IntroduçãoEste trabalho consistirá em fazer uma breve contextualização de um fragmento (11 Ahau e 9 Ahau) dos "Livros dos livros de Chilam Balam": Vaticínio dos Treze Katunes, a fim de expor algumas ideias que o autor do livro quis passar. Além disso, há algumas explicações que ajudam no entendimento do documento, tais como o funcionamento do calendário maia, a importância do documento para os povos maias e até mesmo para os colonizadores, de quem foi propriedade, em qual contexto esse livro estava quando foi redigido, como ele foi redigido, quem o redigiu, a origem do mesmo, entre outros. 1 Ele ficou muito famoso porque profetizou coisas importantes.1 Aliás. Tizimín. há nestes livros uma linguagem semelhante à da bíblia. Tekax. Página 14. Já "Balam" é o nome dos mais famosos "Chilans" antes da conquista espanhola. Página 14. Páginas 7. 1980. 1980. os espanhóis adaptaram a língua maia aos fonemas do alfabeto espanhol. Madrid: Historia 16. Nah. Ixil. na cidade de Maní. 4 Chilam Balam (O Livro Sagrado dos Maias). médicos. Justamente por serem escritos por frades. as crenças pré-hispânicas contidas nos livros às vezes até se misturam com as ideias católicas. Tusik e Códice Pérez. cronológicos. sendo também o nome de uma família. Chilam Balam de Chumayel. Chilam Balam viveu pouco antes da conquista espanhola. sobre rituais. a escrita está em forma europeia. 5 Idem à nota 2.5 1 2 Chilam Balam (O Livro Sagrado dos Maias). literários. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra. como a chegada de uma nova religião na península. Káua.CONTEXTUALIZAÇÃO E COMENTÁRIOS SOBRE OS ÍTENS I E II (11 AHAU E 9 AHAU) DO MANUCRISTO MAIA DO "LIVRO DOS LIVROS DE CHILAM BALAM": LIVRO DO VATICÍNIO DOS TREZE KATUNES Sobre o "Livro dos livros de Chilam Balam" O "Livro dos livros de Chilam Balam" é um livro sagrado dos maias da península de Iucatã. 11.2 "Chilam" é um sacerdote que interpretava os livros e as vontades dos Deuses. anotações.3 Existe cerca de doze livros de Chilam Balam. apenas oito estão disponíveis para o estudo: Chumayel. e mais uma miscelânea de textos não classificados. históricos (crônicas. 3 Chilam Balam (O Livro Sagrado dos Maias). Edición de Miguel Rivera. sobre explicações a respeito do calendário indígena. astrológicos.4 Há nesses livros textos religiosos. redigido por frades após a conquista espanhola através de registros (anteriores à conquista) em hieróglifos e também fontes da tradição oral desses povos. sobre astronomia. contudo. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra. etc). Sendo assim. 1986. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra. 2 . 1980. Página 12. Edición de Miguel Rivera. em Iucatã. Edición de Miguel Rivera.8 Este livro pode ser considerado um dos mais importantes livros dos povos de Iucatã.O fragmento do documento aqui tratado pertence ao livro de Chumayel. 1986. as diferenças às vezes são espantosas.7 O livro de Chumayel de Chilam Balam O livro de Chumayel proveio do povoado de Chumayel. É muito difícil encontrar traduções que se assemelham inteiramente. complicados de entender. 6 "Chumayel" é um povoado da península de Iucatã que tivera uma importância religiosa no passado. e em 1939 apareceu à venda nos Estados Unidos. Página 34. É um livro bem complexo. pertencente ao Livro de Chumayel de Chilam Balam. Paulo Suess. 7 Chilam Balam de Chumayel. portanto. com um ar arcaico. Há uma linguagem complexa. 6 Chegou-se a essa conclusão pois no fragmento do manuscrito do "Livro dos livros de Chilam Balam": Livro do Vaticínio dos 13 Katunes. 1986. mostrando algumas tradições milenares dos maias. em 1930. com várias metáforas. 1980. 1986. Edición de Miguel Rivera. Em 1868 foi copiado a mão pelo Dr. do livro A Conquista Espiritual da América Espanhola. Madrid: Historia 16. 1992. Página 43.9 Sempre houve no livro de Chumayel problemas paleográficos e linguísticos que atrapalham na interpretação e decifração. Primeiramente. atrapalhando na tradução. 10 Chilam Balam de Chumayel. Além disso. Em 1915 foi doado à Biblioteca Cepeda de Mérida. está escrito (abaixo do título) de onde provinha o documento: "Chumayel/Yucatán". Madrid: Historia 16. por conseguinte. 9 Chilam Balam de Chumayel. A primeira tradução completa deste documento foi publicada por Antonio Médiz Bolio. Petrópolis: Vozes.10 Há ainda de ser lembrar que os livros que conhecemos hoje são cópias dos livros do século XVI. 8 Chilam Balam (O Livro Sagrado dos Maias). Org. Página 36. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra. E sem dúvida os copistas erraram muitas coisas. o documento é repleto de ideias inacabadas. feitos por copistas da época a fim de se conservar o documento. Página 13. marcado por frases enigmáticas porque é um dos livros que mais se baseiam pelos hieróglifos maias. Página 37. Berent e em 1887 fotografado por Teoberto Maler. adicionou-se frases.. que foram escritas com a intenção de que o leitor se lembrasse de momentos passados da cultura maia para conseguir entender perfeitamente o que se estava querendo dizer. em espanhol. Sendo o documento. Madrid: Historia 16. foi propriedade do Bispo Crescêncio y Ancona. na Costa Rica. 3 . Página 11. não o "8 Ahau". Então neste livro a ordem dos katunes começa pelo "11". 9. 2. 1992.subtraiu-se frases. em colchetes. Edición de Miguel Rivera. logo. Página 38. Página 23.3. Paulo Suess. Página 43. 10. 13. 12. 4 . 12 O "Vaticínio dos Treze Katunes" segue o calendário maia. que é o dia "Ahau". Paulo Suess. Portanto.). há. 13. 6. 9. 7. 5. o katun inicial é o "11 Ahau".16". 1. Petrópolis: Vozes. 16 A Conquista Espiritual da América Espanhola. Org. 1986.11 As datas e o calendário maia Este documento pertence ao décimo terceiro capítulo do livro de Chumayel: "Vaticínio dos Treze Katunes". desvirtuando muita coisa do documento original. também com o tempo eles se esqueciam do significado de algumas coisas. Edición de Miguel Rivera. no total. Página 45. 17 Chilam Balam (O Livro Sagrado dos Maias). período no qual começa uma nova era para o povo maia de Iucatã. 7. Org. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra. é o Katun inicial.2..15" e depois no 9 Ahau ele diz: " O 9 Ahau Katun é o segundo que se conta. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra. As datas do calendário maia neste documento seguem a "Conta Curta". o primeiro que se conta. 5. Petrópolis: Vozes. 3. era o katun 11 Ahau que estava transcorrendo. 15 A Conquista Espiritual da América Espanhola. 3. Madrid: Historia 16. 10. 4. Chilam Balam de Chumayel. catorze capítulos. originando assim uma nova ordem: 11. tendo o livro. 14 Idem à nota 13. Esses 260 anos tuns são divididos em "katunes" (períodos de 20 anos com 360 dias cada). Págins 15 e 16. nota-se no documento que ao lado do katun.. 13 Chilam Balam (O Livro Sagrado dos Maias). mas uma ordem invariável: 8. 8.4. como o próprio documento comenta: " O 11 Ahau Katun. 1. a ordem seguida não é essa.5. 1992. 1986.13 O número dos katunes não tem uma ordem variável (1.17 Ainda a respeito das datas. o ano do nosso calendário que corresponde ao ano de término do katun. Madrid: Historia 16. 4. 11. Elas são um ciclo que se repete a cada 260 anos tuns (um "tum" corresponde a um ano de 360 dias.6. 12. Essa mudança ocorre porque quando os espanhóis chegaram à península. no "Livro do Vaticínio dos Treze Katunes". cada qual com números diferentes. porque quando o documento é traduzido da língua maia para outra língua 11 12 Chilam Balam de Chumayel. O número do katun é sempre procedido do dia que acaba o período. 1980. 6. 1980. "260 anos tuns" correspondem a 260 anos de 360 dias cada). 2. há no ciclo treze katunes.14 Contudo. os falsos ibteeles da terra que estouram fogo no extremo de seus braços.. quando começar a derramar água nas cabeças no batismo por todos os lugares desta terra (. os embuçados em seus lençóis... como já dito: "Do Oriente vieram quando chegaram a esta terra os barbudos. 1992.21 O autor do documento. Jesús J. os conquistadores destruíram alguns códices. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra. "9 Ahau [1560]20". 23 Idem à nota 16. o primeiro que se conta.) Ai. Além de no 9 Ahau fazer referência ao catecismo e aos batismos cristãos: "(. avisa frequentemente sobre a chegada dos europeus e do o cristianismo à península de Iucatã. pois vossos deuses já não valerão mais!22". os estrangeiros da terra. A chegada dos europeus e do cristianismo Os espanhóis trouxeram para a ilha a evangelização. 20 Idem à nota 16.costuma-se fazer isso18: "11 Ahau [1540]/ O 11 Ahau Katun [1520-1540]. todas essas práticas eram do demônio. os de arreatas para enforcar os Senhores!25" 18 19 Idem à nota 17. os mensageiros do sinal da divindade. com um ar de tristeza. Também são feitas referencias. Acesso em: 25 de maio de 2012. Idem à nota 15. no documento. entristeçamo-nos porque vieram.. (.mayas. principalmente no 11 Ahau. é o Katun [período de 20 anos de 360 dias] inicial. Para que isso se efetivasse. ao trabalho excessivo que os nativos foram submetidos para construir "templos". 24 Chilam Balam (O Livro Sagrado dos Maias).html. pois o cristianismo será imposto e proibir-se-á o culto de seus Deuses. Org.. Página 110.) quando começar a ser ensinada a Santa Fé do cristianismo. Bruxo-da-água. Petrópolis: Vozes. 25 Idem à nota 22. Disponível em: http://www. considerada como pagã e adoradora de ídolos. Página 44. como por exemplo a Catedral de Mérida24: "Ai.uady.. entristeçamo-nos porque chegaram! Ai do Itzá.. estátuas e práticas indígenas pagãs. e impor o cristianismo.)23". 21 QUIJANO. 5 . 1980.. 19". os homens louros. Las señales del fin del mundo: Una aproximación a la tradición profética de los cruzo'ob.mx/articulos/tradicion. Para os cristãos. os grandes amontoadores de viga para construir. 22 A Conquista Espiritual da América Espanhola. Lizama. Paulo Suess. que tinha por objetivo acabar com a religião maia. porque chegaram os grandes amontoadores de pedras. 26 ROBLEDA.No começo da colonização em Iucatã. Los religiosos y la visión del indio. pois os europeus estavam em um contexto de debate se o índio poderia ser considerado como um homem racional ou se ele era como um animal.26 Há passagens no documento também que avisa que com a chegada do cristianismo. Disponível em: http://www.html. 6 . 27 Idem à nota 22. Conformación de la frontera étnica en Yucatán..)27". Acesso em: 25 de maio de 2012. quem se destacou no assunto fora Bartolomé de Las Casas. (. chegará junto a escravidão: "Ai.uady.mx/articulos/religiosos.mayas. chegou-se a escravizar os índios. Gabriela Solís. que foi nomeado como "protetor dos índios" e que era totalmente contra à escravidão e ao abuso indígena. muito pesado é a carga do Katun em que acontecerá o cristianismo! Isto é o que virá: poder de escravizar. homens escravos hão de se fazer. Há várias posições ideológicas da época sobre o assunto. porém.. 28 A Conquista Espiritual da América Espanhola. Os fragmentos tratados (11 Ahau e 9 Ahau) mostram toda aquela melancolia e tristeza. Org. 7 .Conclusão Apesar de o livro de Chumayel de Chilam Balam ter sido redigido após a conquista espanhola por frades. Página 44. pois junto com os conquistadores virão o trabalho abusivo dos nativos para benefício dos próprios espanhóis e o cristianismo. que desconheciam totalmente. Paulo Suess. com os nativos. dos europeus com suas novas imposições e um Deus novo. ele guarda aspectos importantes da tradição dos maias. "que só de pecado falará". como o próprio calendário maia que está presente no documento. como cita o documento28. que os obrigará a abandonar o culto de seus Deuses. considerados pelos cristãos como coisa do Demônio. Devido a todos esses fatores. 1992. até então. essa nova cultura vinda da Europa. é um documento deveras interessante para ajudar a compreender o sentimento e o sofrimento dos indígenas no momento do choque de civilizações. Petrópolis: Vozes. mx/articulos/religiosos.uady. Disponível em: http://www.html.mx/articulos/tradicion.uady. Las señales del fin del mundo: Una aproximación a la tradición profética de los cruzo'ob.Referências Bibliográficas A Conquista Espiritual da América Espanhola .mayas. Chilam Balam (O Livro Sagrado dos Maias). Chilam Balam de Chumayel. Acesso em: 25 de maio de 2012. QUIJANO.mayas. Gabriela Solís. Jesús J. Petrópolis: Vozes. Los religiosos y la visión del indio. Paulo Suess. Edición de Miguel Rivera. Disponível em: http://www. Org. Conformación de la frontera étnica en Yucatán. 1986. ROBLEDA. Fernando Py. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra. Acesso em: 25 de maio de 2012. Trad. 1992.html. 8 . Madrid: Historia 16. 1980. Lizama.