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March 23, 2018 | Author: Carmen Bm | Category: Natural Language, Literacy, Communication, Dialect, Learning


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Veridiana AlmeidaFundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Capítulo   Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Veridiana Almeida 1ª Reimpressão, 2011 Curitiba 2010 Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Siderly Almeida CRB9/1022 Almeida, Veridiana A447f Fundamentos e metodologia do ensino de língua portuguesa / Veridiana Almeida. – Curitiba: Editora Fael, 2010. 72 p.: il. Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 1. Língua portuguesa (Ensino fundamental). 2. Professores – Formação. I. Título. CDD 378 1ª Reimpressão, 2011. Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Diretor Executivo Diretor Acadêmico Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância Coordenadora do Curso de Pedagogia EaD Secretária Acadêmica Maurício Emerson Nunes Osíris Manne Bastos Vívian de Camargo Bastos Ana Cristina Gipiela Pienta Dirlei Werle Fávaro Editora fael Coordenadora Geral Coordenador Editorial Edição Revisão Projeto Gráfico e Capa Diagramação Dinamara Pereira Machado William Marlos da Costa Lisiane Marcele dos Santos Jaqueline Nascimento Denise Pires Pierin Bruna Maria Cantador anseios.apresentação A justificativa principal e o argumento mais forte para o desenvolvimento da presente obra encontram-se na construção de subsídios para o processo de formação do professor que atua tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental. desejos. possui um campo fértil a ser estudado e teorizado. Pensar no poder da palavra como agente transformador. sendo influenciado e influenciando intercâmbios. desenvolvendo e viabilizando atividades pedagógicas para uma educação de qualidade contextualizada com a realidade. em que a comunicação é primordial. que possibilita a articulação entre a linguística. assumindo seu papel na construção das inter-relações. ao que parece. que o professor orienta e conduz um trabalho coletivo. ideias. Os estudos e as considerações aqui enunciadas permitem uma reflexão sobre o comportamento humano no seu contexto histórico. é pensar no homem transpondo seus limites. utilizando as diferentes linguagens. ações e reações. sérias e metodologicamente fundamentadas da autora sedimentam as bases teóricas da área de conhecimento escolhida e preparam terreno para novos contatos e uma interlocução mais qualificada com outras áreas afins. enredando os indivíduos numa prática de intenções. As atuações éticas. veículo e instrumento para circulação de pensamentos. Este estudo tem por objetivo servir como aprofundamento teórico. fonte de reflexão e norteador de práticas conscientes e comprometidas do professor. na forma de organizar a construção dos conhecimentos para satisfazer apresentação . projetos e valores. É uma obra mediadora. o materialismo histórico e a Língua Portuguesa. vinculadas à própria natureza da linguagem. obtendo resultados significativos para a realidade vivenciada no grupo a que pertence. É nesse contexto de mudanças. Percebe-se nesse processo a necessidade de orientar e colaborar para a construção de um caminho que. os acadêmicos de licenciatura. ou seja. Não há dúvidas de que sua procura resultou em uma obra que considero de fundamental importância e será profícua para leitura.apresentação apresentação as condições de vida e o desenvolvimento da espécie. . Dentro desse contexto. pois. investigando. Vale ressaltar que a comunicação é uma necessidade intimamente ligada ao homem. a autora procurou extrair a importância que a expressão da linguagem possui na construção e reconstrução do pensamento. nas relações construídas para a sociedade. Regina Aparecida Milléo de Paula* * Possui Mestrado em Ciências da Linguagem pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2004). e norteadora para os que começam a caminhada de ensinar. marcando sua existência pela busca e posse das informações galgadas em intenções. que. estudo e análise. formulando objetivos. almejando a conquista do poder sobre outros indivíduos ou objetos envolvidos nas relações estabelecidas. Atualmente é coordenadora de Avaliação EaD e professora titular da Faculdade Educacional da Lapa. destaca-se o trabalho do professor. membro do corpo editorial da revista PesquisAção e professora da Rede Estadual de Ensino. e o poder que a comunicação exerce na vida de qualquer indivíduo beneficia os interesses individuais ou coletivos. como ser social. viabilizando assim uma educação mais humana e um processo de aprendizagem mais significativo. Com essa contextualização teórica da palavra. seus efeitos na organização e interpretação das significações que o ser faz quando interage com o mundo que o cerca. subsidia saberes que integram e sistematizam os diferentes campos científicos. atua e escolhe a ação que melhor conduz seu aperfeiçoamento e plenitude. organizando ações de práticas educativas. . 55 Parâmetros Curriculares Nacionais e a Língua Portuguesa...............................................sumário sumário . 6.......... 9 Concepções de linguagem. ............................................................................................................................. 27 Letramento e práticas de leitura.. 7 Conceitos e princípios para o ensino da Língua Portuguesa..................................... Prefácio ...... 5.............. 71 1.. 3.................................................. 19 Aquisição e desenvolvimento da linguagem......................... 4..................... 45 Trabalho com gêneros textuais...................................................... 7................................................................ .......... 2...... 37 Letramento e práticas de escrita.......................... 63 Referências ..................................... . os capítulos que se seguem propõem trabalhos com a exposição da teoria. ajuda-nos a refletir sobre a palavra e sua carga significativa. o equilíbrio entre tradição e modernidade. 10). no entanto. as quais. uma vez que podem ultrapassar seus limites de significação. tesouros esplêndidos e inesperados. de Carlos Drummond de Andrade (1945. e situações que desafiem a prática. o caminho que a linguagem percorre é este: uma forma específica de interagir e não simplesmente um conjunto de informações sobre a língua. cuidadosamente. para possibilitar a reflexão e o senso crítico. Aconselha-nos a espreitar as palavras.prefácio prefácio Chega mais perto e contempla as palavras. Em nossa proposta. que lhe deres: Trouxeste a chave? Carlos Drummond de Andrade fragmento do poema “Procura da Poesia”. sem. abstrair-se o papel da linguagem na criação O 7 . saboreá-las. explícito. a produção oral e escrita. p. sendo o princípio estruturador. escondem. Por isso. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta. “sob a face neutra”. conquistar novos espaços e mostrar novas possibilidades de perceber a realidade. sem interesse pela resposta. mais enfaticamente na reordenação de conteúdos tradicionais e na introdução de novos conteúdos que se pautam no universo contemporâneo da ciência da linguagem e nas suas produções acerca do ensino da língua materna. seduzi-las. Elas são ativas e nos interrogam. escutá-las. como a leitura. pobre ou terrível. permite várias leituras. ao mundo e à vida. ao mesmo tempo. seríamos incapazes de realizações que nos transcendem e nos distinguem. humaniza e nos projeta em direção ao outro. a “chave” que abre esse potencial expressivo da linguagem. a língua é vista de forma integrada e dinâmica. Atualmente é professora titular da Faculdade Educacional da Lapa. nas modalidades presencial e Educação a Distância. níveis graduação e pós-graduação. aluno(a)! Por isso. “trouxeste a chave”? A autora. Sem a linguagem. e. No entanto.prefácio prefácio estética. É com esse cuidado e com respeito que este material oferece subsídios aos Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa. isto é. está com você. Assim. cria e recria. . que nos tornam únicos. na construção de relações humanas significativas e no desenvolvimento da compreensão das relações sociais. para entrar no mundo das palavras com uma abordagem que lhes evidencia a especificidade.* 8 * Veridiana Almeida é doutoranda em Teoria Literária pela Universidade Federal de Santa Catarina. Constitui-se e nos constitui. ideias. do ponto de vista linguístico. Isso. O enfoque também será dado às variações linguísticas. provavelmente. “língua” e “fala” tem caráter meramente metodológico. uma vez que a maioria das pessoas utiliza as palavras “linguagem”. . desejos e pensamentos se concretiza.Conceitos e princípios para o ensino da Língua Portuguesa 1 9 s conceitos e princípios que serão abordados neste capítulo servirão de base para as demais explanações do discurso ao longo do presente material. já que é impossível transmitir informações mente a mente. pois esses três conceitos revelam aspectos diferentes de um processo amplo. O Linguagem Atribui-se o nome de linguagem a todo sistema de sinais convencionais que permite a realização de atos de comunicação. A linguagem se origina da necessidade do homem comunicar-se com o outro e consigo mesmo. É o meio pelo qual a expressão de sentimentos. É evidente que a distinção que se faz entre “linguagem”. No entanto. já que no interior de uma mesma língua. por isso ela está presente em todas as atividades humanas. Porém. tendo como objetivo proporcionar outras instigantes reflexões acerca do ensino da língua materna no cotidiano escolar. a comunicação humana. explica o motivo por que as pessoas empregam essas palavras para designar a mesma realidade. esses termos não devem ser confundidos. Sugere-se o trabalho expansivo a que o conhecimento está subordinado: a pesquisa para complementar as leituras com textos variados sobre o conteúdo. tais assuntos não têm a intenção de se esgotar aqui. há muitas variações. “língua” e “fala” para designar a mesma realidade. símbolos. com linguagem. provém de verbu. etc. O homem desenvolveu sua inteligência graças à linguagem e seu aperfeiçoamento. exemplo de uma linguagem não verbal. adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos”. HAAP Media Ltd. 159) propõe a seguinte definição: “Linguagem. observa-se que são bastante estreitos os laços entre pensamento e linguagem. FAEL . etc. De acordo com o sistema de sinais que o indivíduo se utiliza. que significa palavra. as bandeiras que orientam os pilotos em corridas de automóveis. 25). A língua utilizada para atos de comunicação é língua verbal. Faculdade que tem o homem de exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais chamado língua. o homem tem imensas possibilidades de transformações. Camara Jr. Há inúmeras linguagens: a linguagem dos surdos. que. / Philip MacKenzie 10 ●● Linguagem verbal: é aquela cujos sinais utilizados para atos de comunicação são as palavras. mímicas. A palavra verbal provém do latim verbale. costuma-se dividir a linguagem em verbal e não verbal. desenhos. Assim. Enquanto o animal. os gestos. p. ­ Língua Língua não se confunde. ainda que se manifeste em línguas que se fizeram historicamente desiguais. “ela [a língua] é ao mesmo tempo um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias. ●● Linguagem não verbal: é aquela que utiliza para atos de comunicação outros sinais que não as palavras. pois. Segundo Saussure (1949. p. sem linguagem. a linguagem dos sinais de trânsito. Semáforo. não evolui. Por exemplo: o conjunto de sinais de trânsito utilizado para orientar motoristas. por sua vez. (1977.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa A linguagem é um fenômeno natural equivalente para todos os homens. A língua faz parte da linguagem. que os organiza numa representação compreensiva em face do mundo exterior objetivo e do mundo subjetivo interior”. tem três línguas nacionais. Fala Como visto. possui um caráter privado. países com mais de uma língua nacional – a Suíça. É o aspecto individual da linguagem humana.Capítulo 1 De modo geral. 13). Ela só existe em decorrência de uma espécie de “contrato coletivo” que se estabeleceu entre as pessoas e ao qual todos aderiram. Trata-se essencialmente de um contrato coletivo ao qual temos de submeter-nos em bloco se quisermos comunicar. com um conjunto de convenções necessárias para permitir o exercício da faculdade da linguagem aos indivíduos. além disso. pertencendo exclusivamente a cada indivíduo que a utiliza. nem criá-la nem modificá-la. que pode utilizá-la como meio de comunicação. a língua subsistirá independente de nós. por exemplo. no Japão. Segundo Barthes (1999. 11 Nesse sentido. p. à maneira de um jogo com suas regras. sendo exterior aos falantes. este produto social é autônomo. não pode ser criada ou modificada por apenas um deles. ela [a língua] não é absolutamente um ato. língua nacional de Portugal e do Brasil. A utilização que cada indivíduo faz da língua. é social porque. sozinho. o indivíduo não pode. É o que se chama língua comum ou nacional. p. De acordo com Terra (2002. escapa a qualquer premeditação. pronta para ser usada. uma língua pode ser comum a mais de um país – é o caso do Português. Por outro lado. pertence a toda comunidade de falantes. é a parte social da linguagem. pertence à comunidade linguística como um todo. Há. ou seja. porém. É instituição porque é uma estrutura decorrente da necessidade de comunicação. Dessa forma. japonês. observa-se que a língua é exterior aos indivíduos e. é abstrata porque só se realiza por meio da fala. cada país tem sua língua. pois só se pode manejá-lo depois de uma aprendizagem. a fala. a língua é uma instituição social de caráter abstrato. o caráter social da língua é facilmente percebido quando levamos em conta que ela existe antes mesmo de nós nascermos: cada um de nós já encontra a língua formada e em funcionamento. 10): Como instituição social. a língua é um bem público. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . na França. E mesmo quando deixarmos de existir. fala-se francês e. por isso. por outro lado. Assim. . d) variedades de sexo ou dialetos masculino e feminino. De acordo com Brito (1989. Eliminemos a sociedade. Ex: a língua especial dos médicos. carioca. Se o indivíduo fala.. etc. suas ideias. na obra Didática da Língua Portuguesa (1994): a) variedades espaciais ou dialetos geográficos. suas emoções. Saiba mais Psicofísico: correlação entre os fenômenos mentais e corporais. paranaense. ela é representada por um conjunto de variedades. p. variados. ele deve esta faculdade ao fato de ter nascido no seio de uma sociedade. Dubois confere que a fala é um ato de vontade e inteligência no qual se distinguem as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua. 12 Variações linguísticas Os inúmeros atos de fala que se verificam numa comunidade são. Pode-se afirmar que nenhuma língua se apresenta como entidade homogênea. na escola é preciso salientar as variedades linguísticas. segundo Marote e Ferro. dos diferentes tipos de gíria. Em geral. ele jamais aprenderá a falar. Assim. pois a sociolinguística argumenta que “nenhuma FAEL . Linguística: estudo científico da linguagem. b) variedades de classe social ou dialetos sociais. etc. dos jovens. 261). Ex: o português arcaico. etc. etc. comunica sua experiência. e o homem terá todas as possibilidades de andar. uma função de cultura.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa De acordo com Dubois (1993. Ex: a linguagem específica das mulheres. que são. mas adquirida. Ex: o dialeto gaúcho. com o objetivo de exprimir seu pensamento pessoal e o mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações. p. define-se a linguística como a ciência da linguagem ou como estudo científico da linguagem (SAUSSURE. etc. Ex: a linguagem infantil. 106). indubitavelmente.] A fala é um ato individual de vontade e inteligência. e) as variações de gerações ou variedades diacrônicas. A fala é uma função não instintiva. 1949). c) variedades de grupos de idades ou dialetos etários. [. A abóbora (nos estados do sul do país) chama-se jerimum. na ção de uma linguagem na qual serão registrados os documentos e os fatos da sociedade. Ela não provém apenas da evolução histórica das línguas e de suas raízes locais. segundo Cagliari. 56). p. Assim. p. trouxe em seu interior outra clientela e com ela diferenças dialetais bastante acentuadas. e de macaxeira. ainda que falsa. Ela é encontrada também Língua padrão: essa variedade é no comportamento linguístico praticada pela classe social de prestígio.Capítulo 1 variedade linguística é melhor ou pior que outra”. a mandioca (em São Paulo) recebe o nome de aipim. de acordo com o estado do país em que se está. É evidente. as falas das regiões estejam bem diferentes. em diferentes as regras da gramática normativa circunstâncias de sua vida. os professores não ministram aulas só para aqueles que pertencem a um determinado grupo social. A democratização da escola. na obra Alfabetização e linguística (1991). nos estados do norte e nordeste. nem só aparece na sociedade estratificada à maneira das classes e grupos étSaiba mais nicos. Há casos em que a diferenciação regional chega a ser tanta que leva à mútua incompreensão. em decorrência da necessidade de uniformizaPara ratificar tal afirmação. com variadas línguas. A distância geográfica e a ausência ou dificuldade de comunicação entre os habitantes de regiões distintas faz com que. do mesmo modo. como afirma Bizzocchi (2006. já que a escola de hoje não recebe apenas alunos provenientes das camadas mais beneficiadas da população. no Rio de Janeiro. Representantes de outros grupos estão sentados nos bancos escolares e eles falam diferente. uma questão mais complexa. Um exemplo disso são os variados nomes dados a certas coisas. que a variação é. segue de um indivíduo. no norte e nordeste. 13 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . Faraco e Tezza (2003. 25) expõem que “cada um de nós. como também pela imensa extensão territorial. A língua culta ou padrão não deve ser considerada a única forma de expressão do nosso idioma. indee é tida como parâmetro para as pendentemente da classe social outras variedades. O mapa linguístico de um país dá o aspecto de uma colcha de retalhos. não é geograficamente delimitada. Foi eleita como o padrão ou região a que pertença. principalmente pelo motivo de nossa nação ter sido construída a partir da mistura entre diversos povos. O que existe por trás dessa ideia é um equívoco acerca das noções de certo e errado. de fato. ao fim de um período. as línguas passam a existir como um conjunto de falares diferentes ou dialetos. mas é um modo de falar prestigioso. seria uma violência cultural”. p. e assim por diante. considera-se que os modos diferentes de falar acontecem porque a Língua Portuguesa. 2003. p. dado que a língua padrão é de fato o dialeto dos grupos sociais mais favorecidos. muda-se a linguagem” (FARACO. na obra O texto na alfabetização (2001). “cada indivíduo é assim um processador de linguagens: de acordo com o momento. Segundo os referidos autores. o vocabulário no campo de futebol é diferente do vocabulário pedindo um emprego. principalmente aos dialetos estigmatizados. o bate-papo de uma festa não tem a mesma estrutura do bate-papo em sala de aula. o desconhecimento da norma culta pode funcionar como um fator gerador de discriminação. e não a partir de regras e exercícios que não ensinam nem descrevem a verdadeira estrutura linguística dessa variedade da língua. “impor a um grupo social os valores de outro grupo. Pelos usos diferenciados ao longo do tempo e nos mais diversos grupos sociais. que tem estruturas e usos específicos. Entretanto. A conversa com os amigos de todo dia não tem a mesma gramática da conversa com os desconhecidos. em outras palavras. jogando com interlocutores. levando o outro em consideração no momento de tecer o seu discurso. como qualquer outra língua. é de fundamental importância que a norma culta seja apresentada aos falantes da língua. está sempre em transformação. FAEL 14 . como se fosse o único dialeto válido. não assume um caráter discriminador dos outros dialetos da língua. Também Massini-Cagliari. com as intenções. É importante que ela seja mostrada como um dialeto real da língua. É o domínio da linguagem que deve ser priorizado. como ocorre na gramática normativa escolar. Diante dessa discussão. Por esse motivo. fala muitas línguas”. para adequá-lo a ele e à situação no processo de interlocução.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa verdade. tem caráter dinâmico. para Possenti (1996. 25). Na sala de aula. 10). com a pessoa com quem se fala. TEZZA. tornar seu ensino obrigatório para os grupos sociais menos favorecidos. Assim. pois esta não é somente um dialeto da língua. por si só. cada qual apresentando suas peculiaridades com relação a alguns aspectos linguísticos. sugere-se que o professor trabalhe prioritariamente com atividades de linguagem em que o aluno possa fazer ações com a linguagem. coloca que o ensino da norma culta. para uma busca de maior compreensão da natureza do processo de ensino da língua materna.. Fomos ao médico de muita clínica Com muita prática e preço módico. Depois do inquérito descobre o clínico O mal atávico mal sifilítico.... Em noite frígida fomos ao Lírico Ouvir o músico pianista célebre.Capítulo 1 Da teoria para a prática Uma sugestão de trabalho com a variação linguística em sala de aula é a comparação entre as linguagens. A primeira apresenta a norma culta..... Um exemplo é o confronto das músicas Drama de Angélica e O divórcio vem aí. Era maligna e tinha ímpetos De fazer cócegas no meu esôfago... Soprava o zéfiro ventinho úmido Então Angélica ficou asmática. a variante caipira – exemplificando a questão abordada de que o uso das variedades ocorre em diferentes circunstâncias: O Drama de Angélica Ouve meu cântico quase sem ritmo Que a voz de um tísico magro esquelético... já segunda.. visando especialmente chamar a atenção para a necessidade de a escola assumir a existência de tipos de língua falada e de contemplar estas variações levando em conta a linguagem apresentada pelo aluno.... ambas da dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho (2000). Poesia épica em forma esdrúxula Feita sem métrica com rima rápida.. [.. Amei Angélica mulher anêmica De cores pálidas e gestos tímidos.] Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 15 . . rapaz? Não! Divórcio é ansim mais ou menos. Veja o esquema: FAEL . mais vancê vai. enquanto a língua é grupal. né. Já a fala é a realização concreta da língua feita por um indivíduo em particular. Violinha boa. cumpadre? 16 Num sabe o que é divórcio.. vancê larga dessa e casa co outra E ansim por endiante [.. hein Especiar de boa. hein. Especiar memo. o que é divórcio. de um povo. essa. cumpadre Ô cumpadre. Uai.. cumpadre? É. pre exempre Vancê casa cuma mulher.... hein? Ah. num gosta dessa mulher.. usada para que haja interação entre os indivíduos.] Síntese A linguagem é uma característica humana universal. depois então vancê pre exempre num gostô mais dessa outra. então vancê larga dela e casa co outra. Ahn? Sabe de uma notícia? Ahn? Tão dizendo que o divórcio vem aí.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa O Divórcio Vem Aí Falado: “Êta mundo véio. né. 17 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . Os falantes adquirem as variedades linguísticas próprias da sua região.Capítulo 1 Linguagem Língua Fala Qualquer língua falada por qualquer comunidade exibe sempre variação. etc. classe social. Língua e variação são inseparáveis. mas como uma qualidade constitutiva do fenômeno linguístico. Pode-se afirmar que nenhuma língua se apresenta como entidade homogênea. e essa diversidade da língua não deve ser encarada como um problema. . Linguagem como expressão do pensamento Essa concepção representa. é possível exercê-la sem linguagem? A reposta será sim.Concepções de linguagem É 2 19 comum encontrar em referências teóricas três concepções que correspondem às três grandes correntes dos estudos linguísticos: a) gramática tradicional. em que os falantes se tornam sujeitos. se por linguagem se entender qualquer forma de comunicação. Por que isso é feito? Preferência? Intuição? Fidelidade ao senso comum? Convém perscrutar um pouco em busca de uma resposta. Essa resposta envolve tanto uma concepção de linguagem quanto uma postura relativa à educação. uma e outra se fazem presentes na articulação metodológica. b) estruturalismo. “se concebermos a linguagem como . Mediante a concepção adotada (tradicional. contemplando a linguagem como o lugar de constituição de relações sociais. a língua só tem existência no jogo que se faz na sociedade. A discussão aqui proposta procurará se situar no interior da terceira concepção de linguagem. Mas será não. 43). por exemplo. e é no interior de seu funcionamento que se pode procurar estabelecer as regras de tal jogo. Um exemplo: considerando qualquer atividade conjunta numa sociedade simples – como trocar as aves abatidas em uma caça pelos frutos que o vizinho colheu –. p. se por linguagem se entender apenas a fala e a escrita. c) interacionismo. que costuma-se privilegiar algumas linguagens no uso do quotidiano escolar. os estudos tradicionais. Nesse sentido. na interação. estruturalista ou interacionista) é possível entender muitas coisas. uma vez que esta implicará numa postura educacional diferenciada. basicamente. Segundo Geraldi (1984. à linguagem dos paranaenses. à preocupação com uma única variedade linguística: a escrita. FAEL . 20 Linguagem como instrumento de comunicação Segundo Geraldi (1984. concebendo a linguagem como um código a ser treinado e um comportamento a ser medido. o chamado “preconceito linguístico” (são atribuídos valores de certo. Em síntese. por meio da contagem de erros. a escola apresentou a língua como um fato único e homogêneo. a literária. automaticamente. p. à fala de prestígio. O professor ensina. em que o conceito de “certo” e “errado” é salientado – a obsessão pelo erro –. Durante muitos anos. Essa exclusão das demais variedades vai gerar. a formal. contemplando a língua não como um meio de interação. etc. com a consequente exclusão das demais variedades. isto é. uma vez que a língua se transforma. muda através do tempo. ensinar língua é ensinar gramática. e de errado. aos falares menos prestigiados) em relação à linguagem popular. etc. tentam manter a língua em conserva. Contudo. aos fatos. esta é a concepção confessada nas instruções ao professor. nas introduções. Nela. em pontos de gramática. mas um conjunto de coisas certas e erradas. os gramáticos alheios à evolução. Em livros didáticos. Corresponde ao estruturalismo. aos usos. já que é um organismo vivo. a língua é um conjunto bastante heterogêneo de variedades linguísticas. implacavelmente. essa concepção contempla um sistema fechado: o professor como o único detentor de saberes e a gramática como centro do ensino. aos costumes. como já foi enfocado. ressalta-se a importância das regras a serem seguidas.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa tal. centrando o ensino da língua em listagens de palavras destinadas à memorização. o aluno aprende. 43). em exercícios repetitivos. Quando se fala em gramática tradicional recorre-se. a única. Trata-se de um “irrealismo linguístico”. à eleição. “essa concepção está ligada à teoria da comunicação e vê a língua como código (conjunto de signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptador uma certa mensagem”. a “melhor”. a erudita. e. somos levados às afirmações – correntes – de que pessoas que não conseguem se expressar não pensam”. à linguagem dos jovens. nos títulos. à linguagem dos nordestinos. nascem da procura e necessidade Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 21 . mas.Capítulo 2 O estudo da língua. nas modalidades oral e escrita. não se resume a tal. que a língua não seja instrumento de comunicação. percebendo a linguagem enquanto processo interlocutivo. assume-se o pressuposto de que as relações entre mundo e linguagem são convencionais. um sistema pronto. Para isso. usando-a adequadamente. com ela o falante age sobre o ouvinte. Sendo assim. O objetivo que pretende ser alcançado no final do trabalho com a língua é que o aluno domine a linguagem em toda sua dimensão discursiva. p. nas mais diversas situações. não basta apenas o domínio do código linguístico e das convenções ortográficas. ao lado dos elementos da teoria da comunicação. considera-se que a linguagem é um trabalho social e histórico no qual as pessoas se constituem. na perspectiva interacionista. e considerando a interação verbal como o lugar de produção da linguagem. apesar das propostas de inovações. 43). Com isso. O interacionismo tem o ensino centrado no uso e na reflexão sobre a linguagem. mais do que possibilitar uma transmissão de informações de um emissor a um receptor. é evidente. Linguagem como forma de interação Para Geraldi (1984. Seu todo significativo é obtido no uso da linguagem entre pessoas. e na constituição da linguagem os discursos operam com recursos linguísticos e da situação. ainda tende ao ensino gramatical. sempre retomando experiências anteriores. É preciso contemplar a linguagem enquanto uso efetivo em situações reais e não apenas em simulações de exercícios escolares. na produção de textos e na proposta de atividades a partir do diagnóstico avaliativo do estado da linguagem do aluno. É necessário muito mais. que sinaliza a direção a ser tomada. assume-se que a língua não é apenas um código. Assim. “a linguagem é vista como um lugar de interação humana: através dela o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria praticar a não ser falando. não se quer dizer. constituindo compromissos e vínculos que não pré-existiam antes da fala”. Por isso. embora a leitura e a produção textual comecem a ganhar maior relevância na escola. obviamente. segundo Costa Val (2006. a escola também deve oferecer a literatura para que o aluno se forme literariamente. não é treinamento repetitivo FAEL . etc. de obras literárias. Esse contato com textos temáticos. como a leitura e redação de contratos. de livros científicos. Trata-se. p. Chong (apud SORES. p.) e se prolonga por toda a vida. define o que é letramento no seguinte poema: O que é Letramento? Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado. de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas. com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita. 19). Oferecer a contextualização de saberes para que haja uma significação ou (re)significação de sentidos singulares para uma transformação histórica e social do estudante. Dessa forma. 22 Letramento: “é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais da leitura e da escrita. Kate M. embalagens comerciais. 1998. p. revistas. dos seus grupos sociais e das transformações pelas quais elas passam. paralelos e/ou individualizados de autores de literatura brasileira e estrangeira fará com que esse “leitor-mirim” torne-se um leitor-ledor que se apropria efetivamente de outras linguagens (estéticas ou não). 1998. Daí a necessidade de conhecimentos elaborados. 38). Por outro lado. rótulos. por exemplo.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa das sociedades. situando-se em tempos e espaços próximos e remotos da sociedade ou de grupos de intelectuais. é também o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais” (SOARES. independentemente se o educando ingressará ou não no mundo do trabalho. 410). o ensino estará colaborando para que o aluno se aproprie realmente daquilo a que ele tem direito: o letramento. por formas de linguagem e atividades coletivas em que os sujeitos da prática medeiam situações interativas com sujeitos participantes. Letramento é. sobretudo. É um atlas do mundo. São notícias sobre o presidente O tempo. uma lista de compras. É uma receita de biscoito. recados colados na geladeira. sinais de trânsito. um mapa de quem você é. Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora. telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 23 . é rir e chorar com personagens. um bilhete de amor. No decorrer do presente material. guias.Capítulo 2 de uma habilidade. à luz do sol. sem deixar sua cama. nem um martelo quebrando blocos de gramática. os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. e orientações em bulas de remédios. heróis e grandes amigos. manuais. muitas vezes serão abordadas as práticas do letramento e algumas possibilidades de se desenvolver esse trabalho integrado em sala de aula. um mapa do coração do homem. para que você não fique perdido. caças ao tesouro. e de tudo que você pode ser. É viajar para países desconhecidos. instruções. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Alguns objetivos do interacionismo Representada no Brasil de modo intenso. a capacidade de pensamento crítico e a sensibilidade estética. tem entre seus seguidores mais representativos Preti (1991. ●● reconhecer a importância da norma culta da língua. 1993). Essa perspectiva tem grande sensibilidade para as estratégias de organização textual-discursiva preferencial nas modalidades falada e escrita. ●● respeitar as variedades linguísticas do educando. além do contexto de produção/leitura. é possível observar os seguintes objetivos: ●● refletir sobre os textos produzidos. o assunto tratado. como condição para tornar o aluno capaz de enfrentar as contradições sociais em que está inserido e para a afirmação da sua cidadania. de modo a atualizar o gênero e tipo de texto. 1992. pelo contato com os textos literários. lidos ou ouvidos. assim como os elementos gramaticais empregados na sua organização. Kleiman (1995). essa concepção de linguagem. a partir do que foi desenvolvido por esses teóricos. ●● empregar a língua oral em diferentes situações de uso. Koch (1992). ●● desenvolver o uso da língua escrita em situações discursivas por meio de práticas sociais que consideram os interlocutores. ●● aprimorar. os gêneros e suportes textuais. 1995). seus objetivos. da leitura e da escrita. de maneira a propiciar acesso aos recursos de expressão e com­ preensão de processos discursivos. reconhecer as intenções implícitas nos discursos do cotidiano e propiciar a possibilidade de um posicionamento diante deles. como sujeito singular e coletivo. mostrando que não há um único português. bem como propiciar pela literatura a constituição de um espaço dialógico que permita a expansão lúdica da oralidade. saber adequá-la a cada contexto e interlocutor. Urbano (2000) e muitos outros. FAEL 24 . Nesse sentido. Marcuschi (1986. o interacionismo. o aluno perceberá que em todo texto há marcas ideológicas e é necessário que sejam desvendadas. exposições de experiências vivenciadas. ●● A linguagem é instrumento de comunicação – corresponde ao estruturalismo: • ler e escrever: repetir estruturas. desde que não haja desvio do tema em questão. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . portanto. por meio de questionamentos. escrever: copiar. apresentação de trabalhos de pesquisa.Capítulo 2 Da teoria para a prática Trabalhando com a língua No trabalho com a língua. Deverá. A simulação de situações incitativas conduz o estudante a sentir desejo de ler e aceitar ou refutar ideias contidas nos textos informativos e/ou literários de época e atuais. Por meio da leitura de textos curtos e/ou longos ou de fragmentos textuais. ●● A linguagem é a expressão do pensamento – corresponde à gramática tradicional: • • ler: decodificar. o professor é o mediador entre dois sujeitos: aquele que escreve e aquele que lê. dramatizações. formulação de hipóteses. Esse trabalho prático com textos e com a leitura significativa levará o educando a compreender o mundo que o cerca e a observá-lo. O aluno terá a oportunidade de interagir oralmente. 25 Síntese São três as concepções de linguagem apresentadas por diversos teóricos. incentivar a participação do aluno na construção de significados dos textos e reconhecer a natureza plurissignificativa dos textos e enunciados. relatos. levantamento de dados. entre outras formas que se fizerem necessárias para adequar-se à turma e à situação nova surgida em sala de aula. debates. escrever: intervir no mundo. 26 FAEL . A última perspectiva citada – a concepção de linguagem interacionista – tem grande sensibilidade para as estratégias de organização textual-discursiva preferencial nas modalidades falada e escrita.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa ●● A linguagem é uma forma de interação – corresponde ao interacionismo: • • ler: atribuir sentidos. ela não só receberá. se é preciso. mais tarde. os parentes e. sobrevive com essa capacidade de encontrar soluções para atravessar estágios de fome ou miséria. aquisição da língua ou aquisição da linguagem. Marote e Gláucia D. A criança deverá vivenciar situações de uso da língua (algumas de suas variedades) atuando primeiro como mera ouvinte. por um processo chamado aquisição. executa alguns trabalhos e. . Já sabe falar. preliminarmente. os pais. indiferentemente. entende o que dizem. na obra Didática da Língua Portuguesa (1994). ela responderá às mensagens recebidas ou tomará a iniciativa de enviar suas mensagens. para que a criança se torne capaz de utilizar a sua primeira língua como meio de comunicação deverá passar. tem diversidade de ações dependendo de situações. A criança e sua primeira língua A língua portuguesa já é entendida e falada pela criança que se vai alfabetizar. diz-se. depois. finalmente. demonstra estar em processo de aquisição da linguagem. Quando passar a emissora. receptor e. Como a língua é o meio que lhe permitirá o exercício da linguagem. Enquanto mera ouvinte. apenas receberá os enunciados produzidos pelas outras pessoas. devido a circunstâncias adversas. Marote Ferro. os colegas de brincadeiras. geralmente com sete anos. A aquisição e o desenvolvimento da linguagem ocorrem na criança por meio da interação com as pessoas que a cercam. mas também compreenderá enunciados. Quando for receptora. emissor de mensagens.Aquisição e desenvolvimento da linguagem S 3 27 egundo os apontamentos de João Teodoro D. ela. mesmo que a escola procure tornar esse conhecimento menos traumático. agir será avaliado não só pelo alfabetizador. “muito antes de a criança entrar em contato formal com a escrita na escola ela já adquiriu um conjunto de pré-requisitos que possibilitam a aquisição da linguagem em um tempo relativamente rápido”. que tem condições para que nela se deflagre o processo de aprendizagem sistemática. atitudes e crenças da criança com relação ao conhecimento adquirido na escola. quando inserida no espaço escolar a fim de ser alfabetizada. raramente veem alguém lendo ou escrevendo. vestir. Essa criança demonstra. A linguagem que ela utiliza não necessita dessas sistematizações. p. assim. porém. A forma como a escola vai processar essa heterogeneidade no contato com as linguagens será fundamental para as posteriores relações. O processo de aquisição de linguagem se dá. em alguns casos. O desconforto é inevitável. pois seu modo de falar. já tem capacidade de entender e falar a língua portuguesa. Algumas delas vêm de lares com livros. isto é. além do desenvolvimento consciente proporcionado pelo espaço escolar. fazendo transformações e utilizações permitidas e exigidas nos espaços em que interagia antes de chegar à escola. porém não escreve nem lê. Diz-se que ela entrou no mundo da linguagem “lendo” o que estava à sua volta. 13).Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Para Luria (1995. 28 A criança e a linguagem Como já foi visto. jornais. com essas competências. mas por colegas de sala. porque sente a importância e o poder que elas representam para a sociedade em que vive. pais que contam histórias. A diferença do uso dessa linguagem do espaço escolar com a sua linguagem gerará desconforto. por meio da linguagem enquanto ação sobre o outro e sobre o mundo. ela vai à escola já querendo aprendê-las para obter prestígio. O contato anterior com a linguagem diferencia-se de criança para criança. FAEL . a criança. mas há aquelas que possuem afinidade apenas com a linguagem usada na TV. 29 Desenvolvimento da linguagem Nos conceitos iniciais delineados sobre a linguagem. fazendo comparações. articula sobre Garatujas: desenho malfeito. É basilar a necessidade do conhecimento de cada uma das atividades da língua. mesmo sem saber o que significa este recurso poético. p. suas especificidades e comprometimentos.Capítulo 3 Mesmo sem ter consciência. Uma imagem sonora é algo mental. da escrita e da leitura. rabisco. é necessário entender as relações entre significados e significantes. essas afinidades citadas anteriormente serão deturpadas com o choque ocasionado pelo contato sistemático que a escrita ortográfica impõe. pode ser utilizado nas atividades da fala. um significante foi ligado a um significado – unidade de dupla face que. Por ser um princípio da própria linguagem. Infelizmente e inevitavelmente. Quando se procura saber como uma língua funciona. notadamente. Ferdinand de Saussure descreveu um signo como uma combinação de um conceito com uma imagem sonora. foi estabelecido que ela existe porque uma forma de expressão foi ligada ao pensamento ou. sua língua. relacionando informações. inventa rimas. defendendo opiniões. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . a Saiba mais criança já manipula. apresentado de formas diferentes. usado para produzir uma elocução. de acordo com Saussure (1949). As crianças respondem a questionamentos de maneira profunda e surpreendente. A possibilidade de Saiba mais Em seu Curso de linguística geral (1949. envolvida de ludicidade. aprende rapidamente letras de músicas infantis ou populares com graus de relativa dificuldade. segura o lápis passando-o displicentemente por folhas em branco. ela inventa palavras. o signo linguístico. para acrescentar um caráter mais científico à presente exposição. é denominada signo linguístico. fala o que está escrevendo. expondo pontos de vista. embora sejam apenas garatujas incompreensíveis aos olhos do adulto. Isso demonstra como elas já têm uma relação com recursos linguísticos nas mais variadas situações de suas vidas. 36). dos braços. a diferenciação entre o desenho e a escrita. e as observações das propriedades da escrita: direcionalidade. ●● Neste momento. da cabeça. no papel. do rosto. o aperfeiçoamento desse registro: a representação pictórica e gráfica do mundo percebido e conhecido. a percepção de que a escrita representa o nome das coisas. marcados na areia. o imaginário feito gesto. mas se deve compreendê-lo como uma progressão de ações e noções. Um significado pode ter vários significantes. Novamente a força do gesto comunicativo na escrita imitativa. nos jogos cotidianos das relações sociais. ●● Aos poucos. o jogo simbólico. ●● Ao mesmo tempo. no ritual. curiosamente. de que ler é diferente de olhar. A criança desenha o que sabe.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa evitar esse acontecimento ocorrerá se o professor conseguir esclarecer e mostrar ao aluno que cada um deles fala de forma diferente e que se cada um optasse por escrever de maneira própria. na terra. na repetição. são os primeiros rabiscos. pensa. Uma coisa “vale” por outra. movimento comunicativo das mãos. também. usando o sistema de escrita como quisesse. feito palavra. várias significações: uma pedra pode virar elefante ou avião. a exploração do movimento. das pernas. Segundo a autora: ●● No início. a possibilidade de registro do gesto comunicativo. também. Aquisição da linguagem escrita Para Smolka (1991). torna-se mais complexo na interação com os outros. a criança pensa que o que está escrito pode ser FAEL . mas. quantidade e variedade de caracteres. É a produção de traçados. transforma as coisas. o faz de conta. não o que percebe do mundo. o gesto. inventa. do corpo todo. cria e usa do simbólico. o gesto. não se pode reduzir o processo de aquisição da linguagem escrita a fases. A criança se movimenta. o mundo. age. vai ganhando cada vez mais sentido na imitação. resultaria em confusão e desentendimento e faria com que a leitura fosse muito mais difícil de ser executada. o jogo. Movimento que se apura. ●● Depois. 30 ●● Depois. Ela pode escrever: B N CA I O A R A L Bo ne Ca Pi po Ca Ra fa El Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 31 . ●● A criança começa a perceber que tudo o que a gente fala pode ser escrito. ●● A criança começa a estabelecer correspondências de partes da palavra falada e partes da palavra escrita (hipótese silábica). advérbios. letra.Capítulo 3 diferente do que é lido. consoante. preposições. mas não elabora os conceitos. Muitas vezes ela aprende os termos. mas acredita que só nomes podem estar escritos (verbos. número. mas mantém a simetria) ●● A criança começa a perceber que. mudando as letras. etc. ●● A criança começa a reconhecer nomes ou palavras no texto. Começa a perceber que aquilo que é falado pode ser escrito. ao conceito convencional de sílaba. ●● A criança confunde os termos: palavra. sílaba. preposições não se escrevem. frase. ou fazem parte dos nomes). a criança vê seu nome escrito e o nome de outras pessoas e coisas e acha que uma letra representa a palavra: povo = papai maçã = mamãe dado = Daniela rico = Rodrigo ●● A criança começa a conhecer as letras pelo nome e comparar a quantidade de elementos: mama = amam ovo = vov papa = Appa ovo = vovo (aumenta um elemento. necessariamente. muda o sentido das palavras: ovo – ovos = ovinhos ovo – vovo = muitos ovos ovo – povo = papai gosta de ovo (A criança começa a interpretar o que está escrito baseada no que já conhece). inclusive as ações e as palavras que estabelecem relações: conjunções. artigos. vogal. não corresponde. Essa progressão de noções sugere um processo de construção de conhecimento da criança em relação à linguagem escrita. as crianças começam a analisar e a categorizar os sons da língua muito consistentemente. a partir destas noções. No entanto. É preciso observar e atentar para suas inúmeras tentativas. que redirecionou o trabalho do alfabetizador. É certo que alfabetizar pressupõe também dar informações ao sistema alfabético. Essa é outra reflexão importante. é possível viabilizar procedimentos de alfabetização e ensino da linguagem escrita mais significativos e agradáveis para as crianças. e isso é bastante diferente do que apresentam as tradicionais cartilhas de alfabetização.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa ●● A criança aprende que uma letra vale por vários sons ou que um som pode ser representado por várias letras: Boneca/bode arara/rato/torrada Nessa fase. (Mais importante do que separar sílabas é perceber a flexibilidade das inúmeras combinações das letras. baseadas na silabação. que são. sem levar em conta a construção das hipóteses infantis sobre a escrita. entendendo a dinâmica própria do espaço escolar. Refere-se a processos de aprendizagem e não a métodos de ensino. É capaz de aprender a separar as palavras em sílabas convencionais.) Analisando os métodos de alfabetização e ensino da linguagem escrita. a relação entre escrita da fala e escrita padrão ou nível coloquial FAEL . ●● A criança percebe e aprende o limite e a separação das palavras numa frase. na realidade. de todas as letras do alfabeto. Aponta para percepções e distinções que as crianças fazem e que não costuma-se considerar. pode-se constatar que eles começam precisamente pelo fim do processo. Pode-se aprender muito com elas. 32 A criança e a língua portuguesa Educador e educandos. e pressupondo que todas as crianças tiveram ou têm as mesmas experiências e o mesmo conhecimento sobre esse tipo de linguagem. instrumentos de comunicação e registro de qualquer coisa que se pensa e se quer escrever. trazida pela linguística. Capítulo 3 e nível culto (norma padrão), não acarretará necessariamente em textos destituídos dos chamados “erros”. Esses acontecimentos não devem receber por parte do educador atenção com caráter de repressão e supervalorização, já que a ação de escrever, neste momento, é a que deve receber atenção. Entretanto, é importante esclarecer que existe uma escrita convencional, que não só é usada como também cobrada pela sociedade. Essa reflexão acompanhará esse aluno em toda a vida escolar e, o que é mais importante, fora dela, na sua relação com atividades de leitura, fala, escrita, exercidas por ele no contexto social. O ensino da língua portuguesa, durante o processo de alfabetização, baseia-se no funcionamento da língua, porém diferencia-se da abordagem dada em outras séries, devido ao desconhecimento, característico do aluno de classes de alfabetização, quanto à escrita e à leitura. É prioritário lembrar que esse aprendizado não termina na série destinada à alfabetização. O conhecimento linguístico refletirá na metodologia aplicada pelo alfabetizador, na valoração dada durante o processo de avaliação, na precisão de procura de explicações pertinentes às dúvidas e dificuldades apresentadas pelo aluno no contato com o aprendizado. O domínio do estudo linguístico do alfabetizador levará à percepção de que, como qualquer língua, quanto à estrutura, tem-se o certo e o errado; porém, atentando para a fala, percebe-se apenas o diferente. 33 Contribuição da fonética Uma contribuição bastante enriquecedora para o estudo da fala seria dada pela fonética: “ciência esta, que estuda os sons da fala, especialmente no que diz respeito à sua produção, transmissão e recepção” (DUBOIS, 1993, p. 327). Examinando mais a fundo os símbolos fonéticos, o aparelho fonador, a articulação e os modos de articulação e fonação, compreende-se que todos são relevantes para o alfabetizador. As vogais e consoantes são classificadas na efetivação da fala, de acordo com a descrição fonética e as diferenças de modos de articulação. Quanto ao uso de vogais e consoantes, na realização da escrita, sua função Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e significados são muito diferentes das formas utilizadas na fala. Cabe aqui ressaltar que esse equívoco, ocasionado pela deturpação dos conceitos de escrita da fala e escrita da norma, gerará outro equívoco quanto às aproximações errôneas entre ortografia e escrita. Por exemplo, é permitido a alguém, usando da escrita, escrever “xuva” e “véio”, porém a ortografia estabelece as formas “chuva” e “velho”; foi esse sistema, administrado pela ortografia, que estabeleceu esta ou aquela forma como norma. Estes são sistemas distintos, pois a ortografia é convencional, possibilitada pelo uso sistemático da escrita, pois cada palavra tem uma forma preestabelecida e convencionalizada de ser representada graficamente. ●● As vogais – os fonemas vocálicos: segundo Dubois (1993, p. 145), os fonemas vocálicos caracterizam-se por um escoamento livre do ar através do aparelho vocal, as ondas sonoras provêm unicamente da vibração das cordas vocais. Os fonemas vocálicos têm, portanto, uma só fonte periódica, a voz. 34 ●● As consoantes – os fonemas consonantais: para Dubois (1993, p. 145), som consonântico ou contoide é um som que apresenta as características essenciais das consoantes, um obstáculo na passagem do ar, determinando uma turbulência ou mesmo uma interrupção do fluxo de ar, que se traduz no aspecto acústico por uma redução da energia total. Faz-se necessário reiterar que, na fase da alfabetização, a criança faz uso da escrita demonstrando erros na forma ortográfica por basear-se na forma fonética. Esses erros, ao contrário do que se pode pensar, não revelam imaturidade ou falta de domínio por parte do educando. Pelo contrário, mostram uma reflexão sobre os usos linguísticos da escrita e da fala, indicam concentração, articulação por parte dele no processo de aprendizagem dessas atividades. ●● Acento: a língua portuguesa é caracterizada por um ritmo acentual. A diferenciação de duração e tonicidade encontrada­ na expressão de cada palavra pode, na fala, revelar-se divergente, se a duração e a tonicidade forem observadas em contextos regionais ou sociais heterogêneos. As diferenças dialetais FAEL Capítulo 3 podem se refletir também na escrita. Essa tonicidade divergente na fala, caracterizada pela expressão de sílabas tônicas e átonas, não se reflete na escrita. A tonicidade só é observada como unidade do sistema rítmico da fala quando esta se encontra em ação. Da teoria para a prática Todas as atividades de estimulação da linguagem escrita devem ser contempladas de forma lúdica, por meio de jogos e brincadeiras, para que a criança sinta prazer em ler e escrever. Em casa, pelos pais, o estímulo deve ser iniciado com a leitura de histórias infantis, com os jogos de rimas (que ajudam na consciência fonológica), jogos com letras e desenhos para que a criança se familiarize com a escrita, a leitura de rótulos e propagandas. 35 Síntese De acordo com o exposto, a criança deverá vivenciar situações de uso da língua (melhor dito, de algumas de suas variedades), atuando primeiro como mera ouvinte, depois, receptora e, finalmente, emissora de mensagens. Enquanto mera ouvinte, a criança apenas receberá os enunciados produzidos pelas outras pessoas. Quando for receptora, ela não só receberá, mas, também, compreenderá enunciados. Quando passar a emissora, ela responderá às mensagens recebidas ou tomará a iniciativa de enviar suas mensagens. É importante a referência de que a aquisição e o desenvolvimento da linguagem ocorrem na criança por meio da interação com as pessoas que a cercam, os pais, os parentes e, mais tarde, os colegas de brincadeiras. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . Segundo Freire (1988. Contudo. e é nesse sentido que é usada quando se diz leitura de mundo. Essa maneira de se usar a palavra leitura reflete a relação com a noção de ideologia. tem-se a possibilidade da leitura. contidas na obra Discurso e leitura (1988). leitura pode ser entendida como “atribuição de sentidos”. distinguir os vários sentidos com que se toma a leitura. pode-se vincular leitura à alfabetização (aprender a ler e escrever). é possível fazer uma longa enumeração de sentidos que se pode atribuir à própria noção de leitura. já de início. as possíveis leituras de um texto de Platão. pode significar concepção. em leitura. Por outro lado. é evidente que nem todos os sentidos poderão ser contemplados neste recorte. “a leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra”. Em termos agora de escolaridade. tanto da fala cotidiana como do texto de Aristóteles. 90). Em um sentido mais restrito.Letramento e práticas de leitura T 4 37 orna-se imprescindível. É esse recorte que será feito na perspectiva discursiva que norteará a reflexão acerca da leitura. Daí ser utilizada indiferentemente tanto para a escrita como para a oralidade. então. leitura pode significar a construção de um aparato teórico e metodológico de aproximação de um texto: são as várias leituras de Saussure. . opta-se pelas ideias de Orlandi. então. em um sentido ainda mais restritivo. Diante de um exemplar de linguagem de qualquer natureza. Em sua acepção mais ampla. o caráter singular de aprendizagem formal. p. Conforme observado. e ela pode adquirir. de forma mais ou menos geral e diferenciada. Para tanto. Pode-se falar. etc. O que delimita esses sentidos é a ideia de interpretação e compreensão. sentir todas as emoções que ele pode despertar. 20). A leitura é ponto vital para a interpretação. devem ser evitadas as perguntas que fazem da resposta uma cópia mecânica. FAEL 38 .Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Ensino da leitura Somente o conhecimento pleno da língua que a escrita representa é capaz de oferecer ao leitor condições adequadas para uma leitura que englobe a decifração e a compreensão. além da família. incentivar as crianças pelo gosto da leitura. A interpretação. portanto exige bons textos. para que o aluno leia um texto e compreenda o que está escrito. às sutilezas da mensagem. interpretar significa ir às entrelinhas. elabora todos esses conhecimentos como se fossem seus e. penetrar fundo no texto. visando a desenvolver tal hábito. porque desperta e desenvolve a atenção. antes de mais nada. O adequado é uma leitura na qual o leitor decifra o que está escrito. aqueles que atinjam. Um texto é composto das relações entre as palavras e as frases em todos os níveis linguísticos. compreender. segundo suas preferências e interesses. A interpretação benfeita envolve uma leitura criteriosa. Considera-se que a exploração do texto deve ser principalmente oral. aos detalhes. por exemplo. nem é suficiente descobrir os significados individuais das palavras. seguindo a lei da fidelidade ao literal do texto. Nesse sentido. oferecendo-lhes um repertório de títulos em que possam se movimentar. Em se tratando de um texto. em uma fala que traduz o texto e revela seu modo de interpretá-lo. Ou seja. apropria-se das ideias que descobriu no texto. Interpretar é. Interpretar é ir além da superfície. ou que se enquadrem aos objetivos que se deseja alcançar. Não adianta o professor apresentar belos textos. o diálogo e o senso crítico. Cabe ao professor. isto é. mas de conteúdo abstrato para uma turma de segunda série. A adequação do texto à turma é outro fator de grande importância. passa a dizer o que leu. p. segundo Sordi (1991. não basta decifrar os sons da escrita. é o ponto culminante do ensino da língua. os interesses da criança. Deve-se indicar os livros aos alunos. primeiramente. auxiliando-o na formação de sua cidadania. ler as leis e os regulamentos que regem a sua cidadania. desde o letreiro do ônibus aos nomes das ruas. por outro. É uma atividade visual. Ensinar a ler é levar o aluno a reconhecer a necessidade de aprender a ler tudo o que já foi escrito. pois se apoia. numa quantidade tal que o faça gostar de ler e de perceber a importância da leitura para sua vida pessoal e social. a leitura é mais que um exercício visual. 39 Diante e atrás dos olhos De acordo com os apontamentos de Barbosa. que a tornaram capaz de expressar o que for necessário. na obra Alfabetização e leitura (1991). problemas e descobertas. Ensinar a ler é também dar acesso aos meios expressivos necessários para que o aluno leia não apenas textos contemporâneos. ler narrativas que vão organizar sua relação com a complexidade da sua vida social. ler os ensaios que apelam à sua racionalidade e a desenvolvem. ler é uma atividade ideovisual. nas informações que ele tem disponíveis na sua mente. mas também textos antigos. Pode-se afirmar que a leitura depende do que está diante e atrás dos nossos olhos. Ler o jornal que vai relacioná-lo minimamente com o mundo lá fora. na sua estrutura cognitiva. no que o leitor recebe através do seu sistema de visão e. ler os poemas que vão dar concretude.Capítulo 4 Formação do leitor Essa leitura de formação de leitor tem por objetivo desenvolver no aluno a familiaridade com a língua escrita mediante a leitura de vários gêneros textuais. A inserção do aluno no universo da cultura letrada por meio da leitura desenvolve a sua habilidade de dialogar com os textos lidos. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . qualificar e expandir os limites de seus sentimentos. por um lado. porque para ler é necessário haver um texto diante dos olhos. No entanto. transformando-a num hábito capaz de satisfazer o gosto e a necessidade. dos bancos e das casas comerciais – leituras fundamentais para a sobrevivência e orientação em uma civilização construída a partir da língua escrita. cultura e sensibilidade. para que ele possa perceber que a língua portuguesa que ele lê é produto do trabalho de pessoas como ele. dialogando com eles dentro de um universo comum de questões. 2004. que o leitor consegue construir o sentido do texto. Quanto mais utiliza uma informação não visual. Informação não visual Informação visual (diante dos olhos) Leitura (atrás dos olhos) Fonte: adaptado de Barbosa (1991. como conhecimentos linguísticos. como o conhecimento linguístico. em parte previsto) e o que o leitor insere no texto por conta própria. a FAEL . E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si. a compreensão de textos é um processo complexo em que interagem diversos fatores. p.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Portanto. p. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento. A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe. percebe-se que a compreensão é um verdadeiro jogo entre aquilo que está explícito no texto (que é em parte percebido. a que está na página impressa. A outra fonte de informação encontra-se no cérebro do leitor. a leitura é considerada um processo interativo. Dessa forma. menos ele necessita da informação visual. 117). conhecimento geral a respeito do mundo. conhecimento prévio a respeito do assunto do texto. que fornece informações não visuais. que é chamada de informação visual. o textual. o conhecimento de mundo. 13). entre outros. disponível em sua estrutura cognitiva. Uma é fornecida pelo autor (registros gráficos sobre uma página). motivação e interesse na leitura. uma leitura se apoia em duas fontes de informações bem diferentes. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão (KLEIMAN. disponíveis e presentes mesmo quando os olhos estão fechados. o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. 40 Previsões e inferências Segundo Kleiman (2004). Figura 1 Dois tipos de informação envolvidas no ato de ler. som. papel sulfite. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . que ajuda na compreensão do texto. Recursos necessários: diversos poemas. Tempo de duração: 1h30 min. Dentro desse conhecimento de mundo. CD com músicas tranquilas. Diante do exposto. canetas. Sohw de bloa. expõe-se o texto a seguir: O nosso cérebro é versátil. grampeador. Da teoria para a prática Poesia no varal Objetivos: estimular o gosto pela leitura de poemas. conclui-se que a informação e a compreensão estão ligadas ao indivíduo. sensibilizar os alunos com relação à importância da poesia e da criação de novas sensibilidades.Capítulo 4 partir de previsões e inferências que faz baseado no seu conhecimento de mundo. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa. à sua estrutura cognitiva e dependem tanto do que se conhece quanto do que se procura saber. insere-se o conhecimento linguístico. De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea. Para exemplificar. não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso. cordão. a úncia csioa iprotmatne é que aq piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. tesouras. cola. 41 A maioria dos falantes da língua consegue fazer a leitura e compreendê-la porque tem as informações linguísticas básicas que possibilitam fazer as previsões e inferências e utilizam o conhecimento de mundo. que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. possibilitar a leitura de poemas pelo viés do lúdico. Número de participantes: 20 a 30. jornais. mas a plravaa cmoo um tdoo. revistas. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol. por um lado. Mas. passar a dizer o que leu. De acordo com várias pesquisas. nem é suficiente descobrir os significados individuais das palavras. os alunos farão outro passeio com a finalidade de identificar qual poema está sendo representado por aquele material. que serão retiradas dos jornais e/ou revistas. ●● Após a escolha do material. A leitura é uma atividade visual porque para ler é necessário haver um texto diante dos olhos. para que o aluno leia um texto e compreenda o que está escrito não basta decifrar os sons da escrita. Ou seja. a leitura é mais que um exercício dos globos oculares. ilustração e palavras. na sua estrutura cognitiva. numa fala que traduz o texto e revela seu modo de interpretá-lo. no que o leitor recebe através do seu sistema de visão e. ●● Solicitar que cada aluno escolha um poema para que seja representado por figura. a leitura depende do que está diante e atrás dos olhos do leitor. Todos devem opinar. Um texto é formado a partir das relações que se estabelecem entre as palavras e as frases em todos os níveis linguísticos. nas informações que tem disponíveis na sua cabeça. O leitor deve apropriar-se das ideias que descobriu no texto. por outro. elaborar todos esses conhecimentos como se fossem seus e. foto. pedindo a cada um que fale sobre o poema escolhido e como ele foi representado. montar o trabalho na folha de papel sulfite e pendurar em outro varal. Enquanto eles passeiam os olhos pelos poemas.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Passo a passo ●● Colocar diversos poemas estendidos num varal e solicitar aos participantes que os leiam silenciosamente. ●● Depois que os trabalhos forem expostos no varal. FAEL . 42 Síntese Uma leitura profícua é aquela que envolve a decifração e a compreen­ são. ●● Finalmente. pois se apoia. seguindo a lei da fidelidade ao literal do texto. o professor colocará uma música tranquila. socializar a experiência. A criança não pode escrever sobre aquilo que não conhece. A criança gosta. O fato de escrever corretamente. Mesmo depois de alfabetizada. desde cedo. de desenhar e é como expressa seus sentimentos e emoções. isto é. 100) define texto como uma sequência verbal escrita coerente formando um todo acabado. ampliar seus horizontes. o professor deverá saber o que é um texto. Deve ser visto como objeto de leitura e também como um produto da atividade escrita do aluno. imaginário ou real. fornecendo os elementos necessários que a levará ao processo de criação. apesar de muito importante. Nesse sentido. então. Em se tratando de alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Geraldi (1991. o professor não deve colocar no mesmo nível redação e aprendizado da escrita. isto é. o desenho deve ser uma constante em suas atividades. é apenas um dos aspectos da redação. . A destinação de um texto é sua leitura pelo outro. O texto tem sido definido como uma passagem escrita que tem significado e não como um amontoado de sentenças desconexas. mas simplesmente dado a público. cumprindo sua finalidade de ser lido. a expressão escrita deve associar-se também ao desenho. definitivo e publicado – não quer dizer lançado por uma editora. A questão do texto O texto é a especificidade do ensino de língua.Letramento e práticas de escrita E 5 43 screver é expressar ideias. O professor deve. pois é nele que ela poderá apoiar-se para expressar suas ideias. Aliás. Primeiramente. isso costuma confundi-los. p. deve valorizar as ideias do aluno ao invés de cobrar somente a ortografia. de acordo com o interlocutor. se a informação do texto não foi apreendida. reais ou possíveis. Para Abaurre (1997. uma investigação do mundo ou de si mesmo.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Quanto à produção do texto na escola. 44 Práticas de escrita Facilitar a produção de textos do aluno. FAEL . Geraldi (2002) apresenta algumas condições necessárias. é porque há problemas no modo de tecê-lo. É preciso que o aluno tenha o que dizer. o processo de desenvolvimento da escrita está relacionado à possibilidade de escrevermos vários gêneros discursivos. dando-lhe as condições ideais para tornar-se um escritor competente. É essa relação que orientará todo o processo da prática com a linguagem. É válido. Portanto. O professor pode trabalhar um texto com problemas na sua tessitura para mostrar que. fantasiar) não só podem como devem ser resgatadas no momento da criação de textos. devemos utilizar uma tipologia textual diferente. um produtor de significados (e não um mero reprodutor de textos) acaba sendo a finalidade do trabalho com a língua portuguesa. é necessária a existência da relação interlocutiva no processo de produção de textos. o prazer é o próprio escrever e. Ao produzirmos. o exercício da reestruturação. assim. estamos caminhando para o aprimoramento de discursos e para a capacidade de reconhecer que. que tenha uma razão para dizer. 38). Ao mesmo tempo em que o educando reflete sobre o uso da linguagem no texto produzido por ele. que tenha para quem dizer. desde pequenos. se o texto não está claro. É o professor que deve orientar o aluno para a definição de interlocutores. deve refletir sobre a linguagem dos textos produzidos por outros. Essa busca deve proporcionar prazer. que se constitua como sujeito. fazendo sempre perguntas ao aluno a partir do seu texto para que seja enriquecido. assumindo a responsabilidade da palavra e que sejam escolhidas estratégias adequadas. diversos textos sobre diversos assuntos e abordagens distintas. p. para a reflexão mais profunda sobre os fatos abordados nos textos produzidos. ampliado. Para isso. portanto. Pressupõe-se que o ato de escrever seja uma busca. jogar. as atividades que os indivíduos executam desde criança (brincar. dependendo da situação comunicacional. Capítulo 5 Por isso. Entre as variáveis existentes que garantem as condições ideais para a produção textual. 45 Escrita e suas particularidades Alguns fatores devem ser observados para que exista a apropriação adequada desta instrumentalização da língua. a coerência da tese que apresenta. de suas emoções. incluindo a projeção de seu imaginário por meio de uma linguagem expressiva. a adequação entre dados e argumentação. está fazer o aluno refletir sobre as inúmeras possibilidades que o código linguístico lhe oferece para expressar o conhecimento de si. da própria realidade. sua visão de mundo. ou seja. Além disso. ●● capacidade de atenção e reflexão direcionadas. o domínio de uma gramática do texto. Deve orientar a reescrita deles para que digam com mais clareza e mais precisão o que querem dizer. levá-lo a perceber lacunas nas informações de que dispõe. inclui seu posicionamento ideológico. E cada professor deve ler esses textos com interesse pelo que dizem e não apenas para corrigir o português ou verificar o acerto de suas respostas. também. enfim. o manejo das estruturas subjacentes. que é a escrita: ●● visão e audição apresentando maturidade sensorial. enfim. levar o autor do texto a repensar a pertinência dos dados com que está lidando. cada professor em sala de aula deve vincular – por meio da produção escrita – conteúdos específicos da disciplina com a vida de seus alunos. inclui-se a progressão discursiva. Inclui-se. E. principalmente. A finalidade da escrita é tornar possível a leitura. que procurarão tocar positivamente o leitor. o conhecimento das regularidades da língua. solicitando-lhes que escrevam sobre aspectos de suas vidas e propor que esses textos sejam lidos para colegas e discutidos em sala de aula. garantidora da coesão e da coerência do texto e responsável pela distinção entre um simples amontoado de frases e um conjunto organizado lógica e semanticamente. a transposição dos símbolos escritos em fala. Uma de suas conceituações contempla a compreensão e interpretação da escrita. ●● coordenação motora satisfatória. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . marcada de intencionalidades. incita. ela instiga. pelo fato de reconhecerem que falam uma variedade estigmatizada pela sociedade. é um ato motivado interna e externamente. não apenas pelo leitor falante. 46 Articulação da língua falada e da língua escrita Quando se diz “linguagem escrita”. A disposição das palavras na frase e das frases no discurso (aspectos sintáticos). FAEL . p. valores culturais e sociais. portanto. De maneira diferente de outras expressões simbólicas e representativas. sua decodificação e interpretação ocorrem por meio de indivíduos capazes e preparados para isso. Por outro lado. isto é.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Há tipos de escrita que se direcionam para a expressão oral e outros que atentam para a transmissão de significados exclusivos. A escrita condiciona a leitura. o conjunto de palavras usadas numa língua (aspecto lexical) e os sons da linguagem (aspecto fonológico) caracterizam a linearidade de enunciados e discursos. uma realidade oral. que não pressupõe indicações particularizadas. objetiva que ela se realize na leitura. o qual é. é a expressão de um pensamento estruturado pelo indivíduo que escreve. Refletindo sobre as considerações de Massini-Cagliari (2001. O leitor. acrescenta aos significados individuais dos símbolos seu repertório. já que quem a produz. não sabem que língua de fato falam e que língua têm de usar na escola. suas experiências. cabe ao leitor investigar e descobrir a maneira conveniente e mais adequada de efetivá-los na prática da leitura. O ato de ler o que está escrito não é uma ação despretensiosa ou neutra. tudo o mais que se encontra em um texto escrito só pode ser entendido com relação ao sistema linguístico da língua. não se quer dizer que a escrita é totalmente diferente da linguagem oral. sem se darem conta das implicações e exigências da ortografia. na sua essência. mas que é apenas um uso específico da linguagem. embora a ortografia oficial tenha suas dúvidas ortográficas. quando contextualiza. por si só. 152). motiva a leitura. o problema dos alunos dos anos iniciais está mais ligado ao fato de eles começarem usando uma escrita fonética. Escrever. Assim sendo. Fora o aspecto gráfico. tem-se a noção de que. voluntário. pode-se dizer que. Enquanto o aluno não souber um pouco mais de sintaxe. mas facilitará bastante se o educador se utilizar do conhecimento que as crianças já dominam – a fala – escrevendo. também. Escrita não é transcrição fonética Nas classes de alfabetização. Se a escola não resolve essa questão. num primeiro momento. mostrando a forma convencional – não desmerecendo a fala em detrimento da escrita. Vale ressaltar que esse é um problema menor. Já a fala apresenta variações que se refletem nos dialetos. por exemplo fatos de concordância que podem ser tratados como questões de ortografia. Para escrever corretamente uma palavra como mal ou mau é necessário saber se trata-se de um substantivo. Há problemas. O desconforto decorrente dessa transposição errônea vai acompanhá-lo por boa parte ou por toda a sua trajetória de aprendizado da língua portuguesa. De certo modo. é comum o aluno transportar para a escrita a palavra como a pronuncia. ou seja. pode usar os supostos erros para delimitar as diferentes rea­ lizações da fala e da escrita. mas são. não levando em conta a forma ortográfica. ficará com explicações parciais a respeito desse fenômeno.Capítulo 5 A situação se torna mais crítica quando os alunos se encontram perdidos em meio às variações escritas e de fala sem receberem as devidas informações. para escrever. Deixar claro. consequentemente. como pretexto. fatos morfossintáticos. demonstrando a conveniência de cada uma delas. com a escrita. reforçar essa característica da escrita não fará dela imune à possibilidade de erro. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 47 . muitos alunos gastam muito tempo para se encontrarem como falantes em uma sala de aula. Então. como exercitam esta atividade. de um adjetivo ou de um advérbio. mas tem suas implicações nos conhecimentos que uma pessoa precisa ter para ler e. porém. não sabendo o que pertence à fala e o que pertence à escrita. na verdade. a crise de identidade linguística surge e se instala. em outros níveis de análise gramatical. Cabe ao professor reforçar sempre o conceito de que a ação da escrita ortográfica é um uso singular da língua portuguesa que não admitirá variação. Vendo a produção escrita de muitas crianças. bastando. ajuda os alunos a se sentirem seguros em algum lugar da construção do conhecimento. 69) mostram que a fala e a escrita divergem em muitos aspectos: “nos seus modos de aquisição. Andrade e Aquino (1999. tem-se a nítida sensação de que elas não têm ideia do que estão fazendo. Refletindo Fávero. transmissão e recepção. embora todas façam uso da linguagem oral. para aprender a ler e a escrever. nas suas condições de produção. Quando o aluno conhece pelo menos algumas regras de decifração e de funcionamento da escrita. Tal prática pode se tornar um vício e. excluindo-se os casos de patologias. nos meios pelos quais os elementos de estrutura são organizados”.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Confusão entre fala e escrita Uma questão pedagógica fundamental na escola. p. de qualquer jeito – como se fala. A aquisição da linguagem oral acontece de maneira natural. é ensinar o aluno a estudar. não tem entrada nem saída. acaba produzindo alunos com preguiça intelectual. p. não fazer nada é melhor do que fazer algo de qualquer jeito – diz Massini-Cagliari (2001. Não contam com uma questão básica que diz que não se escreve qualquer letra para representar o som da fala. caso contrário. que deve começar desde a alfabetização. Por outro lado. para isso. Além disso. para ele. fica perdido em meio a um caos que. tem um apoio importante para dar um passo adiante. não começariam a fazer algo sem refletir na direção certa. por mais óbvias ou banais que pareçam. é uma questão de disciplina mental. ao passo que muitas crianças e adultos jamais terão acesso à escrita – até porque existem muitas comunidades ágrafas. 154). pesquisar. que preferem perguntar tudo a usar o raciocínio e deixam tudo para o professor corrigir depois. Se tivessem isso claro. refletir e tirar conclusões baseadas nesse tipo de trabalho. 48 Em alguns casos. As crianças escrevem mecanicamente qualquer coisa. Ensinar regras. colocar a criança em contato com falantes de uma língua. todas as crianças aprendem a falar. depois. FAEL . a escrita precisa ser ensinada: a maioria das pessoas passa por um processo escolar de letramento. enquanto que. geralmente tem de ser contextualizada pelo próprio discurso. em concordância ou discordância com as intervenções do seu ouvinte. 1999. o retorno (feedback) dado pelo ouvinte ao falante é imediato. na escrita. ser determinado e estar presente ocasiona mais uma diferença crucial entre essas modalidades: na fala. ao contrário. ele está ausente. Além disso. tem de estar presente no momento da enunciação. no texto oral. na escrita. – E daí? Falou com o cara? – Ele não tava. na fala. em geral. A escrita. AQUINO. O fato de. não – na maioria das vezes. Outra diferença entre as modalidades oral e escrita da linguagem é que o interlocutor. fazendo uso dos meios assim chamados órgãos da fala” (FÁVERO. depois de enunciado. que. Pode-se imaginar. possibilidade de apagamento do que foi dito (apenas correção). foi lá? – Fui. 69). que. o interlocutor. ouve-se o seguinte diálogo: – Como é. A presença do interlocutor no momento da fala e a inserção de falante e ouvinte em uma mesma situação comunicativa fazem com que a fala possa ser contextualizada pela própria situação de enunciação e pelas circunstâncias externas. sem querer. ao passo que. No entanto. não há. isso. é impossível. ao contrário do que acontece no texto escrito. pode ser apenas um interlocutor ideal que o escritor tem em mente e a quem se dirige no momento da produção do texto. – E o que foi que ele disse? Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 49 . na maioria das vezes.Capítulo 5 É por esse motivo – e pela escrita necessitar da manipulação de um instrumento físico e da coordenação consciente de habilidades específicas motoras e cognitivas – que os já referidos autores consideram a escrita “irremediavelmente artificial. não mostra (ou mostra menos) o seu processo de criação (que pode incluir consultas a outros textos já existentes). o interlocutor não precisa ser determinado. por ter um planejamento anterior à produção. em geral. A interferência do interlocutor faz com que o falante possa corrigir ou acrescentar informações ao seu texto. enquanto que a fala é um processo natural. ANDRADE. por exemplo. Mas o outro atendeu. na escrita. presentes nessa situação. na fala. enquanto o texto é produzido. p. é necessário que a produção de textos não aconteça desvinculada da leitura. p. – Mas ela perdeu. Andrade e Aquino (1999. Ela disse pra ele. 22) mostram que em ambas as modalidades ela ocorre em níveis. FAEL . por intermédio dela que o aluno vai adquirir experiência com a modalidade escrita. em torno dos turnos conversacionais e. Percebe-se que é um texto típico de situações da fala.. p. com respeito à condução do tópico discursivo. assim como faz em relação à sua própria fala. Quanto à estruturação dos textos falados e escritos. Quem é que iria querer roubar aquilo? (FARACO. Fávero. pois não é necessário especificar quais os referentes de “ele” e “ela”. a partir da qual poderá fazer reflexões. pois os interlocutores estão inseridos em uma mesma situação comunicativa e essas informações são dadas pelo próprio contexto ou pelo conhecimento de mundo que eles compartilham. – E perdeu onde? – Lá mesmo. analisar os textos por eles produzidos para que você os possa auxiliar na correção das formas não apropriadas. que não é possível produzir um texto em uma modalidade que não se conhece. Aquela que você disse que nem precisava. 67). TEZZA. ainda.. nem o que é “aquilo”.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa – Que faltava aquela folha. então você vai ter mesmo que falar com ela. nem onde é “lá”. sendo o parágrafo um nível importante de organização do texto escrito. pois é. Para que progrida em suas produções escritas e realmente chegue à compreensão dos diferentes usos e naturezas da fala e da escrita. ou seja. principalmente. – Aquela? Ih. eu acho. 2003. enquanto que a fala se organiza. é imprescindível considerar. Para finalizar tal discussão. localmente. 50 Da teoria para a prática Práticas para auxiliar a escrita e a leitura: ●● verificar sempre as hipóteses de escrita de seus alunos antes de planejar suas aulas. globalmente. Fonte: Ramos (2005. ●● trazer livros para a sala ou levar os alunos frequentemente à biblioteca da escola ou do bairro. p. formando um todo acabado. é necessária a existência da relação interlocutiva no processo de produção de textos. ●● a produção de textos coletivos é uma forma bastante eficiente de promover o desenvolvimento da escrita. 51 Síntese A definição de texto. o que demanda o outro. segundo Geraldi (1991. para que criem mecanismos próprios de autocorreção. cartas. isto é. mas simplesmente dado a público. 7). fazer com que produzam textos que possam ser lidos e utilizados fora do contexto da sala de aula. a destinação de um texto é sua leitura pelo outro. tentar descobrir o que eles precisam para vencer alguns obstáculos e ser bons leitores e escribas. ●● sugerir atividades funcionais de escrita e leitura. 100). etc. ●● nunca criticar os alunos por não saberem algo. imaginário ou real. autobiografias. Para isso. trabalhos de pesquisa que possam ser incorporados ao acervo da biblioteca da escola. assumindo a responsabilidade da palavra e que sejam escolhidas estratégias adequadas. definitivo e publicado.. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . é uma sequência verbal escrita coerentemente. de acordo com o mesmo autor: é preciso que o aluno tenha o que dizer. ●● incentivar os alunos a ler pelo menos um texto por semana. Por exemplo: receitas. ●● ter sempre em mãos um dicionário e uma gramática. p. cumprindo sua finalidade de ser lido. isto é. em que publicado não quer dizer lançado por uma editora.Capítulo 5 ●● incentivar os alunos a fazer releitura e reescrita de seus textos. de acordo com o interlocutor. uma razão para dizer e para quem dizer. Há algumas condições necessárias quanto à produção do texto na escola. que se constitua como sujeito. Esses desconfortos e comprometimentos. não levando em conta a forma ortográfica. decorrentes dessa transposição errônea.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa No entanto. é um acontecimento comum o aluno transportar para a escrita a palavra como a pronuncia. 52 FAEL . não sabendo o que pertence a uma modalidade e o que pertence à outra. nas classes de alfabetização. ou seja. vão acompanhá-lo por boa parte ou por toda sua trajetória de aprendizado da língua portuguesa. Por isso. ou ao síndico. De acordo com Meurer e Motta-Roth (2002. de levar os outros a agir. Em função dessa potencialidade de mediar nossa ação sobre o mundo. a vida social contemporânea exige que todos desenvolvam habilidades comunicativas que possibilitem a interação participativa e crítica no mundo de forma que possam intervir na dinâmica social. quando se faz uma solicitação formal. p. consequentemente. jornais ou sites. descrição e narração. etc. para que revejam os altos preços cobrados pela prestação do apartamento ou do condomínio.Trabalho com gêneros textuais 6 53 Tradicionalmente a escola trabalhava com dissertação. Gêneros textuais Cada situação de comunicação social exige uma forma específica de linguagem. a linguagem se inscreve como sistema mediador de todos os discursos. ao banco. No entanto. ou quando se elabora um anúncio escrito ou gravado para publicar em serviços telefônicos. Em situações semelhantes . fala-se e escreve-se de formas diferentes dependendo de cada circunstância de interlocução. de busca pela informação e posterior utilização desta para construção do conhecimento. Por exemplo. no contexto de trocas materiais e culturais. aumenta a necessidade e a relevância de novas práticas educacionais relativas ao uso de diferentes gêneros textuais e aos requisitos de um letramento adequado ao contexto atual. O conhecimento sobre práticas discursivas e sociais torna-se. oral ou escrita. dentro de parâmetros estritamente escolares e não sociais. 10). um pré-requisito para que se reconheça a necessidade de desenvolver novas perspectivas educacionais relativas à linguagem e ao seu uso. contos de fada. lendas.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa se produz textos com características semelhantes. conto. convites. anúncios e também por e-mails. edital de concurso. avisos. poema. o motivo ou a mensagem propriamente dita. crônica. e que as exigências com relação à estruturação e à representação. p. que podem ser chamados de gêneros de textos. 87). bula de remédio. De acordo com Marote e Ferro (1994. um plano. nas mais diversas práticas cotidianas de comunicação. só poderão ser satisfeitas mediante a multiplicidade de papéis assumidos pelo produtor do texto. avisos O aluno deve ser levado a escrever em situações concretas que reflitam efetivamente o uso da escrita na sociedade. bilhete. o professor deve estar atento para os usos sociais da linguagem para fazer da sala de aula um ambiente em que circulem os mais diferentes gêneros. mitos. romance. e que. entre outros. por exemplo. um todo organizado. No bilhete. expressão de chamamento ou destinatário. uma vez que os alunos terão contato com variadas formas de interação social. algumas normas devem ser obedecidas. receita. bilhetes. Há ainda normas formais para cada um desses tipos de comunicação. lista de compras. esse tipo de comunicação se dá por cartas. 54 Os gêneros textuais vão se estabelecendo socialmente. convites. portanto. entrevista. artigos científicos. via de regra. outdoor. telefonema. só por meio da vivência das formas de comunicação. o aluno apreenderá a noção do que é escrever. selecionar de maneira clara e objetiva aquilo que se quer informar. Alguns exemplos: carta. 87). Cartas. o estudo de gêneros diversificados é oportuno. quadrinhos. horóscopo. o emissor e a data. Uma delas é a transmissão de informações. mensagens. resenha. em situações reais e concretas de uso social da escrita. a expressão de despedida. cartazes. provérbios. facilitam a comunicação: a conversa em família. Há normas funcionais: é preciso ser eficiente. a negociação no mercado. Perceberá que a escrita envolve um modelo. convites. por isso mesmo. cardápio. FAEL . bate-papo por computador. p. conhecidos e reconhecidos por todos. nesse tipo de comunicação. paródia. conferência. deve haver um vocativo. bilhetes. Assim. Segundo Marote e Ferro (1994. resumo. piada. sermão. canção. Normalmente. o discurso amoroso. classificados. além de favorecer a análise do oral. é indispensável fazer a menção aos conhecimentos que permitem perceber que a forma adotada pelo neto para instaurar o contato com o avô é marca de sua faixa etária. Os recursos mais frequentes são zombaria. Convém. sátira. na medida em que o avô não reconhece o ato de fala efetivamente intencionado pelo neto. dos elementos que compõem as várias linguagens. A utilização de textos de humor em sala de aula estimula a interpretação. reportagens. O riso é provocado no leitor. traz à tona uma série de dificuldades das mais variadas. ironia. Textos humorísticos: piada. ou que deformam as características das personagens. Exemplo: Chegando à fazenda dos avós. em conjunto. assim como do grupo sociocultural a que pertence. para visitá-los. etc. entre elas a ortografia e a pontuação. caricatura. o desenho. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 55 . como a verbal. Sírvio Santos. com ou sem o auxílio de sequência de desenhos. fio.Capítulo 6 Histórias em quadrinhos. o gesto. que está na sala: – Firme. preparar. entrevistas Escrever histórias em quadrinhos. salientar a possibilidade de uso. tais dificuldades servirão de auxílio na descoberta do contraste entre o oral e o escrito. tirinhas Têm como intenção principal provocar o riso mediante recursos linguísticos e/ou iconográficos que alteram ou quebram a ordem natural dos fatos ou acontecimentos. escrever e apresentar reportagens e entrevistas são algumas das atividades que reproduzem por escrito aquilo é falado. vô? – Não. ainda. levando à busca de novas leituras de um mesmo enunciado. Bem trabalhadas pelo professor. o questionamento sobre o texto e a descoberta da lógica linguística do conjunto. Neste texto. o neto se dirige ao avô. Esse tipo de atividade. sarcasmo. anedota. p. Os textos poéticos possuem uma distribuição espacial bastante característica (espaços em branco. introduzindo a fala das personagens. narrativas de aventura (relato em prosa ficcional) ou fábulas (em que animais ou objetos são os personagens e o enredo carrega uma lição moral) ajuda a criança a desenvolver a capacidade de narrar e a lidar com a organização da escrita para criar verossimilhança. dando coerência aos fatos. lendas. os textos literários conhecidos como obras de teatro (dramas. como a mímica. essas atividades proporcionam a integração e a interação das crianças com o grupo. Enfim. As obras de teatro atingem toda a sua potencialidade por meio da representação cênica: elas são construídas para serem representadas. mediante a interação linguística das personagens. Também aí são vivenciadas normas regulamentadoras do uso de expressão. fazem uso de recursos sonoros (rimas e ritmo) e linguísticos (as palavras podem assumir significados diferentes). pelas conversações que têm lugar entre os participantes nas situações comunicativas registradas no mundo de ficção construído pelo texto. 82). tragédias. olhar para quem fala. p. prestar atenção. Nessas atividades são trabalhadas a articulação das palavras e a expressão individual e coletiva. 56 Segundo Marote e Ferro (1994. tais como ouvir e m silêncio. com esses tipos de gêneros patenteia-se a visão de produção no sentido individual e coletivo. sustentar. FAEL . etc. aguardar a vez de falar. coro falado e jornal falado De acordo com Kaufman (1994. O diretor e os atores orientam sua interpretação. o que facilita o uso de outras formas de expressão. ou seja. etc. 23). gerais ou específicas para cada situação. caracterizando as personagens. Textos narrativos e textos poéticos Escrever ou recontar contos. O coro falado e o jornal falado desenvolvem a oralidade. a capacidade de argumentar. negociar tomadas de posição. a música. comédias) vão tecendo diferentes histórias. delimitando tempo e espaço. desenvolvendo diversos conflitos. distribuição em versos e estrofes). Essa é condição essencial para que se efetive uma verdadeira comunicação em sala de aula.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Teatro. refutar. criando um narrador. já na primeira infância. quando os pais deveriam ler para seus filhos. Só que Bola. se a poesia convida ao jogo da leitura. a poesia toca. Na verdade. É jogo de sentidos que se renova a cada leitura. com o outro e com o mundo. É no encontro do leitor com a poesia que se dá a renovação dos significados da palavra. As palavras não: Quanto mais se brinca Com elas Mais novas ficam. papagaio. possibilitando uma vinculação diferenciada do homem consigo mesmo. mobiliza o ser humano. Como a água do rio Que é água sempre nova.Capítulo 6 Ao tecer mundos com a linguagem. pião. Vamos brincar de poesia? (PAES. papagaio. ao apresentar a palavra sensível ao leitor. Como cada dia Que é sempre um novo dia. O modo como esse convite chega até o possível leitor pode determinar que ele seja aceito ou não. é preciso conhecer as regras para “curtir” a brincadeira. 1997. é um convite: Convite Poesia É brincar com palavras Como se brinca Com bola. tanto no nível racional quanto no emocional. 23) Sendo assim. pião De tanto brincar Se gastam. A poesia é lúdica – é brincadeira com palavras. seria importante que o despertar para a leitura começasse em casa. p. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 57 . emociona. FAEL 58 . A preocupação do professor deve ser fazer com que os alunos transitem pelas três posições enunciativas do texto: ●● ouvinte. claro. ●● escritor. a “degustação” de poemas. nunca é demais frisar que a leitura. precisa levar para a sala de aula jornais e revistas. [s. tem uma função em si mesma. Dessa forma. p. inclusive fazendo uso da ortografia e gramática em situações reais. de fato.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Podemos realizar atividades enriquecedoras e valiosas a partir da poesia. os alunos irão muito além das características de cada gênero – aprenderão. Cabe ao professor possibilitar que os alunos pratiquem esses comportamentos utilizando textos de diferentes gêneros. organizar entrevistas. Se o professor objetivar o trabalho com reportagens. Enfim. comparar dados entre textos e. sublinhar as informações mais relevantes. a complexidade dos textos é que deve variar conforme a idade. Nessa transição eles exercitarão o comportamento de leitores e escritores e integrarão as atividades com diferentes propósitos. é preciso que os alunos manuseiem obras de culinária. Contudo. para explorar receitas. encontrar uma informação específica. na análise de biografias. é fundamental cada um dispor de livros desse tipo. É indispensável que eles estejam a serviço dos leitores e escritores (ler para estudar. elaborar resumos. publicado na Revista Nova Escola (2009. ●● leitor. enfrentar o desafio de descrevê-los).]). a ler e escrever. Seguindo o raciocínio do mesmo artigo. qualquer gênero pode ser trabalhado em qualquer ano. Mostrar ao aluno somente textos impressos e resumidos nas páginas do livro didático é insuficiente. é um trabalho que se justifica por ele mesmo. como usar”. Cada tipo de texto tem um suporte De acordo com o artigo “Gêneros. tomar notas. a apresentação dos textos é um ponto essencial: eles devem ser trabalhados em seu suporte real. alguns especialistas teorizam que os gêneros são uma condição didática para trabalhar o comportamento de leitores e escritores. outdoor. receita. cardápio. Em situações semelhantes são produzidos textos com características semelhantes. 59 Síntese Cada situação de comunicação social exige uma forma específica de linguagem. cartões. contos de fada. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . crônica. Alguns exemplos: carta. poema. mensagens. conhecidos e reconhecidos por todos. ●● roda de biblioteca (empréstimo de livros e apreciação de textos literários). Por isso. a negociação no mercado. e que facilitam a comunicação – a conversa em família. ●● roda de conversa (escuta atenta e manifestação de opiniões). telefonema. romance. etc. bate-papo por computador. ●● escrita de textos práticos (bilhetes. entrevista. convites. artigos científicos. fala-se e escreve-se de formas diferentes dependendo de cada circunstância de interlocução. mitos. resumo.). Fonte: Moço (2009). ●● leitura pelo aluno de diferentes gêneros para localizar e selecionar informações. classificados. anúncios. o discurso amoroso. ●● leitura compartilhada de textos informativos para estudar os temas tratados nas diferentes áreas de conhecimento. que podem ser chamados de gêneros de textos. resenha. paródia. lendas. quadrinhos. entre outros. conto. sermão. horóscopo.Capítulo 6 Da teoria para a prática ●● Sugestões para trabalhar com gêneros na prática: ●● leitura diária de textos literários pelo professor. lista de compras. bilhete. piada. avisos. bula de remédio. conferência. edital de concurso. provérbios. canção. . pelo uso da própria linguagem. na qual o conhecimento da linguagem é interiorizado a partir de atividades com a própria linguagem tecida nas relações sociais. é imprescindível que o professor trabalhe em sala de aula com atividades que proporcionem o desenvolvimento da oralidade. o professor deverá conhecer os resultados dos trabalhos que vêm sendo feitos. leitura e produção de textos. tem-se por objetivo desenvolver quatro habilidades comunicacionais básicas: ouvir. pretende-se trabalhar o domínio da linguagem a partir de uma perspectiva da diversidade linguística. N Oralidade Para os PCN (1998. falar. da variação linguística e do texto. Ao propor o desenvolvimento da . principalmente no que se refere à questão da concepção de linguagem. Para promover atividades visando o domínio efetivo da linguagem – ouvir. ensinar a língua oral deve significar para a escola possibilitar acesso a usos da linguagem mais formalizados e convencionais. Para tanto. ler e escrever –. tem prevalecido a concepção de linguagem que vem sendo chamada de interacionista (como visto no primeiro capítulo do presente material didático). No âmbito das discussões sobre o assunto. na interlocução. falar. p. ao ensinar a língua.Parâmetros Curriculares Nacionais e a Língua Portuguesa 7 61 este capítulo. ler e escrever. tendo em vista a importância que o domínio da palavra pública tem no exercício da cidadania. Primeiramente. 67). A necessidade de repensar o ensino da Língua Portuguesa deve-se aos avanços da pesquisa sobre a linguagem e o ensino de línguas. por meio da relação entre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Língua Portuguesa. de tirar as dúvidas com o professor em sala de aula. os encontros institucionalizados. fala-se não só do processo de decodificação dos signos linguísticos.. envolvendo aspectos temáticos de projetos em andamento em língua portuguesa ou em outras áreas. teatro. profissional. de contribuir de alguma forma com a discussão dos conteúdos em sala. etc. que formas utilizar. mas também de compreensão do que foi decodificado.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa oralidade por parte do aluno. afetiva e. condições de analisar e estabelecer. Assim. as tarefas profissionais. 62 Leitura Como já foi visto no capítulo 4 do presente material didático. Esse problema certamente se repercutirá na área social. as normas consensuais que regulam essas ocorrências. etc. de verbalizar. leituras dramáticas. principalmente. junto com os alunos. aceitos ou discriminados) à medida que forem capazes de responder a diferentes exigências da fala e de adequar-se às características próprias de diferentes gêneros da linguagem oral. ou seja. palestras. nas inúmeras situações sociais do exercício de cidadania que se colocam fora dos muros da escola – a busca de serviços. como ouvir o outro com atenção. deixa-as FAEL . de poder se expressar sempre que sentir necessário. Essas atividades propiciam a veiculação e análise das variedades linguísticas e a demonstração de seus respectivos valores enquanto meios legítimos de expressão. quando e como intervir. simplesmente porque não foram motivadas quando crianças a treinar sua expressividade oral diante de um grupo de pessoas. quando refere-se à leitura. expressar suas opiniões. enfatiza-se a oportunidade de ele ser ouvido em sala de aula. possibilitar que ele verbalize suas necessidades e emoções diante dos colegas e professores. demandada por tais situações. também. Um dos grandes problemas em vários níveis de aprendizagem é quando o aluno está resolvendo questões e. reduzir o tratamento da modalidade oral da linguagem a uma abordagem instrumental é insuficiente para capacitar os alunos a dominarem a fala pública. para o professor. a defesa de seus direitos e opiniões – os alunos serão avaliados (em outros termos. porque. em vez de responder. Criam. entrevistas. aguardar a vez de falar. Existem diversas pessoas que chegam à fase adulta com medo de falar. Sugere-se que o professor promova debates. diários. “o texto costuma virar pretexto. 53). p. tem-se a possibilidade de desenvolver uma habilidade importante para o homem interagir com outros e registrar a sua própria experiência. formar leitores é algo que requer condições favoráveis. incentivá-lo a falar aos colegas a respeito do que está lendo. considera-se extremamente importante que haja um treinamento e incentivo da realização de leituras de textos diversos. Depois disso. quando ditas. em relação ao uso que se faz deles nas práticas de leitura. como afirma Lajolo (1984. 71). É válido salientar que alguns teóricos. criticam a presença do livro didático na escola. como livros. como Marisa Lajolo (1984) e Regina Zilberman (1984). escritas. uma vez que as palavras. Para os PCN (1988. vê-se que ele não soube interpretar o discurso lido. de forma que o significado do texto se dá apenas e tão somente ao que está nele explicitado. administrar a escolha dos livros.Capítulo 7 em branco. principalmente. ser intermediário de aprendizagens outras que não ele mesmo”. Nesse sentido. estimular esse interesse. Não se chega às entrelinhas. Assim. Para Faraco e Tezza (2003. 11). uma vez que tal situação de ensino reflete uma visão de leitura unidirecional e restritiva. a trocar impressões com os colegas a respeito de leituras comuns. muito menos adiante. ajudá-lo a usá-lo. o texto e a sua leitura passiva costumam sobrepor-se à leitura atuante do leitor e ao ato mesmo de ler. incentivá-lo a olhar no dicionário. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . alegando que não sabe a resposta. 63 Escrita Sobre a escrita. mas. conversar com o aluno que solicitar uma orientação a respeito do assunto do livro. Cabe ao professor colocar os alunos na mais adequada postura para ler – sentados em silêncio –. ou melhor. podem se perder no tempo e. terão uma chance de permanecer em várias épocas e civilizações. por causa dessa simples qualidade – a permanência – a escrita dominou o mundo. p. entre outros. fornecer-lhe indicações bibliográficas nas quais poderia procurar mais informações a respeito de um assunto que lhe despertou um interesse mais forte. não só em relação aos recursos materiais disponíveis. p. revistas. jornais. desde que seu material de registro seja bem conservado. pois só com a prática o aluno será capaz de ler e interpretar o mundo que o cerca. Dependendo do tipo de texto. ou para não perder nota. nem a forma do texto ao modo consagrado de escrever nessa área do conhecimento. a internet) e não simplesmente para encher a página de seu caderno. por isso é tarefa da possível ensinar a língua sem escola ensinar o aluno a escrever ensinar metalinguagem nenhuma. levá-lo a perceber as lacunas nas informações de que dispõe e a se perguntar para que vai servir o que está escrevendo. p. seja como produtor de textos. aos poucos. formas. mas de modo prático. É necessário que o professor examine os textos dos alunos para orientar. ●● se sua produção. Essa orientação não se baseia em apenas adequar o conteúdo às verdades estabelecidas pela ciência. a coerência da tese que apresenta. o jornal da escola. para que ele possa participar desse diálogo. para cada gênero. a reescrita que vai qualificá-los. deve-se observar: ●● se ele realmente incorporou os diferentes subsídios presentes nos textos com os quais trabalhou na expressão escrita. a adequação entre dados e tese. pode haver um receptor definido ou não. expressões e frases só introduza A escola insere o aluno no contexa metalinguagem quando for to da cultura. paragrafação. 96). Ou seja. na modalidade escrita. etc. sendo diversificada. Note que é dá por escrito. levar o autor do texto a repensar a pertinência dos dados com que está lidando. apresenta. Saiba mais O texto escrito exige que o autor esteja consciente de que ele Para o trabalho de manipulação de será lido por uma ou mais pessoas. as condições mínimas necessárias para que se considerem FAEL . o aluno não traz nenhuma ou quase nenhuma bagagem de casa.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Para Marote e Ferro (1994. pontuação. selecionando as normas úteis e dosando a sua apresentação. os colegas. seja na condição de leitor. minuciosamente. mas. Compete à escola transmitir-lhe as convenções dessa modalidade. aprender a captar e manejar as formas da língua escrita. um diálogo que se absolutamente necessário e útil. e há normas de uso que precisam ser seguidas – ortografia. 64 Produção Pressupondo que o aluno escreverá para um leitor real (que pode ser o professor. principalmente. O aluno precisa. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . ●● se o grupo/classe participa ativamente das atividades relacionadas à leitura ou exposição dos textos produzidos por todos.Capítulo 7 apreendidas as estruturas narrativas. 65 Valores subjacentes às práticas de linguagem Para desenvolver essas quatro habilidades linguísticas no aluno. bem como a combinação dessas estruturas. a partir das observações apontadas no texto. 64-65). ●● se a proposta possibilita ao aluno projetar seu mundo interior. ●● se ele maneja com razoável habilidade recursos discursivos que lhe permitem atingir os objetivos de escritor que quer conquistar seu leitor. descritivas. ●● se ele se inteirou dos critérios estabelecidos. ●● se na reescrita apresenta realmente melhoras significativas. poéticas e dissertativas. para a correção e avaliação das redações e se acata a orientação do professor e/ou colega. valorizando adequadamente a dimensão da linguagem. são elas: ●● valorização das variedades linguísticas que caracterizam a comunidade dos falantes da Língua Portuguesa nas diferentes regiões do país. em projetos. seu imaginário. no sentido de reescrever os textos para melhorá-los. mas expressivamente. p. devem-se assumir algumas posturas que estão explicitadas nos PCN (1998. inclusive. ●● se ele transfere para seus escritos os conhecimentos adquiridos no campo da gramática. ●● se o aluno escreve não apenas corretamente. ●● se ele sabe combinar períodos e formar parágrafos coerentes e se sabe combinar parágrafos para compor um texto coeso. principalmente a visual e a escrita. com a concordância do grupo. adequando esses recursos às ideias que quer transmitir. ao mesmo tempo em que lhe permite reinventar maneiras originais de expressar-se. aprendizagem. tanto no que se refere aos aspectos formais – discursivos. considerando-a forma de expressão da cultura de um povo. ●● interesse por trocar impressões e informações com outros leitores. exposições. livrarias. ●● posicionamento crítico diante dos textos. ●● reconhecimento da necessidade de dominar os saberes envolvidos nas práticas sociais mediadas pela linguagem como ferramenta para a continuidade de aprendizagem fora da escola. ●● interesse pela literatura. de modo a reconhecer a pertinência dos argumentos utilizados. iniciativa e autonomia para ler textos diversos. ●● reconhecimento de que o domínio dos usos sociais da linguagem oral e escrita pode possibilitar a participação política e cidadã do sujeito. convencionais – quanto à apresentação estética. posições ideológicas subjacentes e possíveis conteúdos discriminatórios neles contidos. posicionando-se a respeito dos textos lidos. distribuidoras. ●● interesse pela leitura e escrita como fontes de informação. debates. conferindo-lhe melhor qualidade. bancas de revistas. depoimentos de autores –. 66 ●● interesse por frequentar os espaços mediadores de leitura – bibliotecas. editoras. ●● reconhecimento da necessidade e importância da língua escrita no processo de planejamento prévio de textos orais. gramaticais.Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa ●● valorização das diferentes opiniões e informações veiculadas nos textos – orais ou escritos – como possibilidades diferenciadas de compreensão do mundo. adequados à condição atual do aluno. ●● reconhecimento de que o domínio da linguagem oral e escrita pode oferecer ao sujeito melhores possibilidades de acesso ao trabalho. sabendo orientar-se dentro da especificidade desses espaços e sendo capaz de localizar um texto desejado. fornecendo indicações de leitura e considerando os novos dados recebidos. FAEL . ●● interesse. ●● preocupação com a qualidade das produções escritas próprias. lançamentos. bem como transformar as condições dessa participação. textuais. ●● atitude receptiva diante de leituras desafiadoras e disponibilidade para a ampliação do repertório a partir de experiências com material diversificado e recomendações de terceiros. palestras. lazer e arte. assim. Nas atividades de linguagem. tanto orais como escritas. o aluno deve ser levado a atuar e observar conscientemente a língua. Ou seja. o grande objetivo é a clareza. uma sugestão seria o registro de dados por meio de conversas informais (por exemplo: de que maneira a leitura e a escrita estão presentes na sua vida e na de sua família?) e também durante o desenvolvimento das atividades propostas. retificando o que estiver manifestamente errado. ler ou escrever não estiver claro. a partir do que ele já sabe. cortando o que estiver a mais. a precisão e a adequação. Para Possenti (1996. 67 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa . você conhecerá as necessidades específicas da classe. p. Se aquilo que o aluno disser. podendo.Capítulo 7 ●● valorização da linguagem escrita como instrumento que possibilita o distanciamento do sujeito em relação a ideias e conhecimentos expressos. substituindo o que estiver trocado. De falante que é. constante e o mais abrangente possível. planejar sua atuação com a linguagem. o ensino-aprendizagem deve acontecer conforme as ocorrências reais de recepção e produção oral e escrita. permitindo formas de reflexão mais aprofundadas. falar. o professor deve fazer ou sugerir a devida correção. só mediante um trabalho paciente. Da teoria para a prática Para conhecer os alunos e planejar adequadamente o trabalho com a leitura e a escrita em sala de aula. ler e escrever – com domínio absoluto e resultando numa verdadeira apropriação. pontilhado de atenta reflexão. nas atividades de linguagem. A partir disso. deve transformar-se em observador de sua própria linguagem e da linguagem de outras pessoas. preciso e adequado. Síntese Para adquirir as habilidades comunicacionais básicas – ouvir. 45). . L. 1991. R.aldobizzocchi. CAGLIARI.html>. Elementos de semiologia. escola e sociedade. P . 2000. 1989. Olympio.Referências ABAURRE. 3. J. Redação e textualidade. D. RANCHINHO. Porto Alegre: Globo. Rio de Janeiro: J. BORGES. 1986. 1997. São Paulo: Cortez. Elogio da sombra. BARBOSA.br/menu. Secretaria de Educação Fundamental.. Rio de Janeiro: Rocco. Bis sertanejo. M. Cenas de aquisição da escrita: o sujeito e o trabalho com o texto. A. 1991. Brasília. Alfabetização e linguística. M. 1991. BRITO. M. 1998. Estrutura da língua portuguesa. Alfabetização e leitura. C. 1977. Ideias: leitura. BRASIL. COLASANTI. 2 CD. J. G. Petrópolis: Vozes. L. ed. São Paulo: FDE. Disponível em: <http://www.com. J. L. 69 . B. Artigos. Acesso em: 13 out. São Paulo: EMI. 1999. COSTA VAL. L. 1945. MEC/SFE. 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Ensino de Língua Portuguesa . objetivando a diversificação do ensino. para que os indivíduos estejam aptos às constantes mudanças de rumo profissional.Fundamentos e Metodologia do A rapidez com que as mudanças sociais estão se processando e alterando nosso cotidiano coloca a Educação a Distância como possibilidade de interação. propagação do conhecimento individual e coletivo. os processos de interação e de acesso ao conhecimento. para que os indivíduos possam assimilar informações e usá-las em situações variadas. dessa forma. com qualidade. dentro desse contexto atual. assim como possibilitar o domínio de habilidades que lhes permitam utilizar produtivamente recursos da mídia tecnológica em acelerada transformação – como o ensino EaD. E. atenção à Língua Portuguesa e às suas manifestações criativas. Por isso. cada vez mais. está o papel da linguagem – objeto de estudo da presente obra. A prática da leitura. a reflexão e a produção de textos com ênfase no letramento é reconhecidamente uma maneira de desenvolver competências. oportunizando.
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