Fundamentos Teoricos Da Educacao Infantil

March 30, 2018 | Author: Marco Antonio Tavares | Category: Pedagogy, Sociology, Distance Education, Preschool, Learning


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ENSINO A DISTÂNCIALICENCIATURA EM Pedagogia FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Profª. Dra. Esméria de Lourdes Saveli Profª. Dra. Maria Odete Vieira Tenreiro Profª. Ms. Maíza Taques Margraf Althaus Profª. Ms. Nelba Maria Teixeira Pisacco PONTA GROSSA / PR 2011 CRÉDITOS João Carlos Gomes Reitor Carlos Luciano Sant’ana Vargas Vice-Reitor Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos Colaboradores em EAD Ariangelo Hauer Dias - Pró-Reitor Dênia Falcão de Bittencourt Jucimara Roesler Pró-Reitoria de Graduação Graciete Tozetto Góes - Pró-Reitor Colaboradores de Informática Carlos Alberto Volpi Divisão de Educação a Distância e de Programas Especiais Carmen Silvia Simão Carneiro Maria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe Adilson de Oliveira Pimenta Júnior Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância Osvaldo Reis Júnior Leide Mara Schmidt - Coordenadora Geral Kin Henrique Kurek Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica Thiago Luiz Dimbarre Thiago Nobuaki Sugahara Sistema Universidade Aberta do Brasil Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral Colaboradores de Publicação Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Adjunta Maria Beatriz Ferreira - Revisão Elenice Parise Foltran - Coordenadora de Curso Sozângela Schemin da Matta - Revisão Vilmar Junior Wrobel - Diagramação Colaborador Financeiro Paulo Henrique de Ramos - Ilustração Luiz Antonio Martins Wosiak Colaboradores Operacionais Colaboradora de Planejamento Edson Luis Marchinski Silviane Buss Tupich Joanice Kuster de Azevedo João Márcio Duran Inglêz Maria Clareth Siqueira Mariná Holzmann Ribas Todos direitos reservados ao Ministério da Educação Sistema Universidade Aberta do Brasil Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR Tel.: (42) 3220-3163 www.nutead.uepg.br 2011 APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL A Universidade Estadual de Ponta Grossa é uma instituição de ensino superior estadual, democrática, pública e gratuita, que tem por missão responder aos desafios contemporâneos, articulando o global com o local, a qualidade científica e tecnológica com a qualidade social e cumprindo, assim, o seu compromisso com a produção e difusão do conhecimento, com a educação dos cidadãos e com o progresso da coletividade. No contexto do ensino superior brasileiro, a UEPG se destaca tanto nas atividades de ensino, como na pesquisa e na extensão Seus cursos de graduação presenciais primam pela qualidade, como comprovam os resultados do ENADE, exame nacional que avalia o desempenho dos acadêmicos e a situa entre as melhores instituições do país. A trajetória de sucesso, iniciada há mais de 40 anos, permitiu que a UEPG se aventurasse também na educação a distância, modalidade implantada na instituição no ano de 2000 e que, crescendo rapidamente, vem conquistando uma posição de destaque no cenário nacional. Atualmente, a UEPG é parceira do MEC/CAPES/FNED na execução do programas Pró-Licenciatura e do Sistema Universidade Aberta do Brasil e atua em 38 polos de apoio presencial, ofertando, diversos cursos de graduação, extensão e pós-graduação a distância nos estados do Paraná, Santa Cantarina e São Paulo. Desse modo, a UEPG se coloca numa posição de vanguarda, assumindo uma proposta educacional democratizante e qualitativamente diferenciada e se afirmando definitivamente no domínio e disseminação das tecnologias da informação e da comunicação. Os nossos cursos e programas a distância apresentam a mesma carga horária e o mesmo currículo dos cursos presenciais, mas se utilizam de metodologias, mídias e materiais próprios da EaD que, além de serem mais flexíveis e facilitarem o aprendizado, permitem constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação. Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para promover a sua aprendizagem e que tenha muito sucesso no curso que está realizando. A Coordenação . PRECURSORES DA INFÂNCIA 23 ■ SEÇÃO 3. POLÍTICOS E LEGAIS – Esméria de Lourdes Saveli e Maria Odete Vieira Tenreiro 11 ■ SEÇÃO 1.O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NUMA PERSPECTIVA MULTIDISCIPLINAR 55 ■ SEÇÃO 2.AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS 142 ■ PALAVRAS FINAIS 161 ■ NOTAS SOBRE OS AUTORES 163 .SUMÁRIO ■ PALAVRAS DOS PROFESSORES 7 ■ OBJETIVOS E EMENTA 9 EDUCAÇÃO INFANTIL: ASPECTOS HISTÓRICOS.TEMPOS E ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 113 ■ SEÇÃO 2.A INTERAÇÃO COM A CRIANÇA PEQUENA: TEMAS EM DESTAQUE 80 ORGANIZAÇÃO DOS TEMPOS E DOS ESPAÇOS NA EDUCAÇÂO INFANTIL – Esméria de Lourdes Saveli.A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO TRABALHO PEDAGÓGICO 119 ■ SEÇÃO 3.A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE INFÂNCIA 13 ■ SEÇÃO 2. JOGO E DESENHO: FORMAS PRIVILEGIADAS PARA INICIAR A CRIANÇA NO PROCESSO DE LER E ESCREVER 122 ■ SEÇÃO 4.TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL 34 A LGUMAS CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS PARA ENTENDER O DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA DE 0 A 5 ANOS Nelba Maria Teixeira Pisacco 53 ■ SEÇÃO 1.CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA E DAS NEUROCIÊNCIAS PARA COMPREENDER O DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA PEQUENA 64 ■ SEÇÃO 3. Maíza Taques Margraf Althaus e Maria Odete Vieira Tenreiro 111 ■ SEÇÃO 1.BRINQUEDO. . construa e reconstrua seus conhecimentos. para a disciplina de Fundamentos Teóricos da Educação Infantil. Construída numa perspectiva multidisciplinar. a Unidade II apresenta algumas considerações conceituais para entender o desenvolvimento e a aprendizagem da criança de 0 a 5 anos. além das questões históricas e legais que marcam a educação infantil. levou-nos a congregar olhares de diversas áreas e delimitar temas sobre os primeiros anos da infância. Nós esperamos que você encontre nelas. valiosos instrumentos reflexivos e que. A Unidade I . A partir da reflexão conjunta sobre as questões que discutem a Educação Infantil. Por isso. os grandes pedagogos. definições e temas sobre a interação com a criança pequena. ao estudá-las. . reunimos aqui as contribuições mais significativas do trabalho a ser desenvolvido com a criança de 0 a 5 anos de idade. suscitando reflexões sobre o trabalho pedagógico na educação infantil. identificaram-se temáticas sobre as quais cada um dos membros que constituíram a equipe de autores se debruçou mais especificamente.PALAVRAS DO PROFESSOR Prezado acadêmico. políticos e legais. Nosso propósito ao escrever este livro para o Curso de Licenciatura em Pedagogia na Modalidade de Educação à distância.Educação Infantil: aspectos históricos. destaca contribuições da psicologia e das neurociências para compreender o desenvolvimento e a aprendizagem infantil. Desse trabalho resultou uma organização textual com três unidades. Aborda conceitos. apresenta o conceito de infância. visando contribuir para a formação do pedagogo e dos profissionais da educação que atuarão na primeira etapa da Educação Básica. Desejamos a você um ótimo estudo e que o material elaborado contribua na reflexão. construção e reconstrução de conhecimentos significativos e relevantes para sua prática educacional junto à criança pequena.Organização dos tempos e dos espaços na educação infantil. Dentre eles tratamos da organização dos tempos e espaços pedagógicos. Esméria. estão abarcadas pontos que são considerados como fundamentais para a organização do trabalho pedagógico. Na Unidade III . Maíza. a importância do trabalho lúdico e a avaliação na educação infantil. Maria Odete e Nelba . Temas específicos referentes ao trabalho pedagógico na Educação Infantil. Educar e Cuidar. desenvolvimento do desenho infantil. Objetivos específicos: · Analisar a evolução histórica da educação da criança de 0 a 5 anos. · Refletir sobre as contribuições de diferentes abordagens teóricas para o trabalho pedagógico na Educação Infantil. EMENTA Aspectos históricos. Concepções teóricas que fundamentam a prática pedagógica na Educação Infantil. · Analisar contribuições de diferentes abordagens teóricas para o trabalho pedagógico na Educação Infantil. .OBJETIVOS & EMENTA OBJETIVOS Objetivos gerais: · Analisar criticamente as principais políticas voltadas à educação da criança pequena no Brasil. · Analisar a educação infantil no contexto da educação brasileira. Tendências pedagógicas da Educação Infantil. O papel do jogo e do brinquedo. buscando compreendê-la de forma mais ampla e crítica. aquisição da linguagem escrita. Concepções de infância. Currículo na Educação Infantil. políticos e legais. · Discutir aspectos fundamentais da política de educação da criança de 0 a 5 anos no Brasil. · Refletir sobre temas específicos relacionados à Educação Infantil. . . Conhecer os grandes pedagogos da infância. Identificar a trajetória da Educação Infantil e os marcos legais que sustentam o argumento de que a criança é sujeito de direitos. UNIDADE I Educação infantil: aspectos históricos. políticos e legais Profª. ROTEIRO DE ESTUDOS SEÇÃO 1 – A construção do conceito de infância SEÇÃO 2 – Grandes pedagogos da infância SEÇÃO 3 – Trajetória da Educação Infantil no Brasil . Dra. Dra. Maria Odete Vieira Tenreiro OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM O acadêmico deverá ser capaz de: Reconhecer o conceito de infância na sociedade contemporânea. Esméria de Lourdes Saveli Profª. Universidade Aberta do Brasil PARA INÍCIO DE CONVERSA Nesta unidade. No encaminhamento do texto optamos por apresentar o tratamento que se tem dado à infância. Trazemos também para o debate os grandes pedagogos da infância que contribuíram com suas concepções e ajudaram a organizar o trabalho com a criança pequena. 12 UNIDADE I . quem é esta criança e como ela está inserida no mundo. nosso objetivo é apresentar considerações sobre a infância. Afinal. apresentamos a trajetória da educação infantil no Brasil além de evidenciar como tem evoluído e vem se configurando o direito da criança de viver a sua infância em condições que lhe permitam alcançar o seu pleno desenvolvimento. ela é um ser produtor de cultura. Para encerrar a unidade. na sociedade contemporânea. Vale dizer que toda esta discussão está amparada em referenciais teóricos e determinantes legais que se apresentam ao longo do texto. Tratar desta questão é entendê-la como um sujeito dinâmico e rico que se faz e refaz mediante as relações que estabelece com o outro. Se você consultar os dicionários de língua portuguesa vai encontrar a palavra infância assim definida: período de crescimento. é necessário aprofundar a compreensão do que a infância representa. que tratam do desenvolvimento humano.Educação infantil: aspectos históricos. fisiológicos.069. promulgada em 13 de julho de 1990. Alguém que precisa ser educado. Nos livros de psicologia. no qual o crescimento se faz. você constatará que a criança é definida como a pessoa que tem até doze anos de idade incompletos. segundo os caracteres anatômicos. psíquicos e sociais. que vai desde o nascimento até a puberdade. Alguém que está à margem das decisões políticas e sociais Alguém cuja atividade principal é brincar. Além desses pontos de vista. a infância vem definida como o primeiro período da vida que vai do nascimento à adolescência. Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. em todos os domínios. Caracteriza-se por ser um período extremamente dinâmico e rico. puerícia. Consultando a Lei 8. se divide em três estágios: 13 UNIDADE I . a resposta pode girar em torno de questões como: Alguém que precisa de muito afeto. que não estão incorretos. no ser humano. Licenciatura em Pedagogia . políticos e legais SEÇÃO 1 A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE INFÂNCIA Quando perguntamos a alguém o que caracteriza a infância. concomitantemente. e que. Alguém que precisa de cuidados. meninice. Ocorre também. Aos poucos a brincadeira. na maioria das vezes. interage com a mãe. a primeira infância começa antes do nascimento e vai aproximadamente até os três anos de idade. 14 UNIDADE I . É preciso lembrar que as crianças de zero a três anos têm a brincadeira como sua principal fonte. responde a estímulos. tem uma fala fluente. Universidade Aberta do Brasil Primeira infância. a criança já domina todo seu ambiente. com o outro. o desenvolvimento da fala. apresenta as primeiras manifestações de autonomia. Nessa fase. cite. fase final da primeira infância. Esse movimento é necessário para seu desenvolvimento muscular. neuromotor e cognitivo. outras características que você já observou em crianças desta idade. Pesquisas indicam que as crianças que têm oportunidades de irem para a escola mais cedo. Na realidade. pois a criança interage com outros e se apropria rapidamente de tudo que lhe é ensinado. em razão do convívio com outras crianças e adultos que estimulam a sua fala. pois ela brinca com seu próprio corpo. faz parte de seus fatores biológicos. Nessa fase a criança se descobre. faz valer sua vontade. no desenvolvimento da sua linguagem. balbucia. nas linhas abaixo. a brincadeira já está muito presente na vida da criança. além de envolver os fatores biológicos. Aos poucos ela vai brincando com os objetos que a rodeiam e. brinca primeiramente com o seu próprio corpo. Brincar é fato natural. aprendem a falar mais cedo. O meio social em que a criança vive influencia. Você trabalha com esta faixa etária? Além das questões apontadas anteriormente. nessa fase. sobremaneira. envolve também os fatores sociais. já conhece as regras do espaço em que convive. por fim. não só de diversão mas também de aprendizado e crescimento. tentando comunicar-se. Por volta dos três anos. a criança amplia o seu universo sociocultural. Ela começa a conviver. A brincadeira. conversa com eles.. Que vejo voar. os animais que vê. como outras tantas ”artes” das crianças. 15 UNIDADE I . conhecer e a reconhecer um grupo maior de pessoas.Educação infantil: aspectos históricos. A principal característica dessa fase é a curiosidade e a fantasia. acompanham a passagem da primeira para a segunda infância. as situações que presencia. diz-me por quê? Por que roda o meu pião Ele não tem nenhuma roda”. A poetisa Cecília Meireles escreveu o poema Na idade dos porquês que retrata bem essa fase: “E roda. a brincadeira vai se tornando uma ferramenta com novos objetivos. Outro aspecto muito presente nessa fase é conhecido pelos pais e professores como a “idade dos porquês”. e ao mesmo tempo típica da vida humana”. A segunda infância encontra-se. Professor. nessa fase. chamados de jogos simbólicos. roda. tão alto no vento que o meu pensamento não pode alcançar? Professor.. políticos e legais Segunda infância. ignorando os perigos. Os jogos de faz-de-conta. novas características. cria regras para ela mesma. diz-me por quê? Por que voa o papagaio Que solto no ar. inventa brincadeiras. Licenciatura em Pedagogia . nessa fase. pular de alturas. as crianças tentam pensar a respeito das razões e lógicas das coisas. rodopia E cai morto no chão. entre os três e sete anos de idade da criança. por exemplo: descer correndo uma escada. aproximadamente. Ainda. (p. o que vai ampliando seus laços de amizades e seus espaços de convivência social. nesse período.68). gira. dá vida aos objetos. Em suas perguntas. adultos e crianças. À medida que a criança cresce. assume uma importância que não pode ser ignorada pelos profissionais que trabalham com crianças. enfrenta desafios. A criança. Kishimoto (2002) fala que “a brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio. imita as pessoas. Toda sociedade tem seus sistemas de classes. marmelo. e a cada uma delas está associado o desenvolvimento de um papel e a ocupação de um status social. São Paulo. Universidade Aberta do Brasil Com base nas experiências que você tem. Como qualquer outra fase da vida. Terceira infância. Passam a ter um conteúdo mais investigativo. portanto “criança” e “infância” têm conceitos distintos em diferentes sociedades e classes sociais diferentes. algumas brincadeiras que são mais valorizadas pelas crianças nesta fase. 2ª ed.como àquelas proporcionadas pelo espaço sociocultural em que vivem. A infância só pode ser compreendida levando em consideração esses fatores sociais. 1999. Salamandra. Marcelo.as condições em que foi gerada . Portanto. o que mostra que a infância é uma construção social. A brincadeira e o jogo ainda estão presentes. no entanto assumem características diferentes em relação às fases anteriores. Dos sete aos doze anos amplia-se o leque de possibilidades e de conhecimento na vida da criança. Ruth. são jogos com regras estabelecidas. a infância não pode ser compreendida de forma genérica. cite. o significado do que é a infância e como ela é representada está diretamente relacionado com fatores sociais e históricos e as funções decorrentes das transformações sociais. Isso vai estar relacionado tanto às suas condições biológicas . martelo. nas linhas abaixo. desafiador. pelo próprio jogo ou pelo grupo. 16 UNIDADE I . DICA – Leitura do livro: ROCHA. de um tempo para outro. “(. mais do que um estágio de desenvolvimento... Licenciatura em Pedagogia . pequeninos e leves e . 2006. Além da diferenciação da classe social. “a imaturidade das crianças é um fato biológico.12). varia enormemente de um lugar para outro. Infância de papel e tinta In: FREITAS. é uma categoria histórica e social.” (LAJOLO. Leia com atenção a citação a seguir e relacione-a com a ideia que estamos defendendo.. e seja sua idade contada por anos. Uma criança que vive a sua infância em uma família de classe média é diferente daquela que vive no seio de uma família de classe trabalhadora. Dessa forma. políticos e legais Para citar Prout e James (apud HEYWOOD). o conceito de criança e infância precisa estar vinculado com o entendimento de que as crianças são sujeitos sociais e históricos. mas a forma como ela é compreendida e se lhe atribuem significados é um fato da cultura”.. (2004. com muita ou com pouca altura. de.) O que você pensa dessa afirmação? Você acredita que as crianças são diferentes conforme o contexto social em que estão inseridas? Comente nas linhas sua posição. existe outro fator que precisa ser considerado . ou por chuvas. 17 UNIDADE I . C. M. marcados pelas contradições das sociedades em que estão inseridas. – tenham sempre ganhado altura e peso ao longo de muitos anos até que ficam fortes e seu tamanho se estabiliza. o significado de ser um ser humano deste ou daquele tamanho. e a infância. São Paulo. por luas. Cortez Editora. M. p.quando sobrevivem. História social da criança no Brasil.) embora os seres humanos tenham sempre nascido frágeis.o gênero. pois os meninos não são criados da mesma forma que as meninas.Educação infantil: aspectos históricos. organizações internacionais governamentais e não governamentais. já entendi que a criança é um sujeito da história e da cultura. você poderá estar pensando: tudo bem. No entanto. sobrando-lhe pouco tempo para a imagem que normalmente a ela está associada: aquela do riso e da brincadeira. O discurso sobre a infância e a criança tem como expressões mais frequentes “a criança precisa”. mas não existe uma natureza infantil? Aquilo que faz com que todas as crianças tenham as mesmas características de comportamento? Podemos dizer que. Pelo que estamos expondo. nos discursos escritos e falas de adultos. enquanto categoria social. que a criança deveria “ter” ou “ser” é muito diferente daquele onde ela vive ou no mais das vezes sobrevive. o ensino. “atender a criança de acordo com o seu desenvolvimento”. embora como sujeito histórico e sociocultural haja diferentes conceitos do que seja criança e infância. o adestramento físico e moral. é importante reconhecer que existe uma enorme distância entre o mundo infantil presente no discurso de autoridades educacionais ou não. “vamos respeitar a criança”. necessário se faz entender a criança enquanto sujeito histórico e cultural. e aquele no qual a criança se encontra cotidianamente imersa. é pertinente considerarmos que há uma natureza infantil. as crianças são orientadas para o trabalho. É importante entendermos que essas imagens dependem das representações sociais que se tem da criança ou da infância. 18 UNIDADE I . Universidade Aberta do Brasil Para ampliar a compreensão da infância. dentre outras afirmações. Para tanto. “ela deve”. O relato do mundo. representam e agem sobre o espaço em que estão inseridas. Vale dizer que olhar as crianças em suas diferentes formas de expressão. professores. nesta fase da vida. costumes ou hábitos familiares. é específico da infância: a imaginação. que produzem cultura e são nela produzidas. pessoas detentoras de direitos. conhecer qual a compreensão que elas têm do mundo. As crianças brincam . classe social ou cultura em que a criança esteja inserida. a brincadeira entendida como experiência. viram as coisas pelo avesso e. Licenciatura em Pedagogia .isso é o que as caracteriza. Você já parou para pensar o quanto você é importante na formação de uma criança? O quanto sua forma de ver e agir sobre ela são fundamentais na sua vida? 19 UNIDADE I . Isso mostra que há uma singularidade. que precisa ser respeitada. Tal ato para a criança é um ato necessário. tanto na sua forma corporal como na de agir e pensar. elas estabelecem novas relações e combinações. Na brincadeira. se diferencia do adulto. revelam a possibilidade de criar. políticos e legais A criança como sujeito singular: A natureza infantil A criança.Educação infantil: aspectos históricos. Não podemos esquecer que elas são cidadãs. favorece a nós. Isso cabe a qualquer condição. Podemos afirmar que o brincar é inerente à natureza infantil e faz parte do universo imaginário da criança. bem como os modos pelos quais interpretam. a fantasia. assim. a criação. a criança identifica-se mais com o ato de brincar. Independente da classe social. Esse modo de ver as crianças possibilita entendê-las e também analisar o mundo a partir do seu ponto de vista. As culturas da infância são significações e formas de ação social específica que estruturam as relações delas ente si. sem ter nunca brincado? b) A criança é colecionadora. procura. Considerando que as crianças são interessadas em brincadeiras. essa singularidade. uma categoria da história e entender que se existe uma história humana é porque o homem tem infância. São eles: a) A criança cria cultura. atraídas por contos de fadas. pedrinhas. pela cultura em que estão inseridas. a ordem sem destruir a coleção? Um caminho pode ser este: considerar a infância. pré- escolas e escolas têm oferecido condições para elas brincarem? As propostas curriculares garantem o tempo e o espaço para criar? Esses questionamentos traduzem uma crítica à pedagogização da infância e levanta uma questão de fundo: é possível trabalhar com crianças sem saber brincar. Kramer (2006) propõe quatro eixos que orientam o nosso olhar para as singularidades da infância. chapinhas. a criança caça. trabalhando nas políticas públicas. Como no livro O colecionador de segredos. Vamos compreender um pouquinho mais a questão. mitos. nos projetos educacionais e nas práticas cotidianas garantimos espaço para esse tipo de interação e ação das crianças? Nossas creches. pedaços de lápis. produz história. perde e encontra. ao mesmo tempo. elas produzem cultura e são produzidas. papéis. Universidade Aberta do Brasil Esse jeito de a criança ser e pensar a torna um sujeito singular. fotografias. querendo aprender e criar. presentes. dá sentido ao mundo. faz com que as crianças estejam muito próximas das características do artista. bonecas e carrinhos. 20 UNIDADE I . momentos. no nosso trabalho com as crianças. Quantos de nós que trabalhamos com crianças estamos dispostos a arrumar as coleções infantis? Como garantir. amigos. lendas. brinca e nisso reside sua singularidade. brinquedos. do colecionador e do mágico do que de pedagogos bem intencionados. Segundo a autora citada anteriormente. Kramer pergunta: Quantos de nós. própria da infância. mais do que um estágio etário. junta figurinhas. separa os objetos de seus contextos. Apoiada em ideias de Walter Benjamin (1984). lembranças e segredos. subvertendo a aparente ordem natural das coisas. a criança responde: . O olhar crítico das crianças mostra que ela tem uma lógica própria. políticos e legais c) A criança subverte a ordem e estabelece uma relação crítica com a tradição. • No parque. mas também do mundo adulto. podemos compreender a sua lógica sobre determinada questão. Esse olhar desvela as contradições da realidade. Licenciatura em Pedagogia . as crianças falam não só do seu mundo e de sua ótica infantil. que trabalhamos com crianças. uma criança pergunta para sua professora: . está disposto a mergulhar neste mundo infantil sem se deixar infantilizar? Você já parou para refletir o que dizem as crianças nos mais diferentes momentos? Relate algumas falas que você tenha ouvido e que tenham sido significativas para você. Mais do que depressa. Conheça algumas falas das crianças: • “Minha mãe falou que não dá para tomar água muito gelada. Ao mesmo tempo.Educação infantil: aspectos históricos. ela desmonta seus carrinhos para ver o que há dentro.Ela foi trabalhar. Ele é muito bonzinho e quando eu desci do carro ele ‘sorrisou’ pra mim”. onde está a sua mãe? . Quem de nós. 21 UNIDADE I . Será que é porque o xixi fica gelado?” • “Quem me trouxe hoje “pra” escola não foi meu pai. as condições concretas em que as crianças estão inseridas e onde se dão suas práticas e suas interações.Quer dizer que ela também te deixa aqui quando vai trabalhar? Pelas perguntas desconcertantes das crianças. foi meu tio. monta e desmonta construções. Desvelando o real. precisamos considerar o contexto. A criança tem uma lógica própria para olhar o mundo. desmonta as nossas respostas certas quando nos fazem perguntas ou quando nos contam as coisas.Professora. bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.Eh. Nós vivemos em um país com uma grande diversidade cultural e uma desigualdade econômica que não pode ser ignorada. às coisas e às relações. culturais e econômicas das famílias de onde as crianças vêm. 22 UNIDADE I . a maioria delas de canavieiros. carvoero! Só então pode brincar E vão tocando os animais com um relho com as amiguinhas da favela enorme. Os carvões caem. as experiências interferem em suas ações e nos significados que atribuem às pessoas. os valores.) . os hábitos. Dançando. de uma etnia. nascem no interior de uma classe. As crianças são sujeitos sociais.. folga . do Parque da Aldeia Campos onde vivem 450 famílias. 1994. Os burros são magrinhos e velhos. No entanto. as práticas sociais.. (Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe. A madrugada ingênua parece feita para eles. ingênua miséria! Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como brincásseis! -Eh. p.49). A aniagem é toda remendada. Encarapitados nas alimárias. apesar do seu direito de brincar. de um grupo social. Cada um leva seis sacos de carvão de (AZEVEDO/HUZAK.Eh. lenha. vêm mordendo num pão encarvoado. pois reconhecer a singularidade da infância exige considerar as diferenças sociais. Os costumes. carvoero! Quando voltam. Universidade Aberta do Brasil d) A criança pertence a uma classe social. para muitas o trabalho é imposto como meio de sobrevivência. carvoero! Só mesmo estas crianças raquíticas Vão bem com estes burrinhos descadeirados. Pequenina. dobrando-se com um gemido. Apostando corrida. Veja os informes do quadro: Nome: Maria dos Anjos Meninos Carvoeiros Idade: 11 anos Manuel Bandeira Profissão: empregada doméstica Tempo de serviço: 4 anos “Os meninos carvoeiros Melhor dia da semana: domingo de Passam a caminho da cidade. SEÇÃO 2 PRECURSORES DA INFÂNCIA A berço da Educação Infantil Como já vimos anteriormente. 23 UNIDADE I . e qual seja a função a ser ocupada. políticos e legais Os dois textos nos indicam que as famílias pobres e marginalizadas tentam enfrentar as desigualdades sociais através do trabalho. Licenciatura em Pedagogia . possui especificidades que devem ser respeitadas e valorizadas. nem sempre este conceito de valorização da criança esteve presente entre os povos e culturas.Educação infantil: aspectos históricos. independentemente de quem esteja trabalhando. a criança é sujeito de direito e de singularidades. Relate as conclusões que você e seu grupo chegaram sobre os informes lidos. Porém. higiene. aumentaram os riscos de maus tratos às crianças. ocorreu uma transformação na estrutura familiar. mas. criou-se uma nova oferta de emprego para as mulheres. Porém.80). no final do século XVIII. Dessa forma. bons hábitos. Segundo Paschoal e Machado (2009. escolas maternais e jardins de infância com o objetivo assistencialista. o que gerava um quadro caótico. os pais não tinham com quem deixar os filhos acarretando inúmeras dificuldades. ao mesmo tempo. Um dos seus objetivos era criar obediência. as crianças foram obrigadas a abandonar parcialmente o trabalho nas fábricas. cujo enfoque era a guarda. Essa forma de atendimento estava aliada a pouca comida e higiene. p. Universidade Aberta do Brasil Na Europa. surgiram pessoas sem nenhuma qualificação. além da renda familiar ter diminuído. Isso forçava as mães a deixarem seus filhos com as chamadas “mães mercenárias”. vendiam seus serviços para abrigarem e cuidarem dos filhos de outras mulheres”. Em 1769. quase sempre mulher. A situação se agravou. 2003). bondade. foi criada por Oberlin na paróquia francesa de Ban-de-la-Roche. (RIZZO. pobre e despreparada. as instituições de educação para as crianças tinham também preocupações pedagógicas. uma instituição denominada de “escola de principiante” ou “escola de tricotar”. O sistema fabril trouxe muitas ofertas de emprego fazendo com que as mulheres e crianças abandonassem o trabalho doméstico para o trabalho na fábrica. Com a Revolução Industrial. Na Europa e nos Estados Unidos. sinceridade. ordem. identificar 24 UNIDADE I . alimentação e cuidados físicos das crianças. Neste contexto. com a substituição do trabalho manual pela energia motriz e a criação de novas leis trabalhistas. pois. não eram todas as crianças que podiam trabalhar. com a transição do feudalismo para o capitalismo. que acolhiam essas crianças enquanto seus pais trabalhavam nas fábricas. que eram reunidas em maior número aos cuidados de uma única pessoa. essas pessoas empregavam castigos corporais a fim de tornar as crianças mais sossegadas e passivas. ao optarem pelo não trabalho nas fábricas. Eram as creches. As primeiras instituições organizadas para o atendimento infantil tinham como intuito cuidar das crianças durante o período de trabalho de seus pais. apesar de inicialmente serem assistencialistas. em 1750. Para manter este atendimento. “essas. Em 1839. as atividades tratavam das características dos objetos. 16 horas (que era o comum nas fábricas) para 10 horas e meia. O manual elaborado por Montesino trazia parâmetros que deveriam orientar o trabalho dos professores e a organização das escolas. Este manual preconizava questões como a educação para as crianças de famílias pobres. Ele demonstrava preocupação com os trabalhadores e seus familiares. colocando que estas deveriam estar em lugares com bastante espaço e área verde para atividades ao ar livre. Para Owen. Licenciatura em Pedagogia . não permitia que crianças menores de 10 anos de idade trabalhassem e diminuiu a jornada de trabalho de 15. O material didático utilizado tinha um propósito educativo que possibilitava o desenvolvimento do raciocínio. de modo a distinguir as verdades gerais e as afirmações falsas. em New Lanark. escreveu sua obra Manual deI Maestro. sobre a influência de Owen. Fundou a primeira Escola Normal. diretrizes mínimas para seu exercício profissional. na Espanha. proporcionando. Robert Owen criou. Um ano depois. ao invés de receberem uma descrição dos objetos e suas características. políticos e legais palavras e letras do alfabeto. Ele entendia que estas famílias também podiam ter deficiências na educação das crianças e caberia à escola suprir estas necessidades. aos responsáveis pela educação das crianças pequenas. adquirir noções de moral e religião. Essa instituição atendia a crianças a partir dos dezoitos meses de idade. O autor se preocupou com questões sobre a estrutura física das escolas. as crianças aprenderiam com mais facilidade se. Owen era sócio e gerente de uma fábrica de New Lanark. em 1816. de uma atenção maior. de danças de grupo e de canto coral. No entanto. as quais considerava necessitavam. o autor não desconsiderava a educação de crianças de famílias abastadas. segundo ele. Pablo Montesino demonstrou grande interesse pela educação da primeira infância e pela formação de professores para essa faixa etária. do estudo da natureza. Na escola. uma instituição escolar também pensada em uma perspectiva pedagógica. como relata Iwaya. na Escócia. soletrar. 25 UNIDADE I . assim. fossem ensinadas a julgar e raciocinar corretamente. aprender a pronúncia correta das palavras. de exercícios físicos.Educação infantil: aspectos históricos. . Ou seja. causaria cansaço. Somente assim poderia se obter uma educação integral da criança. a vivência dos princípios cristãos é que teriam a força de conduzir. Por essas ideias ele foi um dos precursores da Escola Nova. os pobres poderiam visar a um futuro melhor e abandonar sua condição de miséria. O autor acreditava que a criança tinha que aprender na escola os meios de adquirir o conhecimento. a escola deveria estar distante de atividades que poderiam ‘estremecer a moralidade e a saúde. de modo frutificado. quartéis. Os exemplos. moral e religião. como tabernas. revolucionou a disciplina. a importância de a criança desenvolver destreza prática. Enquanto sociólogo. 26 UNIDADE I .] aponta dois critérios básicos para a escolha do local da construção escolar. [. na Suíça. hospitais. Deus e Natureza. Defendia a educação como direito de todos e. O seu manual traz conceitos e temas que deveriam ser abordados pelo professor. para isso. etc. mas não muito longe da população. Também destacou o valor educativo do trabalho manual. do contrário. pois. sem que este lhe fosse forçado. Para ele a educação deve abranger três tipos de ensino: o moral.] defende a construção das escolas em lugares retirados e tranquilos. Criou métodos pedagógicos diferentes dos encontrados na época. Seus métodos visavam à formação total do individuo. como higiene. Pestalozzi e Froebel. defende que não poderia passar de duas horas consecutivas. a educação não poderia dissociar da tríade entre Homem.. pois o professor deveria ser um mediador do ensino.. Montesino expõe também sobre o tempo de permanência da criança nas atividades escolares. a infância e a juventude ao fiel cumprimento de seus deveres individuais e coletivos. cemitérios. influenciaram o pensamento de Pablo Montesino. Universidade Aberta do Brasil Pablo Montesino [. bordéis. Ele acreditava que. (2000. os quais seriam de ordem higiênica e moral.’. p. Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em 1746. Ele acreditava que para a educação ser realmente significativa deveriam existir laços de afeto entre o educador e o educando. além de buscar- se um lugar seco. baseando-a na boa vontade recíproca e na cooperação entre aluno e professor.. saúde. Para Pestalozzi. Dois pedagogos. preocupava-se também com a universalização do ensino. o intelectual e o físico. casas de jogos. por meio da chamada Pedagogia do amor. 34). arejado e bem ensolarado. deveria ser pública e gratuita. por meio da educação. 22 e 23). sendo a infância a fase essencial da vida do homem e da humanidade. p.Educação infantil: aspectos históricos. entendia que algo na 27 UNIDADE I . para que estas soubessem trabalhar com as crianças.] era a de que os primeiros anos de vida podiam determinar os fracassos ou sucessos dos homens no futuro.. em 1840 por Froebel. Sartori coloca a visão de Froebel sobre a Educação Infantil: [. desenvolvendo seu potencial e sua essência. dando afeto. Froebel tinha como meta instruir mulheres. período em que a criança deve ser cuidada. O jardim de infância possuía um centro de jogos. na Alemanha. que era organizado de acordo com os ideais froebelianos e buscava uma educação que permitisse a integração da criança com a natureza e as coisas divinas. Dessa forma. tendo como habilidade fundamental a observação. A denominação foi escolhida pelo fato de que Froebel considerava que elas cuidavam das crianças como se cuida de um jardim. O Jardim de Infância para Froebel deveria ser um espaço não apenas de educar e cuidar das crianças. com o intuito de desenvolver o potencial infantil. contando com as potencialidades inatas avaliava que estas poderiam desenvolver- se se caso estivessem em condições ambientais favoráveis. políticos e legais A história da educação registra que o primeiro Jardim de Infância (Kindergarten) foi criado em Blankenburgo. a base do trabalho escolar. (VELOSO e SILVA. Licenciatura em Pedagogia . Esse educador foi fortemente influenciado por Pestalozzi. Ele acreditava que as mulheres tinham dons e habilidades necessárias para o cuidado e a educação das crianças pequenas.. para assim poder acompanhar e analisar a adequação das atividades propostas. para que possa se fortalecer. a formação da professora de Educação Infantil deve prepará-la para ser o alicerce. mas também de transformar a estrutura familiar para que os pais pudessem cuidar melhor de seus filhos. A criança froebeliana é um ser repleto de potencialidades. as chamadas “jardineiras”. Nesse sentido. 2010. Seguindo a teoria froebeliana. carinho e educação. Esse educador foi um grande incentivador da atividade lúdica por perceber o significado funcional dos jogos e do brinquedo. Para ele. pois focou em seus estudos o desenvolvimento da criança.46). visto que as crianças fazem representações do mundo enquanto brincam e assim podem compreendê- lo. enfatizou o valor educativo da atividade manual. postulando que este desenvolvimento deveria acontecer por meio de brincadeiras. o desenvolvimento infantil vinha de atividades espontâneas. mas à promoção do desenvolvimento”. (KISHIMOTO e PINAZZA. de gestos. (OLIVEIRA. tal como a semente que se transforma em árvore. Para Froebel. propôs que as atividades educativas incluíssem conversas e poesias e o cultivo da horta pelas crianças. 28 UNIDADE I . ainda hoje. Defendia o manuseio de objetos e a participação em atividades diversas de livre expressão por meio da música. também destacava de modo especial a utilização da tecelagem. Reconhecia a necessidade e a importância da ampliação da educação para crianças da primeiríssima infância. o professor deveria ministrar a instrução de acordo com o grau e poder crescente da criança.38-39). 2002). de construção com o papel. (2001. Universidade Aberta do Brasil educação da criança pequena excedia ao que lhe pode ser oferecido no interior da família. em discursos e documentos sobre Educação Infantil. Elaborou canções e jogos para educar as sensações e as emoções. semelhante a um jardineiro. inventando métodos para aperfeiçoar habilidades. confeccionou brinquedos. Froebel dizia que. A teoria educacional de Froebel pode ser sintetizada nos seguintes princípios: • O currículo e as atividades educativas devem respeitar o interesse e o desenvolvimento natural da criança em cada fase da sua vida. p. “a educação infantil não visa à aquisição de conhecimento. Suas ideias foram muito difundidas e estão presentes. que poderiam tornar a aprendizagem significativa. 2007. p. Foi um dos primeiros educadores a pensar a educação desta forma. dobraduras e colagem para o desenvolvimento sensório- motor. argila. Froebel pode ser considerado o pedagogo da infância. blocos ou a linguagem. desde o nascimento. Maria Montessori abriu a primeira escola denominada Casa dei Bambini. Nesse espaço poderiam ficar as crianças de três a sete anos de idade. A Casa dei Bambini possibilitou a Montessori fazer suas experiências. Montessori tinha grande interesse pelas doenças do sistema nervoso. Licenciatura em Pedagogia . Ela nasceu em 1870. os quais pudessem realizar todo um trabalho e observação das pessoas ditas “anormais”. tornando-se a primeira mulher médica de seu país. Estes deveriam apenas cumprir algumas exigências. o precursor dos jardins de infância. Dessa forma. auxiliar quando necessário dando informações sobre a criança e atender às solicitações das professoras.Educação infantil: aspectos históricos. frequentando aulas de psicologia experimental. dedicou a maior parte de sua vida a estudar e observar os fenômenos educacionais e o desenvolvimento infantil. A professora escolhida para atuar com as crianças. defendia que era preciso propiciar a estes doentes escolas com professores bem habilitados. Por esta razão Montessori voltou a estudar. onde se formou em Medicina. Ela considerava que o maior auxílio e tratamento aos doentes mentais poderia ser conquistado com a pedagogia e não com a área médica. como: levar as crianças no horário trajando roupas limpas. sem que fosse cobrado dos pais nenhum valor em dinheiro. Os que deixassem de cumprir algumas dessas orientações não poderiam mais deixar os filhos na escola. mas deve estar relacionado com as atividades do organismo. Froebel. Ainda que a estrutura física não fosse totalmente apropriada. Em 1907. • O saber não pode restringir-se em um fim em si mesmo. políticos e legais • As atividades espontâneas e lúdicas contribuem no desenvolvimento infantil. na Itália. • O ser humano é essencialmente dinâmico e não meramente receptivo. • O futuro desenvolvimento da raça depende exclusivamente da educação das mulheres. • A educação possibilita um futuro melhor. realizava seu trabalho de acordo com as orientações e teorias da pesquisadora. antropologia e pedagogia. 29 UNIDADE I . ela trabalhava e cuidava dos detalhes para tornar o ambiente agradável. Outra educadora presente na história da educação das crianças pequenas é Maria Montessori. Assim. sistematizações científicas das diferentes fases e períodos do desenvolvimento infantil.115). este contexto científico justifica a influência dos conhecimentos biológicos e psicológicos na formulação das bases técnicas de uma nova educação infantil que se apresentava. (2000. Entendia que a criança era um ser integral repleto de particularidades e não somente um pretendente a adulto. isto é. são proporcionais ao tamanho da criança e autocorretivos. sem interferir diretamente. Decroly formou-se em Medicina e tinha grande interesse no trabalho com pessoas deficientes. percebe que errou quando as peças não se encaixam adequadamente. ao lidar com o material. 30 UNIDADE I . ocorrendo. Assim como Maria Montessori. Ao contrário. são montados e desmontados podendo ser utilizados em várias fases do aprendizado. Portanto. a criança concentra-se na atividade e trabalha em silêncio espontaneamente. na Itália. nessa época. com isto. Outro educador reconhecido pelo trabalho desenvolvido com as crianças pequenas na Bélgica é Ovide Decroly (1871 -1932). o que fez com que esses estudiosos tivessem pensamentos semelhantes. ocorreu uma valorização em torno de observações de crianças com crescimento e desenvolvimento irregular ou anormal. Maria Montessori considerou os primeiros anos de vida do ser humano como prioridade. p. crianças quietas. (COSTA e LAMÓREA. sentadas. os quais são modificáveis. Assim o professor deveria aprender a observar. Montessori defendia a aprendizagem de conteúdos por meio de materiais concretos. como descreve Garanhani e Moro: Ambos nasceram da observação de crianças deficientes e foram sistematizados por educadores com formação em medicina. imóveis. Manipulando o material montessoriano. 1996. Universidade Aberta do Brasil A sala de aula montessoriana não é aquela tradicional: carteiras enfileiradas. para que se pudesse esclarecer o que se admitia por desenvolvimento regular. vigiando os alunos. a não ser que a criança solicitasse ajuda. 99). Assim. p. executando a tarefa proposta de maneira agradável. A criança. geralmente elas sentam-se em tapetes no local que acharem mais adequado. as crianças têm liberdade para se comunicarem e se movimentarem na sala. professora em posição de destaque na frente da classe. Licenciatura em Pedagogia . no ano de 1921. serão organizados exercícios. nos esforços necessários para sua perfeita adaptação ao meio. O professor terá em vista o interesse da criança. deve ser reservada a primeira hora da aula. gás ou eletricidade. e especialmente do homem. professora. de modo que colaborem para o êxito do mesmo e tomem parte na administração da escola. fontes de calor e luz artificiais. Entre elas destacam-se: • A escola para a cultura geral até 15 anos deve encontrar-se em um meio tal que a criança possa observar. água encanada. Decroly apresentou pela primeira vez algumas características do seu método. sobretudo sob a forma de jogos. • A preocupação máxima será conduzir a criança a compreender tudo quanto faça parte e a disciplinar-se por si mesma. por meio de uma junta. etc. • Para o ensino da linguagem oral e escrita. comparação e associação. nos quais a emulação e o êxito serão os principais estimulantes. O número restrito de alunos em cada classe permitirá que eles se levantem e troquem ideias entre si e com o professor. pelo menos 3 ou 4 vezes por semana. • O interesse pelo trabalho individual e coletivo é obtido com a colaboração constante dos alunos em todos os trabalhos que 31 UNIDADE I . bem como para o de cálculo. canto e jogos ginásticos. a propósito dos exercícios em estudo. os alunos farão conferências cujos temas escolherão e submeterão à aprovação do professor. será consagrada à prática de outros. os recursos que o meio ambiente possa oferecer e a necessidade de atribuir justo valor às principais atividades do trabalho mental. os fenômenos da natureza. desenho e trabalhos manuais. a confiança e a solidariedade. • Quando a primeira parte do dia não for destinada a tais exercícios. de acordo com um programa de ideias associadas. diariamente. Com esse fim. prateleiras para coleções). mas com o aspecto de pequenas oficinas ou laboratórios (com mesa. • As classes devem ser instaladas não sob o tipo de auditório. visando à observação. as manifestações da vida de todos os seres em geral. • Os pais serão postos ao corrente do método empregado. políticos e legais Em Calais.Educação infantil: aspectos históricos. • A fim de desenvolver a iniciativa. da disciplina interna e da confiança em si mesmo. (MATOS e RODRIGUES et al. Na primeira metade do século XX. nessas relações. cabe à educação a tarefa de favorecer o desenvolvimento do potencial criativo. na excursão. nas viagens. 2004. p. organização dos encargos e responsabilidades relativas à pequena comunidade constituída pelas diferentes classes. Um deles foi 32 UNIDADE I . Inicialmente. na cozinha. Para ele. livros. na oficina. do desenho. Assim. Através deles. 5). se interessou pelas crianças excepcionais. confecção de quadros e aparelhos diversos. deve prevalecer o respeito e a confiança mútua. Decroly afirmava que a escola precisa garantir relações interpessoais entre professores e alunos e que. sempre conduzidos pelo seu interesse e mediados pelo professor. da modelagem.. figuras. a criança pode se sentir peça fundamental no processo de seu próprio desenvolvimento. Neste sentido. Universidade Aberta do Brasil constituem a atividade escolar: coleções. no campo. trabalhos espontâneos e permitidos. Dizia que a sala de aula está em toda parte. a educação não se constitui na preparação para a vida adulta. da independência. percebendo a criança como ser ativo. conservação de aquários e viveiros. através do contato direto com objetos materiais e com o próprio mundo. Decroly faz parte dos educadores que transformaram a visão que se tinha da educação. textos. colocando as brincadeiras e o lúdico como imprescindíveis na educação da primeira infância. caixas e envelopes para a classificação do material colecionado. repleto de interesses e individualidades. Sua proposta pedagógica era de organizar a escola em centros de interesse. quebrados ou estragados. destacam-se novos educadores que renovaram as práticas pedagógicas de seu tempo. as crianças vão relacionando os antigos conhecimentos com os novos. da dramatização. da iniciativa. expressando-os através da linguagem. O educador deve estimular na criança o desenvolvimento de seus sentidos. no parque. no jardim. Ele observou que a criança inicia o processo de alfabetização por frases inteiras e não por letras isoladas. conserto de objetos usuais. Decroly foi um dos responsáveis pela sistematização de atividades para crianças pequenas com o uso de materiais especialmente confeccionados. Segundo Aranha (1996). A pedagogia Freinet revolucionou a dinâmica da sala de aula onde a responsabilidade. a correspondência interescolar. Freinet criou técnicas que deveriam fazer parte do trabalho docente. a autoavaliação. mas como verdadeira aparelhagem de uma nova escola e de uma nova cidadania. destacamos o livro da vida. a afetividade. dinâmica. por alguns instantes. Freinet percebia que as crianças ao brincarem no recreio demonstravam muita alegria e criatividade. a cooperação. Licenciatura em Pedagogia . a educação pelo e para o trabalho. o que tornaria as aulas mais lúdicas e prazerosas. a atenção e o interesse das crianças. A introdução na educação das técnicas Freinet para o trabalho docente promoveu inovações que estão presentes hoje em muitas escolas que adotaram essa proposta pedagógica.Educação infantil: aspectos históricos. a importância do ambiente escolar e social e a necessidade de criar material para potencializar essas ideias na prática educativa. a livre expressão eram fatores fundamentais. enquanto em sala de aula apenas realizavam atividades repetitivas. a aula das descobertas. Elas não devem ser utilizadas como instrumento que só serve para prender. Entre estas técnicas. o fichário de consulta. Para ele. Afirmava que a escola deveria ser ativa. Ele tinha um ideal de educação popular em que o aluno sentisse prazer em estudar. Para modificar essa situação. 33 UNIDADE I . de educação e de sociedade. o plano de trabalho. Esse contexto histórico possibilita compreender e contextualizar a Educação Infantil no Brasil. em tomada de decisões que muito contribuiriam para seu desenvolvimento. As chaves das técnicas Freinet são reveladas em sua pedagogia: o método natural e o tateamento experimental. aberta para o encontro com a vida. As técnicas Freinet têm como pano de fundo um novo tipo de escola. a imprensa escolar. a aprendizagem deveria extrapolar os limites da sala de aula e favorecer ao máximo a autoexpressão da criança e sua participação em atividades cooperativas. o texto livre. sem ânimo. políticos e legais Celestin Freinet que inovou com métodos e ideias para a educação. Dessa forma. Essa origem determinou a associação creche. para os filhos de operárias de baixa renda. ou para cuidar da criança enquanto a mãe estava trabalhando fora de casa. ensinar hábitos de higiene e alimentar a criança. a creche se diferencia do jardim de infância. a creche tinha que ser de tempo integral. Para os filhos das mulheres trabalhadoras. as instituições (creches) vão surgindo no Brasil tendo um caráter assistencialista. 13). Neste mesmo ano. tinha que ser gratuita ou cobrar muito pouco. foi criado no Brasil o primeiro jardim de infância. para atender às crianças das operárias que trabalhavam na fábrica. pois era voltada às crianças pobres. (2001. Paschoal e Machado (2009 apud DIDONET) enfatizam que: Enquanto as famílias mais abastadas pagavam uma babá. Universidade Aberta do Brasil SEÇÃO 3 ATRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL Em 1875. Mas já nesse período havia quem defendesse estas instituições que deveriam se estender e dar assistência às crianças com pouca condição econômica. 34 UNIDADE I . as pobres se viam na contingência de deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa instituição que deles cuidasse. e. na cidade do Rio de Janeiro. Apesar de muitos discursos. A instituição era destinada a atender à alta aristocracia da época. no Colégio Menezes Vieira. na cidade de São Paulo. foi fundado o Instituto de Proteção e Assistência à Infância (IPAI). o primeiro jardim de infância público só surgiu em 1896. na cidade do Rio de Janeiro. em 1899. A educação permanecia assunto de família. Desde sua origem. p. com o propósito de cuidar das crianças enquanto os pais trabalhavam. tinha que zelar pela saúde. criança pobre e o caráter assistencial da creche. foi inaugurada uma creche vinculada à fábrica de tecidos Corcovado. por Menezes Vieira. p. (SANTOS. visto que aquelas tinham como objetivo alimentar. com o intuito de uma melhoria na produção. Licenciatura em Pedagogia . as instituições públicas destinadas às classes populares não possuíam a mesma finalidade das privadas. cuidar da segurança física e higiene das crianças. 537). mas que exigiam o direito de manter seus filhos em uma delas. Essas instituições de ensino passaram a ser reivindicadas também pelas mães que não trabalhavam nas fábricas. Assim. buscando o desenvolvimento e a educação das mesmas. tendo como principal objetivo evitar o abandono das mesmas por seus responsáveis. houve um fortalecimento dos movimentos operários. alguns donos de fábricas cederam benefícios aos trabalhadores. Os trabalhadores passaram a reivindicar mais os seus direitos trabalhistas. foi aumentado consideravelmente o número de creches no país. mantidas por entidades filantrópicas que buscavam dar a assistência necessária à classe trabalhadora. foi instituída no Brasil a primeira creche para atender à população.Educação infantil: aspectos históricos. preparando-as para o ensino regular. estando ligado à 35 UNIDADE I . Em 1908. e estas. Uma diferenciação pertinente que vale ser ressaltada se refere aos termos creche e jardim de infância. Assim. Poderiam frequentá-la crianças com até oito anos de idade. dentre eles a implantação de creches e jardins de infância para os filhos dos empregados. Com a vinda dos europeus para o Brasil. a fim de receber os filhos dos operários que não tinham condições de pagar por uma instituição privada. políticos e legais Uma das preocupações no final do século XIX no Brasil era combater os altos índices de mortalidade infantil. Desta forma. traziam uma concepção pedagógica. Para conter as forças operárias. como a educação e o cuidado aos seus filhos durante a jornada de trabalho. No século XX. A creche visava assistir a criança que ficava privada dos cuidados maternos devido ao trabalho da mãe. O jardim de infância pretendia exercer o papel de moralizador da cultura. o número de instituições criadas pelo poder público brasileiro aumentou. transmitindo às crianças os mesmos padrões adotados na França e na Bélgica. por sua vez. com a Primeira Guerra Mundial. o Brasil passou a ter um crescimento significativo na área industrial. ocorreu o 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância.320 jardins de infância espalhados pelo Brasil. Mais tarde. o crescimento das indústrias teve sua continuidade durante a Segunda Guerra Mundial. Aos poucos. essa especialização etária irá se incorporar aos nomes das turmas em instituições com crianças de 0 a 6 anos (berçário. já que o Brasil exportava seus produtos suprindo o vazio de alguns países. Com a crise de 1929. No século XX tivemos investimentos significativos na área educacional. ela começa a dar passos maiores. Surgem os colégios de aplicação e a formação dos professores acabou passando por diversas reformulações. jardim. A diferença estava relacionada ao tipo de público a que se destinava o atendimento.535 públicos e 1. o país sofreu diversas oscilações em sua economia. pré). Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). ( SANTOS. já tínhamos cerca de 3. segundo dados obtidos da época. Apesar disso. (KHULMANN. enquanto o jardim de infância atenderia à faixa etária de 5 a 6 anos. na época. Foi feito um registro da existência de 30 instituições públicas entre creches e jardins de infância no Brasil. quando ocorreu o declínio do café e o bloqueio às importações. ampliou-se o número de universidades e de escolas públicas. sendo 1. p. Em 1924.785 particulares”. por meio da Sinopse Estatística do Censo Escolar. As instituições voltadas para as crianças “pobres” (classes populares) eram denominadas escola maternal. Neste evento foi discutida com maior ênfase a questão da Educação Infantil. realizou-se uma nova estatística que registrou um total de 47 creches e 42 jardins de infância. Quase um século após a implantação da Educação Infantil no país. e as destinadas às crianças de famílias mais abastadas eram chamadas de jardim de infância. A escola maternal (creche) vai sendo definida como a instituição que atenderia à faixa etária dos 2 aos 4 anos. Em 1921. 539): “Em 1965. maternal. como relata Santos (2010. Universidade Aberta do Brasil indústria cafeeira. Como já foi dito anteriormente. 2000). 2010). a nomenclatura creche e jardim de infância exprimiam uma distinção social. 36 UNIDADE I . a nomenclatura vai se alterando para diferenciar o tipo de atendimento. tem evoluído e vem se configurando um mapa de direitos cada vez mais preciso e comprometedor. Sempre viveram em um mundo que não era o seu. Notamos que o quadro que tínhamos. buscando assim uma maior facilidade para o acesso e permanência da criança neste segmento educacional. Ainda que a expansão das instituições de Educação Infantil no Brasil. de frequentar a escola em condições que lhe permitam alcançar o pleno desenvolvimento pessoal. as quais continuarão acontecendo. Hoje a Educação Infantil é reconhecida legalmente como um direito de todos. A partir da promulgação da Constituição de 1988 houve avanços significativos no direito das crianças pequenas à educação. Mas. na sociedade contemporânea. de acordo com a mesma fonte.000 creches. bem como o aumento do número de estudos e pesquisas nesta área. Licenciatura em Pedagogia . No ano de 2009. o país teve um aumento para 41. A Educação Infantil no Brasil: Aspectos p históricos e legais g como direito da criança Ao longo da História. Para essa conquista. tenha sido muito significativa. visto que as pesquisas e estudos neste campo têm aumentado. porém. as crianças tiveram que “integrar-se ao mundo do adulto”. a partir da década de 1950. houve uma grande trajetória de mudanças na legislação brasileira.506 creches e 104. Por ocasião da elaboração da Constituição houve no Brasil. em função das relações 37 UNIDADE I . anteriormente. vem se modificando lentamente.000 pré-escolas e 30. que não estava feito na sua medida. o tratamento que se tem dado à infância.Educação infantil: aspectos históricos. políticos e legais o Brasil possuía aproximadamente 100.escolas. em 2004. O principal deles é o direito da criança de viver a sua infância e se constituir no sujeito adulto que teve a oportunidade de ser educado. de uma educação assistencialista que visava ao cuidado da criança e deixava o educar em segundo plano.224 pré. é necessário prestar atenção no que se refere à qualidade da Educação Infantil. o direito à Educação Infantil não era reconhecido legalmente e as necessidades das crianças. deixando o caráter educacional das instituições em segundo plano. Em 1990. Está explícito no artigo 205. Universidade Aberta do Brasil democráticas estabelecidas na sociedade. as constituições estaduais das diferentes unidades da Federação e. as atividades educativas deveriam. fazer parte do trabalho nas creches e pré- escolas e estas instituições estariam sob a responsabilidade das Secretarias Municipais de Educação. seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (LEITE. sempre foram desconsideradas. as Leis Orgânicas dos municípios. Esse marco legal foi decisivo na afirmação dos direitos da criança no Brasil. principalmente no que se refere à educação. 38 UNIDADE I . que veio fortalecer o que está posto na Constituição. será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. que “a educação. passados dois anos da promulgação da Constituição. Até então. visando ao pleno desenvolvimento da pessoa. Porém.069/90 que trata do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). o que por vezes trazia uma concepção de que as instituições de Educação Infantil estariam apenas incumbidas de cuidar da criança. prioritariamente. direito de todos e dever do Estado e da família. um clima de movimentação da sociedade civil organizada (movimentos sociais) que pressionou os constituintes a contemplar no texto constitucional os direitos sociais e coletivos fundamentais para o exercício da cidadania. foi aprovada a Lei 8. O ECA reconhece a criança como sujeito singular.” A Constituição estabelece no artigo 208. da Constituição Federal. 2005). aparece pela primeira vez na Constituição Brasileira. inciso IV: “O dever do Estado para com a educação será efetivado mediante a garantia de oferta de creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade”. Desta forma. As creches eram de responsabilidade da área de assistência social. o Estado considerando a criança como sujeito possuidor de direitos e assumindo o dever de garantir pré-escolas e creches gratuitamente. Entre esses direitos estava a garantia do direito à educação básica. nos anos subsequentes. posteriormente. após a Constituição em 1988. Em seu esteio foram elaboradas. com necessidades e direitos diferenciados. que precisam ser respeitados e assegurados. o projeto político pedagógico das instituições de Educação Infantil tem que garantir o desenvolvimento integral da criança e prever ações para desenvolver relações entre a família. Quando a LDB trata da Educação Infantil não está preconizando a antecipação da vida escolar da criança. Com a sua promulgação. políticos e legais O Estatuto foi fundamental para firmar legalmente os direitos sociais desses sujeitos singulares que precisam ser reconhecidos como atores do próprio desenvolvimento. Estas assumem as responsabilidades referentes aos cuidados e educação das crianças matriculadas nas instituições de Educação Infantil e passam a desenvolver projetos pedagógicos voltados para a formação integral da criança. Outro marco legal que orienta a Educação Infantil é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). a Educação Infantil passou a ser considerada como um direito da criança. e passou a ser responsabilidade das secretarias de educação dos municípios. Assim. qual 39 UNIDADE I . não dissociando de forma alguma o cuidar e o educar. ela deixou de ser responsabilidade das secretarias de assistência social. Licenciatura em Pedagogia . Isso significa dizer que as crianças pequenas não podem ser encaradas como objetos de ação. Para atender a esse dispositivo legal. Com a aprovação dessa lei. enquanto cidadã. Está explicitando que as instituições de Educação Infantil têm o papel de atender ao direito da criança. em seus aspectos educativos e de cuidados cotidianos. Portanto. a comunidade e a escola. a Educação Infantil foi instituída como parte integrante da Educação Básica. mas como sujeitos de direitos à participação. de 20 de dezembro de 1996.Educação infantil: aspectos históricos. a LDB 9394/96 é a grande responsável por muitas das mudanças que ocorreram no campo educacional. A interação e relação entre a família e a escola deve ser considerada como um dos principais eixos do projeto pedagógico não só porque com essa interação os pais podem compreender quais os princípios e diretrizes que orientam a ação da instituição. sobretudo. como também a criança se relaciona com outros adultos e com outras crianças. psicológico. que serviram de base para a criação de normas a serem empregadas na educação infantil 40 UNIDADE I . novos conhecimentos. porque essa interação permite a troca de conhecimentos entre pais e escola . juízos e expectativas que são atendidas ou frustradas e inicia a incorporação de valores éticos. visto que a creche e a pré-escola devem complementar a educação familiar. há a exigência de novas bases teóricas. No artigo 29 da LDB 9394/96 está explícito que a Educação Infantil. A família é o primeiro espaço de convivência da criança com o mundo adulto. Temos que considerar que para construir uma política educacional voltada à Educação Infantil não basta apenas uma nova lei. novos relacionamentos. representações. expondo suas opiniões e conhecendo o trabalho desenvolvido na instituição. primeira etapa da Educação Básica. complementando a ação da família e da comunidade.ação fundamental para a constituição de laços de confiança entre eles. abre uma brecha ao permitir que aqueles que forem habilitados em Escolas Normais Superiores ou ainda em Institutos Superiores de Educação possam atuar na Educação Básica. preferencialmente. É neste espaço que ela vivencia experiências carregadas de significados afetivos. jurídicas que venham a requerer das instituições escolares. voltadas para a criança pequena. Mas. Porém. deve contribuir e propiciar o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico. o Ministério da Educação e da Cultura (MEC) publicou alguns documentos intitulados Subsídios para o credenciamento e o funcionamento das instituições de educação infantil. intelectual e social. dos espaços disponíveis. novos rumos para direcionar o olhar às crianças brasileiras que estão nesta faixa etária. Tais atitudes colaboram com a ação educativa e trazem acréscimos à vida da criança. sobretudo. como é a qualidade da merenda escolar. Em 1998. os formados em nível superior com licenciatura plena. dos materiais pedagógicos. novos valores. há necessidade de se estabelecer vínculos profícuos entre a família e a comunidade. É um ponto de referência fundamental para a criança pequena. Universidade Aberta do Brasil seu projeto pedagógico. Mas. Para que esse objetivo seja cumprido. Os pais contribuem muito quando participam do cotidiano escolar da criança. filosóficas. A Lei define como profissionais qualificados para atuar na Educação Infantil. é promulgada a Lei nº. na elaboração de projetos educativos singulares e diversos. O terceiro. indica critérios relativos à organização e ao funcionamento interno das creches. de gênero. Na apresentação do RCNEI. enfatiza os processos de construção da identidade e autonomia das crianças. que dizem respeito principalmente às práticas concretas adotadas no trabalho direto com as crianças.172. desenvolvimento e avaliação de práticas educativas que considerem a pluralidade e diversidade étnica. O Referencial é composto por três partes: o primeiro volume. 1998). 10. definindo objetivos e metas para a Educação Infantil. O segundo. esse texto. Licenciatura em Pedagogia . religiosa.Educação infantil: aspectos históricos. 41 UNIDADE I . direta e incisiva. Estes documentos apresentam princípios orientadores para o trabalho em creches e pré-escolas. Estes volumes pretendem contribuir para o planejamento. documento introdutório. tendo por foco a criança e seus direitos fundamentais. Em janeiro de 2001.. enfoca em seus textos os eixos e temas que podem ser trabalhados na Educação Infantil. (BRASIL. políticos e legais e para a formulação do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). a infância e a profissionalização dos educadores.] é um guia de orientação que deverá servir de base para discussões entre profissionais de um mesmo sistema de ensino ou no interior da instituição.. favorecendo a construção de propostas educativas que respondam às demandas das crianças e seus familiares nas diferentes regiões do país. intitulado Conhecimento de Mundo. de forma simples. tendo seus direitos como eixo. traz reflexões sobre as creches e pré-escolas brasileiras. que aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE). que trata da Formação Pessoal e Social Identidade e Autonomia. consta uma definição e os objetivos do documento: [. social e cultural das crianças brasileiras. Longe de ser uma “proposta curricular”. e estas crianças devem receber no espaço escolar não somente os cuidados necessários. As instituições devem proporcionar a educação a esta criança. O grande número de instituições de Educação Infantil que atende às crianças em tempo integral exige do profissional professor um trabalho que. O Plano Nacional de Educação foi um marco muito importante visto que foi o primeiro a tratar do Ensino Fundamental de nove anos. enquanto para as crianças de quatro e cinco anos de idade será realizado o atendimento nas pré-escolas. em creche e pré-escola. Universidade Aberta do Brasil Vale ressaltar que a Emenda Constitucional nº. pois até então não havia preocupação em preparar os professores para esse fim. é preciso atenção para que esta formação seja de qualidade. p. levando em consideração o fato de a Educação Infantil ter muitas particularidades e exigir um trabalho diferenciado. mas também a aprendizagem e o desenvolvimento de suas habilidades físicas. o atendimento a crianças de zero a três anos de idade será oferecido em creches ou entidades equivalentes. precisa ser repleto de cuidados com as crianças. além de educativo. intelectuais e culturais. Porém. psicológicas. como visto anteriormente. 2001. Ainda que a escolarização para crianças destas faixas etárias não seja obrigatória. ainda que o acesso à formação “ideal” seja atualmente facilitado. não sendo apenas de caráter assistencialista. desta forma: “Ampliar para nove anos a duração do ensino fundamental obrigatório com início aos seis anos de idade. é dever do Poder Público e direito da criança e da família o acesso gratuito a estas instituições. às crianças até 5 (cinco) anos de idade”. colocando “Educação Infantil. Pela Lei é direito dos pais ou responsáveis de crianças de zero até cinco anos de idade contarem com uma instituição educacional. Esta relação entre cuidar e educar se tornou muito mais presente no trabalho educacional após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases. onde haja vaga para deixar a criança se os pais assim optarem. 53 de 2006 dá nova forma para a organização da Educação Infantil. à medida que for sendo universalizado o atendimento na faixa de 7 a 14 anos” (BRASIL.24) 42 UNIDADE I . De acordo com a Emenda Constitucional 53. ....... A estrutura da Educação Básica depois das mudanças na LDB nº.. O ensino fundamental obrigatório. foi estabelecido o ensino fundamental de nove anos............. a ilustração a seguir. 87 ........... incluindo as crianças de seis anos de idade... 3o desta Lei e a abrangência da pré-escola de que trata o art........... com duração de 9 (nove) anos.......274.......Educação infantil: aspectos históricos. I – matricular todos os educandos a partir dos 6 (seis) anos de idade no ensino fundamental Art... ............. políticos e legais Somente em 2006... iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade. gratuito na escola pública................ mediante: (... os Estados e o Distrito Federal terão prazo até 2010 para implementar a obrigatoriedade para o ensino fundamental disposto no art.... 43 UNIDADE I ........ § 3o ........ 32.... Licenciatura em Pedagogia ... SAVELI (2010) aponta os artigos que enfatizam a mudança: Art... 2o desta Lei.....) Art......... § 2o O poder público deverá recensear os educandos no ensino fundamental..... 9394/96 fica conforme. terá por objetivo a formação básica do cidadão.... ..... com a criação da Lei Federal nº........... 5o Os Municípios......... com especial atenção para o grupo de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos de idade e de 15 (quinze) a 16 (dezesseis) anos de idade.......... 11.... Brasília: MEC/SEF. Observação: Os três primeiros documentos acima podem ser acessados no seguinte endereço eletrônico: 44 UNIDADE I . líderes da comunidade e crianças que estavam frequentando as creches e pré-escolas em todo o país. . mães e pais não usuários. das pré- escolas e dos centros de educação infantil. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Ele é fruto de um amplo debate nacional. do qual participaram professores e diversos especialistas que contribuíram com conhecimentos provenientes tanto da vasta e longa experiência prática de alguns. como da reflexão acadêmica. Mieib. O objetivo da publicação é contribuir para uma reflexão sobre esse tema no âmbito das creches.Publicação com o objetivo de servir como um guia de reflexão para os profissionais que atuam diretamente com crianças até 6 anos. . Brasília: MEC/SEB. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. 2006. Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos à Educação. BRASIL. além da construção de propostas educativas que respondam às demandas das crianças e de seus familiares nas diferentes regiões do país. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. MEC/SEB. . Brasília. diversidades e desigualdades do contexto socioeconômico e cultural brasileiro. Alguns documentos que podem contribuir para sua reflexão e aprofundamento de conhecimentos.Tem por finalidade contribuir para um processo democrático de implementação das políticas públicas para as crianças até seis anos. São Paulo: Cortez. mães e pais usuários. Save the Children. 1998. 2006. respeitando estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira. Consulta sobre Qualidade da Educação Infantil: o que pensam e querem os sujeitos deste direito.Buscou averiguar as percepções sobre educação infantil de professoras/es. - Contém referências de qualidade para a Educação Infantil a serem utilizadas pelos sistemas educacionais. BRASIL. o desenvolvimento e a avaliação de práticas educativas. Campanha Nacional pelo Direito à Educação. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Universidade Aberta do Brasil Foi devido às mudanças na organização do Ensino Fundamental que a Educação Infantil sofreu modificações. 2006. O Referencial é composto por três volumes que pretendem contribuir para o planejamento. dos bairros onde estão inseridos e dos grupos que atuam por uma melhor educação para a criança pequena. científica ou administrativa de outros. que promovem a igualdade de oportunidades educacionais e levam em conta diferenças. passando a destinar-se à faixa etária de zero a cinco anos de idade e não mais de zero a seis anos como constava na LDB 9394/96. É uma publicação que traz especificações relativas à organização e ao funcionamento interno das creches. Brasília: MEC/SEB. MEC. desafios. A Lei nº 11. 2009. . descobertas. bem como no que tange à execução de obras. BRASIL.Material que apresenta estudos e parâmetros nacionais relacionados à qualidade dos ambientes das instituições de Educação Infantil. para que se tornem promotores de aventuras. por meio de um processo participativo e aberto a toda a comunidade. dispõe sobre o apoio técnico e financeiro da União aos sistemas públicos de ensino dos Estados.gov. do Distrito Federal e dos municípios para a ampliação do atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência. Critérios para um Atendimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamentais das Crianças . 2006. . BRASIL. SEB.br>.org. políticos e legais <http://portal. transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.br/index. clicando em Biblioteca. matriculados na rede pública de ensino regular. de transporte coletivo.00 (novecentos e cinquenta reais).mec.mec. destinado a professores da educação infantil. quando tenham destinação pública ou coletiva. tendo em vista um atendimento de qualidade. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Material pedagógico específico do curso pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico: < h t t p : / / p o r t a l . p h p ? o p t i o n = c o m _ content&view=article&id=12600:publicaco es-doproinfantil&catid=195:seb-educacao-basica>.Esta publicação caracteriza-se como um instrumento de autoavaliação da qualidade das instituições de educação infantil. Disponível em: <http://portal. A Consulta sobre Qualidade da Educação Infantil: o que pensam e querem os sujeitos deste direito pode ser localizada no site do MIEIB: <http://www.php?option=com_ content&view=article&id=12579:educacaoinfantil&catid=195:s eb-educacao-basica>. O Decreto Presidencial nº. O Decreto-Lei nº 5.738/2008 instituiu o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. a distância.571. MEC. 6. SEB. fala de práticas concretas a serem adotadas no trabalho com as crianças.br/index. . referente a 40 horas semanais. m e c . Brasília: MEC/ SEB/DCOCEB/COEDI. de 17 de setembro de 2008. O valor do piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica com formação em nível médio na modalidade Normal foi fixado pela lei em R$ 950. de comunicação e informação.Educação infantil: aspectos históricos.gov. g o v. 45 UNIDADE I .296 de 2 de dezembro de 2004. Licenciatura em Pedagogia . b r / i n d e x . facilitando as interações. Indicadores da Qualidade na Educação Infantil / Ministério da Educação/Secretaria da Educação Básica – Brasília: MEC/SEB. 2009.2ª edição. aprendizagem. na modalidade Normal. regulamenta o atendimento às necessidades específicas de pessoas com deficiência no que concerne a projetos de natureza arquitetônica e urbanística.mieib. Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil. O Proinfantil é um curso em nível médio.php?option=com_content&view=article&i d=12579:educacaoinfantil&catid=195:seb-educacao-basica>. também conhecido como Lei de Acessibilidade. mais do que um estágio de desenvolvimento. e a infância. • O brincar é inerente à natureza infantil e faz parte do universo imaginário da criança. marcados pelas contradições das sociedades em que estão inseridas. • É específico da infância: a imaginação. a criação. a fantasia. é uma categoria histórica e social. • O conceito de criança e infância precisa estar vinculado com o entendimento de que as crianças são sujeitos sociais e históricos. a brincadeira entendida como experiência. 46 UNIDADE I . portanto “criança” e “infância” têm conceitos distintos em diferentes sociedades e classes sociais diferentes. Universidade Aberta do Brasil Reflita sobre todas as questões apontadas nesta unidade e apresente nas linhas abaixo as suas principais considerações sobre o estudo. • O significado do que é a infância e como ela é representada está diretamente relacionado com fatores sociais e históricos e as funções decorrentes das transformações sociais. • A infância é uma construção social. foi instituída no Brasil a primeira creche para atender à população. que acolhiam essas crianças enquanto seus pais trabalhavam nas fábricas. é necessário prestar atenção no que se refere à qualidade da Educação Infantil. as atividades educativas deveriam. bem como o aumento do número de estudos e pesquisas nesta área. traziam uma concepção pedagógica. Licenciatura em Pedagogia . foi aumentado consideravelmente o número de creches no país. • Após a Constituição em 1988. • Uma das preocupações no final do século XIX no Brasil era combater os altos índices de mortalidade infantil. no Colégio Menezes Vieira. primeira etapa da Educação Básica. e estas. por sua vez. deve contribuir e propiciar o desenvolvimento 47 UNIDADE I . prioritariamente. as instituições de educação para as crianças tinham também preocupações pedagógicas. • Quase um século após a implantação da Educação Infantil no país. a partir da década de 1950.Educação infantil: aspectos históricos. ela começa a dar passos maiores. fazer parte do trabalho nas creches e pré-escolas e estas instituições estariam sob a responsabilidade das Secretarias Municipais de Educação. • As primeiras instituições organizadas para o atendimento infantil tinham como intuito cuidar das crianças durante o período de trabalho de seus pais. na cidade do Rio de Janeiro. • Em 1875. políticos e legais • A criança é sujeito de direito e de singularidades. tenha sido muito significativa. visto que aquelas tinham como objetivo alimentar. • Os pais não tinham com quem deixar os filhos acarretando inúmeras dificuldades. • As instituições públicas destinadas às classes populares não possuíam a mesma finalidade das privadas. cuidar da segurança física e higiene das crianças. Assim. a comunidade e a escola. possui especificidades que devem ser respeitadas e valorizadas. a fim de receber os filhos dos operários que não tinham condições de pagar por uma instituição privada. • Na Europa e nos Estados Unidos. • O projeto político pedagógico das instituições de Educação Infantil tem que garantir o desenvolvimento integral da criança e prever ações para desenvolver relações entre a família. apesar de inicialmente serem assistencialistas. Neste contexto. • Em 1908. • A partir da promulgação da Constituição de 1988 houve avanços significativos no direito das crianças pequenas à educação. • A interação e relação entre a família e a escola deve ser considerada como um dos principais eixos do projeto pedagógico. • No artigo 29 da LDB 9394/96 está explícito que a Educação Infantil. foi criado no Brasil o primeiro jardim de infância. preparando-as para o ensino regular. • Ainda que a expansão das instituições de Educação Infantil no Brasil. surgiram pessoas sem nenhuma qualificação. buscando o desenvolvimento e a educação das mesmas. abre uma brecha ao permitir que aqueles que forem habilitados em Escolas Normais Superiores ou ainda em Institutos Superiores de Educação possam atuar na Educação Básica. além de educativo. • O grande número de instituições de Educação Infantil que atende às crianças em tempo integral exige do profissional professor um trabalho que. 48 UNIDADE I . • De acordo com a Emenda Constitucional 53. Universidade Aberta do Brasil integral da criança em seus aspectos físico. os formados em nível superior com licenciatura plena. Esta relação entre cuidar e educar se tornou muito mais presente no trabalho educacional após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases. complementando a ação da família e da comunidade. • A Lei define como profissionais qualificados para atuar na Educação Infantil. psicológico. preferencialmente. precisa ser repleto de cuidados com as crianças. pois até então não havia preocupação em preparar os professores para esse fim. intelectual e social. o atendimento a crianças de zero a três anos de idade será oferecido em creches ou entidades equivalentes. Porém. enquanto para as crianças de quatro e cinco anos de idade será realizado o atendimento nas pré-escolas. . Acesso em: 05 set.ufpr.90-112. Amanda Mendes. Pdf>. Disponível em: <http:// emaberto. Isis Flora.SUAHISTORIA. Universidade Aberta do Brasil REFERÊNCIAS ARANHA.dtp.pdf>.br/rtpe/volumes/ v11n2/005-artigo-amanda_gescielly-168-172.pdf>. cooperação e aprendizagem. KISHIMOTO. 2005.pdf>. Eliane. Como se deu o percurso da educação Infantil no Brasil ao longo dos séculos XIX e XX. MORO. SANTOS. AMUDE. Faced.php/RBEP/article/viewFile/252/253>. Acesso em: 08 set. de 9 de janeiro de 2001. SILVA.br/index. Curitiba. 2000. Curitiba.CRECHESEPRE-ESCOLANOBRASILSUAORI GEM. et al.br/teses/M00_iwaya. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências.google.br/cic/2008/cd/pages/pdf/CH/ CH_01622. Acesso em: 07 set. 2000.br/colubhe o6/ anais/arquivos/46 isis flora Santos. 16.gov. Maria da Piedade Resende. Camila Gamino da. Tizuko Morchida. 10. Célestin Freinet: trabalho. ECKERT. PINAZZA. Alberto Filipe. Acesso em: 06 set. COSTA. Creche e pré-escola no Brasil: Sua origem e sua história. 10. 50 REFERÊNCIAS .ppge.10. Marilda. 2ªed. Vera Luiza. História da Educação.pdf>. 2010. Maria Lucia.UTFPR. BRASIL. A Pedagogia de Pestalozzi. 10. Revista Educar. Mônica Appezzato (Orgs.edu. 1996. 2008.ufpel.ufu. A Contribuição do Método Montessori para o Desenvolvimento Cognitivo da Criança Portadora da Síndrome de Down. Os jardins de infância – Um estudo sobre a formação do ser humano a partir dos postulados de Friedrich Froebel. Acesso em: 10 ago. Lei nº 10. UNOESTE. Disponível em: <http://sites. Acesso em: 26 dez. ARAÚJO. Gescielly Barbosa. Marynelma Camargo. In: OLIVEIRA-FORMOSINHO. Joaquim Machado de. Disponível em: <http://www.uem. UFSCar. Palácio da instrução: representações sobre o instituto de Educação do Paraná professor Erasmo Pilotto (1940 – 1960).).inep. GARANHANI. Pedagogia(s) da infância: dialogando com o passado: construindo o futuro. Disponível em: www. Disponível em: <www. p. São Paulo: Moderna.172. 2010. Maria Cecília. Porto Alegre: Artmed. n.com/site/ arquivoscespri/home/revista/19. 1996. ARAÚJO. Júlia. LAMÓREA. IWAYA. 2007. Maria Lúcia de A. 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UNIDADE II Algumas considerações conceituais para entender o desenvolvimento e a aprendizagem da criança de 0 a 5 anos Profª Ms. Estabelecer relações entre a contribuição da Psicologia e das Neurociências para compreender o desenvolvimento e a aprendizagem da criança pequena. Refletir criticamente sobre temas ligados interação com a criança pequena. Nesta unidade. para criar uma visão multidisciplinar que promova a reflexão e organização de condições mais favoráveis na Educação Infantil. abordaremos como o ambiente inicial pode influenciar esse desenvolvimento. da sociologia e economia. socioconstrutivista. bem como a discussão de conceitos e definições sobre o tema. abordaram o desenvolvimento e a aprendizagem. nas últimas décadas. a contextualização do tema nas áreas da saúde e educação. Fenômeno esse que ocorre desde que nos constituímos como espécie. o que caracteriza os contextos favoráveis para o desenvolvimento infantil? A educação das crianças no Brasil está organizada em consonância com essas características? Como deveria ser a educação que vê nas suas crianças a esperança de uma sociedade mais solidária. desenvolvida. fez-se necessário selecionar alguns aspectos que foram distribuídos em três seções. a respeito do desenvolvimento de bebês e crianças pequenas. apresentados segundo as matrizes teóricas subjetivistas. Há tanto tempo acontece. atendimento de saúde e educação. Além disso. tantas descobertas foram feitas a respeito. Na seção I. Achados dos campos científicos da psicologia foram combinados aos da neurologia. porém diversas indagações persistem. retomaremos alguns conceitos já estudados e destacaremos pesquisas que transformaram o nosso conhecimento e entendimento. Dada à abrangência do tema. ofertadas nos anos anteriores do curso. O que realmente sabemos sobre o desenvolvimento das crianças? Os achados de pesquisa têm contribuído para a formação de crianças mais felizes? Face à dimensão interacionista. justa e igualitária? As disciplinas de Psicologia da Educação I e II. 54 UNIDADE II . você encontrará subsídios para analisar o desenvolvimento infantil numa perspectiva multidisciplinar. Universidade Aberta do Brasil PARA INÍCIO DE CONVERSA Podemos dizer que cada criança que nasce traz consigo a humanidade e que diante de cada criança que nasce se (re)inventa a humanidade. objetivistas e interacionistas. emoções. SEÇÃO 1 O desenvolvimento infantil numa perspectiva multidisciplinar O desenvolvimento integral da infância não pode ser entendido apenas na perspectiva de cada indivíduo. Para finalizar. Licenciatura em Pedagogia .7). autonomia e estimulação precoce.Algumas considerações conceituais A contribuição da Psicologia e das Neurociências para compreender o desenvolvimento e a aprendizagem da criança pequena é o aspecto a ser estudado na seção II. 2005. (OPAS. na seção III você encontrará diversos temas ligados à interação com a criança pequena: motivação. p. igualando as oportunidades não só socioeconômicas. elementos considerados principais e necessários para romper o ciclo de pobreza e reduzir as brechas da iniquidade. aprendizagem autorregulada. comunicação inicial e letramento (aspectos que vão além dos códigos). reduzindo-se assim as disparidades sociais e econômicas da nossa sociedade. com maior possibilidade de tornar-se um cidadão mais resolvido. contribui para a formação de um sujeito com suas potencialidades desenvolvidas. pela Organização Pan-Americana da Saúde: Proporcionar à criança oportunidades para que tenha um desenvolvimento adequado é talvez o que de mais importante que se pode oferecer à espécie humana. 55 UNIDADE II . principalmente nos primeiros anos de vida. disposições e transições iniciais. estímulo e mediação. Um desenvolvimento infantil satisfatório. Ele é fundamental ao desenvolvimento humano e à construção do capital social. apto a enfrentar as adversidades que a vida oferece. mas também de gênero. do ser humano. Essa visão é defendida. entre tantos outros órgãos. apresentando alguns aportes teóricos que dão forma às concepções atuais e sobre o desenvolvimento do cérebro. Para Portugal (2008).. medicina. sociologia. antropologia.1. etc. como demonstram alguns trechos de documentos oficiais no quadro a seguir.21). pessoas atentas e sensíveis às suas particularidades. que as respeitam e lhes conferem segurança. a imprescindibilidade do uso e construção de sistemas simbólicos. pessoas de referência na sua vida. Do que sabemos acerca da forma como a criança aprende e se desenvolve derivam princípios educativos que enfatizam a natureza holística da aprendizagem e desenvolvimento da criança. “Compreender. conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais.7).] as crianças possuem uma natureza singular. elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças.. vol. de experiências ativas e significativas. 1998. com inegáveis implicações práticas. compreender o que pode causar ou afetar o desenvolvimento é uma questão com indubitável interesse teórico. desafio. p. • Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: “[. A concepção sobre as características próprias da criança e a necessidade de conhecermos seu processo de desenvolvimento é evidenciada nas políticas e programas brasileiros destinados à Educação Infantil. (BRASIL. As crianças aprendem e se desenvolvem bem na interação com pessoas que cuidam delas. autonomia e responsabilidade. p. a partir da década de 90. como serão os familiares próximos bem como educadores e professores ao longo da infância. vol. que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio”. o papel crucial de outras crianças e adultos no desenvolvimento das crianças. criando espaços equilibrados de estimulação. sobretudo. . como a linguagem e a representação. 1998. o valor da motivação intrínseca. evidenciando a necessidade de intervenção fundamentada no conhecimento. mas.22).1. a importância do desenvolvimento da autonomia. que as amam. 2008. possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns de ser das crianças.” (BRASIL. (PORTUGAL. p. Embora os conhecimentos derivados da psicologia. É um ser humano completo porque tem características necessárias para ser considerado como tal: constituição física. e lhe exigem novas respostas. Assim busca compreender o mundo e a si mesma.” (BRASILIA. Os elementos de seu entorno que compõem o meio natural (o clima. As crianças com seus atos e ações. seja com objetos. A partir de seu nascimento. por exemplo) e cultural (os valores. “[. modificando-as continuamente em cada interação. o bebê reage ao entorno. que é diferente daquele que já anda. 2009. por exemplo) irão configurar formas de conduta e modificações recíprocas dos envolvidos. testando de alguma forma as significações que constrói. “A criança. mas um ser produtor e produto da história e da cultura. ao mesmo tempo em que provoca reações naqueles que se encontram por perto. marcando a história daquela família. modificam o ambiente a partir da interação e convivência com outras pessoas.. completo e. 2006. p. 20/2009 – Revisão das Diretrizes da Educação Infantil: “A criança. p. ao mesmo tempo. produzindo cultura.. e elabora um modo próprio de agir nas diversas situações que vivencia desde o nascimento conforme experimenta sensações de desconforto ou de incerteza diante de aspectos novos que lhe geram necessidades e desejos.” (BRASIL. não é uma abstração. em crescimento e em desenvolvimento. experimenta. questiona. relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos grupos e contextos culturais nos quais se insere. “Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria de colocar-se nos relacionamentos e nas interações. seja com outro ser humano. 15).] a criança é um ser humano único.o recém- nascido é diferente do bebê que engatinha. 14). social e cultural desde bebê. deseja. p. brinca com água ou terra. assim. observa.] Embora dependente do adulto para sobreviver. constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades pessoal e coletiva.” (BRASIL. Licenciatura em Pedagogia . 2006. É um ser em desenvolvimento porque essas características estão em permanente transformação. 2006.” (BRASIL. já tirou as fraldas. é sujeito histórico e de direitos que se desenvolve nas interações. por exemplo). p. 14). a criança é um ser capaz de interagir num meio natural. 57 UNIDADE II .. aprende. É um ser em crescimento porque seu corpo está continuamente aumentando em peso e altura. faz-de-conta. O crescimento e o desenvolvimento da criança pequena ocorrem tanto no plano físico quanto no psicológico. conversa. pensar e sentir. 07). já fala. social (os pais. por meio da capacidade que os mesmos adquirem no que diz respeito a observar. de manifestar emoções e curiosidade.Algumas considerações conceituais • Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil (PQEI): “[. manipular objetos e refletir sobre suas ações. p. Nessas condições ela faz amizades. As mudanças que vão acontecendo são qualitativas e quantitativas . formas de agir. centro do planejamento curricular.. pois um depende do outro.” (BRASIL. 2009. 15). • Parecer CNE/CEB nº. etc. (BRASIL. os documentos apresentam as características próprias da criança pequena e destacam o papel da interação e dos contextos na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. estará pensando nos aspectos cognitivos. O psicanalista dará mais ênfase às relações com os outros e à constituição do psiquismo. O neuropediatra irá focar-se mais na maturação do sistema nervoso central e consequente integridade dos reflexos. linguagem. sofrem influências ambientais e se organizam em um núcleo constituído pelo psiquismo. 2002. dependendo da formação e experiência. O pediatra poderá defini-lo como o aumento da capacidade do indivíduo na realização de funções cada vez mais complexas. Esses sistemas traduzem determinadas funções que se apoiam em um processo de maturação neurológica. p. inter-relação com o meio ambiente. perceptivo. consequentemente.75). O psicólogo. não podem se apegar a uma visão reducionista de desenvolvimento. 58 UNIDADE II . Dada a gama de autores e áreas do conhecimento que o tomam como objeto. necessitam de uma abordagem multiconceitual e. Universidade Aberta do Brasil Como você pôde constatar. etc. Os profissionais da educação. no entanto. multidisciplinar. aperfeiçoam-se. adaptação. Suas análises são consonantes às suas formações e vivências profissionais. o referencial teórico adotado e os aspectos delimitados. Não podem estar baseados apenas na observação das habilidades pertencentes a um determinado sistema: motor. Desenvolvimento infantil: conceitos e definições Conceituar o que vem a ser desenvolvimento infantil não é uma tarefa simples. na inteligência. as possibilidades de definições são inúmeras. desenvolvem-se. desenvolva.]. a maturação. 2002). psíquicos. diferenciação celular. contínua. (WEINTEN. mediante o qual a criança vai adquirindo maior capacidade para mover- se. indivíduos apresentam diversos comporta- mentos e habilidades”. As normas são sinais de alerta quanto ao que é esperado que a criança úteis se forem usadas com flexibilidade”. em 59 UNIDADE II . trabalho pedagógico. dinâmica e progressiva. de forma ativa e transformadora. 1992. contribuem na organização do . universais de normalidade e de desvios à norma. • Desenvolvimento é um conceito amplo que se refere a uma transformação complexa. coordenar. 2002. mielinização e o aperfeiçoamento dos sistemas que conduzem a coordenações mais complexa. portanto se faz necessário distingui-los: • Crescimento significa aumento físico do corpo.p.25-26). de crescimento e de mudança. Como princípios básicos para o desen- volvimento. já que. descritos em escalas. ambientais. • Maturação é a organização progressiva das estruturas morfológicas. embora tenham significados distintos. muitas vezes “As normas etárias não são estabelecidas distribuídas em fases de desenvolvimento. Embora reconhecendo próximo-distal tendência do desenvolvim- as diferenças individuais.Algumas considerações conceituais Quando se aborda o processo de desenvolvimento. estabelecendo padrões sobre o torso antes das extremidades). Licenciatura em Pedagogia . davam ênfase naquilo que ento motor orientada do centro para as ex- tremidades (as crianças ganham controle as crianças têm em comum. (GESELL. • Desenvolvimento psicossocial é o processo de humanização que inter- relaciona aspectos biológicos. pensar e interagir com os outros e o meio que a rodeia. Reflete o desdobramento gradual do esquema genético de uma pessoa (WEINTEN. oferecem como padrões absolutos. Tais estudos. sentir. que inclui.76). Traduz aumento do tamanho das células –(hipertrofia) – ou de seu número –(hiperplasia). A maturação neurológica engloba os processos de crescimento. socioeconômicos e culturais. São meramente de referência com os quais podemos úteis sumários que propiciam conhecer e apontar comparar uma criança [. é o que lhe permitirá incorporar-se. Nos estudos das primeiras décadas do século XX. como o crescimento. em síntese. e A normatização de desenvolvimento” não considerava o que é único nos indivíduos ou em indica a idade média (mediana) na qual os culturas específicas. a aprendizagem e os aspectos psíquicos e sociais. e pode ser medido em termos de centímetros ou de gramas. como um todo ou em suas partes. cognitivos. p. Assim. frequentemente alguns termos são utilizados como sinônimos. além do crescimento. à sociedade em que vive. nas orientações à família e. constam-se duas tendências: a investigação em torno do desenvolvimento na infância cefalocaudal a direção do desenvolvim- preocupava-se em descrever e explicar os processos ento motor da cabeça para os pés (ocorre o controle primeiro das partes superiores). (BRASIL. seu potencial está geneticamente determinado. 2002). compreender como o comportamento das crianças é influenciado pelo contexto ou situação ambiental. Segundo Portugal (2008. Desconhece- se qual a forma como crianças física ou psicologicamente debilitadas progridem nessas etapas desenvolvimentais. como a progressão do sentar para o gatinhar. . de apoios ou de encorajamento que as crianças experienciam. se o desenvolvimento físico e motor poderá ser mais facilmente identificável e normalizável. no encaminhamento para diagnóstico e intervenção. pensamento e raciocínio moral. . entretanto. Não indicam o tipo de estímulos. o que se poderá dizer sobre o desenvolvimento das relações sociais e emocionais. os estudos sobre desenvolvimento com abordagem meramente normativa evidenciam algumas limitações: Por exemplo. nem o impacto de diferenças culturais (circunstâncias específicas. correr e trepar. Universidade Aberta do Brasil caso de necessidade. o mais precocemente possível. são muito maturacionais. de equipamentos ou de novas tecnologias no desenvolvimento. até porque muitos dos seus aspectos. Estes três aspectos – padrões universais. que emergem de maneira ordenada e são relativamente duradouras. comunicação. não são distinguidas as variações na forma como as crianças realizam transições desenvolvimentais.compreender as mudanças aparentemente universais – mudanças que ocorrem em todas as crianças. andar. diferenças individuais e influências contextuais – são necessários para se entender claramente 60 UNIDADE II . Por outro lado. Mussen (1995) destaca que o estudo do desenvolvimento deve consistir em detectar como e por que o organismo humano cresce e muda durante a vida. experiências e expectativas de desenvolvimento). não importando a cultura em que cresçam ou as experiências que tenham.8). p. cognitivas e comportamentais. compreensão social e sentido de si próprio? Será possível identificar padrões de desenvolvimento idênticos e aplicáveis a todas as crianças? Ao considerar as mudanças nas estruturas físicas e neurológicas.explicar as diferenças individuais. tendo por objetivos: . Licenciatura em Pedagogia - Algumas considerações conceituais o desenvolvimento da criança. (MUSSEN, 1995). Assim, temos a possibilidade de analisar a evolução individual através da identificação de fatores dominantes que fazem parte do processo unitário, dinâmico e complexo ao mesmo tempo. Um exemplo do emprego de padrões universais está presente nos programas do Ministério da Saúde de atenção básica à criança, “com a finalidade de contribuir para a melhoria da qualidade de suas práticas e, por extensão, a qualidade de vida das crianças, mediante a monitoração do seu crescimento e desenvolvimento”. As estratégias adotadas pelo Ministério da Saúde, a partir de1984, priorizaram cinco ações básicas de saúde que possuem comprovada eficácia (promoção do aleitamento materno, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, imunizações, prevenção e controle das doenças diarreicas e das infecções respiratórias agudas). (BRASIL, 2002, p. 3-12). Na década de 90, os investimentos foram maiores em Programas de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e de Saúde da Família (PSF), como estratégias para resgatar o vínculo de co-responsabilidade entre os serviços e a população, favorecendo não só a cura e a prevenção de doenças, mas também a valorização do papel das pessoas, das famílias e da comunidade na melhoria das condições de saúde e de vida. Nesse contexto, as normas para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento foram gradativamente incorporadas às atividades do PACS e do PSF, potencializando, assim, os esforços do Ministério da Saúde e das Secretarias de Saúde para a vigilância da saúde da criança, com destaque para a disseminação do uso do Cartão da Criança. Os Agentes Comunitários de Saúde, que pesam as crianças nas visitas domiciliares, registram o peso no Cartão, desenham as curvas no gráfico, orientam as mães, reportam os achados à unidade de saúde, encaminhando os casos indicados pelo enfermeiro instrutor-supervisor. Como parte do processo de fortalecimento da atenção básica, a meta do Ministério é intensificar a utilização do Cartão da Criança, reforçando junto às mães a importância deste instrumento no acompanhamento da saúde de seus filhos. (BRASIL, 2002, p. 3-5). 61 UNIDADE II Universidade Aberta do Brasil O crescimento e o desenvolvimento são tomados como eixos referenciais para todas as atividades de atenção à criança sob os aspectos biológico, afetivo, psíquico e social. (BRASIL, 2002, p.3). No Cartão da Criança, o crescimento compreende alguns aspectos fundamentais do processo biológico do crescimento de interesse para a prática clínica, assim como os principais fatores que interferem neste processo. O desenvolvimento apresenta o enfoque psicométrico acrescido de uma abordagem mais psíquica, valorizando o vínculo mãe/filho e criança/ família como medida de promoção da saúde mental e prevenção precoce de distúrbios psíquico/afetivos. No Manual (BRASIL, 2002), destinado aos profissionais de saúde de nível superior que prestam atendimento infantil nos diversos níveis da atenção, orienta-se que o Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento (CD) da Criança deve contemplar o registro periódico do peso, estatura/comprimento e perímetro cefálico na caderneta da criança, a observação dos marcos do desenvolvimento, a avaliação do esquema vacinal (que constam no Cartão da Criança). Além disso, o profissional deve saber escutar e conversar com a mãe sobre o desenvolvimento do seu filho e sua estimulação, discutindo os conhecimentos de cuidados gerais. A Ficha de Acompanhamento do Desenvolvimento, apresentada a seguir, é um dos registros presentes no Cartão da Criança. 62 UNIDADE II Licenciatura em Pedagogia - Algumas considerações conceituais FONTE: Brasil. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil / Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. A utilização do Cartão da Criança é uma estratégia que a princípio parece ser simples, mas pode trazer grandes contribuições dependendo dos encaminhamentos a serem realizados. A partir das informações 63 UNIDADE II os pais podem saber que atitudes beneficiarão o bem- estar e desenvolvimento de seus filhos. Numa perspectiva mais abrangente. os diferentes ambientes (micro e macrossociais) interatuam. em situação de risco desenvolvimental. cada um com normas e valores. o desenvolvimento humano pode ser visto num enfoque ecológico. no desenvolvimento. consiste em um processo complexo que afeta uma multiplicidade de aspectos da vida infantil. Universidade Aberta do Brasil e orientações. segundo Zabalza (1996. Nessa perspectiva. definido como “o conjunto de processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança nas características da pessoa no curso de sua vida”. 64 UNIDADE II .191).103). os ambientes ou entornos estão representados pelo Estado. a Comunidade e a Família. p. compreender o que pode afetá-lo. 1989. SEÇÃO 2 Contribuição da psicologia e das neurociências para compreender o desenvolvimento e a aprendizagem da criança pequena O desenvolvimento pode ser entendido em seu processo dinâmico que deve ser analisado em toda a sua complexidade. sociais e educativas necessitam de ser informadas pelos dados relativos à forma como os processos de desenvolvimento operam e os mecanismos que os ativam ou facilitam. os profissionais da educação e intervenção precoce necessitam saber de que forma poderão ajudar uma criança e a sua família. políticas e práticas de saúde. p. Essa posição pressupõe uma concepção aberta de desenvolvimento que. os fatores que o envolvem. Deve-se ir além da mera descrição e buscar responder como o desenvolvimento acontece. (BRONFENBRENNER. .Na descrição da mente enfatizou o papel fundamental do inconsciente na psique humana e apresentou o comportamento dos homens como resultado de um jogo e de uma interação de energias. “valorizam o contexto em que a criança se desenvolve. ao longo do tempo até “dar forma” às concepções atuais. se processa na formação das diferentes fases.Estudou o desenvolvimento psíquico da pessoa a partir do estágio indiferenciado do recém-nascido até a formação da personalidade do adulto.” (Portugal. . Elas incorporam princípios acerca da natureza da criança e do papel do ambiente. a visão que construímos sobre desenvolvimento. Genital). .Sigmund Freud .A sua teoria sobre o desenvolvimento da personalidade atribui uma nova importância às necessidades da criança em diversas fases do desenvolvimento e sobre as consequências da negligência dessas necessidades para a formação da personalidade. . embora difiram quanto à importância atribuída à sua centralidade e aos aspectos-chave do desenvolvimento. 65 UNIDADE II . alguns dos estudiosos que têm influenciado. Anal.9). Latência. que alterou a visão que se tinha sobre os processos psíquicos.Propôs um novo e radical modelo da mente humana. O esquema a seguir apresenta. Fálico. p. seja o contexto enquanto ‘outras pessoas e comportamentos’. 2008. enquanto ‘cultura e interação social’. Teoria psicanalítica . (Estágios: Oral.Algumas considerações conceituais Alguns aportes teóricos que dão forma às concepções atuais A visão aberta de desenvolvimento e aprendizagem foi sendo concebida a partir de diversas contribuições de teorias e abordagens psicológicas. da sua personalidade. enquanto ‘oportunidades disponíveis para explorar e construir conhecimento’. Licenciatura em Pedagogia . de maneira muito sintética. de forma mais significativa.A construção do sujeito. p.Ao contrário de Freud. A criança experimenta diferentes papéis nas brincadeiras em grupo.confiança/desconfiança (0 . imita os adultos.Partiu do aprofundamento da teoria psicossexual de Freud. Universidade Aberta do Brasil Teoria Psicossocial . Erikson concluiu que não se deve apressar o desenvolvimento das crianças. 1996. Sublinhou que apressar o desenvolvimento pode ter consequências emocionais e minar as competências das crianças para a sua vida futura. generatividade/estagnação – (35 . (ZABALZA. 2º estágio – autonomia/dúvida e vergonha (18 meses e os 3 anos): caracterizado por uma contradição entre a vontade própria (os impulsos) e as normas e regras sociais que a criança tem que começar a integrar. pensamento. Demonstra preocupação com a aceitabilidade dos seus comportamentos.os demais estágios são: indústria/inferioridade (6 .Erik Erikson .Nos diferentes estágios. 3º estágio – iniciativa/culpa – (3 e 6 anos): a criança já deve ter capacidade de distinguir entre o que pode e o que não pode fazer. cada sujeito confronta-se/supera novos desafios ou conflitos. . nos porquês. de linguagem. rejeitou a explicação da personalidade apenas com base na sexualidade e defendeu que a personalidade continua a se desenvolver para além dos cinco anos de idade. A capacidade de iniciativa da criança é o sinal de uma boa relação consigo mesma e com o mundo que a cerca”. 66 UNIDADE II . 104). . Momento de explorar o mundo e o seu corpo. tem consciência de ser “outro” que não “os outros” e de individualidade. . que se deve dar o tempo necessário a cada fase.60 anos) e integridade/desespero (mais de 60 anos).Propõe oito estágios do desenvolvimento psicossocial(com faixas etárias aproximadas): 1º estágio . identidade/ confusão de identidade (adolescência). . . querer fazer as coisas sozinho. e o meio deve estimular a criança a fazer as coisas de forma autônoma.Tal como Piaget.Defendia que: ”a autonomia da criança fundamenta-se no clima de confiança que ela é capaz de estabelecer com os outros. intimidade/isolamento (20 aos 35 anos). Cada fase do desenvolvimento da criança é importante e deve ser bem resolvida para que a próxima possa ser superada sem problemas.18 meses): a criança adquire ou não uma segurança e confiança em relação a si próprio e em relação ao mundo que a rodeia. Manifesta-se nas “birras”.12 anos). adquire o sentimento de culpa.Acreditava na importância da infância para o desenvolvimento da personalidade. imaginação e curiosidade. . através da relação que tem com a mãe (amor e necessidades satisfeitas melhoram a capacidade de adaptação às situações futuras. desenvolve capacidades motoras. . às pessoas e aos papéis sociais). As pessoas aprendem pela observação dos outros. .A aprendizagem definida como mudança relativamente estável no potencial de comportamento. Teoria Psicogenética . .A aprendizagem é um processo interno que pode ou não alterar o comportamento.Resultaram de suas investigações estudos na área da modelação do comportamento e condicionamento. atribuível a uma experiência. .Jean Piaget . .Descreveu a inteligência como a capacidade de adaptação do organismo ao seu meio. muscular e hormonal nesse processo.Foi dos primeiros a implementar o estudo quantitativo do desenvolvimento humano.Pavlov.Defendeu a maturação biológica como pré-condição para o desenvolvimento cognitivo.As pessoas comportam-se de determinadas maneiras para atingir os seus objetivos. destacava a importância dos estímulos ambientais na aprendizagem. . Teoria da Aprendizagem Social . Teorias Comportamentalistas . deslocamentos do próprio corpo (motor). Watson e Skinner . . através de recompensas e punições.O comportamento é autodirigido (por oposição a determinado pelo ambiente) . adaptativa e social. Licenciatura em Pedagogia . buscando padrões universais. .Defendia que: .2 anos. aproximadamente): a inteligência trabalha com as percepções (sensório) e a ação.Ao contrário de Skinner. verbal.Descreveu diferentes lógicas com as quais o indivíduo se relaciona com o meio no decorrer de seu desenvolvimento.Acreditava que o ser humano se distingue dos outros animais pela capacidade de pensamento simbólico e abstrato. do nascimento à adolescência.Albert Bandura . . com descrição detalhada. .Desenvolveu escalas para avaliação do desenvolvimento e inteligência. destacando o papel decisivo às maturações nervosas.sensório-motor (nascimento . enfatizou a modificação do comportamento do indivíduo durante a sua interação. no entanto.Caracterizou o desenvolvimento segundo quatro dimensões da conduta: motora. . As mudanças mais significativas são mudanças qualitativas (em gênero) e não qualitativas (em quantidade). acreditava que o ser humano é capaz de aprender comportamentos sem sofrer qualquer tipo de reforço.Algumas considerações conceituais Teoria Desenvolvimentista – Arnold Gesell .Na linha behaviorista da Psicologia. . descritas em quatro períodos: . .Enfatizaram a forma como o ambiente modela o comportamento das crianças.O reforço e a punição têm efeitos indiretos. 67 UNIDADE II . Ao invés. .. da brincadeira. É a idade do “faz de conta” (conversa sozinha. através de instrumentos ou sinais).. uma social e uma pessoalmente construída. Teoria sociocultural – Lev Vygotsky .. . . 68 UNIDADE II . . as estruturas sociais e as relações sociais levam ao desenvolvimento das funções mentais.] dos esquemas mentais que estão na sua base.Os conceitos não são assimilados de maneira linear desde o exterior. . .Acreditava que a aprendizagem na criança podia ocorrer através do jogo.O conhecimento depende da experiência social.Cada cultura tem o seu próprio impacto. voltado ao próprio ponto de vista) e caracterizada pelo animismo.Considerou que as mudanças históricas na sociedade e a vida material produzem mudanças na natureza humana. . educadores. . [.período pré-operatório (2 – 7 anos.. aproximadamente): ao aparecer a linguagem oral.12 anos) e operatório formal (a partir de 12 anos). da possibilidade de desenvolver esquemas de ação interiorizadas que são os esquemas simbólicos.Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) – intervalo entre a resolução de problemas assistida e individual. Quando os signos culturais vão sendo internalizados pelo sujeito é quando os humanos adquirem a capacidade de uma ordem de pensamento mais elevada. (ZABALZA.A criança desenvolve representações mentais do mundo através da cultura e da linguagem... brinca com seus brinquedos. ..104)..Os adultos (pais.O desenvolvimento não pode ser separado do contexto social.O processo básico pelo qual isto ocorre é a mediação (a ligação entre duas estruturas.Propôs que o desenvolvimento não precede a socialização.os demais períodos são: operatório concreto(7. em outras palavras.Abordou o desenvolvimento cognitivo por um processo de orientação. . não devem ser. do pensamento egocêntrico (centrado. além da inteligência. funcionalismo. .Sublinhou as influências socioculturais no desenvolvimento cognitivo da criança: . professores) têm um papel importante como modelos no processo de aprendizagem da criança.] basear-se na ideia da criança pesquisadora/exploradora que constrói o seu próprio conhecimento através da experiência”. . . Universidade Aberta do Brasil . aprendidos de cor. mas surgem e são formados como consequência da enorme tensão que desenvolve toda a atividade de pensamento.Os adultos têm um importante papel no desenvolvimento através da orientação que dão e por ensinarem.A cultura afeta a forma como pensamos e o que pensamos. realismo nominal. p. 1996. da instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e um aprendiz mais experiente. a criança dispõe.Destacou “a necessidade de rejeitar uma concepção meramente ‘acumuladora’ da aprendizagem. faz histórias e/ou reproduz situações vividas). .A atenção à linguagem como atenção ao pensamento e vice-versa. [.] mas através [. . . . .O conteúdo ‘conta’: faz-se assim.É inegável a presença de ‘estilos cognitivos’.Na formação dos conceitos não é tão importante a atenção especial aos resultados finais (posição típica do condutivismo) quanto a atenção aos processos. referência a diferentes conteúdos ‘específicos’ ou amplificadores culturais da inteligência. . d) As categorias determinam diferentes signos e significados na aprendizagem. . .Afirmou que aprendizagem e desenvolvimento são produtos da interação social. e simbólico (representação pela linguagem.o aprendizado é um processo ativo do sujeito.105): .Não é tão significativo o desenvolvimento do pensamento em si mesmo (abstrato e formal) quanto o desenvolvimento do pensamento em situações concretas. . coloca como pontos básicos do processo ensino/ aprendizagem: a) A aprendizagem consiste na mobilização cognitiva para a categorização. geração de proposições e simplificação.Jerome Bruner . Propôs três modos de representação do mundo pelo seres humanos: modo inativo (envolve a representação por meio da ação). Licenciatura em Pedagogia . segundo Zabalza (1996. às estratégias seguidas.Alguns destaques. expor e argumentar. b) A categorização se processa por seleção de informação. . é um elemento vital no desenvolvimento da flexibilidade cognitiva e na construção do seu próprio conhecimento sobre o mundo.Baseou seus estudos na cognição e apresentou como princípios básicos da sua teoria: . p. icônico (envolve a representação usando imagens visuais). de modalidades diversas de relacionar-se com os conhecimentos.Descreveu a linguagem como um instrumento do pensamento. ou seja. e) O currículo escolar deve ser trabalhado no modelo espiral (que sugere a retomada do conhecimento por diferentes dinâmicas metodológicas).Algumas considerações conceituais Teoria socioconstrutivista .Acreditava que o desenvolvimento intelectual não segue nenhum tipo padrão estabelecido de fases. às regras utilizadas. sem necessitar de imagens ou ações). c) O sujeito interage com a realidade segundo suas categorias. .o conhecimento aprendido fornece significado e organização à experiência do sujeito. 69 UNIDADE II . questionar. reconhecendo que o fornecimento às crianças de um vocabulário relevante que lhes permita formular ideias. .a estrutura cognitiva do sujeito é o fundamento para a aprendizagem (estrutura cognitiva: esquemas e modelos mentais). cognitivo.personalismo (3-6 anos. 70 UNIDADE II . as quais determinam sua relação com o mundo físico”. .motor e projetivo (1-3 anos. * situou esses campos distribuídos ao longo de cinco estágios de desenvolvimento: . pessoal). construção da própria subjetividade por meio das atividades de oposição (expulsão do outro) e ao mesmo tempo de sedução (assimilação do outro). antropologia. outro marco é o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. . destacou que para compreender o “universo” infantil. Universidade Aberta do Brasil Teoria psicogenética (psicogênese da pessoa completa) Henri Wallon . a criança apresenta uma coordenação entre os vários movimentos voluntários. não dissociou o biológico do social no homem. as quais sofrem influência dos aspectos biológicos. * estudou a criança contextualizada. A criança é toda movimento e conhece o mundo com o corpo”.Propôs o estudo integrado do desenvolvimento: * considerou o sujeito como “geneticamente social”. Dentre suas considerações fundamentais. aproximadamente): inicia-se com o andar.Considerou que o homem é determinado fisiológica e socialmente. motor. psicológicos e sociais. a predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas. . psicologia animal).Enfatizou uma educação humanista. aproximadamente): ocorre o processo de discriminação entre o “eu” e o “outro”. psicopatologia. é ne- cessário considerar o espaço da sala de aula.impulsivo emocional (primeiros meses de vida): “o colorido peculiar é dado pela emoção. Resposta ao seu estado de imperícia. . “A inteligência inicia seu trabalho de diferenciação da afetividade. nas relações com o meio. sujeito às disposições internas e às situações exteriores.os demais estágios são categorial e adolescência.sensório . * considerou que não é possível selecionar um único aspecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil (afetivo. . pois é onde ocorrem várias relações. * recorreu a outros campos de conhecimento para aprofundar a explicação dos fatores de desenvolvimento (neurologia. de imitação. instrumento privilegiado de interação da criança com o meio. Postulou que o sujeito desenvolve-se em contexto. as suas características pessoais e a sua construção histórica e sociocultural. Todos estes sistemas cooperam para influenciar o que uma pessoa se torna à medida que se desenvolve: . o processo. . . podemos dizer que o imprinting é um tipo de aprendizagem. papéis sociais e relações interpessoais num ambiente de proximidade com pessoas. no qual aconteçam eventos que influenciam seu ambiente imediato. objetos e símbolos presentes). .Exossistema .interações imediatas e diretas (padrão de atividades.Microssistema .ligações e os processos que têm lugar entre dois ou mais ambientes.O desenvolvimento humano ocorre num conjunto de sobreposições de sistemas ecológicos e foca o relacionamento de um indivíduo dentro do seu contexto social. a sua participação dinâmica nos ambientes.Algumas considerações conceituais Teoria da Etologia (estudo do comportamento animal) Konrad Lorenz . Licenciatura em Pedagogia .forneceu evidências de que existem períodos críticos na vida em que um determinado tipo definido de estímulo é necessário para o desenvolvimento normal. ainda que contendo um elemento inato muito forte. .Destacou a necessidade dos pesquisadores estarem atentos à diversidade que caracteriza o homem – os seus processos psicológicos.interligações e processos que acontecem entre dois ou mais ambientes que contêm a pessoa em desenvolvimento.Considerou que o sistema nervoso e de controle do comportamento envolvem transmissão de informação e não transmissão de energias.Definiu o desenvolvimento humano como “o conjunto de processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança nas características da pessoa no curso de sua vida” (1996). pelo menos um deles não contendo a pessoa em desenvolvimento. Teoria ecológica do desenvolvimento humano Urie Bronfenbrenner . Como é necessária a exposição repetitiva a um estímulo ambiental (provocando uma associação com ele). . 71 UNIDADE II .o imprinting é um excelente exemplo da interação de fatores genéticos e ambientais no comportamento – o que é inato e específico na espécie e as propriedades próprias da aprendizagem. . quatro níveis dinâmicos: a pessoa. . o tempo. o contexto.Suas grandes contribuições referem-se ao imprinting e aos períodos críticos: .Desenvolveu a ideia de um mecanismo inato que desencadeia os comportamentos instintivos (padrões de ação fixos) → modelo para a motivação para o comportamento. .Mesossistema . trajetórias de desenvolvimento positivas e adaptativas.Existem fatores promotores de desenvolvimento (aumentam a probabilidade de trajetórias de desenvolvimento positivas. . entre as características pessoais e as dos contextos. sobretudo. simultaneamente. ou grupo de pessoas com quem se relaciona. .A relação entre indivíduo e contexto é própria e dinâmica. . relações e interações particulares entre pessoas.Os contextos de vida de cada pessoa são indissociáveis e interligados (família.O contexto de vida de cada um é o conjunto dos seus sistemas e as relações que estabelecem entre si. . a plasticidade. para gerar novos problemas. recursos materiais e simbólicos disponíveis num determinado contexto de desenvolvimento). Rede social é um conjunto dessas ligações. escola.Cada um de nós possui características pessoais que. aumento da confiança na comunidade e ajudando a estabelecer normas que facilitam a convivência entre os membros da comunidade) e fatores de risco (influenciam negativamente o desenvolvimento do indivíduo. . As normas. em si mesmas.padrões culturais (instituições políticas e sociais. costumes e estilos de vida. .contexto de vida numa dimensão temporal (mudanças. influenciam o seu desenvolvimento e se influenciam mutuamente em diversos níveis. realidade social). Universidade Aberta do Brasil . dos processos de auto-organização do sujeito e das características dos contextos/ sujeito em relação.Macrossistema . poderão facilitar ou dificultar a relação que estabelecemos com determinados contextos.O conceito de resiliência descreve a capacidade de encontrar na interação. causam maior conflitualidade). Teoria das inteligências múltiplas . depende.O microssistema e o mesossistema podem convergir ou estar em conflito no que diz respeito às suas influências desenvolvimentais.Howard GARDNER .Cronossistema . a adaptação e a possibilidade de mudança desempenham um papel importante na compreensão do desenvolvimento. .Cada pessoa possui uma rede. crenças. da forma como as suas características interagem. Somos. para criar produtos ou para oferecer serviços dentro do próprio âmbito cultural. facilitando o estabelecimento de ligações emocionais. Sua configuração global.Definiu inteligência como a capacidade de resolver problemas cotidianos. . As diferentes experiências e características pessoais podem encontrar diferentes sentidos para o conflito. O resultado final vai depender de todos estes fatores. 72 UNIDADE II . configuração dos diversos sistemas. grupo de amigos. mesmo em condições adversas de privação e risco. seres situados e autônomos. mas que não determinam essa mesma relação. . relações e alterações). os valores e os significados partilhados fornecem importantes pistas sobre a forma como se processam as interações. prejudicam a integração na comunidade. valores e significados partilhados. habilidade de obter do grupo o reconhecimento da liderança. Mediante o jogo.106) destaca duas contribuições do autor: . Empatia .habilidade de lidar com seus próprios sentimentos. adequando-os para a situação. . 2. As três primeiras referem-se à inteligência intrapessoal.Automotivação .Mapeou a inteligência emocional em cinco áreas de habilidades: . 1. As duas últimas.Controle emocional .Habilidade em relacionamentos interpessoais. em outras palavras. 1996. Os sistemas simbólico-culturais: a fase evolutiva que vai dos dois aos cinco ou seis anos caracteriza-se pela evolução e consolidação das primeiras formas de simbolização. como trabalham. 4.Demonstrou que não existe uma única inteligência. OLSON: Zabalza (1996. sobre os organismos vivos. Organização de grupos: é a habilidade essencial da liderança. (ZABALZA. .A ideia de ‘cultura’ (e de formação cultural) como aprendizagem de ‘meios’ específicos: a linguagem. que envolve iniciativa e coordenação de esforços de um grupo. prevenindo e resol- vendo conflitos. identificando e en- tendendo os desejos e sentimentos das pessoas. responder (reagir) de forma apropriada de forma a canalizá-los ao interesse comum. as habilidades simbólicas. ‘aspectos’ que aparecem intrinsecamente ligados a sistemas simbólicos específicos e que não parecem ter nenhum vínculo aparente com outro sistema simbólico) do desenvolvimento no uso dos símbolos. .Sintonia pessoal: é a capacidade de. 3. etc.Algumas considerações conceituais . . Teoria da inteligência emocional – Daniel Goleman . Sensibilidade social: é a capacidade de detectar e identificar senti- mentos e motivos das pessoas. à inteligência interpessoal. Negociação de soluções: o papel do mediador. p.A ideia de ‘competência’ entendida como o conjunto de habilidades requeridas para dominar os instrumentos e as tecnologias da cultura. É a capacidade de formar um modelo verdadeiro e preciso de si mesmo e usá-lo de forma efetiva e construtiva. Inteligência intrapessoal: é a mesma habilidade. só que voltada para si mesmo.dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial para manter-se caminhando sempre em busca. principalmente aqueles referentes ao mundo dos seres humanos. Defende a existência de linhas ‘específicas’ do desenvolvimento no que se refere ao uso dos símbolos (ou seja. Inteligência interpessoal: é a habilidade de entender outras pessoas: o que as motiva. R.Reconhecimento de emoções em outras pessoas. a criança desenvolve o seu próprio imaginário científico construído a partir de seus conhecimentos intuitivos. p.reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre. . 105-106). mas constata-se a existência de uma pluralidade de inteligências e uma multiplicidade de modos nos quais cada uma delas se manifesta. a criança desta idade desenvolve muitos conhecimentos sobre os objetos físicos.Autoconhecimento emocional . D. 73 UNIDADE II . como trabalhar cooperativamente com elas. a aprendizagem e a propensão à exploração. Licenciatura em Pedagogia . a cooperação espontânea. (MOYLES. sociais e motivacionais. e todos os termos têm a ver com a criança desenvolvendo autoconsciência e controle do próprio processamento mental. O trabalho de autores como Goleman (2005) sobre a inteligência emocional. p. Também está bem estabelecido que as crianças com dificuldades de aprendizagem comumente apresentam déficits metacoginitivos (Sugden. A revisão de Wang e colaboradores conclui que a metacognição era o preditor isolado mais influente da aprendizagem.1989). Whitebread. O termo ‘metacognição’ foi cunhado por Flavell em 1979 e desde essa época. p. Veenman e Spaans (2005) demonstraram que a habilidade metacognitiva é excepcionalmente importante para o desempenho de aprendizagem. baseada no trabalho de Vygotsky. a importância do indivíduo ser capaz de monitorar e regular a própria atividade cognitiva tem sido demonstrada nos mais diversos desenvolvimentos humanos (ver. 243). que também apoiam um modelo que integra aspectos emocionais e cognitivos da autorregulação.244). por exemplo.. 2010. A partir desses estudos. ‘autorregulação’ (Schunk e Zimmerman. ‘reflexão’ (Yussen. a partir de dois marcos conceituais da psicologia: a abordagem sociocultural. Flavell e Brown. O primeiro se deu a partir de uma ampliação das noções de autorregulação. 1986). Mais recentemente. bem como entendimentos oriundos da neurociência. (GERHARDT. e a abordagem do processamento de informação de Flavell: [. mais do que as medidas tradicionais da inteligência. variadamente.. 1994) e ‘metacognição’ (Metcalfe e Schimamura.] foi criado um considerável corpo de evidências de pesquisa na psicologia cognitiva desenvolvimental relacionado ao desenvolvimento das crianças como aprendentes independentes. Isso foi. 1994). Universidade Aberta do Brasil Outras contribuições foram desenvolvidas nos últimos 30 anos. com aspectos emocionais. é parte desta tendência. 1985). 1996). incluindo as preocupações puramente cognitivas de Vygotsky. por exemplo. dois avanços recentes são destacados por Moyles (2010. 74 UNIDADE II . 2004). caracterizado como ‘aprender a aprender’ (Nisbet e Schucksmith. não podemos deixar de considerar os estudos sobre o cérebro humano. O desenvolvimento do cérebro à luz das neurociências Neurociências Ciências do cérebro que estuda o desenvolvimento deste órgão. bem como descreveu seu desenvolvimento emocional. com pontos até mesmo conflitantes. especialmente durante o potencial da criança e colocar isso ao lado do tipo de conhecimento as etapas criticas do curricular. nos sistemas e nas redes formando uma “teia de relações” que integra e auxilia a compreender a complexidade de tornar-se humano. Bronson demonstrou o papel fundamental de processos metacognitivos e autorreguladores para o crescimento psicológico total da criança pequena. a forma como eles têm demonstrado que as capacidades de aprendizagem. não foi o de construir uma grande colcha de retalhos. as abordagens são distintas. e notáveis. 2010. impressionantes mais nos interessa. mas reunir ideias e conceitos que suscitem novas leituras. de modo a entender o desenvolvimento e ausência de estímulos. Para integrar aos “fios” já expostos. portanto devem ser tomados como referência pelos educadores. o que inovação dos adultos e das crianças são. reflexão e ocorrem as conexões sinápticas e. que abordaremos a seguir. Nossa intenção ao organizar e apresentar tantos dados de diferentes fontes. ao mesmo tempo. partes. Licenciatura em Pedagogia . Como são diversas. p. Nesse aspecto. é necessário compreender o funcionamento devido à experiência ou básico do cérebro humano. desenvolvimento. que propiciem uma visão mais aberta e ecológica de aprendizagem e desenvolvimento. as contribuições de Bronfenbrenner podem colaborar para situar a diversidade de conhecimentos nos contextos. desenvolvidos nas últimas décadas. ao mesmo tempo. houve o reconhecimento de processos metacognitivos em crianças e jovens.Algumas considerações conceituais Em segundo lugar. a modificação dos sistemas neurais Segundo Moyles (2010). as funções e interações de suas Apesar da complexidade apresentada nos estudos sobre o cérebro.245). cognitivo e motivacional. (MOYLES. Integrá-las em busca de uma síntese é uma atividade altamente complexa. 75 UNIDADE II . pró-social. modifica-se a força de algumas conexões estabelecidas enquanto outras são seletivamente eliminadas. 100 bilhões de neurônios. e pode atingir sua capacidade máxima nos primeiros anos de vida. emergem novos dendritos. 25% do cérebro encontra-se desenvolvido. com diferentes funções parecem desenvolver-se em ritmos diferentes. no segundo ano de vida. (SHORE. Por exemplo: 76 UNIDADE II . no momento do nascimento existem 50 trilhões de sinapses. Shonkoff e Phillips (2000) e Shore (1997). O recém-nascido possui. formam-se novas sinapses. aproximadamente. as sinapses sobem para cerca de 1000 trilhões. Dos neurônios crescem novos axônios. o desenvolvimento cerebral já é de 90%. 1997). Se no momento do nascimento. Diferentes regiões cerebrais. Universidade Aberta do Brasil São diversos os resultados de pesquisas das neurociências que colaboram para o nosso melhor entendimento dos processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança pequena. Essas pesquisas demonstram que o cérebro humano cresce em um ritmo mais rápido antes do nascimento e durante o período de bebê do que em qualquer outro momento subsequente. Bruer (1999). ao completar um ano de idade. Para a elaboração deste texto utilizaram-se as contribuições de Bartoszeck e Bartoszeck. durante todo o processo de desenvolvimento. O cérebro do bebê não é uma versão menor do cérebro adulto. que o conforta com uma canção de embalar. Contudo. raciocínio e outras funções cognitivas) difere um pouco. Esse crescimento é estimulado por experiências variadas – emocionais. seguido de uma retração gradual até 5-7 anos. sendo que o impacto do ambiente é intenso [. 2000). milhares de células existentes no cérebro da criança são ativadas. sensoriais e motoras – e facilitado por níveis básicos de saúde e nutrição. que conversa com ele…).) o pico de superprodução sináptica no córtex visual ocorre por volta dos 4-6 meses. Cada vez que o indivíduo interage com o ambiente – reagindo a estímulos. lógica. já no córtex pré-frontal (área responsável pela empatia. muitas das conexões existentes entre as células cerebrais são fortalecidas e novas sinapses ou conexões 77 UNIDADE II . colhendo e processando informações – vários sinais percorrem e ativam os circuitos neuronais. Embora ainda exista muito espaço para mudanças. mas podem se extinguir lentamente em determinadas circunstâncias ou pela falta de uso. Um ambiente favorável desencadeia a expansão de conexões sinápticas e a criação de uma rede vasta e densa de trajetórias de significado. as investigações na área das neurociências vêm demonstrar que ao longo de todo o processo de desenvolvimento o cérebro é afetado por condições ambientais. nas áreas cerebrais relacionadas com a linguagem e audição. No momento em que ocorre uma interação.. Licenciatura em Pedagogia . mesmo a mais simples e banal (a mãe que brinca ao colo com o seu bebê. pois o pico de desenvolvimento sináptico acontece por volta do 1º ano de vida e só numa fase avançada da adolescência (por volta dos 16 anos) atinge o número de sinapses existente no adulto.Algumas considerações conceituais (.. numa questão de segundos.]. ocorre um processo semelhante por volta dos 7-12 meses. em nenhum período subsequente novos conhecimentos serão adquiridos com tanta eficiência e facilidade como nos anos da Educação Infantil. que permanecem viáveis e eficientes enquanto estiverem sendo usadas. Durante muito tempo o nosso pensamento sobre o cérebro foi dominado por ideias segundo as quais os genes com que nascemos determinam o nosso desenvolvimento cerebral e o modo como o cérebro se desenvolve determina a nossa forma de interagir com o mundo.. (SHONKOFF & PHILLIPS. durante toda a vida.. assim como cognitivo e linguístico – é um esforço que atualmente tem os mais sólidos fundamentos científicos. compreende quando recebe uma experiência nova e elabora um projeto de reação em função dessa experiência. 78 UNIDADE II . A eliminação de sinapses não estimuladas permite ao cérebro manter as conexões neuronais que asseguram determinadas respostas. as compara com experiências passadas. mantendo-se extraordinária rapidez durante os próximos anos. a eliminação excessiva de conexões neuronais pode ocorrer pela privação de interações sensíveis e adequadamente estimulantes nos primeiros anos. Por sua vez. Esse processo se parece com a limpeza de um jardim: as ervas daninhas são eliminadas para dar mais espaço ao crescimento das plantas e flores que regamos e cuidamos. Mas não há dúvida de que apoiar a aprendizagem das crianças em todos os aspectos – social e emocional. p. Outra descoberta importante. foi comprovado que se os estímulos apropriados não chegarem durante esses períodos sensíveis. Universidade Aberta do Brasil celulares são estabelecidas. muitos aprendizados talvez não aconteçam nunca. Porém. é que as crianças cujo ambiente inicial foi desfavorável têm uma boa chance de compensar o tempo perdido quando suas circunstâncias melhoram. Assim. Foi comprovado que as pessoas possuem uma grande variedade de potencialidades: grande quantidade de neurônios e enorme capacidade para gerar interconexões. (PORTUGAL. resultante das investigações das neurociências. o desenvolvimento cerebral ocorre em dois sentidos: as sinapses ativadas pelas experiências repetidas tenderão a tornar-se permanentes. as conexões não reforçadas por novas experiências são descartadas pelo cérebro para permitir que as conexões “preferidas” trabalhem da forma mais eficiente. 2008. que tem um tempo limitado para ser exploradas. 2000). A partir da primeira década de vida. chega às zonas de associação. acrescentando mais especificidade e complexidade ao intrincado circuito cerebral que estará ativo ao longo da vida da criança. processa os sinais recebidos. (SHONKOFF & PHILLIPS. Ao receber um estimulo do ambiente. Nos três primeiros anos de vida são produzidas a maior parte das sinapses. Esse lapso se chama “período sensível”. físico e criativo. aumenta a eficiência cerebral para fazer aquilo que é necessário. o cérebro produz uma carga elétrica que percorre as células e suas prolongações.9). as sinapses não suficientemente utilizadas tenderão a ser eliminadas. de cariz cognitivo ou socioemocional. descritas por Portugal (2008. Crianças que experienciam situações de insensibilidade. por exemplo. imunizando a criança. desenvolver um projeto ou tarefa. como empatia. não será por acaso que crianças que cronicamente convivem com elevados níveis de tensão. Licenciatura em Pedagogia . Uma vinculação forte e segura.Algumas considerações conceituais Outras investigações sobre o cérebro. e como medeiam a interação da criança com o ambiente afeta diretamente a formação dos trajetos neuronais. parece afetar ainda o próprio sistema imunitário da criança. incluindo cortisol. 2008. (GUNNAR. 15-16) demonstram que cuidados calorosos. negligência. para elaborar informação e para controlar comportamentos. (PORTUGAL. sendo que. responsáveis e adequada estimulação não representam apenas conforto e prazer para a criança. Ainda que essas hormonas de stress sejam normalmente libertadas em situações de alerta como garantia de sobrevivência. etc. O modo como os pais e outros adultos se relacionam e respondem à criança. 1996).. parecem ter uma função biologicamente protetora. p. p. resultando. rejeição ou perda apresentam uma produção de níveis extremamente elevados de hormonas de stress. de certo modo.. depressão ou incapacidade para desenvolver relações positivas com os outros ou em incapacidade da criança para aprender na escola.] Assim. 79 UNIDADE II . E. Elevados níveis de cortisol parecem afetar a capacidade da criança para pensar. em ansiedade. 16-17). capacidade de estabelecer relações com outros. funções mediadas pelo cérebro. e adequada estimulação. emocional e cognitivamente.. frustração ou ansiedade parecem apresentar mais atrasos desenvolvimentais do que as outras crianças. parecem ser afetadas. quando uma criança é precocemente. níveis demasiado elevados parecem limitar o crescimento do cérebro da criança ao afetarem o desenvolvimento sináptico e tornando o cérebro mais vulnerável a processos que destroem neurônios. [. crianças com experiências intensas de traumas e de perdas parecem ser particularmente vulneráveis a doenças e infecções. contra os efeitos adversos de stress. controle de emoções. negligenciada. 1989. Universidade Aberta do Brasil A neurociência tem demonstrado que a interação com o meio não é apenas um acidente de percurso no desenvolvimento do cérebro. mas é um requisito fundamental. Se as experiências vividas pelas crianças nos primeiros anos de vida têm um impacto decisivo na arquitetura cerebral e. estímulo e mediação Se der de comer a uma criança. 2006) 80 UNIDADE II . a interação será muito diferente. na natureza e extensão das suas capacidades adultas. p. mas que sua ação de comer adquira um significado para toda sua vida. por conseguinte. Nesta seção. como você percebe o papel dos professores de Educação Infantil na organização de estratégias e investimento de recursos que promovem o desenvolvimento dessas estruturas? A gama de conhecimentos apresentados. Não me interessa simplesmente que a criança se alimente e sobreviva. na Seção I. para a geração seguinte também.137 apud PISACCO. nos auxiliou a repensar o desenvolvimento e a aprendizagem. E não somente para ele.51. se organizo a entrega dos alimentos e o ato de comê-los. de tal maneira que ensine à criança como comer amanhã ou quando seja maior. respondo a uma necessidade imediata. destacaremos diversos aspectos sobre a nossa interação com a criança pequena. p. SEÇÃO 3 A INTERAÇÃO COM A CRIANÇA PEQUENA: Temas em destaque Motivação. Porém. (FEUERSTEIN. A partir da interação. Encontram-se na etapa intrauterina os primeiros registros psíquicos que são gerados a partir da matriz visceral materna. sustentá-las e ajudá-las em seu deslocamento. no processo evolutivo. símbolo de saúde. Também como se sabe. tendo como 81 UNIDADE II . até que o bebê possa estruturar os seus processos motivacionais. reconhecer o espaço e as distâncias e estabelecer contato com os outros. e até o momento do nascimento. em conexão com o subcórtex. (MORA. E para que isso ocorra. coordenar os movimentos. toda a motivação e o desejo vêm da mãe. formando o córtex cerebral. ao longo do seu desenvolvimento. Os estudos das neurociências integrados aos da Psicopedagogia – como da argentina Estela Mora – e da Psicanálise – como de Maud Mannoni – trazem informações muito interessantes para entender os mecanismos. do futuro psíquico. o bebê vai se desenvolvendo e construindo seu universo. A motivação é uma matriz interna. as experiências oferecidas pelo ambiente – em um primeiro momento a mãe será “o ambiente facilitador” – estimularão as conexões encarregadas de organizar a linguagem. Licenciatura em Pedagogia .Algumas considerações conceituais Como vimos. Se tudo corre normalmente. No início. 2008. os neurônios migrarão até a superfície. 2008). Nas semanas seguintes. do ponto de vista biológico. Órgãos e funções vão sendo construídos a partir do movimento. é necessária a motivação. a partir do desejo materno. Por sua vez. Outras células – chamadas neuroglias – se encarregarão de nutri-las. p. Essa zona do cérebro. oferecerá a base para a aquisição de novos conhecimentos e para o controle das ações. simultaneamente a região germinal (uma zona profunda do cérebro) produzirá uma grande quantidade de células cerebrais: os neurônios. cognitivo e emocional de uma pessoa. o movimento faz parte do crescimento. o desenvolvimento e o crescimento de uma criança supõem uma complexidade de sistemas inter-relacionados. definir a percepção do ambiente. 137). será a que. (MORA. individual e universal. sentimentos e pensamentos.] Sem significado e sem necessidade de procurá-lo.. No animal. a existência se manifesta como uma maneira de ‘matar’ o tempo que passa. acontecimentos. cujas práticas e crenças culturais são transmitidas. Indivíduos privados dessa orientação e que não procuram por significado levam desvantagem em muitos aspectos: cognição. Não significa uma simples reprodução do externo no interno. definida como mediação. mas o resultado do intercâmbio entre informação biológica e contato experimental com as circunstâncias reais de um meio historicamente constituído. [. O cérebro humano é dotado de grande plasticidade. portanto decorre de uma aprendizagem mediada. o processo de interação social no desenvolvimento da criança. Esse não é um simples desdobramento de caracteres pré-formados na estrutura biológica dos genes. e em toda a dimensão energética e motivacional de sua vida.. 2007). atitudes e situações. Ela resulta da interação indivíduo/meio. Feuerstein e Vygotsky são consonantes ao apresentar o papel do outro. a atividade resulta (na maior parte) de 82 UNIDADE II . emoção. promovendo zonas mais amplas de desenvolvimento crítico e criativo – desenvolvimento de processos psicológicos superiores – rumo à autonomia cognitiva. em virtude de sua personalidade ou das mudanças da cultura na qual ele vive. Nos estudos de Vygotsky e seus colaboradores. 2006). Os ‘significados’ mediados um dia por um adulto podem ter sido esquecidos há muito tempo ou podem ter sido transformados pelo indivíduo. (VARELA & BARBOSA. mas a transformação de um processo interpessoal em um processo intrapessoal. que é mediatizada por outro indivíduo mais experiente. seu funcionamento e sua estrutura vão sendo moldados ao longo do desenvolvimento. (FEUERSTEIN. a aprendizagem está em função da comunicação e do desenvolvimento. ou seja. Universidade Aberta do Brasil resultado uma combinação única de comportamentos.1994 apud PISACCO. podemos entender que aprendizagem humana não se explica pela integridade biológica dos genes e cromossomos ou pela simples exposição direta a objetos. mas a necessidade de orientação de procurar o ‘significado’ que lhe foi dada por seu mediador torna-se uma condição para sua existência. Portanto. principalmente. O que o indivíduo Rey (2004. A modificabilidade Para explicar como a interação humana impulsiona o não se refere à desenvolvimento da estrutura cognitiva e fomenta a capacidade humana mudança de um comportamento à modificabilidade. Tais aptidões constituem-se no produto do desenvolvimento sociohistórico. e ao afirmar que a atividade cognitiva qualificada por intermédio o organismo interage. sob a mediação de pessoas. estará constituído no nível dos sentidos subjetivos da história de relacionamento da criança com ele/ela. 2006. também. Por sua vez. conforme abordagem de Vygotsky. a partir do qual esse outro passa a de intervenção ter significação no desenvolvimento psíquico da intencional e o criança. quais os relacionamentos têm lugar.39) ao propor que o outro não experimenta é existe como acidente comportamental. responde às fontes Encontra consonância. estes e externas de complexos sistemas de relações entre pessoas estimulação. O professor. que se tornam sensíveis VARELA E para novas aquisições do desenvolvimento. antes de se constituírem como propriedades individuais. são sociais. (PISACCO. BARBOSA. São esses 1980. tanto pela produção simbólica delimitada torna mais sensível nesse espaço de relação. com aspectos propostos por González de informação. p.39). como pela produção às fontes internas de sentido que a acompanha. atua ou da intervenção do sujeito mediador. sempre são parte dos espaços institucionais nos (FEUERSTEIN. sentimentos dos homens de seu tempo.Algumas considerações conceituais atitudes de adaptação ao meio. no espaço da Educação Infantil. ressaltando às mudanças de natureza estrutural que toda interação humana se viabiliza pela comunicação. Portanto. 2006. apreende comportamentos. 29). p. pode ser muito mais que uma mera fonte de significações no processo de auto-organização dos comportamentos próprios da criança. p. 83 UNIDADE II . que definimos como unidades subjetivas de desenvolvimento. 2006. (PISACCO. p. ao apresentar o sujeito cognoscente do desenvolvimento cognitivo. atitudes. que alteram o curso A concepção de Feuerstein. 7-9 apud PISACCO. a criança. adquiridas através da hereditariedade. e. 2007). Conforme a qualidade da interação. uma modificação cognitiva estrutural. e é precisamente essa condição que privilegia a influência sobre a criança de uns e não de todos os outros que configuram seu espaço cotidiano. Licenciatura em Pedagogia . mas sua teoria: a Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM). a como construtor de seu conhecimento. apud espaços de sentido. Feuerstein desenvolve o aporte conceitual central de específico. vivendo em sociedade. O outro existe numa sequência histórica de que ocorre por meio relação que vai se transformando em um sistema de um programa de sentido. assemelha-se à abordagem de forma em que Piaget. Ao contrário. conceitos. da verificação para potencialização das capacidades dos sujeitos. transmissão. ou em interação com este. Há um mediador com intencionalidade. para priorizar uma relação tríade. A visão do papel da escola muda. Universidade Aberta do Brasil Embora semelhante à ênfase vigotskiana da mediação cultural dos processos psicológicos. onde a construção da aprendizagem processa-se numa interação complexa entre a criança. não há um social anônimo atuando sobre um indivíduo. uma troca entre sujeitos com individualidades propiciando a modificabilidade estrutural. o anonimato do professor que segue programas não se sabe de quem. numa interação com determinadas características. que com maior autonomia podem aprender mais e melhor. o mediador e objeto a ser aprrendido. a mediação não é uma interação qualquer. para Feuerstein. ao constituir-se um espaço que vai além da aquisição. à metacognição e autonomia. Como mediador humano. Assim. bem como o anonimato dos alunos identificados por blocos. Como o professor pode deixar de considerar-se com mero um elemento do meio e assumir como mediador com identidade e características próprias? 84 UNIDADE II . o professor pode vir a ser portador de sentido subjetivo para atuar como figura significativa no desenvolvimento da criança pequena. não pode mais ser considerado espaço e formato propícios à construção da aprendizagem. A EAM propõe a superação da dicotomia sujeito-objeto. Finalmente. habilidades e disposição para uma aprendizagem vitalícia foi reconhecido e escrito nas orientações relativas às crianças pequenas. especificamente. na nossa aprendizagem infiltra-se na esfera educacional de muitas maneiras. o vínculo entre sentimentos de pertencimento. em Teoria das Inteligências Múltiplas. o impacto físico e psicológico dos sentimentos de ansiedade e infelicidade. além de qualquer dúvida. sobre a nossa capacidade de funcionar na vida cotidiana. as quais são descritas como diferentes inteligências. Os estudos de Goleman e Gardner contribuíram significativamente ao demonstrar. e a aquisição de conhecimentos. 85 UNIDADE II .Algumas considerações conceituais Emoções. Licenciatura em Pedagogia . ou de exultação e euforia. principalmente por meio da Educação Infantil. As investigações na área da neuropsicologia feitas por Gardner (1995). sugerem a presença de zonas no cérebro humano correspondentes a determinados espaços de cognição. disposições e transições iniciais A crescente consciência do papel das emoções na nossa vida e. confiança e bem-estar. relações. quebra. Universidade Aberta do Brasil Inteligências múltiplas Área Se destaca em Gosta de Aprende linguístico. trabalhando pautas experimentar com o abstrato Espacial Leitura Desenhar. desenhos olho mental. escrever. Corporal. Mover-se. visualização Atletismo. cabeças. construir. palavras. pensar em cabeças discutindo e palavras debatendo Lógico. Trabalhando de mapas. memorizar. Cinestésica dramática. problemas. Tocando. memorização montar falando. Lendo. contar escutando narração de histórias. Ler. de datas . desenhando imaginação de Coisas. arte tocar e falar movendo-se. sonhar e cores. por meio de utilização de sensações ferramentas corporais 86 UNIDADE II . pautas e lógica. criar. e vendo histórias. questionar. escrevendo. Resolver Usando matemática raciocínio. falar. labirintos. melhor verbal Leitura. olhar usando seu quebra. problemas. escrita. acordado. linguagem processando trabalhos corporal informação manuais. visualizando. dança. desenho. números. Matemática. solução de trabalhar com classificando. com desenhos gráficos. Cantar. projetos no seu seus a pontos seguir seus próprio ritmo. cantando sons. falar com comparando. distinções aprender sobre identificando plantas e temas a fauna e a relacionados com flora a natureza Fonte: MORA. a natureza. sozinho. e melodias ritmos escutar Interpessoal Entender Ter amigos. natural. 2008. fazendo reconhecendo refletir. sozinho. p. distinções.Algumas considerações conceituais Músical Se destaca em Gosta de Aprende melhor Cantar. comunicando. vendendo Intrapessoal Entender a Trabalhar Trabalhando si mesmo. Pelo ritmo. juntar-se com entrevistando. Licenciatura em Pedagogia . pessoas. 87 UNIDADE II . Compartilhando. instrumento. melodia. relacionando. pela reconhecer cantarolar. pessoas cooperando resolvendo conflitos. fortes e fracos interesses tende espaço e estabelecendo refletindo objetivos Naturalista Entedender Participar com Trabalhar no meio a natureza.35. recordar tocar um escutando música melodias. explorar fazendo fazendo os seres vivos. as pessoas. liderando. organizando. As razões que determinam os comportamentos podem ser: a razão imediata que se refere ao estímulo ou à situação que precedeu ou provocou diretamente aquele comportamento. procura de valores). a razão histórica que reporta às experiências passadas da criança. p. em relação aos motivos. satisfação da curiosidade. estaremos desenvolvendo sua inteligência emocional. quer cognitivas (desafio intelectual. segurança emocional e sentimento de controle As crianças pequenas apresentam considerável variação de temperamento – humor relativo ao nível de atividade e à reatividade emocional característica. à capacidade de dirigir a própria vida e conviver com seus semelhantes em harmonia consigo mesma e com o outro. Ao estimular na criança a compreensão de si mesma e dos outros. reconhecimento). amor e autoestima. dois tipos de competências apresentadas por Gardner se destacam: a interpessoal e a intrapessoal. em maior ou menor medida. Desenvolvimento emocional inicial: limites. 2002. Universidade Aberta do Brasil Ao nascer. (WEITEN.315). Não existem tipos puros de inteligência. Trata-se de um processo recíproco em que a área socioafetiva afeta o desenvolvimento cognitivo e vice-versa. A aprendizagem e desenvolvimento intelectual das crianças são tidos como inseparáveis do seu desenvolvimento emocional e social. salientando a importância de assegurar a satisfação das necessidades quer socioemocionais (amor. contamos com o amplo espectro de inteligências. A criança enquanto aprendiz reconhece a importância do “apetite” para aprender. a razão adaptativa para o choro da criança. vínculo. Ao abordar as emoções. na situação familiar. que é de comunicar à mãe que está experimentando 88 UNIDADE II . aos hábitos de trabalho. segurança. segundo Gardner (2005). eles constituem-se de forma integrada e diferenciada e sofrem influência do meio sociocultural e da experiência em seu desenvolvimento. O pensamento é uma maneira de estabelecer relacionamentos entre o mundo dos objetos e o seu mundo interno.] O bebê. Os aspectos sociais do ambiente em que o indivíduo vive afetam decisivamente sua personalidade. seus próprios desejos. entre a realidade e a realidade psíquica. aquele limite entre o bebê (si mesmo) e a sociedade. 1977. [. o “outro” (sua mãe) estará presente para satisfazer suas necessidades.. 26-27). CONGER. Situações que proporcionam vivências 89 UNIDADE II . A criança estruturará seus próprios limites. a criança. é que se vincularão com os demais. O nascimento significa um primeiro limite entre o mundo interno e externo: interior da barriga da mãe e o mundo fora da barriga. A criança se depara com limites desde os primeiros momentos de vida. e que em outros momentos não será assim.. p. dar- lhe um significado especial e aprendê-lo sem dar conta. e a última razão tem por base o caráter evolutivo do comportamento. então. vão construindo sua estrutura de ‘limite’. [. seus próprios limites. 2008. É por isso que o exemplo tem um papel fundamental no processo de entender os limites. (MORA.] A criança ou bebê aprende a ideia de limite a partir de atos cotidianos. de ‘norma social’ a partir de como esses conceitos tenham sido estruturados internamente. O processo de construção cognitiva e estruturação do psiquismo acontece em diferentes etapas.135). (MORA. Ao dizer limites.. a cultura e o mundo “dos outros”. a partir dos adultos. não podemos deixar de mencionar que o mundo interno de cada criança se constrói em uma interação constante com o mundo dos adultos. Por meio dessas funções. A partir dessas experiências. (MUSSEN.134). Ao falar de limites. o bebê aprenderá que. p.. Com base nas experiências que o bebê vai vivenciando. o jovem. Cada ação engloba um conceito ou um valor que se quer transmitir em relação ao que é limite para eles. falamos de aprendizado. constrói seu universo simbólico e vai estruturando seu pensamento. p. Licenciatura em Pedagogia . em alguns momentos. 2008. Nenhuma ação que o pai ou a mãe realiza é neutra para um filho. KAGAN. as regras vão ficando registradas. Os adultos permitirão que ela conheça e reconheça seu próprio corpo. Com elas. que a ajudarão a organizar sua vida com liberdade. E cada criança vai traduzir essa ação.Algumas considerações conceituais algum sofrimento. para então começar a diminuir. A superproteção com cuidados extremados pode negar a formação da independência e iniciativa.. No início. geralmente. A ansiedade da separação.. Ressalta também a existência de diversas mesclas destes três temperamentos. de sono e apetite menos regulares e mais lentas a se adaptar a mudanças. 2002. Weiten (2002. sofrimento observado em muitos bebês quando são separados da mãe. Os vínculos afetivos começam a ser formados desde a gestação. 90 UNIDADE II . As crianças na terceira categoria buscam pouco contato com suas mães. os bebês mostram pouca inclinação a terem uma preferência especial por suas mães. normalmente. Isso muda. um padrão chamado vínculo ambivalente-ansioso. por volta de 14 a 18 meses.. segundo Weiten (2002. p. uma condição rotulada de vínculo de evitação.317). tendem a ser menos alegres.] um vínculo seguro [. podendo gerar sentimentos de pouca confiança e excessiva dependência e/ou egocentrismo. p.] se encaixam em três categorias [. são resistentes a mudanças e relativamente irritáveis. são favorecedoras de desenvolvimento de indivíduos saudáveis e autoconfiantes. de sono e apetite regulares...316) afirma que crianças fáceis tendem a ser felizes.. com pouca dificuldade.] alguns tornam-se muito ansiosos quando separados de suas mães. por volta de 6 a 8 meses. Enquanto as crianças difíceis tendem a ser carrancudas e irregulares para dormir e comer. p. (WEITEN. como babás. Universidade Aberta do Brasil pacíficas. que cuidam dele. compreensão mútua e harmonia. adaptáveis e não facilmente perturbáveis. de amor.316). quando os bebês começam a mostrar uma preferência pela companhia de suas mães e protestam frequentemente ao serem separados delas. A repressão indiscriminada pode gerar rebeldia ou isolamento. pode ocorrer com relação a outras pessoas com as quais estabeleceram um vínculo. Já as crianças de aquecimento lento. o vínculo do bebê à sua mãe não é instantâneo e pode apresentar diferentes padrões. Após o nascimento. Os vínculos mãe-filho [. Weiten (2002) destaca que esse comportamento atinge seu ápice. Podem passar para as mãos de estranhos. as crianças. As crenças subsidiam o comportamento do indivíduo. 2002. 317). munindo a criança de um equipamento que lhe permite lidar com as situações estressantes da vida diária. é um claro exemplo de uma reação à discrepância. p. (WEITEN. 2002. adquirem habilidades motoras mais especializadas. o educador deve considerar as variações culturais. CONGER. KAGAN. Assim que vão crescendo. No ingresso à vida escolar anterior aos três anos de idade. A cultura. a questão crucial é se as separações diárias entre bebê e mãe podem romper o processo de vínculo e desenvolver vínculos inseguros com suas mães.. 1977. a situação socioeconômica. As variações culturais no aparecimento de habilidades motoras básicas demonstram que os fatores ambientais podem acelerar ou retardar o desenvolvimento motor inicial [. p. A preocupação do professor com o desenvolvimento socioafetivo de seus alunos é de extrema importância.]. de qualquer que seja a cultura. pois as diferenças culturais nas atitudes e práticas de criação das crianças podem influenciar os padrões de vínculos. (MUSSEN. no entanto. os neurocientistas também consideram que uma vinculação forte e segura com um cuidador psicologicamente nutriente tem uma função biologicamente protetora. o ambiente 91 UNIDADE II . 178-181). Licenciatura em Pedagogia . A habilidade para reconhecer a qualidade discrepante de uma experiência de separação requer certo nível de maturidade cognitiva. p. O ambiente psicológico social em que a criança nasceu proporciona a herança social.. bebês muito pequenos. mesmo sem mediação de se decidir fazê-lo conscientemente. sendo que algumas delas podem ser exclusivas de sua cultura. (WEITEN. geralmente.315).Algumas considerações conceituais Outra situação de medo vivenciada pelos bebês é a ansiedade dos estranhos. que consiste na resposta de ansiedade a um rosto humano desconhecido. O desenvolvimento motor posterior é. outro assunto. são mais implícitas que explícitas e estão ligadas ao comportamento. Tão importante quanto entender o desenvolvimento emocional. Como já estudamos. são incapazes de sentir medo de separação. se torna cada vez mais diferenciado. a qualidade e consistência dos cuidados e atitudes educativas são cruciais. mais tarde. 92 UNIDADE II .14). Os dados da investigação sugerem que as crianças que desenvolvem uma autoimagem positiva e sentido de competência e valor próprio são aquelas que experienciaram ao longo da infância relações calorosas e amor incondicional. os colegas e o ambiente escolar promovem o surgimento de diversas condições que determinam as diferenças individuais. Universidade Aberta do Brasil familiar. Amor e autoestima . p. A perspectiva das crianças acerca de si próprias é reflexo das perspectivas transmitidas pelos outros na interação social. 2008. (PORTUGAL.as figuras significativas são contextos de desenvolvimento e estão na base da organização do comportamento. este sentimento de competência é fundamentalmente construído até cerca dos 12 anos de idade. a adaptação a situações sempre novas pressupondo adaptabilidade por parte dos sujeitos. as interações dos membros da família e. lançadas as bases da identidade e da coerência interna de cada um. na senda de um processo que se inicia com o desenvolvimento de um sentimento de segurança. com o tempo. e progressivamente de autonomia e de atitudes de iniciativa para atingir objetivos. em estreita relação com as figuras de referência da família e da escola. Segurança emocional e sentimento de controle – as crianças necessitam desenvolver atitudes positivas para consigo e sentimentos de confiança em relação ao seu mundo. então. ao mesmo tempo em que unicidade no decurso da vida em geral. Estarão. Relações positivas são bases que geram um sentido de segurança e de pertença e que permitem à criança construir uma imagem positiva e agradável de si e do mundo. ensinam-lhes a valorizarem-se a si próprios. Na linha de pensamento de Erickson. Neste processo. das cognições e emoções. processo esse com um significativo desenvolvimento ao longo da adolescência. oferecendo a ela a noção de previsibilidade do contexto. apesar das eventuais rupturas a partir das quais cada um se reconstrói. Desde muito cedo a criança desenvolve o sentido de “eu” que. Os seus familiares ou outros cuidadores/educadores/professores ao transmitirem-lhes que são valorizados por eles. de se sentir capaz de agir sobre o mundo. Se as crianças aprendem através de um processo de construção ativa de conhecimento. 2008. mas também para o sentimento de controle. por muito que tentem. falta de capacidade ou de sorte). conduzirá a baixo esforço e a um consequente desempenho pobre. Este modelo de atribuição explica bem a forma como uma autoestima baixa pode resultar em baixa motivação que. para além de amor e segurança. mas a troca é intrapessoal. um contexto de aprendizagem estimulante será o 93 UNIDADE II . Torna-se claro que este “desânimo aprendido” é extremamente corrosivo para o desenvolvimento das crianças enquanto aprendizes. Estes podem ser atribuídos aos outros e a si próprios. nos sentimentos intraindividuais os valores são elaborados com a ajuda do outro. Enquanto nos sentimentos interindividuais os valores são construídos com a cooperação do outro (daí o compromisso ou reciprocidade em relação aos outros).71). procurando favorecer uma autoestima elevada e segurança emocional. p. 1995. (PORTUGAL. Quebrar este círculo autoprofético requer que os adultos que trabalham com as crianças mobilizem esforços que permitam às crianças sentir-se em controle. não serão capazes de ser bem sucedidas. discutidas e negociadas com as crianças sempre que possível. Por isso. assumindo que. as crianças necessitam de desafio intelectual e de valores. Whitebread (1996) desenvolve o seu pensamento acrescentando que. em interação social. Se sentem que o seu desempenho é determinado por fatores que escapam ao seu controle (por exemplo. p. não só para a compreensão social do mundo.14-15) Sendo clara a ligação entre desenvolvimento cerebral e desenvolvimento emocional e intelectual. O estabelecimento de regras claras e justas fazendo parte do mundo social da criança são elementos importantes. Licenciatura em Pedagogia . o compromisso é relativo ao próprio sujeito. (FARIA. estabelecendo regras consistentes e adequadas às capacidades das crianças. responderão mais negativamente perante o fracasso e desistirão facilmente. nomeadamente colocando desafios e exigindo responsabilidades razoáveis. confirmando a fraca perspectiva das crianças acerca de si próprias. por sua vez.Algumas considerações conceituais A formação dos sentimentos está ligada aos valores. de o alterar e de fazer acontecer coisas. ativas e significativas experiências. Comunicação inicial e letramento: aspectos que vão além dos códigos O termo comunicação primária é empregado por Parker-Ress (2010. individuais e partilhadas. mas também porque fornecem a base essencial para o que virá mais tarde. que significa ‘que não fala’) estão ‘limitados’ a formas de comunicação ‘pré-verbais’. A comunicação inicial dos bebês se dá no contexto familiar e constitui uma base afetiva importante para a interação social. p. oportunidades de expressão e representação. crianças e pais. Universidade Aberta do Brasil que fornece novas. com frequência. mas. ‘pré-simbólicas’ ou ‘não faladas’ e. na medida em que apressamos as crianças para formas mais públicas de comunicação. oportunidades de exploração.39-50) para descrever as interações íntimas e espontâneas que permitem aos bebês criar relacionamentos com familiares bem antes de começarem a adotar as estruturas públicas e formais da linguagem falada. 1966). É fácil supor 94 UNIDADE II . podemos subvalorizar esse estágio de ‘pré’-existência. envolvimento das crianças na discussão e resolução de problemas. não é devidamente valorizada. na nossa pressa de compensar essas deficiências infantis.39). consideradas assim não só porque vêm primeiro. do latim in fans. vê- los em termos do que ainda não são capazes de fazer. Quando a comunicação é compreendida mais ou menos como sinônimo da fala. é fácil adotar uma visão involuntariamente negativa dos bebês. p. As formas mais iniciais de comunicação entre os bebês e as pessoas que deles cuidam têm muito a nos ensinar. Os bebês (infantes. mas também sobre diferenças entre profissionais. O termo é empregado no mesmo sentido da intersubjetividade primária (Trevarthen. (PARKER-RESS. 1979) e a socialização primária (Berger e Luckmann. não apenas sobre como tratar crianças muito jovens. 2010. além de ser sensível a ele e sintonizado com ele. a extensão em que o nosso comportamento é dependente do comportamento dos nossos parceiros de comunicação. como um “cliente”. não entre pessoas. elas ‘se baseiam na experiência conjunta’. que usamos para criar e manter relacionamentos com as pessoas. o nosso bem-estar e a nossa felicidade. (PARKER-RESS. gestos. Licenciatura em Pedagogia . Essas expectativas não são inatas: ‘como as expectativas que as aranhas têm em relação ao comportamento das moscas’. o intercâmbio de símbolos linguísticos pode contribuir muito pouco para a nossa experiência de conexão social. Para estudar a comunicação primária é necessário afastar-se da suposição de que a comunicação tem a ver com o intercâmbio internacional de fragmentos de informação. p. fora a linguagem.40).Algumas considerações conceituais que habilidades e atributos adquiridos muito precocemente. também. pois permitem tanto ao bebê quanto à mãe focarem 95 UNIDADE II . 35) argumentou que ‘uma mãe e seu filho não constituem um sistema social antes de o bebê. p. Isso inclui a qualidade dos nossos movimentos. Essas ricas formas de comunicação. A linguagem nos permite lidar com interações com um grande número de pessoas que podemos não conhecer. Uma conversa com alguém que nos conhece e se interessa por nós é muito diferente de um intercâmbio mais formal com alguém para quem nós somos apenas mais um exemplo permutável genérico. porque toda língua depende de relações entre símbolos. Podemos pensar na comunicação primária como tudo. o mais importante. que simultaneamente exigem e desenvolvem um relacionamento entre determinados indivíduos. toques. Kaye (1982. possuem uma função primordial na nossa vida adulta. um “empregado” ou uma “mãe chata”. ter expectativas em relação a como a mãe irá se comportar’. as qualidades “musicais” da nossa fala (que podem transmitir informações confiáveis sobre o nosso estado emocional) e. expressões faciais e contato visual. As ‘expectativas relativamente estáveis’ que resultam de repetidas interações com um parceiro conhecido fornecem as condições ideais para outras aprendizagens. com maior esforço e apenas por algumas pessoas. Sem a comunicação primária. facilmente e por quase todo mundo são menos importantes e menos valiosos do que aqueles adquiridos posteriormente. portanto.45-47). Universidade Aberta do Brasil sua atenção exatamente naqueles aspectos de uma determinada situação que são inesperados e. (PARKER-RESS. demonstram interesse pelas ações e pelos sentimentos alheios. A capacidade de prestar atenção a outra pessoa é considerada como o início da intersubjetividade secundária. mas os ambientes de grupo podem oferecer oportunidades para a criança praticar novos tipos de relacionamentos familiares. Quando os adultos reconhecem a importância da comunicação primária. potencialmente interessantes. não apenas como parceiros emocionais. mas como janelas para todo um mundo de conhecimentos sobre a significação cultural de objetos e acontecimentos (O que faz a mamãe sorrir e relaxar? O que a deixa agitada. mas também sobre a pessoa e seus valores culturais. 96 UNIDADE II . com outras crianças. mais simétricos. p. p. e gradualmente passam a se conhecer. que são responsáveis por desenvolver a qualidade do atendimento em seus locais de trabalho. (PARKER-RESS. dando-nos informações não só sobre a situação. 2010. p. O envolvimento ativo com a individualidade única de cada criança e sua família pode ajudar a aumentar a confiança do adulto em questionar. Para abordar o letramento. Os profissionais de educação infantil. faremos uma síntese do texto de Marian Whitehead (2010.48). 2010. não são só as crianças que se beneficiam. Um profissional sensível facilitara comunidades apoiadoras oferecendo e mantendo um espaço social em que as crianças possam praticar e desenvolver suas habilidades de comunicação primaria enquanto observam as interações umas das outras. Pode ser impossível para os educadores oferecer o nível de familiaridade que as crianças estão criando com sua principal cuidadora desde antes de nascer. Os bebês passam a demonstrar um ativo interesse por pessoas familiares. (PARKER-RESS.293-205). apresentando alguns fragmentos de suas considerações sobre o assunto na infância inicial. O que torna a comunicação primária tão poderosa como uma ferramenta de aprendizagem é o fato de ela nos permitir prestar atenção à resposta do outro. 2010.45-47). p. ansiosa ou zangada? O que a surpreende?). interpretar e adaptar as diretrizes em vez de simplesmente aplicá-las “a todo mundo”. talvez precisem começar percebendo melhor a importância da comunicação primária e incentivando práticas que apoiem o desenvolvimento de relacionamentos familiares íntimos. Não deve surpreender. identidade. e de fazer isso compartilhando significados com uma companhia mais velha e mais sábia. MELZOFF e KUHL. percebemos que. os objetos e a cultura. texturas e envolvimentos com pessoas ocorre no contexto de prazeres comuns. com irmãos. Essa abordagem se vale do trabalho de Vygotsky (1986). Licenciatura em Pedagogia . (GOPNIK.295. movimentos. Whitehead (2010. embora o bebê não utilize a linguagem simbólica. (p. p. e das experiências cotidianas que permitem aos bebês entender a comunicação.Algumas considerações conceituais Semelhante ao que tratamos a respeito da comunicação inicial. comunicações. que se queira afirmar que um letramento extremamente significativo começa a se desenvolver muito antes dos primeiros anos de escolarização. 97 UNIDADE II . que descreveu os níveis ótimos de aprendizagem e entendimento atingidos pelas crianças quando fazem coisas em parceria com um membro da cultura mais velho e mais experiente. segundo a autora. muitas vezes seu comportamento em relação ao adulto cuidador é para conseguir que ele o entretenha. apego. no brincar e nas investigações das crianças quando começam a caminhar e a se mover com maior independência. portanto. sons. amor e perda. Uma rica variedade de brincadeiras.295). os relacionamentos. Ele tem suas raízes nas primeiras interações entre bebês e as pessoas que cuidam deles. Tal construção social do pensamento salienta a importância das ricas e densas texturas da vida. às vezes. sabores. rotinas familiares e um relacionamento seguro.297) apresenta o trabalho de Trevarthen que focalizou bebês “aprendendo em companhia” e identificou a necessidade fundamental que eles têm de compreender o mundo e lidar com ele. 1999). Esses primeiros estágios de comunicação e linguagem são compartilhados com adultos importantes e. e são coloridos por poderosos sentimentos e emoções ligados a relacionamentos humanos. lama. p. • O letramento é uma extensão da cultura oral e da nossa eterna fascinação por bisbilhotar.297). dos 2 aos 6 anos. • O letramento utiliza sinais para transmitir significados. Os bebês também sinalizam suas necessidades e intenções com gestos e expressões faciais. Universidade Aberta do Brasil Essas ideias complexas são vinculadas à aprendizagem inicial do letramento. e fazem marcas significativas em comida. em uma ampla extensão de atividades desde o nascimento até os primeiros anos da escola: Os bebês brincam com narrativas emocionais muito antes de serem capazes de falar. além de ‘fingir’ que estão comendo. a criança faz coisas.296): • Letramento é comunicação. Seu apetite por formas culturais de vida é enorme e sua percepção dos papéis humanos é rica e perspicaz. Aqui estão as raízes dos padrões linguísticos. dança e exibe variadas habilidades musicais. perguntamos: por que as coisas não dão certo? (TREVARTHEN. Muitas vezes o entusiasmo da criança por se comunicar. conta e escuta histórias. de desenhar. 2002. As realizações da criança também são encobertas pela paixão burocrática por registrar o que ela não é capaz de fazer. A autora destaca que Trevarthen captura a riqueza da comunicação. fofocar. cantar. e as crianças pequenas dramatizam juntas antes de terem qualquer ‘teoria da mente’ demonstrável. aprender e investigar é abafado por uma enxurrada de informações sem imaginação e fatos desconectados. por Whitehead (2010. simultaneamente. p. 2010. umidade e poeira. a razão e os meios da aprendizagem da linguagem. cria dramatizações. da sensibilidade fonológica. dramatizar. apud WHITEHEAD. representa personagens fantásticos. Então. mas esta começa com interações não verbais e verbais entre bebês e cuidadores. escrever e ler. dançar e cumprir rituais.16-15. dormindo. compor e fazer trocadilhos. p. e assim por diante. da linguagem e da vida iniciais. Isso constitui. Isso 98 UNIDADE II . e os parceiros do bebê são comunicadores proativos e hábeis. Licenciatura em Pedagogia - Algumas considerações conceituais decorre de uma obsessão preocupante com o que virá após os primeiros anos e da incapacidade de focalizar a qualidade do aqui e agora da vida da criança (PETRIE e APTER, 2004). Embora Whitehead (2010) discuta a educação infantil europeia, encontramos semelhanças com a nossa realidade, principalmente quando afirma: “O ensino da leitura a crianças muito jovens geralmente é o principal vilão nesta história de oportunidades perdidas, provisão educacional inadequada e educadores insensíveis”. (p.298). O que podemos fazer para que as crianças tenham amplas oportunidades e experimentação lúdica e chances de exercitar sua independência ao lidar com as convenções culturais do letramento? Aprendizagem autorregulada, autonomia e estimulação precoce Muitas práticas pedagógicas não têm incorporado o que as pesquisas nos informam acerca das crianças: a sua enorme capacidade para aprender, em áreas e domínios vastos (sociais, emocionais, cognitivos, linguísticos, motores, etc.); a premissa de que a aprendizagem assenta-se em domínios sociais, afetivos e experienciais; a importância das interações com famílias, entre crianças, entre educadores/professores; as janelas de oportunidade que existem para certos tipos de aprendizagens durante os primeiros anos (desenvolvimento comunicacional, competências sociais e de cidadania ativa, curiosidade acerca do mundo; auto-organização…). Se considerarmos que 3/4 do cérebro humano se desenvolve a partir do nascimento, em relação direta com o ambiente exterior, significa que a 99 UNIDADE II Universidade Aberta do Brasil evolução equipou o ser humano com um “cérebro ecológico”, dependente ao longo de toda a vida do contexto de desenvolvimento. Neste mesmo sentido, não haverá, mesmo do ponto de vista neurológico, uma única forma correta de promover um bom desenvolvimento. Destacamos na próxima seção, algumas sugestões para sua estimulação. Se a base para a progressão e alargamento dos saberes das crianças se encontra nas próprias crianças, nas suas atuais competências e desenvolvimento, a intencionalidade educativa só pode decorrer do processo reflexivo de observação, planeamento, ação e avaliação, procurando-se adequar a prática do educador/professor às atuais capacidades e necessidades das crianças. Neste processo, levantam-se desafios aos adultos educadores que passam pela atenção à perspectiva da criança (cognições, emoções, motivações...); compreensão da diversidade das infâncias (cultura, desenvolvimento, vivências...); procurando articular e integrar num espaço de vida coletivo a diversidade de interesses e necessidades individuais. (PORTUGAL, 2008, p.25). Caberá ao educador identificar os potenciais de desenvolvimento de sua classe e/ou cada criança, contenha ela alguma deficiência ou não, e disponibilizar situações estimulantes, formulando “pontos de atenção” que atendam às suas necessidades. Cabe-lhe ainda, “a competência de criar e conceber as situações que realmente servem para demonstrar se o aprendente se tornou ou não competente”, isto é, “se é capaz de mobilizar adequadamente diversos conhecimentos prévios, selecioná-los e integrá- los adequadamente perante [uma] situação (ou problema, ou questão, ou objeto cognitivo ou estético, etc.)”. (PORTUGAL, 2008, p.25). Com base nos períodos sensíveis, o professor poderá adotar estratégias para o processo de reconstrução da experiência da criança e/ou classe, propor a intervenção educativa. Pressupõe a capacidade de o adulto educador ou professor se colocar na perspectiva da criança (e em consonância, ir mais devagar, dizer por outras palavras, propor outra abordagem, diversificar as atividades, etc.), mobilizando na relação dimensões, e criar condições de ensino efetivamente que conduzam à aprendizagem. 100 UNIDADE II Licenciatura em Pedagogia - Algumas considerações conceituais Estimulação Precoce / Superestimulação O pensamento da criança modifica-se com a idade, à medida que a capacidade para pensar conceitos cada vez mais complexos se desenvolve, sendo a “experiência” o que “alimenta” os esquemas e os amplifica. O papel dos adultos na identificação e enriquecimento dos esquemas mentais das crianças, operando em zona de desenvolvimento próximo (ZDP), na terminologia de Vygotsky, através da interação com a criança, requer insight (intuição) e elevada competência da parte do adulto. Sabemos que o cérebro modula sua resposta de acordo com os estímulos que recebe e o tempo e a energia que precisa para processá- los. Se não fosse assim, não seríamos capazes de atingir um objetivo. O cérebro é capaz de receber e processar certa quantidade de estímulos: a superestimulação inibe os processos normais de aprendizado, e não transforma a criança em um superdotado. O que ocorre é que a genética – tanto biológica como vincular – não é exatamente igual em todos. (MORA, 2008, p.137). A atividade mental pode ser estimulada fundamentalmente através de dois processos, segundo Whitebread (1996): resolução de problemas e expressão individual. Ambos os processos requerem que os indivíduos mobilizem aquilo que sabem e que dele façam uso de novas maneiras. Em contexto escolar, a apresentação de novas ideias e informações como problemas a resolver, ou áreas a investigar, com objetivos que são reais e significativos para as crianças, parece otimizar a aprendizagem e o desenvolvimento. Algumas sugestões para estimular a partir de idades precoces, são sugeridas por Mora (2008, p.138-139). 101 UNIDADE II objetos A visão de vida localizados a curta e a longa distância . mais sensíveis nessa etapa. aproximadamente.Desde a gravidez. . e outras características que servem para o processo de organização cerebral em função de outros aprendizados.Desde a gestação .Tocar o bebê com suavidade e doçura para tranquilizá-lo e demonstrar que ele é amado.Aprender a identificar as próprias emoções. é importante que sejam continua ao longo de toda a estimuladas com sons. . . como . .A coordenação motora corpo. O movimento fina. sentar-se. passeios.Virar. caminhar. como o pensamento matemático (não está comprovado que essas reações ocorram somente com a música clássica). Universidade Aberta do Brasil Áreas Quando Como . A música . o bebê é A audição e a capaz de escutar e registrar os linguagem sons internos da mãe.Desde a gestação que o bebê sente.As crianças aprendem por imitação do o aprendizado da língua.Dar a s crianças a possibilidade amarrar cadarços ou tocar um de explorar. são treinamentos para o bom uso do .Imagens do lar.Funcionar como espelho do As emoções . .quanto mais escutarem e mais a construção gramatical e a brincadeiras vocais fizerem. 10 anos. mais A linguagem distinção fonológica. 102 UNIDADE II . A . oferecer alternativas.Escutar música com o bebê (em um volume adequado).Durante os primeiros meses .Verbalizar os motivos das decisões. Existem capacidades. que são aprenderão. que escutam e pela prática. desenhar. . vida. impedir comportamentos perigosos e orientar na busca de experiências independentes. tentando colocar em palavras e em gestos o que acontece.Mesmo que a s crianças não entendam aquisição de novos vocábulos as palavras.A música tem ritmos. para reconhecer na criança as suas. . estimulá-lo na prática e algum instrumento musical. que permite escrever. subir. engatinhar.Os primeiros cinco ou seis anos de vida são críticos para . tons.As habilidades motoras básicas se desenvolvem melhor . cantar com ele e.A música ajuda a liberar tensões e expressar emoções. mais adiante. . .Cantar para ele. enfiar e recortar anos. e com elementos período sensível entre os 3 e os apropriados. investigar e mover-se instrumento musical tem seu em espaço seguro. durante os primeiros quatro correr. . Algumas considerações conceituais Para entendermos melhor o que é estimulação precoce e como ela pode ser orientada. seus pensamentos e afetos. porém sem deixar de reconhecer a importância dos vínculos afetivos sólidos e uma personalidade segura. modifica. .É um meio que favorece o contato físico e a interação adulto/criança. a criança constrói sua personalidade e autoestima através de um processo constante de interação com seus pares.Ajuda a construir a inteligência em uma etapa neurobiológica chave. é implementada através de programas construídos com a finalidade de favorecer o desenvolvimento integral da criança. onde a criança sentirá satisfação e elevará sua autoestima ao descobrir o alcance das suas potencialidades. a percepção e o prazer da exploração. o jogo e a expressão artística. o autocontrole. movimentos.Permite ao adulto e à criança descobrir as capacidades e interesses desta última. Como já estudamos anteriormente. Licenciatura em Pedagogia . 2008. a criança constrói e descobre a si mesma: seu corpo. . demanda e constrói suas experiências de acordo com sues interesses e necessidades. ao menos na maioria das propostas de estimulação precoce. A estimulação precoce faz uso de experiências significativas nas quais intervêm os sentidos. . . Sua finalidade é desenvolver a inteligência. (LEGARDA & MIKETTA.É um dinamizador da personalidade. promoverão o desenvolvimento de uma criança inteligente e feliz. na pedagogia e nas psicologias cognitiva e evolutiva. a criança é quem gera. A estimulação precoce é uma ciência baseada principalmente nas neurociências. Um aspecto a destacar é que. Graças à sua vitalidade e curiosidade. como são os primeiros anos de vida. p. Muitos poderão perguntar: para que executar um programa de estimulação precoce? Podemos destacar algumas razões que a justificam: . tomaremos por referência Legarda e Miketta (2008).É útil para a detecção. prevenção e tratamento de atrasos no desenvolvimento intelectual. 5). Procuramos educar crianças capazes de se autorregularem dinamicamente e de sentirem. A variedade de estímulos e qualidade das interações. expressões e emoções. 103 UNIDADE II . o descobrimento. com seus pais e demais pessoas próximas. processarem e gerarem respostas à informação afetiva e cognitiva que recebem do ambiente. especialmente com o papai e a mamãe. a favor das habilidades do hemisfério direito e esquerdo. 5.buscaremos o desenvolvimento integral da criança e. segundo Piaget. da arte e da exploração do seu ambiente. conforme a idade das crianças. 7. situação que ocorre. a coordenação motora. As áreas de desenvolvimento são os diferentes aspectos através dos quais a criança experimenta uma maturidade e crescimento. através do jogo. por exemplo. Os campos de aprendizagem são espaços de conhecimento nos quais a criança pode trabalhar uma ou mais áreas de desenvolvimento. Estimulação centrada em atividades e/ou experiências . Estimulação puramente intelectual ou orientada para aspectos variados do desenvolvimento .procura gerar uma experiência em um sentido por vez. Estimulação centrada em áreas de desenvolvimento e/ou em espaços ou campos de aprendizagem. Estimulação unissensorial e/ou multissensorial . Entre estes campos estão as ciências naturais. 104 UNIDADE II . segundo seu ritmo pessoal de aprendizagem. dentro deste. Entre as áreas de desenvolvimento estão a sensorialidade e a percepção. que é abordado de maneira exaustiva e através de maior quantidade de perspectivas possíveis. motor.A integralidade do desenvolvimento faz com que os distintos âmbitos evolutivos estejam inter-relacionados e dependam uns dos outros para sua maturação. visitando um zoológico ou escutando um conto infantil. o crescimento da inteligência e da criatividade. da linguagem ou da personalidade. não é possível considerar um crescimento intelectual alheio ao desenvolvimento sensorial. a centrada em um projeto procura a participação das crianças na construção e determinação de objetivos e atividades em torno de um tema concreto. Universidade Aberta do Brasil Desejamos uma criança que seja formada a partir dos seus interesses e potencialidades. A estimulação precoce pode ter diferentes enfoques e perspectivas: 1. 4. quando é produzido um estado de desequilíbrio originado por um estímulo que não se encaixa no esquema mental existente. Estimulação centrada em experiência pontuais e/ou projetos . etc. a construtiva. criar os espaços e as condições necessárias para que a s crianças cresçam ágeis e seguras de si mesmas. Uma proposta mais abrangente de estimulação precoce pode prever: Orientação para desenvolvimento integral . 3. a matemática e a construção. Portanto. porém que não modificam ou transformam o banco de experiência? A primeira. 2.executa rotinas agrupadas em áreas de desenvolvimento objetivas. Estimulação baseada no construtivismo ou em uma transmissão-aquisição de conhecimento Privilegiamos o desenvolvimento da inteligência com base em estímulos significativos e aprendizagens internas baseadas na própria experiência? Ou pretendemos fazê-lo através de estímulos externos que muitas vezes geram acumulação de informação. pretende que o sujeito modifique sua estrutura mental. A partir da metodologia que será utilizada. a inteligência. 6. Ao contrário. demonstrando suas potencialidades.procura que a mesma seja “vivenciada” em um dado momento. a linguagem e a área socioemocional. A criança deverá ser sempre vista como um todo e em relação com seu ambiente. que sentido dão às atividades. em conjunto com a criança.trabalharemos as experiências na intimidade da sala pré- escolar ou no lar. a segurança pessoal e a paz interior para consigo mesmo e com os demais. Utilização de experiências significativas . Como você pôde analisar. É tarefa do adulto envolver as crianças nas atividades. na exploração. ganhar a sua confiança. o que é realmente importante para elas. Uma das utilizações de programas específicos de estimulação precoce é a Educação Inclusiva. requer a mais alta competência do educador. como essa situação poderia ser melhorada? 105 UNIDADE II . Quem tomou a iniciativa? Quanto à linguagem corporal foi importante nessa interação? O que parte da criança e o que parte do adulto? A partir dos conhecimentos abordados nessa unidade. porque conhece o apoio e disponibilidade do adulto.como complemento das atividades de estimulação. cria uma zona de desenvolvimento próximo e garante aprendizagens. O fato de a criança apresentar atraso em uma área ou em alguma habilidade específica.trabalhar nos quatro primeiros anos de vida.durante a mediação nas ações de estimulação será privilegiado o afeto. pais e família. 7-13). Ambientes variados . fazendo com que queira partilhar os seus sentimentos. 2008. jardins e. o descobrimento e o domínio das habilidades através do jogo e da expressão artística. Ênfase no descobrimento. trabalhar experiências significativas. laboratórios. por si só não significa necessariamente um problema patológico.Algumas considerações conceituais Criação de um clima de afeto . o bom relacionamento. que questões é que se lhes levantam. porém também em espaços mais amplos como parques. (LEGARDA & MIKETTA. em áreas de desenvolvimento. p. a formação de vínculos afetivos. o educador/professor poderá entender o significado e motivações da criança. já que entendemos que cada ser humano se desenvolve a partir de suas possibilidades e do meio em que está inserido. museus. cujas vivências de jogo e prazer permitirão à criança empregar suas distintas áreas de desenvolvimento em torno de um propósito determinado. procurando compreender o que é que realmente as mobiliza. no jogo e nas artes . Este papel em que o adulto. inclusive. Licenciatura em Pedagogia . quando for capaz de estabelecer verdadeiro contato com ela.atividades de estimulação pretenderão desenvolver a exploração. a partir desta idade ampliar a experiência para as inteligências múltiplas. Tente observar um adulto comunicando-se/interagindo com uma criança pequena. Trabalho nas áreas de desenvolvimento e campos de aprendizagem . experiências e opiniões. procurando compreender o que é que realmente as mobiliza. que sentido dão às atividades. Nos estudos das primeiras décadas do século XX. 106 REFERÊNCIAS . reflexão e inovação dos adultos e das crianças são. você estudou: O desenvolvimento integral da infância não pode ser entendido apenas na perspectiva de cada indivíduo. os ambientes ou entornos estão representados pelo Estado. A crescente consciência do papel das emoções na nossa vida e. a investigação em torno do desenvolvimento na infância preocupava-se em descrever e explicar os processos de crescimento e de mudança. na pedagogia e nas psicologias cognitiva e evolutiva. Ao dizer limites. O nascimento significa um primeiro limite entre o mundo interno e externo: interior da barriga da mãe e o mundo fora da barriga. não apenas como parceiros emocionais. principalmente por meio da Educação Infantil. o bebê vai se desenvolvendo e construindo seu universo. portanto devem ser tomados como referência pelos educadores. Os estudos sobre o cérebro têm demonstrado que as capacidades de aprendizagem. especificamente. É tarefa do adulto envolver as crianças nas atividades. na nossa aprendizagem infiltra-se na esfera educacional de muitas maneiras. impressionantes e notáveis. mas como janelas para todo um mundo de conhecimentos sobre a significação cultural de objetos e acontecimentos. a partir da década de 90. é implementada através de programas construídos com a finalidade de favorecer o desenvolvimento integral da criança. que questões é que se lhes levantam. A eliminação excessiva de conexões neuronais pode ocorrer pela privação de interações sensíveis e adequadamente estimulantes nos primeiros anos. A concepção sobre as características próprias da criança e a necessidade de conhecermos seu processo de desenvolvimento é evidenciada nas políticas e programas brasileiros destinados à Educação Infantil. falamos de aprendizado. os diferentes ambientes (micro e macrossociais) interatuam. As crianças cujo ambiente inicial foi desfavorável têm uma boa chance de compensar o tempo perdido quando suas circunstâncias melhoram. o que é realmente importante para elas. Além das características próprias da criança os documentos destacam o papel da interação e dos contextos na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. A criança se depara com limites desde os primeiros momentos de vida. cada um com normas e valores. No desenvolvimento. . Universidade Aberta do Brasil Nesta unidade. A estimulação precoce é uma ciência baseada principalmente nas neurociências. A partir da interação. a Comunidade e a Família. ao mesmo tempo. Os bebês passam a demonstrar um ativo interesse por pessoas familiares. O. – Campinas: Papirus. KAMII.com/ ferramentas/dokeos/courses/NAPNE/document/NEURO6PRIMEIROS_Artigo. BRUER. Manual para vigilância do desenvolvimento infantil no contexto da AIDPI. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. s/d. São Paulo: Martins Fontes. et al. de Assis. K. C.16. 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Dra. jogo e desenho SEÇÃO 4 – Avaliação na Educação Infantil: concepções e práticas 111 UNIDADE III . Maria Odete Vieira Tenreiro OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM O acadêmico deverá ser capaz de: Reconhecer a organização do tempo e dos espaços na Educação Infantil. Dra. Esméria de Lourdes Saveli Profª. questões de extrema importância e que merecem um olhar cuidadoso na realização do processo avaliativo. foi convidá-lo a refletir sobre a importância da organização dos tempos e espaços na educação infantil e como um trabalho bem organizado e pensado pelo professor pode refletir positivamente no sucesso da criança. mas que merecem serem revistas especificamente no trabalho com a criança pequena. Na última seção serão evidenciadas questões sobre a avaliação na educação infantil. Universidade Aberta do Brasil PARA INÍCIO DE CONVERSA Você verá nesta unidade como a organização dos tempos e espaços pedagógicos na educação infantil é fundamental para o sucesso do trabalho. nesta unidade. 112 UNIDADE 3 . nosso intuito. Procuramos apresentar um olhar cuidadoso aos fazeres da sala de aula. o brinquedo e o desenho se constituem formas privilegiadas para iniciar a criança no processo de ler e escrever e como o espaço lúdico facilita o processo ensino aprendizagem. relembramos questões já discutidas em outras disciplinas. Por fim. No decorrer das seções você perceberá como o jogo. promovendo o desenvolvimento da criança em seus aspectos: cognitivo. Para que o cuidar e o educar aconteçam adequadamente. A instituição de Educação Infantil deve ser um ambiente que vá além dos cuidados físicos. O espaço infantil deve ser reconhecido como um lugar privilegiado para o desenvolvimento da criança. linguístico. p.24). O ser humano desde que nasce desenvolve várias formas de comportamentos. condições para a criança ter um satisfatório desenvolvimento cognitivo. exploram. vivendo- os de modo particular. físico-motor. social e afetivo.Organização dos tempos e espaços SEÇÃO 1 TEMPOS E ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Os mais recentes estudos na área da Educação Infantil estão fundamentados numa concepção de desenvolvimento social e histórico que se processa através de interações estabelecidas entre as crianças e seu meio físico e social. já que o mesmo passa por um processo de desenvolvimento dinâmico. físico. sobretudo. constituindo-se como sujeitos”.. a criança experimenta avanços e retrocessos. embora possa exigir conhecimentos.54). faz-se necessário refletir sobre a importância do atendimento às necessidades básicas do ser humano. habilidades que extrapolam a dimensão pedagógica”. 1 RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil 113 UNIDADE III . 1998. pois “(. social e emocional. Durante seu desenvolvimento. p. construindo uma visão de mundo e de si mesmas. Nesse processo é importante a relação com os adultos.. A tarefa educativa deve estar integrada ao cuidar e educar. (OLIVEIRA. conhecem.) nela se dá o cuidado e a educação de crianças que aí vivem. (RCNEI1. com outras crianças e com o meio em geral. “Contemplar o cuidado na esfera da instituição de Educação Infantil significa compreendê-lo como parte integrante da educação. que propicie. ativo e interativo. convivem. Licenciatura em Pedagogia . utilizando-se de diferentes recursos para se integrar e agir sobre o meio. 1995. Durante as atividades de exploração do meio. Portanto. As crianças que não recebem estímulos ambientais e têm suas atividades exploratórias restritas. “Na medida em que o adulto super protege a criança. modificando-se num processo contínuo de reorganizações. a sensibilidade. Vygotsky e Wallon defendem a ideia de que o desenvolvimento infantil acontece através da interação da criança com as coisas do seu ambiente. Oliveira (2001) assume também essa concepção quando afirma que o desenvolvimento humano é tão condicionado pelo equipamento biocomportamental da espécie. seus preconceitos e valores”. É de suma importância que esses profissionais estejam em constante formação e comprometidos com a prática educacional de forma que haja confiabilidade e segurança na realização de seu trabalho. acabam tornando-se inseguras. Autores como Piaget. que deram grandes contribuições à Educação. apáticas e desinteressadas. pela ansiedade de que não se saia bem nas suas experiências. o pensamento e a linguagem. Na perspectiva de que as crianças precisam ser atendidas em suas necessidades básicas. todos os profissionais que trabalham com a Educação Infantil devem proporcionar às crianças experiências significativas. incapazes de exercitar sua capacidade de raciocínio. além de impedi-la de criar sua visão de mundo. servem de mediadores entre elas e o mundo que as cerca. ela vai construindo formas de apreensão. 1998. Buscando reflexões sobre as diferentes concepções encontradas no campo da Psicologia. Universidade Aberta do Brasil Os profissionais que têm a responsabilidade de cuidar e educar crianças pequenas assumem uma importante tarefa no processo de desenvolvimento infantil. quanto pela operação de mecanismos gerais de interação com o meio. o raciocínio. passa para ela sua ansiedade. abordamos alguns teóricos interacionistas. a capacidade afetiva. apresentando características das crianças e como o processo de aprendizagem ocorre durante o seu desenvolvimento. que venham a contribuir para um desenvolvimento sadio. (SANTANA. com outras crianças e adultos. a criança vai desenvolvendo sua autoestima. sob pena de comprometer seu desenvolvimento 114 UNIDADE 3 . p. 26). No enfrentamento às novas experiências. a) Processo de adaptação: O ingresso pela primeira vez na escola representa para a criança uma mudança muito séria. inicia com o nascimento. (2009.Organização dos tempos e espaços integral. e organizador do ambiente. o profissional de Educação Infantil tem um importante papel e uma grande responsabilidade. apontamos algumas das principais necessidades das crianças que frequentam a Educação Infantil. p. nos acompanha no decorrer de toda a vida e ressurge a cada nova situação que vivenciamos. não a impedindo de expressar-se e realizar-se de forma completa. que pode durar dias ou meses. Nas palavras de Reda e Ujiie. em um ambiente estimulador. esse processo se desencadeia. o ingresso da criança na Educação Infantil e na vida escolar representa um passo importantíssimo em direção à sua independência. portanto. que até então era unicamente familiar. Licenciatura em Pedagogia . Basta dar- lhe oportunidade de interagir com crianças de todas as idades. propiciando recursos pedagógicos de forma a transmitir à criança segurança para o exercício da autonomia. Quando falamos em adaptação devemos considerar que sempre que enfrentamos uma situação nova.2). O tempo necessário para que uma criança sinta-se bem na escola e tenha confiança 115 UNIDADE III . as principais necessidades das crianças pequenas. é necessário repensar a prática pedagógica da Educação Infantil tendo como referencial básico. pois é único e é diferente de criança para criança. Podemos dizer que esse processo é um período de conhecimento entre criança-família-educador-comunidade escolar. Neste sentido. Cabe a ele a função de mediador. O processo de adaptação. A partir deste referencial é possível conceber a criança como ser altamente competente para construir conhecimentos sobre si mesmo e sobre o mundo. proporcionando momentos de atividades livres e orientadas. Para que isso se efetive. pois ela está saindo do convívio. Esta é uma fase que exigirá um período de adaptação. pois ela precisa de parcerias para desenvolver-se. para ficar por algumas horas do dia em um lugar estranho com pessoas que são desconhecidas para ela. afirmando que. sendo um deles o sensorial. visando ganhar a confiança e construir um laço afetivo com a criança. Podemos citar a forma como os pais preparam a criança. desenvolvimento do sistema muscular. Portanto. nos primeiros anos de vida. Tudo isso contribui não só para a satisfação das necessidades nutricionais. O trabalho de nutrição 116 UNIDADE 3 . proporcionando ao organismo a energia e os nutrientes necessários para o bom desempenho de suas funções e para a manutenção de um bom estado de saúde. conhecendo suas particularidades. medos. deve-se dar um valor especial em certas fases da vida para que não ocorra deficiência alimentar que podem provocar sérias consequências. sabores. o que se dá na forma da apresentação de cores. Universidade Aberta do Brasil na professora varia de acordo com diversos fatores. Dessa forma. Educativo porque a criança vai adquirindo hábitos alimentares saudáveis que estarão interferindo no seu desenvolvimento. Philippi (2003) vem reforçar essa ideia. reserva para a puberdade e para garantir uma boa saúde. b) Alimentação: O alimento é um dos principais recursos que o homem utiliza para o seu desenvolvimento. a maneira como a escola se organiza para recebê-la e ainda as estratégias que a educadora utiliza em seu trabalho docente. interesses. que geralmente lhe é estranho. Para Gonzáles (2003). da família e daqueles que assumem seus cuidados. em um ambiente novo. que ela receba uma alimentação adequada. dentre outros fatores. motivando-a ou não. deve-se levar em conta dois aspectos em relação à alimentação: o aspecto educativo e o aspecto relacional. habilidades. na forma do seu preparo. os momentos iniciais na Educação Infantil exigem esforço de adaptação da criança. nas porções adequadas e no ambiente onde é realizada a refeição. Conduzir de forma apropriada a alimentação da criança requer cuidados relacionados a inúmeros aspectos. como também emocionais que envolvem o processo de alimentação. é de extrema importância para o crescimento e desenvolvimento de uma criança. uma vez que ela passa a conviver com grande número de adultos e crianças. odores. Por isso. as necessidades nutricionais nos primeiros anos de vida estão voltadas para o crescimento do corpo. ou seja. 117 UNIDADE III . Por isso falar de saúde nas instituições de Educação Infantil implica promover ações de higiene. O trabalho com essa necessidade da criança não deve ficar restrito a atividades mecânicas. (CRAIDY & KAERCHER. contribuindo assim para que a criança perceba que tais ações são importantes para a manutenção da saúde. 2001. mas também em acompanhar o desenvolvimento dos hábitos alimentares de cada criança. Os educadores devem orientar e incentivar as crianças maiores a realizarem sozinhas as atividades como: lavar as mãos. alimentos e utensílios. afeto e aconchego: o ser humano. ocasião em que é fundamental a presença do educador como orientador e referência.39). c) Higiene: A higiene é um importante recurso para manter a saúde. Licenciatura em Pedagogia . o horário das refeições é um momento de relações e de aprendizagem entre as crianças. mas proporcionar ricas experiências que devem ser aproveitadas por seu valor pedagógico. É importante que se considere a higiene dentro desta perspectiva enquanto higiene pessoal. tomar banho. ao nascer. p. por si só. O simples fato de garantir a vida através do cuidado é. assoar o nariz. escovar os dentes. prevenção de doenças e de acidentes e a realização de atividades que busquem o crescimento e o desenvolvimento da criança em sua totalidade. dos brinquedos. d) Proteção.Organização dos tempos e espaços na Educação infantil. ajudando-as sempre que se fizer necessário. portanto. é extremamente dependente dos outros para sobreviver. do ambiente. não deve se restringir em apenas fazer um cardápio adequado às necessidades nutricionais. No aspecto relacional. mas necessária em razão dos benefícios que tais hábitos proporcionam. limpar-se após o uso do vaso sanitário e na organização do ambiente usado no dia a dia. um gesto de proteção e afeto. A realização de atividades de higiene não é concebida como mera imposição. acompanhar e avaliar constantemente as capacidades das crianças. a busca de uma relação de confiança e segurança. higiene. Nas instituições de Educação Infantil. Universidade Aberta do Brasil No entanto. o respeito aos ritmos fisiológicos individuais e a aceitação das manifestações da criança. propiciando sua alimentação. etc. tristeza. o bebê constrói vínculos com as pessoas que lhe são próximas e que lhe garantem a sobrevivência. Com seu crescimento. entre adultos e crianças. 1998. alegria e dor. descanso. passa pela construção de vínculos que se estabelecem na interação e permanência do educador com o grupo de crianças. Oferecer conforto. pesar os riscos e benefícios de cada atitude e procedimento. nas suas aspirações e limitações. é fundamental garantir a vida com qualidade.51). respeitando a criança na sua maneira de ser. segurança física e proteger não significa cercear as oportunidades das crianças em explorar o ambiente e em conquistar habilidades. não basta apenas garantir a vida. amplia-se o campo de interação com outras pessoas. Faz parte do cotidiano da instituição de Educação Infantil a preocupação em organizar seus espaços de forma aconchegante e acolhedora garantindo o direito ao colo. 118 UNIDADE 3 . p. Significa proporcionar ambiente seguro e confortável. (RCNEI. ao carinho. Desde o seu nascimento. de raiva. 1996. jogar com regras. dramatizar. à sua maneira. p. Ao brincar. Cada um. desenvolve habilidades motoras. Licenciatura em Pedagogia . afirma que no jogo a criança transforma. a criança desenvolve senso de companheirismo. pela imaginação. quando tem sua curiosidade despertada por jogos e brincadeiras. como Piaget e Vygotsky. desenhar. que se aprofundou no estudo do papel das experiências sociais e culturais a partir da análise do jogo infantil. (FRIEDMANN. Ele ainda ressalta a importância dos signos para a criança internalizar os meios sociais. Essa nobre atividade da infância é destacada por vários autores. Ela inconscientemente sente quando o está recebendo por razões subjetivas do adulto que. As palavras brinquedos. O brincar faz parte da infância. A criança. cognitivas e/ou linguísticas. frustrando-se ou motivando-se. mostra a importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil e a aquisição do conhecimento. A criança trata o brinquedo conforme o recebe. aprende a conviver. É indispensável que a criança se sinta atraída pelo brinquedo. a compreender as regras. brincadeiras e crianças estão diretamente ligadas umas às outras. pois elas fazem da brincadeira uma ponte para o imaginário. muitas vezes. constituem meios prazerosos de aprendizagem que podem ser trabalhados a partir do lúdico. entre outras atividades. os objetos produzidos socialmente. compra o brinquedo que gostaria de ter tido. 119 UNIDADE III . e cabe ao adulto mostrar as possibilidades de exploração que ele oferece. Ao jogar com os amigos. 65). amplia seus conhecimentos. a aceitar o sucesso e o fracasso.Organização dos tempos e espaços SEÇÃO 2 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO TRABALHO Vygotsky. A Educação Infantil deve considerar o lúdico como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no desenvolvimento das crianças. Contar e ouvir histórias. esperar a sua vez e aceitar o resultado. a criança amplia sua capacidade corporal. sendo capazes. refletem medos e alegrias. Antigamente. Colocam fatos reais acontecidos no cotidiano da família e da escola. cada vez mais os educadores recomendam que os jogos e as brincadeiras ocupem um lugar de destaque no programa escolar desde a Educação Infantil. especialmente para o brincar de forma coletiva. Enquanto brinca. como individualmente. é importante que o professor conheça os interesses e habilidades de seus alunos para que possa escolher as atividades e recursos. Brincando. Isso explica por que encontramos tanta dedicação da criança em relação ao brincar. Brincar é tão importante e sério para a criança como trabalhar é para o adulto. o que é de suma importância para o seu desenvolvimento. Eram 120 UNIDADE 3 . nas ruas. adulto ou outra criança. a brincadeira estava garantida pelo espaço nas casas. de tomar decisões. Aderem também ao mundo social. ela não apenas se diverte. tendo a oportunidade de expressar sua raiva. através das brincadeiras. a percepção de si mesmo como um ser social. Transformam-se em qualquer coisa ou pessoa que desejem. desacordo. a criança aprende. brincar não é uma atividade sem consequência para a criança. Brincando ela imita gestos e atitudes do universo adulto. Liberam também suas emoções. Por essa razão. pois compartilham a vida com seus companheiros. Brincando. desenvolvem características importantes para a vida adulta. as crianças expressam suas criações e emoções. nos parques. pois as crianças necessitam de momentos a sós para refletir e também deixar sua imaginação fluir. Hoje as crianças vêm sistematicamente perdendo o espaço. Como é grande a variedade de brinquedos e também de bibliografias relacionadas ao assunto. regras. Universidade Aberta do Brasil Através dessas atividades. As brincadeiras podem ser realizadas tanto em grupo. pode ser um animal. objeto. vivencia leis. a percepção do espaço que a cerca e de como pode explorá-lo. sua consciência do outro. mas recria e interpreta o mundo em que vive. insegurança ou antipatia. relaciona-se com esse mundo. visando aos objetivos que quer alcançar no processo ensino aprendizagem. descobre o mundo. experimenta sensações. Brincar é coisa séria. as crianças demonstram seus gostos e interesses. Nas brincadeiras. O brincar é o caminho natural do desenvolvimento humano. persistir e perseverar. O brincar é mais que uma atividade lúdica.Organização dos tempos e espaços comuns as brincadeiras de corda. vontade de experimentar. aborrecimentos. manifestar gostos. de se unir e conviver com outros. Na brincadeira. Se observarmos atentamente a criança brincando. pois percebe que não precisa desanimar ou desistir diante da primeira dificuldade. raciocinar. buscar novos caminhos. Através do brincar. do outro e do mundo. constataremos que neste brincar está presente a construção de representações de si mesma. mal-estar. por isso. ao mesmo tempo em que comportamentos e hábitos são revelados e internalizados por meio das brincadeiras. aprender a perder. é um modo para obter informações. adquire hábitos e atitudes importantes para seu convívio social e para seu crescimento intelectual. bola. Licenciatura em Pedagogia . percebendo que haverá novas oportunidades para ganhar. desejos. conviver com o diferente. aprende a ser persistente. tem sido mais frequente a reclamação por parte dos professores sobre alunos que não conseguem se concentrar. pensamos que alguns desses problemas podem diminuir se a escola entender que as brincadeiras devem ser realizadas com mais frequência pelos alunos. pegador e outras. Atualmente. seu desejo de criar. essas brincadeiras já não têm lugar nos condomínios e apartamentos ou não podem ser feitas por crianças que. são desorganizados e desinteressados. têm que trabalhar cada vez mais cedo ou realizar uma enorme quantidade de atividades extracurriculares. respostas e contribui para que a criança adquira uma certa flexibilidade. sua curiosidade. importante papel no desenvolvimento das crianças e. dúvidas. fora da escola. Talvez na escola ainda não tenhamos atentado para o fato de que brincadeiras e jogos. exerceram ao longo da história. de ser aceita e protegida. ter confiança. dentre outros sentimentos. 121 UNIDADE III . Quando brinca. Sem nenhuma pretensão de fazer uma justificativa formal. Coincidência ou não. não param quietos. descobrir. ainda estejam tão distantes de todas as aulas. devendo constantemente buscar soluções para as situações a ela colocadas. a criança consegue expressar sua necessidade de atividade. bola de gude. críticas. A brincadeira auxilia a criança a criar uma imagem de respeito a si mesma. a criança se defronta com desafios e problemas. nas ruas e quintais. diante de outras pessoas. Universidade Aberta do Brasil Qualquer pessoa que observa uma criança brincando percebe que esta situação contribui para sua inserção social. percebe que deve pensar sobre o que vai dizer e vai fazer para que possa ser compreendida. Todos esses aspectos que consideramos até aqui são essenciais para que a criança aprenda a qualquer tempo. que precisam cooperar e assumir suas responsabilidades com o sucesso ou o insucesso do que foi previamente combinado. as crianças defrontam-se com uma variedade de problemas interpessoais e sociais: “Quem vai ser o primeiro?”. permite que haja um avanço maior na organização do pensamento do que se ela estivesse só. seria interessante refletirmos agora sobre: Qual o papel do jogo. “Por que não é minha vez agora?”. portanto. porém. SEÇÃO 3 BRINQUEDO. Essas situações de conflito exigem que as crianças percebam que fazem parte de um grupo que deve ser respeitado. A relação com o outro. Sozinha ela pode dizer e fazer o que quiser pelo prazer e contingência do momento. que devem ter respeito às regras. do brinquedo e do desenho no desenvolvimento da criança? 122 UNIDADE 3 . JOGO E DESENHO: Formas privilegiadas para iniciar a criança no processo de escrita Diante das inúmeras situações que ocorrem no dia a dia da escola. Quando brincam. o que leva a criança a observar os acontecimentos sob várias perspectivas. num grupo. dentro e fora da escola. “Ela cumpriu o combinado”. ouvido. Brincar exige troca de pontos de vista. sonha ou deseja. Licenciatura em Pedagogia . ao lado do desenho. as crianças trazem para suas brincadeiras o que veem. Brincando ela alimenta suas ideias para que sejam escritas e lidas mais tarde. Através da linguagem. À medida que vão escrevendo. A brincadeira é uma forma privilegiada de aprendizagem. a criança está se constituindo como sujeito. Podemos dizer que o jogo. cria e organiza seu pensamento. • A brincadeira Perguntar por que a criança brinca é perguntar o que é ser criança. Proporcionar a elas espaços de jogos e brincadeiras é uma atitude que possibilita ao professor conhecer seus alunos e assim organizar e reorganizar as suas atividades. a criança coloca no papel. observam e experimentam. o brinquedo e o desenho são excelentes oportunidades para iniciar a criança no processo de aprender a ler e a escrever. No jogo e no brinquedo. ela imita. atividade conhecida comumente como jogo de “faz de conta”. aquilo que sabe. na areia ou nas paredes. Não se pode imaginar a infância sem seus risos e brincadeiras.Organização dos tempos e espaços A brincadeira. nos muros. o jogo simbólico. O brincar não é apenas uma 123 UNIDADE III . escutam. O desenho é uma forma de ela escrever as suas ideias. Acreditamos que esses recursos são fundamentais para o trabalho cotidiano na Educação Infantil. Quando desenha. Estimulação Precoce / Superestimulação É também através dos jogos e brincadeiras que as crianças desenvolvem a sua imaginação e criatividade. formam o conjunto de atividades que caracterizam as primeiras manifestações da linguagem escrita da criança. seus desejos. É forma de exercitar a imaginação . é possível observar a presença dos jogos. é o meio que possui para interagir com o mundo dos adultos. A bola e a boneca são os brinquedos mais antigos de que se tem notícia e os mais difundidos entre as diferentes culturas. É também um espaço onde a criança pode expressar. sobretudo. de arcos. Desde as épocas mais antigas há registros de que as crianças sempre brincaram. desenhos. medos. simbolicamente. brinquedos e brincadeiras. percebe o quanto são importantes as relações que se estabelecem entre eles e quanto isso influi no seu desenvolvimento. a atividade principal das crianças. É um espaço em que a criança vive e convive com seus companheiros e. destrói e reconstrói o mundo do seu jeito. de esconde-esconde. é algo extremamente natural e próprio delas.um instrumento que permite à criança relacionar seus interesses e suas necessidades com a realidade de um universo que pouco conhece. entre tantos outros jogos. de adivinhação. com certeza. Você lembra quais eram as brincadeiras de que você mais gostava quando era criança? E as de seus alunos? Você. Universidade Aberta do Brasil atividade natural. suas fantasias. É. de cordas. sentimentos agressivos e os conhecimentos que vai construindo a partir das experiências vividas. A brincadeira é. 124 UNIDADE 3 . ao observá-los. Podemos dizer que a brincadeira expressa a forma como uma criança reflete. Brincar parece ter sido sempre. uma atividade social e cultural. de fato. esculturas e pinturas deixados pelas diferentes gerações. desorganiza. É como se procurassem decifrar o mundo através do jogo de “faz de conta”. de bolas. um espaço de investigação e construção de conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo. organiza. das brincadeiras e dos brinquedos como elementos que reproduzem situações de crianças brincando. das brincadeiras de roda. Brincar é atividade cotidiana na vida da criança. Nos murais. para ela. de pião. de amarelinha. na espontaneidade e na coordenação motora. pouco a pouco. quais as suas preocupações e que problemas a estão assediando. ansiedades. Neste momento. que devemos respeitar mesmo se não a entendemos. Bruno Bettelheim. No período de desenvolvimento denominado por Piaget de pré- operatório. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas: brincar é sua linguagem secreta. dá sentido às coisas de seu dia a dia. da imitação. da imagem mental e da aquisição sistemática da linguagem formam o conjunto de atividades características deste período. entendê-la. que inicia por volta dos dois anos. problemas. esforçam-se para agir e se relacionar com o ambiente físico e social que as rodeia – um mundo de objetos. p. enquanto brinca no mundo do “faz de conta” comporta-se como se estivesse 125 UNIDADE III . o jogo simbólico. (1989. O ato de brincar possibilita à criança uma melhora na socialização. desejos.Organização dos tempos e espaços assim. ela expressa o que teria dificuldade de colocar em palavras. Nenhuma criança brinca espontaneamente só para passar o tempo. assim. Licenciatura em Pedagogia . relações e sentimentos que.. no livro Uma vida para seu filho. a criança cria situações imaginárias.. A forma como a criança vive o brinquedo e a brincadeira depende do seu processo de desenvolvimento e das condições de seu pensamento. podemos compreender como ela vê e constrói o mundo – o que ela gostaria que ele fosse. explicita que: Através de uma brincadeira de criança. desde o momento em que nascem e à medida que crescem. No jogo simbólico. Pela brincadeira. vai se ampliando e que elas procuram todo o tempo compreender. poder motivá-la.72). ajudá-la e interferir no processo de seu desenvolvimento. (. ao lado do desenho.) sua escolha é motivada por processos íntimos. Nesse processo vão construindo conhecimentos sobre a realidade e tomando consciência de si como indivíduos únicos entre outros indivíduos. na criatividade. é fundamental que o(a) professor(a) esteja atento(a) às diferentes manifestações que a criança possa apresentar para. As crianças. atividade conhecida comumente como jogo de “faz de conta”. é uma das fontes de prazer do brinquedo. Isso quer dizer que se a criança estiver representando o papel de mãe. sua ação tenderá a reproduzir as ações que observa nos adultos condutores desses meios de transporte. Vygotsky (1998. Quando a criança brinca. No brinquedo. O papel que a criança representa e a relação dela com um objeto tem origem sempre nas regras. levar os filhos para a escola ou para passear. ou montar um cavalo ou outro meio de transporte qualquer. geralmente reproduz formas de agir de médicos que já a atenderam ou que medicaram pessoas com as quais convive. etc. quando uma criança brinca de médico. Por exemplo. ela encena a realidade e só representa situações que conhece. inclusive. um espaço de aprendizagem em que a criança age além do seu comportamento cotidiano e das crianças de sua idade. Assim. Assim. a criança cria e recria uma situação imaginária. Em síntese. no jogo simbólico. Universidade Aberta do Brasil agindo no mundo dos adultos. Se estiver brincando de dirigir um carro. Essa capacidade de sujeição às regras. nas diversas situações do cotidiano: fazer comida. Da mesma forma. 126 UNIDADE 3 . imposta pela situação imaginada. a criança cria uma situação imaginária com regras de comportamento que não se distanciam da situação da vida real. brincando. e ela ainda não. através da brincadeira. quando brinca de casinha e assume o papel de “mãe”. p. imitando o comportamento da mãe. funções sociais generalizadas a partir da observação do mundo dos adultos. imaginando realizar coisas que são necessárias para operar com objetos com os quais os adultos operam. ela obedece às regras de comportamento maternal. dessa forma. ela se preocupará. ela age como se fosse maior do que é na realidade. Dessa forma. alimentar e dar banho. que reproduz o real. ela pode fazer de conta que age como os adultos. Na brincadeira. ou que reconstrói. seu conhecimento de mundo se amplia. nessa atividade. realizando simbolicamente o que mais tarde realizará na vida real. em reproduzir o barulho do motor ou o trotar do cavalo. porque. A brincadeira é.124) afirma que “não há brinquedo sem regras”. no brinquedo. a criança experimenta diferentes papéis sociais. age com as bonecas e com os apetrechos da casa e da cozinha do mesmo modo como a mãe. ela aprende a se subordinar às regras das situações que representa. movimenta a cabeça. a maior parte do tempo da criança. ao agir. A criança no período pré-escolar não brinca mais do que três ou quatro horas por dia. a questão não é quantidade de tempo que o processo ocupa e sim sua qualidade. de modo algum.Organização dos tempos e espaços Vale lembrar que. Licenciatura em Pedagogia . Além do jogo simbólico. pega objetos e os deixa cair. a criança modifica sua estrutura cognitiva. as crianças se envolvem com brincadeiras que são simples exercícios nos quais não intervêm símbolos ou regras. É só observar um bebê de sete. dentro da qual se desenvolvem processos psíquicos que preparam o caminho da transição dela para um novo e mais elevado nível de desenvolvimento. não ocupa. Sendo assim. Isso quer dizer que no brinquedo. oito meses em seu carrinho. move os braços como se fizesse ginástica. por exemplo. balbucia sons incompreensíveis. Elas devem criar conflitos cognitivos que possibilitem às crianças dar saltos qualitativos em seu desenvolvimento. Assim. durante alguns minutos. Todos esses movimentos cumprem um papel 127 UNIDADE III . Estabelece-se uma relação entre pensamento e situação real. Seja na escola ou em casa. ela passa a organizar seu pensamento. é possível afirmar que o brinquedo é a atividade principal da criança em idade pré-escolar. Tais jogos são observáveis nos bebês e são meros exercícios das funções.para ela poder aprender a ler e escrever. as brincadeiras não podem apenas ser um simples divertimento. para constatar tais jogos: ele bate o pé no carrinho. Leontiev (1988) explica que a expressão atividade principal não designa apenas a atividade frequentemente encontrada em dado nível de desenvolvimento de uma criança. na brincadeira. Aí está a importância da brincadeira . É o que se pode chamar de jogos funcionais. É denominada atividade principal porque propicia mudanças importantes no desenvolvimento psíquico da criança. O brinquedo. A criança desenvolve seu pensamento para comunicar. o que encanta e agrada as crianças é a dificuldade e o desejo de superar as situações vividas. gestos inúteis. plantar bananeira. xadrez. rodar bambolê. quando as crianças ainda são pequenas. A atividade de jogos funcionais. exercita- se movendo as pernas (o que lhe possibilitará andar mais tarde). ganham cada vez mais significado. andar) dá sempre lugar a múltiplos jogos funcionais. (p. Não há. fazerem uma série de perguntas sem esperar que sejam respondidas. ou numa armadilha da qual só sairá caso conheça a resposta. esboça em seus murmúrios a linguagem que se desenvolve. em um ano. de toda função nova (falar. como a de pular corda. elas perguntarem muito “o quê?”. virar cambalhota. É muito comum. É nessa fase que os jogos de combinação 128 UNIDADE 3 . a representar dois terços do tempo que a criança passa acordada. dentre outros) se desenvolvem e diversificam com o desenvolvimento cognitivo da criança. As atividades das crianças durante o primeiro ano caracterizam-se por sua independência do material que manipulam. Também os jogos de exercício intelectual (dama. Universidade Aberta do Brasil fundamental: através desses gestos. As brincadeiras. As perguntas que não esperavam respostas frequentemente são substituídas pelo gosto em aprender enigmas para serem propostos a outras crianças e adultos. para fazer emergir também funções mais complexas. memória. bater bola são jogos de exercícios. O prazer que as crianças encontram nesse tipo de divertimento parece estar relacionado à intenção de colocar o outro num dilema. como se ela quisesse “tirar a prova de todas as possibilidades da função”. Cada atividade concorre para desenvolver uma função. depois atividades exploratórias que. na criança. segundo Wallon apud Chateau. Daí a importância dos movimentos espontâneos. Essa atividade espontânea quase nula no recém- nascido chega. “por quê?“. permite a cada função explorar sua área e se expandir para dar surgimento a novos resultados.16). Pode-se também observar que a aparição. exemplos de atividades que dão prazer às crianças e as divertem durante toda a infância. que surgem mais tarde. apenas para exercitar e demonstrar socialmente o que já conhecem. brincar de rolar pneu. a atividade de jogo também vai complexificando. Conforme a criança vai se desenvolvendo. tria. forma suas mãos para a manipulação. durante o primeiro ano de vida. O jogo funcional provém unicamente de uma necessidade de atividade. portanto. a criança molda a si mesma. os professores da Educação Infantil que trabalharem com a proposta de jogos em seus planejamentos 129 UNIDADE III . inventado ou escolhido pela criança para ser do interesse dela e ir ao encontro de suas necessidades. ATIVIDADE Pesquise em revistas de passatempo. uma não brincadeira. algo que seja alheio ao mundo infantil. parlendas e adivinhações. trava-línguas.Organização dos tempos e espaços de palavras como adivinhas. Assim. se os jogos ocupam um espaço privilegiado para a promoção do desenvolvimento e da aprendizagem. trava-línguas. principalmente nas classes de educação infantil. espontâneos e com os jogos propostos por outras crianças mais velhas ou pelo adulto. Um jogo infantil. que podem ser realizadas com as crianças. Em seguida registre algumas delas no quadro. Licenciatura em Pedagogia . isto é. ao contrário do que muitos pensam. O importante é que seja proposto de forma que ela possa tomar decisões. parlendas despertam tanto interesse na criança. O fato de ser proposto pelo adulto não faz dele menos jogo. agir de maneira transformadora sobre conteúdos que lhe sejam acessíveis e significativos. ADIVINHAS PARLENDAS TRAVA-LÌNGUAS O JOGO Brincar é uma atividade que convive com o cotidiano das rotinas escolares. na internet e em outros materiais. não precisa ser espontâneo. As crianças brincam com os jogos inventados. O que faz do jogo um jogo é a liberdade de ação física e mental da criança nessa atividade. Ao brincar. • Representa personagens (mãe. por exemplo. o papel de pai não pode fugir do comportamento de um pai. pai. Quem assume. Universidade Aberta do Brasil poderão desenvolver atividades mais adequadas à forma como as crianças pequenas se relacionam com os fatos que procuram conhecer. uma criança coloca “perfume” em outras crianças usando uma peça de qualquer jogo. • Transforma recantos do ambiente físico de acordo com a atividade que está desenvolvendo. uma criança: • Transforma os objetos presentes na sala em alguma outra coisa que não corresponde ao que aquilo é na realidade. filha. Para que isso aconteça é fundamental que o(a) professor(a). assumindo com o uso do corpo as características do animal representado. desenvolvendo um script com regras para serem seguidas pelos participantes da brincadeira. Por exemplo. Para realizar os jogos espontâneos. nina ou repreende suas bonecas pelo “comportamento” delas. em primeiro lugar. reconheça nas brincadeiras e jogos infantis um espaço de investigação e construção de diferentes aspectos do meio social e cultural em que as crianças vivem. • Representa animais. • Trata objetos inanimados como animados. que pode estar mexendo em objetos dispostos na prateleira da sala. as crianças usam meios de que dispõem. “Sai da minha casa!” uma criança diz para outra. É importante também que ele(a) veja a criança como um sujeito ativo e criador no seu processo de construção de conhecimento e planeje para sua classe atividades a partir de conteúdos significativos para as crianças. como: 130 UNIDADE 3 . bebê). comadre. Por exemplo. Isso quer dizer que é preciso que o(a) professor(a) coloque as crianças em situações de aprendizagem de aspectos da realidade que elas estão buscando conhecer. Licenciatura em Pedagogia .: latir imitando um cachorro. Com isso podemos observar que as crianças usam os recursos do próprio corpo (gestos. no espaço da brincadeira. vocalizações) associados aos recursos do ambiente (sucatas. entre expressões do próprio corpo (mímicas. Palavras – algumas vezes uma palavra é capaz de evocar situações e/ou coisas. quanto constroem significados que fazem sentido naquele momento de seu processo interacional. recantos) e trazem para o contexto da brincadeira personagens e animais não presentes no ambiente. Por meio desses recursos.: dizer “alô” ao pôr uma peça de encaixe no ouvido explicita uma transformação do objeto. bem como situações/atividades já experienciadas por elas ou por outras pessoas do seu meio. Relembre e relate abaixo. miar imitando um gato ou vocalizar o barulho de um carro. Elas criam elos entre objetos e situações. posturas. Ex.Organização dos tempos e espaços Gestos – manuseio de brinquedos e objetos.: pôr-se de quatro. vocalizações) e personagens e/ou situações já vividas ou apenas observadas por elas. como uma proposta de conversar ao telefone. as crianças tanto retomam. assim. brinquedos. Ex. Posturas – uso do próprio corpo para evocar personagens não presentes. Som – vocalizações que remetem a animais ou coisas. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 131 UNIDADE III .: “não sai de casa. um episódio observado nos seus alunos que represente os jogos espontâneos. significados já vividos no seu dia a dia. Exemplo: uma peça de madeira pode representar um batom pela forma como ela passa a peça em volta dos lábios. Ex. Frases . significados atribuídos a objetos e a recantos do ambiente físico.que explicitam papéis. Ex. ô filhinha”. movimentar a cabeça lateralmente e ranger os dentes como um cachorro faz. de traduzir em palavras os argumentos físicos que as crianças utilizam. de falar pelas crianças que ainda não conseguem expressar com clareza seus desejos. 132 UNIDADE 3 . chutes. filho. professora. Ela brinca assumindo os papéis de personagens que lhe são familiares (mãe. Os objetos e as ações são subordinados ao campo do significado. suas intervenções poderão se fazer no sentido de explicitar pontos de vista. mas também pode observar como as crianças. e os animais e objetos representados fazem parte de sua realidade. o papel do professor é de apoiador. tanto nos horários de brincadeiras livres no pátio. se houver. como nos momentos em que as crianças estão na classe ou no pátio brincando. se adaptam pouco a pouco às regras. beliscões. Essa observação pode auxiliá-lo na elaboração das propostas de atividades em classe. ele não só garante a continuidade da brincadeira. à medida que crescem. de promover. Mediante as questões apontadas. observador e mediador das regras combinadas. Os temas vivenciados nas brincadeiras são vinculados ao cotidiano da criança. de democratizar os espaços e objetos de uso comum. a criança substitui um objeto real por outro. Caso o professor reconheça os jogos do “faz-de-conta” como espaços privilegiados para o desenvolvimento da sociabilidade e para a construção da identidade das crianças. Desempenhando esse papel. pai. uma ação por outra. o desejo de alguma criança ingressar em um jogo já em andamento ou de atender às solicitações de materiais de apoio à estrutura do jogo. As ações desenvolvidas pelas crianças no “faz-de- conta” são similares às que ocorrem na realidade. Universidade Aberta do Brasil No jogo do “faz-de-conta”. nas atividades espontâneas das crianças. motorista). Se o professor considerar importante pode incluir na rotina da classe os jogos do “faz-de-conta”. como tapas. Ele começa quando a linguagem falada já alcançou grande desenvolvimento e já se tornou habitual na criança. Os desenhos encontrados nas paredes das cavernas oportunizaram que os homens primitivos deixassem registradas suas ideias. o desenho é uma linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal. uma proposta de trabalho que tenha como eixo as atividades lúdicas. representar. Relate abaixo a sua proposta. seus medos. Deixar marcas é uma forma de comunicação. simbolizar uma visão de mundo. mesmo antes de entrar na escola. O desenho é uma necessidade humana e nasce com o desejo de criar. Os primeiros registros de linguagem escrita apresentavam-se através do desenho. O desenho surge antes da escrita e constitui uma forma de expressão bastante espontânea da criança. organize com seus alunos. 133 UNIDADE III . Licenciatura em Pedagogia .Organização dos tempos e espaços Considerando que os jogos e brincadeiras são espaços privilegiados para a promoção do desenvolvimento e aprendizagem da criança. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Desenho O desenho é uma outra forma de expressão da criança. Sabemos que a criança sempre desenhou. Portanto. sua sabedoria. agindo como parceiro da criança em seu processo de desenvolvimento. Assim. sonhos. ou apenas como um “tapa buraco”. a criança poderá expor as suas necessidades. de tristeza ou de alegria. Na disciplina de Psicologia. minutos antes de terminar a aula. Na visão inatista. No nosso entender. O desenho pode ser um grande aliado para a criança expressar uma ideia de violência. desejos e inquietações. acreditam que. Muitos acreditam que o desenho deve ser dado como um momento para que as crianças “fiquem em silêncio”. é extremamente importante que o professor não tire conclusões precipitadas do desenho da criança. Ele deve não apenas analisar o desenho (como produto final). enquanto eles corrigem cadernos. comportamentalista e interacionista. o aluno é considerado “uma folha em branco” que será preenchida pelo ambiente. já que elas terão poder de decisão e escolha no momento da produção. A concepção interacionista propõe um equilíbrio entre aquilo que a pessoa é ao nascer e as interações que estabelece com o meio. a visão interacionista trará possibilidades e oportunidades para que os professores verifiquem e observem as reações das crianças no momento do desenho. Universidade Aberta do Brasil Importância do desenho O que está sendo priorizado nos desenhos das crianças? Suas crianças têm tido oportunidade de trabalhar com materiais variados? Como se estabelecem as relações entre as crianças e o professor no mundo do desenho? Quais são os momentos oportunizados às crianças para que elas desenhem? Essas questões constituem alvo da preocupação de diversos professores. é uma forma de relatar algo que aconteceu e que talvez não tenha coragem de falar ou até mesmo algo que não tenha compreendido. no entanto. Outros. você estudou as concepções inatista. Podemos dizer que a forma como o professor trabalha com o desenho na sala de aula vai depender da sua concepção. daquilo que ele acredita ser verdadeiro e significativo. através do desenho. mas também 134 UNIDADE 3 . Na visão comportamentalista. capaz de ajudar e intervir no desenvolvimento do trabalho. O professor será o mediador. postula-se que a criança já “nasce sabendo” desenhar. 135 UNIDADE III . É fundamental que o professor esteja atento para esses momentos e assim compreenda os desejos e interesses das crianças. Pode ser que a cor preta tenha sido escolhida apenas para dar realce. Isso nos alerta para o fato de que muitas vezes nos encontramos imersos em busca de respostas mirabolantes e na verdade a criança pode simplesmente nos dizer “não é nada disso”. relatou a preocupação de um profissional e dos pais de um garoto com o hábito de picar minhocas. A cor preta. Quando observamos suas produções. Procuraram investigar a causa de sua agressividade.Organização dos tempos e espaços dialogar com o desenhista e observar. não significa que a criança esteja com algum problema e que mereça ser encaminhada para um profissional. Quando tiver oportunidade. os gestos. por exemplo. Licenciatura em Pedagogia . quais os diálogos que a criança estabeleceu com os colegas ou com o próprio desenho. deixar o trabalho mais bonito. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Outra questão que merece ser observada é o fato de a criança utilizar apenas uma cor para pintar os seus desenhos. verificamos que os desenhos muitas vezes resultam da discussão e das ideias que surgem à medida que as crianças desenham. devemos conhecer e analisar o contexto em que ocorreu a situação. Verifique no momento em que estão desenhando quais os diálogos que se estabelecem entre eles. durante a realização do desenho. Observar o desenho pronto não oportuniza perceber a beleza do diálogo. Rose Campos. até ouvi-lo dizer para a minhoca esquartejada: “Olha. Anote a seguir um episódio que lhe tenha chamado a atenção. num artigo da Revista Educação. os olhares entre as crianças. proponha uma atividade de desenho aos seus alunos ou para um grupo de crianças. Antes de tirarmos conclusões precipitadas. agora você já tem muitos amiguinhos”. 54).) o desenho é uma íntima ligação do psíquico e do moral. a representação mental que ela tem dele no momento em que desenha. Seus desenhos representam o que ela sente e pensa sobre as coisas. ocupará no espírito do desenhador um lugar exclusivo e preponderante. Universidade Aberta do Brasil Vale dizer que a criança. Conforme Luquet: (. (1981. ela desenhará sem sequer olhar para o original. porque a criança desenha de memória. Ao observar desenhos de crianças. ao desenhar. Isso aponta que mais do que simplesmente desenhar o que vê. neste momento. pode-se aprender mui- to sobre o seu modo de pensar e sobre as habilidades que pos- suem. de estar com problemas na Fonte: pesquisa das autoras motricidade fina ou de ainda não 136 UNIDADE 3 . ou algum objeto que esteja perto dela.. Ao pedir a uma criança que desenhe alguém que está sentado na frente dela. Essa forma de representação mental da realidade é definida como “desenho raio-X”. Não representa de forma alguma o fato de ela não estar enxergando bem. a criança desenha o que sabe e sente naquele momento. exprime o que conhece de um objeto. A intenção de desenhar tal objeto não é senão o prolongamento e a manifestação da sua representação mental. Há uma fase de seu de- senvolvimento em que os braços de uma figura humana saem da cabeça e não do tronco. o objeto representado é o que. o esquema corpo- ral de uma figura humana. Um bom exemplo da representação mental que a criança faz do objeto é o desenho de uma pessoa vestida em cujo bolso aparece a carteira.. A criança que representa a figura humana dessa forma ainda não tem con- struído interiormente. p. em seu pensamento. ou o desenho de uma mulher grávida em cuja barriga aparece o bebê. em seus desenhos. É na ação de desenhar figuras humanas que a criança vai aos poucos estruturando sua ideia sobre tal figura. uma alimentando a outra. é possível notar que crianças com idades correspondentes têm. Há um consenso de que a evolução do desenho depende intimamente da linguagem e do conceito de escrita. Assim. (. Segundo Vygotsky.. VYGOTSKY. qualquer que seja o país ou classe social. Ao se observarem desenhos infantis de diferentes lugares. (1998. ainda que não seja possível estabelecer precisamente as idades. características semelhantes. Etapas do desenho infantil Diversos autores (PIAGET & INHELDER. o desenho da criança reflete a forma como ela vê o mundo em determinado momento do seu desenvolvimento. Isso indica duas questões fundamentais: a) existe uma relação intrínseca entre o pensamento e o desenho. não existem profundas divergências quanto às etapas evolutivas do desenho infantil. p.) os esquemas que caracterizam os primeiros desenhos infantis lembram os elementos verbais que comunicam aspectos essenciais dos objetos. b) existem etapas evolutivas do desenho infantil. LURIA. LOWENFELD. Licenciatura em Pedagogia . o que se mantém é a ordem de sucessão dessas etapas: 137 UNIDADE III . continuamente. entre outros) estudaram as etapas do desenho infantil. Esses fatos nos fornecem os elementos para passarmos a interpretar o desenho das crianças como um estágio preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita.149). Embora a abordagem entre eles varie.Organização dos tempos e espaços estar apta para desenhar.. Há basicamente três etapas bem definidas e. en- tre ideias e representação. nomeando-os. Essas formas são conquistadas pelas crian- ças a partir da progressiva organização do traçado da garatuja. A garatuja é o primeiro desenho da criança. que se orga- nizam de acordo com de- terminados sinais topológi- cos (dentro/fora. Isso ocorre porque a criança se encontra em um nível de desenvolvimento em que todas as figuras são representadas por uma curva fechada sem regras e nem ângulos. Aos poucos. Esse gênero de desenho é denomi- nado diagrama. O segundo caminho é percorrido por aquelas que vão 138 UNIDADE 3 . Algumas crianças articulam diversas formas entre si. As formas circulares são empregadas para representar os mais variados elementos: sol. Não são poucas as vezes em que ela se surpreende ao perceber que o movimento de sua mão deixou uma marca no papel. casa. circulares. que muitas vezes extrapolam o limite do papel. que configuram figuras geométricas. a percepção do que está dentro e o que está fora. Universidade Aberta do Brasil a) Fase das garatujas A criança munida de papel e lápis traça movimentos amplos. Fonte: pesquisa das autoras observam-se nos desen- hos infantis dois caminhos muito interessantes. figura humana. etc. b)Fase pré-esquemática Período em que começa a surgir no de- senho das crianças formas fechadas. boneca. Nesse momento da sequência evolutiva. algo semelhante a bolinhas. o que está em cima e o que está embaixo. por exemplo. A partir desses rabiscos iniciais. em cima/ embaixo). as crianças passam a atribuir significados a seus desenhos. as crianças começam a construir noções de relações espaciais de ordem topológica como. Ainda que não haja uma distinção entre os sinais. As coisas da terra se localizam na borda inferior da folha. Fonte: pesquisa das autoras Nesta fase aparece a forma primitiva de escrita (grafismo). as crianças dão a cada um deles um significado. por tentativas. transformam-se nos rudimentos da figura humana. que. Licenciatura em Pedagogia . as coisas do céu na parte superior. 139 UNIDADE III . obtendo assim espécie de sóis. É a descoberta da função simbólica da escrita. A intenção do que representar e de como representar é manifestada.Organização dos tempos e espaços colocando filamentos em suas formas fechadas. c) Fase esquemática A principal característica dos desenhos esquemáticos é que neles as figuras encontram-se organizadas segundo temas e com uma ordem espacial. Há uma proporção entre as figuras e uma integração dos temas. de aranhas. o prazer encontrado por elas com certeza deixará de existir. é a de expor o desenho das crianças na classe ou nos corredores da escola. qual é o papel do desenho no desenvolvimento da criança? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 140 UNIDADE 3 . Oferece condições de livre expressão. criando assim um espaço favorável ao desenvolvimento do desenho infantil. Universidade Aberta do Brasil Fonte: pesquisa das autoras Vale dizer que o desenho possibilita a valorização da linguagem gráfica. por parte da professora. Uma atitude altamente estimuladora. Mediante as questões apontadas. Nesse processo é fundamental que o professor oportunize às crianças um ambiente agradável. desenvolvimento da criatividade e sensibilidade. realização pessoal. com uma variedade significativa de materiais. Caso não sejam oportunizados espaços e experiências significativas e privilegiadas para que as crianças possam fazer uso do desenho. interação. A imaginação e criatividade das crianças serão incentivadas e alimentadas pelas propostas desafiadoras que o professor proporcionar. propor novos encaminhamentos para a melhoria de seu trabalho em sala de aula. como também exterioriza. ele deve estar atento e receptivo às situações. relaciona-se. compreende. para que possa observar as interações. verificar dificuldades. analisar comportamentos e. Nesses momentos. Entendemos que quanto mais interessantes forem as propostas oferecidas pelos professores. principalmente na Educação Infantil. a criança não só aprende. além de estabelecer relações de afetividade. assim. negocia. São recursos que contribuem para o desenvolvimento integral da criança. pois ampliam o desenvolvimento linguístico e psicomotor. maiores serão as chances de os alunos se desenvolverem. expressa. busca e encontra soluções para as situações detectadas.Organização dos tempos e espaços Podemos afirmar que o jogo. cria. 141 UNIDADE III . Licenciatura em Pedagogia . Por sua vez. Tais propostas devem ser constantes. o brinquedo e o desenho são fundamentais para a realização do trabalho pedagógico. interage. Maiza Taques Margraf Althaus Na Educação Infantil a avaliação da aprendizagem é instrumento de reflexão sobre a prática pedagógica na busca pelo professor de melhores caminhos para orientar as crianças. A formação pedagógica para a atuação na Educação Infantil tem sido objeto de estudos. as possibilidades de expressão da criança. em várias dimensões. É preciso pensar em avaliação. questionamentos são cada vez mais presentes em nosso fazer. por fim. analisando as concepções teóricas de avaliação e. mas sim da articulação entre o que se pretende ensinar e o que se pretende avaliar. tais como: é possível avaliar a criança de 0 a 5 anos? Qual o sentido da avaliação quando priorizamos o trabalho pedagógico com crianças desta faixa etária? Tais questões apresentam-se como desafios que impõem ao cotidiano das escolas uma dinâmica própria. 142 UNIDADE 3 . conforme ele pesquisa que elementos podem estar contribuindo. revelando a necessidade de pesquisas constantes sobre o trabalho que desenvolvemos com as crianças. Universidade Aberta do Brasil SEÇÃO 4 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Concepções e práticas Profª. Partindo das compreensões sobre as determinações legais. Zilma de Moraes Ramos de Oliveira (2010) Caro aluno! A questão norteadora do estudo desta seção direciona-se para a especificidade da avaliação na Educação Infantil. contextualizando-a a partir de um cuidadoso planejamento da prática pedagógica. sua aprendizagem e desenvolvimento. Frente às exigências de formação inicial e continuada para atuação escolar. A referência principal da avaliação não advém da mera escolha dos procedimentos e instrumentos avaliativos. conhecendo as práticas avaliativas é que seu estudo se desenvolverá. ou dificultando. que lhe é peculiar. de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: “Na Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento. transição creche/pré-escola e transição pré-escola/ Ensino Fundamental). Em recente estudo.394/96. em seus artigos 10 e 11: Art. mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental”. A partir deste artigo. IV . álbuns etc. III .a não retenção das crianças na Educação Infantil. V .documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil.).Organização dos tempos e espaços Os fundamentos legais para avaliar na Educação Infantil Em conformidade com a determinação legal. Além disso. ou seja. II . 10.utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios. transições no interior da instituição. sem objetivo de seleção. promoção ou classificação. apresentamos a você o artigo 31 da Lei 9. cumpre alertar que em hipótese alguma haverá retenção de uma criança na Educação Infantil. garantindo: I . que trata especificamente da avaliação e das relações entre Educação Infantil e Ensino Fundamental.a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil. sem o objetivo de promoção. é possível compreender que a avaliação possui como função preponderante o diagnóstico. 143 UNIDADE III . Micarelo (2010) analisa o texto das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (MEC/2009). fotografias. As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças.a observação crítica e criativa das atividades. das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano. o educador infantil precisa acompanhar a criança para que possa investir no processo de aprendizagem. Licenciatura em Pedagogia . desenhos. as instituições não podem utilizar relatórios. pareceres. O ato de observar. “maduras” ou “imaturas” e tampouco pode servir de instrumento para que as crianças sejam retidas em alguma etapa da Educação Infantil ou para que tenham seu ingresso no Ensino Fundamental adiado.. ou seja. para que não se percam e possam ser compartilhadas entre os docentes.3). oferecendo a elas a segurança necessária no momento em que chegam à instituição e também na passagem pelos diferentes grupos no interior da instituição. o artigo 10 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil explicita a centralidade da observação como instrumento privilegiado de avaliação. segundo Micarelo. Assim compreendido. “prontas” ou “não prontas”.. A autora destaca também que o [. Para a autora. com as crianças e com as famílias. a prática avaliativa com crianças na Educação Infantil não pode levar a uma classificação em “aptas” ou “não aptas”. nos momentos de interação entre as crianças sem a participação dos adultos e nas interações das crianças com os adultos. Universidade Aberta do Brasil Segundo Micarelo (2010. p. avaliações realizadas por professores ou outros profissionais para definir se uma criança deve ou não ser aceita na instituição ou em determinado grupo e tampouco se deve ou não acompanhar seu grupo de referência em etapas posteriores do desenvolvimento do trabalho pedagógico. com a natureza. Isso permitirá que os professores e professoras conheçam cada vez melhor as crianças individualmente e as características dos diferentes grupos. 144 UNIDADE 3 .] olhar observador do adulto deve estar presente em todos os momentos do cotidiano das crianças na instituição: nas brincadeiras livres ou dirigidas. com os objetos do mundo físico e com os objetos de conhecimento. requer uma atitude de acolhimento do adulto com relação às formas peculiares pelas quais a criança se relaciona com o mundo e atribui sentido às suas experiências. Esses registros constituem a ’documentação específica’. Considerando a importância das observações é necessário que elas sejam registradas. este artigo reafirma a avaliação como um instrumento de inclusão das crianças na Educação Infantil. pois quando esses interesses são atendidos serão criadas condições para que as crianças enfrentem desafios. 11.14). ao focalizar igualmente as questões sobre as Diretrizes: As DCNEIs consideram que a avaliação deve ser processual e incidir sobre todo o contexto de aprendizagem: as atividades propostas e o modo como foram realizadas. a forma como o professor respondeu às manifestações e às interações das crianças. para pensarmos nas práticas avaliativas é importante ter presente que [. Acompanhe a partir de agora as concepções pedagógicas para que você possa compreender ainda melhor a avaliação na Educação Infantil. (2009. alcançando novos patamares em seu desenvolvimento afetivo. Deste modo. Licenciatura em Pedagogia .Organização dos tempos e espaços Já o artigo 11 das Diretrizes trata sobre a integração entre Educação Infantil e Ensino Fundamental: Art.] os instrumentos de acompanhamento da prática pedagógica têm a importante função de permitir que os professores e professoras identifiquem os interesses e necessidades que as crianças manifestam no presente. os agrupamentos que as crianças formaram.. as instruções e os apoios oferecidos às crianças individualmente e ao coletivo de crianças. Na transição para o Ensino Fundamental a proposta pedagógica deve prever formas para garantir a continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças. sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensino Fundamental. respeitando as especificidades etárias. 145 UNIDADE III . p. Para finalizarmos a análise desta subseção. p. o material oferecido e o espaço e o tempo garantidos para a realização das atividades. emocional e cognitivo. destacamos o trabalho de Oliveira (2010.5). este artigo ressalta o reconhecimento da especificidade do trabalho que se realiza na Educação Infantil e a importância de uma continuidade entre as experiências que as crianças apresentam nessa etapa e aquelas que viverão no Ensino Fundamental. Segundo Micarelo.. Universidade Aberta do Brasil O sentido da avaliação na Educação Infantil: concepções teórico-práticas Para que você compreenda os diversos conceitos e funções que se fazem presentes na literatura sobre avaliação na Educação Infantil. E você: como concebe a avaliação da aprendizagem na Educação Infantil? 146 UNIDADE 3 . são utilizados indistintamente apesar de os conceitos que lhes estão subjacentes terem significados muito diferentes”.. p.. Fernandes (2006.] um esforço a fazer no que se refere à clarificação do significado de termos que. por vezes.39) afirma existir “[. ou seja. o professor precisa conhecer as preferências delas. mediante várias formas de registro. p. Assim entendida. flexibilidade e vontade de adaptação. adequar o ensino à realidade concreta do grupo. 2010. Este é sem dúvida um dos únicos indicativos capazes de fazer com que se reconheça de fora uma avaliação formativa: o aumento da variabilidade didática. 147 UNIDADE III . p. Avaliação inicial: situa o professor no ponto de partida de cada uma das crianças para realizar novas aprendizagens. 2. de ajuste. A partir deste encaminhamento.21) afirma que [. Avaliação formativa: permite conhecer com objetividade o processo de aprendizagem da criança. de acompanhamento da criança em seu desenvolvimento. o professor reorganiza as atividades de modo mais adequado ao alcance dos propósitos infantis e das aprendizagens coletivamente trabalhadas. É a partir da avaliação inicial (diagnóstica). a avaliação da aprendizagem na Educação Infantil cumpre sua função processual e contínua. Veja no quadro a seguir estes conceitos: 1. A avaliação formativa implica que o professor observe sistematicamente o processo de aprendizagem da criança. visando proporcionar a ajuda pedagógica mais adequada a cada momento e. percebendo. A respeito da avaliação formativa. Hadji (2004.392). Deste modo. assim. por parte do professor. os colegas prediletos para a realização de diferentes tipos de tarefas. (ARRIBAS. Avaliação cumulativa: possibilita conhecer os resultados de todo o processo de ensino-aprendizagem. formativa e cumulativa (somativa) que as funções da avaliação serão alcançadas. Trata-se do diagnóstico inicial.] a avaliação formativa implica. o professor poderá fortalecer ou modificar a situação. (OLIVEIRA.Organização dos tempos e espaços Ao avaliar as crianças nesta etapa da escolarização. Licenciatura em Pedagogia . assim. para que se efetive o projeto político pedagógico de cada instituição. 14). bem como a forma de participarem nas atividades.. p. 2004. 3.. Universidade Aberta do Brasil Assim compreendida. 58). interessante estudo 148 UNIDADE 3 . os instrumentos ou procedimentos de avaliação são “os recursos que utilizamos para coletar informação” a respeito do desenvolvimento das aprendizagens dos alunos. Na literatura brasileira. 2004. a observação e o registro constituem os principais instrumentos de que o professor dispõe para apoiar sua prática. que ainda se faz presente no contexto da Educação Infantil práticas classificatórias. NADAL. 2005) optam pela expressão “instrumentos de avaliação”. p. mas o que são? De que forma podem ser planejados? Segundo Salinas (2004. Em Portugal. Os instrumentos de avaliação na Educação Infantil: procedimentos práticos Você já deve ter se perguntado sobre os encaminhamentos das práticas avaliativas com crianças na Educação Infantil . a avaliação formativa permite uma reflexão constante a respeito do trabalho do professor e não somente da criança. entretanto... pesquisadores (HOFFMANN. excludentes. em que a preocupação é voltada para o preenchimento de fichas que apenas classificam as crianças. FERREIRA. p. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil do Ministério da Educação (1998. tal como aqui se discutia. Constata-se. 59). ou seja. existe um fator preocupante em relação ao registro das práticas avaliativas. Consequentemente. para elas. a influência pode ser percebida quando. mas antes de uma questão epistemológica que tem alguma relevância teórica. de listagens uniformes de comportamentos a serem classificados a partir de escalas comparativas tais como: atingiu.] O modelo de avaliação classificatória se faz presente nas instituições de educação infantil quando.] é necessário ponderar se será adequado designar como instrumentos de avaliação um portefólio de trabalhos produzidos pelos alunos. muito 149 UNIDADE III . uma reacção crítica a um dado texto ou uma narrativa referente a uma visita de estudo.] alguns pareceres descritivos encerram concepções disciplinadoras. na maioria dos casos. ser mais congruentes com a concepção emergente de avaliação formativa. p.] na prática de elaboração de fichas comportamentais classificatórias semestrais. não atingiu. Segundo a autora. avaliar é registrar ao final de um semestre (periodicidade mais frequente na pré-escola) os ‘comportamentos que a criança apresentou’. no que se refere aos registros de avaliação das crianças [. por exemplo: [. uma composição.. Julgo que designações tais como tarefa de avaliação. Na verdade... quando destaca a repercussão dessas práticas do Ensino Fundamental e na Educação Infantil. sentencivas e comparativas que ferem seriamente o respeito à infância. atingiu parcialmente. utilizando-se..40) questiona o emprego deste termo: [.. não apresentou. tal como um metro media exactamente o comprimento de um segmento de recta. Penso que não se trata de uma mera questão semântica. a um contexto em que predominava uma racionalidade técnica em que avaliar e medir eram sinónimos. a designação instrumento de avaliação está associada ao movimento taylorista da gestão científica das escolas do século XIX. método de avaliação ou mesmo estratégia de avaliação poderão. poucas vezes. [. para isso.. Licenciatura em Pedagogia . muitas vezes. ou um termómetro media exactamente a temperatura do corpo de um paciente. um instrumento de avaliação media exactamente as aprendizagens dos alunos. Para Hoffmann.Organização dos tempos e espaços desenvolvido por Fernandes (2006... sem a preservação da individualidade de cada uma. No a seguir. segundo a autora. subsidiados pelo acompanhamento docente. etc. Os relatórios são registros do processo de construção do conhecimento da criança. nem é considerada a postura pedagógica do educador. Portfólios. os professores. além de contextualizar o seu processo evolutivo e natural de desenvolvimento”. Universidade Aberta do Brasil bom. está o exemplo de uma ficha classificatória que ainda se encontra em algumas instituições de Educação Infantil. a prática avaliativa se reduz ao preenchimento dessas fichas de comportamento ou elaboração de pareceres descritivos padronizados ao final de determinados períodos.56). tais como Registros de Casos. padronizando-se critérios. Já os relatórios permitem acompanhar a história de vida de cada criança e são caracterizados como um processo gradativo que necessita dos registros de outros instrumentos de auxílio. p.11). como visto anteriormente. determinam sentenças sobre os alunos. e outras. O cotidiano da criança não é verdadeiramente levado em conta. à semelhança do ocorrido no ensino regular. 150 UNIDADE 3 . tornando-a singular perante os outros. “o relatório de avaliação é um instrumento socializador das conquistas da história de cada criança. Diários. Segundo Hoffmann (2004. 2004. classificando-os ao final de períodos em aprovados e reprovados. Em muitas instituições. fraco. pois direciona o olhar avaliativo à visão dos ideais que devem ser atingidos pelas crianças. a avaliação na Educação Infantil não tem o objetivo de julgamento de aprovação nem mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental. Porém. (HOFFMANN. No Ensino Fundamental. Ficha classificatória de avaliação Habilidades Sim Não Às vezes Demonstra interesse por leituras Copia palavras em letra de forma Traça os numerais até 08 Fonte: a autora Considera-se que o exemplo acima constitui um instrumento inadequado de avaliação na perspectiva que aqui se está estudando. p. bom. 53). Licenciatura em Pedagogia . p. Participa com muito entusiasmo das propostas ao ar livre.. 2004. uma vez que Descrever esporadicamente o comportamento que uma criança ‘está apresentando’ não significa acompanhá-la verdadeiramente no seu cotidiano e atribuir significado ao seu processo de desenvolvimento [. Muitas vezes verbaliza na rodinha: . 151 UNIDADE III . Costuma falar baixo e esperar sua vez de falar. as mediações que os professores desenvolvem: a verdadeira relação entre o planejamento e a avaliação concretiza-se através da prática da construção e reflexão dos relatórios de cada criança.. revelando liderança nas atividades propostas em grupo. p. É uma criança amada por todos. confere-se mais um registro extraído de outro relatório: Lucas mostra-se curioso em relação aos temas trabalhados.Profe (referindo-se à Professora) hoje vai dar pra gente falar do irmão mais novo? (referindo-se ao irmãozinho que nasceu) Lucas tem um relacionamento tranquilo com os colegas na turma. (HOFFMANN. Apresenta sugestões. muito amiga dos colegas e da professora.] o termo ‘relatório’ significaria análise reflexiva desse acompanhamento. (HOFMANN. A seguir. por meio dos quais as crianças são julgadas a partir de um modelo ideal de criança obediente. organizada. Participa de todas as atividades e demonstra facilidade para aprender. “querida”: Aline é uma criança meiga e carinhosa. atenta. 2004. com sentimentos lindos no coração. trazendo experiências vividas em seu dia a dia.Organização dos tempos e espaços tendo em vista que neles também se revelam as ações didáticas. A autora também alerta quanto aos “pareceres” que expressam uma visão moralista e disciplinadora. por considerar que este termo revela uma visão comportamentalista e classificatória da avaliação tradicional. especialmente as que envolvem movimento e bola. A autora também deixa clara a sua opção pela expressão “relatório” ao invés de “pareceres descritivos”.23). ou seja. sem se enfatizar os aspectos moralistas ou disciplinadores. Já no segundo exemplo. com ênfase numa visão disciplinadora. Mariane!. Universidade Aberta do Brasil Na rodinha. são práticas ocasionais. constata-se que no primeiro não se percebe a mediação da professora. Sob o ponto de vista didático. o professor. portanto. Assim sendo. as suas particularidades. a concepção formativa da avaliação. tem sido necessária a minha interferência para que Lucas permita que outros colegas também verbalizem suas opiniões. A partir dos dois exemplos. uma vez que não aparecem comparações. compartilha suas práticas avaliativas. Mariane!” Os diálogos aqui relatados expressam. mas sim as mediações da professora. O relato a seguir ilustra este aspecto: “Que bom. pois a prática de registro cotidiano é que permite a organização de relatórios de cada criança. foi possível perceber o acompanhamento da evolução de Lucas. ou seja. acompanhadas das aprendizagens por ela construídas. É o exemplo do caderno de Registros de Casos. para que ele aprenda a respeitar as sugestões dos outros. Embora não sejam estruturadas previamente. Observe-se o seguinte exemplo: 152 UNIDADE 3 .. Você já consegue amarrar sozinha seus tênis!” Nesse contexto. expressando seu olhar avaliativo. as observações informais podem ser anotadas. pois relata apenas o que a criança fez ou não fez. privilegiando- se a área afetiva. sem um roteiro definido. ao final do dia. fazem-se presentes no cotidiano escolar práticas informais e formais (sistemáticas) de observação. quando os observam e com eles interagem. no cotidiano do trabalho pedagógico na Educação Infantil percebem-se situações nas quais os professores dialogam com seus alunos. moralista.. as observações informais correspondem àquelas situações observadas sem um planejamento prévio. ao se considerarem os ritmos diferentes de cada criança. quando verbaliza suas observações. que compõem a história da criança. apontando também possibilidades de avanço para a criança: “Agora vejo que você poderia ajudar outro colega que ainda não consegue amarrar sozinho. Informalmente. Cenário: Atividade de desenho livre após o recreio. as anotações que os professores fazem dos atos espontâneos dos seus alunos. 66). em seguida a risca na cor preta. Licenciatura em Pedagogia . O exemplo a seguir ilustra um roteiro elaborado para registrar as observações durante um jogo: Quadro 4 − Roteiro elaborado para registrar as observações durante um jogo Partilha os materiais NOME DO Compreende Organiza os durante a OBSERVAÇÕES ALUNO as regras do jogo brinquedos brincadeira Fonte: a autora 153 UNIDADE III . atua como repórter em sala de aula. Segundo Shores e Grace (2001. as observações formais ou sistemáticas são aquelas anotadas através de pautas. planilhas ou roteiros previamente organizados. é recomendável que cada docente tenha um caderno com uma página para registrar os casos que informalmente ocorrem com cada criança e que. expressa em seu desenho a presença da mãe. subsidiarão a organização dos relatórios. fichas. posteriormente. O professor.Organização dos tempos e espaços REGISTRO DE CASO Criança: Tatiana Data: 16/08/06 Evento: Pela primeira vez. que podem contribuir para o registro dos relatórios avaliativos. Dessa forma. ou seja. os Registros de Caso são os registros de observações das crianças. Por sua vez. p. ao realizar registros de caso. semiestruturado. a critério do professor). atividades artísticas. etc. (DIEGO. conversas. p. Universidade Aberta do Brasil Veja agora as sugestões de registros. muito utilizados para documentar as aprendizagens durante o desenvolvimento de um projeto. As avaliações com portfólios “encorajam a criança a refletir sobre seu próprio trabalho”. fechado) podem contribuir para a sistematização e organização dos registros dos Relatórios de avaliação. na vivência através de portfólios 154 UNIDADE 3 . Para Villas Boas (2004. voltadas para o registro das etapas vividas durante um período. desenhos. (SHORES. • Registros fechados (pautas de observação em que figuram as condutas que os alunos podem apresentar em determinado contexto educativo). • Registros semiestruturados (pautas de observação abertas. observações periódicas. GRACE. Os portfólios consistem uma organização das atividades desenvolvidas pelas crianças. Vale dizer que todas as formas de registros (tipo aberto. em que figuram os aspectos gerais a observar). Podem contemplar fotografias. agenda de cada aluno. Outra possibilidade de avaliar as crianças na Educação Infantil e que vai ao encontro das abordagens teóricas discutidas neste texto é por meio de portfólios.56).21). p. nas quais se anotam sem roteiro prévio as incidências. cadernetas de anotações. seguindo a orientação de seus Projetos Pedagógicos. 2001. 2003): • Registros de tipo aberto (diários de aula. É conveniente que os professores usem instrumentos que permitam guiar a coleta de informação e registrá-la de forma relativamente sistemática. Muitos Centros de Educação Infantil adotam registros como o anterior. ] A vivência desse processo desenvolve a autonomia do aluno diante do trabalho [. Quando se procede deste modo..37). Licenciatura em Pedagogia . as amostras dos trabalhos das crianças.. Ciasca e Mendes (2009.] o trabalho pedagógico e a avaliação deixam de ser responsabilidade exclusiva do professor.. pois não há um igual a outro. para que no segundo semestre possam ser analisados os avanços tanto pela própria criança.] precisa constituir-se em um conjunto de dados que expressem avanços. novas formas de pensar e de fazer alusão ao progresso do estudante”. p.Organização dos tempos e espaços [. como pelos professores. para que ela própria torne-se responsável por suas atividades. A parceria passa a ser um princípio norteador das atividades [. quando os professores encaminham os portfólios (num final de semana. Assim.] A criança percebe que pode trabalhar de forma independente e que não precisa ficar sempre aguardando orientação do professor.. Nos portfólios. pois essa ferramenta “[. ao final de um período. permanecem lá reunidos. Vale dizer que o trabalho com portfólio na Educação Infantil rompe com a prática do envio dos trabalhos das crianças em pastas ou envelopes às famílias. por exemplo) para que os pais possam registrar uma mensagem ou impressão do que puderam acompanhar nas produções do seu filho. visto que as atividades foram entregues para as famílias e não retornam mais. e assim os docentes deixam de proceder constantes diagnósticos do desenvolvimento da criança após cada etapa percorrida.. p. as principais produções de cada criança são ali documentadas. mudanças conceituais. Quanto ao real significado da organização de portfólios.302) afirmam não haver sentido em somente coletar trabalhos dos alunos para fins burocráticos.. por exemplo. destacam sobre a participação dos alunos na organização dos portfólios e nas justificativas do que deve compor o portfólio de cada um: 155 UNIDADE III .. Podem também constituir-se canal de comunicação entre a família e a escola. num relato de experiência. pela família. Alencar e França (2007. os professores ficam sem o parâmetro avaliativo em mãos. que foram feitos em abril. Além disso.. os portfólios preservam a individualidade de cada aluno. auxiliou os professores na escrita dos relatórios. mas outras. p. garantindo fidelidade e ganhando o valor que merece o comentário dela própria. Algumas atividades eram comuns. As autoras também comentam. uma fonte de avaliação riquíssima para o docente que percebeu a autocrítica que a criança fez e pôde intervir nas próximas ações dela. produções em outras áreas. indagada sobre por que não gostaria de ter o desenho que fizera sobre seu pai em sua pasta. com todas as letras. trabalhos artísticos. que através da avaliação com portfólios. sendo o tipo mais recomendado para o trabalho na Educação Infantil. que indiquem o nível de alfabetização. de uma criança de quatro anos que. o de aprendizagem e o demonstrativo. como no caso. e ele justificar que não gostaria de ver seu trabalho naquela pasta e. em seu relato. é a coleção da criança. O Portfólio de Aprendizagem. Num outro dia que eu desenhar. As fotografias também auxiliarão na organização dos relatos de casos: «[. a prática da observação. Mas este que fiz hoje realmente não ficou dos bons. registros escritos. O argumento geralmente era bem definido. Às vezes. Shores e Grace (2001. enriquece sobremaneira o portfólio de cada criança. não. acontecia de a professora querer muito colocar uma produção de um aluno em seu portfólio. Universidade Aberta do Brasil Com os portfólios. no envelope das atividades enviadas.] Ao se examinar fotos e lembrar-se dos fatos. tais como: ciências. Os itens mais frequentes que compõem um portfólio são amostras de atividades das crianças. já não encontrávamos mais aquela coletânea de atividades iguais para todos os alunos. da coleta de informações para o registro. disse: Meu pai não tem o pescoço tão grosso assim.. Vale informar que o registro fotográfico.. é possível escrever uma rápida descrição do que 156 UNIDADE 3 . por exemplo. segundo as autoras. eu coloco na pasta. enfim. tais como desenhos. pois permite que ela se lembre do que já realizou. Já desenhei ele bem melhor. além de ajudar os professores a relatarem aos pais as atividades desenvolvidas. A fala dessa criança foi para seu portfólio.43) destacam três tipos de portfólios: o portfólio particular. matemática. amostras que revelem informações sobre a aprendizagem da criança nas diversas áreas de conhecimento. sim. Em outras palavras. embora com custo às vezes mais elevado. 55). dedicando-se às leituras! Registre nas linhas abaixo. 2001. Continue estudando. algumas considerações que mostrem o que mudou no seu modo de olhar e perceber a prática avaliativa na educação infantil. mas as mais comumente encontradas são em uma pasta com divisórias. a criatividade deve ser o foco principal. enfim.Organização dos tempos e espaços estava acontecendo naquele momento». os autores aqui referenciados compõem um universo de informações e conhecimentos que são considerados imprescindíveis para a formação e atuação docente com crianças na Educação Infantil. p. caixas. As formas de armazenamento de portfólios fica a critério da decisão do professor em acordo com os alunos. que pode ser construída ou comprada. tipo “gaita”. envelopes. pasta com plásticos. Licenciatura em Pedagogia . (SHORES. GRACE. Conforme você estudou ao longo desta seção. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 157 UNIDADE III . As brincadeiras podem ser realizadas tanto em grupo. o jogo simbólico. As observações formais ou sistemáticas são aquelas anotadas através de pautas. suas fantasias. planilhas ou roteiros previamente organizados. e cabe ao adulto mostrar as possibilidades de exploração que ele oferece. formativa e cumulativa (somativa) que as funções da avaliação serão alcançadas. pois as crianças necessitam de momentos a sós para refletir e também deixar sua imaginação fluir. Os profissionais que têm a responsabilidade de cuidar e educar crianças pequenas assumem uma importante tarefa no processo de desenvolvimento infantil. A brincadeira. fechado) podem contribuir para a sistematização e organização dos registros dos Relatórios de avaliação 158 UNIDADE 3 . O que faz do jogo um jogo é a liberdade de ação física e mental da criança nessa atividade. É indispensável que a criança se sinta atraída pelo brinquedo. Todas as formas de registros (tipo aberto. A brincadeira é um espaço onde a criança pode expressar. o que é de suma importância para o seu desenvolvimento. medos. sentimentos agressivos e os conhecimentos que vai construindo a partir das experiências vividas. As crianças que não recebem estímulos ambientais e têm suas atividades exploratórias restritas. É necessário repensar a prática pedagógica da Educação Infantil tendo como referencial básico. de tristeza ou de alegria. é uma forma de relatar algo que aconteceu e que talvez não tenha coragem de falar ou até mesmo algo que não tenha compreendido. Os primeiros registros de linguagem escrita apresentavam-se através do desenho. como individualmente. as principais necessidades das crianças pequenas. semiestruturado. seus desejos. simbolicamente. O desenho pode ser um grande aliado para a criança expressar uma ideia de violência. incapazes de exercitar sua capacidade de raciocínio. É a partir da avaliação inicial (diagnóstica). Universidade Aberta do Brasil O espaço infantil deve ser reconhecido como um lugar privilegiado para o desenvolvimento da criança. formam o conjunto de atividades que caracterizam as primeiras manifestações da linguagem escrita da criança. A Educação Infantil deve considerar o lúdico como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no desenvolvimento das crianças. fichas. apáticas e desinteressadas. servem de mediadores entre elas e o mundo que as cerca. atividade conhecida comumente como jogo de “faz de conta”. ao lado do desenho. que podem contribuir para o registro dos relatórios avaliativos. acabam tornando-se inseguras. pois elas fazem da brincadeira uma ponte para o imaginário. A imaginação e criatividade das crianças serão incentivadas e alimentadas pelas propostas desafiadoras que o professor proporcionar. 2009 páginas 293-304. 12. M.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1494/1494. Brasília: MEC/SEF.90. 2006. Acesso em: 12 jul. M. MENDES. 2004.. 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Licenciatura em Pedagogia - Ludicidade, Corporeidade e Arte PALAVRAS FINAIS Prezados alunos Cada vez mais, a educação e o cuidado na primeira infância são tratados como assuntos prioritários de governo, organismos internacionais, organizações da sociedade civil no Brasil e no mundo. No Brasil, dispomos de legislação avançada na área e temos acesso a pesquisas internacionais e estudos nacionais que apontam para os benefícios do investimento na primeira infância. Discutir a qualidade da educação, em nosso país, implica enfrentar e encontrar caminhos para superar as desigualdades no acesso a programas de boa qualidade, que respeitem os direitos básicos das crianças e de suas famílias, entre os quais se inclui o direito ao respeito às suas diversas identidades culturais, étnicas e de gênero. Esperamos que as contribuições apresentadas neste livro oportunizem novos saberes e fomentem discussões sobre questões importantes da Educação Infantil. Sabemos que atuar na primeira etapa da educação básica, não é tarefa fácil, exige do educador uma infinidade de conhecimentos que necessitam serem estudados e compreendidos para que se possa avançar no trabalho com a criança. Desejamos que essa complexidade desperte em muitos de vocês o desejo de enfrentar o desafio encantador de ser professor e pedagogo na Educação Infantil. Um abraço afetuoso das professoras Esméria, Maíza, Maria Odete e Nelba 161 PALAVRAS FINAIS Licenciatura em Pedagogia - Ludicidade, Corporeidade e Arte NOTAS SOBRE AS AUTORAS Esméria de Lourdes Saveli Possui graduação em Pedagogia Habilitação em Orientação Educacional e Supervisão Escolar (1977) e graduação em Letras(1991) pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mestrado em Educação (1996) e doutorado em Educação (2001) pela Universidade Estadual de Campinas. Professora Adjunto da UEPG. No ano de 1998 realizou estágio na Association Française pour la Lecture (AFL/PARIS) com o pesquisador da área da leitura Jean Foucambert e em escolas maternais e primárias da periferia de Paris/França . Foi Secretária de Educação no Município de Ponta Grossa na Gestão (2001-2004) período em que reorganizou a estrutura escolar em Ciclos de Aprendizagem, o Ensino Fundamental de nove anos e os Centros Municipais de Educação Infantil. Tem ampla experiência na área de Educação Básica atuando principalmente com a formação de professores, organização da escola, metodologia, alfabetização, leitura. Atualmente, desenvolve e orienta pesquisas sobre políticas educacionais e sua materialidade nas práticas cotidianas no Grupo de Estudos e Pesquisas de Educação Básica (GEPEB). Coordenação do Programa de Mestrado em Educação da UEPG no período de 2006 e 2007. Coordenadora do Curso de Pedagogia da Universidade estadual de Ponta Grossa Gestão 2010-2012. Maiza Taques Margraf Althaus Formada em Pedagogia, com Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutoranda em Educação pela PUC/PR. Atuou como Professora na Educação Básica na rede pública e particular de ensino em Ponta Grossa, PR. É Professora efetiva da UEPG desde 1991, lotada no Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino, atuando especificamente no ensino de Didática nas Licenciaturas e em disciplinas voltadas para a docência universitária, em cursos de Pós- graduação. Desenvolve projetos na área da formação docente. 163 AUTORES Tem experiência na área de Educação. 164 AUTOR . Universidade Aberta do Brasil Maria Odete Vieira Tenreiro Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1986). Atualmente é professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa e doutoranda em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. especialista em Psicopedagogia e graduada em Pedagogia. Atua como pedagoga autônoma prestando consultoria pedagógica e psicopedagógica. nas disciplinas de Psicologia da Educação e Fundamentos da Educação Infantil. educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. atuando principalmente nas seguintes áreas: avaliação.Laboratório Lúdico Pedagógico. Vice-coordenadora e supervisora do LALUPE . com ênfase em Ensino-Aprendizagem. Área de atuação e pesquisa Educação. especialista em Alfabetização (1995) e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2002). Atualmente é professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. como docente em cursos de pós-graduação na área de Psicopedagogia e Educação Inclusiva. Ludicidade. formação de professores. Nelba Maria Teixeira Pisacco Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR. Mediação da Aprendizagem e Psicopedagogia.
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