Gilka Machado - A construção da identidade feminina na poética de Gilka Machado

March 22, 2018 | Author: Jailson Anderson | Category: Poetry, Patriarchy, Femininity, Ethnicity, Race & Gender, Feminism


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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA – UEPBCENTRO DE EDUCAÇÃO – CEDUC DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTE CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA Cellyane Souza Negreiros Jailson Anderson da Silva Ferreira Luiz Phillippe Albert Moreira da Silveira Rossana Emanuele Dias da Silva Suênio Carneiro da Silva A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA NA POESIA ERÓTICA DE GILKA MACHADO CAMPINA GRANDE 2014 aparece na história sob autoria de homens. A poetisa brasileira Gilka Machado marca sua estreia na literatura no inicio do século XX. A poesia gilkeana configura-se numa confluência de paradigmas: por um lado é marcada por fortes traços do simbolismo – o que lhe atribuía um tipo de retrocesso. papeis sociais. a autora consegue escandalizar e colocar em tensão os valores de uma sociedade marcada por uma moral cristão-conservadora e patriarcal com uma poesia de teor erótico. Na escrita erótica feita por homens é comum encontrar a figura feminina como objeto de desejo e realização das fantasias masculinas. o desejo e até mesmo a perversão.TEMA E DELIMITAÇÃO DO TEMA Literatura Erótica A poesia erótica de Gilka Machado PROBLEMA Como a poesia erótica de Gilka Machado contribuiu para a construção de uma nova identidade feminina através da subversão dos valores numa sociedade patriarcal? JUSTIFICATICA A literatura erótica. Adélia Prado. sendo apontada como percursora deste tipo de literatura que abriu caminho para outras mulheres. na qual a mulher era tida como objeto. A importância de uma produção literária erótica criada por mulheres possibilita que se tenha uma visão diferenciada de como a mulher compreende o sexo. A temática de seus poemas não se limita a uma erotização banal ou por acaso. com relação à vida sexual e social. Sua produção literária dividia as opiniões de críticos e leitores. uma vez que o movimento modernista estava para explodir no país e romper com os padrões eurocêntricos das criações literárias brasileiras. Gilka é considerada a primeira mulher a escrever poesia erótica no Brasil. cristianismo. de modo geral. A poesia de Gilka é marcada por um tipo de eu-lírico “feminino” que discute numa linguagem sexual e sensual. entre . por exemplo. entre outras. como: Hilda Hilst. a paixão. desde o Marques de Sade até João Ubaldo Ribeiro. questões ligadas a gênero. Elisa Lucinda. Já nas produções de autoria feminina percebe-se a figura da mulher como aprendiz de si própria. mas funciona como componente de crítica acerca dos valores e da moral de uma sociedade machista. Em segundo lugar. OBJETIVOS Objetivo Geral Analisar como se configura a construção da identidade feminina na poesia erótica de Gilka Machado.  Reler a poética erótica de Gilka Machado. e ainda tal dominação no mundo da literatura. Ainda que não haja intencionalidade. o sistema super-repressivo no qual se inscreve e pelo qual se escreve a história da mulher. em Portugal. . Os versos “E que gozo sentir-me em plena liberdade. 1915 – já anunciam e direciona certa crítica a dominação masculina sobre a mulher./longe do julgo atroz dos homens/e da ronda da velha sociedade. são algumas das mulheres que trataram do erotismo por um viés feminino. na França e Florbela Espanca. na poética de Gilka encontra-se a transgressão da identidade da mulher dentro de um sistema patriarcal para uma determinada liberdade.  Analisar a relação entre sagrado x profano na poética Gilkiana.” – de Cristais Partidos. Segundo Angélica Soares (2000).” No período que Gilka produziu sua poesia. “As imagens acima levam-nos também a repensar.  Compreender qual a repercussão de tal poesia num universo patriarcal/conservador.  Contextualizar a poesia de Gilka e a época em que foi produzida. em “O erotismo poético de Gilka Machado: um marco na liberação da mulher”.  Entender a relação entre corpo – material – e alma – imaterial – dentro do viés da poesia erótica de Gilka Machado. em diálogo com a poesia gilkiana. Objetivos Específicos  Compreender a diferença entre erotismo e pornografia. também outras mulheres em outras partes do mundo produziam tal literatura: Anis Nin.outros pontos. A discussão que tal poesia lança abre espaço para a construção de uma determinada identidade feminina. o que faz com que esta se torne uma região praticamente inexplorada no erotismo. Também é notável que as questões ligadas a valores. trazendo conteúdos moralistas que puniam adúlteras e/ou mocinhas puras que passivamente esperavam que o herói lhe viesse conquistar e declarar um imenso amor. no inicio de sua carreira ganhou prêmios e chegou a ser considerada a maior poetisa do país. Tal poesia aponta para a desconstrução de um erotismo falocêntrico que vinha sendo construído na poesia brasileira. numa tentativa de serem publicadas.) as mulheres. estavam concentradas no poder do homem. principalmente se fosse de teor erótico. Célia Márcia e Carmem Dolores. como foi o caso de Emilia Bandeira de Melo (1852 . grande parte da produção literária era de autoria masculina. Leonel Sampaio. que foi uma escritora brasileira que defendia a educação da mulher e criticava o patriarcado. Considerada a primeira mulher a escrever versos eróticos no Brasil. Existe caso de mulheres que escreviam sobre pseudônimos masculinos. p. moral. 242) Percebe-se que antes do século XX é praticamente escasso um discurso feminino na literatura brasileira. coincidia com os discursos científicos e jurídicos.1910). ocupado o papel de objeto do discurso masculino e não de produtoras de um discurso que as posicionem como sujeito de seu próprio desejo. (1999. tem mais tradicionalmente. como uma necessidade orgânica do macho.1901) chegou a publicar um livro intitulado Dhalias.. Ela escreveu sobre o pseudônimo de Júlio de Castro. as mulheres burguesas eram o principal público leitor de romances. Um dos mecanismos de reprodução desse discurso visando definir homens e mulheres é a literatura. que estava habitualmente presente nos homens. que eram entendidos como formadores das subjetividades e das identidades. já que. mas também escreveu com pseudônimos masculinos. Essa representação de mulher contida nas obras literárias. De acordo com Ana Paula Costa de Oliveira: (. No século XIX e início do século XX. principalmente as ligadas ao desenvolvimento intelectual. Mário Vilar. Essa tendência . O que mais se destaca entre seus são escritos são as poesias de cunho erótico.FUNDAMENTAÇÃO TEORICA Gilka Machado marca sua estreia na literatura brasileira no inicio do século XX. era anulada nas mulheres pelo instinto materno. É interessante perceber que tais mulheres estavam inseridas dentro de um contexto patriarcal.. Desse modo as mulheres eram excluídas de algumas atividades. e que se esperava que as leitoras deveriam encarnar. no qual os papeis sócias eram definidos a partir das configurações de gênero. Já a poeta Auta de Souza (1816 . Uma idéia defendida era a de que a sexualidade. artístico. Percebe-se em suas poesias a mulher dandose conta de sua feminilidade e tal descoberta contribui para o entendimento de sua identidade cultural de mulher. tolhida num corpo exausto e abjeto. Desse modo a autora procura tirar a mulher da condição de passiva. sua poesia erótica procura colocar a imagem feminina como combatente a problemática de ordem social em que a mulher estava inserida.aparece principalmente nas obras de Césare Lombroso. O erotismo Gilkiano não se limite apenas a descrever o sexo apenas pelo sexo. Gilka Machado enquadra-se nesse segundo momento: subversiva. (OLIVEIRA. Segundo Agélica Soares (2000). Gilka procura dá voz a mulher com individuo criador da própria história. mas em contra partida ela pode subverter o que tal época compreende como certo e errado. feminino. ou o desejo apenas pelo desejo. Que gozo sentir-me em plena liberdade longe do jugo atroz dos homens e da ronda da velha Sociedade. “A libertação do corpo feminino vem agenciando uma liberação da linguagem. Guglielmo Ferreiro e outros. 1999) Antonio Candido (2006) coloca a relação entre sociedade e literatura como sendo de condicionadas. se exibe fantasiada de vestal! […] Esta alma que carrego amarrada. A transmissão poética do erotismo feminino. pois. seja na relação sexual. embora essa consciência sejas que a faça realizar a busca pela sua liberdade como ser pensante. -a messalina hedionda que. assim como também a denuncia da condição feminina. a mulher é apresentada como consciente de seu lugar subalterno na hierarquia social. Com relação ao seu primeiro livro Cristais Partidos (1915) já se pode perceber o discurso que busca a inserção da mulher no meio social. seja na vida social-econômica e coloca-la como autora de um discurso feminista sobre a igualdade dos sexos. da vida no eterno carnaval. através de uma percepção também feminina. a frustração da mulher frente à maneira como a organização social tentou condiciona-la. que seria analisado pelas abordagens masculinas. Na poética de Gilka. desencadeia na literatura a inserção de um discurso feminino feito por mulher rompendo com o padrão da escrita do homem sobre a mulher ou mesmo da escrita da mulher dentro de um modelo masculino. . uma vez que a literatura vai reproduzir as ideologias relativas à época em que é produzida. vem-se impondo como uma manifestação da face contestadora da literatura. mas funciona como modo de contestar o lugar da mulher na sociedade. logo.”. Os versos apresentam certa sonoridade. tão somente sujeita às leis da natureza. sem gozo. Ainda pode-se notar a maneira como a autora coloca a condição feminina de “objeto” usando figurações que remetem a ideia de como a mulher. conduta e moral. Gilka articula uma série de poemas que trazem a relação “sagrado-profano”. paladar. Eu quisera viver sem leis e sem senhor.”. a autora procura fazer crítica ao pensamento religioso.. tato. tão somente sujeita aos caprichos do amor. mais livre. O poema Aspiração propõe a fuga daquela sociedade regrada a leias. Serás como os sultões do velho oriente. A subjetividade feminina é apagada e a mulher vive em um “corpo morto. que sufocam a existência completa da mulher. só meu. musicalidade. com relação a estética uma versificação mais livre.113) Em Meu Glorioso Pecado (1928). O gozo sexual passar a ser um tipo de nirvana a ser atingido pela mulher. . um tipo de epifania e não apenas um manifesto do corpo feminino. Gilka usa as sensações. por exemplo. questionando a veracidade de um discurso religioso que coloca a mulher como pecadora por vivenciar o sexo. olfato. Viver na selva acesa pelo fulgor solar. inserida numa sociedade patriarcal tem sua dignidade extraviada em relação à submissão masculina. O livro é marcado certa sinestesia. possuindo. (MACHADO. simultaneamente. p. 1915. sem conforto. o gozo. indiferente como um corpo morto. p. Gilka apresenta um viés intimista e procurou discuti a problemática feminina metaforizando-a a liberdade da natureza. retiradas do livro Cristais Partidos (1915). para construir os poemas. aguardam-te em meu ser mulheres várias. funciona como uma forma de apresentar tal fuga. 24) Percebe-se nas estrofes acima. Feitas de sensações extraordinárias. dando assim uma construção das sensações do prazer sexual. pois. (MACHADO. Com relação ao sentido semântico do poema Gilka usa o erotismo para discuti a condição da mulher dentro da sociedade patriarcal. 1917. para teu festim. a voar.há tanto acostumado a pertencer à vida como um traste qualquer. o convívio feliz das mais aves gozando viver em bando.. a voar. Em Estados da Alma (1917). menos regrada ao formalismo canônico. É interessante perceber como a forma poética. tal abolição das leis sociais também na estética do poema. que remetem a ideia da mulher cantando-os de uma maneira sarcástica. como um simples objeto. para teu gozo. p. buscar um companheiro e encontrar um senhor… Ser mulher. isolada. de um feminismo em seu tempo. em sua obra.” Ser mulher. a mulher e a religião. sustentáculo do patriarcado. vivendo à margem do processo.56) Pode-se observar a poesia de Gilka Machado como representante. poemas que possam sintetizar a ideia de cada livro lançado pela autora. como figura secundária. tantálica tristeza! Ficar na vida qual uma águia inerte. revistas. tentar da glória a etérea e altívola escalada. A mulher e o meio social. A autora procurou discuti a condição feminina e entende a religião como um aparelho ideológico do estado. desejar outra alma pura e alada para poder. Serão usados livros. artigos. a mulher e a poligamia. insípida. calcular todo o infinito curto para a larga expansão do desejado surto.as mulheres ideais que tenho em mim. com ela.. O leque de possibilidade com que Gilka desenvolveu seus poemas é tão extenso pode-se afirmar que a luta feminina está. com base nas leituras de teóricos relevantes ao tema. colocando em tensão a questão de o sexo feminino ser apenas ligado à procriação. apresentada em cada aspecto da vida de uma mulher. o infinito transpor. (MACHADO. As . colher na obra de Gilka Machado.. seria coerente afirmar que a autora procurou facetar todo o universo feminino para transpô-lo numa poética que buscou dá a mulher o direito sobre o próprio corpo. 1928. a mulher e o poliamor. É notável a pluralidade de temas e enfoques que a poetisa procurou tratar para quebrar a visão pejorativa com a qual a mulher era tida. METODOLOGIA Como material metodológico será usado à pesquisa de cunho bibliográfico. sobre a própria vida. sentir a vida trsite. e oh! Atroz. a mulher e a submissão masculina. presa nos pesados grilhões dos preceitos sociais! (MACHADO. p. na eterna aspiração de um sonho superior… Ser mulher. Gilka procura criticar a relação religiosa entre a mulher e o sexo. se não percursora. retendo-a no espaço doméstico e. 1928. Segundo Agélica Soares (2000). “Diferentes mecanismos de dominação uniram a sexualidade feminina à procriação e reservaram para a mulher uma função materna. no ascenso espiritual aos perfeitos ideais… Ser mulher. sem autonomia para traçar os seus caminhos. Em um primeiro momento pretende-se levantar as bibliografias. em seguida.266) Ainda em Meu Glorioso Pecado. assim também como entrevistas audiovisuais concedidas pela a autora nos meios de comunicação. vir à luz trazendo a alma talhada para os gozos da vida: a liberdade e o amor. Eros pede a palavra (Poesia erótica feminina no início do século XX). Angélica. . O Erotismo. p. 241 – 272. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BATAILLE. Anuário de Literatura 7. Revista de Criação e Crítica. O erotismo poético de Gilka Machado: um marco na liberação da mulher. 28 a 32. Revista Mulheres. 1982. Antonio. que terá como título o mesmo do projeto de pesquisa. O artigo será submetido a eventos e publicações de revistas acadêmicas. Poesia erótica e construção identitária: a obra de Gilka Machado. 23 a 47.1987 CANDIDO. 2006 GOTTLIEB. Porto Alegre: L & PM. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul. p. Literatura e Sociedade. SOARES. Polímica 4.. G. 2000. p. Com Dona Gilka Machado. Ana Paula Costa de. N. OLIVEIRA.analises dos poemas serão focados no contexto da crítica feminista – linha de pesquisa na literatura que trata da analise das produções literárias femininas. 1999. Posterior à pesquisa pretende-se organizar os dados e resultados obtidos e escrever um artigo.
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