FANZINE & HQ NUMA PERSPECTIVA EDUCOMUNICATIVA

June 16, 2018 | Author: Isabel Santos | Category: Documents


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FANZINE & HQ NUMA PERSPECTIVA EDUCOMUNICATIVA Isabel Pereira dos Santos1 Maria Izabel Leão2 Maria Salete Prado Soares3

Resumo: Este artigo descreve o desenvolvimento e a realização do curso “História em Quadrinhos e Fanzine na Escola” do Programa Nas Ondas do Rádio, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, no ano de 2014. O texto explicita o desenvolvimento do curso até a concretização do material produzido pelos professores e disponibilizado na internet, assim como discute o processo e produto na perspectiva educomunicativa. O curso teve por objetivo promover aquisição de competências comunicativas, despertar uma perspectiva crítica e estimular a produção colaborativa. Os resultados mostraram, por meio de publicações digitais, que houve não apenas apropriação de novas mídias (em especial fanzine e HQ como recursos pedagógicos diferenciados), mas também discussão nos grupos de trabalho, reflexão crítica, incentivo à autonomia, à criatividade, à colaboração, à produção de conhecimento. Além de propiciar espaços de encontro e trabalho compartilhado, o curso possibilitou e contribuiu para o aprimoramento das competências leitora e escritora e habilidades que envolvem apresentação visual e a livre expressão. Palavras-Chave: História em Quadrinhos. Fanzine. Educomunicação. Programa Nas Ondas do Rádio. Formação de professor.

Abstract: write here the English version of your abstract,ranging from 100 to 200 words. Write briefly, in one paragraph, the aims of the work, the main results obtained, and the conclusions drawn. Use Times New Roman, 10pt, 1,0 leading. Keywords: Keyword 1. Keyword 2. Keyword 3 (use a maximum of 5 keywords).

1

Doutora XXX, NCE/USP, [email protected] Mestre XXX, NCE/USP, [email protected] 3 Mestre ECA/USP, NCE/USP, [email protected] 2

1

A rede municipal de ensino em São Paulo é gerida pela Secretaria Municipal de Educação do Município de São Paulo – SMESP responsável, dentre outros, pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos, Centros Educacionais Unificados, Centro de Educação e Cultura Indígena – CECI é estruturada conforme organograma abaixo.

Compõe-se de treze Diretorias Regionais de Educação: Butantã, Campo Limpo, Capela do Socorro, Guaianases, Freguesia do Ó, Ipiranga, Itaquera, Jaçanã/Tremembé, Penha, Pirituba, Santo Amaro, São Mateus, São Miguel, instâncias que interligam as Unidades Educacionais e a Secretaria Municipal de Educação no sentido de supervisionar e oferecer assistências às escolas municipais. Para orientar as ações em suas Unidades Educacionais, a SMESP instituiu o Programa Mais Educação São Paulo.

Dentre as práticas elencadas pelos grupos de trabalho referentes às ações para concretizar a qualidade social na Rede Municipal de Ensino dentro da Unidade Escolar destacam-se as recomendações sobre as “práticas pedagógicas junto aos educandos” (SÃO PAULO, 2014, p. 24). 1.

Reconhecer as múltiplas linguagens como fundamentais à aprendizagem e criar situações para sua experimentação;

2. Aproximar o conhecimento formal dos saberes trazidos pelos educandos: considerar e construir conhecimento levando em conta o repertório trazido pelos educandos; 3. Promover momentos de autoavaliação com educandos; 4. Avançar no Ensino Fundamental sobre questões de avaliação, evitando uma visão de média das notas e trabalhando pelo direito de aprendizagem e evolução do estudante e não apenas pela média ponderada; 5. Buscar a qualidade na inclusão de educandos com deficiência, respeitando as especificidades; 6. Realizar práticas que despertem o desejo e o interesse de aprender e que resultem em sentimentos de prazer em relação aos conhecimentos; 7. Proporcionar aos educandos ferramentas para viverem experiências com a tecnologia; 8. Favorecer o uso das tecnologias a serviço da humanização, da convivência e do enfrentamento à violência.

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Tais prática pedagógicas - relevantes para este artigo - se aproximam daquelas relacionadas a determinadas áreas de intervenção social provenientes do campo da inter-relação comunicação/educação: Educomunicação. Segundo Ismar de Oliveira Soares, esse novo campo é definido pelos pesquisadores do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo, como os [...] conjuntos das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos, em espaços educacionais ou virtuais, assim como a melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso de recursos da informação no processo de aprendizagem (SOARES, 2002, p. 24).

As referidas áreas de intervenção educomunicativas são relacionadas abaixo, em síntese, para posterior aproximação com algumas “práticas pedagógicas junto aos educandos”, provenientes do eixo Qualidade do Programa Mais Educação São Paulo. 1.

Educação para a comunicação;

2.

Mediação tecnológica nos espaços educativos;

3.

Expressão comunicativa através das artes;

4.

Gestão dos processos e recursos da informação;

5.

Reflexão epistemológica.

Para os propósitos deste artigo, ressalta-se a relação entre o Programa Mais Educação São Paulo e algumas áreas de intervenção da Educomunicação.

Educomunicação

Programa Mais Educação São Paulo

Compatibilidades

Educação para a comunicação

Reconhecer as múltiplas linguagens como fundamentais à aprendizagem e criar situações para sua experimentação.

Abre-se a perspectiva e a oportunidade de elaborar “projetos que se caracterizam por implementar procedimentos voltados para a apropriação dos meios e das linguagens da comunicação por parte das crianças e dos jovens” (SOARES, 2011b, p. 26).

Expressão

Aproximar o

Diz respeito ao fato de valorizar 3

comunicativa através das artes

conhecimento formal dos saberes trazidos pelos educandos: considerar e construir conhecimento levando em conta o repertório trazido pelos educandos.

bons hábitos e comportamentos dos educandos de forma a ressaltar aspectos que os transformem em cidadão reflexivos, críticos e conscientes. "Esta área aproxima-se das práticas identificadas com a Arte-Educação, sempre que primordialmente voltadas para o potencial comunicativo de expressão artística, concebida como uma produção coletiva, mas como performance individual” (SOARES, 2011a, p. 47-48).

Área da mediação tecnológica na educação

Proporcionar aos educandos ferramentas para viverem experiências com a tecnologia;

Sugere o uso das ferramentas tecnológicas da educação e comunicação aos docentes e discentes de forma estratégica na exposição de ideias, liberdade de expressão e práticas solidárias. “[...] propiciando que não apenas dominem o manejo dos novos aparelhos, mas que criem projetos para o uso social das invenções que caracterizam a Era da Informação” (SOARES, 2011a, p. 48).

Favorecer o uso das tecnologias a serviço da humanização, da convivência e do enfrentamento à violência.

Cabe notar com essas aproximações a convergência de propósitos e a relevância das ações do Programa sincronizadas com a Educomunicação.

Em relação ao Ciclo Autoral que corresponde ao período do 7o. ao 9o. ano do Ensino Fundamental, ressalta-se seu principal aspecto: “[...] construção de conhecimento a partir de projetos curriculares comprometidos com a intervenção social [...]” (SÃO PAULO, 2014, p. 80). Tal processo culmina com o Trabalho Colaborativo de Autoria – TCA. Entende-se que o TCA promove o crescimento intelectual e comprometimento social do educando de forma a torná-lo participante efetivo da sociedade a qual pertence.

Será dada ênfase ao desenvolvimento da construção do conhecimento considerando o manejo apropriado das diferentes linguagens, o que implica um processo que envolve a leitura, a escrita, busca de resoluções de problemas, análise crítica e produção. É, portanto, o domínio de diferentes linguagens (lógico-verbal, lógico-matemática, gráfica, artística,

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corporal, científica e tecnológica) que permitirá a cada aluno, ao final do Ciclo Autoral, a produção do T.C.A. comprometido com a construção de uma vida melhor. (SÃO PAULO, 2014, p. 80)

O Ciclo Autoral compreenderá um período de desenvolvimento de projetos autorais colaborativos e de intervenção social, com a orientação de professores envolvidos na construção deste processo de ensino e aprendizagem. Nessa esteira, entra em cenário o Programa Nas Ondas do Rádio, que poderá ser um auxiliar no processo de elaboração do TCA.

O Programa Nas Ondas do Rádio O Programa Nas Ondas do Rádio atua na formação de educadores da escola básica da SMESP por meio de cursos fundamentados na Educomunicação. A portaria da SMESP no. 5792/09 de dezembro de 2009 implementou o Programa Nas Ondas do Rádio nas Escolas Municipais de Educação Infantil – EMEI, Escolas Municipais de Ensino Fundamental – EMEF, Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos – CIEJA, Escolas Municipais de Educação Especial – EMEE, Escolas Municipais de Ensino Fundamental e Médio – EMEFM.

As ações desse Programa estão voltadas para o desenvolvimento de projetos nas Unidades Escolares com o objetivo de promover a gestão democrática, o protagonismo infantojuvenil, a liberdade de expressão, o uso consciente das tecnologias de comunicação e informação, aperfeiçoar as competências leitora e escritora e promover a cultura da paz no espaço escolar. Nesse âmbito a pedagogia de projetos permeia esse processo e propicia produções interdisciplinares com a participação de professores e estudantes de forma colaborativa e solidária. As produções midiáticas resultantes são publicadas em blogs, sites e redes sociais.

Os cursos oferecidos pelo Programa Nas Ondas do Rádio são os seguintes: · Gestão de Projetos Educomunicativos 5

· Agência de Notícias Imprensa Jovem · Agente Cultural Mídia Rádio · Curso Cinema na escola · Nas Ondas do Vídeo · Nas Ondas da Fotografia · História em Quadrinhos e Fanzine na Escola ·Jornal Impresso · Implementando a Rádio Escolar Cursos a distância · Planejamento Educomunicativo: Como elaborar um projeto · Imprensa Jovem Online

O Programa tem ampla consolidação na Rede Municipal de Ensino, é coordenado desde 2009 por Carlos Alberto Mendes e conta com educomunicadores para ministrar seus cursos. Em 2014 o curso Imprensa Jovem Online teve como público-alvo professores e pela primeira vez - estudantes. Os cursos presenciais acontecem, em geral, nas Diretorias Regionais de Ensino e nos Centros Educacionais Unificados. Todos os materiais utilizados estão disponíveis na Midiateca do site, abertos ao público.

Linguagens: Fanzine & HQ

Dentro dos princípios do Programa Mais Educação e da Educomunicação, o Programa Nas Ondas do Rádio desenvolveu uma formação para os docentes que tinha como objetivo estimular a capacidade de comunicação e expressão dos alunos por meio de algumas linguagens: fanzine e história em quadrinhos.

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Trabalhar com novas linguagens e gêneros permite que os alunos aprendam e transitem por novas tecnologias e mídias que ampliam a competência expressiva. Atividades com fanzines e histórias em quadrinhos na escola incentivam a autonomia, a criatividade, a colaboração e

estimulam a produção de conhecimento. Além de contribuir para o

incremento das competências leitora e escritora, desenvolvem novas competências e habilidades e também aquelas ligadas à apresentação visual.

Mas por que fanzine e história em quadrinhos? O fanzine, por ser uma produção alternativa feita por fãs de determinada arte ou pessoa, permite uma flexibilidade maior na formatação da diagramação do impresso, abrindo espaço para uma maior criatividade.

Como aponta Lacerda (2008) os zines são produções marcadas pelo alto grau de inovações criativas, ora na linguagem, ora na concepção gráfica…..por uma grande pluralidade de discursos e que representam uma espécie de arte envolta de idealismo. Não é à toa que nos dias atuais, os fanzines mantêm sua jovialidade, apesar dos seus quase 80 anos de história. (LACERDA, 2008, p. 2)

Os fanzines, assim, representam um importante veículo, maleável, criativo, e mais prazeroso para expressão dos alunos.

Histórias em quadrinhos são enredos narrados quadro a quadro por meio de desenhos e textos, boa parte das vezes em discurso direto, característica da língua falada. Essa estratégia de organização de texto é marcante na conversação face a face.

Além da linguagem verbal escrita, muitas vezes expressa por meio de onomatopéias, cuja intenção é transmitir ideias sonoras, as HQs trabalham, essencialmente, linguagem visual. São Imagens que, muitas vezes, falam por si sós.

Essa narrativa verboicônica permite um trabalho de alfabetização visual com os alunos, importante no mundo cada vez mais imagético em que vivemos. Se hoje as HQs são 7

reconhecidas como linguagem e gênero importantes, até meados do século XX eram vistas como publicação menor e de divulgação restrita. Daí porque elas encontraram nos fanzines um valioso canal para publicação.

De fato, os fanzines, dada suas características elásticas e abrangentes, permitem a inserção de gêneros variados. Quando se

pensa em e-zines, fanzines digitais, aumenta-se

exponencialmente sua capacidade de atingir públicos variados.

Foi esse o propósito do curso “Fanzine e HQ na Escola”, desenvolvido pelo programa Nas Ondas do Rádio em 2014: promover uma formação educomunicativa, voltada para aquisição de novas habilidades e competências que permitissem “desenvolvimento da construção do conhecimento considerando o manejo apropriado das diferentes linguagens, o que implica um processo que envolve a leitura, a escrita, busca de resoluções de problemas, análise crítica e produção.” (SÃO PAULO, 2014, p. 80).

A elaboração do curso

Os formadores4 do Programa Nas Ondas do Rádio iniciaram em janeiro de 2014 a produção do curso de 12 horas, organizado em 4 encontros semanais de 3 horas. O público-alvo principal eram os professores da rede pública do Ensino Infantil ao Ensino Médio e cada turma deveria ter um máximo de 25 cursistas.

Além de apresentar informação sobre os gêneros e linguagens, estratégias pedagógicas e softwares5 adequados para desenvolvimento das produções, o foco era trazer os professores

4

Os formadores que faziam parte do programa em 2014, sob a coordenação de Carlos Alberto Mendes de Lima eram: Anderson Zotesso, Carlos Eduardo Fernandez, Carmen Gattás, Débora Menezes, Isabel P. Santos, Izabel Leão, Kassandra Carvalho, Katia Cristina, Mariza Pinto, Paola Prandini, Patrícia de Oliveira, Regina Vilela, Salete Soares e Silene Lourenço. 5

Google Drive, boletim no Word, Power Point, Publisher, editores de imagens, software para produção de HQ (Toondoo) e para publicação na internet ISSUU

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para o centro do processo para que eles vivenciassem a produção de fanzine e HQ como protagonistas, exatamente o que se pede que eles façam com seus alunos.

Desse modo, durante os 4 encontros formativos, ao lado de um conteúdo teórico, foi desenvolvida uma produção em grupo regida pelos princípios da Educomunicação, envolvendo discussão e reflexão sobre a identidade do professor e a elaboração de conteúdo que refletisse essa trajetória. Paralelamente, aos docentes foram apresentados recursos digitais para realização da tarefa.

A concepção do curso propunha que o docente percebesse a importância da construção de um fanzine na escola e produzisse um on-line sobre tema ou assunto de que o docente fosse fã, utilizando os programas de formatação tais como Word, Publisher, Power Point disponíveis no sistema de informática da SME. Esse exercício de construção de fanzine partia do princípio de ser uma experiência livre.

Ao trabalhar com história em quadrinhos, além de tratar do conceito, características e variações do HQ (como tirinhas, cartum, charge e mangá), o participante criava, em grupo, sua história: a trama, a ambientação, perfil dos personagens, o conflito.

Também

verificava, na prática, a importância do desenvolvimento do roteiro, o significado de cada balão, o sequenciamento dos quadrinhos, a escolha das letras e seu traçado e, por fim, o enquadramento.

A história criada em grupo tomava forma por meio do software TOONDOO, um editor de HQ on-line, gratuito, disponível na internet. Essa HQ depois era inserida no fanzine criado pelos participantes e publicada pelo ISSUU (aplicativo de publicações on-line).

Formação em ação

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No primeiro semestre do 2014 foram ministrados as primeiras formações nas DREs Butantã, Campo Limpo, Itaquera e Penha. No segundo, foram acrescentadas as DRES de Jacanã-Tremenbé, Santo Amaro, São Miguel, Pirituba, Freguesia do Ó. Houve grande procura pelo curso de professores da educação infantil e fundamental 1, cerca de 65% dos inscritos, conforme é possível verificar no gráfico e quadro abaixo:

HQ E FANZINE NA ESCOLA AGENTE ESCOLAR AUXILIAR EDUCAÇÃO

TÉCNICO

DE

6

AÇÃO

1

COORDENADOR PEDAGÓGICO

10

DIRETOR ESCOLAR

10

PROF DE EDUC INFANTIL

92

PROF. ED. INF. E ENS. FUND. I

68

PROF. ENS. FUND II E MÉDIO

60

TOTAL GERAL

248

COORDENADOR CULTURAL

Gráfico 1: Perfil dos matriculados no curso HQ e Fanzine na Escola em 2014

1

Quadro 1: Matriculados no curso HQ e Fanzine na escola, em 2014, por cargo.

O quadro acima evidencia a procura dos professores de Educação Infantil que buscavam linguagens para trabalhar com crianças, tendência que pôde ser constatada em todas as DRES.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) e o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) reafirmam a importância da criança ter acesso e interagir com diferentes tipos de texto, aprendendo a ler imagens, de modo a contribuir para a formação de um leitor competente, capaz de usar a linguagem em diferentes contextos e situações. 10

Produções

A diversidade das produções obtidas evidencia a liberdade de expressão proposta pelo curso: nada foi impositivo, inclusive a possibilidade de criar seu fanzine no papel e não no meio digital.

Há fanzines de professores cientes de seu papel político, outros que mostraram sua vida particular, alguns protestaram e há também os que reproduziram estereótipos. Com relação à forma, ao aspecto visual, apareceram desde modelos mais tradicionais, em forma de jornalzinho, até diagramações bem criativas.

Alguns trabalhos seguiram o espírito dos fanzines tradicionais, das colagens, e realizaram um trabalho de “recorta e cola”, para posterior inserção no digital6. Ficou uma produção híbrida bem interessante, que alterna colagens críticas sobre consumo de bens e uma tirinha sobre água7, ao lado de mais tradicionais como família, amizade e artes (cinema e grafitagem), com a produção de uma HQ digital e a marca final da assinatura dos participantes em letra cursiva, o que por si só já indica uma posição política sobre o uso de recursos digitais.

Alguns foram criados em preto e branco8, com predominância de HQs que utilizaram recursos menos sofisticados, mas nem por isso menos interessantes e com abordagens criativas

Outros mostram uma inquietação poética-filosófica, em que conteúdo e forma se harmonizaram9 para desenvolver um tema. 6

DRE Penha, outubro de 2014, formadora Silene Lourenço, produção coletiva http://issuu.com/sileneaglourenco/docs/fanzine__produ____o_final.docx/7?e=0/7636700 7 Tirinha “tímida”, antes do acirramento da crise da falta de água, localizada no alto da página 6, secção “Diversão”. 8

DRE Itaquera, abril de 2014, formadora Isabel Pereira dos Santos. http://issuu.com/mariahelenapereira0/docs/grupo_helena_marcio/4?e=0/7512552

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Alguns optaram pelo visual10, com predominância de imagens sobre o desenrolar do curso, participação e envolvimento dos participantes. As HQs inseridas no trabalho mostraram reflexão crítica não somente dos problemas que a escola enfrenta, como a violência entre as crianças, mas também as idiossincrasias do que se ensina na escola e o que se aprende em casa, finalizando com abordagem sobre atos ruins que podem prejudicar o meio ambiente.

Outro fanzine muito criativo e reflexivo11 trouxe discussões sobre as promessas politicas para a educação, abordou diferenças de gênero, falou sobre bullying, a falta de água, conflitos entre pais e filhos. Escola e casa foram os temas recorrentes deste trabalho colaborativo. Destaca-se ainda a produção intitulada “O universo da cultura independente de São Paulo”, que objetivou compartilhar opções e informações socioculturais da cidade12.

Reflexos

Um aspecto extremamente relevante diz respeito ao fato de que o curso Fanzine e HQ ministrado nas DREs para os professores produziu alguns resultados imediatos. Em Itaquera uma professora participante colocou em uso em sua sala de aula os novos recursos e aprendizados13. No 8o ano B da EMEF Senador Luís Carlos Prestes, a docente incentivou o processo de criação colaborativa e os estudantes expressaram seus interesses demonstrando lealdade aos princípios do fanzine: socializar informações sobre os assuntos preferidos. 9

Fanzine sobre o tempo, DRE Campo Limpo, setembro de 2014, formadora Salete Soares. http://issuu.com/mislenequeiroz/docs/fanzine_tempo_creusa_mislene_joana__ad4a226e794794/1 10 DRE São Mateus, formadora Kátia Souza: . 11 DRE Butantã, formadora Izabel Leão.< http://issuu.com/izabelwiz/docs/03_24_04_14_hq_hist__ria_drebt_tod/1?e=0/7639328>. 12 DRE São Miguel, formadora Isabel Pereira dos Santos. . 13

DRE Itaquera, formadora Isabel Pereira dos Santos. .

12

A avaliação on-line realizada ao final de cada turma mostrou a aprovação dos professores participantes.

Em uma análise geral os professores aprovaram todos os conteúdos oferecidos afirmando serem adequadas as datas e a forma de divulgação da inscrição, bem como os horários estabelecidos, o laboratório de informática e o material de apoio didático. As quatro perguntas específicas sobre a contribuição do curso para a prática do professor em sala de aula mostraram que o curso atingiu seus objetivos visto que mais de 90% deles confirmaram que houve aquisição de novas competências comunicativas e que elas têm aplicabilidade em sala de aula, conforme é possível observar no quadro 2, abaixo.

Quadro 2: avaliação dos professores cursistas Pergunta 1: Temas e conteúdo correspondem às minhas necessidades de formação continuada?

Pergunta 2: Temas e conteúdo contribuíram para a construção de novos conhecimentos?

SIM  

SIM  

Em   Não   parte   151   9   0   94,4  

5,6%  

 

157   98%  

Não   3  

2%  

Pergunta 3: Temas e conteúdo tem aplicabilidade na minha formação profissional?

Em   SIM   Em   Não   parte   parte   0   150   10   0    

93,8%  

6,2%  

 

Pergunta 4: Temas e conteúdo favorecem a implementação de projetos ou propostas pedagógicas com as linguagens midiáticas?

SIM  

Em   Não   parte   148   12   0  

92,5%  

7,5%  

 

Além disso, em outras perguntas solicitadas revelam que o curso estimulou a produção colaborativa, o trabalho partilhado e o senso crítico.

A análise desses dados, dentro de uma proposta educomunicativa, que não se reduz à simples apreensão de novos recursos digitais, mostra o caminho educomunicatiovo trilhado pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo que promove um trabalho de formação continuada de seus professores. “O sistema escolar pode e deve proceder à incorporação do potencial oferecido pelas tecnologias, sejam elas digitais ou não – sem com isto cair no reducionismo tecnicista” (CITELLI, 2012, p. 9). 13

Quanto a metodologia os professores tiveram suas duvidas acolhidas, problematizadas e respondidas pelo formador, que foi muito bem avaliado em todas as DREs, sendo reconhecido que este domina os temas e conteúdos abordados, apresentando estratégias diversificadas e se mostrando sempre solicito para atender àqueles com maior dificuldade no uso de algum software proposto.

No caso do curso de HQ & Fanzine, os professores mostraram-se entusiasmados com as diversas possibilidades que o software gratuito Toondoo permite para a criação de personagens, cenários e diálogos e a facilidade de manejo que o Publisher promove para a construção de fanzine.

Os quatro módulos do curso foram desenvolvidos de forma que o cursista pudesse ao final de cada um deles praticar o que foi apreendido naquele momento, aplicando diretamente as noções de roteiro, enquadramento, representações dos diálogos, tipo de letras, legendas.

REFERÊNCIAS

CITELLI, Adilson. Inflexões educomunicativas. Revista Comunicação & Educação • Ano XVII • número 1 • jan/jun 2012

LACERDA, Thiago de Oliveira. Fanzines: Uma faceta da comunicação alternativa na cidade de Campina Grande.

Disponível em: .

Acesso em: 20 fev. 2015.

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SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Programa Mais Educação São Paulo: subsídios para implantação. Jan 2014. Disponível em:

SOARES, Ismar. Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação. São Paulo: Paulinas, 2011a

SOARES, Ismar O. Educomunicação: um campo de mediações. In: Educomunicação: contruindo uma nova área de conhecimento. Adilson Odair Citelli; Maria Cristina Castilho Costa (org.). São Paulo: Paulinas, 2011b

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