Fichamento MIGNOLO Historias Locais Projetos Globais

March 20, 2018 | Author: Vanessa Simões | Category: Colonialism, Western World, Globalization, Thought, Modernity


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Universidade Federal do Pará Programa de Pós Graduação em Artes Tópicos Especiais em Antropologia: Estudos Pós-Coloniais em Perspectiva InterdisciplinarDocente: Prof. Dr. Agenor Sarraf Discente: Vanessa Simões 1- Dados bibliográficos do texto: MIGNOLO, Histórias Locais/Projetos Globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: UFMG, 2003, pp. 09-130. 2- Sobre o autor: Mignolo nasceu na província de Córdoba (Argentina), em uma família de imigrantes italianos. Ele estudou filosofia na Universidade de Córdoba e, em seguida, ganhou uma bolsa para viajar para a França e estudar semiótica, estudando com Roland Barthes e Gennete Gérard. Ele recebeu seu doutorado na École des Hautes Etudes. Inicialmente ficou interessado na filosofia da linguagem e semiótica e fez algumas contribuições para a compreensão do século XVI em textos coloniais. Veio para os Estados Unidos por volta de 1973, primeiro como professor na Universidade de Indiana e Michigan. A partir de estudos coloniais tornou-se interessado em teorias pós-coloniais, que eram muito populares nos Estados Unidos durante a década de noventa. Em 1995, ele publicou seu livro “O lado mais escuro do Renascimento”, que foi anunciado a nível mundial no campo dos estudos pós-coloniais e subalternos, bem como no campo da filosofia da América Latina devido a suas constantes referências ao trabalho de filósofos como Edmund O O'Gorman, Rodolfo Kusch, Leopoldo Zea e Enrique Dussel. Neste livro, Mignolo defende a tese de que o Renascimento europeu do século XVI e XVI teve "outro lado" esquecido e invisível: a colonização das Américas. Esta seria uma das teses centrais da modernidade Grupo / colonialidade, cuja formação Mignolo desempenhou um papel fundamental. O grupo foi composto por personalidades da intelectualidade acadêmica latino-americana como Aníbal Quijano, Enrique Dussel, Arturo Escobar, Santiago Castro-Gomez, Edgardo Lander e outros. Seus escritos alimentaram grande parte do trabalho coletivo do grupo. Entre suas contribuições mais importantes estão as categorias de análise como "diferença colonial", "pensamento de fronteira", "colonialidade do saber". Desde 1993, trabalha na Universidade Duke (EUA), onde atualmente é diretor do Instituto Franklin. Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Walter_Mignolo Enrique Dussel. assim.Objetivos .Analisar como as ciências humanas no ocidente estão contaminadas por um olhar ocidental e como isso se relaciona a colonização do pensamento. Immanuel Wallerstein. do pensamento liminar e das histórias locais? 5.3. América Latina e Oriente Médio. Salazar Bondy. outras formas de conhecimento que . Édouard Glissant.Ressaltar a importância de pesquisas conduzidas por vozes subalternas falando a partir de seu lugar de estudo. Patrícia Seed. críticos literários e ainda diversos estudiosos de perspectiva subalterna como intelectuais de estudam fora do circuito hegemônico. Edward Said. Weber. pode conduzir a um processo de descolonização intelectual.Teses:  As modernidades coloniais construíram uma concepção do conhecimento baseado na epistemologia e hermenêutica. Néstor García Canclini. Ásia.Objeto de estudo O objeto de estudo trabalhado por Mignolo neste livro diz respeito ao sistema mundial colonial/moderno onde se configura a diferença colonial problematizada por ele partindo da institucionalização do conhecimento epistemológico e hermenêutico que silenciou outras formas de saber da ordem da gnose. com isso. 4.Aporte teórico: O autor adotou um corpo de intelectuais de variados campos do conhecimento. . Tu Wei-ming. Foucault e vários outros. Hélè Béji. Alguns nomes: Aníbal Quijano. como sociólogos. 7. filósofos. Renato Ortiz.Apresentar a importância do pensamento liminar para oferecer novos horizontes críticos às cosmologias hegemônicas e. Silvia Rivera Cusicanti. antropólogos. Gyan Prakash. Fernando Ortiz. . Vine Deloria Jr. expressas pelo pensamento liminar. Samuel Huntington. .Analisar em que medida a “colonialidade do poder” compõe a modernidade tanto na esfera dos colonizados quanto dos colonizadores.Problemática .. 6. subjugando. a saber pesquisadores dedicados a compreender o colonialismo na África.De que maneira se configurou o imaginário do sistema mundial colonial/moderno pautado no ocidentalismo e como a evidenciação da diferença colonial pode favorecer a elevação das vozes subalternas. Tópicos para o debate 8.” p.. conceituados pelo autor como “gnose liminar”. um colonialismo . p. A diferença colonial é.Prefácio e agradecimentos  Hoje a diferença colonial está em toda a parte “Até o meio do século 20 a diferença colonial respeitava a distinção clássica entre centros e periferias. a emergência do colonialismo global. e. gerenciado pelas corporações transnacionais. na perspectiva da subalternidade.. globais encontram aquelas histórias locais que os recebem. A diferença colonial é o espaço onde as histórias locais que estão inventando e implementando os projetos..agora estão emergindo em novos lócus de enunciação.. de um novo terreno epistemológico que o pensamento liminar está descortinando. Hoje emerge em toda parte. a falência dos estudos de área correspondem ao momento no qual uma nova forma de colonialismo. rejeitados ou ignorados.09  Conceito de “diferença colonial” “A diferença colonial é o espaço onde emerge a colonialidade do poder. p. nas periferias dos centros e nos centros da periferia”.10  Ocidentalismo é configurado na diferença colonial “A diferença colonial no/do mundo colonial/moderno é também o lugar onde se articulou o „ocidentalismo‟. finalmente. distante do centro. é o espaço onde os projetos globais são forçados a adaptar-se. integrar-se. como imaginário dominante do mundo colonial/moderno”. 36  A diferença colonial só pode ser transposta por via da subalternidade expressa via pensamento liminar. é uma máquina para a descolonização intelectual. portanto. portanto. p. conseqüentemente.10  Conceito de colonialismo global “O fim da Guerra Fria e. ou onde são adotados. p. [. o local ao mesmo tempo físico e imaginário onde atua a colonialidade do poder.1. 76 8.] O pensamento liminar.] somente se pode transcender a diferença colonial da perspectiva da subalternidade. no confronto de duas espécies de histórias locais visíveis em diferentes espaços e tempos do planeta”. No passado a diferença colonial situava-se lá fora. para a descolonização política e econômica. Na segunda metade do século 20. da descolonização e. “[. apagou a distinção que era válida para as formas iniciais de colonialismo e a colonialidade do poder. paradoxalmente. p. o lócus fraturado da enunciação define o pensamento liminar como uma reação à diferença colonial”. p. o colonialismo (cultural) interno.26 .] o „período colonial‟ (expressão referente sobretudo à colonização espanhola e portuguesa) da „colonialidade do poder‟ que hoje continua viva e saudável sob a nova forma da „colonialidade global‟ ”.11 “Oferece novos horizontes críticos em face das limitações às críticas internas às cosmologias hegemônicas (tais como marxismo. de Rigoberta Menchú a Angel Rama.11  Período colonial diferente de colonialidade do poder “[. como reação ao discurso e à perspectiva hegemônica”.global. ou análise de sistemas mundiais)”. corremos o risco de estimular a macaqueação. O colonialismo global revela a diferença colonial em escala mundial quando o „ocidentalismo‟ se defronta com o Oriente como precisamente sua própria condição de possibilidade . Do contrário. embora sem localizar-se em um determinado estado-nação. a exportação de teorias. p.. nos séculos 18 e 19..10  Conceito de “pensamento liminar” “O pensamento liminar (ou a „gnose liminar‟ como logo explicarei) é uma conseqüência lógica da diferença colonial”. uma enunciação.. mas condição para a possibilidade de se construírem novos loci de enunciação e para a reflexão de que o „conhecimento e compreensão‟ acadêmicos devem ser complementados pelo „aprender com‟ aqueles que vivem e refletem a partir de legados coloniais e pós-coloniais. p. p. p. do ponto de vista subalterno. fraturada.16 8. p. desconstrucionismo pós-moderno. o Ocidentalismo foi a condição da possibilidade do Orientalismo”. continua reproduzindo a diferença colonial em escala mundial.10 “[..11 “A diferença colonial cria condições para situações dialógicas nas se encena.] visto da perspectiva subalterna.2-A gnose e o imaginário do sistema mundial colonial/ moderno  Ponto de vista de Patricia Seed (1991) sobre os estudos coloniais e pós-coloniais como locus de enunciação liminar “Minha preocupação é enfatizar a idéia de que „o discurso colonial e pós-colonial‟ não é apenas um novo campo de estudo ou uma mina de ouro para a extração de novas riquezas.da mesma forma que. em vez de promover novas formas de crítica cultural de emancipação intelectual e política — de transformar os estudos coloniais e pós-coloniais em um campo de estudo em vez de lócus de enunciação liminar e crítico”. incluindo doxa e episteme. direcionalidade de traduções etc). a partir tanto das margens internas do sistema mundial colonial/ moderno (conflitos imperiais. tão bem descrita por Carl Pletsch (1981). nas Américas e no Caribe. é o conhecimento concebido das margens externas do sistema mundial colonial/moderno. África.34 .33  Conceito de gnose liminar “Utilizando a configuração anterior do campo do conhecimento na memória ocidental. gnosiologia marginal. A gnosiologia liminar é uma reflexão crítica sobre a produção do conhecimento. p. concebe-se na intercessão conflituosa de conhecimento produzido na perspectiva dos colonialismos modernos (retórica. p. usarei a palavra gnosiologia para indicar o discurso sobre a gnose e tomarei gnose no sentido de conhecimento em geral. 1991) “O „ponto de vista nativo‟ também inclui os intelectuais. enquanto discurso sobre o saber colonial. bem como as etapas subsequentes de independência ou descolonização)”. p. conhecimento produzido na perspectiva das modernidades coloniais na Ásia. mas também intelectuais que geram teorias e refletem sobre sua própria história e Cultura (Mignolo. A gnose liminar. filosofia.29  Conceito de gnose “Mudimbe introduziu a palavra gnose para captar uma ampla gama de formas de conhecimento que a „filosofia‟ e a „epistemologia‟ haviam descartado”. ciência) e do. A importância de considerar os intelectuais “nativos” (por Patricia Seed. p.34 “Enquanto a epistemologia é uma conceitualização e reflexão sobre o conhecimento articulado em harmonia com a coesão das línguas nacionais e a formação do estadonação (ver Capítulo VI). tanto internas (conflitos entre impérios dentro da mesma cosmovisão). o Terceiro Mundo produz não apenas „culturas‟ a serem estudadas por antropólogos e etno-historiadores. Na divisão de trabalho científico depois da Segunda Guerra Mundial. enquanto conhecimento em uma perspectiva subalterna. quanto externas (choques de cosmovisões)”. p. a gnose liminar constrói-se em dialogo com a epistemologia a partir de saberes que foram subalternizados nos processos imperiais coloniais”. línguas hegemônicas.26  Choque de cosmovisões no sistema mundial colonial/ moderno “Muitos têm sido os choques de cosmovisões em épocas diversas no planeta. Precisamente aí é que residem a densidade geoistórica do sistema mundial colonial/moderno e as contradições diacrônicas de suas fronteiras. quanto das margens externas (conflitos imperiais com culturas que estão sendo colonizadas. 1993a: 129-131)”. as „diferenças coloniais‟ significam.. a classificação do planeta no imaginário colonial/ moderno praticada pela colonialidade do poder. embora talvez não com total êxito. No século 16. alimentação. p. 1988. incluindo sua divisão continental (África. p. em suma. na perspectiva da subalternidade. a cultura tornou-se a outra extremidade.] argumentando-se que a „gnose liminar‟ é a razão subalterna lutando para colocar em primeiro plano a força e a criatividade de saberes. Ultimamente. especialmente depois da segunda onda de expansão colonial. a palavra cultura tornou-se algo entre „natureza‟ e „civilização‟. o processo através do qual se construíram a modernidade e a razão moderna”.40  Colonialidade do poder como a imposição de projetos globais cunhados em uma perspectiva eurocêntrica “Isso é. O eurocentrismo tornase. portanto. em todo o meu argumento (talvez eu devesse dizer „a diferença colonial‟). Mignolo. ou o outro lado. a semiose colonial enfatizava os conflitos gerados pela colonialidade no nível das interações sócio-semióticas. a educação e a conversão foi um aspecto fundamental da colonialidade (Gruzinsky. Do século 18 até aproximadamente 1950. uma energia e um maquinário que transformam diferenças em valores”. cor.). o saber e as histórias locais européias foram vistos como projetos globais”.36  Conceito de “diferenças coloniais” “Conforme as defino.“[. banir a noção de „cultura‟. uma metáfora para descrever a colonialidade do poder. subalternizados durante um longo processo de colonização do planeta que foi. o conflito dos sistemas escriturais relacionados com a religião.38  Conceito de “hermenêutica pluritópica” “De qualquer forma. p. isto é.. Europa) se articula para a produção de conhecimento e seu aparato classificatório. 1995a). vestuário. p. simultaneamente. A semiose colonial procurou. América. de acordo com a etnicidade (pele. a hermenêutica pluritópica foi necessária para indicar que a semiose colonial „acontece‟ no entrelugar de conflitos de saberes e estruturas de poder”. dos interesses financeiros e do capital”. no terreno dos signos. religião etc. p. lugar geográfico) e um sistema de signos (língua. o que para Quijano constitui a colonialidade do poder através do qual o planeta inteiro. Por quê? Porque essa é precisamente uma palavra-chave dos discursos coloniais que classificavam o planeta.41 .37  Conceito de semiose colonial como alternativa a transculturação “Em vez disso. Da perspectiva epistemológica. é inaceitável uma descrição unilateral”.50 “O imaginário do sistema mundial colonial/ moderno não é apenas o visível sobre o „solo‟. no conflito. com sua transformação geoistórica. mas o que permanece escondido da vista no „subsolo‟ por sucessivas camadas de povos e territórios mapeados”.49  Como se configura o imaginário do sistema mundial colonial/ moderno para Mignolo “De acordo com minha argumentação.51  Mudança no imaginário do sistema mundial colonial moderno: de uma segregação pela “pureza de sangue” para uma distinção por cor de pele “Se os séculos 16 e 17 foram dominados pelo imaginário cristão (cuja missão se estendia dos católicos e protestantes nas Américas até os jesuítas na China). descontínuos. desqualificados. e outros visando às histórias e saberes locais forçados a se acomodai. nas fendas e fissuras onde se origina o conflito. Semiose colonial evidencia os conflitos presentes na diferença colonial “A semiose colonial visa identificar momentos precisos de tensão no conflito entre duas histórias e saberes locais. em tensão e conflito com as forças da subalternidade geradas pelas reações iniciais dos escravos ameríndios e africanos e agora pelo ataque intelectual ao ocidentalismo e pelos movimentos sociais em busca de novos caminhos para um imaginário democrático”. a semiose colonial exige uma hermenêutica pluritópica pois. p. o imaginário do sistema mundial colonial/ moderno é o discurso sobrepujante do ocidentalismo.42  Posicionamento de Foucault sobre os saberes subjugados na leitura de Mignolo “Denominava genealogia a união de „saber erudito e memórias locais‟ e especificava que o que a genealogia realmente faz é „apoiar o direito à atenção dos saberes locais. p. p. ilegítimos. o fim do 19 . contra as pretensões de um corpo unitário de teoria que pretendia filtrar hierarquias e ordená-las em nome de um saber verdadeiro e uma idéia arbitrária do que constitui uma ciência e seus objetos‟ ([1972-1977] 1980: 83)”. p. urna reagindo no sentido de avançar para um projeto global planejado para se impor. p. a essas novas realidades. Assim. O „pensamento liminar‟ situa-se ainda dentro do imaginário do sistema mundial moderno. mas reprimido pelo domínio da hermenêutica e da epistemologia enquanto palavras-chave que controlam a conceitualização do saber”.45  Conceito de “pensamento liminar” “Defino o pensamento liminar como os momentos de fissura no imaginário do sistema mundial colonial/moderno. p.B. partindo da modernidade inicial para o moderno e a modernidade tardia (como fiz em Tbe Darker Side of the Renaissance).testemunhou uma mudança radical. A idéia do „latino‟ foi introduzida pela intelectualidade política francesa e usada na época para traçar as fronteiras. Fiske. tanto na Europa como nas Américas. entre anglo-saxônicos e latinos”. cujo destino era civilizar o mundo.60  Sobre o sistema mundial colonial/ moderno “Em primeiro lugar. Burgess. que até hoje se mantém”. Arenclt. não de centros. A „pureza de sangue‟ já não era mais medida em termos de religião. As fronteiras internas e externas não são entidades distintas. quando a guerra EUA-Espanha foi justificada.62  Perspectiva não-linear de análise “A decisão de acomodar minha argumentação dentro do modelo mundial colonial/moderno. suas fronteiras internas (conflitos entre impérios) e externas (conflitos entre cosmologias) não podem ser percebidas e teorizadas em uma perspectiva interior à própria modernidade”. A densidade geoistórica do sistema mundial colonial/moderno. semiperiferias e periferias. na perspectiva dos EUA. cada vez mais. Proponho que o momento da virada ocorreu em 1898. cujas consequências não podem passar despercebidas para o atual discurso racial e multicultural nos Estados Unidos. p. Du Bois escreveu The Souls of Black Folk ([1905] 1990) nos primeiros anos do século 20 quando o discurso racial sobre a supremacia dos brancos justificava a expansão imperial dos Estados Unidos. mas o ano de 1898 também se tornou a âncora para a perspectiva dos norte-americanos sobre os „latinos‟. foi impulsionada pela necessidade de refletir além da linearidade da história e além do mapeamento geoistórico ocidental. p. p. pela superioridade da „raça branca anglosaxônica‟.59  Impacto sobre o discurso racial e multicultural norte-americano “Os acontecimentos sofreram uma virada significativa. e não numa cronologia linear. 1902b). para justificar a superioridade da „raça‟ anglosaxônica sobre todas as outras (de Gobineau. sobre os „brancos cristãos católicos e latinos‟ (Mahan. e começou a ser usada para distinguir a raça „ariana‟ das outras „raças‟ e. 1890.65  Cultura mundial e pensamento liminar . mas sim momentos dentro de um continuum na expansão colonial e nas mudanças de hegemonias imperiais”. entendo o sistema em termos de fronteiras externas e internas.E. Não apenas W. [1948] 1968: 173-180). mas da cor da pele. 1890. 1853-1855. e. ele está pensando a partir da diferença colonial. p. A história local a partir da qual e sobre a qual fala Glissant é a colonização do Caribe. desde que em „cultura‟ incluamos um componente epistemológico”. Em contraste com isso. tanto hegemônicas. p. a imposição de corporações multinacionais com seu éthos (demasiadamente próprio do homem) de lucro bestial.70  Diferença entre mundialização e globalização elaborada por Glissant (1998: 2): mundialização como estar em relação e globalização como estandardização “A mundialização é precisamente o que todos temos hoje em comum: a dimensão onde me vejo habitando e a relação na qual todos bem nos podemos perder. a metamorfose de um „mundo em crioulização‟”. O infeliz outro lado da mundialização é a chamada globalização ou mercado global: a redução ao mínimo. a hibridez é o resultado visível que não revela a colonialidade do poder inscrita no imaginário do mundo colonial/moderno”.70  Emergência de identidades diversas “A abertura de novas e diversas identidades da mundialização que emergem do choque entre projetos globais atuais (a civilização do mercado) para Glissant. que rearticula „a razão universal da civilização‟ do ponto de vista subalterno da „razão cultural‟. p. círculos de circunferência ubíqua e sem centro em lugar algum (Glissant.69  Definição de “cultura mundial” por Bégi (1997: 47) “A „cultura mundial‟ é uma entidade anónima na qual o Oriente e o Ocidente. quanto subalternas. ao se confrontar. sem lugar. mas novamente como uma rearticulação de projetos globais na perspectiva das histórias locais. sem época”.71 8. p. em si mesmas. a estandardização.68 “A „cultura‟ de Béji caminha paralelamente com minhas „histórias locais‟. segundo meu argumento. p. „cultura mundial‟ poderia ser traduzida em meu vocabulário como a rearticulação e apropriação dos projetos globais pela e na perspectiva das histórias locais. A ascensão e a queda periódicas da civilização estão agora entrando na metamorfose de uma cultura mundial sem nome.70  Crioulização x hibridismo “Se a crioulização não é uma „enxertadura‟ é porque concebe-se não como híbrida. que precisam ocupar-se dos projetos globais mas não podem. resultaria do pensamento liminar. p.“A cultura mundial. portanto. a corrida em direção ao fundo.3-Pensamento liminar e diferença colonial . 1998: 2)”. produzir tais projetos”. adquirem (développent) traços comuns instigantes. . e seus próprios intelectuais. que o Oriente se tornou uma das imagens recorrentes do outro europeu após o século 18.91  Ocidentalismo e a subalternização do conhecimento . políticos e epistemológicos. uma vez mais. A América. Naspala Vras de Quijano (1997: 117) a colonialidade do poder também impõe uma identidade “pronta” “A colonialidacle do poder e a dependência histórico-estrutural implicam ambas a hegemonia do eurocentrismo como perspectiva epistemológica. nesse momento de transição do sistema mundial moderno. 1957: 12)”. se auto-intitularam líderes de uma missão civilizadora em seu próprio país. no entanto. houve a Revolução Francesa. não sua alteridade. cujo nome traz inscrito seu próprio destino: „fôlego‟.87  América como extensão do Ocidente e a elaboração do ocidentalismo “É verdade.) era o Extremo Ocidente. como tal.. a independência dos EUA e a Revolução Francesa tornaram-se os padrões de modernidade e modernização e estabeleceram os padrões econômicos. p. que começou a desmoronar em 1898. sem ocidentalismo não há orientalismo. apagando a diversidade das identidades „índia‟ e „negra‟)”. a terra ocupada pelos descendentes de Jafé. p. Assim. O ocidentalismo foi uma construção transatlântica precisamente no sentido em que as Américas foram concebidas como a expansão da Europa. estava claro que a „América Latina‟ não era o Oriente mas o „extremo Ocidente‟. localizado na África) (Hay. ao contrário da Ásia e da África. O Ocidente. „crescimento‟. foram também submetidas à hegemonia eurocêntrica como maneira de conhecer (Quijano explica como „Índio‟ e „Negro‟ foram identidades homogeneizantes estabelecidas pela colonialidade do poder. a população dominada. quando o sistema chega a um ponto de inflexão”. incluía-se como parte da extensão da Europa e não como sua diferença. nas novas identidades que lhes haviam sido atribuídas. Hegel etc. e. mas a diferença dentro do mesmo: as Índias Ocidentais (como se pode ver no próprio nome) e mais tarde a América (em Buffon. No contexto da colonialidade do poder. p.85  A América Latina passa a ser “extremo Ocidente” “Alguns anos depois que os Estados Unidos da América do Norte conquistaram sua independência da Inglaterra.Sarmiento. como Domingo Faustino. abrindo assim as portas para uma longa história de colonialismo intelectual interno. eles reinarão sobre Sem (localizado na Ásia) e Cam („forte não em sabedoria mas em determinação‟. como afirma Said. nunca foi o outro para a Europa. No entanto. da Argentina. seguindo-se a Revolução Haitiana. Eis porque. a segunda conduz ao „pensamento liminar‟.“[.] o ocidentalismo . mas ocorrendo simultaneamente em diversos lugares. reagindo a uma impressionante diversidade de histórias locais e invertendo a tendência pós-Iluminismo de referir todos os tipos de conhecimento ao „século da filosofia por excelência‟ convincentemente descrito por D'Alembert”. assim como o efeito do fluxo das marés é deixar algo na praia e levar outras coisas para longe (Citado em Cassirer. formas de pensamento coexistentes com a definição institucional de filosofia mas não consideradas como tal na perspectiva institucional que define a filosofia”. p.isto é. América Latina e América do Norte.96  Pensamento liminar e revolução das histórias locais “Minha segunda intenção é usar o sistema mundial colonial/moderno para situar a emergência do „pensamento liminar‟ a partir da diferença Colonial como uma revolução equivalente à descrita por D'Alembert..como o imaginário dominante do sistema mundial moderno foi uma máquina poderosa para subalternizar o conhecimento (dos primeiros missionários da Renascença aos filósofos do Iluminismo) estabelecendo. em outras palavras. como veremos no Capítulo II) e formas „tradicionais‟ de pensamento . o século da filosofia por excelência. grifos nossos)”. Os projetos globais.. são . um padrão epistemológico planetário”.. Eze (1997c) e Makang (1997)”. como argumentaram claramente Wiredu (1997: 303.98  Tradição e modernidade “„Tradição‟ não significa aqui algo „anterior‟ à modernidade. Enquanto a primeira preocupação pode ser concebida como descolonização intelectual.como afirmei . p. 1951: 4. Tanto a África como a Europa as têm. p. A este respeito.. p..98  Histórias locais não se referem exclusivamente ao Terceiro Mundo “Não estou.. mas a persistência da memória. montando um cenário no qual as histórias locais são as dos países colonizados ou do Terceiro Mundo. portanto.312). não há diferença entre as „tradições‟ africanas e européias. e ambas têm „modernidades‟ e „colonialidades‟.97  Formas de pensamento coexistentes “Essa tarefa é mediar entre as práticas filosóficas no interior das histórias coloniais modernas (por exemplo. a prática da filosofia na África. O resultado ou seqüência dessa efervescência geral de mentes foi lançar nova luz sobre alguns assuntos e novas sombras sobre outros. ao mesmo tempo. p. embora em diferentes configurações. e os projetos globais se situam nos países colonizadores do Primeiro Mundo.92  Crítica ao iluminismo por D‟Alembert “Nosso século é chamado. não é etnocida (Khatibi. Ele tenta revelar isso em seu conceito do „mito da modernidade‟: „A modernidade inclui um conceito „racional‟ de emancipação que afirmamos e presumimos. ao mesmo tempo. independentemente de Khatibi. e. uma justificativa para a violência genocida. implica em pensar a partir de ambas as tradições. p.. . 1983: 19). caracterizou a razão moderna e instrumental por seu pendor genocida. já que criticar a ambos. uma descrição conseqüente de „um outro pensamento‟ é a seguinte: uma maneira de pensar que não é inspirada em suas próprias limitações e não pretende dominar e humilhar. por ser universalmente marginal e fragmentária. p. e.‟ (Dussel.fermentados.] um outro pensamento é uma maneira de pensar sem o outro”. fragmentária e aberta.102  Conceito de “dupla crítica” “Nessa interseção uma dupla crítica torna-se um pensamento liminar. p.99  Conceito de “une pensée autre”: diz respeito a pensar sem que exista um “outro” na relação “[. nós criticamos a razão Moderna por causa do mito irracional que ela esconde. uma maneira de pensar que. p. são implementados. desenvolve um mito irracional. Esse pensamento liminar e essa dupla crítica são as condições necessárias para „um outro pensamento‟”. ao mesmo tempo. como tal. na França e na Martinica no século 19)”. ao fundamentalismo ocidental e ao islâmico.104  Sobre o “Mito da Modernidade segundo Dussel (1995: 61) “Dussel. Mas. uma maneira de pensar que é universalmente marginal. exportados e encenados de maneira diferente em locais particulares (por exemplo.[1993] 1995: 67)”. p. nas histórias locais dos países metropolitanos. de nenhuma delas.102  Conceito de “um outro pensamento” “Assim.. Aqui reside o potencial ético de um outro pensamento”. Os pós-modernistas criticam a razão moderna como uma razão do terror. por assim dizer.104-105 .
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