GALLO, Silvio. Filosofia. 1a Serie
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1- a FILOSOFIA SÉRIE ENSINO MÉDIO Capa_Filosofia FINAL.indd 4 09/11/16 19:23 FILOSOFIA Silvio Gallo COMO PENSAMOS? 1 Filosofia: o que é isso? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 O pensamento filosófico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4 A filosofia e o pensamento conceitual . . . . . . . . . . . . . . .6 A filosofia e suas origens gregas . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 Filosofia e opinião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10 2 Filosofia e outras formas de pensar . . . . . . . . . . . . . 14 Filosofia e mitologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 Filosofia e religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16 Filosofia e senso comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 Filosofia, arte e ciência: as potências do pensamento . .20 3 A ciência e a arte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Ciência: método e conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . .25 Arte: o ser humano como criador . . . . . . . . . . . . . . . . .34 Arte, produção e indústria cultural. . . . . . . . . . . . . . . . .35 As três potências do pensamento . . . . . . . . . . . . . . . . .37 A filosofia na história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Um diálogo com história e sociologia . . . . . . . . . . . . 45 2137645 (PR) Book_SESI1_FIL_MOD1.indb 1 09/11/16 13:12 MÓDULO Como pensamos? Na Grécia antiga, em meio à intensa vida cultural, política e comercial das poleis, nasce a filosofia, uma forma de pensar conceitualmente o mundo e responder a problemas diversos de modo racional. Uma vez que a religião, o mito e o senso comum não mais forneciam respos- tas satisfatórias, os primeiros filósofos buscaram uma explicação, pautada em critérios claros, demonstrativos e não dogmáticos, para as curiosidades cos- mológicas, físicas e antropológicas do seu tempo. A relação da filosofia com outros saberes é um dos traços mais fortes de sua história. Na Idade Média, por exemplo, Agostinho e Tomás de Aquino aproxi- maram a teologia cristã da filosofia; na modernidade, Galileu, Bacon e Newton investigaram na filosofia, na física e na ciência nascente o método perfeito. As artes também constituem outro ponto de convergência para os interes- ses filosóficos. Com os pensadores da teoria crítica, como Benjamin e Ador- no, veremos como a arte, sob o ponto de vista filosófico e histórico, teve sua produção e fruição modificadas pelo desenvolvimento de meios técnicos e tecnológicos num contexto capitalista, a que denominam indústria cultural. VI a.C.-V a.C. IV a.C. IV d.C. XIII XVI Mileto Mileto Mileto Samos Cólofon Éfeso Eleia Mileto Eleia Crotona Atenas Abdera Atenas Estagira Hipona (Argélia) Aquino (Itália) Polônia Itália Inglaterra TALES ANAXIMANDRO ANAXÍMENES PITÁGORAS XENÓFANES HERÁCLITO PARMÊNIDES LEUCIPO ZENÃO FILOLAU SÓCRATES DEMÓCRITO PLATÃO ARISTÓTELES AGOSTINHO TOMÁS COPÉRNICO GALILEU BACON Book_SESI1_FIL_MOD1.indb 2 09/11/16 13:12 GIRAUDON/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/ KEYSTONE/COLEÇÃO PARTICULAR REFLETINDO SOBRE A IMAGEM O império das luzes, pintura de Rene Magritte, de 1949. Por que essa imagem provoca tanta estranheza ao primeiro olhar? Dia e noite, céu claro e rua escura... Alguma coisa não está correta... Essa es- tranheza nos força a pensar. É esse mesmo tipo de estranheza e espanto frente ao mundo que provoca a filosofia. Um pensamento inquieto, que não se conforma com respostas prontas e está sempre enfrentando os problemas que nos fazem pensar. Perguntas e desafios: é disso que vive a filosofia. www.sesieducacao.com.br XVII XVIII XIX XX XXI Inglaterra França Inglaterra Inglaterra Alemanha Alemanha Itália Alemanha Alemanha Alemanha Bélgica Áustria França França França França Tunísia HOBBES DESCARTES LOCKE NEWTON KANT NIETZSCHE GRAMSCI BENJAMIN HORKHEIMER ADORNO LÉVI-STRAUSS FEYERABEND DELEUZE FOUCAULT GUATTARI COMTE- -SPONVILLE LÉVY Book_SESI1_FIL_MOD1.indb 3 09/11/16 13:12 EVERETT COLLECTION/KEYSTONE “Tô Tô bem de baixo pra poder Tô iluminado subir Pra poder cegar Tô bem de cima pra poder cair Tô ficando cego Tô dividindo pra poder sobrar Pra poder guiar Desperdiçando pra poder faltar Devagarinho pra poder caber Suavemente pra poder rasgar Bem de leve pra não perdoar Olho fechado pra te ver melhor Tô estudando pra saber ignorar Com alegria pra poder chorar Eu tô aqui comendo para Desesperado pra ter paciência vomitar Carinhoso pra poder ferir Lentamente pra não atrasar Eu tô te explicando Atrás da vida pra poder morrer Pra te confundir Eu tô me despedindo pra poder Eu tô te confundindo voltar Pra te esclarecer ZÉ. olho fechado para ver melhor. 4 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. na- quilo que acontece a nossa volta.. ou como no poema de Carlos Drummond de Andrade: “tinha uma pedra no meio do caminho”. São Paulo: Publifolha. lentamente para não atrasar. É nesse momento que pensamos. sem pensar muito naquilo que fazemos. no Guia do Professor.indb 4 09/11/16 13:12 . John Keating (Robin Williams). É essa “pedra” que nos faz parar. o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo. É como se. Algo nos faz parar e pensar. é ela que nos atrai a atenção. gregas da Filosofia desesperado para ter paciência. Cena do filme Sociedade dos Poetas Mortos. pensamos quando nos deparamos com um problema. CAPÍTULO 1 Filosofia: o que é isso? Veja. alguma coisa nos chama a atenção. Objetivos: COLOCANDO O PROBLEMA c Compreender a Filosofia como O pensamento filosófico atividade conceitual do Se pararmos para ouvir a canção “Tô”. de Tom Zé. com alegria para poder chorar. ao colocar em jogo uma série de situações aparentemente c Identificar as origens incongruentes: carinhoso para poder ferir. Como na canção de Tom Zé. Dizendo de outra maneira. no dia a dia. 2003. viveremos uma genuína experiência filosófica. 188. Alguma coisa está estranha. pois acontece quando somos tirados do lugar-comum. de 1989. os alunos da tradicional escola Welton Academy irão passar por uma experiência de pensamento e de enfrentamento de problemas da qual jamais se esquecerão. Tropicalista lenta luta. Com a chegada do estranho professor de Literatura. pensamento A letra da canção nos estimula a pensar. dirigido por Peter Weir. O pensamento filosófico é semelhante. Alguma coisa parece não se encaixar. Tom. De repente.. vivêssemos “no automático”. p. Na próxima vez que o bando desse hominídeo está disputando uma fonte de água com um grupo rival. 2003. Na história humana. Poesia completa. por exemplo. e mais recentemente a informática.. A Nunca me esquecerei que no meio do caminho bordo da mais moderna e tecno- lógica nave espacial.indb 5 09/11/16 13:12 . ORMUZD ALVES/FOLHAPRESS atinge o ápice e começa a cair. Em busca Nunca me esquecerei desse acontecimento de uma resposta. uma natureza inóspita. Quando o osso. (142 min). Dedica-se aos campos da FILOSOFIA A forma de pensar durante uma conversa oral é diferente da que ocorre em uma comunicação comunicação e da informática. É autor de diver- para elaborar diferentes tipos de conhecimento. escrita. 16. uma equipe de na vida de minhas retinas tão fatigadas. não é algo comum. os seres humanos utilizaram as tecnologias da inteligência pensamento. em foto de 1996. 1968. girando. Estados Uni- dos/Grã-Bretanha. desconhecida e cheia de perigos? A resposta uso instrumental de um pedaço construída pela humanidade é clara: por meio do conhecimento. Pensar. algo que pode ser utilizado para realizar uma Pierre Lévy tarefa. uma arma. Carlos Drummond de. A primeira cena do filme 2001: uma odisseia no espaço mostra isso de forma bonita. Também o pensamento dispõe de ferramentas – as tecnologias da inteligência. os astronautas no meio do caminho tinha uma pedra querem investigar um fenômeno estranho que pode lhes conduzir ao esclarecimento do enigma ANDRADE. entre eles As tecnolo- Em que a filosofia se diferencia dos demais saberes? Se todos são resultado do exercício do gias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informáti- pensamento. um dos hominídeos pega um osso de um animal morto e começa a batê-lo no chão. o que Cena do filme 2001: uma odisseia no espaço. sos livros. p. ele usa o osso para atacar os inimigos. Pensar e transformar o mundo. tinha uma pedra controlada pelo supercompu- tinha uma pedra no meio do caminho tador HAL 9000. como as denominou o filósofo francês Pierre Lévy. publicado no Brasil em 1993. caçando animais para comer e sendo caçados. Quando a câmera focaliza o rosto de um deles. já não somos mais os mesmos. em que o hominídeo vemos é uma expressão de medo. Como sentir-se seguro quando não se é o mais forte? Como vencer inventa uma técnica por meio do o medo e enfrentar o mundo. A metáfora é clara: enfrentando o problema da sobrevivência em um mundo inóspito. A filosofia é um deles. ção de Stanley Kubrick. nesse sentido filosófico. Foi por meio do exercício do pensamento que o ser humano transformou-se a si mesmo e ao mundo. o que há de específico na filosofia? ca. Exultante. Trata-se dos instrumentos que utilizamos para tornar o pensamento mais eficiente. Certo dia. Um grupo de hominídeos vaga pelas savanas africanas disputando poças de água para matar a sede. astronautas é enviada a Júpiter. Dire- Rio de Janeiro: Nova Aguilar. o hominídeo joga o osso para o alto. estudando seus impactos no Procurando enfrentar seus problemas. A ferramenta desenvolveu-se por séculos e milênios. em determinado momento Pierre Lévy. Sua força é multiplicada pela ferramenta (que se (1956-) torna uma arma) e ele vence. Como pensamos? 5 Book_SESI1_FIL_MOD1. 2001: uma odisseia no espaço. O que distingue a filosofia são seus instrumentos e aquilo que ela produz: os conceitos. É um acontecimento raro e que produz MGM/ALBUM/LATINSTOCK transformações em nossas vidas. isto é.. Essas tecnologias interferem diretamente no modo como pensamos. criou-se a escrita (que teria um desdobramento importante com a invenção da imprensa). convertendo-se em um sofisticado aparelho tecnológico. que acompanha a humanidade desde seus primórdios. O mesmo filme utiliza outra metáfora interessante. O osso BIOGRAFIA que ele encontra se transforma em uma ferramenta. transforma-se em uma espaçonave em órbita da Terra. a tecnologia da inteligência que predominou inicial- mente foi a oralidade. a Discovery. a comunicação por meio da palavra falada. Filósofo francês nascido na Tu- nísia. Quando pensamos. de osso. Percebe que desse modo sua força é maior. No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra VEJA O FILME tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra O filme 2001: uma odisseia no espa- ço narra a história de um enigma no meio do caminho tinha uma pedra. o ho- minídeo transformou-se em humano quando inventou uma ferramenta. que designa o ‘amigo. Ao se originaram de anotações de seus alunos. Para começar a com- Faculdade racional preender o que são conceitos. para Atenas. um modo de construir a própria vida. Vários de seus livros É uma busca por nos tornarmos melhores pelas práticas cotidianas que certos filósofos denominam foram escritos para suas aulas. mas estão sempre sendo criados e recriados de intelectiva é a que torna os seres acordo com as circunstâncias. de fabricar conceitos. tre elas. criando a si o filósofo. O significado de filosofia. é o uso da A que contextos ela se aplica? faculdade As relações familiares em que vivo são democráticas? E na escola? racional da Deve haver um limite para a liberdade democrática? alma que Será que a democracia tem alguma relação com a filosofia? nos permite pensar. portanto. A ideia de democracia é algo pronto e definitivo ou muda conforme o lugar e a época? Ao fazer a si mesmo essas perguntas. portanto.). que se tornaria O filósofo contemporâneo Michel Foucault procurou mostrar que há duas formas de com- imperador da Macedônia e. ou exercícios espirituais. Cada filósofo cria seus próprios conceitos ou recria conceitos de outros Por isso mesmo. 10. FRANÇA. é amor ou amizade pela sabedoria. PARIS. a filosofia é a busca de um saber que está fora de cada um de nós. o Liceu. outras faculdades. Um exemplo de exercício espiritual seria o hábito de escrever um diário. Alexandre. Ao criar ou recriar conceitos. conhecimentos recebidos. São Paulo: Editora 34. construindo sua vida. é uma prática de vida. Se a filosofia é um amor pela sabedoria. Gilles. amante’. No primeiro caso. biologia. p. a filosofia elabora conceitos. de inventar. política. o conceito de democracia. Faça a você mesmo algumas perguntas: Segundo O que é democracia? LISA F. uma vez que nela o ser humano exercita sua faculdade racional. temos oportunidade de refletir sobre eles e. mas sim uma relação com o saber. DELEUZE.C. Nascido na cidade de Estagira. onde estudou com o também filósofo grego Platão Duas perspectivas da filosofia (427 a.C. DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE/ MUSEU DO LOUVRE. Essa segunda noção é também uma busca. 6 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. mesmo. na A filosofia é. pois vivendo filosoficamente o ser humano está vivendo de acordo com sua própria natureza. mas não de algo que está fora de nós. Félix. que pensa”. Na reflexão em busca do conhecimento. diferente. dependendo dos problemas enfren- humanos aptos ao pensamento. 1992. é uma elaboração própria. Mais adiante estudaremos A filosofia é a arte de formar. Segundo ele. refletir sobre temas. O conceito é algo faculdades. um “animal racional”. é composta de phílos.C. nava filosofia.indb 6 09/11/16 13:12 . de capaz de proporcionar a felicidade. vida seja melhor. de nos conhecermos melhor. onde ensi. psicologia. Den. Essas duas visões levam a uma terceira: o pensamento filosófico como uma reflexão interna que retórica e poética. “a filosofia é a atividade mais digna de ser escolhida pelos homens”. Escreveu sobre ética.C. você está praticando a reflexão filosófica e reunindo Aristóteles afirma que a elementos que podem ajudá-lo a elaborar um conceito. O que é a filosofia?. um movimento daquele que não sabe em direção a um saber. portanto. ou capacidades.--347 a. o Grande. segundo filósofos. ficaria conhecido como como um trabalho de cada um sobre si mesmo. Pensar filosoficamente é. o filósofo está também agindo sobre si mesmo. pense no que significa para você a ideia de democracia. fí- sica. entre outros questiona todos os conhecimentos vindos de fora. Foi professor de Alexandre. que envolve reflexão e modifica quem a realiza. lógica. No segun- Em Atenas Aristóteles fundou do.C. de acordo com as necessidades. isto é. Nos dicionários alma humana é dotada de várias e enciclopédias. pois nos diferencia de todos os outros seres da natureza. e produziu uma das obras os mais diversos problemas e situações “partindo do zero”. ou seja. assim. sem aceitar automaticamente os mais completas da Antiguidade. é possível encontrar muitas definições da palavra democracia. ainda jovem mudou-se vontade de conhecer a si mesmo e ao mundo.-322 a. antigo. tados a cada momento. em escultura feita em mármore entre os séculos I e II d. O filósofo Aristóteles definiu o ser humano como um “animal portador da palavra. A palavra. é uma Grécia. e sophía. é a mais importante. BIOGRAFIA A FILOSOFIA NA HISTÓRIA Aristóteles A filosofia e o pensamento conceitual (384 a. É também uma ativida- Aristóteles. relatar os acontecimentos e as sensações do dia a dia. que significa ‘sabedoria’. um modo de fazermos com que nossa uma escola. a faculdade racional ou Os conceitos não estão prontos e acabados. de origem grega. um pensamento sobre nós mesmos.. ao preender a filosofia: conquistar boa parte do mundo como busca da sabedoria. que implica um movimento de construção e de busca da sabedoria. YOUNG/SHUTTERS- TOCK/GLOW IMAGES Aristóteles. isso quer dizer que ela não é “a” sabedoria.) A filosofia já foi definida de várias maneiras. entendendo o conhecimento como algo que vem de fora. GUATTARI. Mas isso não significa que apenas alguns privilegiados possam praticar a filosofia. Segundo BIOGRAFIA o filósofo italiano Antonio Gramsci, “todos os homens são filósofos”, na medida em que todo ser humano, de uma forma mais ou menos intensa e duradoura, pensa sobre os problemas que Michel Foucault enfrenta em sua vida. De certo modo, todo ser humano se utiliza de conceitos, ou até mesmo os (1926-1984) formula, em alguns momentos de sua vida. JEAN PIERRE FOUCHET/GAMMA- RAPHO/GETTY IMAGES Os filósofos, porém, dedicam-se à filosofia de modo mais intenso, fazendo dessa atividade sua profissão e sua vida. Eles problematizam diversas questões, pensam, criam conceitos, escrevem textos e livros. Alguns desses conceitos atravessam os séculos. Embora tenham sido elaborados em outra época e em um contexto histórico diferente, podem despertar nossa reflexão e ajudar na formula- ção de nossos próprios conceitos. Pense, por exemplo, no conceito de felicidade. Muitos filósofos já estudaram o assunto em diferentes lugares e épocas e elaboraram os mais variados conceitos de felicidade. Esses conceitos são importantes como referência, mas não são estáticos: mudam Michel Foucault, em foto de 1967. conforme o contexto e as motivações de quem está refletindo sobre eles. Nesta obra você vai conhecer diferentes conceitos criados pelos filósofos ao longo do tempo Pensador francês que se dedicou e poder compreender como esses conceitos podem ajudá-lo a pensar sobre sua própria vida. a vários campos do conhecimen- Filosofia - Scipione to, como a filosofia, a história e a A filosofia e suas origens gregas psicologia. Entre 1970 e 1984 foi professor no Collège de France, Entre os séculos IX a.C. e VIII a.C., os gregos se expandiram para além da península grega, esta- uma das instituições de maior belecendo colônias importantes, como Éfeso, Mileto (situadas na Jônia, região sul da Ásia Menor), prestígio naquele país. Escreveu Eleia e Agrigento (na Sicília e sul da Itália, região conhecida como Magna Grécia). Foi em algumas sobre vários assuntos, entre eles dessas cidades, localizadas nas bordas do mundo grego, que surgiram os primeiros filósofos. Tales a sexualidade, a loucura e as de Mileto (Jônia), Pitágoras de Samos (Jônia), Filolau de Crotona (Magna Grécia) e Heráclito de instituições disciplinares, como Éfeso (Jônia) são alguns exemplos. a prisão e a escola. Em seus últi- 01_01_m010_FOCg15S mos anos de vida, dedicou-se a estudar a filosofia grega antiga, Grécia antiga (séculos VIII a.C. a V a.C.) ALLMAPS/ARQUIVO DA EDITORA preocupado com o tema da for- mação ética. Entre seus vários li- Allmaps/Arquivo da editora Tanais vros, destacam-se As palavras e as 20º L coisas e Vigiar e punir: história da Olbia violência nas prisões. celtas Tira Teodósia Gália Ilír Quersoneso ia Istro Fasis Mar Negro Nice Odessos Agde Sinope Trebizonda Mesembria Fonte: Adaptado de Duby, Georges. Atlas histori- que mondial. Paris: Larousse, 2007. p. 14. Massília a BIOGRAFIA Ampúrias ci 40º N Córsega Trá Bizâncio Alália Abdera Maronea Epidamo as Antonio Gramsci Thasos Sestos sí os Cumas Nápoles Tarento Metone Abidos rio er lídios s ib Eleia Scione Ilium (Troia) Ilhas Baleares Sardenha Emeroscópio MAGNA GRÉCIA Siri Crotona Cabo Corfu Mar Egeu Lesbos Calcide Eritreia Megara Atenas Samos Éfeso Sardes Soli (1891-1937) Cartagena Side Himera Locri Corinto Mileto Almina MONDADORI PORTFOLIO/ GETTY IMAGES Cartago Paros Agrigento Siracusa Esparta Selinus Rodes Tera Chipre Biblos ios Gela Cnossos Sídon Colonização e feníc expansão grega cartagineses Ma Creta Tiro r M edi Dórios terrâneo Jônios Apolônia Dafne Canopus Aqueus e eólios Kinips Tauchira Cirene Barca Sais Cidades-Estado Euesperide Naucratis 0 220 km Líbia Cirenaica Mênfis Colônias gregas Antonio Gramsci, em foto de 1930. Tales de Mileto (c. 625 a.C.-556 a.C.) é considerado o primeiro filósofo. Nasceu na região da FILOSOFIA Jônia, hoje Turquia, e era apontado como um dos sete sábios da Grécia antiga. Foi o primeiro a Jornalista e filósofo italiano. Mili- afirmar que há um princípio universal do qual todas as coisas derivam (que os gregos chamavam tante comunista, passou muitos de arkhé) e que este princípio seria o elemento água. Teve diversos seguidores na chamada Escola anos preso sob o governo do lí- Jônica, os quais, embora concordassem com a ideia de arkhé, afirmavam ser ela relacionada a outro der fascista Benito Mussolini. Foi elemento que não a água. na prisão que escreveu boa parte de sua obra filosófica, de crítica Fundador de uma importante escola filosófica na Magna Grécia, com sede na cidade de Cro- social e política. tona, o filósofo e matemático Pitágoras de Samos (c. 570 a.C.-497 a.C.) se tornou muito conhecido Como pensamos? 7 Book_SESI1_FIL_MOD1.indb 7 09/11/16 13:12 Escultura pela enunciação de um teorema matemático que recebeu seu nome, o teorema de Pitágoras. Em seu de Atena, pensamento, defendia que o Universo (em grego, kósmos) era regido por princípios matemáticos, na entrada principal da sendo o número o fundamento de todas as coisas. Academia Filolau de Crotona (c. 470 a.C.-385 a.C.), filósofo e astrônomo que pertenceu à escola pitagórica de Atenas, defendia o número como a arkhé da natureza, bem como uma estrita conduta para a boa vida. No Grécia. campo da astronomia, foi um dos primeiros a defender que a Terra está em movimento e não se encontra no centro do Universo, que seria ocupado por um “fogo central” sempre do lado oposto ao planeta e, por isso, não possível de ser visto pelos seres humanos. Em torno desse fogo central giravam a Terra e os demais corpos celestes. Em Éfeso, o filósofo Heráclito (c. 535 a.C.-475 a.C.) defendia que o princípio de todas as coisas não era o número, mas sim o fogo. Assim como percebemos neste elemento incessantes movimentos e transformações, na natureza também tudo se movimenta e se transforma, baseando-se na harmo- nia dos contrários (quente e frio, leve e pesado, sólido e líquido, seco e úmido, etc.), organizados pelo logos, isto é, o princípio racional de inteligibilidade, que tudo organiza e ordena para a composição logos do kósmos. Essa nova prática de pensamento surgida na periferia do mundo grego migrou para as cidades da península grega, em especial Atenas – cidade dedicada a Palas Atena, deusa da sabedoria –, um solo fértil para seu florescimento. É por isso que o filósofo contemporâneo Gilles Deleuze afirma que “os filósofos são estrangeiros, mas a filosofia é grega”. É importante notar que a primeira palavra a surgir foi filósofo, que é aquele que pratica deter- minado tipo de investigação teórica, e só mais tarde apareceu a palavra filosofia, para designar a atividade deste investigador. Não se sabe ao certo quem inventou a palavra filósofo; alguns afirmam ter sido Pitágoras, outros afirmam ter sido Heráclito. Segundo a tradição, o primeiro filósofo teria BIOGRAFIA sido um humilde homem grego que se recusava a ser reconhecido como sábio – isto é, que possui um saber –, preferindo chamar-se filósofo, quer dizer, um ‘amigo da sabedoria’, alguém que deseja Gilles Deleuze ser sábio, mas ainda não o é. É uma posição semelhante à do filósofo grego Sócrates, que afirmou (1925-1995) no século V a.C.: “Só sei que nada sei”, percebendo e admitindo a própria ignorância. Mas por que o modo filosófico de pensar, com a recusa de verdades prontas e a elaboração MARC GANTIER/GAMMA- RAPHO/GETTY IMAGES de novos conceitos, surgiu na Grécia? Para entender isso, é importante recuar no tempo e conhecer um pouco a Grécia dos séculos VII a.C. e VI a.C. Assim, ficará mais fácil compreender quem eram e como viviam os gregos daquele tempo. A civilização grega antiga construiu uma cultura pluralista. Em sua origem estão três povos (os jônios, os eólios e os dórios) que formaram uma sociedade unida pelo idioma e pelo culto aos Gilles Deleuze (esquerda), com deuses, mas que recebia influências de diversas culturas. Essa pluralidade foi um campo fértil para Félix Guattari, em 1980. o desenvolvimento do teatro, da literatura, da arquitetura, da escultura e da filosofia. Filósofo francês. Foi professor de Os gregos eram estimulados a pensar por si mesmos. A Grécia jamais formou um império filosofia no Ensino Médio francês centralizado. Em vez disso, organizou-se em cidades independentes, chamadas cidades-Estado, cada e em universidades, tendo con- uma com seu próprio governo e suas próprias leis. A política era um assunto dos cidadãos. solidado sua carreira na Univer- Entre os povos da mesma época que formaram impérios, como os egípcios, os persas e os chineses, sidade de Paris 8. Dedicou-se ao a situação era bem diferente. Em razão da forte influência religiosa, a produção de saberes era mo- estudo de vários filósofos, como nopólio dos sacerdotes ou de pessoas ligadas a eles, sempre em favor do imperador e visando ao Hume, Nietzsche e Espinoza, mas também escreveu sobre literatu- controle social e à permanência no poder. ra, pintura e cinema. De sua obra, As explicações eram determinadas pela visão religiosa e não podiam ser contestadas. Até mesmo o destacam-se Diferença e repeti- saber prático era controlado. A matemática é um exemplo. Entre os egípcios, os sacerdotes desen- ção (1968) e seus dois livros so- volveram um conhecimento matemático destinado a registrar e controlar os estoques de alimentos bre cinema: Cinema: a imagem- do templo, bem como a construir pirâmides. Esse conhecimento era considerado segredo religioso, -movimento (1983) e Cinema 2: e apenas os sacerdotes poderiam conhecer. a imagem-tempo (1985). No final THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA Todo esse controle tendia a impedir que as pessoas pensassem por si mes- da década de 1960, conheceu Félix Guattari (1930-1992), com mas. Na Grécia antiga, diferentemente, estimulava-se a discussão quem produziu vários livros: O sobre os problemas e os rumos da cidade. Tanto é que foi na ci- anti-Édipo (1972), Kafka: por uma dade-Estado de Atenas que se desenvolveu a forma democráti- literatura menor (1975), Mil Platôs: ca de governo. É verdade que a sociedade grega era escravagista capitalismo e esquizofrenia (1980) e que só se consideravam cidadãos os homens maiores de idade, e O que é a filosofia? (1991). nascidos na cidade e proprietários de terras e de bens. Na Atenas 8 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1.indb 8 09/11/16 13:12 dos séculos V a.C. e IV a.C., esse grupo correspondia no máximo a 10% da população total. Mas isso BIOGRAFIA já era um número muito maior de pessoas dedicando-se à política do que nos impérios antigos. Sócrates ANASTASIOS71/SHUTTERSTOCK/GLOW IMAGES (469 a.C.-399 a.C.) THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/ KEYSTONE/MUSEU DO LOUVRE, PARIS, FRANÇA. Sócrates, em escultura, em mármore de Lysippus, de cerca de 330 a.C. Nascido em Atenas, na Grécia, é considerado um dos filósofos mais importantes de todos os tempos. Sócrates ensinava gratui- tamente em praça pública. Reo- rientou o enfoque da filosofia gre- ga, antes voltada para o estudo da natureza, centrando o interesse no homem. Acusado de corrom- per a juventude e de renegar os deuses atenienses, foi condenado Foto das ruínas de uma ágora em Atenas, capital da Grécia. Situada geralmente no coração das cidades gregas, à morte por meio da ingestão de tendo em volta o comércio e os prédios públicos, a ágora era um complexo arquitetônico aberto, destinado aos um veneno chamado cicuta. Sua encontros, debates e outros eventos públicos. produção filosófica está docu- mentada na obra de Platão. Os gregos gostavam de discutir e polemizar. O gosto pelo debate e pela disputa é um traço da cultura grega. Ele vem da própria constituição do povo grego, um povo de guerreiros que muitas vezes teve de se unir para combater os inimigos. Os heróis da mitologia representam esse gosto pela luta e pelo triunfo, bem como as disputas esportivas que se seguiram com a criação dos Jogos Olímpicos. A disputa de ideias fazia parte desse espírito competitivo. Eram comuns, na Grécia antiga, os debates em praça pública. VEJA O FILME Um exemplo do espírito competitivo dos gregos pode ser visto no filme Troia, adaptação do poe- ma épico Ilíada, de Homero. No início da guerra contra Troia, quando a mãe pede a Aquiles que não vá lutar, ele responde que é mais honrado morrer lutando, como herói, do que viver como um homem comum e ter uma vida sem glória. Troia. Direção de Wolfgang Petersen. Estados Unidos, 2004. 1 DVD. (163 min) WARNER BROS./EVERETT COLLECTION/KEYSTONE Poesia e memória Na Grécia antiga, o uso da forma poética para escrever textos estava ligado à maior faci- Cena do filme Troia, quando a mãe de Aquiles, interpretado por lidade de memorização. Os tex- Brad Pitt, pede a ele que não vá lutar. tos eram transmitidos oralmente FILOSOFIA de uma geração para outra, e era A filosofia é o resultado, portanto, da confluência e da interação de diferentes povos e culturas muito mais fácil memorizá-los se que encontram na pólis ateniense o terreno propício para o seu desenvolvimento intelectual. estivessem organizados em ver- Os textos filosóficos sos com métrica e rima. Não ape- nas os filósofos, mas também os Os primeiros filósofos gregos, em sua maioria, praticavam ensinamentos orais. Aqueles que escritores que relataram os mitos produziram textos geralmente utilizaram a forma poética. gregos utilizaram esse recurso. Havia também filósofos, como Sócrates, que se recusavam a escrever suas ideias. Considera- Como pensamos? 9 Book_SESI1_FIL_MOD1.indb 9 09/11/16 13:12 vam a escrita inimiga da memória: se escrevemos, já não precisamos lembrar, e isso enfraquece o BIOGRAFIA pensamento. Platão Em sua prática filosófica, Sócrates caminhava pelas ruas de Atenas, principalmente pela praça (427 a.C.-347 a.C.) do mercado, onde circulava mais gente, e conversava com as pessoas. Em geral, fazia perguntas que levavam o interlocutor a cair em contradição e, em seguida, a pensar sobre a inconsistência de sua G. DAGLI ORTI/DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/ KEYSTONE/MUSEU CAPITOLINO, ROMA, ITÁLIA. opinião, inicialmente considerada certa e verdadeira. Por isso, dizemos que sua prática era discursiva (baseada na fala) e dialógica (fundamentada no diálogo, na conversa). Sócrates dizia que, assim como sua mãe havia sido uma parteira, que dava à luz as crianças, ele queria dar à luz as ideias. Seu estilo filosófico ficou então conhecido como maiêutica, isto é, o ‘o parto de ideias’. Platão, discípulo de Sócrates, resolveu homenagear o mestre escrevendo suas ideias, o que possibilitou que elas chegassem até os dias atuais. Mas, em vez de escrever em versos, como se fazia na época, elaborou diálogos, inaugurando uma nova forma de organizar as ideias filosóficas. Por Platão, em escultura feita em meio dos diálogos, segundo Platão, seria possível chegar a um refinamento das ideias. O método de mármore entre os séculos IV e I a.C. perguntas e respostas, para ele, permitia avançar entre contraposições e contradições, obtendo ideias Filósofo nascido em Atenas e fi- cada vez mais precisas, até que se chegasse ao conhecimento verdadeiro. Esse modo de aprimorar lho de família aristocrática, era as ideias foi denominado dialética. um crítico do regime democráti- Ainda hoje os textos filosóficos da Grécia antiga são estudados, embora restem apenas fragmen- co. Após a morte de seu mestre Sócrates, dedicou-se a escrever tos dos textos mais antigos, anteriores à época de Sócrates, ou pré-socráticos, como são conhecidos. diálogos, difundindo suas ideias A invenção da imprensa, no século XV, facilitou a documentação e a difusão da atividade filosófica, a respeito da política, da virtude, e os meios eletrônicos de comunicação de massa expandiram ainda mais essa possibilidade. Hoje, a do amor, do conhecimento, da filosofia é discutida em diversas mídias, como em programas de televisão e sites da internet. origem do Universo, entre outros Apesar de seus 2500 anos de história, a filosofia persiste na busca de entendimento, motivada assuntos. Criou uma escola em pela curiosidade e pelo desejo de compreender a vida e o mundo, sem ideias prévias, partindo sempre Atenas, a Academia, onde ensi- nou filosofia para seus discípulos, “do zero” – ou, nas palavras do filósofo contemporâneo francês André Comte-Sponville: “Filosofia é tendo sido Aristóteles o mais fa- uma prática discursiva que tem a vida por objeto, a razão por meio e a felicidade por fim”. moso deles. Dedicou-se a vários campos do pensamento, como BIOGRAFIA a matemática e a geometria. Uma de suas contribuições mais ULF ANDERSEN/GETTY IMAGES importantes foi a construção de uma teoria das ideias, conside- André Comte-Sponville (1952-) radas eternas e imutáveis. Seu pensamento influenciou profun- Filósofo francês contemporâneo. Foi professor na Universidade de Paris damente filósofos como Plotino, (Sorbonne) e desde 1998 dedica-se a escrever e a fazer conferências. É Descartes e Schopenhauer, sen- membro do Comitê Consultivo Nacional de Ética da França e autor de do ainda hoje fonte inesgotável uma obra extensa, da qual se destacam: Pequeno tratado das grandes de conhecimento. virtudes (1995) e A felicidade, desesperadamente (2000). André Comte-Sponville, em foto de 2011. Filosofia e opinião Qual é a sua opinião sobre a política? O que você pensa sobre a liberdade? Para você, o que é uma amizade verdadeira? Perguntas como essas costumam surgir em rodas de conversa entre amigos. Para respondê-las, você reflete, cita exemplos, faz comparações... Mas será que está utilizando o pensamento filosófico? Veja o que diz sobre isso o filósofo francês Gilles Deleuze: “É da opinião que vem a desgraça dos homens”. Isso porque a opinião é um pensamento subjetivo, uma ideia vaga sobre a realidade, que não tem fundamentação e na maioria das vezes nem pode ser explicada. É comum, por exemplo, alguém dizer que é contra ou a favor de determinada situação sem um motivo concreto, talvez por uma reflexão apressada, por superstição ou crença absorvida sem ponderação. “É uma questão de opinião”, justifica a pessoa. Fica claro, então, que ao emitir uma opinião você não está pensando filosoficamente. 10 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1.indb 10 09/11/16 13:12 As respostas já vêm prontas. sim como há algumas que servem e outras que prescre. Busca uma reflexão mais sólida e funda. Uma vez mentada.. opinião. É muito fácil manipular as opiniões das pessoas não dispostas à reflexão. da banda inglesa Radiohead. Por exemplo. da televisão. O primeiro deles define a ati. filosofar. é possível demolir a posição sustentada pelo texto. O tex- dirigir. de modo que. Todos admitirão que a sabedoria provém do estudo e da busca das coisas que a filosofia nos deu a capacidade Questões sobre o texto: [de estudar]. tornando-as mais livres para pensar de forma crítica e criativa. Isso não significa a posse de uma do capitalismo.indb 11 09/11/16 13:12 . é uma prática de elaboração própria de ideias. Os ditos REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA formadores de opinião exercem grande influência sobre o modo de pensar da sociedade e podem mudar as opiniões alheias. GLOSSÁRIO GLOSSÁRIO ele procura construir uma série de argumentos que justifi. na medida em que são mais aptas a Guattari quando escreveram o livro O que é a filosofia?. como nos livros de autoajuda. e que contempla o bem em sua totalidade (isto é. a filoso- vidade filosófica como uma atividade contemplativa e o se. A prática filosófica humaniza as pessoas. os filmes que preferem.. Observe Como pensamos? 11 Book_SESI1_FIL_MOD1. como uma atividade criativa. está o que é soberanamente bom. adversário. de uma maneira ou de outra. exercendo seus deveres e exigindo seus direitos na sociedade. uma busca da verdade e nunca sua de ideias e de críticas. suponhamos que alguém diga que não é preciso 3 Por que a filosofia é a ciência mais completa. Texto 2 prias do homem. Os meios de comuni- EDITORA (DIREÇÃO: JAKE SCOTT) cação fabricam ideias e desejos por meio da propaganda e de sua grade de programação. por meio da qual o ser humano se realize em sua capacidade racional. O texto abaixo corresponde a um trecho de uma carta escrita ARISTÓTELES. as músicas da moda. para evitar dificuldades. mostrando que essas duas atividades são pró. Por que é preciso filosofar? mento racional. meio do exercício do pensa. As ideias elaboradas que a produção cultural passa a ser gerida massivamente segundo interesses dessa forma podem ser defendidas com argumentos consistentes. Na carta. manobra ele argumenta em torno da necessidade do filosofar. é a filosofia?”. que não se acomodam às ideias comercial e a opinião. se choca contra a lógica Não é difícil concluir que as pessoas que pensam por si mesmas. da cultura. há ciências que produzem todas as minhos.] Há casos em que. Daí – se só a to abaixo é um trecho da introdução desta obra. ções conformes à natureza – ser preciso. São as personalidades do esporte. Contemplação filosófica: Subterfúgio: quem a escolha de dedicar-se à filosofia. diferentemente. p. prontas e não aceitam viver no “piloto automático”. têm melhores condições de se tornar cidadãos mais atuantes. 2001. Da geração e da corrupção. destruiremos por completo a posição FILOSOFIA Uma vez formulada a pequena e complexa questão “O que defendida pelo adversário. as. privilegiadas pelos meios de comunicação. do teatro. segundo o autor filosofar: pois “filosofar” tanto quer dizer ‘procurar se é do texto? preciso filosofar ou não’. que usa a razão mentos diferentes da história. evasiva. “O que é o conceito?”. a liberdade de expressão verdade única. de qualquer modo. Ela também parte da Plastic Trees” (‘Falsas árvores de plástico’). para consumo de massa – esforça-se por definir o que todos querem ler. na qual ele convida Themison. Assim fizeram Gilles Deleuze e o psicanalista e filósofo Félix vem: nestas últimas. ciência que tem a retidão do julgamento. já que só a filosofia contém em si o julga- Texto 1 mento correto e a sabedoria prescritiva infalível. à filosofia. própria ao âmbito posse definitiva. aceitando todos os significados de 2 Cite duas razões para a prática da filosofia que aparecem no uma palavra. [. mas a recusa como verdade e vai além da opinião. A indústria cultural – expressão que designa a produção da cultura segundo os padrões e os interesses do capitalismo. pois a filosofia é sempre amor à sabedoria. quanto ‘buscar a contemplação filosófica’. para chegar à resposta é preciso percorrer ca- Além do mais. TRABALHANDO COM TEXTOS Os dois textos que você lerá a seguir foram escritos em mo. rei de uma cidade do Chipre. No trecho a seguir. isto é. que é o filósofo?”. buscando pistas por meio de outras indagações: “O comodidades da vida e outras que usam as primeiras. os líderes religio- sos e também os professores. ato de alcançar as ideias por desculpa. São Paulo: Landy. seguido de convite pelo filósofo grego Aristóteles. 150-151. Cena de videoclipe da canção “Fake A filosofia. fia) é capaz de usar todas as outras e de lhes dar prescri- gundo. “Como é filosofar?”. 1 Segundo Aristóteles. à prática da filosofia. por que é preciso filosofar? é preciso filosofar sem subterfúgios. fazendo a referência a cada significado. O filósofo é o amigo do conceito.. opinião sobre determinado assunto? 4 Compare as definições de filosofia apresentadas por Aristóte- 12 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. [. Com base no que foi estudado neste capítu- valeria um filósofo do qual se pudesse dizer: ele não criou lo. [.. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte (1844-1900) de formar. criá-los. em foto de si mesmo. que ele identificava como que consiste em criar conceitos.. afirmá-los. os conceitos”? so”. antes. responda: fabricá-los. e não aceitar as opiniões como certas e verdadeiras? cessário. um estilo deliberadamente fragmentário. A filosofia. Veja na página se- guinte algumas orientações sobre como desenvolver uma 3 Qual é a diferença entre pensar filosoficamente e emitir uma dissertação. les e por Deleuze e Guattari nos textos da seção “Trabalhando ATIVIDADES PARA PRATICAR com textos”. mais rigorosamente. desde que ele mesmo não os criou [.indb 12 09/11/16 13:12 . como corpos celestes. cada b) O que é o filósofo e qual é o seu papel na filosofia? um tinha confiança em seus conceitos. derada por ele mesmo sua principal obra. d) Por que é preciso substituir a confiança pela desconfiança fiança. mas tinha sido ne. às duas concepções de filosofia acima. persuadindo os homens a a) O que é a filosofia? utilizá-los. Escreveu também Eles devem ser inventados. tem em potência. a filosofia “é a ativida. mas é necessário que eles comecem por 1 Com suas palavras. não seriam nada sem a assinatura daqueles que os criam. ele não criou seus conceitos? [. como questionar é um ato importante para a filosofia. para somente limpá-los e fazê-los reluzir.] Os conceitos não nos esperam inteiramente obras destaca-se Assim falava Zaratustra (1883-1885). vamos tornar viva a prática filosófica. Defendeu pre novos é o objeto da filosofia. achados ou to contém uma crítica radical ao produtos. que ele criasse o conceito de Ideia.. ou que tem sua potência e sua compe. como num dote c) O que quer dizer a seguinte afirmação: “Não há céu para miraculoso vindo de algum mundo igualmente miraculo. Não há céu para os conceitos. ele é conceito em Friedrich Nietzsche potência. 1992.]. que pede a reflexão e a interpretação do leitor. GUATTARI. tudo somado. mas é necessário substituir a confiança pela descon. coerentes que justifiquem sua escolha. Nietzsche determinou a tarefa da filosofia quando escre- veu: “os filósofos não devem mais contentar-se em aceitar Questões sobre o texto: os conceitos que lhes são dados. Que Agora é sua vez. O que é a filosofia?.. e é dos conceitos que o filósofo deve desconfiar dos conceitos? mais. pois os Filósofo alemão.. Seu pensamen- conceitos não são necessariamente formas. Veja as respostas no Guia do Professor. Você pode se colo- car a favor ou contra cada uma delas ou mesmo oferecer sua 2 Cite alguns fatores que explicam o surgimento da filosofia na própria concepção. MONDADORI PORFOLIO/GETTY IMAGES Assim pois a questão.. O importante é apresentar argumentos Grécia antiga. que BIOGRAFIA serve de instrumento ao filósofo durante sua investigação. 34. 5 Elabore uma dissertação assumindo uma posição em relação de mais digna de ser escolhida pelos homens”. um conceito. Até o presente momento.. EM BUSCA DO CONCEITO As respostas encontram-se no portal. em Resoluções e Gabaritos.. e muitos aforismos. de inventar ou de fabricar conceitos. Gilles. é a disciplina pensamento moderno e ao cristia- nismo. segundo Aristóteles.] Criar conceitos sem- uma “moral de rebanho”. consi- feitos. Félix.] DELEUZE. Aponte as semelhanças e diferenças entre elas. fabricados ou antes criados. São Paulo: Ed. Platão dizia e) Há algo em comum entre desconfiar dos conceitos dados que é necessário contemplar as Ideias. 1 Explique por que. um processo constante 1882. É porque o conceito deve a filosofia como uma educação de ser criado que ele remete ao filósofo como àquele que o Nietzsche. de autossuperação. Dentre suas tência.. O livro narra as viagens de um garoto e seu Encarte da revista Vida simples. DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA A dissertação filosófica corresponde a um discurso específico da filosofia. ABRIL REPRODUÇÃO/ ED. SUGESTÃO DE LEITURAS E DE FILMES LEITURAS PARA PRATICAR FILMES PARA PRATICAR GAARDER. Itá- 2012. (144 min). ABRIL les define a atividade filosófica como uma atividade contem. Elvira. (120 min). articulado por meio de conceitos e desenvolvido por meio de argumentos. LAMPARINA com Sócrates. conclusão: é o encerramento da dissertação. DIVULGAÇÃO/ARQUIVO DA Uma seleção de frases de Sócrates cole. a menina Sofia começa a rece- O mundo de Sofia: romance da história da DIVULGAÇÃO/VERSÁTIL FILMES ber cartas anônimas com perguntas sobre REPRODUÇÃO/ filosofia. Walter Omar. O dia do curinga. parte em que se retomam as ideias anunciadas na introdução de forma conclusiva. em que as ideias apresentadas na introdução serão trabalhadas por meio de uma argumentação consistente. Inte. 1996. es- ber um pouco mais sobre a filosofia. Inglaterra. assim como sua EDITORA FILOSOFIA a filosofia e com as ideias desse pensador defesa e os últimos ensinamentos. 1 DVD. VIGNA. Pensar REPRODUÇÃO/ED. Alain de Botton. considerando toda a argumentação desenvolvida no texto central. DVD 1: “Sêneca e a Os dois textos que você lerá a seguir foram raiva”. COMPANHIA DAS LETRAS panhia das Letras. uma forma divertida de sa- Série baseada no livro O mundo de Sofia. “Sócrates e a autoconfiança”. (200 min). Certo dia. ton. Os últimos momentos de Sócrates na Ate- tadas em vários diálogos de Platão. e plativa e o segundo. Série de televisão inglesa baseada no livro ra dos dois em busca do saber é uma bela As consolações da filosofia. história e os principais filósofos. dados publicados por instituições reconhecidas. COMPANHIA Paulo: Companhia das Letras. Sócrates. “Schopenhauer e o amor”. DVD 2: “Epicuro e a REPRODUÇÃO/ED. baseada em conhecimentos que se tem sobre o assunto. lia. São Paulo: Com- ED. citações de outros autores. Direção de Roberto Rossellini. O mundo de Sofia. Uma dissertação deve conter as seguintes partes: introdução: parágrafo no qual o autor anuncia as ideias que serão desenvolvidas no texto. sua crito por Jostein Gaarder. Jostein. São Filosofia para o dia a dia. _____. enigmático que foi Sócrates. 1995. felicidade”. etc. 2000. desenvolvimento: texto central. Norue- a existência e a realidade. nas do século V a. e “Mon- escritos em momentos diferentes da história. Como pensamos? 13 Book_SESI1_FIL_MOD1. Direção de Erik Gustavson.. O primeiro de.indb 13 09/11/16 13:13 . em seis episódios. 2 DVDs. taigne e a autoestima”. Assim começa ga. esse romance. 1 DVD. “Nietzsche e o sofrimento”. 2000. KOHAN. A aventu. RAI e TVE. Direção do filósofo REPRODUÇÃO/ED. Rio de Janeiro: Lamparina. A elaboração de dissertações filosóficas é essencial para a prática da filosofia e do pensamento crítico e autônomo..C. de Alain de Bot- DAS LETRAS metáfora da própria busca filosófica. como uma atividade criativa. pai por vários países da Europa. incluindo seu julgamen- ressante para um primeiro contato com to e a condenação à morte. 1971. São ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/ AGÊNCIA FRANCE-PRESSE narrativas transmitidas oralmente de uma geração para outra ao longo dos séculos. A questão do destino humano foi muito discutida na cultura grega antiga. sem saber que se tratava do rei de Tebas. em 2009. o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo. Em Tebas. Édipo também toma conhecimento da profecia.. inspirada na mitologia destino e das es. tal como concebido pelos gregos do período clássico. Objetivos: COLOCANDO O PROBLEMA c Perceber as diferenças Como você estudou no capítulo anterior.indb 14 09/11/16 13:13 . destino. Vamos estudar algumas neste capítulo.. Édipo mataria o pai e se casaria com a própria mãe. Abaixo. escrita por Sófocles em aproximadamente 425 a. ele ganha como prêmio a mão de Jocasta. vaso grego feito em cerâmica no século V a. que se lança no abismo. Por isso. em uma adaptação contemporânea da peça de Sófocles. pensamentos: a A questão é que. Segundo uma profecia. envolve-se em uma briga com DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/GETTY IMAGES/MUSEU ARQUEOLÓGICO NACIONAL. mais o acaso os afasta. até que passaram A tragédia Édipo rei já teve diversas representações. Mas há Filosofia com outros muitas outras formas de conhecimento. 1 DVD. Direção de a missão. Apenas amarra os pés da criança e a abandona no campo. é implacável. representando Édipo e a Esfinge. Édipo e o vidente cego Tirésias. Quanto mais ele tenta aproximar-se dela. um monstro que vinha aterrorizando a população de Tebas. A tragédia de Édipo mostra que o destino. Que formas são essas? Como a filosofia se relaciona com elas? A FILOSOFIA NA HISTÓRIA Filosofia e mitologia No filme Os agentes do destino. Dick. o filme dis. Veja dois exemplos nas imagens. Estados Unidos. Um exemplo é a cute o tema do famosa tragédia Édipo rei. o destino sempre nos alcança. Cumpre-se assim seu destino. Édipo desven- da-o. Na estrada. por forças que estão além de nosso entendimento? Há um destino traçado previamente para cada ca norte-ameri- um. O mito conta a história de Édipo.C.. a filosofia é uma forma de pensamento criada com base e as aproximações da nas tecnologias da inteligência humana. pois acreditava ser filho dos reis dessa cidade. seu verdadeiro pai. Cartaz do filme Os agentes do colhas que faze. o respostas prontas e nos força sempre a pensar. podemos chamá-la pensamento conceitual. Ao saber da profecia. DIVULGAÇÃO/UNIVERSAL PICTURES/ARQUIVO DA EDITORA conto do escritor O filme discute uma questão muito antiga: somos senhores de nossa vida ou somos controlados de ficção científi. Mitos como o de Édipo foram criados em épocas muito antigas e não têm autoria definida. Laio ordena a morte do menino. TARANTO. mos na vida. grega. um candidato ao Senado norte-americano apaixona-se por VEJA O FILME uma bailarina e é afastado da garota por uma série de situações cotidianas. recebido como herói. e assim vence o monstro. Para evitar o destino terrível. filho de Jocasta e Laio. o escravo que deveria matá-lo não tem coragem de executar Os agentes do destino. Até que ele descobre que esse acaso pode não ser tão Baseado em um acaso assim. a religião. Não importa o que façamos para nos desviar ou fugir dele. há outras formas de pensamento que se caracterizam senso comum por fornecer um horizonte de conhecimentos cujo contexto não nos interrogamos.. ITÁLIA um homem que vinha em uma carruagem e o mata. Corinto. Acima. A fera matava todos aqueles que não conseguissem responder a determinado enigma. Porém. (106 min) Já adulto. a leva para outra cidade. CAPÍTULO 2 Filosofia e outras formas de pensar Veja. Mais adiante encontra a Esfinge. no Guia do Professor. dirigida pelo francês Joel Jouanneau. enquanto a filosofia é um pensamento que nos desafia porque não nos dá mitologia. distintas da filosofia. foge de Corinto. Um pastor então a encontra e George Nolfi. 14 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. onde é adotada pelo rei. ou somos nós que fazemos nossa vida? cano Philip K. rei de Tebas. 2011.C. feita em não compreendem. cultos e oferendas. Com o mito. falada ou escrita em obra dois autores: Homero e Hesíodo. Sofreu transformações ao longo do tempo. rei dos deuses que habitam o monte Olimpo. portanto. e a Odisseia. grega Essa é uma forma de explicar algo que os seres humanos observam na natureza e que. narrativa sobre a origem dos deuses e do Universo. assim como a Bíblia. mostrando a preocupação dos gregos em prestar-lhe homenagem. mitidas oralmente. como a agricultura e o comércio marítimo. ao fundo. Recorre a forças sobrenaturais para explicar fenômenos naturais. Mito. que significa Assim. cujo objetivo GLOSSÁRIO é explicar alguma coisa ou algum acontecimento. Características do mito e sua atualidade Homero O mito é uma forma de explicação da realidade que utiliza narrativas imaginárias. e Os trabalhos Mitologia corresponde ao conjun- to ou estudo de mitos. narrativa sobre o retorno de um dos generais ZACHARAKIS. é uma narrativa fictícia e imaginada. tem o poder de lançar raios. as principais narrativas mitológicas foram reunidas em poemas épicos por alegórica. Campinas: Papirus. por exemplo. Para nós. As duas principais obras de Homero são a Ilíada. em geral trans.indb 15 09/11/16 13:13 . também é uma história imaginária ou No século VIII a. Zeus. Mesmo conhecendo mitos e lendas antigos. a história da guerra dos gregos contra Troia. G. esse ídolo já não é visto como uma pessoa comum. pois. desconhecidos em outras. os gregos tentavam agradar Zeus entre os séculos IV com templos. Segundo a definição de Georges dos pelos gregos antigos. Porém. o Templo de FILOSOFIA Zeus era um dos maiores da Antiguidade. ITÁLIA. 1995. O mito. na Acrópole. aos quais dedicavam Zacharakis: seus templos. há referências a ele em algumas obras antigas. É o que fazemos. Odisseu (ou Ulisses). Homero. as pessoas podem não apenas compreender os fenômenos.C. No caso dos raios. Diz-se que era cego e que costumava cantar suas histórias. e I a. de acordo com novas então. Cada cidade da Grécia tinha seus “deuses preferidos”. um pequeno agricultor. de modo que seus raios não atingissem os mortais. em princípio. a mitologia não é uma religião sistemática e institucionalizada. como na de Heródoto. por volta de cinquenta anos depois de Homero e escreveu ao menos dois poemas épicos que chega. Um exemplo: em THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/ escultura na mitologia grega. Havia até mesmo deuses de uma única cidade. ROMA. teria vivido grega: genealogia das suas dinastias. DAGLI ORTI/DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/ KEYSTONE/MUSEU CAPITOLINO. e os dias. poema que relata a criação dos seres humanos. Mitologia gregos.C. gada ao verbo mythevo. historiador grego do século V a. a uma tradi- ção ou a um acontecimento. mas como alguém que está Como pensamos? 15 Book_SESI1_FIL_MOD1. Ainda que essa cidade fosse dedicada a Atena. Alguns pesquisadores con- testam a existência de Homero. Ruínas do Templo de Zeus em Atenas. ainda conti- nuamos a criar nossos mitos. na Grécia. é uma criação imaginária. a ser registradas na forma escrita. a inventar narrativas mitológicas. ram até os nossos dias: a Teogonia. ou mesmo controlá-los. seja de outros povos. Isso porque [a] palavra mito procede do grego mythos. esses livros teriam sido feitos com a contribuição de di- versas pessoas ao longo de anos. quando transformamos um artista ou um jogador de futebol em um ídolo. que é uma palavra li- as cidades gregas eram autônomas e a cultura grega era ampla e aberta. com o Templo de Atena. Chegou a incorporar ideias contraditórias entre si ou versões muito diferentes se refere a uma crença. mas mármore também intervir neles. que influências culturais.C. poema que narra literária que encerra um fundo moral. Mito da mesma história. Mito: A mitologia está ligada à religião na medida em que também narra as ações dos deuses cultua. mas uma espécie de ‘crio uma história imaginária’. seja dos gregos. bem como seus afazeres cotidianos. Hesíodo. religiosidade aberta e mutante. Georges. de Troia para a ilha de Ítaca. Outros pesqui- sadores acreditam que ele não foi o único autor da Ilíada e da Odisseia. em uma espécie de herói contem- porâneo. a mitologia foi combatida como pura mistificação. que as religiões são dogmáticas. do da vida humana. tamento. car a natureza. dotes. desafiaram os deuses. a mitologia tem certa proximidade com a religião. compreendidas como uma revelação de Deus (ou de um grupo de deuses) aos seres humanos. Ali se passam as aventuras da mitologia. de linguística e dos estudos clás- sicos. Muitas vezes na história da do caminho e da virtude’) e os humanidade. pu. e pela definição de rituais na forma de O livro sagrado do cris- viver esse conhecimento e se relacionar tianismo é a Bíblia. como os chineses tradas em todas as culturas humanas. o conhecimento de tipo meio. hoje ele já não possui o apelo que possuía na Tolkien (1892-1973) criou toda Antiguidade e que se mantém em algumas sociedades cuja cultura é oral. criando assim os homens e religioso caracteriza-se: as mulheres. como eles postos. As religiões são encon- giosos antigos. na França. os conflitos religiosos provoca- hindus Bhagavad-Gîtâ e Vedas. além dos demais. Em Em uma mesquita em Lyon. Um dos mitos que Platão Outra característica importante da religião é a existência de ritos que orientam a relação dos se- cita em seus diálogos é o do an. que possui uma capacidade especial. às vezes conflituosamente. no entanto. que. uma história imaginada para explicar o mundo. como a Umbanda. buscando uma explicação racional. O pensamento filosófico desenvolveu-se em uma forma de conhecimento que se diferencia dia. É por isso. fez uso de narrativas míticas para. res humanos com a(s) divindade(s). os geral. no exame consciente cidos: O hobbit (1937). com base nelas. Ambas continuaram convivendo. um modo de expli- islamismo está centrado no Alco. Contam com uma rede or- duas cabeças. Qual seria então a diferença? Basicamente pode-se dizer que a religião é um conjunto de crenças. Em outros momentos. Platão. se fundamentam metade” em dogmas. 16 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. por um conjunto de ideias expressas em que homens e mulheres se sen. O escritor britânico J. Zeus or. dos mais simples aos mais elevados. os fatos cotidianos e o senti- rão. ou seja. em geral amparadas em um texto. dos Anéis (em três volumes. quatro pernas e ganizada de pessoas que ocupam diversos PASCAL DELOCHE/GODONG/CORBIS/LATINSTOCK quatro braços. No início da existência. ram guerras sangrentas entre os povos. em 2004. Os judeus organizam Assim como o mito. não substituiu a mitologia. junto de pessoas que administram esse conhecimento e a relação das pessoas Livros sagrados com ele. elas Procurando nossa “outra não podem ser contestadas. Grande conhecedor Hoje em dia ocorre algo semelhante. o imame (sacerdote outras situações. desde I Ching e Tao Té Ching (‘O livro a Antiguidade. Filosofia e religião rativas míticas antigas para criar Como você viu anteriormente. O forma de pensamento. as Igrejas exerceram muçulmano) faz seu sermão para os fiéis. organizações que controlam o funcionamento do homens eram “duplos”: tinham grupo religioso. formam uma hierarquia. Filosofia e mito convivem. R. denou que fossem divididos ao Em resumo. as religiões se tornam instituições. a religião é uma suas crenças em torno da Torá. R. mas não é um novo universo mitológico. O Senhor das coisas. porém. Há ainda outros textos reli. que são verdades absolutas que não podem ser questionadas. uma mitologia moderna em um imaginário “universo paralelo” A convivência entre mito e filosofia que ele denominou Terra Mé. filosofia pretendia ser um pensamento não fantasioso. um texto ou um livro sagrado. compon- tem incompletos e passam a vida do o dogma da religião – embora exis- em busca de sua “outra metade”. que não possuem um livro do andrógino para refletir sobre sagrado. Se o mito era uma narrativa fictícia. em al- blicados entre 1954 e 1955) e O guns dos diálogos filosóficos que escreveu. Dizemos. A filosofia. pessoas consideradas intermediárias na relação entre cada pessoa e a(s) divindade(s). Os ritos são normas e comportamentos organizados pelos sacer- drógino. Tolkien inspirou-se nas nar. no diálogo “O banque. tam também religiões baseadas em uma Em seu texto. baseado no raciocínio. Por serem verdades reveladas por Deus.indb 16 09/11/16 13:13 . e não sobrenatural. Mas. a de seus três livros mais conhe. a união de duas pessoas como pela organização institucional de um con- uma busca de aperfeiçoamento. De modo te”. contudo. com ele. isto é. embora o mito persista. É inegável. em 1977). diz o mito. exatamente uma religião. Também não é raro que se criem explicações Os mitos de Tolkien fantasiosas sobre determinados fatos: elas também são muito parecidas com as narrativas míticas. Platão utiliza o mito tradição oral. por isso. elaborar Silmarillion (publicação póstuma suas explicações racionais. dividida em Antigo Testamento e Novo Tes. como de fato o foi por vários filósofos cristãos durante a Idade Média. as religiões não são necessariamente contrárias.indb 17 09/11/16 13:13 . uma confiança absoluta nas palavras que foram reveladas pela divindade. em protesto contra a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza. Teólogos medievais usavam um lema em latim: credo quia absurdum (‘creio porque é absurdo’). que líderes religiosos. durante uma Cruzada. mas que qualquer um pode aprender. o confronto entre grupos religiosos costuma ser muito violento. feita em 1845. Acima. consideradas desrespeitosas a sua religião. influenciados por interesses políticos e econômicos. O pensamento religioso e o filosófico O pensamento religioso apresenta-se como uma “sabedoria”. FRANÇA. no entanto. Quando o sentimento religioso é mobi- lizado por interesses políticos e econômicos. a foto de novembro de 2012 mostra um jovem palestino lançando uma pedra contra a torre do exército de Israel na entrada da cidade de Belém. ou mesmo as reações de populações islâmicas contra algumas atitudes ocidentais. É importante salientar que não existe relação REPRODUÇÃO/CASTELO DE VERSALHES. acabam por manipular a fé de seus seguidores para perseguir objetivos alheios à religião. Esse conhecimento está centrado na fé. Um exemplo mais atual é o conflito entre muçulmanos e judeus no Oriente Médio. por exemplo. à ideia de tolerância. acreditamos em coisas que não fazem qualquer sentido quando examinadas racionalmente. um conhecimento pronto e defini- tivo que algumas pessoas têm e outras não. MUSA AL-SHAER/AGÊNCIA FRANCE-PRESSE Conflitos religiosos sempre existiram na história da humanidade. em Israel. Foi o que aconteceu. A fé não é racional. por exemplo. desde que aceite FILOSOFIA os dogmas. o que permite a convivência pacífica entre concepções religiosas opostas. Os primeiros filósofos foram justamente aqueles que não aceitaram os dogmas religiosos e as Como pensamos? 17 Book_SESI1_FIL_MOD1. a pintura de Dominique Louis. papel de intermediárias em conflitos. durante as Cruza- das entre os séculos XI e XIII (conflitos entre cristãos e povos árabes pelo controle da Terra Santa) ou nos conflitos entre católicos e protestantes na Europa no século XVI. Ocorre muitas vezes. justamente para demarcar a diferença entre a fé e a razão. às vezes. representa guerreiros franceses defendendo uma fortaleza na cidade de Acre. embora a razão possa ser utilizada como um instru- mento para compreender os mistérios da fé. direta entre determinada confissão religiosa e conflitos observados entre os grupos religiosos ao longo da história. em 1291. Mesmo que baseadas em dogmas. À direita. Tome. A Verdade e a Parábola to religioso é um “pensamento Um dia. explicações míticas. e ninguém lhe tos”. sem roupas e sem adornos. já que os homens me evitam tanto! – res- a dúvidas e implicam aceitação pondeu a amargurada Verdade. ‘E eu já operei muitos cérebros inteli- gentes’. E todos que a viam lhe viravam as costas de vergonha ou de medo. Pintura de Agostinho feita volvida a partir do século III. p. ‘e nunca vi nem Deus. vários evangelhos adornos. Mas pode-se dizer que toda religião se constrói também como uma filosofia. e tam. converteu-se ao cristianismo em 386. há aspectos de concordância entre elas. ciando histórias que servem Uma tarde. BOLONHA. Dentre as vá- rias obras. Os filósofos procuraram construir Parábolas explicações racionais. Deleuze e Félix Guattari. estudos teológicos. O judaís. ITÁLIA. E há também aqueles que são filósofos e teólogos ao mesmo tempo. o pensamen. respondeu o neurologista. que não estivessem prontas nem fossem definitivas. Disponível em: <http://portaldoprofessor. Certos filósofos fazem duras críticas àquilo que chamam de “mistificações” da religião. PRAZERES. Assim. muito desconsolada e triste. Foi ordenado padre na ci- dade de Hipona. a Verdade percorria os confins da Terra. Adaptado de: SILVA. e começaram a buscar outras explicações. destacam-se Confissões (397-398) e Cidade de Deus (terminado em 426). Jostein. no livro O que é a filosofia?. Escreveu diversas obras. como veremos. Luiz.br/ mo também utiliza esse tipo de THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA fichaTecnicaAula. nem anjos’. como Confúcio. GAARDER. enquanto a filosofia como seu próprio nome. por que você está tão abatida? – perguntou a Parábola. dois pensadores medievais. usa metáforas e parábolas. As relações da filosofia com as diferentes religiões por vezes são conflituosas. filosóficos e comentários bí- blicos. também no norte da África. ensinamentos não dão margem – Porque devo ser muito feia e antipática. sendo um dos principais teóricos da filosofia cristã. encontrou a Parábola. te. gens da vida de Cristo.html?aula=24169>. 18 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1.mec. BIOGRAFIA Agostinho (344-430) RABATTI-DOMINGIE/AKG-IMAGES/ALBUM/ LATINSTOCK/PINACOTECA NACIONAL. gabou-se o cosmonauta. a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola e. roupas e veja o que acontece. é um “pensamento por concei. Esses – Verdade. não. que passeava alegremen- como grandes quadros explica. baseada em releituras da obra de Platão). ensinamento. e não pela aceitação incondicional do dogma. Maria Carolina. alguns religiosos criticam o “ateísmo” de certos filósofos. e depois tornou-se bispo. que fizessem sentido e que Segundo os filósofos Gilles pudessem convencer pela lógica. tão nua por figuras”. de repente. Nasceu na cidade de Tagaste. apresenta características que a aproximam da filosofia). muito influenciada por Plotino (205-270 – um dos principais filósofos responsáveis por uma releitura tardia de Platão) e pelo neoplatonismo (corrente de pensamento desen. enun. O neurologista era cristão. A obra filosófica de Agostinho. como a parábola ao lado. a Verdade decidiu visitar os homens. ‘Já estive várias vezes no espaço’. tivos para a vida humana. no norte da África. é pelo italiano Domenico marcada por uma tentativa de cristianizar o pensamento de Platão. ao tratar da relação análoga entre religião e ciência (que. parte onde passava era bem-vinda e festejada. – Não é por isso que os homens evitam você. 250.indb 18 09/11/16 13:13 . sinamentos dos sábios chineses Então. Vista algumas das minhas Podemos ver isso nos en. ilustra essa situação: “Certa vez. Por isso. trajando um belo vestido e muito elegante. ‘e também nunca achei um único pensamento’. 1995. contêm parábolas sobre passa. vivenciando em si mesmos o conflito entre filosofia e religião: Santo Agostinho e Santo Tomás. O pensamento por figuras dava as boas-vindas. um cosmonauta e um neurologista russos discutiam sobre religião. Parábola. 2012. São Paulo: Companhia das Letras. e o cosmonauta. são exemplos disso. Beccafumi em 1513.gov. rejeitada e desprezada. bém no cristianismo: no Novo Moral da história: Os seres humanos não gostam de encarar a Verdade sem Testamento. O mundo de Sofia. plena por parte dos fiéis. Acesso em: 1 nov. Filho de pai pagão (não cristão).. Eles a preferem disfarçada. A passagem a seguir. como uma forma de ver o mundo. por toda antigos. criticada. que às vezes funcionam. A canção (detalhe). (1225-1274) Há dez mil anos atrás. mais organizado. Apoteose de Santo Tomás de Aquino Você talvez já tenha ouvido a canção de Raul Seixas que traz esse verso em seu refrão. Isso não é um tipo de previsão ou de profecia. alterações climáticas que não puderam ser previstas. reflexões. Em síntese. Mas essa criação conceitual pelo exercício do pensa- mento só pode ser feita com base naquilo que já se sabe. necessariamente. ao mesmo tempo. desfila uma série de fatos. Algo análogo ocorre com a filosofia. que consegue observar e “prever” sagrados à razão dos textos filo- o tempo. Como você já estudou. se o pensamento permanecer no senso comum não haverá filosofia. outras não. É como em pintura se houvesse coisas que todos nós soubéssemos. tudo de Aristóteles. elaborou estu- cotidianamente. Tornou-se padre senso comum. Itália. considerado um de outros momentos. esse conheci- mento inicial acabe por ser abandonado. que teriam sido presenciados por esse estranho e velho narrador. Se ficarmos presos a certos saberes do senso comum. pulares são uma sabedoria oral transmitida de uma pessoa para outra. Raul. Paulo. Fundou uma corrente de mecanizada e com produção muito grande.l. Os ditados po. mas em certas situações precisamos de um conhecimento formal mais sua filosofia aos preceitos cristãos. não há filosofia sem um ponto de partida no senso comum. Gramsci afirma que o senso comum é um bom ponto de partida. Sua obra filosófica centrou-se no es- que não podemos nos contentar com ele. Das coisas que observamos e vivemos fia cristã católica. parte do conhecimento que as pessoas já têm. filosofar é produzir um GERSON GERLOFF/PULSAR IMAGENS conhecimento sistemático e organizado por um processo de criação de conceitos. conseguem FILOSOFIA dizer se vai ou não chover. é positivo numa situação de pequena produção. sejam eles organizados ou não. porém. Na foto de 2012. Francisco de Zurbarán. sua terra natal. mas. não avançamos para um pensamento mais elaborado. ainda que algumas vezes. sobretudo as que lidam com a terra. De feita em algum modo. como somente a filosofia ou a ciência podem construir. é uma conclusão construída depois de anos e anos de observação e da percepção de que certos fenômenos estão relacionados e se repetem. Não pode ignorar esse conhecimento. de geração em geração. 1976. no processo de pensar filosoficamente. Caracteriza-se por ser um conhecimento absorvido sem maiores ESPANHA. e em Paris (França) e Colônia (Alemanha). mas seus principais intelectuais. Outro grande expoente da filoso- Todos nós pensamos e construímos uma visão de mundo. COELHO. como se vivêssemos há muito tempo. ela evidencia um tipo de conhecimento que todos nós experimentamos e que se 1631 convencionou chamar de senso comum. sistematizado. esse saber não é construído sobre métodos específicos nem resulta de uma pesquisa com objetivo definido. Algumas pessoas. buscando articular a fé dos textos O conhecimento do agricultor citado a seguir. tiramos conclusões e elaboramos explicações. não se baseia em métodos. Há 10 mil anos atrás. Em tor da Igreja”.indb 19 09/11/16 13:13 . O gerenciamento deste negócio não poderá ficar à pensamento cristão.]: Phonogram. ou no voo e canto dos pássaros. Mas esse tipo de conhecimento não dos de teologia e de filosofia na é sistemático. o tomismo. Filosofia e senso comum BIOGRAFIA Tomás de Aquino Eu nasci há 10 mil anos atrás / e não tem nada neste mundo que eu não saiba demais SEIXAS. toda sóficos. In: SEIXAS. Raul. É importante que ele conte que exerceu grande influência no pensamento ocidental. Como pensamos? 19 Book_SESI1_FIL_MOD1. adaptando minados momentos da vida. por exemplo. Esse tipo de conhecimento pode nos ser útil em deter. na medida em que é partilhado por todos ou ao menos ORONOZ/ALBUM/ LATINSTOCK/MUSEU DE BELAS ARTES. pois evidencia que dominicano e foi aclamado “Dou- todos os seres humanos pensam e produzem conhecimentos. O senso comum como ponto de partida importantes centros acadêmicos Antonio Gramsci foi um dos filósofos que mais se ocuparam das relações da filosofia com o em sua época. agricultor de pequena propriedade cuida de plantação em São Martinho da Serra (RS). SEVILHA. para evitar grandes perdas por causa de cipal obra é a Suma teológica. Embora baseado em fatos e observações. A filosofia. Sua prin- com uma previsão meteorológica científica mais precisa. por um grande número de pessoas. que pode nos descortinar todo um outro mundo. Por vezes ele fala de senso comum com uma conotação positiva. [S. Ele está baseado em um senso comum. sem aprofundamento. Mas pense em uma grande fazenda. do espanhol Você certamente já ouviu também o ditado popular “As aparências enganam”. com base na observação das nuvens e da direção e intensidade do vento. mercê de observações imprecisas. sempre segundo certos parâmetros já estabelecidos. partindo de motivações que até podem ser as mesmas. TRABALHANDO COM TEXTOS O primeiro texto que você lerá a seguir trabalha o sentido da essencialmente. ou seja. Se a suprimirmos. outras formas de pensar que os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari deno- minam de potências do pensamento. a mitologia cons- ga e religião grega. Da mesma forma. trata-se de um conjunto de narrativas que mitologia grega e suas relações com a religião. a mitologia. ao atri- Grécia antiga. pensar filosoficamente não se confunde nem com o fazer artístico nem com o teorizar científico. dadas suas perspectivas sempre abertas e criativas. Filosofia. E a arte tam- bém necessita de componentes da filosofia e da ciência na criação de suas obras. arte e ciência: as potências do pensamento De acordo com o que estudamos até aqui. como veremos no próximo capítulo. no entanto. Como estudaremos no próximo capítulo. Mas. de negação. talvez faça- O que chamamos de mitologia grega? Grosso modo e mos desaparecer o aspecto mais apropriado para nos 20 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. Nesse sentido. Para ele. com a arte e a ciência. assinalando seus motivos e desenvolvendo seus significa- go francês Jean-Pierre Vernant aborda a mitologia referente à dos. Esse é um exemplo de diálogo entre a filosofia e a ciência. há uma intensa discussão sobre as questões éticas implicadas nas manipulações genéticas. Laboratório de empresa norte-americana. ora No texto a seguir veremos como o historiador e antropólo. 2010). Há. a ciência tem necessidade de diálogo com a arte e a filosofia para produzir suas teorias. em suas atividades criativas. que desenvolve pesquisas no campo da genética com células-tronco de embriões humanos (Connecticut. porque não se encerram em dogmas nem em determinado panorama do mundo. de que os mitos às vezes tratam de forma muito direta. São tipos de conhecimento que buscam a renovação. essa questão só pode ser respondida buírem aos deuses uma forma figurada. O pensamento criativo Se a filosofia mantém com a mitologia. presença no centro do mundo humano. ex- periências e possibilidades. mitologia está próxima da religião: ao lado dos rituais. constantemente a filosofia precisa dialogar com a arte e com a ciência para produzir seus conceitos. a arte e a ciência. um dos mo- A questão mitológica dos de expressão essenciais.indb 20 09/11/16 13:13 . como veremos na última unidade deste livro. encarnam sua se levarmos em conta a relação existente entre mitologia gre. a religião e o senso comum são formas de pensamento que produzem conhecimentos que nos ajudam a viver e a pensar. que nos fazem pensar e nos instigam a curiosidade para além do que já sabemos. Atualmente. ao lado dos diversos símbolos plásticos que. de dois tipos de perso- texto trata de uma ideia mitológica contemporânea: a impor. muitas vezes de interdependência. São elas: a filosofia. estão sempre em busca de novos saberes. ora Texto 1 justificando-os no detalhe dos procedimentos práticos. mas que geram produtos diferentes. a religião e o senso comum relações muitas vezes con- flituosas. nagens que as cidades antigas cultuavam. em razão do panorama fechado que cada uma delas apresenta. para o pensamento religioso dos gregos. titui. o segundo falam de deuses e heróis. SPENCER PLATT/GETTY IMAGES Fazer arte não é fazer filosofia nem ciência. do mes- mo modo. a filosofia conserva relações positivas. Por isso. a tância do plástico em nossa civilização. elas expressam inquietação e insatisfação. elas não seguir. telúrica.. seus conhecimentos seus deuses. transformando os cristais originais numa variedade de ob- Sectário: jetos cada vez mais surpreendentes. entre esses dois extremos. leve em conta as características que ele aponta sobre a pode formar tão facilmente um balde como uma joia. -prima como enigma. Não há lugar. Esse aspecto de narração (e de narração livre o (forma apropriada para manifestar o segredo de um itine- bastante para que. contudo. Considerando essas questões. Com base nessa afirmação. a fim é da ordem do real por um lado. que age de ma- um espetáculo a se decifrar: o próprio espetáculo dos seus neira intolerante. mento religioso grego. meio autômato. em oposição ao que do stand. nas quais a verdade da fé se encontra- ria definida e depositada uma vez por todas. 229-232. Afora algumas correntes sectárias e margi. Seus princípios eram atribuídos ao poeta mitológico um objeto do que o vestígio de um movimento. cano. que acabou por designar. intelectual. tornada visível. 2001. O plás- seita religiosa surgida na Grécia durante o século VII a. do outro. enquanto acarretam a adesão. vagamente vigiado por um empregado de boné. ção. o plástico. e. o que é do domínio da ficção pura: a versão da matéria. e da demonstração argu. uma máquina ideal. responda: quais são as se- gião do livro. Vernant afirma: “A religião grega não é uma religião itinerário do plástico lhe dá a euforia de um prestigioso Como pensamos? 21 Book_SESI1_FIL_MOD1. o plástico é. mos a mitologia grega? aliás. ela não conhece texto sagrado ou e as religiões cristãs? escrituras sagradas. uma sociedade do livro”.. o espanto perpétuo. e. Apesar dos seus nomes de pastores gregos (Polistire- didos.indb 21 09/11/16 13:13 . de um espanto feliz. Orfeu e exerceu grande influência na Antiguidade grega.] jeto. em sua origem. proeza. que. o objeto perfeito. resultados. bacia ou Questões sobre o texto: papel). A religião grega não é uma reli. aquele que pertence a uma seita qualquer. para qualquer dogmatismo. Entre mito e política. não pos. Isto não significa. que o estudioso francês Roland Barthes discute no texto a suem qualquer caráter de força ou de obrigação. sentidos como tais desde nossos mais antigos docu. entre o singular da origem e o plural dos efeitos. De um lado. podemos pensar nas com um além múltiplo. tubulada e oblonga fábula. nada. apenas um tra- para nós a literatura. que defendia a reencarnação da alma após a morte do cor- tico fica inteiramente impregnado desse espanto: é menos po. que podemos des. encontram nos textos bíblicos suas cobrir nos mitos. hu- ao que chamamos de religião. visto que o homem mede o seu poder pela amplitude das transformações e que o próprio 3 No texto. Perante cada forma terminal (mala. em fila. ao mesmo tempo rica religiões cristãs. car- roceria de automóvel. mais do que uma substância.. uma dimensão produtos foram recentemente concentrados numa exposi- de “fictício”. a soma narrativas míticas e o que consideram ser a verdade revelada do que um grego devia saber e considerar verdadeiro sobre por Deus. [. é essencialmente uma substância alquímica. de ver realizar-se a operação mágica por excelência: a con- mentada por outro. ao contrário do pensa- e ordenada. complexo. o público espera demoradamente. uma base de certeza indiscutível. Assim. brinquedo. revelar o universo divino do politeísmo. é a ubiquidade feito heroico. Jean-Pierre. assim como o que é hoje mano. Daí FILOSOFIA mitologia em todo o trecho. o plástico mu- constituem um corpo de doutrinas que fixam as raízes dou o mundo contemporâneo e gerou toda uma mística a teóricas da piedade. como o orfismo. Este “proteísmo” do plástico é total: vras. versões múltiplas possam coexistir deados em potes brilhantes e canelados. E como esse movimento é. o que é a mitologia grega? Em suas pala. À entrada mo mŷthos. demonstrada pela evolução semântica do ter. As crenças que os Será que um produto também pode se tornar um mito? É o mitos veiculam. Polivinile e Polietilene). em suma. O plástico Os mitos são outra coisa: são relatos – aceitos. no plano seu redor. perante as ligações que surpreende 2 Qual é a importância da religião grega para compreender. ne.C. Fenoplaste. tecido. escova. cujos mentos. quase infinito. o seu credo. enten. é considerado uma matéria milagrosa: o mi- Orfismo: lagre é sempre uma conversão brusca da natureza. sobre um mesmo deus ou um mesmo rário) transforma sem esforço um monte de cristais esver- episódio de sua gesta. p. deus. e. assegurando aos fiéis. São Paulo: Edusp. nesse caso. como o seu nome vulgar o indica. por isso mesmo. o espírito considera sistematicamente a matéria- 1 Segundo Vernant. o sonho do homem perante as proli- ferações da matéria. escrito na década 1950. Texto 2 dentro dela. o plástico é a GLOSSÁRIO Gesta: própria ideia da sua transformação infinita. melhanças e diferenças entre o pensamento religioso grego nais. meio VERNANT. por exemplo. a e ser contraditórias sem escândalo) relaciona o mito grego matéria bruta. reunidos em forma de narrativas. Para Barthes. Trata-se. sobre religião e sua leitura do texto. Comportam assim. fazia parte de um mundo da aparência. A moda do plástico acusa uma evolução no mito do símili sendo um costume historicamente burguês (as pri. Com base no que foi estudado neste capítu- vai substituí-la e comandar a própria invenção das formas. uma impotên. 2001. p. de um material que pode assumir muitas formas. é o mesmo que alongado. do vermelho e do verde só conserva o estado agressivo. uma matéria ar. ao que parece. utilizando-as somente como um nome. as plumas. Agora é sua vez. personagem mitológico que tinha a capacidade de mudar de forma. 22 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. visto que. um material desfavorecido. Mas aquilo que mais o trai é o som que produz. ou o mito contemporâneo? tificial. o plástico conserva uma aparência Proteísmo: flocosa. pois parece fixar apenas as mais o igual. Aboliu-se a hierarquia das substâncias. datam do início do capita. vamos tornar viva a prática filosófica. no vestuário. mais pre- cisamente. GLOSSÁRIO Mas o preço desse êxito está no fato de que o plástico. que possui a mesma forma. O de significados sagrados. espumas. tância. O ruído que produz derrota-o. Um objeto luxuoso está sempre ligado a terra. e não o raro. lismo). capacidade de ser moldado. o diamante. O plástico é totalmente absorvido pela sua utilização: em úl- tima instância. mas até hoje o símili sempre denotou a pretensão. Aparência flocosa: sublimado como movimento. a 3 A qual tipo de mito Roland Barthes se refere: ao mito antigo pura Substância a recuperar ou a imitar. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. cremoso e entorpecido. fibras. E. Efusão: tancial neutra. a 1 Roland Barthes analisa o plástico como um mito. apesar das suas vantagens utilitárias: a “re. característica de estar ou existir ao mesmo tempo em todos os lugares. já se começaram a fabricar aortas de plástico. espalhamento. porque esse prosaísmo é para ele uma razão 2 Que outros produtos atuais também poderiam ser analisados triunfante de existência: pela primeira vez o artifício visa como mitos? Explique sua resposta. quase não existe como subs. 11. Ubiquidade: capaz de ostentar apenas conceitos de cores. tem de se contentar com uma qualidade subs. sistência”. lo. Símili: sim como as suas cores. Na ordem poética das grandes substâncias. É a justificar essa afirmação? primeira matéria mágica a adquirir o prosaísmo. movimento ao longo da Natureza. não da utilização Questões sobre o texto: prática. perdido entre a efusão das bor- rachas e a dureza plana do metal: não realiza nenhum dos Prosaísmo: verdadeiros produtos da ordem mineral. modifica-se a função ancestral da natureza: ela deixou de ser a Ideia. o comum. as. A sua constituição é negativa: não sendo duro nem profundo. estratos. 111-113. tudo o que de brilhante houvesse no mundo. Mitologias. as peles. que diz respeito à terra. simulta- neamente oco e plano. derramamento. ed. Roland. o tema natural de que é apenas uma atualidade. Quais passagens do texto podem plástico a preço reduzido é uma substância doméstica. e até mesmo a própria vida. carregado prata. É uma substância alterada: seja qual for o estado em que se transforme. uma só substituiu todas as outras: o mundo inteiro pode ser plastificado. químicas: do amarelo.indb 22 09/11/16 13:13 . BARTHES. estado que supõe o simples suspender de um Oblongo: abandono. com aparência de floco. algo turvo. pretendia reproduzir pelo menor preço as substân- cias mais raras. característica daquilo que é comum ou vulgar. Telúrico: meiras imitações. paralelamente. seria então a característica cia em atingir alguma vez o liso triunfante da Natureza. recorda sempre de uma maneira preciosa a sua origem mineral ou ANOTAÇÕES animal. que diz respeito a Proteu. a seda. inventar-se-ão objetos pelo simples prazer de os utilizar. mais fecunda do que todas as jazidas do mundo. Portanto. o vangloriar-se com o saber. e faça uma sabem. Sua Prometeu e o castigo de Zeus. televisão. Para por ela na invenção. Veja as respostas no Guia do Professor. notícia trazem. a concei- DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA tos vãos e experimentos erráticos: o fruto e a posteridade de tão gloriosa união pode-se facilmente imaginar.indb 23 09/11/16 13:13 . não podem comprar. com todos os seus te- FILOSOFIA durante a argumentação. por meio da razão. gírias. O programa do Ícaro e as asas de cera. Contudo. a superioridade do publicações reconhecidos. a aversão à dúvida. organizado e coerente coisas estão guardadas que os reis. as diferenças entre a mitologia e a sobre religião: apêndice da obra Crítica da filosofia do di- religião de acordo com o que você estudou no capítulo. que a gente jornais. Para lou-se fracassada. Vejam algumas sugestões: o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de li- Narciso e a beleza. o agir por interesse. “o pai da filosofia experimental”. 6 O texto a seguir mostra que a pretensão da filosofia de se 4 Em grupo. internet. façam uma pesquisa sobre um mito grego. a credulidade. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece As sereias e as tentações. qual escolheria? ram um casamento feliz do entendimento humano com a natureza das coisas e o acasalaram. o fetichismo verbal. opor ao mito e elevar-se acima dele. e que provêm de países que seus navegantes não recorra a generalizações. isso. mimos dominar a natureza. ça essas três invenções produziram – uma na ciência. de Claude Lévi-Strauss (Campinas: Papirus. vrar os homens do medo e de investi-los na posição de Cronos e a imortalidade. estamos subme- tidos à sua necessidade. ditados populares e e descobridores não podem alcançar. EM BUSCA DO CONCEITO As respostas encontram-se no portal. disso não há dúvida. A im- O principal elemento de um texto dissertativo é a prensa não passou de uma invenção grosseira. com suas palavras. a ti- como você compreende essa forma de pensamento. você pode consultar os seguintes textos: ATIVIDADES PARA PRATICAR sobre mito: capítulo 1 da obra O pensamento selvagem. senhores. digo eu. homem está no saber. que “primeiro acreditam que os outros sabem o que 5 Escolha uma das formas de pensamento estudadas neste ca- eles não sabem. Como pensamos? 23 Book_SESI1_FIL_MOD1. sobre as quais sua vontade forneça exemplos que justifiquem seus argumentos. Leia-o atentamente. midez no contradizer. etc.. e depois que eles próprios sabem o que não pítulo (a mitologia. até certo ponto. 1981). será necessário que vocês interpretem o sentido do mito O conceito de esclarecimento e façam uma reflexão sobre a relação que ele pode ter com No sentido mais amplo do progresso do pensamento. Rees. bússola já era. a você deverá ter em mente alguns critérios: outra na guerra. sob o signo de uma calamidade triunfal. os dias de hoje. Hoje. a na introdução. a te- dissertação explorando: meridade no responder. não impera. presente na obra A filosofia e a visão comum do mun- 3 Explique em que medida o senso comum faz parte do pensa- do (São Paulo: Brasiliense. se contudo nos deixássemos guiar Escolha bons argumentos para justificar sua resposta. seus diferentes temas. reve- crevam a narrativa atualizando-a para o contexto atual. a religião ou o senso comum). apenas presu- provérbios. esclarecimento era o desencantamento do mundo. o canhão era argumentação. de Karl Marx (São Paulo: Boitempo Editorial. meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo Apresentem o texto elaborado pelo grupo aos colegas da clas. ou em estudos e tropeçou e caiu sobre elas. Nele muitas desenvolva um raciocínio claro. nós a comandaríamos na prática”. a terceira nas finanças. mento filosófico. Bacon. o deter-se em se você tivesse que optar pela filosofia ou por essa forma conhecimentos parciais: isto e coisas semelhantes impedi- de pensamento. investigações pessoais. reito de Hegel. souros. Mas que mudan- além de ler bastante e manter-se sempre bem informado. em Resoluções e Gabaritos. a preguiça nas quais as relações da filosofia com ela. É ela que sustentará as ideias propostas uma invenção que já estava praticamente assegurada. conhecida. 2010). isso. de fato. Ele desprezava os adeptos da tradi- ção. 1 Explique. em vez disso. 2005). revistas. 2 Qual é a relação entre a filosofia e o mito? sobre o senso comum: artigo de Oswaldo Porchat Perei- ra. mas. no comércio e na utilize argumentos baseados em fatos noticiados por navegação! E foi apenas por acaso. já reunira se. das quais seus espias e informantes nenhuma não utilize exemplos pessoais. saber. Para que a argumentação seja consistente. 1959. (100min).indb 24 09/11/16 13:13 . dice no contexto do carnaval carioca do final dos anos 1950. 1 DVD. Direção de Desmond Davis. até mesmo o credo no- to que vence a superstição deve imperar sobre a natureza minalista de Bacon seria suspeito de metafísica e incor- desencantada. cientificamente e os seres humanos conse. com também as mitologias oriental e nórdica. man (Estados Unidos: Warner Bros. tem sequência com o DICK. O que os homens querem aprender da natureza é tores estabelecem entre mito e esclarecimento (tome a como empregá-la para dominar completamente a ela e aos palavra esclarecimento no sentido geral de razão humana homens. triunfo da mentalidade factual. o esclarecimento eliminou com seu cautério corda dos autores? Por quê? SUGESTÃO DE LEITURAS E DE FILMES LEITURAS PARA PRATICAR FILMES PARA PRATICAR BULFINCH. que é a Agora. Fran- em que a existência de Deus foi provada ça/Itália/Brasil. DIVULGAÇÃO/VERSÁTIL HOME VÍDEO Ficção científica que se passa numa época Orfeu Negro. Labirinto da morte. to. Os reis não Cautério: controlam a técnica mais diretamente do que os comercian. faça um rascunho. (120 min). não importa sua origem.C. incluindo seu julgamento e a condenação à morte. As múltiplas coisas que. de 2012. 1988. nem na compla. Rio de Janeiro: Zahar. O samento que se faz violência a si mesmo é suficiente- casamento feliz entre o entendimento humano e a natureza mente duro para destruir os mitos. A nova versão. Warner Bros. O livro de ouro da mito. Direção de Roberto Rossellini. Poder e conhecimento são sinônimos. 1981. VERNANT. o avião de caça.. englobando outras. EDIOURO DIVULGAÇÃO/WARNER BROS. do século V a. Qual é a sua conclusão? Você concorda ou dis- consigo mesmo. a utilização do trabalho de outros. nem na escravização da criatura. A técnica é a essência desse saber. o controle remoto. elabore um mais eficaz. A história do semideus Perseu e seu amor Coletânea de mitos que não se restringe por Andrômeda é narrada juntamente com aos mitos greco-romanos. logia: histórias de deuses e heróis. Theodor. 24 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1.. Sem a menor consideração e filosofia). O saber que é poder não conhece nenhuma reria no veredicto de vacuidade que proferiu contra a barreira. 1971. Apesar de seu alheamento à matemática. os deuses. COMPANHIA DAS LETRAS os homens. O conceito de esclarecimento. 2. lo: Ediouro. dos Unidos/Grã-Bretanha. [. o qual se desenvolve. Itália. lançada em 2010. 106 min). Nada mais importa. São Paulo: filme Fúria de titãs 2. em linguagem clara e acessível. utilizando esse rascunho. que é uma bússola mais con. assim também está à dispo- GLOSSÁRIO sição dos empresários. segundo Bacon. que Vacuidade: não visa conceitos e imagens.. Depois. o último resto de sua própria autoconsciência. Só o pen- rou bem a mentalidade da ciência que se fez depois dele. ed. MELHORAMENTOS Melhoramentos. São Paulo: Companhia Sócrates. sintetizando as ideias principais imprensa sublimada. 99 min). Thomas. mas o método. (118 min). assim como sua defesa e os últimos ensinamentos. Diante do atual das coisas que ele tem em mente é patriarcal: o entendimen. In: Dialética do esclarecimento. que é uma artilharia do texto. meio físico ou químico empregado para queimar tecidos tes: ela é tão democrática quanto o sistema econômico com do corpo humano em procedimentos médicos. REPRODUÇÃO/ED. 2000. O filme reconta o mito grego de Orfeu e Eurí- guiram comunicar-se diretamente com Ele. Interessante obra de introdução aos mitos Os últimos momentos de Sócrates na Atenas gregos. 19-20. Philip K. texto explicando com suas palavras a relação que os au- fiável. escolástica. 2011. Esta- REPRODUÇÃO/ED. ele ainda encer- ra nada mais são do que instrumentos: o rádio. São Pau. DIVULGAÇÃO/FOX FILMES das Letras. nem o prazer do discernimen- qualidade do que é vazio. dirigida por Jonathan Liebes- REPRODUÇÃO/ED. o capi- tal. Fúria de titãs. O Universo. Jean-Pierre. Max. p. Direção de Marcel Camus. Do mesmo modo ADORNO.] cência em face dos senhores do mundo. direção de Louis Leterrier (Estados Unidos: os druidas e outras tradições. HORKHEIMER. que está a serviço de todos os fins da economia burguesa na fábrica e no campo de batalha. RAI e TVE. Bacon captu. 2005. ao mesmo tempo. Pintor. elaborada por Albert Einstein (1879-1955): tudo o que se observa é relativo ao ponto de vista do observador. Também as artes plásticas podem encontrar motivação na ciência. INGLATERRA. seus estudos de anatomia humana ajudaram-no na pintura e na escultura e ampliaram o conhecimento científico da época. INGLATERRA. Muitas das canções do CD foram inspiradas em temas científicos. LONDRES. inclusive com a morte. de cerca forma de se registrar o interior do corpo humano. Nessa categoria de c Compreender Arte.MCESCHER. da Filosofia com a Na Idade Média. músi- co e. LONDRES. Ciência: método e conhecimento Em 1997 o cantor e compositor Gilberto Gil lançou o álbum Quanta. feita em 1953. FILOSOFIA Estudos de feto humano no útero. engenheiro e arquiteto.indb 25 09/11/16 13:13 . FRANÇA. convidando-as a adotar um determinado conjunto relações transversais de ideias ou até mesmo obrigando-as a fazê-lo. a ciência busca inspiração na arte REPRODUÇÃO/COLEÇÃO REAL DA RAINHA ELIZABETH II. correspondem a “potências do pen- no pensamento samento”. de Leonardo da Vinci. segundo os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari. REPRODUÇÃO/BIBLIOTECA DE ARTES DECORATIVAS. essa era a única do ombro. quem ousasse contestar a autoridade da Igreja católica poderia Ciência e a Arte ser julgado e. Na época em Estudos de ossos e músculos do braço e que Da Vinci fez esses desenhos. por exemplo. o artis- ta utilizou uma ideia da física contemporânea. expressões da criação assim como a filosofia. de 1510. escultor. como já aconteceu em certos momentos históricos. punido de diversas formas. para criar uma teoria que explique um fenômeno. PARIS. Um dos maiores exemplos da associação entre esses dois saberes é Leonardo da Vinci (1452-1519). como distintas Neste capítulo vamos estudar a arte e a ciência. que. ESCHER COMPANY-HOLLAND/ ALL RIGHTS RESERVED<WWW. De forma semelhante. Filosofia: o que é isso? 25 Book_SESI1_FIL_MOD1. o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo. C. se condenado. formas de pensamento se incluem a mitologia. a religião e REPRODUÇÃO/COLEÇÃO REAL DA RAINHA ELIZABETH II. no qual propõe uma articulação entre arte © 2013 THE M. Na gravura de Escher reproduzida ao lado. inventor. no Guia do Professor. Ciência e Filosofia o senso comum. poeta. A gravura. de Leonardo da Vinci. que ele chamou de Relatividade.COM> e ciência. litografia de Maurits Cornelis Escher. feitos entre 1510 e 1513. tem diversas perspectivas simultâneas. Relatividade. CAPÍTULO 3 A ciência e a arte Veja. Objetivos: COLOCANDO O PROBLEMA c Identificar as No capítulo anterior você estudou as formas de pensamento que oferecem às pessoas diferentes diferenças e as maneiras de compreender e explicar o mundo. assim.C. 26 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. por exemplo. a Reforma protestante. utilizando ferra- mentas adequadas para a obtenção de um resultado. de que os objetos caem ao chão em consequência da lei da gravidade. Galileu Galilei. e o absolveu das acusações. que levaram os europeus à expansão de seus territórios. deita- exemplo de inovação técnica utilizada dos ao pé da torre a uma distância segura. heliocêntrica. e o fogo é mais leve que todos os outros elementos. LONDRES. Na foto. BIOGRAFIA A FILOSOFIA NA HISTÓRIA Galileu Galilei O pensamento científico (1564-1672) A ciência é um tipo de pensamento que investiga os fenômenos da natureza e cria conheci- mentos sobre ela por um processo de experimentação. quando qualquer objeto com peso é retirado do chão – o mais próximo que pode estar do centro do Universo –. A “gravidade” (palavra que só apareceria mais tarde. como a astronomia. em do de heresia pela Igreja católica. Sistemático porque é organizado e procura relacionar as várias partes que compõem esse conhecimento. os corpos pesados têm como lugar natural o centro do Universo. ‘peso’) seria então uma característica de cada corpo. é um mesmo tempo. Por defender essa teo- ria – elaborada por Nicolau Co. Pensador renascentista italiano. sua tendência é voltar para lá. ou lei da gravitação universal. como se acreditava as Grandes Navegações. AKG-IMAGES/ALBUM/LATINSTOCK conforme seu raciocínio. embora perfeitamente lógica. mais rápido cairia o corpo. a ex- plicação estava errada. Hoje.C. destaca-se saber por que qualquer objeto que tenha massa (“peso”) cai se estiver livre. inclusive o ar. Assim. por exemplo. camente que a teoria de Aristóteles. ao estabeleci- na época. É um conhecimento sistemático e me- REPRODUÇÃO/MUSEU MARÍTIMO NACIONAL. por mais lógica que parecesse. todos os objetos “método empírico” de pesquisa. o contrário. a água é mais leve que a terra. o pensamento científico do século XVII surgiu de um processo iniciado bem antes. INGLATERRA. e não pensamento. em sua cidade natal. que representou o nascimento de uma nova mentalidade religiosa. na teoria da gravidade. segundo a qual a buscando-se uma renovação artística e cultural por meio da valorização do ser humano e do Terra gira em torno do Sol. mar. Quanto mais pesado. é composta principalmente do elemento terra. bússola do século XVI. o ar pela ciência até hoje. Ela permitiu uma orientação mais precisa dos navegadores em alto. tódico. Estava provado empiri- Navegações. num período de grandes transformações do co- nhecimento humano e da própria concepção da realidade. pérnico (1473-1543) –. final da vida e incluiu suas obras no Índex de livros proibidos. que o condenou à prisão até o No entanto. No entanto. foi acusa. água. e soltado objetos de diferentes massas ao A bússola. era completamente equivocada. Conta-se que ele teria subido ao alto da Torre de Pisa. segundo a teoria aristotélica. Os observadores (provavelmente seus alunos). Por isso. A evidência dessa explicação fez com que as pessoas confiassem nela durante praticamente dois mil anos.. em pintura de Justus formas de produzir conhecimentos. oposição aos valores feudais da Igreja católica. Aristóteles já procurava entender e explicar esse fato. O filósofo buscava seus diversos estudos. invenção chinesa. procedimentos usados éter (para os corpos celestes). A terra é o elemento mais pesado. constataram que todos os pelos europeus na época das Grandes objetos chegaram ao solo ao mesmo tempo. E foi Galileu quem mostrou isso. textos e obras da Grécia e Roma dos séculos VIII a. é bastante familiar para a maioria das pessoas a ideia 1983. Aristóteles afirmou que a defesa daquilo que denominou todo corpo físico que tem massa busca seu “lugar natural” no Universo. ideias. feita em 1636. seguindo uma linha de raciocínio coerente. e a velocidade com a qual ele cai (isto THEO SZCZEPANSKI/ ARQUIVO DA EDITORA é. visão do processo contra Galileu Mas para chegar a esse conhecimento foi necessário trilhar um longo caminho. volta para seu lugar) seria proporcional a seu peso. o peso (massa) de cada corpo depende de sua composição. A ciência de hoje foi criada no século XVII. a matemática e a física. Metódico porque segue um determinado caminho previamente concebido. ar e fogo (para os objetos do mundo terrestre) e servação. Entre Na Antiguidade grega. um método para produzir esses conhecimentos. o centro do Universo.indb 26 09/11/16 13:13 . derivada da palavra latina gravitas. Segundo ele. é mais leve que a terra e a água. baseado na experiência e na ob. a Igreja católica fez uma re. que se dedicou a diferentes saberes. A Terra. procurando novas Galileu Galilei. são formados pelos elementos básicos: terra. Um dos maiores representantes desse período foi o italiano Sustermans. e V d. Em Pense. Vários pensadores da época estavam rompendo com a maneira de pensar predominante durante toda a Idade Média. mento de novas rotas comerciais e ao contato com outras civilizações. Alguns acontecimentos significativos ocorridos a partir do século XVI que proporcionaram aperfeiçoou o telescópio e rea- lizou observações astronômicas essas transformações foram: que iam ao encontro da teoria a retomada de valores. eles poderiam depois ser fia natural. colônia grega na Ásia Menor): Tales de Mileto. Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso. Sua principal obra. aplicados a diferentes situações. em pintura de plo. Ou seja. ou o átomo. acreditavam que era o fogo. em geral traduzida por ‘opinião’. era um tipo de “ciência prática”. mas que pudesse ser aplicada para resolver problemas práticos. ao preocupar-se mais com os pro- blemas humanos do que com os fundamentos da natureza. No caso do planeta A ciência da natureza. também baseado na observação. cada um desses povos antigos enfa. Escola atomista (afirmava que o átomo era o princípio das coisas): Leucipo de Mileto e Demócrito de Abdera. mas há registros de uma longa série de experimentos de BIOGRAFIA Galileu com planos inclinados. os egípcios criavam os conhecimentos de que necessitavam. que usaram na construção de seus grandes mo. No entanto. A episteme indicava um conhecimento racional. Diz respeito ao senso comum. Em geral são agrupados em “escolas”. em formular explicações gerais. Mesmo que esses não tivessem uma aplicação direta e imediata. segundo Anaximandro de Mileto. que o levaram à mesma conclusão. INGLATERRA. segundo os gregos Terra. Tendo expõe a teoria da gravitação uni- aprendido com os egípcios a relação entre os lados de um triângulo (conhecimento que utilizavam nas versal. REPRODUÇÃO/GALERIA NACIONAL DE RETRATOS. Dedicou-se à “filosofia natu- para determinadas situações específicas. matemático e físico in- teórica. como o ápeiron. que compreendia as Ciências geral que pudessem ser aplicados a outras situações. os gregos obser. calculadas e interessados em resolver problemas práticos. Anaximenes de Mileto. Como pensamos? 27 Book_SESI1_FIL_MOD1. era um conhecimento baseado nas observações cotidianas e produzido sem método nem sistematização. com construções de conhecimentos mais amplos e a natureza. Galileu não chegou a elaborar uma teoria para explicar o fenômeno da queda dos corpos. Pitágoras transformou tal conhecimento em um teorema. conforme Leucipo de Mileto. Godfrey Kneller. Não eram transformados em conhecimentos de natureza ral”. os filósofos falavam em dois níveis de conhecimento: a doxa e a episteme. mas construído de maneira sistemática e metódica. LONDRES. alguns foram seus contemporâneos e outros viveram depois dele. Mas sua ideia de que só podemos construir (1643-1727) explicações com base em fatos observados revolucionou o pensamento científico. seriam tomados em conjunto: uma explicação geral rística de cada corpo físico. que é muito maior e mais Os chamados filósofos pré-socráticos dedicaram-se a explicar aquilo que os gregos chamavam pesado que qualquer corpo que de physis (a natureza). O principal exemplo talvez seja o famoso teorema de Pitágoras. Com isso. Mas considera-se que Sócrates foi um “divisor de águas” na filosofia antiga.indb 27 09/11/16 13:13 . o estudo das leis que há nele. sem maior elaboração Filósofo. O conhecimento sistematizado já existia em culturas ainda mais antigas. Alguns. isto é. a ciência grega era teórica. Conforme esta teoria. numa formulação geral. – que. como Heráclito de Éfeso. o que Isaac Newton só seria feito quase um século depois por Isaac Newton. Princípios matemáticos da filoso- investigativos. o elemento do qual todas as coisas provêm. A ciência na Antiguidade grega Na Antiguidade grega. tinham uma matemática bastante avançada. Filósofos pré-socráticos Filósofos que viveram entre os séculos VII a. Naturais em geral. ‘o indeterminado’. São chamados de pré-socráticos os filósofos que se distinguiam de Sócrates FILOSOFIA em suas motivações e na maneira de fazer filosofia. Nem todos eles são anteriores a Sócrates.C. isto é. que podem ser medidas. os gregos. criando a matemática como ciência. uma força de atração entre todos os objetos. Já para Pitágoras de Samos. por outro lado. Esse episódio nunca foi comprovado. a gravidade não é uma caracte- tizou um dos aspectos que. outros. na ciência moderna. criaram o que hoje chamamos de física. como as pirâmides. de 1702. essa palavra grega é traduzida por ‘ciência’. essa atração é tão forte regem a natureza. publicada em 1687. também colônia grega): Pitágoras de Samos e Filolau de Crotona. como acontece na ciência moderna. Escola itálica (desenvolveu-se na região da Itália. numentos. objetos no planeta Terra quanto rimentos e elaborar as teorias com base neles. ou o princípio universal de que praticamente anula a atra- ção dos demais corpos entre si. Escola eleática (teve por centro a cidade de Eleia): Xenófanes. Um de seus principais problemas era a busca pela arkhé. os corpos celestes – estão sujei- vavam os fenômenos e criavam teorias para explicá-los. Parmênides de Eleia e Zenão de Eleia. estavam mais preocupados explicadas. Em um sentido muito amplo. afirma-se que os gregos aprenderam o conhecimento prático dos egípcios e o transfor. e V a. afirmavam que esse elemento era a água. como a física Por isso. se interro- maram em um conhecimento teórico. E havia os que chegavam a outras noções. ‘o indivisível’. A doxa. Os egípcios. os egípcios estavam mais tos às mesmas leis naturais. por um lado. todas as coisas. Se.C. em vez de fazer expe. ainda nascente. A razão disso é que os gava sobre as leis que organizam gregos se ocupavam mais com “especulações”. corpos do Universo – tanto os Se a ciência egípcia era prática. No entanto. De acordo com seus interesses. sendo as principais: Escola jônica (desenvolveu-se na Jônia. o número era o princípio de todas as coisas. por exem- Isaac Newton. segundo a qual todos os construções). mas estes eram válidos glês. como Tales de Mileto. foi um filósofo francês dos elaborado e se diferencie bastante do conceito antigo criado pelos filósofos atomistas pré-socráticos.Leucipo de Mileto.indb 28 09/11/16 13:13 . Discurso só a razão é confiável.C. Segundo ele. o que chamamos hoje de ciência foi criado e consolidado a partir do século XVII que o conhecimento verdadeiro só pode ser produzido pelo exer. recusando a va-se com algo que observava: nas aulas de matemática.-460 a. desconhecido. a um acordo. BIOGRAFIA Anaximandro Anaximandro de Mileto de Mileto. coisas são formadas. ao defender Como vimos. mais influentes no período mo- derno. 460 a. uma ideia criada pelo exercício do pensamento. conhecimentos sobre ela. Um dos exemplos que ele dava para isso é o seguinte: ALEXSA 28 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. Um fragmento de texto seu sobre a natureza é o mais antigo texto filosófico que se conhece. Sua noção filosó- fica mais importante é a de ápeiron. isso se devia ao fato de que em matemática traba- Talvez você já tenha ouvido falar do “plano cartesiano”. DAGLI ORTI/DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE O importante a observar é que esses filósofos antigos procuravam abandonar as explicações míticas ou religiosas sobre a origem do mundo e das coisas. como já o haviam do método (1637) e Meditações enganado quando ele tentava conhecer a realidade e construir um conjunto de LCEDO/S sobre filosofia primeira (1641).) em mosaico feito entre os Filósofo da escola jônica. Renatus Cartesius. em gravura curiosas que possam parecer essas teorias hoje. com as experimentações de Galileu Galilei. Dentre STO suas várias obras. eles procuravam construir um conhecimento que pudesse convencer as pessoas por sua clareza e sua coerência. O filósofo e matemático René Descartes incomoda- sa mente por Deus. Isso os aproxima da perspectiva científica atual. cício da razão. GLOW IM CK/ AGES criações deste pensador. não via discordâncias interferência dos sentidos. considerado o fundador da escola atomista. que todas as nome latino.C. que não conseguimos ver e que de tão pequeno não pode ser dividido.C. foi discípulo e amigo de Tales. dedicou-se à ma. enquanto que na filosofia cada um trabalha- va de seu jeito. (c. isto é.-390 a. Buscando uma fonte segura para o conhecimento. Demócrito de Abdera (c. daí o BIOGRAFIA nome de “átomo”. Um exemplo é a própria ideia de átomo: seria des- Também conhecido por seu te elemento. Fundou a corrente filosó.-545 a.) Há poucas informações sobre a vida e a obra deste filósofo pré-socrático. construindo uma hipótese racional. física e química modernas trabalham com essa mesma hipótese.). Com isso.. de eclipses. as conclusões eram sempre diferentes e nunca se chegava temática. Ora. Dedi. Descartes afirmava que HUTTER no terreno da filosofia. Seu pensamento é mais co- nhecido por meio de seu discípulo. destacam-se. 610 a. cou-se também à política e à física.C. por meio da observação dos fenômenos naturais e com base em uma argumentação. a partir de certas Nessa época.C. PRISMA/ALBUM/ LATINSTOCK BIOGRAFIA Leucipo de Mileto REPRODUÇÃO/COLEÇÃO PARTICULAR (c. à geometria e à física. embora com o qual assinou várias de suas o conhecimento que possuímos hoje em torno daquilo a que chamamos átomo seja muito mais obras. até se chegar a essas partículas muito pequenas. séculos VII a. elas se fundamentaram em ideias que não são muito do século XVII.C. uma das lhava-se sempre da mesma forma. pois os sentidos podem nos enganar. discutia-se intensamente qual seria o método apropriado para se chegar aos co- ideias inatas colocadas em nos. A ciência moderna: entre racionalismo e empirismo fica do racionalismo. Além entre seus professores. 490 a. que esperava que as pessoas confiassem de modo “cego”. René Descartes união de um certo número de átomos. O atomismo antigo foi uma escola que defendia que o princípio de todas as coisas eram partículas indivisíveis que não podemos ver. que sempre chegavam às mesmas conclusões.C. diferentes das atuais bases da química e da física. formava-se cada uma das coisas representado por autor (1596-1650) que conhecemos.C. Todas as coisas que existem podem ser divididas em partes menores. porém. nas aulas de filosofia. da filosofia. Por mais René Descartes. nhecimentos verdadeiros. G. Da re. tendo estabelecido datas e VI a. à diferença da religião. Nunca aceitar como verdadeiro algo de que fosse possível duvidar. e. Descartes decidiu colocar todos eles em dúvida para começar do zero uma busca do verdadeiro. A matemática influenciou não apenas suas ideias sobre filosofia. visto ao lado: Segundo o filósofo. que não consiste no ato comumente exercido pelas pessoas quando estão diante de algo duvidoso. Desse modo. Paulo. FRANÇA. que sejam mais fáceis ARCHIVES CHARMET/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE/ BIBLIOTECA DO INSTITUTO DA FRANÇA. de resolver. pautado nos seguintes procedimentos: 1. será também verdadeiro. então deve ser excluído e con- siderado como não verdadeiro. ilustração do livro De Homine Figuris. Dividir os problemas em problemas menores. só dúvidas continuam de pé LEMINSKI. a solução é encontrada em partes. denominado método cartesiano. um ser que pensa e observa o mundo. Quando falamos em conhecimento. E se elas são verdadeiras. a matéria do conhecimento. que serão necessariamente verdadeiras e corretas. Baseia-se no método matemático de resolução de equações. de modo a nada esquecer ou deixar de lado. 2. possível de ser demonstrado. a coisa que é pensada pelo sujeito. de forma correta e organizada. É o que chamamos análise (palavra de origem grega. o que nos garante que eles não nos enganem sempre? ou um homem de fé Nada. segundo Descartes. a posição do sujeito que conhece é mais importante que a do objeto que é conhecido. se algo se mostra minimamente dubitável. p. concebe a ciência como um conhecimento racional e demonstrativo. publicado em Haia (Países Baixos). indo sempre do mais sim- ples para o mais complexo. No método cartesiano. 3. O tipo de relação de Descartes com o conhecimento é bem evidenciado em um poema de Paulo Leminski. pois Deus não colocaria em nós ideias falsas. como se ela estivesse torta. 4. Em função da impossibilidade de saber quais de seus conhecimentos adquiridos desde a infância são verdadeiros ou falsos. que significa ‘por meio da divisão’). Revisar a produção do conhecimento em cada etapa. ele propôs um método racionalista. tudo aquilo que for derivado delas. 38. PARIS. ou seja. os ra- ciocínios. nunca sei ao certo sabemos que ela não está torta. e basta tirá-la da água para verificar isso. Ora. 3. baseado na matemática. vemos uma espécie de “desvio” na colher. há sempre dois polos envolvidos: o sujeito do conhecimento. e o objeto. em 1662. Conduzir o pensamento de forma ordenada. por isso mesmo. pois a verdade é uma criação do sujeito. de Descartes. É isso que ele chama de dúvida metódica: um modo diferente de duvidar. que consiste em uma série de procedimentos para bem conduzir o pensamento daquele que medita ed. Segundo esse método. filosoficamente em busca da verdade. mas também sua concepção sobre anatomia e física (óptica). Esse método. São Paulo: Iluminuras. que já estão em nossa mente quando nascemos porque ali foram colocadas por Deus. essas ideias que já estão em nossa mente quando nascemos só podem ser corretas e verdadeiras. Por isso eles não são confiáveis. Mas como isso não deve ser feito sem um instrumento seguro e confiável para distinguir o certo do duvidoso. produzido exclusiva- mente com o uso do pensamento e de seus instrumentos lógicos. a partir das ideias inatas. certezas o vento leva Com base nessa ideia. Descartes criou o método cartesiano. podemos deduzir novas ideias. produzin- do ideias sobre ele. FILOSOFIA Visão e o mecanismo de resposta aos estímulos externos. Porém. Como pensamos? 29 Book_SESI1_FIL_MOD1. quando colocamos uma colher dentro de um copo com água.indb 29 09/11/16 13:13 . um caminho seguro a se seguir. de modo que parte dela fique dentro da água e parte fora. Sua conclusão: se sabemos se sou um menino de dúvidas que os sentidos nos enganam algumas vezes. assim como conseguimos demonstrar o resultado de uma equação matemática. 2001. O ex-estranho. no que foi seguido por Thomas Hobbes. erradas é bem menor do que a das outras. Sua obra mais co- nhecida é o tratado Leviatã. propondo uma nova lógica para uma nova ciência. Thomas Hobbes (1588-1679) Para Locke. em pintura de John não ser em casos muito específicos. essa posição ficou conhecida como empirista (do grego empeiría. aquelas produzidas do século a partir de outras ideias. defensor de uma afirma que o conhecimento é sempre algo produzido pela razão. embora dialogasse com as ideias de Descartes. que garanta a vida defende que a experiência é a fonte necessária de todo o conhecimento. importância da razão na construção do conhecimento. AKG-IMAGES/ALBUM/ LATINSTOCK Da combinação dessas diferentes posições surgiu o que se denomina ciência moderna. e o progresso da ciência e da técnica por meio do exercício de um pensamento crítico. oposição a uma visão teológica. e por Filósofo inglês. no qual Bacon critica a lógica aris- totélica e a noção de ciência dela derivada. Ficou mais conhecido por suas obras no campo da filosofia polí. Como os sentidos nos permitem REPRODUÇÃO/GALERIA NACIONAL DE RETRATOS.indb 30 09/11/16 13:13 . rismo afirma sobretudo a precedência do objeto do conhecimento em relação ao sujeito. ele Filósofo inglês. cuja diretriz foi dada pelo filósofo alemão Immanuel Kant. articulando essas informações e Hobbes. INGLATERRA. sendo um defensor do abso- lutismo. junta. jurídicas e filosóficas. que sig- nifica ‘experiência’). Como as primeiras estão mais perto da experiência. BIOGRAFIA tica. Bacon defendeu um método experimental para o conhecimento. LONDRES. e ideias complexas. embora tenha conquistado seguidores. O método cartesiano. mas que ela nunca é “pura”. e não porque essas noções estavam em nossa mente quando nascemos. a que cor chamamos vermelha. livro publicado em 1620. conquistou também opositores. experimentar o mundo. Kneller. publi. O empi- Vanderbank. afirmava que não existem ideias inatas pensamento moderno. sem negar a Filósofo e político inglês. contra a ciência teórica e especulativa dos antigos. audição. pois admite-se que a verdade está no objeto e só pode ser alcançada pela experiência. e que quando nascemos nossa mente é como se fosse uma folha de papel em branco (ou uma tabula mente com Descartes. a Francis Bacon. a posição do objeto conhecido é mais importante que a do sujeito que o conhece. as informações que obtém por meio dos sentidos. 30 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. o empirismo não exclui necessariamente o racionalismo. dos indivíduos. e sustentaram que é preciso igualmente considerar o objeto do conheci- (1561-1626) mento: o conhecimento verdadeiro só pode ser alcançado partindo-se das observações que fazemos por meio de nossos sentidos (visão. aquelas produzidas em gravura diretamente a partir das informações obtidas pelos sentidos. de cerca de 1704. produzindo nossos conhecimentos. de natureza experimental. somente após haver experimentado o mundo por meio dos sentidos e obtido as Thomas informações a partir dessas experiências é que a razão pode agir. na expressão em latim). o fazemos porque ao longo de nossa vida fomos construindo experiências que nos ensinaram o que é um caderno. rias. na qual a experiência vai escrevendo AVESUN/SHUTTERSTOCK/GLOW IMAGES grande influência na constituição da ciência. a chance de estarem XVIII. Na Inglaterra. em pintura de Godfrey cado em 1651. siderado um dos fundadores do John Locke. dedicou-se principalmente à teoria do conhecimento e isso é necessário um poder forte à filosofia política. Dentre as filosóficas. destaca-se o Novum organum (Novo órgão. É con. BIOGRAFIA o que são cores. Sua obra Ensaio sobre o entendimento humano (1690) e centralizado. Uma de suas afirmações John Locke (1632-1704) REPRODUÇÃO/COLEÇÃO PARTICULAR mais conhecidas é a de que “o ho- mem é o lobo do homem”. BIOGRAFIA Alguns filósofos discordaram da afirmação de que apenas a razão é uma base sólida para se chegar aos Francis Bacon conhecimentos verdadeiros. ou Nova lógica). olfato). pois visão mecanicista do mundo em depende dos dados obtidos pelos sentidos. Conforme a afirmação de Locke. John Locke. e exerceu rasa. Ele fazia uma distinção entre ideias simples. paladar. Em sua obra Crítica da razão pura (1781). Francis Bacon lançou as bases dessa posição contrária ao racionalismo afirmando a importância dos sentidos. É importante salientar que. quando dizemos que este caderno é vermelho. feita em cerca de 1618. tato. Escreveu obras literá. No método empirista. Se- gundo ele. que regem a natureza. pois. portanto. representante do Iluminismo ale- mão. e a Crítica do juízo (1790). Mas não se trata de uma observa- ção qualquer. e sua aplicação a um objeto específico. Publicou diversas obras. Primeiro é necessário observar o objeto de estudo. definidos pelo método científico. Formulação de uma hipótese. FILOSOFIA Dependendo do objeto a ser observado. tendo cada uma delas contribuído com elementos para a conso- lidação da forma de pensar cientificamente e de produzir conhecimentos. Vê-se. que investiga os elementos que compõem a natureza. gravura Temos. tantas ciências quantos são os objetos – por exemplo. a biologia. entre vários outros. ainda que ele possa sofrer algumas adaptações. a especialização. Na foto de 2012. ou método científico. sobre o conhecimento. precisa ser metódica. as três críticas formam uma teoria completa do entendi- mento humano do mundo. O método científico pode ser caracterizado por cinco passos. em experimental. na Cidade do Cabo. foi o principal específicos. ou telescópios para estudar os astros longínquos. que estuda as leis alemã do século XVIII. descritos a seguir: REPRODUÇÃO/ COLEÇÃO PARTICULAR Observação. Ela precisa ser rigorosa. Todas essas ciências usam o mesmo método. de modo a explicar aquilo que foi visto. Elabora-se uma hipótese a ser comprovada. Immanuel Kant O método científico (1724-1804) Immanuel A ciência moderna pode ser caracterizada por dois aspectos principais: a utilização do método Kant. telescópio do Observatório Astronômico da África do Sul. faz-se uma reorganização dos da- dos obtidos. que o método científico moderno não pode ser compreendido sem a participação BIOGRAFIA dessas diferentes visões filosóficas.indb 31 09/11/16 13:13 . Por Como pensamos? 31 Book_SESI1_FIL_MOD1. destacando-se suas “três críticas”: a Crítica da razão pura (1781). a física. ou seja. a Crítica da razão prática (1788). como microscópios para observar o que é muito pequeno. dedicada à apreciação da arte. a química. pode ser necessário o uso de instrumentos que potencializem os sentidos humanos. Com base nos fatos observados. seguindo procedimentos e protocolos Um dos mais importantes filóso- fos de sua época. sobre os princípios e os fundamentos da moral. movimento filosófico que FOTO24/GALLO IMAGES/GETTY IMAGES afirmava a importância do uso da razão para o progresso da huma- nidade. que se dedica ao fenômeno da vida. e afirmar. e não uma afirmação de verdades absolutas. Elaboração de teorias (modelos). A ciência hoje A ciência como busca de uma explicação racional. que pode ser ou não com- provada. quando definimos a velocidade em função do tempo e do espaço (um objeto é mais veloz sobre o crescimento de vegetais. comprovada a hipótese de que todo corpo que tem massa atrai outros corpos que também têm massa. que. Eles definem por função a forma de proceder da ciência. podemos afirmar que a ciência produz conceitos? Para Gilles Deleuze e Félix Guattari. Só mais tarde. será necessário or- ganizar uma série de testes com animais doentes. capazes de explicar realidades mais complexas. aplicando neles essa substância e avaliando os resultados. é possível criar modelos teóricos de aplicação mais geral. seguindo-se uma nova etapa de verificação. todo corpo cai. podemos generalizar o fato de que todo corpo que tem massa é atraído pela grande massa do planeta e. por exemplo. sistematizada e metódica do mundo existe desde a Antiguidade. durante certo tempo os dois grupos são examinados. Com a consolidação do método científico. só a filosofia produz conceitos. A partir do século XVII. marcado por intensas discussões filosóficas so- bre o conhecimento científico. Segui- ram-se a química e a biologia. levou à THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA criação das ciências sociais e das ciências humanas.indb 32 09/11/16 13:13 . No final deste século. Encontrados na experimentação resultados que se repetem. Sua tese central é que a ciência não é um saber tão cimento. é necessário elaborar outra hipótese. sempre aproximativo e cor- rigível. geralmente em um laboratório. tomando um em função do outro. sua aplicação a distintos objetos constituiu diferentes ciências. aplicado aos fenômenos humanos com certas adaptações. alguns ramos do conhecimento começaram a se especializar e se tornar autônomos da filosofia. então podemos formular a hipótese de que esse astro está girando ao redor da Terra. como o diálogo com as ciências humanas e as implicações éticas do conhecimento. Trata-se de uma interpretação do fato observado. Caso a hipótese não seja comprovada. sejam aqueles que observamos no dia a dia. A observação da natureza fez surgir a física como a primeira ciência autônoma moderna. Por exemplo: cientistas levantam a hipótese de que uma determinada substância química age no combate ao câncer. o filósofo da ciência Paul Feyerabend GLOSSÁRIO Epistemologia: (1924-1994) publicou um livro com o título perturbador de Contra o área da filosofia dedicada a estudar a método (1975). produziu-se a noção de conhecimento científico como um saber aberto. é pos- sível elaborar “leis” gerais ou particulares que expliquem os fenômenos observados. É comum fazer isso de forma comparada: um grupo de animais recebe a substância e outro grupo não. Constituíram-se assim a história. A experimentação é uma nova observação. durante muito tempo fazendo parte da própria filosofia. portanto. cria funções. Pelos dados obtidos. É o que ocorre. Para verificar essa hipótese. a partir da segunda metade do século XIX. epistemológico”. que precisa ser verificada. Nesse livro. para verificar se a ROBYN BECK/AGÊNCIA FRANCE-PRESSE doença regride ou não. Na última unidade deste livro voltaremos ao tema da ciência. por Experimento em laboratório da Nasa exemplo. tende a cair ao chão. mas para estudar alguns de seus desafios contemporâneos. que por meio da experiência relaciona determinados aspectos. com certeza. (foto de 2010). Isaac Newton. Generalização. em dadas condições materiais. a sociologia e a psicologia. sejam os planetas e demais astros no céu. Baseando-nos na aplicação do método científico. verifica-se a hipótese construída. Nesta etapa. entre outros campos do conhecimento. o método científico. Experimentação. simulando aquilo que acontece na natureza. Por exemplo. Ao con- 32 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. A partir do século XX. exemplo: se observamos que durante o dia o Sol parece mover-se pelo céu. visando a programas de colonização de Marte que outro quando percorre o mesmo espaço em menor tempo). ao criar a teoria da gravitação universal. mas desta vez feita em condições privi- legiadas. defende o que denomina um “anarquismo teoria da ciência e a teoria do conhe. a ciência. É o que fez. como potência do pensamento. capaz de explicar os processos de atração dos corpos que têm massa. organizado e metódico quanto em geral acreditamos. go e também filósofo da ciência Por exemplo. [trechos do Índice analítico. O avanço dos meios de comunicação e a criação da internet (que originariamente era uma rede aberta somente para cientistas e pesquisadores) facilitaram muito isso. sem regras definidas. Hipó. Contra o método. com computadores conectados à internet. A proliferação de teorias é benéfica para a ciência. Contra o método ANNA WEISE/AKG- A ciência é um empreendimento essencialmente anárquico: o anarquismo teórico IMAGES/LATINSTOCK é mais humanitário e mais apto a estimular o progresso do que suas alternativas que Nasceu na cidade de Viena. tra o método (1975) e Ciência em Não há nenhuma ideia. Estudou com o Isso é demonstrado tanto por um exame de episódios históricos quanto por uma filósofo da ciência Karl Papper e análise abstrata da relação entre ideia e ação. em 2000.] Atualmente. A criatividade e a quebra de regras marcam a produção científica contemporânea. FEYERABEND. que exige que hipóteses novas estejam de acordo com na desse pensador. pois preserva a teoria mais antiga e não a melhor. Suas ao passo que a uniformidade prejudica seu poder crítico. ram por causa da morte repenti- A condição de consistência. E nem se rejeita a interferência política. RAPHAEL GAILLARDE/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES FILOSOFIA A pesquisa para decifração do genoma humano envolveu diversas equipes de pesquisadores de várias partes do mundo. DJA65/SHUTTERSTOCK/GLOW IMAGES ela liberava tinta. BIOGRAFIA Paul Feyerabend (1924-1994) Paul Feyerabend. um engenheiro de uma empresa de eletrônicos inventou o mecanismo que regula as impressoras de cartucho. Como pensamos? 33 Book_SESI1_FIL_MOD1. Paul. impressora a jato de tinta utilizada na impressão de outdoors. é desarrazoada. que não se realiza- ou resultados experimentais bem estabelecidos. tendo como teses contradizendo teorias bem confirmadas proporcionam-nos evidência que não pode temas centrais o método e o ca- ser obtida de nenhuma outra maneira. por mais antiga e absurda. que seria diminuída se encerrada em um único método. trário. podemos usar hipóteses que contradigam teorias bem confirmadas e/ Imre Lakatos. feita em redes de pesquisas. sala de controle da Celera Genomics. nosso conhecimento. Ao encostar uma solda em sua caneta e perceber que. Na foto. projetou parcerias com o ami- so é: tudo vale. Na foto. ráter anárquico da ciência. e o único princípio que não dificulta o progresso do conhecimento é aquele que afirma que “tudo vale” no exercício do pensamento. São Paulo: Ed. Toda a história do pensamento é absorvida na ciência e utilizada para o aperfeiçoamento de cada teoria.indb 33 09/11/16 13:13 . pital da Áustria. em foto de 1992. O único princípio que não inibe o progres. 2007. a ciência é cada vez mais uma atividade colaborativa. O foco da reflexão desse autor é a criatividade do pensamento científico. em Rockville. da Unesp. que não seja capaz de aperfeiçoar uma sociedade livre (1978). ca- apregoam lei e ordem. Seus estudos se concentraram no campo da teorias aceitas. filosofia da ciência. Estados Unidos. obras mais conhecidas são Con- ça o livre desenvolvimento do indivíduo. A uniformidade também amea. ela procede de forma anárquica. logo depois. Para Nietzsche. Protege A FILOSOFIA NA HISTÓRIA os marinheiros. e 2000 Apolo era filho de Zeus e Leto. nenhuma arte pode ser niso em Atenas foi a origem do teatro grego. em caverna de Tassili N’Ajjer. nós. o equilíbrio e a razão. Defeito de fabricação. compor. quase sempre analfabeto e com escassa especialização para o Autômato pato panaca jacu trabalho.C. somos “androides” Se segura milord aí que o com defeito de fabricação. Um mero número zero um zé à esquerda O Terceiro Mundo tem uma crescente população. che afirmou que a criatividade e a beleza daquela civilização se deveram a sua capacidade de articular Dioniso era filho de Zeus e da duas forças que em princípio são opostas. por exemplo. Pensar sempre será uma afronta. Apolo e Dioniso Pintura feita entre Segundo a mitologia grega. Nietzsche atribuiu à arte um papel central na cultura humana. Pensa que eu sou um Desde as primeiras civilizações humanas. irmão gêmeo de Ártemis (deusa na Argélia. Nele. arrastão ZÉ. 1998. O nascimento da tragédia. o filósofo Friedrich excelente arqueiro. Penso dispenso a mula da sua Isso acontece aqui nas favelas do Rio. o vinho. publicado em 1872. organizada. a paixão. centrada na razão e na harmonia) nem puramente dionisíaca (isto é. A maioria se transforma em uma Pateta patético lesma lerda espécie de “androide”. o caos. pensar. Ca esteticaestetu Ca esteticaestetu Segundo o texto. e a. o ser humano deixa de ser um Ca esteticaestetu androide que apenas produz para o mercado consumidor. do compositor Tom Zé Raquítico típico jeca-tatu (1998). Representa a beleza. as festas. E em toda óptica a periferia da civilização. a harmonia. princesa Sêmele. “criar. Graças a esses “defeitos”. os pastores e os arqueiros. puramente apolínea (isto é. a perfeição.indb 34 09/11/16 13:13 . são defeitos muito “perigosos” para o Patrão Primeiro Mundo. Nietzs- dor de lira. o projeto de Smoka-se todo na estética do juntar fibras vegetais e criar a arte de tecer foi uma grande ousadia. dançar. Defeito 6: Esteticar. In: Com defeito de fabricação (CD). a moniosa e comedida. a arte é valorizada como um meio de expressão do androide candango doido potencial criativo dos seres humanos. In: Com defeito de fabricação (CD). pensar. é ousar. LuakaBop. 4000 a. A música “Defeito 6: Esteticar” brinca Ca estética do plágio-iê com essa ideia. E denominou dionisíaco (relativo ao deus Dioniso) o princípio que loucura. como criar. sonhar. Estudando a Antiguidade grega. da caça e da Lua). Representa os Chamou de apolíneo (relativo ao deus Apolo) o princípio que representa a razão como beleza har- ciclos vitais. São Paulo e do Nordeste do país. Pensar sempre será. quando praticamos essas coisas por aqui. Encarte. Aos olhos dele. centrada na desordem criativa e na embriaguez). Mas revelam alguns “defeitos” inatos. 1998. Esses androides são mais baratos que o robô operário fabrica- Ora vá me lamber tradução do na Alemanha e no Japão.C. Defeito 6: Esteticar COLOCANDO O PROBLEMA Pensa que eu sou um caboclo tolo boboca Arte: o ser humano como criador Um tipo de mico cabeça-oca O texto a seguir faz parte do encarte do CD Com defeito de fabricação. Eles expressam aquilo Ca esteticaestetu que há de mais humano no ser humano. Denominou essas forças inspirado na mitologia grega. No umbral da História. O culto prestado a Dio- representa a embriaguez. sonhar” são “defeitos perigosos”. intersemiótica dançar. Tom. mulato baião Ter ideias. a falta de medida. além de toca. Encarte. A criação humana depende da articulação dos 34 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. Algum mamulengo molenga mongo KAZUYOSHI NOMACHI/CORBIS/LATINSTOCK Mero mameluco da cuca lelé Trapo de tripa da tribo dos pele e osso Fiapo de carne farrapo grosso Da trupe da reles e rala ralé ZÉ.. Tom. LuakaBop. sendo ele próprio um Já em seu primeiro livro. o artista discorre sobre o “defeito inato” da população humana. e também a arte de olhar a si mesmo como herói. Nietzsche. com a reprodução fotográfica elas passam a poder ser reproduzidas em massa. de Leo. por exemplo. Antes da invenção da fotografia. dotaram os homens de olhos e ou- (1895-1973) e vidos para ver e ouvir. Escola de Frankfurt. apenas eles nos ensinaram a estimar o herói escondido em todos os (1892-1940) seres cotidianos. São Paulo: Companhia das Letras. Theodor Adorno. tados Unidos e retornaram após o final da Segunda Guerra Mun- dial. que mais tarde reproduziu edições PHOTOS/GETTY IMAGES de luxo dessa mesma obra. o que cada um é. FLORENÇA. formaram aquilo Arte. Benjamin. Com Como pensamos? 35 Book_SESI1_FIL_MOD1. Walter Benjamin ta e o que quer. sofreram perseguição durante o período nazista e pre- cisaram deixar o país. FRED STEIN ARCHIVE/ARCHIVE A caixa traz cópias em miniatura de 69 obras do próprio artista. sua imagem ganha uma circulação universal. F. 2001. ITÁLIA/MUSEU DE ARTE MODERNA DE NOVA YORK. Com a reprodutibilidade técnica. exer. p. na cidade alemã de Frankfurt. outro filósofo alemão. EUA.indb 35 09/11/16 13:13 . é a arte – com suas forças de criação – que nos faz plenamente humanos. entre 1935 e 1941. o que cada um experimen. em cerca de 1960. AKG-IMAGES/ALBUM/ LATINSTOCK nardo da Vinci. em Paris. a natureza da obra de arte transforma-se radicalmente com a invenção das técnicas de reprodução mecânicas em meados do século XIX. ‘caixa-numa-maleta’). dois princípios. poderia conhecer a Monalisa. os filósofos Adorno e Horkheimer cria. e Freud. A gaia ciência. a distância e como Os três filósofos estiveram ligados que simplificado e transfigurado – a arte de se “pôr em cena” para si mesmo. acabou se suicidando. Alemães de origem judaica. que vamos vivendo. ao Instituto para a Pesquisa Social. 1930. Benjamin não teve a mesma sorte. produção e indústria cultural que se tornou conhecido como Analisando a arte e a cultura no século XX. em foto de 1960. quase capturado pelos na- zistas ao tentar deixar a Europa. que apareceu pela primeira vez no livro Dialé. especialmente os do teatro. publicado em 1947. feita pelo artista conceitual francês Marcel Duchamp. AKG-IMAGES/ALBUM/ LATINSTOCK Max Horkheimer. sas foram influenciadas pelo pen- tica do esclarecimento. uma vez que o dionisíaco nos dá o princípio criativo e o apolíneo nos dá a ordem e BIOGRAFIA a harmonia necessárias para a produção de algo belo. apenas quem fosse ao Museu do Louvre. construindo o que somos na medida em (1903-1969). 106. Nietzsche Benjamin. mesmo com diferenças intelec- tuais entre si. Se antes uma pintura ou uma escultura eram objetos únicos. Obra Boîte-en-valise (em francês. havia publicado um ensaio sobre a questão da arte na sociedade industrial. Walter O pensamento produzido pela Escola de Frankfurt. Antes deles. Walter samento de Karl Marx. o que transforma a relação do público com a arte. com algum prazer. em geral denominado “teoria crítica”. Adorno e Horkheimer exilaram-se nos Es- FOTO SCALA. Para Walter Benjamin. Os pensadores ligados ao Instituto. FILOSOFIA ceu grande influência na filosofia e nas ciências sociais ao longo do século XX. Suas pesqui- ram o conceito de “indústria cultural”. em foto de c. Para Nietzsche. pois Theodor Adorno ela nos dá a oportunidade de produzir nossa própria vida. Max Horkheimer Apenas os artistas. em 2001. E. Da mesma forma. que potencializaram ainda mais a reprodutibilidade da obra de arte. E. “Jocondissima”. assistimos aos filmes que a indústria cultural nos oferece. na permite que um músico tenha um estúdio em sua casa. A imagem. Para Benjamin. destinada a produzir objetos culturais para serem vendidos como mercadorias. na década de 1930. a arte deixa de ser acessível a poucos. sua autoridade é diminuída. Por um lado. cobrando ou não por seu trabalho. ela deixava de ser obra de arte. Por outro lado. No caso da música. ela só estava acessível quando os músicos se reuniam para tocá-la. Embora a obra de arte perdesse seu caráter singular. reproduzida em inúmeras impressões fotográficas. podia agora ser levada às massas. mas escolhemos a partir das opções que a indústria cultural nos dá. Em lugar de democratizar a arte. uma cultura pela metade. sem precisar ir a um concerto. O cinema se tornava uma indústria que produzia mercadorias culturais (os filmes) e a música passava a ser produzida segundo a lógica de mercado das gravadoras.indb 36 09/11/16 13:13 . exatamente por ela vir acompanhada de uma massificação das artes. grave as músicas que compõe e as divulgue França. poderíamos questionar em que medida a internet. inaugurou-se uma forma completamente nova de arte. na rede mundial. BRIDGEMAN ART LIBRARY/ WEST YORKSHIRE/THE NMPFT. nem sequer poderia imaginar aonde chegaríamos décadas depois com as tecnologias digitais. 36 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. Benjamin. como meio de Loja vende produtos estampados com a imagem da Mona Lisa (La Joconde). Com a industrialização. como pensava Benjamin. durante exposição produtos culturais. de ser única. KEYSTONE Daguerreótipo. Pensamos que escolhemos aquilo de que gostamos. pode agir a favor ou contra a indústria cultural. Ouvimos as músicas que o mercado nos oferece. O efeito desse processo é o que Adorno chamaria mais tarde de semicultura. pois “democratiza” o acesso à arte. hoje. Segundo os dois filósofos alemães. inventada em 1837 pelo francês Louis Jacques Mandé Daguerre. não mantém com suas cópias a mesma relação que a reprodução de uma pintura mantém com sua imagem. a tecnologia. a invenção de técnicas e equipamentos de gravação permitiu que uma música fosse gravada e que alguém que tenha em casa um aparelho de reprodução possa ouvi-la a qualquer momento. O daguerreótipo influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX e contribuiu mais tarde na criação do cinema. com a invenção da fotografia. apesar de a pintura nunca perder seu caráter original. no museu Cholet. Atualizando esse debate. como mercadoria. obra comunicação de massas e como arquivo digital de uma grande quantidade de informações e de de Leonardo da Vinci. que se transformava em apenas mais uma mercadoria. surgia assim uma nova indústria. isso. uma das primeiras máquinas fotográficas de reprodução de imagem em larga escala. A diversidade de criações a que temos acesso. levando-a a um número maior de pessoas. as várias salas de cinema exibem cópias do mesmo filme. perdia-se a arte. Já Adorno e Horkheimer acentuaram o caráter problemático dessa democratização. a possibilidade de reprodução contém um aspecto positivo. e mais tarde do cinema. que deixava de ser um privilégio das elites. uma vez que em ambos os casos não faz sentido falar em original. Eles afirmavam que a obra de arte repro- duzida podia ser transformada em apenas mais uma mercadoria pela lógica capitalista de produção e circulação. a “indústria cultural”. BRADFORD. a tecnologia e a internet podem ser. dizem que aquilo que o artista cria. Acesse o Material Comple- sações boas. como vimos. diferentemente daqueles que não são artistas. que o afetam. de sensações”. Por outro lado. como já estudamos. a religião No detalhe. da religião e do senso comum. as três potências do pensamento se complementam na invenção de novas formas de ver o mundo e a vida. eles são capazes de transformar as percepções e os sentimentos em algo – uma Projeto de Pesquisa música. enquanto seus vínculos com a arte e a ciência de suas criações. da mitologia. o artista experimenta sensações boas ou ruins. feita por Pollock em 1949. da mesma forma que recebe suas influências e interferências. Esse é o caso. a filosofia não pode interagir com a mesma intensidade. Por essa razão. um poema ou outra obra de arte – que condensa esse estado. que pintou de forma intensa. porém. outras. a obra de arte. Você já pensou sobre tudo isso? Arte e criação Ao relacionar-se com o mundo. É importante ressaltar que os sentimentos da pessoa que usufrui a obra não são necessariamen- te os mesmos do artista. assim como qualquer pessoa. nunca foi tão grande e o acesso a elas é muito mais direto. é produto de uma experiência do pensamento que o artista vivenciou e tem o potencial de despertar em outras pessoas a sensibilidade e a curio- sidade. FILOSOFIA Portanto. Cada um tem suas próprias percepções. deixam nele alguma marca. STATE UNIVERSITY OF NEW YORK. por que exatamente a filosofia. Nesse sentido. um reforço da própria indústria cultural. RUDOLPH BURCKHARDT/SYGMA/CORBIS/LATINSTOCK MUSEU NEUBERGER. Outra pessoa. Da mesma forma. assim. instigando-as a pensar. a arte produz sensações e a filosofia produz conceitos. quando entra em contato com o objeto artístico. consiste em produzir conceitos com base em experiências do pensamento e gerar. A filosofia. sendo por isso capaz de provocar novas sensações nas pessoas. Mas. A obra traz em si as sensações do artista. podemos pensar em como a internet contraria a indústria cultural. Com aquelas formas que estão o tempo todo nos fazendo pensar – a ciência e a arte – a filosofia dialoga e interfere nelas. mantém com a mitologia. algumas pessoas veem não mais do que borrões de tinta. são mais estreitos? Vamos pensar: uma obra de arte. jogando tinta sobre a tela e formando composições bastante inusitadas. seja ela qual for. e uma mesma obra pode provocar reações muito diferentes nas diversas pessoas que entram em contato com ela. portanto. por exemplo. Como pensamos? 37 Book_SESI1_FIL_MOD1. uma pintura. não tão boas ou mesmo ruins. com as formas de enfrentar o mundo que não convidam nem incitam a um pen- samento constante. sente-se afetada por ele. igualmente. Gilles Deleuze e Félix Guattari. outros pensamentos. uma teoria científica é também um produto do pensamento de um cientista e estimula outras pessoas a refletir. é um “bloco aprofunde-se no assunto. EUA As três potências do pensamento Number 8 (detalhe). Frente a um trabalho de Jackson Pollock (1912-1956).indb 37 09/11/16 13:13 . o artista trabalhando em uma e o senso comum relações muitas vezes conflituosas. com sen. uma escultura. o mobilizam. elas mesmas. quando mentar disponível no Portal e falam da potência criativa da arte. Enquanto a ciência produz funções. O que essa obra desperta em você? Afinal. emocionam-se profundamente. para poder conti- Contraponto. que até agora nos é dada pela ciência nião pensa mal. ela noscente e sensível –. tanto por sua necessidade de coroamento A gaia ciência – aforismo 107 como por princípio.. Aliás. lhosos e infantis com tal serviço. diante do mistério do real. é aceitar uma brusca mutação vida é suportável. não pensa: traduz necessidades em – da ilusão e do erro como condições de existência cog- conhecimentos. na vida científica os problemas não se formulam portável. e antes pesos do que homens. a percepção de inverdade e modo que a opinião está. o primeiro aborda o pensamento científico e o segundo trata da importância da arte para o exercício de um pensamento livre.. mantendo. gar. em nossa paixão do conhecimento. evitar consequências tais: a arte como a boa vontade da -la em determinados pontos. não pode haver conheci. olhando-nos de cima e de longe e. homens pesados e sérios. Texto 1 Para pensar cientificamente. ela legitima a opinião. Aceder à ciência é reju. Ela é primeiro nossa retidão tem uma força contrária. Quando o espírito se apresenta à cultu- ra científica. como as opiniões – grande obstáculo a ser removido. um conhecimento vulgar provisó. A ciência. nada nos faz tanto bem como o chapéu do bobo: necessitamos dele diante de nós mesmos 38 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. Mas agora a opinião: antes de tudo. A retidão se impede de conhecê-los. Em primeiro lu. Não proibimos sempre que os olhos arredon- cie de moral provisória. precisamos lidar com os conhe- cimentos e preconceitos que já trazemos cristalizados. Mas. Tudo nós. por assim dizer: e então não é rio. Ocasionalmente precisamos des- o espírito científico.indb 38 09/11/16 13:13 .]”? Utilize dados justaposição. p. aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que riza o espírito científico? deveríamos saber. em que um fato conhecido é imediatamente do próprio texto e as informações sobre as características da uma riqueza. Se não há pergunta. sempre errada. Nada é evidente. é preciso destruí-la. Segundo esse filósofo. A formação do espírito científico. que carregamos pelo rio do vir sobre questões que não compreendemos. que nos ajuda a obstáculo a ser superado. precisamos descobrir o herói e também o tolo que há é construído. por exemplo. – Se em determinada questão. como uma espé. Não se pode basear nada na teria por consequência a náusea e o suicídio. boa consciência para poder fazer de nós mes- blema que caracteriza o verdadeiro espírito científico. Nada é gratuito. aparência. por decreto. 17-18. e. 1996. Não basta. Se. TRABALHANDO COM TEXTOS Dos dois textos a seguir. tornar-se ingênua. a arte nos ajuda a dei- que contradiz o passado. a alma não ciência moderna que você estudou neste capítulo. terminem o poema. porque Texto 2 tem a idade de seus preconceitos. de de culto do não verdadeiro. Para Nietzsche. de uma artística distância. xar de ser “pesados e sérios” e experimentar o pensamento livre. pergunta. digam o que Como fenômeno estético a existência ainda nos é su- disserem. é bem velho. de direito. rindo de nós ou chorando por mento científico. a formulação do problema caracte- do real. como expli- ca o filósofo Gaston Bachelard no texto abaixo. opõe-se absolutamente à opinião. segundo o texto. Diante 2 Por que. no fundo. não tivéssemos aprovado as artes e inventado essa espécie tivos diversos daqueles que dão origem à opinião. É impossível anular. e por meio da arte nos são dados olhos e mãos de modo espontâneo. E. O espírito científico proíbe que tenhamos uma opinião mais a eterna imperfeição. de um só golpe. nunca é jovem. dem. Nossa derradeira gratidão para com a arte. nuar nos alegrando com a nossa sabedoria! E justamente por sermos. Ao designar os objetos pela utilidade. Para mos um tal fenômeno. é preciso saber formular problemas. sobretudo. 1 O que quer dizer a seguinte afirmação de Bachelard: “Aceder tar o próprio acervo só pode vingar em culturas de simples à ciência é rejuvenescer espiritualmente [. precisamos nos alegrar BACHELARD. pode. corrigi. THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA A formação do espírito científico Questões sobre o texto: A ideia de partir de zero para fundamentar e aumen. mendacidade geral. é por mo. Rio de Janeiro: com nossa estupidez de vez em quando. todo conhecimento é resposta a uma cansar de nós mesmos. A opi. sobre questões a ser – então cremos carregar uma deusa e ficamos orgu- que não sabemos formular com clareza. apenas quando usamos o “chapéu de bobo” a venescer espiritualmente. seria intolerável para nós. Leia-os atentamente. É justamente esse sentido do pro. todos os conhecimentos habituais. Gaston. Suscetível: que tem tendência para receber influências. assim como do tolo? – E. pegar. si mesmas”. não se pôde pensar A ciência em si Do sono do eterno ao eterno devir Se toda coincidência Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar Tende a que se entenda Para alcançar o que já estava aqui Como pensamos? 39 Book_SESI1_FIL_MOD1. FILOSOFIA A ciência em si 5 Reflita sobre a letra da música “A ciência em si” e escreva um Se o que se pode ver. Friedrich.indb 39 09/11/16 13:13 . que o nosso ideal 1 Segundo Nietzsche. flutuante. enquanto vocês tiverem alguma vergo. No texto. ANOTAÇÕES nha de si mesmos. medir. explique por que a E todo mito arte é importante para a vida humana. 132-133. A ciência apreende dução de um conhecimento sistematizado naquela época. Quer ter carne aqui A ciência não se ensina 4 Explique o conceito de “indústria cultural” e seu impacto na A ciência insemina produção artística contemporânea. para não perdermos a liberdade de pairar acima das coisas. Retidão: característica daquilo que é reto. trata-se de uma reti- dão moral. justamente com a nossa suscetível retidão. Com base no que foi estudado neste capítu- e cair a todo instante. – necessitamos de toda arte exuberante. falso. O que ele quis dizer com isso? te na moral. De acordo com sua leitura do texto e a relação entre filosofia e arte res- mos. por causa das severas exigências que aí fazemos a nós mes- 2 O aforismo citado fala sobre um “espírito livre”. ouvir. e. GLOSSÁRIO Cognoscente: aquele que conhece. pesar pequeno texto. São Paulo: Companhia das Letras. Questões sobre o texto: te. tornamo-nos virtuosos monstros e espantalhos. mas também flutuar e brincar acima lo. p. infantil e venturosa. zombeteira. Seria para nós um retrocesso cair totalmen. existência cognoscente: a existência que conhece. EM BUSCA DO CONCEITO As respostas encontram-se no portal. em Resoluções e Gabaritos. De- ponda: qual é o significado dessa expressão? vemos também poder ficar acima da moral: e não só ficar em pé. 2001. que produz conhecimentos. E toda lenda ATIVIDADES PARA PRATICAR Quer chegar aqui A ciência não se aprende 1 Podemos falar em “ciência” na Antiguidade? Cite exemplos da pro. com a angustiada rigidez de quem receia escorregar Agora é sua vez. Veja as respostas no Guia do Professor. na arte as pessoas podem “descansar de exige de nós. Mendacidade: característica daquilo que é mentiroso. Do avião a jato ao jaboti Desperta o que ainda não. dela! Como poderíamos então nos privar da arte. A gaia ciência. não serão ainda um de nós! Nietzsche. vamos tornar viva a prática filosófica. dançan. relacionando-a às noções de mito e ciência. retidão de caráter. A ciência em si 2 Quais são os dois componentes básicos da ciência moderna? Se toda estrela cadente Cai pra fazer sentido 3 De acordo com o que foi visto neste capítulo. Claude. contra-argumentado. In: Quanta. ela desenvolvido. desse outro sistema que constituirá a ciência. completa como ele. 2005. além de deixar um momento ou a uma etapa da evolução técnica e cientí. em grupo. explicitando: a) a hipótese ou hipóteses do autor. Claude Lévi-Strauss rejeita a ideia de uma ruptura absoluta entre o pensamento mítico e a ciência. Ele afirma que é preciso considerar ambos “em paralelo”. das condições objetivas em que surgiram o conhecimento mágico e o conhecimento científico. pois há Cena do documentário Lévi-Strauss: Saudades do Brasil. uma citação ou até mesmo um ponto de vista que será um começo. Não voltamos. 7 No texto a seguir. Warner Music (CD). você pode começar seu texto. uma pergunta. A ciência em si. 1997. de opor magia e ciência. A ciência não avança O que você pensa sobre essa questão? Com base em tudo o A ciência alcança que estudamos no capítulo. DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA cia: pois nos privaríamos de todos os meios de compreen- der o pensamento mágico se pretendêssemos reduzi-lo a Na introdução de uma dissertação. média de três a cinco frases. é. REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA 6 Faça uma pesquisa (na internet. GIL. uma declaração sucinta. quanto o ser sólido por ela simples. um esboço. desiguais quanto aos resultados teóricos e práticos (pois sob este ponto de vista. Isso corresponde a uma colocá-las em paralelo. o nome para- 40 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1.indb 40 09/11/16 13:13 . de uma análise crítica do artigo ou conjunto de artigos. c) as principais conclusões do texto. na perspectiva estreita em que se coloca). O ideal é que tenha do primeiro uma espécie de expressão metafórica do segun. pois. em bancas de jornal) sobre as revistas de divulgação científica disponíveis hoje no Brasil. em grupo. e que diferem menos em natureza que em função dos tipos de fenômenos a que se aplicam. para problematizar o tema. Escolha um ou mais artigos sobre um tema atual e. com efeito. Se a crença quer se materializar doxo neolítico caber-lhe-ia perfeitamente. mais proximidade entre eles do que supõe a visão comum. Em lugar. dirigido por Maria Maia. Gilberto. independente. se bem que a magia preforme a ciência ANOTAÇÕES no sentido de que triunfa também algumas vezes). A história deste último é bastan- te curta para que estejamos bem informados a seu respeito. em bibliotecas. claro o seu posicionamento em relação ao tema que será fica. to. de modo a promover uma discussão sobre o tema. elabore uma dissertação desen- A ciência em si volvendo o seu ponto de vista. Aqui o antropólogo francês interage com indígenas brasileiros em sua pesquisa de campo. é verdade que a ciência se sai me- lhor que a magia. b) o método utilizado na pesquisa. como duas formas de conhecimen. sobre o qual os etnó- logos ainda não refletiram suficientemente. melhor seria ideias que serão desenvolvidas. Campinas: Papirus. à tese vulgar (aliás admissível. mas não pelo gênero de operações mentais. é importante conquistar a atenção do leitor. Aproveite este momento do texto zado. O pensamento selvagem. mente precedido. que ambas supõem. mas também não exceto quanto à analogia formal que os aproxima. preparem uma apresentação para os colegas. um número de frases suficiente para anunciar ao leitor as do. de 2005. Tanto quanto a experiência quer se abstrair LÉVI-STRAUSS. segundo a qual a magia seria uma modalidade tímida e balbuciante da ciên. O pensamento mágico não é uma estreia. e que faz será boa se tiver apenas uma frase. forma um sistema bem articulado. A introdução não deve ser longa. um fato histórico. com em sua imaterialidade. tão acabada e coerente Para isso. A apresenta- ção deve ser precedida pela elaboração. parte de um todo ainda não reali. por exemplo. mas o fato de a origem da ciência moderna montar apenas há alguns séculos cria um problema. contudo. num sentido. neste ponto. Mais como uma sombra que antecipa a seu corpo. Estas relações decorrem. DESCARTES. 1974. Nigel. BIOGRAFIA Claude Lévi-Strauss (1908-2009) ULF ANDERSEN /GETTY IMAGES Filósofo e etnólogo nascido em Bruxelas. em foto de 1993. Direção de Ken- DIVULGAÇÃO/ COLUMBIA TRISTAR neth Branagh. O Uni- REPRODUÇÃO/ED. especialmente o Collège de France. Marcelo. nos mais variados campos. Roberto de Andrade. EXIT through the gift shop. Itália. FRANKENSTEIN de Mary Shelley. 2008. em linguagem clara e aces. REPRODUÇÃO/ ED. nomia. A ciência de Leonardo da relatos de diversos artistas. pecial sua preocupação com a construção sível. tecnologias. de um método para a filosofia.indb 41 09/11/16 13:14 . dentre as quais: As estruturas elementares do parentesco (1949). gens espaciais e mutações genéticas. 1973. Colhendo CAPRA. MODERNA O filme mostra o processo da Inquisição FILOSOFIA verso: teorias sobre sua origem e evolu- ção. COMPANHIA DAS LETRAS Ribeirão Preto: Novo Conceito. bem abrangente o mundo da “street art” (‘arte de como as concepções contemporâneas PICTURES rua’) e seus principais personagens no cená- sobre o Universo. Direção de Giuliano DIVULGAÇÃO/ ARQUIVO DA EDITORA Montaldo. Brasília: Ed. Adaptação do romance da escritora inglesa Mary Shelley sobre o médico que cria um mons- De forma divertida. A dança do Universo. Com base em suas pesquisas feitas com indígenas brasileiros. nascimento. em instituições norte-americanas e em instituições france- sas. (114 min) MARTINS. (87 min) DIVULGAÇÃO/PARANOID A obra apresenta as principais ideias do O documentário aborda de forma cômica e inventor da teoria da relatividade. que nunca revelou sua identidade. Antropologia estrutural (1958) e O pensamento selvagem (1962). Fritjof. criou a antropologia estrutural. NOVO CONCEITO São Paulo: Companhia das Letras. CULTRIX Vinci. Cinebiografia do filósofo René Descartes re- REPRODUÇÃO/ED. (162 min) GLEISER. uma nova forma de pesquisar o campo antropológico que teve grande impacto no pensa- mento francês do século XX. São Paulo: Moderna. Estados Unidos/Reino Unido. 1994. o livro investiga tro usando partes de cadáveres. GIORDANO Bruno. Estados Unidos. po da Matemática e da Geometria. contra o monge e filósofo Giordano Bruno. Como pensamos? 41 Book_SESI1_FIL_MOD1. incluindo o do REPRODUÇÃO/ED. latando suas ideias. (118 min) HALPERN. 1994. expondo as contradi- e tecnológicas do grande gênio do Re. Os Simpsons e a ciência. suas atuações no cam- Interessante obra de introdução aos mi. DIVULGAÇÃO/ ARQUIVO DA EDITORA Itália. que defendia ideias consideradas heréticas A obra traz uma abordagem bastante pela Igreja católica e foi queimado em praça didática e esclarecedora sobre a astro- pública na cidade de Roma em 1600. Claude Lévi-Strauss. misterioso Banksy. 2012. 2008. 1994. Direção de Banksy. SUGESTÃO DE LEITURAS E DE FILMES LEITURAS PARA PRATICAR FILMES PARA PRATICAR REPRODUÇÃO/ED. DA UNB CALDER. O Universo de Einstein. Paul. entre outros. da UnB. ções que movem a arte contemporânea. É uma interes- temas como ecologia. foi professor na Universidade de São Paulo (USP). Direção de Roberto Rossellini. o do- A obra examina as produções científicas cumentário joga com o real e o fictício. e em es- tos gregos. rio norte-americano e europeu. São Paulo: Cultrix. 2010. via- sante reflexão em torno dos limites da ciência. Foi autor de di- versas obras. indb 42 09/11/16 13:14 . em que um artista está num museu vendo quadros de Van Gogh e de repente se vê dentro dos qua- dros. 2000. Oito episódios relatando “sonhos” que se -americano. encontrando-se com o próprio pintor e conversando com ele. o filme faz uma reflexão sobre conectam. Direção de Ed Harris. MATERIAL COMPLEMENTAR Verifique no Portal SESI os materiais complementares com atividades relacionadas aos conteúdos deste módulo. Mudança de Referencial Projeto de Desenvolvimento Projeto de Pesquisa Resolução de Problemas Atividade Experimental Representação e Linguagem Pensamento Crítico ANOTAÇÕES 42 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1. Japão/ DIVULGAÇÃO/ WARNER BROS. Especialmente co perante suas obras. (119 min) Com base na biografia do pintor norte. analisados individualmente. (117min) Estados Unidos. 1990. POLLOCK. recomendável é o quinto episódio: “Corvos”. mas que também podem ser a vida de um artista e as reações do públi. Estados SONHOS. DIVULGAÇÃO/IMAGEM FILMES Unidos. Direção de Akira Kurosawa. C. eles não apenas obedecem as decisões e as mar Mediterrâneo. Nes- 14 e observe que essas cidades se situavam ao longo de todo o sa nova sociedade. mas tomam decisões e fazem as leis que terão de obede- hoje se situa o país que conhecemos por Grécia. deputados em atividade na Câmara dos Deputados. as leis visões de mundo sofisticadas. a filosofia se ocupava da natureza. guns costumes patriarcais e dividiram de maneira mais equita- nados aqui. mas se concentravam na península em que leis. SÉRGIO LIMA/FOLHAPRESS FILOSOFIA À esquerda. eram feitas no Areópago por um pequeno grupo de pessoas sofia nasceu e se desenvolveu. Como pensamos? 43 Book_SESI1_FIL_MOD1. em busca de suas leis e de uma cosmologia. tal ponto de vista tem de explicá-lo e quem o critica também. foram os prin. de William S. todos os cidadãos têm direito à palavra. foi na Grécia antiga que a filo. Primeiro. em 2005 (Brasília-DF). imagem de debate em ágora ateniense. moral e ético fizeram com que o ser humano. poderes igualados aos dos menos poderosos. para que todos estivessem diante de todos. dos os cidadãos passaram a ter os mesmos direitos e deveres. É por isso que ela é frequentemente toma. Não há mais concentrou de maneira mais expressiva as grandes realizações respostas vindas de cima e todas as decisões podem ter seus culturais da Grécia. aberta falava a alguns. Dos ideais e conceitos políticos ao modelo arquitetônico das instituições públicas. no século V a. Sólon e Clístenes. durante seu apogeu. bem como os filósofos que se destacaram no tiva o poder. que. a assembleia. No capítulo 1 desta unidade. cultivassem conhecimentos milenares e princípio chamado isonomia. como a egípcia. Mais tarde. Os homens estão no centro. só vimos que entre os gregos havia uma cultura pluralista. que passaram a debater questões importantes debatido e polemizado. Antes dessas reformas. pressupostos questionados. Mas paulatina- PRISMA/ALBUM/LATINSTOCK mente as demandas de cunho político. no entanto. No início. nessa nova forma política. e não mais os deuses. têm de pensar por si mesmos. estamos na chamado isegoria. to- Embora as grandes civilizações antigas. Bagdatopoulos (1888-1965). é desenvolvimento da democracia na cidade.. Essa nova configuração do espaço político exigiu mu- te independentes umas das outras. A cidade de cer. portanto. determinam os destinos da Atenas foi aquela que. Há. local circular. Reveja o mapa da página danças na mentalidade política dos cidadãos atenienses. cidade e. dois políticos atenienses. Mas Clístenes instituiu o tribunal popular e a influências e estimuladora de um pensamento autônomo. muito estimulada.indb 43 09/11/16 13:14 . para a cidade na presença de todos os cidadãos e em um mente importantes que determinaram o nascimento da filo. ocupasse o centro das atenções. as inovações culturais e políticas realizadas pelos gregos entre o nascimento e a consolidação da Filosofia se refletem ainda hoje. A FILOSOFIA NA HISTÓRIA Consulte na linha do tempo presente no final deste livro o Essas reformas estabeleceram leis que contrariavam al- contexto histórico e cultural dos acontecimentos mencio. a indiana e a chinesa. de maneira que quem defende da como exemplo. Na sofia entre os gregos e não entre os demais povos. à direita. segundo a tradição. outros motivos igual. assembleia. os grupos mais poderosos tiveram seus período em questão. sob a influência da deusa Atenas. princípio Toda vez que nos referimos à Grécia antiga. verdade nos referindo a um conjunto de cidades politicamen. A filosofia é justamente essa forma de pensamento que cipais responsáveis por reformas políticas que permitiram o questiona os pressupostos e que. A experiência social pôde pensamento e a mitologia.C. Nesse caso. É nesse contexto de laicização que Sócrates. Durante o governo de Péri. 44 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1.] De fato. [. 3 É muito comum considerarmos que vivemos. constituiu-se e formou-se. 1986. a ciência e a arte tais próprias da cidade grega. É um símbolo tanto da arquitetura grega feito pelo escultor Miron. tiva. como sado sem recorrer aos mitos. 141-143. do mito e do senso comum? duas ordens de fenômenos. grandes obras arquitetônicas. se desenvolveu muito destaca-se a obra de Hipócrates.. Dentro de seus limites.C. ponto mais alto com as obras do escultor Fídias.). nascimento da filosofia: entre as derivada da religião. ela é filha da cidade. outra “potência do pensamento”. na cidade.. Os três gran- cero. LONDRES.] A razão grega é a que de maneira posi. que se re- teúdo da unidade 1. pois é uma obra artística 450 a. p. 1 Com base no texto de Jean-Pierre Vernant. é um exemplo da magnífica cuja longa construção foi decidida em grande estatuária grega. em quanto da democracia. arte. que também escolhia anualmente os celebrava a beleza do corpo cidadãos responsáveis pela fiscalização da obra humano../THE BRIDGEMAN ART O Parthenon foi um templo erguido para a deusa O discóbolo (‘lançador de disco’) Atena. Eurípedes e Ésquilo também ao que Deleuze chama “potência do pensamento”. fletiu na vida política ateniense por meio da democracia. também (foto de 2012). Heródoto e Tucídides narram fatos memoráveis do pas- cles (461 a. a um debate público de vigoram entre nós. ANCIENT ART AND ARCHITECTURE COLLECTION LTD. e no con. do atual. “traz a filosofia dos céus para a terra” e dá grande impulso des autores trágicos. Entretanto. em uma em suas origens. a religião ou o senso comum. tos” entre o advento da polis e o nascimento da filosofia. A escultura grega chega ao seu conhecimento que hoje chamamos História. e dão início à historiografia e ao o Parthenon.C. é comum encon- político que a Razão. VERNANT. é no plano estão muito desenvolvidas. considerado o pai desse sa- nesse período áureo de Atenas. solidário das estruturas sociais e men. tornar-se entre os gregos objeto de uma reflexão positiva. não transformar a natureza. Jean-Pierre. são construídas. que assembleia. sociedade democrática e que a filosofia. trarmos conflitos entre alguma das formas de potência do miu. Sófocles. São Paulo: Difel. na Grécia. [.indb 44 09/11/16 13:14 .. ber. segundo Cí. Também a produzem suas peças teatrais neste momento. FREDERIC SOLTAN/CORBIS/LATINSTOCK LIBRARY/KEYSTONE/VICTORIA & ALBERT MUSEUM. de que modo ela se diferencia da concepção de destino Advento da polis. Identifique um desses conflitos no mun- argumentos. abaixo. o que prova que essas três formas de pensamento ainda porque se prestava. Na Medicina. indique os “vínculos demasiado estrei. hoje. os vínculos são demasiado estreitos para que o pensamento racional não apareça. metódica.-469 a. INGLATERRA. permite agir sobre os homens. 2 Considerando a concepção racional de destino. refletida. os esportes são celebrados. como em suas inovações. primeiramente se expri. As origens do pensamento grego. e a diversão. e trechos da canção “Tempo per- tortura ou por eleições diretas. muito pouco. focamos os mais variados objetos. tendo mais atento. é verdade. fizeram isso. É Macunaíma dando passagem para saber qual é a real de uma juventude e de uma socie. se a juventude participasse de forma mais efetiva na luta mento com os militares dos anos [19]70. mica-biologia. Existem jovens que sentem nostalgia por não ter Há muito por realizar pelo país. do sonho socialista-comunista-anar. pois outras gerações já dido”. Se o país necessitar. como pensam os nostálgicos. É um país com muitas diferenças – e Como pensamos? 45 Book_SESI1_FIL_MOD1. existem ferramentas melhores para a pesquisa investigações das disciplinas que você estuda na escola possi. não há como estudar filosofia sem estar em relação direta com as outras disciplinas e áreas do conhe- cimento. para dentro dos colégios os temas da atualidade. Hoje. Ler mais vai fazer a diferença. a participação em ONGs é grande e bilitam uma interação. motins em prisões cenário que pode parecer aborrecido ou irritante para com raves na Amazônia. lá estarão Texto 1 eles de cara limpa. Ser jovem bém é fundamental. faça o que se propõe a seguir. estudantil nas ruas. Falta muito. Groisman para a Edição Especial Jovens da revista Veja. O país está melhor. sem perder a noção de que eles compõem um todo. Transformar quista-marxista-leninista. hinos mobilizadores. Sim. Dar ao aluno mais responsabilidade naquela época era coexistir com a morte. além de matismo limitante das tribos daqueles tempos. crianças com 15 anos na Febem e ou- cadas. pintada. isto é. pu- O jovem de hoje não precisa mais lutar pelo fim da blicada em junho de 2004. das raves. de Renato Russo. o que for. Não temos em vista a compreensão da realidade em que vivemos. saber de longa data e de muitos ELIÁRIA ANDRADE/AGÊNCIA O GLOBO objetos de estudo. E ainda mais: não há como produzir filosofia sem o diálogo com as artes e as ciências. escrito por Serginho Serginho Groisman. mas o olhar está são isolados: eles se relacionam e se complementam. porque lemos pouco. góticos ou metaleiros. Mas nada melhor que a liberdade que temos hoje tras com 15 na Disney. para as humilhações. famintos com bad boys. Saudade do enfrenta. Hoje. a juventude é mais tolerante com as diferen- Você já parou para pensar em como os conteúdos e as ças. mas nem precisamos deles. é a vez dos maurici. Hoje. apesar do Estado buro- em seu cotidiano? Isso ocorre porque os conhecimentos não crático. e até o sexo está mais seguro. fazem parte do mundo. Um marombados. ver os amigos pelo próprio destino e a chance de se autoavaliar e avaliar ser tirados das salas de aula para o pau de arara. Mas é bobagem Saudade para quê? achar. Quando essas relações são estabelecidas. numa maçaroca que é o samba-enredo chamado Brasil. malabares nos cruzamentos com muita gente que tem uma visão romântica de outras dé. um diálogo com as questões presentes isso mostra um país que trabalha. a falta de liberdade e a morte. para o seus professores. o estudo fica ainda mais significativo e – por que não? – mais divertido. isso é ainda mais evidente: muitas das dis- ciplinas que estudamos foram um dia partes dela. que tudo já foi feito. fossem transformar numa atividade doce o trinômio física-quí- punks. Hoje.indb 45 09/11/16 13:14 . No caso da filosofia. Ao pensar filosoficamente. a chatice da obrigação de ler Machado de Assis no prazer Ter saudade da ditadura é ter saudade de conhecer a absoluto de ler Machado de Assis. da segurança dos shoppings e do Beira-Mar. Após ler o artigo “Saudade para quê?”. sido jovens em gerações passadas. FILOSOFIA nhos-patricinhas-cybermanos-junkies. por exemplo. gatinhas tatuadas. o medo. Dessa forma. Seria bom. Repensar a escola tam- tortura. UM DIÁLOGO COM HISTÓRIA E SOCIOLOGIA O jovem e o exercício do pensamento dade. Da mesma forma. em foto de 2010. Ao realizar as atividades desta seção. transformar a escola numa atividade de prazer: trazer quem sente nostalgia dos anos [19]80 se esquece do dog. Reformular o sistema de avaliação e choque elétrico. aos tropicalistas. do Vivemos num país que mistura desdentados com crack. observe como a filosofia interage com outras áreas. da organização pela educação e pela leitura. 12 confiar sempre é ser curioso. Desconfiar sempre é ser curioso. Diagramação: lab 212 Capa: lab 212 1 O artigo menciona a ditadura militar e a organização estudantil. Edição: Beatriz de Almeida Francisco Disponível em: <http://veja. Brasil) já não temos o tempo que passou. saber desconfiar das verdades absolutas. (0xx11) 4383-8000 buir com isso? © SOMOS Sistema de Ensino S. Gabriela Macedo de Andrade e Vanessa de Paula Santos. trans- gressor. — 3. João Filocre jovens naquela década e atualmente. que marcaram os anos Ilustrações de capa: Macrovector/ Golden Sikorka/ 1970. argumente em torno dessa questão. Colaboraram para esta Edição do Material: O que foi escondido é o que se escondeu. pesquisador. n. Diretor de Operações: Marcos Tadeu de Siqueira Gerente Executivo de Educação: Sergio Gotti to por realizar pelo país. renovador..html>.. Há mui. Rosiane Somos tão jovens. Evelyn Torrecilla Cartografia: Allmaps. Acesso em: 15 dez. Sempre diga não ao não – e desafine o coro Presidência: Eduardo Mufarej Diretoria editorial: Lidiane Vivaldini Olo dos contentes. ISBN 978 85 8 18414-9 (AL) ISBN 978 85 8 18415-6 (PR) O que foi escondido é o que se escondeu. Seja intransigente 2016 na transgressão. Revisão: Rosângela Muricy (coord. Sempre diga não ao não – e desafine o coro dos contentes. Sílvio Sistema de ensino ser : filosofia : 1º ano : com o passado: nostalgicamente ou utilizando-o como experiência para a construção do professor / Sílvio Gallo. porque lemos pouco. [.A. EMI-Odeon 1986.br/especiais/jovens_2004/p_082. 1ª impressão Nem foi tempo perdido. Editoria de Ciências Humanas: Heloisa Pimentel GROISMAN. futuro? Com base no artigo de Serginho Groisman. ed. Mas tenho muito tempo: Flávia Venézio dos Santos (estag. Não tenho mais o tempo que passou Ana Paula Chabaribery Malfa.A. Seja intransigente na transgressão. Escreva um pequeno texto relacionando os trechos às ideias estudadas nesta primeira unidade. In: Dois (CD). SP. o que mais precisa ser feito pelo nosso país? O que você faz para contri.. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 3 A canção do grupo Legião Urbana nos faz pensar sobre o tempo e a história. — São Paulo : Ática.). Botelho e Valdete Reis Revisão: Juliana Souza RUSSO. A cada dia. em foto de 1994. Supervisão de iconografia: Sílvio Kligin Pesquisa iconográfica: Carlos Luvizari e Todos os dias antes de dormir. A juventude deve. saber desconfiar das verdades absolutas. Coordenação Editorial: Simone Savarego. Impressão e acabamento Somos tão jovens. Projeto Sistema SESI de Ensino E o que foi prometido. [. 2017. muito dos Santos pouco. 82. por exemplo. São Paulo: Abril. Sérgio Murilo Rodrigues SESI DN 2 Releia o trecho do artigo. 2012. renovador.. tão jovens.] Renato Russo. destacado abaixo: Superintendente: Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti Mas é bobagem achar. Projeto gráfico de miolo: Daniela Amaral.. jun. Lembro e esqueço como foi o dia: e Márcio Santos de Souza “Sempre em frente. tão jovens.] Repensar a escola também é fundamental. Ana Curci. 32. transgressor. Avenida das Nações Unidas. avaliação e transformar a escola numa atividade de prazer [. como pensam os nostálgicos.12 A juventude deve.] Reformular o sistema de Todos os direitos reservados por SOMOS Educação S. Sim. tão jovens. Faça uma pesquisa em bibliotecas e na internet sobre o movimento estudantil no Sentavio/ Jiw Ingka/ Shutterstock Consultores Brasil e escreva um breve relatório comparando as principais reivindicações feitas pelos Coordenação: Dr. Filosofia: Ensino médio 107.abril. Título. 3ª edição E o que foi prometido. Renato. Tratamento de imagem: Cesar Wolf e Fernanda Crevin Ilustrações: Theo Szczepanski e Douglas Galindo Não temos tempo a perder”. Saudade para quê? Veja. se a juventude participasse de forma Gerente de Educação Básica: Renata Maria Braga mais efetiva na luta pela educação e pela leitura.. acima de tudo. Como nos relacionamos Gallo. Edição Especial Jovens. p. Juliana Medeiros de Albuquerque. 1. que tudo já foi feito. ninguém prometeu. pesquisador.. ninguém prometeu Gestão do Projeto: Thiago Brentano Coordenação do Projeto: Cristiane Queiroz Nem foi tempo perdido. Supervisão de arte e produção: Sérgio Yutaka Edição de arte: Eber Souza Texto 2 Supervisão de criação: Didier Moraes Tempo perdido Edição de arte e criação: Rafael Vianna Leal ANDRÉ PENNER/ARQUIVO DA EDITORA Gerência de revisão: Hélia de Jesus Gonsaga Todos os dias quando acordo. tão jovens.indb 46 09/11/16 13:14 . 4 Releia os trechos abaixo: 16-08242 CDD-107.]. 2004.) Temos todo o tempo do mundo.. Des. mas temos um futuro aberto. (Câmara Brasileira do Livro. Filosofia (Ensino médio) I. Tempo perdido. Seria bom. Uma publicação 46 Como pensamos? Book_SESI1_FIL_MOD1.com. Índices para catálogo sistemático: 1. acima de tudo. Serginho. 7221 Pinheiros – São Paulo – SP a) Qual é a sua opinião sobre esse trecho? Você concorda ou discorda dele? CEP: 05425-902 b) Em sua opinião. acabar com elas é papel dos jovens. O que mudou? Filosofia: Msc. Talita Guedes [. . . . . . . . . 6 A filosofia da existência . . . . . . . 3 Natureza humana versus condição humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2137645 (PR) Como nos conhecemos? SER1_FIL_MOD2_C01_V3. . . . . .indd 1 09/11/16 13:20 . . .2 Corpo e alma. . . . . . . . . . FILOSOFIA Silvio Gallo FILOSOFIA COMO NOS CONHECEMOS? 1 O ser humano quer conhecer a si mesmo . . . um ramo da ciência também se voltou para o tema. o homem desce em Marte pisa em Marte experimenta coloniza civiliza humaniza Marte com engenho e arte. Vamos para Marte — ordena a suas máquinas. c Identificar diferentes assim como a filosofia. praticamente todo ser humano pergunta a si mesmo: “Quem sou humana do eu?”. um módulo toca para a Lua desce cauteloso na Lua pisa na Lua planta bandeirola na Lua experimenta a Lua coloniza a Lua civiliza a Lua humaniza a Lua. Objetivos: COLOCANDO O PROBLEMA c Explorar a necessidade Em algum momento da vida. Carlos Drummond de Andrade reflete na história da Filosofia. Elas obedecem. Vamos a Vênus. bicho da Terra tão pequeno chateia-se na Terra lugar de muita miséria e pouca diversão. que lugar quadrado. A partir do século XIX.indd 2 09/11/16 13:20 . O homem funde a cuca se não for a Júpiter proclamar justiça junto com injustiça 2 Como nos conhecemos? SER1_FIL_MOD2_C01_V3. O homem chateia-se na Lua. uma cápsula. as viagens”. O homem. Vê o visto — é isto? idem idem idem. para essa inquietação. as viagens O homem. reproduzido a seguir. O homem põe o pé em Vênus. Lua humanizada: tão igual à Terra. CAPÍTULO 1 O ser humano quer conhecer a si mesmo Veja. Marte humanizado. Vamos a outra parte? Claro — diz o engenho Sofisticado e dócil. tanto a mitologia quanto a religião se preocuparam em buscar respostas autoconhecimento. o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo. faz um foguete. Como você já estudou. sobre essa questão e convida o ser humano a empreender a extraordinária viagem “de si a si mesmo”. visões de ser humano No poema “O homem. no Guia do Professor. Carlos. o mundo e os deuses”. A partir do século V a. Sócrates põe o ser humano sob o foco do pensamento filosófico grego. Uma vez que aquela exigência única fosse cumprida por meio da prática da filosofia – para FILOSOFIA Sócrates. examinada e investigada. Essa inscrição considera o ser humano como a fonte de todo o conhecimento e o meio pelo qual é possível conhecer os outros.C. o mundo e até mesmo os deuses. O homem chega ao Sol ou dá uma volta só para tever? Não-vê que ele inventa Roupa insiderável de viver no Sol. ser Como nos conhecemos? 3 SER1_FIL_MOD2_C01_V3. p. Precisa. a vida. A FILOSOFIA NA HISTÓRIA Corpo e alma No primeiro capítulo. Ao acabarem todos só resta ao homem (estará equipado?) a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo: pôr o pé no chão do seu coração experimentar colonizar civilizar humanizar o homem descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene. templo dedicado ao deus Apolo: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os homens. imaterial. ele é a ligação indissolúvel entre os dois. perfeita e imortal. O espaço todo vira Terra-a-terra. vimos que a investigação da natureza ocupava o centro das atenções dos primeiros fi- lósofos. Não se pode pensar no ser humano apenas como um corpo nem apenas como alma. Restam outros sistemas fora do solar a colonizar.indd 3 09/11/16 13:20 . repetir a fossa repetir o inquieto repetitório. Poesia completa. falso touro espanhol domado. 718-719. Põe o pé e: Mas que chato é o Sol. tornaria-se mais digna de ser vivida. e de uma alma. no entanto. material. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. Outros planetas restam para outras colônias. Ainda na Antiguidade. 2004. Afirma-se que ele adotou como lema de sua prática filosófica a inscrição que ficava no portal do famoso Oráculo de Delfos. insuspeitada alegria de con-viver. DRUMMOND DE ANDRADE.. uma forma de autoconhecimento –. Platão afirmava que o ser humano é composto de um corpo físico. dois filósofos deram importantes contribuições para o pensamento em torno do ser humano: Platão e Aristóteles. imperfeito e mor- THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA tal. ‘pensamento’. O ser humano era considerado criação e instrumen- Para Aristóteles. PHOTO RESEARCHERS/GETTY IMAGES Sem se afastar do dualismo corpo-alma exposto por Platão. Na Idade Média. Pensadores renascentistas propuseram que o centro das preocupações humanas deixasse de ser Deus (teocentrismo) e passasse a ser o próprio ser humano (antropocentrismo). se nos comunicamos com aqueles que são iguais a nós. pintura feita por John Roddam Spencer Stanhope. a alma pode dedicar-se às ideias. somos seres sociais. a língua e o pensamento to de Deus. as almas tinham de beber sua água para se purificar. Ao afirmar isso. Sendo assim. uma vez controlados os instintos e as pai- xões do corpo. as que bebiam menos se tornavam sábias. a Entre os séculos XIV e XVI. As águas do Lete. 4 Como nos conhecemos? SER1_FIL_MOD2_C01_V3. Marcha de protesto de estudantes chilenos contra as políticas do governo para a educação. quanto ‘palavra’. Em A república de Platão. Além disso. que narra a jornada das almas rumo à reencarnação. A Igreja utilizava argumentos filosóficos para reforçar os ensinamentos cristãos. há o “mito de Er”. sede da razão e do pensamento. ao lado das planícies REPRODUÇÃO/GALERIA DE ARTE DE MANCHESTER. Era a época do Renascimento. por ser encontrada apenas nos seres humanos. em cerca de 1880. o mais importante era conhecer aquilo que o criador espera da criatura. a situação se modificou. como forma de recuperar a “dignidade humana”. INGLATERRA. mas sim “como Deus quer que eu seja?”. por isso deve-se cuidar dele. É a ginástica do corpo que possibilita a ginástica da alma. Dessa primeira definição decorre a segunda: se somos seres de linguagem. movimento Língua de Sinais Americana. que tanto significa ‘razão’. que pensamento e linguagem estão entrelaçados. então com eles compartilhamos a vida. As almas que bebiam mais esqueciam mais e se tornavam tolas. de renovação cultural que se difundiu na Europa e que recuperou a valorização das qualidades hu- manas. Definiu o ser humano como um “animal racional” e um “animal político”. Aristóteles quer dizer que o homem é dotado de pensamento e de linguagem. MARTIN BERNETTI/AGÊNCIA FRANCE-PRESSE Projeto de Pesquisa Acesse o Material Comple- mentar disponível no Portal e aprofunde-se no assunto. Isso porque os gregos antigos afirmavam que o ser humano só pensa por meio da linguagem. em 16 de maio de 2012. Por isso. “esquecimento”). A são evidências de que a racionalidade é o predicado essencial do ser humano. pergunta então não era “quem sou eu?”. Aristóteles avançou bastante nos estudos filosóficos sobre o ser humano. Platão adverte que a ideia de sermos guiados pela alma não significa uma negação do corpo: o bom uso da alma depende da saúde do corpo. sendo a razão o mais importante deles. criança aprende sinais da ASL. Essa teoria foi a base daquilo que seria chamado depois de “dualismo psicofísico”. a filosofia esteve estreitamente ligada à religião. Conduzidas ao rio Lete (em grego. que não apenas vivem em comunidade. mas que só realizam plenamente sua humanidade na vida política.indd 4 09/11/16 13:21 . do Elísio. ‘linguagem’. Para designar tal característica. para que sua vida não se perca nas imperfei- ções. Desenvolveu uma teoria na qual distingue os vários atribu- tos da alma. segundo Aristóteles. conduzido pela alma. Na foto. políticos. a filosofia. A ação política é o que nos torna de fato humanos. ele usa a palavra grega logos. chegando a ser conselheiro do rei Henrique VIII. como você verá mais adiante. como a política. discutindo os mais variados temas. exerceu vários cargos políticos na Inglaterra. Michel de Montaigne (1533-1592) Homem vitruviano. por valorizar o ser humano. INGLATERRA. Entre os pensadores renascentistas.indd 5 09/11/16 13:21 . na qual descreve uma fantasiosa sociedade perfeita na ilha de Utopia (em grego. ganhariam forma as preocupações com a “desumanização” das técnicas e da exploração do homem pelo homem na sociedade capitalista. Com a Revolução Industrial do século XIX. a dignidade do ser humano reside em aceitar-se como huma- no. Pensadores renascentistas A filosofia renascentista costuma ser qualificada como um “humanismo”. Thomas More (1478-1535) Também conhecido pelo nome na forma latina. FRANÇA. LONDRES. FLORENÇA. FILOSOFIA A ênfase no ser humano marcou o Iluminismo (século XVIII). crita e de pensamento muito particular. Para ele. cuja imagem se foi publicada em três livros. No século XX foi canonizado santo pela Igreja católica. no qual sua própria vida do arquiteto romano Vitrúvio (século I a. feito por Leonardo da Pensador francês. representado por artista anônimo no século XVII. mas loucura maior ainda é querer elevar-se além de sua própria condição.). Michel de Montaigne. Católico radical. o Jovem. diversidade. a amizade. Baseando-se nos escritos REPRODUÇÃO/CASTELO DE VERSALHES. Algumas delas são discutidas a seguir. em como um modo de criticar a situação política e social da Inglaterra. Montaigne desenvolveu um estilo de es. Como nos conhecemos? 5 SER1_FIL_MOD2_C01_V3. recusou-se a re- conhecer o divórcio do rei. pintura de Hans Holbein. Não se ocupou tornou o símbolo do Renascimento. desde os mais amplos. Giovanni Pico de la Mirandola. razão pela qual foi condenado à morte e decapitado. Leonardo desenvolveu este estudo e suas preocupações eram o foco.C. a educação das crianças. rus. o Jovem. trouxeram co- nhecimentos. a religião e a liberdade. que atribuíram novo significado às reflexões sobre o humano no campo da filosofia. de 1509. Giovanni Pico de la Mirandola (1463-1494) Nobre italiano. NOVA YORK. das quais a mais conhecida é o diálogo Utopia. Vinci em 1490. Thomas Mo- REPRODUÇÃO/COLEÇÃO PARTICULAR. Erasmo de Roterdã. representado pelo artista alemão Hans Holbein. EUA. as guerras. de 1516. até os mais específicos. em “definir” o ser humano. ITÁLIA. Ensaios. ITÁLIA. Escreveu diversas obras. especialmente com o surgimento das várias ciências humanas. feita em 1527. VENEZA. Sua obra mais conhecida é o Elogio da loucura. Erasmo de Roterdã (1466-1536) Monge católico nascido nos Países Baixos e profundo crítico da REPRODUÇÃO/GALERIA NACIONAL. em 1523. entre 1580 e 1588. Thomas More. movimento que reafirmou a capacidade da razão em superar as adversidades do mundo. erudito e polêmico. mas quis apresentá-lo em toda a sua REPRODUÇÃO/GALERIA DA ACADEMIA. vida monástica. ‘o lugar que não existe’). a coragem e a crueldade. ‘o não lugar’. agindo de acordo com sua própria consciência. Os avanços científicos nos séculos XIX e XX. destacam-se: REPRODUÇÃO/GALERIA UFFIZI. publicou em 1480 uma “ora- ção” denominada “Sobre a dignidade do homem”. uma das primeiras obras humanistas. como o amor. Ser humano é ser louco. das proporções humanas. Sua principal obra. em gravura de artista anônimo feita no século XVII. de 1948. Essa condição refere-se aos fatores históricos e sociais em que o ser humano vive e sobretudo às ações que exerce sob essa condição. Observando as pessoas. sem elas. que se desdobra nas três atividades humanas XX. não há nada universal que defina o humano. Se somos dotados de uma natureza humana. (1958). ou ainda brincar. 11. por exemplo. portanto. transformando-a sempre. destacam-se As origens do totalita. Ao trabalho corresponde a própria vida. ou trabalhar (homo laborans). não define o que somos. mas não nos determina de modo absoluto. ao que ele – ou nenhum desses aspectos em particular. porque é aí que podemos conhecê-lo mais profundamente. ação é a atividade política. Uma natureza humana só poderia ser conhecida do ponto de vista de uma divindade. e A vida do espírito (1971). Rio de Janeiro: Forense Universitária. os filósofos procuraram evidências que poderiam caracterizar Segundo Aristóteles. A mas conseguiu fugir de um cam. o ser humano se distingue dos demais semente. A condição humana. Alguns filósofos. À obra corresponde a mundanidade. A filósofa contemporânea Hannah Arendt compreende essa condição como o exercício do que estudou com alguns dos princi- pais filósofos alemães do século ela denomina uma vita activa (‘vida ativa’. ed. dos minerais. e a soma total das ativida- des e capacidades humanas que correspondem à condição humana não constitui algo que se assemelhe à natureza humana.indd 6 09/11/16 13:21 . essa noção não explica. Toda a realização dessas potencialidades. a realização de todas as atividades. o devir é a ação de um ser. Os filósofos que pensam em termos de con- dição humana colocam muito mais ênfase na investigação da existência. nas realizações humanas no mundo. como o pensamento e a razão. Husserl e fundamentais: o trabalho. porém. pois. GORILLAIMAGES/SHUTTERSTOCK/GLOW IMAGES Natureza humana versus condição humana Na busca pelo sentido do humano. sua forma de ser (semente). aquilo que os indivíduos realizam entre si. Aristóteles ressaltou que os humanos são seres ra- cionais. na medida em que os seres cada de 1930 e. exercendo uma vida ativa. p. 2010. Eles afirmaram que o ser humano não é definido por uma característica universal. biológico. Filósofa alemã de origem judaica. como Heidegger. Segundo esses filósofos. dos vegetais. Esses filósofos tiraram o foco da essência humana e o colocaram na existência. isso significa que já nascemos com ela. aquilo que nos permite que. onde viveu até a morte. Exilou-se em corresponde uma condição humana. Hannah. fabricar (homo faber). para saber o que faz dos homens e FRED STEIN ARCHIVE/ ARCHIVE PHOTOS/GETTY IMAGES Arendt. à atualização da potência. uma vez que aquilo que lhes caracteriza e lhes torna singulares é o fato de serem dotados de razão. de um ser que esti- vesse acima dos humanos. isto é. A condição humana é. que esteja presente em todos os seres humanos. utiliza a linguagem e a razão (homo sapiens). A obra é a atividade da existência. nos dá um horizonte no qual construímos nossa vida. uma pergunta frequente é: o que há em nós que nos faz humanos. já as condições humanas podem ser conhecidas. em seu aspecto Jaspers. ARENDT. etc. não há uma noção determinada de ser humano. dando aos seres humanos o referencial dentro do qual podem se mover e criar. mas o conjunto deles. é um ato com seres porque pensa. o devir é uma manifestação da razão em nós. pois ela é a condição para que a política possa ser feita por todas as pessoas. mas uma abertura de sua compreensão. Hannah Arendt Nessa perspectiva. e nem mesmo a mais meticulosa enumeração de todas elas. mas BIOGRAFIA por aquilo que cada um faz de si mesmo. em qualquer época e lugar. 11-12. não ficaram satisfeitos com nenhuma das caracterizações de uma su- posta natureza humana. por fim.. que pode criar. a obra e a ação. sejamos huma- rismo (1951). reside nas relações econômicas (homo economicus). À ação. O que fazemos ao longo de nossa vida é transformar em ato as potencialidades que legamos dela desde o nascimento. pode vir a ser no tempo (planta). Mas. a natureza humana a potência para se atualizar em planta. Estados Unidos. Na ideia de condição humana. dos animais. ressalta Arendt. para outros. Pois nem aquelas que discutimos neste livro nem as que deixamos de mencionar. Para alguns. e só podemos compreen- (1906-1975) dê-lo observando como os seres humanos vivem e como se relacionam com os demais indiví- Hannah duos e com as coisas do mundo. por exemplo. A cada uma dessas atividades po de concentração. ela nos condiciona. mulheres seres humanos e não outros seres quaisquer. por exemplo. em latim). corresponde a pluralidade. jogar (homo ludens) vai do ato. Entre suas várias obras. Foi vítima do nazismo. que consiste em transformar a natureza e criar cultura. ou seja. desde 1941. pois ela é condição para países europeus no início da dé. nos humanos criam um mundo por meio da cultura e é o mundo que possibilita a obra. 6 Como nos conhecemos? SER1_FIL_MOD2_C01_V3. essa existência deixaria de ser humana. é mais importante estudar a “condição em foto humana” do que uma suposta natureza humana. constituem características essenciais da existência humana no sentido de que. O trabalho é a atividade do corpo humano. Tendo em vista a definição da natureza humana. e há ainda quem afirme que apenas o humano Assim. nos tornando singulares em relação a todos os seres da natureza? Em outras palavras: qual é a natureza humana? Nessa pergunta está implícita a ideia de que existe uma essência humana que nos distingue. que está de acordo com a diversidade de nossas ações. A condição humana nos de fato. Para evitar erros de interpretação: a condição humana não é o mesmo que a natureza humana. se modifica. parte escrita em Marx. A leitura do texto Manuscritos econômico-filosóficos nos ensina que para compreender o ser Karl Marx humano é necessário investigar ambas as perspectivas. (1818-1883) não permite conhecer melhor o ser humano. Para Marx. ANDRE DUSEK/AGÊNCIA ESTADO FILOSOFIA Impressora de gráfica localizada em Brasília (DF). 1895). eminentes intelectuais do século mana. fisiológicos e psicológicos e afirma-se que eles se expressam no aspecto material da vida cotidiana. Distingue-se entre uma “natureza humana geral”. Daí a possibilidade de falar em uma natureza hu. é o trabalho que faz com que o ser humano seja propriamente humano. permanece o mesmo. Cada uma delas. Isso Filósofo alemão. de humanização. que são os aspectos invariáveis em toda a humanidade. constituída pelos aspectos particulares de cada cultura e de cada sociedade em um período histórico específico. Mas ao trabalhar e transformar a natureza. Karl Marx. para Marx os seres humanos produzem a si mesmos por meio do trabalho. processo de impressão sua principal obra. ROGER-VIOLLET/GETTY IMAGES A obra de Marx nos permite dar um novo sentido a essas expressões. Sua obra. o filósofo alemão Karl Marx integrou as visões de natureza humana e condição humana. e O capital (1867-1905). Como nos conhecemos? 7 SER1_FIL_MOD2_C01_V3. entre os quais o Manifesto Amman. o homem se modifica – e é por isso que. da época. Friedrich Engels (1820- O trabalho é. os aspectos biológicos. e isso permanece sempre o mesmo. assim. segundo XIX. o ser humano muda ao longo da história e. inspirou as lutas pelos direitos humanos e trabalhistas e a concepção do comunismo THE GRANGER COLLECTION/OTHER IMAGES moderno. e uma “natureza humana modificada de cada época histórica”. parceria com outro pensador Em outras palavras. com 1568. feita em do Partido Comunista (1848). mas também se perde de si mesmo BIOGRAFIA No século XIX. Leva-se em consideração. entende-se aquilo de propriamente humano que é identificável em cada indivíduo. no entanto. em foto de 1865. Foi um dos prin- porque ele considera que o ser humano constrói-se a si mesmo por meio do trabalho e. anatômicos. fonte de humanidade. conforme se cipais militantes do movimento constrói. Escreveu diversos li- Gravura de Jost vros. em foto de 2009. A construção é feita a partir de uma espécie de “matéria-prima” que é o próprio operário europeu e um dos mais ser humano. representando o Engels.indd 7 09/11/16 13:21 . O ser humano produz a si mesmo. Por natureza huma- na. se tomada isoladamente. alemão. portanto. com os outros e com o mundo. ed. Ele próprio. mo. escritos entre abril e agosto de 1844. Cha- plin se inspirou largamente nas privada da produção da riqueza humana. sistema de organização social como em O capital. Erich. enquanto em suas funções humanas se reduz a um animal. cada trabalhador não conhece o processo geral as péssimas condições do traba. © 1996 THAVES/UNIVERSAL UCLICK Esta charge exprime bem um contexto de alienação: mesmo após anos de trabalho. Karl. ou o trabalho alienado. Estados Unidos. Homem: humano ou animal? Nos Manuscritos econômico-filosóficos. (87 min). Somente assim será possível retomar o processo de autoconstrução do humano. ‘coisa’. mas Qualquer relação com a atualida- ao dono da fábrica. perde a possibilida- Charles Chaplin. Na sociedade De forma bem humorada. Rio de Janeiro: Zahar. época que criticavam o capitalis. Tempos modernos. pois revela o fundamento da alienação: a apropriação de não é mera coincidência. desse modo. lemos: “Chegamos à conclusão de que o homem (o trabalhador) só se sente livremente ativo em suas funções animais – comer. Assim. em que. entende-se a situação concreta vivida por homens e VEJA O FILME mulheres. Direção de O trabalho passa a ser. tornando-o um animal como qualquer outro. partindo da palavra latina para e econômico vigente até hoje. se a própria humanidade produziu a desumanizante condição humana do ca- pitalismo. no texto de Marx. o trabalhador perde sua “humanidade” no processo ideias e nos movimentos de sua do trabalho. de de ser criativo e deixa de ser um processo de transformação da natureza e construção do humano. O conceito marxista do homem. Por condição humana. Manuscritos econômico-filosóficos. Marx afirmava que a condição humana era a alienação no processo do Tempos modernos conta a história trabalho. O trabalho já não é aquilo que faz do ser BETTMANN/CORBIS/LATINSTOCK humano plenamente humano. uma vez que ele coloca parte de sua vida naquilo que produz e que não pertence a ele. o filme capitalista do século XIX. então. Segundo Marx. 1983. convertendo-se em um processo mecânico e repetitivo. THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA 8 Como nos conhecemos? SER1_FIL_MOD2_C01_V3.” MARX. 1936. beber e procriar. Outro aspecto é que aquilo que o trabalhador produz não pertence a ele. do trabalho. para a criação coletiva e histórica da- quilo que chamamos “natureza humana” e que os seres humanos produzem cotidianamente nas suas Cena do filme Tempos modernos. em uma coisa. Marx denominará esse processo de “reificação”. suas dificuldades para lidar com devido à divisão de funções entre os trabalhadores. um processo de “coisificação” do trabalhador. O animal se tornou humano e o homem se torna animal. mas só pu- blicados pela primeira vez em alemão em 1932. relações consigo mesmos. que é res. Esse aspecto é essencial. Em sua obra de maturidade. Ele não tem condições de compreender como a atividade que ele realiza se encaixa no lho fabril no início do século XX. superando o trabalho alie- nado por meio da abolição da propriedade privada dos meios de produção. é transformado em um objeto. os próprios seres humanos devem transformar essa condição. o trabalhador não sabe qual é a etapa seguinte daquilo que ele faz em uma linha de montagem.indd 8 09/11/16 13:21 . bem como as características que eles assumem em cada momento histórico. 94. 8. In: FROMM. ou no máximo também em sua residência e no seu próprio embelezamento –. p. de um trabalhador de fábrica e Marx denominava trabalho alienado aquele que acontece no capitalismo industrial. processo de produção. de simples acidente em uma tendo se tornado reitor da Univer- existência autêntica. Ele produziu uma em foto do século filosofia com forte caráter psicológico. entre outras obras. Para explicá-lo. fluência de Franz Brentano (1838- FILOSOFIA Um dos representantes desse pensamento foi o filósofo Martin Heidegger. Edmund Husserl (1859-1938) KEYSTONE-FRANCE/GAMMA- KEYSTONE/GETTY IMAGES BIOGRAFIA Friedrich Hegel (1770-1831) REPRODUÇÃO/GALERIA NACIONAL. de certo modo como uma reação às ideias do filósofo alemão XX. Foi professor em distingue Nietzsche de Sócrates. um cão. a filosofia procurou novos caminhos para que influenciou diversos filósofos pensar sobre a humanidade. Cabe a cada um transformar a própria vida. a filoso- Hegel. Com isso. ser é aquele que tem a faculdade de questionar sobre si mesmo. O que é isso. por isso. ser e ente. afirmou que Heidegger. procurou construir uma filosofia voltada para a interrogação da fia? (1956). Nietzsche afirma que a vida não tem um sentido definido de antemão. Escreveu. Para Nietzsche. propôs um sistema filosófico que considera o mun- do em um contínuo processo histórico voltado para o alcance da autoconsciência humana e da razão. em 1825. cuja formação e produção inte- lectual se deram na Alemanha. todo ser Filósofo alemão. estudou com Ed- humano é um estranho para si mesmo e. As raízes dessas ideias surgiram um século Martin Heidegger antes. no mundo suprassensível. BIOGRAFIA Søren Kierkegaard. Essa orientação do pensamento para a vida cotidiana seu assistente. Friedrich Hegel. ALEMANHA. cenário de duas guerras mundiais. um ente é tudo o que existe – uma mesa. e O desespero humano (1849). No século XX. que procurava com ele desvendar a essência das coisas e cartesianas (1931). na primeira metade do século XIX. dos seres. Para Heidegger. Husserl usou o exemplo do retângulo. Que é meta- BETTMANN/CORBIS/LATINSTOCK Filósofo e teólogo dinamarquês. BERLIM. Filósofo alemão. já que este último buscava as respostas para seus questionamentos algumas universidades alemãs. inspirado em Sócrates e crítico de física (1929). e He- vida humana. sidade de Freiburg. representado por Jacob Matemático e filósofo austríaco. Aplicou o mé- todo fenomenológico de Husserl seus sentidos são construídos por nós mesmos. especialmente com Kierkegaard e Nietzsche. ráclito (1970). com as concep- ções dos filósofos Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre. do século XX. A filosofia da existência BIOGRAFIA No século XX. que procurava estabelecer uma filosofia ancorada na razão e que desejava abarcar a totalidade dos saberes. Ele distingue entre 1917) na Universidade de Viena. em desenho feito por seu irmão no século XIX. ao estuado da existência humana e exerceu grande influência no BIOGRAFIA pensamento do século XX. Migalhas filosóficas (1844). Entre seus muitos livros. Um retângulo continuará sendo um Como nos conhecemos? 9 SER1_FIL_MOD2_C01_V3. em foto de 1932. Filosofia como ciência rigorosa O método utilizado pela corrente existencialista se denomina fenomenologia. Um deles desembocou na corrente denominada existencialismo. destacam-se: O conceito de ironia (1840). um livro. Nietzsche (1961). Dentre as obras que publicou estão: Investigações lógicas (1901). Ideias para uma fenome- analisar a realidade baseada nas impressões que um fenômeno provoca em cada indivíduo. destacam-se: Søren Kierkegaard (1813-1855) Ser e tempo (1927). o pensamento sobre o ser humano assumiu novas perspectivas. conforme vivemos. Schlesinger. a Fenome- nologia do espírito (1806). isto é. Heidegger: em busca da essência Sua principal realização foi a cria- ção do método fenomenológico. Friedrich Nietzsche reafirma o princípio de Sócrates se- gundo o qual o sentido da filosofia é a interrogação sobre a própria vida. uma forma de (1911). Na segunda metade do século XIX. para compreender a vida humana o filósofo deve pensar sobre sua própria vida. um homem. Exerceu forte influência sobre a filosofia dos séculos XIX e XX. a prática filosófica precisa orientar-se para uma mund Husserl e depois se tornou investigação da existência humana cotidiana. Friedrich Hegel. Edmund Husserl. Entre seus livros. O conceito de angústia (1844). Recebeu grande in- senvolvida a partir do enfoque na vida humana herdado do século XIX. Esse nologia pura (1913) e Meditações método foi criado por Edmund Husserl. de. o ser humano.indd 9 09/11/16 13:21 . (1889-1976) As raízes do existencialismo BETTMANN/CORBIS/LATINSTOCK Martin O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard. o ser humano é um ser-com. a essência humana existe antes mesmo de o ser humano existir. Para compreender isso. Mas é possível viver muitos que sua tomada de consciência não se dá no vazio. Ele é. 2011. horas. Sartre retoma o dualismo psicofísico do ser humano. Decidiu aplicar o método fenomenológico ao estudo da existência humana. A semente traz em si mesma a identidade do vegetal. dias. séculos e mesmo para sempre. A história se passa em Heidegger adotou a fenomenologia de Husserl para investigar a existência humana. Nessa obra. A filosofia existencial se opõe a essa ideia e afirma que. a um mundo no qual os seres hu. mas é também um ser-com-os-outros. pois ele sabe que poderia ser diferente. um ser de relações. que sabe que existe. ‘aquilo que se lança’). se compra é pago com minutos. Ao longo da vida humana. poralidade. tendo sido lançado ao mundo. como as coisas. mas que não tem uma identidade). como qualquer um. segundo Heidegger. E o tempo é a moeda corrente: tudo o que consciência de si mesmo é necessário ter um distanciamento em relação a si. O ser humano não tem uma essência ao nascer. o ser humano pode fugir das responsabilidades de uma existência autêntica e viver de modo impessoal e banal. precisamos do mundo. o ser humano descobre-se no tempo. que tem uma identidade). completam essa idade. Direção de também com outros seres humanos. mas em meio às coisas. é que vive a dimensão da temporalidade e descobre-se como um ser-para-a-morte. a essência vai se realizando com a ação. conheceu os trabalhos de Husserl e ficou muito impressionado. destaca-se Jean-Paul Sartre. uma vez que se relaciona com as coisas. Nesse sentido. é preciso olhar-se de fora. então. de sua existência. Cartaz do filme O preço do amanhã. mas para afirmar que. ele é um projeto (a palavra vem da expressão latina pro-jectum. Ele denomina o ser humano com a expressão 25 anos de idade. onde de fato está a essência humana.indd 10 09/11/16 13:21 . permanece imutável e está na mente dos indivíduos. Sartre: a gratuidade da existência Para Aristóteles. Heidegger manos param de envelhecer aos nunca aceitou ser chamado de “filósofo existencialista”. existência é uma via de acesso ao ser. como a do ipê. Mas. Sendo livre. retângulo mesmo que as linhas paralelas sejam aumentadas ou diminuídas. enquanto a consciência é um ser-para-si (que existe para si mesmo. mas O preço do amanhã. Heidegger também afirma que o ser humano é livre. mas atravessa toda a existência. na medida em que é consciente de si – isto é. O ser humano é lançado ao mundo. o humano é uma unidade de corpo e consciência.. Sua germinação. Em um estágio na Universidade de Berlim. Quando se esgota o Entre as características do ser humano investigadas por Heidegger. assim. podemos destacar as que ele tempo de um indivíduo. como possibilidade constante e da qual não podemos escapar. embora dual. como fizera Heidegger. O que nos faz humanos é saber que um dia morreremos. pois por meio dela somos capazes de julgar os atos e escolher entre as opções de que dispomos. dando sentido à nossa vida. mas não pode sê-lo. mas sem afastar-se das ideias de Husserl. também não poderia ser pura consciência (ser-para-si). que O filme aborda a questão da tem. Somos seres finitos. uma vez que um corpo sem consciência não é humano e uma consciência sem corpo é impossível. Mas a consciência não o perdoa e não o deixa em paz. na direção de uma existência autêntica e criativa. que pode ser traduzida por ‘ser-aí’. vai construindo aquilo que é ao longo de sua vida. que são inseparáveis. Estados Unidos. a existência precede a essência. precisamos estar no mundo para ser conscientes. sendo o principal deles O ser e o nada. publicado em 1943. ao mesmo tempo. no caso do ser humano. que vivemos no tempo. porém. Escreveu vários livros sob essa influência. 10 Como nos conhecemos? SER1_FIL_MOD2_C01_V3. Na filosofia de Heidegger. jogado no mundo. pois o humano anseia ser idêntico a si mesmo (ser-em-si). BETTMANN/CORBIS/LATINSTOCK Outra característica do ser humano. crescimento e transformação em uma árvore florida nada mais são do que a realização de sua essência. pense em uma semente. ser-com e ser-com-os-outros. uma vez re. para ter um “crédito” de um ano. Utilizando conceitos da filo- sofia de Hegel. Sartre afirma que há no humano duas modalidades de ser: o corpo é um ser-em-si (que existe em si mesmo. desde que se saiba como “ganhar tempo” e administrá-lo. a morte não é apenas o fim da vida. Essa existência dual é geradora de angústia. invadido pela angústia. Para ele. por meio do corpo.. Andrew Niccol. Por essa razão. uma vez que. É essa cons- ciência da morte que nos leva a dar o primeiro passo para abandonar uma vida comum e banal. Essa seria a essência do retângulo. O homem é um ser-no-mundo. quando alemã Dasein. podendo escolher como dar sentido à própria existência. Ao estar no mundo. denominou ser-no-mundo. ganham e existe como se fosse “arrancado de si mesmo”. é como se quem tem consciência de si vivesse “arrancado” de si mesmo. desde que se mantenham VEJA O FILME as proporções que caracterizem a figura como um retângulo. Entre os filósofos existencialistas. O fundamento da liberdade humana é a consciência. ele mor. pois para que haja consciência é preciso que estejamos no mundo e só podemos estar no mundo encarnados. Não é preciso muito para des- mados quando nos percebemos reconhecidos pelos outros. agimos como se. do projeto. Brinca e se professor. marido. 1999. primem interesse talvez A condição humana é marcada por três realidades. A escolha gera uma responsabilidade por toda a humanidade. pois a pessoa que vive assim está mentindo para si mesma. um me a presteza e a rapidez ine- professor de Filosofia é reconhecido por seus alunos como professor. não tem uma finalidade definida. Em 1964 foi premiado com o Nobel de Literatura. O ser humano é o ser da liberdade. por exemplo. Toda escolha tem suas consequências. fere sua liberdade. para falar em uma condição humana. que “o exis- tencialismo é um humanismo”. Isso significa que um tanto precisos demais. Você. Sartre afirmou. A aceitação de uma identidade Nada surpreendente: a brinca- imposta por outro limita as possibilidades do indivíduo e. de fato. portanto. pode ser qualquer coisa. Por exemplo. Mas brinca de quê? mas também pai. É por clina com presteza algo exces- isso que Sartre abandona a noção de natureza humana. que nada explorá-lo e inventariá-lo. ela é a afirmação da abertura. Foi um dos mais consagrados filósofos franceses do século XX. mas não será isso sempre. Nascemos pouco rápidos demais. Entre os anos 1930 e 1950. bem como FILOSOFIA à militância política. Para Sartre. SARTRE. pois alguém escolhe sempre para si mesmo e pelos outros. no caso do ser humano. contingente. O ser e o nada. pode decidir assistir ou não à aula. Mas nenhuma dessas realidades dá ou dará a você uma mecanismos regidos uns pelos identidade fixa. Petrópolis: Vozes. dear seus movimentos como tário. recem mecanismos. um ser-com-os-outros. estou afirmando que ela é uma boa opção. amigo. e não apenas para mim. Por isso. que se refere a uma essência comum a todos siva. A vida é sempre uma construção. A liberdade se traduz no ato da escolha. ficamos ani. em de 1960 intensificou sua militância social e política. representamos essa identidade. mas para todos os outros seres humanos. assim como um dia estará universi. pois ela não o define. ter consciência é saber que sabe). é gratuita. pois garçom brinca com sua condi- a única escolha que ele não pode fazer é a de não ser livre. o mais é do que a capacidade de fazer escolhas. Sua mímica e voz pa- na medida em que ele é sempre um projeto. a vida do crime. diverte. Se escolho. Como nos conhecemos? 11 SER1_FIL_MOD2_C01_V3. A filosofia de Sartre recebeu críticas por ser pessimista. E sou responsável por ela. que nos atribuem uma identidade. etc. dedicou-se também à literatura e ao teatro. irmão. e temos sempre que escolher entre essas possibilidades. Sua voz e seus olhos ex- os humanos. a existência é anterior à essência. Cada situação que vivemos nos coloca algumas possibi- lidades. Sartre afirma que o humano não é propriamente um ser. Assim. Mas. foto de 1970. em uma palestra em 1946. mas.. A esse tipo de deira é uma espécie de demar- ação Sartre chama de má-fé. muito próximas daquelas identificadas por demasiado solícito pelo pedi- Heidegger: o humano é um ser-no-mundo. mas recusou-se a receber o prêmio. por ser consciente (ter ciência de alguma Tem gestos vivos e marcados. uma identidade a cada ser. somos lançados no mundo. ele sempre está em determinada condição. a liberdade gera em nós uma angústia: a angústia de ter que decidir. da possibilidade.] Toda sua A condição humana determina que o ser humano construa sempre sua identidade. outros. Se você está na escola. brinca com seu corpo para Uma existência autêntica é a recusa da má-fé e está fundada na afirmação da liberdade. Na medida em que é nada. etc.. No caso das coisas. A criança Viver na má-fé é viver uma existência inautêntica. 105-106.. profissional de determinada área. e sabe disso. Ele nunca conduta parece uma brinca- é alguma coisa. mas um vir-a-ser. Viveu durante toda a vida uma relação amorosa com a tam- bém filósofa Simone de Beauvoir (1908-1986). ed.indd 11 09/11/16 13:21 . Então cobrir: brinca de ser garçom. o ser humano está “condenado a ser livre”. cação e investigação. um primeiro existimos. Como vivemos sempre a falta de identidade. considerando que isso seria uma concessão à vida burguesa. Empenha-se em enca- Ensino Médio. desenvolveu as bases de uma filosofia existencialista e a partir da década Jean-Paul Sartre. o humano pode 7. a angústia de se saber responsável pela escolha e por suas consequências. p. pelas quais somos responsá- veis. para que depois possamos ser alguma coisa. ao contrário. dando Vejamos esse garçom. de seres-em-si. porém. Defendendo-se dessas críticas. recebe deles a identidade de xorável das coisas. hoje é estudante do deira. O ser humano é livre porque sua existência ção para realizá-la. e um ser-para-a-morte. e ele assu- Em sua relação com os outros. o ser humano recebe deles uma identidade. ao longo de nossas vidas. Jean-Paul. que essa identidade é falsa. coisa é saber. Para Sartre. da escolha. ser tudo. a essência vem em primeiro lugar. Ele sabe. apenas os seres humanos são conscientes e a consciência é o único ser-para-si em meio a um mundo de coisas. você está estudante. por exemplo. por exemplo. do do freguês [. e se in- sem essência e sem identidade e as construímos enquanto existimos. fôssemos isso. BIOGRAFIA THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA Jean-Paul Sartre (1905-1980) JAMES ANDANSON/APIS/ SYGMA/CORBIS/LATINSTOCK Filósofo francês. ele não é apenas professor. to não se basearem em nossa experiência sobre ele. 30 e 116. 1977. Antropologia filosófica. Entretanto. escolha do sujeito individual por si próprio essência metafísica – nem defini-lo por nenhuma faculda- e.indd 12 09/11/16 13:21 . uma ser.. A característica notável do homem. se existe alguma definição da natureza ou “es- que ele é responsável por todos os homens. problematiza a noção de natureza humana e evidencia gânico. impossibilidade em que o homem se de ou instinto inatos. simultaneamente. ele rebate as críticas que o existen- um homem verdadeiro. Escolher ser 12 Como nos conhecemos? SER1_FIL_MOD2_C01_V3. passíveis de serem verificados pela encontra de transpor os limites da subjetividade humana. atribuímos ao humano uma ho. devemos tentar rastrear até uma origem comum. Não é lícito ao filóso- Jean-Paul Sartre. Ao afirmarmos que o homem se física – mas seu trabalho. lo substancial] como foi concebido e descrito pelo pensa- mento escolástico. Seu lugar do que ele é. De fato. por outro lado. tempo. de Ernst Cassi. e que. o sistema das escolhe a si mesmo. mundo os elementos para conhecê-lo. queremos dizer que cada um de nós atividades humanas. o pensamento lógico 3 Como construir uma “filosofia do homem”? e metafísico. a arte. buscando em suas expressões no São Paulo: Mestre Jou. O primeiro deles. Sua primeira e suprema lei é o princípio da 2 Que crítica o texto faz ao pensamento metafísico? contradição. só pode compreender os objetos que estão livres da contradição e possuem uma natureza e verdade Texto 2 coerentes. são unidas entre si por um Sartre aprofunda a ideia apresentada no capítulo de que “a laço comum. Precisamos compreendê-lo CASSIRER. TRABALHANDO COM TEXTOS Para aprofundar a investigação filosófica sobre o ser humano. os vários setores desse co de nossos atos que. ed. No tre- tendo a confirmação. da religião que devemos procurar muito além de dificuldade para compreender o ser humano. Neste texto. não é sua natureza metafísica ou do do existencialismo. a história são constituintes. É esse segundo significado que constitui o sentido profun- a marca que o distingue. homem é responsável pelo que é. não como substancial. 2. Subjetivismo significa. O pensamento racional. mas queremos dizer também que. não esteja criando. Não podemos definir o aproveitaram desse duplo sentido.] Nem a lógica ou a metafísica tradicionais estão 1 Por que o autor afirma que não há uma natureza humana? em melhor posição para compreender e resolver o enigma do homem.. É uma estranha mistura de ser e não-ser. não queremos dizer que o homem A filosofia das formas simbólicas parte do pressupos- é apenas responsável pela sua estrita individualidade.. observação empírica. Não há outro caminho para se co- cho aqui reproduzido. sempre de forma aberta. seu procedimento. o mito. escolhendo- “humanidade”. a -se. e os nossos adversários se cional. Se buscamos suas formas e expressões inumeráveis e que. p. que define e determina o círculo de se escolhe. A linguagem. o primeiro O homem não tem “natureza” – não é simples e homogê- passo do existencialismo é o de pôr todo homem na posse neo. homem por nenhum princípio inerente que constitui sua por um lado. a religião. Assim. mogeneidade que ele não tem. do mito. uma imagem do filosofia que nos desse a visão da estrutura fundamental de homem tal como julgamos que ele deva ser. portanto. só pode ser compreendida como fun- jetivismo tem dois significados.] ponsável por si mesmo.. o A contradição é o próprio elemento da existência humana. A palavra sub- sência” do homem. a religião não são as dificuldades de compreender o humano. em última uma “natureza humana”. [. dela sem consciência dos problemas sociais e humanos. Nessa conferência. ao mesmo leia os dois textos a seguir. este não é um vinculum substantiale [víncu- existência precede a essência”. nos permitisse compreendê-las como um todo or- rer. Sartre explica o ato humano da esco- nhecer o homem a não ser o de compreender-lhe a vida e lha e como ele nos engaja com toda a humanidade. criando o homem que queremos círculo. a arte. o mito. cada uma dessas atividades humanas. Ernst. É a função básica da linguagem.] Se realmente a existência precede a essência. Questões sobre o texto: O que é o homem? [. de criações isoladas ou fortuitas. ele escolhe todos os homens. proferida em 1946 e depois publicada em fo construir um homem artificial. É esse trabalho. escolho o homem toda tentativa de inclusão numa fórmula única e simples. é precisamente essa homogeneidade O texto a seguir é um trecho de uma famosa conferência de que nunca encontramos no homem. análise. Desse modo.. mas to de que. de submetê-lo à responsabilidade total de sua fica entre esses dois polos opostos. enquan- esperança – e dos marxistas – que o acusavam de alienado. existência.. é antes um vinculum functionale [vín- Texto 1 culo funcional]. o filósofo alemão Ernst Cassirer reflete sobre a da arte. O segundo. Mas o que encontramos aqui desafia Escolhendo-me. Todas as chamadas definições do cialismo recebia dos cristãos – que o acusavam de não ter homem não serão mais do que mera especulação. cumpre-lhe descrever livro. não há um úni- ciência. Uma “filosofia do homem” seria. A linguagem. quando dizemos que o homem é res- [. Você já pensou em como sempre estamos defendendo um ponto de vista? Ao FILOSOFIA escrever um texto. essência”. Por. Jean-Paul. pois não podemos nunca esco. O existencialismo é um humanismo. 6-7. a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor. se quero casar-me. você viu algumas dicas sobre como estruturar sua argumentação. EUA. o pintor Edward Hop- per representou em suas obras a solidão e a melancolia da 1 O que é o dualismo psicofísico? Como ele explica o ser hu. Morning REPRODUÇÃO/MUSEU DE ARTE DE COLUMBUS. Sou. e estruturar o discurso argumentativo de forma bastante convincente. a minha decisão engaja toda a humanidade. SARTRE. a solução mais adequada ao homem. mas a toda lher o mal. Assuma uma posição em relação a isso e escreva uma disser- lo. 3 Explique por que. 2 Explique as diferenças entre as noções de natureza humana e Sun (Sol da condição humana. Veja as respostas no Guia do Professor. Observe a reprodução abaixo e relacione-a às mano? ideias sobre o existencialismo estudadas neste capítulo. da? Explique sua resposta. outras palavras: escolhendo-me. EM BUSCA DO CONCEITO As respostas encontram-se no portal. DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA A argumentação faz parte do nosso dia a dia. (Os Pensadores. segundo Sartre. no fundo. isso não muda muito. Com base no que foi estudado neste capítu. 1984. escolhendo o casamen- que estamos escolhendo. que o reino do homem não é 2 O que significa afirmar que o ser humano escolhe-se a si sobre a terra. 4 Reflita sobre as noções estudadas de natureza humana e condição humana e o debate sobre a prevalência. existência. e se nós queremos existir nada imagem do homem por mim mesmo escolhido. o valor do minha paixão. Retome-as se achar necessário. pois ela engaja a humanidade inteira. desse modo. ter filhos. essa ima. o que escolhemos é sempre o bem e nada pode a humanidade. por outro lado. Numa dimensão mais indivi. e se. Qual delas você considera mais apropria. não estou apenas engajando a mim mesmo: mesmo? quero resignar-me por todos e.) tanto. 1952. quando fazemos uma dual. ser bom para nós sem o ser para todos. OHIO. na trilha da monogamia. tação para defendê-la. ou apresentar nossa análise de um problema ou de um conceito sob um ponto de vista crítico. pintura de Edward Hopper. Num texto dissertativo. manhã). ou de escolha. gem é válida para todos e para toda a nossa época. Como nos conhecemos? 13 SER1_FIL_MOD2_C01_V3. por essa adesão. to estou engajando não apenas a mim mesmo. ou de meu desejo. de sua essência ou de sua existência. isso ou aquilo é afirmar.indd 13 09/11/16 13:21 . escolho o homem. responsável por mim mesmo e por todos e crio determi- a existência precede a essência. ATIVIDADES PARA PRATICAR 5 Para a maior parte dos críticos de arte. Se. é importante estabelecer o ponto de vista que se quer defender. na defi- nição do ser humano. Questões sobre o texto Se eu sou um operário e se escolho aderir a um sindicato 1 Explique o significado da afirmação: “a existência precede a cristão em vez de ser comunista. portanto. vamos tornar viva a prática filosófica. Na unidade anterior. quero significar que a resignação é. o que pretendemos com esse tipo de texto é convencer alguém de alguma coisa. Agora é sua vez. ainda que esse casa. concomitantemente. p. Afinal. estamos envolvendo a humanidade inteira nessa mento dependa exclusivamente de minha situação. 3 Explique a afirmação de Sartre: “O homem está condenado a feita em ser livre”. por ao mesmo tempo que moldamos nossa imagem. em Resoluções e Gabaritos. São Paulo: Abril Cultural. escolha. em última instância. — São Paulo : Ática. o ser humano 3ª edição 1ª impressão é capaz de fabricar androides perfeitos para realizar aquelas tarefas que ninguém Impressão e acabamento quer fazer. Jean-Paul. A náu. eles são progra- LEITURAS PARA PRATICAR Editoria de Ciências Humanas: Heloisa Pimentel mados para morrer quando completam Edição: Beatriz de Almeida Francisco cinco anos de ativação. Sérgio Murilo Rodrigues SESI DN Uma intensa reflexão so. (97 min). se suicidar no final do ano letivo. NOVA FRONTEIRA Todos os direitos reservados por SOMOS Educação S. 2017. Estados Coordenação Editorial: Simone Savarego. Estados Unidos. — 3. 2016 ISBN 978 85 8 18414-9 (AL) dos. Título. ROCCO Consultores xão segundo GH. que reflete sobre a Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) expostos. vida e a morte. 2009.A. disparada por religiosas. 2011. Supervisão de iconografia: Sílvio Kligin tendo como protagonis. reflexões sobre os sentidos da existência Projeto gráfico de miolo: Daniela Amaral. ISBN 978 85 8 18415-6 (PR) No futuro. Edição de arte: Eber Souza REPRODUÇÃO/ ED. e Márcio Santos de Souza Tratamento de imagem: Cesar Wolf e Fernanda Crevin BEAUVOIR. Pesquisa iconográfica: Carlos Luvizari e Evelyn Torrecilla ta uma adolescente de 11 anos que decide 2004. (Câmara Brasileira do Livro. Sistema de ensino ser : filosofia : 1º ano : professor / Sílvio Gallo. (100 min). Produção que usa a téc- Revisão: Juliana Souza Diagramação: lab 212 bre a condição humana e a consciência da nica de filmar atores e Capa: lab 212 morte como aquilo que dá sentido à vida. Mistura de ficção e do. pelo filósofo. Estados Uni. de Muriel Bar. 2006.12 Ridley Scott. A ele. sai em busca de seu criador Edição de arte e criação: Rafael Vianna Leal Paulo: Companhia das para questionar a razão da finitude. ed. SUGESTÃO DE LEITURAS E DE FILMES Presidência: Eduardo Mufarej Diretoria editorial: Lidiane Vivaldini Olo tornem muito perigosos. Projeto Sistema SESI de Ensino Um romance sobre um Waking Life. Fran- SARTRE. (0xx11) 4383-8000 © SOMOS Sistema de Ensino S. João Filocre Janeiro: Rocco. Muriel. Rio de Janeiro: Nova Adaptação para o cine- Avenida das Nações Unidas.) sobre a vida e a morte. ele encontra pessoas reais com as Superintendente: Rafael Esmeraldo Lucchesi bre a vida e a existência quais dialoga sobre questões filosóficas e Ramacciotti Diretor de Operações: Marcos Tadeu de Siqueira humana. cente.indd 14 09/11/16 13:21 . Simone. 2008. 16-08242 CDD-107. Betsy Chasse e Mark Vi. Rio de Um jovem não consegue acordar de um Coordenação: Dr. ideias da física quântica. Brasil) ria. Ana Curci. Gerente Executivo de Educação: Sergio Gotti um fato cotidiano. ça. Filosofia: Ensino médio 107. Rosiane imortalidade é o meio Unidos. (108 min).12 Blade Runner – o caçador DIVULGAÇÃO/ WARNER HOME VIDEO Índices para catálogo sistemático: de androides.A. DIVULGAÇÃO/PLAY ARTE Ana Paula Chabaribery Malfa. Rio de Janeiro: Nova humana e sobre a realidade. Gerência de revisão: Hélia de Jesus Gonsaga Letras. FILMES PARA PRATICAR 1. Vivendo nessa espécie de “realidade Filosofia: Msc. Gabriela Macedo de Uma série de reflexões ção de William Arntz. Todos REPRODUÇÃO/ED. Nele estão bery. 1982. 7221 Pinheiros – São Paulo – SP Fronteira. sea. São de inteligência. com corpos perfeitos e gran- Supervisão de criação: Didier Moraes gância do ouriço. REPRODUÇÃO/ED. Uma nova geração Supervisão de arte e produção: Sérgio Yutaka BARBERY. depois transformá-los Ilustrações de capa: Macrovector/ Golden Sikorka/ Sentavio/ Jiw Ingka/ Shutterstock LISPECTOR. Quem somos nós? Dire- Revisão: Rosângela Muricy (coord. todos os princípios filo. Juliana Medeiros de Albuquerque. ma do livro A elegância CEP: 05425-902 Primeiro romance escrito do ouriço. Flávia Venézio dos Santos (estag. (117 min). em desenho animado. Gallo. recorrendo a Talita Guedes Colaboraram para esta Edição do Material: Fronteira. COMPANHIA DAS LETRAS de androides. Filosofia (Ensino médio) I. O porco-espinho.). de forma literá. Direção de Gestão do Projeto: Thiago Brentano DIVULGAÇÃO/20TH CENTURY FOX Coordenação do Projeto: Cristiane Queiroz homem que atinge a Richard Linklater. Clarice. Botelho e Valdete Reis que a filósofa encontrou para refletir so. paralela”. Direção de 1. NOVA FRONTEIRA cumentário que propõe Ilustrações: Theo Szczepanski e Douglas Galindo os homens são mortais. 2001. 1998. Andrade e Vanessa de Paula Santos. Com o objetivo de evitar que se Uma publicação 14 Como nos conhecemos? SER1_FIL_MOD2_C01_V3. A pai. sonho. SP. REPRODUÇÃO/ED. Sílvio sóficos do existencialismo. Direção Gerente de Educação Básica: Renata Maria Braga DIVULGAÇÃO/EUROPA FILMES dos Santos de Mona Achache. Cartografia: Allmaps. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3 A tecnociência . . . . 2 Positivismo: cientificismo e neutralidade da ciência . 16 2137645 (PR) SER2_FIL_MOD3_C01_V3. . . . . .6 A emergência das ciências humanas . . . . . . . . . . . FILOSOFIA Silvio Gallo ENTENDENDO OS PROBLEMAS 1 Quais são os limites do conhecimento e da ciência? . . . .indd 1 09/11/16 13:31 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 A filosofia na história . . .7 Ciência e poder na contemporaneidade . . . O conhecimento da genética permite saber. O filme mostra uma sociedade no futuro em que a ciência controla a humanidade. determinando seu perfil e suas possibilidades de vida. o que uma pessoa pode ou não fazer. no Guia do Professor. Ao mesmo tempo. Cena do filme Gattaca: a experiência genética. Luakabop. TOM. O trecho da o problema canção citado ao lado coloca a ciência em uma posição em que não estamos acostumados a vê-la: contemporâneo dos como uma mistificação. Porém.) 2 Entendendo os problemas SER2_FIL_MOD3_C01_V3. a ciência caracteriza-se por investir em um pensamento crítico conceitualmente e criativo. Nessa sociedade. o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo. In: The hips of tradition. outra criação artística. ano 2000. 1997. muitas vezes a situação é bem diferente. Gattaca: a experiência genética. o conhecimento científico melhorou radicalmente a vida humana. desde o nascimento. VEJA O FILME O filme Gattaca: a experiência genética propõe uma reflexão sobre os limites da intervenção do conhecimento científico e da tecnologia nas vidas humanas. produzindo novos saberes. Estados Unidos. COLUMBIA TRISTAR/EVERETT COLLECTION/KEYSTONE A ciência excitada Fará o sinal da cruz E acenderá fogueiras Para apreciar a lâmpada elétrica ZÉ. Direção de Andrew Niccol. CAPÍTULO 1 Quais são os limites do conhecimento e da ciência? Veja. Os seres humanos dominam as viagens espaciais. completamente avessas àquilo que chamamos de “espírito científico”. 1992. bem sas e primitivas.indd 2 09/11/16 13:31 . (106 min. Ogodô. mas o preço é o controle absoluto sobre as pessoas. como suas relações com o poder. A ciência que faz “o sinal da cruz” e acende fogueiras denota atitudes religio- limites da Ciência. o filme Gattaca: a experiência genética. Objetivos: COLOCANDO O PROBLEMA c Debater Assim como a arte e a filosofia. chama a atenção para o poder da ciência. mas apenas aqueles que são geneti- camente perfeitos podem viajar. articulando-as com conhecimento no centro.SIGUEME.ES/> O escritor francês François Rabelais (1494-1553). 2000. estudando a lógica do funcionamento da ciência. BIOGRAFIA Jean Ladrière A FILOSOFIA NA HISTÓRIA (1921-2007) REPRODUÇÃO/ <WWW. usando seu próprio DNA. a fé cristã. Em outras palavras: devemos sempre conhecer cada vez mais. surgiu uma maneira intei. Dedicou-se como modernidade. Conhecer por conhecer é perder a humanidade. artigos científicos e vários livros. o filósofo Jean Ladrière afirmou que ela tende a constituir-se como um sistema autônomo e fechado em si mesmo. que coloca o sujeito do zão filosófica. colocando-a a serviço do conhecimento. sempre enfrentando desafios e superando limites. esses objetos poderão tornar-se comuns ao homem. o conhecimento destacando-se Os desafios da ra- cionalidade (1977). Positivismo: cientificismo e neutralidade da ciência Filósofo e lógico belga. Essas mudanças se originaram no âmbito da ciência. com o aprimoramento dos tempo do possível (2004). Foto de 2003. foi profes- No século XVII. Considerando a aventura da vida humana.indd 3 09/11/16 13:31 . Escreveu centenas de Na modernidade. Séculos depois. ainda no século XVI. em foto de c. e O porque são mais difíceis de serem representados. Para ele. A ética no uni- humano pode ser ampliado indefinidamente. Entendendo os problemas 3 SER2_FIL_MOD3_C01_V3. Brigitte Boisselier é diretora da única empresa do mundo especializada em clonagem: Clonaid. movimento religioso fundamentado na crença de que os seres humanos foram concebidos por uma raça de outro planeta (os Elohim). e não o contrário. Tanto Brigitte quanto a Clonaid. Certos objetos são mais difíceis de serem conhecidos verso da racionalidade (1997). por meio do uso da reta razão e do método correto. métodos de conhecimento. além de acreditarem que a clonagem é a chave para a vida eterna. Jean Ladrière. mas acredita-se que. mas se espalharam para a estudar a razão científica e a ra- FILOSOFIA todos os campos do pensamento e formaram uma nova visão de mundo. estão vinculados ao movimento raeliano. considera-se que tudo o que é passível de ser representado no espírito é pas. onde dirigiu o Instituto Superior de Filosofia. com a ciência de Galileu e a filosofia de Descartes. sor na Universidade Católica de ramente nova de pensamento. o conhecimento não pode bastar-se a si mesmo. não importando se as consequências desse conhecimento sejam boas ou más. no qual a regra que vale é o conhecimento pelo conhecimento. O período que se seguiu a partir daí até o século XIX é conhecido Louvain. a sociedade mostrada no filme não seria a negação daquilo que de mais humano há nas pessoas? Poderíamos viver conformados àquilo que nos determina a ciência? PAULO WHITAKER/REUTERS/LATINSTOCK Tendo feito dois doutorados em química. sível de ser conhecido e que. afirmou que “ciência sem consciência não é senão a ruína da alma”. Esse estágio corresponde ao predomínio positiva (4 volumes. Johannes Kepler. mas interligadas pelos fundamentos da modernidade. realizando oferendas para agradar ao deus. Como essas formas são representáveis pelo espírito. Se. corrente filosófica criada por Auguste Comte. produ- ziu uma filosofia que considera estado teológico: o ser humano explica os fenômenos da natureza como resultado de forças divi- a ciência como a única fonte do nas e sobrenaturais. O positivismo teve grande número de seguidores e exerceu enorme influência no pensamento Filósofo francês criador do positi. explicações são ingênuas e infantis. podemos conhecer esses movimentos. estabele- 4 Entendendo os problemas SER2_FIL_MOD3_C01_V3. FRANÇA. denominado por Comte “lei dos três esta- vismo. a tendência a valorizar excessivamente a ciência. Esse estágio permitiu à humanidade intervir sobre a natureza.indd 4 09/11/16 13:31 . Formado com sólido Esses estágios podem ser assim resumidos: conhecimento científico. de uma obra vasta. na qual des. Essa mudança de visão de mundo conduziu a várias formas de pensamento diferentes. o sistema planetário de Kepler. publicados da filosofia como explicação do mundo. Seu princípio básico.. Esse estágio corresponde ao predomínio da mitologia e da mente e criou um ramo da ciência dedicado a estudá-los. geométricas perfeitas. Acima. publicados entre explicações é a mesma. encontra-se o cientificismo. Os fatos e fenômenos são explicados racionalmente pela causalidade – ou seja. foi aluno da Escola Politéc. a estrutura das tiva (6 volumes. entre 1851 e 1854). então podemos pedir chuva em ditava que os problemas sociais época de seca. Sistema de política não são explicações baseadas na observação empírica. Essa perspectiva Auguste Comte retratado por teve origem no positivismo. estado metafísico: estágio mais evoluído que o anterior. Assim como no estágio anterior. na visão de Comte essas deveriam ser tratados cientifica. do século XIX e início do século XX. nica de Paris. Aqui os deuses e forças sobrenaturais são tacam-se: Curso de filosofia posi. por exemplo. explicamos a chuva como consequência da ação de um deus. Louis Jules Etex no século XIX. PARIS. Acre. Foi autor teologia como explicações do mundo. conhecimento verdadeiro. No entanto. substituídos por forças abstratas. 1830 e 1842). e Catecismo positivista (1852). S A GE IM R HE OT N/ TI O EC LL CO R N GE G RA THE BIOGRAFIA Auguste Comte (1798-1857) As descobertas astronômicas do início da modernidade deram impulso novo à ciência e à filosofia. Entre essas formas. estado positivo: corresponde ao estágio mais evoluído da humanidade. Apesar do abandono das causas sobrenaturais. considerando que apenas os conhecimentos científi- cos são válidos e aplicando as noções científicas a todos os campos da vida humana. por exemplo. dos”. porém fazendo uso de teorias racionais. em xilogravura colorida de 1596. afirma que a humanidade passou por três estágios de evolução em sua relação com o mundo. propõe que os movimentos dos planetas se inscrevem em formas THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/ KEYSTONE/TEMPLO DA RELIGIÃO DA HUMANIDADE. pela relação entre causa e efeito –. O estudo dos átomos e das partículas suba. O conhecimento de radiação. o progresso como fim”. De sua obra. pois só se realiza ARCHIVES CHARMET/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/ KEYSTONE/BIBLIOTECA DO ARSENAL. A visão científica é aquela que consegue explicar a (1760-1825) natureza pela própria natureza. vários países dependem de usinas nucleares para gerar energia elétrica. Fukushima I. “saber cada vez mais”. o norte do Japão foi atingido por de que os conhecimentos científicos não são bons nem maus em si mesmos. e Catecis- mo dos industriais (1823-1824). Esse conhecimento pode ser aplicado a uma série de coisas. Conde de preferir explicações de cunho filosófico. e o da Usina de Chernobyl. Entendendo os problemas 5 SER2_FIL_MOD3_C01_V3. como Marx fez. o que demonstra a grande influência cristianismo. Usinas nucleares Essa posição cientificista se caracteriza também pela defesa da neutralidade da ciência: a ideia Em 11 de março de 2011. em física nuclear. A produção do conhecimento pela ciência obedece à regra que arrasou várias localidades. dominando a na então União Soviética. esteve voltada para uma refor- ma social. como bombas e mísseis nucleares. em. segundo o cientificismo. sem recorrer a fatores externos. mas é apenas na maturidade da idade adulta que estamos Saint-Simon preparados para ver o mundo por meio da ciência.. Comte considerava que 35 anos por Hippolyte Ravergie. ela é neutra. a utilizem apenas para fins pacíficos.indd 5 09/11/16 13:31 . os pensadores dessa corrente alteraram seu lema para: “O amor como princípio. que seria o resultado da aplicação das leis naturais e do método científico da física ao estudo da sociedade. É a aplicação desses conhecimentos que provocada por um maremoto) pode resultar em algo bom ou ruim. não toma partido em relação a eles. PARIS. Alguns de seus livros foram escritos em parceria com Auguste Comte. Para Comte. que 1979. Saint-Simon retratado aos Assim como a física natural se constrói em torno do conceito de gravitação. tendo participa- bora seja apresentado como um “socialista utópico”. que foi seu se- cretário desde 1817. a ordem como base. crescemos um pouco e passamos a Rouvroy. em razão dos riscos de contaminação do ambiente e das pessoas. Toda a região preci- sobre a fissão e a fusão atômicas. Em 1779 foi foi secretário durante muitos anos. O fato de que esse conhecimento Estados Unidos. para a América. Ao estabelecer a absoluta causalidade. em si mesma. com danos a alguns tômicas foi e continua sendo realizado pelo desejo e pela necessidade do ser humano de conhecer reatores nucleares e vazamento e explicar a natureza. conseguindo perceber as relações de causa e efeito entre os fenômenos. portanto. pois apenas com ordem poderia Filósofo e economista francês. não os conhecimentos. Várias tentativas de incluir a palavra “amor” em nossa bandeira já foram feitas. deva ser proibido. nos armas de destruição em massa. Em 1847. porém. de haver progresso. por exemplo. O mesmo conheci. é que os seres humanos. Claude-Henri de tendemos a acreditar em explicações mitológicas e religiosas. um forte tsunami (onda gigante A ciência. pois acreditava que o socialismo seria alcançado do da Guerra de Independência apenas pelo convencimento das pessoas. que indicasse ao dos Estados Unidos. pela investigação e pela experimentação. A preocupação social de Comte recebeu grande influência de Saint-Simon. dos positivistas em nosso país. ou seja. É uma visão madura. pois. Sis- tema industrial (1821). pode ser aplicado à produção de energia. acidentes nucleares graves: o da mento de física nuclear usado para geração de energia também pode ser aplicado na construção de Usina de Three Mile Island. Comte quis aplicar aos problemas sociais a mesma causalidade das ciências naturais. A ciência é a guia mestra do desenvolvimento da humanidade BIOGRAFIA em seu estágio de maturidade. inundação da Central Nuclear de Um exemplo é o desenvolvimento da física nuclear. a sociedade deveria se organizar por meio do conceito de ordem. abril de 1986. As aplicações dos conhecimentos ficam a cargo da tecnologia. porém. tudo pode ser explicado por suas relações naturais com os outros elementos da realidade. o positivismo instaura o reino da necessidade: nada acontece por contingência. cendo a relação natural entre eles. O que interessa. são neutros. FRANÇA. E são essas aplicações que podem ser avaliadas. Saint-Simon é considerado um dos fundadores do socialismo. Sua obra proletariado um horizonte de ações transformadoras da realidade. Atualmente sou ser evacuada. destacam-se: Intro- dução aos trabalhos científicos do século XIX (1807-1808). pelo deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). e não por uma crítica ao sistema capitalista. de quem família aristocrática. em março de pode ter um uso em armas letais. não significa que ele seja um conhecimento ruim. A mais recente. Ele chamava a atenção para a necessidade de uma física social – ciência mais tarde denominada sociologia –. O lema de nossa bandeira foi também um lema Deixou inacabada a obra O novo positivista. que se utiliza Uma das consequências foi a deles para criar usos práticos. pensada em princípios TROMMER/SHUTTERSTOCK/GLOW IMAGES científicos. os indivíduos também passam por esses três mesmos estágios: quando crianças. ainda que essa fonte de energia FILOSOFIA No século XX ocorreram dois seja polêmica. que ajuda a fornecer energia elétrica. Passou-se a falar em “ciência e tec- nologia” e. em 18 de março de 2011. que tiveram grandes avanços na segunda metade do século XX. quatro dias após o acidente. 6 Entendendo os problemas SER2_FIL_MOD3_C01_V3. em tecnociência para caracterizar o tipo de conhecimento científico produzido. mas causou grandes acidentes e permitiu o desenvolvimento da bomba atômica./REUTERS/LATINSTOCK Trabalhadores usando proteção contra a radioatividade entram no prédio do reator n. 2 da usina de Fukushima. elas se tor- naram possíveis graças aos investimentos em pesquisa feitos em época de guerra. Em grande parte. atendida por mais uma novidade da tecnociência vinculada à guerra: a energia nuclear. HUW JONES/PHOTOLIBRARY RM/GETTY IMAGES O forno de micro-ondas é um exemplo da aplicação de tecnologia de guerra e simboliza o aumento do conforto doméstico. a noção de neutralidade da ciência começou a ser criticada. também foram beneficiadas por pesquisas feitas durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Este novo padrão de conforto exigiu maior produção de energia. em virtude da estreita relação que existe entre o conhecimento científico e a sua aplicação.indd 6 09/11/16 13:31 . Pensemos nas principais conquistas tecnológicas do século XX. Os interesses geopolíticos que estavam em jogo justificaram altos investimentos em pesquisas para aumentar as chances de vitória nos conflitos. já desde o século XIX a principal motivação têm sido as possibilidades de aplicação e utilização do conhecimento. assim como diversas aplicações tecnológicas que hoje facilitam nosso dia a dia. Enquanto nas origens da ciência moderna seu desenvolvimento foi movido pela vontade huma- na de conhecer a natureza cada vez mais a fundo. foram as pesquisas para a construção da bomba atômica que possibilitaram o conhecimento de seu uso para geração de energia elétrica. depois. A informática e as telecomunicações. A tecnociência A partir da segunda metade do século XX. TOKYO ELECTRIC POWER CO. No caso da energia nuclear. tornava-se necessário dar também a outras áreas do saber um tratamento científico. A relação entre as coisas e os signos também se dava por semelhança. No âmbito de uma episteme da semelhança ou de uma episteme da representação. Por isso. 2006. não necessariamente Episteme científica. saber. dando-lhe uma ordem. Foucault afirma que há uma transformação da THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA gramática geral em filologia (a busca pela história das palavras. A episteme moderna (séculos XIX e XX): tomada como a “idade do homem”. O que garante o saber já não é uma semelhança ou uma representação. Entendendo os problemas 7 SER2_FIL_MOD3_C01_V3. Nessa época. Porém. Para Foucault. os conhecimentos são organizados segundo os princípios de uma ciência. 3. mas também de outras formas de pensar e investigar a realidade. A emergência das ciências humanas O século XIX. nele. os seres vivos. estudos análogos deveriam ser feitos no caso de outras ciências sociais e humanas. Foucault destaca a emergência de três ciências nesse período. da análise das riquezas em economia política (o estudo dos fluxos eco- nômicos na história). não pode- mos deixar de refletir sobre a ciência e o conhecimento. As três se dedicam a organizar e classificar (as palavras. o ser humano. significa a existência ne- Compreendendo a ideia de episteme. investem milhões de dólares para ter carros mais competitivos. a partir do século XVII e até o século XIX. foi marcado também pelo surgimento e pela consolidação de outras ciências sociais e humanas. p. emerge o conceito moderno de homem como episteme. a direta entre as coisas e os saberes. princípio de ordenação histórica Fazendo a arqueologia do saber no Ocidente desde o período que ele denomina “época clás. a disposição que o saber tivesse signos que precisassem ser decifrados. com um novo solo para os saberes. Michel Foucault se serviu de uma palavra grega e criou seu conceito de episteme. dando uma ordem aos conhecimentos. consolidam-se as ciências exatas e da natureza. que é o solo de onde emergem os saberes. conhecer dem específica do saber. ed. da história natural em biologia (o estudo dos seres vivos em sua história. Era como se o mundo guração. sujeito de conhecimento. Vários outros exemplos podem ser citados. a confi- era perceber as semelhanças. já os saberes são uma categoria mais ampla. É importante perceber que ele fala em saberes. e conhecer já não é decifrar os signos da ciência e o saber. Foucault encontra três epistemes. nesse período. Assim como a sociologia constituía um estudo ex- perimental das leis que regem o funcionamento social. que operam por meio da representação: a gramática geral. Não há mais semelhança. para que se pudessem perceber as assume em determinada época. Muitos dos equipamentos criados para carros de corrida são depois adaptados para os carros comuns. Com o enfraqueci- mento da representação. é possível entender por que certos conhecimentos cien. como a Fórmula 1. ou se apenas contribuem para aumentar os lucros de alguns. de um tíficos e saberes surgiram em uma época e não em outra. Foucault não Episteme não é sinônimo de está se ocupando apenas da ciência. Diante de todas as inovações tecnológicas que têm sido produzidas atualmente. a episteme já não promove uma articulação Machado. interpretados. aproximadamente ao período da modernidade e. As empresas envolvidas com equipes de automo- bilismo. no qual emergiram as ideias positivistas. relacionadas a diferentes saberes critérios de cientificidade e dela e ciências: independente. as riquezas). associadas ao cientificismo e à sociologia. como ele denomina o seu método. o ser humano é sujeito de conhecimento e só pode tomar como objeto algo que não seja ele mesmo. o ser humano. natureza. O conhecer passa a ser. a psicanálise. A ordem é substituída pela história. elas não se apresentavam de imediato. Roberto. Foucault: uma arqueologia das ciências humanas Para compreender a formação das ciências humanas. mas sua construção por um sujeito. cessária de uma ordem. a história natural e a economia como análise das riquezas. Cada época histórica tem sua própria episteme. e não a mera classificação FILOSOFIA em gêneros e espécies). e que lhe confere uma possibili- A episteme clássica (séculos XVII e XVIII): voltada para a representação. mais que sua classificação). Mas no século XIX. semelhanças entre as coisas. dos saberes anterior à ordenação do discurso estabelecida pelos sica” (o período renascentista). tendo compromisso com a verdade. Ao realizar uma “arqueologia do saber”. 133. Se apenas a ciência produz conhecimentos verdadeiros. como a psicologia. nos perguntando sempre se as aplicações da tecnociência estão a serviço da humanidade.indd 7 09/11/16 13:31 . Foucault. e não em conheci- mentos. uma organização. uma atividade de representação: conhecer o mundo é representar o mundo no pensamento. Este período corresponde dade enquanto saber. a antropologia e a história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. A episteme é a or- A episteme da Renascença (séculos XV e XVI): centrada na semelhança. Com o desenvolvimento posterior da sociologia. De forma geral. As meninas. de Diego Velázquez. Nas ciências naturais. então. no campo das ciências humanas é mais apropriado falar em métodos. como se as ciências humanas também não se caracterizassem pela exatidão. Essas distinções não têm fundamento. É possível. os fatos humanos são fluidos. Elas não são especulações teóricas. em “ciências exatas” para se referir às ciências naturais. Assim. pode tomar a si mesmo também como objeto. tem normas bastante rígidas. o método experimental. como se as ciências humanas fossem “moles” ou “fracas”. e sim análise dos fatos. como vimos no capítulo 3 da unidade 1. de acordo com seu objeto e suas especificidades. Outras denominações das ciências naturais são “ciências duras” ou “ciências fortes”. O quadro ilustra a atitude de representação e suas implicações para a produção de saberes. Dessa situação decorrem muitas críticas às ciências humanas por parte dos representantes das ciências naturais.indd 8 09/11/16 13:31 . Os problemas começam a aparecer quando ele é aplicado a objetos da esfera humana. Por essa razão. como conhecimento científico. enquanto no campo das ciências naturais se fala em método científico. no ato de pintar. por exemplo. mas como ser objetivo quando o objeto do conhecimento é o próprio indivíduo que faz o estudo? As ciências são baseadas em fatos. MADRI. mutantes. Cada ciência humana faz suas próprias adaptações. podemos dizer que a metodologia nas ciências humanas está baseada na 8 Entendendo os problemas SER2_FIL_MOD3_C01_V3. mostrando como o pintor representa membros da família real e a si mesmo na tela. garantia de produção de um conhecimento verdadeiro. incons- tantes. Em As palavras e as coisas. o método experimental precisa ser adaptado quando aplicado ao estudo dos fatos humanos. Seu estudo oferece mais dificuldade e as conclusões não podem ser tão definitivas como nas ciências naturais. o que leva à consolidação das ciências humanas. Problemas de método nas ciências humanas Na formulação de Comte. Um dos princípios básicos do método experimental é a objetividade. isso não se mostrou algo simples. Fala-se. o necessário distanciamento de si mesmo para produzir-se como saber. E os fatos humanos não são como os fatos naturais. porque as ciências humanas são tão ri- gorosas quanto as naturais e desenvolvem metodologias de investigação que lhes permitem ser o mais acuradas possível. a “física social” deveria ser o resultado da aplicação do método ex- perimental da física aos problemas sociais. ESPANHA. no plural. Foucault faz uma longa análise desse quadro pintado no século XVII. porém. REPRODUÇÃO/MUSEU DO PRADO. Esses temas podem ser estudados apenas por uma ciência isoladamente. porque francês. Caberia Bruno Latour. Segundo ele. Pandora e sua caixa. do social. a ciência deixou de ser movida pela vontade de conhecer e passou a existência: uma antropologia dos se guiar pelas possibilidades vislumbradas de aplicação. compreender e gerir a natureza. e lembra que todos eles envolvem A esperança de Pandora (1999). Sob o impacto do anúncio da descoberta do “bóson de Higgs”. Em outras palavras. a ciência e a política. da qual escaparam todos os males do mundo (a dor. ou Jamais fomos modernos (1991). portanto carregados de sentidos e significados BIOGRAFIA que precisam ser interpretados. demonstrada por Foucault. afirmando que ele nunca deixou de ser projeto. que se espalharam entre os seres humanos. que são fenômenos humanos. Encantado com a beleza de Pandora. Caixa de Pandora THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE/COLEÇÃO PARTICULAR Na mitologia grega. sem a separação entre ela e a política desejada pelo projeto moderno. será necessário criar um novo modo de fazer ciência. não apenas sobre o que se conhece. Uma delas é a do filósofo francês Bruno Latour. aos cientistas conhecer. No fundo da caixa restou apenas a esperança. pretendia separar o científico. já modernos (2012). racional e demonstrável. mas também sobre como e a que preço se conhece. ficando sob a responsabilidade dos políti. ‘é prudente’) recusou o presente. nunca se realizou de fato. sociólogo e antropólogo cos a gestão da sociedade. mas foi alertado de que nunca deveria abri-la. a poluição dos rios e as pesquisas seus vários livros. Talvez a grande lição contemporânea seja a de que a ciência e o conhecimento sempre en- volvem novas possibilidades e reflexões. a insatisfação). o conhecimento não pode ser Inovação da Escola Nacional Su- classificado como apenas social ou apenas científico. humanidades científicas (2010). mesmo por um projeto interdisciplinar? Latour responde que não. Os conhecimentos são “híbridos”. o também na capital francesa. e Pesquisa sobre os modos de diz Latour. o projeto da modernidade era o de separar radicalmente a natureza e a cultura. observação dos fatos. sor no Centro de Sociologia da Como não é possível separar o “humano” do “não humano”. Epi- meteu aceitou-a e casou-se com ela. levou-a a abrir a caixa. Latour afirma que com toda a curiosidade que moveu a ciência no século XX. que faz uma dura crítica ao projeto moderno. Mas. econômicos e políticos que precisam ser levados em conta. Cada ciência humana desenvolve suas maneiras próprias de proporcionar a observação dos fatos humanos que são seu objeto de pesquisa. a tristeza. Para isso. tendo ex- perimentado os males. a ciência é também social. a seu irmão – Epimeteu (cujo nome significa ‘aquele que vê depois’. e desde 2006 é professor na Escola de Al- os denomina Latour. Entre congelamento de embriões para retirada futura de células-tronco. destacam-se: da cura para a Aids. Recorrendo a uma metáfora mitológica. ‘que prevê’. Esta relação entre conhecimento e poder. O objetivo era vingar-se de Prometeu. podemos ainda encontrar aquilo que restou no fundo da caixa: a esperança. MIGUEL MEDINA/AGÊNCIA FRANCE-PRESSE Ciência e poder na contemporaneidade Os desafios contemporâneos para a ciência e o conhecimento vêm sendo analisados sob várias perspectivas. que roubara dos deuses a chama da inteligência e a concedera aos humanos. Foi profes- sociedade – portanto. isto é. também aspectos sociais.indd 9 09/11/16 13:31 . esgotaram-se os males que escaparam da caixa de Pandora. Prometeu (cujo nome significa ‘aquele que vê antes’. Como vimos acima. uma partícula subatômica prevista pela física contemporânea mas que ainda não havia sido Entendendo os problemas 9 SER2_FIL_MOD3_C01_V3. bem como os Bruno Latour (1947-) instrumentos de interpretação desses fatos. Essas ideias são discutidas de forma divertida e irônica no artigo de Marcelo Gleiser reproduzido a seguir. e com seus dotes ela seria usada em um plano arquitetado por Zeus. Latour cita o buraco na camada de ozônio. em Paris. que permitem estabelecer suas conclusões. tos Estudos em Ciências Políticas. Filósofo. Cada um dos deuses deu a ela um atributo. ‘o imprudente’). Zeus presenteou-o também com uma caixa. Como exemplos de conhecimentos híbridos. cultural e política. criada por Hefesto e Atena a mando de Zeus. exigiu a criação do termo tecnociência. Cogitamus: seis cartas sobre as Não se pode fazer uma separação entre a produção do conhecimento e o exercício do poder. contudo. conforme perior de Minas. estuda a atividade cien- todo conhecimento novo surge em uma sociedade específica e interfere diretamente na vida dessa tífica contemporânea. e Zeus ofereceu-o. Pandora foi a primeira mulher. em foto de 2010. A curiosidade de Pandora. Latour afirma que essa divisão de tarefas nunca se materializou. então. retratada pelo pintor Dante FILOSOFIA Charles Gabriel Rossetti no século XIX. como sempre. GLEISER. fiel às suas raízes. – Você não acha que. – É.. – Nada é eterno – rebate Higgs. – É a noção de que uma hipótese precisa ser validada por experimentos para que seja aceita como explicação significativa de como funciona o mundo. Ideias têm que ser testadas. entende? Fiz previsões concretas. certo? – O método científico. – É. – E o que há de melhor? – completa Aristóteles. – Vocês cientistas e suas previsões. – Pelo seu método. Mas é o melhor método que temos para aprender como o mundo funciona – responde Higgs. O seu éter não inte- rage com nada. – Claro que não! Era perfeito e eterno – diz Aristóteles. – Você está se referindo a esse “método” de vocês. o campo de Higgs interage com a matéria comum. – As pessoas acreditavam em você. – E como você sabe o que é certo ou errado? – rebate Aristóteles. Mas tudo mudou após Galileu e Kepler – diz Higgs. furioso. animado.. eu de éter. não? – De jeito nenhum! – responde Higgs. mas parece que sim – responde Higgs. Aristóteles. Higgs. – Significativa? A minha filosofia foi muito mais significativa para mais gente e por muito mais tempo do que sua ciência e o seu método. Você não acha que o meu éter é uma excelente explicação para o que ocorre nos céus? – Talvez tenha sido há 2 000 anos. 2013. é impossível provar isso! – afirma Aristóteles. – Você acha que 40 anos é muito tempo? Eu esperei 23 séculos! – Como é? – pergunta Higgs. Disponível em: <www1.folha. quando a certeza acaba. – Basta ter imaginação e um bom olho.br/ colunas/marcelogleiser/1127415-aristoteles-e-higgs-uma-parabola-eterea. – Se tinha um bom argumento e sabia defendê-lo. para ser preciso – responde Higgs. fica com um copo de vinho. In: Caderno Ciência. a menos que você tenha um experimento que dure uma eternidade. – Um éter bem diferente do seu – responde Higgs. você me pegou – admite Higgs. Folha de S. – É verdade. A diferença é que argumentos não são suficientes. todo sorridente. Gleiser cria a situação hipotética de um diálogo entre o filósofo antigo Aristóteles e o THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA físico contemporâneo Peter Higgs. – Então. – Nos meus tempos bastava ser convincente – reflete Aristóteles com nostalgia. – O que você acha que está certo hoje pode ser considerado errado amanhã. orgulhoso. – E muitos tipos de bósons de Higgs – retruca Aristóteles. – Claro que acho! – corta Aristóteles. – Touché. – É. Mas no fundo é só um outro éter – provoca Aristóteles. – Existem muitos tipos de éter – afirma Higgs. – E por quê? – pergunta Aristóteles. Por isso a descoberta do bóson de Higgs é tão importante. dava tudo certo – continuou. – Parabéns pela descoberta do seu éter – diz Aristóteles. pode ser.Paulo. Marcelo. – Você chama de campo. Aristóteles e Higgs: uma parábola etérea Aristóteles e Peter Higgs entram num bar.shtml>. mas não era fácil. – Pra começar. pede o seu uísque de puro malte.. No final dá no mesmo. – Não podemos saber tudo. 10 Entendendo os problemas SER2_FIL_MOD3_C01_V3. Mas ser significativo não significa estar correto. Eu calculei. – Ainda é difícil. A competição era intensa! – Posso imaginar – responde Higgs.com.– diz Aristóteles. atônito.uol. 29 jul. tomando um gole. demorou. Aristóteles. – Exato – diz Aristóteles. a ciência não é infalível. – Tem razão. suas ideias inspiraram muita gente por muitos séculos.. ouvi dizer que finalmente encontraram – diz Aristóteles. Aristóteles olha para Higgs com desprezo. Acesso em: 18 fev. – E é aí que fica divertido. – O seu éter é inventado. 2012. vamos ter que continuar a busca.indd 10 09/11/16 13:31 . detectada. Questões sobre o texto mos conceber um novo tipo de arma a partir de minha 1 Por que. quem é o alvo) e o “público”. nem os cúmplices servis dos poderes. os cientistas estão prontos para interessar a qualquer cus- tista procura interessar àqueles que o ajudarão a fazer a to. ninguém o censurará. encontrar aliados. Que elas o sejam é algo que muitos sabem. avaliar vínculos. É preciso sua pesquisa e o problema da Aids. conseguir interessá-los por so também acontece? Explique. ciência “pura”. mas. hoje. e nenhum limite intrínseco de. Texto 1 ao qual podem corresponder. cientista: se suas pesquisas não contribuírem para a re. TRABALHANDO COM TEXTOS Os dois textos a seguir são de autores contemporâneos que trata de dizer aos cientistas: “parem de interessar”. tas. que coloca o problema geral de nossas sociedades.. as operações científicas. Ele deve certamente aceitar certas imposições: Lys. mas não seria na qualidade teresse dos outros em suas pesquisas? de cientista que ele se recusaria a isso.. O verdadeiro ambos. admirá-las e rir delas. isto é. aqui e a agora. Efe- Entendendo os problemas 11 SER2_FIL_MOD3_C01_V3. vítimas de poderes que desviam o sentido das vontade” do cidadão que o cientista também é. São Paulo: Siciliano. por exemplo.. há uma coisa que elas traduzem fielmente: Edgar Morin.] A utopia que minha crítica propõe não é a de uma Dissemos justamente que não se tratava tanto.] [. Por isso tento fazer O cientista que quer ser inovador. 1990. No que me concerne. “sem ideologia”. A ciência é amoral no sentido em que em uma direção similar àquela que vimos anteriormente. química belga e doutora em filosofia das singulares. Tal cientista. segundo o texto. porém. Ele deve criar o número daqueles que serão capazes de apreciar. Enquanto cientista seu trabalho é de interessar. deve ser um estrategista de interesses.. o que se dedicam a estudar a prática científica e seus limites. FILOSOFIA contrapartida. Isabelle. para que possa obter verbas para suas investiga. o cientista precisa despertar o in- proposição”. se aceite um vínculo entre tarde demais. enganar os militares.. aqueles que podem ajudar científica. máximo a competência dos especialistas e a eventual “boa inocentes. Em saber pelo saber e o atendimento às necessidades humanas. multiplicar tória. interesse e poder sujeito. aquele ciência serão reconhecidas por aquilo que são: questões que jogou de maneira direta o poder do Estado soviético políticas. O cien. “desinteressada”. STENGERS. respostas Isabelle Stengers.. Mas. Nem todos pesquisas. Eventualmente. consegue princípio. en- as relações de forças sociais que determinam aqueles a fatiza também as questões políticas relacionadas à pesquisa quem é interessante interessar. [. Os dois deuses [. cientista e filósofo francês contemporâneo. criticam uma ciência já feita. a criar história. a fazer a diferença. eles sempre chegam fazer com que. segundo a autora? que podem ajudá-lo a criar uma história que passe por ele. Eventualmente certas preocupações políticas ou morais impedirão um físico de dizer aos militares: “nós podería. mais prestígio e terá feito seu trabalho de mará mais de “público”. problema é político. e com a consciência 3 Como as questões políticas interferem na ciência? E o inver- limpa. e interessar a todos aqueles 2 Quais as relações entre ciência e política.] As escolhas e as orientações em matéria de senko é o exemplo daquilo que é preciso evitar. mas mesmo aqueles que não o estão calculam mal o diferença. Não se de dominar a natureza como de dominar o domínio. sentido do interesse que seu trabalho pode suscitar. de maneira geral.. proliferar os interesses a propósito da ciência. ela o coloca de um modo singular. eu tento ciências. Em significaria dizer: “deixem de ser cientistas”. dentemente que. [.. são destacadas as relações entre ciência e política. complicar a situação. discute neste texto o interesse na pesquisa científica. aquilo que ele sabe que não passa de uma ficção. poderá também.] fine aqueles a quem ele não deve procurar interessar. como sempre é o caso. em contra seus colegas.] veis. As ciências não traduzem Texto 2 de maneira servil os interesses daqueles de quem depen. porém. em francês.. Isso também faz parte da profissão. criar relações de força favorá. Político também é o modo de formação dos cientis- solução do problema. na interessa a quem pode fazer a diferença. duplo sentido indecidível: não se pode saber quem é o Ciência. Quem tem medo da ciência?: ciências e poderes. acerca do qual sabemos que ele é feito para separar ao As ciências não são nem empreendimentos puros. e no sentido em produção de Bruno Latour. essa última frase tenha um ções – o que revela as questões políticas envolvidas na ciência. aqui e agora.indd 11 09/11/16 13:31 . Se um biólogo. a diferenciação clara demais O cientista precisa ser capaz de despertar interesse por aquilo entre aqueles a quem os cientistas interessam (e surpreen- que pesquisa. ele terá mais crédito que as controvérsias interessem ao que então não se cha- financeiro. [. que quer criar his. p. e sim reinventam o sentido para seu proveito. 104-107. O texto a seguir é sobre o conflito ético entre a busca do dem.. Com base no que foi estudado neste capítulo. Supõe um controle dos cidadãos sobre o Estado que os controla e uma recuperação do controle pelos cientistas. que recuperem o controle intelectual sobre a ciência? exige que tudo seja sacrificado à sede de conhecimento. vamos tornar viva a prática filosófica. ATIVIDADES PARA PRATICAR 1 Como o positivismo e a noção de neutralidade interferiram na reflexão sobre os limites da ciência? 2 Por que o positivismo de Comte levou à constituição de ciências ligadas às questões humanas. o que exige a tomada de consciência de que falei ao longo destas páginas. Defendia teses completamente diferentes da biologia clássica e apoiadas pelo regime soviético. Veja as respostas no Guia do Professor. Perseguiu os geneticistas que tinham ideias contrárias. e nós transpusemo-lo sem saber. os Estados-nações.indd 12 09/11/16 13:31 . 3 Qual é o sentido da metáfora da “árvore do conhecimento” no último parágrafo do texto? Como interpretá-la? BIOGRAFIA Trofim Lyssenko (1898-1976) Biólogo ucraniano que se tornou diretor do Instituto de Genética da Academia de Ciências da União Soviética em 1940. quilamento. 4 Como o surgimento das ciências humanas foi trabalhado por Foucault? Como ele se diferencia da visão positivista? 12 Entendendo os problemas SER2_FIL_MOD3_C01_V3. a árvore do conhecimento científico corre o causa problemas. Lisboa: Europa-América. Agora é sua vez. Para a ciência. A recuperação do controle intelectual das ciências pe- los cientistas necessita da reforma do modo de pensar. por risco de cair sob o peso dos seus frutos. 1994. 2 Por que os “dois deuses” a que servem os cientistas são an- O limite da ética do conhecimento era invisível. louco. O segundo deus é o da ética cívica e humana. Simultaneamente. EM BUSCA DO CONCEITO As respostas encontram-se no portal. Edgar. a tagônicos? Que conflito de interesses eles representam? priori. é demasiado controlado pelos Adaptado de: MORIN. Questões sobre o texto lutamente complementares. mas também antagonis. O problema do controle da atividade científica tor- nou-se crucial. O primeiro deus é o da ética do conhecimento. e pode conduzir-nos ao ani. Seu trabalho foi oficialmente desa- creditado em 1964. Eva e a infeliz serpente. qual é a condição para que os cientistas tas. esmagando Adão. é o domínio do domínio da natureza que hoje zada: hoje. In: Ciência com consciência. um lado. Esses dois caracteres contraditórios THEO SZCZEPANSKI/ARQUIVO DA EDITORA explicam-se porque nenhuma instância superior controla os poderes dominantes. como a sociologia? 3 Explique a noção de tecnociência. lhe parecem abso. devemos saber que eles não são somente complementares. 1 Segundo o texto. Mas essa interdependência não devia fazer esquecer essa reforma-chave. esse domínio é. é a fronteira para lá da qual o conhecimento traz com ele a morte generali. É certo que a reforma do modo de pensar depende de outras reformas. Todo cientista serve pelo menos a dois deuses que. durante o governo de Stalin. tivamente. vários dos quais foram demitidos ou mesmo presos. em Resoluções e Gabaritos. por outro lado. 29-30 poderes dominantes. ou seja. ao longo da história da ciência e até hoje. Hoje. incontrolado. p. e há uma interdependência geral dos problemas. de forma geral. mostrando suas aproximações e distanciamentos. Na segunda parte. Por fim. para si e para outros. entre outros temas. 9 Em sua edição de outubro de 2012. Assim conseguiu uma grande receita e satisfez necessidades dos produtores de óleo. Ao realizar esse tipo de dissertação. a) Se sua escola participa desse tipo de atividade. responda: a) Por que há problemas de método nessas ciências? b) Quais são esses problemas e como eles são enfrentados? 6 Que relações podemos estabelecer entre ciência e política? 7 O Programa de Bolsas de Iniciação Científica Júnior foi criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2003. o autor deverá organizar a dissertação em três partes: na primeira. a ideia em torno da qual argumentará. visando a estimular a formação científica de pesquisadores desde o ensino Médio. o autor apresenta uma síntese dessas ideias. Portanto. DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA A dissertação filosófica pode ser redigida de diferentes formas. Para realizar uma dissertação segundo o plano dialético. Pergunte sobre o trabalho que realizaram e o que aprenderam com ele. o primeiro cientis- ta soube usar o conhecimento para gerar riquezas. que tem pouca infraestrutura.indd 13 09/11/16 13:31 . com distintas estruturas lógicas. Em um certo ano. Ciência e inovação Fernando Galembeck (professor do Instituto de Química da Unicamp) Tales de Mileto. não haveria como prensar todas as azeitonas. escreva um texto sintetizando a entrevista e leia-o para os colegas. que requer novo conhecimento. das Research Facilities of Global Interest. Se não tivesse acumulado as prensas que mandou fazer. de fato. mas sem que elas efetivamente funcionem como categorias lógicas. pesquise na internet mais informações sobre ele e sobre os resultados em escolas que o adotem. Leia a seguir trechos de dois desses textos. O programa do CNPq baseou-se em outros mais antigos. recebendo uma bolsa-auxílio. Ambicionamos o desenvolvimento sustentável ou durável. apresenta a “tese” que é defendida no texto. examinando os dois pontos de vista opostos. entreviste alunos envolvidos com a experiência. O chamado Grupo Carnegie é formado por minis- tros de C&T de países do G8 e trata. No Brasil. No contexto de hoje temos um desafio global. Podemos falar. especialmente em países de renda per capita e índice de desenvolvimento humano baixos. na terceira parte. 5 Sobre as ciências humanas. a revista Pesquisa Fapesp publicou um conjunto de textos resultantes de palestras de cientistas em um ciclo de encontros preparatórios para o Fórum Mundial da Ciência 2013. b) Caso sua escola não disponha do programa. Hoje há no mundo muitos grupos envolvidos com esses problemas. o plano progressivo e o plano nocional. geômetra e astrônomo considerado por alguns o primeiro cientista. num quadro de recursos naturais finitos. 8 Com base no que foi estudado neste capítulo. de institutos de pesquisa como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). é preciso garantir. A dificuldade desse plano dissertativo está em cair em uma perspectiva caricatural da dialética. escreva uma dissertação filosófica com o tema: “Desafios da ciência contemporânea: limites e possibilidades”. previu que haveria uma grande safra de olivas e comprou muitas prensas de óleo. Depois. revendendo-as na safra. o autor apresenta os elementos contrários à sua tese (a antítese). para garantir uma boa síntese. pesquisadores e gestores. em três grandes modelos: o plano dialético. O programa consiste em um convênio entre universidades ou institutos de pesquisa e escolas básicas. levando a iniciativa para todo o Brasil. O novo conhecimento científico cria possibilidades de inovação. Estas são hoje principal- Entendendo os problemas 13 SER2_FIL_MOD3_C01_V3. que podem refutá-la. a situação se torna particularmente séria e as questões se desdo- bram: onde se deve gastar? Quanto se pode gastar? Quem vai gastar? Como? Os gastos feitos proporcionarão sustentabili- dade para o sistema? Para o país? Para o mundo? Essas questões devem estar sempre presentes nas mentes de cientistas. que apenas apresenta as três fases. de modo que estudantes possam realizar atividades de pesquisa sob orientação de pesquisadores acadêmicos. isto é. criado por uma população crescente e expectativa de aumento de con- sumo. E precisamos também mudar atitudes. foi também um hábil transformador de conhecimento em riqueza. que as ideias sejam confrontadas e contrastadas. mas também coloca perguntas: qual ciência? Qual FILOSOFIA inovação? Os recursos são sempre limitados. voltar-se para o começo do século XX e observar o sur- gimento da física quântica. 200. Há 10 anos. Recentemente o Grupo Carnegie começou a discutir as necessidades de ciência para a sustentabilidade e a transição rumo à economia “verde”.fapesp. o primeiro-ministro da China. Ele fala de uma carta que recebeu de um 14 Entendendo os problemas SER2_FIL_MOD3_C01_V3.] Numa época de crise global como a que estamos vivendo. Ou seja. das unida- des centrais de processamento dos computadores modernos. mas que em sua lista dos mais ricos do mundo há mais de 50 bilionários cuja fortuna é maior que isso. Sua promessa. tanto. do século XX. por isso só faz sentido fomentar trabalhos de P&D que tenha foco bem definido e perspectivas concretas de utilização.. em meio à euforia em torno da nanotecnologia. E o Brasil em relação a isso? Seguimos uma trajetória ascendente nos últimos anos e temos. 2013. independentemente de méritos intrínsecos das que já existem. hoje utilizado em todo o mundo. em breakthroughs científicos e – destacando outra faceta da ciência – diante do quanto o experimento nos aproxima do entendimento dos mistérios do universo.. para eles uma grande tragédia. Essa situação faz voltar à pergunta: qual ciência? [.. a Embraer e a Embrapa. ante a pergunta “para que serve a ciência básica?”. podendo mesmo prejudicar muitos. a batalha contra a crise global ao desenvolvi- mento da ciência. Pesquisa Fapesp. Ouvi muitas indagações sobre até que pon- to vale a pena gastar tanto com esse tipo de experimento. Qualquer nova tecnologia cria riscos am. impostos recolhidos em empresas a fim de aplicá-los em pesquisa. feita em janeiro de 2012. como uma solução para todos os problemas – e nós sabemos o que aconteceu. Research Facilities of Global Interest: bientais. p. Fernando. Faço por último uma referência a um artigo do físico Brian Greene. da indústria e dos serviços estão essas necessi- dades. GLOSSÁRIO alguns a descreviam como uma solução de todos os problemas da C&T: humanidade. Instalações de Pesquisa de Interesse Global. Acesso em: 18 fev.25 bilhões parecem uma bagatela ante o potencial de avanço na tecnologia de computação. que custa muito dinheiro. out. como a Petrobras. ponto de partida dos discos de laser. Inovação tem que satisfazer necessidades emergentes. e é essencial saber em que setores da agricultura. [.indd 14 09/11/16 13:31 . publicado no New York Times. Ed. tomar outra mais distante desse universo. assim. O experimento foi feito num grande laboratório europeu e envolveu recursos da ordem de US$ 13.br/2012/10/11/ ciência e tecnologia. O comentário da Forbes menciona que a quantia investida é grande. uma longa história de grandes sucessos. E então resolvi.] GALEMBECK. ao anunciar no Congresso Nacional do Povo que o crescimento do PIB chinês passaria de 8% para 7. 52-3. e não outros.5 bilhões. mente os grandes aceleradores de partículas e observatórios astronômicos. [. Mas sua evolução mais recente não parece estar de acordo com a estratégia adotada por outros BRICs para combater a crise global. Vale a pena. 2012. Associa-se.. foi mais que dobrar o gasto da nação em pesquisa e desenvolvimento nos próximos cinco anos..] Qual inovação interessa? A inovação depende de desenvolvimento. Observa que US$ 13. dos leitores dos códigos de barras e de relógios atômicos que são a base do sistema GPS. mas a inovação frequentemente beneficia alguns. A física quântica resultou mais tarde no desenvolvimento do laser. anunciou também que o investimento em pesquisa básica em 2012 teria um aumento de 26% e que o financiamento das chamadas top universities cresceria em torno de 24%. Tomo o exemplo da descoberta recente de um bóson que poderá ser a partícula de Higgs. P&D: Disponível em: <http://revistapesquisa. Tivemos depois uma grande ideia. Todas estão associadas a uma verdadeira política de Estado de formação de recursos humanos. Certa- mente. em lugar de recorrer a revistas científicas. Uma galeria de jovens movia-se pela curiosidade e pela paixão nesse momento mágico. em junho de 2008. Uma conclusão atual é a de que não existem as infraestruturas que deveriam estar disponíveis. Ciência e inovação. ideias-para-o-forum-mundial-da-ciencia>. de fato. estratégico ou social e de novo. precisamos saber: em quais cenários? Em qual contexto? Para quem? A ciência em princípio beneficia a todos. as decisões sobre incentivos à inovação e à ciência que ela Facilities: demanda têm de ser instruídas por uma análise do equilíbrio entre Pesquisa e Desenvolvimento. que foi a formação dos fundos setoriais. Também a energia nuclear foi apresentada. benefícios e riscos. Ciência básica para conhecer e inovar Luiz Davidovich (professor do Instituto de Física da UFRJ) Há uma pergunta feita há séculos que ainda se apresenta com alguma insistência: “Para que serve a ciência básica?”. Inovação tem impacto econômico. de diagnóstico por imagem. Por.. sociais e econômicos e isso vale para a nanotecnologia. A Forbes pareceu-me interessante porque trata das grandes fortunas do mundo. não há facilities aptas para sediar o trabalho científico requerido para o enfrentamento dos problemas globais. em meados ciência e tecnologia. jamais poderiam imaginar que aquela teoria que desenvolviam para melhor entender a natureza poderia mudar o mundo.5%. Ciência básica para conhecer e inovar. farmacêuticos se envolve com uma garota verso. 50-51. o filósofo expõe pela indústria farmacêutica.indd 15 09/11/16 13:31 . põe as táticas que os laboratórios farmacêu- mente inofensiva) compõem uma série ticos utilizam para convencer os médicos a prescrever seus de ficção científica que mistura guerras intergalácticas com produtos aos pacientes. para debate. BRICs: ção ao tema pesquisado.fapesp. o grupo deverá escrever uma reflexão sobre os impactos da tecnociência tir de 2011. pergunta fundamental. relles. 1994. nuclear e construir a bomba atômica. O guia do mochileiro das O amor e outras drogas. ARQUEIRO galáxias. 2007. Rio de Janeiro: Arqueiro. Disponível em: <http://revistapesquisa. (129 gem acessível ao grande público. transporte. o filósofo francês. GLOSSÁRIO DAVIDOVICH. inovações. e o acrônimo passou a ser BRICS. Douglas. Direção de Edward DIVULGAÇÃO/FOX FILMES REPRODUÇÃO/ED. universidades de ponta lazer e cultura. O filme ex- mais. Ed. 1989. a África do Sul (em inglês. Gilles-Gaston. na qual o planeta Terra é um computador tados Unidos.) Este livro e outros quatro que dão segui. ALÍNEA FILOSOFIA ciência atual. comunicação. contando-lhe como naquele ambiente hostil e solitário um de seus livros tinha se tornado uma espécie de linha de vida para ele. o universo e tudo mais. O início do fim. Evoluções e revoluções da tões políticas e sociais em torno da pesqui- EPRODUÇÃO/ED. res humanos. Direção de Roland Joffé. 2005. e Pratica. (112 min. Estados Unidos. 2009. educação. esse é um grande objetivo da ciência. 2013.) Uma trama internacional envolve ques- Morais. que foi pro- fessor no Brasil. 2010. Campinas: Alínea. em lingua. 200. ricano com o objetivo de estudar a energia cias. e obrigado pelos peixes!. Régis de. Então. devido a uma sutil peculiaridade da evolução da espécie humana. saúde. apostando no non-sense. South Africa) foi admitida ao grupo. em rela. Uma história os desafios colocados ao ser humano pela policial de suspense que coloca em pauta discussões sobre ciência contemporânea. que durante a Segunda Guerra Mundial re- uniu cientistas em um deserto norte-ame- REPRODUÇÃO/EDITORA UNESP Granger. Uma sátira à bus- ca do ser humano pela resposta definitiva para “a vida. a paixão pela ciência serve à humanidade. Até que sofre do Mal de Parkinson. min. sa de medicamentos e das cobaias usadas Com uma visão humanista. na vida das pessoas e apresentar o trabalho aos colegas da classe.) criado por uma raça de ratos alienígenas para responder à Narra o andamento do Projeto Manhattan. Ela revoluciona a vida diária das pessoas. Nesta obra. Top universities: a) Dividam-se em oito grupos. sintetiza suas reflexões no O jardineiro fiel. faça o que se pede a seguir. afeta nossa orga- nização social. b) Cada grupo fará uma pesquisa sobre a tecnociência aplicada à vida cotidiana. explorando-os sob os limites da ciência e da tecnologia em sua relação com se- vários aspectos. Direção de Fernando Mei- DIVULGAÇÃO/UNIVERSAL PICTURES DO BRASIL campo da filosofia da ciência. A ciência e as ciên. SUGESTÃO DE LEITURAS E DE FILMES LEITURAS PARA PRATICAR FILMES PARA PRATICAR Adams. e alimentação. Após a leitura e discussão coletiva dos textos. Pesquisa Fapesp. Es- DIVULGAÇÃO/PARA- MOUNT verso e tudo mais”. guias de viagem. Entendendo os problemas 15 SER2_FIL_MOD3_C01_V3. moradia. Rússia. Propiciara-lhe o contato com o poder da ciência para dar à vida contexto e significa- do. Acesso em: 18 Breakthroughs: fev. Alemanha/Reino Unido. (127 min. Luiz. Zwick. out. bloco dos principais países emergen- tes: Brasil. A par- c) Para encerrar. ao qual eu acrescentaria que. Cada grupo escolherá um dos seguintes temas: trabalho. São Paulo: Unesp. A vida. o uni. soldado americano no Iraque.br/2012/10/11/ideias-para-o-forum-mundial-da-ciencia>. p. 2012. Um representante comercial de produtos mento a ele (O restaurante no fim do uni. nossos modos e costumes. Índia e China. Atenas PITÁGORAS DE SAMOS FILOLAU DE CROTONA PARMÊNIDES DE ELEIA HERÁCLITO DE ÉFESO DIÓGENES DE SÍNOPE (c.C.C.C. 280 a.C.C. 230 a.-365 a. ideias.C.C.C.) (c.-545 a.C. 490 a.) (c.C.-524 a.C. 610 a.) (c.-370 a. Escola Jônica Escola Eleática Escola Itálica Escola Atomista Sofistas Cinismo Estoicismo Epicurismo CORRENTES Como viver segundo Vida como a razão e de acordo Filosofia da natureza: a origem e os com as leis da prática filosófica fundamentos do cosmo (cosmologia) natureza XII a.C.-497 a.C.-477 a.C.-479 a.).C. O crédito e a legenda das imagens desta linha do tempo encontram-se no guia do professor.) (c.) (535 a.C.-336 a.-475 a.C-c.-322 a. V a. sucessórias Menor. IV a.C.-II d. democracia por Clístenes (séc. ao I a. relação entre mundo sensível e conceitos Ética e física Moral e costumes Física e moral Física e lógica Ética e lógica.) (570 a. I a III) e os dias) aos reinos conquistados • Guerras Púnicas • Guerras Médicas: gregos • Retomada da expansão por Alexandre Magno (264 a. ao V a.): • Homero (Ilíada e – início: a expansão II Odisseia) e Hesíodo territorial da Macedônia e • O Alto Império Romano III a.C.C. a ética.C.).) de Roma (64 d.C. Sófocles. lógica e a identidade do ser A pluralidade e o movimento como ilusão O número como o fundamento da natureza O pitagorismo O átomo como o princípio da natureza O atomismo. – Felipe II (382 a.C. teoria das ideias e relação entre mundo inteligível (ideias) e mundo sensível Metafísica e lógica. ao V a.-218 a.C.C.): pólis gregas III – florescimento cultural: • Implantação da • O Baixo Império Romano arquitetura de Fídeas e II a. Estagira (cerca de 412 a.): Esparta contra – fim: anexação da Grécia do Império Romano Romano (509 a. IV a.-262 a.C.C.C.C.C.C.-399 a. A FILOSOFIA NA HISTÓRIA (cerca de 445 a.C.) (588 a.) (341 a. Atenas ANAXIMANDRO DE MILETO XENÓFANES DE CÓLOFON (384 a. nas ilhas do Mar • Fim da autonomia das Egeu e na Magna Grécia e IV a. 331 a.C.C. 210 a.C.) período de disputas continental grego.C.C.C.C.. III-V) teatro de Ésquilo.C.C.-380 a. • Roma conquista (507 a.C. Eurípedes e Aristófanes Macedônia – dificuldades de manter a em Atenas • Guerra do Peloponeso • Fim da República e início coesão do vasto Império • Fundação de Roma (431 a.C.-271 a.-321 a.).C.-430 a.C.) (570 a.) (485 a.C.-556 a. jônios e dórios • Macedônia conquista • Morte de Jesus Cristo (33) conquistam o entorno do Grécia: • Imperador Nero: incêndio mar Egeu (1200 a.).C.C difusão da cultura grega (séc.C.C.C. na Ásia • Euclides: geometria • Apogeu de Atenas (V a.) (a.-385 a.C.C.C.C. 470 a.).) (c.C.) Atenas pelo Império Romano (27 a.) ZENAO DE ELEIA ZENÃO DE CÍCIO ARISTÓTELES ANTÍSTENES FILÓSOFOS SÓCRATES PLATÃO A água como elemento primordial O ápeiron (o indeterminado) como princípio O ar constitui tudo A contradição produz a unidade do cosmo Reflexões sobre senso comum e religiões tradicionais Metafísica.) -800 a.C.) contra Cartago persas (490 a.-460 a.) com Otaviano – expansão do cristianismo 16 Entendendo os problemas SER2_FIL_MOD3_C01_V3.C.-323 a.C.C. 490 a.C.-c.C.C. (Teogonia e Os trabalhos V a.) LEUCIPO DE MILETO CLEANTO DE ASSOS EPICURO DE SAMOS (c.-429 a.) ANAXÍMENES DE MILETO DEMÓCRITO DE ABDERA GÓRGIAS DE LEONTINOS (469 a.-497 a. 334 a. dialética e paradoxos Ética do prazer: como viver com o mínimo de dor e o máximo de prazer TEMAS E PROBLEMAS XII a.C. a técnica e a percepção Retórica e relativismo intelectual e moral Moral.) • Helenismo (IV a. verdade e essência das coisas Dialética.) (530 a.) CRÍSIPO DE SOLES TALES DE MILETO (625 a. Atenas (427 a.) e governo de – crises econômicas e políticas Péricles (461 a.C.C.C.C. III a.C.C.C.): Roma • Primeiras pólis e (Liga de Delos) contra territorial de Roma após fortalezas no território (356 a.C.C. 460 a.indd 16 09/11/16 13:31 .C.C. CONTEXTO HISTÓRICO • Aqueus.C.-347 a.C. I d. C.C.) (1478-1535) MONTAIGNE MAQUIAVEL (1225-1274) (1463-1494) (1469-1527) (1466-1536) (1530-1575) (1533-1592) (1548-1600) (1564-1672) (1643-1727) (1596-1650) (1632-1677) (1561-1626) (1588-1679) (1632-1704) DESCARTES ESPINOSA (121-180) (205-270) (344-430) NEWTON PLOTINO GALILEU ERASMO (55-135) HIPÁTIA HOBBES SÊNECA BACON LOCKE Física e ética Ética.C.-51 a.C. relação entre razão e fé na busca da verdade e à luz do platonismo Relação entre razão e fé. MARCO AURÉLIO. tradução e – burguesia fortalece o – fundação da Companhia de • Édito de Tessalônica (380): comentário de textos XIV ao XV Parlamento na monarquia Jesus (1534). O FILÓSOFO EX-ESCRAVO POSIDÔNIO DE APAMEIA PICO DE LA MIRANDOLA SÃO TOMÁS DE AQUINO ETIENNE DE LA BOÉTIE SANTO AGOSTINHO (355-415). sujeito do conhecimento. constitucional inglesa FILOSOFIA religião oficial por judeus e muçulmanos turcos-otomanos conquistam – Index Librorum Proibitorum • Consolidação da ciência do Império • Cruzadas (1096-1270) Constantinopla (1453) (índice dos livros proibidos) moderna • Divisão do Império Romano: • Renascimento comercial e • Guerra dos Cem Anos: • Arte barroca Ocidente e Oriente urbano na Europa Inglaterra x França – Império Bizantino (395) • Renascimento: – arte e ciência: Da Vinci • Queda do Império Romano – literatura: Dante e do Ocidente (476) pelas Boccaccio invasões bárbaras • Formação dos Estados • Declínio da vida urbana Nacionais na Europa europeia e a ruralização: – formação dos feudos Entendendo os problemas 17 SER2_FIL_MOD3_C01_V3. método uma vida boa ser humano no centro das atenções e teoria do conhecimento VI ao XII XIII XVI XVII • Cisma do Oriente (1054): • Fundação das universidades: • Chegada de europeus à • Mercantilismo e absolutismo Igreja Católica Romana e Pádua (1222) e Paris (1253) América (1492) e ao Brasil na Europa Igreja Ortodoxa • Fundação das Ordens (1500) • Guerra dos 30 Anos (1618- • Expansão do Império Turco. ciência e a dominação da natureza Política e ética. teologia e política Método experimental.C. lógica e arte Ética e moral Ética e moral Ontologia (estudo do ser) sob a luz da filosofia platônica Astronomia. Franciscana e Dominicana: • Reforma Protestante (1517) 1648): França contra dinastia otomano sobre o Império – mosteiros: formação Habsburgo e protestantes • Reforma Católica (ou Bizantino e espiritual (teologia) e contra católicos Contrarreforma): Concílio de o Mediterrâneo: intelectual (filosofia) • Revolução Gloriosa (1688): Trento (1542-1563): IV ao V – compilação.-65 d. ao I d.C. aristotelismo e platonismo sob princípios da fé cristã Afirmação da dignidade do homem Realismo político Utopismo crítico Exercício da razão Crítica da tirania Vida cotidiana e pensamento sobre si mesmo Ciência livre da fé Revolução científica (método) Princípios matemáticos e leis que regem a natureza Método cartesiano. “contrato social” e defesa da propriedade privada II a. física. Alexandria GIORDANO BRUNO (140 a. Estoicismo eclético Neoplatonismo Patrística Escatica Renascentistas Racionalismo Empirismo A experiência sensível na obtenção do conhecimento Ação e reflexão para Volta à Antiguidade Clássica. dúvida e verdade Ética. O IMPERADOR FILÓSOFO EPITETO. II III IV ao XIII XIV ao XV XVI XVII I a. Os princípios da razão. o cristianismo torna--se a filosóficos da Antiguidade • Fim do Império Bizantino: – Santo Ofício da Inquisição. entre filosofia e teologia. “contrato social” Epistemologia e política. matemática e política Filosofia cristã pensada pelos padres da Igreja.indd 17 09/11/16 13:32 .) THOMAS MORE (4 a.C. da propriedade e Linguagem. 18 CONTEXTO HISTÓRICO CORRENTES TEMAS E PROBLEMAS FILÓSOFOS SER2_FIL_MOD3_C01_V3. dando relevância à KIERKEGAARD fé. MERLEAU-PONTY da Ásia e da África pelas conhecimento e corpo (1908-1961) • Cinema: irmãos Lumière • Neocolonialismo: divisão apresentam o cinematógrafo Lógica e filosofia da linguagem. reificação MARX (1818-1883) e Materialismo histórico e crítica ao capitalismo ENGELS (1820-1895) XIX Crítica da propriedade privada. construção de uma Crítica do Estado. KANT condições de possibilidade do conhecimento (1724-1804) Idealismo alemão Crítica da religião. antropologia filosófica e CASSIRER Neokantismo filosofia da cultura (1874-1945) Industrial Criação de um método que permita a HUSSERL “volta às coisas mesmas” (1859-1938) na França (1895) Fenomenologia potências europeias • Segunda Revolução Fenomenologia da percepção. DIDEROT filosofia da natureza • Independência dos Estados (1713-1784) • Revolução Francesa (1789) • “Despotismo esclarecido” na época à luz da razão Ética. moral e estética (experiência na arte). crítica da intolerância VOLTAIRE e do fanatismo religiosos (1694-1778) Iluminismo Unidos (1776) (França) Política e educação. da moral. política. utopia.indd 18 Política. reformas sociais (1760-1825) Organização moral e intelectual da COMTE • Inconfidência Mineira Positivismo sociedade segundo a ciência (1798-1857) Filosofia como práxis. ente e temporalidade (1889-1976) Fenomenologia (1889) (1888) (1822) existencial SARTRE NO BRASIL Existência. arte e revolução (1892-1940) Teoria crítica fenomenológicos e políticos • Assinatura da Lei Áurea • Independência do Brasil Proclamação da República Indústria cultural. da política e dos saberes da Dialética. crítica do mito e da razão ADORNO (1903-1969) e Marxismo e crítica cultural como instrumentos de dominação HORKHEIMER (1895-1973) -no-mundo. à liberdade e ao desejo (1813-1855) sociedade justa • Ascensão de Napoleão • Guerra Franco-Prussiana Crítica radical à moral e à ciência NIETZSCHE • Comuna de Paris (1871) como instrumentos de dominação (1844-1900) • Consolidação do capitalismo GRAMSCI Marxismo Política. por meio dos princípios Compreensão do homem como ser- 09/11/16 13:32 . tripartição dos poderes e MONTESQUIEU reflexão sobre as leis (1689-1755) XVIII Entendendo os problemas Liberdade de expressão. HEGEL (1789) as relações entre o real e o racional (1770-1831) NO BRASIL SAINT-SIMON Socialismo utópico Socialismo. liberdade e política (1905-1980) BENJAMIN • Fim do Império e Técnica. alienação. direito e história. PROUDHON XIX anarquia como “ordem natural” (1809-1865) Anarquismo na França BAKUNIN Liberdade individual e práxis anarquista monopolista (1814-1876) (1870-1871) Crítica do racionalismo hegeliano. WITTGENSTEIN XX “virada linguística” (1889-1951) HEIDEGGER Ser. liberdade e ROUSSEAU Europa continental “contrato social” (1712-1778) XVIII • Revolução Industrial Crítica dos costumes e das artes. cultura e transformação social (1891-1937) da autoridade. ciência e poder (1947) COMTE-SPONVILLE Ética. ARENDT análise da condição humana (1906-1975) (1933) LÉVI-STRAUSS Antropologia estruturalista e etnologia SER2_FIL_MOD3_C01_V3. corpo e ONFRAY hedonismo (“materialismo hedonista”) (1959) Entendendo os problemas 19 FILOSOFIA 09/11/16 13:32 . FOUCAULT ética do cuidado de si (1926-1984) JONAS Ética da responsabilidade. consumismo. marxismo. DELEUZE multiplicidade e diferença (1925-1995) (1960) (1922) LADRIÈRE Crítica dos limites da ciência (1921-2007) NO BRASIL (1964-1985) (1945-1964) HADOT História da filosofia e filosofia antiga (1922-2010) HELLER • Período democrático Ética.indd 19 (1908-2009) (1939-1945) (1914-1918) Estruturalismo BARTHES Semiótica e significação (1915-1980) (1922) e do nazismo • Guerra Fria: Estados • Ascensão do fascismo Unidos x União Soviética BEAUVOIR • Revolução Russa (1917) • Primeira Guerra Mundial • Segunda Guerra Mundial Existencialismo Política. direito (1991) (1903-1993) e da Ásia – Internet XX social por meio de suas estruturas GUATTARI Filosofia e psicanálise. feminismo e liberdade (1908-1986) Crítica dos saberes e dos poderes. “revolução molecular” Análise da linguagem e da realidade (1930-1992) • Revolução Digital: FEYERABEND Epistemologia e crítica da ciência domésticos (1981) Filosofia da ciência (1924-1994) • Conflitos Israel-Palestina – primeiros computadores • Descolonização da África LEVINAS • Queda do Muro de Berlim (1989) e da União Soviética Ética. política e existencialismo • Ditadura civil e militar (1929) • Inauguração de Brasília • Semana de Arte Moderna • Redemocratização (1985) • Estado Novo (1937-1945) Teoria social. HABERMAS Teoria crítica ética comunicativa (1929) SERRES XXI Política e cultura. relação ser humano-natureza (1930) NEGRI Marxismo Políticas do Império softwares (1933) RANCIÈRE Política como dissenso (1940) • Revolução Digital: XXI LIPOVETSKY – avanço tecnológico na criação de hardwares e O efêmero nos tempos hipermodernos – criação das redes sociais (1944) Bioética e desafios da ética SINGER na contemporaneidade (1946) LATOUR Ética e política. virtudes no mundo contemporâneo (1952) Nova York (2001) LÉVY Filosofia e informática (1956) • Crise econômica (2008) • Primavera Árabe (2011) • Atentados terroristas em Comportamento. XX Crítica ao totalitarismo. direito. alteridade e dominação (1906-1995) Filosofia como criação de conceitos. Sérgio Murilo Rodrigues SESI DN Superintendente: Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti Diretor de Operações: Marcos Tadeu de Siqueira Gerente Executivo de Educação: Sergio Gotti Gerente de Educação Básica: Renata Maria Braga dos Santos Todos os direitos reservados por SOMOS Educação S.12 Índices para catálogo sistemático: 1. João Filocre Filosofia: Msc. Filosofia: Ensino médio 107. Flávia Venézio dos Santos (estag. Gabriela Macedo de Andrade e Vanessa de Paula Santos. Talita Guedes Colaboraram para esta Edição do Material: Projeto Sistema SESI de Ensino Gestão do Projeto: Thiago Brentano Coordenação do Projeto: Cristiane Queiroz Coordenação Editorial: Simone Savarego. 7221 Pinheiros – São Paulo – SP CEP: 05425-902 (0xx11) 4383-8000 © SOMOS Sistema de Ensino S.A. e Márcio Santos de Souza Tratamento de imagem: Cesar Wolf e Fernanda Crevin Ilustrações: Theo Szczepanski e Douglas Galindo Projeto gráfico de miolo: Daniela Amaral. SP. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro.indd 20 09/11/16 13:32 . Ana Curci. Juliana Medeiros de Albuquerque. Sílvio Sistema de ensino ser : filosofia : 1º ano : professor / Sílvio Gallo. — 3.). Avenida das Nações Unidas. 1.12 2016 ISBN 978 85 8 18414-9 (AL) ISBN 978 85 8 18415-6 (PR) 3ª edição 1ª impressão Impressão e acabamento Uma publicação 20 Entendendo os problemas SER2_FIL_MOD3_C01_V3. ed. — São Paulo : Ática. Título.) Supervisão de iconografia: Sílvio Kligin Pesquisa iconográfica: Carlos Luvizari e Evelyn Torrecilla Cartografia: Allmaps. Brasil) Gallo. 16-08242 CDD-107. ANOTAÇÕES Presidência: Eduardo Mufarej Diretoria editorial: Lidiane Vivaldini Olo Editoria de Ciências Humanas: Heloisa Pimentel Edição: Beatriz de Almeida Francisco Supervisão de arte e produção: Sérgio Yutaka Edição de arte: Eber Souza Supervisão de criação: Didier Moraes Edição de arte e criação: Rafael Vianna Leal Gerência de revisão: Hélia de Jesus Gonsaga Revisão: Rosângela Muricy (coord.A. Ana Paula Chabaribery Malfa. Filosofia (Ensino médio) I. Rosiane Botelho e Valdete Reis Revisão: Juliana Souza Diagramação: lab 212 Capa: lab 212 Ilustrações de capa: Macrovector/ Golden Sikorka/ Sentavio/ Jiw Ingka/ Shutterstock Consultores Coordenação: Dr. 2017. PROFESSOR Capa_Filosofia FINAL.indd 3 09/11/16 19:23 .
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