Fasciculo Jucimara Rojas Jogos, Brinquedos e Brincadeiras a Linguagem Ludica Formativa Na Cultura

March 26, 2018 | Author: Karina Ribeiro | Category: Learning, Toys, Perception, Psychology & Cognitive Science, Thought


Comments



Description

JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: A LINGUAGEM LÚDICA FORMATIVA NA CULTURA DA CRIANÇAJUCIMARA ROJAS 2 3 Apresentação Jucimara Rojas Neste momento de leitura deste fascículo, me apresento a você, caro(a) aluno(a): me chamo Jucimara Rojas, nascida em Curitiba. Resido em Campo Grande/MS. Como toda criança, fui muito inventadeira e sempre quis ser professora! Ensinar e aprender, criando instantes de grande riqueza intelectual e profissional. Perseguir este universo educativo na busca da contínua formação está presente a cada passo do nosso trabalho, na qualidade de educadora. Assim, como professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado e Doutorado, alicerçamos nossas metas teóricas e formativas como: Pós-Doutora em Formação Educação e Ludicidade, pela Universidade de Aveiro–Portugal. Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre em Educação, Supervisão e Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Fortalecemos nossos achados teóricos em diversas publicações, na área educacional, em autoria de livros sobre o Ser Professor: Metodologia e Aprendizagens, Interdisciplinaridade na Ação Didática, Ludicidade e Formação na Educação de Infância. Por igual, com vários artigos publicados na Ação Lúdica da Criança e o Espaço Educativo do Brincar no Desenvolvimento Infantil. Investigadora na linha de pesquisa Educação, Psicologia e Prática Docente, pesquisadora na fenomenologia, constitui-me uma artesã no tear lúdico do fazer, do pensar e do sentir na construção criativa do conhecimento. Tenho certeza que, de alguma forma, posso contribuir para seu processo de formação docente e discente. Esse fascículo contém informações e reflexões que podem modificar sua visão de mundo concernente às práticas pedagógicas infantis. Pronto (a) para caminharmos juntos (as)? Meu e-mail é [email protected] Um prazer acompanhá-lo (a) em suas mais novas descobertas atinentes à criança e auxiliá-lo (a) neste processo! Linguagem Lúdica 2. Cultura e Formação 3. . Título.4 ROJAS. 2007. Jucimara Jogos. Campo Grande: UFMS. brinquedos e brincadeiras: a linguagem lúdica formativa na cultura da criança. Índice para Catálogo Sistemático 1. Agradecimentos à digitação e à formatação do fascículo: Graciela Mendes Nogueira – Acadêmica Curso Pedagogia .5 Dedico a todos (as) educadores (as) que ensinam e aprendem com a criança na parceria lúdica do seu encantamento.UFMS/2007 . .............A Linguagem do brincar: função lúdica..........................1 ..................... cultural e pedagógica no espaço infantil...................70 Sites sugeridos sobre a temática do brincar...................73 Sinopses dos Filmes sugeridos......................... a criança e as brincadeiras..........................Brincar: um baú de metáforas....O brincar e o reconhecimento da Infância..........................................31 Capítulo 3 .............................................................................O brincar em Linguagem.....................................................21 Capítulo 2..............................8 Capítulo 1 .........................................64 Referências...................................................................74 Lista de figuras.......68 Referências complementares sobre o brincar..............................75 ..................................................13 Capítulo 2 .................1 O jogo................6 Sumário Introdução: uma página necessária......................51 À Guisa de considerações finais.................................................44 Capítulo 3................... .7 Observe a imagem com atenção. "Jogos infantis" Obra de Pieter Bruegel. Veja-se em algum momento de sua infância e se permita descrever esse Era uma vez uma criança chamada. evidenciando 84 atividades lúdicas com mais de 250 crianças Figura 1 .. Perceba o processo lúdico. de 1560. Coloque-se à disposição da aventura de brincar. Como a água do rio Que é água sempre nova. Vamos juntos desvendar o mistério e o fascínio que seduzem qualquer criança quando brinca. desvelar caminhos. pois Poesia é brincar com as palavras como se brinca com bola. de construir e de aprender. abrir espaços para ensinar com prazer. A boneca que simbolicamente fala. papagaio. não só brincar com as palavras. Como cada dia que é sempre um novo dia. criando rodopios de fantasias que experimentam todas as formas de ser. tendo o lúdico como referência. papagaio. Só que bola.8 INTRODUÇÃO: uma página necessária. entre o aprender e o brincar? Pretendemos. pião. mas trazêlas para sua reflexão e interpretação. vamos brincar de poesia. . Vamos brincar de poesia? (José Paulo Paes) Vamos brincar e construir? Construir com o lúdico? Transitando. neste fascículo. Basta-me querer! Assim. . As palavras não: quanto mais se brinca com elas. A bola que rola correndo por caminhos. a música que soa e embala. a magia e a alegria que pode ser o brincar. mais novas ficam. Permitamo-nos brincar com o movimento que as palavras vão traçando. das experiências do pequeno Ser. ao desenrolar significados e sentidos do viver. de falar e de dizer. A pipa que voa e desenha infinitas formas no azul do céu. Pensar o processo lúdico é como pensar na construção mágica da poesia. pião. brincando e aprendendo? Vamos jogar com as palavras? No transitar entre o brincar e o aprender. . sugerindo movimentos impulsivos e ingênuos. de tanto brincar se gastam. Esmiuçar desejos. Queremos despertar no leitor o encanto. Todos os interessados na leitura como momento de reflexão teórica para uma práxis. perceptivo às palavras e aos dizeres. Trocas em experiências parcerias e e afetos.. do mundo que se revela e que se mostra. somos levados à reflexão num mergulho no que já fomos e pensamos. Procuramos permear o texto com . Vamos entrar no castelo abandonado. contextualizando-os. percorrer outras estradas. Dê-me a sua mão – precisamos traçar novos caminhos. Brinque com as letras soltas. revelar momentos que perpassam pela observação do sentido. Bordando-as. saltar palavra por palavra. Entremear por entre as árvores. É hora de brincar de aprender e. Vamos correr. cujos segredos e mistérios seduzem e sugerem novas descobertas. costurando-as. contínuas e quebradas. passar por veredas. e só tem sentido em uma ciranda que corre e que gira. doar-se. presenças.. alicerçada nos encaminhamentos da aprendizagem infantil. Sentir a essência viva e profunda da vibração cromática. formando linhas sinuosas. juntas e separadas. a intenção. Assim. A atenção nos permite ousar. curioso. sem parar. trazer à memória fatos e experiências. Interprete os autores e desvende as teorias. assim. coloridas. do vivido. Brinque com linhas retas e curvas. Um momento de faz-de-conta para lembrar. Reconstrua conceitos e pense concepções. Estar atento.. transformando Generosidades sabores em em saberes. É hora de aprender e de ensinar de mãos dadas. a ser.. Vamos interagir em uma brincadeira de encanto e que magicamente nos ensine a conhecer. a criar. abrindo a roda com cirandas diferenciadas. entrelaçadas por criativas linguagens e imagens que soam dos mistérios das palavras. interessantes. Desvele as frases. os dizeres e os pensares. Construções significativas.9 porque educar é estar com. É preciso carregar de atenção. para descortinar pensamentos e sentimentos. Voar no arco-íris do conhecimento.. A reflexão nos transporta para o mundo encantado e imaginário da criança... Entrelaçamentos. pular. Nesta roda de contínua construção é que nos dirigimos a todos os educadores que estão envolvidos com a criança.. mergulhar em cada uma de suas cores. conquistar espaços. Aprendizado. Forma de chamar a atenção do leitor para algumas curiosidades que julgamos interessantes. fazer com outros autores um exercício de pesquisa. suas peculiaridades em pontos objetivos e de fácil entendimento na mostra das parcerias utilizadas para a construção do fascículo. Uma biografia ludicamente apresentada que aparece no início da leitura para propiciar ao leitor importantes descobertas. durante o período de estudo. com auxílio a futuras pesquisas. evidenciamos os textos. Ao construirmos essas “chamadas”. Seção 1 pretende contar uma pequena história sobre cada autor. axiológico e interpretativo. priorizando e destacando. explicativas.A palavra Ser com maiúsculo. Destarte. Porém fazemos uma complementação do referencial. momento de reflexão para o leitor . pensamo-las como uma parada reflexiva.10 pontos interessantes que nos fazem pensar. com diversos outros autores na bibliografia. Os ícones _ livro. certamente. Trazemos o pensar e as construções teóricas com base em experiências relevantes e pesquisas atuais sobre o brincar. interdisciplinar. referenciamos e destacamos três seções interativas: seção 1: Era uma vez. contextualizando situações características. no aspecto dialógico. Este exercitar é um descortinar de conhecimentos que favorecem a formação do sujeito aprendiz. partes do fascículo. lápis _. estilo próprio. ao lado de cada seção. como destaque do sentido ontológico no processo. Nessas seções chamadas interativas. considerada a ludicidade em criação espontânea à qual conduz a um aprendizado.. exploratórias. Escolhemos um autor básico para que o leitor possa. argumentativas e complementares numa intermediação lúdica. destacam e representam imagens ilustrativas de caráter atentivo e observacional. Dividimos em oito partes esse estudo. determinado autor no argumento da idéia. em cada parte. A chamada Era uma vez.. Nos capítulos.. Seção 2: Riscos e rabiscos. tal enfoque orienta a estrutura dos textos. dialogando com o leitor. entrelaçando informações... seção 3: Sapeando e contextualizando. Procuramos mostrar a relação do autor com sua obra. lupa. trocando idéias e pontos de vista de caráter dialógico no ir-e-vir interativo com o leitor. em que contextualizar. tendo o brincar como inter-mediador. apresenta os seguintes capítulos: Capítulo 1-O brincar e o reconhecimento da infância. mostra o sentido de infância na história e como os jogos. encantamento e fantasia. Sapeando e contextualizando. jogos. curiosidades. Entre na roda! Pois é no rodar da roda que se sente a importância de elaborar algo.11 conhecer o autor selecionado. Brinquedos e Brincadeiras: a linguagem lúdica formativa na cultura da criança. idéias. Enfim. Colocar as mãos na massa. criar. compondo um todo ordenado. Então vamos fazer. Permita construir um conhecimento com base na ludicidade. quer sejam autores. de magia. diga sim! Faça de cada “chamada” um sentido de interatividade! Faça a sua ciranda. Estamos convidando você para brincar na parceria com outros sujeitos. poesias. na construção textual. fazer parte de instantes de uma aguda observação. Participar juntos na construção dos momentos ricos de brincadeiras. Uma ciranda criativa e interessante. brincando? Libere o lúdico que existe em você! O fascículo sobre Jogos. pensamentos e ações. alguns detalhes tendentes a propiciar desde que possível. Na seção 2. Caro (a) aluno (a). elaborar e re-significar a construção do conhecimento sejam o participar e o demonstrar da praticidade de ação. entrando na ciranda lúdica das ricas elaborações empreendidas por esses pares teóricos escolhidos. um aprender ocasional e/ou histórico. fundamentações e parcerias. a confecção de toda a peça e que facilitam a construção do todo. leitores e/ou crianças que possam sugerir à nossa imaginação um brincar coletivo. Fazer a interação lúdica de uma ação que se faz entre pares. procuramos trazer ao leitor informações. como se fossem uma colcha de retalhos numa composição de emoções. queremos convidá-lo para interagir em atividades reflexivas. bem como epistemológico. Entrar na roda e conosco formar uma grande espiral de idéias. músicas. Podemos metaforicamente compará-los a pequenos retalhos coloridos e chamativos que viabilizam compreender o feito. Quando chamamos a atenção do leitor na seção 3. Riscos e rabiscos. brinquedos e brincadeiras se constituem nessa . numa interação interdisciplinar em atitudes. com o estudo realizado. Capítulo 2-O brincar em linguagem. evidenciando o caráter imaginário e as emoções da criança na ação espontânea. por meio do sentido de jogar. dizendo ao sujeito aprendiz que alguma coisa está em jogo. apresenta pequena síntese retrospectiva dos capítulos que perfazem o fascículo. se podem estabelecer evidentes culturas. a descoberta. na poesia. diz do sentido mediador do brincar. na criatividade. dado que. do brinquedo e da brincadeira. cultural e pedagógica no espaço infantil pontua uma cultura lúdica nos efeitos de sentido do Ser. brinquedo ou jogo. na arte. com a intenção de sugerir a atividade reflexiva principal: a escrita de pequeno artigo que relate a experiência vivida. de sua vez. .A linguagem do brincar: função lúdica. deixando evidente a importância da metáfora em cada brincadeira. O jogo é um elemento que favorece a aprendizagem porque encerra a busca. em sua socialização. À guisa de considerações finais. Capítulo 3 . era tratada como adulto. instiga.12 história. Percebemos que a criança tem pouco período para aproveitar sua fantasia. dando ênfase à questão do jogo e a algumas características: demonstram que. Culturas essas expressadas no jogo. em algum momento de sua prática. bem como as etapas de seu desenvolvimento.. Igualmente. Percebemos. A infância até então era desconsiderada nas suas especificidades. não era assegurada nem controlada pela família. A aprendizagem infantil era advinda da convivência da criança com o adulto. como eram suas . seguindo um comportamento histórico e tendo como ponto de partida uma questão presente. Suas necessidades. ao considerar a infância como etapa importante na vida do ser humano. para uma compreensão maior da questão da infância. Áries procura investigar a história social da criança e da família. como ele mesmo diz. não recebendo a devida importância. a família. no sentido de voltar ao passado. A socialização da criança. nas suas pesquisas. A criança pequena se transformava. e que se propõe a excitar constantemente essa curiosidade. preocupações relacionadas com o desenvolvimento e com o futuro do pequeno Ser são evidentes. eram ignoradas. para buscar a origem das coisas. tais relações passam a conquistar um espaço na família e na sociedade. Logo. garantindo assim sua educação. era muito breve e insignificante. mesmo no aspecto legal.13 Capítulo 1 . Ariès (1960).. nesse tom.O brincar e o reconhecimento da infância ERA UMA VEZ. Figura 2 Os estudos de Ariès (1960) evidenciam que o sentimento sobre a infância começa a surgir lentamente na sociedade Ocidental entre os séculos XIII e XVII. mostra que muitos historiadores reconhecem a indiferença que persistiu até muito tarde com relação às crianças. assim como as transmissões dos valores e dos conhecimentos. a juventude. na família e na sociedade. partilhava de seus trabalhos e jogos. pode-se imaginar como era a vida da criança no início do século XVII.Um historiador chamado Philippe Ariès que caminha pelo mundo da curiosidade. Por meio dos documentos consultados por Ariès (1960). que a infância era uma espécie de anonimato e que a presença da criança. imediatamente. aspectos essenciais na sociedade atual. que o auxiliava em seus afazeres. após debates contemporâneos sobre a criança. A criança era logo misturada aos adultos. em homem adulto. Assim. sem passar pelas etapas da juventude. Mais recentemente. o cata-vento.. Ariès (1960) reconhece alguns brinquedos que percorreram longo caminho. nessa fase. RISCOS E RABISCOS. pássaro amarrado. reservados às crianças.. e as brincadeiras e os jogos dos adultos. que a idade de sete anos marca uma etapa importante: a idade. valendo-se dos avanços tecnológicos da indústria. .14 brincadeiras e a que etapas de seu desenvolvimento físico e mental cada uma delas correspondia. uma espécie de vestido. porém quase desapareceram nos dias de hoje. de louça ou pano. p. que no início do século XVII não existia uma separação tão rigorosa como hoje entre as brincadeiras e os jogos. Como parte desse mundo chamado de primeira infância. não existia muita discriminação entre meninos e meninas. e a boneca que outrora era feita de palha. Ainda. Uma infância diferenciada das demais crianças. Ele destaca que. o pião. Ariès relata pequenos trechos da infância de um jovem chamado Luís XIII. Figura 3 Ariès (1960) aponta que.88). por volta de ano de 1600. Esse autor observa. a maior parte dos jogos eram os mesmos destinados aos adultos: “Parece. como o cavalo-de-pau. visto que este jovem recebeu uma educação pautada pelos princípios da nobreza.. Os mesmos eram comuns a ambos”.. Uma curiosidade. atualmente vestem-se de novas roupagens. As pesquisas de Ariès evidenciam que com relação aos jogos e brincadeiras das crianças. a especialização das brincadeiras pertencia à primeira infância. e com significados religiosos. que ambos os sexos usavam o mesmo traje. portanto. nesse período da história do Ser. com inovações constantes dentro do universo de consumo. que para nós é a pipa. um menino nobre nascido na França. o pássaro-preso por um cordão e a boneca. no entanto. Algumas bem artesanais. geralmente fixada pela literatura moralista e pedagógica deste século. para a criança entrar na escola ou começar a trabalhar. (1960. Seu médico Heroard deixa um registro minucioso de todos os seus feitos e graças a que Ariès tem acesso. e que a brincadeira com bonecas era comum a meninos e meninas. o passarinho que voa. com a fantasia e o faz-de-conta que envolviam o Ser criança. brincando com cavalo-de-pau. muito em moda no fim da Idade Média. o jogo do assobio.. no cotidiano infantil. a dança. Jogos comuns aos de hoje eram os de mímica e de salão. cabra-cega. ensaiando já algumas notas. o homem que não ri. Também a música. direcionava para romper com o aspecto lúdico. com um ano e meio. Uma brincadeira ou jogo de salão que consistia em adivinhar as profissões e as histórias representadas por mímica. as adivinhas. cata-vento e pião. o canto e o brinquedo com balanços ocupavam um lugar de destaque. como o arco. uma espécie de adivinha com rimas que dão origem à canção popular e às brincadeiras infantis. cartas e xadrez. por exemplo. Ainda mais curioso: vamos imaginar o pequeno Luís XIII. entre eles a cabra-cega. possa ser uma idéia: um jogo de papeizinhos. lá no século XVII. . o cavalheiro gentil. brincadeiras de pegar e o jogo de peteca com raquetes. A música. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. naquela época.. a berlinda. o rabugento. o beijo embaixo do castiçal e o berço do amor. Participava dos jogos dos adultos. como o próprio jogo das rimas.. a criança já praticava alguns jogos e brincadeiras. esconde-esconde. o pote do amor. o esconde-esconde. Pesquise e apresente. para nós professores. como raquete e inúmeros jogos de salão. Figura 4 Ariès (1973) registra o que talvez. Ariès (1960) complementa que. Atividades para você fazer: é interessante que o professor resgate os jogos tradicionais. na sociedade antiga. pondo-se a imitar os adultos. as trava-línguas que servem de momentos lúdicos em que a criança tanto se diverte como aprende brincando. um oque-é-o-que-é em algum momento de sua prática. E logo ganha um violino.. Mesmo os adultos e os jovens que já haviam deixado a infância não abandonam inteiramente os jogos. o homem-que-não-ri.15 RISCOS E RABISCOS. a berlinda. a faca na bacia com água. propiciar um encontro significativo da criança com o lúdico. Brincava também de cortar papel com a tesoura. . destinam-se tanto às crianças. então. entendido como a representação simbólica das possibilidades do viver. Existia também a moda dos contos de fada no fim do século XVII. a criança deixa de lado esses brinquedos. com todos os outros membros da sociedade. essas histórias. evidenciada pela entrada na escola. assim. A importância do período lúdico na formação do pequeno Ser. Como educadores. Tanto a criança como o jovem participam. Pautamos. A criança desempenha um dos papéis essenciais previstos pela tradição. Além da música e da dança. quanto aos adultos.16 RISCOS E RABISCOS.. pois a boneca não se destinava apenas às meninas. por um momento de reflexão teórica sobre o brincar. Brincava de bater palmas e de esconder. em situação de igualdade. Por volta dos sete anos. Ariès (1973) constata a participação ativa das crianças nas cerimônias tradicionais. as brincadeiras e os divertimentos formam um dos principais meios para estreitar laços e manter a sociedade unida. pretendemos cada vez mais ampliar os espaços do conhecimento e do trabalho pedagógico e. neste período da existência do pequeno Ser. para começar uma etapa importante na sua vida. percebemos que na sociedade antiga os jogos. O costume rezava que as graças fossem ditas por uma das crianças mais novas e que o serviço da mesa fosse feito pela totalidade das crianças presentes. no entanto. as representações dramáticas reúnem toda a coletividade e misturam as idades tanto dos atores quanto dos espectadores. E aos três anos.. recitações orais e contos de fada. divertia-se com o jogo de rimas. destinados à primeira infância. considerado adulto em miniatura. Nova curiosidade: registrar que o nosso pequeno Luís XIII também brincava com bonecas. Dessa maneira. porém que há uma ruptura na ludicidade tão significativa. no meio da coletividade reunida. . Na recuperação do lúdico.. a criança está perdendo sua capacidade de brincar. seu Ser.17 Neste momento. Entretanto. Que tal pedir que a criança pergunte aos avós sobre os brinquedos da antiguidade e reinventá-los. sobre o outro. e o educador (a) não pode perder isso de vista. podemos evidenciar muitos pensares e falares que alimentam. examina e compara os pensamentos na busca teórica.criança com brinquedo-. É uma linguagem de interação que possibilita descobertas e conhecimentos sobre si mesma. com o acelerado processo de mudanças em nosso mundo e uma civilização cada vez mais técnica. como prática permanente no cotidiano de sala de aula. denominado de reflexão teórica. tendo como centro a criança. Acreditamos que o brincar é o primeiro experimentar do mundo que se realiza na vida da criança. de incorporar e de interpretar os ditos e feitos de nossos autores. sua vida. revelando maior significado ao aprender. Tempo de refletir.criando com a criança? Vamos tentar pensar reflexivamente sobre essa construção. seu mundo. para redescobrir e re-direcionar os caminhos pedagógicos. do pensar e do refletir sobre a ludicidade. como comunicação do humano. da leitura e da compreensão. praticando uma cultura lúdica?Faça essa interatividade e trabalhe toda essa parte do fascículo . Este é o tempo presente. a vida da criança em novas construções. de observar. qualitativamente. sobre o mundo que a rodeia. Atividade para você fazer. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. suas ações. A ludicidade é a manifestação da espontaneidade por meio da fala e dos gestos que a criança expressa de forma prazerosa. A originalidade deste momento do brincar está cedendo lugar a um mundo . A criança fala e interage em todas as suas ações. na Educação de Infância. Por meio da ludicidade. com a história contada e os brinquedos vividos pelos avós:a presença da avó ou avô na escola. ao estruturar as propostas que visam ao trabalho educativo com a infância. abrem-se as oportunidades em pequenos espaços de tempo para a atividade do Ser que reflete. ajuda a criança a afirmar-se como pessoa e a externar sentimentos e pensamentos”. chegam a ter uma ação direta sobre a formação e sobre a estruturação do pensamento da criança. 2000. Tal mundo é apreendido pela imitação e fixado na criança pelo brincar. (OLIVEIRA. representando-o. por exemplo. acordam. “Dramatizar o vivido. com o próprio corpinho e com a mãe. com a qual se identifica. (OLIVEIRA. despertam e vivem forças de fantasias que. pois. tendo o seu ápice na vivência. O espírito lúdico da convivência prazerosa e criativa que vinha sendo praticamente desenvolvido desde o nascimento. momentos em que ocorre a repetição de fatos corriqueiros da vida diária. p.22) O brincar infantil não pode ser considerado apenas uma brincadeira superficial. por sua vez. e depois no faz-de-conta solitário.18 centrado nos caminhos mecanizados e cada vez mais informatizados que levam o humano a se robotizar. no pensar e no agir. no brincar com uma boneca. “como um Eu”. encontra sua expressão mais profunda. que a criança tem de si mesma. 2000. entre pares. Esse processo natural e sadio de se processar a inteligência não é possível. no verdadeiro e profundo brincar. p. agora transversal. É evidente que o mundo humano tem mais significados no brincar da criança. passa pouco a pouco a fazer parte do universo social. com sua complicada trama de relações.19) Figura 5 . muitas vezes ainda implícitos e velados. quando as crianças não realizam ou não conseguem mais o verdadeiro brincar. suas regras e acordos. sem nenhum valor. Vivência que muitas vezes. assim. às construções simbólicas próprias da criança. adultos. como um excelente meio de reconhecimento individual e grupal de características pessoais e grupais. dirigindo e desencantando esses movimentos. A fantasia infantil necessita de liberdade para poder desenvolver pelo manuseio ativo e curioso do material que a criança tem oportunidade de vivenciar no mundo. e que não atendem às necessidades de descoberta da criança. Tais posturas desencadeiam no prazer original do brincar a timidez. Uma situação lúdica pode ser vista. A criança sente um choque quando. Todo educador precisa estar consciente dos malefícios dos brinquedos industriais. sem interferência. a imaginar. gerando comportamentos distorcidos que criam as raízes das atitudes inadequadas na criança. A maioria deles se apresenta de tal forma que a força da fantasia da criança não encontra alimento para dar vazão à imaginação. Por . para as crianças.19 O brincar infantil constitui a forma básica mais importante e decisiva do ser humano. bruscamente. morais ou intelectuais em suas múltiplas combinações. quer sociais. estamos sempre exigindo ordem e limpeza. qualidades muito valorizadas numa sociedade progressiva. de gosto pouco duvidoso. pois não há nada a completar. a projetar sobre esses brinquedos. Nós. Figura 6 Precisamos ouvir e ver o que se expressa no brincar infantil. as formas e a qualidade de tudo que existe. que. por meio de um comportamento severo do adulto. são como limites impostos a seu brincar. por fazer desabrocharem e ativarem as forças criativas da criança. empurrada para a realidade do mundo adulto. a insegurança e o medo. é arrancada do rico mundo da fantasia e sonho e. produzidos em série. 20 outro lado. p. Atualmente. falando a linguagem da criança. aponta dificuldades e pontos mal desenvolvidos. princípios e regras. Figura 7 Não podemos transferir para o mundo infantil nosso pensar intelectual utilitarista. é o que de melhor e mais precioso uma criança pode levar consigo para sua vida futura. de forma complementar. você faz com que o brincar seja a mediação no aprender. até mesmo para recuperarmos semelhanças e diferenças com o mundo contemporâneo em um entendimento. realizando uma exposição deles em sala de aula. do mundo infantil. Como sugestão: peça que a criança um brinquedo e aproveite cada brinquedo trazido para que ela conte a história deste brinquedo na roda da rotina.23) É nesse sentido que o educador (a) deve valorizar o brincar da criança. 2000. Assim. precocemente adulto na criança. cada vez maior. certamente. levando a criança a buscar melhorá-los para preservar sua imagem perante os outros. ao menos nos primeiros sete anos de vida. se transforme em conseqüências desastrosas para sua vida futura.faça uma pesquisa sobre alguns brinquedos de época. Assim. pois provocaremos na criança comportamento desumano. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO: uma atividade reflexiva . Basta um pequeno passo para que esse comportamento. (OLIVEIRA. é no brincar livre que a criança vai estruturar sua capacidade de julgamento. Oportuno nos reportarmos à sociedade antiga para compreendermos como era o mundo do brincar em tão longínquo passado. . a capacidade de fundamentar sua personalidade em importantes valores. a prática lúdica na infância num lar harmonioso. também. Ao fazer isso. o educador assegura a possibilidade de garantir as intervenções necessárias no processo de mediação. Insere a afetividade. A mágica. Vygotsky enfatiza a questão do ensino. Vygotsky (1991) nos evidencia as características infantis. elaborada historicamente pelas gerações precedentes. mais conhecido por Vygotsky. que envolvem sentidos e significados o mundo. Esse processo é responsável pela aquisição da cultura. o sonho e a fantasia eclodem no imaginário infantil e são traduzidos pelos movimentos. Associou psicologia experimental com neurologia e fisiologia. Assim. Acrescenta-se então a emoção como fator determinante no processo de mediação no ensino-aprendizagem. ao analisar as ações docentes. como ponto essencial. raciocina. ERA UMA VEZ um psicólogo russo chamado Lev Semenovick Vygotsky. deve assumir uma . morou e viveu na Rússia. diante das capacidades intelectuais. Foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos quais a cultura se torna parte da natureza de cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas são produto de atividade cerebral. sobre o mundo que está à sua volta. e conseguiu explicar a transformação dos processos psicológicos elementares em processos complexos dentro da história. revelando novo educador. ao relacionar a dialética aos processos de construção do pensamento. afetivas e emocionais são construídas ao longo da vida do indivíduo pelo processo de interação do Ser com o meio.21 CAPÏTULO 2 – O brincar em linguagem. ao apontar a importância da linguagem e da percepção. se emociona. imagina e se sensibiliza. desde a gênese da espécie até nossos dias. visto pela criança. sobretudo. Isto significa que o professor precisa lançar novo “olhar” sobre suas ações e. pelos gestos espontaneamente revelados em ações ingênuas e até involuntárias. Nasceu em 1896. deduz e abstrai.. na aprendizagem da criança. afetivas e emocionais do aprendiz. É evidente que essa aquisição passa necessariamente pela escola. entendemos que todas as capacidades intelectuais. deseja. Esse “olhar” pode incorporar as novas interpretações.. mas também como alguém que sente. que deve valorizar a criança como Ser que pensa. Primeiro. trabalhar com a importância do meio cultural e das relações entre indivíduos.. ou não. Observamos que. mas intervencionista e. ou melhor. Ela é parte de um sistema dinâmico . Para a criança.. é caracterizada pelas ações dos indivíduos. social. construir sua autonomia. assim. resgatando o Ser criança com toda a criatividade. seja ela qual for. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. Constituem fatores que podem determinar uma forma de construir conceitos. a emoção é um dos elementos constituintes da atividade mediadora de ações e operações. É importante preparar um canto especial. afetivas e. Na educação dos pequenos. a atividade de ensinar e de aprender é desencadeada pelos motivos que podem ser compreensíveis e eficazes. Tais atividades funcionam como instantes que marcam emocionalmente a criança. que assegure esse brincar espontâneo e.22 postura não diretiva. a linguagem e percepção estão intimamente ligadas. na sala de aula. estejam estas intrínsecas na educação formal ou não. Assim como o motivo. ao mesmo tempo.. a fim de orientar o percurso do desenvolvimento. vivências. Portanto. E que um aspecto especial da percepção humana – que surge em idade muito precoce – é a percepção de objetos reais. possibilitando o expressar infantil no faz-de-conta e nas atividades livres. de elaboração de abordagens. A atividade. São processos conscientes. Sugestão de uma atividade reflexiva.. sobretudo. o educando deve ser ativo no processo de construção e elaboração dos conceitos e significados que são transmitidos culturalmente. realizando todas as questões emocionais. é imprescindível que o educador volte o olhar para essas “marcas emocionais” de modo a dar sentido ao aprender. considerando a mediação entre o indivíduo e o mundo real. sendo eles significativos. porém somente os motivos realmente eficazes se concretizam em ações. A ação do indivíduo se guia por sinais. sensibilidade e percepção que lhe são próprias. Faça o seu canto. na criança. a casinha de bonecas é um reino encantado cheio de magias em que ela tem a oportunidade de brincar simbolicamente. marcas emocionais de acontecimentos e símbolos. 23 de comportamento; por isso, a relação entre as transformações dos processos perceptivos e as que ocorrem em outras atividades intelectuais são de fundamental importância. Com base nesse pensamento, Vygotsky entende que “o mundo não é visto simplesmente com cor e forma, mas também como um mundo com sentido e significado”. (1991, p. 37) A aprendizagem, criando o que Vygotsky (1991) denominou de "zona de desenvolvimento proximal", desperta vários processos internos capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente, e quando em cooperação com seus companheiros. Para Vygotsky (1991), as experiências infantis ganham sentido e significado nas interações sociais, em que estabelecem trocas importantes de convívio, que auxiliam no despertar psicológico da criança. Os mundos, plenos de sentidos e significados, além de intensamente coloridos, com variadas formas, objetos e pessoas, influenciam diretamente a vida da criança, instalando em seu ser desejos, fantasias sonhos. E é no início da idade pré-escolar, quando surgem os desejos que não podem ser imediatamente satisfeitos ou esquecidos, que o comportamento da criança muda. Para resolver essa tensão, a criança em idade pré-escolar se envolve num mundo ilusório e imaginário em que os desejos não realizáveis podem ser realizados. O mundo dos brinquedos. A imaginação é um processo psicológico novo para a criança; representa uma forma especificamente humana de atividade consciente: ela não está presente na consciência da criança muito pequena e está totalmente ausente em animais. Como todas as funções da consciência, ela surge originalmente da ação. É um caminho de realização que a criança encontra para resolver seus conflitos. Além da realização dos seus desejos, a criança passa a internalizar situações que a levam a comportamentos desejados pelo meio em que vive. Vygotsky (1991) insiste que, nesse sentido, o brincar vem, em todos seus aspectos, atender a esses apelos da consciência infantil, visto que não existe brinquedo sem regras. A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a 24 priori. A criança se imagina como mãe e a boneca como criança. Dessa forma, deve obedecer às regras do comportamento maternal. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO... Crie o cenário e deixe fluir a atividade. Professor, valorize o momento da dramatização na sala de aula, pois ele é de plena expressividade da criança. É quando exprime sentimentos simbolicamente imaginados. Cria e recria situações, re-significando o real, inventando um mundo próprio. As dramatizações podem se realizar a partir de brinquedos e brincadeiras, histórias, contos, músicas, poesias, textos informativos, filmes, etc. Realize uma atividade por semana, nesse sentido, em seu ambiente de ação. Pelo pensar do autor, o brinquedo tem sua estrutura baseada nas situações imaginárias e nas regras. Sempre que há uma situação imaginária no brinquedo, há regras – não as estabelecidas para a realização do jogo e que mudam durante ele, mas aquelas que têm sua origem na própria situação imaginária. Portanto, a noção de que uma criança pode se comportar em uma situação imaginária e sem regras é simplesmente incorreta. A situação imaginária proporciona caminhos que a criança percorre, com seqüências de situações que até, inconscientemente, procura atender e avançar cada vez mais. Logo, como toda situação imaginária contém regras de uma forma oculta, também ocorre ao contrário – todo jogo, com regras, contém de forma oculta uma situação imaginária. O desenvolvimento, a partir de jogos e brincadeiras, em que há uma situação imaginária às claras e regras ocultas, para jogos com regras, delineia a evolução do brinquedo da criança. Esses momentos são concomitantes na realização do brincar e favorecem o processo de aprendizagem infantil. Para Vygotsky (1991), é enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança. Pois, com menos de três anos de idade, é essencialmente impossível envolver-se em uma situação imaginária, uma vez que isso implica uma forma nova de comportamento que liberta a criança das restrições impostas pelo ambiente imediato. Mas a ação numa situação imaginária ensina à criança dirigir seu comportamento não somente pela percepção imediata dos objetos, ou pela situação que a afeta de imediato, mas também pelo significado dessa situação. 25 SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO... Vamos fazer, pensar e construir com sucatas. O professor tem nessa fonte inúmeras possibilidades para auxiliar o desenvolvimento da criança em que surgem situações de aprendizagem. A criança dá vida às suas fantasias e sonhos, colocando à mostra seu imaginário, sua capacidade e potencial criativo.É interessante construir projetos que envolvam sucatas. Na sua finalização, pode ser feita uma exposição das peças. Ex: Construção de bonecos com garrafas pet, para evidenciar os vieses de raças e/ou gênero. Figura 8 Observações do dia-a-dia e experimentos mostram, claramente, que é impossível para uma criança, notadamente as pequeninas, separar o campo do significado do campo da percepção visual. Mais que tudo porque há uma fusão muito íntima entre o significado e o que é visto. Nesse sentido, o brinquedo auxilia o desenvolvimento, fazendo com que, pouco a pouco, a criança comece a distinguir os significados dos objetos reais; sua percepção evolui a partir das experiências que o próprio brinquedo proporciona, ampliando seu imaginário. (VYGOTSKY, 1991) A estruturação do pensamento ocorre na idade pré-escolar, em que pela primeira vez há uma divergência entre os campos do significado e da visão. No brinquedo, o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das idéias e não das coisas: um pedaço de madeira torna-se um boneco e um cabo de vassoura torna-se um cavalo. ela inclui. de forma espontânea e até mesmo inconsciente. uma vez que. p. Da mesma forma que ela não sabe que está usando a linguagem em prosa e. uma contradição muito interessante surge. emocionais. que pode ser totalmente desvinculado de situações reais”. de forma espontânea. Se bem que assim. No brinquedo. no entanto. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva. também. não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos. que a criança use sua capacidade de separar o significado do objeto sem saber que o está fazendo. sem prestar atenção às palavras. A criança não realiza esta transformação de uma só vez. sejam sociais. ações e objetos reais.26 A ação regida por regras começa a ser determinada pelas idéias não pelos objetos. é o ponto de partida para o desenvolvimento de suas capacidades. O brincar permite. sejam afetivos. é o mundo ilusório e imaginário em que os desejos não realizáveis podem ser realizados. no brinquedo. Dessa forma. por meio do brinquedo. Por conta da satisfação e do . a criança utiliza os elementos mais significativos para ela no momento. A ação da criança. real e imediata. O brinquedo auxilia nesse processo em que a criança. e representa tamanha inversão da relação da criança com a situação concreta. (VYGOTSKY. Na situação imaginária. dependendo das motivações e tendências internas. caracterizando a natureza de transição da atividade do brinquedo: “é um estágio entre as restrições puramente situacionais da primeira infância e o pensamento adulto. que é difícil subestimar seu pleno significado. aprende a seguir as regras.112) O brinquedo. porque lhe é extremamente difícil separar o pensamento (o significado de uma palavra) dos objetos. segundo o autor. a criança atinge uma definição funcional de conceitos e objetos e. as palavras passam a se tornar parte de algo concreto. a criança tem a oportunidade de se fazer autônoma. 1991. a criança opera com significados desligados dos objetos e ações aos quais estão habitualmente vinculados. no momento do brincar. e não numa esfera visual externa. assim. fala. ante às situações e restrições impostas pelo mundo que a cerca. Ao brincar. com iniciativa própria. ela aprende a seguir os caminhos mais difíceis. O segundo é que. Quando a situação mostra a novidade. é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais. além do seu comportamento diário. as transformações internas no desenvolvimento da criança surgem em conseqüência do brinquedo. o sujeito pensa criativamente e mostra a mistura integrada da ciência. o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento. 1991. Vygotsky (1991) tenta demonstrar o significado da mudança que ocorre no desenvolvimento do próprio brinquedo. no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. p. uma vez que a sujeição a regras e a renúncia à ação impulsiva constitui o caminho para o prazer no brinquedo. pelo contrário.27 prazer que encontra no brincar. ao mesmo tempo. Assim. Como no foco de uma lente de aumento. cada vez mais descobrir-se. O primeiro paradoxo contido no brinquedo é que a criança opera com um significado alienado em uma situação real. da técnica.113) Sabemos que o brinquedo não é um aspecto predominante da infância. no brincar. da arte. ele mesmo. No entanto. No brinquedo. a criança internaliza comportamentos que geram as transformações necessárias a seu desenvolvimento. sendo. Brincar é coisa séria! A construção do conhecimento com o brinquedo é uma dialógica com a própria realidade. criativo e resiliente. O comportamento espontâneo da criança não pode levá-la à subordinação às regras de maneira natural. renunciando ao que ela quer. 1991. por conseguinte. a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade. (VYGOTSKY. no brinquedo. de uma predominância de situações imaginárias para a predominância de regras. a criança segue o caminho do menor esforço – ela faz o que mais gosta de fazer.(ROJAS..46) . porque o brinquedo está unido ao prazer – e. p.2004. subordinando-se às regras e. uma grande fonte de desenvolvimento (VYGOTSKY. O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. Sob forma condensada.. afetivo. mas é um fator muito importante no desenvolvimento. considerado como atividade própria da infância. de modo sensível. tem a possibilidade de. p. Esse percurso favorece mudanças que levam a novos comportamentos.117) RISCOS E RABISCOS. ampliando seus limites: A criação de uma situação imaginária não é algo fortuito na vida da criança. A Amarelinha (ou Pular Macaca.. passa a ter noção das situações reais e dos objetos a seu redor. Somente nesse sentido o brinquedo pode ser considerado uma atividade condutora que determina o desenvolvimento da criança. e ela age de acordo com eles. em um pé só até chegar no céu. favorecendo aprendizagens ao longo do seu crescimento. Ao desenvolver suas potencialidades. apesar de a relação brinquedo-desenvolvimento poder ser comparada à relação instrução-desenvolvimento.. A criança começa a ter domínio de suas vontades. levando-a a desenvolver-se: A ação na esfera imaginativa.170) À medida que o brinquedo se desenvolve. jogar ou saltar a macaca. Boa para comentar e realizar. Às vezes. De ações involuntárias. de fato. tomando decisões nas situações conflituosas. avião. sapata. O brinquedo se torna desafio que estimula novas descobertas. no m ais alto nível de desenvolvimento pré-escolar. a criança é livre para determinar suas próprias ações. p. como é visto em Portugal) é uma brincadeira muito antiga. subordinadas aos significados dos objetos.28 Notamos que. direciona seu pensar de maneira cada vez mais equilibrada. observamos um movimento em direção à realização consciente de seu propósito. no brinquedo. através da atividade brinquedo. a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações volitivas – tudo aparece no brinquedo. O brincar intensifica a percepção infantil que. pois suas ações são. (VYGOTSKY. Movimento livre que permite à criança ficar absorvida do objeto brincado. a conhecer-se e a relacionar-se com o mundo à sua volta. numa situação imaginária. a criança aprende a interagir. o brinquedo fornece ampla estrutura básica para as mudanças das necessidades e da consciência. essencialmente. Uma nova curiosidade. maré. A criança desenvolve-se. RISCOS E RABISCOS. é uma liberdade ilusória... 1991. que se constitui assim. De um em um. vencendo suas dificuldades. . por sua vez. em outra. É necessário conceber o brinquedo como atividade com propósitos que direciona as ações da criança. fazendo parte do folclore. É conhecida por diversos nomes: além de Amarelinha e Pular Macaca. apesar de não ser o aspecto predominante da infância. É preciso também levar em conta cada faixa de idade. exerce enorme influência no desenvolvimento infantil. brincar de polícia e ladrão. No entanto. aliás. etc). num sentido amplo. Tal fato se explica pela importância dessas brincadeiras nas crianças que aprendem a falar e que. portanto. a característica que . Vygotsky. pela qual podemos reconhecer o valor do brincar nas atividades educativas da criança. do ponto de vista do desenvolvimento. de médico. com suas especificidades. Ele considera o brinquedo. já são capazes de representar simbolicamente. pois o brinquedo. refere-se principalmente à atividade. Esta é. ao empregar o termo “brinquedo”.29 Figura 9 A ação intencional do educador (a) deve estar voltada para os objetivos pedagógicos do brincar. é necessário ressaltar também que. envolvendo-se numa situação imaginária. importante fonte de promoção do desenvolvimento. ao ato de brincar. a criação de uma situação imaginária pode ser considerada meio para desenvolver o pensamento abstrato. A criança passa a criar uma situação ilusória imaginária. o ensino sistemático não é o único fator responsável por alargar os horizontes da zona de desenvolvimento proximal. Para Vygotsky (1991). embora ele analise o desenvolvimento do brinquedo e mencione outras modalidades (como os jogos esportivos). de vendinha. como forma de satisfazer seus desejos não realizáveis. uma vez que. procura evidenciar o jogo de papéis ou a brincadeira do “faz-de-conta” (por exemplo. experimentando. Então. cuja vivência social. e não apenas no universo dos objetos a que ela tem acesso. faz uma importante distinção entre os conhecimentos construídos na experiência pessoal. ampliando o conhecimento de mundo e das pessoas que a rodeiam. etc) a que tem acesso. Chama esse processo de conceitos cotidianos ou espontâneos. a criança elabora saberes na sala de aula. observando. A criança brinca pela necessidade de agir em relação ao mundo mais amplo dos adultos. além das informações recebidas do exterior. No pensamento de Vygotsky (1991). Como membro de um grupo sociocultural determinado. mediante o brinquedo. alargando seus saberes na condição de Ser humano. de um lado. concreta e cotidiana da criança. sistematicamente. ao explicar o papel da escola no processo de desenvolvimento do indivíduo. Portanto. ocorra uma intensa atividade mental por parte da criança. p. imitando e recebendo instruções das pessoas mais experientes de sua cultura. os conceitos científicos. por sua impossibilidade de executar as operações exigidas por essas ações. objetos concretos. realizadas por meio das brincadeiras. a criança realiza uma série de aprendizados. Ainda muito pequena. procurando ser coerente com os papéis assumidos. é necessário que.30 define o brinquedo de modo geral. um conceito não é aprendido por meio de treinamento mecânico. aprende a fazer perguntas e também obter respostas para uma série de questões. desde o nascimento da criança. adquire meios de aprender. Necessita . idéias. pela necessidade de ação da criança e. contribuem de forma elementar para a aquisição de conhecimentos que alicerçam os saberes sistemáticos. Para aprender um conceito. através das interações com o meio físico e social. ao entrar na escola. ela vivencia um conjunto de experiências e opera sobre todo o material cultural (conceitos. concepção de mundo. a criança se projeta nas atividades dos adultos. No seu cotidiano. valores.76) Vygotsky (1991). afetiva e cultural desenvolve estruturas na personalidade da criança. o desenvolvimento e a aprendizagem estão inter-relacionados. Na escola. Assim. (1991.82) A brincadeira passa a representar a possibilidade de solução do impasse causado. (1995. Deste modo. de outro. já construiu uma série de conhecimentos do mundo que a cerca. e encontra condições de desenvolver suas capacidades e habilidades. as experiências. nem tampouco pode ser meramente transmitido pelo professor ao aluno. muito antes de entrar na escola. p. a infância conta com a natureza própria do brincar. indo do simples ao complexo. Humanista de vasto conhecimento. (RICOEUR. atento à literatura tanto quanto às ciências humanas. na seqüência.. O mundo da infância. o qual se abre para o mundo imaginário. evidenciando um caminho metodológico. é possível superar a linguagem meramente gramatical e se comunicar. o discurso dispõe de mais elementos para carregar-se de novos significados poéticos. ao serviço da função poética. numa família de tradição protestante. descobertas e inventividade. o que denominamos brincar social e espontâneo. da criança e do brincar é certamente um baú de metáforas. 2. a ludicidade em sua metáfora propicia e facilita isso. É a fala transpondo o real dos objetos e das coisas para a irrealidade poética. quando essa internaliza a fala socializada. A metáfora é uma linguagem mágica que fantasia as palavras. conhecido como o filósofo de todos os diálogos. esse efeito de sentido da metáfora. p. 368). criando elementos da imaginação. a lingüística e a história têm. Vejamos. Nasceu no dia 27 de fevereiro de 1913. morreu no dia 20 de maio de 2005. 92 anos de idade. ERA UMA VEZ. O cristianismo. viajante aberto à cultura anglo-saxã como também à tradição alemã. “A metáfora é. a hermenêutica. É considerado o filósofo do sentido e amante da metáfora. Um autor francês chamado Paul Ricoeur. Como comunicação do humano. essa estratégia de discurso pela qual a linguagem se despoja da sua função de descrição direta para aceder ao nível mítico em que a sua função de descoberta se liberta”. Nesse sentido.1 O Brincar: um baú de metáforas. a psicanálise. 1983. a fenomenologia. Por meio dela.. contribuído para a formação de seu pensamento.. autor de imensa obra filosófica. É o mundo em que a criança se desloca da realidade e voa pelas . caminho para estratégias.31 considerar signos e palavras na constituição da linguagem da criança. O ponto forte da metáfora é a criatividade. Assim.. resultando em uma comunicação de beleza e de inúmeros sentidos. em proporções diferentes. como meio para adquirir a aprendizagem de maneira espontânea e prazerosa. O filósofo Paul Ricoeur. Nesta “transferência” de sentimentos a semelhança entre sentimentos é induzida pela semelhança entre situações. saltar. aos nossos modos de sentir.32 asas da fantasia. Metáfora é como a transposição do complexo para o simples. jogar. instigante e enigmático. a metáfora alarga o poder do duplo sentido do cognitivo para o afetivo. nos dizeres e nos olhares ingenuamente cúmplices que não se mostram na aparência do Ser. Os sonhos. acrescentaria. aos seres e às coisas. de ser e de estar. 283) A intencionalidade traz para a metáfora o surgimento do sentido. infinitamente espesso de imaginação. favorecendo a compreensão da realidade. na perspectiva do envolvimento que sugere. (RICOEUR. . contínua e processual. Como sentido poético. a metáfora ‘infunde’ no coração da situação simbolizada os sentimentos ligados à situação que a simboliza. Então o brincar é uma metáfora viva. ao correr. O brincar é a metáfora evidente nas brincadeiras. nas entrelinhas da dança. das histórias. nos brinquedos vivos de imaginação e nas brincadeiras vividas. é a função poética da metáfora. carregados de fantasia e de sentidos novos. na exploração do sentido literal das coisas. nos sons. pelo menos. encobertos de desejos irrealizáveis.. o mesmo que acontece no brincar em que a criança se lança pela força imaginativa. novos e interessantes significados.se a metáfora nada acrescentasse à descrição do mundo. A metáfora se assemelha ao movimento do jogo simples. Arremessa variadas imagens. são. encantando-se com o universo colorido e mágico das brincadeiras e dos brinquedos. e se expressa no simbólico. mas na sua essência. p. viabilizando caminhos afetivos que delineiam o estreitamento e aproximação dos seres. portanto. De acordo com Ricoeur (1983). Destarte. na função poética. a metáfora vem acrescentar ao mundo. Procuram evidenciar o sentido poético nos gestos. nos passos. 1983. mas ao nível dos sentimentos: ao simbolizar uma situação por meio de outra. criados pela capacidade de transformação imaginária do pequeno Ser. coisas e mundos diferentes. a metáfora tem sua fonte na experiência da criança. realizando um salto metafórico que transgride formas e funcionalidade de objetos em um faz-de-conta. Tem o duplo sentido de ampliar o cognitivo. metáfora é todo deslocamento do sentido literal para o sentido figurativo.. criando seres. esta repousa ainda na semelhança. metaforicamente. . realiza e revela novas formas de brincar. no pular amarelinha. como brincar. Pode sugerir um trabalho pedagógico muito interessante em sala de aula. desenhar. reinventa outros significados no jogar. Supõe.33 O brincar desvela uma dimensão poética própria e supõe um espaço de encontro e jogo entre as palavras. na ciranda. o estar e o sentir no embalo do prazer de brincar. na iventividade ingênua e criativa da criança. o ser. também. imagens. por meio do simbólico. na condição de escrita poética. gestos. de conteúdos e vivências. Interpretar no sentido de ler nas entrelinhas das expressões. o mundo e o Ser. cantar. nos filmes e nas historias. Assim. no brinquedo de casinha em que a criança transcende o “eu”. dançar. nem fora. pensamos que a metáfora. Sendo o brincar um encontro de surpresa. nem dentro. Escrever. a doçura. O momento da rotina. da história e da metáfora na construção de cenários que valorizem os momentos em que as crianças passam reunidas. criativas e imaginárias. Da aparição e desvelamento de intenções que permeiam o pensar infantil. no parque. na casinha de boneca. onde não se esperava. . no correr. Esse desvelamento do lúdico. na liberdade infantil.Uma atividade de reflexão:o filme O Peixe Grande pode favorecer ao professor momentos de reflexão sobre a verdadeira amizade. jogar. é da mesma natureza do brincar. como processo metafórico. as coisas. em atividades construtivas. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. a metáfora vive. do esconde-esconde de palavras a transformar sentidos. implica encontrar a si mesmo. Na roda. é criação de sentidos. o espaço corporal da transformação.. de uma revelação de algo oculto. e de surpresas interessantes. as conversas e os combinados podem ficar mais enriquecidos com tal proposta.. pintar. o afeto. Interpretar no sentido de uma compreensão. falas. que implica um reencontro de possibilidades de efeitos de sentido.Crie seu peixe grande e da barriga dele retire suas atividades. de um fenômeno. O brincar é o espaço/tempo das formas. permite-nos nova forma de interpretação das brincadeiras infantis. É brincar com movimentos. um encontro de surpresas. É o entrelace do aparecer e do desaparecer. a cumplicidade de ser e de viver. sucessões simbólicas que nos permitem olhar o universo da infância O brincar é como escrever. numa comparação de entendimentos. nesse caso. uma imagem obsedante. A criança muitas vezes ‘’viaja’’ de forma metafórica. Eis uma sugestão de atividade que pode ser utilizada na rotina. Tudo aquilo que fixa a energia psíquica ou a mobiliza em seu benefício exclusivo. segundo o Dicionário de símbolos de Jean Chevallier (1990). Seguindo tal pensar. Para Ricoeur (1983). o mundo vivido. as vivências. Professor (a).. Nesse ponto. não apenas um ser ou uma coisa real. RISCOS E RABISCOS. A importância do nome para a criança. idéia. Por isso.. como curiosidade e aprendizado. O brincar possibilita uma visão perceptiva cada vez mais ativa desses caminhos na consciência da criança.34 SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. em que se encobrem de sonhos e magias o cotidiano. é uma espécie de ficção que simultaneamente descobre conexões novas entre as coisas e redescreve a realidade. Podemos entender por objeto. como interpretação. no momento em que se faz a chamada dos alunos. dentre as variações simbólicas. revelando-a tal qual pensa e se manifesta em sua existência. O aspecto simbólico do brincar trabalha na construção do pensamento. uma terminologia habitual. ritmo. um sonho. número. seja abstrato (forma geométrica. etc). etc. No momento das brincadeiras. mudando-lhe a linguagem habitual. de tal forma que toda visão do Ser e toda existência com relação ao Ser já se afirmam.. percebemos que a metáfora é um modelo teórico imaginário que. . Esse é o emprego da palavra símbolo.nova atividade reflexiva: a leitura da história . ao transpor-se para um domínio da realidade.. ocorre que o Ser se dá à consciência do homem por meio das sequências simbólicas. inventando nomes simbólicos de outros seres que combinam com seu próprio nome. quando apela para imagens. O sentido de sua história familiar. o brincar infantil também é uma forma de transpor-se do real para as fantasias.Uma curiosidade importante: a história do símbolo atesta que todo objeto pode revestir-se de valor simbólico seja ele natural. um sistema de postulados privilegiados.A Menina e a Panterade autoria de Rubem Alves é fonte muito rica para ser trabalhada a questão da identidade. Entende sua história familiar. na recriação de situações imaginárias. a criança se utiliza dos símbolos como caminhos para a interpretação do mundo real. mas também uma tendência. O símbolo nos leva a pensar. vê as coisas de outro modo. ao antecipar pela imaginação o agir. então . As belas Borboletas Borboletas brancas São alegres e francas. . as coisas. As Borboletas Brancas Azuis Amarelas E pretas Brincam Na luz. que escuridão! Vinícius de Moraes (MORAES. É o momento em que se revelam a criação e a inventividade da criança para remodelar idéias. de fantasias. Borboletas azuis Gostam muito de luz. Oh.35 A intencionalidade que flui de toda metáfora numa simbologia desprende a imaginação e o poder de abertura do universo. (RICOEUR.Uma atividade:a poesia. “A imagem neutraliza e suspende toda a relação ao mundo imediato da percepção e da ação. surgindo daí a capacidade de resignificar o mundo.. cheio de ludicidades. ele pode ensaiar esquemas eventuais. é recurso estratégico para o(a) educador (a ) trabalhar cores primárias e oferecer à criança meios para expressar sua imaginação e fantasia. tendo em conta os meios para usar a realização de desejos. mágico. situações e experiências que se realizam no mundo imaginário do brincar quando a criança se lança às imagens e as devolve cheio de possibilidades. aquilo que é mais significativo: Toda motivação e estímulos presentes na criança possibilitam as variações imaginativas e a convicção . 1983. As Borboletas de Vinícius de Moraes. As amarelinhas São tão bonitinhas! E as pretas. No entanto. de experiências. o Ser. utilizando a metáfora como linguagem num aprendizado colorido. e abre o espaço lúdico das possibilidades de ensaio de idéias novas. valores novos ou outros modos de Ser no mundo”. . p. antes de decidir. 1995) O brincar propicia o exercício da imaginação infantil e. dando asas à liberdade de criar. a imaginação fornece a clareira luminosa em que se comparam os mais diversos motivos da ação.. 24) SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. a criança conta sua forma de estar no mundo e habitá-lo. metaforicamente. torna-se presente e interpreta o mundo à sua maneira. Os seres. de vivenciar o mundo.36 do “eu posso” que direcionam o sentido das possibilidades práticas que a criança experimenta. construindo o momento de acontecimento do sentido. O brincar como símbolo que a criança utiliza no seu mundo imaginário traz na intensidade os significados e os sentidos de ser e de estar. O brincar propicia e sustenta o momento ativo da transformação do sentido. A simbologia da metáfora delineia o jogo como caminho de encontros surpreendentes. Assim. por meio das brincadeiras. alternadamente. revelados na criatividade e nas possibilidades infindas de interpretações feitas pela criança. O jogar é guiado pela fantasia da criança e. nos dizeres. metaforicamente. O brincar em suas metáforas sugere que redobre em seu movimento de constituição aquilo que é real. favorecendo o lúdico. É o momento em que se cristalizam os objetos simbolizados. ao ser reduzido à linguagem simbólica. para trazer novos contornos à realidade. então. Permite mostrar a metáfora. . ocultado e trazido à luz. as coisas. as pessoas se transformam. a cada girar. de diferentes construções em que residem o prazer e a alegria da liberdade que a criança experimenta. explorado como ausência e reencontrado como presença. reveste seus desejos e sonhos de recriar situações e vivências do mundo real. O brincar possibilita o rompimento das limitações e. A capacidade de brincar e lançar-se no espaço de encontros e acontecimentos surpreendentes possibilita à criança enriquecer a criatividade. realizados por meio do jogo metafórico da transformação. potencialidades próprias da infância. transportando para a surpresa de novos encontros. As brincadeiras ancoram as fantasias e permitem que se articulem presença e ausência. transforma e amplia a capacidade criativa. nas linguagens que ela manifesta pelos movimentos corporais. Trata-se de evidenciar os efeitos de sentido que a criança traz nos gestos. como numa dança que insinua movimentos constantes e diferentes. O brincar. possibilita ao mesmo tempo ser fundado e desvelado. Mostra seu pensar e seu querer. a cada rodar. simultaneamente. as invenções infantis buscam transformar o mundo. de sensibilidade imaginativa. Realizam-se descobertas a cada novo momento e a cada novo sentido que se dá às coisas. em que não se corta o fio constituído de imagens que se transpõem. a metáfora comporta um escutar que transcende o compreender. re-carregando-as de intensidade. da história. (RICOEUR. O brincar. com construção de maquetes. Neste sentido. de vivências imaginativas e realizadas.. Ao mesmo tempo. massinha. o brincar se mostra um gesto da metáfora. é como um espelho que sempre devolve as imagens. tornando-se espaço de novas possibilidades de sentido. pela criança. Criar também o canto do desenho. na qualidade de metáfora viva. como se joga numa gincana lúdica que envolve confeccionar o produto e criar o processo com a ajuda da criança. logo do aprender e de viver o não-real.. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. Cada canto como um desafio para buscar a solução. A realidade recriada corresponde ao sono com sonhos. nas palavras tomadas de empréstimo de Ricoeur (1983). Assim. O brincar promove o significado de fazer aparecer ou desaparecer. das construções mágicas. para acolher qualquer cena. aproxima-se dos sonhos.37 Sendo ato poético. é possível ao pensamento atravessar os limites do mundo imaginário. onde haja material diverso: sucata. papel. criativamente. painéis. Abrem a possibilidade do princípio do prazer e da realização do criar. Assim sendo. da matemática. Os detalhes do cotidiano e da criatividade silenciosa se integram e se alternam formando novo modo de ser. etc. 1983). . no universo colorido que jorra todas as possibilidades das transformações que fluem do ato de brincar e jogar. caixas. Participa de experiências.. as brincadeiras. de um lado para outro. dominar seus efeitos de sentido. dentro do mundo real. O jogo. A metáfora é gesto não visível e não representável na fala. tornado visível. O brincar não pode ser simplesmente narrado. que articula a permanente alternância entre o significado e o surgimento do sentido.Um convite à prática:você pode transformar sua sala de aula em um ambiente chamado de caça ao tesouro. O brincar é o espaço com poder de transformação.. nessa atividade. e deve ser compreendida como tendo por centro esse encontro.38 intensidades presas em um barbante. Logo. cumplicidade. uma lista de construção articulada. Assim dizemos do lúdico. Cada fio. 1982. Poético. mas que se amplia infinitamente. Resiliência. “A criatividade ocorre num ato de encontro. Aspecto afetivo. 2004) .79) É o encontro do sujeito com o objeto criado. há evidência do tripé que fortalece tal ato: coragem. ( ROJAS. Cada trama. Logo. lúdico. Permite parceria. Cor. Inspira o jogo estético. auto-conhecimento e iniciativa. contribuindo para o cenário do lúdico. Forma. sem limites. A partir de então. Ético. No ato criativo se aloja a natureza do encontro. beleza simples. uma trama. um ato criativo a cada estampa: Pano. p. fixo no mundo real. comunicação. comparando-o ao pano. transportando-se para os espaços da inventividade e da transformação. Entrecruzada. falamos do objeto criado e do seu criador por uma poesia rica em metáfora que favorece a mostra de um criar.” (ROLLO MAY. seu sentido em cor e textura. sua dimensão primeira e criativa do brincar. O ato de criar tem sua importância à medida que contribui para manter aberta. Figura 10 Sucede movimento. O sentido de Ser e do Ser nas coisas. (ROJAS. as coisas e que dança pela força mágica do criar. iniciativa. p. trabalhar com ludicidade permite viver emoções e sentimentos desvelados na criatividade do humano. p. estado do humano sente-se que se está trabalhando em uma ecologia da ação. fixa e imóvel. desvela. decisão. Um construir impregnado de . isto é. risco. imprevisto. (ROJAS. inesperado. “Quando se trabalha com a ludicidade enquanto comunicação.” (ROJAS. Ao estabelecer a ação. Expressa. envolvendo e entrelaçando sentidos que alicerçem um fazer diferente. Um olhar que interage. 2004) A ludicidade é comunicação da vida. do fazer brotar e reviver o velho no novo. acende. o ser. tanto da criança quanto do educador. 2004. exprime e reconhece forças. do sentir. recriando e desvelando novas possibilidades. estamos em processo de risco. acaso. Destarte. na arte-magia de ser. começa a se abrir. como construtor de um “novo” mundo. mostra. de sentir. Na ação educativa se demonstra a percepção e a criatividade pedagógica na arte de ser mestre. A prática lúdica é presença na ação e direção pedagógica em que se vai modelando e re-significando o real. É a arte de saber conduzir a ação educativa diante das incertezas que se apresentam. de pensar. a se deixar ver. 31) Ao trabalhar com a criança devemos buscar o movimento do ato pedagógico entre o “pensar e o fazer” num construir. constantemente ambígua. o diálogo como mediador da construção. direcionada e difusa.39 Nesse o ato de criar demonstrado em poesia. a se definir por meio de nossas emoções a invenção transbordante de magia no fazer. envolve e transcende para outra dimensão. a parceria. colorido e graça quando tem o afeto. traduzindo-se em uma ação perceptiva. Conseguimos tal proeza a partir de um olhar lúdico que descobre o mundo. descobre. consciência das derivas e transformações.26) A ecologia da ação pontuada significa levar em conta sua própria complexidade. a se descobrir. às vezes clara e nebulosa. dá-se a evidência de um lúdico teoricamente construído que ganha sentido. 2004. É pelo olhar que o sujeito ergue-se com o realizar da sua própria história. planejando a ação com interdisciplinaridade. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO.. fazendo os malabarismos do tema que quer trabalhar. Pressupõem uma verdadeira construção do conhecimento. desenvolve a arte de fazer. imaginação. requerendo que a teoria seja assimilada. seja também o SER que aprende e vice-versa.o contexto da aula com inventividade. Um exemplo dessa prática que você pode realizar: transforme a sala de aula num circo cujo palhaço seja você. cujo SER que ensina. buscando atitudes de questionamento e compreensão do mundo em práticas que enfatizem a autonomia e iniciativa do aprendiz. Ação que parta de pequena iniciativa e de atitudes abertas. faça da figura do palhaço o símbolo de trabalho. Este palhaço carrega consigo a intensidade. Atitudes ousadas e criativas. Entender a realidade flexível. compreendida e interpretada por meio de uma consciência integradora do sentido. num projeto de atividade com a criança. iniciativa e ousadia em realizar. riso e ousadia. explorando o sentimento da alegria e também a possibilidade das cores e figuras geométricas que fazem a fantasia.. direcionado para o desenvolvimento do pequeno Ser. Figura 11 .40 significados. pela coragem. Como atividade. menos mecanizadas e técnicas.Com todos esses atributos. Tal propósito deve reafirmar a importância de práticas pedagógicas centradas na criança. tendo como recurso as brincadeiras e os jogos lúdicos na aprendizagem infantil. construções que permitam o conhecimento das partes e o sentido do todo. Depois a releitura e a dramatização.41 A criatividade pode direcionar práticas.Vamos brincar? Primeiro a história. intensificando desejos e dando sentido aos sonhos infantis. nas quais se evidenciam as . Em seqüência. É um brincar ornamentado de retalhos . e seus tempos de descoberta e de experimentação? Compreender que o conhecimento do outro implica a imaginação do outro? A construção lúdica carrega de afeto o processo de aprendizagem. como se a sala de aula fosse um circo. A ludicidade no pano encanta e seduz a criança.de fitas. alegres. Apostase. 2004... O brinquedo livro-de-pano. unidas por significados. o processo vivido pela criança. E depois a arte e o arteiro na construção da história em livro. Certamente exige um exercício de observação. de cores vivas. com a liberdade de inventar. a imensa alegria que ela pode experimentar por algo que tenha apenas descoberto e facilmente pode ser considerado por um adulto um evento sem importância. Mas será que pode um adulto reconquistar os ritmos e os tempos necessários para viver com a criança e seus ritmos. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. é importante que os educadores se organizem em planejamentos diferentes. mas. participativos e interdisciplinares. propicia vivenciar e mostrar os vários momentos da elaboração cognitiva. respeitar e viver.Você escolhe. É o que costumamos chamar de saber com sabor. antes. de aprender e de brincar. com a criação de ambientes estimulantes e desafiadores. nesse sentido. p. Sua organização/construção requer as trocas entre sujeitos. que têm como centro a alegria de aprender. com a criança. a construção da criança habitando o contexto lúdico de cenários e personagens. veículo de comunicabilidade na construção da aprendizagem infantil (ROJAS.Faça você a roda da alegria. Tente você fazer o seu! O Livro de Pano como brinquedo. Um livro diferente: de pano. São momentos de criação nas quais a criança tem a possibilidade de extravasar seu imaginário na construção do saber. como instrumento pedagógico.17). impõe sensibilidade e imaginação para entender.. O palhaço pode fazer parte da história. Por isso.. “O sentido de ser se aloja nas tramas cotidianas de viver o mundo. Um interessante caminho de reflexão para o(a) professor (a):assistir o filme Colcha de Retalhos. o brincar e o real. A interação entre o brincar e o mundo real produz.42 parcerias. A realidade jogando com falas e palavras. pano. A memória também pode provocar emoções à luz da consciência. É um veículo de comunicabilidade lúdica que sugere falares e pensares como um leque de idéias. conscientemente ou não. p.. entrecruzando-se em infinitas interpretações. você pode retirar idéias e montar um projeto construtivo. No mundo lúdico. pois é meio de motivação para a criança. Podemos afirmar que o lúdico é a base de toda a atividade da Educação de Infância. por exemplo. O brinquedo permite o extravasamento das emoções. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. as pessoas. . cujo processo de elaboração venha favorecer ricas situações de aprendizagem para a criança. O brincar elemento importante. fonte de descoberta e prazer. mediante o qual se aprende.. que pode dar origem a processos de aprendizagem importantes. A feitura de um álbum da criança. Motivado pela trama que se desenrola no contexto do filme. alimenta sua vida interior.Outra idéia. Ludicidade é a espontaneidade em trabalhar. gestos e expressões enseja verdadeiro prazer em aprender. De habitá-lo e experimentá-lo. o mundo. efeitos de sentido prazerosos. na memória infantil. em sua história de vida e criatividade. boas ou más. sendo sujeito ativo desta aprendizagem que tem. nesse lúdico.2004.44). o desencadear e o executar de tais emoções. descobre o sentido de Ser no mundo. Damásio (2003) afirma que as emoções são meio natural de avaliar o ambiente que nos rodeia ao qual reagimos de forma adaptativa. a criança encontra equilíbrio entre o real e o imaginário. fazendo a comunicação entre a fantasia.” (ROJAS. Os objetos. Fazer do pano um brinquedo possibilita diferentes olhares que são alicerces para novas construções. podem nos causar emoções e respostas emocionais fortes ou fracas. o diferente. O educador. RISCOS E RABISCOS. 2003) Sem o encanto do lúdico. aprendendo e nos ensinando. O ritmo diferenciado de cada um é que constitui o grupo. fazendo compreender. A compreensão é a consciência da complexidade humana. as partes e o todo. quando buscamos a transformação. sentimentos. vivendo na constância do inconstante. Ao trabalhar com a ludicidade de um brinquedo.. da reflexão e da criatividade. Sem significado. (MORIM. lê. pensamentos. a rotina não faz sentido. possibilitando entendimento. Facilita-se o caminho da objetividade entrecruzada pela subjetividade. da parceria.43 A ludicidade permite e possibilita uma abertura às emoções. (FAZENDA.. cuida e educa todos em ”parceria interdisciplinar”. compreendendo. Figura 12 . sem grupo. histórico. Parceria que é reflexo no brincar intenso e interminável da criança que desafia o mundo encantado. essencial. compreensão. amontoando todos.. Permite-se abrir para o mundo encantado. interpretação. é quem reflete. o grupo não se forma. Se todo dia é tudo sempre igual. que correm soltas no encantamento do brincar.. mediador. A compreensão vai além da explicação. conhecendo-se. apreender em conjunto. Como uma roda que gira a espalhar fantasias. A roda não se efetiva. o múltiplo e o uno. vivem-se emoções e sentimentos... e não a estagnação! A criança. construir e conhecer. de criar. O espaço de vivência precisa ter sentido e buscar identidades novas. 1991). abraçar junto o texto e seu contexto. observa. É a transcendência na reflexão. brincando. A educação é encantadora.Interessante saber que compreender significa intelectualmente. um sujeito particular. na transparência da inocência infantil. projeta-se o vazio. 54). a partir de sua fala. Huizinga (1980) analisa a significação primária do jogo. que abstrai o homem para a fantasia.Um filósofo e historiador holandês.44 Capítulo 3 . Apresenta um estudo clássico. (HUIZINGA. próprias da civilização. apresentam uma essência lúdica inerente ao homem. na condição de expressão abstrata.. constitui um jogo de palavras com as quais o homem dá expressão à vida. recriando o mundo. 1980. jogando com as palavras. quanto o próprio jogo possuem características de divertimento. que não deixa de ser criatividade e imaginação em forma de jogar. . ampliando. no entanto. momentos de criação. Huizinga (1980) evidencia a linguagem primeira da criança. Argumenta que a linguagem. Para Huizinga (1980). competição. enfim as artes. assim como na linguagem. ao atribuir significativo valor às diversas linguagens lúdicas. no aspecto antropológico. estudioso do jogo.. Para este autor. um momento de fantasia e significação em que o homem tem a oportunidade de interpretar o mundo. o “instinto” lúdico se reafirme em sua plenitude”. na poesia. com a intenção de compreender todo o significado do fenômeno chamado jogo. nas artes plásticas. Ressalta que tanto a poesia.A linguagem do brincar: a função lúdica. e que. os contos. a princípio a linguagem como forma de um jogo. para dar sentido a seu pensar. as histórias. portanto. a linguagem se exprime por palavras. É o princípio de todas as linguagens. como fonte de toda expressividade inicial do desenvolvimento humano. considerando-o uma espécie de imaginação da realidade. a música. p. mesmo nas civilizações mais desenvolvidas. cultural e pedagógica no espaço infantil ERA UMA VEZ. adivinhação. apontando-a como capacidade para brincar com as palavras. revelando-se a qualquer tempo: “Mas é sempre possível que a qualquer momento. Evidencia. na dança. o aspecto lúdico está presente não só no jogo como também na música. chamado Johann Huisinga. o caráter lúdico da cultura. com dimensões filosóficas. Todo jogo significa alguma coisa. mágico como num sonho. encontram-se Charles Perrault (1628-1703) na França e os irmãos Wilhelm e Jacob Grimm (1786-1859 e 17851863) na Alemanha. É um jogo de construções entre fadas. Entre os filósofos que deram maior impulso ao trabalho de coletas de contos de fadas. que transcende as necessidades imediatas da vida e confere sentido à ação. p. É uma função significante. A intensidade do jogo e o seu poder de fascinação não podem ser explicados por análises biológicas. 1980. A trama e o enredo dos contos de fadas se desenrolam num ambiente ou reino que não é concreto.5) O autor. existe um fascínio. anuncia que o jogo é mais do que fenômeno fisiológico ou reflexo psicológico. Os estudos de Huizinga (1980) demonstram a natureza e o significado do jogo. Joãozinho e Maria.Você sabia que o faz-de-conta em roda pode se realizar nos contos de fadas. monstros que fascinam a criança em uma linguagem sedutora. Explore com atividades em desenhos. Vai além do ser. nessa capacidade de excitar que reside a própria essência e a característica primordial do jogo. encerra determinado sentido às coisas. mágica. contudo. a diversão.. e sim maravilhoso. alimentando ludicamente a imaginação da criança. seres inanimados. Isto é. ao nível animal. O Gato de Botas. E. nessa fascinação. Uma roda encantada. Faça uma roda e conte um conto.. que se entrelaça por caminhos lúdicos na imaginação da criança.45 RISCOS E RABISCOS. isto é. No “jogo”. Cinderela. às pessoas. ao mundo. encerra um determinado sentido. envolve de significados o agir. do estar e do fazer. que inebria o Ser. intensidade ao viver. (HUIZINGA. com seu pensar. Mesmo em suas formas mais simples. No jogo existe alguma coisa “em jogo” que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido à ação. A intensidade e o fascínio na realização do brincar caracterizam o lúdico como parte da vida da criança. Seja . Branca de Neve e os Sete Anões. e o delírio presentes nas práticas lúdicas. Entre as obras imortalizadas em coletâneas estão:Chapeuzinho Vermelho. o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. do brincar. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica. é nessa intensidade. Não se explica nada chamado “instinto” ao princípio ativo que constitui a essência do jogo: chamar-lhe “espírito” ou “vontade” seria dizer demasiado. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica. como via de construção do conhecimento e da cultura humana. principalmente pela função cultural. não desconsiderando o prazer. É uma função significante. Por isso.(HUIZINGA. a intensidade que dá sentido à obra criativa. Ao dar expressão à vida.46 qual for a maneira que o considerem. expressando o pensado e o vivido em uma teia de palavras. no momento do jogo.4) Para Huizinga (1980). (HUIZINGA. numa certa “imaginação” da realidade (ou seja. de entrelinhas jogadas propositadamente.Você também sabia que. da satisfação. A existência do jogo não está ligada a qualquer grau determinado de civilização ou a qualquer concepção do universo. evidenciando a beleza da essência humana. rico de sentidos. do criar presentes no jogo. então. Assim. ao viver tendo a imaginação como caminho para o re-significar. é impossível que tenha seu fundamento em qualquer elemento racional. limitar-se-ia à humanidade. RISCOS E RABISCOS. significativo. p. captar o valor e o significado dessas imagens e dessa “imaginação” . ao conceber novos sentidos. toda expressão abstrata oculta uma metáfora. a leveza despretensiosa insinua movimentos rítmicos e criativos. use o jogo como recurso estratégico. p. um mundo poético. A beleza do corpo humano em movimento atinge seu . de possibilitar caminhos para que o espírito possa saltar entre a matéria e as coisas pensadas. magia. pois. a realidade do jogo ultrapassa a esfera da vida humana se funde com o encantamento e a magia cuja essência é ilimitada. a transformação desta em imagens). o homem cria também outro mundo. Portanto. Se verificarmos que o jogo se baseia na manipulação de imagens. espontaneidade. o simples fato de o jogo encerrar um sentido implica a presença de um elemento não material em sua própria essência. e deve ser compreendida como tendo por centro esse encontro. 1980..a criatividade ocorre num ato de encontro. e toda metáfora é jogo de palavras. infinita e transbordante de energias imaginativas. O jogo é o encontro das ações criativas e desvela arte. nesse caso. O encontro provoca a ansiedade. 1980. pois. O pensamento de Huizinga reafirma que a vivacidade e a graça estão originalmente ligadas às formas mais primitivas do jogo. Origina-se da essência do prazer.. nossa preocupação fundamental será.7) A criatividade na fala e na linguagem é também uma forma de brincar com a maravilhosa faculdade de designar. para Rollo May (1982). A criança constrói os próprios percursos. É “jogado até o fim” dentro de certos limites de tempo e de espaço. possui um caminho e um sentido próprios. dentro de uma temporalidade irrestrita. para uma esfera temporária de atividade com orientação própria. brincar com os ritmos. quando está “só fazendo de conta” ou quando está “só brincando”. segundo Huizinga (1980). p.10) O jogo tem como primeira característica ser ele próprio liberdade.“cativante”.em suas formas mais complexas quando em jogo. sentir e fazer-se livre. traçada espontaneamente. intimamente ligada à primeira. o encantamento é o jogar com as palavras. Na linguagem poética. a limitação. Desde a mais tenra infância. . Toda criança sabe. que são os mais nobres dons de percepção estética de que o homem dispõe. cria seus espaços. o encanto do jogo lança-se sobre nós como um feitiço:“fascinante”.Ele contempla os elementos mais nobres que somos capazes de ver nas coisas: o ritmo e a harmonia.11) Segundo seu pensar. (1980. de modo tal que cada imagem passa a encerrar a solução de um enigma. O caráter especial e excepcional do jogo é ilustrado de maneira flagrante pelo ar de mistério em que freqüentemente se envolve. o encanto do jogo é reforçado por se fazer dele um segredo.47 apogeu. É o que deduz Huizinga: O jogo distingue-se da vida “comum” tanto pelo lugar quanto pela duração que ocupa. Uma segunda característica. que as qualidades do ritmo e da harmonia estão presentes nas mais variadas formas de jogar. em que a criança tem a oportunidade de ser. trata-se de evasão da vida “real”. É esta a terceira de suas características principais: o isolamento. ordenando-as de maneira harmoniosa e injetando mistério em cada uma delas. perfeitamente. saturando-se de ritmo e de harmonia. p. é que o jogo não é vida “corrente” nem vida “real”. (1980. Observa-se. é apropriarse Figura 13 O elemento lúdico é de tal modo inerente à poesia. Não é que a dança tenha alguma coisa de jogo. 1980. em todos os povos e em todas as épocas. O mesmo se verifica. porque está inevitavelmente ligada à matéria.184) . especialmente. como um dos aspectos de uma festa. pessoas. do brincar espontâneo e criativo. pois é ao mesmo tempo musical e plástica: musical. porque seus elementos principais são o ritmo e o movimento. E desenhar objetos. o desenho infantil é uma linguagem. Para esta autora. idéias são tentativas de aproximação com o mundo. animais. (HUIZINGA.para Derdyk (1994). quase de identidade essencial. em consonância com os mistérios delirantes próprios do jogar. desenhar é conhecer.. situações.Nova curiosidade. e sua beleza é a do próprio corpo em movimento. Sua interpretação depende das limitações do corpo humano. A dança é uma forma especial e. mas. A situação da dança é muito especial. perfeita do próprio jogo. a mais pura e perfeita forma de jogo. emoções. p. e plástica. uma espécie de jogo.181) As imagens e expressões artísticas na visão deste autor se entrelaçam essencialmente com esse elemento lúdico. quanto a ligação entre o jogo. que ela é parte integrante do jogo: há uma relação de participação direta. sim. p.48 RISCOS E RABISCOS. (HUIZINGA. São tão íntimas as relações entre o jogo e a dança que se torna desnecessário exemplificá-las. a música e a dança. e ainda em mais alto grau. desenhada na expressividade do corpo. em que a criança expressa sua criatividade. todas as formas de expressão poética estão de tal modo ligadas à estrutura do jogo que é forçoso reconhecer entre ambos a existência de um laço indissolúvel.. Até mesmo a dança. 1980. é sempre. Brinque de roda. na qualidade de impulso social é mais antigo que a cultura. dependendo das temáticas enfocadas ou desenho dirigido. Existe a presença extremamente ativa de certo fator lúdico em todos os processos culturais. em diferentes povos.Faça uma coreografia que sugira a leveza e o encantamento da dança.49 SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO: Dance com a criança. propiciando a naturalidade. como por um verdadeiro fermento. com desenhos e traçados. Mas é apenas uma sugestão. musicalizando a ação.188). Crie o movimento. O espírito da competição lúdica. de criatividade lúdica do espírito ou das mãos. máscaras e algumas fantasias. Criatividade sensibilidade e expressividade fazem parte do momento da criança quando participa de atividades lúdicas. p. (HUIZINGA. os movimentos. inerentes à própria existência do Ser. A poesia nasceu do jogo e dele se nutriu a música. realizando contornos sucessivos e enigmáticos com ricas construções. O ritual teve origem no jogo sagrado. como criador de muitas formas fundamentais da vida social. A naturalidade da expressão do corpo desvela momentos de descobertas do próprio Ser. O grotesco das máscaras de dança dos povos selvagens. . e a própria vida está toda penetrada por ele. achamos difícil afastar a idéia de jogo e de fantasia. Quando contemplamos certos exemplos dos riquíssimos tesouros das artes plásticas. Ao examinarmos o estudo e a profundidade dos pensamentos de Huisinga (1980). a monstruosa confusão de figura dos totens. pode-se pedir desenho livre. 1980. desde a mais primitiva das civilizações. Um exemplo é propiciar uma aula de descobertas e/ou aula-passeio. A música e a dança são puro jogo. passamos a considerar a estreita relação das artes com a ludicidade como diferenciadas linguagens. todos estes exemplos parecem sugerir que o jogo é a origem da arte. Construa o cenário com desenhos. expressas pela essência humana. Como atividade. jogando com as cores. as distorções caricaturais das formas humanas e animais. evidente em qualquer envolvimento musical. manifestando diferentes comportamentos. como a melodia. personagens e interculturalidades. possibilitando que desta maneira a criança jogue o jogo da vida. Essa é uma curiosidade que vale a pena: Bruno Bettelheim (1980). percebendo diferenças e individualidades culturais e contextualizando situações pedagógicas que favorecem o desenvolvimento da imaginação. ainda percebemos que os movimentos da cultura exprimem o sentido lúdico num saber e numa filosofia da expressividade em palavras e formas. a cultura é um jogo. Assim. construindo instrumentos musicais por meio de projetos sobre educação musical e/ou da música como auxílio na elaboração do conhecimento. da memória e dos conhecimentos. de forma criativa. à medida que permitam que a criança se identifique com múltiplos personagens que interagem em diversos contextos. da observação. Ainda nesta vertente temos as histórias e contos que musicalizam toda uma aprendizagem num jogo de cenas.50 SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO.. associados a todo prazer que tal ludicidade proporciona. Logo devemos pensar que. a criança desenvolve atitudes de alteridade e de respeito pelo outro. crie uma de bandinha rítmica. movimentando-se em seu campo infantil.. curiosa e alegre. até na atualidade. Viabiliza uma aprendizagem de maneira tranqüila. RISCOS E RABISCOS. conhecendo o outro e outros mundos. defende que o conto de fada faz sair a criança do mundo real. Personalidades e valores.. cenários.. permitindo-lhe enfrentar problemas psicológicos profundamente enraizados e incidentes causadores de ansiedade. prazerosa. Portanto podemos perceber que. O exemplo de atividade é mostrar o folclore da região.Veja que interessante:o trabalho educativo realizado com música propõe a ludicidade e a interdisciplinaridade. por meio do trabalho lúdico. Carrega. a fim de realizar sua autonomia. contos e histórias. ritos e símbolos. esse estigma e. Para isso. o ritmo e a harmonia. por conseguinte. as histórias e os contos também podem desempenhar papel importante numa educação de infância que prima por seguir uma prática intercultural e interdisciplinar. que desenvolveu no campo psicanalítico um trabalho paradigmático sobre o papel dos contos no desenvolvimento da criança. O professor pode explorar os elementos musicais. em suas fases primitivas. . ou outro jogo. filiada ao folclore. 3. principalmente por preferirem alternativas adequadas para fortalecer os processos interativos e enriquecer a cultura infantil. sobre os personagens ou elementos criativos que ilustram a história. essa modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico.38) .. Como atividade. E que a tradicionalidade e a universalidade dos jogos são observadas pelo fato de que os povos distintos e antigos. nesta mesma Universidade. demonstrando suas benéficas aplicações nos brinquedos e nas brincadeiras.51 SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. Dramatize-os. sobretudo. Também é coordenadora do museu do brinquedo. Em suas pesquisas. (1999. brincaram de amarelinha. sua função lúdica e pedagógica. procura discutir o significado atual do jogo na educação. pela oralidade. como os da Grécia e Oriente. Considerada como parte da cultura popular. marginalizados em decorrência do acelerado processo de industrialização e urbanização. empinar papagaios e jogar pedrinhas. P. Pergunte às crianças o que mais gostaram.. Sempre se interessou em investigar o lúdico na educação da criança. Após.. A CRIANÇA E AS BRINCADEIRAS ERA UMA VEZ. A brincadeira tradicional infantil. Depois conte a mesma história com fantoches. peça que façam um desenho do personagem de que mais . Kishimoto (1999) ressalta que os jogos foram transmitidos de geração em geração por meio de sua prática. O jogo tradicional infantil é um tipo livre. por exemplo. Faz uma abordagem histórica. Faça com que as crianças vivam os personagens.. Evidencia também os jogos tradicionais infantis. permanecendo na memória infantil.Uma professora pesquisadora chamada Tizuko Morchida Kishimoto. crie nova história que seja um jogo de memória.1 O JOGO. hoje professora Titular da Faculdade de Educação da USP. expressando-se. no qual a criança brinca pelo prazer de fazê-lo. Kishimoto (1999) observa a importância do jogo na Educação Infantil.. A atualização e a recuperação dos jogos tradicionais infantis têm mobilizado professores e pesquisadores. espontâneo. dá a construção do termo jogo educativo. gostou. incorpora a mentalidade popular. desde Roma e a Grécia antigas.Sugerimos uma atividade prática: conte uma história. a relevância do processo de brincar (o caráter improdutivo). Contudo. A busca dos significados .as regras (implícitas ou explícitas).o prazer (ou desprazer).liberdade de ação do jogador ou o caráter voluntário. de adultos. . . construindo um mundo colorido e feliz.a imaginação e a contextualização. brincar. fantasias. dependendo do significado que se quer atribuir dentro do contexto em que são utilizados.a incerteza dos resultados. .. vamos todos cirandar!. considerados jogos. cantam e dançam. Ciranda.52 Para essa autora. Nova atividade reflexiva é a brincadeira de roda com músicas folclóricas. o não sério. É o jogo. ou o efeito positivo.... .. intelectuais ou cognitivos. de exterior. brinquedo e brincadeira. O jogo é considerado uma grande família. de animais. simbólicos. provedor do encontro e da interatividade da criança com o mundo! A roda e o faz-de-conta seduzem e encantam a criança. Existem alguns pontos comuns como elementos que interligam a grande família dos jogos: . Por exemplo. . SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. metafóricos. No momento em que brincam. de salão e inúmeros outros mostram a grande variedade da categoria jogar. cirandinha. São cantigas que afloram o imaginário infantil. de interior. jogos conhecidos. recriam a realidade em forma de sonhos. Isso se deve a uma multiplicidade de fenômenos. A conceituação de jogo se torna dificultosa por efeito do emprego de vários sinônimos. existe certa complexidade com relação à definição do termo jogo. de noite e de dia. como faz-de-conta. individuais ou coletivos. motores. com semelhanças e diferenças. como jogo. que permitem identificar e compreender sua natureza.a não-literalidade ou a representação da realidade. verbais. rodar. o jogo apresenta características comuns.. . Corre cotia. no tempo e no espaço. de palavras. políticos. sensóriomotores. que enriquecem o trabalho pedagógico.53 usuais dos termos jogo. As idéias e ações adquiridas pelas crianças provêm desse mundo social. Brincadeira como a descrição de uma conduta estruturada. como os que a criança produz a partir de qualquer material ou que investe de sentido lúdico. RISCOS E RABISCOS. O brincar se inicia pelas experiências interativas entre a mãe e a criança. Para Kishimoto (1999). Jogo infantil. as práticas lúdicas proporcionam subsídios para a compreensão da brincadeira como ação livre da criança e o uso dos dons. Utilizar o jogo na Educação . ou seja. entre a mãe e o mundo. meios para desenvolver a consciência de corpo e as experiências pelo movimento. Desde que mantidas as condições para expressão do jogo. com regras... Essa definição incorpora não só os brinquedos criados pelo mundo adulto. assim. brinquedo e brincadeira favorece maior compreensão e aplicação deles. objetos. São valiosos suportes da ação docente. de imitação de situações do cotidiano. permitindo a aquisição de habilidades e conhecimentos. entre o outro e o eu. justificando. incluindo a família e seu círculo de relacionamentos. de jogar-brincar no mundo real. que tem natureza simbólica. É o espaço propício para a ação iniciada da criança. e assim criarmos um admirável-viável mundo novo de possibilidades. entre a pulsão e o pensamento. também a psicomotricidade conta com o apoio das brincadeiras infantis. evidenciando a leiturapostura psicodramática. de gestos e cantos. dos jogos e dos brinquedos construídos pela própria criança. surge a dimensão educativa. Kishimoto (1999) aponta que o brinquedo será sempre entendido como objeto.Curiosidade: Alicia Fernandez (2001) nos convida a morar no jogar-brincar. para designar tanto o objeto quanto as regras do jogo da criança. o educador está potencializando as situações de aprendizagem. O psicodrama com crianças é essa praia entre o sólido e o líquido. Dentro deste contexto. os jogos educativos. o primeiro ambiente lúdico que permite a expressão e a determinação. a ação intencional da criança para brincar. Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem. suporte de brincadeira. Nesse caso. p. em cada canto da brinquedoteca. desconsiderando e dissociando o lúdico das atividades escolares. SAPEANDO E CONTEXTUALIANDO. Figura 14 Segundo Kishimoto (1999). propondo momentos de criação e construção. É o paraíso encantado. perseverando e esquecendo sua fadiga física. em que a criança embala seus desejos em sonhos flutuantes e prazerosos. da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora. do prazer. 1999. permitindo a liberdade e a expressividade da criança. a preocupação com a escolarização da criança desvia o brincar da infância levando a seriedade precoce ao cotidiano infantil. valorizando a socialização e a re-criação de experiências. as propostas de Educação Infantil se dividem entre as que reproduzem a escola elementar. pode . aprendizagem e socialização. (KISHIMOTO.36-37) No entanto. introduzindo as propriedades do lúdico. Ao professor cabe direcionar a curiosidade infantil. a criança que brinca sempre. é que surgem as brinquedotecas. Permitem que as concepções em sociedade envolvam a liberdade do ser humano de se auto-determinar. de sua criatividade. com determinação auto-ativa. Contar. Venha brincar na brinquedoteca : objetivando o resgate do brincar espontâneo como elemento essencial para o desenvolvimento integral da criança. com ênfase na escolarização (alfabetização e números) e as que buscam introduzir a brincadeira.54 Infantil significa transportar para o campo do ensino-aprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento. inventar e dramatizar histórias sobre brinquedos. No mundo contemporâneo. cujos brinquedos subsidiam essas atividades infantis. ocupando lugar nos momentos de aprendizagem. É preciso. que a criança necessita de orientação para seu desenvolvimento. abrir os olhos. RISCOS E RABISCOS.. na liberdade de inventar.. responsável pelo desenvolvimento físico. “O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para a relevância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento infantil. p. A concepção de brincar como forma de desenvolver a . O brincar pode integrar-se às atividades educativas. como material destinado às brincadeiras e espaços adequados às crianças. A alegria abre espaço para a construção e para a força criativa. falar e podem fazer sofrer. Requer orientação por parte do professor. moral e cognitivo.55 certamente tornar-se homem determinado. pressupõe-se que as atividades lúdicas permitem o estabelecimento de relações entre objetos culturais e a natureza. unificadas pelo mundo espiritual. que o educador tenha um olhar perceptivo para compreender que a educação é ato intencional. olhar. no entanto. com a tarefa de interagir com a criança por meio de experiências lúdicas. de interpretar o mundo criando tudo novo. como objetos culturais ou espaços para implementar seus projetos de brincadeira. cujos caminhos podem ser viabilizados por instrumentos e material que podem ser utilizados para facilitar a construção do conhecimento por parte da criança. de sorrir. capaz de auto-sacrifício para a promoção do seu bem e de outros.36). é preciso dispor de alternativas que ofereçam possibilidades à criança. de criar. já que a alegria é o reconhecer--nos com a possibilidade de mudar e de mudar-nos. escutar.” (KISHIMOTO. E concebe o brincar como atividade livre. de modo que possa estimular o imaginário infantil. espontânea e criativa. Entende. perguntar. mas não matar a alegria. Para proporcionar o brincar livre. Assim ao apontar que o brincar tem profundos significados para a criança. 1999. também. Mais curiosidade: O sentido da alegria para Alícia Fernández (2001) é o conhecer. A alegria está presente no brincar. Há a necessidade de oferecer condições. Veja um fato interessante. RISCOS E RABISCOS. interagindo e explorando o mundo. A ação motora que integra toda brincadeira deve ser vista como dependente da cognição. estabelecendo.38) SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. Durante a primeira infância e só neste momento possui uma abertura para . o brincar contribui para a construção da autonomia. mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influência de parceiros. escravo-de-jó. A utilização do jogo e das brincadeiras potencializa a exploração e a construção do conhecimento. cabra-cega. no trabalho educativo com a criança. o educador (a) deve estar atento à difícil passagem ou caminhada da heteronomia para a autonomia. do brincar e do sentir podem ser também a aventura prazerosa na aprendizagem. A aventura fantástica do brincar está presente nos jogos em geral. afetividade e sociabilidade. É evidente que a aventura do viver. bem como a sistematização de conceitos em outras situações que jogos ou brincadeiras. Só assim. enriquecem a aprendizagem e desenvolvem a cognição e a socialização da criança. Vale a pena. baseada nas experiências e nos desafios que movem todo ser. p. A criança chega ao mundo aberta para os aprendizados da vida. atento à sua própria presença que tanto pode ser auxiliadora como pode virar perturbadora da busca inquieta dos educandos. como serra-serra. típica do lúdico. Mas os jogos que são carregados de afeto. mediante linguagens comuns a si mesmas. pirulito que bate-bate. portanto. É necessário estimular a busca na construção da própria autonomia. São brincadeiras interessantes que devem ser estimuladas para oferecer situações de descobertas e explorações na Educação Infantil. por contar com a motivação interna. passar anel. relação com o desenvolvimento da linguagem e oportunidades de exploração. 1999. Tente essas brincadeiras:. A prática educativa não pode dificultar e nem inibir a curiosidade da criança. (KISHIMOTO.56 autonomia das crianças requer um uso livre de brinquedos e de material. que permita a expressão dos projetos criados pela criança. às outras crianças. em constantes construções. Isso acontece nos momentos e situações em que as crianças conseguem se comunicar. Para Paulo Freire (1996). a linguagem visa assegurar a inserção da pessoa no mundo. A palavra constitui a essência do mundo e a essência do homem. compreender. O brincar tem todo o acervo de conteúdos. ora externa. para que. possibilitando um elo de comunicação da criança com a realidade. O brincar é. para que possamos nos observar. Uma linguagem própria e simples. que trabalha com os sentimentos. para que lidemos com boa parte de nossos conteúdos. . permitindo-lhe extravasar sua essência humana. nessa alternância de constante re-conhecimento de nós mesmos. em diferentes situações. em que construímos nossa base principal. cheia de encantos e surpresas. a única capaz de constituir o mundo. Há na natureza uma sabedoria.Uma curiosidade importante sobre linguagem: Para Gusdorf (1970). formar. um meio natural pelo qual os seres humanos e os animais exploram uma variedade de experiências. em seu livro A Fala. oferecendo a quem dele se utilizar possibilidades naturais de sermos mais naturais. a expressividade do Ser e emoções. possamos sempre nos permitir continuar o caminhar de nosso desenvolvimento. estimular. construir. RISCOS E RABISCOS. finalmente. capaz de apreender. consigo mesmo e com o meio. principalmente na infância. Isto nos possibilita o melhor acesso a nós mesmos durante a vida. sem dúvida. A criança pela linguagem oral e escrita da história se identifica e se envolve com os personagens. para diversos propósitos. é flexível ante as mudanças e conseqüentes adaptações às quais nos submetemos constantemente. desenvolver habilidades que carrega consigo durante toda a vida. suporte para toda uma vida. A linguagem manifesta a transcendência da realidade humana. É uma das primeiras manifestações da criança. RISCOS E RABISCOS: sugestão de leitura muito interessante e que instiga o imaginário infantil pode ser a história: como nasceu a Alegria de Rubem Alves. um caminho natural do desenvolvimento humano com características definidas. vivenciando uma realidade simbólica. Ser natural. doce. Ao mesmo tempo.57 conhecer. Os pais devem valorizar. que estuda e investiga a fala humana. ora internamente. nas trocas com o outro. Revela-se de diversas formas. assim. RISCOS E RABISCOS Outra nova curiosidade sobre o brincar: O brincar gera caminhos de realização e de significados. O brincar faz parte da vida e. visível aos olhos. seus significados e sentidos. a possibilidade de se reconhecer como Ser. Moyles (2002). uma socialização decorrente de tãosomente brincar e. Estendemos uma perspectiva de vida melhor. pode e deve proporcionar aos jovens aprendizes. e a tudo o que nele comparece e ao próprio homem. É necessária uma reflexão por parte dos educadores da infância sobre a frequência em que deve acontecer o brincar até a escolha dos materiais lúdicos para determinadas situações de aprendizagem. na sala de aula..58 O brincar é essencial à criança. e físico. contextos. ainda mais. Seu nome é Janet Moyles. nos aspectos emocional. promover. um espaço para justificar a inclusão efetiva da utilização dos brinquedos e brincadeiras no currículo da Educação de Infância. ao oferecermos à criança a possibilidade de brincar. Esta autora mostra por que a brincadeira é um fator fundamental no aprendizado infantil. intelectivo. cheio de significados e de sentidos. ERA UMA VEZ. o movimento que a vivência dá ao mundo. Seu sentido insinua movimento. símbolos. Constitui auxílio na boa formação infantil. Estendemos um desenvolvimento mais natural e eficiente. movimentos reveladores do sujeito que nos habitar. São sentidos que extravasam os pensamentos. sua chance de manifestação (ou aparência). buscando maneiras. como meio de aprendizagem para a criança. é significativo o movimento que dá o mundo. desmaranhar o “mistério” do brincar.. necessidades e fantasias. Para Critelli (1996). os sentimentos. desafia as concepções sobre o que o brincar. social. objetos. Uma educadora e pesquisadora que resolveu investigar sobre a questão do brincar. assim. . em seus estudos. No entanto. oferecemos muito mais do que o ato em si mesmo. as emoções. A maior . valorizar e participar ativamente desse jogo sedutor. de expressar e concretizar criativamente seus desejos. Abrir. Propõe formas de utilização de brinquedos para o desenvolvimento intelectual e motor da criança. e os desejos do pequeno Ser. no contexto escolar. como linguagem lúdica relacionada com a aprendizagem da criança. Ver a real importância de o professor encorajar. E. a saúde. O brincar “aberto”. Logo. portanto. A criatividade no brincar encontra na aula-passeio uma fonte de aventura associada à curiosidade da criança. o brincar conduz aos relacionamentos grupais. (MOYLES. movimentando-se. Brincar facilita o crescimento e. apresenta uma esfera de possibilidades para a criança. o que auxilia a atuação do professor no sentido de re-orientar as ações pedagógicas em favor de um desenvolvimento cada vez mais saudável. Neste papel. O próprio contexto do passeio pode direcionar a aula na medida das descobertas significativas que a criança faz. p. conhecer e compreender melhor o desenvolvimento da criança. que se utilizam do instrumento lúdico. É no brincar que a criança pode ser criativa e . É uma forma de acesso às fixações e experiências mais profundamente recalcadas da criança. os valores que representam o brincar no espaço escolar. é uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros.59 aprendizagem está na oportunidade oferecida à criança de aplicar algo da atividade lúdica dirigida a alguma outra situação. A aula-passeio pode ser rica em informações. ao transitar pelas experiências vividas por diversos profissionais de atuação na infância. Parte da tarefa do professor é proporcionar situações de brincar livre e dirigido que tentem atender às necessidades de aprendizagem das crianças. satisfazendo suas necessidades de aprendizagem e tornando mais clara a sua aprendizagem explícita. período em que a criança ainda não possui domínio da linguagem. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. aquele que poderíamos chamar de a verdadeira situação de brincar. o profesor poderia ser chamado de um iniciador e mediador da aprendizagem.36-37) As experiências lúdicas possibilitam ao educador mediar. Faça com seus alunos (as) uma aula-passeio e gere conversas. que favorecem o desenvolvimento das potencialidades e da personalidade da criança. Esse movimento gera experiências e descobertas. As brincadeiras podem transmitir informações importantes sobre a realidade infantil. A brincadeira é saudável. a autora procura sinalizar. capaz de revelar as infinitas sutilezas presentes em sua existência. 2002. que permitam diferentes oportunidades para diferentes crianças e. o brincar se apresenta como fundamental. descobrindo o seu “eu”. Acima de tudo. No desenvolvimento da criança podemos encontrar agentes colaboradores. por isso. Assim. bingo e cruzadinhas. ainda chamamos a atenção à valorização das práticas lúdicas na sala de aula como linguagem da criança na comunicação com o mundo que a cerca. o brincar fornece possibilidades que derivam dos ambientes e espaços lúdicos. SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. trilha. p.O tempo de e do brincar se faz e se cria a qualquer momento. intelectivo e físico. Destarte. Veja você mesmo (a) a sua importância: a sala de atividades se torna palco para as fantasias. como dominó. temos de assegurar que cada criança tenha oportunidade de explorar adequadamente um novo meio ou situação – e isso significa tentar explorar as experiências com palavras. por meio do brincar. (MOYLES. Confeccione um varal com letras e faça com elas relações de construção do conhecimento no cotidiano infantil.57) Mediante suas experiências criativas e o instrumento brinquedo. na expressividade do conhecimento e da auto-percepção. poesias e músicas interpretados pela criatividade infantil. o desenvolvimento emocional. mais importante.60 utilizar sua personalidade integral. assim como por meio do brincar. o brincar motiva e é. Devemos oferecer uma variedade de situações e inovações dentro da sala de aula. É o momento da aprendizagem com letras por meio do brincar. . que proporciona clima especial para a aprendizagem. tais como o fator social entre eles. como qualquer outra. Entretanto. a construção desta convivência em sociedade. possui a sua própria. que. Os jogos. podem ter sentido maior quando relacionados com histórias. tanto ao desenvolvimento cognitivo e motor da criança quanto à sua socialização. facilitando o contato com a criança. contos. importante instrumento de intervenção da estratégia de construção do conhecimento e autopercepção na infância. em sua utilidade maior. por meio da qual é possível o acesso à cultura e à sua assimilação. Tal valorização do brincar deve ser como a cultura da criança. 2002. uma vez que este último se apresenta como a linguagem própria da criança. percebemos que o desenvolvimento infantil se encontra particularmente vinculado ao brincar. especialmente para as crianças com idade entre três e seis anos. que brincam para viver interagem com o real. é meio pedagógico que canaliza a imaginação infantil. Veja essa curiosidade sobre linguagem expressa por Wallon (1996). Os gestos ou os símbolos que sucedem nessa atividade são na verdade um retorno ao mundo exterior e ao movimento que a ludicidade propicia Brincar é experiência fundamental para qualquer idade. como uma atividade em si mesma”. o brincar e o brinquedo já não são mais. portanto. descobrem o mundo que as envolve. A linguagem simbólica vem. por exemplo. por exemplo. quando conversam consigo mesmas ou com os seus brinquedos. Brincar com as palavras ajuda as crianças a compreender o que tem sentido e o que é absurdo. Dessa forma. Assim. oferecendo possibilidades de expressão corporal e lingüística. O teatro. organizam-se e se socializam. enquanto tropeçam nas palavras. RISCOS E RABISCOS. brincadeiras e com outras crianças. aquelas "atividades utilizadas pelo professor para recrear as crianças. da habilidade e da competência. com brinquedos. é importante para o desenvolvimento da linguagem. . há a necessidade de o professor(a) ampliar. na escola. pois constitui complexas interações lingüísticas que promovem o imaginário e metafórico modo de comunicação no mundo das crianças. Quanto mais rica for a experiência vivida pela criança.61 É importante também o uso imaginativo da linguagem falada. como oportunidade de diversão para as crianças. significativamente. maior é o material disponível e acessível à sua imaginação. Podemos observar que as crianças usam a linguagem em suas brincadeiras a maior parte do tempo. encontradas no brincar. as vivências da criança com o ambiente físico. O faz-de-conta. auxiliar a expressividade infantil por meio da imitação e da representação. A intenção que a criança gostaria de exprimir não chega a desenvolver-se em termos sucessivos por palavras. Uma sugestão: a realização do teatro em sala de aula. com os outros e com o mundo. a fim de transformá-lo em espaço de descobertas. lavados ou expostos ao sol para que não acumulem poeira ou mofo. .62 SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. de vez em quando. entretanto. enfim um lugar onde as crianças sintam prazer pelo ato de conhecer. ingredientes fortes para despertar a emoção nas crianças. o brincar natural. materiais de escritório. pode ser interessante e divertido. num canto da sala para que elas possam visualizá-los e dispor deles quando quiserem. como telefone. Nos momentos destinados ao faz-de-conta. a discussão sobre temática tão importante de nossas vidas. brincar com a linguagem e usar a linguagem. dentro de seu universo do brincar.. é vital explorar a linguagem. Em relação à espiral do brincar. já que fomos crianças em algum tempo. de tule e de retalhos) que devem ser. pois. adornos) objetos de uso para as cenas. no sentido de trabalhar a fantasia. inventa e promove mudanças. o educando explora muito mais sua criatividade. ainda. Por meio de atividades lúdicas. fonte de estruturação também no campo do progresso humano. numa caixa. de imaginação. O fato de que as crianças também podem aprender sobre a linguagem é um ponto a mais para ser considerado. pois é ele quem faz descobertas. propiciar a expressão do Ser por meio do teatro. de criatividade. Cabe lembrar. o irreal e o fantástico.. que abre. de consultório. (MOYLES. O indivíduo criativo é elemento importante para o funcionamento efetivo da sociedade. Promover uma data para que as crianças tragam doações para o baú. ainda mais. p. a importância dos estudos de Moyles (2002). os brinquedos fazem parte de nosso desenvolvimento.Guarde os adereços (chapéus. com a ajuda das crianças. organize-os. É também momento lúdico que pode permear o espaço escolar. utensílios de cozinha. que pretendemos somar informações e valores de como ocorrem os relacionamentos entre as crianças atualmente. Precisamos. na qualidade de educadores. É mais provável que isso ocorra se os adultos se envolverem no brincar e oferecerem um modelo para a criança. É uma linguagem que viabiliza a comunicação da criança consigo mesma.Utilize um baú ou uma caixa de surpresas para guardar roupas e tecidos (pedaços de lençóis. 2002.66) Vale ressaltar. evidenciando algo aprendido e disposição inata do ser humano. quem brinca. a um só tempo. . aprende.63 Mesmo sem intenção de aprender. uma vez que os brinquedos e o ato de brincar. a brincadeira é atravessada pela aprendizagem. pois se aprende brincando. podem contar a história da humanidade e dela participar diretamente. Como construção social. 64 À guisa de considerações finais Construímos tal fascículo porque entendemos a importância do processo lúdico na aprendizagem e na vida da criança.O Brincar em Linguagem .evidenciamos o ato de compreender a importância de pensar a construção de uma cultura lúdica. é colorir um desenho. fomentando-as. pois brincar é como fazer poesia. examinamos as pontuações de Vygotsky (1991). de forma interativa. . de modo a fazer a criança avançar do ponto em que está na sua aprendizagem e no seu desenvolvimento. Procuramos expor. sugeridas ao professor (a) na mágica arte de ensinar. quando relaciona o brincar infantil espontâneo e social. pesquisado por Ariès (1960). além de instigar e conter mistérios. Todo educador (a) precisa de uma formação lúdica de conhecimentos construídos entre pares que perfaçam o espiral de parcerias. mostrando o limite que tal criança enfrentava. No capítulo 2 . construído nas interações da criança com o meio em que vive e de sua influência significativa na aprendizagem da mesma. Tornar-se lúdico é perceber que o melhor jogo é aquele que dá espaço para ação de quem brinca. que entre no contexto da aula. Procuramos enfocar o brincar em alguns contextos. necessárias ao Ser professor. com poucas possibilidades lúdicas. mostrando um efeito de sentido do Ser em seus momentos de infância. Destarte. A esse. desde a descoberta do sentimento de infância. denominamos O brincar e o reconhecimento da infância. realizar na sala de aula uma animação lúdica. é empinar uma pipa ou rir com um palhaço. divertida e animada. os construtos teóricos entrelaçados por praticidades. Nossa intenção é fazer da brincadeira infantil uma roda alegre. Enfim. A metáfora que o brinquedo e as brincadeiras patenteiam no amplo alcance. pois vemos que este favorece a reflexão necessária para tal compreensão. É identificar situações potencialmente lúdicas. muitas vezes ou quase sempre demonstrado pelo brinquedo e as brincadeiras de época e das épocas. A cultura lúdica que faz a história. Sabemos que o brincar faz parte da natureza da criança. pautada nos aportes teóricos de Huisinga (1980). pode ter o sentido desse brincar. Rojas (2004) revela que. Sugerimos que as possibilidades de propiciar esse lúdico estejam na ciranda entre os pares teóricos e nos ritmos interpretativos que fazem a prática. a criança espraia a sucessão de fantasias e símbolos mágicos que habitam sua imaginação. pois quem não tem um pedaço de pano? A complementaridade de tal reflexão é observada em Jogo. no enfoque criativo do livro de pano. Com a sua história descrita. com o outro e consigo mesma.65 As palavras de Ricoeur (1983) encobrem os infinitos significados. Realize e relate tal atividade. conforme Moyles (2002). entre para o mundo da ludicidade e se encante com as possibilidades de ser criança novamente. como desenhos. Comece com o Era uma vez. como elementos fundamentais para a educação da criança. faça sua história. trabalhe a importância das experiências vividas. e não apenas um produto.. que podem favorecer uma motivação para a criança num relacionamento interativo? Uma atividade reflexiva para você: Monte um projeto de ação em sala de aula por meio do brincar.Invente.. rabisque e diga do valor do brincar como recurso de . Nessa esteira a linguagem do brincar. brinquedo e brincadeira: a função lúdica e pedagógica no espaço infantil. que temos o compromisso de recriar o trabalho educativo com a criança. na construção criativa e espontânea de experiências de aprendizagem que evidenciam um processo... Acreditamos que todas essas páginas são necessárias a nós... educadores.Crie. para a ludicidade. danças.. como meio de comunicação da criança com o mundo. responda: O que é brincar? Como esse brincar pode contextualizar sua prática pedagógica? Quais as brincadeiras que você lembra. Por isso. ressaltadas por Kishimoto (1999).Brinque. Além de ser um brinquedo ao alcance de todos.Construa! E então. risque. em sala de aula. como recurso lúdico auxiliar para a realização do trabalho pedagógico. poesias.. cenários criados que representam a existência seqüencial das interpretações figurativas. dizem do lúdico e como esse sugere o momento de transcendência da realidade humana para caminhos figurativos existentes neste brincar infantil. de imediato. pesquisadora do jogo e das brincadeiras. assegura também a importância do lúdico na ação pedagógica. Inclua o relato do projeto. dizendo daquilo que vivencia e/ou vivenciou com o projeto/brinquedo ou com o brinquedo/projeto. . . sapeando e contextualizando a sua prática docente.66 aprendizagem no desenvolvimento infantil. observe a roda e perceba a importância da ciranda de mãos dadas como construção do conhecimento que.67 Figura 15 Agora. de ação e de parceria. Ouse em seu fazer. não poucas vezes fazemos como educadores. sempre. Abra-se para as mudanças. entre pares teóricos e os sujeitos aprendizes na ação. que chegamos ao final do fascículo. Sucesso em seus feitos e estabeleça a roda como mandala da vida! . coloque alegria na ação e inove-se a cada dia. mãos como pontes de afetividade. aventure-se na sua prática. Faça uma avaliação da possibilidade de dar as mãos. persiga suas metas. Dulce Mára. Ilustração Bianca. 1999. As emoções sociais e a neurologia do sentir. BETTLHEIM. cores. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. CRITELLI. São Paulo. – (Coleção Leitura). I. brincadeira e a educação. costumes. A coragem de criar. Arlene Caetano. (mitos. São Paulo: Paz e Terra. ARIÈS. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. GUSDORF. – São Paulo: Scipione. RJ : José Olympio.São Paulo: Guanabara. formas. 1994. MALUF. figuras. de João Paulo Monteiro. números). 1960. Brincar: prazer e aprendizado. 1996. ALVES. Análise do sentido: uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica. Johan.68 Referências Bibliográficas ALÍCIA. Desenvolvimento do grafismo infantil. Petrópolis. 2001. DAMÁSIO. 1990. Fernandez. Philippe. Perspectiva. 2003. Tizuko Morchida (org). gestos. Petrópolis. RJ: Vozes. Formas de pensar o desenho. Jogo. Portugal. brinquedo. 1996. Paulo. Rollo. Psicopedagogia em psicodrama: morando no brincar. 1996. Alain Gerbrant. 2003. Edith. Rubem. São Paulo: EDUC: Brasiliense. A Fala. São Paulo : Loyola.G. A menina e a pantera. Bruno. Ao encontro de Espinosa. Ilustração Bianca. Publicações Europa América. Trad. São Paulo : Loyola. Angela Cristina Munhoz. FREIRE. Jean. 1994. CHEVALLIER. São Paulo: Cortez. 1982. MAY. Dicionário de símbolos.Lisboa/Porto. 1991. A psicanálise dos contos de fada. O começo da alegria. KISHIMOTO. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. RJ : Paz e Terra. Despertar. ALVES. Trad. sonhos. . A história social da criança e da família. Rubem. FAZENDA. 1980. 1970. 1980. DERDYK. São Paulo : edição. HUIZINGA. 2ª edição . RJ : Vozes. António. Tradução de Aulyde Soares Rodrigues. Werebe. SANTOS. 2000. 2001. Paul. 1986. – 8.dicionário em construção: interdisciplinaridade/ Ivani C. 1983. RS: Vozes. O brincar e a criança do nascimento aos seis anos.Os sete saberes necessários à educação do futuro.69 MORAES. Jucimara.). 1995. Livro de pano: momentos de ludicidade construtiva nas práticas pedagógicas portuguesas. Vygotsky: uma perspectiva histórico. (org. – Petrópolis. Semenovick. Psicologia. Orgs: Michael Cole et al. Maria Adriana Veronese. Teoria da interpretação. RICOEUR. Edgar. Tradução de Catarina Eleonora F. ROJAS. O discurso e o excesso de significação.). . de. VYGOTSKY. Petrópolis. in FAZENDA. ed. Jucimara. Jacqueline N. ed. Porto Alegre.Portugal: Rés. MORIN. ROJAS. São Paulo: Moderna. Henri. 2002. 1995. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos.cultural da educação. Rio Janeiro: Vozes. 4. revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. Ivani C. – (Educação e conhecimento). da Silva e Jeanne Sawaya. MOYLES. – São Paulo: Cortez. A. Brasília. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 2004. A metáfora viva. RJ : Vozes. – Porto Alegre : Artmed Editora. CD-ROM. Lisboa-Portugal: edições 70. Vinícius. Teresa Cristina. REGO. 1921. trad. Fazenda (org. 2003. (Org). Paul. Metáfora . Aveiro: Universidade. 1976. Só brincar? o papel do brincar na educação infantil. DF : UNESCO. 1996. 1991. OLIVEIRA. RICOEUR. As borboletas. – São Paulo : Martins Fontes. Janet R. Porto . Santa Marli Pires. São Paulo : Ática. Lev. Vera B. – São Paulo: Cortez. A. (Orgs) Maria José G. Brulfert. WALLON. _____ .) O direito de brincar: a Brinquedoteca São Paulo: Scritta: ABRINQ. SãoPaulo: Sammus. Florianópolis. M. In:KISHIMOTO (org. BRINCADEIRA é coisa séria. _____. Brincar: brincadeira ou coisa séria? Porto Alegre: Educação e Realidade.31. técnicas e jogos pedagógicos. BONAMIGO. Brinquedo. Brinquedo e Cultura. 117 p. dos (Org). BRINQUEDOTECA. 57. Edda. brincadeira e a educação. 1990. o brinquedo. Espaço do brincar estimula a criatividade e a socialização. Walter. N. Cyrce M. ANDRADE. São Paulo. G. N. [1998?] (Edição especial). São Paulo: Maltese. 1997. 1998. 22 ago. E. A brinquedoteca brasileira. desafio e descoberta: subsídios para a utilização e confecção de brinquedos. p.19. In: FRIEDMAN. brinquedo e brincadeira na educação infantil. p. A brincadeira de faz-de-conta: lugar do simbolismo. KUDE. CUNHA. 1994. H. 1997. ed. BRINCADEIRAS tradicionais do Brasil. da S. Petrópolis: Vozes. V. 9 ed. H. P. p 13-15. A Equipe Na Brinquedoteca. 13-22. . 1984. Rio de Janeiro: FAE.72. N. 4. nº 250. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. S. A (org. São Paulo : Loyola. 427 p. a educação. BENJAMIN. In: SEMINÁRIO SOBRE BRINQUEDO E BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. R. 2000. Jogo. FAPESP/LABRIMP. desafio e descoberta: subsídios para utilização e confecção de brinquedos. 1995b. n. Brinquedoteca: um mergulho no brincar.75. BOMTEMPO. SãoPaulo. 1994. abril. _____ .70 Referências Bibliográficas complementares sobre o brincar ALMEIDA. In: SANTOS. 1993. Rio de Janeiro: FAE. _____. da representação e do imaginário. v. Palestra proferida na UFSC. 1994. São Paulo: Cortez.) Jogo. 1998. v. AMAE Educando. São Paulo: Cortez.R. BROUGÈRE. Brinquedo. Educação lúdica : prazer de estudar. S. .. M. Revista Veja. 1992. I a VIII. Reflexões: A criança. p. P.J. D.1999. Rio de Janeiro: SATA/Rio Arte. 203 p KISHIMOTO. Caroiyn. 1998. ln: EDWARDS. E. GARON. FRIEDMANN. do C. São Paulo:Vozes. p. Florianópolis. Joseph. Dissertação (Mestrado em Educação) . GANDIM. 1985. LACERDA. brinquedos e brincadeiras da cultura lúdica infantil. Linguagem. 2004. Tradução de Psicologia Igri. In: VIGOTSKY. 53-63. CARDOSO. O papel do pedagogo. Brincar. 4.Centro de Ciências da Educação. Porto Alegre : Artes Médicas.George. A abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. R. 171-181). 1996. 1994. 1992. FORMAN. BRUNELLE. M. desenvolvimento e aprendizagem. O direito de brincar . O direito de brincar: a brinquedoteca. LEBOVICI. LEIFT. Salvador : Arte Contemporânea. 1992. Porto Alegre: Artes Médicas. O jogo pelo jogo. 3. D. Classificação e análise de materiais lúdicos . KISHIMOTO. Diferentes tipos de brinquedoteca. Tradução por Liana di Marco. N. A. Variáveis que influenciam o comportamento de brincar.. Tizuko Morchida. D. Lucien. Significado e função do brinquedo na criança. ed. A arte de brincar. A.. 1986. E. HUSSEIN. Tradução de Álvaro Cabral. 1998. M. brincadeira e cultura na educação infantil. S. 2. O brincar e suas teorias São Paulo: Pioneira. Brinquedoteca carretel da Folia. Jogos Tradicionais Infantis. Universidade Federal de Santa Catarina. N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: BOMTEMPO. p. Pedagogia do brincar : jogos.. Leilla.71 ELKONIN. LEITE. 1993 _____. Friedmann (Org. Adriana.ed. São Paulo: Vozes. FRIEDMAN. S. ESTEVES. L. Jogo. São Paulo: Abrinq. In: FRIEDMANN. São Paulo : USP.) O direito de brincar: a Brinquedoteca São Paulo: Scritta: ABRINQ. 1978. _____. p. Tiziana. L. T. Rio de Janeiro: Zahar. Adriana (org. São Paulo: Moderna.a brinquedoteca (pp. 123-127.). crescer e aprender. Psicologia do brinquedo: aspectos teóricos e metodológicos. LEONTIEV.As cem linguagens da criança. São Paulo: Scritta. São Paulo: Ícone. .. ed. In: A. A.o sistema ESAR. Psicologia do jogo. 1996 FILIPPINI. 1998. 1995. _____. B. M. São Paulo : Martins Fontes. 1999. DIATKINE. FANTIN. 1988.. LACERDA. 119-143. C. . C. Petrópolis: Vozes. 1997. O. 83-94. 1992. São Paulo: Scipione. SANTOS. M. p. 1997. CRUZ. 1994.52. set. L. Lisboa : Instituto de Apoio à Criança. O que é brinquedo Paulo: Editora Brasiliense. 97-100. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Santa Marli Pires dos. Santa Marli Pires dos. nº 1. T. Brincar na pré – escola. R. WAJSKOP.72 LUDOTECA in Brasile. C. p. dos. 1997. Porto Alegre : Artes Médicas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 4. de Borja. P. M. S. 1999. OLIVEIRA. Petrópolis : Vozes. SANTOS. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. 1997. _____ . A interação social na brincadeira de faz-de-conta: uma análise da dimensão meta-comunicativa. (1997). ed. dos.. Petrópolis: Vozes. 1995. da. NEGRINE. 1995. M. _____ .). Paulo. M. 4. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. In: _____ . Brinquedoteca: sucata vira brinquedo. 1994. SOLÉ. Dissertação de Mestrado Não-publicada. ed. M. Curso de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento. O. Brinquedos e engenhocas: atividades lúdicas com sucata. Fachel. Petrópolis : Vozes. S. 96p. Brinquedoteca: teoria e prática. 2 ed. P. Gisela. J. O jogo infantil: organização das ludotecas. P. p. Brinquedo e infância: um guia para pais e educadores de creche. SANTOS. 1989. A interação social na brincadeira de faz-de-conta: uma análise da dimensão metapsicológica. Brinquedo e infância: Um guia para pais e educadores em creche..S. Psicologia: Teoria e Pesquisa. In: SANTOS.51. São Paulo: Cortez. Infanzia. 1997. D. dos (Org. Brinquedotaca de universidade. M. 5 ed. Petrópolis: Vozes. 2003. Sucata vira brinquedo. Bologna. S. . 4. Porto Alegre: Artes Médicas. A. SANTOS. RS. Itália. WEISS. ed. SPERB. Porto Alegre. MELLO. 1984. MELLO. Faculdade de Educação.net/ educação/estatuto.regra.com. Estatuto da Associação Brasileira de Brinquedotecas.htm UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.73 Sites sugeridos sobre a temática do brincar ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BRINQUEDOTECAS. http://www.regra. Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada. http://www. Disponível na internet.htm .br/ educação/labrimp. Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos. Disponível na internet. asp> Acesso em: Acesso em: 27 jan.cidadeinternet. Produção: Sarah Pillsbury e Midge Sanford Gênero: Drama. . já velho. tenha que separar a ficção da realidade de suas histórias. no Alabama.74 SUGESTÃO DE FILMES Figura 16 COLCHA DE RETALHOS. PEIXE GRANDE E SUAS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS. que estas mulheres tiveram. mas repletos de sentimentos. Finn Dodd (Wynona Ryder). Disponível em <http://adorocinema. Gênero: Comédia. 22:32.br/filmes/colcha-de-retalhos/colcha-deretalhos. Neste meio-tempo.com. para realizar uma volta ao mundo. criando dúvidas em seu coração que precisam ser esclarecidas. Lá estão várias amigas da família.br/filmes/peixe-grande/peixe-grande. Até que Sandra (Jessica Lange). Sinopse: Enquanto elabora sua tese e se prepara para se casar. 2007.asp> Acesso em: 27 jan. mesclando realidade com fantasia. o que faz com que Ed. A diversão predileta de Ed. Sinopse e pôster Colcha de retalhos. Sinopse: Ed Bloom (Albert Finney) é grande contador de histórias. 2007. que preparam uma elaborada colcha de retalhos como presente de casamento. Quando jovem. ela se sente atraída por um desconhecido.cidadeinternet. Direção de Jocelyn Moorhouse. Duração: 116m. uma jovem mulher. nem sempre moralmente aprováveis. Enquanto o trabalho é feito. Ed saiu de sua pequena cidade natal. Sinopse e pôster Peixe grande e suas histórias maravilhosas.com.21:28. As histórias fascinam todos que as ouvem. enfim. é contar sobre as aventuras que viveu neste período. tenta aproximar pai e filho. ela ouve o relato de paixões e envolvimentos. com exceção de Will (Billy Crudup). filho de Ed. Produção: Bruce Cohen e Dan Jinks. vai morar na casa de sua avó (Ellen Burstyn). Duração: 125m. Disponível em <http://adorocinema. mãe de Will. Direção: Tim Burton. shtml Figura 8 – Acervo particular Jucimara Rojas – materiais pedagógicos.com/.ufsc.tripod.shtml Figura 14 http://revistaescola.com.abril..www.com.abril.jpg Figura 2 .rcts.br/jogos.plus.shtml Figura 13 http://revistaescola.gardenofpraise.br/~zeroseis/brincar3.gif Figura 7 http://revistaescola.http://www.br/brinquedos.abril.http://www. o elefante diferente e O Chapeuzinho Vermelho.shtml Figura 15 – members.www.br/especiais/jogos_brincadeiras/especial.htm Figura 4 .bohney.www.pt .abolsamia.br/especiais/jogos_brincadeiras/especial.abril.com/images/bruegel2.com. Figura 9 ./pintura_biedermeier.http://www..com/Livro.eb1-parameira.htm Figura 16 .shtml Figura 6 .adventistasviseu.ced.com.br/especiais/jogos_brincadeiras/especial.pt/imagens/lapis.jpg Figura 3 .html Figura 10 – Acervo particular Jucimara Rojas – Livros de Pano – ELMER. Figura 11 http://www.es/buscador.http://www.www.gif Figura 5 .com.com.gif Figura 12 http://revistaescola.es/media/PAGINADIGITALPLUS/Infantiles/infantil_septiembre_2005/ noviembre/elcircodejojo.qdivertido.iies.br/especiais/jogos_brincadeiras/especial.75 Lista de Figuras Figura 1 .
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.