Eric Voegelin - Estudos de Idéias Políticas

March 28, 2018 | Author: Oliveira Alberto | Category: Francis Of Assisi, God, Roman Empire, Holy Roman Empire, Saint


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ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICASTextos on-line de Eric Voegelin ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS ERIC VOEGELIN ** A Idade Média - Dos Nibelungos a Jerónimo Bosch • A . O Crescimento do império • 1 Estrutura Geral da Idade Média • 2 Os Povos Germânicos Migrantes • 3 O Novo Império • 4 A Primeira Reforma • B. A ESTRUTURA DO SÉCULO • 5 Introdução • 6 João de Salisbúria • 7 Joaquim de Fiora • 8 S. Francisco de Assis http://www.terravista.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 20índice% 20da% 20idade% 20média.htm (1 of 2) [27/03/2002 07:18:19] ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS • 9 Frederico II • 10 O Direito • 11 Sigério de Brabante • C. O CLÍMAX • 12 S. Tomás de Aquino • D. A IGREJA E AS NAÇÕES • 13 Carácter do Período • 14 Ultramontanos e Egídio Romano • 15 Monarquia Francesa • 16 Dante • 17 Marsílio de Pádua • 18 Guilherme de Ockham • 19 Política Nacional Inglesa • 20 Da Cristandade Paroquial à Cristandade Imperial • 21 A Área Imperial • 22 O Movimento Conciliar http://www.terravista.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 20índice% 20da% 20idade% 20média.htm (2 of 2) [27/03/2002 07:18:19] Capítulo 7 ERIC VOEGELIN ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS ** A época medieval Capítulo 7. Joaquim de Fiora 1. O progresso na história Era geral na época o sentimento de que o crescimento das ordens significava um progresso da espiritualidade, inaugurando uma nova fase da vida cristã. A experiência revelatória de Joaquim accionou estas potencialidades e criou uma nova configuração da história. O passo decisivo foi a concepção do Terceiro Reino não como um sabbath eterno mas como a idade derradeira da história da humanidade que se segue à eleição do filho. O decurso de um reino abrange um período preparatório (de Adão a Abraão, 21 gerações) seguido pela initiatio, (Abraão a Uzias, 21 gerações) e a fructificatio (Uzias a Zacarias, 21 gerações) a última das quais é ao mesmo tempo o período preparatório para o próximo reino. Os reinos têm, pois, 42 gerações; e como a duração das gerações para o reino de Cristo é de 30 anos, o segundo reino terminaria em 1260. A data é antecedida para 1200 porquanto o próprio Segundo Reino é precedido por um curto período preparatório das duas gerações precursoras de Zacarias e João Baptista de modo que Joaquim está no final do Segundo reino e pode ser o profeta do Terceiro. O começo de cada reino é marcado por uma trindade de dirigentes, dois precursores e o dirigente do próprio reino com os seus doze filhos (Abraão, Isaac, e Jacob com os seus doze filhos carnais; Zacarias, João Baptista e Cristo o homem, com seus doze http://www.terravista.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Joaquim _Fiora.htm (1 of 9) [27/03/2002 07:18:34] Capítulo 7 filhos espirituais). O Terceiro Reino, a seguir a Joaquim, começará, portanto, com dois precursores a serem seguidos na terceira geração por um novo dirigente, um Dux e Babylone, que será o fundador do Reino do Espírito. 2. O significado da história O primeiro símbolo “é a concepção da história como uma seqüência de três eras, das quais a última é claramente o terceiro reinofinalw .[1] Entre as variantes de notória relevância política, estão a partição da história em épocas antiga, do cativeiro e dos santos na terra que marcou a revolução puritana; a doutrina Iluminista da sucessão de fases teológica, metafísica e enciclopédica marca a revolução de 1789; a dialéctica marxista com os três estádios de liberdade inconsciente, alienação e reino da liberdade findou em 1989; o ciclo formado por santo império, império do Kaiser e terceiro império inspirou o Reich nacional-socialista dos mil anos que findou em 1945.[2] 3. Os elementos constantes da nova especulação política. a. A concepção de Joaquim resultou num conjunto de elementos formais para a interpretação do saeculum que, desde então, permanecerá, isolado ou em combinação, parte integrante da especulação política ocidental. b. A Função do Pensador Político O terceiro símbolo é o do profeta da nova Era, que pode surgir confundido com o dirigente. O próprio Joaquim de Fiora representa o primeiro modelo do intelectual que presume ter uma visão do curso da história como um todo acessível ao conhecimento. Sucessivas vanguardas iluminadas irão reclamar-se de idêntico conhecimento da marcha do tempo e propor as suas especulações como a lógica da história. http://www.terravista.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Joaquim _Fiora.htm (2 of 9) [27/03/2002 07:18:34] pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Joaquim _Fiora.htm (3 of 9) [27/03/2002 07:18:34] . desceram à arena política para canalizar os movimentos de massa para a acção destrutiva. a graça e o espírito. Ressurgiu nas Igrejas puritanas dos santos e em numerosas ideologias da modernidade em cujos autores a razão se incarnara tão perfeitamente que consideram a própria mente como critério de verdade. liberdade e espírito. Este dirigente desdobra-se por paráclitos agnósticos e ateus conforme a sensibilidade e as categorias de análise da época em que se faz anunciar. A noção de uma comunidade de perfeitos que vivem sem autoridade institucional e sem a mediação da Graça presta-se. No nível da história espiritual a intelligentia spiritualis irá proceder do Velho e do Novo Testamentos. alguns. O dirigente do terceiro Reino O terceiro símbolo é o de dux. no segunda a vida do sacerdote. Nos três reinos predominam sucessivamente a lei.terravista. o dirigente cuja erupção é constante em todos os movimentos revolucionários. No primeiro reino desenvolveu-se a vida do leigo. o evangelium eternum anunciado em http://www.Capítulo 7 c. segundo Voegelin. nos génios do Socialismo e nos dirigentes totalitários do século XX. nos revolucionários de 1789. no terceiro a contemplação espiritual perfeita do monge. a inúmeras variações históricas. A irmandade das pessoas autónomas O quarto símbolo é o da irmandade ou fraternidade que se estabelece entre os que participam no Espírito. tal como o Espírito procede do Pai e do Filho. os quatro evangelhos serão seguidos por um quinto. O símbolo ressurge nos príncipes novos da Renascença. O Espírito irá manifestar-se socialmente através de uma nova ordem. O novo aparecimento do Espírito está fora da história dos Evangelhos que constituem o segundo reino. d. como Lenine e Hitler. nos iluminados do século das Luzes. A perfeição da vida é dada através dos três elementos de contemplação. com o individualismo tiranicida de João de Salisbúria como a ideia joaquimita de libertação do homem de formas sociais. alcançarão o homem sem administração sacerdotal de sacramentos. Joaquim talvez fosse de origem rural. 14.23) sem mediação sacramental. 6. A evocação de Joaquim pode originar um seita mas não um povo. (evangelium regni Mateus. dotado de poderes espirituais amadurecidos surge como o organizador potencial da comunidade. Perdeu-se o compromisso civilizacional que confere eficácia ao cristianismo. cresceram para além da população urbana da Pataria e de intelectuais isolados da população rural.htm (4 of 9) [27/03/2002 07:18:34] . O homem. capaz de formar uma comunidade de solidariedade fraterna.terravista. A sua construção é a fórmula mais geral para o problema da era porque emana do centro espiritual mas o conteúdo social restrito deixa a ideia a flutuar. eclesiásticas ou profanas.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Joaquim _Fiora. O terceiro reino é constituído por uma elite religiosa. 4. independente da organização eclesiástica e feudal da sociedade. O novo reino não tem lugar para as fraquezas do homem nem para a variedade dos seus dotes naturais. Não será um evangelho escrito mas o Espírito na sua actualidade. A riqueza humana da ideia de corpo místico perde-se no igualitarismo aristocrático de pessoas espiritualmente maduras. O homem espiritualmente maduro de Joaquim segue-se ao indivíduo político de João de Salisbúria e ao intelectual http://www. Mas também são óbvias as limitações da ideia. Podemos ainda reconhecer as camadas sociais portadoras do novo sentimento. e uma época que está morrer. A Igreja deixará de existir no Terceiro reino porque os dons carismáticos necessários para a vida perfeita.Capítulo 7 Apocalipse. Estas construções simbólicas criam uma evocação de uma nova ideia do homem como uma pessoa espiritual autónoma e livre. Podemos ver a linha que liga o protestantismo intelectual dos York Tracts. transformando os membros da Ordem em membros do Reino. [6] 34 A re-interpretação do saeculum cristão Para Huizinga a inserção de Joaquim de Fiora como grande precursor da Renascença assenta numa corrente de ideias definida com precisão. anunciada por Uzias. Na era do Pai com temor e tremor. dirigente apocalíptico da nova época. lembrava Friedrich http://www. desenvolveu-se A terceira era. Grundmann. Mas.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Joaquim _Fiora. o da plena manifestação do Santo. os materiais historiográficos são abundantes graças a uma sequência de estudiosos como Denifle. a do Espírito Santo. Buonaiuti. Embora as edições críticas destes textos estejam ainda hoje incompletas.htm (5 of 9) [27/03/2002 07:18:34] . já anunciada por S.terravista.Capítulo 7 independente dos York Tracts. em fé e humildade. ele foi "o primeiro pensador de estatura hegeliana a abalar a configuração mundial dualística de Agostinho. Bento trará a Perante esta nova escatologia tornava-se secundário que. Tendelli e Taubes. Benz. Na era do Filho. um formulador da Nova Cristandade com o seu intelecto essencialmente gótico". Renan. Às três pessoas da Trindade correspondem três fases da humanidade. Fournier. A concordância tradicional entre os dois numa sequência a exigir um terceiro momento. até ao nascimento de Jesus Cristo. conforme especulações numerológicas correntes. O leque de possibilidades intramundanas está a crescer mas não existe uma síntese à vista. Fiora calculasse que a “terceira era” principiaria em 1260 ao manifestar-se o dux ex Babylone. Norman Cohn descreveu Fiora como"inventor do novo sistema profético que haveria de ser o mais influente de todos os conhecidos na Europa até ao aparecimento do marxismo". activos desde finais do século passado. Para Spengler. Reconhecidas como obras autênticas são a Concordia Novi ac Veteris Testamenti (1184-89). e enfim.ctatus super Quatuor Evangelia.três círculos enleados e parcialmente sobrepostos e cruzados pelo Tetragrammaton . as doutrinas iluministas e positivistas acerca da sucessão de fases teológica.[5] Seguindo esta via. De Articulis Fidei. contam-se a partição da história em antiga. É ainda relevante o Liber Figurarum. XIII.correspondem a cada uma das épocas da Trindade e acrescentam um dinamismo temporal à ênfase habitual na revelação do Deus uno e trino.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Joaquim _Fiora. tendo o editor escolhido para título da colecção das obras principais a expressão nelas frequente "um novo Evangelho Eterno''.[4] A originalidade resulta mais evidente se confrontada com os escritos do seu tempo e com as respostas às interrogações filosóficas sobre as características do ser divino. Expositio in Apocalypsim (1184-1200) e Psalterium decem Chordarum (1184-1200). metafísica e científica. Entre as obras menores depois coleccionadas encontram-se Tra. da.s. as dialécticas hegeliana e marxista com três estádios de liberdade inconsciente.htm (6 of 9) [27/03/2002 07:18:34] . alienação e reino da liberdade.terravista.Capítulo 7 Heer em 1953 " ainda estamos longe no início de uma interpretação de Fiord'.[7] Entre as variantes notórias. cujos diagramas representativos . Voegelin atribui a Fiora o símbolo culminante da imanentização do eschaton: "O primeiro símbolo é a concepção da história como uma sequência de três era. medieval e moderna. XII. até hoje. Império do Kaiser e http://www. Voegelin seleccionou Joaquim de Fiora como criador do "conjunto de símbolos que preside. os escritos joaquimitas foram publicados pela primeira vez em Paris em meados do séc. o ciclo formado por Santo Império.[3] Compostos nos fins do séc. Adversus Iudeos e o tratado perdido De Essentia seu Unitate Trinitatis. atribuído a um discípulo. à auto-interpretação da sociedade moderna".s quais a última é claramente o terceiro reino final". Rejeita que o alvo final da história humana na terra seja a liberdade do mútuo reconhecimento trazida por uma nova fraternidade. progressio. identificada por símbolos como consummatio. sucessio.Capítulo 7 Dritte Reich nacional-socialista. A censura é radical. processus. Poder temporal e poder espiritual combatiam-se sem tréguas corrompendo a ordem cristã que se deveria reger pelo equilíbrio entre os dois poderes. pura e simplesmente. falar de um desenlace terreno da existência humana. mutatio. Rejeita que tenha qualquer sentido. sem Império nem Igreja e com uma religião desmundanizada.terravista. Acresce que.[8] Nesta leitura voegeliniana entrelaçam-se motivos positivos e negativos que revelam uma relação muito complexa que quase poderíamos classificar de edipiana. renovatio. Rejeita que a idade do espírito. Mas até que ponto esconde Voegelin as diferenças profundas entre o pneumatismo de Joaquim e o imanentismo moderno que afirma ser sua consequência obrigatória ? Como se comprova pela movimentação dos franciscanos espirituais em ordem à terceira era. os santos cidadãos da cidade de Deus.htm (7 of 9) [27/03/2002 07:18:34] .pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Joaquim _Fiora. Rejeita o primado do futuro sobre as idades do presente e passado. O que levou Voegelin a este nexo entre profetismo e imanentismo ? Por que razão http://www. tal visão não conduz necessariamente às construção imanentistas da modernidade. recreatio e ressurrectio seja a de uma nova era da humanidade. Voegelin denuncia a falsificação fiorita do carácter trinitário numa gnose que rebate o ser divino sobre o tempo histórico. ascendere. Donde o anúncio da terceira era a ser instaurada pelos monges. expresso na preferência concedida a símbolos tais como proficere. Fiora interpreta o seu tempo como época de colapso e desarticulação apocalíptica. baseada na comunidade de monges. A desarticulação da ordem cristã imperial viabiliza o anúncio de uma nova ordem. ao anunciar o advento de um mundo novo. Está a acabar o período do Filho e o momento é propício para pregar o abandono do mundo velho. reformatio. 192-4.148-9:"The first dispensation is historically an order o f the married. tratadas quer como retorno a um passado modelar quer como criação de um futuro inaudito.115.115. the second by learning and discipline. LÕWITH 1949.e lucemi da dato/ Il Calabrese abate Gioacchino/Di spirito profetico dotato". pp. pp. XII. cita ainda LÕWITH 1949. bibliografia joaquimita in RUSSO 1954. [3] NSP.. A sua intenção claramente nacionalista mas romântica era incompatível com a ideologia nacional-socialista que se apropriou do termo.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Joaquim _Fiora. em particular pp.110-113. [4] Cf. GRUNDMANN 1927 e BUONAIUTI 1931. [7] NSP.102-104. The first sta.. a consciência historiográfica no séc. the third an order o f monks dependent om the Spirit o f Truth The first age is ruled by labor and work. Lembre-se o verso que Dante lhe dedica na Divina Comédia . depende da interpretação da restauratio ou reformatio. XII. dependent on the Son. the third. ao trabalhar na edição das obras de Dostoievski sobre a Terceira Roma.pp. the second sapientia ex parte. 139-141: ". [5] Para MURRAY 1970. [2] Moeller van den Bruck criou o símbolo do Dritte Reich em obra com idêntico título. the third by contemplation and praise. the second an order o f clerics.terravista. plenitudo intellectus". em 1923. editada em Hamburgo. http://www.ge possesses scientia. para o qual a história espiritual do Ocidente é a da dinâmica e dialéctica da alienação existencial. p.htm (8 of 9) [27/03/2002 07:18:34] .Capítulo 7 pensou que a Idade Média floresceria contra a auto-interpretação cristã ? Porque concebeu a tensão medieval entre o “reino de Deus” e a sociedade dessacralizada seguida pela mais grave das quedas? E que civilização poderia desenvolver-se contra a sua própria ideia directiva ? [1] NSP. Paraíso. [6] Cf. Na sua interpretação. dependent on the Father. p. Voegelin tem presente TAUBES 1947. htm (9 of 9) [27/03/2002 07:18:34] .Capítulo 7 [8] Moeller van den Bruck criou o símbolo do Dritte Reich em livro com idêntico título. em 1923. http://www.terravista. editada em Hamburgo. A sua intenção nacionalista não coincide com a ideologia nacional-socialista que se apropriou do termo.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Joaquim _Fiora. ao trabalhar na edição das obras de Dostoievski sobre a Terceira Roma. matiza a página franciscana do Louvor das Virtudes. a menos que a aparecimento de São Francisco confirmasse a previsão do Dux de uma nova era. A doutrina de São Francisco é um evangelho de amor fraterno.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Francisco% 20de% 20Assis. o homem está submetido aos seus companheiros e mesmo aos animais selvagens: O pacifismo radical de não-resistência em São Francisco parece ser o oposto da violência tiranicida em João de http://www. dimana de uma vontade auto-afirmadora. o idiota. São Francisco não teria sido visto pelos Espirituais como a figura decisiva que inaugurava uma época nova na história cristã.Capítulo 8. São Francisco de Assis Como figuras simbólicas da sua época. as personalidades de São Francisco de Assis e de Joaquim de Fiora estão intimamente ligadas. na interpretação de São Francisco. obediência e submissão. temos de atentar na peculiar relação dialéctica entre as suas ideias e as suas acções.II. Tal como no caso de Joaquim. de pobreza. XII. e cria um estilo de vida para o simples leigo. mas equiparado às duas grandes ordens da autoridade temporal e espiritual. A acção de São Francisco é revolucionária. inflexível e dominante.htm (1 of 7) [27/03/2002 07:18:39] . A Idade média . A necessidade trágica da criação de uma Ordem. A virtude da obediência tem como função a completa submissão do corpo à lei do espírito.terravista. e que exige uma dureza daimoníaca de acção que ofende os circunstantes. sem grau feudal nem eclesiástico. O denominador comum da acção evocativa neste tempo é o impulso de forças humanas para encontrar o seu lugar num mundo cristão preocupado com os poderes estabelecidos. se as profecias de Joaquim não fornecessem o padrão simbólico para a sua interpretação.Francisco de Assis Estudos de Ideias Políticas . e as profecias de Joaquim não poderiam ter exercido a sua forte influência no séc. e em Dante. mesmo de amor. autoridade governamental e civilização intelectual. é uma força e uma fraqueza de S. e a mais notável pela sua dignidade é a carta de 1215 ”A todos os Cristãos” (Opusculum commonitorium et exhortatorium (epistola quam misit omnibus fidelibus). de Deus e do satã e que se apoderam dos homens. a pobreza luta contra os cuidados mundanos. A simplicidade tem que confundir a sabedoria deste mundo. É impossível compreender a atitude franciscana se as categorias éticas de virtude e vícios forem referidas apenas ao carácter individual. a humildade contra o orgulho. São Francisco utilizou a forma da carta aberta divulgando a sua mensagem aos fiéis.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Francisco% 20de% 20Assis. herança. Quando ataca o mundo (mundus ou saeculum ) utiliza o http://www. as virtudes têm a função militante de confundirem os vícios do mundo. Francisco a criação da ideia de uma vida em conformidade com Cristo como modo de existência. O ataque reveste-se da forma social de uma pregação das virtudes. Afinal.terravista. Contudo. 2. propriedade. A mais importante destas cartas. O estilo da pobreza O ataque ao mundo em nome dos conselhos evangélicos parece revigorar a expectativa escatológica de um reino que não é deste mundo.htm (2 of 7) [27/03/2002 07:18:39] . Sem alcançar a rigidez maniqueísta. Tentou realizar o que Joaquim de Fiora projectara. existe aqui uma matiz de imanentismo maniqueísta. Ao sentir-se demasiado doente para pregar. estabelecer uma nova ordem do espírito no mundo. Possuir as virtudes exige atacar o mundo e as instituições de família. A luta das virtudes contra os vícios é uma empresa colectiva. No contexto dos escritos. A sua atitude e linguagem sofrem desta dualidade. virtudes e vícios são forças que emanam dos poderes supremos do bem e do mal.Francisco de Assis Salisbúria. Não só pretende basear a vida de perfeição evangélica directamente no Evangelho como mantém um sentimento para com a Igreja a lembrar o dito de Santo Agostinho de que não acreditaria em Cristo se não fosse a Igreja. aos burgueses e camponeses. Por outro lado. 3. A submissão à Igreja. A primeira Regra delineia a "vita evangelii' para a qual São Francisco obteve permissão oral de Inocêncio III. O movimento era cada vez mais dirigido contra a organização feudal da sociedade. aconselha a romper com pai e mãe e à quebra rude com a família e as suas obrigações. O homem não é chamado a arrepender-se porque o reino de Deus está próximo ( Mateus. O espírito de revolta contra os poderes estabelecidos espalhava-se por todo o mundo ocidental. dos intelectuais. adoptava a forma de seitas fundamentalistas. quer intencionalmente quer por pressões circunstanciais. a fim de tomar a cruz e seguir o Senhor. 3.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Francisco% 20de% 20Assis. o regresso ao ideal evangélico de perfeição era o único simbolismo revolucionário disponível para a civilização cristã desse tempo. Os escritos de São Francisco apresentam assim elementos que se contradizem flagrantemente.Francisco de Assis vocabulário evangélico mas com um novo significado evangélico. 2) mas porque a vida de pobreza e obediência é aconselhada como a constituição permanente do mudo em conformidade com a vida do Salvador. incluindo a Igreja sacramental. Retoma-se a dureza escatológica de Cristo não só nas palavras dessa regra como na sua atitude para com os pais.htm (3 of 7) [27/03/2002 07:18:39] . Estes conflitos profundos ajudam-nos a determinar de modo mais preciso a posição e a função de São Francisco. Quando o movimento encontrava apoio de massas.terravista. aceita incondicionalmente a existência da Igreja sacramental como única evidência corpórea mundana do Filho de Deus. desenvolvendo fricções com a Igreja. http://www. a sua realização exemplar dos ideais que ensinava. Ao mesmo tempo que conduzia a cruzada contra os Albingenses. uma ingenuidade que não era deste mundo. e a integrasse na sua organização graças. não temos outra explicação senão uma cegueira para as vias do mundo. à acção do Cardeal Ugolino de Ostia. se a Igreja não captasse o movimento através da pessoa de São Francisco.terravista. O mundo não cedeu ao seu ataque mas por seu turno. o ideal de pobreza. estava destinado a ser o símbolo da revolução. O que separava São Francisco de dirigentes sectários. sobretudo. não a acrescentar nem diminuir.htm (4 of 7) [27/03/2002 07:18:39] . e o tornou um santo em vez de um heresiarca. é difícil imaginar que formas a revolução social teria adoptado. Para a sua submissão à Igreja e para a sua crença de que a fraternidade dos pobres em Cristo poderia persistir sem institucionalização. a rápida difusão da Ordem e em particular.Francisco de Assis Não temos que nos preocupar demasiado com a questão de saber se a glorificação franciscana da Irmã Pobreza foi ou não influenciada pelo conhecimento dos ideais dos Pobres de Lião. Se considerarmos o apelo de São Francisco. Inocêncio III confirmava a Regra de São Francisco. juntamente com outros conselhos evangélicos. o seu encanto. o influxo maciço na Ordem Terceira. penetrou a sua irmandade. a sua humildade. originada pela grande pureza do seu coração. A santidade do seu carácter teve consequências de grande alcance no domínio da política. não fazer glosas nem interpretar o Testamento como uma nova regra e não procurar privilégios de qualquer tipo da Cúria. http://www.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Francisco% 20de% 20Assis. futuro papa Gregório X. era a sua sinceridade convincente. Em qualquer caso. Os desapontamentos inevitáveis que experimentou podem ser fortemente sentidos nas admoestações aos irmãos no Testamento: manter a simplicidade da Regra. htm (5 of 7) [27/03/2002 07:18:39] . Na linguagem de S. A conformidade com Cristo e a natureza A pessoa e a religião de São Francisco constituíam forças intramundanas em oposição ao imperium.Francisco de Assis 4. no séc. dotado de princípios gelasianos. A ecclesia Franciscana é apenas um começo. os leigos. Assim nasce uma nova necessidade de ajustamento da ecclesia.3) o leigo vive em conformidade com Cristo e o sacerdote em conformidade com a Igreja Romana. A dinâmica da vida cristã passou das comunidades para as hierarquias. No império romano a ecclesia local era uma ilha do populus christianus num mar de paganismo. formam uma comunidade que tenta viver em paz com o clero. A Igreja dos leigos A vida de São Francisco permite diagnosticar a doença que afligia o corpo místico da Igreja. Os problemas reaparecerão quando novas ecclesiae nascerem de cidades.terravista. facto obscurecido pela linguagem http://www. espirituais e temporais.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Francisco% 20de% 20Assis. XII. desde o sec.XII é uma força nova que assinala a reentrada da comunidade urbana como força social no mundo cristão. a ecclesia corre o risco de se reduzir a uma organização sacerdotal enquanto os idiotae. O significado original de ecclesia é de comunidade-Igreja. O império cristão transferira o cristianismo do ambiente urbano para a sociedade rural. a autoridade temporal fora integrada no sistema dos carismas cristãos de modo que as duas ordens do corpo único de Cristo cooperavam na tarefa difícil (e que hoje seria considerada totalitária) de criar um povo cristão uniforme com base em hierarquias pré-existentes. No império carolíngio. 5. Francisco (Testamentum. O surgimento do idiota. classes e nações e tiverem que lutar por um lugar no sistema dos velhos poderes. Agora. os humildes que perdoam e http://www. a terra que cria frutos e flores. Conferiu à natureza a sua alma cristã e com ela a dignidade que a torna objecto de observação.Francisco de Assis do ideal de vida em conformidade com Cristo. os elementos. Trata-se de um novo entendimento da dignidade do sofrimento e da criação sem voz. Através da descoberta e aceitação do estrato mais baixo da criação como parte significante do mundo. A alegria da existência das criaturas e a expansão alegre da sua alma. mas num reino de Deus que é deste mundo. São Francisco imita o homem Jesus a partir de uma nova compreensão do sofrimento sacrificial e da humildade na terra. Tomou os humildes pela mão e conduziu-os à sua dignidade. não para um reino de Deus no outro mundo. adiciona-lhe uma dimensão até então silenciada no cristianismo. torna São Francisco o grande Santo. Mas não é assim. depois louva os corpos celestiais. a penetração do Espírito no reino da natureza. alcançando em amor fraterno essa parte muda do mundo que glorifica Deus apenas pela humildade de ser criado. animais. pelo contrário. flores e a ordem silenciosa do cosmos. tornou-se uma das figuras relevantes da história ocidental. São Francisco é espantosamente sensível à criação divina onde ela é mais “criada” e menos auto-afirmativa: sofredores.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Francisco% 20de% 20Assis. a alegria simples na comunidade recém-descoberta da criação divina. A religiosidade franciscana poderá parecer apenas um retorno às ideias do cristianismo primitivo.terravista. A expressão sublime deste sentimento são os Louvores das criaturas. É uma nova atenção que agora floresce a um reino de ser já observada nos York Tracts. Francisco utiliza fórmulas escatológicas duras mas o sentimento que o move não renega o mundo.htm (6 of 7) [27/03/2002 07:18:39] . O cântico abre com o louvor de Deus. pobres. doentes e moribundos. Os fiéis das primeiras comunidades seguiam o Messias e queriam o reino de Deus para participar na Sua glória. A evocação de São Francisco desestabiliza o compromisso com o mundo. Mas como se conformar com o Messias? A evocação de São Francisco criou o símbolo do Cristo intramundano que absorve a parcela pessoal do salvador que se conforma com os humildes e sofredores. porém. §6. não com Cristo-rei em sua glória. subia a estrela do imperador que era considerado o Anticristo. São Francisco alargou o nosso mundo mas a sua tónica na nova dimensão negligenciou outras dimensões. e a morte corpórea. A evocação de São Francisco é o símbolo mais impressionante da desintegração do sacrum imperium. O Cristo intramundano A preocupação com estas novas descobertas resultou. não traz a síntese.htm (7 of 7) [27/03/2002 07:18:39] .terravista. e que pela primeira vez desde a Antiguidade se apresentava como a lei animada. A fórmula da vida em conformidade com Cristo é conformidade com o sofrimento de Cristo. http://www. nomos empsychos. a espiritualização da natureza é um naturalismo. fora da ordem carismática do corpo místico. numa limitação da experiência cristã. Traz a irrupção de novas forças intramundanas.Francisco de Assis vivem em paz. Mas o Cristo dos pobres não é o Cristo da hierarquia sacerdotal e régia. nem a cabeça do corpo místico de Cristo e da humanidade. Enquanto o Santo atingia o seu clímax com os estigmas.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Francisco% 20de% 20Assis. Na conformidade com Cristo o homem alcança a eleição suprema através dos estigmas na noite de La Verna. O mundo rompe-se quando Cristo deixa de ser a cabeça do corpo diferenciado da cristandade e se torna o símbolo de uma sua parte. encerra com o aviso de que todos sirvam a Deus “com grande humildade”. característico do período imperial ocidental e a diferenciação dos homens e o estabelecimento das duas ordens como funções do corpo místico. A deslocação do império 2. Entre http://www. A constituição de Melfi 3. No séc.htm (1 of 9) [27/03/2002 07:18:54] .pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Frederico% 20II% 20Hohenstaufen.terravista. A deslocação (Peripateia ) do império O último imperador medieval foi o fundador do primeiro estado moderno. tem que se observar a estrutura política em mutação do mundo Ocidental que foi o horizonte da sua vida e perceber que a crise da época encontrou nele um símbolo estupendo. dependentes da autoridade semi-feudal e semi-espiritual do papado como contrapeso ao próprio império.ERIC VOEGELIN ERIC VOEGELIN ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS ** A época medieval Capítulo 9 Frederico II Dominus Mundi 1. Cristandade Cesárea 1. Em ordem a compreender o seu papel e o seu desempenho consciente. XI essa franja de principados ganhara importância suficiente para inspirar a Gregório VII com a visão de uma comunidade de reinos nacionais. O factor que determinou a transformação e a desintegração da ideia imperial foi o surto de unidade políticas periféricas. Na Sicília Frederico II aperfeiçoará o Estado de Rogério II (1130-1154) facilitado pela tradição da administração muçulmana e bizantina.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Frederico% 20II% 20Hohenstaufen. A ascensão destes poderes desintegra a ideia imperial e suplanta-a com novas evocações adaptadas a um mundo de poderes rivais: o princípio Gelasiano como evocação dominante do Ocidente decresce e emerge o problema do equilíbrio do poder. conta-se a expansão normanda dos séculos X e XI.terravista. Basta mencionar que Guilherme o Conquistador e os seus sucessores desenvolveram uma administração régia centralizada. A situação de conquista teve um efeito semelhante entre o séc. a conquista permitiu aos duques normandos organizar o poder como uma grande racionalidade até então desconhecida. A importância relativa do sacrum imperium diminui porque os novos poderes surgem na periferia e fazem inflectir o centro da política para Ocidente e para Sul. e puderam manter à distância os poderes e os senhores feudais e a concentração do poder nas mãos do rei foi a base de desenvolvimento da gentry inglesa e da classe média. O aparecimento da razão de estado nota-se nas conquistas normandas. no sentido moderno. A expansão normanda para Sicília. A irrupção de forças intramundanas no campo da evocação imperial exprime-se através de três formas principais: o aparecimento da arte do Estado.ERIC VOEGELIN esses eventos. XI e XIII semelhante ao da revolução no período posterior ao http://www. Este escrutínio dos factos principais é extremamente incompleto mas serve para mostrar a modificação completa da cena política. e consequentemente da evolução recente das formas constitucionais de governo.htm (2 of 9) [27/03/2002 07:18:54] . Itália do Sul e Inglaterra adicionou dois poderes consideráveis. o aparecimento do estadista e o crescimento da consciência nacional como factor determinante na política. a fundação dos reinos ilhas da Sicília e da Inglaterra e a expansão dos poderes insulares para o continente. oscila entre o significado de senhor imperial do orbis terrarum e de príncipe satânico deste mundo. Em segundo lugar. A consciência nacional espanhola cristaliza rapidamente sob o esforço da reconquista. A Sicília era cobiçada porque tinha um sistema de impostos que fazia do seu monarca o mais rico da Europa. título sem efeito prático mas indicativo do sentido de igualdade em grau como a cabeça do sacrum imperium. vol. Mesmo o imperador Henrique VI e o papa Inocêncio III são representantes dos velhos poderes são homens de estilo novo. Constitutiones et Acta Publica Imperatiorum et Regum. 2. a consciência nacional é a pressão colapso ao império Angevino com a formação das nacionalidade francesa e inglesa.terravista.ERIC VOEGELIN dos estados nacionais. A posição de Frederico II tornou-o um Salvador para os amigos. surgem os mestres do poder político. varridos os interesses dominantes estabelecidos.htm (3 of 9) [27/03/2002 07:18:54] . A melhoria da administração financeira e militar aumentou enormemente o poder político. um Anticristo para os inimigos O título de dominus mundi. (Testamentum. atribuído pelos seus cortesãos.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Frederico% 20II% 20Hohenstaufen. O fascínio luciferino do imperador ainda dificulta actualmente a sua imagem. Monumenta Germaniae Historia. tornava-se possível uma reconstrução racional da organização governamental. A constituição de Melfi. n° 397). Significativo é o Testamento do Imperador Henrique VI que abandona as suas pretensões imperiais sobre todo o Ocidente reconhecendo-se como o Império como uma unidade política entre outras. e finalmente. http://www. em 1135 Afonso VII de Castela é coroado imperador. Frederico II apoiava-se em tropas mercenárias sarracenas. 1. A racionalização militar permitiu a derrota da cavalaria feudal pela infantaria burguesa ou o triunfo da cavalaria profissional e da milícia burguesa de Filipe II de França como as forças feudais em Bouvines (1214). terravista. nem na consistência com que a empreende. não a Jesus. na força e vastidão de uma alma igual às tensões da época. antes. nem nos méritos de uma política. outros a sua evocação de um colégio de príncipes europeus.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Frederico% 20II% 20Hohenstaufen. encontramos uma vitalidade e sensualidade abundantes. e também é possível vê-lo como o primeiro homem moderno. uns admiraram a sua majestade imperial. Reaparece a expectativa entre a evocação antiga e a irrupção de forças intramundanas característica das teorias de João de Salisbúria.ERIC VOEGELIN A tentação é grande de o ver à luz do renascimento de um governante clássico ideal e pré-cristão. Quando tentamos recuar até aos papéis desempenhados. Não tencionamos adoptar como definitivo qualquer destes retratos. uma capacidade sempre pronta a desempenhar o papel sugerido pelas circunstâncias da situação. outros descreveram-no como um bom católico. Reside. alguns consideram-no um espírito forte que não acreditava na imortalidade da alma. a estrutura da realidade tal como esta se apresenta. em busca da qualidade da pessoa que os reúne. historiadores nacionalistas alemães condenaram-no pela sua falta de empenho na germanização do império. enalteceram-no como herói. mas a um governante.htm (4 of 9) [27/03/2002 07:18:54] . a Quarta Écloga de Virgílio parece ter sido aplicada pela primeira vez na história cristã. agora com a escala e a responsabilidade da acção imperial. uma vontade alegre de investigar. a um ponto tal que confina com a evocação do Deus feito homem. É uma figura da história profana em paralelo com Crist. A experiência da plenitude dos tempos que determinou a construção apocalíptica de Joaquim de Fiora exprime-se no jogo de Frederico com o símbolo de Augusto. seja nos problemas http://www. A grandeza do Imperador não reside nem na força de um carácter firme e claro. o iniciador da Idade de Ouro. E a conformidade franciscana ao Cristo sofredor tem paralelo na conformidade do Imperador ao Messias vitorioso. até aos limites. Quando na Carta a Jesi se refere-se ao seu local de nascimento em termos de Belém e à sua mãe como uma theotokos. Estamos no início da transformação das categorias políticas imperiais em categorias políticas http://www. nos problemas intelectuais das Questões Sicilianas.ERIC VOEGELIN empíricos da caça ao falcão. Ele. na pompa barroca da linguagem. não sabemos quanto seja um jogo com símbolos representativos e quanto seja conformidade ao Messias com a finalidade política. Liga-se aos seus actos a qualidade da representação. convicção religiosa ou pura brincadeira. na representação plástica e arquitectónica do culto da Justiça na porta de Cápua e na consciência representativa da sua majestade. penal e processual para a Sicília.htm (5 of 9) [27/03/2002 07:18:54] . administrativo. A visão nietzscheana de Cesare Borgia como Papa está perfeitamente dentro das possibilidades da alma de Frederico II. Temos de atender a estas tensões na alma em ordem a compreender a impressão que o imperador exerceu sobre os contemporâneos. na técnica dos procedimentos da corte. ou em contra-manifestos apocalípticos às acusações papais.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Frederico% 20II% 20Hohenstaufen. Também é impossível demarcar a sua curiosidade intelectual da sua descrença dogmática. codificam o direito constitucional. no seu sentido do ritual.terravista. é impossível traçar uma linha entre o homem de acção e o actor. Abundam os materiais para a interpretação de Frederico II. O mais importante documento para o presente propósito é o Proemium das Constituições de Melfi. entre a selvajaria da sua vontade e a ironia do seu jogo. de 1231. chamando o Papa de “corcel vermelho do Apocalipse” não podemos saber até que ponto a réplica seja política. Quando o papa o designa de Besta apocalíptica oriunda do Mar e ele dá o troco. e quanto talvez apenas ingenuidade. Estavam assustados porque ninguém poderia prever o que um homem desta capacidade faria a seguir e a que extremos o conduziria um temperamento duro e selvagem. Proclamadas pelo imperador. o acto conclusivo da reorganização política da Sicília. Com a criação. A alma deste desce da necessitas rerum. Esta descrição não é a narrativa do Génesis mas antes uma selecção de elementos nela presentes e fundidos numa nova unidade. o proemium usa o símbolo http://www. as suas acções resgatam o significado da criação. Os símbolos romanos servem a descrição do sacro império. Os princípios orientadores são a paz e a justiça cristãs mas rodeadas dos símbolos de Augusto e Justiniano. Sem dúvida que existe um apelo entre esta teorização e certas correntes da primitiva filosofia cristã do direito natural. instituindo para uma província do império categorias que deveriam ficar reservadas para a totalidade.ERIC VOEGELIN modernas O imperator in regno suo é uma transição entre o imperador e o príncipe soberano. Ademais o mundo tem uma enteléquia quando o resto do mundo perde a sua forma A comunidade de homens mortais substitui o homem imortal e este tipo de criação atinge o seu pleno com a figura do governante. segundo uma interpretação decorrente do símbolo cristão da origem do poder após o pecado.terravista. A transgressão foi punida com a perda de imortalidade. como se não houvesse redenção. a perda da imortalidade foi compensada com o dom da fertilidade e os governantes foram providenciados para preservar a ordem da humanidade. O Proemium teoriza a função régia da legislação. Desapareceu o problema moral da Queda. bem como a redenção através de Cristo. A Queda é apenas uma ofensa legal que continua a ter que ser punida. para transformar a lei da humanidade cristã na lei do estado secular. Também importante é a mistura de categorias cristãs e romanas imperiais. As constituições fora chamadas Liber Augustalis e o próprio Proemium imita a introdução do Corpus Juris. Deus fez do homem a criatura máxima. impondo-lhe tão só a observância da lei. Mas enquanto esta abordava o problema da comunidade humana em ligação com a história sagrada. Para não destruir a ordem da criação. no estilo imperial de Justiniano.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Frederico% 20II% 20Hohenstaufen.htm (6 of 9) [27/03/2002 07:18:54] . . a guerra contra os heréticos faz parte da campanha contra os movimentos populares que desafiam http://www. A ideia colectivista absorve a personalidade homem no espírito de grupo.htm (7 of 9) [27/03/2002 07:18:54] .. A primeira legislação civil contra heresias surgiu com a Assize de Clarendon (1166).ERIC VOEGELIN cristão ao serviço de uma doutrina naturalista do poder. A necessitas rerum é uma primeira forma da futura raison d’état.. Mas é importante perceber que as Constituições de Melfi representam um estádio avançado da situação política que permitiu a receptividade das ideias averroistas.. O artigo 1° trata da perseguição de heréticos e patarenos. Embora o Proemium não elabore as implicações desta posição.terravista. XIII. A imortalidade colectiva sucedeu à imortalidade individual. Tal como Averróis colocou a teoria da alma segundo Aristóteles A antropologia averroísta pode tornar-se em síntese. derivando a função de governar das estruturas da realidade intramundana. a base filosófica de uma organização colectivista da sociedade . A consciência da unidade espiritual do povo surgiu em ligação com heresias populares. certo é que a interpretação colectivista da humanidade se opoe à ideia cristã do corpo místico.. Melfi faz desaparecer a linha entre heresia religiosa e insubordinação política.. No caso do Proemium não vai tão longe.. O homem e individuação de um intelecto genérico e a morte é apenas a despersonalização. e julgamento sem queixa privada. a cruzada contra os Albigenses e o estabelecimento da Inquisição. O casal do paraíso foi substituído pelas gerações humanas. O processo inquisitorial culminava com a selecção de .pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Frederico% 20II% 20Hohenstaufen. A protecção da fé e integrada na guerra contra as ideias lombardas dominadas pelo Patarenos. A questão tornou-se premente com o pontificado de Inocêncio. Enfim surge o elemento averroístico. É pouco provável que a doutrina averroísta tenha sido conscientemente incorporada porque o averroismo só surge consciente em meados do séc. Esta medida que datava já de Rogério II mostra a nova dignidade sacramental de que se pretende revestir o governo secular. 3. Os movimentos populares heréticos acarretam uma contracção da substância da fé por parte das forças tradicionais que elaboram posições ortodoxas. qualquer dissensão é sacrilégio.htm (8 of 9) [27/03/2002 07:18:54] . como veio a suceder quando Frederico II passou aos actos. A substância espiritual é fornecida pelo rei.terravista. este corpo místico de mortais sob a direcção do governante teria de precipitar uma crise. Primeiro. a desintegração do corpo místico. processos inquisitoriais e estrita obediência a critérios. Cristandade Cesárea http://www.ERIC VOEGELIN o Príncipe. Esta irrupção da força intramundana do governante no reino do cristianismo. Terceiro é o crescimento das nações como subdivisões organizadas do populus christianus. pelo que devem ser proibidas. através da emergência das novas comunidade heréticas.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Frederico% 20II% 20Hohenstaufen. Acusa-se os patarenos de romperem a “indivisível unidade da fé” como muito mais tarde se falará da “indivisível soberania da nação” da revolução francesa. A receptividade crescente das ideias colectivistas deve-se a factores diversos. A queixa de que os Patarenos destróem-se a si mesmos ao terem que ser queimados pelos governantes faz lembrar Hobbes e Hitler. decisões e nomeações régias seria sacrilégio. O Artigo IV estabelece que a discussão das leis. A humanidade divide-se em massa e governante. Este três factores apontam para uma ecclesia política intramundana. a tensão crescente entre hierarquias espiritual e temporal que agudiza a respectiva luta pelo poder. a fé deriva a sua validade de uma autorização estatutária. os ditames régios equivalem a um credo religioso. Em segundo lugar. Uma comunidade de seres mortais reúne-se pela evocação da continuidade das gerações assegurada por um governante. Francisco transformou Cristo humilde em Jesus sofredor com a consequência de que as hierarquias ficaram decapitadas da cabeça messiânica.htm (9 of 9) [27/03/2002 07:18:54] .terravista. Frederico II representa a tentativa de criar uma imagem de governo em conformidade com o Cristo cosmocrator. http://www.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Frederico% 20II% 20Hohenstaufen. com o Messias em sua glória.ERIC VOEGELIN Assim designou den Steinen a tendência do imperador em assimilar a sua função imperial ao de Messias. que a descrição ordenada do mundo resultará num sistema que descreve http://www. Esta frase da Summa Contra Gentiles significa que o intelecto divino está impresso na estrutura do mundo.terravista. "A ordem das coisas na verdade é a ordem das coisas no ser".pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas. Afirmar que foi um grande pensador sistemático é uma meia-verdade. A grande receptividade poderia ter originado uma enciclopédia. energia intelectual e espírito sublime. e do mundo para Deus através do desiderium naturale: A origem desta combinação deve-se ao sentimento que fez de Tomás um santo: a experiência da identidade entre a verdade de Deus e a realidade do mundo.ERIC VOEGELIN . O clímax. Verdade e Ser A obra de São Tomás de Aquino (1225-1274) absorveu-o literalmente . Sabia aplicar a sua mente imperial à multiplicidade de assuntos que o atraíam e distinguia-se por ter uma personalidade rica em sensibilidade.htm (1 of 18) [27/03/2002 07:19:04] . Mas as duas faculdades combinaram-se num sistema que assinala o impulso dinâmico de Deus para o mundo através da causalidade criadora.São Tomás de Aquino Compactação e tradução de Mendo Castro Henriques A publicar em "Estudos de Ideias Políticas" ** A Idade Média" 2001 C . A exclusiva vontade de ordenamento poderia produzir um sistema que fosse mais notável pela coerência do que pela captação da realidade.morreu exausto antes de perfazer 50 anos e absorveu-o existencialmente porque foi a expressão de uma vida ao serviço da investigação e ordenamento dos problemas da sua época. São Tomás de Aquino §1 História a. magnanimidade. 37). Fé e razão Fé e razão não entram em conflito porque o intelecto humano veicula a marca do intelecto divino.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas. o leigo sabe através da revelação de Deus em Cristo. Através da vida intelectual o homem aproxima-se da divindade. ao qual se aplica o termo idiota ou então rudis homo.a verdade de Deus: que cada ser tem a sua razão e sentido na hierarquia da criação divina. A finalidade da filosofia é o bem do intelecto. com o duplo sentido de leigo cristão e leigo no saber. No termo veritas fundem-se os três sentidos da verdade: a fé revelada pela incarnação (João. o uso do intelecto revela a verdade de Deus manifesta no mundo. a filosofia é a superior porque contempla a finalidade do universo. O intelectual cristão O melhor dos auto-retratos do Santo surge nos capítulos de abertura da Summa Contra Gentiles.htm (2 of 18) [27/03/2002 07:19:04] . o intelecto humano veicula a marca do intelecto divino. a auto-manifestação da Deus na criação. A manifestação sobrenatural da Verdade em Cristo ao homem comum identifica-se à manifestação natural da verdade no sabedor. a tarefa do pensamento significa a orientação da mente para Deus. b. Tudo o que o filósofo sabe através da actividade do intelecto. Ao invés do intelectual averroista. São Tomás de Aquino concebe a filosofia como arte de ordenar as coisas para um fim. o trabalho intelectual que é a manifestação do intelecto divino.terravista. c. Ora Deus é Intelecto. 18. e apresenta os conteúdos do mundo a Ele ordenados. A frase tambem se aplica ao homem individual. Tomás dignifica a autoridade intelectual porque o intelecto humano é a ratio da existência humana criada por Deus. Entre todas as artes. O intelectual sabe mais que o homem comum mas este não é um vilis homo. Praticamente. que cumpre a finalidade da existência ordenando-se ao fim último que é Deus. que é a verdade. Deus não http://www. Metodologicamente. ou seja Deus. Ontologicamente. Esta magnífica harmonização de fé e razão influenciou decisivamente o destino da ciência no mundo ocidental. na época. deixando para a fé revelada verdades inacessíveis à razão. A orientação transcendental do intelecto torna-se uma expressão legítima do homem natural e não uma rival intramundana da fé. Este dinamismo teórico separa as esferas da teologia natural e sobrenatural.decepciona o intelecto com resultados que contradigam a fé revelada. se ficassem entregues a si mesmas. A parte natural fica livre para ser integrada num sistema de conhecimento humano sob a autoridade da razão. a evolução da ciência estava nas mãos de clérigos e as célebres Condenações de 1277 ainda consideravam heréticas algumas teses tomistas. O intelecto não é uma autoridade independente.htm (3 of 18) [27/03/2002 07:19:04] . d.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas. Propaganda intelectual A mesma vontade de harmonia é patente na síntese http://www. O intelecto pode errar mas consegue alcançar verdades como a existência de Deus. tais como o carácter trinitário da divindade. O seu sentimento de valor intelectual não é inferior ao de um Sigério de Brabante como se depreende da descrição da filosofia como arte ordenadora e da justaposição do filósofo em que se manifesta a verdade natural com o Cristo que é a verdade incarnada espiritualmente. resultado tanto mais admirável quanto. mas a que Tomás deu a melhor formulação e solução possível no seu tempo. A esfera sobrenatural está removida do debate intelectual e pertence à revelação e às decisões dogmáticas da Igreja. mas é um sentimento de valor temperado pela espiritualidade que aceita a revelação.terravista. problema difícil para a Igreja e para os intelectuais. O avanço da compreensão empírica e intelectual do mundo requer uma permanente redifinição da separação entre verdade sobrenatural e natural. O retrato do Santo que emerge da sua metafísica é o do descobridor de uma síntese das forças intramundadas que poderiam destruir o cristianismo. a posição é muito semelhante à franciscana.desenvolvido com o aparato da Política de Aristóteles . O retrato do príncipe em De Regimine Principum . Tal pretensão sobreviveu à perda de conexão com a espiritualidade cristã e tornou-se agressiva na Idade da razão secular. Tomás afirma no Proemium que é possível argumentar com os Judeus com base no Antigo Testamento. é preciso apelar à autoridade do intelecto.tomista dos problemas suscitados por Fiora. tal como os pagãos nos estádios da lei segundo S. e com heréticos com base no novo Testamento.htm (4 of 18) [27/03/2002 07:19:04] . E sempre que declina o ímpeto Cristão do intelecto. e. Paulo. As hierarquias A abordagem tomista da relação entre os dois poderes é mais ampla que a franciscana. Mas o seu Cristo não é apenas para os pobres em espírito e em bens.mostra a impressão causada por Frederico II e a importância de que se reveste o fundador e governante de uma comunidade. Quando se esquecem estas raízes. S.Tomás pertence a uma Ordem mendicante que louva o esforço missionário e pregador. contudo.Francisco e pelos Espirituais franciscanos.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas. E o intelecto que produz resultados cristãos torna-se o instrumento da propaganda inter-civilizacional. A Summa Contra Gentiles foi escrita para que as missões dominicanas em Espanha enfrentassem a influência intelectual muçulmana. fundando a pretensão que a civilização ocidental é racionalmente obrigatória para a humanidade. na http://www. com os maometanos. As raízes da dinâmica internacional da civilização ocidental residem no tomismo cuja força duradoura resulta da harmonia das operações intelectuais com a espiritualidade Cristã. S.terravista. é um Cristo que expande o Seu reino através da propaganda intelectual. A Igreja é uma instituição que ministra sacramentos. Já quanto ao poder espiritual. perde validade a pretensão de validade da razão autónoma e a razão fica enigmática. a revolta contra a razão clama insensatamente por uma nova espiritualidade qualquer. qq. art. A Summa Theologica tem uma parte volumosa sobre governo temporal (ST I. Tomás não escreveu um tratado sobre a Igreja.Imperialismo Ocidental A adaptabilidade de Tomás às exigências da realidade histórica é patente no modo como distribui as tónicas espirituais e políticas do seu tempo. Contudo. e conforme a presença da graça do Espírito. O Evangelium foi todo anunciado ao universo de uma só vez. organizada numa pluralidade de comunidades. Tomás vive entre duas épocas: morreu a unidade medieval do Império mas ainda não nasceu o mundo dos estados nacionais.como fez Grabmann . Em vez de simbolizar o cumprimento da história cristã por uma nova descida do Espírito numa irmandade elitista. A era de Cristo diversifica-se conforme o espaço. A vida sob a lei nova é a mais perfeita que se pode conceber.terravista. Sendo possível apresentar uma doutrina tomista da Igreja . A sua filosofia da http://www.4). f.ii. sendo necessária a pregação até que a Igreja se estabeleça em todas as nações. ii. crescem múltiplos poderes políticos com estrutura natural imanente e o poder espiritual está a tornar-se a super-estrutura espiritual da multidão de civitates. Talvez tenham razão os que o acusam de não possuir uma filosofia da história.(ST I-II 106 4 ad.hierarquia de poderes.é significativo que a falta de ênfase tomista se deva à época de interregno em que vive: o Sacrum Imperium está a desaparecer.htm (5 of 18) [27/03/2002 07:19:04] . I. Evangelium Aeternum . caso estiverem a considerar a história política.90-114) mas não explicita uma doutrina da Igreja e menos ainda do Direito Canónico. abraça todo os conteúdos naturais do mundo e do intelecto humano e da sociedade. quaestio 106. o tempo e as pessoas.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas.4 ). Condena como insensata a ideia de um terceiro reino do Espírito -stultissimum est dicere quod Evangelium Christi non sit Evangelium regni (ST. tem o primado sobre o temporal. Mas o seu sentido histórico permitiu-lhe exprimir a vontade imperial da civilização cristã. Tomás representa a vontade de domínio imperial do homem maduro. reaparece no sec. g. XVI em Espanha com Francisco de Vitória. Esta evocação permaneceu uma componente do imperialismo no período do estado nacional. a relação entre fé e razão é uma harmonização de forças históricas. com a http://www. §2. por vezes. Reaparece no sec.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas. intelectual e espiritualmente. e reaparece nas lutas subsequentes por impérios coloniais que impliquem uma ideia providencial do domínio do Ocidente sobre o resto do mundo. O espírito histórico Se por teoria entendermos a ordenação sistemática de uma problemática não-histórica.história contempla a expansão da Cristandade em todo o orbe através das actividades de missionação. pela primeira vez desde a recepção de Aristóteles.terravista. reaparece na Inglaterra Elizabetina. Política Na apresentação da política tomista topamos. XVII em combinação com o imperialismo comercial de Grócio. A forma das Questões da Summa Theologica é ideal para executar esta tarefa porque permite organizar o material num enquadramento estável e oferece oportunidades de descer ao detalhe histórico em notas polémicas que precedem e prosseguem o corpo da quaestio. Este sistema muito pouco rígido é o símbolo perfeito de uma mente que não é apriorista nem empirista e que exprime um indivíduo que experimenta a sua harmonia com a manifestação de Deus no mundo histórico. A Summa não é um tratado sistemático: contém transições frequentemente obscuras ou omissas e. A verdade de Deus manifesta-se num mundo cheio de dinamismo das forças históricas. deve recrear num sistema a unidade do mundo historicamente concreto.htm (6 of 18) [27/03/2002 07:19:04] . Neste sentido. O trabalho da filosofia não se esgota em especulaçãos aprioristas. Para ele. digressões excessivas. Tomás não era um teórico. do planeamento da cidade e do esboço da constituição são o pano de fundo para a construção de Estados ideais. Todo este suspense em relação ao tipo de organização política contemplada mostra que a teoria tomista do governo não é suficientemente geral para captar os elementos de todas as formas políticas nem suficientemente específica para se aplicar a uma unidade política concreta. Por exemplo. e não a um poderoso monarca ou http://www.maldição da teoria política ocidental . No sec. rei cruzado de Chipre. a fundação de novos principados nos domínios bizantinos e arábes invadidos pelos Cruzados foi uma tentativa de expansão da civilização ocidental entre as gentes. E ainda hoje não ultrapassámos a vagueza humanística que atribui validade geral às categorias intermédias resultantes da recepção de Aristóteles.a maldição de não sabermos exactamente o que os nossos símbolos significam. Este escreveu em 1265-66 o De Regimine Principum. A possibilidade de selecção do espaço. mas também por gens. tentativa cujo fracasso não era ainda previsível na época de Tomás. Em particular. Gens e regnum são organizações políticas muito diversas. provincia. tal como a partir do sec.htm (7 of 18) [27/03/2002 07:19:04] .pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas. A sendo que a sua adopção posterior é um exercício humanista com escassa relevância para os novos problemas políticos. VI a IV a. em Platão e Aristóteles. As categorias aristótelicas reportam-se evidentemente à polis helénica dos secs. a descoberta da América e o estabelecimento de colónias abriu horizontes semelhantes. Provincia provém do vocabulário imperial romano. A dedicatória ao rei de Chipre Muita da força da teoria política helénica resultou do facto de que as poleis mais antigas se empenhavam em fundar novas cidades e colónias. dedicando-o precisamente a Guy de Lusignan.XVI . b. regnum. Tomás traduz polis por civitas.XIII uma situação algo comparável resultou das migrações normandas e do movimento das Cruzadas.C.terravista. A comunidade de cristãos livres A grande novidade em relação a Platão e Aristóteles é de que o rei funciona como governante da comunidade dos livres (liberorum multitudo R. O Príncipe como análogo divino. aristocracia ou politeia. a ideia de fundação substitui o lugar da evolução da família para a aldeia e para a polis em Aristóteles.família.1). A sequência é traduzida por familia.terravista. polis. No teoria política de Tomás.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas.1). O dom da regia virtus recebido por um indivíduo (RP. e o príncipe como fundador e governante da civitas (RG.htm (8 of 18) [27/03/2002 07:19:04] . Se os membros da comunidade cooperam livremente nas tarefas da existência comum. I. aldeia. I. tenha forma de monarquia. o governo é bom.I. d. é apenas uma virtú mas sem o elemento demoníaco de tipo maquiavélico. c. Mantém-se a evidência natural da sociedade porque o homem isolado não poderia desenvolver as suas capacidades ("Naturale autem est homini ut sit animal sociale et politicum. Liberdade e servidão tornam-se critérios do bom e mau governo. Perde sentido a sequência obrigatória de comunidades . civitas. Se um ou alguns homens exploram os restantes em proveito http://www.9) não é a autoridade espiritual de Platão nem a arete de Aristóteles. a alma governante do corpo. interessando sobretudo o chefe de família e o rei que pode ser de civitas ou provincia. provincia.imperador do Ocidente.13) subvertem a visão aristótelica de que a cidade tem uma evolução estritamente natural. regressando assim à ideia platónica da cidade fundada pelo espírito. mas permanece indeterminada como seria uma comunidade perfeita que satisfizesse as carências naturais e a vida intelectual. A série de analogias entre Deus como criador e governante do universo. magis etiam quam omnia alia animalis. quod quidem naturalis necessitas declarata /(I. A função régia é de ordem natural e não espiritual.P. ideia magnânima semelhante à do igualitarismo aristocrático de S. para Aristóteles. O homem de Aristóteles realiza-se na polis e nada mais é do que politikon enquanto o homo christianus está orientado para a finalidade transcendental espiritual. sendo tambem político. na Summa a felicidade é o absoluto que atrai a si uma vida de comunidade sem qualificação política.117) exigem regras de comunidade dadas por Deus (III. Na Summa Theologica (ST I ii 90.próprio. mesmo o bom regime de Aristóteles seria mau porque continha escravos.111-146). apresenta o homem como naturaliter animal sociale. A antropologia tomista opera com a ideia do homem cristão livre e maduro. e vive inclinado para o amor mútuo e a solidariedade (SCG. a alma no corpo . Contudo. Os laços de afeição que que têm que existir entre os que se estimam (III. III 117. o governo é mau. Interessa-lhe apenas o populus christianus.).não é a palavra final na politica tomista porquanto a multidão de cristãos tem que viver sob http://www. príncipe na civitas. Na Summa Contra Gentiles quando ainda não adoptou as categorias de Aristóteles.2) em que desenvolve a mesma posição.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas. A sequência de analogias .I. a polis histórica é um absoluto em que se insere a acção contemplativa. Os livres são apenas uma multitudo resultante da livre cooperação criadora. Francisco.14) e não o zoon politikon.Deus no universo. A figura central da política tomista é o homo christianus (RG.htm (9 of 18) [27/03/2002 07:19:04] .terravista. Não apresenta uma teoria do contrato social que institui obrigações nem uma teoria da organização política do povo. Aliás. Tomás experimenta a liberdade do cristão mas não coloca o homem numa comunidade natural com obrigações próprias. Também a recepção do termo de Aristóteles animale politicum não significa adopção do sentido. o que constitui a comunidade humana é a finalidade comum de amor a Deus e a ordenação da vida para a felicidade eterna. Mas a finalidade social não reside a esfera natural. Tomás deixa cair do céu a citação de que a polis é a comunidade perfeita porque conduz à felicidade. Cristo, rei espiritual. O ministério deste reino espiritual é confiado aos sacerdotes - separados dos assuntos mundanos - e em particular ao pontífice romano, ao qual todos os reis e povos estão subordinados (RP I,14). Assim, a velha dicotomia de poderes - espiritual e temporal - é substituída pela dicotomia moderna de religião e política. A esfera política no sentido moderno ainda está completamente orientada para o espiritual; mas começa a evolução para a privatização de religião (à maneira de Locke), o monopólio da esfera pública pela política e a possibilidade de uma integração totalitária da espiritualidade intramundana na esfera pública da política. e. Teoria do governo constitucional Tão forte é o carácter humanístico da teoria de São Tomás de Aquino que mal refere a existência de um sistema da instituição do governo, sendo que os princípios desenvolvidos com referência às instituições israelitas e helénicas são pouco adaptados ao sec.XIII. Cada comunidade perfeita tem que ser estruturada nos três reinos de optimates, populus honorabilis, populus vilis, (ST I 108, 2), modelo inspirado na nobilitá, popolo grasso, popolo minuto das cidades italianas. A partir da liberdade cristã, é possível desenvolver instituições governamentais para o homo christianus enquanto homem político. Não sabemos o que Tomás pensaria sobre a evolução nas cidades italianas onde as revoltas dos Ciompim em Florença, e dos Patarenos, em Milão, exigiam a integração do terceiro estado no governo; nem sabemos como aplicaria o seu princípio na Iglaterra que atingia então o Parlamentarismo, e menos ainda na França, feudal e comunal. No Regimine Principum, que permaneceu incompleto, a teoria do governo constitucional surge em ligação com o problema da tirania (II,6). O tiranicídio é condenado, sendo da responsabilidade da auctoritas publica a deposição do governante injusto. O melhor seria a prevenção da tirania através da delimitação do poder régio. Na ST I ii q.95,4 o regimen conmixtum é http://www.terravista.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas.htm (10 of 18) [27/03/2002 07:19:04] apresentado como a melhor forma de governo. A propósito das instituições do povo Hebreu (I ii 105,1) afirma Tomás que a monarquia (análoga da divinidade) é a melhor forma de governo mas está mais sujeita à tirania. Esta nonchalance na definição da melhor forma de governo parece provir da democracia primordial de Israel, em que o Senhor recebeu com desagrado o desejo popular de ter um rei como as demais nações(loc. cit. ad.2). Tomás adopta o princípio orientador de que cada um deve ter a sua parte no governo. A politeia deveria ter por magistrados o rei, a nobreza e os representantes dos povos, contribuindo assim para a prevenção da tirania, provocada pela compra de votos, pela eleição de personalidades indignas, (I,ii, 97,1) e pela expoliação dos proprietários. As fontes principais do pensamento politico tomista são a teoria aristotélica da política, a constituição romana, a democracia original e monarquia de Israel, a democracia das cidades italianas e o sentimento da liberdade cristã. Estes elementos não estão integrados; co-existem no estilo harmonizador do pensamento tomista. A síntese possível é a ideia de governo constitucional baseada em dois princípios: a estabilidade de governo que depende da participação do povo e o princípio espiritual cristão da liberdade do homem maduro. A evocação é humanistica porque as operações intelectuais com a terminologia de Aristóteles ainda não penetrara suficientemente nos problemas concretos da política. Esta síntese de natureza e espiritualismo cristão dominou a evolução da política ocidental, até hoje. § 3. Os quatro tipos de Direito a. A teoria do Direito Uma compreensão adequada da teoria do direito, tem que atender ao lugar em que ela é tratada na ST. A primeira parte da Summa trata de Deus e da Sua criação, a segunda do Homem e a terceira de Cristo. A Prima Secundae (I,IIae) trata das acções humanas. http://www.terravista.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas.htm (11 of 18) [27/03/2002 07:19:05] Primeiro aborda a beatitude como a finalidade da vida humana (qq.1-5) e depois os meios para a atingir; os meios consistem em acções humanas que se subdividem em acções voluntárias especificamente humanas (qq.6-21) e as paixões que são tipos de acção comum aos animais (qq.22-48). Os princípios internos da acção humana são subdivididos em poderes e hábitos (qq.48-89). O princípio externo que move o homem para o bem é Deus, operando através do Direito (qq.90-108) ou com a assistência da Graça (qq.109-114). A teoria da lei é a instrução dada por Deus ao homem para motivar os seus actos para a beatitude. Este esboço da teoria da direito aplica princípios ontológicos. O mundo é uma criação de Deus e, como tal, portador da marca do divino intelecto; o significado da existência criada é o movimento de retorno a Deus. A regra que motiva a acção humana de retorno a Deus é a ratio da criação no intelecto do próprio Deus. A criação imprime no homem esta ratio divina que é a Lex aeterna, pelo que o direito natural é o ditame da razão que vive no homem. Como o homem é imperfeito, a adaptação da lei natural às contingências humanas é chamada de direito humano. Como o homem não é apenas um ser natural mas orienta-se para o espírito transcendente é necessária uma revelação especial que constitui a direito divino, apresentado no Antigo e Novo Testamento. b. Definição de Direito O direito é definido como ordenamento da razão para o bem comum, feito pelo governante e promulgado (90.4). A definição soa como uma definição do direito positivo mas pretende ser uma definição dos quatro tipos de direito. A tónica recai sobre a comunidade politica e os órgãos de legislação mas a problemática da autoridade legislativa não está ainda separada da autoridade da ordem por virtude da justeza dos seus conteúdos. Os elementos da razão e bem comum são especulativos e comuns aos quatro tipos de lei. O elemento de http://www.terravista.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas.htm (12 of 18) [27/03/2002 07:19:05] promulgação pode adaptar-se à manifestação da lei divina na lei natural (90,4,ad 1) a lei divina é promulgação da lei eterna, e lei humana é promulgação pelos governantes. As dificuldades surgem com a feitura da lei pelo representante da comunidade. O elemento refere-se a Deus, e ao príncipe (91,1) Mas a analogia quebra porque a lei eterna não pode ser feita mas existe desde a eternidade na mente divina. Por outro lado, (90 art. 3) Tomás refere apenas a feitura da lei em comunidade nacional perfeita. Tomás está a tentar criar uma teoria do direito positivo que leva a conflito com a teoria dos conteúdos da ordem jurídica dada na classificação das quatro variedades. Toda a lei é criada por Deus com excepção da lei eterna incriada. Os homens participam nessa criação através da feitura da lei humana. Mas esta feitura humana consiste em encontrar os elementos rectos da lei de acordo com lei divina e natural. A lei feita faz parte do retorno do homem a Deus. A feitura da lei tem a estrutura dialéctica de fazer lei por Deus através do instrumento da acção humana, ou orientação do homem para Deus através de regras de acção conforme a vontade legislativa divina. A dialéctica da lei positiva resultante da posição ontológica nunca é tratada adequadamente. Em vez disso encontramos identificação da lei posta com a essência da lei (90, 4) e com lei humana em 95, 1 e 2) A confusão neste ponto corresponde a falha no sistema: a comunidade perfeita a constituição e acção legisladora são recebidas factualmente no sistema mas Tomás não criou um enquadramento teórico satisfatório para elas. c. A teoria do direito natural A força da filosofia jurídica tomista reside na teoria dos conteúdos da lei natural. A lei eterna induz nas pessoas uma inclinação para as acções justas. É esta participação da criatura racional na lei eterna que se chama de lei natural. A luz da razão natural que distingue o bem do mal é reflectido na refracção da luz http://www.terravista.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas.htm (13 of 18) [27/03/2002 07:19:05] e inclinação para a ideal da vida em comunidade (94. A solução tomista surge quando instituições tradicionais estão a desaparecer. koinos nomos e participa nela atrrvés de apospasme.2). preservação da natureza racional através do desejo de conhecimento de Deus. Lei humana . A construção assemelha-se a teoria estóica de lei natural. Caso não existir uma fundação ontológica temos a seguinte alternativa: ou não ter fundação ontológica e aceitar como válida qualquer ordem jurídica positiva que possa compelir à submissão ou erigir como absolutos elementos intramundanos tais como instintos. harmoniza a personalidade espiritual cristã com a comunidade natural perfeita que pode corresponder a povos ou federações. carências. Mas a antropologia é cristã. A participação tomista é objectiva na medida em que não depende da iluminação individual (Agostinho) e confere peso à singularidade da pessoa porquanto concebe a comunidade como o esforço cooperativo de homines Christiani livres. d. A primeira opção é niilista a segunda positivista e não permite integrar a experiência transcendental religiosa na filosofia da Direito. A fundamentação tomista é talvez a única sustentável posição para uma filosofia do direito. ou sobrevivência dos mais aptos.lei positiva http://www. vontade de poder. desde que dotados de identidade espiritual.htm (14 of 18) [27/03/2002 07:19:05] . razão secular.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas.3) Os princípios gerais são auto-preservação. A clássica solução tomista fornece uma fundação religiosa e uma ordem jurídica que respeita a estrutura ôntica da existência humana. desejos. Preservação da espécie através de procriação e educação.2).terravista. Toda a lei é derivada da lei eterna (93. (91. sendo depois absorvida pela teoria da interpretação natural do período dos estados nacionais.divina em nós. A concepção estóica poderia conduzir a teoria da iluminação como em Santo Agostinho ou a teoria colectivista da anima intellectiva como em Averroes. a centelha do nomos no homem individual. 95) a lei humana é corpo de regras feitas pelos órgãos legislativos e garantida pela sanção governamental. O Antigo Testamento ordena o homem a bens terrenos. É preferível providenciar regras gerais redigidas de modo desinteressado e competente e genérico.terravista. infância e maturidade. O debate na q. Trata-se da generalidade e da obrigatoriedade da lei. A lei divina. A confusão resulta de Tomás não distinguir suficientemente entre o conteúdo da ordem jurídica e a autoridade legislativa e o poder de sanção.95 identifica a lei humana com a lei positiva. e. A obrigatoriedade é necessária porque a natureza humana é fraca.htm (15 of 18) [27/03/2002 07:19:05] . já que a proibição do mal também destruiria o bem da vida comunitária e porque a lei divina lei que regula e sanciona o mal escapa à regulamentação humana (91. Enquanto lex humanitus posita (q.Tanto a lei humana como a lei divina possuem conteúdos contingentes. 5. 21) de que os princípios de direito natural não devem exigir o que é humanamente impossível nem contradizer as tradições locais. regulando actos externos e compelindo à obediência por temor do castigo. devem servir o bem comum e ser claros e adaptados ao tempo e ao espaço. Tomás segue o conselho de Isidoro (Etimologias. ora regulando actos intrínsecos induzindo obediência através de amor divino que a Graça instila nas criações humanas. é uma só.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas. correspondente a dois estádios espirituais da humanidade. O Novo Testamento dirige o homem para bens celestes. 4). A Lei Antiga A sociedade de proprietários A lei divina surge porque a finalidade sobrenatural do homem exige uma orientação que o juiz incerto humano não encontra sozinha. 3) a lei humana cria detalhes e regras que aplicam a lei natural a situações concretas. A lei humana não abrange intenções. força e temor ajudam a virtude a agir correctamente. Enquanto lex ab hominibus adinventa (91. no Antigo e Novo Testamento. Esta relação http://www. 2 ) As relações privadas entre súbditos resultam da autoridade do cidadão sobre os seus bens privados. Dentro do quadro da teologia católica esta é talvez a expressão mais forte do princípio da livre espiritualidade Cristã. é o primeiro tratado sobre uma civilização antiga concebida no espírito humanístico. IIae. res possessae. A autoridade governamental sobre súbditos manifesta-se em compelir à ordem jurídica. 106-108). a essência da Cristandade é colocada na "lei da fé" no sentido paulino. Temos que http://www. ocupando cerca de um quinto da Antiga. Tomás cita Romanos 3. e promovia a sociedade de proprietários e suas relações comerciais. A discussão do Antigo Testamento permite tratar Israel numa monografia abrangendo a análise da ordem cerimonial política e civil (qq. (105. 1) passagem que precede "porque cremos que o homem é justificado pela fé. 106. hoje.entre conteúdo de uma ordem jurídica e estádio civilizacional de um povo é uma filosofia da cultura. e as relações privadas e civis entre os próprios súbditos. segundo Dempf. e pelas obras segundo a lei". 27 (I.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas. A teoria pode. Tal teoria tem um toque intemporal de humanismo e teve portentosas consequências na evolução futura do pensamento político. parecer trivial mas. Tomás distingue dois tipos de relações: a relação entre príncipe e súbditos. apenas secundariamente é lei escrita. punha de parte a estrutura feudal dos direitos de propriedade. Tomás está a salientar o espiritual elemento de fé a expensas da mediação institucional da Igreja mas não pretende fazer inovações doutrinárias.htm (16 of 18) [27/03/2002 07:19:05] . A lei Nova é inscrita pela Graça do Espirito nos corações dos fiéis. Na teoria da propriedade privada. f.terravista. Para excluir qualquer outro princípio de justificação. era revolucionária. 98-205) o que. na época. Sem mencionar a Igreja. A Nova Lei Justificação pela fé O tratamento da Nova Lei é surpreendentemente curto (qq. a sociedade comercial burguesa. Tomás de Aquino divide duas eras: os seus poderes de harmonização foram capazes de criar um sistema espiritual que absorveu os conteúdos do mundo em transição: o povo revolucionário. espiritualismo da Reforma e o intelectualismo da ciência. o intelectualismo de Sigério é equilibrado por uma orientação mas com uma espiritualidade igualmente forte. O horizonte estreito da irmandade monástica é alargado à visão imperial de um mundo de comunidades perfeitas cristãs. Absorveu e manteve em equilíbrio sentimentos muito distintos. o seu humanismo digere Aristóteles e cria o estudo das instituições israelitas. o príncipe natural e o intelectual independente. O seu sistema é medieval enquanto manifestação do espiritualismo cristão: é moderno porque expressa as forças que vão determinar a história política do Ocidente até aos nossos dias . da sua participação no governo através do sufrágio geral e na constituição de uma sociedade livre de proprietários. a consciência secular de Fiora é traduzida nas ideias da expansão da Igreja no mundo. Tinha algo da receptividade de Frederico às forças da época. o individualismo espiritual de S. Alcançou esta espantosa concentração do passado e do futuro mediante o milagre da sua personalidade. o populismo franciscano é continuado pela evocação da comunidade do homens politicamente livres enquanto a limitação de Cristo aos pobres é ultrapassado pelo reconhecimento das funções do príncipe. Realça o individualismo de carácter de João de Salisbury pelo personalismo espiritual cristão. mas ultrapassa-o em espiritualidade. Francisco aparece ainda mais radical no espiritualismo de Tomás. Através destes equilíbrios\ São Tomás de Aquino tornou-se figura única que pôde dar voz à Cristandade http://www. Na história do pensamento político.terravista.o povo organizado com constituição.atender ao espiritualismo independente de Tomás para compreender a força dos sentimentos que se exprimem na concepção do comunidade dos cristãos livres e amadurecidos.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas.htm (17 of 18) [27/03/2002 07:19:05] . Ninguém como ele poderia ter representado no estilo grandioso o homem ocidental espiritual e intelectualmente amadurecido.htm (18 of 18) [27/03/2002 07:19:05] .pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20Saotomas.medieval imperial na linguagem do Ocidente moderno. http://www.terravista. terravista.o paraíso terreno http://www. A terceira fase traz um novo nível. Aos primeiros reformadores corresponde o activista político-religioso. representado por Marx.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20dante. §3.htm (1 of 7) [27/03/2002 07:19:10] . o proletário. tal como a Divina Comédia era o primeiro.ERIC VOEGELIN ERIC VOEGELIN ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS ** A época medieval Capítulo 16 Dante §1. Realismo espiritual . que tentou unir o espírito e as instituições sociais através de destruição revolucionária da sociedade existente. Podemos discernir três fases principais no processo de separação entre espírito e política. Isolamento do pensador político §2. A segunda fase é marcada pelo surgimento de reformadores religiosos e de realistas espirituais seculares. para dar lugar ao novo homem. O início da primeira fase é marcado por Dante e pela sua descoberta da nova solidão espiritual. A separação entre espírito e política Desde a época de Dante que o realista espiritual se enfrenta com o problema de que a realidade política circundante do mundo ocidental já não absorve adequadamente o espírito nas instituições públicas. XVI e XVII corresponde o espírito livre isolado de Nietzsche cuja análise do niilismo europeu é o último juízo do mundo ocidental pós-medieval. Aos realistas espirituais dos sécs. A questão é da autoridade com que escreve estas cartas. XIX. torna-se o instrumento de expressão para o indivíduo que não tem público institucional mas que apela à opinião pública.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20dante. é o Florentinus. Este negativismo ressurge em Maquiavel. o papel que assume. por outro lado. http://www. ao imperador Henrique VII. Na primeira fase adoptou as Cartas.htm (2 of 7) [27/03/2002 07:19:10] . Na Carta VII. Os símbolos de autoridade são simultâneos em três fontes. o mesmo tipo de esperança de Lutero e dos revolucionários do séc. A Carta Aberta.terravista. tal como desenvolvidas por Frederico II e usadas por São Francisco. E finalmente na Dvina Commedia consegue a grande inovação de um poema político em lingua volgare. designa-se a si mesmo como humilis Italus. Na Monarchia. acompanhado pelos toscanos que desejam a paz. Mas a experiência de Dante da realidade profunda do espírito determina a sua atitude pessoal negativa face ao campo da política que vê dominado pelas paixão do poder material. Na Carta V. Espinoza e Nietzsche.ERIC VOEGELIN Esta perspectiva mais ampla permite uma melhor compreensão dos problemas de Dante. dirigido ao povo italiano em geral. por um lado. Nas três cartas considera-se imerecidamente no exílio. regressa à forma convencional do tratado político. ainda estão indiferenciadas. Na Carta VI endereçada aos Florentinos exprime-se como o Florentius. Forma literárias e símbolos de autoridade Para as afirmação pública de um indivíduo. tal como expressa na Divina Comédia. ou Manifesto Político. endereçada aos príncipes e povos de Itália. Dante teve que desenvolver as formas literárias e os símbolos de autoridade adequados à nova função. Ele acalenta esperanças numa nova Igreja espiritual de tradição joaquimita. As suas abordagens ao problema de uma humanidade ocidental que está perdendo a unidade espiritual. e a tentativa de encontrar a relação adequada do indivíduo espiritual à estrutura política da sua época. §4. Mas problemática porque a ordem cristão o poeta não tem autoridade divina específica para falar como vidente. tem a função representativa de um porta-voz.ERIC VOEGELIN A primeira fonte é designada pelas auto-designações nas Cartas e pelo uso da língua vulgar na Divina Commedia. E enfim. Como espiritualista cristão assume em relação ao reino de paz futura uma função semelhante a Joaquim. é um campo aberto em que as possibilidades da mente humana se desdobram historicamente e se manifestam na sequência de civilizações e nações. apesar da retirada de grupos políticos mantém um estatuto político. (Inferno. Dante fala como italiano e florentino. É cientificamente insustentável parar a história num ponto do tempo e declará-lo http://www. que constitui uma fonte de autoridade mais problemática mais pessoal. embora exista quem pratique isto frequentemente. 64-105) 5. Consciente do problema. Já não é possível identificar a essência do homem com um intelecto sem história. IV. Dante evoca Virgílio e quatro outros poetas pagãos no limbo que o recebem por companheiro. A segunda fonte de autoridade é o espiritualismo joaquimita.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20dante. O De Monarchia A construção de Dante já não é aceitável porque a antropologia moderna enriqueceu-se com a visão da estrutura histórica da mente humana. Dante fala em nome do seu génio poético.htm (3 of 7) [27/03/2002 07:19:10] . A unidade da humanidade não é intelectualmente estática. como membro da comunidade política.terravista. As Cartas §6. A imaginação de Dante ainda não visiona o estado nacional italiano. precisamente o que sucede com a ideia de uma organização estática que seria a resposta política à ideia de homem. Os planos de organização mundial de Pierre Dubois e Sully originados na vontade de poder de uma nação particular. São historicamente realistas na medida em que se baseiam no princípio de que as concepções políticas de uma ordem particular deveriam ser preponderantes.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20dante.ERIC VOEGELIN absoluto como a natureza humana. O povo italiano é o povo por excelência em virtude da obra de civilização e de paz que realizou e pela virtude de Cristo se ter deixado julgar por um tribunal romano. O drama da história humana não pode ser retido numa organização de poder governamental. O importante é que Dante não visa defender o imperador contra o poder espiritual mas sim o populus romanus.está longe de estar resolvido. imperial e não pode ser submetido às regras de um tribunal.htm (4 of 7) [27/03/2002 07:19:10] . estão mais de acordo com as forças da história. O mito da Italianidade O Livro Segundo da Monarquia. Os detalhes da investigação não são aqui relevantes. O defeito da teoria de Dante é o intelectualismo. Mas são intelectualistas na medida em que uma ideia particular de ordem é universalizável de modo a que todos os homens devem submeter-se-lhe. no mundo ocidental e no globo. sendo hegemónicos. ou seja. em geral. por regra. O conflito político entre a hegemonia organizada e o sonho da universitas hominum . o povo italiano contra os adversários e competidores. que reserva ao monarca mundial as funções de árbitro. http://www. Os nossos planos modernos de organização mundial são.politicamente personificada no séc. c.terravista. hegemónicos. embora sejam um modelo de análise religiosa e filosófica dos sintomas pelos quais a vontade de Deus pode ser conhecida. Mas o intelectualismo continua na moda. trata de saber se o povo romano tem o direito de assumir a monarquia mundial. XIII por Dante . Não se trata de nacionalismo. a redução da história ao processo espiritual aniquila a vida secular da humanidade. O argumento imperialista da derivação directa da autoridade de deus contra a construção hieràrquica §7. e para Vico a Itália é a única nação ocidental que tem um ciclo antes das migrações dos povos bárbaros.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20dante.htm (5 of 7) [27/03/2002 07:19:10] . O livro III retoma a relação da autoridade imperial com a eclesiástica.terravista. A evocação de Dante utiliza as raízes joaquimitas através da distinção entre a Igreja feudal corrupta e a Igreja espiritual pobre e a expectativa joaquimita de que o período de iniquidade será seguido por uma Igreja purificada e a ser inaugurado por uma personalidade salvadora. Vê a decadência da Igreja em paralelo http://www. O elitismo espiritualista de Joaquim era uma fuga à unidade temporal espiritual do Império. a regeneração deve preparar os italianos para assumir as funções de povo imperial. podemos concentrar-nos na visão apocalíptica decisiva de Purgatório 29 e 32-33. Dante aguarda por um imperador da Casa de Luxemburgo. Com Maquiavel é o estado nacional.ERIC VOEGELIN Enquanto aguarda o fim da intervenção estrangeira. na acepção de irmandade dos perfeitos ser incompatível com a ideia de povo cristão. A visão não é simples repetição do sonho joaquimita do Terceiro Reino do Espírito. Este mito da Italianidade permanecerá na moderna história italiana. considerando-a atrasada em relação à Itália. O fascismo irá explorar este ressentimento contra a barbárie anglo-saxónica. A visão está expressa em símbolos espirituais e consenso é difícil. Dante vive no horizonte mais amplo do poder imperial. As linhas principais foram clarificadas pelo trabalho de séculos de comentadores. A visão em Purgatório 29-33 Numa economia da história das ideias políticas. existe um tempo de espera comparável ao saeculum http://www. o problema sai do tempo presente e vai para as eras simbólicas de história Os símbolos básicos são joaquimitas. Noutro sentido. Reaparece o elemento de fatalismo típico de uma filosofia da história que procure evocar uma drã fixo no deuros dos ventos futuros. verso 100 e ss. que. na medida em que completa a evocação do reino cristão esboçada em Santo Agostinho. Mas como o velho Império morreu. é uma figura imperial e temporal. não será realizada por acção política no sentido mundano. A Civitas Dei assinala o fim do período romano-cristão porque aceita a derrota da ideia de um império cristão. contudo. Dempf afirmou bem que a visão de Dante é a contrapartida da Civitas Dei. A situação de Dante é semelhante. típico de Sigério de Brabante e dos Averroístas. O fatalismo de Dante ainda é mais forte que o de Joaquim porque Dante não assume o papel de simples profeta existencial.ERIC VOEGELIN com a decadência do império como poder secular: miséria do papado em Avignon e predominância da França no Ocidente. A comparação pode ser levada da esfera dos conteúdos para a esfera dos sentimentos. O império será inaugurado por um Dux. (Inferno. a evocação de Dante pode ser comparada com a de Santo Agostinho. O saeculum é senescens. A reconstrução do imperium tem de se estender ao poder temporal e espiritual. Apenas em segundo plano aparece uma figura espiritual dirigente designada como Veltro.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20dante. porque o Império é dado por Deus no devido tempo. não existe esperança na história do mundo e temos que aguardar pela segunda vinda de Cristo que porá fim ao curso insensato dos acontecimentos humanos. é fatalismo de tipo intelectual e aproxima-se mais da submissão à história sob uma lei eterna.) Mas esta dupla liderança do império do futuro não será levada a cabo pelo incumbente do trono pontíficio e imperial.terravista.htm (6 of 7) [27/03/2002 07:19:10] . De novo o Império falhou e não existe esperança de restauração no futuro imediato. O saeculum chegará ao fim por intervenção divina. Pode julgar as iniquidades do seu tempo mas o tempo passará sobre ele. XII e XII.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20dante. A esperança é desesperada porque as forças intramundanas habitam legitimamente o mundo cristão mas têm que ser dobradas às finalidade da ordem espiritual cristã.terravista. Pela primeira vez surge o sentimento do esperança desesperada de que o deus ex machina abolirá as tendências destrutivas das forças intramundanas e estabelecerá um reino perfeito cristão. O indivíduo mais não pode fazer do que retirar-se para atitude contemplativa. A diferença importante é de que este fim não será o advento de um reino celestial mas uma nova época imperial na história da humanidade cristã. http://www.htm (7 of 7) [27/03/2002 07:19:10] .ERIC VOEGELIN senescens. As categorias de Dante são medievais. Mas o sonho da sua abolição deste fins é a força do mundo moderno . a sua imagem do império perfeito medieval: mas o seu sentimento é moderno na medida em que absorveu a construção do saeculum que esteve a actuar nos séc. de há muito que se reconheceu que o Dos Nibelungos a Jerónimo Bosch - http://www. A recusa pontifícia em reconhecer Luís IV despertou o sentimento nacional dos príncipes alemães que se movimentaram para obter a independência constitucional do imperador perante do papa.terravista. Em 1338 a Kurverein de Rense declarou válida a eleição do imperador sem confirmação papal.Capítulo 17 Marsílio de Pádu ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS ERIC VOEGELIN ** A Idade Média Capítulo 17 Marsílio de Pádua §1.Os primórdios do desenvolvimento constitucional germânico A interferência papal após a eleição de Luís IV como imperador (1313-1347) constituiu a ocasião para ajustar as relações entre o papado e o império. §2. O Defensor Pacis No meio da torrente de literatura partidária que o conflito então produziu. a Dieta de Frankfurt declarou os eleitores competentes para escolher o imperador. Esta actuação substituiu a velha ordem política gelasiana de equilíbrio entre os dois poderes. descrita por Lanband como uma república aristocrática de príncipes sob a presidência do imperador.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. e a Bula de Ouro de 1357 regulamentou as eleições imperiais segundo fórmulas que permaneceram até 1806.htm (1 of 12) [27/03/2002 07:19:17] . e a evolução constitucional alemã tomou a forma de uma federação de príncipes que durou até fundação do II Reich em 1870. acusados de serem os co-autores da obra perseguida pela censura papal. uma selecção de teorias isoladas de Aristóteles enquadradas num sistema com princípios totalmente distintos. sugerem a possibilidade de que os originais não pertencessem ao mesmo autor.12. A terceira fonte de confusão é a dificuldade de situar as ideias de Marsílio.terravista. não significa adopção mas. Tal incompreensão desaparece perante o texto restaurado da edição crítica de 1928. Outro obstáculo era o conhecimento http://www.htm (2 of 12) [27/03/2002 07:19:17] . contudo.3 . Das incompreensões que até recentemente obstavam à compreensão da obra permaneceram três ou quatro obstáculos sérios. Uma comparação das citações marsilianas de Aristóteles mostra que a relação é muito menos intensa do que é sugerido pela massa de citações. Marsílio de Pádua fugiu de Paris em 1326 com o seu colega João de Jandun.Capítulo 17 Marsílio de Pádu Defensor Pacis emerge como o primeiro tratado que evoca a ideia da organização secular do Estado. Cambridge. por C. do mesmo modo radical que o De Eclesiastica Potestate de Egldio Romano evoca o supremo poder papal. 1928. Previté-Orton. vem destruir estas veleidades. A prevalência da atitude hermenêutica que pede para situar as ideias de autor no contexto do tempo. neste caso. Algumas diferenças estilísticas entre a primeira e segunda partes da obra.W.a secção I. a mais importante passagem de todo o livro . O Defensor Pacis utiliza a Política de Aristóteles. Primeiro. Mas como na obra definitiva predomina o entrosamento de estilos. o conhecimento indiscutível do autor não aumentaria a nossa compreensão da obra. A segunda causa de incompreensão é a tendência para ler ideias modernas num tratado medieval. Recepção. Editado o Defensor Pacis em 1324.surgia incompleta nas edições primitivas fazendo crer que Marsílo se inclinava para a teoria da soberania popular. É habitual levantar a questão do autor. o intérprete progressista realça a grandeza do antecipador porque tem ideias posteriores que considera mais avançadas.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. htm (3 of 12) [27/03/2002 07:19:17] .terravista. O título adverte que o estabelecimento da paz e da tranquilidade será obtido pela subordinação do sacerdote ao poder secular http://www. Marsílio utiliza civitas ou regnum.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. Ao longo da obra sucedem-se referências ao “divino Aristóteles”. Para quem conhece Sigério de Brabante e Boécio. o modernismo do Defensor Pacis o já não surpreende. A Dictio Prima expõe os princípios donde são derivadas as regras da Dictio Secunda. §3. o Defensor Pacis é a primeira palavra do Estado secular: não aborda a concepção da eudaimonia e da arete.Capítulo 17 Marsílio de Pádu insuficiente do averroismo latino seguido por Marsílio e João de Jandun. e centrava-se nos problemas da eudaimonia como portadores do significado da vida humana e da arete como a atitude adequada do cidadão. a comunidade territorial nacional. Ora a comunidade política secular de Marsílio corresponde ao novo tipo de organização política que se está a separar do império. Mas em vez da polis como a communitas perfecta. e reduzindo o clero a uma posição subalterna no corpo político. O tópico central é a existência do Estado secular através dos esforços do monarca com a ajuda de peritos legistas e financeiros. regulando os grupos sociais do reino em devida proporção. Enquanto a Política de Aristóteles é a derradeira palavra de uma polis moribunda. A segunda é a maior e contém a polémica contra o poder sacerdotal em geral. e pontifício em particular. Aristóteles abordava a polis centenária como forma política inquestionada. Reduz os poderes coercitivos do sacerdócio a uma subdivisão da política secular. nem na ética nem na antropologia. A Dictio Tertia é uma curta enumeração de quarenta e duas regras que resumem o argumento das partes precedentes. A relação com Aristóteles O tratado está organizado em três partes designadas Dictiones. é antes o culminar de um desenvolvimento intelectual com mais de setenta anos e que nesta obra atinge o impasse. http://www.Capítulo 17 Marsílio de Pádu monopolista. A fonte tem que estar no todo que antecede os partes. a teoria marsiliana da cidade como organismo está artificialmente associada à Política de Aristóteles.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. Em Política 1254b após comparar a estrutura da polis à relação entre alma e corpo de um ser vivo em que a alma é parte dominante. Se a autoridade do governante não provém de Deus. A analogia orgânica era usada por Salisbury para evidenciar a estrutura interna da comunidade. remetendo para Aristóteles. (III.htm (4 of 12) [27/03/2002 07:19:17] . Política. o governante deriva a sua autoridade dos membros que deve regular. De titulo huius libri) §4.3. também na cidade. mas antes se localiza na comunidade intramundana.terravista. a parte melhor deve dominar a pior. Marsílio retoma esta imagem da entidade política para passar à solução do problema de como um indivíduo ou grupo dominantes. O problema de autoridade intramundana representativa.2.3) e cada parte deve estar ordenada. a pars principans. Mas em Política 1302b. Analogia orgânica O Defensor Pacis começa por comparar a communitas perfecta a um animal saudável. §5. 1254b e 1302b. Aristóteles conclui que. exercem a sua autoridade representativa. no Policraticus que constrói o poder governamental intramundano como representativo de uma comunidade particular. está o poder constituinte do povo que se reúne em assembleia. Os antecedentes da teoria estão. A civitas tem uma natureza animal (I. Marsílio é o primeiro pensador político do Ocidente a enfrentar o problema de que por detrás da constituição. O legislador A analogia orgânica ajuda a evocar a comunidade como um todo mas não ajuda a resolver o problema da autoridade representativa. ou seja. sim. a analogia aparece no contexto das revoluções causadas pela desproporção de ricos ou de pobres. É inaceitável que universitas signifique o eleitorado no sentido moderno e pars valentior a maioria.3). 3: “Definimos conforme a verdade e a opinião de Aristóteles em Política II. A primeira versão do texto define valentior como consideratae quantitate.11 na contagem actual) que o populus ou civium universitas ou a sua parte socialmente relevante pars valentior) é o legislator ou primeira e propriamente causa efectiva da lei através da sua escolha ou vontade expressa (per sermonem) numa assembleia geral dos cidadãos. É esta a intenção de Aristóteles na Política e de Marsílio no cap. Diz a mais famosa passagem do Defensor Pacis. incluindo a legislativa.6 (II. I.12. comandando ou determinando que algo seja ou não feito acerca das acções civis dos homens mediante castigo temporal ou punição. Como parte prevalecente ou dominante não é esclarecedor. Este legislador (o nomothetes de Aristóteles) é o agente intramundano que autoriza a ordem constitucional sob a qual o governante exerce as suas funções. e a edição emendada acrescenta et qualitate.12.terravista. Tudo depende do significado dos termos pars valentior e universitas civium. usei a tradução de Max Weber. quer a supramencionada universitas civium ou a sua parte socialmente relevante se tornem a lei. assim será. educação e http://www. quer confiem a feitura da lei a uma ou mais pessoas que não podem evidentemente ser o próprio legislator mas que actuam para um fim definido num tempo definido e de acordo com a autoridade que lhes foi conferida pelo legislator" (I.13 do Defensor Pacis. A fonte de que o governante deriva autoridade é o legislator.htm (5 of 12) [27/03/2002 07:19:17] . Quando digo ‘valentior pars’ significo relevante pela quantidade bem como pela qualidade das pessoas na comunidade para a qual a lei é dada. Os membros pobres da comunidade são relevantes devido ao número.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. como abrangendo todos os membros da comunidade que causam perturbações caso fossem negligenciados. os que possuem mais carácter.Capítulo 17 Marsílio de Pádu A solução encontrada é perfeita para o tempo. artesãos e mercadores. capitães e legistas. Poderia defender uma teoria do governo democrático popular.Capítulo 17 Marsílio de Pádu propriedade são-no devido à qualidade. As forças sociais que favoreciam este desenvolvimento existiam na Itália e em cidades do norte da Europa. a linha de choque deslocara-se para o frente entre o papa e a pluralidade de http://www. Na época da Querela das Investiduras. O elemento populista no Defensor apenas resulta da descrição da estrutura institucional das comunas. Em suma. da classe superior de sacerdotes. no que refere às relações entre os dois poderes tradicionais os problemas comuns eram cada vez mais escassos e os problemas nacionais particulares cresciam em importância.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. a teoria do legislator é a primeira construção consistente da unidade política intramundana. O legislator é afinal a sociedade medieval estratificada. é genuinamente medieval porquanto mantém os equilíbrios da sociedade estratificada. criando a autoridade de um todo da comunidade anterior às partes. Mas nem Marsílio se interessava pela força espiritual destes movimentos nem nele existe traço do homem cristão livre e espiritualmente amadurecido definido por São Tomás de Aquino. Este equilíbrio entre a iniciativa dos poucos que são educados e o apoio da massa dos indocti reflecte a estrutura das comunas italianas da época e vale genericamente para a sociedade medieval tardia.terravista. alinhava-se a favor do papa ou do imperador. nos meados do séc.htm (6 of 12) [27/03/2002 07:19:17] . A finalidade só é idêntica à teoria do governo popular.Italianismo Na época de Marsílio. na medida em que também visa instaurar uma unidade política intramundana. Por isso Marsílio distingue os indocti (I.13. aspecto tanto mais de salientar quanto Marsílio não precisava conceber nestes termos o todo da comunidade.9) camponeses. Governo limitado . XIV. §6. §7 Naturalismo averroista As tendências averroistas do Defensor surgem em partes decisivas do livro mas não formam um sistema explícito.18). é precisa uma função limitadora. Ao ler I.4. A sua teoria de substituir a polis pelo regnum ou civitas ganhava sentido no contexto das comunas italianas e dos reinos nacionais transalpinos. deixando ao leitor a tarefa de completar uma teoria esotericamente sugerida. O governante é instituído pelo legislator e submete-se-lhe.terravista. A solução constitucional moderna associa a universitas à limitadora. Mas Marsílio substância imaterial da comunidade de modo que governante se torna seu representante directo sem povo. neste particular.Capítulo 17 Marsílio de Pádu poderes nacionais. João de Salisbúria estabelecera a correcção do poder pelo tiranicídio é agora substituída pela acção legal por parte da comunidade. no sentido do reforço do poder do monarca absoluto. e em nome do governo limitado. até porque a corrente ia.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. como na Rússia e Alemanha totalitárias.1 tem-se a impressão de que o autor adopta a teoria aristótelica da vida boa: os homens associam-se em comunidades para melhor fruir das ocupações prática e contemplativa da alma. Mas em Marsílio não http://www. até ao extremo de suspensão e deposição do cargo.htm (7 of 12) [27/03/2002 07:19:17] . o poder italiano. O tratado não prometia antecipações sobre governo limitado e constitucionalismo. pelo contrário. Não é por acidente que foi um cidadão plebeu de Pádua que desenvolveu a ideia de governo limitado por universitas e Marsílio poderia ter sido o primeiro a estabelecer um paralelo entre a polis descrita por Aristóteles e a cidade-estado medieval. em caso de abuso de autoridade (I. Para construir a unidade política intramundana. Esta ênfase no poder supremo do governante mostra bem que a universitas não pode http://www.lis et consiliativa (I.7) Desaparecida a unidade do homem.10) O governante é pars prima porque institui. pelo menos os melhores da classe já que escravos.14).pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. Cabe-lhe regular o número e qualificações dos grupos sociais de modo a manter as proporções entre eles. Para Marsílio.15. O cidadão perfeito tem que exercer em sucessão as funções de guerreiro.1). Assim cabe ao governante ser a pars principans coordenadora das outras partes da cidade. em ordem a fornecer matéria para uma sociedades perfeita. periecos.6).15. a filosofia colectivista do homem natural que se evidencia se a compararmos com passo paralelo de Aristóteles na Política. e artesãos não se qualificam para a cidadania e através de sua qualidade formam a substância da comunidade.5. O Estado é uma organização cujas partes constituem officia que obedecem a uma autoridade (I. A causa formal da ordem social são as leis emanadas do legislator.terravista. mas não cresce.Capítulo 17 Marsílio de Pádu existe teoria do homem justo nem do cidadão virtuoso. §8 A pars principans Uma civitas nasce. A civitas apenas fica estável quando o governante adquire o monopólio do poder. Conforme a sua filosofia naturalista da sociedade.15. 1328a-1329a. Uma multidão apenas se torna civitas se tiver um governante com autoridade secular suprema (I. os hábitos são causas materiales do Estado mas não são causas formales nem eficientes. a partir da diversidade humana.1) e executiva (I. A sua função é judicia.17.htm (8 of 12) [27/03/2002 07:19:17] .11).4) e tem ainda o poder de legislar.15. praecipere (I.(I. a natureza dotou os diferentes homens de diferentes inclinações e hábitos.7. Aristóteles contempla a diversidade de inclinações naturais mas também atende ao ideal da personalidade perfeita. (I. governante e sacerdote porque a polis está organizada em torno do ideal personalista. determina e conserva todas as outras partes (I. A causa eficiente é o próprio legislator. 5) mas uma falsa cognitio pode ser lei desde que dotada de sanção (I. A verdadeira cognitio do justo não origina uma lei. após a exposição da primeira parte. de modo a que o espaço limitado seja suficiente para processo de eterna geração. Marsílio é averroísta: reconhece a verdade da fé mas trata os conteúdos com indiferença. neste caso a geração eterna como princípio definitivo de organização política.17.10. o argumento contra o poder do sacerdócio na segunda parte é um anti-clímax.10. A potestas coactiva domina todas esta teorização de que está ausente o direito natural. §9 A pluralidade de Estados em guerra Marsílio condena a organização política da humanidade sob um só governante por motivos complexos (I. §10 O Direito Marsílio apenas aceita o sentido do termo lei relevante para o Estado secular.terravista. mas adianta que parece intenção da natureza moderar por guerras e epidemias a propagação do homem. Não procura reconciliar razão e fé: o significado da vida boa é assunto de filósofos. Louva a existência de uma pluralidade de Estados correspondendo a diferenças regionais. Uma paz munida.10). As http://www. (I. sendo Aristóteles guia nesta matéria. (I.Capítulo 17 Marsílio de Pádu ser considerada soberana. Uma vez mais se nota um argumento averroista. O direito é uma doutrina sobre o justo e útil e seus opostas em assuntos civis e donde se derivam regras coercivas sancionadas por penas e recompensas.10.3 e 4). §11 Cristandade e Igreja Embora seja o objectivo principal do livro.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. Reconhece a possibilidade de uma ciência do justo e do injusto mas não aceita um direito natural. O ênfase está na organização governamental que tem à sua frente o trabalho de unificação nacional.htm (9 of 12) [27/03/2002 07:19:17] .5). mesmo que a expensas da paz entre os estados. linguísticas e culturais. age como alguém para quem o cristianismo fosse numa curiosidade intelectual. O clero deve responder em tribunais seculares. uma “seita” entre outras e a verdadeira religião. leigos e sacerdotes pelos governantes seculares. A partir destes princípios. Marsílio utiliza mesmo a expressão averroísta de que Cristo perdoa “usque ad extremum cuiusque periodum”.Capítulo 17 Marsílio de Pádu questões sobre a vida eterna não permitem consenso e situam-se para além de razão (I.4. simultaneamente.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. a existência do castigo eterno não permite atribuir poder aos sacerdotes. só a escritura deve ser acreditada. E Marsílio chega ao ponto de resumir os artigos da fé cristã.6. a organização hierárquica da Igreja deve ser abolida. Esta suposição parece confirmar-se quando diz que a religião incute um sagrado terror das penas infernais para fortalecer a conduta moral dos homens vulgares (I. aceitando a teoria de que existem ciclos sucessivos da humanidade. Cristo é um “médico” que informa e prognostica sobre as vias mundanas que conduzem à salvação ou à danação.terravista.3). Mas o cristianismo é uma religião de um outro mundo que não se deve institucionalizar numa Igreja com potestas coactiva sobre seus membros. A Igreja está submetida à autoridade do supremo legislador que ordena a vida do homem para a felicidade mundana (II.htm (10 of 12) [27/03/2002 07:19:17] . não é juiz nem rei em que os sacerdotes se possam apoiar. é fácil adivinhar as relações entre Igreja e poder secular. Os delegados do Concílio devem ser escolhidos na comunidade dos fiéis. sendo a sua interpretação função de Concílio Geral da Igreja.4 e 5).11). a preeminência do papa tem razões apenas históricas e não espirituais. como se o leitor da época não os conhecesse sobejamente. a actuação da Igreja deve ter a permissão de leis seculares. §12 O credo esotérico As doutrinas do Defensor Pacis não são redutíveis a uma só fórmula devido à multiplicidade de problemas práticos e teóricos que surgem misturados com afirmações de http://www. O cristianismo é. Uma vez que o autor não aceita o cristianismo como substância da comunidade. Por outro lado. o cristianismo é ilusão que não se integra na política secular. para Marsílio que considera a religião como ópio do povo. ao justo e ao útil e a evocação da almas não chegam a formar um código de ética nem um ideal de vida. a universalidade de organização política que corresponde à universalidade da mente como em Dante. sem contudo conceder um poder sacerdotal.Capítulo 17 Marsílio de Pádu princípios devidamente encobertas para eludir a censura papal. Mas apesar do carácter esotérico da obra. podemos suspeitar que era um intelectual naturalista. que queria fruir do seu conhecimento superior e deixar a http://www. pode evocar-se a ideia de um fluxo de comunidade política com pluralidade de estados em guerra entre si. A anima intellectiva presta-se à evocação de um império mundial.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. Sigério de Brabante apresentara a humanidade como colectividade dotada de uma anima intellectiva. a política eclesial do Defensor também pode ser tolerante e condescender que os vulgares tenham convicções ilusórias e mesmo uma forma de expressão institucional através de concílio geral. Entre a leitura da incompatibilidade e a da tolerância não e fácil decidir porquanto falta parte do doutrina sobre a questão da substância da comunidade. É como se uma mancha escura escondesse o que lá está escrito. se os filósofos árabes alcançaram uma atitude de tolerância para com o Islão. A opinião prevalecente sobre o sistema político de Marsílio aponta para a incompatibilidade entre a dictio prima e a política eclesial da dictio secunda.htm (11 of 12) [27/03/2002 07:19:17] . é possível encontrar no âmago uma teoria política averroísta. Se o processo natural é determinante.terravista. Se já o fideísmo diminui a capacidade do cristianismo como força anímica da sociedade. em que cada indivíduo participa através do processo de geração eterna. As escassas referências à vida boa. e Cristo como figura cíclica da história. Mas os problemas essenciais da política secular pós-medieval e os traços de averroísmo estão já no Defensor pelo que boa parte da fama de Maquiavel deveria ser restituída a Marsílio. a sua abordagem dos problemas políticos torna-se técnica no sentido de que procura compreender os problemas do poder sem participação pessoal nas lealdades da comunidade. http://www. onde o confronto directo com a Igreja criou um clima favorável a uma abordagem tecnicista e autónoma da política.Capítulo 17 Marsílio de Pádu massa entregue a um credo utilitário. como a atitude central de Marsílio é niilista. desde o longínquo sec. com Mosca e Pareto. a fama permaneceria na teoria política de Itália. §13 Tecnicismo político No ponto de vista político.htm (12 of 12) [27/03/2002 07:19:17] .XIV de Marsílio até ao séc.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 20marsílio_de_pádua. O tópico que mais interessa a Marsílio é o tratamento e a prevenção das revoluções. pese embora o seu tratado não ter alcançado a grandeza e a notoriedade do Príncipe. XX.terravista. Em todo o caso. 2) As unidades políticas regionais não evoluíram para a forma de estado-nação. é preciso analisar as instituições. 3) A historiografia alemã oitocentista e nacionalista falou de obsessão italiana. X é nessa área preenchida pelos cargos do Sacrum Imperium assente no Papa e Imperador. o interregno de 1254-1273 não foi tão importante como convencionalmente se pensa.terravista. Os símbolos evocativos da zona imperial não atingem expressão literária em pensamento político sistemático. A unidade política e o continuum de ideias política desde o séc. http://www. Assim. Esta estrutura é habitualmente mal compreendida por diversos motivos.A área imperial Introdução Na área europeia entre a França e zona eslava. não houve um reino nacional como em Inglaterra. 1) A Querela das Investiduras e o surto dos Hohenstaufen obscurecem processos regionais.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. O Sacrum Imperium não é um reino alemão mas apenas um domínio de forte base militar e eclesiástica na zona intermédia germano-italiana. de erros de Hohenstaufen e Habsburgos.ERIC VOEGELIN ERIC VOEGELIN ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS ** A época medieval Capítulo 21 . nem monarquia carismática como em França.htm (1 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . deformando o período medieval como época das oportunidades perdidas para a criação do estado nacional alemão. Ora onde não existem doutrinas. pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. o que determinou o particularismo alemão. e assinando tratado comercial com Veneza uma vez que os impostos italianos eram essenciais. de 952. sendo significativo que a fórmula termo “império alemão” foi usada pela primeira vez em 1871. Apenas a região lombarda estava sob o controle do Papado § c Concentração do poder real Os Imperadores Otões concentraram na família os feudos vagos e controlaram a Itália a partir do reduto alemão a Norte dos Alpes. Só a Saxónia resistia A partir de 1046 surgem quatro papas germânicos que iniciam a reforma cluniacense do Papado. Os ducados alemães constituíam um Hinterland do Império. Donde.terravista. Otão o Grande renova em 962 o Império de Carlosmagno sendo os monarcas alemães reis francos orientais. Império alemão empreender uma política Italiana. Após o imperador Henrique III http://www. conquista as passagens alpinas e partes de Lombardia: na expedição de 962 conquista o resto. Mediante a expedição a Itália. A Alemanha não tem datas decisivas na sua história equivalwntes a 800.ERIC VOEGELIN § 1 Política sub-imperial § a Política imperial e sub-imperial. 1066. Era vital manterem abertas as vias para Mediterrâneo e Império Bizantino para não caírem fora do comércio mundial.htm (2 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . sendo coroado rei de Itália em Pavia. 1143. § b Reino Franco Oriental e Itália Em 911 o Duque da Francónia sucede ao ultimo carolíngio como rei das tribos do reino Franco oriental. Coexistiam na Alemanha uma pluralidade de Stammesherzogtume. Não era propriamente um príncipe alemão e desistiu de controlar a Alemanha. reinaram Henrique V 1106-1125 . A Querela das Investiduras foi o conflito iniciado entre Henrique IV e Gregório VII. Mas Henrique VI morre aos 32 anos. em 1172. de 1213.e Frederico I .terravista. O filho. Começa o terceiro interregno. Foi então que emergiu Frederico II.eram igualmente importantes. tem apenas 3 anos. A tradição medieval imperial morrera e cresciam os principados da renascença e os estados nacionais. Outras casas principescas na Alemanha . Os príncipes leigos dominam os seus respectivos territórios. procuraram controlar a Alemanha a partir do reduto italiano. tenta criar base territorial na Saxónia e procura controlar as terras da Igreja através da prática de simonia. A política dos Hohenstaufen foi muito diferente.htm (3 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . segundo o estatuto de 1231. o futuro Frederico II. O Papa controla a Igreja alemã pela Bula de Ouro de Egger. Mas os factores de crise acumulavam-se. fizeram cair o pretendente saxão. A política de Hausmacht dos Habsburgos reconhece os particularismos alemães. A aquisição de Toscânia e o casamento siciliano de Henrique VI coroaram a construção do reduto italiano. o Interregno da regência foi fatal. os príncipes eclesiásticos são independentes. Mediante o estatuto de 1220. Entre 1197-1273 existe interregno no nível sub-imperial (não nacional).ERIC VOEGELIN morrer prematuramente.1152-1190. Na história alemã o Grande Interregno é o de 1254-1273. 1) A consolidação da Lombardia com governos de podestà nas cidades. ao encontrar as terras redistribuídas. Apesar de derrotados em Legagno. Após um segundo interregno que causou danos irreparáveis. nem sequer na http://www. em 1180. Henrique IV.tais como Guelfos e Babenbergs .pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. Mas o prestígio do Papa crescera com as reformas de Cluny. entre o último Hohenstaufen e a eleição de Rudolfo de Habsburgo. em 1197. Os velhos ducados já não serviam como base de apoio político. . se aproximam com o movimento Sturm und Drang como assinalou Josef Nadler[1].ERIC VOEGELIN Itália após a perda da Sicília para Aragão. A fronteira política alemã ficou sempre em suspenso. A integração institucional da Alemanha ficou ainda mais dificultada com os novos particularismos dos municípios do Leste. os alemães estavam em movimento a partir do Elba e do Saale nos sécs. § d. porque não existia um enquadramento nacional que permitisse acumular a experiência política. primeiro http://www. a expansão para Leste. aproveitando a expansão germânica contra os eslavos.htm (4 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . Este movimento deixou ficar uma diferença entre civilização metropolitana ocidental e civilização colonial oriental que. Adolfo de Schaumburg funda Lubeck.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. Ademais. a pequena nobreza e o terceiro estado da Alemanha não produziram dirigentes. os padrões de comportamento políticos não resultam de um pretenso carácter nacional alemão mas da ausência de instituições estabilizadoras nacionais. os municípios. XII ao XIV. até ao Volga. Em 1140. XVIII.foi a criação de um núcleo de poder a leste do território alemão. E até hoje [1941] os padrões de co 1 Política sub-imperial A dificuldade de integração institucional agravou-se devido aos particularismos alemães.terravista. só no séc. As comunas. A iniciativa da expansão não foi uma iniciativa imperial. atingiu território totalmente eslavo e criou problemas de minorias. Enquanto os reinos da Europa fixavam fronteiras nacionais.dos imperadores Habsburgos . Até hoje. A colonização do Leste A nova solução . num movimento comparável à expansão atlântica dos europeus. Todo o peso político alemão deslocou-se para Leste. só a conquista da Silésia se deve a imperador Frederico I. Venceslau I acolhe a imigração alemã e funda um principado semi-alemão. A família dos Premyslid domina a Boémia em séc. e a Livónia em 1225. Após 1300. 2a Hohenstaufen: concentração de poder real na Sicília e Itália 3a Habsburgos: concentração na Hausmacht e nos territórios de Leste. Estíria e Áustria separam-se do Ducado de Baviera. é conquistada Riga em 1230. XI e XII.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. Só reentra em Império alemão em 1815 e no Bund alemão em 1866. Em 1144. em 1163. A consolidação de Polónia e Lituânia unidas em 1386 sela o destino do Báltico alemão. http://www. Danzig fica polaca em 1466. As comunas determinaram a formação de Inglaterra e a monarquia formou a França. Do Holstein ao Lago Peipus. A Cruzada de Wendos ocorre em 1147 com Henrique o Leão. A colonização e a articulação territorial do leste determinou a estrutura política alemã cuja escassa articulação nacional contrasta com a sistematicidade das ideias políticas alemãs. § e Sumário da política das três dinastias imperiais alemães: 1a Saxão-sálico: coexistência entre velhos ducados e concentração de poder real. Na Prússia Ocidental. Boémia Brandenburgo e Prússia.terravista. XIII . A Ordem Teutónica na Prússia atinge a Estónia em 1346. a leste do Elba. Alberto o Urso funda Brandenburgo. Caríntia. A perda de Samogitia corta ligação com Prússia e Livónia. No séc.htm (5 of 24) [27/03/2002 07:19:37] .ERIC VOEGELIN posto no Báltico. Tannenberg é perdida em 1410. os grandes senhores vêm de Áustria. É um estatuto solene que regula a eleição do Rei. sem ilusões sobre papado.christianum imperium. Do nome original de Venceslau. sacrum imperium. 1357. implica funções de administração imperial em Borgonha e Itália. passou para Carlos. e um bom europeu. § b Forma da Bula de Ouro A Bula de Ouro foi promulgada na Dieta de Nuremberga. As variantes na terminologia da designação imperial . do Rei da Boémia e outros assuntos. o estatuto dos príncipes eleitores.terravista. regiões de imperium. O rex electus era um imperador. tinha a intuição de que quase todos os homens têm um preço. regnum teutonicum. mas antes um cristão devoto. rei dos Francos. a Bula surgiu na sua Chancelaria após negociações com os Eleitores. A cabeça é rex romanorum imperatorem promovendus e outros termos que reflectem a estrutura histórica de constituição do império. rei da Boémia. sacrum imperium romanurn. O sacrum edificium tem sete candelabros. § c.htm (6 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . Existe um imperium estatal e http://www. A dignidade do reino alemão sobre domínios alemães. e na Dieta de Metz. Carlos IV não era um carismático. sacro-sanctum imperium Romanum revelam a complexidade da questão. 1355. A complexidade da figura torna-o pouco conhecido mas criou uma solução que durou mais de quatro séculos. Rei de Borgonha e Imperador romano. O processo eleitoral segue a Constituição de Melfi. Seja quem for o respectivo autor. Carlos IV toma a iniciativa de reconhecer e formalizar a estrutura política alemã através da Bula de Ouro. Administrador cuidadoso.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial.ERIC VOEGELIN § 2 A Bula de Ouro § a Carlos IV Em 1356. reforma da Igreja e influência na eleição papal. o imperador acumulava funções de protecção do mundo cristão. tais jurisdições coincidiam na mesma pessoa. atribuições de poder espiritual. tal como estatuído por Luís o Bávaro. o que se tornará fonte de conflitos entre príncipes e papas e exige negociações preliminares com eleitores seculares e eclesiásticos. O rei-imperador acumula funções de: 1) Reinado no regnum teutonicum. em 1338. O silêncio no ponto crítico não prejudicava o papado e tornava desnecessário que o Papa recorresse a protestos oficiais. A transformação do reino numa federação oligárquica de príncipes com cabeça eleita exprimia o surto do sentimento nacional alemão. Henrique VI transformou em feudos imperiais os reinos cristãos de Inglaterra. http://www.4) Poder temporal sobre o populus christianus e protectorado sobre a Igreja.htm (7 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . deixando o caso em aberto para a técnica legal e a diplomacia. Contudo. E Frederico II atribui-se a designação de dominus mundi. Segundo a lei romana e canónica. Na prática. O documento Licet Juris considera que os príncipes eleitores criam o verus imperator. a dignidade imperial vem directamente de Deus e não carece de aprovação papal.terravista. Carlos edita-a logo após a sua coroação. promoção de cruzada e missionação. A Bula de Ouro não menciona o aprovação do papado. 2) Funções imperiais face a império estatal que inclui Itália e Borgonha 3) Pretendente a império mundial futurus imperator. Ademais com a chefia temporal do sacrum imperium. Arménia e Chipre. O cargo tem um dinamismo complexo que inclui eleição secular. Os Hohenstaufen tentaram que o império estatal fosse coextenso com o império mundial. aprovação papal e coroação.ERIC VOEGELIN administrativo e um império mundial.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. tratava-se de uma solução politicamente pacífica de um problema delicado. Frederico I chamou reguli aos reinos independentes dos governantes. ERIC VOEGELIN § d O Colégio Eleitoral A eleição é feita em Francoforte por sete eleitores. o tomar posse das insígnias. pois. a fórmula da Bula transforma em eleição o que antes fora escolha.clama. a concordância dos príncipes eleitores: depois a nomeação seguida de louvor. XIII quando as Regras do Sachenspiegel seleccionam a eleição como momento central. Os procedimentos de elevação ao trono formam um processo extraordinariamente complicado que. a aquisição do consentimento das tribos. Oligarquia dos Príncipes http://www. nalguns casos. Existe. II.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. A escolha de um candidato era o primeiro passo. ac si foret an ipsis omnibus nemine discrepante concorditer celebrata. A maioria de quatro eleitores (entre sete) tem o carácter de quorum porquanto são precisos quatro votos eleitorais para eleger o rei. Assim. ou seja." (Bula. " Talis electio perinde haberi et reputari debebit. um voto de prestígio e um voto eleitoral. a imposição de funções face a dissidentes. O prestigio dos votos eleitorais formaliza-se na instituição do colégio eleitoral. e. Este processo complicado em que se atinge o pleno consenso de reino e rei é reduzido no séc. depois vinham as negociações com o candidato.ção ainda interrompida por actos de louvor e aclamação.ção do povo. o desinteresse por eleição leva o Papa a insistir em eleição por quorum. depois a entronização e a coroa. Transforma-se em regra de maioria pela coincidência de que colégio de eleitores tem sete membros. Em 1273. depois a eleição. o que criou os problemas de representação e de maioria. O voto é acto formal que sanciona uma concordância substancial antes de começar a votação. Na bula de Ouro a representação por consenso é reduzida à ficção da concórdia. 4).terravista. o agrément de pessoas menores e a a.htm (8 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . durava anos. também o rei-imperador é imperator in regno suo. Saxónia e Brandenburgo e dos Bispos de Mogúncia Colónia e Trier. por vontade do povo romano e acção do papa.htm (9 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . Após translatio imperii de Gregos para Francos. Lupold de Babenberg Como mostrou Dempf. f. o povo sem rei tem direito a eleger um. por maioria os direitos do rei são iguais. direitos como o de legitimação de filhos e reabilitação de pessoas não lhe advêm do facto de ser imperador. o reino dos francos livres é anterior ao império. São admitidas as Ligas de Paz Landfriedensbünde entre príncipes e cidades. http://www.e intra-urbanas. Os eleitores formam um collegium.terravista. Os príncipes são representantes do povo e a eleição é um acto do povo alemão através de seus representantes Como noutros reinos ocidentais.ERIC VOEGELIN As provisões para a eleição do rei-imperador determinam a influência dos Príncipes do Palatinado.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. não são sete sujeitos soltos. Constitui-se o Gabinete imperial com os Príncipes. O voto de maioria produz concórdia no caso de uma universitas como é o Colégio eleitoral. provavelmente o Bispo de Bamberg. Para este. a literatura sobre o zelo fervente pela pátria germânica é vasta. Outras associações são estigmatizadas como conspirações como por exemplos ligas inter. Mesmo que a eleição seja in discordia. Boémia. Descendentes de Troianos fugitivos. escrito por um canonista. a questão gira em torno da relação do regnum germânico com o imperium. destacando-se em particular o De juribus regni et imperii Romani. os Francos são tão antigos quanto os romanos. A doutrina tem cinco artigos principais: Por jus gentium. Cobre as grandes vias comerciais da Idade Média. O que Arnold Toynbee designou por cosmos das cidades-Estado [2]estende-se da Toscânia e Itália Superior através da Suíça. Politicamente. Holanda e Flandres. bastam os princípios de jus gentium.ERIC VOEGELIN A eleição dispensa a aprovação papal. A posição nas vias comerciais era a condição económica para comércio e indústria. A localização nestas áreas de http://www. Império transalpino e mundo muçulmano entre a Borgonha e os principados alemães e franceses. Lupold separa claramente o império estatal do império mundial. para as regiões a Norte dos Alpes e de Novgorod para a Europa Ocidental. A aprovação papal só é requerida para o império mundial. através de Itália.htm (10 of 24) [27/03/2002 07:19:37] .terravista. Para o governo do regnum. § 3 AS CIDADES-ESTADO §a Área das cidades-Estado. a doutrina de Lupold pode ter influenciado neste ponto a Bula de Ouro embora a tonalidade seja mais populista do que oligárquica. Alemanha do Sul e Vale do Reno. da área de Colónia ramifica-se para Vestefália e Báltico e até à Estónia. O juramento de lealdade ao Papa não constitui feudo mas lealdade à defesa de Igreja e Papa. As cidades italianas desenvolvem-se no vácuo de poder entre papados Bizâncio. era uma terra de ninguém entre poderes territoriais fortes. Na intersecção das duas estradas encontramos o rico núcleo de cidades na Holanda e Flandres. A Liga Hanseática no ângulo entre principados germânicos do Norte e reinos escandinavos e eslavos. Apesar de não atingir a posição do licet juris que declara irrelevante a aprovação e a coroação pelo papa. Permite a passagem do Próximo Oriente.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. A partir de agora encontramos um sistema de relações directas entre os cidadãos e as autoridades municipais. finalmente. Brescia. e apenas o regime nacional-socialista integrou as cidades livres de Hamburgo. A guerra de Chioggia (1378-1381) revelou a vulnerabilidade de Veneza devido a falta de controle de abastecimentos alimentares.ERIC VOEGELIN transição é condição para evolução de cidades Estado com poderes menores. enquanto Suíça.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. durante a primeira metade do séc. e Cremona. http://www. ib. Bélgica e Holanda mantém-se como poderes menores e a Alsácia-Lorena oscila ente França e Alemanha. A costa báltica foi terra colonial gradualmente integrada na órbita dos poderes vizinhos. A cidade é a representante de uma nova fase da civilização ocidental e o estilo civilizacional das cidades que entra em competição com o estilo dos estados primitivos e que acabará por dominar a nossa civilização. Vias comerciais e alimentos As cidades ultrapassaram os limites e tornaram-se centros para os território circunvizinhos.htm (11 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . esta área entre poderes maiores é idêntica a área de Lotaríngia estabelecia em 843 por Tratado de Verdun. Verona. Veneza prossegue uma vigorosa política de extensão para o Hinterland. E. Bassano. Vicenza. As comunas representam a substância do novo tipo.terravista. Lubeck e Bremen. §c. Cidades e mundo feudal. XIX partes dela foram incorporadas nos estados nacionais de Itália e Alemanha. XV. adquirindo Padua. Bergamo. E apenas no séc. §e.htm (12 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . Carlos o Temerário (1467-1477). Criou-se um exército permanente organizado em Compagnies d’Ordonnance. a integração da rede urbana dos Países Baixos no reino da Borgonha. Bruxelas. Filipe o Bom adquire Holanda. Duque de Borgonha em 1363. acrescentou Guelders e Flandres. Em Borgonha. Através de compras e cessões. Uma área feudal foi transformada em monarquia com administração central http://www. O seu sucessor. A criação da Ordem do Tosão de Ouro em 1430. casado com herdeira de Flandres e Artois. a ordem constitucional das suas conquistas revelou as suas limitações. Começa com Filipe II. Existia uma Câmara de Justiça desde 1473 que depois se separou como Parlamento de Malines e tornou-se um Tribunal de Recurso Supremo. distinta da nobreza local. Borgonha Veneza é uma cidade-estado que integra territórios rurais. §f. e Haia. A administração financeira do reino era organizada por três Câmaras de Contas. Brabante. Criou-se um Grande Conselho sob a presidência do Chanceler de Borgonha e com representantes de todas as províncias.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. Hainault. Namur. Limburgo Luxemburgo. Em 1463 são convocados para os Estados Gerais do Reino os representantes dos estados locais que se ocuparam da racionalização do sistema financeiro.terravista. mostra a intenção de formar uma nobreza do reino. situadas em Lille. A Quarta Cruzada. Zelândia.ERIC VOEGELIN d. Um senhor feudal integra feudos sobrepondo uma administração central. Antuérpia e Nechlin. A organização da conquista Veneziana Se a expansão das cidades Estado revelou a respectiva força. 3) Dispêndio de forças na colonização do Leste em vez de as aplicar na ordem interna. XIV. 2) Obstáculos à articulação nacional devido à existência de principados territoriais.htm (13 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . a Liga foi uma forma adequada de protecção política. dispondo como arma eficaz do boicote comercial. no período pós-colonial de desenvolvimento nacional. A Liga foi favorecida pelos objectivos limitados das cerca de 160 cidades que se associaram em número variável ao longo dos tempos. Nos séc. Quando desapareceu as cidades decaíram e integraram-se nos principados alemães.terravista. XII e XIV a integração alemã foi prejudicada por: 1) Destruição do papel régio de integração devido aos longos interregnos. §g. atingindo o maior número após esta data quando já começava a declinar o poderio da Liga. É possível distinguir duas fases neste processo. A Liga Hanseática No espaço báltico formou-se uma organização de cidades para a protecção do comércio. 4) Desvio das energias políticas das cidades para políticas de Ligas efémeras.ERIC VOEGELIN racionalizada mas moderada por instituições locais e congresso federal. Dentro do particularismo germânico do séc. Este ponto é decisivo para compreender a interpretação do problema alemão no séc. protecção mútua e aquisição e exploração de privilégios em regime de monopólio sem a pretensão de conquistar e organizar territórios. Entre 1350 e 1450 a pertença aumentara muito. XIX e mesmo depois.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. A Liga http://www. e em que o senhor está equidistante de todos. tal como a interpretação do carácter nacional inglês que geram e complicam o crescimento institucional de longa duração. O impressionante florescimento hanseático não teve consequências para a organização da nação alemã. ganhando acesso ao Atlântico. fortalezas na Scania. Antes de 1220 estavam em Novgorod. porque a Liga não assegurou hinterland agrícola. o segundo grupo é da Vestefália e Prússia. aliás. O desvio do comércio dominante para o Atlântico foi a machadada final. sendo Lubeck o centro executivo. de 1370. O apogeu da Liga Hanseática é marcado pelo Tratado de Stralsund. O declínio da posição internacional foi seguido pela desintegração. O declínio veio com a consolidação dos poderes bálticos. lideradas por Wisby. após guerra com a Dinamarca e que permitiu adquirir o controle de pescarias e alfândegas do estreito da Dinamarca. Plotsk.ERIC VOEGELIN principia por ser uma associação de mercadores alemães no estrangeiro. Os Estatutos de 1347 revelam uma organização ternária: o primeiro terço é o dos Wendos e Saxões sob a liderança de Lubeck. o que.htm (14 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . Geralmente aponta-se o ano de 1241 como o início formal da Liga Hanseática mediante a aliança de Hamburgo e Lubeck. Bruges. o terceiro é de Gothland e Livland. XI. XII os mercadores têm auto-administração em Gothland ou Londres. http://www. Na segunda metade do séc.terravista. Bergen. Londres. com delegações em Pskov. A decadência da Liga apenas poderia ser evitada se organizasse o hinterland rural alemão e incorporasse os Países Baixos. sob liderança de Colónia. XV as cidades prussianas e saxónicas retiram-se da Liga Hanseática. e privilégio de confirmação do rei da Dinamarca. XII em Wisby. e em meados do séc. Após meados do séc. mas tratava-se de uma aliança entre os mercadores de ambas as cidades e não entre duas civitates. não teria sido impossível como mostrou a guerra com a Dinamarca. que apenas surgirá formalmente na segunda metade do séc. Vitebsk e Smolensk. XIV por ocasião da guerra da Liga contra a Flandres. Lituânia e Polónia unem-se em 1386. Existiam sessões da Dieta da Liga desde meados do séc.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. os países escandinavos com a União de Kalmar em 1397. As agendas comerciais eram previamente discutidas por dietas regionais. Com a adição de Glarus. Zug e Berna em 1353 reúnem-se os oito cantões mais antigos. sendo autonomizadas por Frederico II. 1351. O êxito excepcional dos suíços relaciona-se com a aquisição de um hinterland para as cidades.htm (15 of 24) [27/03/2002 07:19:37] . A aliança de 1351 concede mútua protecção. Arnulfo de Habsburgo tentou recuperar os cantões. na Suíça. quando a nova constituição incorporou lições americanas. as Ligas suábias e renana foram derrotadas. § i.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. Este núcleo associou-se às cidades de Lucerna. Na solução federal do problema das cidades. o senhorio feudal organizou as áreas urbanas em reino. o ardor e proezas da infantaria camponesa combinou-se com a astúcia diplomática dos mercadores urbanos. tribunais e dieta. Em contrapartida. Veneza foi a cidade que organizou um território.terravista. ocorre em 1381 a aliança das Ligas Renana e Suábia que se aliam em 1386 a cidades suíças. Confederação Suíça A Suíça foi a única sobrevivente das Ligas do Sudoeste. as comunas rurais tiveram a iniciativa. Os Príncipes atacam primeiro mas os suíços resistem vitoriosos na vitória de Sempach. autonomia local e jurisdição limitada. as Ligas são produto do longo interregno de 1247. com um processo original de formação nacional. em Borgonha. Uri e Schwyz e Unterwalden faziam parte do Ducado da Suábia. 1322 e Zurique. surgido para protecção do comércio e defesa contra príncipes. O tratado com Zurique permaneceu modelar até 1848. http://www. sucessivamente. Após a Bula de Ouro que proíbe a jurisdição a não residentes e ilegaliza ligas urbanas. em 1386 e 1388.ERIC VOEGELIN § h As Ligas do Sudeste alemão Na Alemanha do Sul e Ocidental. As cidades não tinham instituições integradoras como o rei como representante do reino. Uma segunda consequência era o enfraquecimento da espírito comunal. Cada indivíduo pertencia a uma associação especial . O popolo grasso era composto por mercadores.terravista. industriais. assinalam a redução política dos grandi através dos popolani. A divisão da classe superior em nobreza e burguesia é a causa principal da luta fratricida nas cidades italianas. A rivalidade entre associações na captura do poder fazia perder valor representativo às magistraturas comunais e tornavam-nas instrumentos dos poderosos do momento. de 1293. também presentes na área germânica. em Florença. O crescimento da signoria acima da luta partidária era destruidor da autonomia. banqueiros e empresários. As comunidades dependiam economicamente das delegações internacionais e dos conhecimentos http://www. existiam os grandi e os popolani. proletariado industrial. XV. Apenas os membros da Guilda poderiam participar no governo da cidade e só os profissionais poderiam ser membros. baixa classe média e proletariado.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. A terceira consequência era a incapacidade do proletariado em controlar ou ter influência permanente no poder. o popolo minuto por artesãos. Para além destes núcleos. Florença em meados do séc.htm (16 of 24) [27/03/2002 07:19:38] .as Arti dos popolani. Os grupos aristocrático e capitalista estão sempre em fricção e ambos buscam ascendente através da ajuda das classes inferiores. é importante referir que os problemas das cidades-estado italianas antecipam os problemas dos estados territoriais futuros. as Consorterie dos grandi. As cidades italianas tinham uma estratificação social complexa com uma escala completa de alta nobreza. alta burguesia.ERIC VOEGELIN § j Estrutura interna das cidades Apesar da diversidade de escala. por exemplo. teve que se submeter a senhores feudais para sustentar as campanhas militares. As Ordenanças de Justiça. Veneza tem um papel comparável ao de Inglaterra entre os estados nacionais europeus. foram liquidados logo em 1382.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial.terravista.htm (17 of 24) [27/03/2002 07:19:38] . Por tudo isto. O Colégio é o executivo com o Doge e mais 26 membros. Em 1297 o Grande Conselho tem 1500 membros hereditários. eleitos por um ano pelos sestieri para tratar dos negócios públicos. Cola di Rienzo http://www.ou cidade-estado sem rei .ERIC VOEGELIN bancários de minorias.não tem força de coesão para se tornar unidade política. O Conselho dos Dez é adoptado em 1310 para órgão supremo desta oligarquia. não tem os problemas de sobre-extensão dos grandes estados: o comércio é tão forte que as artes e ofícios não destabilizam a cidade governada pela oligarquia comercial. a legislação é feita pelo Senado de 120 membros. A situação periférica permite estabilidade. A comuna . em Florença. 4. criou uma constituição oligárquica que entusiasma a Europa. Após o desastre de 1172. o conselho dos 40 é o tribunal. O crescimento das signorie apenas mostra que o governo absoluto aniquila a iniciativa cívica e tem um efeito paralisante do desenvolvimento económico § k Constituição de Veneza No conjunto dos estados italianos. Os ganhos democráticos dos Ciompi na revolta de 1378. a simples resistência passiva destes membros manobrava os operários até à derrota. O poder do Doge é limitado por seis conselheiros. os Venezianos transformaram a assembleia popular originária num Conselho de 480 cidadãos. Estas três características mostram a incomensurável importância da monarquia representativa nos reinos nacionais para a evolução do governo constitucional. Os progressos realizados na compreensão de Rienzo . romântico. O mundo simbólico de Rienzo é medieval mas os seus sentimentos impelem-no para o futuro. Convocadas por Rienzo.htm (18 of 24) [27/03/2002 07:19:38] . uma revolta mais de popolani contra os barões. a enviar embaixadores para o futuro parlamento romano. 31 em que pela primeira vez associa o termo ‘renascimento’ a um evento político.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial.terravista. aparentemente.em particular com a obra de Konrad Burdach. 1913-1938 . Mas quando Rienzo assume as funções de Signore vêm à superfície novos aspectos específicos. e a http://www. tais como o renacimento das antigas formas constitucionais romanas e o reformismo espiritual visando a Igreja.já dissiparam a imagem do tribuno sonhador. e conservador. Rienzo und die gestige Wandlung seiner Zeit. b. As cartas às cidades italianas Após a conquista de poder. Estado da questão A comuna de Roma representa um problema complicado da política no nível sub-imperial. Berlin. Rienzo enviou cartas circulares às cidades italianas.ERIC VOEGELIN a. as cidades italianas enviaram emissários e os soberanos europeus ficaram surpreendidos “ vedendo comme Roma era rinata” na expressão de Maquiavel nas Histórias Florentinas I. Um passo em frente para compreender a sua actuação exige que se afaste o simbolismo renascentista com que a sua figura é interpretada e se reverta às Cartas em que expôs a sua política como base da sua auto-apresentação e auto-interpretação retrospectivas. reconhecendo Rienzo como o precursor da ideia de Príncipe que sacode o jugo de tiranos estrangeiros. A revolta e ascensão ao poder de Rienzi no dia de Pentecostes de 1347 foi. convidando-as a equipar soldados para o auxílio na libertação da Itália. n°2) contém as fórmulas iniciais da concepção política. na medida em que a vinda do Espírito criou unidade e concórdia no povo romano. E sugere a tradição de lex regia. c. A primeira destas cartas enviada à comuna de Viterbo em 24 de Maio de 1347. a mesma em que fora baptizado o imperador Constantino.terravista. à Igreja e ao Papa.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. A carta de 9 de Julho a Mântua alarga as funções de Roma a cabeça de todas as cidades do “orbis terrarum” e anuncia a promoção do tribuno a cavaleiro do Espírito Santo. Mencionemos aqui apenas a imersão de Rienzo na pia baptismal de pórfiro no Baptistério de San Giovanni. Epistolario di Cola di Rienzo. Roma.ERIC VOEGELIN nomear um advogado para o futuro Consistorium de juízes. a cabeça do corpus mysticum constituído pelas outras cidades de Itália. Este novo corpo místico não se confunde nem com a Roma pagã nem com a Roma papal. a cura di Annibale Gabrielli in Fonti per la Storia d’Italia. que depois se tornará central. ( cf. 1890. evocando a purificação e a reforma http://www. sugerindo a visão césaro-papista da concentração dos dois poderes de severidade temporal e da clemência espiritual. O tribunus augustus A coroação de Rienzo é acompanhada de numerosos actos simbólicos.htm (19 of 24) [27/03/2002 07:19:38] . Na segunda missiva enviada a Florença surge a expressão “sacra Italia”. A carta de 8 de Julho ao papa Clemente VI fala da república libertada que nasceu do Espírito Santo e que apenas se submete a Deus. Rienzo intitula-se Nicolau severus et clemens. Rienzo apresenta-se como emissário do dom do Espírito Santo que Jesus decidiu estender a todo o povo de Roma. na cidade e na província romana. As missivas seguintes elaboram e ampliam a formulação da primeira carta. da Igreja romana.terravista. a eleição do imperador romano e a jurisdição e monarquia do sacrum imperium pertencem a Roma e ao seu povo. mas que contava com a vinda dos tiranos de Itália. Rienzo escreverá que jamais acreditara que os príncipes alemães viessem a Roma. os eleitores e outros príncipes são convocados a vir a Roma no próximo Pentecostes a fim de receber a decisão sobre a nova ordem imperial. A cidade de Roma tornara-se a cabeça do orbe e todas as cidades italianas são declaradas livres e recebem a cidadania romana. o que lhe permitiria “enforcá-lo a todos igualmente como lobos num só dia e à luz do sol”. Nas convocatórias que nessa data envia aos imperadores. autoridade e jurisdição sobre o orbis terrarum.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. http://www. a sacra Italia. Rienzi confessa que agiu ora como louco ora como digno. Os imperadores Luís o Bávaro e Carlos IV. A carta a Florença de 19 de Setembro revela a intenção de que será eleito imperador aliquem Italicum. um “determinado italiano”. O grau de cavaleiro do Espírito Santo é recebido em louvor da Santíssima Mãe de Cristo. e do Pontífice e para a prosperidade de Roma. príncipes e eleitores do Santo Império.htm (20 of 24) [27/03/2002 07:19:38] . e toda a comunidade de fiéis. Em memorando de 1350 ao Arcebispo de Praga. Rienzo sustenta que o povo romano retomara o seu antigo pleno poder. d. A festa de 1 de Agosto em que Rienzo aceita o título de tribunus augustus enfatiza a renovação do império sobre toda a humanidade. ou seja a libertação e unificação da Sacra Italia. Mas os símbolos utilizados não são uniformes nem compatíveis e talvez tenham sido usados com fins tácticos. Sentimentos nacionais e imperiais No centro da actuação de Rienzo está decerto a reformatio e renovatio do estado de Roma.ERIC VOEGELIN espiritual do imperador como a renovação e reforma da Cristandade imperial. ousado e hesitante. conforme a situação exigia. O jogo com símbolos políticos. e. transferiu-se agora para o contexto da acção política. tendo sempre em vista “abolir o erro da divisão e reduzir os povos à unidade”. “ mais movido pelo amor da república do que pelo amor do impérid\ É preciso reconhecer que. a ideia de corpo místico nacional está sobrecarregada com a tradição imperial romana e germânica. sendo possível que também sejam instrumentos para convencer o Arcebispo e o Imperador das novas intenções políticas de 1350. presente nos manifestos de Dante. no Ocidente. Rienzo retira-se em 1348 para um convento dos Fraticelli nos Abruzzi. Na Itália e na Alemanha. o sentimento imperial e a consciência missionária sobrepõem-se ao sentimento nacional separatista que é contrário à construção imperial tradicional. inaugurando a sua segunda e http://www.htm (21 of 24) [27/03/2002 07:19:38] . As experiências de renovação espiritual nestes países tende a transferir-se para toda a Europa. É certo que a ideia imperial cristã também está presente noutras nações. As confissões de Rienzo revelam-no como um técnico político para quem os símbolos são instrumentos de poder. Cola de Rienzo é um político da área imperial que se sente obrigado a utilizar símbolos imperiais para exprimir sentimentos nacionais. não é fácil transferir a ideia do corpus mysticum para os corpos nacionais. na área imperial.terravista. Mas. enquanto na Itália e na Alemanha o sentimento imperial vive em continuidade com a ideia medieval imperial. Reaparecerá depois em 1350 na corte do imperador Carlos IV em Praga.ERIC VOEGELIN ingénuo e astuto. ressurgindo na ideia francesa da validade universal dos valores civilizacionais franceses e na convicção anglo-saxónica da validade universal das formas políticas da Inglaterra e dos EUA.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. O emissário dos Fraticelli Após o fim da signoria em Roma. Referindo a oração Veni Creator Spiritus.terravista. A instâncias de S. As revoluções viriam com a restauração da http://www. a entregar-se ao imperador de modo a empreender a libertação de Itália como operarius et mercenarius Cesaris. Em memorando então apresentado. Domingos e S. A intervenção pessoal de Rienzo teria sido revelada por um Fra Angelo. com a ajuda de Cristo. uma incarnação. totam Italiam obsequentem Cesari et pacificam. Sardenha e Córsega. assinala que precisamos da evocação do Espírito “sempre que endurecemos e envelhecemos no pecado”.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. vemos que Rienzo se apresenta como um místico na tradição de Fiora mas que tem o novo programa político pós-medieval de unificação e devolução da Itália ao Império. O saeculum senescens de Agostinho tem que ser ultrapassado por uma renovação do Espírito. Em 15 de Setembro de 1350. compara-se a Cristo pois ascendera ao tribunato aos 33 anos.ERIC VOEGELIN derradeira fase política. entregaria toda a Itália pacificada ao Imperador. o programa imperial. na senda da filosofia joaquimita. Se procurarmos sistematizar a variedade de fórmulas conflituosas que ocorrem nas seus documentos deste período. Tivera entretanto uma revelação que o compelira a abandonar um projecto autónomo. o fim da Igreja foi adiado. trariam grandes convulsões. (Epistolario. (Epistolario. Rienzo regressava à vida política para cumprir. carta °32 de Agosto de 1350). n°30). Quando terminasse a sua nova tarefa de unificação de toda a península incluindo Veneza. Segundo esta profecia Deus planear a reforma universal da Igreja. Os males agravados da residência dos pontífices em Avignon. Rienzo defende-se de não ser um enviado directo do Espírito.htm (22 of 24) [27/03/2002 07:19:38] . Sicília. A unificação seria feita pelo espírito através do instrumento humano. eremita dos Abruzzi. Devido a erros cometidos afastou-se voluntariamente do poder e a penitenciar-se durante 33 meses em reparação da blasfémia dos 33 anos. Francisco. htm (23 of 24) [27/03/2002 07:19:38] . Francisco salvou a Igreja romana. Coexistem e são utilizados por Rienzo conforme as circunstâncias. De qualquer modo. n°31) Rienzo deixa na sombra a profecia como fonte de seu estatuto e projecto e assume de novo o tribunato como a fonte de autoridade para precursor da nova era. crendo que a reforma da Igreja deveria ser complementada pela reforma do império. um dux joaquimita como cabeça de um corpo místico europeu. Rienzo ainda joga com a ideia da grande reforma com que o pastor angelicus completará a reforma e construirá o templo do Espírito Santo. E. a sombra da forte tradição imperial não permite criar estados nacionais como no Ocidente. todos estes sentimentos e ideias não formam uma sequência cronológica nem sistemática. A comunidade institucional do orbe cristão quebrou-se com o interregno e deslocação dos papas para Avinhão. virum pauperem et novum. 4. Mas aproxima-se da realidade ao comparar-se a S. Rienzo adopta esta ideia mas rejeita o conflito com a Igreja. Através das profecias de Fra Angelo. A reforma do império é acima de tudo obra espiritual. A substância da profecia de Fra Angelo não difere da visão de Dante de uma nova era sob um dux e um dirigente espiritual. O Terceiro Reino e o Evangelho Eterno de Fiora não podem ser levados a sério.ERIC VOEGELIN santidade da Igreja e a inclusão dos Sarracenos na comunidade dos fiéis. tal como S. O império carecia de um milagre para ser renovado e parece um milagre que um homem pobre e obscuro. Francisco. Uma solução abrangente seria o aparecimento de uma figura paraclética. Um homem santo seria o instrumento destas revoluções e operaria conjuntamente com o imperador. Na segunda carta a Carlos IV (Epistolario. http://www. Que novo corpo místico tomaria o lugar da cristandade imperial em desintegração? Na zona imperial. venha salvar o império.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. opus spiritualis. finalmente.terravista. a sua ideia política concentra-se na reforma nacional e unificação da Itália. mesmo um Maquiavel é capaz de ver que o Espírito é essencial. as nações crescerão através do espírito nacional e. III.ERIC VOEGELIN f. Francisco (Discorsi.341 e ss) http://www.III. a acção militar ultrapassará os particularismos políticos. Mas se as armas são necessárias à libertação. Berlin 1921 [2] (A Study o f History.pt/PortoSanto/1139/SHIP% 202% 2021-area% 20imperial. 1) Na área imperial.427-589 [1] Die Berliner Romantik 1800-1814. Em 1354 foi morto pelos opositores. sob os auspícios do papa. espiritualismo franciscano. vol. [ Binder VI ] pp. O fracasso político obscureceu a importância dos elementos que soubera reunir.terravista. quando o tempo estiver maduro. Nacionalismo espiritual e unificação militar Os projectos de Rienzo não se concretizaram. “profeta sem armas” em Florença. pp. O imperador enviou-o para Avignon. joaquimismo. como se depreende das suas observações sobre o renascimento espiritual conseguido por S. a ideia do corpo mysticum da sacra Italia.htm (24 of 24) [27/03/2002 07:19:38] . a visão de Dante. O seu problema político será o mesmo de Maquiavel que desespera da renovação espiritual tal como empreendida pelo fracassado Savonarola. Em 1352 regressou a Itália com o cardeal Albornoz e estabeleceu-se de novo em Roma.
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