GRAHAM - Como Entrar Em Desacordo e Argumentar de Maneira Intelectualmente Honesta

March 29, 2018 | Author: dayane.ufpr9872 | Category: Intelligent Design, Argument, Contradiction, Fallacy, Epistemology


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http://www.bulevoador.com.br/2011/09/como-entrar-em-desacordo-eargumentar-de-maneira-intelectualmente-honesta/ Como entrar em desacordo e argumentar de maneira intelectualmente honesta Editor: Francisco Boni Autor: Paul Graham* Como entrar em desacordo A internet transformou a escrita em conversação. Há vinte anos, escritores escreviam e leitores liam. A internet permite que seus leitores respondam, e cada vez mais eles fazem em comentários em posts, fóruns e em seus próprios blogs. Muitos daqueles que respondem tem algo a discordar sobre o que leem. Isso já é esperado. Concordar com um texto motiva menos as pessoas do que discordar. Quando você concorda, há 1 No entanto. Muitos leitores conseguem saber a diferença entre xingamentos e uma refutação cuidadosamente construída. Quando você entra em desacordo. e você pode medir isso pelas palavras e respostas por aí. então nós deveríamos tomar cuidado com isso. mas pode pelo menos parecer relevante para este caso. Por exemplo. mas talvez ele já explorou todas as implicações interessantes.” não é nada além de uma versão pretensiosa de “vc é uma bicha!!!”. se um senador escreve um artigo dizendo que os salários dos senadores deveriam ser aumentados. Isso não significa que as pessoas tem se tornado raivosas. A mudança estrutural na maneira de como nós nos comunicamos já é suficiente para explicar isso. alguém poderia rebater: “Claro que ele diz isso. 1) Ad Hominem Um ataque ad hominem não é tão fraco quanto um simples xingamento. Um comentário do tipo “O autor é pedante e o artigo é horrívelmente construído. Particularmente online. O resultado é que há muito mais divergências acontecendo. Você pode expandir o que o autor afirmou. você está entrando em um território que o autor ainda não explorou. mas eu acho que ajudaria se colocassemos nomes para os estágios intermediários. há o perigo de que o aumento no número de deles faça com que as pessoas se tornem mais raivosas e infelizes umas com as outras. Ele é um senador.menos para se dizer. onde é fácil dizer coisas que você nunca diria cara a cara. Todos nós já vimos comentários assim: “vc é uma bicha!!!” Mas é mais importante perceber que uma forma mais articulada de xingamento também tem o mesmo peso. 0) Xingamento Essa é a forma mais baixa de desacordo e provavelmente a mais comum. ainda é uma forma bem fraca de desacordo. Se nós vamos entrar em desacordo mais vezes. Se há algo 2 . Então tentaremos estabelecer uma hierarquia do desacordo. Ele pode conter algum peso. Apesar de não ser a raiva que está causando um aumento nos número de desacordos.” Isso não refutaria o argumento do autor. então você não está dizendo muito. E se o autor está errado em alguma afirmação. então que diferença faz o fato de ele ser um senador? Dizer que um autor não tem autoridade para escrever sobre um assunto é uma variante de ad hominem e particularmente uma variante inútil. com nenhuma ou pouca evidência.de errado com o argumento do senador em si. Esse tipo de argumento é muitas vezes combinado com argumentos do tipo (2). enquanto o mesmo pode ter sido percebido como neutro por outros leitores. porém correto em seus argumentos? Melhor isso do que ser grosseiro e estar errado. então ela é realmente irrelevante. através de um argumento falacioso ou simplesmente frágil. esse ainda é uma forma fraca de divergir. 2) Respondendo ao tom Nesse nível superior começamos a ver respostas ligadas diretamente ao conteúdo do texto. A questão é sobre o autor estar correto ou não. E se falta de autoridade não está ligada aos supostos erros. A forma mais inferior desse tipo de argumento é discordar do tom utilizado pelo autor no texto. então aponte-os.” Apesar de ser melhor do que atacar o autor. Então. ao invés de serem ligadas ao autor. Especialmente porque é difícil julgar um tom de maneira isenta. O autor é rude. 3) Contradição É nesse estágio que nós finalmente encontramos respostas minimamente substanciais para o que foi dito. A forma mais baixa de se responder à um argumento é simplesmente afirmar o oposto. contradizendo o autor. de resposta ao tom: 3 . pois as boas idéias geralmente vêm dos outsiders (aqueles que ainda são desconhecidos no meio). Alguém que está emocionalmente envolvido com determinado tema pode sentir-se ofendido por um determinado tom. se a pior coisa que você pode dizer a respeito de algo é criticar o seu suposto tom. É muito mais importante saber se o autor está certo ou errado do que apontar os dedos para o tom utilizado em seu escrito. Por exemplo: “Eu não posso acreditar que o autor rebate o Design Inteligente de maneira tão arrogante. aponte onde está o erro e refute. Se a sua falta de autoridade causou e fez com que ele cometa erros. ao invés de respostas para como tais coisas foram ditas ou por quem elas foram ditas. então você deveria dizer o que está errado. e se não há. De fato. apenas contradizer e afirmar o oposto explicitamente pode ser suficiente para verificar-se que está correto. de maneira textual e direta. Até esse ponto. Os indivíduos até concordam um com o outro. 4) Contra-argumento No nível (4) encontramos a primeira forma de desacordo convincente: o contraargumento. deve dizer explicitamente. já que é a mais difícil. O contra-argumento pode provar ou refutar algo. podemos dizer que um bom contraargumento pode estar tentando atacar um “espantalho” do argumento original do autor criado conscientemente ou não e que é uma versão distorcida do argumento. É possível que exista uma razão legítima para argumentar contra alguma coisa ligeiramente diferente daquela que sustentada originalmente pelo autor: quando você percebe que ele deixou escapar o âmago ou ponto central da questão. no sentido de que as formas que se encontram no topo são as mais raras de se encontrar. duas pessoas estão discutindo passionalmente sobre duas coisas completamente diferentes. Nesse sentido.” A contradição pode ter algum peso. a hierarquia do desacordo forma uma espécie de pirâmide. O Design Inteligente é sim uma teoria científica. que você percebeu que o autor errou por pouco o alvo. ele pode ser convincente. Mas quando você fizer isso. Um contra-argumento é uma contradição expressa em conjunto de evidências confiáveis e argumentação lógica sólida. Na maioria dos casos. evidências e uma argumentação mais rica são necessárias. 5) Refutação A maneira mais convincente divergir de seu proponente é a refutação. É também a mais rara. O problema é que pode ser difícil verificar o que um contra-argumento realmente prova. mas estão tão profundamente envolvidos no embate que acabam cegando para esse fato. Mas infelizmente é comum encontrar contra-argumentos que estão atacando posições diferentes daquelas alçadas originalmente pelo autor. Quando direcionado diretamente contra o argumento original do autor. geralmente fácil de ser rebatida. 4 .“Eu não posso acreditar que o autor rebate o Design Inteligente de maneira tão arrogante. Muitas vezes. Às vezes. todas as formas anteriores podem ser ignoradas como irrelevantes e muito inferiores. como por exemplo y e z…” A citação apontada não precisa ser necessariamente uma afirmação textual exata àquela expressa originalmente pelo autor em seu ponto central. encontramos desonestidade intelectual deliberada. é preciso que provavelmente você faça uma citação do argumento do mesmo. e então explicar por que ela está errada. quando na verdade estão construíndo uma resposta tão inferior quanto uma (3) contradição ou um (0) xingamento. e de que estão produzindo uma refutação legítima. de preferência clara e objetiva. Algumas vezes. uma refutação verdadeiramente efetiva se parece com isso: “O ponto central do autor parece ser x. da maneira mais objetiva possível. mesmo em níveis alto como (5). qual é o ponto central que está sendo refutado no momento. Mesmo que a refutação geralmente venha forma de criação de citações de passagens do texto do autor. é percebida pelo público como um grande ad hominem ou como arrogância e abuso de intelectualidade por parte do refutador. então é possível que você esteja correndo o risco de estar argumentando contra um “espantalho” criado pela sua própria sede de encontrar uma falha nos argumentos do autor. A força de uma refutação depende daquilo que você refuta. Muitas vezes. Então. Como ele mesmo diz: <citação> Mas isso está errado por diversas razões. como por exemplo quando alguém refuta apenas os argumentos acessórios ou adjacentes ao argumento central proposto pelo autor — que ainda se mantém forte em seu ponto central. Se você não consegue encontrar uma passagem textual. Você precisa ser capaz de achar uma “fumaça” ou “ponto fraco” em uma passagem do texto do autor que você percebe que está errada. Para verdadeiramente refutar algo. ao invés de um argumento legítimo. é necessária uma refutação do ponto central ou pelo menos de alguns deles. A forma mais poderosa de desacordo é refutar o ponto central afirmado por alguém. A refutação do ponto central é tão forte e avassaladora que. na maioria das vezes. 6) Refutando o ponto central. o fato de estar citando passagens diretas do texto do autor não implica que uma refutação está realmente acontecendo.Para refutar alguém. E isso significa se comprometer em expressar textualmente. Algumas pessoas citam partes do texto que elas discordam apenas para dar a aparência de que estão prestando atenção nos argumentos. 5 . Mas o grande benefício de entrar em desacordo de maneira racional e inteligente não é que isso pode fazer com que as nossas conversas fiquem melhores. Para destruir um argumento você não precisa destruir o oponente. perceberá que os argumento próximos de (1) contém muita mesquinhez e maldade. vai ajudar elas a identificar argumentos intelectualmente desonestos. muitas vezes irracionais e inconscientes. Um orador eloquente ou escritor pode causar a impressão de estar subjugando oponentes apenas por estar usando palavras de impacto. Qual o benefício disso? Uma coisa que a hierarquia do desacordo não nos dá é uma maneira de escolher um argumento vencendor. Se você se concentrar em subir a hierarquia da pirâmide do desacordo. A maioria das 6 . Mesmo que os níveis de desacordo não estremem um limite inferior sobre o grau de convencimento de respostas e replicas em uma discussão. mas uma (2) de resposta ao tom do texto do autor é sempre fraca e inconvincente. Alguém que está argumentando contra o tom empregado pelo autor em um texto pode realmente acreditar que o texto está falando algo válido. você não quer. Os níveis apenas descrevem o resposta (6) de formato dos refutação argumentos do ponto e não central. pode Uma estar completamente errada.alguma citação que prove uma dependência essencial em relação ao ponto central ja é suficiente. Dar um passo para trás e ver a figura de longe pode inspirá-lo a tentar mover as suas respostas para o status de (4) contra-argumento ou (5) refutação. farás com que a maioria das pessoas tornem-se felizes. A maioria das desonestidades intelectuais são não-intencionais. Ao dar nomes para as diferentes formas de entrar em desacordo. Uma resposta (6) de refutação do ponto central pode não ser convincente. se eles são corretos. De fato. ainda que sólida. Em particular. Tais rótulos podem ajudar os escritores também. Se você estudar as conversas. A vantagem mais óbvia de se classificar formas de entrar em divergência é que isso pode ajudar as pessoas a avaliar o que elas estão lendo. mas fazer com que as pessoas envolvidas nelas tornem-se mais felizes. eles acabam sim delimitando um limite superior. O que isso tudo significa Agora nós temos uma maneira ligeiramente informal de classificar formas de desacordo. damos aos leitores um alfinete para estourar tais balões argumentativos. De fato. essa é a qualidade dos demagogos. 7 . em Ciência da Computação pela Havard University e B.A. elas só fazem isso porque se envolvem emocionalmente. em Filosofia pela Cornell University.pessoas não gosta de mesquinhez.D. empreendedor do Vale do Silício e famoso pelo seu trabalho na linguagem de programação Lisp (autor de ‘On Lisp’ e ‘ANSI Common Lisp’). Ph. *Paul Graham.
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