hermeneutica-aula03

March 16, 2018 | Author: valdirvro | Category: Bible, Hermeneutics, God, Augustine Of Hippo, Jesus


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Hermenêutica Bíblica – Notas de Aula Nº 03Assunto: Turma: Referências: Análise Léxico-Sintática Médio III Virkler - cap. 4; Berkhof - cap. 5. 1. Revisão das aulas anteriores A necessidade da hermenêutica a) As traduções são uma forma (necessária) de interpretação. b) Nem todos os “significados claros” são igualmente claros para todos os cristãos. c) A natureza dupla, humana e divina, da Bíblia. • Questão dos padrões de pensamento da época • Tipos de comunicação: em narrativa, as genealogias, as crônicas, leis, poesias, provérbios, profecias, drama, etc.. O significado dos textos bíblicos para nós hoje a) Um texto não pode significar o que nunca significou. Na verdade seu significado real é exatamente o que Deus quis que ele significasse quando foi escrito/falado pela primeira vez. b) Depois de entender um texto (o que ele significou), devemos ouvir o que essa mesma Palavra representa para nós hoje. Destaques na história da hermenêutica a) Nos primeiros séculos a interpretação era muito mística. Nenhum texto era considerado puramente histórico, sempre havia algo de doutrinal, de profético, de filosófico e de místico (Clemente de Alexandria – 150 a 215 a.d.) b) Ênfase no significado simbólico dos detalhes (Orígenes – 185 a 254? a.d.). c) Agostinho (354 a 430 a.d.) introduz alguns princípios importantes para a hermenêutica, tais como: • O intérprete deve ser cristão autêntico; • Deve-ser ter em alta conta o significado literal e histórico da Escritura; • Compete ao expositor entender o que o autor pretendia dizer, e não introduzir no texto o significado que quiser; • Se o significado de um texto for obscuro, ele não deve constituir matéria de fé ortodoxa; e a passagem obscura deve dar lugar à passagem clara; • Um versículo deve ser estudado em seu contexto, e não isoladamente; Entretanto, na prática, Agostinho supervalorizou a alegorização, contradizendo sua teoria; d) Reforma Protestante • Estudo do contexto, da gramática, das palavras e de passagens paralelas; • “A Escritura interpreta a Escritura” dizia Calvino; e) Pós-Reforma: • Pietismo: Fim da controvérsia inútil e retorno à comunhão e às boas obras. Boa interpretação histórico-gramatical. Pietistas mais recentes começaram a depender de uma “luz interior” ou “unção” nas interpretações, levando, muitas vezes, a interpretações contraditórias. • Racionalismo: A razão deveria julgar que partes da revelação seriam aceitáveis. Um procedimento hermenêutico de seis passos (proposto por Virkler): 1º Passo: Análise Histórico-Cultural e Contextual • Análise contextual histórico-cultural: Consideramos o ambiente histórico-cultural do autor para melhor compreendermos suas alusões e objetivos • Análise contextual: contextual visa relacionar uma passagem com o texto completo do autor para que, considerando o seu pensamento geral, venhamos a ter um melhor entendimento de um texto em particular; 2º Passo: Análise Léxico-Sintática • Lexicologia: definição das palavras; • Sintaxe: Relação entre as palavras no texto; • Bom conhecimento de português e, se possível, de grego e hebraico. 3º Passo: Análise Teológica • Consideramos o nível de conhecimento teológico do público alvo na época em que o texto foi escrito; 4º Passo: Análise Literária • Identifica a forma ou método literário utilizado numa passagem em particular (metáforas, hipérboles, antropomorfismos, etc.); 5º Passo: Comparação com Outros Intérpretes • Comparar o produto dos quatro passos acima com trabalhos de outros intérpretes sobre do mesmo texto. 6º Passo: Aplicação • “Traduzir” o significado original do texto, obtido pelos cinco passos acima, para a nossa própria época e cultura. IMPORTANTE: Não há como automatizar a atividade hermenêutica. Estes passos servem apenas como um guia inicial com questões a serem consideradas durante o estudo, visando minimizar a possibilidade de interpretações equivocadas. Passo 1 – A Análise Histórico-Cultural e Contextual a) Determinar o contexto histórico-cultural geral • Situação política, econômica e social (Ex.: Expectativa de Jesus salvar os judeus do julgo romano); • Costumes relacionados ao texto em questão (Ex.: Corbã, em Mc.7:10-13); • Nível de comprometimento espiritual do “público alvo” b) Contexto histórico-cultural específico e objetivos de um livro: • Quem foi o autor? Qual era seu ambiente e sua experiência espiritual? • Para quem estava escrevendo? (crentes fiéis, crentes em pecado, incrédulos, apóstatas, etc.) • Qual foi a finalidade (intenção) do autor ao escrever este livro? c) Desenvolver uma compreensão do contexto imediato • Entender como o livro é organizado (montar um esboço por assunto) • Saber contextualizar a passagem em análise na argumentação corrente o autor. • Saber identificar a perspectiva do autor. i. Numenológica: Perspectiva Divina, absoluta (geralmente relacionadas a questões morais); ii. Fenomenológica: Perspectiva humana, relativa (geralmente relacionadas a questões naturais, físicas); d) Distinguir passagens descritivas de prescritivas • A ação de Deus numa passagem narrativa nem sempre significa que Deus sempre opera deste modo com os crentes. Ex.: Dons de línguas na conversão (At.10:44 ) • Ações humanas descritas na Bíblia, se não forem claramente aprovadas por, devem ser avaliadas. A Bíblia também registra os erros dos homens de Deus. e) Distinguir o núcleo de ensino de uma passagem de detalhes incidentais Ex.: Uma vez que o filho pródigo voltou para o Pai sem a necessidade de um mediador, então alguém poderia concluir que Jesus não é essencial para a salvação. f) Definir a quem se destina cada promessa, sentença, ordenança, etc. ⇒ FIM DA REVISÃO Passo 2 - Análise Léxico-Sintática Visa compreendermos a definição das palavras (lexicologia) e sua relação com as outras (sintaxe) para que entendamos melhor o sentido do texto. 2. Necessidade da Análise Léxico-Sintática • Embora as palavras possam assumir significados diferentes, só deve haver um significado num determinado contexto: o Exemplo: Mt.: 5:12 “fermento dos fariseus” o Alguns, no desejo de parecerem originas e surpreenderem os ouvintes dão interpretações fantasiosas. Ninguém pode dizer: “O Espírito me diz que tal ou tal é o significado de uma passagem”. Não podemos simplesmente aceitar tal declaração. O sentido legítimo deve ser verificado pela interpretação. • 3. Passos para a Análise Léxico-Sintática: a) Determinar a forma literária geral • Há três formas principais: 1. A Prosa: predomina o uso literal; 2. A Poesia: predomina o uso figurativo; 3. A Literatura apocalíptica: predomina o uso simbólico; Relembrando a distinção entre sentido literal, figurativo e simbólico: o Sentido Literal: Coroa de ouro na cabeça do rei o Sentido Figurativo: Não me chame de coroa pois eu sou muito novo. o Sentido Simbólico: ... vi uma coroa de 7 pontas que eram 7 nações ... • 1/3 do A.T. aproximadamente foi escrito em forma poética. b) Observar as divisões naturais do texto • • Divisões em versículos e capítulos (úteis na localização de passagens) dividem o texto de modo antinatural. Algumas versões mantêm a numeração, mas organizam o texto em parágrafos. Seja qual for a versão, devemos ler o texto enxergando os parágrafos e não os capítulos e versículos. Por exemplo, Atos 8:1 depende completamente de Atos 7:60. c) Observar os conectivos dentro de parágrafos e sentenças • Exercício (sem consulta): Em Gálatas 5:1, ao dizer-nos “Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”, Paulo quis dizer que nós não deveríamos nos submeter novamente: a) b) c) d) e) ( ( ( ( ( ) Aos prazeres da carne; ) À escravidão do pecado; ) Ao amor ao dinheiro; ) Ao legalismo judaico; ) Ao domínio romano; d) Determinar o sentido das palavras • Exemplo do dia-a-dia - a palavra “acabado”: o O muro está acabado (concluído ou danificado) o Olavo Bilac é o tipo acabado de poeta (poeta muito bom, perfeito) o José está acabado hoje (abatido, esgotado) o Como a senhora Shirley está acabada (envelhecida, cansada) Na primeira praga sobre o Egito, Deus tornou as águas do Nilo em sangue de modo que os animais morreram, as águas cheiravam mal e não podiam ser bebidas. Será que necessariamente o rio se tornou em sangue (plasma sanguíneo, hemácias, plaquetas, etc.)? Não poderia o rio ter suas águas transformadas em algo com características de sangue (o que não diminuiria a ação sobrenatural de Deus)? Exercício: A palavra grega sa/rc [sarx] que traduzimos por “carne” aparece nos textos abaixo. De acordo com cada versículo e os possíveis significados apresentados na coluna da direita, numere a coluna da esquerda: • • ( ) I Co. 15:39a: Nem toda carne é uma ( 1 ) A natureza pecaminosa do homem; mesma carne; ( ) At. 2:26: por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e além disso a minha carne há de repousar em esperança; ( ) Cl. 2:18: Ninguém se faça árbitro ( 2 ) Presunções homens; e egoísmos dos contra vós outros, pretextando humildade e culto aos anjos, baseandose em visões, enfatuado sem motivo algum em sua mente carnal. ( ) Rm. 7:18: Portanto, irmãos, somos ( 3 ) O corpo humano. A substância global do corpo (carnes, ossos, órgãos, etc.); devedores, não à carne para vivermos segundo a carne. ( 4 ) A carne do corpo, ou seja, os músculos; e) Como determinar o sentido das palavras? • Exercício (sem consulta): Vendo as definições e explicações dadas pelos próprios autores. Por exemplo, que significa “perfeito” em “[...] a fim de que o homem de Deus seja perfeito [...]” (2Tm.3:16-17)? 1 a. ( ) Sem pecado? b. ( ) Incapaz de cometer uma falta grave? c. ( ) Sem pecado numa área específica? d. ( ) Nenhuma das anteriores • O sujeito e o predicado de uma sentença podem explicar-se mutuamente. 4. Ex.: Por utilizar a palavra mwranqv (moranthei) pode significar tornar-se tolo ou tornarse insípido, sem sabor, Mateus 5:13 poderia ser traduzido tanto por “[...] ora, se o sal vier a ser insípido [...]” ou por “[...] ora, se o sal vier a ser tolo [...]”. Entretanto, sendo o sujeito da sentença o sal, o único significado aplicável é tornar-se insípido. Observar se ocorre paralelismo dentro da passagem, especialmente em textos poéticos. a. Paralelismo Sinonímico (de sinônimo): A segunda linha da estrofe repete o conteúdo da primeira utilizando sinônimos. Ex. (Sl.103:10): “Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades” b. Paralelismo Antitético (de antítese): A segunda linha da estrofe contrasta agudamente a primeira. Ex. (Sl. 37:21): “O ímpio pede emprestado e não paga; o justo, porém, se compadece e dá” c. Paralelismo Sintético (de síntese): A segunda linha da estrofe completa, vai mais longe que a idéia da primeira. Ex. (Sl. 14:2): “Do céu olha o Senhor os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus” • • Determinar se a palavra está sendo utilizada como parte de uma figura de linguagem. o Exemplo: Ele tem os olhos maiores do que a barriga; Está chovendo pra cachorro. o Figuras de linguagem ocorrem na bíblia e uma interpretação literal seria desastrosa. Por exemplo, Apocalipse 7:1 fala de “anjos em pé nos quatro cantos da terra”. Ora, sabe-se hoje que a terra não tem canto. E mesmo naquela época, quando muitos acreditavam que a terra era achatada, ninguém havia chegado à “quina da terra”. Essa espressão é uma figura de linguagem que apenas mostra que os anjos estavam agindo sobre toda a terra. o Virkler sugere o uso de um bom manual bíblico de figuras de linguagem; Resposta: Paulo esclarece de imediato que se trata de ser perfeitamente habilitado para um viver piedoso (“perfeitamente habilitado para toda boa obra”). 1 • Estudar passagens paralelas. o Informações complementares podem tornar o entendimento mais claro; o É importante distinguir paralelos verbais de paralelos reais: a) Verbais: Utilizam palavras semelhantes, mas estão falando de coisas diferentes. Ex.: O conceito de Palavra de Deus como “espada” difere entre Ef.6:17 e Hb.4:12. • No primeiro a espada faz parte da “armadura de Deus” para a batalha contra o mau (Jesus fez esse uso da Palavra contra Satanás); • No segundo ela é penetrante, conhecendo todos os pensamentos e propósitos do homem, diferenciando os que são verdadeiramente obedientes dos que apenas aparentam ser. b) Reais: Independente de usar as mesmas palavras ou não, falam do mesmo conceito ou do mesmo evento. Obs.: A maioria das Bíblias apresentam referências para os versículos paralelos. É bom ter cuidado e verificar sempre se tal paralelo é real ou apenas verbal. f) Sintaxe Trata do modo como os pensamentos são expressos por meio das formas gramaticais de uma certa língua. • • • • • Cada língua tem sua própria estrutura. Línguas analíticas: A ordem das palavras é um guia para o significado. Ex.: Português e hebraico (um pouco menos); Línguas sintéticas: O significado é entendido apenas parcialmente pela ordem das palavras e muito mais pelas terminações das palavras ou pelas terminações dos casos. Ex.: Grego; O estudo da sintaxe utiliza principalmente os Léxicos Analíticos, as Gramáticas Gregas e Hebraicas e as Bíblias Interlineares. Muito do trabalho já foi feito e publicado. É importante sabermos quando é necessário utilizar desses recursos. IMPORTANTE: Todo este estudo mais técnico deve fazer parte de qualquer exegese, mas apenas como a preparação para a exposição. Ele não precisa aparecer necessariamente no produto final. Nosso objetivo nas exposições é alimentar as pessoas, não impressioná-las. Bibliografia • • • VIRKLER, Henry A.. Hermenêutica Avançada: Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. São Paulo. Editora Vida, 2001. FEE, Gordon D., STUART Douglas. Entendes o que lês?. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1986. BERKHOF, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. JUERP, 4ª Edição, 1988. Hermenêutica I Atividade Extra-Classe Nº 03 Nome: _______________________________________________________ Data de Entrega: 21 de Junho de 2004 1. Alguém que perdeu o emprego recentemente está indo fazer um exame de seleção para um emprego e tem certeza que conseguirá passar no exame porque está escrito “tudo posso naquele que me fortalece” (Fl.4:13). Você concorda com o uso do versículo neste contexto? Por que? 2. Em Mateus 5:22, Jesus diz que se alguém chamar um irmão de tolo estará sujeito ao fogo do inferno, mas em Mateus 23:17-19 ele chama os fariseus de insensatos, que é o mesmo que tolos ou loucos. Como você explica esta aparente contradição? 3. Um pregador brasileiro, muito conhecido e respeitado, certa vez disse que embora não saibamos o dia da volta de Jesus, ela ocorrerá no início do terceiro milênio da era cristã. Ele utilizou a parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37) para mostrar isso, com os seguintes argumentos: a. O homem ferido caído na estrada tipifica (representa) a humanidade perdida nos seus pecados; b. O bom samaritano tipifica Jesus, o salvador; c. O bom samaritano (Jesus) veio, salvou o homem ferido (a humanidade), deixou 2 denários (salário de dois dias de trabalho) e foi embora dizendo que voltaria e, se fosse o caso, pagaria algum eventual gasto a mais; d. Como o bom samaritano deixou 2 denários, conclui-se que ele voltaria após dois dias. e. Como um denário é um salário de um dia, e um dia para o Senhor é como mil anos (2Pe.3:8), então Jesus (o bom samaritano) voltará novamente aproximadamente dois mil anos depois da sua primeira vinda. Utilize sua hermenêutica para interpretar a Bíblia e verificar a validade dessa aplicação da parábola do bom samaritano. Explique, citando os princípios hermenêuticos, por que você concorda ou não com esta interpretação.
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