Geografia e História da Paraíba

March 28, 2018 | Author: alexandre_alves_1 | Category: City, Tertiary Sector Of The Economy, Geography, Industries, Urbanization


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Geografia e História da PB1 GEOGRAFIA DA PARAÍBA........................................................................................................3 Mesorregiões da Paraíba ............................................................................................................3 Microrregiões da Paraíba............................................................................................................6 MEIO AMBIENTE....................................................................................................................7 MEIO AMBIENTE » UNIDADES ESTADUAIS DE CONSERVAÇÃO...............................7 Unidades de Conservação do Estado da Paraíba........................................................................8 Áreas com Potencias para criação de Novas Unidades de Conservação....................................9 MEIO AMBIENTE » ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO DO ESTADO DA PARAÍBA.................................................................................................................................10 Características do Estado da Paraíba .......................................................................................10 CARACTERÍSTICAS DA URBANIZAÇÃO NA PARAÍBA...............................................12 .....................................................................................................................................................12 .....................................................................................................................................................13 ESPAÇO URBANO E TERCIÁRIO: UM OLHAR GEOGRÁFICO.....................................15 .....................................................................................................................................................16 ZONA DA MATA PARAIBANA: REESTRUTURAÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO, REFORMA AGRÁRIA E PAISAGEM RURAL ........................................29 .....................................................................................................................................................29 .....................................................................................................................................................29 TRABALHO, AMBIENTE E SAÚDE: um estudo da relação entre processos produtivos, recursos hídricos e risco à saúde ..............................................................................................40 HISTÓRIA DA PARAÍBA 1.......................................................................................................47 HISTÓRIA DA PARAÍBA 2.......................................................................................................68 A PARAÍBA NO PERÍODO COLONIAL – 67......................................................................69 A PARAÍBA DURANTE O IMPÉRIO ..................................................................................69 A PARAÍBA E A PRIMEIRA REPÚBLICA..........................................................................69 A CONQUISTA DA PARAÍBA..............................................................................................69 A CONQUISTA DO SERTÃO PARAIBANO ..................................................................................................................................................69 AS NAÇÕES INDÍGENAS DA PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 OS HOLANDESES NA PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 A ESCRAVIDÃO NA PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 AS LUTAS NATIVISTAS NA PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 A REVOLUÇÃO DE 30 E A PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 O MOVIMENTO DE 64 E A PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 A IMPRENSA NA PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 A IGREJA NA PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 Geografia e História da PB 2 A INQUISIÇÃO NA PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 A MAÇONARIA NA PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 A PRODUÇÃO LITERÁRIA NA PARAÍBA ..................................................................................................................................................69 HISTORIOGRAFIA E HISTORIADORES PARAIBANOS ..................................................................................................................................................69 PRESENÇA PARAIBANA NA CONQUISTA DO RIO GRANDE ..................................................................................................................................................70 A PARAÍBA E A PRIMEIRA REPÚBLICA........................................................................101 Wilson Nóbrega Seixas:.........................................................................................................155 Humberto Cavalcanti de Mello:.............................................................................................156 A MÃO-DE-OBRA ESCRAVA NOS ENGENHOS.............................................................169 Expositor: Hélio Nóbrega Zenaide (Sócio do Instituto Histórico, pesquisador, jornalista):..274 ...............................................................................................................................................274 Geografia e História da PB 3 GEOGRAFIA DA PARAÍBA Mesorregiões da Paraíba A Paraíba é um diamante incrustado no Nordeste. A alusão a uma pedra preciosa reafirma a riqueza natural que o Estado possui e as peculiaridades que caracterizam cada uma de suas quatro mesorregiões: Sertão Paraibano Borborema Agreste Paraibano Mata Paraibana Mesorregião do Sertão Paraibano - é um prato cheio para quem procura aventura e mistério. Religiosidade cultura e ciência se misturam em roteiros de grande beleza plástica. Achados paleontológicos de mais de 130 milhões de anos fazem do Vale dos Dinossauros, em Sousa, um lugar único no mundo. Ali, em meio ao solo rachado e transformado em pedra pelo tempo, centenas de pegadas registram a época em que os gigantes disputavam territórios. Em Vierópolis, cidadezinha a apenas 20 quilômetros de Sousa, sítios arqueológicos e trilhas pela Caatinga são boas dicas para quem busca um pouco mais de aventura. Outras opções interessantes na região são as águas termais de Brejo Das Freiras, as rochas que compõe a Serra de Teixeira – incluindo aí o ponto culminante do Estado – e o belo artesanato local, a exemplo das famosas redes de São Bento. Destaques para a Fazenda Acauã, localizada no município de Aparecida. A fazenda, recentemente restaurada, é uma das mais antigas da Paraíba. Geografia e História da PB 4 Mesorregião da Borborema - Em cidades como Prata, Sumé, Serra Branca, Boqueirão e Cabaceiras, a vida desafia a cinza vegetação da Caatinga e revela roteiros de extrema importância cientifica. No Lajedo de Pai Mateus, município de Cabaceiras, os turistas podem apreciar de perto todo o capricho da natureza. O lugar é hoje visitado por gente do mundo inteiro, todos curiosos em decifrar os enigmas escondidos nas rochas. O Lajedo ficou famoso ao servir de cenário para o filme o Auto da Compadecida, Pai Mateus na verdade foi o nome de um antigo ermitão que durante muitos anos residiu sobre as pedras. Muitos séculos antes, no entanto, índios já haviam deixado suas marcas por ali. Geografia e História da PB 5 Mesorregião do Agreste Paraibano - Na medida que nos afastamos do Litoral em direção ao interior, serras e vales férteis apresentam roteiros que unem história, natureza e diversão. Em Campina Grande, no Alto da Serra da Borborema, o “Maior São João do Mundo” atrai milhares de turistas para 30 dias de forró. Em Fagundes a famosa pedra de Santo Antonio, palco de peregrinações religiosas em homenagens ao “santo casamenteiro”, é hoje uma das mais procuradas áreas para a prática de Treking. Em Ingá encontraremos as Itacoatiara (pedras riscadas, em Tupi), a mais enigmática presença indígena no Nordeste. Mesorregião da Mata Paraibana - Sol e praia. Essa perfeita combinação parece ser a marca registrada do turismo na Paraíba. Para quem busca agitação, as praias urbanas de João Pessoa são a melhor opção. Além da estrutura de bares, restaurantes, e feiras de artesanato, o turismo encontra ainda passeio de barco até os recifes que acompanham quase toda a extensão da cidade. Um dos lugares mais visitados na capital é a Ponta do Seixas, o trecho de praia que mais se aproxima do continente africano em toda a América do Sul. Em Lucena, Baía da Traição, Mataraca e Barra de Mamanguape (litoral norte), aldeias indígenas cercadas por rios e mangues oferecem roteiros que misturam natureza e história num doa mais preservados trechos do litoral nordestino. No sul, o destaque é para Tambaba, primeira praia naturista do Nordeste. esorregiões Microrregiões Relevo Climatologia Geografia e História da PB 6 Microrregiões da Paraíba O Litoral da Paraíba se estende por cerca de 133 quilômetros. Sua extensão vai da desembocadura do rio Goiana - ao sul, onde se limita com o estado de Pernambuco - até o estuário do rio Guaju - ao norte, na divisa com o Rio Grande do Norte. Lucena, Rio Tinto, marcação, Mamanguape, Baia da Traição e Mataraca são os municípios que englobam o Litoral Setentrional. O Litoral Sul abrange os territórios municipais de João Pessoa, Cabedelo, Bayeux, Santa Rita, Conde, Alharanda e Pitimbu. O relevo possui algumas características distintas: baixos planaltos sedimentares ou tabuleiros, com falésias na fachada oceânica; a baixada litorânea é rica em dunas, restingas, lagoas e planícies aluviais, fluvio-marinhas e estuarinas dos rios que deságuam no Atlântico. O Litoral possui uma significativa diversidade de características econômicas: · Agroindústria Sucro-alcooleira; · Extração mineral - ilmenita, titanita, zirconita, cianita, calcário, granito; · Pesca da lagosta, em Pitimbu; · Agricultura e pecuária; · Loteamentos para residências secundárias. As potencialidades e belezas naturais do Litoral da Paraíba podem ser dimensionadas a partir de aspectos ecológicos como: a Mata Atlântica, os Manguezais e as Falésias. Onde estão as reservas de Mata Atlântica · Santa Rita possui reservas de matas em 5,21% da área total de seu território. As mais importantes são Pau-brasil, Pacatuba e Gargaú. · João Pessoa possui 15,22 quilômetros de áreas recobertas pela Mata Atlântica, o que corresponde a 7,21% de sua superfície de 210,8 Km quadrados. A Mata do Buraquinho, com uma área de 515 hectares, que se localiza às margens do Rio Jaguaribe, é mais importante de todas. · É na cidade de Mamanguape onde se encontra a maior área contínua de Mata Atlântica do Brasil, na bacia do rio Grupiúna: a reserva de Guaribas, com 4.321 hectares. · A Estação Ecológica do Pau-Brasil, também situada em Mamanguape, com 82 hectares, ganhou essa denominação porque, nessa reserva de Mata Atlântica, predomina a espécie pau-brasil. · Remanescentes de Mata Atlântica também estão localizados no município de Rio Tinto e constituem a Mara do Rio Vermelho, com uma área de 1.500 hectares. · Existem ainda reservas de crescimento secundário de Mata Atlântica distribuídas nos municípios de Santa Rita, Mamanguape e Rio Tinto, numa área total de 147,02 quilômetros quadrados, localizadas na Usina Monte Alegre. · A Mata do Amém, que fica no município de Cabedelo é outra importante reserva de mata de transição, onde se encontram espécies de Mata Atlântica e uma exuberante mancha de Floresta de Restinga. Onde se encontram os Manguezais Na Paraíba os manguezais se associam aos estuários e planícies de maré, que ocupam a porção terminal dos rios que deságuam no Atlântico. Pequenas ocorrências também se registram em torno das lagoas lotirâneas e em desembocaduras de riachos barrados por cordões arenosos acumulados pela ação do mar, denominadas, regionalmente, de maceiós. Nos manguezais paraibanos se encontram espécies como mangue vermelho, mangue-de-botão ou mangue cinzento, mangue siriúba, mangue manso ou branco. Onde se encontram as Falésias Vinte e seis, dos 133 quilômetros de extensão do litoral paraibano, são ocupados por falésias ativas ou inativas. As falésias emprestam deslumbrante beleza a extensas faixas do litoral paraibano. Elas adornam planícies litorâneas de largura variável. Essas escarpas que resultam, principalmente, da erosão marinha, têm maior ocorrência nas praias de Tambaú, Lucena, Baia da Traição e Pitimbu. MEIO AMBIENTE » UNIDADES ESTADUAIS DE CONSERVAÇÃO As Unidades de Conservação são porções do território nacional.Depois do Brejo o clima é semi-árido com temperaturas variáveis entre 26°C e 20°C e a umidade relativa do ar não ultrapassa 75%. onde se encontra o ponto culminante da Paraíba. concepção. MEIO AMBIENTE Situação do PNMAII na Paraíba Em atendimento à dinâmica de implantação deste Programa. .O clima tropical quente-úmido é característico do litoral. que tem uma altitude de 1. Pedras de Fogo. em conjunto com representantes do MMA e consultores contratados para este fim. Elas formam um complexo cristalino que favorecem a ocorrência de minerais metálicos. que chegam a desaparecer durante as marés cheias. A Serra de Teixieira é uma das mais conhecidas. 7 O Planalto da Borborema é o elemento mais marcante do relevo do Nordeste.010 metros acima do nível do mar. com vistas a analisar as prioridades ambientais e definir áreas potenciais (ver mapa) para os projetos estaduais de gestão integrada do Estado da Paraíba. cujos resultados estão contidos no documento "PRIORIDADES AMBIENTAIS DO ESTADO DA PARAÍBA". legalmente instituídas pelo Poder Público com objetivos e limites . Quanto ao Subcomponente Licenciamento Ambiental. . não metálicos e gemas.O clima quente e semi-úmido com temperatura média anual de 27°C e umidade relativa do ar de 70% predominam no pediplano sertanejo. ocorrem falésias ativas. Alhandra. aumento da sustentabilidade do SELAP. As serras e chapadas atingem altitudes que variam de 300 a 750 metros. com uma altitude média de 700 metros. especificamente no componente GESTÃO INTEGRADA DE ATIVOS AMBIENTAIS do PNMA II foram realizadas diversas discussões com técnicos da SEMARH e da SUDEMA. os municípios de Conde. . Na Paraíba ele tem um papel fundamental no conjunto do relevo. incluindo as águas territoriais.Geografia e História da PB Nas praias do Arraial. rede hidrográfica e nos climas. também resultam da idade geológica desses terrenos. a saliência do Pico do Jabre.No brejo as temperaturas variam de 22°C a 15°C e umidade relativa do ar de 85%. e fica localizado no município de Matureia. organização de SIG (Sistema de Informações Georeferenciadas) em interface com banco de dados abrangendo informações de caráter técnico e gerencial. conforme determinação da Unidade de Coordenação Geral.SELAP. . bastante antigas. Pitimbú e Caaporã. Os Subcomponentes Monitoramento da Qualidade da Água e Gerenciamento Costeiro serão objetos de estudos posteriores. de domínio público ou de propriedade privada.5 milhões de anos. que remontam a era pré-cambriana com mais de 2. Foi escolhido como área piloto. implementação para desempenho mais eficiente das ações de fiscalização. foi desenvolvido projeto para o fortalecimento do Sistema de Licenciamento Ambiental do Estado do Paraíba . experimentação e implementação de estratégia de descentralização. com características naturais de relevante valor. Climatologia paraibana Os climas da Paraíba estão relacionados com a localização geográfica: quanto mais próximo do litoral mais úmido e quanto mais distante mais seco. Aspectos do relevo paraibano A maior parte do território paraibano é constituída por rochas resistentes. Coqueirinhos e Cabo Branco. Os sítios arqueológicos e paleontológicos.Na depressão o clima adquire características de sub-umidade com temperatura média anual de 27°C. onde se registra uma temperatura média anual de 26°C e umidade relativa do ar de 80%. envolvendo o desenvolvimento de instrumentos e mecanismo para organização e agilização de procedimentos de gestão ambiental. . duas reservas ecológicas. belezas cênicas e recursos naturais. conservar os recursos genéticos e hídricos. favorecer a pesquisa científica. 8 Cada Unidade de Conservação recebe o manejo ambiental adequado para assegurar suas características naturais. Isto significa a preservação do que temos de mais relevante em termos paisagísticos.3 . promover a educação ambiental.833 19/10/92 Souza Caatinga Parque Estadual Pedra da Boca 157.º 14. Unidades de Conservação do Estado da Paraíba Reserva Ecológica Mata do Pau-Ferro 607. assegurar a qualidade ambiental e o crescimento econômico regional.0 Decreto N.500.º 14.835 19/10/92 Rio Tinto Mata Atlântica Parque Pico do Jabre 500.Geografia e História da PB definidos. manejar os recursos florestais. sob regimes especiais de administração.0 Decreto N. sendo quatro parques. almejando o desenvolvimento sustentável. Atualmente a Paraíba conta com oito Unidades Estaduais de Conservação. um monumento natural e um jardim botânico. A SEMARH através da SUDEMA vem ampliando a cada dia o seu trabalho nas Unidades de Conservação.0 Areia Mata Atlântica Reserva Ecológica Mata do Rio Vermelho 1.0 Decreto N.º 14. o lazer. os quais aplicam-se garantias de proteção. ou seja: manter a diversidade natural.834 19/10/92 Matureia e Mãe D'água Mata Atlântica Monumento Natural Vale dos Dinossauros 40. apresentando uma estratificação entre a caatinga arbórea fechada das serras à caatinga arbustiva aberta.4 Decreto N. Cerrado.º 21.º 21.263 07/02/00 Cabedelo Jardim Botânico Benjamim Maranhão 329.º 21. Alagoa Grande .João Pessoa Mata da Usina São João .Geografia e História da PB Decreto N.João Pessoa Mata Engenho Socorro . Brejos de Altitudes e Matas Serranas) e áreas semi-áridas.º 14. Após a conclusão do mapeamento e diagnóstico florestal a estado vem selecionando áreas que apresentam potencialidades para a criação de novas Unidades de Conservação dentre elas já em face de levantamentos de campo e estudos encontram-se selecionadas as seguintes áreas Parque do Cabo Branco .Areia.262 07/02/00 Bayeux Mata Atlântica 9 Áreas com Potencias para criação de Novas Unidades de Conservação A Paraíba possui uma grande diversidade de paisagens distribuídas entre áreas úmidas (Manguezais. com cobertura florestal de caatinga. Mata Atlântica.Santa Rita Mata do Triunfo .889 07/02/00 Araruna Caatinga Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha Decreto N. Mata da Restinga.264 07/02/00 João Pessoa Mata Atlântica Parque Estadual da Mata do Xém-Xém 182 Decreto N. Bananeira MEIO AMBIENTE » ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO DO ESTADO DA PARAÍBA O Zoneamento Ecológico e Econômico do Estado da Paraíba objetiva nortear uma política para desenvolver a região dos Cariris Paraibano.Santa Rita Pedra do Ingá .Boqueirão Serra Santo Antonio .Remígio Mata da Jussara . o ZEE também vai elaborar e executar estudos integrados dos recursos naturais. serras e vales.Sumé Serra Branca . Além dessas atividades. Agrícola de Souza Fazenda Pedra Cumprida . Características do Estado da Paraíba O Estado da Paraíba possui 56. distribuídos entre 223 municípios.Monteiro Serra do Jabitacá .B.Monteiro (nascente do rio Paraíba) Serra dos Sucurus .Areia Fazenda Lagoa da Cruz . através da ordenação territorial e preservação dos recursos naturais. Situa-se entre as Coordenadas Geográficas de 6º 02' 12' e 8º 19' 18' Lat.Areia Fazenda Craibeiras .João Pessoa Mata do Açude dos Reis .Boa Vista Mata do Jacarapé .Serra Branca Serra do Caturité . de Santa Rosa Fazenda Riacho da Cruz .Conde Área de Proteção Ambiental das Onças .Piancó Mata Esc. Rios perenes e intermitentes. Sul e 34º 45'45' de Long. visando o desenvolvimento sustentável.João Pessoa Mata do Aratú . planaltos.João Pessoa Área de Proteção Ambiental Tambaba .Ingá Fazenda Junco . e evitando o êxodo rural e o processo de desertificação que se instala na sub-região. porém com uma notável variação de paisagem natural. vegetação que varia desde a formações florestais até a caatinga herbácea. .São João do Tigre Reserva Ecológica Estadual de Goiamunduba . relevo marcado por planícies.Geografia e História da PB 10 Mata de Cabedelo .372 Km². de Santa Rosa Mata de Monteiro . Oeste.Sumé Mata de Mangabeira .Cabedelo Sítio Arqueológico de Pai Mateus . É um dos menores estados do Brasil.B. milho e feijão. . abrangendo 25 municípios. Conta. é carente de cursos d'água permanentes. O quadro sócio-econômico é marcado pela pobreza absoluta na maior parte da população paraibana. salvo alguns pequenos projetos de irrigação onde são explorados hortaliças como o tomate e o pimentão. sisal. economicamente importante. por outro lado. A área escolhida como prioritária para iniciar o ZEE. podendo ser chamada de uma sub-região. tradicionalmente dedicada à produção de algodão. caracterizam-se no geral pelo baixo nível tecnológico. Os Cariris Paraibanos Os Cariris paraibanos ocupam uma área de 1. Caatinga Antropizada. solos e vegetação típicos do Semi-árido. Constitui-se de uma porção expressiva da Zona Semi-árida do Estado. de bovinos de leite e corte. região inserida para o zoneamento ecológico econômico. levando a uma convivência nem sempre pacífica entre práticas convencionais e modernas. especificamente.Geografia e História da PB 11 Esta diversidade natural.080 hectares. como em qualquer região. As atividades agrícolas. está inserida na região semi-árida do estado. Local: Serra Branca. A rede hidrográfica. o Cariri Oriental e Cariri Ocidental. Cariris Paraibanos. envolvendo duas microrregiões. excita a diferentes formas de uso. com uma produção pecuária. caprinos e ovinos deslanados. totalizando 25 municípios.124. semi-árida. com clima. O principal curso d'água é o Rio Paraíba com a bacia do Rio Taperoá que percorre quase toda a sub-região. Devido a grande riqueza de recursos existentes nos Cariris Paraibanos. intermitente. Relevo Residuais da área dos cariris.Geografia e História da PB 12 Local: Serra Branca. nesta porção existe a maior concentração das ocorrências minerais do Estado de Caulim e Sheelita. Local: São João do Cariri. no qual a população ainda utiliza-se de pequenas cacimbas. do Departamento de Geociências/UFPB Versão em PDF . CARACTERÍSTICAS DA URBANIZAÇÃO NA PARAÍBA Lígia Maria Tavares da Silva Mestre em Geografia. o projeto de Zoneamento Econômico e Ecológico do Estado da Paraíba pretende conservar e preservar a área e a relação homem-natureza. Profa. Com relação aos recursos minerais. Leito do Rio Paraíba. agremiações. Campina Grande é a segunda cidade mais importante do Estado. sistema educacional (de base acadêmica européia) e os meios de informação por onde as influências inovadoras penetram. no final do século XIX. Taperoá. que a modernização concentrou a riqueza em poucas cidades paraibanas. a urbanização deixa de ser apenas um processo de adensamento populacional em determinados núcleos. acaba por ocasionar alterações nos costumes e hábitos das populações locais. a origem e a evolução das cidades. que são a maioria no Estado. Itabaiana. o processo de ocupação do território se deu primeiramente em função da produção do açúcar. passa a ser um processo mais complexo. de fato. européias. O modo de vida urbano na Paraíba se caracteriza a partir deste período nas cidades onde a elite urbana comandava a política local. O estudo revela. para se tornar um elemento de um processo mais amplo: a modernização. museus. determinavam o que devia ou não ser produzido. nacionais e em alguns casos. Ao processo de ocupação do interior. No Brasil. deram um grande impulso econômico à esta cidade que. saneamento. Patos é a terceira mais importante cidade do Estado. como teatros. e que tinham um porto para escoar a produção. Podemos citar Campina Grande. bibliotecas. A urbanização. jornais. De acordo com a classificação urbana elaborada pelo IBGE. até a década de sessenta era a mais importante do Estado. sendo suas origens. a partir dos meios de informação. A partir do período republicano. INTRODUÇÃO A análise do processo histórico de urbanização na Paraíba. em detrimento do grande número das pequenas e pobres cidades. Monteiro e outros centros de zona.Geografia e História da PB 13 RESUMO: O processo de urbanização na Paraíba é aqui analisado em sua relação com a dinâmica econômica regional e nacional. As cidades da Paraíba que se destacaram entre o final do século XIX até a década de trinta foram: João Pessoa. cabendo à Igreja a função reguladora da vida social. . Destacam-se durante os séculos XVI e XVII a cidade da Parahyba (João Pessoa). e o comércio do algodão conjugado com a ferrovia. água. sobretudo as feiras de gado. até o final do século XIX. partidos políticos e outros. A feira de gado. Itabaiana. por sua vez. Patos surge posteriormente e passa a ter importância. ao serem introduzidas novas ideologias. que até o final do século XIX era um importante centro comercial e cultural em função de seu porto. destacando as políticas públicas intervencionistas enquanto principais agentes de promoção da modernização no Estado. Na Paraíba. de uma maneira geral. Santa Luzia. Areia. A cidade se abre para as pessoas. surgindo as praças e os coretos. posteriormente. com a atividade do gado e do algodão. Do ponto de vista comercial. com o porto do Capim e Mamanguape. Piancó foi a primeira localidade do sertão da Paraíba oficialmente com categoria de povoação. Situada na região do Agreste. por sua vez. antes centrada nas atividades religiosas. de acordo com a Divisão Internacional do Trabalho. a partir do início do século XX. se tornarem cidades. internacionais. I. ou seja. deve levar em consideração não só a dinâmica econômica estadual mas também as dinâmicas regionais. inicialmente. cultura e lazer que veiculavam práticas e costumes tidos como "civilizados". corresponde o aparecimento de povoados que iriam. diversificando a vida urbana. sendo ainda hoje a função de entroncamento rodoviário bastante significativa para a dinâmica urbana local. Muitas cidades do interior tiveram sua origem como ponto de parada dos tangerinos que tangiam boiadas do sertão para o litoral. entre outras coisas. Tal processo. vias e transporte coletivo). a sua ocupação está relacionada ao declínio da agro-indústria canavieira a partir do século XVII. a evolução dos núcleos urbanos se dava em conformidade com a atividade econômica estabelecida a partir dos interesses coloniais e imperialistas que. as feiras se constituem na forma de comércio mais tradicional do Estado e tiveram uma importância histórica relevante na formação de povoados. pela sua condição de "passagem obrigatória" para quem vai para o sertão. posteriormente. O sertão do Piancó agrupara as principais vilas do interior nos séculos XVII e XVIII. que beneficiou especificamente as cidades que se encontravam próximas aos campos de cultivo da cana de açúcar. Campina Grande. trazendo para as cidades a necessidade da implantação de infra-estrutura urbana (serviços de iluminação pública. o presidente João Pessoa quis combater. o que viria a favorecer o pequeno produtor. João Pessoa por ser sede administrativa e religiosa. por outro lado. caracterizando um processo de ascensão da elite urbana ante a elite rural. Itabaiana pela feira de gado e por ter sido beneficiada com um ramal da rede ferroviária. e num momento de elevada aceleração da população urbana. houve uma aceleração do desenvolvimento urbano das cidades da Paraíba. Piancó. ficando o Nordeste à margem do processo de desenvolvimento industrial do Sudeste. Podemos destacar o papel do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). conforme a orientação da política centralizadora do governo de Getúlio Vargas. receberam a instalação de açudes. a partir dos anos 60. merece um destaque especial pela sua importância cultural. Inicialmente o capital estrangeiro. no entanto. As feiras. a estrutura de poder oligárquico que privilegia a parentela como prática política. Cajazeiras. no entanto. muitas cidades se beneficiaram com melhorias na infra-estrutura e nos serviços urbanos. As feiras de gado deixam de existir na medida em que a comercialização vai se dando das fazendas aos frigoríficos a partir da implantação das rodovias. De uma maneira geral. beneficiando-se com uma dinamização nas atividades de serviços. sobretudo durante o século XIX. com a escola do mestre iluminista Padre Rolim. cuja influência intervencionista se deu sobretudo nas cidades de Campina Grande e de João Pessoa. Por volta de 1950 o ciclo do algodão se fez presente em 70% do território paraibano. e que persiste até os dias atuais. atividade canavieira passou a ser largamente introduzida na região do Brejo. rodovias e infraestrutura urbana. sendo centro comercial e industrial. Rio Tinto. Campina Grande. surgiria em 1924 como comunidade industrial a partir do estabelecimento da Companhia de Tecidos Rio Tinto do Grupo Lundgren. A disparidade regional acentua-se. viabilizada intensamente no governo militar. apartado da sede administrativa estadual e das benesses da modernidade. e Princesa.Geografia e História da PB 14 Guarabira e Princesa Isabel. uma família de origem sueca que ainda hoje possui grandes extensões de terras no litoral nordestino. Itabaiana e João Pessoa. os fazendeiros de gado e algodão e principalmente os negociantes de Recife. até porque passam a servir de "bicos" para os desempregados e os sem-terras. destacando-se as seguintes cidades: Areia. levando à ampliação da malha ferroviária. A construção da rede ferroviária. Em função da política urbana centralizada do Governo Federal. Campina Grande pelo intenso comércio com Recife. Bananeiras. pela importância comercial de seu porto. podemos concluir que o tipo de modernização introduzida no Estado não resultou em melhoria de vida para a população local. a partir do qual muitas cidades. que nascia conforme o modelo de substituição de importações. para país industrial. cuja influência era exercida por toda a região. e posteriormente o capital nacional. sendo Areia a mais importante por apresentar o maior número de Engenhos e a Escola de Agronomia do Nordeste (UFPb – Campus Areia). Os impactos desta política ao nível estadual foram muitos. Outro aspecto relativo à modernização no Estado da Paraíba foi a entrada de capital. A cidade. sobretudo no sertão. A partir deste período. eram as que beneficiavam e/ou comercializavam algodão. passam a introduzir produtos industrializados em detrimento dos artesanais. Monteiro. na metade do século XX. com o apoio da elite urbana. Entre os anos 50 e 80. em detrimento da maioria da população. Souza. a especulação imobiliária passou a ser a . pela influência dos políticos locais junto ao Governo Federal. que logo entrou em decadência com a implantação das estradas de rodagem. como Cajazeiras. de país agrário exportador. ao defender que a Paraíba deveria comercializar e exportar o que produzia. As cidades mais importantes do Estado. por sua vez. assim como Guarabira. Permaneceu. para a construção de açudes nas áreas secas através do IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas). Os beneficiados foram os comerciantes das cidades citadas. por sua vez. As inimizades políticas decorrentes de suas ações determinariam a sua morte. não atendeu às necessidades de interligação do território paraibano. e posteriormente o da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste). entrou em decadência com o fechamento da fábrica. no final dos anos 20. A meta do governo de Vargas era facilitar o escoamento da produção do parque industrial paulista. marcado sobretudo pela maior participação e intervenção do Governo Federal e. por ter sido porta de escoamento dos produtos do alto sertão para Pernambuco além de abrigar funcionários e engenheiros. sobretudo para os pequenos produtores. Pirpirituba e Remígio. Patos. sobretudo. perdendo as características culturais peculiares. resiste às inovações. ligando-se à Recife. mas acentuou o processo de espoliação dos recursos estaduais pelo Estado de Pernambuco. No Litoral. através da instalação de infra-estrutura rodoviária e dos respectivos Distritos Industriais. o Sertão. visto que as linhas férreas convergiam para a capital pernambucana. Santa Rita e Cruz do Espírito Santo vinham desempenhando a mesma função com a produção de açúcar. Foi a partir da década de cinquenta que muitas pequenas indústrias locais começaram a falir por não suportarem a concorrência com os produtos do CentroSul. rapadura e aguardente. A desvantagem que a Paraíba sofria na comercialização com Pernambuco. Por outro lado. Sendo assim. através das migrações campo-cidade. no litoral. para a construção da rede ferroviária. tornando-se aos poucos grandes camelôs. a partir da política de construção de açudes. vindo a transformar o Brasil. que por sua vez serviria de estopim para o movimento revolucionário de 1930. por exemplo. Sales Mestre em Ciências Sociais pela UFRN Maria Gerlane de Oliveira Correia Geógrafa e Pesquisadora do LOGEPA/DGEOC/UFPB Wellington Rodrigues da Silva Geógrafo e Pesquisador do LOGEPA/DGEOC/UFPB RESUMO: Interessa a esse trabalho caracterizar o setor terciário numa cidade de médio porte. Há pouco investimento em infra-estrutura urbana de saneamento e pavimentação. Campina Grande que era. entre os vazios urbanos e as áreas ocupadas.ct. a oferta de infra-estrutura urbana. a cidade de Bayeux. evidenciando a má distribuição da riqueza e a pobreza generalizada. o estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). ambos viabilizados com recursos federais (MEC e SUDENE). do Departamento de Geociências e do PPGG/UFPB E-mail: erodat@hotmail. ESPAÇO URBANO E TERCIÁRIO: UM OLHAR GEOGRÁFICO Emilia de Rodat Fernandes Moreira Doutora em Geografia. até a década de sessenta. que se deu nas direções sul (Cruz das Armas) e leste (praias).ufpb. Prof.com Richarde Marques da Silva Mestre em Engenharia Urbana pela UFPB e Pesquisador do LEPAN/DGEOC/UFPB E-mail: richarde@lrh. que é atualmente a principal cidade do Estado. João Pessoa. do Departamento de Economia da UFPB Luis Gustavo de L. Por fim. Com a política urbana estabelecida pelo governo militar de 1964. do comércio e da indústria.br Ricélia Maria Marinho da Silva Mestre em Geografia pela UFRN Ivan Targino Doutor em Economia. cresceu muito lentamente até 1960. visíveis na paisagem das principais cidades do Estado. de serviços. Por outro lado. através do estudo do setor de serviços. vem perdendo posição para João Pessoa. resultantes do processo histórico de ocupação do território paraibano. foram instalados o campus da Universidade Federal da Paraíba e o Distrito Industrial. Além disso. a população e a riqueza concentram-se nas duas maiores cidades do Estado: João Pessoa e Campina Grande. . As atividades terciárias foram muito dinamizadas neste processo de expansão da cidade. passou a receber investimentos para a ampliação da malha rodoviária e para construção de conjuntos residenciais. incrementando assim os setores imobiliário e de construção civil. que classifica as cidades paraibanas de acordo com a população. mostra que no Estado predominam os centros de menor nível e poucas são as cidades de nível médio. originando uma organização espacial desigual caracterizando um acentuado contraste entre áreas nobres e as favelas.Geografia e História da PB 15 mola propulsora dos investimentos e consequentemente das distorções na ocupação dos espaços urbanos. buscando compreender suas especificidades e verificar até que ponto esse setor atua como amortecedor para a crise do desemprego na localidade estudada. Profa. de equipamentos. Com isso. a principal cidade do Estado. O acirramento da competitividade tem determinado várias mudanças no cenário econômico com fortes rebatimentos na organização espacial das cidades. a cidade pode ser encarada como o locus privilegiado para a criação das condições básicas para o desenvolvimento econômico dos setores comercial e de serviços. Estes são. Além disso. constitui-se num reflexo da sociedade. política e cultural. particularmente da grande cidade capitalista. para compras no centro da cidade ou nas lojas do bairro. às visitas aos parentes e amigos e às idas ao cinema. p.7). o espaço da cidade capitalista. se articulam e se integram entre si tanto através de fluxos de veículos e de pessoas associados às operações de carga e descarga de mercadorias. rendas. salários. praia e parques. aquelas de reserva para futura expansão (CORRÊA. não tem existência autônoma. Esse espaço fragmentado e articulado é constituído por diferentes formas de uso da terra cada uma delas podendo ser entendida como forma espacial (CORRÊA. Segundo Corrêa (1989). bem como a prática das relações de poder e ideológicas (CORRÊA. a terceirização da produção e o fortalecimento do setor terciário. de modo que o espaço urbano suporta a cada dia um número maior de . Entre essas mudanças podem ser lembradas: a realocação de unidades industriais. existindo porque nela se realizam uma ou mais funções. aos deslocamentos menos freqüentes. isto é. aos deslocamentos cotidianos entre as áreas residenciais e os diversos locais de trabalho. da estrutura social. áreas industriais. uma série de transformações decorrentes da intensificação da globalização e da reestruturação produtiva dela decorrente. juros. por sua vez. Nesse sentido. de serviços e de gestão. isto é. áreas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo social. atividades como a produção e venda de mercadorias. culto religioso. local de concentração de atividades comerciais. social. Dessa forma. como o centro da cidade. o movimento da própria sociedade. Estas áreas se relacionam. prestação de serviços diversos ou uma função simbólica. Esta forma espacial. ultimamente. 1989). de lazer e. demandando funções urbanas que se materializam nas formas espaciais (CORRÊA. observa-se o crescimento do desemprego estrutural. 1989. entre outros aspectos. 1989). entre outras.Geografia e História da PB 16 Por mais que variem os conceitos do que constitui uma cidade. p. como através das relações espaciais envolvendo a circulação de capital. para Corrêa (1989).10). que se acham vinculadas aos processos da sociedade. O espaço urbano tem sofrido. porém. é simultaneamente fragmentado e articulado uma vez que ele compreende uma variedade de formas de uso da terra interligadas entre si as quais: definem áreas. o espaço urbano enquanto espaço simultaneamente fragmentado e articulado constitui a expressão espacial de processos sociais. 1989. a maioria deles concorda em que se trata de um aglomerado de pessoas vivendo próximas uma das outras o que permite níveis de interatividade econômica. uma grande parte da sua mão-de-obra encontra-se ocupada em atividades informais ou desempregada. o setor terciário cresce em decorrência de pelo menos três fatores: a) pela absorção de postos de trabalho que foram retirados das unidades fabris pela focalização nas suas atividades essenciais. o que se observa é a diminuição da quantidade de postos de trabalhos no setor industrial em virtude não só da inovação tecnológica. A esse respeito Guimarães Neto lembra que “a evolução do emprego (no setor terciário) está intimamente associada ao processo de urbanização e ao processo migratório” (1976. Andrade (1980) chama a atenção para o notável crescimento das atividades terciárias no Brasil. assim como nos outros países capitalistas do mundo. retratando as facetas do setor de serviços no Brasil. pois. Segundo Dweck et al. de comunicação etc. visando a absorção de uma grande parcela da população “subempregada” no setor terciário. sobretudo no que tange às áreas sanitárias. atuando.. principalmente nos países subdesenvolvidos. No Brasil. Dweck et al. onde o mercado de trabalho era praticamente formalizado. de transportes. denota uma expressão de atraso. de segurança. o aumento das aglomerações urbanas não coincide com a ampliação proporcional da oferta de empregos. a modernização da agricultura e as mudanças no processo produtivo agrícola agravaram o desemprego no campo e estimularam o êxodo rural. O setor industrial não se constitui na matriz de dinamização do emprego urbano. reflete a principal mudança estrutural ocorrida nestas economias nas últimas décadas: em todos os países ocidentais o emprego nos serviços expandiu-se extraordinariamente. na expressão de José Num (1978). Nesse cenário. não sendo expressivo o segmento informal da economia. . a urbanização torna-se cada vez mais terciária. Isto sem falar que as cidades maiores estão continuamente assediadas pelos fluxos migratórios procedentes seja da zona rural seja das cidades de menor porte.Geografia e História da PB 17 desempregados. entre outras. a exemplo dos serviços de limpeza. mas também das inovações no gerenciamento do trabalho. educacionais. p. o desenvolvimento tecnológico refletido na automação e na robotização do processo produtivo da indústria e de certos segmentos do setor terciário. Paralelamente. mesmo aquelas cidades economicamente importantes também refletem essa característica dos centros urbanos modernos. O resultado combinado desses processos é expresso através do “inchaço populacional” dos centros urbanos e da sua incapacidade de absorver o excedente populacional que já se configura como “populações marginais”. b) a incapacidade na criação de novos postos de trabalho. para fazer face ao aumento do consumo e do bem estar da coletividade. 444) a terceirização da economia no Brasil do ponto de vista do emprego. particularmente a partir da década de 50. p. principalmente no setor industrial. Santos (1979) afirma que à medida que o país se industrializa. c) pela absorção dos trabalhadores desempregados que encontram nas atividades informais o escape de sua sobrevivência. bancárias. na distribuição mais justa de propriedades agrícolas e. assim como em outros países de industrialização tardia. Ele também concorda que este fenômeno acha-se intrinsecamente interligado ao crescimento urbano-populacional que impulsiona a disponibilização de serviços. (1992. Desse modo. capaz de fixar o homem na zona rural. pois o aumento desse setor está relacionado a dois fatores: a) falta de uma política agrária eficaz. b) pelo crescimento de determinadas atividades surgidas no bojo do progresso tecnológico e. Ao contrário. sobretudo. Ao contrário do que ocorre nos países do primeiro mundo. (1992). o crescimento do setor de serviços no mundo subdesenvolvido não é um indicador associado direta e perfeitamente ao desenvolvimento econômico. ressaltam que a expansão da terceirização em países em via de desenvolvimento como o nosso. agravou o problema do desemprego e o conseqüente surgimento de variações das formas de ocupação no mercado de trabalho nas cidades.39). localizada na porção central da Mesorregião da Mata Paraibana (v. UM MUNICÍPIO PEQUENO E ESSENCIALMENTE URBANO O município de Bayeux. 1980 e 1985) e ao IDEME (anuários estatísticos de 1995 e 2000). O setor serviços assume. a apenas 4 quilômetros da capital do Estado à qual se interliga através de dois eixos de circulação: a Br 230 e a Avenida Liberdade. 446). portadores de baixa qualificação.. através do estudo do setor de serviços. uma série de procedimentos e técnicas de pesquisa foi utilizada: a) levantamento bibliográfico e documental. p. grande parcela das atividades tradicionais de serviços seria a única possibilidade de ocupação de amplos setores da população.Geografia e História da PB 18 Nessa perspectiva. é um dos menores do estado da Paraíba. Para determinar o porte do estabelecimento investigado utilizou-se a metodologia adotada pelo SEBRAE para a classificação das empresas. A partir da utilização de um SGBD. significando conseqüentemente. a partir do número de pessoas ocupadas. Para sua realização. que teve por finalidade a realização de um diagnóstico dos setores da economia municipal e sua relação com a organização do espaço urbano. com uma área de 27. fig.Localização do Município de Bayeux . c) trabalho de campo que consistiu: no levantamento dos estabelecimentos de serviços existentes na cidade. assim. b) levantamento de dados secundários junto ao IBGE (censos de serviços de 1970. 1). foi gerado um banco de dados o qual foi interligado a um SIG permitindo a geração de mapas temáticos. muitas de suas atividades servindo como refúgio dos desempregados da reestruturação industrial (DWECK et al. a cidade de Bayeux. BAYEUX. 1. A amostra foi composta por 50 estabelecimentos de serviços distribuídos no Bairro do Centro. O estudo faz parte de uma pesquisa mais ampla desenvolvida com o apoio da Prefeitura Municipal de Bayeux. Ele situa-se na Microrregião de João Pessoa. na escolha da área e do número de estabelecimentos que constituiriam a amostra para aplicação dos questionários e na aplicação dos questionários. uma função de colchão amortecedor. 1992. subemprego e exclusão social. buscando compreender suas especificidades e verificar até que ponto esse setor atua como amortecedor para a crise do desemprego na localidade estudada. Este artigo restringe a discussão ao setor de serviços.5 km2. Interessa a esse trabalho caracterizar o setor terciário numa cidade de médio porte. Figura 1 . Figura 2 .Vista Parcial da vegetação de mangue encontrada na planície flúviomarinha (margem esquerda do Rio Sanhauá) ao norte da cidade de Bayeux. figs. pela existência de uma importante reserva de Mata Atlântica que constitui o parque ecológico da Mata do XémXém (v. o município acha-se limitado em sua expansão pela presença ao norte de ampla área de mangue e ao sul. 1996.Geografia e História da PB 19 Fonte: IDEME. Além de sua pequena dimensão territorial. Foto: Rejane Abreu. . 2 e 3). Esses limites ecológicos somados à localização geográfica na porção imediatamente a oeste da capital. A malha urbana municipal (v. a expansão urbana foi praticamente nula. industriais e de serviços. relíquia de Mata Atlântica ao sul de Bayeux.Malha urbana de Bayeux . nas adjacências do aeroporto Castro Pinto ali localizado. fig 4) é composta de 14 áreas residenciais sendo oito situadas ao norte da Br 230 e seis ao sul. Foto: Arquivo de Tarcísio Valério. Mais recentemente observa-se um avanço do tecido urbano em direção ao sul.Geografia e História da PB 20 Figura 3 . através da construção de conjuntos habitacionais ocupados por populações de baixa renda e de loteamentos que originaram bairros de classe média. uma vez que este bairro limita-se com a área de mangue situada ao norte. A Br-230 e as avenidas Liberdade e Eugênio de Carvalho constituem importantes eixos de circulação ao longo dos quais concentra-se um número significativo de estabelecimentos comerciais. podem ser apontados como alguns dos fatores responsáveis pela forma de corredor no sentido leste-oeste que assumiu inicialmente a ocupação do seu espaço. ao sul pela área residencial denominada Imaculada e a oeste pela comunidade de São Lourenço). e a localização da via férrea que liga o município à capital e ao interior. Já na área residencial do Centro.Vista Parcial da Mata do Xém-Xém. e nas demais direções é completamente circundado por outros bairros (a leste pelo bairro do Sesi. Figura 4 . o crescimento populacional de Bayeux é inconteste.6% a. com taxas sempre altas: de 66. gráfico 1 e quadro 1).Geografia e História da PB 21 A exigüidade do território e o domínio de dois geossistemas.1% entre 1970 e 1980.9% entre 1991 e 1996.7% (v. O crescimento médio da população municipal entre 1970 e 1996 foi de 137% o que significa que o contingente populacional residente em Bayeux mais do que duplicou em 3 décadas (v. 16. Este crescimento persiste depois de 1970. constituindo-se hoje num dos mais populosos e povoados municípios do estado. respectivamente). residiam no município.a.7% (v. Em 1960. De fato. com uma população de quase 90. gráfico 1). Gráfico 1 .880 pessoas. poderiam ter se constituído em elementos de impedimento ao processo de ocupação humana.000 habitantes (MOREIRA e TARGINO.2% entre 1980 e 1991 e de 8. gráfico 1). de 31.7% a. algo muito superior ao verificado para João Pessoa e para o conjunto do estado no período (3. e 1. Não obstante essas limitações Bayeux cresceu. Entre 1960 e 1970 a população residente cresceu 110% a uma taxa média anual da ordem de 7. o de mata e o de mangue sobre o mesmo. 1999).a. Entre 1996 e 2000 a população residente em Bayeux cresceu 3. BAYEUX -EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO RURAL E URBANA . Contagem da População de 1996.1960/1996 Fonte: FIBGE. gráfico 2). para 99. 1970.Geografia e História da PB 22 Fonte: IBGE.298 habitantes em 2000 (v.7%.1996. Gráfico 2 . Contagem da População. 1980. 1991. 1991.636 habitantes em 1970. 2000. quadro 1 e gráfico 2). Censos Demográficos de 1960. 2000. Censos Demográficos de 1960.9% em 2000 (v. 1980. para 87. Nesse período a população urbana aumentou 151.7% em 1996 e 99. passando de 34. tendo passado de 97. Esta população é dominantemente urbana e a taxa de urbanização vem crescendo constantemente.7% em 1970. Quadro 1 . 1970. do Brejo.08%). predominantemente da área rural. 1980. como será visto a seguir.812 pessoas. Na sua grande maioria eles têm origem rural (63. 1991. do entorno de Campina Grande. 83. a pesquisa de campo procurou traçar um perfil mais detalhado do setor. particularmente do Curimataú. sendo a maior parcela proveniente de municípios situados na várzea do Rio Paraíba. serviços auxiliares da atividade econômica – 305 e. administração pública – 1.826.222. O crescimento da população urbana observado no período analisado pode ser em parte explicado pela migração de pessoas vindas principalmente do interior do Estado. uma taxa de dependência específica da ordem de 2. Bayeux e Santa Rita). .641. De acordo com a mencionada pesquisa. portanto. Conceição e Catolé do Rocha. outras atividades – 292. atividades sociais – 2. O setor terciário absorvia 14.940 pessoas com idade superior a 10 anos residentes em Bayeux. Contagem da População de 1996.7 pessoas em idade ativa. Estudos como o realizado pela Fundação de Assistência Comunitária do estado da Paraíba (FAC) (1996). 2000. além de Patos. 21. em média. Diante da importância do setor terciário mostrada pelos dados censitários. Isto é. confirmam tal assertiva. Esse número dá a dimensão da importância do setor na economia municipal. observando-se. São também encontrados migrantes oriundos de municípios situados no Agreste e no Sertão. 1970. Cabedelo.288. das 58. por 2. 3.7.238.8% do total do emprego municipal. Censos Demográficos de 1960.558 encontravam-se ocupadas. transportes e comunicações – 1. Essas pessoas estavam distribuídas pelos sub-setores da seguinte maneira: prestação de serviços – 4. PERFIL DO SETOR DE SERVIÇOS DE BAYEUX De acordo com o censo demográfico de 1991. representando 68.Geografia e História da PB 23 Fonte: IBGE. Pombal. comércio de mercadorias – 4. cada trabalhador era responsável.87% da população residente em habitações subnormais em Bayeux são imigrantes oriundos de outros municípios do Estado da Paraíba (o que representa a maior taxa de imigração verificada entre os municípios de João Pessoa. junto à população residente nas habitações subnormais existentes no município. etc. cabeleireiro(a) e barbearia.) e serviços de reparação-manutenção e conservação (oficinas mecânicas. Assim. borracharias. lanchonetes. fig. oficinas de bicicletas. hotéis e motéis).151 estabelecimentos de serviços distribuídos pela malha urbana de Bayeux segundo as seguintes categorias de serviços: alojamento e alimentação (bares. prestação de serviços em saúde. fig. eletro-eletrônicas. clínicas médicas e laboratórios de análise) além de pouco numerosos concentram-se em apenas três bairros. Já os estabelecimentos de serviços de alimentação (bares. Os estabelecimentos de serviços de saúde (hospitais. Figura 5 . 5). diversão. conserto de eletrodomésticos e serviços de costura) (v. lanchonetes.Geografia e História da PB 24 Em 2001. serviços religiosos. prestação de serviços em educação. A distribuição dos estabelecimentos de serviço de educação está concentrada na porção norte da cidade. prestação de serviços pessoais (salão de beleza.) e de serviços pessoais têm uma distribuição mais homogênea pelos diferentes bairros da cidade. A distribuição das atividades de serviços no espaço urbano de Bayeux se dá de forma diferenciada segundo os tipos de serviços e a estratificação social refletida no espaço através da renda fundiária. manicure e pedicure. 5). nas áreas de ocupação mais antiga (v. figura 5). a via de circulação compreendida pela articulação das Br 230/101 possui uma maior concentração de estabelecimentos de serviços de manutençãoreparação e conservação. postos médicos. a pesquisa por nós realizada identificou 1. não obstante apresentarem um certo grau de diferenciação no tocante ao porte e à qualidade dos serviços prestados (v. consertos de bicicletas (13.3 %). Dentre os mais citados.Geografia e História da PB 25 Após o mapeamento dos estabelecimentos de serviço. manicure e pedicure (10.5%). pode-se relacionar em ordem decrescente de importância os seguintes: a) necessidade de manutenção da família. b) habilitação profissional do responsável pelo estabelecimento. Dos estabelecimentos de serviços de manutenção. conservação e recuperação (34% do total) e os estabelecimentos de alojamento e alimentação (20% do total). ou seja.9% do total.3%). conservação e recuperação sobressaem as oficinas mecânicas (26. Os principais resultados são expostos a seguir. serviços de fotografia (10. d) falta de emprego e. Somados representam apenas 8% do total dos estabelecimentos investigados.5%). a pesquisa procurou estabelecer uma configuração mais detalhada dessa atividade a partir de uma investigação mais detalhada no bairro que apresenta a maior representatividade de estabelecimentos de serviço presentes no espaço urbano municipal.5%). destacam-se os seguintes: cabeleireiro (26. c) falta de estabelecimentos ou de profissionais do ramo no local. Dentre os empreendimentos de serviços pessoais analisados. o Bairro do Centro. costura em geral (10. o que permitiu a identificação de sua distribuição espacial.7%). Constatou-se que predominam os serviços pessoais (36 % do total). 30.3 %) e consertos de geladeiras (13. Os serviços de diversão e de educação são menos numerosos. e) ampliação da renda familiar. São diversos os fatores que contribuíram para a instalação dos estabelecimentos de serviços no município. Dos 162 estabelecimentos de serviço localizados no bairro do Centro foram investigados 50. . seguidos dos serviços de manutenção. 8% não possuem o primeiro grau completo). Ao se referir ao circuito inferior da economia Santos também tece algumas considerações nesse sentido. trabalhadores ilusórios que vendem todos os dias. segundo Chahad (1992. Foi observado um elevado grau de informalidade nos estabelecimentos do setor de serviços investigados. é mais necessário o trabalho que o capital (1979.8% das pessoas ocupadas não sabem ler ou escrever e 27.3 % dos trabalhadores possuem o terceiro grau completo (2 trabalhadores). plano de saúde e vale transporte. um percentual bastante significativo (de 36. O grande número de trabalhadores do setor de serviço que percebe menos de 1 salário mínimo. percebe menos de 1 salário mínimo (42 trabalhadores). Grande parte desse pessoal trabalha na empresa de ônibus Rio Tinto. Do total de trabalhadores ocupados nos estabelecimentos 48.9% do total do pessoal ocupado que compôs a amostra).3%). a quase totalidade dos estabelecimentos (46) tem menos de nove empregados. seja sua força de trabalho ou até mesmo suas mercadorias. Das 155 pessoas ocupadas 47 fazem parte da família dos proprietários (30. p.511).1 trabalhadores por estabelecimento. Esse baixo nível de escolaridade pode estar relacionado. afirmando que o circuito inferior constitui também uma estrutura de abrigo para os citadinos antigos ou novos.224) chamou de: desempregados parciais. Apenas 1. seguidos dos cônjuges. Apenas 5 estabelecimentos (10% do total) concedem algum tipo de benefício aos trabalhadores quais sejam ticket alimentação. Chama porém a atenção. insere-se entre os pequenos estabelecimentos de serviço. desprovidos de capital e de qualificação profissional [. na medida que.. Quando se levantou o grau de parentesco dos familiares ocupados nos estabelecimentos verificou-se a predominância dos filhos.. No que tange ao grau de escolaridade do pessoal ocupado a maioria dos trabalhadores apresenta baixa escolaridade. segundo a metodologia citada anteriormente. à baixa qualificação profissional que caracteriza a força de trabalho no setor informal. para isso. irmãos. Com efeito. Estas trabalham em 22 dos 50 estabelecimentos pesquisados. É alto o índice de analfabetismo (22. Apenas um estabelecimento com mais de 50 trabalhadores. Desses. É importante destacar que as pessoas ocupadas que percebem mais de 5 salários coincidem com os proprietários dos estabelecimentos. multidões de biscateiros trabalhando algumas horas por dias e alguns dias por mês para fugir à miséria.Geografia e História da PB 26 No que se refere ao pessoal ocupado nos estabelecimentos de serviço situados no Bairro do Centro.2 % percebem de 2 a menos de 3 salários mínimos (55 trabalhadores).] O ingresso nas atividades do circuito inferior geralmente é fácil.8%). tem-se que os estabelecimentos pesquisados ocupam 155 pessoas o que equivale em média a 3. p. segundo o critério do SEBRAE. Dos 50 estabelecimentos objeto de pesquisa 34 (68%) declararam constituir- . o número de trabalhadores que percebem uma remuneração mensal inferior a 2 salários mínimos (42. podendo ser caracterizados como micro unidades produtivas. primos e sobrinhos. caracteriza o que George (1970.159-160). p. a Viação Rio Tinto. 000. de administração de empresa. não quiseram informar. que os serviços do setor terciário estão voltados para: "a sobrevivência e a garantia de satisfação das necessidades da família no dia-a-dia a qual é a preocupação mais importante” (SANTOS. Apesar de residirem em sua maior parte na cidade de Bayeux. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base no exposto pode-se inferir que.000. de serviços de beleza em geral. Essa informalidade se expressa através de alguns indicadores tais como: a) a forma desregulamentada do trabalho: 51. 28% dos estabelecimentos não declararam sua receita. sobretudo oriundos da zona rural do Agreste e do semi-árido paraibano. De acordo com a especificidade dos estabelecimentos os cursos de capacitação para a mão-de-obra indicados variam desde curso de treinamento para garçom a cursos de mecânica.000. nas cidades de Santa Rita. O caráter de “estratégia de sobrevivência” da maior parte dos estabelecimentos é evidenciado pela resposta dada ao quesito sobre o destino dos “ganhos”: 18 afirmaram que os “ganhos são utilizados para reposição de mercadorias e manutenção da família (36 % do total). A maior parte dos trabalhadores residem no próprio município (140 trabalhadores) o que representa 88. Verificou-se com base nos dados obtidos. de trabalhadores com rendimentos inferiores a 1 salário mínimo e sem carteira de trabalho assinada. b) a ausência de razão social dos estabelecimentos: 64% dos estabelecimentos investigados declararam não possuir razão social. de química etc. o setor de serviços de Bayeux funciona como um “amortecedor” e um “refúgio” para a massa de trabalhadores desocupada que não foi incorporada aos outros segmentos do mercado de trabalho no município (o setor industrial e comercial). que os trabalhadores não dispõem de cursos profissionalizantes e são poucos os estabelecimentos que recebem ou receberam assessoria técnica.000. Apenas 11. 8% declararam uma receita entre R$ 5.00 e 0. A pesquisa confirma o que Santos (1978) já observara nos seus estudos. Isso fica claro quando se percebe a presença significativa no seio da força-detrabalho.00 e menos de R$ 5. Essa baixa qualificação profissional está . o setor de serviço de Bayeux caracteriza-se pela baixa qualificação profissional.Geografia e História da PB 27 se em serviço informal. 26% declararam uma receita inferior a R$ 1.04% declararam uma receita acima de R$ 10.00. água e gás. 10 (20% do total) declararam que os ganhos destinam-se à manutenção da família. a grande maioria dos entrevistados (89%) ou são naturais de outros municípios do estado ou são filhos de migrantes. Seus locais de moradia ficam no entorno do município. No que tange a qualificação da mão-de-obra.000. aí incluídos gastos com pagamento de luz. 1978.42). bem como de proprietários dos negócios com receita líquida anual abaixo de R$ 5. 4. c) a falta de Cadastro Geral do Comércio (CGC) junto à Prefeitura: 62% dos estabelecimentos pesquisados não possuíam CGC nem recolhiam qualquer imposto junto ao estado ou ao município. É como se não lhes restasse outra escolha para sobreviver minimamente e aquela fonte de renda fosse indispensável para a manutenção da família.00.000.9 % dos trabalhadores não possuem carteira assinada.4 % não moram em Bayeux. de manicure e pedicure. Apenas 21 responsáveis pelos estabelecimentos mostraram interesse em capacitar o pessoal ocupado. João Pessoa e também em Rio Tinto. No que se refere à receita líquida dos estabelecimentos relativa ao ano de 2001.00.00 (60% dos responsáveis pelos estabelecimentos que declararam a receita líquida de 2001).000. 5 declararam destinar os “ganhos” só para a reposição de mercadorias e 13 (26%). 4 (8% do total) afirmaram destinar os ganhos tanto à reposição de mercadorias como à.00 e R$10. p. 34% declararam uma receita entre R$ 1.6 % do total analisado. p. A geografia como as demais disciplinas que têm demonstrado interesse pelo tema devem retomar a discussão na busca de novos paradigmas que consigam responder aos desafios da realidade atual. proporciona oportunidades de emprego para uma grande parcela da população que não consegue inserir-se no mercado formal da economia urbana seja por falta de qualificação. p. de um lado. Podese mesmo afirmar que há uma integração dos dois circuitos. na baixa remuneração. problemas quanto à qualidade dos postos de trabalho. portadores de baixa qualificação. conseqüentemente. 2000. educacionais privados. Todavia. principalmente aquela “expulsa” do campo. pobremente educados e/ou fruto de migrações recentes do mercado de trabalho formal (DOURADO e NEVES. sem perspectiva de obter um posto de trabalho assalariado. de transporte. serviços de advocacia. Desse modo. no trabalho desregulamentado. o que de fato configura uma situação típica do circuito inferior da economia urbana definido por Santos (1979). quando diz que o setor terciário proporciona ocupação para pessoas. deve ser utilizada como ponto de partida nos estudos do terciário. por outro lado. serviços bancários. que são. 1998. se a informalidade excessiva do setor de serviço gera. significando. o transporte de equipamentos e produtos acaba por integrar os dois circuitos através do comércio e dos transportes.Geografia e História da PB 28 sem dúvida relacionada ao baixo padrão de escolaridade e a baixa capacitação técnica. não teriam onde trabalhar. cada vez mais excludente. Faz-se mister ressaltar que a utilização da teoria dos circuitos criada por Milton Santos. 1983. a maioria dos serviços de Bayeux se baseia no trabalho familiar. segundo os dados levantados. em virtude das mudanças que vêm tendo lugar na estrutura produtiva e das novas formas de (re)produção do espaço urbano determinadas pelo desenvolvimento do capitalismo. A literatura sobre o setor terciário que aborda a composição do segmento informal refere-se também ao fato dele ser formado predominantemente por trabalhadores sem sucesso. Para Santos (1979. no trabalho autônomo. O processo de aquisição de equipamentos para as instalações dos serviços. . que contribuem para impor limites à mobilidade social do trabalho e constituem impeditivos para a incorporação da mão-de-obra em atividades que exigem melhor preparo. 2). No que se refere aos circuitos da economia urbana. o circuito inferior é mais comumente chamado de terciário na literatura referente à urbanização dos países subdesenvolvidos: terciarização tornou-se a expressão consagrada para definir as atividades e as situações de emprego resultantes de uma urbanização sem industrialização. Isso reforça a afirmativa de Cavalcanti (1983). refugia-se nesse setor (CACCIAMALI. o segmento informal do setor terciário se constituiria num receptáculo de pobres urbanos e da massa de migrantes recém chegada à cidade que. p. seja pelo próprio estreitamento desse mercado. entre outros que não podem ser inseridos de modo generalizado no circuito inferior da economia urbana simplesmente porque fazem parte do setor terciário. o superior e inferior percebida através da análise das informações anteriormente explicitadas.40). 4). Esses fatores corroboram para tornar o setor de serviços uma das saídas para a falta de postos de trabalho. subemprego e exclusão social (DWECK. Nessa perspectiva. não podemos deixar de ressaltar que além dos serviços estudados são encontrados também na cidade serviços médicos privados. Assim. p. grande parcela das atividades tradicionais de serviços seria a única possibilidade de ocupação de amplos setores da população. que de outro modo. a maioria dos serviços de Bayeux estão inseridos no circuito inferior. 157). A expansão do setor terciário em um centro urbano de médio porte como Bayeux se deve a fatores como a concentração da propriedade fundiária e a incapacidade do setor industrial em absorver camadas consideráveis da população ativa da cidade. É bem verdade que. na sua maioria. na análise de dados secundários e na pesquisa direta.ufpb. INTRODUÇÃO Esse trabalho faz parte do projeto “O ensino de Geografia da Paraíba: espaço agrário. através dos censos agropecuários de 1985 e 1995 e das publicações da produção agrícola e da produção pecuária municipal. O recorte apresentado focaliza a reestruturação do setor sucroalcooleiro. na análise de dados secundários e no trabalho de campo. Borges Mestrando em Engenharia Cartográfica da UFPE Vamberto José F. o avanço da reforma agrária e seus impactos sobre a paisagem na Zona da Mata Paraibana. Prof. REFORMA AGRÁRIA E PAISAGEM RURAL Emilia de Rodat Fernandes Moreira Doutora.br Utaiguara da N. Trata-se de um estudo analítico-descritivo baseado na pesquisa bibliográfica.ct. I. Trata-se de um estudo analítico-descritivo baseado na pesquisa bibliográfica. A fonte estatística básica é o IBGE. uso do solo e difusão da informação”. do Departamento de Geociências e do PPGG da UFPB E-mail: [email protected] e História da PB 29 ZONA DA MATA PARAIBANA: REESTRUTURAÇÃO DO SETOR SUCRO-ALCOOLEIRO. O recorte apresentado focaliza a reestruturação produtiva do setor sucro-alcooleiro e seus rebatimentos sobre a paisagem na Zona da Mata paraibana.Sc. Profa.com Ivan Targino Doutor. A fonte estatística básica é o IBGE. de Medeiros Bolsista Pibic/UFPB/CNPq e estagiário do LOGEPA/DGEOC/UFPB Versão em PDF RESUMO: Esse trabalho faz parte do projeto “O ensino de Geografia da Paraíba: espaço agrário. através dos censos agropecuários de 1985 e 1995 e das publicações da produção agrícola e da produção pecuária municipal. . em Engenharia Urbana. do Departamento de Economia e do PPGE da UFPB Richarde Marques da Silva M. uso do solo e difusão da informação”. Pesquisador do LOGEPA/DGEOC/UFPB E-mail: richarde@lrh. A industrialização da agricultura brasileira entrava assim numa outra etapa (SILVA. a agricultura brasileira iria ter que criar um mercado consumidor para esses “novos” meios de produção. a partir da constituição desses ramos industriais no próprio país. rações e medicamentos veterinários. Assim. a indústria de tratores e equipamentos agrícolas. depois de implantada a siderúrgica. Com isso. que resultou na ampliação da fronteira da agricultura familiar. 2. em decorrência da ampliação da urbanização (DELGADO. mas os parâmetros definidos pelo Estado para a rentabilidade dos capitais empregados nos distintos ramos (SILVA.Geografia e História da PB 30 O argumento principal do estudo é o de que a reestruturação produtiva do setor sucroalcooleiro paraibano acha-se intimamente relacionada às mudanças que tiveram lugar na agricultura brasileira nas três últimas décadas. p. etc. p. instalam-se no país as fábricas de máquinas e insumos agrícolas. o Estado implementou um conjunto de políticas agrícolas destinadas a incentivar a aquisição dos produtos desses novos ramos da indústria. decorrentes do processo de modernização da agricultura. a indústria de fertilizantes e defensivos químicos só poderia se instalar depois de constituída a indústria petroquímica. de reformas neoliberais e do avanço sobre o território da luta dos trabalhadores. Não é mais a dinâmica do mercado interno e externo que regula a agricultura. 1981. CRISE ECONÔMICA E POLÍTICA NEOLIBERAL: SEUS REFLEXOS SOBRE O SETOR SUCRO-ALCOOLEIRO A dominação do capital sobre a agricultura através da “industrialização ou modernização agrícola”. No início dos anos sessenta. impulsionada pela política de desenvolvimento econômico implantada pelo regime militar. Evidentemente. a partir de então: o fortalecimento do Complexo Agro-industrial (CAI). da implementação. com base no processo de substituição de importação dos meios de produção. embora tenha se iniciado no Brasil na década de 50. pautada em transformações na base técnica da produção sem alteração do regime de posse da terra. Três fatores concorreram para as mudanças que tiveram lugar no agro nacional. e ainda encontra um mercado consumidor para seus produtos na cidade. grades. que corresponde ao final da fase de industrialização pesada no Brasil. Destacam-se entre outras: . a agricultura subordina-se cada vez mais ao capital industrial e financeiro. da crise econômica vivenciada pelo país nos anos 80. acelerando o processo de incorporação de modernas tecnologias pelos produtores rurais. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA. por exemplo. 27). são implantadas indústrias de tratores e equipamentos agrícolas (arados. etc. e assim por diante. a partir dos anos 90. fertilizantes químicos. só irá consolidar-se no país na década de 60. 1985). 1981. articula-se como compradora e fornecedora da indústria. Ela passa a depender de créditos bancários.). O importante é que. Para garantir a ampliação desse mercado.16) Daí decorrem profundas mudanças na organização do espaço agrário com reflexos sobre a paisagem rural. a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural e a aceleração do processo de urbanização. O programa financiou entre 80% e 100% do valor total do projeto. da atividade canavieira. o Programa financiava até 80% do valor do investimento fixo. foi impulsionado pela política de modernização agrícola implantada pelo governo militar e pela situação crítica estabelecida no setor energético nacional com a crise do petróleo. cobrando juros que variavam entre 10% (custeio para o pequeno produtor) e 26% (investimento para o grande produtor). Em relação ao setor agrícola.105-106). . A modernização do setor canavieiro. soja. concretizou-se através de uma forte política governamental de incentivos fiscais e creditícios. cana-de-açúcar. a juros negativos para a agro-indústria (MOREIRA e TARGINO. O setor canavieiro do Brasil submetido a um longo processo de crise. É nesse contexto que surge o Proalcool não só enquanto elemento viabilizador da modernização agrícola do setor canavieiro. na verdade. mas também como instrumento de sua própria viabilidade. d) mudanças nas relações de trabalho no sentido da ampliação do assalariamento da mão-de-obra. a partir da expansão de culturas de exportação. devida à criação da OPEP e a supervalorização conseqüente do produto no mercado internacional no início dos anos 70. via Proalcool. diferenciou-se segundo as atividades desenvolvidas no campo. Os encargos financeiros englobavam juros de 4% ao ano para as destilarias anexas e de 3% para as autônomas na área da SUDENE/SUDAM e uma correção monetária equivalente a 40% da variação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN). embora tenha apresentado uma força e intensidade mais ou menos similar em todas as regiões do país. sem cláusula de correção monetária.Geografia e História da PB 31 a) a intensificação da concentração da propriedade da terra. plantio e tratos culturais até a primeira safra) e financiamento de custeio para despesas relativas às socas ou às ressocas. Tais condições de financiamento em uma economia sob processo inflacionário equivaliam. como trigo. havia os financiamentos de investimento para fundação ou ampliação de lavouras (preparo do solo. Esse processo. É o caso por exemplo. Com efeito. b) as mudanças no uso do solo. no caso de destilarias que utilizassem a cana-de-açúcar como matéria-prima. p. e da pecuária. Em relação ao segmento industrial. 1997. com seu parque industrial ocioso frente à escassez de mercado para o açúcar produzido. Ele foi maior naquelas atividades onde a modernização incidiu de maneira mais forte. c) a introdução e/ou ampliação do uso de novos processos e técnicas. os incentivos do Proalcool destinavam-se tanto à produção industrial quanto à agrícola. e na ampliação do parque industrial com a instalação de 10 novas destilarias anexas e autônomas.276 toneladas de cana contra 4. 2. Entre os fatores responsáveis por essa crise está a ociosidade e a obsolescência do parque industrial. pela queda da produtividade e. Os dados relativos à participação da Zona da Mata no total da cana produzida e da área colhida com essa lavoura são demonstrativos da sua . a alternativa encontrada por muitos trabalhadores canavieiros tem sido a ocupação de terras pertencentes a fornecedores ou a usinas falidas. A luta dos trabalhadores por terra seguida da ação fundiária do estado para solucionar os conflitos sociais emergentes é responsável pela ampliação da fronteira da agricultura familiar em áreas tradicionalmente canavieiras. mais tradicional região canavieira do Estado. o que equivale a um crescimento da ordem de 370.Geografia e História da PB 32 A partir de então.760 hectares em 1985. no incremento da produção do álcool e na ampliação do parque industrial com a instalação de novas destilarias de álcool. a região produziu 936. de outro lado.576. Na segunda metade da década de oitenta. de 19. Proalcool. À redução drástica do crédito subsidiado e abundante. de um lado. este setor encontrava-se. no início da década de 70. seja pelo aumento da produção interna de petróleo seja pela redução do poder da OPEP e. que impunham uma revisão das políticas de subsídios do governo brasileiro. A partir de então.9%.4 milhões em 1970 para 10. os acordos do Brasil com o FMI. especificamente na Zona da Mata. em particular. entre 1970 e 1986. a área cultivada e a quantidade produzida de cana-de-açúcar ampliaram-se significativamente entre 1970 e 1985: em 1970. inicia-se uma nova fase de expansão da atividade canavieira no Estado consubstanciada: no aumento da área cultivada com a incorporação de mais de 100. mergulhado numa forte crise.698 hectares em 1970. considerada crônica por muitos estudiosos. Interessa a este trabalho analisar este processo na Paraíba. através da criação. na elevação da quantidade de cana produzida de 1.7 milhões em 1986. Face ao desemprego e à precarização das relações de trabalho. A saída para esta crise surgiu mais uma vez pela mediação do Estado. somou-se a crise financeira e fiscal. no incremento da produção de álcool de 806 mil litros na safra de 1975/76 para 229 milhões de litros na safra de 84/85. a atenuação da crise energética que tinha sido o fator determinante para a concepção e implementação do Programa. passou para 92. pelo fechamento sucessivo de usinas e destilarias. determinando a cobrança das dívidas do setor para os cofres tanto da União como dos estados. anexas às antigas usinas. o que representa um aumento de 388.485 toneladas em 1985. etc. o baixo poder de competição com a produção do Sudeste. assiste-se à diminuição do nível do emprego gerado pelo setor e a precarização das relações de trabalho. observa-se uma lenta mas sistemática desestruturação do Proalcool expressa através da redução da quantidade produzida e da área cultivada com a cana. no bojo da crise externa brasileira.8% no período. o que representou um abalo forte sobretudo no segmento arcaico da atividade sucro-alcooleira nordestina. inicia-se uma nova fase de expansão da atividade canavieira consubstanciada no aumento da área cultivada com a cana. elemento primordial da política instituída pelo Proalcool. Como conseqüência. Para tanto contribuíram.000 hectares de terra pela cana. Na Zona da Mata. ou autônomas.1 . a área colhida. assim como a crise financeira do estado brasileiro que o levaria a rever de forma vigorosa os seus gastos.Reestruturação produtiva do setor sucro-alcooleiro da Zona da Mata Paraibana Não obstante os fortes benefícios concedidos pelo Estado à agroindústria açucareira da Paraíba ao longo do tempo. Essa situação de crise persiste na Paraíba durante toda a década de 90. ao lado de um processo nunca visto de expulsão dos trabalhadores moradores do campo. ocupa terras e leva o Governo a desapropriar milhares de hectares de imóveis improdutivos dando origem a assentamentos rurais.8 milhões em 1990 caiu para 3. nem uma atenuação do padrão de concentração da propriedade fundiária. Assiste-se. a partir de então.0% do total da cana produzida e por 77. Ao contrário. As relações de trabalho precarizam-se através do crescimento do trabalho subcontratado. Destilarias autônomas também foram implantadas: Jacuípe. Rio Tinto e Lucena. Esse comportamento declinante da cana-de-açúcar é observado em nível de todos os municípios da região.0 mil hectares no período. a redução da quantidade produzida de cana no estado (de 10. Giasa. Tabu. observa-se a intensificação da sua exploração através do aumento das jornadas de trabalho.1 mil hectares). da exploração do trabalho infantil e da criação do sistema de trabalho sob vigilância através da implantação no interior das fazendas de galpões ou alojamentos de trabalhadores (MOREIRA et alii. O trabalhador que embora expulso da terra durante a fase de expansão do Proalcool continuara trabalhando na cana como assalariado. da terceirização do trabalho que implica na ampliação do trabalho clandestino (trabalhadores contratados por empreiteiros sem nenhum direito trabalhista). podendo ser constatada a partir da análise dos dados relativos à produção e à área plantada com canade-açúcar.2 milhões em 1990).9 milhões de toneladas e a área plantada apresentou uma retração equivalente a 49.5% da área colhida com cana na Paraíba. a exemplo da pecuária.Geografia e História da PB 33 importância no conjunto do estado: em 1985 a região foi responsável por 82. os mais velhos e as mulheres). foram anexadas destilarias de álcool. Além da expansão da fronteira agrícola da cana o Proalcool foi responsável também pela modernização do parque industrial sucro-alcooleiro na região. Entre 1990 e 2000 a quantidade de cana produzida no estado reduziu-se em 51.. Às tradicionais usinas de açúcar (Santa Rita.75% (de 6. Japungu.3 mil hectares para 93. inclusive naqueles onde estão localizadas as terras das destilarias autônomas que foram menos afetadas pela crise a exemplo de Pedras de Fogo. expandia-se a fronteira da agricultura familiar reformada. onde ainda se concentrava. a redução da produção foi da ordem de 43. particularmente nas regiões tradicionais produtoras. e TARGINO. em 1990. Santana e Santa Helena).1% caindo de 160. Agican. da maior seletividade da mão-de-obra (recusa-se os mais fracos. MOREIRA. a queda da produtividade (de 60 ton/ha em 1986 para 52 ton/ha em 1990) bem como uma redução na demanda de trabalho como conseqüência da retração da área cultivada.1% (de 126. Na Zona da Mata. como também da sua substituição por atividades com menor poder de absorção da força-de-trabalho.7 milhões em 1986. I. São João. Porém. do aumento do ritmo de trabalho. Xuá e Una. Na esteira da crise observa-se que parcela dos trabalhadores rurais excluída do processo produtivo organiza-se em torno do MST e da CPT. . Deste modo. A expansão da atividade canavieira vai sofrer solução de continuidade na segunda metade dos anos 80 como resultado da crise econômica que provocou a redução do crédito subsidiado e a cobrança das dívidas do setor por parte dos Governos federal e estadual. 1997. a esta modernização da atividade não correspondeu nem uma redução no padrão de exploração dos trabalhadores rurais. com a crise da atividade canavieira passou à condição de desempregado. declina para 8. da ampliação do sistema de pagamento do trabalho por tarefa executada. E.7% caindo de 8. 1997).5 mil caiu para 87. 82% do total da cana produzida e 79% da área de cana plantada no estado.8 milhões de toneladas em 2000) e da área plantada foi de 31.2 milhões para 3. enquanto regredia a fronteira da cana. 67 hectares dos quais 38.Geografia e História da PB 34 3. tabela 1). 148. FAMÍLIAS ASSENTADAS E ASSENTAMENTOS CRIADOS NA PARAÍBA E NA ZONA DA MATA PARAIBANA 1986/2000 DADOS MATA B/A PARAÍBA PARAIBANA x (A) 100 (B) Área reformada de responsabilidade do Incra e do 154. REFORMA AGRÁRIA E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NA ZONA DA MATA PARAIBANA Entre 1986 e 2000.568.4% do total). quadro 2).7 98 11.6738.269.298. No mesmo período outros 23 imóveis foram adquiridos pelo Governo estadual abrangendo 6. 46. Dos 151 Projetos de Assentamentos criados pelo Incra no período. 2000). através do Interpa). No total. representa 13.3%) estabeleceramse em Assentamentos situados na Zona da Mata (v.32 hectares constituem Projetos de Assentamento de responsabilidade do Incra e 807.604 famílias no estado. Quadro 1 ÁREA REFORMADA DE RESPONSABILIDADE DO INCRA E DO GOVERNO ESTADUAL. 55 localizam-se na Zona da Mata (36. apenas 4 localizam-se nessa região (v.7 hectares e originando 23 novas áreas de assentamento (INTERPA.92 hectares situam-se na Zona da Mata (37. 154.568.91% dos estabelecimentos agrícolas com 500 hectares e mais existentes na região no mesmo ano (v.509. foram incorporados ao processo de reforma agrária pelo Incra na Paraíba. o que representa em termos percentuais. 98 (22.702.60 hectares compreendem as Áreas de Assentamento de responsabilidade do Governo estadual.92 Governo estadual (hectares) Nº de famílias assentadas pelo 9. tabela 1 e mapa 1). Das 877 famílias assentadas pelo Interpa. Foram assentadas através do Incra 9. entre 1986 e 2000.509. quadro 1).2 . foram incorporados ao processo de reforma agrária pelos dois órgãos públicos no período analisado.580 24.604 Incra Nº de famílias assentadas pelo 877 Governo estadual 4.97 hectares de terra (Incra. A área reformada pelo Incra na Zona da Mata da Paraíba entre 1986 e 2000.3 % do total das famílias assentadas pelo Incra na Paraíba no período indicado (v. Dos 23 Assentamentos criados pelo Estado. 2000).580 na Zona da Mata Paraibana.9 47. 2000) e foram criados pelo mesmo órgão 151 Projetos de Assentamentos Rurais (Incra.96% do total da área dos estabelecimentos agrícolas existentes na região em 1995 e 27. das quais 4. Mapa 1 ZONA DA MATA PARAIBANA ASSENTAMENTOS RURAIS CRIADOS ENTRE 1985 E 2000 .4 Fonte: INCRA-PB. 1986/2000. INTERPA: Relação das Áreas de Assentamento vinculadas ao Governo do Estado. Demonstrativo das Áreas de Assentamento do Estado da Paraíba.Geografia e História da PB 35 Nº de Projetos de Assentamentos 151 criados pelo Incra Nº de Áreas de Assentamento criadas pelo 23 Governo estadual 55 36.4 4 17. principalmente a prestada pelo Projeto Lumiar. A conquista de território pela agricultura familiar reformada repercute na organização da produção agrícola regional na medida em que possibilita a ampliação da fronteira da produção de alimentos. São porém os alimentos básicos quais sejam. melancia. o feijão e o milho as principais lavouras produzidas nas áreas de assentamento.Geografia e História da PB 36 Fonte: INCRA. a mandioca (principal produto). araçá. Essa diversificação de culturas foi fortemente influenciada pela assistência técnica. pitanga. Em alguns deles o peso da área plantada com essas lavouras em relação à área plantada total foi superior a 70% (PAs . cajá. Listagem dos Assentamentos Rurais criados entre 1985 e 2000. Na base dessa diversificação destacou-se a fruticultura (acerola. De fato. caju –cultivo irrigado) além do amendoim e de produtos da horticultura. graviola. na safra de 1998/1999 esses três produtos ocuparam mais de 50% do total da área plantada pelos entrevistados nos Projetos de Assentamento que foram investigados na região. limão. Pesquisa de campo realizada entre maio e julho de 2000 na Zona da Mata paraibana confirma a tendência de expansão e diversificação das lavouras alimentares apresentada pelos dados da produção agrícola municipal publicados pelo IBGE. AGRÍCOLAS COM 500 HECTARES E MAIS (ha) 137.509. É preciso chamar a atenção para o fato de que apesar do avanço da agricultura de alimentos sobre áreas tradicionais produtoras de cana na região. Massangana II e Massangana III. fase de expansão do Proalcool . INCRA-PB. João Pessoa.Geografia e História da PB 37 Massangana I. Esta ainda mantém-se como a forma de uso de recurso dominante na paisagem e só foi substituída pela produção alimentar nas áreas de muito forte concentração de Projetos de Assentamento. ele não foi suficiente para quebrar o monopólio da cana.91 Fonte: FIBGE.948 (C) ÁREA DOS ASSENTA-MENTOS CRIADOS (1986-2000) (ha) 38. IMPACTOS DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO SETOR SUCROALCOOLEIRO SOBRE A PAISAGEM RURAL O processo de reestruturação produtiva do setor sucro-alcooleiro aqui apresentado tem rebatimentos profundos sobre a paisagem regional. em Pitimbu. Demonstrativo das áreas de Assentamento do Estado da Paraíba. em Cruz do Espírito Santo.92 (B) B/A x 100 13. em Pedras de Fogo. Quadro 2 ZONA DA MATA PARAIBANA PARTICIPAÇÃO DAS ÁREAS DE ASSENTAMENTO CRIADAS ENTRE 1986 E 2000 NA ÁREA DOS ESTABELECIMENTOS AGRÍCOLAS EXISTENTES EM 1995 ÁREA DOS ESTABELECIMENTOS AGRÍCOLAS (ha) (A) 275..96 ÁREA DOS EST.92 (D) D/C X 100 27. propiciado pela criação de áreas de assentamento. 4. 2001. Essas repercussões. porém apresentam-se diferenciadas segundo as fases de expansão e crise do setor.681 ÁREA DOS ASSENTAMENTOS CRIADOS (1986-2000) (ha) 38.509. Apasa. Censo Agropecuário 1995/1996. Nova Aurora.1. 1986/2000. 2000). e Boa Vista e Vida Nova em Sapé) (MOREIRA et alii. 4. h) da presença de galpões no interior das propriedades à semelhança das antigas senzalas. clandestinos sem direitos. Sapé.Geografia e História da PB 38 Na fase áurea do Proalcool os impactos sobre a paisagem se exprimiram através: a) da ampliação da fronteira da monocultura canavieira. a adoção de novos tipos de cana e de novos procedimento de tratamento das mudas. como pela incorporação de terras de outros municípios da região onde a cana não constituía a principal forma de uso de recursos ou que não tinham tradição canavieira a exemplo de Mataraca e Baía da Traição. -0. 1985). presente na paisagem sobretudo nos períodos de colheita. promovido pelo Proalcool. submetidos à condição de assalariados. e) da substituição do habitat disperso representativo do sistema de morada. c) da modernização da base técnica da produção agrícola. permanecendo porém vinculada à atividade agrícola como mão-de-obra assalariada da cana (SEDUP. f) da homogeneização da paisagem através da ampliação do verde dos canaviais. j) do crescimento das pontas de rua nas pequenas cidades da região.40%. tanto pela incorporação de novas terras dos tabuleiros costeiros em municípios tradicionais produtores de cana. i) da intensificação da concentração fundiária.51%. registrando-se taxas negativas de crescimento (Litoral Norte. com a criação/restauração de destilarias de álcool anexas às antigas Usinas de Açúcar e a criação de destilarias autônomas. Algumas pesquisas realizadas mostram que parte da população expulsa do campo passou a residir nas periferias das cidades da região. com a incorporação de novas máquinas e do aumento o número das já existentes. a intensificação do uso de fertilizantes e agrotóxicos. pelo habitat concentrado das agrovilas e de vilarejos de “beira de estrada”. 1985. . resultado do processo de expulsão maciça dos pequenos produtores moradores. b) da substituição da vegetação de Mata Atlântica e dos cerrados de tabuleiros bem como de culturas alimentares e de matérias-primas pela cana. d) da ampliação do parque industrial alcooleiro. para abrigar corpos esquálidos de trabalhadores migrantes de outras regiões. Litoral Sul. Essas mudanças resultaram no aumento da produtividade por área cultivada com cana.93%). g) da ampliação do trabalhador assalariado. posseiros e foreiros. GESTAR. k) da redução da população residente no campo. -1. Entre 1970 e 1980. houve redução da população rural das principais microrregiões canavieiras. -0. na maioria. transformadas em área de habitação subnormal que passaram a abrigar os trabalhadores expulsos do campo. silos. Santo. e) surgimento de agrovilas em áreas de assentamento configurando um espaço diferenciado de vida e morada no campo. Todavia. são os seguintes os impactos observados na paisagem regional: a) retração da área cultivada com cana-de-açúcar. Durante a crise de acumulação vivenciada pelo setor. g) mudanças na distribuição da propriedade da terra observada principalmente nos municípios onde a ação desapropriatória foi maior. poços artesianos. ainda prevalecem nas áreas de assentamento as lavouras . associações de produtores. onde mais de 50% das terras agrícolas transformaram-se em áreas de assentamento. Conclui-se do exposto que a fase áurea da modernização do setor sucro-alcooleiro através do Proalcool contribuiu para modificar a paisagem tanto rural quanto urbana da Zona da Mata pelo impacto que promoveu na organização da produção e do trabalho e pela intensificação do processo de expropriação-expulsão do trabalhador do campo.Geografia e História da PB 39 l) da multiplicação dos conflitos de terra nas áreas onde os trabalhadores organizados pela CPT resistiram a expulsão. em algumas áreas. b) abandono de antigas Usinas falidas a exemplo da Usina Santa Rita e Santa Helena. que apesar do esforço para se introduzir novas culturas (em particular a fruticultura). postos telefônicos ou “orelhões” etc. cisternas. do avanço da luta dos trabalhadores por terra e da ação fundiária do Estado. do habitat disperso caracterizando agora uma nova forma de organização do espaço com base na pequena unidade de produção familiar reformada. igrejas. assiste-se a novas mudanças na paisagem resultado do desmantelamento do setor arcaico da economia sucro-alcooleira. a instalação dos Projetos de Assentamento contribuiu para quebrar o monopólio secular da cana sobre a paisagem da Zona da Mata. Verifica-se que a persistência da crise na década de 90 e as conquistas de terra pela agricultura familiar reformada não foi suficiente para por fim ao domínio da cana-de-açúcar sobre o sistema de uso de recursos da região. f) expansão da área cultivada com alimentos. como no caso de Cruz do Espírito. d) retorno. c) avanço da agricultura familiar reformada sobre as terras das usinas falidas e de latifúndios improdutivos. no entanto. fase de crise do Proalcool Nesta fase. 4. energia elétrica. Destaca-se.2. h) aumento e/ou melhoria das condições de infra-estruturas de caráter coletivo no campo a exemplo de escolas. postos de saúde. estradas. os solos e os mananciais aquáticos. estes processos eram rudimentares e reproduziam o atraso das forças produtivas do momento.1125 versão impressa TRABALHO. pela importância da circulação . Durante o período de desenvolvimento das sociedades primitivas. apesar da intensificação da política fundiária. Destaca-se sobremaneira a forma como os homens estão se apropriando da natureza e transformando-a para atender suas necessidades através dos mais diversos processos produtivos.ISSN 1677 . a fauna. fruto desse processo. com destaque para as atividades humanas. Isto porque uma série de fatores vem contribuindo para a degradação ambiental generalizada na nossa biosfera.Geografia e História da PB 40 alimentares tradicionais.com RESUMO: Um dos mais graves problemas que aflige o mundo atual está relacionado às reservas de água doce em quantidade e qualidade para o consumo humano. Naquela fase. ela ainda não foi suficiente para reverter o alto grau de concentração da propriedade fundiária na Zona da Mata Paraibana onde o índice de Gini ainda permanece superior a 0.8. isto é. INTRODUÇÃO A fase atual da história da humanidade é marcada pela revolução técnico-científicainformacional. recursos hídricos e risco à saúde Emilia de Rodat Fernandes Moreira Doutora. AMBIENTE E SAÚDE: um estudo da relação entre processos produtivos. pelas novas modalidades de produção de energia. A segunda natureza. Por outro lado. recursos hídricos e riscos à saúde da população. a técnica e a informação atuam de modo interdependente em todos os aspectos da vida social. com rebatimentos profundos sobre a saúde da população. muda a forma de apropriação da natureza até o limite imposto pela revolução técnico-científica informacional atual. reproduz o descaso do homem com a sobrevivência dos ecossistemas e testemunha a ação predatória dos processos produtivos sobre o meio. com destaque para a flora. pela especialização regional das atividades. Na medida em que se desenvolvem as forças produtivas. do Departamento de Geociências e do PPGG da UFPB E-mail: erodat@hotmail. A nós interessa neste trabalho estabelecer a relação entre processos produtivos. “novos dados revelados pela modernização e pelo capitalismo agrícola. um processo onde a ciência. com fortes impactos sobre os mananciais aquáticos. por novas formas e localizações da indústria e da extração mineral. Profa. O espaço geográfico subordinado a esta lógica redefine-se. a natureza natural ainda podia ser considerada como "ecossistema selvagem" ou natureza preservada. Estudá-lo pressupõe levar em conta. SÉRIE TEXTO DIDÁTICO . as mais freqüentes são: o Arsênio (1. os solos passaram a ser fertilizados artificialmente através do uso intensivo dos adubos químicos. combina atividades agrícolas e industriais. Neste sentido. Sabe-se que a grande maioria dos adubos sintéticos utilizados na lavoura da cana contém uma gama de impurezas. em princípio. a utilização dos agrotóxicos no combate a pragas e doenças também expandiu-se aceleradamente. em lugar de minimizar ou excluir possíveis impactos negativos sobre o ambiente. Supõe-se. sobre os mananciais aquáticos. porém. No caso dos superfosfatos. 1982. do Paraíba do Sul. o Cádmio (50 a 170 mg/kg de adubo). 1991:9). antes manual. Nos países desenvolvidos. Estas últimas distinguem-se como de maior disseminação. lagos e reservatórios de represas ao longo das bacias hidrográficas do Sudeste.2 mg/kg de adubo). Será esta a realidade com a qual nos deparamos? Será este o verdadeiro legado do progresso? Em termos dos processos produtivos. exigindo medidas de controle e monitoramento adequado. em diversos níveis. Essas mudanças. a modernização tecnológica dos processos produtivos agrícola pautou-se na incorporação de tecnologias tanto mecânicas como químicas. Essas mudanças no processo produtivo decorrentes da incorporação tecnológica propiciada pelo Proalcool é extremamente preocupante no que tange aos seus efeitos sobre o ambiente. pelas grandes migrações. consideradas pouco aptas à atividade agrícola. pode não só contaminá-los como também . Os processos poluidores daí decorrentes já comprometeram. pelo mais fácil acesso a toda categoria de proprietários (grandes. Áreas de tabuleiros recobertas pela Mata Atlântica e por Cerrados. como as do Tietê. ressalta-se a importância do estudo proposto na medida em que os recursos hídricos. MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA DA AGRICULTURA E IMPACTOS SOBRE OS RECURSOS HÍDRICOS Em meio rural. normalmente vinculada ao Complexo Agro-industrial. pela terciarização e pela urbanização extremamente hierárquicas" (SANTOS. acham-se diretamente relacionados às mudanças impostas aos processos produtivos pelo progresso decorrente da revolução técnico-científica-informacional. estes vêm sendo fortemente afetados seja em meio rural ou urbano. do rio Grande etc. 1998). o Cobalto (até 9 mg/kg de adubo). dos corretivos de solo e dos defensivos agrícolas e foi responsável por enormes mudanças no processo produtivo agrícola e na organização do trabalho. mesmo vinculada à orientação e ao acompanhamento técnico. foi substituído pelo uso de herbicidas. MOREIRA e alii. Estudos realizados no Estado da Paraíba (EGLER e TAVARES. a agricultura moderna. foram incorporadas pela cana. tem sido responsabilizada pela poluição de mananciais aquáticos. Nos países capitalistas subdesenvolvidos. No caso específico dos recursos hídricos. 1997. elemento fundamental da organização do espaço.Geografia e História da PB 41 no processo produtivo. Essa combinação que agride o ambiente de forma conjunta tem nas usinas de açúcar e destilarias de álcool os melhores exemplos. por longo tempo. demonstram que a modernização da atividade canavieira promovida pelo Proalcool apoiou-se na expansão do uso dos adubos químicos. A acumulação desses metais nos lençóis freáticos. O processo de limpa. MOREIRA e TARGINO. entre outros. essa incorporação de tecnologias químicas pela agricultura.2 a 2. médios e pequenos). não resta dúvida que em nível mundial o nosso século vivencia os mais profundos avanços nos processos e técnicas de produção e uma revolução na organização do trabalho. do rio Doce. o Cromo (66 a 243 mg/kg de adubo). em particular. alguns rios. 1. onde nem a comercialização. agravou-os. o que se pode esperar? No Brasil. o Cobre (7 a 92 mg/kg de adubo). nem a utilização de tais tecnologias são controladas e onde não há monitoramento adequado dos mananciais aquáticos. que tais mudanças seriam incapazes de danificar o ambiente e teriam como preocupação maior o bem estar social. 1992). Terbuthiuron. descarte de embalagem etc. e no Ceará. No combate às pragas e outras doenças que afetam os canaviais e na eliminação do mato ou de ervas que dificultam o seu desenvolvimento. A periculosidade para os recursos hídricos dos processos produtivos agrícola e industrial sucro-alcooleiro. inseticidas carbamatos e fungicidas (Benomil e Captafol). se usa produtos como Polytrin (do grupo dos Organofosforados + Piretróides) e Tamaron (do grupo dos Organofosforados). Alagoas. nitroguanidina. Isto sem falar nos efeitos do despejo dos subprodutos das produções açucareiras e alcooleiras sobre os rios. Dentre os pesticidas orgânicos (naturais e sintéticos) e os inorgânicos. Os herbicidas mais comumente aplicados na atividade canavieira são: Ametrina. Os agrotóxicos utilizados nas mencionadas lavouras pertencem aos seguintes grupos químicos: piretróides. incorporando nesse percurso áreas de cabeceiras de rios. fungicidas. várzeas de rios formadores de importantes bacias hidrográficas. Diuron. aladina-to+ditiocarbamato. 1981). A aplicação intensiva e contínua desses produtos em áreas de solo com alta capacidade de filtração como os tabuleiros costeiros é preocupante. para a população próxima ao local de uso (outros . aplicação. preparação. identificou o uso intensivo de agrotóxicos em lavouras de tomate e pimentão localizadas a menos de 100 metros de distância da barragem. cúprico. carboxilato. Isso porque ela pode ser responsável pela contaminação das águas subterrâneas. dos rios e estuários. organofosforados + piretróide. herbicidas.Geografia e História da PB 42 contaminar as ressurgências ou fontes utilizadas para abastecimento d'água pela população (EGLER e TAVARES. Ibiapina e Curu (TAVARES. situada no perímetro irrigado do Açude Epitácio Pessoa no município de Boqueirão-PB. pela elevada DBO que os caracteriza e pelo grande volume em que foram lançados anos seguidos (hoje já existe um controle maior que nos anos 70 e 80 quando do auge do Proalcool). com desinformação relativa à toxicidade dos produtos e repercussão para a saúde. Terbacil. Estes são classificados como inseticidas. Ácido 2. formando um quase contínuo que compreende a Zona da Mata dos Estados de Sergipe. armazenamento. "Os agrotóxicos são utilizados sem a requerida orientação técnica para o seu manejo (transporte. Os processos produtivos desenvolvidos em horticulturas realizadas em áreas de perímetro irrigado também se caracterizam pela incorporação maciça de agrotóxicos nas diversas etapas do processo de produção. Glyphosate ou Glifosato. Pernambuco e Paraíba. esta área estende-se do Rio Grande do Norte até a Bahia. No Nordeste.). Estudo realizado na localidade Maravilha. altamente tóxicos. segundo os pesquisadores responsáveis pelas análises.. carbamatos. organofosforados. abrange o vale do Salamanca e as regiões do Acarape (fonte de abastecimento d'água de Fortaleza). aciluréia. os mais utilizados são os compostos clorados e derivados e os compostos organofosforados. Análises realizadas por pesquisadores do Departamento de Sistemática e Ecologia e do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Recursos do Mar da UFPB detectaram alterações no teor de nitratos e nitritos em alguns mananciais de água da zona canavieira da Paraíba. Apesar da proibição de uso para tomate e pimentão.4-D) e Paraquat (IENO e MITSUNAGA. enxofre. os agrotóxicos são utilizados de forma crescente. cresce de importância quando se considera a dimensão da área de domínio da atividade canavieira. Ela abrange ainda os entornos das capitais e de grande número de cidades de importância na malha urbana de cada um desses Estados. acaricidas etc. tabuleiros costeiros e até mesmo áreas estuarinas. da distância entre as culturas irrigadas e os açudes que é de 100 metros (em relação ao ponto médio que as águas do açude atingem). 1984). ditiocarbamato e abamectim com graus de toxidade variando de I a IV.4-Dicloro Fenoxiacético (2. uma evidência indireta da contaminação desses mananciais por fertilizantes químicos usados nas plantações de cana que circundam essas áreas (WATANABE e alii. configurando uma transgressão aos limites fixados por lei. Carbamato. São aplicados também inseticidas fosforados orgânicos. o que constitui. 1994). químicas. 1993:52). da proliferação de subhabitações e de habitações coletivas. encarecendo os processos de potabilidade da água" (ALMEIDA e RIBEIRO. Nem mesmo as indústrias modernas são excluídas. Estudos diversos confirmam que os mananciais hídricos estão sendo exauridos e contaminados por indústrias com sistemas produtivos ineficientes e geradores de resíduos tóxicos. o material em suspensão assim como os óleos e graxas alteram a cor da água aumentando a turbidez. por exemplo. borracha e plástico os quais são despejados ou carreados pela ação dos ventos para a superfície das águas. as indústrias e seus processos de produção funcionam como fatores ou agentes de risco para o meio ambiente. 2. 1991. pelo fato de seus processos produtivos apresentarem maiores cargas e riscos para o ambiente. matando a fauna e a flora aquáticas. MATTOS. de bebidas. lagos e no mar. 1999:88). 1992. Isto porque a modernização tecnológica levada a efeito não tem como meta principal a preservação ambiental. das indústrias químicas. papel. isto é. produzem material em suspensão durante o processo de produção. mas o aumento da produtividade e da lucratividade. VALIE. As fábricas de beneficiamento da borracha. resultante da desagregação de materiais diversos tais como madeira. em particular. Essa realidade reproduz-se na maioria dos perímetros irrigados do Nordeste. em áreas estuarinas ou próximas às praias. para os recursos hídricos. de explosivos e de reciclagem de papel e papelão.Geografia e História da PB 43 trabalhadores ou moradores). É o caso. o que impede a penetração natural da luz solar. principalmente dos rios e lagos de pequeno porte. além da elevada concentração populacional. sem muito volume e . Regra geral concentradas em áreas metropolitanas ou submetropolitanas. da presença de lixões a céu aberto localizados inclusive em ambientes estuarinos. merecem destaque os processos produtivos industriais. e para o meio ambiente" (MITSUNAGA e alii. da insuficiência do saneamento básico com despejo de esgotos não tratados em rios. às margens de rios. metais pesados e outros poluentes perigosos (FRANCO. As fábricas de alimentos. PROCESSOS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS E SEUS IMPACTOS SOBRE OS RECURSOS HÍDRICOS Em meio urbano. Algumas especialidades industriais destacam-se inclusive. das indústrias de papel e papelão que se constituem nos maiores emissores de substâncias tóxicas nas águas. em áreas de domínio dos manguezais. 1995). dos curtumes. "Além de afetar seriamente o aspecto dos espelhos de água. de papel e celulose são as principais emissoras de cargas orgânicas compostas por bactérias consumidoras de oxigênio que destroem o processo de oxigenação natural dos corpos de água. Este fenômeno é tão ou mais presente também em meio urbano como será visto a seguir. A questão que se coloca é até que ponto a qualidade da água das barragens que abastecem populações urbanas e que simultaneamente constituem perímetros irrigados está comprometida por processos produtivos como o exemplificado e quais as implicações desse fato para a saúde da população que utiliza essas águas para os mais diversos fins? Estes são apenas alguns exemplos dos riscos de contaminação a que os mananciais aquáticos estão sujeitos como decorrência dos processos produtivos levados a efeito em meio rural. Considerando-se que todos os processos produtivos desenvolvidos no âmbito dos diversos setores industriais adotem medidas internas de segurança que contemplem tanto os trabalhadores como o ambiente. destaca-se a de produção de Salgema na área costeira dentro da própria capital. constitui um fator de risco de poluição para os rios de vasta área imediatamente próxima a Aracaju. seja pelas populações residentes em centros urbanos. celulose entre outros (TAVARES. o viver e o morrer se constituam um biológico puro. como pela contaminação dos mananciais aquáticos utilizados como fonte de abastecimento seja pelas populações circunvizinhas. as patologias pulmonares. Embora seja comum o relato de trabalhadores que ficaram "embebedados" durante a aplicação de agrotóxicos e terem sido levados para hospitais ou centros de saúde. Nesse sentido. Por sua vez. dificilmente se encontra o registro de tais ocorrências como intoxicações. uma vez que são também socialmente determinados pelas condições concretas quer de inserção do trabalhador no processo produtivo e de suas articulações. de um lado. de potencial poluidor apreciável. fertilizantes. Jaboatão. assim como mal-formações congênitas e os transtornos de conduta. E é justamente no seu entorno que proliferam aqueles tipos de indústria. Em Pernambuco. OS REBATIMENTOS SOBRE A SAÚDE. as bacias dos rios Goiana. O avanço da investigação científica no século XX pôs por terra a concepção naturalista do processo saúde-doença. 1992). além das indústrias sucro-alcooleiras. Não custa lembrar o processo de exploração do ouro em forma de garimpagem e a contaminação por mercúrio de mananciais aquáticos na Amazônia (CÂMARA e COREY. têm um substrato em fatores ambientais" (CÂMARA e COREY. potássio e uréia. os processos produtivos e o ambiente têm se destacado como elementos primários e condicionantes do nível de saúde/doença das populações humanas. a produção de amônia. cárdio-vasculares. Em Sergipe. Em Alagoas. seja de transformação pelos sérios riscos de poluição hídrica nelas presentes. "Um percentual significativo das doenças denominadas crônico-degenerativas como o câncer. É importante destacar aqui o papel da indústria mineral seja extrativa. A participação dos fatores ambientais na causalidade das enfermidades é cada dia maior. No caso dos processos produtivos agrícola destacam-se os agrotóxicos como fator de risco à saúde tanto no processo produtivo em si.Geografia e História da PB 44 vazão de água. Há um subregistro das doenças e mortes provocadas pela manipulação de tais produtos. quer da relação da população com o ambiente no qual está circunscrita. Do exposto uma questão necessita ser respondida: quais os impactos dessa realidade sobre a saúde das populações? 3. neurológicas e renais de tipo não canceroso. 1992: 1). Capibaribe. e de . mesmo assim elas não deixariam de comportar uma elevada carga de riscos de acidentes. alumínio. Igarassu e Pirapama já apresentam forte comprometimento na qualidade da água e para a vida aquática pela existência nas mesmas de indústrias altamente poluidoras nos ramos do papel. 1981). soda cáustica. Já não é possível aceitar que o nascer. São de rios desta natureza que depende o abastecimento d'água de cidades como João Pessoa e adjacências. Isto é devido. ao despreparo dos agentes de saúde e dos serviços de saúde. os processos produtivos além de geradores de riscos ambientais que rebatem sobre a saúde da população também atuam como fatores de risco à saúde dos trabalhadores diretamente a eles vinculados. Botafogo. através do contato direto do trabalhador com adubos químicos e defensivos agrícolas. Enxofre. em particular. refletem negativamente na saúde. legumes ou verduras ricas em nitratos e nitritos. Em áreas de garimpo do ouro. siderúrgicas. Mortes por inalação de mercúrio também são constatadas (CÂMARA e COREY. os mananciais aquáticos. Os herbicidas Paraquat e Paraquat + Diuron podem ser citados como altamente tóxicos. 1992: 1). a hipertensão e a hipotensão arterial. intoxicações por mercúrio. diarréia. no tocante a conservação dos nossos mananciais aquáticos. estudos profundos sobre os processos produtivos levados a efeito em meio rural e urbano e sobre os impactos desses processos sobre as bacias hidrográficas. a diminuição da força muscular. em nível do Nordeste ainda muito parcos. expõem a população a uma gama de cargas e riscos que. dermatoses. a partir da ingestão de água. a diarréia. Estes variam da tosse e dispnéia até o broncoespasmo. irritação na pele. Cúprico. os efeitos do processo de trabalho sobre a saúde detectados variam desde a surdez. Os produtos dos grupos dos Organofosforados. é que urge priorizar ações eficientes. Os efeitos nocivos dos defensivos agrícolas para os seres vivos em geral também não são desconhecidos. As alterações no teor de nitratos e nitritos em alguns mananciais de água da zona canavieira da Paraíba detectados por pesquisadores do NEPREMAR é preocupante pela possibilidade de crianças menores de 6 meses serem acometidas de anemia por formação de metamoglobina e de formação de nitrosamina (agente cancerígeno) em adultos. Contaminação por benzeno em fábricas de equipamento de plástico seguida de mortes por aplasia de medula (BUSCINNELLI e NOVAES. detectou 26. realizada em 1989. algumas gotas podendo ser letais ao homem. os lagos e barragens no que se refere aos padrões de poluição/contaminação e seus possíveis rebatimentos sobre a saúde da população. casos de silicose detectados em trabalhadores de indústrias de beneficiamento de minerais não metálicos. Os herbicidas Gramoxone e Gramoxil têm sido usados na cultura da cana-de-açúcar. podendo levar à fibrose pulmonar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma. às pressões do patronato sobre esses serviços. laringite. edema e hemorragia pulmonar. lesão renal podendo chegar à insuficiência renal. a lesões traumáticas. convulsão. 1999).Geografia e História da PB 45 outro lado.. Carbamatos. traqueobronquite e conjuntivite. . de fabricação de materiais abrasivos. Piretróide e Alanidato utilizados na horticultura realizada em áreas de perímetro irrigado de barragens abastecedoras de centros urbanos também têm comprovadamente efeitos altamente nocivos à saúde. o que se apreende do exposto. Muitos dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais acham-se diretamente relacionadas aos processos produtivos industriais e as tecnologias nele presentes e ainda às condições precárias de muitos ambientes de trabalho. câncer e óbito. a icterícia. para que tais ocorrências sejam descaracterizadas como acidentes de trabalho. 1994). 1994) são alguns entre os infindáveis casos de doenças ocupacionais resultantes de processos produtivos industriais nocivos à saúde. necessariamente. faringite. Uma pesquisa do GESTAR/UFPB. com aplicadores de herbicidas. de material de cerâmica de fabricação de vidros (AMÂNCIO.3% dos trabalhadores com dosagem de colinesterase alterada. entre outros (MITSUNAGA e alii. teratogênese. estudos estes. até a ocorrência de doenças respiratórias. os estuários. Tais produtos são altamente tóxicos. os dejetos e efluentes industriais ao contaminar o ambiente. Eles variam da simples cefaléia. depressão respiratória. rinite. queimaduras e intoxicação por gases. Na outra ponta dos processos produtivos. por exemplo. Essas ações pressupõem. como já foi demonstrado. particularmente. Isto implica numa percepção mais ampla do sentido de desenvolvimento que coloque em primeiro plano o bem estar social e a preservação ambiental em lugar do lucro desmedido e a qualquer preço. em particular dos riscos à saúde passa necessariamente pela implementação de processos produtivos limpos tanto na atividade agrícola quanto industrial. responsáveis pelo estudo do espaço produzido pelos homens. Neste sentido chama-se a atenção.Geografia e História da PB 46 A preocupação com os recursos hídricos dentro de uma percepção de desenvolvimento que vise a minimização dos riscos. particularmente dos geógrafos. comum no mundo capitalista. pelo papel que eles podem desempenhar junto à sociedade civil na luta por mudanças na organização da produção e do trabalho que beneficiem a classe trabalhadora e na defesa da preservação dos nossos recursos hídricos. para o compromisso dos intelectuais e cientistas. . no mundo capitalista subdesenvolvido. enquanto detentores de um peso importante na formação de opiniões. Governadores da PB após a revolução de 1930 4.7 População PARAÍBA ATUAL 5.2.2 Aspectos econômicos 5.5 Clima 5.Geografia e História da PB 47 HISTÓRIA DA PARAÍBA 1 1. Revoltas em que a PB participou 4.2. Análise política. Conquista para o interior da Paraíba 3.1 Antecedentes da Conquista da Paraíba .4 Aspectos religiosos 5.2.3 Microregiões 5.3.1. Sítios Arqueológicos da PB DIVISÃO GEOPOLÍTICA 5. Primeiras Vilas da Paraíba na Época Colonial 2. Invasões Holandesas 3.2.1.1.3.3.4 Relevo 5.1 Aspectos políticos 5.1.3.1. Antecedentes da Conquista da Paraíba 1.1. Primeiros Capitães.2.2.1. A Conquista e Fundação da Paraíba 1.2.Mores 2.3 Aspectos sociais 5. econômica e social da capitânia nos séculos XVII e XVIII 4.6 Hidrografia 5. As Ordens Religiosas da Capitania da PB e Seus Mosteiros 2. A População Indígena 3.2.1.5 Aspectos culturais O Autor História da Paraíba 1.1.2.2 Limites 5.1.1 Localização da Paraíba 5.1. Com o objetivo de povoá-la. madeira muito encontrada no Brasil-colônia. ao chegar no Brasil essas expedições eram sempre repelidas pelos franceses apoiados pelos índios. que devido a uma rivalidade com Duarte Coelho. a colônia portuguesa foi dividida em 15 capitanias. usado para tingir tecidos na Europa. Com a tragédia de Tacunhaém*. Existia uma grande preocupação por parte dos lusitanos em conquistar a capitania que atualmente . vindo em seu lugar o administrador Francisco Braga. porém. a capitania entrou em declínio. e logo que chegaram no Brasil fizeram amizades com os índios.Geografia e História da PB 48 Demorou um certo tempo para que Portugal começasse a explorar economicamente o Brasil. e especial devido a extração de um pigmento. piratas e corsários começaram a extrair o pau-brasil. Esses invasores eram em sua maioria franceses. dando lugar a João Gonçalves. encontrado nas colônias espanholas. Inicialmente essa capitania foi doada à Pedro Lopes de Souza. passaram a enviar expedições para evitar o contrabando do pau-brasil. Devido ao desinteresse lusitano. possibilitando entre eles uma relação comercial conhecida como "escambo". minério este que tornara uma nação muito poderosa na época. uma vez que os interesses lusitanos estavam voltados para o comércio de especiarias nas Índias. em 1534 o rei de Portugal desmembrou Itamaracá. Com o fracasso das expedições o rei de Portugal decidiu criar o sistema de capitanias hereditárias. Após a morte de João Gonçalves. dando formação à Capitania do Rio Paraíba. e além disso. Entre elas destacamos a Capitania de Itamaracá. ficando a mercê de malfeitores e propiciando a continuidade do contrabando de madeira. que não pôde assumir. preocupados com o aumento do comércio dos invasores da colônia. não havia nenhuma riqueza na costa brasileira que chamasse tanta atenção quanto o ouro. na qual o trabalho indígena era trocado por alguma manufatura sem valor. que realizou algumas benfeitorias na capitania como a fundação da Vila da Conceição e a construção de engenhos. para doze donatários. Os portugueses. a qual se estendia do rio Santa Cruz até a Baía da Traição. deixou a capitania em falência. mas isso foi apenas uma armadilha. estender sua colonização ao norte. não obtendo êxito. Após o incidente. fazendo com que os Potiguaras recuassem. os portugueses se unem aos Tabajaras. conhecido como Castrejon. * Tragédia de Tacunhaém: Foi uma tragédia na qual índios mataram todos os moradores de um engenho. que conseguiram finalmente expulsar os franceses e conquistar a Paraíba. Sebastião mandou primeiramente o Ouvidor Geral D. Leitão o prendeu e o enviou de volta à Espanha. Fernão tomou posse das terras em nome do rei sem que houvesse nenhuma resistência. Após a conquista. Ao chegar no Brasil. ambos em decadência e miséria devido as intrigas entre espanhóis e portugueses. tenta conquistar a o Rio Paraíba. Com isso Martim Leitão nomeou outro português. Ao saber que Castrejon havia abandonado. III Expedição (1579): Frutuoso Barbosa impôs a condição de que se ele conquistasse a paraíba. e ainda. I Expedição (1574): O comandante desta expedição foi o Ouvidor Geral D. Fernão da Silva. II Expedição (1575): Quem comandou a segunda expedição foi o Governador Geral. eles construíram os fortes de São Tiago e São Felipe. Conquista da Paraíba Para as jornadas o Ouvidor Geral Martim Leitão formou uma tropa constituída por brancos. Frutuoso Barbosa volta decidido a conquistar a Paraíba. Três anos depois outro Governador Geral (Lourenço Veiga). destruído o Forte e jogado toda a sua artilharia ao mar. A Conquista e Fundação da Paraíba Expedições para a Conquista Quando o Governador Geral (D.Geografia e História da PB 49 é a Paraíba. V Expedição (1584): Este teve a presença de Flores Valdez. Sua tropa foi surpreendida por indígenas e teve que recuar para Pernambuco. Depois de um certo tempo Leitão e sua tropa finalmente chegaram aos fortes (São Felipe e São Tiago). Para isso o rei D. Quando aqui chegaram se depararam com índios que sem defesa. Fernão da Silva. D. afirmando que sua luta era contra os Potiguaras (rivais dos Tabajaras). Luís de Brito) recebeu a ordem para separar Itamaracá. A troca só fez piorar a situação. . Martim Leitão manda soltá-los. que por temerem outra traição. Sua expedição foi prejudicada por ventos desfavoráveis e eles nem chegaram sequer às terras paraibanas. Barbosa desiste após perder um filho em combate. Essa idéia só lhe trouxe prejuízos. fogem e são aprisionados. Quando ninguém esperava. IV Expedição (1582): Com a mesma proposta imposta por ele na expedição anterior. recebeu também do rei de Portugal a ordem de punir os índios responsáveis pelo massacre. Felipe de Moura e o insistente Frutuoso Barbosa. a rejeitaram. Isto se deu no início de agosto de 1585. a governaria por dez anos. ele perdeu sua esposa. expulsar o s franceses e fundar uma cidade. Luís de Brito. palavra que significa Braço de Peixe. índios. mas cai na armadilha dos índios e dos franceses. para o cargo de Frutuoso Barbosa. pois havia a garantia do progresso da capitania pernambucana. Ao saber que eram índios Tabajaras. escravos e até religiosos. A conquista da Paraíba se deu no final de tudo através da união de um português e um chefe indígena chamado Piragibe. 1. caiu sobre sua frota uma forte tormenta e além de ter que recuar até Portugal. Leitão procurou formar uma aliança com os Tabajaras. uma vez que quando estava vindo à Paraíba. Assim começaram as cinco expedições para a conquista da Paraíba.2. a quebrada aliança entre Potiguaras e franceses. Pombal: No final do século XVII. carpinteiros. Pilar: O início de seu povoamento aconteceu no final do século XVI. engenheiros e outros para edificar a Cidade de Nossa Senhora das Neves. Leitão foi a Baía da Traição expulsar o resto dos franceses que permaneciam na Paraíba.Geografia e História da PB 50 Fundação da Paraíba Martim Leitão trouxe pedreiros. A terra da região era bastante fértil. Foi elevada à vila em 3/4 de maio de 1772. Sua emancipação política se deu em 10 de julho de 1854. quando o cultivo da cana-de-açúcar se tornou na principal atividade da região.Campina foi elevada à freguesia em 1769. em 22 de julho de 1766. foi elevada à vila em 5 de janeiro de 1765. Teodósio de Oliveira Ledo realizou uma entrada através do rio Piranhas. Sousa foi elevada à vila com o nome atual em homenagem ao seu benfeitor. já viviam aproximadamente no vale 1468 pessoas. Bento Freire de Sousa.Em 1721 foi construída no local a Igreja do Rosário. Sua elevação à vila com o nome de Vila Nova da Rainha se deu em 20 de abril de 1790. Campina Grande:Sua colonização teve início em 1697. Em 1730. Sousa era um povoado conhecido por "Jardim do Rio do Peixe". Percebe-se então que as características comerciais de Campina Grande nasceram desde sua origem. Areia foi elevada à freguesia com o nome de Nossa Senhora da Conceição pelo Alvará Régio de 18 de maio de 1815. data hoje considerada como sendo também a da criação do município. Hoje. Hoje uma cidade sem muito destaque na Paraíba. quando fazendas de gado foram encontradas pelos holandeses. A seguir temos algumas informações sobre as primeiras vilas da Paraíba. Sousa: Hoje a sexta cidade mais populosa do Estado e dona de um dos mais importantes sítios arqueológicos do país (Vale dos Dinossauros). Devido ao seucesso da entrada não demorou muito até que passaram a chamar o local de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Nesta venceu o confronto com os índios Pegas e fundou ali uma aldeia que inicialmente recebeu o nome do rio (Piranhas). Em volta dessa aldeia surgiu uma feira nas ruas por onde passavam camponeses. . Pilar originou-se a partir da Missão do Padre Martim Nantes naquela região. Com o início das obras. Paraíba foi a terceira cidade a ser fundada no Brasil e a última do século XVI. Sua emancipação política é datada de 15 de novembro de 1831. Os indígenas formaram uma aldeia. esta cidade que atualmente não se destaca muito à nível estadual foi elevada à vila em 22 de março de 1800. em homenagem a uma santa. Pilar foi elevada à município em 1985. Campina Grande é a maior cidade do interior do Nordeste. Areia:Conhecida antigamente pelo nome de Bruxaxá. São João do Cariri: Tendo sida povoada em meados do século XVII pela enorme família Cariri que povoava o sítio São João. o município passou a se chamar Pombal. O capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo instalou na região um povoado. o que acelerou rapidamente o processo de povoamento e progresso do local. sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição.3 Primeiras Vilas da Paraíba na Época Colonial Com a colonização foram surgindo vilas na Paraíba. 1. em homenagem à padroeira da cidade considerada uma relíquia história nos dias atuais. em homenagem ao famoso Marquês de Pombal.Sua emancipação política se deu em 18 de maio de 1846. Esta data é considerada também como a de sua elevação à vila. entre outros.Sob força de uma Carta Régia datada de 22 de junho de 1766. Leitão nomeou João Tavares para ser o capitão do Forte. Rico. desalojou e prendeu os Potiguaras. Foi fundado por João Tavares o primeiro engenho. a construção do Forte de Inhobin para defender alguns engenhos próximos a este rio. com João Tavares. Para edificação dessa cidade.1 Primeiros Capitães. Entre elas. Ainda nesse governo os Potiguaras incendiaram o Forte de Cabedelo. João Tavares foi posto para fora em 1588. entre outros trabalhadores do gênero. em 1591. além de pedreiros e carpinteiros. No caminho. Em sua residência atualmente se encontra o Colégio Nossa Senhora das Neves. chegaram alguns Frades Fransciscanos. o d’El-Rei.Geografia e História da PB 51 pela lei de criação número 2. Em homenagem a Felipe II. André de Albuquerque Maranhão André de Albuquerque governou apenas por um ano. da Espanha. Apesar de ter se esforçado muito para o progresso da capitania. Piragibe e seus índios. natural de Olinda. as obras foram concluídas pelos fransciscanos e seus homens. Vieram em auxílio de Barbosa o capitão-mor de Itamaracá. Piragibe iniciou a construção do forte com os Tabajaras. nomeado o novo capitão-mor da Capitania da Paraíba. vieram 25 cavaleiros. em 1588. Com o objetivo de evitar a entrada dos franceses. Silveira foi um senhor de engenho e uma grande figura da Capitania da Paraíba durante mais de 50 anos. Eles ainda fundaram um Centro de Catequese e em Passeio Geral edificaram a capela de São Gonçalo. Pedro Cueva. que fundaram várias aldeias e por não serem tão rigorosos no ensino religioso como os Jesuítas. principalmente por possuir um passado histórico muito atraente. Nele. Martim Leitão.Mores João Tavares João Tavares foi o primeiro capitão-mor. ao qual governou de 1585 a 1588 a Capitania da Paraíba. Barbosa mudou o nome da cidade de Nossa Senhora das Neves para Felipéia de Nossa Senhora das Neves. O governo de João Tavares foi demasiadamente auxiliado por Duarte Gomes da Silveira. auxiliado por D. houve a saída da Cueva e a decisão de Barbosa de encerrar o seu governo. Hoje. de construir uma nova cidade. Quando o restante do grupo chegou à Paraíba. devido à política do Rei. em Tibiri. e o forte de São Sebastião. Esse desentendimento prejudicou o governo de Barbosa. Devido às infinitas lutas entre o capitão Pedro Cueva e os Potiguaras e os desentendimentos com os Jesuítas. entraram em desentendimento com estes últimos. Chegaram também jesuítas e outras pessoas para residir na cidade. construído por Martim Leitão para a proteção do engenho. O governo de Albuquerque se . Areia se destaca como uma das principais cidades do interior da Paraíba. porém. Neste mesmo período. expulsou os Potiguaras e realizou algumas fortificações. Barbosa ordenou a construção de uma fortaleza em Cabedelo. Os jesuítas ficaram responsáveis pela catequização dos índios. pois aproveitando-se de alguns descuidos. Frutuoso Barbosa Devido à grande insistência perante a corte e por defender alguns direitos. João Tavares faleceu de um mal súbito. ao qual foi encarregado de controlar a parte militar da capitania. devido a interferência dos Jesuítas. os índios Potiguaras invadiram propriedades. João Tavares foi encarregado pelo Ouvidor-Geral. ajudou financeiramente na ascensão da cidade. Frutuoso Barbosa foi. 2. os jesuítas voltaram à Paraíba fundando um colégio onde ensinavam latim. 2. Feliciano e o governador geral. Feliciano acabou se acomodando junto aos frades. a idéia foi interrompida. Feliciano manteve a doação do sítio. O Frei Antônio do Campo Maior chegou com o objetivo de fundar o primeiro convento da capitania. A condição imposta pelo governador era que o convento fosse construído em até 2 anos. filosofia e letras. A igreja e o convento dos franciscanos foram construídos em um sítio muito grande. uma vez que vários documentos históricos foram perdidos nas invasões holandesas. Seu trabalho se concentrou em várias aldeias. Aproveitando esses desentendimentos. acompanhando todas as suas lutas de colonização. mesmo assim. Porém. O governador da capitania recebeu o abade e conversou com o mesmo sobre a tal fundação. O mosteiro não foi construído em dois anos. o Ouvidor-Geral passou aresidir no seminário onde moravam os jesuítas. o que o tornou importante. em 1580. Atualmente essa área corresponde ao jardim Palácio do Governo. a vinda dos carmelitas demorou oito anos. Os carmelitas chegaram à Paraíba quando o Brasil estava sob domínio espanhol. Passado algum tempo. A história dos carmelitas aqui é incompleta. Terminou seu governo em 1600. houve paz com os índios. Os carmelitas chegaram. Cento e quinze anos depois. Ao mando de Frutuoso Barbosa. Mas devido a um incidente na chegada que colheu os missionários para diferentes direções. que seria a ordem do superior geral dos beneditinos. Os Missionários Carmelitas Os carmelitas vieram à Paraíba a pedido do cardeal D. devido a desavenças com os fransciscanos. expandiu estradas e expulsou os fransciscanos. Em 1773. não escravizavam os índios. Resolveu doar um sítio. os jesuítas se puseram a construir um colégio na Felipéia. Os Franciscanos Atendendo a Frutuoso Barbosa. . onde atualmente se encontra a praça São Francisco. construído em 1753. onde ainda há um cata-vento em lâmina. culpou os jesuítas pela rivalidade com os fransciscanos e expulsou-os da capitania. Em 1728. começaram alguns desentendimentos. que não usavam métodos de educação tão rígidos como os jesuítas. Henrique. Ocorreu que depois de certo desentendimentos entre os franciscanos. assim como os jesuítas. pois os franciscanos. fundaram um Seminário junto à igreja de Nossa Senhora da Conceição. chegaram os padres franciscanos. com a permissão do Papa Clementino XIV. A igreja de São Bento se encontra atualmente na rua nove. Os Beneditinos O superior geral dos beneditinos tinha interesse em fundar um convento na Capitania da Paraíba.Geografia e História da PB 52 finalizou em 1592. Feliciano Coelho de Carvalho Em seu governo realizou combates na Capaoba. o rei que andava descontente com os jesuítas pelo fato de estes não permitirem a escravização dos índios.2 As Ordens Religiosas da Capitania da PB e Seus Mosteiros Os Jesuítas Os jesuítas foram os primeiros missionários que chegaram à Capitania da Paraíba. os jesuítas foram novamente expulsos. fundaram um convento e iniciaram trabalhos missionários. No governo de Feliciano Coelho. com o objetivo de catequizar os índios. Geografia e História da PB 53 Frei Manuel de Santa Teresa restaurou o convento depois da revolução francesa, mas logo depois este foi demolido para servir de residência ao primeiro bispo da Paraíba, D. Adauto de Miranda Henriques. Pelos carmelitas foi fundada a Igreja do Carmo. 2.3 A População Indígena Na Paraíba haviam duas raças de índios, os Tupis e os Cariris (também chamados de Tapuias). Os Tupis se dividiam em Tabajaras e Potiguaras, que eram inimigos. Na época da fundação da Paraíba, os Tabajaras formavam um grupo de aproximadamente 5 mil pessoas. Eles eram pacíficos e ocupavam o litoral, onde fundaram as aldeias de Alhanda e Taquara. Já os Potiguaras eram mais numerosos que os Tabajaras e ocupavam uma pequena região entre o rio Grande do Norte e a Paraíba. Esses índios locomoviam-se constantemente, deixando aldeias para trás e formando outras. Com esta constante locomoção os índios ocuparam áreas antes desabitadas. Os índios Cariris se encontravam em maior número que os Tupis e ocupavam uma área que se estendia desde o Planalto da Borborema até os limites do Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Os Cariris eram índios que se diziam ter vindo de um grande lago. Estudiosos acreditam que eles tenham vindo do Amazonas ou da Lagoa Maracaibo, na Venezuela. Os Cariris velhos, que teriam sido civilizados antes dos cariris novos, se dividiam em muitas tribos; sucuru, icós, ariu e pegas, e paiacú. Destas, os tapuias pegas ficaram conhecidos nas lutas contra os bandeirantes. O nível de civilização do índio paraibano era considerável. Muitos sabiam ler e conheciam ofícios como a carpintaria. Esses índios tratavam bem os jesuítas e os missionários que lhes davam atenção. A maioria dos índios estavam de passagem do período paleolítico para o neolítico. A língua falada por eles era o tupi-guarani, utilizada também pelos colonos na comunicação com os índios. O tupiguarani mereceu até a criação de uma gramática, elaborada por Padre José de Anchieta. Piragibe, que nos deu a paz na conquista da Paraíba; Tabira, que lutou contra os franceses e Poti, que lutou contra os holandeses e foi herói na batalha dos Guararapes, são exemplos de índios que se sobressaíram na Paraíba. Ainda hoje, encontram-se tribos indígenas Potiguaras localizadas na Baía da Traição, mas em apenas uma aldeia, a São Francisco, onde não há miscigenados, pois a tribo não aceita a presença de caboclos, termo que eles utilizavam para com as pessoas que não pertencem a tribo. O Cacique dessa aldeia chama-se Djalma Domingos, que também é o prefeito do município de Baía da Traição. Aos poucos, a aldeia vai se civilizando; um exemplo disso é um posto telefônico implantado na mesma há um mês. Nessas aldeias existem cerca de 7.000 índios Potiguaras, que mantém as culturas antigas. Eles possuem cerca de 1.800 alunos de 7 a 14 anos em primeiro grau menor. No Brasil, só existem três tribos Potiguaras, sendo que no Nordeste a única é a da Baía da Traição. Em 19 de Abril eles comemoraram seu dia fazendo pinturas no corpo e reunindo as aldeias locais na aldeia S. Chico e realizaram danças, como o Toré. A principal atividade econômica desses índios é a pesca e em menor escala, a agricultura. 3.1 Invasões Holandesas Em 1578 o jovem rei de Portugal, D. Sebastião, foi morto na batalha de Alcácer-Quibir, na África, Geografia e História da PB 54 deixando o trono português para seu tio, o cardeal D. Henrique, o qual devido à sua avançada idade acabou morrendo em 1579, sem deixar herdeiros. O Rei da Espanha, Felipe II, que se dizia primo dos reis portugueses, com a colaboração da nobreza portuguesa e do seu exército, conseguiu em 1580 o trono português. A passagem do trono português à coroa espanhola prejudicou os interesses holandeses, pois eles estavam travando uma luta contra a Espanha pela sua independência e a Holanda era responsável pelo comércio do açúcar nas colônias portuguesas, o que lhes garantiam altos lucros. Dessa forma, rivais dos espanhóis, os holandeses foram proibidos de aportarem em terras portuguesas, o que lhes trouxe grande prejuízo. Interessados em recuperar seus lucrativos negócios com as colônias portuguesas, o governo e companhias privadas holandesas formaram a Companhia das Índias Ocidentais, para invadir as colônias. A primeira tentativa de invasão holandesa ocorreu em 1624, em Salvador. O governador da Bahia, Diogo de Mendonça Furtado, havia se preparado para o combate, porém com o atraso da esquadrilha holandesa, os brasileiros não mais acreditavam na invasão quando foram pegos de surpresa. Durante o ataque o governador foi preso. Mas orientadas por Marcos Teixeira, as forças brasileiras mataram vários chefes batavos, enfraquecendo as tropas holandesas. Em maio de 1625, eles foram expulsos da Bahia pela esquadra de D. Fradique de Toledo Osório. Ao se retirarem de Salvador, os holandeses, comandados por Hendrikordoon, seguiram para Baía da Traição, onde desembarcaram e se fortificaram. Tropas paraibanas, pernambucanas e índios se uniram a mando do governador Antônio de Albuquerque e Francisco Carvalho para expulsar os holandeses. A derrota batava veio em agosto de 1625. Após esse conflito ao holandeses seguiram para Pernambuco, onde o governador Matias de Albuquerque, objetivando deixá-los sem suprimentos, incendiou os armazéns do porto e entrincheirou-se. Na Paraíba, por terem ajudado os holandeses, os Potiguaras foram expulsos por Francisco Coelho. Percebe-se nesse período a grande defesa da terra. Temendo novos ataques, a Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, foi reconstruída e guarnecida e a sua frente, na margem oposta do Rio Paraíba, foi construído o Forte de Santo Antônio. Aos cinco dias de dezembro de 1632, comandados por Callenfels, 1600 batavos desembarcaram na Paraíba. Ocorreu um tiroteio, os holandeses construíram uma trincheira em frente a fortaleza de Santa Catarina, mas foram derrotados com a chegada de 600 homens vindos de Felipéia de Nossa Senhora das Neves a mando do governador. Após esse acontecimento os brasileiros tentam construir uma trincheira em frente a fortaleza. Os holandeses tentam impedir, mas o forte resiste. Incapazes de vencer, os batavos se retiram para Pernambuco. Os holandeses decidem atacar o Rio Grande do Norte, mas Matias de Albuquerque, 200 índios e 3 companhias paraibanas os impediram de desembarcar. Os holandeses voltam à Paraíba para atacar o Forte de Santo Antônio, mas ao desembarcarem percebam a trincheira levantada pelos paraibanos, fazendo com que eles desistissem da invasão e voltassem ao Cabo de Santo Agostinho. Após um tempo os holandeses resolvem tentar invadir a Paraíba novamente, pois ela representava Geografia e História da PB 55 uma porta para a invasão batava em Pernambuco. Dessa forma, em 25 de novembro de 1634 partiu uma esquadra de 29 navios para a Paraíba. Aos quatro dias de dezembro de 1634, bem preparados os soldados holandeses chegam ao Norte do Jaguaribe, onde desembarcaram e aprisionaram três brasileiros, entre eles o governador, que conseguiu fugir. No dia seguinte o resto da tropa holandesa desembarcou aprisionando mais pessoas. No caminho por terra para Cabedelo os batavos receberam mais reforços. Antônio de Albuquerque Maranhão enviou à Paraíba tudo o que foi preciso para combater com os chefes holandeses na região do forte. Enquanto isso, Callabar roubava as propriedades. Vieram reforços do Rio Grande do Norte e de Pernambuco. O capitão Francisco Peres Souto assumiu o comando da fortaleza de Cabedelo. Apenas em 15 de novembro chegou à Paraíba o Conde Bagnuolo, para auxiliar os paraibanos. Como os paraibanos já encontravam-se em situação irremediável, resolveram entregar o Forte de Cabedelo e logo em seguida o Forte de Santo Antônio. O Conde de Bagnuolo foi para Pernambuco; Antônio de Albuquerque e o resto da tropa, juntamente com o resto do povo, tentou fundar o Arraial do Engenho Velho. Os holandeses chegaram com seus exércitos na Felipéia de Nossa Senhora das Neves em 1634, e a encontraram vazia. Foram então à procura de Antônio de Albuquerque no Engenho Velho, mas não o encontraram. O comandante das tropas holandesas entendeu-se com Duarte Gomes, que procurou a Antônio de Albuquerque, que prendeu-o e mandou-o para o Arraial do Bom Jesus. Depois, os holandeses mandaram libertar Duarte Gomes. No Engenho Espírito Santo, os nossos guerreiros venceram os invasores, que eram chefiados por André Vidal de Negreiros. Os paraibanos continuavam com a idéia de querer expulsar os holandeses. Buscaram forças para isso: arranjaram homens no Engenho São João e contaram com o apoio de André V. de Negreiros. Quando os holandeses descobriram, também se prepararam para o combate. Os paraibanos reuniram-se em Timbiri, e depois seguiram para o Engenho Santo André, onde foram atacados por Paulo Linge e sua tropa. Após várias lutas, morreram oitenta holandeses e a Paraíba perdeu o capitão Francisco Leitão. Os combatentes, que estavam recolhidos no engenho Santo André, continuaram com as provocações aos holandeses, tornando assim complicada a situação de Pernambuco. A fortaleza de Pernambuco estavam entregue aos prisioneiros soltos por Hautyn. Francisco Figueroa chegou para governar a capitania por um determinado tempo. Em 1655, chegou João Fernandes Vieira para assumir a Capitania da Paraíba. Jerônimo de Albuquerque conquistou o Maranhão com a ajuda de seu filho Antônio de Albuquerque Maranhão. Em 1618, então este teve por herança o governo do Maranhão, que teria a assessoria de duas pessoas escolhidas pelo povo. Antônio não gostou muito de seus auxiliares e os dispensou. Seguindo os assessores seu próprio caminho, Antônio de Albuquerque abandonou o governo do Maranhão e casou-se em Lisboa, tendo desse casamento dois filhos. Antônio voltou ao Brasil em 1627, com a nomeação de Capitão-Mor da Paraíba. A Capitania da Paraíba na época da invasão holandesa Na época da invasão holandesa, a população era dividida em dois grupos: os homens livres Geografia e História da PB 56 (holandeses, portugueses e brasileiros) e os escravos (de procedência brasileira ou africana). Durante muito tempo de domínio holandês no Brasil, não houve mistura de raças. Política administrativa holandesa na Paraíba Por uma década, a capitania da Paraíba teve como administradores alguns governadores holandeses: Servais Carpentier:Também governou o Rio Grande do Norte, e sua residência oficial foi no Convento São Francisco. Ippo Elyssens:Foi um administrador violento e desonesto. Apoderou-se dos melhores engenhos da capitania. Elias Herckmans:Governador holandês importante, que governou por cinco anos. Sebastian Von Hogoveen:Governaria no lugar de Elias H., mas morreu antes de assumir o cargo. Daniel Aberti:Substituto do anterior. Gisberk de With:Foi o melhor governador holandês, pois era honesto, trabalhador e humano. Paulo de Lince:Foi derrotado pelos "Libertadores da Insurreição", e retirou-se para Cabedelo. 3.2 Conquista para o Interior da Paraíba Através de entradas, Missões de Catequese e bandeiras, o interior da Paraíba foi conquistado, principalmente após as invasões holandesas. Os missionários pregavam o cristianismo nas suas Missões, alfabetizavam e ensinavam ofícios aos índios e construíam colégios para os colonos. Os missionários encontraram um planalto com uma campina verde e um clima agradável. Um aldeamento de índios cariris que se organizaram na região deram-lhe o nome de Campina Grande. Entre os missionários, destacou-se o Padre Martim Nantes, cuja missão deu origem à vila de Pilar. As Missões de Catequese foram as primeiras formas de conquista do interior da Paraíba. Após elas foram executadas bandeiras com a finalidade de capturar índios. O capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo foi o homem que comandou a primeira bandeira na Paraíba. Esta bandeira se deu através do Rio Paraíba e teve como destaque a fundação de um povoado chamado Boqueirão. Esta primeira bandeira, apesar de ter sido tumultuada, foi bem sucedida, uma vez que Teodósio aprisionou vários índios. Teodósio é tido como o grande responsável pela colonização do interior da Paraíba. Ele estabeleceu-se no interior e trouxe famílias e índios para povoá-lo. Os passos de Teodósio foram seguidos pelo capitão-mor Luís Soares, que também se destacou por suas penetrações para o interior. Um homem chamado Elias Herckman procurou minas e chegou à Serra da Borborama. Sua atitude (a de procurar minas) foi seguida por Manuel Rodrigues. O fundador da Casa da Torre, Francisco Dias D’ávila, foi outro bandeirante que se destacou na colonização da Paraíba. Entre as várias tribos (caicós, icós, janduis, etc.) que se destacaram no conflito contra conquista do interior paraibano, os mais conhecidos são os sucurus, que habitavam Alagoas de Monteiro. 3.3 Análise política, econômica e social da capitânia nos séculos XVII e XVIII Análise Política Na administração colonial do Brasil, foram configurados três modalidades de estatutos políticos: o das capitanias hereditárias, o do governo geral e o do Vice-reino. Na Paraíba, tivemos a criação da Capitania Real em 1574. Geografia e História da PB 57 Em 1694, depois de mais de noventa anos de fundação, esta capitania se tornou independente. Entretanto, passados mais de sessenta anos, a capitania da Paraíba foi anexada à de Pernambuco em 1o de janeiro de 1756. Houve prejuízo nesta fusão para a capitania paraibana, além de prejudicar o Real Serviço, em virtude das complicações de ordem General de Pernambuco, do governador da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Por isto, em 1797, o governador da capitania, Fernando Castilho dá um depoimento, descrevendo a situação da Capitania Real da Paraíba à Rainha de Portugal. Em 11 de janeiro de 1799, pela Carta Régia, a Capitania da Paraíba separou-se da de Pernambuco. O interior da capitania foi devastado por bandeirantes, que penetravam até o Piauí. Entretanto a conquista do Sertão foi realizada pela família Oliveira Ledo. Outro fato político foram as constantes invasões de franceses a mando da própria coroa francesa. A invasão holandesa e a Guerra dos Mascates, em que a Paraíba esteve sempre presente com heroísmo de seus filhos, tiveram a sua conseqüência política, uma vez que estimulou o sentimento nacionalista dos paraibanos. Análise Econômica Na época colonial, a Paraíba ofereceu no aspecto econômico um traço digno de registro. Entre os principais produtos e fontes de riqueza, destacavam-se o pau-brasil, a cana-de-açúcar, o algodão e o comércio de negros. O pau-brasil, proveniente da Ásia, era conhecido como ibira-pitanga pelos índios. O seu valor como matéria prima de tinturaria foi atestado na Europa e na Ásia. Daí a sua importância econômica. Pernambuco e Paraíba figuravam entre os pontos do Brasil onde a ibira-pitanga era mais encontrada. A cana-de-açúcar, que foi a principal riqueza da Paraíba com os seus engenhos, veio do Cabo Verde. Foi plantada inicialmente na Capitania de Ilhéus. A cana não se aclimatou na Europa. Na idade média o açúcar era um produto raro de preço exorbitante. Figurava em testamento no meio das jóias. Isto provou bem a importância do açúcar, de que resultou o desenvolvimento e progresso das colônias brasileiras. Na primeira década da fundação da Paraíba, já se encontravam dez engenhos montados. Desde 1532 que entrava na capitania este produto armazenado nos celeiros, na feitorias de Iguarassú. Os franceses já traficavam com o algodão. Entretanto a economia do "ouro branco" só se desenvolveu no século XVIII. Aqui na capitania o algodão teve uma suma importância na balança da economia. Na Paraíba o rebanho de gado vacum também teve importância econômica. Não foi ele somente utilizado como fonte de subsistência entre nós. Entrou nos engenhos como impulsionador das moendas. Teve o gado a sua fase áurea durante a "idade do couro", quando tudo se fazia com o couro com fins comerciais; móveis, portas, baús, etc. O Tráfico de Escravos No início da colonização, começaram a ser introduzidos no Brasil os escravos. A data é omissa, mas presume-se que tenham vindo primeiro com Martim Afonso de Souza para a Capitania da São Vicente. Geografia e História da PB 58 Na Paraíba, o empreendimento do comércio de negros iniciou-se logo após o Decreto Real de 1559, da Regente Catarina permitindo aos engenhos comprar cada um doze (12) escravos. O escravo era mercadoria cara. Seu valor médio oscilava entre 20 e 30 libras esterlinas. Análise Social; Igrejas Duarte Coelho Pereira fundou uma nova Lusitânia, composta apenas por nobres. Alguns nobres de Pernambuco se refugiaram para a Paraíba, antes que ocorresse alguma invasão holandesa. Ao chegarem, fizeram seus engenhos, onde viviam com muito luxo, desfrutando de tudo. Ocorre que nem toda a população vivia tão bem como a nobreza, uma vez que haviam mulheres e moças analfabetas, que só faziam os afazeres domésticos. Havia também outras classes sociais, compostas por comerciantes e aventureiros, que enriqueciam rapidamente, faziam parte da burguesia, querendo chegar a fazer parte da nobreza. Os integrantes da máquina administrativa constituíam outra classe. Eles eram considerados os homens bons, viviam uniformizados. O fator mais importante para a sociedade foi a Igreja, devido à sua maneira de catequizar o povo. As principais igrejas que acompanharam a Paraíba no tempo colonial foram: A matriz de Nossa Senhora das Neves Igreja da Misericórdia Igreja das Mercês Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos Capela de Nossa Senhora da Mãe dos Homens Igreja do Bom Jesus dos Martírios. Topo 4.1 Revoltas em que a PB Participou Guerra dos Mascates:A Guerra dos Mascates foi uma guerra civil, ocorrida em Pernambuco, no século XVIII, mais propriamente em Olinda, sede do governo pernambucano na época. Ocorreu que houve indignação contra a elevação de Recife à categoria de vila, a pedido da população de Recife, composta por comerciantes portugueses chamados Mascates que aspiravam por uma maior autonomia. Nesta época a economia nordestina entrava em declínio, pois os preços do açúcar estavam baixando no mercado mundial e haviam descoberto as Minas Gerais. Muitos senhores de engenho deviam dinheiro aos mascates. Em 1707 o povoado de Recife foi elevado a vila, o que provocou revolta em Olinda. Alguns olindenses ocuparam Recife e elegeram um novo governador a seu favor; Olinda ocupou Recife por três meses. João da Mata, um mascate, adquiriu o apoio do governador da Paraíba, João da Maia Gama, para desforrar-se dos senhores de engenho. Desta forma os mascates aprisionaram o governador pernambucano. Após este fato entrou um novo governador no poder (Félix José Machado de Mendonça), que a princípio foi imparcial, mas que em seguida ficou ao lado dos mascates, os quais saíram vencedores desse conflito. Revoluções Liberais: A passagem do século XVIII para o XIX foi marcada pelo surgimento de idéias revolucionárias. No mundo surgia o estilo literário conhecido como Realismo/Naturalismo, que procurava descrever as classes inferiores e mostrar os aspectos mais degradantes e cruéis da sociedade. Na Paraíba as idéias revolucionárias foram estimuladas pela marçonaria. O mundo todo se baseava no ponto de vista científico. Temos como exemplo o padre Manoel Arruda, que começou a pesquisar a fauna e a flora nordestina. governador da província. os revoltosos queriam emancipar o Brasil. Ela foi influenciada pelo espírito de 1848 que dominava a Europa. fim da oligarquia política. Em 2 de julho de 1824. Rio Grande do Norte e Ceará. Em 1849 os revoltosos atacaram Recife. Quatro meses depois os líderes da revolta foram condenados à morte e a revolução contida. Esta revolta consiste não apenas em um movimento de protesto contra a política Imperial. Como líderes da revolução podemos citar Domingos José da Silva (comerciante) e os paraibanos militares Peregrino de Carvalho e Amaro Gomes. Por causa disto. ao sétimo dia do mês de novembro de 1848. denominada de Confederação do Equador. democracia. fim do domínio português sobre o comércio de Recife. Pedro I. O principal jornal liberal em Recife tinha sua localização na Rua da Praia. Revolução de 1817:Este movimento de caráter republicano e separatista. as câmaras municipais de Olinda e Recife se declararam contrárias ao governo de Barreto. ex-revolucionário. a liberdade de imprensa. o qual dissolveu a Assembléia Constituinte. surgiu na Província de Pernambuco e logo se espalhou pelas províncias de Alagoas. fim da importação de indústrias têxteis. em Pernambuco. Revolução Praieira:Esta revolta durou apenas cinco meses e ocorreu na província de Pernambuco entre 1848/49. Depois de ter sido derrotado pelas tropas do Brigadeiro Coelho. as outras províncias se enfraqueceram e foram derrotadas. Porém o Governo Geral não perdeu tempo. Desta forma. Porém a repressão sobre esta revolta foi intensa. Após a derrota das tropas republicanas de Pernambuco. Pais de Andrade se empenhou na revolta. Confederação do Equador: Esta revolta surgiu com a atitude autoritária de D. Outros líderes foram torturados ou assassinados. entre eles Frei Caneca. podemos citar: a divisão dos latifúndios. Rio Grande do Norte e Ceará. Paraíba. Foram mandados emissários às províncias da Paraíba. Seus líderes foram todos executados. Este foi o último movimento revolucionário do Império. Quando a revolta estourou os revoltosos instalaram um governo provisório republicano. Os revoltosos eram os liberais adversativos dos conservadores (grandes latifundiários e comerciantes portugueses). A revolução iniciou-se com choques entre os liberais e conservadores de Olinda. Pedro I enviou navios de guerra para derrotá-la. todas com tendências republicanas. Esta situação agravou-se quando D. mas num movimento social que pretendia estabelecer reformas. que morreu fuzilado. D. Influenciados pela Revolução Francesa e polo exemplo de República norte-americano. Borges da Fonseca continuou a lutar na Paraíba. no qual podemos citar as revoluções de 1817. Pedro I quis substituir Manoel Pais de Andrade. os liberais ficaram conhecidos como praieiros. federalistas e democráticas. pedindo apoio às outras províncias nordestinas.Geografia e História da PB 59 Todas estas idéias liberais provocaram um surto revolucionário. Seu objetivo era reunir as províncias do Nordeste em uma república. por uma apadrinhado seu (Francisco Reis Barreto). entre outros. 1824 e 1848. mas fracassaram. pois ninguém tinha coragem de enforcá-lo. que gozava de grande popularidade entre os pernambucanos. . Dentre outras exigências feitas pelos revoltosos. conseguiram romper as barreiras do sul.Geografia e História da PB 60 Revolta dos Quebra-Quilos:Ocorrida em 1874. os homens livres foram trabalhar. em 1851. José Fernandes de Lima (1960-1961). Miguel Costa e Juarez Távola. Samuel Duarte (1945). José Américo de Almeida (04/10/1931-09/10/1930). que contou com o apoio de todos os coronéis do açúcar e do algodão. a Coluna se retirou para a Bolívia. Princesa Isabel>Frente de oposição ao presidente João Pessoa. o Estado da Paraíba teve os seguintes governadores: Álvaro Pereira de Carvalho (ficou no poder até 4 de outubro de 1930). José Targino (1950-1951). João Fernandes de Lima (1953-1954). Argemiro de Figueiredo (1935). A liderança da Paraíba foi para frente a partir do memento em que João Pessoa recusou aceitar a candidatura de Júlio Prestes à presidência da república. 4. Revolução de 30:Representou o acontecimento mais importante em toda a história da Paraíba. explicada anteriormente. 1954-1956). com a queda do tráfego negreiro. que possuía amizades influentes no Estado. . Odon Bezerra Cavalcanti (1946). Oswaldo Trigueiro (1947-1950). Gratuliano da Costa Brito (1932). José Marquês da Silva Mariz (1934). apesar de todas as dificuldades. Seus principais líderes foram: Luís Carlos Prestes. José Américo de Almeida (1951-1953. Ao final. Ruy Carneiro (1940-1945). Tudo piorou com o levante de Princesa. Pedro Moreno Godim (1958-1960 e depois 1961-1966). com o intuito de fazer o controle sobre os trabalhadores. inclusive a do padre de Campina Grande (Calisto Correia Nóbrega).2 Governadores da PB após a revolução de 1930 Após a Revolução de 30. Severino Montenegro (1945-1946). José Gomes da Silva (1946-1947). Teve como líder José Pereira. A revolução se espalhou por diversos lugares (Nordeste do Maranhão à Bahia). Alagoas. Ceará e Paraíba. entre outros fatores que contribuíram para o agravamento da situação. Coluna Prestes>Foi um movimento iniciado por alguns políticos que estavam descontentes com o governo do presidente do Rio Grande do Sul. Antenor de França Navarro (10/11/1930-1931). na cidade de Princesa Isabel. visto que. ficou assim conhecida pela modificação que provocou no sistema de pesos e medidas. Flávio Ribeiro Coutinho (1956-1958). e velhos participantes da Revolta Federalista de 1893. fato este que provocou uma grande revolução na Paraíba. o Paraguai e a Argentina. Ronco da Abelha:A revolta do ronco da abelha se deu nos sertões de Pernambuco. Esta revolta causou muitas prisões.João Pessoa. Logo após esse acontecimento. veio a morte do presidente da Paraíba. Os integrantes da Coluna. João Agripino Filho (1966-1971). Paraíba. . Milton Cabral (1986-1987). onde estão gravadas. desapareceu a mais de 40 anos. que buscam informações mais nítidas sobre a vida e os costumes de civilizações passadas. no leito de um rio. Cícero Lucena (1994-1995). fetos e variados animais. motivando permanente e incessantes pesquisas. Curiosamente. Tarcísio Burity (1987-1991). interessados em desvendar esses mistérios. esculpidas na rocha? As respostas vêm sendo tentadas por arqueólogos.. durante o inverno. antropólogos. entre elas uma velha baraúna. uma vasta área onde estão registradas inúmeras pegadas fossilizadas de animais pré-históricos. divide o rio Ingá de Bacamerte em dois. Ronaldo Cunha Lima (1991-1994). encontra-se o Vale dos Dinossauros. O destaque do Sítio Arqueológico são três painéis de riquíssima arte rupestre. mais propriamente no município de Sousa. Tarcísio Burity (1979-1982).Geografia e História da PB 61 Ernani Sátyro (1971-1975). José Maranhão (1995 . O sítio arqueológico de Ingá é ainda uma reserva ecológica da biosfera da caatinga. . formando fantásticos painéis com mensagens até hoje não decifradas.). conhecido como Pedra do Ingá. o rio corre por trás das inscrições. astrônomos e ufólogos. os achados da Pedra do Ingá estão já há bastante tempo catalogados por notáveis arqueólogos como um dos mais importantes documentos líticos. No município de Ingá. 4. onde encontram-se diversas espécies de árvores. a fim de restaurar um pouco da história local. retirados do sítio Maringá e em Riachão do Bacamarte. Dorgival Terceiro Neto (1979). Embora ainda fazendo parte do desconhecido. que lembram constelações. Wilson Braga (1983-1986). No alto sertão. Clóvis Bezerra (1982-1983). de 24 metros de comprimento por cerca de 4 metros de altura. Ivan Bichara Sobreira (1975-1979). serpentes. O bloco principal. dezenas e dezenas de inscrições rupestres..3 Sítios Arqueológicos da PB Em se tratando de arqueologia. Seriam as itacoatiaras do Ingá manifestações dos deuses? O que estes antepassados quiseram transmitir. espécie de árvore que inspirou o nome da cidade. com mais de 100 anos de vida. ordenados. com suas inscrições sincronizadas. todas parecendo o modo que os indígenas ou os visitantes de outras latitudes tinham para anunciar idéias ou registrar fatos e lendas. A prefeitura de Ingá está trazendo da cidade de Areia várias mudas de ingazeira. Antônio Mariz (1995). a Paraíba possui um potencial invejável. encontra-se o sítio arqueológico mais visitado do Estado. Riveldo Bezerra Cavalcante (1986). a ingazeira. que chegam de várias partes do mundo. na dura rocha. transformadas em rochas pela ação do tempo. No verão. Existem sulcos e pontos capsulares seqüênciados. No sítio arqueológico de Ingá surgiu um Museu de História Natural. que acolhe cerca de duas dezenas de fósseis de animais que aí viveram.. 567 Km² Depressão do Alto Piranhas 12.1.1. São formados pelo acumulo de terras provenientes de lugares mais altos. onde o mesmo se encontra com o Oceano Atlântico. o Estado se limita com o Rio Grande do Norte.669 Km² Curimataú 2. entre seus extremos.As praias: Depósitos arenosos ou terras de várzeas. . com presença de várias serras. o Estado se caracteriza como um dos menores do país.6 Km².3 Microregiões Microregiões Homogêneas CIDADE KM Catolé do Rocha 2.4 Relevo As terras que formam a Paraíba não apresentam a mesma forma em todo o Estado. A baixada litorânea possui altitudes que variam entre 0 e 10 metros e tem as seguintes formas de relevo: I . Com uma área de 56. II . 5.952 Km² Seridó Paraibano 2. a Paraíba se limita com o Estado do Ceará. DIVISÃO GEOPOLÍTICA 5.409 Km² Brejo Paraibano 1. cuja capital é Fortaleza.Restingas: Depósitos arenosos em forma de língua ou flecha.345 Km² Sertão de Cajazeiras 5. característico do sertão nordestino. ao sul. Finalmente. que cortam os tabuleiros.Dunas: São montes de areia formados pela ação dos ventos.1 Localização A Paraíba se encontra localizada no leste da região Nordeste. As planícies aluviais correspondem aos grandes vales formados pelos rios Paraíba e Mamanguape. cuja capital é Recife. Por ser cortado pelo Planalto da Borborema. IV.1.584. havendo alguns com até 200 m. Isso ocorre porque o Planalto da Borborema impede a passagem de massas de ar que iriam provocar chuvas no interior. que ficam junto às embocaduras dos rios que lançam suas águas no Oceano Atlântico. Localizada na praia do Cabo Branco.1. Ao norte.698 Km² Serra do Teixeira 3. Já à oeste. 5. Este local marca o limite do Estado para o leste.043 Km² 5. importante ponto turístico da capital do Estado.345 Km² Litoral da Borborema 2. com altitude variando entre 500 e 650 metros.Geografia e História da PB 62 5. III .2 Limites A Paraíba possui. a Paraíba se limita com o Estado de Pernambuco. que tem Natal como capital.755 Km² Piemente da Borborema 2. cruza a Paraíba de Nordeste a Sudeste. O Planalto da Borborema constitui a parte mais elevado do relevo paraibano. a Ponta do Seixas é o local que marca o ponto mais oriental das Américas. Os tabuleiros variam de altitude de 20 a 30 metros. a região sertaneja do Estado possui um clima extremamente seco. a Ponta do Seixas .105 Km² Agro Pastoral do Alto Paraíba 1.Mangues: São planícies de marés com vegetação formada por árvores e arbustos. São terras altamente férteis e próprias para o cultivo da cana-de-açúcar. 372 homens e 1.598. Teixeira. nasce na serra de Jabitacá. a do Miriri. realizado em 1996.1.000 mm.6 Hidrografia A mais forte característica dos rios paraibanos é o fato de a maioria serem temporários. de origem local. no verão e uma zona de chuvas menos escassas na parte ocidental no verão e outono. a do Paraíba. Ele tem uma relevante importância para o Estado.190 mulheres.5 Clima A Paraíba situa-se à faixa tropical do hemisfério sul. Um novo recenseamento. a do Camaratuba. uma zona de chuvas escassas na parte central. mais ou menos transversais à direção destes ventos. que era o português colonizador. A principal bacia de todas é a do rio Piranhas. com temperatura média anual de 26°C. 5. podemos destacar a da Araruna. uma vez que através da barragem de Mãe D'Água.000 horas de insolação anual. a do Mamanguape. viabiliza a irrigação de muitas terras.176 habitantes. 5.7 População No final da década de 70 e início de 80.000 metros de altitude. o que evidenciam sobre a força e a continuidade da massa de ar. provocados pelas regiões planálticas. A população é essencialmente mestiça. o mais famoso do Estado. no inverno. Percebe-se também pequenas diferenças térmicas influenciadas pelo relevo. determinando um clima quente e úmido. diminuem bastante de volume ou mesmo secam nos períodos de saca.770. e o índio. no Planalto da Borborema. O Rio Paraíba. sendo 1. pois está a uma latitude de 7° próximo ao Equador.Geografia e História da PB 63 Entre as principais serras. ou seja. a Paraíba possuía uma população de 2. A população descendo do elemento branco. principalmente no sertão. Podemos concluir que as regiões mais próximas do mar estão sob o domínio do clima quente e úmido. A região situada próximo ao Equador recebe uma alta radiação energética. com mais de 1. porém estes ventos sofrem desvios relevantes devido à presença de áreas serranas.305.1. Na Serra de Teixeira fica o Pico do Jabre. Viração. na fronteira com o Estado do Ceará.707. após a serra da viração. A Paraíba situa-se dentro das faixas dos ventos do Sudeste (alísios). o que complica a agricultura na região. do negro. Constituem um conjunto de terras baixas. O total pluviométrico de 400 a 1. 5. procedente da África como escravo para trabalhar na agricultura.1. Comissária e outras. ocupando uma área extensa entre a Borborema e as terras situadas nos estados vizinhos. o ponto mais elevado da Paraíba. porém existem desvios significativos no sentido leste-oeste dos ventos. a do Gramame e a do Abiaí. juntamente com o período de seca. Este fato determina uma zona de chuvas abundantes na parte oriental. A partir que distanciam-se do litoral as regiões passam a ter o predomínio de climas quentes e secos. A depressão sertaneja se inicia em Patos. Caturité. que corresponde a 3. a do Curimataú. As principais bacias hidrográficas da Paraíba são a do rio Piranhas.562 habitantes. possuem grande influência na atividade agropecuária da Paraíba. revelou uma população total de 3. em Monteiro. resultante da miscigenação dos três grupos étnicos: . em Coremas. que nasce na serra do Bongá. O Agreste e o Brejo vêm depois com densidades entre100 e 300 hab/Km². O problema das cidades ganha relevo na análise política. O cafuzo: Mistura do negro com o índio.Geografia e História da PB 64 Mulato: Mistura do branco com o negro.63 hab/Km². que ocorreu em todo o país nesse período e que tende a evoluir. que são as cidades e campo.96%. afasta-se ainda mais do esquema traçado para a Paraíba. 5. observados na grande João Pessoa.99%. no campo. de 26. o que só veio a confirmar a transferência da população do campo para as cidades. a população paraibana se encontrava. Em 1980. Neste Estado. Os fenômenos de independência constatados na Paraíba correspondem à existência de aglomerações relativamente pequenas. Predominante no litoral do Estado.4%. por ser uma área mais urbanizada e polarizadora. contra 42% nas cidades. condições sociais e similares. Entre os anos de 70 e 80.4%. os "chefes políticos" e os eleitores. histórica e contingente. predominante no interior do Estado. pelo menos quando se toma a situação como um todo. Essa mudança. 54.>Partido Social Progressista PL>Partido Liberal PTN>Partido Trabalhista Nacional PRN>Partido da Reconstrução Nacional PDS>Partido Democrático Social .7% com 60 anos ou mais. seguido do Sertão. Este é mais raro.2. o quadro já havia se invertido (42% rural e 58% urbana).5% da população possuía entre 0 e 19 anos. Caboclo: Mistura do branco com o índio. onde famílias inteiras saem do campo e vão para as cidades a procura de melhores condições de vida. na sua maioria.44% para 36. com 300 hab/Km².8% entre 20 e 59 anos e 7. PARAÍBA ATUAL 5. De acordo com o censo de 1980. é proveniente do êxodo rural. Havia 58% de habitantes no campo. 37. A Paraíba ocupa o 4° lugar no Nordeste em população absoluta.83% para 49. houve redução de pessoas no setor primário. As razões de existência dos "chefes políticos" não diferem muito entre si. o aumento da população adulta para 42. Já o censo de 1989 mostrou um declínio da população jovem para 48. elevando-se para 50 hab/Km² em algumas regiões urbanas. Durante este período. com densidades entre 10 e 25 hab/Km². dentro da Paraíba. O litoral tem as maiores densidades do Estado. Os partidos políticos paraibanos são os seguintes: PCB >Partido Comunista Brasileiro PSB>Partido Socialista Brasileiro PSD> Partido Social Democrático UDN>União Democrática Nacional PTB .1 Aspectos Políticos: Por toda parte. Em 1970. de 64. com uma densidade demográfica de 58.2% e dos idosos para 9. os partidos políticos são conseqüência de uma certa situação de fato. existem análogos problemas de seca. verificou-se um crescimento do setor terciário. Isto se justifica pelo fato de as pessoas provenientes do campo trabalharem nas cidades justamente neste setor.2.>Partido Trabalhista Brasileiro PSP . A síntese dos diferentes elementos. A indústria. Saelpa:Sociedade Anônima de Eletrificação da Paraíba. responsável pelo abastecimento de energia elétrica no Estado.A. eleitos pelo povo como seus representantes. Os principais produtos agrícolas paraibanos são: Abacaxi: Sobre o qual a Paraíba se destaca como o maior produtor. (população economicamente ativa) correspondente aos setores econômicos. benefícios e aposentadorias dos trabalhadores estaduais.2 Aspectos Econômicos Sob o ponto de vista econômico. Enquanto isso. o que confirma a saída da população do campo. responsável pelos serviços telefônicos. Ceasa:Centrais de Abastecimento Sociedade Anônima.E. Poder Executivo: Exercido pelo governador do Estado. Foi fechado pelo Banco central e reaberto no goveerno de Ronaldo Cunha Lima. este ainda representa a base da economia do Estado. Cehap:Companhia Estadual de Habilitação Popular. o setor terciário está sofrendo aumento gradativo. ao receber a população proveniente do setor primário.6%. que atua por 4 anos. que por pouco não se nivelou ao crescimento líquido demográfico. A debilidade da indústria no Estado mostrou uma redução nos percentuais da população pertencente ao setor secundário entre as décadas de 70 e 80. tendo grande importância para . Pbtran:Batalhão da Polícia de Trânsito. o poder é dividido em três: Poder Legislativo:Exercido pelos deputados estaduais.2. em 1995. com exceção de Campina Grande. por meio dos desembargadores e juizes. Cagepa:Companhia de Água e Esgoto da Paraíba. onde o serviço é prestado pela Celb.Geografia e História da PB 65 PDT>Partido Democrático Trabalhista PFL>Partido da Frente Liberal PSC>Partido Social Comunista PMN>Partido da Movimentação Nacional PMDB>Partido do Movimento Democrático Brasileiro PT>Partido dos Trabalhadores PC do B>Partido Comunista do Brasil PSDB>Partido Socialista Democrático Brasileiro PST>Partido Social Trabalhista PDC>Partido Democrático Cristão Os principais órgãos públicos que auxiliam o governo são: Telpa:Telecomunicações da Paraíba. ECT:Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. sociais e políticas. responsável pela habilitação das pessoas mais pobres. Apesar da população paraibana continuar participando cada vez menos do setor primário. Poder Judiciário:Exercido pelo Tribunal de Justiça. responsável pela assistência médica. nas cidades. Para coordenar as atividades comerciais.7% e sua produção de 2. durante um período de 4 anos. Ipep:Instituto de Previdência do Estado da Paraíba. Paraiban:Banco do Estado da Paraíba S/A. considerando a P. 5. a fim de melhorar as condições de vida da população. agrícolas. percebe-se que está ocorrendo uma redução no número de pessoas ocupando o setor primário paraibano. responsável pelo abastecimento agrícola. teve uma crescimento de 7. Além da Igreja Universal do Reino de Deus. que podem ser consideradas como "comerciantes". Caprinos e Ouvinos: Fornece carne e leite. Eqüinos. podemos citar a Embratex (indústria têxtil implantada em Campina Grande há pouco tempo). milho e feijão:São culturas de subsistência. Localiza-se nos Cariris e no Sertão.2. também bastante difundidas. Par evitar isso. A população da Paraíba é essencialmente mestiça. e outras que são consideradas seitas. Sisal Nos anos 50 e 60 foi o principal produto agrícola paraibano.2. a Gnose (controle da mente).4 Aspectos Religiosos Na Paraíba existem várias religiões. Tais manifestações fazem parte da cultura do Estado paraibano. bem como Escolas Iniciáticas. A Paraíba é o Estado mais pobre do Brasil. Asininos e Muares: Destinados ao transporte. Hoje ocupa o terceiro lugar na exportação estadual. pelo fato de exigirem dinheiro de seus fiéis. trazendo indústrias do sul do país como. os carismáticos vêm se esforçando para buscar jovens. como a Igreja Presbiteriana e a Assembléia de Deus. por exemplo. negra e índia. O abacaxi é cultivado em Sapé. o que resulta da união de três etnias: a mulata.5 Aspectos Culturais Folclore As manifestações folclóricas e populares existem em grande quantidade na Paraíba. Suíno:Com a melhoria das técnicas de criação.3 Aspectos Sociais Nosso povo surgiu na mistura das raças branca. a cabocla e a cafuza. Essa cultura já representou o principal produto agrícola paraibano. pois dela se fabrica o álcool usado como combustível. Localiza-se mais intensamente no Agreste e no Sertão. destacamos os rebanhos: Bovino:Sua produção se destina basicamente a alimentação local. como a Ordem Rosa Cruz e a Ordem Maçônica. Na produção animal. há outras Igrejas protestantes. Mandioca. Existem Igrejas Protestantes.Geografia e História da PB 66 a exportação. os tabuleiros e o litoral. o rebanho vem apresentando um crescimento. Mari e Mamanguape. Este tipo de Igreja tem obtido um sucesso e uma divulgação impressionantes. Cana-de-açúcar:Possui grande importância econômica. Além dessas Igrejas citadas existem outras com um número menor de adeptos. tais como Umbanda. Estão presentes também a doutrina espírita. . a fim de mostrar-lhes um catolicismo mais atrativo e que possa chamar-lhes a atenção. mas atualmente o governo do estadual está com a iniciativa de gerar empregos. 5. Algodão: Na região sertaneja. 5. já que são bastante difundidas pelos meios de comunicação. 5. Igreja Messiânica e Borboleta Azul. como por exemplo a Universal do Reino de Deus. além de uma série de outras intituições menos significativas. ocupa lugar de destaque. Igreja dos Mormos. Esta última já habitava a região.2. Localiza-se no Cariri e no Sertão. porém o Catolicismo é a predominante. O protestantismo vem crescendo muito nos últimos tempos e cada vez mais atrai adeptos da Igreja Católica. Percebe-se que a pecuária é praticada de forma extensiva na Paraíba. As principais áreas de cultivo são os vales. Possui o Curso de Formação de Alfabetizadores de Jovens e Adultos do Projeto BBeducar. promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Campina Grande. ambas comemoradas em João Pessoa. Abril de 2001. em Patos. juntamente com Aluízio Jácome.br .festas juninas. Artesanato Literatura transmitida de pessoa a pessoa. em Guarabira. Anedota: Tipo de estória curta. o provérbio. A cantoria sofreu codificações desde o seu surgimento até hoje. festas de ano novo. Camila Azevêdo e Érica Samara. Festa da Guia. noivados. tendo influência também dos indígenas. Cantoria:Atividade própria do poeta-cantador. • E-mail: peixecg@ig. PB. O autor Leandro de Lima Lira nasceu no dia 11 de maio de 1981. que se conserva na memória do povo. Curso PCN em AÇÃO. podemos citar:festas de padroeiro. advinha. promovido pela Fundação Banco do Brasil.com. Provérbio:Sentença breve. Fazem parte desta literatura: as anedotas. batizados. Parlenda:Poema feito em versos curtos. Os festejos populares realizados em homenagem aos padroeiros servem para reencontrar pessoas que não se vinham a muito tempo. que ocorre em Pombal e Santa Luzia. em Campina Grande. que tem por finalidade provocar risos em alguém. entre outras. É graduando em Ciências da Computação (UFCG) e Direito (UEPB). que atraem turistas de todo o país. elaborou a monografia de História da Paraíba. geralmente utilizados para distrais crianças. festas do calendário cívico. e atrai muitas pessoa para vê-la. etc. criada pelo povo. Em 1997. Festa da Luz. Andréia Benari Oliveira. especialmente familiares que vêm de outras localidades para fazer uma visita à sua terra natal. e Micarande. a glosa. as festas cívicas e populares são comemoradas pela população com grande entusiasmo. Tem por finalidade mostrar a experiência humana. quando ainda estudava no 2º ano do Ensino Médio do Colégio Imaculada Conceição (Damas). festas natalinas. exposições agropecuárias. Esses festejos também servem para o divertimento da população. em Campina Grande.Geografia e História da PB 67 Dentre estes acontecimentos. festas de caráter religioso. 2001 e 2002. Festas Populares Na Paraíba. a cantoria de viola. Os paraibanos aprenderam a festejar acontecimentos religiosos com os portugueses. Advinha: Tipo de passatempo divertido. em Campina Grande. a parlenda. casamentos. Festa do Rosário. vaquejadas. ambos com ingresso em 1999. festas populares comemoradas em Campina Grande. As principais festas populares são: Festa de Nossa Senhora das Neves e Festa de Nossa Senhora da Penha. o folheto de cordel. Geografia e História da PB 68 • Home page: www.cjb.net HISTÓRIA DA PARAÍBA 2 .leandrolira. Geografia e História da PB 69 A PARAÍBA NO PERÍODO COLONIAL – 67 A PARAÍBA DURANTE O IMPÉRIO A PARAÍBA E A PRIMEIRA REPÚBLICA A CONQUISTA DA PARAÍBA A CONQUISTA DO SERTÃO PARAIBANO AS NAÇÕES INDÍGENAS DA PARAÍBA OS HOLANDESES NA PARAÍBA A ESCRAVIDÃO NA PARAÍBA AS LUTAS NATIVISTAS NA PARAÍBA A REVOLUÇÃO DE 30 E A PARAÍBA O MOVIMENTO DE 64 E A PARAÍBA A IMPRENSA NA PARAÍBA A IGREJA NA PARAÍBA A INQUISIÇÃO NA PARAÍBA A MAÇONARIA NA PARAÍBA A PRODUÇÃO LITERÁRIA NA PARAÍBA HISTORIOGRAFIA E HISTORIADORES PARAIBANOS . Geografia e História da PB 70 PRESENÇA PARAIBANA NA CONQUISTA DO RIO GRANDE . ............................... 219 A IMPRENSA NA PARAÍBA Expositora Fátima Araújo............................................... 245 ...... 83 A CONQUISTA DO SERTÃO PARAIBANO AS NAÇÕES INDÍGENAS DA PARAÍBA Expositor: Wilson Nóbrega Seixas.......................................................................................................................................................................................................................................................... 141 A ESCRAVIDÃO NA PARAÍBA Expositora: Diana Soares de Galliza Debatedora: Waldice Mendonça Porto............................. 05 A PARAÍBA NO PERÍODO COLONIAL Expositora: Regina Célia Gonçalves Debatedor: Wellington Aguiar................................................... 31 A PARAÍBA E A PRIMEIRA REPÚBLICA Expositor: Luiz Hugo Guimarães Debatedor: Joacil de Britto Pereira......................................................... 11 A PARAÍBA DURANTE O IMPÉRIO Expositora Rosa Maria Godoy Silveira Debatedor: Marcus Odilon Ribeiro Coutinho............................................................................................................ 125 OS HOLANDESES NA PARAÍBA Expositor: Aécio Villar de Aquino Debatedor: Luiz de Barros Guimarães......... 99 Expositor: José Elias Borges Barbosa Debatedora: Waldice Mendonça Porto............. .......... 169 A REVOLUÇÃO DE 30 E A PARAÍBA Expositor: Humberto Cavalcanti de Mello Debatedor: Dorgival Terceiro Neto............................................................................................................................................................................................................................................................................ 53 A CONQUISTA DA PARAÍBA Expositora: Waldice Mendonça Porto Debatedor: Guilherme d'Avila Lins............................................................................Geografia e História da PB 71 A Paraíba nos 500 Anos do Brasil SUMÁRIO APRESENTAÇÃO......................................................................................................................................... 191 O MOVIMENTO DE 64 E A PARAÍBA Expositora: Martha Falcão Debatedor: Luiz Hugo Guimarães.................... 155 AS LUTAS NATIVISTAS NA PARAÍBA Expositor: José Octávio de Arruda Mello Debatedora: Inês Caminha Lopes Rodrigues.................... ............................ dada sua importância na vida cultural da Paraíba........ 355 PRESENÇA PARAIBANA NA CONQUISTA DO RIO GRANDE Expositor: Olavo de Medeiros Filho..... 399 Abertura dos trabalhos do Ciclo de Debates promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico Paraibano sobre a participação da Paraíba nos 500 anos da descoberta do Brasil.Geografia e História da PB 72 A IGREJA NA PARAÍBA Expositor: Manuel Batista de Medeiros Debatedor: Eurivaldo Caldas Tavares.. presidente da Academia Paraibana de Letras.. 383 FLAGRANTES DO CICLO DE DEBATES.......... Subsecretário de Cultura do Estado....................... 311 A PRODUÇÃO LITERÁRIA NA PARAÍBA Expositor: Joacil de Britto Pereira Debatedor: Luiz Gonzaga Rodrigues......................... O Instituto Histórico...................................................................................................... A fala do presidente Luiz Hugo Guimarães: Nosso Instituto neste momento está dando início a um Ciclo de Debates onde trocaremos idéias sobre os principais episódios ocorridos na Paraíba desde o Descobrimento do Brasil......................................... duas vezes por semana.......... magnífico reitor da Universidade Federal da Paraíba... convido o professor Jáder Nunes de Oliveira.......................... convido a professora Regina Célia Gonçalves............. que será a expositora do tema A PARAÍBA NO PERÍODO COLONIAL a ser hoje debatido......... debater assuntos de interesse da Paraíba sobre sua participação na formação da nacionalidade.............................................................. convido o professor Francisco Pereira Júnior........ a partir deste 15 de setembro de 1999 até o dia 12 de novembro.... Iremos aqui........................................................ Para compor a mesa dos trabalhos convido o professor Francisco Sales Gaudêncio...... não poderia deixar de organizar um ciclo de debates dessa natureza....................... diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artística da Paraíba e representando o Governo do Estado.................. 261 A INQUISIÇÃO NA PARAÍBA Expositor: Carlos André Macêdo Cavalcanti Debatedora: Zilma Ferreira Pinto.... convido o escritor e confrade Joacil de Britto Pereira............ 283 A MAÇONARIA NA PARAÍBA Expositor: Hélio Nóbrega Zenaide Filho Debatedor: Edgard Bartolini Filho.................................... que será o debatedor do referido tema............... 333 HISTORIOGRAFIA E HISTORIADORES PARAIBANOS Expositor: Guilherme d'Avila Lins Debatedor: Luiz Hugo Guimarães.......... ................................. finalmente..................... convido o historiador Wellington Aguiar. Introdução Tendo em vista a amplitude do tema que nos cabe abordar neste ciclo de debates . de peça veiculada pela TV Globo em maio passado). trabalha com a idéia de um Brasil fundado em abril de 1500 por portugueses corajosos (e. cuja tese aborda o DOMÍNIO HOLANDÊS NA PARAÍBA COLONIAL. sem dúvida alguma. a de um país que parece nascer pronto nas areias douradas das praias do sul do que hoje é a Bahia. sem dúvida. conhece as linhas gerais (e muitos dos detalhes) da colonização portuguesa na Paraíba. mas lançar novas propostas de pesquisas. teremos a palestra da professora Regina Célia Gonçalves. Para expor esse tema de muita significação para nós. Há muitas possibilidades de discursos sobre o tema. optamos por fazê-lo a partir de um recorte específico. 6) A Escravatura na Paraíba. 7) A Inquisição na Paraíba e 8) A Igreja na Paraíba. Com esta apresentação. bem como a exigüidade do tempo que nos foi destinado para esta apresentação. se estenderá. de fato. Sobre as Comemorações dos 500 Anos do Brasil Em tempos de "comemoração" do V Centenário do Descobrimento do Brasil. é doutoranda em História Econômica. 2) A conquista do sertão paraibano. consideramos que o melhor caminho para discutir história é. ex-coordenadora do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional da UFPB. Um deles. BAHIA. por pelo menos outras oito sessões: 1) A conquista da Paraíba. sendo co-autora da História dos Municípios de Ingá. 1º Tema: A PARAÍBA NO PERÍODO COLONIAL Expositora: Regina Célia Gonçalves Debatedor: Wellington Aguiar. a professora Regina Célia Gonçalves. passamos a palavra à nossa primeira palestrante deste Ciclo de Debates. necessariamente. 2. Expositora: Regina Célia Gonçalves (Professora da UFPB. por exemplo. 3) As nações indígenas na Paraíba. é pesquisadora do Projeto História Local da Paraíba. 5) A Paraíba nas lutas nativistas. trazendo a verdade da cruz para as populações canibais e pagãs que aqui viviam (essa é a tônica. nos próximos meses. à sua importância para a construção da nossa identidade. talvez o mais disseminado. no caso da história colonial paraibana.A PARAÍBA NO PERÍODO COLONIAL -. A amplitude acima mencionada refere-se não apenas aos mais de trezentos anos de domínio colonial europeu no Brasil mas. Pedras de Fogo. doutoranda em História pela USP) 1. Por outro lado. Por este motivo. nada mais pertinente do que iniciar pela discussão sobre a noção mesmo de "comemoração" que embasa a nossa fala e que.Geografia e História da PB 73 Hoje vamos iniciar abordando o período colonial da Paraíba. o adotado pela programação deste ciclo de debates: a verticalização/aprofundamento temático que. mestra pela UFPB. é mestra em Ciências Sociais. Cabedelo e Areia. 4) Os holandeses na Paraíba. pela UFPB. Pretendemos aproveitar esta oportunidade para discutirmos as perspectivas para a pesquisa histórica e para produção historiográfica sobre a Paraíba neste período. e considerando que o público a quem nos dirigimos hoje. não é a mesma presente em outras. achamos por bem não fazer uma apresentação global (e superficial) do período. pela USP. o eram) que atravessaram o "mar sem fim" à bordo de precárias caravelas (a tecnologia de navegação mais avançada de que os europeus dispunham na época). que é professora assistente do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba na área de Teoria e Metodologia de História. principalmente. Ou então. Conde. o Brasil nasceu aqui! Conforme campanha . mumificam os vivos. Pode-se falar de um verdadeiro "boom" memorial a imiscuir-se nas sociedades ocidentais contemporâneas. do que tratamos quando falamos em "comemoração"? Para iniciar tal discussão.1 Arruda. Um outro exemplo dessa utilização é o slogan da camiseta que os jogadores dos times de futebol da Bahia usam por baixo da oficial: "Salvador. O estado nacional. em monumento comemorativo. Afinal. aliás. sem ressuscitar os mortos"2. ocasiões como essa. o de Aurélio Buarque de Hollanda: "Comemorar: Trazer à memória. a Comissão Portuguesa opera uma relativização da idéia de "descobrimento". realizam-se torneios esportivos. Não nos é possível viver só de lembranças. sorteios e shows artísticos. citando o historiador português Vitorino Magalhães Godinho. E o eixo principal desse "boom" tem sido a preocupação com a preservação de acervos e arquivos. Ainda a propósito desta questão das comemorações. congressos e ciclos de debates). que lembramos e que esquecemos. 450 Anos!". homens do presente. principalmente porque se trata de um momento importante da memória nacional. criticar certezas dogmáticas. tornada festa cívica. com a conservação do patrimônio histórico. lembrar". caso contrário. A comemoração laicizada. E. o nacionalismo. Concordamos com ambos os autores. entendendo-o como confronto .Geografia e História da PB 74 publicitária do governo baiano que. Trata-se de encarar mais este centenário como uma oportunidade de reflexão sobre o que somos nós. entre outros) e com o resgate da história dos excluídos. A força dessa perspectiva. Esquecer é imperativo para que possamos ter uma vida no presente. sustentada pela criação dos lugares da memória e pela transformação. é uma atividade humana que comporta a lembrança mas também o esquecimento. a partir de então. um papel fundamental. os centenários somente podem ser úteis desde que ensejem estudar problemas. partimos da definição apresentada pelo mais conhecido dos dicionários de língua portuguesa em circulação no Brasil. além desse discurso. Revisita-se a história com novos olhares. quem somos nós. (embora fundamentada nos rituais das comemorações religiosas) adquiriu contornos de patrocinadora de uma certa identidade: a identidade nacional. ao saber histórico coube. dos fatos/datas e personagens selecionados como significativos da história. e que é exibida a cada gol marcado. pois é preciso festejar! E haja festa! Mas. demonstra uma extrema competência para aproveitar a memória histórica como estratégia de marketing. Por isso. caso contrário estaríamos imersos no poço sem fundo do passado. Somos herdeiros da tradição moderna de comemoração fundada com a Revolução Francesa e com a criação do calendário civil que se tornou seu marco emblemático. com a multiplicação de lugares da memória (galerias. museus. bibliotecas. Para ele. Tal como já afirmava o grande historiador francês Marc Bloch. Mas a memória é um trabalho. reescrever a história. buscando. essa é a nossa perspectiva. Somos nós. pois passará a contribuir decisivamente para a construção de uma nova identidade social. Principalmente quando. Vivemos um momento em que a questão da memória emerge com extremo vigor. E. Certo. associados a alguns eventos culturais (como seminários. faz um exame acurado sobre as perspectivas que animam a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (Portugal) e a Comissão Nacional para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil (Brasil). meditar diretrizes. há outros. afirma: "A História nada tem a ver com as comemorações. cultural e ecológico da humanidade. ainda nos anos trinta. ela é somente esforço de compreensão. a identidade são os beneficiários diretos das comemorações cívicas. a exemplo das comemorações dos centenários da Abolição da Escravidão (1888) ou da Proclamação da República (1889) é inquestionável. por que o somos e para onde vamos. também observada em outras ocasiões históricas. fazer recordar. dos 500 Anos do Brasil. este mesmo autor. como fazem continuamente todas as gerações. são extremamente propícias a essa revisita. Op. então. fugindo ao excessivo celebracionismo. a mesma foi encarada como mais uma celebração. em que apresenta. a dimensão comunitária e cívica." 4 Voltaremos a falar sobre a Paraíba e o Projeto Resgate mais adiante. ultrapassada pelo menos desde que Capistrano de Abreu. começando a funcionar em 1996) define o objeto das comemorações como sendo "a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral às costas brasileiras". daí a preferência pelas versões completas de fontes e investigações. Exorta o rastreio. eram o Descobrimento e a Independência5. recolha. nos dois primeiros capítulos. Op. 1999. mas a ênfase deveria ser carreada para difundir o conhecimento do passado português. fez publicar a sua obra CAPÍTULOS DE HISTÓRIA COLONIAL. encampada pelo Ministério das Relações Exteriores. inventário. 3 ARRUDA. Neste quadro. Ou seja. conservação. de rápida divulgação e consumo. A partir daí foram estabelecidas as primeiras tentativas de organização sistemática da preservação da memória histórica no Brasil. microfilmar e publicar em CD-ROM 250 mil peças documentais brasileiras existentes no AHU. no MEC e. como o principal problema das "comemorações" patrocinadas pela Comissão brasileira. existentes no exterior. 2 ARRUDA. "Ao rigor da investigação científica é atribuída a responsabilidade pela distinção entre propaganda e memória. Não se exclui. os produtos fáceis. (p.cit. tal qual a construção de réplicas das naus da esquadra de Cabral ou a realização de regata que observe a rota do navegador português e outros torneios esportivos. Já a Comissão brasileira (criada em 1993. SP: EDUSC. Bauru. cerca de 60% dos títulos publicados referiam-se ao período colonial e os temas privilegiados. A comemoração dos centenários (1498. do patrimônio documental histórico e artístico dos portugueses ou relativo aos portugueses". evitando-se as ações superficiais. transforma-se em hino ao seu lugar no mundo da globalização. (pp.J. op. Ou seja.cit. 1500). evidentemente. No entanto. O Lugar do Colonial na Historiografia Brasileira O início dos estudos relativos ao período colonial da história do Brasil remonta ao ano de 1838 quando foi fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.. assume a perspectiva de que esse é o marco inicial da nossa história. sem dúvida alguma. coordenado por Esther Bertoletti. O TRÁGICO 5º CENTENÁRIO DO DESCOBRIMENTO DO BRASIL. do Ministério da Cultura. Nos cem primeiros anos de sua existência. depois de recusada por vários ministérios. Perspectiva. o quadro humano e ambiental que antecede a chegada dos europeus. principalmente. REFLETIR. COMEMORAR. perde-se uma excelente oportunidade de refletir sobre a nossa história e as condições de produção do pensamento histórico no Brasil. que correspondem a cerca de 80% dos documentos relativos à história do Brasil. (conhecido como Projeto Resgate) é um exceção. na questão documental. em seu trabalho recém-publicado. a ação . aliás. (p. CELEBRAR.cit. edição.37) 1 3. 3 Em lugar da visão lusocêntrica e eurocêntrica emerge a qualificação de Portugal como parceiro e interlocutor privilegiado das nações que foram ex-colônias em relação à União Européia.18/19) 4 Arruda. em Portugal. __________________________________ Esta parte do texto está fundada na discussão apresentada pelo professor José Jobson de Arruda.. o PROJETO RESGATE DA DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA BARÃO DO RIO BRANCO.11). muito pelo contrário. e acentua a dimensão científica das comemorações. em 1907. Em nenhum momento se estabeleceu uma reflexão sobre ela.Geografia e História da PB 75 intercultural. Arruda aponta. J. Tal produção expressava. O mesmo tem o objetivo de "organizar. justamente a falta de uma ênfase maior na abordagem científica e. achamos por bem não tratar do assunto por ter sido um dos "lugares" em que os historiadores têm se debruçado. a concentração dos trabalhos por período histórico muda significativamente. são os seguintes: Período Colonial = 43. Já para o período 1943-1973. Ou seja. A diferença. montante de publicações sobre a Colônia que. coordenado pela Profª Irene Fernandes (colaboradora do NDIHR e docente da UEPB) que tem. deslocando-se fortemente para a História do Brasil Republicano. pela existência da ditadura militar. por exemplo. Eni de Mesquita. e J. em relação à produção do IHGB. ao vínculo entre o processo de colonização e do sistema colonial e a expansão marítima e comercial européia. expresso. O início da "abertura política" permitia aos estudiosos um debruçar-se sobre as questões do Brasil contemporâneo. mas as do Estado autoritário no país. a partir da segunda metade da década de 70. que começam a ser defendidas já nos anos 40. A História Colonial da Paraíba Apesar dos avanços da pesquisa histórica e da produção historiográfica no Brasil8 e na Paraíba persistem lacunas temáticas sobre o período colonial.6%. Período Republicano = 15. as inúmeras dificuldades para pesquisa sobre o Brasil colônia não podiam e não podem ser negadas.M. A HISTÓRIA EM QUESTÃO. Bauru.2% dos trabalhos defendidos. Por este motivo. 5 4. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP e CEDHAL. 1999. compreender a conformação da estrutura fundiária na Paraíba. Trata-se.36). quase sempre.10). José Roberto do Amaral Lapa chama a atenção para o fato de que. com vigor.2%. sobre a produção acadêmica no Curso de Pós-Graduação da USP. Tengarrinha. sim. de leitura difícil.5%. as origens da nossa formação histórica continuavam a ser a motivação principal dos estudos dos historiadores6. ficando as épocas mais recuadas . Entre estas pesquisas encontra-se o PROJETO QUESTÃO AGRÁRIA NA PARAÍBA. Por outro lado. A COLÔNIA NA BIBLIOGRAFIA RECENTE. sem dúvida alguma. SAMARA.Geografia e História da PB 76 do IHGB que buscava o estabelecimento das origens/fundamentos da história nacional. a predileção pelo período colonial continuou.5% e Império/República = 2. Lacunas essas. Colônia/Império = 6. Lacunas que estão a exigir uma produção científica na perspectiva da compreensão da sua importância para a construção da nossa identidade. como um de seus objetivos fundamentais. referem-se ao final do período. Indicador importante desta tendência é a produção das primeiras teses universitárias. Esse deslocamento pode ser explicado. (Esta dificuldade é expressa também no) . Período Imperial = 32. período 1943-1973. No entanto. ainda nos inícios dos anos 70. Após a fundação das primeiras universidades brasileiras. pelo interesse dos historiadores (e da sociedade brasileira de então) em compreender não mais as origens do Brasil simplesmente. O mesmo ocorre com os livros publicados. sobre diversas temáticas relativas ao colonial.. 7 Cf. 6 Os dados levantados por Lapa HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA.séculos XVI e XVII ainda não analisados". 1976 (pp 47. é que o interesse pelos estudos coloniais já não se prende exclusivamente ao estabelecimento dos marcos factuais importantes (ou assim considerados) do período e. que se situam para além do arrolamento de fatos dispostos cronologicamente. embora já se anuncie um deslocamento em direção aos estudos sobre Império. 48 e 49). ainda nos anos 30. Das 279 teses defendidas a partir de então. 1999.. e considerando que o público a quem nos dirigimos hoje. Petrópolis: Vozes. a preocupação com o período colonial ainda é bastante grande. no caso da Paraíba. entre as teses de doutorado defendidas na Universidade de São Paulo. de um lado. 7 __________________________________ Arruda. no entanto. (p. em sua maioria. e que se encontram muitas vezes dispersos e com problemas de conservação. HISTORIOGRAFIA LUSO-BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA. J. naquele momento. conhece as linhas gerais (e muitos dos detalhes) da colonização portuguesa na Paraíba. SP: EDUSC. oportunidade rara depois de quase duas décadas de repressão. 140 referem-se a este período. a partir do . (p.J. da tarefa de trabalhar com "documentos basicamente manuscritos. A maior parte dos "arquivos" ou está despejada em locais absolutamente inadequados (como almoxarifados. Este primeiro levantamento foi atualizado pela equipe paraibana que participou do Projeto Resgate (MINC). A partir dos dados desses documentos a Profª Diana Galliza escreveu seu trabalho O DECLÍNIO DA ESCRAVIDÃO NA PB. indica José Antonio Gonsalves de Mello em vários dos seus trabalhos e. algumas ações têm sido realizadas. tem feito consulta sistemática em diversos arquivos (públicos e privados) coletando dados sobre o período colonial (inclusive). França). decretos.Geografia e História da PB 77 estudo do sistema sesmarial. que demonstram a eficiência da administração metropolitana no controle da colônia. provisões. Em meio a essa situação caótica. certamente. Um antecedente do levantamento da documentação paraibana no Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal foi o trabalho realizado. entre setembro de 1998 e março de 1999. nos anos 1976/1977. Holanda. É bom lembrar que. mapas e iconografia). datado de 1962. e paralelamente às atividades de pesquisa em desenvolvimento. para tanto. do fogo ou da mão humana). Trata-se de aproximadamente 15. o do próprio Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. já em 1908. leis. Pilar (1809). doações e confirmações de sesmarias. Piancó. sob coordenação da Profª Diana Galliza. Microfilmes que. requerimentos. o estado lamentável. Por outro lado. cartas patentes. Um outro importante projeto em desenvolvimento é o FONTES PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA PARAÍBA. em A UNIVERSIDADE DO 8 . Os limites cronológicos da documentação sobre a Paraíba remetem ao período 1593/1827. das goteiras. identificando documentação valiosíssima para o estudo do período colonial. bem como a realização de análises sobre a história da educação na Paraíba. Dado importante e preocupante porque revela que sequer a comunidade de historiadores tem acesso sistemático à produção de seus pares. assim como vários cartórios e mesmo paróquias não têm a preocupação com a preservação e conservação dos documentos.10 __________________________________ Em recente levantamento realizado pela ANPUH Nacional sobre teses e dissertações em História produzidas no Brasil. fazem parte do acervo do NDIHR. há documentação importante sobre a Paraíba em outros acervos localizados em Portugal e em outros países europeus (Espanha. Esta ação é urgente e indispensável uma vez que é de conhecimento público a situação de absoluto descaso em que os arquivos paraibanos vivem. Desaparecimento que. No caso da produção paraibana. especialmente os arquivos públicos. encontravam-se depositados no Arquivo Público. pela Profª Elza Régis de Oliveira. Pombal (1712). entre eles. Mamanguape (1795). outros órgãos públicos. A partir de nossa experiência no PROJETO HISTÓRIA LOCAL foi possível constatar que as Prefeituras. que objetiva o levantamento sistemático de fontes. entre 1967 e 1969. São João do Cariri (1816). o índice deve ser ainda menor. um passo ainda mais importante nesta direção foi dado com a inclusão da Paraíba no Projeto Resgate. mercês. sobre O VELHO ARRAIAL DE PIRANHAS (Pombal). hoje. naquela época. executado por um grupo interinstitucional de pesquisadores da UEPB e da UFPB (lotados no NDIHR e no Centro de Educação). que microfilmou cerca de 4.000 documentos daquele arquivo. Uma iniciativa pioneira foi o trabalho de equipe do NDIHR. banheiros desativados. as Câmaras Municipais. obra de fundamental importância para a historiografia paraibana. que desenvolveu pesquisa exploratória em cartórios de alguns municípios paraibanos. cartas. chegou-se a um dado extremamente importante: apenas 10% daquilo que é produzido nos cursos de pós-graduação acabam sendo publicados. 9 Os municípios pesquisados e as datas-limite da documentação encontrada em cada um foram: Bananeiras (1790). em especial. salas de depósito de "coisas velhas") ou simplesmente desapareceu (documentação inutilizada pela ação do tempo. Outro exemplo da vitalidade da documentação cartorial é o trabalho de Wilson Seixas. 10 cf. (ofícios. ainda pouco conhecida e pouco disponibilizada entre nós.000 documentos de um total estimado de 250. Outro projeto importante é o de RESGATE DO PROCESSO HISTÓRICO E CULTURAL DOS MUNICÍPIOS PARAIBANOS (mais conhecido como PROJETO HISTÓRIA LOCAL) que objetiva a produção de materiais didáticos sobre os municípios da Paraíba e que. desses documentos que ainda. João Pessoa. Guarabira (1806).9 Recentemente. alvarás. no entanto. Irineu Ferreira Pinto (o Patrono desta Casa) anunciava ao chamar a atenção para a deterioração.000 sobre o Brasil. Talvez a expressão mais cabal dessa situação seja o desaparecimento dos documentos dos séculos XVI e XVII do Arquivo Público do Estado da Paraíba. o PROGRAMA DE MEMÓRIA E DOCUMENTAÇÃO do NDIHR tem se dedicado à organização de vários acervos de importância para a nossa história. Geografia e História da PB 78 RECIFE E A PESQUISA HISTÓRICA, 1959. Entre as muitas áreas e temas da história da Paraíba ainda por investigar podemos arrolar as seguintes: * Paleontologia/Arqueologia (pré-histórica e histórica): Apesar dos esforços isolados de alguns pesquisadores e de algumas iniciativas da Fundação Casa de José Américo sabemos que praticamente tudo está por se realizar em termos da investigação paleontológica e arqueológica da/na Paraíba. Tais estudos são fundamentais para compreendermos o processo histórico local; * História militar: A documentação do Arquivo Histórico Ultramarino permite investigações importantes sobre as estratégias e táticas militares (a exemplo do que realizou Evaldo Cabral de Mello em OLINDA RESTAURADA, sobre a guerra do açúcar); a origem e a formação dos contingentes militares que atuaram na Capitania; a vida cotidiana desses militares, marcada pela penúria, pela fome, pelos soldos atrasados; o problema da manutenção das tropas, entre outros; * História do meio-ambiente: Capítulo absolutamente fundamental da história da Paraíba, ainda completamente desconhecido. Temas como a devastação das florestas, a degradação das águas, as pragas, as cheias e as secas (de que a primeira notícia remonta ao final do XVII) estão a exigir estudos; * História urbana: A formação e a evolução da rede urbana na Paraíba durante o período colonial precisa ser melhor compreendida. É preciso realizar esforços no sentido de buscar uma sistematização do que já há escrito para tentar compreender o movimento geral. Muitas monografias já realizadas sobre cidades paraibanas. Na plaqueta HISTORIOGRAFIA MUNICIPAL DA PARAÍBA recentemente publicada pelo Dr. Luis Hugo Guimarães, presidente deste Instituto, relaciona as obras existentes no acervo do IHGP (um dos mais importantes de que dispomos para estudar a Paraíba) sobre cinqüenta e quatro dos atuais municípios paraibanos. A existência de tão poucos trabalhos indica a necessidade de aprofundarmos os estudos sobre história local, em especial no que diz respeito à evolução urbana. * História Econômica: Vários temas sobre a história econômica paraibana ainda precisam ser desenvolvidos, por exemplo: a) a produção para o mercado interno (alimentos, artesanato, tabaco, etc); b) história do comércio (nos moldes do trabalho de Irene Fernandes Rodrigues sobre a Primeira República na PB, ou de Ruston Lemos de Barros sobre as embarcações e frotas portuguesas no Nordeste até 1720). A documentação do Arquivo Histórico Ultramarino aponta para a dinâmica interna da colonização, tratando de questões como: fluxo dos portos, evolução dos preços, questões do abastecimento, os diferentes interesses das frações de classe envolvidas, entre outros. Sobre esse tema, no período colonial, dispomos, para o século XVIII, da obra de Elza Régis. A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII: SUBORDINAÇÃO E AUTONOMIA. (originalmente, dissertação de mestrado em História, junto a UFPE), e da tese de doutorado em História Econômica/USP, do prof. Francisco Tadeu da Silva UMA COLÔNIA E DUAS METRÓPOLES, sobre a Cia. de Comércio PE/PB e a sua presença na Paraíba. * História Administrativa: Tema praticamente inexplorado pelos historiadores da Paraíba, encontra importantes elementos de análise na documentação do AHU. Há inúmeros documentos que tratam da administração fazendária, militar, judiciária e eclesiástica, com especial atenção para a história tributária (tema, aliás, extremamente atual); * História Social: Esta documentação também permite inúmeros estudos demográficos; estudos da história da vida familiar, dos casamentos, das crianças; história da criminalidade e da violência, história da saúde (a exemplo das teses de doutorado em História dos professores Ariosvaldo Diniz/DCS/UFPB sobre o cólera e da Profª Lenilde/Denfermagem/UFPB sobre a saúde pública na Paraíba, ambos versando sobre o Geografia e História da PB 79 século XIX); história do cotidiano tanto das elites quanto dos homens livres e pobres e dos escravos; história das idéias - imaginário da colonização, por ex.; história da educação e da assistência social (para combate a doenças e a fome). Ou seja, nós, historiadores, estamos frente a um desafio de amplas proporções. Tratase, em primeiro lugar, de lutar pela localização das fontes documentais que municiem novas pesquisas e pela preservação e conservação daquelas fontes de que já dispomos e, trata-se, de debruçarmo-nos sobre tais acervos, em busca de respostas a tantas questões relevantes suscitadas pela história da Paraíba. A fala do presidente dos trabalhos: Iniciamos com chave de ouro nosso Ciclo de Debates sobre a participação da Paraíba no 500 anos da descoberta do Brasil. A professora Regina Célia Gonçalves colocou de forma nova, de forma diferente, um esquema para tratarmos das comemorações dos 500 anos do Brasil. Seu registro sobre fases do nosso período colonial incentiva-nos a ocupar os vazios que estão por preencher no estudo e na análise de importantes ocorrências na Paraíba dos primeiros tempos. E ela destaca, com bastante ênfase, a necessidade de analisar em maior profundidade a história comercial da Província, diante das numerosas fontes ainda pouco exploradas. Seu trabalho é um desafio aos historiadores paraibanos. O Instituto Histórico se congratula com a participação da professora Regina Célia neste Ciclo de Debates que se inicia. Dando seqüência aos nossos trabalhos, convoco o confrade Wellington Aguiar para iniciar os debates sobre este tema. O professor Wellington Aguiar, além de sócio deste Instituto, do qual já foi vicepresidente, é membro da Academia Paraibana de Letras, onde exerceu a Presidência recentemente. Ex-professor da Universidade Federal da Paraíba, atualmente exerce o cargo de Diretor do Arquivo Público do Estado e é membro do Conselho Estadual de Cultura. Como historiador tem várias obras publicadas, dentre elas UM RADICAL REPUBLICANO CONTRA AS OLIGARQUIAS; CIDADE DE JOÃO PESSOA - A MEMÓRIA DO TEMPO; UMA CIDADE DE QUATRO SÉCULOS e CAPÍTULOS DE HISTÓRIA DA PARAÍBA, estes dois últimos em parceria com o professor José Octávio de Arruda Mello. Brevemente lançará A PARAÍBA NOS RECORTES DE JORNAIS. Com a palavra o historiador Wellington Aguiar. ··· Debatedor: Wellington Aguiar (Historiador, sócio do IHGP, ex-presidente da Academia Paraibana de Letras, membro do Conselho Estadual de Cultura) Eu acho que se pode celebrar ou mesmo comemorar os 500 anos do Brasil, ou qualquer outro evento, de modo crítico, sem louvaminhas, sem confetes, sem elogios. Nosso Instituto está celebrando os 500 anos de modo crítico, pois nesse debate todo mundo vai poder falar e expor as suas idéias, a começar por este debatedor. Farei um retrospecto da Paraíba Colonial, uma visão apenas dentro do tema que foi proposto. Geografia e História da PB 80 A fundação da Paraíba começou em 1574, quando o rei D. Sebastião naturalmente antes de sua derrota e de sua volta de Alcácer Quibir. Ele desmembrou a Capitania da Paraíba, tirando-a de Itamaracá. Por que isso? Porque tinha havido o massacre de Tracunhaém, aqui perto de Goiana, um episódio meio lendário, um episódio que os cronistas antigos falaram. Mas, não há prova nenhuma que tenha ocorrido como assim se conta. Havia o engenho de Diogo Dias, na rabeira do rio Tracunhaém, onde hoje está a cidade de Goiana, que não existia na época. Diogo Dias escondeu uma cunhã, uma formosa cunhã dos seus 15 ou 16 anos, que fora casada com um mameluco; o seu pai, Inhinguaçu, chefe potiguara da Baía da Traição, mandou-a buscá-la em Olinda, para onde o mameluco tinha fugido com ela. O governador do Brasil naquela época, Antônio Salema, estava de passagem por Olinda e deu uma provisão a esses índios para que eles não fossem obstaculados no seu caminho de retorno à taba. Chegou no engenho de Diogo Dias, eles ficaram por lá, mas Diogo escondeu a cunhã. Ficou tergiversando com palavras vãs, enganando os irmãos da moça. Eles foram embora e comunicaram a Inhinguaçu. Diz Horácio de Almeida, o paraibano que escreveu, ao lado de José Octávio, as duas melhores histórias da Paraíba, a meu ver, sem citar Irineu Pinto, porque Irineu Pinto é o bebedouro da nossa História. Diz Horácio de Almeida, em sua HISTORIA DA PARAÍBA, que esse acontecimento teria passado despercebido se não estivessem os franceses com Inhinguaçu. Os franceses negociavam com os índios e insuflaram os índios contra o engenho de Diogo Dias. E os índios planejaram um ataque com a orientação dos franceses e, para encurtar a história, arrasaram e mataram o que puderam. Era um engenho fortificado. Os índios atraíram o pessoal do engenho pra o campo raso, para o campo aberto, porque eles não tinham condições de tomar o engenho por que lá tinha paliçada, tinha um fortim, era todo bem defendido. Mas eles deram a entender que havia poucos índios, saindo os defensores do engenho para o campo aberto. Quando o pessoal do engenho avançou surgiram os índios e dizimaram todos. Diante disso, como diz Horácio de Almeida, os índios ficaram soberbos e ameaçavam invadir até Igaraçu, cujo povo ficou com medo, assim como o povo de Olinda. Então o rei D. Sebastião mandou estender a conquista para o Norte, iniciando com o desmembramento da Capitania. Houve cinco tentativas de conquista da Paraíba, a partir desse ano. A quinta, que foi a menor, com apenas 20 homens, num caravelão, foi a que terminou dando certo. Os índios foram conversar com Martim Leitão para fazer as pazes, Piragibe à frente, prevalecendo a proposta já anteriormente feita durante as lutas entre tabajaras e potiguaras. E eu aproveito para dizer que essa história de terra dos tabajaras, não é verdadeira. A Paraíba não é a terra dos tabajaras. Já vi em vários livros, inclusive de professores da Universidade, um até amigo meu. Dra. Eudésia Vieira publicou um livro, TERRA DOS TABAJARAS. Não tem nada de tabajaras. Os tabajaras moravam entre a Bahia e Pernambuco, nos limites do São Francisco, e vieram para cá. Saíram de lá porque fizeram um massacre nos portugueses. Piragibe sempre colaborou com os portugueses, mas os portugueses quiseram atraiçoá-lo e eles vieram para cá, entrando pelo rio Paraíba, em Monteiro. Muita gente boa chama terra dos tabajaras. Como muita gente diz que Cajazeiras ensinou a Paraíba a ler. Não é possível. Cajazeiras começou em 1800. Os jesuítas davam aula aqui, em Latim, nos finais do século XVII e século XVIII, como é que Cajazeiras ensinou a Paraíba a ler? Um dia desses uma pessoa respeitável intelectualmente escreveu isso numa revista de Cajazeiras: "Cajazeiras ensinou a Paraíba a ler." Tudo por conta da comemoração do Padre Rolim. Não é possível. Uma terra que nasceu em 1800, que antes disso só tinha cobra, índio e carrascais. Quem ensinou a Paraíba a ler foi a capital. Não é porque é melhor do que ninguém, é porque foi fundada primeiro. Outra coisa que se diz é sobre Caramuru. Homem do fogo, filho do trovão. Mentira, mentira histórica. A História está cheia de mentiras. Vi no Museu Nacional, há dois anos. Caramuru no Museu Nacional, um belo museu, lá no Rio de Janeiro: homem do fogo, filho do trovão. Como a gente aprendeu. Mas, não é. Havia lido Câmara Cascudo, o sábio do Rio Grande do Norte, ensinar: moréia, moréia, aquela cobra escura. Passamos um fax para o Ministro da Cultura e o Ministro encaminhou o fax para a diretora do Museu, que informou Geografia e História da PB 81 que havia designado 10 PHD para estudarem o assunto. Se fosse um museu daqui estava a maior gozação. Finalmente a comissão de PHD concluiu que era uma moréia. Quando voltei lá, vi que o nome moréia estava lá. Mudaram o cartão. Outra coisa foi a data da morte de Epitácio Pessoa, que fundou o Museu. A data que tinha era de 1947, debaixo do busto de Epitácio, que tem lá no pátio do Museu. Foi em 42, não é? E eu botei isso num fax. O de Epitácio apagaram, mas não botaram o ano. Depois vi dois outros erros. Está lá no frontispício do Forte de Cabedelo, que diz assim: construído em 1580; antes, portanto da fundação da Paraíba, quando se sabe que este forte foi construído depois, em 1585. E outro: Aurélio de Figueiredo, tem um quadro dele no Museu, e tem lá: nascido em Areias. A nossa Areia daqui ninguém sabe o nome. Outro erro é quanto à data da fundação da cidade, que se considera 5 de agosto. Esta data é o dia das pazes celebradas com os tabajaras, na pessoa de Piragibe e o escrivão da Câmara de Olinda, João Tavares, mandado pelo Ouvidor Geral do Brasil, Martim Leitão, que foi o verdadeiro patrono da conquista. Essas pazes dividiram os índios, ficando os tabajaras com os portugueses, e os potiguaras contra. A paz com os potiguaras somente foi feita 14 anos depois. Não sou mudancista, mas sem essa paz com os tabajaras não teria sido possível Martin Leitão vir com seus pedreiros e em 4 de novembro iniciar a construção da cidade. A noite colonial foi longa, triste, horrorosa. Portugal não permitiu aqui o funcionamento de indústrias, isto no Brasil de modo geral; não permitiu nada. Houve a guerra holandesa. A guerra holandesa é o capítulo mais importante da História colonial do Brasil; não é do Nordeste e da Paraíba, é do Brasil; Não tem a fama toda porque é do Nordeste. Se isso tivesse ocorrido em Minas Gerais, São Paulo, ou Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul, era o capítulo mais importante da História colonial do país. Nessa luta o nosso povo foi de uma bravura impressionante. A Paraíba deu um dos comandantes da guerra contra os holandeses, que foi André Vidal de Negreiros. Esse homem era tão importante que o padre Vieira, numa carta ao rei de Portugal, disse que André Vidal era um homem de tanto valor que só tinha um defeito, não sabia fazer versos, como disse um tempo desse um ministro de Vossa Majestade. Está no livro DATAS E NOTAS DA PARAÍBA. A Paraíba terminou anexada a Pernambuco na segunda metade do século XVIII. Como a professora conferencista falou, há um livro da professora Elza Régis, que levou dez anos para fazer, com pesquisas. Muito se conhece do que ocorria no Brasil Colônia nos livros dos visitantes estrangeiros que estiveram por aqui. Henry Koster era um viajante, nascido em Portugal, na verdade filho de inglês (o pai dele estava em Portugal nesse tempo), andou visitando a Paraíba em 1810. Está no livro VIAGENS AO NORDESTE DO BRASIL, traduzido pelo sábio Câmara Cascudo. E o que disse Koster sobre a nossa cidade? Disse o seguinte: que a pobreza da Paraíba era grande. Nós temos no Arquivo Histórico um documento de José Bonifácio, ele assinando Jozê, com z e circunflexo no e, dizendo que representou a Paraíba, antes da Independência. A Paraíba não tinha dinheiro para mandar nenhum representante e pediu a José Bonifácio para representar a Paraíba. Vejamos o que Koster disse, para encerrar: Henry Koster (isso é um artigo meu, publicado em 1991, no CORREIO DA PARAÍBA), o viajante inglês que visitou a nossa capital em 1810, escreveu: "a principal rua é pavimentada com grandes pedras (rua General Osório, hoje), mas deviam ser reparadas. As residências têm geralmente um andar, servindo o térreo para loja. Algumas delas possuem janelas com vidros, melhoramento há pouco introduzido no Recife. O convento dos jesuítas é utilizado como o Palácio do Governador e o Ouvidor tem aí sua repartição e residência. A igreja do convento fica no centro e tem duas alas. Os conventos das ordens franciscanas, carmelitas e beneditinas são os únicos edifícios, quase desabitados. (Como se vê, naquele tempo já tinha pouco frade, hoje não tem mais nenhum). O primeiro tem quatro ou cinco frades, o segundo, dois Geografia e História da PB 82 e o terceiro, apenas um. Além destes, a cidade possui seis igrejas; as fontes públicas na Paraíba foram as únicas obras deste gênero que encontrei em toda a extensão da costa por mim visitada (é porque ele não foi ao Maranhão). Uma foi construída, creio, por Amaro Joaquim, governador recente; tem várias bicas e é muito bonita. A outra que se está fazendo é bem maior. A fiscalização das obras públicas era a melhor ocupação do governador Amaro Joaquim. Fomos visitar esse cavalheiro no dia seguinte à nossa chegada. Meu companheiro o conhecia desde Lisboa, quando ele era aspirante. Seus pais são de família respeitável em uma província ao Norte de Portugal. Com o quisessem fazer padre, puseram-no no Seminário, de onde fugiu e se alistou simples soldado em Lisboa. Um dos oficiais do regimento a que pertencia notou sua educação e conhecendo sua história fê-lo cadete, para agradar a família. (Esse Amaro Joaquim deu o golpe do baú. Casou-se com uma moça da nobreza, uma portuguesa que estava no Rio de Janeiro, por isso foi nomeado governador da Paraíba). Fomos depois a outra ala do prédio a fim de pagar a visita do ouvidor, um velho muito amável e bem humorado; seu capelão, um pequeno e jovial frade, era amigo do senhor Joaquim (companheiro de Koster nessa viagem) e nos fez muitos obséquios durante minha estada. A paisagem vista dos fundos do palácio é uma linda visão peculiar ao Brasil. Vastos e verdes bosques, bordados por uma filha de colinas, irrigadas pelos vários canais que derivam do rio, com suas casinhas brancas semeadas nas margens, outras nas eminências meio ocultas pelas árvores soberbas. O vetusto convento dos frades jesuítas já era, desde a segunda metade do século XVIII, a sede do governo da Paraíba. A igreja do dito convento foi derrubada no início de 1930, quando se ampliou o palácio, chamou-se São Gonçalo e depois Nossa Senhora da Conceição." Henry Koster viu com simpatia a capital e bem o demonstra no seu famoso livro VIAGENS AO NORDESTE DO BRASIL, traduzido por Câmara Cascudo. ··· A fala do presidente Luiz Hugo Guimarães: O Instituto se congratula com a atuação do confrade Wellington Aguiar, nosso ex-Vicepresidente, e historiador renomado e com vários livros publicados sobre nossa história. Sua participação valorosa trouxe à baila interessantes passagens da vida paraibana no período colonial, mostrando alguns equívocos históricos que se perpetuam na nossa historiografia por falta dum exame mais acurado sobre os fatos acontecidos. Faço um destaque especial por sua contribuição apreciando o ponto de vista de importantes visitantes estrangeiros à nossa província, um dos quais - Henry Koster mereceu destaque. Daremos continuidade à sessão, concedendo a palavra aos participantes do Ciclo. ··· 1º participante: Rosa Maria Godoy Silveira (chefe do Departamento de História da UFPB): Desejo fazer três observações. Na primeira, quero cumprimentar o Instituto Histórico, em nome do Departamento de História da UFPB, por essa atividade, que é co-irmã da que nós estamos realizando na Universidade, um Seminário extensivo, como este, até dezembro, o que demonstra espaço para debate e reflexão crítica sobre a História; que realizemos isso lá e cá, eu acho que mostra muito que a sociedade paraibana, em particular a sociedade pessoense, é ávida da sua história, inclusive é um trabalho, que lá como cá, é feito de parceria, com a presença de várias instituições presentes nesta Mesa. Mais uma vez os nossos cumprimentos. Geografia e História da PB 83 E aproveitando essa presença interinstitucional na Mesa, o que eu tenho a falar são duas reivindicações. Aliás, antes das reivindicações, um registro. Quando a professora Regina Célia mencionou o PROJETO RESGATE, gostaria de dizer que esse projeto está sendo feito pela Universidade e teve o financiamento do Ministério da Cultura e do Governo do Estado da Paraíba, com trabalho encetado quando da gestão do professor Sales Gaudêncio ainda na presidência da FUNESC. E a primeira reivindicação vai para o Magnífico Reitor Jáder Nunes de Oliveira, da UFPB, aqui presente. É exatamente sobre a volta dessa documentação que está sendo microfilmada neste momento em Portugal; uma parte já está aqui, e já está sendo catalogada. A reivindicação é a publicação do catálogo. No ano que vem nós vamos precisar que a Universidade acolha isso e publique esse catálogo, que vai ser da mais alta importância sobre esses quinze mil documentos. A par disso, nós temos pronto, e eu gostaria de colocar tanto para a Universidade quanto para o IPHAEP e para a Subsecretaria de Cultura, um segundo catálogo elaborado pela professora Irene Fernandes, decorrente do processo da questão da formação da terra na Paraíba. É um catálogo de 500 páginas. Naturalmente, os dois trabalhos não são de feitio comercial. Eles vão ser mais um trabalho de importância histórica, historiográfica e de importância institucional. Até a própria tiragem deles não é uma coisa extremamente ampla, mas cuja distribuição deve ser, com certeza, primordialmente para as instituições culturais. A terceira observação, aproveitando também a presença das instituições, é para nós desenvolvermos um esforço no sentido da organização do Arquivo Público. Eu acho que têm dois arquivos que precisam de um esforço conjunto. Lamentavelmente, em tempos anteriores, a Universidade tentou fazer esse trabalho. Há três projetos de organização do Arquivo Público, mas encontramos barreiras em governos anteriores. E eu gostaria de reiterar o esforço conjunto no sentido da gente poder fazer isso e também organizar na Paraíba um sistema estadual de arquivos, porque é um dos poucos Estados em que esse sistema não está organizado. Há também um arquivo que nós vamos começar a examinar em conjunto com o Departamento de Enfermagem da Universidade: é o Arquivo da Santa Casa de Misericórdia. Nós temos nesse momento a felicidade de ter uma pessoa lá que fez o curso de especialização em Arquivo. Isso já é um ponto positivo em nosso favor. Já existe um convênio nesse sentido e, neste momento aqui, eu acho que a comemoração é isso; é a reflexão de que a gente também tem que olhar o futuro, quer dizer, o que nós podemos fazer no presente para o futuro, para a gente não perder nosso passado, não nos desmemoriarmos. 2º participante Paula Frassinete (Bióloga, representante da Associação dos Amigos da Natureza): Estou mais ou menos encantada com o que vocês e o Departamento de História estão fazendo conosco. Estou encantada pela História; estou fazendo o curso que a Universidade está promovendo e quando soube desse Ciclo de Debates, que em boa hora o Instituto Histórico começa a nos oferecer, imediatamente me dispus a vir. É muito importante a gente ver dentro do Instituto o questionamento da autofagia. Quando se fala que de toda a produção acadêmica apenas 10 porcento já foram publicados e está à nossa disposição, então nós nos sentimos órfãos. Com uma universidade que há tanto tempo está aí, notadamente a nossa Universidade Federal da Paraíba, importante para o Brasil, com estudos muito interessantes que vêm sendo feitos em todas as áreas e não tem havido o devido interesse do Ministério da Educação. A educação no nosso país está cada vez mais sucatada exatamente para não se gestar uma sociedade crítica, porque é disto que nós estamos precisando neste país, para transformá-lo. E eu acho que o papel dos historiadores é fundamental, quando a gente vê que parece que os detratores do país, os destruidores do país, do Império, da Colônia, parecem que se reencarnaram em alguns dos que estão à frente do país hoje. E as práticas deste momento são as mesmas, inclusive Com relação à história administrativa. Este livro foi publicado de forma esparsa na Revista do Arquivo Público de Pernambuco. e que começou com a professora Elza Régis e que. E a história nos traz esta reflexão. Este livro trouxe algumas das maiores lições que aprendi em fontes primárias da Paraíba. sem dúvida. E a gente fala com uma intimidade deste documento. Também gostaria de trazer para aqui um outro fato que diz respeito ao nosso período colonial e que é da mais alta importância. mas um sonho de verdade de fazer um grande projeto com empresas competentes. aos beneditinos terem sido uma ordem rica. para aquela época. entre 1946 e 1949. Ele não foi ainda encontrado. Minha vinda a este microfone se prende a alguns fatos que dizem respeito àquele resgate histórico de documentos que a Universidade em tão boa hora tem procurado fazer. quiçá. Não foi encontrado. Eu acho que esse é um projeto de grande alcance. dificílimo. por exemplo. era o que tinha dinheiro. Agradeço. do ribombar. não um desencanto. Entre outras coisas a gente diz. o que me foi de grande ajuda para pinçar tantas informações sobre a Paraíba. segundo Barleus e segundo Franz Post. e está fazendo. a universidade estão fazendo no sentido de garantir recursos para que esta história venha para nós. para que o cidadão brasileiro possa rever sua história e assim construir um novo país. do qual eu também comungo. esse documento ainda não foi encontrado. que só fez enriquecer este primeiro encontro nosso. com o mesmo objetivo. como se o tivéssemos visto. A gente fala do desmembramento da Capitania de Itamaracá. Realmente estou me sentindo em estado de graça por estarmos começando este Ciclo de Debates. só um detalhe. . E hoje não é isto? Então a gente parece que está revendo as práticas do império. Tanto quanto eu saiba. Eu parabenizo o Instituto Histórico e gostaria que a professora Regina informasse se há uma luz no fim do túnel. no período holandês. mas que a dificuldade seja um desafio. em quatro tomos distintos. para realizar uma pesquisa arqueológica submarina para resgatarmos tudo o que deve existir desta batalha aqui na frente de Tambaú. Quero parabenizar também professor Wellington Aguiar pelo felicíssimo vol d'oiseaux em que vai de Tracunhaém até 1817.Geografia e História da PB 84 num dos cursos de História se dizia que na época do Império o cidadão bom. parabenizar a professora Regina pela forma brilhante como enfocou um conceito. em primeiro lugar. Esta é a verdadeira comemoração que nós devemos a estes 500 anos do Brasil. dos primeiros anos da Capitania da Paraíba. o que a ANPUH. E ela se deu no segundo e terceiro dia na frente do Cabo Branco e na frente do Cabedelo. que corre paralelo com o Curso de Extensão análogo que se processa também na Universidade Federal da Paraíba. portanto. porque graças a essa riqueza que ela acumulou tantos dados no LIVRO DO TOMBO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO. para pontuar um detalhe histórico. criando-se a Capitania da Paraíba. vai permitir. Quero. de comemoração. E fico pensando por que nós não vamos comemorar nossos 500 anos articulando um sonho grande. uma releitura da nossa história colonial. 3º participante Guilherme d'Avila Lins (Sócio do IHGP e presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica): É com muita alegria que vejo o início deste Ciclo de Debates. pinçando aqui e acolá retalhos de fatos e datas. em volume único. eu sei quantas horas de sono perdi tentando recuperar um pouquinho da história administrativa. a uma milha de distância do nosso litoral. do qual existe uma tiragem em separata. como sendo a mais importante batalha que houve em águas brasileiras. os historiadores. nomes e situações e até certo ponto agradeço à ordem beneditina ser tão rica. Este é o nosso primeiro documento. mas da a comemoração da pesquisa e do resgate. Não se trata da comemoração do festejo. Já o Barão do Rio Branco falava da importância da grande batalha naval de 1640. Ele foi feito pelos holandeses depois de 1634. o debatedor desta tarde. não só do trabalho que se está fazendo através do Conselho do Patrimônio. Ele só tem sido registrado no ato da rendição em que foi entregue aos luso-brasileiros. Acho que estes são desafios que também temos de examinar. na gestão do ano passado à frente do Arquivo Histórico do professor Wellington Aguiar. como a Universidade Estadual da Paraíba. que jamais é citado na historiografia paraibana. no que diz respeito a essas celebrações. 4º participante Célia Camará Ribeiro (do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói): Quero dizer. Mas existem outros locais importantíssimos como a Ilha da Restinga e o Forte do Gargaú. Através do Instituto. mas de passagem neste momento por João Pessoa. porque ele foi assim um historiador profícuo. quero parabenizar também o debatedor. e jamais foi citado por historiadores da Paraíba. um outro detalhe. eu estou projetando a idéia de um sítio histórico-arqueológico da Paraíba ao longo da foz do rio Paraíba. Enfim. também precisa ser examinada. Secretário da Educação e Cultura. E. o professor Carlos Pereira. a Universidade pondo o seu material humano para trabalhar fora do país. da Universidade. A Atalaia de Forte Velho. Quero parabenizar a ilustre conferencista. filha de paraibanos. Esse foi o primeiro passo. com mais dez Estados da Federação no projeto em nível nacional. Quero cumprimentar o presidente do Instituto Histórico por esse Ciclo de Debates. a Igreja da Guia. mas também através dessa comissão estará sendo publicado em Decreto brevemente. morando no Rio de Janeiro. Nós estamos de frente para a margem esquerda do rio Paraíba. ruínas dele devem existir dentro dos canaviais perdidos. que vêm exatamente atender às reivindicações do historiador Guilherme d'Avila Lins. Com relação às outras reivindicações da professora Rosa Godoy. através da Secretaria e da Subsecretaria de Cultura. que ouvi . agora recuperada. Como o holandês não fazia forte de madeira. nosso subsecretário de Cultura. O lugar do Forte Velho. presente também Francisco Pereira. certamente. A Paraíba se inclui. por último. de uma programação consistente. onde temos inúmeros itens do nosso acervo histórico-arquelógico do período colonial da Paraíba. 5º participante Francisco Sales Gaudêncio (representante do Governador do Estado e presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado): Inicialmente desejo cumprimentar Regina Célia Gonçalves e Wellington Aguiar e aproveitando as reivindicações da chefe do Departamento de História da UFPB. e quando da minha estada à frente da Fundação Espaço Cultural. para quem não me conhece. que é talvez a última que resta neste país. Esse apoio foi dividido entre a Universidade.Geografia e História da PB 85 Gostaria de frisar. mas sem diminuila. que nasci em João Pessoa. do IPHAEP. e dizer que o passo inicial foi dado com o PROJETO RESGATE. a Universidade Federal a Paraíba para que. colega Rosa Godoy. por onde ficou lá por quase nove meses e os recursos do Governo do Estado e do Ministério da Cultura. Ministério da Cultura e o Governo do Estado. informo que com Carlos Pereira tivemos uma reunião sobre a retomada da comissão de celebração de uma revisão crítica da História do Brasil nos seus 500 anos. através dessas instituições. Por isso quero antecipar o envolvimento do Conselho Estadual de Cultura e do próprio Governo do Estado. ela foi muito didática. que me pediu para vir aqui em nome dele. voltamos essas ações para a interiorização. entre outros assuntos da pauta desta comissão está exatamente o envolvimento de órgãos como o Instituto Histórico. possamos ter uma comissão que venha apresentar à comissão constituída junto ao Conselho Estadual de Cultura para um programa efetivo de publicações e que venha marcar a celebração dos 500 anos do Brasil. da própria Secretaria de Estado e de outros órgãos da Paraíba. .da nossa colega Regina quanto aos temas ligados à Colônia. que possibilitou a recomendação daquele colegiado para sua publicação. pois muitas questões ainda estão por serem colocadas. Temos que pensar grandes projetos. Guilherme d'Avila Lins e Rosa Godoy. metodologicamente cuidada. O trabalho individual sentado num tema específico e com recorte microscópico vai ter cada vez menos chance nesse mercado. Eu digo ao professor Wellington Aguiar que fui relator do seu trabalho no Conselho Estadual de Cultura. pois apoio financeiro a gente não pode. certamente os assuntos ligados à política de preservação de patrimônio caberão ao IPHAEP. de avançar com as nossas pesquisas para o conhecimento desta terra. de outros lugares. é a interdisciplinaridade e a interinstitucionalização. Portanto. Muito obrigada. E. Há muitas questões importantes a serem respondidas. dou em primeira mão essas notícias que estão sendo esboçadas pela Subsecretaria de Cultura e pela Secretaria de Educação. Considerações finais pela professora Regina Célia Gonçalves: Em atenção aos pontos de vista e pedidos de informação apresentados pelos participantes Paula Frassinete. Academia Paraibana de Letras. sem dúvida alguma. É fundamental. e pensar grande no sentido da operacionalização e aí eu acho que o caminho. no século XVII. Universidade. o que hoje nós podemos fazer é juntar um pedaço do salário para no fim do ano tentar a publicação. É pensar mega-projetos reunindo diferentes organismos que trabalham com a pesquisa histórica. Instituto Histórico. no seu objetivo. se possível. arqueológica e ambiental na Paraíba e. Wellington Aguiar. porque a gente também não tem. a de dar apoio logístico. do qual é Chefe. Se nós conseguirmos nos reunir para pensar projetos de longo prazo. grandes projetos não só no seu conteúdo. em nome do Secretário Carlos Pereira.no bom sentido . dentro de mais algum tempo. estará lançando o livro também quilométrico. eu ouvi aqui as cobranças . ou a gente pensa institucionalmente ou a gente não vai a lugar nenhum. de 540 páginas. Infelizmente. Às vezes falta papel. É com satisfação que. Com relação às publicações de 10 por cento dos trabalhos efetuados. Senhor Presidente: Agradeço a esse seleto auditório pela atenção dada à minha palestra. Temos que planejar a médio e longo prazo. Em tempos de globalização. É preciso pensar grande nesse sentido.Geografia e História da PB 86 atentamente. Esse tem sido o caminho em geral encontrado por nós que produzimos pesquisa histórica aqui no Nordeste. É um levantamento. Um tema é Arqueologia. a partir da Paraíba. enfim. certamente resultará que a Paraíba não fique à margem das celebrações dos 500 anos do Brasil. ao Império. a autopublicação. nós estamos também longe dos grandes centros e o mercado editorial é cada vez mais complicado. e como representante dessa comissão no IPHAEP. do ponto de vista estratégico no século XVI. esclareço o seguinte: Segundo me parece. Então eu penso que essa é a única forma com que a gente tem para superar as dificuldades. e isso não foi realizado. às vezes falta dinheiro para fazer uma viagem ao Conde. conforme estava conversando com o professor Luiz Hugo Guimarães. Departamento de História. dificuldades como. este envolvimento institucional IPHAEP. de largo fôlego. nós temos que pensar grande. falta cartucho para a impressora. o que isso nos vai revelar sobre a importância desse território. de outros Estados também. são coisas do dia-a-dia que os pesquisadores têm que lutar com uma grande dificuldade para dar conta dos seus trabalhos. Esse tema é muito bem lembrado pelo professor Guilherme sobre a arqueologia submarina. cujo título é A VELHA PARAÍBA NAS PÁGINAS DE JORNAIS. mais do que isso. que trata de assuntos da velha Paraíba através dos jornais. é uma pesquisa rigorosa. teremos mais e melhores condições de superar as dificuldades que hoje são colocadas no dia-a-dia. por último. no que diz respeito a determinados temas lembrados aqui pela colega Regina Gonçalves. Rosa Godoy sempre diz isso para o Departamento de História. à história inicial do Brasil. em comum. uma breve síntese tentando entender algumas questões fundamentais do período imperial na Paraíba. sem desconsiderar a importância da micro-História. Em recente balanço sobre a produção historiográfica relativa à Paraíba imperial. que reafirma nossa parceria com o Instituto Histórico. Temos a satisfação de apresentar aos presentes a professora Rosa Maria Godoy Silveira. a construção da ordem e a crise agrária. . é mestra e doutora pela USP. sobre este recorte temporal. que será enfocado pela professora da UFPB. passando pela Confederação do Equador até a Revolução Praieira. em nome do Departamento de História da UFPB e em meu nome. para fazer parte da mesa. membro do Conselho Estadual de Cultura. chefe do Departamento de História da UFPB) Mais uma vez. dois temas avultam em número de artigos: a Revolução de 1817 (que está na fase da transição) e a Escravidão/Abolição. O Império tem sido sempre o pior período em matéria de pesquisa histórica. entende-se o largo espectro entre a Revolução de 1817. É vidente que não vou esgotá-las no limite do tempo que me foi dado e no limite deste texto. Por movimentos liberais. no gênero biográfico predominam artigos sobre Pedro Américo. cujos frutos têm sido bastante positivos durante a administração do professor Joacil Pereira e do professor Luiz Hugo Guimarães. decorrente do processo de nossa autonomia política. no entanto. ex-vice-presidente do Fórum Nacional de Pró-reitores de Graduação. Para compor a mesa. convido também o acadêmico e consócio Joacil de Britto Pereira. Mas. atual chefe do Departamento de História da UFPB. Tenho a satisfação de passar a palavra à nossa ilustre palestrante de hoje. presidente da Academia Paraibana de Letras. que convido para participar da mesa dos trabalhos. iniciaremos esta segunda sessão com a apreciação do tema A PARAÍBA DURANTE O IMPÉRIO. enquanto. senão o menos pesquisado da nossa história. Deste levantamento entre os cerca de 118 títulos levantados no Índice do IHGP. agradeço minha participação nesse Ciclo de Debates. com certeza. E é. ex-pró-reitora da graduação. que foi um balanço que nós próprios fizemos num curso que está sendo ministrado na Universidade constatou-se que este período tem sido um dos menos pesquisados. quando concluímos a organização do acervo do IHGP. convido o acadêmico Odilon Ribeiro Coutinho. que a compreensão da História da Paraíba no Império passa por alguns grandes temas basilares. Consideramos. convido o consócio Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. da UFPB. Sobre o tema que me foi proposto – A PARAÍBA DURANTE O IMPÉRIO – nós optamos para fazer um pequeno texto. em 1848.Geografia e História da PB 87 2º Tema A PARAÍBA DURANTE O IMPÉRIO Expositora: Rosa Maria Godoy Silveira Debatedor: Marcus Odilon Ribeiro Coutinho A fala do presidente Luiz Hugo Guimarães: Dando continuidade ao nosso Ciclo de Debates iniciado com grande aproveitamento com a palestra da professora Regina Célia Gonçalves. todos esses três movimentos significam a luta contra um modelo político centralizador. embora o primeiro e os dois últimos movimentos se diferenciem pela própria mudança no conteúdo do Estado no Brasil. Tem vários livros publicados e inúmeros artigos em revistas especializadas. Tais temas são: os movimentos liberais. convido o vereador José Bernardino. em matéria de ensino de História. Expositora: Rosa Maria Godoy Silveira (Mestra e Doutora em História. que será o debatedor designado para tratar do tema. da Câmara Municipal de Santa Rita. e. finalmente. doutora Rosa Maria Godoy Silveira. o pior período da História do Brasil. questões estas que se abrem ao debate. e o professor Aguiar se referiu a um deles. e. Se era um liberalismo à brasileira. recusou-se. com a chegada da Família Real. em junho de 1822. no processo paraibano. no entanto. exarada pela Junta Governativa da Paraíba para que José Bonifácio a representasse junto ao Conselho de Procuradores das Províncias do Brasil. já indicado à Assembléia Constituinte de 1823. que. em que a Paraíba. que se pagava a indenização portuguesa aos holandeses na sua expulsão dourada. E a conjuntura fazia pender a balança para a autonomia seja pelos acontecimentos próximos. Famílias bem situadas na pirâmide social tinham sofrido seqüestro dos seus bens. do depois Nordeste Oriental. representante eleito da Paraíba ao Conselho de Procuradores. Mas complexas são as paixões políticas dos momentos históricos de rupturas. no século XVIII. fosse da “metrópole interiorizada”. em articulação com o Rio Grande do Norte. e a participação de tropas paraibanas nas lutas contra as forças metropolitanas do general Fidié. que se sustentou a Corte do Rio de Janeiro e que se custeou até mesmo o regresso de D. ao beija-mão a D. um processo pacífico na Paraíba. como bem o caracterizou a historiadora Emília Viotti da Costa. custou confrontos entre autonomistas e colonialistas. luvas e bastão na cerimônia de sua coroação como imperador. após a eclosão da Revolução do Porto. como a famosa delegação de poderes. fosse da metrópole. da Capitania do Sul sobre as suas vizinhas. que ajudava a solapar uma monarquia absolutista já fissurada neste lado do Atlântico. alternando-se episódios favoráveis ora a um lado ora a outro. . um Joaquim Manuel Carneiro da Cunha. tendo vivenciado a experiência do invasor holandês. O período entre 1817 e 1822 não constituiu. no projeto de 1817 já estão postos elementos diferenciadores: o modelo republicano e a crítica à centralização. tendo integrado o território mais rico da Colônia. se era. a Pernambuco. Mas a memória da repressão de 17 era muito recente. na Bahia. Paraibanos haviam sido imolados de forma brutal. tendo sido subordinado politicamente. buscasse um projeto político específico a suas necessidades e peculiaridades. de outro lado. que se expressara político-administrativamente pela anexação. A crise açucareira posta desde o século XVII fazia com que essa configuração regional.Geografia e História da PB 88 O espaço paraibano. declara reconhecer no Regente a única soberania à qual prestar obediência. por contraste ao liberalismo burguês e anticlerical europeu. a merecer rememoração. com a instalação também da Junta de Goiana e da Junta do Recife. a produzirem. sul do Ceará e. pois foi dos recursos desta área geográfica. durante 44 anos. Ou seja: não era a fórmula política de transação com a Casa de Bragança que expressaria a substância do liberalismo emergente no “Nordeste” Oriental. para usar a expressão da historiadora Maria Odila Silva Dias. em Pernambuco. Pedro. Pedro para carregar sua espada. sejam os mais longínquos. E a espoliação continuava. João VI a Portugal. de um lado um Manuel Clemente Cavalcanti de Albuquerque. Pedro. com o movimento constitucionalista no Porto. Pedro I. escolhido por D. é claro. pois um liberalismo dos proprietários de terra. convocado pelo Regente D. adesão essa ao partido da autonomia. face às ameaças recolonizadoras de Lisboa. republicano. fazia com que esse libertarismo assumisse feições regionais. escravista e católico. particularmente constelada em Sousa. o documento emanado da reunião conjunta do Senado da Câmara da capital paraibana e da Junta Governativa. Pernambuco. sem deixar de inserir-se no movimento mais amplo de contestação ao poder metropolitano. A instituição das Juntas governativas e a deposição das autoridades metropolitanas. e comunicado em discurso de José Bonifácio a D. Todo esse conjunto de processos em sua formação histórica explica a mentalidade libertária presente na Paraíba. no Rio de Janeiro. na mesma cerimônia. na Corte e em Portugal. permeando os corpos militares e espraiando-se pelo interior. mais do que a representação de José Bonifácio. até então constituídas. no Ceará e do general Madeira. Também estão a merecer reflexões e estudos mais acurados fatos como a adesão da área sertaneja. Há acontecimentos. A ascendência econômica historicamente construída. esquecidos pelo tempo. já havia sido profundamente espoliado de suas riquezas e de seus recursos financeiros. mesmo tendo abdicado do trono brasileiro em 1831. Reprimido o inimigo fragmentário do momento. A derrota da Confederação do Equador talvez tenha sido o grande abortamento da virtualidade de um outro país nessa parte do Brasil. quando se converte em Assembléia Legislativa. as desconfianças diante de um quadro político ainda indefinido. Bananeiras. Areia. vai-se instaurando. que significa a desconcentração do poder e não a sua descentralização e era exercida em forma de rodízio. norte-rio-grandenses e cearenses. incluindo Campina Grande. que. o aparato judiciário e policial. como os “montanheses” franceses. Em nível de Império. dirigida a Corte. com dois deputados. princípios de organização política conflitantes. ou seja. Pombal. pairavam nos corações e nas mentes. com o confronto entre o imperador e a Constituinte. . retoma a chama de 1817. os radicais de Frei Caneca. Independência (Guarabira). uma representação modesta. A ordem monárquico-centralista. se fragmentara diante do grande desafio de construir o Estado nacional. A nossa Gironda escravocrata temeu a nossa Montanha cabocla. A Confederação do Equador reitera o espírito libertário regional. Derrotaram os Confederados as forças políticas que. o Estado nacional vai implantando a máquina político-administrativa na província: A Presidência da Província. nesse momento. além do medo da divisão do Brasil. Novas vilas e cidades são criadas. Piancó e Sousa. A luta contra o autoritarismo. Mais grave do que isso. o mais desconhecido na historiografia paraibana relativa ao Império. Talvez. inscritos em nossa autonomia transacionada. Pois. Os liberais da província fazem de Areia um reduto. que perduraria longo tempo. era o conteúdo excludente do sistema eleitoral: apenas 6. os escravos.4% da população paraibana dele participavam. invadida territorialmente por todos os lados. A construção da ordem: eis o segundo grande tema da Paraíba imperial. consumada a autonomia. até a morte de D.9% eram eleitores. e o 2º Distrito. Apenas cinco deputados.Geografia e História da PB 89 Nem bem se separa o Brasil de Portugal e a conjuntura novamente efervescia. Representação estabelecida territorialmente diferenciada no Estado nacional e socialmente hierarquizada. São João do Cariri. o Conselho Provincial. em 1834. pois que Areia se reedita na Praieira. com três representantes. Pedras de Fogo e Ingá. Na Paraíba. não iam a ponto de incorporarem em seu projeto. mas dá-lhe novos contornos. para os quais a fragmentação territorial brasileira se lhes afigurava como perigosa e ameaçadora à manutenção da autonomia recém-acontecida. Pedro I. Melhor ou pior? Não sabemos. embora o personagem oponente seja outro. em nosso caso. Medo da recolonização. eram eleitos os representantes da província na Assembléia Geral do Império. o modelo republicano subjaz em 1824. composta de elementos díspares. Alhandra. incluindo a própria capital. Patos. Cabaceiras. pré-22. Através do voto censitário e indireto. embora ainda não debelado o perigo da fragmentação. o povo mais desvalido. o governo e o Conselho provincial não extravasam a legalidade e enviam tropas para auxiliar Francisco de Lima e Silva na repressão aos confederados pernambucanos. a frente ampla antimetropolitana. no entanto. atemorizando os artífices da monarquia unitarista. Pilar. Na Paraíba. Catolé do Rocha. como em outras províncias. liberalismo esse que a derrota parece não ter extirpado. e menos ainda. instituído pela Carta outorgada de 1824. pelos liberais pernambucanos. que não terá poderes legislativos até o Ato Adicional de 1834. reveladora das dificuldades em formatar o novo Estado nacional brasileiro emergente de modo a conciliar a soberania do rei e a soberania do povo. Mamanguape. mas o separatismo confederado é um novo ingrediente. Alagoa Nova. para ampliar a presença do poder público. porém. abarcando dois distritos eleitorais bastante amplos territorialmente: o da capital. evidenciando que o Estado nacional brasileiro constituiu-se de uma cidadania restrita. somente 3. tiveram medo da democracia no país. além de outros embaraços para regularizar a questão fundiária. Mamanguape e Ingá. durante toda a década de trinta. Patos. envolvendo tropas e mesmo povo. Independência. cria-se o Liceu Paraibano. do Recife. instituição que seria. em 1836. a historiografia paraibana praticamente não fala de movimentos como os que aconteceram no Recife. o localismo se reforça. tais quais a Setembrizada. surgem tipografias. usualmente oriundos de elites agrárias estruturadas em grupos familiares. com as famílias políticas se abrigando no bipartidarismo surgido do Regresso. São fatos a demonstrarem que a ordem não estava estabilizada. devido à perda de títulos sesmariais ocorridos durante a luta contra os holandeses. a segunda. Por contraste. apontam também a presença. Duas questões apontam que a historiografia paraibana precisa debruçar-se muito mais sobre todo o período imperial. como tão bem caracterizou essa fase José Murilo de Carvalho. entre os quais o de Borges da Fonseca. eram. na região do Crato. visto que temos documentação também não compulsada a respeito da Paraíba e existente no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. juizes de paz e juizes de direito. apesar da documentação existente no Arquivo Público do Estado. o que aconteceu com essas erupções políticas da época. outras notícias interessantes ainda não foram alvo de maior investigação. Cabaceiras. Instala-se o Tribunal do Júri. com o preenchimento sistemático dos cargos de juizes de fora. Catolé do Rocha. Com a criação da Guarda Nacional. que controlavam o poder local. como aquelas referentes a confrontos entre as correntes políticas da primeira metade do período regencial: os recolonizadores caramurus. A documentação existente sobre a Guarda Nacional é numerosa. os nacionalistas ou liberais moderados e os chamados radicais federalistas. Bananeiras. Sobre a Lei de Terras e suas decorrências. começam a evidenciar-se medidas de maior burocratização do Estado. depois. Joaquim Manuel Carneiro da Cunha. editando os primeiros jornais paraibanos. com poucas terras devolutas. Piancó. ou devido ao fato de que muitos proprietários ou grandes posseiros não terem recebido títulos sesmariais. se havia rusgas e pequenos motins. Esse movimento teve ressonância nos sertões do Rio Grande do Norte. temos a manifestação de um paraibano.Geografia e História da PB 90 Cidadãos ativos. esse processo. ou nem fala também de movimentos como movimentos regenciais em províncias mais distantes. A primeira questão concerne à Lei de Terras. não parecem apontar os graves problemas invocados por Carneiro da Cunha. sobre os registros de terras decorrentes da Lei de 1850 e de seu Regulamento de 1854. Por outro lado. significa dizer. em 1831. na província? É uma interrogação à pesquisa. liderava um levante de intuito restaurador. O que teria acontecido nesta parte do Brasil? A ausência de referências a tais movimentos é indício da sua não ocorrência? Parece ter sido. aqueles que podiam votar e ser votados. a Regência é um período em que se instalam várias cadeiras de instrução pública na capital e em outras vilas. durante o processo de discussão do projeto de lei na Câmara dos Deputados. Mas. Na Paraíba. em certas localidades. então. de um lado. a primeira formadora das elites dirigentes provinciais. ou seja. Joaquim Pinto Madeira. em Jardim. daí em diante. que chegou a ir ao Tribunal do Júri por crime de opinião. Embora o II Reinado pareça ter transcorrido sem maiores transtornos. atingiu Sousa. de um número expressivo de mulheres proprietárias e o recebimento da terra por herança com uma leve tendência de mercantilização. o que é uma tendência bastante inversa ao que . na década de 30. Sabe-se que existiu na capital paraibana uma Sociedade Federal da Parahyba do Norte. pesquisa que vimos realizando a algum tempo. Pernambuco e Paraíba: nesta província. Criam-se corpos policiais. não era bem assim. contudo. Multiplica-se o número de cadeias públicas. articulando-se com os “Colunas” do Trono e do Altar. praticamente não foi analisado. Se tais medidas podem ser interpretadas como tentativas de debelar a criminalidade. por vezes referida nos Relatórios dos Presidentes de Província. neste início da Regência. no sul pernambucano com os cabanos. Novembrada e Abrilada ou. à Revolução Praieira. Mas. Mas. que iniciou proselitismo no interior. as parentelas. dizendo-se representante da região e apontando as dificuldades de regularização do quadro fundiário. Sabe-se que. e era a expressão da época. Têm revelado que a província era território de fronteira fechada. a institucionalização do poder público. agregada ao aumento de impostos dos governos provinciais do Norte. era uma explosão contra a carestia. decretados pelo Governo saquarema. como disse Geraldo Joffily. o abolicionismo não tenha sido tão forte como em outras províncias. mas chega a ser espantoso o silêncio da historiografia. Já no final do século XVIII. novo movimento. como apontam os quadros anexos ao trabalho da professora Elza Régis sobre a Paraíba do século XVIII. estava gestando relações de trabalho que constituiriam a “solução” das elites agrárias para o problema da mão-de-obra. acontecimentos que se inserem no processo mais abrangente de modernização no país. mesmo quando os escravos persistem em número expressivo no sertão algodoeiro. no início dos anos 50. conflitos políticos locais no âmbito da elite. cuja exploração aumentara com a expansão algodoeira. este trabalhando sobre a Paraíba. embora a participação desta tenha sido modesta no Congresso Agrícola do Recife. a Paraíba tinha uma população de 300. o recenseamento e a obrigatoriedade do registro civil. Várias outras motivações se imbricam neste movimento. As massas errantes de homens pobres livres começam a ser submetidas à disciplinarização para o trabalho nas grandes propriedades. talvez. muitas vezes burlando o fisco. seja do açúcar seja do algodão (salvo este produto em alguns momentos conjunturais breves. em cujo âmbito se pode compreender a eclosão de movimentos sociais como o Ronco da Abelha e o Quebra Quilos bem como o processo de desagregação da ordem escravista e porque. a dificuldade para uma modernização tecnológica. A “revolta dos matutos”. Sobre a Praieira na província falarei pouco. solução mais barata. na década de 60). A dificuldade de concorrência nos mercados internacionais. a instituição do sistema métrico decimal. Era revolta nas feiras do Agreste. como apontou o trabalho de Diana Galliza. Camponeses do Agreste do Rio Grande do Norte. então em confronto com o Governo imperial na chamada Questão Religiosa. Para a população pobre livre. como a família Santos Leal? O terceiro tema significativo da Paraíba imperial é a sua crise agrária. igualmente nas duas províncias vizinhas. os arrematantes de impostos. das quais 50% eram elementos livres. somadas as motivações próprias dos revoltosos. atingindo até Alagoas. tais como a abolição do tráfico negreiro. a perspectiva de um fim relativamente próximo da escravidão. basicamente na mesma área. já é visível esse processo assim como nos discursos dos representantes políticos da província. Os homens pobres livres. como em Pernambuco. Na própria seca de 1877. Por volta de 1860. em 1878. Foi o movimento em Areia algo sem maior relevância ou a vitória dos conservadores apagou a memória sobre esse acontecimento? Por que a cidade de Areia continuou a ser uma força de políticos expressivos. para a região cafeeira florescente nas províncias do Rio de Janeiro. junto com ele. ou seja.Geografia e História da PB 91 está ocorrendo na região cafeeira nesse momento. Braços escravos são vendidos. quando o fim do tráfico negreiro colocou. falta-nos o nosso Figueira de Melo. Este nos parece ser um tema central para a compreensão da História nordestina. Significa dizer que a situação crítica da agricultura de exportação. passam a ser encarados como uma saída para a elite agrária. se somado ao estudo das famílias políticas através do recurso à genealogia. irradiando-se por cerca de 30 a 40 localidades paraibanas. guardaria articulações com os remanescentes praieiros de Areia. os abusos dos governos e do que a massa chamava de “vampiros”. que é Maximiano Machado. tais como o envolvimento da Igreja. que seria o depoimento do lado conservador e vitorioso sobre o acontecimento. herdada do período colonial.000 pessoas. Tivemos o nosso Urbano Sabino. Paraíba e Pernambuco fazem eclodir o Ronco da Abelha. na opinião de alguns historiadores como Hamilton Monteiro e Marc Hoffnagel. provocaram a segunda sangria de braços que a Paraíba e a região. sofreram – lembremo-nos da primeira sangria para as Minas Gerais. soavam como o seu próprio cativeiro. no hoje Sudeste. coletores e atravessadores. a população livre era relevante. como reação à nova medida modernizadora adotada pelo gabinete Rio Branco. ainda depois disso. Minas Gerais e São Paulo. a conseqüente descapitalização dessas lavouras. de um modo geral. cuja disponibilidade era grande. Pouco mais de duas décadas. que. quando a questão ficou mais explícita. dado que a crise agrária não permitia a adoção do sistema imigrantista. dívidas fiscais-financeiras e até . alguns dos quais descendentes dos liberais praieiros. cuja documentação é copiosa no nosso Arquivo Público. teremos a participação. jornalista atuante. pela nossa civilização ibérica. A nossa expositora afirma que o período do império foi um período curto e um período também menos pesquisado. estudo e análise dos nossos historiadores. porque todo o auditório esperava exatamente o que ocorreu. como debatedor. Historiador. contra o recrutamento. a importância da Guarda Nacional na Paraíba. mas é totalmente integrada. autor de vários trabalhos de cunho histórico. preencher alguns espaços vazios sobre o que disse a expositora desse período da história pátria. ao longo do regime. na interpretação dos conservadores vencedores. tenho a certeza. ··· Debatedor: Marcus Odilon Ribeiro Coutinho (Escritor. no melhor sentido da palavra. o período imperial foi um período de muitos desafios. ··· A fala do presidente Luiz Hugo Guimarães: Como era de se esperar. Asfixiada. Uma verdadeira aula. eu digo de desafios. despejando levas de retirantes na capital. enquanto que o período colonial excedeu a três séculos e o período republicano já excede a um século. empobrecida pela crise agrária e desassistida pelo Governo. Era num quadro crítico que a Paraíba encerra o seu período imperial. Não foi surpresa. eclodissem novas manifestações populares. polemista conhecido. Essa contribuição da professora é bastante valiosa para o futuro da nossa historiografia. . do nosso consócio Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. de missão. a brilhante exposição da professora Rosa Godoy nos oferece um quadro expressivo da Paraíba durante o Império. a professora Rosa Godoy pôde cobrir aquele período imperial mostrando suas principais fases.Geografia e História da PB 92 mesmo antilusitanismo. eu não digo de crises. membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano) Todos estamos gratificados pela palestra da professora Rosa Godoy. O aprofundamento sobre a Revolução Praieira na Paraíba. em que a participação de bando mulheres era significativa e precisa ser pesquisada. onde as epidemias grassavam. que a seca só fez acirrar. A minha palavra é apenas para fazer-me intérprete de todos e colaborar e exaltar. Com a palavra o historiador Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. a Novembrada. Era uma área em convulsão. a Setembrizada. a ausência de estudo aprofundado sobre a Paraíba e os movimentos insurrecionais como a Abrilada. não impediria que. da qual a Paraíba é uma parte. a crise agrária e a Lei de Terras. e a maioria deles vencidos pelo nosso povo. Ora. como o de Jesuíno Brilhante. e mais do que isso. de fatos positivos. Realmente o período imperial não completou um século. desta vez. no máximo. Dando continuidade à sessão. pesquisador. e talvez. depois de já terem dizimado cerca de 30 mil pessoas na década de 50. Há poucos dias conversando com vários confrades. Mas eu diria que foi um período muito brilhante. nós todos reforçávamos a tese de Gilberto Freire. historiador. período brilhantíssimo. pela centralização política. Marcus Odilon ocupará a tribuna para se desincumbir de com brilho. Também desta época data a maior visibilidade dos bandos de cangaceiros. que ocorreram aqui perto. um mês depois.. foram temas levantados pela expositora como itens importantes a desafiarem a curiosidade. forte ainda neste momento. que dizia que o Brasil é um país que deu certo. apontando inúmeras ocorrências de vulto ainda pouco estudadas. em Pernambuco. A dura repressão ao movimento. pelo que agradeço em nome dos organizadores deste evento. Rigorosamente deu certo. Não obstante os limites do tempo regulamentar estabelecido no Ciclo para os expositores (vinte minutos). com os “coletes de couro” do capitão Longuinho. como as demais províncias. Eu não sou maçom. por sua livre e espontânea vontade. pela Constituição. Estavam num acordo que veio até a República. esteve no Ceará e sugeriu ao imperador Pedro II a adoção do sistema metodológico decimal. cada região tinha um sistema: era a vara. Eu discuto isso e na minha opinião é exatamente o contrário.Geografia e História da PB 93 O primeiro dos desafios era a fragmentação. que havia repressão e seria o Brasil um modelo a não se adotar. Esta unidade nem sempre fora conquistada como uma afirmação de cavalheirismo. Então a Igreja tinha também que prestar alguma solidariedade e obediência ao Império. até motivada pelo próprio clima onde ela habita. A República foi quem realmente separou a Igreja do Estado. Estou aqui com um trabalho. Ele esteve na Paraíba. pois há pouco tempo tinha havido o grande conflito da questão religiosa. os funcionários. Antônio Macedo. neste século. professora Rosa Godoy. os sacristãos eram pagos pelo governo imperial. embora a maçonaria tenha perdido muito a sua força. dizendo que a Paraíba tinha apenas cinco deputados. A América inglesa não conseguiu ter esta unidade. É rigorosamente em contrário. que era um avanço na época. afinal o homem é um só. e dois dos bispos. Em qualquer continente a alma humana se comporta de igual maneira. e soube em conversa com o historiador Deusdedit Leitão. Até há pouco tempo eu ouvia um ilustre conferencista dizer que o Brasil não tinha dado certo. Porque aqui no Brasil. o que realmente pouca gente sabe. quando a população dobrou ou triplicou. como há em qualquer parte do mundo. Os padres. Areia. da abolição da escravatura e depois em prol da proclamação da República. e para lá fora enviado pela família. uma biografia escrita por um maranhense sobre o também maranhense Gonçalves Dias. a Igreja era aliada do Estado. ficava extremamente difícil uma fiscalização por parte do governo imperial. que foi também um momento antimaçônico. contra a maçonaria. A nossa evolução também. Então. porque a maçonaria era muito mal vista pelo clero católico. esteve em todo o Nordeste. além de algumas outras possessões inglesas no Caribe. na época já tinha um teatro) porque parecia uma loja maçônica. Antes de ler esse livro eu não sabia. Então me parece que a revolução de Quebra Quilos foi uma revolução muito clerical. o reacionarismo estava na parte dos que promoviam o movimento do Quebra Quilos. porque o atual Estados Unidos não eram a única colônia inglesa. pesquisador de todas as horas. sem nenhum exceção. e essa biografia diz que a idéia de adotar o sistema decimal foi uma sugestão de Antônio Gonçalves Dias. era a lata nos mais diferentes locais. conhecia a Europa. com grande sacrifício. inclusive Jamaica. Infelizmente esses dois bispos se insubordinaram porque queriam excluir das lojas maçônicas padres que. é preciso que se diga. Reconhecemos que houve exageros. Afinal todos os sistemas políticos visam uma só coisa: melhorar a qualidade de vida daqueles por que eles se responsabilizam. um baiano bispo de Belém. Vital. que era um homem formado em Coimbra. Quando os revolucionários de Quebra Quilos estiveram em Areia danificaram o teatro (e veja. paraibano e bispo de Olinda e Recife e D. pertenciam a esse movimento. pois não havia esse dinheiro fácil. Mas. também por parte do governo republicano. Se houve reacionarismo. inclusive na América inglesa. no interior brasileiro mais ainda. fanática. por exemplo. qual o país que não teve isso? Essas nossas crises foram crises mundiais da espécie humana. D. tinham sido reprimidos. que se apresentou na Paraíba. Cinco deputados naquela época representavam muito mais do que 15 de hoje. É preciso que se diga. O movimento de Quebra Quilos. Antônio Gonçalves Dias esteve aqui na Paraíba. era o prato. situação que talvez fosse correta em face da nossa população. fragmentação que ocorreu em todas as Américas. o pai dele morreu. O Canadá está aí. era a cuia. que é desta Casa. Ficava difícil. um povo infelicitado por muitos períodos de ditadura. por parte do governo da província e se não fosse por parte do governo imperial. . as três Américas. foi um movimento liberal e foi um movimento que reafirma a disposição contestatória do povo paraibano. Quando Gonçalves Dias ia embarcar para Lisboa para fazer o curso em Coimbra. A expositora falou sobre a nossa atuação política. com uma missão do Barão de Capanema. mas reconheço o grande trabalho que foi feito pela maçonaria em prol da independência. houve repressões nesse período. evidentemente com algumas variações. E foi quase com a contribuição dos amigos que ele foi levado a prosseguir seus estudos e fazer um curso superior. diga-se de passagem. que é um nome nacional conhecido de todos os presentes. Assim ficamos como que proibidos de homenagear D. que. Como ressaltou a professora Rosa Godoy. e em 1930 houve duas santaritenses. de mandioca. porque não só proibiu uma escola superior. salvo engano. o nosso Tiradentes. a sua repressão foi uma coisa horrorosa. Hoje os formadores de opinião pública são todos unânimes. foi expulso do Palácio Imperial pela princesa herdeira do trono. que. É preciso lembrar que foi o Império que. que uma das coisas que se precisa na reforma política brasileira é exatamente nós evoluirmos para o voto distrital. Na realidade. ou coisa que o valha. Boris Casoy se esgoela e chega até à radicalização de dizer. que foi o Liceu. porque a primeira lembrança que se tem dela é que ela condenou a forca o herói maior. criar as condições para o debate com o público assistente. A mulher só veio votar em 1928. Coube a Marcus Odilon acrescentar à palestra da professora Rosa Godoy alguns episódios do nosso período imperial. Essa idéia do voto proporcional.. Ótimo. Dona Iracema Feijó requereu um mandado de segurança para ter o direito de votar. poderia votar. a função da professora Rosa Godoy era fazer uma exposição generalizada. Nem por isso. nosso debatedor. por sinal. o da capital e o do sertão. que já havia no Império. que despontou exatamente nesse período. ordenada. . Acho que só nos temos de nos orgulhar da época do Império. se adotava o voto distrital. mas a presidência às vezes tem que ser tolerante nesse particular. alguns aspectos do tema estão consignados no programa do Ciclo de Debates para uma apreciação mais profunda. E só depois que o Marquês de Pombal caiu. Foi o que Marcus Odilon fez. Isso é um avanço. Houve o “colete de couro” e é preciso se lembrar que quem comandou as forças federais que vieram do Rio de Janeiro contra o Quebra Quilos foi o irmão de Deodoro da Fonseca. Antes disso existia o Seminário dos Jesuítas. Quanto ainda ao movimento de Quebra Quilos. mas tinha sido suprimido pelo Marquês de Pombal. morreu no Brasil. Era a chamada a lei da mandioca. construiu a primeira escola de nível médio. no Rio Grande do Norte. Agora. ria. José Severiano da Fonseca era coronel.Geografia e História da PB 94 Uma coisa que a professora Rosa Godoy falou era que havia dois distritos eleitorais. Os analfabetos tinham direito a votar. cabendo ao debatedor espicaçar. como sempre. se empolga com entusiasmo ao defender seus pontos de vista. deixou de expor e comentar alguns fatos ocorridos naquele período imperial. naquele período. porque a legislação eleitoral era estadual. no Império os analfabetos já votavam. como anexou a Paraíba a Pernambuco. agradecendo a atenção de todos. isto é. Maria I. Dona Adalgisa. Era uma família horrorosa. Infelizmente a Historia do Brasil vê muito mal a Rainha D. Foi a cidade de Lages a ter a primeira prefeita. não se pode nem colocar uma rua com um nome de Maria I. Penso que já excedi o tempo que me cabia neste debate. D. Naquela época a população era pequena e as mulheres não votavam. Mas. Foi o que aconteceu com o confrade Marcus Odilon. como o Seminário. No Império. é que a Paraíba teve restituída sua autonomia. com muita propriedade. E dizem que ele gargalhava. não aprofundados pela expositora. é um verdadeiro horror. pelo menos é a opinião de todos os paraibanos. Parece-me que como artista plástico ninguém superou Pedro Américo. Maria I. Uma coisa que eu quero ressaltar é atuação do maior pintor da Paraíba. historiador Marcus Odilon. ··· A fala do presidente Luiz Hugo Guimarães: Tivemos a satisfação de ouvir as palavras do nosso debatedor. coisa que recentemente foi restabelecido. chegou a general e depois foi a Barão: Barão de Alagoas. precisava ter uma renda mínima. que foi Pedro Américo. conforme está no trabalho da confreira Martha Falcão. Maria I. na Paraíba. quem tivesse uma renda equivalente a cinco alqueires. que veio com a República. O Marquês de Pombal para a Paraíba foi um horror. Ele pede desculpas por ter excedido seu tempo. abordando aspectos do nosso Império com alguns pontos de vista pessoal. sobretudo quando a exposição do palestrante está agradando ao plenário. significa necessariamente a gente pôr a questão central da sociedade brasileira hoje. Na verdade isso faz parte de uma tradição violenta e autoritária que a gente tem. Ele foi secretário do Instituto Arqueológico Pernambucano e fez parte da comissão que estudou arqueologicamente o jazigo e a ossada de João Fernandes Vieira. acho que está mais que na hora pensar o que foi 48. pelas abordagens muito lúcidas a propósito do tema hoje abordado. o povo tem vergonha do povo que tem. os movimentos liberais de 17. A repressão não bateu à toa. como o Ronco da Abelha. sempre baseado no voto censitário. E dentro disso.Geografia e História da PB 95 Dando continuidade à sessão. 24. no caso da Paraíba. concederei a palavra aos participantes do Ciclo de Debates. 1º participante Guilherme d’Avila Lins (Sócio do IHGP e presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica): Gostaria de parabenizar a expositora. é bom lembrar que esse é o período do cangaço. e que ficou claro no debate aqui. Aquele trabalho de ator da História precisa de uma leitura crítica. e. O trabalho de Ambrósio Hischoffer também precisava de uma leitura crítica. são os cabras dos grandes proprietários que funcionam como justiça e polícia. mas (quem sabe?) precisa hoje de uma nova leitura. cuja idéia é do esclarecimento. É importante que a gente saliente que esse é um Império sobretudo elitista. nosso confrade Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. a influência da própria paixão e da própria cosmovisão do cenário histórico. a . é essa memória que a gente precisa remontar e que. entre a idéia de nacionalidade e os movimentos sociais. que é a cidadania. cujo trabalho já foi mencionado como o ponta-pé inicial de sua vocação histórica. existiram experiências que questionaram. é claro. entre o Estado Nacional. cuja primeira edição só se conhece hoje quatro ou cinco exemplares. é que tratar de Império significa tratar da construção do Estado Nacional Brasileiro. O que eu gostaria muito de salientar. começando pelo consócio Guilherme d’Avila Lins. primeiro inscrito para ocupar a tribuna. 49. do uso da polícia privada (aliás não há nem uma distinção muito clara entre o público e o privado). além de outros trabalhos. São trabalhos apaixonados de quem estava participando de um lado do movimento e tem. portando de parte interessada. no Brasil. Esse trabalho precisaria de uma releitura com interpretação crítica porque ele representa uma descrição de um ator da História e como descrição de ator ele precisa de uma leitura crítica interpretativa e penso que seria uma contribuição importante para este detalhe. Gostaria apenas de lembrar um detalhe. portanto. onde a elite sabe para onde vai. muito bem feita. E aí a gente vai ter que levantar estas questões que a professora Rosa levantou e o debatedor também tocou. entrando também os movimentos sociais dos excluídos. e essa é uma marca que está na construção deste país. num trabalho excepcional. mas é esse passado. que é essa articulação entre a política. são os jagunços. Era apenas isso que queria registrar. Além deste trabalho Maximiano Lopes Machado também tem A HISTÓRIA DA PROVÍNCIA DA PARAÍBA e um outro sobre a Capitania de Itamaracá. que Alfredo de Carvalho já fez. como o Quebra Quilos. que constitui nada mais que um relato de um participante. com relação a este período e mais particularmente ao trabalho de Maximiano Lopes Machado. Com a palavra o historiador Guilherme d’Avila Lins. seria impossível para mim não intervir. realmente movimentos como o de 24 e 48 quiseram questionar um pouco isso. Hoje estamos num país democrático. professora Rosa Godoy e o debatedor. sem dúvida. com o QUADRO DA REVOLTA PRAIEIRA NA PROVÍNCIA DA PARAHYBA. mas foram sufocados. a estrutura agrária e as proposições e projetos políticos que estiveram em jogo durante o século XIX. além de outros. eu sou sob muitos aspectos um detalhista. na prática. 2º participante Professor Eduardo (Professor do Departamento de História da UFPB): Como um apaixonado pelo Império. Porque a gente não tem. com outras universidades. os movimentos sociais como o Ronco da Abelha e está aí. Ele põe realmente um fermento em tudo que diz e faz com que a coisa passe a apresentar um aspecto ardente. é uma figura vibrante. apenas acrescentando alguns detalhes. a gente que se dedica ao estudo da História. Aqui na Paraíba nós temos muitos pontos importantes do Império. a gente não tem a idéia exata da significação do Império para a nossa vida e para a formação da nação brasileira. Mas o que me trouxe aqui a este microfone foi a forma pela qual o professor Eduardo. já começando. que é uma coisa que se faz hoje raramente neste país. Ele começou dizendo que era um apaixonado do Império e isso me animou a vir aqui fazer alguns comentários. como isso foi exorcizado? Rosa teve a oportunidade de referir-se a isso várias vezes. que faz toda essa discussão crítica da História. Tenho 56 anos e estudei História há bastante tempo. para preencher pequenas lacunas que teriam ocorrido. Parece-me que na minha época a gente não tinha esse tipo de professora Rosa Godoy. mas neste país. 5º participante Odilon Ribeiro Coutinho (Membro do Conselho Estadual de Cultura e sócio da Academia Paraibana de Letras): Quero felicitar a professora Rosa Godoy pela excelente palestra com que nos brindou esta tarde. de bom nível universitário. lembrando José Bonifácio. Rosa e Marcus chamaram a atenção para a ameaça de fragmentação que pairou sobre o nosso país durante o Império. Pedro II era um mecenas. 3º participante Paula Frassinete (Conselheira do IPHAEP): Sou bióloga e a minha análise da História do Brasil vai mais como militante do que como historiadora. José Bonifácio foi o gênio político de maior expressão que as Américas produziram. segundo ele. O professor Marcus Odilon coloca que a República já tem seis séculos. o êxodo rural. pois todos nós que ouvimos uma vez Rosa Godoy passamos a admirála e a admiração cresce a cada nova palestra que ela faz. O debate. E como isso foi conjurado. É a questão agrária. da UFPB. Sobre Marcus Odilon. até hoje. essas lacunas seriam inevitáveis. porque a gente sabe muito bem como foi o ensino de História. não apenas cavalheiresca. foi cavalheiresca por que concordou com a exposição de Rosa. Nós vivemos um quadro estrutural que tem suas bases montadas no Império. O que não é nenhuma novidade. Ela está aí repetida e acho que 64 pode até ser comparada com a praieira. O Império costurou a nossa unidade. Estaríamos terminando este período. é a desassistência do governo com o povo e eu perguntaria à professora Rosa: nós estaríamos no fim da República também? Porque nós estamos com essa mesma crise. a professora Rosa Godoy e o historiador Marcus Odilon. E claro. e posso dizer isso com absoluta segurança. a questão agrária. que a gente vive claramente. parabenizando o Sr. tão vasto. D. e não poderia ser de outra forma em virtude do alto nível da palestra de Rosa. Realmente uma palestra de nível universitário. Presidente do Instituto Histórico e componentes da Mesa. como outras figuras nacionais. E eu estou dizendo isso pensando exatamente nos pais .Geografia e História da PB 96 praieira foi um dos episódios mais importantes da história desta região e que precisa ser revisto. é o período que está se demorando mais e anteriormente Rosa já coloca as crises do fim do Império. que se interessava pela cultura e prestigiou não só Pedro Américo e Carlos Gomes. a forma de comentar o trabalho de Rosa foi realmente uma forma. eu sou suspeito para falar. E num tema como esse. cidades consideradas mais importantes do que a Paraíba. dando os primeiros passos para o próximo regime que será o socialismo? 4º participante Célia Camará Ribeiro (Sócia do IHG de Niterói): Mais uma vez muito obrigada pela oportunidade. não apenas na Paraíba. Eu tenho contacto com outras cidades. se identificou. espadagão desafiando o infinito. a nossa independência através de um príncipe português representante da Metrópole. um Madison. Washington era um homem de bom senso. Rapidamente eu queria chamar a atenção para o fato de que talvez nem todos nós aqui presentes saibamos o que realizou José Bonifácio. para construir a nossa independência. foi discípulo de Volta. perspicaz. de muito bom senso. Voltou para Portugal. são figuras realmente extraordinárias. Ele supriu o grande vazio deixado pela fuga da corte portuguesa. um Webster. não era o homem rasteiro. A Independência do Brasil não ocorreu em 22.Geografia e História da PB 97 fundadores da nação americana. Vou tentar isso rapidamente. mas deixou Pedro I aqui. Em 1816. José Bonifácio saiu do Brasil com vinte anos e foi estudar em Coimbra. e sobretudo a sua falta de preconceito. através de um herói eqüestre. ele teria evitado ou impedido a fragmentação. que já tinha uma indústria de aço muito desenvolvida. José Bonifácio está sempre atento ao desenrolar dos acontecimentos e acompanha o desdobramento das lutas de emancipação da América Latina. assiste à diluição. José Bonifácio partiu do princípio. grandes figuras de estadistas. A biografia de Oliveira Lima sobre D. que fez com que a família real de Portugal viesse para o Brasil. porque era uma autoridade legítima. com uma visão muito larga da história do seu tempo. Percebeu que se o país se tornasse independente através do que eu chamei um dia de heróis eqüestres. foi convidado para. antes de terminar os seus estudos já se tinha tornado professor. E graças a isso ele conseguiu manter a unidade nacional. se fosse vivo. é a verdadeira história do Império. e acho que Rosa e Marcus Odilon concordarão comigo. Chega aqui com 56 anos. Ele verificou que só havia uma maneira de impedir que o país se fragmentasse. Os intelectuais da revolução americana foram grandes figuras. sagaz. que acaba de ser reeditada. A autoridade do rei não podia. cuja autoridade não pudesse ser contestada. ele que era geólogo (é uma coisa que pouca gente sabe. era a melhor biografia que se tinha escrito no Brasil. mas nenhum pelo menos teve oportunidade de revelar a genialidade política de José Bonifácio. o primeiro cientista que aplicou. que figura brilhante! Um Benjamin Franklin. Mas. Na Alemanha. A melhor história do Império é a biografia do conselheiro Nabuco Araújo. que achava que amar o Brasil era arranjar um sargentão que fizesse a nossa independência. o estraçalhamento da América Latina. segundo Gilberto Freyre. Um Jefferson. João VI. A família real vem para cá com toda a corte. Hoje talvez ele pudesse mudar de opinião. João VI. Mas ele concebeu isto porque ele era um homem do mundo. da experiência da história de um tempo tumultuado. Na Itália. conviveu com filósofos e convenceu Humboldt a vir estudar a América do Sul. Ele então concebeu nossa independência e. Era colocar à frente do país um homem. e aí se revela a genialidade do estadista. quando D. Nessa ocasião ele assumiu o comando do Batalhão Acadêmico e enfrentou as tropas francesas que invadiam Portugal. Portugal ficou sem quadros para a sua administração e ele ocupou vários quadros da maior significação no plano administrativo de Portugal. Brasil e Algarves e aí nós atingimos o mesmo nível da Metrópole. aqueles generais a cavalo. a eletricidade. dificilmente. que é um milagre. sempre com o pensamento voltado para o Brasil. que foi D. as cortes portuguesas começaram a reclamar e cobrar a volta de D. o conselheiro Nabuco de Araújo. com o status de ministro assumir a coordenação de todas as atividades de mineração da Suécia. Ele então achou que nessa ocasião devia voltar ao Brasil. mas em 1908. Volta para Portugal. A biografia que Nabuco escreveu a propósito do pai. Na França. se o Brasil tivesse realizado a sua independência dessa maneira. João VI criou o Reino de Portugal. Aos trinta anos foi comissionado pelo governo português para estudar onde quisesse com os professores que escolhesse. mirem que prodígio de concepção genial. João VI. de forma prática. à invasão de Portugal pelo General Junot. ao esgarçamento da Revolução Francesa. que logo depois foi guilhotinado. Mas essa biografia revela o homem admirável. A América Espanhola estava fragmentada em não sei quantas republiquetas. Ele então teve essa saída genial. e dentre os cento e tantos metais conhecidos ele identificou oito). Há uma coisa muito interessante que nunca passa pela nossa cabeça porque realmente o brasileiro aprende a história de modo errado. à ascensão de Napoleão. E tanto isso é verdadeiro . João VI foi um rei de grande sensatez. Na Suécia. D. José Bonifácio vem e concebe essa coisa extraordinária. estava lá exatamente por ocasião da Revolução Francesa e foi discípulo de Lavoisier. um intuitivo que soube conduzir a nação com mão segura. eu começo agradecendo a escuta atenta do Dr. Eu sempre gostei. Esse é um lado da história. que a própria República. o povo segundo entendemos era a elite hoje. mas com aquilo que eles chamavam de plebe. Como sou apaixonada pela história do Império. preocupada com o nosso futuro. Acho que a Federação há muito se esgarçou. em particular com o Norte. que D. de grande engenharia política. onde várias dessas questões deveriam ser revisitadas. hoje território alagoano) um deputado disse que a gente perca o Norte. O medo era tanto. Odilon. outros dizem que não. O Império é a moldura natural de José Bonifácio. que faço parte do time das paixões pela História do Império. Portentosa foi também a conquista portuguesa do Brasil e a manutenção desse território. voltou para Portugal para disputar com o irmão D. antes de tudo. mas confesso. Considerações finais pela professora Rosa Maria Godoy Silveira: Acho que tudo foi muito bom. eu acho que seriam projetos fragmentadores. nada foi possível fazer para dominar o tumulto que se alastrara pelo país inteiro. convulsão que levaria o Brasil certamente à fragmentação se não tivessem sido conjuradas e exorcizadas a cabanada. que . D. Tem muito a ver uma coisa com a outra porque o Império nos elucida as grandes questões do país. com as províncias do Norte. Esses projetos foram vencidos. E aí o que é que se faz? Põe-se no trono um menino que ainda não tinha completado 15 anos – Pedro II. mas no meio da Regência. quanto 48. colocada aqui pelo Dr. e eu acho que nós estamos passando por um momento bastante difícil no país. a relação do Estado Federal com os Estados membros. Odilon colocou aí muitíssimo bem que no Império estão colocadas as nossas grandes questões que estão abertas até hoje. como se dizia.Geografia e História da PB 98 que. Miguel o trono português. Tanto 17. (a área estava convulsionada com o movimento cabano no sul de Pernambuco. a relação com a plebe. nos seus desatinos. é a do Estado. sobretudo no Segundo Reinado através dos conservadores saquaremas. Tanto a existência dessa sociedade dos colunas em Pernambuco. aliada com Pinto Madeira na região do Crato. E o Império fez isso. Sobre a questão da formação do nosso Estado Nacional. Apesar do Regente do Império. pois havia a possibilidade de um outro projeto. E nós estamos assistindo aí uma tremenda crise dessa relação com os Estados membros. é que nesta parte do Brasil. vejo que ela é a mais contemporânea possível. uma política portentosa. e com o Rio Grande do Sul. principalmente no momento em que vivemos hoje. Nós temos que revisitá-la para ver essa costura. Maria da Glória. por outro lado. Eu diria que a principal delas. E o Brasil entrou numa terrível convulsão. houve a perspectiva ou experiência de outros projetos políticos. Quando aquela famosa história que o povo diz que é fantasia. mas deixou o filho no Brasil. com apenas cinco anos de idade. sobre como ocorreu a organização do Poder. inclusive no Império. a balaiada. revolução acolá. O outro lado é que houve evidências (é uma história que acho que também é mal contada. revolução farroupilha. como foi construída. porque estava no trono uma autoridade legítima. Diogo Antônio Feijó. Pedro I. Nós precisamos estudar mais as tentativas concretas de recolonização. para usar os termos da moda. A professora Paula. porque foi uma obra difícil. quanto 24. É complexa a questão do Estado. hoje. abdicando o trono brasileiro. Marcus e Dr. mal pesquisada ainda para nós) que é a história da recolonização. Não há dúvida. não conseguiu destruir o tratado de construção de nossa unidade realizada pelo Império. E tão bem costurada ficou a unidade nacional pelo Império. eu acho que o Dr. aqui era um foco de convulsão muito grande. Acho que são questões que permanecem abertas na nossa história. Em primeiro lugar. Voltou. também. não com o povo. O resultado é que a tempestade serenou. por causa da fronteira. Mas. O que eu tentei evidenciar. revolução aqui. a história do retorno de D. mas conservemos o resto. no final da década de 20. Sobre a questão da unidade nacional. Marcus Odilon à minha fala. Pedro II. Miguel tinha usurpado de sua filha. pergunta para que lado estamos indo. A grande questão é que Modelo de Poder organizar. ao deixar o Brasil. eu acho que foi uma obra portentosa. homem de pulso férreo. Disso não tenho dúvida. que a gente é o Nordeste Oriental. num debate da Câmara dos Deputados. Já tem um trabalho do Celso Mariz. com dívidas de empréstimos. onde a Paraíba está aí incluída. quais eram as correntes. porque ele fez uma análise global do Quebra Quilos em todas as províncias onde aconteceu. Alguns falam que Quebra Quilos foi um movimento social. Nesse sentido acho que tem evidência da unidade e esse território teve outros projetos alternativos. embora derrotados. a gente percebe a complexidade de motivações desse movimento. que aproveitaram o embalo para queimar. eu comecei falando no primeiro parágrafo que ele é. mas uma das maiores nebulosidades para nós. Marcus Odilon apontou. mas ela era altiva. A gente tem que entender as motivações dos atores da época e aí tem muita gente envolvida. exatamente em Aracati. mas esses debates precisam ser reconstituídos. Marcus Odilon lançou também a questão do Quebra Quilos. acho que não é por aí. A gente sabe que a concentração de recursos financeiros na mão do Estado Federal tem causado depauperamento para os Estados e municípios. Quer dizer. mas a gente precisa pensar num novo modelo de construção política para este país. Acho que deve ser revisitado. Acho que a gente precisa recompor esse trabalho da Paraíba na Assembléia do Império. O Dr. que a gente precisa estudar muito. no fundo. eu digo. como apontou o Dr. Acho que o Primeiro Reinado é outro buraco na História do Brasil. A questão da Paraíba na Assembléia Geral. Carneiro da Cunha foi um deles que se manifestou. A Paraíba era mesmo uma pequena província. mas a Paraíba sempre foi muito enxerida (Não esqueçam que hoje sou cidadão paraibana. sobre os pronunciamentos dos parlamentares. Soma-se a questão da Igreja. Nós não fizemos ainda uma reconstituição da participação dos parlamentares paraibanos lá no Império. Essa era. Hoje há um novo ramo da historiografia. ou um certo retorno sob nova metodologia. Há os camponeses. como Bernardo de Souza Franco. da província do Pará. uma manifestação dessas camadas espoliadas. evidentemente a grande figura paraibana do Império. Lembrei que só teve um paraibano que se manifestou. ela precisa ser construída pela sociedade brasileira. apesar do sotaque). Marcus Odilon. o que tem seis artigos entre . Estamos sofrendo um processo de reforma do Estado. na Assembléia Legislativa do Estado pela equipe do NDHIR. depois da análise que o professor Hermano Souto Maior fez com sua livre docência. Sobre Pedro Américo. que é exatamente o embate na Assembléia Provincial. Houve uma complexidade de motivações. não podemos esperar dele o grau de conscientização social dos camponeses. Eu estou até fazendo um estudo mostrando deputado a deputado. dos 21 do conjunto que falaram. Somam-se as motivações de proprietários de terra endividados por causa da crise agrária. Há outras coisas que se somam. Então a questão dessa descentralização hoje precisa ser repensada. Acho que Quebra Quilos dá um belo trabalho sobre o ângulo da história dos costumes. com seus motivos. o confronto entre costumes tradicionais de uma determinada sociedade com suas medidas das feiras. Isso vai revelar também uma coisa que é lacunar na História do Império na Paraíba. em primeira etapa. Quais eram as tendências. que viviam nas condições em que viviam.Geografia e História da PB 99 desembarcaria exatamente por essa área. enfim com as suas medidas usuais de origem portuguesa e o confronto com outro sistema de medição que causou muito atrito. no gênero biográfico. O Quebra Quilos. Quando eu citei a Lei de Terras. como Dr. Ela podia ter uma representação pequena. como movimento. porque não está definido ainda o papel dos Estados membros e dos municípios. para reconquistar o Brasil. inclusive porque os comerciantes também roubavam no peso. o envolvimento dos padres era muito grande nesse movimento. assim como hoje está sendo feito um trabalho. Alguns deles falaram várias vezes. Quando disse representação pequena. com a cuia. com litro. não quis dizer inexpressiva. foi. que é a história dos costumes. quais eram os grupos familiares. e mostra que a articulação deles ultrapassa o raio de ação desse território. Mas foi uma manifestação dessas camadas que sofreram essas alterações nos seus costumes. com hipotecas. Eu não diria ser um movimento reacionário progressista. quem falou sobre a Lei de Terras e nós vamos divulgar brevemente esse trabalho. que ele não sabe. a ordem que a gente tinha era que as edições se reduziam a 15 minutos. Foi exatamente o mercado entre o sul de Minas Gerais e o Rio de Janeiro. Odilon com seu banho de erudição. de repente. A gente estava fazendo um trabalho para o Centro de Referência Cultural da Prefeitura e entrevistamos várias pessoas sobre a cidade de João Pessoa e o Dr. contando os namoros na praia de Tambaú. com certeza. estaduais. cada uma com suas atribuições políticas. Eu tenho uma grande questão. José Bonifácio foi o grande estadista da unidade do Império. analisando a imprensa. Foram editadas recentemente pela Companhia das Letras as obras dele. não há dúvida do grande papel que ele jogou. já em 1830. que se acentuou quando a família real chegou. O Império construiu um modelo unitarista e nisso o grande artífice foi José Bonifácio. municipais. como fizeram os Estados Unidos. Eu disse que faltou o Figueira de Melo. eu vou contar um segredo.Geografia e História da PB 100 os 118 que levantei sobre o Império no índice da Revista do Instituto Histórico. é que ele foi autoritário. a exemplo do que foi feita pela professora Isabel Marçon. Eu concordo com Tavares Bastos. muito contraditoriamente da minha parte. era um grupo que. em seu trabalho de mestrado. mas me coube a edição. É impressionante a gente pensar que grupo ao qual se aliava José Bonifácio. Eu acho que a gente construiu uma sociedade democrática. quando muito. Porque pouco depois tem a conciliação. No entanto. primeiro porque eu sou muito fã do federalismo. e já estou no oitavo. O maior fascínio que eu mantenho por ele é porque ele costurou a unidade nacional entre três províncias bases. Odilon Ribeiro deu um banho de erudição sobre José Bonifácio. Mas esses dois trabalhos foram publicados pelo Senado e são livros valiosíssimos. no tempo do Petrônio Portela. mostra o papel de José Bonifácio. que foi o chefe de polícia da praieira. porque ele levou com mão de ferro esse projeto. Eu também sou admiradora do José Bonifácio. como soe acontecer. Linda a entrevista. entre os liberais e os conservadores? Como é que aconteceu? Também é outro tema. vale a pena ver na FUNJOPE. deixei nos 45 minutos. percebendo que a centralização era a forma do Brasil não se dividir. Ele precisa ir ver a edição. o professor Guilherme falou sobre a obra de Maximiano mencionando sua posição como ator e eu também acho que precisamos ver o outro lado. Mas São Paulo contou José Bonifácio. Ele contou como eram as praias de Tambaú na década de 20. Ali se criou até uma agricultura de subsistência e isso começou a vincular interesses entre essas províncias. Eu acho que a gente precisa um trabalho desse aqui. Eu não vou cortar certas belezas. O que mais me fascina em José Bonifácio. hoje na Unicamp. Quero agradecer as referências da Dra. Costurou através da região cafeeira. E em torno delas foi que José Bonifácio arquitetou essa unidade. Odilon foi uma delas. não foi isso que o Império fez. e estou até escrevendo um livro sobre o Império. Mas. e provavelmente ser recolonizado. se fragmentar. Odilon. porque eu. contraditoriamente. vai controlar a política de São Paulo. Pois bem. agora eu admiro esse modelo federalista porque eu vejo na construção de um federalismo uma possibilidade de um modelo democrático. na Coleção Bernardo Pereira de Vasconcelos. Célia e os acréscimos e queria falar do José Bonifácio. que era praieiro. com lances até picantes. Os outros todos têm uma ou duas biografias. Sobre a Praieira. e não obedeci a ordem. Dr. que estava emergindo e costurou numa coisa que estava emergindo naquele momento e foi começando a ser construída mais fortemente a partir da transferência da capital para o Rio de Janeiro. Aliás. conta a outra. ele é mais fascinante. É o maior biografado desse conjunto. Ele tem um projeto de fazer uma reforma agrária neste país e distribuir terras para os . Aí pensando no papel dele. nós precisamos construir um modelo político que tenha um grau de descentralização e que tenha instâncias em escalas regionais. Eu fui escutar a fita do Dr. A versão que ele contou da praieira é uma e Urbano Sabino. Como é que foi a conciliação aqui na Paraíba. que ela devassou a praieira em Pernambuco. em vídeo. em Recife. Eu não fiz a entrevista. Minas Gerais e Rio de Janeiro. para encerrar. Falta um trabalho. o Sr. Ele falou 75 minutos e coube-me fazer a edição dessa fita. Dr. depois confrontando realmente as perspectivas dos vários envolvidos. aqueles comerciantes da cidade de Santos. São Paulo mesmo tinha pouca importância. De outro lado. São Paulo. porque é ele mesmo que apresenta o projeto para a libertação dos escravos. Ex-professor da UFPB. ex-presidente deste Instituto e atual presidente da Academia Paraibana de Letras. Com esse acervo. como nossa contribuição às celebrações do V Centenário da Descoberta do Brasil. com preços módicos e acessíveis. Assim. dando-nos uma visão das principais ocorrências na Paraíba assim como no país. O Instituto está aproveitando esta oportunidade para oferecer aos interessados várias publicações do Instituto e de seus associados sobre assuntos históricos. Nesse longo período imperial aconteceram lentas modificações políticas . que é o artífice da Independência. na qualidade de expositor. tenho outros trabalhos publicados. hoje apreciando o tema A PARAÍBA E A PRIMEIRA REPÚBLICA e convido as seguintes pessoas para participarem da mesa dos trabalhos: acadêmico Joacil de Britto Pereira. mas foi bastante positivo para os presentes podermos ouvir esse debate esclarecedor sobre o período imperial. Dr. por conta de um livro que lancei relatando alguns episódios do movimento de 1964 na Paraíba. quando debatermos o tema A PARAÍBA E A PRIMEIRA REPÚBLICA. confrade Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. pretende o Instituto editar os ANAIS desse Ciclo de Debates. ··· A fala do presidente Luiz Hugo Guimarães: Extrapolamos o horário.. É o bastante. Marcus Odilon e demais participantes. jornalista. professora Rosa Maria Godoy Silveira e do debatedor designado. ··· Expositor: Luiz Hugo Guimarães (Historiador. presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. 3º Tema A PARAÍBA E A PRIMEIRA REPÚBLICA Expositor: Luiz Hugo Guimarães Debatedor: Joacil de Britto Pereira A fala do Presidente: Estamos retornando para dar continuidade ao nosso Ciclo de Debates. Tentei responder às perguntas e agradeço pelos comentários e questões colocadas pelo Dr. membro do Conselho Estadual de Cultura. A Comissão Organizadora deste evento designou-me para apreciar o tema de hoje. Nós estamos realizando um evento de grande importância. tendo ingressado aqui em 1991. Guilherme d’Avila Lins. Trata-se de uma promoção especial. por isso que estamos filmando e gravando todas as sessões. É uma fisionomia do José Bonifácio que aparece em menor escala do que a fisionomia e a consagração dele na História do Brasil. pesquisador. Trata-se do trabalho já esgotado intitulado A ILHA MALDITA E OUTROS REGISTROS. Sou o atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. farei uma auto-apresentação. Só para não quebrar a praxe estabelecida. cujas fitas vão ser arquivadas na nossa Seção da Imagem e do Som. Renovo o convite para a próxima sessão. Cumpre-me agradecer a participação de tanta gente e especialmente da expositora. e o acadêmico Odilon Ribeiro Coutinho. atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano) O Império Brasileiro estava completando 67 anos quando foi atropelado por uma nova forma de governo. podemos começar a exposição desta tarde.Geografia e História da PB 101 escravos. ” Só mais tarde o Marechal Deodoro assinou o Manifesto e o Decreto n. major Francisco Sólon Sampaio Ribeiro. da existência de uma nova forma de Governo do Brasil (o grifo é nosso). na Introdução de sua História da República Brasileira. Editora 3. Porque a Monarquia era um regime artificial em nosso continente.” ( . Deodoro e outros. A situação agravou-se com as chamadas Questão Religiosa e Questão Militar. destacaram-se Quintino Bocaiúva. Entre os civis. dentre elas o problema da escravatura. . o aparecimento de novas oligarquias. que depôs a dinastia imperial e instalou o Governo Provisório. a República. Hélio Silva e Maria Cecília Ribas Carneiro. Maciel Pinheiro. com o reforço da proclamação “pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. A influência dos Estados Unidos despertou o espírito de federalização. Muitas questões alimentaram as crises imperiais. volume 1. em 24 de fevereiro de 1906. o qual surgiu com a formação do Gabinete Ouro Preto. hostil ao Exército. Militares e civis uniram-se e trocaram idéias sobre os movimentos reformadores de filósofos europeus. ora conservadores. 13. Está claro que a Proclamação da República foi um golpe. mesmo doente. Campos da Paz e outros trataram de preparar a proclamação da república para a madrugada seguinte. o começo da industrialização e do trabalho livre. Faltava o motivo.º 1. demonstrativo da frivolidade da monarquia. se viu forçado a assumir o risco de encerrar o regime. Quando se uniram definitivamente militares e republicanos. a ingerência da aristocracia. exclamando a frase que se tornou histórica: estou assistindo daqui as exéquias da monarquia. As lideranças civis e militares buscaram o Marechal Deodoro da Fonseca. p. Rui Barbosa. considerado o ideólogo e principal articulador do movimento. que. 1998. que embarcou para a Europa com a família. Teixeira de Souza. de modo geral. a elite intelectual da época bem o sabia.” Que era preciso mudar o regime. O que houve foi a implantação dum governo provisório. Com a divulgação das idéias republicanas foi possível conquistar o apoio de algumas camadas da classe média. publicado no dia 16. Deodoro à frente. Teve destaque no movimento a atuação dos militares Benjamin Constant. fez uma conferência neste Instituto. general José de Almeida Barreto (paraibano de Sousa). onde revela que o velho Ferreira Vianna assistiu aos festejos de uma janela defronte do salão daquele baile. no dia seguinte. A posição do Brasil na América Latina era uma exceção. A surpresa da proclamação alcançou a velha monarquia e os brasileiros. principalmente do positivista Augusto Comte. tudo antes tinha sido combinado entre os próceres republicanos de então Benjamin Constant. resultando no exílio de Pedro II. a queda do regime era inevitável. ainda muito rarefeita.Geografia e História da PB 102 por conta das traumáticas sucessões e das alternâncias dos Gabinetes Ministeriais. no navio “Alagoas”. Silva Jardim. também serviu para o desencadeamento do movimento.. Aristides Lobo. assinalam: “A República tinha de acontecer. Coelho Lisboa. Foi preciso cooptar os militares para que o assunto tivesse vez. sem a participação popular. oh! Recorda-me bem! Sampaio Ferraz. na manhã de 15 de novembro de 1889. sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano.) “Era único Império nas Américas. E prossegue Pereira Pacheco em seu discurso: Nessa memorável noite. ora liberais. Manoel Marques da Silva Acauã (estes cinco últimos eram paraibanos) e outros mais. José Manoel Pereira Pacheco.. Floriano Peixoto. a urbanização. O famoso baile na Ilha Fiscal oferecido à oficialidade do couraçado chileno “Almirante Cochrane”. Francisco Glicério. José Rodrigues de Carvalho e o estudante Plácido Serrano difundiam a doutrina republicana. Geminiano Franca. em 1832. por influência de Maciel Pinheiro. Rodolfo Galvão e outros jornalistas. Cordeiro Júnior. Nosso passado republicano vem do sonho de 1817 (precursor da Independência). Albino Meira veio à Paraíba fazer conferência republicana no teatro Santa Cruz. acreditarem num desenlace tão rápido. que era um dos beneficiários diretos da sucessão do imperador. Os autores enaltecem a intensa participação de paraibanos no movimento republicano fora do Estado: Maciel Pinheiro e Albino Meira. pois não existe no Estado nenhum movimento republicano. meetingava no sul. a 26 de julho de 1889. escreve: “As notícias sobre a proclamação da República chegam a Paraíba num clima de total indiferença. Silvino Elvídio Carneiro da Cunha – o Barão do Abiaí –. Se não houvesse um movimento republicano na Paraíba o Conde d’Eu não teria vindo à província para defender a monarquia. Isto não quer dizer que na Paraíba não houvesse republicanos ou conterrâneos que difundissem a idéia. Artur Achiles dos Santos. para acompanhar o desenvolvimento da campanha. era ferido nas festas republicanas a Silva Jardim.Geografia e História da PB 103 Como o País foi surpreendido com a mudança do regime é evidente que muitos Estados não tomaram conhecimento dos planos e conspirações que resultaram no golpe de 89. decidiu-se pela causa nova. de 1824 (Confederação do Equador). em 1888. antecedendo um dos pontos do programa com que em julho de 89 subiria o Gabinete Ouro Preto. que advogavam a aglutinação das nossas províncias em uma federação. de 1848/49 (Revolução Praieira). Eugênio Toscano de Brito e Irineu Joffily. Na obra citada de Celso Mariz estão arrolados numerosos paraibanos participantes do movimento republicano: João Coelho Gonçalves Lisboa. O que faltou. Sobre a Paraíba a maioria dos autores registra o total desconhecimento do movimento. Logo depois esteve entre nós Silva Jardim. quando deputado representando a Paraíba (1878/80). Aristides Lobo e Coelho Lisboa. filiou-se ao grêmio do Rio de Janeiro e fez propaganda pelo norte até o Pará. mantinha acomodados os numerosos adeptos da idéia republicana. quando a monarquia dava sinais de decadência. . Pernambuco e Rio Grande do Sul. Dizer simplesmente que “não existe no Estado nenhum movimento republicano” não é bem verdadeiro. o oponente natural dos monarquistas. em sua obra citada. à Assembléia. Francisco Alves de Lima Filho. o Conde d’Eu. no Recife. algumas lideranças de Minas. Em Mamanguape. escreviam sobre o movimento no Sul. no Rio de Janeiro. foi um maior contato com as lideranças do movimento no Sul. que esta considerasse urgente. Jófili. e a maioria dessas destacadas personalidades fazia parte do Partido Liberal. em viagem de propaganda em favor do regime passou na Paraíba. órgãos onde o movimento republicano encontrou guarida. Sou de opinião que muitas figuras da nossa intelectualidade vivenciavam a necessidade da mudança do regime. estudante na Bahia. sem. João Batista de Sá Andrade.” Horácio de Almeida confirma: A República chegou à Paraíba sem ter quem a recebesse. desenvolveu intensa propaganda através do jornal que fundou sob o esclarecedor título O REPÚBLICO. apesar de amigo aqui dos conservadores. porém. Edgard Carone. onde tantos paraibanos se envolveram. requereu. desfazendo toda a lengalenga do Conde d’Eu. Celso Mariz conta que em 20 de junho de 1889. Cardoso Vieira. Em muitos Estados a preocupação maior visava as próximas pugnas eleitorais entre conservadores e liberais. fundaram A GAZETA DA PARAÍBA e GAZETA DO SERTÃO. como deputado. genro de Pedro II. no Recife. A maior participação era dos políticos residentes no Rio de Janeiro e em São Paulo. A habilidade do governante conservador da época. opinavam à longa distância. a Federação das províncias. Celso Mariz revela a atuação de Irineu Joffily: Naquele mesmo ano. naturalmente. foi um dos grandes agitadores republicanos. Nosso ilustre jornalista Antônio Borges da Fonseca. perante o Parlamento Nacional. no jornal de Eugênio Toscano. Manuel Lordão fundaram um clube. em lugar de vos ocupar em vossa atenção agora. Em discurso pronunciado nas comemorações daquela data pelo Instituto. recorda aquela data emocionado: Concidadãos. aos ouvidos do gabinete deposto. Campos da Paz e aquele pelo Major Marciano de Magalhães. sócio do Instituto. A designação dos novos dirigentes das províncias não foi pacífica. nosso grande pesquisador que escava as velhas histórias dos bastidores. Está aí um paraibano que participou diretamente do movimento. vos diria: que justamente a uma hora da tarde daquela época. mas outras províncias souberam da ocorrência com atraso. num discurso que está transcrito na nossa Revista oficial. sendo nós comandados pelo saudoso Dr. O exército libertador compunha-se de pouco mais de 7 mil homens das 3 armas e era guiado pelo General Deodoro da Fonseca com todo o seu luzido estado maior. a 15 de novembro de 1906. irmão de Benjamin Constant. A Paraíba tomou conhecimento do fato no mesmo dia. Antônio Lira. (grifo nosso) marchava na retaguarda das tropas e na frente do da Escola Militar da Praia Vermelha.Geografia e História da PB 104 Depois das conferências de Albino. conforme registra Celso Mariz: Na hora da proclamação. onde se achava o velho e decrépito Imperador Pedro II. Basta que vos diga: que o Batalhão Acadêmico do qual fazíamos parte então. o brigadeiro Almeida Barreto. hei de cumprir o meu dever”. Como se sabe. centralizando os adeptos da classe. Mas. Basta dizer que no Mato Grosso a notícia só chegou no dia 9 de dezembro de 1889. assistiu. é tarefa quase impossível. dificultando a total implantação do novo regime. E prossegue nosso consócio: Dar-vos uma idéia perfeita e nítida daquelas cenas de entusiasmo. desfilávamos pela Rua do Ouvidor em ordem de marcha para o antigo Largo do Paço. aos 17 anos passados. conforme me revelou o confrade Deusdedit Leitão. Na maioria delas os militares interessaram-se em ocupar o governo. Contavame ele que o padre Meira morava onde hoje é a rua padre Meira. um soldado paraibano foi elemento decisivo. José Manoel Pereira Pacheco. se nos fosse possível volver hoje. Na Paraíba a dificuldade se centrava na ausência do Partido Republicano. como participante. Outro paraibano que atuou diretamente no movimento foi o General José de Almeida Barreto. ao ouvir do presidente do Conselho que cumprisse o general o seu dever. Miguel Machado. “respondeu com singular expressão” disse o próprio Ouro Preto: “Seguramente. na sessão que se realizou no salão da Assembléia Legislativa Estadual. se pudéssemos trazer para aqui as cenas que se desenrolaram aos nossos olhos naquele imortal 15 de novembro de 1889. E cumpriu passando às ordens do fundador que vivava a República na praça. Isso quer dizer que não estávamos tão afastados do movimento republicano como a maioria dos autores insiste em dizer. conta uma história com o padre Meira. como orador oficial do Instituto. talvez se não mudara o regime naquele dia. o desenrolar do primeiro dia da Proclamação da República. João dos Santos Coelho. tendo à sua esquerda. um republicano. relembrando datas e fatos da república. a cavalo. convictos de que tinham preferência porque o episódio fora tutelado pelo Exército e pela Marinha. Firmino Vidal. Quintino Bocaiúva. a Proclamação da República surpreendeu todas as províncias. Se a 15 de novembro esse general obedecesse com seus 1096 soldados à ordem do Ministério contra Deodoro. patriotismo e esperanças de republicanos. Aliás. ele teria dito: e a Paraíba tem esses republicanos todos? Padre Meira se surpreendeu com tante gente. alguns estudantes do Liceu. neste mesmo momento e dia. Pereira Pacheco. o grande jornalista de então. que em 1906 deu essa declaração. chegado então às pressas de Petrópolis com toda a sua família. Dizia Deusdedit que logo quando se instalou a República na Paraíba houve uma passeata com muita gente e quando essa multidão passou em frente da residência do padre Meira. Eulálio de Aragão e Melo. sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. ali na descida do Ponto de Cem Réis em direção da Lagoa. reconhecendo-se apenas a existência de elementos republicanos infiltrados dispersamente nos partidos . bastante odiado pela população. pediu garantias ao coronel Honorato Caldas. deu-se a intervenção dos conterrâneos generais Almeida Barreto. então juiz de Direito de Catolé do Rocha. O coronel Caldas não assimilou a indicação de Venâncio Neiva. O coronel Caldas não participara das reuniões. para Chefe de Polícia. que promoveu reuniões no Paço Municipal e na sede do Clube Astréa. sendo preso pelo capitão Oliveira Cruz. Lima Filho e Eugênio Toscano. Conta o historiador Horácio de Almeida que os primeiros movimentos para a instalação da República na Paraíba foram de iniciativa de Eugênio Toscano de Brito. Dessas reuniões surgiu a primeira junta. capitão de engenheiros João Claudino de Oliveira Cruz. a nomeação dos seus dirigentes não lhes dava liberdade para escolher seus auxiliares. o qual depois foi substituído por Cunha Lima. No próprio quartel foi aclamada outra junta. para os postos chaves da Paraíba. quando Venâncio Neiva chegou de Catolé do Rocha para assumir o cargo. Antônio Massa de uma das salas do quartel do 27º. se amedrontou com a notícia. cumprindo instruções. Como os militares estavam com mais força na cúpula. embarcou-o no primeiro navio com destino ao Rio de Janeiro. conforme deliberação tomada com os seus comandados no quartel. Era presidente da província Francisco Luis da Gama Rosa. o 2º tenente da Armada Artur José dos Reis Lisboa. Como em todas as províncias. tentando resistir à designação do governo provisório. constituída pelo próprio coronel Caldas. À noite.Geografia e História da PB 105 existentes. Pedro Velho. Não foi feliz no seu intento. que. era seu desejo assumir o governo da província. mas não contou com o apoio dos seus comandados. apesar dele ser considerado conservador. temendo sofrer um atentado. o coronel Caldas programou um comício em praça pública. que fazia parte da cúpula nacional como Ministro do Interior e da Justiça do Governo Provisório. e João Coelho Gonçalves Lisboa. posto que era o representante das forças armadas que lideraram o golpe. Na tarde do dia 1 de dezembro. seu imediato na junta. essa antiga sede do Astréa durante oito anos foi a sede deste Instituto. aproveitando-se o coronel Caldas de um espetáculo que se realizava no teatro Santa Roza. capitão Manuel de Alcântara Couceiro. ordenara que o coronel Caldas transferisse o comando do 27º para o major João Domingos Ramos e entregasse o poder ao capitão Oliveira Cruz. chegou a indicar o nome do nosso conterrâneo Albino Meira para a presidência do Estado. localizado na rua Direita (hoje Duque de Caxias). Começou a aparecer aí Epitácio Pessoa. foram designados pelo governo central os nomes de Epitácio Pessoa. onde era professor da Faculdade de Direito. foi para o quartel onde pretendia conquistar o apoio da tropa. pois em 30 de novembro o Ministro da Guerra. para Secretário Geral. permanecendo no poder até o dia 6 de dezembro. em seguida. tendo novamente falhado seu intento. Foram aclamados o coronel Honorato Caldas. Drs. que. clube social fundado em 30 de maio de 1886. quis fazer-se aclamar governador. Eugênio Toscano foi o primeiro presidente do Clube Astréa. comandante do 27º Batalhão de Infantaria. comandante do Batalhão do Exército. O coronel Caldas quis resistir. Segundo consta. João e Tude Neiva. Assim. que atuava no Recife. tenente Artur Lisboa. embora muitos conservadores pertencessem ao clube. Benjamin Constant. Saiu a nomeação de Venâncio Augusto de Magalhães Neiva. propagandista do movimento. . o Barão do Abiaí – o primeiro adesista -. Dr. Desesperado. Não foi feliz. pois tinha se comprometido com o presidente Gama Rosa de dar-lhe garantias e aguardar o pronunciamento da cúpula do movimento. Manuel Carlos de Gouveia e Cordeiro Sênior e o comendador Tomás Mindelo. No fundo. O paraibano Aristides Lobo. Albino era um declarado republicano. a aclamação dessa nova junta foi feita pelo Dr. Ali sempre se reuniram os liberais de tendência republicana. O comício foi dissolvido pelo chefe de polícia Dr. Explica-se: ele era irmão do general Tude Neiva. O capitão João Claudino de Oliveira Cruz assumiu o governo de ordem do Ministro da Guerra. próximo do Paço Municipal (hoje praça Barão do Rio Branco). Aliás. visando sua aclamação para governar Paraíba. corajoso e ilustrado em quem Venâncio parecia adivinhar a glória maior do nosso futuro republicano. Seu intuito era harmonizar a família paraibana. No princípio. sendo indicado Venâncio Neiva. Para a Câmara dos Deputados foram eleitos Antônio Joaquim do Couto Cartaxo. O golpe de Deodoro teve o apoio da maioria dos governadores. Venâncio Neiva tomou posse no dia seguinte. logo após a promulgação da Constituição Federal de 24 de fevereiro de 1891. Cartaxo dos antigos dissidentes liberais de Cajazeiras. por suas partes na grande jornada. Amaro Beltrão e Inojosa Varejão. estava assim constituída: Anísio Salatiel. ainda no domínio monárquico. Sá Andrade apresenta-se com as feridas que lhe abriram quando. Diogo Velho Sobrinho e Felizardo Toscano Leite Ferreira. A chapa oposicionista. desembargador Manoel da Fonseca Xavier de Andrade e. já que grande parte dos conservadores tinha se aproximado do poder. posto que esteve na chefia do governo até 31 de dezembro de 1891. partia dos liberais. Pedro Américo de Figueiredo. O jornal de oposição – JORNAL DA PARAÍBA – panfletava contra essa situação. e para 1º. enquanto Apolônio Zenaide – o mais credenciado da oposição – obtivera apenas 2. uma vez que a maioria dos chefes eleitorais tinha aderido ao novo governo. A votação dessa chapa no interior não foi a esperada pelos candidatos. Aprígio Carlos Pessoa de Melo. políticos feitos do dia para a noite de 15 de novembro.730 votos. A Assembléia era constituída de 30 deputados. No início da sessão da constituinte de 25 de junho foi feita a eleição para governador. para viajar à Capital Federal a fim de tratar de assuntos administrativos. Deodoro da Fonseca dissolveu o Congresso em 3 de novembro de 91. Celso Mariz justifica essa composição: Barreto. embora o critério adotado na indicação de candidatos por Venâncio Neiva tenha se cingido em prestigiar nomes de destaque no serviço público e com méritos reconhecidos. Passou a chefia do governo ao 1º vice-governador. Venâncio Neiva pôde manter certo equilíbrio político para evitar uma oposição ferrenha.975 votos. o que era natural. Na votação para a Assembléia Constituinte Estadual. 2º 3º vice-governadores foram eleitos Manoel da Fonseca Xavier de Andrade. onde a oposição estava muito atuante e o marechal não se entrosava bem com seus ministros. festeja Silva Jardim. E Pedro Américo. João Batista de Sá Andrade. Firmino da Silveira entra aí como antigo liberal.Geografia e História da PB 106 Grande parte dos auxiliares de Venâncio Neiva era de origem conservadora. como senadores. Irineu Joffily e conselheiro Tertuliano Henrique. organizada sob a orientação do Barão do Abiaí. os quais votaram a Constituição Estadual que passou a vigorar a partir de 5 de agosto de 1891. João Neiva e Retumba eram candidatos impostos pela situação militarista do momento. Tem sido assim em todas as mudanças de governo na Paraíba e no Brasil. 1º tenente João da Silva Retumba e Epitácio Pessoa. a participação oposicionista também foi pequena. que obteve 9. coronel João Neiva e Firmino Gomes da Silveira. de certo modo. traz para o grupo esse prestígio de família e representação sertaneja. Epitácio é o secretário competente. mas seu governo constitucional teve pouca duração. Venâncio apoiara Deodoro . para senadores. o espírito novo. Como se sabe. que já era delegado do governo central. quando se licenciou perante o Supremo Tribunal de Justiça. quando os novos governantes aproveitam seus correligionários e procuram cooptar alguns adversários. que. Para o Congresso foram eleitos general José de Almeida Barreto. posto que os quadros republicanos e liberais eram pequenos. fundador do jornal ESTADO e juiz íntegro e inteligente. no dia 1º de janeiro de 1892 viajou para o Rio de Janeiro. Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque. Paula Cavalcante Pessoa de Lacerda. que desde 23 de novembro telegrafara candidatando-se sob o compromisso de sustentar o governo da República é o gênio da arte que a política premia. O candidato mais credenciado do governo era Epitácio Pessoa. visando uma pacificação política. que não apoiara Deodoro na dissolução do Congresso. acompanhado por amigos. e Júlio de Castilhos. finalmente. para tratar de interesses administrativos do Estado no Rio de Janeiro. de Cruz do Espírito Santo) e do capitão Edmundo do Rêgo Barros (do Engenho Espírito Santo). em carta. Ali mesmo proclamaram a deposição do governador Venâncio Neiva. Floriano. do Dr. pois ali mesmo fora lavrado em livro um termo explicativo. com energia. Na Paraíba. o governador Venâncio Neiva conferenciou com o comandante Savaget. Saindo do quartel do 27º B. No largo do Palácio o grupo engrossou-se com a chegada de outro grupo vindo do Conde. registrando minuciosamente as ocorrências dos primeiros momentos da Paraíba republicana. exceto o de Santa Catarina. chefiado pelo tenente Manoel Paulino dos Santos Leal. o 1º vice-governador Manoel da Fonseca Xavier de Andrade. passando o cargo ao seu substituto legal. do Rio Grande do Sul. o qual apresentou ao governador um ofício da Junta. Pela manhã. assumindo a chefia do governo seu vice-presidente. Venâncio Neiva retorna à praia de Ponta de Mato. a Junta liderada pelo coronel Savaget depôs o governador em exercício. No domingo de 27 de dezembro de 1891. comandante do 27º Batalhão de Infantaria. Foi aclamada uma Junta Governativa constituída do coronel Cláudio do Amaral Savaget. no dia 31 de dezembro. depôs todos os governadores. Eugênio Toscano de Brito e do Dr. Não se intimidou com as ameaças. Venâncio recusou-se e afirmou que tinha sido eleito pelo povo e por isso pedia o apoio da força militar. os acontecimentos foram precipitados pela iniciativa de Antônio Ferreira Balthar. a 23 de novembro. Tudo havia sido premeditado. I. do coronel Alípio Ferreira Balthar (do Engenho Munguengue. ··· A fala do Presidente: Numa exposição bastante sucinta delineamos o quadro da Paraíba nos albores da instalação da primeira República na Paraíba. Em seguida. onde foi cercado por um grupo armado comandado pelo capitão Alípio Balthar e seus parentes. desembargador Manoel da Fonseca Xavier de Andrade. quando foi empossado o engenheiro militar paraibano Dr. deixou o cargo ao pedir licença por três meses. segundo anunciou o jornal do governo ESTADO DA PARAÍBA. o qual se encontrava na praia de Ponta de Mato. desembarcaram de trem na ponte Sanhauá e seguiram para a Intendência. ao Supremo Tribunal de Justiça. . No dia 1º de janeiro de 1892. No dia 30 de dezembro.Geografia e História da PB 107 discretamente. Venâncio se dirigiu ao Palácio. Tranqüilamente. Álvaro Lopes Machado. sem vencimentos. Esta Junta governou a Paraíba até o dia 18 de fevereiro daquele ano. veraneando com a família. ao governador Venâncio Neiva. ao retornar da praia de Ponta de Mato. com o apoio do governo central. passando Venâncio a receber telegramas de apoio de vários municípios e de outros Estados. já demonstrando sua tendência ditatorial. aos gritos de que iam depor o governador Venâncio Neiva. ou que a mesma ficasse neutra. cerca de 150 pessoas comandadas por aqueles senhores-de-engenho. refugou o ofício. pedido que também foi negado. que lhe sugeriu a renúncia para evitar derramamento de sangue.. Joaquim Fernandes de Carvalho. Lauro Sodré. O Governador. sendo ameaçado de morte. Venâncio Neiva. Floriano Peixoto. A dissolução do Congresso não teve repercussão favorável e ele teve que renunciar o cargo. à tarde. a recusa de Venâncio foi mais veemente. que fora designado pelo Presidente Floriano Peixoto. No dia 28 o coronel Savaget dirigiu-se. comunicando que o Presidente da Republica o mantinha à frente do Governo. o coronel Savaget esteve em Palácio insistindo para que Venâncio resignasse o cargo. ante a pressão dos quartéis e dos congressistas. quando afirma que o novo regime chegou à Paraíba . o tempo que lhe era reservado. de que o eixo Rio . às vésperas da proclamação da República. Não havia. eu recuei no tempo aos nossos debates. Então tem razão. eu gostaria de dizer que os historiadores paraibanos não cometeram excesso algum. sem dúvida. ao tempo. Joacil Pereira é o atual presidente da Academia Paraibana de Letras. sócio do IHGP e atual presidente da Academia Paraibana de Letras) O presidente no seu prudente arbítrio. como soe acontecer com todo intelectual. aquele estudante curioso para os assuntos da História. que todo mundo já sabia. E para usar a palavra como debatedor convido o acadêmico Joacil de Britto Pereira. quando Luiz Hugo começou a falar com tanto descortino. comigo e outros liceanos. Antes. Só encontrou quem sufragasse o seu nome essas duas dúzias de eleitores. aos nossos trabalhos intelectivos no Grêmio Cultural Augusto dos Anjos.São Paulo agitava-se e o movimento republicano se cingia apenas a dois Estados. sem nenhum protesto. como o Presidente Luiz Hugo disse. porém. notadamente o jornalista. de alguns intelectuais. que era um espírito vivo e tomava conhecimento como homem bem informado. E eu recordo muito bem que um dos trabalhos elaborados por Luiz Hugo Guimarães. Basta dizer que Albino Meira candidatou-se pelo Partido Republicano e teve 24 votos para deputado federal. o professor Joacil Pereira foi presidente deste Instituto por dois mandatos consecutivos. espicaçar o pronunciamento do nosso debatedor designado bem como dos participantes. certos pruridos de estudantes.Geografia e História da PB 108 Um breve retrospecto foi feito sobre a Proclamação da República. tendo eu a honra de tê-lo substituído. Na minha retentiva espiritual. nas forças militares. embora houvesse republicanos históricos convictos. ele reservou uma página do seu jornal como se fosse uma premonição para ficar bem com republicanos. que era professor no Recife da nossa tradicional Faculdade de Direito daquela cidade. desde a Abolição. O Grêmio se reunia nos fundos da casa de Luiz Hugo Guimarães. Em assim agindo ele me poupa de maiores comentários. . E ele hoje projetou a figura de Benjamin Constant como o homem que era apontado. que ele. movimento republicano. situada à rua Irineu Joffily.e nós não podemos contestar. essa evocação sentimental. ··· Debatedor: Joacil de Britto Pereira (Historiador. fundamos. no seu livro A PARAÍBA NA PRIMEIRA REPÚBLICA. ter vindo à Paraíba já nos momentos em que o Império haveria de expirar. desde aquela época. Figura intelectual bastante conhecida do plenário. No entanto. para cumprimento do meu dever. foi esse: a influência de Benjamin Constant na Proclamação da República. historiador. Como tem razão Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Melo. e fez muito bem porque no final de contas ele disse tudo o que tinha de dizer. Horácio de Almeida quando diz que a República chegou à Paraíba sem ter quem a recebesse. para pontear a presença de vários paraibanos no movimento vitorioso. me permitam uma nota emocional. extrapolou. não significa que houvesse aqui um movimento. se porventura triunfassem contra o Império. dentro do Exército. pugnadores das grandes idéias de República entre os nossos conterrâneos que moravam fora do Estado. mas dela minha discordância vai. Por isso Eugênio Toscano ofereceu seu matutino para a propaganda da República. que eu sei que também emociona o caro Presidente. centro intelectual do Nordeste. como um verdadeiro ideólogo da República e também adepto da filosofia positivista de Augusto Comte. na Paraíba. Feita essa reminiscência. Eugênio Toscano de Brito. na Paraíba. no último pleito da Monarquia. eu tenho que agir como um debatedor o faz. quando disseram que não havia propriamente um movimento republicano. A novidade da exposição é apenas a discordância sobre a tese de que na Paraíba ninguém se apercebia do advento do novo regime. O fato de Albino Meira. Escritor. que estava prestes a ruir. pois não tínhamos sequer um clube nem um jornal republicano. tudo bem fundamentado nos historiadores conterrâneos e nos historiadores nacionais. tudo certo. Havia. publicista. Essa tese é defendida pela maioria dos historiadores que apreciaram o tema. Foi necessário que. mas uma “atuação tímida”. Era um homem muito hábil e muito inteligente e queria conseguir de um colégio de expressão do poder político. condenou o réu a uma pena muito alta de reclusão. mas tinha prevenção terrível com os alagoanos porque o pai dele foi assassinado por um alagoano. mandou muita gente para a ilha das Cobras. chefiado pela Marinha. Predominaram no seu esquema os elementos conservadores. Finalmente veio Venâncio Neiva e. Então um filho das Alagoas cometeu um crime. temperamento perigoso e além de tudo alagoano. apesar do desejo. pressurosamente. E justificava na sentença: “o acusado tem péssimos antecedentes. apupado. mas por trás disso tudo estava Floriano Peixoto.” Pois bem. nos seus anseios. O grande autor. por algumas manifestações. Eu poderia até aqui contar uma história de um certo juiz da Paraíba. elementos da agremiação liberal. o Repúblico. Depois. quando não podia fazê-lo se fosse um homem da legalidade. contra a monarquia. o comandante de tropa de linha e coronel Honorato Caldas. não foi a Paraíba. muito inteligente. e regaram o solo sagrado da Paraíba com o seu sangue. na Paraíba. artífice e intelectual do crime foi Floriano Peixoto. fechou o Congresso Nacional e sofreu também as conseqüências disso com outro golpe contra ele. porém. já à tardinha do dia 15 chegou à Paraíba esse telegrama e a maioria dos que tomaram conhecimento do fato espalhou entre os elementos mais importantes. Houve um militar ambicioso que “botou as unhas de fora”. Saiu. com o Imperador. era alagoano. Foi um golpe terrível. à República. que aderiu. um romance de fundo histórico. essa frase magnífica: Eles sonharam com a liberdade. o Vice-presidente. que não prosperou. rasgou a Constituição e ficou à frente do Governo até o fim. É preciso considerar como uma idéia base. organizada em reuniões havidas na redação do jornal de Eugênio Toscano de Brito e. porque a Paraíba já começava a repelir. que a República continha. continuou errada no processo de deposição dos presidentes das províncias e na escolha dos chefes de executivo da nascente República. que era a Câmara Municipal.Geografia e História da PB 109 por uma notícia telegráfica no final do dia. um homem que não era propriamente político. A tônica foi a incredulidade. o romancista Eudes Barros. no julgamento. que achava que a vez era dos militares porque na esfera federal a implantação da República fora um golpe dos militares. depois. também em 1824 e 1848. a ponto de ser incluído na primeira Junta Governativa. além de tudo. Se foi errado o processo de proclamação da República. por uma quartelada comandada por Deodoro. Outros receberam a notícia com indiferença. pugnado pelos ideais republicanos. Por isso mesmo. E depois não se aperfeiçoou no exercício do poder. com o sonho republicano marchou pari passu com as idéias de liberdade. como o expositor já citou. a República chegou por um processo inteiramente errado. uma vinculação muito estreita com a liberdade e com a Democracia. foi escolhido para presidente Venâncio Neiva. na Paraíba. de quem era amigo. como se diz na gíria. que não respeitou a Constituição que jurara. diga-se de passagem. que já morreu. inclusive de Borges da Fonseca. dissera no seu livro sobre 1817. a maioria não acreditava. eu digo agora: “Floriano. ressalvese que procurou harmonizar a família paraibana. na composição da chapa que depois se fez para a Assembléia Legislativa. “pintou e bordou”. uma idéia central. Esse era o velho sonho. fez um governo praticamente nulo. Vejam. terrivelmente ingrato. Então. E conseguiu com habilidade de juiz. o Marechal. golpe sobre golpe. então. homem violento. alheia aos anseios de República. foi erradíssima a sua instalação. que foi ingrato. Então ela começou errada até eticamente. Aproveitou o ensejo de um espetáculo que se realizava no Teatro Santa Roza e para lá foi com alguns cadetes. e de todos os que fizeram a revolução de 1817. Homem terrível. Tentou de tudo. a aclamação daquela Junta Governativa. . e muito mais recuada em época na história. mas. Depois ele. vaiado. mas a sua simpatia era toda para o Partido Conservador e amigo íntimo do governador Barão do Abiaí. na Câmara Municipal. mas também aproveitou. como já salientou o brilhante expositor. Nasceu o regime republicano de um golpe de Deodoro contra o Imperador. com as aspirações libertárias. e o Imperador foi seu benfeitor.” No final de contas. Isso não significa que a Paraíba não tenha através dos tempos. um dos nossos escritores. esses processos rebarbativos. Esse homem também não conseguiu investir-se no poder. a fim de conseguir uma aclamação do povo. No Brasil. O processo foi instaurado na comarca de Guarabira e o juiz processante. inclusive por eleição. uma figura íntegra. Há Repúblicas oligárquicas. Nós temos o exemplo da Monarquia Inglesa. na Academia Paraibana de Letras. ··· A fala do presidente: Nosso debatedor oficial. disse Oswaldo Trigueiro que ele. comunicou a Eugênio Toscano de Brito: “A queda da monarquia. Essa figura deve ser lembrada. só voltou à política muito tempo depois para ser deputado federal. Grande jornalista. grande filósofo. porque a República surgiu para condenar o absolutismo dos reis. uma ideologia a apresentar. nosso debatedor. Essa é a função do debatedor. mas dois. Não podemos dizer e concluir que todas as Repúblicas são democráticas. com brilhantismo. Eu bendigo essas duas figuras e as aponto. como são pragmáticas as idéias políticas e como elas pragmaticamente se fortalecem ou se executam na prática. vão se tornando servos das suas ambições personalíssimas. grandes aspirações as da República. nesta hora em que estou finalizando a minha participação. que houve alguns homens entre aqueles inúmeros adesistas. neles lealdade e fidelidade aos seus princípios.” E não aderiu de forma alguma. Foi senador eminentíssimo. E parece ter feito de propósito. Foi um homem notável sob todos os títulos e um homem austero e leal. que deve ser recordado. sobretudo numa época como esta. já Luiz Hugo Guimarães disse com proficiência. como afirmei. cujo sesquicentenário nós vamos comemorar a partir do próximo dia 1º de outubro. apontar os senões. Realmente. vamos dar oportunidade a que os presentes se manifestem sobre o tema. Eu terei que ser breve porque tudo que deveria ser dito. Com a palavra o professor Humberto Mello. anseios maravilhosos. como foram as implantadas na Paraíba após o advento do regime republicano. E os homens públicos cada vez mais. com os olhos rasos dágua. E o outro grande paraibano. Conheço a sua vida e a sua obra. foi Vice-presidente do Estado e presidiu a Paraíba duas vezes. a cada dia que se passa. com muita lhaneza. que eu me lembre. a multidão de trânsfugas. talvez pela primeira vez. Temos Repúblicas oligárquicas. Dr. pelo menos. como exemplo. na hora em que a lealdade cada vez mais vai rareando na vida pública nacional. Idéias nobres. quando a República já estava mais do que consumada. o expositor apresentou uma tese discutível sobre esse aspecto. Não. nós temos Repúblicas e Repúblicas. que previamente se inscreveu. Sá e Benevides. Então. Sou ocupante da cadeira de que ele é Patrono. que é o consócio e historiador Humberto Cavalcanti de Mello. sua função de provocar o debate. foram notáveis. sócio do IHGP e da APL. Sobre o último Chefe de Polícia Provincial. e eu passo a palavra ao primeiro participante do debate. com raras exceções. de uma referência do expositor sobre a chegada da República à Paraíba. a cadeira nº 17. o ilustre acadêmico Joacil Pereira. que é um exemplo magnífico de democracia. Agora vejam os senhores. Queria fazer apenas esses reparos e enaltecer. Respondeu em carta ao Presidente que se tivesse de ser Ministro da Justiça num governo ilegal iria contrariar sua consciência. representando o nosso Estado. professor Joacil de Britto Pereira. foi uma desgraça. absolutamente. uma questão que nunca foi examinada dentro desse ângulo. botou lenha na fogueira. mas ele não aceitou. cumpriu. na prática. Não aderiu. professor da UFPB): .Geografia e História da PB 110 Então a República começou mal. em que se muda de partido a todo instante. Eugênio. é Gama e Melo – Antônio Alfredo da Gama e Melo –. 1º participante Humberto Cavalcanti Mello (Historiador. Pois bem. preferia ficar no seu canto. Assim. para levantar. como não podemos dizer que todas as Monarquias são tirânicas. Fez amizade com Floriano Peixoto quando Floriano esteve aqui na Paraíba e quis fazê-lo Ministro da Justiça. de garantia dos direitos individuais. Começou logo divergindo. os partidos são agremiações que não têm. como disse o expositor Dr. positivista e participou do movimento de 15 de novembro. pois estava doente. Foi aí que surgiu o republicanismo de Epitácio. Epitácio Pessoa. tentou conseguir uma legitimidade para a Junta que ele pretendeu instalar. em cinco minutos mudou de opinião. como diziam os desgostosos. Quero lembrar. Nessa passagem do Conde d’Eu pela Paraíba registrou-se a famosa frase do Barão do Abiaí. brigou com o juiz e foi forçado a se exonerar. Em cada uma das províncias ele veio procurando levantar os ânimos monarquistas. No Império o coronelismo não pesava tanto por conta do chamado lápis fatídico do imperador. o então tenente José Pessoa. O que eu iria dizer. mas tem que ter sorte). Então. ele veio do Rio de Janeiro e parou no Espírito Santo. o que a República velha teve como seu grande marco político distintivo. o revezamento dos partidos. em Pernambuco. mas. Quando a República foi proclamada quem estava no poder . Essa Junta não conseguiu prosperar. quando o partido passava um ou dois anos. que citarei de memória: “Ainda que todo o Brasil se transforme em República a Paraíba permanecerá fiel à monarquia”. assim. publicou uma série de artigos sobre a República e trouxe um depoimento do marechal Rondon. não tendo para onde ir. Epitácio foi. com sua sensibilidade política. um homem de sorte (é verdade que a pessoa tem que ter seus méritos. Joacil Pereira. e Álvaro Machado veio conseguila tomando posse na Câmara Municipal e daí partindo o seu domínio político no Estado pelo prazo de vinte anos. apenas. Luiz Hugo. Sergipe. O expositor Luiz Hugo fixou-se no início da República. foi o grande peso coronelista. Alagoas e por aí veio. A antiga revista O CRUZEIRO. Ou seja. Epitácio era promotor público na Comarca do Cabo. ele mandava dissolver e fazia eleição. por um telegrama. como bem demonstra o seu neto José Joffily na biografia ENTRE A MONARQUIA E A REPÚBLICA. Inês Caminha entre outros que publicaram livros específicos. Uma coisa sem nenhuma forma de legitimidade. um navio de linha. Não tendo mais o que fazer em Pernambuco.Geografia e História da PB 111 Dr. Deodoro tira o quepe e grita: “Viva o Imperador”. com dificuldade. Era a gangorra entre liberais e conservadores. enfocou dois aspectos que eu tinha anotado para falar aqui sobre a densidade do movimento republicano na Paraíba. parou na Bahia. Essa viagem do Conde d’Eu ele fez num navio de linha e foi parando em todas as províncias do Império. vai com ele. À noite. que. Como disse José Américo. período sobre o qual escreveram Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Melo. que era cadete. E os cadetes e tenentes positivistas abafaram o grito com “Viva a República”. antes de tudo. Apolônio Nóbrega. que foi Irineu Joffily. o Barão do Abiaí foi o primeiro a aderir ao novo regime. Não era como atualmente em que os dirigentes requisitam o seu transporte próprio. em junho de 1889. nos seus comentários. porque Álvaro Machado foi designado. ao tempo em que era a revista de maior circulação do país. O tenente José Pessoa já estava envolvido com a conspiração republicana. E como já foi bem salientado pelo expositor e debatedor. o irmão vai para uma reunião e Epitácio. dandolhe a posse na Câmara Municipal. Ele estava na Bahia e Floriano passou um telegrama para ele dizendo que fosse assumir o governo da Paraíba. Joacil já disse melhor do que eu poderia ter feito. Pedro II tinha a visão de perceber que se um partido demorasse muito no poder não seria bom. como bem salientou Luiz Hugo. foi para o Rio. em termos de observação que. Entre os poucos republicanos da Paraíba houve um que depois se desencantou com a República. Então eu me lembrei que foi a Câmara Municipal quem deu posse a Álvaro Machado. E Irineu Joffily nos últimos anos de sua vida se transformou num propagandista do regime monárquico. Era um navio comum. Chega no Rio entre o dia 5 e 10 de novembro de 1889 e se hospeda na casa do seu irmão. onde ele afirma que quando Deodoro sai a cavalo. quer dizer um republicano de vésperas. Lembrou o debatedor Joacil Pereira que Eugênio Toscano de Brito. E Silva Jardim compra passagem no mesmo navio para vir fazer comícios paralelos. da véspera do 15 de novembro. depois então Deodoro repetiu “Viva a República”. quando o Conde d’Eu passou pela Paraíba. A Assembléia estava dissolvida e Álvaro procurou dar legitimidade à sua posse. havendo. começou a carreira como Secretário Geral do Estado. atanazando o que o Conde d’Eu dizia. não tendo mais com quem brigar. não foi porque aqui localizasse um importante núcleo republicano. que era manter a ordem pública.. quando houve aquela dualidade de governantes. Era apenas isso que eu queria expor. porque estavam na oposição e viram no movimento republicano uma maneira de subir. depois que veio a República. Quase todas elas ligadas a problemas estaduais. mas essa carta está nas obras dele e na obra de historiador Glauco Ari Soares). pessoal ligado a Venâncio Neiva. que teve começo com o alvorecer da República. pois o Visconde de Ouro Preto era liberal. era o chamado chefe de polícia do território neutro. que tinha sido governador. não posso esquecer meu pai que. tentando depor o governo de Álvaro Machado. 17. a Serra do Apobá. inclusive Gama e Melo. em 1912 tivemos a revolta de Santa Cruz e Franklin Dantas. correu aos antigos oposicionistas. meu parente. Nós tínhamos tido na Paraíba um ciclo de revoltas que inicialmente guardava um certo ideário. . e na hora o general teve um ato de alta pusilanimidade. porém. que foi a série de repetidas revoltas coronelistas. Daí ter sido o governo constituído. que era um carniceiro naquela fase de Canudos. em 1900. disse que eram movimentos pré-políticos. esse predomínio coronelista com essas exibições periódicas de força foi um fenômeno tipicamente republicano. O general Almeida Barreto era comandante das tropas. principalmente na Paraíba. Há até uma carta de Epitácio a um seu correligionário (eu não me recordo bem o nome do destinatário. O partido que se enquistava no poder de lá não queria mais sair. de Monteiro e Teixeira. Álvaro Machado percebendo essa dificuldade. A única coisa que eu sei de Floriano que se pode aproveitar foi quando perguntaram a ele se um navio estrangeiro viesse ao Brasil para invadir e ele disse que o receberia a bala. A ponto de 12 anos depois de Álvaro Machado assumir o governo. sob aplausos. Tivemos esse movimento da família Balthar para depor Venâncio Neiva. naquela revolta do jornal O COMBATE. na luta contra José Peregrino. não havia mais como manter essa alternância. Quero apenas fazer uma ligeira lembrança sobre a atuação do general Almeida Barreto. Cunha Lima lá em Areia procurou também levantar tropas para apoiar o candidato Antônio Massa. assim como de Moreira César. E depois nós vamos ter uma série de revoltas dos coronéis. dizendo que ele procure aderir ao governo. onde foram feitas referência a Venâncio Neiva e Albino Meira. com o maior brilhantismo. pois a única forma duma pessoa sair da oposição para o governo é através da adesão. citado pelo debatedor Joacil Pereira. já havia uma série de desgostosos dentro do seu partido. conterrâneo do consócio Deusdedit Leitão. Depois tivemos o segundo ciclo que eram as revoltas populares tipo Quebra Quilos. que a essa altura já eram praticamente comandados por Epitácio. O expositor Luiz Hugo registrou o primeiro movimento duma representatividade desse coronelismo. Sobre Floriano Peixoto acho que não devia nem ter nome de rua. Tanto assim que não cumpriu com a função de que era incumbido. que queria porque queria . de elementos conservadoras. mas sabemos também que os amigos de Venâncio procuraram resistir e mandaram tropas que chegaram atrasadas. tivemos depois. que culminou em 30 com o movimento de José Pereira. resguardadas. Falando em republicano. e faz um acordo. e José Peregrino. Mas. que foi empastelado. 2º participante Célia Camará Ribeiro (Sócia do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói): Mais uma vez estou aqui feliz em assistir essas aulas magníficas. Quer dizer. 3º participante Marcus Odilon Ribeiro Coutinho (Sócio do IHGP): Parece-me que não tenho nenhum reparo a fazer porque as pessoas que ocuparam o microfone o fizeram da melhor maneira possível. foi um dos revoltados com aquele ato. que Geraldo Joffily.Geografia e História da PB 112 era o partido liberal. 24 e 48. Pediria permissão para ler um soneto sobre 7 de setembro.O soneto foi lido. e Almeida Barreto. em livro e debate ocorrido nesta Casa. as aparências. o Ronco da Abelha. vindo de Pernambuco. Foi remetido para uma cadeia. Houve eleição com oposição de João Tavares contra José Peregrino. chamado-o “o general que vendeu o Império”. Odilon Coutinho. muito honrado.Geografia e História da PB 113 ser senador do Império (e não foi). Nosso presidente falou na primeira eleição da República na Paraíba. a primeira eleição que elegeu três senadores e cinco deputados federais. 4º participante Guilherme d’Avila Lins (Sócio do IHGP e do IPGH): Em primeiro lugar quero parabenizar todos que aqui falaram. salvo engano. No Rio Grande do Sul foi eleito várias vezes presidente do Estado o caudilho Borges de Medeiros. Eram as colocações que eu tinha a fazer nesta tarde de tanto brilho para nossa querida instituição. Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. E outra coisa. O voto era descoberto. Ninguém era eleito deputado e o eleitor votava cinco vezes. é um caso muito raro. E para Borges de Medeiros deixar de ser presidente houve a revolução de 1923. ele tinha uma cicatriz nos quadris. Joacil de Brito Pereira. uma eleição que foi tão difícil saber-se quem ganhava. concatenada. Rosa e Silva. democrática. A República não trouxe Justiça Eleitoral. fazia a chapa toda. que disse que se mantivesse na posse quem estivesse ocupando o Palácio do Governo. não trouxe o voto feminino. . tanto que alguns Estados permitiam a reeleição do presidente. Aconteceu isso com o presidente João Pessoa. mesmo sendo senador. era o caso do Rio Grande do Sul. de uma forma muito detalhada. foi o governador Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Melo. ninguém sabe quem foi a mãe desse insigne e ilustre general do Exército. ao professor Joacil de Britto Pereira. numa posição muito pouco digna e muito pouco honrosa para um soldado brasileiro. mulher nessa primeira República foi tratada como cidadã de segunda ou terceira categoria. é bom que se registre aqui. Álvaro Machado (também numa eleição sem definição) e como todos os outros presidentes. quer dizer. nas margens do Rio Amazonas. Almeida Barreto era um homem de origem duvidosa. onde passou uma boa temporada. possivelmente correndo. Pois é. continuando: Agradeço a intervenção do confrade Joacil Pereira. ninguém sabe. nem cidadã era. Um presente de grego que a República deu às nossas instituições políticas e cívicas. Posteriormente ele se desaveio com Floriano e. porque o voto não era secreto. E a posse foi reconhecida pelo Vice-presidente da República em exercício. Batista Luzardo e outros. democrata sincero. justiça eleitoral não havia. foi preso e teve o justo castigo. os partidos eram estaduais. bem cuidada traçou o cenário do alvorecer da velha República. essa foi a primeira eleição. E a maioria dos presidentes não tinha nem opositores. Camilo de Holanda. Então somente vencia a chapa do governo. resultante da Guerra do Paraguai. em voto secreto. Se o partido obtivesse 51 por cento dos votos. Assis Cintra teve um livro muito bom sobre esse episódio. que tivesse uma rotulação de avanço social ou ideológica. A fraude campeava. em aparte concedido: A lei do tempo era uma lei iníqua. Quero apenas registrar que essa eleição não foi uma eleição digna. como diz o Dr. porque o voto não era secreto. que os dois se proclamaram eleitos. que de forma magnífica sintetizou alguns aspectos com os quais eu comungo plenamente sobre o significado ético daquele movimento de quartel que representou a Proclamação da República. e houve o acordo de Pedras Altas. O primeiro governador eleito na Paraíba pela oposição. Não havia absolutamente Justiça Eleitoral. vingou-se aderindo a uma República da qual ele não fazia parte naquelas conversações entre os positivistas. com Venâncio Neiva (que foi numa eleição indireta). Cada Estado tinha a sua legislação. começando pelo presidente Luiz Hugo Guimarães que. João Suassuna. Mas o principal era a falta de legitimidade. comandada por Assis Brasil. por sinal um homem muito digno. Existia a chamada chapa cerrada. Era o caso do Pará. No entanto. Todo o esforço. mesmo porque o seu sucessor era um estrangeiro. mas não decrépito e ele era uma figura profundamente respeitada. sobretudo por uma questão que o professor Guilherme acabou de assegurar que houve uma falta de ética. Agora eu pergunto: essa República que começou de forma errada e a gente está vendo hoje alguns resquícios. o que é mais grave. que com febre de 40 graus proclamou a República. respeitável e plena. Se nós tivéssemos esperado mais um pouco . não é tão fácil responder. eu estou ainda esperando uma República estável. Faltou aquela ética adotada pelo senador Gama e Melo. O imperador estava precocemente provecto. um golpe tramado às pressas e às carreiras. então. E queria-se que a família imperial partisse de madrugada para que ninguém visse. daí por diante a República foi se corrompendo cada vez mais. O major Sólon Ribeiro. quando foi entregar a notícia da deposição. mas uma quartelada na verdade. Foi. que disse que a República começou de forma errada. e eu quero registrar que cresci ouvindo a história de que o Clube Astréa representou um dos focos das idéias republicanas na Paraíba. desde o tempo de Joaquim . de geometria analítica. a partir de um movimento do povo. se juntava as botinas. não sabia se se perfilava. Era apenas o velho útil. participante inscrita): Primeiro gostaria de parabenizar o Instituto pela excelente iniciativa em promover esse Ciclo de Debates. Mas podia-se esperar a morte do imperador. como pessoa. da revolução. com os líderes autênticos do movimento republicano. como disse um grande republicano. sentindo o peso da conseqüência desse erro. Ouso dizer que da mesma forma que os israelitas estão esperando o Messias. por exemplo. mas seria bastante magnânimo daqueles que a queriam que esperassem a morte do imperador. no que diz respeito à cultura humanística. E então o Colégio Pedro II se encheu de cátedras das ciências matemáticas: de trigonometria. em lutas. em resposta à pergunta formulada: A indagação que me foi direcionada. Sem dúvida que a monarquia estava no final. se não tivesse sido assim. talvez (é o se na história). E um dos primeiros atos da República. Eu ainda estou esperando. Quero direcionar minha colocação ao que falou o professor Joacil Pereira. em geral. de tudo que o positivismo acreditava como o seu altar. o Sr. Se tivesse procurado um apoio popular. eu me atrevo a informar que o meu pensamento é que se a República tivesse sido feita com apoio popular. que fala sobre esse tema o SE na História. mas aqui foi citado o Clube Astréa pelo expositor Luiz Hugo Guimarães. Conta-se que Benjamin Constant chamava o marechal Deodoro de o “velho”. 5º participante Silvana Alves de Souza (Estudante. talvez fosse outra a situação deste país. nós teríamos tido um resultado diferente.Geografia e História da PB 114 Acho que realmente faltou ética no movimento. contase. sogro de Euclides da Cunha. salvo engano.esta República teria surgido de uma forma muito mais respeitável. para a educação. Não tenho nenhum dado oficial. Pedro II para Ginásio Nacional e a extinção da cátedra de História do Brasil. porque estava terminantemente proibido rememorar a nossa história. acha que há perspectivas de melhoras? Ou a gente está caminhando para o caos? E outra pergunta: Se a República tivesse começado de forma diferente. se chamava Vossa Majestade ou se chamava Vossa Excelência. numa alusão à sua utilidade pela representatividade que ele tinha no meio militar. os anseios republicanos. todo o sangue derramado pelos heróis nacionais em revoluções. através de uma pregação mais segura. da luta do povo. belas idéias. Porque a República foi um arranjo de militares. Debater sobre a História do Brasil nunca é demais. um período que eu considero de obscurantismo para a instrução pública. No entanto. em particular. no dia seguinte. pai de Ana de Assis. todo o anseio da mocidade nas escolas. grande sociólogo americano. Há um livro de Sidney Rooth. será que a gente estaria vivendo um tempo de República diferente? Joacil de Britto Pereira. embora esposando boas idéias. o povo brasileiro não tivesse sido afastado. que o povo assistiu bestificado a Proclamação da República. foi a extinção do nome Imperial Colégio D. se batia continência. nas academias. Seria muito mais digno e nasceria essa democracia de forma muito mais justa. do anseio do povo. permitindo uma melhor apreciação sobre as dificuldades para implantação da República. Castro Alves. enriquecendo o tema hoje apreciado Os assuntos debatidos neste Ciclo são. e por isso mesmo esclarecedores das dúvidas dos participantes. É importante para nós o levantamento dessas questões sobre a participação da Paraíba nesses 500 anos da descoberta do Brasil. E de lá para cá temos sido um povo sofrido. infiltrou-se no poder oligarquia após oligarquia e aí está hoje o espetáculo mais triste de uma república de piratas. a mocidade sempre romântica e revolucionária não participou do movimento republicano. O comentário dos participantes Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. Cada participante não tem que ser. falando sobre alguns governos paraibanos. Célia Camará Ribeiro e Silvana Alves de Souza ilustraram o debate.12. necessariamente. assumindo o cargo o 1º Vice-Presidente. embora sem me convencer de todo com sua argumentação. Assumiu o governo uma junta governativa. cooptado por um ou por outro para alinhar-se ao seu ponto de vista. em 27 de novembro de 1991. desde essa época. assumindo o poder uma junta governativa. não raro. Não há grandes fatos a mencionar durante esse período de adaptação da República na Paraíba. a passagem dos governos paraibanos desde a sua instalação na Paraíba. que foi bastante apreciada pela segurança dos seus conceitos e pelo levantamento de alguns questionamentos sobre minha exposição. um povo escanteado. com a permissão do plenário. Venâncio Neiva foi confirmado no cargo de Presidente da Paraíba pela Assembléia estadual constituinte. De qualquer forma. para o período 91/94. conflitantes. de uma república de corrupção.01. tendo o mesmo pedido uma licença em 31. . Durante essa primeira República nós poderíamos ter debatido mais. Em conseqüência da renúncia de Deodoro da Fonseca. tendo sido eleito quando a 2ª Assembléia Constituinte se reuniu para votar a Constituição do Estado. sucintamente.1992.91. O importante do debate é que cada um apresente sua idéia para que ela possa ser examinada. Humberto Cavalcanti de Mello. companheiro Joacil de Britto Pereira. se o tempo do expositor pudesse ser mais elástico. o qual foi deposto em 01. O governo central ordenou a volta de Venâncio Neiva. a qual permaneceu em exercício até 18 de fevereiro de 1892. nas Faculdades de Direito do Recife e de São Paulo.Geografia e História da PB 115 Nabuco. com os seguintes breves comentários: * 06-12-1989 a 31-12-1991: Venâncio Augusto de Magalhães Neiva Designado pelo presidente Deodoro da Fonseca. sobre a participação das figuras que influíram na sua proclamação e na sua evolução. Considerações finais pelo expositor Luiz Hugo Guimarães: Agradeço a contribuição do ilustre debatedor oficial. Agradeço também aos participantes pelos pronunciamentos que fizeram. 18-02-1892 a 1896 Álvaro Lopes Machado Foi designado pelo presidente Floriano Peixoto. Manoel da Fonseca Xavier de Andrade. Rui Barbosa. Venâncio Neiva foi deposto. que as aceito. cujo governo foi de pouca expressão administrativa. apreciada e melhor interpretada. gostaria de nessas considerações finais destacar. Guilherme d’Avila Lins. Rosa e Silva. assumindo provisoriamente o Vicepresidente Francisco Seráfico da Nóbrega. enquanto Monsenhor Walfredo Leal era eleito 1º Vice-presidente. baixando a dívida pública do Estado em 50%. declarou-o empossado. reagindo com a ação truculenta do seu Chefe de Polícia. Na sua administração o Liceu chegou a ter 50 alunos. uma vez que levou a “pequena açudagem ao interior e incentivou a companhia de ferro-carris” na capital. que terminou o quatriênio. foi eleito Senador. para ser eleito senador. No seu governo houve a implantação da fábrica de cimento em Tiriri e uma de tecidos em Santa Rita. recuperou as finanças do Estado. que logo passou o governo ao Monsenhor Walfredo Leal. para ambos os sexos. conforme declarou em carta àquele mandatário. Sua atuação é meritória. restaurando o crédito e atualizou os vencimentos dos funcionários. uma vez que a chapa oposicionista. 28-10-1905 a 28-11-1905 Francisco Seráfico da Nóbrega Como 2º Vice-presidente assumiu a Presidência Francisco Seráfico da Nóbrega. falecendo no mandato em 10. O Vicepresidente da República. também se considerava vencedora. retornando ao governo em 27 de junho do mesmo na. Incentivou e fundou o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Tentou unificar o partido. Álvaro renunciou ao cargo. que empastelou os jornais O COMÉRCIO.Geografia e História da PB 116 Álvaro Machado criou a Imprensa Oficial (a atual A UNIÃO) . que se encontrava no exercício da Presidência. reformou o ensino “em bases mais adiantadas”. A 28-10-1905. dirigido por Artur Aquiles e O COMBATE. houve por alguns momentos dualidade de governo. Restaurou o ensino e evitou que o Liceu Paraibano fosse fechado. 28-11-1905 a 28-10-1908 Monsenhor Walfredo dos Santos Leal . restabeleceu a figura do Prefeito Municipal.1908. que estavam bastante atrasados. à frente Antônio Massa. Deixou de ser Ministro de Floriano Peixoto porque não poderia ficar em paz com sua consciência. Apesar das turbulências políticas. Álvaro Machado se viu obrigado a candidatar-se a um novo mandato de Presidente. Em 17 de maio de 1896. O Governo do desembargador Peregrino teve grande oposição política. fundou o Partido Republicano da Paraíba. passou o governo ao seu Vice-presidente Monsenhor Walfredo Leal. Antônio Semeão dos Santos Leal. Sua oposição ao Governo Federal aumentou suas dificuldades. melhorou a situação financeira. Culto e honesto. enfrentando a seca de 1898 e a inundação de 1899. 22-10-1896 – 22-10-1900: Antônio Alfredo da Gama e Melo Teve grandes dificuldades em seu governo. Em 14 de abril de 1892 passou o governo ao seu Vice-presidente Walfredo Leal.04. 22-10-1904 a 28-10-1905: Álvaro Lopes Machado (segundo governo) Diante da crise política que grassou no seu partido. com apenas dois alunos inscritos. 22-10-1900 – 1904: José Peregrino de Araújo Após sua eleição. por ter sido eleito Senador. pertencente a um grupo de jovens políticos. equiparando o Liceu Paraibano ao Ginásio Nacional. Sob seu governo foi criado o alistamento eleitoral. fundou a Escola Agro-Pecuaria de Puchi.Geografia e História da PB 117 Como Vice-presidente recém-eleito.379:404$550 e um saldo em caixa de apenas Rs 6. pagou o funcionalismo. facilitando a resistência do governo Nesse clima. em substituição a Castro Pinto. Deu total apoio à cultura.828$222 e o funcionalismo com um atraso de cinco meses. que hoje tem o seu nome. retirou as eleições do interior das igrejas. 1. de autoria de Dr. João Machado foi eleito com apoio do presidente Walfredo Leal. instalando a Diretoria Geral de Higiene. Seu governo também foi agitado politicamente. Criou uma carteira de Crédito Agrícola para empréstimos sob penhor agrícola. 28-10-1908 – 28-10-1912: João Lopes Machado Irmão de Álvaro Machado. graças ao seu prestígio intelectual. Enviou representante ao 1º Congresso de História Nacional (João de Lyra Tavares e Ascendino Cunha). melhorou o ensino. instituindo concurso para professores. Pedro da Cunha Pedrosa. dispensando funcionários sem utilidade urgente. que renunciara o mandato. assegurou água. de Monteiro e Teixeira. amortizou 50% dos compromissos do Estado e reduziu despesas. Durante a sucessão ao assumir a posição de magistrado foi massacrado pelas duas oligarquias: epitacistas e walfredistas. promulgou o Código de Processo Criminal do Estado. depredando e assaltando várias cidades sertanejas. Cortou gratificações graciosas e acumulações indevidas. de Pernambuco. Com a interferência de Epitácio Pessoa foi decretada a intervenção federal. que combatia a “política dos governadores” estabelecida por Campos Sales. tendo revogado as incompatibilidades para cargos eletivos e sancionado a Lei que concede habeas corpus. não contando com o apoio do Presidente Hermes da Fonseca. combateu o banditismo. reorganizou o Departamento de Saúde Pública. fundou a primeira Biblioteca da Paraíba. Seu governo é considerado pelos historiadores como o mais operoso da primeira República. indo fixar residência no Rio de Janeiro. Antônio Pessoa era irmão de Epitácio. Augusto Santa Cruz e Franklin Dantas. médico sanitarista. fundou uma escola na Cadeia Pública. não permitiu que o jornal do governo fizesse política. equilibrou as finanças. que tinha o apoio do governador Dantas Barreto. facilitando a publicação das obras de escritores paraibanos através da Imprensa Oficial. Dentre os inúmeros oposicionistas. Magoou-se e renunciou. que era Ministro do Supremo Tribunal. luz e bondes elétricos na capital. ainda com o apoio de Epitácio Pessoa. Para a sua sucessão foi proposto como candidato de oposição o coronel do Exército José Joaquim do Rego Barros. Promoveu um Congresso de Algodão (com a Paraíba obtendo o 1º lugar) e codificação das leis municipais de autoria do deputado Ascendino da Cunha. . ordenou a construção de açudes e poços artesianos. fundou dois cursos profissionalizantes: Comércio e Agricultura. Em pouco tempo. João Machado fez seu sucessor João Pereira de Castro Pinto. armaram uma grande coluna municiada para invadir os sertões paraibanos. 24-07-1915 a 24-07-1916: Antônio da Silva Pessoa Como 1º Vice-Presidente assumiu o governo. Encontrou o Estado com uma dívida de Rs. reconstruiu a Escola Normal. assumiu o mandato de Álvaro até seu final. abriu a grande avenida em direção ao leste. saldou as dívidas existentes. 28-10-1912 a 24-07-1915: João Pereira de Castro Pinto Iniciou o seu governo cercado de simpatia. Geografia e História da PB 118 Doente. Não teve condições de indicar seu sucessor. as famílias que se locupletaram dos desvios das verbas vultosas enviadas pelo Presidente da República. Também teve atuação idêntica no interior do Estado. que também o decepcionou. Com o apoio dos convencionais do Partido. Homem de larga visão. sulcadores. o presidente Epitácio Pessoa e o senador Venâncio Neiva indicaram Solon Barbosa de Lucena. Inspetor do Tesouro. Secretário Geral. Antônio Pessoa agrupara em torno de si uma mocidade nascente na vida política do Estado. Tendo recebido o governo com recursos razoáveis deixados por Camilo de Holanda. João Suassuna. E Solon de Lucena. Diretor Geral da Instrução. Novamente. Álvaro de Carvalho. como Presidente da Assembléia Legislativa. só que o retrato era de um porto que estava sendo construído na Europa. bastante abatido. Dr. Celso Mariz. continuando no governo. com o apoio total do presidente Epitácio Pessoa. Consta do anedotário político que os encarregados da construção do porto chegaram a enviar a Epitácio o retrato do porto em construção. Em reunião no Palácio do Catete. entre outros. Remodelou a cidade abrindo avenidas. portanto.. aos agricultores menos abastados”. não tendo concluído esse projeto apesar dos vultosos gastos despendidos. Era o candidato de Antônio Pessoa. pois batera de frente com os Pessoa de Umbuzeiro e rompera com os filhos de Antônio Pessoa. Francisco Camilo de Holanda. Epitácio indicou o deputado federal Dr. o candidato natural à sucessão. n aquele tempo. Seria. grupo esse conhecido pela denominação de JOVENS TURCOS. Alcides Bezerra. Preocupou-se em melhorar o abastecimento dágua e implantar eficiente rede de esgotos na capital. Uma de suas metas importantes. criou o Serviço contra a lagarta rosada. Ainda hoje se vê no rio Sanhauá as estacas fincadas naquela época. quando seria substituído pelo Vice-presidente Antônio Massa. construindo praças e edifícios públicos. deixando de apresentar candidato. Eleito Epitácio Pessoa para a Presidência da República. arados. São conhecidas. seringas para vendas. Demócrito de Almeida. Camilo de Holanda não aceitou a barganha. Construiu grupos escolares. este convidou Camilo de Holanda para substitui-lo na sua vaga no Senado. hoje. passou o governo ao presidente da Assembléia Legislativa. Era assim. foi considerado o continuador de Antônio Pessoa. que liderava esse grupo constituído de João Suassuna. 24-07-1916 a 22-10-1916: Solon Barbosa de Lucena O deputado estadual Solon Barbosa de Lucena. Alcides Bezerra. Dizem também que Epitácio Pessoa ficou tão chocado com a roubalheira que assegurou que jamais voltaria à Paraíba. Quando suas cinzas foram trasladadas do Rio de Janeiro para o Panteon do Tribunal de . Anexou a Carteira de Crédito Agrícola existente ao Tesouro do Estado e adquiriu “máquinas. que destinou grandes quantias de dinheiro. Demócrito de Almeida. 28-10-1920 – 28-10-1924: Solon Barbosa de Lucena Com a posse de Solon de Lucena ascendeu ao cenário político seus companheiros do chamado grupo JOVENS TURCOS: Álvaro Pereira de Carvalho. sem lucro e a pagamentos cômodos. mediante sua renúncia ao Governo do Estado. Solon de Lucena. em face do estado de saúde de Antônio Pessoa. Solon também pôde fazer uma boa administração. pulverizadores. Foi um reformador eficiente. iniciou uma série de reformas administrativas. coube a Epitácio Pessoa decidir a parada. assumiu o Governo. foi a construção do porto da capital. 22-10-1916 – 22-10-1920: Francisco Camilo de Holanda Camilo de Holanda era general-médico. Chefe de Polícia. instalou o Centro Educativo de Pindobal para a recuperação de menores delinqüentes. Na capital melhorou o Jardim Público e a Praça Venâncio Neiva. arborizou a cidade de tal forma que passou a ser denominada “Cidade Jardim”. Celso Mariz e outros. em Piancó. sofreu grande revés com a praga que dizimou os cafeeiros. Walfredo abriu avenidas. Itabaiana e Surrão e as pontes de Mulungu. Deu expansão ao movimento cultural. Gurinhém e Batalha. criou o Banco Hipotecário. João Pessoa surgiu como Presidente do Estado com o apoio de Epitácio Pessoa. Foi um governo profícuo. Ingá. que já havia sido fundado. que era seu oficial de gabinete e foi um dos fundadores da revista ERA NOVA. Picuí e Monteiro. a continuidade das obras de saneamento e esgoto do governo Solon de Lucena. Coriolano de Medeiros. o combate ao cangaceirismo. . Américo Falcão. o planejamento do abastecimento dágua de Campina Grande. remodelou o Liceu Paraibano e iniciou a reforma do Palácio do Governo. que foi o crime praticado por um guarda-civil na pessoa do estudante do Liceu Paraibano Sadi Castor Correia Lima. fundou campos de demonstração de algodão nos municípios de Campina Grande. cultura que estava tomando conta do Estado.. 22-10-1928 . com dívidas e seu funcionalismo atrasado em seis meses. Carlos Dias Fernandes. para operar com o comercio. construiu as Praças da Independência e Vidal de Negreiros. Deu vida ao Banco do Estado da Paraíba. construiu as estradas de Pilar. atual Rua Barão do Triunfo. retirou os bondes elétricos que passavam em frente do Palácio do Governo e colocou eletrificação subterrânea na Rua Duque de Caxias. alargou a antiga Estrada do Carro. abalando a economia do Estado apesar da alta do algodão. principalmente de Pernambuco.Geografia e História da PB 119 Justiça os comentaristas do Ponto de Cem Réis imaginaram que “as cinzas tremiam dentro da arca que as conduziram”.26-07-1930: João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque Fora dos partidos políticos da terra. Para sanear as finanças restabeleceu a escrita do Tesouro e criou um sistema tributário independente dos outros Estados. 22-10-1924 – 22-10-1928: João Suassuna Eleito sem competidor. As obras do seu prefeito. construiu o Palácio das Secretarias e a Praça Antenor Navarro. Walfredo Guedes Pereira. Cônego Pedro Anísio. iniciou a reforma da Praça Pedro Américo. Os destaques de sua administração foram: a conclusão do Hospital Juliano Moreira. mas não funcionado. Encontrou o Estado com as finanças em caos. de Psiquiatria. o combate à Coluna Prestes. Umbuzeiro. Demitiu muitos funcionários. iniciou a construção do Paraíba Hotel e do Pavilhão do Chá e as obras do Porto de Cabedelo. João Suassuna assume o governo enfrentando uma peste de varíola e de febre amarela. apesar do pouco tempo em que esteve na Presidência do Estado (um ano e nove meses). abriu a avenida Epitácio Pessoa e a estrada de Gramame. deram brilho à sua administração. Iniciou seu governo dando atestado de austeridade e autoridade. Houve um acontecimento trágico que enodoou o governo de Solon de Lucena. liderado por seu filho Severino de Lucena. O café. organizou o Serviço de Classificação do Algodão. Alcides Bezerra. os Parques Solon de Lucena e Arruda Câmara. o Padre Aristides foi morto. reconstruiu o Quartel de Polícia. desagradando correligionários e opositores. que atravessou a Paraíba e. criou o Hospital do Pronto Socorro e a Policlínica Infantil. Álvaro de Carvalho. Foram prestigiados os valores culturais como José Américo de Almeida. depredações e perseguições políticas aos adversários de João Pessoa – os perrepistas. o panorama político modificou-se totalmente. no Café Glória. no Recife. foi empossado pelo então capitão Juarez Távora. que era engenheiro-geógrafo. Fundou a Estação de Sericultura do Estado.. inicialmente. * . No seu governo houve a mudança do nome da capital de Paraíba para João Pessoa e a criação da Bandeira rubro-negra. que fora assassinado no Recife. Álvaro de Carvalho assumiu o governo. Participou da chapa oposicionista na campanha para a Presidência da República. indicado por Juarez Távora. Palácio das Secretarias. Houve incêndios.) “unificou o ensino público primário do Estado. 220 escolas espalharam-se em toda a Paraíba”. Com a saída de José Américo para o Ministério da Viação e Obras Públicas. Durante o seu breve período de governo enfrentou grande turbulência política. Discordou da indicação do candidato do presidente Washington Luiz à sua sucessão (Júlio Prestes) e formou com o Rio Grande do Sul e Minas Gerais na oposição ao governo central. 09-11-1930 – 26-04-1932: Anthenor de França Navarro Antenor. 26-07-1930 a 04-10-1930: Álvaro Pereira de Carvalho Como Vice-presidente do Estado. pelo advogado João Dantas. Paraíba Palace Hotel. a 3 de outubro. o Quartel da Polícia e o Hospital de Isolamento. chefe militar do Norte do Brasil. Ele assumiu o governo como interventor. Com a eclosão da Revolução. aumentando a onda oposicionista. A Paraíba. tendo perdido a eleição. Sua grande ação foi no setor educacional quando (. havendo uma deposição branca do Vice-presidente Álvaro de Carvalho. extinguiu as escolas municipais e passou para o Estado o ônus e a responsabilidade do ensino. Assim. passou a ser a sede do Governo Revolucionário do Norte. com o nome NEGO. que funcionava na Fazenda São Raphael. formando a chapa Getúlio Vargas para Presidente e João Pessoa para Vice-Presidente. Seu intento foi concluir as obras iniciadas por João Pessoa: Palácio do Governo. em pacificar o Estado.Geografia e História da PB 120 Sua ação política desgostou muitos correligionários por ocasião da indicação dos nomes para a eleição da bancada federal. foi nomeado interventor do Estado Anthenor de França Navarro. com o apoio de vários “coronéis” das adjacências. João Pessoa foi assassinado no dia 26 de julho de 1930. preocupado. pelo advogado João Duarte Dantas. Enfrentou graves problemas políticos com a atitude do deputado José Pereira pondo seu município – Princesa – em pé de guerra. sendo inevitável a saída de Álvaro de Carvalho 04-10-1930 a 09-11-1930: José Américo de Almeida José Américo assumiu o governo em razão da vitória da Revolução de 1930.. nesse momento. em substituição a João Pessoa. A morte de João Pessoa colocou o povo paraibano em ambiente de grande comoção e exaltação. com a autorização do capitão Juarez Távora. incluindo no seu programa o ensino de ginástica e música. in Revista do IHGP n. Celso Mariz (APANHADOS HISTÓRICOS DA PARAÍBA). Recebeu do Ministro José Américo apoio no combate à seca e. Getúlio Vargas é empossado pelo Congresso como Presidente Constitucional do país. concedeu subvenções anuais a alguns colégios particulares. que ele combateu criando a Guarda Cívica e punindo militares da força policial. quando fincou a primeira estaca da cortina externa do cais do porto. reorganizou a Polícia Militar. Em 20 de julho de 1934.” * 26. Seu governo foi atingido pela famosa seca de 32 e pela Revolução de São Paulo. José Octávio (HISTÓRIA DA PARAIBA – LUTAS E RESISTÊNCIA). as obras de saneamento da capital e a Fonte de Brejo das Freiras. Anthenor iniciou efetivamente as obras do Porto de Cabedelo em 17. Editora Universitária/UFPB. deu aumento aos serventuários da Justiça.) “vinha do Rio de Janeiro com o Ministro José Américo de Almeida no avião da marinha – o “Savoia Marchetti n. em grande parte. que só foi inaugurado em 1935. No acidente o Interventor sofreu rutura do coração e do fígado.31. Sua equipe de governo era constituída. estendendo-me até os interventores.º 3 – o qual. Teresinha de Jesus Ramalho Pordeus (HISTÓRIA DA PARAÍBA NA SALA DE AULA). falecendo. e em junho foi efetivado nas funções. houve um movimento armado contra o seu Governo. Dela fez parte o então 2º Tenente Ernesto Geisel. a Saúde Pública e a Escola de Agronomia do Nordeste. de jovens e solteiros. conseguindo colocar o Tesouro em dia. mergulhando na baía. fiz um breve resumo dos Governos paraibanos da primeira República. Foi um governo de grandes realizações. Faleceu tragicamente em 26 de abril de 1932 quando (. que era Secretário da Fazenda. João Pessoa. capotou. instituiu fardamento para os estudantes do Liceu. Com a tolerância do plenário. Não obstante. Passou a administração dos cemitérios para os municípios. pelo que peço desculpas aos presentes. .1932 . enviou soldados da Polícia Militar e voluntários. no seu trabalho Centenário da Queda do Primeiro Governo Republicano da Paraíba. ao amerissar na Baía de Todos os Santos. em detalhes.º 25. para debelar o movimento de São Paulo. Agricultura e Obras Públicas. Enfrentou com austeridade e rigidez as dificuldades financeiras por que passou o Estado nessa fase. reconheceu oficialmente os diplomas de datilografia e taquigrafia conferidos pelos estabelecimentos particulares.11.04.. prestigiando a magistratura do Estado. * Muitos dados do resumo da ação administrativa dos Presidentes e Governadores do Estado foram coligidos nos trabalhos dos seguintes historiadores paraibanos: Carmen Coelho de Miranda Freire (HISTÓRIA DA PARAÍBA – DO IMPÉRIO À REPÚLICA).Geografia e História da PB 121 Reformou a Escola Normal.. na Bahia.12-1934: Gratuliano de Brito Gratuliano assumiu o Governo em caráter provisório como interventor para substituir Anthenor Navarro. Continuou as obras do Porto de Cabedelo. 1991. Adauto Ramos conta esse episódio. Criou mais escolas. ampliou o grupo Thomaz Mindelo.28. quando uma documentação abundante se encontra à espera de ser manuseada. escoimando-a dos erros que se vêm cometendo. Expositora: Waldice Mendonça Porto (Historiadora. Este é o teor da proposta. ANTHENOR NAVARRO: CENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO. que convido a tomar assento: Waldice Mendonça Porto. vivendo em liberdade na terra dos seus ancestrais. os passos sorrateiros dos nossos maiores e daqueles que antes dos nossos aqui demoravam em nossas aldeias. onde ainda repercutem nos meus ouvidos e através das fibras da minha sensibilidade o fragor das batalhas aqui travadas. nossa palestrante. deste chão abençoado. quando será abordado o tema A CONQUISTA DA PARAÍBA. Waldice Mendonça Porto. os esbulhados. é sócia do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. Foi o que restou daquele gentio guerreiro. na condição de membro efetivo e ora primeira secretária. É atual primeira Secretária do Instituto. Waldice Porto. que esta Casa de Irineu Pinto. presidente da Academia Paraibana de Letras. Passo a palavra à nossa expositora. ANTHENOR NAVARRO (Centenário de Nascimento). Faço-a cheia de zelo. que tão bem tem administrado este Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. é diplomada pela ADESG. assumam o compromisso de reescrever a nossa História o mais verdadeiramente identificada com os fatos comprovados com prova documental. debatedor do tema.99. Eles. repositório do mais rico documentário sobre a História da Paraíba. representados pelos seus remanescentes desaculturados e espoliados que ali se encontram na Baía da Traição. infelizmente ignorado pelas gerações presentes. * Adauto Ramos. Joacil de Britto Pereira. fez vários cursos de extensão universitária. nós os herdeiros à sua revelia. venho apresentar-lhe esta minha proposta. na gestão de Vossa Senhoria. mais conhecida como a Casa da Memória Paraibana e a Universidade da Paraíba. Senhor Presidente: . discurso no IHGP. senão por meio de intrigas. mui honrada de ser quem eu sou. por força das armas. uma filha deste pedaço de chão glorioso.08. 1ª secretária do IHGP) Inicialmente gostaria que desse Ciclo de Debates saísse alguma coisa de positivo. é formada em Contabilidade pela Escola de Comércio “Epitácio Pessoa”. foi expositora no Curso de Historia da Paraíba (atualização Didática. 4º Tema A CONQUISTA DA PARAÍBA Expositora: Waldice Mendonça Porto Debatedor: Guilherme d’Avila Lins A fala do Presidente: Hoje é a quarta sessão do programa do nosso Ciclo de Debates. através do seu Departamento de História e do NDIHR. Guilherme d’Avila Lins. que ninguém podia conquistar nem domar.Geografia e História da PB 122 * Glauce Maria Navarro Burity. Os inigualáveis valorosos potiguara. tem vários trabalhos publicados. tomando como fonte fidedigna os nossos autores. Por isso estou trazendo a seguinte proposta para o Instituto Histórico: “Senhor Presidente: Ao início deste Ciclo de Debates em torno das comemorações dos 500 anos de Brasil. é bacharel em Direito pela UFPB. em 31. inclusive sobre História Colonial da Paraíba em nível de pós-graduação. História e Geografia) e no Curso de História Afro-Brasileira. Comporei a mesa com as seguintes pessoas. que será a expositora do tema. contando já com mais de quatro séculos de história sem que. já agora declarado. Seus poderes. pode ter dado essa impressão. tornado este. Em 30 anos de Brasil podemos constatar que desde 1501. dando de tudo conta a elRei. erigindo em princípio jurídico a materialização ou materialidade do “uti possidetis”. hoje Fernando de Noronha. principalmente os franceses. Para interessar aos seus súditos a aceitação das Capitanias. que exercia uma política de sigilo. e comunico que a mesma será objeto de apreciação pela Diretoria do Instituto. a seu critério. eram extensos: além de capitão da armada. Mas.” Presidente – Recebo a proposta apresentada pela expositora. E. Esse tratado legaliza a situação de fato. Tinha o direito de justiça. havia expedições de reconhecimento de suas costas. até então nunca conferidos. segundo. com contrato firmado e renovável de três em três anos. A sua política de sigilo. em 1502. entre estes. acessível também às redes estadual e municipal da educação. Mas posso afirmar que sempre houve um trabalho da diplomacia portuguesa. as chamadas capitanias avulsas a quem quisesse povoar o Brasil e as capitanias a termo. fora os frutos colhidos e a licença concedida para o corte do pau-brasil em nome da Coroa portuguesa. Estamos às vésperas do segundo milênio. individualmente como a consórcios. nas palavras da minha amiga e muito irmã. assegurando a pequena faixa litorânea da conquista cabralina. a expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa “nomeado capitão da esquadra e elevado a conselheiro da Coroa. à revelia das demais nações. em 1750. logo em seguida. . garantindo-lhe o domínio do nosso atual território. com a obrigação de descobrir ou percorrer 300 quilômetros de costa. foi oferecida a Fernão de Noronha. o caso de Fernão de Loronha ou Noronha. expedições guarda-costas para expelir os contrabandistas de diversas nacionalidades e de piratas reunidos pelos seus respectivos soberanos de carta de corso. com plena jurisdição sobre as pessoas que o acompanhassem. tenha sido preenchida esta inominável lacuna. perdurando até 1515. primeiro. pelo Tratado de Madri. fiel aos fatos e acontecimentos. vamos constatar ter estado el-Rei mui atento à sua “dádiva”. citado por Costa Porto. adotada pela sua diplomacia eficiente. capitão de toda a terra que descobrisse. Em 1516. “uma dádiva de sua diplomacia” (Costa Porto – Estudo sobre o Sistema Sesmarial). além das que encontrasse. através de alvarás vantagens majestáticas. e assim sucessivamente. para Portugal. à “descoberta”. terminados os quais era substituído por um outro. “uma dádiva de sua diplomacia” (de Portugal). até o momento. quase todas. el-rei oferecia. para isso fornecendo-lhe todo o material necessário e instrumentos agrícolas. O Brasil é considerado por João Ribeiro. criminosos comuns ou de lesa-majestade. a que estavam obrigados súditos da Coroa. inclusive. havia arrendamentos de terra. a quem se dispusesse fundar engenho de açúcar no Brasil.Geografia e História da PB 123 Que seja uma moderna e aplicada História da Paraíba. dando início à sua exposição: Um ponto na história que sempre me impressionou foi dizer-se que Portugal não se incomodou com a sua colônia durante os trinta anos depois de conquistada. O homem sem História é um homem sem memória e um homem sem memória é conquistável facilmente. depois também as conhecidas feitorias-fortins. posto abastecedor de seus navios em direitura da Índia. podendo. o Venturoso. usando da linguagem fundiária. o século XXI. não deixando “vasar” as “descobertas”. Apesar de afirmarem os historiadores de forma generalizada não haver Portugal cuidado do seu “gigantesco latifúndio”. não é verdade. construção de feitorias para armazenamento do pau-brasil. lugar de Couto e homizio dos degredados. finalmente. tanto a particulares. cartografando o Brasil em nome de Portugal. que a constituíram. seguindo-lhe os passos. em represália ao ato cometido pelo Papa Alexandre VI. Rosilda Cartaxo. seu monopólio exclusivo. aplicar a pena de morte. a Ilha de São João. donde poder João Ribeiro dizer que o Brasil foi. por três anos. se vamos aos fatos. Waldice Mendonça Porto. no entanto. As cartas de Duarte Coelho a el-Rei são um testemunho irrefutável daquela situação. acossado que seria pelas investidas belicosas constantes dos potiguara e francesas aliados. Diogo de Gouveia.Geografia e História da PB 124 Sua missão: colocar marcos indicativos de posse. vizinha à de Pernambuco. aceitando a sugestão do amigo D. instalando no Brasil a administração portuguesa. a capitania de Itamaracá. pelo Tratado de Tordesilhas. Reitor da Universidade de Santa Bárbara. Nelas ele demonstra a sua aflitiva preocupação com a segurança da sua capitania. uma ameaça à segurança da sua vizinha. . pelo Ouvidor de Itamaracá. escrevendo-lhe porém comunicando o fato e que. portanto. holandeses. ocupando a ilha da Conceição. decidiu. Martim Afonso e seu irmão Pero Lopes de Sousa. tendo em vista a impossibilidade de ali se manter. É a localização de Itamaracá. perde o seu donatário. o reino português encontrava-se parco de recursos e de elemento humano. respectivamente um de 100 léguas e outro. esperar a volta de Martim Afonso de Sousa. tornou-se devoluta. Regime das Capitanias Hereditárias D. Após cinco anos de fundada. aí fundando a vila Marial. ou seja. morto em naufrágio (1539). que tomou as providências necessárias. concedida em 1º de setembro e o respectivo foral em 6 de outubro de 1534. Abandonada. não adiantando. em porções separadas. O pau-brasil não permitia a fixação do homem à terra. Com a morte de Pero Lopes de Sousa e não havendo cumprido a cláusula exigida pela Lei das Sesmarias. Itamaracá passou a ser um território perigoso. em janeiro (1535). vizinha à de Duarte Coelho. A ilha de Itamaracá “podia então considerar-se a atalaia da civilização brasileira avançando para o Norte. doar as terras como melhor lhe aprouvesse e nomear tabeliães e oficiais de justiça. reservava para ele. portando. na ilha de São Lourenço. Para solucionar o caso. da mesma forma que mais tarde (e ainda agora). nesta parte do Nordeste brasileiro. numa das mais memoráveis epopéias vivenciadas pelos nossos maiores. Seria um senhorio dentro do Senhorio da Coroa. a parte do continente. na segunda metade do séc. veio-lhe ao encontro a sugestão de D. Duarte Coelho querer que fossem aceitas e cumpridas as suas cartas precatórias. Logo foi aumentada a sua doação. representando seriíssima ameaça à sua colônia brasileira. para 86 léguas. defronte do continente. até mesmo Itamaracá. Eles não teriam a propriedade da terra. Olinda e Igaraçu e. Pois. viviam em contínua intranqüilidade. para a sua colonização. mas tão somente o poder político.” As investidas dos povos fora da partilha do mundo. em Paris. em Madagascar. que em carta aconselhou o rei de Portugal a dividir a terra entre os seus súditos mais abastados. Diogo de Gouveia. voltou à Coroa. infestaram os mares do Atlântico. vendo-se impossibilitado de fazer alguma coisa. que vai dar motivo ao desencadeamento de uma série de acontecimentos que redundarão. É bem verdade que Pero Lopes de Sousa pôs à frente da sua capitania um loco-tenente João Gonçalves. dentre os 15 lotes em que fora a sua colônia americana dividida. ingleses. o seu donatário se via impotente diante dos assaltos rotineiros e do vandalismo provocados pelo gentio potiguara e seus aliados franceses. para uns. contra os importunos que atrevidamente se vangloriavam de levarem a melhor e lhe fazerem ver se encontrarem em capitania de Couto e homizio. Assim não despenderia dinheiro e contaria com o empenho dos mesmos na defesa e preservação da terra. que é muito privilegiada. XVI. como os franceses. de dividir o Brasil em Capitanias Hereditárias. pois este estado caótico dificultava a aproximação de quem ali pretendesse povoar a terra e dinamizar a agricultura da cana-de-açúcar. distribuídos por 12 donatários. para outros. pela bondade do seu porto. de 80 léguas. de Pero Lopes de Sousa. atraído pela fertilidade e pelos seus ares. antes de por em prática este Regime. O que vai nos interessar de perto mesmo é a de Pero Lopes de Sousa. João III. “de imperium’. o 2º . publicação do historiador pernambucano José Gonsalves de Mello e Cleonir Xavier de Albuquerque. Jerônima de Albuquerque Sousa 10 mil braças de terra próximas a Goiana. dão conta dessa situação. apesar da instabilidade reinante e indo de encontro aos conselhos dos amigos.. e orgulhoso de sua obra ameaçava o resto da Câmara”.o da conquista do espaço físico para a implantação do núcleo populacional. Corria o ano de 1570 e os assaltos dos índios aos habitantes das capitanias de Itamaracá e Olinda continuavam sem trégua.Geografia e História da PB 125 e a excelência e abundância das suas águas e provisões. declara: (. este tornando a ilha da Madeira. Sebastião. mas. Expedições Oficiais para a conquista da Paraíba Foram cinco as expedições oficiais para a conquista da Paraíba: . num espaço de seis anos. É uma indicação que faço para os que se interessarem aprofundar-se no assunto. o seu abrigo em caso de algum desastre. Diogo Dias. aventurando-se a “estabelecer engenho no Tracunhaém. como já começava a acontecer. Tem início o chamado período UNIÃO IBÉRICA. cujos limites se circunscreviam da Baía da Traição ao Rio Popoca.mais realmente. corrida. pelo Tratado de Tordesilhas D. esperando monção a fim de evitar as calmarias da costa de Guiné. Itamaracá era porém. A tragédia ali ocorrida tomou foros de internacionalidade. o velho Portugal cai em poder da Espanha. Veio o gentio e deu cabo de tudo. Luis de Vasconcelos. punham antes nela as esperanças de refúgio do que em Igaraçu. O período compreendido entre 1574 a 1599 pode ser divido em dois: o 1º . o posto avançado da civilização. com o estabelecimento da União Ibérica. A Guerra dos 25 anos Entre 1574 (1580) 1585 – Nesse ínterim. ali deixou-se ficar com a esquadra de sete naus e uma caravela.) a Paraíba era a passagem onde se ia decidir se a civilização tinha de caminhar avante para o norte ou retirar-se. mas ao mesmo tempo. compra a D. El-Rei atendeu o pedido de socorro. ou . Este triste acontecimento entrou para a nossa História como a “Tragédia” ou “Morticínio de Tracunhaém”. não só a atalaia..o da consolidação definitiva daquela conquista. de 1574 a 1585 – as tentativas da conquista e a sua consumação. criando. facilitando.” A capitania da Paraíba surgiu como “compensação do insucesso da Capitania de Itamaracá e da necessidade de apoio ao povoamento já instalado na Capitania de Pernambuco. huguenotes. no decorrer da saga gloriosa dos conquistadores. para a defesa contra um inimigo comum. do teatro fronteiro à ilha de Itamaracá!” E continua Horácio: “Ou a metrópole conquistava a Paraíba ou desistia de continuar para o norte a obra de colonização que empacara em Itamaracá. Em 1574. a Linha de Tordesilhas desapareceu. por conta do processo sucessório. concordando que fossem as mesmas encampadas pela Coroa. abrangendo. “governador e capitão general para o Brasil. Horácio de Almeida. dando nascimento à Capitania Real do Paraíba do Norte. o mar. ou melhor dizendo. os quais havia pressentido”. tomando a si a conquista. entre 1540 e 1550. a ampliação do nosso território pátrio.” (Varnhagen). de muitas posses. e os empreendedores que se estabeleciam pelos rios do continente vizinho. um cristão-novo. recomendando-lhe a expulsão dos franceses do rio Paraíba. As CARTAS DE DUARTE COELHO A EL-REY. encarregando D. pois punha em risco o que coubera à Sua Majestade. Vale lembrar que. saídos de Rochella. com duração de sessenta anos. se considerou como posição de muita valia. de escapar dos famosos piratas Jacques de Soria e João Capdeville. Providências foram tomadas em Conselho. citando Varnhagen. desmembrou uma faixa de terra da Capitania de Itamaracá. com homens a pé e a cavalo. Henrique. sofrendo séria derrota.Geografia e História da PB 126 1ª tentativa: 1574 – Ao Governador Geral do Brasil. pois. a uma retirada rápida e desordenada para Itamaracá. Mas. 5ª tentativa: 1585 – As pazes foram então firmadas entre o cacique tabajara e o Juiz de Órfãos e Escrivão da Câmara de Olinda. porém sem a posse do referido título. Em Pernambuco conta com a ajuda provincial do Capitão-mor de Olinda. com a sua gente. 3ª tentativa: 1582 – Em 1579. Retorna. Frutuoso perdeu esposa e filho. comerciante português. devido a problemas administrativos da Bahia. com uma parte da expedição por mar sob seu comando e outra por terra. Volta Frutuoso a Portugal. declinou-a. vendo-se obrigado a retornar a Pernambuco. em AlcácerKibir. Felipe e São Tiago (hoje Forte Velho). além de recursos financeiros próprios. porém um temporal destroça-lhe a expedição. conquistar e colonizar a Paraíba. muitas vidas humanas. como capitão de mar e terra. Luis de Brito. onde se encontra hoje o município de Cabedelo. D. por ordem régia de D. África. Fernão da Silva. sob protestos insistentes do Ouvidor Geral Martim Leitão. o governador delegou tal encargo ao Ouvidor Geral D. que estava infestado de índios. é que a conquista da Paraíba começa a se delinear. tomou posse da terra em nome do rei de Portugal. 2ª tentativa: 1575 – Com o malogro da primeira expedição. sobe o rio Paraíba. Nos primeiros dias de fevereiro de 1585 chegam o cacique tabajara Braço de Peixe e o seu irmão Assento de Pássaro com parte de sua gente. com a vinda do Ouvidor Geral do Brasil. 4ª tentativa: 1584: . indo arribar na Ilha de Castela (Cuba). uma expedição para a conquista da Paraíba. Frutuoso desloca-se para a Paraíba. na América Central. de volta à foz do rio Paraíba. Luis de Brito resolve cumprir pessoalmente as determinações emanadas da Coroa Portuguesa. foram-lhe concedidas mercês nesse sentido. mas não foi possível em vista da assiduidade dos ataques pelos potiguara. ao Brasil em 1582. conseguindo que os seus direitos sejam salvaguardados pelo novo soberano. Frutuoso pensou em construir um forte no local. Sebastião de Portugal. confirmadas por Felipe II da Espanha e I de Portugal. Este cacique haveria de decidir os rumos da conquista. e a vinda da esquadra de D. ordenando a lavratura oficial do feito.A partir de 1584. A conquista se intensifica quando a esquadra vai a socorro do forte S. Martim Leitão. sem qualquer possibilidade de defesa da expedição. Posteriormente. . aportando no Recife. foi cometida a incumbência. regressando à Bahia após alguns dias de espera. vindos das margens do rio São Francisco. é atacado por franco-indígenas. no momento em que o cacique já se dispunha voltar para sua aldeia no São Francisco. João Tavares. No entanto. Frutuoso Barbosa chega ao Brasil em 1581. Diogo Flores de Valdiz. Um ataque de surpresa dos índios obrigou-o. percorrendo. cognominado por Coriolano de Medeiros de “O César das Conquistas Paraibanas”. Parte da expedição voltou ao porto de origem com o próprio Governador Geral e a outra parte conseguiu ancorar em Pernambuco. na condição de ser seu Governador por dez anos. o caminho para a Paraíba. de imediato. D. Porém. Sebastião. elevado em decorrência da morte de D. É de ressaltar que nessas duas tentativas. Frutuoso Barbosa. Martim Leitão então ofereceu pazes aos tabajara. em reforço aos potiguara. as más condições de navegação provocaram desvios de rota e de veleiros. Tal honra caberia a Frutuoso Barbosa por direito. propõe ao então rei Cardeal D. sem ser incomodado pelos potiguares. partindo da Bahia com uma frota numerosa e bem equipada. rendendo um ordenado de duzentos mil réis por ano. porém este desgastado e desiludido por tudo o que aqui sofrera desde 1581 até aquele momento. Este reuniu forças em Olinda. Na foz do rio Paraíba. Frutuoso chegou primeiro. atacando naus francesas surtas próximas à Ilha da Camboa. de providenciar. Surge a oportunidade quando os dois chefes indígenas dos tabajara e potiguara se desentendem. até a chegada da parte da expedição que veio por terra. de Sua Majestade 1588 a 1591 – Frutuoso Barbosa é quem fica à frente do Governo da Paraíba. Governo de Feliciano Coelho de Carvalho O período de Feliciano Coelho de Carvalho se estendeu de 1592 a 1600. além de mercenários. de Sua Majestade. a mudança do nome da cidade para Cidade Felipéia de Nossa Senhora das Neves. se assobradada. tratou da construção do forte da cidade. Entre estas. tendo neste mister provocado a vinda de Duarte Gomes da Silveira de Pernambuco. Foram três os assaltos belicosos feitos por Martim Leitão e sua gente na Serra da Copaoba. dez mil réis. quando. sem prisões durante os 15 dias de graça. . tendo à frente o dinâmico e incansável Ouvidor Geral Martim Leitão. aqui se radicando. na várzea do Paraíba. Incrementou a agricultura da cana-de-açúcar.Geografia e História da PB 127 As pazes foram celebradas ali no Sanhauá.. sob ameaças incitava os denunciantes. como sempre fora a sua pretensão. de imediato. precavendo-se. No seu governo houve a 1ª Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil – 15 dias de graça na cidade de Paraíba – “Era a Visitação uma inspeção periódica que por determinação do Conselho Geral do Santo Ofício realizava um delegado seu para inquirir sobre o estado das consciências em relação à pureza da fé e dos costumes” (. que sob esta invocação passou a ser denominada Cidade de Nossa das Neves. incentivou a construção de residências. De 1586 a 1587. os naturais da terra não lhe deram trégua. vinte mil réis. fundara ele o engenho real – o São Sebastião.) Oferecia misericórdia aos confidentes e. em 20 de janeiro. Volta Martim Leitão para Olinda nos primeiros dias de 1587. Durante todo esse período de quase três anos de governo. pertinentes à questão de jurisdição. Duarte da Silveira. ao mesmo tempo. Martim Leitão neste mister chegou a empreender algumas surtidas sobre aldeias potiguara com o objetivo de afastá-los das proximidades da cidade em construção. organizando expedições de guerra contra o gentio. então das ameaças e assaltos imprevisíveis dos naturais da terra. é bom que se diga. no mês de setembro entrega o cargo a Frutuoso Barbosa. Primeiro chegaram os jesuítas e os franciscanos para a catequese do gentio e educação dos filhos dos colonos. Mamanguape e Baía da Traição. soldados e índios flecheiros. “Um levantamento geral do momento dos espíritos”.. este Ouvidor Geral do Brasil conseguiu se desdobrar entre a nascente urbe e respectiva administração. oferecendo prêmios: para a construção de casas térreas. de Sua Majestade – a 3ª cidade do Brasil. Entre o governador Frutuoso Barbosa e as referidas Ordens aconteceram as primeiras rixas. também foi o responsável pela Igreja da Misericórdia com o complexo constituído pelo Hospital e o Cemitério. constituídas pelo pessoal de governo. atenderam à solicitação para aqui se estabelecerem. Este. Apesar de bastante tumultuado. onde hoje se encontra a Basílica de Nossa Senhora das Neves. pondo em expectativa constante e em polvorosa a população recém-chegada. agora com o concurso dos tabajara. de Sua Majestade. de 1585 a 1588. iniciados no dia 8 de janeiro de 1595. No ano anterior. As Ordens Religiosas. Aqui foram feitas 16 denunciações. Cidade Felipéia de Nossa Senhora das Neves. além de instituir o Morgado do Salvador do Mundo. Conquista da Paraíba sob a égide da União Ibérica Governo de João Tavares: 1585 a 1588 – Após as pazes firmadas foram tomadas as primeiras providências para a criação do núcleo populacional. João Tavares é quem fica à frente do Governo da Cidade de Nossa Senhora das Neves. em Cabedelo. os “homens de qualidade” da terra. a tal ponto de se atreverem a vir até à nascente cidade. Frutuoso conseguiu realizar algumas obras significativas. com toda a sua família. cometendo as suas estripulias. o forte de Santa Catarina. no dia 5 de agosto de 1585 e só no si 31 de outubro de 1585 foi escolhido o local da nova povoação. Depois chegaram os beneditinos e os carmelitas da Reforma. o forte de Inhobim. Curso de Direito Agrário – Col Petrônio Portela. Triênio do 4º Centenário da Paraíba. bem ali no Varadouro. nº 8. As pazes definitivas para a consolidação da conquista da Paraíba foram firmadas no Forte da Cidade de Nossa Senhora das Neves. Comemorativo do Sesquicentenário da Independência do Brasil (em fascículos) – Bloch Editores (4 vols. gripe. Também houve a ajuda da Paraíba na conquista do Rio Grande do Norte. disseminadas essas epidemias pelos conquistadores. o fato mais importante do Governo de Feliciano Coelho de Carvalho foi a Celebração das Pazes com os Potiguara. Brasiliana. o famoso Zorababé. Obras consultadas: História da Conquista da Paraíba (Sumário das Armadas) – Col. etc. por ter sido consertada com o nosso colonizador. F. em virtude mesmo de tais guerras. firmada na pessoa de Ibiratinin (Pau Seco) com a autorização do seu irmão. Ainda contribuiu a Paraíba – com a expedição de Pero Coelho de Sousa – para a conquista do Ceará – 1603-1607. Brasília Estudo do Sistema Sesmarial – Idem..Martins Afonso – Lisboa Formação Territorial do Brasil – Costa Porto. vol 5 História da Paraíba – Horácio de Almeida. vol. os potiguara.Geografia e História da PB 128 Em 1597 deu-se a expulsão definitiva dos franceses do nosso solo paraibano. Paulinas – Vozes Cartas de Duarte Coelho a El-Rei – José Gonsalves de Mello (neto). sobre a conquista da Paraíba. numa das quais Frutuoso Barbosa perdeu a esposa e um filho nas lutas contra os índio da tribo tabajara. Todavia. Universitária/UFPB (2 vols. dentro do espaço de tempo que lhe foi destinado. Recife (Pe) História da Província da Paraíba – Maximiano Lopes Machado. Campina Grande. implantar a cidade. as baixas constantes. levando consigo navios. UFPB Coletânea de jornais – Comemorativa da fundação da cidade de João Pessoa e do seu IV Centenário. UFPE História Geral da Igreja na América Latina – Ed. além da estratégia de guerra e do seu incentivo permanente. neste mesmo ano de 1597. até que Martin Afonso de Sousa logrou. tuberculose. 72 História do Brasil – 1 vol. de Almeida Prado. 321 Raízes da Formação Administrativa do Brasil – Marcos Carneiro de Mendonça (Coletânea de Leis) História da Civilização Portuguesa (Curso) – A . 83 História Geral do Brasil – Francisco Adolfo de Varnhagen (Visconde de Porto Seguro). pelas guerras bacteriológicas – sarampo. . FURNE/UFPB – Campus II. quase exterminados pelas guerras. varíola. contando todas as peripécias e fracassos das várias tentativas. desassistindo. tendo em vista a situação em que ficaram os potiguara. Ed. munições. Rio de Janeiro. febre amarela. A consolidação da conquista por Feliciano Coelho de Carvalho é uma das páginas mais emocionantes da nossa História. assim. em 11 de junho de 1599.) Grandes Personagens da nossa História (em fascículos) – Abril Cultural A Conquista da Paraíba – J. e perda do aliado francês. Relembrou todas as cinco tentativas de conquista da província.) Brasil/Açúcar – Coleção Canavieira. armas. com a pacificação com os índios. ··· A fala do Presidente: Nossa expositora fez um relato sucinto. professor Guilherme d’Avila Lins. ··· Debatedor: GUILHERME GOMES DA SILVEIRA D’AVILA LINS (Sócio do IHGP e presidente do IPGH) Agradeço ao Presidente por ter me convidado para substituir a professora Rosilda Cartaxo. tanto para Portugal como para o Brasil. aquela das primeiras tentativas. porém. Está fora do alcance cronológico da redação do SUMÁRIO DAS ARMADAS o Forte de Cabedelo. e passarei agora a palavra ao debatedor designado. Tróia tupiniquim que ocorreu no início de 1574. um dos mais importantes historiadores da língua portuguesa deste século. as situações factuais e marcantes do período decisivo da conquista estão ali. e depois o padre Simão Travaços. embora ela não cubra toda a história da conquista. inicialmente. que a obra principal sobre a conquista da Paraíba é o SUMÁRIO DAS ARMADAS. com um currículo bastante apreciado. Congratulo-me com a expositora pelo poder de síntese demonstrado em sua palestra. o qual até agora não foi descoberto. acerca de quando Portugal teria que decidir se parava. que me levou a considerar a data da redação do SUMÁRIO DAS ARMADAS como sendo 1594. pesquisador. A conclusão a que ele chegou então. foi calcada na interpretação de uma frase do texto do SUMÁRIO DAS ARMADAS. dos fatos que determinaram a conquista da Paraíba. Ceará. forçando a criação da Capitania da Paraíba. Fala-se que foi D. Maranhão e toda a marcha para o Norte. habitantes da parte direita do rio Paraíba ao território do Rio Grande do Norte. ele é o atual presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. baseei-me em frei Vicente do Salvador. Desde 1574 fora criado um clima de beligerância. Aquele . É também um historiador dedicado. Ninguém tem dúvida que houve essa criação e certamente deve ter sido nesta mesma data (1574). a qual não pôde comparecer hoje a esta sessão. pelo padre Serafim Leite. como quer Horácio de Almeida. embora equivocadamente. recuava ou avançava. Alguns deles ainda estão inéditos. A data da redação do SUMÁRIO DAS ARMADAS é outra incógnita muito importante porque ela cobre um período. e tem vários trabalhos sobre a História da Paraíba. desde os primórdios. Na parte referente à crítica externa. Com a palavra o consócio Guilherme d’Avila Lins. dependendo do autor pesquisado. que era a debatedora designada.Geografia e História da PB 129 A professora Waldice Porto considerou nossa conquista como tendo se realizado em duas fases: a primeira. o Forte de Cabedelo não existia na época em que o autor escreveu o SUMÁRIO DAS ARMADAS. que vai desde 1585 ou 87 até 1603. A obra de base dessa fase é o opúsculo SUMÁRIO DAS ARMADAS. Está hoje esclarecida esta data de redação diante de elementos de crítica interna e externa. Noutras palavras. Nosso debatedor é médico. e a segunda só alcançada quando foram feitas as pazes com a tribo potiguara. quem produziu um documento nesse sentido. mais particularmente dois. mesmo porque sou de convicção que muitos pontos dessa conquista precisam ser revistos. mas os eventos. defendido. por motivo justificado. porque daí dependeria a conquista do Norte: Rio Grande. Uma das frases mais lapidares que Varnhagen disse a respeito da Paraíba é exatamente aquela que já foi lembrada aqui. Hoje eu não tenho dúvida que o autor do SUMÁRIO DAS ARMADAS é o padre Jerônimo Machado. professor da Universidade Federal da Paraíba na área de Gastoenterologia. entre os quais o padre Jerônimo Machado. Parabenizo a consocia Waldice Porto pela análise. e esta crítica fui eu que pude desenvolvê-la. Sócio do nosso Instituto. Não resta dúvida. É uma tarefa bastante árdua debater esse tema. Sebastião. a qual foi mal entendida pelo padre Serafim Leite. como conseqüência do massacre de Tracunhaém – nossa Guerra de Tróia. segundo a qual o autor daquela crônica seria o padre Simão Travaços. A conquista da Paraíba teria que ser feita. cuja autoria transitou ao longo do tempo em torno de três nomes. diante dessa dúvida. Geografia e História da PB 130 documento. porque ele nunca viu o texto manuscrito do SUMÁRIO DAS ARMADAS. porque quem não morreu. Veio um vendaval e o levou às Índias de Castela. e. sem o que não se pode interpretar o fenômeno histórico. veio pela segunda vez. assim como Portugal. Gostaria de prestar uma homenagem ao meu antecessor na cadeira que ora ocupo no Instituto. as suas compras de adesão aos fidalgos que restavam de Portugal. entretanto. Embora uma eficiente equipe de professores da Universidade Federal da Paraíba tenha vasculhado. se um nobre. É só ler o texto do SUMÁRIO DAS ARMADAS. frota essa que se compunha de um galeão e três caravelas (uma das quais afundou na travessia). é na Torre do Tombo. ao meu ver. que distribuía prodigamente. não aceitando a Duquesa de Bragança e os candidatos externos. como escreveu mal Maximiano Lopes Machado. à larga mano. O cardeal rei tinha um ódio tremendo a Antônio Prior do Crato. como diz o autor do SUMÁRIO DAS ARMADAS. mas trazendo fatos pertinentes ao momento da conquista e que são objetos de investigação. comunicar ao Governo Geral do Brasil que deveriam o Governador Geral. O grande problema a respeito de Frutuoso Barbosa é que ele se dispôs a fazer a conquista. mas não é o autor do erro. Este é um erro comum que se vê nos livros de história. Consertado o navio. com um mastro quebrado aportou. só saiu de Portugal em 1581. está ainda por se descobrir. argumentando que não existe o chamado Porto da Casaria. com freqüência. Diante disto. todos os senhorios e todos os capitães da Coroa prestar juramento ao novo rei de Portugal. E o nome de Porto da Canária se justifica porque era por lá que existiam umas canafístulas. sobre se a estratégia seria mandar uma pessoa de maior qualidade. Diz-se. Ele diz textualmente: creio no ano de 79. Houve uma discussão muito grande naquela época. por sua conta. era um fato de somenos valor no cenário da política do Reino de Portugal. o professor Octacílio Nóbrega de Queiroz. Há outra questão a mencionar. de maneira persuasória. Não havia razão para haver casaria ou casario na altura do Varadouro das naus. onde. que Frutuoso Barbosa trouxe. de 1848. O que está escrito é Canária. entrou em . pois os que escaparam na tragédia de Alcácer-Kibir. Foi por isso que Frutuoso Barbosa ficou muito tempo esperando que sua frota de quatro navios fosse aprestada. Estou trazendo para este Ciclo não realmente uma reconstituição do cenário da conquista em si. 1982. pela primeira vez. no Sanhauá. conforme deixa muito claro Joaquim Veríssimo Serrão. Afirmo que o aprestamento desses navios não foi por sua conta. pelo menos no início. ficando do lado de fora. não acredito que tenha encontrado por lá este documento. A chance maior de se encontrar este documento. como está muito claro no texto do SUMÁRIO DAS ARMADAS. e só não ficou preso porque as Índias de Castela pertenciam à Espanha. As despesas iniciais foram por conta de el-Rei. ele voltou a Portugal e no ano seguinte. para dizer isto ao Governador Geral ou mandar uma pessoa de menor qualidade. publicou este texto e leu erradamente casario em vez de canária. Estima-se que a qualidade de Frutuoso Barbosa seria sua abastança em dinheiro. e não casario ou casaria. os quais precisam ser submetidos à critica histórica para se reconstituir a verdade histórica. Aquele era um momento muito crítico para a História do Brasil e de Portugal. quatro navios para a conquista da Paraíba. e que Frutuoso Barbosa tinha ainda um encargo adicional além de conquistar a Paraíba. com base em leitura paleográfica. Basta lembrar que vinha com ele o vigário dessa conquista com uma côngrua de 400 cruzados. numa análise perfeita ele diz que a frota saiu de Portugal na primavera de 1581. para a sucessão do trono. caso ele a conquistasse. É da Canária. ficou falido. pois era o momento em que estava se finando o cardeal rei naquela briga tremenda sem lança e sem bala. particularmente Felipe de Espanha. Frutuoso Barbosa nunca chegou a fazer isso por que arribou na barra do Recife e não quis entrar no porto. Também não foi no ano de 79. Frutuoso Barbosa apesar de estar com o alvará desde 1579. que trouxe uma cópia de Portugal para o Brasil e na revista ÍRIS. Felipe de Espanha. Foi ele quem levantou pela primeira vez uma certa questão. ou seja à Cuba. a conquista da Paraíba por mais importante que fosse. recentemente. o Arquivo Ultramarino. Quem viu esse texto manuscrito foi José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha. O ano de 79 é do alvará que promete o cargo de capitão da capitania a Frutuoso Barbosa. Ele também vinha com o encargo de. mas em nenhum momento o autor diz que foi às próprias custas dele. achando que seria o capitão do forte ser construído. que só foi fundado em 1589. E este homem vinha. Maria Manaya. em nome do Rei. Quando ele chegou aqui com essas cartas. Antônio Gonçalves Manaya morreu em 1597 num ataque da frota francesa com treze navios. resolveu ficar nele. Examinemos essa situação: nenhum oficial espanhol. A expressão mestre das obras del-Rei corresponde a um cargo que somente o Rei fazia a nomeação. que era muito ganancioso. na expedição exclusivamente para a construção do Forte do Varadouro. ficando como administrador do Forte de Cabedelo É o único caso que conheço na História do Brasil de alguém passar tanto tempo (37 anos) no cargo de . Não é verdade. mas não pelo Rei. Há um vazio colonial importante no ano de 1586. Descobri esse nome através de uma pista genealógica. Entretanto. no entanto. Outra questão importante é sobre o Forte do Varadouro. Ele tinha para defender o Forte de Cabedelo 20 homens e cinco canhões. que recebeu o título Como ela não podia ser capitão. sendo indicado como capitão do Forte de Cabedelo. um aventureiro. do Cabo de Santo Agostinho até Porto Calvo. no entanto foi registrado apenas como pedreiro. Cristóvão Lins foi senhor de sete engenhos.Geografia e História da PB 131 solo paraibano para a sua conquista. que é chamado por uma série de autores como pedreiro ou um mestre-de-obras: Manoel Fernandes. iria destituir. e. salvando-se com a ajuda do reforço do contingente que veio por terra. Diz-se que aquele forte é obra de um engenheiro chamado Cristóvão Lins. Esse assunto eu esclareço devidamente numa das notas do meu livro ainda inédito GRAVETOS DE HISTÓRIA. O que é mais grave é que a única vez que a palavra planta do forte é citada no SUMÁRIO DAS ARMADAS o nome de Cristóvão Lins não está citado. quando morreu o capitão do forte. D. caindo nas graças de Feliciano Coelho de Carvalho. ou seja Forte Velho (São Felipe e São Tiago). como já disse. não se identificava. E ficou. Quem chamou Cristóvão Lins de engenheiro foi Cândido Mendes de Almeida. com a perda de um filho. Quem fez o traçado do Forte foi o mestre das obras del-Rei Manoel Fernandes. Ele veio para a Paraíba na época em que Feliciano estava fazendo guerra aos potiguaras. João Tavares estava ali posto por Martim Leitão. um capitão-mor e governador de um capitania provido pelo Rei. o governo português concedeu o cargo de capitão de jure e herdade (cargo hereditário) à filha dele. e como já havia um construído. seu marido João de Matos Cardoso assumiu o cargo. nessa ocasião. chegou tarde porque o Forte do Varadouro já estava construído. e aqui ele ganhou um dinheirinho. Eu consegui levantar esse nome: chama-se Antônio Gonçalves Manaya. conseguiu repelir o ataque mas morreu. Morales. e não porque fosse construtor de coisa nenhuma. expulsando João Tavares. geralmente dada a uma pessoa nobre especialista em construção civil e militar. Aí teve uma grande decepção. sob sua inteira responsabilidade. Em nenhum documento histórico está escrito que foi Cristóvão Lins que fez o traçado do Forte do Varadouro ou do Forte de Cabedelo. por conta própria e risco. a chamada Guerra Justa. O ano de 1586 foi terrível para a colonização da Paraíba porque houve a chegada de Francisco Morales que vinha com carta de el-Rei no sentido de ele ocupar a praça forte que haveria de se construir no lugar da que havia sido queimada. Como prova de reconhecimento. Este homem vinha na expedição especialmente para a construção do Forte do Varadouro. cujo nome durante muito tempo ficou desconhecido. por isso que era denominado engenheiro. Isso também aconteceu no Forte de Cabedelo. e não em 1585 como dizem por aí. 1585 foi o Forte do Varadouro. com o que hoje chamamos mestre-de-obras ou pedreiro. Aliás a ordem para a construção desse Forte deveria ser em Cabedelo. se as cartas tivessem chegado a tempo a cidade começaria lá. é somente o “pedreiro”. pois. Antônio Gonçalves Manaya era um preador de índios. que é o marco inicial e definitivo da nossa conquista. a esse respeito existe uma figura citada o tempo todo. em 1597. plantava mandioca em Ipojuca. que era capitão interino no Forte do Varadouro. dando-lhe uma conotação brasileira de dono de engenho. onde pescava para abastecer a pequena Felipéia de Nossa Senhora das Neves. que foi o primeiro ouvidor da capitania da Paraíba (e só se sabe disso através das denunciações do Santo Ofício).Geografia e História da PB 132 capitão de um forte. no estilo português da época. Ele alinhou cinco ou seis enganos históricos. Há vários aspectos desses tempos que precisam ser revistos. Reclamou ele não só a falta de interesse em aprofundar as pesquisas. quase dois séculos mais tarde. que era o seu grande sonho. Isso não significa obrigatoriamente a construção do tal forte. . pequeno. Era isto o que eu tinha a dizer. se foi ele que a povoou. Entre os seus primeiros estão Tibiri de Cima e Engenho das Barreiras. Mas o primeiro engenho que surgiu na margem esquerda só foi possível por causa da visão de Frutuoso Barbosa em limpar a área da margem esquerda. que estava sendo ocupada e colonizada por Manoel de Azevedo. mas meu tempo está esgotado. Terminado este forte. Para finalizar. Frutuoso tem sido tachado por alguns como um mal administrador. ··· A fala do Presidente: Na sessão de hoje tivemos focalizado um o tema A CONQUISTA DA PARAÍBA. Salientarei agora alguns aspectos de ganho da terra no processo da conquista. Ele desativou previamente a Ilha da Restinga. quero dizer que nunca houve uma tentativa de colonização da Paraíba em 1578/1579 na Ilha da Restinga. Para isso ele teve que construir um forte. pedindo a Ilha da Restinga para oferecer como dote de uma ou duas filhas. muitos dos quais continuam se perpetuando através da nossa historiografia. A margem esquerda do rio Paraíba era a grande meta de Frutuoso Barbosa. em 1700 e tantos. tendo ele povoado a Ilha da Restinga. primeiro porque seria uma falta de visão tremenda alguém tentar fazer uma colonização numa ilha que tem uma grande parte de mangue. é Frei Manoel da Ilha. O historiador Guilherme d’Avila Lins demorou-se em considerações críticas sobre alguns equívocos dos nossos historiadores a respeito de datas e fatos da sofrida e demorada conquista da nossa província. que por conta disto perdeu a vida. Ora. para poder explorar aquele lado com canaviais e com engenhos. Não creio que ela tenha sido mal administrador. Até então havia pouquíssimos engenhos à margem direita do rio Paraíba. chamado Forte de Santa Margarida. Quem colonizou a Ilha da Restinga foi Manoel de Azevedo. que cita o texto de uma provisão passada por Frutuoso Barbosa aos frades franciscanos. que foi quem ajudou na construção daquele forte. que vivia infestada de potiguaras. Os dois primeiros foram Engenho Tibiri e Santo André. como é que houve uma povoação prévia? Aí fica claro um erro de interpretação de frei Jaboatão. Nesta ocasião ele já era falecido. tendo morrido na Ilha da Restinga (por causa daquele desartilhamento) nas mãos dos potiguaras. em segundo lugar. Quem povoou a Ilha da Restinga foi Manoel de Azevedo e isto está muito claro na petição que sua viúva fez em 1596 a Feliciano Coelho de Carvalho. Quem fala sobre esse forte. Ele previu a necessidade de expugnar a margem esquerda do rio Paraíba. em 1578/79 nunca houve uma fortificação sequer ali. como a dar uma melhor interpretação aos fatos ocorridos durante nossa conquista. Não passou mais tempo porque os holandeses entraram na Paraíba em 1634. dirigindo-se ao superior dos franciscanos da época. que ficou mais conhecido como Forte de Inhobi. onde a expositora Waldice Porto e o debatedor Guilherme d’Avila Lins nos trouxeram algumas novidades esquecidas sobre a conquista e a fundação da nossa cidade. Era um forte de madeira. em 1589. sobre o ponto de vista documental. nome devido por Manoel de Azevedo ter construído uma camboa ali. frei Antônio do Campo Maior. A Ilha da Restinga teve a princípio o nome de Ilha da Camboa. frei Jaboatão leu um documento fidedigno dos franciscanos do tempo do capitão João Tavares falando da Ilha da Restinga. por falta de empenho dos estudiosos em aprofundarem suas pesquisas em fontes primárias. invocando os serviços prestados por seu marido à Coroa de Portugal. fazer o Forte do Cabedelo. diminuta e sem água. O que aconteceu foi. Frutuoso foi para a Ponta do Cabedelo. ainda existentes no Cartório “Coronel João Queiroga”. ainda. Apesar dele ser formado em Odontologia. VIAGEM ATRAVÉS DA PROVÍNCIA DA PARAÍBA. pelo menos no que tange ao problema da conquista e colonização do interior da Paraíba. OS PORDEUS DE SÃO JOÃO DO RIO DO PEIXE. inclusive aos livros de notas e do judicial. ou mesmo pela falta de um serviço de catalogação através do qual pudéssemos estudar. com o lançamento do livro O VELHO ARRAIAL DE PIRANHAS (POMBAL). não podíamos absolutamente deixar. tema sobre o qual fomos convidados a expor neste Ciclo de Debates. A pessoa indicada para tratar do tema é. nos estudos e pesquisas históricas. Temos certeza que sua exposição de hoje nos trará novidades e a elucidação de alguns pontos controvertidos da história da conquista do sertão paraibano. com importantes trabalhos publicados) Aos 21 de julho de 1962. E o fizemos. àquela época. Para compor a mesa convido o consócio historiador Wilson Nóbrega Seixas. que. A CONQUISTA DO SERTÃO A história dos primitivos sertanistas baianos que devassaram e ocuparam os ínvios sertões da Paraíba não está ainda convenientemente estudada. Entre seus trabalhos importantes vale citar O VELHO ARRAIAL DE PIRANHAS. da velha e tradicional comarca pombalense. presidente da Academia Paraibana de Letras. o primeiro núcleo populacional que se formou nos Sertões da Paraíba. promove a Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. não possui ainda hoje – forçoso é confessar – um trabalho completo no tocante às entradas que. Principiante. recebeu um título de Menção Honrosa pelos relevantes serviços prestados à cultura paraibana e nós do Instituto Histórico o consideramos o nosso mais importante pesquisador. na oportunidade em que se comemorava a passagem do centenário da fundação da cidade de Pombal. não podíamos apresentar um trabalho melhor e mais aprofundado sobre as origens da comuna sertaneja. acadêmico Joacil de Britto Pereira. SANTA CASA DE MISERICÓRDIA. sócio do IHGP do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. recorremos igualmente a outras fontes primárias. Com a palavra o confrade Wilson Seixas. no qual procuramos focalizar os principais acontecimentos da história daquele legendário município e. nosso expositor de hoje. tivemos naturalmente que nos louvar nos autores que anteriormente trataram do assunto. Expositor: WILSON NÓBREGA SEIXAS (Historiador. a qual dou por encerrada. 5º Tema A CONQUISTA DO SERTÃO PARAIBANO Expositor: Wilson Nóbrega Seixas A fala do Presidente: Estamos retornando para reiniciar nosso Ciclo de Debates. considero bastante valiosa a contribuição dos participantes desta sessão. discutir e decidir a respeito de alguns pontos duvidosos ou desconhecidos para o estudo da historiografia regional. sem dúvida. agradecendo a presença de todos. Para escrever aquele livro. Talvez pela escassez de fontes informativas. presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. nos quais colhemos os elementos necessários à elaboração do trabalho em apreço. em tão boa hora. nosso consócio Wilson Seixas. em comemoração aos 500 anos do Descobrimento do Brasil.Geografia e História da PB 133 Assim. Além disto. historiador Guilherme d’Avila Lins. em sua expansão . tudo isso elaborado em cima de fontes primaríssimas. aliás. na condição de filho nascido e criado naquele tradicional burgo sertanejo. dedicou-se à pesquisa histórica. sem qualquer vaidade ou veleidade pessoal. de levar a minha modesta e espontânea contribuição ao transcurso de tão importante e significativo evento histórico. É membro do Instituto de Genealogia e Heráldica. e hoje apreciaremos o tema A CONQUISTA DO SERTÃO PARAIBANO. não obstante os trabalhos de Maximiano Lopes Machado. desde a Capital até o extremo oeste da Capitania da Paraíba. até onde os moradores a quisessem povoar”. aliás. Espírito aventuroso. em sua HISTÓRIA DA PROVÍNCIA DA PARAÍBA. Com a restauração do domínio português. dando os primeiros passos para o povoamento da região do Cariri Velho. para o ocidente. João de Lyra Tavares. precisam ter a sua História. Roque da Costa Barreto. Governava a Capitania da Paraíba Alexandre de Sousa Azevedo. A carta-patente foi assinada pelo então governador geral do Brasil. Azevedo convidou Antônio de Oliveira Ledo para fazer uma entrada no sertão. embora realmente escassos durante o período que medeia entre o final da guerra holandesa (1654) e a Guerra dos Mascates (1710). começou pelo litoral. saiu marginando o Paraíba. antes e depois das guerras holandesas. Irineu Jóffily. seguindo o curso do Moxotó. foi agraciado com o posto de capitão de infantaria da Ordenança do sertão da Paraíba. alargaram e fixaram as fronteiras de nosso Estado. desceu a Borborema. Fê-la o sertanista Antônio de Oliveira Ledo e. As entradas da Paraíba. Segundo Elias Herckmans. entretanto. com documentos próprios. estacionou no lugar onde se expande a cidade de Patos. Ficou onde havíamos parado por força das circunstâncias. região então considerada a mais afastada da zona litorânea. que.Geografia e História da PB 134 colonizadora. Ainda de acordo com o autor. o qual. A agricultura. procedente da Bahia. E a figura de sertanista que se impõe como o primeiro a pisar o semi-árido paraibano foi Antônio de Oliveira Ledo. Referindo-se ao assunto. estendia-se pelo sertão adentro. a ocupação do território paraibano. Ali fundou uma aldeia que recebeu este nome e se estabeleceu. Ali. a 6 de fevereiro de 1682. com efeito. é que. Maximiano Lopes Machado. atravessou o São Francisco e. que tomou posse em 1678. Ao inteirar-se das atividades colonizadoras do intrépido sertanista baiano. entrou na Paraíba através do rio Sucuru e prosseguiu pelo rio Paraíba até atingir a região do Boqueirão. não são todavia tão difíceis de encontrar quanto parece ao investigador interessado na descoberta de novas documentações. na verdade. na época do domínio holandês. iniciou-se no litoral e chegou apenas a Cupaoba. não se animando a dar um passo mais para o Interior. com vistas ao preenchimento de tais lacunas no conhecimento da nossa História colonial. Na verdade. estreito e não muito extenso. Informa ainda Elpídio de Almeida: . às margens dos quais se levantaram diversos engenhos. Elpídio de Almeida e tantos outros. Irineu Ferreira Pinto. ninguém duvida. “os limites da Capitania. Uma História com os requisitos indispensáveis de autenticidade. assim escreveu: A conquista holandesa satisfez-se com o que os portugueses tinham antes explorado. Celso Mariz. Ocupado o vale do Paraíba. Já dizia o eminente historiador cearense Capistrano de Abreu que “este fato não foi ainda levado na devida consideração em nossa História e. foi essa a primeira entrada empreendida na Paraíba por inspiração governamental. um dos principais afluentes desse rio da unidade nacional. em sua DESCRIÇÃO GERAL DA CAPITANIA DA PARAÍBA. por isso. passou-se para o Taperoá. era natural que a cultura da cana-de-açúcar se desenvolvesse através de pequenos rios. se estabeleceram alguns colonos. na segunda metade do século XVII. em missão de reconhecimento. ricos e abastados. pela simples razão de que foi nele que principiaram a conquista e o povoamento da Capitania da Paraíba. Coriolano de Medeiros. é um dos mais interessantes de toda ela”. Horácio de Almeida. vazada nos moldes de uma segura orientação. começou a penetração para o interior paraibano. Afirma Elpídio de Almeida em sua HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE que não se deixou Antônio de Oliveira Ledo estagnar-se na aldeia que acabara de fundar. e pendenciando com ele largo tempo lhe mataram sessenta e tantos homens. No ano da nomeação. com que o julgo digno de toda honra e mercê. Continua ainda Elpídio de Almeida: Cerca de dez anos permaneceu Antônio de Oliveira Ledo no posto de capitão das fronteiras de Piranhas e Piancó (sic). sacerdote do hábito de São Pedro. e fechadas caatingas. e destruindo muitas fazendas de gados vacuns e cavalares. Numa das pelejas ia perdendo a vida.Geografia e História da PB 135 Não há certeza quanto ao ano em que faleceu Antônio de Oliveira Ledo. e mais criações. onde. 20 de janeiro de 710 anos. Como se vê. continuam a merecer todo o nosso respeito e consideração. “que o achou metido numa cerca. em todos estes sertões da Paraíba. documento este existente no Arquivo Histórico e Ultramarino de Lisboa. e dos nossos também houve bastantes feridos por cuja causa se resolveram os cabos a voltar para o povoado. passei por mim assinada. incorporando-se com meu irmão Constantino de Oliveira Ledo. pelos relevantes serviços que prestaram à Historiografia paraibana. irrompendo a sublevação na Capitania do Rio Grande do Norte. ao capitão-mor André Pereira de Moura. Passou ela à História como Guerra dos Bárbaros ou Confederação dos Cariris. queimando muitas casas. as afirmativas daqueles dois ilustres historiadores paraibanos. . de que uso. e com o selo de minhas armas. que então ocupava o posto de capitão-mor destes sertões. Teodósio de Oliveira Ledo. Em 1692. Assinou a patente o governador geral do Brasil. assistindo aos enfermos. nesse ano. já haviam os tapuias se revoltado contra os invasores de seus domínios. certidão datada de 20 de janeiro de 1710 e assinada pelo próprio capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo. e de cuja cópia dispomos. e para atalhar e castigar a Capitania que então a governava. ficando senhor de todas as fazendas. que. atacado por uma infinidade de tapuias. levantando-se o gentio em fevereiro de 87 (1687). ao cabo de alguns dias de jornada. com muitos feridos e algumas presas. incorporados que foram. e pendenciando com ele largo tempo nos matou onze homens e feriu muitos. matando muita gente. de uma vez por todas. onde na volta. e nele provido Constantino de Oliveira Ledo. aparece investido no dito posto o seu sobrinho Constantino de Oliveira Ledo. esforçando a uns com valor e animando a outros com a boa doutrina. faça todo o referido na verdade e o juro aos Santos Evangelhos e. o que tudo fez de seu bom zelo sem ser obrigado de pessoa alguma. atalhando a muitas discórdias. Salvou-o do perigo o mestre de campo Domingos Jorge Velho. Cariris e Piancós dos sertões da Capitania da Paraíba. Antônio da Silva Barbosa. foi criado novo posto. nos assaltou o gentio com muito grande poder. o de capitão-mor das fronteiras das Piranhas. e nos do Rio Grande do Norte e Ceará. que Sua Real Majestade fosse servido fazer-lhe. Sertão dos Cariris. matando muitos deles”. com um troço de soldados a este sertão. No entanto. nem de interesse algum que da Real Fazenda tivesse. se puseram a seguir uma grande trilha. Sabemos que Constantino de Oliveira Ledo teve destacada e decisiva atuação na luta contra os índios tapuias de todos os sertões da Paraíba. e no fim de quatro dias lhe deram alcance entre umas grandes serras. mostra taxativamente o seguinte: Certifico que. havendo nos seus também bastante estrago em toda esta jornada que será de cento e tantas léguas. irmão de Constantino. Matias da Cunha. e aos valentes com os sacramentos necessários. no entanto. olhando o estrago que nas fazendas tinha feito o gentio. pois. É de supor-se tenha sido em 1688. marcharam com trezentos homens ao rio das Piranhas. acompanhou esta tropa o licenciado Francisco Ferreira. este importantíssimo documento coevo põe por terra. por me ser pedida a presente. de mais alta categoria. aliás. transcreveu-a Irineu Ferreira Pinto em seu livro DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAÍBA. a que tivemos acesso graças à gentileza e prestimosidade do ilustre professor José Pedro Nicodemos.. fizerão nelles o gentio Tapuya (. Com sua morte. a quem viria substituir em 1694. “(. que ainda remanesciam no hinterland paraibano.Geografia e História da PB 136 Constantino de Oliveira Ledo faleceu em começos de 1694. escrita de próprio punho. em Lisboa. sem dúvida alguma. Teodósio. na qual o governador da Capitania da Paraíba.. conforme carta-patente de 3 de novembro daquele ano. Veio nas últimas décadas do século XVII na companhia de Custódio de Oliveira Ledo. A carta-patente pela qual fora nomeado para o dito posto estava expressa nos seguintes termos: . TEODÓSIO DE OLIVEIRA LEDO Ao nosso ver. Aquela carta a que se refere Irineu Jóffily. informou a Sua Majestade ter mandado ao sertão uma entrada. estabelecer os seus currais de gado. para fazer face às despesas decorrentes com os gastos aplicados nos mais diversos pontos do território da Capitania da Paraíba. não chegou sozinho aos sertões da Paraíba. assinada pelo governador geral do Brasil. e na de Constantino de Oliveira Ledo. visando ao aumento dos dízimos à Fazenda Real. que o fazia em consideração a seus merecimentos e qualidades militares. A pesquisa que realizamos anos atrás. que escapou naturalmente na cópia de que se serviu o consagrado historiador campinense. então chefe do Departamento de História daquela conceituada escola do Ensino Superior da Paraíba. também. encontramos o registro de uma carta do capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo. que não era nem mais nem menos do que a que escrevera Teodósio de Oliveira Ledo. ligando a nossa capital ao extremo oeste do nosso Estado... Uma análise interpretativa nos permite esclarecer algumas dúvidas que ainda hoje pairam a respeito das nossas entradas a que seguiu a permanência do intrépido sertanista. De quantos autores temos lido sobre o episódio da conquista e desbravamento do território sertanejo paraibano. de cujos feitos e personalidade trataremos mais adiante. nas NOTAS SOBRE A PARAÍBA. e que não se conformavam em ver suas terras invadidas e ocupadas por elementos estranhos aos seus costumes e padrões de vida. Carta. o descobridor de nossas terras. apenas em Irineu Jóffily. Coube o comando dessa entrada ao capitãomor Teodósio de Oliveira Ledo. Nesses documentos. encontramos o registro de uma carta enviada ao rei de Portugal e datada de 14 de maio de 1699. foi Teodósio de Oliveira Ledo o pioneiro do entradismo paraibano e. procedente da Bahia ou das margens do São Francisco. Manuel Soares de Albergaria. em qualquer emergência. dom João de Lencastre. que também procurava. que servisse de segurança e tranqüilidade aos moradores. não foi o posto de capitão-mor das fronteiras das Piranhas. sem fazer qualquer comentário a respeito. a quem o mesmo governador incumbiu inclusive de fundar no sertão das Piranhas um arraial.)”. o primeiro a estabelecer um elo de comunicação territorial. nas longínquas paragens. Teodósio relatava a sua viagem ao sertão da Paraíba e a vitória (e o bom sucesso) obtida na campanha contra os índios tapuias. Cariris e Piancó modificado ou abolido. parecendo que o referido autor já tivesse conhecimento dessa carta a que acrescentou outro documento. a fim de promover o povoamento dos sertões daquele distrito. Teodósio de Oliveira Ledo. Cariris e Piancós.) despovoados das invasoens e de estrago que os annos passados. e datada de 06 de agosto de 1698. Nessa carta. nos permitiu proceder à leitura paleográfica de uma infinidade de documentos e cópias xerográficas extraídas dos manuscritos do Arquivo Histórico Ultramarino. seu pai. nos arquivos do Departamento de História da antiga Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Paraíba. Manuel Soares de Albergaria. seu irmão. além da experiência que tinha na guerra e nos sertões. Passou a exercê-lo um irmão de Constantino. no posto de capitão-mor das Piranhas. e dirigida ao governador da Capitania da Paraíba. concorreram todas essas qualidades e suposições na de Teodósio de Oliveira Ledo.. ao mesmo tempo. com todo o seu mulherio. registrar na Câmara a patente de capitão-mor das Piranhas. os quais desejavam fazer as pazes. e convém ao serviço de Sua Majestade a conservação dos moradores de todo aquele Sertão e seus distritos provê-lo em pessoas de grande valor. governador geral do Brasil. em 1697. principalmente na região do Piancó. em companhia de todo o seu gentio e mais os índios com os quais acabava de concertar a paz. Isto. quando apenas inaugurava seu governo. como vimos. Podemos acrescentar que o governador Manuel Soares de Albergaria. debaixo de armas. voltou à cidade da Paraíba a fim de entregar a esse mesmo governador as cartas de dom João de Lencastre. Manuel Soares de Albergaria.. Após três dias de sua chegada. encontravam-se 30 ou 40 tapuias bravos. com a obrigação de que deixassem conduzir suas mulheres para o arraial. chegaram esses índios. os quais lhe disseram. Feito isto. irmão do mesmo Constantino de Oliveira Ledo (. Saindo da Bahia. Teodósio de Oliveira Ledo dirigiu-se à cidade da Paraíba a fim de se apresentar ao governador da Capitania e. consistindo em 40 índios cariris. pedindo-lhe também socorro contra outros inimigos. daí a 23 dias. Enfrentando muitas dificuldades.) hei por bem de o eleger e nomear capitão-mor do dito sertão e distritos das Piranhas. apareceulhe Teodósio de Oliveira Ledo (no princípio de dezembro daquele mesmo ano de 1697) e o informava sobre a situação precária do sertão da Paraíba. o governador da Capitania lhe forneceu 4 arrobas de pólvora e balas. Além disto. no sentido de que. naquele mesmo ano de 1694. a pé e a cavalo. De acordo com Maximiano Lopes Machado. o entradista Teodósio de Oliveira Ledo e seus comandados partiram da Capital rumo ao interior “nos primeiros dias de janeiro do ano de 1698”. indo com ele também um religioso de Santo Antônio. Assim. a três léguas do arraial. Teodósio foi aos sertões e regressou à Capital várias vezes. 16 índios mansos retirados das aldeias e 10 soldados. deu-lhe razoavelmente tudo aquilo de que necessitava para o empreendimento. . Teodósio aceitou fazer as pazes com esses indígenas bravios. “E sendo preciso garanti-los e fomentar a indústria pastoril já tão desenvolvida. E. lembrando-lhe a necessidade da fundação de um arraial em Piranhas. Conforme divulgou o jornal O NORTE. 40 alqueires de farinha e carnes para a viagem. jornalista e editor Evandro Nóbrega.Geografia e História da PB 137 Porquanto pelo falecimento de Constantino de Oliveira (Ledo) ficou vago o posto de capitão-mor das fronteiras das Piranhas. através de entrevista por nós concedida ao ilustre pesquisador. lhes foi concedido pelo guerreiro branco. a fim de apresentar e registrar esses documentos. prática militar e experiência da guerra dos bárbaros e sertões. ao arraial. ele chegou ao arraial de Pau Ferrado nos primeiros de abril daquele mesmo ano. seu irmão. franquesas. Cariris e Piancós. Cariris e Piancós. de noite e de dia. Pelo que ordeno ao capitão-mor da Capitania da Paraíba o tenha assim entendido e lhe faça dar o juramento na Câmara da cidade. Cariris e Piancós. em sua edição de 1º de outubro de 1997. atendendo ao pedido de Teodósio. Depois de visitar o governador Manuel Nunes Leitão. encarregado da conversão do gentio. pedindo-lhe então providências contra a devastação que faziam os índios tapuias nas propriedades e gados dos moradores. da Capital até chegar ao arraial de Pau Ferrado. sendo que. de que o hei por metido de posse e com ele haverá as honras. e costumam ter todos os capitães-mores fronteiros aos bárbaros. requeria em nome deles que os auxiliasse com alguma gente de guerra e munições. em sua HISTÓRIA DA PROVÍNCIA DA PARAÍBA. graças. veio-lhe um aviso de seus índios. alcançara essa aldeia de índios Coremas. depois de muitas horas de viagem. Portanto. que queriam ser leais e amigos del-rei. após receber sua carta-patente. através de línguas. privilégios e jurisdição que tinha o dito Constantino de Oliveira. que o servisse de ponto de apoio nos moradores em qualquer emergência”. em 1695. Teodósio marchou para novos combates. havia decorrido cerca de 90 dias. na qual contava o bom sucesso que ele tivera na guerra contra os tapuias que vinham hostilizando os moradores dos sertões das Piranhas e que em nenhuma parte se davam seguros de seus ataques e perseguições. aqueles que iam adiante para fazer o reconhecimento do terreno) em como o inimigo tinha voltado do rumo em que ia a outro mais vizinho a mim. e ao romper do dia dei sobre eles com toda disposição possível. somente tomou conhecimento através da carta que enviou ao rei de Portugal o governador Albergaria. me vieram novas dos descobridores (os sapadores). O Conselho Ultramarino. esta de presente referida e as pazes que aqui se confirmaram. e ela acabada se acharem. pondo-me em seu seguimento. e se me feriram seis homens. após deixar a capital. vencem V.Geografia e História da PB 138 Feitas as pazes com os Curemas. O despacho do Conselho inclusive censurou acerbamente o procedimento de Teodósio por haver mandado executar os indígenas. e muita quantidade de feridos e. por serem incapazes. acalmada as coisas. sendo o despacho do rei no dia 11 de setembro do mesmo ano. contra os indígenas inimigos. com três dias de viagem. S. pode-se dizer o seguinte. Pinhancó (Piancó) de agosto 6 de 698 anos. demorou cerca de nove horas. Ao cabo de 18 dias. Humilde soldado de V. e das presas mandei matar muitas. nossos inimigos”. Esses e outros sucessos foram relatados por Teodósio ao governador Albergaria. S. em data de 14 de maio de 1699. pela necessidade em que vinha apanhando. Mas. pelos inimizar com as mais nações. de onde se havia retirado. 32 mortos e 72 presas. O Conselho Ultramarino. declarou que está Sua Majestade “muito grato ao bom sucesso que teve na campanha contra os índios. Juntou a esta a carta que recebera do capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo. Piancó). e só digo que. sob a presidência do Conde Alvor. e. chegou ele a uma planta do inimigo. órgão político e administrativo da Coroa portuguesa. mandando descobrir coisa de légua e meia. não perigou nenhum. na época. da nossa parte. através de carta datada de 6 de agosto de 1698. estando alojados. para novas investidas. E aqui fico nesta campanha para o que V. E a 27 de julho cheguei a este arraial (Pinhancó. Dali a seis dias. me ordenar. da parte do inimigo. Ainda sobre tudo isto. me vieram novas dos descobridores. armas e tudo o mais. deixei ficar as munições com dez homens de sua guarda. vizinhando mais a eles. mais que aos brancos. Não se limitara o governador Albergaria apenas ao envio de sua carta a el-rei. A vitória. isto é. durando a peleja até as 9 horas do dia. Marchei com todo cuidado e o outro dia pelas oito horas da tarde. S. entreguei os quintos de El-Rei meu Senhor e ele fará a entrega a V. em que lhe feri alguns homens. isto é. em uma quinta-feira. deu parecer. me pus em marcha e cheguei pelas oito horas da noite ao dito rancho e dali. em 3 de setembro de 1699. o incansável sertanista Teodósio seguiu com seu gentio e alimárias. seus descobridores toparam-se com a indiada raivosa e Teodósio deu sobre eles com todo vigor. estranhando entretanto o modo pelo qual o capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo tratou “os infelizes tapuias que tomou na . vindo-me retirando. S. mandou executar alguns dos 72 prisioneiros indígenas. S. na mesma hora. Portanto. ao depois de toda a batalha. muitos dias e léguas depois de Teodósio ter alcançado o interior. a quem Deus guarde. não foi possível por vir falto de mantimentos e somente lhe dei uma avançada. como disse. duas batalhas. tendo-me ele o encontro com valor. tinha chegado a um rancho donde se havia levantado o inimigo aquela manhã. porém quis Deus que desse V. Teodósio de Oliveira. me vieram seguindo os inimigos e andando o meu gentio à caça. Ao ajudante Manoel da Câmara. os fora do troféu me mataram quatro homens que quis me por em seu seguimento. e hoje não lhe fica lugar buscarem por amigos. tão renhido era o combate. por considerá-los “inválidos”. o quanto de alcançar a vitória. endereçado ao rei. em o dia de Santa Justa e Rufina. estando alojado no rio chamado Apodi. E disto tudo o Conselho Ultramarino de Lisboa. com águas de chuvas. secam tanto. Não se justifica a afirmativa do ilustre historiador Coriolano de Medeiros. abundantes de água pelo inverno. finalmente. Com relação ao novo arraial a ser fundado. atribuindo ao coronel Manuel de Araújo Carvalho a fundação do atual município do Piancó. no Rio Grande do Norte. da parte do poente. para correr. no Ceará. extremas e compreensão: Esta povoação se divide. bem como do coronel Araújo. e. A jurisdição desta povoação abrangia todo o sertão das Piranhas. extrema o distrito desta mesma Povoação. mas o antigo arraial cujo nome era Piancó. era o Conselho de parecer que se deveria aprovar a iniciativa. e correndo. que só conservam poços em alguns lugares. até a vila do Icó e o sertão do Jaguaribe. . abaixo da povoação. vão todos desaguar no rio acima dito. à beira do rio Piranhas. que depois se chamou povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Piancó e. Entendia o Conselho. capitania da cidade da Paraíba. cuja Capitania se divide do distrito dessa povoação em uma fazenda de gados. com pouca diferença. e em outros apenas águas de cacimbas. através da Carta Régia de 16 de dezembro de 1699. porque os julgara incapazes do serviço de Sua Majestade. a fim de que os sertões se tornassem a povoar de moradores. Nenhum desses riachos tem nascimento porque só se fertilizam. como se vê do documento que abaixo transcrevemos. na verdade. a saber: rio do Peixe. não tripudiando a matar muitos deles a sangue frio”. com o sertão do Jaguaribe e vila do Icó. distrito do Rio Grande. que são os principais. Espinharas. e corre buscando quase o nascente. nessa mesma ribeira. ficando-lhe no meio. No tempo da ocupação e povoamento do semi-árido paraibano. o qual também nasce na serra da Borborema. desde o sertão do Pajeú. que tem seu nascimento na mesma serra da Borborema. Outra coisa que devemos ressaltar nesse documento histórico assinado por Teodósio de Oliveira Ledo é que se pode comprovar definitivamente aquilo de que já se desconfiava há muito: o Piancó histórico não corresponde nem de longe ao município ou cidade de Piancó atual. de uma a outra extrema. extraído do acervo do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. pelo verão. por detrás da qual. com a capitania de Pernambuco. bem como seus distritos. não foi o município que tem hoje este nome o teatro das façanhas do capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo. Piranhas. em distância de trinta léguas. ainda depois. não se refere apenas ao nome do rio. da qual a esta Povoação distam vinte e cinco léguas. É também o nome oficial da terra. cidade de Pombal. Acrescentava ainda o Conselho Ultramarino que o mau exemplo que se dava na guerra podia comprometer o problema da paz para o qual estava empenhado el-rei. pois se entende que se escolheria o que tivesse por mais conveniente”. Sabugi. corre o rio chamado Piancó. vila e cidade de Pombal. chamada Jucurutu. e em distância de meia légua. e faz barra no mar. O Piancó foi. e nenhum destes é navegável. se une com o rio Piranhas. na Paraíba. com o sertão do Cariri. que outro deveria ser o tratamento dispensado aos tapuias. donde lhe chama Açu. e tem de distância.Geografia e História da PB 139 guerra. Era muito vasto o território da antiga povoação do Piancó. no sentido de desenvolver a indústria pastoril e a lavoura. buscando o sul. até o vale do Jucurutu. pouco mais ou menos cinqüenta léguas. Piancó era toda a área que logo depois seria polarizada pela povoação que tinha o mesmo nome e que mais tarde viria a ser a vila e. até o sertão do Pajeú. cujos limites se estendiam desde o sertão do Cariri Velho. “o que nesta parte assentou. pelo rio Piancó acima. e da mesma Povoação. em Pernambuco. a primeira localidade batizada oficialmente com a categoria de povoação. outrossim. como se vê. o qual traz a divisão e limites da antiga povoação do Piancó. da parte do poente. Na compreensão deste distrito. cidade do Natal. O topônimo Piancó. de sorte que o procedimento do capitão-mor Teodósio era digno de uma exemplar castigo. Seridó e Riacho dos Porcos. pela parte do nascente. porque. cuja divisão lhe faz a serra chamada Borborema. correm vários riachos. a dita Povoação de que se trata. por onde. em carta dirigida a Sua Majestade. Deste casal nasceram dois filhos. margeando o rio São Francisco. em 1710. João da Maia da Gama. com jurisdição civil e criminal em todo o território da povoação. mas estava economicamente acabado. o de 1719. imprimindo outro roteiro. o coronel Manuel de Araújo Carvalho. e entre muitos sítios se acha o das Piranhas.)”.. daí se comunicando com a bacia do Piranhas. durante anos. enquanto determinava a política de desbravamento e penetração do progresso “ao coração da terra”. antes de uma entrada genuinamente paraibana. fazendas de gado. Novos colonos apareceram. Manuel de Araújo de Carvalho Gondim. missionários e índios de Juazeiro e Pontal. Por ali é que se abria entrada para a descida do gado dos sertões piauienses para a Bahia. sentia-se “um povo e um povo de heróis”. O coronel Araújo era casado com a paraibana Ana da Fonseca Gondim. transpondo o rio São Francisco. informava que os sertões desta Capitania “achavão-se muito povoados de gente. daí se comunicando com as Piranhas de Cima e Rio do Peixe. O Cartório do 1º Ofício da Comarca de Pombal não possui o primeiro Livro de Notas do Julgado de Piancó (1711). depois de concluída sua administração à frente do Julgado de Piancó. capela e capelão. atravessou a chapada do Araripe. na pitoresca comparação de frei Vicente de Salvador. formou-se em cânones pela Universidade de Coimbra. Partindo dos sertões do Piauí. O então governador da Paraíba. partindo do litoral e percorrendo a região que vai desde a foz do Paraíba aos contrafortes de Santa Cantarina e Bongá (no extremo oeste do nosso território). que se comunicavam com aqueles dois Estados. Foi a fazenda de gado que realmente fixou o homem no sertão da Paraíba. foi nomeado deão da catedral de Olinda. Pahó e Careris. E. um dos quais.Geografia e História da PB 140 Crescia consideravelmente a povoação do Piancó. e. pegas e icós pequenos já estavam devassados pela famosa Casa da Torre. em 1654. empresa que contou. Certo é que. noutro trabalho. quando o juiz ordinário não era mais o coronel Araújo. sessenta e oitenta légoas desta praça (. quando o coronel Francisco Dias d’Ávila. panatis. Pedia o governador então a el-rei que fossem criados dois Julgados nos sertões da Paraíba. denominadas Olho d’Água e Brejo. que. na Paraíba. quando regressou ao Brasil. deixando de arranhar as praias feito caranguejo. a partir de 1674. onde possuía duas propriedades. seguiu a direção norte até chegar ao distrito de Jacobina. sendo por isto necessária a instituição de um Julgado. que lhe administra os sacramentos. à terra conquistada afluía grande porção de gente desocupada e desordeira. além da Casa da Torre. foi residir no rio do Peixe. empossado no cargo em 1711. Para o Julgado do Piancó foi nomeado juiz. aliás uma das passagens mais freqüentadas por antigos sertanistas. com povoação. pelo governador da Paraíba já citado. afastando o colonizador da beira do mar. Foi certamente uma das rotas de penetração da Casa da Torre. Enquanto . os campos dos jenipapos. como sucede em tais ocasiões. e foi justamente aquela em que o coronel d’Ávila. surgido dos escombros das guerras holandesas. importante parte do território paraibano começou a receber as primeiras sementes de gado com que se fundaram as primeiras fazendas e currais. sem medo de contestação. distão esses logares cincoenta. vindos de todos os quadrantes. O novo homem paraibano. Foi ela sem dúvida quem primeiro abriu caminho nos descampados e acidentes da terra ignorada e misteriosa.. descendo o rio Salgado até chegar ao Icó. com a ajuda do sertanista Domingos Afonso Sertão. Foi ela a primeira também a ocupar as terras do Piancó. coremas. João da Maia da Gama (que tomou posse em 1708). subiu o seu afluente Pajeú. adquiridas por arrendamento à Casa da Torre da Bahia. Como já tivemos oportunidade de comentar. Tem o segundo. avultando o número de crimes e a corrupção de costumes. tomou a Casa da Torre rumo oposto às suas primeiras expedições e. Outra via de penetração da Casa da Torre teve como princípio a estrada de comunicação ligando a Bahia à região do Piauí. adquirindo terras para a criação de gado. Piranhas de Cima e Rio do Peixe. podemos afirmar. Não se sabe quanto tempo demorou o coronel Araújo nos sertões da Paraíba. outros.Geografia e História da PB 141 muitos recompunham. como símbolo de um passado que ainda pesa”. no dizer de Pedro Calmon. que lhe pertenciam “os distritos do Piancó. escrevendo sua preciosa obra RÉLATION SUCCINTE. cremos que melhor informado andou o autor de BANDEIRANTES E SERTANISTAS BAIANOS. Ou. tomemos o depoimento do padre Martim de Nantes. . Havia no lado baiano do rio São Francisco a opulenta Casa da Torre. quando. estabelecendo aí a criação. Morais Navarro. seu imenso Castelo. Sobre o assunto. com o objetivo de aumentar cada vez mais seus domínios territoriais. e que se tornou com o tempo o maior feudo do Nordeste. de que possuía extensíssimas fazendas. ainda em abono da verdade. “único em tipo inteiramente feudal. Juazeiro. embora que tivessem daí por diante de sustentar lutas terríveis com os índios tapuias. Piranhas. O interesse nele excedia ao físico. certa vez. Açu e Jaguaribe e seus sertões varejados e descobertos à custa da Casa da Torre”. ao governador geral do Brasil. preconceituosamente: Era realmente pequeno de alma e de corpo. varando os sertões desconhecidos e misteriosos. os legítimos e possuidores das ricas terras do sertão paraibano. a auferir as rendas dos bens deixados pelo avô”. que era de acanhadas proporções. vivant sur le fleuve avec beaucoup d’incommodit. lhe declarou que se achava ausente da Casa da Torre há mais de quatro anos. até hoje deixa ainda ver as suas ruínas. quando as suas terras. seus calabouços. “foi a criação de gado que nos deu a segunda dimensão da terra brasileira”. afirmou que o sertanista baiano Francisco Dias d’Ávila. O coronel Francisco Dias d’Ávila morrera em 1695. Piauí. Enquanto pôde. referindo-se ao coronel Francisco Dias d’Ávila. A Casa da Torre. Borges de Barros. os mais modestos. Pedimos vênia para discordar do eminente historiador brasileiro. porém mais afoitos. no original francês: J’ai éte absent de ma Maison de la Torre près de quatre ans. Dele dizia Studart. em terras brasileiras. levando o gado para o sertão. E. fundada por Garcia d’Ávila. as suas fábricas de açúcar e começaram a levantar os canaviais na várzea do Paraíba. e eram de fato. carece de fundamento a afirmativa do grande mestre de CAMINHOS ANTIGOS E POVOAMENTO DO BRASIL. Foi ela quem obrigou. Capistrano de Abreu diz bem que as terras dos Dias d’Ávila cobriam mais de 70 léguas entre São Francisco e Parnaíba. a declarar ao cabo de guerra dos paulistas. rio Salitre e Jacobina. que se julgavam. Todavia. Era um homem riquíssimo para a época em que viveu. sustentou os ilimitados domínios territoriais pertencentes à instituição. optaram pela pecuária. Rio do Peixe. durante um encontro que com este mantivera no rio São Francisco. dona Leonor Pereira Marinho. gastara apenas papel e tinta em requerimento de sesmarias”. Rio Grande do Norte e Paraíba. que. Ceará. E Tereza Patrone acrescenta que foi a pecuária que deu ao homem colonial a noção do valor econômico das áreas que não apresentavam riquezas minerais e que não se prestavam para outras atividades comerciais. e tinha como principal objetivo a criação de gado. Itapicuru. dom Rodrigo da Costa. outros. Se realmente alguns dos representantes da Casa da Torre preferiam viver perto de seus engenhos e no aconchego e comodismo do Recôncavo. que vivia na capital. Segundo Nelson Werneck Sodré. os mais destemidos e afoitos. como querem alguns historiadores. “um inerte. o segundo deste nome. No tempo da conquista dos sertões paraibanos. Inhanbupe. era o coronel Francisco Dias d’Ávila a maior figura representativa da Casa da Torre. missionário capuchinho e evangelizador dos índios cariris. se espalhavam até Jeremoabo. não obstante o barão de Studart lhe ter deformado um pouco a personalidade. Um mundo que já começava penetrando os sertões de Pernambuco. suas ameias destroçadas. com gadaria. é que assume a responsabilidade dos negócios da Casa da Torre. quando assegurava que a Casa da Torre. como antigos senhores de engenhos que eram. seguindo até as nascentes do rio Real. sua esposa. desde o espírito à construção. “para adquirir as imensas propriedades. Com sua morte. disse que não foi este. optaram pelo trabalho da conquista. aonde chamam campina grande. detivera em suas mãos quase um terço das terras do sertão da Paraíba. junto com os cariris. sem contradição alguma. os quais foram com o dito capitão-mor e 40 cariris e 16 índios. como também pelo longo desta Campanha. e depois desta tornarão meus herdeiros a restituir à dita senhora ou a seus herdeiros. o que de presente faço de todo sucedido. propriedades espalhadas pelo rio do Peixe. a qual passo a ler: Sr. sitos no rio do Peixe. Foi ele. dentre os descendentes do velho Garcia d’Ávila. arrendou. também conhecida como Casa de Tatuapara. enquanto Deus me fizer mercê da vida. Leonor Pereira Marinho. Era ele o mais intrépido sertanista. capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo. Era sesmeira no Piancó. que tirei das aldeias e dez soldados desta praça. sob o chefe Cavalcanti. capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo. segundo o que até o presente tem mostrado. aldeados. refere-se ao pedido de Teodósio de marchar novamente rumo ao interior. uma nação de Tapuias chamados Arius. A carta do governador Albergaria a el-rei. A carta de Teodósio a Albergaria analisada demonstra que Teodósio tinha certos conhecimentos. ainda. como se vê. o capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo. no riacho do Peixe. para criar um arraial mais seguro. fundador da Casa de Tatuapara. chamado Cavalcanti.Geografia e História da PB 142 A Casa da Torre. trouxe informes mais precisos sobre o assunto. a propósito. S. Quatro anos depois. e querem viver como vassalos de V. dos quais sítios pagarei por cada um deles todos os anos um frango. um dos primeiros colonos a pisar o solo da ribeira do Rio do Peixe. Foi justamente nessa vinda à capital da Paraíba que Teodósio lhe trouxe informes sobre o famoso troço ou ajuntamento que tapuias chamados de “ariús”. já estava viúva do coronel Francisco Dias d’Ávila. relativas aos domínios territoriais da Casa da Torre. em 1702. como ele mesmo declara naquele documento transcrito no mesmo Cartório: Digo eu. este arrendamento me concede a dita senhora. vertente do rio das Piranhas. dos quais é principal um Tapuia de muito boa traça e muito fiel. com todos seus logradouros e pertences. arrendava mais 12 propriedades. numa “campina grande” que deu nome à atual cidade e município. no entanto. Majde. Governador: A minha vontade era aquela de dar a V. de junho 26 de 1702. que estão aldeados junto aos cariris. prova o marco de sua expansão povoadora no sertão da Paraíba. Senhor. E reduzirem-se à nossa Santa Fé Católica. do sucedido mais breve. o trecho da carta do governador Albergaria sobre este ponto: Trouxe consigo. somente Teodósio de Oliveira Ledo. o segundo deste nome e o quarto senhor e morgado da Casa da Torre. Ainda a propósito do arrendamento de propriedades pertencentes à Casa da Torre. Piranhas de Cima e Rio do Peixe. que ocupo dezesseis propriedades da senhora Leonor Pereira Marinho. diz-se também que teria sido Teodósio o fundador de Campina Grande. o que não tenho feito pelo tempo mo não permitir. encontramos diversas escrituras públicas. conforme o documento: digo eu. para neles criar meus gados e demais colonos. A escritura de arrendamento que fizera. doze sítios de terra. Veja-se. com as sesmarias no estremo oeste da Paraíba. de uma vez. na missiva. cerca de 16 delas. No Livro de Notas do Cartório de Pombal. à época daqueles arrendamentos. . de 16 propriedades situadas no rio do Peixe e pertencentes à Casa da Torre. Por outro lado. que arrendei à senhora Leonor Pereira Marinho. O governador. quem aumentou os imensos domínios da Casa da Torre. graças ao regime latifundiário que instituíra no Nordeste brasileiro. em 1702. por assim ser verdade e me ser pedido passei esta por mim feita e assinada. S. redigiu o autor de NOTAS SOBRE A PARAÍBA uma curiosa narrativa. que eram de uma aldeia chamada corema a pedirme pazes dizendo que queriam ser leais a El Rei meu senhor. Marchei com todo cuidado e outro dia pelas cinco horas da tarde estando alojado em o rio chamado Apodi me vieram novas dos descobridores. me ordenar. e daí a 23 dias chegaram com todo o seu mulherio ao dito arraial e daí a mais breve que pude dando tempo lugar me pus em marcha para a guerra com todo nosso índio também os das pazes. S. formaram-se duas fortes bandeiras e partiram à conquista do sertão. Quis me por em seu segmento. com toda a disposição possível tendo-me ele o encontro com valor porém quis Deus que dessa a V. Humilde soldado de V. E aqui fico nesta campanha para o que V. comandante de uma delas. S. mais recentemente. até o boqueirão da serra do Carnoíó. o que fiz logo com a maior parte da gente ficando o arraial guarnecido com dezesseis homens. e hoje não lhe fica lugar a buscarem por amigos mais que aos brancos. Ao ajudante Manoel da Câmara. estavam alojados vizinhando-me mais a ele deixei ficar as munições com dez homens de sua guarda e ao romper do dia dei sobre ele. chegando à missão do Pilar. A propósito. nos primeiros de abril e dali há 9 dias de minha chegada me veio um aviso do meu gentio. Pinhancó (Piancó) de agosto 6 de 698 anos. em uma quinta-feira. S. abordando o itinerário de Teodósio em busca do sertão paraibano. o quanto de alcançar a vitória durante a peleja até às 9 horas do dia. em que lhe feri alguns homens e a 27 de julho cheguei a este arraial. e ela acabada se acharam da parte do inimigo trinta e dois mortos e setenta e duas presas e muita quantidades de feridos e da nossa parte não perigou nenhum e só me feriram seis homens. O capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo. e lhas concedi com ditames de procederem contra os nossos inimigos e com obrigação de conduzirem o seu mulherio para o arraial de baixo das armas. que distante do arraial três léguas estavam em como com eles se haviam encontrado trinta ou quarenta tapuias brabos. venceu V. em suas NOTAS SOBRE A PARAÍBA. e das presas mandei matar muitas por serem incapazes. Continuando a . passando muitas necessidades e misérias de fomes. vindo rompendo esta Campanha com muita moléstia por causa das grandes investidas. Diz Elpídio de Almeida. tinham chegado a um rancho donde se havia levantado o inimigo naquela manhã. não foi possível por vir falto de mantimentos e somente lhe dei uma avançada. duas batalhas. de onde se havia retirado pondo-me em seu segmento. eis o trecho completo de Irineu Joffily. que me vinham a buscar de paz e que em toda caso os socorresse pelo receio que tinham de que lhe sucedesse algum dano. trecho este censurado por Elpídio de Almeida: “Com o auxílio do governo. a quem Deus guarde. Esta de presente referida e as pazes que aqui se confirmaram pelos inimizar com as mais nações. e ao depois de toda a batalha vindome retirando com três dias de viagem me vieram seguindo os inimigos e andando o meu gentio a caça pela necessidade em que vinha apanhado-os fora do troféu me mataram quatro homens. onde fez demorado acampamento. Com um cabo e com todo o cuidado me pus em viagem. e outro dia pelas dez horas do dia chegaram os brabos. e só digo que em o dia de Santa Justa e Rufina. daí há seis dias me vieram novas dos descobridores em como o inimigo tinha voltado do rumo em que ia a outro mais vizinho a mim. rompendo a Campanha com muita moléstia pelos mais convenientes de dar no inimigo sem ser sentido e acabo de 18 dias cheguei a uma planta do inimigo. S. porém com o favor de Deus cheguei contudo a salvo e em paz a este arraial de pau ferrado. S. como faremos notar adiante. pelas oito horas da noite e cheguei aonde estava o meu gentio. em sua HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE. entreguei os quintos de El Rei meu Senhor e ele fará a entrega a V. aceitaram o partido e com este pressuposto se foram. fundamento da atual povoação de igual nome. teria seguido sua viagem acompanhando o rio Paraíba. Teodósio de Oliveira Com o apoio nesta carta e noutros documentos. Na mesma hora me pus em marcha e cheguei pelas 8 horas da noite ao dito rancho e daí mandando descobrir coisa de légua e meia. que a descrição de Irineu Joffily “não está de acordo com a realidade histórica”.Geografia e História da PB 143 Em primeiro lugar para dessa cidade com o adjutório de V. se ela já não estivesse fundada. desceu a Borborema. com igual fim. Ele. como já expresso por um autor. mais tarde. A sesmaria era uma graça especial pela qual o soberano de Portugal concedia terras “devolutas e desapropriadas” às pessoas que as queriam adquirir e explorar para as suas atividades agrícolas e pastoris. poderão ser restabelecidos para perenidade da verdade histórica. comenta Elpídio de Almeida que “esse itinerário foi mais ou menos o que percorreu Antônio de Oliveira Ledo. e tiveram o sentimento de a eleger para domicílio e trouxeram o seu rebanho”. ao norte. cheia de aventuras e lutas heróicas. tendo eu corrido todos os domínios de Vossa Majestade. dizia o então governador: Confesso. em favor dos colonos. e seguiu pela vale deste. que as sesmarias ou datas de terras.Geografia e História da PB 144 sua descoberta. Ainda a propósito desse episódio da conquista dos sertões da Paraíba e reforçando conceito emitido pelo historiador Capistrano de Abreu. escasseiam informes. Diz Maximiano Lopes Machado. e estabeleceram cultura. ficaram e povoaram a terra. que o governador João da Maia da Gama tudo fez para desmascarar o feudalismo da Casa da Torre. que. Alguns acontecimentos. onde fora apresentar-se ao governador e registrar na Câmara a patente de capitão de Infantaria da Ordenança. Parece que foi João da Maia da Gama a primeira autoridade governamental de nossa região a se insurgir. viram. Horácio de Almeida. e chegou a Piranhas”. no segundo volume de sua HISTÓRIA DA PARAÍBA. No entanto. a conquista e povoamento do interior paraibano processou-se através do sistema de sesmarias. na sua HISTÓRIA DA PROVÍNCIA DA PARAÍBA. entretanto. ao poente. em Portugal. O autor da mesma HISTÓRIA DA PARAÍBA assegura ainda que o levantamento para a História do Sertão da Paraíba somente seria possível “através dos requerimentos e concessões de sesmarias”. em 1688. o governador. E foi seguido várias vezes antes que este sertanista o tivesse palmilhado em 1694. entre aqueles e os colonos. quando certamente Teodósio não havia ainda chegado à Paraíba. a Vossa Majestade. O mesmo fez Constantino de Oliveira Ledo. ao retornar da Capital. depois de nomeado capitão-mor das Piranhas. “que aqui vieram. encontrou as hostes cariris (provavelmente os sucurus). Cariris e Piancós”. embora considerado excelente para a época de nossa conquista e colonização. até que entre o riachão Timbaúba e o de Santa Clara. a conquista do sertão. Brasil. Índia. ao que se sabe. que documentos posteriores anularam. diz textualmente: Entra-se agora na fase mais interessante da história. chegou até a denunciar a el-rei. Irineu Jóffily. Senhor. Realmente. para elucidação de uma das quadras mais dramáticas. me parece que não achei alguma aonde os vassalos de Vossa Majestade experimentassem de outro vassalo mais violências. constituíram-se em verdadeiros germes de discórdias e conflitos. que eram realmente os que trabalhavam e cultivavam as nossas terras. tal experiência demonstrou. pedindo inclusive que a atenuasse. embargando-lhe a passagem. no princípio entre sesmeiros e índios e. A bandeira avançou sempre. a tirania com que os representantes de tal instituição empresarial. Esse sistema. o capitão-mor achou-se na junção do rio Paraíba com o Taperoá. outro autor. não deu bons resultados. em matéria mais digna da real atenção de . Sobre isto. De fato. Antônio de Oliveira voltou a perlustrá-lo em 1682. com o correr do tempo. como eram chamadas no interior do Nordeste. contra os poderosos titulares das grandes sesmarias. secular e administrativa afligiam os colonos que trabalhavam e cultivavam as terras. com a visão que teve do fato histórico. O obscuro período das entradas alguns historiadores tentaram esclarecer à base de conjecturas. acabou por considerar esse período um desafio ao investigador do futuro. Na representação que encaminhara ao soberano português. principalmente se levarmos em consideração o progresso técnico. Se antes era tarefa difícil a realização de qualquer pesquisa tanto no nosso país como no estrangeiro. Uma história. confesso e tomo Deus como testemunha (. dos livros APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA TERRITORIAL DA PARAÍBA e SINOPSIS DAS SESMARIAS DA PARAÍBA. por sua vez. respectivamente. até que.). quase sempre de pessoas poderosas. Raras vezes se inscreviam nesse páreo os que estavam decididos e interessados a habitar as terras conquistadas. muitas das quais não pertenciam ao grupo Oliveira Ledo. a fim de que pudessem ampliá-las. como igualmente acontecia com outras Capitanias do Brasil. eram quase sempre atribuídas a grupos ligados entre si por laços familiares e que se reuniam para requerer concessões de terras. aliás. a argúcia e o patriotismo dos governantes daquela época colonial. em catálogo. e que sabia requerer as cartas de sesmarias. que foram cedidos. Era comum ver os mesmos nomes. OS TITULARES DAS SESMARIAS Titular de sesmaria. e continuou a desafiar a inteligência. data vênia. Tratamos de ler toda aquela . Antes. onde estivemos pesquisando alguns anos atrás.. científico e cultural dos nossos dias. em seu livro O DEVASSAMENTO DO PIAUÍ. Discordamos. nos obriga a dizer o seguinte: enquanto não contamos com todo o acervo documental espalhado por vários pontos do nosso país e do estrangeiro não é possível qualquer tentativa para se escrever a História da Paraíba. Tudo quanto já se disse a respeito. não conheciam a própria geografia do País. como titulares de sesmarias em todas as zonas desbravadas. Por isso mesmo é que ficaram esses à margem das sesmarias divulgadas por João de Lira Tavares e Irineu Jóffily. Muitos fatos importantes de nossa história estão ainda nos arquivos. onde há muita luz escondida. na realidade. segundo Barbosa Lima Sobrinho. Tais sesmeiros obtiveram datas de terras nos sertões paraibanos e concedidos pelo Governo Geral do Brasil. Ali encontramos uma infinidade de documentos e cópias xerográficas. com a obtenção do deferimento e da confirmação. Os governos. nem tampouco ao da Casa da Torre. e igualmente todos aqueles que possuíam terras daqueles dois senhorios. Esta representação não teve uma solução imediata. afirma que “não era aquele que estava disposto a trabalhar e cultivar um pedaço de terra. aguardando a mão libertadora. o homem influente e com prestígio bastante junto ao Governo. Toda vez que a conquista avançava em busca do interior choviam as cartas de sesmarias. com sede na Bahia. já não o é. opinavam e decidiam em face de alegações dos pleiteantes. até onde chegasse a tolerância dos posseiros e do governo”. segundo estamos informados. foi em parte decidido o prélio. através da Carta Régia de 20 de outubro de 1753. As sesmarias doadas ou concedidas na Capitania da Paraíba. entretanto.Geografia e História da PB 145 Vossa Majestade. de sete grossos volumes. pelo ilustre professor pernambucano José Antônio Gonsalves de Melo. Podemos falar com autoridade. muitas vezes em porções excessivas. porque fomos nós um dos primeiros a divulgar o acervo documental existente no arquivo da antiga Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Paraíba. foi inventariado por Eduardo de Castro e Almeida e divulgado. Não vamos mais alongar a nossa conversa. hoje. e poder falar nesta matéria. objetiva e institucional. porém. por mais distantes que ficassem umas das outras. que sintetize a sua realidade profunda. Não procede o argumento do ilustre historiador Horácio de Almeida quando afirmou que não era preciso ir a Portugal para obter informações acerca da História da Paraíba. decorridos 36 anos daquela representação.. que muitas vezes tinham interesse em reivindicar limites imprecisos para as sesmarias. autores. que revogava as grandes sesmarias concedidas na Paraíba à Casa da Torre e aos Oliveira Ledo. mas o homem da cidade. do ilustre autor de HISTÓRIA DA PARAÍBA. e ordenava que eles tirassem novas sesmarias. por qualquer título que fosse. e cuja concessão não demoraria muito a chegar. o ensejo para apresentarmos os nossos votos de aplauso e congratulações à Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Corrige os enganos cometidos por eles. não discorda por discordar. tão pouco ressaltado e tão necessário para se fazer história. Acho que este capítulo da nossa História. já que ele é um dos grandes paleografistas deste Estado. aquele antigo feitor da Alfândega do Governador Tomé de Souza. Coriolano de Medeiros e Elpídio de Almeida. pois escreve a partir das fontes que ele lê. fiquei transportado para essa época ao ouvir aquelas transcrições seguras. Discorda do ponto de vista de historiadores do quilate de Capistrano de Abreu. Luiz Hugo Guimarães. Enfim. E esclarece. Com a responsabilidade com que tem tratado todos os temas dos seus trabalhos. com nh e de trechos de frases inusitadas. Essa é a grande vantagem metodológica que ele tem. cuja divulgação permitiram o conhecimento de determinados fatos e cousas do nosso passado. além de oferecer perspectivas para novas interpretações da história paraibana. tivemos hoje o esclarecimento definitivo de como se processou a conquista do nosso interior. na pessoa do seu ilustre presidente. falando da ffé. Fala no clã dos Oliveira Ledo. Uma lição de linguagem do final do século XVII e do início do século XVIII. confreira Terezinha de Jesus Ramalho Pordeus. e que tem uma enorme importância nessa conquista do nosso sertão. agora está definitivamente esclarecido. Baseado em documentos. em Lisboa. Wilson Seixas passeia com uma intimidade em cima da história que causa a gente uma sensação de estar vendo um belíssimo filme com imagens muito nítidas. com segurança. Aproveitamos.Geografia e História da PB 146 documentação extraída do Arquivo Histórico Ultramarino. Foi realmente maravilhoso. em que Wilson fala do sistema sesmarial e remete implicitamente à necessidade do conhecimento da história administrativa deste país. 1º participante Guilherme d’Avila Lins (Sócio do IHGP e presidente do Instituto Paraibanos de Genealogia e Heráldica): O que ouvi aqui hoje foi uma belíssima. Não podemos mais nos alongar nestas considerações. podido comparecer a esta sessão. ··· A fala do Presidente: Conforme previ ao anunciar a palestra do confrade Wilson Seixas. promovendo este Ciclo de Debates. não deixa escapar nem . ele chega a contestar os mais destacados historiadores locais e nacionais. com dois f. em fontes de primeira qualidade. Wilson Nóbrega Seixas é uma pessoa por quem tenho o mais profundo respeito e amizade. citando documentos incontestáveis. Vi aqui uma belíssima lição do linguajar do século XVI nas transcrições documentais que ele fez. de Piancó. em comemoração aos 500 anos do Descobrimento do Brasil. rara e completa história da conquista do sertão. Wilson Seixas nos traz a verdade sobre a interiorização paraibana. porque fundamentou o que disse em fontes primárias. Não tendo a debatedora designada. a posição do desbravador Teodósio de Oliveira Ledo na conquista do sertão paraibano de par com os representantes da Casa da Torre. e quero dizer de público que foi em Wilson Nóbrega Seixas que eu me inspirei para tentar fazer um estudo autodidata de paleografia. freqüentador de velhos cartórios. Fala de Garcia d’Avila. de Horácio de Almeida. até o Maranhão. e escorado no seu passado de atento pesquisador. que veio a construir um império e através dos séculos estendeu terras desde Tatuapara. pois. Estamos de parabéns por esta valiosa colaboração à nossa historiografia. a 14 léguas de Salvador. o consócio Guilherme d’Avila Lins. Mas. partindo de quem tem plena autoridade para fazê-lo. pela feliz e oportuna iniciativa que teve. concedo a palavra ao primeiro participante inscrito. por motivo justificado. bem como as dúvidas existentes sobre o Arraial do Piancó. para quem conhece as qualidades de pesquisador de Wilson Seixas. mas aí é uma questão das freguesias. Gostaria de fazer uma pergunta a Wilson sobre um aspecto um tanto controvertido. principalmente a região do Piancó. quando na verdade pertencia à Paraíba. Humberto Cavalcanti de Mello (sócio do IHGP e membro da Academia Paraibana de Letras): Não foi surpresa. Tudo pertencia a Pombal. Barão de Studart. A freguesia de Pombal. Mas ele estava absolutamente certo. que era Rio Grande do Norte. por exemplo. se realmente pertenceu ao território paraibano e foi integrada por essas conquistas de Oliveira Ledo. para a Paraíba. restaria apenas a raríssima edição primeira. bastante elitista e europeizante. porque temos historiadores paraibanos que afirmam uma coisa e historiadores norte-riograndenses que afirmam o contrário. depois. como Elpídio de Almeida. Adelino falando sobre aquela região diz que foi questão religiosa. cujo proprietário queria ser devoto da igreja de Santana e não de Bom Sucesso. que tinha as capelas de Sousa. essa demonstração brilhante. ele estava se referindo ao Piancó que se estendia até o Rio Grande do Norte. Era muito diferente essa sociedade do interior da sociedade litorânea. Notei que o expositor em seu trabalho até se assemelha a Capistrano de Abreu em seu livro CAMINHOS ANTIGOS E POVOAMENTOS. Até que ponto ele esteve integrado na Paraíba. É preciso esclarecer que antes toda aquela região pertencia à Paraíba. autor de AMÉRICA PORTUGUESA. cuja sede era Pombal. ia até o Rio Grande do Norte. D. voltando. Ficou uma sociedade mais próxima. Quando ele disse que partiu de lá com mil e tantos homens para Palmares. em 1732. tanto que nossos historiadores. Então foi feita a divisão. Horácio de Almeida. De modo que ele estava certo. meu caro Wilson. que era Pombal. na época. achando que ele não esteve no Piancó. partiu do Piancó. foi muito peculiar. com suas parcas economias. Quando o ouvidor geral da Paraíba visitou o sertão todo passou em Pombal e depois foi para o Rio Grande do Norte e esteve em Açu. porque. o Piancó compreendia todo o Rio Grande do Norte. com esta bela aula que ouvi aqui. É sobre o problema dessa conquista do sertão no que diz respeito ao problema do Seridó do Rio Grande do Norte. a capela de Patos e a capela de Santana. Havia aqueles grandes latifundiários e o vaqueiro. os percursos do sertão. que era Nossa Senhora dos Remédios. não . ficando aquela parte todinha para o Rio Grande do Norte. A gente nele vê uma ascensão social dentro daquela sociedade. da qual poucas pessoas já viram o texto. Contesta Capistrano. criou a vila de Açu e instalou a vila de Caicó. muito importante. Sabemos que foi muito importante a conquista do interior paraibano. Quando fiz pesquisa no Cartório de Pombal localizei parentes de Rocha Pita morando em Catolé do Rocha e Brejo do Cruz. que pertencia à família de Rocha Pita. enquanto a cultura do interior foi mais liberal. hoje Caicó. Wilson Nóbrega Seixas: Esta questão a que Você se refere tem mais um sentido religioso. pertencia exatamente àquela área civil. onde tinha uma fazenda lá denominada “Pitas”. Tudo aquilo pertencia ao curato do Piancó. nem escapa frei Vicente do Salvador. embora muita gente condene Rocha Pita.Geografia e História da PB 147 Martim de Nantes com sua RÉLATION SUCCINTE que. se não fora uma tradução que foi feita pela Brasiliana em pequeno formato. porque o Piancó abrangia toda aquela região. porque todos os historiadores achavam que Piancó era a atual cidade. que ia até o Apodi. 2ª participante Maria do Socorro Xavier: Parabenizo os debatedores anteriores. Coriolano. de Piancó. Quando ele fez aquele livro. tinha permissão para comprar pedaços de terras dentro daquele latifúndio e se tornar um próximo fazendeiro e um próximo dono de currais. Depois veio o problema religioso. absolutamente. Se a Vila do Príncipe. falam em Domingos Jorge Velho. como foi que ele saiu. Eu estou embevecido. mas Domingos Jorge esteve lá no Piancó. pois em sua exposição demonstra conhecer todos os caminhos. porque quando ele disse que Domingos Jorge partiu do Piancó. tirando a sorte do gado. que era Santo Antônio. Pombal era a principal freguesia. Havia uma fazenda perto de Santa Luzia e Caicó. aristocrática do açúcar. o sertão todinho era Piancó. em que o vaqueiro – aquela figura típica e humana dos sertões. com caranguejos que roçavam a beira da praia. A bancada da Paraíba não tinha muito prestígio. pois era um filósofo. em carta. que foi uma mulher muito brava. Presidente. subiu a ladeira da Serra de Teixeira e fixou um povoamento na Serra de Teixeira. apesar de ser riograndense do norte de nascimento.Geografia e História da PB 148 tão estanque como a sociedade aristocrática do açúcar. Nós sabemos que nessa fase teve Adriana. por sinal meu parente pela ancestralidade. irmão de Teodósio. eu gostaria de acrescentar algo além do aspecto religioso. até ali Santa Luzia. homem de muita cultura. uma mulher muito caridosa. foi a sociedade do sertão. lá no Pajeú e também no vale do Rio do Peixe. Parabenizo mais uma vez o Ciclo de Debates. que fez muito pela população carente de Cajazeiras. que foi desde vereador a deputado geral. que se originou de uma pousada cujo proprietário se chamava Teixeira. Tem também a Mãe Aninha. um grande latinista. cujo matriarcado exerceu em Barra de Santa Rosa. mas. Era apenas esse adendo que queria fazer. gostaria de saber se ainda existe esta fazenda e se a mesma pertence a algum membro dessa família. na Bahia. reduzindo o seu território. Certo que o nome de Teixeira não tem nada a ver com isso. Acho que a sociedade verdadeira brasileira foi a sociedade do interior. Gostaria que fosse ressaltado nessas palestras o papel das mulheres na história da Paraíba. teria um gesto semelhante. E eu digo isso com desgosto. da questão religiosa. como salientou muito bem o palestrante. e no nosso Estado particularmente. filha de Teodósio. Essa parte religiosa foi comandada pela Paraíba. corajosa. até São José de Sabugi. que está cada dia cada vez melhor com seus profundos conhecedores da História da Paraíba. nosso arcebispo. Há realmente homens que possam ter gesto semelhante. e os Manoel de Araújo Carvalho. os Garcia d’Avila. de cultura. render esse minuto de homenagem ao senador Gama e Melo. profundo conhecedor do assunto. Pois bem. e ele recusou o convite dizendo. então. de Cajazeiras. Adauto. Quero. exercendo . foram registrados Teodósio de Oliveira Ledo. que vem até o tempo de D. pois consta que existe até uma fazenda chamada “Ana de Oliveira”. o senador Brito Guerra. Era um tradicional monarquista paraibano. Ana de Oliveira. tendo desbravado as primeiras matas. graças à sua obstinação pela idéia de ampliar o território do Rio Grande do Norte e. Gostaria de saber do expositor se a cidade de Barra de Santa Rosa tem a ver com o matriarcado de Adriana. Não foi só a questão religiosa que levou a essa disputa. tudo aquilo era da Paraíba. como se diz no baião. foi um abraço que o Rio Grande do Norte deu na cintura do nosso Estado. mas sou paraibano por adoção e de coração. mas a vitória do Rio Grande do Norte sobre a Paraíba. Consta também uma Verônica. qual dos homens públicos que neste país. Mas ele conseguiu aquilo graças à sua amizade com o Imperador. que se chamou senador Gama e Melo. O senador Guerra era padre. Caicó. que quase tora pelo meio. mas são raros. na Paraíba. Wilson Seixas. E eu pergunto. Outra também. Quanto aos primeiros desbravadores. em que aqueles subalternos do fazendeiro tinham mais acesso aos fazendeiros. Esse homem foi um exemplo de dignidade. embora representada por 17 membros. com a aquiescência de todos que aqui estão. hoje. se deveu ao prestígio político de um homem que era íntimo do Imperador. permitindo o vaqueiro ascender socialmente. principalmente ao seu prestígio político. Floriano Peixoto o convidou para ser Ministro da Justiça. bondosa. Isso é contado em prosa e verso no Rio Grande do Norte. Logo após o governo de Deodoro da Fonseca. quero lembrar que hoje é a data do sesquicentenário do nascimento de um dos maiores paraibanos de todos os tempos. da Casa da Torre. foi 25 vezes Vice-presidente do Estado. que nada fizeram. grande latinista e fundou a primeira escola de Latim no Rio Grande do Norte. muito carismática. em Caicó. Acari. A tomada desse território da Paraíba. foi a sociedade do gado. com a permissão do Sr. Jardim de Seridó. Jardim de Piranhas. filha de Teodósio de Oliveira Ledo. que sempre foi monarquista e não podia aceitar aquele cargo tão honroso porque iria ficar mal com sua consciência. filha de Custódio de Oliveira Ledo. de altivez. 3º participante Joacil de Britto Pereira (sócio do IHGP e presidente da Academia Paraibana de Letras): Sobre o assunto daquela parte do território paraibano que foi tomada pelo Rio Grande do Norte. Francisco e Adriana. que a história pouco registra porque eram doentes. morava em Brejo do Cruz. Segundo: Ana de Oliveira. onde morreu. tendo todos ido para o Cariri. Primeiro casou-se com Isabel Paz. passo a informar sobre dois aspectos levantados. em Olivedo. No fim do seu livro. porém. Tudo parece que foi de uma fazenda de Oliveira Ledo. Francisco nasceu no Cariri. morou muito tempo em Rio do Peixe. e depois foi senador duas vezes. mesmo no meio da rua. e era dona de uma fazenda chamada Santa Rosa. Depois. Esse filho substituiu Teodósio lá no Cariri. não existem mais. O livro de Antônio Pereira de Almeida. Desse casal nasceram vários filhos. Ana de Oliveira Leite era casada com Antônio Porto Carreiro. começo do século XVIII. Por falar em vestígios antigos. Essas ruínas.Geografia e História da PB 149 interinamente a titularidade e foi eleito Presidente do Estado. Irineu Joffily fala nessa fazenda Ana de Oliveira. Considerações finais pelo expositor Wilson Nóbrega Seixas: Teodósio de Oliveira Ledo casou-se duas vezes. que a gente vê justamente parecida com aquelas de Ouro Preto. com muito cuidado. dizendo que nós hoje estamos abrindo as comemorações do sesquicentenário deste vulto notável da Paraíba. Foi ele quem substituiu Teodósio de Oliveira Ledo como capitão-mor. de cujo casamento nasceram Antônio. foi embora para Olinda. não tem nada que ver com a Casa de Santa Rosa. o filho dele. um dos homens mais cultos da Paraíba. Antônio Carreiro era sergipano. não havendo mais nenhum vestígio delas. sob a supervisão do nosso saudoso confrade professor Clerot. Antônio de Oliveira Ledo. não era uma fazenda. que levanta toda a genealogia. sendo o nome do lugar. uma lagoa antiga que foi soterrada e foi escavada na década de 50. desenterrou ossos de fósseis ali existentes. onde tinha uma fazenda “Timbaúba”. por conta disso. A lagoa estava aterrada milenarmente e Clerot. que conseguiu como sesmaria. Consta que a casa pertence a um dos descendentes dos Oliveira Ledo. É o que posso informar para atender a várias perguntas dos participantes. entre eles Manoel da Cunha Loureiro. Ana de Oliveira era dona de Juazeirinho. Morreu no exercício do seu segundo mandato de senador. Do segundo casamento de Teodósio houve três filhos: Teodósio e dois menores. Ainda hoje é conhecida como a Lagoa Ana de Oliveira. que realmente pertencia a essa família. um topônimo. descrevendo até umas ruínas que havia lá. Adriana casou-se com Agostinho Pereira. Francisco da Cunha e outros. tem uma casa mais ou menos do século XVIII. que ainda está em estado muito bom. 4º participante Humberto Cavalcanti de Mello (Sócio do IHGP e membro da Academia Paraibana de Letras): A professora Socorro Xavier formulou algumas perguntas e antes mesmo que o expositor a responda. sendo até habitada. ao que parece ainda hoje existem fósseis a serem desenterrados. mostra bem que a Casa de Santa Rosa era onde hoje é o atual município de Boa Vista. 6º Tema AS NAÇÕES INDÍGENAS DA PARAÍBA Expositor: José Elias Borges Barbosa Debatedora: Waldice Mendonça Porto A fala do Presidente: . Era a homenagem que queria prestar ao senador Gama e Melo. 5º participante Aécio Villar de Aquino (Sócio do IHGP): Esse problema da fazenda ou lagoa Ana de Oliveira. já doente. era uma lagoa no município de Juazeirinho. Primeiro: a cidade de Barra de Santa Rosa. embora deteriorada. citando muito documento. INFLUÊNCIA DA LÍNGUA CARIRI NO PORTUGUÊS DO BRASIL. Na realidade. INDÍGENAS DA PARAÍBA I – CLASSIFICAÇÃO PRELIMINAR. à moda indígena. comandava 22 grandes tribos no interior do Ceará. cumpre-me fazer sua apresentação. portanto. Esse grupo era muito pequeno. Com a palavra o confrade José Elias Borges Barbosa. onde passei a ser um visitante diário. ao sul do Paraíba. considerados selvagens e foram desprezados. fora os tupis do litoral. Na Paraíba havia. O professor José Elias é sócio do Instituto Histórico. que habitavam o litoral. três grupos indígenas diferentes. É. que eram conhecidos pelo nome do principal. São inúmeros os trabalhos que tem publicado na matéria que hoje vamos abordar. publicado pela Brasiliana. falando fluentemente inglês. porém. Somente com a chegada dos holandeses é que vamos conhecer. principalmente os cariris da Paraíba. hoje não vamos compor a tradicional mesa dirigente dos trabalhos. francês. OS CARIRIS E A ORIGEM DO HOMEM AMERICANO. O QUE RESTOU DA MITOLOGIA CARIRI. Maximiano era complicado. O tema programado é AS NAÇÕES INDÍGENAS DA PARAÍBA. Os tabajaras vieram do São Francisco. quando era rapazinho e ia a Biblioteca do Estado. Janduí era o cacique que. Lá é exatamente onde ele diz que a Paraíba é ocupada pelos índios tais e tais. O BODOCONGÓ – HISTÓRIA DE PALAVRA. que é o pai da História da Paraíba. Foi aí que comecei a ver alguma coisa. eram cariris. não encontrava nada. apesar de sua seriedade. Em 1948 fui para Campina Grande e lá fiquei preocupado com o nome Bodocongó. E isso vem sendo repetido desde o século passado até os dias de hoje. o professor José Elias Borges Barbosa. para aqueles que ainda não o conhecem. que era tido como cariri. Antes. ele é mestre em Letras e doutor em Lingüística. Nós dirigentes vamos. É um erro gravíssimo que vem sendo cometido. a pessoa indicada para tratar do tema. em roda. Depois dos trabalhos de Irineu Joffily passei para os trabalhos dos holandeses e terminei chegando em Elias Herckmans. Quanto mais procurava. chamado Janduí. do Rio . é considerado como dos primeiros historiadores da Paraíba. E como o assunto é índio. Fui encontrar alguma coisa em Irineu Joffily. Comecei a estudar O Tupy. para ele. Então fui procurar alguma coisa a respeito de Bodocongó. alemão e até um pouco de russo. e eram divididos em potiguaras. Todos do interior. Apenas quero convidar nosso palestrante. Passei 30 anos juntando material sobre os indígenas e particularmente sobre os cariris. É nosso etnólogo. É bacharel em letras anglo-germânicas. Professor da UFPB.Geografia e História da PB 150 Nesta sessão de hoje vamos debater um tema que sempre exerce muita curiosidade e fascínio. Alguns diziam que era uma palavra cariri. para começar sua exposição. Pouquíssima coisa encontrava nos historiadores. Os tupis. naquele tempo. porque não parecia uma palavra tupi. mostrando esse engano. ROTEIRO DRAMÁTICO DOS CARIRIS. juntamente com Maximiano Lopes Machado. nos sentar fora do estrado e nos colocarmos em cadeiras. O AFAMADO ÍNDIO PIRAGIBE: SUBSÍDIOS PARA UMA BIOGRAFIA. Irineu Joffily tomou todos esses índios citados por Elias Herckmans e os colocou como sendo cariris. da região de Sergipe. Mas havia um terceiro grupo. Irineu era mais sintético. para trocarmos idéias sobre os nativos da Paraíba. o meu interesse pelos indígenas começou em João Pessoa. como se estivéssemos numa aldeia dos nossos antepassados. no mínimo. que era excelente naquele tempo. O nome era estranho. Já tive ocasião de fazer várias palestras sobre o assunto. ao norte do Paraíba e os tabajaras. os tarairiús. Foi lá onde despertei meus estudos pelos indígenas. Era o grupo dos tarairiús. Citemos os principais: OS ARIÚS E A FUNDAÇÃO DE CAMPINA GRANDE. Resolvi fazer uma pesquisa profunda. com mais detalhes. Expositor: José Elias Borges Barbosa (Sócio do IHGP e professor da UFPB): É um prazer estar novamente no Instituto para apresentar a síntese de um trabalho sobre os indígenas paraibanos. e como eles ficaram ao lado dos holandeses e participaram da guerra contra os portugueses foram praticamente execrados. PADZU: OS CARIRIS NA FELIPÉIAS DE NOSSA SENHORA AS NEVES. Existe apenas um remanescente tarairiú. uma guerra de cem anos. quando foram feitas as pazes. e depois conseguiu com João Fernandes Vieira e outros as terras da serra de Ararobá. os paraibanos insistiam em dizer: tupi no litoral e cariri no interior. e ao sul do rio Paraíba os tabajaras. Quando os portugueses começaram a entrar para o sertão começaram a lutar contra os tarairiús. que foram os primeiros. . que era o cacique tarairiú. Vejamos as tribos tarairiús: os janduís (Janduí era o cacique principal). os quais foram trazidos da região pelo cacique tabajara Piragibe.000 índios. na serra de Ararobá. tendo sido exterminados desde a morte do padre Fernando Sardinha. Essas fronteiras são muito variáveis. Existem lá cerca de 3. como também pelos traços lingüísticos.Geografia e História da PB 151 Grande do Norte e da Paraíba. Tanto que aprisionou alguns deles aqui e mandou para Portugal e Portugal devolveu porque já tinha feito as pazes. próximo a Pesqueira. em tarairiú água é caeté e nos dialetos jês é incoul. nos dialetos jês é cran e no cariri é tsanbu. os carnoiós da região próxima a Campina Grande. que é um caso interessante (eles escaparam de ser dizimados porque Sacramento. Todas essas palavras fazem com que a gente aproxime os tarairiús dos jês. já tinham sido exterminados. mostrando o parentesco da língua tarairiú com o grupo jê. outras palavras já haviam sido coletadas por Nimiendaju e eu pude coletar um vocabulário de mais ou menos 200 palavras para comparar com os outros topônimos tarairiús das sesmarias. do Ceará. eu consegui coletar algumas palavras e fazer uma comparação de termos. Isso não somente já tinha sido feito pelos traços culturais. São os remanescentes dos sucurus da Paraíba e do Rio Grande do Norte). A dos tamoios não chega nem perto. O governador André Fernandes Vieira não tolerava esses índios. As migrações eram constantes. Já perderam a língua e ainda têm algumas palavras. que tinham sido combatidos por ele. mas esse grupo se dispersou. que está em Pernambuco. dando perdão a Janduí. o Tratado de Paz feito entre o Brasil e a Holanda não citava o perdão aos índios tarairiús. principalmente através dos trabalhos de Pompeu Sobrinho. E Janduí exigiu e os governos português e holandês tiveram que aceitar. A guerra contra os tarairiús começou nos anos 1630 e se estendeu até 1730. onde estão até hoje. em Limoeiro. os canindés (Canindé foi o rei que substituiu Janduí. Mesmo depois da guerra dos holandeses. os bultrins de Pilar. uma palavra totalmente diferente. Os tarairiús falavam uma língua diferente do tupi e do cariri. Apesar disso. centro principal dos cariris e já tinham sido catequizados no São Francisco. quando Janduí morreu e continuou a guerra contra os portugueses). como já disse. que estudou esse assunto e publicou um trabalho. os portugueses foram entrando e até certo ponto foram invadindo as terras ocupadas pelos tarairiús. havendo um remanejamento muito grande. Foi uma guerra de cem anos até quase dizimar praticamente quase toda a população tarairiú. nossos cariris eram aparentados dos jês. Na parte do litoral. Está lá a palavra padzu. com o nome de sucurus. Por exemplo. para verificar mais alguma coisa sobre a língua. Mas isso só foi aceito recentemente. o primeiro bispo de Pernambuco foi catequizar esses índios logo depois da saída dos holandeses e trouxe esses índios para Pernambuco. Sobre esses índios já foram coletadas algumas palavras da língua deles por alguns membros da Fundação do Índio. Janduí era tarairiú. que é o nome de pai que os índios chamavam com os padres que o catequizavam. A parte sul ao longo do rio Paraíba era ocupada por poucas tribos cariris. conforme o nome anotado pelos holandeses. que tinham sido aliados dos holandeses. mas no cariri é tzu. Vejamos as fronteiras desses índios. E assim por diante. etnográficos e físicos. Os caetés deviam ter chegado na parte de Itamaracá. perto de Campina Grande. A parte do interior era toda ocupada pelos tarairiús. os sucurus. donde vieram. Foi a maior guerra indígena do Brasil. Isto está documentado naquela briga entre os franciscanos e os jesuítas. Os índios cariris chegaram aqui oriundos do São Francisco. Cabeça é crecar em tarairiú. os fagundes. Os caetés. Eram cariris os bultrins de Alagoa Nova. Esses bultrins chegaram até Pilar. Então não há dúvida. Para a conquista do sertão. estavam os tupis: ao norte do rio Paraíba os potiguaras. se bem que houvesse um pequeno grupo que estava junto com os tabajaras. e ficaram ao lado dos portugueses. do qual descendem nossos cariris. Martius era um grande cientista. cruzaram a serra do Jabitacá. Martim de Nantes escreveu um catecismo (eu tenho a cópia desse catecismo. Ele publicou um livro Glossarium Linguarum Brasiliense. em Juazeiro e em Crato. os canindés. O Glossário é um dicionário onde tem essas línguas todas em latim. três telas. um missionário italiano. Os cariris da Paraíba vieram da ilha de Fagundes. Tive muito trabalho. os sucurus. De modo que aquela parte do sertão de Pernambuco é conhecida por sertão de rodela. que existem no Museu do Louvre. Os tabajaras também vieram de fora. Na época do domínio holandês. querendo saber porque os chamavam de índios fagundes. mas consegui também esse livro. que foi publicado em 1706) e noco Sergipe. Eles vieram pelo rio Pajeú. Os de Franz Post. fez um dos maiores trabalhos sobre o Brasil. que já vinham do São Francisco. ele descobriu mais dois dialetos: o sabuja e o pedra branca. como pataputé. Elpídio de Almeida quando estava escrevendo a História de Campina Grande me perguntou sobre os índios Fagundes. Ficaram mais na região de Campina Grande. embora os curemas tenham sido transferidos para Pilar no período colonial. já traduzido para o português. palavra tupi. em Fagundes. que chegou lá fez uma gramática e outro catecismo do outro dialeto. que tinha uma ilha no São Francisco. da Cachoeira de Paulo Afonso mais abaixo e a cidade de Petrolina. Os quadros mais antigos sobre João Pessoa são esses três. Nesse mapa que agora exibo a vocês tem a região do oeste com a fronteira do Ceará. Na Bahia. os panatis. Essa parte daqui foi colonizada pelo pessoal dos cariris novos da Casa da Torre. lá na Bahia. de João Pessoa. É que Fagundes era um dos elementos da Casa da Torre. de modo que eu posso perceber perfeitamente quando a palavra é tarairiú ou é cariri. Os cariris de Sergipe ficaram em João Pessoa e depois os cariris do São Francisco foram para a região do interior. Nos trabalhos de Franz Post sobre João Pessoa (já tive ocasião de apresentar esses trabalhos) existem três quadros. Mas Nassau trouxe dois pintores importantes. Os índios fagundes estavam onde hoje é a cidade de Fagundes. em Paris. português e na língua indígena. O grande Martius. outro grande dialeto dos cariris foi estudado exatamente por Mamiami. Quanto aos curemas. os janduís. São dois dialetos. Os índios daqui eram os tarairiús e os potiguaras. Mas. pintores e muita gente para estudar a natureza das coisas do Brasil. mas pouco a pouco consegui verificar isso. um foi Albert Eckhout e o outro foi Franz Post. E há outras duas reproduções. Os índios cariris não são daqui. A vinda dos cariris é muito recente. que é a região dos cariris novos do Ceará. que quer dizer “escudo redondo” ou rodela. lá teve contato com esses zubucuá cariri. havia os cariris do oeste da Paraíba porque eles tinham vindo da região do São Francisco. estudando todas as línguas indígenas. acho porque eram da mesma língua. quando esteve aqui no século passado. da Paraíba. penetrando todo o interior do Brasil. que era uma palavra cariri e existe uma ilha e uma cidade Pataputé. os ariús dos paiacús. Zacarias Vagner também foi outro estudioso. o príncipe de Nassau trouxe cientistas. exatamente a região dos curemas e icós. e no século passado foi publicado por Lucien Adam um estudo comparativo dos dialetos da família cariri. conhecidos internacionalmente. Aqui estão dois quadros de Eckhoutt. O centro e o núcleo dos cariris é a Bahia e principalmente aquela parte de Pernambuco que é exatamente a região de Cabrobó. Eram tarairiús os ariús de Campina Grande. Essa ilha foi denominada de Fagundes e esses índios vieram dessa ilha. pegaram as nascentes do Paraíba e chegaram até aqui em João Pessoa. Eckhout era um . chamada Aracapá. Então há topônimos na região de Sousa e de Cajazeiras. os icós foram transferidos para a região de Missão Velha. com 88 dialetos indígenas que coletou no sertão durante mais de 10 anos (e passou 30 anos até fazer a Botânica Brasiliense). Zacarias Vagner e Eckhout.Geografia e História da PB 152 A minha tese de doutorado é sobre a língua cariri. Os icós eu não sabia que eram cariris. os pegas. E ele perguntou como os índios podem ter um nome português. Entre eles Max Grave e Eckhout são os mais famosos. Os cariris foram privilegiados porque Martim de Nantes esteve na Bahia. Eu consegui uma reprodução de uma. Isso chegou na França. Eu já conhecia a língua tupi. Os índios cariris tinham a sua capital ali. Isto tudo está relatado no livro que vocês conhecem de Martim de Nantes. e alguns outros grupos menores. Quanto aos cariris. ainda tenho dúvida. bodopitás ou fagundes. em Alagoa Nova. a aldeia da Preguiça e Montemor. na fronteira com Pernambuco. constituindo-se num tratado importantíssimo. bultrins. Quando eles iam lutar colocavam a taboca para facilitar o arremesso. Sabugi. há cerca de 20 anos. Tribos tarairiús: os janduís. porque pouco antes da Alemanha ser invadida. rios do Curimataú e Trairi. em 1662. Pindauna e Gramame. Na realidade. enquanto Franz Post era mais paisagista. os panatis. Sousa e Conceição. no rio do Peixe. a aldeia de Jacoca. cariri de Pilar. Esse material estava no Museu de Berlim. nas fronteiras do Rio Grande do Norte e Ceará. Daí essa tribo passou a se chamar bultrins. e alguns próximos de Bananeiras. Sabugi e Seridó (quase tudo na mesma região. nas fronteiras do Rio Grande do Norte com o Ceará. índios. e durante muito tempo ninguém sabia que tapuia era esse. possivelmente os curemas. que foram trazidos por Teodósio. que é a Bahia da Traição. O que é propulsor de dardo? É uma lança bem grande com uma taboca de bambu rachada. Santa Luzia. Piranhas. em Pombal. Tibiri e Santa Rita. mais concentrados na fronteira com o Rio Grande do Norte e o Ceará. os alemães levaram todas as caixas de material para um convento de Cracóvia. O tacape existente em Munique é cravejado com pedras. na região do Curimataú. Os cariris eram agricultores e se tornaram amigos de Teodósio de Oliveira. carnoiós ou curinoóis. O cacique dos ariús chamava-se Cavalcanti porque já era batizado. Os ariús. localização principal: Sertão. Ele era mais ligado à história natural. Eram as principais aldeias que haviam por aqui. alcançando a flecha arremessada 200 metros. em Bananeiras. que é o Conde.Geografia e História da PB 153 detalhista excelente para pintar coisas naturais. Eu consegui agora uma cópia desse trabalho. juiz de fora de Olinda. Curimataú e parte da região dos Cariris Velhos. posteriormente. tornando possível sua publicação com todos os animais desta região que os holandeses anotaram. Mais recentemente foi publicado o maior trabalho de Eckhout. enquanto os cariris ficaram na região de Esperança. que era muito interessado pelos índios e tinha aderido aos portugueses na guerra dos holandeses. As aldeias principais dos tupis eram a de Urutagui. foi possível tirar essa dúvida. em Campina Grande (era uma facção dos ariús). Mas ele foi encontrado na Polônia. em Cabaceiras e Boqueirão. os cavalcantis. Eckhoutt mostra em seu quadro a dança dos tapuias. Cuité. que é a cidade de Alhandra. Esse material está lá ainda. os sucurus. Seridó (seridó é palavra cariri). e os próprios índios de sua tribo passaram a se denominar de cavalcantis. por que esse nome? Parece até nome francês. . com 800 pranchas. que só queria dar nomes portugueses. perto de Campina Grande. Os tarairiús usavam o próprio propulsor de dardo. No quadro nota-se claramente de um lado os tarairiús e os tupis e os cariris. na Polônia. os genipapis. cujo nome foi mudado por Miguel Pina Castelo Branco. Localização principal das tribos cariris no interior. ao longo do rio do Peixe. Piragibe e João Pessoa. Bultrins. a de Acejutiberó. os cariris quando foram a Recife foram apresentados por Martim de Nantes a um francês chamado Jean Boltrin. inclusive plantas. pois faziam sua farinha de guerra para lutar contra os tarairiús. Os cavalcantis ficaram no centro de Campina Grande. Na realidade é a dança dos tarairiús. na região de Monteiro. em rio Piranhas. nas fronteiras com o Rio Grande do Norte e Ceará. localizados no Seridó. Depois que foi publicado um trabalho sobre Eckhout. os canindés. com pequenas separações). em Monteiro e Teixeira. já eram índios catequizados e batizados e foram localizados Campina Grande pelo próprio Teodósio – foi o começo de Campina Grande. rio Paraíba e Piancó: chocós e paratiós. Os tarairiús e cariris só usavam arco e flecha. os paiacus. Patos e Curimataú. na região do Apodi e Ribeira do Patu. os ariús. rio Piranhas e Espinharas. que foi bombardeado. onde ele desenhou os animais da Paraíba e Pernambuco. Continuando a localização dos índios: os icós. Também usavam uma espécie de tacape. Um espécime desse tacape da Paraíba pode ser encontrado no Museu de Munique. tirada os seus nós. A dificuldade em conseguir essa material se deveu à Segunda Grande Guerra. que é Mamanguape. foram transferidos os curemas de Piancó. No começo . Aqui no Nordeste nós temos os únicos remanescentes cariris que existem no Brasil. no Chile. para o sertão foram transportados os cariris do Pilar e tupis de Mamanguape. O francês conseguiu coletar um vocabulário de cerca de 300 palavras. evidentemente com influência de outras línguas. se há uma ilha a 40 quilômetros. os cariris são mais aproximados dos tupis. Os índios do Brasil. lá na Bahia. mas o gado foi vendido e foi com o dinheiro dos índios que foi construída a parte principal de São José de Mipibu e da cidade Nísia Floresta (antiga Papari). Para Alhandra. começou a mudar essas localizações. os cariris e tupis eram de estatura baixa. O gado foi arrematado. E chegaram aqui vestidos com roupas dos araucanos. foi transportado outro grupo de curemas do Piancó. para mostrar aos senhores. então mandou os índios para o Rio Grande do Norte. como os portugueses chamavam.Geografia e História da PB 154 Finalizando o assunto das primitivas localizações. que cuidava dos índios. mas as duas últimas grandes migrações vieram por via transpacífica. só que eles foram derrotados lá e depois voltaram. mas terminou sendo esses índios transferidos. Os tarairiús eram de estatura alta. algumas fotografias publicadas na tese. Os holandeses quando estacionaram na Bahia da Traição. às vezes com desprezo. Onde é que eles estão situados? Estão na aldeia de Mirandela. foram transportados os sucurus do Rio Grande do Norte. junto com os cariris. foram transportados os pegas. apenas pelo movimento das ondas. para Pilar. As três grandes migrações vieram pelo Estreito de Behring. temos os genipapis. para Bananeiras foram transferidos os canindés. foram transferidos os bodopitás de Fagundes. levaram alguns tupis para a Holanda. Miguel Pina Castelo Branco. conseguido com a venda do gado que lhe pertencia. no Chile (alguns tarairiús chegaram a combater os espanhóis e os índios mapuchos e araucanos). Os índios da Paraíba ajudaram os holandeses exatamente em Valdíria. em Ribeira do Pombal. posteriormente denominados cavalcantis. Houve uma briga lá e o filho de Teodósio. para o Pilar. Também um estudioso francês conseguiu coletar um vocabulário. para Limoeiro e Simples. diferentes dos tarairiús e dos tupis. Os índios da região da Polinésia conheciam navegação. quando foi governador da Paraíba enviou alguns tarairiús para Portugal. Foi instalada a Câmara com o dinheiro dos índios. Era a farinha de guerra. foram transportados os ariús. Eu até colaborei numa tese de mestrado que foi publicada sobre o assunto. entre eles Pedro Poty e Gaspar Paraocaba. Eu tenho um vocabulário do cariri atual falado por esses índios. Pelas gravuras que agora exibo vêem-se os traços físicos dos cariris. foram transportados os icós. para Campina Grande. do rio do Peixe. em 1625. Vemos na gravura o uso do arco e da flecha e junto do índio a mandioca. para São José de Mipibu. porque eles já tinham a farinha do reino. com processo e tudo. Alguns comandantes holandeses levaram alguns tarairiús para combater os portugueses nas colônias da África. Continuemos com as transferências indígenas: para o Crato. Os índios tinham o livro de registro do gado. na fronteira do Rio Grande do Norte e Ceará e os vidais. porque eles eram descendentes dos protopolinésios. Houve um grande conflito. Isso aconteceu em Angola. Vejamos agora o nosso índio desenhado por Eckhoult. João Fernandes Vieira. tinham conseguido extrair o ácido da mandioca e conseguiram fazer a farinha. Herckmans levou os tarairiús para Valdíria. onde já estavam os sucurus. eram excelentes navegadores. na fronteira do Rio Grande do Norte com o Ceará. A América do Norte e do Sul fazem uma barreira de Norte a Sul. Trouxe. foram transferidos os paiacús do Apodi. Estamos fazendo uma rápida síntese sobre os índios da Paraíba. que era a farinha de trigo. Essa serra de João do Vale tem uma história muito interessante. na época do Marquês de Pombal. de Pombal e da serra de João do Vale. principalmente os tupis. para o litoral do Rio Grande do Norte. vizinha de São José de Mipibu. fazendo muitas transferências. quis ficar com a terra deles. Um polinésio é capaz de saber. que era o elemento principal. eram protopolinésios. onde estavam os bultrins. (O expositor mostra o mapa e faz comentários para o plenário) Ponho-me agora à disposição dos participantes para qualquer informe. ficando senhor de muitas fazendas e para castigar maior parte de seu furor e . de Teodósio de Oliveira Ledo. razão por que deixo de comentá-la. não é meu campo. Tem também o mapa de Loukout. Através dessas gravuras podemos verificar as diferenças entre as tribos indígenas da Paraíba. Gostaria de mostrar dois mapas importantes. em 1694. um deles é de Kurt de Ninhengaju. que oferece excelente posição dos índios da Paraíba em suas localidades. Ela diz : “Certifico que levantando-se o gentio em primeiro de fevereiro de 87 em todos esses sertões da Paraíba e nos do Rio Grande do Norte e Ceará. Foi uma guerra de cem anos. porém. publicado pelo Governo do Estado. Praticamente essa guerra começou antes dos holandeses e se prolongou bastante. Esta carta está publicada em artigo do nosso confrade Wilson Seixas. depois houve outro tratado. A carta do governador Albergaria já foi comentada pelo confrade Wilson Seixas quando de sua exposição sobre a conquista do sertão paraibano. José Elias Borges Barbosa: Segundo Serafim Leite começa a guerra com os tarairiús em 1608. que passou a vida todinha aqui no Brasil e aqui morreu. as línguas indígenas. fui indicada como debatedora desse tema. a carta da fundação de Campina Grande. No texto da carta a gente vê que Irineu Joffily cometeu um erro grande ao colocar os tarairiús como sendo cariris. depois foi feito mais outro tratado. Wilson Nóbrega Seixas: Para satisfazer à curiosidade da nossa colega Waldice Porto. A guerra dos bárbaros só atinge sua parte nevrálgica mais importante a partir de 1687 até o primeiro tratado. eu tenho aqui uma certidão extraída do Arquivo Ultramarino de Lisboa. datada de 20 de janeiro de 1710. um dos grandes etnólogos alemães. Este. matando muita gente e destruindo muitas fazendas de gado vacum e cavalares e mais criações e muitas casas. que era a farinha de guerra. oferecendo uma excelente contribuição sobre a posição dos tarairiús na formação de Campina Grande. Ele fez esse mapa procurando atender a distribuição geográfica das tribos e ao mesmo tempo os movimentos de migração desses índios. que é um dos grandes antropólogos do mundo. ··· Debatedora: Waldice Mendonça Porto (Sócia do IHGP e do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica): Eventualmente. Ele estudou todas essas tribos. mas os índios lhe deram o sobrenome de Ninhengaju. Quando foi que começou na verdade? Porque no momento em que houve a penetração para oeste já estava havendo aquela confusão toda com os índios. Waldice Mendonça Porto: Eu tinha muito interesse nesse aspecto por eu estou fazendo um trabalho sobre a ocupação do território paraibano. O nome dele era Kurt e outro nome alemão. Todos historiadores paraibanos até 20 anos atrás seguiram essas pegadas. Essa parte referente à Paraíba foi reproduzida no Atlas Geográfico da Paraíba. justamente no período em que estava ocorrendo a guerra dos bárbaros. Esta carta é um documento muito importante porque ela mostra uma realidade. mas depois ela continuou. mas depois viram que para fazer guerra precisavam do beiju branco. eu gostaria que o expositor desse uma informação sobre a guerra dos bárbaros. E foi a maior guerra indígena do Brasil. Exibo agora. o que ficará para outra ocasião. que é uma palavra guarani. Infelizmente o tempo para esta exposição não dá para um trabalho mais particularizado sobre cada nação indígena. para vocês. em 1730.Geografia e História da PB 155 repudiavam essa farinha. em 1697. mas como estamos fazendo um debate muito informal. que agora está na Universidade de Brasília. Também surgiram as chamadas manchas mongólicas no corpo dos descendentes. Acho que a base da gramática e do vocabulário cariri é mais ligado ao grupo brasílico do tupi. Aí ele declara a data e o ano: primeiro de fevereiro de 1687. o caraíba. e acha que. José Elias Borges Barbosa: É preciso notar que não havia uma luta coordenada com todas as tribos marchando contra os portugueses. resultando nos cabeças chatas do sertão. Antônio da Silva Barbosa. Os tarairiús que foram para São José de Mipibu e Nísia Floresta (antiga Papari) são nomes tupis? José Elias: Canindé é nome tupi. você falou que os tarairiús eram jês. Humberto Cavalcanti de Mello: Há vários nomes que soam como tupis. examinou essa matéria com muito mais detalhes. comparando algumas palavras do grupo cariri. Podemos lembrar os cruzamentos. mas era rei tarairiú. e resistiram bravamente até o último homem. canindé parece um nome tupi. ao capitão mor André Moreira de Moura com o meu irmão Constantino de Oliveira Ledo”. mas os que escaparam ficaram na raça. Arion Darinha Rodrigues. mas os portugueses não tinham. mas no cruzamento com o branco surgiram os cabeças chatas. Por exemplo. elas são semelhantes com algumas do grupo macro jê. comparando a gramática. grande antropólogo em quem me baseio nos meus estudos. As pessoas que eram descendentes de índio com branco tinham genipapo. Genipapo. Os índios tinham cabeça redonda. de São Paulo. Lingüisticamente. acham que os cariris são mais aparentados dos tupis. quem ocupava essa região ao sul do rio Paraíba? Eram os caetés? . E a maior parte dos nomes de pessoas dos tarairiús era nomes do tupi. Era a invasão portuguesa para a conquista dessa região. Ele então sai contando a história todinha. Humberto Cavalcanti de Mello: Tenho algumas perguntas a fazer.. Os cariris eram o que? José Elias Borges Barbosa: Pompeu Sobrinho. do aruaque. que são da última leva dos que vieram pelo oceano Pacífico. Era o inglês daquele tempo. publicou um dos primeiros trabalhos sobre a língua cariri. mais conhecidas por genipapo. que os índios usavam para se pintar. Penso que isso pode ser do contato passageiro entre algumas tribos vizinhas dos cariris. Batista Caetano e outros estudiosos do século passado. Humberto Mello: Antes que os tabajaras chegassem. que a então governava. Primeiro. Ele verificou que os cariris eram mais aparentados dos tupis.Geografia e História da PB 156 estrago. mandou o governador desta capitania. porque era da cor do genipapo. e os potiguaras eram tupis. essa mancha mongólica que os índios tinham. Os índios tinham que resistir. Anteriormente havia outros movimentos dos índios. O nome Canindé apareceu quando? Os documentos holandeses dizem que surgiu o rei Canindé. Escaparam poucos. Humberto Mello: Por que esses nomes tupis em uma tribo tarairiú? José Elias: Os tupis eram quem mandavam e sua língua era uma língua de comunicação geral. tucanos. que falava tupi. Um grande estudioso. As diversas tribos tapuias usavam o tupi. Nessa fase nevrálgica o que acontecia era que cada dia as sesmarias iam tomando as terras dos índios. Esse êxodo existiu. os que sobreviveram. conforme os estudos mais recentes feitos na cidade de São Raimundo Nonato. tipo marajoara. Há inscrições mais simples e há inscrições mais complicadas. De modo que. sem dúvida. Guilherme d’Avila Lins: Em primeiro lugar.000 anos. cumprimento o professor José Elias pela exposição que aqui fez. Em janeiro de 1585 chegam aqui os tabajaras. essa cerâmica lembrava um pouco a dos aruaques. melhor do que a encontrada em outras regiões e. e a tradução oral é falha. Mas eles chegaram no máximo a uns 3. no alvorecer da nossa conquista. como é que esse povo desapareceu. quando em 1579 ele conseguiu o alvará de el-Rei. No Rio Grande do Norte houve e era entre 4. segundo ele. inscrições rupestres de índios muito antigos. salvo engano. no Piauí. era das últimas correntes que vieram por via transpacífica (a última que veio deu os Aztecas.Geografia e História da PB 157 José Elias: Eram os caetés.000 anos. Os desenhos da Pedra do Ingá não podem ter menos de 3. foi em 1582. como é que foi substituído por um povo de cultura inferior? José Elias Borges Barbosa: Essa cultura mais avançada de elementos de barro trabalhado. Não sei se houve alguma datação dessas inscrições na Paraíba. realmente ficava difícil chegar a uma conclusão. Sobre cerâmica. inclusive com uma certa diferenciação. Frei Vicente Salvador dificilmente fala de data. Humberto Mello: Existem registros. mas só saiu de Portugal em 81. Há vários tipos de inscrições rupestres. ele colheu em Frei Vicente do Salvador. indo esses indígenas do Porto do Calvo. O mais provável é 1. não. Uma delas diz respeito ao fato de se os caetés eram fronteiros dos potiguara no início da nossa conquista. disse-me Balduíno Lélis que a cerâmica encontrada na região da serra do Teixeira até Princesa era uma cerâmica de nível de elaboração superior. Incas e Maias).000 anos. também pode se equivocar. e quando fala é preciso ter cuidado. Humberto Mello: O pessoal que fez essas cerâmicas não é o mesmo que fez as inscrições rupestres? José Elias: Possivelmente. quando os tabajara tiveram que vir pelo interior para chegarem aqui.000 a 6. É hora de desfazer um equívoco. Horácio fala de um grande êxodo que aconteceu desde as margens do rio São Francisco. equívoco que foi criado. Mas o homem deve estar aqui na América latina há cerca de 30. O fato a que ele se refere. que ainda não estão no registro do domínio histórico. Tanto é que quando houve a nossa guerra de Tróia índia o cacique Iniguaçu trilhava por Itamaracá e chegou a Tracunhaém e ali quem dominava era a facção potiguara. . Humberto Mello: Com esses elementos sem escrita. Farei algumas observações. como ser humano. Os desenhos de lá e de cá são muito semelhantes. também.500 anos. depois de muitos anos. No começo da nossa conquista os caetés já haviam sido dizimados ou escorraçados pelo filho de Duarte Coelho de Albuquerque.000 anos de antiguidade. que já está sedimentado na nossa historiografia.000 anos aqui na Paraíba. que. Deve ser uns 5. pelo nosso grande historiador Horácio de Almeida. porque ele fala muito de informação oral. pois é um documento mais antigo. que não fala de data. Se havia esse povo muito antigo com esse conhecimento superior. todo o território da Paraíba e de Itamaracá estava nas mãos dos potiguara. em janeiro de 1585. que eram do grupo tupi. como os cronistas daquela época. E a segunda vez. Por exemplo. ele vai de boa fé em cima do autor do Sumário das Armadas e diz que Frutuoso Barbosa chegou aqui a primeira vez em 1579. José Elias: É o que eu estou fazendo. este que fora ouvidor da capitania de Pernambuco (como está em Frei Vicente). quando descreve a visita que fez a Janduí. O índio quando saia com a índia carregando a carga. dizendo-se filha de Francisco de Caldas. Por exemplo. podemos verificar que o predomínio da toponímia tupi é exatamente nessa faixa litorânea. esta campanha de preação de índio tem que ser. que dá Francisco de Caldas vivo em Olinda. segundo Horácio de Almeida. Vilma dizia era que significava a certidão da criança e a prova de paternidade. a grande odisséia teria durado apenas de 1578 até 1585. Saindo dessa faixa. Eles tinham um costume que era típico deles e de algumas poucas tribos do Brasil. . pois como detentor de um cargo público da Coroa ele não podia prear índio. e não de 1573 a 1585. Portanto. os cariris assavam e comiam. Guilherme d’Avila Lins: Coisas curiosos do costume tupi. com base nas informações sem data de Frei Vicente do Salvador. Existe um documento transcrito em português da época. já falecido. No couvade o marido ficava de choco enquanto a mulher dava a luz. porque não podia ser mais.Geografia e História da PB 158 Mas. Ele saía à frente. Couvade é um nome francês Waldice Porto: O que Dra. aquela corrida do tronco. se não me engano. Elias Herckmans. Era o marido quem recebia as visitas. Existe coisas desse tipo? José Elias: Há uma coisa comum entre os grupos jês. como nossa corrida de revezamento. Supondo que tivesse sido ainda do ano de 1578 esta grande preação de índio nas margens do rio São Francisco. Vale lembrar que uma filha de Francisco de Caldas denunciou no Santo Ofício. quando saía da taba. Que é o endocanibalismo? Quando morria um parente. Chegou até nós muito pouca coisa da cultura dos tarairiús. da cultura dos “tapuias”. textual. contada a partir desta data. já se perde o contato com o tupi. Isso em 1594. na guerra ou por doença. Porque os cariris também tinham o couvade. porque ela podia correr de volta enquanto ele enfrentava o perigo. doze anos depois. por exemplo. mesmo que fosse em guerra justa. a ceva do prisioneiro de guerra para poder ser ritualisticamente devorado? Existem coisas desse tipo? Há notícias sobre esses costumes? José Elias: Sobre esses costumes com relação aos tupis e cariris. que era o endocanibalismo. no mínimo. Existe alguma coisa na cultura dos tarairiú que os aproxime da dos tupi como. existe. Os jesuítas deixaram muita coisa sobre a cultura do tupi. mas de todas as línguas indígenas. mas real desses índios. Embora a gente tenha alguns estudos do tupi na geografia da Paraíba – um tupi restrito geograficamente – porque eles só dominaram uma pequena faixa do nosso território (a faixa litorânea). Não somente do tupi. o índio vinha atrás por ela poderia correr para a taba e ele cobriria a retaguarda. a “couvade” ou “choco”. dos cariris. Realmente ele fora. que é um costume mais tupi. Isto em 1578. Isso é testemunhado em Uris Barbman. Quando eles voltavam era o contrário. Guilherme d’Avila Lins: Muito bem. deitado numa rede. que era dos da governança da terra. ele tinha que estar livre para guerrear se fosse o caso. ocupando o cargo de provedor da capitania de Pernambuco. foi o primeiro que deu uma noção superficial. O grande equívoco de Horácio é que ele diz que foi em 1573 e aqui chegaram em 1585. que era cortado e passava de um índio para outro. em 1578. a campanha de preação de índio foi levada a cabo por Gaspar Dias de Ataíde e por Francisco de Caldas. É tempo de se fazer um estudo da toponímia do tupi na geografia da Paraíba. Esta é uma retificação que precisa ser feita. em Itamaracá. a saudação lacrimosa. ou vai-se perdendo gradativamente o contato com as palavras de origem tupi. Marcus Odilon Ribeiro Coutinho: Estou encantado com sua exposição. Há muitas tentativas de decodificar. tenho a impressão que é uma palavra cariri. Tibiri é palavra de origem tupi. Eu gostaria de saber a tradução dos topônimos gargaú. o tupi da costa e o guarani. divididos cada um de 40 a 50 dialetos. era como se tivessem contato com os deuses. A parte indígena está totalmente errada. O livro básico para esclarecimentos dessa natureza é o livro de Teodósio Sampaio. Esse estrangulamento se deve à influencia dos rios. eles trituravam os ossos e cabelos e comiam tudo com mel de abelha. como se verifica hoje. Eram tribos isoladas. Os holandeses descrevem a pesca na Lagoa de Piató. Os índios não tinham essa idéia de Brasil. tipo estatal. São três grandes grupos. Há muitas diversificações. Esse conjunto de costumes os aproxima de uma cultura mais antiga. são inegavelmente tupis. no meio do Estado. O fumo para eles era um deus. Ele era muito teimoso e sobre isso cheguei a discutir com ele. quando chegaram os portugueses. como nós temos hoje. Gurinhém. significa confusão. Agradeço a atenção de todos. o que vai diferenciar os tarairiús dos tupis e dos cariris. bodopitá. Algumas tribos tupis estavam subindo. tibiri. tenho dúvida se é uma palavra de origem cariri ou tarairiú. 7º Tema . descendo para o Paraguai. Argentina. pegaram a costa e foram subindo por aqui. Houve uma época no Brasil que tudo era considerado de origem tupi. Eles eram especialistas em mel de abelha. cuja organização era mais valiosa. agrupadas. também. Bru-há-há. Pedro Bruhaha está na fundação de Areia e é possível que isso tenha gerado essa denominação. O Rio Grande do Norte se aproveitou e colocou a parte do Seridó como sendo dele. Bruxaxá não era índio. porque se trata de um livro muito bom. Os cariris faziam a festa do fumo. Depois houve outras discrepâncias. em francês. Eles eram ictiófagos. Na parte referente a índio constante do trabalho de Horácio de Almeida. Era uma tupimania.Geografia e História da PB 159 Guilherme d’Avila Lins: Os tupis faziam isso com a criança defeituosa. Bodocongó tem várias interpretações. acajutibiró e gurinhém. do tabaco. mas brigando umas com as outras pelo domínio das terras. brigando umas com as outras. Ainda não temos um trabalho bem detalhado sobre as fronteiras da Paraíba. Respondendo à pergunta de Marcus Odilon. Eles tinham o sistema de lendas. Da mesma raça. As tribos não eram uma organização nacional. O tupi do Maranhão é bem diferente do de cá. José Elias: Dentro dos rituais. tem essa cintura? José Elias: Até o século passado o formato do mapa da Paraíba seguia a demarcação da capitania e pouca gente conhecia a topografia. José Elias: Quanto aos primeiros. O ritual que os cariris tinham é o ritual do fumo. o que é lamentável. Mas. vinculando ao problema da influência dos rios e a zona do Seridó. Sobre Borborema. Mel de abelha era uma coisa típica deles. Eles viviam em tribos pequenas. na certeza de que minha exposição aclarou a posição dos indígenas da Paraíba nesses 500 anos da descoberta do Brasil. há três grandes línguas: o tupi da Amazônia. Irineu Joffily aborda esse assunto. Eles vinham descendo da região da Amazônia. Nem tinham idéia desse tamanho todo. Uma coisa é preciso salientar. porque quando fumavam ficavam inebriados. Jeová Mesquita: A minha pergunta é a seguinte: Por que é que o mapa da Paraíba. nada é confiável. Os tarairiús eram mais primitivos que os tupis. eu afirmo que não existia índio Bruxaxá. O Rio Grande do Norte e a Paraíba eram uma coisa só. além das variações que existem de tempo em tempo e de região para região. e mais ou menos uns 300 dialetos.. registrar o heroísmo dos paraibanos. na defesa da sua terra. Naquela embocadura havia dois fortes e a ilha da Restinga. três anos após a conquista do Recife. Somente ontem fui solicitado para fazer essa substituição. que eram os senhores dos engenhos. O professor Aécio Villar de Aquino. FREDERICA. Tem até um ditado que diz que a defesa da casa é tão importante que. na cidade também havia outro canhão que disparava para ser ouvido nas cercanias de Santa Rita. Para compor a mesa. sendo ouvido na cidade. Passo a palavra ao consócio Aécio Villar de Aquino. impediam o acesso dos navios. Além desse heroísmo houve uma série de circunstâncias que influíram nas vitórias sucessivas dos paraibanos e na frustração dos holandeses durante essas invasões. à época. o acadêmico Joacil de Brito Pereira. Havia também um sistema sonoro no forte de Cabedelo. uma vez que não houve tempo para preparar um trabalho mais bem ordenado. possui diploma de Estudos Superiores em Economia Política e Direito Internacional Público e de Espanhol. nosso expositor. Vale. era um lugar quase inexpugnável. PARAÍBA – OS CEM PRIMEIROS ANOS DE VIDA SOCIAL DE UMA CIDADE. Com esse sistema era fácil convocar as chamadas milícias locais para lutar contra qualquer invasor. Foram três tentativas frustradas dos holandeses para conquistar a Paraíba. presidente da Academia Paraibana de Letras. Mas vamos em frente. concluiu o Curso de Reforma Agrária na OEA e Agricultural Marketing (Departamento de Estado dos EUA) e tem outros cursos de extensão no Brasil e no exterior. o que seria lógico. que era utilizada com uma bateria. NORDESTE AGRÁRIO DO LITORAL NUMA VISÃO HISTÓRICA. para sair-se dela. Por motivos superiores tivemos que remanejar a palestra que estava programada para esta tarde. A própria lagoa do centro da cidade também servia de empecilho. sociólogo. até quando morto são precisas quatro pessoas para carregá-lo. Também em torno do rio Sanhauá havia. convido o confrade Aécio Villar de Aquino. Em caso de perigo. A melhor entrada para a cidade era a embocadura do rio Sanhauá. de acesso muito difícil. em virtude da impossibilidade do expositor designado comparecer a este Ciclo de Debates. presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. Essa defesa foi reforçada desde os ataques dos índios. era usado um canhão especial que disparava. falecido recentemente): A minha palestra sobre o tema OS HOLANDESES NA PARAÍBA foi antecipada para substituir outro tema. Do lado sul da cidade havia uma série de alagados por conta dos rios Mumbaba e Gramame. historiador. Guilherme d’Ávila Lins. ensaísta. pela Universidade de Madrid. Abordarei essa fase dos holandeses na Paraíba examinando seu aspecto histórico e antropológico.Geografia e História da PB 160 OS HOLANDESES NA PARAÍBA Expositor: Aécio Villar de Aquino Debatedor: Luiz de Barros Guimarães A fala do Presidente: Hoje vamos debater o tema OS HOLANDESES NA PARAÍBA. Por outro lado. Sabemos que a Paraíba foi a última cidade a ser conquistada pelos holandeses. Expositor: Aécio Villar de Aquino (Ex-sócio do IHGP e ex-professor da UFPB. Publicou vários trabalhos sobre nossa história. O acesso ao rio só era possível no porto do Jacaré. uma série de mangues. Há várias coisas que nos chamam a atenção quanto às invasões holandesas na Paraíba. razão por que peço relevar o improviso desta palestra. que será o expositor. do pessoal da cidade. como ainda hoje. A posição da Paraíba. é formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFPB. era de uma verdadeira fortaleza. valendo citar NORDESTE SÉCULO XIX. Ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e ex-professor de Antropologia da UFPB. . portanto. e outros mais. FELIPÉIA. sob o comando dos “coronéis”. Não considero importantes essas hipóteses. Só o príncipe tinha liberdade de escolha. Nesse documento encontrado no arquivo de Haia. Como se sabe. depois de uma pesquisa exaustiva. em Recife parece ter ficado apenas as fortalezas de Cinco Pontas. Piso. Essas condições retardaram a posse da cidade pelos holandeses. Uma coisa interessante nos holandeses é que eles não assimilaram o sistema de guerrilhas adotado pelos indígenas na defesa da cidade. É preciso registrar que existia a Companhia das Índias Ocidentais. Assim. Há um aspecto da presença dos holandeses no Nordeste. aquele pãozinho redondo. O Dr. do ponto de vista científico. Ninguém comia o que tinha vontade no palácio do príncipe. registrando o estado em que se encontrava naquele tempo as colônias da Indonésia e da Guiana Holandesa. os próprios comensais do príncipe tinham sua ração reduzida. Sebastião que havia esse procedimento. que levaram os ingleses a emigrarem para a América do Norte e fundarem outro país. verifica-se que havia um racionamento de comida no palácio de Nassau. assim como os suíços. vi um documento que ele transcreve sobre o palácio de Nassau. Desde o tempo de D. Na época chegou a existir a câmara de vereadores. Ainda hoje se discute se seria melhor a presença do holandês ou do português na nossa colonização. funcionando com brasileiros e holandeses . em razão de lutas religiosas ou políticas. que era o pão holandês. que único traço da cultura holandesa no Nordeste era o brote. Quando a cidade foi libertada o forte de Cabedelo ficou nas mãos dos holandeses quase dez anos. Quem não tivesse uma arma em casa era penalizado. que foi iniciado pelos holandeses e ingleses com o chamado capitalismo mercantilista. vagabundos e delinqüentes de uma Europa que estava em dificuldades. que recrutou a escória do que existia na Europa naquele tempo. cujo nome era derivado de brute. Na colonização de povoamento são povos que vêm de outro país para ocupar outras terras porque não têm mais espaço naquele país. tantas gramas de pão. o povoador era obrigado a ter uma arma em casa. tantas de carne. pois não sou contra nem a favor. Um aspecto curioso está no livro de José Antônio Gonsalves de Mello – NO TEMPO DOS FLAMENGOS -. O que foi ruim foi propriamente foi o sistema colonialista adotado. Piso tinha direito a um copo de vinho. que é um livro interessante. Também durante o período de chuvas a pólvora molhada falhava. Os Estados Unidos é um exemplo de colônia de povoamento. Hoje é o capitalismo. pois a qualquer momento poderiam ser chamados para a defesa da cidade. Deixaram poucos traços. para onde foi gente inglesa da pior espécie. que demorava a ser recarregado. Eram desocupados. financiada pela Holanda.os escabinos. Na Paraíba não ficou nada. Da mesma maneira ocorreu com a Austrália. o pintor Eckout tinha direito a isso e isso. pois eles recebiam abastecimento pelo mar. como eram chamados. com o médico Dr. o Suriname. Havia uma relação das quantidades a serem usadas. Gilberto Freyre era muito favorável à colonização portuguesa. Eu me lembro que Rocha Pombo se pronunciou contra os holandeses. Folheando esse livro. Diz Câmara Cascudo. onde se tem de tudo e do melhor. É verdade que foi grande a contribuição holandesa sob o ponto de vista artístico. os europeus combatiam em campo aberto. do Brum e do Buraco. com a presença de pintores como Franz Post e Eckoutt. Enquanto a arma era recarregada um índio desfechava seis flechas. Existem dois tipos de colonização: a colonização de povoamento e a colonização de exploração. A idéia de palácio é coisa de conto de fadas. que não tem explicação. em forma de romance. o que contribuiu muito para os seus insucessos. resultante das lutas religiosas da Inglaterra. O uso da flecha muitas vezes era superior ao uso do arcabuz. Até as construções dos holandeses foram destruídas com sua saída. Na colonização desse tipo o povoador vai com toda a família: a . apesar do grande relacionamento que houve no tempo de Nassau. Há muitos autores que examinaram o assunto. todo documentado. dizendo que havia uma tendência do português para a miscigenização. Os holandeses dominaram o Nordeste durante 24 anos e não há o mínimo vestígio da cultura holandesa.Geografia e História da PB 161 A propósito. É de justiça destacar agora sua condição de precursor na Paraíba. a outra. ··· A fala do Presidente: O expositor acaba de registrar alguns aspectos da ocupação holandesa da Paraíba. mas o bairro do Recife atesta que houve grande influência na arquitetura da vida pernambucana. se um seria melhor do que outro para colonizar. convidamos o companheiro Luiz de Barros Guimarães. do debate sobre os 500 anos da descoberta do Brasil. Só encontrei duas palavras de origem holandesa que se incorporaram ao vocabulário brasileiro. os aderentes. Por esta razão é que estou aqui como debatedor. Essa é uma das versões que conheço. pois. Não foram poucas pontes. A colonização no Brasil e na maior parte da América Latina foi de exploração. Para finalizar. A propriedade tinha características de latifúndio e a produção era para o consumo externo. examinando o tipo de colonização da época com as conseqüências do regime adotado. com tendência para o racismo. pois os navios aqui aportados traziam principalmente homens. O produto bruto do Nordeste brasileiro era cinco vezes maior do que o da Inglaterra. e não para a metrópole nem para qualquer outro país. e não holandeses. Havia um propósito religioso para evitar contato com esse povo. como disse o professor Aquino. No início da colonização do Brasil o povoamento se deu sem a presença da família. que eu prefiro dizer assim porque os Países Baixos eram constituídos de 17 províncias. Uma. Vamos ouvi-lo. Fundamenta-se. os filhos. Na colônia de exploração acontece tudo em contrário.Geografia e História da PB 162 mulher. há várias interpretações.Tive o cuidado de anotar as observações que Aécio fez durante sua palestra. de escadas. em outubro de 1997. como Portugal. sem nenhuma exceção. Era o que tinha a expor. Os holandeses. . o Nordeste na época do domínio holandês era a região mais rica do mundo. provavelmente. a colonização de exploração. estreitos. iniciou no jornal O NORTE uma seção domingueira sobre os 500 do Brasil. quando. uma vez que todas. são hoje países desenvolvidos. destacando a colonização pelo povoamento. Aqueles sobrados altos. Não existe só uma linha reta. embora a mais conhecida seja a Ponte da Boa Vista. que nós vemos no bairro do Recife na rua Madre de Deus. foi escorbuto. A História é constituída de diversas versões. todas as colônias de exploração são países subdesenvolvidos. deixando em Portugal e Holanda os familiares. no Brasil. cultura de satanás. Até o momento só encontrei essas duas. não há como discutir esse assunto. não deixaram em todas as suas ocupações a influência da arquitetura. lembro outro aspecto interessante sobre as colônias de povoamento. A produção é para eles próprios. e possui vários cursos de extensão de História. A Holanda. mantendo afastamento dos nativos. Outro ponto importante foi o número de pontes que os holandeses construíram. como acentua Celso Furtado. cultivando um pequeno pedaço de terra e não tem interesse no trabalho escravo. Foram 96 artigos sob sua coordenação e assina vários artigos. membro do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. Aliás. como eu gosto de dizer. porque ali tinha um palácio donde se avistava um grande panorama. numa propriedade familiar. Debatedor: Luiz de Barros Guimarães (Historiador e membro do Instituto Paraibano e de Genealogia e Heráldica): Acabei de ouvir a explanação do historiador Aécio Villar de Aquino. Ao mesmo tempo. Gostei bastante. é uma característica da influência da arquitetura dos Países Baixos. adotou. A respeito da cultura que nós não absorvemos dos neerlandeses. Assim. Conheço a notícia de que a aversão à cultura trazida por eles era uma cultura de hereges. foi brote. Na África do Sul os nativos foram até eliminados. que é uma palavra de origem holandesa. que antigamente chamava-se rua dos Judeus e pejorativamente era chamada rua de bode. Para debater o tema. historiador. que se tivesse o cuidado de só derrubar pau-brasil com mais de quatro anos de idade. a colonização dos Países Baixos. Os fatos transcorridos somente nas duas décadas de 1624 a 1654 se situam num período muito curto. A colonização dos Países Baixos não pode se comparar com a colonização da Companhia das Índias Ocidentais. Escreve ele que é necessário fazer alguns esclarecimentos tecnológicos. a colonização da Companhia das Índias Ocidentais e a administração de Nassau. quero dizer que é preciso analisar com muito cuidado. querendo frear os gastos. que derrubavam árvores com dois ou três anos. neste livro de Evaldo Cabral de Melo. depois da derrota das tropas invasoras. conforme o número de escravos ou empregados existentes. A respeito da monocultura. Essa é uma justificativa dada por vários historiadores sobre porque havia grande economia no governo de Nassau. ou tantas covas de mandioca. salvo no tocante à expressão . Os brasileiros começaram a entender que iriam conseguir sua independência. porque são coisas diferentes. a designação era feita pela mais importante das seis províncias que formava a confederação. em alvará. quando em seu livro NEGÓCIOS DO BRASIL. mercantilistas. Baseio-me no historiador Evaldo Cabral de Mello. como a de Afogados. inclusive na alimentação bem como no soldo que ele recebia. Faço questão de usar a expressão neerlandesa em vez de holandesa. poderiam um dia caminhar para a sua independência. o relacionamento entre brasileiros e portugueses foi o mesmo. Esse progresso se deve unicamente a Maurício de Nassau. ou melhor dizendo. Isso ocorreu durante toda a colonização dos Países Baixos. Isso não quer dizer que esse progresso foi devido à colonização dos Países Baixos ou da Companhia das Índias Ocidentais. que dava maior rendimento do que estava sendo feito pelos estrangeiros. Nassau teve o máximo de cuidado. da Coroa portuguesa ou da Companhia das Índias Ocidentais. Começou aí uma série de revoluções. foi um progresso formidável. Daí a opção. inclusive em matéria de política exterior. coisa talvez inédita na colonização portuguesa. A versão que tomei conhecimento foi a de que a Companhia das Índias Ocidentais.Geografia e História da PB 163 Outras pontes foram construídas. a de Cinco Pontas (que liga os bairros de Recife que atravessam os rios). Nassau foi o único a abrir escolas para os escravos. que pode não ser a verdadeira. porque são coisas completamente diferentes. Essa é a minha versão. Jamais. querendo prejudicar Nassau e sua administração. Isto é. a maior potência naval da época. Nassau proibiu a derrubada de cajueiros e. pelo vocábulo Holanda e holandeses na acepção das províncias da Holanda e seus habitantes. o que era um erro. Não podem ser comparadas a colonização portuguesa. cortou verbas. que Nassau conseguiu fazer somente em sete anos – de 1637 a 1644 -. Já era então costumeiro designar-se a República das Províncias Unidas dos Países Baixos por Holanda. alertou para a derrubada de pau-brasil. a outra queria uma exploração mais ampla. Com a expulsão dos holandeses. inclusive dos portugueses no Brasil. Ele recomendou. A respeito da pendência se seria melhor a colonização dos portugueses ou dos holandeses. Outro ponto que gostaria de comentar é a respeito da comida controlada do palácio de Nassau. dos Países Baixos. mais importante. começou a rivalidade entre brasileiros e portugueses. É preciso estudar tudo isso para se ver a diferença da colonização sábia de Nassau e a dos demais colonizadores. uma só visava lucros imediatos. O ocorre é que a divergência entre a Holanda e seus parceiros eram freqüentes. O tema em debate nesta tarde é um dos menos pesquisados. procurou diferenciar o termo Holanda. A semente da independência do Brasil talvez esteja na restauração pernambucana. entretanto julgo ser um dos temas mais importantes para a nossa história. Os da terra começaram a entender que se tiveram forças para expulsar uma potência como os Países Baixos. mas muito importante para a nossa história. Tem alvará de Nassau obrigando a plantar tantos pés de mandioca. Outro ponto de vista para o qual chamo a atenção é que muita gente fica impressionada com o progresso do Recife. sendo talvez a principal causa para a criação da Companhia das Índias Ocidentais. Havia também um Conselho composto de 19 diretores. isto é. que se reuniam em Amsterdâ e Midelburg. E tivemos que pagar quatro milhões de cruzados de indenização. em Haia. Por volta de 1621. algodão.Geografia e História da PB 164 consagrada Brasil Holandês. A batalha foi ganha aqui. sendo os mais importantes zelandeses e os holandeses. Os soldados já não recebiam . entretanto. em instalações de refinarias de açúcar em Amsterdã. 1630-1654. Tenho impressão que foi Celso Furtado quem disse que o açúcar era mais holandês do que português. isto é. tomando por base os percentuais do valor das ações na Bolsa de Valores. alternativamente. Dessa maneira. Os Países Baixos. devido aos boatos de ajuda militar portuguesa a Angola. Os investidores neerlandeses eram proprietários de engenhos. se comprometiam a fornecer militares e naus. ou seja 25% porcento. foram realizados no transporte marítimo. A Companhia das Índias Ocidentais estava economicamente derrotada. proporcionais ao número de acionistas. Não havia mais condições de manter a resistência militar no Nordeste. relatórios ao Conselho dos XIX. cuja atribuição principal era assessorar o governo do Brasil holandês. O capital de sete milhões de florins para a formação da Companhia das Índias Ocidentais originou-se da participação de investidores privados e estatal. periodicamente. Altos investimentos. (Era uma espécie um SNI). composto de três membros. a interferência dos Países Baixos na paz definitiva com Portugal. logo 68% e 52%. mas a paz foi resolvida em Haia e em Londres. a nação será e sempre foi designada por Países Baixos e seu governo por Estados Gerais. Os Países Baixos mantinham um fluxo comercial relativamente significativo com Portugal. Instalaram refinarias de açúcar em Amsterdã. além de sua participação monetária. peles e animais exóticos. com a União Ibérica. denominado Conselho dos XIX. cuja descrição deixo de apresentar para não tomar o tempo dos presentes. No Brasil holandês existia o Alto e Secreto Conselho (Hoog end Sevet Raden). os armadores neerlandeses transportavam grandes percentuais de cargas para a Europa. Além da indústria açucareira. Pouca coisa restava aos portugueses. passando a ser colônia da Espanha. um negócio de estado. sobretudo. Por essa razão é que veremos. o Brasil passou a ser uma subcolônia. e não em Pernambuco. Retrocederei um pouco para falar sobre a Companhia das Índias Ocidentais para melhor se compreender o domínio dela na Paraíba. refinadores e distribuidores. Distribuíam açúcar refinado para todo o Norte da Europa. ganhamos a guerra e ainda pagamos aos invasores. obrigado a apresentar. O que vinha em segundo lugar era a Frigia com apenas um quinto. os negócios privados da Companhia passaram a constituir. Motivos religiosos também contribuíram para a formação da Companhia. A administração da Companhia das Índias Ocidentais era formada por cinco conselheiros regionais. A derrota militar neerlandesa deve-se a vários fatores. financiadores da cultura da cana-de-açúcar. À Companhia caberia a manutenção e o pagamento dos soldos desses militares. quando Portugal foi incorporado à Espanha. Ficou mais conhecido como período holandês porque a Holanda possuía quarenta porcento da população em todos os Países Baixos e contribuía com 58% do orçamento. Portugal estava decadente. inclusive financiamentos. e não com o Brasil. Por isso que se refere sempre e unicamente à Holanda. o historiador Evaldo Cabral de Mello apresenta a situação da Companhia. de modo a distinguir dos Estados da Holanda. os Países Baixos comercializavam com pau-brasil. sobretudo. transportadores marítimos. o Estado. representado por 18 conselheiros regionais e um representante dos Estados Gerais. Felipe II fechou os portos lisboenses aos navios dos Países Baixos. Em abril de 1644 as ações da Companhia caíram para 70%. mas eram sete províncias. com sede em Recife. Com saída de Nassau as ações caíram para quase um terço do seu valor. O capitalismo português já não funcionava. Retrocedo às razões econômicas que contribuíram para a criação da Companhia das Índias Ocidentais. e por essa razão alguém escreveu que o açúcar é mais holandês do que português. No livro OLINDA RESTAURADA – GUERRA DO AÇÚCAR NO NORDESTE. couro. os demais pouco representavam. mais adiante. entre 1580 a 1640. Assim. Mas o que ali estava era o predomínio militar dos Países Baixos. e foi lavrado em latim. Um homem extraordinário pela sua bravura. Ratos e restos de passarinhos eram comidos pelos soldados. Os luso-brasileiros. Fala-se muito na guerra de restauração pernambucana. nós conseguimos vencer uma nação poderosíssima. Mas. em 6 de agosto de 1651. O Brasil. a Henrique Dias. graças a ele. afirmo que nós ganhamos a batalha militar. foram quinta-coluna com os holandeses. 1º participante: Joacil de Britto Pereira (Sócio do Instituto e presidente da Academia Paraibana de Letras): Expositor e debatedor focalizaram aspectos interessantes sobre o tema. com 16 artigos. E nós conseguimos. Comportaramse como se comportam os ruralistas de hoje. ··· A fala do Presidente: Com muito brilho. mas a maior figura da reação contra os holandeses. Pernambuco. e de modo especial na nossa Paraíba. dada em casamento ao rei da Inglaterra. Porque nova invasão viria não só para o Nordeste. Os empréstimos feitos aos luso-brasileiros não tiveram retorno. heróica e gloriosa. Talvez seja um caso inédito na nossa história. contra os invasores. notadamente sobre o açúcar. a Companhia não possuía condições de sustentar suas possessões e manter altos investimentos na construção e manutenção dos engenhos. ou melhor. e. Deixo.. João IV. juntando as três raças que entraram na formação do Brasil. além de favores comerciais. de me referir às batalhas militares. dentre os quais o mais importante era a Holanda. combatendo os holandeses unicamente por questão de interesse econômico. como Portugal seria invadido imediatamente pelos holandeses. mesmo depois de derrotados. viraram a casaca. que estabeleciam uma indenização de quatro milhões de cruzados em ouro e restituição da artilharia que aqui se encontrasse aqui. Por esta razão. gostaria de salientar que aqui no Nordeste. O tratado de paz definitivo foi assinado em Haia. A fome era grande. propositadamente. A derrocada econômica refletiu diretamente na chamada insurreição pernambucana de 1645. destacou a atuação de Maurício de Nassau e profligou veementemente o leonino tratado de paz firmado com os holandeses. que tinha uma organização militar mais progressista e moderna: a Holanda. pois o definitivo ficaria dependendo da homologação dos governos dos Países Baixos e não de Portugal. Referiu-se ao comportamento dos holandeses durante seu domínio na Paraíba. mas perdemos a diplomata. primeiro debatedor inscrito. mas ele deu um sentido cada vez mais aperfeiçoado a esse tipo de batalhas. . Os índios já a praticavam. O assunto é palpitante. Sei que os apontamentos do nosso expositor Aécio Aquino e as provocações do ilustre debatedor Luiz Guimarães vão estimular os participantes na continuação do nosso debate. surgiram as guerras holandesas. a Felipe Camarão. tornando-se um perito nas guerras de guerrilha. foi um paraibano: André Vidal de Negreiros. Era uma operação de família para família. na Campina da Taborda. Com a derrota militar neerlandesa foi assinado um tratado de paz condicional e provisório em 26 de janeiro de 1654. passo a palavra ao consócio Joacil de Britto Pereira. o Nordeste. em vista da incapacidade de saldarem seus débitos. Catarina de Bragança. durante 16 anos. pela sua estratégia. A corrupção predominou nas tropas invasoras Sem capital. Coube ao Brasil a cota de pagamento de um milhão e novecentos mil cruzados em ouro. em 19 prestações. ficava obrigado a pagar vinte mil cruzados de contribuição para o dote da infanta D. que no início colaboraram. o historiador Luiz de Barros Guimarães se desincumbiu de sua missão como debatedor perspicaz. filha de D. Ganhamos a batalha e tivemos que indenizar os invasores.Geografia e História da PB 165 seus soldos. Pouco importa dizer que vinha sob o disfarce da Companhia das Ilhas Ocidentais. A guerra holandesa nos deu o sentimento de Pátria. Aécio de Aquino. como se já não tivéssemos pago com sangue. a primeira manifestação de uma reforma agrária no nosso Nordeste. Distribuiu suas terras. celebrar uma paz bem anterior. particularmente. Isso está escrito pelos historiadores. dali surgiu com os seus anseios libertários. para que nós realcemos a bravura do paraibano. Foi uma carta dirigida a André Vidal de Negreiros. O próprio Yppo Eissens. Como guerreiro. continuaram existindo apesar do abandono dos seus proprietários. Vários holandeses adquiriram esses engenhos. particularmente. E é por isso que ele é tão importante para a História do Brasil e. 2º participante: Guilherme d’Avila Lins: (Membro do Instituto e presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica) Mais uma vez parabenizo a iniciativa deste Instituto pela realização destes debates e particularmente pelas considerações que foram feitas pelo expositor. uma única palavra que se incorporou ao nosso vocabulário. Pela primeira vez na História do Brasil se falou. E tivemos de pagar de novo. pois ele morreu em 1636. portanto. os negros e André Vidal de Negreiros. Esses engenhos foram confiscados. mas nós devíamos sempre realçar a bravura do nosso povo. com a aquiescência do governo holandês em Pernambuco. que reuniu essas três grandes figuras: André Vidal de Negreiros. O expositor e debatedor fizeram enfoques interessantíssimos. entretanto há cerca de 400 palavras portuguesas que se incorporaram ao vocabulário holandês.Geografia e História da PB 166 Eu gostaria de suprir as omissões desses aspectos que não foram ventilados. a área primeira tocada. pelo debatedor. mudaram-lhes os nomes mas não tocaram neles. não era dono. Às vezes o antigo feitor era o mesmo. como estrategista e também como homem de espírito humanitário. historiador Luiz de Barros Guimarães e pelo professor Joacil de Britto Pereira. Sobre os vestígios dos holandeses na nossa cultura há uma linha interessante de argumentação. deixando antes de morrer. A gente lê todo dia e ouve na televisão que a Bahia é o berço do Brasil. a ousadia de termos expulsado os holandeses. que era um capital parado. que escaparam quando os holandeses aqui se instalaram. tanto é que ele não levantou um só engenho. onde aportaram os portugueses. das três raças que se irmanaram. se usou a palavra Pátria. Contra Yppo . Morreu. por ele ser o diretor da Capitania da Paraíba. um testamento que é uma preciosidade de humanismo. Dr. Ratificando o que já disse o debatedor Luiz de Barros Guimarães. mostrando. Apenas aproveitaram a mão-de-obra existente nos engenhos. Os engenhos da Paraíba. Mas. Ele apenas usufruía indevidamente o engenho. Estava aqui para extrair. Nós os brasileiros. os primeiros laivos de nacionalidade deste país. considerado por muitos como dono do engenho Santo André. apenas por uma questão de ter sido a área descoberta. e nós resistimos. originária de bloudes. e confiscados ficaram até 1637. E o brasileiro. como nação. A junção dessas três raças é que fizeram a Pátria brasileira. sem dúvida. fosse em Pernambuco. nasce no período holandês. eu digo que os lusobrasileiros pagaram com sangue a vitória e a expugnação do solo pátrio pelo invasor neerlandês. para o Nordeste. quando Nassau ainda não tinha chegado. que nasceu com o espírito de uma nação nova. quando se falar sobre a guerra dos holandeses. Aqui no Nordeste é que é o berço da nacionalidade. O holandês estava aqui não para morar nem para colonizar. no nosso Brasil. que foi um homem tão notável como estadista. Paraíba e Rio Grande do Norte. os índios. quando somente a partir daí Nassau ordenou a venda desses engenhos. dos nordestinos. Sobre a Paraíba heróica. Esse é um aspecto que eu queria suprir. Henrique Dias e Felipe Camarão. fosse na Paraíba. O professor Aécio Aquino lembrou a palavra brote. fosse na Bahia. que registrou o sentimento de Pátria e a palavra Pátria no seu conceito mais alto. que governou terras daqui e de além-mar. O sentimento de brasilidade. fosse nas Alagoas. o grande berço da nacionalidade são esses Estados de Pernambuco. Fez. no primeiro período. seus engenhos com os seus próprios escravos e moradores. E concordo com sua observação: neerlandês e não holandês. O grande sentido dessa situação histórica foi o Brasil despertar para o seu valor próprio. foi de uma bravura excepcional. Foi numa hora em que Portugal queria se ajustar com os invasores. cuja filha casou-se com um holandês. Para citar uma documentação portuguesa. como. na questão das fontes de pesquisa histórica. Do lado holandês existe muita coisa ainda para ser vista. aqueles dez anos em que os holandeses ficaram acuados no forte do Cabedelo recebendo suprimentos por mar. mas um centro ativo de debates com a presença de historiadores como Luiz Hugo Guimarães. . senhor de engenho abastado. fato raríssimamente citado. na Paraíba. 3º participante Maria do Socorro Xavier: Parabenizo essa iniciativa deste Ciclo de Debates. como o de Dr. Ele só citou a Paraíba en passant. Diogo Lopes Santiago. em Itamaracá. os quais tenho assistido até agora. que a estabeleceu dois ou três meses antes da de Olinda. Brevemente eu apresentarei uma reedição crítica desta obra que jamais foi consultada na historiografia brasileira. particularmente as atas diárias do governo holandês. Outro trabalho de extrema importância. Barleus. inclusive a documentação administrativa que está por ser vasculhada. Esta obra é importante porque ele foi testemunha presencial em 1631 da tentativa dos holandeses conquistarem a Paraíba. embora tenha sido citada na bibliografia brasileira. pensando no tradicional dote. Parabenizo também o nível dos debates. obra raríssima da qual só se conhecem quatro exemplares. Este é o mesmo Yppo Eissens que queria casar com uma sobrinha-neta de Duarte Gomes da Silveira. onde o autor mostra nas entrelinhas como nós. apesar de muita coisa já estar escrita. isso em 1630. analisada e criticada. está faltando quem vasculhe a documentação holandesa concernente à Paraíba. A participação dos luso-brasileiros era pequena e teoricamente os obrigariam a entender o holandês. Há muita linha de pesquisa a ser desenvolvida sobre o período holandês. não apenas um arquivo de livros. É um trabalho de equipe e de longa duração. documento este que foi descoberto por Varnhagen. Se procurarmos as fontes principais do período temos do lado holandês exemplos como Joannes de Laet.Geografia e História da PB 167 Eissens consta a existência de um processo acusando-o de sodomia. Mas toda a documentação das chamadas “Nótulas Diárias” está para ser vasculhada no Instituto Arqueológico Pernambucano. Apesar de tudo isso. Francisco de Brito Freire. A Revista do Instituto Histórico tem duas publicações deste mesmo relatório. Frei Rafael de Jesus (este precisa ser lido com muito cuidado. e que interessa primacialmente à Paraíba. A esta altura já existia o reforço do forte da cidade e existia um reduto na ladeira de São Francisco. sobre a qual estou fazendo um estudo para uma reedição crítica. Ele também dá informações importantes sobre a navegabilidade do rio Paraíba naquela ocasião. Mas há muita coisa ainda obscura. fazendo com que o Instituto Histórico seja. entre outros. a reboque de fatos de interesse de Pernambuco. estávamos nos preparando para o ataque que ainda iria acontecer fatalmente. Estão faltando pesquisas nesse sentido. por exemplo. que nunca foi vasculhada.. graças à visão e clarividência administrativa de Elias Herckmans. como a palestra da professora Rosa Godoy Silveira sobre o Império. como o da professora Regina Célia Gonçalves. pois ele consegue transcrever entre aspas discursos de até quatro páginas sem nunca ter vindo ao Brasil). Aliás este inquérito sobre sodomia foi movido pelos próprios neerlandeses. Joacil de Britto Pereira e outros nomes significativos da nossa cultura. eu citaria um opúsculo de Frei Paulo do Rosário. um fato interessante é que a primeira Câmara de Escabinos que existiu no Brasil. editada em 1632. no segundo ciclo. Ele relatou tudo o que aconteceu e terminou colocando uma relação dos feridos e dos mortos naquela tentativa. poucos holandeses falavam português. Tem que haver mais coisa sobre este episódio. José Antônio Gonsalves de Mello vasculhou de forma maravilhosa a documentação holandesa. Essa história está muito curta. do lado luso-brasileiro temos Duarte de Albuquerque Coelho. porque dez anos dentro de um forte dá para as pessoas morrerem de tédio. como aconteceu com Luciano Brandão. foi a da Paraíba. para mostrar o clima que antecedeu a entrada dos holandeses na Paraíba. Luiz Hugo Guimarães e Joacil de Britto Pereira. é a DESCRIÇÃO DA CIDADE E BARRA DA PARAHÍBA por Antônio Gonçalves Páscoa. Por sua vez. Manoel Calado Salvador. no que diz respeito especialmente a Pernambuco. Sobre a atuação dos holandeses. sobre a República na Paraíba. Eles trouxeram consigo também uma ideologia religiosa. não importa muito se o Brasil fosse colonizado por holandeses com essa índole capitalista. É preciso lembrar que uma família holandesa ficou aqui no Brasil. Na verdade.Geografia e História da PB 168 Todos foram maravilhosos. oferecendo grandes subsídios para a cultura da história paraibana. Portugal ficou pobre quando botou os judeus para fora de Portugal. Possivelmente. com a Inquisição. com a maior racionalidade possível. Nosso presidente poderá se corresponder com essa sinagoga ou com a embaixada da Holanda aqui no Brasil e examinar se podemos obter mais algumas informações. é um assunto que dá margem às mais diferentes avaliações. A ideologia religiosa dos portugueses foi o catolicismo. Quando estive lá fui vê-la. nome que em holandês se escrevia Wan der ley. Volto ao tema sobre se seria melhor a colonização holandesa ou portuguesa. como foram os holandeses. Eles foram embora e levaram o capital. uma racionalidade bem típica dos povos anglo-saxões. Isso não é nada de mais. Eles foram com o intuito de se fixar. Todos queriam lucros. O que quis provar é que o protestantismo trouxe a época do trabalho de racionalidade. os judeus expulsos de Portugal foram se refugiar em Amsterdã. explorar. trabalhar. Se tivéssemos sido colonizados pelos holandeses poderíamos ter uma colonização mais racional. com a mineração. A meu ver. Só que.e com o tempo houve a . sinagoga israelita-portuguesa. lucrar. Sabemos que ambos europeus estavam sob a influência do mercantilismo. e acho até bom. Agora eu pergunto: será um mito ou verdade porque os holandeses não se miscegenavam com índios nem africanos e a questão do gado holandês? 5º participante Marcus Odilon Ribeiro Coutinho (Sócio do IHGP): Todos os participantes falaram com brilhantismo. brilhantemente mencionados pelo professor Joacil Pereira. A racionalidade esteve mais presente nas colonizações dos povos anglo-saxões. protestante. laica e lucrativa. Também os portugueses exploraram o Brasil. 4º participante Célia Camará Ribeiro (Sócia do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói): Sou de opinião que nossa querida Frederica teria sido melhor em cultura com os holandeses. Em Amsterdã tem uma sinagoga. O problema da Companhia das Índias Ocidentais é que o capital era judeu. onde ele mostra a colonização dos Estados Unidos feita pelos ingleses e a das Américas. um catolicismo um pouco fluido. Estava impaciente porque eles não tinham tocado nos grandes heróis da luta contra os holandeses. Foi a família Wanderley. povoar. porém. Os que ficaram foram depois colhidos pela Inquisição. pau-brasil. E aqui eles deixaram várias obras. Os judeus tinham que aceitar a religião católica ou emigrarem. embora tenhamos tido a Inquisição. Depois soube por pessoas que estiveram lá que há nomes portugueses. um pouco frouxo. à época protestante e com o espírito do capitalismo. se os holandeses tivessem procedido a colonização da Paraíba talvez ela tivesse se assemelhado àquela colonização procedida pelos ingleses nas colônias americanas. Há uma análise muito boa feita pelo sociólogo Max Weber abordando a ideologia influenciando a colonização portuguesa e espanhola nas Américas e a colonização inglesa. teutões. se fixar. como asseveraram os debatedores. que é uma cidade que tem uma influência portuguesa enorme. influenciando para que as colônias inglesas na América fossem mais prósperas do que a colonização portuguesa. levando ouro para Portugal. etc. Quero parabenizar o expositor e debatedor de hoje pelos aspectos interessantes que foram colocados sobre o período holandês na Paraíba. com três nomes. de lucro. porque não só palavras edificam uma cidade. Esse assunto. Ainda lembrei pelo paralelo feito pelo escritor Vianna Moog no seu livro BANDEIRANTES E PIONEIROS. mas estava fechada. esses vocábulos portugueses que estão incorporados ao holandês sejam uma conseqüência dessa emigração de Portugal. Já os portugueses eram mais flexíveis. feita pelos portugueses e espanhóis. mais organizada. porém as obras. a professora Diana Galliza falará sobre A PARTICIPAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA ESCRAVA EM VÁRIAS ATIVIDADES ECONÔMICAS. Dentro do tema ESCRAVIDÃO NA PARAÍBA. não era holandês: era alemão. tiveram somente três meses para deixarem o Brasil. Pernambuco e Tocantins. João Tavares. não era a liberdade que eles propunham. O DECLÍNIO DA ESCRAVIDÃO NA PARAÍBA (18501888). onde lecionou por durante vários anos. reconheceu-se aos judeus o direito de praticarem sua religião. que. Doutora em História pela Universidade de São Paulo. 1988. que abraçaram a tese da . inglês e espanhol. 1979. Embora nossas pesquisas se tenham concentrado no declínio da escravidão na Paraíba. são numerosos. Primeiramente. 1965. Ambrósio Fernandes Brandão. Uma observação importante a fazer é que havia muita liberdade religiosa no tempo de Nassau. Professora de História do UNIPÊ. a participação da mão-de-obra escrava nos vários ciclos da economia paraibana. no primeiro acordo firmado. PARAÍBA – 1890-1930 (modernização ou independência?). Nas universidades da Paraíba. na época colonial. No tempo de Nassau. Duarte Gomes da Silveira. Martim Leitão. nos seus primórdios.. Havia muito mais liberdade no Brasil holandês. Seus trabalhos. Muitos deles deixaram o Nordeste e foram para os Estados Unidos. Pós-graduação. sempre exaltados pela crítica. A colonização da Paraíba. professora Diana Soares de Galliza Expositora: Diana de Soares Galliza (Mestra em História pela Universidade Federal de Pernambuco. o incentivador e financiador da colonização da Paraíba. O nativo não era incapacitado ao trabalho. João VI estava no Brasil. Professora aposentada de História da Universidade Federal da Paraíba. vamos enfocar. os cultos protestantes eram abertos e as igrejas católicas continuaram abertas também. como argumentaram os historiadores. a professora Galliza já ministrou aulas em Cursos de Graduação. que depois passou a ser Nova York. fundaram engenhos na Capitania e recorreram a mão-de-obra escrava. mas não deu certo. tentou-se escravizar o índio. Salvo engano. e está a cargo nossa confreira Diana Soares de Galliza. É uma grande pesquisadora. Membro do Colegiado do Programa de PósGraduação de História da Universidade Federal de Pernambuco. e outros trabalhos. Na verdade. que é formada em História pela Universidade Federal da Paraíba. Letras e Ciências Humanas pela USP. quando D. É mestra e doutora em História pela UFPE e doutora em Filosofia. a sinagoga era aberta. de cujas bancas tem sempre participado. os protestantes só vieram a ter liberdade de culto por pressão e influência da embaixada inglesa. aliás. Especialização e Mestrado e Doutorado. A escravidão tornou-se o sustentáculo da economia açucareira. constituiu uma expansão da agroindústria do açúcar de Pernambuco. onde fundaram a Nova Amsterdã. os nossos heróis não eram tão a favor das liberdades porque eles não davam liberdade religiosa. Passo a palavra à nossa expositora. sócia do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e pesquisadora da Escravidão na Paraíba) A MÃO-DE-OBRA ESCRAVA NOS ENGENHOS A escravidão é um tema palpitante e abrangente pela multiplicidade de aspectos que apresenta.Geografia e História da PB 169 junção. hoje. destacando-se HISTÓRIA REPUBLICANA NA PARAÍBA. principalmente. Fala-se que na luta dos pernambucanos pela liberdade. Parece-me que os holandeses. Domina os idiomas francês. 8º Tema A ESCRAVIDÃO NA PARAÍBA Expositora: Diana Soares de Galliza Debatedora: Waldice Mendonça Porto A fala do Presidente: O tema a ser debatido nesta sessão é A ESCRAVIDÃO NA PARAÍBA. Não dispomos de dados sobre a formação de quilombos na Paraíba. A solução encontrada foi a utilização da mão-de-obra africana. aliciavam escravos para seu valhacouto. Temos notícias de que. os carmelitas. mantinha o equilíbrio sexual e acabava com a mancebia. O escravo nego foi imprescindível à expansão da atividade açucareira. o tráfico negreiro aumentava. durante a ocupação holandesa. Enquanto os escravos se casavam e constituíam família. aqui estabelecidas: os jesuítas. o português procurou. No afã de obter lucro imediato. que a cultura da cana exigia. mudaram de opinião em relação à instituição. pela sua capacidade de manter ou de aumentar o número de crioulos em suas propriedades. tão comum no seio do elemento servil. adquiriram escravos e se envolveram com o tráfico negreiro. Amealharam somas vultosas com o comércio de escravos a ponto dele se tornar uma das maiores fontes de renda para a Companhia das Índias Ocidentais. A formação de quilombos remonta àquela época. Podemos acompanhar a formação do patrimônio rural dos beneditinos e de sua escravaria através de Irineu Ferreira Pinto. tirá-lo do nomadismo em que vivia e fixá-lo à terra. havia 20 engenhos de açúcar na Paraíba. cujo tráfico iria proporcionar elevados ganhos a Portugal. as tentativas de fuga eram muito remotas. Por que eles agiam dessa maneira? Porque o casamento conferia estabilidade à família. ceifar sua liberdade. a existência da família escrava e a proliferação de crioulos nos domínios beneditinos. Perceberam a importância da força de trabalho negra nos engenhos. como o fizeram os jesuítas. invadiam e queimavam as casas. os negros. que haviam negado ao escravo o gozo de uma organização familiar. havia três quilombos na Paraíba. como a varíola que. mais vinculados ao engenho ou à propriedade. Assim. sendo 18 em atividade e dois de fogo morto. Robert Slenes e Stuart Schwartz pesquisaram a constituição da família escrava e desmitificaram arraigadas concepções tradicionais. que os integravam. sendo Palmares o mais importante. ocorreram enchentes e epidemias. durante a dominação holandesa. encontrada . conforme Irineu Pinto. de forma brusca. segundo Irineu Pinto e Irineu Joffily. onde trabalhavam. Alguns registros mencionam que somente os velhos e crianças permaneceram nas unidades açucareiras. A crise afetou esses religiosos de tal forma que. durante dez meses. Os engenhos ficaram despovoados de negros e os cativos infestavam as ruas. aproveitando-se da confusão. havia razões para tal procedimento. as culturas de cana de açúcar. os beneditinos. que estudam a escravidão no Brasil. Ainda. Entre os proprietários de engenho e detentores de escravos citamos as ordens religiosas. Gilberto Freyre e padre Antônio Vieira enfatizaram que a cultura da cana de açúcar só se tornou possível devido à utilização da mão-de-obra africana. O historiador mencionado informou que. porque o colonizador não quis despender seu tempo preparando o índio para o trabalho metódico. Os holandeses que. a princípio. Schwartz concentrou suas pesquisas na escravaria dos beneditinos e constatou a preocupação e a habilidade que esses frades tinham de incentivar o casamento entre seus cativos. Comprovamos. tornavam-se mais dóceis. Aliás. Os engenhos foram saqueados. na Paraíba. esses religiosos têm chamado a atenção dos historiadores.Geografia e História da PB 170 indolência do indígena. . como escravo. Mas a luta com os batavos desestruturou a economia açucareira. os franciscanos. Craúnas e Cumbe provocavam desordens e. seus cativos se alimentavam exclusivamente de ervas. E como eles procederam com os escravos? Fica a questão em aberto. em DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAÍBA. nem onde se localizavam. dizimou 1000 escravos na Paraíba. fizeram sérias restrições a escravidão. Não sabemos quantos redutos de escravos fugitivos surgiram. após a expulsão dos batavos. Antes da invasão holandesa. Fracassou a tentativa de escravizá-lo. O nativo revoltou-se. organizado. posteriormente os beneditinos perderam metade de sua escravaria vítima de epidemias. fugiram. Na medida em que os engenhos proliferavam na Paraíba. Além de elevar o nível moral dos cativos. queimadas e os escravos. presenciou a escravidão. Os sertanistas requereram datas de terra e implantaram currais nas suas propriedades. Nas nossas pesquisas nos cartórios de Pombal. Matias de Albuquerque. Entretanto. os holandeses não se miscegenavam com os negros. quando a pecuária iniciava a sua expansão pelo sertão. nem apenas conferia status ao . também não poupou esforços no sentido de restaurar a economia açucareira. Por exemplo. Expulsos os invasores. Mas não reconheceu sua importância para a economia da região. na atividade açucareira. Estabeleceram uma separação quase que profilática entre o senhor e o escravo. constatamos que. por outro lado proibiram que os proprietários os mutilassem. No entanto. Eles deslocavam os cativos das unidades açucareiras para suas fazendas no sertão a fim de trabalharem durante o verão. chicotes e que eles fossem colocados no tronco. Todavia não o reconheceu engajado no trabalho produtivo. teria emprestado dinheiro de seu bolso para restaurar os engenhos. pois. diferentemente dos portugueses que se misturaram com o homem de cor. José Américo de Almeida também se admirava com a numerosa escravaria de Piancó e São João do Rio do Cariri. Desde a dominação batava a Paraíba ficou imersa numa grande crise. constatou indício do negro. ou seja o nativo. tendo em mãos os dados estatísticos populacionais da Paraíba. os historiadores que enfocaram a economia do criatório desprezaram o desempenho do cativo negro ou lhe atribuíram pouca importância. particularmente. já era expressiva a participação do escravo negro na economia sertaneja. que percorreu os sertões do Ceará e da Paraíba e foi testemunha ocupar da escravidão negra na área sertaneja. Clóvis Moura. Ponderou que para a atividade criatória a raça americana. onde há farta documentação. nos primórdios do século XVIII. recenseamento de 1872 e outros documentos comprovam estatisticamente que a presença do escravo negro na área sertaneja não foi insignificante. O ESCRAVO NEGRO NO CRIATÓRIO Depois da entrada de Teodósio de Oliveira Ledo começou o povoamento do sertão paraibano fundamentado na atividade criatória. a mutilação de seus membros e puni-los com a pena de morte. apenas. em Piancó e São João do Cariri. Conferia. assentada na mão-de-obra escrava. cognominado o historiador do sertão pelos estudos que realizou sobre a zona criatória. Somente a Justiça podia decretar a ferradura dos negros. João Fernandes Vieira. um dos governadores da Capitania. Todavia sua participação não foi. Mas o escravo negro não foi omisso no criatório. mas como um elemento perturbador da ordem econômica. Quanto ao segundo tentou explicar o elevado número de escravos pela transferência temporária dos negros dos engenhos do brejo para as fazendas criatórias do sertão. Irineu Joffily. colaborou. afirmou no seu livro CAPÍTULOS DE HISTÓRIA COLONIAL que a presença do escravo negro no sertão representava magnificência e fausto. do século passado. Inicialmente. que se adequou muito bem ao nomadismo do pastoreio. mapas da população escrava. Nossas pesquisas em documentação cartorial. Muitos cativos foram importados da África e. como quilombola.Geografia e História da PB 171 Se por um lado permitiram que os senhores castigassem seus cativos com açoites. no século XIX o número de cativos existentes na Paraíba era significante. Acrescentou que muitos senhores de engenho residentes em Alagoa Novos tinham propriedades em São João do Cariri. houve tentativas de soerguimento da economia paraibana. seu sucessor. Em relação ao primeiro asseverou que “é o município sertanejo onde o melanismo é mais acentuado”. Gilberto Freyre em CASA GRANDE & SENSALA sustenta que uma das razões do sucesso da colonização portuguesa nos trópicos foi a miscibilidade que a caracterizou. Os dados estatísticos apresentados por Irineu Pinto revelam que 15% da população paraibana eram de escravos negros. À semelhança do historiador cearense afirmou que a presença significativa dos cativos constituía uma ostentação do fazendeiro. status ao fazendeiro. se prestou melhor do que o africano. ao fazer estudos étnico-cultural do nordestino. Capistrano de Abreu. Contudo. ficou surpreso com a quantidade de escravos existentes em municípios sertanejos. recrutaram a mão-de-obra nativa. também na pecuária. Não concordamos com o argumento de José Américo de Almeida ao explicar o elevado número de escravos de São João do Cariri: a transferência provisória da mão-de-obra dos engenhos do Brejo para as fazendas sertanejas. Ele esteve engajado na economia do criatório. O fato de São João do Cariri ter recebido a segunda maior quota do Fundo de Emancipação corrobora que os escravos moravam naquele município. encontramos alforrias compradas pelo escravo com cabeças de gado. constam 20 vaqueiros. Irineo Joffily asseverou que os escravos nas fazendas de algodão chegaram a rivalizar. no período colonial e no século passado. Dado o isolamento em que o sertão vivia. em número. Cumbe e o do Espírito Santo. Nas nossas pesquisas nos acervos cartoriais de municípios criatórios. cujos remanescentes estão dispersos pelo sertão. O escravo representava um investimento. Esse sistema consistia em o vaqueiro receber um novilho em cada quatro que nascesse. A proposição de Irineo Joffily. onde houve registro de uma maior quantidade de escravos. tão peculiar à pecuária. fiandeiro e executando serviços que visavam a autosustentação das fazendas. ao seu isolamento e porque os quilombolas viveram pacificamente. como a criatória ou a açucareira. que obrigou os proprietários de escravos a registrá-los. os inventários evidenciam o declínio dessa mão-de-obra nas fazendas algodoeiras do Agreste. com os engenhos de açúcar. realizavam trabalhos que possibilitavam a agricultura de subsistência e serviam de sustentáculo à atividade criatória. No mapa da população escrava de Piancó. A maior parte dos cativos era de cavouqueiros ou agricultores. no século passado. Talvez. cavaram poços e serviram de suporte à agricultura e à pecuária. dedicou-se a outras atividades econômicas. desempenhando várias atividades relacionadas a ela. estabeleceu que o registro teria que ser feito onde os cativos residiam. quando cessou o tráfico negreiro. o escravo negro não foi totalmente omisso nessa atividade. como Pombal. A nosso ver o reduzido número de cativos negros no trato e condução de rebanhos se deveu mais a razões econômicas do que étnicas. o jornalista Ivaldo Falcone. Entregar-lhe uma boiada para cuidar constituía um risca de perdê-lo. a partir de 1850. Percebemos que nos inventários. as tropas policiais não foram solicitadas para desbaratá-los. que o indígena ou mameluco estava mais apto às funções de vaqueiro. após cinco anos de trabalho na fazenda. No manuscrito mencionado encontramos escravos como: vaqueiro. além do cultivo do algodão. sapateiro. lá existente. Portanto.Geografia e História da PB 172 fazendeiro. alfaiate. ferreiro. Todavia. já que os livros e documentos oficiais só mencionaram três quilombos que provocaram desordens: Craúnas. onde os cativos eram constantemente vigiados. há evidências de que tenha estendido ao vaqueiro o sistema de quarta. O ESCRAVO NEGRO NAS PROPRIEDADES ALGODOEIRA E CAFEEIRA O algodão também contou com a colaboração do escravo negro. Além do mais. Por exemplo. seria remanescente de um quilombo. Mas. O fazendeiro entregava o rebanho a escravos nos quais depositava total confiança. Tivemos em mãos um documento muito esclarecedor – o Mapa da população escrava de Piancó do ano de 1876. Para prendê-los à fazenda e evitar sua evasão concedia-lhes alguns benefícios. quando esteve em Alagoa Grande. com um total de 1 079 escravos. as propriedades tinham que se auto-abastecer. São João do Cariri. que se tornou mais elevado após 1850. A tese de Clovis Moura não se aplica à Paraíba. Construíram cercas de pedras. Fundamentada em inventários podemos dizer que a presença do cativo negro foi significativa nas propriedades algodoeiras. Por exemplo. cozinheiro. Piancó. a lei de 28 de setembro de 1871. Porém constatamos que os escravos residiam nos municípios criatórios. tem consistência. todavia eles não causaram desassossego aos moradores das vizinhanças. As chances de fuga eram bem maiores do que nos engenhos. Deve ter havido outros quilombos na Paraíba. sugeriu que a comunidade de Caiana. devido ao relevo. Os documentos cartoriais confirmam que donos de unidades açucareiras no Brejo. o inventariado. . bem como na zona da Mata tinham fazendas no Sertão. dos quais 912 tinham profissão definida. 1ª Secretária do Instituto. sendo de ressaltar seu importante trabalho bastante citado pelos estudiosos da matéria. A contribuição da professora Diana Galizza é da maior significação para o êxito do nosso processo de debate que o Instituto Histórico está promovendo. por conta de suas interpretações apressadas. como vem acontecendo há anos.Geografia e História da PB 173 Nas fazendas cafeeiras da Paraíba o cativo foi prescindível. fez contestações sérias e importantes. quanto a essas falhas de interpretação. desde o período colonial até a primeira metade do século XIX. Embora a escravaria estivesse concentrada nos engenhos. Baseei-me no comportamento do mestiço. O negro deu uma colaboração espetacular na música. possuíam engenhos ou fazendas criatórias. mesmo após a proclamação da abolição. até antes da segunda metade do século XIX. Muitos apontamentos de alguns dos nossos consagrados historiadores merecem reexame. José Américo de Almeida. Durante certo tempo me dediquei a examinar a questão do fundo de emancipação dos escravos. em face mesmo da sua escravização. principalmente ao lado de Diana Galliza. Na verdade. porque baseada na sua pesquisa pessoal. significativo o número de cativos nas propriedades algodoeiras até a cessação do tráfico africano. na religião (que é o sincretismo religioso). nas últimas décadas do século XIX a escravidão estava em pleno declínio. que é A PARAÍBA EM PRETO E BRANCO. o negro foi peça importante na economia do criatório. corajosamente. Esse magistral trabalho de Diana me traz saudade das minhas pesquisas sobre escravidão. a fim de evitarmos sua repetição rotineira. eles. ··· A fala do Presidente: Tivemos pela excelente exposição da historiadora Diana Galliza uma visão global sobre a influência do escravo no desenvolvimento econômico da Paraíba. Precisamos mudar os chavões consagrados estabelecidos por nossos historiadores. ··· Debatedora: WALDICE MENDONÇA PORTO (1ª Secretária do IHGP e sócia do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica) É uma alegria muito grande poder estar aqui como debatedora. também. servirão para uma revisita à nossa historiografia para uma retificação imediata. pois agora estou me dedicando mais à estrutura fundiária da Paraíba. A partir de 1850 teve início o declínio da escravidão na Paraíba. enfoca a miscigenação. Concluindo. Será debatedora oficial nossa confreira Waldice Mendonça Porto. . Foi. Waldice é também expert em escravatura. que hoje se chocam com as fontes primárias a que eles não puderam consultar. Esse tema dá um livro ou mais. na rebeldia contra o sofrimento imposto pela escravidão. igualmente. E eram muito queridos pelos de casa. Aqueles que estavam bem na companhia dos seus senhores – e havia alguns maravilhosos – permaneceram na companhia deles. podemos afirmar que houve a participação do escravo negro nas diversas atividades econômicas na Paraíba. As advertências que têm sido feitas pelos expositores e debatedores deste Ciclo. Foi a partir da lei do ventre livre que se iniciou a manumissão dos escravos e me interessei pelos critérios adotados. na culinária. na agricultura. estamos alcançando os objetivos deste Ciclo. A professora Diana. nos deu o quadro da situação do escravo na Paraíba e. Ela contestou Capistrano de Abreu. principalmente porque os escravos não puderam praticar a sua cultura. Com a palavra a confreira Waldice Porto. na pecuária. com muita propriedade. Documentos do século passado atestam que quando os cafeicultores detinham escravos. Irineu Joffily. porque quando começou a expansão do café em Bananeiras. Meu trabalho sobre a escravatura não diz respeito à economia. no mito. Geografia e História da PB 174 Nas senzalas a situação era lamentável. naqueles fascículos. que é de estarrecer. O que é lamentável é que todo nosso esforço de estudo e pesquisa nessa área fique sem publicação. E isso tem sido uma das desculpas para nós perdermos verdadeiras pérolas da arquitetura do nosso país. fique engavetado. ela cheia de filigranas imensas. pela disseminação das moléstias. em sua palestra de abertura destes trabalhos. Cerca de 10% apenas é que são dados a lume. se apagam por falta de divulgação. resultando no engavetamento de importantes trabalhos de pesquisa. Num dos primeiros debates apresentei uma proposta ao presidente do Instituto no sentido de nos ligarmos com a Universidade para fazermos uma História da Paraíba que seja acessível e que seja moderna. Acho que a história que a gente aprende não é a verdadeira história. mas fico triste porque o pessoal do 1º e 2º grau não sabe de coisa nenhuma. mais autêntico. Outro aspecto importante o problema da divulgação. O Instituto não tem recursos para divulgar os trabalhos que são feitos aqui. A gente assiste a uma aula dessas de Galizza com prazer. 1º participante Paula Frassinete Duarte (Bióloga) Quero fazer minhas as palavras da debatedora Waldice Porto. como também a Universidade não tem. A vida dos negros nas senzalas era aviltante. Por isso sou tão apaixonada pela História da Paraíba. pesquisando fontes primárias. que se viu naqueles folhetins. O tratamento que lhes era dado era infame. pelo menos para que possamos expor ao interesse dos usuários deste Instituto. que é uma das mais belas. Faço parte do Conselho do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado e nossa luta lá. pelo tratamento das sinhazinhas. A história oficial é muita falha. que trabalha em cima de documentos. Não existe dinheiro para isto. Temos o dever de passar uma história que seja verídica. infelizmente. mas permanecemos eternamente ignorantes porque não temos acesso a esses documentos. sobre as cartas de alforria. Em conseqüência. há pouca presença e grande dificuldade na divulgação. onde não constituíam família. As teses de mestrado e doutorado. É o mesmo caso daqui. confessou aqui a professora Regina Célia Gonçalves. Àqueles que aqui fazem pesquisa sempre cobro para trazerem seus trabalhos após sua conclusão. é para que haja maior apoio do Governo do Estado no sentido de que o IPHAEP possa imediatamente tombar e registrar o patrimônio histórico do nosso Estado em cartórios. Por isso temos que fazer como Diana Galizza. encarreguei-a para anotar esses equívocos a fim de que possamos esclarecer para evitar sua propagação para frente. por conta da falta de dinheiro para o registro em cartório. em primeiro lugar a professora Paula Frassinete Duarte. ou equívocos. As pessoas vão à Justiça e a Justiça dá ganho de causa para a demolição. O que lamento é que todo esse esforço nosso não chegue às escolas. Nosso Instituto se preocupa muito com a divulgação do acervo histórico paraibano. . Aliás. sobre inventários e por isso o trabalho fica mais sério. etc. pouco conhecimento se tem da história paraibana. não tinham privacidade. no Conselho. ··· A fala do Presidente: Foi bom que nossa debatedora falasse nesses enganos. Eu trabalhei muito sobre documentos. Passo agora a palavra aos participantes que se inscreveram previamente. que fiquem engavetados. Já disse no curso que está ocorrendo na Universidade Federal da Paraíba sobre a enorme importância desse tipo de debate e. do nosso Estado. que ficam mofando nas prateleiras dos arquivos. Essa coleção que saiu com o patrocínio do Governo do Estado foi vendida semanalmente contém tantos erros elementares. Fico muito grata por ter participado como debatedora por esse trabalho excelente que foi apresentado por Diana Galizza. Quando sabemos que nossa História é uma das mais belas. Não sabe nada sobre a História da Paraíba e acha que não deve nem levar em consideração. com certeza. mas esses frutos desses coitos. essa presença engajada. porque ele não enfocou o trabalho no eito. Que perturbações aconteceram com a saída dos negros? Diana Soares de Galliza: Muitas questões foram levantadas. baseados em documentação cartorial. Foram os brasilianistas norte-americanos Robert Slenes e Stuart Schwartz que questionaram a ausência da família escrava e. nas suas propriedades. recentemente. os holandeses não. desse amor. gostaria de um aprofundamento sobre a ação dos beneditinos que teriam estimulado o casamento entre negros. não se dá o devido valor à participação que o negro teve na formação da sociedade brasileira? Teria sido por isso que Irineu Joffily teria diminuído tanto a participação nos negros no criatório (que você viu que não era por aí)? Também perguntaria qual a diferença entre cavouqueiro e agricultor. à medida que intensificou suas pesquisas. houve miscigenação entre o senhor de engenho e a mulher escrava.Geografia e História da PB 175 Sobre as importantes informações apresentadas pela expositora Diana Galliza. a fim de colher maiores informações nesse sentido. esses filhos teriam algum privilégio? Os pais deles dariam algum privilégio? Por que os historiadores negaram essa parceria. no Brasil. nas áreas de colonização ibérica. O casamento daria mais estabilidade à família e prenderia o escravo à propriedade. eroticamente muito quentes? Teria sido por isto? Em segundo lugar. enquanto que nos países de origem anglo-saxônica – como os Estados Unidos – de formação protestante. surpreendeu-se com a grande quantidade de crioulos nas propriedades desses religiosos. a escravidão teria sido amena. comprovaram que nas grandes e médias propriedades os cativos constituíram famílias. constatamos que alguns senhores deram a conhecer sua condição de pai. porque você disse que cavouqueiro estava com a enxada cavando. através do arrolamento que fizemos nos Livros de Notas. Quanto ao incentivo de casamento entre escravos conferido pelos beneditinos. seguindo o pensamento freyriano. O livro do sociólogo pernambucano influenciou historiadores americanos e alguns deles. razões econômicas existiam no bojo desse procedimento. Concluiu. nas cartas . gostaria que aprofundasse mais sobre as perturbações econômicas que os quilombos fizeram naquela sociedade. tanto homens como mulheres. 1. na Paraíba. onde trabalhavam. uma espécie de concubinato branco que. Estamos orientando a monografia de uma aluna. Por outro lado. através do incentivo dado ao casamento pelos beneditinos. 2. por exemplo. Na Paraíba. começamos a pesquisar. seriam reconhecidos de alguma forma. uma vez que suprimia a mancebia entre eles. cujo título é OS BENEDITINOS E A ESCRAVIDÃO NA PARAÍBA. ela teria sido rude. efetiva dos negros no criatório? Terá sido porque. como ainda hoje. e vários senhores assumiram a paternidade dos filhos negros. Em princípio podemos assegurar-lhe que a família escrava nos domínios beneditinos tem sido estudada recentemente. então. Os elos sentimentais se tornariam mais sólidos e. do UNIPÊ. Gilberto Freyre defendeu o caráter brando da escravidão no Brasil. A política de estímulo ao casamento moralizava a vida no seio do elemento servil. estúpida e desumana. e o agricultor fazia o que? Por último. No âmbito da casa grande. objeto de estudo de Gilberto Freyre. as possibilidades de fuga seriam muito remotas. acontecia. Sugerimos que ela localizasse os relatórios semestrais da Ordem. Seria para poupar as mulheres brancas. mas também a população cativa proliferava. porque os negros sempre foram tidos e havidos. não entendi muito bem. Concepções tradicionais defendiam a inexistência de elos familiares entre os cativos. Este último historiador. mas na vida do escravo na casa grande. assim. que eles não somente os matinha. queria saber se a miscibilidade era consentida no sentido de que os portugueses tiveram a miscibilidade. como muito fogosos. sustentaram que. Vamos tentar respondê-las. observando a seqüência. Esses dois quilombos foram constituídos por negros remanescentes de Palmares. 5. enquanto que o segundo trabalhava a terra. todavia esses redutos de escravos fugitivos não causaram embaraços à sociedade. os quilombolas de Craúnas e de Cumbe não somente invadiam as propriedades. viajantes estrangeiros percorreram o Nordeste. viram muitos escravos sem exercer atividades específicas. Eles não acompanharam a labuta do escravo no dia-a-dia. Sua observação superficial levou-os a concluir que o expressivo número de negros em todas as propriedades criatórias constituía ostentação. os escravos atacavam. 3º participante: Guilherme d’Avila Lins: (Sócio do IHGP e do IPGH) . 4. detectou a presença do negro na formação étnica e cultural do sertanejo. A professora falou que só ofereceram perigo apenas nas épocas em que eles estavam em dificuldade. exceto o de Craúnas.Geografia e História da PB 176 de alforrias por eles passadas. Outra questão que gostaria de saber é por que os holandeses evitaram ter contato com as nativas. Dominava-os um sentimento de revolta e de vingança. eventualmente. conferia status ao fazendeiro. Irineu Pinto narra que a destruição de Cumbe se deveu à iniciativa particular. Algo parecido deve ter acontecido a Capistrano de Abreu e Irineo Joffily. a professora Diana respondeu a pergunta que eu iria fazer se esses três quilombos ofereciam perigo para a ordem estabelecida. particularmente. Diana Galliza: Segundo Irineo Joffily e Irineu Pinto. movidos pela fome. Portanto. não se engajou no trabalho produtivo do criatório. pois. bem como incendiava-nas. anglicana ou calvinista não estavam predispostos a se cruzarem com os nativos ou os negros. contratou alguns soldados e conseguiu exterminar o quilombo de Cumbe. Os anglo-saxões e os batavos de formação protestante. como perturbador da ordem. eles perturbaram a ordem estabelecida. para comer. o escravo negro. A última pergunta feita pelo ilustre participante. 3. Alguns quilombos se formaram na Paraíba. ele lá chegou como quilombola. Era. que passaram por algumas fazendas e. na seca de 1877. No mapa da população escrava de Piancó encontramos um acentuado número de escravos cavouqueiros e de escravos agricultores. diz respeito a diferença entre “cavouqueiro” e agricultor. contra as tropas policiais que foram destroçá-los e exterminá-los. estudioso de rebeliões de escravos. 2º participante: Silvana de Souza (participante): De certo modo. os cativos assaltavam comboios. Visitaram alguns engenhos e suas impressões de viagem foram generalizadas às demais unidades produtivas. A tese de Clovis Moura não se aplica à Paraíba. João Tavares de Castro reuniu seus negros. Enquanto que os colonizadores católicos eram menos preconceituosos e se misturavam com os nativos e com os africanos. buscando alimentos. aliciavam os escravos que encontravam e levavam-nos para seu reduto. Talvez fatores cultural e religioso fossem responsáveis pela não miscigenação dos holandeses. No século passado. Mas. que transportavam farinha e feijão. o de Cumbe e o do Espírito Santo. a miscibilidade foi uma das características da colonização portuguesa. segundo ele. Declararam conceder a liberdade porque “ele é meu filho” ou porque “ele tem meu sangue”. Em conformidade com documentos notariais. escravos fugitivos e revoltados que lutaram. Clovis Moura. Ao nosso ver os primeiros cavavam a terra para realizar obras de sustentação à atividade criatória. Pernambuco e Bahia. Ademais. nem à economia. plantando-a. Somente nos anos de seca. como comprovamos nas nossas pesquisas. a população nativa predominava. na primeira visitação. não atraindo esses europeus. Na ânsia pelo lucro imediato. 4º participante: Maria do Socorro Xavier (Escritora): Quero registrar alguma coisa sobre os quilombos. 2. Existe o negro citado. foi porque sua economia estava em crise. que está nos visitando. que tem um livro sobre escravidão. Eu gostaria de ouvir sua opinião a esse respeito. Uma das razões. não oferecia um mercado de trabalho que motivasse uma migração subsidiada pelo governo imperial. no Recife. O Nordeste. com o professor Antônio Montenegro. houve um questionamento sobre como os negros lá na África viram essa escravidão ocorrida no Brasil. sem força para fazer vir colonos estrangeiros para substituir a mão de obra escrava? Como a expositora vê o processo que aconteceu em São Paulo e o que aconteceu na Paraíba? Quero fazer uma observação de minha parte. proporcionava elevados ganhos aos traficantes negreiros. particularmente São Paulo. gradativamente. Com a expansão da empresa agrícola açucareira. para substituir a mão escrava. tão comum entre os escravos. na Paraíba. Diana Galliza: 1. Como a confreira vê essa diferença? Será que nós estávamos num processo mais deteriorado por causa da economia açucareira no Nordeste? Particularmente. Além disso o Império subsidiou a vinda do colono italiano para São Paulo. mas com muito menos freqüência do que o negro brasil e a negra brasila. Quando começou a colonização da Paraíba nas últimas décadas do século XVI. No período colonial o braço escravo índio foi substituído pelo braço escravo negro. Em contato com um amigo de Moçambique. O início da preponderância do escravo negro. num processo gradativo. É questão que até então não tinha sido despertada. com as confissões a gente verifica que houve uma grande predominância da citação do elemento índio sobre o elemento negro até aquela época de 1595. Eles não aceitavam a escravidão. que estava necessitando de braços para a lavoura cafeeira. mesmo porque houve a determinação de que o índio não devia ser feito escravo. onde focaliza com persistência a questão da resistência. como ocorreu em São Paulo. Diferentemente do Sudeste. tanto que os estudos recentes . por que a gente sempre discutia. com o açúcar em decadência. preparando a mão-de-obra indígena para o trabalho agrícola. Houve vários tipos de resistência negra. Como e quando isso aconteceu? Na minha observação.Geografia e História da PB 177 Quero parabenizar a professora Diana Galliza por sua exposição e gostaria de lhe fazer uma pergunta. com a intensificação da importação de escravos africanos e com o genocídio praticado pelo colonizador aos nativos a população negra superou a indígena. Também o clima quente do Nordeste não era convidativo ao italiano. bem como o suicídio. O português colonizador não quis desperdiçar seu tempo. O fenômeno da imigração italiana não ocorreu na Paraíba. cuja economia estava em franca expansão. a Paraíba estava sem força para tentar um resgate da hegemonia da produção econômica do açúcar. Gostaria de saber qual a impressão dos africanos sobre o problema do tráfico escravo para o Brasil? Diana Galliza: Não apenas o quilombo foi uma forma de resistência. inclusive a Paraíba. Os índios não aceitaram ser escravizados e os jesuítas se posicionaram a seu favor. além de constituir força de trabalho nas unidades açucareiras. o senhor de engenho recorreu à importação do africano que. A partir do século XVII há uma transformação gradativa e a população escrava negra começa a sobrepujar a população índia. se dá a partir do início do século XVII. pela qual não ocorreu a migração italiana para a Paraíba. Os quilombos eram formados desde o início quando os escravos chegaram aqui simplesmente por questão de resistência e não como muita gente pensa que era porque estavam fugindo de alguma coisa. como o fizeram os jesuítas. quando a gente analisa as denunciações do Santo Ofício. semelhante ao clima temperado europeu. como o de São Paulo. Não importa a denominação. O tema a ser debatido hoje é AS LUTAS NATIVISTAS NA PARAÍBA. atualmente ele leciona essa disciplina na UNIPÊ e na Universidade Estadual da Paraíba. ESTRANGEIROS. 9º Tema AS LUTAS NATIVISTAS NA PARAÍBA Expositor: José Octávio de Arruda Mello A fala do Presidente: Inicio a sessão compondo a mesa com o confrade José Octávio de Arruda Mello. Vamos trocar algumas idéias em torno do tema e para início de conversa quero chamar a atenção para essas publicações (exibe as publicações) que propõem uma visão nova do tema aqui programado. no livro de sua autoria NEGROS. todas da melhor qualificação. ele poderá escrever um livro e dar uma grande contribuição ao estudo da escravidão no Brasil. a que ele mais se orgulha é ser o coordenador do chamado Grupo José Honório. Luiz Guimarães e tantas figuras que vejo aqui. que será a debatedora. que é o nosso Capistrano de Abreu. no continente africano. com a professora Inês Caminha Lopes Rodrigues. oriundo de Moçambique. retornaram à África e alguns deles se tornaram prósperos empresários. O senhor teve que ceder e chegou-se a um consenso. com o professor Aécio Villar de Aquino. aborda essa questão. igualmente. Mestre e Doutor pela USP) Darei uma feição um pouco diferente no sentido de torná-la mais coloquial. fora. por que? Porque elas são impregnadas de um espírito nacionalista. Barbosa Lima. Assim. uma coleção muito inflamada. mais fraternal. houve. Ex-professor de História da Universidade Federal da Paraíba. que são AS LUTAS NATIVISTAS NA PARAÍBA. Os negros conseguiram preservar sua cultura. Se houve coerção. hábitos e religião. mas de trabalhos muito bons. também.Geografia e História da PB 178 sobre a escravidão contestam que ela tivesse sido só coercitiva. que está na coleção CADERNOS DO POVO. Todavia. interessado em saber como a África vê o problema da escravidão no Brasil. o ferramental que move essas lutas nativistas no século XIX. professor de História na UNIPÊ e UEPB. ··· Expositor: José Octávio de Arruda Mello (Sócio do IHGP e da Academia Paraibana de Letras. que é figura bastante conhecida de todos. no livro dele. que é a mesma coisa. que foi uma característica da escolástica medieval na fase da sua decadência. Lutas nativistas. Sei que escravos. Não tenho a pretensão de dar uma aula. Em relação a seu amigo africano. Manuela Carneiro da Cunha. isto é uma pesquisa que deverá ser desenvolvida por ele. mas eu tenho. vamos ouvir o professor José Octávio. é bom recordar que ele é nosso sócio. O liberalismo vai ser exatamente o instrumento ideológico. mais amiga. tanto faz AS LUTAS NATIVISTAS NA PARAÍBA como LIBERALISMO E SÉCULO XIX NA PARAÍBA. Concluído o trabalho. de fazer exposição tradicional para pessoas como Wilson Seixas. Ele sempre diz que dessas posições mencionadas. É formado em Direito. após obterem sua alforria. porque já ultrapassamos o nominalismo. é membro da Academia Paraibana de Letras e do Conselho Estadual de Cultura. OS ESCRAVOS LIBERTOS E SUA VOLTA À ÁFRICA. No paper que distribuí com os senhores aparece o título LIBERALISMO E SÉCULO XIX NA PARAÍBA. que exporá sobre o tema AS LUTAS NATIVISTAS NA PARAÍBA. DESDE Debatedora: Inês Caminha Lopes Rodrigues . onde se laureou como Mestre e é Doutor em História pela USP. o instrumental. como Aécio Aquino.. Aí quem realmente tematiza muito bem o assunto é Barbosa Lima Sobrinho num trabalho que foi recolhido das livrarias. que será o expositor desta sessão. pela UFPB e tem curso de especialização em Técnicas de Pesquisa História pela Universidade de Pernambuco. Desnecessário fazer a apresentação do confrade José Octávio. consensual. Feita esta apresentação. reação do cativo. sim de 1824 e 1848. que aparece como mártir do canibalismo oficial. No caso dos portugueses essas contradições afloraram dentro da Colônia. Ele não é a grande figura da Confederação do Equador. Por conta disso. também. inclusive 1801. É um sargento-mor. duas correntes: a dos interesses alienígenas e a dos interesses nativistas. mata marinheiro” (marinheiros eram os comerciantes portugueses. Depois temos aquele movimento dos Emboabas. Areia procura monopolizar esse movimento. Essa é a visão tradicional das lutas nativistas. componham a sua própria formulação. quando a gente tem aquela Guerra dos Mascates (que. que é um ideólogo. quando surgiram os motins chamados “mata. que pretende substituir os conceitos pelas indicações. 1824 e 1848. por conta disso. até porque esses movimentos não se resumem a essas três etapas. por ocasião do domínio holandês. um caráter aberto. por conta disso foi aposto seu retrato na nossa galeria. de 1824. Também na Coletânea do IV Centenário. na interpretação de Caio Prado Jr. Essas lutas fornecem o pano de fundo para o liberalismo no Nordeste. a chamada Conspiração dos Suassunas. que começou em 48 em Recife. Eu não tenho aqui a intenção de dizer isso é aquilo. que ninguém sabe quem é. que leva o povo para rua e recebe um tiro na testa e cai ali mesmo. Precisamos dar ao ensino um caráter democrático. quer dizer. onde a gente vê no quadro de Parreiras quando ele se rende ao pai e na igreja de N. que é a chamada Revolução Pernambucana. Os movimentos nativistas são muito focalizados através da trindade 1817. em Minas Gerais. depois nos ingleses.Geografia e História da PB 179 QUANDO SOMOS NACIONALISTAS. o assunto é tratado. um barbudo que tem aqui. esse conceito apoteótico dos movimentos de 1817. 1824. Há muitos outros. não subscrevo esse conceito heróico. A grande figura da Confederação do Equador é Frei Caneca. as leituras. O caráter aberto é esse. Eu não subscrevo. S. pésde-chumbo. E é que me ocorre aqui a respeito dessa questão do século XIX. evidentemente. também chamados). mas. de Lourdes. Acho tal uma visão autoritária da história. Frei Caneca estava com ele. final de novembro. e Recife é uma das expressões mais vivas disso. que abrange 102 trabalhos publicados no jornal O NORTE. onde mostrei que Recife significou o eixo da luta no Nordeste. Daí Lutas Nativistas. . as fontes. esse conceito tradicionalista. que proclamou a República por ocasião da Confederação do Equador. Ao mostrar estes trabalhos eu estou seguindo uma linha do nosso grupo. onde o Instituto Histórico colocou uma placa no centenário de 1817. herói da Confederação do Equador. É o chamado areísmo. e no caso a sociedade. depois nos americanos. e os interesses nacionais. é uma luta entre a burguesia nativista rural de Olinda e a burguesia de interesses externos de origem holandesa e vinculados ao comércio português).. os instrumentos para que os educandos. que é um pensador que ficou. que se fixaram inicialmente nos portugueses. através de seus ancestrais. outros aqui quiseram exaltar Felix Antônio. mas no período colonial as lutas são sempre contra os portugueses. que é a Confederação do Equador e 1848/49. chama a atenção para o fato de que o nacionalismo resulta de uma contradição entre os interesses estrangeiros. como de resto a maioria que faz o Instituto Histórico. Não participaram de 1817. Nunes Machado foi o grande líder da Praieira. de fornecer as indicações. é uma luta de classes. visão a que pretendo fugir aqui. Isso teve um sentido antiflamengo. com Nunes Machado. Uma coisa interessante é que as pessoas mais conservadoras de Areia exaltam 1848 e até dizem terem participado de 1817. À proporção em que a riqueza vai se adensando os interesses em torno dessa riqueza vão se concentrando e vão surgindo. não é um sargento-mor que veio de Areia e ficou combatendo e guerreando. A respeito desses movimentos há uma visão tradicional que procura exaltar o heroísmo de Peregrino de Carvalho. um caudilho de Areia. Eu procurei tratar desse tema neste trabalho VIOLÊNCIA E REPRESSÃO NO NORDESTE. Esses assuntos também foram abordados nos fascículos publicados pela A UNIÃO. sobre as rebeliões nativistas ou dessas lutas liberais do século XIX. que foi o Frei Caneca da Praia. as lutas que visam expressar os interesses nacionais para a preservação daquelas riquezas que estavam sendo arrecadadas por grupos estrangeiros. Ai se toca numa questão importante que é objeto de franco revisionismo. naturalista. um ótimo historiador. Isso foi formulado por gente como Domingos Jorge Velho. que voltou para cá e espalhou essas idéias pelo Nordeste. que não é . com a presença do alto comando da historiografia brasileira. Porque em primeiro lugar é o século em que se cristaliza a penetração. bobagem que sempre se repete por aqui. faz-se mister a gente substituir esse conceito por um entendimento do processo histórico. fulminou na introdução que fez à obra de ARRUDA CÂMARA – OBRAS REUNIDAS (1982) essa história do Areópago. Ele analisou a obra de Arruda Câmara e não encontrou elementos liberais lá. que é uma figura avançada em termos de educação. a integração territorial. O Brasil não é o litoral. O Brasil é um produto da sua gente. que Arruda Câmara. depois verificou o principal. que expede uma carta para o rei dizendo que esteve aqui um selvagem que nem a nossa língua fala e se encontra apartado de todos os princípios da civilização. de exaltação pessoal. a unidade da língua. aqui na fronteira. da expansão territorial da Paraíba. Aquela corrente entre o velho absolutismo e o liberalismo. radical. Essa conspiração é de 1801. Eu acho o século XVIII o século mais importante da Paraíba. dentro do devenir da história. que é exatamente o tema de um dos fascículos que apresentei no início da exposição. A miscigenização. era quando muito um representante do despotismo esclarecido. a partir de sua ação no Areópago. 1824 e 1848 eram produtos da ação do ideólogo do liberalismo que foi o padre Arruda Câmara. como vão dizer agora durante o V Centenário. não encontrou liberalismo algum em Arruda Câmara. Essa é a tese de Capistrano de Abreu. José Antônio Gonsalves de Mello. o que é necessário? Partir do século XVIII. ficou todo mundo calado. nessa área (incluindo o Areópago de Itambé? . eu gosto muito de Maximiano. formado em Paris. O fato é que José Gonsalves fulminou essa tese tradicional de que os movimentos 1801. A Holanda não vive dizendo que é produto da Espanha. isso não foi doação portuguesa. Esse entendimento está sobrestado. Arruda Câmara que era uma figura avançada apenas no plano da educação. foi inventada por um historiador paraibano que é participante do movimento de 1848. o que a gente precisa é realmente inserir esses movimentos dentro do processo histórico para extrair o seu significado. O nativismo vai constituir uma formulação contra isso. a integração territorial. Mas o que foi que aconteceu no século XVIII? Além da integração territorial. falou-se nessa questão do Areópago e. a gente precisa realmente retroagir até a segunda metade do século XVIII. 1817.interfere um participante). que é um homem muito conservador. mas desse tipo que se deixa levar pela empolgação e então inventou essa história do Areópago e todo mundo ficou repetindo isso. não era partidário do liberalismo. aliás. botânico.Geografia e História da PB 180 Para a gente substituir essa visão heróica. para alcançar a sua inserção dentro da seqüência. Para isso. A Paraíba não é o litoral. anticolonialista. Foi Maximiano Machado que inventou isso. Porque José Antônio mostrou que não tem fundamentação. Até hoje não se ofereceu uma resposta adequada a essa colocação. Isso teve um impacto tão grande que eu estive num seminário em Pernambuco. do seu povo. Ele passa por aqui e fala com o Bispo de Olinda. entre Goiana e Itambé. O Brasil não é uma nação portuguesa. o substrato desse liberalismo. que. que nem a nossa língua falava. Os Estados Unidos não vivem trombeteando que são um produto da Inglaterra. José Antônio foi verificar e primeiro verificou que Arruda Câmara nunca morou em Itambé. Para entender-se essas lutas nativistas. O Brasil é um produto do sertanismo. mas um pesquisador sério. quando lembrei a pesquisa de José Gonsalves. combativo. antiabsolutista. Se esses movimentos se verificam no século XIX. isso foi um produto dos brasileiros. Pelo litoral a gente importa os elementos estrangeiros. naturalista. é uma conspiração porque é um movimento abortado no nascedouro). se eles começam pela Conspiração dos Suassunas (aí não é uma revolução. Maximiano gostava muito disso. sobretudo a cultura estrangeira. O Brasil não é uma criação de Portugal. de ufanismo. Esse entendimento ninguém pode estar repetindo. depois que não havia loja com essa denominação. Só o Brasil que vive com esse colonialismo de exaltar Portugal. Princesa. eu. onde hoje funciona a ADESG. pela razão. saiu-se muito bem. o mundo e desfazer as trevas do absolutismo. É o Relatório do governador da Paraíba Fernando Delgado Freire de Castilho. grande historiador da Revolução Francesa. portanto. no século XIX. uma cidade profundamente revolucionária. quando foram escolher os patronos das cadeiras. mas ele vai ganhando particularidades. Essa companhia é estudada por um historiador de São Paulo. viu isso muito bem. em 1803. Teve um que botou quatro. que era Paris. portanto. depois vem a revolução norte-americana (1776) e a francesa (1789). empurrando o movimento para frente e transmitindo esse . dizendo que a Revolução Francesa é uma revolução amplamente burguesa e. O liberalismo estava em evidência a partir das grandes revoluções. o ambiente não era bom porque todo mundo queria botar os elementos da família. Essa distinção Caio Prado Jr. o pensamento destinado a iluminar. era o geral. que é o século da expansão territorial. depois as nossas costas. De 1753 a 1799 a Paraíba declinou tanto no plano econômico que se refletiu no plano político. uma forte afirmação do monopólio português. No conjunto formam o chamado liberalismo. que se tornou patrono de uma das cadeiras do Instituto por sugestão minha. dizendo que são as pestes que avaramente drenam a riqueza das capitanias. Aqui. não penso assim. naquela EVOLUÇÃO POLÍTICA DO BRASIL. contra essa submissão. Essa companhia é uma bomba de sucção. as matas e depois entra na parte econômica. que era uma cidade com ares de metrópole. que teve esse aspecto positivo. o iluminismo. Alberto Torres já tinha visto isso. Aqui. O rei de Portugal perguntou a Fernando Delgado se a Paraíba tinha condições de retomar sua autonomia. enquanto as outras são restritamente burguesas e. Inclusive os municípios mais distantes da Paraíba vão ser ocupados no finalzinho do século XVIII. no início do século. fez muito bem. ficou conhecido como Beco da Companhia. Sua atuação acarretou a perda da autonomia da Paraíba. Elza Régis acha que essa questão não teve nada a ver com a Companhia de Comércio. José Ribeiro Júnior. data vênia. movido pelas massas parisienses. que fica entre o Astréa e a Bica. juntamente com outros três relatórios. a França tinha uma coisa que os Estados Unidos e a Inglaterra não tinham. conservadoras. É preciso distinguir uma coisa no liberalismo anglo-flanco-americano e outra no brasileiro. Uma coisa é o liberalismo francês. É evidente que o liberalismo era o ferramental. como todo mecanismo de exploração colonial. Primeiro as revoluções inglesas (1648 e 1688). também comportou elemento negativo com o profundo declínio da nossa economia e marca a presença da Companhia de Comércio de Pernambuco e da Paraíba. onde morava o historiador Archimedes Cavalcanti. O fato é que a Paraíba entrou numa situação desastrosa. Ele escreve um Relatório magistral de 9 a 10 páginas. Capistrano mostrou nos livros dele. a professora Elza Régis.Geografia e História da PB 181 exclusivamente do século XVIII. já passando do século XVIII para o século XIX. que organizou uma companhia para melhor explorar a Capitania. Aécio e outros. Ele não se limitou a responder sim ou não. E há um documento que reflete isso. Essa companhia teve tanto prestígio que o beco onde estava localizada. mas. Acho que uma coisa é ligada à outra. é o liberalismo. Nesse relatório ele começa por descrever a situação geográfica da Paraíba. Vendia caro e comprava barato. ela vem de trás. Monteiro em 1805. ela vem de depois das invasões holandesas entre 1860/70. Como é o século do sertanismo brasileiro. rios. A gente resistiu. Jaurès. da guarda nacional. com o livro que foi publicado durante o IV Centenário da Paraíba. O instrumento de luta contra essa decadência. atacando virulentamente as Companhias de Comercio. contra a exploração. da integração interiorana paraibana. É uma linguagem assim. deixando de ser uma capitania autônoma e se vinculou a Pernambuco. Tinha havido muitas pressões para acabar com essa dependência interna. Ela se cristaliza no século XVIII. Aliás. Fernando Delgado tem uma ruazinha com o nome dele. na rua Duque de Caxias. que está no livro de Irineu Pinto DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAÍBA. e é um dos sete principais documentos da História da Paraíba. democrática. outro quis votar seis. Este século. imagine-se com relação à América Latina. É como outro mito que aparece. Os brancos iam entregar armas aos negros para se voltarem contra eles? Iam entregar armas aos quilombos? Iam entregar armas aos índios? Se a nação brasileira surge em Guararapes. porque houve uma grande participação dos padres. o padre Roma. imagine com relação à Paraíba. Esse termo é de Oliveira Lima. A Maçonaria francesa é virulentamente anticlerical. Esse é o nosso liberalismo. Isso vai se refletir na Constituinte de 1823. mas por aqueles outros do Ceará. Ali ele mostra que os deputados perceberam que pertenciam à mesma nação. que ficam inteiramente marginalizados no processo político. o baixo clero. não é um liberalismo que pretenda mudanças no plano econômico. a nação dos cidadãos e a massa inteiramente destituída de maiores possibilidades. Joaquim Nabuco tem um discurso forte contra isso. evidentemente distanciado do liberalismo francês. Esse liberalismo é impulsionado pelo baixo clero. padre Mororó. Quem move esse liberalismo é a Maçonaria e a Igreja. imagine com relação ao Brasil. Isso vai se cristalizar no século XIX. que é A ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE DE 1823. formal. alguma renda. são missionários mais ligados ao povo. O nosso liberalismo aqui é um liberalismo formal. A Maçonaria é uma força de transformação na Europa. Vão se separar em 1874. que foi sacrificado em 1817 e o filho Abreu e Lima. dos jacobinos. onde as pessoas para votar tinham de demonstrar a propriedade de alguns alqueires de mandioca. é produto da fusão do negro. aliás a Igreja não. que trata os desiguais. do índio com o branco. dos negros e dos pobres. se na matriz do liberalismo havia essas divergências. histórico e social. João VI era um rei covarde. Aqui a Maçonaria se compõe com os grandes proprietários. Não é a mesma coisa que o liberalismo europeu. Não se trata de mudar a estrutura econômica. muito menos a situação social. Também a Maçonaria impulsionou esse liberalismo. daí 1817 ser conhecido como a revolução dos padres. é uma nação excludente. Aparece o Seminário de Olinda com a participação destacada do Bispo Azeredo Coutinho. Realmente. os índios eram índios aculturados. a nação dos poderosos. Esse liberalismo que aparece aqui é um liberalismo postiço. as idéias estão fora do lugar. O francês é mais social. Na Igreja há uma distinção muito clara. que começa a se verificar no século XVII. e a nossa Maçonaria. É um liberalismo que cristaliza o poder da burguesia exportadora e dos grandes proprietários em detrimento dos índios. Estou até fazendo um trabalho para apresentar em Recife sobre D. A idéia deles é uma idéia excludente. Gerou-se uma democracia nas lutas holandesas. . mas apenas no plano político. o general das massas. é uma nação em que não há igualdade. E tinha quer ser.Geografia e História da PB 182 élan. como Cairu. Um liberalismo excludente. na Bahia. Aparece uma história aqui dizendo que o Exército brasileiro é um produto de três raças. porque lá o trono está unido ao altar. entre suas camadas mais elevadas identificadas com o colonialismo e as camadas mais ligadas ao povo. não somente pelos mais destacados que conhecemos. Há um livro muito bom de José Honório Rodrigues sobre o assunto. mas eles se perguntam logo se os índios são cidadãos brasileiros. apesar de reacionário e escravocrata. é um liberalismo mais jurídico. é uma nação de alguns. Depois consagrando isso vai surgir o voto censitário. A nação dos ricos. se os negros são cidadãos brasileiros. Há uma distinção entre a Maçonaria européia. Não é possível! Os negros ali eram negros forros. o chamado voto da mandioca. Ora. João VI e eu vou para lá dizer que D. assistiu à agonia do pai. à mesma pátria. O liberalismo norte-americano é um liberalismo mais bem comportado. e se compõe com a Igreja. essas diferenças. devido à participação das massas.. o que aliás permanece até hoje. na luta contra os holandeses. frei Martinho. padre Carapinima. Padre Ibiapina. foi ali que se viram falando a mesma língua. Que liberalismo era o que nós tínhamos? Primeiramente o liberalismo dos senhores de engenho. O inglês vai se completar em 1830 com aquelas revoluções chartristas. século XVIII. como diria Ecléa Bosi. Esse liberalismo permanece convivendo com a escravidão. inepto e fujão. que foi o responsável pela abertura dos portos. representando a corrente mais avançada da burguesia. por ocasião da Questão Religiosa. assim como os padres do movimento de 1817. tirava dinheiro das províncias para mandar para a Corte a fim de manter a corriola dele. que foi publicada pelo Arquivo Nacional na época de José Honório Rodrigues. é a doutrina da independência. José Bonifácio articula a forma de independência com monarquia através da agregação das províncias por meio do Conselho de Procuradores. uma transformação social. colocando fora da cidadania os negros. sempre revelei interesse em saber o pensamento de Frei Caneca sobre a escravidão. os lugares onde passamos encontrar uma visão nova. uma forma federativa ou confederada. cuja maior expressão era o Frei Caneca. Setembrizada. Os movimentos são intensos. que é de vincular o Brasil aos portugueses através da união das coroas. saquear o país. os índios e os que não adquiriam um determinado nível de renda.Um colega já me disse que ele não toca na questão da escravidão. Itabaiana é realmente a cidade que representa o elemento de ligação entre Pernambuco e a Paraíba. Porque a questão que se põe em foco é a da independência. Esse período aí. Como se sabe houve muitos movimentos populares que ocorreram em Recife. Pedras de Fogo. Mas. que nos Estados Unidos significava uma afirmação jurídica e que na Inglaterra possuía um dimensionamento institucional. de 1801 até 1848. o que levou José Honório Rodrigues a considerar ser uma historiografia dos poderosos para os poderosos. São os senhores de engenho que assumem esse movimento. pela qual vai se bater Frei Caneca. Novembrada e ocorrem vários motins de escravos. a mais impregnada desse ardor nativista porque o açúcar era a nossa principal riqueza (o algodão estava ainda aparecendo) e estava sendo explorada pelas companhias de comercio. havendo num período entre 1832 a 1838 os que ficam conhecidos como Abrilada. Esse assunto eu coloco num dos fascículos publicados pela A UNIÃO. Uma é a que vai prevalecer sob o comando do grande chefe das forças nacionais. . aqui ganha uma feição nacional. Por isso estou indicando as fontes. sob o título TENSÃO SOCIAL E MOTINS REGÊNCIA. mais particularmente do Recife.Geografia e História da PB 183 Aí começam a pipocar os movimentos liberais impregnados dessa dupla idéia: no plano nacional. que era uma forma de descentralização. O liberalismo aqui é a doutrina da emancipação. É a série DOCUMENTOS BRASILEIROS. É quando surge a Conspiração dos Suassunas. não só ocorre em 1817.. de romper com a tutela colonial. fórmula que adotou Pedro I (Pedro I tem pouco a ver com a nossa Independência). que repercutem aqui na Paraíba e Itabaiana. O liberalismo. Havia uma terceira fórmula. três fórmulas. Eu gosto muito do trabalho de Socorro Ferraz. em que as antigas capitanias não ficavam tão amarradas ao centro. E a historiografia fica somente em 1817. 1824 e 1848. quem apareceu com um bom trabalho foi Maria do Socorro Ferraz – LIBERAIS E LIBERAIS. que é o maior estadista brasileiro de todos os tempos que foi José Bonifácio. Ela mostra que os movimentos têm em vista a flutuação dessas formulações. Mais recentemente. Mas havia duas outras. os autores norte-americanos. Socorro Ferraz. coloca que em termos da independência havia três linhas. As províncias estavam com muito receio de que uma independência centralizada repetisse isso e assim apelavam para o federalismo. Os irmãos Suassuna são senhores de engenho nessa zona de Goiana. João VI chegou aqui (não teve nada de preparar a independência) o fez com uma corriola para roubar o país. um movimento que apareceu nessa zona canavieira. romper com a supremacia de Pernambuco. uma independência controlada pela categoria exportadora. Eles conheciam muito os autores franceses. fiquei fiel ao nosso princípio de substituir os conceitos pelas indicações. Havia a fórmula federalista. deslocando essa questão do plano econômico para o social. Assim. 24 e 48 porque são movimentos das camadas mais elevadas. Aliás. feita dentro dessas bases. Há uma série de documentos que são fundamentais para a compreensão desse movimento. E por que essa preocupação? Quando D. no trabalho dela. no plano da Paraíba. Os constituintes de 1823 discutiram isso. Itambé. que na Europa significava a ascensão da burguesia. tanto 1817. da situação social. vai usar os plenos poderes para esmagar as províncias. a Constituição de 1824 foi outorgada. O que está sendo?. Acho o trabalho de Socorro Ferraz excelente. começa-se a valorizar esses movimentos. mas entendo que ela não compreendeu o pensamento do grande Andrada. Pernambuco assustou-se com isso. mas era muito soberbo. que foi aqui representante da Paraíba no Governo Provisório. Era isso que José Bonifácio queria fazer com plenos poderes.” É a frase inicial desse fascículo forte. Transformações da situação agrária. José Honório diz assim: Frei Caneca ou a luz gloriosa do martírio. O pensamento de Frei Caneca era muito identificado com o do abade francês Sièyes. O que avançou um pouquinho foi 1817. Tinha até um paraibano. Assustou-se por que? A Paraíba era caudatária de Pernambuco. o que explica aquela placa colocada na Igreja de Lourdes. Ela reclama muito da primeira. celebra-se a primeira constituinte e o movimento avança um pouco porque pretende se voltar contra as taxas e impostos que incidiam sobre comércio interprovincial. Esse era um liberal. sobranceiro. Fecharam a constituinte e expulsaram os Andradas. cujo mentor foi Antônio Carlos. da potencialização das riquezas. Em 1824. Vejam o exemplo de Brizola e do pessoal de 64. Em segundo lugar. Nada. Martim Francisco era muito versátil em questões de finanças. eles foram muito glorificados no início da República porque se voltam contra a Casa de Bragança. da situação educacional. Aqueles empréstimos são contraídos depois que D. a federativa e a terceira. O que ambiciona ele? Todo o poder. que era Manoel Carneiro da Cunha (que José Honório ressalta. que tem um trabalho QUE É O TERCEIRO ESTADO. porque esses movimentos todos tiveram tendências republicanas. portanto. Havia Montezuma. sem José Bonifácio. . Pedro I afasta os Andradas. em 1826.Geografia e História da PB 184 Para encerrar. Quando José Bonifácio volta vem muito pacificado. na bravura e no radicalismo). quando a República fica no lugar da Monarquia. Os três irmãos eram grandes. No seu trabalho ela procura mostrar essas três categorias: a forma da Independência que prevalece. a de 1817. José Honório tem um capítulo bonito sobre ele num livro chamado HISTÓRIA CORPO DO TEMPO. Ele parece que tinha mais brilho que José Bonifácio. o coronel Nóbrega. Não era para fazer como Pedro I. então os revolucionários que formam o Governo – com a participação de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada – elaboram a primeira constituição brasileira. 1817 tem. Quando a República se coloca no lugar da Monarquia. a participação de Antônio Carlos aqui no Governo da Paraíba (não sei se chegou a vir até aqui). inclusive ele é contra aqueles empréstimos da Independência. como aconteceu em Pernambuco e depois no Ceará. dizendo que nela residiam as sementes do autoritarismo. que é a portuguesa. que foi a corrente mais avançada da Revolução Francesa. onde os pernambucanos pedem aos paraibanos frearem um pouco o impulso do movimento de 1817. Esse era o grupo de José Bonifácio. como 1824 e 1848. Esse livrinho começa assim: “Que é o Terceiro Estado? Tudo. porque José Honório estaria usando Frei Caneca contra o autoritarismo da época. que aliás percorreu a Paraíba. por ocasião do centenário de 1817. porque são movimentos conservadores. a segunda forma. Isso porque a situação da Paraíba era muito ruim. O exílio parece que amortece muito esse impulso radical das pessoas. eu pergunto: por que esses movimentos são tão glorificados pela historiografia oficial? Em primeiro lugar. como aquele pessoal que o cercava. Não é verdade porque o centralismo de José Bonifácio não era de fins. deficiente. Era o General Médici. e até botaram um retrato dele aqui no Instituto. Era um liberal mais conseqüente. Pedro I. A censura não permitiu que fosse publicado o artigo em 1972. era de meios. que foi todo preso na dissolução da assembléia constituinte. era satélite. já falei sobre Felix Antônio. depois. Aí se começa uma incrementação ideológica da República. Ele queria se dotar de poderes para realizar transformações. Como vocês sabem. não são movimentos sociais. aquele caudilho areense que proclamou uma decantada república em Areia. a Independência com a Monarquia. Isso Socorro não percebeu. É o ideólogo de 1824. que só sai do Brasil em 1889. A grande figura a ser estudada é Frei Caneca. aqui. Quem quiser pense que a repressão é besta. Há uma carta no livro de Irineu Pinto DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAÍBA. Antônio Carlos era uma grande figura. é doutora em História pela USP. ··· A fala do Presidente: A excelente exposição do confrade José Octávio oferece uma valiosa contribuição a este Ciclo de Debates promovido pelo Instituto Histórico. que o nosso presidente Luiz Hugo acaba de biografar. . Maximiano Machado estava entre eles e Ireneu Joffily. Debatedora: Inês Caminha Lopes Rodrigues (Professora de História na UNIPÊ e UEPB. que é professora de História. avançado. Elas foram para Alagoa Grande. Maximiano Machado era um liberal radical. Enfim. leciona na Universidade de Pernambuco na área de Pós-graduação. mas não tinha a dimensão ideológica de Frei Caneca. ex-professora de História da UFPB) Congratulo-me com os componentes da Mesa e demais participantes. Maximiano era antiabsolutista. voltou. Frei Caneca era um pensador. Detalhista. era um homem ascético. Para complementar sua exposição. menino. depois com o regresso de 1840. como é de seu feito. um liberal avançado. Felix Antônio conseguiu fugir. e eu relembro que Portugal quis matá-lo. esteve em Campina Grande. contra as forças da ordem. E fugiram tomando diversos destinos. É doutora em História pela USP. como sabem. Pois bem. Felix Antônio era um homem corajoso. presenciou esse episódio. maçônico. Abreu e Lima era um. é liberal mesmo. Os praieiros foram desbaratados na cidade de Areia. teremos a professora Inês Caminha Lopes Rodrigues. Em 1824. depois com Feijó. Frei Caneca esteve preso no extremo Oeste da Paraíba. anticlerical. Ele fez o contrário do que instruíram. subiram aquela serra e se fortificaram lá em cima. Maximiano escreveu um grande livro. abriu a cidade aos praieiros e fortificou-a contra o Exército imperial. exprime-se um dos mais altos momentos das luta nativistas da Paraíba que aqui procurei sumariar. escreveu esse livro. Então vou direto a algumas questões para deixar espaço para os participantes. Passo a palavra à professora Inês Caminha. mostrando sua forte vinculação com um liberalismo que era nacional. tinha méritos. Maximiano. No seu estilo próprio. mas continua na ativa ensinando História na UNIPÊ e na Universidade de Pernambuco. que já lecionou na Universidade Federal da Paraíba. Machado. que confiavam muito nele e o admiravam. Mas ele era um liberal radical. enquanto a outra coluna foi para Alagoas. recebeu instruções para fechar a cidade aos praieiros. bravo. que é o QUADRO DA REVOLTA PRAIEIRA NA PROVÍNCIA DA PARAHYBA. que era o projeto que o centralismo esmaga. quando eu era presidente da Comissão. Ele era Delegado Municipal e Juiz de Areia quando as tropas praieiras. tinha idéias muito conseqüentes. derrotadas na Soledade. donde já se aposentou. como Delegado e Juiz. José Octávio fixou a importância das nossas lutas nativistas. que foi reeditado nas celebrações do IV Centenário da Paraíba por Francisco Pontes da Silva. a princípio com Pedro I. ao dizer para todos que esta não é minha área de estudo. Era o chamado socialismo utópico. Portugal não o matou por causa da interferência dos ingleses.Geografia e História da PB 185 Aécio Aquino está lembrando que quando ele voltou já estava bastante idoso. sempre centralizando para abafar os impulsos autonomistas das províncias. vieram para cá. mas um convite do professor e colega José Octávio eu não poderia rejeitar. Socorro Ferraz diz no seu livro que Frei Caneca possuía um projeto para a independência do Brasil. consta que ali se contentou com umas bolachas e um pouco de vinho. como sempre. O liberalismo radical está nas fronteiras do socialismo. que se tornou na Paraíba uma figura de destaque. Refugiando-se em várias localidades. em 1823. Com o Dr. Liberal radical é liberal de esquerda. Que é liberal radical? Radical é quem vai à raiz. a Praieira torna-se muito importante para nós por causa de Maximiano Machado. registrou alguns fatos pouco enunciados pelos historiadores e fez algumas contestações. que Gilberto Freyre estudou muito bem. então ele estava preocupado com os acontecimentos. Armando. José Gláucio não se conformava com isso. e Amaro foi um dos expositores. que depois a Comuna de Paris vai aprofundar. morreu e não prestaram uma homenagem digna a ele. essa preocupação com o socialismo utópico. Pedro não quis mais prestar a atenção à peça e dizem que a peça terminou e ele ficou lendo os jornais. sobretudo em Recife. Aliás. Amaro como professor é historiador. Nesse fascículo. a diferenciação do liberalismo. Foi Diretor da Fundação Joaquim Nabuco. D. exatamente porque em todos os projetos dos revolucionários existia o desejo da aplicabilidade do liberalismo. Pedro II estava no teatro quando chegaram os jornais dando notícias dos acontecimentos de 1848. Era um grande historiador. o hino dos praieiros. Parece que ele tinha uma rivalidade com Amaro. onde sustenta a tese em que dentro da Praia havia duas correntes. Segundo Amaro Quintas. mas essa sim foi revolução. foi formador de toda essa geração de novos historiadores da Paraíba e Pernambuco – Manoel Correia. que o tomo como base. Uma corrente mais conservadora de senhores de engenho.. em Pernambuco havia aquele caso de Vautier. o pai dele era. Mas ele acha que dentro da Praia havia. na Europa. em 1871. José Gláucio é um camarada que se mete a falar sobre tudo. porque Recife era a praça onde o comércio português anquilosava e dominava muito o comércio local.Geografia e História da PB 186 Eu me apoiei no fascículo nº 6 da Coleção de História da Paraíba – Independência e Revoluções Liberais. que ele chama o grupo dos 5000 e transcreve o hino desse grupo. Porque quando nós estamos estudando a introdução ao liberalismo. sempre apoiados na professora Emília Vioti – EMANCIPAÇÃO DA HISTÓRIA POLÍTICA DO BRASIL – ela faz uma inferência e distingue bastante o liberalismo voltado para a proteção ao trabalhador. cujas idéias chegaram aqui com atraso. Amaro negou o caráter revolucionário de 30. enquanto a praieira foi derrotada. esse grupo já estava nas fronteiras do socialismo utópico. Morreu e foi enterrado em campa rasa. Primeiro. Era um engenheiro francês que estava introduzindo aquelas idéias aqui. mas não é historiador. É um movimento que vai terminar nas mãos de Napoleão Pequeno. José Octávio: Quero me referir a Amaro Quintas. que estavam identificados com aquele espírito tradicional do liberalismo. De certo modo a Casa de Bragança havia se fundido com os Bourbons. Aécio. Mas. Um movimento que tinha Gambetta e tinha um caráter popular. ele tem um significado. na prática. nesse seu fascículo é o movimento de 1848. Ele tem um livro O SENTIDO SOCIAL DA REVOLUÇÃO PRAIEIRA. um grupo avançado. radical. quando houve aquele Seminário Paraibano de Cultura Brasileira. . apesar de vitoriosa. Então Amaro Quintas sustenta que havia um grupo na praia que queria transformações sociais. Essas coisas repercutiam aqui. E 1848. mas isso não é pacífico. há um autor que diz que D. quando faz uma inferência que alguns historiadores já caracterizaram nesse movimento. José Gláucio processava um marxismo muito esquemático. Uma homenagem de avaliar a obra. José Gláucio diz assim: Eu não sei onde Amaro foi tirar essa idéia de socialismo utópico na praia. Uma das coisas que me chamou a atenção. coisa que José Gláucio não é. o liberalismo no Brasil tem outra característica. Inclusive ele faz diferenças de formulações abstratas. ele vai tendo diferenciações. é o ano do Manifesto do Partido Comunista. Eu gostaria de saber do professor José Octávio onde nós poderíamos nos apoiar nesse livro. Ele diz que esse grupo era mais avançado porque queria transformações principalmente pela nacionalização do comércio de retalhos. O professor José Octávio já definiu com bastante lucidez. o tema João Pessoa e a Revolução de 30. Pois bem. que forçosamente repercutiam aqui. Agora. uma figura a que Pernambuco não prestou a homenagem que merecia. de reeditar os trabalhos dele. que era um liberalismo formal do modelo exportador. Quando estudamos o liberalismo na Europa. eu vejo o movimento de 1848. Como é que pode haver movimento socialista num movimento dominado por senhores de engenho? Humberto Mello. com bastante critério. Parece que ele é sócio daqui. aparteando: A propósito dessa afirmação de Amaro Quintas eu queria lembrar que em 1978. todo mundo aluno dele. Kátia Matoso estuda a forma de comunicação de todos esses movimentos. de achar que o movimento é um movimento de classe exatamente porque era impulsionado por senhores de engenho. Carlos Guilherme avança consideravelmente sobre José de Gláucio. na prática. Se estaríamos voltados para a preocupação da revolução industrial. em que se faz inferência a respeito do caráter de classe dessa chamada Revolução Pernambucana de 1817. procurando ressaltar Pedro I. mas eu sei onde ela está. José . Carlos Guilherme Mota quando esteve no Nordeste para pesquisar sobre 1817 e quando escreveu aquele trabalho. que ainda não tive tempo de ler. professores de História. com cerca de 800 páginas. Outra questão da Revolução de 1817 é quando o expositor faz diferença nas duas obras do professor Carlos Guilherme Mota NORDESTE – 1817 e IDÉIA DA REVOLUÇÃO NO BRASIL. em plena efervescência do processo da revolução industrial na Europa. Carlos Guilherme Mota retoma isso com relação a Pernambuco. Mas sempre notei seu pensamento bastante ortodoxo. enfatizamos muito a Constituição de 1823 e a de 1824. influenciada por Domitila. inclusive porque ele registra que é a primeira. Esses panfletos são estudados. Que a primeira Constituição foi aqui. Acho que nos reportaríamos para a questão anterior porque quando fala no caráter de classe.Geografia e História da PB 187 José Octávio: O livro de Amaro Quintas foi prefaciado por Paulo Francis. Inês Caminha: A outra questão que levanto diz respeito ao movimento de 1817. É preciso lembrar que estávamos ainda sob o governo de Portugal. poucos dados dessa primeira. A última questão. esse radicalismo de Joaquim Manoel Carneiro da Cunha. publicados pelo Congresso.. perguntaria em que sentido seria. que seria a partir da Revolução de 1817. Seria interessante que o professor José Octávio trouxesse não só para a mesa como para a platéia mais algumas informações a respeito da Constituição de 1817. Não tínhamos jornais aqui. Carlos Guilherme é historiador. por Kátia Queiroz Matoso. mas mecanicista. a questão da disponibilidade dos bens portugueses. Agora virou 12 ou 15 volumes. Alguém escreveu uma carta e falava na primeira constituição brasileira de 1824. Então esses movimentos se valeram muito de folhetins. Gostaria que você declinasse como se constituía. que outorgou a Carta de 1824. que impedia a liberdade de imprensa. Nunca vi essa Constituição. mais ou menos em 1983. de panfletos. era muito marxista. diferente da nossa. temos. que é sobre Joaquim Manoel Carneiro da Cunha. Então José Honório fez um artigo mostrando que não. E lá tem a Constituição de 1817. na Bahia. José Octávio: Essa questão da Constituição de 1817 foi levantada numa série de artigos por José Honório na FOLHA DE SÃO PAULO. Paulo Bonavides está publicando uma série de trabalhos que condensa uns textos fundamentais para a História do Brasil. Então ele usa a documentação do período. não diria sectário. que é uma outra realidade. Aí ele entra um pouco nessa linha de José de Gláucio. nessa fase. Nós. portanto. que na época estava na esquerda. Porque os portugueses estavam voltando e levando os capitais. de 1792. É um livro só. Com relação a Joaquim Manoel Carneiro da Cunha é bom lembrar que a corrente de José Bonifácio estava tocando na questão da terra. Nós estamos. em 1817. Eu tenho esse trabalho. você enfatizou a questão levantada pelo professor José Honório Rodrigues de que ele foi uma figura de relevo na bravura e no radicalismo. Alguns desses panfletos foram escritos em francês. José Bonifácio queria que esses capitais se tornassem indisponíveis. quando no fascículo nº 6 da Coleção da Paraíba. Ele suavisou-se mais. que tem um trabalho inteiramente sobre isso: PRESENÇA FRANCESA NA REVOLUÇÃO. já citada aqui. os boletins. sobretudo os folhetos. na questão da escravidão e na questão que mais inquietou Pedro e a camarilha dele. onde cita muitos documentos brasileiros. São dois fascículos. para a Paraíba urbana. Esses projetos todos têm o apoio de Carneiro da Cunha. Para o século XVIII. E comenta: essa ferrovia liga o nada a coisa nenhuma. que também teve uma visão econômica extraordinária da Paraíba e do Nordeste do século passado e era um homem avançado para o seu tempo. Burity que ia assumir. O primeiro. de Elias Herckmans. como representante da Política. Eles estão na raiz da transição da Paraíba ainda patriarcal. pelo menos pré-urbana. Depois. Inácio. Sua pesquisa estava em andamento. Humberto Mello: Em Irineu Pinto nós vemos mensagens dos pernambucanos reclamando que a Paraíba estava avançando muito e que em 1817 a Paraíba estava muito à frente de Pernambuco. tem três documentos: O último relatório de João Suassuna e o primeiro de João Pessoa. José Costa e fez um documento de primeira ordem. Esse é um ponto que seria desejável que fosse aprofundado. acho que o grande documento é o documento do engenheiro Retumba. mas o de Herckmans é melhor escrito e mais amplo. foi o SUMÁRIO DAS ARMADAS. é Fernando Delgado. quando ele faz uma avaliação da Paraíba naquele momento. Coloquei os nomes por áreas. 1º participante: Humberto Mello: (Membro do IHGP e da APL) Havia uma professora que estava fazendo um Mestrado de História na Universidade de Pernambuco. que foi Secretário. Coloquei Manoel Carneiro da Cunha. que foi retomado por Irene Rodrigues Fernandes. onde tem um relatório que fala na rede ferroviária que liga João Pessoa a Pilar. Thomaz Santa Rosa. para mim. Burity. quando assumiu aqui juntou um grupo. O século XX. Agora tem um título muito anódino. Houve uma enquête de O NORTE nesse sentido. é um documento para o Governo Burity. Cada um significando um século. chamado POLÍTICAS. um grupo quase todo economistas do melhor nível. O primeiro é perfeito. do século XVI. Botei José Siqueira. Ronald de Queiroz. em termos de conquista. cujo coordenador parece que foi Queiroz. . mas fiquei em dúvida entre ele e Diogo Velho. Eu botei o de Fernando Delgado no meio. ainda agropecuária. o documento que foi reeditado por Marcus Odilon e Wellington Aguiar DESCRIÇÃO DA CAPITANIA DA PARAÍBA. reeditado por iniciativa de Francisco Pontes nas comemorações do IV Centenário. No século XIX. que é um documento do final do século. estudado melhor. O documento de Suassuna é muito bem escrito. Não botei João Pessoa. 1799. foi contemplado com uma capitania por influência de José Américo. Certa vez me perguntaram quais eram os documentos mais importantes da História da Paraíba. que abrange todos os aspectos da história e repassar o debate ao público. Lembrei-me disso porque me pediram para colocar os cinco maiores paraibanos de todos os tempos. São relatórios perfeitos pela maneira como estabelecem diferentes orientações e visão dum mesmo fenômeno. como Marcelo Lopes. conhecia pouco a Paraíba. José Octávio: Foi Lourdinha Vasconcelos. quando ela morreu. Não é um documento do Governo Burity. O primeiro tem a parte geral e o segundo é a parte de demonstração de quadros. O de Van der Dunsches é mais profundo porque é mais econômico. procurando levantar uma tese sobre a posição paraibana em 1817.Geografia e História da PB 188 Honório acha que nisso aí é que reside a diferença de José Bonifácio com o grupo português. Inês Caminha: Quero agradecer esta oportunidade de ouvir José Octávio. No século XVII. que chegou a publicar um artigo naquela revista verde. E eu comecei por Manoel Carneiro da Cunha. coloquei Anthenor Navarro e Petrônio Castro Pinto fez um artigo dizendo que era minha nova mania. Ela levantou muito material e eu pergunto: onde está esse material? É preciso procurar. Retumba participava do grupo de Irineu Joffily e Albino Meira. espécie de História da Paraíba do Departamento de História da UFPB. que você falou aí. Havia três correntes. José Octávio: A causa direta do que aconteceu em Pernambuco e que Maximiano levanta é a destituição de Chichorro da Gama. lá. no mesmo pé do que. Gostaria que. que não foram comprovadas. mas que foi um acontecimento histórico. todas elas pegando em armas. e Jesuíno comandou uma invasão à cadeia de Pombal e libertou um irmão dele e uma porção de gente que estava presa por essa farsa. É mais uma curiosidade histórica. é a revolta de Jesuíno Brilhante. Temos aqui a doutora Inês Caminha. que não tem muito a ver com a tese debatida. que quase todo mundo conhece. houve aqueles movimentos populares do Ronco da Abelha.Geografia e História da PB 189 Pelo que se vê na obra de Maximiano QUADRO DA REVOLTA PRAIEIRA NA PROVÍNCIA DA PARAÍBA e no prefácio que ele fez na História da Revolução de 1817. tem-se a impressão que a adesão da Paraíba à Praieira foi uma questão que inicialmente brotou de um desacordo com o governo local. José Octávio: Eu sugiro que sejam distribuídas essas respostas com os participantes da Mesa. a tese de doutorado dela é sobre as oligarquias na República Velha e a tese de mestrado é um livro publicado sobre Princesa. que aliás teve como vítima uma negra que vendia quitutes. tendo Maximiano adotado suas idéias para encaixar-se dentro do ideário da Praieira. Estavam pegando em armas os liberais radicais. José Octávio: Esse período foi muito agitado. Imputaram algumas acusações. que termina em 1849. Segundo. do padre Muniz Tavares. Primeiro é sobre a Campanha de Princesa. entre um tenente e um comandante. São três episódios da História da Paraíba que eu não sei como estão situados no seu contexto. que é especialista em Princesa. como presidente liberal. Humberto Melo: Não me parece que o movimento Pastorinha. se fosse possível. retirou os cargos das mãos dos conservadores. da Serra do Lagomar. com Frei Caneca. era senador e não tinha maiores vinculações com a oligarquia. que ele estudou. 2º participante João Batista Barbosa: É uma indagação que quero fazer a José Octávio. chamados “jurubas”. como a daqui foi a que Humberto Melo falou. Não sei se poderíamos considerar isso como um movimento de revolta. Humberto Mello: O caso de Jesuíno. Havia uma implicação que havia uns presos que tinham sido detidos mais por se opor à situação dominante do que por acusação de crimes. etc. essa no século passado. E poderia começar pelo caso de Jesuíno. Então ela falaria sobre Princesa. Estava todo mundo pegando em armas naquele momento. A causa imediata foi essa. reprimiu grilagem de terras. Quando ele é destituído os praieiros então se inquietam. o expositor dissesse alguma coisa. os mais comportados. com o presidente da província. botando a polícia nos engenhos. não me parece que tenha sido exatamente uma revolta. se está ligada às lutas políticas paroquiais. E Humberto Mello falaria sobre o movimento de Santa Cruz. Chichorro era baiano. mais antigo. a chamada revolta de Santa Cruz. De 1770/1780 a 1849 é raro o ano que não se verifica um movimento armado no Brasil. que é a mais nova. também. os reacionários caramurus. entrando duro na oligarquia chamada “gabiru”. mas que está ligada à História da Paraíba. se enquadre nesses movimentos sociais. em Monteiro e a terceira. Pastorinha estava vinculado ao grupo mais conservador. do Quebra-Quilos. que muito pouca gente conhece. que derrubam Pedro I e estavam pegando em armas. foi só um movimento militar cingido dentro do quartel. . na mesma época. Não sei se está ligada à repressão ao cangaceirismo na Paraíba. Foi o caso dos Dantas. ficando a gangorra do poder. também com cabras que vieram lá do brejo. inicia-se o chamado movimento das salvações. no Pará. A República coincide com os movimentos de autoritarismo local. que fazia essa alternância. etc. Lima Filho. e chegou a ganhar um apelido de “coronel caga-raiva”. Pedro II tinha a visão de quão perniciosa seria a perpetuação de uma faccão no poder. explosivo. tinha sido integrante da primeira assembléia constituinte paraibana e teve seu nome lançado. Vice-presidente. E assim por diante. que é aderir. não consegui o domínio do Estado. que era muito amigo de Hermes da Fonseca. que estava como membro do Supremo Tribunal. Álvaro Machado recorre a Epitácio.Geografia e História da PB 190 Agora. Rêgo Barros tinha sido político. Com vinte e poucos anos da República aquilo já estava enfarando. que foi um movimento de coronéis. foi criado o Partido Democrata da Paraíba. Antônio Lemos. Os Acioli. como os partidos eram estaduais. Essa carta de Epitácio a um correligionário cujo nome não me recordo. era um domínio completo. em 1912. e vice-versa. caem os Malta em Alagoas e entra Clodoaldo da Fonseca. As salvações. tinha pavio curto. principalmente no Norte e no Nordeste. a deposição de Venâncio Neiva. os Malta vieram ressurgir com Fernando Color. quando foi ministro. Então Pedro II promovia periodicamente uma mudança. essa carta está nas obras dele. Ele não era muito simpático. Nessa época. foi uma revolução que terminou com uma buchada de confraternização. Taperoá. que foi o Coronel José Joaquim do Rêgo Barros. de Pedro Velho. articulou-se uma resistência favorável a Venâncio. onde Epitácio era sobrinho do Barão de Lucena. mas preservando a dignidade. mas eu li o trecho importante que citarei de memória. e negocia entregando vários municípios aos correligionários de Epitácio: Umbuzeiro. no Rio Grande do Norte. para usar a expressão da professora Inês Caminha. etc. Álvaro Machado assume o governo em 1892. Havia mesmo ligações quase familiares. no começo da segunda década deste século. Quando Álvaro Machado se viu apertado com o exemplo dos Estados vizinhos repercutindo aqui. Tinha havido na Paraíba o grupo político de Venâncio Neiva e Epitácio Pessoa. Então tentaram lançar aqui uma candidatura militar de oposição. Na carta que Epitácio faz àquele correligionário ele diz que naquela situação só há uma maneira de atingir o poder. em Monteiro. Isso foi desgastando a campanha. etc. ele foi Presidente do Estado em dois. segundo José Octávio. na Bahia. . do Ceará. isso desapareceu. compadre e amicíssimo de Deodoro. Nesse último livro de Dorgival Terceiro Neto aparece uma matéria sobre isso. que passou somente dois anos no poder. Então Epitácio consegue junto a Hermes da Fonseca que o coronel Rêgo Barros seja transferido para o Rio de Janeiro. caem os Vianna. em cinco quatriênios governamentais. aconteceu o seguinte. Apesar de Epitácio Pessoa ter tido um fôlego extra. eram patrocinadas por Hermes da Fonseca. cuja esposa é Malta.. subia o conservador. em Teixeira. e um outro irmão Afonso. falou com Epitácio Pessoa. passa 20 anos dominando a política da Paraíba. Mas isso desapareceu. Nesses 20 anos. a oligarquia dos Albuquerque Maranhão. que. Rêgo Barros ia fardado aos comícios e levava a tropa fardada também. vem a república da Serra da Estrela. que era sobrinho de Deodoro (tudo militar). Mas. Apeava o liberal. Assis Vidal (pai de Adhemar Vidal) que cooptou os opositores que tinham sido ligados originariamente ao grupo de Álvaro Machado e foram defenestrados para a entrada dos epitacistas. Está no livro de Glauco Soares. Campina Grande. comandado por Afonso Campos. Catolé do Rocha. etc. um dos irmãos – João Machado – foi Presidente no terceiro. Quer dizer. No tempo do Império havia o que chamavam o lápis fatídico do Imperador. No tempo da Monarquia D. Aí cai a situação de Rosa e Silva em Pernambuco e entra Dantas Barreto. Há uma carta de Epitácio a um correligionário quando Álvaro Machado começa a enfrentar cisões dentro do Partido e recorre aos adversários. Quando chega na República. de Santa Cruz. Em 1904 houve um começo de semipacificação. um jornalista campinense. Há uma expressão muito famosa na história que é a “do posso. Primeira República. Quem decidiu foi Rosa e Silva. mas era extremamente popular. Os dois grupos consideraram eleitos seus candidatos. De 1889 a 1930. Porque o estado oligárquico tem alguns fundamentos que são considerados básicos. Antônio Massa. Esse movimento de 1912. para Misericórdia. São do Cariri. Todos nós sabemos que a Justiça Eleitoral advém e é uma conquista do processo revolucionário de 1930. De 1930 a 1945 é a chamada de Ditadura Varguista. Tem até um caso curioso. furtou o chapéu de Pedro Firmino. A questão da cadeia foi apenas o que deu motivo à explosão. Teixeira. Há uma disputa aqui na Paraíba entre José Peregrino. Jesuíno Brilhante era um rico fazendeiro. no sentido de que vai quebrar toda aquela estrutura do estado oligárquico. do quero e mando” dos coronéis. João Batista Barbosa: Quero apartear o ilustre debatedor. depois voltou e foi morto no Rio Grande do Norte. para dizer que a chamada Campanha de Jesuíno Brilhante não foi tão efêmera como falou. A Paraíba estava com dois governos. sobre esse movimento de Monteiro. possuía muitos cabras. Patos. e João Tavares. de Pedro Nunes. Recentemente foi lançado o livro O GUERREIRO TOGADO. passa em Soledade. Inês Caminha: Em relação a Princesa. Mas foram só incursões. Ele transitava do Rio Grande do Norte para cá. Eu conto esta história porque o primeiro marido de minha primeira sogra era o capitão da Polícia e foi comandante de uma dessas expedições. chamamos República Velha. e foi preso o parente dele e ele foi lá. Há vários livros sobre Jesuíno. Inclusive Jesuíno foi considerado um dos primeiros chefes de cangaço. .Geografia e História da PB 191 Em 1900. E o mais importante deles é o controle do processo eleitoral pelos coronéis. Quem estava lá era José Peregrino. com incursões para Conceição. de 1945 a 1964 ela é caracterizada como a República Liberal e de 1964 em diante é o período autoritário. era como um Hobin Hood. volta. e depois temos o processo de abertura. que era estudante ainda. O de Princesa ficou praticamente circunscrito a Princesa. Foi necessário que o Governo enviasse três expedições ao sertão para abafar o movimento. em extensão territorial. que nos períodos de seca tomava recursos alimentícios que estavam trancados nos armazéns e distribuía com o povo. que era o pai do deputado José Gayoso. Realmente. O vice de João Tavares. eu entendo o movimento de Princesa como um movimento armado. eu entendo o movimento de Princesa como o fim do estado oligárquico. oligarca de Pernambuco. não sei se a primeira ou a última. Quando estamos estudando a Primeira República para contextualizar Princesa. Humberto Mello: Jesuíno era natural do Rio Grande. Maior mesmo que o de 1930. surgem duas chapas. os cangaceiros de então. foi o maior de todos. que estava no exercício da Presidência da República e reconheceu como titular o que estivesse no Palácio do Governo. O movimento que começou em Monteiro vai ao Cariri. até 1985. Então houve todos esses precedentes de movimentos de chefes políticos. Conta-se até que João Dantas. Isso são fuxicadas de política publicadas por Cristino Pimentel. a luta começou na Paraíba e terminou no Rio Grande do Norte. quando Epitácio Pessoa está no Ministério. como diz o aparteante. conflagrou aquela zona toda. não uma revolução. que era o Vice. veio para Pombal. República dos Coronéis e República Oligarca. líder do movimento. onde ele faz uma biografia de Augusto Santa Cruz. destruiu a cadeia e soltou o parente e daí revoltou-se contra uma volante que foi prendê-lo. Esse nome de Guerreiro Tocado vem porque depois Santa Cruz foi para Pernambuco. empossou-se no Teatro Santa Rosa e José Peregrino assumiu no Palácio do Governo. Porque nós estamos estudando a história da República e ela tem didaticamente uma divisão em várias fases. Ocupou Patos. onde se tornou juiz. Taperoá. e morreu na campanha. candidato de Álvaro Machado. que é aquele que exerce liderança só no município. a malversação do dinheiro público. ao realizar eleições razoavelmente limpas para a época. porque ele preenche todas essas esferas. que é aquele que abrange as três esferas: municipal. que é chamada de solidariedade horizontal e solidariedade vertical. Precedendo a esta.Geografia e História da PB 192 Entre outros fundamentos do estado oligárquico nós temos. o presidente abria espaço para novas lideranças – as mais das vezes urbanas – e confiscava a moeda de troca dos coronéis. Camilo de Holanda é forçado a deixar a política e é quando começa a fazer oposição. Humberto Mello. Então podemos caracterizar Epitácio Pessoa como um grande coronel. Extraordinário é que a luta de Princesa fundiu-se com outras questões da época e desembocou na Revolução de 30. Mas experimentou um golpe muito grande. que a força dos coronéis ela está no voto. Como muitos eram epitacistas. Nós sabemos. Inês Caminha: Ainda vendo essa questão do movimento de Princesa. Há uma carta de Epitácio Pessoa cobrando de Camilo de Holanda até a louça que ele compra para o Palácio. É tanto que com o Estado Novo. o que é que nós temos? Temos que definir os tipos dos coronéis. temos o médio coronel. Se nós acompanharmos toda a correspondência vamos ver que Epitácio dá quase como um ultimato. Os que existiam foram transferidos para longe ou postos em avulsão. A reação destes não tem nada de extraordinário. estadual e nacional. se por acaso se encontrasse com Epitácio. com a formação do Estado Nacional. com pessoas que fazem da política uma profissão. teria que fazer continência. que é importante para a gente entender o processo revolucionário de 30. a reciprocidade. todas essas questões envolvem os fundamentos do estado oligárquico. existe a solidariedade. porque ele na ativa. na Era Varguista. com a Revolução de 30. Ele passou para a oposição. Nós temos o pequeno coronel. a política profissional. E todos nós sabemos qual foi o fim de Camilo de Holanda. Outras características importantes desse período são a submissão. termino aqui minhas considerações finais. de um lado. Pessoa estava minando as próprias bases de sustentação. Há um envolvimento depois da morte de Antônio Pessoa. por exemplo. Ele. ele era General-médico. Por outro lado. a lealdade. Inclusive Camilo de Holanda diz: eu quero ser ouvido e cheirado em tudo. 10º Tema A REVOLUÇÃO DE 30 E A PARAÍBA Expositor: Humberto Cavalcanti de Mello Debatedor: Dorgival Terceiro Neto A fala do Presidente: . recusa-se a nomear os parentes dos coronéis para as funções públicas. Este ainda não acabou. que quebrou muitos de seus vínculos. Voltando à questão dos fundamentos. Em face do adiantado da hora. que não vamos abordar agora nessa discussão. o nepotismo. em aparte A filha de Camilo de Holanda escreveu um livro onde conta que quando Camilo rompeu com Epitácio pediu para passar para a reserva. por exemplo. De certa forma. que ultrapassa a esfera municipal e a esfera estadual e temos o grande coronel. Uma outra característica que também é trabalhada nesse período é a predominância da esfera estadual em relação à esfera municipal e à esfera federal. a Revolta de Princesa pode ser considerada o canto de sereia do coronelismo. João Pessoa irá subverter essas solidariedades. nós vamos ter o fortalecimento dos municípios. assumindo a presidência do Estado. e depois veio o presidente paulista novamente. exerceu também a magistratura como Juiz de Direito. presidente da Academia Paraibana de Letras. a esse tempo. e por isso São Paulo se achava no direito de comandar o Brasil. Passo a palavra ao confrade Humberto Mello. houve uma reação dos outros Estados. porque tudo indica que foi fraudada. escreveu INSTITUIÇÕES DA PARAÍBA COLONIAL. Entra o presidente mineiro Venceslau Braz. e A PARAÍBA E A REVOLUÇÃO DE 30. que não chegou a concluir o mandato. em 1870. da UNIPÊ e da Universidade Regional do Nordeste. Veio a chamada “campanha civilista”. com vários trabalhos sobre o tema) Para tratar desse tema A REVOLUÇÃO DE 30 E A PARAÍBA. Na sucessão de Afonso Pena começou a surgir uma série de disputas e terminou se impondo a candidatura de Hermes da Fonseca. apossou-se do poder até o fim do mandato do seu antecessor. quando. Ocorre que . como Vice-presidente. portanto. apoiando o nome civil mais ilustre de então. no sentido de ser o mais populoso e ter a maior representação política. citando entre eles A TRAJETÓRIA POLÍTICA DE EPITÁCIO PESSOA. Minas. JOÃO PESSOA – PERFIL DE UM HOMEM. Além dessas obras. URNE e UNIPÊ. será debatedor oficial o confrade Dorgival Terceiro Neto. devo começar citando uma intervenção aqui. o ex-presidente Rodrigues Alves. em 1914. Minas Gerais não aceitou. também chamada República Velha. É um dos nossos historiadores mais atualizados e atentos à realidade atual. sobrinho de Deodoro da Fonseca. convidados que já estão a postos. que seria Bernardino de Campos. que era Rui Barbosa. A Revolução de 30 significou o final da Primeira República no Brasil. pouco mais de 40 anos. Então tivemos Prudente de Morais. Começou a República com dois militares na direção do país: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Um. apresentou um predomínio muito grande das oligarquias. Essa chamada República Velha. durando. há uma semana. Seus trabalhos justificam o convite que a Comissão Executiva do Instituto fez para atuar neste Ciclo. República das oligarquias. que se iniciou com o golpe militar encabeçado por Deodoro da Fonseca. onde se iniciou o esquema que ficou conhecido como “política do café-com-leite”. da professora Inês Caminha. Rodrigues Alves. e Hermes desempenhou o seu período governamental. Campos Sales. No final de contas. em termos nacionais. e contra a qual São Paulo se levantou. E depois veio uma série de paulistas. Ninguém melhor do que os nossos associados Humberto e Dorgival do nosso Instituto. Depois a política do café-com-leite voltou. cujo título inspirou o tema que vamos debater. Café-com-leite porque São Paulo era o maior produtor de café e Minas Gerais se destacava na criação do gado leiteiro. principalmente Minas Gerais. era o mais importante Estado brasileiro. posso lembrar que Humberto Cavalcante de Mello é ex-presidente deste Instituto e membro da Academia Paraibana de Letras. Ex-professor de Direito da Universidade Federal da Paraíba. quando houve a Convenção de Itu. em 1889. Essa política se inicia com o Presidente mineiro Afonso Pena. pela Constituição da época devia fazer a eleição para Presidente. Quando se preparava um quarto presidente paulista. A ADMINISTRAÇÃO DE JOÃO PESSOA. para apreciarem o tema de hoje. Ainda no Governo de Rodrigues Alves foi firmado o pacto de Ouro Fino. pois veio a falecer. O Partido Republicano tinha sido fundado em São Paulo. Expositor: Humberto Cavalcanti de Mello (Sócio do Instituto e da Academia Paraibana de Letras. que será examinado pelo historiador Humberto Cavalcanti de Mello. que deu um golpe constitucional em 1891. uma cidade mineira onde houve o encontro da cúpula governamental brasileira. que também convido para tomar assento na mesa dos trabalhos. Hermes da Fonseca venceu.Geografia e História da PB 193 Estamos reiniciando nosso Ciclo de Debates e hoje vamos apreciar o tema A REVOLUÇÃO DE 30 E A PARAÍBA. que deixou a fama de ter feito o melhor dos governos da República Velha. Numa breve apresentação do expositor. o qual convido para participar da Mesa. República dos Coronéis. convido também o acadêmico Joacil de Britto Pereira. Ainda hoje se discute se a eleição foi limpa ou não. que era o Ministro da Guerra. que esteve à frente do golpe de 1889 e o outro. e vai até 1930. professor da UFPB. Recebia a cédula e punha na urna. Antes da eleição de Epitácio Pessoa surgiram especulações sobre a indicação de mineiros ou paulistas. estive em Porto Alegre. Então fez a pior de todas as indicações: indicou o governador de São Paulo. fatigado. O presidente do Estado tinha poderes absolutos. Washington Luís era um homem inteligente. começando a surgir uma certa resistência ao seu nome. Era chamado semi-secreto porque o eleitor quando chegava na cabine dizia ao dirigente da mesa: quero votar em Fulano. o voto chamado semi-secreto e o voto aberto. Getúlio Vargas. mas era de uma obstinação política tremenda. Eleito. E o presidente podia ser reeleito. Ministro da Fazenda de Washington Luís. Nessa sucessão significava que a sucessão coubesse a um mineiro. muito autoritário. muito esperto. muito chegado a dar golpes e com isso criou um atrito forte. E no período seguinte foi escolhido para governar o Rio Grande do Sul o ex-deputado federal. O Rio Grande do Sul ocupava uma situação interessante. Epitácio surgiu como um tertius. quando houve uma comemoração da Revolução de 30 e vi um exemplar de uma dessas cédulas. conclui essa biografia dizendo que a morte de Rodrigues Alves significou a morte da República. Afonso Arinos de Melo Franco. Aconteceu com Rodrigues Alves o mesmo que viria acontecer. como o regime se enfraquecia foram necessários presidentes fortes. que era irmão de José Bonifácio – Patriarca da Independência. Terminou Getúlio Vargas não saindo como candidato de Washington Luís. embora para ser reeleito tivesse que ter 75 por cento dos votos. pertencente à família mais ilustre da política brasileira. O voto secreto nenhum Estado adotou. não assumiu e morreu pouco depois do dia em que deveria tomar posse. O próprio Washington Luís não queria. E foram três. Era um gaúcho. depois o mineiro Artur Bernardes e depois o paulista Washington Luís. pela constituição do Estado. que estava chefiando a delegação brasileira à Conferência de Paz de Versalhes. ou do partido tal. as urnas eram misturadas e assim não se identificava de quem era o voto. Dos vinte Estados de então. Mas Antônio Carlos tinha a fama de ser um político extremamente matreiro. Há indícios de que Washington Luís via com bons olhos a candidatura de Getúlio Vargas para evitar a de Antônio Carlos. A Constituição do Rio Grande do Sul permitia a reeleição. que escreveu uma biografia muito boa sobre Rodrigues Alves. Assumiu o Vice-presidente Delfim Moreira. descendente direto de Martim Francisco. Deveria haver a eleição para o cargo de Presidente. que estabeleceu que aquela seria a última reeleição. Então havia três opções: o voto secreto. dezenove adotaram o voto semi-secreto. adoeceu. A fraude eleitoral campeava. Rodrigues Alves foi vítima de uma pandemia. se reunia apenas dois meses por ano. Mas no Rio Grande do Sul o voto era aberto. Era duro. para aprovar o orçamento. Na apuração. não chegou a assumir. uma epidemia chamada “gripe espanhola”. aquele domínio de trinta anos seguidos e então Afonso Arinos disse que. Antônio Borges de Medeiros era reeleito continuadamente. quase setenta anos depois. e o mineiro mais indicado era o presidente do Estado de Minas Gerais. basta dizer que a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. tinha várias obras importantes publicadas. O regime já estava se mostrando cansativo. em 1923. uma epidemia que cobriu o mundo todo. Só. era um Estado todo diferente. culto. que era mineiro. declarado. declarado.Geografia e História da PB 194 Rodrigues Alves. Havia uma cédula onde o eleitor escrevia o nome do candidato e assinava em baixo. Antônio Carlos. Naquele tempo os Estados tinham um peso muito mais forte do que hoje. E a legislação federal determinava que cada Estado escolhesse a maneira de votar. Há indícios de que Washington Luís tinha um nome em vista. havendo a modificação da Constituição Estadual. que nem seria mineiro nem paulista. eleito em 1918. a qual foi realizada e foi eleito o paraibano Epitácio Pessoa. um paulista . na sua primeira fase. ao final da primeira guerra mundial. Em 1980. terminou havendo uma guerra civil interna com a intervenção do Governo Federal. Epitácio Pessoa. com Tancredo Neves. Mas as eleições de Borges de Medeiros foram cansando tanto que. Ela era formada pelas colunas de Prestes e Miguel Costa. de forma que a campanha foi deflagrada muito cedo. Foi nomeado presidente do Estado. Luiz Carlos Prestes. com estudos muito aprofundados. E a Paraíba como é que estava? Algumas palestras realizadas neste Ciclo de Debate já nos dão conta. Instalou um domínio político de vinte anos. Primeiro o cansaço da política oligárquica. Houve a revolta do Forte de Copacabana. exatamente dois anos depois. a oposição cresceu. havia um clima especial. como já foi frisado em debates anteriores. Logo no começo do ano houve uma revolução literária e artística com a Semana de Arte Moderna. que era um propagandista republicano. fugiu e essa coluna mista de elementos da Polícia Militar de São Paulo e do Exército dirigiu-se ao Sul do país. comandados por um capitão. segundo. indicado simplesmente porque era irmão de dois oficiais que tinham participado do golpe militar de 15 de novembro: João e Tude Neiva. Recaiu sua escolha no nome de Júlio Prestes. que tinha a fama de ser homem sem grande QI. que era o comandante da Polícia Militar de São Paulo. e. em 1929. o então tenente Eduardo Gomes. voltou. a situação política do Brasil. houve uma série de eventos. De modo que. o general Isidoro Dias Lopes revoltou-se em São Paulo. cinco quatriênios. Era um domínio familiar completo. logo depois tivemos a fundação do Partido Comunista do Brasil. que foi o centenário da Independência. o qual em pouco tempo rompeu. Passou por grande de parte do país. até que o Exército reocupou São Paulo. segundo o relato de jornalistas da época. A década de 1920 foi uma década muito conturbada. desceu pelo Nordeste. que não teve quem a recebesse. subiu. travou um combate aqui na Paraíba. mas ficou conhecida como Coluna Prestes. Em julho de 1924. em julho desse mesmo ano houve a primeira das revoltas do chamado movimento tenentista. . da qual um dos participantes veio a ter uma demorada influência na política brasileira. Tivemos a República proclamada aqui. foi ao Maranhão. E para dar um cunho de legalidade ele tomou posse perante a Câmara Municipal da capital do Estado. um irmão – João Machado – exerceu outro quatriênio. Antônio Carlos se articulou e lança Getúlio Vargas como candidato. em Piancó. Chamava-se Álvaro Machado. Nós vivíamos também um ciclo oligárquico. Lá no Sul houve um encontro com revoltosos que tinham se revoltado no Rio Grande do Sul. mais ou menos. diagnósticos críticos sérios sobre a situação do Brasil. Houve um ciclo de estudos muito interessante que deu lugar a um livro intitulado À MARGEM DA HISTÓRIA DA REPÚBLICA. terminou se internando na Bolívia. Mas no ano de 22 houve alguns fatos importantes. A eleição seria realizada a 1º de março de 1930. que também veio a ser um dos nomes fortes da História do Brasil. que também tinha um contraparentesco com Venâncio (a mãe de Epitácio era irmã da esposa de um dos irmãos de Venâncio Neiva) e o outro foi Coelho Lisboa. passou pela Bahia. Eram oficiais jovens que não estavam aceitando mais aquela situação. em julho de 1929. como governador do Estado. terceiro todo esse movimento militar. veio Epitácio Pessoa. que depois tomou o nome de governador. um cidadão que era juiz de direito de Catolé do Rocha: Venâncio Neiva. houve conflito armado. No ano de 1922.. Iniciou-se então um movimento muito sério. forçado a renunciar. Essa era. ocupou toda a capital paulista. um argentino naturalizado brasileiro. Tudo isso veio descambar em 1930. um outro irmão – Afonso – foi Vice-presidente do Estado em outro quatriênio. a revolta de uma parte da oligarquia contra a quebra das regras estabelecidas do café-com-leite. o qual recebe um telegrama do Presidente da República dizendo que viesse assumir o governo da Paraíba. E o governo paraibano veio montado.Geografia e História da PB 195 sucedendo ao outro. Para completar o governo de Venâncio. violento. Nesses vinte anos. Quando Deodoro saiu da Presidência. Álvaro foi presidente do Estado duas vezes. chamada Coluna Prestes. Mas uma coluna de revoltosos comandada por Miguel Costa. houve uma derrubada quase geral nos governos estaduais O que aconteceu na Paraíba? Vem um oficial do Exército que estava servindo na Bahia. para ser Secretário Geral. Essa junção transformou-se numa coluna que percorreu todo o Brasil. e o PRR – Partido Republicano Riograndense. Quando esse Partido Democrático se fundou aqui na Paraíba. Em 1928. tendo à frente um cidadão que não exercia cargo político. Com Minas no Centro e Getúlio no Sul. Eram os partidos mais fortes nos Estados. os oposicionistas procuraram uma pessoa do Norte. de proprietários rurais. que durou três anos. Quando foi lançado o nome de Getúlio Vargas. com cabras armados. Houve uma tentativa de conciliação. No dia 31 de dezembro houve eleições municipais. o ex-deputado e ex-senador Octacílio de Albuquerque e de uma turma nova que era da oposição e que achava que a oposição comandada pelo desembargador Heráclito Cavalcanti estava cansada. João Pessoa fez uma administração em que realmente modificou uma porção de coisas. que era o dia de posse tradicional dos governantes paraibanos. Vez por outra nós tínhamos movimentos armados de chefes políticos. As eleições. Wergniaud Wanderley. Em 1928 se funda um outro partido. do médico José Maciel. O primeiro nome em que se fixaram os oposicionistas foi o governador de Pernambuco. Em 1978. que tinha uma nova mensagem. Na Paraíba tínhamos o Partido Republicano. quando se comemorou aqui o centenário de nascimento de João Pessoa. veio uma comitiva paulista. pois naquele tempo as pressões governamentais eram muito fortes. Assim. PRM – Partido Republicano Mineiro. alguns deles se projetaram bastante na política paraibana. Naquele tempo nós tínhamos dois partidos políticos. o partido recebeu o apoio de um dissidente do grupo de Epitácio. Antônio Pereira Diniz e outros. tinha que renunciar. apesar de viciadas. Em Campina Grande. o que se levantou mostrou que certas inovações administrativas de João Pessoa tinham prenunciado aquilo que se instalou depois de 30. comandado por Epitácio Pessoa e o Partido Republicano Conservador. . àquela época os partidos eram estaduais. da Bahia para cima tudo era o Norte. quando se comemorou os 50 anos da Revolução de 30. O partido de Epitácio era muito grande. eram rotineiras. Epitácio Pessoa não tinha filhos. procurou-se um Vice-presidente para equilibrar a disputa. eu participei de alguns debates e. Naquele tempo não havia Nordeste. um dos possíveis herdeiros políticos de Epitácio. que era o desembargador Heráclito Cavalcanti. Epitácio Pessoa resolveu indicar um sobrinho para a sucessão paraibana – João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Então a Associação Comercial pressiona Estácio Coimbra. Estácio sofreu pressão. Quando levantaram o nome de Estácio Coimbra o gerente do Banco do Brasil do Recife chamou o presidente da Associação Comercial e disse que se o Estado de Pernambuco ficasse contra o Governo Federal o Banco do Brasil ia executar todos os devedores que tinha lá. é escolhido João Pessoa como candidato. e como em todo partido grande que está no poder todo mundo quer participar e começam as cisões. que vinha de São Paulo com uma tentativa de renovação. foram feitos debates a respeito e em 1980. Em 1912 houve um desses. João Pessoa assumiu o governo no dia 28 de outubro. Epitácio tentou contemplar várias alas do partido e foi fortalecido quando chegou à Presidência da República. Luiz de Oliveira e outros mais. mas tinha três sobrinhos que eram considerados possíveis herdeiros dele.Geografia e História da PB 196 Aí já estava se concretizando um fenômeno tipicamente republicano na Paraíba. De forma que havia sempre uma vaga para preencher. Como se sabe. mas que era um grande chefe político. que se levantavam com jagunços. chamado Partido Democrático. Não havia suplentes. Essa administração de João Pessoa ganhou um renome nacional. Estácio Coimbra. de fato. Em 1912 morre Álvaro Machado. quando um deputado assumia uma Secretaria. Os partidos mais importantes eram o PRP – Partido Republicano Paulista. Elas eram constantes. como Argemiro de Figueiredo. dirigido pelos adversários de Epitácio. cujo episódio já foi objeto de debate neste Ciclo. terminando seu domínio. que recusa o convite. em 1915 há o rompimento e se instala o domínio de Epitácio Pessoa. Essa turma nova queria uma oposição mais efetiva e aqui na capital contava com o apoio de João da Matta Correia Lima. uma parte do partido de oposição. É preciso lembrar que na Paraíba não havia eleição para prefeito. Esta coincidiu com a eleição para Deputado Federal. para Getúlio-João Pessoa. mesmo eleitos pela oposição ao Governo Federal. Entre as medidas de caráter político que João Pessoa tomou resolveu reconhecer os resultados das eleições: quem ganhar a eleição. de três em três anos. Na oposição. Mello Viana. como gratidão. Mantém válidas as eleições para Presidente da República e anula as de deputados e senador. tivemos uma mistura. pai do ex-governador Antônio Mariz. Era o costume. Em 30 houve essa coincidência. Aí a turma da oposição passa a apoiar Júlio Prestes. Havia uma dissidência no Rio Grande do Sul. Em termos políticos aqui na Paraíba. Todos os deputados do Rio Grande do Sul foram reconhecidos. Assim. Eram nove vereadores. a oposição fez dois vereadores. Pelo menos em dois municípios. Em Minas Gerais fizeram uma composição: reconheceram dois terços dos candidatos que tinha apoiado Getúlio e um terço do outro . As eleições eram presididas pelo Juiz Federal da capital e em cada município havia três suplentes de Juiz Federal. nós tínhamos mais ou menos 40 mil eleitores. De repente João Pessoa sai Vice de Getúlio. que se aliou a João Pessoa. havia eleições para deputados federais e um senador. Em conseqüência. Pouco mais do que isso. Naquela época não havia Justiça Eleitoral. muitas vezes. tivemos gente que era da oposição tradicional do desembargador Heráclito Cavalcanti e um bocado de gente que tinha saído do partido de Epitácio e estava com raiva de João Pessoa. Quando o cidadão era eleito deputado federal ou senador. como todo governo dos Estados. Na gíria política esse costume era chamado de “degola”. cujo mandato era de quatro anos. Há um trabalho do advogado Mário Bulhões Pedreiras de Carvalho que mostra isso. tio do nosso confrade Marcus Odilon. o que se esperava era que João Pessoa. O que fez a Junta Eleitoral? Anulou as eleições para deputados e senador em vários municípios. Essa Comissão de Reconhecimento muitas vezes desprezava o resultado e proclamava eleito o vencido. Havia um senador. Em 1930 houve as eleições para Presidente da República. ao fazer a defesa de alguns senadores. Paim Filho. e em Piancó. em números redondos. Quando chegam os resultados de todo o Brasil ao Congresso. que era de oposição. havia toda sorte de manipulação. Ao lado de João Pessoa ficou a maioria dos antigos correligionários de Epitácio. Acontecia. Quando se começou a falar na campanha sucessória presidencial. inclusive Dr. que hoje são as Câmaras de Vereadores. João Pessoa reconheceu a vitória da oposição. Em Minas Gerais também não havia união. o que aconteceu? Dizem que houve um acordo secreto entre Washington Luís e o comando da política gaúcha – Borges de Medeiros e Getúlio Vargas. Aconteceu em Sousa com o grupo chefiado pelo advogado José Mariz. e com isso a chapa da oposição ganha. as Câmaras fraudarem as eleições. o domínio de uma família que tinha sido escorraçada por Epitácio Pessoa – a família Leite. Flávio Ribeiro.Geografia e História da PB 197 Nessas eleições municipais esse Partido Democrático fez dois vereadores na capital. A chapa presidencial teve cerca de 30 mil votos. no Estado também havia os suplentes. ficasse com o Presidente da República. E o pessoal da oposição já estava se preparando para apoiar Getúlio Vargas. Só havia eleição para os Conselhos Municipais. Mas. a situação estadual era forte. com exceção do Partido Democrático. gente que era da oposição ficou com ele. destacando-se Anthenor Navarro. comandada inclusive pelo Vicepresidente da Republica. comandada pelo ex-governador Walfredo Leal. a chapa de oposição Júlio Prestes-Vital Soares teve 10 mil votos aproximadamente. com mandato para nove anos. Aqui na Paraíba. leva. uma parte mais recente e um pessoal que era um tanto desligado de política e ficou empolgado pelo movimento de renovação. ainda tinha que passar pela Comissão de Reconhecimento da Câmara de Deputados ou do Senado. cujo mandato era de três anos e a eleição para um terço do Senado. os prefeitos eram todos nomeados. mas não conseguiu êxito e a Polícia também não conseguia entrar. O comandante do 22º Batalha de Caçadores. onde estava exilado o comandante da Coluna Prestes. na Bahia. a bancada do Rio Grande do Sul e dois terços da bancada de Minas Gerais. José d’Avila Lins. até chegar ao Rio de Janeiro. de Catolé do Rocha. Esses quatro tenentes tiveram projeção na vida política: o próprio Juarez Távora. Carlos de Lima Cavalcanti. em Santa Catarina. que dominavam somente nos municípios e coronéis que tinham um domínio regional. etc. num dos debates deste ciclo de estudos. a idéia do movimento armado. Quando se pensava que a situação militar daqui era tranqüila estavam aqueles tenentes organizando o movimento. Por essa razão e por outras. mas tinha uma influência muito grande. foi a Buenos Aires. de Pinheiro Chagas. praticamente. sócio do Instituto. e Diretor do Pronto Socorro. Agamenon Magalhães. retornou. Com esses acordos a idéia de um movimento armado desaparece. E foi trazido para cá o coronel Maurício Cardoso. Santa Luzia. assassinado por um desafeto político e depois pessoal. que foi presidente do Instituto e do médico Antônio d’Avila Lins. mas todos quatro estavam comprometidos com o movimento. Na Paraíba nós tivemos alguns desses no curso da República. Eram os chamados tenentes de Juarez Távora. também era tido como coronel. mandou colunas armadas. Sousa. sediado em Cruz das Armas. que havia coronéis pequenos. Juracy Magalhães e Jurandir Mamede. O coronel Cardoso avisou que traria com ele gente de sua confiança. em Pernambuco. Agildo Barata. Era o mais importante dos coronéis de 1930. onde foi recebido com discursos inflamados de Maurício de Lacerda. que vai tocando todos os Estados. apesar de ser médico. Inês Caminha falou. no Ceará. em Piancó. Um pouco antes havia ocorrido um fato curioso. Inicialmente tivemos Valdevino Lobo. Siqueira Campos. aquelas rebeliões coronelescas estouraram por conta de movimentos políticos. comandada por José Pereira. Como falei anteriormente. Em cada um se levantava a oposição. título dado a grandes proprietários. Maurício de Lacerda. que fora extinta em 1915. que foi João Dantas. que mandava no sertão quase todo. como a rebelião de Princesa. Mas José Pereira era um coronel de alto destaque. Nereu Ramos. Patos. que. a família Távora. Prestes se recusou porque a esta altura já estava convertido ao marxismo e achou que aquele movimento não levaria a nenhuma renovação. Juarez tinha sido um dos dirigentes da Coluna Prestes. Quando se soube dessas ligações. O outro era Paulo Cordeiro. Então o comandante do movimento foi um coronel alagoano que servia no Rio Grande do Sul e que depois se tornou um nome forte: Pedro Aurélio de Góes Monteiro. era também irmão do prefeito da capital. em 1915. Trouxe quatro tenentes que ele supunha serem da mais absoluta confiança. sendo a capital. havia uma presença militar muito grande na Paraíba. Até que surge um fato que teve origem pessoal. o jovem estudante Nelson Carneiro. estava preso no Rio de Janeiro na Fortaleza de Santa Cruz. José Pereira Lima era um coronel. Mas todo mundo da oposição foi “degolado”. mas que teve uma conseqüência política tremenda. que já estava adormecida. a não ser. . transferiram o coronel Estevão d’Avila Lins para o Rio de Janeiro. Nos demais Estados havia gente que apoiava Getúlio. não era um coronel propriamente dito. O corpo de João Pessoa embalsamado foi transferido do Recife para aqui e daqui saiu num navio. esse domínio no sertão passou para José Pereira. Quando Felizardo Leite rompeu politicamente. nosso confrade e tio do consócio Guilherme d’Avila Lins. era o coronel Estevão d’Avila Lins. Ele tentou expandir. Então. que chegou a um impasse. Ele sustentou uma luta armada em Princesa. surgiu Felizardo Leite. Só para citar algumas figuras que depois brilharam no cenário político brasileiro. A morte de João Pessoa causou um impacto violento em todo o Brasil e foi muito bem explorada politicamente. um dos tenentes mais destacados. e convidou Prestes para vir comandar o movimento armado aqui.Geografia e História da PB 198 lado. Por exemplo. ocupada pelo o comando da Região Militar. como já frisei. Depois que Valdevino Lobo morreu. companhias e batalhões do Exército de outros Estados vizinhos foram trazidos para Campina Grande. que foi a morte de João Pessoa. no Rio de Janeiro. Havia os coronéis do tempo da Guarda Nacional. aconselhando sua renúncia. mas houve uma reação. onde estava previsto um encontro na cidade de Itararé. Do Rio Grande do Sul. tendo o tenente Aluízio Moura voltado às pressas para Natal. na qual dizia que as férias para os operários eram extremamente prejudiciais. Borja Peregrino. etc. estava toda em Campina Grande e era comandada pelo tenente Aluízio Moura. em 24 de outubro. o problema do trabalhador era meter o pau. Vieram telegramas urgentes para o comando do 22º Batalhão de Caçadores (22 B. Ele se recusou. Tomado o quartel. porque. Quando deu meia noite. Só houve alguma resistência no Maranhão e. seguiu uma coluna de trem. culto. Quando Getúlio Vargas chegou ao Rio de Janeiro os militares não estavam querendo entregar o Governo. comandada pessoalmente por Getúlio Vargas. que era uma companhia. na beira do mangue. De modo que era mais salutar para a moralidade do operário não ter férias. Isso aconteceu no Ceará. entre eles os generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e o almirante Noronha estiveram com Washington Luís para dizer que a situação estava insustentável (faltavam 20 dias para Washington Luís deixar o Governo). jornada mínima de trabalho. tendo o cardeal D. nem salário mínimo. Porque o operário de férias não tinha o que fazer. No Pará. Artur Sobreira. Há depoimentos informando que foram vinte e tantos que invadiram o quartel. houve um impasse. telegrafando que estava chegando. Tentaram fazer uma manobra para ficar. até que fosse deposto Washington Luís. mas houve um grupo menor que Agildo Barata dá o nome de todos os que ficaram e lutaram. ia fazer o que não prestava. Havia uma companhia que sempre ficava de prontidão. Previa-se que seria a maior batalha da América do Sul. houve a invasão do quartel por civis fardados de oficial do Exército. Sebastião Leme. comandante da Região Militar. e estabeleceu o voto secreto obrigatório em todo o Brasil. Uns quinze invasores correram. O governador do Rio Grande do Norte era um homem inteligente. em lugar de ir para o trabalho direitinho ele ia passar dez ou quinze dias em casa sem ter o que fazer. convencido Washington Luís a renunciar. antes disso. jogar. C. Assim terminou a chamada República Velha. dirigindo-se para São Paulo. Basileu Gomes. terminaram morrendo os tenentes Reis e Sílvio Lobo. Os telegramas eram dirigidos ao general Lavanere Wanderley. dirigiram-se para o Recife. mas era muito violento e garantiu segurar o movimento. a Revolução procurou moralizar as eleições. Depois se diz que a maior batalha da América do Sul não houve. O movimento começou à tarde do dia 3 em Belo Horizonte e Porto Alegre. alguns líderes militares. Agildo Barata interceptou todos os telegramas.) para que se tomassem todos os cuidados. o que não aconteceu. Porque havia outros oficiais que o general havia trazido e quando eles perceberam o movimento atiraram para cima. principalmente. quando o governador abandonou o Governo. e o general Lavanere e outros ficaram feridos. onde já se tinha iniciado o movimento revolucionário. Quer dizer. fardas fornecidas por esses tenentes aos civis Anthenor Navarro. implantando a Justiça Eleitoral. que se encontrava em João Pessoa. que fica na fronteira de Santa Catarina com São Paulo. afinal. Em suma. no Pará. o governador Eurico Vale só se entregou no fim. esse foi o movimento militar. após alguma luta. Ao final. tomar cachaça. A . Eu vi algum tempo uma proclamação da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. não deixou que chegassem ao comando. Odon Bezerra. Atribui-se a Washington Luis uma frase: “A questão social é caso de polícia”. ia beber. No Recife ainda houve luta durante algum tempo. escritor. Mas nos outros Estados do Nordeste aconteceram as chamadas deposições por telegrama. O comandante da unidade militar do Rio Grande do Norte. no Piauí.Geografia e História da PB 199 Houve troca de telegramas cifrados e a revolução foi marcada para 3 de outubro. Isso foi a Revolução de 30. até que Getúlio Vargas assumiu o Governo Provisório no dia 4 de novembro. Teve gente que desceu pela ladeira da Graça e foi bater perto do rio. E o que essa revolução fez? Primeiro. Foi organizado um esquema em que a companhia de prontidão ficou sob o comando de Juracy Magalhães e o oficial-de-dia era Agildo Barata. nem foi tomado conhecimento. oficialmente. com a saída de Álvaro Pereira. que não participava em nada no movimento revolucionário. foram colhidos depoimentos das filhas dele. Foram criados o Ministério da Educação. vão encontrar inúmeros atos de José Américo nomeando gente para cargos federais. De Epitácio Pessoa. Aí. Foi criado um Núcleo de História Oral. prefeitos municipais. mas os seus secretários conspiravam ocultamente. José Américo conta no depoimento que deu à Fundação Getúlio Vargas. onde se gravavam depoimentos de pessoas que tiveram atuação. ou que exerceram cargos políticos de nomeação como secretários de Estado. a reviravolta foi enorme. o qual teve uma votação irrisória. Quando João Pessoa foi assassinado. O Ministério Vargas era dominado por gaúchos. Quando das eleições para deputado constituinte. Aqui na Paraíba e no Rio Grande do Norte. O Partido Republicano da Paraíba – partido de Epitácio – simplesmente se acabou. O jornal A UNIÃO tem um documentário precioso sobre essa fase da Paraíba. Eu . que está transformado em livro. nos exemplares de A UNIÃO da nossa Biblioteca. Vieram a cavalo e cometeram a bravata de amarrarem seus cavalos no obelisco que havia no começo da avenida Rio Branco. Houve várias modificações administrativas. se desejarem pesquisar. não apenas o Governo do Estado. O CPDOC foi criado a partir do arquivo de Getúlio Vargas. o advogado Severino Alves Ayres. de Lindolfo Collor. Isso tudo foi implantado pelo movimento de 30. a Paraíba governou o Norte. Ele nem sabia do movimento. No começo da década de 70 a Fundação Getúlio Vargas criou o Centro de Pesquisas e Documentação da História do Brasil – o CPDOC. Mas a Paraíba conseguiu projeção. Maurício Cardoso. não lograva êxito. e só. Em termos de política paraibana. Temos de reconhecer que a presença paraibana. 30 marcou não só os rompimentos em termos políticos como houve uma renovação administrativa muito grande. Nos outros Estados. Álvaro Pereira de Carvalho. colhia-se depoimentos de filhos. O Partido Republicano Conservador emitiu uma ou duas notas. quem assumiu a presidência do Estado foi seu Vice-presidente. uma mulher inteligente e culta. em 1933. foi grande.Geografia e História da PB 200 previdência. Às vezes. A situação não tomou conhecimento. o Partido Democrático apresentou apenas um candidato. cuja tentativa do deputado Eloy Chaves. que foi receber Epitácio Pessoa no porto do Recife. do general Euclides Figueiredo. e verifiquei que não chegam a 20 os nomes daqueles que tiveram militância política depois de 30. que já tinha morrido. no Rio de Janeiro. Batista Luzardo e outros mais. o Ministério do Trabalho e várias outras coisas. não se encontrando qualquer manifestação dele. quem assume o Governo é José Américo de Almeida. quem prestou depoimento foi o filho mais velho. exercendo cargos eletivos como senadores. e foi recriminado pelos tenentes de 30. que nesse tempo estava brigado com o irmão João (que depois foi Presidente da República). Quem dominou o Brasil? Os gaúchos. e a oposição levantou dois nomes de vulto: Epitácio Pessoa e Castro Pinto. Nenhum dos partidos estaduais sobreviveu. deputados federais e estaduais. quando este estava voltando da Europa. apesar de se concretizar em José Américo. Não foi dissolvido. que era eleito pela Assembléia. que já tinha morrido. inicialmente. também não era necessária. Fiz um levantamento dos personagens. indo José Américo para o Ministério. os Partidos Republicanos sobreviveram. houve uma grande modificação. Eram Oswaldo Aranha. Celina Vargas do Amaral Peixoto. João Neves da Fontoura. Então o CPDOC cobriu de 22 para cá. que estava em poder da neta dele. Ela verificou que para começar a história de 30 para cá tinha que começar desde 1922. que tem uma produção interessante. quando essas pessoas não estavam vivas. Em 1934 houve eleição para senador. dos atores políticos que atuaram até antes de 1928. tendo uma projeção grande. Lindolfo Collor. apontado como uma grande figura. Por exemplo. Como se vê. Assim. Guilherme. Os senhores. mas desapareceu. mas o Governo do Norte. ViceGovernador e Governador do Estado. tem vários trabalhos publicados. registrei que em 1654 os holandeses foram expulsos do Brasil. Em 1817 – José Octávio falou nisso na última sessão do Ciclo de Debates – naquela revolta nativista em que a Paraíba teve um papel destacado. Então uma estudante perguntou: por que essa preferência pela Paraíba? Aspásia disse: você não pode desconhecer a participação que a Paraíba teve em 30. Sempre dedicado às letras e à história. Daqui partiram as decisões para cobrir o Norte e Nordeste. EVOCAÇÕES DE HOJE. Em 1978. que foram recebidos pela encarregada do setor. narrador de estilo agradável. a Paraíba em termos ideológicos esteve muito mais avançada. entre eles GENTE DE ONTEM. Está aí o perfil do nosso debatedor. Mas isso é conhecido como a Restauração Pernambucana. A carreira ascensional de Dorgival Terceiro Neto mostra seu valor: Jornalista primoroso. em carta que fiz ao jornalista Gonzaga Rodrigues. Em conversa. Historiador nato. para implantar um setor de História Oral aqui. em 1979. mas isso tudo é somente a Revolução Pernambucana. em vez de embarcar no Recife veio se despedir da Paraíba e embarcou no navio em Cabedelo. num movimento cujo principal comandante foi André Vidal de Negreiros. ele deu um depoimento de tal forma que não fala no nome de João. Em 1930. tanto que quando Maurício de Nassau teve que voltar para Holanda. desde os primeiros passos daquele movimento que derrubou a República Velha. Nós colheríamos entrevistas dos paraibanos daqui e as mandava para o CPDOC e o CPDOC nos mandava os depoimentos que os paraibanos tivessem dado lá. ··· A fala do Presidente: Pelos aplausos concedidos ao final da exposição do historiador Humberto Mello. Em seguida vamos ouvir nosso consócio Dorgival Terceiro Neto. a quem passo a palavra. A Paraíba tem destaque na história nacional. . por articulação feita pelo nosso consócio Oswaldo Trigueiro do Valle. a partir de 1644. não. a Fundação Getúlio Vargas fez um convênio com a Universidade Federal da Paraíba. De modo que a Paraíba teve esse papel relevante. que era Aspásia Camargo. o cargo que ele dá mais importância é ter sido Redator do jornal A UNIÃO. Em 30 a Paraíba teve comando. Dorgival além de pertencer ao nosso Instituto é membro da Academia Paraibana de Letras. fiz um estágio na Fundação Getúlio Vargas. professor qualificado da Universidade Federal da Paraíba. Eu fui trabalhar nesse setor e. As colunas saíram daqui para combater os centros de resistência. trazendo-nos um quadro completo da Revolução de 30 na Paraíba. A capital Frederica estava ocupada pelos rebeldes. o domínio holandês ficou circunscrito ao Forte de Cabedelo. nesse tempo dirigida por Linaldo Cavalcanti. atual Vice-presidente deste Instituto. Nos últimos dez anos. que era maior na Bahia. HISTÓRIA DE SEMPRE e PARAÍBA DE ONTEM.Geografia e História da PB 201 li o depoimento de Guilherme Figueiredo. Procurador do Estado prefeito da capital. A Paraíba era uma Capitania destacada. conferencista de primeira água. e quando estava lá chegaram uns estudantes. mas oficialmente fica atrás. em sua carreira funcional exerceu os cargos de Secretário do Tribunal de Justiça. Fizeram muitas perguntas e constatei que lá já existiam 27 entrevistas com paraibanos. teve um significado muito maior em termos da Paraíba. que teve esse significado marcante na História do Brasil. eram os paraibanos. A Revolução de 30. onde também exerceu importantes funções administrativas. Passei lá mais de um mês. Certa vez. podemos aquilatar o valor de sua palestra. O livro de Irineu Pinto transcreve cartas trazidas do movimento de Pernambuco reclamando que o pessoal da Paraíba estava querendo muita coisa em termos de progresso. Nosso saudoso confrade Octacílio de Queiroz já havia dito: “tire-se 1930 e a Paraíba fica sem nada”. chamando-o meu comandante. passaram em Piancó e fizeram aquele destroço. Aqueles líderes da Coluna Prestes tornaram-se figuras destacadas do país. João Alberto era um dos homens de confiança de Getúlio. a família não tinha dinheiro para pagar. que você destacou. Ele se vale do privilégio que tem de muita cultura e memória muito boa. extremamente autoritário. Cordeiro de Farias até o fim sempre manteve o maior respeito a Prestes. Os dirigentes da Coluna Prestes. é uma indagação. só não foi Presidente. No meu entender da Revolução de 30. e talvez essa indagação seja de todo o auditório: saber quais os objetivos da Coluna Prestes. Era uma multidão. É como ele diz. jornalista. membro da Academia Paraibana de Letras. Que é que essa gente fazia. citando Octacílio de Queiroz: “a Paraíba é 30 e o resto é o resto. Deu Getúlio. em estado de sítio. Humberto. Em 1930 existiu muito personalismo. Praticamente esgotou a matéria sobre 1930. cada uma tomou um rumo ideológico diferente. no seu entender? Não é nem debate. impermeável a uma mensagem nova. ainda indiferente à situação do país. Basta dizer que Bernardes tirou todo o seu período governamental. Dizem que tinha ainda muita gente em Curema enquanto vinha gente chegando em Piancó. que era um homem de temperamento complicado. que era o sonho dele. e. eles nunca tiveram um Presidente da República e queriam ter de qualquer jeito. ex-prefeito de João Pessoa e ex-governador do Estado) O expositor Humberto de Mello praticamente esgotou a matéria. Humberto Mello: Morreu na miséria. Aqui na capital do Estado. emulação política. principalmente da juventude.Geografia e História da PB 202 Debatedor: Dorgival Terceiro Neto (Atual Vice-presidente do Instituto. dois tenentes – Aristóteles de Souza Dantas e Lourival Seroa da Mota – atuaram quando a Coluna Prestes desceu do Ceará. Cordeiro de Farias. João Alberto. Juarez e Prestes chegaram a trocar cartas em 30 e romperam. em aparte: Foi tido como ladrão. O que a Coluna queria? O objetivo era dar uma sacudidela na consciência nacional e isso foi obtido a médio prazo. por exemplo. João Alberto foi vereador no então Distrito Federal e se a Câmara não pagasse o enterro. ex-professor da UFPB. Juarez Távora. A mim mesmo tenho perguntado muitas vezes: Qual era o objetivo da Coluna Prestes? Que diabo a Coluna Prestes queria. Joacil Pereira. foi expulso da Coluna. diga-se de passagem. Ele é muito proficiente. Não sei se o . tem uma memória fantástica. que foi o maior anticonstitucionalista que conheci.” Mas ele falou no início na Coluna Prestes e há sempre uma indagação. além de ser um estudioso e pesquisador sério e só relata aquilo que ninguém tem condições de fazer contradita.. e naquela época o grosso da população era rural. chegou à Paraíba com cerca de 3 mil caminhantes provavelmente. O objetivo era sacudir o povo. Cordeiro de Farias foi quase tudo no Brasil. um dos homens mais caluniados do Brasil. exerceu funções no executivo e no legislativo e foi interventor de São Paulo. Felinto Muller. Dorgival Terceiro Neto: Na realidade eles percorreram o meio rural. do primeiro ao último dia. Humberto Mello: Quando a Coluna Prestes se iniciou quem estava no Governo era Arthur Bernardes. Luís Carlos Prestes à frente depois que Miguel Costa deixou. No caso do Rio Grande do Sul. Então essa Coluna procurava fazer um levantamento pelo Brasil e havia uns tenentes que procuravam ecoar. Só que era uma população analfabeta. acho que havia muito personalismo. sem ser. Isso também digo a essa juventude que faz essas indagações. passou pelo Rio Grande do Norte e entrou na Paraíba. Juarez foi candidato a Presidente da República. segundo depoimentos. nessa vilegiatura que andou pelo país todo e terminou nas encostas da Bolívia? Estou aqui mais como indagador. quando foram comunicar-lhe. Foi a primeira que ele rasgou. Naquela época existia até uns relatórios famosos sobre nossas dívidas imensas em libras esterlinas. li um deles. que policiavam tudo isso. em que eles apontavam todas as dificuldades econômicas que o país estava atravessando. forçado. Há dispositivos que são reproduzidos quase literalmente. era que iria restaurar a pureza dos ideais da Constituição de 1891. Getúlio. quando Getúlio tinha convocado as eleições para a Constituinte: o Instituto dos Advogados do Brasil dirigiu a todos os Institutos dos Advogados dos Estados pedindo apoio para o movimento de reconstitucionalização do país. Efetivamente essa Constituição durou três anos. Um deles é o seguinte: quando se verificou que Getúlio estava tomando conta do poder. ela é muito bem feita. Acho que esse lado econômico tem sempre que ser levado em consideração quando se tratam dos pressupostos para a detonação de 30. Eu me lembro que. e o depois não vinha. inclusive de um economista importante da Inglaterra. da borracha. é um espetáculo. A Paraíba apoiou inicialmente. na verdade. Ele teve apoios para isso. Esse Decreto de Getúlio é interessantíssimo porque tem muita coisa que vem a ser reproduzida. Humberto Mello: Não há a menor dúvida. Aí vem a Constituição elaborada por um cidadão que. em 1931. O Rio Grande do Sul montou um artifício. Outro episódio do apoio da Paraíba a essa atitude ditatorial. de perto pelos grupos estrangeiros. dizendo que a Aliança Liberal estava defunta desde junho de 1930. Muita gente diz que isso não foi objeto apenas dos brasileiros. como chefe do governo provisório. Os historiadores levam em conta somente os fatos históricos. ele teria dito que seria o primeiro a descumpri-la. formalmente. no Ato Institucional nº 1. também tinham uns relatórios que chegaram a ser divulgados. foi um dos maiores juristas do Brasil – Francisco Campos. A Constituinte vota a Constituição de 34 e contam que. Há dois episódios. Então teve um relatório famoso antes de detonar a Revolução de 30. Não há a menor dúvida que Getúlio se aproveitou da situação para dominar. acompanhada. E chegou a isso com uma dosagem grande de personalismo. convoca a Constituinte. que então estava rompido com Getúlio. no passado. Esses relatórios existiram. diz ele: vamos observar a Constituição. tudo isso explorado por esses gringos. pelos grupos econômicos. não se falava em constituinte. mas eu acho que essa parte econômica deve ser sempre objeto de avaliação. não se falava em eleição. Dorgival Terceiro Neto: Outro aspecto que é objeto de indagações refere-se às influências externas sobre o movimento de 30. chamado Chico Ciência. que foi a coligação que se formou para apoiar Getúlio e João Pessoa. que tinham capitais mutuados circulando no país e que tinham interesse na recuperação desses capitais. E a propaganda política da Aliança Liberal. Os americanos. também não a cumpriu. nesse particular. 34 anos depois. Getúlio era um homem que nunca houve. E todos apoiaram. sem dúvida alguma. A Revolução de 30 foi. Em termos de personalismo ele foi insuperável. que queria contar nesse. de vontade própria ou de ambição mesmo do próprio Getúlio. que era interventor da Paraíba. Mas Getúlio. com Anthenor Navarro. em 1932. E Anthenor Navarro deu uma resposta malcriada. Borges de Medeiros. como foi a de 64. depois vamos elaborar outra. aproveitando-se de um momento propício para poder conquistar a Presidência da República. na História do Brasil.Geografia e História da PB 203 expositor também participa desse entendimento. Essa Constituição. em que . era a época do apogeu do café. com tanta vontade de poder quanto ele. Disse que estava muito satisfeito do jeito que estava. pelos grandes bancos. que promulgou a Constituição. quando me interessava por essa parte de economia. Quando Getúlio assumiu o Governo baixou um Decreto em que suspende a Constituição de 1891 e depois não tomou mais conhecimento dela. Cheguei até a ler alguns deles. telegrafou para vários líderes. O junho foi a época da “degola” dos eleitos. apelando para os ideais da Aliança Liberal. menos um: o Instituto dos Advogados da Paraíba. inclusive Anthenor Navarro. pois em 1937 ele deu o golpe de Estado. Instituto da Borracha. Instituto do Açúcar e do Álcool. Em conseqüência caiu o preço do café no mercado internacional. como hoje se encontram no país. caiu de preço. Humberto Mello: Na década de 30. Acho-o um sujeito terrível. tecidos. quando a carne. COLÔNIA DE BANQUEIROS. Mas o capitalismo norte-americano também não estava em boa situação. mas talvez sorrateira pelos grupos econômicos que já atuavam aqui. que terminou num cabide de emprego terrível. Indústria incipiente que tinha de substituir o importado. que era exercida por eles. que mandava no mundo econômico até a primeira guerra mundial. Havia o domínio da Inglaterra. Podemos atribuir a ele algum avanço no campo econômico. Humberto Mello: Esses foram Institutos previdenciários. As positivas e as negativas. Instituto do Sal. Não sei se o expositor tem alguma coisa a acrescentar sobre isso. E caiu a tal ponto que o governo brasileiro chegou a queimar sacas de café que estavam no porto para exportar. Quando vem a guerra de 1914-18. que não existia. que acabou com a economia americana. Essas coisas todas têm que ser analisadas como resultado da Revolução de 30. calculado. seu produto principal de exportação. que estava na mesma situação do Brasil. Eles emprestaram muito dinheiro aqui e queriam salvar esse dinheiro de qualquer forma. Começam surgir as indústrias substitutivas das importações. Esse receio existia. mas teve os institutos econômicos: Instituto do Café. e da parte dos americanos também existia. Muita coisa no . publicou um livro chamado BRASIL. etc. Getúlio fez umas coisas benéficas: criação da legislação trabalhista. dos Ferroviários. de repente começam a faltar as coisas no Brasil. Instituto de toda qualidade. a economia americana arrastou a economia mundial. O Brasil importava tudo. Não foi mera coincidência a derrubada do governo argentino em 1930. O Brasil depois que descobriu minérios. instituto não sei de quê. etc. Gustavo Barroso. frio. Isso não é novidade. Dorgival Terceiro Neto: Ninguém pode deixar de reconhecer que depois da Revolução de 30 o país experimentou algum progresso A industrialização já surgiu praticamente naquele período. e é claro que tudo isso influiu na queda da República Velha Há estudos nesse sentido. Que a vocação do Brasil era a agricultura e a exportação de matéria prima. e havia muita gente que achava que o Brasil não devia proceder a nenhuma industrialização. exportava minérios. mas foi um grande empreguista. um historiador de extrema direita. que era o nosso principal produto de exportação. saiu enfraquecida. como se perpetuou durante 15 anos. pois reagiu a essa subordinação ao exterior. em que mostra a série de empréstimos do Brasil. Como não podia pagar. tomava outro empréstimo para pagar os juros anteriores. o que enfraqueceu a candidatura de Júlio Prestes e o próprio presidente Washington Luiz foi o enfraquecimento econômico do café. visando diminuir a oferta. cacau. que não vinha mais. O Brasil tomava dinheiro emprestado com spread e juros altos. mas criou Instituto só para dar emprego ao povo. Institutos dos Bancários. Não se de forma muito ostensiva. sapato. e embora ainda não houvesse esse nome de globalização. mostrando que o que enfraqueceu São Paulo. tudo que fazia era visando seu sucesso pessoal. Não tenho grande admiração por Getúlio. até a manteiga era importada. começando então o domínio norte-americano. café. Houve o problema econômico interno e externo. Uma coisa que grassou largamente foi o empreguismo. Em 1929 houve o famoso crack da Bolsa de Nova York. Creio que isso foi também levado em consideração na época da preparação da revolução. Importava agulha. para tentar segurar o preço. Dorgival Terceiro Neto: O que se diz é que ele para se perpetuar politicamente criou todo esse esquema de empreguismo para prestigiar líderes políticos e gente do interior do país.Geografia e História da PB 204 dizia tudo o que estava acontecendo no Brasil e providências que deveriam ser tomadas para evitar que eles perdessem o controle nacional. linha. Apesar da Inglaterra sair vitoriosa da guerra de 18. E começamos a sair da área da libra esterlina para a do dólar. dos Comerciários. O Brasil era um país eminentemente agrícola. para se perpetuar no poder. Mas. E isso tinha objetivo político. Não tomavam propriamente. Muita gente ficou rica. A propósito disso. Em 1939. Depois criou as autarquias. não havia autarquias no Brasil. Mas. Quando ele chegou na casa do ministro. em 1953 chama Oswaldo Aranha para Ministro. Com isso criaram fama. Getúlio estimula Oswaldo Aranha a ser o presidente da Sociedade dos Amigos da América e quando Oswaldo Aranha é eleito ele manda fechar a sociedade. aqui na Paraíba tinha umas figuras inteligentíssimas. Mas. eles “requisitavam” os animais. Lembrome também de outra fotografia. Me diga o que é que fez . Muitos vícios. Humberto Mello: As reformas administrativas de Getúlio começaram com a criação de dois ministérios. João Neves foi convidado a ir ao Palácio do Catete. conheço sua fama. dava um mote e eles glosavam. Quando João Alberto passou em Monteiro carregou uns burros de carga do cunhado de Pinto. Quando Pinto começou a cantoria. Conforme Luiz Hugo disse aqui ao meu lado. de favores. Getúlio exercia um certo fascínio. Getúlio realmente fascinava essa gente. pelo telefone. João! Onde é que tu andavas. de empregos. volta para ser Ministro das Relações Exteriores e preside a Sociedade dos Amigos da América. Passou para Oswaldo Aranha. João Neves da Fontoura era Vice-presidente de Getúlio Vargas no Rio Grande do Sul. Dorgival Terceiro Neto: Vou encerrar. na morte de Getúlio. inclusive chamou José Américo. A classe média foi criada às custas do poder público. Veja o maquiavelismo de Getúlio. Oswaldo havia sido embaixador do Brasil nos Estados Unidos. quando Getúlio é eleito. os membros da Coluna tomavam os animais nas cidades por onde passavam. Não para ser perguntado. que tinha posição formada em favor dos aliados da II Guerra e era contra as ditaduras inimigas (Alemanha e Itália) e que evidentemente repercutia contra a ditadura doméstica. tinha passado em Monteiro na Coluna Prestes. Eu vim aqui para perguntar. Getúlio criou a classe média no Brasil. E aí contam a exclamação de Getúlio: Oh. A figura jurídica da autarquia foi criada por ele.Geografia e História da PB 205 campo social aconteceu. Me perdõe se eu estou errado. metendo o pau em Getúlio. João Neves começou a fazer umas sondagens para voltar ao Brasil. João Alberto. que o horário está avançado. Acontece que quando Getúlio saiu para comandar o movimento militar não passou o governo para João Neves. logo quando ele assumiu: o Ministério do Trabalho e o Ministério da Educação e Saúde. como o violeiro Pinto do Monteiro. Uma vez fizeram uma festa na casa do ministro João Alberto e levaram os dois cantadores. João Alberto disse: Ah. que depois foram separados. os quais ainda hoje participamos deles. eu conheço muito você. Por intermediação de amigos. Lembremos o que aconteceu com Oswaldo Aranha. Recordo-me de uma publicação na revista O CRUZEIRO. e também muita coisa negativa. com a fotografia dos dois com a seguinte legenda: A Revolução de 30 volta com cabelos brancos. e não traziam mais. Ele e Louro do Pageú tinham uns programas na Rádio Tamoio em que o ouvinte. Mas tinha essa distribuição de benesses. Como se sabe. João Neves foi logo ficando meio despeitado e em 1932 está João Neves envolvido com o movimento paulista e escreveu um livro “Acuso”. Joacil Pereira lembrou que o ministro João Alberto morreu muito pobre e tinha a pecha de ladrão. nunca mais aparecestes? Estou aqui à tua disposição. à meia voz. Aí se tornou possível sua volta. Foi exilado para Portugal. Pinto. Oswaldo Aranha fica na oposição. Quando havia aquelas festas grandes eles eram convidados como grande atração. que morava no Rio de Janeiro. Oswaldo Aranha chorando. começou assim: Me desculpe seu ministro. também. Ficou sendo getulista até o fim da vida. que era pernambucano. Álvaro colocou o desembargador José Peregrino e Afonso Machado como Vice. ele saía. Mas anotei uns pontos porque é natural que haja certas omissões. O nome de Júlio Lira foi retirado para entrar o de João Pessoa. Quando João Pessoa visitou Princesa ainda se discutia sobre a possibilidade de botar João Suassuna na chapa. Cumpre-me dizer ainda que Álvaro Machado estava deixando de ser Presidente do Estado colocava sempre Walfredo Leal ou uma pessoa de sua total confiança (Walfredo era também seu parente. mas não renovou totalmente. em Palácio. Joacil Pereira. continuando: Então houve esse protecionismo. que também era de Areia). que era Júlio Lira. mas começou a reagir contra Venâncio e continuou a sua reação depois. retomando a palavra: . Quero de início me congratular com o expositor de hoje.O tempo é curto e o expositor tem as suas limitações temporais e daí não pode abordar tudo. a resposta de José Pereira foi veemente: esses cangaceiros a quem Vossa Excelência se refere ajudaram a eleger seu tio Epitácio Pessoa a Presidente da República. Só tenho que louvar a maneira como ele se conduziu. que veio para ser Chefe de Polícia do primeiro governo republicano. um orador extraordinário e rompeu primeiramente com o governo a que servia e continuou lutando contra Álvaro Machado. quando chegou a vez para disputar a Presidência do Estado. porque ele preferia sempre estar nos altos conselhos da República. que veio para redimir esses costumes políticos. não para hibernar. Joacil Pereira. ele também rompeu com Epitácio porque achava que Epitácio estava dentro da mesma linha oligárquica e ele achava que a República havia sido feita para regenerar os costumes políticos e instaurar uma verdadeira democracia no Brasil. Depois. E João Pessoa. ele saía para se eleger Senador e depois voltar. nós vemos que a Paraíba. e não tinha nenhum Pessoa desocupado. anunciou algumas providências ao líder José Pereira e falou nos cangaceiros que ele protegia. Ele preferia o Senado. Por exemplo. que era o médico da família. o candidato de João Suassuna ao governo do Estado não seria João Pessoa. em aparte: Para mostrar que Epitácio foi mais longe. viveu sob uma oligarquia. na liderança de Epitácio. Por ocasião das eleições esperava-se que João Pessoa renovasse a chapa para deputados federais. José Pereira já estava meio estremecido porque quando João Pessoa. Dorgival Terceiro Neto. É de se ver que também houve esse vício de oligarquia no governo de João Pessoa e antes. devido ao adiantado da hora. ele botou Camilo de Holanda. sem as paixões exacerbadas que alimentam o espírito de muitos outros. ele fazia isso de sair da Presidência do Estado.Geografia e História da PB 206 Dos burros do meu cunhado Joacil de Britto Pereira: Serei breve. Era um bravo parlamentar. Não tenho nada a recriminar. Era realmente um idealista. Então. desde a Proclamação da República até o governo de João Pessoa. A oligarquia alvarista encontrou duas reações: a primeira foi a de Coelho Lisboa. Ele fez uma exposição isenta. Além do mais. A família Pessoa também foi oligárquica. Esses são assuntos que estão dentro do tema da Revolução de 30 e da República. em aparte: Em uma das vezes em que não havia um Machado desocupado. mas Epitácio impôs a retirada do nome da predileção do Presidente. como convém ao verdadeiro historiador. Dorgival Terceiro Neto. no segundo governo republicano. Manteve o seu parente na chapa. para ter gente dele sempre de cima. esses vícios da Velha República – e fez muita coisa nesse sentido – também não escapou da proteção indecorosa à sua família. mas deixava os outros furtarem. cerebrino. mas é um fato histórico. Esse era o Getúlio Vargas. em 1817. nesta hora. Quanto a Getúlio foi dito. houve realmente luta séria. frio e iníquo. era um palanque político da Revolução. levado pelos impulsos das suas emoções e dos seus sentimentos feridos. Pessoalmente honesto. Nunca deixou os seus amigos no caminho. Não tenho nada contra eles. de família tradicional. muito bem. também. que tinha apenas a ambição desmedida de poder. Na Paraíba.Geografia e História da PB 207 Essas oligarquias não davam chance a ninguém. Todos dois fugiram. inclusive. por uma exploração terrível. foi se queixar a Getúlio do que esse homem fazia lá. sério e idealista. . estava. Ele era governador. massacrado por Magalhães Barata. A Paraíba é a Revolução irredenta e libertária de 1817. dizer que a revolução de 1817 foi nordestina. Determinadas famílias da Paraíba sempre viveram assim. fugido do Rio Grande do Norte. o Rio Grande do Norte. deixar passar sem essas observações. Juvenal. mas não podemos deixar de reconhecer que Luis Carlos Prestes foi um homem culto. Não posso deixar de referir isso sobre esse ditador cruel. foi assassinado. Na verdade. Juvenal era metido a cavalo do cão. como os Cunha Lima. Getúlio entregou a esposa desse homem. que deu maior número de mártires do que Pernambuco Eu estava na Câmara dos Deputados quando o escritor Vamireh Chacon. Getúlio ouviu. há algumas coisas engraçadas na Revolução de 30. lamentavelmente. Pois bem. quando estava no Rio de Janeiro e um grande político do Pará. a Paraíba. assassinou João Pessoa e João Pessoa se tornou. um ídolo. o que ele fez. que já tinha fracassado. Havia um parente de João Dantas. sua desmedida ambição de poder. o navio “Rodrigues Alves”. um vestido de padre (que era Juvenal) e o outro vestido de freira. parando em todo porto. que descende de família paraibana de Areia. Mas é preciso corrigir um ponto. rico. contou um fato autêntico. por que? Restauração pernambucana. que Pernambuco procura puxar para o seu bornal. por exemplo. o que quis dizer nosso debatedor. fumando um charuto e soltando fumaça no ar. abandonando o campo da luta. acomodado. seu primo. Esse foi um grande idealista no país. estava fazendo uma conferência sobre esse assunto e o aparteei com veemência: Guerra pernambucana. Ele quase que jogou à força Getúlio à frente do movimento. Esse navio em que viajei muito depois. que levou o cadáver de João Pessoa daqui até o Rio. Getúlio já não queria mais a Revolução. por que não me mandou. O seu espírito ditatorial. Quem fez a Revolução foi o maior homem que o Rio Grande do Sul deu à Revolução. pacientemente. A Paraíba é a expulsão do holandês invasor. mas acovardou-se. Pernambuco tinha como Presidente Estácio Coimbra. grávida. Nós não podemos. se locupletando. de repente. Ele foi endeusado porque infelizmente. que se chamou Oswaldo Aranha. homem cerebrino e frio. como agora outra quis se implantar. e aí Estácio disse: deixe de besteira. que mandou entregar. entregou um feto que estava no ventre dessa mulher ao nazismo e ela deu a luz a Anita Leocádia Prestes num campo de concentração. por que? Participaram desse movimento. que não sou um homem de projeção? Mas. João Dantas. Que estaria dilapidando os cofres públicos. Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello. que dizia: por que meu primo fez isso? Por causa de ofensas pessoais a ele e à família? Porque vão endeusar esse homem. a conquistador e quando viu aquela freira tão bonita aproximou-se com galanteios. abandonando os seus amigos e fugiu num rebocador. até o Ceará. Era uma panelinha familiar. nunca furtou. a exposição de mais meia hora. a esposa de Luis Carlos Prestes. Os paraibanos realmente se portaram muito bem. por Felinto Muller. o espírito caudilhesco. oligárquica. uma figura de punhos de renda. disse: O do Maranhão é muito pior (que era Vitorino Freire). Mas acho que devemos. A Paraíba não é só a Revolução de 30. Só enaltecem Pernambuco. O governo de João Pessoa teve altos e baixos. toda vez em que se falar puxando a brasa para a sardinha de Pernambuco. meu amigo. podemos divergir das idéias que ele desposou. E no final. ex-governador do Estado. eu sou Estácio. Se ele queria mandar matar. no qual já estava Juvenal Lamartine. Eu entendi. e Ivan Bichara. foram esquecidos. Porque nós tivemos os dois irmãos Machado – Álvaro e João. escreveu na A UNIÃO a partir de maio de 1931. uma exposição isenta. José Américo e mais um ou dois dos conspiradores civis. Anthenor Navarro. E quem os recebeu. em resposta a Joacil Pereira: Como falei. Dorgival Terceiro Neto. passou 20 anos mandando. foi meu tio José d’Avila Lins. o Instituto e o expositor Humberto Mello e seu debatedor. Dorgival Terceiro Neto e Joacil Pereira. iam no carro do prefeito. Este é um depoimento de Anthenor Navarro. Este encontro se deu no dia no dia 3 de março de 1930. deverá ser adicionada a este debate. Humberto Mello. . Seis governantes. para começar a Revolução de 1930. Walfredo Leal. em aparte: José Pereira Lima foi quem enxotou Lampião. para não despertar suspeita. mas até meio escondido. e estavam também Anthenor Navarro. protagonizada de forma magistral por Humberto Mello. Ele conta sua experiência como participante e conspirador. com muita competência. portanto. Há a informação de que Walfredo Leal seria parente dele. que abordaram importantes aspectos da Revolução de 30. o valor que cada um tem. em Tambaú. recebendo-os oficialmente. Assim é que vou citar alguns artigos que o então interventor e conspirador da Revolução de 30. A partir daí as reuniões se davam em Tambaú e. no governo seguinte. sobrinho de Walfredo.Geografia e História da PB 208 São esses os adendos que gostaria de fazer. Pegando o gancho das palavras de Joacil. mas não com paixão e com ódio. O artigo diz respeito à atuação de José Pereira Lima no combate aos cangaceiros que assolavam o sertão na época. sob o título genérico de APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DA REVOLUÇÃO DE 30. durante o Governo de João Suassuna com o retrato de José Pereira Lima. foi meu tio José d’Avila Lins. dando uma significativa contribuição a este Ciclo de Debates. mas isso não está bem confirmado. retomando a palavra: Quis registrar o fato. que morava em Tambaú. se for. mais uma vez. e não podia se expor. na casa de Juracy Magalhães. de que é hora de se acabar com as paixões. de 1925. parabenizando. dividiram-na em dois campos de luta. Jurandir Mamede e Agildo Barata. Guilherme d’Avila Lins: Hoje é uma tarde muito feliz. que é a participação dos elementos que aqui conspiraram e atuaram. Acho que se foram citados esses registros. porque. é hora de sentarem as coisas. bem a propósito tenho aqui um artigo que achei a alguns dias na Revista ERA NOVA. e saiu somente quando morreu. Álvaro Machado veio para cá como delegado de Floriano Peixoto e montou muito bem sua máquina. Nós temos que dar o seu ao seu dono. vamos ter a família que deu maior número de governantes à Paraíba. pelo brilho desta reunião. Hoje assistimos aqui uma belíssima lição de História. como disse de início. também sobrinho de Walfredo. José Américo. Já é tempo da Paraíba refletir melhor sobre esses ódios que separaram a Paraíba. meu tio José. passado o tempo. Assinala que o primeiro civil no Estado da Paraíba que entrou em contato com os elementos fora do Estado da Paraíba. não de forma oficial. que era o prefeito da capital. O mesmo José Pereira Lima que foi chamado de cangaceiro depois. Gratuliano Brito. A questão mais factual da revolução de 30. No dia 6 de março houve o primeiro encontro entre os civis da terra e os elementos militares. Dividiram a família paraibana. Guilherme d’Avila Lins. quando assaltou Sousa. quando se deu o primeiro contato civil dos conspiradores de Pernambuco. Ele fez. onde se encontravam presentes os três tenentes Juracy. Foi o primeiro dia da reunião entre civis e militares para a Revolução de 30. como faço. Não vejo esse registro em todas as vezes que se fala na Revolução de 30. como deve ser a de qualquer historiador que se prese de não abusar das suas paixões exacerbadas. casado com uma sobrinha de Walfredo. que recebeu os irmãos Lima Cavalcanti no belvedere de Trincheiras. através de Hermano Almeida. por um hábeas corpus perante o Tribunal – naquele tempo se chamava Tribunal de Apelação – esse processo. E ele levou para o túmulo essa grande mágoa de não sair governador da Paraíba. etc. que existe aqui no Instituto Histórico. A invasão da residência-escritório de João Dantas foi no dia 20 de julho de 30 e Manoel Dantas tinha saído da Paraíba em 1929. é claro. O jornal publicava: Fulano de tal. elementos do fisco. Ele me disse que tinha ido embora – e disse a João . o coletor. em aparte: Houve um processo contra Manoel Dantas Correia de Góes. o delegado. idéias. retomando a palavra: Ele voltou no governo de José Américo e conseguiu. e ficou como auxiliar. mas terminou sendo João Machado. foi quando houve aquelas medidas de João Pessoa contra a família. Em termos de promotor posso lembrar o seguinte: a família Dantas tinha uma propriedade. influía na nomeação do juiz. E ele teve de fugir. a Osias Gomes. E quando foi desengavetada a reclamação dos índios João Dantas não gostou. coisas que ele reproduziu na sua administração. mas foi barrado pelo prestígio dos irmãos militares. Essa foi a causa principal do primeiro estremecimento. Mas encontramos no arquivo sobre João Pessoa. teleguiadamente. nomeava o promotor. entra a oligarquia Pessoa. Manoel Dantas Correia de Góes. foi constituído advogado. chefe político. em 1908. Humberto Mello. Depois que João da Matta já tinha morrido. todo o funcionalismo. que João Pessoa refletia. livros. A história é meio complicada. Daí começa a haver hostilidade àquele sistema coronelista. retomando a palavra: Certa vez perguntei a alguns auxiliares próximos de João Pessoa. equivalente hoje ao presidente do Diretório de partido. Acho que João Pessoa sentia que aquele esquema não dava mais para continuar. Mas ele não conseguiu ser nomeado como engenheiro. O processo tinha sido anulado. Joacil Pereira. só voltando para aqui no governo de Flávio Ribeiro. O domínio de Epitácio era tão grande que havia até um ditado: Na Paraíba quem não é Pessoa é coisa. podia ser restaurado. intervindo: Coelho Lisboa pleiteou ser candidato anteriormente. Foi restaurado para condenar. Coelho Lisboa. Então João Pessoa tira o promotor de Mamanguape e João Dantas escreve uma carta a familiares elogiando muito João Pessoa porque tinha tirado o promotor. processo por crime de homicídio que ele tinha praticado em legítima defesa.. Coelho Lisboa. Coelho Lisboa combateu essa oligarquia. O coronel mandava e representava porque não havia a figura do chefe político. Ele me disse que era engenheiro. Diz Adhemar Vidal que a partir daí que surgiu o ressentimento. num acidente de automóvel. então restauraram o processo. Ao invés de levá-lo ao Júri e absolver ou conseguir antes a impronúncia. antes de Venâncio Neiva. É uma história mal contada. porque tinha botado um elemento que não era vinculado ao poderio dos Lundgren. Esse chefe político era quem nomeava. conhecido na intimidade por Zola. Seria fácil ir à Faculdade e conseguir uma segunda via ou uma declaração. era uma figura oficial. substituindo promotores. mas que na fuga dele tinha perdido o diploma. oposições. o professor.Geografia e História da PB 209 Saindo a oligarquia Machado. muitos recortes de jornais que mostram as idéias que o influenciaram. Luiz Hugo. gente que tinha convivido com ele. não seria candidato a governador. perguntei a José Américo. um latifúndio no município de Mamanguape e havia uma briga entre os Lundgren como também havia umas reclamações dos índios da Bahia da Traição contra os Dantas. reclamações que tinham sido enviadas a João Suassuna e que tinham sido engavetadas. a Adhemar Vidal sobre leituras. João Pessoa começou a desmantelar esse domínio. queria ser o governador. geralmente influenciava a designação do padre. ninguém me soube dizer nada. João da Matta Correia Lima. Ele disse que não foi possível. ser nomeado para o Departamento de Estradas de Rodagem. ele anulou. Houve. Humberto Melo. embora Coelho Lisboa só tenha começado a combater a oligarquia de Álvaro Machado depois que se certificou que ele. que era amigo íntimo e colega de João Dantas. Inclusive já tinha havido também a invasão da república de João Dantas. Pegavase os impostos estaduais do município x e se fazia um leilão daquele imposto. Que ele sempre tenha sido inimigo é algo um tanto questionável. Carneiro Monteiro estava no Rio Grande do Sul e foi chamado para assumir a presidência da Junta.Geografia e História da PB 210 Dantas – que não tinha temperamento para ficar. Humberto Mello. foi. José Américo tenta uma explicação. e afirma que José Pereira e Lampião eram amigos e depois se tornaram inimigos. Joacil Pereira. Foram depoimentos pessoais. Chegava alguém. continuando: Não havia uma permissão expressa e como se sabe. Havia uma situação interessante. interpretações acertadas. O Instituto Histórico se reflete pelo conhecimento e pela qualificação dos seus associados. o Estado era privatizado. No meu entender. disse um participante). no período de 1924-28 coincidiu em que foi o maior predomínio de todos os coronéis em todo o Nordeste. com uma vasta riqueza de novidades sobre o tema. é permitido. arrematava aqueles impostos (isso era das Ordenações do Reino. de sorte que ele até ganhou o apelido de Eugênio Monturo. A gestão de Suassuna. A contribuição do expositor Humberto Mello. Eu ouvi várias vezes ele contar isso no Clube Cabo Branco. em Direito o que não é proibido. Dizem inclusive que José Pereira sugeriu. Joacil Pereira. que era os Pessoas de Queiroz. Finalmente. o que agravou mais o rompimento foi o seguinte: o presidente da Junta Eleitoral. voltando: Também ouvi essa versão. especificamente sobre Lampião. o Estado era privatizado. . Há um autor norte-americano que escreveu um livro sobre o cangaço. uma situação inexplicável. que eram despreparados e João Dantas deu uma assessoria jurídica e a Junta preparou toda aquela “degola”. Não diz porque. o nome de Assis Chateaubriand no lugar de Carlos Pessoa na chapa. A fala do Presidente: Chegamos ao final deste debate. pronunciamentos esclarecedores. os quais constantemente estão trazendo para vocês novos caminhos. se licenciou e os suplentes também. Cada vez mais estamos trazendo para um público novo a posição do Instituto. de fato. e como Inês Caminha falou aqui num debate anterior. pois havia várias versões sobre a origem da inimizade. Diz que João já se achava rompido com um ramo da família. Que José Pereira era inimigo de Lampião. Humberto Mello. O fato é que José Pereira tinha um comando muito grande. do debatedor Dorgival Terceiro Neto. solicitando aparte: Quem fez todo o processo foi Eugênio Carneiro Monteiro. da Universidade Federal da Paraíba. dos participantes Joacil de Britto Pereira e Guilherme d’Avila Lins encheu o debate de informes pouco conhecidos. o problema do cangaço é um problema meio complicado. Era uma terceirização das funções estaduais. que seria o juiz federal Gouveia da Nóbrega. Havia gente que pagava as folhas do Estado. explicando: Mas isso era permitido por lei federal e vem desde as Ordenações. não há dúvida. e não queria um rompimento com outro ramo que era o de Antônio Pessoa. Quanto à manutenção de Carlos Pessoa na chapa. Havia o que chamavam a terceirização do fisco. Isso consta de um depoimento no Núcleo Documental de Informação Histórico Regional – NDIHR. Quer dizer. para homenagear a terra natal de João Pessoa. Esta foi a forma que o nosso Instituto encontrou para renovar a preocupação pelos nossos desafios históricos. e finalmente consumado. com a desarticulação do movimento dos trabalhadores e. porque o golpe foi muitas vezes tramado. aqui no Brasil. que procura uma aproximação maior com a classe trabalhadora. AÇÚCAR E PODER. Passo a palavra à professora Martha Falcão. O tema que nos coube é justamente o Movimento de 64 e a Paraíba. fazendo um trabalho muito bonito em Serra Talhada. E é nesse panorama de pósguerra que os países da América Latina sofrem uma verdadeira renascença em termos de industrialização. Para falar no golpe de 64. Pernambuco. Gostaria de ter a liberdade de tratar o tema como o Golpe militar de 64 e a Paraíba. Um dos seus trabalhos bastante consultados é NORDESTE. 11º Tema O MOVIMENTO DE 64 E A PARAÍBA Expositora: Martha Falcão Debatedor: Luiz Hugo Guimarães A fala do Presidente: Abrindo os trabalhos. mas nestes tempos de igreja romanizada o seminário foi para o brejo. Com o crescimento da industrialização. não somente em termos de Brasil. graduada em Direito) É para mim uma grande alegria ter meu nome incluído como uma das expositoras desses 500 anos de Paraíba em debate. logicamente surge a necessidade das elites políticas procurarem legitimação e sustentação através daquilo que já vem desde o Estado Novo. mas no sentido de desarticulá-la. O movimento de 64 só pode ser compreendido como um colapso desse movimento que surge no pós-guerra. teríamos que remontar. que se expande formando o bloco do Este comunista. Estamos . convido a professora Martha Falcão. onde nós temos como exemplo a CLT e uma série de benesses. Mestra e Doutora em História. Ele procurou fundar ali um seminário dentro dos moldes da Teologia da Libertação. Renovo meus agradecimentos aos presentes. O tema de hoje é O MOVIMENTO DE 64 E A PARAÍBA. quase esgotando o manancial de episódios oficiais e de bastidores daquela fase que projetou. a Paraíba na história nacional. Obrigado. 1ª Secretária do Instituto. mas também em termos de América Latina. fazer uma retrospectiva ao panorama que se descortina no pós-guerra. Temos a Guerra Fria. sem dúvida. professora de História da UFPB. expositora do tema de hoje. posto que ela ingressou neste silogeu em março último. Essa sustentação ideológica é aquilo que nós chamamos de populismo. temos a afirmação de uma liderança. apesar do adiantado da hora. que vai ter como sustentação a ideologia da segurança nacional tão bem estudada por Roger Comblant. que não se afastaram da sessão. do proletariado e das lutas sociais. além de graduada em Direito. Logicamente nós não podemos nos referir ao golpe sem pensarmos em termos de processo.Geografia e História da PB 211 O que se podia falar sobre a Revolução de 30 e seu derredor foi feito. presidente da Academia Paraibana de Letras. e a escolha da professora Martha Falcão se deve aos vários trabalhos de sua autoria sobre o assunto. Ela é professora de História na Universidade Federal da Paraíba. não no sentido de dar sustentação e mobilização a essa classe. É uma das mais recentes aquisições do nosso Instituto. numa demonstração de interesse pela história paraibana. conspirado. temos também o atrelamento dos sindicatos. adiado. em 1945. Surge aí a doutrina de sustentação ideológica chamada Guerra Fria. o acadêmico Joacil Pereira. para compor a mesa. que hoje está sofrendo penalidade do Vaticano. é Mestra em História do Brasil e Doutora em História Social. Expositora: Martha Maria Falcão Carvalho de Moraes e Santana (Sócia do Instituto. confreira Waldice Mendonça Porto. capitalista e a União Soviética. Em 1945 o mundo sofre uma bipolarização e vive a divisão entre o Ocidente democrata. sobretudo. na hora de escolhê-lo como governador. tivemos. não havia um proletariado organizado em termos de mobilização. A Paraíba era um Estado de base exportadora. mostra o racha da dissidência de Pedro Gondim quando do lançamento da sua candidatura a vice-governador na chapa conciliatória ao lado de Flávio Ribeiro. do PSD. o PSD. com a redemocratização do país em 1945. um Estado que não tinha ainda uma base financeira que lhe desse sustentação. porque o tempo é muito pouco. João Goulart tinha sido Ministro do Trabalho na época de Vargas. da qual tenho a honra de ser colega de Departamento na UFPB. de relações ainda muito coronelísticas. em 1959.. Isso ainda não foi estudado na historiografia. em termos de industrialização e crescimento de estradas. resultante de uma dissertação de Mestrado. É um dos melhores trabalhos. ela mostra a hegemonia da UDN e do PSD aqui. mostra o acidente vascular e as doenças que motivaram o afastamento de Flávio Ribeiro. Nesse trabalho ela remonta à fundação dos partidos políticos. Dentro da esteira populista vemos também a eleição de Jânio Quadros. Temos um trabalho que foi publicado em 98. vamos ter também a crise do petróleo. E justamente ele é eleito numa chapa que tem o apoio da União Democrática Nacional – UDN. para apoiar Jânio Quadros. em virtude das próprias forças econômicas que estavam muito voltadas para a exportação e não para a industrialização. porque já havia uma aliança das forças mais conservadoras do PSD. no sentido de apoiar o próprio irmão do chefe político Rui Carneiro. pois desejaria trazer para aqui a Guerra Fria como a bipolarização do mundo. Vamos ver isso em termos de produção de mercado. os compromissos do grupo da Várzea. muito embora ele tivesse todo o apoio da classe trabalhadora. e o tempo não dá. que é um expoente do Governo Populista. Na esteira desse avanço vamos ter a abertura. Aqui na Paraíba há um momento áureo com a eleição de Pedro Gondim. que vai contribuir muito para acirrar esse antagonismo. Temos que compreender a que João Goulart está ideologicamente vinculado. Então nos anos 60 nós vamos ter no bojo da fundação da SUDENE. a ferro e a fogo. no governo de Juscelino Kubitschek. mas ele não foi escolhido. dentro do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB. no caso Janduhy Carneiro. que é uma síntese desse período.Geografia e História da PB 212 assistindo nesse final de milênio a desarticulação do movimento da Teologia da Libertação e o crescimento da Igreja romanizada. como partidos majoritários. pudessem ganhar seu próprio espaço no partido. É dentro desse contexto que a gente pode compreender o processo que culminou com o golpe de 64. Com a renúncia de Jânio Quadros temos a posse de João Goulart. depois ele volta e procura dentro do seu próprio partido. Vê-se muito Rui Carneiro com uma política do paternalismo. Não vamos nos deter no varguismo porque iríamos retroceder muito. É por essa concepção que. Dentro desse golpe de 64 vamos ver o avanço do populismo. do qual Luiz Hugo Guimarães foi um dos presidentes mais atuantes e poderá dar um depoimento depois. Existe uma série de trabalhos excelentes que gostaríamos apenas de citá-los. aqui na América Latina. mas que vale por um Doutorado. e como o próprio Pedro Gondim. Procurou sempre ser uma bandeira de luta do centro-esquerda. a vitória da Revolução cubana. mostra também o pequeno período que Pedro Gondim governou como vice até se desincompatibilizar e durante esse período ele utilizou a máquina estatal para mostrar a sua política populista e criar suas bases de sustentação. que também é um dos expoentes do populismo. mas nunca se estudou Rui Carneiro como aquele que deteve o comando. numa luta de disputas nucleares e. o escancaramento da economia brasileira às multinacionais. Havia uma bipolarização entre a liderança do personalismo e a liderança do partido político. É quando vemos toda uma preocupação do governo Kennedy no sentido de criar mecanismos de injunções na América Latina para impedir o avanço do movimento socialista. como Ministro do Trabalho deu um aumento de cem porcento aos trabalhadores. num antagonismo. sem permitir que lideranças mais avançadas como Joffily. tinha penetração na classe estudantil. a política do coração. sobretudo quando a União Soviética começa a fazer propostas de articulações sobre bases nucleares em Cuba. ser candidato ao Governo do Estado e não encontra sustentação porque se mitifica muito Rui Carneiro para não permitir que outras lideranças não o sobrepujassem. do Partido Democrático Cristão – PDC. da professora Monique Citadino. como é o caso do próprio Sindicato dos Bancários. Para podermos pensar sobre o que é Guerra Fria não posso me deter. dentro desse contexto. . Geografia e História da PB 213 da fundação dos Distritos Industriais. Tem cultura. intitulado A DIMENSÃO GLOBAL. O grupo da Várzea lhe dá toda sustentação e ele é eleito. o porte físico ajuda muito. o Governo Pedro Gondim vai se caracterizar por um homem de grande personalidade política no sentido de ter um porte físico bonito. Não vamos fazer uma análise historiográfica. Dentro desse contexto. por covardia. um homem que tinha uma penetração apaixonante junto aos estudantes. com todas as condições para empolgar o povo. marcado pelo apoio dos segmentos mais conservadores. Vamos analisar os fatos e nos deter nas articulações. era como se fosse uma bandeira de unanimidade. Vamos ver isso na posse de Juscelino Kubitschek. uma coletânea de vários autores. Isso quem diz é a professora Monique. que a morte de Getúlio Vargas adiou por dez anos o golpe de 64 e isso o professor José Octávio repete num livro que escreveu e que é imprescindível para se entender esse momento em termos de Paraíba. nós temos uma ampla bibliografia. Temos um excelente livro. Logicamente dentro desse contexto marcado pelo populismo. Ele se candidata com todo o apoio da UDN. Pedro Gondim vai buscar o apoio do Partido Socialista Brasileiro – PSB e logo depois se muda de malas e bagagem para o Partido Democrata Cristão – PDC. Para a gente entender a bipolaridade em termos ideológicos do Governo Pedro Gondim basta saber que. Temos também outros trabalhos que analisam muito bem esse período. segundo os que estudam esse período com mais afinco. Dizem muitos historiadores. quando alguns grupos conservadores das Forças Armadas procuram derrubar o próprio Juscelino Kubitschek. No caso. com o slogan do HOMEM É PEDRO. aos segmentos mais pobres e mais carentes da sociedade. porque o tempo é muito pouco. Nesse livro ele procura mostrar a marcha da luta camponesa no Governo de Pedro Gondim. que registra os 30 anos do golpe de 64 aqui na Paraíba. ele também tinha o apoio do grupo da Várzea. impedindo a sua posse. Ele foi lançado em primeira mão por um dos líderes do Partido Socialista Brasileiro. muito embora seja uma professora de historiografia. O trabalho dele HONRA E VERDADE. Ele disse que preferia sair do Partido por rebeldia a ser conivente. “Eu estou com Pedro porque não estou com medo”. apoiando Janduhy. No momento áureo desse populismo. se não me engano. Nonato Guedes e outros. pela qual sou apaixonada. Muitas e muitas vezes ele se insurgiu contra as tropas e fez valer o princípio da constitucionalidade. que conhecem mais as bases desse movimento.americano de homem que empolgava. É tanto que não fiz uma retrospectiva da Era Vargas. emerge a figura populista de Pedro Gondim na campanha que empolgou toda a Paraíba. por conta do contexto nacional. ele procurou manter uma postura legalista. Vamos ver a frente nacionalista liderada por Joffily mantendo-se fiel ao PSD. nós vamos ter essa efervescência política do populismo aqui na Paraíba. o deputado Raimundo Asfora. a própria expansão do capitalismo e dentro dessa expansão do capitalismo motivada pelo processo de industrialização criada pela SUDENE. às donas de casa. Uma coisa muito importante para o político é o porte físico. É uma série de artigos que ele publicou no livro O JOGO DA VERDADE. inclusive Thomas Skidmore. de Cabedelo a Cajazeiras. do paraibano Cezar Benevides. Talvez a Paraíba seja um dos Estados que tenha uma bibliografia mais ampla sobre esse período. Também tinha muita capacidade de oratória. Pedro Gondim era uma espécie de símbolo latino. Mas o professor Cezar Benevides é muito contundente e . Nesse livro da professora Monique existem muitos pronunciamentos da época. fazendo frases de efeito. mostrando como o nome de Pedro Gondim ganhava uma penetração imensa no seio dos trabalhadores e no seio das classes conservadoras. que também é dissertação de Mestrado. Para político e cantor. defendido. é um trabalho que merece ser analisado como uma fonte também para a história. que tinha como candidato a Presidente da República o general Lott. apesar dele ser um líder queridíssimo das classes trabalhadoras. no Paraná. que tinha um passado de luta pela legalidade. Lott era o próprio símbolo nacionalista. Dentro dessa eleição nós vamos ver forças de várias naturezas. organizado por José Octávio. do qual participei com um trabalho sobre as Ligas Camponesas em Santa Rita. tem formação jurídica. os outros eram presidencialistas. teve de fazer um acordo para aceitar o parlamentarismo. João Goulart julga que teve a sua candidatura como Presidente da República legitimada. Os grupos conservadores fundam o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais. Mas o seu governo é marcado pelas lutas sociais. quando a gente sabe que o outro também não era um candidato rico. como vice do renunciante Jânio Quadros. porque sempre reconhecemos a todos os países. do Fundo do Trigo. Janduhy Carneiro era um homem de atuação no parlamento. Diz também o seguinte: “Sempre nos manifestamos contra a intervenção militar em Cuba. obscurecer que ele trouxe para a Paraíba um dos hospitais mais bem equipados de combate ao câncer. mas não tinha o carisma e a beleza física. Seu adversário era um deputado federal de grande atuação – Janduhy Carneiro – um excelente deputado federal. por questão ideológica. quando a gente sabe que ele era sobretudo um político. repudiando e tentando impedir que o direito de autodeterminação do povo cubano seja cumprido”. o direito de soberanamente se autodeterminarem. O sonho de qualquer político é a sua legitimação. a ponto do Governo Kennedy mandar para o Brasil o seu irmão Robert.” Essa foi a resposta de João Goulart quando foi procurado para ratificar com os países latino-americanos o desejo dos Estados Unidos para que os países se voltassem contra Cuba e que pedissem a intervenção em Cuba. João Goulart deu a seguinte resposta. que era Ministro da Justiça. Ele então começa a sofrer uma série de pressões. O embaixador Lincoln Gordon pediu que o Brasil cortasse qualquer comércio de petróleo com a União Soviética e que deixasse de comprar os helicópteros à Polônia. Elas financiavam esse IPES para que ele conseguisse barrar a marcha do socialismo em termos de Brasil. o historiador não pode. precisava dos empréstimos. Com o resultado da votação contra o parlamentarismo no plebiscito realizado. porque Cuba estava fazendo política nuclear aliada à China e à União Soviética. conforme consta do melhor livro escrito sobre João Goulart. dos grupos mais conservadores. é o famoso IPES. Naquele momento. Por mais conservador que ele fosse. Kennedy queria também que o Brasil cortasse relações com os países soviéticos. Esse IPES tinha verbas da CIA. mas não ia com isso ferir a soberania do povo brasileiro. Dentro de dez pessoas que votaram. o governo João Goulart para poder tomar posse. A campanha dele caracterizou-se como a campanha do candidato pobre contra o candidato rico. que naquela época fazia parte do bloco soviético. Isso porque Cuba estava promovendo uma política nuclear em aliança com a União Soviética. que muitas coisas que existem na Paraíba. naquele tempo chamados Países da Cortina de Ferro. na OEA. no sentido de negociar o apoio do Brasil no intervencionismo de Cuba. que era uma conta movimentada escandalosamente pelos Estados Unidos. a Texaco. lutas que têm de ser entendidas dentro de um contexto maior. sejam quais forem os seus regimes ou sistemas de governo. A resposta do Brasil foi uma resposta soberana. João Goulart recebeu muita pressão do Governo Kennedy. É dentro desse contexto que Pedro Gondim consegue ter uma eleição fabulosa. resposta de autodeterminação. e ele se considerou legitimado quando o povo disse NÃO ao parlamentarismo. apenas um era parlamentarista. foram conseguidas por ele. e também a oratória do outro candidato. de multinacionais como a Shell. A partir daí começa o acirramento e o financiamento maciço dos Estados Unidos através da CIA. de Moniz Bandeira: “O Brasil fiel à sua tradição pacifista e ao espírito cristão do seu povo admite como legítimo o direito de defender-se de possíveis ataques e agressões feitos à Cuba. em termos de saúde. João Goulart disse que precisava desesperadamente do apoio do FMI. parlamentarismo que pouco tempo depois é derrubado. procurando primeiro impedir a posse de . a Coca-Cola e tantas outras. que é o Laureano.Geografia e História da PB 214 procura fazer o retrato de Pedro Gondim como que ele fosse uma figura indecisa. do mesmo modo que a CIA financiou o golpe do Chile. sendo subserviente. depois da morte de Allende as forças reacionárias tomaram o poder e hoje nós estamos vendo a figura maior sendo procurada para ser julgada. em vez de se reduzir à atuação parlamentar. demitindo vários estudantes que eram jornalistas do jornal oficial A UNIÃO. E o golpe começa a ser tramado. um controle das remessas de lucros. se esticou para abranger os crimes contra a pessoa.Geografia e História da PB 215 Allende. a esquerda execrando Pedro Gondim. procurava fazer uma política de aproximação com os países do Ocidente. pelos crimes de tortura e matança que cometeu. inclusive o professor Joacil de Britto Pereira. Vamos ver a morte de funcionários da Usina. João Goulart se vê. inclusive ele se oferece (isto está bem documentado por Moniz Bandeira) para servir de intermediário entre Cuba e os Estados Unidos no sentido de pôr fim àquele impasse. O Plano Trienal. financia jornais. a partir de 63. Esse livro mostra a vida de Elizabete Teixeira. capitalistas. vamos a reação à vinda aqui de Carlos Lacerda. igual a Pedro Gondim. que depois se politiza e se torna uma líder. para quem está esquecido. pelo mundo todo. que se encontra à venda no Departamento de História da UFPB e uma das autoras é a professora Rosa Godoy (desculpem os comerciais). mas muito mais com sede em Washington. A professora Monique entrevistou muitos historiadores. Porque Washington financia toda uma política de ideologia no sentido de se criar o IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática. O Governo João Goulart. da Cortina de Ferro. e com os países do Leste europeu. vamos ver vários choques de lutas armadas aqui na Paraíba. o governo tomando atitudes de agressão. vamos ver o quebra-quebra dos estudantes pela meia passagem de transporte. A saída de João Goulart foi partir para o chamado Plano Trienal. mas praticando. uma política que ia de encontro àquela política do segundo governo Vargas. Esse Instituto promove palestras. Ele procura. impasse esse que a imprensa dizia que geraria a Terceira Guerra Mundial. As relações entre o Brasil e os Estados Unidos começam a se deteriorar na medida em que a luta social cresce no Brasil. em nível de Forças Armadas. e vamos ver o distanciamento de Pedro Gondim. Nós não poderíamos estudar a Paraíba fora desse contexto. A partir das imposições dos Estados Unidos a situação começa a se deteriorar. numa plaqueta que ainda hoje é muito consultada. vamos ver o filme CABRA MARCADO PARA MORRER. Vamos ver os conflitos agrários. faz toda uma propaganda ideológica contra o comunismo e também ao lado do IBAD nós temos o IPES. pressionado. que mostra os momentos de acirramento social. só que João Goulart tem um compromisso muito maior com as esquerdas. vamos ver eclodir a questão agrária. uma militante política. até a metade do seu pequeno período. O Brasil vive nessa época um processo de inflação. em 62. que procurou desatrelar os interesses das classes mais favorecidas. culminando com o próprio suicídio de Vargas. como o caso de Mari. Aqui na Paraíba essa imunidade. procura manter uma posição de equilíbrio. uma política de escancaramento ao capital internacional. Joacil Pereira era deputado estadual e fez parte daquele grupo de deputados que pediram licença para permitir a convocação do suplente Agnaldo Veloso Borges a fim de que ele pudesse gozar da famosa imunidade parlamentar. vamos ver também o choque entre as forças policiais e os latifundiários. Não aqui. do meio para o fim. Uma das pessoas que primeiro escreveu sobre essas lutas foi justamente o professor José Octávio. É o caso da figura de Pinochet. que conta a história das Ligas Camponesas e das lutas sociais nesse período. Esse trabalho foi depois aprofundado e . porque as remessas de lucros estavam sendo escandalosamente denunciadas pela esquerda brasileira como uma política contra o Brasil. Voltando à Paraíba. A imprensa conservadora diz que João Goulart estava servindo de joguete na mão dos países socialistas. E vamos ver também os latifundiários se organizando. servindo de portavoz. se aproximar cada vez mais. depois culminando com o assassinato de Allende. surge um livro importante – EU MARCHAREI A TUA LUTA. toda uma vida de lutas e perseguições. Como se sabe. de Eduardo Coutinho. vamos ver a própria morte de João Pedro Teixeira. que a CIA e o Birô dos Estados Unidos fizeram questão de desmantelar. na medida em que a UNE e a Central dos Trabalhadores começam a exigir as Reformas de Base. em nível interno. Essa LILA. totalmente acossado. Era uma situação difícil para ele. A eleição de 62 serviu também para acirrar esse momento. Então ele é pressionado pelos grupos conservadores a tomar partido pelas forças vitoriosas. O país está em ebulição. à noite. Nas eleições de 62 as Ligas Camponesas estão no auge. no primeiro momento. Há uma metamorfose total. então.. só que com a cassação do Partido Comunista. sendo. vamos ver a atuação do coronel da Polícia Militar Luiz de Barros. no seu livro CRISE REGIONAL E PLANEJAMENTO. publicado um documento de apoio ao golpe de 64. chega-se à conclusão que o governador Pedro Gondim não teve participação naquilo que estava sendo tramado em nível nacional. que era a organização dos latifundiários destinada a se defender. tomar o partido do mais forte. como uma figura que comanda a repressão com todo aparato governamental. Vimos a situação do Governador quando ele diz que os camponeses deverão se limitar a fazer as suas associações dentro dos limites do Código Civil. houve uma reunião para se tomar uma posição e as más línguas dizem que o governador ainda estava indeciso para qual lado iria. pode estudar isso em Amélia Coin. Essa situação vai se acirrar a ponto de. No dia 13 de março João Goulart faz o famoso comício da Central do Brasil e faz a sua profissão de fé ao lado das Reformas de Base. com sua formação jurídica e conservadora. dentro da classe média e dentro dos Estados mais importantes do Brasil. Com isso ele lavra sua própria sentença de deposição do Governo. do 15 R. Na véspera do golpe de 64 o Governo faz uma reunião com todo seu Secretariado.Geografia e História da PB 216 transformado num excelente artigo para um dos cadernos do NDIHR. Quem quiser estudar profundamente a economia do Nordeste e a crise da reeleição de 58. esse movimento arrefece dentro do partido. vamos ver muitas pessoas totalmente comprometidas com o anti-comunismo fazendo parte do órgão repressor do Governo. Pedro Gondim. No dia do golpe. segundo dizem. do qual ele era pesquisador. são substituídos por pessoas que têm uma linha ideológica totalmente conservadora. Como sabem. o coronel Ednardo d’Avila Melo. O golpe de 64 pegou de surpresa. inclusive pelo segmento conservador da Igreja (havia uma força progressista na Igreja). sugerindo que ele tem de tomar uma posição. vamos ter a movimentação de estudantes. o Governo muda todos os segmentos ligados às esquerdas. o Partido Comunista começa a se voltar para o campo a partir da redemocratização do país. o deputado Vital do Rêgo. da qual os Estados pequenos não foram consultados. manter um equilíbrio entre o grupo da Várzea que lhe tinha apoiado e o movimento popular de estudantes. na época. Era a maior Liga Camponesa do Nordeste. também atacava os camponeses. Há mudanças no jornal oficial e aqueles jornalistas que eram mais progressistas são demitidos. Antes disso o governo sabe que tem que tomar o mesmo caminho das Reformas de Base de João Goulart. dos sindicatos e das facções voltando-se contra o governo que anteriormente apoiaram. I. Mas o Governo precisa se definir. Com o acirramento da questão agrária. Nós vamos ver que a questão das Ligas Camponeses despertou tanto atenção nacional e internacional a ponto de Josué de Castro dizer que o Brasil foi descoberto em 1500 por Pedro Álvares Cabral e redescoberto a partir das Ligas Camponesas do Engenho Galiléia. procura desesperadamente. a partir de agosto 1963. que lideraram a Marcha com . Aliás. É dentro desse contexto que vamos ver que o Nordeste se transforma num barril de pólvora. quando as Ligas Camponesas trouxeram para a América Latina a famosa Aliança para o Progresso. mas continua como um anseio do trabalhador do campo A Liga Camponesa de Sapé inscreveu sete mil camponeses. Vamos ver também o pessoal da direita se organizando. Pela análise dos documentos. E vamos ter a atuação de pessoas como o major Cordeiro. e um desses Estados é a Paraíba. Trama-se uma conspiração. É quando chega o genro de Pedro Gondim. documento que é publicado no jornal A UNIÃO. Porque naquele momento todo processo de conspiração dentro do seio das Forças Armadas. através de suas associações. Ao longo do processo. Apesar do nosso trabalho ter sido um trabalho sobre as oligarquias açucareiras na Paraíba. Esse documentário é muito fiel à história porque não ouve só um lado. tendo como base de adestramento os Estados Unidos. que na época de sua posse liderou o famoso movimento pela Legalidade. tendo como base a ideologia de Segurança Nacional. Elizabete Teixeira foi candidata. esses assassinatos ainda permanecem impunes. Langstein e Agassis de Almeida. que nós vamos partir para uma nova fase do Estado. que eram de fortes conotações de esquerda. por dinheiro vindo de Cuba e da União Soviética. que desejamos uma sociedade cidadã. o Estado se torna autoritário e policial. é substituída. É preciso que nós. A morte de João Pedro Teixeira é um marco de luta. já está totalmente pronto. Vai ser um Estado tecnicamente burocrático e autoritário com a instalação do golpe. na época atribuído ao grupo da Várzea e que ficou impune também. Esse livro tem o depoimento das pessoas que participaram do golpe. Apesar de toda uma luta social por reformas e apoio ao povo. Não havia recuo. para vergonha nossa. financiado e acabado. com o golpe de 64. tudo isso numa legenda que apoiava as Ligas Camponesas. A verdade é que o Presidente da República se viu sozinho Um dos documentários mais importantes que poderá ser analisado é o que foi financiado pelos filhos de João Goulart. Com o golpe de 64. Não trabalhamos com esse período. o único que foi eleito deputado. que foi Francisco de Assis Lemos. seu cunhado. que escreveu COLAPSO DO POPULISMO NO BRASIL. Langstein de Almeida foi candidato. não será agora tão liberal. E os seus ministros. ficaram como suplentes. pela Constituição de 67. Essas coisas precisam ser denunciadas para que nunca mais aconteçam na nossa vida nem na nossa nação. ou ficavam em cima do muro. Hoje ele é o patrono do maior concurso da América Latina de Direitos Humanos. E como aquele trabalho que já mencionei – O JOGO DA VERDADE. que é tida como uma Constituição liberal. Na época havia até tanques de guerra para garantir a vitória dos golpistas. que queremos um Brasil progressista e democrático no terceiro milênio. Como professores temos esse compromisso. Apesar de não ser da minha especialidade esse período. acredita também como disse Francisco Wefford. um a um vão abandonando o barco. como Otávio Ianni. Até mesmo a atuação de Leonel Brizola. à medida que os aparelhos de tortura vão se organizando. Tenho uma cunhada que é fundadora e é dirigente. A Constituição de 46. muito embora tenha como historiadora e . é um trabalho pioneiro. lutemos contra esse estado de coisas e exerçamos com todas as forças do nosso ser a nossa cidadania. feito em vídeo. é até um pleonasmo dizer isso. como o assassinato de Margarida Alves. Ou se definiam pelo golpe. a jornalista Denise Santana Fom. Goulart não teve o apoio do povo na hora em que precisou. Os jornais conservadores diziam que a campanha de Elizabete Teixeira estava sendo amplamente financiada por Cuba. não foi suficiente no Rio Grande do Sul. Tivemos o caso de Vladimir Herzog massacrado por esse sistema. e sobretudo o líder maior. que acreditavam no golpe. mas procuramos denunciar que todos os assassinatos de camponeses que ocorreram aqui na Paraíba infelizmente. Mobiliza centenas e centenas de trabalhadores em protesto contra o assassinato de João Pedro Teixeira. a gente acredita. sofrendo emenda em 69. com o apoio da CIA. em termos de produção científica. que antes era um Estado liberal e aberto para as multinacionais.Geografia e História da PB 217 Deus. O caminho era dos mais fortes. O Estado. Antônio Teixeira foi candidato. As eleições de 62 vão ter um acirramento muito grande nas lutas sociais daqui por que lança como candidata a própria Elizabete Teixeira. É o filme JANGO. Assim. como debatedor designado para tratar deste tema. como cristã que sou. de como foi possível chegarmos a uma fase. de perseguição e de que não gosto de me lembrar desse período da repressão. discutir e pedir a Deus. ··· A fala do Presidente: Tivemos agora a oportunidade de ouvir um relato completo dos antecedentes do movimento militar de 64 (anteriormente eu também chamava muito de golpe. Agora. o golpe foi evitado nessa fase. meus netos não vivam o que a nossa geração dos anos 60 viveu. e atualmente sou o presidente deste Instituto. . feita pela professora Cândida Rodrigues. Na realidade. jornalista com fé-de-ofício por ter trabalhado no jornal A UNIÃO – nossa mais importante Universidade de Comunicação –. pedi a uma pessoa que é autoridade maior para falar sobre ele. farei uma breve auto-apresentação. Que Deus abençoe nosso país para que qualquer que seja a crise que atravesse. que é outro depoimento. quer seja de memórias. Quem garantiu a posse de Juscelino e Goulart foi o Exército. esse golpe que esteve em marcha durante muito tempo. Nós da Paraíba sofremos. a sua soberania. Passamos a viver um período de insegurança. onde a liberdade e a cidadania eram coisas que não se tinha conhecimento na prática. Sou bacharel em Direito. como a expositora realçou. A partir do momento que houve o golpe de 64 todos os direitos e garantias da nossa Constituição foram totalmente ultrajados e derrubados. de que esse período triste da nossa história jamais possa se repetir. os anos duros da ditadura. que é os Estados Unidos. quer seja também de produção acadêmica. O NDIHR está à disposição dos interessados em fazer pesquisas documentais ou na hemeroteca. O golpe também foi ensaiado em 1955. que é outro depoimento altamente documentado. essas dificuldades. ex-professor da UFPB. Muito obrigada. como também a REPRESSÃO DOS QUARTÉIS. cabe-me apresentar minhas considerações. para evitar a posse de Juscelino Kubitschek porque o Vice-presidente era João Goulart. E com a interferência do general Lott e do general Denys foi possível dar-se posse a JK e Jango. cada um é que vai definir se foi golpe ou não foi). como o país inteiro. por uma questão pessoal e também em respeito aos presentes. e que jamais caia em subserviência ao xerife maior. que também sofreu na própria pele. mas como faz uma coisa com a outra. Quero dizer que sempre peço a Deus que meus filhos. no Brasil. Temos a alegria de dizer que a Paraíba talvez seja um dos Estados do Brasil que tem uma maior produção historiográfica sobre esse período. ex-funcionário do Banco do Brasil. ex-militante sindical. Com muita propriedade a professora Martha Falcão fez esse levantamento. ex-professor da Universidade Federal da Paraíba. era seu herdeiro político e ligado às classes populares. as próprias memórias do historiador Joacil de Britto Pereira. de Jório Machado. historiador. tem um excelente livro RECORDAÇÕES DA ILHA MALDITA E OUTROS REGISTROS. quando fazia parte do quadro de pesquisadores do NDIHR. atual presidente do Instituto Histórico) Para os que não me conhecem. ··· Debatedor: Luiz Hugo Guimarães (Escritor. como Jango queria. um escritor. consultando fontes sobre o período. uma figura ligada às tradições de Getúlio Vargas. foi interrompido quando Vargas deu um tiro no coração. Gostaríamos de dizer que o NDIHR tem todo o mapeamento da luta camponesa.Geografia e História da PB 218 cidadã a obrigação de conhecer. ele preserve. da questão agrária. baseados sempre em que a hierarquia era importante. foram os militares. É um historiador. de acontecer uma transformação violenta. general Machado Lopes. Tenho a foto desse flagrante. o movimento popular se acelerou. do Rio Grande do Sul também se manifestou favorável. não cabendo aqui me estender sobre sua tramitação. Pergunta-se: teria sido premeditada essa representação? Pois bem. O general Henrique Lott lançou um manifesto à nação favorável à posse do Vice-presidente. sem o guante do parlamentarismo. Ele era compadre do general Lott. partido de João Goulart. De lá João Goulart voou para os Estados Unidos. A luta de João Goulart para derrubar a emenda parlamentarista é conhecida por todos. juntamente com o coronel Macário. passaram a reivindicar maior participação e mais direitos. segundo consta. . Ministro da Guerra. na sucessão de Jânio Quadros. mas a maioria esmagadora da oficialidade ficou favorável à posse do Vice-presidente João Goulart. o combativo Leonel Brizola. A movimentação popular cresceu com as constantes reuniões de estudantes. Quando João Goulart retomou as funções de Presidente. porque não podia casar. O golpe não aconteceu porque foi lançada a Campanha da Legalidade pelo governador do Rio Grande do Sul. o comendador Renato Ribeiro e oficialidade. O general Fragoso foi chamado ao Rio de Janeiro com urgência. O general Denys. Seu pronunciamento convocou a nação. Isso. e adiantou que seu Ministro da Fazenda seria Walter Moreira Sales e o Ministro do Exterior San Tiago Dantas. As Forças Armadas se dividiram. Houve uma época em que os sargentos não podiam casar. Eu tive um irmão que passou muito tempo “amigado” com a mulher dele. que será publicada nas minhas memórias. Renato Archer. patrono do Exército. Tancredo Neves e outros iam e viam levando e trazendo mensagens. trabalhadores. dentro da solução constitucional. designado pelo próprio presidente Jânio Quadros. as praças de pré. A campanha teve o apoio popular da nação. João Goulart estava na China em missão oficial do país. Como se sabe. E eu estava lá no palanque. Vicente Scherer. É uma tradição militar essa homenagem no dia 25 de agosto. Os militares subalternos. No dia da renúncia do presidente Jânio Quadros eu participei das homenagens que o Exército prestou ao Duque de Caxias. Brizola colocou o Rio Grande do Sul em pé de guerra e contou com o apoio e pronunciamento do comandante do III Exército. ao lado do general Augusto Fragoso. pois antes de voltar para o Brasil. figuras bastante conhecidas dos norteamericanos. donas de casa. O arcebispo D. Enquanto isso os congressistas encontraram a solução parlamentarista para dar posse a João Goulart. É necessário dizer que para tal houve o apoio dos Estados Unidos. que o Exército vetava sua posse. II e IV Exércitos. A divisão entre os líderes militares forçou a uma tomada de posição junto aos oficiais. Essa consulta feita em todas as unidades militares deve ter sofreado o ponto de vista do general Denys. o mesmo time que queria modificar a posição do Brasil no plano internacional. com comandante Franco. no dia 30 de agosto. representando o governador Pedro Gondim. Oficiais das Forças Armadas. João Goulart passara pelos Estados Unidos. capitão dos Portos. Lá João Goulart confirmou que iria assumir o Governo. Esse pronunciamento de João Goulart facilitou a concordância dos Estados Unidos. informou a uma comissão de parlamentares do PTB. tentaram evitar a posse do presidente eleito.Geografia e História da PB 219 Mas. onde ficou aguardando o desenrolar dos acontecimentos. que era o sucessor legal do presidente renunciante. A professora Martha Falcão esclareceu bem as dificuldades que o Governo encontrou em face da movimentação popular. viajou para o Rio e assumiu o comando do Grupamento o coronel Albuquerque Lima. aliás. ficou comprovado com a farta documentação posteriormente liberada pelo Departamento de Estado daquele país. O coronel Albuquerque era contra. Jango saiu da China para Paris. insuflados pelos mesmos civis conservadores e reacionários. comandante do Grupamento. Os emissários políticos fizeram uma ponte aérea entre o Brasil e a França. que dirigiu um radiograma aos comandantes do I. que era cunhado de João Goulart. Nesse meio termo foi feita uma consulta entre os oficiais sobre a posição a tomar quanto à posse de João Goulart. também não queria dar posse a João Goulart. Tenho informações de pessoas que estiveram presentes nesse encontro. cunhado do Presidente. Com a encampação daquelas empresas multinacionais por Brizola. independente. portanto. quando saiu do gabinete do presidente. A partir daí Gordon tomou gosto em participar do movimento anti-Jango. privilegiado. O grupo da GLOBO. Podemos rememorar a posição tomada por Brizola. Muitos parlamentares tinham que se desincompatibilizar para serem candidatos. para umas remessas que TIME/LIFE ia mandar para reforçar seus jornais. a dona de casa. É um regime capitalista em que o taxista. sobretudo os partidos conservadores. Começaram as especulações. Lá discutiram o problema e João Goulart comprometeu-se em criar uma comissão especial de auditores independentes para levantar o acervo das companhias e o que fosse apurado o governo brasileiro encamparia a indenização. O Primeiro Ministro era Tancredo Neves. um nome . Vez por outra os editoriais do jornal de Roberto Marinho desancavam o Governo. da ITT. o operário têm ações daquela telefônica. Quem seria o seu substituto? Criou-se um problema. Perdeu por cento e tantos votos porque antes havia feito um pronunciamento que afetou os partidos políticos. diante da insistência. chegou a ser deseducado. no Rio Grande do Sul. etc. ficou difícil. porque o embaixador Lincoln Gordon foi pressionar o Presidente Goulart. revelando que João Goulart foi veemente na proposta de Lincoln Gordon. Enquanto se estava decidindo a greve. levantada pela professora Martha Falcão. Com a desapropriação daquelas empresas é evidente que os acionistas teriam prejuízo. Houve muitos problemas sérios que aceleraram o golpe. irmão de John Kennedy. nacionalista. achava pouco e criava uma série de problemas para o Governo. Ainda durante o parlamentarismo chegou o momento das eleições para o Congresso. e João Goulart também foi. que serviam para afastar os grupos do governo. uma das figuras mais expressivas da intelectualidade brasileira. que estavam em dificuldades. de Carlos Lacerda. além da cócega que fazia o jornal A TRIBUNA. que tinha sido Secretário do governador Brizola. Então o movimento sindical tomou parte. o pessoal foi em cima de Kennedy. Começou a pressão no movimento sindical para indicar um Primeiro Ministro nacionalista. Quando chegou na fase da intervenção de Cuba. O que Roberto Marinho queria (segundo se dizia) era que Jango autorizasse um câmbio especial. com a incorporação da AMFORP. Ouvi alguns auxiliares diretos de João Goulart comentarem que estava em tempo do Presidente convidar Roberto Marinho para um jantar. Disseram que João Goulart. Jango recusou-se a autorizar esse câmbio privilegiado. tinha alguns interesses que dependiam do Governo. como tinha sido perante Robert Kennedy. San Tiago Dantas foi derrotado na votação do Congresso. Ele tinha que deixar o cargo. Todo mundo lá é sócio da ITT. Muitas coisas dos bastidores dão um quadro dos interesses contrariados. Kennedy foi ao sepultamento em Roma. culto. com suas ações em queda na Bolsa.Geografia e História da PB 220 Com a liberdade existente. Depois desses jantares esporádicos os editoriais eram mais amenos. benquisto nos Estados Unidos. Quando morreu o Papa. procurando um nome dentro daqueles parâmetros. Ela foi concertada na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores – CNTI. Véspera de eleições nos Estados Unidos. O investimento popular americano é feito nas grandes empresas que têm seus papeis negociados na Bolsa de Valores. errou a porta de saída. Um homem esclarecido. E o embaixador Gordon ficou tão desorientado que. criou uma situação difícil para o governo brasileiro. advogado internacional. quando esteve no Brasil. porque o jornal da época era a ULTIMA HORA. as reivindicações populares espocaram e passaram a incomodar aqueles que se opuseram à posse de João Goulart. Leonel Brizola. A cúpula sindical fez uma greve geral. João Goulart indicou San Tiago Dantas. São empresas americanas de que participam os americanos comuns. Era. de Samuel Wainer. que tentara um princípio de reforma agrária no Rio Grande do Sul. Pois bem. João Goulart escolheu o nome do professor Brochado da Rocha. proposto por mim. mas no fim. e a gente não sabia bem o que queria dizer.. Manoel Batista de Medeiros. Então.. especialmente preparado pelo comandante Melo Bastos. Pedro Gondim não tinha participação do movimento. acabem com essa greve. meu amigo.. num avião da Panair. A greve já estava em andamento. E Jango foi claro.CRM – e foi um dos mentores do golpe aqui. era o antes pelo contrário. pois como os senhores sabem. porque a partir daí passou a ser uma força respeitável. mandou o próprio San Tiago Dantas. Luiz da Costa Araújo. senão não teremos mais condições de diálogo. entra no Gabinete um cidadão que estava vindo da ante-sala e . Eu disse que estava meio confuso. dirigido por Gregório Fortunato. sendo então decretada. consta até que Pedro Gondim tinha preparado dois pronunciamentos. Enviou inúmeros emissários para dialogar com as lideranças sindicais. frisou a expositora Martha Falcão. João Goulart fez o possível junto a esse pessoal para evitar essa greve de 5 de julho. o general Osvino Alves também ponderou. Se ele dissesse não ao golpe. Assim. O que feito imediatamente. Quando o golpe chegou à Paraíba. um a favor outro contra.. seria liquidado. e seu irmão é nosso sócio correspondente. etc. que fora Ministro do Trabalho. porque ele era distanciado daquele esquema. podendo até a Paraíba ter um interventor. Mas o movimento sindical não concordou. talvez fosse até o coronel Pitaluga. Mas endurecia o lado adverso. que é do Instituto Histórico do Mato Grosso. Jango conversou com os líderes lamentando com veemência o procedimento do movimento sindical contra a indicação feita para Primeiro Ministro. nitidamente política. Em plena greve Jango mandou chamar a liderança sindical. Foi quando ele disse: Voltem para o Rio. Na realidade a posição assumida deu grande força política ao movimento sindical. e aí ele me mostrou um telegrama e disse: Batista é este o telegrama que estou passando sobre a revolução. tem gente aqui que pode esclarecer melhor essa questão. que era o homem de ligação do movimento aqui e um dos mentores militares do golpe na Paraíba. e eles pressionavam para adquirir posições de poder político. etc. Ele pediu que desse uma redação ao meu jeito. mandou Leocádio Antunes. Levei a Brasília esse pessoal todo. fui incluído no listão dos 100 primeiros cassados. Um Estado pequeno. Começou com Gilberto Crockat de Sá. Isso é discutível. que projetava o golpe. a greve já estava mais ou menos encaminhada. Hoje até me dou bem com Pitaluga. Vivia preocupado em manter o equilíbrio local entre camponeses e latifundiários. do Ato Institucional nº 1. O que é que você acha? O telegrama começava “A Paraíba mais uma vez se encontra com Minas Gerais. Nessa época eu estava no Rio de Janeiro. esteve instalado o corpo de segurança de Getúlio. Mas. que era o chefe da Assessoria Sindical de Jango. antes.Geografia e História da PB 221 que o movimento sindical poderia acolher. Aliás. exatamente localizado nas salas onde. fazia parte do Gabinete Sindical de Jango. que funcionava no Palácio do Catete. Acho que minha presença naquela reunião da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria e ter assinado o manifesto pela greve geral foram responsáveis por minha cassação política. Solicitou a imediata suspensão da greve ao retornarem os líderes ao Rio de Janeiro. no dia 5 de julho. A greve era política. esclarecendo que essas posições precipitadas fortalecem a campanha dos adversários do Governo. em aparte concedido pelo debatedor: Eu estava no gabinete de Pedro Gondim. Pitaluga esteve aqui na Paraíba comandando a Circunscrição de Recrutamento Militar . Como vocês sabem. Então ele disse que emendasse como deveria ser. com quem sempre mantive boa amizade. quando o movimento chegou à Paraíba a posição de Pedro Gondim a favor ou contra. São registros que faço aqui de episódios de que participei. a cúpula do movimento sindical sofria uma influência muito grande de alguns líderes comunistas que dirigiam umas duas ou três confederações de trabalhadores. Neste momento. não tinham a noção de quando recuar. não teria a menor influência. Abelardo Jurema esteve lá. que não era nada. distribuímos com os presentes uma listagem de algumas pessoas que foram punidas pelo movimento de 64. por suas lideranças. porque nos primeiros dias havia dúvida sobre o resultado do movimento. Luiz Hugo Guimarães: Vejam os senhores a importância de Ciclo de Debates. Na nossa Universidade foi um massacre. O próprio Pedro Gondim. Ai ele disse: o Governador Arraes quer saber qual a posição da Paraíba neste momento. deu trabalho para explicar isso e ele foi arrolado num inquérito. Outros governantes passaram pelas mesmas dificuldades. onde eu lecionava. que foi o autor do Plano Trienal. E a Paraíba sofreu muito com esse golpe. os senadores e deputados federais de tendência petebista ou socialista. só por curiosidade. Em todas instalações de ditaduras os primeiros visados são os trabalhadores. Era natural. foi arrasador. membro atual do Tribunal de Contas. De pouco mais de 8 mil sindicatos.Geografia e História da PB 222 o cidadão se anunciou como secretário do governador Arraes. porque distribuiu com os estudantes o Manifesto Comunista. reagir ao golpe. tanto que logo no início a repressão foi violenta. Antes do início da sessão. 7. O pessoal da Universidade Federal da Paraíba foi coletado naquele livro de Monique Cittadino A UFPB E O GOLPE DE 64.200 sofreram intervenção. que era Ministro da Justiça de João Goulart. Agradeço ao nosso consócio Manuel Batista de Medeiros por sua contribuição esclarecedora. etc. O reitor Mário Moacyr Porto foi afastado e substituído por um capitão-médico do Exército. Celso Furtado. naturalmente com receio duma contrarevolução. que se registra como fonte histórica. os estudantes e as universidades. que solicito dos presentes agregarem novos nomes que são do seu conhecimento. As entidades que podiam. como governador. que teve uma grande atuação no Congresso por ocasião da posse de João Goulart como Vice-presidente substituto de Jânio Quadros. Da Paraíba foram incluídos quatro paraibanos: Abelardo de Araújo Jurema. Na Faculdade de Ciências Econômicas. Daí porque aquele estardalhaço. deputado José Joffily. em entrevista posterior ao jornal A UNIÃO relata o fato e invoca o meu modesto testemunho. não foram somente dele. Sabemos que os primeiros paraibanos cassados foram quatro naquela lista dos 100 mais. de 1848? Houve até uma denúncia contra Marcus Ubiratan Guedes Pereira. e eu. Lideranças políticas e sindicais foram atingidas. Cassaram e prenderam logo os principais líderes nacionais e estaduais. Nem era bem para proibir de estudar. Da maioria dos programas constava Marx. e tornou-se interventor. São testemunhos ao vivo de uma fase que já está distante. Ele não pediu nem conveniência. também ministro de João Goulart. Muitos tiveram que sofrer pressão para tomar uma posição. Estamos tendo aqui depoimentos expressivos de episódios da nossa história. . e mostrou o texto do telegrama. as lideranças sindicais das confederações e federações nacionais. que era professor da Universidade. Um professor tirou uma cópia xerográfica do Manifesto e pediu para ele distribuísse com o pessoal. A lista dos estudantes que foram proibidos de estudar é enorme. pela Assembléia Legislativa. Era só isso que tinha a dizer. É uma lista incompleta. essas foram liquidadas. Pois bem. e o porta-voz do Presidente que estava sempre na TV contundindo o governador Carlos Lacerda. Minha impressão é que os golpistas não estavam muitos seguros. Como estudar economia sem estudar Marx e o seu CAPITAL? Como deixar de se referir ao Manifesto Comunista. Fica a favor ou contra? Pedro disse: diga ao governador Arraes que a resposta é esta. ou dubiedades. Houve logo a intervenção nos sindicatos. Essas dificuldades de Pedro Gondim. Era um material didático para ser debatido. todas as universidades sofreram intervenção. Eu guardo o nome: Fernando Mendonça. O primeiro Ato Institucional foi para eliminar a liderança mais qualificada. Todos os diretórios estudantis. envolvendo os militares ligados a João Goulart. era evitar que eles se reunissem para fazerem onda. Quem é professor da área de Ciências Econômicas tem que estudar os fatos sociais e econômicos. Aí se seguem as perseguições pelo Estado. e levar a lista do pessoal considerado subversivo. Não foi sem razão que se comemorou. A quase totalidade dos sindicatos sofreu intervenção. Foi muita gente punida. todas as forças vivas da nação se empenharam na luta.. de repartições. Seu pai. para ganharmos tempo com o tema que. pelos mesmos motivos anteriores.841 pessoas. Estudantes. também. O Comitê Feminista pró-Anistia teve papel saliente no início da campanha. a passagem dos 20 anos da promulgação da Lei de Anistia. e com o apoio deliberado dos Estados Unidos a partir da ação clara do embaixador Lincoln Gordon e do coronel Walther Verner. educacional. . sem levar em conta as demissões da Universidade. Um fato inusitado na história brasileira. foi lida no dia seguinte. Quem sabe. Era o combate às bases do Estado Populista. Mas deixemos de lado esses detalhes. recentemente. Esse processo durou 15 anos. sugerindo até a necessidade de iniciarmos um curso de preparação para os punidos pelos atos do arbítrio. dizia eu. para evitar sua leitura neste debate. intelectuais. Isso eu vi. Instalou-se um clima de delação e um processo punitivo permanente. tendo sua família sofrido as agruras do exílio. no Rio de Janeiro. Para os militares. Passaram-se 13 anos das punições. Dessa vez os grupos mais retrógrados das lideranças civis apoiaram o golpe. O resultado foi o longo tempo de uma ditadura militar. o senador Petrônio Portela. que estávamos à margem da cidadania. numa homenagem que recebeu em Duque de Caxias. inspirado que foi. Da sociedade que foi psicologicamente trabalhada pelo IPES/IBAD. que tomou o número 59. é de grande interesse. asfixiando as liberdades. mas por ter ele sofrido na pele os efeitos do arbítrio duma ditadura. Foram punições decorrentes de atos institucionais propriamente ditos. a nação inteira empenhou-se na conquista da Anistia. que foram destruídas assim como as camadas populares foram excluídas do centro político nacional. Houve uma intervenção generalizada no campo econômico.Geografia e História da PB 223 Essa listagem que distribui com os presentes foi. membros da oposição. A partir daí. comandada inicialmente pela esposa do general Jesus Zerbini. Quem alcançou essas punições? A maioria da intelectualidade. levando a sociedade a um desassossego nunca visto. etc. com violenta perseguição às suas lideranças. que decerto haverei de publicar. não só pelo clamor nacional. a classe política sofreu forte golpe com a cassação dos principais líderes populares. a ponto de diariamente seus chefes terem de comparecer ao quartel do 15º R. disse que não se cogitava naquele momento da anistia. Quem não era intelectual era um líder em sua classe. Lembro-me também que naquela época fiz uma crônica comentando o fato. social e sindical. através de sua Mensagem de 27 de junho de 1979 ao Congresso Nacional. sabendo que seu advento seria o início da derrocada do arbítrio. para prestar contas de seus atos ao comandante Ednardo d’Avila Melo. O próprio presidente Figueiredo devia saber as conseqüências do seu gesto. Mas o fato é que o golpe veio. I. com os demais segmentos da sociedade batendo palmas. o general Euclides. Mas não foi fácil. Lembro-me que em agosto de 1977. donas de casa. como acentuou a expositora Martha Falcão. E alegava que os punidos do movimento de 64 não estavam preparados para recebê-la. Quero lembrar que no Brasil foram punidos diretamente pelos atos institucionais 4. por ser mais recente. o Mobral poderia patrocinar esse curso para nós. em 1932. operários. como acentua a historiadora Monique Cittadino em seu trabalho A UFPB E O GOLPE DE 64. quando estive lá antes de ser preso. todos os diretórios estudantis foram esmagados. Todas as repartições federais sofreram intervenção. e o Ministro da Justiça vinha com essa de preparar os beneficiários da anistia! Nunca se demorou tanto. O processo para se chegar até aquele ato presidencial foi longo. A iniciativa do Presidente João Baptista Figueiredo. fora anistiado por ter participado da revolução constitucionalista de São Paulo. que constarão das minhas MEMÓRIAS. saíra clandestinamente. Afinal. as leis de anistia eram promulgadas em breve espaço de tempo. onde só técnico tem vez. Uma coisa que Silvio Frank Allen me sugeriu a ler foi o livro OS DEMÔNIOS DESCEM DO NORTE. Foram 15 anos de muita gente fora da lei dos vencedores. o menino chegou. o que é a mesma coisa. retornaram ao Exército. que usa a imagem de Nossa Senhora de Fátima também para fazer toda essa contestação ao socialismo que começa a se implantar. Lá era uma cidade subversiva por natureza. à espreita de uma abertura para retornar ao país. transferindo-me para a agência de Porto Velho. Almino tinha sido ministro de João Goulart. os integralistas de 37 retornaram rapidamente ao convívio da sociedade. A insegurança era muito grande. o velho chegava lá no Banco. 4. tornando-se muitos deles generais de grande atuação pública. quer dizer Sindicato de Ferroviários. ele chega animado e diz: Olhe. os poucos médicos eram todos socialistas. ele me confiou sua preocupação porque Almino. Os tenentes de 22 e 24. mas os outros eram socialistas. Paula Frassinete. que morava em Porto Velho. Os punidos de 1824 foram anistiados por um decreto no ano seguinte. Queria parabenizar Martha Falcão. Estudantes sem poderem estudar. Os caminhos que ele percorreu para chegar lá. . em 1965. Brizola e outros líderes políticos que ali estavam exilados. retomando a palavra: Para encerrar minha participação. jornalistas. Lembro-me que o Banco do Brasil me deu uma punição interessante. até receber a notícia de sua chegada são e salvo ao Uruguai. Internamente. depois de uns 20 dias. que estava exilado na Iugoslávia. quer dizer Sindicato de Portuários. Pois bem. como a TFP. Grande parte deles foi liquidada ao tentar atravessar nossa fronteira. Mas. interrompendo: Estou achando tudo maravilhoso. foi mais rápido ainda para os participantes de Aragarças e Jacareacanga. Congressistas. também o esquecimento era breve. eu não sei. Na República. sem poderem exercer sua atividade útil consentânea com suas aptidões. que estava desajustado totalmente num país industrial. Cidade fronteiriça e cheia de miséria. E foi muito bom para ele. Porque aqueles que estavam querendo voltar para o Brasil eram muito visados. E havia os que mofavam nas masmorras da ditadura. para juntar-se a Jango. somente dois eram comunistas. Estavam me esperando. com o grande democrata Juscelino Kubitschek. pedindo desculpas e dizendo “sou cristã e socialista”. por sua conta e risco. Não foi possível instaurar inquérito no Departamento dos Correios e Telégrafos de Rondônia porque não havia em quem confiar para organizar as Comissões de Inquéritos. pois ouvi Leonardo Boff dizendo isso em Cuba. em 1825. lideranças populares.Geografia e História da PB 224 Até no Império. e quando terminava o expediente ele saia comigo. mas queria chamar a atenção de duas coisas. estavam todos lá fora. Esse livro encontrei no Sebo Cultural. os que ficaram segregados. eram os exilados dentro da própria Pátria. Primeiro sobre a TFP. Conversando com o pai de Almino Afonso. Ele dizia que o socialista é um cristão sem querer e o cristão é um socialista sem saber. como estava relatando. porque o pessoal do Banco do Brasil boatou que estava chegando um funcionário que fora cassado. capital de Rondônia. Luiz Hugo Guimarães. Que poderia acontecer? Havia estrada de ferro. e os desaparecidos. os punidos de 30 e 32. os comunistas de 35. para o Uruguai. havia porto. talvez por conta da pobreza com que eles lidavam.841 pessoas foram atingidas pelos atos institucionais! Fora do Brasil estavam figuras de valor sem poder oferecer sua inteligência à solução dos problemas nacionais. Pedi a palavra apenas para sugerir a leitura desse livro. Martha tratou da religião. professores universitários. diariamente ele se angustiava e confiava em mim para desabafar. mas tenho que sair antes de terminar e peço mil desculpas pela interrupção. porque ele trata do pentecostalismo que veio a mando do Pentágono exatamente para ir solapando. Só faltava chorar. todo dia. Almino Afonso por conta própria resolveu sair da Iugoslávia clandestina para ir para o Uruguai. de João Pessoa. Prefeitos: Newton Rique. relator do Projeto de Reforma Agrária) Luiz Hugo Guimarães (líder sindical. que como deputado estadual em Pernambuco foi líder de Arraes. Antônio Fernandes de Andrade. Gilberto Azevedo. de Alhandra.º 1. Magistrados: Desembargadores Emílio de Farias e João Santa Cruz. de Campina Grande. de Santa Rita. Pelos AI subseqüentes: Deputados Federais: Pedro Moreno Gondim. que foi distribuída com os participantes do Ciclo de Debates: Os primeiros cassados: Pelo Ato Institucional n. Juizes Hermílio Ximenes e Humberto Cavalcanti de Mello. de 10. ex-deputado e ex-prefeito de Campina Grande. Orlando Almeida e Ronaldo Cunha Lima. Deputados Estaduais: José Targino Maranhão. era bem melhor. da Assessoria Sindical de João Goulart) Cassados. Antônio Mariz. foram cassados todos os vereadores do PTB. vamos dar continuidade aos debates. numa cela próxima da minha. que foi Ministro do Trabalho de Jango e o subgerente foi um colega do Banco do Brasil. Antônio Peba. ··· Transcrevemos. 1º participante: João Batista Barbosa: (Escritor. Em Rio Tinto. como suplentes. Vereadores: Antônio Augusto Arrouxelas Macedo. Brizola e outros. Robson Duarte Espínola.. Elias Pereira. Jango manteve um hotel que acolhia os refugiados que por lá chegavam. Acho que dei meu recado. Compositor: Geraldo Wandré. jornalista) Eu queria incluir na lista de perseguidos do golpe o nome de dois paraibanos que foram Nego Fubá e Pedro Fazendeiro (palmas). Antônio Teixeira. posteriormente: Pela Assembléia Legislativa do Estado: Deputados Agassis de Almeida. Faço esses registros porque pouca gente sabe das dificuldades dos bastidores. com seus velhos companheiros. de Sousa. O gerente do hotel era Amauri Silva. Nego Fubá esteve preso no quartel do 15. Figueiredo Agra e Langstein de Almeida. Vital do Rego e Osmar de Aquino. a seguir. . Francisco de Assis Lemos. de Campina Grande. e José Gomes da Silva e Leonardo Moreira Leal. Romeu Gonçalves de Abrantes.64: Abelardo de Araújo Jurema (ex-Ministro de João Goulart) Celso Furtado (ex-Ministro de Planejamento de João Goulart) José Bezerra Joffily (ex-deputado federal. Francisco Souto Neto.Geografia e História da PB 225 No Uruguai. Sílvio Pelico Porto. a listagem que foi distribuída previamente com os participantes do Ciclo de Debates: Lista (incompleta) dos paraibanos alcançados pelo movimento de 64. e com minhas desculpas por ter tomado algum tempo.04. Severino Cabral. Luiz Hugo Guimarães: Esses nomes estão registrados na lista que distribuí. de Rio Tinto. Domingos Mendonça Neto. de João Pessoa. Jango. Mário Silveira. José Leão Carneiro da Cunha (Economia). Djamil de Holanda Barbosa (Politécnica). Vicente Antônio da Silva (Engenharia). Maria Thereza Ribeiro Prost. Arnaldo José Delgado (Engenharia). presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Leda Rejane Pereira do Amaral (Face). João Roberto de Souza Borges (Medicina). Vanildo Brito. Hélio Correia Lima. Heloízio Jerônimo Leite (Face). Sindicato Rural de Sapé. Padres: Os mais visados foram os Padres Juarez Benício e Everaldo Peixoto. Otávio Fernandes Barbosa. Edite Maria de Oliveira (Face). sem renovação de contratos ou com vencimentos sustados: Luiz Hugo Guimarães. Manoel Martins Paiva. João da Cruz Fragoso (BNB). Francisco de Assis Lemos. Pedro Moreno Gondim. Nobel Vita (Direito). Beatriz Maria Soares Pordeus. Terezinha do Vale (Ciências Sociais). Paulo José de Souto (Engenharia). Augusto Aécio Mendes (Engenharia). Derly Pereira (BNB). Dirceu da Cunha Machado (BB). Germana Correia Lima (Direito). Tibério Graco de Sá Pereira (Engenharia). Francisco de Paulo Barreto Filho (Direito). Elizabete Teixeira. Maria Auxiliadora Rosas (Face). Zenóbio Toscano de Oliveira (Engenharia). presidente do Sindicato de Cimento. Saulo de Tarso Sá Pereira (Medicina). era revisor de A UNIÃO (preso em Itamacará. José Tadeu Carneiro da Cunha (Engenharia). Paulo Ribeiro da Silva (BB) Jason Gonçalves de Lima (BB). Sebastião Borges Sobrinho (BB). Hienal de Carvalho Ferreira. Maria Lívia Alves Coelho (Medicina). Adelmo Neves Machado. Emilson Ribeiro. Manoel Severino Ricardo. Wilma Batista de Almeida (Fafi). Genuíno José Raimundo (Economia). presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Paraíba. Maria Neiva Gadê Negócio (Direito). Carlos Guerra. Maria de Fátima Mendes da Rocha (Fafi). Emilton Amaral (Direito). Inácio de Loiola Monteiro Souza. Jader Carlos Coelho da França (Direito). Iêdo Martins Marcondes da Silveira (Politécnica). Jornalistas: João Manuel de Carvalho. Hélcio Lima de Oliveira (Engenharia). presidente do Sindicato de Tecelagem de Santa Rita. Maria Teixeira (Ciências Sociais). de João Pessoa. Maristela Villar (Medicina). Severino Ramos.Geografia e História da PB 226 Punidos por atos arbitrários: Professores demitidos. Maria da Penha Ribeiro (Ciências sociais). últimos presos a serem soltos com a anistia) Sindicalistas: João Ribeiro Filho. Célio Di Pace. Jorge de Aguiar Leite . Heronides Dias de Barros. Ex-alunos. presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação. Gerard Camilo Prost. Jório Machado. Simão Almeida (Engenharia). Jander Cunha Neves (Economia). Bancários: Antônio Aragão Filho (BNB). Cal e Gesso. Francisco Ramalho (BB). Carnot de Cavalcanti Villar (BB). Hélio do Nascimento Melo (Economia). Antônio Gomes da Silva (Economia). Lúcio Villar Rabello (BB). Romero Cunha Lima (BNB). Ronald de Queiroz. presidente do Sindicato Rural de Camarazal. Aderbal Villar de Carvalho (Face). Maria do Socorro Morais (Serviço Social). Eraldo Fernandes dos Santos (Medicina). Adalberto Barreto. como Coordenador da FAFI. Luiz Bernardo da Silva. Lenildo Correia da Silva (Economia). Boanerges Timóteo (BB). Nakay Hiershi. Dinalva Navarro (Ciências sociais). Lindalvo Virgínio Franco. Everaldo Nóbrega de Queiroz (Engenharia). Carlos Eduardo Pessoa Cunha. Norberto Lima Sagratzi (Engenharia). Laurindo Albuquerque. Luiz Carlos Soares (Engenharia). secretário do Sindicato Rural de Camarazal. Antônio Geraldo de Figueiredo. Raimundo Adolfo e outros (Vide o trabalho de Monique Cittadino A UFPB E O GOLPES DE 64). como o Reitor Mário Moacyr Porto e Paulo Pires. Alzenir Rodrigues dos Santos (Face). com José Calistrato. Getúlio Bezerra de Castro (Medicina). Rubens de Pinto Lyra (Direito). Djair Aquino Lima. líder camponês. José Jackson de Carvalho. Antônio Dantas. Antônio Nazário. Rivaldo Cipriano da Costa. Vários foram destituídos de seus cargos. Francisco Trigueiro (Farmácia e Bioquímica). Jaerson Lucas Bezerra (Face). Everaldo Ferreira Soares (Medicina). Langstein de Almeida. Jurandir Cardoso de Albuquerque (Face). José Soares dos Santos. José Ferreira da Silva (Face). proibidos de estudarem: José Fernandes Neto (Face). Hércules Gomes Pimentel. Idalvo Veloso Toscano de Brito (BNB). Marcelo Renato Arruda. Erson Neiva Monteiro. Joost Van Dame. Nizi Marinheiro. José Kehrle. Dermerval Trigueiro do Valle. Enoque Gomes Cavalcanti. vereador. Pedro Dantas das Chagas. Yolando Alves de Souza (chofer de Assis Lemos). Em xadrez especial. economista da SUDENE. Josué Silveira. Agassis de Almeida e Figueiredo Agra. José Batista Gondim. I. Antônio Soares de Lima Filho. Elpídio Navarro. Bento da Gama. Maria Amélia de Araújo. Clemente Rosas. engenheiro. de Mamanguape. dos Correios. Raimundo das Neves Brito (Economia). comerciante. exilouse no Chile. Francisco Lopes. médico chefe do SAMDU. Jório Machado. Israel Elídio de Carvalho Pinto. . Darlan Nóbrega de Farias (Politécnica). Paulo Alves Conserva. Antônio Augusto de Almeida. Luiz Alberto de Andrade de Sá Benevides. Também estiveram presos em Fernando de Noronha os ex-deputados Assis Lemos. da Marinha. Antônio Fábio Mariz Maia. Estanislau Fragoso. Luiz Sérgio Gomes de Matos Filgueiras (Politécnica). comerciante. Miguel Penedo da Silva. teatrólogo. Maria Egilda Pereira Saraiva (Economia) Maria Gilda de Oliveira Pinto (Economia). Eimar Fernandes (Filosofia). Eduardo Ferreira de Lima (economia). Manoel Barreto Dias. ainda hoje não foi anistiado. isolado. Estiveram com este Expositor. Abdias Sá. Wladimir Martins de Souza (Direito). que participou do movimento dos marinheiros no Rio. Antônio Soares de Lima Filho. responderam IPMs. advogado. Antônio Flaviano da Rocha. Genival Veloso França (Medicina). economista da SUDENE. Pe. no 15º R. Antônio Domingos. Kenneth Talis Borjas Jaguaribe (Enfermagem). Heloízio Gerônimo Leite (estudante). Laurindo Melo. depois na Suécia. Manoel Ferreira Gomes. Carlos Antônio de Aranha Macedo (Economia). com este Expositor. João Batista de Melo. tipógrafo. Outras pessoas que responderam IPM: Eduardo Ferreira Lima (Batata). estiveram asiladas. José Ferreira da Silva (Economia). Vicente Rocco. Manoel Ferreira Gomes.Geografia e História da PB 227 (Economia). Tercino Marcelino Filho (Economia). Williams Capim de Miranda (Politécnica). durante dois meses. prefeito de Santa Rita (pai da expositora). Aderbal Villar Sobrinho (Economia).I. prefeito de Rio Tinto. agricultor. Antônio Fernandes de Andrade (Bolinha). Maria Nazaré Coelho (Filosofia). inspetor do Trabalho. militante do PCBR e expresidente da UPES. Antônio Sérgio Tavares de Melo (Filosofia). estiveram. José Urânio das Neves (Economia). Cláudio Américo Figueiredo Porto (Economia). Delegado do Tribunal de Contas no Estado. Procurador da Superintendência de Reforma Agrária na Paraíba – SUPRA. Sebastião Borges Sobrinho (Economia). Juntos. Nizi Marinheiro. José Alves de Lins. João Manuel de Deus. Antônio Augusto de Arrouxelas Macedo. comerciante. estudante. Antônio Aurélio Teixeira de Carvalho. Maria do Socorro Pessoa (Filosofia). comerciante. metalúrgico. escritor campinense. José Cazuza de Lima (Direito). na Ilha de Fernando de Noronha: Jório Machado. Adalberto Cavalcante de Souza. Durval Domingos da Cruz. jornalista. advogado e suplente de vereador. professor universitário. onde veio a falecer em 1993. João Alfredo Dias. no 15º R. estudante. Guilherme Rabay. estudante. Agamenon Martins de Souza. 1º Tenente da Reserva. Delegado do Tribunal de Contas da União. estudante. ou sofreram os horrores do golpe. Francisco Barbosa Diniz. Laurindo Marques de Albuquerque Melo. em xadrez comum. Pessoas que foram presas. José Arimatéia Bezerra de Lima (Filosofia). Maria do Socorro Ramos (Economia). Brígida Nóbrega (Filosofia). estes de Mamanguape. Laurindo Albuquerque. tendo também desaparecido ao ser posto em liberdade). sobrinho de Humberto Lucena (militante do PCBR no Rio). José Iremar Alves Bronzeado (Economia). estiveram: João Santa Cruz. Bento da Gama. Maria de Lourdes Meira (Filosofia). comerciário. deputado estadual. Moisés Lopes da Costa. Antônio Barbosa da Silva. Langstein de Almeida. jornalista. de Itabaiana. desembargador.. Chico do “Baita”. e Manoel Patrício. Antônio Viana de Oliveira. empresário. (ficou numa cela ao lado. Inocêncio Nóbrega Filho (Economia). Celso Matos Rolim. médico do SAMDU em Sapé. Pedro Inácio de Araújo. João Batista Barbosa (contador). conhecido por Pedro Fazendeiro (desaparecido ao ser posto em liberdade). Artur Nunes de Oliveira. Manoel Barreto Diniz. sargento da Aeronáutica (irmão do bispo D. líder camponês. Oriana Andrade Matos (Filosofia). Risalva Bandeira Machado (Economia). sapateiro em Guarabira. conhecido por Nego Fubá. João Batista Filho (Economia). comerciante. professor universitário. Martha Falcão. A nota é bastante crítica. A proclamação do Governo Pedro Gondim aos paraibanos deu a S. um pouco da recuperação do seu prestígio. Nizi Marinheiro. além de historiador e teve o privilégio de ter sido testemunha da época. Pedro Targino Moreira. No dia seguinte a coluna política do nosso saudoso José Madruga. é graduada em Letras e Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba. E atirou certo.Geografia e História da PB 228 Fragoso). quando para a posse de Jango. Ronald de Queiroz. Otávio de Sá Leitão Filho e Laurindo Albuquerque Melo. e está aqui citado pela professora Monique. da CEPLAR. Responderam inquérito na Faculdade de Ciências Econômicas: Os professores Cláudio Santa Cruz Costa. inclusive sobre Literatura Brasileira. estudante e artista plástico. como de outra vez. Excia. fez ainda os cursos sobre Problemas do Desenvolvimento Brasileiro. É um trabalho bastante documentado. Deusdedit Leitão. sem titubear. Maria Limeira. O livro se baseia na história oral e fontes documentais. identifica-se com o povo paraibano. José Iremar Alves Bronzeado. Hélio Zenaide. jornalista Fátima Araújo. O Chefe do Executivo falou na hora exata. inclusive Luiz Hugo Guimarães também foi entrevistado. como o professor Manuel Batista. . pela UFPB. diz o seguinte: “Melhorou. Marcus Ubiratan Guedes Pereira. 12º Tema A IMPRENSA NA PARAÍBA Expositora: Fátima Araújo A fala do Presidente: Convido para participar da mesa a jornalista Fátima Araújo. A expositora. quando o governador Pedro Gondim teve que tomar uma posição. Participou de vários Seminários. curso de Psicologia da Personalidade. Flávio Tavares. em São Paulo e Caruaru. é sócia do nosso Instituto. participaram. deveria estar conosco o jornalista Antônio Costa. Agradeço o espaço que me foi dado na participação desse evento. Luiz Hugo Guimarães. possui curso de especialização em Comunicação Educacional (URNE. Francisco Assis Lemos. José Ferreira da Silva. Lígia Mercês Macedo e Iveline Lucena Costa. Campina Grande). Ibiapina e o curso de Noções de Biblioteconomia. uma das colunas mais lidas. tem um fundo de ironia e mostra que ele acertou porque ficou do lado dos vencedores. Além de recuperar a confiança dos setores representativos do latifúndio no Estado”. como é o nosso presidente Luiz Hugo Guimarães. onde tive oportunidade de aprender muito sobretudo com as considerações de alguém que. pela Fundação Pe. Leda Rejane do Amaral. Pedro Gondim disse que tinha que estar ao lado da legalidade. é portadora de curso de francês premier e deuxiéme degré. Isa Guerra. o que lamentamos. como a Paraíba esteve em 30. Esse documento se encontra no CORREIO DA PARAÍBA. Por motivo de saúde. Juarez Macedo. para suas considerações finais: Gostaria de dizer que o depoimento do professor Manuel Batista de Medeiros foi um depoimento muito importante porque por se tratar de uma pessoa que participou do momento. e presidente da Associação Paraibana de Imprensa. Maria das Dores Paiva de Oliveira. feito com depoimentos de pessoas que. de 3 de abril de 64. Esse livro teve uma grande procura pelos alunos de História da Paraíba porque é uma das melhores fontes para se estudar de 45 a 64. Albano Nunes Nicodemi e Edvaldo de Góis. aquele companheiro comunicou-nos sua impossibilidade em comparecer. Redator-chefe de A UNIÃO. sobretudo nas fontes colhidas nos jornais da época. pela Aliança Francesa. nossa confreira. tem vários cursos de extensão universitária. ficou com o lado que venceu. Os alunos Heraldo Cavalcanti de Melo. como da especialização dos profissionais em termos mais recentes. Alcançando as condições essenciais para o seu amplo desenvolvimento através da evolução dos processos tipográficos. O bom senso nos diz que o nível de desenvolvimento de uma nação influi enormemente na conscientização do povo. me refiro aos jornalistas e não empresas. quer para garantir os interesses das empresas jornalísticas. que é um tema importante. tendo atuado na imprensa paraibana em todos os jornais. PARAÍBA. Esses foram os períodos piores da imprensa. as falhas do ensino e a falta de condições financeiras do nosso povo. Em alguns períodos estanques da nossa história foi a censura aplicada com a maior severidade. Escamoteamento à parte. Aproveito o ensejo para mostrar a vocês o fac-símile do primeiro jornal do Brasil e o primeiro da Paraíba. elas querem apenas dinheiro. que é A IMPRENSA NA PARAÍBA. querem apenas agradar os anunciantes. 1989. Há uma rivalidade entre leitores e anunciantes. isto é realmente lamentável. em prejuízo da comunidade. HISTÓRIA DA API. seção da Paraíba. Mesmo assim. PARAHYBA 400 ANOS. Passo a palavra à jornalista Fátima Araújo. com o Brasil. causas que reduzem o acesso aos jornais. em princípio. a ideologia dominante. pesquisadora. não só no Brasil. onde mais de 95% da população é alfabetizada. pois o livro que escrevi sobre o assunto – PARAÍBA. como vocês sabem. IMPRENSA E VIDA. o fato é que. quer para driblar as amarras da censura. numa maneira de forjar a sua responsabilidade político-social. E quando essa imprensa deixa se escravizar de mais pelos interesses dos anunciantes os leitores a desprezam. uma visão panorâmica. tem vários livros publicados. 1999. seção da Paraíba). Quando falo aqui em imprensa. Darei uma visão geral. sofre restrições e condicionamentos. Este é o perfil da nossa expositora de hoje. falando mais em nível de conscientização e ideologia. que há treze anos pertence ao quadro de sócios efetivos deste Instituto. intimidando os jornalistas. ANTÔNIO MARIZ – A TRAJETÓRIA DE UM IDEALISTA. SANTA ROZA – UM TEATRO CENTENÁRIO. As empresas jornalísticas têm outra ideologia. mesmo assim nosso povo ainda se interessa pelos jornais. Expositora: Fátima Araújo (Sócia do IHGP. Devo dizer que não vou discorrer sobre a História da Imprensa porque é uma história imensa. A liberdade de imprensa. (ensaio que foi premiado no IV Centenário da Paraíba). . cumprindo-me destacar os seguintes: HISTÓRIA E IDEOLOGIA DA IMPRENSA NA PARAÍBA. como qualquer outro tipo de liberdade. a imprensa brasileira hoje está capacitada para formar e informar a comunidade. da Academia Feminina de Cultura e da Academia de Letras Municipais do Brasil. formadores da opinião pública. não podemos comparar o caso dos Estados Unidos. Basta que tomemos o exemplo dos Estados Unidos. da Associação Paraibana de Imprensa. durante as duas ditaduras: a de Getúlio Vargas e a ditadura militarista de 64. Se este interesse pró-comunidade é desviado no limiar de sua intenção e os profissionais de imprensa vêem-se às voltas com a preservação dos interesses das empresas jornalísticas. cada qual querendo tomar para si o jogo da imprensa. mas noutros países da América do Sul. e HUMBERTO LUCENA – O VERBO E A LIDERANÇA.Geografia e História da PB 229 Fátima é jornalista militante. Historiadora. infelizmente. E não se vá pensar que o mundo desenvolvido das grandes potências esteja livre das amarras e dos condicionamentos. alguns jornalistas passam por cima de tudo e forjam algum processo nesse sentido. e atualmente mantém uma coluna semanal no CORREIO DA PARAÍBA. da União Brasileira de Escritores.tem 407 páginas. como no Chile. Na verdade. que existe na imprensa. 1985. Escamoteamento à parte. 1985. na Argentina e no Uruguai. para falar sobre o tema de hoje. não obstante o analfabetismo ainda alto. 1986. não estão nem um pouco interessadas em informar a opinião pública. Isto aconteceu várias vezes. 1983. IMPRENSA E VIDA . os filtros. 1996. a imprensa visa alcançar o fim ideal da promoção do bem comum. Por isto lamenta-se a detectação. Então as pessoas estão mais consumistas e fica difícil sair desse esquema. mostramos para a opinião pública o que governador tal fez. de nuances ideológicas pouco animadoras. a ideologia da imprensa continua sendo. não podemos fazer nada. Só um parêntese. politicamente. eram mais idealistas. conscientizadas. circunstância que não vai mudar tão cedo. Como técnicos nós escrevemos. Nós não temos dinheiro para fazer uma empresa jornalística e muitos que se lançaram nessa empreitada acabaram sucumbindo. através da indústria cultural. desse sistema tecnológico. A partir de 1826. A observação é válida para a imprensa de todo o Brasil. o que o deputado fez. que é a GAZETA DO RIO DE JANEIRO. as limitações econômicas têm sido tão fortes quanto as políticas. muitos foram até assassinados. Não deixa em casa. conscienciosa. levaram tiros. fazemos a imagem do governo. mais especificamente. E o percentual esclarecido da população não está alienado. Eu conto isso no meu livro. digo até os dias atuais. acima de tudo. Jornalistas que levaram surras. políticos e ideológicos. às vezes trabalhando em assessorias do governo. daí que se exige uma imprensa livre. redigimos as matérias e as lançamos. o registro torpe ou verdadeiro da história e da nossa língua. nessa mesma imprensa. quase sempre fundados com garra e idealismo. Por que? Porque além de não sermos conscientizados ainda. editado em 29 de agosto de 1826 e o primeiro jornal do Brasil. onde a imprensa desenvolveu-se na medida em que também se desenvolveu o capitalismo. Não somos nós. a gente leva para onde vai. No passado. rechaça-se esses condicionamentos políticos. através da televisão. condena-se. como noutras partes do mundo. por sua vez. a dominante. como vocês sabem. tivemos muitos jornais que foram empastelados. de maneira geral. incendiados. quando se fundou o primeiro jornal do nosso Estado – GAZETA DO GOVERNO DA PARAÍBA DO NORTE – registrou-se na Paraíba uma história bonita de periódicos ecléticos e ideológicos.. não temos os recursos que eles têm. e assim por diante. não. mas também politizadas. dizendo: esse jornal não é nem oficial. de 10 de setembro de 1808. Ou. Em nível de Paraíba. Verificando todo esse passado até os dias atuais. detentores de problemas sociais em bem menor escala. foram presos. econômicos e ideológicos a que se submete a imprensa. como técnicos nós fazemos. A gente tem essa ideologia. as ocorrências. Capta-se. nesse sentido. O que infelizmente não acontece no Brasil. Ouvi comentarem. no sistema vigente. jamais. construiu aqui e ali. É comum as pessoas condenarem os jornalistas. Claro que a gente não vai poder usá-la toda vida. Nossa ideologia. Isto porque estão pouco comprometidas com a verdade e com as mutações que o decurso da história exige. talvez. Naquela época as pessoas eram mais idealistas. No Brasil. nem dentro da bolsa. hoje. É porque nossos jornais dependem economicamente. no passado. Claro. geralmente as massas não só alfabetizadas. mas já faz alguns anos que eu terminei . infelizmente. outro dia. cujos fac-símiles constam de meu livro citado. invadiu todos os lares através da imprensa falada e escrita. porque dela depende. Mas. Como técnicos.Geografia e História da PB 230 Principalmente se esse povo é amainado no processo de democratização. Imprimindo as aspirações coletivas. nossa imprensa é muito amordaçada e muito limitada em termos econômicos. os jornais registram as mutações semânticas. com o povo deixando escapar o grito de liberdade que há muito está preso em sua garganta. Como o médico consulta seu paciente e passa o remédio tal. No caso de países desenvolvidos. que num dia só saíram dez fotos do governador Maranhão. exigem. uma maior eficiência do sistema de informação. ideologicamente. o consumismo tomou conta de tudo. Posso mostrar a vocês um fac-símile do primeiro jornal da Paraíba. No Brasil. E o que foi que aconteceu? Sofreram. é oficialesco. e assim por diante. os jornalistas. que jogue limpo com a opinião pública. devido ao poder econômico. dez fotos de Vilma Maranhão. porque nós dependemos. nós somos bem mais condicionados. a não ser que mude o curso da história política deste país. Mas. quase sempre acoplada ao aparelho político-jurídico do Estado. Mesmo a suspensão pacífica dessas folhas. verificando esse passado no estudo diacrônico e apurado que fiz. É peça opinativa de grande valor. Aliás já está numa terceira edição. Até certo ponto é compreensível a alegação do trauma causado pelo empastelamento das nossas folhas. As pessoas sofreram muito e hoje não estão a fim de apanharem tanto. Aliás. Muitas vezes eles questionavam os atos políticos. Não devemos nem olhar para esse passado. só que as pessoas no nosso Estado não se interessam. um negócio chato até de ler. porque se a gente não questionar vai ficar um doce só. Sinto muito. Não queremos isso para o nosso Estado. é a opinião do jornal. do que fazer trabalho da reedição de um livro. sem o sentido primeiro proposto pela verdadeira comunicação. se puderem.Geografia e História da PB 231 meu trabalho. deviam ter mais um pouco de coragem. colocando parte de minha casa à disposição deles. Estou falando de todas as instituições. . Antigamente a gente verificava no jornal do século passado A IMPRENSA. senti. É compreensível. E a gente aplaude isso aí. com certa tristeza. Muitas vezes até ajudavam os governantes. Eles façam se quiserem. leva o outro a pensar. É uma alienação total. mas que não se venha justificar nossa mudez. Os governantes precisam de críticas para melhorar. aniversários. Não vou me humilhar. Mas. O que acho mais triste é que os governantes procuram castrar a imprensa. Dentro desta seara controvertida enquadram-se os editoriais dos nossos periódicos. Já criei uma sala de pesquisas só para os estudantes de comunicação. não deviam ir tão longe. Nós somos comunicadores para isso. inclusive a Universidade. Vez por outra sai um jornalzinho corajoso. Não obedecem ao critério da proximidade. bem apaixonada. repercutiu muito nos meios intelectuais. órgão da Diocese. que não se venha justificar o nosso esquecimento como comunicadores da grande responsabilidade políticosocial que abraçamos. seja ele político ou econômico. Sai uma pecinha corajosa dentro dos próprios jornais menos corajosos. ideológica. É uma maneira de fugir da proximidade. Queremos é sair desse analfabetismo. mas é do editor do jornal. que destruíram com requintes de perversidade e da mais pura maldade. Como vocês sabem. vez por outra a gente vê um jornalista ou outro corajoso. estas peças opinativas deixam transparecer a ideologia dominante de acoplamento ao poder. até para a seriedade da empresa. Gostam daquele confete jogado o tempo todo em cima deles. a evoluir. Fiz pesquisas posteriores. ajudo como posso os estudantes. como aconteceu no passado. pelos poderes constituídos. venham a mim se quiserem reeditar o livro. sim. para não serem atingidos. Elas vêm sempre sem assinatura. falta de conscientização. baixar o seu índice e melhorar a nossa conscientização. ou o temor ao questionamento. com prejuízos morais e materiais para seus dirigentes. que da imprensa apaixonadamente opinativa do princípio nós involuímos para um tipo de imprensa mais reservada e acanhada de manifestação. festinhas. mas pesquisei até cinco anos passados. A perseguição aos jornalistas nos momentos ditatoriais ainda hoje repercute no mundo pensante não só da Paraíba. pensando que é bom para eles. a crescer. mas de todo o país. eles se referem a um tema bem universal. que poderiam caber na sua segunda edição. questionando os atos públicos. o que se fez e o que se há de fazer nesta terra. olhar com coragem. tudo isto. Quando eles não podem questionar algo que está mau no Estado. estou apenas realçando os editoriais dos jornais. Infelizmente os estudantes de comunicação precisam de mais do livro e vivem lá em casa me aperreando. tem jornal que não dá coragem nem de abrir. mas não justifica baixar a cabeça e deixar de questionar. Como estava dizendo. E se olhar. O que se vê hoje são editoriais bem neutros. É mais fácil se interessarem por beleza. Nas opiniões que expressam. Que é comunicador? Comunicador é aquele que faz pensar. A gente fica logo enojado. É bom sempre a gente questionar. quase sempre desfigurados. que é uma peça importantíssima do jornal. Mas eu também não vou chorar lá nos pés deles. um confete só. escapando de questionar ou criticar os governantes próximos. O interessante é deixar que a imprensa fosse como já foi. Ninguém se interessa em reeditar o livro. editoriais belíssimos. é por conta dos condicionamentos políticos. que marcou época.: Esse DEIP já existia no governo de Argemiro de Figueiredo. ideológicos e econômicos. Este jornal teve grande aceitação por parte da opinião pública. examinando seu conteúdo ideológico. Ele foi criado dois anos antes do criado por Getúlio. e para a época foi considerado um jornal maravilhoso. retomando a palavra: . Era um jornal corajoso e trazia editoriais belíssimos. Era um jornal católico doutrinário. No passado tivemos problemas sérios. Aqui na Paraíba era DEIP – Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. noticioso. que em pinceladas rápidas referiu-se à importância da Imprensa. Houve jornal de sair apenas um número. As causas principais eram falta de recursos e o baixo índice de analfabetismo. peças opinativas e também reportagens interpretativas bastante recheadas.Geografia e História da PB 232 Na capital. Até que na década de 60 ele fechou para sempre. Alguns duravam mais. por falta de recursos. Não vou me deter sobre todos esses jornais porque seria enfadonho. O primeiro redator-chefe foi o padre José Tomaz. O quadro por ela apresentado na Paraíba. mas a grande maioria dos jornais teve vida efêmera. de Getúlio Vargas. entrava em eclipse. Se eles não têm pedaços oficialescos. no arquivo da Diocese. ele teve um papel relevante para a nossa sociedade. por ela citados. no momento. quatro anos depois de A UNIÃO. que trabalhava em conjunto com outro religioso. Adauto Aurélio de Miranda Henriques. e o CORREIO DA PARAÍBA. Um jornal que seria interessante citar para vocês é o jornal da Diocese – A IMPRENSA. 1º Bispo e 1º Arcebispo do nosso Estado. Em 1897 surge esse jornal. nós temos três jornais vivos. Foi um órgão de projeção. entre 1941 e 1944. como é o caso dos empastelamentos dos periódicos. quando trabalhei no jornal A UNIÃO. A Paraíba nunca ficou isenta dessa mancha. É realmente uma das piores coisas que podem acontecer com a imprensa. como já falei aqui. A ilustre expositora lembra. mas que uma vez ou outra apresentam nuances que deixam a questionar. São os três principais em circulação. Manoel Paiva. que é a censura. Luiz Hugo Guimarães. em aparte. uma das coisas mais perversas que ocorrem na vida jornalística. O NORTE. que é o mais antigo. A censura não dá chances à conscientização que a palestrante questiona aqui com certa veemência. Martha Falcão. Foi despertando a ira de alguns políticos. aqui e acolá saía de circulação. Censura que se exerce das formas mais aviltantes. São eles: A UNIÃO. conforme confessou. Esse tipo de censura é o mais violento. que é do dia 7 de maio de 1908. Estão lá somente as coleções arquivadas. ··· A fala do Presidente: Ouvimos a exposição da confreira Fátima Araújo. A maioria dos jornais foi efêmera. Além da grande aceitação. Era o famoso DIP. que é do dia 5 de agosto de 1953. Na minha vida profissional na imprensa. Um oficial e dois privados. com entusiasmo. como acabei de mostrar. o segundo mais antigo. Foi fundado em 27 de maio de 1897 por D. que possui importância na imprensa paraibana e merece um estudo mais apurado. conheci a força do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo. por falta de apoio. tudo por conta de pressões. também. Fátima Araújo profliga esse comportamento do comunicador profissional. Não somos os únicos a sofrer aquelas pressões. O atrelamento do profissional ao condicionamento promovido pelas empresas jornalísticas e a subserviência das próprias empresas submetidas às pressões do poder econômico e do Estado foram abordadas corajosamente pela expositora. até durante o Império. que foi fundada em 3 de fevereiro de 1893. é um quadro nacional. Mas. e certa vez redigiu um editorial que não agradou a direção do jornal. que assumira o Governo da Paraíba em 1940. um civil na direção daquele órgão. Mas o fato é que só me deparei com esse DEIP naquela oportunidade em que era funcionário de A UNIÃO. Já existiam pressões sobre os “causos” que José Cavalcanti contava em sua festejada coluna PAPO FURADO. mas eram as primeiras a lerem a coluna de Zé Cavalcanti. Foi claro. aos aliados da grande guerra. a se indefinir. Num sábado. E disse-lhe: estou impressionado com você e Gonzaga Rodrigues. O jornal de Heitor Falcão era composto e impresso em a A UNIÃO. e Gonzaga Rodrigues. isto é um jornal oficial. na primeira fase daquele jornal de sociedade. Trabalhando sobre a pressão do empresário que controla a política do grupo empresarial do dono do jornal. o jornalista começa a se marginalizar. João Medeiros se tratar de um homem de bem. Era uma censura velada. Também fui incisivo. Não me contive. naquela ocasião. Na sua coluna ele vinha soltando umas letrinhas que não agradara ao governador. O DEIP funcionava no prédio do atual Palácio da Justiça. Toda a matéria elaborada tinha que ir para lá a fim de passar pela censura. E a Paraíba foi o único Estado que teve. Esses exemplos já são o bastante. desde o governo de Ivan Bichara e passou para o governo de Tarcísio Burity. ou não? O profissional mutila seu pensamento. O jornalismo é uma das profissões mais difíceis de se exercer sem contrariar os princípios do profissional. . que sei expert sobre o Governo de Argemiro de Figueiredo. Lembro-me do acontecido com o jornalista Natanael Alves. entre 41 e 44. Fui lá e encontrei Natanael Alves. que era o Diretor Técnico. política de interesses econômicos e até partidários. grande jornalista. mas que não cabe neste debate relatar. que era o Superintendente. – Quem mandou fazer essa censura foi Burity? Interessante é que há poucos dias Burity dera uma entrevista elogiando a liberdade de imprensa. mas não censurei o jornal do qual era o editor. reclamavam das irreverências aos seus maridos. Cheguei a ouvir uns comentários falando para eu prestar mais atenção à coluna de Tejo. Nos outros Estados ele era chefiado por um militar. Era diretor de A UNIÃO o jornalista Ascendino Leite e Secretário Geral o jornalista Octacílio Nóbrega de Queiroz. Indignei-me. O que passava sem censura eram as notícias favoráveis ao Governo. Isso me fez lembrar que em certa época dos anos 70 fui o editor do JORNAL DE AGÁ. O interessante é que as mulheres da sociedade. O que Ruy conseguiu com seu prestígio junto a Getúlio Vargas foi colocar em sua direção um civil. foi dispensado do jornal. restrições. O interventor era Ruy Carneiro. o que foi lamentável. João Gonçalves Toscano de Medeiros. Devo dizer isso. Natan. É a AUTOCENSURA. O Diretor Geral do DIP era o capitão Amílcar Dutra. Também foi o último número editado na A UNIÃO. com n + k recomendações. Isto é a CENSURA Há muitos casos de que fui testemunha ocular. estava acabando de fechar o jornal quando fui chamado à Diretoria de A UNIÃO. Natan disse: já vimos o artigo de Tejo que vai sair amanhã e sugiro que você tire o artigo para não criar problemas. onde anteriormente esteve instalado o Tribunal Regional Eleitoral. sobre o qual tem um estudo completo. Tínhamos um colunista de Campina Grande – Wiliam Tejo – que escrevia sobre política. intelectual. que hoje têm o apelido de socialite. A redação. Ele foi simplesmente substituído. se não o jornal não vai mais poder sair aqui na A UNIÃO.Geografia e História da PB 233 Essa eu não sabia e agradeço a informação da confreira. Ascendino Leite. Apesar de Dr. pois na redação havia alguns germanófilos. Como é que vocês vêm me pedir para fazer censura no jornal? Você não se lembra que saiu de O NORTE por isso? E vinham as evasivas: você compreende. médico renomado. sua vocação vai para o brejo. o Dr. Mas notei que seu semblante era lívido. E há uma coisa pior que a CENSURA. na ala esquerda do lado da rua da Palmeira. sempre houve atritos entre o órgão oficial e aquele Departamento. apesar de se dar bem com João Medeiros. etc. se constrangia bastante com aquela situação. como nós o chamávamos. da sua formação. portanto. sob censura. nos constrangia. que era o editorialista de O NORTE. a se duvidar. Mesmo assim havia uma fiscalização para não escapar nada de mais. era o esperado. ··· 1º participante: Guilherme d’Avila Lins: Referindo-me à fase de censura da última ditadura. Uma semana depois de terminado o curso. a censura era tão grande que o CORREIO DA PARAÍBA e O NORTE apareciam com espaços vazios. eu era um cidadão cassado pelo golpe de 64. eu me lembro que no ESTADO DE SÃO PAULO havia um movimento de resistência que na primeira página. Estou registrando esse fato só para complementar a força da censura. Na última aula. Luiz Hugo sabe disso. Se bem que sejam livros esgotados.Geografia e História da PB 234 Lembro-me também dum episódio ocorrido por ocasião da visita do presidente Geisel à Paraíba. Fátima Araújo: Às vezes a censura era feita em cima da hora. atiramos. Aliás. Preparamos um caderninho especial. que veio fazer a cobertura da visita. não dando tempo para a colocação de uma matéria no espaço. agora. Hélio me chamou e disse que tinha incluído meu nome no rol dos jornalistas que participariam do evento. Não fiz cara feia. . Forneci-lhe até alguns subsídios e inclusive uma foto que iria sair no jornal e que também saiu no Jornal do Brasil. Era a resistência possível. O que eu queria saber é se na Paraíba. Paulo Brandão era um empresário e um dos donos do jornal CORREIO DA PARAÍBA. o Instituto os tem em sua biblioteca à disposição dos interessados. Conseguimos fotos do arco da velha do general Geisel.. isso não vem ao caso. eram publicados receitas de bolo. Mas. que assim ficara vazio. houve esse nível de resistência possível. Mas eu adoro fazer curso. Certa vez fui fazer um curso de tiro ao alvo no stand da Polícia Militar. na campanha municipal. Um censor lia a matéria e o outro ia dizendo: tire isso. Muitas vezes o jornal estava quase todo pronto e durante a madrugada os censores invadiam o jornal e obrigavam a tirar imediatamente a tirar uma notícia. 2º Participante: Jeová Mesquita: Minha mulher tem muita raiva quando vou fazer um curso. Mas. a de 1964. no tempo em que ele era tenente e foi Secretário das Finanças no Governo de Anthenor Navarro. até. com respostas necessárias. É natural. de mais. Marcus Odilon. Hélio Zenaide chamou-me para dizer: seu nome foi vetado para a visita de Geisel. como ainda hoje. tire toda. se vocês quiserem conhecer a evolução da nossa imprensa não há outra saída senão ler os trabalhos de Fátima Araújo. No Hotel Tambaú estive com a equipe do Jornal do Brasil. aproveitei a ausência do debatedor oficial. que se cinge sempre a um pequeno comentário sobre os debates. tapar o buraco com qualquer matéria. Quando foi na véspera da chegada de Geisel. naquela época. aparteando: Em 1985. tire esse pedacinho. ou um poema de Camões. Ele gostava de andar com o revólver na meia. Vamos ceder. Hélio até mantinha no JORNAL DE AGÁ uma seção intitulada RONDA DOS ARQUIVOS. com quem sempre mantive excelente camaradagem. diante do alvo. a palavra aos participantes. Era Secretário de Comunicação nosso confrade Hélio Zenaide. uma excelente coluna onde ele liberava seus arquivos implacáveis e bem cuidados. Fátima Araújo: Houve. para tecer algumas considerações objetivas. Como vocês sabem. Meu companheiro de curso foi o jornalista Paulo Brandão. A “fala do Presidente” hoje foi além do habitual. tentando complementar a oportuna exposição de Fátima Araújo sobre o valor da conscientização na imprensa. Tratava-se de matéria eleitoral. quando a notícia não podia ser dada. Porque aquele jornalista freqüentava a casa de alguns que estariam possivelmente envolvidos. ficou assim como segredo de confissionário. uma coisa tão absurda. também foi perseguido. que era sócio dele. mas nunca ficou registrado. antipatias. segundo ouvi no nosso jornal. ele ia saindo da sua empresa. então penso que não vão ser esclarecidas jamais. Então eu queria perguntar à ilustre palestrante se ela tem alguma informação do motivo porque esse diretor de imprensa foi metralhado assim. apenas o Governo abraçou o ideal do jornal. Conforme o participante registra. estuda-se a República Oligárquica e se dá um pulo para depois do Estado Novo. Não foi só motivo de imprensa. um dia. eles julgam que se o Brasil se constitucionalizar as oligarquias vão voltar ao poder. O jornal A LIBERDADE. que também rompe com Anthenor Navarro. 4º participante: Martha Falcão: Nossa história tem muitas lacunas e precisa ser trabalhada nesse assunto. Existe um confronto entre a questão da reconstitucionalização do país e da não reconstitucionalização. é pouco estudado entre 30 a 40 e aí vamos encontrar um censura muito forte na interventoria de Anthenor Navarro. O Partido Republicano. jamais. Dizem que Álvaro Machado recebeu essa gorda quantia que você está falando. mesmo porque serão outras vidas que serão perdidas. picuinhas. essa perseguição foi muito forte. que foi um grande professor de Direito do Trabalho. houve coisa pessoal. mesmo nos cursos. Dizem que foi uma conseqüência do que o jornal CORREIO DA PARAÍBA vinha publicando contra o Governo do Estado. Só a polícia pode esclarecer isso. recebeu um gordo dinheiro de indenização ou se foi porque o jornal estava falido e o Governo do Estado socorreu. é um assunto questionável. quando os tenentes estão no poder. Como foi feita essa transação? Porque não foi bem explicado. quando foi metralhado dentro do carro. que foi Chefe de Polícia também andou perseguindo jornais. 3º participante: Marcus Odilon: A UNIÃO começou como órgão do Partido Republicano. cujo chefe era um dos nossos consócios daqui. e é invadido pela polícia da capital. ou nunca. Mas. intrigas.Geografia e História da PB 235 doutora Fátima. Estuda-se a República Velha. Há alguma explicação para isto? Fátima Araújo: Não. Então lutam com todas as suas forças. Um desses aspectos lacunosos é o período da imprensa durante as interventorias. A partir do momento que Getúlio Vargas firmou um acordo com os derrotados da Revolução Constitucionalista de 32. não que o crime seja perfeito. ficou com o jornal. Não é somente em relação à Imprensa. É um problema de polícia e até hoje fizeram mil investigações e como as pessoas envolvidas eram e continuam sendo muito poderosas. Houve também uma história que alguém deu um tapa no rosto de alguém. Mesmo o trabalho sobre a imprensa. ali na estrada do Recife. liderados pelo grande Boto de Menezes. houve também problema pessoal. No primeiro momento. Fátima Araújo: Eu creio que essa dúvida jamais será esclarecida. juntamente com Joaquim Pessoa. mas não vai ter coragem de falar. O primo dele é hoje um próspero empresário. Já estavam à espreita de Paulo Brandão. Esse jornal prega a reconstitucionalização do país. Ele surge em Campina Grande e depois vem ter sede em João Pessoa. depois passa para o Estado. que era Clóvis Lima. Nesse momento existe um jornal aqui de ex-epitacistas que vão fundar o Partido Republicano Libertador. Esse período das interventorias é muito pouco trabalhado. Até hoje ninguém sabe porque essa violência contra esse moço. Durante a interventoria de Anthenor Navarro. Manoel Moraes. e um dos melhores trabalhos é o da expositora de hoje. Deve haver quem saiba e acho que houve até testemunha. vamos ver que o próprio Tancredo de Carvalho funda um jornal muito forte – BRASIL NOVO. dirigido por Aderbal Piragibe. as antigas oligarquias . Acho muito difícil. não foi somente de imprensa. que à época pertencia a Álvaro Machado. sim entre os jornalistas. desde o princípio. é um jornal totalmente anticomunista. Era só essa a contribuição que queria dar. o livro SANTA CRUZ E O JORNAL DO POVO está aí. no Brasil. Luiz Hugo deu mil exemplos aqui. mas passa a apoiá-la. são demitidos. 5º participante: Maria do Socorro Xavier: Quero parabenizar a exposição de Fátima. É o caso do conteúdo do jornal A UNIÃO. acabando com os donos das usinas. Estão sendo podados. são ameaçados. que resgata muito bem a Imprensa na Paraíba. Santa Rita. não entre as empresas jornalísticas. De 1935 a 40 vamos ter o governo de Argemiro de Figueiredo e dentro desse período vamos ter a intentona comunista. Nós tínhamos vários municípios onde foram fundados núcleos da AIB. Protesto organizado não há. O protesto de todos os jornalistas. Vão perder o emprego. não tão velado.Geografia e História da PB 236 derrubadas lideradas por São Paulo. Luiz Hugo. que foi um dos presidentes que demorou mais tempo no comando da ABI. mas havia momentos em que ele resistia e dava pronunciamentos fortes. E aqui na Paraíba há uma espécie de farsa para se fazer um movimento no sentido de que aqui também havia muitas células participativas do movimento. Muitas vezes um protesto aberto. Tudo isso é uma maneira de protestar. Os jornalistas são chamados a atenção. existirá sempre. que também tem muita coisa sobre a Imprensa. tem sua importância. isso não houve. Virgínio Veloso Borges. inclusive Pirpirituba. Um protesto organizado. O protesto existe. inclusive o Presidente de Honra foi o Dr. não podem nem falar. Mas isso precisa ser muito trabalhado. assim como uma passeata. Até a entrada do Brasil na guerra. tomando a palavra: A Associação competente. E a imprensa publica trabalhos enaltecendo o bloco que está no poder. mostrando a maneira de questionar. Campina Grande. as pessoas são presas. A UNIÃO. de Tancredo de Carvalho. Estão atrelados ao poder. são torturadas. Movimento. Houve um comício muito grande na praça de Santa Rita. Existe ideologia. tentando falar mais. dono da fábrica. É uma das lacunas existente na História da Paraíba. porque era o confronto entre os aliancistas e os perrepistas. Depois a história mostra que era mais uma farsa. nem pensar. que é a Associação Brasileira de Imprensa. de Bôttto de Menezes. o jornal muda de posição. órgão do governo. Há um inquérito. tentando escrever mais. mas o livro dela. vamos ver que a situação muda. algo formalizado. Há até um trabalho biográfico dele em que ele mostra toda a trajetória e o trabalho MINHA TERRA. nem espernear. e brigava como ele tinha acesso às . mas por trás estão protestando. Há muita coisa rica tanto em A UNIÃO como no jornal A IMPRENSA e jornais como BRASIL NOVO. Uma greve. A UNIÃO. Os jornalistas vivem sempre forjando. não só sua palestra. Dr. porque se não questionar será pior. vão tentando. Existiam colunas de propaganda totalmente declarada pelo integralismo no jornal A IMPRENSA. porque agora o governo provisório está apoiando. À medida que o Brasil entra na guerra. A UNIÃO passa. Neste momento a imprensa publica os relatórios do delegado de polícia da capital. Uma vez ou outra eles são podados. é perene. em nível específico sobre o papel da Imprensa no Estado Novo. Fátima Araújo: Não. não houve. É um jornal que fala no perigo vermelho toda hora. segue a linha de Getúlio Vargas. Existe no dia-a-dia nas empresas jornalísticas. Herbert Moses. que era um órgão de propaganda clara pró-integralismo. era sempre ligado ou amigo dos governantes. Gostaria de perguntar a Fátima Araújo se na Imprensa paraibana não houve um movimento no seio do próprio jornalismo para que essa liberdade de imprensa se concretizasse ou pelo menos um protesto contra a castração da liberdade de expressão plena nos periódicos paraibanos. que vai se ombrear ao lado da União Soviética. O núcleo de Santa Rita chegou a juntar 150 pessoas associadas. Manoel Veloso Borges foi escolhido como orador. como a A IMPRENSA. não a combater a reconstitucionalização do país. no caso era Praxedes Pitanga. Nós aqui que fazemos as pesquisas vamos mostrando isso. no Diário de Pernambuco. Mas.. Dizem que o diabo é temível. a poucos metros da casa onde nasci. Do ponto de vista histórico. nesta reunião. Monsenhor Eurivaldo Tavares. quem dominou durante muito tempo a Associação Paraibana de Imprensa – API.Geografia e História da PB 237 autoridades. Na Paraíba. nos velhos jornais centenários. também presidente da Associação Brasileira de Imprensa. Perdi a oportunidade e me frustro por isso de deixar de ouvir Fátima Araújo. Eurípedes era pai do sócio deste Instituto. apoiou grande parte das suas conclusões sociológicas nos anúncios de jornais. Dr. Vim para agitar um pouco. Tive um compromisso a que não pude faltar. mas pediu demissão do cargo de Diretor. subordinado. Até porque eu acho que esses Seminários só valem na medida em que provocam agitação. acumulou muita vivência. Mas quando acontecia um caso com um jornalista. tudo isso foi um material muito importante usado por Gilberto Freyre. A imprensa geralmente tem uma significação muito grande para o historiador. Não apenas o historiador. no o intuito de contribuir um pouco para se ver o papel desenvolvido pela imprensa neste século. 6º participante: Odilon Ribeiro Coutinho. que foi mais de 30 anos Secretário do Tribunal de Justiça e eu sou seu conterrâneo estrito. Não tive a sorte de chegar aqui a tempo de ouvir a palestra de Fátima Araújo. foi o jornalista José Leal. não por ser diabo. Dispensou-os. As posições de José Leal eram de centro-direita. fazendo chamamentos. anúncios de partidos que adotavam certas decisões e que refletiam nos jornais as decisões tomadas. nomeou Ascendino Leite para diretor de A UNIÃO. foi de um grupo ideológico. que era Secretário do Interior. Porque já viu muita coisa. Mas gostaria de dar um pequeno depoimento a respeito da história da Imprensa na Paraíba. José Leal deixou a direção de A UNIÃO quando um erro de revisão envolveu o nome da mulher de Ruy Carneiro e recebeu ordem para demitir todos os revisores do turno. por exemplo. a partir do último terço da segunda metade. não uma independência total. já que estamos comemorando no programa deste Instituto Histórico os 500 anos do Brasil. eu vim para confundir. Foi justamente quando Samuel Duarte. e chegou a pertencer à Esquerda Democrática. aprendeu muita coisa. que tem realizado um trabalho notável. Na segunda metade do século. Anúncios de escravos fugidos. a API andou convocando reuniões. Ele tinha certa independência. A imprensa na Paraíba surgiu nos fins do século passado e teve uma grande atuação no começo deste século. um debate e até paixão. e sou testemunha de quanto ele defendia o jornalista. pois a metade já estava presa e o resto estava no meio do mundo. membro do Conselho Estadual de Cultura: Como Cristo. nosso consócio. José Antônio Gonçalves escreveu um trabalho sobre o Diário de Pernambuco e a história pernambucana. quando ele foi presidente. Há posições interessantes dele. o antropólogo vão buscar na Imprensa elementos que atendem à sua pesquisa e permitem chegar a conclusões nas suas respectivas áreas da maior expressão e da maior significação. E é isso que quero trazer aqui. porque ele nasceu no Engenho Central. que é um trabalho modelar. ele defendia com unhas e dentes a situação do companheiro. falava diretamente com os governantes. E aqui está uma especialista que não me deixa mentir. quando Adalberto Barreto era presidente. que é o mais antigo jornal da América Latina e de outros jornais do Império. não foi propriamente a posição da Associação. anúncios de comportamentos políticos. mas por ser velho. Durante quatro anos fui secretário da API. prestou-se uma homenagem ao Dr. Em 1964. mas levava seus protestos aos governantes. mesmo que ele fosse comunista. Gilberto Freyre. um liberal. sem independência e sem personalidade. inclusive tem se arrimado em pesquisas feitas na imprensa. . como de Barbosa Lima Sobrinho. tenho a impressão que o papel da imprensa foi um papel dócil. mas não tinha como. Eurípedes Tavares. muita experiência. Era intransigente na defesa do jornalista. mas o sociólogo. No tempo. A UNIÃO não tem mais a significação. E era um tempo muito mais romântico. o que retira de A UNIÃO e retira dos jornais atuais qualquer sentido de autenticidade histórica que permita ao historiador fazer a sua navegação com segurança. Do ponto de vista histórico. Logo depois da República. foi A UNIÃO. No Rio Grande do Norte houve um grande jornal em que Luís da Câmara Cascudo colaborou intensamente. mas uma coisa muito incipiente. Se pegarmos os jornais de dez anos atrás não vamos chegar a um resultado histórico válido. a expressão de antigamente e os jornais existentes. que tinha coragem e bravura cívica admiráveis. A UNIÃO sempre expressa o ponto de vista do Governo com um sectarismo exemplar. De modo que hoje é muito difícil você chegar a algum resultado histórico válido se você se submete à leitura dos jornais. Temos A UNIÃO. que a meu ver não consegue a eficiência que tinha antigamente. E aí o historiador poderia navegar. É uma coisa que desfalca o jornalismo brasileiro de talentos vigorosos. Nas primeiras décadas do século havia um jornalismo de oposição que permitia estabelecer o equilíbrio entre as opiniões da situação e as da oposição. 7º participante: Joacil de Britto Pereira: . No começo do século nós tivemos jornais de oposição que tinham um admirável espírito de independência. inclusive na formação da mentalidade jornalística da Paraíba. A imprensa está degradada. se portam como empresas. Isso tudo desapareceu. A UNIÃO ficava sempre a serviço dos governos. das represálias violentas e até do empastelamento do jornal. Uma coisa interessante é que os governos estaduais tinham os seus jornais logo depois da República. A UNIÃO foi uma grande formadora de jornalistas. Por isso mesmo. A imprensa de oposição é que permite fazer o equilíbrio entre as opiniões governamentais. No seu tempo A UNIÃO teve um papel importantíssimo. como costumo chamar – que orientou a mídia na Paraíba. porque os jornais. se porventura acolhesse algumas opiniões ou movimentos de oposição. Foi realmente o órgão universitário de que nós dispúnhamos para a formação do pessoal dedicado ao jornalismo. isso tudo está completamente abafado. inclusive da prisão. já naquele tempo se subordinavam aos interesses imediatistas e faziam o jogo empresarial de quem pagasse mais. Nas primeiras décadas deste século havia uma aguerrida imprensa de oposição. De modo que se fizermos um balanço da imprensa neste século o balanço terá de ser negativo. todos os riscos. E vivemos hoje melancolicamente um tempo de degradação. como até hoje. ele expressaria a verdade histórica da época. o depoimento de A UNIÃO é um depoimento suspeito porque foi um jornal sempre atrelado aos interesses do poder. estão a serviço de quem pagar mais. Eu duvido muito da formação universitária dos jornalistas e acho que é uma forma de corporativismo. arrostando. um jornal a serviço da propaganda do governo e que está sempre a serviço de interesses grupais. Mesmo que não tivesse sido imparcial. muito mais objetivo e muito mais verdade do que o de hoje. A UNIÃO é o único jornal oficial que ainda sobrevive. todos eles. de um Carlos Dias Fernandes. na formação de pessoal. é um jornal de significação histórica relativa porque apenas reflete o ponto de vista de um dos lados. Hoje acho que a imprensa está totalmente degradada. Mas a A UNIÃO é um jornal sectário. Depois houve uma degradação. Ainda hoje eu imagino que a verdadeira Faculdade de Jornalismo na Paraíba é A UNIÃO. desde os fins do século passado. por exemplo. A REPÚBLICA durou até poucos anos atrás. Era uma navegação que se fazia através de escolhos. os jornalistas. Não foi um jornal imparcial. que a manteve durante décadas. que foi A REPÚBLICA. Não temos mais aqueles românticos jornais do começo do século que se atiravam contra o chamado poder constituído com uma valentia admirável e desinteressada. Mas o jornal – a nau capitânea. depois foi fechada pelo próprio governo do Rio Grande do Norte. Hoje.Geografia e História da PB 238 No fim do século passado tivemos uma imprensa aguerrida. Hoje o homem que tem a vocação se não passar pela Universidade não tem acesso às redações. quando José Américo era o nosso emblema maior de grande líder nacional. e parente bem próximo de José Leal. embora sobranceira. do jornalista e das empresas jornalísticas. Foram grandes intérpretes das aspirações e das inspirações populares de uma Paraíba brava e rebelde. convido nosso consócio Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares. que também teve uma atitude de coragem. levando as multidões ovacionando para aplaudi-lo sempre. se fala sobre a Imprensa na Paraíba. não tenham dúvida. da ilustre confreira Fátima Araújo. que dirigia O COMÉRCIO. mas continua vinculado. 13º Tema A IGREJA NA PARAÍBA Expositor: Manuel Batista de Medeiros Debatedor: Eurivaldo Caldas Tavares A fala do Presidente: Formarei a mesa dos trabalhos convidando o professor Manuel Batista de Medeiros. Esses homens devem merecer a nossa homenagem no dia em que. mas gostaria de prestar aqui uma homenagem muito significativa por si mesma. E para coroar a palestra da nossa confreira Fátima Araújo. uma contribuição à historiografia paraibana. A Gama e Melo. Não vou debater propriamente. que são altamente qualificadas para nos trazer informes sobre a importância da Igreja na Paraíba. quem vêm trazer seu contributo a este nosso debate que fará. Nós faremos. (muitas palmas) ••• A fala do Presidente: Vou confessar a vocês que estava protelando o encerramento do debate. sem dúvida. Ainda a Antônio Bôtto de Menezes. O Instituto Histórico está cada vez mais agradecido pela presença de vocês. que será o debatedor. da mulher que sabe dizer as coisas bem devagarzinho. neste Instituto. por sua coragem e pelo seu destemor. Como adendo. O Instituto tem a felicidade de possuir no seu quadro duas figuras destacadas. Também a Artur Aquiles. pedindo a atenção e o apoio de todos os presentes. os ANAIS destes debates e daremos. informo que representei o Instituto Histórico na homenagem prestada ao pai do nosso caro confrade Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares. com que coragem paraibana ele se portou. o acadêmico Joacil de Britto Pereira. O tema de hoje é A IGREJA NA PARAÍBA. Está encerrada a sessão. esses problemas do jornalismo. Fátima Araújo disse com a serenidade da jornalista. o único político que se elegeu só pela capital. Ainda a José Leal. . com que patriotismo. em linhas gerais. Foi ele que aqui fundou a Esquerda Democrática e o Partido Socialista Brasileiro. diretor de O COMBATE. o que quer dizer a importância da Igreja na História do Brasil. uma que pertence ao clero atuante e outra que pertenceu. mas sempre permanente. que era como um braço de mar bravio na oposição que desencadeava contra o poder constituído de então e fazia a maré cheia e a maré vazante. Esta é a homenagem quero prestar neste momento. presidente da Academia Paraibana de Letras. aos jornalistas corajosos de antanho. não vou contestar. não por minhas palavras. justamente aguardando Joacil Pereira e Odilon Ribeiro Coutinho. Ela contou aqui. arrostando contra o poder e contra seus próprios parentes. na história deste Instituto um dos seus pontos marcantes. com isso. pelo mesmo motivo já apresentado na justificação de Odilon Ribeiro Coutinho. e com que bravura cívica.Geografia e História da PB 239 Também não tive a satisfação de ouvir a exposição. que pagou caro com o empastelamento do seu jornal diante da intolerância do poder. nosso associado e expositor de hoje. tudo isso que vocês disseram com tanta eloqüência e com vibração. Agradeço a presença de todos. que fundou A REPÚBLICA para combater a oligarquia de Álvaro Machado. que creio tenha sido brilhante. Presidente. . endereçada aos índios da América. é bacharel em Línguas Latinas. membro da Academia Paraibana de Letras. e eu chamo também da invasão. uma frase do jesuíta padre Manoel da Nóbrega: “Essa terra é a nossa empresa”. e que é irrito. também chamada de Santa Cruz. é jornalista. Bula Sublimes Deus. que é uma pessoa bastante qualificada para este mister. Sr. debruçando-se sobre si mesma. enquanto que se o Conselho Estadual de Cultura sabe que o Brasil está a poucos meses de fazer seus 500 anos. em Filosofia. eu ignoro se ele sabe. agradeço as palavras do nosso Presidente e se eu fosse a metade do que ele disse. foi membro do Conselho Universitário da UFPB. da qual foi presidente por dois mandatos. possuir e gozar livremente esta liberdade e não devem ser reduzidos à escravidão. Direito Canônico no Seminário Maior da nossa Arquidiocese. que muitos confundem com o início do terceiro milênio. bacharel em Línguas Latinas e Direito. já se criou. se propôs ainda celebrar o meio milênio da História do Brasil. jornalista). Antes de fazer a minha falação. Português. fundador e professor da UNIPÊ. Inicialmente. são dotados de liberdade e não devem ser privados dela nem do domínio de suas coisas e ainda mais que podem usar. se souberem me digam para não fazer acusação indevida. nulo e de nenhum valor tudo quando se fizer. do Papa Paulo III. ex-sacerdote. enquanto da parte do Estado e da Prefeitura da capital o que se ouvem são discussões sobre quem realizará o pior reveillon do ano 2000.Geografia e História da PB 240 Será expositor do tema nosso companheiro Manuel Batista de Medeiros. escritor. Análise e não história. tem mestrado em Educação. Seu currículo é imenso. esta é magnífica oportunidade. Comissão para efetuar as comemorações do próximo reveillon. embora se encontrem fora da fé de Cristo. de a pátria. nenhum órgão oficial. sinto que o plenário está ansioso para ouvi-lo. em qualquer tempo. de outra forma. com nossa autoridade apostólica. da posse. também. fundador e primeiro reitor da UNIPÊ. Louvo a feliz iniciativa da nossa Casa em promover comemorações da passagem da Paraíba nos 500 anos de Brasil. que os referidos índios e todos os demais povos que daqui por diante venham ao conhecimento dos cristãos. (palmas) 2. Tem aqui. política. Nosso expositor é bacharel em muitas coisas. foi diretor do jornal católico A IMPRENSA. fazer oportuna análise sobre o que foi. gostaria de ler um trecho da bula Sublimes Deus. Passo a palavra ao professor Manuel Batista de Medeiros. Sr. da terra brasílica. Diante dessa apresentação. em Ciências Jurídicas e Sociais. Entretanto. com muita austeridade. 1537”. Mestre em Educação e Filosofia. cultural e religiosa sobre nossas raízes e o nosso caminhar nestes 500 anos de História do Brasil. eu parabenizo nosso Presidente pela iniciativa de realizar essas comemorações. Bula dirigida aos cristãos das Índias Ocidentais. também foi professor de Latim. o que é e sobre o que pretende ser. 1. onde foi ordenado padre em 1950. Pertenceu ao Seminário Diocesano da Paraíba. Presidente. eu estaria muito satisfeito. História Eclesiástica Primitiva. que eu saiba. foi professor de Latim no Liceu Paraibano e de Literatura Portuguesa na Universidade Federal da Paraíba e é professor de Direito Civil na UNIPÊ. histórica. Diz o Papa: “Pelas presentes letras decretamos e declaramos. Introdução. Em Portugal já faz dez anos que se estudam os eventos históricos do 500º aniversário do descobrimento. Quando vejo que só esta Casa realiza aquilo que outros deviam cumprir. ex-presidente da Academia Paraibana de Letras. Parabéns. Expositor: Manuel Batista de Medeiros (Sócio do Instituto. Papa Paulo III. Este é um precioso momento de reflexão antropológica. os médicos gostam muito de história e fazem uma referência curiosa dizendo que a ilha do Brasil está lá. O rei português D. com Francisco Lima. Na carta de Caminha (essa carta de Caminha é muito curiosa. do que a Igreja fez desde aquele século que Taine chamou de o maior século da História. (palmas) Entendo ser muito mais lucrativo. nomes. desde o ponto de vista científico. porque ele descreve os índios. meus senhores. Demora e fica explicando. que outros. el-rei é tão bom que se plantando qualquer coisa dá” (com três dias não dava para saber que plantando dava).. Vieram tomar posse daquilo que já sabiam que existia. termina: “Vossa Alteza fará mercê se mandar buscar Osório. Desde ali que o serviço público começa a fazer os “arrumadinhos”. depois de descrever a primeira missa cantada (e nesta missa não estava só o frei Henrique. etc. Aliás. uma livre análise antropológica.. Então a carta oficial ao rei vem com isso. ficar coactado ao dogmatismo de sua religião. à sua própria conceituação ideológica. ao reducionismo ideológico. só para citar os mais aproximados de nós? Tudo que vou afirmar sobre a história da eclesiologia católica brasileira deve ser aplicado ao ângulo da História da Igreja na Paraíba. de outra parte. . no que diz respeito aos 400 anos de história religiosa da Paraíba. e tal e tal. havia uns oito padres e frades. Até acho ingenuidade se afirmar que a História da Paraíba se reduz ao evento policialesco de 1930. fatos. filosófica ou mesmo religiosa. frases de Bispos. evito. depois de descrever a primeira missa cantada sob o pálio da Ordem de Cristo e à sombra da cruz sobre a qual estavam as armas do rei. o escrivão oficial da armada afirma sobre a terra brasileira e seus índios: “contudo o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. necessariamente. Uma carta dos médicos. tentar repetir aqui datas. padres de São Pedro). neste momento. como se não houvesse descoberta nenhuma. que em lugar de meros exercícios repetitivos de datas.. oração que leva o título HISTÓRIA DESNUDA.Geografia e História da PB 241 No meu discurso de posse na cadeira que aqui tem como patrono um grande historiador eclesiástico da Paraíba e do Rio Grande do Norte. inclusive um que ia ser vigário em Calicut e mais uns seis ou oito seculares. veja o “arrumadinho” do serviço público. que é muito curiosa. A Igreja e o Padroado Luso-brasileiro. com Francisco Severiano e outros. Tomé”. nus. João III escreveu ao Governador Geral do Brasil: a principal causa que me levou a povoar o Brasil foi que a gente do Brasil se convertesse à nossa Santa Fé Católica. Monsenhor Eurivaldo. Poderia me comparar com Wilson Seixas. Eu pensava até que era o século de Péricles. levantei ali a tese de que o historiador não pode e não deve reduzir o fenômeno social ou os fatos históricos sobre que trabalha. Creio que a nossa pequena Paraíba é muito rica culturalmente falando e que tal riqueza precisa ser explorada sobre todos os ângulos. com muito mais competência do que eu. É o que agora não faço. com Maximiano Machado. que está na Ilha de S. por mais singela que seja. Monsenhor Francisco Severiano. Na carta de Caminha. 3. merece um estudo nosso. E no final. de caso pensado. Paraíba é Paraíba e é muito mais do que 1930. Essa carta. é um pedaço deste Brasil. Por outras palavras. conforme Marcus Odilon. Esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. A Paraíba. nem o Bispo de Lisboa. espécie de ensaio que enfocou a Filosofia da História. Como. de Abades.” (Será que salvaram?). aqui. que começa desde aquele tempo. mas quando é para descrever as índias ele faz uma descrição que nem a Revista PLAYBOY. há duas cartas. fujo. meu genro. quero afirmar claramente que quem tratar de um fato histórico de natureza sociológica católica não deve. nomes e fatos. não é o Papa. É o rei quem está dizendo. Assim. etc. mas Taine acha que o maior século da História foi o 1500. o século V antes de Cristo. se tente. já fizeram e podem fazer. E tanto é verdade que a carta de Caminha diz: “Olhe. sem a qual não se escreve a História do Brasil e nem da política e nem da cultura e nem da arte. Há duas coisas que quero chamar a atenção sobre a safadezinha do português. e sobretudo as fronteiras da fé. e não sei se imitando também um pouquinho Homero. daquele pessoal que foi para a África. Deus sabe como e quantas almas foram salvas. que vou repetir aqui. O que chamo a atenção é que o poeta situa a grande empresa como dilatar as fronteiras do império. Ele diz: As armas e barões (barões é varão) assinalados. que era tão grande. ao mesmo tempo. Conclusão: a Fé e o Império andam casados. Mas. Basta lembrar que os primeiros carmelitas e beneditinos que vieram para o Brasil se destinavam à Paraíba. o que interessa aqui é comentar o texto da estrofe: As armas e os barões assinalados Que da praia ocidental lusitana Por mares nunca navegados Passaram ainda além da Probana E em perigos de guerras esforçados Mais do que prometia a força humana Entre gente remota edificaram Novos reinos que tanto sublimaram E também as memórias gloriosas Daqueles reis que foram dilatando A fé e o império e as terras viciosas De África e Ásia andaram devastando E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da morte se libertando Cantando espalharei por toda parte Se tanto me ajudarem engenho e arte. com as mesmas palavras. aqui chegara e na primeira hora. na Ásia e na Oceania. Piragibe. o guerreiro e o estadista. franciscano e beneditinos). O Cristianismo era um apoio político para alargar o império. Há mesmo quem afirme que Piragibe salvou a conquista da nossa terra (e a gente sabe que Portugal e Espanha lutaram quase dez anos e não passaram de Goiana. Está dito que . mesmo na epopéia da conquista da Paraíba. como a Igreja.Geografia e História da PB 242 Estamos vendo que o enfoque da missão era político. cujo nome acho que devia ser dado a essa cidade e não outro. dobrou o Cabo. etc. aumentar a fé salvando as almas. Veja que importância Portugal deu ao Brasil. dizendo que a meta dos feitos portugueses tinha por objetivo dilatar o império. através das grandes Ordens Religiosas (os jesuítas. os carmelitas. A história registra. Dilatar o império religioso. Aquilo mesmo que Virgílio já tinha dito. Camões começa imitando Virgílio. Camões. dilatar as fronteiras do grande império sobretudo na África. Com a catequese do aldeamento ajudou a dilatar o império na Paraíba. Quando Camões escreveu a grande obra o Brasil já estava descoberto e ele não ia cantar a epopéia da América e sim os feitos de Gama. Mas Camões começa aquelas duas primeiras estrofes. Percebe-se dos textos citados que a conquista da terra da gente brasileira obedeceu a um desígnio político da corte lusa. Mas. o imortal poeta de OS LUSÍADAS. faz pequena referência ao Brasil lá na frente do cântico X e noutro lugar parece que fala em Terra de Santa Cruz. percebe-se o pouco caso que se dava à descoberta recente. ou quando passavam voltavam correndo) só botaram o pé aqui depois que Piragibe. que almejava. o outro proibiu o paganismo. Eu tenho dinheiro e dou uma importância para que se erija uma capelinha e se nomeie um cura e eu fico mantendo. Jesus recomenda a Pedro que não confunda o Reino de Deus com o Reino do Mundo. mas reza a história paralela que só se batizou velho. proibiu o paganismo. o mundo grego e lá vai para Roma. na Terra Santa. Mas em que consiste o padroado? Padroado é como se fosse um instituto jurídico das fundações. Mas. Deu o primeiro dinheiro e aí começou a se fazer. por que ela se sentiu livre. em 313. Aí era a Igreja de Cristo. O reino não é deste mundo.Geografia e História da PB 243 Piragibe teria sido batizado antes de se apresentar a Olinda. com o Papa e os Bispos à frente. com o poder temporal. com a denominação de dízimo. Foi um grande erro. Constantino decreta um Edito. Para mim o maior benfeitor do cristianismo não foi Constantino. porque este. que se esquecera da severa advertência de Cristo de que não se deve confundir o Reino de Deus com o Reino de César. chamado também o Bispo de fora. um casal. Pedro”. O primeiro colégio jesuíta aqui na Paraíba foi dado por uma família. na Paraíba. Pelo nome de Grão Mestre é dado ao rei. Constantino tinha tanto poder diante da Igreja é era chamado o 13º apóstolo. defesa das pias obras. A igreja católica no Brasil. paganizou-se. Isso durou até a República. Um permitiu o cristianismo. dos Templários e não sei se a Maçonaria não passa por aí. só que meu reino não é deste mundo”. A mãe era uma santa. andava em cima de uma sede gestatória. Bispos. Até pouco tempo a gente via o Papa com três coroas de rei na cabeça. Essa Ordem Militar de Cristo é um resquício das Ordens da Idade Média. foi Teodósio. quando perguntou: – “Você é rei?” Cristo respondeu: “Sim. porque havia os Bispos de dentro da Igreja. já era batizado por um jesuíta. porém. propagação. não esquecer que esse interesse da coroa portuguesa em propagar a fé nas plagas brasileiras tinha um suporte logístico no chamado Instituto do Padroado. Pilatos fez duas perguntas a Cristo. para fazer a intermediação diplomática. dá a vitória da Igreja sobre o paganismo. além de dar proteção à Igreja. E aí a Igreja se mistura com o poder secular. dando liberdade aos cristãos. etc. Constantino se diz o primeiro imperador cristão. dizendo: “meu Reino não é deste mundo. Lá vai para Bizâncio. mas se transformou no reino de César. Paulo conquista a Ásia. que certamente foi uma herança maldita que caiu sobre a cátedra de Pedro. Então Constantino se fez cristão e permitiu que os cristãos professassem a sua fé. que durou até o Vaticano II. Lá no drama da paixão Pedro puxa uma peixeira (no Evangelho fala em espada. porque que o batismo apaga todos os pecados e ele queria pecar a vida toda para se batizar no fim. laicizou-se. mas Pedro era pescador. . escravizou-se. – Que é a verdade? Cristo não deu resposta. isso alguém fez. Havia esses dois governos. vem a diáspora. Santa Helena. era o rei do Brasil (Reino Unido) e era o Imperador do Brasil. a quem a Igreja deve lhe muito. vale a pena fazer a pesquisa. uma de ordem política e outra de ordem filosófica. Pois bem. para a proteção. Com o tempo se conquista o mundo. porque a Igreja mundanizou-se. decerto era uma peixeira) e Cristo pede para Pedro guardá-la. Sem deixar de dizer que era rei. Se é verdade. tinha dois governos. que também era o Grão Mestre da Ordem Militar de Cristo. É bom. com os reis de Portugal e depois do Brasil. portanto. mas ele confirma que era rei diante de Pilatos. mas foi um grande benefício para a Igreja. Mas ele era quem convocava e presidia os Concílios. em Milão. Isso foi bom ou mau? O Edito de Milão. o Grande. no seu comando. e outro imperial. Foi um Deus nos acuda. Um canônico. nomeava os Patriarcas. Quem comandava a Igreja era o rei de Portugal. quando houve a separação da Igreja do Estado. Por que essa referência? Por que enquanto rei era Grão Mestre? Porque enquanto rei Grão Mestre ele era uma espécie de Ministro das Finanças de tudo que se arrecadava em nome da Igreja. simultâneos. Dogmaticamente ele estava correto. aldeamento. Todos localizados um perto do outro. Por isso a gente vê a expulsão de jesuítas. depois da recuperação? Vale a pena como passeio e visita cultural. O padroado foi a grande fonte de malefícios para o Brasil e a Paraíba. D. quem fez foram os jesuítas nos colégios. O padroado tinha sido conferido ao Imperador do Brasil em 27 pela Bula Preclara Portugalia. o que teria sido das populações? Era o rei? O rei nada fez. cuja resposta deixo a critério de cada um. Quero concluir fazendo algumas indagações. O Imperador zangou-se e mandou destelhar o convento. Porque tivemos cinco grandes conventos e até geograficamente a gente vê. onde só havia maloca de índio. Essa cristianização tinha que respeitar as características da cultura. embora se tenha estendido do Brasil Colonial ao Brasil Império. sendo os mais sérios aqueles citados na Regência de Feijó. concorrendo materialmente para a manutenção desses benefícios. Passaram-se três anos sem sair o Papa. A educação. por todas as nossas nobres Ordens Religiosas. deformaram muita coisa. É admirável como dentro daquela mata. mas se fez alguma coisa. Cabia aos reis do Brasil conservar e propagar a fé. No início a intenção do padroado era piedosa. No outro dia saiu o Papa. Quanto se perdeu? Não foi só uma igreja ou duas. Quando entrei no Seminário para estudar. a meu ver. porque havia culturas que deviam ser respeitadas. Aí a gente pergunta: sem as Ordens Religiosas na Paraíba teríamos o acervo cultural que temos? Sem a assistência médica das Santas Casas. A catequese dos índios foi feita. em 30. Por que eles faziam isso? Porque eles tinham o poder de fazer. os escravos). a cidade tinha 10 mil almas. e no Brasil. desapareceu com a República através do decreto de 7 de janeiro de 1890. que concedeu este título ao chefe do governo imperial. Há até um caso curioso numa eleição de Papa. É curioso como uma cidade tão pequena. Houve quem construísse de uma maneira que a gente lamenta. O padroado. mas civilmente estava errado. Capistrano disse que não se pode escrever a História do Brasil sem se escrever a História dos Jesuítas. Na Paraíba há uma coisa curiosa. toma conta da cristandade e o Papa sagra o Imperador e o Imperador renomeia o Papa. Sei que melhor fazer isso do que não ter feito nada. Não só os jesuítas. . O Bispo estava desobedecendo a uma lei civil que existia e à qual ele estava submetido. num convento perto de Roma. Dois chefes de poderes desmancharam igrejas para fazerem palácios. Vital e Macedo Costa? Porque eles tinham poder. consiste na outorga a certas pessoas do direito de apresentar e nomear plebes ou bispos para cargos eclesiásticos. da palavra latina patronatus. Esses monarcas tinham o poder de proibir a criação de igrejas e conventos. Por que eles prendem os bispos da Paraíba. O Imperador mandou os cardeais elegerem o Papa. D.Geografia e História da PB 244 Havia essa maneira de se doar algo para que o benefício fosse criado. Isso em nível de Igreja Universal e de Império. que queria criar uma Igreja Nacional e sobretudo na chamada Questão Religiosa. Adauto e outro. E as outras estão caindo aí sem nenhuma proteção. Vocês já foram à igreja da Nossa Senhora da Guia. com Carlos Magno. Logo depois o Sacro Império. Entre os séculos XIV e XV a Igreja concedeu aos reis o direito de exercer o padroado nas terras descobertas e a descobrir. mas não se vê nada feito com respeito aos negros. com cinco conventos. Mas o aculturamento que se fez para se cristianizar estas massas. Diante desses fatos que permeiam a catequese dos índios e nada se fez pelos escravos (é curioso como os jesuítas brigaram e fizeram muito bem pelos índios. vi uma escadaria que subia do claustro para o primeiro andar feita com taboas do forro da igreja. Graves problemas surgiram entre a Igreja e o Império. depois da qual desapareceu o trono e sobrou o altar. Não sabemos o que teria sido do Brasil sem as Ordens Religiosas dos jesuítas. Nós podemos criticar a metodologia da catequese aqui na Paraíba. Pelo Papa espanhol Alexandre VI foi dado o tal direito aos reis espanhóis sobre a América. que oficialmente entra em vigor em 1270. os carmelitas criaram uma obra de arte como aquela. da saúde e da organização social dos índios. e não só na Paraíba e no Brasil. estavam a serviço da autêntica cristandade. a Igreja ou o Reino? Quem teve razão na questão religiosa? O Bispo paraibano ou o Império? (o Império era o padroado). Quem saiu ganhando na República com a separação da Igreja do poder civil? Qual a contribuição da Igreja na formação dos homens de Estado da Paraíba? Quantas personalidades passaram por uma formação religiosa específica? Governadores. também. senadores. e hoje cuida dos sem terra? Para a cultura e as artes da Paraíba teria sido melhor a ausência da Igreja? A respeito conheço a opinião de Roger Bastide: O mais puro barroco do Brasil se chama a Igreja de S. por um lado. O que seria melhor? Haver padroado. deviam ser sempre escravos dos brancos? O que se deveu aos jesuítas e ao Marquês de Pombal na formação do homo paraibenses? Deve-se alguma coisa ao Marquês de Pombal ou se deve às Ordens Religiosas? A igreja católica do século XX tem um saldo positivo ou negativo em favor do povo de Deus? É só. por outro trouxe alguns malefícios para sua própria organização. Ficamos esclarecidos sobre o papel do padroado. quando as fazendas eram fundadas com frades? Quem saiu ganhando nessas lutas. presidentes. O expositor criou as condições para podermos conhecer a Igreja. a exposição do professor Manuel Batista de Medeiros trouxe-nos muita luz sobre a participação da Igreja na Paraíba. ou porque eles eram remunerados pelo dízimo do padroado? A cultura dos índios e dos negros foi preservada pelo projeto da pedagogia da conquista? Sem a presença da Igreja. ··· A fala do Presidente: Como prevíamos. que segundo um Bispo.Geografia e História da PB 245 A verdadeira semente do Reino de Deus foi plantada no Reino de Portugal. deu-nos uma visão da ação da Igreja no mundo. conforme confessa o expositor. etc. mas. além das novidades que trouxe . Qual o lado positivo do Quebra-Quilos? Foi uma revolução política ou religiosa? Como se comportou a Igreja na Inquisição da Paraíba? Por que a Igreja não cuidou dos negros como cuidou dos índios. com o que nos facilitou entendêla na sua atuação nestas plagas. o Reino de Portugal e depois o Império do Brasil teriam cuidado da educação. reitores. dos escravos e dos proletários dos campos e das cidades? Quem saiu ganhando nas lutas da conquista do interior paraibano. ou não ter havido padroado? Quem ajudou mais a Paraíba? Foi o índio catequizado nos aldeamentos ou os negros. permitiu a expansão da Igreja. um instituto que se. para entender a Igreja na sua atuação secular. A exposição do professor Manuel Batista de Medeiros teve. A importância da catequese dos nossos tabajara e potiguara foi ressaltada nos seus limites. Francisco. ou o Evangelho serviu mais à corte do que à conquista das almas? Os frades trabalhavam pela conquista das almas. donde se afastou. mas é um homem que interpreta não só a História da Igreja. Fiz um trabalho pequeno. São 50 anos de sacerdócio. referindo-nos ao nosso Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. que enfadonhamente citam datas. vamos ter uma noção da parte propriamente ligada à Paraíba. a História do Brasil. Lerei para os senhores o trabalho que preparei para este ciclo. Na sua atividade religiosa foi capelão de várias instituições tais como o Colégio Diocesano Pio XI. O que nós temos de bom aqui é o nosso Presidente. a ela ligados. Penitenciária Modelo. tivemos oportunidade de. na verdade. Monsenhor Tibúrcio. onde diariamente celebra a Santa Missa. . major-capelão reformado da Polícia Militar. ··· Debatedor: Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares (Sócio do Instituto e da Academia Paraibana de Letras. O professor Batista demonstrou que não é apenas um historiador no sentido de colecionar datas históricas. da tribuna desta Casa. Assim.Geografia e História da PB 246 a público. quando notar que o trabalho estiver muito pesadão solte uma das suas para ver se o plenário agüenta. Monsenhor Eurivaldo. Ele próprio disse que ia seguir uma linha diferente da que comumente fazem os historiadores. a vida e os feitos de quantos. No cumprimento de tão nobres e elevadas tarefas. com a sua verve sempre atual e que. Isto é um pretexto para pedir perdão pelo modesto trabalho. Foi também capelão interino do I Grupamento de Engenharia e Construção e da Polícia Militar da Paraíba. tornou-se. há algum tempo. já deu a lição verdadeira abordando o assunto que está sendo hoje estudado neste Ciclo de Debates dedicado aos 500 anos do Brasil. Publicou várias obras de valor histórico sobre a Igreja e perfis biográficos sobre as figuras mais importantes da nossa Igreja. Então. quando a sessão está cansativa e ele diz uma das boas e a turma acorda. porque os companheiros sabem que minha saúde. mas a história mundial. remove a poeira dos arquivos. com certo esforço. filhos. através da palavra do nosso consócio Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares. assim nos expressar: “Fiel a si próprio como intérprete do existir e do viver da terra e do povo tabajarinos. Hospital Napoleão Laureano. que não está à altura da aula de sapiência do professor Batista. Monsenhor Eurivaldo exerceu o magistério nas nossas universidades e em vários colégios. Externato Santa Dorotéia. para apontar seus nomes à veneração e ao reconhecimento da posteridade”. ex-professor da UFPB) O Dr. dando início à minha participação. faz parte da velha guarda da Igreja. revive acontecimentos e neles situa. mostrando aspectos de sua evolução até os nossos dias. de Campina Grande. o relicário vivo de suas mais puras e genuínas tradições. a análise crítica isenta sobre a Igreja. Presidente. Em pronunciamento. mas continua firme em uma capela que a Arquidiocese autorizou funcionar em sua própria residência. tais como D. expositor do tema. Mathias Freire e outros. Manuel Batista de Medeiros. ou não da Paraíba estejam de uma forma. de algum tempo para cá. por onde se reformou como Major-Capelão. na minha classificação particular. Hospital Regional de Sapé. de vez em quando faz a gente desopilar. tal como ele fez. é com satisfação que passo a palavra ao Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares. lugares e fazem muitos detalhes e deixam a seqüência de acontecimentos sem o estudo crítico. cujo patrono é Diógenes Caldas. ou de outra. me tem dificultado escrever e pesquisar. depois de pacientes e criteriosas pesquisas. Pertence à Academia Paraibana de Letras e no Instituto ocupa a cadeira nº 26. Moisés Coelho. João de Deus. confere datas. passando por várias paróquias do interior do Estado e terminando na Igreja da Misericórdia. Monsenhor Anísio. Agora. razão por que o convidamos para participar deste Ciclo de Debates. respondeu com profundas transformações operadas com a abolição da escravatura. a da Bahia e a do Rio de Janeiro. ordenados pelo Bispo da Bahia. Em carta aos seus diocesanos. o Brasil foi dividido em duas Províncias Eclesiásticas. ou nos Relatórios da Presidência. como foi dito. convidados que são para reuniões extraordinárias. foi abolida a Lei Pombalina. criada em 1614. nada há de recear. destemidamente comentou: “A igreja nasceu. dizemos nós. onde se encontrava preso. nosso conterrâneo D. valeu-lhe. . A primeira Constituição Republicana preconizava completa separação entre a Igreja e o Estado por estar impregnada dos princípios positivistas e contistas. chegou a vez da Paraíba que ficou incluída na Província Setentrional. de preferência a Pernambuco ser escolhida sede de uma Prelazia. Daí. quando da ocorrência do IV Centenário da Fundação de nosso Estado (1985). Dessa forma. este movimentado Ciclo de Estudos. a República nascente não era menos hostil à Igreja. ou assembléias gerais. o que propiciou ao Papa a criação da Diocese de Olinda. aumentou o número de padres. apenas às regulamentares sessões ordinárias de cada mês. cabendo-me adicionar algumas modestas achegas. Confirmação do que afirmamos. por exemplo. Assim sendo. O campo era fértil. a laicização do ensino. nomeado por alvará régio foi o Padre Antônio Teixeira Cabral. o qual decidiu reestruturar a Hierarquia Católica em nosso País. o casamento civil. apesar das grandes distâncias para percorrer toda a extensão da Prelazia. Seu primeiro Prelado. como tarefa que devo irrecusavelmente cumprir. mas se expande em múltiplas realizações. em Pernambuco. Manuel Batista de Medeiros. como conseqüência melhorou a liberdade religiosa. justificadamente chamado “Casa da Memória da Paraíba”. sediada. cresceu e vigorou no seio das perseguições. é. porém de nosso Episcopado. A reação. alguns vindos de Portugal e outros. os das Capitanias de Pernambuco. estudo por nós publicado. bastante concorridas e aplaudidas. negação dos direitos políticos aos religiosos. por isso. na Província Meridional. Mas o Estado?” O futuro. divulgadas através nossos “Boletins Informativos”. II – PARAÍBA – PRELAZIA E DIOCESE ITINERÁRIO DA PARAÍBA CATÓLICA. que se tornou conhecido por sua participação na célebre “Questão Religiosa”. juntamente com o Amazonas. de tal sorte que o território que antes abrangia 12 Bispados. ficou com 16. e. a vedação de novas ordens Religiosas e seus conventos. Dentro desse quadro. I – A IGREJA NA PARAÍBA Este é o tema que tão brilhantemente expôs nosso eminente consócio professor Dr. enquanto que Vitória e Cuiabá. sendo que cada Província constaria de uma sede Metropolitana e sete Bispados sufragâneos. a 15 de novembro de 1889. sentindo-se o revigoramento da vida cristã em todo o País. na Paraíba abrangia. a República impõe a liberdade dos cultos. ou estudiosos aficionados de temas específicos. registra que o crescimento da Religião na Paraíba. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira. Não resta tempo para se deterem passivos nossos associados. Não se restringe. pois. Digno de nota foi a nova política de reconciliação diplomática adotada pela Internunciatura Apostólica inspirada pelo Papa Leão XIII. e sobre as condições de tratamento. a secularização dos cemitérios. até a Proclamação do Marechal Deodoro. Itamaracá e Rio Grande do Norte. além de seu próprio território. o progresso dos ideais republicanos. cuja atuação foi considerada regular.Geografia e História da PB 247 Nosso sodalício. criou o prelado diversos Curatos e Paróquias. escrita da Fortaleza de São João. Tal Prelazia. e que gira em torno da temática geral – A PARAÍBA NOS 500 ANOS DE BRASIL. cada vez mais se desdobra em variadas atividades culturais. que o Império. os quais mais se intensificaram depois da guerra do Paraguai (1870). cujo programa abrange 18 sessões de debates e que se estende de 15 de setembro a 12 de novembro do corrente ano. a confirmação da Lei Pombalina que expulsava os Jesuítas. através da Célebre Pastoral Coletiva (1890) soou como solene protesto contra o governo. Contava já então quase 80 anos de idade. apenas não era sagrado Bispo. A carta saudando seus Diocesanos é da mesma data. que constituem presentemente parte da Diocese de Pernambuco: na cidade da Paraíba fundamos a sede da Igreja chamada da Santíssima Virgem das Neves a Catedral do Bispado e elevamos por isso dita Igreja à dignidade de Catedral. Dado em Roma. o Papa Pio X pela Bula “Magis Catholicae Religionis”. mas tinha poderes quase iguais aos Bispos. A porta aberta. Como viram. Em vista disso. até então Bispo de Cajazeiras. Adauto não tinha porteiro. de Leão XIII diz textualmente: “Para formar a outra Diocese da Paraíba separamos igualmente para sempre e lhe designamos o território do mesmo nome e do Estado do Rio Grande do Norte. da Encarnação do Senhor. 41 de Bispo. Sentindo-se chamado ao Sacerdócio e ajudado financeiramente por pessoas amigas e de posses. inclusive.. junto a São Pedro. Alquebrado pelo peso da idade. Para o Ocidente os limites serão a cadeia dos Montes Apodi e Pageú. Moisés Coelho. Aí chegavam os visitantes para tomar a . nem tinha campainha para chamar. Desta Diocese da Paraíba os limites orientais e setentrionais serão fixados pelo Oceano Atlântico até a barra do Rio Mossoró. Acometido de infecção pulmonar.. elevou igualmente D. Cardeal Lúcio Maria Parochi. ao tempo em que criou a Diocese de Cajazeiras. e 21 de Arcebispo. constituindo o primeiro elo de uma cadeia de 41 escritos pastorais que somente terminaria no último. Os presentes repetiam em coro o versículo do hino sacro que constituía a legenda de seu brasão episcopal Iter para tutum – prepara caminho seguro. O Prelado era um quase Bispo. Moisés e diversos Padres que foram sempre seu amparo e sua coroa de glória. III – O PRIMEIRO PASTOR – VIDA E MORTE Criada que fora a Diocese. Tendo recebido os sacramento das mãos do seu sucessor e discípulo. Adauto ainda hoje está inscrito no Palácio do Carmo e no prédio onde até pouco funcionou A IMPRENSA. o ilustrado historiador conterrâneo. Adauto sentado numa rede e ao lado uma sacola cheia de medalhinhas de santos e um depósito com diversas moedas. as Capitanias da Paraíba e Rio Grande do Norte. recolheu-se ao leito nos últimos instantes cercado por D. aos 6 de fevereiro de 1914. A escolha recaiu na pessoa do Revmo. dos quais será separado da Diocese de Fortaleza. elevou a Paraíba à condição de Província Eclesiástica. a 27 de abril. virtuoso sacerdote do clero baiano. aos 15 de agosto de 1935. de 27 de abril de 1892. não tinha segurança. até o Ceará. a quem D. Adauto não renunciou e permaneceu no Governo Diocesano até a hora de Deus. onde se ordenou Padre aos 18 de setembro de 1870 e onde também foi sagrado Bispo.Geografia e História da PB 248 abrangendo por terra e mar o Rio São Francisco aonde se limitava com a da Bahia. eles encontravam D. a Prelazia não era uma Diocese. no ano de 1892. os paraibanos esperavam ansiosos seu 1º Pastor. viajou a Europa. D. Este lema de D. a Diocese de Olinda pela cadeia “Imburanas” à foz do Rio Goiana serão os seus confins. As pessoas que não tinham muitas letras e não conheciam o Latim. Cônego da sede de Olinda e professor catedrático do Seminário Diocesano local. com direito à sucessão. a Bula Ad universos orbis Eclesias. o Seminário São Sulpício. Seu biógrafo. D. 55 de Sacerdote. sobretudo os pobres e ignorantes. onde cursou em Paris. Monsenhor Dr. décimo quinto do nosso Pontificado. renunciou o honroso encargo. o Santo Padre Leão XIII elegeu o não menos idôneo Cônego Adauto Aurélio de Miranda Henriques. não tinha nada. por motivo de saúde. e traduziam “entrada para todos”. finalmente. Finalmente. D. ao meio dia da Festa de Nossa Senhora de Assunção. Cônego Francisco Lima registra: o Bispo eleito era natural de Areia. o qual. viam inscrito na fachada do palácio Iter para tutum e liam Iter para tutúm. D. Iter para tutum – prepara caminho seguro. Adauto a seu 1º Arcebispo Metropolitano. em 7 de janeiro de 1894 pela imposição das mãos do Eminentíssimo Sr. Adauto entregou sua bela alma a Deus. Adauto dava muita atenção e acolhida em sua casa. o Colégio Pio Americano e a Universidade Gregoriana em Roma. Aí todo mundo entrava no Palácio. Para o Sul. Em 29 de junho de 1932 o Papa Pio XI concedeu-lhe como Arcebispo Coadjutor. José Basílio Pereira. o esquife foi conduzido em procissão por avultado número de fiéis que assistiram consternados o sepultamento de seu Pai Espiritual. ele estava presente em todas as solenidades e presidiu a Semana Santa. as iniciativas. – Ah! Está abençoado. na Bahia. da Paraíba e do Rio Grande do Norte para a educação da mocidade. inexplicavelmente. IV – D. foram apenas dois anos de convivência com D. Páscoas coletivas e administração do Sacramento do Crisma. Eis a gênese da escolha de D. O primeiro local onde D. em 1933. Amante das letras e das ciências. Apenas se cansava muito e quando a Mitra estava incomodando sua cabeça ele chamava Monsenhor José Tibúrcio. nosso Bispo além de abrir colégios na Capital e no interior. Sou de opinião que não deviam ter tirado. Moisés Coelho. Padre ordenado por D. como 1º Bispo de Cajazeiras em 16 de novembro de 1914. que encerra a história de nossa centenária Igreja Diocesana. até o último ano em que morreu. Não é de omitir-se. Continuemos. Segundo afirma o Cônego Francisco Lima em sua obra SUBSÍDIOS BIOGRÁFICOS (Vol. 1º Bispo e Arcebispo 1º da Arquidiocese da Paraíba”. em Salvador. 1º Bispo e 1º Arcebispo da Paraíba e o que representa sua obra evangelizadora que vai de 4 de março de 1894 a 15 de agosto de 1935 é tarefa que abrange quase metade de um século. Adauto enterrado sob uma lápide de mármore com os dísticos em Latim: “Aqui repousa aos pés da Virgem das Neves D. Tudo a atestar e justificar os títulos de glória do nosso Seminário Arquidiocesano. MOISÉS COELHO – COADJUTOR E 2º ARCEBISPO D. para 2º Arcebispo da Paraíba”. seu bispo. Adauto. por anos. que estivesse familiarizado com todos os seus elementos positivos e negativos. circulou – A IMPRENSA. que o fez Cônego do Cabido e Diretor Espiritual do Seminário. Adauto Aurélio de Miranda Henriques. que era nosso Reitor e cerimoniário. Era a vida dele. Dava uma medalhinha e uma moeda.Geografia e História da PB 249 bênção: “a bênção. perguntava o que queria. e dizia: “tira isso da minha cabeça que não agüento mais. tiraram. o corpo de D. espalhados pela Paraíba. Dedicou-se à pregação de Retiros Espirituais. com sede na Cidade Episcopal. o zelo da caridade. lá abriram a sepultura para ele. seu bispo”. Está muito pesado”. ia caindo na sepultura aberta para o Bispo e foi agarrado a tempo de evitar o acidente. foi o mesmo virtuoso Prelado indicado ao Papa. palestras e conferências. apontado por ele para o Episcopado. Exigia-se do Coadjutor que conhecesse o terreno. São lembranças que guardo. as reações. praticamente. realizado em Buenos Aires em 1934. porque fui testemunha ocular. empossado em 29 de junho de 1932. D. que houvesse testemunhado as lutas. Velado na Igreja do Carmo. Adauto. Esteve presente ao Congresso Eucarístico. Moisés percorreu toda a Arquidiocese em visitas pastorais. O interventor da Paraíba que está presente estava bem próximo ao local do enterro. Posteriormente. os sazonados frutos do zelo apostólico de mais de duas centenas de Padres e de meia dúzia de Bispos que ele ordenara. distraidamente. genuína Escola do Saber e da Virtude. estabeleceu um Instituto Superior para a formação do Clero. Adauto. Ele já meio surdo. seu cuidado pela criação e funcionamento do Jornal Católico que. nos últimos dias em que o conheci. para Arcebispo Coadjutor de D. Entrei no Seminário em 1933 e ele morreu em 1935. Adauto foi sepultado foi exatamente aos pés do altar de Nossa Senhora. Moisés Sizenando Coelho. Rio Grande do Norte e o Brasil afora. Eu me recordo de um incidente que ia tendo certa gravidade se não fosse a presteza de quem o acudiu na hora. para tornarse seu Coadjutor com direito à sucessão. III): “Era de mister um Coadjutor que aliasse ao espírito de fé. Adauto. Dominus illuminatio mea era o dístico de seu lema episcopal – O Senhor é a minha . como ao Congresso Eucarístico Internacional. Lá estava D. Fiz esse parêntese para abrandar a leitura do texto. isto muito acima das raias comuns. os empreendimentos que ponteavam a história daquela conquista. Mesmo naquele estado. Adauto. Concedeu-lhe o Senhor que ele próprio viesse a colher através dos anos. aos pés da Santíssima Virgem das Neves. Discorrer sobre D. – A bênção. a que foi dada outra destinação. Cônego do Cabido. que. na cidade do Rio Grande. Um sonho que D. Foi de veras comovedor. Moisés sempre acalentou. de Bispo. Círculos Operários multiplicavam-se na capital. Organizou a Ação Católica Oficial com a instalação de sua Junta Arquidiocesana. uma Semana Eucarística. antes de morrer. A 18 de abril de 1969 expirou placidamente ao Senhor. Nasceu a 4 de agosto de 1903. por igual. a 5 de dezembro de 1925 pelo Bispo D. Para sua administração. em que se formara e em que exercera por tempos sua função de orientador de consciência dos futuros padres. em 1949 e a elevação de Natal à dignidade de Arcebispado (1952). antiga capital de Sergipe. Estado do Rio Grande do Sul. Era o legado que deixava em testamento e que teve a ventura de ver funcionando. Já antes. o qual morreu em odor de santidade e cuja memória ainda permanecerá na consciência do povo cristão natalense. . Foi Cônego do Cabido. de Padre. V – 3º ARCEBISPO METROPOLITANO – BREVE PASTOREIO – RENÚNCIA O sucessor de D. matriculou-se no Seminário da mesma cidade. Vice-Diretor Diocesano do Apostolado da Oração. Adauto criara. Mons. bem como receberam novos incentivos as Congregações Marianas e Cruzadas Eucarísticas Infantis. 58. Ordenou-se a 1º de novembro de 1901. com a morte de D. D. Odilon Coutinho e D. que também foi Bispo Auxiliar. o momento em que o pastor solícito. foram criadas mais duas Dioceses na área: Caicó/Rio Grande do Norte. D. ser conduzido para benzer. muita pena mesmo. promoveu. velho e alquebrado. Pena. alienando-se o prédio. Durante seu período como metropolita. Manoel Pereira da Costa. Guiado por essa luz divina. 27 de Arcebispo Coadjutor e 24 de Metropolita. Moisés Sizenando Coelho nasceu em Cajazeiras. prova dos cuidados paternais que votava por seus auxiliares. além da dedicação de seu Clero. à imagem de uma Casa Grande que abrigasse a família sacerdotal. 44. Mário de Miranda Vilas-Boas. Na Capital paraibana. Manoel Pereira.Geografia e História da PB 250 luz. sua obra. foi Diretor Espiritual do Seminário. Diretor da Liga Eucarística Sacerdotal e Redator do jornal A IMPRENSA. em 1936. contando 82 anos de idade. pouco tempo depois de seu desaparecimento. como Capelão das Irmãs Dorotéias. Sentindo-se chamado à vida sacerdotal. Em 22 de fevereiro de 1932. foi organizar a Casa do Padre. como 3º Arcebispo Metropolitano da Paraíba foi D. Em 16 de novembro de 1911 foi eleito pelo Papa Bento XV 1º Bispo de Cajazeiras. Moisés com a lealdade e eficiente ajuda de seus vigários gerais. em 1939 e Campina Grande (em nosso Estado). D. sendo também sócio fundador da Academia Sergipana de Letras. Concluídos os estudos eclesiásticos foi ordenado Padre. em uma cadeira de rodas. Coadjutor da Matriz. que D. quando tivessem de vir a negócios à cidade. João Maria Cavalcanti de Albuquerque. ou mesmo local digno onde se hospedassem. até às lágrimas. com direito à sucessão. A 15 de agosto de 1935. desaparecesse. Sua visão do futuro e sua preocupação por novos padres levaram-no a instalar pessoalmente em todas as Paróquias da Arquidiocese a Obra das Vocações Sacerdotais. Vice-Diretor do Colégio Santo Antônio. com excelentes frutos de fé e devoção dos fiéis. e que se tornara sublime aspiração de seu futuro Bispo Auxiliar. sua última realização. não hesitou em empenhar-se pela edificação de novas e modernas instalações do Seminário no Bairro do Miramar. na impossibilidade de um Congresso Nacional. Serviu no Rio Grande do Norte. pessoalmente. Exerceu o magistério no Colégio Estadual e no Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Moisés. Adauto tornou-se o 2º Arcebispo Metropolitano da Paraíba. Secretário do Bispado e ainda agraciado com a dignidade pontifícia de Monsenhor. José Thomaz Gomes da Silva. foi edificar para os padres idosos e os que na capital não possuíam casa própria. Fez seus primeiros estudos em São Cristóvão. a 8 de abril de 1877. tomando posse no dia 29 de junho do mesmo ano. contou D. na capital. foi nomeado Arcebispo Coadjutor. Seu interesse pela defesa da fé e a difusão da boa imprensa levou-o a promover intensa campanha por um melhor reaparelhamento do nosso diário católico A IMPRENSA. em Natal. Mesmo apegado pessoalmente às velhas paredes do Seminário de São Francisco. ao lado do vigário Pe. Moisés continuou o longo e fecundo apostolado de seu antecessor. especialmente o Paroquial. A 5 de janeiro de 1945 foi elevado a Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará. pela não violência. Foi um trabalho insano. Nomeado pelo Papa Paulo VI. Porto Alegre. no ano de 1953. reabriu o Seminário Arquidiocesano. Escolhido para o Episcopado. na capital paraense. incluindo o Museu Sacro. D. Pela justiça. Lá. onde se ordenou Padre em 20 de dezembro de 1941. ou de atitudes práticas no âmbito pastoral. nascido em Córregos. no entanto. liderando movimentos que visavam conduzir nossa Igreja do remanso das elites para a conturbada periferia dos pobres e excluídos. até a sua elevação ao Arcebispado da Paraíba. 30 de Bispo e 23 de Arcebispo. com a força irresistível de franqueza e coragem de lutar. de volta a Aracaju. Foram 30 anos de convivência em que o Arcebispo D. Foi então transferido para a Bahia como Arcebispo Coadjutor do Eminentíssimo Sr.Geografia e História da PB 251 Escolhido para o Episcopado. com ajuda vinda do exterior. através de Assembléias diocesanas. Ritinha. Mons. idolatrada genitora. o Arquivo Eclesiástico. com direito à sucessão. aos 65 anos de idade. para ele. aos 15 de março de 1919. José deu testemunho de vida. D. Após 12 anos de intenso trabalho apostólico no Norte do Brasil. Abatido e triste. Criou o Centro Cultural São Francisco. Instalou. pela posse da terra. escolhendo o lema Scientiam Salutis – Ciência da Salvação. em 22 de setembro de 1957. Seu lema episcopal foi Sentir cum Ecclesia – Sentir com a Igreja. Estudou no Seminário de Diamantina. do Governo Arquidiocesano da Paraíba. sendo. Mário passou por profundo golpe. em maio de 1957. seguiu-se longa vacância. fez-se responsável pelas profundas modificações que a Igreja tem sofrido em sua atuação no mundo contemporâneo. Sua caminhada em nosso meio se notabilizou pela ação pastoral que. a pedido. D. Belo Horizonte. transferido para a Arquidiocese da Paraíba. Persistindo os males que lhe afetavam a saúde. então. que lhe foi generosamente ofertada por um grupo de fiéis amigos e admiradores. em nível de documentos de ordem doutrinária. ou como ele próprio dissera e escrevera: “Do centro para a margem”. Mário empolgou nos Congressos Eucarísticos Nacionais do Recife. 43 de Padre. comissão pastoral da terra. não lhe foi possível exercer os planos e metas que traçou. na realização do VI Congresso Eucarístico Nacional. VI – 4º ARCEBISPO – D. em que o mesmo Governo foi exercido pelo Vigário Capitular eleito. pela paz social. foi sagrado Bispo de Garanhuns em Pernambuco aos 30 de outubro de 1938. o 4º Arcebispo Metropolitano. que foi o passamento de sua venerada e. pastorais especializadas: do negro. onde foi residir em casa. em 18 de maio de 1965. José Maria Pires. São Paulo. Ali permaneceu durante oito anos. e do movimento de promoção da mulher e da proteção ao menor abandonado. Estimulou. que foi aceito em 18 de maio de 1965. . Cardeal de Salvador e Primaz do Brasil. encaminhou à Santa Sé novo pedido de renúncia. Exerceu o magistério como Diretor do Colégio em Governador Valadares. no dia 2 de dezembro de 1965 tomou posse em 27 de março de 1966. visitas pastorais e intereclesiais. empossando-se a 27 de setembro de 1959. Imortalizou-se. Mário. Foi Pároco em Açucena e Curvelo. veio a falecer a 23 de fevereiro de 1968. do Concílio Ecumênico Vaticano II. com dístico: “Cem anos de coragem e fé”. merecendo ser incluído entre os maiores oradores sacros de nossa Pátria. como Padre Conciliar que foi. começou a sentir abalo em sua saúde. em terreno doado pelas Religiosas de Santa Catarina a nova Casa dos Padres. enquanto. campanhas de fraternidade. motivado provavelmente pelos rigores do clima abrasador da região. Curitiba e na Consagração do Brasil à Nossa Senhora e em outras ocasiões religiosas e civis de relevante importância. quando desenvolveu fecundo apostolado que o projetou mais no cenário brasileiro. sua 1ª Carta Pastoral saudando os diocesanos foi considerada documento básico para o movimento litúrgico e o apostolado leigo no Brasil. tornou-se Bispo de Araçuaí. D. Retirou-se. Pedro Anísio Bezerra Dantas. Dotado de voz atraente a serviço de um verbo inflamado. Minas Gerais. do índio. encontros. JOSÉ MARIA PIRES Após a renúncia de D. e celebrou o Centenário da Diocese – 1984-1994. as Comunidades Eclesiais de Base. Demorou-se por pouco tempo na Bahia. de modo mais intenso entre os humildes e os sem vez e sem voz. no Rangel. De volta a capital pernambucana. aos 28 de fevereiro de 1953. junto à Congregação Romana do Culto Divino no Vaticano. por ocasião das comemorações do IV Centenário da criação da Paraíba. Arcebispo D. B. foi instalado o Convento para as Irmãs do Carmelo. Olinda e Camaragibe. depois de restaurada. No interior. em Roma. o que sendo para ele uma honra. na Várzea e ainda Reitor do Seminário Regional do Nordeste. participando pelo Episcopado Brasileiro no Sínodo Universal dos Leigos. o nosso mais antigo. Na praça São Francisco. – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. com ajuda financeira do Movimento Internacional “Adveniat”. e até junto ao próprio Papa no sentido de que fosse benignamente aceita sua súplica de elevar nossa Catedral à dignidade de Basílica Menor. a antiga igreja do secular Mosteiro de São Bento foi reaberta ao culto público. A Arquidiocese. bem próxima à Igreja Catedral.Geografia e História da PB 252 Em 1975. dentro das reais circunstâncias do nosso meio. inclusive. A 29 de novembro de 1995 foi elevado a Arcebispo. a de São Rafael. a da Virgem dos Pobres. tornou-se verdadeiro missionário. tornou-se o 1º Bispo de Guarabira. Arcebispo da Paraíba. datado de 5 de novembro de 1997. e na Conferência Geral do Episcopado Latino-americano. D. como Bispo Diocesano. que aceito. Cumprindo disposições emanadas da Santa Sé Apostólica. como Auxiliar do Sr. o qual. em 29 de novembro de 1995. foi ainda criada na cidade de Itapororoca a Paróquia de São João Batista. MARCELO PINTO CARVALHEIRA Nasceu em Recife a 1º de maio de 1928. a da Virgem do Auxílio dos Cristãos. Além disso. Durante o período. no centro da cidade. o seu pedido de renúncia do ônus episcopal. levando em conta o constante crescimento populacional das regiões suburbanas da sede episcopal. a de São Pedro e São Paulo. a de Nossa Senhora Aparecida. adquiriu uma casa. foi Professor de Teologia no Seminário de Olinda e mais tarde. aos 27 de fevereiro. a de São Francisco das Chagas. tornando-se o 5º Arcebispo Metropolitano da Paraíba. para servir como Residência Episcopal. VII – 5º ARCEBISPO – D. Igualmente não é de ocultar-se que essa honrosa conquista dos católicos paraibanos. mais tarde. através de proposta nossa. cidade paraibana que se tornando Diocese. N. no Bessa. O novo pastor tem procurado dar execução ao Projeto de Evangelização da Igreja no Brasil. Além de altas missões delegadas pela CNBB. em 1985. nosso Arcebispo foi recentemente em Assembléia Geral eleito Vice-presidente desse Órgão representativo da Igreja no Brasil. Em 1981 foi transferido para a recém-criada Diocese de Guarabira. lhe acarreta muitos encargos que o obrigam. Nossa Senhora Mãe de Deus. na Penha. B. onde concluiu o 1º e 2º graus. a de Nossa Senhora de Guadalupe. no Jardim 13 de Maio. Diretor Espiritual do Seminário Arquidiocesano do Recife. o mesmo acontecendo com o Convento e a Igreja da Guia. o que. difundindo o Evangelho entre todas as camadas da sociedade. sendo sagrado em João Pessoa. na Capital. proposta pela Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros. do Breve Pontifício. por motivo de haver atingido a idade de 75 anos. teve seu Bispo Auxiliar. enviou correspondência ao Vaticano pedindo tal privilégio que é ser. Ainda como Padre. teve sempre marcante atuação na C. principalmente se deve ao nosso Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. foi Vigário Episcopal para o setor de leigos. na praia de Lucena. Ordenou-se Sacerdote na Cidade Eterna. criou e instalou mais sete Paróquias: No Jardim Planalto. que. o Papa. no Conjunto Castelo Branco. em Roma. Sua posse canônica foi efetuada no dia 14 de janeiro de 1996. a . hoje. na pessoa do Sr. santuário mariano da Paraíba a igreja Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves. o empenho pessoal do Sr. em preparação ao grande Jubileu do Ano 2000. Cursou o Seminário de Olinda. Marcelo. atuando sempre dentro do seu lema escolhido Evangelizare – Evangelizar. Assim. rumo ao 3º Milênio. Já no ano de 1975 foi eleito Bispo. ficou fazendo parte da Província Eclesiástica da Paraíba. no Brisamar. Filosofia e Teologia cursou na Pontifícia Universidade Gregoriana. tornou-o Arcebispo emérito da Paraíba e Administrador Apostólico Arquidiocesano até a posse de seu substituto. apresentou ao Santo Padre. aprovada na oportunidade. É de referir-se aqui. felizmente se tornou realidade com a assinatura pelo Papa João Paulo II. Marcelo Pinto Carvalheira. que foi tão preocupada com os índios do Brasil. em que ainda se destaca a imagem da Igreja-Poder e partindo para um outro modelo. D. não. Mário. Marcelo. com os piparotes que me deu e que eu retribui à altura. José Maria Pires e. São Paulo e até Roma. em 1614. Um trabalho dessa natureza é necessário para nossa história eclesiástica. Adauto e D. José Maria: Estaríamos iniciando. 2ª fase: Igreja – Progressismo e conservadorismo. Apesar do adiantado da hora. que deu uma coloração sociológica e política sobre a participação da Igreja na Paraíba. a minha Igreja da Paraíba. D. inspiradora de esperança e promotora da paz? É a pergunta de D. que me ordenou padre.. O que vale é minha intenção de prestar minha colaboração a este Ciclo. o qual distingue duas fases na Igreja da Paraíba: 1ª fase: Igreja – Poder Religioso ao lado do Estado – Poder civil. passamos a palavra aos que desejarem oferecer algumas considerações. viajar a Brasília. Adauto. José Maria. Mário Vilas-Boas. ao ensejo da ocorrência do centenário da instalação da nossa Diocese (1894-1994) pelo nosso Arcebispo Emérito D. agora. Por outro lado. e que hoje é meu amigo (em certo tempo não foi. a predominância era do poder civil sobre a Igreja. D. D. em cujo período entrei no Seminário. Deus lê dentro coração e dentro do meu coração está. E assim agradeço e peço mil perdões pela maçada aos presentes. temos que acentuar o trabalho apresentado pelo professor Manuel Batista de Medeiros. mas ele foi um padrasto). ··· A fala do Presidente: Nosso debatedor mostrou-nos a direção da Igreja na Paraíba. D. Quer dizer. e D. D. gostaria de apresentar interessantes e judiciosas considerações sobre o tema deixado escrito. acrescentaríamos. Indaga D. VIII – CONCLUSÃO À guisa de conclusão deste nosso estudo sobre A IGREJA NA PARAÍBA. 1º Participante: Marcus Odilon Ribeiro Coutinho: Gostaria de saber se a Igreja.Geografia e História da PB 253 deslocar-se freqüentes vezes. José colocada para nossa reflexão. sem dúvida. Serafim Leite conta uma designação. Em decorrência ainda desses novos encargos tornou-se responsável pelo acompanhamento à vida religiosa do Brasil. se ordenou algum índio padre? Manuel Batista: Foi ordenado um índio. compreendendo os períodos de D. desde quando a Paraíba se transformou na Diocese que abrangia Pernambuco. Marcelo Carvalheira. uma nova fase de Igreja? Estaríamos saindo da contestação. nesses 500 anos de Brasil. Moisés. os Bispos com os quais eu servi. foi meu padrasto e até disse a ele. O registro da atuação dos nossos Bispos e Arcebispos ficará nos nossos anais. a quem nós queremos muito bem. José Maria Pires. porque no meu tempo a gente tinha o Bispo como pai. que é aquele coração imenso. que engloba os últimos pastores D. mameluco. defensiva dos direitos. Paraíba e Rio Grande do Norte. Guilherme d’Avila Lins: . o da Igreja-formadora de consciência. segundo D. que apenas lamento a sua fraqueza física por não ter podido seguir o seu programa. Moisés. de modo particular. Itamaracá. José. Acho que sem a história das Ordens Religiosas na Paraíba. Mas. até que viesse o Seminário de Olinda e se renovasse todo o processo educacional brasileira. Quando o professor Manuel Batista falou sobre Capistrano de Abreu refleti o seguinte: a um historiador que tenha um razoável embasamento informativo ele sequer precisa ser católico para perceber a importância da Igreja católica na formação cultural. que em sua tese de mestrado falou sobre os Franciscanos. que convido para vir participar da mesa dos trabalhos. ou seja.. que pode ter sido de grande renovação e modernização para Portugal. melhor dizendo. pois. Mas ele disse que não se poderia escrever a História do Brasil sem primeiro escrever-se a história dos jesuítas. posso dizer que ninguém pode calcular o prejuízo da obra de Pombal em cima da cultura. minha melhor ferramenta de fontes primárias para a História da Paraíba é o livro do tombo do Mosteiro de São Bento. Completamente ateu. E que patrimônio artístico nós temos senão o Convento de São Francisco. social. e que sofreu como um condenado quando a filha Honorina resolveu ser freira. não temos história. cujo expositor é o professor Carlos André Macedo Cavalcanti. mas efêmera. Enquanto o Peru. Considerações finais do professor Manuel Batista de Medeiros: Sobre as colocações aqui feitas. porque em dois segmentos. Passou por um processo de recuperação. a Igreja de São Bento. Quando os holandeses tomaram conta Paraíba escolheram para sediar o governo o Convento de São Francisco. Para se ter uma amostra. até o momento.. A Ordem dos Carmelitas também foi importante. no zelo que tiveram em esconder seus livros e fontes com a chegada dos holandeses. por exemplo. o Brasil para agraciar o rei da Bélgica teve que fazer um faz de conta que criava a Universidade do Brasil. Na Paraíba. posteriormente. E aí a Universidade podia dar uma comenda ao rei. Então não é preciso ser católico para escrever sobre eclesiologia católica. a Igreja do Carmo.Geografia e História da PB 254 Quero parabenizar o professor Manuel Batista de Medeiros e o Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares por suas exposições tão oportunas. mas. É a Igreja da Guia. com toda a pompa semelhante à da universidade de Lisboa. escrever sobre esses monumentos. resolveram enterrá-los. o qual muito pouco tem sido consultado. Pastor. Por isso entramos num obscurantismo durante um bom período. prescinde-se da fé. como . já no século XVII. Quanto a historiadores sem fé. O tema de hoje será sobre a INQUISIÇÃO NA PARAÍBA. Desde a campanha da fundação até 1593 e. Ainda não foi escrita a história da Ordem de São Bento. já se formavam mestres nos colégios da Bahia e Rio de Janeiro. tinha universidade. No século passado o Vaticano abriu seus arquivos. lamentavelmente. um historiador alemão. posso dar meu testemunho pessoal de que as coisas vão melhorar. já no século XVII. se houver sinceridade na cultura. principalmente para a elaboração da nossa história colonial. mas agora precisa entrar num processo de utilização cultural. artística. na Paraíba. ou temos uma história muito pálida. Porque. até serem expulsos os jesuítas do Brasil. mas foi um desastre educacional para o Brasil. educacional da nossa sociedade. que na realidade foi criada neste século. 14º Tema A INQUISIÇÃO NA PARAÍBA Expositor: Carlos André Macêdo Cavalcanti Debatedora: Zilma Ferreira Pinto A fala do Presidente: Reiniciamos nosso Ciclo de Debates. cujo êxito já está assegurado. a Ordem da Companhia de Jesus teve um uma influência importante. E uma prova evidente deste fato é que o próprio Capistrano era ateu. E aí. escreveu a história dos Papas em 70 volumes. protestante. segundo os comentários nos círculos culturais da nossa terra. um patrimônio sensacional. Eles não tiveram Pombal. ficando totalmente perdidos vinte anos mais tarde. Devemos ressaltar o trabalho da nossa confreira Glauce Burity. aqui na Paraíba. trabalho esse de grande importância para a nossa historiografia. Isso em conseqüência da política pombalina. de todas as ordens religiosas. nela publicado. já houve a crença de que a Inquisição não existiu em nossa História. que as pontes. em Lisboa. do professor Luiz Mott.. e atualmente está como Diretor de Arte e Cultura da Fundação Espaço Cultural. por meu intermédio. demonstra a força deste passado. Com a palavra o professor Carlos André. sem dúvida nenhuma. que também convido para a mesa. Hoje nós teremos duas apresentações sobre o tema. que é graduado em História pela Universidade Federal de Pernambuco. mais uma vez. menciono o trabalho sobre a Inquisição na Paraíba. convidamo-lo novamente para. trabalhos que mostram a meticulosidade e a busca da memória na pesquisa documental e. Sabe-se hoje que algumas centenas de brasileiros foram processados pelo Santo Ofício. mudou esta convicção anterior. célebre historiador pernambucano.Geografia e História da PB 255 debatedora. na Paraíba. vai apresentar um trabalho dela sobre a origem dos cristãos novos e sua importância na História da Paraíba. da Universidade Federal de Pernambuco. e é com satisfação que apresento o professor Carlos André Macedo Cavalcanti. os vínculos entre estes dois grupamentos humanos que analisam a história devem se aprofundar. Assim. Por considerarmos o professor Carlos André um dos credenciados estudiosos dessa área. Reafirmo. Tornou-se tradicional fazer a apresentação do expositor. que nos parece ser da vocação de ambas as instituições. Quase tido como não existente. A Revista permanece presente no debate historiográfico com trabalhos essenciais. Antes de entrar na exposição em si. Ainda há pouco pensava no Congresso sobre Inquisição que houve em Lisboa e São Paulo como algo que deveria ter continuidade. Durante muito tempo o tema Inquisição esteve esquecido na historiografia brasileira. A memória atual do ficcional caso de Branca Dias. devem se consolidar e avançar no sentido de termos um trabalho de maior vulto em conjunto. reafirmo minha proposta anterior de tornar realidade. Estive muito tempo na expectativa de receber uma carta da historiadora Anita Novinsky convidando para o II Congresso sobre a Inquisição. Expositor: Carlos André Macêdo Cavalcanti (Professor de História Moderna na UFPB. Foi um evento de grande profundidade. que durou trinta dias entre . É importante que surjam foros no sentido de pesquisar e debater a Inquisição. no acervo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. cujo título foi O IMAGINÁRIO DA INQUISIÇÃO. afirmou “estar livre nossa história” da ação do Tribunal do Santo Ofício. da pesquisa histórica no Estado da Paraíba. Sempre afirmo que o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano é. É indispensável que esse debate se aprofunde e se amplie. Na verdade. A descoberta dos documentos inquisitoriais referentes ao Brasil. é Mestre e Doutorando em História. teremos nossa confreira Zilma Ferreira Pinto. entre nós brasileiros. não só vocacionado. Diretor de Arte e Cultura da Fundação Espaço Cultural) Sempre que venho a esta Casa tenho a enorme alegria de encontrá-la na guarda e na plena atenção aos nossos valores históricos e no culto à memória paraibana e nacional. se for interesse do Instituto a realização de convênio entre o Departamento de História e o Instituto. é professor de História Moderna na Universidade Federal da Paraíba. importantes. Há dois anos contamos com o concurso de Carlos André quando fizemos um Seminário de quatro dias sobre a Inquisição. que contou também com o concurso do professor Severino Silva. que marcou nossa cultura com um certo tipo de prática autoritária. Sabemos a dificuldade para a programação dum congresso como aquele. oferecer aos participantes deste Ciclo seus conhecimentos e experiência. Farei minha exposição com a temática conceitual e a debatedora oficial. em especial. como gabaritado para ser a instituição essencial do trabalho. Mestre e doutorando em História pela UFPE. Oliveira Lima. quero saudar a publicação da Revista nº 31 do Instituto Histórico. professora Zilma Ferreira Pinto. agora. São 12 anos sem haver a continuidade daquele congresso. em princípio. Isso permite uma análise aproximada. uma unicidade de fontes. uma vez pronunciada. em que ele questionava as fontes e o significado da análise básica sobre o Tribunal como uma monstruosidade. fora do processo. Na página 83.Geografia e História da PB 256 Lisboa e São Paulo. Caro presidente Luiz Hugo: o excelente artigo do professor Luiz Mott pode receber duas pequenas observações para complementar o trabalho dele. E. Já naquele mesmo ano o professor Ronaldo Vainfas. raras são as vítimas da Inquisição sobre as quais nós temos informações sólidas quanto à sua posição religiosa. publicou um artigo num desses livros-compêndios que Anita organizou. sem querer ser precursor desse processo. professor fluminense. Francisco Bittencourt. da Revista do Instituto Histórico. Procurei trazer para vocês um exemplo de uma dessas fontes. em função disso. como se referiu um historiador norte-americano chamado Eduard Peters. no limiar do novo milênio que se iniciará em 2001. E existe. No caso. São Pedro Mártir. realiza. com a participação de pesquisadores do mundo todo. que é o processo. que é uma tentativa de conhecermos essa ambigüidade e essa duplicidade sobre o Tribunal do Santo Ofício. E os custos foram enormes. por si própria. Já em 1992. é o Dr. ele fala de Manuel Dias Carvalho. Ele foi assassinado pelos hereges que perseguia. No livro dele sobre a tortura. a tortura geraria. O maior desafio diante desta mudança é retornar o olhar sobre as fontes. e principalmente a intolerância religiosa. atualmente. por quê? Mártir. Sempre que a gente fala sobre o tema Inquisição. no encontro chamado América 92. há pouco citado. A professora Anita Novinsky respondeu dizendo que só havia realmente uma fonte para estudar o Tribunal do Santo Ofício. Antes farei duas observações sobre o artigo do professor Luiz Mott. após a década de 80. segundo o próprio Bittencourt. Ele cita dois personagens históricos que pedem uma análise mais aprofundada. A palavra Inquisição. tanto para quem pronuncia como para quem ouve. que se realizou no Espaço Cultural. ele inicia dizendo: “a palavra tortura. estamos vendo os estudos sobre o Tribunal do Santo Ofício mudarem amplamente de significado. Nós dizíamos. já é suficiente para fazer lembrar uma série de atrocidades. que dentro do estudo da Inquisição existe um problema de fontes. quanto à sua possível heresia. Hoje. Nos Apontamentos Biográficos do Clero Pernambucano consta Manuel Dias Carvalho em 1654 já como primeiro vigário da igreja de São Pedro Mártir. aqui na Paraíba. essa entropia semântica. que foi um período de uma produção historiográfica longa sobre a Inquisição. cujo porta-voz mais importante. Hoje estamos assistindo exatamente a ascensão deste questionamento. por exemplo. Há um momento em que eles não são mais nem um e nem outro. Entropia é uma palavra da Química: ocorre quando dois elementos químicos se fundem. Eu chamei isso de ditadura do processo. Para a igreja de São Pedro Mártir. Então ficamos restritos ao documento que a Inquisição nos legou. segundo Peters. inclusive da Rússia. que hospedou o padre Gregório Martins Ferreira em 1654. Da mesma maneira ocorre com a Inquisição. e nós já colocávamos ali algumas idéias sobre isso que está se tornando o nosso trabalho mais recente. um imenso caldo de emoções”. da Universidade Nova de Lisboa. De uns tempos para cá. Vamos tentar desenvolver nossa análise dentro de uma tendência da historiográfica contemporânea. Existe uma imensa dificuldade de fazer uma análise crítica do documento. Raros são os inquisitoriados. lembro sua semântica. principalmente. e ainda não são o terceiro. colocavam-se pessoas que . de Olinda. que durou tão longamente na história do Cristianismo. nós estivemos numa mesa de debate em que a professora Anita Novinsky era a debatedora principal. Talvez por essa dificuldade não tenha se realizado o II Congresso. porque era inquisidor. nós começamos a nos questionar a respeito do uso das fontes documentais. no século XIII. a pesquisa sobre tortura acaba ocorrendo dentro daquilo que chamamos “entropia semântica”. a característica central. então se acreditava também no medo do cristão novo. Tempos longínquos de proibição em que a mulher deveria casar virgem. O segundo momento nós chamamos de Pedagogia do Desprezo e nele vamos procurar esmiuçar mais o tema. Uma fase vai da sua fundação ou das atividades inquisitoriais que se formam na Península Ibérica no final do século XV – a sua fundação oficial é na década de 30 do século XVI – até 1640 e uma segunda fase vai de 1640 até a sua extinção em 1821. na televisão. por exemplo. intitulada “Bruxas expressam a magia e a força interior femininas”. onde inúmeras vidas foram tiradas. a repórter diz: “Ao pensar em uma bruxa. Esse é o primeiro momento. porque o mouro muitas vezes tentou chegar ao centro da Europa. cristão novo que aparece nas listagens de Mott nas páginas 86 e 87 e que tem um homônimo. mais longínquas. Vale então uma pesquisa mais aprofundada a respeito dele. sugerindo uma continuidade. quero registrar que a Inquisição sempre aparece nos jornais. servir ao homem sempre com a disposição que lhe fosse possível”. de sentimento de cerco. mas é também inexorável. que serve para reformular essa visão um tanto maniqueísta. Durante toda a primeira fase. Muitas vezes estuda-se o Tribunal em torno do seu sentido. após o período de reforma do Tribunal do Santo Ofício. Seria engraçado se não fosse tão sério. A primeira nós conceituamos como a fase da Pedagogia do Medo e a segunda nós conceituamos como a fase da Pedagogia do Desprezo. a imagem que se tem é daquela senhora voando em uma vassoura. principal. o efetivador de toda uma cultura de expectativas de que a modificação e a transformação do mundo ocorreriam com a regeneração da ortodoxia católica. anteriores à cultura da cristianização. Ele vai de 1640. Acreditava-se. até 1821. é um período – repito – que se desenvolve a idéia de que a qualquer momento poderia haver uma degeneração da civilização. As pessoas não lembram da velha Inquisição. de uma civilização que se sente posta contra a parede e quase esmagada. e não é exclusivo de nenhuma das nações. Um outro é Francisco Pereira. Vamos buscar a recolocação desse Tribunal através das suas origens mais distantes. As duas fases nós buscamos dividir segundo conceitos. está nomeado para a igreja de São Pedro Mártir. Para essas colocações eu me ponho à disposição do Instituto no sentido de encaminhá-las ao professor. que era um medo real. no medo que se tinha do mouro invasor. ele pode a qualquer momento judaizar alguém). O Tribunal da Inquisição tem os seus sinônimos que foram referidos recentemente numa matéria publicada no CORREIO DA PARAÍBA. dia 24 de outubro de 99. fazendo uma observação. Essa afirmativa mostra uma expectativa que se tem sobre o estudo do Tribunal do Santo Ofício. na realização de um novo regimento. que era um medo muito viável nas expressões mágicas da cultura naquele momento. Essa é a fase de reconstrução e de . Então. Retornando à nossa exposição. acreditava-se no medo de bruxa. em toda a Europa. que ocorre no século XVI e primeira metade do século XVII. no entanto. não só na Colônia brasileira. ou ele mesmo também nos Apontamentos do Clero Pernambucano. É um período. Nesse período de medo obsidional. na mídia. nesse período o Tribunal do Santo Ofício foi o realizador. ele não é só indefinido. e que poderia ser a mesma pessoa. E aí nós buscamos fazer uma divisão do tempo. acreditava-se no medo das magias originais.Geografia e História da PB 257 tinham muita aproximação com o Tribunal e que fossem bastante afinadas com os princípios da Inquisição. acreditava-se no medo do cristão novo. uma figura imponderável (o cristão novo é imponderável porque nunca se sabe o que ele será. E ela sempre aparece referida como um escárnio ou monstruosidade. na leva de expulsão dos jesuítas por Pombal. que carrega o Tribunal do Santo Ofício é aquilo que Jean Dulumo chamou de “medo obsidional”. Lá para as tantas. nas revistas. Momento da Pedagogia do Medo. citada no meio de alguma notícia ou ela mesma como a notícia mais importante. que é um padre jesuíta expulso de Pernambuco em 1760. este personagem ao mesmo tempo recebe em casa alguém que está sendo perseguido pelo Tribunal e. Nós dividimos o tempo inquisitorial em duas fases. como uma instituição que representa um anátema histórico e uma negação do seu próprio tempo. muitas vezes sem se provar a culpa da vítima. obrigando os “filhos de Israel” a se tornarem cristãos na marra. brasileiros. leva em si um pouco da nossa alma. algo em torno de 41. Com a conversão. Aqui. na Paraíba. O filme deverá ser rodado no próximo ano.. Ou.000 devem ter sido judeus e cristãos-novos. Destes. uma judia vitimada pela Inquisição. Essa intolerância chegou ao Brasil. pois a “nossa” Branca vai para nas telas de cinema em breve. interpretados pelos inquisidores como sendo uma ordem divina de perseguição aos infiéis judeus. Até o Papa chegou a questionar tal obrigatoriedade. no século XVIII. A biografia dela é repleta de fatos contundentes.Geografia e História da PB 258 reformulação da intolerância do Tribunal. O estudo desse período passa pela análise da personagem Branca Dias. Por três séculos os judeus não tiveram sossego em Portugal. o caso de Branca Dias. E é nessa fase que teria ocorrido. O momento é muito propício para debatê-la. buscamos este paradigma heróico em nós mesmos. como um objeto básico de memória e como uma exposição essencial daquilo que a sociedade imagina como tendo sido o Tribunal do Santo Ofício. O que ocorre nessa fase nos interessa mais de perto porque é nela que se dá a transformação das expectativas que a sociedade tinha sobre o Tribunal. Teria sido vítima da paixão anormal de um padre que desejava a judia a qualquer preço. O Tribunal do Santo Ofício da Santa Inquisição processou aproximadamente 52. nos interessa. Naquela época – século XVIII – os judeus viviam sob o terror da conversão forçada decretada desde o século XV.. tendo ou não existido. para usar o termo científico forjado por Arnold Toynbee (um dos maiores historiadores deste século). É memória no sentido aristotélico. no entanto. Branca teria sido a realização de uma das características do imaginário colonial brasileiro muito bem definidas pelo antropólogo francês Gilbert Durand. nos nossos políticos. Há uma outra que teria vivido em Apipucos (hoje município do Recife). e morre queimada por causa de seu destemor. Esta saudade conduz Branca ao embate suicida contra os inquisidores.000 infelizes. Sua própria existência é posta em dúvida. Ela sabe que não poderá ter uma vida normal ao lado do seu amado. A história de Branca é paradigmática. mas ainda judeu nos hábitos e no coração. Branca Dias é a “personagem” histórica – ainda que ficcional – mais controvertida da Paraíba. ou seja. de J. Em nome do amor que tinha pelo noivo. segundo o “Livro de Branca”. fez vítimas e criou um ambiente de medo e denúncias. o judeu – que pensava se livrar da perseguição após ter se convertido – passava a ser tido como cristão-novo ou criptojudeu. ou pelo menos ocorre na tradição oral paraibana. Sabe que poderá perder tudo para o confisco inquisitorial. Branca. nos nossos artistas e até nos jogadores que representam o “país do futebol” na Copa do Mundo. sob a narrativa heróica está o mitologema mais caro da alma luso-brasileira: a “saudade do impossível”. Há três Brancas. No novo ciclo de crescimento do cinema brasileiro aparece o projeto do cineasta Davi Kulock e da roteirista Sílvia Lonh para um filme ficcional sobre Branca Dias. A Branca que nos interessa teria vivido em Gramame. se ela não existiu historicamente e realmente ela não tem comprovação de existência ou qualquer documentação. Paraíba. Textos de Isaías e do Deuteronômio abasteciam os inquisidores. Branca foi. mas sem documentação comprobatória de sua existência. Branca resistiu a todas as pressões. Nós. cristão nas aparências públicas. Uma das bases de sustentação deste ato de intolerância está em trechos do próprio Livro Santo. tão decantado. Ele diz que o nosso . Tendo ou não ocorrido. Se Branca Dias não é comprovada historicamente. Sabe que só lhe restará “lembrança do que TERIA SIDO a vida sem a Inquisição”. A história é marcada pelos mitos que formam o imaginário da nossa gente. Branca Dias diz muito do “espírito de uma época e de um povo”. Uma delas já tem a existência histórica comprovada: viveu em Pernambuco e foi processada pela Inquisição como judaizante no século XVI. mas acabou se deixando levar pelas pressões do Império Português. Mesmo assim. Branca não se entrega às pressões do padre. também judeu. Abreu. a idéia de Inquisição surge sempre para o debate e sempre que estou diante de um plenário. a não ser pela suposição de que ele. mas que procuremos a objetividade.Geografia e História da PB 259 imaginário é composto de vários mitologemas e dois desses mitologemas vão nos interessar especificamente para o estudo da Inquisição. Sebastião – sebastianismo – (não vou me alongar sobre ele. arrogante. o rei que desapareceu e que deveria retornar) e tenta conhecer a alma brasileira e alma lusitana afirmando essa saudade do impossível como uma formulação essencial do Tribunal do Santo Ofício. Por que? Porque aconteceria como uma imposição de um grupo diante do resto da sociedade. estamos criando algo que não existiu. . naquele curso já mencionado. como coloca Petters. no Tribunal do Santo Ofício. e ao mesmo tempo analisá-la no seu momento mais difícil. nós fizemos por escrito. mesmo para aquelas pessoas. O Tribunal é a realização do oposto essencial da noção de saudade do impossível. ele mesmo. como católico. Essa é outra distinção essencial de se fazer. mas o processo organizado e estruturado por determinado inquisidor ou por determinada mesa inquisitória. desde o início foi difícil de manter-me na fé. Graças a essa análise durrandiana. O Tribunal do Santo Ofício comporia então uma forma essencial de conhecimento da própria maneira de ser do brasileiro e do português e dos povos ibero-americanos. no seu momento de imposição. o processo de Maria. Porque como disse no começo da exposição. eu imagino que expectativa o plenário tem sobre o tema. engendrando o terror. o realizador desta impossibilidade naquele período (século XVII/XVIII). como engendrou. aumentá-lo na sua monstruosidade apenas para denegri-lo. foi parte dos valores que geraram a nossa sociedade. nós fazemos o que Max Weber esclarece muito bem: não é possível analisar um objeto histórico. Nesse mitologema haveria uma constante expectativa de retorno ou de realização daquilo que se sabe impossível. no momento que ocorreu foi valor ativamente aceitável. Aí é preciso fazer outras separações ou distinções: como membro dessa cultura herdeira do Tribunal. Que este Tribunal. Num deles ele coloca que a nossa cultura é caracterizada pela saudade do impossível. não que procuremos a neutralidade em relação ao objeto estudado. Então. Os processos deixam de ser o processo de João. Não se tem saudade daquilo que é impossível se não houver a realização da impossibilidade. que é de mim e da minha família. É necessário que nós façamos. Depois dos formulários prontos concluímos que. sendo o que foi. porque. não tinha uma explicação histórica cabível. o Tribunal não tinha uma explicação histórica essencial. mas também herdeira da Inquisição. foi parte daquilo que nós somos hoje. Ele vai no exemplo de S. foi parte da nossa civilização. As pessoas chegaram a escrever. e enquanto membros da fé cristã. ao fazê-lo. algumas alunos de história. Isso é que é duro no Tribunal da Inquisição e na análise da Inquisição. Aqui. uma exposição mais interessante. Conhecê-lo objetivamente e de nada adiantaria. que é difícil de admitir e difícil de contextualizar. Trata-se outro movimento difícil de realizar para poder chegar à análise do Tribunal. E aí a gente entra por outra discussão. dentre outras tantas variáveis. não tinha uma explicação histórica factual. a visão durandiana de análise do imaginário permite que a gente comece a compreender aquilo que talvez nos seja difícil compreender. já que ele teria forjado na nossa cultura um dos seus pontos civilizadores essenciais. Ao contextualizá-lo historicamente. poderemos fazer algo que torne. Deixamos de lado a análise de casos pontuais e buscamos a análise do documento histórico como base da mentalidade inquisitorial. da “saudade do impossível”. no momento foi valor ativamente bom ou tido como correto. isso é realmente a nossa cara. no seu momento de arrogância. Eu mesmo. intolerante. Nossa sociedade teria. para vocês. Eu distribui um pequeno formulário perguntando às pessoas o que elas acreditavam o que fosse a Inquisição. falando sobre Inquisição. ao trazê-lo de volta àquilo que é factível. Que conceito anterior nós carregamos e sempre que foi possível captar. o processo de José. ir à análise dos números. dele mesmo. o seu prestígio enquanto inquisidor. mas vamos tentar passar para vocês o que seria uma análise simbólica do Tribunal. aquela decepção com os números. a algumas citações bíblicas. eles aconselham (eu fui aconselhado) a ter uma carta de apresentação de alguém da Igreja. é para maio ou junho de 2001. que acaba de chegar por importação – HISTÓRIA DA INQUISIÇÃO – PORTUGAL. ESPANHA E ITÁLIA – fez toda a sua pesquisa com um grupo de 45 pesquisadores espalhados nos três países durante um período que soma dez anos de trabalho e. facilmente. alguém do Vice-reinado presente em Goa anotou a justificativa teológica apresentada por um inquisidor. Encontramos. a seguir. como faz. só que a fila é muito grande e as exigências também. daqui e dacolá. Será? Nos números. realmente. Mas concordou com as citações da Bíblia. E que eram utilizadas pelos inquisidores. pelo menos me deram por Internet. o próprio professor Mott. que eu vou reproduzir para vocês. Essas citações bíblicas eram feitas pelos inquisidores. por exemplo. senão vai alguém para lá que não sabe. O Tribunal era essencialmente um tribunal moderno. se a gente levar em conta as informações da documentação que chega nesse Projeto Resgate. neste livro. e fica tomando o lugar de quem sabe. Por exemplo. que ainda está um pouco desconhecida no Brasil. Citarei. Eram feitas nos processos? Não. que nem uma carta de apresentação do Papa abria o arquivo. no valor dado ao que nós chamamos “estatística do sofrimento”. Francisco Bittencourt. Mas na verdade. eram feitas na visita que autoridades de outra instituição faziam. essa muito menos estudada. Houve uma evolução muito grande. São trechos interpretados pelos inquisidores como facilitadores e justificadores da . e ainda exigem uma série de apetrechos técnicos e intelectuais de quem vai visitar. por exemplo. Eram feitas nas correspondências dos inquisidores. autor desta obra essencial para o estudo do Tribunal do Santo Ofício. ou seja. nós chegamos. O que ocorreu. pouco estudadas. realizou a análise do Tribunal sem analisar um único caso. o que seria uma análise do imaginário do Tribunal. um tribunal do regime absoluto e da monarquia absoluta. nas estatísticas. na história do Tribunal na Paraíba? Quantos foram para a fogueira? (Um aluno da minha disciplina de Inquisição dizia que estava sentindo falta do churrasco. depois de ler o trabalho). alguns trechos bíblicos como origem do mitologema dessa hierarquização da fé. Qual a expectativa dos historiadores que estão indo ao arquivo do Vaticano. nós não radicalizamos tanto. Ainda um dia desse vi na ISTO É ou na VEJA alguém dizendo que os arquivos não tinham sido abertos. é que no momento em que se abriram os arquivos inquisitoriais no século passado e neste século. Por exemplo. Melhor que antes. Quantos foram inquisitoriados? 40. porque consultando a co-orientadora da minha tese sobre as citações que gostaria de fazer. não para aqueles que foram inquisitoriados. depois faz alguns conceitos e em seguida faz estudos de casos. o Tribunal resume-se a um punhado de gente. eram feitas na documentação relatorial da Inquisição. a análise se limita a apanhar o livro falando de uma visão geral do Tribunal do Santo Ofício. ela não concordou. a política que rodeava esse jogo de prestígio e a efetivação dos mitos de pureza presentes no imaginário da cristandade muito antes da formação do próprio Tribunal. 50.Geografia e História da PB 260 De modo geral. Mas eles têm razão. Bittencourt teria anunciado que vai com sua equipe para lá e deverá fazer a análise desses documentos. isso também nunca foi levado em conta. cujos códices nós vamos ter para revelar e que são documentos de ação do Tribunal fora dos processos. A essência da mentalidade de um inquisidor era a soma entre a hierarquização da fé e a utilização hierárquica da fé. Nós buscamos evitar esse reducionismo e partimos para a compreensão da sua simbologia e do seu significado. o domínio absoluto do latim e do latim arcaico na pesquisa do documento. A fila está para o ano 2001. informando que era contra o regulamento da feitura de teses. Nós não chegamos a esse ponto. Nem tudo que encontramos poderemos utilizar aqui hoje. Se você chegar hoje no Vaticano e buscar uma pesquisa no arquivo a resposta que eles dão. É muito fácil quando nós vamos falar do Tribunal do Santo Ofício. na reação da platéia. Buscando. nós devemos admitir. Quem afinal foi queimado? Quantos foram para a fogueira? Um? Talvez dois. e agora na abertura dos arquivos do Vaticano. eles foram. E além disso. os historiadores se fixaram em casos. agora? Mais uma vez o estudo de casos. Essa é uma idéia essencial. . Mas o fato é que maior do que a busca de embasamento bíblico para a intolerância religiosa foi a busca do embasamento em São Tomás de Aquino. 30. e perverteram os habitantes da sua cidade. e se compadeça de ti (. e ele exaltará a sua glória.. quando defende. averiguada a verdade do fato. quando clamar atrás de ti (dizendo): Este é o caminho. Esse inquisidor vai além e chega a dizer que o Tribunal fez pouco ao restringir-se a isso.). nem teus olhos lhe perdoem (. Porque vocês sabem que o Tribunal apenas agia sobre quem se convertia. como se encontrou na anterior. Essas cartas entre inquisidores de tribunais paralelos. Vejamos o trecho: “Se o teu irmão... e destruí-la-ás com tudo que há nela. da qual nós poderíamos falar mais detidamente se tivéssemos mais tempo. e. O desejo de interpretar é de cada um. ditosos todos os que esperam nele. não cedas ao que te diz. principalmente no século XVII que a Inquisição não deveria ficar restrita apenas aos que já se converteram. no sentido em que ela se origina dos místicos. e que seja um túmulo perpétuo. porque o Senhor é um Deus de eqüidade. porém. nem o ouças. o outro trecho refere-se assim a um outro assunto semelhante. 18 e 20 – 21) Essa observação. mas se encontra a referência. dizendo-te em segredo: Vamos. perdoando-vos. em teoria. perseguição aos judeus e ele chega até a dizer. E os teus ouvidos ouvirão a sua palavra. foram interpretados assim. filho de tua mãe ou teu filho ou tua filha. que vós não conheceis. ou tua mulher que repousa sobre o teu seio. Há outras fontes que demonstram esta influência até nos seminários da época. em poucos dias. Numa outra dessas correspondências não se encontra o trecho.. efetivamente se cometeu tal abominação. feita por um inquisidor em sua correspondência. e não se te pegará às mãos nada deste anátema. com mais ênfase. com uma edição já existente no Brasil. seja a tua mão a primeira sobre ele. e não seja mais reedificada.). e sirvamos a deuses estranhos (. até aos gados. fala de . Uma vez que ele se converteu. te quiser persuadir. desde 1992/93. não a mística cristã. e que.)”.. com mais determinação do que o próprio Tribunal.. que trabalham no mesmo império. apesar dos erros. Quando Tomás refere-se à mística. Não estou dizendo que eles são. elas fossem censuradas. Em teoria. e não declineis nem para a direita nem para a esquerda. que não tem obrigação de respeitar as normas da cristandade ou do catolicismo. ou o amigo a quem amas como à tua alma. (. Juntarás também no meio das suas praças todos os móveis que nela se acharem. ele. à força. seria a justificativa da perseguição aos cristãos-novos. Aquele que é judeu.Geografia e História da PB 261 ação inquisitorial. não teria. e disseram: Vamos e sirvamos aos deuses estranhos. tinham que ter autorização dos superiores e teriam que ter uma autorização permanente para que elas fossem escritas e. então ele pode ser perseguido pelo Tribunal da Inquisição e a sua ortodoxia pode ser testada pela Inquisição. “Se ouvires alguns que dizem: Alguns filhos de Belial saírem do meio de ti. 6-9 e 12-27. possivelmente. (depois) fará com que nunca se afaste de ti o teu doutor. mas logo o matarás..). a ação do Tribunal. nessa nova tradução que os exegetas realizam da Bíblia. Grifos nossos. e os teus olhos estarão vendo sempre o teu mestre. 13..) Essa busca de fundamentação dentro da Bíblia só não foi maior do que uma outra busca.” (Isaías. que é a busca de fundamentação em São Tomás de Aquino.) E (antes desse tempo feliz) o Senhor vos dará o pão da angústia e a água da tribulação.” (Deuteronômio. e na referência modernizada. para que o Senhor aplaque a ira do seu furor. e queimá-los-ás juntamente com a cidade. e depois todo o povo lhe ponha a mão. informa-te com solicitude e diligência. Vejamos um desses trechos: “(. de maneira que consumas tudo em honra do Senhor teu Deus. andai por ele.) o Senhor espera o momento em que terá misericórdia de vós (filhos de Israel).. (. por decreto. o Tribunal tinha como princípio agir sobre cristãos. imediatamente farás passar à espada os habitantes daquela cidade.. se achares ser certo o que se disse.. O homem fica incapacitado sexualmente. quando são retiradas do seu contexto e comparadas com outras frases. num processo ocorreria que uma feiticeira havia sido acusada de realizar o seu feitiço contra um judeu. dos feiticeiros. 23. Vejamos uma outra citação da Bíblia. o advinho. devemos concluir. É o mito interior. Foi preso. não. Uma vez que o Tribunal buscava. no Rio de Janeiro. diz o delegado. cujo processo está nos chegando. Então o inquisidor interpretaria que contra um judeu podia. que ele não era aquele monstro que a gente imaginava. e levar-te-ei a outro lugar. juizes. que olha para o deserto. na década de 40. Ele diz. ou pela anuência de Deus. Explica-se a intolerância. Ela fez o famoso feitiço que impede a realização do ato sexual. No meio de um processo similar surge a justificativa e a contextualização dessa citação na cabeça dos inquisidores. E. por exemplo. dos mágicos. É o que aconteceu com um indivíduo que se dizia Zé Pilintra. disse-lhe: Vem. o monstro. Ela fez o que fez porque Deus permitiu. contra índios. Então. Balac fez o que Balaão lhe dissera. Em 1928 foram mortos na rua. contra a religiosidade de origem africana. Perguntar-se-á: qual dos dois é o inquisidor? Contra negros. a base teológica e simbólica da sua ação. Pensemos nos milhares de . Mas. aquela não foi uma lei inócua. E está presente onde? Então fomos atrás de processos que já estão conosco. que tenha deixado as práticas mágicas à vontade. Na realidade. Não foi o monstro que deixou o legado e o legado está presente.Geografia e História da PB 262 constrição em torno do Espírito Santo. realizou-se o retorno. principalmente. promotores. Ele admite. fazemos escapar do seu meio. da sua época e entregamos ele de volta ao seu passado. eu sou o próprio Zé Pilintra. que o povo de Israel. O que é que eles buscam aqui? Eles pensam que os judeus. com os negros da praça Sinimbu. e pôs um novilho e um carneiro sobre cada altar. constantemente e com firmeza permanente. rei dos Moabitas. porque era coisa de negro. passou alguns anos preso. Talvez só na cabeça deles mesmos. com a permissão de Deus. que é uma citação que vale uma interpretação: “E Balac. Estas nuances de legado que permanecem. Ao contrário do que possa parecer. publicizada por ela mesma e não correspondida. só poderia ser vencido pela intervenção dos adivinhos. depois de o ter levado ao cimo do monte Fogor. Esse é o significado da citação. pode. Explica-se o autoritarismo. Os processos subseqüentes que a gente analisa são processos com os quais a gente faz um paralelo e para os quais a gente está começando agora um projeto de pesquisa na universidade. do seu tempo. a Inquisição deixou marcas. Porque a idéia de monstruosidade é a idéia que ocorre de uma forma absolutamente sem precedentes. em que delegados. É o que acontece. O monstro não se explica.” (Números. da ligação do fiel cristão com as regras específicas da cristandade. dos inquisidores do século XVII. que são da República Brasileira. chamado o “legado da inquisição”. disse-lhe: Levantame aqui sete alares. Por exemplo: a recente queda do artigo que condenava a quiromancia no Código Penal Brasileiro é parte de uma longa história de perseguição e sofrimento. Balaão. Seu legado está até hoje nos valores da sociedade brasileira. incontida. porque a gente começa a tentar conceituar cientificamente. Quando você diz “monstro”. fazem com que a gente tenha muito cuidado ao admitir essa idéia de monstruosidade. e que era um processo muito comum nos processos inquisitoriais e esse impedimento acusatório sobre ela teria sido fruto de uma paixão dela por ele. 27-30) Quando vi essa citação pela primeira vez fiquei bastante pensativo em torno dela. e igual número de carneiros. e prepara outros tantos novilhos. falam frases que. no Brasil da década de 90 do século passado. sem contexto histórico. em Maceió. de imediato. sendo exercidas “à revelia da lei”. a similitude é grande. das primeiras décadas deste século e até muito recentemente. sobre o que ela podia significar. Esse projeto tenta comprovar o que estou afirmando. tentando conceituá-lo. cascavilha até encontrar algo que justificasse que contra um judeu. realizou-se a busca no fundo do baú dos mesmos princípios inquisitoriais. a religiosidade afrobrasileira. a ver se é do agrado de Deus que tu de lá amaldiçoes o povo de Israel. as autoridades passaram a considerar bruxaria como coisa do diabo. um objeto de louvação. em plena Era Moderna. dentro da catedral. disse Carlos Drumond de Andrade. pelo povo. Quando o legislador colocou aquele artigo – e outro mais – no Código Penal. para a infelicidade do lado mais fraco desta triste história. Entre 1580 e 1700 (grosso modo) milhares de homens e mulheres morreram nas mãos de inquisidores católicos e protestantes. É esta a idéia predominante no Ocidente. difamados e queimados pela polícia de Maceió. Desde o século XIII. orar. ao mesmo tempo. porém. Ele foi assassinado em Saragoza. na Espanha. Mas. Foi por esta via que a lei chegou ao Brasil. sugiro que parem na dita praça para observar e. Ele não está no Dicionário dos Santos do Vaticano. D’Abués foi um mártir inquisidor. segundo a tradição. na tentativa de entender o Tribunal na sua contextualização. a grande “caça às bruxas” não ocorreu na Idade Média. E. em Saragoza. passa pela sedução da feiticeira pelo “belzebu”. Já a feiticeira – entidade surgida no século XV graças à imaginação de parte do clero católico – é uma sócia do demônio. Antes. relembramos umbandistas mortos. realmente. Começou após a Reforma Protestante. A diferença entre a bruxa e a feiticeira está no fato de que a primeira utiliza-se de ervas e raízes para realizar as encomendas boas e más que se lhe fazem. As práticas religiosas que foram tidas como feitiçaria podem ter origem no “culto da lua”. além de fazer uma análise voltada para esses mártires. Há muitos Pedros. No Brasil. Esta é uma história que vem de longe. curiosamente. Quando vocês forem àquela bonita cidade. destruiu e espalho terror nos terreiros de umbanda e candomblé. como São Pedro Mártir. que é um santo desconhecido entre nós. já no século XX. Aconteceu no Brasil até os anos sessenta. já tão aproximados pelo sincretismo. Resultado: a velha lei foi trazida de volta. Talvez nossa memória seja curta.. a que me referi anteriormente sobre o trabalho de Luiz Mott. estava legalizando uma prática abusiva de intolerância e autoritarismo.Geografia e História da PB 263 vezes em que a polícia invadiu. que foram dilacerados. hoje. Esta é uma história que deve ser relembrada. Note-se que ainda não existiam feiticeiras no imaginário ocidental. por judeus. “Coisa de ignorante”. Mas. em geral. morto com uma pancada na cabeça. Após a República. Quando a onda arrefeceu. formaram-se filas em . tendo feito um pacto com o príncipe das trevas em pessoa. O Brasil independente herdou a legislação portuguesa de costumes. numa noite do não tão distante 1928. “religião” anterior ao cristianismo e que predominava entre os bárbaros do antigo Império Romano do Ocidente. esquecido. Então ele foi tornado rapidamente. Isto não ocorreu na Idade Média. O pacto. Aqui. E ainda sugiro que seja uma oração de integração e união entre brasis diferentes e. É daí que vem o famigerado artigo do Código Penal banido em 1998. as práticas mágicas deixaram de inspirar medo e passaram a inspirar desprezo. o século XVIII assistiu a uma mudança de mentalidade: lentamente. a Intendência de Polícia copiou boa parte dos princípios inquisitoriais em voga nos anos 80 do século XVIII. ditos mandingueiros (coisas de índios?) e crendices desagradáveis para um país que se queria igual à França.. aqueles ex-escravos empobrecidos andaram ferindo os ouvidos da gente branca e esnobe das classes abastadas com atabaques. Seu crime: reunir-se para cultuar “deuses africanos” num terreiro onde hoje existe a Praça Sinimbu. Manuais de demonologia foram impressos aos milhares (um fenômeno impressionante para uma época em que a imprensa acabara de ser inventada!) Aqueles que discordaram desta onda de histeria foram ridicularizados e até processados. A ele estou dedicando um estudo porque ele é. as religiosidades africana e indígena foram tidas pelo colonizador como semelhantes à feitiçaria. com ápice entre 1920 e 1950. A Inquisição foi extinta em Portugal em 1821. diria um nobre. “Toda História é remorso”. Bittencourt fala em São Pedro D’Abués. quem sabe. a fusão destes mundos ocorreu durante a colonização. afinal. e pesquisadora permanente. leigos na matéria. do período de aproximação com o poder temporal: “com este sinal vencerás. Consta que o rei parou para ler e comentou. porque as famílias dos cristãos-novos solicitaram ao Papa a retirada dos sabenitos. alguns dos quais teatralizados. Agora passaremos a palavra à nossa debatedora professora Zilma Ferreira Pinto. que ouvi atentamente. Com isto encerro minhas considerações sobre o tema. Bittencourt. porque era algo que denegria a imagem dos que tinham morrido. liam-se várias frases que representam esta aproximação do Tribunal com o seu tempo. admirado através dos anos. Seus sabenitos foram pendurados dentro da catedral de Saragoza juntamente com as armas que teriam feito o crime e durante muito tempo as pessoas iam ver. e permitiriam aquela contextualização que evita a concepção da monstruosidade. de justificada presença em determinado momento. Fez o exame. pesquisadora. foi essencial na construção do imaginário inquisitorial. Ela é formada em História pela Universidade Federal da Paraíba. É uma das representações fortes que serviriam para compreender o significado do Santo Ofício para as autoridades seculares. mas considerada moralmente louvável pelas pessoas que viveram naquela época. que a tua própria cabeça machuca”. E é este imaginário inquisitorial que nos faz compreender o Tribunal no seu contexto histórico e na sua ação. de cercear e até queimar é algo que machuca e gera a infelicidade daqueles que se vêem obrigados a essa tarefa difícil. Para encerrar nossa argumentação falarei de um desses símbolos. não se diz o que. sócia do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. permitindo-nos uma nova conceituação sobre a existência do Tribunal do Santo Ofício. verdadeira coroa (a do rei). que passou sob ele. ··· A fala do Presidente: O professor Carlos André nos deu uma visão elevada do que foi a Inquisição. o imperador respondeu que não podia. vocês poderão ver. que é muito representativo do Tribunal. mesmo de longe. em latim. Pertence ao Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. para o imperador Felipe III. permitindo-nos vivenciarmos a Inquisição de ontem. Ao repassar algumas passagens da História. até justificando sua implantação por parte da Igreja. examinada à luz de novos conceitos. este arco construído em Lisboa. como uma instituição não apenas aceitável. tenta localizar uma série de iconografias. em torno desses mártires. veio-me à mente a passagem de um poema de Hildeberto Barbosa. a análise profunda de uma instituição que teve sua época.Geografia e História da PB 264 torno da catedral e os judeus acusados de matá-lo foram processados e queimados. No seu estilo de professor qualificado fez uma interpretação sociológica e psicológica. no começo do século XVII e chamado Arco dos Inquisidores. de que a decisão de perseguir. possivelmente em madeira. Oh. assim como as pombas e os simples. Estaria de pleno acordo com ele se não tivesse uma . Assim falou o poeta. Não havendo condições de exibi-lo com projeção. com especialização em Didática. Oh. vieste. Quando o Papa pediu para retirar os sabenitos. Foi uma excelente colocação para nós. que Bittencourt busca conhecer e entender. porque se fizesse isso haveria uma revolta popular no local. no qual ele conceitua a História como o calendário da miséria universal. Debatedora: Zilma Ferreira Pinto (Professora de História. dedica-se ao folclore. em face das circunstâncias do momento histórico do seu aparecimento. Passo a palavra à professora Zilma Ferreira Pinto. tanto no Brasil quanto em todo o império português. A idéia de que a realização da intolerância religiosa é algo que machuca a cabeça do rei. luz da luz. ou seja. e dedicada ao folclore) Parabenizo o professor Carlos André por sua excelente exposição. Havia a seguinte citação constantínica. com vários trabalhos publicados nessa área. Além de ser uma destacada genealogista. Nesse arco. Foram dois processos. condenado em 6 de julho de 1732. ela falecida em 2 de março de 1827. Rio Grande do Norte. então não teríamos humanidade e muito menos História. O homem nas suas aspirações. abrangendo um casal e toda uma família vítima da Inquisição. que foi levada para Lisboa e tiveram destinos trágicos. que é o homem e a mulher. a família que nasce dessa atração entre os dois opostos. não teve muita repercussão porque a população era muito pequena. A vida continua devido a esse impulso lírico. a terceira filha dos descendentes judeus. e onde foram travadas renhidas batalhas contra os holandeses. Antônio da Fonseca Rego casou com Maria de Valença. nem nenhum regime totalitário é capaz de matar. no início do século XIX. em sua visão grandiosa. onde se manifesta o sujeito histórico. que nem a Inquisição. Vemos também. da história da Província. é descendente de Cosma e Damiana por parte de pai e parte de mãe. onde se vê a Capela do Engenho Santo André. não haveria o sujeito histórico. Por aqui vocês vêem a dimensão lírica da História. morador no Engenho Velho. a força que vem da própria vida. Passemos ao século XVIII. sem essa união. não era só a história da Capitania. que se perpetua através dos tempos em todas as partes do globo terrestre. o deslocamento de famílias. embora tivessem alguns casos judaizantes. que é a continuidade da História do povo hebreu. O casal já era falecido em 1777. Aí vocês vêem um depoimento muito bonito. Numa dimensão lírica. São pais dele Florência Nunes da Fonseca. do qual foi presidente e fundador. suas carências. São os pais dele Joana Nunes da Fonseca. Américo Sérgio Maia. o casal foi residir em Catolé do Rocha. com as suas necessidades. onde poderemos focalizar as famílias de judeus da Paraíba. foram cerca de 16 denúncias e os casos mais interessantes foram de bigamia e sodomia. também casou com o cunhado. que Sérgio Maia. Grande parte da família Maia do Catolé do Rocha tem como herança o sangue dos hebreus. o viúvo Manoel Alves Ferreira Maia. Três filhas do casal casaram com dois filhos de Antônio Ferreira Maia. autor destes apontamentos a que agora me refiro. o emocionante disso tudo. Abandonando o refúgio da serra do Martins. Sem essa fração. a História continua. E nestas carências e necessidades nós vamos encontrar aquilo que o objeto principal dessa minha exposição. Residia na serra do Martins. Era mãe de Antônio da Fonseca Rego. é onde se realiza a História. Nesse Engenho Santo André viveu Clara Henriques da Fonseca. Quando falo nessa dimensão lírica é para realçar essa capacidade. em 1595. que é a família. fugindo da Inquisição portuguesa. de saudosa memória. em 17 de junho de 1731. Paraíba. do Rio Grande do Norte e do Ceará para o interior. O que se deu juntamente no século XVIII no momento em que se intensificava o povoamento do sertão. portanto. Quero dizer que nessa dimensão lírica é onde se impulsiona. Mas. A chegada aqui do Santo Ofício. foi sua primeira mulher e Maria. condenada pela Inquisição de Lisboa. as famílias da Paraíba na Inquisição. que uma manifestação do amor. nem da história do Brasil. Hoje existem apenas ruínas. não haveria o suceder das gerações. também condenada pela Inquisição de Lisboa em 17 de junho de 1731 e em 20 de julho de 1756 a cárcere e hábitos perpétuos sem remissão. também na várzea do rio Paraíba. município de Santa Rita. de núcleos familiares daqui da Paraíba. dentro da História da Paraíba. E como diz Sérgio Maia. na qual se desdobra o trágico e o épico. na Paraíba. no município atual de Santa Rita. O Engenho Santo André é hoje a usina de açúcar Santana. para o sertão. Posso mostrar-lhe um impresso. mas da história universal. de autoria de Sérgio Maia. natural do Engenho do Meio. que é também o seu objeto. essa potencialidade. É assim que eu vejo a História. nem o nazismo. casada com João Soares Filgueira. ele falecido em 5 de agosto de 1831. leu aqui numa reunião do Instituto de Genealogia e Heráldica. Cosma casou com Francisco Alves Maia. Damiana casou com Manoel Alves Ferreira Maia.Geografia e História da PB 265 perspectiva lírica da História. . casada com João Francisco Fernandes Pimenta. Vejamos. Segundo o professor Inácio. De Ambrósio Vieira. Como não soubessem o que fazer com ela. João Inácio era casado com Catarina Liberato de Alencar.. talvez por remorso. os jejuns de expiação e todo o ritual do calendário judaico. Assim. que passaram a arte da ourivesaria para os filhos. ali num sítio histórico. porque eles realmente judaizavam.Geografia e História da PB 266 Neste auditório estão presentes vários descendentes dessa família numerosa. quero continuar falando sobre essa família ilustre da Paraíba. por sinal na casa de um irmão do teatrólogo Antônio José da Silva. Ora. na memória da família (não tem documento) João Inácio e Francisco se diziam que eram filhos de Simão Dias Cardoso de Araújo. Justamente quando estavam reunidos na casa de um cunhado. teria sido uma lavagem cerebral? Simão quando foi solto ficou abrigado na mesma casa onde a mãe estava e denunciou que ela estava preparando o jejum da expiação. de geração em geração e Diogo Nunes Tomaz. É esta a prisão de Clara pela segunda vez. e ali toda essa comunidade se reunia. Antônio da Fonseca Rego era filho de Clara Henriques. foi para Portugal e não voltou. Simão depois se tornou um olheiro. Vamos ter notícia de Luiz de Valença porque ele compareceu no mesmo auto de fé do padre Malagrida. porque ela emerge como a própria figura da máter dolorosa. Era uma família pequena. naqueles interrogatórios da Inquisição a pressão era muito grande. Conforme ficou acertado com o expositor. e quando ele chegou lá denunciou o filho Simão. Com esse relato vocês podem ter uma idéia do que significou a Inquisição na Paraíba. nas margens do Gramame. e por conta disso ela denunciou o marido. da Branca Dias da Paraíba. os Henriques. sem uma solução em face da sua doença mental. Simão foi mandado para o Rio de Janeiro e durante a viagem endoideceu. Mas todos entrelaçados e descendentes de dois casais que remontam à época dos holandeses. professor Carlos André. Quando foi posta em liberdade não pôde voltar e foi acolhida numa casa de cristão-novos. Deve ter morrido. Tem também o processo de Luiz de Valença. que também tem outra seqüência de Guiomar Nunes. Clara Henriques é uma figura que emociona quando a gente passa a vista no rol dos culpados registrados no livro de Anita Levinsky. Como se sabe. Pois bem. como vocês viram. O processo vai para Roma. que foi processada duas vezes. um espião a serviço da Inquisição. saindo de lá para Pombal. Chaves. chega o pessoal da Inquisição e prende todo mundo. esse Simão Dias aqui da margem do Gramame é dado. em Barbalha. que por sinal se multiplicam essa Joana do Rego. mandaram-na para Évora. na primeira foi levada para Portugal em 1931. embora não tenha documentação. não foram inocentes. demora sete anos para voltar para Lisboa. Nunes. casado com Guiomar Nunes. que já não andava boa do juízo. O interessante dessa família é que eles conservaram na memória familiar a sua ascendência judaica e conservam viva na memória a história de Branca Dias. Esse conseguiu fugir aqui das perseguições. Nas suas reuniões celebravam seus sabás. Clara Henriques foi uma grande figura e foi presa quando já era viúva. morador no Engenho Velho. uma matriarca. Depois volta e se refugia em Mari do Seixas. sendo afinal libertada. Eu pergunto. parente de todo mundo. e ficava dizendo que era judeu. Antônio da Fonseca Rego foi acusado de judaísmo e feitiçaria. Deles descende o professor Inácio Tavares de Araújo e José Romero Araújo Cardoso. casado com Joana do Rego. tendo morrido no cárcere. para iniciar o jejum. porque esses cristãos-novos daqui da várzea da Paraíba eles constituíam uma grande família: os Fonseca. Clara Henrique morava no Engenho de Santo André. Outra família que também se tem notícia é a de João Inácio Cardoso Darão. Maria de Valença. como pai da própria Branca Dias. que deveria ter uns 15 anos. na Paraíba. retornando do Rio para Lisboa. foi para o Ceará e lá se casou com uma moça da família Alencar. Ela era uma senhora de 71 anos. Pereira. caberia a mim fazer alguns registros de famílias atingidas pela Inquisição. mendigando nas ruas de Évora. Se eles foram processados. tendo morrido na miséria. Estou apenas passando aquilo que colhi na família. . que é escritor e professor de Geografia em Mossoró. que solicito se levantarem para receberam nossas homenagens. Era uma família de artesãos. Manoel Homem foi casado com Margarida de Albuquerque. e mais a mestiçagem com o nosso índio e com o africano. duma herança cultural que temos a responsabilidade e o dever de preservar. Acredito que haja uma relação desses três com essa descendência de João Inácio Como se vê. senhor de engenho. o Brasil das nossas raízes. Ele era da vila de Serinhaém. Ele é um ramo do morgado. cristão-novo. mostrou-me um documento constante dum boletim do Gabinete de Estudinhos de Geografia e História da Paraíba que comprovam a filiação dela e a sua origem na árvore do morgado. casado com Catarina Ferreira Barreto. escrever-se sobre a nossa história sem a história das nossas famílias. a história dos povoadores desses nossos municípios. quem fez um trabalho interessante foi Aderaldo Pontes. Ela morava no Engenho Santo André. que já trazia o sangue mouro. filho de Antônio de Figueiroa. Da descendência dela. foi filho de Antônio de Figueiroa. que assumamos nossas origens. porque ela morava aqui. que foi preso em 1729 e vemos. nós temos nossa herança gótica.Geografia e História da PB 267 No rol de culpados de Anita Novinsky nós vamos encontrar um João Almeida. Era pai de Diogo Nunes Tomaz. Foi casado com D. lavrador de cana. Manoel Homem de Figueiroa. através de depoimento. a história continua através da família. primeira da sociedade. Esse é o Brasil dos 500 anos. Todos nós aqui temos pingos dos cristãos-novos. esse é o segundo nome. porque esta mestiçagem que nós carregamos nos engrandece. tanto que lá é tida como heroína. natural do Engenho das Tabocas e morador no Taipu. que faz com que a história continue e continuemos sonhando. os quais poderei distribuir cópia com os interessados. foi queimada viva. Na mesma fonte encontra-se que Antônio de Figueroa teria nascido em 1634 e Jorge Homem Pinto falecido em 1651. neta por via materna de Duarte Gomes da Silveira. que o era de Jorge Homem Pinto e de sua mulher D. Esses quadros vão constar dum trabalho que estou elaborando sobre cristãos-novos. Ana de Carvalho. Outra família: Diogo Nunes Tomaz. Mas acontece que no volume II. Hoje nós somos senhores de uma cultura fabulosa. . do Engenho Tibiri. Poderíamos fazer uma relação entre esse número Homem constante do rol dos culpados com esse Manoel Homem citado por Borges da Fonseca (fica em aberto o assunto. Lá no rol dos culpados ele é dado sem ofício. Eu trouxe esse quadro genealógico como também um quadro dos troncos dessas famílias. Tive uma dúvida. vivendo e lutando por este Brasil. com tanta naturalidade. que ainda vive em crescida idade. assim como fez o professor Sérgio Maia. mas era pernambucana. que ele era primo da morgada. porque eles é que realmente fizeram a história. da NOBILIARQUIA PERNAMBUCANA. Viúvo. o sangue celta e tudo isso nos foi transmitido. Dessa descendência se encaminha (faltam alguns zeros) para José Lins do Rego. e nós também. Continuando pensando no trágico da história. tanta beleza. Testemunha: Antônio Nunes Chaves. No rol dos culpados de Anita Novinsky. português que já era um mestiço. já devia ser um homem idoso. porque não se pode fazer uma comemoração. E nada mais consta. Mas esse Francisco Cardoso era o senhor do engenho. que é da família de Duarte da Silveira. logo após o debate. herdeira do Taipu. mas o consócio Guilherme d’Avila Lins. onde se encontra todo o impulso da vida. que é instituição legítima. vamos encontrar o seguinte: e o sobredito. Vitória Barbalha Bezerra. vamos encontrar um Manoel Homem. tudo isso trazido pelo português. mas também nos dá muita responsabilidade. um Inácio Cardoso e um Pedro Cardoso. mas nessa dimensão maravilhosa. sangue judeu. 12 de maio de 1732. e morador na Paraíba. porque não houve inventário. porque no trágico está o lírico e o épico. Como ela não mostrou arrependimento. trouxe-o apenas para ilustrar). mas carregamos uma civilização de seis milênios. filhos de Francisco Cardoso. esse Brasil maravilhoso. Henrique Correia Nunes. faço tudo para publicar uma história popular. estamos aqui. que tinha como base. a sua saudade. Do aventureiro. que vivia em Portugal. as suas cantigas. Tenho um livro sobre os instrumentos de tortura usados na Inquisição. É preciso ter uma cabeça muito patológica para inventar aqueles instrumentos. que eu ouvi em minha terra. A esse respeito tem um aspecto que tem passado despercebido aqui na Paraíba. nossas cunhãs e depois com as sinhazinhas. na minha modéstia. O professor Carlos André falou aqui do terror. Teve uma passagem da nossa história. que é fabulosa. que tenham estado aqui muitas civilizações. Ele disse: Eu matarei a Inquisição a flechas. Amo muito a minha cultura ibérica e toda essa mestiçagem que faz do Brasil o Brasil do mulato. sob a responsabilidade de Heitor Furtado de Mendoça. a segunda seção era de genealogia. do degredado. do mameluco. mesmo que tenha havido seis mil anos de história para trás. Uma história maliciosa que outra coisa não é senão a versão sertaneja ou da caatinga. pois começou um novo período. e é desse período que nós descendemos. lá em Tacima. como esta que está sendo encenada hoje. Ele realmente não tinha noção do que era a Inquisição. de todos estes que vieram trazendo a sua língua. Era uma coisa realmente fora do comum. Os costumes. intrafamiliares e interfamiliares. O Tribunal do Santo Ofício da primeira visitação . as desavenças. uma história de trancoso. por ventura. Seis meses antes de a Inquisição chegar no Recife. é um tema apaixonante. é um universo em que a gente se transporta sob qualquer ângulo que se queira abordar. Não é sem razão que ela possuía três seções inquisitoriais. o irmão mais importante da família dos Nunes.Geografia e História da PB 268 Por isso que. e a terceira era para avaliar o crime cometido contra a Santa Madre Igreja. Sem dúvida. onde se transmite nossa história. Fazia-se um boneco que levava o nome do infeliz para poder ser queimado. do marujo. saber a tessitura familiar para alcançar aqueles que quisessem alcançar. independente do que ia acontecer na terceira. como querem alguns. mas aquilo foi muito marcante. que foi senhor do segundo engenho da Capitania da Paraíba. do capitão-mor. as brigas familiares. A seção da profissão de fé. Deve ter mandado uma carta semelhante para o Diogo Nunes. o indivíduo ia ser relaxado em estátua. aquele que a Inquisição queria alcançar. nas minhas limitações. Quando não se conseguia alcançar. o Brasil do galego lá do cariri (onde há muita gente galega). João Nunes não pôde se desfazer porque a essa altura já tinha sido alcançado na Bahia sob um artigo para ir até lá ser testemunhas. suas histórias. seus sonhos e o seu amor. Quando a gente analisa as denunciações e confissões da primeira visitação do Santo Ofício. A Inquisição causava um terror muito grande. mas na realidade ele caiu numa armadilha. contando essa história. Havia confissões do que existiu e do que não existiu. Portanto. o Brasil do zambo. é como se estivesse assistindo a um filme daquele tempo. sim. são uma das coisas mais lindas que tenho como fonte direta. o Engenho Santo André. E só quem não sabia o que era a Inquisição poderia responder dessa forma. as tendências religiosas. Porque da união deles com as nossas caboclas. diz para João Nunes que se desfaça de tudo e saia do Brasil. Nesses 500 anos nós devemos celebrar a chegada das caravelas? Devemos. que disse qualquer coisa semelhante a uma heresia e um padre jesuíta disse: cuidado com a Inquisição. do cristão-novo. a Inquisição criava um terror também para aqueles que a esperavam ou não a queriam que chegasse. em que a pessoa mostrava suas convicções religiosas. de Ali Babá e os 40 Ladrões. em que o protagonista era um filho de João Ramalho. é muito apaixonante para mim o tema da Inquisição sobre os mais variados aspectos. Nós temos tanta coisa bonita da herança índia como da herança portuguesa. a gente tem um retalho da história social da terra naquele período. Porque marca uma história. 1º participante: Guilherme d’Avila Lins: Esse tema da Inquisição. O professor classificou a Inquisição em dois períodos. o frei Damião da Fonseca. escrivão da Fazenda Pública. não estão à disposição do público no Mosteiro de São Bento de Olinda. portanto muitos anos mais tarde. em retângulo. 2º participante: João Batista Barbosa: Primeiro quero me congratular o professor Carlos André pela brilhante exposição. Fazia parte do Tribunal do Santo Ofício. pelo período. que era a Inquisição. já no final da carreira. No mesmo dia em que aqui chegou. em dois anos. tinha um caso de bigamia. Tinha pouca gente. Mas. Fiquei imaginando porque a Inquisição na primeira visitação da Paraíba foi tão boazinha. agora. Eles têm a documentação. Um até 1642. Ele fez duas confissões porque a mulher já tinha feito e ele não sabia. mas a segunda sala. o lugar do convento de São Bento estava ainda em desenhado. Será porque houve o prêmio de consolação do terreno? É possível. para valer a doação. pelo menos não entravam quando fui aluno do Colégio em Olinda. queria apenas a permissão dos nossos companheiros. que era meu professor de Teologia e Latim. Dizem que hoje está mais liberal. ter a ousadia num auditório tão seleto pedir a palavra para dizer mais alguma coisa. A primeira sala é livre para o aluno. padre velho. abade do Mosteiro de São Bento de Olinda. como também em Pernambuco. ou por iniciativa própria exerceu também esse poder em alguma parte do mundo? A segunda indagação. Quero fazer duas indagações. nesta visitação. Foram poucas as pessoas envolvidas. essa divisão. Foi aí que começou meu interesse. se não me engano. o presidente do Tribunal do Santo Ofício pede data de terra para fundar o convento. porquanto o estudo profundo do mestre . Primeiro. se não estou equivocado. e voltou para dizer que tinha se esquecido. Como ex-aluno. e outro até o seu fim. E era uma figura importante.Geografia e História da PB 269 chegou à Paraíba e foi quase inócua. Era um alto funcionário da Fazenda Real. segundo descreve Elias Herckmans em sua descrição da Capitania. era o presidente do Tribunal. que veio com Heitor Furtado de Mendoça. 3º participante: Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares: Eu considero uma verdadeira audácia minha. Mas quando os holandeses chegaram aqui em 1634. como de feitiçaria do tipo “rito da santidade”. Antônio da Costa de Almeida. Afinal de contas aquelas terras foram dadas a alguém que representava o maior terror da época. É o cômico da história. de obrigação. em 1639. O regimento mandava que o convento fosse fundado. se a Inquisição durante todo o período de sua existência foi exercida única e exclusivamente pela igreja ou se o poder oficial. na mesma época. eu pedi e disseram que são documentos que. que eu. mas fica na segunda sala. um caso interessantíssimo de bigamia. ou por delegação do Santo Ofício. Na Paraíba isso não aconteceu. E deu. Eu queria saber o que foi exatamente o que determinou essa diferença. O abade. Quem é que não ia dar? Era de interesse e. porque ela não foi tão boazinha em Pernambuco. mas há um fato curiosíssimo. Só tinha a demarcação do terreno. particularmente aqui eu falo pelos que estão mais ou menos no meu nível. em aparte: Esses documentos não estão acessíveis. a quem o governo da Paraíba estava pedindo para mandar frades para fundar conventos. porque o marido e a mulher eram bígamos. se recusava a falar e comentar e pediu que não falassem mais no assunto. Não vejo na Paraíba nenhum caso que se viu na Bahia. E ele. Carlos André. depois de ter ouvido tão grandes mestres darem lições a todos nós. não. nem muito menos. do Instituto de Genealogia e Heráldica também esteve à altura. Após a leitura da mesma. ou por ódio à heresia. quando o réu não confessava espontaneamente a culpa. Os excessos cometidos pelos inquisidores. que não tenham medo. Dominicanos e Franciscanos o encargo de punir os hereges. não podem ser negados. tem realmente vontade de dizer umas palavrinhas numa linguagem do meu nível. como flagelação. essas eu tenho certeza porque confessaram a mim próprio. Foi então que se deixou converter em instrumento. ou político social com faltas aparentes ou supostas. Aos contumazes eram aplicadas penas como penitências. conforme notícias que temos. atentavam contra a justiça e a caridade cristã. Foi o Papa Gregório IX que. nem aplicada pelo Tribunal da Inquisição. Sobre sua atuação no Brasil é interessante conhecer o depoimento do autor do livro A IGREJA NO BRASIL. O processo caracterizava-se pelo rigoroso sigilo da informação. a Inquisição agiu discretamente. os tribunais civis puniam com excessivo rigor certos vícios e crimes. mas é um estudioso que. em 1231. a bigamia. era sim sujeito à jurisdição do Tribunal de Lisboa. a que se dava o nome de auto de fé. e por último. Com efeito o Código Penal vigente na Idade Média era por demais rigoroso. É de notar-se que. Este foi criado em 1536. em especial. A tarefa da Inquisição era a de inquirir acerca da integridade da fé dos fiéis e se constituiu em Tribunal Eclesiástico destinado à vigilância da fé e ao combate à heresia. sendo comum a aplicação de torturas e a própria morte como castigo para impedir a repetição de crimes. Muitos diziam: por que essa história de Inquisição? Então me lembrei que tinha umas notinhas que tinha escritas. ou ainda a mais grave. merecer defesa. o assassínio. pela negação de defesa. a bestialidade. estabeleceu o Tribunal. na época. a pena de morte. mas pelos juizes civis. Esta última não era pronunciada. muitas vezes. I volume. como do Seminário que realizou aqui em conjunto com o Instituto Histórico. sendo o inocente posto em liberdade e o culpado era obrigado a abjurar. de Arlindo Rupert. Algumas pessoas. confiando às Ordens Religiosas Mendicantes. não sabiam coisa nenhuma a respeito da Inquisição. no combate aos judeus e mouros. o que tornam indefensáveis os seus erros. por interesses baixos de cobiça. pedindo permissão para ler essas noções. Misturavam-se às vezes. excluindo a interveniência de advogado. Agora é um representante do clero. Foi sobretudo na Espanha que a Inquisição assumiu mais rigor e foi mais severa. como a sodomia. O Brasil nunca sediou propriamente um Tribunal de Inquisição. já estão bem por dentro. Por outro lado. ou perpétua. contribuição para obras pias. o adultério. tudo sem maiores conseqüências. pelo Papa Paulo III. Ele escreve à página 273: “Durante o século XVI. colocando-se a mesma no contexto da época. prisão temporária. o réu ao braço secular. outras mais pesadas. o que fazia com que o acusado desconhecesse seus acusadores. mesmo quando pressionados por multidões apaixonadas. Os que foram felizardos em ouvir a exposição do mestre Carlos André. Quando num país suspeitava-se de heresia para lá se dirigia o Inquisidor com seus auxiliares para iniciar o processo. citando-se o exemplo do celebrado dominicano Thomás de Torquemada. a Igreja entregava então. a Inquisição precisa ser entendida. interesses particulares ou tendências . durante o tempo de Seminário e depois dos seus prolongados 55 anos de sacerdócio. fatos reais de índole religiosa. pelo uso da tortura. Aliás as próprias características do processo que eram a negação da liberdade. era logo executada. de perseguição religiosa-política. A sentença era proclamada solenemente perante o povo. não é um representante do Tribunal da Inquisição.Geografia e História da PB 270 Carlos André e aula de genealogia da minha confreira Zilma Pinto. as bruxarias. são conhecidos três processos e uma visita do Santo Ofício. Itamaracá e Paraíba. como esclarece o texto citado. Mas como no Brasil. Só em casos de pertinácia agia com penas que variavam segundo a gravidade do delito e a renúncia ao perdão. não temos a lamentar a pena capital entre os nascidos na terra. Deduz-se daqui que o Santo Ofício não era o que muitas vezes pintam os adversários da Igreja!. Houve certamente acusações fundamentadas e dignas de serem examinadas. feito ou cometido contra nossa Santa Fé Católica e que tem a Santa Madre Igreja. com faculdade de inquisidor apostólico para que “possa conhecer das coisas que nas ditas partes do Brasil sucederem tocantes à Santa Inquisição. moderação e respeito que se usa de todo o rigor do direito com os já convertidos”. Mas houve outras que nasciam mais da ingenuidade ou de antipatias pessoais. os Bispos eram. o Santo Ofício. o Inquisidor-mor do Reino.Geografia e História da PB 271 perniciosas no campo religioso e social. felizmente muitas notícias históricas de real valor. o Pe. de seu livro: “Não obstante as falhas que se podem apontar contra todo e qualquer sistema repressivo. detestá-lo e prometer emenda. E no édito da graça concede o dito senhor 15 dias de graça e perdão. Ademais para muita gente que se deixa levar mais pelo temor que pelo amor. excetuados alguns jesuítas e talvez algum bispo. (Obra citada. sejam recebidos com muita benignidade e não lhe dê pena corporal nem penitência pública. para que. apenas de índios e negros convertidos à fé católica. felizmente.. como melhor e mais largamente se contém e declara nos ditos éditos”. especialmente. O original que trata do primeiro auto da Santa Inquisição que se celebrou na Capitania da Paraíba aos 8 dias de janeiro de 1595. E conclui Arlindo Rupert. evitando-se tolerâncias em demasia com desvantagens para a pureza da fé ou com tropeços dos mandamentos divinos. usos e costumes da população brasileira naquela época. inquisidores da fé. que era antes do mais um Tribunal Eclesiástico que tinha em mente mover o culpado a reconhecer seu pecado. por muitas causas que não é o caso abordar. sendo as pessoas culpadas dos novamente convertidos somente e as determine com quais padres da Companhia de Jesus.” Houve também vantagens para a fé e os bons costumes. . durante o século XVI. aconselhando ao bispo e jesuítas que “usem nisso prudência cristã. mesmo quando encaminhados ao Tribunal de Lisboa. páginas 123 a 125). enquanto lá estiver. havia já bom número de índios e escravos africanos convertidos. que das ditas partes se acharem. refere textualmente: “No édito da fé dá o senhor visitador 15 dias de termo para de toda a dita Capitania da Paraíba virem perante ele denunciar o que por qualquer modo souberem que qualquer pessoa tenha dito. Aliás. Antônio Barreiros. além dos cristãos-velhos. mas também a persuasão para corrigir desvios na fé ou nos costumes. Henrique. No Brasil. os que nele vierem de toda a dita Capitania da Paraíba perante ele confessar suas culpas e fazer delas inteira e verdadeira confissão. não é lícito nem honesto ver na atuação da Inquisição ou Santo Ofício somente a face negativa. bem como da vida sócio-econômica da Capitania de Pernambuco.. em suas dioceses. constitui importante documentário contendo o teor inteiro de diversos autos de fé e revela um verdadeiro retrato dos hábitos. mostrou-se pouco prestativo às exigências inquisitoriais. O Clero do Brasil no século XVI. O livro DENUNCIAÇÕES E CONFISSÕES EM PERNAMBUCO – 1593-1595 de autoria do inquisidor Heitor Furtado de Mendonça. toda ação coercitiva. a 12 de fevereiro de 1579 passa comissão ao Bispo D. quando psicologicamente bem orientada pode ter seus reflexos positivos. nem se lhes seqüestrem nem confisquem seus bens. reeditado pelo historiador José Antônio Gonçalves de Mello. Cardeal D. Ainda não foi examinado todo o acervo da documentação inquisitorial que traz. à página 284. Inclui confissões e denunciações relativas a Pernambuco.” Tratava-se. Luiz da Grã. visto que a Inquisição não empregava somente a repressão.” Segundo o mesmo autor: “Pelo direito vigente. quase sempre moderado por ocasião de algum processo ou denunciação. pois alguma maledicência de vizinhos ou amigos já lhe era conhecida. dentro do ritual da instalação da Visitação Inquisitorial na Paraíba. As luzes do século XVIII ainda não haviam aflorado. de onde saiu solene procissão até a Igreja Matriz. No caso de O Judeu. Assim. onde se radicou e fundou o jornal Correio Brasiliense. e do 1º Vigário da Paróquia de Nossa Senhora das Neves. aquelas que ele mesmo estava comunicando de viva voz. para suas considerações finais: Quero agradecer. Agradeço também à contribuição do historiador Guilherme d’Avila Lins e. Após a conversão criou-se a estranha distinção: era tido por cristão-velho aquele cuja família não tivesse sangue judeu. clara referência irônica à Santa Inquisição. Os maçons do Brasil orgulhamse deste colega antepassado. Mas a maioria não tinha noção do que se lhe esperava. 1595. Eram os primeiros anos do século passado. Caso dramático foi o do cristão-novo Antônio José da Silva. não só da Matriz das Neves. Registre-se. sem denunciar os colegas e sem admitir culpa no fato de pertencer a uma entidade livre. o ato inquisitorial era totalmente do Estado. O processo inquisitorial era bastante diferente do processo da justiça comum dos nossos dias. João Batista Barbosa. Conseguiu fugir da cadeia e chegar a Londres. tive a honra de proferir palestra na Grande Loja Maçônica de João Pessoa. Dificilmente poderia o réu acertar com o conteúdo da denúncia. que é uma ciência auxiliar da História. conduta moral tida como pecaminosas e feitiçaria. que. Tudo se iniciava por uma das três vias: (1) denunciações. Na noite em que foi queimado encenava-se em outro ponto da cidade um de suas peças. Retornando às perguntas do Dr. sucintamente. gostarei de oferecer alguns subsídios à nossa exposição sobre como funcionava o processo da Inquisição. As denunciações eram feitas por qualquer pessoa que fosse ao Tribunal ou a algum representante dele para denunciar crime cometido por outra pessoa. a segura participação do Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares. as do Inquisidor Heitor Furtado de Mendonça. o Padre João Vaz Salém. quando o governo português impôs a conversão ao catolicismo de todos os judeus que viviam no Reino. Hipólito esteve preso por anos em um cubículo frio e estreito. Hipólito foi preso no penúltimo decênio de funcionamento da Inquisição. acabava por somar às culpas denunciadas por outrem. Sobre ele. inicialmente. à professora Zilma Ferreira Pinto. ainda. Quando o sujeito era preso por causa de uma denúncia. E ela deu uma excelente contribuição ao nosso debate. posso esclarecer que na França. O preso nada sabia sobre o motivo da prisão. Melhor sorte teve o maçom e jornalista Hipólito José da Costa. Alguns tinham noção da acusação de forma muito vaga. por exemplo. Antes de responder às questões levantadas pelo Dr. já os novos cristãos passaram a ter a alcunha que não haviam escolhido. como curiosidade histórica. do Governador da Província. a existência na época. como ainda a Igreja da Misericórdia. Em um desses versos O Judeu falava “da culpa de não ter culpa”. Carlos André Cavalcanti. especialmente. Os crimes principais eram criptojudaísmo. a expressão tem origem nos fins do século XV. Feliciano Coelho de Carvalho. trazendo para esse debate o apoio da Genealogia. tinha que comparecer diante da Mesa Inquisitorial para ouvir o inquisidor pedir uma confissão. Em . Mas. quando o desespero pela insólita situação levava a “confessar” mentiras. Assim. traçou um perfil da Inquisição dentro da sua época. O Judeu. o processo virava uma bola de neve. Enfrentou destemidamente os interrogatórios. pela colaboração que nos deu. Chamava-se cristão-novo todo aquele que fosse acusado de praticar o judaísmo às escondidas. (2) confissões ou (3) determinação da Mesa. houve imenso esforço para confessar aquilo que os homens de fé desejavam ouvir. Muitos resistiram em “confessar”. João Barbosa. na verdade. Seus versos de poeta brioso não tinham força para livrálo do cárcere. Antônio José era teatrólogo. Não havia tribunal eclesial.Geografia e História da PB 272 Tais documentos autênticos contêm entre outras assinaturas. pois estava em vigor o princípio do “segredo da culpa”. a Intendência de Polícia tomava atitudes tipicamente inquisitoriais. Até meados do século XVII prevaleceu o medo de bruxa. . Quanto à classificação das duas fases da Inquisição moderna. em que o expositor. ressalto que a mentalidade dos inquisidores diante do feitiço determinou a periodização que eu criei e utilizo. freqüentou a ADESG. Veja bem: Não foi uma ação da Igreja como um todo. e na Paraíba. em geral. devemos admitir. Tem um sobre Desenvolvimento do Brasil. no caso ibérico. Grão Mestre da Grande Loja do Estado da Paraíba. Chamo a atenção dos presentes sobre a organização do programa deste Ciclo de Debates. um elo de ligação entre essas grandes instituições que comportam episódios transcendentais na nossa História. repassamos o mito paraibano de Branca Dias. Ficamos esclarecidos sobre o conceito moderno daquela instituição. tendo participado do quadro redacional de todos os jornais da capital. criada pela Igreja para defender a fé. do Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares. completou o objetivo do nosso Ciclo de Debates. Hélio é bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife. Após este momento foi se formando a idéia de que as feiticeiras eram apenas pessoas ignorantes. com Edgard Bartolini Filho. Primeiro.Geografia e História da PB 273 Portugal. naqueles cursos que davam garantia de sobrevivência durante a ditadura de 64. foi convidado para fazer a palestra de hoje. a bem da verdade. 15º Tema A MAÇONARIA NA PARAÍBA Expositor: Hélio Nóbrega Zenaide Debatedor: Edgar Bartolini Filho A fala do Presidente: Vamos dar continuidade ao nosso já importante Ciclo de Debates sobre a participação da Paraíba nos 500 anos de Brasil com a programação de hoje abordando A MAÇONARIA NA PARAÍBA. ··· A fala do Presidente: Tivemos hoje uma movimentada sessão. pelos participantes deste exitoso conclave. em particular. Componho a mesa com nosso sócio Hélio Zenaide. do Tribunal do Santo Ofício. tem curso sobre Desenvolvimento. falamos sobre A IGREJA NA PARAÍBA. que. foi Secretário de Comunicação e de Educação do Estado. Há. no final do século XVIII e início do XIX. Hoje é um historiador consagrado. João Batista Barrosa e. que cursou no Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB – e nem sei como não foi preso em 64. professora Zilma Ferreira Pinto. convivemos com os medos dos povos católicos dos séculos passados. Sendo um maçom da velha guarda. professor Carlos André. onde ele mantinha uma seção sob o título de RONDA DOS ARQUIVOS. A contribuição dos participantes Guilherme d’Avila Lins. mas especificamente do Tribunal. em nome do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Mas. feito na SUDENE. que será o expositor. revimos a ação e o sofrimento dos cristãos-novos paraibanos. e é um grande jornalista. do qual fui o editor. o que levou os homens da fé a terem desprezo por elas. depois sobre A INQUISIÇÃO NA PARAÍBA e agora sobre A MAÇONARIA NA PARAÍBA. Agradeço. analisamos a Inquisição contextualizada em sua época. e debatedora oficial. portanto. Joacil de Britto Pereira. pelos importantes subsídios aqui trazidos à nossa historiografia. Hélio Nóbrega Zenaide foi indicado unanimemente pela Comissão Organizadora do certame para ser o responsável por esse tema. enfim. inclusive do JORNAL DE AGÁ. pelos trabalhos que tem editado. presidente da Academia Paraibana de Letras. principalmente. essencialmente. nos colocaram a par do que foi a Inquisição do Santo Ofício no mundo. a ação persecutória foi. Possui vários cursos. cultural e material do homem. sob a égide de Deus – o Grande Arquiteto do Universo – a prática da fraternidade humana universal. Manoel de Arruda Câmara. social.” . na vida educacional. Mas. pelo ensino da medicina. na vida econômica. principalmente. no Rio. sem distinção de raça. afirmando-se mesmo que ele estava organizado nos moldes das Lojas Maçônicas. a sua bandeira é uma bandeira de esperança de melhores dias para a Grande Família Humana Universal. no Poder Legislativo. A MAÇONARIA NO BRASIL Em sua HISTÓRIA GERAL DA MAÇONARIA. aqui se infiltrando através das chamadas sociedades secretas. 1 . no Poder Executivo. por volta de 1778. na agricultura. na França. inteiramente dedicado ao ensino das ciências herméticas. buscando cultivar. na vida intelectual. nacionalidade. Vários autores ligam o Areópago à Maçonaria. mas. de todas essas sociedades secretas. E Montpellier foi um importante centro maçônico. Por tudo isso. no Poder Judiciário. 1796 – Areópago de Itambé. e das quais algumas podem ser aqui citadas: 1752 – Associação Literária dos Seletos. pesquisador. Dr. Verdade e Trabalho. no Rio. Ele diz textualmente (pg. a que maior importância e celebridade alcançou foi. sem dúvida. Ela tem por divisa Liberdade. o movimento pela independência teve início no seio das sociedades secretas. nas profissões liberais. no Rio. nos serviços. em Pernambuco. tem contribuído para os grandes ideais políticos da Humanidade. cuja universidade. A história da Maçonaria na Paraíba deve ser uma expressão de luta pela implantação desses valores no nosso processo evolutivo. no comércio. 35): “No Brasil. Igualdade e Fraternidade e por lema Justiça.Geografia e História da PB 274 Passo a palavra do confrade Hélio Nóbrega Zenaide. 1786 – Academia Ultramontana. jornalista): INTRODUÇÃO A Maçonaria é uma instituição que procura contribuir para o aperfeiçoamento moral. 1759 – Academia dos Renascidos. O seu fundador. É sua obrigação fazer-se presente com esses valores em todos os campos da atividade humana em nosso Estado. ideal político ou religião. onde. celebrizara-se. intelectual. Expositor: Hélio Nóbrega Zenaide (Sócio do Instituto Histórico. assinala Nicola Aslan que a Maçonaria veio para as Américas com a luta contra o colonialismo e os ideais de independência e república. na vida religiosa. Não é uma instituição política. fundada em 1289. esta última. 1772 – A Científica. Editora Aurora. que tanto tinham de literárias como de políticas. na indústria. Prega o amor da pátria e a paz entre todos os povos. Seu objetivo é praticar esses valores na ordem social. o famoso beneditino Antônio José Pernety formara o Rito da Academia dos Verdadeiros Maçons. formara-se em Montpellier. historicamente. cor. na Bahia. pensamento filosófico. 1979. Geografia e História da PB 275 Naquela época, nada menos de cinco Lojas Maçônicas estavam localizadas em Montpellier, de onde o paraibano Manoel de Arruda Câmara trouxe os ideais maçônicos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, da Revolução Francesa. Em seu livro O CLERO E A INDEPENDÊNCIA, Dom Duarte Leopoldo, Arcebispo de São Paulo, escreve a respeito: “Quase na mesma época, florescia em Itambé o Areópago do dr. Manoel de Arruda Câmara, centro de estudos, onde se discutiam as idéias mais avançadas do liberalismo. Chegou-se mesmo a suspeitar que essa sentinela do nativismo brasileiro, perdida entre os sertões de Pernambuco e Paraíba, contava com o apoio de homens poderosos, dentro e fora do país, decididamente protegidos por Napoleão Bonaparte.” ( Conf. Rocha Pombo, HISTÓRIA. DO BRASIL, vol. VII, pg. 340 ). Gustavo Barroso, em sua HISTÓRIA SECRETA DO BRASIL, escreve: “Um dos Arruda Câmara, o botânico, médico, formado em Montpellier, partidário exaltado das idéias francesas, fundara o Areópago, sociedade secreta, intencionalmente posto nos limites de Pernambuco e Paraíba, que doutrinava para a democracia e a revolução maçônica, sementeira de onde brotaram os grandes movimentos revolucionários do Brasil, no século XX. Do Areópago provêm a Academia dos Suassuna, a Academia do Paraíso, a Universidade Secreta, de Vicente Ferreira dos Guimarães, a Oficina de Iguaraçu.”( vol. I, pg. 205 ). Na REVISTA DO INSTITUTO ARQUEOLÓGICO PERNAMBUCANO, XIX, 1917, pgs. 171-172, num trabalho sobre As Sociedades Secretas de Pernambuco, lê-se a transcrição da seguinte nota de Oliveira Lima: “A primeira loja maçônica fundada em Pernambuco foi o Areópago de Itambé. Foi seu fundador Manuel de Arruda Câmara. Faziam parte desta loja desde 1798 entre outros, o irmão de Arruda Câmara, que era médico, como ele, os três irmãos Francisco, Luís Francisco e José Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque, o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, discípulo de Arruda Câmara, o capitão André Dias Figueiredo, os padres Antônio e Félix Velho Cardoso, José Pereira Tinoco, Antonio de Albuquerque Montenegro. Em 1801, com a denúncia de conspiração levantada contra os irmãos Cavalcante, o Areópago foi dissolvido.” – LIMA, Manoel de Oliveira, nota nº XXIII. In. TAVARES, Muniz, História da Revolução de Pernambuco. Esse Antonio de Albuquerque Montenegro, citado por Oliveira Lima, era filho do meu tetravô Francisco Dias de Melo Montenegro, que era primo do padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, braço direito de Manoel de Arruda Câmara na fundação do Areópago de Itambé. Meu tetravô morava no Engenho Oratório, na fronteira de Pernambuco e Paraíba, e o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro deve ter escolhido o Engenho Oratório para instalar o Areópago de Itambé porque ali contaria com a hospitalidade de Francisco Dias de Melo Montenegro. Ele e Arruda Câmara se hospedavam realmente naquele engenho. Francisco Dias de Melo Montenegro, teve 12 filhos, um deles, meu bisavô Capitão Antero Francisco de Paula Cavalcante Montenegro, pai do meu avô paterno, senador Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque. Dois filhos dele eram membros ativos do Areópago de Itambé: Antonio de Albuquerque Montenegro e André. Quando foi esmagada a Revolução de 1817, e o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro suicidou-se no Engenho Paulista, para não ser preso e trucidado pelas tropas legais, os filhos de Francisco Dias de Melo Montenegro, com medo da perseguição e de prisão, fugiram do Engenho Oratório. Meu bisavô, Capitão Antero Geografia e História da PB 276 Peregrino de Paula Cavalcante Montenegro, embora nascido depois da Revolução, foi morar em Patos, ali comprando a fazenda Cacimba dos Bois, onde nasceu meu avô. Vários paraibanos maçons freqüentavam o Areópago de Itambé, como registra Irineu Ferreira Pinto, e, assim, podemos considerá-lo também paraibano. Até gente de Itabaiana e de Pilar ia para as reuniões do Areópago de Itambé. Uma dessas pessoas era o padre Antônio Pereira de Albuquerque, do Pilar, que foi preso e condenado à morte. Ele era da família de Francisco Dias de Melo Montenegro e do padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro. Outra, era o padre Antonio Félix Velho Cardoso, de Itabaiana. Estas informações estão em Irineu Ferreira Pinto, no seu livro DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAIBA, 1º volume. Eu chamo a atenção para esses detalhes porque alguns historiadores chegam até a negar a existência do Areópago de Itambé. O nosso confrade José Octávio de Arruda Mello, por exemplo, inclina-se também por essa opinião na sua HISTÓRIA DA PARAÍBA; ele chega a dizer que o Areópago não deve ter existido porque Manoel Arruda Câmara nunca morou em Itambé. Mas isso não é um argumento que me impressione. André Vidal de Negreiros nunca morou no Morro dos Guararapes, mas se tornou herói do Morro dos Guararapes. A Maçonaria foi iniciada, assim, em Pernambuco e Paraíba, através do paraibano Manoel de Arruda Câmara e lutando por um ideário político de independência e república. 2 – A MAÇONARIA FOI INICIADA EM PERNAMBUCO E PARAIBA ATRAVÉS DO PARAIBANO MANOEL DE ARRUDA CÂMARA E LUTANDO POR UM IDEÁRIO POLÍTICO DE INDEPENDÊNCIA E REPÚBLICA. Com efeito, a Revolução de 1817, em Pernambuco e na Paraíba, coincidiu com um período de expansão do liberalismo no mundo ocidental. No Brasil, as idéias liberais vinham sendo propagadas desde os fins do século XVIII, notadamente através das sociedades secretas. Em Pernambuco, o Areópago de Itambé e várias academias e Lojas Maçônicas foram ponto de reunião para discussão desse ideário político. A influência da Maçonaria na propaganda revolucionária foi reconhecida e destacada pelo desembargador do Tribunal de Alçada, criado para julgar os presos pronunciados na devassa aberta em 1817. João Osório de Castro Falcão escreveu a Tomás Antonio Vila Nova Portugal, dizendo que as idéias revolucionárias propagadas desde 1801, cresceram e se expandiram através das Lojas Maçônicas E o maçom Domingos José Martins, depois da morte de Manoel de Arruda Câmara, deu novo impulso à conspiração, com o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, que integrou o Governo Provisório da Revolução. Eles lutavam pela independência, contra o sistema colonial e contra o regime monárquico, que desejavam ver substituído por uma forma republicana de governo, como acontecera nos Estados Unidos. Sobre o Padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, é importante esta confirmação de uma historiadora pernambucana, citando Tollenare: “Padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro. Nasceu em Tracunhaém, não longe do Recife. Discípulo de Arruda Câmara, freqüentava o Areópago de Itambé, onde se iniciou nas “novas idéias”. Professor de desenho e segundo Tollenare homem instruído e sem fortuna, filósofo e estudioso de ciências, leitor dos antigos e novos filósofos, aspirava a liberdade por amor e não por ambição.” 3. DEPOIS DO AREÓPAGO DE ITAMBÉ Há notícia de que em 1822 foi fundada na capital paraibana uma Loja Maçônica, a LOJA MAÇÔNICA PELICANO, que teria sido a primeira instalada propriamente na Paraíba. Não Geografia e História da PB 277 temos, entretanto, maiores informações acerca da LOJA MAÇÔNICA PELICANO, organizada, certamente, ao calor do movimento da nossa Independência. Tudo indica que a cruel perseguição movida contra os revolucionários de 1817 esfriou, por algum tempo, a expansão do movimento maçônico na Paraíba, porque outras Lojas Maçônicas só vieram a surgir 69 anos depois da fundação do Areópago de Itambé, que se deu em 1796. Nem mesmo a fundação do GRANDE ORIENTE DO BRASIL, em 17 de junho de 1822, no Rio de Janeiro, às vésperas da Independência, e do ingresso de D. Pedro I em seus quadros, foi capaz de imprimir maior impulso à Maçonaria na província. Embora o papel da Maçonaria na Independência tivesse sido decisivo e ela saísse fortalecida do acontecimento, somente 43 anos depois do Grito do Ipiranga os paraibanos se animariam a organizar as primeiras Lojas Maçônicas no seu território. 4. AS PRIMEIRAS LOJAS MAÇÔNICAS NA PARAIBA DEPOIS DA LOJA MAÇÔNICA PELICANO Temos notícia de que a primeira Loja Maçônica efetivamente instalada na Paraíba depois da Independência, foi fundada em 1865, com o nome de LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO BRASÍLICA. Ela foi instalada nesta capital, quando a Paraíba era governada pelo presidente Sinval Odorico de Moura e, no mesmo ano, foi fundada ainda a LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E BENEFICÊNCIA, na cidade de Mamanguape. Em 1873 existiu uma terceira Loja Maçônica – a SEGREDO E LEALDADE – na cidade de Campina Grande. Essas Lojas Maçônicas surgem numa época em que, na Paraíba, voltavam as idéias republicanas e se esboçava o movimento da abolição da escravatura, movimento que, no Rio de Janeiro, capital do Império, era em grande parte encabeçado pela Maçonaria. A Lei do Ventre Livre, por exemplo, foi de autoria do Visconde do Rio Branco, Grão Mestre da Maçonaria. Foi do maçom Joaquim Nabuco a iniciativa da criação da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Foi o Ministério Liberal presidido pelo maçom José Antônio Saraiva que conseguiu a aprovação da Lei dos Sexagenários. Grande defensor da abolição da escravatura, Rui Barbosa era maçom; como era maçom José do Patrocínio. Por sinal, naquele tempo, o maçom e grande tribuno abolicionista José do Patrocínio, cognominado o tigre da abolição, veio à Paraíba, em campanha pela abolição, sendo aqui festivamente recepcionado pela Maçonaria e pelos adeptos em geral da causa de libertação dos escravos. O tigre da abolição foi entusiasticamente aplaudido pelos abolicionistas paraibanos em 1883, ano em que o vice-presidente Antônio Alfredo da Gama e Melo, que era um abolicionista sincero, assumiu o governo da província. Era maçom também o poeta dos escravos, Castro Alves, que pertencia à mesma Loja Maçônica de Rui Barbosa, a Loja América. E foi do maçom Rui Barbosa a iniciativa do decreto que obrigou todos os maçons brasileiros que porventura tivessem escravos a libertá-los imediatamente. Isso, três anos antes da lei que libertou os nascituros. A LOJA MAÇÔNICA SEGREDO E LEALDADE, criada em 1873, em Campina Grande, marcou o primeiro grande conflito da Igreja Católica com a Maçonaria na Paraíba. Geografia e História da PB 278 Em virtude da chamada Questão Religiosa e da prisão de D. Vital, bispo de Olinda, o vigário de Campina Grande, padre Calixto da Nóbrega declarou guerra à Maçonaria na Serra da Borborema. Para reforçar ainda mais o combate, chamou em seu auxílio o padre Ibiapina, missionário de grande força no seio do povo nordestino.. Eles instigaram, de tal forma, o povo de Campina Grande, contra a Maçonaria, que os maçons esperavam, de uma hora para outra, uma explosão de fanatismo exacerbado. E isso não demorou. J. Leite Sobrinho, pesquisador da história maçônica paraibana, escreveu uma página relatando o desfecho dessa luta. Em 1875 surgiu uma nova Loja Maçônica em Campina Grande, a LOJA MAÇÔNICA VIGILÂNCIA E SEGREDO, e, logo em seguida, uma outra, a LOJA MAÇÔNICA RENASCENÇA. Era um desafio: mais duas Lojas Maçônicas em Campina Grande? Chegou outro missionário à cidade, o Frei Herculano e, ao realizar uma Santa Missão, arrastou o povo às ruas, instigou, invadiu e destruiu a LOJA MAÇÔNICA RENASCENÇA! Isto no centro da cidade de Campina Grande. Em 12 de fevereiro de 1877 – ano da mais terrível seca que o Nordeste conheceu até então – foi fundada, nesta capital, ali no Varadouro, a LOJA MAÇÔNICA CONSTÂNCIA E LEALDADE, e em 1882, a LOJA MAÇÔNICA LEALDADE E PERSEVERANÇA. Todas essas Lojas Maçônicas, porém, cerraram suas portas e os seus arquivos se perderam no tempo. 5. A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA Alguns maçons paraibanos se projetaram no movimento da Proclamação da República. Foi o caso do maçom Aristides Lobo, grande propagandista dos ideais republicanos, e do maçom senador Coelho Lisboa. A projeção desses dois propagandistas da República deveu-se, porém, à sua atuação no plano nacional. No plano estadual, não há notícia de atuação expressiva da Maçonaria em favor da Proclamação da República. Vale observar que o marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República, era Grão Mestre da Maçonaria, como era também maçom Floriano Peixoto, que o sucedeu na presidência da República. 5. A MAIS ANTIGA LOJA MAÇÔNICA PARAIBANA EM FUNCIONAMENTO Em 1898, era a Paraíba governada pelo presidente Antônio Alfredo da Gama e Melo, quando foi fundada a LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, que é a mais antiga Loja Maçônica da Paraíba em funcionamento. Ela foi fundada no dia 16 de outubro de 1898 e no ano passado comemorou o seu primeiro Centenário de existência ininterrupta. Era um ano terrível de seca, que José Américo de Almeida assim descreveu em A Bagaceira: “Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos – esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das coisas podres. Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas. Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam.” A capital paraibana encheu-se de retirantes e flagelados. Geografia e História da PB 279 Os maçons se reuniram, fundaram a LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE e realizaram uma campanha angariando recursos – roupas usadas e gêneros alimentícios – para assistirem as vítimas do flagelo. Muitos desses retirantes ficaram na capital, mesmo quando a seca terminou. Viam-se pelas ruas velhos flagelados que não tinham mais força para voltar para o sertão e retomar a luta do campo. Rebentou novo ciclo de seca em 1912 e o Venerável Mestre da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, Joaquim Manoel Carneiro da Cunha, decidiu fundar e fundou um Asilo para Velhos, o Asilo de Mendicidade que depois tomou o seu nome, Asilo de Mendicidade Carneiro da Cunha, instituição que ainda hoje resiste ao tempo e é um patrimônio da Paraíba, agora com o nome da Lar da Providência. Em 1900 surgiu a Loja Maçônica CARIDADE E SEGREDO, em Itabaiana. Em 1903, a LOJA MAÇÔNICA UNIÃO CATOLEENSE, em Catolé do Rocha. Em 1911, na capital, foi criada a LOJA MAÇÔNICA SETE DE SETEMBRO. A LOJA MAÇÔNICA BRANCA DIAS veio em 1918. E a REGENERAÇÃO CAMPINENSE, em 1923. Em 1927, a PADRE AZEVEDO. 6. SEPARAÇÃO DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL E FUNDAÇÃO DA GRANDE LOJA DO ESTADO DA PARAÍBA. Até então as Lojas Maçônicas da Paraíba eram vinculadas ao GRANDE ORIENTE DO BRASIL, fundado no Rio de Janeiro em 17 de junho de 1822. Mas, em 24 de agosto de 1927, juntaram-se as Lojas Maçônicas BRANCA DIAS, fundada em 10 de janeiro de 1918, PADRE AZEVEDO, fundada em 24 de julho de 1927, e a REGENERAÇÃO CAMPINENSE, fundada em 19 de agosto de 1924, e decidiram separar-se daquela Potência Maçônica, fundando uma outra potência, a GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA, que hoje conta com quase 40 Lojas Maçônicas espalhadas pelo território paraibano. Seu atual dirigente é o Sereníssimo Grão Mestre Edgard Bartolini, convidado para ser o nosso debatedor de hoje. Temos hoje na Paraíba três Potências Maçônicas: o GRANDE ORIENTE ESTADUAL DA PARAIBA, a GRANDE LOJA DO ESTADO DA PARAIBA e o GRANDE ORIENTE DA PARAIBA, às quais estão jurisdicionadas as dezenas e dezenas de Lojas Maçônicas dos municípios paraibanos. 7. ACADEMIA PARAIBANA MAÇÔNICA DE LETRAS, ARTES E CIÊNCIAS No dia 2 de maio de 1998 foi instalada a ACADEMIA PARAIBANA MAÇÔNICA DE LETRAS, ARTES E CIÊNCIAS, sob a direção do Mestre Maçom João Ribeiro Damasceno e como secretário o orador que vos fala. A solenidade foi prestigiada pela presença de delegações da ACADEMIA PARANAENSE MAÇÔNICA DE LETRAS, ARTES E CIÊNCIAS e da ACADEMIA MAÇÔNICA DE LETRAS, CIÊNCIAS E ARTES DO NORDESTE DO BRASIL bem como de delegações de Maçons de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte. 8. A MAÇONARIA DA PARAIBA NOS TEMPOS ATUAIS Com esse passado de preocupação com o aperfeiçoamento do processo político-social brasileiro, a Maçonaria, certamente, teria de procurar contribuir para a volta do País ao estado de direito, depois da Revolução de 1964. Neste ponto, a Maçonaria da Paraíba contou com uma voz de expressão no Congresso Nacional, a do nosso irmão maçom senador Humberto Lucena, membro da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, jurisdicionada à GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA. Geografia e História da PB 280 Esse ilustre Maçom paraibano colocou-se, desde a primeira hora, contra os atos discricionários da Revolução de 1964. Batalhou, sem desfalecimento, pelo processo de abertura política e participou, na linha de frente, ao lado de Ulysses Guimarães, da Campanha das Diretas-Já, que teve à sua frente o PMDB, partido a que pertencia, do mesmo modo que foi também um soldado da linha de frente na eleição do presidente Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985, última eleição indireta que, em verdade, marcaria o fim do regime militar. Outra grande preocupação da Maçonaria da Paraíba na atualidade é com relação à generalizada corrupção na política e na administração do País. Inúmeros Manifestos têm sido dirigidos ao Presidente da República pela Maçonaria da Paraíba neste sentido. Nesses documentos, a Maçonaria da Paraíba insiste para que o Presidente da República exerça a plenitude da sua autoridade e da sua força para dar um basta a essa vergonha nacional. A Maçonaria da Paraíba vem condenando igualmente o abuso do poder econômico no processo político-eleitoral. Isso tudo, naturalmente, em função da conjuntura em que vivemos, porquanto o seu escopo maior é o aprimoramento de todas as potencialidades da Família Humana Universal. 9. OUTROS MAÇONS PARAIBANOS DE PROJEÇÃO EM NOSSA VIDA PÚBLICA Daremos apenas alguns exemplos, a vôo de pássaro: O maçom JOÃO RODRIGUES CORIOLANO DE MEDEIROS foi um dos fundadores deste Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, em 7 de setembro de 1905, e é, ainda hoje, sem dúvida, uma legenda de glória da Paraíba, como educador e como historiador. É um dos grandes Beneméritos da Maçonaria da Paraíba. Pertencia ele à LOJA MAÇÔNICA PADRE AZEVEDO, da qual foi Venerável Mestre em 1935. O maçom CLAUDIO OSCAR SOARES foi o fundador, em 7 de maio de 1908, do jornal O NORTE, ainda hoje baluarte da imprensa da Paraíba. OSCAR SOARES era membro da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, da qual foi Venerável Mestre e grande benfeitor. Esses dois últimos também pertencentes ao Instituto Histórico. O maçom GUILHERME GOMES DA SILVEIRA, que também pertencia à LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, da qual foi Venerável Mestre, foi um dos mais brilhantes advogados da Paraíba e do Estado do Pará. Outro notável paraibano foi o maçom MANOEL VELOSO BORGES, que pertencia à LOJA MAÇÔNICA BRANCA DIAS, da qual foi Venerável Mestre de 1923 a 1924, tendo sido também Sereníssimo Grão Mestre da GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA de 1922 a 1928. Formado pela famosa Escola de Medicina da Bahia, depois de exercer a medicina em vários Estados, na Bahia, no Acre, no Amazonas, no Pará, voltou para sua terra natal e fundou aqui a SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DA PARAIBA, em 3 de maio de 1924, sendo o seu primeiro presidente. Em sociedade com seu irmão, VIRGÍNIO VELOSO BORGES, foi um dos fundadores da Fábrica de Tecidos Tibirí, em Santa Rita. Foi Deputado Estadual, Deputado Federal e Senador pela Paraíba. Seu irmão VIRGÍNIO VELOSO BORGES também foi Senador pela Paraíba. Ainda com aquele seu irmão, comprou a Fábrica de Tecidos Deodoro, do Rio de Janeiro e chegou a dirigir o Sindicato das Indústrias de Tecelagem do Estado do Rio. o restabelecimento das boas relações com a Igreja Católica. Grafset. 1956. pai do grande paraibano e brasileiro CELSO FURTADO. e membro do Conselho do Comércio e Indústria do Brasil no Exterior. foi também convidado para o Congresso. Juizes. Advogados e Presidentes da Ordem dos Advogados. O Padre Valério Alberton vem defendendo em todo o Brasil o restabelecimento das boas relações entre a Igreja Católica e a Maçonaria. 1986. Universitária. Irineu Ferreira – DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAIBA. O Arcebispo da Paraíba não foi. Promotores. PINTO. foi maçom o Senador José Gaudêncio de Queiroz. NÓBREGA. A Maçonaria da Paraíba tem oferecido numerosos valores à Magistratura Paraibana. da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE. Professores de Direito. ao mesmo tempo. Desembargador. A Maçonaria da Paraíba sempre figurou nas duas Casas do Congresso Nacional. Fátima – PARAIBA: IMPRENSA E VIDA. Muito obrigado. um dos seus convidados de honra. 1979. Gráfica Comercial Ltda.Geografia e História da PB 281 Ele e o dr. Neste resumo dou uma idéia do que tem sido a Ordem Maçônica no Estado da Paraíba. Trajano Pires – A FAMÍLIA NÓBREGA. O nosso Irmão maçom MAURÍCIO FURTADO. VIRGÍNIO VELOSO BORGES construíram uma ala do Hospital Santa Isabel. Editora Aurora. como Presidente da FEDERAÇÃO ESPÍRITA PARAIBANA. nosso Arcebispo. lá estava o nosso Irmão maçom JOSÉ LUIZ CLEROT. e dirigente do Movimento Espírita no Estado. ARAUJO. Neste sentido. Universitária. mas autorizou a ida do Padre Valério Alberton. 1977. Desembargadores. até bem poucos dias. como um dos mais atuantes deputados federais do nosso Estado. UFPB. UFPB. e ainda agora. 1965. como Grão Mestre da GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA. . membro da Academia Paraibana de Letras e Venerável Mestre da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE. Foi maçom o Senador Coelho Lisboa. já tendo publicado livros na defesa de suas idéias. neste fim de milênio. foi Procurador Geral do Estado. Presidente do Tribunal Regional Eleitoral. HISTÓRIA GERAL DA MAÇONARIA. José Maria Pires. José – HISTÓRIA DA PARAIBA. JOSÉ AUGUSTO ROMERO. Instituto Genealógico Brasileiro. Tenório d’ – A MAÇONARIA E A LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS . foi. no Rio de Janeiro. A. foi o Padre Valério Alberton. Ed. foi maçom o Senador Humberto Lucena. Dirigente da Augusta Ordem no Estado. seria extensa a relação para citá-los um a um. Editora Aurora. incluiu. OCTÁVIO. Nicola. Outro grande maçom paraibano. Procuradores. José – INTINERÁRIO DA HISTÓRIA. ALBUQUERQUE. 11 – O VELHO CONFLITO IGREJA CATÓLICA-MAÇONARIA Chegam ao fim. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA: ASLAN. O I CONGRESSO MAÇÔNICO DO ESTADO DA PARAIBA. realizado nesta capital em 1993. D. Ed. LEAL. os entrechoques entre a Igreja Católica e a Maçonaria. 1970. Foi um dos fundadores da Casa da Paraíba. 1997. membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. indicado pela Confederação Nacional das Indústrias. no temário de suas preocupações. 1982. 1917. NOTES DONINICALES PRISES PENDANT UN VOYAGE EN PORTUGAL ET AU BRÉSIL EN 1816. 1938. A importância da instituição pode-se medir até pela participação de figuras ilustres da nossa vida política. Leite – PRIMÓRDIOS DA MAÇONARIA PARAIBANA. a palavra ao nosso debatedor. e conversa vai.Geografia e História da PB 282 GRANDE LOJA DA PARAIBA – RESENHA HISTÓRICA. é irretocável. mostrando a influência da instituição e dos seus membros na História da Paraíba. A fala do Presidente: Tivemos uma visão global da Maçonaria na Paraíba e no Brasil. num passado mais recente e na modernidade. onde ocupou vários cargos de relevo. falou-se sobre João Pessoa. O levantamento feito pelo nosso consócio Hélio Zenaide nos traz muita luz. Secretário da Ordem dos Advogados do Brasil/Paraíba e Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba) Quero inicialmente parabenizar a iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano promovendo este Ciclo de Debates alusivo aos 500 anos do descobrimento da nossa pátria. SOBRINHO. Caberá aqui apenas uma ou outra complementação ou um enfoque um pouco mais longe sobre o que seja esta instituição maçônica num passado mais longe. alguns juristas renomados. a seguir. tirando as diferenças regionais. É lugar comum se dizer neste país que o Brasil é um país sem memória. Um deles ficou até admirado quando eu disse que João Pessoa já nasceu cidade. Deusdedit – HISTÓRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAIBA. com grande atuação na nossa Universidade Federal. A UNIÃO EDITORA. Seção da Paraíba. É atuante dirigente da Ordem dos Advogados do Brasil. Passaremos. Essa série de debates é bastante importante. pertencente à Loja Branca Dias. principalmente para o país e numa região que não é muita afeita à memória do seu povo e das suas instituições. Acham que nós somos muito mais novos. Como debatedor. ··· Debatedor: Edgard Bartolini Filho: (Professor universitário. Eu mesmo era um deles. E ele não imaginava que nossa Felipéia de Nossa Senhora das Neves já nascera cidade. historiador. professor Edgard Bartolini Filho. L. janeiro de 1989. Revista BRANCA DIAS MAGAZINE. eles se preocupam. onde houve coquetel com a presença de autoridades. até certo ponto. que por sinal é neto do primeiro Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba e ele próprio é seu atual Grão Mestre. Bartolini é formado em Ciências Jurídicas e Sociais. Estou certo de que a metade dos presentes não tinha a menor idéia da influência do movimento maçônico na Paraíba. sem razão porque meu pai era maçom. A grande maioria dos nossos colegas advogados. teremos o Grão Mestre Edgard Bartolini Filho. Recentemente estive no Rio de Janeiro participando da Conferência Nacional dos Advogados e tivemos uma solenidade no Museu Histórico. REVISTA DO INSTITUTO ARQUEOLÓGICO PERNAMBUCANO. sim. A UNIÃO EDITORA. LEITÃO. o é. porque a palestra do nosso Irmão Hélio Zenaide. J. XIX. jornalista. 1988. intelectual e social. e. Nem conhecem nem se preocupam em conhecer a nossa história. . conversa vem. e hoje o principal historiador da Maçonaria paraibana. TOLLENARE. pouco ou quase nada sabiam sobre a nossa história. e começamos a discutir sobre alguns quadros ali expostos. Lavoisier – MANOEL VELOSO BORGES. inclusive alguns de Pedro Américo. Quando a gente leva algumas pessoas para conhecerem a cidade elas ficam admiradas quando descobrem que Felipéia de Nossa Senhora das Neves foi fundada em 1585. Com relação ao meu papel de debatedor vou declinar.F. Aliás. FEITOSA. 1817 ET 1818.. mas em denegrir. como se depreende da breve listagem apresentada pelo expositor. a esses grandes movimentos de criminalidade. Perseguições religiosas. enquanto que a sociedade americana foi se libertando e criando uma nova maneira de pensar. também como conseqüência da Revolução Francesa. que é o que significa a palavra maçon. A vinda de D. as artes tiveram mais liberdade. que dividiu a Inglaterra da França. todos eles eram maçons. no início do século XVII. Para chegar aí precisou de um grupo de pessoas de influência para que esses movimentos pudessem alcançar o êxito que todos nós conhecemos. centralizada na nobreza. Porque se às vezes um rapaz gostava de uma moça da sociedade altamente fechada e se o pai da moça. naquele tempo. João VI para o Brasil facilitou a propagação da maçonaria em nosso país. Terminada esta fase. onde o homem pôde agir com mais liberdade seus ideais religiosos e seus ideais científico-tecnológicos. uma loja maçônica que ficava no interior de Pernambuco. era uma filosofia mais presa. que ninguém sabia que ela existia.Geografia e História da PB 283 Felizmente a Maçonaria não é mais uma instituição secreta naquele aspecto que muitos pensam que ela ainda o é. no sítio Oratório. É justamente a guerra das Duas Rosas. como a máfia. no governo. Essa condição era para ele quase que uma defesa. no Rio de Janeiro. Por outro lado. Daí muitos não reconhecerem o Areópago de Itambé como loja maçônica. Nossa primeira Constituição era conhecida como Constituição de Anderson. é preciso repetir. quase 70 anos antes da Revolução Francesa. porque eles eram maçons. influindo na França. que aqui e acolá ele fala padre tal era maçom. uma divisão na ordem maçônica. igualdade e fraternidade. perseguições políticas e até perseguições familiares. no ano de 1718. Depois desse movimento renascentista vieram os movimentos da Reforma. direta ou indiretamente. aliando-se ao pensamento da Maçonaria que surgiu nos Estados Unidos. quanto mais naquele tempo. em francês. na Maçonaria. não diretamente da Ordem dos Templários em si. A sociedade colonialista da época estava tão ávida por liberdade que se apegou a esse ideário. mas essa diferença é fácil de explicar. Antes da Revolução Francesa temos. Esse país conseguiu incutir na cabeça de brasileiros esse ideário. o que fazia da Maçonaria uma sociedade não secreta como para aqueles que a desconheciam como uma instituição que fosse ligada ao banditismo. Daí também sermos conhecidos por “pedreiros livres”. Pois bem. padre qual era maçom. que nunca. de pensamentos. que foi oficialmente a primeira loja maçônica brasileira. A partir daí tivemos. Nós somos herdeiros daquilo que chamamos a Ordem dos Templários. descobrisse que ele era maçom. intolerância religiosa. a 80 quilômetros do Recife. . por conta da guerra das Duas Rosas a filosofia inglesa. Aí surge a pergunta: e a questão religiosa? É outra história. Hoje nós temos esse ranço sobre nossa própria história. A partir da Reforma o mundo não foi mais o mesmo. resultando na sua grande revolução. idioma corrente à época. mas do pensamento filosófico e científico que ficou dela. porque ele trouxe em sua comitiva mações portugueses que tinham esse idealismo de verdade. que foi promulgada nos Estados Unidos. Depois disso tivemos aquele movimento belíssimo chamado de Renascimento. dos construtores das catedrais. A Maçonaria era tão secreta há pouco tempo atrás que o maçom entrava na Ordem e muitas vezes a sua família não sabia que ele a vida inteira pertenceu e trabalhou pela Maçonaria. Não pense que está adormecido. Muita gente estranha porque existe uma diferença.. e por aí vai. Não teve um que deixasse de ser maçom. Oficialmente. Assim foi criada. justamente evitando essas perseguições. a Loja Comércio e Artes. Lógico. também. E vai aqui um registro: todos os padres que tiveram influência na história do Brasil. E por que não se reconhece? Quem é que iria imaginar. era um Deus nos acuda. mas naquela condição que existia anteriormente. que já estava em plena efervescência. apareceu na nobreza européia uma divisão que até hoje ainda existe. onde as ciências. por mais paradoxal que seja. vocês percebem pela exposição do nosso palestrante. a Maçonaria brasileira começou aí. e que inegavelmente mudou a história da humanidade. cosa nostra. os primeiros movimentos responsáveis pela independência dos Estados Unidos. e foi punido por isso. Martiniano Lins. João Soares. essa nova política. Severino Alves e Severino Cruz. 2 e 3. meu avô. Virgílio de Barros Correia. alguns mações vinculados a essas lojas. José Calixto da Nóbrega. se não me engano). Carlos Werts. José Francisco de Moura e Silva. ele sempre aparecia como Grão Mestre. Antônio Farias Pimentel. João Pinheiro de Carvalho. É verdade que era uma democracia meio capenga. Os graus superiores. Siqueira Costa. Pode-se ver que na realidade ninguém sabia onde funcionavam essas lojas. em 1928). onde Frei Caneca pregou a Confederação do Equador. Foram Paraíba. Sidrônio Mororó. o voto não era aberto e só quem votava eram certas classes sociais. As demais continuaram no Grande Oriente. ele não quis ficar com as duas coisas e imediatamente propôs que fosse eleito como primeiro Grão Mestre o irmão Manoel Veloso Borges. apenas cinco Estados se predispuseram a fazer as suas Grandes Lojas. Maurício de Medeiros Furtado.Geografia e História da PB 284 Depois da Revolução de 1817. Mas como ele já exercia a representatividade do filosofismo. não sua localização. onde a mulher ainda não votava. o qual foi eleito por aclamação e para Grão Mestre Adjunto. Quem presidiu a sessão foi o maçom Augusto Simões. Naquela data participaram da reunião de fundação pela Loja Branca Dias Alfredo Augusto Ferreira da Silva. naquela época. e são os mais importantes. de Pernambuco (1943) e Rio Grande do Norte (1974). Regeneração Campinense. as quais tiveram vida efêmera pela perseguição decorrente da questão religiosa (1971. Gustavo Fernandes de Lima. José Teixeira Bastos. nº 2 e a Loja Padre Azevedo. sabia-se a sua existência. José Jorinho Itamar. E essas lojas. a Regeneração Campinense. Branca Dias. que são os graus básicos da Maçonaria. 1. esse novo ideário republicano. Na mesma noite foi eleita a primeira diretoria. Com o advento da República a Maçonaria pôde mostrar seu rosto. José Pereira da Silva. Padre Azevedo. Generino Maciel. hoje. Não obstante. ou um atraso de eleição. João Cândido Duarte. Bahia. elas não foram fundadas em todos os Estados. As Grandes Lojas cuidam apenas do grau. Dentro desse ideário. em 1927. Acho necessário dar uma explicação mais ritualística. de forma que. . João Rodrigues Coriolano de Medeiros. Pedro Baptista Guedes e Roberto Volgrand Kelly. pela Loja Padre Azevedo. mas a intolerância religiosa continuou. não satisfeitas com a orientação francesa (que eram monarquistas e não republicanas) preferiram dar ênfase a esta segunda e apoiar a política do Brasil. foi aí que começou de forma mais latente a efervescência da Maçonaria na nossa região. Quando se é do Grande Oriente do Brasil nossa ritualística leva do grau 1 ao 33 e na ritualística das Grandes Lojas há uma separação. o irmão João Arlindo Correia. como disse Hélio Zenaide. compareceram Antiquilino Dantas. três lojas se reuniram na noite memorável de 24 de agosto de 1927 e resolveram fundar a Grande Loja. mas com o passar dos anos foram se chegando. As Grandes Lojas administram apenas os graus 1. Foi eleito como Grão Mestre o irmão Augusto Simões. foi-lhe dado o título Grão Mestre ad vitam. a Grande Loja da Paraíba é a Grande Loja mãe da loja do Ceará (que veio logo depois. Daí. nº 3. grau 2 e grau 3. Quando foram fundadas essas Grandes Lojas em 1927. Ele era o maçom mais graduado na Paraíba e era o único maçom grau 33. Surgiram então as lojas mencionadas pelo expositor Hélio Zenaide. na realidade. além de serem optativos dependem do irmão e do Supremo Conselho existente no Rio de Janeiro. vinculada a essa nova ordem. Minas Gerais e Rio Grande do Sul. que começam pelos graus filosóficos. que é quem dá a aprovação. São Paulo. 40 pertencem à Grande Loja. Aí aconteceu um fato inusitado. É como se fosse um curso de graduação. compareceram Aristides de Azevedo Cunha. Helmenegildo Di Lascio. E o mapa do Brasil foi dividido de acordo com a fundação dessas Grandes Lojas. José Pinto. Com a renúncia de Augusto Simões. que era maçom. que era uma política de consolidação da República. De modo. a Branca Dias nº 1. o que ela fazia. motivo pelo qual toda vez que havia um interregno entre um Grão Mestre e outro. Voltando à questão da separação da maçonaria francesa da maçonaria inglesa. houve uma ruptura mundial entre aquelas maçonarias. pela Loja Regeneração Campinense. não pelos livros. de 95 a 97 – Edilaudo Nunes de Carvalho. ··· A fala do Presidente: O Grão Mestre Edgard Bartoline Filho. Ela continuou me passando todos os ensinamentos que ela conhecia. Porque a Loja Branca Dias teve a audácia de quando construiu aquele templo da avenida General Osório. Se colocarmos a mulher na Maçonaria. 1928 – Manoel Veloso Borges. que são dadas por entidades superiores. 1998 – Romildo Lins de Toledo. estaremos sujeitos a perder o nosso reconhecimento. o fez de maneira aberta e não mais escondida. Gostarei de dar um depoimento pessoal sobre essa matéria. complementou com brilhantismo a palestra do nosso consócio Hélio Zenaide. hoje são mais abertos. Inclusive ela foi perseguida pela Igreja pelo fato de ter sido filha do Grão Mestre. seu pai. de 61 a 1963. de 48 a 1954 – João Tavares de Mello Cavalcanti. Foi esse o grande desafio que Augusto Simões e esses irmãos que mencionei tiveram. Tinha quatro filhos mações e depois da morte de Augusto os filhos homens se separaram da Maçonaria. novamente. de 1998 até 31. Com esse retrospecto penso ter complementado a brilhante exposição do irmão Hélio Zenaide. E minha mãe foi a herdeira do pensamento de Augusto Simões. O público vendo quem entrava e quem saía. de maneira aberta.12. porque eu defendo a participação da mulher na Maçonaria. Hoje não somos mais uma sociedade secreta. nosso debatedor designado. não nos seus templos. Ela foi proibida de casar na igreja. de 63 a 1964 – Olegário Lins e Silva. de 37 a 1944 – Otávio Celso Novais. Para sermos criados temos cartas constitutivas. de 70 a 79 – Francisco Edward Aguiar.2000. Foi a primeira loja que trabalhou de porta aberta ao público. que faleceu após quatro meses de grão-mestrado. porque sabemos que o mundo já mudou. de 45 a 1948 – Abelardo de Oliveira Lobo. e a mulher hoje desfruta um espaço que ocupa brilhantemente. A pergunta é a seguinte: por que não tem mulher na maçonaria? Não tem por culpa nossa. Os ensinamentos maçônicos que tenho hoje devo à minha mãe Luzia Simões Bertoline. de 88 a 1994 – Romildo Lins de Toledo. e não podemos ser porque respeitamos as leis do país e a elas estamos sujeitos. A sociedade hoje tem uma visão clara do que a Maçonaria faz. uma das mais tradicionais que existem. de 28 a 1937 – João Arlindo Correia. minha mãe. Se esses dogmas não forem modificados. nós não podemos modificá-los e ficarmos isolados e considerados uma potência espúria. Há uma pergunta que existe sempre entre os que não são mações. como devo também a parte dos ensinamentos musicais. que por sua vez tem sua carta constitutiva dada pela Grande Loja da França. José Lopes da Silva. quem era e quem não era maçom. pois ainda é uma tradição. de 54 a 1961 – João Arlindo Correia. Meu avô morreu em 1944 e no final do ano minha mãe foi casar-se e teve seu casamento negado pelo Bispo D. Moisés Coelho. de 79 a 81 – Francisco Mariano. de 64 a 1970 – Pedro Aragão. que eram altamente fechados. Conhecia pela vivência. E eu com cinco anos assisti ao casamento de minha mãe. sem uma aprovação mundial. de 81 a 1988 – Arlindo Bonifácio. A nossa confederação tem sua carta constitutiva dada pela Confederação Interamericana. Seu pronunciamento dá uma .Geografia e História da PB 285 De 1927 para cá a Grande Loja teve os seguintes Grãos Mestres: 1927 – Augusto Simões. nunca. mas era professora do Colégio Nossa Senhora das Neves e auxiliar do professor Gazzi de Sá no Seminário Diocesano da Paraíba. que recebeu uma comitiva das freiras do Colégio Nossa Senhora das Neves que lhe foi fazer um apelo. Ela só se casou na igreja em 1953. mas podia ensinar dentro de colégios católicos. em 64. Adauto. sou eu que estou exercendo o grão-mestrado. Não podia casar-se na igreja. A Maçonaria como um órgão universal tem um relacionamento exterior semelhante ao nosso relacionamento diplomático. Vejam só o paradoxo. foi interino. Imagine naquela época uma loja maçônica funcionando ma mesma rua da Catedral Metropolitana e do Convento de São Bento. quando o Bispo era D. Abel Montenegro Rocha. Então. O SNI abriu. que na realidade foi a primeira instituição maçônica como potência que abrigou os nossos mações do nosso país. que tem mais de cem anos. que o confrade Guilherme d’Avila Lins. O Vaticano está abrindo também seus documentos. O Mosteiro de São Bento de Olinda também está abrindo. Não sei se esses livros vão ter acesso à pesquisa de modo geral. Imagino. de afinidade ou de distanciamento. como pesquisador. nos últimos meses do ano passado tive a oportunidade de compulsar todas as atas da minha Loja. Sua origem. gradativamente. Nesse sentido. todos eles pertenceram ao Grande Oriente do Brasil. Não respondo pelo Grande Oriente do Brasil. Em 1932 o papa negro – o padre geral da Companhia de Jesus – abriu para os seus os arquivos secretos da Companhia de Jesus. abrir este acervo que imagino deva existir na Maçonaria. Sem sua participação neste Ciclo de Debates esse tema ficaria menos enriquecido. documentos devem ter sido feitos. Detalhes da Maçonaria paraibana. imagino que o arquivo histórico da Maçonaria é um arquivo fabuloso. ··· 1º participante: Guilherme d’Avila Lins: Tenho que elogiar a beleza de trabalhos apresentados pelo expositor e debatedor desse tema. nessa época histórica. Temos o Livro de Ouro da fundação da Loja. na parte esotérica. Todos nós sabemos a importância. a influência que. As transformações. do ponto de vista histórico. Minha dificuldade foi identificar as palavras por causa da caligrafia da época. respondendo: Quanto aos arquivos. que todo essa cadinho de discussão como lidar com o processo social de cada momento histórico. mas tudo isso é de ouvi dizer. padre Feijó. Gonçalves Ledo. mas farei a seguinte indagação: Qual a é verdadeira relação que existe. de 1927. Está aberta a quem quiser compulsá-la.. com os vultos que a sustentaram e sustentam. Todos esses irmãos que foram citados por Hélio Zenaide e outros que não foram citados. como Tamandaré. de diferenças ou de aproximação entre a Maçonaria e a antiga e mística Ordem Rosa Cruz? Ouço dizer que existe uma relação apenas de certo nível. pergunto: seria possível. Agora passaremos ao debate com a participação do plenário. ao longo do tempo. para dizer . e que é de fundamental importância para qualquer historiador? Hélio Nóbrega Zenaide. político e histórico do mundo inteiro. Temos o discurso do nosso fundador Coriolano de Medeiros na Maçonaria. infelizmente não posso adiantar nada porque esse grande acervo histórico está de posse do Grande Oriente do Brasil. não obstante a excelência da palestra do consócio Hélio Zenaide. José Patrocínio. detalhando aspectos pouco conhecidos de nós não mações. Outra pergunta quem faz é o meu eu pesquisador de história. etc. e deste país. Mas. há mais de cem anos. que tem seu Grão Mestre próprio.Geografia e História da PB 286 visão global da história da Maçonaria no mundo e no Brasil. foram registrados. imagino que atas. sua filosofia e forma de funcionamento ficaram à mostra para nosso conhecimento. sua implantação no Brasil. teve a Maçonaria no processo social. Com relação aos demais. Acho que o Grão Mestre Edgard Bartoline poderá acrescentar alguma coisa. com a assinatura de todos os membros presentes à fundação da Loja. complementando: Está aqui a ata da fundação da Grande Loja. não sei dizer que orientação a Maçonaria poderá tomar. José Bonifácio de Andrade e Silva. e eu passo a palavra ao primeiro debatedor inscrito. Edgard Bartoline. suas mudanças foram aqui dissecadas. registros. Li da primeira à última ata. Mas na Loja Regeneração do Norte temos todas as atas com todos os pronunciamentos. essas instituições têm um esquema hierárquico. Joacil Pereira indagou logo porque não há mulher na Maçonaria. Muitas vezes se vê que é um bom pai de família. Isso pode acontecer. como filósofo. ao expositor. Tenho tido gratas experiências. Como leigo. Tivemos uma exposição excelente feita pelo nosso companheiro Hélio Zenaide. A Ordem Rosa Cruz é uma ordem própria. meus cumprimentos para a mesa que dirige os trabalhos. Com relação à vinculação da Ordem Rosa Cruz com a Ordem Maçônica. que é o grau 32. a minha pergunta é sobre os critérios para o ingresso dos leigos na Maçonaria. Se a cúpula não concorda com as mudanças. ao presidente da mesa. posso dizer que são duas coisas totalmente diferentes. E se não estiver. e por mais pesquisas que façamos estamos sujeitos a passar por algumas decepções. Joacil Pereira. somos falhos. mas também tive experiências muito tristes. com Hermes Termogisto. mas depois tomamos conhecimento que ele tem um caso com uma segunda família que ninguém sabia. onde o colocamos juntamente com seu pensamento filosófico Sidarta Gautama. não reclamou. que foi complementado pela valiosa contribuição do debatedor Edgard Bertoline Filho. O Rotary International foi fundado em 1905 admitindo . que foi o deus central dos gregos. São esses grandes filósofos e pensadores da humanidade que fazem com que a gente reverencie porque colocaram. que é o pensamento voltado para a Liberdade. bom filho. Mas Rosacruzes. é uma ordem totalmente mística. ao debatedor. Temos de convir que os direitos autorais terminam com 50 anos. Jesus Cristo se referiu à Maçonaria em duas ocasiões especiais. do qual sou participante desde 1948. Para os mações tenho certeza que está. 2º participante: Manoel Silveira: Em primeiro lugar. à qual não pertenço.Geografia e História da PB 287 se essa documentação está aberta aos historiadores não mações. Recentemente sua Grã Mestra era uma mulher. que foi Jesus Cristo. um grau superior. Eu tenho essa experiência no Rotary International. superior. o que constitui um exemplo para a Maçonaria. O grau 18 é dedicado a Jesus Cristo. como explicou o Grão Mestre Bartoline. com Brama e outros pensadores. Pois não temos condições de fazer um levantamento sobre a vida pregressa de uma pessoa em todas as circunstâncias. mas o que li sobre ela é que ela tem base na estrutura do Egito antigo. é muito bem dirigida. E para abrilhantar o debate houve alguns impertinentes. têm que ser levados em consideração. Existe o grau 18. também a ele é dedicado. por que? Não porque tem vinculação com a Ordem Rosa Cruz. o pensamento que nós temos hoje. Mas. que cobraram dos expositores esclarecimentos seguros. totalmente leigo no que diz respeito à Maçonaria. Não existe essa história de que mulher não sabe guardar segredo. Daí também nossa crítica aos evangélicos e católicos que não conhecem que temos graus dedicados a Jesus Cristo. quando ele se referia a uma documentação enorme para o ingresso na Maçonaria. cumpridor dos seus deveres e ingressa na Ordem. ··· A fala do Presidente: Sentimo-nos satisfeitos com os debates sobre nosso tema de hoje. de 100 anos. Edgard Bartoline: Os princípios básicos: Ser um homem de bem e crer num ser superior. São coisas com que a gente se ressente. Apenas perguntou. Na realidade. é mista. somos humanos. do rito escocês antigo. que se chama grau dos Cavaleiros Rosacruzes. Rosacruzes porque tem vinculação com as Cruzadas e este grau tem como seu patrono nosso Mestre maior. muito antes da Maçonaria. pois a mulher sabe guardar mais segredo do que o homem. as Lojas que são dependentes não podem inovar. com Zeus. Igualdade e Fraternidade. o que me chamou a atenção no momento foram as palavras do Dr. tem que estar porque fatos de 50. Então. distribuirá com os presentes uma cópia sintética de sua exposição. E hoje nós já temos governadoras de Distrito. presidente da Academia Paraibana de Letras. muito vasta. Expositor: Joacil de Britto Pereira (Advogado. na chamada “Turma do Meio Século”. que são instituições similares. Ele é bacharel em Direito pela Faculdade do Recife. companheiro Hélio Zenaide. uma apresentação. sobre a criação da nossa literatura na província desde os seus começos é tarefa muito ampla. Nosso expositor. deputado estadual e deputado federal. A despeito de algumas figuras negativistas. A Ordem Maçônica é rígida. Com a palavra o professor Joacil Pereira. são muito vagarosas. O Presidente. Aparte dum participante: No Lions só depois de 1887. inclusive no setor literário. que está a cargo do confrade Joacil de Britto Pereira e teremos como debatedor o jornalista Gonzaga Rodrigues. Foram precisos mais de 80 anos para se admitir o ingresso da mulher. uma questão de tempo. escritor. que não poderia jamais se comportar nas lindes de uma exposição com prazo marcado. da qual foi orador oficial e foi agraciado com uma viagem a Europa. sócio do Instituto Histórico) Não será demais enaltecer a iniciativa feliz e ousada do presidente do Instituto em promover este Seminário. o tema que me foi proposto para exposição é um tema realmente muito vasto. Toda província neste país luta para ter uma autonomia em todos os setores. cujo . muito fortes os motivos por que o convidamos para falar sobre a literatura paraibana. É. Sócio deste Instituto.Geografia e História da PB 288 somente homens. portanto procurarei ser o mais sucinto possível. portanto. escritor de escol. portanto. continuando sua fala: Foi a mesma situação do Rotary International. O Rotary abriga líderes das mais diversas atividades. Diretoras e algumas exercendo importantes funções nas Comissões Internacionais. de dinâmico empreendedor dirigente do nosso IHGP. às vezes usando uma linguagem até telegráfica. As mudanças. foi Secretário de Estado várias vezes. não obstante sua intensa atividade na vida pública e na vida forense. é professor de Direito na Universidade Federal da Paraíba. mas a mulher não entrava. Nosso expositor. do qual foi presidente por dois mandatos. então as minhas palavras iniciais são de elogio à sua ação de excelso administrador. para registrar. São. Porém. falar sobre a literatura paraibana. professor universitário. por sua forte atuação nos meios culturais. seguindo nossa praxe. nas instituições desse tipo. apesar de ser bastante conhecido do plenário. só para apontar. pela segunda vez é o atual presidente da Academia Paraibana de Letras. 16º Tema A PRODUÇÃO LITERÁRIA NA PARAÍBA Expositor: Joacil de Britto Pereira Debatedor: Luiz Gonzaga Rodrigues A fala do Presidente: O tema para debate hoje programado é A PRODUÇÃO LITERÁRIA NA PARAIBA. Na verdade. merece. mas cedo ou tarde essa mudança se efetuará. embora a generosidade do Presidente tem permitido o elastério desse prazo. onde se formou em 1950. inclusive um certo autor. que Castro Alves definiu em sua bela inspiração. que era poeta e jornalista. menos em teatro. embora ele tenha sido apontado como primeiro poeta porque foi o primeiro a publicar poesia. ficou impotente. lírico. que inclusive escreveu romance e foi um dos primeiros gênios a despontar neste país no campo da pintura. corta o mármore de Carrara. entre outros livros. E quem já leu pelo menos um ou dois dos poemas desses livros saborosos há de concordar comigo quando digo que era um poeta maravilhoso e mavioso. os vates despontando na literatura paraibana. Ascendino Leite. sua praia. Antônio Elias Pessoa. inteligência rara. tivemos Américo Falcão. VISÕES DE OUTRORA. que passarei depois a mencionar. diz que a Paraíba não tem literatura. Desesperado. seus versos eram publicados nas melhores revistas do Rio de Janeiro. além de grande jurista e lutador republicano. Aurina soube qual era o motivo. foi um sábio. aplaudir. PRAIAS. / Artista. Então. nascido na então vila. era um poema épico sobre a Batalha de Humaitá. A ROSA DE ALEÇON e SOLUÇOS DE REALEJOS. poderíamos enfocar pelo menos os principais: José Vieira. das artes plásticas em geral. É um excesso de radicalismo que não podemos. de forma alguma. que foi Pedro Américo. que. diretor da Biblioteca Pública. Naquele tempo era usual. romântico. como disse Eça de Queiroz. criador de neologismos. Nosso primeiro poeta despontou na figura de Monteiro da Franca. adorava as nossas praias. reconhecido na Europa. Mas ele se perdeu na boemia e tinha uma noiva chamada Aurina Silveira. como Lucemar. é inaceitável. No romance. parece que está na nossa alma. Ele perdeu as condições para se casar. Marluce. esgotando todos os autores. e na sua criatividade formou neologismos com nomes próprios e de outros que não eram nomes próprios. entre os quais despontou o segundo gênio da Paraíba: Augusto dos Anjos (palmas). 50 anos antes de Monteiro da Franca. Foi uma viúva . é sempre Europa gloriosa. A Paraíba tem uma literatura rica em todos os gêneros. Mas ficou como um anjo de candura. Tivemos também Albino Meira. era modismo cultuar-se o Latim. um homem que escreveu neste país em todos os gêneros. publicou um poema sobre o episódio da esquadra brasileira nas águas do Paraguai. é tão espontânea. nos deixou a LIRA MELANCÓLICA. basta um livro para eternizar uma civilização. nos seus entendimentos. / Rainha e cortesã. paraibano ilustre. não queria mais saber de casamento. de tal forma que era ensinado em todas as escolas. dizer-se que a Paraíba não tem literatura. não apenas superiores. sem citar. dizendo: Europa. e foi esse poema que o consagrou. AURAS PARAIBANAS. ao tempo em que a província se chamava Paraíba do Norte. Antônio Carneiro de Albuquerque Cunde. E a poesia do paraibano é tão fértil. Isto eu considero um contra-senso e uma ofensa às nossas tradições de inteligência e de cultura. publicou. indo buscá-lo em toda parte. sócio deste Instituto e da Academia Paraibana de Letras. nasceu nesta capital. Pois esse continente onde reside a cultura universal endeusou e proclamou o valor mais alto desse paraibano nascido em Areia. foi poeta. / Poetisa. um homem de uma sabedoria imensa. porque. que figura entre os primeiros e melhores versejadores. Era irmão de Benjamim Pessoa. Antônio Cruz Cordeiro. publicado em 1901. mas até nas escolas de segundo grau. Uma terra que deu poetas maravilhosos. Então bastaria o EU E OUTRAS POESIAS de Augusto dos Anjos para eternizar o valor literário e intelectual da Paraíba. data vênia. José Américo de Almeida. ele foi diretor do jornal A UNIÃO. hoje cidade de Lucena. José Lins do Rego (os três grandes Josés. Já àquele tempo nós tínhamos os bardos. radical nas suas posições. Esses nomes foram criados por ele. para começar bem). / A mulher deslumbrante e caprichosa. NÁUFRAGOS. Antônio Elias Pessoa foi um poeta que fez versos religiosos no velho estilo romântico e foi até o gênero parnasiano. tange os sinos de Ferrara / No glorioso afã.Geografia e História da PB 289 nome parece um gemido de angústia. em 1869. que o conheci. Era um homem notável. porque adorava sua terra Lucena. escreveu e publicou dois poemas em Latim. Francisco Xavier Monteiro da Franca. Bastaria esse. mas 50 anos antes nós já tínhamos vários poetas. Pedro Américo. sonho perdido. vou dizer. É essa Paraíba assim. e Ruy deixou o poeta morrer em paz. Beijos trazendo na boca em flor. Em pleno ocaso da mocidade Em vão te busco. Julguem entanto sonho falaz. que dizia que era um livro muito interessante. tão viva. onde ele trabalhava. Sem conhecer-te. Era um funcionário zeloso. assumiu a chefia da Recebedoria de Rendas. Nunca assinou um ponto. foi direto ao interventor. Como meu companheiro na Assembléia ele fez vários versos de improviso. que se quer dizer que não tem literatura. Dra. arrependido por que tinha feito uma grosseria com Aurina. tu bem que existes. quase adolescente. os versos que jamais esqueci. mas tive conhecimento entre vários amigos. no Livro de Ponto: Quem tem alma de ateu E possui tão mau coração Ao invés de se chamar Pordeus Devia se chamar pelo cão. no outono. Eudésia Vieira. Não sei porque ele não continuou. Ruy Carneiro o isentou de ponto. (palmas) Aí chegou o Pordeus. possuído de uma ira sagrada. com o título de FELICIDADE: Felicidade. um Pordeus. e me mostrou. Já me buscastes. Porém. Branco de lírios. que ele era rigoroso demais. E eu todo cheio de ingenuidade. (palmas) Benjamim trabalhava na Secretaria das Finanças. – Quero deixar o poeta em paz. grande orador. Benjamim fez então o seguinte versinho. historiadora e . felicidade. mandei-te embora. desiludido. quando estudante no Recife. Essa Paraíba tão fértil. mas hoje a televisão divulga coisa muito pior. tão meiga e airosa. porque foi noiva até quando ele morreu. e começou a cortar os pontos de Benjamim. como já se dissera outrora dos sicilianos. Vou dizer uma coisa que poucos sabem. o pai do atual presidente da Assembléia Legislativa. Hoje. homem muito inteligente. Felicidade. Vinhas ridente. que foi uma grande paraibana. chefe da repartição. é um povo de imaginação aguda e de precoce inteligência. Na sua juventude. entre os quais João Bernardo. tão espontânea. foi companheiro de farra de Ruy Carneiro. Quando ele vivia nesse auge da bebedeira. da qual se pode dizer. de um lindo alvor. achou graça e disse que ia tirar Benjamim da repartição dele.Geografia e História da PB 290 antecipada. e Ruy gostava muito dele. porque é muito engraçado. Não tive a ventura de conhecer esse livro. Só não te encontram os poetas tristes Que te procura onde não estais. e. e quando viu aquilo. Ruy Carneiro riu. de cantatas de violão. porque o nosso Nominando é uma figura notável. Ele então fez. Uma vez ele me contou chorando. felicidade. Tinha até um que é meio proibitivo. – Está aqui o que o protegido do senhor fez comigo. foi meu companheiro de boemia. Antônio Nominando Diniz Sênior. Nos doces tempos de minha aurora. publicou um livro de poesias intitulado ARCO-ÍRIS. cheirando a rosa. Toda de branco. O PSD puxava dum lado e a UDN puxava do outro. Nominando fez esse verso: Me responda. Era também um orador maravilhoso. Eliseu César. Mais recentemente. Foi jornalista. E nisso ele foi mestre. que fez época na Paraíba. escrevendo em diversos gêneros da literatura. inclusive o comendador Renato Ribeiro. cronista de mão cheia. Ensaísta. que construiu o grande açude Poços. cujo nome completo era Eudes Barros de Luna Freire. que não é só poeta. Essa pergunta chifrim: Esse cerne contorcido É o de José Jardim? Houve também outro episódio que nos distraiu muito. Amélio entrou no recinto quase à força. E Ascendino Leite está aí. Eu ainda cito entre os poetas Bilac Sobrinho. primeiro no Pará. embora tivesse sido sufragado pelo PSD. numa época em que a discriminação ainda era mais odiosa do que hoje. Félix Araújo. estou terminando um ensaio biográfico sobre Ascendino. talvez insuperável. improvisava com entusiasmo e tinha uma gesticulação que comovia a todos. como lembra aqui o Presidente. orador extraordinário. talento verbal dos maiores que a Paraíba já teve. Aliás. ninguém improvisava melhor do que Eliseu César. O título é meio esquisito. que João Lélis chamou de “o gênio pardo da raça”. nos deixou no gênero poético FRUTAS E PAÚIS. O Cônego Bernardo. CÂNTICO DA TERRA JOVEM. em Teixeira. que era amigo íntimo do Imperador Pedro II. fosse ouvindo-o nos salões ou nos comícios populares. Dra. membro da Academia Paraibana de Letras. foi beletrista. Era casado com uma moça da família Teixeira (ele já morreu) e tinha compromisso (porque os Teixeira eram muitos ligados aos Ribeiro Coutinho. nascido em Aroeira. Escreveu sobre Sadi e Ágaba. parente do pai de Humberto Mello. a terra de Gonzaga Rodrigues e também foi membro do Instituto e da Academia de Letras. Vou encontrar Ascendino sendo louvado em terras de Portugal e em terras da França. com 84 anos. que publicou. . e depois aqui. em 1930. inclusive trazendo para a Paraíba o hai-kai. Ele venceu. um gênero de poesia de origem japonesa. é também crítico literário dos melhores que temos. Então Nominando Diniz fez uma paródia interessantíssima com o samba AMÉLIA: “Amélio não tinha a menor qualidade. JESUS BRASILEIRO. Mas foi um poeta notável.. que eram da UDN) de acompanhar os Ribeiro Coutinho depois de eleito. E os Teixeira com os Ribeiro estavam todos lá. Amélio Leite elegeu-se deputado estadual. de quem fui amigo pessoal.” e saiu por aí.. irmão. um livro só. faz versos e livros de poesia que são elogiados pela crítica nacional e estrangeira. autor do romance DEZESSETE. Eudes Barros. político combativo. Quando o livro chegou à Assembléia. já que estamos falando de poetas? Foi também historiador. Eudésia. temos que mencionar Hildeberto Barbosa Filho. que era o pseudônimo de Ulisses Lins de Albuquerque. Na hora da eleição da Mesa o PSD cobrava fidelidade partidária. mas um livro muito aplaudido no tempo: DE JOELHOS. escreveu um livro de poesias com o nome O CERNE CONTORCIDO. Era um homem de cor.Geografia e História da PB 291 também poetisa. Seu livro mais notável foi ALGAS. pedindo para ele cumprir o compromisso. que depois saiu com o título mais expressivo de ELES SONHARAM COM A LIBERDADE. filho de Alagoa Nova. Era sócio correspondente do Instituto. Ele é também um representante do talento paraibano para esmagar a afirmativa negativista de que a Paraíba não tem literatura. Era inflamado. A poesia é tão fértil entre os paraibanos que José Américo de Almeida escreveu versos aos 90 anos de idade. foi um poeta parnasiano dos melhores que tivemos. meio extravagante. membro deste Instituto. E Eduardo Martins. Geografia e História da PB 292 Irene Dias Galvão fez sensação com sua poética erótica, quebrando os grilhões que deixavam a mulher um tanto escravizada ou marginalizada. Porque a mulher tem sido injustiçada neste mundo de meu Deus desde as priscas eras, sobretudo no mundo asiático, onde hoje ainda continua, com os muçulmanos. Ela escreveu, entre outras coisas, EU MULHER. ... Belos sonetos ele fez oferecido a Nossa Senhora das Neves, e eu reputo o seu melhor poema BODAS DE PRATA. José Rodrigues de Carvalho, de Alagoinha, que foi também folclorista, autor de O CANCIONEIRO DO NORTE . No tempo em que nasceu, Alagoinha era vila do município de Guarabira, mas hoje os dois municípios brigam para ser a terra mãe de Rodrigues de Carvalho. E Leonel Coelho? O poeta que vivia bêbado, constantemente puxando fogo, e quando morreu uma pessoa de projeção no meretrício paraibano, cujo nome agora não recordo, quando o enterro ia passando, Leonel sentado numa banca, perguntou: – de quem é esse enterro? – É de fulana de tal, disseram. Era uma marafona, uma cortesã. Ele chamou um carro de praça e acompanhou o enterro. Quando chegou no cemitério, à beira do túmulo, ele chegou e disse: – Parai, parai, coveiros apressados, que ruiu a viga mestra do meretrício paraibano. Ele escreveu MISÉRIAS, PARALELEPÍPEDOS e escreveu o POEMA ÉPICO DE 30. Saiu vendendo o livro pelo Estado e quando chegou em Campina Grande, disseram: “ali tem um senhor que, se você for oferecer, ele compra bem uns 10”. Era Silveira Dantas. Ele então foi para lá. A firma era Silveira Brasil & Cia. Ele não sabia que Silveira era da família Dantas. Entrou dizendo: “quem é aqui o chefe da firma Silveira Dantas?” Silveira disse: “sou eu”. – Eu vim lhe oferecer o grande livro POEMA ÉPICO DE 30, em homenagem ao imortal Presidente João Pessoa. Silveira disse: “Cachorro, bandido, atrevido”, e partiu para cima de Leonel. Leonel correu, caíram dois livros no chão e o caixeiro de “seu” Dantas pegou o livro e ficou folheando e quando chegou lá num trecho, aquelas coisas das lutas de 30, ele disse: “Silveira, seu nome está aqui no livro”. – Está? e o que é que diz? O caixeiro leu: “em fevereiro, o bandido Silveira Dantas, Livramento invade”. Silveira então disse: “manda chamar o homem que eu quero comprar”. Era esse o Leonel Coelho. Mardokeo Nacre, que foi um dos maiores, no Nordeste, no gênero de poesias matutas. Eu sabia uma versalhada dele, mas a memória já está me falhando. Tinha um poema que a gente declamava nos esquetes de teatro, que dizia assim: Ó gênio, o menor de todos, Barriga de almofadão, Puxe o gato pelo rabo Pra fazer judiação. Suas poesias foram muito elogiadas por Carlos Dias Fernandes, que também foi outro grande poeta. Foi jornalista, poeta, romancista. Mathias Freire, de Mamanguape, como Carlos Dias Fernandes, era grande poeta; ele se intitulava “padre, poeta, arcanjo e passarinho”. Miguel Jansen Filho, que era um repentista extraordinário, grande improvisador, uma memória fora de série, só comparável à de Euríclides Formiga. Euriclides era um homem perigoso, por que se você declamasse uma poesia junto dele ele dizia: “essa é minha”. E declamava a poesia toda, que tinha ouvido naquela hora e depois a declamava de trás para diante. Era uma memória que talvez tivesse paralelo com a de Jansen Filho. Dona Olivina Carneiro da Cunha também deve figurar entre os poetas. Grande educadora, professora de português, escreveu também além dos livros de poesia O BARÃO DE ABIAHY, biografia do pai. Osório de Medeiros Paes, o poeta da “Pequena Cruz do seu Rosário”. Pereira da Silva, filho de Araruna, que foi o primeiro paraibano a ter ingresso na Academia Brasileira de Letras. Geografia e História da PB 293 Perylo de Oliveira, com VÕOS DE PÁSSAROS e CAMINHOS CHEIOS DE SOL. E se nós tivermos realmente sensibilidade poética, não podemos deixar de nos referir os nossos cantadores, entre os quais eu destaco Pinto do Monteiro, Romano do Teixeira e Inácio da Catingueira, improvisando versos notáveis. Inácio sensibilizou o seu senhor (ele era escravo), que lhe deu alforria, com tanto que ele continuasse a cantar. Cantava manejando um pandeiro Entre os mais modernos, temos Políbio Alves, Eujalose Dias de Araújo, Lúcio Lins, Antônio Arcela e o nosso Luiz Augusto Crispim, cronista de escol, como este que aqui está – o Gonzaga; eles estão entre os maiores cronistas da Paraíba. Gonzaga, Crispim, Francisco Pereira da Nóbrega. Mas Crispim é também poeta laureado com prêmios. Membro deste Instituto e da Academia Paraibana de Letras. Raimundo Asfora, cujo nome eu invoco com saudades. Era cearense, radicado em Campina Grande. Também grande orador. Raul Campello Machado, de Taperoá, autor de CRISTAIS E BRONZES e DANÇA DE IDÉIAS. Esse livro DANÇA DE IDÉIAS me liga muito a Luiz Hugo Guimarães, porque eu o li emprestado por ele; é tão lindo esse livro porque ele é só de poemas em prosa, de definições e de conceitos. Não sei se Luiz Hugo se lembra, como eu recordo ainda, quando ele disse: Símbolo é carne do pensamento, É forma concreta de uma noção abstrata. Simbolizar é objetivar as idéias da vida, As imagens e forma real aos sonhos. Esse homem de tanto valor foi também grande jurista. Ronaldo Cunha Lima, nascido em Guarabira, e radicado em Campina Grande, onde fez sua vida pública, hoje é senador, é também poeta e bom orador, melhor do que poeta. E improvisador, também. Sérgio de Castro Pinto, Jomar Moraes Souto, ambos da Academia Paraibana de Letras, e poetas excelentes. Silvino Olavo, filho de Esperança, que surgiu assim no espaço intelectual da Paraíba como um meteoro brilhante e logo desapareceu. Morreu louco, mas ainda houve tempo de escrever CISNE e SOMBRAS. Vanildo Brito, natural de Monteiro, também é outro poeta notável. Sua poesia tem um conteúdo filosófico. E por que não falar de Zé da Luz, cujo nome de registro é Severino da Silva Andrade? Poesia gostosa, saborosa, para a gente rir. Quem não conhece aquela que começa assim: “Era uma vez três irmãs, num lugar Puxinanã” e ele diz que Queria ser um caçote, com os óio desse tamanho pra ver aquele magote de moça tomando banho. Fez também uma poesia muito boa sobre o nosso matuto da Paraíba, dizendo que a nossa terra é que era Brasil: “Um Brasil brasileiro / sem mistura de estrangeiro / um Brasil nacioná.” E é mesmo. Nós é que somos o Brasil. Aqui nasceu o sentimento de Pátria, o sentimento de nacionalidade. Esta é que a terra brasílica por excelência. E Zé Limeira, o poeta do absurdo e da saudade. Na crítica, nós temos Álvaro de Carvalho, filho de Mamanguape; Alcides Bezerra, nascido em Bananeiras; Alyrio de Meira Wanderley, que fez crítica por muito tempo, nascido em Patos, também romancista, autor de várias obras notáveis como CARNEIROS CINZENTOS, BOLSOS VAZIOS, RANGER DE DENTES. Crítico também foi Juarez da Gama Batista, crítico laureado, com muitos prêmios aqui, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, até da Academia Brasileira de Letras. Falando dos críticos, não podemos esquecer de Virgínius da Gama e Geografia e História da PB 294 Melo, que era também jornalista, foi advogado, escrevia no JORNAL DO COMÉRCIO e DIÁRIO DE PERNAMBUCO e depois nos jornais da terra, autor premiado em vários trabalhos. Escreveu um romance TEMPO DE VINGANÇA, tendo por fundo histórico a Revolução de 1930. Elizabeth Marinheiro, também é crítica e ensaísta, membro da Academia Paraibana de Letras. Hildeberto Barbosa, que já entrou na relação dos poetas, também é crítico de escol. Ângela Bezerra de Castro, que recentemente assumiu uma cadeira na Academia Paraibana de Letras, é também crítica e ensaísta. Na História, começo por dizer que todos os membros deste Instituto Histórico, os do passado e do presente, devem ser incluídos na relação dos historiadores. Porque aqui só se entra se tiver pelo menos uma obra sobre assuntos históricos, uma obra com matéria da historiografia da Paraíba, ou do Brasil. Aqui mesmo está um, o nosso Guilherme da Silveira d’Avila Lins, um dos mais recentes e que a todo instante nos causa a agradável surpresa de ser um velho historiador; mas temos também que mencionar na História aquele que Luiz Hugo apontou. Maximiano Lopes Machado, que foi o primeiro historiador, que tem um recente trabalho de pesquisa feito pelo nosso Presidente; Irineu Ceciliano Pereira Joffily, nascido em Campina Grande, grande historiador, notável também na vida pública. Temos o outro Irineu - Irineu Ferreira Pinto –, que se imolou por amar a pesquisa. No meio dos insetos daninhos; pesquisando alfarrábios, documentos antigos, ele perdeu a saúde. E deu nome a esta Casa – Casa de Irineu Pinto, muito bem posto este nome pelos que fizeram o Instituto de antanho. Coriolano de Medeiros, o fundador da nossa Academia. Foi historiador de méritos, escreveu romances e ensaios, uma COROGRAFIA DA PARAÍBA, peças teatrais, nasceu em Patos. Foi também um dos fundadores do Instituto Histórico. Tão importante foi o seu papel na fundação da Academia Paraibana de Letras que aquela casa hoje se chama Casa de Coriolano de Medeiros. Horácio de Almeida, sem medo de errar, considero o maior historiador moderno do nosso Estado. Atuou também no jornalismo e dirigiu o jornal O ESTADO DA PARAÍBA. Escreveu um livro que ficou célebre: BREJO DE AREIA, que ele antes denominara de Terra do Bruxaxá. E escreveu em dois volumes uma História da Paraíba. Epaminondas Câmara, campinense, que escreveu muito sobre a história do seu município. Cristino Pimentel, era outro apaixonado por Campina Grande, filho daquela terra. Foi jornalista e historiador. E não podemos deixar de nos referir ao maior de todos os historiadores da Paraíba, em todos os tempos. Nós lhe demos o nome de diploma e de uma medalha, o negrinho José Maria dos Santos. Poliglota, diplomata. Escreveu a História de São Paulo e esse homem colaborava no jornal LE FIGARO, onde foi Redator-chefe. É um paraibano que devia ter uma estátua aqui na Paraíba. O seu nome, portanto, deve ser lembrado com todo respeito. Se tivéssemos tempo iríamos enumerar outros, como o Cônego Florentino Barbosa, e os atuais. Deusdedit Leitão, Sebastião Bastos, Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, Elpídio de Almeida, que também fez uma História de Campina Grande, Archimedes Cavalcanti, Luiz da Silva Pinto, João Lyra Filho, Antônio Freire, Carmem Coelho de Miranda Freire, que ainda hoje ocupa uma cadeira neste Instituto, escreveu A MANSÃO DA BELA VISTA, escreveu A HISTÓRIA DA PARAÍBA para o 1º e 2º graus; Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, que é historiador e ensaísta e político. Vai lançar dentro de poucos dias um trabalho sobre Manuel Tavares Cavalcanti. Escreveu GATILHO E SANGUE NA ASSEMBLÉIA, PODER, ALEGRIA DOS HOMENS, PEQUENO DICIONÁRIO DE VULTOS DA PARAÍBA, O LIVRO PROIBIDO DO PADRE MALAGRIDA, de quem é fervoroso admirador, e dos jesuítas em geral. Ele escreveu também ADALBERTO RIBEIRO, O SENADOR DA CONSTITUINTE. Uma das áreas em que a Paraíba tem sido muito fértil e pode se ombrear com as maiores províncias do nosso país e na área do jornalismo. Quem não pode admirar um homem da têmpera de Antônio Borges da Fonseca? Político militante, revolucionário impenitente e grande jornalista. Era cognominado o republico. Fundou jornais aqui e em Pernambuco, sempre lutando pela liberdade. Gama e Melo, que pode ser lembrado como grande jornalista, mas também como grande advogado. Começou a escrever no jornal CRENÇA, de Sílvio Romero, e tão bem escrevia que o DIÁRIO DE PERNAMBUCO o convocou para colaborar. Era difícil colaborar naquele jornal, que era um Geografia e História da PB 295 jornal muito fechado, mas ele começou ainda como estudante, e a convite. Escreveu no JORNAL DO RECIFE e no LIBERAL da Paraíba, Era um homem de uma pureza moral extraordinária, tanto assim que divergiu do nosso presidente republicano Álvaro Machado, porque Álvaro criou aqui no Estado uma oligarquia antipaticíssima. Ele rompeu, fundou um jornal chamado A REPÚBLICA e foi combater Álvaro Machado. Terminou sendo candidato de oposição e perdeu a eleição, mas fora candidato mais por uma questão moral. Eu citaria Severino Lucena, não como um jornalista profissional, mas como um animador cultural, na Paraíba, fundando a Revista ERA NOVA. O pai era Presidente do Estado e ele oficial de Gabinete e o Presidente deu todo o apoio ao filho nesse movimento cultural. Esse magazine atraiu os melhores talentos da terra. Vultos como José Américo de Almeida, Anthenor Navarro, Adhemar Victor de Menezes Vidal, Aderbal Piragibe (esse era um panfletário extraordinário), Órris Fernandes Barbosa, Sinésio Guimarães, Perylo de Oliveira, Eudes Barros e alguns outros estreantes na arte de escrever. Da velha escola colaboraram também Américo Falcão, Mathias Freire, Carlos Dias Fernandes, José Rodrigues de Carvalho e assim por diante. Vou contar uma história engraçada de Aderbal Piragibe contra o grande jornalista que foi dirigente de O COMBATE, Bôtto de Menezes. Quando éramos estudantes, comentou-se isso na cidade. Bôtto arranjou um namoro, um romance, e estava numa polêmica jornalística com Aderbal Piragibe. A polêmica estava acesa. Aderbal era um panfletário de sete fôlegos. E lá para as tantas fez um artigo mencionando o fato. Tornou-se público e notório, porque Bôtto pulou o muro da casa da mulher com quem estava em romance e não teve tempo de vestir a roupa toda porque o marido atirava no fundo do muro, e ele pulou o muro. Os estudantes cantavam uma modinha horrível: Ai, Margarida, ai Margarida. Eu vi Antônio Boto seminu pela avenida. Como Aderbal Piragibe fez menção ao fato, Bôtto também fez um artigo violento no seu jornal O COMBATE e foi matar Aderbal no antigo Café Moderno, que ficava onde foi a Farmácia Régis, no Ponto de Cem Réis. Atirou em Aderbal, que se escondeu por trás dumas latas de doce empilhadas. No final de contas, Bôtto errou todos os tiros. Então Aderbal faz um artigo em cima de Bôtto, que termina assim: “Bôtto, a poeira por mais que se levante do solo, tangida pelos ventos, é sempre pó. A ostra, ainda que esteja submersa nos fundos dos oceanos, é sempre ostra. Não sobreviverás à tua infâmia”. Terminava o artigo assim. Há muitos outros jornalistas: Alcides Bezerra Cavalcanti; Osias Nacre Gomes, que começou como emendador no jornal, escritor, magistrado, chegou a ser desembargador; Celso Mariz, outro grande jornalista; José Leal Ramos, esse era apaixonado pelo jornal, pela imprensa; Rocha Barreto, com seu cachimbo, tornou-se jornalista famoso, escreveu em O MOMENTO, na GAZETA DO POVO e projetou-se como historiador e suas crônicas eram tão belas que teve acesso à Academia Paraibana de Letras, sendo um dos seus fundadores. Adalberto Barreto, que também foi presidente da Associação Paraibana de Imprensa; padre Carlos Coelho, homem muito inteligente, homem puro, figura notável, que terminou sendo Bispo de Nazaré da Mata, Arcebispo de Olinda e Recife; Cônego Odilon Pedrosa, que viveu na Paraíba e foi diretor de A IMPRENSA; esse homem foi castigado pelo Arcebispo, banido, levado para o interior, morreu como sacerdote dos mais puros, e deveria ter a maior projeção pelo seu valor intelectual; João Santa Cruz de Oliveira, homem do batente, corajoso nas lutas políticas, tão idealista e tão bom de coração, que eu sempre dizia a ele, brincando: se todo comunista fosse bom como você eu também seria comunista. Nelson Lustosa Cabral, também foi jornalista e editou o ALMANAQUE DA PARAÍBA, chegou a ser diretor de A UNIÃO. Péricles Leal, jornalista, teatrólogo e romancista. João Lélis de Luna Freire, que repetiu na província, em tamanho menor, o que Euclides da Cunha fez em Canudos; ele foi repórter político em Princesa.. No teatro, temos Santa Rosa, o magnífico Santa Rosa. Fez quase tudo em teatro, nasceu aqui em João Pessoa, era crítico de arte, pintor, produtor visual, ilustrador, cenografista. Geografia e História da PB 296 Projetou-se muito como cenarista e feitor de montagens. Seu nome completo era Tomaz Santa Rosa Júnior. Escreveu também obras teatrais, como ROTEIRO DE ARTE EM TEATRO e REALIDADE E MÁGICA. Ariano Suassuna, outro grande teatrólogo, romancista, ensaísta, pertence à Academia Brasileira de Letras, autor do AUTO DA COMPADECIDA. Sucesso no país e no estrangeiro, integrou o grupo de Ermilo Borba e com ele fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Para esse grupo escreveu a sua primeira peça UMA MULHER VESTIDA DE SOL. É autor do romance de fama universal, traduzido em vários idiomas, PEDRA DO REINO. No teatro, Ariano Suassuna é o maior autor de peças deste Estado e do país. Poeta eminente e romancista caloroso. É um dos poucos gênios nascido na Paraíba. É da mesma categoria de Pedro Américo. Temos também Paulo Pontes, que escreveu a peça PARAIBA-BE-A-BA; Altimar Pimentel, um teatrólogo dos maiores que temos e também folclorista de primeira plana. Luiz Hugo Guimarães, interrompendo Solicito do expositor que inclua na sua lista o teatrólogo Joacil de Britto Pereira. Recentemente foi apresentada no Teatro Santa Roza e no Festival de Areia a peça A MALDIÇÃO DE CARLOTA, de autoria de Joacil, que é baseada num fato histórico verídico, ocorrido em Areia. Diante do sucesso, estou sabendo que ele já está elaborando outra, também com fundo histórico. Joacil Pereira, retomando a palavra Realmente, estou escrevendo uma peça sobre Olga Benário Prestes. Uma peça de fundo histórico e se Deus me ajudar e me der um pouco de engenho e arte eu a realizarei. Porque acho que um dos episódios mais terríveis da vida pública brasileira foi o sacrifício daquela mulher, que carregava no ventre uma filha, que recebeu o nome de Anita Leocádia Prestes, nome altamente significativo. Continuando minha exposição, podemos nos referir a grandes figuras de valor. Alfredo Pessoa de Lima, Osias Nacre Gomes, Mário Moacyr Porto, Adolfo Cirne, Albino Meira, são juristas eminentes que não devem ser esquecidos aqui. Oscar de Castro, que foi presidente da nossa Academia e colaborou em jornais; José Rafael de Menezes, grande sociólogo, tem mais de 100 livros escritos e é um grande educador. Abelardo Jurema, cronista e político, que chegou a ser líder do Governo federal, mas quero realçá-lo como jornalista e ensaísta, escreveu ensaios biográficos e livros de memória. SEXTA-FEIRA 13 é um deles. Celso Furtado entra na categoria dos grandes economistas, de fama internacional. No cinema tivemos Ipojuca Pontes, Linduarte Noronha, Machado Bittencourt, que era piauiense, mas radicou-se aqui na Paraíba, Alex Santos. Não podemos esquecer o grande pedagogo, filósofo e sociólogo Monsenhor Pedro Anísio, que publicou entre outros o COMPÊNDIO DE PEDAGOGIA E PEDOLOGIA EXPERIMENTAL e SOCIOLOGIA EVOLUCIONISTA E SOCIOLOGIA CRISTÃ, A IGREJA – REINO DE DEUS NA TERRA, ESTUDOS FILOSÓFICOS. Esse tratado de pedagogia foi tirado em quatro edições e adotado em vários estabelecimentos de ensino do país. A Igreja, por sinal, é um celeiro maravilhoso de intelectuais. Padre Lima, que é autor de um ensaio sobre Epitácio e de uma biografia sobre D. Adauto. É possível que na pressa, já que meu tempo está esgotado, tenha deixado de mencionar algumas figuras de destaque na nossa vida intelectual.. Continuo defendendo a tese de que nesses 500 anos a Paraíba tem um elenco maravilhoso de vultos a apresentar, em todos os gêneros da literatura. ··· A fala do Presidente: Geografia e História da PB 297 Com sua eloqüência costumeira, o confrade Joacil Pereira acaba de mostrar que a Paraíba, nesses quinhentos anos, pode se orgulhar de sua intelectualidade. Ele fez uma retrospectiva das grandes figuras paraibanas que despontaram na poesia, no romance, no teatro, no cinema, na história, no jornalismo, na sociologia, enfim, abarcou todas as áreas da atividade literária. Desde o Império, fez o registro dos principais autores e de suas obras, sem deixar de lado alguns aspectos da vida de cada um, relatando, até, algumas passagens pitorescas em que eles se envolveram. Com sua memória prodigiosa, reproduziu vários trechos das obras registradas, sendo aplaudido várias vezes quando usava sua postura de declamador para recitar algumas poesias dos nossos consagrados vates. Extrapolou do seu tempo, sem os reclamos da Presidência nem a repulsa do plenário, sempre atento e pronto para aplaudi-lo. Se lhe fosse permitido mais tempo, tenho certeza que embeveceria mais ainda este auditório. Mas agora é chegada a vez do nosso debatedor oficial entrar em ação, que é o jornalista Luiz Gonzaga Rodrigues. É outra figura que dispensa a tradicional apresentação. Nascido em Alagoa Nova, Gonzaga Rodrigues, de peripécia em peripécia, foi para Campina Grande, depois veio para a capital, e, penando aqui e acolá, conseguiu seu lugar ao sol.. Sua grande universidade foi o jornal. É um autodidata que alisou os bancos dos jornais da capital para se tornar o mago da imprensa paraibana. Excursionando pela crônica, tornouse um dos maiores luminares desta especialidade literária. Seus livros UM SÍTIO QUE ANDA COMIGO, NOTAS DO MEU LUGAR e FELIPÉIA E OUTRAS SAUDADES, revelam o cronista coloquial, simples, retratando coisas dos lugares e coisas da vida. É este artista da palavra escrita que vamos ter na tribuna, para complementar a brilhante exposição do confrade Joacil Pereira. Com a palavra o jornalista Luiz Gonzaga Rodrigues. ··· Debatedor: Luiz Gonzaga Rodrigues (Escritor, jornalista, membro da Academia Paraibana de Letras) Quero discordar do Presidente, não por falsa modéstia, mas acho que para contribuir de forma mais aquecida. Acho que o professor Luiz Hugo deveria ter convidado uma pessoa com uma distância um pouco maior de geração e de mirante, diferente de mim e de Joacil. Há uma distância muito pequena entre as nossas experiências. Em 45 Joacil Pereira já era um militante político e literário e eu era um torcedor, não era eleitor ainda, mas um torcedor da campanha de José Américo. Quando chego aqui, em 1951, Dr. Joacil já era uma celebridade e eu entrava, nessa época, de revisor de jornal. Mas há uma distância muito pequena e os nossos pontos de vista são iguais. Nós podemos discordar de certas idéias, de certas colocações, mas a nossa vivência, a nossa experiência é a mesma. De sorte que aqui neste debate, um debate muito importante, e quero explicar porque é importante. Deveria estar aqui Hildeberto Barbosa, que é um homem com outra visão, com outros equipamentos, outro instrumental; João Batista de Brito, que é um ensaísta, dos melhores que nós temos; um moço que também vem se revelando,que é um autodidata, que é um estudioso, que retoma aquela tradição de Mário Pedrosa, do homem lógico, do homem do estudo, que é Walter Galvão, que hoje está numa das editorias do jornalismo da Paraíba. São três pessoas com mais coisas para acrescentar ao debate. Mas, já que estou aqui, quero primeiro me render ao esforço de Joacil, porque não é brincadeira fazer em uma hora e meia uma abordagem sobre o principal assunto da Paraíba, sem deixar escapar alguma figura de relevo da área literária. pessoas que trabalharam o texto. porque sem ser filósofo. pela exigüidade do tempo. que é a FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL. um texto de pensador. primeiro pela maquininha de calcular. em que pese a passagem. Celso. há muitos nomes que estão nos meus apontamentos e eu omiti alguns em face do tempo exíguo e eu até registrei que o Cônego Lima fez um ensaio sobre Epitácio Pessoa e uma biografia de D. um estudioso que tem um temperamento muito especial. Então essa coisa toda está sendo substituída pela televisão. no meu entender. mais intocável e que a gente não sabe até onde vai. escorreito. Ele consegue a sua expressão. Na primeira abordagem que ele faz começa considerando o texto de Ambrósio Fernandes Brandão em DIÁLOGOS DA GRANDEZA DO BRASIL. é um livro bem escrito. e nós também somos obrigados a ver como alvissareira.. e agora pela Internet. um livro que a gente pode dizer literariamente perfeito. queria lembrar algumas figuras que de passagem foram esquecidas. É evidente que com o espaço de tempo limitado para a exposição que Joacil fez. que é a crônica. foram realçados. de história da literatura. primeiro num esforço físico. e você vai me agradecer pela homenagem que nós mesmos vamos render. O texto dele. é uma mão de obra. Já que nós estamos falando aqui de literatura. depois pela televisão. que reduz o raciocínio. não tem outra repercussão a não ser a repercussão literária e a repercussão política. próprio e que alcança o seu objetivo da sua expressão. as intervenções de Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia. Não quero nomear pessoas. Claro que Joacil pulou nomes. O livro é penoso. não gostam de ler. essa coisa que dá uma certa estesia em pegar. quero realçar porque é importante essa abordagem. A Internet. Quero lembrar o Cônego Lima. tinha que pular nomes. Digo até onde vai. Apenas. e por conta disso a cultura da Paraíba deixou de lado o seu trabalho. por exemplo. que muita gente tem como uma coisa alvissareira. expressão máxima. essa coisa tende a desaparecer. essa coisa preênsil. ele dizia. nós não podemos esquecer o trabalho de um escritor. a Paraíba não tem turismo. Cada um mais sensível. que é mais do que um economista. de um simples espetáculo de emoções retardadas. “Eu sou um homem de emoções retardadas”. crônica histórica. que é o livro. principalmente na nossa cultura. Nessas considerações não há nenhuma crítica à abordagem do professor Joacil. os marcos. de esforço literário. se aprofundar sobre cada figura registrada. Quero ressaltar o seguinte. Que é do começo da literatura brasileira. essa iniciativa do Instituto Histórico. Em função disso. Adauto. um belo instrumento de expressão. Data vênia. 1000 anos tendo como instrumento. se disser que é um texto de lógica. que é. digamos assim. eu vejo o seguinte: é que a leitura é um trabalho penoso. o estrelato da literatura. Celso Furtado. que é o texto. depois num esforço de assimilação. depois noutros esforços. Importante porque nós estamos vivendo uma época em que se pretende decretar a morte. Fora disso a Paraíba não vende outra mercadoria no contexto nacional. ele é um pensador usando como instrumento. continuando com a palavra: . que passamos 500. meu caro expositor.. Em 100 pessoas. se a gente disser que não é literário. o melhor levantamento em termos de literatura da Paraíba. A primeira manifestação de Celso foi no gênero do conto. que é o de Gemy Cândido: HISTÓRIA CRÍTICA DA LITERATURA PARAIBANA. daqui a 20 anos. agregou alguns do ponto de vista literário. E antes de entrar no assunto. O livro está sendo ameaçado por uma coisa mais virtual. todos concordamos. como dizia o velho João Santa Cruz de Oliveira. é um texto que merece ser visto como um trabalho de literatura. Por que o livro é penoso? Porque ler implica. a falência senão da literatura. de abordagem literária. acho que o assunto é da maior importância. Joacil Pereira. na verdade é um texto conciso. que não pôde. É muito importante. tem que haver alguma omissão. em aparte: Eu supri a omissão.Geografia e História da PB 298 A Paraíba não tem economia. dos espaços convencionais do livro. e com a oralidade com que se desempenhou. é só um economista? Não. mas essa pode coisa não passar. até esquisito. 90 têm preguiça de ler. porque os vultos mais importantes. sem ser coisa nenhuma. Hoje a gente está vendo que essa coisa sensual.. mais arguto. sendo o mais revolucionário dos homens. mas pelo menos dos instrumentos convencionais. O clássico dele. Gonzaga Rodrigues. Este cidadão trouxe para cá um louco total. umas verduras do outro. que tinha uma poesia esquisita. ele combateu e foi para a luta. combateu no melhor combate. Augusto. muito mais pobre. impressionista na poesia e na pessoa. Era mais pobre. passando pela rua do Diário de Pernambuco. um grande culturalista. A Paraíba não devia ser muito diferente da que vivemos hoje. que era Santos Neto. que era também do time. em que aparece aquela figura de tamanco. desta Paraíba política. Vem Órris Soares. levado pelo filho do próprio Artur. Adauto. Há também uma figura que não aparece em nenhuma história da literatura. dos anos 20. gostava de dar espetáculo. da articulação. Este Artur Aquiles tinha em torno dele Coriolano. Ele era um poeta. se não tivesse existido a figura de um cidadão chamado Artur Aquiles dos Santos. os anos 20. chamado Carlos Dias Fernandes. foi erigido como o maior homem do seu tempo. vem muita gente. e em torno dele agregou Coriolano de Medeiros. vem José Américo. de D. que foi o primeiro comunista desta cidade. um chapéu grande na cabeça e Gilberto Amado: quem é? Esse é o Carlos Dias Fernandes. Criou um jornal que durou oito anos. Criou A NOVELA. que foi um teatro nacional. não sei se vocês se lembram de MINHA FORMAÇÃO NO RECIFE. mudou noções políticas. Era um exibicionista de fancaria. como também foi enterrado miseravelmente. um grande orador. o povo menos civilizado. para o teatro de Órris Soares. e nisso eu invoco a lembrança dos senhores historiadores. do apogeu econômico do começo do algodão. louco. O velho . um grande humanista.. Essa geração mereceu um artigo de Barbosa Lima Sobrinho. criada por Ademar Vidal. que no começo do século aglutinou idéias. rasgando as duas margens do romance brasileiro. tenham sido através da aglutinação. e criou em torno dele Órris Soares. um tal de Augusto Belmont. Em torno de Carlos Dias Fernandes. Deu o espetáculo dele. Esse homem veio para cá para chocar a província. começando na passagem do século e fechou em 1908. vou buscar onde? No Cônego Lima. Houve essa figura que aglutinou. Chocar os Meira de Menezes. José Américo de Almeida. a coisa vem de cima para baixo O que queria mostrar é que todo esse lucro nosso. Então a gente vê. louco. desta Paraíba cultural. o primeiro cidadão que leu Marx em francês. a gente divisa nesse perpassar de valores estrelas maiores que talvez não sendo maiores através de uma obra. que tem um retrato muito bem feito de Gilberto Amado. que é um testemunho da Paraíba.Geografia e História da PB 299 . chocar os que estavam nascendo e os que estavam se indo. Depois vêm os anos 20. que foi discutido. O Cônego Lima dá um recado da imagem da Paraíba durante todo o tempo de D. Aquela tragédia de Teixeira. por que não renasce. É a partir dessa fase que salta a Paraíba para a BAGACEIRA. Celso Mariz. todo esse saldo vem em função de duas correntes. uma publicação que vem daquela época. Então dá para perceber. Toda essa coisa que soma com o corolário cultural. desta Paraíba jornalística. no seu tempo. O ano que veio das grandes obras de Solon de Lucena. e foi um dos homens que melhor escreveu em jornal. sob a batuta dum cidadão chamado João Ferreira de Castro Pinto. A cultura é o corolário. Augusto dos Anjos. que terminou desembargador lá para as bandas do Rio de Janeiro. de um estilo fluente e moderníssimo em 1918. 1920. e nesse tempo não era tão perseguido porque era uma coisa rara. enfim. Barbosa Lima Sobrinho falou sobre os anos de ouro da Paraíba. Estive fazendo uma pesquisa sobre o grande Artur Aquiles e quando eu vou falar sobre Artur Aquiles. que era o cidadão chamado Leonardo Smith. botando no frontispício do seu jornal a poesia de Augusto dos Anjos.. tudo ficou em torno dele. da interferência das obras contra as secas. Mudou noções culturais. está lá. com um quilo de carne dum lado. que foi levado para o Rio de Janeiro. que muita gente olhava assim e ele acolheu. dá para a gente perguntar o que seria da Paraíba literária. e durante esses oito anos ele mudou a Paraíba por inteiro. Vem um novo aglutinador. por que não há esse renascimento? Parece que os valores são outros. Adauto. Então por que não volta. Celso. Era o registro que queria fazer. Antes de sair para tomar uma. que foi o grande divulgador que nós tivemos das obras brasileiras. falando sobre o Renascimento italiano. Tive uma experiência lá. onde fará uma palestra sobre Rui Barbosa. O que está faltando? Nós temos pelo Estado uma coleção muito importante. mas no Rio de Janeiro. em aparte: Quando tratei daquelas figuras de articuladores esqueci de lembrar a figura de José Semeão Leal. que é a Coleção Documentos Paraibanos. de uns três meses. que não era um texto. que sempre vem em função de algum motivo. ele circula. Andrade Muricy. mas a gente não vê uma referência. Eu mesmo revivi grandes passagens por que tive a chance de conviver com algumas das figuras mencionadas. ele dizia que nada ocorria de graça. antes do término da sessão. Gonzaga Rodrigues. passando a palavra do consócio Guilherme d’Avila Lins: ··· . mas não acontece. se há uma posse na Academia ou no Instituto. que ele editava. a não ser se o prestígio do empossado ou do presidente seja bom. Não sei porque Mário não ingressou no Instituto. Apesar do avançado da hora. Gonzaga está dizendo que é porque ele era ateu. sempre passava pela revisão e convidava um de nós. Aliás estes dois últimos pertenceram ao Instituto Histórico. vamos iniciar os debates com os participantes do plenário. Mário Pedrosa fazia parte do triunvirato que incluía Adhemar Vidal e Anthenor Navarro. à parte. cujo centenário de nascimento é hoje. o mais que sai é uma linhazinha. No tempo em que atuava na imprensa eu achava que o leitor é quem era importante. que foi linotipista de A UNIÃO. Era de se esperar que o tema. as pessoas não falam. E. porque ele tem um compromisso agora no Teatro Santa Roza. que circula quinzenalmente. baixinho. em função disso. criaram o Instituto Nacional do Livro. Magro. Aqui. que eram intimamente ligados. Joacil lembrou o nome do poeta Leonel Coelho. Ocorreu no tempo de Artur Aquiles. e ingressaram no mesmo dia. de alguma euforia. uns óculos escuros para não se denunciar. ocorreu no tempo de Carlos Dias Fernandes e Castro Pinto. não aqui. Nós temos o CORREIO DAS ARTES. não pudesse ser abarcado in totum pelos ilustres conferencistas. foi um grande agitador cultural. Convivi com Leonel no jornal e numa mesa de bar. quando os jornais eram feitos a chumbo e fogo. mas essa figura foi realçada por Gonzaga Rodrigues. Eu era um menino de recado. sendo um tema bastante vasto. onde ele muitas vezes garatujava seus versos naquele papel linha dágua que levava da redação. A imprensa também é uma coisa. continuando com a palavra: O companheiro Humberto Mello lembrou o nome de Mário Pedrosa. de ordem econômica sempre e que termina com seus dividendos. Há umas coisas que não entendo. O presidente. que está fazendo um bom trabalho. Foi importante podermos reviver aqui figuras destacadas da nossa cultura. Agora. valeu a pena incluirmos nesse Ciclo de Debates que o Instituto está promovendo o tema ora discutido – a literatura paraibana. lá com alguém da revisão para os botecos da rua 13 de maio. Como um aerólito caído do céu. Mas. O expositor e o debatedor trouxeram a posição da Paraíba na literatura provinciana. ··· A fala do Presidente: O consócio Joacil Pereira pediu para sair. Ele levou essa lição da Paraíba para o Rio de Janeiro. todos em torno daqueles Caderninhos de Cultura. em torno dele. como vimos. É o sinal dos tempos. mas foi um grande articulador.Geografia e História da PB 300 Taine dizia. porque quem estava lá era Anísio Teixeira. com uma poesia fenomenal. Em ORDEM E PROGRESSO ele fez uma série de entrevistas. porque o livro é o pão dos intelectuais. No repente. que é Rocha Barreto. e ele se queixava que o povo não reconhecia o mérito. É pouco lido esse livro. que é aí que de fato começa nossa participação literária. Rocha Barreto se apresentou humildemente como funcionário público dos Correios. Mas. que é ORDEM E PROGRESSO. Gonzaga Rodrigues falou no CORREIO DAS ARTES e a pouca repercussão que ele tem e gostarei de dar um depoimento. uma das coisas que sabe exportar é literatura. temos Saulo Mendonça. Então ele é medalha de ouro em dois campos. ORDEM E PROGRESSO não teve o sucesso dos outros. expôs tão bem o seu tema. Ele era português. E homenageando o dia 20 de novembro. onde havia aquelas reuniões dos sábados a que Raul Bopp deu o nome de sabadoyle. Como poeta. porque é uma obra que não é muito lida e causa muito ciúme ao autor. até na inspiração do seu próprio nome – A PADARIA ESPIRITUAL. colhendo informações sobre os primeiros tempos da República no Brasil e cita Rocha Barreto. que pontificou não somente na Paraíba. o bibliófilo. Fui lá a convite do pernambucano-paraibano Joaquim Inojosa. de uma verve maravilhosa e no que tange ao hai-kai. O aditamento que pretendia fazer perdeu a oportunidade quando Gonzaga referiu-se a Ambrósio Fernandes Brandão. O outro registro é a respeito de uma figura que Joacil citou. Em 1980 estive na casa de Plínio Doyle. e entre eles a gente não pode esquecer o grande Vital Farias. que com a sua SAGA DA AMAZÔNIA. teve seu nome pinçado numa célebre antologia com a inclusão de um soneto seu entre os 100 mais belos sonetos da língua portuguesa: OS SEIOS. O segundo. . como pontificou em Pernambuco e no Ceará. cartas. José Honório Rodrigues o considera um dos 12 livros mais importantes do nosso período colonial. 3º Participante: Humberto Mello: Farei apenas três pequenos registros. Gilberto Freyre fez ORDEM E PROGRESSO como uma seqüência da CASA GRANDE & SENZALA e SOBRADOS E MOCAMBOS. Aí ele me mostrou a coleção completa do CORREIO DAS ARTES desde 1949 até aquela data e sustentava que era um dos mais importantes suplementos do Brasil.Geografia e História da PB 301 1º Participante: Guilherme d’Avila Lins: Cada tarde desses debates é uma lição a mais. É uma obra que transita com muita tranqüilidade tanto nos livros de crítica literária – José Veríssimo começa com ele. 2º participante: Paula Frassinete Duarte: Gostaria de citar gente da atualidade. como transita nos livros de historiografia. de Gilberto Freyre. que é o nosso grande repentista. Plínio Doyle tinha um apartamento somente para a biblioteca e reuniões. Este é o meu registro. No Ceará ele foi fundador de uma instituição maravilhosa. que era a destruição da floresta e mostra como um nordestino que vai para aquelas plagas e chora diante da destruição da natureza. queria complementar sobre o nome citado de Rodrigues de Carvalho. ele faz um libelo ao que acontecia na época. é impossível num espaço de duas horas se preencher a contribuição literária de um Estado que. a gente não pode esquecer do grande Oliveira de Panelas. não falou que era jornalista. Realmente. até que se prove que não foi ele que escreveu aquela obra. nascido em 1553 e foi aqui que ele escreveu OS DIÁLOGOS DA GRANDEZA DO BRASIL. É um fato que pouca gente sabe. como disse Gonzaga Rodrigues. Era esse o primeiro registro. que o dia da resistência negra. ele está elaborando uma epopéia sobre o negro Mussambê. E Gilberto se admira como é que um funcionário público escrevia tão bem. 4º Participante: Manoel Silveira da Costa: Sou membro da Academia Paraibana de Poesia e como tal gostaria de. no folheto. ao invés de em Olavo Bilac. No improviso do violeiro. Seja teu mundo este tranqüilo monte. ser uma espécie de apelo para que o palestrante Dr. que foi tão importante para nós. na glosa. que nasceu a 5 de novembro de 1849. o dia 5 de novembro. na quadra. Ouve teu rude coração. Aí fora. No romance. E no improviso declamado. São os registros que faço. Antes de tudo. gostaria de dizer que nesta data e nesta palestra. inclusive há uma crônica de Carlos Drumond de Andrade que disse que se em 1914 fosse vivo e votasse. Vou recitar. E este pedaço de céu que te ilumina A larga. que era de Cajazeiras. 17º Tema HISTORIOGRAFIA E HISTORIADORES PARAIBANOS Expositor: Guilherme d’Avila Lins Debatedor: Luiz Hugo Guimarães . Que as estrelas terão mais calmos os brilhos Para velar o túmulo dos teus filhos E a terra sorrirá para teus netos. A UM FILHO PRÓDIGO: Volta. parece-me que ninguém superou Pinto do Monteiro. nesse soneto que vou recitar. recua. que é quantitativamente menos importante dos três. que foi Luiz Dantas Quesado. (palmas) A sessão foi encerrada. a vida em ondas tumultua. sem o acompanhamento da viola. retornem para esta palestra. tendo falecido em Petrópolis no dia 1º de março de 1923. cujo título é a PRODUÇÃO LITERÁRIA DA PARAÍBA. teria consagrado Leandro Gomes de Barros como o príncipe dos poetas brasileiros. se não me engano. Nesses três aspectos da literatura popular em verso a Paraíba teve os maiores nomes. nós não podemos jamais esquecer o dia de hoje. conforme falaram Batista e Frassinete sobre a literatura popular em verso. que se subdivide em dois: improviso simplesmente declamado e o improviso cantado na viola. ninguém superou Leandro Gomes de Barros. posso adiantar que os teóricos a dividem em três: o chamado romance de bancada escrita e o improviso. que é o Dia da Ciência e da Cultura. franca e pensativa fronte. de Ronald de Carvalho.Geografia e História da PB 302 Finalmente. Tua aldeia sorri sobre a colina. Cumpras nestes vales tua sina. e eu tenho muitos parentes no ramo. ainda é tempo branco no horizonte. Não podíamos esquecer esta data. Volta aos humildes mas felizes tetos. também foi um paraibano o maior de todos. que se originou da data do grande Rui Barbosa. Seja teu mundo esta encurvada ponte Que sobre o rio trêmula se inclina. Joacil Pereira e o debatedor Gonzaga Rodrigues. um minuto de silêncio. professor universitário e historiador com vários trabalhos publicados) Antes de dar início à leitura do trabalho que trouxe por escrito. o historiador José Fernandes de Lima. Guilherme d’Avila Lins: (Membro do IHGP. que produz conhecimento. a quem convido para participar da mesa. como debatedor. consócio Guilherme d’Avila Lins. de pé. honesta. com base numa documentação que ele localizou em Mamanguape. Dr. ex-presidente deste Instituto e grande historiador. letras históricas. foi prefeito de Mamanguape várias vezes. cujo expositor é o nosso consócio Guilherme d’Avila Lins. porque este tema é extremamente palpitante. O corpo de Dr. do comendador José Campello. e um dos grandes valores da história política da Paraíba. José Fernandes de Lima foi enterrado pela manhã. mas viu que esse negócio de Medicina deu pouco e ele arranjou um gancho de historiador. tem vários trabalhos publicados e é amante da pesquisa. Para prestar nossa homenagem àquele consócio falecido. a Comissão Executiva do Ciclo colocou meu nome para colaborar com o nosso ilustre expositor e. façamos. ele governou o Estado durante 11 meses. austera. e vamos abordar o tema HISTORIOGRAFIA E HISTORIADORES PARAIBANOS. tendo em vista as lacunas que existem na matéria em nosso . literatura de um modo geral. Não pretendo esgotar totalmente o assunto. solicito dos presentes que. Ele editou.. dispensando as palmas habituais. o Instituto esteve presente pelo seu presidente e alguns associados. José Fernandes de Lima pertencia a uma tradicional família de Mamanguape e teve uma atuação muito grande em nosso Estado. Quero dizer que me senti muito lisonjeado com o convite me foi para participar como expositor desta sessão de hoje e quero dizer o quanto ele me envolveu porque percebi que faltava apenas um ponta-pé inicial para que sentisse a necessidade de.Geografia e História da PB 303 A fala do Presidente: Vamos dar reinício aos nossos debates. e em nome da instituição falou o nosso companheiro Joacil de Britto Pereira na ocasião do sepultamento do inditoso colega. Antes de passar a palavra ao palestrante. cujo patrono é o Cônego Florentino Barbosa. Deixou vários trabalhos parlamentares e vários trabalhos publicados em nossa Revista. Ontem faleceu um consócio nosso. Era uma figura íntegra. O DIÁRIO DO PARAGUAI. transformar esta palestra numa plaqueta. por sua conta. presidente da Assembléia Legislativa e. que é um dos mais novos sócios do Instituto e também um dos mais novos historiadores. comprometendome a escrever um livro sobre Historiografia e Historiadores da Paraíba. como já estou na mesa. quero fazer. passo a palavra ao expositor deste tema. Secretário de Estado. Guilherme é um estudioso. Ele ocupava a cadeira nº 22. com pesar. convido também nosso consócio Deusdedit Leitão. Hoje é a penúltima sessão deste Ciclo. para ganhar a vida. Assim. que já está dando saudades. presidente da Academia Paraibana de Letras. seria uma veleidade e nem seria possível no espaço de tempo que me é reservado. quando Pedro Gondim teve de se afastar do Governo para se candidatar a reeleição. em sinal de pesar. convido também o acadêmico Joacil de Britto Pereira. É de sua autoria o livro A LEALDADE E HEROISMO DO ÍNDIO POTIGUARA PEDRO POTY. do nosso Instituto. Bem que nosso Estado. Ele inventou de ser médico. médico. Outro dia já fiz a apresentação do nosso consócio Guilherme d’Avila Lins. presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. gostarei de fazer algumas considerações preliminares. me considero convidado. Vou me concentrar num resgate dos itens e das considerações historiográficas que precisam ser resgatadas. em seguida. Este é um compromisso que assumo neste momento. estamos realizando esta sessão em pleno luto. merece ter uma obra específica e independente sobre historiografia. um registro especial. Dando início aos nossos trabalhos. Foi deputado estadual durante 40 anos. com nossa bandeira hasteada à meia-verga. em cujo recorte cronológico se avantajam mais de quatro séculos de produção historiográfica até se chegar aos dias atuais.. já que “todo documento historiográfico é histórico. nem sempre é simples de fazer tal distinção. Em terceiro lugar. cabendo. estabelecer aqui. por excelência. por razões óbvias. espero. como também assinalou o mesmo historiógrafo acima citado. tendo-se ainda em vista que a cada nova centúria. Parece-me de bom alvitre. quero dizer que. nem tampouco necessário procurar debulhar. para o desenvolvimento deste tema simples apenas na aparência. tais como Carlos Eugênio Porto. pode-se dizer que. . excluirei autores paraibanos de nascimento que se dedicaram à História de outras plagas. assim posta. com relação à Paraíba. Aliás. a crônica anônima abreviadamente conhecida como o SUMÁRIO DAS ARMADAS “é. Portanto. 1964). permite uma abordagem mais conveniente da questão).]. é o que se aplica neste nosso tema. computarei aqui muitos outros autores nascidos fora da Paraíba e que escreveram sobre a História desta terra. seja apenas a avantpremière de um trabalho mais elaborado que pretendo publicar sobre o mesmo assunto. por razões metodológicas. por um lado. não me limitarei aqui apenas a autores nascidos no Estado da Paraíba e que se dedicaram à História. terei que lidar com um redimensionamento crescente de autores e títulos. quiçá logarítmica. ed. todavia sem usar de rigor absoluto. com uma construção elaborada do passado e do seu presente”. principalmente. 1939-1942. um grande parte da nossa historiografia será aqui omitida. Em segundo lugar.Geografia e História da PB 304 meio. fonte principal de determinado período porque seu autor o escreveu (em boa parte). entretanto. evidentemente. Ademais também não fará aqui a menor diferença se as obras em questão versam com exclusividade ou com predominância ou apenas minoritariamente sobre a Paraíba. do valor historiográfico. independente das circunscrições conceituais doravante adotadas e considerando-se.. no caso. no desenvolvimento desta tarefa não pretendo sequer atingir os dias atuais e até serei cada vez mais lacunar à medida que for avançando no tempo. a partir do Século XVI. 4 t. sob o título de PERNAMBUCO E AS CAPITANIAS DO NORTE DO BRASIL (15301630): HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA [São Paulo. ou seja a HISTORIOGRAFIA E HISTORIADORES PARAIBANOS. mais particularmente. documento histórico. por outro lado. não será possível. como o ilustrado paulista J(oão). embora eu chegue até o século XX. e é documento historiográfico. autor de uma discutível obra encomendada pelo jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello. que não lerei. mas nem todo documento histórico é historiográfico”.. por exemplo. talvez em progressão geométrica. seguindo a forma preconizada por José Honório Rodrigues. Terei que dar um enfoque muito maior para o primeiro século. 1974] (e aqui faço a discriminação de todas as edições existentes. o tema em tela). Dessa maneira. ao longo desta exposição achei por bem entender a expressão HISTORIOGRAFIA E HISTORIADORES PARAIBANOS (que sob rigor semântico limitaria sobremaneira. Este último. Yan] de Almeida Prado. 2. parafraseando o mesmo José Honório Rodrigues. F(ernando). Assim. a HISTORIOGRAFIA PARAIBANA e os HISTORIADORES PARAIBANOS. Noutras palavras. usarei também aqui como critério de inclusão dos diversos autores e suas respectivas obras. a “distinção entre documento histórico e historiográfico”. autor do importante ROTEIRO DO PIAUÍ [1. Rio de Janeiro. 1955. [ou ainda. as premissas conceituais por mim convencionalmente adotadas. ed. o limite de espaço e tempo que tenho à disposição. Rio de Janeiro. desde já. como sendo a HISTORIOGRAFIA DA PARAÍBA E HISTORIADORES DA PARAÍBA(a qual. porque o tempo é exíguo. Eram essas as palavras iniciais que queria dizer. mediante critério. pelo menos nesta oportunidade que. à sua História. Em primeiro lugar. enquanto os fatos se sucediam. por extenso. prometendo registrar no trabalho posterior que prometi elaborar) mas. sob o título de a CONQUISTA DA PARAÍBA (SÉCULOS XVI A XVIII) (São Paulo. de forma inadequada. usar o bom sendo para incluí-las nessa exposição. bem como autor de outro livro bem mais apreciado. levando-se em conta o universo da Paraíba como matéria exclusiva de abordagem temática. entretanto. apesar de suas carências metodológicas. sempre que oportuno. exceto em condições excepcionais. a utilização do idioma português em prosa como meio de comunicação e. num trabalho desta natureza. considerando ainda que este trabalho se apresenta na prática apenas como uma nota prévia de um estudo historiográfico mais abrangente que esta incumbência a mim confiada neste Ciclo de Debates estimulou a desenvolver e a publicar em futuro próximo. Em quinto lugar. 1996]. inclusive. no caso um estudo historiográfico da Paraíba. 5. aqui. entendendo-se aqui a historiografia como a história da história. ed. propositadamente. Rio de Janeiro. por sua vez denominada a “Certidão de Nascimento do Brasil”. ou seja. a historiografia desta terra se inicia. a rigor. 6. . ed. somente até certo ponto. 1983.. doravante simplesmente denominado de SUMÁRIO DAS ARMADAS [hoje já com seis edições. do Prof. de documentos manuscritos. Isto posto.. Esta crônica tem sido ultimamente cognominada de a “Certidão de Batismo da Paraíba” à semelhança do que ocorrera antes com a famosa carta de Pero Vaz Caminha ao Rei de Portugal. da autoria de um certo jesuíta anônimo. sabendo que a HISTORIOGRAFIA DA PARAÍBA não é privilégio exclusivo dos HISTORIADORES PARAIBANOS. é de particular importância que tal estudo se insira em um modelo coerente de periodização – uma das coisas mais difíceis em História. por outro lado. 1873. para espanto geral.. não é cronologicamente a reação mais antiga sobre a Paraíba. Finalmente. entre outros.Geografia e História da PB 305 Em quarto lugar. dos autores nativos deste atual Estado da República. funcionará como um roteiro sistemático e abrangente da obra que se pretende elaborar. D. por um lado. particularmente os administrativos. ainda sem qualquer verificação da fidelidade textual aos seus respectivos códices de origem: 1. 2. testemunha presencial de boa parte dos fatos por ele relatados. roteiros sistemáticos (ou modelos de periodização) preexistentes de aceitável validade. aproveitando para tanto. desenvolverei a partir de agora um esboço historiográfico da Paraíba dando ênfase. Parahyba do Norte. com uma crônica sem data declarada. ao primeiro século da nossa História e tentando. Em sexto lugar. Campina Grande (PB). na medida do possível. Manuel. ed. até certo ponto plausíveis. E GUERRAS QUE SE DERÃO NA CONQUISTA DO RIO PARAHIBA.. resolvi não incluir no final deste trabalho as necessárias referências bibliográficas que. José Pedro Nicodemos – modelo este que. o Venturoso. não dispensarei na sua versão definitiva. ed. não cuidarei nesta exposição. Rio de Janeiro. na prática. aquela comparação entre esta crônica anônima e a carta de Caminha é razoavelmente aceitável. uma vez que esta carta descreve certos episódios históricos in statu ascendi. 1974. ao longo deste texto. considero que para se planejar um estudo historiográfico. como sétima e derradeira premissa metodológica. ESCRIPTO E FEITO POR MANDADO DO MUITO REVERENDO PADRE EM CHRISTO O PADRE CHRISTOVÃO DE GOUVÊA. Nesta específica exposição.. bem como outros eventuais dados interessantes das suas respectivas identidades. o SUMÁRIO DAS ARMADAS. Mesmo sabendo que. ed. ed. preencher algumas das várias lacunas gritantes. também não será supérfluo. porém. nem tampouco de catálogos impressos de documentos manuscritos. 1909. na prática. João Pessoa.. por razões pouco adequadas e decerto vulneráveis porém. Tampouco cuidarei de bibliografias. VISITADOR DA COMPANHIA DE JESUS DE TODA A PROVINCIA DO BRASIL. certamente. 3. cujo título completo é SUMÁRIO DAS ARMADAS QUE SE FIZERÃO. anterior Província do Império e antiga Capitania da Colônia. versando sob as várias tentativas de conquistas da Paraíba e abrangendo as ocorrências a elas pertinentes entre 1574 e 1587. contentar-me-ei com apenas traçar um pálido esboço para um estudo historiográfico da Paraíba com as características até agora delineadas. indicarei muito sucintamente as edições das obras aqui registradas. Rio de Janeiro. para não falar de outras tantas incorreções e imprecisões que se costumam ler em determinados ensaios historiográficos já tão repetitivamente divulgados. 1848. todavia. 4. segundo a abalizada opinião. HISTORIOGRAFIA DA CONQUISTA E DA COLONIZAÇÃO INICIAL DA PARAÍBA Levando-se em conta. o assinalamento da naturalidade desses autores. (nascido em Ferreiros. 1936). título este que foi inicialmente utilizado de forma associada e antecedendo o nome verdadeiro desta crônica anônima. da mesma forma que. ora JORNADA E CONQUISTA DA PARAHIBA (1874). foi cunhado quase um século e meio antes de “1983”. o que foi mais grave). 1587 [sic] (1877).. como já ficou dito. teimava em chamá-la. REVISÃO DA CRÍTICA DE ATRIBUIÇÃO DA MAIS ANTIGA CRÔNICA DA PARAÍBA E OUTRAS ACHEGAS HISTÓRICAS CNTEMPORÂNEAS. e não o padre Jerônimo Machado. Já no caso do SUMÁRIO DAS ARMADAS. S. ora CONQUISTA DA PARAHIBA. embora sem exclusividade temática para o universo da Paraíba. não tem a menor importância para a identificação do SUMÁRIO DAS ARMADAS e. na realidade. nos livros que falam do Brasil. S. tornando [eu agora] ao ponto. data esta até hoje profusamente controvertida e sem qualquer abordagem metodológica. com osquais o grande historiador Francisco Adolpho Varnhagen parecia. ao longo do tempo. ambos do ano de 1584. Estes escritos. Acerca do SUMÁRIO DAS ARMADAS escrevi ultimamente uma alentada crítica de atribuição em três volumes.Geografia e História da PB 306 em que as fontes do relato foram exclusivamente os fatos observados pelo missivista à medida que iam acontecendo. sob o título de GRAVETOS DE HISTÓRIA. não é possível deixar de assinalar aqui. cuja redação terminou em outubro de 1576. não achei escriptas”. veio finalmente à luz. não somente a data em que estava sendo redigido o SUMÁRIO DAS ARMADAS (1594). em Portugal). como ultimamente tem sido diversas vezes propalado. 1923. ed. ora de RELAÇÃO DA TOMADA DA PARAÍBA (1851). sem qualquer referência prévia ao seu verdadeiro nome. Desta maneira. para surpresa de alguns. então bispado de Braga. através de elementos de crítica interna e externa. S. já que este autor sorocabano. por dar [até aqui] uma breve relação de cousas que. de maneira incorreta. já foram esquecidos outros seis diferentes títulos sugeridos no século passado para esta mesma crônica anônima (estes últimos de caráter substitutivo e não associativo. cuja grafia original e escorreita é HISTÓRIA DA CONQUISTA DO [RIO] PARAHYBA. Registre-se ainda aqui que devo em breve preparar uma edição crítica e definitiva do SUMÁRIO DAS ARMAAS incluindo as transcrições diplomáticas dos dois apógrafos seiscentistas desta crônica. Este título geral espúrio.J. É preciso ainda salientar aqui que o SUMÁRIO DAS ARMADAS jamais foi “Rebatisado [?]” em “1983” com o nome de “HISTÓRIA DA CONQUISTA DA PARAÍBA”. chamada HISTÓRIA DE LA FVNDACION DEI COLLEGIO DE LA CAPITANIA DE PERNAMBUCO (1. será esquecer aquele título geral espúrio que só serve para confundir a cabeça dos menos avisados. escrita em espanhol e hoje já duas vezes impressa. como também chegou a admitir que leu livros para redigir a sua crônica ao afirmar: “Mas. ainda inédita e em vias de publicação. Rio de Janeiro. a consulta feita por ele a uma outra crônica jesuítica mais antiga. Melhor. no Brasil). por José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha. S. ora DA CONQUISTA DO RIO PARAHIBA (1854). padre Dr. ora DA CONQUISTA DA PARAHIBA (1877). os únicos possíveis candidatos à sua autoria. dois importantes escritos do padre Joseph de Anchieta. ambos anteriores à redação do SUMÁRIO DAS ARMADAS. Porto. Serafim Soares Leite. d’onde me[ad]verti.J.J. (canarinho de Tenerife). a concluir de forma aparentemente inquestionável que o autor daquela crônica primeva da Paraíba seria obrigatoriamente o padre Simão Travaços. houve entretanto algumas ocasiões em que seu autor não somente recorreu a fontes orais e escritas. ora GUERRAS DO RIO PARAHIBA (1877). em nosso meio. embora . Considerando-se ainda como referência básica a utilização do idioma português em prosa como meio de comunicação. também de autor desconhecido. cuja íntegra é totalmente desconhecida do público leitor do Brasil em que pese. Neste trabalho.J. felizmente. além de muitas “outras achegas históricas contemporâneas”. o fato de esta obra já possuir seis edições entre 1848 e 1996. estar querendo dificultar o leitor interessado a identificação do SUMÁRIO DAS ARMADAS. portanto. entre os indícios de várias outras obras que teriam sido consultadas por aquele jesuíta anônimo tive a oportunidade de também averiguar. embora a mesma característica possa ser observada ao longo da esmagadora maioria do seu texto. ou seja. no ano de 1848. (natural da Capitania de São Vicente. responsável que foi pela sua primeira edição no Rio de Janeiro. como também foi possível tornar sem efeito a argumentação básica que levou o ilustre historiador lusitano. através de pesquisa pessoal. Portugal). 4. ed. a divina bondade não só lhes concedeu a princípio a desejava vitória. 2. não fizeram mais que prègar e confessar sem fazer mosteiro.. Trata-se de um interessantíssima crônica sobre uma das tentativas de conquista da Paraíba. em preces e ladainhas. 5. Com o favor de Deus.. que vinha povoar o rio da Paraíba. Rio de Janeiro. também não conheceu esta crônica em rimas de Juan Peraza. Francisco que também prègou algum tempo em Pernambuco e tornou-se para o reino”. QUE EL ILUSTRE DIOGO FLORES DE VALDEZ TOMÓ COM LA ARMADA DE SUA MAGESTAD REAL. em particular. a qual. (natural de Almodovar. 1584. ed. ed. autor do SUMÁRIO DAS ARMADAS. No primeiro texto o padre Joseph de Anchieta. Madrid. ed. 1897. 1844. S. 1988. S..]. ed. Y DE COMO SE LO GANÓ Y QUEMÓ LAS NAVES Y CASAS QUE TENIAM. embora não conhecendo o texto do SUMÁRIO DAS ARMADAS e baseando-se em informações outras também de origem jesuítica. é ainda daquele mesmo ano de 1584 a mais antiga obra referente com exclusividade à Paraíba. publicada em Sevilha em 1584.J. confirmou mais tarde aquela notícia do padre Joseph de Anchieta. Bento a Pernambuco. ed. que. explicitar-lhe o longo título. S. CUENTA COMO CORRIENDO LA COSTA DEL BRASIL HALLÓ UN PUERTO QUE LOS FANCEZES TENIAM TOMADO Y ALLI ESTABAN ELLOS FUERTES. Este segundo excerto pertence à BREVE NARRAÇÃO DAS COISAS RELATIVAS AOS COLEGIOS E RESIDENCIAS DA COMPANHIA NESTA PROVINCIA BRASILICA. comandante das tropas reais. 3. ed. rogavam a Deus onipotente a vitória dos Portugueses. como também mais duas. Veio também em sua companhia um de S. com cerco tão apertado oprimiram o forte dos Cristãos [forte de São Felipe e São Tiago]. soldado espanhol do General Diogo Flores de Valdez... entretanto. Por essas preces. São Paulo. ed. ed.. DE QUE LHE POR CAPITAN GENERA EM LA JORNADA DE MAGALLÁNES Y GUARDA DE LAS INDIAS. Rio de Janeiro. quando confrontados ao SUMÁRIO DAS ARMADAS servem também para mostrar o estreito intercâmbio de notícias que existia já naquele tempo entre os diversos Colégios e Residências da Companhia de Jesus.. autor do SUMÁRIO DAS ARMADAS. bem como sua própria existência continuam muito pouco conhecidos e jamais vi uma citação por parte dos chamados especialistas em estudos historiográficos da Paraíba.J. Mas como não se povoou a Paraíba. escreveu apenas o seguinte: “No ano de 1581 viera em companhia de Frutuoso Barbosa. diga-se que o jesuíta anônimo. ou três vezes os aniou com o mesmo triunfo.. Com toda a segurança. Rio de Janeiro. Embora essa crônica em versos de Juan Peraza seja muito raramente registrada por igualmente raros autores. escreveu: “Por todo o tempo que dursou a guerra da Paraíba [até este ano de 1584] feita por Diogo Flores [de Valdez].. ed. nem por isso são negligenciáveis. 3. todavia. cujo título é RELACION CIERTA Y VERDADERA QUE TRATA DE LA VICTORIA Y TOMA DE LA PARAYVA. 4.J. 1988]. Estes dois excertos. 1886. que quasi mortos de fome se viram obrigados a se alimentar de carne de cavalo. pois registram fragmentos históricos brevíssimos do processo da conquista da Paraíba.. seu título ou seu texto integral. Continuando o ataque ao reino por parte da armada.. Belo Horizonte/São Paulo.Geografia e História da PB 307 extremamente superficiais. Já no segundo texto o padre Joseph de Anchieta. NO ANO DE 1584 [1. o jesuíta anônimo. COMO LO CUENTA LA OBRA MAS LARGO [1. S. ed. Rio de Janeiro. 1880]. Aparentemente.. 1933. 1886. relatou um determinado feito heróico não registrado nesta última crônica anônima. três frades do Carmo e dois ou três do S. Este primeiro excerto pertence à EMFORMAÇÃO DO BRAZIL E DE SUAS CAPITANIAS. 1933. ed. que consegui afinal coligir. 6.. todos os dias. O mestre João Capistrano Honório de Abreu conheceu esta crônica e chegou a sumariar seu conteúdo reproduzindo alguns poucos versos seus sem.J. 1900. Quanto ao último excerto. a qual teve como protagonista . segundo a qual aqueles milicianos do efêmero forte de São Felipe e São Tiago tiveram que comer carne de cavalo para não morrer de fome. Rio de Janeiro.. Sem entrar no mérito da respectiva apreciação crítica também não se pode deixar de assinalar aqui uma obra jesuítica da autoria do padre Fernão Guerreiro. 2.. São Paulo. Belo Horizonte/São Paulo. [1. desta vez alcançaram a vitória”. da autoria de Juan Peraza. 1964. 2. foi redigida em espanhol e em versos. Sevilla. os nossos pades. 2. Nesta obra muitas informações de capital importância para a Paraíba podem ser colhidas. que na NARRATIVA DA CUSTÓDIA DE SANTO ANTÔNIO DO BRASIL: 1584/1621 existe uma importante informação sobre um ataque de corsários franceses à Capitania da Paraíba em 1597. 1966]. esta crônica é atribuída atualmente ao padre Francisco Soares. [1.J. O Manuscrito de Madrid tem o seguinte título: DE ALGUÃS COUSAS MAIS NOTAVEIS DO BRASIL E DE ALGUNS COSTUMES DOS INDIOS [1. que o destinava ao Rei Felipe II da Espanha [I de Portugal]. aí não identificado. ed.M. S. 7 DO PROCESSO DE CONVERSAM. 7 NO BRASIL. neste último caso. editada em inglês por Richard Hakluyt.. nascido em Ponte de Lima. 7 CHRISTANDADE D’AQUELLAS PARTES. CABO VERDE. 1930-1942. veio a ser interceptada por corsários ingleses que. ainda.. frei Manuel da Ilha. traz uma pequena. de caminho para o Reino.F. um poderoso ataque de uma armada francesa que em 1597 foi repelida pela reação desassombrada do até aqui anônimo e então Capitão do forte do Cabedelo. S. como ilustração adicional. além do número de engenhos até então aí levantados).J. que. por sua vez.. aconteceu de ser vertida e publicada em inglês por Richard Hakluyt numa obra extremamente famosa e rara.]. sob as ordens do Ouvidor Geral Martim Leitão. para diferenciá-lo de outro códice análogo pertencente à Biblioteca da Universidade de Coimbra. A referida obra do padre Fernão Guerreiro. entretanto. valiosa informação relativa aos primeiros anos da colonização da Capitania da Paraíba (acerca da população branca e escrava. em latim. ANGOLA. Registrese. e que morou no Brasil.. GUINE. foi produzido originalmente em português no dia 20 de agosto de 1597 por Feliciano Coelho de Carvalho. S. 1975]. PELO PADRE FERNAM GUERREIRO DA MESMA COMPANHIA.. Governador da Capitania da Paraíba. ed. atrás assinalados. ed.J. S. levando-a à Inglaterra. Graças a pesquisas do padre Dr. Serafim Soares Leite. esta carta. que nos interessa mais de perto. escreveu no ano de 1621. Lisboa. Coimbra. tanto o Senador Cândido Mendes de Almeida quanto o padre Dr. NATURAL DE ALMODOUVAR DE PORTUGAL [1. Existe ainda uma outra crônica jesuítica anônima que. tem a particularidade de ter sido publicada em inglês em 1600 e o documento (carta) nela contido. O.. Portugal. entre as quais o esclarecimento das circunstâncias e da data em que Frutuoso Barbosa construiu o forte do Inobi. Petrópolis (RJ). A obra que se segue e que já foi superficialmente antecipada há pouco. é a RELAÇAM ANNAL [sic] DAS COUSAS QUE FEZERAM OS PADRES DA COMPANHIA DE JESUS. porém. a respeito do qual este último autor jesuíta se mostrou menos crédulo que o seu antecessor leigo Tive também a oportunidade de tecer alguns comentários críticos sobre aquele episódio heróico nos GRAVETOS DE HISTÓRIA. NOS ANNOS DE SEISCENTOS 7 DOUS 7 SEISCENTOS 7 TRES. NAS PARTES DA INDIA ORIENTAL. conhecido como o Manuscrito de Madrid (redigido em 1590). fizeram referência ao tal feito heróico (e fantástico)..J. [nascido em Portugal].. TIRADA DAS CARTAS DOS MESMOS PADRES QUE DE LÁ VIERAM. Rio de Janeiro. Muitos e muitos anos mais tarde. mas não conheceu a Capitania da Paraíba. informação esta que permaneceu inédita por quase quatro séculos. que acompanharam uma das expedições de conquista da Paraíba. a qual fica em parte complementada por outra obra que citarei logo adiante.. ou seja. bem como a em que também construiu a primeira versão arquitetônica do forte do Cabedelo ambos no ano de 1589 e.Geografia e História da PB 308 um dos padres da Companhia de Jesus. Outra obra extremamente importante para este período e que passou mais de trezentos e cinqüenta anos inédita e sem tradução para o português é a de um autor franciscano.). sob a invocação de Santa Margarida. ed.. 1605. ETC. Esta carta relata com detalhes um relevante episódio dos primórdios da colonização da Paraíba. ficam assim totalmente retificadas tantas opiniões equivocadas e até hoje perpetuadas repetitivamente para as novas gerações. o qual pagou com a própria vida o fato de . de Madrid. Trata-se do manuscrito quinhentista da Biblioteca da Real Academia de la Historia. inclusive uma obra didática local bastante difundida que indica o ano de “1586” para o levantamento do forte do Cabedelo.. mesmo sem ter vindo ao Brasil porém baseado em documentação da sua Ordem. Serafim Soares Leite. a NARRATIVA DA CUSTÓDIA DE SANTO ANTÔNIO DO BRASIL: 1584/1621 (DIVI ANTONII BRASILIAE CUSTODIAE ENARRATIO SEU RELATIO NUMERIQUE DOMORUM ET DOCTRINARUM QUAE IN ELLA SUNT NECNON ALIARUM RERUM NARRATIONIS DIGNARUM. 3 t. cujo posto veio a ser em seguida preenchido pelo seu genro (casado com D. Existe ainda uma edição da mesma carta do Governador Feliciano Coelho de Carvalho vertida para o idioma francês e publicada por Paul Louis Jacques Gaffarel em HISTOIRE DU BRÉSIL FRANÇAIS AU SEIXIÈME SIÈCLE. to Philip the second King of Spaine. o futuro herói e não menos aguerrido Capitão João de Mattos Cardoso e não “Francisco Cardoso de Matos”.. tanto quanto eu saiba. ed. 1968]. consegui demonstrar a identificação. ainda não foi traduzida para o português [1. with the relation of the besieging of the Castle of Cabodelo [“Cabedelo”] by the frenchmen. particularmente do governo de Feliciano Coelho de Carvalho. VOIAGES.Glasgow. and of the discoverie of a rich silver mine diverse other important matters”. ainda manuscrito.MADE BY SEA OR OUER-LAND. Já a primeira das duas obras de Diogo de Campos Moreno a que me reportei acima. 3 v... AT ANY TIME WITHIN THE COMPASSE OF THESE 1500. TO THE REMOTE. London. apesar de até então. já que a margem esquerda do rio Paraíba não sofria mais a ameaça dos potiguara. 1977]. receu em inglês o título de “A speciall letter written from Feliciano Cieza [sic. ed. deste incógnito herói da Paraíba.. no mínimo curiosos.Geografia e História da PB 309 ter conseguido tão valente façanha. cujo nome sai agora em primeira mão. tem o seguinte título: THE PRINCIPAL NAVIGATION. 1878]. sofreu várias alterações entre 1625 e 1627. 1955. depois das sólidas argumentações do mestre José Antônio Gonsalves de Mello (Neto) em 1984. e publicada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Capitania de Pernambuco. por se mostrar completamente supérfluo àquela altura. redigida “em 1612 ou. cujo texto. ed. ed. também não revela o nome do falecido Capitão do forte do Cabedelo. a seu turno. Sua primeira publicação integral foi feita há não muitos decênios em terra estranha (Estados Unidos) pelo benemérito Engel Suiter. Paris. muito se abeberou o historiador Francisco Adolpho Varnhagen no ano de 1839. sem sombra de dúvida. Edinburgh.. no máximo.. ed. 6. ed.. 1812. De capital interesse para o período que estou aqui enfeixando é preciso assinalar duas obras que hoje em dia. já então em segunda edição. no ano de 1613”. 1885. 5. 1928]. [20. 3. Esta segunda obra. em cópia paleográfica. Maria Manaya).. 1949. London. obra esta que por motivos. tendo que se esperar mais meia década para que a primeira publicação integral (e crítica) brasileira fosse dada a lume por Helio Vianna. No manancial desta obra. leia-se “Carvalho”] the Governor of Parajua [“Paraíba”] in the most Northerne part of Brasil. embora de muito elevada probabilidade. Também não posso omitir o registro da RELAÇÃO DE AMBRÓSIO DE SIQUEIRA (1605) DA RECEITA E DESPESA DO ESTADO DO BRASIL [1. como tem sido infelizmente chamado de forma estropiada ao longo de sucessivas reimpressões de uma conhecida obra didática sobre a Paraíba. Estou falando do LIVRO QUE DÁ RAZÃO DO ESTADO DO BRASIL – 1612 [1. devem ser atribuídas sem receio ao mesmo autor. 3. 1904. Londres. é a mais conhecida delas e tem um capítulo referente à Capitania da Paraíba. Não posso também deixar de assinalar aqui a CORRESPONDENCIA DE DIOGO BOTELHO (GOVERNADOR DO ESTADO DO BRAZIL) (1602-1608) publicada no início deste século que se finda [1.. quando ainda manuscrita. a meu ver a mais importante para o nosso caso e. 1910] que governou esta Colônia fixando residência na vila de Olinda. ed. ed. 1598-1600. entre as quais a da extinção do forte do Inobi em 1603. AND FARTHEST DISTANT QUARTERS OF THE EARTH. Neste acervo muitas notícias bastante valiosas e de particular interesse para a Paraíba no período em tela podem ser aí encontradas. a menos conhecida e menos divulgada não somente na HISTORIOGRAFIA DA PARAÍBA como também na HISTORIOGRAFIA DO . onde o autor oferece valiosas informações coevas sobre a nossa terra. ou seja Capitão Antonio Gonçalves Manaya. documento publicado há pouco mais de duas décadas e que possui informações preciosas para a Capitania da Paraíba.. segundo Helio Vianna. Nos GRAVETOS DE HISTÓRIA . August]. ed. já reduzidos desde 1599. ed. seguramente. answering his desire touching the conquest of Rio Grande [do Norte]. TRAFFIQVES AND DISCOUERIES OF THE ENGLIS NATION. YEERES [2. 1597. ed. leia-se “Coelho”] de Carvalsho [sic.. A monumental obra de Richard Hakluyt onde este documento foi inserido. Aquela carta que. o Sargento-mor da Costa do Brasil Diogo de Campos Moreno.. 4. 2. correspondência esta coligida na Torre do Tombo. a segunda dentre elas ter precisado figurar sob a condição de autoria proposta... aliás. não custa repetir. E BARRA DA PARAHIBA DE ANTÕNIO GONÇALVES . 2.. ed. onde o seu mais do que provável autor.. que no ano de 1618 jamais existiu uma edição dos DIÁLOGOS DAS GRANDEZAS DO BRASIL. Ed. 1930 (ou 1. independente em livro e a 2. 1956 (3. 5. que serviu para outras edições. a edição de 1966 dos DIÁLOGOS DAS GRANDEZAS DO BRASIL também não é a segunda edição. ed. ed. na realidade.Geografia e História da PB 310 BRASIL. 9. ed. DE SEUS FRUITOS E RENDIMENTOS. o cristão-novo português Ambrósio Fernandes Brandão chegou a possuir três engenhos. ao que tudo indica. que lhe adicionou uma excelente introdução crítica [1. O autor desta obra mostra-se um apologista da Capitania da Paraíba sobre o qual versa extensamente. José Antonio Gonsalves de Mello (Neto). 1886-1887 (em periódico). publiquei há alguns meses o livro PÁGINAS DE HISTÓRIA DA PARAÍBA – REVISÃO CRÍTICA SOBRE A IDENTIFICAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DOS DOIS PRIMEIROS ENGENHOS DE AÇÚCAR DA PARAÍBA [1. FAZENDO PRINCÍPIO DOS BAIXOS OU PONTA DE SÃO ROQUE PARA O SUL DO ESTADO [do Brasil] E DEFENSÃO DELAS. Recife.10. 7. 3. Recife. independente em livro). era o engenho de Santo André. publiquei há alguns anos uma plaqueta intitulada: LEVANTAMENTO DAS PUBLICAÇÕES DOS DIÁLOGOS DAS GRANDEZAS DO BRASIL COM ALGUMAS NOTAS SOBRE O SEU MAIS DO QUE PROVÁVEL AUTOR [1. já que. independente em livro). só começou a ver a letra de forma.. à margem do rio Tibiri e era. corresponde ao ano em que estava sendo redigida esta obra que. em ed. ed. integral segundo o apógrafo de Leyden). Trata-se da DESCRIÇÃO DA CIDADE. como se pensava.. parece ser uma redação primitiva do LIVRO QUE DÁ RAZÃO DO ESTADO DO BRASIL – 1612. publicada há apenas três lustros pelo Prof. ainda de maneira incompleta. João Pessoa. 1977 (7. com texto independente e raramente aproveitado nesta versão mais moderna. A propósito. ed. integral segundo o apógrafo de Leyden). porém. Neste texto mais antigo também se vêem valiosíssimas informações sobre a Capitania da Paraíba. Salvador.. mas sim a nona edição geral desta obra ou a sétima edição contendo os seis diálogos que a compõem ou a quinta edição desta obra de forma independente (livro) ou a segunda edição integral desta obra. ed. onde fica esclarecido que a segunda fábrica de açúcar desta terra não se quedava. Esta data de 1618.. Estou falando da RELAÇÃO DAS PRAÇAS FORTES. ed. ed. Rio de janeiro. data em que esta obra foi redigida. ed.. ed. ed. ed. mais completo que o apógrafo da Biblioteca Nacional de Lisboa. 1984]. Rio de Janeiro. da mais alta importância tanto na Literatura Brasileira quanto nas Letras Históricas do Brasil e que foi considerada por José Honório Rodrigues como um dos doze maiores livros escritos sobre o Brasil no Período Colonial. 1966 (5. mais uma vez. 6.. ed. 1999 (8. segundo o apógrafo de Leyden. ed. 1900 (em periódico). Temos agora a comentar uma obra sem autoria declarada. Cumpre ainda dizer. ed. 4. ed. no mesmo periódico (ÍRIS) e pelo mesmo editor. 1943 (2. a respeito da cabeça da Capitania da Paraíba. Existe ainda uma excelente relação escrita em 1630 por um piloto português residente na Cidade Felipéia de Nossa Senhora das Neves (atual Cidade de João Pessoa). no ano de 1849. além de um outro na Capitania de Pernambuco. cujo capítulo tem a enorme vantagem de arrolar os engenhos da Paraíba no ano de 1609. Em paralelo. independente em livro). Rio de Janeiro. que um ano antes havia publicado a primeira edição do SUMÁRIO DAS ARMADAS. Recife. relação esta que foi descoberta na Biblioteca Nacional de Madrid por Francisco Adolpho Varnhagen. independente em livro). 8. independente em livro). independente em livro). José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha. Acerca desta matéria.. São Paulo/Brasília. com o intuito de elucidar uma velha questão acerca dos primeiros engenhos de açúcar desta antiga Capitania. Rio de Janeiro. 1962 (4. João Pessoa. Recife. que se encarregou de publicá-la mais tarde. Estamos falando dos DIÁLOGOS DAS GRANDEZAS DO BRASIL [cujas edições contendo os seus seis diálogos ou partes são: 1. FEIA PELO SARGENTO-MOR DESTA COSTA [do Brasil] DIOGO DE CAMPOS MORENO NO ANO DE 1609. 1994]. como tem sido erroneamente divulgado em mais de uma obra paraibana. e que estava sendo redigido em 1618 na Capitania da Paraíba. nem o enciclopédico historiógrafo José Honório Rodrigues teve notícia dela. diferentemente do que tem sido erroneamente divulgado reiteradas vezes nesta terra. 1968 (6. POVOAÇÕES E COUSAS DE IMPORTÂNCIA QUE SUA MAGESTADE TEM NA COSTA DO BRASIL. ed. Além disto ele revela uma cultura muito acima da média do seu tempo.. ed. 1999]. ed. ed. independente e a 1.. 3. 1916-1625. a qual foi anexada a posteriori a um memorial apresentado aos Estados Gerais dos Países Baixos. LUGARES.. retornou até a altura da Baía da Traição na Capitania da Paraíba. Desde muito cedo os “flamengos” tiveram razoável conhecimento sobre a Paraíba através de inúmeros relatórios. 3. sob o título AÇÚCARES QUE FIZERAM OS ENGENHOS DE PERNAMBUCO. evidentemente. De tudo isto ocorrido em 1625 na Paraíba o padre Bartolomeu Guerreiro. 1981]. HISTORIOGRAFIA DA PARAÍBA RELATIVA AO PERÍODO HOLANDÊS NO NORDESTE DO BRASIL Ao longo deste recorte temporal eu não poderia me contentar. SOBRE A SITUAÇÃO. ed. 2 t. do lado português. Ende met verfcheyden koperen Platen verciet:Befch-reven door IOANNES DE LAET Bewint-hebber der felber Compagnie) [1. 2. ed. na verdade. ADRIAEN VERDONCK.. (por sinal. o período holandês na Paraíba não começa com o guante que eles impuseram a esta Capitania durante vinte anos a partir do apagar das luzes de 1634. ILHA DE ITAMARACÁ E PARAÍBA [ ed. 1644. que organizou uma relação de engenhos das Capitanias de Pernambuco. BEM COMO DE ITAMARACÁ.. 2. 1. Esta arribada fez com que a Paraíba. Por sua vez. Recife. mesmo porque não concordo com o fato de iniciar esta fase da historiografia colonial da Paraíba com o citado escrito do “Poeta Aventureiro”.. 1901.J.. Parahyba do Norte. que estava por eles invadida desde 1630. Por outro lado. oriunda da Capitania de Pernambuco. S. Recife. PARAÍBA E RIO GRANDE [do Norte] SEGUNDO O QUE EU. ed. viesse a ser a primeira Capitania a sofrer as conseqüências das invasões holandesas no Brasil. Viena d’Áustria. 1977. entre as poucas fontes ou obras básicas que registram este episódio. o mais antigo deles é de um judeu-português estabelecido em Amsterdã. ALDEIAS E COMÉRCIO DA MESMA CIDADE. foi detalhadamente relatado. 1860. incluindo o texto acima referido de Joannes de Laet. Itamaracá e Paraíba (indicados apenas pelos nomes dos seus respectivos donos). 2. com a menção isolada à apenas uma obra que representaria todo este período. 1981]. 4. 1966]. 1949.. nove anos antes disto. no ano de 1623 (aparentemente mais tarde). DIRETOR DA MÊSMA COMPANHIA (Historie Ofte Iaerlijck Verhael van de Varrichtinghen der Georctroyeerde Weft-indifche Compagnie. Ademais.. por Joannes de Laet. 1871. Begrepen in Derthien Boecken. Recife.. Zedert haer Begin tot het eynde van’t jaer fefthien-hondert fesem-dertich. irmão biológico do padre Fernão Guerreiro. 1911]. tendo promovido não poucos estragos nesta terra mas também com perdas sofridas. deu bom testemunho na sua JORNADA DOS VASSALOS DA COROA PORTUGUESA [1. tendo chegado ali tarde demais. sofreu um grande revés ao atacar a Capitania da Paraíba com o objetivo de conquistá-la.. QUE HÁ VINTE ANNOS QUE RESIDE NA DITA CIDADE [1. a exemplo do que já tenho visto noutros estudos historiográficos da Paraíba. Rio de Janeiro. Recife.. ed.. qual seja uma bastante conhecida relação de Elias Herckmans.. antes mesmo da Capitania de Pernambuco em 1630. considero de boa norma. PILOTO NATURAL DE PENICHE. 1625. 1931-1937.. ed. POSSO ME RECORDAR.J. Já do lado neerlandês este episódio (e tantos outros acontecidos até o ano de 1636). ed. ed. Começa. acima citado). ed. ed. 2. tratando-se deste específico período. a rigor.Geografia e História da PB 311 PASCHOA. São Paulo. Leyden. Recife. ainda muito precocemente surgiu uma MEMÓRIA APRESENTADA AOS SENHORES DO CONSELHO DESTA CIDADE DE PERNAMBUCO. ed. 4 v]. Ao que parece. Do lado holandês. 1968. fazer confrontar. quando a esquadra holandesa de socorro à Bahia. ed. onde fundeou a 21 de junho de 1625 para fazer aguada e tratar dos doentes que trazia a bordo. depois da Bahia. Lisboa.. Haia.. ed. ESCRITA EM 20 DE MAIO DE 1630 [1. No início de dezembro de 1631 uma poderosa armada neerlandesa. à luz de documentos oficiais. 3. comandada pelo General Boudewijn Hendrickzoon. S. Rio de Janeiro.. obras de autores do partido neerlandês a obras de autores do partido ibero-brasileiro. figura um importantíssimo livro escrito por testemunha . chamado José Israel da Costa. ed. sempre que possível. em 1625. Rio de Janeiro. aí permanecendo até 01 de agosto de 1625 . que se sucederam ao longo do tempo. na sua HISTÓRIA OU ANNAES DOS FEITOS DA COMPANHIA PRIVILEGIADA DAS INDIAS OCCIDENTAIS DESDE O SEU COMEÇO ATÉ AO FIM DO ANNO DE 1636 POR JOANNES DE LAET. E VERDADEIRA DA MEMORAVEL VICTORIA. PRETENDERÃO OCCUPAR EFTA PRAÇA DE FUA MAGETTADE. &c. para redigir o pouco apreciado CASTRIOTO LUSITANO [1. 5. 4. ed. 4. 1632]. Haia.. 1677. uma importante obra. Estrasburgo. 1982]. dizendo também respeito à Paraíba. o alemão Ambrósius Rischshoffer (natural de Estrasburgo). ed.fteden. e cuja obra valiosíssima estou republicando em edição crítica. Kaspar van Baerle.. 4. mestre de Gramática em Pernambuco No texto ainda inédito desta obra muito se abeberou (com pouco proveito) o vimaranense frei Raphael de Jesus. ed.ed. Sub Praefectura Illftriffimi Comitis I. Recife. ed.. 1977]. 1659. Lisboa. João Pessoa. Recife. (natural da Cidade do Porto)..1998]. serve como fonte básica para este e muitos outros fatos relativos ao período holandês entre 1630 e 1638. uma obra da autoria de Duarte de Albuquerque Coelho. Gaspar Barléu que escreveu em latim (depois traduzido para o alemão.1977.DC. recentemente. 1660. QUE FAÕ VINTE NÁOS DE GUERRA. ed. A fase nassovista do período holandês (1637-1644) e que diz igualmente respeito à Capitania da Paraíba. São Paulo. porém do lado português. 3. no vernáculo.B. 2. literalmente. também de testemunha presencial. ed.XXX) [1. 1978]. Fub Avriaco Ductoris. na prática. O. 1923. 1979]. publicada originalmente em espanhol..S. Recife.Geografia e História da PB 312 presencial do feito. Lisboa.. Amsterdam. Paris. Mavritii.. a qual. DOS REBELDES DE OLANDA. Recife. cujo título no vernáculo é MEMÓRIAS DIÁRIAS DA GUERRA DO BRASIL: 1630-1638 (Memorias Diárias de la Gverra del Brasil. Nassoviae. ed. 3.. raríssimo. pelo menos em parte. 2.. Rervm per octennivm in Brasília et alibi nuper geftarum. tem entre os principais atores do seu partido... Comitis.em Lant-Reize. Behelzende Al het geen op dezenve is voorgevallen. embora panegírica e elaborada sob encomenda do próprio João Maurício. Recife. 2.gewaffen. 3. cujo autor é frei Paulo do Rosário.. a qual em português recebeu o nome simplificado de MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL (Johan Neuhofs Gedenkweerdige Brasiiaense Zee. 1930. QUE OUUE O CAPITÃO MÔR DA CAPITANIA DA PARAIBA ANTONIO DE ALBUQUERQUE. pouco mais ou menos representa um contraponto daquela outra de Joannes de Laet. 1675. Nunc Vefallae Gubernatoris & Equitatus Foederatorum Belfii Ordd.por discvrso de nveve años. Outra obra básica do partido português é a HISTORIA DA GUERRA DE PERNANBUCO [1.. 1984] do portuense Diogo Lopes de Santiago. ed. Madrid. Rio de Janeiro.. 5. Clèves. empeçando desde el de M. mais conhecido pelo nome latinizado de Caspar Baleus ou. para o holandês e para o português). 1654. na HISTORIOGRAFIA DA PARAÍBA e na HISTORIOGRAFIA DO BRASIL.B. Haia. ed. zeden on . Descrição de Viagem ao Brasil e às Índias Ocidentais). que em português recebeu o título de DIÁRIO DE UM SOLDADO DA COMPANHIA DAS ÍNDIAS OCCIDENTAIS (1629-1632). Recife. ed. TRAZENDO NELLAS PERA O EFFEITO DOUS MIL HOMENS DE GUERRA EFCOLHIDOS A FORA A GENTE DO MAR [1. 1844.S.. Ainda do lado português também pode funcionar como uma referência básica para a mesma matéria (e muitas outras relacionadas à Paraíba) a NOVA LUSITANIA HISTORIA DA GUERRA BRASILICA do alentejano Francisco de Brito Freyre [1. Historia) [1.. 1855. ed. Seu título é RELAÇAM BREVE. Conde Nassau-Siegen. ed. ed.. Lisboa... 2. Também do lado português. 1944. ed. ed. TENENTE-GENERAL DE CAVALARIA DAS PROVÍNCIAS-UNIDAS SOB O PRÍNCIPE DE ORANGE (Casparis Balaei. O. integral. A este depoimento precioso do lado holandês se contrapõe um outro. ed. Clèves. influenciada pelo texto da obra anterior. [1.. 3. dieren. mas que em alemão chamou-se Brassiliannifchund Weft Indianifch Reiffe Refchrelbung (ou. ed. embora precise ser lida com bastante cuidado em certas passagens. 2.. Rio de Janeiro. Beneffens Een bondige befchrijving van gantfch Nererlants Brasil. ed.. ais draghten. ed. 1647. até agora inaproveitado. tem por autor Johan Jacob Nieuhof. Há quem veja esta obra de Francisco de Brito Freyre. Recife. Outra obra do período holandês de interesse para a Paraíba. A respeito da importância desta obra na historiografia do período holandês no Brasil publiquei. Zoo van lantfchappen. cujo título para nós ficou sendo HISTÓRIA DOS FEITOS RECENTEMENTE PRATICADOS DURANTE OITO ANOS NO BRASIL E NOUTRAS PARTES SOB O GOVERNO DE WESEL. ed. uma plaqueta com o título O FRACASSO HOLANDÊS NA CAPITANIA DA PARAÍBA EM 1631[1. ed. 7 VINTE 7 FETE LANÇCHAS. 1897. 1940]. 1679. 5. 3. Recife. 1732. ENTRE LES HOLLANDOIS E LES PORTVGAIS. in d’oologen en opflant der Portugefer tegen d’ozen.. PELO SR. tendo sido terminado a 10 de dezembro de 1639 e cujo título em português é RELATÓRIO SOBRE O ESTADO DAS CAPITANIAS CONQUISADAS NO BRASIL. 1947. a que se segue um escrito adicinal da autoria de Claude Barthélemy Morisot sobre a relação precedente de Roulox Baro (REMARQUES DV SIEVR [Claude Barthélemy] MORISOT SVR LE GOYAGE DE ROVLOX BARO AU PAYS DE TAPUIES).. DE PERNAMBUCO. cujo título é HISTORIA DAS LUTAS COM OS HOLLANDEZES NO BRASIL DESDE 1624 A 1654 [1. 1644... geduurende zijn negenjarigh verblijf in Brafil. 6.. 1937. Paris. 1910. 1654. Leyden.. 4. cujo título em português é RELATÓRIO SOBRE A CAPITANIA DA PARAÍBA EM 1635.. DR. Belo Horizonte/São Paulo. da autoria do historiador sorocabano Francisco Adolpho Varnhargen. João Pessoa. 3. 1951. Alto e Secreto Conselheiro no Brasil holandês.. 7. 3. Há ainda uma obra do Século XIX de particular interesse para o período holandês na Paraíba. NATIF DE LA VILLE DE PARREY EM CHAROLLOIS)... 2. ed.. Campina Grande. ed. geralmente atribuído ao Dr Antônio Barbosa Bacelar.. Rio de Janeiro. Seu título em português é BREVE DISCURSO SOBRE O ESTADO DAS QUATRO CAPITANIAS CONQUISTADAS.) [1. ed. da autoria de Pierre Moreau (HISTOIRE DES DERNIERS TROUVBLES DV BRESIL. embora. por Matias van Ceulen e por Adriaen Jacobszoon van der Dussen. ed. PARAÍBA E RIO GRANDE (do Norte). Amsterdam. AO CONSELHO DOS XIX NA CÂMARA DE AMSTERDAM. 1981]. CIARÁ & ILHA DE FERNAÕ DE NORONHA. ed. 1887. London. 1979]. ed. Rio de Janeiro. Um deles é da autoria de Adriaen Jacobszoon van der Dussen. ed. João Pessoa.. RIO GRANDE [do Norte]. CONSELHEIRO POLÍTICO E DIRETOR DA MESMA CAPITANIA (Raport van de Capitania Paraíba – 1635) [1. 7. Em português existem edições tanto com os dois primeiros escritos quanto com todos os três e no Brasil seu último título ficou sendo HISTÓRIA DAS ÚLTIMAS LUTAS NO BRASIL ENTRE HOLANDES E PORTUGUESES E RELAÇÃO DA VIAGEM AO PAÍS DOS TAPUIAS[1. Recife.. ed.. ed. ed. Amsterdam. Recife. ed. ed. SITUADAS NA PARTE SETENTRIONAL DO BRASIL [1. O outro relatório. ed. Parahyba do Norte. João Pessoa. 9. este último tenha sido o principal responsável pela sua redação. ao que tudo indica. ed. EM 4 DE ABRIL DE 1640 [1. Rio de Janeiro. RECUPERAÇÃO DAS CAPITANIAS DE ITAMARACÁ. London. Lisboa. 1879.Geografia e História da PB 313 godsdienft des inwooders: En in zonderheit Een wijtloopig verhael der merkwaardigfte voovallen en gefchiedeniflen. 1682. 1744.. London. cujo título em português é DESCRIÇÃO GERAL DA CAPITANIA DA PARAIBA (Generale Beschrjvinge van de Capitania Paraíba) [1. 1982.. ed. 1975. vem assinado por João Maurício. 1985. 1886.. 1652. datado de 1639.. Campina Grande (PB)... ed. Berlim.. ITAMARACÁ. Entre os documentos holandeses exclusivamente referentes à Paraíba temos o do Dr. ed.. ed. ed. ed. 1981]. 2.. em francês. ed. 1923. die zich. Haia.. ed.. Utrecht. PAR PIERRE MOREAV.. ed. traduzida do holandês para o francês pelo próprio Pierre Moreau. 8. em várias edições vem sendo publicada juntamente com uma relação de Roulox Baro sobre os índios tapuias (RÉLATION DV VOYAGE DE ROVIOX BARO.. ed.). datado de 14 de janeiro de 1638 mas certamente iniciado no ano anterior... a qual. 5. Recife. . 2... 1767. zich federt het jaer 1640 tot 1649. Sobre a capitulação holandesa e também dizendo respeito à Paraíba a anônima RELAÇAM DIARIA DO SÍTIO. ed.. 1923. 1979].. ed. ed. ed. 3.. e o relatório de Elias Herckmans que também foi Diretor da Capitania da Paraíba. 7 GOUVERNADOR DE PERNAMBUCO [1. ed. 1651. 5. ed. ed. 9. 3. São Paulo. 3.. Haia. ed. 4. Rio de Janeiro. ed. 2. Amsterdam. 1773. 1786-1787.. Recife. Recife. 11. A propósito dos últimos tempos do domínio holandês no Brasil e também interessando à Paraíba deve-se citar aqui uma obra originalmente impressa na Cidade de Paris. 2. 3. APRESENTADO PELO SENHOR ADRIAEN VAN DER DUSSEN. 8. Belo Horizonte/São Paulo. Servaes Carpentier... London.. João Pessoa. ed. 1981. ed. ed. SERVAES CARPENTIER. 1925. 4. ed. 6. 1879. 1942. 1808-1814. 1959-1964. 1989]. E TOMADA DA FORTE PRAÇA DO RECIFE. 10. ed. 1989] Existem outros dois documentos holandeses onde parte não negligenciável deles se refere à Paraíba. 1982. 1981]. POR FRANSIFCO BARRETO MEFTRE DE CAMPO GENERAL DO EFTADO DO BRAFIL. London. Conde de Nassau-Siegen. 4. 2. PARAÍBA. 2. ed. Utrecht.. 1703-1704. 1889. 1931. OBRA DE GABRIEL SOARES DE SOUZA. 1978. Recife. São Paulo/Brasília. SENHOR DE ENGENHO DA BAHIA. Rio de Janeiro. ed. onde se doutorou in utroque jure.. São Paulo.. 1958. ed. 1886. 1871. [Rio de Janeiro. ed. melhor dizendo. ed. onde tomou as ordens sacerdotais (clero secular).. N’ELLA RESIDENTE DEZESSETE ANNOS. 1948. A mais antiga delas para a HISTORIOGRAFIA DA PARAÍBA é a obra enciclopédica de Gabriel Soares de Souza. ou seja. também com seu texto integral ou.. 1986].. Salvador. 2. Rio de Janeiro.. Antes de vestir o hábito de São Francisco. Rio de Janeiro. 2. o eminente médico e historiador Manuel Augusto Pirajá da Silva. havia estudado na Universidade de Coimbra. 1954. SEU VEREADOR DA CAMARA. não concordou nem com aquele título nem com a aposição daquela data agregada ao título geral). Recife. São Paulo. por ter ele conseguido editar este livro após esclarecer-lhe a autoria. (2ª tiragem). 1979. Rio de Janeiro. ETC. ed. 1974]. encontrava-se no Reino desde 1584). Belo Horizonte/São Paulo. 1918. São Paulo. as quais poderiam também ser rotuladas como tratados de história e crônicas gerais sobre o Brasil. 1874. 1987].. e sua HISTÓRIA DO BRASIL [cujas edições contendo os seus cinco livros ou partes são: 1. notícias estas certamente colhidas de segunda mão a partir de algum navegante vindo do Brasil e que teria então chegado a Madrid.. (3ª tiragem). Desta mesma obra. 3. São Paulo. atribuindo-lhe uma data de redação. 1943.. Rio de Janeiro. entretanto. analisar-lhe o texto e fixá-lo definitivamente através do estudo de muitos dos seus códices existentes em vários países. 5. 2. Eis que é chegada a hora de falar sobre o “Heródoto brasileiro” e sua imprescindível obra histórica concluída em 1627. A outra tem como autor Frans Leonard Schalkwijk e seu título é IGREJA E ESTADO NO BRASIL HOLANDÊS: 1630-1654.. o recuperado por Francisco Adolpho de Varnhagen. 1938. Nesta obra ciclópica de Gabriel Soares de Souza é preciso. 1975.. São Paulo. ed. 1945.. 7.Geografia e História da PB 314 Vienna d’Áustria. ler com bastante cuidado a parte que toca à Paraíba. (natural da Bahia). 3. as edições segundo a proposição de Francisco Adolpho de Varnhagen têm o título de TRATADO DESCRIPTIVO DO BRAZIL EM 1587. 1889. o ano de 1587 (aliás. ed. José Antonio Gonsalves de Mello (Neto) [1. 1947. a quem a HISTORIOGRAFIA DO BRASIL muito deve. cujo prefácio é do Prof. São Paulo. 1971. anteriores ou posteriores ao Barão e Visconde de Porto Seguro. Já no Século XX temos inúmeras obras de valor porém me limitarei apenas a duas que também dizem respeito à Paraíba e são de fundamental importância para o domínio holandês no Brasil.. 1974. retornando à Bahia em 1587. Somente em torno de 1603 ou pouco . 1879. razão pela qual ele jamais “foi testemunha ocular da conquista da Paraíba”. ed. (1ª tiragem). pelo ilustre historiador sorocabano Francisco Adolpho de Varnhagen. 5. frei Vicente do Salvador. deu algumas informações incorretas sobre o que lá tinha acontecido recentemente nas lutas de conquista da Paraíba. atribuindo-lhe não somente um título geral. 1973. Madrid. 1951. e professado a Ordem Franciscana no dia 30 de janeiro de 1600. também neste particular. 1979. 1965. que também editou esta obra. José Antonio Gonsalves de Mello (Neto). onde o autor (proveniente da Bahia. Uma delas é da autoria do Prof. Rio de Janeiro. ed. surgiram várias edições com o título de NOTÍCIA DO BRASIL [São Paulo.. dada ao público em letra de forma. O. Frei Vicente do Salvador. ed. 2.M.. 1851. Sem contar as publicações muito incompletas desta obra. ed. cujo título é TEMPO DOS FLAMENGOS: INFLUÊNCIA DA OCUPAÇÃO HOLANDESA NA VIDA E NA CULTURA DO NORTE DO BRASIL [1. 6. particularmente o seu “CAPÍTULO XII”. ed. 3. 4.F. ed. 4. São Paulo. sob a forma mais completa possível. ed. São Paulo.. bem como atribuindo-lhe uma data de redação. ed.M.. Recife/Brasília. 1987]. Rio de Janeiro. 1955]. ou seja. A PARAÍBA NA HISTORIOGRAFIA GERAL DO BRASIL A PARTIR DO SÉCULO XVI ATÉ A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX Já é hora de volver minha atenção para algumas outras obras deste específico recorte cronológico em questão. como se lê de forma abstrusa em diversas tiragens determinada obra didática sobre a Paraíba. em 1599. natural de Portugal. O. São Paulo. 2. 1982].F. Lisboa. Rio de Janeiro. ed. Recife. ed.. do padre Manuel Ayres de Casal. COMPENDIO DE HISTORIA DO BRASIL. por Antônio de Santa Maria Jaboatão. por Sebastião da Rocha Pitta. HISTORIA DO BRASIL. a CRÔNICA DA CUSTÓDIA DO BRASIL. ed. do Padre Raphael Maria Galanti. no seu “Livro Quarto” este autor trata da Paraíba desde o “Capítulo Terceiro” até o “Capítulo Décimo Sexto”. eventualmente consultada). de Rocha Pombo.F. por Antonio José Victoriano Borges da Fonseca. . Foi com sua experiência pessoal e. de José Mirales.M.. Ademais. além do “Capítulo Vigésimo Segundo”. Frei Vicente do Salvador. havia escrito antes. HISTORIA DO BRASIL. HISTÓRIA DO BRASIL. versou sobre a Paraíba. por Helio Vianna. pelo Dr. a HISTORIOGRAFIA DA PARAIBA e a HISTORIOGRAFIA DO BRASIL. HISTÓRIA MILITAR DO BRASIL.M. de João Capistrano Honório de Abreu. portanto. muito menos exaltado do que bem merece. O NOVO ORBE SERAFICO BRASILICO. pertencente ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. HISTÓRIA DO BRASIL.F. cujo valor historiográfico. José Pedro Nicodemos... O. . O. “Na verdade não há um só capítulo do SUMÁRIO DAS ARMADAS cujo texto não tenha sido aproveitado.. Basta que se leia o “Capítulo Vigésimo Quarto” do seu “Livro Terceiro”. hoje desconhecida. Aliás.F. DESAGRAVOS DO BRASIL E GLORIAS DE PERNAMBUCO. de Henrich Handelmann. também contemplando a Capitania da Paraíba. ao menos em parte. o “Capítulo Trigésimo Nono”. uma outra obra. Frei Manuel da Ilha. Começarei com a INFORMAÇÃO DADA A SUA MAGESTADE PELO GOVERNADOR DA PARAHYBA DO NORTE FERNANDO DELGADO FREIRE DE CASTRILHO A 9 DE JANEIRO DE 1799 ACÉRCA DE VARIOS OBJECTOS RELATIVOS À MESMA CAPITANIA. Desta maneira.. UM POUCO DA HISTORIOGRAFIA GERAL E ESPECIAL DA PARAÍBA A PARTIR DO SÉCULO XVIII ATÉ O TERCEIRO QUARTEL DO SÉCULO XX Arrolarei aqui.M. só se rende para os extraordinários “Prolegômenos” com que o mestre Capistrano de Abreu enriqueceu a nossa primeira História do Brasil escrita por um nativo da terra. De qualquer forma. algumas das principais obras básicas e específicas da e para a HISTORIOGRAFIA DA PARAÍBA a partir do Século XVIII até o terceiro quartel do Século XX. O. HISTÓRIA DO BRASIL ANTES DE SUA SEPARAÇÃO E INDEPENDENCIA DE PORTUGAL. hoje infelizmente perdida. com o texto manuscrito do SUMÁRIO DAS ARMADAS à vista (além de outra fonte. lhe agradecem penhoradamente. um excelente trabalho do eminente Prof. caro Prof. por D. como o é os DESAGRAVOS DO BRASIL E GLÓRIAS DE PERNAMBUCO. em que certamente também versou sobre a Capitania da Paraíba. do Visconde de Porto Seguro. e o Quadragésimo Terceiro”. Robert Southey. João Pessoa. Diga-se ainda que a Paraíba foi extremamente bem aquinhoada pelo “Heródoto brasileiro” na sua HISTÓRIA DO BRASIL. é que frei Vicente do Salvador. o “Capítulo Trigésimo Sétimo”. HISTORIA DO BRAZIL (ILUSTRADA). na redação da HISTÓRIA DO BRASIL do franciscano baiano”. José Pedro Nicodemos intitulado A CONTRIBUIÇÃO HISTORIOGRÁFICA DE FREI VICENTE DO SALVADOR [1. 1971]. CAPITULOS DE HISTORIACOLONIAL. Domingos do Loreto Couto. tais como a HISTÓRIA DA AMERICA PORTUGUESA. como afirmei nos GRAVETOS DE HISTÓRIA.M. o primeiro nativo deste País a escrever uma História do Brasil.F. desde o ano de 1549. movido pela constatação do que existe de melhor na moderna historiografia paraibana.. Depois de frei Vicente do Salvador. Ainda dizendo respeito à HISTÓRIA DO BRASIL do “Heródoto brasileiro” faz-se necessário assinalar aqui. ao menos a título de citação. NOBILIARCHIA PERNAMBUCANA. conheceu e aproveitou esta obra para redigir a sua CRÔNICA DA CUSTÓDIA DE SANTO ANTÔNIO DO BRASIL: 1584/1621. Mello Moraes. principalmente. O. CHRONICA GERAL DO BRAZIL. do “Capítulo Vigésimo Quinto” ao “Capítulo Trigésimo Terceiro” (Estão infelizmente perdidos os textos do “Capítulo Vigésimo Sexto” ao “Capítulo Vigésimo Nono” e a parte inicial do “Capítulo Trigésimo”. foi preciso se esperar aproximadamente o transcurso de um século para que surgisse uma nova obra histórica geral do Brasil e. COROGRAFIA BRASÍLICA.Geografia e História da PB 315 mais tarde é que o “Heródoto brasileiro” esteve missionando índios nesta terra. Aqui eu me limitarei simplesmente a registrar as obras mais significativas através de suas edições completas. o “Capítulo Quadragésimo Primeiro”. em 1618.. que é livro de Genealogia e de História. por Pedro Calmon. por Irinêo Ceciliano Pereira Joffily. Maximiano Lopes Machado. Sr. por Fernando Delgado Freire de Castilho. em cujo “Appendice Constantge de Notas” existem valiosos relatos fidedignos até agora praticamente inaproveitados. De grande interesse para a História da Confederação do Equador (1824) na Paraíba são as OBRAS POLITICAS E LITTERARIAS DE FREI JOAQUIM DO AMOR DIVINO CANECA Collecionadas pelo Commendador Antonio Joaquim de Mello em virtude da Lei Provincial Nº 900 de 25 de Junho de 1869 mandadas publicar pelo Exm. importante documento de valor histórico. CAITAL DA PROVINCIA DO MESMO NOME. 200 a 205 A. recebeu o estímulo entusiasmado e o prefácio competente do mestre João Capistrano Honório de Abreu. não em livro. antes que este ano se encerre desvendarei esta dúvida que outros mais confiantes que eu parecem não tê-la. Ainda do mesmo autor e de relevante merecimento para esta terra é a SYNOPSIS DAS SESMARIAS DA CAPITANIA DA PARAHYBA. a HISTORIOGRAFIA DA PARAÍBA não pode mais continuar com esta presunção de duzentos anos de idade. na parte que toca também à Paraíba. entretanto. . Temos ainda a excelente CHOROGRAPHIA DA PROVINCIA DA PARAHYBA DO NORTE. mas em periódico. e que bem revela a sua competência é a MONOGRAPHIA DA CIDADE DA PARAHYBA DO NORTE. Maximiano Lopes Machado. S. Ainda sobre o mesmo tema. Enquanto isto.Geografia e História da PB 316 Foi este documento que o benemérito Irineu Ferreira Pinto veio a publicar em 1908 no v. Outra obra muito interessante. constante do volume 1º do “Catalogo da Collecção de Memórias e outros documentos contidos em 19 volumes conservados na Secção Histórica do Archivo Nacional”. Resta apenas saber se o texto aí contido corresponde de fato ao documento intitulado Descripção da Capitania da Parahyba do Norte. Commendador Presidente da Província Desembargador Henrique Pereira de Lucena. É de se lamentar que este opúsculo raro e de capital importância para a Paraíba tenha caído no esquecimento e jamais tenha sido reeditado. pelo Sargento-mór Francisco Ignácio do Valle. por Vicente Gomes Jardim. fls.d. Outro importante depoimento de um paraibano. Cópia do original existente no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi extraída pelo sócio correspondente Frederico Cavalcanti Carneiro Monteiro oferecido ao nosso Instituto. haver realizado qualquer pesquisa neste sentido. 205-213 das suas DATAS E NOTAS PARA A HISTORIA DA PARAHYBA com o seguinte título por ele próprio alterado: O Governador da Capitania Fernando de Castilho presta a metrópole a interessante narração do estado em que se acha a mesma capitania. tendo sido concluída em 1861. COMPREHENDENDO O TERRITORIO DE TODO O ESTADO DO MESMO NOME E PARTE DO RIO GRANDE DO NORTE. cuja primeira edição é extremamente rara. deve ser mencionada aqui uma importante obra que. De qualquer estudo historiográfico da Paraíba não pode deixar de figurar as excelentes NOTAS SOBRE A PARAHYBA. então ainda jovem revolucionário da Praieira. Subsídios importantes para a História da Revolução de 1817. de autor paraibano. pelo Doutor Francisco Muniz Tavares. portanto. p. o Dr. por Henrique (Pedro Carlos) de Beaurepaire Rohan. principalmente na segunda edição. uma única vez e. possui uma extensa introdução e notas do historiador paraibano radicado em Pernambuco. somente veio a ser publicada meio século mais tarde. paraibano que. no caso. para dá-la à luz em letra de forma. I. todavia. É até possível que estejamos tratando do mesmo documento. assim mesmo. Trata-se da HISTORIA DA REVOLUÇÃO DE PERNAMBUCO EM 1817. a qual. Ainda sobre o mesmo tema devemos assinalar o DIARIO DA REVOLUÇÃO DE 1817. vemos tantas outras obras de valor e prioridade discutíveis sendo reimpressas pelo poder público. é o QUADRO DA REVOLTA PRAIEIRA NA PROVINCIA DA PARAHYBA. sem. agrimensor dos terrenos da Marinha da mesma Província. com ênfase para a Paraíba podem ser observados numa raríssima obra do padre Joaquim Dias Martins intitulada MARTIRES PERNAMBUCANOS VICTIMAS DA LIBERDADE NAS DUAS REVOLUÇÕES ENSAIADAS EM 1710 E 1817 (existe uma nova edição fac-similar moderna).. e seu atual Presidente) Como debatedor. A seguir. prenuncia suas qualificações de privilegiado garimpeiro de fontes históricas. outros importantes trabalhos seus como A INSTRUCÇÃO PÚBLICA NA PARAHYBA. e tentarei evitar a precisão de datas e fontes que foram muito bem postas pelo nosso expositor.ª DE NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO DA CIDADE DA PARAHYBA. Mas. aproveito a ocasião para prestar o meu respeito e consideração a todos os consócios deste Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP). a excelente obra do areiense José Américo de Almeida. na edição subseqüente um também alentado estudo introdutório do Prof. que na sua editio princeps recebeu o prefácio de João de Lyra Tavares e. sem falar nos atuais historiadores. também paraibano. . por suas sobejas qualidades. pelo engenheiro de Minas. Chegando já ao fim deste esboço historiográfico é preciso assinalar. para encerrar esta exposição. A propósito. Deste mesmo eminente historiador paraibano tem sido pouco lembrados. sócio fundador e Bibliotecário do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. até porque a gente só enaltece o historiador quando ele morre. Assim. Debatedor: Luiz Hugo Guimarães (Membro do Instituto Histórico. passo imediatamente a exercer minha missão. um dos maiores historiógrafos deste Estado. Dr. temos outra obra de excelente jaez. saída inicialmente de forma incompleta e depois em edição integral com revisão e ampliação do texto já anteriormente publicado. ainda assim. nascidos ou não neste Estado. ao coligir em súmulas todos os documentos públicos aí dados à estampa. o mesmo pode ser dito da obra máxima (e póstuma) do paraibano radicado em Pernambuco. José Octávio de Arruda Mello. tanto os do passado quanto os do presente. Francisco Soares da Silva Retumba.Geografia e História da PB 317 Outro trabalho que merece sempre ser lembrado é a MEMORIA SOBRE OS MELHORAMENTOS DE QUE PRECISA A PROVINCIA DA PARAHYBA. José Antonio Gonsalves de Mello (Neto). Quanto à sua importância. ele fez uma referência de passagem sobre os atuais sócios do Instituto. Também não se pode deixar de registrar aqui. contribuíram e vêm contribuindo efetivamente para HISTORIOGRAFIA DA PARAÍBA. Agora. por Irineu Ferreira Pinto. sob o título de SESMEIROS DA PARAÍBA. como muito bem fez Guilherme d’Avila Lins. cuja apresentação (“Duas Palavras”) do autor. sobre a primeira data de terra concedida em sesmaria na Capitania da Paraíba publiquei há alguns anos uma plaqueta sob o título JOÃO AFONSO PAMPLONA – A RESTITUIÇÃO DO NOME DAQUELE QUE FOI O PRIMEIRO PROPRIETÁRIO DE TERRAS NA CAPITANIA DA PARAÍBA. Maximiano Lopes Machado. Sabemos que num discurso sobre historiografia temos que fazer. os quais. minha participação é mais suave. ou seja. a sua HISTÓRIA DA PARAÍBA. Esta obra mereceu nos anos sessenta um laborioso índice levantado por Genny da Costa e Silva. De particular interesse para o Estado são os APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA TERRITORIAL DA PARAHYBA por João de Lyra Tavares que. a HISTORIA DA PROVINCIA DA PARAHYBA. o alentado trabalho que o Guilherme d’Avila Lins nos traz é da mais alta significação e ele muito inteligentemente abordou apenas até ao primeiro quartel do século passado. ··· A fala do Presidente: Conforme vimos. fica dispensada minha autoapresentação. do areiense Horácio de Almeida. APONTAMENTOS PARA A SUA HISTORIA ou ainda ALGUMAS NOTAS PARA A HISTORIA DA ORDEM 3. cuja edição ficou enriquecida com um estudo introdutório do Prof. José Pedro Nicodemos. com uma introdução do Prof. A PARAHYBA E SEUS PROBLEMAS. realizou um trabalho monumental. Como debatedor designado. Seu título é DATAS E NOTAS PARA A HISTORIA DA PARAHYBA. ultimamente. cada um à sua maneira. e como vocês já me conhecem. Não sou historiador. Foi o que demonstrou o historiador Guilherme d’Avila Lins em sua brilhante exposição. a não ser o oferecimento do local de reuniões. conforme a listagem por ele oferecida de obras em que viajantes. Sugeri até a criação de um Núcleo Histórico e Geográfico no âmbito das Secretarias da Educação de cada município. na dimensão da ciência da história. ou seja. em particular. . Não haveria ônus para a Prefeitura. O que temos visto. Como presidente do Instituto. Colocamos à disposição dos prefeitos municipais nosso Instituto. estabeleceu desafios. é quem realiza as ações. O Ciclo de Debates espicaçou a nossa curiosidade. em geral. só falta publicá-la. imediatamente baixou um Decreto organizando um Núcleo com aquele objetivo. sugerindo que se fizesse alguma coisa para o levantamento da história de cada município. é uma razoável massa de informações sobre a Província da Paraíba. pelo padre da freguesia. O historiador focaliza os fazedores da história. Expositores.Geografia e História da PB 318 Sei que no plenário há alguns participantes que estão ouvindo a palavra historiografia pela primeira vez. mas dá uma dimensão das nossas carências. em boa hora iniciado pelo Instituto. conforme acentuou e explicitou nosso expositor desse tema. e estou certo de que iniciaremos uma nova etapa na busca de nossa expansão historiográfica. também não eram. O Prefeito de Lucena. foi a descoberta de grandes vazios na nossa historiografia. Não tinham títulos oficiais dessa categoria. outros pela ausência de fontes primárias. E o que é historiografia? A historiografia é a arte de escrever a história. lápis e um cafezinho. estamos relativamente abastecidos. por intelectuais. Episódios importantes da história paraibana ainda jazem sepultados no esquecimento. oferecendo um apoio logístico. e outros. Mas no momento em que a pessoa se afirma examinando documentos e ouvindo relatos ela começa a tornar-se um historiador. Pela conceituação de Aurélio. religiosos e historiadores narraram em cartas. particularizada nas ocorrências da sua capital. essas pessoas passam a produzir o conhecimento histórico. etc. por Diretores de Grupos e Colégios. o historiador Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins. Alguns desses episódios estão adormecidos pela falta de interesse dos estudiosos. Está aí o historiador. pude examinar a carência relativa da falta da nossa história municipal. sujeito é quem produz o conhecimento. Não é uma relação completa. quando ela representou a Província durante anos. porque financeiro não temos condições. E a história já está pronta. ainda não ao nosso dispor. e na vida da humanidade. desde a sua conquista. Irineu Ferreira Pinto. É o historiador. o qual foi distribuído com os presentes. sujeito é quem faz a história. A apreciação dos agentes da história ou os episódios por eles gerados nos tornam um historiador. Está incompleto. David Falcão. Editei um trabalho relacionando os municípios sobre os quais já há alguma coisa escrita. Maximiano Machado também não era. pois. Idelete. É o estudo histórico e crítico acerca da história e dos historiadores. os que por suas ações geram os acontecimentos. constituída pelo próprio Secretário. O levantamento foi feito com base nos trabalhos existentes no Instituto e nas informações historiográficas de Horácio de Almeida. Irineu Joffily. Encetei uma campanha junto às prefeituras municipais do Estado – agora são 223 municípios –. autodidaticamente. Quanto às coisas da Província-Capital. na dimensão da ciência da história. mas se tornou. papel. relatórios e trabalhos os acontecimentos provinciais. Waldemar Duarte. Na dimensão do processo histórico. virgens de uma apreciação crítica. Um dos pontos marcantes deste Ciclo de Debates. a história é a narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos. debatedores e participantes do Ciclo fizeram indicações importantes sobre um vazio detectado na nossa historiografia. porque a cada dia estão aparecendo novos trabalhos sobre cidades paraibanas. pelos vereadores. como indicativo para consulta. ele está começando a fazer história. Registraremos à parte uma lista de autores e obras. essa pesquisa nos municípios. que é preciso dimensioná-la. a economia. da confreira Carmen Coelho de Miranda Freire. No momento em que o interessado começar a levantar dados sobre sua comunidade. que colocamos à disposição dos participantes. publicado na Revista SAECULUM n. Mas quero lembra que o Instituto Histórico teve a iniciativa de criar uma Coleção de Historiadores Paraibanos. vila ou cidade. estou distribuindo com os participantes do Ciclo de Debates um exemplar do trabalho levantado. alguns dos quais foram mencionados pelo expositor Guilherme d’Avila Lins. Também incluímos no tema em debate nossos historiadores. Nem precisa dizer a importância da feitura dos trabalhos sobre cada município. Posse registrar aqui a listagem que levantei sobre alguns trabalhos que enfocam a nossa capital. para facilitar a pesquisa dos trabalhos das diversas comunidades interioranas. as famílias dos fundadores serão personagens importantes na pesquisa da formação do burgo (e aí a Genealogia entra como ciência auxiliar). Os trabalhos já publicados são os seguintes.º 3. Também distribui uma relação listando alguns trabalhos sobre a capital. Sobre ruas. de Cabedelo a Cajazeiras. publicando monografias sobre os principais historiadores da nossa terra. Já temos lançados 10 plaquetas. recentemente foram publicados dois trabalhos por parte de nossos associados. atualizando-a. Mas o tempo se tornou exíguo para esse exame.Geografia e História da PB 319 Intitulado HISTORIOGRAFIA MUNICIPAL DA PARAÍBA. darão a configuração histórica da história local. A história do Estado tem que ser como um todo. A professora Joana Neves tem um interessante trabalho intitulado HISTÓRIA LOCAL E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL. desde Felipéia a João Pessoa. do historiador Deusdedit Leitão.00 cada. com cerca de 800 páginas. a política. Precisamos fazer uma História da Paraíba completa e para a construção duma história atual teremos que fazer esse levantamento. outro foi AS RUAS ONDE MOREI – 1918-1930. Estou sabendo que Natércia Suassuna Ribeiro Coutinho está concluindo um trabalho muito vasto sobre as ruas da capital. levantando para os participantes essa problemática da nossa historiografia. A capital do Estado. Tem sido um dos pontos marcantes do nosso Ciclo. etc. A pesquisa deverá ser feita em cima dos acontecimentos dignos de nota ocorridos desde a fundação do povoado. Nós temos oferecido a esses estudiosos e pesquisadores todo o nosso apoio e os estimulamos para que sejam feitos esses trabalhos. que vale a pena ser compulsado. com seus autores: Maximiano Lopes Machado – Luiz Hugo Guimarães Coriolano de Medeiros – Deusdedit de Vasconcelos Leitão José Américo de Almeida – Joacil de Britto Pereira Horácio de Almeida – Amaury Vasconcelos Elpídio Josué de Almeida – Fernando Melo do Nascimento . Diariamente temos recebido aqui no Instituto Histórico pesquisadores agora voltados para o levantamento dos bairros e das ruas da capital. com sua identidade própria. as artes. para receber mais informes sobre a produção histórica dessa área a fim de completar o levantamento feito. Nossa preocupação pela formação da história municipal do interior é prioritária. envolvendo os acontecimentos de todas a regiões. Um deles foi RUAS DE TAMBAÚ. A cidade de João Pessoa cresceu tanto nesses 20 anos. pois com o levantamento da história de cada um poderemos melhor construir a história completa da Paraíba. ao preço de R$ 3. já tem um razoável número de trabalhos. sistema de transporte urbano: O Bonde. A União. MELLO. João Pessoa. Grafset. A União. João Pessoa. 1992. João Pessoa. 1985 PALMEIRA. MENEZES. Balila. 1985. Campina Grande. RODRIGUES. A Evolução urbana de João em Pessoa em função AGUIAR. Luís Pinto. Grafisi. Bairro de Miramar: sua história. Orion. . Carmen Coelho de Miranda. 1990. Edit. do Ed. Heliodoro Pires.Geografia e História da PB 320 Ademar Vidal – José Octávio de Arruda Mello José Leal – Balila Palmeira Manuel Tavares Cavalcanti – Marcus Odilon Irineu Joffily – Diana Soares de Galizza Celso Mariz – Dorgival Terceiro Neto Estão programadas mais duas monografias.1987. seus moradores. Martine. Antônio Rocha Barreto. Bloch. Archimedes. _____. Ana Helena Ferreira de. Janete Lins. Paraíba ontem e hoje. João Pessoa. PARAÍBA. SEC. que a Diretoria resolveu continuá-la e já estão listados os nomes dos historiadores Epaminondas Câmara. Ed. Cidade de João Pessoa: A Memória do Tempo. Em parceria com MELLO. 1976. Ed. o rio e o mar. MAIA. LEITÃO. ______ . Patrícia Maria Granville. Persona. 1998. Sombras. A União. Pessoa. Prefeitos de João Pessoa. História da Paraíba para uso didático João Pessoa. José Octávio de Arruda Uma Cidade de Quatro Séculos./UFPB. João Pessoa. Caminhos. Recife. 1998. As ruas onde morei – 1918-1930. Humberto Nóbrega. Rio de Janeiro. BATISTA. a cargo de Waldice Mendonça Porto. Carmen Coelho de Miranda. José Octávio de Arruda. Ruas de Tambaú. Fênix. 1997. 1953. 1989. FARIAS. A repercussão dessa Coleção tem sido tão favorável. João Pessoa. João Pessoa. Universal. ANDRADE. (Tese). Algumas notas a respeito da evolução urbana de João Pessoa. Wellington. Universidade do Ponto de Cem Réis. Ed. A Cidade da Paraíba na Época da Independên cia. DROULERS. Governo do Estado. s/ed. BARBOSA. João Pessoa: CrescimenJ. Florentino. Monumentos Históricos e Artísticos da Paraíba. Ladeiras: esboço de papel de cidade De nordeste brasileiro. a cargo de Humberto Cavalcanti de Mello e outra sobre o Cônego Francisco Lima. João Pessoa. A União Editora. GARCIA. 1985. entre outros. Deusdedit. CAVALCANTI. FREIRE.Univ.. Benedito. João Pessoa: a cidade. José Luiz Mota. Imprensa Oficial. Pool ed. João Pessoa. uma sobre Irineu Ferreira Pinto. Os Coretos no Cotidiano de uma Cidade: Lazer e classes sociais na Paraíba. Juarez. 1991. Benedito. s/ed. onde ele e a maioria dos sócios moram. João Pessoa. Dois Séculos da Cidade: Passeio retrospectivo – 1870-1930. é filha do município de Santa Rita e José Leal.Geografia e História da PB 321 to de uma Capital. já falecidos. Itinerário Lírico da cidade de João Pessoa. Deusdedit publicou sobre a parte mais nobre da cidade. Luiz Hugo: Já tomei conhecimento do trabalho de Natércia Suassuna e seu também. mas até as ruas das favelas. É verdade que dei alguma colaboração. E nomes que nem foram premiados com placa. que vai resolver definitivamente a preocupação muito justa que está tendo o Presidente desta Casa. que. Mas quero lembrar ao nosso Presidente que Natércia Suassuna Ribeiro Coutinho tem um trabalho de sete anos de pesquisa. apelando para amigos darem algum donativo. para podermos executar nosso projeto. ___________. agora. e ainda a gente apela para que ele dê uma contribuição financeira como ajuda para a edição. são 800 páginas datilografadas. O expositor Guilherme da Silveira foi preciso. que é autor de um excelente romance. 1962.00. Mas a autora está encontrando uma dificuldade imensa para publicar esse trabalho. Temos contado com a compreensão do editor .000. Apesar de rezar missa para governadores e interventores. fazer a edição. eu posso antecipar que Natércia Suassuna abre mão dos direitos autorais e do que gastou até agora. É o preço de um carro novo. dentro das celebrações dos 500 anos do Brasil. que queria que o Presidente fizesse um apelo em nome do Instituto. Mas inclui não só as ruas da elite. aos debates com a participação dos presentes. João Pessoa. Walfredo. Brasiliense. É um trabalho espontâneo. Salvo engano. 29 trabalhos. a Editora A UNIÃO. Temos um romancista João Ribeiro Filho. Ed. mas gostaria de acrescentar os nomes de Luís Pinto. ele vendeu o carro para poder editar o livro. 2ª ed. se tiver a aprovação dos membros deste Ciclo. nesta hora. Roteiro Sentimental de uma Cidade. envolve 12 plaquetas. todos inéditos e a essa altura todos perdidos. É o resgate da atuação dos nossos primeiros historiadores. para a Universidade. s/d. dos bairros e que nosso consócio Deusdedit Leitão já tem um trabalho publicado sobre as ruas de Tambaú. Desde já. que também deu uma razoável contribuição ao trabalho. nenhum deles teve coragem de mandar A UNIÃO publicar seus trabalhos. que também escreveu uma História da Paraíba e falo de Eudésia Vieira porque. Nosso debatedor deu ênfase ao estudo das ruas. São Paulo. De forma. Vejam quanto está custando ao Instituto publicar uma plaqueta das que mencionei. expressa a alguns minutos antes. Já se encontrando inscrito o historiador Marcus Odilon. O autor faz um esforço de pesquisa. Parece-me que esse trabalho de Natércia vai pelo mesmo caminho. 1981. Não foi fácil. onde vão aparecer nomes de gente que era apenas amiga do vereador. porque ela quer brindar a Paraíba neste fim de século e fim de milênio. Interplan. Fico pensando que ele vai ficar como ficou toda a obra do padre João de Deus. A editora A UNIÃO pediu R$ 19. além de ser uma mulher já falecida. e sabe a dificuldade. Interplan. essas dificuldades alcançam a todos. memorialista. Gastou mais em fazer o livro do que em trocar o carro. ___________. Walfredo. para este ano. 1º participante: Marcus Odilon Ribeiro Coutinho: Não tenho que fazer qualquer reparo porque todos falaram bem demais. a Secretaria de Cultura. passo a palavra ele. sobre os Historiadores da Paraíba. 1970. mínima. estando todos nós premiados por isso. Jomar Morais de. SOUTO. um estilo muito assemelhado a José Lins do Rego. Eudésia Vieira. Passaremos. congratulo-me com o Instituto por esta promoção extraordinária. Agradecemos o entusiástico aplauso dos consócios e participantes desta jornada. A primeira Revista saiu depois de quatro anos de sua fundação. é para me cobrar. Digo da compreensão porque ele só vive aqui. Em atenção à solicitação do companheiro Marcus Odilon. a 6ª. não é só para tomar nosso cafezinho. que o Instituto tomou a iniciativa de publicar desde o começo do ano. que tem o Empório dos Livros. José Joffily Bezerra. Imaginem nossas dificuldades para editar a Revista do Instituto. Primeiro. É preciso muita ginástica. Estão em pauta . Elpídio Josué de Almeida. Coriolano de Medeiros. 18º Tema PRESENÇA PARAIBANA NA CONQUISTA DO RIO GRANDE Conferencista: Olavo de Medeiros Filho A fala do presidente Luiz Hugo Guimarães: A Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano está encerrando hoje.Geografia e História da PB 322 Pontes da Silva. contestados até. Está encerrada a sessão.. Quero me referir ao Dr. E por aí sai.º 8. convidando-os para assistirem à palestra do historiador norte-riograndense sobre a PRESENÇA DA PARAÍBA NA CONQUISTA DO RIO GRANDE. ··· Não havendo mais inscritos para participar dos debates. dia 12 de novembro. Várias razões nos felicitam por esta concorrida solenidade demonstrativa da pujança da nossa quase centenária instituição – a Casa da Memória Paraibana. porque fizemos coincidir esta solenidade com o lançamento da plaqueta n. lembro aos presentes que a próxima sessão será a de encerramento deste Ciclo. este significativo Ciclo de Debates. em 1928. dez anos depois. reinterpretados. onde a historiografia paraibana foi esmiuçada com a exploração dos principais episódios históricos que envolveram a Paraíba nesses 500 anos de Brasil. Horácio de Almeida. dentro das celebrações do V Centenário da Descoberta do Brasil programadas pelo Governo do Estado da Paraíba. levantando desafios aos estudiosos e participantes para um exame mais aprofundado das fontes da nossa história. da Coleção de Historiadores Paraibanos. Ademar Vidal. Estamos resgatando a memória. e hoje estamos lançando o excelente trabalho de Marcus Odilon Ribeiro Coutinho sobre Manuel Tavares Cavalcanti. dos nossos primeiros historiadores. Textos antigos e novos da nossa historiografia foram reexaminados. esse prêmio que deu ao povo paraibano. 2º participante: João Batista Barbosa: Quero me congratular com o professor Guilherme d’Avila Lins por sua brilhante aula de sapiência que me enriqueceu. de forma sucinta. Hoje é o coroamento do conclave. já falecido. José Leal. apesar dos meus 87 anos. vou diligenciar no sentido de dar uma penada em favor da edição do trabalho da historiadora Natércia Suassuna. a Revista nº 4 saiu em 1912 e a 5ª? A 5ª saiu em 1922. Estamos encerrando com chave de ouro as movimentadas sessões. José Américo de Almeida. que torceram pelo êxito deste empreendimento. Vim aqui também para lembrar um nome que me parece não citado. mas que na minha opinião deu uma grande contribuição à História da Paraíba. com essa série de palestras aqui proferidas. sócio fundador deste Instituto Histórico. dezoito com esta. Desde a fundação do Instituto que é um drama. que também pertence aos quadros do Instituto de Genealogia e Heráldica. marcando mais um acontecimento no calendário das nossas atividades do ano de 1999. Já lançamos a público trabalhos sobre Maximiano Lopes Machado. e assim mesmo porque a Paraíba sediou um Congresso Nacional de Geografia. NAUFRÁGIOS NO LITORAL POTIGUAR. Desde o ano de 1535. oficializando o lançamento da plaqueta n. escritor. de interesse para a história norte-rio-grandense e paraibana. VELHOS INVENTÁRIOS DO SERIDÓ. foram concedidas em 8 de março de 1535. A expulsão dos franceses do Rio Grande. 1. A Capitania concedida a João de Barros e Aires da Cunha. por Dorgival Terceiro Neto. Olavo aborda alguns episódios ocorridos na nossa Capitania. Financiaram a referida armada João de Barros. No ano em que Natal comemora o seu quadringentésimo aniversário de fundação (23 de dezembro). havia prestado serviços no mar de Malaca e nas águas açorianas. NO RASTRO DOS FLAMENGOS. TERRA NATALENSE. sobre Manuel Tavares Cavalcanti. Olavo de Medeiros Filho é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e nosso sócio correspondente. O primeiro. o reconhecimento prestado pela terra potiguar à vizinha Paraíba. CAICÓ. O ENGENHO CUNHAÚ À LUZ DE UM INVENTÁRIO e ACONTECEU NA CAPITANIA DO RIO GRANDE. É um grande historiador.Geografia e História da PB 323 ainda. os laços históricos e geográficos entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba têm sido uma constante. foi aquela que tinha o seu início meridional na Baía da Traição (Paraíba). fidalgo da Casa Real. por Diana Soares de Galliza. Celso Mariz. Feitor da Casa da Índia e Mina. Olavo de Medeiros Filho para encerrar o Ciclo de Debates com uma palestra de alto nível. sociólogo. estendendo-se até a Angra dos Negros (Enseada de Mucuripe. no Ceará). por Waldice Mendonça Porto. Feliciano Coelho de Carvalho. autor das DÉCADAS DA ÍNDIA. CEM ANOS ATRÁS. e Padre Francisco Lima. é por termos tido a aquiescência do historiador. para proferir esta palestra a respeito da PRESENÇA PARAIBANA NA CONQUISTA DO RIO GRANDE. quando foi doada a João de Barros e a Aires da Cunha a chamada CAPITANIA DA COSTA DOS POTIGUARES. a quem passo a palavra para sua palestra sobre a PRESENÇA PARAIBANA NA CONQUISTA DO RIO GRANDE. Dr. A CAPITANIA DE JOÃO DE BARROS DA COSTA DOS POTIGUARES Com a introdução do regime das Capitanias Hereditárias no Brasil. de autoria do historiador e escritor Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. a fundação da futura cidade do Natal. Neste último livro. Aires da Cunha. portanto. com destino àquela capitania nordestina. tudo isso só foi possível. Luiz Hugo Guimarães. A seriedade de suas pesquisas lhe tem permitido analisar episódios de tal forma a promover uma verdadeira revisão de ocorrências mal interpretadas. esta palestra representa. para lançamento até o final do ano. Em novembro de 1535 partiu de Lisboa uma armada. Olavo de Medeiros Filho: (Historiador norte-rio-grandense) Muito me honra o convite formulado pelo presidente deste Instituto. graças à ajuda prestada pelo capitão-mor da Paraíba. É autor de VELHAS FAMÍLIAS DO SERIDÓ (e aí eu e o acadêmico e historiador Joacil de Britto Pereira estamos incluídos). também fidalgo. Ele traz consigo uma bagagem de publicações festejadas nos círculos intelectuais do país.º 8. ÍNDIOS DO AÇU E DO SERIDÓ. A segunda razão que nos felicita. pesquisador inveterado. cem léguas de terra ao longo do mar. o combate aos indígenas potiguares e a sua posterior pacificação. a edificação da Fortaleza dos Santos Reis. a João de Barros e Aires da Cunha. apreciando o tema PRESENÇA DA PARAÍBA NA CONQUISTA DO RIO GRANDE. historiador. inclusive. Aires da Cunha e Fernando . chegando a conclusões divergentes das estabelecidas pelos seus antecessores. pela ajuda recebida naqueles tormentosos primórdios de sua história. os historiadores: Irineu Joffily. pertencendo também a várias instituições culturais do país e do estrangeiro. Estamos. Geografia e História da PB 324 Álvares de Andrade. de Claye (1579). membros da expedição. já então aliados dos franceses. em sua maioria naturais da Bretanha e da Normandia. os franceses contariam com a ajuda de dez mil silvícolas. livr. 2. 1521. Segundo informa o referido mapa. âmbar. fios e redes do mesmo material. vitimado por um naufrágio. cereais. sendo seus principais postos Honfleur e Dieppe. que financiava navios destinados às atividades de corso e tráfico de mercadorias. Apenas o sócio Aires da Cunha viajou ao Brasil. papagaios e aves exóticas.. . crisólitos. pau-brasil e outras madeiras nobres. cabendo ao donatário João de Barros a porção meridional da donataria. negro e branco. Dali os navios rumaram para o Maranhão. línguas (intérpretes) e uma fusta a remo. que em parçaria d’Aires da Cunha e Fernand’ Álvares d’Andrade. em 1556. os franceses tinha o projeto de conquistar parte do território nordestino. no Rio Grande do Norte. inclusive os Tarairiús. os potiguares induzidos pelos franceses mataram muitos portugueses. houve a divisão da Capitania da Costa dos Potiguares. ou Pequeno. dele fazendo parte o atual Rio Grande do Norte. tentaram fundar uma colônia na foz do dito rio. até o Rio Açu. rumo ao Norte. As elevadíssimas despesas efetuadas por João de Barros. tornando-se então uma CAPITANIA DA COROA. inclusive 113 cavalarianos. tapuias moradores nas ribeiras interioranas do Ceará e Rio Grande. Os navegantes. Pelo que se depreende de um mapa elaborado por Jacques de Vaulx. todos fizemos para aquelas partes o ano de 1535 (. 1). onde ocorreu a morte do donatário Aires da Cunha. 1578). que em 10 navios conduzia 900 soldados. sob a denominação de CAPITANIA DO RIO GRANDE. como era então conhecido o território habitado por aqueles silvícolas. até o Cabo de Todos os Santos (Ponta dos Mangues Verdes. em janeiro ou fevereiro de 1536. Foi a época em que se destacaram os aventureiros Guilherme de Testu. o atual Ceará-mirim. Chegada a armada a Pernambuco. Partiram de Pernambuco. cap. por razão duma armada. na qual vieram dois filhos de João de Barros: Jerônimo (nasc. no Maranhão). minério de ouro. cujos navios viajavam ao Brasil. vindo na qualidade de Capitão-mor da referida esquadra. seguiu-lhe uma outra. ganhando também o título de Visconde de Dieppe. 1586) e João (falec. plantas medicinais. O resultado da segunda expedição foi um novo fracasso. agiam sob a proteção do rei Francisco I de França. no Ceará). ao rio Acaraú (no Ceará). que se estendia do Rio da Cruz (no Camucim. tabaco. o que não lhes foi possível ante a reação apresentada pelos indígenas potiguares. cinqüenta léguas contadas a partir da Baía da Traição. O escambo praticado entre franceses e indígenas abrangia diversos produtos nativos. no intuito de “apressar o povoamento das novas terras”. pimenta. O objetivo da jornada seria o de dar-se início ao povoamento das duas capitanias. já ocorria a presença de navios franceses no litoral brasileiro. gengibre. A COSTA DOS POTIGUARES E A PRESENÇA FRANCESA Desde o ano de 1503. a antiga capitania de João de Barros reverteu ao domínio real. macacos e sagüis. I. dos tipos cinza. Ante o fracasso daquela primeira expedição. Jean Ango viria a ser governador desta última cidade. De passagem pelo Rio Grande (Potengi). falec. traficantes e corsários vindos da França agiam na Costa dos Potiguares.. tesoureiromor deste reino. mapas. lhe custaram “muita substância de fazenda. Provavelmente em 1582. No rio Baquipé. VI. Duarte Coelho colocou à disposição de Aires da Cunha. Em 1518 começaram as atividades do armador francês Jean Ango (Angô). Com o falecimento de Aires da Cunha. apropriada para sondagens da costa. donatário de uma capitania de 65 léguas.) por quão morto me deixou o grande custo desta armada sem fruto algum” (Décadas. este último. Barre e Jacques Sore. Em 1516. Incidentalmente. óleos balsâmicos. peles de onças e de outros animais. do rio São Domingos (o Paraíba). como: algodão. tem-se conhecimento de que o principal porto freqüentado pelos franceses. finalmente. a pacificação dos indígenas potiguares e a fundação de uma cidade. este. tomando-lhes não só as fazendas mas as pessoas. ou Baquipé. frutas. distanciadas cerca de três quilômetros da sua barra. Gabriel Soares de Sousa menciona a Baía da Traição: “Nesta baía fazem cada ano os franceses muito pau de tinta e carregam dele muitas naus”. descrito como aquele “por onde os selvagens vão adquirir o Pau-do-Brasil e há quarenta léguas de caminho depois de São Domingos até a floresta”. Entre os rios Ararama (Gramame) e Abionaviajá (Abiaí). onde “entram caravelões da costa em um riacho. Manuel Mascarenhas Homem. de Glaye. que ali iam resgatar com o gentio o paude-tinta. onde entravam anualmente. Manuel Mascarenhas Homem. coincidente com o trecho do Potengi onde foi construída a Base Naval de Natal. entre o Porto dos Búzios e Itacoatiara (Ponta da Pipa). ainda existem umas ruínas arquitetônicas. onde os franceses iam carregar muitas vezes. O topônimo Refoles (ex-Nau de Refoles). no trabalho de Jacques de Vaulx. utilizada como aquartelamento e também no armazenamento de mercadorias. diversos deles casados com potiguares. no Rio Grande. Foi fundador da Cidade do Rio Grande. menciona os locais do litoral norte-rio-grandense freqüentados pelos franceses: 1. que depois receberia a denominação de Natal. onde também aportavam navios ingleses. que neste lugar se vem meter no mar”. o Rio Pequeno. “a carregar o pau de tinta com que abatia o que ia para o Reino das mais capitanias por conta dos portugueses”. a enseada de Aratipicaba (Baia Formosa). e dali saíam também a roubar os navios que iam e vinham de Portugal.. a Enseada de Tabatinga. Os dois capitães-mores desenvolveram atividades que culminaram com a expulsão dos franceses da região. carnes e outros refrescos.Geografia e História da PB 325 No que tange ao atual território paraibano. O CAPITÃO-MOR MANUEL MASCARENHAS HOMEM: DE OLINDA AO RIO GRANDE . o Porto dos Búzios. O cronista português Gabriel Soares de Sousa. a partir de abril de 1598. 5. e vendendo-as aos gentios que as comessem”. No rio Potengi. 6. a edificação da Fortaleza dos Santos Reis da Barra do Rio Grande. local de onde partia o caminho. Feliciano Coelho de Carvalho. em 25 de dezembro de 1599. A presença francesa na Capitania do Rio Grande foi encerrada com a atuação das tropas trazidas pelo capitão-mor de Pernambuco. e daqui entravam para dentro”. na foz do rio Pirangi. local penetrado pelas chalupas francesas. o Rio Grande. na Capitania de João de Barros. 4. Ao tratar do atual território paraibano. Ali eram feitos os reparos necessários nas embarcações. “ancoravam nos tempos passados naus francesas. e pelo capitão-mor da Paraíba. a Enseada de Itapitanga (Pitininga). correspondia à opulenta mata banhada pela bacia hidrográfica do rio Paraíba. objeto das permutas efetuadas entre franceses e potiguares. 3. Faz ele também referência ao rio São Domingos (o Paraíba).. “onde também há surgidouro e abrigada para navios em que detrás da ponta costumavam ancorar naus francesas e fazer sua carga de pau-brasil. 2. e. que no nosso entender teriam sido de uma antiqüíssima casa-forte francesa. A chamada “Floresta onde se pega o Brasil”. do traficante francês Jacques Riffault. lembra a presença naquele local. “onde dos arrecifes para dentro entram naus francesas e fazem sua carga”. Segundo Frei Vicente do Salvador. Através de antigos relatos. ou Potengi. chegado à barra do Potengi em 25 de dezembro de 1597. No Porto dos Búzios existia uma grande concentração de franceses. era o rio Potengi. “as quais são das naus que se recolhem na enseada de Itapitanga”. figura a Baía de São Domingos. 3. obtinham-se provisões de água. em seu TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL – 1587. depois denominado Ceará-mirim. os “franceses iam comerciar com os potiguares. . que enviasse à Conquista do Rio Grande o capitão-mor de Pernambuco. Segundo o ÍNDICE DE DOCUMENTOS RELATIVOS AO BRASIL. em sua JORNADA DO MARANHÃO. por Carta Régia de 9 de novembro de 1596. Frei Vicente do Salvador informa que a tropa partiu das fronteiras da Paraíba (Baía da Traição) em 17 de dezembro de 1597. além de uma outra companhia da Paraíba. Da Paraíba partiu a armada. de 15 de março de 1597. “Mascarenhas também recebeu ordem para nomear. § um cruzado de tributo sobre cada caixa de açúcar. Felipe de Espanha (I de Portugal). seu irmão Jorge de Albuquerque e Antônio Leitão Mirim. três companhias “de gente de pé” comandadas pelos capitães Jerônimo de Albuquerque. Foram obtidos recursos. Governador do Estado do Brasil. conduzindo Manuel Mascarenhas Homem. Francisco Camelo. partiram por terra da Paraíba com Feliciano Coelho de Carvalho. PERTENCENTES AO ARQUIVO NACIONAL DE LISBOA. Francisco de Sousa. foram objeto de descrição por parte do franciscano Frei Vicente do Salvador e do padre Pero Rodrigues. Outra Carta Régia. os sobejos dos dízimos. Vieram com Feliciano Coelho de Carvalho os quatro capitães e suas companhias da gente de Pernambuco. que se carregava naquele porto. Frei Bernardino. além de uma companhia de cavalos capitaneada por Manuel Leitão. almirante. trezentos “homens de espingarda”. novecentos frecheiros indígenas. jesuíta. especialmente comprada para participar da Jornada do Rio Grande. perito no idioma brasílico. de quem deveria obter reforços de homens e armamentos para a campanha. Nela vieram os jesuítas Gaspar de Samperes e Francisco de Lemos. como um efeito deu”. João Pais Barreto. Muitos particulares também contribuíram. assim como os franciscanos Bernardino das Neves e João de São Miguel. também ocorreram reparos. Acompanhavam também a tropa 90 frecheiros de Pernambuco e 730 tabajaras da Paraíba. O Governador Geral Dom Francisco de Sousa encarregou-se do provimento da Jornada do Rio Grande. totalizando 178 “homens de pé e de cavalo”. Manuel Mascarenhas Homem. havendo um deles que às suas custas gastou dez mil cruzados na Jornada. relacionados com a vinda ao Rio Grande da expedição que pretendia a expulsão dos franceses. § § todo o dinheiro que estava recolhido dos defuntos e ausentes. determinava a Manuel Mascarenhas Homem. em Pernambuco foram feitos reparos em uma nau francesa. que foi ter à Bahia de Todos os Santos. e dar cargos e ordenados. onde embarcaria o capitão-mor Manuel Mascarenhas Homem. Os episódios ocorridos. O padre Gaspar de Samperes era profundo conhecedor das técnicas de engenharia e arquitetura. cinqüenta “homens de cavalo”. que procurasse a ajuda do capitão-mor da Paraíba. provenientes das seguintes fontes: § 12 mil cruzados em dinheiro da nau da Índia. § os direitos dos escravos de Angola. cujo capitão era Miguel Alves Lobo. De Pernambuco seguiram com Manuel Mascarenhas Homem para a Paraíba. Segundo o padre Pero Rodrigues. Feliciano Coelho de Carvalho. seguindo a mesma para o porto da Paraíba. O percurso Pernambuco-Paraíba foi realizado por terra. Era Capitão-mor da armada Francisco de Barros Rego. Antônio da Costa Valente. que transportava as munições e os apetrechos de guerra. Pero Lopes Camelo e Manuel da Costa Calheiros. ordenou a D. Na nau “Nossa Senhora da Boa Viagem”.Geografia e História da PB 326 D. além de muita escravaria de Guiné. tornando-a em condições de viajar ao Rio Grande. providência de que nos dá notícia Diogo de Campos Moreno. e por capitães dos outros navios. Na Bahia foi preparada uma armada de 6 navios e 5 caravelões. quais lhe bem parecesse. (161. Informa Pero Rodrigues. entrou a armada à tarde guiada pelos marinheiros dos caravelões que o tinham sondado”. os portugueses divisaram a presente de sete naus francesas.8 m). o Mangue e o Cardo Grande. invasora do Potengi. Um mapa de autoria de João Teixeira Albernaz. vinham 400 homens. e fazia parte de um conjunto de médãos. verificou-se a presença do mal de bexigas no arraial de Feliciano.7 m). . ocorrendo uma intensa mortandade. Na mesma gravura figuram ainda uma cruz (indicativo da existência de uma igreja). contados da entrada da fortaleza. encontrada pelo historiador José Gonsalves de Mello no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal). As edificações compunham o Arraial e ficavam em área próxima ao atual Círculo Militar de Natal. para juntar-se a Mascarenhas Homem. publicado em 1631 e pertencente à mapoteca do Itamaraty. distância equivalente a 165 metros. que a armada penetrou pela barra do Rio Grande no dia de Natal. que logo no dia seguinte. Em que ponto do Potengi teria ocorrido o desembarque? Obviamente no mesmo local onde ocorreria. tendo ido dois caravelões “descobrir o rio. Depois de quatro ou cinco dias de jornada. menciona a existência defronte à fortificação. Jerônimo de Albuquerque embarcou em um caravelão e foi ter ao Rio Grande. o Pedra Verde. “ali desembarcaram e se entrincheiraram de varas de mangues pera começarem a fazer o forte e se defenderem dos potiguares”. após partiremlhes as cabeças! O gentio tendo adquirido a varíola. tarefa que levaria alguns meses para conclusão. pelo chantamento de um marco ou padrão de pedra. intitulada “Perspectiva da Fortaleza da Barra do Rio Grande”. de autoria de Commelyn. 26 de dezembro. Informa a carta do padre Pero Rodrigues. acha-se representado um “médão de areia. 25 de dezembro de 1597. a qual erguia-se a uma altura de 60 pés (19. Pretendia Feliciano Coelho ir destruindo as aldeias encontradas pelo caminho até chegar ao Rio Grande. no Rio de Janeiro. o Assento de Pássaro. focaliza a armada holandesa ancorada na barra do riacho que provém da antiga Lagoa do Jacó. Feliciano regressou à Paraíba e as tropas pernambucanas à sua terra. O ARRAIAL DA BARRA DO RIO GRANDE Informa a carta do padre Pero Rodrigues. o velho. no bairro das Rocas.6 m). o desembarque da armada holandesa. Frei Vicente do Salvador esclarece que a armada chegou pela manhã. sofreu uma mortandade que ceifou cerca de 2/3 de sua população. por detrás do qual foi edificado o arraial. distante da fortificação 73 braças e meia”. os potiguares seguiram as tropas simuladamente. 4. Ainda. Uma gravura holandesa intitulada “Verovinge van Rio Grande in Brazil Anno 1633”..Geografia e História da PB 327 com seus principais: o Braço de Peixe. O referido médão estendia-se por 67 braças de comprimento (149. trinta e seis anos depois. Defronte a esta. representando o Assédio do Rio Grande. Como sabemos. no porto hoje conhecido como Canto do Mangue. Uma gravura portuguesa. apresentando uma largura de 48 pés (15. distava apenas 1. a “casa do tenente” e um padrasto (duna).300 metros do pontal onde seria construída a pretendida fortaleza. intitulado RIO GRANDE. cujos moradores fugiam amedrontados. de 14 velas. não sendo perseguidas devido ao adiantado da hora.84 m).3 m. que se retirando Feliciano Coelho de Carvalho para a sua terra. que levava dez a doze pessoas diariamente! Ante a epidemia. o qual distava um pouco além de 311. essa operação possessória era representada. devorando os cadáveres. à época.. À frente da tropa seguiam espias e corredores queimando algumas aldeias. traça uma descrição da região onde foi construída a fortaleza. as quais fugiram. de um “padrão de areia a 100 passos da fortaleza”. o qual descoberto e seguro. de 1609. O porto fluvial utilizado para desembarque da armada de Mascarenhas. segundo Frei Vicente do Salvador. tomaram os portugueses posse da terra. Houve aldeia em que morriam cem pessoas por dia! Quando a armada passava à altura do Porto dos Búzios. Na armada. ou arenito. deixando-a muito bem fornecida “de gente. Informado de que a aldeia dos potiguares. de 30 arcabuzeiros cada uma. homem versado em engenharia e arquitetura. No dia seguinte Mascarenhas Homem foi visitar Feliciano. mantimentos e tudo o mais”.. . “tomando-lhe homenagem como se costuma”. como geralmente ocorria à época. munições. e a já mencionada “Verovinge van Rio Grande in Brazil Anno 1633”. exparticipante da milícia. muito juntas. torna-se óbvio que o entrincheiramento feito de varas de mangues. Antônio do Poço e José Afonso Pamplona.. Serviam de intérpretes Francisco Barbosa. Finalmente. procuraria isolar a área de possíveis ataques dos indígenas e seus aliados franceses. os portugueses após o desembarque. Observandose as condições geográficas do local onde foi erguida a fortaleza. Manuel Mascarenhas Homem entregou a fortificação a Jerônimo de Albuquerque. onde morara anteriormente o chefe Potiguaçu. que corresponde ao revestimento das muralhas de taipa com pedras de silharia. ainda se achava retratado o velho arraial Mascarenhas Homem. que puderam. à época denominado de entulho. indica ter havido um engano por parte do historiador franciscano: o agraciado com a nomeação para Capitão da Fortaleza do Rio Grande fora João Rodrigues Colaço. naquele dia 24 de junho. Pelo caminho encontraram apenas aldeias evacuadas pelos seus moradores índios. Em gravuras holandesas. Durante cerca de trinta anos a fortaleza recebeu melhoramentos. e duas “de pé”. composto de rústicas choupanas e onde moraria o pessoal envolvido no processo de edificação da fortaleza. com vistas ao término das obras da fortaleza. Serviu de alicerce a própria rocha. Documentação posteriormente encontrada. 5. por causa dos contrários”. o capitão-mor constatou que a aldeia. uma delas intitulada”Afbeeldinghe van t’Fort op Rio Grande ende Belegeringhe”. Ali chegando. No interior da área isolada pela cerca. indo dormir na antiga aldeia do Camarão. Ficou resolvido que a companhia de cavalo vinda da Paraíba e a gente do chefe indígena Braço de Peixe trabalhariam um dia e Antônio de Valadares com a gente do Assento de Pássaro outro dia seguinte.. incluída no livro de Laet. teve início o assentamento de um Arraial. resolveu Feliciano Coelho de Carvalho chegar à dita aldeia de surpresa. A FORTALEZA DOS SANTOS REIS DA BARRA DO RIO GRANDE A construção da Fortaleza dos Santos Reis da Barra do Rio Grande foi iniciada no dia de Reis. grande e fortemente cercada. natural do reio de Valência. ocasião em que trataram sobre as providências que deveriam ser adotadas. conduzindo consigo uma companhia de 24 homens “de cavalo”. era aquela onde morava o principal Potiguaçu – distanciada apenas uma légua da fortaleza -. “com muita paz e amizade”. que caiu numa terça-feira. No dia seguinte os dois capitães-mores partiram para as suas capitanias. Mascarenhas Homem acabou a fortaleza. “se entrincheiraram com a maior pressa. 6 de janeiro do ano de 1598. “porque tinham ainda grandes entulhos e outros serviços para fazer”. inclusive um processo de “encamisamento”. há duas menções ao Arraial. O pessoal vindo da Paraíba ficou alojado naquela aldeia abandonada. resistindo à “concorrência” representada pela Cidade do Natal!. representada por uma “lájea banda”. partiu da Paraíba com destino ao Rio Grande o capitão-mor Feliciano Coelho de Carvalho. que viriam por terra pelo rio Potengi. Segundo Frei Vicente do Salvador. de onde partiam os ataques ao pessoal de Mascarenhas Homem. a 30 de março de 1598.Geografia e História da PB 328 No relato do padre Pero Rodrigues. do outro lado do Potengi. Na carta do padre Pero Rodrigues. artilharia. se ocupariam dos trabalhos Miguel Álvares Lobo com os indígenas do Pedra Verde. Foi autor da traça da fortificação o padre jesuíta Gaspar de Samperes. no dia 24 de junho de 1598. Finalmente.. Segundo Frei Vicente do Salvador. fora despejada pelos seus moradores. no terceiro dia. das quais eram capitães Antônio de Valadares e Miguel Álvares Lobo. Inicialmente eram colocadas grossas vigas de madeira. sendo em seguida aplicado um espesso forro de barro. O material empregado na edificação da fortaleza foi a taipa. Seguiram também 350 indígenas com seus principais. Travou-se então uma batalha na praia. muito esclarecedoras. saindo todos ilesos. movida contra os potiguares da Paraíba. . No combate foi ferido no pescoço com uma frechada o capitão Rui de Aveiro. promovido um encontro indígena com os seus companheiros.. que desceu o rio em uma jangada de juncos. assumiu a sua freguesia do Rio Grande em 24 de junho. alegando já haver apaziguado os indígenas.. Pero Rodrigues descreve que dez ou doze dias depois da chegada dos portugueses ao Rio Grande. foi encerrada com o tratado de pazes. aprisionado pelos portugueses: o padre Francisco de Lemos informou aos potiguares que o referido maioral estava vivo. as muralhas podem ter 9 ou 10 palmos de espessura e são dobradas tendo o intervalho de barro”. 7.. Duas vezes mais. a segunda. Vinte soldados. Eram os potiguares de Surupiba. João Rodrigues Colaço. Um dos batéis logrou escapar da cilada. firmado na Felipéia em 11 de junho de 1599. em todo o Estado do Brasil. foram em dois batéis cortar mangues em uma enseada. 6. Através daquela “RELAÇÃO”. cujas vidas foram poupadas. impostas pelo estado de beligerância. na qual foi aprisionado Mar Grande juntamente com oito companheiros. nos fornecem minuciosas informações sobre a reação dos indígenas potiguares à presença portuguesa no Rio Grande.. com o cabo Bento da Rocha. Podemos dividir essa guerra dos potiguares em duas fases: a primeira delas. A REAÇÃO DOS POTIGUARES À PRESENÇA PORTUGUESA NO RIO GRANDE A carta do padre Pero Rodrigues.Geografia e História da PB 329 Adianto Verdonck. Frei Vicente do Salvador descreve o episódio envolvendo o índio Surupiba. com vinte mil indígenas. e outros que ali estavam casados com mulheres potiguares.. trazendo dois mil frecheiros indígenas. com propostas de paz. Na ocasião Mar Grande “começou de pregar aos seus que dali por diante não lançassem mais mão dos arcos nem espadas contra portugueses”. A carta do padre Pero Rodrigues descreve aquelas festividades religiosas. já pacificados quando da partida dos padres Gaspar de Samperes e Francisco Pinto em 19 de abril de 1599. sobre a origem da Freguesia do Rio Grande. celebradas com as limitações naturais. coincidente com os dias 15 a 22 de março. datada de 19 de dezembro de 1599 do Colégio da Bahia. o que foi aceito por alguns deles. quando Manuel Mascarenhas Homem empossou o primeiro capitão da Fortaleza do mesmo Rio Grande. Recomendou também que os outros principais viessem falar com os padres. Frei Vicente esclarece o caso: em uma madrugada chegaram os indígenas. dando então aviso ao outro. Os atacantes realizaram um assédio à cerca. inclusive. tendo. que cinqüenta franceses arcabuzeiros. que vinho a caminho de entregar-se. Francisco de Sousa em 3 de fevereiro de 1598. não tiveram êxito em seu empreendimento bélico. Foram-lhe então dados vestidos e outras cousas para serem entregues ao seu povo. vendo-se então cercados pelos indígenas. provido pelo Governado Geral D. Na igrejinha do Arraial comemorou-se a Quaresma e a Semana Santa de 1598. que aguardavam a maré baixa para atacar os portugueses. verifica-se que o padre Gaspar Gonçalves Rocha. O Licenciado Ambrósio de Siqueira era o Ouvidor-geral e Provedor-mor da Fazenda de sua Majestade. Informaram eles aos portugueses. contra os potiguares do Rio Grande. esta última. espião holandês. A FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO DO RIO GRANDE Na “RELAÇÃO DE AMBRÓSIO DE SIQUEIRA (1605) DA RECEITA E DESPESA DO ESTADO DO BRASIL” constam algumas informações. Voltemos ao silvícola Mar Grande. e o relato de Frei Vicente do Salvador. Segundo o padre Pero Rodrigues. planejavam atacar o arraial. espantados os atacantes com o troar da artilharia que defendia o arraial. acompanhados dos cinqüenta franceses que haviam ficado nas naus do porto dos Búzios.. em 1630 descreveu as muralhas da Fortaleza dos Santos Reis Magos: “. Surupiba mandou pedir novos presentes. ferindo a muitos defensores com pelouros e frechas que atiravam por entre as varas. o maioral Mar Grande veio combater os recém-chegados. Geografia e História da PB 330 Depois desse episódio sucederam ainda outros assaltos dos potiguares ao arraial. Na JORNADA DO MARANHÃO. o padre Samperes combinou com Jerônimo de Albuquerque (sic). feitas as pazes com os potiguares do Rio Grande. “principal e feiticeiro”. e muitas de ferro coado. A PACIFICAÇÃO DOS POTIGUARES De Pernambuco viajou o capitão-mor Manuel Mascarenhas Homem à Bahia. de Diogo de Campos Moreno. Ficou difícil a obtenção de água. um plano para obterem a desejada paz com os potiguares da Paraíba. Declarou Camarão. viajaram os padres e o capitão-mor para o Rio Grande.06. na qual foram mortos e cativos mais de 1. que governava a Fazenda Real em Portugal”. “assim como chegavam do Reino”. “dos melhores línguas desta província. atacou ele as choupanas em que os potiguares estavam já comerciando com os franceses. Tendo ali chegado. que vinha cuidar da pazes. O padre Pero Rodrigues esclarece que a tudo isto se acharam presentes Mascarenhas Homem e o capitão da fortaleza.1598. com um urca do reino mandada por Sua Majestade. Reunindo todo o pessoal de cavalo disponível. Finalmente chegaram as tropas dos dois capitães-mores às fronteiras da Paraíba (Baía da Traição). Os indígenas eram orientados pelos franceses. os paraibanos realizavam sortidas contra aldeias inimigas. Da primeira aldeia visitada por Ilha Grande. galinha e outros mantimentos que Pero Lopes Lobo. Vez por outra. com artilharia. e mandá-lo tratar das pazes com os seus parentes. aportou um barco vindo da Paraíba com refrescos de vitela. lhe enviou. . região onde eram maiorais o Pau Seco e Zorobabé. comidas. ocasião em que se dirigiu a Pernambuco. seria o de soltarem o índio Ilha Grande. Segundo o relato do Frei Vicente do Salvador. a respeito da pretendida pacificação dos potiguares. Despedindo-se Mascarenhas Homem do colega Feliciano. que não renunciavam ao controle exercido sobre os seus aliados. informa-se que. João Rodrigues Colaço. lançando gente em terra. Depois da chega de Feliciano Coelho de Carvalho. Os sitiados “escassamente podiam ir buscar água para beberem a uns poçozinhos que tinham perto da cerca. Em uma delas foram mortos mais de 400 potiguares e cativos 80. trinta soldados arcabuzeiros e muitos índios. O plano traçado deu bons resultados. Quatro dias depois foi a vez de uma outra aldeia. nas quais vieram “nove peças de alcance de bronze. Sua Majestade também enviou duas grandes urcas. pois muitos chefes indígenas procuraram a fortaleza. em 25. o concurso do padre Francisco Pinto. e por tal conhecido a cessão do padre Samperes. Então compareceu “o maior de toda aquela comarca. Francisco de Sousa. trataria do que a ele e aos seus pertencia no negócio da salvação”. foram bens descritos por Frei Vicente do Salvador. em cujo combate tombaram 150 potiguares. por nome o “Camarão Grande” (Potiguaçu). O plano aludido foi Frei Vicente do Salvador. Obteve do padre Pero Rodrigues. devido ao contínuo cerco exercido pelos potiguares. vinhos. e que “depois delas feitas. Na ocasião desesperadora chegou Francisco Dias de Paiva. que hoje parece coisa incrível”.500 indígenas. 8. Seis dias depois da partida do Rio Grande foi atacada a primeira aldeia potiguar encontrada. que no porto dos Búzios achava-se surta uma nau francesa. que o criou. Em seguida. e não Jerônimo de Albuquerque. no Recife. ainda restava fazê-las com os moradores do sertão de Copaoba. e essa muito ruim”. Alexandre de Moura mandava ao Rio Grande todos os navios de provimentos. amo do capitão-mor. Os episódios ocorridos depois da partida dos capitães-mores Manuel Mascarenhas Homem e Feliciano Coelho de Carvalho para as sua capitanias. Foram mortos treze e aprisionados sete indígenas e três franceses. “pela diligência e zelo do Conde Meirinho Mor. Pelo pessoal do barco soube Mascarenhas Homem. loco-tenente do capitão-mor Feliciano. saíram então emissários às demais aldeias do litoral paraibano e de Copaoba. azeites. armas e comida. no Colégio Jesuíta da Bahia. o padre Pinto enviou recados aos chefes indígenas do Rio Grande para que viessem se encontra com ele. a fim de tratarem de pazes. onde manteve entendimentos com o governador geral D. com tantas munições. munições e outros provimentos para o forte que se fazia. Segundo a carta de Pero Rodrigues. Nas aldeias visitadas o Pe. que sucederia a Mascarenhas Homem no governo de Pernambuco. Para lá foi enviado o Mar Grande. chegou Mascarenhas à Cidade do Rio Grande. obra de meia légua da fortaleza. Partiram aos 19 de abril de 1599. em linguagem escorreita. o que ocorreu no dia 25 de dezembro de 1599. chegaram à Filipéia de Nossa Senhora das Neves. este último era conduzido em uma rede. terçãs. chegou às mãos daquele capitão-mor de Pernambuco uma carta que foi enviada pelo ex-capitão-mor da Paraíba. uma narrativa da fase colonial esclarecedora dos episódios. Este presenteou o indígena com uma roupeta e uma cruz de comenda. naquela Felipéia. por iniciativa de Manuel Mascarenhas Homem. desde o século XVI. provedor. Frei Bernardino das Neves. Quase dois anos decorridos daquela fundação. capitão-mor de Pernambuco. onde foi muito bem acolhido por Mascarenhas Homem e João Rodrigues Colaço... Ficou então combinado. ali moradores.. local que nos parece coincidir com o sítio histórico onde seria fundada a cidade. Aos 11 de junho de 1599.Geografia e História da PB 331 região hoje correspondente ao Brejo da Paraíba. por sugestão do indígena. com os oficiais da Câmara e os capitães locais. febres contínuas. Finalmente chegaram à aldeia Pau Seco. na atual praça André de Albuquerque e arredores. Natal). Capitão-mor da Conquista do Rio Grande. Manuel Mascarenhas abalou-se em socorro de Feliciano. Depois de cerca de 15 dias de viagem. que se não fosse socorrido com a possível brevidade. onde ficaram acomodados. Após 7 dias de viagem. por coincidência no mesmo dia em que ali também chegavam os capitães portugueses que haveriam de participar do tratado de pazes. Ficou acertado que os principais de Copaoba acompanhariam os padres à Paraíba para cumprir as pazes. foram celebradas as pazes com as solenidades de direito. do que resultou a vitória do partido português. dos quais quinze ou vinte eram principais. Feliciano Coelho de Carvalho. Às vezes. ENCERRAMENTO A fala do Presidente: Agradecemos ao ilustre conferencista por seu excelente trabalho. dos silvícolas a figura principal era o Pau Seco. quarenta ou cinqüenta indígenas. Pau Seco dirigiu-se à fortaleza. à frente de uma tropa composta de 400 portugueses e 3. estando presentes os indígenas cristãos Braço de Peixe e seu filho Braço Preto. em companhia dos padres Francisco Pinto e Gaspar de Samperes. que o mesmo iria a Copaoba. os jesuítas Gaspar de Samperes e Francisco Pinto. travando então combate com os potiguares levantados. tornou-se possível a fundação da Cidade do Rio Grande (hoje. Samperes. Pedra Verde e um outro maioral. Chegou ele a uma aldeia de um seu parente. Pau Seco atendeu aos apelos do padre Pinto. Partiram os padres da aldeia do Pau Seco no dia 23 de maio de 1599. que foi colocada no peito. acompanhado pelo jesuíta. tendo enviado um recado ao jesuíta para que este fosse àquela aldeia. perfeito e bem acabado. Pinto pregava aos índios. vinculam a Paraíba ao Rio Grande do Norte. o capitão Alexandre de Moura. servindo na ocasião de intérprete oficial para a cerimônia. dos potiguares trazidos do Rio Grande e da Copaoba. Na aldeia os jesuítas haviam contraído doenças: o padre Pinto. . informando encontrar-se o Rio Grande.000 indígenas. As pazes foram pregoadas na vila de Pernambuco. por não poder caminhar.. Feliciano Coelho de Carvalho. trinta léguas pela terra a dentro. capitão-mor da Paraíba. Depois de manter os primeiros contatos com o padre Francisco Pinto. Com a pacificação celebrada na Filipéia. Obrigado pela atenção. Esta ficada em um alto. el-rey perderia a cidade e todos eles a vida. que. adiantando mais. Foi este o último episódio registrado pela história. os capitães da Ilha de Itamaracá. Braz de Almeida. pelo final de outubro de 1601. cercado pelos potiguares sublevados. com o intuito de pacificaram os potiguares. estando presentes Manuel Mascarenhas Homem. relacionado com o ex-capitão-mor da Paraíba com o Rio Grande. Guilherme d’Avila Lins e Luiz Hugo Guimarães. Aos demais expositores. que o povo potiguar vem comemorando desde o ano passado com a construção da Fortaleza dos Reis Magos. Todavia. faremos a entrega do Diploma ao consócio Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares. Aos debatedores. Foram expositores dos diversos temas os seguintes historiadores. Como coroamento do conclave teremos a satisfação de entregar-lhes um Certificado de sua participação. Transmita. ainda pela mesma razão. a quem eu tenho a honra de passar-lhe às mãos o seu Diploma como expositor. como é o caso do ilustre companheiro. peço que se considerem recebedores dos seus Diplomas. que para lá foi com nossa gente. Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. professora da UNIPÊ. o registro do nosso regozijo pela efeméride que vocês vêm comemorando com grandes realizações culturais. com a apresentação do confrade Joacil de Britto Pereira. Guilherme d’Avila Lins. Aos participantes. Cumpre-me agradecer a todos os expositores. É oportuno comunicar-lhe. podemos dizer. E o faremos. pela mesma razão. Martha Maria Falcão. faremos a entrega do diploma ao participante mais idoso e que teve freqüência CEM PORCENTO. caro confrade Olavo de Medeiros Filho. Waldice Mendonça Porto. por exemplo. Waldice Mendonça Porto. iniciando pelo último expositor. Dorgival Terceiro Neto. que o Rio Grande estava conquistado com o apoio de Feliciano Coelho de Carvalho. Nossos Institutos Históricos. Serviram como debatedores: o historiador Luiz de Barros Guimarães e a professora Zilma Ferreira Pinto. Chefe do Departamento de História da UFPB. José Octávio de Arruda Mello. Fátima Araújo. Joacil de Britto Pereira. os quais lhes serão entregues logo após a sessão. o consócio WILSON NÓBREGA SEIXAS. da Universidade Federal da Paraíba. aos seus pares do valoroso Instituto do Rio Grande do Norte. e os seguintes membros do Instituto Histórico: Aécio Villar de Aquino (falecido posteriormente). homenageando o mais antigo. mantêm um relacionamento de grande intercâmbio e cordialidade. e os associados do IHGP Wellington Aguiar. Manuel Batista de Medeiros. professora Inês Caminha Lopes Rodrigues. Quando Manoel de Mascarenhas entregou a Jerônimo de Albuquerque o forte acabado. Eurivaldo Caldas Tavares e Luiz Hugo Guimarães. Wilson Nóbrega Seixas. José Elias Borges Barbosa. que dentro da nossa Coleção de Historiadores Paraibanos. e lá vivem muitos conterrâneos. que é nosso sócio correspondente. Aécio Villar de Aquino. pela ordem de apresentação: Regina Célia Gonçalves. simbolizando o grupo de expositores faremos a entrega ao nosso historiador mais antigo. Carlos André Macedo Cavalcanti. que esta solenidade marca também o nosso regozijo da Paraíba pela passagem do IV Centenário da Fundação da Cidade de Natal. Rosa Maria Godoy Silveira. havendo mesmo um entrelaçamento de sócios que pertencem às duas agremiações culturais. . debatedores e participantes inscritos pelo seu desempenho durante nossas sessões de debates. historiador e jornalista João Batista Barbosa. Diana Soares de Galliza. Hélio Nóbrega Zenaide. Vários paraibanos influíram na vida política e social do Rio Grande do Norte. do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. governador da nossa Capitania. Esta sessão foi glorificada ainda mais pelo lançamento da plaqueta de autoria do nosso consócio Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. Humberto Cavalcanti de Mello. o historiador OLAVO DE MEDEIROS FILHO.Geografia e História da PB 332 Essas vinculações continuaram durante o Império e a República. devendo os demais recebê-los após a sessão. caro consócio Olavo. jornalista e acadêmico Luiz Gonzaga Rodrigues. Diretor de Cultura da Fundação Espaço Cultural. Joacil de Britto Pereira. nos apresentou seu trabalho abordando a vida e obra do historiador Manuel Tavares Cavalcanti. Grão Mestre Edgard Bartolini Filho. . com grande contentamento.Geografia e História da PB 333 Finalmente. convidamos os presentes para um coquetel de confraternização. oferecido pelo escritor Marcus Odilon Ribeiro Coutinho e sua esposa Dra. Com os meus agradecimentos pela presença das autoridades. no salão da Biblioteca Irineu Pinto. dou por encerrada esta sessão solene. confrades e convidados. Ana Lúcia Ribeiro Coutinho.
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