Fichamento - A Mente Educada - Kieran Egan

March 22, 2018 | Author: Felipe | Category: Learning, Knowledge, Reality, Jean Jacques Rousseau, Psychology & Cognitive Science


Comments



Description

1Atividade: Fichamento Livro: EGAN, Kieran. A mente educada. Rio de Janeiro: Bertrand, 2002. 400p. 1 Introdução “Hoje em dia, ficamos intrigados diante da dificuldade da escola em proporcionar até mesmo a mais rudimentar educação a tantos alunos, apesar de uma década ou mais de esforços por parte de profissionais de alto nível. Os custos de nossa crise educacional, em termos de alienação social, desenraizamento psicológico e ignorância do mundo e das possibilidades de experiência humana dentro dele são incalculáveis e desanimadores.” (p. 11) “No que diz respeito a luminares da mídia e educadores profissionais, não faltam candidatos possíveis de culpa: professores inadequadamente educados, a ausência de incentivos de mercado, as desigualdades das sociedades capitalistas, a falta de controle local sobre as escolas, a incapacidade intelectual genética de 85% da população de tirar proveito da instrução em algo além de alfabetização e capacitações básicas, drogas, a falência da família nuclear e dos valores da família, um currículo acadêmico irrelevante, e políticos míopes exigindo testes de desempenho rudimentares, ao mesmo tempo em que destinam fundos insuficientes para o sistema de educação, uma falta de compromisso com um nível de excelência, escolas de educação estúpidas, TVs mentecaptas e outras mídias de massa, a incapacidade de atender a alguns resultados de pesquisa específicos.” (p. 12) “Junto a cacofonia de culpa, vem uma panóplia de receitas: introduzir incentivos de mercado, tornar os currículos mais “relevantes” ou mais acadêmicos, reformar o preparo dos professores, garantir envolvimento ativo dos alunos em seu aprendizado e assim por diante. [...], é provável que, olhando em retrospecto a atual lista de remédios para curar os males da educação, os achemos irrelevantes, porque eles tampouco identificam a causa real do problema”. (p. 12-13) “O problema não é causado por nenhum dos suspeitos habituais. Em vez disso, como pretendo demonstrar, ele brota de uma concepção da educação que é fundamentalmente incoerente.” (p. 13) “Teorizar sobre educação costuma ser maçante porque dispomos apenas de três ideias educacionais significativas: a de que devemos moldar os jovens às normas e convenções atuais da sociedade adulta, que devemos transmitir-lhes o conhecimento que garantirá que 2 seus pensamentos estejam em conformidade com o que há de real e verdadeiro a respeito do mundo e de que devemos estimular o desenvolvimento do potencial individual de cada aluno. Essas ideias rolaram juntas ao longo dos séculos, até chegar a nossa atual concepção dominante de educação.” (p. 13) “Um aspecto pouco familiar dessa nova teoria é que ela descreve a educação em termos de uma frequência de tipos de compreensão. Outra coisa estranha é que ela concebe a educação como tão intricadamente atada à vida da sociedade e de sua cultura, que a torna também uma teoria sobre o desenvolvimento cultural do Ocidente e sua relação com a educação nas modernas sociedades multiculturais.” (p. 15) “Meu objetivo básico nesse livro é desemaranhar algumas das principais correntes ou camadas de nossa compreensão tipicamente polissêmica. Tento destacar um conjunto de tipos gerais e característicos de compreensão e caracterizar cada um deles em detalhes: distingo cinco, que chamarei de tipos somático, mítico, romântico, filosófico e irônico. Tento demonstrar, além disso, que esses tipos de compreensão se desenvolveram em história cultural e de evolução numa sequencia particular, fundindo-se em grande medida (mas não completamente) a medida que cada tipo ia surgindo. A mente moderna é assim representada como um complexo.” (p. 15) “Tento mostrar que cada tipo de compreensão resulta do desenvolvimento de instrumentos intelectuais particulares que adquirimos das sociedades em que crescemos.” (p. 16) “[...] “instrumentos” ou “ferramentas” são palavras canhestras; refiro-me a algo como os “meios de mediação” que o psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934) descreve como os mais aguçados do tipo de sentido que se dá ao mundo. Vygotsky afirmou que o desenvolvimento intelectual não pode ser adequadamente compreendido em termos epistemológicos que se concentram nos tipos e quantidade de conhecimento acumulado, ou em termos psicológicos que se concentram em algum pretenso processo de desenvolvimento interior e espontâneo. Em vez disso, ele compreendia o desenvolvimento intelectual em termos dos instrumentos intelectuais, como a linguagem, que acumulamos à medida que crescemos numa sociedade e que medeiam o tempo de compreensão que podemos formar ou construir.” (p. 16) “Os tipos de compreensão são tentativas de caracterizar um nível básico de mudanças inovadoras significativas na vida cultural humana, historicamente e na experiência individual.” (p. 17) 3 “Os desenvolvimentos em usos da linguagem e suas implicações intelectuais que eu exploro estão sempre, em certo grau, amarrados a este cerne de compreensão corporificado.” (p. 16) Capítulo 1 – Três Ideias Antigas e uma Nova “Apesar dos ou devido aos imensos gastos de dinheiro e energia é difícil encontrar alguém, dentro ou fora do sistema de educação, que esteja satisfeito com o desempenho desse sistema.” (p. 21) “No caso da escola moderna, três objetivos distintos acompanharam seu desenvolvimento. Espera-se que ela sirva como um agente significativo para sociabilizar o jovem, para ensinar formas particulares de conhecimento que propiciarão uma visão do mundo realista e racional, e que ajude a realizar o potencial ímpar de cada criança. [...] Conforme será demonstrado mais adiante, neste capítulo, cada um desses objetivos é incompatível de formas profundas com os outros dois.” (p. 22) As três ideias antigas – A primeira ideia: Socialização “Cruciais para qualquer projeto educacional são a iniciação dos jovens nos conhecimentos, os valores, as técnicas e os compromissos comuns aos membros adultos da sociedade.” (p. 22-23) “A tarefa central da sociabilização é inculcar um conjunto restrito de normas e crenças – o conjunto que constitui a sociedade adulta em que a criança vai crescer. As sociedades só podem sobreviver e conservar seu senso de identidade se for alcançado certo grau de homogeneidade na formação de seus membros.” (p. 23) “Quem quer que dirija o processo de iniciação age, a fim de promover as normas e valores que são dominantes na sociedade em geral. Sua tarefa é executar a tarefa homogeneizante [...]” (p. 23) “O processo de sociabilização é crucial ao mandato das escolas hoje em dia. Nossas escolas tem o dever de garantir que os alunos se formem com uma compreensão de sua sociedade e de seu lugar e possibilidades dentro dela, que tenham as habilidades para sua penetração e que abracem seus valores e compromissos.” (p. 24) “As vozes públicas que associam a educação basicamente a empregos, à economia e à produção de bons cidadãos refletem uma ênfase predominantemente sociabilizante.” (p. 24) a educação deveria ser um processo de aprender aquelas formas de conhecimento que dariam aos alunos uma visão privilegiada e racional da realidade. 428-347 a. O conhecimento é valorizado menos . normas. crenças e práticas da sociedade. 27) “Para essas pessoas [que valorizam a ideia de Platão]. praticamente todo mundo hoje em dia tem como certo que as escolas deveriam incumbir-se do cultivo intelectual dos jovens de modos que não são justificados simplesmente em termos de utilidade social. portanto.] O professor é visto como um importante assistente social.. os preconceitos e os estereótipos de sua época e passar a ver a realidade com clareza.. convenientemente. o conhecimento de matéria não pode substituir “caráter”..” (p. é vital selecionar o conteúdo do currículo. [. salubridade e comunicação fácil e aberta aos alunos. 24) “Os que participam desse ponto de vista encaram a escola como sendo basicamente um agente social que deveria acomodar as necessidades cambiantes da sociedade. a mente poderia transcender as crenças convencionais.” (p. Em vez disso.” (p. a mente é o que ela aprende.C. valioso basicamente como modelo de desempenho que exemplifica os valores. técnicas e atividades que são de “valor persistente”. 26) “A afirmação de Platão de que só o currículo “acadêmico” pode levar a mente à racionalidade e assegurar acesso à realidade causou tanta influencia que mal podemos imaginar uma concepção de educação sem ela. uso antidrogas e manutenção de automóveis. 25) A segunda ideia: Platão e a verdade sobre a realidade “A ideia revolucionária de Platão [c.] Na mente de Platão. De fato.4 “A sociabilização dos jovens é evidente também nos esforços para a promoção do conhecimento e habilidades “úteis” de educação do consumidor. a escola é. um lugar à parte da sociedade: um lugar dedicado ao conhecimento. As escolas dominadas por essa ideia tendem consequentemente a ser chamadas de elitistas. guiado por uma espécie de compromisso espiritual..] era a de que a educação não deveria preocupar-se basicamente em equipar os alunos para que desenvolvessem o conhecimento e técnicas mais adequados a garantir seu sucesso como cidadãos e a participar das normas e valores de seus pares.” (p. [. Só pelo estudo disciplinado de formas cada vez mais abstratas de conhecimento. o que os alunos aprendem é a estabelecer bases a partir das quais possam julgar a adequação dos valores. crenças e normas da sociedade dominante. transcendendo as exigências da vida social em curso.” (p. 27) “De fato. tudo isso são aspectos do plano educacional de Rousseau. quando pedagogos obtusos se apoderavam da ideia de Platão.. palavras.5 por sua utilidade social do que por seu pretenso benefício a mente do aluno. a ênfase nas diferenças individuais entre os aprendizes. a construção de métodos de ensino eu absorvem as formas características de aprendizado dos alunos..” (p. abalizado e até autoritário. A construção de um currículo essencial comum para todas as crianças. mais eficiente e humano podemos tornar o processo educacional. a insistência em que uma descoberta do próprio aluno é muito mais eficaz do que as “palavras. mas concluiu que. O resultado típico era infelicidade. os quais avaliam o sucesso educacional não em termos de que conhecimentos os alunos adquiriram tanto quanto em termos daquilo que podem fazer com o que agora sabem.” (p. ele concentrou a atenção [.” (p. [.] Os professores tendem a ocupar um papel mais distante. 30) “As vozes modernas que estimulam as escolas a se concentrarem em realizar o potencial individual de cada aluno. violência e frustação. em vez de um passivo.” (p. detendo-se menos no que devia ser aprendido e mais naquilo que as crianças de diferentes idades são capazes de aprender e em como o aprendizado poderia ocorrer com mais eficiência. 30) “A observação atenta e o estudo dos alunos. Reconhecera contente que a República de Platão “é o melhor tratado sobre educação que já se escreveu”. palavras” de um professor. que enfatizam que os alunos deviam “aprender a como aprender” como prioridade maior do que acumular conhecimento acadêmico. o reconhecimento das formas características de aprendizado e de racionalização que tipificam épocas diferentes. 28-29) A terceira ideia: Rousseau e a orientação da natureza “Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) encarava a prática educacional em curso como desastrosa. porque eles adequadamente corporificam a autoridade que decorre de ser especialista na matéria relevante. Quanto mais ficamos sabendo sobre essas coisas. 29) “No Emílio ou Da Educação. que programas de apoio ao “pensamento crítico”. . 29) “A área mais importante do estudo educacional. eles pegavam as formas de conhecimento que compunham o currículo e as organizavam no que parecia a melhor ordem lógica. aprendizado e motivação do aluno. portanto.” (p. o estímulo de um aprendizado ativo. Aqui. o foco da educação é a experiência da criança. é a natureza do desenvolvimento. refletem esta terceira ideia educacional... e depois as impingiam aos alunos.] na natureza da criança em desenvolvimento. é a mente cética. é proporcionado. [.” (p. hoje. e o trabalho em projetos.” (p.. porque é uma peça desagregadora. 31) “A expressão mais comum dessa ideia. o “aprendizado da descoberta” é valorizado..” (p.” (p. A experiência de cada criança. conflita-se necessariamente com um processo que visa a demonstrar seu vazio e inadequação. combina o progressivismo variadamente interpretado de John Dewey (Kleibard. evidentemente. Os professores não são tanto autoridades quanto facilitadores. que questiona energicamente a natureza e significado das coisas. compromissos. a discussão é estimulada.. mas. convenções. [. Esse tipo de consciência não costuma ser altamente valorizado por aqueles que governam as sociedades. até do mesmo conteúdo curricular. mas também desejamos o cultivo da mente.] Na sala de aula e fora dela..] A atenção do educador devia se concentrar no desenvolvimento individual de cada criança e no fornecimento das experiências que podiam incrementar otimamente esse desenvolvimento. os benefícios prometidos por ambas essas ideias educacionais.. porém. 33) . normas de comportamento e valores. É dada uma atenção cuidadosa aos resultados de estudos empíricos do aprendizado de crianças. o ceticismo e a dedicação à racionalidade pedidos pelo programa de Platão. e o ensino e os currículos são ajustados para estar em conformidade com essa “descoberta de pesquisa”. é necessariamente diferente. não é simplesmente indesejável.6 portanto. na verdade impossível. manuais e museus são recomendados para a exploração dos alunos. que é reproduzir em cada aluno um conjunto particular de crenças.” (p. seus desenvolvimento e motivação. 1986) com o desenvolvimentalismo e a psicologização do estudo das crianças. formatadores do ambiente em que os alunos irão aprender. informada. Desejamos a harmonia social e a estabilidade psicológica que uma sociabilização estimula. por indivíduos ou grupos. filosófica.]. 31) Incompatibilidades Platão e a Sociabilização “O propósito homogeneizante da sociabilização. que não se satisfaz com respostas convencionais [. 32) “O que é alcançável [pelo ideal de Platão]. fornecedores dos melhores recursos.. 33) “Desejamos. de Piaget. . na visão rousseauniana e deweyniana. derivamos nossas prioridades das normas e valores da sociedade. [. Os meios usados nas instruções rousseauniana e deweyniana são partes de seus fins educacionais. 34) “Segue-se outro problema pelo fato de Platão e seus descendentes terem sua própria concepção de desenvolvimento educacional. os meios e fins da educação estão amarrados uns aos outros. eles estão recomendando uma tarefa diferente.” (p. A educação. Os estágios de Platão representam maior clareza na compreensão.] Para Platão. não contaminada.7 Rousseau e Platão “Um problema para o meio-termo nítido é que. estimulam o desenvolvimento de uma razão pura. ao fazê-lo. como Dewey adaptou a ideia.. e as rousseanianas defendem “relevância” e espaço para exploração e descoberta por parte dos alunos. procedimentos de descoberta revelam a natureza e. 35) “O conflito entre essas duas ideias foi a base das contínuas lutas entre “tradicionalistas” e “progressistas” durante esse século [. a educação é um processos epistemológico relacionado ao tempo. nos termos de Rousseau.] Essas ideias entram em conflito – mais precisamente na identificação da causa dinâmica do processo educacional. dos estágios de eikasia.” (p. a pistis. a dianoia. no ponto de vista de Platão e no dos modernos componentes da ideia acadêmica. a noesis. no entanto. para Rousseau..] as forças platônicas defendem “básicos” e um sólido currículo acadêmico. Por exemplo.” (p.. não porque sejam meios mais eficientes para certos fins educacionais distintos. é marcada pela capacidade dos alunos de dominar conhecimento cada vez mis sofisticado.” (p. é um processo psicológico relacionado à idade. independentemente de seu suposto desenvolvimento psicológico.. Na verdade. por exemplo. 34-35) “Assim. Eles favorecem procedimentos de descoberta. Na visão de Rousseau. Rousseau e seus seguidores modernos não estão simplesmente fazendo recomendações metodológicas ou de procedimento que nos permitam cumprir de forma mais eficiente a tarefa acadêmica platônica. procedimentos de descoberta espelham o método científico cuja aquisição pelos alunos é um componente crucial de sua educação. 35-36) Sociabilização e Rousseau “Quando a sociabilização é o objetivo básico da educação. mas porque são um componente de seus fins educacionais. devemos . Mas esses estágios são interessantemente diversso dos de Rousseau e dos de Piaget. Ou. no plano de Platão. [.. Os alunos progridem. todas as teorias educacionais envolvem pessoas recapitulando.. 45) “Desenvolveram-se dois tipos gerais de teorias educacionais de recapitulação que podem ser chamados simplesmente de lógico [se desenvolveu gradualmente na história cultural] e psicológico [presumia-se vir antes das condições psicológicas primitivas dos selvagens.] a nova concepção de educação a ser elaborada a seguir bebe em teorias de recapitulação do século XIX e em Vygotsky. moldar o desenvolvimento de uma criança metade natureza e metade sociedade. 47) “Portanto.” (p. que morreu em 1936. repetindo para si mesmas as descobertas e invenções que se acumularam através da história de sua cultura.]” (p. mais significativo em causar o desaparecimento das teorias de recapitulação cultural foi a tarefa urgente de equipar as crianças entrando nas novas escolas de massa com o conhecimento. [.] como e por que deveria brotar na criança moderna uma aptidão para adquirir conhecimento na ordem em que foi inventado e descoberto na historia cultural.” (p. 46) “Um motivo para as teorias de recapitulação terem fracassado e desaparecido do cenário educacional ativo foi sua incapacidade de explicar. e não dos sofisticados adultos vitorianos].]... 48) . 44) “Em um nível suficientemente geral. influenciam profundamente o tipo de sentido que damos. 36) “Não parece haver aqui espaço para muitas concessões. 37) Uma ideia nova “[.. Tais tratamentos interferem um com o outro.8 evitar o contato da criança com as normas e valores da sociedade o maior tempo possível. mas exige uma compreensão do papel desempenhado pelos instrumentos disponíveis na sociedade em que uma pessoa cresce. as técnicas e disposições básicas exigidos pelo mundo industrial em rápido desenvolvimento. não pode ser entendido adequadamente em termos de estágios psicológicos como o de Piaget. Nosso desenvolvimento intelectual. [. portanto... Ele afirmou que damos sentido ao mundo usando instrumentos intelectuais mediadores que. [.. por sua vez.” (p.” (p. “(p.. 47) “A ideia de Vygotsky pode ser expressa muito simplesmente para propósitos atuais. Tentar fazêlo cria os mesmos problemas que castigar e reabilitar um preso pela metade.” (p. só conseguimos garantir que nenhum dos dois seja eficaz. tentando fazer média. Não podemos.” (p. sensatamente. processos psicológicos mais elevados – como a estrutura dialógica pergunta-e-resposta – começam em interação com outros. Gente louca investida de autoridade.9 “Instrumentos intelectuais.” (p. que cercam a criança são gradualmente internalizados enquanto ela se desenvolve..] A mente. tanto quando estão certos quando quanto estão errados. são as ideias. pois. teóricas.. instrumentos intelectuais. as ideias que administradores políticos e até professores aplicam à atual escolarização não tem probabilidade de ser as mais novas. em comparação com a gradual usurpação de ideias.. 1978). 48) “Quero considerar graus de complexidade culturalmente acumulada na linguagem. Pessoas práticas. ela se estende para e é construída de suas cercanias socioculturais. Isto é. inventadas. como a linguagem oral. a educação é dirigida por pouca coisa mais.. destila seu desvario de alguma escriba acadêmico de alguns anos atrás. [. que se creem isentas de quais quer influencias intelectuais. Cada um desses graus de sofisticação no desenvolvimento da linguagem reestrutura o tipo de sentido que seus usuários dão ao mundo. começam. 49) Conclusão – Capítulo 1 “As ideias dos teóricos educacionais. passando em seguida para a alfabetização e em seguida ao desenvolvimento de formas sistemáticas. não é uma coisa isolável.. Não. no fim das contas. na visão de Vygotsky.] O processo de desenvolvimento intelectual. 51) . talvez há muito tempo. ou sistemas de sinais. na história cultural e então se tornaram internalizadas e se transformaram em funções psicológicas. que são perigosas. linguísticas e finalmente a usos da linguagem habituais e altamente reflexivos. mais cedo ou mais tarde. costumam ser escravas de algum teórico educacional defunto. pois no campo da educação não há muitos que são influenciados por novas teorias depois de vinte e cindo ou trinta anos de idade. começando com a linguagem oral. como o cérebro dentro do crânio. [. [.] como processos interpsíquicos e tornam-se intrapsíquicos na criança. Porém. portanto. Tenho certeza que a força dos bookmakers da educação é enormemente exagerada. e não os bookmakers. que ouve vozes no ar. e seus tipos de compreensão são produtos dos instrumentos intelectuais forjados e usados nessas cercanias.. como funções sociais “externas” que foram. portanto. são mais fortes do que costuma entender. será reconhecido no grau com que o indivíduo domina instrumentos e sistemas de sinais como a linguagem (Vygotsky.]. de fato.. imediatamente.” (p. [. elas próprias. mas após um certo intervalo.. abstratas. De fato.” (p. ” (p. permitido/proibido. 60) “O aspecto estrutural mais evidente das histórias infantis ou de narrativas autogeradas é que o conteúdo de superfície muito comumente se apoia sobre conjuntos binários subjacentes como segurança/medo. feliz/triste. são montadas . 59) “As associações feitas por elas [oposições binárias] podem variar de cultura a cultura. formando inicialmente estruturas binárias – quente/frio.10 2 Compreensão Mítica “A compreensão mítica é tipicamente predominante a partir do momento em que a linguagem gramatical se desenvolve entre os dois e três anos até cerca de seis. por exemplo. Na medida em que a compreensão mítica incorpora. Essas oposições não são necessariamente. seriam atordoantemente complexos: [.” (p. saúde/doença. valente/covarde.. A mudança para um tipo um tanto distinto de compreensão. torto/reto. doce/azedo –. em grau significativo. grande/pequeno. macio/duro. 57-58) Algumas características da compreensão Mítica Estruturação binária “Formar oposições binárias é uma consequência necessária do uso da linguagem. embora algum desenvolvimento assim possa estar implicado nele). sete ou oito anos. feitas de autênticos opostos empíricos lógicos.” (p. amor/ódio.. pobre/rico. Eles permanecerão. em grau significativo. articula-se sobre uma forte estrutura de segurança/medo. é um resultado da capacidade da mente de incorporar a alfabetização entre os instrumentos que utiliza (e não como resultado de algum desenvolvimento mental em estilo piagetiano ocorrendo espontaneamente. e nem sequer com frequência. mas refletem algo profundo e comum a todos os seres humanos.]. permite uma orientação inicial sobre um âmbito de fenômenos que. mas o fato de que essas oposições binárias são encontradas em todas as culturas sugere que não são o produto de alguma contingencia particular do pensamento ocidental.” (p. bom/mau. como constituintes transformados de todos os outros tipos de compreensão. e transforma alguns dos instrumentos da compreensão somática. por volta dos sete anos de idade. de outra forma. em vez disso. 62) “Organizar seu entendimento conceitual do mundo físico. A história de João e Maria. assim os da compreensão mítica não são coisas que deixamos para trás conforme nos tornamos alfabetizados. é um instrumento de como damos sentido ao mundo. e algumas das primeiras discriminações que fazemos são em termos de nossos corpos” (p. 71) “Uma implicação educacional desta pronta adesão à fantasia e ao deslocamento reforça aquela feita na seção anterior: o aprendizado das crianças nem sempre segue em progressão lógica de um conteúdo conhecido para outro. ao que tudo indica universalmente (Brown. é claro. 62) “Como Ogden destaca..” (p. 66) Fantasia “Um aspecto característico das histórias míticas é sua fantasia. abstrato. e as crianças pequenas são representadas como capazes de lidar intelectualmente com o particular. o sentido educacional não é ensinar conceitos binários. as crianças não apenas captam as oposições. associado e desconhecido. deliciam-se com histórias de fantasia cheias de coelhos. e tudo na mente é. colocando-as sob algum tipo de controle conceitual inicial. convenientemente organiza muitos fenômenos contínuos em estruturas binárias. Crianças pequenas. 68) “A linguagem dá nomes às coisas. com o que é mais imediato para os sentidos.” (p. mas sempre orientar em direção a mediação.” (p.11 como opostos para fins conceituais de orientação para fenômenos complexos. uma vez estabelecida uma oposição e compreendido seu princípio. falando e vestindo roupas.” (p.] nossos corpos são basicamente “mediadores” de significado.” (p. gira um mundo de fantasia no qual a técnica de elaboração conceitual pode funcionar sem restrições. como também as usam para atribuir significado a quaisquer termos intermediários. 72) . estabelece categorias.. 62) “Assim. 1991). ursos e outros animais. [. em certo sentido. elabora seu entendimento mediando entre os termos binários e. 71) Pensamento Abstrato “Concreto e abstrato são. Mas usamos as palavras para significar graus relativos de generalidade ou particularidade. palavras antigas para se usar sobre o conteúdo da mente. elaboração e cognição consciente dos conceitos estruturantes iniciais.” (p. porque algumas oposições binárias básicas são discretas e não tem categorias mediadoras na realidade. seu deslocamento das regras cotidianas do mundo desperto em que vivemos. não é o lugar onde se pronunciaria pelo concreto. também deslocadas de qualquer coisa familiar em sua experiência desperta cotidiana. 12 “Minha ideia é que o desenvolvimento da linguagem inevitavelmente envolve o uso de abstrações e que o pensamento abstrato [. ou lança uma nova luz sobre a.. p. obviamente. 102)” (p. contanto que ele se articule sobre os tipos de fortes abstrações que elas claramente usam. 77) “Sem conexão com algumas sustentações abstratas [. mais geralmente.. pensadores abstratos.” (p.” (p. mas propriamente cooperativa..” (p. conforme as crianças vão ficando mais velhas. envolve falar a respeito de algo em termos derivados de algo bem diferente. [. portanto.] a metáfora é um produto do desenvolvimento da linguagem e.] Lévi-Strauss sugeriu que “metáfora. e a importância de um controle metafórico fluente e flexível para quase todas as formas de pensamento. coisa que se está falando. 73) “As crianças podem ter pronto acesso a todos os tipos de conhecimento. (1964. seria prudente enfatizar o apoio à fluência metafórica na educação da criança pequena. de um modo que acrescenta algo a. [.] não é menos comum em crianças pequenas do que o pensamento concreto.. em qualquer pensamento produtivo e gerador é provável que encontremos a ambas entregues a sua função um tanto distinta. [... não é um enfeite tardio da linguagem... 80) Metáfora “[.” (p. desprovidos de sentido. ainda que o façam “supraconscientemente”... 83) “A metáfora se desenvolve mais cedo e mais facilmente que a lógica.” (p.] estabelece uma nova relação entre ideias heterogêneas. 85) “A capacidade metafórica. em alguns respeitos... mas um de seus métodos fundamentais – uma forma básica de pensamento discursivo”.] Dada a estreita ligação entre desenvolvimento de linguagem e metáfora.] o conteúdo concreto ou as manipulações práticas permanecem descontextualizados e. Metáfora e lógica representam pontos numa série contínua de usos da linguagem. declina. 72) “A predominância do ponto de vista de que as crianças pequenas são pensadores concretos obscureceu o sentido em que são também. será evidente no pensamento mítico e em crianças pequenas. tanto historicamente quanto em nossa experiência individual.. 86) . 81) “A metáfora. em sua aparência mais grosseira.” (p..” (p. as imagens desempenharam.. e um outro constituinte da compreensão mítica. o crucial papel social de ajuda à memorização.. [. por exemplo.. então.” (p. 91) . ou “representam”. [. 90) Imagens “Uma consequência curiosa do desenvolvimento da linguagem foi a descoberta de que as palavras podem ser usadas para evocar imagens nas mentes dos que as ouvem e de que essas imagens podem ter um efeito tão forte e emocional quanto os próprios eventos reais. especialmente para revestir uma narrativa.” (p. A metáfora é muito mais profundamente um aspecto da capacidade humana de dar sentido do que o tropo poético redundante e amplamente ornamental que alguns assumiram que fosse. ela nos permite ver o mundo sob múltiplas perspectivas e nos engajarmos com o mundo flexivelmente. a variedade das formas de vida. 87) Ritmo e narrativa “Uma outra consequência da linguagem. por menor que seja. sair-nos-íamos melhor começando com descrições gerais do mundo. [. 89) “Estas observações sobre ritmo e narrativa têm algumas implicações significativas para o ensino e o currículo.13 “A metáfora é um de nossos arpões cognitivos. ritmos emocionais – podem proporcionar uma cesso fortemente atraente ao conhecimento de todos os tipos.” (p. seu lugar no cosmo. (p. Elas. se o significado for estabelecido em ritmo e narrativo.. ao tentar dar sentido ao mundo e a experiência. o desenvolvimento da linguagem em crianças leva à capacidade de evocar imagens mentais do que não está presente e de sentir-se com relação a elas como se fossem reais e presentes.” (p. substancial e expressivo. 91) “Um aspecto talvez inevitável das imagens que construímos a partir de palavras é que elas trazem algum componente afetivo. 89) “O que quero dizer é que.. 88) “Narrativas – esses padrões linguísticos que dão corpo a. e assim por diante.” (p.. serviriam de apoio a minha sugestão inicial de um programa de histórias do mundo. nas culturas orais tradicionais.].” (p. então. 90) “Tal como o ritmo. do que com as rotinas do mundo local.].” (p. primeiro apreendendo-se o todo e. dando-se sentido a suas partes. deveria ser introduzido nos primeiros anos.] é a pronta utilização do ritmo. .]. em vez disso.. matemática. Se. elas proporcionam um meio para a criança “incorporá-lo”. tendemos a encarar o ensino como a comunicação proficiente desse conhecimento às crianças. começarmos a pensar nas crianças pequenas utilizando a compreensão mítica flexivelmente na obtenção de uma apreensão inicial do mundo e da experiência e reconhecermos a estruturação de histórias como um aspecto proeminente da compreensão mítica.] Trazer constantemente à mente imagens afetivas ajuda a tornar o conteúdo memorável e. elas podiam orientar as emoções dos ouvintes para seus conteúdos. [. potencialmente substancial.. e criar programas que apoiem e desenvolvam essas capacidades. 92) “Quando se está ensinando a crianças pequenas. relacionadamente.] Segundo.” (p. 95-96) . em vez disso. eram a mais eficiente ajuda à memorização.” (p.” (p. história. 94) “Tendemos a encarar o currículo como um corpo de conhecimento – conhecimento sobre ciência.. Elas tinham duas forças cruciais. quando sabemos como nos sentir com relação aos fatos que a compõem. 92) As histórias e seus significados “A descoberta de que certos tipos de narrativas podiam gerar estados emocionais bastante precisos em seus ouvintes foi uma das mais significativas no desenvolvimento das culturas humanas. geografia e assim por diante -.” (p.” (p.. no entanto. a história é uma unidade linguística particular que transmite um tipo particular de sentido. Primeiro. estender nossa apreensão do mundo. e reconceber os professores de escolas primárias como contadores de histórias da nossa cultura [. 93) “Sabemos que chegamos ao fim de uma história. 93) “Como a frase escrita por extenso. 92) “As imagens nos permitem.” (p. significativo em termos com os quais as crianças estão familiarizadas. Isto as ajuda a ver que matemática. Imagens afetivas não precisam reduzir o conteúdo que está sendo ensinado. num sentido limitado mas muito real.14 “[. devemos ter sempre em mente a atividade mental delas. história e ciência não são feitas de um conhecimento “do outro mundo”. imagística e emocional. algo fora e separado delas. então somos levados a reconceber o currículo como o conjunto de grandes histórias que temos de contar as crianças.” (p.. Mas se contar a uma típica criança de dez anos a história igualmente fantástica do Super- . 101) 3 Compreensão Romântica “Se você contar a uma típica criança de cinco anos de idade a história de Cinderela. ela seleciona do ambiente aqueles elementos que podem servir melhor. 101) “A primeira implicação educacional da compreensão mítica.” (p. não é provável que ouça a pergunta “que meio de locomoção a Fada Madrinha usa?”.. como “alimentos” para seu desenvolvimento.. humor e. estimulando e desenvolvendo as capacidades de formar oposições binárias.” (p. 99) “A primeira tarefa educacional. que crianças bem pequenas sejam estimuladas a se tornar usuárias fluentes e efetivas de uma linguagem variada. histórias e significado afetivo. ritmo e narrativa. então é.” (p. Não é apenas um meio no qual e através do qual nossa experiência pode ser expressada. isoladas e singulares. nem será questionado sobre onde é que ela fica ou o que ela faz quando não está agindo na história. em si mesma. mas é. 100) “A segunda tarefa educacional é garantir não só que a linguagem sirva como um instrumento para expressar suas percepções e consciência. sem dúvida. mas não as mesmas que as nossa próprias. característica e dinâmica. ou para refletir a realidade. isso se consegue evocando. é garantir que as crianças aprendam um uso da linguagem fluido e flexível.] o desenvolvimento da linguagem não deve ser entendido simplesmente em termos do discurso da comunidade.. para usar a expressão de Piaget. de forma que ela possa se tornar um meio de expressar suas percepções e consciência únicas.” (p. mas um desenvolvimento mais pleno da linguagem e suas capacidades intelectuais associadas exige um ensino deliberado.” (p. [.” (p. imagens. ou para comunica-las. A mente é também um órgão ativo. uma extensão e ampliação dessa experiência. inúmeras outras capacidades que o desenvolvimento da linguagem implica.15 Conclusão – Compreensão mítica “[.. mas também para que a criança reconheça que a linguagem tem uma vida própria. 100) “Algum nível de desenvolvimento da linguagem ocorre “naturalmente” em crianças sendo criadas em um ambiente utilizador de linguagem. então. 100) “A terceira tarefa educacional é ensinar às crianças as variadas convenções para usar com sucesso a linguagem como um meio de comunicação com outras consciências. semelhantes.] Há restrições determinadas pelo programa que governa nossa aquisição de linguagem. realidade e escrita “[. O uso da linguagem oral é uma atividade corporal. antes.16 Homem..] a escrita gráfica particular que as pessoas usam serve de modelo para como elas pensam sobre a linguagem.] Esta acomodação gradual à realidade prosaica não pode ser uma explicação suficiente. 106) “A mudança do aprendizado do primeiro sistema de símbolos da linguagem oral para o segundo sistema de símbolos. escrever é a linguagem transportada para fora do corpo. O sistema de símbolos relacionados para abstrair a linguagem do corpo é a escrita. garante que ouçamos nossa fala como composta de elementos que podem ser divididos em segmentos fonêmicos. a magia é inteiramente aceitável na medida em que faça a história acontecer.” (p.” (p. espaço e movimento apoia-se em grande parte na apreensão de números e suas relações. O alfabeto grego.” (p. 106) “O fracasso das escolas em inculcar uma facilidade fluente em se lidar com essas técnicas “desincorporadas”. 108) Razão. para determinar o tipo de consciência da linguagem que vamos desenvolver. mas de vantagem tecnológica decorrente da habilidade da alfabetização. 106) “Aprender sistemas abstratos de referência a coisas como temperatura...” (p. O primeiro degrau importante leva ao que chamo de compreensão romântica. envolvendo o olho e a mente.” (p.” (p. 112) . precisará explicar seus poderes sobrenaturais com referência a seu nascimento no planeta Krypton [.. porque a própria acomodação precisa ser explicada.. tem características particulares para nos tornar conscientes de nossa linguagem ou. “descontextualizadas” e “alfabetizadas” é a fonte de muita insatisfação ruidosa. envolvendo “a pessoa inteira”. 104) “O que acontece entre os cinco e os dez anos de idade que causa essa diferença? O bom senso sugere simplesmente que a experiência acumulada informa a compreensão da criança sobre que regularidades tendem a ser mais confiáveis. O alfabeto.. do qual derivam todos os sistemas alfabéticos.” (p. 109-110) “O que fora encarado como a maior eficiência prática do pensamento ocidental moderno sobre o das culturas orais tradicionais podia agora ser encarado como o resultado não de alguma presumida superioridade genética dos cérebros europeus. [. por exemplo.] Para a plateia mais jovem. de inúmeros escritos e do alfabeto ocorreu gradualmente e em estágios discerníveis na nossa história cultural e pode ser mais bem recapitulada em similares estágios distintos na educação hoje. ] Para o aluno alfabetizado confrontado por uma realidade aparentemente infinita e autônoma.. a imagem se torna mais clara. 123) “O princípio “romântico” nos inclina a uma observação alternativa sobre a lógica da exploração e descoberta intelectual humana – de aprender conhecimento novo – a partir daquele atualmente dominante na educação. os extremos da experiência. A concepção alternativa “romântica” representa o aprendizado como construindo a compreensão e clareando gradualmente uma imagem do modo como funcionam as peças de uma placa holográfica.. eles falam sobre as maravilhas deste mundo. 118) Algumas características da compreensão romântica Os limites da realidade. para construir a compreensão: aprendemos fazendo associações entre o conhecimento familiar e o novo e encaixando o conhecimento novo em contextos globais vagamente apreendidos. Conforme outros pedaços da placa forem sendo acrescentados. .” (p. o contexto de nossas vidas “Por que o conteúdo do Livro Guinness dos Recordes é tão mais cativante do que o típico manual de matemática. Se pegarmos um pedaço de uma placa holográfica quebrada e o iluminarmos atravessando-o com um laser.] uma vez que temos algum sentido do contexto. 124) “É claro que usamos os dois procedimentos.” (p. por sua vez. com a segurança associada de que a realidade não é infinita em todos os respeitos” (p. 123) “A concepção tradicional representa o aprendizado como construindo a compreensão compondo-a pouco a pouco. mais ou menos do modo com que um quebra-cabeça de armar forma uma imagem de alguma coisa. formamos um contexto que nos permite estabelecer alguma segurança e estabelecer dentro dela um sentimento proporcional. podemos começar a desenvolver algum sentido do significado proporcional das coisas. [. os recordes fornecem um sumário muito nítido do âmbito e extensão da realidade. as maiores realizações..” (p.” (p. O procedimento holográfico parece particularmente importante para estabelecer significado.. 122-123) “Ao descobrir os limites reais do mundo e da experiência humana.17 “A mistura do mítico com o racional constitui o aspecto central definidor da compreensão romântica. os limites da realidade. que o conhecimento novo. ajuda a esclarecer. tanto o do quebra-cabeça quanto o do holográfico. as formas de vida mais exóticas e os eventos mais surpreendentes. história ou geografia para o jovem médio de dez anos de idade? [.. as experiências mais extremas.] Uma reposta é que tais fatos são mais românticos. geraremos uma imagem errada da figura inteira.. [. Nossa atração por heróis e seus feitos se dá através de nossa associação com suas qualidades . O herói vive. reduz-se a ameaça de que é insignificante ou se está à mercê de uma realidade incognoscivelmente vasta.” (p. e a mente explora a realidade tentando apreender seus limites e extremos. conforme vamos apreendendo uma realidade cada vez mais complexa. ganha-se a segurança de que a realidade não é sem limites e que é possível apreendê-la.. uma capitulação à realidade. como a busca do exótico e do extremo. ao mesmo tempo também que persiste em servir como um molde e gabarito para as perguntas e interesses que impulsionam nossas investigações. consegue de certa forma transcender as restrições que nos cercam. mas o faz com persistentes interesses míticos.. As estruturas binárias simples da compreensão mítica começam a desabar.. 124) “O mito dá lugar à realidade. cognoscível. em princípio.” (p. diferente de nós.. sob as restrições do mundo cotidiano. a alfabetização gera concepções da realidade. sob certo aspecto.18 montando o novo conhecimento em conjuntos de relações estendidos através de contextos que nós. É um meio-termo com.] podemos reconhecer o fazer coleções e o ter hobbies como um engajamento com a realidade que é. 127) “[.] os heróis conquistam nosso interesse porque eles “incorporam” em um grau incomum uma virtude humana que lhes permite transcender restrições convencionais. em vez de. colocamos no lugar um contexto que funda um significado mais amplo. ganha-se a segurança de que o mundo é. temos o romance. Assim..” (p.. 125) “[. [. claro e “realista” para os detalhes e experiências de nosso mundo cotidiano.” (p.] entre os mitos que moldam o mundo às exigências de estruturas e teorias mentais que tentam estar em conformidade com a atual estrutura do mundo. Ao colecionar o conjunto ou ao dominar em grande detalhe alguma área do mundo. 125) “Numa outra característica distintiva da atividade intelectual dos alunos durante esses anos é a obsessão com hobbies ou com coleções. O romance trata da realidade. 127) Transcendência dentro da realidade “A figura romântica arquetípica é o herói. mas.” (p. Apreendendo os limites e extremos. Aprendendo alguma coisa exaustivamente. 126) “Falando de forma simplista. como o resto de nós. vemos o mesmo processo em ação na história cultural e nos alunos de hoje. mais ou menos hesitantemente. mantemos firmes no lugar.” (p. . 133) “[. Existe. espírito inteligente.. Eles contêm códigos ..19 humanas transcendentes.” (p. paciência.] Associando-se a quem quer ou que for que no mundo parece mais capaz de transcender essas ameaças.” (p...] reforçamos a imagem do manual. compaixão... a compreensão que podemos construir a partir de qualquer evento. ruína ou artefato histórico é restrita pelo grau com que conseguimos inferir os pensamentos humanos que os fizeram existir ou estiveram envolvido com eles. Quando testamos o progresso educacional dos alunos. 129) “[. tornando mais compreensível em termos das emoções que os originaram [. embora. Isto é. Torna-se importante [.] não está mais disponível. lamentavelmente.. engenho..].. então. elegância. A associação romântica oferece uma técnica proeminentemente para forjar uma nova segurança em face de uma realidade ameaçadora. 130) “Uma característica da compreensão romântica. ou o que for. um vasto âmbito de qualidades com que nos associamos em qualquer herói – santidade.” (p.].] toda história é a história do pensamento. é sua pronta associação a qualidades humanas transcendentes.. Pode-se dar uma explicação do mundo como um acúmulo do produto de ações individuais. nós também sentimos alguma segurança contra tais ameaças e alguma confiança em que talvez possamos transcende-las. bem como violência testosterônica. abnegação.]..] o herói arquetípico na tradição ocidental sempre foi um homem voltado para o poder e autor de feitos geralmente violentos.] um dos produtos incidentais da alfabetização foi a compilação de dicionários. A segurança passada da compreensão mítica [.. 129) “Quando temos dez anos [. “Armazenar conhecimento” é a forma que inocentemente nos expressamos. [. enciclopédias e manuais para armazenar conhecimento.” (p. no entanto.] enfatizar que livros não armazenam conhecimento. documento. esquecendo o sentido metafísico de “conhecimento” nessa expressão.. em graus limitados” (p... todos nós compartilhamos essas qualidades. da enciclopédia ou do dicionário como paradigma do conhecedor bem sucedido [.. 130) Conhecimento humanizado “Esse enfoque [das histórias] nos indivíduos e nas emoções que os estimulam a agir é característico do modo romântico de compreender o mundo. em termos do que eles se lembram do conhecimento que lhes foi ensinado [.” (p... 133) “[.. 134-135) “A tarefa educacional alternativa é ensinar aos alunos como restaurar os códigos simbólicos transmutando-os em compreensão humana. ao mesmo tempo. 135) Racionalidade Romântica “Meu argumento geral é que atentar para as características da compreensão romântica proporcionará o meio mais efetivo de garantir que os alunos dominem qualquer conhecimento e técnicas de que precisam [. não só estimula e apoia a compreensão romântica. por exemplo. mas também.. por exemplo.. serão interessantes. A um nível cultural. experimentador ou autor. apoia uma alienação das características da compreensão mítica. descobridor.” (p. É correto lembrar que a realidade foi a principal descoberta do Romantismo na história cultural europeia. como margens da realidade.” (p. mais ou menos fiel ao que realmente se passa.20 simbólicos que podem nos servir como mnemônica externa para o conhecimento. 137) “A noção vulgar de romance tende a realçar o exótico e o maravilhoso e não reconhece que estes. visa a contar uma história dramática. O conhecimento só pode existir em mentes humanas vivas.. reconstituindo os códigos inertes como conhecimento humano vivo. [. O movimento romântico participa do compromisso com os extremos da realidade. mas eles são seletivos nas histórias que escolhem contar e nos incidentes que. usuário. mas de ser livre para explorar novamente a realidade da experiência humana e o mundo natural.. 136) “A maioria dos jornalistas hoje.” (p. acham. 139) O que corre o perigo de se perder “A alfabetização. podemos ver isso na incompreensão que a alfabetização criou a respeito das . Podemos estimular tal reconstituição mostrando o conhecimento dentro da vida de seu inventor. no que diz respeito a seus participantes.]” (p.” (p.” (p. ao mesmo tempo. 138) “Boa parte de nossa incapacidade de estimular compreensão matemática e científica nas escolas pode derivar da incapacidade geral de distinguir compreensão romântica e seus modos característicos de ocupar-se com e dar sentido racional ao mundo como pré-requisito ao pensamento teórico. mantendo-se. os limites de experiência e o fascínio pelo misterioso [. e isso pode ser tornado prontamente compreensível se conectarmos tal conhecimento com as emoções do aluno..] A empolgação do Romantismo não foi simplesmente um produto de o senso da imaginação ser livre. são crucialmente distintivos de uma visão romântica..]. Você dá a seus discípulos não a verdade.” (p. 143) Conclusão – Compreensão romântica “A compreensão romântica.] a racionalidade alfabetizada pode servir de apoio a uma espécie de compreensão capaz de incrementar nossas vidas e torna-las mais abundantes.21 sociedades não alfabetizadas.. e essa indução pode ser melhor ou pior administrada. (p. 146) .] “A mente primitiva” é tornada misteriosa. a compreensão mítica torna-se estranha e irrecuperável após a “mudança de paradigma” para a racionalidade alfabetizada. 140) “A descoberta do alfabeto criará esquecimento nas almas dos que ao aprendem..” (p.. 144) “Crucial para a compreensão romântica é o senso crescente de uma realidade autônoma. então. 145-146) “A compreensão romântica representa uma transição gradual. porque eles não usarão mais suas memórias: confiarão nos caracteres escritos externos e não se lembrarão de si mesmos. parece menos bem-sucedida em engajar imaginativamente os alunos nos aspectos da realidade que são expostos no currículo. por um lado. mas primeiro elas dão sentido à realidade em termos “românticos”. Mas se. talvez de um modo um tanto transformado. [. embora sendo nossa herança. Sua invenção não é uma ajuda à memória. As formas de pensamento dos alunos gradualmente se acomodam às formas da realidade autônoma. Fedro). é um tipo de compreensão um tanto distintiva apoiada por uma alfabetização inclinada ao seu desenvolvimento da racionalidade. as características do tipo anterior de compreensão..” (p. a escolaridade parece ter sucesso quanto a aspectos perturbadores da compreensão mítica e para estimular um senso de realidade autônoma. O senso de um eu autônomo e de uma realidade correlatamente autônoma é crucial para a compreensão romântica. 141) “[..” (p. O sendo de realidade está amarrado à escolaridade na alfabetização e nas técnicas de pensamento descontextualizado que se mostraram eficazes para descrever e controlar a realidade..” (p. mas apenas a aparência da verdade. eles serão os ouvintes de muitas coisas e não terão aprendido nada (Platão. A indução à racionalidade alfabetizada apoia a compreensão romântica. Melhor envolve preservar. e pior envolve a supressão de características da compreensão mítica. por sua vez. o autodidata.. porém..” (p.” (p. em outras civilizações antigas.22 4 Compreensão Filosófica “Esta etapa filosófica é moldada por uma “ferramenta” ou “meios de mediação” ainda mais difusos.]” (p.” (p. 149) “A compreensão filosófica é uma de um conjunto indeterminado de possíveis implicações da linguagem e do desenvolvimento da alfabetização. 152) Algumas características da compreensão filosófica “Meu argumento é que uma compreensão filosófica adequada deve incorporar as capacidades adquiridas enquanto se desenvolviam as compreensões mítica e romântica. por volta dos quinze anos de idade..] isso não é algo que ocorre rotineiramente como um resultado de maturação. 149) “Chamei esse tipo de compreensão filosófica basicamente porque ela foi desenvolvida no programa que Platão e Aristóteles refinaram e legaram ao mundo com um peso de autoridade intelectual tão intimidante. com mais probabilidades de se tornar perdido ou excêntrico como um resultado de manipular suas abstrações que o erudito numa comunidade.] Falar sobre tais textos ajuda a fazer da linguagem abstrata uma parte do seu pensamento cotidiano ou torna-a fluentemente disponível quando se é confrontado por problemas ou circunstancias com as quais ela pode lidar eficientemente. não existe “progresso natural” nesta direção. normal para apenas uma pequena proporção da população – aqueles que entram e interagem com comunidades que apoiam esse tipo de pensamento. O aspecto central da compreensão filosófica é o pensamento teórico sistemático e uma insistente crença em que a Verdade só pode ser expressa em seus termos. O erudito isolado. ou seja. a predominância que teve na Grécia. O desenvolvimento sistemático da compreensão filosófica parece. 167) “A compreensão filosófica começa a se tornar proeminente. É uma espécie de pensamento que não ganhou... [. mas também uma espécie de comunicação particular que. assim como algumas correntes acadêmicas [. 150) “Comunidades são importantes para este tipo de compreensão porque ela é usada apenas em parte por textos filosóficos.” (p. 167) ..” (p. exige espécies particulares de comunidades ou instituições para apoia-la e mantê-la. hoje em dia. muitas vezes empregará este nível de discurso energicamente. no momento. ela exige não só linguagem e alfabetização sofisticadas. [. A propriedade mais característica do pensamento formal é esta reversão de direção entre realidade e possibilidade. 168-169) “O vocabulário de pessoas no fim da adolescência.” (p. ideologias e projetos metafísicos para juntar os fatos disponíveis ao aluno. por exemplo. A possiblidade já não mais aparece meramente como uma extensão de uma situação empírica ou de ações efetivamente realizadas. e personagens heroicos. um continuum de estilos. As conexões entre as coisas tornam-se cada vez mais proeminentes e a conexão do estudante filosófico com as coisas vêm cada vez mais da percepção de que eles próprios são parte dos complexos processos e sistemas que formam o mundo.] tal projeto geral tem as . assim. ou é sintoma de. como parte de todos os sistemas e de processos complexos gerais. civilização e evolução.. p.” (p.” (p. 169) “A nova linguagem teórica ajuda a gerar. pode deixar os alunos vulneráveis. no método de abordagem do Sujeito. Há muito é evidente para os que tentam atrair adolescentes para alguma posição ideológica que um compromisso intenso pode ser gerado convencendo-os da verdade da visão do mundo que ela representa..” (p.23 A ânsia por generalidade “A segurança e a acessibilidade de corpos de conhecimento em constante ampliação permitiram às pessoas gerar o que ele chama de conceitos “portmanteau” [sintagmas de muitos significados] como cultura. [. comumente começa a fazer brotar conceitos “portmanteau”.” (p.. A História. 170) “A mente filosófica se concentra nas conexões entre as coisas. 172) “Esta abertura à “possibilidade”. exemplos do possível âmbito do comportamento humano e da natureza. construindo teorias. e envolvidas em trabalho acadêmico.. é a realidade que agora é secundária à possibilidade.251). que é um aspecto daquilo que eu chamo de projetos gerais. mas antes como um singular e complexo processo. como se faz em inferências concretas. uma perspectiva significativamente diferente na qual as miudezas ilustres são vistas cada vez mais. o pensamento formal começa com uma síntese teórica implicando que certas relações são necessárias e. prossegue na direção oposta (1958. O aluno então começa a adquirir o conhecimento necessário para completar o projeto. 171) “O que descrevo em termos gerais como uma característica da compreensão filosófica – que os alunos cada vez mais identificam a verdade como fazendo parte deste reino teórico – e que Inhelder e Piaget descreveram como se segue: [N]o pensamento formal há uma reversão na direção de pensar entre realidade e possibilidade. leis. não é mais compreendida basicamente como um conjunto de eventos e estilos de vida vigorosos. Em vez disso. em vez de derivar uma teoria rudimentar dos lados empíricos. ” (p. tais projetos parecem ganhar definição bem depressa e afirmar sua influência magnética sobre a confusão. orienta a mente precisamente em direção a um conhecimento particular capaz de apoia-lo ou contestá-lo e em direção a um comportamento que o traga mais evidentemente para a realidade. gerando padrões complexos e sutis. mas de leis da natureza. o que se aplica tanto a nós próprios quanto a todos os demais. Os alunos começam a ver que eles estão ligados ao mundo não por meio de associações transcendentes. para quem todos os aspectos são significativos na criação de uma representação precisa da cidade inteira. ativistas sociais. as leis do desenvolvimento histórico e a verdade sobre como a sociedade funciona. então. 176) . preto e branco. 174) De atores transcendentes a agentes sociais “Conforme os alunos modernos recapitulam tais projetos. bom e ruim.” (p. Uma vez vindos à tona. Durante os anos que vão de cerca dos quinze até o início da casa dos vinte. seu senso do eu também muda. social. outros podem ser muito mais sofisticados. começa a se desbotar e ir sumindo contra o cenário. história e assim por diante.24 virtudes extras de informar o aluno sobre seu lugar próprio no processo geral. sua compreensão de si mesmos e de seus papéis no mundo depende de seu conhecimento de como esses processos funcionam. outros são mais fracos. Alguns são muito simples. interações sociais. esportistas. 175) “Se os alunos se reconhecem como sendo partes de um processo natural. os alunos caracteristicamente procuram ou apoiam uma concepção da verdade sobre a psicologia humana. 173) “A exploração filosófica poderia ser representada como a de um cartógrafo. 173) “Alguns projetos gerais agem como um possante imã. socorristas auto sacrificantes). organizando virtualmente tudo na mente do estudante. propiciando uma ordem mais difusa. sustentado por associações com as personificações preferidas de qualidades humanas transcendentes (o cantor popular. com isso definindo um papel social e restabelecendo uma identidade segura. mas por complexas redes e cadeias causais. dividindo o mundo em dois para o aluno. O eu “romântico”. psicologia humana. na confusão da mente romântica. certo e errado.” (p. 175) “Os alunos começam a apreender que o que somos não resulta de escolhas e associações românticas.” (p. isto é.” (p.” (p. 176) “O projeto geral. histórico e outros processos.” (p. Quanto mais diversa e intricada a base factual para um plano.” (p.” (p. os alunos se reconhecem como partes de processos complexos e dispõem-se a determinar a verdade com respeito a eles mesmos com alguma urgência psicológica porque. teorias e planos gerais usados para organizar o mundo são verdadeiros na medida e quem. Ou seja. Construir esquemas gerais é necessário para que os alunos individuais tornem-se agentes sensatos e realistas do mundo. 177) “Os planos gerais.. Nesta atividade “filosófica”.. os particulares dos quais eles se compõem são verdadeiros.” (p.] eles acham que conhecem o . 178) “Um aspecto comum da compreensão filosófica é uma tendência a pressupor que os padrões. pressupõe-se que a verdade de um plano geral é função da verdade dos fatos e dos próprios eventos e que a seleção e organização de fatos e eventos podem ser neutras ou “objetivas” se for tomado o cuidado adequado. com grades de organização. “filosoficamente”. estou sugerindo. 179) “O senso inadequado de certeza que pode acompanhar a compreensão filosófica na educação dos indivíduos é observado com desaprovação desde o período clássico até o presente. e do modo como.” (p. precisam construir seus padrões a partir de uma vasta quantidade de conhecimento particular. 179) “A observação de que alguns alunos são superconfiantes segue-se de eles parecerem pensar que conhecem o significado de todas as coisas.” (p. [. o interesse dos alunos pelo mundo não é tanto pelo mundo por si mesmo quanto pelo que as descobertas revelarão sobre eles mesmos.” (p.25 “O desenvolvimento educacional. é um processo cuja concentração de interesse e engajamento intelectualmente começa com uma construção do mundo como um mito e. Não conseguir reconhecer que um plano geral envolve reduzir a diversidade do mundo pode levar a uma superestimação comum da segurança de seu próprio plano geral e da natureza do mito que tais planos podem pretender. mapeia os principais aspectos do mundo. para serem absolutamente adequados. 178) O fascínio da certeza “Herdamos do período clássico e do Iluminismo a crença de que a Verdade – alguma verdade extrema e fundamental sobre o mundo e nosso lugar e propósito nele – é atingível. determina os limites e a extensão da realidade e então. romanticamente. ao fazê-lo descobrirão a verdade sobre si próprios. então. 177) “Esta forma de atividade intelectual pode facilmente resvalar para o narcisismo. mais probabilidades há de que ele reflita o mundo de forma confiável. confortavelmente organizar qualquer coisa. e bem mais conhecimento é exigido para mantê-lo em funcionamento. uma ideologia ou uma teoria superabrangente. Isto é. O problema não é que um plano simples. Quando os alunos acumulam apenas um volume relativamente pequeno de conhecimento ou um conhecimento especializado demais. na melhor das hipóteses. eles acham que entende os princípios gerais dos quais se deriva o significado de particulares.” (p. na época que entrem para comunidades que estimulam e apoiam o pensamento filosófico. tradicionalistas para dominar certas formas de conhecimento. por mais sofisticado que seja o plano geral de uma pessoa. na pior. . 182-183) “Uma massa de conhecimento diverso é necessária para impulsionar o processo dialético entre plano geral e conhecimento particular. 181) “A constante interação entre planos gerais e conhecimento particular alimenta o desenvolvimento dos alunos durante a compreensão filosófica.” (p. mais adequadamente para servir de apoio ao plano recém-refinado ou revisto. Se for suficientemente rudimentar. encontrase o combustível da indagação filosófica” (p. 183) “Todo mundo sustenta que a ignorância é incompatível com a educação. por sua vez exigirá mais conhecimento. mas argumentos convencionais. consideram mais aprendizado e organização dos particulares dentro dele uma tarefa essencialmente trivial. Uma vez que sabem a verdade em geral. O problema é que. parece que sempre estão ocorrendo fatos que. O plano geral constantemente exige mais conhecimento para apoia-lo. mas que ele pode.” (p. a validade e a verdade de seus planos. o contestam. então é de interesse vital da pessoa garantir a adequação. até mesmo uma desnecessária perda de tempo.26 verdadeiro sentido de tudo. Formas simples de crenças religiosas fundamentalistas são um exemplo comum. 181) Plano gerais e anomalias “Se segurança intelectual e até o senso de identidade da pessoa estão atados aos planos gerais que a pessoa usa para dar sentido ao mundo da experiência. até mesmo das coisas que ainda não aprenderam. são capazes de gerar apenas planos gerais simples e bem rudimentares. Na diferença inescapável e irresolvível entre a realidade e as nossas ideias sobre ela. tudo se transforma em prova para apoia-lo e nada o contesta. esse conhecimento a mais será comumente um tanto anômalo e exigirá refinamentos ou revisões do plano geral. o que. não se encaixam bem nesse plano e. não organize conhecimento suficiente. rudimentar. com um plano geral de terminado. 185) “Entre o conhecimento seguro esquemas gerais existe um ato de mente.” (p. Talvez fosse mais exato dizer que o pensamento filosófico gera os padrões. os princípios e teorias comuns. Em outras palavras. ofuscar o recorrente. feito de ideias. mas também de nossos modos mais comum de pensar sobre elas. de imaginação. 184) A flexibilidade da teoria “Estamos todos familiarizados com pensadores filosóficos escravos de esquemas gerais. o positivismo. “a racionalidade técnica”.” (p.. [.] O professor deve introduzir anomalias e dissonâncias gradualmente para estimular maior sofisticação nos esquemas gerais dos alunos. que gera uma concepção das coisas diferente. 184) “Tem muita sorte o aluno que faz esta jornada intelectual flutuando constantemente amparado pela empolgação da descoberta e não arrastado para o fundo pelas inquietações e pelo torvelinho emocional que acompanham o reconhecimento de inadequações dos esquemas usados para dar sentido ao mundo. a recorrência.. 183-184) “Ser professor de alunos “filosóficos” requer flexibilidade.” (p. o meio ambiente e seus processos naturais ou algum outro esquema estão a seu lado. a erudição sempre tomou seu lugar atrás de outros objetivos progressistas mais importantes para instituições educacionais. 187) “O pensamento filosófico exerce e desenvolve a capacidade de ver padrões. procurar essências. essências.. parece ter dificuldade de qualquer conhecimento particular. em conceitos. [. das próprias coisas. numa parte imaginária. Deus.” (p. princípios e teorias comuns. em sua qualidade. o que a mente contribuiu para o nosso conhecimento do mundo no processo de dar-lhe sentido.. perceber processos. a bomba e a engenharia genética com seus ardorosos promotores recendendo a arrogância. O pensamento filosófico deu-nos esses vilões em moda. a esfera do pensamento teórico é distintiva não só das coisas. Eles são. por exemplo. mas essas representações reduzidas são precisamente aquilo que conseguimos lidar . em contraste. mais do que reduzirem o mundo. que sabem que a história.] Os esquemas gerais da filosofia. Eles tentaram amarrar o significado da educação a uma tradição liberal de aprender um volume básico de todo âmbito de disciplinas. conhecimento – material mental. sensibilidade e muita tolerância.27 fazem soar uma nota arbitrária. A posição progressista. de fé. montam um mundo “de arremedo” adicional. conceitos.” (p. ideólogos. o behaviorismo.” (p. diligentes. os processos. 187) “Fazemos representações reduzidas da realidade em material mental. é provável que a compreensão filosófica só se desenvolva intermitente e parcialmente. mas. que juntam tudo que se sabe. alguma base de verdade. como esquemas gerais que. 188) “Se a comunidade filosófica do aluno é eficaz e intelectualmente enérgica. os esquemas começarão rapidamente a ser corroídos por anomalias e se transformarão. em vez disso. a vida humana e nosso senso do mundo natural são caóticos e sem sentido. [. particularmente faculdades e universidades. 190) “Sem o tímido apoio das instituições educacionais. 193) “Um tema mais comum na tradição intelectual do Ocidente é que sem algum fundamento claro. abrangente e autentica da realidade.” (p. 189) Conclusão – Compreensão Filosófica “A empolgação inicial da compreensão filosófica vem de uma crença de que nossos esquemas gerais revelam a verdade sobre a realidade.28 efetivamente. a mídia e o nível geral do discurso público no Ocidente não proporcionam o tipo de comunidade que poderia sustenta-la adequadamente. maiores desenvolvimentos linguísticos prometiam uma explicação mais sistemática. não importa quão refinada a linguagem em que foram expressos. em reação.” (p. É como se o espelho escuro tivesse sido afastado e. buscando maior apoio e fazendo parecer mais anomalias” (p. como outros. geralmente em forma simples e cristalinas. Mas o declínio da crença nessa verdade prometida e o declínio da crença em que sistemas teóricos. finalmente entende-se a verdade. represente a realidade.. são vulneráveis a anomalias e revisáveis.” (p. 190) 5 Compreensão Irônica e Somática Compreensão Irônica “Em comunidades favoráveis ao pensamento teórico.] o pensamento filosófico mais sofisticado gera esquemas que são atentos a anomalias e que se tornam cada vez mais capazes de refletir aspectos relevantes da realidade para fins particulares.” (p. pudessem representar a realidade com precisão criou problemas sobre como se espera que a linguagem afinal. O medo da pura contingência há muito impulsiona a busca da .” (p. 187-188) “A capacidade de gerar concepções esquemáticas da realidade pode nos liberar das restrições das ideias e crenças convencionais e esquemas gerais nos quais crescemos. Tais convenções não aparecem mais como o arcabouço inquestionável da realidade convencional percebida.. .” (p. 194) “[. é inatingível.” (p. Mas. ajudando a dissolver a esfera metafísica” (p.. mais uma vez. pois não podemos determinar se nossas versões do mundo e da experiência captam as coisas como elas são. especialmente a do artista. aplicando a uma perspectiva modos que são próprios de outra.] não podemos sair de nossos esquemas conceituais. foi-se qualquer coerência” “Perspectivas múltiplas revela significados múltiplos.. a narrativa autentica. pode nos permitir abrir caminho.. usando nossas criações artísticas como pedras em que pisar. por outro. a vida cotidiana continua. p.]” (p.] “uma elocução irônica não é meramente uma declaração sobre a realidade. combinando a imaginação artística e a racionalidade científica.” (p. juntas. O ironista liberal . A objetividade.. O humor essencial da ironia é a incongruência. nesse século.. de forma chocante. 203) “O ironista fluente pode passar de perspectiva em perspectiva... [.. vozes irônicas sugeriram que não acontece grande coisa se desistirmos de procurar fundamentos para o conhecimento e até de procurar sentido e significado: o céu fica no lugar.] A ironia. no sentido antigo. 1978. 47). [.. 196) Kierkegaard começa sua explicação afirmando que “é em Sócrates” que o conceito de ironia tem o seu princípio no mundo” (p. 204) “A mente irônica. não podemos alcançar uma posição a partir da qual julgar quão adequadamente nossos esquemas conceituais representam a realidade.” (p. 203) “O acúmulo de textos e narrativas e a proliferação de perspectivas que estes ofereciam ao mundo estimularam duas reações gerais: uma busca intensa pela perspectiva certa. uma imaginação desregrada e uma profunda seriedade. e a ironia. para sair do caos deste mundo. 208) “O reconhecimento de que [.] a fluência dos ironistas para deslizar entre diferentes perspectivas levanta dúvidas sobre a segurança do que se vê a partir de qualquer uma delas. a ciência era uma aliada da ironia..” (p. 213) “[. 198) “Tá tudo aos pedaços. então. pode transcender o caos do mundo atrelando. por um lado. a paixão artística pela vida e uma sóbria investigação científica..] [a] fragmentação de perspectivas constitui o único significado ou realidade disponível para nós é crucial ao Pós-Modernismo. mas pressupõe pelo menos uma consciência tácita de disparidade entre uma afirmação e a realidade que se espera que ela represente” (White.. A ironia pósmoderna está.” (p. 208)..” (p.29 verdade. 205) “Em algum grau. amarrada à crença de que o tipo de verdade há tanto procurada na atividade intelectual do Ocidente é ilusória [. ] A compreensão irônica envolve o reconhecimento reflexivo adicional de que nossas mentes e linguagens têm outros jogos a que se dedicar.. O que a compreensão irônica absorverá da compreensão filosófica são aquelas capacidades teóricas abstratas que podem conferir ordem intelectual e fenômenos complexos. A ironia foi tanto um produto tradicional desse reconhecimento no Ocidente quanto uma estratégia cambiante para lidar com ele.] A verdade é reconcebida como uma referência elogiosa a crenças que são ampla e facilmente partilhadas e não como correspondendo à realidade.. [.” (p. 217) “As capacidades intelectuais que constituem compreensão filosófica nos permitem levar conhecimento muito complexo para esquemas gerais coerentes. mas não suas certezas desdenhosas. 215) “O reconhecimento da fragilidade epistêmica foi uma das constantes da vida intelectual do Ocidente. a compreensão irônica evita o compromisso com a incredulidade comum no Pós-Modernismo. descomplicadamente. O que a compreensão irônica não absorverá é a crença de que esquemas gerais podem. refletir a verdade sobre a realidade. 216) A compreensão irônica como uma ironia mais inclusiva “O constituinte central da ironia é um alto grau de reflexão sobre nosso próprio pensamento e uma requintada sensibilidade à natureza limitada e crua dos recursos conceituais que podemos utilizar na tentativa de dar sentido ao mundo. elas podem praticar os jogos geradores e criadores que chamamos de arte.30 concebe objetividade antes como um termo útil para se referir àquelas coisas a cujo respeito é relativamente fácil se chegar ao mesmo amplo acordo intersubjetivo..” (p. 217) “O que desejo conservar na compreensão irônica é a corrosão não só da crença em que esquemas gerais refletem a verdade sobre a realidade. além de representar a realidade.] A compreensão irônica abraça a ironia do Pós-Modernismo. Isto é. [. particularmente.. mas também da crença em que eles não o podem. O filósofo tende a acreditar que esquemas gerais podem refletir a realidade e dar conta autenticamente da natureza das coisas. Isto é. 214) “Os ironistas liberais não montam teorias tanto quanto contam histórias. a ironia envolve suficiente flexibilidade mental para reconhecer como nossas mentes e as linguagens que usamos são inadequadamente flexíveis ao mundo que tentamos representar nelas. 218) .” (p...” (p.” (p.” (p. eles valorizam a imaginação mais altamente do que as habilidades intelectuais supostamente necessárias para se representar com precisão a realidade. [. de uma maneira que  atribui intenção ao olhar desse genitor. . dentro de algum esquema geral corrente. e não mais as residências exclusivas da verdade. e. e. reunidas para outros propósitos.]. conforme eles se desenvolvem sobre a fundação somática. sequencialmente... Comunicatividade: Atos miméticos costumam ser executados publicamente. 225) Compreensão Somática “A compreensão somática é o primeiro tipo na sequência e persiste em cada um dos outros tipos e também na irônica.31 “A contribuição da compreensão irônica é não deixar que se esqueça da inadequação das categorias e de suas caracterizações para a realidade que elas tentam representar.” (p.” (p. Os esquemas gerais tornamse perspectivas alternativas. ainda que a comunicação possa não ter sido o seu propósito original. assim.] A ironia. fundindo-se e acomodando-se com cada tipo subsequente de compreensão. os seres humanos sabem desviar o olhar. capacidades filosóficas podem ser utilizadas com maior flexibilidade pelos que têm compreensão irônica.” (p.. precede a mítica. 220) “O sucesso da compreensão irônica é evidente na reflexão.] é uma espécie de compreensão um tanto distinta que. Vários esquemas gerais podem ser construídos a partir de um corpo particular de conhecimento [. depois. eles podem ser prontamente adaptados para a comunicação dentro do grupo social. [. para representar um evento ou para  comunicar alguma coisa nova. com isso enriquecendo as percepções cotidianas comuns e transformando a dúvida penetrante e a negativa em possibilidade. que não só produz dúvidas e “negatividade absoluta e infinita”.” (p. melhores ou mais úteis para fins particulares do que outras. algumas. 227) “Os princípios constituintes da cultura mimética que gostaria de tomar emprestados para preencher minha caracterização de compreensão somática são assim resumidos por Donald:  Intencionalidade: Poucos meses após o nascimento.. romântico e filosófico.. mas também traz consigo os pensamentos mítico. sem capacidade filosóficas. talvez. a fim de alinhá-lo com o de um genitor. 219) “A compreensão irônica envolve remover o compromisso com a verdade simples de esquemas gerais. e a contribuição da compreensão filosófica é tentar constantemente captar o máximo de complexidade dessa realidade que é possível. Generatividade: Ações motoras podem ser divididas em componentes e. é impotente.. [. Não é o tipo de fundação metanarrativa buscada na compreensão filosófica. Constitui-se de como primeiro damos sentido com nossas percepções humanas características. têm uma compreensão do mundo. Conforme Donald destaca. permite ao usuário da linguagem irônica uma compreensão da experiência ultralinguística. 232-233) “A compreensão somática fornece à compreensão irônica algo mais além da linguagem. com que nossa linguagem pode se esforçar por ser honesta. indivíduos distintos e reconhecíveis adaptam uma linguagem comum em que são iniciados a suas necessidades individuais e distintas. e o que mais nossos corpos possam utilizar para se orientar. A partir dessa compreensão caracteristicamente humana. é a persistência somática ou cultura mimética prélinguísticas. A tensão entre a fundação somática da consciência e a superestrutural linguística irônica. nosso cérebro. e um evento real.] o desenvolvimento da linguagem não marca alguma profunda descontinuidade no desenvolvimento da personalidade individual.” (p. e emerge todos os dias nas vidas das crianças pequenas. 237-238) .” (p. Sabem distinguir prontamente entre as representações e os seus  referentes.. restritas a episódios.” (p. Em vez disso.32  Referência: Os seres humanos conseguem. Autossugestão: Atos miméticos são reproduzíveis na base de sugestões ou dicas internas. autogeradas.] crianças muito pequenas. mente e coração humanos. algo que é fundamental para toda e qualquer compreensão posterior. Objetos ilimitados: A mimese limita-se a representações concretas. usuárias da pré-linguagem. é uma “tomada” do mundo. a linguagem emergiu. flexível. ainda muito cedo. Isso permite a rememoração voluntária de representações miméticas. as várias formas de compreensão linguajada que desenvolvemos trazem vestígios distintivos dessa fonte cognitiva e cultural. uma luta de verdade. a linguagem evoluiu e continua a ser empregada. [. 229) “[.. Um elemento básico desse contexto cultural mais amplo. num contexto cultural mais amplo..” (p.. 236-237) “Os instrumentos intelectuais da compreensão somática não vão embora conforme a linguagem se desenvolve. Esta não é uma percepção “animal”. mas parece não haver limites para os episódios que podem ser  representados ou para a modalidade física de sua representação. distinguir entre a representação de um evento. para os humanos modernos. esta experiência somática nos fornece algo que está abaixo da linguagem. como uma luta fingida. num passado distante. sem a ajuda de dicas ou de “deixas” externas. das excelências humanas e do conhecimento que deveria ser inculcado num pequeno grupo de homens que deveria se tornar a elite social e política. 238) “Nossa compreensão inicial.33 Conclusão – Compreensão irônica e somática “A compreensão irônica. é somática. assim.” (p. uma reflexividade que traz consigo dúvidas penetrantes sobre as representações do mundo que podem ser articuladas em linguagem. 238) 6 Algumas implicações para o currículo Introdução “Antes de meados do século XIX. também. teóricas. A diferença entre as duas categorias está amarrada à alfabetização. ao lado disso. 285) “Os problemas de cada uma das três ideias com respeito ao currículo são bem documentadas por proponentes das outras duas. garantir aos alunos uma imagem confiável da realidade. a compreensão irônica envolve capacidades abstratas. à custa da sabedoria da compaixão e das técnicas relevantes para a pessoa se virar na sociedade. inclina-se a um provincianismo de mente estreita. a fim de preparar as massas. a escrita e a imprensa. de acordo com essa teoria.” (p. a aceitar formas contingentes da sociedade contemporânea como privilegiadas e a encarar outras sociedades e outras convenções como inferiores. a boa cidadania e o lazer satisfatório. então. e. e. mais as palavras aladas da oralidade e. exige uma expansão de nossa compassividade e de nossa sensibilidade até mesmo àqueles que parecem bem diferentes de nós.” (p. então. no grau em que forem diferentes. O currículo sociabilizante dedica atenção demais às convenções sociais atuais e. consequentemente. O currículo platônico tenta. 287) . inclina-se à superficialidade e a uma confiança mal fundamentada. as teorias ocupavam-se amplamente das virtudes morais. com enorme esforço. e. mulheres e homens para o trabalho produtivo. assim. mais as capacidades estimuladas pela alfabetização. desenvolvemos uma linguagem e uma identidade sociabilizada. em seguida formas abstratas e teóricas de expressar verdades gerais.” (p. Mas a ironia é uma estratégia geral para pôr na linguagem significados que as formas literais da linguagem não podem conter. até agora. então. Após esses meados do século XIX. nossa fundação corporal do mundo. O currículo rousseauniano é insensível quanto a até que ponto o desenvolvimento individual é uma questão social e até que ponto as habilidades intelectuais estão amarradas a um conhecimento disciplinado e. ocuparam-se em grande parte em saber que técnicas e conhecimentos eram necessários. 34 “O que farei será delinear os princípios que esta teoria gera para construir um currículo que estimulará o desenvolvimento desses tipos de compreensão. 316) . pela associação com qualidades humanas transcendentes. Estou recomendando aqui. 301) “[. significativos e atraentes. por assim dizer. linguagem e música costumam ser ensinadas como tendo uma natureza à qual a criança deve se amoldar. então.” (p.. para as restrições da realidade. o enfoque em qualidades transcendentes e em estimular o assombro. imagens geradas a parti de palavras. no sentido de Vygotsky. é uma questão de selecionar o conteúdo dentro dessas disciplinas que os instrumentos mediadores da compreensão mítica tornam acessíveis. Posso. 300) Compreensão Romântica “A caracterização da compreensão romântica identificava o envolvimento pelos extremos da experiência e limites da realidade.” (p. 288) “Matemática. um ou dois dias por semana. cada qual tendo aproximadamente um quarto de hora do tempo de aula. O sucesso educacional é. uma abordagem bem diferente. pela personalização do conhecimento e por uma racionalidade distintivamente romântica como entre suas ferramentas intelectuais constituintes. estruturas de histórias e assim por diante. medeiam a apreensão e compreensão delas pela criança.] seriam introduzidos assim como o segmento Vidas Breves. linguagem rítmica. identificar rapidamente como poderia ser o currículo desse ano. 288) Compreensão Mítica “A caracterização da compreensão mítica identificava metáforas. então. embora seu ensino cada vez mais se conformasse ao modelo romântico...” (p. Os segmentos menores [.. em apresentar os extremos da experiência e os limites do mundo natural.] alunos por volta dos oito anos de idade vivenciam um ano de transição entre a compreensão mítica e a romântica e sugeri que o currículo deles fosse projetado de forma que pudesse estimular e dar assistência a essa transição.” (p. ciência. Ao longo do currículo o enfoque será na compreensão mítica sendo trazida. como estando entre seus instrumentos intelectuais constituintes. Projetar o currículo mítico. que busca uma acomodação entre a “natureza” dessas disciplinas e os instrumentos intelectuais por meio dos quais a criança bem pequena pode emprega-las. medido em termos do grau de acomodação alcançado. Esses instrumentos.” (p. oposições abstratas e afetivas. agora. Os principais segmentos curriculares do currículo mítico ficariam em seu lugar. Herdado da tradição sociabilizante é o sendo do professor como um iniciador e modelo de desempenho cuja responsabilidade básica é guiar os alunos para as normas. então.” (p. de um modo significativo.. A concepção geral do papel adequado do professor hoje é feita de uma mistura desses três senso se superpondo. O impulsionador da compreensão filosófica é alimentado pela interação entre a teoria geral e a série de particulares que ela abre – os fatos. 327) 7 Algumas implicações para o ensino “Cada uma das três ideias educacionais antigas consideradas no primeiro capítulo implica um senso um tanto diferente no papel adequado do professor e da prática do ensino. como tal. 327) “Nosso currículo filosófico. começará a partir da dimensão teórica mais geral de qualquer área de estudo [. Herdado da tradição platônica é o senso do professor como uma autoridade em alguma área de conhecimento disciplinado. particularmente valioso por exigir ajustes a teorias aceitas e ao estimular o desenvolvimento da compreensão irônica.” (p. 331) . sem a indevida preocupação com sua localização teórica. podemos presumir que os alunos terão o âmbito da compreensão teórica bem desenvolvido. Os alunos absorverão o conteúdo na forma de posições teóricas cada vez mais sofisticadas ou a verão como anômalo e. de forma que um conhecimento novo e detalhado possa ser introduzido. e isto se aplica tanto ao mercado imobiliário quanto à biologia molecular. Conforme os anos forem passando. O produto da compreensão filosófica em qualquer área é flexibilidade e força ao lidar com particulares.35 Compreensão filosófica “Para as ciências naturais e sociais.] um currículo que começará com as teorias mais gerais e contenciosas e trabalhará a partir delas para expor.” (p.. a mistura comumente variando dependendo de se o que tem em mente são alunos primários. uma série de novos particulares concretos. eventos e experiências que a apoiam ou a contestam. os valores.]. Herdado da tradição rousseauniana é o sendo do professor como um facilitador solícito cuja responsabilidade básica é apoiar o desenvolvimento individual de cada aluno. as habilidades e o conhecimento que os permitirão se aproximar do ideal da cidadania adulta. intermediários ou secundários.. cuja responsabilidade básica é instruir e inspirar os alunos a atingirem o domínio intelectual com respeito a esse conhecimento privilegiado.. [. casualmente.].” (p. começando-se por movimentar os braços ao som de uma canção e conduzindo a dançar ou introduzindo-se rituais – regularidades de comportamento que têm significado e impõem padrões significativos oportunamente. da concentração do discurso e do conteúdo quotidiano que cerca e busca resposta das crianças. pela criança. [. 336) Compreensão mítica “A compreensão mítica aumenta o uso flexível da linguagem oral. usar todos os tipos de compreensão. suas possibilidades e propósitos. ele próprio ou ela própria. A coordenação dos sentidos em um comportamento padronizado pode ser estimulada relacionando-se. digamos.] o professor de alunos filosóficos já deve ter desenvolvido. 379) . mas em termos dos tipos de conceitos.36 Compreensão somática “O genitor pode proporcionar os estímulos mais ricos que for possível para a exploração do corpo. e podemos. 379) Compreensão irônica “O ensino irônico irá. trabalhar constantemente no sentido de alcançar precisão..” (p. passando de uma para outra conforme parecer melhor para enriquecer e aprofundar o entendimento... simplicidade e vivacidade em nossa expressão oral.” (p. após ampliar e elaborar nosso vocabulário.” (p..” (p. 350-351) Compreensão romântica “A teoria é amplamente sobre desenvolvimento da linguagem não tanto em termos de crescimento do vocabulário e sofisticação gramatical [. uma significativa compreensão irônica.] A habilidade de ensinar e a sensibilidade central consistem em apresentar o conhecimento aos alunos de uma maneira que seja muito acessível e estimulante para o entendimento deles. em desenvolvimento. 362-363) Compreensão filosófica “[. clareza... ritmos de sons com movimentos corporais.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.