Habilidades Sociais Ajustamento Empatia

March 28, 2018 | Author: Claúdia Silvestre Coelho | Category: Empathy, Emotions, Self-Improvement, Emergence, Learning


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HABILIDADES SOCIAIS E AJUSTAMENTO: O DESENVOLVIMENTO DA EMPATIA 1 Eliane Falcone – Universidade do Estado do Rio de Janeiro Alguns indivíduos são capazes de compreender acuradamente os estados internos de uma outra pessoa e de demonstrar essa compreensão de forma sensível e apropriada. Por essa razão, eles são considerados mais habilidosos socialmente. A habilidade de “ler” as emoções e perspectivas dos outros, acompanhada de uma disposição genuína para compreender, sem julgar e de demonstrar essa compreensão de tal maneira que a outra pessoa se sente compreendida e validada, é conhecida como empatia (Guerney, 1987; Nichols, 1995). A empatia engloba componentes cognitivos, afetivos e comportamentais. O componente cognitivo da empatia caracteriza-se pela adoção de perspectiva, que é compreendida como a capacidade de inferir acuradamente os sentimentos e pensamentos de alguém. O componente afetivo da empatia caracteriza-se por uma tendência a experimentar sinais de simpatia e de compaixão pelos outros, além de preocupação genuína com o bem estar da pessoa-alvo. Essa tendência é conhecida como comportamento pró-social. O componente comportamental da empatia caracteriza-se por transmitir, de forma verbal e não verbal, um reconhecimento explícito dos sentimentos e da perspectiva da outra pessoa, de tal maneira que ela se sinta realmente compreendida ( Barrett-Lennard, 1993; Davis, 1980,1983 a, 1983b; Egan, 1994; Feschbach, 1992, 1997; Ickes, 1997; Eisenberg, Murphy & Shepard, 1997). Para que um comportamento seja considerado empático, é necessária a presença desses três componentes. Estudos sobre os efeitos sociais da empatia mostram que ela está relacionada a interações sociais mais gratificantes, a casamentos mais duradouros, a maior sucesso profissional, além da redução de conflitos interpessoais e de rompimento (Brems, Fromme & Johnson, 1992; Burleson, 1985; Davis & Oathout, 1987; Ickes & Simpson, 1997; Long & Andrews, 1990). Por outro lado, os indivíduos não empáticos parecem carecer de inteligência social e podem se tornar prejudicados no trabalho, na escola, na vida conjugal, nas 1 Falcone, E., Habilidades sociais e ajustamento: O desenvolvimento da empatia. Em R.R.Kerbauy (Org.) Sobre Comportamento e Cognição: Conceitos, pesquisa e aplicação, a ênfase no ensinar, na emoção e no questionamento clínico. São Paulo: SET Editora Ltda. Vol. 5, 2000. 1 Nessa fase. através do jogo cara-a-cara. 1992). para assegurar a sobrevivência. Com cerca de 1 ano e 6 meses a criança já está consciente de que não é a outra pessoa. nas relações familiares. 1992). Thompson. raiva. Com cinco meses. 1992). 1997). o bebê começa a realizar uma sincronia afetiva com a mãe. 1992. os bebês já podem discriminar expressões faciais de alegria. começando com manifestações consideradas pré-empáticas. 1992). As expressões emocionais são fontes importantes de informação social e regulam a reação da criança no convívio social (Thompson. Com cerca de dois a três meses de idade. 1992). do mesmo modo que o faz quando se lamenta. também estivesse ocorrendo com ela (Hoffman. Em torno de 1 ano de vida os bebês são capazes de experimentar a mesma emoção manifestada por outra pessoa. ao ver um menino chorar. No final desse continuum encontram-se as manifestações empáticas. As diferenças individuais na capacidade para manifestar comportamento empático são mais bem explicadas pelos estudos sobre desenvolvimento e aprendizagem social. o que ocorreu com o outro. O desenvolvimento da empatia parece ocorrer dentro de um continuum. embora não produzam nenhuma resposta semelhante frente a um som simulado de igual intensidade (Barnett. As expressões da mãe são convertidas em sinais poderosos para as expressões positivas do bebê. tal como um contágio emocional. além de correrem o risco de viver à margem da sociedade (Goleman. envolvendo interpretações acuradas de sinais afetivos e cognitivos mais sutis das outras pessoas (Thompson. Essa coincidência de expressões prazerosas materna e infantil constitui a base para outras formas mais sofisticadas de empatia mãe-filho no futuro (Thompson. ocorre uma associação entre o sorriso da mãe e a excitação própria do bebê. que aparecem na forma de uma manifestação emocional ressonante. embora ainda considere os estados internos do outro como iguais aos seus (Hoffman. Com o passar do tempo. a criança já começa a demonstrar preocupação com o 2 . 1995. 1992). Com apenas 1 semana de vida os bebês manifestam mal estar e pranto em resposta ao som do pranto de outro bebê. Os estudos sobre desenvolvimento propõem que os seres humanos já nascem predispostos a desenvolver empatia. Hoffman. Ickes. Thompson. 1992. coloca o dedo na boca e esconde a cabeça no colo da mãe. 1992). Hoffman (1992) cita um exemplo de um bebê de 11 meses que. Nesse estágio. Murphy & Shepard.amizades. surpresa e outras emoções (Eisenberg. a criança atua como se. 1997. entusiastas. O grau de responsividade parental ao pranto da criança e a todas as suas expressões de mal estar.outro. Murphy & Shepard. Matas. subjetivos. a criança já reconhece a comunicação verbal enganosa (quando as pessoas simulam ou tentam esconder as emoções) (Eisenberg. estão ensinando os filhos a expressar sentimentos 3 . Thompson. 1978. É quando surge a motivação para reduzir as dificuldades de grupos carentes (Hoffman. 1993. diferentes dos dela. Pais emocionalmente expressivos. Na adolescência o indivíduo começa a formar conceitos sociais sobre as dificuldades de um grupo ou classe. que respondem com simpatia e preocupação aos sentimentos de impotência e mal estar da criança. 1992). E que esses estados merecem atenção (Hoffman. na escola. Entre 9 e 11 anos. 1997). 1997). Nessa fase. Além disso. Collins. Crianças que foram positivamente apegadas a suas mães costumam ser mais responsivas empaticamente aos sentimentos dos outros. ela irá avaliar as próprias habilidades e a sua aceitação no grupo. Esse comportamento de buscar solução para o sofrimento do outro diminui o mal estar pessoal (Hoffman. 1992. Arent & Stroufe. Murphy & Shepard. a criança começa a perceber que os outros possuem estados internos. Fox & Pancake. bem como os padrões de intercâmbio verbal. através da inferência do que eles estão pensando (Eisenberg. são fatores apontados como influentes na vinculação do bebê com a mãe (Barnett. 1991. 1979. Del Prette & Del Prette. 1992. A empatia parental também pode influenciar no desenvolvimento de habilidades empáticas nos filhos através da modelação. 1983). Caballo. Assim. & Collins. ela já consegue explicar o comportamento dos outros. 1992). Stroufe. quando alguém está chorando. 1992). Através do contato com os pais. 1992). Uma variedade de estudos tem relacionado algumas práticas parentais de educação com a aprendizagem de comportamento empático e não empático. 1999. ela começa a identificar as emoções e os desejos dos outros de forma mais acurada. ela oferece o seu ursinho de pelúcia. Entre 4 a 5 anos. Entre 2 e 3 anos. a criança pode aprender habilidades e valores importantes para uma boa interação social. Estudos sobre aprendizagem social sugerem que o comportamento social possui um forte componente aprendido (Bandura. 1997). Matos. 1992. ao se comparar com os colegas (Matos. 1997). persistentes e eficientes (Barnett. mais cooperativas. a criança reconhece que as crenças das outras pessoas podem ser diferentes das dela. Posteriormente. Uma revisão de estudos feita por Cotton (s/d) aponta algumas práticas de educação associadas de forma positiva e negativa com o desenvolvimento do entendimento e do comportamento empático. 1992). As práticas 4 . os pais devem incentivar os filhos a viverem experiências variadas e emoções freqüentes. 1992). Assim. 1992). Pais que carecem de empatia são menos sensíveis aos sentimentos e necessidades de seus filhos e tendem a ter filhos não empáticos (Feshbach. a ter pouca auto-estima e a mostrar padrões reativos de hostilidade e agressividade (Feshbach. 1983). 1992. não punitivo e não autoritário.sem inibição e a responder empaticamente ao mal estar dos outros (Feshbach. Crianças fisicamente maltratadas manifestam mais transtornos e desajustes do que crianças não maltratadas. Uma criança superprotegida de experiências desagradáveis e não estimulada a manifestar expressões abertas de mal estar. por parte das mães. Crianças maltratadas tendem a ser retraídas. Uma estimulação marcadamente competitiva gera na criança uma preocupação excessiva consigo mesma e isso interfere com a disposição para responder às necessidades dos outros (Barnett. (b) explicar aos filhos os efeitos de seus comportamentos nos outros. Crianças estimuladas a obter um autoconceito positivo tornam-se mais inclinadas a empatizar com os outros do que aquelas que estão preocupadas com inadequações pessoais (Feshbach. 1963). Quando uma criança causa algum dano em outra e os seus pais levam-na a prestar atenção para o mal estar da vítima. (d) modelar comportamento empático e cuidadoso. de acordo com Hoffman (1976. estes estão reforçando comportamento empático e promovendo condutas pró-sociais (Hoffman. (c) mostrar às crianças que elas têm o poder de fazer as pessoas felizes. sendo agradáveis e generosas com elas. o castigo físico repetido e a orientação interpessoal marcadamente competitiva. A falta de empatia parental. A quantidade de interações sociais parece estar relacionada a experiências empáticas. constituem os padrões de educação que prejudicam a aprendizagem da empatia. 1976. Strayer. 1992. (f) encorajar a criança em idade escolar a discutir os próprios sentimentos e problemas com os pais. Tomkis. As práticas positivamente associadas são: (a) comportamento responsivo. 1982). 1982). 1982). provavelmente terá dificuldades em empatizar com outras pessoas em apuros (Hoffman. (e) explicar à criança que machuca ou aborrece os outros por que o seu comportamento é prejudicial e dar a ela sugestões para corrigir as suas falhas. com o objetivo de estimular a sua sensibilidade frente aos sentimentos alheios. (b) comportamento inconsistente com a expressão das necessidades desta. (1985). 1991).. 3-13.K. Fromme. Primeiro. (1992). ainda assim. (Trad. Eisenberg e Janet Strayer (Eds.E. Manual de evaluación y entrenamiento de las habilidades sociales. D. M. R. Barnett. pp. C. (c) situações em casa onde as mães sofrem abusos físicos de seus maridos. mesmo que já exista uma predisposição para o desenvolvimento da empatia. Eva Nick). porque as pessoas continuam a desenvolver competências sociais durante toda a vida. (1993). I. Caballo (Org. El entrenamiento en habilidades sociales.: Interamericano. Burleson. (1993).de educação negativamente relacionadas ao desenvolvimento empático são: (a) corretivos através de ameaças e punições físicas para induzir a criança a “agir corretamente”. 163-180). Journal of Language and Social Psychology. The British Psychological Society. 1982). 132. 4. Modificação do comportamento. 189-200. (1992). T. Se. os fatores de aprendizagem são determinantes no desenvolvimento e refinamento dessa habilidade.) Manual de técnicas de terapia y modificación de conducta. The production of comforting messages: social cognitive foundations.The phases and focus of empathy. porque as habilidades sociais podem se perder pela falta de uso (Caballo. 1979) e da variedade de experiências interpessoais (Hoffman.Azupurua.E. o indivíduo. através de um processo natural de imitação de modelos sociais (Bandura.E. essa aprendizagem não ocorre naturalmente. Empatía y respuestas afines en los niños. Embora os padrões parentais de educação sejam importantes no desenvolvimento da empatia. Caballo. (d) a provisão de recompensas extras ou subornos para eliciar “bons” comportamentos nas crianças. 253-273. 403-471). G. eles não são suficientes. Barrett-Lennard. pode desenvolver habilidades sociais através de treinamento específico (Matos. In: N.J.(Trad. V. Brems. REFERÊNCIAS: Bandura.R. Caballo.E. por alguma razão. (1991). Group modification of empathic verbalizations and self-disclosure. Concluindo. e Johnson. 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