‐mirim. Zema. representados pelos Moçambiques. aragonês. LETRAS | 91 . (1975) considera que as contribuições que o tupi missionário trouxe para o português do Brasil restringem‐se a empréstimos lexicais que se adaptaram à fonologia e à gramática portuguesa. originados principalmente da Guiné. Também simplificações na morfologia nominal e verbal portuguesa são atribuídas por alguns autores aos indígenas e por outros. são apontados pelos africanistas como influência dos escravos. pelos Tapa. c) bantos do grupo angola (Cassabges. b) muçulmanos ou malês. Pessoa (1997. Ijêsha etc. ocorre também em francês. em menor número. As terminações –açu. Dembos). essa influência parece ter‐se exercido mais em extensão do que em intensidade. aos africanos. Pernambuco e Alagoas. baseando‐se em Ventura. Segundo as autoras. d) bantos da Costa Oriental. Inbangalas. em Portugal. Castilho (1992) indica. italiano central e meridional. ‐guaçu. Câmara Jr. apresentados como prova pelos tupinólogos. provençal. Minas Gerais. já que não conseguem alterar a constituição morfológica e fonética da palavra a que se unem. Maranhão. galego.(sinhô). e os sudaneses ‐ que se estabeleceram principalmente na Bahia. Tais fenômenos podem obedecer simplesmente a tendências latentes na língua tronco ou tratar‐se de arcaísmos e traços dialetais conservados só em algum rincão pouco estudado ainda em Portugal. já que alguns fenômenos de pronúncia ou de sintaxe. como sufixos tupis. 18 milhões de escravos negros vindos para o Brasil. de origem tupi. em dialetos crioulos portugueses. e que muitos se encontram em línguas e dialetos românicos europeus. Gurunsi. a exemplo de Ismael Coutinho (1974). etc. entre 1538 e 1855. Timim. Bengalas. que consideram a influência do tupi na fala brasileira foi exagerada em demasia. classificadas por alguns autores. São Paulo. que desde o início foram trazidos ao Brasil. sendo portanto o seu papel o de simples adjetivos: mesa‐açu ‘mesa grande’. Agni. andaluz. e. • ieísmo (famiya) – ocorre no francês. Costa da Mina. representados sobretudo pelos Peuhls. Para Elia (1989a Lei do Diretório apenas acelerou um processo que já se manifestava irreversível. classifica os grupos linguísticos que ingressaram no Brasil no período da escravidão em: a) sudaneses. entre outros. pelo grupo Fanti‐Ashanti. integrantes de duas culturas: ‐ os bantos fixaram‐se no Rio de Janeiro. oriundos do norte de Benin. e pelos grupos de Kroumans . chamado à época colonial Mina. E exemplificam: • O ensurdecimento e queda do r final de palavra na língua popular de todo o Brasil e no Nordeste. na opinião de Chaves de Melo (1981:64) não podem ser assim consideradas. • nasalação de qualquer vogal tônica seguida de m ou n que não trava sílaba (fãma por fama) – ocorria no português arcaico e conserva‐se em alguns dialetos peninsulares. pelos Congos ou Cabindas e pelos Benguela. Bornu. • redução de nd a n nos gerúndios ( assobiano) – efetuou‐se no catalão antigo. o português concorreu com as línguas dos africanos de diferentes grupos étnicos. Os negro Além das línguas gerais e das inúmeras línguas indígenas. representados pelos Yoruba (Nagô. p. Semelhante ponto de vista têm Cuesta e Luz (1983).43). ” Naro (1993. para o Nordeste. pelo fato de já existirem outras línguas gerais de bases não europeias. Segundo Castro.. adquiriam conhecimentos da língua geral ou do português. LETRAS | 92 . adaptando‐se a esse idioma sob a forma de um falar crioulo.67). Com o decréscimo da população negra provocado em parte pelo o fim do contrabando de escravos e em outra. embora os falares do tipo quimbundo tenham sido os mais difundidos no Sul do país. onde os nagôs assumiram a liderança cultural. os boçais.441) descarta a existência de uma língua pidgin ou crioula de base lexical portuguesa associada predominantemente com a etnia afro‐brasileira ou ameríndia. as maiores levas de escravos desembarcados no Brasil ocorreram durante os séculos XVI e XVII. Entre eles. Conforme Rodrigues (1983). p. a alta taxa de mortalidade dos negros. 1983). que necessitavam aprender para falar com os seus senhores. a diferença entre a língua geral indígena e a geral africana é que a primeira foi criada pelos jesuítas. e outros falavam um pidgin de base portuguesa que aprendiam na costa da África. O uso dos falares africanos foi gradativamente perdendo terreno pela expansão da língua portuguesa. impusesse às demais os seus traços culturais. no Rio de Janeiro e em Minas. ou com os negros crioulos. Para Sílvio Elia (1989. como os rituais religiosos. com maior ou menor dificuldade. a configuração étnica do Brasil começa a mudar. e na primeira metade do século XIX até 1850. e a última foi criada por eles mesmos. Os portugueses procuravam misturar grupos dialetais diferentes. A esse “dialeto das senzalas” teria sucedido um ‘dialeto português rural’. Dessa forma buscavam mantê‐los submissos e forçavam‐nos a aprender a língua portuguesa. para. as línguas banto tiveram grande importância na formação. uma espécie de koiné. Os primeiros africanos que vieram ao Brasil apresentavam grande complexidade linguística (RODRIGUES. desaparecendo a estrutura morfológica do banto. na Bahia e o quimbundo. tenham influenciado no desenvolvimento do português brasileiro”. não chegaram a constituir uma língua geral africana com base quimbundo. face aos maltratos e doenças a que eram submetidos. após o século XVII. com a descoberta do ouro.. cânticos. danças populares. uns não falavam o português. Para alguns autores. Segundo Pessoa (1997. a importação é cerca de três vezes maior do que nos primeiros séculos. com o aumento do aportuguesamento dos africanos e da entrada de africanismos no português. através da diversidade étnica e linguística. p. a partir de quando o tráfico é definitivamente proibido. p.26). restringindo‐se aos domínios especializados. Desse contato. Isso se deu ao Norte. Ao desembarcarem. mas considera possível que a “pidginização em si. de um ‘dialeto das senzalas’. impedir que se unissem. que não se entendessem. foram duas línguas principais adotadas como gerais: o nagô ou iorubá. com os mestiços. pelo prestígio. estima‐se que aproximadamente 300 palavras africanas ingressaram ao léxico da língua portuguesa no Brasil. no século XVIII. particularmente a língua. por falta de uma elite negra que. Brancos e negros mantiveram um contato mais direto do que brancos e índios. vão se tornando falantes do português. Com a Independência. que tem no português a língua das escolas. passou a ser valorizado tudo o que a diferenciava da metrópole: muitos traços da oralidade e Figura 10 Visão estrangeira do cortejo real na ponte do palavras. não se deu de forma tão pacífica ou tão fácil. Para poder acolher a família real e cerca de quinze mil portugueses que fugiam da invasão francesa. Os japoneses destacam‐se na agricultura. como a abertura dos portos e a criação de novas instituições. em especial no Rio de Janeiro. na região de Petrópolis. num permanente estado de guerra cultural e linguística. contribuem para a ‘relusitanização’ do português falado no Brasil. mas custou esforços. da terceira geração em diante. da literatura. a exemplo da imprensa. a língua portuguesa começa a prevalecer sobre as demais. à medida que se integram aos novos costumes. no começo do século XIX. Os primeiros imigrantes. fatos novos. Os italianos fixaram‐se em São Paulo e na serra Gaúcha. a língua falada no Brasil “ou era muito lusitanizada nos meios brancos das grandes cidades costeiras. a chegada do príncipe regente provocou profundas mudanças políticas e sociais no Brasil. à nova pátria. segundo este autor. Paraná. originando um notável surto industrial e a plantação de vinhedos no Rio Grande do Sul. Em 1808. permaneceram inicialmente no Rio de Janeiro. Amazonas e Brasília. da conversa do dia‐a‐dia. LETRAS | 93 . alemães. Mato Grosso. e os seguintes. ou ainda sofria deficiências na aprendizagem oral que negros e índios revelavam”. Distinguiram‐se na agricultura e na criação de centros urbanos. sangue. buscando autonomia literária. que se tornou a capital do “Reino Unido do Brasil. vidas. bilíngues a princípio. Na segunda metade do século XVIII. Portugal e Algarve”. deslocaram‐se para o Sul. do rádio. Já nos século XVIII. esses imigrantes. a aculturação entra num ritmo mais rápido e decisivo. novos contingentes migratórios vieram ao Brasil. a partir da Independência. lembra Elia (1989). Aos poucos. timidamente no Primeiro Reinado e mais fluentemente no Segundo Reinado e efetivamente com a República. Ainda segundo Elia (1989:29). Pará. Os imigrantes No século XIX. a literatura romântica começou a registrar as peculiaridades do português do Brasil. antes tidos como ‘provincianismos’ e passaram a Maracanã documentados com maior frequência. Segundo Rodrigues (1983:37). encontrando‐se hoje principalmente em São Paulo. da imprensa. A “vitória” da língua portuguesa. amável. e o seguidas de uma consoante nasal: ocorre. Há também os que consideram as mudanças decorrentes da deriva. mas é consenso entre os estudiosos da língua portuguesa que a diferença linguística em função da classe social é mais evidente (CASTRO. a crioulística e a internalista: a hipótese evolucionista. p. [sów]. lhe. Ex. das tendências próprias ao sistema. apenas o timbre fechado. de. para explicar a dimensão histórica do PB (português brasileiro). o Brasil apresenta diversidade em relação a dialetos regionais e diferenças urbano‐rurais. Para explicar essas mudanças. LETRAS | 94 . Outros mostram as diferenças como originadas dos índios ou dos escravos africanos. fálu (falo) c) Proclíticos e enclíticos em ‐e — São pronunciados com [i] no Brasil. isto é. espanhois e alemães. ex. etc. a língua portuguesa foi adquirindo uma feição peculiar face ao português de Portugal. e ainda os que apontam para uma conjunção de fatores. sol e pronuncia‐se [animąw]. os pesquisadores baseiam‐se em hipóteses diferentes. a hipótese crioulística. que defende a existência de uma “língua brasileira”. ou seja. [brasiw]. A distinção entre mal (advérbio) e mau (adjetivo) desaparece. Castro (1991) lembra que a rigor a população brasileira não é monolíngue em português: há outras línguas europeias. que acentua a importância dos contactos linguísticos no Brasil‐Colônia. vestígios de antigos crioulos de escravos.: fali (fale). b) Fechamento da vogal média átona final (e>i. TEYSSIER. se. que acentua a importância da deriva. 1992. Características do português brasileiro Características fonéticas a) Em geral.: me.: cantamos com [â] no pretérito perfeito ou presente do indicativo. Diferentes teorias explicam a origem das particularidades apresentadas pelo português do Brasil. de tendências próprias ao sistema. (CASTILHO. Brasil.241). No momento atual. faladas por imigrantes. ou seja. há cerca de 170 línguas índias e. A mudança no português brasileiro Aos poucos. 1991. o>u): Ex. o que é previsível devido à grande extensão territorial. constituindo o chamado português brasileiro. ainda. 1994). que. nesse caso. sobretudo italianos. e a hipótese internalista. pela região de onde vieram. No extremo sul do país a antiga distinção ainda se mantém. resumidos por Castilho (1992) em três: a evolucionista. não existe no português do Brasil a oposição entre os timbres abertos e fechados das vogais tônicas a. te. ressaltando as semelhanças entre o português brasileiro e o português falado por habitantes do Sul de Portugal. Alguns estudiosos justificam as mudanças ocorridas pela origem dos primeiros colonos. d) Vocalização de [ł] velar‐ Escreve‐se animal.[amavęw]. mas não no português europeu atual. oraçõesinfinitivas que tem por sujeito mim e não eu (ex. pentear. a sua passagem a r. Ex. advogado. ex. pediu.: está escrevendo. Construções desse tipo são normais no português clássico. e as que pertencem a registros nitidamente vulgares e são consideradas “incorretas”. da atual norma portuguesa europeia. obisservar. ou de um e: adimirar. Essas peculiaridades podem ser classificadas em duas categorias: as que pertencem à língua normal e são vistas. vem sistematicamente ligado a eles. vorta (volta). e não “João levantou‐se”.: tio. emprego de feito no sentido de como: ex. LETRAS | 95 .: generá (general). Luís [luyš]. na frente de (a frente de). quatorze ao lado de catorze. ocorre o rotacismo. hoje. vou na cidade (a cidade). fazê (fazer). psicologia. f) A pronúncia chiante de ‐s e ‐z em final de palavras provoca.: meu carro. ou mesmo sei não. Morfologia e sintaxe Na morfologia e na sintaxe existem aspectos conservadores e os aspectos inovadores do português do Brasil. diferença. frases negativas do tipo não sei não.: Pode me dizer? e não pode‐me dizer? 2) Brasileirismo pertencentes a registros familiares ou sentidos como vulgares: a.: arto (alto). ex. h) Em algumas regiões do Brasil.: o pobre homem chorava feito uma criança. ritimo. nos grupos ti e di. o aparecimento de um iode. Quando fecha sílabas internas. as oclusivas [t] e [d] são geralmente palatalizadas. com frequência. de um gerúndio ou de um particípio. de La.(Brasil) Está a escrever. • No início de frase (Me parece que. no lugar de estar a + infinitivo. em lugar de e para eu comer). e) Emprego da locução todo o mundo ao lado de toda a gente. ritmo) são eliminados pelo aparecimento de um i. dezesseis por dezasseis. f) Emprego de em em expressões como está na janela (a janela). ou da locução pois não com valor afirmativo (— Pode me dar uma informação? — Pois não. coroné (coronel). g) Os grupos consonantais que ocorrem em certas palavras de origem erudita (ex. Esses exemplos são casos evidentes de conservadorismo. c. Ouve‐se [ty] e [dy] e mesmo [tš] e [dž] em certos locutores. pés pronunciados como atrás [atrayš]. luz. i) Em certos registros familiares e vulgares.: doutô (doutor). dito. 1) Brasileirismos pertencentes à língua normal a) Preferência pelo uso de estar + gerúndio. dezessete por dezassete.: admirar. não raro. (Portugal) b) Uso dos possessivos sem artigo: ex. me diga uma coisa) • Quando o o pronome e complemento de um infinitivo. mentiu. pegá (pegar). adivogado ou adevogado. já chegou ao Brasil (ao Brasil).: e p’ra mim comer. pés [pęyš]. b. ex. sentir. ex.) h) A colocação de pessoais átonos que o “brasileiro” se distancia. observar. ex.: atrás. pissicologia. d) Os seguintes brasileirismos são igualmente normais: conosco por conosco. te vejo. g) Emprego impessoal do verbo ter no sentido de haver. o português do Brasil tende a suprimir o r no final das palavras. c) Colocação do pronome átono em posição proclítica: Ex. “João se levantou”. como brasileiras mas “corretas”. e) Supressão do l desaparece em posição final absoluta: ex. bu uriti. molaambo. b) neollogismos: meia (abreviação dee meia dúzia) p por seis.topo onímia. estar dee tocaia. virar po or tornar‐se. minggau. molequee. Carioca. sentidos com mo “incorretos””. vaatapá. f. demonstratiivos. etc.: vi ele (vi‐o)). abará. por issso. acarajé e o quim mbundo (falado o em Angola): e ex. curumim ou culumim.). estess boi. Guanabara. co om orientações teóricas diversas. cafu uné. tem t nvolvimento de projetoss. cap pivara. Aracaju. seminárioss. qu ue têm entre e suas preocupações cen ntrais a reesccrita da histó ória da língua portuguesa. do português brasileiro. a esp pátula (Brasil) aa faca de cortarr papel ou cortaa‐papel (Portuggal). cunha. tatu. d) Vocaabulário de oriigem africana. LETRAS | 96 6 . fauna. a aeromoça (Brasil)) a hospedera (Portugal). nos n nomes e adjetivos. O vocabulárrio a) Desiignações de objjetos e noções peculiares ao m mundo moderno em seus aspeectos científicoss. No o momento atual. não conheço ela (não a conh heço). moque eca. marrca do plural. carnaúba. Outross brasileirismoss são mais marccados e. andar na pindaíba. programas e pesquisaas individuaiis e provocaado. quati. elees deve).: as casa. Quantto à flexão verbal. ela pode ser s muito simp plificada: não emprego e do futuro. t sagu ui. caadê (< que e dee) em interrogações do tipo “ccade o chapeu c) Voccabulário de origem tupi. Tijucaa. quaanto à história geral da a língua porrtuguesa ain nda não forram concluídas. do condiicional e do inffinitivo flexionaado. guri. possesssivos. Qual aa importânciaa linguística da vinda da família real p para o Brasil? Expliquue as princip pais hipótesees para expliccar as mudan nças na língu ua portuguessa no Braasil. o autocarro em Lisb boa e ônibus no o Rio de Janeiro o. ele deve e.. EXERC CÍCIOS Qual aa situação linguística do B Brasil na épo oca em que o os portugueses chegaram m? Que coonsequênciaa teve o alvarrá do Marquês de Pombaal para o uso o da língua portugguesa no Braasil? Quem eram os boççais? ma das estraatégias dos p Cite um portugueses p para impedirr rebeliões dos escravos negross. p udiosos interressados em Muitos estu m reconstruirr a história d da língua co onstataram que q tanto a hisstória do po ortuguês bra asileiro. cup pim. nos deve. algumas vindas diretamente da África e ou utras introduzid das no país pelos portuguesees: o ioruba (falado atuaalmente na Niggéria): orixá. reduçãão ao extremo do paradigma d dos tempos (eu u devo. meus amiigo. reprresentando a fllora. ex. mil cruzeiro o. cair na arataca. o terrno (Brasil) ao ffato (Portugal).: caçula. Apreseente e comente três peculiaridades d do portuguêss brasileiro faace ao portugguês europeu u. o inteeresse pela h história da lín ngua portuguesa e nela. caninana. palavraas de origem tu upi em locuçõe es . e conservá‐los apenas nos determinantes (artigo os. o desen coletivas. técnicos ou ssociais: o comboio em Porttugal e o trem n no Brasil. e. caatinga. : capim. Supresssão da ‐s. abacaxi. E o caso do eemprego das fo ormas tônicas ele(s) e ela(ss) como objeto direto em vez d das formas átonas o(s) e a(s): ex. em especial. d. Ataliba T. Gladstone Chaves. Iniciação à Filologia e à Linguística. Gregory R. Vol. Sel. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica. História da língua portuguesa: século XV e meados do século XVI. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. Ivo. São Paulo: Melhoramentos. Vol.437‐454 NUNES. 1991.pt/cvc/hlp CASTRO.E. l992. Maria Albertina Mendes da. Joaquim Mattoso. pp. O português do Brasil. 1978. . 4. de. PINTO. São Paulo: Ática. 1991. ELIA. Rio de Janeiro: Padrão. IN: Estudios sobre Espanhor de America y Linguistica Afroamericana. 1978. In http://www. CASTRO. 1983 ELIA.2 ed. Sílvio. 1995). NARO. (org. História da Língua Portuguesa. Ivo et alii. IN: D. Lisboa: Universidade Aberta. Rodolfo. Formação de uma variedade urbana e semi‐oralidade na primeira metade do século XIX. In: ILARI. Coleção: O Essencial. Ismael de Lima. COUTINHO. Amini Boainain. 1992. GUI. Tomo I. 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