USP- Universidade de São Paulo.Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Disciplina FLF02118: Estética e Arte Contemporânea (1970-2000). Professor: Ricardo N. Fabbrini. Marcos Paulo de Almeida nº USP 6912961 18/06/2013 Comente a seguinte afirmação: “Produzir uma relação com o moderno que não signifique nem um apelo nostálgico nem uma denúncia edipiana de suas insuficiências repressivas constituiu uma missão complexa para nossa historicidade, cujo sucesso pode nos ajudar a recuperar algum senso de futuro e das possibilidades de mudança genuína” (Cf. Fredric Jameson, “’Fim da arte’ ou ‘Fim da história’”. In A cultura do dinheiro: ensaios sobre a globalização . Petrópolis, Vozes, 2001, p. 91). A opinião de Jameson sobre a questão que envolve a Pós-Modernidade não é das mais otimistas. Sua crítica a pós-modernidade baseia-se no aspecto que, segundo ele, na superficialidade deste período artístico fazer-nos perder o senso de espaço e de tempo não permitindo que o homem construa uma consciência histórica do passado e, como conseqüência, nem construir um futuro. O homem da pós-modernidade está preso numa armadilha simbólica construida para que o real não esteja acessível. No excerto, aponta a necessidade de procura de uma forma de relação com a modernidade que não seja esta na qual estamos presos e em dificuldades de discernir uma saída. Para entendermos melhor a relação edipiana da pós-modernidade em relação a modernidade lembremos do relato de Édipo, onde a personagem central mata o próprio genitor deflagrando uma série de conseqüências dolorosas. Jameson vê na figura de Édipo a pós-modernidade a atacar a modernidade, como sendo Laio, seu pai no relato. Aqui o autor, lá no excerto que examinamos, pede de nós atenção para que, assim que discernida, esta não seja a relação a ser adotada com o moderno. De certa forma a modernidade artística teve um papel oposicionista, subversivo, contestador e crítico em relação a sociedade de seu tempo. Ela serviu de contraponto aos pontos de vista da sociedade. Foi o período Como conseqüência. que "a nossa vida diária. Há no pós-moderno uma superficialidade intrínseca. relembrando o relato edipiano. Neste estilo rejeita-se a idéia de que se possa transcender a “falsa consciência” e ideologia em direção a uma instância mais profunda de percepção.S. A pós-modernidade. “Exemplo disso é o modo como a . agora. Introduziu uma imensidão de novas idéias de forma escandalizante para a sociedade da época. nossa experiência psíquica.das vanguardas. Este poderia ser descrito como uma “colagem” de diversos elementos dispostos de tal forma a parecerem substanciais quando unidos e que num primeiro olhar não somos capazes de discernir a particularidade de cada componente formador. mas de forma absurdamente vazia. W Stevens. Na poesia figuraram Ezra Pound. Jameson diz em seu livro Pós-Modernismo: A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio. Este colosso inerte deveria ser destruído para que o novo viesse a seguir. na arquitetura Le Corbusier. Pode ser observada no mundo simbólico-artístico tanto na chamada Teoria Contemporânea. com suas linhas retas e planos imensos. Wright e Mies. que constituíam o International Style. Para cada forma de modernismo surgiu uma reação do pósmoderno paralelamente. Jameson expõe como ajuda na compreensão da questão. Proust e Thomas Mann. para o pós-moderno. O modernismo representou uma fratura brusca na história da arte. quanto na arquitetura: exemplo dos arranha-céus ao estilo torre de vidro. algumas características básicas. É uma tentativa de mimetizar aquilo a qual se refere. visto agora como a ordem hegemônica. vê a modernidade como um genitor/inimigo/ordem a ser combatido.Eliot. nossas linguagens culturais são hoje dominadas pelas categorias de espaço ao invés de categorias de tempo. O modernismo. que havia surgido como um messias ameaçando as formas dominantes. Com essa idéia da superficialidade em mãos. T. movimentos artísticos dispostos a buscar o novo nas artes. como no período anterior do alto modernismo”. Com o tempo esse estilo veio a ser muito predominante no meio acadêmico. Jameson vai nos apresentar o conceito de Pastiche. e nos ambientes das galerias de arte e museus. Suas manifestações surgem na intenção de contraposição a cânon modernista. e outros como James Joyce. figurava como uma imagem estática reverenciada no meio artístico. engessadora e engessada. rompendo com o anterior. È uma característica notória desta manifestação. desprovida de capacidade de chocar. Na modernidade. por sua vista. a pós-modernidade os estilos estão como que “liquidificados” num turbilhão de signos. Ele está diluído na corporação As mudanças no paradigma econômico também refletem na produção artística. O Realismo tinha elos com o capitalismo de mercado e a modernidade ao estagio posterior. Jameson relacionou cada estágio do capitalismo com um determinado estilo cultural. é a do desaparecimento do sujeito. porém é vazia por dentro. E isso parece contribuir para que o homem pós-moderno não consiga localizar-se.arquitetura pós-moderna. canibaliza todos os estilos arquitetônicos do passado e os combina em conjuntos”. Essa construção visa apenas esconder o que não existe. dificilmente confundíveis. o satírico ou a ironia. em consonância com o estagio do capitalismo corporativo. Se na modernidade artística a distinção entre estilos era clara. Uma vez reconhecida sua identidade. para Jameson. Essa relação entre realidade. O pós-moderno irá. contrasta. Outra característica. No pastiche não temos o senso de humor. Devemos diferenciá-lo da paródia. Toda a visão de mundo particular do artista estava salvaguardada. um se destacava das demais. Muitos de seus elementos simbólicos não mais têm uma referência na realidade. uma intenção de satirizar aquilo a que se refere. o fim do individualismo. Esse “objeto” resultante é como uma casca de ovo com os cacos sutilmente reagrupados ( existindo simultaneamente) de forma a dar entender que há uma integridade. o individualismo ainda era observável. A arte na pós-modernidade não tem o caráter contraditório da arte da modernidade. ironia. A criação artística estava ligada intimamente a idéia de um eu singular e de uma identidade privada. fazer com que a figura do indivíduo burguês desapareça sendo engolida pela sombra das grandes instituições. que. Em sua obra a sociedade moderna renega a realidade remontando-a por pósmeio de signos . onde experimentamos somente uma simulação do real. apresentaram a concepção de estilos singulares e distinguíveis entre si. tem ainda uma carga de No pastiche não encontramos isso.. os escritores. por exemplo. Jameson diz que “este componente novo componente é o que geralmente se costuma chamar de a “morte do sujeito”. de forma aleatória e sem princípio. símbolos e sociedade também encontramos em Baudrillard. A obra de arte carregava o “DNA” paradigmático do autor. Naquele estágio do capitalismo vimos o apogeu da família nuclear burguesa e da classe social correspondente.. A pós-modernidade é a face cultural do atual . Ele não é mais localizável. em comparativo. A pressão que o novo estágio do capitalismo exerce é tal que impede o homem de localizar-se no contexto histórico (o local e o momento) bloqueando as possibilidades de que analise e critique sua própria situação. Sem essa capacidade de julgamento. Esta relação do ambiente econômico e do simbólico foi capaz de condicionar sua percepção do tempo. O Pastiche.momento do capitalismo globalizado. A arte. Basta colocarmos lado a lado. Essa mesma crítica pode nos capacitar a compreensão da dinâmica social a partir do que suas formas de produção de linguagem artística pode transparecer. a “falsa consciência” prende o ser numa rotina fatal de viver o presente . esse reagrupamento de símbolos e referencias desconexos. a percepção do tempo no âmbito dos agricultores e como ela é diferente no ambiente do trabalhador industrial. experimentamos o presente com uma intensidade emocional intensificada em termos de angustia ou mesmo de euforia. sem a qual não conseguimos nos emancipar e construir o novo. e sua crítica servindo de ferramenta para entender o funcionamento da sociedade. Isolado da capacidade de distinguir-se no fluxo do tempo. no excerto fala da necessidade de produzir uma relação com o moderno que “ não signifique nem um apelo nostálgico nem uma denúncia . Então o homem aparece estar preso numa redoma de símbolos onde o correto discernimento do espaço e do tempo se torna difícil. Sua percepção do espaço-tempo está alterada pela “falsa consciência”. ergue-se como uma figura que transparece certos aspectos da História sutilmente escondidos. Jameson. ele não consegue alcançar uma condição de posicionar-se de modo a retomar o papel de sujeito da História. Um presente de inevitabilidades. então. Uma rotina de desesperanças. nos priva da construção de uma consciência histórica. Isso o autor parece herdar de Walter Benjamin. Ainda no nível psíquico. E se no modernismo a arte emerge como resistência e contraditório á sociedade agora ela serve de fator somatório da mecânica do capital como o autor expõe em seu livro Pós-Modernismo : A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio. Os ciclos temporais são distintos e toda a vida se molda segundo cada cenário citado. onde não se espera mais nada além disso. Essa mudança na percepção do tempo acaba por influenciar o modo como notamos a nós mesmos. patamar atual em que estamos. 2001. Na Obra de Jameson percebe-se a intenção do autor um horizonte possível.Ali a Utopia é tida como caminho político para o rompimento com o presente aprisionante. Rio de Janeiro. Lisboa. -Jean Baudrillard. -Fredric Jameson. Simulacros e Simulação. -Fredric Jameson. embebido de opressão. Porém em “O Utopismo depois do fim da Utopia” § 9 dá a entender que o caminho de volta ao moderno está fechado muito possivelmente pelo fator econômico ao qual este estilo cultural está ligado. Pós-Modernismo: A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio. Petrópolis. Ática. 1995. apesar que após essa fratura nada é apontado como certo.edipiana” como forma de saída deste ciclo. 2007. Obras Consultadas: -Fredric Jameson. Graal. São Paulo. Em sua obra Archaeologies of the Future (2005). 1981 . Convoca o leitor a ler Thomas Morus e outros da ficção científica com forma de quebras as cadeias do presente construído pela pós-modernidade. Marcas do Visível. Vozes. . Relógio D'Água. onde a vazio de alternativas é aceito como certeza . A cultura do dinheiro: ensaios sobre a globalização.