Eneagrama

March 27, 2018 | Author: Lucious Hominis | Category: Enneagram Of Personality, Science, Homo Sapiens, Learning, Schools


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5ª edição Copyright © 2011, by Khristian Paterhan C. Revisão: Denis ???? Capa e diagramação: Alexandre Brum Nova edição revisada Quartet Editora Rua São Francisco Xavier, 524 – Térreo 20550-900 – Rio de Janeiro/RJ Tel./Fax: (21) 2516-5353 [email protected] www.quartet.com.br 2011 Impresso no Brasil A Eleanor Coelho, pelo seu apoio e estímulo. Este livro é uma homenagem a Georges Ivanovich Gurdjieff, o homem que iniciou o resgate do Eneagrama para nosso tempo e dedicou sua vida ao desenvolvimento harmonioso do ser humano. “Lembrem-se desses encontros e das observações que fizeram, porque é impossível estudar a ciência dos tipos a não ser encontrando tipos. Não há outro método. Tudo mais é imaginário.” G. I. Gurdjieff Eles são a base desta obra e sem essa participação não valeria a pena tê-lo escrito.Agradecimentos Agradeço a todos aqueles que colaboraram na construção deste livro com seus depoimentos e vivências. . . .... A influência “negativa” dos parceiros eneagramáticos 7 e 9: gula e indolência..27 Introdução ao Eneagrama O legado de Georges Ivanovich Gurdjieff ..... Para estar protegido do mundo. Definições de Gurdjieff para o estudo dos Traços Principais....... Para além dos Nove Traços Principais.. Desenvolvendo o positivo das influências 7 e 9.. O Eneagrama dos nove Traços Principais.....77 Então. Redescobrindo a simplicidade e a leveza da inocência: a virtude que conduz ao poder verdadeiro.............31 Algo sobre o valor objetivo de certos símbolos e as origens do Eneagrama segundo Gurdjieff...... O Eneagrama interior..... ... Lealdade e proteção: algo valioso que se pode cobrar..... Conquistando novos territórios..... .......75 O Tipo 8: O eu que confronta ........... ..Como ler... é necessário controlar tudo. aplicar e tirar maior proveito deste livro ................ O Tipo 8 e o Tipo Intuitivo Extrovertido de Jung.................. Iniciando o processo de mudanças positivas... Insensibilidade e violência: uma reflexão necessária... A questão dos “Eus”... Os Três Grupos de Seres Humanos Básicos e os Quatro Grupos Superiores de Seres Humanos segundo Gurdjieff.. 9 e 1) . O Traço Principal: o excesso e a luxúria aumentam a agressividade... sem limites.. Parte I Centro Físico ou Motor (Tipos 8. Insensibilidade e poder. Raiva e ação instintiva. vamos nos conhecer melhor ou não? O poder: a grande fascinação dos “guerreiros” do Eneagrama..... A importância do estudo prático do Eneagrama para o autoconhecimento.... Observando os movimentos a favor e contra a seta (do 8 ao 5 e do 8 ao 2)........ ................ Como e por que os Tipos 8 brigam desde cedo com “o mundo todo”..... Aplicação psicológica do Eneagrama nos ensinamentos de Gurdjieff... ...... 3 e 4) ...... A influência positiva dos parceiros 8 e 1............ O positivo do movimento 9–6–3................. movimentos do 1 ao 4 e do 1 ao 7.. O Tipo 1 eo Tipo de Pensamento Extrovertido de Jung... A questão do “território aberto” e “sem limites”. rigidez interna/externa.................99 Um nome maravilhoso................. A face oculta aparece.............. Como surgiu sua máscara... Lembrança de si mesmo: cultivando as virtudes do amor e da reta ação......... Ah. Parte II Centro Emocional (Tipos 2............. .. ........ A divisão interna. O próprio “território”..... Os Tipos 9 são preguiçosos? Esquecimento de Si Mesmo: eis causa do Traço Principal! Deixando de lado o mais importante...... esses perfeitíssimos Tipos 1... O Tipo 1: O eu que ordena .... “Ser para os outros” como consideração interna.... Observando a raiva: a influência negativa dos parceiros 8 e 1.. O Tipo 9 e o Tipo de Sensação introvertida de Jung..... O tipo1 e seu Traço Principal....... A “doença do amanhã”. Movimento em direção à angústia.................O Tipo 9: O eu que espera ...... A “Identificação” e o Traço Principal: “Ser para os outros” como manifestação do orgulho.. Iniciando o processo de mudanças positivas. esses importantes “outros”! A necessidade de atrair a .. O cultivo da virtude e da serenidade......153 O Tipo 2: O eu que ama ......... 9 e 2: uma influência positiva ou negativa... Iniciando o processo de mudanças positivas................... O melhor modo de evitar as cobranças de perfeição... O surgimento da raiva e do ressentimento.125 Ah...155 Existem seres mais amorosos que os Tipos 2? A sutileza do orgulho.......... A dificuldade de estar presente....... O negativo dos movimentos ao 6 e ao 3: reconhecendo o medo e a mentira..... As aparências enganam por isso o Tipo 3 gosta delas!. só desejada. O negativo e o positivo dos movimentos aos Pontos 2 e 1. Centrando-se na equanimidade do Ponto 4............. ......... Aprimorando a observação de si mesmo.. O que evitar e o que aprender com os parceiros 4 e 2. Quando sofrer se transforma na arte de acabar com você.. O Tipo 2 e o Tipo de Sentimento Extrovertido de Jung..... Duas razões para a mesma conduta.. Lembrando outros exemplos... 1 e 3: influências positivas e negativas. não? Como o aparente sucesso externo produz a falta da felicidade interna. Esquecendo as necessidades emocionais e sentindo-se superficial....... Os movimentos no triângulo equilátero: verdadeiro sentir..... O 3 como falso “exemplo” de vida certa... A “Identificação” e o Traço Principal – A vaidade é mentirosa. Iniciando o processo de mudanças positivas. Para não ter a mesma sorte de Narciso. “A verdade os fará livres”: o desafio final.179 Aparentemente tudo está sempre bem com você..... Superando “o vício do sofrimento”. A humildade nos lembra nossa real importância... O Tipo 3 e o caráter mercantil de Fromm...209 A dificuldade de ser feliz... O Tipo 3: O eu que compete ...... A insatisfação com o presente.atenção dos outros.. verdadeira ação. A sensação de perder a liberdade. Quanto mais vaidade mais narcisismo........... A perda do paraíso.... O maravilhoso Krajcberg........ verdadeira esperança... Aplique o conselho de Gurdjieff.. O Tipo 4: O eu que idealiza .. Iniciando o processo de mudanças positivas... Iniciando o processo de mudanças positivas...... ... Trabalhando para conseguir ser equânime.. Aprendendo a mentir e a mentir-se..... só de longe....... O Tipo 4 e o Tipo Intuitivo Introvertido de Jung. À procura da admiração e do reconhecimento alheios... A inveja que parece tristeza....... A observação dos companheiros eneagramáticos 3 e 5. A tristeza de não ser feliz no presente... Procurando um “bode expiatório” para os fracassos... Felicidade. ........... ou como uma espada pode virar uma bengala branca..... Escrever é melhor que falar o que sinto.. Talvez “sumir do mapa” seja o mais correto! A tristeza de não poder sentir para não sofrer a tristeza de sentir...... O mundo oculto: motivo de rejeição e de atração... Como surge o Traço Principal? O medo e as racionalizações (percebendo a dificuldade dos relacionamentos).. Conquistando a virtude da coragem e desenvolvendo uma “fé consciente”.O Tipo 6 e o Tipo de Sentimento Introvertido de Jung..241 Não quero invadir sua privacidade....... A tendência ao isolamento ou a sutileza da avareza..8......... O Tipo 5 e o Tipo de Pensamento Introvertido de Jung.. Errar por medo do erro ou “Por que estão me castigando?”....... Os filhos do casal ambivalência-medo. 6 e 7) .............. Observando seus parceiros 5 e 7.. Como surgiu o Traço Principal. As armadilhas que separam os Tipos 5 da realidade......A perigosa invasão. Iniciando o processo de mudanças positivas..... Iniciando o processo de mudanças positivas............. O valor da fé consciente.............Parte III Centro Intelectual (Tipos 5. ........... Observando o negativo dos Pontos 4 e 6..........239 O Tipo 5: O eu que pensa . segundo Woody Allen. A lição do geógrafo no Pequeno príncipe..................... Uma boa desculpa: “antes só do que malacompanhado”.. Desconfiança demais! Somatizando o medo....273 Medo: o Traço Principal. O Tipo 6: O eu que imagina ... Os movimentos 5 ... As influências positivas dos pontos 4 e 6...7 e 5 .. A diferença entre conhecimento vivo e conhecimento morto.. Enxergando a realidade tal qual ela é............ Imaginação consciente: percebendo as “78 faces” da realidade.. Ambivalência: extrema covardia ou extrema ousadia... O desapego: a virtude de ficar entregue.. ...... Controlando a agressividade e a luxúria.. Problemas com hierarquias e autoridades.. Uma mistura perigosa: gula e intemperança....... Hedonismo ou como os Tipos 7 decidem não sofrer nunca. Seus parceiros 6 e 8 (tente pegar só o melhor deles!).....O Tipo 7: O eu que projeta . A decisão de ser um puer aeternus (eterna criança)....... O Traço Principal – gula – e suas consequências.. Controlando o sentimento de “inferioridade”.O Tipo 7 e o Tipo de Sensação Extrovertida de Jung....................... A projeção para o futuro: os riscos do “sonhar acordado”. A necessidade de sentir-se “livre” e seus aspectos positivos e negativos.......321 Referências Bibliográficas ..................... Quando o movimento ao Ponto 1 aumenta seu narcisismo e excesso de autoconfiança................... Iniciando o processo de mudanças positivas......... Conquistando a virtude do equilíbrio..... Relacionando liberdade e responsabilidade com o autoconhecimento.......... Palavras Finais O Eneagrama positivo e a possível evolução humana ......... maravilhosa e original turma dos 7! Negando o medo como uma maneira de sentir liberdade..293 A alegre.....331 .... . da competição. Transição esta que coincide com o fechamento/abertura de ciclos de dimensões cósmicas. Daí a notória defasagem existente entre o vertiginoso avanço tecnológico da civilização atual globalizante e o baixíssimo nível de consciência coletiva e pessoal que permanece estagnada na dormência do esquecimento de quem somos. de onde viemos e para onde vamos. A correria estressante do moderno jeito de “mal viver” trouxe em seu bojo o aumento da angústia. Foi justamente quando eu acabava de reler a edição anterior. confiança. com simpática dedicatória. cujo exemplar ele me havia presenteado. onde estamos. da perda de valores éticos e a consequente sensação incômoda de vazio existencial. já perceptível. do egoísmo. faz-se necessária a elevação da consciência humana planetária cuja aceleração. visando melhorar a qualidade e o sentido da vida humana no planeta. o que faço com prazer. SãoPaulo/2006. desde os mais ricos e sofisticados até o extremo oposto das camadas mais pobres.Prefácio Por Alaor Passos* Confesso-me honrado por receber do autor o pedido para escrever “um texto” para a reedição deste livro. Para melhorar a qualidade de vida. como somos. se faz cada vez mais urgente e possível neste período de transição de milênios. da violência. quando nos conhecemos pessoalmente por ocasião do Io Congresso Brasileiro de Eneagrama. admiração e intercâmbio de ideais transformadores. dos conflitos inter e intrapessoais. conseguem escapar da armadilha dos efeitos do “autoesquecimento” gerado pela engrenagem enlouquecedora que criou o estranho jeito de viver da civilização moderna . Ao mesmo tempo ainda me sinto surpreendidamente intrigado ao dar-me conta da sincronicidade da chegada do convite. cujo alcance e consequências parecem estar muito além da possibilidade de compreensão da consciência ordinária que ainda prevalece entre os humanos. promovido pela IEA/Brasil – Associação Internacional de Eneagrama – da qual Khristian viria a ser presidente na gestão posterior. Poucos indivíduos. Daí para frente nos encontramos várias vezes e transformamos a empatia mútua inicial em consistentes laços de proximidade amiga. em qualquer das camadas sociais. a solidez de seus conhecimentos e seu estilo de falar e comunicar-se. A leitura tornou-se então uma espécie de “conversa escrita” na qual Khristian permaneceu presente e inteiro. dinheiro. posse. trabalho.. Cada vez mais acentua-se o paradoxo que nos impede de gozar plenamente e com felicidade das conquistas crescentes da tecnologia altamente desenvolvida que. e nem estávamos conscientes da afinidade que permeava nosso jeito de trabalhar. ou da essência transcendente da vida que habita em nosso corpo. Cabe aqui uma paráfrase do que Geraldo Vandré denunciava em sua bela canção que continua tão viva hoje como quando foi criada nos idos anos sessenta. muito semelhante a seu jeito natural de falar. consumo ou o que quer que seja. pontos de vista. . profissão. Refiro-me aos “indecisos cordões”. É que. A releitura da edição anterior me deu muito prazer.” que só labutar não é viver! “Quem sabe faz a hora” para se autoconhecer e cultivar seu próprio Ser. embora muitas razões pudessem ser comentadas.. podendo perceber a profundidade de suas qualidades humanas. propensos a morrer sem ter vivido. por muitos anos. além de ampliar minha facilidade de compreensão do que já havia lido. Substitua-se a palavra “pátria” por civilização. e observado o efeito transformador que esta quase desconhecida e milenar sabedoria operava para melhorar a qualidade de vida dos iniciados. etc. vamos embora . ambos estivemos usando o Eneagrama como instrumento catalisador no caminho do autoconhecimento. Entendi em seguida que na convergência de nossos pensamentos. ausência de Ser. Atribuo isto ao fato de ter conhecido o autor e interagido com ele. Por certo que ambos sabíamos da existência um do outro. e mude-se o “viver sem razão” por vazio existencial. e talvez sejamos capazes de escutar o chamado do refrão: “vem. ou “morrer pela pátria e viver sem razão”. ao invés de bem-estar e melhor qualidade de vida. sonhos e esperanças. ao mesmo tempo erudito e consistente.que se sustenta no tripé do assim chamado “complexo industrial/militar/ tecnológico” que tem se expandido desde o fim da Grande Guerra. salientava-se uma que é suficiente em si mesma. por seu estilo coloquial de escrever. tem nos roubado de nós mesmos. sem nos deixar tempo nem motivação para nos dedicar ao desenvolvimento de nosso potencial humano e às inquietudes do espírito. mas não nos conhecíamos. por isso não desenvolvo mais que este pequeno trecho. tive a sorte de receber ensinamentos diretamente de Claudio Naranjo. mas no encontro pessoal ficou evidente que tínhamos o mesmo zelo e a mesma esperança que nos fez preservar a pureza dos ensinamentos tal como haviam sido originados nos elos primordiais de sua origem secreta e de sua transmissão sutil através de milênios. o leitor verá neste livro a história contada por ele mesmo de como chegou ao Eneagrama. buscador e pesquisador incansável que desenvolveu e ampliou pioneiramente e com brilhantismo ímpar aquilo que Ichazo havia introduzido em Arica. é certo. fica evidenciado que toda a descrição tipológica que viria circular em abundante número de livros. foi pouquíssimo o que Ichazo lhe ensinou em comparação com tantas outras coisas que aprendeu dele. acompanhando-o muito de perto nos últimos trinta anos e reconhecendo-o como o legítimo elo atual da corrente de transmissão milenar desta sabedoria hermética que chegou ao Ocidente primeiro através do trabalho de Gurdjieff na Europa e em seguida vetorizada por Oscar Ichazo. deve créditos a Naranjo. por outro lado. E reconheço-lhe o mérito da difícil tarefa que empreendeu com sucesso para extrair diretamente dos herméticos ensinamentos de Gurdjieff a base . De minha parte..Chegamos ao Eneagrama por caminhos diferentes. com grande impacto nas Américas. muitos nomes gabaritados foram se destacando em muitos lugares. Chile apenas elementarmente no que se refere à aplicação do Eneagrama ao estudo da personalidade. Desta forma. mesmo aqueles que não explicitam o devido reconhecimento. Foge a meus propósitos contar aqui essa história. Naranjo criou o que veio a ficar conhecido como Psicologia dos Eneatipos para a qual proveu ampla e completa descrição de toda a tipologia à qual Ichazo fez menção apenas dos seus fundamentos básicos nos tempos de Arica. que já dura quatro décadas. O bastão da maestria foi logo passado a Claudio Naranjo. Da parte de Khristian Paterhan C. Do massivo e ainda crescente interesse despertado pelo tema. um psiquiatra gestaltista. Sem deixar de dizer que embora Naranjo tenha feito reconhecimento público de que Oscar Ichazo foi sua “parteira espiritual” ele também afirma que no concernente ao Eneagrama como instrumento de estudo aplicável ao ser humano. Imagino que o dito até aqui seja suficiente para justificar meu empenho para atender o pedido honroso que recebi do autor. da qual passarei a falar na sequência. tornando-se uma referência nacional confiável que tem ajudado a muita gente. uma de suas notáveis qualidades humanas. Apenas um pouquinho antes (1984) eu tive a grata oportunidade de trazer Claudio Naranjo ao Brasil para um primeiro seminário longo. sem saber um do outro. Ambos começamos no início da década de oitenta. um veículo administrativo para organizar e promover os ensinamentos da Escola SAT. sob a maestria de Naranjo.de seus conhecimentos tão consistentes. com ênfase especial em sua atuação no meio empresarial por onde transita com desenvoltura profissional fluida e marcante. até hoje têm propiciado a um grande número de pessoas estudar o Eneagrama em profundidade e eu me tornei seu braço direito brasileiro na qualidade de discípulo e representante nacional. Aprendi diretamente dele tudo que pude absorver de nossa convivência estreita e colaboração longa e profícua. na presença de Naranjo. É disto que falarei em seguida. Ele desenvolvendo o que veio a ser seu prestigioso Instituto IDHI conforme menciona no livro. Talvez tenhamos sido os dois primeiros. Dei alcance nacional a seu trabalho criando grupos de estudo de Eneagrama em muitas das principais cidades brasileiras. Só recentemente me dei conta que Khristian e eu fomos pioneiros da introdução do Eneagrama no Brasil. que as descrições explícitas derivadas da Psicologia dos Eneatipos foi de considerável ajuda para permitir-lhe entender as passagens habilmente disfarçadas e não sistemáticas de onde ele conseguiu extrair a mesma tipologia por meios tão originais. numa considerável sincronicidade e quase perfeita simultaneidade. Tal reconhecimento apenas faz crescer minha admiração e respeito por sua integridade humilde e sincera. Criei o Instituto Eneasat do Brasil. e me dá oportunidade para acrescentar algo mais substancial sobre a convergência do trabalho que ambos viemos fazendo paralelamente ao longo de anos. A Escola SAT internacional não é uma instituição física/administrativa. Daí para frente suas vindas anuais consecutivas. Ela é a guardiã de um corpo de conhecimentos inserida nos moldes de uma Escola do Quarto Caminho que funciona à luz do . Ouvi-o reconhecer. A Escola SAT. estar totalmente inserido e ter êxito nas responsabilidades mundanas. conduzindo conscientemente o próprio destino independentemente das circunstâncias externas do entorno em que se vive. onde torna-se possível manter o equilíbrio da saúde corporal/emocional e simultaneamente cultivar-se e desenvolver a inteligência espiritual que é a meta principal que pode ser atingida no trabalho sobre si mesmo direcionado ao autoconhecimento. Talvez Gurdjieff estivesse inspirado nesta sintonia quando proferia algumas de suas afirmações chocantes. expressão derivada de um aforismo da tradição eneagramática de linhagem Sufi que afirma que no caminho da evolução é preciso “aprender a estar no mundo sem ser do mundo”. como por exemplo. Ou seja. porém desapegadamente delas. capacitando-se para prover suas próprias necessidades mundanas com sobra suficiente para atender as necessidades básicas de pelo menos vinte pessoas mais. Os eventos através dos quais a Escola transmite seus ensinamentos consistem de módulos vivenciais periódicos e intensivos de imersão total. podem ser realizadas sem interferir com a dedicação à busca das qualidades superiores de vida que são intrínsecas ao autoconhecimento. Portanto sem necessidade de renúncia ao mundo ou refúgio isolado com pretensos propósitos “espiritualizantes”. “mosteiro não é refúgio de proteção para fracassados” ou ainda. enriquecido de inúmeras atividades multidisciplinares de cunho especificamente terapêutico que ajuda a “passar a vida a limpo” para que a sabedoria do Eneagrama opere com mais inteireza e velocidade. Em tal formato as obrigações mundanas do entorno sócio/ familiar/profissional. a ênfase dada à necessidade de que o buscador da transcendência espiritual deveria ser primeiro um vencedor no mundo. que todos temos que executar por razões de sobrevivência visando adequado grau de sucesso em nossas atividades regulares. moldada nos figurinos do Quarto Caminho intenciona propiciar o desenvolvimento harmônico do Ser integral. pois ilimitado é o potencial de evolução possível ao ser humano que consiga alcançar a iluminação.Eneagrama. maximizando seu potencial condutor do autoconhecimento levado a níveis ilimitados. Faz parte do aprendizado a necessidade de “aprender a aprender”. . que dá nome à Escola. via de regra. O fazer prático. onde SAT tem o significado de existência absoluta.A sigla “SAT”. embora precariamente. que contém uma proposta e uma oportunidade para o resgate do próprio Ser essencial que habita em todos nós. Depois que consegue. É provável que viva enorme frustração ao dar-se conta que apenas venceu etapas necessárias à sobrevivência mundana e a intensidade do esforço continuado logo vai lhe custar a saúde e o sentido de viver. é certo que nosso sistema educacional se propõe ensinar a fazer. pelo modelo educacional oficial da educação profissionalizante vigente entre nós. Portanto. até que o aluno consiga aprovar-se num certo número de provas suficientes para obter um diploma ou certificado profissional. mas na prática está mais dedicado a transmitir informações para ensinar a passar em exames. no original inglês – cujas primeiras letras das três palavras formam a sigla que veio a ficar conhecida. que dificilmente alcança um estado de plenitude profissional onde sente que exerce sua vocação como expressão do seu Ser. ou Ser Essencial Absoluto. tem que ser aprendido fora do contexto escolar e quase sempre . está em consonância com mais uma das quatro recomendações da Unesco para orientar o conteúdo da educação moderna. que é outra das quatro recomendações atuais para serem ensinadas pela educação do século XXi. Uma delas (ensinar a fazer) é a única que em seu sentido convencional mais superficial é atendida. podemos observar generalizadamente falando. Mas ampliar a discussão disto foge ao escopo dos propósitos deste texto. e/ou para o Ser. Ou seja. Traduzindo-se para o contexto aportuguesado do autoconhecimento podemos então entender o significado da Escola como sendo uma escola do Ser. O primeiro deles tem a ver com o prefixo sânscrito que antecede a trindade conhecida no hinduísmo como SaT – Chiti-Ananda. Talvez seja oportuno aqui mencionarmos as duas faltantes que são respectivamente “ensinar/aprender a fazer” e “ensinar/aprender a conviver”. Além da referência explícita a uma conhecida Ordem de linhagem Sufi ela contém outros significados relevantes. Anteriormente já fizemos referência a “aprender a aprender”. necessita alguns comentários para ser corretamente entendida. Quando escrito por extenso o nome completo seria: Escola de Buscadores da Verdade – Teekers After Truth. Estou aproveitando o livro de Khristian. parece óbvio que a Unesco pretende recomendar mais do que o significado profissionalizante do termo “fazer”. tornando-se uma máquina automática e adormecida. Penso. em seu estado ordinário de consciência não sabe fazer. A maioria. que esta conclusão vem da minha experiência como professor universitário. impedindo-a da habilidade de realmente fazer. com ou sem o respectivo diploma. para completar. que só uma pequena minoria de meus colegas professores estaria apta a compreender adequadamente o sentido deste parágrafo. quando desistiu de seus grupos latino-americanos para os quais pretendia ensinar o Sufismo. além da incapacidade de compreensão sequer teria interesse no tema e na forma que estou expondo. se alternam em sucessivos plantões que perpetuam o estado de sono da máquina humana ordinária. Não sabe o que fazer pois foi condicionado apenas para reagir. Entretanto. à luz das demais recomendações. pois em nossos bancos escolares seriam pouquíssimos os que talvez pudessem vislumbrar algum sentido no que acabei de escrever resumidamente. é incapaz de realmente fazer qualquer coisa. Ou seja. Não é à toa que Idris Shah. pois o que ele diz é que o Homem. cujo significado vai muito além da reatividade automática da dormência que caracteriza nossa condição humana “normal”. em sua condição humana ordinária. para atrever-me a mencionar este sentido mais profundo de “fazer”. Aliás. desconhecidos entre si. Este é um fato amplamente conhecido pelas gerações que saem dos bancos escolares. o que só acontece quando os centros superiores do Eu estejam deliberadamente ativados. apenas quando o indivíduo se educa verdadeiramente até atingir um grau mínimo de consciência ativa ele se torna verdadeiramente capaz de fazer por si próprio. suas afirmações são mais radicais e pioram a situação. tão solidamente embasado nos ensinamentos de Gurdjieff. infelizmente. afirmou . Basta lembrar certas afirmações de Gurdjieff – também um Buscador da Verdade da Ordem Naquishbandi do Sufismo – para que se percebam os significados mais profundos desta recomendação.a posteriori. e não ativa mas apenas reativa aos estímulos externos que não vem do núcleo do Eu superior. quando se consegue o primeiro emprego. Ele afirma que o Homem. Uma pluralidade de pequenos “eus”. inclusive. Declaro apenas. Nem sua resposta pode ser semelhante à que ele tentou. mas não vislumbro soluções fáceis. Por isso peço desculpas ao leitor por não me alongar mais na explicação dos outros significados aplicáveis à palavra SAT que dá nome a nossa Escola. Que fazer. em larga extensão. então? Certamente que esta pergunta não tem o mesmo significado da pergunta de Lenin na Rússia nos anos vinte do século passado.br). Os mais de trinta anos de exposição aos ensinamentos de Naranjo e as décadas de dedicação à Escola são os pilares onde minha esperança se afirma. . será que conseguiremos coletivamente sair deste labirinto abismal? Confesso que estou entre os que ainda não perderam a esperança. Mas ambos. Ao longo dos setenta anos de minha vida o mundo deu muitas voltas e me fez passar por muitas curvas. Os que tiverem interesse podem encontrar mais referências em outros livros meus. Prefiro dedicar as linhas seguintes para tratar de aspectos mais substanciais das atividades da Escola. são capazes de criar e incentivar valores de genuíno relacionamento pacífico e harmônico.com) ou mesmo no site do Instituto EneaSat (www.eneasat. Também não perdi o entusiasmo. esperança e entusiasmo. Ao reconhecer que pertenço ao grupo dos que ainda não perderam a esperança. quando o próprio modelo educacional predominante prepara os jovens para o contrário disto? Nem as famílias.que o povo daqui não tinha ainda a capacidade para compreender a sabedoria que seus ensinamentos poderiam atingir. ou principalmente em vários dos muitos livros de Claudio Naranjo. A restante das quatro recomendações da Unesco refere-se a ensinar/ aprender a conviver de forma sadia. dado que nosso sistema educacional incentiva a competição em graus altíssimos? Que dizer então do “bullying” e da violência que lastra nas escolas ocidentais em crescente e vertiginosa velocidade? Como alcançar um relacionamento pacífico e solidário entre os povos e nações. permaneceram quase juvenis. Mas como. entendido em seu significado etimológico mais remoto = “estar com Deus dentro”. Mais informações podem também ser encontradas no site da Fundação Cláudio Naranjo (www.com. Como nos tempos de estudante quando enfrentamos a ditadura militar mergulhados nos filões do marxismo. devo acrescentar que atribuo isso ao SAT. Mas. fundacionclaudionaranjo. ajudei a engrossar os cordões que sonhavam com os nobres ideais da frustrada Revolução Universitária. inclusive na UnB. Por curto tempo. através de sua Secretaria Municipal de Educação (SEMED). Por isso afirmo que nossos eventos acontecem sob a Luz da sabedoria guardada no Eneagrama. como representante de . São duas das sementinhas que ainda permanecem hibernadas bem no âmago de meu Ser. Dirigi. começada na França em maio de 1968 e rapidamente espalhada pelo mundo. A semente germinou em alguns países dos quais não falarei aqui.Fui parar no exílio. Coube a mim. de São Paulo. todas permeadas por um fio condutor invisível que os une. primeiro no Chile sem deixar de querer mudar o mundo pela força das balas. para cerca de 80 professores de educação primária e média selecionados e financiados pela prefeitura de Porto Velho. Quase fui. também de três módulos. quando posteriormente fui estudar na Inglaterra. Ao público foi apresentada primeiramente por sucessivas conferências de Naranjo em muitos lugares. Mencionarei apenas uma das vertentes. Que os três parágrafos anteriores sirvam para a compreensão de um aspecto da Escola que introduzirei agora. Em seguida viria seu livro. traduzido e publicado em português pela editora Esfera. A Escola SAT tem múltiplas vertentes. em 2007/2008 implantar na capital de Rondônia um Projeto Piloto. acho que em 1998/99 com o título: “Uma Nova Educação Verdadeira para o Século Vinte e Um”. em três módulos. Nasceu de uma experiência piloto que fizemos no Chile. se não tivesse “amarelado” na hora “H” decisiva de comprometer-me com a viagem acabaria sem volta. Vejo hoje que a alternativa de ir estudar na Europa foi um presente que a vida me deu para não ter morrido ao lado de Che Guevara na aventura da Bolívia. É a que vem ganhando corpo ao longo da última década. Mudar a Educação para Mudar o Mundo. Reunimos professores universitários representantes de todas as universidades públicas chilenas selecionados e auspiciados pelo Ministério da Educação local. Atenho-me apenas ao Brasil. durante o primeiro governo democrático que sucedeu a longa ditadura militar que derrubou o governo democrático e socialista do Presidente Allende. Tem a ver com minhas inquietudes a respeito da educação atual e com a vontade de contribuir para mudar o mundo. esta é uma das afirmações sempre presente nos projetos nascidos na vertente que tem ficado conhecida como SAT-Educação. pelo menos no entorno individual onde cada um atua. inóspito e desértico de conteúdos humanizadores. sem sequer perceber a infecção epidêmica intrínseca ao modelo que continuam defendendo. embora os arautos das políticas e reformas “educacionais” sigam batendo na mesma tecla falida. Temos que sair fora dos modelos oficiais da “deseducação” acumuladora de informações. Fomos movidos pela certeza de que podemos (e devemos) ajudar a formar os formadores das novas gerações. aplicando e fingindo que querem reformar apenas retocando curriculum e aumentando a informação. que saem alfabetizados das escolas mas não sabem ler. em vários países e lugares. ou SAT-educ. . Nem se dão conta que hoje esta já está amplamente disponível na internet. Por isso insistem em dar mais do mesmo. O que realmente estão aumentando é a quantidade de analfabetos funcionais. mas sim de uma radical mudança de parâmetros. cujos membros se alternaram conforme o conteúdo vivencial de cada módulo. embora em ritmo mais lento que o desejável e necessário. Aliás. nem parecem interessados. Todos intoxicados pelo acúmulo da ingestão forçada de “mais do mesmo” indigerível e inabsorvível. embalada no sonho de humanizar os educadores para que humanizem a educação. Uma experiência puxa outras e assim o SAT tem avançado na educação.Naranjo. Sol escaldante. Parecem ter uma obsessão quantitativa apoiada apenas em números estatísticos. uma equipe grande e multidisciplinar. De qualidade nada entendem. O relatório da experiência completa transformou-se num pequeno livro publicado pelo Instituto Eneasat com o título: SAT na Educação – a experiência pioneira dos professores de Porto Velho e a humanização da educação. se nosso propósito é salvar os contingentes juvenis cujos sonhos foram reduzidos ao pesadelo de ter que ser aprovado no exame vestibular para poder conquistar um título profissional que lhe dê a ilusão de haver conquistado um lugar ao sol. Foi uma experiência muito exitosa. porém especializada na Escola. O que a educação realmente precisa. A situação calamitosa da educação oficial tem crescido em ondas gigantes que prenunciam tissunames globais iminentes. além da quantidade numérica não é de reformas. Este é o resumo da situação prevalecente. com as quatro recomendações. intimidade confiante? Nada disso importa. que a estrada solidamente construída que estão tentando percorrer os está levando do nada a lugar nenhum? . famintos e sedentos. O conteúdo intrínseco da escola SAT. que comentamos. é a Reeducação Permanente integral e humanizadora. massivamente. Fora do sistema oficial dominante. então tratam de vender a ilusão de que estão empenhados em melhorar o ruim. Que acontecerá quando perceberem. entretanto. os caminhos foram alargados e pavimentados. Portanto. alegria de viver. FIT (felicidade interna total)? Ou IRC (índice de renda per capita) por IFP (índice de felicidade pessoal)? Parece que estamos longe de tais inquietudes. entretanto. digamos. em qualquer de suas vertentes. conduzidos por miragens alucinantes que aparecem sempre um pouquinho à frente. A maioria.Humanização? Valores humanos? Cultivo das emoções superiores e repúdio à “virtudização” moralista? Sentido de vida. a mudança na ênfase dada à medição do PIB (Produto Interno Bruto) por. sem volta atrás. Pensam que seria um luxo afrontante num país que sequer tem escolas em quantidade suficiente. Embora estressados. Como não sabem (ou não se interessam?) medir a qualidade. harmonia pacífica nos relacionamentos. sobretudo nas chamadas vias alternativas ou nas Escolas do Quarto caminho é que multidões crescentes buscam direcionamentos para encontrar e percorrer as trilhas rumo ao novo e ao desconhecido. Tentar melhorar o ruim receitando mais do mesmo que está produzindo o mal só pode empurrar o que está mal para o péssimo. Só mais recentemente. afetividade. há que investir recursos no básico e assim poder exibir números e estatísticas só de melhoras quantitativas. Há umas quatro décadas a Unesco já sinalizava nesta direção. pensam os políticos e os burocratas educacionais. Não percebem (ou não querem perceber?) que o ruim já ultrapassou o péssimo. marcham com determinação e esforço admiráveis. que são ausentes na cabeça dos poderosos e dos burocratas. Qual será o nível seguinte? Será que alguém que tenha poder de decisão se interessaria em mudar os parâmetros educacionais para propor. por exemplo. ainda se ilude e pensa que está percorrendo os trilhos solidamente construídos de uma ferrovia imaginária. França e Estados Unidos. em Santiago. individual e coletiva.. Oslo.Prezado leitor. 1968. no México. A importância dela é proporcional ao gosto/desgosto que você tenha tido ao ler tudo que escrevi nas páginas anteriores. Noruega. Assessor da OECD. pois sei que todo mundo gosta de segredos. Meu segredo é o seguinte. são meus genuínos desejos. organiza e coordena suas atividades no Brasil como representante de Claudio Naranjo. No livro que você tem em mãos. lotado na CEPAL. para terminar. Mais ainda. então vou lhe dar uma dica secreta. fingindo guardá-los. com publicações em revistas locais especializadas. você se abra aos grandes segredos embutidos no tema desenvolvido tão magistralmente por ele. * Sociólogo e professor adjunto da Universidade de Brasília – UnB. o livro está bem escrito e é sumamente consistente. e no ILPES. Ensina à luz do Eneagrama nas principais capitais brasileiras desde 1992. Discípulo de Claudio Naranjo desde então. Compartilho com Khristian principalmente desta intenção de usar o Eneagrama como poderoso instrumento de verdadeira transformação. Fundador e diretor do Instituto EneaSAT do Brasil é membro fundador e Presidente da IEA Brasil . Introduziu o estudo da Psicologia dos Eneatipos no Brasil no princípio dos anos 80. Melhor ainda. Chile. Já ministrou cursos na Austrália. Esperando que você tenha gostado. que você se motive o suficiente para participar vivencialmente dos eventos periodicamente disponíveis que lhe conduzirão da simples compreensão teórica a níveis inimagináveis de compreensão interna transformadora. Chile. Colômbia e Itália e participou de Congressos Internacionais na Espanha. em Paris. Que você faça bom proveito do que este livro lhe dirá. Membro da equipe internacional de terapeutas da Escola SAT. você encontrará tudo o que escrevi aqui e muito mais. principalmente quando os tornam públicos.International Enneagram Association. . Espero que além de divertir com o estilo peculiar e cativante de Khristian Paterhan C. “Visiting Scholar” no Peace Research Institute. México. Foi funcionário internacional das Nações Unidas. falta dizer-lhe uma coisa muito importante. ouvir o que pessoas com outros Tipos/Traços Principais dizem a respeito de si mesmas. Leia neste livro as descrições. Faça o Teste Simplificado disponível no site da Escola de Eneagrama. mais serão as probabilidades de identificar rapidamente seu Traço ou Tipo de Personalidade Principal. Caso tenha dúvidas entre dois Tipos. Sem vivência é impossível sentir e compreender toda a força e sabedoria que esta ferramenta possui. não basta ler um ou vários livros sobre o assunto. você deveria começar a trabalhar e observar para aprimorar sua personalidade. Se você está lendo sobre o assunto pela primeira vez. aplicar e tirar maior proveito deste livro Antes de ensinar como utilizar melhor este livro devo advertir que.com. 2. compartilhar e trocar experiências com pessoas que possuam o mesmo Traço Principal (Tipo). É muito provável que após a leitura desses Tipos escolhidos. em seu caso. ou copie este link no seu browser: http://www. você terá mais certeza sobre qual é o seu Traço ou Tipo Principal.Como ler. Quanto mais você for sincero(a) e honesto (a) nas suas respostas. leia as descrições de ambos. Lembre-se de que dessa atitude depende que o Eneagrama se transforme em um “aliado” da sua evolução e crescimento pessoal e profissional. É fundamental participar de um ou vários workshops vivenciais. aconselho ler este livro da seguinte maneira: 1. para compreender realmente o Eneagrama. Reflita sobre seu Tipo e decida o que.escolaeneagrama. depoimentos e orientações relaciona das ao Tipo de Personalidade Eneagramático identificado. .br/ view/teste-de-eneagrama/ O resultado do Teste permitirá que você tenha uma visão inicial e básica do seu Tipo de Personalidade Eneagramático Principal que será aquele com maior número de respostas afirmativas. Por exemplo. 9 e 1 (Grupo de Seres Humanos cuja vida psíquica está relacionada com o Centro do Movimento ou Centro Físico). Lembre-se de que você não é a máscara (personalidade) e que pode aprimorar-se. os Tipos 2. o “movi mento a favor da seta” é para Ponto 7 e o movimento contra a seta é para Ponto 8 do Eneagrama. Pouco . Verifique que aspectos negativos dos outros Tipos se dão em você e quais aspectos positivos você deveria imitar e /ou fortalecer. leia as características dos Tipos 2 e 4 e veja como elas o influenciam. Inicie a Observação e Lembrança de si mesmo. Comece a pôr em prática o Eneagrama. 5. Por exemplo.28 Khristian Paterhan C. Leia as características dos Tipos relacionados com seus movimentos imediatos no Eneagrama. Leia os Tipos que acompanham seu Tipo Principal-chamados de “asas”. se você é um Tipo 3. seminários e workshops vivenciais sobre este assunto. 3. tanto positiva como negativamente. leia os Tipos 4 e 6 e assim por diante. Se você é um Tipo 5. 6 e 7 (Grupo de Seres Humanos cuja vida psíquica está relacionada com o Centro Intelectual). Participe de nossos treina mentos. ou seja: os Tipos 8. 3 e 4 (Grupo de Seres Humanos cuja vida psíquica esta relacionada com o Centro Emo­ cional) e os Tipos 5. “braços” ou “companheiros eneagramáticos”. 4. aperfeiçoar-se e ser cada dia melhor como ser humano. se você é Tipo 5. Os Tipos de Personalidade Eneagramáticos estão agrupados de acordo com o Centro ao qual pertencem. Lembre-se que no seu mundo interior estão todos os Nove “eus” eneagramáticos e que você deve conhecer cada um deles profundamente para torna-lhos seus aliados. Estude todos os Tipos. 6. Leia e reflita nestes Tipos Eneagramáti cos e tente observar como se dá em você a influência deles. 7. colegas de trabalho. Aprenda a perceber quais as motivações de cada Tipo.com. Argumente de acordo com essas motivações e melhore seus relacionamentos pessoais. Se você é empresário e deseja fazer um treinamento específico com os seus colaboradores.br/view/home/ . despertando e estimulando o melhor de cada um e de cada situação.escolaeneagrama. profissio nais e comerciais. Aprenda em nossos workshops e treinamentos como aplicar o Enea grama nos seus negócios e/ou relacionamentos profissionais. com a prática você poderá identificar os Tipos Eneagramáticos de seus clientes. leia o Portfólio e depoimentos de clientes disponível no site: http://www. anali sando quais os aspectos positivos e negativos de cada um e geran do uma comunicação mais produtiva. Sua capacidade de comunicação interpessoal vai melhorar porque você será capaz de compreender como os “outros” interpretam a realidade.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 29 a pouco. Lembre-se de que cada Tipo Eneagramático observa o mundo de um ângulo diferente. pratican do o melhor modo de se relacionar e negociar com cada tipo. 8. amigos e parentes. Aprenda a tratar cada Tipo segundo suas características tipológicas. . há mais de 80 anos. a existência do Eneagrama. foi um dos mais notáveis transpessoalistas modernos. . Os livros que ele escreveu guardam. para quem os estuda. leia após ter feito o Teste Simplificado e/ou terminado a leitura do seu Tipo de Personalidade. especialmente neste momento em que a humanidade precisa dar um “salto quântico” no seu desenvolvimento como espécie. Não vou fazer aqui um resumo da sua biografia. como alguém acertadamente escreveu. a cada ano que passa. se mostra. Foi ele quem trouxe ao conhecimento do Ocidente.Introdução ao Eneagrama O legado de Georges Ivanovich Gurdjieff (o homem que trouxe o Eneagrama para o Ocidente) Esta introdução foi escrita para aqueles que desejam aprofundar nas origens filosóficas do Eneagrama. Sua obra que. Gurdjieff é hoje um dos mais importantes.”. e/ou pesquisar sobre outros grupos de trabalho de Quarto Caminho no Brasil e no mundo. mais atual e exata. preciosos tesouros. estavam ligadas. I. reflete e pratica. alguns dos quais traduzidos para o português e que cito na bibliografia. somente por ignorância é colocada nas prateleiras das chamadas “obras esotéricas” (as quais ele sempre desprezou. frutos de uma das sínteses mais valiosas do conhecimento psicofilosófico do Oriente e do Ocidente. Hoje em dia podemos afirmar que Georges Ivanovich Gurdjieff (1872-1949). criador do sistema de desenvolvimento humano conhecido internacionalmente como Quarto Caminho. advertindo sobre seus perigos e extravagâncias). um de seus mais notáveis discípulos. Caso você deseje. nem escrever sobre o que já está escrito em centenas de livros e comentários. Quem deseje conhecer e praticar a filosofia de vida ensinada por Gurdjieff e contida no Eneagrama. como a chamava Piotr Demianovich Ouspensky. milenar símbolo-síntese criado por sábios de uma época esquecida na qual as ciências exatas e a “psicologia da possível evolução humana”. O legado de G. pode estabelecer contato com a Escola de Eneagrama “Khristian Paterhan C. muitos dos quais inspirados pelos ensinamentos que revelou de uma forma incomum. do qual faziam parte todas as ciências. “holismo”. segundo ele. “inteligência emocional”. já que estamos em condições culturais de completar e compreender – para benefício da nossa espécie e graças aos níveis que temos atingido nos campos das ciências humanas e exatas – esse “quebra-cabeça” do conhecimento humano. Gurdjieff já os tratava com uma profundidade que se mostra cada vez mais exata e completa. graças aos avanços das ciências. Gurdjieff afirmava que existiu. do qual ele nos deixou tantos e valiosos “fragmentos”. Seu trabalho foi pioneiro no sentido de demonstrar objetivamente que existem níveis de consciência passíveis de serem desenvolvidos mediante práticas exatas. . e teve acesso.D. Atualmente seus ensinamentos deveriam ser tratados com “espírito científico”. Gurdjieff fundou na França.Ouspensky). em 1922. Sua obra atraiu importantes personagens de todas as áreas do conhecimento humano. hoje reconhecida pelos historiadores como uma das mais avançadas da Antiguidade em termos culturais e científicos. Com efeito. fazia parte desse “Grande Conhecimento” que unificava todas as coisas. aos “fragmentos de um ensinamento desconhecido” (P. “psicossomática”. mediante o qual atualizou parte desses antigos ensinamentos. o Instituto para o Desenvolvimento Harmonioso do Ser Humano.32 Khristian Paterhan C. num remoto passado. artes e filosofias e de cuja existência pouco ficou registrado na história escrita da humanidade. cujas origens se perdem na noite dos tempos e se ligam com a extraordinária cultura sumério-babilônica. O Eneagrama. “psicologia transpessoal” e outros assuntos que hoje se abordam cada vez com mais facilidade e objetividade. por meio de uma misteriosa ordem secreta chamada Sarmung. Muitos anos antes que se falasse sobre temas como “ecologia”. os incorporaram às suas áreas de atuação profissional com excelentes e notáveis resultados. Gurdjieff foi um profundo conhecedor das psicofilosofias e tradições antigas. Com o intuito de promover maiores níveis de consciência entre os seres humanos e tendo como objetivo incentivar “a unidade de todas as coisas”. um “Grande Conhecimento”. “relatividade”. o trabalho de Gurdjieff sofreu ataques de setores interessados em provocar o “esquecimento” da sua obra. com o apoio de amigos muito especiais. no Chile. Desde então. Nas últimas décadas. uma das principais linhas filosóficas da India. assim 1 As quais tive a oportunidade de aprender vivencialmente desde os 15 anos de idade Entre elas a Filosofia Vedanta Advaita. no meu país. para pagar parte da minha “divida com a existência”.1 que fundei em 1986 o Instituto para el Desarrollo Humano Integral. para dar inicio a uma nova fase de trabalhos a través da atual Escola de Eneagrama “Khristian Paterhan” www. Chile. trabalhar e difundir o legado deste homem notável e faço isso como ele ensinou.com. IDHI®. por meio de pessoas muito especiais que desejam permanecer no anonimato.escolaeneagrama. especialmente difundida na Europa durante a Idade Média e cujas origens estão relacionadas com as lendas ancestrais de Thot-Hermes.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 33 Tive o privilégio de conhecer sua proposta e o Eneagrama na década de 80. As atividades do IDHI® foram encerradas no ano 2005. algumas das quais disponíveis na internet. filosofia milenar de origem egípcia.br e da minha empresa a “Upgrade Nine-Consultoria e Treinamento de Pessoal Ltda. Devo advertir que o Eneagrama não está atrelado a qualquer “tradição mística” nem é “propriedade” de qualquer escola ou instituição conhecida na atualidade. “instrumentos” através dos quais possibilito o trabalho de desenvolvimento humano. o Budismo. tanto pessoal quanto profissional. Foi justamente com o objetivo de divulgar e dar um enfoque mais abrangente das ideias de Gurdjieff e da sua relação com outras linhas filosóficas do Oriente Antigo. teses e pesquisas empíricas. nunca parei de pesquisar. sistema psicofilosófico pelo qual Gurdjieff tinha uma especial simpatia. Sua natureza em termos de exatidão e objetividade é única. Seis anos depois (1992) refundei-o aqui no Brasil. e já se tem realizado estudos. e o Hermetismo.”. . alunos e discípulos. de todos aqueles que almejam o autoconhecimento e a realização integral como seres humanos. . porque estas são as maneiras mais comuns de se tratar os grandes mestres e gênios.Bennet foi um notável discípulo de Gurdjieff nos Estados Unidos. 2 J. calculando-se que exista. Não me parece estranho que se tenha combatido tanto o “sistema” de Gurdjieff nem que se tenham feito tantos esforços para desacreditá-lo. uma análise fria e serena da sua obra pode demonstrar que ele não somente conhecia suas aplicações psicológicas profundamente.2 há uns 4.34 Khristian Paterhan C. Esses mesmos setores não podem evitar que os ensinamentos de Gurdjieff se tornem cada vez mais conhecidos e aplicados em diversos campos da atividade humana e no mundo todo. Demonstrarei isto nesta introdução ao tema. G. Um desses setores tentou – e ainda tenta – provar que Gurdjieff não teria ensinado as aplicações psicológicas do Eneagrama. Escreveu várias obras sobre o sistema filosófico conhecido como “Quarto Caminho” e uma sobre o Eneagrama. como em diminuir sua importância especialmente no que se refere aos seus conhecimentos sobre o Eneagrama. 500 anos ou mais. Do mesmo modo que dizemos que Pitágoras “criou” “seu” famoso teorema e ficamos muito tranquilos sem perceber que estamos demonstrando uma tremenda ignorância. é importante cuidar para que este “patrimônio” científico-cultural da humanidade não seja “propriedade intelectual” de ninguém e sim um meio de desenvolvimento e unificação das ciências. Pela mesma razão. obra já traduzida para o português. segundo o pesquisador J.G. Bennet. artes e filosofias. Porém. apenas o “herdou” de pessoas que sabiam e o tinham conservado (dados sobre esse teorema existem na China muito antes de Pitágoras existir). publicada no Brasil pela Editora Pensamento sob o título: O Eneagrama: um estudo pormenorizado do Eneagrama usado por Gurdjieff. como também as utilizava para explicar outros fenômenos universais com total mestria. É importante advertir também que ninguém pode se atribuir a “invenção” do Eneagrama como ferramenta de desenvolvimento humano. como o demonstra nos seu livro Relatos de Belzebu a seu neto. assim também acontece com o Eneagrama cujos verdadeiros criadores são desconhecidos. já que ele não criou esse teorema. Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 35 Sobre a importante contribuição e atualização do Eneagrama, realizadas por Oscar Ichazo e Claudio Naranjo Não posso deixar de mencionar aqui a importância da atualização e sistematização do Eneagrama feita pelo sábio boliviano, Dr. Oscar Ichazo, e, especialmente as realizadas pelo internacionalmente prestigiado psiquiatra e escritor chileno, Dr. Claudio Naranjo, cuja contribuição e descrições dos Nove Eneatipos foi fundamental para que eu pudesse reconhecer os mesmos nos textos de Gurdjieff. No Congresso de Eneagrama realizado em 2010 em Fortaleza e organizado pela International Enneagram Association - IEA do Brasil, no qual Naranjo recebeu uma merecida homenagem e reconhecimento público pela sua contribuição e obra com relação ao Eneagrama, tive a oportunidade de conversar com ele sobre minha defesa e argumentos de que Gurdjieff conhecia sim a “tipologia eneagramática”, fato que demonstrarei na continuação desta introdução. Aceitando meus argumentos, Claudio me disse: “Porém, você não haveria descoberto isso sem a ajuda das minhas definições (dos Nove Tipos)”. É isto é verdade! Foi a partir do seu notável trabalho e das descobertas de Ichazo, no inicio dos anos 70, no meu país, Chile, que muitos outros pesquisadores e estudiosos do comportamento humano, eu incluído, iniciaríamos importantes e valiosos estudos sobre o tema Eneagrama, um tema que está longe de ser esgotado quando se compreende que este símbolo milenar supera os limites de uma simples tipologia psicológica. Alguns desses estudos, trabalhos e obras já estão traduzidos para o português e são citados na bibliografia complementar. Algo sobre o valor objetivo de certos símbolos e as origens do Eneagrama, segundo G. I. Gurdjieff Gostaria, antes de começar, transcrever aqui algumas palavras de P. D. Ouspensky com as quais me identifico plenamente e que foram ditas por ele no início de uma série de palestras sobre o sistema do Quarto 36 Khristian Paterhan C. Caminho, as quais ficaram reunidas num volume que leva o mesmo título. Ele declarou: “Antes de começar a explicar-lhes de um modo geral sobre o que trata este sistema, e de falar sobre nossos métodos, quero gravar particularmente nas suas mentes que as ideias e princípios mais importantes do sistema não me pertencem. Isto é o que os faz valiosos, porque, se me pertencessem, seriam como todas as outras teorias inventadas pelas mentes correntes: somente dariam uma visão subjetiva das coisas.” Espero que o leitor, a partir de agora, lembre constantemente este importante esclarecimento. No Capítulo XIV do livro Fragmentos de um ensinamento desconhecido, Ouspensky nos revela, baseado em sua notável memória e em notas tomadas durante encontros com Gurdjieff, as milenares origens do Eneagrama. Vou tentar sintetizar ao máximo o texto, citando apenas o necessário para o objetivo desta obra. Primeiramente, Ouspensky nos lembra que Gurdjieff costumava falar de uma antiga “Ciência Objetiva” que não se baseava nos dados e experiências produtos de “estados subjetivos de consciência” e que teria existido na terra há milhares de anos, fruto da experiência de seres altamente evoluídos.3 Esta “Ciência Objetiva” teria como uma de suas idéias centrais “a unidade de todas as coisas, a unidade na diversidade”. Os sábios que compreenderam a importância e profundidade destas ideias perceberam que a transmissão e conservação das descobertas feitas graças a esta “Ciência Objetiva” implicavam um grande esforço 3 Inspirado nesses e outros dados e nos Relatos de Belzebu a seu neto de Gurdjieff, escrevi uma obra de ficção que trata, dentre outras coisas, da provável origem extra-terrestre do Eneagrama, que foi publicada sob o título “Apocalipse 21: Uma Visão do Bem Que Está Por Vir” (Quartet Editora). Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 37 de síntese para conseguir preservá-las e transmiti-las às gerações futuras. Pensaram, então, num meio exato para atingir este importante objetivo. Descobrir esse meio deu, com certeza, muito trabalho a estes sábios, porque na “ciência objetiva, inclusive a ideia de unidade, só pertence à consciência objetiva”, nível no qual a realidade é observada tal qual ela é e que, obviamente, não é um estado habitual entre nós. Com efeito, Gurdjieff ensinava que esta nossa incapacidade de observar a realidade tal qual ela é se devia ao fato de que grande parte da nossa existência, ou quase toda ela, vivemos num estado de “sono e sonho” ou “estado de consciência subjetiva” no qual é impossível “observar” e muito menos “sentir” a realidade tal qual ela é. Por esta razão, é extremamente difícil perceber essa “unidade de todas as coisas”, quando se está habituado a acreditar num “mundo fragmentado” e dividido em “milhões de fenômenos separados e sem ligação”, ainda que intelectualmente até “entendamos” que “algo” unifica tudo. Sabemos que, com efeito, o fato de não compreendermos esta unidade intrínseca de todas as coisas, é uma das principais causas da perigosa situação que temos provocado no equilíbrio ecológico do planeta, a razão dos ódios raciais, das injustiças sociais, dos conflitos e separatismos religiosos e políticos e de tantos outros nefastos efeitos produtos do que Buda chamou, “sentimento de separatividade” que afeta a psique humana. Cientes destas nossas limitações, estes sábios decidiram que o único meio de transmitir seus conhecimentos objetivos era utilizando, entre outros recursos, símbolos especiais, os quais conteriam, graças a uma síntese matemático-psicológica exata, os principais dados dessa “Ciência Objetiva”. Ou seja, eles poderiam ser resgatados no futuro por aqueles que trabalhassem profunda e seriamente para conhecerem a si mesmos além das suas subjetivas e limitadas personalidades. Esta previsão foi acertada e, por esta razão, novamente o Eneagrama foi atualizado conservando sua extraordinária exatidão matemática, cuja origem exata continua sendo ainda um mistério. Os símbolos aos quais se referia Gurdjieff, “continham os diagramas das leis fundamentais do universo e transmitiam não só a própria ciência, mas mostravam igualmente o caminho para chegar a ela. O estudo dos 38 Khristian Paterhan C. símbolos, da sua estrutura e significação, era parte muito importante dessa necessária preparação sem a qual não é possível receber a ciência objetiva, e era uma prova do porque uma compreensão literal ou formal dos símbolos se opõe à aquisição de qualquer conhecimento ulterior. Os símbolos eram divididos em fundamentais e secundários; os primeiros compreendiam os princípios dos diferentes ramos da ciência; os segundos exprimiam a natureza essencial dos fenômenos em sua relação com a unidade.” Entre as leis fundamentais sintetizadas nesses símbolos que “exprimiam a natureza essencial dos fenômenos em sua relação com a unidade”, duas são de fundamental importância para compreender os ensinamentos de Gurdjieff: a “Lei de Três” e a “Lei de Sete”, conhecida também como “Lei de Oitava” por sua relação com a escala musical e sua sequência dó, ré, mí, fá, sol, lá, si, dó que guarda dentro de si as relações matemáticas, associadas ao som correspondente a cada nota musical. “As leis fundamentais das tríades e das oitavas penetram todas as coisas e devem ser estudadas simultaneamente no homem e no universo”, ensina Gurdjieff. Porém, devido ao fato de existir num nível de consciência subjetiva, o homem precisa primeiro iniciar o estudo dessas duas leis em si mesmo, para depois compreender suas manifestações universais: “Mas o homem é, para si mesmo, um objeto de estudo e de ciência mais próximo e mais acessível que o mundo dos fenômenos que lhe são exteriores. Por conseguinte, esforçando-se por atingir o conhecimento do universo, o homem deverá começar por estudar em si mesmo as leis fundamentais do universo.” Por outro lado, o conhecimento dos símbolos e das leis fundamentais que eles guardam não pode ser apenas “teórico”, já que, nesse nível, os símbolos ainda estão sujeitos a interpretações errôneas devido à nossa forte subjetividade e ao nosso ainda baixo nível de consciência. Daí que, para compreendê-los profundamente, deve-se atingir um nível no qual as Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 39 considerações subjetivas que provocam discussões e contradições sejam superadas completamente, o que exige um profundo conhecimento de si mesmo, único modo de compreender as leis fundamentais do universo, ou seja: “(...) a verdadeira compreensão dos símbolos não pode prestarse a discussões”. Para quem pretende atingir esse nível de compreensão, Gurdjieff adverte: “(...) se alguém imagina poder seguir o caminho do conhecimento de si, guiado por uma ciência exata de todos os detalhes, ou se espera adquirir tal ciência antes de se ter dado o trabalho de assimilar as diretrizes que recebeu, no que concerne a seu próprio trabalho, engana-se; deve compreender, antes de tudo, que nunca chegará à ciência (objetiva) antes de ter feito os esforços necessários e que somente seu trabalho sobre si mesmo permitirá atingir o que busca. Ninguém lhe poderá dar o que ele ainda não possui; nunca ninguém poderá fazer por ele o trabalho que ele deveria fazer por si mesmo. Tudo o que outro pode fazer por ele é estimulá-lo a trabalhar e, desse ponto de vista, o símbolo compreendido como deve ser, desempenha o papel de um estimulante em relação à nossa ciência (objetiva)”. A advertência de Gurdjieff mostra-se claramente necessária, já que, nos nossos dias e apesar de todos os nossos avanços e conhecimentos “teóricos”, ainda não compreendemos a importância de “leis básicas” como a de “causa e efeito”, por exemplo, pois, se as compreendêssemos, primeiro em relação a nós mesmos e, em seguida, em relação à natureza da qual somos parte, concluiríamos, sem ter que discutir e sem “subjetividades” de nenhuma espécie, que uma série de erros simplesmente não poderia ser cometida sob nenhum aspecto, se as aplicássemos “objetivamente”. Porém, a maioria não tem consciência de que muitos “efeitos” indesejáveis e negativos só existem porque não somos conscientes dos nossos atos, ou seja, não “compreendemos” o que essa lei de “causa e efeito” implica, ainda que sejamos capazes de “decorála” quando passamos pelo colégio. Também vemos que essa falta de 40 Khristian Paterhan C. “compreensão” acontece inclusive em relação a signos simples, que são meios de expressar certos dados menos profundos que os contidos nos símbolos, porém, não menos importantes na prática. Assim, por exemplo, um sujeito pode “aprender”, por meio do Regulamento do Trânsito, que um cartaz ou painel de fundo amarelo com a figura em cor preta de uma criança que carrega livros significa: “atenção-diminua-a-velocidade-do-seucarro-porque-você-está-passando-por-um-local-próximo-a-uma-escola-ecrianças-menos-responsáveis-que-você-que-é-adulto-estão-por-perto, etc., etc.” Porém, o fato de este sujeito “aprender” a “interpretar” esse “sinal de trânsito”, internacionalmente aceito, não implica necessariamente que compreendeu a necessidade de obedecê-lo, e pode vir a atropelar uma ou várias crianças que, “acidentalmente”, estejam perto da dita escola no dia em que ele não respeite esse “signo”. O “estímulo” para a compreensão foi dado, porém não foi “vivenciado” pelo sujeito que o recebeu. Voltemos ao assunto dos símbolos e das chamadas “leis fundamentais”. Gurdjieff afirma, em outra parte do Capítulo XIV da citada obra de Ouspensky, que: “a lei de oitava conecta todos os processos do universo e, para aquele que conhece as oitavas de transição e as leis de sua estrutura (ou seja, a Lei de Três e a Lei de Sete), surge a possibilidade de um conhecimento exato de cada coisa ou de cada fenômeno em sua natureza essencial, bem como de todas as suas relações com as outras coisas e com os outros fenômenos”. Então nos revela que, “para unir, para integrar todos os conhecimentos relativos à lei da estrutura da oitava, existe um símbolo que toma a forma de um círculo cuja circunferência se divide em nove partes iguais, mediante pontos ligados entre si, numa certa ordem, por nove linhas”. Ou seja, o Eneagrama. Os sábios que deram origem a este símbolo-síntese não pertenciam, ensina Gurdjieff, a nenhuma das linhas de conhecimento “tradicional” conhecidas na atualidade: nem hebraica, nem egípcia, nem iraniana, nem hindu, nem qualquer outra conhecida. A despeito de respeitáveis tradições desejarem ser os “pais da criança”, como se diz aqui no Brasil, este símbolo “não poderia ser encontrado em nenhum de seus livros”, e, embora se atribua o Eneagrama aos respeitáveis místicos sufis e suas ” Observe que Gurdjieff está se referindo a um sistema de conhecimento a que ele teve acesso e no qual o Eneagrama é um. até a data em que Gurdjieff o revelou aos seus discípulos]. utiliza o método simbólico e um de seus símbolos principais é a figura que mencionamos. mais símbolos. por exemplo.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 41 tradições orais. A descrição que Gurdjieff faz do Eneagrama nesse mesmo capítulo é a seguinte: “Este símbolo toma a seguinte forma: Figura 1 . o que significa que nesse sistema existem. até hoje [ou seja. independente de todos os outros caminhos e. Gurdjieff sustenta que este símbolo “não é objeto de uma tradição oral”. isto é. o círculo dividido em nove partes. somente um. cuja teoria expomos aqui. alguns dos quais Gurdjieff revelou indiretamente por meio das suas exatas “Danças Conscientes”. Quando discute as origens do Eneagrama Gurdjieff ensina: “O ensinamento. tinha permanecido inteiramente desconhecido. é completamente autônomo. Como outros ensinamentos. ou existiam. que você pode apreciar no filme baseado em sua obra autobiográfica “Encontros com homens notáveis” dirigido por Peter Brook . dos símbolos principais. ” Ampliando suas explicações matemáticas sobre este símbolo. quatro. ... a desigualdade de partes não é levada em consideração e... toma-se primeiro um sétimo.  3/7 = 0.. devemos dividir essa unidade em sete partes desiguais correspondentes às sete notas dessa oitava.. Se calcularmos as partes decimais.  2/7 = 0.. depois dois sétimos.. Gurdjieff diz: “As leis da unidade refletem-se em todos os fenômenos. 5/7 = 0. em todas as restantes “encontram-se presentes os mesmos seis algarismos. dentre os nove. quando se conhece o primeiro algarismo do período. 428571.) [porque eles] formam o triângulo separado – a trindade livre do símbolo”. O sistema decimal foi construído sobre as mesmas leis.. Esse ponto é o vértice de um triângulo equilátero construído sobre aqueles pontos. 999999.  6/7 = 0. Você também observou que nesses períodos “os números 3.. 714285. que trocam de lugar segundo uma sequência definida.. torna-se possível reconstruir o período inteiro”. de tal modo que.  7/7 = 0.. A figura construída sobre seis desses pontos tem por eixo de simetria o diâmetro que desce do ponto superior. 6 e 9 não estão incluídos (. na representação gráfica. Se tomarmos uma unidade como uma nota que contém em si mesma uma oitava inteira. com exceção da última dízima periódica. que estão situados fora da primeira figura.. para a construção do diagrama.. cinco. depois três.42 Khristian Paterhan C. = 1 Você pode observar que. O Círculo está dividido em nove partes iguais. 142857. Mas..  4/7 = 0.. 857142. obteremos: 1/7 = 0. seis e sete sétimos. 571428. 285714. 4. e que se conhece como “movimento eneagramático externo” e se expressa por “setas” que indicam a direção desse “movimento” contínuo: 1 g 4 g 2 g 8 g 5 g 7 g 1 .Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 43 Se você leitor prestou atenção à sequência definida segundo a qual os algarismos trocam seus lugares. . 8. 2. está em condições de compreender o “movimento” que este símbolo representa. e assim por diante: Figura 2 8 1 7 2 5 4 Aqui o triângulo equilátero é considerado como uma “unidade” e os 6 “pontos” (1. 5 e 7) lembram a “Lei de Sete” ou “Lei de Oitava” (6 + 1 = 7). é: 9 .. conhecido como “interno”. (.. não compreende. Numa dessas ocasiões revelou que: “(.6 . e são indicados com as “setas” correspondentes: Figura 3 Estas indicações preliminares serão importantes quando considerarmos os Tipos Eneagramáticos e seus movimentos psicológicos contra e/ ou a favor da seta de acordo com seu “Traço ou Defeito Principal”.3 . E não é difícil compreender por que não podiam encontrá- .3.) é necessário compreender que o Eneagrama é um símbolo universal. alguma coisa que ignorava até então. etc. E cada vez aprenderia alguma coisa nova.) O Eneagrama é o movimento perpétuo.. sob este aspecto.44 Khristian Paterhan C. 6 e 9 ficam nos vértices do triângulo e seu “movimento”. é possível dizer que um homem só conhece realmente. sempre em vão.) Se um homem isolado no deserto traçasse o Eneagrama na areia.. é esse perpetuum mobile que os homens buscaram desde a mais remota antiguidade.6 . só compreende aquilo que é capaz de situar no Eneagrama.. nele poderia ler as leis eternas do universo. E. isto é. Qualquer ciência tem seu lugar no Eneagrama e pode ser interpretada graças a ele.. Os números 3.” E mais: “(.9 . Ouspensky deixou registrado também que “Gurdjieff voltou ao Eneagrama em múltiplas ocasiões”. O que não é capaz de situar no Eneagrama.. . é apenas sob uma forma incompleta e teórica. A aplicação psicológica do Eneagrama nos ensinamentos de Gurdjieff OS TRÊS CENTROS BÁSICOS: Como profundo conhecedor do Eneagrama. G. o símbolo vivo está em movimento.) A compreensão desse símbolo e a capacidade de utilizá-lo dão ao homem um poder muito grande (. de certo modo. está sendo tornada acessível a todos. . para facilitar o estudo e a compreensão de si mesmo.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 45 lo. Como lembra Ouspensky. a encontrar exemplos e assim por diante”...) A ciência do Eneagrama foi mantida secreta durante muito tempo e. “tentava inicialmente ensinar-nos a distinguir essas funções.” Gurdjieff também diz: “(.. É sobre esse “movimento” que tratamos neste livro à luz dos ensinamentos de Gurdjieff. Buscavam fora de si o que estava dentro deles (. I. o Eneagrama deve ser pensado como em movimento.” Um dos “movimentos” do Eneagrama tem relação com os aspectos dinâmico-psicológicos que diferenciam os seres humanos uns dos outros como já foi mostrado. Centro Emocional e Centro Motor. ele dividia o ser humano. em três níveis ou “centros” básicos: Centro Intelectual. Para ser compreendido.). praticamente inutilizável para quem não tenha sido instruído nessa ciência por um homem que a possua. Gurdjieff baseou todo o seu método de desenvolvimento humano na aplicação deste símbolo milenar e nas leis das quais ele é a síntese: a “Lei de Sete” e a “Lei de Três”. como se movendo. se agora. Baseado na “Lei de Três” presente no Eneagrama... Um Eneagrama fixo é um símbolo morto. 3 e 4. finalmente. 9 e 1.46 Khristian Paterhan C. 6 e 7. para cada Centro. os associados ao Centro Emocional são 2. revelada por Gurdjieff a seus alunos e que foi preservada por Ouspensky no Capítulo IX da obra citada. Não tratarei deste tema aqui por sua complexidade e porque só costumo falar sobre ele com quem já tem um certo tempo de prática com o Eneagrama. e. No Eneagrama esses “centros” têm a seguinte localização: Figura 4 Centro Motor ou Centro do Movimento 9 8 1 7 2 Centro Intelectual 6 Centro 3 Emocional 5 4 Você pode observar como. Os números associados ao Centro Motor são: 8. Obedece a uma ordem exata. . existe uma manifestação eneagramática “tripla” e um correspondente vértice do triângulo central. A localização dos Centros como se vê no gráfico não é aleatória. os associados ao Centro Intelectual são 5. Ao contrário do que geralmente se divulga. o reprodutor e pernas.3).9. nos Pontos 4 e 5 devemos imaginar a cabeça. descobri que no Eneagrama devemos observar o ser humano ao contrário (Figura 5): ou seja.1). localizamos o sistema digestivo. o cérebro. e no Centro Emocional o lado direito do corpo até o umbigo. no Centro Intelectual o lado esquerdo do corpo até o umbigo. suas partes e hemisférios cerebrais: no Ponto 5 o Hemisfério Cerebral Esquerdo (HCI) e no Ponto 4 o Hemisfério Cerebral Direito (HCD). Por último. abarcando os órgãos desse lado do corpo e o braço e mão esquerda (Pontos 6 e 7). no Centro Físico ou do Movimento (Pontos 8. que chamo de “O Eneagrama Invertido”. vou apresentar aqui uma nova visão do Eneagrama. .Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 47 Figura 5 Centro do Movimento Pé esquerdo Pé direito Mão esquerda Mão direita HCI (Centro Intelectual) HCD (Centro Emocional) Relação dos Três Centros com nossa Bilateralidade Cerebral e os Três Cérebros Antes de continuar. os órgãos desse lado do corpo e braço e mão direita (2. O Límbico: relacionado com o Centro Emocional e com os nossos sentimentos e aos Pontos 2. já que. 3 e 4 do Eneagrama Invertido. uma das questões mais descuidadas na educação é a do desenvolvimento das faculdades do Hemisfério Cerebral Direito. Daí a importância do desenvolvimento harmonioso dos três Centros. e.48 Khristian Paterhan C. e. 3. camada do nosso cérebro que temos em comum com os répteis e mamíferos e que é responsável por nossas manifestações instintivas tais como a sobrevivência (Ponto 9 do Eneagrama) . O Neocórtex: relacionado ao Centro Intelectual e aos Pontos 5. Esta camada do cérebro presente também nos mamíferos. O Reptiliano: relacionado com o Centro Físico da AÇÃO e ATIVI DADE e com os Pontos 8. Este Centro está conectado principalmente com o Cerebelo. inclui o Tálamo e Hipotálamo e se relaciona ao controle do comportamento e do sistema nervoso autônomo. relacionado com o Centro Emocional no Eneagrama. aos nossos instintos. 6. a luta e com nossa necessidade de poder e de hierarquias (Ponto 8 do Eneagrama) e com hábitos. segundo ele somos seres TRICEREBRAIS ou de Três Cérebros. um descuido quase total com o desenvolvimento do Centro Físico ou do Movimento relacionado. já que. 2. De acordo com o princípio de bilateralidade cerebral o Hemisfério Cerebral Esquerdo rege o lado direito do ser humano (Centro Emocional) e o Hemisfério Cerebral Direito rege o lado esquerdo do ser humano (Centro Intelectual). 7 do Eneagrama Invertido. Gurdjieff dava extrema importância ao desenvolvimento equilibrado de todos os Centros como única maneira de formar um ser humano mais harmonioso. com a reprodução. 9 e 1 do Eneagrama Invertido. uma supervalorização do desenvolvimento das faculdades relacionadas ao Hemisfério Cerebral Esquerdo. Esta camada do cérebro que compartilhamos com os mamíferos superiores é considerada subjetivamente a . Estes são: 1. condicionamentos e rotinas (Ponto1). em parte. ligado ao Centro Intelectual no Eneagrama. com a chamada “linguagem simbólica” (Ponto 6 do Eneagrama Invertido) e com a linguagem conceitual e verbal. por meio das escolas conectadas com o que Gurdjieff chamava “Círculo Consciente da Humanidade”. Por esta razão. Refiro-me aos Três Grupos de Seres Humanos Básicos e aos Quatro Grupos de Seres Humanos que correspondem a níveis superiores de evolução consciente. I. Todos possuímos estes Três Cérebros ou Centros. Para ele os Grupos de Seres Humanos “Um. 3 Eneagramáticos e seus Traços Principais. porém. um deles é predominante em nossas vidas e atividades.2. segundo G. que não devemos confundir com os números dos Tipos 1. Vejamos. tendo a maioria se limitado a repetir o que Ouspensky escreveu a respeito. Gurdjieff Gurdjieff ensinava que existem Três Grupos de Seres Humanos Básicos. é possível apreender uma segunda divisão de Gurdjieff. “Homens número Dois” e “Homens número Três”. os dos “Homens número Um”. Dois e Três constituem a humanidade mecânica. este terceiro cérebro é chamado de “centro da inteligência” ou “cérebro inteligente”. Os Três Grupos de Seres Humanos Básicos e os Quatro Grupos Superiores de Seres Humanos. mas pouco conhecida. Como possui neurônios altamente especializados que possibilitam ao ser humano a realização de múltiplas tarefas simultâneas (Ponto 7 do Eneagrama). a divisão básica do ser humano em Três Centros é muito importante no estudo do Eneagrama. .Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 49 mais “evoluída” e esta relacionada com nossa capacidade de raciocinar (Ponto 5 do Eneagrama Invertido). cujo profundo valor sequer se suspeita. na qual os seres humanos permanecem no nível em que nasceram”. Só poderiam ascender a um nível superior de consciência mediante um trabalho perseverante de autoconhecimento que objetivasse a evolução individual. maior. Note-se que novamente estão presentes aqui as Leis de Três e de Sete. Compreendendo-a. Quando sadios procuram tudo o que lhes “agrada”. segundo Gurdjieff.] O saber [dos seres humanos Três] é um saber fundado num pensar subjetivamente lógico. teriam o “centro de gravidade de sua vida psíquica no Centro Motor”. só que com menor poder de influência e desenvolvimento. (Neocortex) Naturalmente. segundo Gurdjieff. segundo Gurdjieff. é o [ser humano] racional. numa compreensão literal [. seriam aqueles nos quais o “centro de gravidade de sua vida psíquica está no Centro Emocional.. 9 e 1 e.. em palavras. (Reptiliano) Os seres humanos do Grupo número Dois correspondem no “Eneagrama dos Traços Principais” aos Tipos 2. [o ser humano] emocional”. para cada aspecto predominante. (Límbico) Os seres humanos do Grupo número Três correspondem no “Eneagrama dos Traços Principais” aos Tipos 5. é [o ser humano] em quem as funções intelectuais predominam sobre as funções emocionais. o que “gostam”. instintivas e motoras. Aprendem somente o que lhes “agrada”. é o tipo de ser humano “cujo centro de gravidade da sua vida psíquica está no Centro Intelectual.50 Khristian Paterhan C. fiz o seguinte gráfico: . 3 e 4 e. e. Seriam os homens “do corpo físico. Estes aprendem por imitação. noutros termos.]”. que parte sempre de considerações mentais [. Para “visualizar” esta divisão da humanidade. Os seres humanos do Grupo número Um correspondem no “Eneagrama dos Traços Principais” aos Tipos 8. que tem uma teoria para tudo o que faz. quando “doentios” são atraídos para o que os “desagrada”.. [o ser humano] em quem as funções emocionais predominam sobre as outras é [o ser humano] do sentimento. por memorização e por repetição. 6 e 7 e.. em quem as funções do instinto e do movimento predominam sobre as do sentimento e do pensar”. existem outros dois. que estão iniciando um processo de evolução consciente) e três Grupos de Seres Humanos Superiores. 9 e 1 9 8 1 7 2 Centro 6 Intelectual 3 Centro Emocional 5 Centro Intelectual / Seres Humanos do Grupo número Três de Gurdjieff / Tipos Eneagramáticos 5. a manifestação plena do que ele chamava de “Centros Superiores”. que existem só potencialmente nas primeiras três categorias “mecânicas”. Dois ou Três. permitindo. 6 e 7 4 Centro Emocional / Seres Humanos do Grupo número Dois de Gurdjieff / Tipos Eneagramáticos 2. 3 e 4 Além destes Três Grupos de Seres Humanos Básicos. Ao ser humano do Grupo número Quatro Gurdjieff o definia como aquele que. consciente e gradual. a partir do quinto nível evolutivo. conhece um sistema de trabalho interno.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 51 Figura 6 Centro Motor Seres Humanos do Grupo número Um de Gurdjieff Tipos Eneagramáticos 8. tendo nascido nos Grupos Psicológicos Um. Gurdjieff definia um grupo de Seres Humanos Intermediários (ou seja. produtos de uma evolução deliberada. fruto de um conhecimento exato relacionado com o desenvolvimento objetivo de novos níveis de consciência e nos quais os Três Centros estão em equilíbrio. e com alguns sinais básicos de manifestação na quarta categoria. que lhe permite desenvolver . Possui um Eu indivisível e todo o seu conhecimento pertence a esse Eu. Não pode mais ter um ‘eu’ que saiba alguma coisa sem que outro ‘eu’ esteja informado disso. deixo um insight que tive em relação a estes ensinamentos e que resumi no seguinte “Eneagrama da evolução possível do homem” da minha autoria. nele. “já começa a se conhecer. Além disso. vivencial. diferentemente dos que pertencem aos três primeiros Grupos. para cuja confecção apliquei o Princípio Hermético de Correspondência.52 Khristian Paterhan C.]. é o saber objetivo e totalmente prático (ou seja.4 4 Sobre o “7 Princípios Herméticos” consultar minha obra Iniciação e Autoconhecimento: Um Guia para o seu Despertar Espiritual.O saber do homem [do Grupo] número Seis representa a integralidade do saber acessível ao homem. seus centros psíquicos já começaram a se equilibrar. 6 e 7 do Eneagrama). O que ele sabe. não confundir com os Tipos 5. como é o caso das três primeiras categorias”. Seis e Sete (repito.” Em seguida e para reflexão dos conhecedores do Quarto Caminho e interessados no autoconhecimento e na evolução “espiritual” da humanidade. O saber do homem [do Grupo] número Sete é bem dele e não lhe pode mais ser tirado. Seu saber está mais próximo do saber objetivo [lembra o que já revelamos sobre o conhecimento objetivo anteriormente?] do que pode estar o do homem número Quatro. de sua apreciação do trabalho (interno) e de sua relação com a escola (na qual aprende a realizar esse trabalho de autoconhecimento). Sobre os seres humanos das categorias Cinco. . sabe com a totalidade de seu ser. a Lei de Três e a Lei de Sete.. Gurdjieff se refere apenas ao tipo de saber que desenvolvem com as seguintes palavras citadas por Ouspensky: “O saber do homem [do Grupo] número Cinco é um saber total e indivisível [. não teórico) de Tudo. nele “um centro de gravidade permanente feito de suas ideias.. Gurdjieff completa dizendo que este tipo de ser humano. começa a saber para onde vai”. mais ainda pode ser perdido. um centro não pode mais ter preponderância sobre os outros. Escolas Iniciáticas (ou Preparatórias) de 1º. Visão parcial e subjetiva da realidade e do mundo. . Seres humanos dos Grupos Um. centros superiores atualizados e completando o nível de consciência objetiva). Dois e Três. Seres humanos do Grupo Seis (plena consciência de si. 3. 4. religiosos. Traços Principais são desconhecidos e dominam suas manifestações egóicas (Humanidade mecânica de Gurdjieff). esotéricos. fraternais. Necessidade de superesforços para manter o processo em andamento. Seres humanos do Grupo Cinco. através de leituras. mas ainda podem sofrer “desvios”. Seres humanos do Grupo 7. Grandes riscos de erros e desvios no processo. sectários etc. Mestres visíveis. 5. Primeiro Ponto de choque consciente para a evolução. Três Centros em equilíbrio. Geralmente já estão em contato com Escolas preparatórias corretas. Nível dos ‘’Três em Um’’ ou da Tri-Unidade. métodos de auto-ajuda. 3º e 4º Caminhos. 1. 2. 2º. por meio de instituições e/ou grupos místicos. 6. Triângulo interno. terapias. Círculo Interno da Humanidade 8. Iniciam Atualização dos Centros Superiores. Nível da consciência subjetiva (Humanidade “mecânica”) 7. métodos e sistemas diversos.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 53 Figura 7 Nível da possível evolução humana (Consciência de si e Consciência objetiva) 9. análises de diversas linhas. de acordo com o Grupo humano a que pertencem e a seus Traços Principais. Seres humanos do Grupo Quatro (em desenvolvimento da consciência de si). Tipos Eneagramáticos não trabalhados. (Possuidores de consciência objetiva. emocional e intelectual em desequilíbrio. Maior desenvolvimento da consciência de si e iniciando o desenvolvimento da consciência objetiva. Segundo Ponto de choque consciente. – Níveis físico. Os três centros inferiores iniciam o processo de equlíbrio. Seres humanos que desejam conhecer a si mesmos e iniciam processos de autoconhecimento e de elevação de seus níveis de consciência subjetiva. Seres humanos cujos processos de autoconhecimento começam a ter resultados objetivos e demonstram maior controle de seus Traços Principais. Realizados). 54 Khristian Paterhan C. Enquanto não soubermos o que implica tudo isso. É fácil comprovar que existem motivações básicas bem diferentes. querem ampliar suas possibilidades de servir aos outros com sucesso já que isto as satisfaz e realiza. Muitas pessoas iniciam seus primeiros esforços em busca do autodomínio e do autoconhecimento estimuladas pela expectativa dos sonhados benefícios espirituais. querem aprender a controlar suas emoções e as das outras pessoas. já que. perceber e aceitar que vivemos sujeitos a um nível de consciência subjetivo e “mecânico” e que fazemos parte de um desses três grupos psicológicos básicos de seres humanos ensinados por Gurdjieff. A importância do estudo prático e vivencial do Eneagrama para o autoconhecimento É fácil observar no gráfico anterior (Figura 7) como são importantes o estudo e o conhecimento de si mesmo por meio do Eneagrama. primeiramente. maior controle das situações e dos demais. pessoas do Grupo Três (Centro Intelectual) querem saber quais são as causas e as leis que governam seus mundos internos. querem conhecer . nos podem conduzir a níveis de desenvolvimento muito elevados. Pessoas do Grupo Um (Centro Motor) talvez desejem obter maior poder pessoal. Pessoas do Grupo Dois (Centro Emocional) querem lidar e interagir melhor com as pessoas em termos emocionais. objetivando “resultados materiais”. Emocional e Intelectual). não será possível compreender por que é fundamental o Eneagrama para iniciar este processo objetivamente. as diversas razões pelas quais uma pessoa deseja ter maior domínio e conhecimento de si mesma podem claramente ser diferenciadas e definidas quando sabemos a qual dos grupos principais ela pertence como ser humano. Porém. Iniciar um processo de autoconhecimento implica. Em segundo lugar devemos compreender que o único meio para nos livrarmos dessa “mecanicidade” passa necessariamente por um processo de aprimoramento que não pode ser improvisado e que deverá incluir o desenvolvimento harmonioso dos Três Centros (Físico. maior domínio de si mesmas. teoricamente. Por último. materiais e individuais que isso lhes poderá proporcionar. o ser humano não é realmente “livre”. Qual é o Grupo (Um. O que dificulta o estudo prático de si mesmo é o fato de as pessoas não se darem conta do que implica ser parte de uma humanidade mecânica ou que vive num baixo nível de consciência. quais são essas características mecânicas e previsíveis que acompanham essa nossa determinada e “mecânica” manifestação pessoal. pelo qual um dos Centros se tornou mais “sensível” que os outros aos “estímulos externos” e “interpreta” a realidade a partir de “necessidades” e “motivações” diferentes. em todas elas.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 55 as causas pelas quais os fenômenos acontecem. Em primeiro lugar. tudo simplesmente lhe acontece. porque por meio dele conseguiremos saber: 1. É muito difícil compreender e aceitar esta afirmação porque todos achamos que “fazemos” e que somos “livres”. lembrança e . modos de agir e/ou reagir perante a existência são “conscientemente” escolhidos ou mesmo originais. algo das motivações que influenciam com maior força os outros dois grupos aos quais não pertencem. Dois ou Três) ao qual pertenço como ser humano no nível “mecânico”. querem ter os conhecimentos que lhes permitam compreender a vida e a si mesmas. É aqui que o Eneagrama dos Traços ou Tipos Principais se torna valioso. O único meio de que dispomos para nos livrarmos dessa “mecanicidade” é conhecer como ela se manifesta em cada um de nós. no nível de consciência habitual ou subjetivo. falando em termos estritos. ou seja. talvez queiram apenas “saber”. Gurdjieff ensina que nesse nível o ser humano não faz. 2. nenhum ser humano nos três Grupos (Físico. Emocional e/ou Mental) poderia considerar que suas condutas. Naturalmente. Qual é o Traço ou Defeito Principal (são três para cada grupo). ou seja. Só que. ainda que em menor grau. já que todos os que integram esses grupos agem e reagem pelas mesmas causas básicas. Esta é uma das verdades mais provocantes que o Eneagrama nos permite “descobrir”. A razão é que em todos os três Grupos é possível perceber um desenvolvimento psicológico unilateral. no qual devo concentrar meus esforços de observação. está presente. Vamos. A Identificação . pude. O Eneagrama dos Nove Traços (Tipos) principais segundo Gurdjieff Gurdjieff costumava usar uma linguagem muito exata para transmitir seus conhecimentos. segundo foram revelados. a partir daí. ter a possibilidade de passar para o 4to Tipo de seres humanos. autocontrole para superá-lo e conseguir efetivamente o real conhecimento de mim mesmo. David Daniels e outros pesquisadores do tema. O Esquecimento de Si Mesmo 2. A Consideração Interna 3. os Três Problemas Fundamentais e Nucleares que segundo Gurdjieff impedem o autoconhecimento e a realização humana são: 1. e de autores como Don Richard Risso. de tal maneira que seus conceitos podem ser muito bem identificados e diferenciados por alguém que estude e reflita sobre sua obra com atenção. eneagramaticamente falando. que me ajudará a aprimorar meu autoconhecimento e autodomínio. 3. Isso me permitiu realizar a análise eneagramática dos mesmos e definir explicitamente o Eneagrama dos Traços Principais implícitos nas obras de Gurdjieff e Ouspensky. concluir que. então. pesquisados e comentados nas obras do próprio Naranjo. Baseado nesta experiência e comparando essas observações com os estudos e descobertas eneagramáticos feitas por Ichazo e Naranjo. Helen Palmer. e. ao longo do tempo. relacionado com meu grupo e Traço Principal. Qual o trabalho específico.56 Khristian Paterhan C. conhecer o Eneagrama dos Traços ou Tipos e suas três causas principais. os Tipos 8. os Tipos 1. que podemos e devemos associar aos Três Grupos Humanos Básicos. 9 e 1. ou seja. b) Os seres humanos proteladores e esquecidos de si mesmos que se caracterizam por sofrer do que Gurdjieff chamava de a “doença do amanhã”. cujo centro de gravidade psicológico está localizado no Centro Motor ou do Movimento. “certas” e “erradas”. ou seja. c) Os seres humanos que se caracterizam por uma forte inclinação a separar as coisas em “boas” e “más”. surgem: a) Os seres humanos que se caracterizam por um constante estado de luta e defesa contra tudo o que parece estar contra eles.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 57 Destes três problemas principais. “corretas” e “incorretas”. revoltados. ou seja. sempre acham que alguma “injustiça” está sendo cometida contra eles. surgem os seguintes Traços Principais: Do Primeiro Grupo: associado ao Esquecimento de Si Mesmo. 8 1 Questão Nuclear: Esquecimento de Si Mesmo / Traços ou Defeitos Principais: A “revolta” (8) A “Doença do amanhã” (9) e a “Moral Externa ou subjetiva” (1). os Tipos 9. 9 Figura 8 Grupo Um dos seres humanos / Centro Motor ou do Movimento / Tipos 8. 9 e 1. questão nuclear que afeta os seres humanos Tipos 8. . ao que Gurdjieff denominava a “Moral Externa” ou “moral subjetiva”. os Tipos 3. ou seja. ou seja. Questão Nuclear: Identificação / Traços ou Defeitos Principais: “Amor escravo” (2). que não dão o suficiente de si e que se tornam escravos dos outros quando amam. 3 e 4. Do Segundo Grupo: Da Identificação. ou seja. 4 3 2 . os Tipos 4. Identificados com as emoções alheias. Figura 9 Grupo Dois dos seres humanos / Centro Emocional / Tipos 2. questão nuclear que afeta os seres humanos Tipos 2. que exigem admiração. aqueles para os quais o “sofrimento inconsciente” se tornou uma escravidão. ou seja. Identificados com a “imagem” necessária para obter a consideração alheia. Identificados com seus próprios “sofrimentos”. 3 e 4 e cujo centro de gravidade psicológico está localizado no Centro Emocional. surgem: a) Os seres humanos que se caracterizam por acreditar que não consideram os outros o suficiente. estima e consideração constante dos outros para que se sintam agradados e felizes.58 Khristian Paterhan C. A “Exigência” de atenção (3) e o “Sofrimento tolo” (4). os Tipos 2. c) Os seres humanos que sofrem “tolamente”. b) Os seres humanos que se caracterizam por suas “exigências”. “originais”. ou seja. b) Os seres humanos que estão sob o controle do “medo” e/ ou que “deixam de ver e ouvir o que realmente acontece”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 59 Do Terceiro Grupo: Da Consideração Interna. surgem: a) Os seres humanos que só vivem “pelo mental”. O “Medo” (6) e a “Falsa liberdade” (7). ou seja. ou seja. questão nuclear que afeta os seres humanos Tipos 5. que se acham “notáveis”. que acham que possuem “vontade própria” para “escolher. 6 5 . os Tipos 6. que aprendem sem compreender. os Tipos 7. os Tipos 5. 6 e 7. 6 e 7 e cujo centro de gravidade psicológico está localizado no Centro Intelectual. 7 Questão Nuclear: Consideração Interna / Traços ou Defeitos Principais: “Viver no mental (5). Figura 10 Grupo Três dos seres humanos / Centro Intelectual / Tipos 5. dirigir e organizar livremente suas vidas”. c) Os seres humanos que têm a ilusão de serem “livres”. esta recomendação se reveste de especial importância para os Tipos 8. deve ser considerado com maior atenção. cito as principais definições que ele deixou destes três problemas nucleares: SOBRE O EsQUECIMENTO DE SI MEsMO: Gurdjieff dizia: “.. antes de tudo.60 Khristian Paterhan C. vocês não são conscientes de si mesmos. o homem se esquece de si mesmo sem cessar. Para chegar a observar verdadeiramente. como um meio para alcançar a consciência de si. isso observa. Tudo se observa sozinho. era fundamental que todos conseguissem observá-los em si mesmos.. isso ri. . por se tratar de um ponto nuclear que afeta todos os Tipos e se manifesta em todos os Defeitos ou Traços Principais.. isso pensa. Para ele. vocês nunca se lembram de si mesmos. Vocês não sentem a si mesmos. vocês não sentem: sou eu quem observa. Por quê? Porque.. 9 e 1. Sua impotência em lembrar-se de si é um dos traços mais característicos de seu ser e a verdadeira causa de todo o seu comportamento. é necessário. Sendo “nucleares”. eu observo. ou então isso fala. os quais deverão considerá-la especialmente. porém aquele relacionado com o grupo ao qual você pertence. afetam todos os Tipos Eneagramáticos. por exemplo.” Embora sirva para todos. quando Tipos 8 se fixam demais na conquista do externo. se vê sozinho..” Também podemos ler: “Vocês se esquecem sempre de si mesmos. eu vejo. Definições de Gurdjieff consideradas para o estudo dos Traços (defeitos) Principais Definição dos três problemas nucleares: Esquecimento de Si Mesmo. Sendo meu interesse principal destacar a obra e os ensinamentos deste mestre. lembrar-se de si mesmo. eu noto. Identificação e Consideração Interna e sua relação com os Tipos Eneagramáticos: Gurdjieff permanentemente chamava a atenção dos seus alunos para os três problemas nucleares. Em vocês.. uma das características fundamentais da atitude do homem para consigo mesmo e para com os que o rodeiam [é] sua constante identificação com tudo o que prende sua atenção. ou seja: que não nos lembramos de nós mesmos. D. “esquecem” de considerar as coisas sob outros ângulos e. estão demonstrando o “esquecimento” de si mesmos. e. O homem está sempre em estado de identificação. P. no entanto.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 61 “esquecem” do valor de seus mundos internos. é difícil separá-la do resto.. é difícil separá-la do resto. A Identificação é um traço tão comum que. SOBRE A IDENTIFICAÇÃO: Gurdjieff dizia que “. a Identificação. seus pensamentos ou seus desejos e sua imaginação. apenas muda o objeto de sua identificação”. “esquecem” que existem várias maneiras de realizar os mesmos objetivos. como diz Gurdjieff. que podemos despertar. quando iniciamos a observação de nós mesmos. Ouspensky escreve a respeito o seguinte: “Dizia que um fato de prodigiosa importância escapara à psicologia ocidental. afeta todos nós e. se fizermos esforços suficientes. que elas não são o ser real e que é possível observar nosso “traço ou defeito principal” compreendendo que podemos chegar a transmutá-lo em seu oposto “virtuoso”. porém ela afeta com maior força os Tipos 2. dentro de um sono que nada tem de metafórico. quando Tipos 9 deixam de se importar com suas necessidades e protelam aquelas ações que os beneficiam pessoalmente. agimos e raciocinamos dentro de um sono profundo.” A lembrança de si mesmo é a chave que nos permite compreender que não somos nossas “máscaras” (personalidades). como aspecto “nuclear” (Ponto 3 do Eneagrama). também. que podemos nos lembrar de nós mesmos. . e quando Tipos 1 se preocupam demais com as “formalidades” e com a “ordem”.. que vivemos. na tarefa da observação de si. Assim como acontece com o Esquecimento de Si Mesmo. mas é absolutamente real. o que lhes provoca a perda do “contato” com seus sentimentos e necessidades mais profundos. pode angustiá-los. b) leva Tipos 3 a ficarem “escravos” dos “bons desempenhos”. um ‘eu’ (o verdadeiro ser.. é escravo de tudo o que lhe pode acontecer. já que somente desta maneira se poderá conseguir a “lembrança de si”: “. um pensar. examinar. isto é. para aprender a não se identificar. segundo os dicionários. Todos estes sentidos “intelectuais” devem ser relacionados na definição que Gurdjieff faz da “consideração interna”. antes de tudo. o homem deve. conceber. dos “triunfos”. não chamar a si mesmo de ‘eu’. ou seja. o que. da “imagem de sucesso”. meditar. o observador) e o outro (a máscara. não se identificar consigo mesmo. atentar para. somente voltado ao sujeito que considera e relaciona tudo apenas com suas “necessidades”. . Gurdjieff sustenta que o único modo de superar a identificação é aprendendo a desidentificar-se. o falso eu). nem perceber o que esse “presente” tem de bom. imaginar. 3 e 4. ou seja. Não existe um pensar “considerando o que está fora” do sujeito. sempre e em todas as coisas. que há ele mesmo. A liberdade significa antes de tudo: libertar-se da identificação”. finalmente. Exemplos: a) a “Identificação” leva Tipos 2 a ficarem “escravos” daquilo e/ou daqueles que amam transformando-os em “seres para”. com quem deve lutar e a quem deve vencer se quiser alcançar alguma coisa. significa entre outras coisas: atender a. refletir.. imaginar. Deve lembrar-se de que existem dois nele. ponderar. portanto. SOBRE A CONsIDERAÇÃO INTERNA: Considerar tem sua origem no latim considerare e.62 Khristian Paterhan C. julgar. os quais deverão trabalhar sobre este aspecto com mais atenção. refletir em alguma coisa. a não estarem emocionalmente felizes no momento “presente”. Enquanto um homem se identifica ou é suscetível de identificar-se. examinar. pensar em. a “Identificação” com vivências passadas ou com desejos ou esperanças futuras leva Tipos 4 a serem “escravos” das lembranças ou dos desejos e. num momento determinado. Por exemplo. desses outros. Isso me enfurece. Sou forçado a ser cortês. Nós ‘consideramos’ constantemente. uma interior e outra exterior. Interiormente. apenas podemos enxergar nossas “ideias”. por conseguinte. percebe que ela não existe. Na filosofia Vedanta Advaita. sentir e pensar nas coisas apenas tal qual elas são. pois preciso dela. . Isto é a consideração interna: uma incapacidade de ver. de repente. Gurdjieff ensina a respeito que: “Temos duas vidas. “interagir” e “inter-relacionar-se” com os demais. Porém os Tipos 5. Fica tenso. A serpente parece estar muito agitada..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 63 considerando as pessoas. A consideração interna não nos permite agir de acordo com as mudanças. as situações. como exemplo. A consideração interior é como um muro que nos separa da realidade tal qual ela é. mas o que isso provoca em mim é proveniente da consideração interior. Agora ela diz que sou um imbecil. Isso é consideração exterior. ele dá um exemplo: “Uma pessoa me olha. penso ou acho de uma situação dada. perde muita energia pelo seu grande temor de ser mordido pela serpente. O fato de estar enfurecido é um resultado. Tipos 5 tendem a se isolar porque lhes é difícil “comunicar-se”. Na consideração interior também existe uma “projeção” ao exterior daquilo que eu sinto.” Então.) exteriormente sou cortês. a história de um sujeito que vem caminhando à noite por uma estrada escura. Está ventando muito. por ser um dos pontos nucleares (Ponto 6). nossas “opiniões”.” A consideração interior. Porém quando chega perto da serpente e está totalmente esgotado de tanto temor. tremendo e suando. ou seja. movido pelo vento e devido à noite escura. 6 e 7 deverão prestar maior atenção a esta questão. porque afeta todos os Tipos Eneagramáticos. as nuances. por estarem sempre “considerando internamente”. se diz que um dos poderes de “Maia” é fazer as coisas aparecerem como elas não são e se conta. Avança com cuidado. nossos “medos”. então. temos duas espécies de consideração. as necessidades. os sentimentos e estados de ânimo dessas pessoas. parecia uma serpente. sinto antipatia por ela (. ele vê uma serpente se movendo alguns metros adiante e se arma com um pau para se defender do provável ataque. também é algo que devemos aprender a controlar. que era um galho que.. gostaria de compartilhar com você uma outra questão. de seus medos. ou seja. agradável/desagradável”. às vezes totalmente “fora da realidade”. com certeza. que outras “podem comprometê-lo”.” Porém nos adverte que “isso é muito difícil. podem afetar negativamente os outros. pensando que algumas pessoas são “muito superficiais”. Tipos 5. 6 e 7 apreciam demais: “Aquele que conseguir isso será mais livre. “simpático/odioso. dizia assim: “O melhor meio de ser feliz nessa vida é poder considerar externamente sempre – internamente nunca. etc. O Eneagrama e o nosso mundo interno Após transcrever os exatos “retratos” psicológicos que Gurdjieff fazia dos tipos humanos. no Prieuré (França). imaginam situações perigosas ou difíceis de resolver e vivem essas suposições como se fossem reais. Muitos me perguntam: Por que é que Gurdjieff não definiu . o qual compara com um “cavalo” que só aprendeu duas palavras “direita” e “esquerda”.” Para Gurdjieff conseguir considerar tudo “externamente sempre e internamente nunca” era tão importante que um dos aforismos inscritos no toldo do Study House. Se alguém for grosseiro conosco (por exemplo). o que os leva a criar barreiras entre eles e os outros. Um de seus conselhos era: “Devemos parar de reagir interiormente.” Para além dos Nove Traços ou Tipos Principais. Ele diz que “não educamos nada além de nosso intelecto” e que o caminho para a consideração externa é o desenvolvimento correto do Centro Emocional. o que os pode levar a cometer certas irresponsabilidades que acabam afetando outros. não devemos reagir internamente. Tudo isto porque apenas “consideram internamente” e não percebem que seus atos. Gurdjieff afirma que esta “consideração interna” é produto de uma educação que só se preocupa com o desenvolvimento do Centro Intelectual. Já os Tipos 7 vivem “planejando” coisas no “plano mental”. que julgam “importantes”. outras podem ter “intenções ocultas” e assim por diante.64 Khristian Paterhan C. Os Tipos 6 “consideram internamente” a partir de seus temores.” E acrescenta algo que. A questão dos “eus”. Gurdjieff diz a respeito: “O homem não tem ‘Eu’ individual.. de algum modo. “provocar” a identificação do Traço/Tipo Principal de uma maneira que as pessoas se sentissem “chocadas” ao se aperceber de suas condutas mecânicas.] O homem é uma pluralidade.. sendo que. O seu nome é legião”. como Tipo 8 que Gurdjieff era. com certeza. A cada minuto. Penso também que quando ele ensina sobre os diversos “eus” que podem atuar na vida psíquica de um sujeito. se ignoram. que. ele se referia. ao contrário. Logicamente.. exclusivos e incompatíveis. . era o “principal”. em maior ou menor grau. Em seu lugar há centenas e milhares de pequenos ‘eus’ separados. conseguia “despertar” a atenção de seus alunos para a necessidade de enxergá-los sem “nenhuma piedade”. um deles. não mantêm nenhuma relação entre si ou. seu jeito “agressivo” de confrontar as pessoas com seus Traços (Tipos) Principais era para ele o mais adequado e. E a cada vez seu ‘eu’ é diferente [..) Gurdjieff explorou sua injunção ao insight e sua magistral confrontação (enquanto que) Ichazo trabalhou com o diagnóstico (. de maneira que todos tinham que observar em si mesmos o modo pelo qual esses Traços/Tipos Principais se manifestavam. é o mais “forte” e característico. ou seja. a cada momento. são hostis uns aos outros. tendo que hierarquizá-los com respeito ao que. em algumas ocasiões. Seus ensinamentos sobre os diversos “eus” presentes no mundo interno são um alerta para nossa falta de “unidade” interior. ao fato de que todos temos..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 65 um Eneagrama dos Traços Principais explicitamente? Porque falava deles de um modo geral. ele mesmo mostrar (e às vezes de forma bastante rude) qual era o Traço Principal de alguns de seus discípulos para que eles aprimorassem a observação e lembrança de si. na maior parte das vezes. o homem diz ou pensa ‘Eu’. Gurdjieff gostava de “pisar nos calos favoritos das pessoas”. Citado por Ouspensky.5 5 Do livro Fragmentos de um ensinamento desconhecido. Como observa muito corretamente Claudio Naranjo “(.)”. algo de todos os “Traços” e suas combinações. de Ouspensky. Preferia. em cada caso particular.. outras se manifestarão de maneira mais “fraca”. no mesmo sujeito agressivo. o “eu falso” mais forte. considerando o assunto deste modo. com aquilo que poderíamos chamar. que se excede em tudo o que faz. Isso significa que. porque nos lembra que o Eneagrama também está completo e em movimento constante nos nossos mundos internos. algumas fortalecerão o Traço Principal. com o “Eu real”. o Traço ou Tipo Principal seria. que Tipos Eneagramáticos podem servir como exemplo do que devemos ou não fazer. este é o ponto mais valioso da técnica de Gurdjieff. que o esquecimento de si mesmo e os três traços decorrentes de sua manifestação afetam todos nós. por exemplo. o “observador silencioso”. entre todos os “eus” que habitam nosso mundo interior. Ao mesmo tempo. cada um de nós tem mais um elemento para a análise de si mesmo: quais os aspectos que além do Traço Principal devemos conquistar em nós mesmos. cheguei à conclusão de que para ele o mais importante é que a gente perceba que todos os “traços negativos” estão presentes em nós sempre e que não devemos considerar apenas o “principal” como o alvo do nosso trabalho de observação e lembrança interior. um sujeito Tipo 8. aquele que comanda a “máscara” /personne. que tem como Traço Principal seu caráter agressivo/ luxurioso. que a identificação está sempre presente em nossos atos e relacionamentos. outras o tornarão mais equilibrado. outras agirão como “inimigos” internos. que vivemos considerando internamente sempre e que todos os “traços” ligados a estes “núcleos” expressam a perda de contato com o Ser. No meu entendimento. O que quero dizer é que. Assim. o que é que podemos aprender com esses . também teria os outros 8 “eus” eneagramáticos e todos os “eus” resultantes das “triplas” combinações. Algumas serão relativamente fortes. a “testemunha”. podemos achar todas as restantes características eneagramáticas “negativas” e “positivas”. Visto deste ângulo. ou melhor.66 Khristian Paterhan C. Algumas serão aliadas desse sujeito. a única capaz de ser verdadeiramente consciente porque é a consciência. de acordo com as antigas tradições. analisando o modo como Gurdjieff falava dos três problemas nucleares e o modo como descrevia os aspectos negativos das pessoas em relação aos seus diversos “eus”. e sabendo que para cada Traço ou Defeito Principal existe uma Virtude. ou seja. Então. Enfim. que trato com mais profundidade na minha obra Iniciação e autoconhecimento. a grande conquista interior passa necessariamente pelo controle. o comando da “personalidade” ficará a cargo de um “falso eu” e de todos os que a ele estão atrelados.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 67 “outros eus” que fazem parte dos nossos mapas eneagramáticos? Por acaso temos um “eu” que sofre “tolamente”? Temos um “eu” que não sabe amar? Temos um “eu” protelador? Um “eu” vaidoso? Um “eu” moralista? Um “eu” medroso? Ao mesmo tempo. um Poder em potencial que podemos desenvolver e atualizar. na direção da descoberta de todos os nossos “problemas internos”. reflexivo e consciente. já que. Só o profundo conhecimento de si mesmo poderá devolver o comando da personalidade ao “verdadeiro Eu”. talvez. que nossos Eneagramas internos se tornassem conhecidos para nós mesmos. com o objetivo de que o conhecimento de si mesmo fosse “completo”. Ainda mais. de todos os 9 “eus” e seus “subtipos”. conhecer o Traço Principal é importante. devemos concluir necessariamente que a conquista da Virtude por trás dos nossos Traços Principais nos permitirá desenvolver positivamente o potencial de todos os demais “eus” dos nossos mapas eneagramáticos. atualmente alguns desses “eus” sejam já os nossos “aliados” psicológicos e só devemos nos tornar conscientes de suas “presenças”. não apenas para repetir como “papagaio” “sou 4”. Não vou me estender mais aqui sobre este assunto. Quando nos tornamos conscientes de nosso Traço Principal e conscientes dos demais “eus” que habitam nosso complexo . “sou 7” ou “sou 3 com asa 2”. não apenas como uma classificação. como ouço por aí de pessoas para as quais o Eneagrama se tornou mais uma “armadilha” que só aumenta seu grau de “sono”. Isto é o que torna “indivíduo” (sem divisões interiores) aquele que conquista a “máscara” ou personalidade. A questão dos “eus” na psicofilosofia de Gurdjieff é fundamental. na minha opinião. permanente. o modo gurdjieffiano de mostrar o Eneagrama dos Traços Principais apontava. Enquanto o Traço Principal não for conquistado. transmutação (ou até a “morte” de alguns deles) e governo de todos os pequenos “eus” por um único “Eu”. 68 Khristian Paterhan C. também influenciam no “esquecimento de si mesmo”.” Este deve ser o seu “espírito” ao se preparar para conhecer seu Traço Principal por meio desta obra. torna-se cada vez mais fácil para mim perceber o Traço Principal nas pessoas e observo o quanto isso é valioso para. compreendê-las melhor e obter delas o que realmente quero.) qualquer um que eu conhecesse. por negócios. quando podemos ser conscientes dos “eus” que. Reconheça seu Traço Principal com sinceridade e descubra o seu próprio Eneagrama interior. aí então é que o Eneagrama se torna verdadeiramente valioso e supera os limites de uma mera “tipologia psicológica”. finalmente.. e labiríntico mundo interior. Graças à minha experiência no estudo e prática destes conhecimentos. sem ser os principais. o “macrocosmo” poderá ser conhecido tal qual . e qualquer que fosse sua posição social. Torna-se útil como instrumento de apoio no profissional e em nossos necessários e cotidianos relacionamentos.. na “identificação” e na “consideração interna”. aprimorar sua experiência por razões pessoais ou profissionais. você poderá conhecer todos os “microcosmos” que o rodeiam e. no qual. fosse velho ou novo conhecido. ou para. ou porque com o tempo ficam mais sensíveis às diferenças humanas devido às suas experiências e vivências. A vida é real somente quando “Eu Sou” cujo título já é uma grande lição a ser compreendida. Gurdjieff reconhece que ele próprio se tornou com o tempo um especialista em descobrir o Traço Principal nas pessoas com as quais se relacionava. comércio ou qualquer outro motivo. Pessoas que não conhecem o seu próprio Traço Principal e que não o reconhecem em outras pessoas. usando a “consideração externa”. quando alcançar a total consciência de si mesmo. já conhecendo seu Traço Principal. Gurdjieff revela como isso se tornou para ele uma tarefa constante: “(. só conseguem resultados em seus relacionamentos e trabalhos por mero “acidente”. Conhecendo dessa forma seu “microcosmo”. preferivelmente com dureza. a cada dia. não somente com objetivos “espirituais” mas também com objetivos muito “concretos”. eu teria que descobrir imediatamente seu ‘calo mais sensível’ e ‘pressioná-lo’. Desta forma se torna também uma ferramenta para que possamos lidar melhor com nossas “realidades” pessoais e individuais. Em sua última obra. todos os “traços” estão presentes. .] Tudo isso o aborrece. mas a sociedade e as condições históricas. Vejamos por Grupos. Novamente os livros Fragmentos de um ensinamento desconhecido e Gurdjieff fala a seus alunos foram fundamentais para realizar essa pesquisa.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 69 ele é. o preocupa. tudo isso assume a seus olhos enorme importância. TRAÇOs PRINCIpAIs DOs TIpOs 8. Agora sim vamos ver como Gurdjieff “retrata” cada um dos nove Traços ou Defeitos Principais: DEFINIÇÕEs DOs NOVE TRAÇOs OU DEFEITOs PRINCIpAIs sEGUNDO GURDJIEFF Após analisar detidamente os Traços ou Defeitos Principais definidos por Gurdjieff e confrontá-los com os que outros pesquisadores do Eneagrama destacam. consegui isolar todas as definições com as quais ele os “retratava” tão magistralmente. Tudo o que desagrada a tal homem lhe parece injusto.] pensa sempre que as pessoas não o apreciam o suficiente [. assim. o torna desconfiado. Na maior parte dos casos. E o ponto de partida de seu julgamento é sempre que as coisas podem e devem ser modificadas. com sua atitude para com ele [. desenvolve nele. desperdiça em conjecturas ou em suposições enorme quantidade de energia. com a maneira com a qual o tratam. uma expressão maravilhosa dos milhares de “rostos” daquilo que chamamos “DEUS”.. o que disseram dele. o homem se identifica com o que os outros pensam dele.. 9 E 1 (CENTRO DO MOVIMENTO QUEsTÃO NUCLEAR: EsQUECIMENTO DE SI MEsMOs) Tipos 8: “Existem diversas espécies de consideração. A ‘injustiça’ é uma dessas palavras que servem frequentemente de máscara a [este tipo de] ‘consideração’ [interna].” . falso e ilógico. uma atitude desconfiada e hostil para com os outros. Como olharam para ele.. E considera não só as pessoas. baseados nas descobertas de Ichazo. ilegítimo. o que pensam dele. Sua impotência em lembrar-se de si é um dos traços mais característicos de seu ser e a verdadeira causa de todo o seu comportamento.. É o que chamamos ‘amor de escravo’. e é no trabalho sobre si que esse fenômeno se produz com especial frequência. só o segundo. em outras palavras. Se você amar. talvez pior ainda. Dissemos que a observação de si conduz à constatação de que o homem se esquece de si mesmo sem cessar.. O outro deve ser adquirido pelo trabalho sobre si. é o do homem que considera que na sua opinião. Começa um trabalho e logo esquece por que o empreendeu.” TRAÇOs PRINCIpAIs DOs TIpOs 2. esse amor não depende de você e não haverá nenhum mérito nisso. um homem nunca pode se ver. é difícil compreender quando um homem realmente ‘deve’ e quando ‘não deve’ (fazer algo). quando na realidade. O primeiro não tem valor algum. Essa impotência manifesta-se de mil maneiras.70 Khristian Paterhan C. não se lembra do que disse ou sentiu há um mês. Por que é assim? Lembrem-se. As circunstâncias fazem-no amar mecanicamente [. Não se lembra de suas decisões. 3 E 4 (CENTRO EMOCIONAL QUEsTÃO NUCLEAR: IDENTIFICAÇÃO) Tipos 2: “Há duas espécies de amor. não tem que fazer absolutamente nada. Um é o amor escravo. não se lembra da palavra que deu a si mesmo. ‘Dever’ e ‘Não dever’ é um problema difícil. Isso prova que um homem viveu toda a sua vida sem se fazer essa pergunta e considera perfeitamente normal que ele seja ‘algo’. ‘deveria’ fazer algo. uma semana ou um dia ou apenas uma hora. Você ama até mesmo quando não deveria amar.] Sem auxílio exterior..]” Tipos 3: “Sugiro que cada um faça a si mesmo a pergunta ‘Quem sou eu?’ Estou certo de que 95% de vocês ficarão perturbados.. quando ‘isso’ [a máscara] ama. e até mesmo algo . o amor que é fruto de um trabalho interno. É o amor de que todas as religiões falam. tem valor.” Tipos 1: “Outro exemplo. Tipos 9: “[... mas apenas se supõe existir? Não é estranho que fechem os olhos. No primeiro rio. A gota do primeiro rio tem a possibilidade de passar ao segundo. Ou pode sofrer por ‘ontem’ para preparar-se para o ‘amanhã’.. não sabem nem mesmo em que ela consiste [. deve-se conhecêla. o sofrimento é completamente inútil. algo que jamais pôs em dúvida.” . tanto a si mesmos como aos outros. Para o Cosmo o tempo não existe. duas direções. Dizer a verdade sobre si mesmo é muito difícil. O sofrimento depende da sua posição. Somente um tolo sofre inconscientemente. num outro momento está no fundo. Aqui opera a Lei de Retribuição. incapaz de dar a menor ideia desse algo. ‘Hoje’ a gota sofre porque ‘ontem’ não sofreu o suficiente.” Ouspensky lembra que alguém perguntou: “O que é que não compreendemos?” E Gurdjieff respondeu: “Estão de tal modo habituados a mentir. porque ele próprio não o sabe.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 71 muito precioso. não será simplesmente porque esse algo não existe. O sofrimento pode ser voluntário e somente o sofrimento voluntário tem valor. é incapaz de explicar a outra pessoa o que esse algo é. e passem a vida na agradável convicção de que representam algo precioso? Esquecem de ver o vazio insuportável por trás da soberba fachada criada por seu autoengano e não se dão conta de que essa fachada só tem um valor puramente convencional. tarde ou cedo tudo se paga.]. Repito: somente o sofrimento voluntário tem valor. A gota também pode sofrer por antecipação. Nós somos as gotas. Ora. No primeiro rio. com tão tola complacência. não para as gotas d’água. A gente pode sofrer simplesmente porque se sente infeliz. a lei é somente para o rio. Na vida existem dois rios. Neste outro rio existe outra classe de sofrimento. E se não sabe. ao que realmente são.” Tipos 4: “Qual o papel do sofrimento no desenvolvimento de si?” Ele respondeu: “Existem duas classes de sofrimento: consciente e inconsciente. quando querem dizer a verdade. Ao mesmo tempo. Antes de dizê-la. Paralelo a esse rio tem um outro. porque é acidental e inconsciente. Num momento uma gota está na superfície.. que não encontram nem palavras nem pensamentos. . não podem ocorrer. a falta de relação entre nosso corpo (carruagem). Mas como já dissemos.. E não podemos nos lembrar. Esses pressentimentos de aborrecimentos. um cavalo [Centro Emocional] e uma carruagem [Centro do Movimento]. Todos os interesses que temos em relação à mudança. que estudasse dia e noite. Não passa de uma ideia que têm na cabeça e cada um permanece o que era. de mudar alguma coisa. devido à má educação moderna. se for pelo mental.. A transformação não se obtém pelo mental..72 Khristian Paterhan C. se perde em pensamentos obsessivos.. um cocheiro [Centro Intelectual]. perdas. Mesmo aquele que trabalhasse mentalmente durante dez anos. nosso sentimento (cavalo) e nosso mental (cocheiro) não foi reconhecida desde a infância. Nosso mental é o cocheiro. O que deve mudar é a disposição do cavalo.. e que não apenas não ocorrerão. de fato. que voltam e tornam a voltar em relação ao mesmo objeto. E nada mudou ainda neles. Não podemos nem falar do amo pois ele não está presente. porque queremos viver unicamente pelo mental. Talvez vocês se lembrem do que dissemos do homem: nós o comparamos a uma atrelagem com um amo [o Ser]. doença.” Tipos 6: “O homem. mas. e a maioria das pessoas está tão deformada que não há mais linguagem comum entre uma parte e outra. às vezes. quer dizer. TRAÇOs PRINCIpAIs DOs TIpOs 5. Naqueles que estão aqui se levantou acidentalmente um desejo de chegar a algo. 6 E 7 (CENTRO INTELECTUAL QUEsTÃO NUCLEAR: CONsIDERAÇÃO INTERNA) Tipos 5: “É impossível lembrar-se de si mesmo. Por essa razão devemos ensinar. às mesmas coisas desagradáveis que imagina. que se lembrasse mentalmente e lutasse. porque mentalmente nada há para mudar. não por meio do mental. situações embaraçosas se apoderam muitas vezes de ... à transformação de nós mesmos pertencem apenas ao cocheiro.. mesmo esse não realizaria nada útil ou real. mas do sentimento e do corpo. são unicamente de ordem mental. a dificuldade é que.. e aprender. de modo que só podemos falar do cocheiro. O desejo deve estar no cavalo e a capacidade na carruagem. Mas apenas no mental. não tem nenhuma utilidade. ‘exige’ que todo mundo o tome por alguém notável. é o medo de situações embaraçosas. como se tivessem sido frustradas de uma perspectiva agradável. seu humor...” . As pessoas deixam de ver e ouvir o que realmente acontece. Essas ‘exigências’. por sua vez. estima e admiração por sua inteligência..]. se alguém conseguir provar a elas. bem no seu íntimo. a quem todos deveriam constantemente testemunhar respeito. sua originalidade e todas as suas outras qualidades. elas chegam a sentir certa decepção. Tipos 7: “O homem. Às vezes o medo se torna quase uma obsessão maníaca. sua habilidade. Na maioria dos casos. sua presença de espírito. que assumem a forma de sonhos despertos. que seus pressentimentos e medos são infundados. num caso preciso. As pessoas não suspeitam até que ponto estão em poder do medo.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 73 um homem a tal ponto. o que acontece com muita frequência... por sua beleza. Esse medo não é fácil de definir. baseiam-se na noção completamente fantasiosa que as pessoas têm de si mesmas.. o medo do que o outro pode pensar. e. O medo inconsciente é um aspecto muito característico do sono. mesmo com pessoas de aparência muito modesta [. (O amoroso generoso orgulhoso). . Isolados da realidade. Aqueles que se “auto-enganam”. (O pacífico protelador “boa gente) Os “moralistas” (O metódico direitinho irado). Os que sonham acordados negatividades. Os que julgam pela “moral subjetiva ou externa” do “bem/mal”. 9 8 1 Os que se acham “livres”. Aqueles que acham que “deveriam” fazer algo. admiração.74 Khristian Paterhan C. (O performático mascarado). Os que não se acham suficientemente apreciados. Os que estão em poder do medo (O medroso ambivalente). desconfiados. Os que se perdem em pensamentos obsessivos. Núcleo da “consideração interna” 5 4 Núcleo da “identificação” Os que vivem só pelo mental. Aqueles que amam até quando não deveriam amar. Os proteladores. ENEAGRAMA DOs TRAÇOs OU DEFEITOs PRINCIpAIs DE ACORDO  COM Os NOVE “RETRATOs PsICOLÓGICOs” DE GURDJIEFF Figura 11 Núcleo do “esquecimento de si mesmo” Os esquecidos de si mesmos. Os inconstantes. Os que sofrem da “doença do amanhã”. estima e se acham “notáveis” (O narcisista gozador). Os que apreendem mas não compreendem (O avarento e solitário pensador). Os que “exigem” respeito. Os que sofrem “totalmente” (O sofredor original invejoso) Os sofredores “inconscientes”. Os aborrecidos. não persistentes. “certo/errado”. 6 3 Os que acham que “representam algo precioso”. hostis (O hostil “justiceiro” desconfiado). 7 2 Os “amorosos” escravos. Parte I 9 8 1 Centro Físico ou Motor Tipos 8, 9 e 1 O Tipo 8 O eu que confronta “Existem diversas espécies de consideração. Na maioria dos casos, o homem se identifica com o que os outros pensam dele, com a maneira como o tratam, com sua atitude para com ele [...] pensa sempre que as pessoas não o apreciam o suficiente [...] Tudo isso o aborrece, o preocupa, o torna desconfiado; desperdiça em conjecturas ou em suposições enorme quantidade de energia; desenvolve nele, assim, uma atitude desconfiada e hostil para com os outros. Como olharam para ele, o que pensam dele, o que disseram dele, tudo isso assume, a seus olhos, enorme importância.” “E considera não só as pessoas, mas a sociedade e as condições históricas. Tudo o que desagrada a tal homem lhe parece injusto, ilegítimo, falso e ilógico. E o ponto de partida de seu julgamento é sempre que as coisas podem e devem ser modificadas. A ‘injustiça’ é uma dessas palavras que servem frequentemente de máscara a [este tipo de] consideração [interna].” Os dois parágrafos acima, citados por P. D. Ouspensky em Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido, são de G. I. Gurdjieff 78 Khristian Paterhan C. Então? Vamos nos conhecer melhor ou não? Como diria G. I. Gurdjieff (um Tipo 8 “acordado” que foi, segundo o polêmico mestre Osho, “um dos Budas da nossa época”): “Lembre-se de que você veio aqui, porque compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo e unicamente contra si mesmo. Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso.” Na verdade, este aforismo – um dos vários que estavam inscritos no toldo do “Study House”, no Prieuré (França), local onde Gurdjieff trabalhou com seus discípulos – abriga o grande mistério a ser conhecido por todos os seres humanos, mais especialmente pelos Tipos 8 “assumidos”. Espero que, tendo chegado até aqui, agradeçam a oportunidade que eu lhes ofereço de “lutar unicamente contra si mesmos” a partir de agora, já que há tanto tempo se dedicam a lutar contra o mundo, contra seus “inimigos” e até contra o “tempo” e o “clima”! O Poder: a grande fascinação dos “Guerreiros” do Eneagrama Quando realizamos nosso workshop sobre o Eneagrama para o Projeto Simplesmente Copacabana, no Rio de Janeiro, contamos com a participação de uma jornalista que editava um jornal de bairro. Escrevendo sobre seu Tipo, sob o título Por que 8, ela destacou: “O poder me fascina. Vim a descobri-lo na caminhada da vida. A vida me empurrou para o resgate. No resgate descobri a força, o poder. Na medida em que avançava vim percebendo a minha verdadeira vocação: a liderança. As causas consideradas por mim justas e verdadeiras, as abraço com muita determinação. É por demais sedutor para mim tocar um projeto em que possa ter o controle da situação. Dar oportunidade a outras pessoas me entusiasma e gosto da troca, desde que tenha o rumo das coisas. Guerreio sabendo o que quero, mas também quando não quero, simplesmente não faço. Entretanto, sinto uma enorme falta da inocência, da poesia, do frágil. Camuflo isso tudo em ações concretas.” Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 79 Este breve depoimento revela o que todo Tipo 8 sente – “O poder me fascina”, e finaliza com o que para todos eles é uma tremenda verdade: a necessidade da simplicidade e da inocência, às quais vou me referir no final deste capítulo. No Brasil, temos um excelente exemplo histórico de um Tipo 8 para quem este depoimento também foi verdadeiro. Ele foi um dos mais conhecidos e polêmicos políticos deste pais, considerado aguerrido e destemido, dedicou sua vida, a seu modo, a lutar pelas causas que considerou justas. Refiro-me ao falecido Senador Antônio Carlos Magalhães ou “ACM”. Lembro quando o Senador ACM, contrariado com a famosa intervenção no Banco Econômico, deu uma das tantas amostras do seu Tipo Eneagramático. A revista Veja do dia 23 de agosto de 1995 registrou uma das frases mais fortes ouvidas por um Presidente do Banco Central deste país: “Você é um moleque, f. da p! Vou passar por cima de você! Quem é você para fechar um banco na Bahia? Lá as coisas não são assim.” Por ser o senador amante declarado da Bahia, essa terra maravilhosa, e devoto fiel do Senhor do Bonfim, sua voz irada naquela ocasião, era a voz irada de todos os baianos que, há mais de 40 anos viam neste homem um grande líder. Essas atitudes públicas do senador refletiam seu tipo. Diante delas, qualquer Tipo 8 pode-se ver como em um espelho. O jornalista Marcos Sá Corrêa, no livro Política e Paixão, Editora Revan, define exatamente a tipologia deste polêmico e carismático homem público: “ACM (era) conhecido pela agressividade que, sendo nele aparentemente natural, (era) também um estilo cuidadosamente treinado. Como diz neste livro, está convencido de dever a ela – mais do que a outros atributos, seu grande trunfo político – o fato de ser reconhecido como um assunto jornalisticamente interessante.” Todo Tipo 8 pode ser definido a partir dessa “agressividade” e de muitos Tipos 8 que detêm algum poder se pode dizer exatamente o que aparece numa das orelhas do citado livro: “Ninguém fica indiferente a 80 Khristian Paterhan C. Antônio Carlos Magalhães, [ele] é um dos que mais acumularam inimigos. Afeto ou desafeto, admiração ou hostilidade, variadas são as atitudes que as pessoas assumem diante dele, mas ninguém o ignora.” Como e porque Tipos 8 brigam desde cedo com “o mundo todo” Numa das suas brilhantes tiras publicadas no Jornal do Brasil sob o título de “As Cobras”, o genial Luís Fernando Veríssimo (criador de muitos personagens, entre eles o Analista de Bagé, um analista muito 8, diga-se de passagem) nos resume esse estado de desconfiança e agressividade pronto a se manifestar em todos os “representantes” deste Tipo Eneagramático. Duas cobras falam com uma terceira: “Todo mundo não está contra você desde que você nasceu, Pepe.” Ao que esta responde: “Ah, é? Então por que o obstetra já me recebeu com um tapa?” Citei o texto desta tira porque ele combina com o depoimento em que Augusta, uma de nossas alunas, lembra o “momento provável” em que surgiu sua “máscara”: “(...) É como se eu já tivesse nascido 8, e não me formado com o passar do tempo (...) Meu nascimento foi muito difícil e como todo 8 acha que deve brigar por tudo, eu briguei para nascer. A hora do meu nascimento já havia passado e não nasci de parto normal; pela demora eu ‘não devia ter nascido’, pois além da demora eu estava com o pescoço enrolado no cordão umbilical, nasci talvez de teimosa ou por ser um 8 que nunca se dá por derrotado (...)” Magno, outro participante dos nossos workshops revelou: “Muito cedo, se me lembro bem aos cinco anos de idade, essa ‘máscara’ já se manifestava em mim, em como eu ‘mandava’ nas minhas irmãs ou como eu não aceitava ordens de meus pais (...) A minha sensação é que eu sempre fui assim, já nasci com essas características.” Em primeiro lugar, os Tipos 8 em sua maioria lembram-se de uma infância em que tinham que se impor (ou se impunham) ao meio por alguma razão. Tinham que lutar para serem respeitados. Tinham que antes dos sete anos. pois as poucas vezes que ele quis me obrigar a fazer qualquer coisa eu.. O mesmo aluno lembra: “Meu pai sempre foi um intelectual e tentou. Achava que aquele ‘papo’ era uma fraqueza de meu pai. é claro!” Seu modo de se vingar era simples: “Lembro que pegava dinheiro escondido de minha mãe pra comprar balas. Outros perceberam a fraqueza de um ou de ambos os pais.. ou “você apenas cumpre com os seus deveres. me mostrar as coisas certas por intermédio da palavra..) quando reclamei com a professora.) e ia pro castigo. outra aluna Tipo 8 nos contou: “Na infância. Uma colega. Às vezes. não está fazendo nada demais”. sem pensar em culpa de fazer algo errado (. Eu não entendi nada! (. mas eu sempre achava um jeito de deixá-la bem brava (. lhes exigiam de um modo ditatorial e imperativo que “aprendessem” a ser “fortes” desde crianças. lembro-me de ter sido acusada de ter feito o que não fiz. como uma ‘boa mula’. esta me castigou. me neguei. em que foram vítimas de “injustiças”. Minha mãe já não tinha tanta paciência assim e com ela não se brincava.... que os obrigaram a assumir responsabilidades muito cedo porque seus pais. “temos que proteger o que conseguimos e você deve preparar-se para isso”. lembro de uma injustiça entre tantas outras.)” Existem Tipos 8 que falam de uma infância difícil. que ele deveria ser mais duro comigo. acredito que foi aí que minha máscara se consolidou.. de que se vingavam de um ou outro modo.) pegou seu lápis e tentou furar o meu braço (. Ainda em relação a isto. enfrentaram ambientes agressivos. vizinha da mesma mesa circular (.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 81 “proteger-se” dos outros. A necessidade de se mostrarem fortes e capazes os faz desenvolver o que comumente chama-se “força ...)” Outros pertencem a famílias poderosas em que se sentiram sozinhos e/ ou obrigados a “tomar iniciativas” para não serem considerados inferiores aos demais e onde ouviam constantemente frases como estas: “nunca se deve confiar nas pessoas”...) Na família. Esta ocorreu na escola por volta dos 7/8 anos.. e decidiram não ser tão fracos quanto eles. acabando por me conformar (. por todos os caminhos. por razões financeiras ou porque achavam correto. ao ponto de que quando começava eu não conseguia mais parar. Neste depoimento. vale a pena refletir sobre este depoimento: “Tive uma infância feliz. posso perceber com clareza quando as coisas estão fora do meu controle e como isso me . Mas. é necessário controlar tudo Os Tipos 8 sentem que devem criar e conquistar um extenso território pessoal. Preciso controlar tudo e apesar de já ter percebido. inclusive os que consideram ter tido infâncias felizes. de vontade”.. Precisam saber tudo com antecedência. seja nas questões pessoais.. do qual sejam os CONTROLADORES e donos absolutos. os leva a desconfiar dos outros e a confiar demais nas suas próprias “forças”. Seja nas questões do trabalho.) preciso exercer o controle em tudo o que me cerca. conhecer de que maneira podem ter certeza de estar no comando de toda e qualquer situação.) Cada jogo novo ou pessoa nova era uma ‘nova barreira para se conquistar’. ainda me é muito difícil suportar a falta de controle (... Por isso decidem ser fortes. com muitos amigos que logicamente eu conquistei. uma de nossas alunas reconhece o quanto essa necessidade a esgota: “(. desde cedo.. brinquei muito e na rua. mesmo antes de estudar o Eneagrama.” Para estar protegido do mundo. autoconfiantes. Briguei muito desde cedo. Isto provoca neles uma constante atitude de alerta. A falta do meu controle em qualquer situação me deixa muito enraivecida.82 Khristian Paterhan C. apesar do ‘gênio’. no qual a palavra controle é repetida sete vezes (as itálicas são minhas). o que não significa que os tenha cativado. mas muito competitiva.) No trabalho. A este respeito. sem medo de nada. um constante estado interior que se poderia traduzir como “estar pronto para a luta”. no sentido de gastar muita energia nessa incumbência de ter tudo sob o meu controle. seja esta pessoal e/ou profissional. os jogos eram para ser ganhos (.. o quanto isso me faz mal. A necessidade de perceber os riscos e possíveis perigos que aparentemente devem enfrentar sozinhos. quanto colaborem para aumentar o seu senso de poder. Eles aperfeiçoam esse controle aprendendo.” Os outros devem reconhecer e respeitar o “controle” e o “poder” dos Tipos 8. uma aluna. de não permitir que alguém falasse algo de mim. Paula. de outro modo..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 83 incomoda. para que nada me pegasse desprevenida... que eu não compreendesse. não dominasse. escreve a respeito que: “O controle das situações é o que o 8 tanto quer ter (.” Esse território está protegido sempre por uma espécie de cerca protetora contra os perigos. Os mais inteligentes e capazes se aperfeiçoam constantemente. injustiças e inimigos que vêm e/ou que poderiam vir do mundo. usa o ‘chicote’.) e tanto assim que desde criança me vi às voltas com os livros e nunca porque alguém me mandasse. Até os idiomas que aprendi eram uma forma de controle da situação. tanto confirmem suas ideias e posições. sabendo como. controle e segurança. garantindo-lhes “obediência”. É assim que me sinto. quando as coisas não acontecem do jeito que eu determino de forma que eu possa controlar. que é médica.. estudando. porque. mas não com a intenção de ferir e sim de ensinar uma lição. poderão ser “punidos”. principalmente quando não estou bem informada. e possuem uma tremenda capacidade de manipular dados e informações que. mas porque sentia necessidade de conhecer tudo. num claro movimento ao Ponto 5 do Eneagrama. Na vida pessoal eu percebo isso quando me é difícil suportar as frustrações. ou seja. Um aluno escreve a respeito: “[O Tipo 8] se impõe com muita facilidade se as coisas não estão indo como deveriam ser. se necessário. precavendo-se de todo e qualquer ataque exterior.” . ele não pode perder o controle da situação e. A falta de informação me deixa fora das coisas. . quem não corresponder está em maus lençóis. É como se. Pois a partir deste dia esta pessoa morreu para mim e ainda que viva ao meu lado não me diz mais nada. quando sentem que essa “lealdade e proteção” não são recíprocas. Em outro trecho de seu depoimento.” Porém. quais as pessoas que poderiam estar sob sua tutela e quais pessoas terão “direito” à sua permanente “proteção”. uma das alunas citadas revela: “(. quando se sentem traídos.) Esta mania de proteger as pessoas da família e os amigos também é algo muito presente em mim.. para deixá-los tranquilos e de bem com a vida. e quem falhou pode estar certo que haverá uma punição. mas por atitudes (. provavelmente não terá chances de fazê-lo outra vez. Precisam assegurar o poder e garanti-lo no tempo.)” Com outro aluno 8. E ela saberá disto não só por palavras. os Tipos 8 reagem com fúria..sem limites. Sem limites O que Tipos 8 desejam é conseguir o mais e o maior possível de tudo...84 Khristian Paterhan C. Lealdade e proteção: algo valioso que se pode cobrar Os Tipos 8 decidem quais pessoas serão da sua confiança. A mesma aluna acrescenta: “Adoro meus amigos e sou amiga até o fim.) até me lembro de minha mãe dizendo.. que eu era ‘a protetora dos fracos e oprimidos’ (.” Conquistando novos territórios. Uma necessidade de fazer tudo ao meu alcance. em tom jocoso. fossem criando e assegurando uma “rede” de poder e influência ao estilo dos chefões mafiosos dos anos 30.. numa clara influência do Ponto 9 Eneagramático e do movimento contra seta ao Ponto 2.. desse modo. mas se por acaso alguém fizer algo que me magoe.. a coisa não muda muito: “Procuro ser leal às pessoas. desde a infância. Os Tipos 8 decidem que esse imenso território desejado nunca poderá .. Fazem isto apenas para aumentar o “controle”. ambição excessiva de um “espaço” ilimitado a se conquistar. diríamos que em tudo o que Tipos 8 fazem. Portanto. querem e dizem. excesso de cobrança. existe uma possibilidade muito grande (tinha que ser muito grande. o legal. e ao invés do “território limitado da sua própria ordem” que Tipos 1 tentam preservar. o normal” e atrela a palavra à violência: cometer excessos é uma forma de violência. Descrevendo esse estado de permanente ambição num momento de total entusiasmo com respeito ao fato de sentir-se “maior que o mundo”. posso ocupar qualquer espaço que eu quiser. O excesso é o “grande calo” dos Tipos 8. e nesta frase o Traço Principal manifesta toda a sua potência. Eles querem tudo em demasia. Sentem. contra si mesmo e contra os outros. Ao invés do “castelo mental” no qual Tipos 5 desejam refugiar-se. os Tipos 8 decidem que o único modo de enfrentar o mundo é criando uma ilimitada zona de poder pessoal. excesso de controle. instintivamente. não é ?) de nunca sentir-se satisfeito. na qual eles se sintam com o controle absoluto e permanente. necessidade excessiva de informação e dados. que nunca deverão parar de estender-se e crescer. um dos nossos alunos escreveu: “Minha máscara não me dá limites. excetuando-se os Tipos 4.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 85 ter limites e sabem que não vão parar de conquistar novos territórios e ainda que nunca nenhuma dessas conquistas será tida como a última. possui uma capacidade para frustrar-se com mais facilidade que os outros Tipos Eneagramáticos. O Dicionário Aurélio define o excesso como “aquilo que excede ou ultrapassa o permitido.” Qualquer Tipo 8 poderia dizer o mesmo. O traço principal: o excesso e a luxúria aumentam a agressividade Para uma síntese do exposto até aqui. existe excesso ou se procura o excesso: excesso de brigas. de agressão. Assim como Tipos 4 acham que a felicidade parece fugir deles a cada instante e sofrem pelo que falta no presente. O excesso implica um descontentamento permanente para este Tipo Eneagramático. os Tipos 8 jamais . excesso é excesso!). Eles sempre querem mais.. gozos mais extravagantes. técnicas mais modernas. Porém. Os Tipos 4 sentem que o que se perdeu no passado é melhor do que o que se tem no presente. de achar que “todos estão contra ele”. computadores mais completos.) exigente. “incontinência. Os Tipos 4 sofrem pelo que falta. sempre pode haver coisas melhores. Quando essas ânsias de ter mais são frustradas por uma ou outra razão. Fam. as coisas que ocupam esse espaço devem ser muitas e devem trazer o máximo de prazer e bem-estar. Não conseguem ficar agradecidos pelo que possuem e desfrutam agora. eles sofrem e novamente acham que “a vida” está sendo injusta com eles. Sempre querem algo mais.prepare-se agora!) cheio de merda” (. comidas melhores. tangíveis. não do tipo de coisas que os 4 procuram.. achei o brasileirismo “cheio de luxo”. De tudo deve haver algo mais.!?) tudo isso entre outras coisas não menos “cheias”. tá? Por outra parte.86 Khristian Paterhan C. equipamentos de som mais possantes. se sentem satisfeitos com o que possuem no “presente” efetivamente. festas grandiosas. Gurdjieff teria gostado de citá-lo em alguma de suas obras quando fala sobre a psique humana. . É muito interessante e com certeza G. Como este é o capítulo que retrata os eneagramáticos “8” ou “80”. Portanto. e pop. I.. ganhos maiores. que significa. Diz-se do indivíduo implicante. carros melhores.. o excesso sempre foi e sempre será atrelado ao “pecado capital” da luxúria. mas com o que obterão no futuro. o maior excesso dos Tipos 8 é o excesso de consideração interna. concretas. Que devem enfrentar grandes desafios.(. sensualidade e dissolução”. Os Tipos 8 não se importam com o que obtiveram no passado. Não fique zangado comigo. luxento (. lascívia. vale a pena conferir o que significa: “Cheio de luxo: Bras. e deve ser bem incrementado e impiedoso (afinal. É o prestigiado Aurélio “o culpado e injusto”. Esse querer mais tem a ver com coisas sensoriais. informações mais completas. que todos conspiram ou poderiam conspirar contra ele. Assim como o “espaço” deve ser ilimitado. Os Tipos 8 ficam com raiva pelo que querem a mais.. prazeres mais interessantes. mais e mais.. segundo o mesmo Aurélio. algo que supere o atual! Quando procurei o significado da palavra luxúria no Dicionário Aurélio. os Tipos 8 percebem quando ficam com raiva. Lembra o depoimento no qual um dos alunos escreveu que “achava que aquele ‘papo’ (do seu pai ‘muito intelectual’) era uma fraqueza. “o que importa é fazer. que não querem “parar para pensar”. O movimento até o Ponto 5 (intelecto) se realiza ora como uma reação de “segurança”. muito poder. temos que concordar em que as reações instintivas. muito de tudo. Então. Hoje percebo que dá para ser mais mental . é quase impossível parar para “emocionar-se” ou para “pensar no que é realmente necessário”. que Tipos 8 decidem ter de tudo o máaaximo! Aqui começa a luxúria: como tudo o ameaça. Logicamente. com o que se pode “cobrar dos outros” pelo que se lhes dá.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 87 graaandes problemas. agora”! Isto. O movimento ao Ponto 2 (emocional) tem a ver com uma “relação de conveniência”. muitos amigos.. e “explodem” sem pensar nas consequências. já. graaaandes injustiças. os cristaliza nos seus excessos e então nada parece contentá-los. A respeito. temos que tanto os atos luxuriosos como os excessos revelam uma grande falta de raciocínio e reflexão.”? Quando se quer mais. Este é um dos aspectos da “máscara” que os Tipos 8 deverão observar em si mesmos para não se tornarem seus escravos. quando se ultrapassam os limites. ora como um apoio para obter o que se deseja. eles devem ter sempre muito de tudo: muito dinheiro. por exemplo. no qual a influência maior provém do Centro do Movimento.. É para enfrentar todos esses graaandes perigos. são mais poderosas que as relacionadas aos Centros Emocional e Intelectual. Muitos 8 admitem que atuam “por instinto”. muito. quando se procura mais. muita segurança. Raiva e ação instintiva Sendo esta “máscara” parte do trio 8/9/1. que “pensar” não é importante. esta atitude os fixa na sua agressividade. vejamos este depoimento: “Percebo que tinha receio de me tornar uma pessoa racional e por isso não usava muito a razão. viscerais e/ou “centradas na barriga”. depressa. ) Esta ‘coisa’ é tão forte e incontrolável que se eu não puder dizer o que sinto. certa feita. até conseguirem compreender como é destrutivo. e logo vem alguém atiçar este monstro e lá vou eu explodindo. sem perder as emoções. a sensação é que vou explodir e aí eu explodo. Clara. então.. após estas explosões. a alguns de seus discípulos. Se eu não deixar sair. só me meto em coisas complicadas.) Às vezes eu estou tranquila. mas no fundo. gosto que a minha opinião prevaleça (. dizendo desaforos e às vezes até humilhando..) Se por acaso a raiva que sinto é injusta por não haver culpa na pessoa de quem estou sentindo a raiva. (nas quais) a raiva visceral toma conta totalmente.. Vale a pena registrar aqui um dos conselhos que Gurdjieff deu.. o monstro adormecido.” O problema é que. Estou sempre numa posição de autodefesa. Eu sinto isso fisicamente.” Só que a raiva já se expressou. parece que um furacão toma conta de mim.. até que gosto. citado no livro Gurdjieff fala a seus alunos: . que se repetem muito. a maioria deles concordará que o seguinte depoimento é totalmente verdadeiro: “(. se refere a este mesmo aspecto da seguinte maneira: “A vida é uma luta constante. eu vou a ela e peço desculpas. os Tipos 8 percebem os desastres provocados..” Uma aluna. isso tem me ajudado muito. Tenho dificuldades de aceitar opiniões contrárias às minhas. Mas ainda tenho algumas situações.88 Khristian Paterhan C. parece que vou explodir por dentro (. só me aparecem desafios. dificilmente me sinto culpada. Numa discussão. ou tocando com o dedo na ferida dos outros. A energia gasta nessas explosões pode ser desastrosa para o equilíbrio psicofísico dos Tipos 8 e eles deveriam prestar mais atenção aos momentos nos quais esse processo “explosivo” se manifesta. uma das que se usam para caracterizar os Tipos 9. Riso e Palmer é a forte tendência à “sociopatia” e ao “sadomasoquismo”. Esta insensibilidade provoca. quando é o momento de parar e descansar. como se diz vulgarmente: “primeiro eu. . Não se deixem afetar pelas aparências. contínua e sem descanso. significa também INSENSiBiLiDADE. mantenham os seus pensamentos em reserva e só expressem os seus sentimentos quando quiserem. Nós é que aceitamos ser feridos. nem perceber e nem poder perceber. A gula leva o Tipo 8 a uma busca frenética. espécies de instrumentos para obter o que desejam. entre outras coisas. A palavra “indolência”. só utilizem os que são necessários. O “movimento” da seta ao Ponto 5 desta manifestação negativa produz uma mistura muito ruim de “hedonismo insensível e egoísta”. e a indolência o leva a não saber e nem querer saber. utilizando músculos que não precisamos. deixando os nossos pensamentos darem voltas e reagindo demais com os nossos sentimentos. Já vimos que a gula não permite o gozo verdadeiro. Para alguns Tipos 8 menos equilibrados. ou. além de significar “apatia” e “negligência”. há um “hedonismo” egoísta que acaba por não se importar com os demais nem com suas necessidades. confiar e respeitar as pessoas. a incapacidade de aceitar. O problema da “insensibilidade” Devemos lembrar que os companheiros eneagramáticos desta oitava máscara são a gula e a indolência. de poder e autosatisfação. Quando obtêm o que desejam as abandonam sem nenhuma consideração.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 89 “Gastamos sempre mais energia do que a necessária. Relaxem os músculos. No caso dos Tipos 8 com forte influência do Ponto 7 eneagramático. A luxúria e o excesso estão diretamente ligados a ela.!” Devo lembrar aqui que uma das características “negativas” dos Tipos 8 mais desequilibrados destacadas por Naranjo. elas são por si mesmas inofensivas. as pessoas são apenas meios. segundo eu. E este é um dos aspectos mais negativos que não podem deixar de ser vigiados por aqueles que desejam obter autocontrole.” A influência negativa dos parceiros eneagramáticos 7 e 9: gula e indolência. terceiro eu e o resto que se f. talvez este processo fracasse pelo fato de que o superego é. Então. Então. transcrevo. Assim como a ‘identificação com o agressor’ é de uma grande ajuda para combater a angústia. os sentimentos de culpa também podem ser refutados mediante a ‘identificação com o perseguidor’ enfatizando o ponto: ‘Somente eu decido o que é bom e o que é mau. ou seja. quando os excessos e insensibilidades são lugar-comum. É notável observar esta relação entre insensibilidade e poder. passam a correr um maior risco de ficarem insensíveis às necessidades das pessoas que os rodeiam e ainda a não se importarem com os meios usados para aumentar e/ou consolidar esse poder. o fim justificará os meios. que acho que atualmente os governantes devem observar com a maior atenção. pode acontecer (e acontece com frequência). efetivamente. Sobre isso. Insensibilidade e poder Na medida em que alguns Tipos 8 conseguem obter mais poder e conseguem consolidar suas conquistas e territórios. para reflexão. um trecho da obra The Psychoanalytic Theory of Neurosis (Teoria Psicanalítica da neurose) de Otto Fenichel: “O poder como um meio para combater os sentimentos de culpa é facilmente compreensível.90 Khristian Paterhan C.’ Entretanto. num intento de reprimir os sentimentos. quanto mais poder possui uma pessoa. os crimes podem ser cometidos num intento de demonstrar a si mesmo que a gente os pode cometer sem ser castigado. a partir desse instante. especialmente em tempos de guerra ou ditadura (nada mais 8 que uma guerra ou uma ditadura. certo?). menos necessidade tem de justificar seus atos. que.” O mesmo acontece nesta outra situação. parte da nossa própria personalidade. a luta contra os sentimentos de culpa por meio do poder pode iniciar um círculo vicioso. Portanto. precisando a aquisição de mais e mais poder e ainda a execução de mais e mais crimes pelos sentimentos de culpabilidade para afirmar o poder. . O aumento da autoestima implica uma diminuição nos sentimentos de culpabilidade. nos quais se desenvolvem as piores características deste Traço Principal. e. a procura violenta e luxuriosa por prazeres de que se sentem merecedores e que lhes são negados pela “sociedade injusta” em que vivem. se as autoridades não realizam as modificações desse quadro social. desenvolvendo desde cedo uma tremenda agressividade. O mundo que elas observam acaba desta maneira “distorcido”. a desconsideração das necessidades alheias. Desconheciamna seu valioso significado. o surgimento de muitos Tipos 8 entre aqueles seres humanos que nascem e vivem na extrema pobreza. pois veem e sentem ao seu redor todos os dias que a violência. aos responsáveis pela violência permanente exibida e . Não devemos estranhar que cada vez mais crianças e adolescentes pobres neste país. posso citar o resultado de uma pesquisa que revelou que nenhuma das crianças e adolescentes recluídos na FEBEM jamais ouviu falar da palavra “solidariedade”. impostos por uma sociedade moderna para a manutenção da sua ordem e equilíbrio. a total ausência de princípios e a incapacidade de relacionar-se positivamente com os demais. a agressão e a luta parecem ser “normais” e “necessárias” para a “sobrevivência”. Suas carências os tornam antissociais e. sustentando ódios milenares. Esta reflexão se aplica também aos países em permanente estado de guerra. decidam colaborar com o tráfico de drogas e usar armas pesadas. logicamente. Como exemplo. finalmente. Está na hora de agir para evitar aquilo que alguns antigos livros sagrados anunciaram: uma época (com certeza a nossa) em que os adultos teriam medo das crianças. muito logo teremos que lamentar os atos desses Tipos 8. na atualidade. e em outros lugares do mundo.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 91 Insensibilidade e violência: uma reflexão necessária A sociedade está promovendo. são perigosas. Algo que não se está considerando com profundidade devida é o fato de esses jovens miseráveis e marginalizados serem levados a derrotar todos os limites. As consequências dessa visão “distorcida” da vida. como a frieza e falta de piedade. aos que ainda preconizam e promovem os ódios raciais. Os seres humanos que vivem em condições miseráveis passam a não sentir o que crianças e jovens que vivem de maneiras mais apropriadas conhecem e percebem sobre existência. normas e regulamentos. experimentar e descobrir novas alternativas para alcançar a felicidade e sentir que o sofrimento pode ser banido tanto por eles.. como também é. Por razões diferentes. quanto pelos demais. direcionando-as com confiança até os objetivos que desejam atingir.. Iniciando o processo de mudanças positivas Os Tipos 7. comentada a toda hora em diversos programas de televisão. 3 e 8 são. Os Tipos 7 desejam aventurar-se. Ele escreve entre outras coisas que: “O intuitivo (extrovertido). Os Tipos 3 desejam realizar obras que possam trazer bem-estar aos outros e gerar atividades e progressos em troca de admiração e prestígio. quando equilibrados. possui um apurado olfato para tudo que é novo e em desenvolvimento. quaisquer que sejam eles. paradoxalmente. nos quais a agressividade não só é denunciada ou “noticiada”. O Tipo 8 e o tipo “intuitivo extrovertido” de Jung Quando Jung descreve as características negativas e positivas do tipo “intuitivo extrovertido” consegue realizar o que acho um dos melhores retratos psicológicos dos Tipos 8. pelo fato de serem sensíveis a tudo o que apresenta “falhas” e/ou que está “ultrapassado”. Sabem liderar e provocar positivamente as pessoas. capazes de iniciar processos de mudanças muito positivos.. Nem a razão nem o sentimento podem restringi-lo ou atemorizá-lo para que se afaste de uma .. criando e promovendo personagens que só sabem usar a violência e a força bruta para alcançar seus objetivos.92 Khristian Paterhan C. Já que está sempre procurando novas possibilidades. erguida e louvada como a única maneira de “sobreviver” e “enfrentar” este mundo. criar. são os mais ativos e os mais empreendedores dos Tipos Eneagramáticos. é claro. as condições estáveis o sufocam. São pessoas com um senso de justiça muito apurado e querem que todos se beneficiem com os sucessos que eles venham a obter. tanto infantis quanto para adultos. Já os Tipos 8 são grandes realizadores. correspondem a este tipo.. ele pode brindar um serviço excepcional como iniciador e promotor de novas empresas.. (. os acontecimentos.) O respeito pelo bem-estar dos outros é fraco..... Distinguir entre “força” e “agressividade”. empresários. Também. especuladores.) Quanto mais forte sua intuição mais se funde seu ego com todas as possibilidades que visualiza. Deveriam aprender a observar os momentos nos quais polarizam as situações. Por isso é muito importante que os processos de observação de si se iniciem a partir destas reflexões: como estou usando meu poder?. facilmente se dedica a profissões em que possa explorar ao máximo estas capacidades. de que maneira meus atos serão benéficos para os demais?. Refletir sobre o valioso que se “possui” neste momento . ele também pode “fabricar” homens. e perceber que uma não implica. políticos. A observação da maneira em que a palavra “agressividade” é atrelada ao ato. etc. (.. (.. corretores da Bolsa.).) quando sua atitude não é demasiado egocêntrica. quais destas metas ultrapassam minhas ambições pessoais e poderiam ser meios de realização coletiva/grupal/familiar? Outros Tipos 8 deveriam perceber quando transformam uma concorrência sadia numa luta desapiedada e destrutiva para conseguir seus objetivos. a sua visão a apresenta em forma convincente e com um fogo dramático. podem beneficiar a todos que os rodeiam. Este é um dos aspectos que deveriam aprender a superar.. a outra.. as pessoas. O bem-estar psíquico deles conta tão pouco como o próprio.) este tipo é extraordinariamente importante tanto econômica como culturalmente. (. necessariamente.) Já que é capaz. (. a personifica (. dividindo o mundo em dois bandos inimigos e irreconciliáveis.. Já que se ocupa de coisas externas e de indagar suas possibilidades..)” Concordo. Muitos magnatas dos negócios.) da vida. tem pouca consideração pelas convicções e estilo de vida alheios (... Deveriam aprender a distinguir a diferença entre possessividade e confiança nos seus relacionamentos pessoais.. quando se orienta mais às pessoas que a coisas.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 93 nova possibilidade (. de fazer um diagnóstico intuitivo de suas capacidades e potencialidades.. Quando os Tipos 8 dirigem suas capacidades empreendedoras não visando apenas seus interesses pessoais e materiais. erros e/ou fracassos em pessoas. de não provocar os outros para ver quais serão suas reações. tão valiosas para quem quer viver em harmonia e equilíbrio. o positivo a ser desenvolvido é a capacidade de “estar relaxado”. A análise destes parceiros eneagramáticos pode ser de grande proveito no seu processo de observação e crescimento pessoal e profissional. Dos Tipos 9 mais equilibrados aprender a capacidade de conciliação. Já do Ponto 9. Valorizar a liberdade que os 7 sadios tanto apreciam e reservar momentos apenas para curti-la. sua principal luta. Tenho escrito sobre este Tipo com certa dureza. da qual ele pode sair vencedor se quiser realmente atingir o “autodomínio”. sem dúvida. sensibilizar-se a outras necessidades. presente. Desenvolvimento positivo das influências 7 e 9 Tipos 8 podem aprender muito de seus parceiros eneagramáticos mais imediatos. nos é difícil iniciar os processos de transformação positiva sem uma grande “pro­ vocação”. Do Ponto 7. como afeto e obrigação. . Para os Tipos 8. de fazer acordos pacíficos. podem obter uma maior força para realizar planos benéficos para todos e não apenas para si mesmos. que os tipos 9 mais sadios possuem sem que por isso esqueçam suas necessidades. quando discute por discutir. aprender a “controlar a si mesmo” é o mais importante. quando bota a culpa de seus problemas. acostumados e programados a sentir tudo intensa e excessivamente. sem censuras. sem críticas e sem provocação de qualquer espécie.94 Khristian Paterhan C. situações e/ou questões externas sem perceber sua própria culpa. Essa será. Aprender a observar quando se está com dificuldades de aceitar os próprios erros. até porque. sem compromissos nem controles. Destes Tipos devem aprender também a tremenda capacidade de aceitar a todos igualmente. nem expectativas. em silêncio e sem nenhuma apreensão. Não supor nada de ninguém. reforça a ideia de que os outros devem dar algo em troca de sua amizade e/ou proteção. e nas conquistas. O movimento contra a seta até o Ponto 2. sem exigências. o movimento até o Ponto 2 ajuda os Tipos 8 a se tornarem mais receptivos. levará os Tipos 8 a conhecer o valor da humildade e lhes inspirará para serem mais . meditando. Torna os Tipos 8 mais exigentes e controladores. realizando coisas pelos outros sem esperar retorno. Refletir sobre as prováveis consequências de seus atos e de como podem afetar aos demais. por exemplo: para isolar-se dos outros. para interpretar “negativamente” os dados e informações recebidos do mundo exterior. quando acha que conhece as intenções dos outros. para preparar uma vingança. sem preconceitos nem julgamentos antecipados. ficando menos agressivos e muito mais meigos e amorosos. Aprender a não desconfiar e a ficar mais aberto ao desconhecido.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 95 Observando os movimentos a favor e contra a seta (do 8 ao 5 e do 8 ao 2) – (ver figura na página 334) Os Tipos 8 devem observar quando o movimento ao Ponto 5 é negativo. apenas sentindo o vasto espaço interior. Dar sem visar um retorno. quando acha que estão sendo mobilizadas “forças ocultas” para destruí-lo. inclusive criando as próprias de acordo com a conveniência. sem cobranças. Perceber quando está sendo utilitarista e egoísta demais. Tipos 8 deveriam alcançar um equilíbrio entre reflexão e instinto. tirar seu “poder” e/ou evitar ou diminuir o seu controle das situações. quando discorre o modo de fugir das regras e das normas. Ao mesmo tempo. quando negativo. treinar-se para planejar antes de executar. Quando positivo. ou seja. Dar-se tempo para ficar positivamente em contato com seus mundos internos. Provoca a impressão de que “os outros” não estão fazendo tudo o que deveriam por ele e por seus interesses. pensar antes de agir. sem perder nem acabar com suas capacidades “instintivas”. podem aprender a ser menos orgulhosos e menos egoístas. De positivo. quando fica imaginando prováveis conspirações contra ele. A compreensão de que o poder não está apenas nas posses. fará com que consigam apreciar mais o que conseguem diminuindo os excessos e substituindo a luxúria pelo que os antigos cristãos e budistas chamaram de “contentamento”.) fiquei realçando qualidades e defeitos por meio do comportamento. não desejando apenas obter prazer sensual e/ou sexual e sim considerando e percebendo as necessidades “emocionais” de seus parceiros (as) e/ou amigos (as). relacionada com o Ponto 2.. Ano passado. quando positivo e deliberadamente vivenciado..) Parece infantil a questão.) Reconheço sua utilidade para conseguir me colocar em qualquer situação. Muitas vezes.. desprovidas dos excessos e luxúrias nos quais às vezes mergulham.96 Khristian Paterhan C. senti alegria e tristeza de saber que ‘8’ era a minha ‘máscara’ (..) Fiquei mais atenta e passei a trabalhar o controle dos defeitos com mais vontade (. os Tipos 8 voltam a valorizar vivências simples. A virtude da humildade.. a capacidade de ficar satisfeitos e felizes apenas porque existir já é uma grande dádiva.. amor e amizade.)” No final do seu depoimento ela escreveu o mais importante para os possuidores desta máscara compreenderem: “Bom. Redescobrindo a simplicidade e a leveza da inocência: a virtude que conduz ao poder verdadeiro Nossa aluna Heida tentou explicar porque achava necessária sua “Máscara 8”: “Às vezes penso que é necessária para a sobrevivência do animal que mora em mim. porém passei à fase de sentir tristeza devido às (minhas) sombras (.. Graças a esse movimento deliberado. (. os Tipos 8 se negam a deixar fluir seus sentimentos e ficam indiferentes às pessoas mais próximas e queridas. quase esquecendo-as.. rompe esse gelo emocional e permite a manifestação de carinho. agradecidos pelo que conquistaram até esse instante.. espero ter conhecido o caminho que me leve a viver mais leve!” .. O movimento ao Ponto 2. ou seja. como se a conscientização do fato fosse uma afirmação para a máscara e daí veio o comportamento questionando: ‘Vai querer me destruir?’ (. O primeiro passo é deixarem de ser agressivos. forte e capaz de lutar contra tudo e todos e que nada se interporá entre você e suas metas? Em qualquer dos casos. Mas como? Simples! Voltando a confiar nas pessoas e no poderoso fluir da existência. Na simplicidade. se isso chega a acontecer. não é por amor. um “compromisso” que terá que aceitar se deseja atingi-los. em que não se precisa lutar o tempo todo. A simplicidade no gesto e na palavra diminui e esgota a agressividade. não é gratuito. em que se pode ficar aberto. mas implicará necessariamente uma espécie de “contrato”. perceba quanta falta de “inocência” e reflita uns instantes em como isso o esgota. Eis sua falta de inocência. os Tipos 8 podem descobrir que também existem caminhos suaves. em que se encontram pessoas amigas. porém não menos efetivos. parece não existirem outros caminhos. Mas será que é assim mesmo? Sempre? Não existirão outras formas de alcançar esse poder tão desejado? E será que é isso mesmo o que dá contentamento? Observe o seguinte: O “programa” que formou a máscara diz que você está sozinho (a) contra o mundo. Para Tipos 8. A inocência permite que a vida se mostre mais leve. “Simplicidade” é um dos significados da “INOcÊNciA”. por que você é autossuficiente. Ou seu “programa” diz que você pode fazer e obter o que quiser sozinho (a). Porque entre os significados que esta palavra esconde. Tudo bem.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 97 Eureca! Tipos 8 devem conseguir “viver mais leve”. tudo fica mais leve e se descobrem “jeitos” de se fazer mais sutis. que ninguém vai mover um só alfinete para colaborar nos seus projetos e objetivos e que. senão aqueles tortuosos. o mundo é hostil. Pode-se confiar. que ninguém vai se preocupar com você. em que não se precisa “pressionar” nem provocar. Não se precisa “controlar” tudo e todos sempre. porque “a inocência confia”. Isso lhes permitirá abandonar suas armaduras e perceber que nem sempre devem ir “armados” para realizar e/ou relacionar-se com pessoas e/ou projetos. Na simplicidade existe a falta de preconceito. existe um que tem a ver com essa nova atitude interior na qual Tipos 8 se tornam SiMPLES. difíceis e cheios de perigos e inimigos a serem enfrentados. é uma selva na qual cada um deve lutar pelos seus próprios interesses e essas são as regras do jogo que garantem a sobrevivência e a conquista do poder. não existem riscos sem- . A simplicidade da inocência implica estar “contente”: é sentir-se satisfeito.98 Khristian Paterhan C. Tudo bem. pre. Nisto consiste o Mistério da Vida. então. e nem sempre existem “armadilhas”. acho que está bom por enquanto. manter-te em calma? Podes penetrar tudo com tua clareza e potência interior. Produzir e não conservar. Quem assim o entende compreende o Caminho oculto. nem pode haver luxúria porque “contentar-se” também significa “tranquilizar-se” e “limitar-se”. Na satisfação não existe excesso. Dirigir e não dominar. enquanto se abrem e fecham as Portas do Céu. renunciando ao conhecimento? Gerar e não possuir. de Lao Tse: “Podes abarcar a Unidade sem abandonar o Tao? Podes dominar tua força vital e chegar a ser como uma criança? Podes purificar tua contemplação oculta e chegar à perfeição? Podes amar aos homens e governar o Reino sem perder tua paz interior? Podes. com uma passagem do Tao Te King. não? Finalizo.” . ) Sem auxílio exterior um homem nunca pode se ver. Por que é assim? Lembrem-se.)” G. não se lembra da palavra que deu a si mesmo. I. não se lembra do que disse ou sentiu há um mês. Começa um trabalho e logo esquece porque o empreendeu.. I. não existe de modo algum. Dissemos que a observação de si conduz à constatação de que o homem se esquece de si mesmo sem cessar. Sua impotência em lembrar-se de si é um dos traços mais característicos de seu ser e a verdadeira causa de todo o seu comportamento. uma semana ou um dia ou apenas uma hora.” Aforismo de G. – Compreenda – disse Gurdjieff – eu não o vejo. Gurdjieff “Aquele que tiver se libertado da ‘doença do amanhã’ terá uma chance de obter o que veio procurar aqui. Não se lembra de suas decisões. quando é como agora. Gurdjieff “A outro (Gurdjieff) disse que seu traço (principal) era que ele não existia de modo algum.. Isto não quer dizer que você seja sempre assim.O Tipo 9 O eu que espera “(.” Gurdjieff citado por Ouspensky em Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido . Mas. Essa impotência manifesta-se de mil maneiras... e é no trabalho sobre si que esse fenômeno se produz com especial frequência (. vão concordar comigo: Tom Jobim foi o melhor dos Tipos 9 que nasceu neste belo país! Quando vim viver neste paraíso terreno e comecei a ver Tom Jobim na TV. tão íntimo. “(. meus queridos 9. em que ele falava da Mata Atlântica. Otimista. foi como se perdesse um amigo muito querido. emocionalmente estável e pacífico. Profundamente receptivo e pouco coibido.. esse foi o sentimento de milhões de brasileiros e estrangeiros que o amavam por sua simplicidade e bonomia...” Pode-se perceber facilmente todas essas características em Tom Jobim na longa entrevista que deu ao jornalista Walter da Silva.) as mãos eloquentes mantendo os braços sempre abertos reforçavam o calor da hospitalidade dos agradáveis momentos . Quando soube da sua morte.. modesto. segundo o repórter) foi publicada numa “edição histórica” da revista Qualis e dela pincei algumas respostas que confirmam o Tipo Eneagramático “sadio” mencionado.. me tornei mais um dos seus milhões de fãs! Gravei uma de suas últimas entrevistas-reportagens-ecológicas. realizadas pela TV Bandeirantes. uma pessoa genuinamente agradável. Vejamos o que o excelente jornalista escreveu sobre este popular brasileiro: “Ele não era uma pessoa que se entrevistasse.. “ao vivo”.. numa manhã ensolarada de novembro de 1994 na sua casa do Jardim Botânico no Rio. perfeitamente.El Eneagrama para descubrirse a si mismo: “(.100 Khristian Paterhan C. 67..) indivíduo dono de si mesmo (. Ouvir seus papos descontraídos na TV era muito agradável..258 caracteres”. mas sim alguém com quem se poderia ficar ali conversando ao sabor de seus pensamentos de multidirecionalidade (. paciente.)”. obrigado! Acho que todos vocês.. apaziguador.) pude notar seus gestos largos e vagarosamente generosos (. Com certeza. bonachão. A longa entrevista (“48 laudas. simplesmente. dos pássaros. permita-me lembrar um Tipo 9 maravilhoso. na descrição do Tipo 9 “sadio” que Riso faz em seu Tipos de Personalidad . da natureza que tanto amava. cantando desse jeito tão amigo.) autônomo e realizado: equânime e satisfeito. Antes de iniciar esta análise. apoiador dos demais. Atrevo-me a dizer que Tom Jobim se enquadra. reclama das construções no Rio: “O que se fez com uma cidade linda como o Rio (..) Nos momentos de análise rigorosa e aguda. Numa parte ele lembra: “Eu recebi muita carta do exterior de gente que ia se suicidar e que disse ‘olha. diz que ele é isso.): ‘Walter. como. Tom (...Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 101 que passei em sua companhia.) Primeiro.) uma cidade feita por Deus (. que ele é aquilo. quando eu comecei as minhas atitudes ecológicas.. não se esqueça de colocar na tua matéria que tudo isso é trabalho! Não se esqueça!’” Na entrevista. sabe o que acontece? Música é um negócio que já é difícil de você falar (.) inclusive não conhecem música. Um anfitrião nobre. O repórter ainda lembra que “ao nos despedirmos. Aí o jornalista lhe pergunta: “E quanto às suas atividades no exterior?” E ele responde como um bom 9: “Eu não estou muito preocupado com isso. veja o peso deste troço.. então ela me chamava de ‘tom. Tom revela uma das características do Tipo 9 descrita por Helen Palmer como “entrar e sair de conversas pensando em várias coisas de uma só vez” ..) aí nós vamos encher isso de espigões (. dos pássaros e das suas experiências no estrangeiro. tom’. o mundo tá cheio de coisas....) gritou pra mim da copa onde almoçava com a família (..) E depois o cara acaba falando mal do próprio compositor. reclama da imprensa e dos críticos: “Você vê esse troço aqui. eu não vou me suicidar porque escutei essa música sua e acho que a vida vale a pena’”(..” Depois das criticas à imprensa. não tem nada.” Quando o jornalista pergunta sobre o tema ecologia ele diz: “Olha.. diz: “Em suma. Ah... do Rio de Janeiro.. ele nos surpreende com seu humor sutil.. eu não sabia que elas eram ecológicas..). Agora.. publicada ipsis litteris pela revista. Um gentleman absoluto (. isso não dá. né?.) E dizer que isso é crítica musical (. por exemplo. numa outra diz: “A minha música é pra levar o cidadão a Deus. sair do Brasil pra fazer a América e tal.) cobrem ainda mais o perfil tão bonito..” Após falar numa série de nomes internacionais famosos que estavam interessados em gravar músicas dele e junto com ele...” Depois fala dos animais.” Será que um Tipo 3 ou 7 teria perdido essas oportunidades de . Não. (. certeiro e maroto”. né?” E por aí vai! Depois fala com carinho da sua irmã e revela que foi por ela que seu nome virou Tom: “A minha irmã não sabia dizer Antonio Carlos. aponta defeitos físicos (..” Num trecho longo... Mas de porre a gente não se lembra de quase nada.. Então. eu gostava de subir numa árvore e ficar quieto lá em cima. Porque quando era garoto. E hoje em dia. um assunto inevitável....) eu achei que isso não ia sair de Ipanema. então. ‘Vamos atingir São Paulo’. tá tudo meio apagado (. essa conversa já me dá uma preguiça. nada disso.) o que move é que tem essas músicas bonitas. Você vai perdendo no avião.” Falando sobre sua absoluta falta de ambição e demonstrando seu desinteresse pela fama e o sucesso que já possuía diz: “(. Outro aspecto do seu Tipo aparece quando fala sobre as perdas das suas composições. Pelo menos umas cem se perderam. dizem.. achei que isso ia chegar em Copacabana. naturalmente.. Tom o interrompe novamente e diz: “Exato. comprar uma bengala.. lhe pergunta: “Vocês não tinham pretensão de ‘vamos atingir São Paulo e as outras capitais?’” E ele responde como todo Tipo 9 faria: “Não.) hoje em dia inclusive tá difícil trabalhar porque é entrevista o tempo todo. ir “pra fazer a América e tal”? Claro que não! Mas um 9 pode.” Ele não o deixa terminar e responde: “Dizem. que foram feitas e foram movidas pelo amor.. responde: “Ah. volta a falar da imprensa.”.. né?” e ele responde: “Talvez.. uns óculos novos (rindo) pra poder ver as moças de uma distância oficial. o jornalista aproveita o “gancho” e lhe pergunta: “Você é uma pessoa extrovertida.. aí no arquivo talvez só tenham umas trezentas. Ninguém pensou em dinheiro e nada disso (. vai perdendo.)” Após falar da bossa nova. que compôs mais de 400 músicas. É tanta coisa.. Que eu saiba..102 Khristian Paterhan C. O jornalista lhe pergunta: “Você. né. do seu amigo João Gilberto a quem acha “bastante” introvertido. o que é que você guarda desse período?”. Quando responde à pergunta: “Falando sobre a bossa nova. por força das circunstâncias. Gostava de subir no telhado. né?” Logo a pergunta inevitável: “O que você espera da tua vida e qual o teu plano para o futuro?” Sua resposta é: “Descansar..” O jornalista. ‘Vamos fazer os Estados . Tinha um pouco um caráter meditativo. né. tudo isso foi bagunçado (. Eu acho que é tudo isso aí que você disse (rindo). sei lá.” Outra de 9 no Tom é esta.. eu acho que já posso parar. né?” Quando o jornalista comenta que “você já produziu muita coisa e escreveu a história da música popular brasileira.. mais ainda quando está realizado... E eu nunca teria tentado ir à América. e. tentar a vida.” Quando Gurdjieff fala de uma “doença do amanhã” e de nossa incapacidade de “ir até o fim” em tudo o que queremos fazer. soldado. Sair daqui depois de grande. tentar o quê? Ser o quê? Sapateiro. ele demonstra uma das características do Tipo 9 que. aos “efeitos negativos” da nona máscara eneagramática e a destaca veementemente como algo a ser vencido. porque.. quando não superada pode provocar graves problemas aos que se identificam com este Traço Eneagramático. Eu nunca teria ido aos Estados Unidos se o Itamaraty não tivesse me obrigado (.. Até lá felizmente estarei morto. uma coisa dificílima.. esta “doença do amanhã” é considerada “falta grave”.. né? De que adianta você pagar milhões de imposto e morar numa cidade que você não pode respirar?” Assim era o saudoso Tom Jobim. vamos começar a análise deste Tipo 9 antes que a gente esqueça : A “Doença do Amanhã” ou “Preguiça” Relembremos uma das três citações de Gurdjieff com as quais iniciei este capítulo: “Aquele que tiver se libertado da ‘doença do amanhã’ terá uma chance de obter o que veio procurar aqui. sem falar inglês. com certeza.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 103 Unidos’. ditador. As profissões são poucas. Seu nome mais comum: preguiça. ‘made in America’. Aí vai ter muita fumaça e tudo. pianista. Quer saber por quê? Então. ‘to make America’.. quando ele declara que “nunca teria ido aos Estados Unidos se o Itamaraty não tivesse me obrigado”..). . carteiro. e como a Mentira e o Medo. isso me dá um cansaço invencível. tanto que ganhou o status de um dos “Sete Pecados Capitais”. está se referindo. Devemos lembrar que a Preguiça está localizada no vértice superior do triângulo equilátero do Eneagrama. O sábio declarou ao jornal que ainda falta muito para o mundo adquirir um nível razoável de cultura. é uma das principais causas de todos os demais Tipos já analisados. Então. “amanhã farei”. uma recusa em ver e uma resistência à mudança. Quando alguém nos diz que alguma coisa foi adiada.” Tipos 9 são preguiçosos? Não. etc. esquecida. no sentido de “não fazer nada”. às vezes. protelada.” O problema é que essa “protelação” pode voltar a ocorrer “amanhã”. ao mesmo tempo.104 Khristian Paterhan C. Por isso a “observação” deste “efeito” do Traço Principal é muito valiosa não só para os Tipos 9. a vida começa a acontecer-lhes”. só que os Tipos 9 a sofrem “principalmente”. Já para Don Richard Riso. quando diz que a intenção original da palavra preguiça está no termo latino anterior “accidia” o qual apontava para um problema muito mais “complexo”: “Psicologicamente. accidia se manifesta como uma perda de interioridade. começarei a. não foi considerada como algo “importante a realizar”. projetos. porque seus hábitos se destinam a drenar energia e atenção para fora daquilo que lhes é essencial na vida”. ouvimos dizer “amanhã vou continuar”. Eles até fazem muitas coisas e. a passividade dos Tipos 9 é uma “ironia” já que “devem fazer algo para não fazer nada”. Claudio Naranjo tem uma visão ainda mais profunda sobre o assunto. postergada. em qualquer nível. mas para todos nós. sabemos que provavelmente esta coisa não estava pronta. “amanhã sim. o problema não é somente esse e sim um mais profundo que completa e motiva este “Traço Principal.. Para Helen Palmer o “pecado mortal da preguiça é atribuído a Noves. Riso conclui que os possuidores desta máscara “se tornam passivos..” . Mas no caso dos Tipos 9. por que em todos os textos sobre Eneagrama se faz tanta questão de destacar este fato? Vejamos. Repetidas vezes e sobre diversas ações. o problema não é que os Tipos 9 sejam “preguiçosos”. Pelo menos não como se entende esta palavra habitualmente Como veremos no decorrer desta análise. Todos nós sofremos desta “doença do amanhã”. Coincidindo com Gurdjieff. não foi concluída porque alguém “esqueceu” de terminá-la. tarefas e necessidades. protelam. essa pressão coincidiu com uma paixão que me levou ao casamento e portanto à necessidade de trabalhar. adiam.. olhando retrospectivamente. ao receber uma educação preciosa. atitudes. com suas necessidades. o que fiz foi tornar-me um executivo de empresa onde eu podia seguir a reboque de um empresário que. é socialmente estigmatizada. com seus “negócios”. Esses dois fatores talvez sejam universais para levar o Tipo 9 a sair da inércia e ‘pegar o carro’. práticas e hábitos deveriam mudar em suas vidas. com seus reais problemas. ele não “fez”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 105 Na minha visão. Adaptei-me muito bem a esse papel na medida em que ele . vestindo a máscara número 3 do autoengano. No meu caso. e tal. Existe uma pressão social para a pessoa ir à luta e fazer a vida.” Ao refletir sobre como “atuou” num determinado momento de sua vida apenas “levado” pelas circunstâncias. mas. em especial. ao menos externamente. eles esquecem. ou seja. os Tipos 9 não são preguiçosos no sentido de não fazerem nada. etc. nos estratos sociais mais favorecidos. O que significa isto? Simples: que tudo o que tem a ver com eles. Eles fazem muitas coisas ao mesmo tempo. sabia o que queria. ganhar dinheiro. tanto na minha vida profissional como no meu casamento. Como o Tipo 9 não tem um querer próprio (ou custa a descobri-lo).. comecei a desempenhar o papel de executivo. o que lhes impede de ver qual a sua “realidade” e o que lhes impede de ver e sentir que coisas. posso perceber o movimento automático pelos vértices. apenas “aconteceu” que teve que “fazer algo para não fazer nada”. Sim. são Preguiçosos em relação a si mesmos. resolvem os problemas dos outros. com seus projetos. A preguiça. no qual me incluo. o que deveriam realmente fazer. talvez o pior dos vícios capitais. O que é essencial nas suas vidas. enfim. Assim. um dos nossos alunos nos mostra esta manifestação do Traço Principal: “O Tipo 9 pertence ao triângulo mais próximo da essência e. enfim se evadem de si mesmos e até se esgotam nessas ações para poder dizer aos outros: “Trabalhei muito hoje e é por isso que não tive tempo para me preocupar com estes outros assuntos que sei são importantes para mim. dedicam-se a questões “simples”. eles “não lembram” graças a um truque com que se autoenganam: eles estão “ocupados”. “deixam pra lá”. falam muito. sofrem do Esquecimento de Si Mesmos. não tirar férias.. porque deve ser um executivo bom.. no presente. porque. Esquecimento de si mesmo: eis a causa do traço principal! Os Tipos 9.) Isto me fazia falhar sempre que tinha uma negociação a fazer com um ‘superior’ (. é cum-scire. e portanto um verdadeiro fazer. me dava uma ‘identidade’ que não possuía.. enfim. tudo era apenas um “papel” que demonstrava um forte “movimento negativo contra a seta ao Ponto 3 do Eneagrama. eu não podia me relacionar com tranquilidade. simplesmente. no aqui e agora. ação consciente. As pessoas eram superiores ou inferiores (. observe que só quando uma pessoa “lembra de si mesma” atinge o nível de “possessão de si” que Gurdjieff definia como “consciência de si”.106 Khristian Paterhan C.) se não contasse com o apoio de algum companheiro. de igual para igual com as pessoas que ocupavam outros papéis... ele não existia para si mesmo. ou seja.. tudo era porque tinha se casado.) Na medida em que minha identidade estava inteiramente amalgamada com um papel. ato consciente. para suas necessidades.. . É disto que se trata o “Traço Principal”. já que. me acovardava e era malsucedido ou simplesmente postergava ou depreciava a entrevista (. Para compreender o tremendo valor psicofilosófico que isto encerra.. ou “possessão de si mesmo”..)” Simplesmente..) Em seguida. esquecimento de que somos seres capazes de atuar conscientemente. tudo em prol da chamada ‘honra da firma’ (. segundo Pradines. porque tinha que trabalhar e ganhar dinheiro. trabalhando. se as circunstâncias assim o exigiam. Sabemos que a própria definição clássica de “consciência”. Esta “consciência de si” é atividade consciente. No papel era ‘mais realista que o rei’ e embora nunca chegasse cedo ao escritório – certamente um sinal da ‘Preguiça’ a me dizer que aquele papel nada tinha a ver comigo – era capaz de passar dois ou três dias diretos sem dormir. a pressão social e do cônjuge me faziam retornar ao desempenho do papel (. a preguiça. me disperso com a maior facilidade. é um modo de fugir do principal. Por isso Gurdjieff revela a seu aluno que. implica um contínuo estado de “Esquecimento de Si Mesmo”. faço uma porção de coisas ao mesmo tempo e acabo me perdendo. tão logo os deixo de lado. A dispersão. “acabo me perdendo”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 107 como ele ensinava. no estado de “consciência habitual” nenhum ser humano “faz” realmente. Nesse nível. “atuação dispersa”. objetivamente. e o sente como algo a ser trabalhado. uma de nossas alunas Tipo 9. já os esqueci por completo. pelo menos no meu caso. vibrar com tudo isto e. Para o Tipo 9.) Esse desligamento. apenas tudo lhe acontece. Então. distraindo-se com mil interesses. e provoca muita tensão quando se tem consciência dela.. tendo em vista que seu Traço Principal. sendo incapaz de lembrar mesmo o tema central de um filme interessante (. no fundo.) Com esta mesma facilidade esqueço meu trabalho de auto-observação e lembrança (. a incapacidade de se concentrar por muito tempo numa direção. Descrevem-no com expressões do tipo: “fico como uma barata tonta”. Por conta desta dispersão posso fazer muitas leituras.” Outra de nossas alunas assim expôs a questão: “O que mais dificulta a caminhada de um 9. escreve: “Fujo muito dos meus propósitos. Dispersão: deixando de lado o mais importante (o que é mais importante mesmo?) A maioria dos Tipos 9 percebe com facilidade esse Esquecimento de Si Mesmo.. ele não faz. ver filmes interessantes. o “Esquecido de Si Mesmo” é como se não existisse. Logo. naquele momento. estas questões sintetizadas aqui são de grande importância. essa . tudo apenas nos acontece. do que realmente deve ser feito. Alice. é a atuação dispersa. do que tem a ver com eles mesmos.. fazer cursos de diferentes coisas. Gurdjieff dizia que “para fazer é preciso ser”. sem concluir a maior parte deles. peças de teatro fantásticas.. “dificuldade de me ver”. “ele não existia de modo algum”. ) muita dificuldade de saber o que é importante pra mim!” A dificuldade de priorizar o que seria mais importante pode ser traduzida mais objetivamente como: “o que seria mais importante fazer primeiro para mim”.. deixando de lado o mais importante e partindo para aqueles de menos valor ou mais fáceis de executar (. Os Tipos 9 devem compreender profundamente que esta é a chave para a conquista do Traço Principal.) e não raro esqueço a razão principal de uma ação para fazer algo diferente (..... vejo-me protelando os meus afazeres ou dispersando-me neles.)” Um aluno Tipo 9 declara: “Me identifico com o número 9 por contrariar o dito popular: ‘não deixe para amanhã o que pode fazer hoje’... sofrem ao perceber que o “tempo passa voando” e não conseguem ou têm muitas dificuldades para concretizar qualquer coisa.) Dificuldade de me ver... às vezes. Dificuldade de priorizar o que seria mais importante fazer primeiro. dispersão da atenção e esquecimento criam-me situações embaraçosas (.)” Neste outro depoimento. uma dificuldade imensa de realizar coisas. projetos. a percepção de que “O Esquecimento de Si” equivale ao esquecimento do que é importante para o Tipo 9 fica bastante clara: “(.) A questão da procrastinação é uma questão séria....108 Khristian Paterhan C. Na maior parte das vezes.) Tendência a absorver muito as responsabilidades. A dificuldade de estar presente (ou como Cronos. em consequência do “Esquecimento de Si Mesmos”. o tempo. É como se não conseguissem perceber a . de ter um contorno de mim (... Dificuldade de discernir se tal coisa é importante ou não para mim (. devora seus filhos) Os Tipos 9 tanto admitem ter grandes dificuldades para enxergar suas próprias necessidades e valorizar seus projetos de vida pessoais como. ser divididas com outras pessoas para as quais certos assuntos ou projetos também são importantes (. responsabilidades que poderiam. .. a serem devorados pelo tempo. Em função desta perda da noção de presente. os Tipos 9 deixam de fazer muitas coisas importantes e chegam até a “esquecer” as razões pelas quais realizam determinadas ações. Muitos Tipos 9 admitem que esse passar do tempo parece algo muito difícil de perceber. de alguma maneira. Neste mito existe uma clara advertência sobre a necessidade de estarmos “conscientes e alertas” no “presente” para evitar que Cronos (o tempo) nos devore. por volta das 9 horas. estaremos de volta (. literalmente..)’ O cara entrou por algumas ruas de Niterói nas quais tinha passado e. Por isso se sentem . de repente. Por esta razão. quando dei por mim. me dirigi à padaria com o objetivo de comprar pão e leite. de nos conscientizarmos de que precisamos agir agora e não amanhã.. eles vivem situações muito “engraçadas” nas quais fica muito clara essa tremenda dificuldade de considerar e estar no presente. Entretanto. Os meses passam. uma cachacinha. depois de uns 10 minutos.) disse: ‘Vamos dar um pulinho rapidinho ali na casa de um colega e daqui a. O mais grave desta perda de contato com o presente é que. Papo vai. antes de lá chegar. encontreime com um amigo que (. Em um engraçado e incrível depoimento. já estava na casa do sogro desse amigo. um aluno nos revela esta difi­ culdade: “Certa manhã. Neste sentido.. Os anos passam. papo vem. Conclusão: Só consegui telefonar para casa por volta das 2 horas da manhã do dia seguinte!”.. que costumava “devorar seus filhos”. Tipos 9 começam. sempre lembro aos participantes de nossos workshops que vale a pena lembrar o mito de Cronos. ou seja. entramos numa residência onde se encontravam várias pessoas comendo e bebendo e me serviram. Os dias passam e as coisas vão sendo adiadas e/ou esquecidas.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 109 passagem do tempo. A impossibilidade de ter contato com o momento presente é outra consequência do Esquecimento de Si Mesmo. Às vezes precisam inclusive que alguém lhes lembre o objetivo desses esforços. no máximo 30 minutos. participando de uma caranguejada. imediatamente. . malas prontas. os Tipos 8. ia embora. li. fiquei na casa de uma prima (ela foi para a casa de praia e eu fiquei na sua residência com meus dois filhos e a empregada).) quando fui ter minha terceira filha. Decidi ‘fazer hora’ para esperar e entrei numa livraria. Tudo bem (. começam a valorizar mais o que chamamos o “momento presente”. quando compreendem o que significa ser “devorado por Cronos”. 9 e 1 se relacionam de modos diferentes com o que chamamos o “território”. já que desta maneira não correm o risco de perder o rumo de suas ações.) Já ia regressar à minha casa. tomei sorvete. A questão do “território aberto” e “sem limites” e suas consequências Temos dito que os integrantes da tríade superior do Eneagrama (Centro Físico e/ou do Movimento).110 Khristian Paterhan C. olhei novos livros e por fim olhei o relógio – 14:00.. e o neném. mais seguros agindo sob o comando de alguém. folheei livros. ato contínuo.. Nos depoimentos abaixo fica claro como essa incapacidade de estar no presente leva os Tipos 9 a deixarem de “lembrar” quais os objetivos relacionados às suas ações e decisões: Uma aluna lembra: “(. saí. ou seja. Vimos que .... Pensei: ‘Está na hora’ e. tudo em ordem (.) quando chegamos no elevador o meu filho (o segundo) perguntou: ‘Mamãe. e ela lá no berço!” Outra aluna conta: “Certa vez fui à cidade resolver um assunto e encontrei o local fechado para almoço indicando no aviso que reabriria às 14:00. Só então me dei conta de que eu ‘fizera hora’ para esperar abrir o lugar onde deveria resolver um assunto. voltei.” Muitos Tipos 9. O neném nasceu. tomei o ônibus para casa. vai ficar?’ Eu tinha esquecido. muitas vezes aceitam qualquer coisa e concordam com situações que lhes são totalmente prejudiciais. Os Tipos 9. Ou seja. se não exagerassem. Um dos nossos alunos Tipo 9 escreveu: “Minha atitude básica de vida é me sentir bem na medida em que vejo os outros bem... Isto seria uma virtude. Se os Tipos 1 exageram na ordem. leva os Tipos 9 a viverem situações muitas vezes complicadas. em terceira pessoa. abrem mão demais de suas próprias necessidades e perdem facilmente o controle das coisas.. Nisto não meço esforços para ajudá-los. (.disponível demais.. Reconhecendo a falta de limites na sua relação com as outras pessoas. Questões importantes não são protegidas.)” A ideia de “evitar problemas” tem a ver com uma redução das próprias necessidades e um abandono do que teria que ser cobrado e/ou priorizado nos seus relacionamentos pessoais e profissionais. se os Tipos 8 exageram ao controlar e fixar limites. etc. os 9 quase não o fazem... Os Tipos 9 não são “ambiciosos” e não possuem nada do jeito que outros Tipos desejam possuir. pelo contrário. . não conseguem delimitar seus territórios e não possuem muito interesse em ampliá-los. Carecem de apego a coisas materiais.) assediada por pessoas com problemas (. abandonadas. Isso lhe provocava um “cansaço invencível”.) nossas qualidades [se refere a seus pares eneagramáticos] acabam virando defeito por excesso (.. que se achava: “. vai nas águas do outro... esquecidas. uma aluna escreveu.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 111 os Tipos 1 os delimitam e ordenam e que os Tipos 8 desejam sempre ampliá-los num inevitável desejo de expansão à procura do poder.” Querendo evitar atritos. Em parte. os 9 às vezes são largados demais. A dificuldade de delimitar sua própria ordem e de definir qual será o território pessoal a ser conquistado e protegido.. coisas são perdidas. mesmo que às vezes prejudique a mim mesmo. Lembra Tom Jobim? Ele não escreveu suas músicas para ganhar mercados e muito menos tinha planos para conquistá-los. por não saberem dizer “não” quando necessário. Às vezes não sabe o que é seu desejo. Difícil definir o que é seu desejo e quando esse desejo é do parceiro ou do filho. Muitas vezes. Este depoimento de Julia deixa clara esta questão: “Foi muito claro e terrível observar (este) comportamento.. razão pela qual sempre estará “aberto a todos”. para ficarem livres novamente e evitarem atritos. Então. Quando os Tipos 9 começam a perceber o quanto esta falta de “território” e de “limites” lhes faz falta. para não me aborrecer. Os Tipos 9 com maior influência do Ponto 8 procuram atingir um estado de “não atrito”. de viver tranquilo. Em ambos os casos. percebem que perdem de vista e abrem mão de suas próprias necessidades.. Aqueles com maior influência do Ponto 1 querem ter a certeza de que conseguiram uma ordem. é um modo de estar sempre em paz.. Uma aluna para a qual o território tem a ver com esse espaço pessoal no qual não existem possibilidades de “atritos” e com forte influência do Ponto 6 escreveu: “Talvez pelo medo de ser mal interpretada me isolo muito. O que mais me fascina é a paz! Troco tudo. permito que os outros o invadam e abusem do que é meu de direito e de fato (. pessoas e situações. faço tudo para estar em paz (. não se quer ter um território exclusivo e sim um território livre de problemas. no qual estará garantida a “tranquilidade” que procuram constantemente. que não era justo e que em muitas outras ocasiões eu vivi fazendo exatamente o mesmo. razão pela qual se esforçam ao máximo na procura dos meios que lhe tragam as ansiadas “paz e tranquilidade”. Sentirme dominada por ele e só depois perceber que aquilo me incomodava.)” A falta de “território” produz naturalmente a falta de “limites”.. um espaço próprio. com certeza. não ter “território” definido e ficar “aberto” a todas as coisas.112 Khristian Paterhan C. não existe o desejo de obter benefícios e com isso fazem o que tem que ser feito. porque sou eu que não defendo meu espaço. não gostam de problemas e ficam irados quando não os resolvem. ficam irritados ao descobrirem como é difícil para eles introduzi-los. Psicologicamente. Quando se determinam a realizar algo “bem-feito”.)” . eles vão ficando com raiva “aos poucos”. quando percebem a necessidade desses “limites” e não suportam mais os resultados de suas protelações. e Tipos 1 evitam manifestar sua raiva o quanto podem pelo fato de considerá-la uma imperfeição e/ou a disfarçam por meio de seus “regulamentos” e suas “exigências”. como não desejam perder a paz e a tranquilidade. Talvez precisem compreender que não significa ficar fechado demais. é necessário e que atender às suas próprias necessidades é tão importante como satisfazer as alheias. enxergando a necessidade e a importância dele como um meio de superar o Esquecimento de Si Mesmos. na medida em que percebem os resultados negativos de suas condutas “proteladoras”. Enquanto os Tipos 8 explicitam sua ira com rapidez e instintivamente com todos os exageros que lhe são “normais”. às vezes. Apenas significa estabelecer e ser responsável pelo “território” individual. nem que devem renunciar a esse jeito amistoso e amoroso de ser. que não significa ter que parar de ajudar os outros.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 113 Apesar de perceberem a necessidade de “botar limites” e garantir seus “espaços”. atrasos e assuntos pendentes. Como não desejam ter conflitos com a realidade. os Tipos 9 “acumulam” a raiva. a ira. Vão ficando irritados porque percebem como o Esquecimento de Si Mesmos os atrapalha. reagem iradamente quando atingem certos limites. Percebem como perdem oportunidades. como a preguiça os afeta negativamente. até que se manifesta como uma necessidade imperiosa . Observando a raiva: a influência dos parceiros Eneagramáticos 8 e 1 É interessante para os Tipos 9 perceber que existe algo em comum entre seus parceiros eneagramáticos 8 e 1: a raiva. Desta forma. Isto porque. quando cientes de seus limites e da responsabilidade por seu “espaço” individual. em determinadas circunstâncias. a raiva dos 9 se acumula. se retém. Iniciando o processo de mudanças positivas. ou melhor. os Tipos 9 protelam o mais que podem essas iniciativas que os beneficiam grandemente. Apesar de evitarem a raiva e preferirem superála. como já assinalei anteriormente. os Tipos 9 aprendem que dizer não. para logo em seguida morrer de raiva porque percebia o velho jogo de ceder aos outros achando que os interesses e prioridades deles são mais importantes que os meus e que eu posso ficar para depois. enquanto falava pensava que não tinha mesmo outro compromisso e acabei concordando que ele atendesse a ela antes. ela queria que ele voltasse para fazer novo trabalho e assim quando ele ligou para combinar o dia e a hora de ir à minha casa e eu atendi ao telefone. Ela nos descreve como e por que a raiva pode ser manifestada: “Eu havia combinado com um trabalhador para que ele fosse à minha casa concluir uma tarefa para a qual já fora pago. nossa aluna Tipo 9.114 Khristian Paterhan C. Satisfeita com o trabalho dele. Era uma raiva enorme .) sempre defendendo seu espaço (. de estabelecer esses limites. É uma raiva desesperada e. a afastar-se do que provoca a ira. especialmente pelas pessoas que “deveriam” comportar-se como eles. autodirigida. negando-se a admitir que as causas de determinadas situações foram provocadas por eles mesmos.. percebia um movimento mais interno avisando que eu estava agindo errado. os leva aos exageros próprios do Ponto 8. de atingir objetivos. Essa agressividade. como de costume.. ela interferia e quase impôs que ele fosse primeiro à sua casa e depois à minha. É a raiva que acusa os que abusam de sua boa vontade e não se preocupam com suas necessidades como eles se preocupam com as deles. sendo que enquanto trabalhava para mim eu o cedera a uma amiga para que realizasse para ela uma tarefa. correndo o risco de perder o controle e de agir desesperadamente. fazendo isto parte de um trabalho maior que havíamos acertado. de concluir processos.) enquanto sentia mais raiva ainda de mim porque. Continuemos com o depoimento de Julia. no seu aspecto negativo. sem considerar os resultados dessas reações “explosivas”. Estava louca de raiva dela porque sei que aquele é seu comportamento habitual (. Eu. minha amiga entrou na linha pela extensão (pois eu estava na sua casa) e forçando a conversa onde eu marcava o horário cedo de manhã para que ele chegasse. no fundo.. É uma raiva desencadeada após ter suportado “todas as injustiças” cometidas contra eles. Já a influência negativa do Ponto 1 os leva a isolar-se. enquanto fazia a concessão.. demonstra apenas o fruto de sua própria máscara. No dia combinado. Parti para ela com grande agressividade verbal dizendo-lhe que ela não tinha direito de julgar o tempo dela mais precioso do que o meu (pois o que ela queria era ter certeza de ser atendida cedo para ficar livre depois) principalmente quando ela sabia que eu tinha urgência de terminar os trabalhos de minha casa.. Uma parte da sua raiva é contra si mesma.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 115 por sentir-me invadida. Esforcei-me ao mesmo tempo para ver a situação do ângulo de minha amiga. que eu o chamara e que depois falaríamos sobre os motivos do meu e do seu comportamento (.. Liguei de volta para o trabalhador. não pude evitar o tom de raiva na voz enquanto de alguma forma lhe dava uma satisfação dizendo-lhe que ele estava a meu serviço. já que percebe como o fato de ficar “aberta” demais lhe dá a impressão .) preparei-me para não informar nada a ela. e embora tendo jurado que não daria satisfações. desfiz o combinado informando-o que fosse à minha casa primeiro.) embora eu soubesse que isto seria uma conversa difícil e inútil (. o homem foi à minha casa e ela. ou melhor. diante de um direito líquido e certo meu. De fato. A energia gasta em todo o processo descrito pela nossa aluna foi exagerada.. pelo menos. esperando e vendo a demora.” Achei muito importante transcrever este depoimento quase na íntegra.. Contive-me depois o quanto pude e analisando o fato à luz dos meus direitos e de como minha amiga costuma dirigir seus interesses sem levar ninguém em consideração ou dar satisfações do que faz. Eu disse que ele estava comigo.. eu permitira que alguém me roubasse algo..) Senti-me novamente com raiva porque dar explicações é também um comportamento mecânico meu. telefonou para mim para saber dele. resolvi fazer o que ela certamente faria. uma coisa eu já havia feito: defendera meu espaço mesmo que tardiamente. não dar satisfação e fazer valer meus interesses. mas desta vez fui capaz de ter um pouco de compaixão de mim mesma porque. porque descreve muito bem o modo como a raiva retida faz com que os Tipos 9 “explodam” de vez quando percebem o quanto suas atitudes os prejudicam. da maneira como ela atua (. enquanto me vinham à mente muitas outras ocasiões em que. de ser “invadida” pela sua amiga. evitando culpar os outros pelos seus esquecimentos e erros. Este movimento contra a seta ao Ponto 3 do triângulo eneagramático serve negativamente para que justifiquem de todas as maneiras o fato de “não terem tempo para” ou de “estarem muito ocupados com muitas outras coisas”. Em resumo. seus esforços são cada vez mais bem-sucedidos. os Tipos 9 deveriam aprimorar a Observação de Si Mesmos. se dá no momento em que nossa aluna decide “julgar” sua amiga e propor-lhe uma conversa sobre o quanto era errado seu comportamento. revelando que todo esse problema faz parte de seu Traço Principal resumido na palavra “tardiamente”. Uma aluna reconhece: . na qual reconhece a capacidade de cuidar de seus interesses pessoais como ela não consegue fazer. o que. Os Tipos 9 não podem botar a culpa no mundo (influência negativa do Ponto 8) por essas situações nem achar que são “vítimas” de uma situação que eles mesmos provocam. Mas é justamente nesta frase que a influência negativa de ambas as “asas” (8 e 1) se tornam mais presentes nas palavras “defender” (8) “meu espaço” (1). aparentemente. aprendendo a respeitar mais a si mesmos e percebendo as suas necessidades e prioridades. Ela chega a afirmar-se satisfeita pelo fato de ter conseguido “defender” seu “espaço” mesmo que “tardiamente”. O negativo dos movimentos aos Pontos 3 e 6: reconhecendo o medo e a mentira A mentira (movimento negativo ao 3): Os Tipos 9 costumam mentir a si mesmos em relação aos esforços que dizem estar dispostos a realizar para atingir seus objetivos. Em todo caso. nossa aluna demonstra que está fazendo os primeiros esforços para atingir um melhor conhecimento de si mesma e sabemos que da época do depoimento até hoje.116 Khristian Paterhan C. O modo negativo com que vemos a influência do Ponto 1 neste depoimento. lhes impediria de fazer ou realizar o que seria mais necessário e importante. num dos depoimentos iniciais. Mas para mim minto com frequência. Porém.) quando a influência do objeto não irrompe completamente. ou pelo seu autocontrole (. A ideia é livrar-se logo dessa tarefa para voltar a ficar em paz. se mostram receptivos e atentos..) na realidade se deve à sua falta de relação com os objetos (. os Tipos 9 parecem dar-se muito bem. No desempenho desses “papéis” realizados sem verdadeiro interesse e apenas pela pressão exterior.) Esta peculiaridade (.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 117 “Detesto mentira. quando os outros o conhecem “externamente”. eles parecem pessoas serenas. então... porque. sou muito atenta quanto a isso.. faço o possível para falar a verdade. parece como se o efeito do objeto não penetrasse em absoluto dentro do sujeito (. O Tipo 9 e o tipo de sensação introvertida de Jung Acho que este é o momento oportuno para refletir no tipo junguiano que se assemelha ao Tipo 9: o chamado “tipo de sensação introvertida”. que realmente o sujeito está muito ocupado e não tem tempo de fazer qualquer outra coisa.. Geralmente. pois ninguém percebe sua “falta de interesse”. Vimos também.. que também mentem assumindo “papéis” que não lhes interessam com o objetivo de serem aceitos pelos demais e/ou de satisfazer suas necessidades imediatas de ordem financeira ou material. de duas maneiras: mentindo a si mesmo e mentindo aos outros que acham. paradoxalmente. é recebida com uma .) Visto de fora.. arrumando pretextos e assim adiando mudanças no meu modo de agir. por trás dessas “virtudes” aparentes. tranquilas e autocontroladas..” O movimento negativo ao Ponto 3 se dá. ou podem achar. ocultam uma grande falta de interesse pelo que executam. Na descrição que Jung faz deste tipo em seu Psychological types lemos o seguinte: “Talvez (o sujeito) se destaque por sua calma e passividade. já que. eles podem aceitar essas pressões exageradas e injustas..” Ou seja. Muitas vezes conseguem “enganar” os outros com essa aparente disposição. Daí que esta última parte da descrição de Jung acerca do tipo de sensação introvertida seja tão aplicável a alguns Tipos 9: “Neste caso. Às vezes acontece que eles assumem responsabilidades demais e não conseguem honrá-las senão sob muita pressão. A verdade se mostra quando de repente não cumprem prazos. deixam questões “feitas pela metade” e declaram “esquecer” determinados compromissos. algo deliberado. o tipo se transforma numa ameaça para o seu ambiente. se ausentam sem necessidade. porque sua inocuidade total não está como conjunto sob suspeita. por este mesmo motivo.. porém. (. ninguém suspeitaria que seu “espírito cooperativo” poderia ser apenas uma “mentira” e o abandono e esquecimento de seu papel ou do seu trabalho. a “mentira” do Ponto 3 está relacionada com a necessidade dos Tipos 9 de parecer externamente ativos. neutralidade bem-intencionada. (o tipo) se converte facilmente numa vítima da agressividade e do domínio dos outros. Daí que o que Jung acrescenta na sua descrição dos tipos de sensação introvertida também seja aplicável ao Tipos 9 quando se movem até o Ponto 3 negativamente: “(.. de serem exigidos ao extremo e cobrados constantemente.) Assim. o que resulta muito adequado já que todos estão mais do que convencidos de que é isso mesmo que acontece com eles.) permite ser objeto de abusos e logo se vinga nas ocasiões mais impróprias com estupidez e obstinação redobradas.” Vale a pena refletir no depoimento em que uma das nossas alunas já citadas explica os riscos de relacionar-se de uma maneira “não .118 Khristian Paterhan C. Quando se comportam desta maneira. até porque consideram que esse será o único modo de “aprender a fazer”.. a ponto de receberem elogios pelo seu “espírito cooperativo”. mostrando pouca simpatia... podem chegar a converter-se em suas vítimas. constantemente tratando de acalmar-se e ajustar-se (.)” Neste caso. Os Tipos 9 correm o risco. Pelo fato de sentirem-se culpados. quando descobertos por pessoas mais fortes ou controladoras sob cujo comando venham a se encontrar. muitas vezes arriscam o trabalho de suas equipes e/ou dos grupos dos quais participam. o ciclo se fecha quando extenuados após o esforço de última hora. não os identifico e. uma aluna Tipo 9 descreve seus medos da seguinte maneira: “Há muito repito ‘não gosto de varrer contra o vento’. No seguinte depoimento.. abrindo mão dos meus interesses. na maior parte das vezes. e cujo núcleo negativo é o medo. com as pessoas (. Nada melhor para caracterizar o Tipo 9. me vejo desconsiderada por elas ou seguindo suas ‘vontades’. às cobranças. característico dos Tipos 6. trato logo de conciliar. abraçando suas ideias. o que nem sempre garante um bom resultado.. Também se pode apreciar o aspecto negativo. . quando os Tipos 9 se dão conta de que devem fazer algo há muito protelado e começam a imaginar as conse­ quências que isso pode acarretar (Ponto 6). Naturalmente. pressionados pela “urgência” de terminar as coisas proteladas. conservando a paz e a tranquilidade que tanto amam. O medo (movimento ao 6): O medo dos Tipos 9 está relacionado com a constante preocupação de manter-se fora de atritos e conflitos. os Tipos 9 se movem negativamente ao Ponto 6: fazem por temor às críticas. “trabalham sem parar”. Antes do estudo do Eneagrama me vangloriava de não sentir medo. até porque. voltam como se pode apreciar no gráfico. apresentando o típico movimento contra fóbico. o que acarreta que suas ações não sejam autênticas (Ponto 3) e sim um meio de escapar às reações não desejadas que poderiam advir de seus “esquecimentos”. reconhecendo seus valores pessoais.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 119 verdadeira”: “É difícil atuar no plano concreto quando entro em relação com o mundo. ao ponto de origem. tomar decisões que podem ser o estopim de um conflito. sufocando minhas opiniões apenas para não perder os contatos e me sentir aceita. Se pressentir a possibilidade de um conflito. para mim. fazem apenas pelo medo das consequências.) estabeleço relacionamentos com base na ‘vontade’ de estar bem. Então.” Quando isto acontece. o 9. É típico que “trabalhem contra o tempo”. ou seja. disposta a agradar-lhes. em harmonia com as pessoas e parto fazendo-lhes concessões. de súbito. Realizam esforços desmedidos e extenuantes. É muito difícil. onde vivo um mundo de paz! Só agora entendo por que tenho tanta preocupação em não incomodar ninguém. isto significa o seguinte: quando relacionado às próprias necessidades. iniciam uma desesperada tentativa de realizar e. sabendo que estão “contra o tempo”. se reconhece a necessidade de agir porque se compreendeu profundamente que protelar é uma maneira de não amar-se a si mesmo. como escreveu o apóstolo Paulo. discriminando quais são os mais importantes e requerem uma maior atenção e prioridade. medo de não ser aceita. Achava-me corajosa por enfrentar situações difíceis (..)” O “medo” do Ponto 6 se manifesta também quando os Tipos 9 sentem que não podem seguir adiando trabalhos. Logo. Fé (6) e Esperança (3) ou Reta Ação. O positivo do movimento 9-6-3 – (ver figura na página 334) Quando os Tipos 9 começam a compreender a necessidade de atuar. Os Tipos 9 devem aprender a fixar datas e prazos concretos para a realização de seus trabalhos e projetos. medo de me expor e.. o medo de me tirarem a tranquilidade! Adoro ficar comigo mesma. decisões. Coragem e Verdade. Então. Lembremos que as virtudes relacionadas com os Pontos 9-6-3 são respectivamente: Amor (9). atos e projetos.. é o reflexo de que também vou perturbar a paz de outrem (. todo esse meu retraimento é medo! Medo de desagradar. o que garante (Esperança) a realização do mesmo. passam a viver seus “movimentos dentro do triângulo” positivamente. .. se esgotam demais. Na prática. por que não. quando param de protelar e aprendem a se importar com suas necessidades.120 Khristian Paterhan C.) Observando-me com atenção. descobri esse movimento constante para o 6. Esta “Fé” é consciente e se manifesta em um trabalho deliberado em direção ao objetivo. porque agora a ação é Correta e Verdadeira. surge a Fé que é “a certeza do que se espera e a convicção do que não se vê”. graças a esse “trabalho” deliberado e consciente. porque se decidiram a não mais protelar o que realmente devem fazer. deveriam aprender a “programar suas ações”. criando hábitos que lhes permitam discernir entre o que é mais necessário realizar “agora” e o que pode ser “eliminado” ou “postergado”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 121 A influência positiva dos parceiros 8 e 1 Os Tipos 9 devem aprender do Ponto 8 do Eneagrama a valorizar seus territórios e lutar por seus objetivos e metas sem abandoná-los com falsos argumentos. Sua primeira tarefa pessoal foi tirar esse documento. essa carteira profissional começou a ser necessária. mas também que ele “lembrasse de si mesmo” e não protelasse mais suas próprias necessidades. Mas essa tarefa não tinha como objetivo apenas obter essa carteira. Era difícil porque requeria legalização de diploma. assim como a capacidade de estabelecer prioridades e organizar suas próprias vidas do modo como o faria um equilibrado Tipo 1. Aqui é quando o aspecto positivo da ambição dos Tipos 8 pode servir como exemplo. . Sempre recomendo aos Tipos 9 iniciar processos de observação de si mesmos. por meio dos quais consigam dar-se conta quando estão adormecidos com respeito às suas necessidades reais e aos seus objetivos. Muitos Tipos 9 têm dificuldade para lidar com dinheiro. Ele adiava constantemente a realização desse trâmite. Porém. É importante criar rotinas que garantam a realização de tudo o que foi postergado ou “esquecido” durante meses ou anos. não parecia necessário tê-lo. para obter benefícios por intermédio das suas ações. sem o documento exigido pelo conselho de sua profissão. a partir de certo momento. Finalmente conseguiu. trâmites diversos e prolongados. Um dos alunos estrangeiros viveu durante mais de 15 anos no Brasil. Era uma maneira de “amarse a si mesmo” e de iniciar um processo no qual o “Esquecimento de Si” começasse a ser superado. para fechar negócios. ele já superou muitos dos aspectos negativos da sua “máscara” e hoje se destaca na sua área. em determinados momentos. até porque. reconhecimento de estudos. Já do Ponto 1. ordenar e priorizar suas necessidades. Tudo para um 9 desistir. e. sempre e em toda parte. Naturalmente. sabem cuidar dos problemas alheios. começam a atuar corretamente. Amar implica lembrança.122 Khristian Paterhan C. Então. sabem solucionar conflitos. essa capacidade de ser amigo de todos será ainda maior e mais positiva. em palestras a seus alunos. isso é Reta Ação. nem será mais capaz de protelar ou de esquecer o que é importante e necessário para sua realização integral. Quando você começa a se amar não poderá abandonar-se. Atuar é um imperativo natural. atuar corretamente é um ato de consciência. A virtude da Reta Ação pode levar todo Tipo 9 à realização pessoal e espiritual. A Reta Ação é o remédio contra a “doença do amanhã”. diríamos que é amar a si mesmos tanto quanto são capazes de amar aos seus próximos. Aprenda a amar a si mesmo e com certeza essa bonomia. Evitará trabalhar sob pressão e será persistente na tarefa de atingir seus objetivos reais. O “remédio” que Gurdjieff recomendava contra esta “doença”. Devem considerar suas necessidades reais priorizando ações que lhes sejam produtivas. Ao amar a si mesmo. o “Esquecimento de Si Mesmo diminui”. era o seguinte: “Lembre-se de si mesmo. Eles apenas devem realizar tudo isto também por si mesmos. O discernimento é essencial para compreender o que é a Reta Ação e o Amor. Os Tipos 9 sabem dar amor às pessoas. estabelecer pontes entre as pessoas e conciliar. estabelecerá rotinas adequadas de trabalho e aprenderá a trabalhar em função de metas verdadeiras. positivamente falando.” Os Tipos 9 deveriam começar a observar de quantas maneiras “esquecem de si mesmos” e iniciar um processo de “lembrança de si” que lhes permitirá existir plenamente. Lembrança de si mesmo: aprendendo a amar a si mesmo Se tivéssemos que resumir em poucas palavras o que os Tipos 9 devem procurar. Você não poderá sentir “preguiça” de fazer o que é necessário para seu bem-estar e realização. Quando isso acontece. em paz e tranquilidade reais e não . evitará as questões insignificantes e secundárias. Finalmente. compreenderá o que deve ser “observado” no dia-a-dia e descobrirá como escapar de sua inércia negativa. Estes dois processos descritos no início deste livro como os mais importantes para a realização de si mesmo. I. e no qual se perdem de si mesmos. a cada dia. o que sabe! Toda a sua vida mudaria. Nos treinamentos de Eneagrama que realizo as pessoas são incentivadas a conseguir. um homem pode orar: ‘Eu quero lembrar de mim mesmo’. convido você a refletir nas palavras de G. se pudesse lembrar-se. vivendo estados de falsa paz e tranquilidade “fora da realidade”. Todo o mal vem de seus esquecimentos. são difíceis de compreender num começo. Logicamente. ‘MimMesmo’ – novamente volta-se para si. a sua lembrança e a nossa lembrança aumentem! .Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 123 nesse estado de “narcotização” que muitos deles vivem como “normal”. a Lembrança de si só é possível mediante a Observação de si. e com o intuito de reforçar ainda mais a necessidade desta “lem­ bran­ ça de si”. De qual ‘eu’ quer lembrar? Vale a pena lembrar-se de si mesmo por inteiro? Como pode discernir aquilo de que quer se lembrar?” Espero que. então. já que. para os Tipos 9. Volto a repetir que. é essencial refletir sobre o tema da “lembrança de si”. o que viu. pouco a pouco. ‘LEMBRAR-ME’ – o que significa ‘lembrar-se’? O homem deve pensar na memória – quão pouco se lembra! Como esquece com frequência o que decidiu. em relação a si mesmo. a plena vivência destes dois conceitos básicos. Gurdjieff citadas por Ouspensky: “Da mesma maneira. justamente porque é difícil “lembrar de lembrar” sempre e em toda parte. . ‘deveria’ fazer algo.. a moral subjetiva é diferente em toda parte.O Tipo 1 O eu que ordena “A moral pode ser objetiva ou subjetiva. é o do homem que considera que.. e cada qual a define a seu modo: o que é ‘bem’ para um é ‘mal’ para outro e vice-versa.. em sua opinião. D. ‘Dever’ e ‘Não dever’ é um problema difícil.” G. Ouspensky . é difícil compreender quando um homem realmente ‘deve’ e quando ‘não deve’ (fazer algo) (. A moralidade é pau de dois bicos.)” Gurdjieff citado em Fragmentos de um ensinamento desconhecido por P. em outras palavras. podemos apontá-lo como quisermos. quando na realidade não tem que fazer absolutamente nada. A moral objetiva é a mesma em toda a Terra. Gurdjieff Gurdjieff diz: “Outro exemplo. I.. talvez pior ainda. Ah. a impecável. um dos melhores exemplos de Tipos 1 que identifiquei aqui no Brasil. as seguintes análises desta máscara serão feitas a partir de exemplares humanos. ele escreveu o seguinte: “O primeiro detalhe (perfeccionismo) já o estou executando visto que toda boa redação tem uma introdução. não têm nenhuma necessidade de autopromover-se.” Em qualquer caso.” . um artigo de sua autoria sob o título: “Profissionais da autopromoção”. li na seção “Ponto de Vista”.126 Khristian Paterhan C. A frase destacada do seu ensaio foi: “Não estou aqui para promover médicos ou cabeleireiros. no qual ela denunciava a “falta de ética” de alguns profissionais liberais e jornalistas que pretendiam usar seu prestígio para aparecer nas revistas e jornais promovendo seus nomes. nos entregou seu trabalho per­ feitamente ordenado e impresso. Tiago. que escrevam suas impressões sobre seus Tipos. e que. tão disciplinados e isentos como Lilian. todas as coisas devem seguir normas e leis que as compartimentalizem e definam em assuntos ou áreas estanques. não sou garota-propaganda. da Revista Veja de 19/4 de 96 ou foi 97? (quando retirei esse artigo da revista cortei acidentalmente o ângulo onde estava impresso o ano. esses perfeitíssimos Tipos 1! Lilian Witte Fibe. um meio e uma conclusão. talvez o modo mais perfeitamente simpático para iniciar esta análise do Tipo 1. não venha a provocar ciúmes em outras “figuras públicas” tão merecedoras como ela do título de o mais bem-comportado e disciplinado brasileiro vivo.” Ficou claro? Muito bem. provavelmente. para mim. Depois de admitir na introdução que ele era um Tipo 1 e que sua fixação principal era o perfeccionismo. espero que o fato de citar somente a Lilian como exemplo de Tipo 1. Um deles. como bons Tipos 1. foi. desculpem! Ninguém é perfeito!). Costumamos solicitar aos alunos e participantes dos nossos workshops do Eneagrama. reclamam o direito de preservar suas privacidades e podem dizer como ela que: “Se não quero. seja compartilhar com você o seguinte caso. Então. não vou mesmo falar sobre assuntos só meus. Desta forma vemos portanto que. séria e corretíssima ex-apresentadora do Jornal da Globo. Certa vez. Por esta razão. Os antigos sábios vedantinos costumavam exigir. resumidas na palavra “perfeccionismo”. tente não levar-se muito a sério nesta busca maravilhosa.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 127 Todos rimos muito quando foi lida esta parte. Espero que tenha compreendido a mensagem Número 1! Agora. Aprendendo a rir de si mesmo. as características do seu tipo. tenha sempre em mente a necessidade de realizá-lo com alegria. existem os Tipos 1 que declaram ter sido “programados” para serem “perfeitos”. a alegria. Portanto. Eles baseavam este pedido no fato de que se alguém procura atingir níveis superiores de consciência e está disposto a caminhar em direção à iluminação. como uma das mais importantes virtudes do discípulo que deseja conhecer a si mesmo. Neste caso. Prepare-se! O Tipo 1 e seu traço principal Iniciaremos esta observação da Primeira Máscara com um depoimento de outro aluno: “Sinto a minha vida como uma busca incessante daquilo que julgo perfeito. só se pode estar contente. Se este é o seu caso. o que deveria mudar nessa programação? Defina-se você como um Tipo 1 essencial (ou seja. talvez você possa compreender que o trabalho de conquistar a si mesmo se tornará tão mais cheio de satisfações quanto maior for o prazer com que o consiga realizar. o importante é observar como esta tendência foi afirmada no tempo e de que modo ela se tornou sua “máscara”. como diria Gurdjieff. Por outro lado. Quero que neste trabalho de observação que você fará de si mesmo. que a alegria não tenha lugar no seu Sendero. Rir é importante. Não pense que para unir-se ao Espírito você precisa ser tão sério e tão severo consigo mesmo. são sentidas como “naturais” e não provocadas) ou como . O meu modelo perfeito sempre pode ser mais perfeito e isso me conduz a uma busca permanente de mais e mais perfeição. No caminho à união com o Ser.” Existem Tipos 1 que dizem que desde crianças foram “perfeccionistas” e que esta maneira de manifestar-se foi reafirmada pelo meio em que se desenvolveram. não pode realizar esse maravilhoso trabalho com sinais de seriedade e rigidez. vamos começar a “pisar nos seus calos”. Revisavam suas coisas.. evitar atritos com o pai que. porque desta forma você não conseguirá compreender aquilo que está além dos fechados muros de seu aparentemente “correto-modo-certo de ver as coisas”. um Tipo 1 “fabricado pela programação” que lhe foi imposta quando criança. Venho de uma família judaica e o fato de ter nascido homem e ser o primogênito preencheu uma série de expectativas familiares. O certo é que este constante atrito e cobrança externa provoca uma reação especial. Ser a boa menina ou o bom menino bem-comportado era um imperativo. após iniciar seu trabalho de observação da sua Máscara 1 escreveu: “Curiosamente ao me deparar com fotos da minha infância. tenham sido as cobranças de ordem e bom comportamento que começaram a dar forma a ela. Para isto ser realizado.” Outro.. você não precisa se criticar nem continuar dando energia a esse seu “juiz interno” intransigente e severo consigo mesmo e com os outros. Talvez seus pais (ou um deles) tenham sido muito controladores. Talvez.. Muito bem. vamos às primeiras observações...128 Khristian Paterhan C. Muitos 1 se declaram INSEGUROS. muitas vezes. Nossa ajuda não será perfeita. no sentido de que sempre deveria dar o exemplo para as minhas irmãs por ser o mais velho. Tipos 1 lembram como severo ou autoritário demais? Talvez. é necessário que você tente observar essa máscara diariamente a partir de agora. Aparentemente. no seu caso. Apenas lhe ajudaremos nesta observação de si mesmo.. checavam se tudo estava sendo feito adequadamente.. “Qual será o melhor modo de comportar-se?” Tipos 1 se referem a este fato como sendo .. notei que sempre estava vestido de forma arrumada e bem-comportada. claro! Porém será importante para suas próprias descobertas futuras. Como surgiu sua máscara? Um jovem aluno descreveu o surgimento de sua máscara desta forma: “Desde muito cedo me foi incutido um senso de responsabilidade. que foram devidamente transferidas para mim.” Lembranças como estas são parte das experiências da maioria dos Tipos 1. isso tinha certas compensações: ficar em paz?. não me expunha publicamente. Uma mulher Tipo 1 me confessou que sua maior preocupação era perceber certa inabilidade para enfrentar o mundo: “O que fazer? Será que está certo?” O fato de serem cobrados e exigidos faz com que Tipos 1 sintam uma forte insegurança na infância e juventude: “Por me sentir inseguro. “o próprio território”. Para cada um destes tipos que formam a parte superior do Eneagrama. tudo está bem-feito e ordenado. o “território” implica tudo o que tem a ver com sua ORDEM PARTicULAR. no qual Tipos 1 tentaram criar o melhor e mais perfeito modo de lidar com a existência.” De alguma forma.. Por diferentes caminhos. “território”. as cobranças contínuas geram nos Tipos 1 a necessidade urgente de encontrar um “modelo” que lhes permita ter certeza de que não serão mais cobrados. Essa ordem pode ser a casa para a mulher 1 ou o escritório do homem 1. Tipos 1 cuidam dessa ORDEM PRiVATiVA com verdadeira paixão. Acho que a busca da perfeição da minha máscara se originou com uma obsessão por atingir o melhor de mim nas relações humanas. um modelo de ordem do qual ele se transforma em zeloso protetor. ... sempre precisei de um modelo externo”. tudo está sempre sob controle. as coisas serão encontradas nas gavetas certas. Assim surge a própria ordem.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 129 de vital importância em algum momento de suas vidas. “perfeito”. escreveu um aluno. Um território reservado. “Procurei sempre um espelho para saber como agir. a palavra “TERRiTÓRiO” tem um significado diferente e específico. Nessa ordem. dificilmente agia de uma forma espontânea e livre. Muitos deles revelam uma grande necessidade de obter um “modelo adequado” para viver no mundo ou como saber fazer a coisa certa. Tipos 1 precisam encontrar respostas que lhes permitam saber sua posição no mundo. Escolhi esta palavra para fazê-lo compreender alguns aspectos relacionados com os Tipos 1.. 9 e 8.. No caso dos Tipos 1. ou melhor. Um território próprio que lhe oferecerá a segurança e a certeza de que tudo esta OK.. O próprio “território” Sim. Em ambos os casos. fico confuso se não a encontro ao escrever.. por exemplo. Desta forma.130 Khristian Paterhan C. Fundamentalmente. cercado. Ele seria lindo e perfeito. sou organizado. nem o abrem a todos sem qualquer regra. num determinado caderno sempre com uma caneta. Quando compreendi. nas dimensões certas. fiquei bastante perdido.” Tipos 1 não pretendem ampliar seus “territórios” como os Tipos 8. que a realidade que minha mãe me passava não era a única. mas crio rituais precisos e também rígidos. Uma de nossas alunas Tipo 1 expressa esta questão de um modo muito exato: “Gosto de tudo bonito e perfeito e gostaria de moldar o mundo com minhas mãos. outras estarão claramente classificadas com etiquetas específicas e assim por diante. enquanto no lar a limpeza e ordem rigorosa de todas as coisas estarão garantidas graças às rígidas regras e rotinas que todos deverão respeitar.. Se escrevo. com alguma dificuldade. ele é transformado na ordem exemplar do Tipo 1. porque ele é o MUNDO ORDENADO E cRiADO para ter certeza de que nele tudo será perfeito ou pelo menos se tentará que sempre seja o mais perfeito possível. O fato de achar que todos deveriam ter amor.. era uma pessoa ótima. formada. o “território” dos 1 será limitado. regulamentado.” Quando o modelo é achado. na qual considerava o mundo e todas as pessoas boazinhas. Procurei.. como no caso dos bonachões e simpáticos 9.. O escritório será regido por normas estritas. a criação da própria ordem baseada no . Os rituais que crio viram minha própria prisão..” Outro aluno declara: “Lembro-me que era sempre importante para mim ter uma concepção do mundo pronta. Tudo terá seu lugar e deverá estar sempre nas melhores e mais perfeitas condições. quando subestimada e por uma outra que fosse mais perfeita e que incluísse as novas percepções adquiridas. correção e bondade é uma mania de perfeição.. Certo Tipo 1 confessou: “... e as pessoas que não eram boazinhas não eram porque não podiam ver a verdadeira realidade dos fatos. que só era abandonada. Pelo contrário. eu então. Lembro-me de uma especialmente... Mulheres e homens deste Tipo realizam e tentam impor certos rituais nessa ordem privativa. lá pelos 10 anos.. Tipos 1 sentirão certa sensação de bem-estar e tranquilidade. uma forma de me comportar adequadamente ou um outro modelo de visão do mundo. Quando tudo está em ordem. dia a dia.. a sociedade. não podia ser criticada. mas também no psicológico.. sim.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 131 “modelo” adequado será o modo de demonstrar ao mundo exterior que nessa ordem ninguém mais pode intervir.. aos seus trabalhos. Amigos serão aqueles que podem ser parte dessa ORDEM. Quem poderá cobrar perfeição e ordem a você... criada dentro do seu “território”.. Esse seria seu modo de lidar com a realidade... o lógico é criar a própria ordem. A ordem deve . Tudo deve estar de acordo com as regras e normas que regem essa preciosa ordem particular. Sim. Os outros são suspeitos de não compreender essa ordem conseguida. Pelo menos é o que pareceu mais correto fazer. é necessário mantê-lo em ordem. dessa elite capaz de ver “a verdadeira realidade” desse “território” exclusivo. se toda ordem é cobrada. terão o direito de serem recebidos pelos números 1... criado não apenas no plano físico. Eles. claro!) Quando os Tipos 1 sentiam que a sua ordem entrava em conflito com a ordem externa (a família... agora? Ninguém.. Porém. às suas escolhas. certo? A criação de seu mundo foi iniciada desse modo. o “território” dos números 1 não é apenas físico.. nem mexer. Uma ordem que será observada e julgada de fora como uma “perfeita e ordenada vida”.. bem-aventurados os que forem considerados aptos e preparados para compreender essa ordem fechada. as leis. Você será um constante e perseverante criador e mantenedor de sua ordem exclusiva. eles decidiram mostrar que essa ordem particular.. Como Tipos 1 descobriram que o melhor modo de evitar as cobranças de perfeição era criar as próprias lembranças (só que mais perfeitas. uma ordem que jamais se mostrará desordenada... nunca mais. Ele se estende aos seus relacionamentos. os outros em resumo) ou que as cobranças vindas de fora eram invasivas demais. com “tudo no lugar certo”. uma ordem perfeita da qual você conhece as regras. com o apoio de um implacável senso de autocrítica que os números 1 possuem em dose ilimitada. controlada e sujeita a regras e deveres a ser observados corretamente. mas não incomodam nada às outras pessoas. cheio de cobranças e exigências”. declara uma aluna Tipo 1. esse mundo corre o risco de desabar. a raiva poderá ser manifesta de maneira muito explícita em algumas ocasiões. O limite e a ameaça a esse limite se tornam evidentes como aquilo que não os deixa abandonarem sua máscara de perfeição em nenhum momento. nesse momento o seu maior “inimigo interno” virá à tona. então vigie-os. sinto que tudo que faço não está suficientemente bom e poderia ser melhor. Quando bato os olhos nas coisas.. não existe tempo para coisas desnecessárias. você não pode abandonar essa ordem por nenhum motivo. Este sentimento me frustra e me sinto insatisfeita.. Eu acho estranho e não entendo como estas coisas me aborrecem tanto. No caso dos Tipos 1 com influência 9. sempre buscando algo melhor.132 Khristian Paterhan C. tudo o que . Quando os Tipos 1 sentem esta ameaça latente de destruição da ordem. e a ordem pessoal está consolidada....” Quando o “território” é criado física e psicologicamente. porque sinto que não faço as coisas do jeito que deveria ser. Acho que mais para mim.. porque eles sentem que. os modos de realizar seus trabalhos. as maneiras de realizar suas ações. ser preservada. Me pego corrigindo ‘defeitos’ e ‘erros’ o tempo todo.. Um controlador ameaçador que diz: “Você criou estes limites. Então. Já não precisa ser controlado de fora. a raiva se manifesta. o que sobressai são os erros. e acrescenta: “Para mim e para os outros. O surgimento da raiva e do ressentimento “O meu dia-a-dia é tenso. Tipos 1 não podem evitar sentir que os limites que foram criados têm uma face negativa. sofrerá com seus erros e pensará como não voltar a cometê-los. agora ele se transformou no seu próprio controlador. é a sua responsabilidade!” Tudo o que ameace seus esquemas. aparece a sensação de perigo. se isso acontecer... Constantemente se perguntará se está tudo perfeito. Torna-se evidente que esta ordem e este “território” não podem ser deixados nem abandonados.. Então. essa raiva estará internalizada e no caso dos Tipos 1 com influência 2. que nunca acontece. Exacerbou-se a raiva que nutria há muito tempo em relação à filha mais nova pelo seu desleixo e descaso com os estudos. Quando me deparo com os percalços do caminho.. Isso gera uma raiva contra mim mesmo por não corresponder às exigências que me autoimponho e contra os outros por não agirem conforme o meu ‘código interno’. Fui tomado de grande ira. propostas. será enfrentado com raiva. reconhece um aluno. será fácil apontar os erros alheios. Por dentro estou sempre dizendo ‘Eu tenho que. você sabe como fazer isso de um modo..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 133 contrarie seus planos.. Veja. como um dos nossos alunos descobre esta questão em si mesmo: “Me identifiquei com o Tipo 1 por meio das frases chaves ‘tenho que’ e ‘você deveria’. em seguida. Tudo o que se oponha à ordem deverá ser destruído com argumentos irônicos. “A Máscara 1 demonstra com muita nitidez a forma rígida. o astuto e impiedoso crítico interno. Essa raiva se tornou um complicador maior já que sinto que tentei desde pequeno ser perfeito.. logicamente. Essa raiva se manifestará como crítica. perfeito. como rigidez... porque você sabe como fazer isto com você! Por outro lado. estará sempre presente e será sempre protegido pela RAiVA.. como severidade.. como teimosia. porque não é bom que as outras pessoas enxerguem a precariedade de suas “perfeições”. objetivos (ainda que tais ameaças sejam apenas modos diferentes e positivos de ver as coisas). a raiva e o ressentimento são cúmplices quando se julga os outros segundo os rígidos padrões internos. Essa raiva terá sempre justificativa. deverão ser as mais perfeitas possíveis. Então será fácil criticar ou menosprezar os outros. Juntei todos os seus ‘ídolos’ (brinquedos) e atirei-os ao lixo (não é admissível que alguém que já possua certa compreensão possa gastar seu tempo e . tão naturais e possíveis. com demonstrações de suficiência que.’ e ‘Você deveria’.” O severo acusador interno o sagaz cobrador e vigilante dos limites. O ressentimento estará pronto para aparecer junto à raiva quando não se atinge o esperado... Vejamos isto no depoimento de um pai Número 1 que decide dar “uma lição” a uma de suas filhas: “Entrei no quarto de minhas filhas e encontrei muita desordem (brinquedos espalhados por todos os cantos do quarto). sim. fico irado!”. esquematizada de me relacionar com a vida. enquanto usarmos uma só parte das nossas funções. Eles se tornam muito críticos em relação ao que hoje chama-se “politicamente correto..134 Khristian Paterhan C. permitir que aquilo continuasse. a dedicação e o carinho que minha filha menor dedicava àquelas ‘bugigangas’ eram altamente perniciosos.” Outra confirma o movimento a 4 com estas palavras: “. quando não se pode atingir o perfeito. Tudo parece sem sentido. Gurdjieff: “Não haverá um código absoluto de moralidade que deveria se impor de igual modo a todos os homens?” Ele respondeu: “Sim. Quando isso acontece. quando não se recebe a compensação esperada. porque o suposto “único sentido” foi atropelado. Atuamos mecanicamente em tudo o que fazemos e as máquinas não podem ser morais. e eu não podia. Quando pudermos usar todas as forças que controlam os centros. é uma tragédia: sofro..” Lembro que. Deveria ‘cortar’ essa tendência o mais breve possível. e este era o momento ideal. Sobre este assunto. já que estava com raiva suficiente. um autêntico Tipo 1 perguntou ao Sr.. quando os outros não consideram os seus esforços em direção ao “perfeito”.” Pois é: Tipos 1 estão sempre preocupados com a “questão moral”.. Mas.” O movimento em direção à angústia Quando a procura da perfeição é considerada inútil porque não se consegue fazer com que a realidade seja o que você quer que ela seja. sofro e me culpo. uma aluna declara: “Se falho em alguma coisa. seu amor com objetos inanimados). quando os outros não compreendem sua ordem e a atrapalham ou a negam. a raiva determina um movimento para a angústia (Movimento a 4). numa passagem de Gurdjieff fala a seus alunos. Poucas vezes meu mundo foi mexido (atenção para as palavras ‘meu mundo foi mexido’) e meus ideais abalados. A meu ver. .. por ora.. com o “modo certo” que tudo deve ser feito.. poderemos então ser ‘morais’. não poderemos ser ‘morais’. A angústia do Tipo 1 o deixa sem forças no começo.. ou tento encontrar as razões disso fora de mim. em nenhuma hipótese. . Certa aluna com forte influência 2 “aprendeu” a evitar essa angústia realizando algumas de suas “boas ações” fora do “território” e da ordem criada. porque assim não haverá a menor condição de receber uma ‘patada’.” O fator que provocaria a angústia de não receber uma reação positiva das pessoas ajudadas é simplesmente eliminado para que não perturbe a ordem pessoal. graças às influências 9 e 2 que lhe acompanham. São. que parece ser o único possível de ser aplicado ou vivido. ou quando tudo mude novamente. as causas básicas da “perda do sentido da própria vida”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 135 choro e penso no passado ou me fixo no futuro. Angústia e depressão estão ligadas por laços fortíssimos.. como todos sabem. como se verá na análise desta “máscara” no momento oportuno. A questão crucial aqui é que esta angústia atua como um stop. o que costuma acontecer comigo. que nunca terão a oportunidade de se mostrar ingratos. A “boa ação” beneficiará desconhecidos. que lembram uma das razões principais do sofrimento dos Tipos 4. ou de não conseguir mantê-los. simplesmente porque nunca mais serão vistos. esse “território” não abalado que agora sofre uma espécie de “ameaça” exterior. do qual os Tipos 1 sabem sair na maior parte das vezes vitoriosos. Perde-se o sentido que se pretende obter com essa ordem tão “trabalhada”. Mais adiante veremos como esta atitude de agir “fora do território” não é tomada somente quando se trata de “boas ações”. tira o Tipo 1 de seu plano de segurança. O movimento a 4 se confirma definitivamente nestas últimas palavras ( pensar no passado e fixar-se no futuro).. De esta maneira evita angustiar-se porquanto não poderá testemunhar os resultados ingratos daquilo que considera uma de suas melhores virtudes: “ajudar os outros” (influência do Ponto 2 Eneagramático). A “saída” do PRESENTE no qual existia essa ordem.”. . A angústia e a tristeza são o resultado dessa sensação de perda da firmeza e solidez do “território”. seguro e sem possibilidades de ser mexido ou abalado novamente. tira dele a certeza de que esse mundo foi melhor antes de acontecer tal ou qual coisa e voltará a ser melhor quando se volte a tê-lo firme. Então ela diz: “Prefiro ajudar pessoas desconhecidas. uma “parada no caminho”. Porém.. é uma angústia fortíssima provocada principalmente pelo fato de não poder tornar realidade essa “perfeita ordem” ou aquele “perfeito plano”. ..136 Khristian Paterhan C... Alguns dos nossos alunos se referem a esta rigidez dizendo que são incapazes de RELAXAR.. Através da minha experiência nos treinamentos e workshops de Eneagrama. Um aluno reflete: “Ao receber cumprimentos.” RAiVA E RiGiDEZ são grandes meios de perda de energia que os Tipos 1 deverão superar mediante o autocontrole positivo e não por meio da repressão... abraços e elogios.” Outra afirmou que “. Rigidez interna/externa O guardião da ordem interna sabe cercar os Tipos 1. dançar ou “soltar-se” fisicamente durante dinâmicas de grupo e das práticas ao ar livre. Coincidentemente uma outra mulher Tipo 1 afirma ser este seu problema principal: “A personalidade Tipo 1 não relaxa nunca.. O contato com a realidade fica então rígido.... . “Vi que o Tipo 1 sofre muito porque não consegue relaxar... manter toda essa estrutura rígida dá um desgaste danado de energia. Os limites da ordem autoimposta tornam rígido o CENTRO FÍSicO.. quero dar uma direção própria que acredito ser a verdadeira. Um dos resultados dessa mistura “raiva/ressentimento/insegurança” será naturalmente a RiGiDEZ.. que tanto já me fez sofrer.” escreveu uma aluna. Eu tenho tentado sair desta forma cristalizada e rígida. sinto que fico sem jeito.. em vez de ir deixando o fluxo natural da vida acontecer. tenho descoberto o quanto é difícil para um Tipo 1 o ato de abraçar... Essa rigidez será somatizada: o corpo rígido. a sensação de estar sendo observado por severos críticos a cada momento não deixa os Tipos 1 à vontade com seus corpos e com as sensações naturais associadas à existência sensível.” Não somente a rigidez psicológica provocada pela constante autocrítica surgida da raiva. Leia mais a respeito no Capítulo 5 do meu livro Iniciação e Autoconhecimento. “fora da ordem”? É comum constatar nos nossos workshops o fato de que muitos Tipos 1 têm que comportar-se em relação a certas questões como se fossem os protagonistas desses famosos romances que mostram seres humanos de dupla personalidade. certo?) Temos até o momento uma visão (sabemos que ainda não é muito perfeita) de certos fatores nucleares que se ligam entre si e que vão definindo com mais precisão a Máscara 1: A criação da própria ordem e do próprio “território” cujos limites protegem o mundo quase perfeito que se pretende manter em constante aperfeiçoamento (expressão disfarçada da insegurança adquirida) provocam o surgimento dos estados de “raiva/ressentimento/rigidez”. De Bar em Bar. Hyde. como consequência da percepção de que essa “perfeição” deve ser mantida “porque deve ser mantida” e do fato de que não pode ser abandonada sob o risco de ficar sem “chão”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 137 A face oculta aparece (logicamente. algumas são o claro exemplo da pesada carga de repressão que algumas dessas licenças carregam. sabemos que não é bem assim com todos eles. principalmente porque o grupo era novo e ninguém se conhecia. como escapar dessa prisão? Quantas necessidades começam a ser abafadas nela? Como sair dessas regras e normas sem que ninguém perceba? Como escapar das próprias limitações sem que outros saibam que você não é tão perfeito (a) assim? Como deixar de cobrar dos outros sem raiva. Lembro-me perfeitamente da felicidade e da sensação de liberdade que tive logo que o avião levantou . que participou de um dos nossos workshops. De fato. Fiquei muito excitada com os preparativos. confessou o seguinte: “Fui com um grupo fazer um trabalho terapêutico por uma semana. que terá certas licenças. você tinha que dar um jeito para sair dos limites autoimpostos da maneira mais perfeita possível. Então. certas vantagens que Tipos 1 acham inconfessáveis. sem ressentimento e sem angústia? Como permitir-se determinadas vivências “proibidas”. Jekill e Mr. Você sabe: Belle de Jour. Dr. porém o que não pode ser aceito como parte da “ordem e do território” será vivido disfarçadamente. Sim. Certa senhora. será vivido por um outro “eu”. .. Muitos Tipos 1 se “arriscam” a viver certas experiências em lugares onde ninguém os conheça ou de uma forma tão secreta que ninguém possa inteirar-se.. Pesquiso como conseguem sobreviver de forma tão fora dos meus padrões..” Outra revelou algo que achava inconfessável: “Depois de meu divórcio. poderia ser eu mesma enfim.. pois ninguém faria comparações com situações passadas.. As regras e normas autoimpostas não podem ser negadas.. falta. Continuei o relacionamento aparentemente às escondidas. minha insegurança não me deixava procurar um novo parceiro. Quando se negam estes movimentos contra seta ao Ponto 7 do Eneagrama.138 Khristian Paterhan C. Adoro conhecer pessoas que vivam de forma bem diferente da minha. que curtirá um tórrido romance bem longe de sua cidade. muito sério e comportado. sim. ‘como pode deixar este homem tocar em você’.. ‘não é um homem para você’. o único caminho ..” Esta é uma situação típica. Ao apresentá-lo à minha família.. Então.ficamos nos vendo apenas em feriados. eu me sentia com vontade de querer ser como ela.... sofri pressões: ‘é um caça-dotes’.. sem que minha família tivesse conhecimento do fato. descasado. outras. desejos sexuais são reprimidos. Porém.. Estávamos felizes porque tínhamos encontrado um ponto onde podíamos ser cúmplices. férias e ausências forçadas. uma espécie de faz-de-conta. Existe o compromisso e a responsabilidade de manifestar-se de acordo com o padrão escolhido. não tive relacionamentos com outros homens. era uma espécie de representação.... Vejamos o depoimento de uma outra aluna: “Durante três anos tive uma vida dupla: vivi com um homem mais velho. Sentia. me sentia mais leve. O meu senso perfeccionista dizia que eles tinham razão. Às vezes é aquele impecável doutor. quando ela me acompanhava. Então.. aposentado. é aquela dedicada executiva respeitável que quando viaja a outros países gosta de sair de noite e imaginar que é uma mulher “liberada”. bem curiosa e com a crítica interna mais relaxada.. voo. amores são perdidos. anseios são abafados.. Eu tinha ido me conhecer mais um pouco e poderia ser qualquer pessoa.” A “duplicidade” de alguns Tipos 1 os leva a viver a “repressão” como uma espécie de cerca que às vezes precisam pular. entretanto eu o amava. Admirava uma de minhas amigas que era capaz de tomar a iniciativa com os homens. talvez. Por exemplo: ser um bom aluno na escola e um hippie total fazendo experiências com drogas. cordata. como uma tentativa de fugir da realidade.. que indicava uma menina comportada e eficiente. Cada papel deve ser sempre bem “interpretado”. conduzindo à intolerância e à autopunição. exista um “termo médio” no qual apenas seja necessário ser menos rígido consigo mesmo. o mundo interno é dividido em duas partes: o lado bom e o lado ruim.. na realidade encobria agressividade e espírito de competição.. A divisão interna Do mesmo modo que se produz a necessidade de experienciar “outras vivências” às escondidas. Muitas vezes ambos os lados são regidos pela mesma tendência perfeccionista. Sobre esta questão um jovem aluno revelou o seguinte: “Minha raiva se tornou um complicador a mais na minha vida.” .. os Tipos 1 passam a viver contradições nos seus mundos internos. pois sinto que tentei desde pequeno ser perfeito em dois mundos opostos: o da sociedade estabelecida e o mundo marginal.. tanto as minhas falhas como as dos outros. alguns dos quais “secretos” e/ou “inconfessáveis” e “proibidos” (segundo eles).Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 139 é viver outros papéis. Certa vez uma de nossas alunas escreveu o seguinte: “Qualquer falha. sendo difícil de ser perdoada. que poderão ser abandonados quando se retorne ao modelo de vida adequado e se viva dentro da ordem pessoal. Esse comportamento. Assim. Não se percebe que. O que leva a esta espécie de dicotomia nas experiências relativas ao mundo externo tem sua origem em uma outra existente no mundo interno dos Tipos 1. Mas eu não podia brigar nem mostrar raiva. tomava grandes proporções. Esta atitude leva à autopunição e ao sentimento de culpa por ter “um lado tão ruim e imperfeito”. tornando-se flexível e procurando aceitar as próprias necessidades não como fraquezas e sim como naturais e humanas. para mim..” A divisão interna leva a exagerar a realidade e suas manifestações. Essa divisão me levou ao processo de narcotização. O perfeito e o imperfeito são de tal maneira separados que Tipos 1 não conseguem conciliá-los nem dentro nem fora de si mesmos.’” Os extremos aparecem cada vez mais definidos. a capacidade de manipular as pessoas “aperfeiçoa-se”. Se expressa nas frases com as quais os Tipos 1 disfarçam suas rejeições. Um de nossos alunos descreve com muita precisão (só podia ser Tipo 1!) esta luta interna: “Minha ira se dá no sentido de estar sempre criticando negativamente e desqualificando qualquer um que ameace o meu status quo. apesar de externamente poder estar elogiando quem tomou tal atitude. Assim surgem os argumentos para conseguir que os outros reconheçam a “visão da perfeição” que o 1 sente possuir. autoritário com sua esposa e filhos. Números 1 se autodefinem como “pessoas sérias” e “bem-comportadas”. o terrível juiz interno se torna mais implacável. Surgem as frases típicas. como “Você deveria. o que lhes provoca grandes lutas internas. o bem-feito e o malfeito.. Se a vida está tão polarizada é preciso manipulá-la adequadamente. sem meios-termos.. com os outros. O bem e o mal. em segredo. Desta forma. O discurso se torna irônico. A raiva se apodera com maior autoridade. Como resultado destas lutas. aceitava como amante uma mulher de baixo nível que o tinha sob total controle e da . Então eu penso: ‘Esta pessoa está falando a verdade mas daqui a pouco eu vou achar nela um defeito maior do que o meu para desmoralizá-la perante mim e os outros.”. Fora de casa. lamentavelmente.140 Khristian Paterhan C. não apenas em relação a eles mesmos. o justo e o injusto. o certo e o errado.. como poderia você suspeitar que esta pessoa séria às vezes “pula a cerca” ou esteja pensando em como “dar o troco” pelo que você fez a ela? Lembro-me de certa telenovela onde aparecia um personagem cheio de regras e normas na sua casa. o que a fará entender que ela não deveria ter me criticado e isso a fará pedir desculpas ou a ressaltar em mim um lado positivo que para mim e para os demais terá o mesmo efeito.. do “bom comportamento” e “da moralidade”. sem nuances. extremamente preocupado com a ordem e com sua imagem de gentleman. distantes e aparentemente irreconciliáveis. A “dualidade” é ocultada atrás da “seriedade”. como também. por meio das quais muitas vezes a raiva sentida (que porém não pode ser mostrada) é disfarçada. Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 141 qual aceitava tudo o que na sua vida familiar era intolerável. O mundo dos Tipos 1 é tão reduzido e compartimentado que termina deixando muitas coisas importantes de fora. nosso propósito é provocar a descoberta de si mesmo. falta a compreensão de uma velha e sábia Lei Hermética que você poderá lembrar cada vez que seus caminhos. porém é necessário. meios e esquemas de vida pareçam ser os ÚNicOS POSSÍVEiS. porque você limitou a realidade a um espaço tão reduzido que corre o risco de não poder conhecer outros aspectos dessa ÚNicA REALiDADE de milhares de faces e nuances e de milhares de paradoxos. Espero que tenhamos atingido nosso objetivo. Porém.. Quando esse outro lado é descoberto. Só assim poderá perceber que esta máscara. Sim.(Não deixe isso acontecer com você. Desta maneira você poderá descobrir-se (literalmente quando você tira a máscara você se descobre). A “raiva/rigidez/ressentimento” se encarregará de dar poder a essa visão limitada. Iniciando o processo de mudanças positivas Uma aluna Tipo 1 escreveu: “Fiquei chocada quando descobri que ser perfeccionista podia ser um terrível defeito e não uma virtude. Você pode ampliar esse mundo.. na realidade. passei a observar a minha máscara e constatar que isto muito atrapalhou e ainda atrapalha minha vida em todos os sentidos. Tipos 1 sabem que podem fazer isso de um modo “mais perfeito” e sem ajuda. Lembre-se de que o propósito desta análise geral era “pisar nos seus calos”. eu sei que você não precisa que outros mostrem seus problemas.... Nunca é agradável observá-la. Sei que pode estar sendo difícil esta observação da máscara. o está limitando. tudo acaba para ele. Essa Lei diz: . Desde então.” Tudo bem.. Nessa ordem autoimposta em que nada parece ter alternativas ou nuances. no caso de se parecer com este personagem!) É hora de mudar! Analise o conceito de CONciLiAÇÃO no capítulo correspondente ao Tipo 9 e determine-se a construir uma ponte entre seus aparentemente irreconciliáveis extremos. de não se viver de acordo com o .. Tentar ver o outro lado da questão – em todas as questões – e ter a certeza que ‘o frio pode ser quente’ num outro nível. tolerante e abrangente da realidade como um de seus principais esforços na busca da conciliação interior: “O Tipo 1 deve cultivar a tolerância.. “Todas as verdades são semiverdades..142 Khristian Paterhan C.” Os principais movimentos a serem observados: de 1 a 4 e de 1 a 7 – (ver figura na página 334) O Movimento do mundo interno dos Tipos 1 no Eneagrama é o resultado da divisão 1  :  7  =  0.1428571. como um anseio de atingir o que se considera “aparentemente melhor” e que ainda não temos.. A raiva do Tipo 1 é gerada pelo fato de ele não atingir a perfeição procurada. Quando não o conseguimos.. De 1 a 4. a esperança. A inveja não significa aqui apenas o anseio de possuir o que outro possui porque o consideramos valioso. o mais perfeito e mais adequado para fazer parte da nossa ordem particular. apesar de sentir que o merecemos e pela certeza que temos de que o desejado é realmente o melhor. Isto leva o Tipo 1 a vivenciar os resultados de seu movimento ao Ponto 4 do Eneagrama. um falso ideal que não lhe permite relaxar. sem querer mudar nada e ninguém...” Uma de nossas alunas definiu esta procura de uma visão mais ampla. Deixar as coisas e as pessoas serem como são. RAiVA E INVEJA são vícios intimamente ligados entre si. assim como os números 7 e 1. Devemos analisar a inveja de uma forma mais profunda. O trabalho de auto-observação de si permite ao Tipo 1 descobrir que a razão de sua raiva está oculta por trás da sua busca de uma falsa “perfeição”. os números 1 e 4 estão juntos.. Vamos analisar o primeiro movimento. serena. não colocar todas as coisas dentro de um formato. Observe que nesta dízima periódica. todos os paradoxos são reconciliáveis. O Tipo 1 intui essa perfeição e deseja alcançá-la. surge a RAiVA. A perfeição não foi conseguida e a raiva se mistura à tristeza e à angústia de não possuir o que se quer. O Tipo 7 do Eneagrama (quando equilibrado) é considerado possuidor de uma personalidade livre.. a uma espécie de desapontamento de não se conseguir o que se quer obsessivamente e. mas com os conhecimentos ‘já retidos’ sei que foi apenas uma tremenda suavizada.. Esses são seus aspectos positivos. você sabe como tornar-se extremamente chato para os outros. o jeito adequado. ele não somente pode viver situações “proibidas” como já vimos anteriormente.. a uma sensação de infelicidade. ou seja.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 143 ideal de perfeição fixado. mais espontâneo e mais livre. Com respeito ao que se chama “movimento contra seta a 7”. Aprenda com o Tipo 7 a mudar de planos e de astral. ele manifesta um dos piores aspectos do Tipo 7. que sabe rir da vida e que está disposto a mudar. existe nele algo da maior importância para Tipos 1. Para o Tipo 1 a ironia funciona. Também se comporta de maneira irônica com os outros. como um modo disfarçado de mostrar aos demais que só ele conhece o modo perfeito. Você fará bem em ler as características do Tipo 7 no momento oportuno. diria que foi total... você “deveria” (gostou da palavra ?) aprender do 7 o modo de ser menos limitado. mais solto. Quando o Tipo 1 se move contra a seta negativamente (1 a 7). Porém “tudo tem seu par de opostos”. como uma arma sutil. portanto. menos rígido. É uma burlesca atitude que esconde a raiva que não se pode ou não se quer explicitar. Iniciamos este capítulo pedindo para você realizar este trabalho de auto-observação com alegria e o terminamos do mesmo modo. poxa! Certo aluno Tipo 1 fez a seguinte avaliação de si mesmo.. Se solta. o plano perfeito. exatamente igual ao Tipo 7 quando deseja “sacanear” seus semelhantes com suas sutis brincadeiras. mais aberto ao novo e diferente. que gosta de aventura. espontânea. então. A ironia é um modo sorrateiro de criticar e “rir dos coitados” que “não fazem as coisas do modo certo”. Por esta razão. Seja mais brincalhão. Quando você “vai” negativamente de 1 a 7 no Eneagrama. embora você às vezes negue esse fato. com ganhos . quando percebeu que estava se livrando de sua rigidez: “Se fosse falar da minha mudança desde que iniciei meus treinamentos de Eneagrama com Khristian. mas apenas porque se sentem capazes de “estabelecer a ordem correta”. Tais características os tornam mais manipuladores e assertivos que os Tipos 1 com maior influência 9. o 1 possui o orgulho de sentir-se capaz de fazer as coisas corretas e certas e que os demais saibam isso e o reconheçam o deixa feliz e satisfeito. evitar e fugir de tudo quanto implique “esforços desnecessários” que tirem sua “paz” ou que provoquem “aborrecimentos inúteis”. Será importante analisar as características destes Tipos para você aperfeiçoar a observação de si mesmo e do seu Traço Principal. Para certos Tipos 1. uma certa tendência à inércia. etc. . Diferentes dos Tipos 8. que muitos deles qualificam como “necessidade de sentirem-se seguros e tranquilos” ou de ter maior capacidade para aceitar as “imperfeições alheias” e de ser mais tolerantes. fraternidade. os aspectos “tranquilidade” e “segurança” se relacionam com a tendência dos Tipos 9 de rejeitar. enormes para o ‘bem viver’.” Esperamos que você também consiga essa “tremenda suavizada. porque eles sabem “botar ordem na casa”. essas diferenças que possibilitam a manifestação de três Subtipos 1 básicos. A maior ou menor influência destes companheiros provoca essas nuances psicológicas. Aqui. sedutores e com capacidade de liderança proveniente da certeza de que somente eles podem dar a solução certa para determinados problemas. Do Tipo 2. Com maior aceitação e consideração externa. com ganhos enormes para o ‘bem viver’. Do 9.” 9 e 2: uma influência positiva ou negativa Seus companheiros no Eneagrama são os Tipos 9 e 2. harmonia (percepção de fazer parte do Todo).144 Khristian Paterhan C. Já a influência das características do Tipo 2 provoca certas manifestações que fazem de alguns Tipos 1 atraentes. porque sua participação se faz necessária. Estes influenciam você de diversos modos. eles não querem liderar para demonstrar poder. o fato de sentir-se seguros os leva a resistir às mudanças ou novas experiências. e se determina a beleza e a feiúra.) Assim como o tipo de pensamento extrovertido se subordina à sua fórmula. Por meio desta fórmula mede-se o bem e o mal. portanto. Para os Tipos 1 com forte influência do Ponto 2 Eneagramático.. imoral e sem consciência. a questão da “retenção” e/ou internalização da raiva está muito relacionada com os processos que determinam os chamados tipos “anais” e/ou “anais retentivos” da psicanálise freudiana. Seu código moral lhe proíbe tolerar . de Carl Jung. dando um “toque” mais suave à figura do Tipo 1 raivoso e intolerante. para seu próprio bem. ou uma fórmula intelectual objetivamente orientada. (. convencer aos outros da “perfeição” se torna mais fácil. Sua tarefa é descobrir como estas influências são vividas pessoalmente. Isso não significa que a raiva desaparece. apenas se dissimula um pouco mais. Tudo o que concordar com esta fórmula é correto. mas também para todo o seu ambiente. para que você possa refletir sobre a descrição junguiana do tipo mais coincidente com a Máscara 1. caracterizando esse processo psicológico que outros estudiosos do Eneagrama denominam de “internalização da raiva”. Menciono este fato para o caso de alguns psicanalistas virem a ler esta obra. tudo o que a contrarie é incorreto. Segundo alguns dos mais conhecidos estudiosos do Eneagrama (Naranjo/Riso).. todos os que o cercam devem obedecê-la. O Tipo 1 e o tipo de pensamento extrovertido de Jung Parece interessante a esta altura citar o livro Psychological Types. Estas são apenas algumas pistas para você aprimorar a observação de si mesmo. o Tipo de pensamento extrovertido: “Este tipo de homem eleva a realidade objetiva. pois qualquer um que se negar a obedecê-la está equivocado – está se opondo à lei universal.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 145 Desta forma. é irracional. essa internalização da raiva poderá ser mais ou menos bem-sucedida. segundo sua capacidade pessoal de retenção e/ou repressão da mesma. ao (nível de) princípio governante não somente para si mesmo. tanto positiva como negativamente. ou melhor.146 Khristian Paterhan C. ou seja.” Tipos 1 “sentem” instintivamente essa Unidade original. O poder essencial por trás da máscara número 1 surge do cultivo da virtude da serenidade (ou do ser na unidade) Na versão para o Ocidente que Blavatsky fez do milenar Livro dos Preceitos de Ouro tibetano. A poderosa serenidade do mar permanece inalterável. mais (..) Porém. quanto mais rígida for a fórmula. A Serenidade poderia ser compreendida como “ser na unidade”. o “desvio” (uso a palavra desvio no seu significado radical. será necessário cultivar a Serenidade. como é que Tipos 1 podem iniciar um processo de crescimento interior que os eleve acima de seus rígidos padrões de conduta até um nível de maior “plasticidade” psicológica? Vejamos.) Os ‘deveria’ e os ‘tenho que’ cobram importância neste programa.. por Ele foram feitas Todas as Coisas.. sob o título de A Voz do Silêncio (traduzido para o português primorosamente pelo poeta Fernando Pessoa). que recebe todos os rios e torrentes.... O erro. Qual Unidade? Aquela Unidade que foi a Primeira Manifestação do Todo. e sentem que quanto mais Ela se expresse mais perfeito será tudo. sair caminho) psicológico principal é não enxergar as múltiplas manifestações possíveis dessa “intuída” ..” Então. Quanto menos manifestação da Unidade. menos perfeição. Uma Unidade que Une Todas as Coisas.... seu ideal deve realizar-se em toda circunstância (. Temos aqui os dois extremos nos quais a maioria deste tipo se move. sem senti-los.. exceções.” Sim. este tipo pode ter um papel muito útil na vida social (.. porque TODAS AS cOiSAS TiVERAM NELA SUA ORiGEM: “No Princípio era o Verbo.. lemos o que pode ser a “chave-mestra” que conduzirá os Tipos 1 até esse nível de maior “plasticidade” e ao conhecimento profundo de si mesmos: “Sê como o Oceano. Se a fórmula for suficientemente ampla.) gostaria de introduzir a si mesmo e aos outros num (mesmo) molde.. nem se consegue perceber sua relativa perfeição em certo nível. Não se percebe o perfectível do imperfeito. esse modelo seja também passível de perfeição e. o Tipo 1 manifesta sua Raiva/Ressentimento/Rigidez. O modelo pode ser perfeito porém suas expressões podem não ser perfeitas. se disfarça numa espécie de raiva justa. que só existe um caminho certo e nenhum mais. Quanto mais “semelhante” ao modelo. Não percebe que essa cristalização interna aprisiona suas extraordinárias energias. talvez. rótulo que segundo ele “tem a vantagem de incluir tanto o aspecto emocional (raiva) quanto o cognitivo (perfeccionista)”. da compulsão e obsessão que podem levá-los a consequências psicopatológicas mais sérias. porém nada é absolutamente imperfeito e tudo pode ser aperfeiçoado. O imperfeito é rejeitado. Nada é perfeito quando sujeito à manifestação existencial. Este estado interno o castiga com a rigidez e a cristalização psicológicas. com falsa certeza. em alguns deles. Somente não se pode esquecer que. quando não se pode sentir o potencial de aperfeiçoamento e não se pode imaginar de quantas maneiras esse potencial pode vir a se manifestar. Quando esta visão unilateral da realidade se consolida. mais perfeita a obra. Desta maneira. uma raiva racionalizada.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 147 Unidade arquetípica que subjaz potencialmente por trás de todas as coisas e que é dinâmica em sua essência. ou como a descreve Claudio Naranjo numa “virtude irada”. e quando não conseguem impor este “único caminho certo”. quando não conseguem realizá-lo. por não ter conseguido realizar da única maneira que se acredita possível o supostamente “perfeito”. de que é o certo e em inconformismo. Quando não se consegue “descobrir” esta perfeição eidética e dinâmica subjacente em todas as coisas. interna ou externamente. paradoxalmente. imperfeito no seu nível. Acusa-se de “imperfeito” àquilo que oculta essa Unidade/Perfeição que instintivamente se deseja atingir. poderá provocar o surgimento. Tipos 1 declaram. a raiva. às vezes impedida de se manifestar. Por isso. . a raiva/ressentimento/rigidez se transforma em “ideia fixa” de como fazer o certo. Tipos 1 se defendem contra tudo o que ameaça suas “perfeições definitivas e absolutas”. ou seja. às suas normas. que reprime. Pode existir SERENiDADE no Tipo 1 que vive nesse mundo de falsas perfeições e de parciais visões da Unidade? Pode estar em Unidade com o Ser que está presente em Todas as Coisas? Logicamente. o “SER NA UNiDADE” surge e começa a substituir a RAiVA da sua rígida máscara. que limita a si mesmo e aos outros. que manipula. em outros modos e maneiras de ver. O Tipo 1 transforma o Perfeito num estado rígido. as possibilidades se multiplicam. que não pode ser diferente daquilo que ele determinou como perfeito. cheio de nuances e possibilidades insuspeitáveis. Agora. nessa incapacidade de perceber a ilimitada Unidade e a dinâmica dessa perfeição-que-semprese-aperfeiçoa. O Perfeito não será enxergado como um processo dinâmico em constante movimento e capaz de superar o que num determinado instante parecia ser sua máxima expressão. O que poderia ser a virtude de pressentir a Unidade por trás da diversidade aparente. quando percebe que essa Unidade pode assumir muitos rostos. daquilo que ele prejulga como certo. quando o Perfeito se compreende como uma dinâmica sem os limites de seu “território”. nesse estado de fixação e obsessão interna.148 Khristian Paterhan C. porque foi “cercada”. terminal. às suas percepções do “certo” e do “errado”. Quando o Tipo 1 se dá conta de que essa Unidade da qual sua máscara é um fraco e limitado reflexo está presente EM TODAS AS COiSAS e não somente em algumas. vira o vício de achar que só existe uma única possibilidade de perfeição para cada manifestação daquele 1 primordial. A ameaça permanente de ver o “território” alterado pelo “imperfeito” que vem de fora é exorcizada com a diária conservação de tudo o que pode consolidar a segurança e ordem do “seu” território. a minimização da Unidade à sua aparentemente única maneira de enxergá-la presente nas coisas. tudo se torna possível. E por isso ele se torna seu próprio grande acusador. Tudo se torna dinâmico. fazer. para as . então a SERENiDADE. não. que ironiza. o Tipo 1 não pode ver além de seu limitado “território”. cristalizado. quando o Perfeito pode ser enxergado nos outros modos de expressão da realidade. Então. Parece que deste modo sua visão parcial da realidade. Tudo o que seja perfeito terá que estar sujeito às suas medidas. O mundo se amplia. pode permanecer segura e inabalável. que julga. sentir e viver. se transforma no Juiz de visão ampla. As doutrinas da Senda Mística não admitem o Bem nem o Mal em si mesmos.. injusto e intransigente. A Serenidade permite aos Tipos 1 ampliar suas possibilidades de perfeição real.. assim essa raiva era apenas a energia a ser transmutada no rio poderoso da serenidade interior. que não precisa rejeitar ou acusar. porque se descobre que era apenas uma energia mal direcionada e que somente parecia mais terrível. O conflito entre as polaridades que pareciam irreconciliáveis diminui. Alexandra David-Néel. A serenidade mostra que já não é necessário viver “no mundo certo” e no “mundo errado” e que. com a serena atitude do observador imparcial que não precisa julgar. nos modos com que as pessoas procuram fazer as coisas de maneira certa.. no seu livro Initiations Lamaïques (Des Theories. Esta reconciliação é própria daqueles seres humanos que aperfeiçoam a si mesmos por meio de um equilibrado discernimento. A sensação de estar divididos internamente acaba. segundo as circunstâncias. o Tipo 1 pode ser capaz de descobrir o ÚNicO PERfEiTO em todas as múltiplas questões que se apresentam ante ele na existência. des homens). A raiva que não era expressa pode agora manifestar-se adequadamente. Pouco a pouco. Esta reconciliação interior é fundamental para a harmonia interna dos Tipos 1. A serenidade transforma o crítico interno num Buda sorridente. tudo pode ser vivido além . Torna-se aberto. O grau de utilidade de um ato marca seu lugar na escala de valores morais. Torna-os capazes de descobrir o “perfeito” nos planos e esquemas alheios. diz sobre as chamadas doutrinas da Senda Mística: “. a moralidade (do homem esclarecido) consiste na escolha sagaz que (ele) é capaz de fazer entre o que é bom e o que não é.” O Juiz unilateral. porque assim como as águas estagnadas que não podem seguir o seu curso. porque a serenidade produz o equilíbrio (7). sábio e justo que vê além das aparências e que conhece o justo meio de todas as coisas. des pratiques. a equanimidade (4) e a humildade (2) necessários para a grande reconciliação dos opostos. fedem e não servem. pelo contrário. quando sabe discernir entre os opostos e aprende a reconciliá-los.. publicado em português com o título de Iniciações Tibetanas.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 149 quais o Tipo 1 está aberto. porque a serenidade o transforma num ser receptivo. originou-se no desejo de ‘não ser perfeita como minha mãe’.150 Khristian Paterhan C. para isso. ele dizia o seguinte: “Seria melhor que você esquecesse a moralidade. deve ter um Eu (. a sensação de vitória era menor que a tensão durante o percurso. gradativamente. Por outro lado.) A moralidade interior.. sem que pareça ser necessário agir deste ou daquele modo.. mais parecia intolerância.)” Para encerrar esta parte... A serenidade conduz à vivência plena da existência. uma de nossas alunas Tipo 1 sobre seus esforços em direção à Serenidade: “Acho que o movimento inicial que tive.. o homem deve ser capaz de fazer. sem emoções ou sentimentos retidos. A serenidade é o resultado daquele estado psicológico que G. dos subjetivos limites do “bem” e do “mal”. Não tem sido fácil. ou segundo este ou aquele esquema. fui percebendo que a minha constante decepção devido às falhas dos outros e a irritação . Era preciso muito controle para chegar ao fim da linha. I. e qualquer desvio daquele caminho leva à sensação de fracasso ou culpa. E quando isso era possível. sem rigidez. Um viver sem tensão. Isso é a moralidade exterior.. Talvez porque aquilo não era perfeição. devemos uivar com os lobos’. rigidez. Sobre isso. do “certo” e do “errado”. pois fui bem ‘treinada’. pura conversa fiada (. na busca da serenidade. Para a moralidade interior. Devemos pautar nossa conduta pela dos outros. penso que será valioso refletir nas palavras de Laura. Um estado no qual “o lobo e o cordeiro” que carregamos conosco se reconciliam. é diferente em toda parte. angústia de viver. Eu era uma equilibrista andando no arame. e. essa sim é a sua meta. Gurdjieff chamou de “moral interna” em oposição à moral subjetiva que muda de acordo com as épocas e os costumes. Toda conversa sobre a moralidade seria. Quanto à moralidade exterior. e como se diz: ‘Para viver com os lobos. onde qualquer instabilidade poderia provocar a queda. neste momento. baseia-se na aceitação das Leis Herméticas e no caminho do autoconhecimento mediante a chamada auto-observação. enquanto representava um personagem que me fora imposto. humildemente.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 151 quando meus desejos eram contrariados. que venho buscando cada vez mais. aprendo que o ‘que deve ser feito já está feito’. ao mesmo tempo em que me afastava de mim mesma. Essa forma. ao mesmo tempo em que. pois eu exigia o que não poderiam me dar. A compreensão de que é possível a transformação contínua. A partir dessa compreensão.” . e menos ‘perfeccionismo’. que é a máscara que me prende e inibe a evolução. querendo chegar mais perto da verdade. presente no meu ‘Eu Superior’. venho exercitando um novo tipo de vida. colocavam-me numa posição de distanciamento das pessoas. em que procuro ser mais flexível e espontânea e tento colocar emoção nos relacionamentos. sem medo de encarar meus limites e possibilidades. me permite mais serenidade na busca da perfeição. . Parte II 2 3 4 Centro Emocional Tipos 2. 3 e 4 . . O Tipo 2 O eu que ama “Há duas espécies de amor. tem valor.o ego) ama. quando isso (a personalidade. O outro deve ser adquirido pelo trabalho sobre si. As circunstâncias fazem-no amar mecanicamente. Se você amar.” George Ivanovich Gurdjieff .. o amor que é fruto de um trabalho interno. Uma é o amor escravo. É o que chamamos ‘amor de escravo’. É o amor de que todas as religiões falam. só o segundo. O primeiro não tem valor algum.. Você ama até mesmo quando não deveria amar. esse amor não depende de você e não haverá nenhum mérito nisso. identifiquem nesta palavra o que faz parte tão importante de suas personalidades: o orgulho de serem capazes de conseguir de um modo ou de outro. uma distinta aluna Tipo 2 fez de si mesma quando disse ser possuidora da capacidade de “amaciar as pessoas”. com sua natural amorosidade e simpatia. que ama a todos. e que se emo­ ciona até as lágrimas perante seus fãs. o maior dos retornos emocionais que eles e elas procuram: o amor e o reconhecimento dos outros. Poderíamos dizer que Xuxa e Ana Maria Braga são na atualidade dois dos maiores “amaciantes” públicos da TV Globo no Brasil e devemos reconhecer que. bem ou mal. tive a oportunidade de conhecer uma das mais cativantes Tipo 2 deste pais: Patrícia de Sabrit. o que permitiu transformar um tema difícil de “abreviar” numa agradável conversa. Pode ser que os Tipos 2 “amaciantes” (também existem os menos amaciantes). Que mulheres amorosas! Que capacidade de sedução! Ana Maria Braga consegue transmitir essa amorosidade cada vez que entrevista seus convidados no seu programa da Globo e eu tive o privilegio de ser um deles (veja o link no nosso site com a entrevista completa no You Tube). e ela é realmente uma gata amorosa e comunicativa. Ela que faz tantas coisas para encher os outros de amor e alegria. de certo modo. Ela. claro!) são as maravilhosas Ana Maria Braga e Xuxa. E quem duvida do enorme e amoroso coração da “rainha dos baixinhos”? Ela.156 Khristian Paterhan C. Aqui no Brasil. as figuras públicas que também possuem este Tipo Eneagramático (com algumas diferenças de “asas”. Será que existem seres mais amorosos e dadivosos que os Tipos 2? Quando no inicio do meu trabalho com Eneagrama no Brasil fui convidado como entrevistado do programa de TV Talk Show. Essa sua atitude constante me lembrou a definição que Julia. Que na falta de possibilidades de dar-se mais aos outros. . Claudio Naranjo escreve que Tipos 2 são semelhantes aos gatos. precisamos muito dessa qualidade nestes dias tão violentos. conseguiu conduzir a entrevista sobre o Eneagrama de maneira muito afável e fluida. revelou numa entrevista que aproveita o tempo livre para colecionar com carinho as centenas de lembranças dos milhões de seguidores que a amam tanto!. estou iniciando a análise do Tipo 2 citando exemplos simpáticos que todos reconhecem. ao Ponto 4 do Eneagrama (uma necessidade de apoio e de compreensão para seus sofrimentos e angústias nem sempre reais e. Nesta atitude. você. Tipo 2. não precisa exagerar sua cobrança da atenção dos outros.. quando reais. Você é do tipo que quando está zangado “encena” uma violência histriônica que lembra os “expressivos” italianos com suas justas vendetas? Ou você é daqueles Tipos 2 mais amorosos e dispostos a “aceitar tudo por amor” devido a um forte movimento ao Ponto 4? Qualquer que seja o modo como esta segunda máscara se apresente em você. os Tipos 2 reforçam a influência dos Tipos 1 (autocrítica e cobrança exagerada) e do movimento contrário à seta. sem que você se esqueça de você. maximizando a autocrítica como um modo de provocar a compaixão ou admiração dos outros. Eu as escolhi para me referir a um dos aspectos mais cruciais que todo Tipo 2 precisa compreender: entregar-se aos outros não deve significar perder-se de si mesmo (a).. O quê? Sim. mas assim como um Tipo 1 não precisa se levar tão a sério.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 157 Bom. eu sei que você merecia estar citado (a) aqui. A tendência é confundir observação com uma espécie de falsa humildade. Por isso. quero que sua autoanálise seja . estas últimas palavras não foram escritas por acaso (até porque você sabe que o acaso não existe. especialmente de mim que não o (a) conheço. A propósito. poxa! Não fique triste nem zangado (a).). Já para os Tipos 2. tá? Os Tipos 2 com forte movimento para o agressivo Ponto 8 e com uma boa influência do Ponto 1 do Eneagrama até que poderão justificar essa raiva. exagerados teatralmente). Observando a máscara 2: a sutileza do orgulho Observar a si mesmo é difícil.. tentarei mostrar-lhe (com muito amor. ou seja.. é difícil atingir um grau de auto-observação medido e equilibrado. claro!) como seu Tipo deve ser observado e o que nele deve ser aprimorado para que todo esse amor e anseio de se dar aos outros sejam cada vez mais verdadeiros e poderosos. até quando conseguem ser reconhecidos como “tão humildes”. iniciaremos o processo de auto-observação. desde que eu desse a cada adulto o que ele queria receber. e nunca ser ou agir para ou por si mesma (o).158 Khristian Paterhan C. em troca de carinho e amor (Tipo 2) ou em troca de bons resultados (Tipos 3). 2 e 3: a percepção de poder receber algo em troca de algo que parece ser o mais valioso: em troca de ordem e bom comportamento (Tipo 1). a falta de equilíbrio entre dar e receber e a falta de discernimento para saber quando dar.” A maioria dos Tipos 2 tem estas lembranças da infância: agradar aos outros para receber amor. Com esta advertência. tão frequentemente usados pelos Tipos 2 para atrair atenção e amor.. sem querer bancar o onipotente doador (a). Vamos analisar esta questão do ser para com maior detenção. agradando aos outros. outro aluno. A necessidade de amor e carinho toma nos Tipos 2 muitas formas. você não é tão ruim assim. seu “pecado capital”. descreveu o que pode ser um exemplo muito apropriado da infância típica de alguns Tipos 2 com estas palavras: “Eu sempre me senti uma criança muito amada. . Uma de nossas alunas.. não se castigue tanto!” Faz parte deles a capacidade de sentir orgulho. muito consciente para que não caia nestes extremos. o que eles certamente não são (poderia acrescentar “em absoluto” só para alegrar a certos Tipos 2 que gostam dos extremos).. Ou seja. eu recebia o que mais queria: o amor das pessoas. afirma: “Acho que bem cedo aprendi que. para outros.” André. Marta. Para alguns essa lembrança é positiva.. porém todas se resumem numa frase de tremendo conteúdo psicológico e de extraordinárias consequências: a necessidade de ser sempre para ou de agir sempre para. Os Tipos 2 adoram que lhes falem frases tais como: “Não. Existe algo de semelhante nas infâncias dos Tipos 1. mediante alguns depoimentos que nos mostram como surge a Máscara 2. nem tanto. “deformada”) a psique feminina. consagrar. segundo o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. os Tipos 2 ocultam um terrível vazio e uma angustiante carência interior.. por trás desta aparente capacidade ilimitada de se dar. sacrificar. perdendo-se de si mesmos. O verbo dar tem alguns significados muito precisos na língua portuguesa. Tipos 2 consideram que pelo fato de eles se darem aos outros dessa maneira “tão total”. Logicamente. render-se. manifestar-se. eles teriam que ser reconhecidos e amados. Porém. programadas desde a infância. se “identificam”. Quando eles se dão. gostaríamos de exemplificar este fato de “ser para os outros”. ou seja. a agirem em função dos homens e sentirem-se orgulhosas . conceder. Vejamos alguns destes significados escolhidos entre outros: dar: fazer doação de. O orgulho nasce como resultado de uma “inflação do ego”: “somos capazes de dar. portanto merecemos ser amados!” Neste ponto. etc. Estes significados ajudam a compreender o que se deseja expressar em relação à máscara dos Tipos 2 e o desvio (“pecado capital”) do qual são caracterizados. entregar-se. etc. costumamos mencionar que a característica de “ser para” dos Tipos 2 pode ser claramente encontrada no modo como é formada (ou melhor.. Talvez seja esta uma das maiores causas pelas quais as mulheres têm tantas dificuldades de conquistar o respeito e a consideração adequados na chamada sociedade machista.. com uma questão ainda não compreendida pelo movimento feminista. sacrificar. obsequiar com. mostrar. eles se transformam em seres para os outros. Por que estes significados batem tão fortemente para os Tipos 2 em relação ao orgulho? Com certeza. conceder. ou melhor. O fato é tão corriqueiro. tão “normal” que pouquíssimas mulheres o percebem! Esse fato é o seguinte: milhões de mulheres em todo o mundo foram e estão sendo treinadas. Nos nossos trabalhos com o Eneagrama. o orgulho. você já está se dando conta que é pela simples razão dos Tipos 2 acharem que têm tudo para doar. prestar-se.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 159 A “identificação” e o traço principal: ser para os outros como manifestação do orgulho Os Tipos 2 são definidos pelos estudiosos do Eneagrama como “os doadores ou aqueles que se dão”. consagrar. exibir-se. dedicar-se. ou seja. . a necessidade de “ser para” os outros se torna aos poucos uma escravidão e uma forma de esquecer o valor de si mesmos. Acho que sempre foi assim. uma aluna Tipo 2. enfim: os chamarizes das revistas chamadas femininas são um apelo para que a mulher continue sendo um “ser para”.. etc. O “ser para” leva Tipos 2 a depender emocionalmente dos outros. Você pode comprovar o chamado feito às mulheres para “serem para”. A mulher é educada para ser para os homens. Preciso que as pessoas me amem e reconheçam meus esforços em fazer algo por elas. conquistadoras. homens e mulheres. e ainda sentirem-se orgulhosas por isso! Estamos chamando a atenção para estes fatos que afetam o mundo feminino. passemos a outro assunto que nos ajudará a perceber outras faces do orgulho.160 Khristian Paterhan C. quando conseguem fazê-lo do “modo certo”. devem usar lingerie excitante. Por trás de seus atos. para se dar aos outros. Bom. As revistas femininas exibem em suas páginas. “sempre foi assim”. . por meio de seus artigos ou da publicidade. nos apelos publicitários. sem se importar com as próprias necessidades. expressou assim esta questão crucial: “Sou do Tipo 2 porque sei que sempre fiz tudo esperando a retribuição de carinho.” Logicamente. elas continuam a receber o mesmo tipo de programação psicossocial: elas devem ser bonitas. devem se transformar em conhecedoras profundas dos anseios masculinos. nas manchetes dessas revistas. nos artigos. Marlene. Ao mesmo tempo em que as mulheres compreendem a necessidade de galgar novos espaços dentro da sociedade e lutam para obtê-los. devem aprender como não envelhecer e a cozinhar bem e cuidar do lar. de seus anseios. podem começar a intuir o que significa que eles e elas sejam de algum modo apenas para os outros.. ao mesmo tempo em que se unem para verem reconhecidos os “seus direitos”. atraentes. porque por trás desse fato todos os Tipos 2. desde o momento em que o contato com a realidade se deve à falsa percepção de que se existia apenas para agradar. de suas cobranças. calcinhas sensuais. anseios e sentimentos.. conhecedoras de tudo o que possa atrair os machos. todos os meios e recursos para fazer das mulheres esse “ser para” o homem. este ato se constitui num modo de “perder a importância” diante dos outros. Achando que agem do modo certo sempre (influência do Ponto 1). como o chamado Traço Principal (o orgulho) possui nuances muitas vezes sutis. assim. O que para os Tipos 9 seria um ato de cortesia natural. segundo seus movimentos mais fortes em direção contra ou a favor das setas (a 4 ou 8) eles ficam zangados e agressivos (movimento negativo ao Ponto 8) ou ficam deprimidos. Os outros deveriam avaliá-los positivamente (influência do Ponto 3). ninguém vai pensar que ela seja uma porteira. Essa dependência é reforçada pelas características dos seus companheiros no Eneagrama (Tipos 1 e Tipos 3) e pelos pontos do Eneagrama para os quais se movimentará a favor ou contra as setas (Pontos 4 e 8). ou para outros tipos seria apenas uma gentileza própria de uma pessoa educada (abrir ou fechar a porta para alguém). Quando os Tipos 2 conseguem captar o amor e a atenção positiva dos outros recebendo a esperada “retribuição” ou “reconhecimento” (influência do Ponto 3). os Tipos 2 exigem a consideração dos outros. eu penso: ‘Eu não sou porteira!’” Logicamente. As situações mais banais serão muitas vezes a causa de fortíssimos momentos de consideração interna. ficam “tão felizes” que alguns iniciam de imediato novas ações para satisfazer mais ainda aos que “valorizam” sua grande capacidade de dar e amar. para alguns Tipos 2. tristes e angustiados por não serem compreendidos (movimento negativo para o Ponto 4). Poderíamos dizer que esse . Podemos perceber. Magda é uma aluna que apresenta esta exagerada necessidade de ser considerada pelos outros da maneira adequada e a revela nesse depoimento em que expressa como seu orgulho se torna presente no dia-a-dia: “Cada vez que preciso abrir ou fechar alguma porta (em público) para que alguém entre ou saia (o que acontece muitas vezes durante o dia).Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 161 O ser para os outros como “consideração interna” A consideração interna dos Tipos 2 está marcada por uma série de questões que os levam a exagerar a necessidade de serem compreendidos e aceitos pelos outros. como a citada Magda. Quando Tipos 2 não sentem a “retribuição” adequada aos seus atos. então. nessa tentativa de mostrar que os outros são estreitos. não podemos esquecer.162 Khristian Paterhan C. Na ideia de poder dar-se aos outros. . Amizades pessoais. são os que deveriam saber como reagir. Outra coisa que devemos observar é que este orgulho provoca uma forte necessidade emocional de evitar qualquer rejeição. muitas vezes. Muitas vezes. novamente.” A consideração interna. existe um sentimento de onipotência que alguns Tipos 2 definem como um “sentimento de poder” ou. geralmente femininas. agradar. uma aluna Tipo 2: “. orgulho “sabe” se disfarçar ao ponto de. que sem mim não poderiam ter tomado. é um outro modo de manifestar este orgulho. Tipos 2 descobrem tarde o fato de terem vivido apenas em função de outros. e viver para os outros esconde outra face dos Tipos 2 que lhe convidamos a considerar reflexivamente. esquecidos totalmente de si mesmos (veja a semelhança com o Tipo 9) e com a sensação de ter perdido muito tempo. têm sido notoriamente influenciadas pelo meu Tipo 2 sem limites.. como tratá-los da maneira certa. incapazes e talvez um pouco covardes. tanto que às vezes cheguei a manipular amizades. o que fiz a vida inteira foi agir sempre de acordo com o que as pessoas esperavam de mim para não ser nunca rejeitada”. na medida em que. Esta aparente certeza (um fruto sutil do orgulho e da consideração interna) tem como consequência o que está expresso nas seguintes palavras de Inês. influencia meus pensamentos sobre meu poder de manipulação. a ponto de eu ajudá-las a tomar decisões difíceis. nas palavras de um deles: “a gente se sente capaz de fazer qualquer coisa pelos demais”.. até porque alguns Tipos 2 acham que sabem o que as pessoas necessitam ou esperam deles. “os outros”. Esta questão de precisar satisfazer. e até aqui enquanto escrevo me deparo na teia de aranha de minha personalidade que. Reflita no seguinte depoimento: “Nada para mim parecia impossível. não ser nem percebido... é como se estivesse fazendo um grande feito. nos lembra o filósofo espanhol. nos afeta demais. O “ser para” se potencializa na constante consideração interna e subjetiva em relação ao mundo externo.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 163 Ah. Considero-me uma pessoa ótima. esses importantes “outros” O filósofo espanhol José Ortega y Gasset nos lembra numa de suas obras como nos importamos desnecessariamente com aquilo que chamamos “os outros”. é como se dissesse para mim mesmo: Viu?.” O “ser para” faz com que muitos Tipos 2 (e/ou Tipos 1 e 3 nos quais a influência dos Tipos 2 se torna marcante) tenham o sentimento de serem criaturas especiais. “os outros” não apenas existem como algo real. Até na pretensa humildade bate o orgulho. pessoas com as quais nos relacionamos direta ou indiretamente. são “próximos”. sou capaz até de ajudar qualquer pessoa. com muito amor . mas muitas vezes são o referencial de suas ações e sentimentos. sensíveis e capazes de dar-se sem limites aos “outros”. esse monstro de 1001 cabeças chamado “os outros”. Sim. que sofre com o sofrimento das pessoas. Existe um sentimento de orgulho por serem tão amorosos e dadivosos até o ponto de acreditarem serem os únicos capazes de compreender as necessidades alheias: “Quando ajudo alguém. íntima ou coletivamente. apesar de não possuir existência real. Este fato leva a aumentar ainda mais essa compulsão de “ser para os outros”. apesar de alguns Tipos 2 saberem que estão se enganando e enganando os outros devido a este sentimento. Ao final. o que seria dos outros sem eles? Reflita no seguinte depoimento que revela até que ponto o “ser para os outros” marca o modo de sentir a existência deste segundo Tipo do Eneagrama: “O ponto mais marcante da minha máscara é quando sofro por ter medo de morrer porque não quero fazer sofrer os meus por ser (para eles) uma ótima mãe e ótima esposa. Já para Tipos 2. porque o que existe. O sentimento de que esse “ser para os outros” é importante revela outra face do chamado “pecado do orgulho” dos Tipos 2. e gosto muito de fazê-lo. inclusive quem é inferior socialmente. Esta característica é reforçada naqueles com a forte influência “camaleônica” do Ponto 3 do Eneagrama: Tipos 2 reconhecem frequentemente que fazem de tudo para aparecer ou para “parecer como”. Alguns Tipos 2 relatam que são “calculistas” em suas ações. eu me machucava muito mais profundamente. E assim foi que sempre evitei. e quando isso não ocorre é uma grande frustração.” Walter um dos nossos alunos escreveu algo que revela esta “sensibilidade” especial para a importância do relacionamento com os outros: “Acho que bem cedo aprendi que agradando aos outros eu recebia o que mais queria: o amor das pessoas.164 Khristian Paterhan C.. Eu as resumo na expressão atuar para. os Tipos 2 passam a ter certas capacidades especiais de chamar a atenção. É muito difícil admitir e assumir tudo isso. principalmente quando se vive em função dos outros. eu procurava o mais imediatamente possível compensar aquele estrago. Às vezes. desagradar as outras pessoas. porém os meios são em essência iguais.” A necessidade de atuar/representar como um meio de atrair a atenção dos “outros” Nesta tentativa de sensibilizarem os outros.. choro quando vejo crianças na rua. ferir. mas sinto e ajo como se fosse a única pessoa no mundo a agir dessa forma. notem. para agradar. Parece que ao machucar alguém. Outros agem para conseguir o que querem de qualquer . de conseguir com jeitinho que eles reconheçam.. e carinho para dar. de conseguirem ser amados e queridos. Este atuar para é uma forma de sedução ou de protesto. destaquem. de todas as formas. machucar. sintam que estão presentes. amem. de “amolecer” ou de agredir os outros.. Alguns com forte movimento ao Ponto 8 do Eneagrama encenam a “raiva” quando não são amados ou notados do jeito que gostariam. para receber atenção especial. sentia que a ferida em mim tinha sido tão grande. Uma espécie de faz-de-conta psicológico. de alguma maneira. As motivações podem ser diferentes. solicitem. que. pois gosto de ser considerada importante e acho até que me amo. é interessante começar esta parte da análise transcrevendo uma parte da descrição que Jung faz dele em seu Psychological Types.) algum tipo de resistência (. vivem experiências engraçadas ou tragicômicas. ele escreve: “Isto se manifesta (. Eu sempre reclamava: ‘eu não fiz nada’! .. conseguiram atrair a atenção deles. sempre ‘disfarcei’ o que eu realmente sentia.. Então.’ Imediatamente se evidencia (. atuando como sedutoras vivem situações difíceis.... em seguida. mas sem a intenção de “namorar” ou de terem um “caso”. pouco depois acontece. exatamente a declaração oposta sobre o mesmo objeto.. em algumas ocasiões. Nestas ocasiões. Acho que sabia que o que eu queria era ver a pessoa reconhecendo o que eu tinha feito por ela e aguardava ansiosa pelo retorno de carinho e manifestação de amor. Sempre trabalhei numa área que tinha tudo a ver com meu potencial de doação. na conversa fácil. Explicando a ambivalência dos sentimentos deste tipo. Helena conta como descobriu esta atitude ambivalente após analisar sua Máscara 2: “Até pouco tempo eu não conseguia entender por que os homens se sentiam tão atraídos por mim.) nas demonstrações extravagantes de sentimento. etc. Na verdade.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 165 jeito.) e a gente começa a se perguntar se por acaso estas demonstrações não resultarão (em algo) bastante diferente. provocam o interesse dos homens apenas para conseguir certos objetivos ou para se certificar se. Basta uma pequena alteração da situação para produzir... de fato. Por exemplo. Quer um exemplo? Acompanhe este depoimento: “Sabia jogar com os sentimentos e fazer várias armações para conseguir o que eu queria.. Mulheres Tipos 2 declaram que. que soam ocas: ‘A senhora protesta demais.” Isto é evidente quando Tipos 2 atuam para conseguir atenção. para sentir que são percebidos.” O Tipo 2 e o tipo de sentimento extrovertido de Jung Como os Tipos 2 correspondem ao “tipo de sentimento extrovertido” da tipologia junguiana. nas expressões fortes. . principalmente na parte pessoal.” A atuação na frente dos outros deve ser impecável e nisso os Tipos 2 são especialmente sensíveis para avaliar se o estão conseguindo ou não. Porém. sinto que me preocupa muito a opinião dos outros ao meu respeito. tem como raiz o “ser para”: “Este sujeito sente-se importante. por isso tenta .” Daí a necessidade de atuar de acordo com essa expectativa. Acha que suas atitudes. um olhar. falando alto... Tenho sempre que superar certo temor de que a avaliação seja negativa.. se gosta realmente de mim. Outros dois admitem que quando chegam a algum lugar querem saber como estão sendo recebidos. veremos como a necessidade de “atuar” deste Tipo eneagramático.” Às vezes Tipos 2 contam que quando brigam com seus parceiros (as) falam que “não querem vê-los nunca mais”.. No depoimento de Nelson.166 Khristian Paterhan C. e quero sempre testar isto. o modo de vestir. avaliados e considerados nas mais diversas situações. A maneira de falar. se isso vier a acontecer vão logo dizendo que “não era isso o que queriam de verdade”. só para provar que eu podia conquistar qualquer um. Por outro lado. Este sentimento subjetivo leva os Tipos 2 a se sentir constantemente observados pelos outros. Miriam. Uma aluna admitiu: “Sinto insegurança em relação a outra pessoa. sua conduta.” A observação dela não difere muito da de Enzo: “Quando chego aos lugares meu primeiro movimento é sempre tentar perceber se estou sendo olhado e avaliado. reconhece: “No dia-a-dia. feito em “terceira pessoa” de acordo com certas instruções. se notaram suas presenças. seu jeito de ser podem servir de modelo (influência Ponto 1 do Eneagrama). o que faço me exibindo. que é do Tipo 2. Hoje já consigo divisar que inconscientemente e muitas vezes conscientemente eu fiz questão de que eles se sentissem atraídos por mim. e tentam agir de tal modo que se obtenha essa atenção desejada.. a necessidade de atuar está atrelada à necessidade subjetiva de ter que parecer de um modo ou de outro para satisfazer as supostas expectativas alheias. Acha que há sempre alguém o observando. tentando mostrar descontração e envolvimento.o que eu fiz a vida inteira foi agir sempre de acordo com o que as pessoas esperavam de mim para não ser nunca rejeitada.” Outra afirma: “. . No fundo nem é o sexo. Me pego também. Embora pareça ser independente. Internamente me sinto em convulsão. tentando atrair a atenção do outro.. atuar se faz extremamente necessário. é o medo de mostrar aos outros o inaceitável. ainda hoje. depende desses ‘apoios’ para prosseguir. se baseiam num profundo temor que nutrem de “perdê-los”. ele mesmo os fabrica. Este sujeito gosta de imaginar que alguém está falando a seu respeito. responsável.. estas maneiras de se apresentar aos outros mais adequadamente...” Essa necessidade de atrair a atenção dos outros se manifesta de diversos modos. Não é à toa que Ana.. o aplauso. eficiente e outras coisas mais.. servirá para que você reflita mais profundamente sobre como essa necessidade pode influir em diferentes momentos do cotidiano de um Tipo 2: “Quando não recebo a atenção que acho que merecia receber.. Gosta de obter o consentimento. uma aluna Tipo 2 escreveu: “. o apoio. fico. Quando esses incentivos não vêm. O depoimento de Jorge. ao ponto de se ter que assumir diferentes “máscaras” para os outros. Quero que você venha ficar comigo.” .cada amigo conhece uma parte de mim. É a necessidade neurótica da atenção. percebo como ‘sem querer’ estou perto do meu chefe. numa postura sedutora. a concordância. mas ninguém me conhece por inteiro. que. isso se torna mais visível na questão sexual: Como pode: eu aqui disponível e ela ligada em outra coisa? Incapaz de verbalizar. autossuficiente e seguro. inconscientemente.. deve me achar muito prestativo. dadivoso... como todo mundo. Falta humildade (a virtude a ser atingida pelos Tipos 2) para demonstrar com clareza e naturalidade o que eu estou querendo. mas atenção. fico esperando que ela se toque.. perturbado. Na relação íntima a dois. No trabalho.” Tipos 2 percebem que estas atuações. Para evitar essas possíveis perdas.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 167 fazer o melhor que pode para não decepcionar as ‘expectativas’. da apreciação do outro direcionada para mim. A necessidade de impressionar positivamente o outro faz parte de um condicionamento fortíssimo. Muitas vezes em grupo omitia meu desejo porque queria que os outros ficassem felizes. Esta constante preocupação de atrair a atenção dos outros leva os Tipos 2.. qualquer sentimento que possa provocar um término dessa atenção é abafado ou ignorado. Sendo que se deve conservar uma atenção positiva sobre eles. Considere esta reflexão de mais uma de nossas alunas Tipo 2: “Com esse jeito doce de ser demorei muito tempo para botar para fora minha agressividade. Ser autêntico é importante. cabe salientar que este conceito é idêntico a ‘os outros me reconhecem’. Toda esta compreensão tem a ver com a necessidade de se saber o que é a humildade e o amor. duas palavras que não se limitam a esconder o segredo da realização interna dos nossos queridos portadores da segunda máscara: são a chave de uma humanidade mais fraterna. será bem-sucedida. .” Outra aluna.” Vimos. Mariana. maior será o sentimento de que os outros são também nossos próximos. Não podemos nos apropriar da atenção dos outros. como a importância extrema que dão aos “outros” e a necessidade de obterem a atenção dos outros são duas questões que podem levar os Tipos 2 a deixarem num segundo plano questões objetivamente importantes. uma atividade bem-sucedida pode ser um evento destinado à venda de obras. assim. muitas vezes.168 Khristian Paterhan C. que realiza um dedicado trabalho sobre si mesma. no seu caso particular. a qualquer preço. vender as obras é importante. porque estava lotado de gente e eu era a rainha da festa. confessa como esta necessidade de atrair a atenção dos outros constitui. Quanto menor seja a “quantidade” de consideração interna. a deixar em segundo lugar suas próprias necessidades. uma questão que determina o êxito ou o fracasso subjetivos de suas atividades profissionais: “Quando falo em coisa bem-sucedida. portanto. Desabafar é importante. e mesmo que não venda nada.. merecedores também de tudo quanto um Tipo 2 acha ser o único merecedor. a verdade tenta aparecer para os Tipos 2 na forma de uma solicitação emergencial de suas essências de serem apenas para eles e apenas eles mesmos. Tipos 2 têm algo de seus companheiros eneagramáticos 1 e 3 respectivamente: vivem algumas experiências de maneira oculta para não se comprometer com o papel escolhido e mudam de atitude externa segundo a ocasião. às vezes. Então. sem liberdade. prisioneiros e “com falta de ar para respirar”. As pessoas amadas podem se transformar em uma espécie de “motivação” para “não viver livremente”. passa a ser percebida como uma perda dos “espaços individuais”. O “atuar” pode produzir. A constante ansiedade de sentir-se requeridos e amados termina provocando tédio e sensação de sufoco quando. Tipos 2 passam a ter a sensação de não ter liberdade. permite uma compreensão mais direta do momento em que os Tipos 2 sentem necessidade de resgatar-se: “Na fase inicial dos relacionamentos eu mergulho no outro.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 169 A sensação de perder a liberdade Ao transformar sua existência numa forma de atuação adequada diante dos outros. porém ao mesmo tempo provoca o sentimento de ter ficado preso. conseguindo essa “retribuição”. paradoxalmente provocadas por eles mesmos. A justificativa para esta “saída de emergência” é natural. Tipos 2 declaram não suportar essas limitações. é que essas contínuas atuação e consideração internas presentes na necessidade de serem “amados” pelos outros levam os possuidores desta máscara ao cansaço. Faz-se necessário deixar abertas algumas “saídas de emergência” nesse “teatro” das experiências pessoais. É como se . outra aluna. sentem-se estanques. como se esta contínua atitude de conquista fosse um verdadeiro leitmotiv existencial. O que acontece. O depoimento de Zélia. A inesgotável procura de influenciar e seduzir os outros. simplesmente. os resultados almejados. alguns preferem viver de um modo em que esse atuar satisfatório para as suas necessidades de reconhecimento e de sentir-se amados e queridos não implique o fato de ficar prisioneiro do “personagem” de turno. Tipos 2 sabem que às vezes se torna impossível viver apenas para os outros como eles o fazem. Neste caso. sabem que isso lhes priva dessa liberdade natural de que todos precisamos. É que nesses instantes. impressão que se torna mais um modo torto de chamar a atenção dos outros e receber o carinho. Teve uma fase na minha vida em que eu só me apaixonava por homem casado. Alguns deles acusam um forte movimento negativo contra a seta. me permitia ter a minha vida com mais amigos. atuar e parecer sempre “amorosos”. Dessa maneira só era mostrado meu melhor lado. em um espaço fisicamente só meu. a agressividade. os leva a aceitar “uma vida sofrida por amor”. Exemplos muito claros deste tipo de atitude são “essas incompreendidas mães que sacrificam suas vidas por seus lares. . “prestativos” e “humildes”. pois como aquela pessoa que se perdeu nele que viveu a vida dele pode de repente querer ter vida própria? A minha sensação é de que preciso do meu espaço para poder viver a minha própria vida. No auge da paixão eu começo a sentir um sufoco horrível e fico querendo o meu espaço. “carinhosos” “serviçais”. filhos e maridos”. Para conseguir manter essa aparência “amorosa” e seus “aconchegantes” temperamentos. e ao mesmo tempo quando estávamos juntos tudo era maravilhoso. Muitos Tipos 2 admitem manifestar suas “raivas” até teatralmente para conseguir certos objetivos. Talvez por esse motivo os relacionamentos triangulares sempre me encantaram. e principalmente. o amor e o reconhecimento que essa “triste vida” lhes nega. pois não invadia o meu espaço. muitas vezes estes “Tipos 2 amacientes” abrem mão não apenas dos seus espaços. Como se pode notar. ou seja. a preocupação dos Tipos 2 “menos agressivos” e “amacientes” em mostrar-se.” Para Tipos 2 com forte movimento ao Ponto 8 do Eneagrama. Por outra parte. fazer sozinha. Para mim era ótimo. manifestam as características mais fortes do Ponto 4 do Eneagrama. entre esses Tipos 2 encontram-se os que são verdadeiras vítimas de suas “grandes capacidades de dar e ser para os outros”. São relações sempre muito intensas.170 Khristian Paterhan C. para poder voltar a mim mesma. perdesse a minha identidade.. como também das suas próprias necessidades. “agradáveis”. apaixonadas e com finais difíceis.. nunca nada chato ou desagradável. como é sem dúvida o caso apresentado. É lógico que isto nunca é entendido pelo outro. será o meio pelo qual o espaço perdido será cobrado. tornando-se angustiados e dando a impressão de estarem vivendo verdadeiras tragédias. fazer as coisas de que eu gosto e não as de que ele gosta. Quando eles se desentendiam. a ambição social do Tipo 2 me seduziu e acabei me sacrificando por meu pai – a quem. Emagrecer para ficar bonita foi um duro golpe que tive que acertar na imagem do meu pai a quem parecia gostar muito da minha gordura. meu nome numa placa de bronze dizendo ‘Doutora fulana de tal. quando criança. quase nunca conseguia grandes resultados. Em época de festas ficava querendo inventar presentes. porque. No . Minha mãe sempre falava que eu era doce. não ficava tranquila enquanto eles não voltavam a se harmonizar. Sempre fui magra.’” Existe uma grande diferença entre a experiência de Ingrid e a de uma colega sua: “Identifiquei minha máscara. ofereci os melhores anos de minha juventude – estudando uma chata (para mim) carreira universitária e fazendo inúmeros sacrifícios para que ele pudesse colocar. fiz todas as tentativas. Para agradá-lo e chamar sua atenção. O triunfo maior da minha máscara (Tipo) foi na adolescência. confesso. produto de um lar bastante desarmônico. grande inconveniente para o mundo gostar de mim..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 171 Duas razões para uma mesma conduta Devemos esclarecer que assim como existem Tipos 2 que tiveram infâncias felizes e se lembram de como eram amados e “paparicados”. esse “ser para os outros” encontra um ambiente hostil ao qual trata de adaptar-se tentando sempre agradar ao pai. Nestes existe uma grande queda ao Ponto 4 do Eneagrama ou uma forte tendência à agressividade do Ponto 8. comecei a comer mais. como ele dizia. com os desajustes dessa etapa vital. com um pai 8 que me criou com grande rigor e impondo um estilo tirânico de governar a casa. Adorava fazer coisas e ser elo­ giada. vivia preocupada em deixar meus pais bem. existem Tipos 2 para os quais esta máscara se formou em ambientes mais difíceis. Vejamos mais um depoimento: Quando precisou responder como surgiu sua máscara. a aluna Ingrid revelou: “Teve origem na minha infância..” No primeiro caso. Ao final. fazer festas surpresas... Meu pai descobriu isto e começou a festejar tais atitudes e assim me converti num globo. porém. etc. Portanto. pois. ‘ser original e maior que o mundo’ é natural. Iniciando o processo de mudanças positivas Depois de uma auto-observação objetiva e equilibrada. podem relaxar e ficar mais autênticos. Outra aluna Tipo 2. Só que com esta descoberta percebo que não sou original. pois muitos Tipos 2 se declararam tão ‘originais’ quanto eu. com forte movimento contra a seta ao Ponto 4. este agradar e “ser para os outros” surge espontaneamente. Gurdjieff chamava “o sentimento do próprio nada”. todos esses anos cultivei mato e pensava que estava criando rosas. segundo caso. portanto. para um ‘2’. descreve esta “descida do trono” da seguinte forma: “Descobrir nossas máscaras e sentir que as transformamos no centro de nossas atenções e que dedicamos grande parte de nossa vida a cultivar aquilo que ‘não somos’.. Faço esta análise para poder provocar uma melhor compreensão do necessário trabalho de aprimoramento que poderá levar os Tipos 2 a conseguir o necessário equilíbrio entre “dar e receber”. I. existe algo de veemente nele que precisa ser suavizado. num ambiente familiar aconchegante e receptivo a esse amor e doação. No fim não sobra nada..” Lembro aos Tipos 2 que neste depoimento mostra-se algo dos sentimentos extremos dos possuidores desta máscara. um sentimento valioso que pode levar um Tipo 2 à redenção e a um novo renascer no qual se compreendam o amor e a humildade. O positivo nele é que nossa aluna chega a sentir aquilo que G. criou uma sensação de ‘vazio’. . A sensação de ser a ‘maior do que o mundo’ caiu pela mesma razão numa classificação de Tipos.172 Khristian Paterhan C. sem que ninguém peça tal conduta. muitos Tipos 2 percebem que a mudança positiva de suas personalidades passa pela necessária compreensão de que não são “o centro do mundo” e. às vezes penso que sou 8. que as pessoas dependem de mim. sem ser provocado. Outro sinal de negatividade é o fato de querer transformar todos os que estão à sua volta em dependentes.. merece ser evocada pelo depoimento no qual descreve seu movimento a 8: “Sou Tipo 2. que implica a união das virtudes da humildade e da inocência se revela num estado interno e externo de harmonia. que posso resolver tudo. Uma discípula. com movimento forte para o 8. Inocência aqui deve ser entendida como o estado infantil em que tudo apenas acontece. HUMiLDADE E INOcÊNciA quando positivo. ORGULHO E LUXúRiA (excesso) quando negativo.. Não existem “outras intenções” por trás dos atos. a “centralização de poder” típica do Ponto 8 é justificada pelo “orgulho” de achar que só eles podem fazer a coisa certa para e pelos outros. um movimento “na direção da seta”. De 2 a 8. por ser empreendedora. Tipos 2 se tornam “eternos insatisfeitos” porque eles “merecem muito mais” como retribuição por tudo o que eles fazem pelos outros. porque percebem que se tornam agressivos e controladores ou dizem que são capazes de viver situações extremas a nível sexual ou emocional. muitos 2 parecem ser Tipos 8. não manipulam nem agridem. Vamos analisar o primeiro movimento.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 173 Movimentos de 2 a 8 e de 2 a 4: aprimorando a observação de si mesmo – (ver figura na página 334) O Movimento do mundo interno dos Tipos 2 é o resultado da divisão 2 : 7 = 0.. otimista. porque como uma boa representante deste Tipo dava amor a todos e se doava com total entrega. tudo é natural e flui espontaneamente.. ou seja. Na sua descrição deste movimento no seu aspecto negativo. Quando Tipos 2 alcançam esse “bom movimento” se tornam menos controladores. muito querida por todos.2857142. mas tenho um orgulho muito forte.” Alguns Tipos 2 reconhecem o negativo do movimento a 8.. O movimento positivo a 8. a grande guerreira. Quando o movimento de 2 a 8 aparece como negativo. vivo falando para mim mesma que ninguém faz como eu. .. sentem necessidade de trocas afetivas autênticas. O segundo movimento (contrário à seta) de 2 a 4..” Centrando-se na equanimidade do Ponto 4 Quando o movimento ao Ponto 4 é positivo. é reforçada pelo orgulho que determina o direito que se acredita ter em relação a quem se fez a cobrança. Afinal. Uma espécie de “teatralização” da dor. uma típica manifestação do Ponto 4 do Eneagrama que esconde sorrateiramente uma forma de inveja. achava sempre que a pessoa tinha que perceber e me procurar. porque quem mais merece tal ou qual coisa do que eu? A autocompaixão. Estes estados internos são sutis manifestações do falso amor-próprio (orgulho como vício) e da ideia de merecimento. sem cobranças. Ao me decepcionar. Não se espera tanto de fora. que para Tipos 2 se torna um modo indireto de exigir atenção dos outros. pedir desculpas. ou seja. mesmo que às vezes seu orgulho “dificulte” esse “resgate do fundo do poço”.” Todo Tipo 2 conhece como se misturam “orgulho ferido e autocompaixão”. O movimento negativo contra a seta pode ainda levar alguns Tipos 2 a estados de profundo pessimismo e de abandono deliberado. quando negativo implica a união de dois estados internos que se reforçam: “Eu mereço tal ou qual coisa. satisfeitos. Meu Mestre falava da importância de possuir uma “âncora” interna. Tipos 2 conseguem alicerçar a verdadeira humildade graças à virtude da Equanimidade.. ou seja. uma espécie de poder por .174 Khristian Paterhan C. etc. me fechava e cortava relações. quem poderia sofrer tanto quanto eles? Note como é revelador este depoimento: “Relaciono meu orgulho diretamente com minhas decepções. Esse total sofrimento pode ter outro objetivo singelo: que todos possam dar-se conta do fato de seu sofrimento ser “único” e o desejo de serem socorridos e levantados. mas não consigo alcançá-la e fico triste com pena de mim mesmo. de ter o direito a determinado bem. a capacidade de se manterem centrados. Dificilmente falava sobre o assunto. Ocorre a sensação de que existe algo que não depende de ninguém porque lhe pertence. com tudo no lugar. sabem “provocar” e “manipular” os sentimentos alheios para conseguir o que querem. os mais procurados. Mostrar-se sempre “arrumados”. “elegantes”. porque apenas se deixa de cobrá-lo. precisamos. O inesquecível Mestre Osho em Meditação: A arte do êxtase diz a respeito: “Se alguém pede amor. os Tipos 2 deverão evitar a Vaidade e a Mentira. A equanimidade é esse estado no qual posso ser para os outros sem deixar de estar e ser para mim mesmo. Ele chega. são alguns dos “sinais” da influência do Ponto 1. Confundem . Não precisamos que alguém de fora nos dê valor. faz-se uma barreira. Suas influências reforçarão negativa ou positivamente suas características de Tipo. sem necessitar me perder de mim mesmo. Quando a influência negativa do Ponto 3 é mais forte.” 1 e 3: influências positivas e negativas Seus companheiros no Eneagrama são os Tipos 1 e 3. mais seguros de si mesmos e menos “orgulhosos”. não obterá amor. os mais “chiques”. características desse Ponto e que reforçam o amor-próprio negativo. o Ponto Um pode fornecer aos Tipos 2 essa “serenidade” que os torna menos “raivosos”. Ninguém pode inteirar-se de algo que rebaixe sua autoestima. Positivamente. apenas compartilhá-lo sem cobranças. Tipos 2 tornam-se “falsos”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 175 meio do qual sentimos nosso real valor. No simples fato de pedir. Do Ponto 3. Ninguém pode amar-te! Só podes ser amado quando não pedes amor.. Tornam-se artistas que sabem desempenhar papéis quando lhes convém. porque o simples fato de pedir torna-o pouco amorável. Assim. O simples fato de ‘não pedir’ torna-te belo. aparecer como os mais bonitos. torna-o antipático. sabem como “seduzir” e “iludir” os outros. O estado no qual já não se precisa pedir amor.. menos “cobradores”. sim. os Tipos 2 com maior influência do Ponto 1 poderão observar uma tendência ao “perfeccionismo” na exibição de si mesmos. Ninguém pode amar-te se estiveres pedindo amor. torna-te relaxado. Humildes demais ou orgulhosos demais. “Eles são tão humildes!” é justamente o que esperam ouvir dos outros. Torna-se mais valioso ser autênticos. que significa “terra”. Tipos 2 que reparam na sua falsa humildade ou que percebem como seu orgulho e amor-próprio sabem ocultar-se para “os outros”. ironicamente para sentirem-se orgulhosos pelo fato de terem provocado esses “amor” e “reconhecimento” tão apreciados.. amor com aceitação ou aprovação. venha a descobrir que este relato é meu. os Tipos 2 acham que a compreendem. Rá. eu me orgulho até de minha capacidade de me desmascarar.176 Khristian Paterhan C. A humildade como a virtude que nos lembra nossa real importância Quando se fala em humildade. rá. A autoconfiança evita a dependência negativa. agora. Simplesmente isso! Não precisamos ser os melhores entre os humanos. muito menos dolorosa. E. Humildade é simplesmente o contrário de ser exagerado! Humildade é uma palavra que tem sua origem no termo latino humus. Quando isso acontece Tipos 2 são mais autênticos e confiam mais em si mesmos. Sempre são “demais”. Inclusive neste momento. pois já me havia desenvolvido mais na arte de rir de mim mesmo. agora. doadores demais. se aprofundou e. Somos humanos da terra! Nada mais. egoístas demais. diante dos mais próximos. rá. cuja atenção de alguma maneira me interesse. O positivo do Ponto 3 influencia os Tipos 2 da Veracidade e Honestidade. o que é um bom sinal de que a verdadeira humildade está por surgir: “O trabalho de auto-observação. Posso me desmascarar. que já vinha fazendo há alguns anos. logicamente.” O que fundamentalmente não deixa os Tipos 2 serem realmente humildes se relaciona à palavra “exagerar”. de uma maneira mais divertida. ainda com mais facilidade. dispensam bajulação para estar bem emocionalmente. . Entregues demais.. acabam por achar até engraçado esse fato psicológico. pois sei que há dentro de mim a suposição de que alguém. Quando admitimos que não gostamos ser manipulados. não? Do mesmo modo que o falso amorpróprio precisa da constante “inflação do ego” proveniente dos “outros”.” Você se ama? Se a resposta é não. reconhecendo nossos limites. Incrível. o verdadeiro amorpróprio precisa da constante certeza de poder ser autêntico e de considerar os “outros” como “próximos” com os quais se participa de uma mesma existência. Jogando com as palavras: somos Humanidade-Humus. quando admitimos que não gostaríamos de saber que alguém nos mente ou engana.” Este mandamento só pode ser compreendido quando somos humildes. quando admitimos que não queremos saber que alguém está de nosso lado apenas porque deseja um resultado ou visa um interesse que ignoramos. da constante consideração interna para existir. nossas necessidades e fraquezas como questões que nos fazem iguais uns aos outros. Descobre-se que não é preciso atuar ou fazer de conta. que é bom ser autêntico. produto do mesmo pó. Quando um Tipo 2 começa a amar a si mesmo realmente. que se podem ter amigos verdadeiros e amores que não sufocam. servirá como um meio para iniciar a descoberta desse amor-próprio que conduz à verdadeira humildade e . Surge a humildade. e assim por diante! “Ama teu próximo COMO A Ti MESMO. algo muda. Jesus Cristo: “Ama teu próximo como a ti mesmo. ou seja. Sentir-se parte da terra. quando admitimos que não nos agrada ser reféns de sentimentos abafados. quando admitimos que não gostamos de ser usados. registradas em “Gurdjieff fala a seus alunos”. que não é preciso parecer desamparado ou “carente” para merecer a atenção dos outros. quando admitimos que não gostamos de alguém que nos usa.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 177 apenas sermos humanos. quando admitimos que não nos agradam as pessoas falsas. Descobre-se o que Gurdjieff chamou de o verdadeiro amor-próprio. quando admitimos que não devemos ser dependentes demais. Sinto que a transcrição das palavras de Gurdjieff. leva à compreensão da mensagem do mais importante Tipo 2 da nossa história. quando admitimos que não gostaríamos de saber que alguém nos ajudou ou nos deu algo esperando ter uma boa razão para nos cobrar algo em troca. então é difícil compreender a humildade. apesar do fato de transbordarmos de amor-próprio. a causa secreta de todas essas reações reside no fato de que não somos donos de nós mesmos e tampouco possuímos um verdadeiro amor-próprio. ‘aquele que tem amor-próprio está a meio caminho da liberdade’. E. Se o amor-próprio. liberdade. tal qual o consideramos habitualmente. não obtivemos ainda a menor nesga de liberdade. poderemos olhá-los durante toda a nossa vida. o amor-próprio é ‘um representante do diabo’. pois escondem um grande tesouro para os Tipos 2 e para todos os que procuram conhecer-se. O amor-próprio é uma grande coisa. sem nunca distingui-los um do outro. Nossa meta deve ser ter amor-próprio. Poderemos até nos tornar livres daqueles inimigos principais – o Senhor Amor-Próprio e a Senhora Vaidade. Mediante o amor-próprio pode-se entrever o espírito. Mas o amor-próprio é um atributo da alma. O amor-próprio indica e prova que o homem é uma parcela do ‘paraíso’. é desejável e necessário. O amor-próprio é a principal arma do ‘representante do inferno’. De acordo com uma sentença muito antiga. exteriormente são semelhantes. O amor-próprio é Eu. cada um está com inflado amor-próprio. o freio principal às nossas aspirações e realizações. O amor-próprio é o indício de uma alta opinião de si mesmo. Por conseguinte. é nosso pior inimigo.” É preciso mais algum comentário? Acho que não. e o amor-próprio é paraíso. totalmente diferentes e opostos em sua essência. O fato de um homem ter esse amor-próprio mostra o que ele é. Ambos têm o mesmo nome.178 Khristian Paterhan C. só por isso estaremos livres de uma porção de inimigos. certo? . se tomamos aqueles que estão aqui. Se tivermos amor-próprio. Entretanto. é uma coisa repreensível. e no entanto. O amor-próprio é inferno. Reflita sobre estas palavras. Mas se olharmos superficialmente. além das máscaras e tipos: “Na realidade. e Eu é Deus. Como já dissemos. é desejável ter um amor-próprio. que infelizmente não possuímos. o verdadeiro amor-próprio. . e até mesmo algo muito precioso. I. com tão tola complacência.). Gurdjieff. Gurdjieff. e passem a vida na agradável convicção de que representam algo precioso? Esquecem de ver o vazio insuportável por trás da soberba fachada criada por seu autoengano e não se dão conta de que essa fachada só tem um valor puramente convencional. P. não será simplesmente porque esse algo não existe. deve-se conhecê-la.” G. as incessantes mentiras que conta a si mesmo. Ora. algo que jamais pôs em dúvida. porque ele próprio não o sabe. E se não sabe.” G. I. um homem deve chegar a compreender sua mentira interior. tanto a si mesmos como aos outros. Ao mesmo tempo. D. Ouspensky lembra que alguém perguntou: “O que é que não compreendemos?” E Gurdjieff respondeu: “Estão de tal modo habituados a mentir... quando querem dizer a verdade.. mas apenas se supõe existir? Não é estranho que fechem os olhos.” “Para compreender a interdependência da verdade e da mentira em sua vida. ao que realmente são. . Em Fragmentos de um ensinamento desconhecido. Isso prova que um homem viveu toda a sua vida sem se fazer essa pergunta e considera perfeitamente normal que ele seja ‘algo’.O Tipo 3 O eu que compete “Sugiro que cada um faça a si mesmo a pergunta ‘Quem sou eu?’ Estou certo de que 95% de vocês ficarão perturbados. Dizer a verdade sobre si mesmo é muito difícil. incapaz de dar a menor ideia desse algo. que não encontram nem palavras nem pensamentos. Não sabem nem mesmo em que ela consiste (. Antes de dizê-la. é incapaz de explicar a outra pessoa o que esse algo é. não? Na sua obra Relatos de Belzebu a seu neto. humanos . é budista e consumista. a revista Mais Vida publicou uma entrevista desta notável artista cuja abertura destacava: Ela faz 500 abdominais por dia. temos exemplos muito admirados desta “máscara”. em todo o planeta. as crianças norte-americanas são programadas para entrar nos dollar business e que quando cada uma delas chega à idade adulta. que possuem o poder de convencer-nos de que “uma mosca é um elefante. não bebe. Gurdjieff faz uma descrição muito engraçada dos Estados Unidos (o país mais Tipo 3 do mundo). Ele também nos lembra o arraigado hábito dos norte-americanos de utilizar a publicidade “com o fim de oferecer da parte deles. e por isso “cada um deles se ocupa sempre de ‘negócios de dólares’. desde a infância. o jornalista Marcos de Moura e Souza escreve: Pode impressionar a nós. Por isso Cláudia Arrasa! (Eu imagino que o Iluminado Buda deve ter pulado de alegria no seu nirvânico estado. ao longo dos anos. que. No Brasil. tem que ‘lembrar-se de si mesmo com todo seu ser’ para não ter a impressão de que é uma simples mosca”. No seu primeiro número. nos dias de hoje. razão pela qual se transformaram. uma imagem que em nada corresponde à realidade”. dos hábitos e das condutas aos norte-americanos. Uma delas é a “performática” atriz Cláudia Raia. “em seres tão virtuosos na arte da publicidade”. Aparentemente tudo está sempre bem com você. se a gente encontra um verdadeiro elefante americano.180 Khristian Paterhan C. destacando como. e fazem isto tão frequentemente. após tomar conhecimento desta inédita combinação budista-consumista da sua doutrina de renúncia!) Após descrever todos os “sinais externos” do sucesso da atriz e sua tremenda capacidade de trabalho. não fuma. Quem puder refletir sobre as agudas observações que Gurdjieff faz da idiossincrasia. terá uma ideia do que constitui o Traço Principal dos Tipos 3. “o impulso dominante de sua febril existência é a fúria de fazer dólares e o amor a esses mesmos dólares”. está amando. e de vários ao mesmo tempo”. despista..’. ‘Tenho uma veia empresarial muito forte’. Entre os homens Tipos 3 mais populares no Brasil. temos o sempre bem-sucedido Sílvio Santos. que dirige (quase) todos os programas ao vivo do seu canal! Essa é que é vontade de ser admirado! O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (equilibrado e com uma forte influência do Ponto 4 Eneagramático. é outro bem-sucedido Tipo 3 igual ao talk show que dirige..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 181 comuns... do programa Business do qual participei como entrevistado. como pude constatar numa reportagem da revista Isto É) é outro Tipo 3 que vale a pena analisar. Outro expoente feminino deste Tipo é Marília Gabriela. a Raia Produções Artísticas. muito trabalho e várias atividades ao mesmo tempo. com certeza.. dela própria. Por último. alegre e seguro de si mesmo.. aspecto que na sua juventude se refletia no seu interesse pela poesia.. mas o que ela gosta mesmo é disso: agitação. Quase no final do artigo outras “amostras” do Tipo 3 da grande Cláudia: “. dono do SBT.. Todos os brasileiros. os americanos (de novo os americanos!) também já ficaram muito aguçados com a proposta do show. João Dória. é claro. ‘Estamos tentando ir a Portugal. as conhecidas Exame e VIP são as revistas mais Tipo 3 do Brasil.. jornalista e entrevistadora extraordinária. Os business de Cláudia Raia na época eram administrados pelo pessoal de sua empresa. Todos os Tipos 3 possuem uma mistura das características observáveis nestes exemplos citados: grande capacidade de trabalho.. Estamos estudando. empreendedor. necessidades muito fortes de comunicação .” Possuidora de uma forte influência do Ponto 2 do Eneagrama ela atrai naturalmente as pessoas e também o sucesso. Workaholic encarnada. Ele é o típico Tipo 3. esperam que essa sua performática vida de artista nos brinde sempre com ótimos espetáculos. que empregava cerca de vinte pessoas sob o comando. forte procura do sucesso e de resultados.os olhos da atriz não deixam de espiar as possibilidades de levar seu trabalho para além das fronteiras. b) ou porque acham que além do “sucesso” não existe outra razão válida pela qual lutar nesta nossa breve existência. Observando a máscara 3: ou como o aparente sucesso externo produz a falta da felicidade interna Sim.. e que compulsivamente cobram de seus filhos o sucesso.. assim como um notável espírito empreendedor.. a gente percebe quão ansiosos estão para conhecer-se. Então. certo? Sim. e extroversão (característica que os torna semelhantes aos Tipos 7 e 8). o grande problema dos Tipos 3 está muito dentro do coração. porque assim conseguirei fazer com que a imagem . mas também esconde uma egoísta necessidade de passar para os outros a imagem de um outro sucesso: “os filhos devem ter sucesso porque eu tive sucesso. que não conseguem desfazer-se de seus papéis de grandes desempenhadores nem quando fazem o amor.182 Khristian Paterhan C. pode parecer muito forte. A falta de atenção aos seus mundos internos os leva a procurar com ansiedade e paixão a resposta a todas as suas “inquietudes espirituais”. Este temor não apenas tem a ver com o anseio normal que todo pai e mãe têm. devem ser trabalhadores performáticos. por que: a) eles o conseguiram e porque inconscientemente não desejam que seus filhos provoquem comentários do tipo: “os filhos de fulana (o) não são bem-sucedidos”. estudantes destacados. quão ansiosos estão para ter uma experiência interior.. qual é o problema desta máscara? Por acaso não está tudo bem? Qual é o “calo” no qual se faz necessário “pisar” para que eles se deem conta da importância de seus mundos internos e de seus próprios sentimentos? Sentimentos? O quê?!. porque sentem que dentro deles mesmos está o que suas atividades externas nunca lhes proporcionarão. Durante o transcurso dos workshops. Está sentindo algo? Acho que já pisei no seu calo. querem saber mais sobre si. percebem que gostariam de ter mais tempo para si mesmos. porém por trás destas palavras se esconde a chave que permitirá a qualquer Tipo 3 iniciar a observação de si mesmo. Quando os possuidores desta máscara participam dos nossos workshops sobre o Eneagrama. que não são capazes de se abrir emocionalmente com os entes queridos. Realmente. Vaidade e mentira são os principais “desvios” a serem observados pelos possuidores desta máscara. às vezes. Também é típica deste Tipo Eneagramático a dificuldade para meditar. para ser admirado. etc. em nenhum momento conseguiu dizer para seu filho o que estava sentindo. Muitos deles percebem que estão “representando um papel” que. Apenas . de suas necessidades emocionais. etc. Este esquecimento faz parte do movimento ao Ponto 9 do Eneagrama. o grande “pecado” desta máscara. para estar consigo mesmo. Porém. se dão conta de que esse “algo” parece não estar “lá fora” e parece “fugir” deles.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 183 que eu criei de mim mesmo tenha continuidade neles”. provoca nos Tipos 3 uma incapacidade para perceber o que está por trás das aparências de suas vidas. não se pode parar por nenhum motivo. faz com que sintam uma espécie de irrealidade ou falta de sentido. eu te amo.. Esquecendo as necessidades emocionais e sentindo-se superficial Tudo o que se possa fazer “para fora”. o faz para “compensá-lo” por algum bom desempenho ou sempre aproveita para cobrar-lhe uma atitude ou lembrar-lhe o que dele se espera. algo deve ser conquistado.. Existe o caso do pai que quando dá um carro de presente para seu filho aproveita para dizer que “um carro é uma ferramenta de trabalho indispensável nos nossos dias” e que ele espera que o filho compreenda “o valor desse presente”. que quando dá um presente ao seu filho. e que a razão do presente se resumiria apenas nesta simples mas verdadeira frase: “Meu filho. até porque os outros se acostumaram a vê-los sempre ativos e dispostos. Certo Tipo 3 me revelava um dia como havia sentido um verdadeiro desassossego e incômodo para meditar durante apenas 20 minutos.. Sempre lembro aos meus alunos o exemplo do pai Tipo 3.” A vaidade. que às vezes os deixa com a estranha sensação de estar vivendo “superficialmente”. Algo deve ser alcançado sempre. emocionalmente. Só que. “o difícil que é obter as coisas”. de suas necessidades de contato mais íntimo e autêntico com os outros e até consigo mesmo. ainda que os outros achem bom. implica o esquecimento de si mesmo. para entrar no mundo interno. ” Coincidentemente. tanta competência. sendo organizada. visto que desde cedo percebi que vivíamos num mundo em que pessoas estão competindo o tempo todo e que. como esperavam de mim.. Para voltar a ser e sentir você precisa ser verdadeiro apenas consigo mesmo e para si mesmo... Não precisa ter sucesso imediato. respeito e admiração de todos. porque queria ser reconhecido como o melhor aluno. Em que se fundamentava esta felicidade? A vida corria muito harmoniosa.. todas as minhas necessidades básicas estavam atendidas. de uma época de grande felicidade. Pare de enganar-se: esse algo pelo qual você tem feito tantos esforços. está mais perto do que você imagina e supera o valor de todos esses sinais externos de sucesso que você procurou com tantos esforços. tinham o afeto. tudo é vaidade” (e a vaidade é mentirosa!) Com certeza muitos Tipos 3 notarão que nos seguintes depoimentos existe algo de comum com suas próprias lembranças de infância.” . e eu tinha uma enorme expectativa de que tudo seria sempre assim. lembra que: “eu era uma criança que se destacava nos estudos... aquelas que alcançavam sucesso.184 Khristian Paterhan C. Isto é muito importante. outra aluna. procurando ser a melhor em tudo que fazia. de um modo geral. etc. Sérgio. O que era necessário para que fosse sempre assim? Eu deveria fazer tudo direito. um lembrete para você antes de continuar: a questão de voltar a “ser e sentir verdadeiramente” não deverá ser encarada do mesmo modo com que você encara seus trabalhos. projetos ou negócios. e tanto esquecimento de si mesmo e dos que você ama. buscava sempre as melhores notas. Era desinibido e por isso era comum ser um dos escolhidos para participar das festas do colégio. Stela. A família cobrava meu desempenho e me elogiava pelos meus resultados. escreveu: “A recordação que tenho de minha infância é. tá? Mais ainda: não precisa fazer esta observação de si para apontar mais um triunfo em suas capacidades de realizar coisas. estudando. A “identificação” e o traço principal: “vaidade das vaidades. Um dos nossos discípulos. nas apresentações de atividades artísticas. então eu recebo isto”. essas reações positivas dos outros. mais satisfação narcisista. Será necessário continuar fazendo essas coisas certas que produzem resultados bons e admiráveis. transformando os relacionamentos em uma troca quase comercial. Só que o preço dessa descoberta é paradoxalmente mentir também . eles decidem que não podem parar. que sempre me presenteava. A questão de ser para os outros que destaca os Tipos 2 se torna necessária também para este Tipo. aprendem que podem iludir os outros. só que com uma grande diferença. prontos e dispostos. Aprendendo a mentir e a mentir-se: afinal. uma espécie de ilusão por intermédio da qual parecerão sempre performáticos. bem-sucedidos. certo? Porém os Tipos 3 ficam tão identificados com a necessidade de se mostrarem sempre como os melhores exemplos de bom desempenho que surge a necessidade de “se ocultar” dos outros. Ser querido é sentir-se admirado..” Outros autores. baseados nas suas observações. quanto melhor desempenho. também concordam em destacar que a maior parte dos Tipos 3 teve infâncias nas quais o bom desempenho e os bons resultados obtidos eram o meio pelo qual se conquistava o amor e/ou a atenção positiva das pessoas. Como fazer isto? Muito simples: eles criam uma imagem. “eu dou isto. Por terem todos influência do Ponto 2 do Eneagrama. me colocava no seu colo e me dava muito amor. essa percepção de receber admiração e atenção “em troca de”. Enfim. já que acham que deveriam procurar sempre esses resultados. os leva a estar sempre “fora de si mesmos”. Quanto mais ações adequadas melhores resultados. ninguém é de ferro.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 185 Após escrever sobre detalhes felizes da sua infância. cheios de trabalho e dinâmicos.. Por outro lado. “é muito fácil enganar os adultos” É indubitável que a gente cansa. A máscara começa a ser formada e justificada pelo resto da vida. outra aluna revelou: “Meus pais nunca sentaram comigo para estudar e mesmo assim sempre fui uma boa aluna. Isso dava grande satisfação ao meu pai. O que pensariam os outros se ele começasse a sair antes do trabalho? Que fazer? Simplesmente. bancos que ficam com o dinheiro de seus clientes. para si mesmo e mentir para si mesmo. Mário.. quando os demais já tinham terminado.. mostrava-se muito atarefado porque ele tinha muito trabalho por realizar.. pois os adultos.. contou que durante muito tempo ele trabalhara “quase 24 horas por dia” na clínica médica da qual era sócio-fundador. saía de casa cedo e não voltava até tarde da noite. revela-nos: “Havia em mim uma enorme curiosidade sobre o mundo dos adultos. quando seus mundos internos reclamam atenção. Logo. escolhi uma muito profunda e verdadeira. advogados que são criminosos. mas. políticos que não ligam para o bem comum. se todos acham que nunca vou parar? Como vou fazer para fugir desta absorvente atividade. companhias de telefones que não funcionam. como mudar? Tinha passado sempre uma imagem de superdesempenho. Quando Tipos 3 se cansam de parecer performáticos. médicos que são comerciantes. é muito fácil enganar os adultos. O grave é que Tipos 3 terminam acreditando na imagem criada. decidiu “enganar” (no bom sentido) os outros.” Que grande descoberta! Nos custa muito aprender esta lição. Ele esperava que todo o mundo fosse embora. ao mesmo tempo em que eu intuía que não era muito difícil agir dentro deste mundo. quando é preciso parar eles se perguntam: como é que eu posso parar. Uma mentira que visava conservar a imagem .. Amanda.. Quando surge essa percepção de que se pode enganar os outros? Todos os Tipos 3 possuem uma versão diferente. quando necessitam encontrar-se com eles mesmos.. porém.. Um exemplo simpático: Um dos meus alunos. diferentemente das crianças. enquanto isso. como cantava Renato Russo “é sempre a pior mentira”. etc. Talvez por isso continuamos sendo enganados por produtos que oferecem vantagens inexistentes. professores que não querem educar. eram muito fáceis de serem enganados. Muitas vezes. Sim... só que era mentira. Tipo 3. pregando “pequenas mentiras que não farão mal a ninguém”. ele ia embora. se todos acham que eu sou o super-homem ou a super-mulher? Simples.186 Khristian Paterhan C. Certa vez decidiu que era necessário mudar esse ritmo. Todos pensariam que ele continuava com o mesmo ritmo. trabalhador e incansável que ele tinha criado com tanta paixão e da qual se envaidecia. descobrem que as mudanças de vida só implicam uma maior autenticidade a nível emocional e que essa autenticidade pode fazer bem aos outros.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 187 de homem eficiente. viajar e curtir seus filhos e esposa é muito valioso. muitos pais Tipo 3 tentam justificar suas ausências por falta de tempo e trabalho excessivo. Como muitos Tipos 3 que acabam compreendendo essas armadilhas psicológicas que não lhes permitem fugir dessa atividade desenfreada. etc. sem culpar-se.” . Transformam amor em produtos valiosos que são dados para que os filhos façam tudo direito e para expressar deste modo o que não podem dizer verbalmente. eu sempre adorei e adoro meus filhos. etc’. Mesmo não falando. seu apartamento. sou rigorosa e ditatorial. você recebe isso’. dos quais Tipos 3 gostam muito! Quando Tipos 3 começam a parar de mentir a si mesmos. após ler alguns autores de livros de autoajuda. Começo a tratá-los com mais amor. A mesma aluna nos relatou que: “Para agradá-los compro roupas. Hoje percebo que estava condicionando meus filhos a um jogo do tipo ‘se você fizer isso. Ele descobriu que pode usar 10% de seu tempo para seu lazer e para estar com a família. ter roupas. Hoje tento conversar e não mais fazer essas trocas. isto é. Falando para ele ‘estude para amanhã ter seu carro. Meu filho mais velho ficou carente de amor e atenção. ter uma cama quente. materialmente. Pois sempre cobrei isso ou aquilo. Como mãe não sou pegajosa. descreve assim esta descoberta: “O sucesso profissional não se reflete no meu lado emocional. Como ela. mediante o fornecimento de tudo o que parece valioso. nossa aluna. segundo ele. Aproveite as oportunidades que mamãe lhe dá. Com o trabalho que venho realizando com Khristian Paterhan estou mudando. especialmente aos filhos. consigo verbalizar frases como “mamãe te ama”. Está trabalhando em si mesmo e dá-se conta de que deixar espaço e tempo apenas para meditar. brinquedos. ele reconhece que hoje se importa com seus sentimentos e necessidades. olhe quantos meninos gostariam de estudar. Eva.” Porém ela mesma percebe hoje que o modo de expressar essa “adoração” pelos filhos era incompleta. dentro dos padrões que eu achava corretos. etc. Outra aluna Tipo 3.. porque os Tipos 3 percebem que alcançar resultados é garantir a atenção dos outros. Letícia. reconheceu: “A vaidade é manifestada em relação ao trabalho. deram-me um tambor para tocar em frente a todas as demais crianças reunidas num pátio e. Nesse exato momento. dos pais em particular. as crianças só iam ao colégio por volta dos sete ou oito anos. Tenho compulsão pelo trabalho. Tenho que estar em atividade o tempo todo.188 Khristian Paterhan C. como todas as outras crianças. É importante observar que naquela ocasião. Miguel.” . Busco sempre reconhecimento por aquilo que faço. À procura da admiração e do reconhecimento alheio: “comprando” o amor dos outros Os Tipos 3 mostram que uma das razões para serem workaholic é a procura de admiração e reconhecimento. Não tenho moderação. fazendo tudo o que os outros consideram valioso e importante. eu ouvia grandes elogios à minha forte personalidade.. Depois de três semanas de grandes protestos de minha parte – chorava e gritava todos os dias – minha mãe se deu por vencida e me comunicou que eu não iria mais ao colégio. porém as mais valiosas para o desenvolvimento de uma psique equilibrada e sadia não são encontradas nos grandes shoppings centers de nossas cidades e sim nos nossos próprios corações. descreve esta questão numa profunda reflexão sobre sua infância: “De um modo geral as crianças são carentes do amor dos adultos. não sei por que tipo de inspiração.” Esta procura de reconhecimento e admiração é provocada na infância. procurando sempre a superação. antes dos sete anos. Concordamos que muitas coisas valiosas podem ser compradas com o fruto dos nossos trabalhos e esforços. um aluno Tipo 3. os Tipos 3 aprendem a comprar o amor dos outros. em 1941. afirmei que agora quem quer ir ao colégio sou eu. Minha dedicação é excessiva. Fui objeto da admiração de todos. Assim como os Tipos 2 precisam sentir-se amados dando amor aos outros. em todos os lugares. Quando eu tinha três anos de idade minha mãe decidiu que eu ia para o colégio. Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 189 Sem dúvida a razão dessa “inspiração” repentina foi o temor de perder o amor maternal. ganhar o prêmio. tudo o mais termina sendo secundário e parece que tudo pode ser comprado. descobre que. . enfim. de tudo aquilo que nos torna humanos. Conquistar a admiração e os elogios por bom desempenho será o modo de procurar esse amor e carinho tão desejados. esta criança intui que essa temida perda pode manifestar-se do mesmo modo ou pior se ela não aceita o desafio de ir todos os dias a esse mundo estranho fora do lar. ter amigos para bater um papo. ser o melhor. Assim. Então tudo fica resolvido! Agradar os outros fazendo o que eles acham valioso não só garante o amor. parecem ser os únicos motivos válidos para existir. Enquanto ser enviada ao colégio numa idade na qual se faz tão importante o contato parental pode parecer uma perda do amor materno. e como parece ser o mais importante. como também produz admiração e elogios. compradas ou adquiridas direta ou indiretamente mediante o “disk-sexo”. Num mundo em que namorar. vencer. Concorrer. de repente. do papo familiar. se emocionam e alguns até choram (ou tentam!). disputar. garante o amor que deseja receber da mãe e. mais longe ficaremos da linguagem do abraço sincero e silencioso. quanto mais esquecemos nossas necessidades internas e quanto mais a dita “sociedade de consumo” nos “programe” para que acreditemos na felicidade proveniente do cartão de crédito “gold”. ter prazer sexual e satisfazer outras necessidades próprias do animal-humano podem também ser “negócios lucrativos”. Quando os Tipos 3 participantes dos nossos workshops descobrem estas coisas. Muitas pessoas vivem para demonstrar que são melhores que as outras como um meio de conseguir indiretamente esse amor e atenção que termina sendo confundido com as manifestações de admiração e reconhecimento. todos a admiram no colégio. alguns Tipos 3 apenas nos demonstram que. O modo de vida moderno tem criado muitos Tipos 3. Só que essa procura passa a ser cada vez mais dependente de questões externas e assim os verdadeiros sentimentos terminam abafados. É muito difícil fugir dessa competição constante. da conversa amistosa. Essa atitude em relação ao mundo adquire importância e se torna o leitmotiv dos Tipos 3. por sua idade. “disk-namoro” ou até via Internet. trabalhadoras. rapidamente perto de nós dia-a-dia. e podem até atuar (vemos esta necessidade de atuar para que liga Tipos 2 e 3 no Eneagrama) para provocar nos outros as reações que consideram adequadas.. Pessoas que têm cada vez menos tempo para relacionar-se e conhecer e amar umas às outras nesses três níveis de amor que aqueles velhos filósofos gregos chamavam: Eros.” Os Tipos 3 procuram ser vistos como pessoas legais. são questões muito valiosas que nos permitem encontrar o termo médio entre essa nossa necessidade de ter e possuir e nossa necessidade de ser e sentir. Esta necessidade vai se mostrar mais forte. Ágape e Philos. atarefadas e estressadas.190 Khristian Paterhan C. ativas e positivas. de acordo com o que o ambiente requeria. Um Tipo 3. especialmente naqueles para os quais o Ponto 2 do Eneagrama exerce sua maior influência. Quando isto acontece. de “mudar” de acordo com as circunstâncias para ser sempre admirado. como alguns autores descrevem essa capacidade de “disfarçar-se”. ter a capacidade de dar e receber amor. ter empatia e/ou simpatia pelos próximos. Para aqueles nos quais o Ponto 4 do Eneagrama é mais forte. esse narcisismo irá . Ter amigos e pessoas queridas. o narcisismo leva-os a manifestar-se “camaleonicamente”. Antônio. O importante era mostrar às pessoas que eu estava por dentro de tudo e procurava passar essa imagem de interesse e entusiasmo ainda que dois desses eventos fossem diametralmente opostos entre si.. reconhece: “Quando tive que participar de um encontro profissional em que era necessária minha presença em vários eventos e seminários no mesmo dia. eu era capaz de mudar de emoções e de expressar-me em cada um desses eventos. Pessoas passam. Lembro-me de um programa jornalístico de TV no qual se comentava sobre o aumento da solidão nas grandes cidades. Quanto mais vaidade mais narcisismo: quanto mais narcisismo menos autenticidade Os Tipos 3 perdem o contato com seu Eu Superior (o ser real) na procura do sucesso e da admiração alheia. tem suas unhas arrumadas pela manicure da esquina. ou aquele bem-sucedido dono de botequim barato que. tem conta em dois bancos. Reflita-se. O executivo ou executiva padrão das grandes cidades. também. ficam estressados. Quando Tipos 3 temem perder estes símbolos de sucesso. lê livros de temas da moda ou relativos ao sucesso na sua profissão. eles se tornam “seguidores” de terapeutas ou de “gurus”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 191 acompanhado de certa excentricidade ou de uma necessidade de mostrarse bem-sucedidos porém. faz aplicações financeiras. possui I-phone para chamar os seus fornecedores. que veste roupas de grife. claro!. é aceito entre os de sua classe. deixa seu carro novo em frente ao negócio e fala com seus amigos sobre o tema “trabalho duro tem compensações. O primeiro viaja pelo mundo. Uma das mais incríveis amostras desta afirmação pode se confirmar no extraordinário sucesso que sempre tiveram no mundo certo tipo de seitas. enquanto fala sobre assuntos importantes pelo telefone celular e lembra todas as reuniões nas quais sua presença é necessária e socialmente importante. pode conduzi-los a uma vida de exterioridades tão vazia que é muito frequente encontrar entre eles esses estressados e típicos candidatos ao “turismo espiritual”. matriculou seus filhos num colégio caro e está querendo inaugurar um outro botequim dentro de alguns meses. de quererem ser os únicos a estar “no topo”. conhecedores de tudo o que está na moda. visita lugares importantes. muito originais e únicos. aos quais não hesitam em entregar parte de seus ilusórios bens terrenais em troca da felicidade interna e eterna.”. dirige seu carro último modelo para alguma “reunião importante”. Desenganados após anos de vida artificial. qual a razão psicológica do movimento hippie e da forte influência do mestre indiano Rasjneesh (hoje chamado Osho por seus discípulos) na juventude americana e europeia que encontrou nas suas propostas um meio de expressar emoções e sensações reprimidas e abafadas por . as quais se tornam “refúgio” dos milhares de Tipos 3 cansados da “programação” do establishment. de precisar da admiração alheia. de livros a restaurantes.. etc.. portanto me imitem. nesta parte. O fato de manter uma imagem de sucesso. O segundo já foi a Porto Seguro de avião e pagou em prestações. . as aparências enganam. que posava do lado de uma das representantes da high society local. uma sociedade tida como ilusória. Na TV. não anda bem das pernas. Sendo o tipo de personalidade mais adaptável de todos.. ele anunciava um serviço telefônico. em seu Tipos de Personalidad. certo? Aparências enganam. o (Tipo 3) é tratado em vários dos tipos junguianos sem ter uma categoria própria”. fútil e falsa. em que as pessoas vivem das aparências e motivadas a esquecer o “Ser” em troca do “Ter”. Vivemos num mundo em que a pobreza interior daqueles que externamente parecem ter “tudo para ser felizes” é tão assustadora quanto a pobreza objetiva dos favelados e miseráveis deste país e do mundo. Esclareço que não pretendo julgar este ou outro tipo de atividades ditas “esotéricas”. Embaixo. e não apenas uma cópia desse seu Tio Patinhas bem-sucedido do Norte e que. corre-se o risco de gerar humanos subdesenvolvidos. No Brasil. Realmente. certo tipo de mercado esotérico procura preencher esse vazio interior de diversas maneiras.192 Khristian Paterhan C. Certa vez. o desenvolvimento humano é urgente em nossos dias.! Sim. por meio do qual se prometiam conselhos dos “melhores videntes” do Brasil. fracos e pobres no que diz respeito a seus mundos internos. “existe certa conveniência poética no fato de o Tipo 3 (cuja personalidade é tão pouco fixa e mutável) não corresponder a nenhum dos tipos junguianos. Tomara que o Brasil seja o arauto ante as nações desse necessário equilíbrio entre o mundo interno e o mundo externo.. por isso o Tipo 3 gosta delas! Como sustenta Riso. mas provocar uma reflexão: numa sociedade em que tudo pode ser comprado. no jornal O Globo apareceu a foto de um vidente famoso. ultimamente. o jornalista informava que este senhor é extremamente requisitado pelas damas da sociedade brasileira. apesar de não existir correlação do Tipo 3 com nenhum dos tipos junguianos. mas ‘valor de troca’. A capa mostrava uma gravata feita de reais numa impecável camisa branca sem cabeça e a matéria de capa era: “Meu primeiro milhão”. os acessórios mais valiosos. de um lado.. devem satisfazer uma condição: ser procurada.. o ‘fator personalidade’ sempre desempenha um papel decisivo. O sucesso depende. está recheada de citações próprias de Tipos 3 e 8 (compare as sutis diferenças entre estes dois Tipos Eneagramáticos): “Se eu não performar sempre de forma ótima. de como imponham sua personalidade. sejam quais forem as suas diferenças. a TV de plasma mais badalada. Eles possuem o carro do ano. de outro. ‘sadias’. ‘ambiciosas’. contam também a tradição do nome da família.. Dependendo de suas diversas faixas sócioeconômicas. O ser vivo torna-se uma mercadoria no ‘mercado de personalidades’ (. com o subtítulo: “Angústias e recompensas dos jovens que correm atrás da fortuna no mercado financeiro”.) cada qual deve fornecer uma espécie diferente de personalidade que. “(. A matéria. ‘agressivas’. além disso. Um exemplo quase caricatural desta questão de “parecer bem-sucedido” apareceu num artigo que foi capa da revista Veja Rio de abril de 1996. e personalidade.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 193 O Tipo 3 e o caráter mercantil de Fromm Neste caso. como requisitos para o êxito. tendo não um ‘valor de uso’. quem fez o “retrato psicológico” que se correlaciona mais exatamente com este Tipo Eneagramático na psicologia ocidental foi Erich Fromm na sua obra To Have or To Be. de como as pessoas se vendam bem no mercado.) Embora varie a proporção de perícia e qualidades humanas. . e da qualidade da ‘embalagem’ com que a envolvam: depende de serem ‘joviais’. quando descreve o que ele chama de “caráter mercantil”. os clubes a que filiam-se e ao relacionamento com as pessoas ‘certas’ (.” Para mostrar sucesso.. os Tipos 3 “enfeitam” suas fachadas existenciais com todos os chamados “signos de êxito” socialmente aceitos. em geral.. o laptop mais completo.. os Tipos 3 se mostram externamente bemsucedidos segundo o que sua classe social exige de alguém bem-sucedido.) ele se baseia no fato de nos sentirmos como mercadorias. ‘honestas’. . no artigo não se mencionam as editoras. “pouco espertos” ou “pouco brilhantes”. “Quero crescer dentro do banco” e outras pérolas do tipo. a jornalista destaca um sujeito que. os bastidores de uma operação entre três ex-sócios da Nabisco. férias em Nova York (!!) todos os anos (oh. mas não dá para ficar muito tempo sem estar a par das flutuações do mercado”. “Se eu chegar aos 30 anos com 1 milhão de dólares e tiver sociedade no banco. “Poderia viajar quantas vezes quisesse para fora do Brasil.194 Khristian Paterhan C. e Barbarian at the gates. é “bem-sucedido demais para quem mal faz 30 anos. Sobre gravatas. por exemplo. “Quem é bom fica. O quê? Gostou?. a postura social de meu pai era de uma humildade absurda. aceitei suas influências no que elas me pareciam boas para alcançar na vida o que eu julgava que me interessava. Falando sobre a influência de seus pais na sua existência. história do megainvestidor norte-americano Michael Milken. “Não sei se existe um valor que me bastaria. especialmente se essas pessoas têm algum tipo de relacionamento com eles. não sei. Entre os sinais de sucesso dos candidatos ao chamado “exclusivo mundo dos melhores e bem-sucedidos” estão carros de 37 mil dólares. Ter uma boa imagem e passar aos outros boas impressões leva-os a rejeitar aqueles que são. direi que a primeira etapa foi vencida”. Assim. as mais badaladas no momento são as francesas Hermès ou a inglesa Tie Rack.. embora traga o rosto riscado por rugas precoces”. uma aluna Tipo 3 reconhece este fato: “De um modo geral. Na matéria. livros “educativos” tais como O covil dos ladrões. Quanto mais se tem. mais se quer”. a repórter Mônica Weinberg descreve (consciente ou inconscientemente) esse mundo Tipo 3 em que tantos pretendem apenas “crescer dentro do banco” e ter “um milhão de dólares”. “Não estou jogando para me divertir. punido por suas próprias espertezas no mercado financeiro. Elza. quem não é dança”. “cinzas” demais. Entre os entrevistados. my God! como é que pode com todo esse maravilhoso Brasil tão perto!). segundo ela. alguém vai fazer isso por mim”. Apesar de ser um engenheiro de . claro! Bom. mas para ser rico”. por aí vai essa reportagem dos nossos novos dollars-men made in Brazil. Não. ou “humildes demais”. Alguns Tipos 3 sentem bem cedo a importância da boa imagem. Já a postura social de minha mãe me parecia perfeita. pensar sempre por mim mesma. quanto do outro. procedia socialmente como se fosse uma pessoa subalterna.. nas opções tanto de um. um lema. Anseios que são compartilhados com os Tipos 2 e 7. encorajando-os a serem como eles. Aqueles em que esta tendência é “suave” produzem nos outros uma acolhida calorosa e agradecida. Não adianta apenas ter sucesso. em latim. o que me fez desenvolver uma postura completamente oposta à sua – Típica da Máscara 3: sempre acreditei em trabalhar minha própria imagem e desde a infância adotei. Hostis Honori Invidia. pois ela vivia como uma princesa. como se deve trabalhar a própria imagem para que os outros possam percebê-las como importantes. porém. Identificava nela. Tipos 3 se tornam “motivadores” dos outros. Também é necessário “aparecer”.. que significa ‘a multidão honra a quem inveja’. esforce-se como eu”. ludicamente é claro. “Seja como eu. Esta necessidade de encorajar. me imite. motivar e cobrar dos outros atitudes e resultados vem acompanhada do correspondente lembrete: “aprenda de mim. é preciso comportar-se como uma pessoa bem-sucedida perante os outros. inteligente e “socialite”. na revista Caras.” É fácil observar neste depoimento as preocupações de todo Tipo 3: como os outros são importantes socialmente.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 195 muito sucesso no seu tempo e de ter acumulado bens materiais bastante razoáveis. uma certa carência de raciocínio lógico que me obrigou a. desde muito cedo. claro! Esta é a razão pela qual aqueles Tipos 3 considerados socialmente vip. por não confiar muito. é necessário “parecer” exitoso. me imite e se dará bem”: O Tipo 3 como falso “exemplo” de vida certa Quando o narcisismo é tido como uma “virtude social”. são . Obter uma fotografia junto a pessoas bonitas e importantes faz parte de uma luta na qual muitos Tipos 3 se destacam por suas incríveis estratégias de autopromoção. lutam continuamente para manter-se no pódio dos “vencedores sociais” e aparecer. por exemplo. se você não é um triunfador como eu. “dar-se bem”. Assim eles alimentam a própria imagem. se tornam extremamente “cobradores” para com aqueles que estão perto deles. razão pela qual se esforçam e muitos até conseguem superar crises que. a saída é culpar os outros. Porém o que neles é visto por alguns como positivamente “motivador” e “exemplar”. Tentam demonstrar que não tiveram culpa ou não seriam responsáveis. ou não tenha os resultados esperados. se você não trabalha como eu. seriam difíceis de transpor. os que “não dão certo” (segundo o que eles chamam de “capacidade”. ajudam os outros e gostam de fazer coisas em benefício da comunidade. para outros Tipos Eneagramáticos. provocando o contrário como reação. Alguns Tipos 3 são extremamente controladores e chegam a exagerar nas suas cobranças. Também. ou ao “estado incompetente”. ou à “situação geral”. sejam estes seus sócios.196 Khristian Paterhan C. Procurando um “bode expiatório” para os fracassos Caso. Existe uma certa agressividade nesta conduta. muito apegados à imagem triunfante. um Tipo 3 inicie um processo de fracassos e se dê mal. simpáticos e participativos. para outros pode acabar se transformando em cobranças difíceis de suportar. um ninguém”. amigos ou parentes. e “dar certo”) são seres desprezíveis. você é um fracassado. por razões externas ou por erros nos seus negócios. podem ser extremamente controladores com seus filhos. Assertivos . esta atitude com respeito aos outros esconde um forte medo (movimento negativo ao Ponto 6) de ter que viver entre ou com pessoas que poderiam ter que depender deles em troca de nada. os “que se dão mal na vida”. Quando Tipos 3 triunfam. já que nessas cobranças está implícita a ideia de que os “incapazes”. Parecem. com suas atitudes. porque é difícil ter que aceitar que a causa do fracasso pode ser ele mesmo. Os Tipos 3 não querem ser considerados fracassados. estar sempre lembrando aos outros: “se você não me imita. A necessidade de manter suas imagens de pessoas bem-sucedidas os leva a não aceitar o fracasso. Pais Tipos 3. conseguem muitas vezes convencer os outros de que eles não criaram essas situações. A dose certa de amor-próprio e de autoestima é saudável e motivadora. etc. Lembro-me neste instante de um certo Tipo 3 que devido a algumas “quedas financeiras” chegou a pensar que ter ingressado numa determinada instituição poderia ser uma das causas possíveis dessas perdas temporais! Ele depois compreendeu que a coisa não era assim. que são os três pecados capitais que formam o corpo do Minotauro que este Tipo Eneagramático deve enfrentar no labirinto de seu mundo interno. pela empresa. a esposa. desse modo ninguém poderia chamá-los de fracassados já que “todos estarão na mesma situação”. Porém maquiar demais o ego. os sócios. mais é causado pelas circunstâncias do meio. A razão do fracasso temporal nunca é devida ao resultado de suas ações. mas naquele momento sua afirmação provocou entre seus colegas uma reação totalmente compreensível de rejeição. Tipos 3 se tornam às vezes extremamente críticos com quem está por perto. A razão é simples. Por esta rejeição ao “fracasso”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 197 e dinâmicos perante situações complicadas. muitas vezes cometendo graves erros de apreciação. O que num determinado momento os Tipos 3 chamam “fracasso” é apenas o fato de não estarem conseguindo tudo o que eles desejam. O narcisismo os impede de enxergar as verdadeiras causas do aparente “fracasso” que apenas deveria servir como “feedback” para assim conseguir a Equanimidade e a Humildade necessárias face à realidade ou Verdade que se ocultam por trás das máscaras da Inveja. encontraremos aqueles sujeitos que podem determinar friamente que “se eu fracasso os outros deverão fracassar também”. a terapia. Entre os Tipos 3 menos evoluídos. Conclusão necessária para não ter a mesma sorte de Narciso Namorar a si próprio não é negativo quando se compreende a fundo o que já foi citado sobre o conceito de amor-próprio definido por Gurdjieff no capítulo relacionado ao Tipo 2. do Orgulho e da Mentira. produzir-se além da conta. e depender apenas desses artifícios para . Todos temos este esquecimento e todos corremos o risco de perdermos.. simplesmente . Só me lembrei desta questão agora.. enquanto pensava no triste destino de Narciso. esqueceu aquele que olhava através de seus olhos e que era ele. não sabemos se conseguiu ser feliz por lá – ou pelo menos ninguém mais o encontrou. um dos pioneiros da psicologia transpessoal. ocupadas.. É interessante nesta parte lembrar que. ou seja. o Tipo 3 não se encaixa em nenhuma categoria correspondente. esclarecendo-se que este é um “Tipo identificado recentemente no pensamento psicológico ocidental”.. olhando o seu “reflexo” nas águas da mater-matéria. dessa doença rasteira que afeta a milhões de pessoas no mundo fazendo-as acreditar que a única opção para ser feliz neste mundo são suas agitadas. este seria com certeza um excelente exemplo de “normose”. pode levar os Tipos 3 a ficar mais longe da própria verdade. quando se relacionam os Tipos Eneagramáticos com as patologias psicológicas do DSM americano (Diagnostic and Statistical Manual III. Curioso. olhar para dentro de si mesmos e sentir. numa sociedade que faz questão de considerar esse tipo humano a melhor amostra da cultura americana? Para Ives Leloup. ou seja. verdadeiramente. segundo Helen Palmer. ou workahólica. não? Como poderia ser considerado patologia psicológica por um teste “made in USA” o fato de se possuir uma personalidade Tipo A. geralmente o fazem com o entusiasmo e o empenho que colocam para realizar seus objetivos e metas materiais.. Revised). Iniciando o processo de mudanças positivas Quando os Tipos 3 decidem trabalhar em si mesmos. de nós mesmos. rotineiras e vazias vidas.198 Khristian Paterhan C. Narciso acabou se afogando – as ninfas talvez o tenham levado ao reino das águas e.. Assim surgiu o primeiro trágico exemplo dessa patologia psicológica chamada “narcisismo”. É bom lembrar que. de tanto namorar sua bela imagem refletida no lago. Porém a necessidade da máscara de querer mostrar bom desempenho faz com que eles esqueçam o verdadeiro alvo desse trabalho interior. impactar os outros. como Narciso. porém sentia que ainda não conseguia superar meus obstáculos interiores. ou seja. uma genuína transformação. porque. como Elizabeth nos revela neste depoimento: “Quando fazia terapia eu conseguia me antecipar às expectativas do psicólogo. 9 e 6. acostumados a viver para o externo. primeiro com você mesmo e logo. como consequência natural. apesar de ser “Três Pessoas”. ou nas dinâmicas de grupo. é necessário ser verdadeiro.” É importante compreender que as mudanças positivas a serem de­ senvolvidas importam e são valiosas apenas porque você precisa delas. Eu me sentia até mais capaz do que ele e logo abandonava essa terapia. Não é fácil para eles. analista ou psicólogo ao qual estão tentando abrir seus mundos internos sem conseguir o resultado principal. verdadeiro para com os outros. acostumados a mostrar-se bem-sucedidos em tudo. ou na análise. eles manifestam-se de acordo com as expectativas do terapeuta. e não apenas pelo que você faz. Você deverá aprender que também vale pelo que é. os Tipos 3 fazem de qualquer trabalho interno uma espécie de prova de capacidade ou de uma nova oportunidade para mostrar-se como os melhores. Porém. aprendia e lia sobre as técnicas psicológicas usadas por ele e me adiantava ao que ele tinha para me falar.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 199 aprender a sentir. todo o movimento eneagramático se dá em relação a esse Trino Ser que. para atingir este valioso resultado. Em cada terapia eu me comportava dessa maneira e parecia que sempre conseguia mostrar-me como a melhor em cada uma delas. Para os Tipos 3. verdadeiro. Sim. Não haverá mudanças positivas se você não ficar entregue ao trabalho interior. É comum ouvir deles que na terapia tal ou qual. de certa maneira é. verdadeira esperança – (ver figura na página 334) Parece um resumo do Nobre Óctuplo Sendeiro budista e. Não existe nada que você deva demonstrar para os outros além de sentimentos autênticos. sem ter conseguido abrir meu mundo interior. Os movimentos no triângulo equilátero: verdadeiro sentir. verdadeira ação. é “Um . O efeito “camaleão” toma conta do processo. 200 Khristian Paterhan C. Quando esse estado de abandono de si mesmo se afirma no falso ouro dos “ótimos resultados”. Observar esse movimento interno nos seus aspectos negativos é fundamental para o resgate do verdadeiro no Tipo 3. A distinção entre fazer por temor. então aparece a “coragem” verdadeira (movimento ao Ponto 6) para comportar-se de um modo inédito. ser desconsiderado pelos outros ou perder sua qualidade de “melhor entre os melhores”. ou seja. deixando de sentir. os Tipos 3 decidem comportar-se como se não tivessem medo do vazio existencial. pequenas mudanças tornam-se extremamente valiosas. Neste aspecto há algo do chamado contrafóbico dos Tipos 6. Ainda sentindo a terrível sensação de estar esquecendo-se de si mesmos (Tipo 9) e das necessidades internas daqueles que compartilham suas vidas pessoais. o medo de perder essas fantasiosas fontes de segurança ilusória leva os Tipos 3 a experimentar os aspectos negativos do “movimento” ao ponto 6. ir contra a seta eneagramática. Observar como a imagem que um Tipo 3 projeta de si mesmo consegue (e isto é algo apavorante para aquele que se dá conta a tempo) substituir o seu verdadeiro Eu. Quando Tipos 3 decidem trabalhar em si mesmos e lembrar-se de si mesmos. do triunfo. do alto cargo. ter sempre “muito tempo ocupado”. da carreira. só Deus. Esse é o “movimento” negativo ao Ponto 9 do triângulo. para atrever-se a sentir determinadas experiências sem temor. de suas verdadeiras necessidades . Resultado: impossível parar (volta ao Ponto 3). tudo acontece para estes três Tipos no mundo interno e na sua relação com o ser. como se os desafios externos fossem uma espécie de droga que os pode manter sem sentir a dor de estar longe de si mesmos. Imaginemos um Tipo 3 com uma sincera capacidade de observação de si. Sim. fazer porque se não fizer pode perder algo. adiando o que é mais importante. leva o Tipo 3 ao esquecimento de si mesmo. Talvez perceba que não precisa adiar determinadas ações ou vivências relacionadas com ele ou seus seres queridos (movimento positivo ao Ponto 9) até o momento em que esteja com “menos trabalho” porque ele descobre que ter sempre algo para fazer. Quando a máscara da mentira está presente. não mais”. do posto elevado. faz parte de sua “mentira”. os Tipos 3 agem esquecendo-se de si mesmos. é necessário continuar a correr atrás do sucesso. Sim. nessas suas “conquistas”. talvez mais motivador: tente ser excelente em relação ao seu mundo interno sentimentos. sábados e domingos. Ou seja. finalmente. com a vantagem de que se pode curtir um bate-papo com os filhos. o melhor modo de não enxergar os perigos dessa atitude extrema é tornando-se um trabalhador compulsivo (volta ao Ponto 3). perceber.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 201 (Ponto 9) e. Não se trata de ter que parar de trabalhar. como cantava Raul Seixas. que trabalhar 8 horas de segunda a sexta pode ser tão bom e produtivo como trabalhar 17 horas diárias e. talvez. Aprender que não acontecerá nada se decide equilibrar seu agitado ritmo de vida e que. Este é o segredo da verdadeira ação. uma das virtudes vizinhas (Ponto 4). da Ação (9) e da Coragem (6) do triângulo eneagramático: Amor (9). Ame honestamente a si mesmo e aos que estão perto de você. Falando de um outro modo. Este é o segredo. uma noite romântica com a pessoa amada ou simplesmente sentir e somente sentir a vida. . evitar um ou dois infartos (lembro que Tipos 3 e 8 estão dentro do que se conhece como personalidades Tipo A (ou seja aquele grupo de pessoas com sérias tendências de sofrer doenças cardiovasculares) e ter tempo livre para dedicar ao encontro com seu ser. ainda. o máximo que pode acontecer é. nem de abandonar tudo e sim conseguir um equilíbrio entre trabalho e vida interior. tanto como é excelente em termos materiais e externos! Alcançar este equilíbrio entre o mundo interno e o mundo externo passa por compreender esses estados superiores do ser que estão por trás da Verdade (3). É necessário um novo modo de “fazer” mais consciente e equilibrado do ponto de vista do Ser. por exemplo. Fé (6) e Esperança (3). dessa verdadeira vida que um Tipo 3 deve objetivar. tenha fé naquela existência que é verdadeira e não aparente e que o pode levar a compreender que tem muito “Ouro de Tolos”. entre sentimentos e atividades. Isto é Equanimidade. que Tipos 3 precisam viver. a influência do Ponto 2 provoca a ideia de “sou merecedor do reconhecimento. de ficar equidistantes entre o mundo interno e o mundo externo. Do aspecto negativo do Ponto 4 Tipos 3 recebem a influência da Inveja. como ser bom pai. porque eu faço o que outros não são capazes de fazer tão bem-feito quanto eu”. não.202 Khristian Paterhan C. Outros iniciam uma procura de si mesmos. entendida como a procura sofrida daquilo que ainda não conseguiram. essa falta de “algo mais” não produz nele a luxúria do 8. uma outra maneira de mentir a si mesmos. Então. com o risco de continuar “vazios”. Como evitar o “vazio interior” e o que aprender com os companheiros eneagramáticos 4 e 2? Os Tipos 3 deverão estudar e analisar as características de seus companheiros eneagramáticos 2 e 4. iludidos. Manuais são irresistíveis para Tipos 3. métodos e livros de autoconhecimento ou de autoajuda com o objetivo de serem melhores “internamente”. por intermédio de terapias. Por outro lado. são uma forma de “narcotizar-se” (movimento a 9) ou esquecer essa sensação de “vazio” e de falta. Ela esta ligada ao sentimento de ser merecedor de algo especial e único. Esta procura tem dois tipos de expressão: alguns Tipos 3 tentam justificá-la mediante o constante aperfeiçoamento. O positivo da influência do Ponto 4 é que Tipos 3 preocupan-se com valores espirituais. É como se sempre faltasse algo. Porém. no aqui e agora. Ou seja. o melhor administrador. . a possibilidade de se converter num “burro atrás da cenoura” se torna muito real e Tipos 3 deverão observar em que momento isto acontece. daquilo que aparentemente falta e que. manifestam uma honesta necessidade de Equanimidade. acham que os fará felizes. Compram manuais de como fazer isto ou aquilo. manuais sobre como ser o melhor gerente. procuram dicas para viver melhor e valorizam o autoconhecimento. Isto é uma manifestação da ideia egoísta de “ser maior que o mundo” descrita por Claudio Naranjo quando analisa o Tipo 2 na sua obra. sistemas. Esta influência 4 produz em alguns Tipos 3 a sensação de inconformismo com qualquer resultado obtido. etc. O perigo é quando fazem desta procura interior apenas algo “para inglês ver”. você deve lutar “unicamente contra si mesmo”. fraternidades ou de grupos religiosos com o objetivo de “conhecer a si mesmos”. a refletir no seguinte aforismo que Gurdjieff nos deixou com um propósito exato: “Lembre-se de que você veio aqui. equivale a uma tragédia espiritual. e não adianta “parecer” para os outros como “o melhor dos discípulos”. O problema é seu.” Sim. Agradeça. porque você compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo . tanto como ganhar aumentos de salários ou de conseguir ganhos na bolsa. É necessária a Humildade para reconhecer o que está sentindo e para expressá-lo. eles talvez possam sentir esses momentos de uma maneira mais autêntica. Humildade. valiosa e um exemplo a ser imitado pelo Tipo 3. Essa atitude amorosa e receptiva dos Tipos 2. Quando Tipos 3 estão sentindo vontade de abraçar ou de falar “bobagens” do tipo “eu te amo”. Seja autêntico porque é para você mesmo que você será autêntico. porque o verdadeiro acaba por não ser mais sentido. contra sua mentira. Quando Tipos 3 não conseguem mostrar seus verdadeiros sentimentos. eles não conseguem ser humildes. Aconselho aos Tipos 3 que estejam realizando qualquer trabalho de aperfeiçoamento interior ou que estejam participando de escolas. portanto. quando não se permitem parecer vulneráveis. ou que. se apenas “consideram externamente” percebendo que para os outros essas manifestações podem ser muito valiosas e importantes.unicamente contra si mesmo. quando oportuna é positiva.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 203 Os Tipos 3 devem trabalhar para serem honestos na procura do “Eu Real”. “estou feliz de estar aqui!”. compreendendo que mentir em relação a esta procura só prejudicará a eles mesmos e nada mais que a si mesmos.. no final. Tente descobri-las em você! . contra sua falsa imagem. especialmente quando o que se sente é positivo e agradável. a quem lhe proporcione a ocasião para isso. etc. Verdade e Equanimidade são poderosas virtudes. Você não acha que vale a pena lutar contra si mesmo para chegar a esse estado interior no qual você se sentirá honesto e verdadeiro com você? O positivo do Ponto 2 como influência é a capacidade de demonstrar seus sentimentos e emoções. 204 Khristian Paterhan C. Eu sou o que manda. fazia esforços para mostrar-se irritado ou contrariado com relação a qualquer questão política que precisava de uma “reação enérgica” durante o seu governo. nefelibatas!’.. descreve o esperado e catártico resultado: “. Alguns declaram que não podem. em tom de brincadeira. isto é.. para poder relaxar e quebrar ou. Meu povo! as reformas são as seguintes. Tipo 3. a quem admiro.’ e o presidente totalmente autêntico. eu sei que você sente. dizer coisas que não sabem expressar emocionalmente.... Às vezes são tão desajeitados no momento de mostrar sentimentos ou de querer agradar os outros que provocam o efeito contrário. Jabor... reagir e defender seus triunfos quando necessário . ele até hoje não consegue! Arnaldo Jabor. esta frase: “Sem reformar seu mundo interior. Lembro aqui como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). o chefe desta pátria que nos pariu!’ O entusiasmo catártico é grande e incontenível e o analista grita: ‘– Dá-lhe. seus cascas de ferida. Fernando!. mequetrefes. emocionalmente falando. este aspecto da psique de FHC. Não tente se defender agora. presidente!’” Achei simplesmente genial porque. eu sou o presidente desta joça. escrevendo no Segundo Caderno do jornal O Globo de 30 de abril de 1996 uma espécie de chamado ao despertar das emoções do ex-presidente sob o título: “O Presidente deita no divã do psicanalista”... certo? É bom rir. eu sou o pau na mesa.. você vai ser o Gorbatchov latino e vai dar o poder para algum bêbado louco!”).. ele deveria ter seguido os conselhos de Jabor para aprender a desabafar. Alguns se fazem de engraçados e tentam.. expressou bem-humorado. pelo menos.. Simplesmente.. Com frequência vejo os Tipos 3 quase chorando. garoto!. seus sujos. No subtítulo... FHC não conseguirá fazer as reformas do Estado. o doutor entusiasmado grita: ‘– Isso. continua desabafando: ‘– Eu...” Após uma entusiasmada sessão de análise que termina com uma terrível advertência profética (“Do contrário. começar a quebrar algo daquilo que está cristalizado no coração.. “A VERDADE OS FARÁ LIVRES”: O DESAFIO FINAL Parece até título desses filmes em série. é o que sempre se cobrou de FHC! Realmente.o presidente se ergueu do divã e gritou: – ‘Seus idiotas. apenas porque você como bom Tipo 3 acha que pode tudo! Sim. nem o que realmente sentem por medo de perder a popularidade e a aceitação dos demais (Ponto 6 contra seta). como escreveu J. para ele falar de seu amor por ela.R.. segundo Guzzo. sempre com muito trabalho!” Ele compreendeu e sentiu. por aqui.” Talvez para FHC defender seus triunfos como Tipo 3. que me tomasse no colo ou que batesse um papo comigo. Platão lembra-nos no Mito da caverna que levar de repente alguém para enfrentar o Sol da Verdade pela primeira vez. porque independentemente de questões políticas... ele percebe hoje que o que sua filha desejava não era apenas um “bom-pai-provedor-de-tudo-o-que-faz-falta”.. que brincasse com a gente. até conseguir essa expressão adequada.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 205 e justo. para seu próprio bem. Num trabalho familiar pedi para ele abraçar a filha. já que. sucesso. homem ou mulher. Há pouco tempo.. vá devagar. é ‘insulto pessoal’” Então. Sua filha conseguiu desabafar: “Eu teria gostado que você estivesse mais tempo comigo. Tivemos conversas eneagramáticas muito valiosas. comunicativos e diplomáticos demais (influência da asa 2 e movimento ao Ponto 9 do Eneagrama) vocês não reagem e não demonstram suas verdadeiras emoções. Não se pode mudar de uma vez. Porém. “o que não se perdoa ao ex-presidente FHC é o seu sucesso.! Seja Humilde (Ponto 2) e Equânime (ponto 4). porque. não convide bem com o êxito. seja difícil por que como Guzzo adverte: “O Brasil. com ele e sua família. Então não faça deste caminhar para o sol do seu coração uma maratona performática. para ele a sentir. ainda não se reconhece que foi seu governo quem “finalmente encarou e venceu a inflação no Brasil”. um Tipo 3 muito especial. e foi muito bom para todos na família! .. por força de teimosa tradição.Guzzo na revista Veja do 1° de setembro de 2010. Aconselho a você. Tipos 3 fiquem alertas.você deve procurar a reconciliação e reencontro com o seu mundo emocional.. pode causar grande dor e até cegueira. na celebre definição de Tom Jobim. Tipo 3. escrevo sobre este caso para que vocês reflitam no fato de que muitas vezes.. por querer parecer agradáveis. a expressar adequadamente seus sentimentos. Aos poucos. mas você estava sempre muito ocupado. aqui no Brasil. estive com um dos mais antigos alunos chilenos. já que. ou seja. Emocional e Físico . ela poderia dar-se conta de que as pessoas receberiam essa revelação do seu mundo interno com muito amor e alegria. A virtude da Verdade pode ser atingida por meio da vivência deliberada de determinadas situações nas quais Tipos 3 costumam comportar-se como camaleões. Por isso. (alguns demoraram anos). .. emocionar-se verdadeiramente e expressar com autenticidade todos os sentimentos positivos que tantas vezes não foram reconhecidos. Ela.206 Khristian Paterhan C. ela me revelou seu grande amor por essa instituição e como estava triste por deixar esse cargo. Numa de nossas sessões de coaching e perto de deixar o cargo. Pela primeira vez. Ele advertia que o desenvolvimento humano não pode nem deve ser unilateral e que precisamos que todos os Centros . Ela é uma mulher do tipo que chamamos “brilhante” e possui uma personalidade que reúne as melhores qualidades dos Tipos 3. procurando orientação. Ela gostava de tudo o que conseguia fazer pelos outros por meio dela e com o apoio e o trabalho solidário de seus colegas. não se atrevia a mostrar esse tipo de emoção aos outros porque “não achava necessário nem importante”. porem. A esposa Tipo 3 de um grande amigo conversou comigo sobre certas questões..sejam aprimorados harmoniosamente. ela tinha ocupado durante anos um cargo de importância numa instituição mundial de grande prestígio. Ela foi muito aplaudida. ela conseguiu expressar aquilo que Tipos 3 demoram demais para conseguir. O desenvolvimento emocional é um dos aspectos mais descuidados por nossos programas de educação e. Como poderia não ser importante para todos seus colegas e membros da sua comunidade saber que ela tinha todos esses sentimentos preciosos em relação ao seu trabalho?! Ela prometeu tentar. não queria.Intelectual. e assim o fez. Deixei isso como um desafio e uma tarefa a ser realizada. um dos mais importantes. Se ela conseguisse se abrir e mostrar seus sentimentos em relação a esse cargo e a essa instituição. Eu percebi que esse era um sentimento real e muito precioso e sugeri que dissesse isso no seu discurso de despedida. como Gurdjieff dizia. estão focando esta visão de uma educação integral e humanizada. a Teoria das Inteligências Múltiplas do Dr. cuja divulgação realizo há mais de 20 anos.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 207 Sem dúvida. Você pode! . graças a Daniel Goleman. desconhecido Tipo 3. O Eneagrama. fundador da Escola SAT. tem muito a oferecer no campo de um novo tipo de educação no qual o conceito de inteligência supere os limites aos quais continua sendo restrito. Howard Gardner teria para Gurdjieff um grande valor prático e me atrevo a dizer que o Quarto Caminho. apóiem minha proposta de levar este conhecimento a muitos outros seres humanos. Realizá-los somente será possível com o apoio de indivíduos lúcidos que se importem com a evolução da nossa espécie. o conceito de “Inteligência Emocional” foi definitivamente incorporado a nossa linguagem e aos nossos limitados mapas mentais. Hoje. empreendedor e bem-sucedido. é um dos conhecimentos que podem auxiliar na educação integral das nossas crianças e jovens e espero que pessoas como você. sistema filosófico no qual se fundamenta esta obra. Projetos como o “SAT – Educação” promovido por Claudio Naranjo. O Tipo 4 O eu que idealiza Alguém perguntou: “É preciso sofrer o tempo todo para manter a consciência aberta?” Ele respondeu: “Há muitas espécies de sofrimento. O sofrimento também é um bastão de duas pontas. Uma leva ao anjo; a outra, ao diabo. Temos que lembrar o movimento do pêndulo: após um grande sofrimento existe uma reação proporcionalmente grande. O homem é uma máquina muito complexa. Ao lado de cada ‘bom caminho’ há sempre um ‘mau caminho’ correspondente. Um caminha sempre ao lado do outro. Onde existe pouco bem, existe pouco mal; onde tem muito bem, tem também muito mal. O mesmo acontece com o sofrimento; é fácil encontrar-se no caminho equivocado. O sofrimento se transforma em algo agradável. Alguém é golpeado uma vez, e tem dor; a segunda vez tem menos dor, na quinta vez já está desejando ser golpeado. Deve-se estar em guarda, deve-se saber o que é necessário a cada momento, porque a gente pode se desviar do caminho e cair num fosso.” G. I. Gurdjieff 210 Khristian Paterhan C. Sobre a dificuldade de ser feliz A jornalista Daniela Name escreveu para o jornal O Globo o que, na minha opinião, é o melhor retrato de um Tipo 4 que todos os brasileiros cultos, sem dúvida, conhecem por meio da sua obra literária. Como é muito comum que Tipos 4 sejam muito cultos, decidi iniciar a breve análise da sua máscara mediante o retrato jornalístico deste ilustre lusitano. Você concordará comigo que o famoso escritor português Mario de Sá-Carneiro, grande amigo de Fernando Pessoa, foi um ser humano muito especial e diferente. No artigo, a jornalista nos lembra as características únicas deste poeta extraordinário: “Moderno, marginal, decadente. Ao se matar aos 26 anos, no quarto de um hotel barato de Paris... ele reafirmou os adjetivos usados para qualificá-lo. Era o dia 26 de abril de 1916 e os médicos que analisaram o cadáver – que vestia um smoking e estava deitado na cama – não tiveram dificuldades para escrever o atestado de óbito... Envenenamento... No suicídio mais anunciado da história.” Sim, foram ao todo mais de 202 cartas depressivas, que podem ser lidas nas obras completas deste escritor publicadas pela Editora Nova Aguilar. Dentre esses “anúncios da própria morte”, Daniela Name destacava na ocasião uma carta e um telegrama que retratam esse tipo de mundo interno que somente os Tipos 4 podem compreender, como já veremos ao longo deste capítulo. A carta citada, escrita em Paris, datada de 3 de abril de 1916, diz: “Adeus, meu querido Fernando Pessoa. É hoje segunda-feira 3, que morro atirando-me debaixo do Metrô (ou melhor, Nort-Sud) na estação de Pigalle. Mandei-lhe ontem meu caderno de versos mas sem selos. Peço-lhe, faça o possível por pagar a multa se ele aí chegar. Caso contrário, não faz grande diferença pois você tem todos os meus versos nas minhas cartas. Vá comunicar ao meu avô a notícia de minha morte – e vá também ter com minha Ama na Praça dos Restauradores. Digalhe que me lembro muito dela neste último momento e que lhe mando um grande, grande beijo. Diga a meu avô que também o abraço muito. Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 211 Adeus. O seu pobre Mário de Sá-Carneiro. P. S.: Envio-lhe como última recordação a minha carta de estudante na Faculdade de Direito de Paris – o bom tempo – com o meu retrato. Um grande abraço. Adeus. O seu, seu Mário.” Você imaginou receber 202 cartas de um amigo querido anunciando que vai se suicidar?! Sim, devia ser difícil para Fernando Pessoa, com certeza. Sorte de ele ser um Tipo 5!. Talvez esse fato lhe permitisse compreender esses anúncios do seu amigo e também talvez lhe permitisse estar preparado para receber as notícias do adiamento do suicídio. Você pensa que estou brincando? Não, prezado Tipo 4, é a verdade! No caso citado pela jornalista, após receber este “último adeus”, Fernando Pessoa recebe no outro dia um telegrama em que se lê: “Paris, 4 de abril de 1916. Sem efeito as minhas cartas até nova ordem – as coisas não correm senão cada vez pior. Mas houve um compasso de espera. Até sábado. O seu Mário de Sá-Carneiro.” O organizador da obra completa deste escritor, o poeta Alexei Bueno – declara à jornalista que Sá-Carneiro era “um poeta extraordinário, mas vivia atormentado pela ideia da grande arte. Tinha uma sensibilidade extrema, era quase histérico. E bebeu estricnina porque não podia suportar a banalidade do cotidiano”. Numa outra parte do artigo se lê: “Exagerava na forma e no conteúdo de tudo o que escrevia. Sua linguagem abundante não economizava palavras nem imagens extravagantes. Levava uma vida de dândi, e não encontrou dificuldades para descrever com maestria holofotes sobre piscinas e a rotina de milionárias americanas em Paris.” Num outro parágrafo deste artigo, encontramos a declaração do professor de literatura portuguesa da Unicamp, Akira Osakabe, que revela um dos aspectos mais interessantes deste notável escritor relativo ao tema da multiplicidade do “eu”: “Ele tinha plena consciência da falta de unidade do ‘eu’. Mas, diferentemente de Fernando Pessoa, que criou seus heterônimos, não achou uma saída estética para o tema. Pessoa ameniza o conflito, Sá-Carneiro vive o drama em si mesmo.” Sim, nesta breve e preciosa descrição jornalística, se revela essa grande dificuldade de viver e de ser feliz que caracteriza todo Tipo 4. 212 Khristian Paterhan C. Uma dificuldade que às vezes é superada quando os donos desta quarta máscara conseguem alcançar a equanimidade, ou quando abafam sua angústia existencial dedicando-se a quixotescas causas, ou a colecionar preciosidades, ou quando se dedicam a ajudar aos outros, ou ainda quando influenciados pelo 3 Eneagramático, dedicam-se, como escreve Helen Palmer, a combater a depressão com hiperatividade contínua. Lembrando outros exemplos Destaquei em itálico o que são, neste poeta, algumas das manifestações corriqueiras do Traço Principal desta máscara: “vive o drama de si mesmo”, “exagero na forma e no conteúdo”, “imagens extravagantes”, “as coisas não correm senão cada vez pior”. Sim, a questão básica neste quarto Tipo Eneagramático é a perda constante do chamado “sentido da vida”, uma das causas dessas patologias psicológicas derivadas da depressão exógena. Uma espécie de “dor de viver”, que muitas vezes chega a ser “curtida”, um constante “abandono” do presente que leva estes tipos a sentir com força especial o significado dessa palavra que eu, como estrangeiro, acho (viu? eu estou “achando” também!) semanticamente maravilhosa e rica em significados: “saudade”. Os Tipos 4 sofreram perdas às vezes muitos grandes, a “saudade” neles é um sentimento fortíssimo. Para sentir melhor esta máscara enquanto escrevo, ouço o CD do conjunto Madredeus, no seu concerto gravado ao vivo no Coliseu dos Recreios em Lisboa, em abril de 1991. Realmente um belo concerto Tipo 4! E só ler as letras das canções. Pensei também há pouco no quão fascinante deve ser para alguns Tipos 4 ler Jean-Paul Sartre e sentir que só ele podia compreender e sentir a “náusea” da vida humana ou de chegar à conclusão de que fomos todos como que “abandonados” numa existência de características trágicas e desesperadoras. Porém acho que não foi Sartre o melhor exemplo dessa representação psicofilosófica da tragédia da vida humana que conhecemos como existencialismo, até porque encontramos nela um chamado a vivê-la e a Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 213 sermos responsáveis. Quem seria mais pessimista e cético que o filósofo romeno Emil Michel Cioran? Logicamente, muitos Tipos 4 pensarão: “Eu, só que acho que nem sequer devo falar a respeito, pois não vale a pena!!” Bem, este filósofo também decidiu, num momento determinado, parar de escrever “convencido de que seria inútil externar suas opiniões”. Em um breve artigo publicado pela revista Veja achei alguns destes dados tão interessantes do chamado arauto do pessimismo, cujo primeiro livro, publicado quando tinha 22 anos, chamou-se No Cume do Desespero (!!). Apesar de não terminar seus dias suicidando-se (morreu aos 84 anos após uma vida “dedicada a apontar a ausência de sentido na vida”), garantia que, paradoxalmente, o que o consolava era o fato de ter o poder de acabar com a própria vida quando bem entendesse. A Veja cita uma declaração do filósofo a respeito: “Sem a ideia do suicídio, já teria me matado há algum tempo.” Na minha opinião, o fato de ele ter sido simpatizante do nazismo (estupidez da qual se arrependeria publicamente anos depois), revelou apenas outras das características deste Tipo Eneagramático. É comum encontrar entre os Tipos 4 os “intelectuais rebeldes”, os “contrários ao regime”, “os esquerdistas teóricos”, os “intelectuais boêmios”, os “livre-pensadores”, os “originais”. Cada época tem os seus... Graças a Deus! Só para deleite dos prováveis masoquistas Tipos 4 (estou apenas tentando fazer com que você também ria de si mesmo, porque, se levar a sério demais isso, corro o risco de ser apontado como o causador de seu provável suicídio e eu sei que, mais de uma vez, você pensou ou imaginou o abandono antecipado deste mundo), cito aqui algumas das frases que a Veja destacou como representativas da “visão” da existência de Cioran, este incrível representante da quarta espécie eneagramática. Veja só que pérolas!: “O ceticismo derrama demasiado tarde suas bênçãos sobre nós, sobre nossos rostos deteriorados pelas convicções, sobre nossos rostos de hienas com um ideal”; “Quem se mata por uma mulherzinha vive uma experiência mais completa e profunda do que o herói que altera a ordem do mundo”; “Que auxílio pode oferecer a religião a um crente decepcionado por Deus e pelo Diabo”; “A música é o refúgio das almas feridas pela felicidade”. o famoso “Dr. o ciúme. cuja personalidade está associada ao próprio nome. não é? Afinal. algo que nunca está presente e que parece que outros atingem.214 Khristian Paterhan C. por que é que o pecado capital da inveja é associado aos Tipos 4? Muito simples: esse modo de “errar o alvo” que chamamos inveja. tristitia vero. como se no presente não coubesse sua utopia. Ele diz que “a tristeza está incluída na preguiça e na inveja” (o texto original completo diz: “Enumerantur autem aliqua vitia ad quae pertinet delectatio et tristitia: nam delectatio pertinet ad gulam et luxuriam. algo que deveria ser obtido ou que já se teve e se perdeu. Angélico” (Santo Tomás de Aquino) faz um comentário que. na minha opinião. Sim.. Como a maioria dos ‘demônios’. Ftono não possui um mito próprio. Na sua obra Dos Vícios. Descobrindo o traço principal através dessa inveja que não parece inveja e sim tristeza (porque talvez inveje o que apenas se perdeu!) O saudoso mitólogo. ponto dois) sobre “se devemos admitir sete vícios capitais” ou não. . algo que poderia ser a causa da sua felicidade futura. ad acediam et invidiam”). permitirá que nos aproximemos com mais sucesso do estado de espírito dos Tipos 4. esconde sutilezas que explicam a psicologia desta máscara eneagramática. Os Tipos 4 sentem uma constante falta de algo. Interessante. Artigo IV (Questão LXXXIV.” Não é incrível? Ftono nem sequer possui um mito próprio!. a inveja dos Tipos 4 é provocada por uma profunda tristeza que os leva a sentir a falta da felicidade.. a mágoa provocada pela felicidade merecida de outrem. ou no e do futuro. Uma contínua insatisfação no presente os leva a viver no e do passado. professor e escritor Junito de Souza Brandão (a quem tive a grata oportunidade de conhecer pessoalmente) escreveu no seu Dicionário mítico-etimológico sobre a Inveja: “Ftono é a inveja. a falta do que se acham merecedores e que julgam que outros possuem. Ftono é a personificação da Inveja. Daí a tristeza e a melancolia que nestes Tipos freqüentemente se encontra à flor de pele. É como se no presente não se tivesse o que poderia fazê-los felizes. A inveja como sentimento que exprime a sensação maçante de falta: algo falta e deve ser obtido e.000m2. vocês não merecem tanta beleza.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 215 O maravilhoso Frans Krajcberg:: um exemplo da visão do mundo através da Quarta Máscara Vejamos um novo exemplo de Tipo 4 que descobri no Brasil. enquanto não possa obtê-lo. este homem sensível e único é Frans Krajcberg. Ele tenta nos acordar dizendo: “Vocês não sabem o que têm. para criar belíssimas eco-esculturas-denúncia com as quais defende a Amazônia e a Mata Atlântica.” O sentimento da possível perda do 4 aparece nessa insatisfação com o presente e com o mundo que a gente descobre em Krajcberg. vocês não poderiam destruí-la. A sua tristeza pela destruição das florestas é consequência das lembranças de suas próprias perdas. É fácil sentir a tristeza deste homem nas suas grandiosas obras de arte. que ele o fazia porque as árvores queimadas lhe lembravam o sofrimento e os corpos dos judeus mortos nos campos de concentração nazis.” Ele valoriza o que os brasileiros têm e que absurdamente alguns destroem. da falta de sensibilidade diante da vida e da natureza. defensor da floresta tropical brasileira. como poderia ser feliz? Krajcberg sintetiza com sua . enormes espaços ocupados com restos das queimadas transformados em esculturas maravilhosas e melancólicas. de que foi testemunha ocular. Sim. que ele gastava muito dinheiro para trazer os restos de árvores queimados e até tinha sofrido atritos por isso. que vive numa casa construída sobre um tronco de árvore numa reserva florestal de 960. o sentimento da falta de compreensão dos outros. Estou me referindo ao notável artista plástico polonês naturalizado brasileiro. o homem que compra troncos e restos de árvores das queimadas e que contrata carretas para levá-los até Nova Viçosa. se transforma em um motivador extraordinário. no litoral Sul da Bahia. O homem que numa entrevista para um programa da TV Cultura contou a uma maravilhada e emocionada jornalista. que não fazia esculturas apenas para serem vendidas. Como ser feliz num planeta onde a “espécie inteligente” desmata e queima essa preciosa manifestação da vida que são as florestas? Aqui. A inveja aqui se apresenta como uma denúncia e um protesto: “Se eu fosse o dono desta floresta. tem uma explicação diferente. para cada Tipo 4. vida e sua obra essa inveja – tristeza eneagramática. Quanto mais incerteza do fruto. que o leva a fixar como meta o anseio utópico de provocar uma reação catártica ante essa constante destruição ecológica. Não será importante lutar por recuperá-los? Não serão invejados aqueles que aparentemente os reencontrarem? Numa preciosa reportagem da Revista Ícaro da VARiG. Tão multiformes quanto nossos próprios “paraísos perdidos”. escrita por Frederico Morais. mais sofrimento. com uma força que todo Tipo 4 manifesta diante dos obstáculos que ele enfrenta quando procura aqueles objetivos nos quais fundamenta sua futura felicidade. Ele sabe por dolorosa experiência e com total certeza que esse espírito destrutivo acompanha desde sempre seus semelhantes. eu não falei que ninguém compreende!?” A perda do paraíso A inveja no Eneagrama é derivada de uma espécie de insatisfação dolorosa que. Ele foi testemunha de terríveis perdas e quer evitar outra grande perda. Sob o sugestivo título de “Krajcberg Escultor de Florestas”. mais mensagens do tipo: “Está vendo. nos leva à procura dos nossos paraísos perdidos. Uma falta que. No Eneagrama. perda e inveja escondem a procura angustiante que todos temos: a procura da felicidade que. É a perda dessa felicidade que está por trás desse sentimento de falta. Por acaso não será invejado aquele que parecer ter reencontrado um desses “paraísos”? Para Tipos 4 as perdas são multiformes. pude verificar minhas suspeitas sobre o Tipo Eneagramático deste artista. de carência da qual Platão nos fala no seu precioso diálogo conhecido como O Banquete. mais sensação de falta. quando sentida. como constatamos no início da sua Metafísica.216 Khristian Paterhan C. Luta contra inimigos invencíveis. para Aristóteles. é a palavra chave para nosso mais íntimo anseio. o autor nos permite conhecer algo do seu mundo interno mediante suas impressões pessoais quando seu primeiro encontro no . Essa é a motivação mais profunda do Ponto 4. ” Porém ele sempre sente que falta algo. originais. travava. a céu aberto. A felicidade para Krajcberg parece estar no Brasil longe da Europa na qual só viveu perdas e sofrimentos: “soldado no front russo. que existiu no passado ou que poderia existir no futuro. eu pertenço à minoria que cedo percebeu a importância da natureza para o futuro dos homens. onde nasceu. Essa fixação relacionada com o sentir o que outros não percebem.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 217 ateliê que ele instalara. até sente que carece da capacidade de expressar a beleza deste país no qual encontra uma natureza em que “tudo lhe parecia tão lindo e surpreendente que muitas vezes se viu chorando e dançando de alegria”: Como expressar na minha obra toda esta emoção e esta beleza?”. miséria e fome em Paris” lembramos o autor do artigo na Ícaro. Minas Gerais: “Revoltado e angustiado como um personagem de Camus. sempre revoltados pela incapacidade dos outros de enxergar o realmente valioso. naquele cenário. . leva Krajcberg a justificar. tomei consciência de ser homem e de participar da vida com minha sensibilidade. Os bosques da Europa não me emocionam e as intolerâncias europeias continuam a me inquietar. mas. que pode se tornar o argumento para abandonar um projeto ou para ir embora de uma cidade ou de um país.” A insatisfação com o presente Para Tipos 4 será fácil compreender as ações de Krajcberg. por exemplo. O artista encontra no Brasil um desses paraísos perdidos que Tipos 4 procuram e sonham: “No Brasil. lembrando fisicamente Van Gogh. ferido de guerra. no qual nada é como deveria ser. sua não participação no movimento neorrealista dizendo: “Eu gostava da insolência dos artistas do Novo Realismo. nasci uma segunda vez. o importante. uma luta insólita contra as convenções da pintura.” Sim. toda a família dizimada em campos de concentração alemães na Colônia. e sabem como é que essa insatisfação promove uma sensação de falta ou de perda. em Cata Branca. tipos 4 sentem-se e muitas vezes atuam como seres especiais. que lutavam contra o abstracionismo. meu trabalho e meu pensamento. Eles sabem o porquê da insatisfação com o presente. na verdade. . (Paradoxalmente. a outra face de uma tecnologia sem controle.218 Khristian Paterhan C. Como? O autor da reportagem na Ícaro responde: “Sem abandonar Nova Viçosa. O Traço Principal não poderá ser evitado. uma espécie de genocídio ecológico. sua sensação eneagramática de faltas e perdas: “Doravante. que ele passa a visitar com frequência. como ele afirmou num programa da TV Cultura. Não faço esculturas. Como provocar a sensibilização de todos? Por meio da arte: “Suas obras são realizadas.. dela resultando.” Assim este notável Tipo 4 nos leva a refletir sobre o valor da vida: lembrando o passado e advertindo-nos sobre um futuro trágico que devemos evitar. Krajcberg denuncia e protesta contra as queimadas do Pantanal Mato-grossense.. Cria imagens candentes da destruição feita pelo homem. desde então. Ele consegue sensibilizar a opinião pública nacional e internacional: Sua obra recente transformou-se assim em um manifesto visual. Minha mensagem é trágica. Krajcberg nos abre o íntimo de seu Tipo Eneagramático na frase com que Frederico Morais finaliza sua matéria: “Não escrevo: não sou político. procuro formas para que ouçam o . Como as antigas e trágicas perdas da guerra.. imagens de revolta. em sua obra. O futuro dos seres humanos está em risco.’” Sim. Inevitavelmente. é acompanhado pelo pintor Sepp Baendereck e por Pier Restany. se alicerça na lembrança do seu sofrimento na Europa. Num determinado momento ele inicia a defesa da natureza no Brasil. Deve-se lutar contra a falta de sensibilidade. a beleza está associada à indignação.. Nessa expedição. com troncos queimados e carvão. o polêmico manifesto do Rio Negro ou Manifesto do Naturalismo Integral. nosso artista “descobre” uma nova razão para justificar sua constante tristeza. decide em 1978 aprofundar seu conhecimento da Amazônia brasileira onde já esteve duas vezes. como poderíamos ser felizes no presente?) O presente dessas florestas magníficas pode ser perdido. sem considerar esse passado e esse provável futuro.” É preciso denunciar. Nessa ocasião Restany definiu o artista como ‘o arauto de uma consciência ecológica nacional e internacional. as queimadas são um crime contra a humanidade. Sua defesa. porém é necessário lembrá-lo. Denuncio o crime. além de muitas obras. Esse sofrimento acabou. o passado virá a se impor à sua alegria e à sua obra.. não será a felicidade algo que apenas devemos sentir de longe? Esta consideração talvez leve os Tipos 4 a sentir a melancolia como algo atraente.. deixarão de sentir o que sentiam num primeiro instante. Para Tipos 4. distante. lutar por causas perdidas faz parte desse jogo em que realizam grandes esforços para alcançar difíceis metas. eles não desejam sentir o agora. ao contrário dos Tipos 3. E. algo a resgatar. Só espíritos sensíveis e realmente sábios poderão julgar seus esforços. Esta árvore queimada sou eu. se transforma no temor de perdê-la e essa sensação de nascer de novo nesta terra abençoada também implicará a descoberta de uma nova forma de dor e de sofrimento. é. algo no qual sentem o que outros não poderiam sentir porque não são capazes de sentir esses “sentimentos profundos”. Felicidade.” Sim. algo por vir. e. aquilo que podemos ver e aprender. É como se quisessem manter essa sensação de impossibilidade. parece que têm medo da felicidade porque tiveram grandes e inexplicáveis perdas. Sinto-me na madeira e na pedra. sabendo que quando estiverem perto de alcançar seus objetivos. O anseio de expressar a beleza da natureza. através dela. sem dúvida. Jorge Luis Borges. ou simplesmente não se importam. que o que sentem deve sempre ser algo por acontecer. só desejada Com Krajcberg é possível comprovar o afastamento dos Tipos 4 da felicidade quando próxima ou achada. porém sempre se afastando quando está pronta para ser obtida. ilustre Tipo 4 argentino . longínqua. O paradoxo é que os Tipos 4 não se permitem sentir felicidade mas se mantêm sempre distantes dela. eles sentem até demais. desejando-a desesperadamente. Os que queimam florestas e desmatam com certeza desconhecem o protesto artístico-ecológico deste homem. assim é a Quarta Máscara Eneagramática e. Ao contrário dos Tipos 2.. apenas outra das extraordinárias faces da realidade. Só de longe. algo que ainda falta. por isso mesmo. e. se todas as coisas podem ser perdidas. algo que é a causa de uma felicidade desconhecida.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 219 meu grito. No fim. da mata. se tudo é passageiro. sofridamente atraente. Ainda que você não acredite. por meio de alguns dos seus versos. Nossa única aluna Tipo 4. como ensina Gurdjieff. vacilante. Só assim se pode confirmar frente aos outros um estado que não se deseja abandonar. não fique pensando que “é tarde demais para mudar” ou coisas do gênero. e mestre da literatura hispano-americana. Sim. nos transmite esse estado de espírito que revela a ameaça permanente da possível perda (lembremos que sua maior perda foi a da visão: “eu que sempre imaginei o paraíso como uma biblioteca. os Tipo 4 conseguirão perceber as possibilidades reais e concretas de alcançar a tão invejada felicidade que lhes parece acessível aos outros mas que eles não se permitem sentir..220 Khristian Paterhan C. quién nos dirá de quien en esta casa por última vez nos hemos despedido?7 Os Tipos 4 muitas vezes abandonam trabalhos quando estão dando certo. sei como você se sente. y última vez y nunca más y olvido. Outros até “sabotam” seus projetos. declara: “Muitas vezes sou inconstante. nos meus planos. é muito complexo. impedindo-o de desfrutar de todos aqueles livros) daquilo que existe no presente mas que pode sumir a qualquer momento. Como poderia ser simples? Não.”. como estes: “Si para todo hay término y hay tasa. Vera. Apenas medite no seguinte: talvez seja necessário compreender que existe um tipo de “sofrimento inútil”. que muitas vezes ficam inacabados. quando confessa a dor de ser nomeado diretor da Biblioteca de Buenos Aires no momento em que sua cegueira se manifesta. Só quando admitirem a perda que os leva a achar que nada os fará felizes e a agirem como vítimas das injustiças da vida que tudo lhes nega. quem nos poderá dizer de quem nesta casa pela última vez nos despedimos?” . projetos. Qual o significado de “sofrimento inútil”? 7 Verso que podemos traduzir mais ou menos assim: “Se para todas as coisas existe fim e medida e última vez e esquecimento..” É como fugir antecipadamente da perda iminente convertida numa maneira de sabotar a própria felicidade. exclama. e também pelo fato de usar óculos. mais velho e mais forte. Meu irmão sempre teve uma inteligência brilhante. em comparação a meu irmão. no depoimento de Helio..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 221 A tristeza de não ser feliz no presente (ou como se inicia às vezes o “sofrimento inútil”) No livro A Lei de Cristo: Teologia Moral. me dominava fisicamente em nossas lutas corporais. para fazer suas diabruras longe de meus olhos. Mas o invejoso enche-se de tristeza pelo fato de descobrir boas qualidades nos outros. Häring afirma que “a inveja é uma perversão do nosso instinto de emulação.” . Quando criança.. Passei a cultivar um ódio violento por ele. que fez com que eu o denunciasse a meus pais quando fazia algo errado. A partir da ideia de falta e perda que permeia estes Tipos. eu também invejava sua inteligência. Lembrei o bíblico caso da inveja de Caim por Abel no Gênese. As qualidades de outrem me agradam e eu gostaria de também possuí-las! Isso é normal. Além de invejar sua beleza física... apesar de ser o filho preferido da mãe. O sentimento de inferioridade que adquiri perante meu irmão agravou-se pelo fato de que ele. ele percebeu que seu pai tinha uma preferência por seu único irmão. ficando sempre em primeiro lugar ou perto disso. foi uma perda que trouxe inúmeros problemas à minha vida afetiva. o redentorista B. Foi também uma perda afetiva. quando li o seguinte: “Meu irmão foi um problema muito sério para mim. Para começar. e era chamado de quatro-olhos pelas outras crianças. Vamos examinar. como esta “perversão do nosso instinto de emulação” pode surgir. eu invejava sua beleza física: louro de olhos azuis. só para vê-lo castigado. que inclusive comecei a usar óculos aos nove anos. Encara-as como obstáculo à sua própria glória e ao seu próprio desejo de excelência”. Sentia por isso uma culpa enorme – e ele se afastou de mim. ele afirma que “esta foi uma de minhas primeiras perdas emocionais” e que. e um desempenho escolar muito bom. ele atraía as meninas com muito mais facilidade do que eu. “isso não compensou a clara preferência de meu pai por meu irmão”. Sentir-me feio. . porque é mais inteligente. Quando não conseguimos olhar para . não se ocupa das possibilidades externas. porque o que se possui é simplesmente ignorado.222 Khristian Paterhan C. O Tipo 4 e o tipo intuitivo introvertido de Jung A descrição que Jung faz do tipo intuitivo introvertido ajuda a compreender esse “estado de espírito” que faz com que Tipos 4 se afastem do “presente”..” Tudo isto acontece porque ninguém lhe mostrou as vantagens da sua personalidade. Não pode existir autovalorização. sem o apoio de alguém que permita essas descobertas.. é mais inteligente. A preferência do pai pelo irmão o leva a perguntar-se: “por que será que não sou como meu irmão?” Em sua mente começará a se construir uma razão que se transformará em ódio: “ele possui a preferência de meu pai porque ele é belo. Desta maneira.) Embora sua intuição possa ser estimulada pelos objetos externos. porque. porque é mais belo. autoestima ou amor-próprio sadios. O que produz a inveja nos Tipos 4 é uma incapacidade de ver a si mesmos e de enxergar o que possuem no presente. podemos sentir o que significa a perversão do nosso instinto de emulação. como talvez aconteceu no caso citado. a intuição introvertida percebe todos os processos de fundo da consciência com quase a mesma clareza que a sensação extrovertida registra os objetos externos.” O irmão do Helio parece ser mais feliz porque é o preferido do pai. Na inveja eneagramática constata-se uma insatisfação com o que se possui no presente. sem perceber o que poderia fazê-los felizes “agora”: “A intuição introvertida está dirigida para o objeto interno (. é forte. porque é mais forte. mas daquilo que o objeto externo liberar dentro dele. ou seja. ninguém lhes mostra o quanto são valiosos ou porque ninguém explica as razões das “perdas”. não conseguimos ver o valor do que possuímos. Ao refletir sobre este depoimento. o valor daquilo que nos diferencia do nosso próximo. Então. podem provocar profundas feridas psicológicas que às vezes nunca cicatrizam. só para vê-lo castigado. Tipos 4 não podem ser felizes no presente. Assim. nosso exemplo não assassinou seu irmão. A tristeza se instala. A influência do Ponto 3 do Eneagrama e o movimento ao Ponto 2 “colaboram” para essa descoberta. que fez com que eu o denunciasse a meus pais quando fazia algo errado. etc. Vejamos qual foi a estratégia de Helio para superar sua aparente inferioridade: A percepção errada de que algo externo é a causa da felicidade do irmão (ele não usa óculos.) faz com que ele procure uma forma externa de destacar-se perante os outros. Quando analisado. Portanto. Helio descobre o que o pode ajudar a ser considerado pelos outros como valioso: “Destaquei-me sobretudo pela habilidade na escrita. Se externamente não pode ser melhor que ele. ele é mais forte. deve existir algum meio pelo qual ele consiga destacar-se. provocando diversas reações negativas que dificultam a existência harmoniosa desses seres humanos. uma típica atitude da Primeira Máscara: Vejam. no . para ser considerado e admirado. o depoimento nos mostra outras questões eneagramáticas de importância: Podemos constatar.” A raiva vingativa se faz presente denunciando as imperfeições que ninguém vê no irmão. Diferentemente de Caim. ele tem cabelos louros e olhos azuis. O sentimento de falta e de perda se alicerça e a máscara começa a consolidar-se. nem física nem psicologicamente. esquecendo que as necessidades de consideração e amor são iguais para todos e que quando não são levadas em conta.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 223 esses fatores que nos tornam diferentes dos outros e que são valiosos pelo fato de serem únicos e irrepetíveis. Os elogios que recebi por minhas redações. tendo superado há muito esse conflito – “felizmente resgatamos nossos sentimentos fraternos anos mais tarde” –. por exemplo. falta algo que os outros parecem possuir. quando Helio nos revela: “Passei a cultivar um ódio violento por ele [seu irmão]. não é perfeito. ele não é tão bom. um forte movimento contra a seta ao Ponto 1 Eneagramático. provocado por um dos erros mais comuns cometidos pelos pais de todo o mundo: manifestar preferências exageradas por um dos filhos ou por alguns filhos. terminamos achando que não existem razões para sermos felizes sendo como somos. acusa o irmão. tios. não só aprofunda o sentimento de não receber o que merece. Numa parte do seu depoimento. Sentia inveja dela quando ganhava presentes e passeios maravilhosos do pai dela. o que nos obrigava a viajar frequentemente para cidades com estâncias hidrominerais. A falta de atenções (recebidas pelo irmão) e a perda de atenções (com a chegada da prima) fundamentam em nossa aluna sua máscara eneagramática. que também recebe atenções do pai. Mas convivi muito com doenças. eu gostaria de ter recebido o carinho. Meu irmão mais velho tinha uma doença de pele muito forte. período escolar. além de outras alergias. me tornaram escritor.224 Khristian Paterhan C. os cuidados e as atenções que ele recebia da família. Vera nossa aluna Tipo 4 nos revelou: “Sempre fui muito saudável. tias e avó inclusive. porque terá que dividir até a “honra” de ser a única “princesa da casa”. cuidados e carinhos. Sempre me dei muito bem com ele. Meu pediatra dizia à minha mãe que eu lhe dava prejuízo. provocada pelos erros paternos já mencionados acima. como consolidará a ideia de carência. enquanto eu nem saía de casa.” Neste caso. durante a infância. reconhece que: “Desloquei-me para minha asa 3 e fiz do meu trabalho uma grande fonte de felicidade pessoal. A chegada da prima. aperfeiçoado como trabalhador da palavra escrita. fazer tratamentos com águas termais. Devido à doença. podemos constatar que a inveja como “perversão de nosso instinto de emulação” uma vez mais será a causa do surgimento da Quarta Máscara.” Tornar-se escritor tem sido para ele até hoje uma fonte de satisfação e. No início da adolescência uma prima mais nova veio morar conosco e tive que dividir com ela minha categoria de única princesa da casa. a inveja é provocada pelas atenções dadas ao irmão e à prima. os cuidados dos pais para com o irmão doente não lhe permitiram receber atenções. Eles recebem atenções que ela acha que não recebe. pois dificilmente adoecia. meu irmão recebia atenção total de toda a família. mas apesar de ser a filha favorita do meu pai. . No primeiro caso.” Ao analisar comparativamente este caso com o seguinte. Acho que pode ter sido esta a razão de me desenvolver como Tipo 4. a segunda vez tem menos dor.” Seria bom que você se detivesse um instante e meditasse nestas palavras de Gurdjieff. O sofrimento também é um bastão de duas pontas. existe pouco mal. ou com a direita. Percebem que às vezes imaginam perigos inexistentes. Onde existe pouco bem. As pessoas aprendem muitas coisas importantes com este simples exercício. e tem dor. Uma leva ao anjo. Como já comentei anteriormente no capítulo sobre o Tipo 6. a qualquer um deles. Ao lado de cada ‘bom caminho’ há sempre um ‘mau caminho’ correspondente. Um caminha sempre ao lado do outro. ninguém pode sair de seu lugar na roda. percebem que todos os dias estão recebendo diferentes “bastões . que está baseado em antigas técnicas de autocontrole psicofísico. é fácil encontrar-se no caminho equivocado. A pessoa deve receber o bastão com a mão esquerda. O homem é uma máquina muito complexa. a outra. Alguém é golpeado uma vez. O mesmo acontece com o sofrimento. temos um exercício em que utilizamos um bastão numa roda de participantes em pé. na quinta vez já está desejando ser golpeado. porque a gente pode se desviar do caminho e cair num fosso. Devese estar em guarda. tem regras precisas: ninguém pode externar temor ao bastão. O bastão é lançado do centro da roda. nem com gritos nem com movimentos exagerados de defesa. nos treinamentos avançados de Eneagrama. Temos que lembrar o movimento do pêndulo: após um grande sofrimento existe uma reação proporcionalmente grande. porém alerta e pronto. Especialmente se você corre o risco de “cair no fosso” quando não se é capaz de enxergar o perigo dos extremos desse bastão. sem prévio aviso. O exercício. O sofrimento se transforma em algo agradável.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 225 Quando sofrer se transforma na arte de acabar com você Vamos lembrar aqui da resposta de Gurdjieff sobre o sofrimento citado no começo deste capítulo: Alguém perguntou: “É preciso sofrer o tempo todo para manter a consciência aberta?” Ele respondeu: “Há muitas espécies de sofrimento. deve-se saber o que é necessário a cada momento. ao diabo. onde tem muito bem. tem também muito mal. tentando estar sereno e relaxado. aprenda a se desfazer dele. Imaginava quantas pessoas amigas se reuniriam ao meu redor e observava quem estava presente e quem faltava.. Uma delas é: “Aprenda a não ficar muito tempo com o bastão no seu poder. Receba e solte. Enquanto o exercício se desenvolve. consegue fazer vítimas entre nossos incompreendidos e especiais Tipos 4. que apenas estão neles próprios. conflitos. etc. ameaça. situações e vivências. . Vamos analisar como este “sofrimento inconsciente e tolo” como o definia Gurdjieff. Aos poucos essa compreensão os leva a realizar mudanças positivas em relação às suas vidas. raiva.226 Khristian Paterhan C. (Lembro aqui que esta forma de sofrimento dito inconsciente é comum a todas as máscaras. Não se apegue.) Uma aluna Tipo 4 que participou dos nossos workshops declarou certa vez: “Às vezes. Algumas vezes. Eu defino essa nova atitude como o “aprender a conviver com o bastão da existência”. aprisionando-os numa teatral “dor de existir”. também percebem como sofrem à toa por tudo o que imaginariamente “projetam” no bastão – agressão. angústias e outros estados internos negativos. sem permitir-lhes compreender o quão inúteis são esses seus amados “sofrimentos”.. Aprenda a soltar o bastão qualquer que seja a forma que ele tomar na sua existência. sendo algumas tão “razoáveis” que enganam durante anos os seus hipnotizados sofredores.. da vida”.. deitada.. tomando mil formas diferentes. gostava de imaginar que estava morta. medo. percebem que às vezes imaginam perigos inexistentes e. Muitos descobrem como vivem projetando e transferindo diariamente a pessoas.” Uma das formas de apego mais difíceis de compreender é o apego ao sofrimento.” . – do que. O mesmo deverá ser feito com as experiências da vida. nem sequer se dão conta de como isso se repete em suas vidas. percebem que podem se autocontrolar e relaxar até conseguir intuir quando é que o bastão será lançado a um deles. algumas questões são lembradas. E os Tipos 4 são os mais vulneráveis a este apego masoquista. o inocente bastão não tem nada. O bastão é percebido apenas de acordo com o que cada um deles projeta e/ou transfere a ele.. aprendendo a controlar suas emoções negativas no diaa-dia. permitindo-lhes um estado interno mais relaxado e harmonioso. silencioso.. até que fossem cuidar da minha tristeza. Eu sinto estar pronta. que alguns Tipos 4 até demoram a perceber que esse sofrimento “tolo”. claro..Desabei ao dar de cara com o Tipo 4. O jogo. se por amor. Foi tão forte o impacto que não consegui conter a emoção que extravasou-se em fortes lágrimas. como no caso seguinte.. graças à descoberta do Eneagrama.. Essa polarização vai se “cristalizando” com tanta sutileza ao longo dos anos. convicta. . fazer teatro só se for como um ator profissional ou amadorístico. Vejamos como isso acontece neste depoimento: “Como forma de chamar a atenção de meus pais.) eles não conseguem perceber que estão perto do “fosso” provocado pela polarização negativa no bastão do sofrimento. o impacto sofrido ao descobrir sua “Máscara 4” com estas palavras: “.” Para cada Tipo Eneagramático existe um modo de chamar a atenção dos outros.. Outros. mas funcionava. Escrevi o seguinte: ‘aos amados amigos. onde gostaria de morrer e como gostaria de morrer. Alguns Tipos 4 demoram muito a perceber o controle que esse sofrimento passa a ter sobre suas vidas. descobri o poder do teatro do sofrimento: ficava amuado num canto. Às vezes eles o superam após um longo processo marcado por experiências dolorosas como no caso do Helio.. Portanto. Não. No dia anterior. Este é o modo dos Tipos 4: usar o poder do teatro do sofrimento..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 227 Não é interessante? Neste caso podemos constatar o que significa sofrimento inconsciente teatralizado. perceberam essa “fixação” da máscara. Refiro-me a uma senhora que. E a máscara do sofrimento tornou-se uma arma de controle da atenção e do comportamento dos outros. fazia mais sucesso com minha mãe. não estou jogando asas para a mordaz ironia do 7. que só com muito esforço consegui reter para que minha introspecção e a descoberta recente do porquê de tantas coisas não se tornassem soluços dignos de uma peça shakespeariana. vai degenerar numa forma de viver e sentir erradas. num dos nossos workshops. etc. expressou por escrito e de uma maneira brilhante. Quando os Tipos 4 têm fantasias da própria morte (de como seria seu suicídio. inicialmente “teatralizado”. Desenvolvi um prazer masoquista nesse teatro.. passada e repassada por tantas provas. Uma gotinha de esperança para adoçar esse cotidiano . a qual devemos nos render e aceitar os desígnios dos quais desconhecemos as causas. Em sincronia com a Magnificência da Força Criadora do Cosmos. de perdas dolorosas. tão cheio de surpresas que não podemos deixar que empanem a beleza da vida’. e que hoje parece ter superado o bastante para transformar-se num “exemplar” 4. Ora! Só o cotidiano do número 4 pode ser tão cheio de surpresas amargas. mais equânime: . “passada e repassada por tantas provas”. para constatarmos o que chamamos de “sofrimento inconsciente”. O confronto com a máscara provoca nela uma necessidade de justificar seus sofrimentos inconscientes da seguinte maneira: “. etc. Como posso evitar que o impacto com as surpresas desagradáveis tornem minha vida um mar de lágrimas?” Ela mesma pretende dar a resposta.228 Khristian Paterhan C... Inconscientemente ela reconhece seu “teatro do sofrimento”. como sempre.. a qual. de minha vontade para objetivos anteriormente priorizados como mais importantes a serem realizados nesse ínfimo espaço-tempo de que dispomos nessa etapa de vida.. é uma das causas dos seus sofrimentos inúteis: “Preparando meu instrumento para refletir à luz. Suas palavras veementes têm o objetivo inconsciente de mostrar-se direta ou indiretamente como a pessoa mais sofredora: “desabei ao dar de cara com o número 4.... aguçando meus sentidos para a obtenção do autocontrole e a canalização consciente de minhas forças. embora o rejeite: “soluços dignos de uma peça shakespeariana”.”. Caso contrário. de modo veemente..” Basta examinar esta parte do extenso depoimento entregue por esta gentil mulher. “fazer teatro só se for como ator profissional ou amadorístico (este último esclarecimento é simplesmente fantástico).” Talvez você seja desses Tipos 4 que conseguem perceber a tempo quais as falhas desse “jogo” do “teatro do sofrimento”....”. é termos o controle sereno da vida. trágico e exagerado com que alguns Tipos 4 permeiam todas as suas ações e descobertas e que. de traições inacreditáveis.. vale a pena refletir sobre quais foram as “falhas” que nosso aluno descobriu nessa atitude “masoquista” perante a existência. . logicamente.”foi tão forte o impacto que não consegui conter a emoção. que a relação ficava pesada. nunca.. muito original. meu sentimento de inferioridade. E tudo era dinamizado com as poesias trágico-românticas que eu escrevia. mesmo que tentando . em minha incapacidade de ser eu mesmo? Como personagem. insustentável. vestir uma máscara. Eu estava convicto de que não seria. quando fosse flagrado em minha insegurança.. Dos 14 aos 17 anos.” Esta questão de “fazer um personagem” é muito interessante. e minha insegurança tornou-se visível. Fazia o tipo poeta. A influência do Ponto 3 Eneagramático é flagrante nesta atitude de “parecer outro” que aparentemente é mais bem-sucedido ou mais aceitável pelos outros. Então eu era abandonado ou trocado por outro. transferi esse jogo (o teatro do sofrimento) para o campo da relação amorosa. externa. de alma mais leve. A outra falha do jogo era o sofrimento maior que ele me causava. não verdadeira. Como eu me achava pouco atraente fisicamente. desgastada. Meu teatro do sofrimento às vezes atingia tal carga dramática. como arma de controle. Qualquer felicidade seria teatral. passei perigosamente à borda do abismo do suicídio. eu estava fora da relação.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 229 “Na adolescência. Precisava. de cabeça menos complicada. e se fosse descoberto? Até quando o personagem seria sustentável? Não era inevitável que eu fosse abandonado mais cedo ou mais tarde. portanto. fragilizando ainda mais as relações e causando novos abandonos. Fazer um personagem me punha em pânico. O jogo tinha duas falhas graves. Às vezes essa tentativa de parecer uma outra pessoa. de alto astral. ter reprimido de forma tão formal meu modo de ter. Por outro lado. Isto é o que podemos comprovar no depoimento da nossa brilhante aluna: “Ter renegado minhas raízes cristãs. Isto criou em mim o pânico de ser abandonado. ser e sentir. como ameaça. ter tentado extirpar o crer profundo por um saber com suas bases no intelecto e na razão. claro. as de Tipo 2). de mostrar-se diferente. é considerada como uma forma de “renegar” a si mesmo. esconde uma clara manifestação da inveja. Funcionava bem com algumas garotas (especialmente. não alojada no fundo de meu coração. criava personagens sedutores para as garotas. amado pelo ser que eu realmente era. Mas. não era eu mesmo. A primeira era esta: as garotas queriam namorados alegres. Cheguei mesmo a fazer o teatro do suicídio. razão pela qual estes tipos e os tipos ligados diretamente pelo movimento da seta eneagramática (Tipos 1 e 2 para o caso do Ponto 4 e Tipos 9 e 3 para os casos ligados ao Ponto 6). fiquei chocada ao certificar-me de que aquela Colombina era eu. Meu pai me levou ao médico e ficou evidente que eu precisava de ajuda. querido (a) leitor (a). ser e sentir “.. Tipo 4 ou não.. Então enumerei todas as máscaras usadas no decorrer da vida e fiquei atônita ao constatar como.. devem tentar realizar um trabalho mais profundo a respeito. tantas máscaras que uma pintora chegou a pintar inúmeros quadros baseados nos meus poemas. reflita nas suas próprias formas inúteis de sofrimento e tome as medidas necessárias para que não dominem de tal maneira sua existência a ponto de convertê-lo (a) numa vítima de si mesmo (a). . Percorreu-me um frio pela coluna! Afinal.” e se descobre justamente num desses quadros em que “o Pierrô tirou a máscara e a Colombina continuou seu jogo mascarada”.” Uma reação semelhante vai acontecer com nosso aluno: “Aos 17 anos passei a sofrer de uma enxaqueca miserável. quem era eu?” Esse viver assumindo outros papéis. Num outro trecho indaga: “por que essa enorme atração por máscaras pela vida afora? Em minha poesia há tantos tipos.” É necessário assinalar aqui que a somatização do sofrimento inconsciente manifesta-se em todos os Tipos Eneagramáticos.. Espero que você. Levou-me a um estado emocional tal que comecei a somatizar minha dor pela pele. Ela descreve assim sua descoberta: “Um dia.. botando uma máscara... para Tipos 4 e Tipos 6. Precisei tomar calmantes pesados para conseguir dormir.. lá estavam descritos certinhos os papéis assumidos. renegando a si mesma. além de ser em si uma causa de sofrimento. que não me abandonava e me provocava insônia e a sensação de estar enlouquecendo.230 Khristian Paterhan C. nos poemas.”. essa somatização pode ser muito mais severa e/ou desastrosa. pelo pâncreas e depois pelo coração. É um sofrimento que pode chegar a ser somatizado... sendo que. de um tratamento terapêutico. refletindo sobre a beleza do quadro. vai gerar outras reações negativas. dar voltas pela sensibilidade. criando um “personagem”. Nossa aluna percebe que essa repressão do seu modo de ter. tais como a capacidade de trabalho. como reconhece nossa aluna neste depoimento: “. Os Tipos 4 estão num ponto do Eneagrama no qual é preciso aprender a finalizar projetos. Quando estou estressada busco. Seja mais extrovertido e curta suas conquistas pessoais. Tente reconhecer como nossa aluna que “algumas vezes. os Tipos 4 possuem a capacidade de pensar. observando as influências dos Pontos 3 e 5 do Eneagrama. Então. e me equilibro emocionalmente. Aprenda do 3 a curtir seu presente e agradeça e valorize o que possui hoje. capazes de observações e pensamentos originais e interessantes. Do Ponto 3 aprenda também os perigos de mentir-se em relação à aparente impossibilidade de ser feliz. ficar comigo mesma. estou com uma sensação interna muito boa e agradável.. ainda que pareçam existir muitas razões para abandoná-los. procure evitar que essa capacidade de raciocinar não se transforme em capacidade de racionalizar negativamente suas perdas e faltas. porque procuro racionalizar o sentimento e muitas vezes isto leva-me a um estado depressivo”. certamente). quando sou tomada por um sentimento negativo. podem ajudá-lo a não abandonar seus projetos antes de concluí-los. de encontrar satisfação nas suas conquistas ao mesmo tempo em que luta por atingir metas e objetivos. Algo que qualquer Tipo 5 adoraria. . quando posso. serena e tranquila quando me interiorizo. Gostam de estar sozinhos. a observação dos companheiros eneagramáticos 3 e 5 Você descobrirá muitas “dicas” sobre seu mundo interno. raciocinar profundamente e o gosto de estar sozinhos. fique de olho.. Os aspectos positivos do Ponto 3.” Do Ponto 5. Aprenda a viver mais presente e no presente. Me sinto em paz. ficar só aumenta ainda mais a dor. Quando estou só comigo mesma. ou quando justifique racionalizando o porquê de determinados desvios nas ações realizadas ao longo de sua existência.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 231 Iniciando o processo de mudanças positivas.. permitindo-se ser feliz e parando de sofrer inutilmente. Do Ponto 5.. Os Tipos 4 são pessoas inteligentes. (Krajcberg gosta disso e até construiu sua casa no topo de uma árvore na Bahia. evitando os desvios. Peço para que você reflita e aprenda a contrariar sua máscara quando sinta esse impulso de não chegar até o fim nos seus projetos. Por outro lado. Do Ponto 5. O problema aqui é não “saber sentir”. Não “inflacione” seu ego. Quando negativo. a ponto de achar que você é único. Não pretenda. a tendência a criticar ou desmerecer os outros. Os aspectos negativos da influência do Ponto 5 que deverão ser evitados são. ajudar os outros ilimitadamente. entre outros. Percebendo o negativo e o positivo dos movimentos aos pontos 2 e 1 – (ver figura na página 334) O movimento da seta para o Ponto 2 provoca nos Tipos 4 importantes reações. Daí a necessidade de ser equânime. você descobrirá como seu anseio por uma felicidade futura ou por voltar a viver uma felicidade perdida evolui associado à ideia de uma “perfeição” (o trabalho perfeito. No movimento contra a seta ao Ponto 1. a tendência a um pensar negativo em relação ao presente e a tendência à autocrítica destrutiva. lembrando que “solidão” não é “isolamento”. COLABORA na teatralização dos seus sofrimentos com objetivo de atrair a atenção dos demais. É positiva sua sensibilidade pelos sofrimentos dos outros. original e tão diferente dos outros que até dá a impressão de não ser deste mundo. Reflita no que ela percebe desta “busca” idealizada do que poderia ser a situação perfeita: . Sofrer passa a ser um destaque da personalidade. Evite manipular os outros e tente não depender demais do “ombro amigo”. etc. O positivo do movimento ao 2 se produz quando os Tipos 4 aprendem a estar com os pés no chão graças ao cultivo da humildade egoica. o local perfeito. Este movimento negativo contra a seta está presente numa parte do depoimento da nossa aluna.) que não existe na realidade. esse movimento os transforma numa espécie de sofredor orgulhoso. como os Tipos 2. Sente-se com exagero. mas aprenda a “desidentificar-se” quando necessário. a tendência a afastar-se das pessoas. Tipos 4 deveriam aprender a refletir e sentir menos emocionalmente. a atividade perfeita.232 Khristian Paterhan C. Não exagere suas possíveis carências. A razão é simples: O Centro Físico está sempre no momento presente. Não seja rígido com você a ponto de essa rigidez ofuscar sua visão de outros ângulos da realidade. resolvi abandonar tudo em troca de um sonho maior: viver no campo. nosso aluno 4 termina seu depoimento lembrando que precisa “trabalhar os demais planos do ser (principalmente o físico). mais enriquecedora. Hermeticamente. porque relaxado você fica mais ciente da existência real.” Lembre-se. você aprende a relaxar e sentir o que possui para ser feliz no presente... Na verdade. Manifestar-se cons­ cientemente mediante ele facilita o Trabalho.. Até hoje a minha indecisão me impede de promover realizações. . que na verdade. mais próxima da nossa verdadeira essência”. não admita o sabotador interno. para vivenciar o Eneagrama numa plenitude maior. Serenidade e Equanimidade se complementam. Esta atitude positiva pode salvá-lo da armadilha de querer descobrir “a quinta pata do gato”. Decida parar de sofrer inutilmente a partir de agora.. Cultivando a Serenidade.. Aprenda a observar como a insatisfação com o presente provoca uma raiva interna que aumenta a dor de viver. Aprenda a ser menos crítico em relação à sua realidade e na sua percepção das pessoas que se relacionam com você direta ou indiretamente.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 233 “Quando enfim estava estagiando e com a possibilidade de pósgraduação no Museu Nacional do Rio de Janeiro. não existe! O positivo do movimento ao Ponto 1. os Tipos 4 ganham em consciência de si quando trabalham o Centro do Movimento. isto se explica graças à Lei de Correspondência: se é assim externamente (presença por intermédio do Centro do Movimento). mais humana. é que ele permite a você poder cultivar a Serenidade.. Ao referir-se ao positivo que este conhecimento trouxe à sua existência. assim será internamente (presença do observador no momento presente). aos poucos. Aliás. A prática da Equanimidade. Joguei o vidro de calmantes pela janela e até hoje. É essa capacidade de achar o que Buda chamou “o Caminho do Meio”. Trabalhando para conseguir ser equânime Já dissemos que Tipos 4 são pessoas de percepção e sensibilidade extraordinárias. essa diferença. 29 anos depois. tomei a decisão de fingir que estava bom.234 Khristian Paterhan C. como ele mesmo des­ creve: “Como eu sabia que meu pai não tinha dinheiro para o tratamento. e chegam a utilizar o sofrimento consciente como um instrumento gerador de benefícios deliberadamente objetivados. por meio de práticas precisas. ambos os Tipos sentem-se chamados a combater injustiças. Para isso se precisa considerar externamente e não achar que o “nosso sofrimento é único e inigualável”. que fica a igual distância dos extremos do nosso famoso bastão. Quando alguém que possui esta Máscara Eneagramática descobre suas formas de “masoquismo”. . Os meus alunos aprendem. Podemos definir a Equanimidade como a capacidade de ficar no meio em relação aos extremos do sofrimento. o sofrimento consciente é um poder nas mãos daqueles que aprendem a usá-lo. virtude a ser descoberta e praticada pelos Tipos 4. porque esse “dar-se conta” é o primeiro passo para se tentar mudanças efetivas. capazes de ajudar a outras pessoas. O fato de serem sensíveis ao sofrimento. faz deles pessoas muito fraternas e compreensivas. mas que se sacrificaria por mim. Por meio de meios diferentes. Existem certos aspectos que fazem de Tipos 4 e 8 semelhantes na procura da justiça. O nosso aluno descobriu que a somatização do seu sofrimento foi um processo que lhe permitiu melhorar interna e externamente. pode fazer dessa sensibilidade ao seu sofrimento e ao dos outros uma poderosa ferramenta de crescimento e progresso pessoal e coletivo. Se o sofrimento inconsciente é uma tolice. está perto da Equanimidade. isso é fácil de constatar nos exemplos e depoimentos citados neste capítulo. As influências positivas dos Pontos 3 e 2 foram fundamentais.. Passei a representar cada vez menos. nem em gozos teatrais masoquistas. fui mais feliz. mas numa mescla de dor e vazio aparentemente insuperáveis. Creio que foi minha primeira grande atitude saudável perante a existência. Pois é. Pela primeira vez em minha vida. Devo confessar que as perdas amorosas me aprisionaram muito tempo no passado. que só o tempo poderia curar – e esse tempo de cura demorava muito a chegar. enfrentando sozinho meus próprios fantasmas... pois o vício do sofrimento estava enraizado em meu coração.. Também Sá-Carneiro. enfim.” .. como isso aconteceu: Após ter superado uma “séria inclinação ao suicídio” devida ao rompimento com uma garota por quem era apaixonado. decidi não mais apoiar-me em fantasias. Veja a continuação.. como a felicidade parece nunca estar aqui. a primeira grande conquista de autonomia.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 235 nunca mais coloquei em minha boca algo semelhante. destruir seu passado de sofrimento e reiniciar sua vida longe de sua terra natal (está lembrando Krajcberg abandonando a Europa?..): “Abandonei meu curso de Psicologia no meio do segundo ano... nem em qualquer muleta externa. E junto com uma amiga recente. ele decide “explodir com tudo”.. teriam sido difíceis ou impossíveis de superar. num limbo de sofrimento. Nesta cidade. usando minhas próprias forças. para outros “românticos trágicos”..” Na continuação do depoimento pude constatar como ele conseguiu ultrapassar momentos que. Resolvi caminhar pelas próprias pernas. ou seja. embora não na velocidade desejável. mudei-me com a cara e a coragem para o Rio de Janeiro. não em um paraíso perdido. E comecei a melhorar. A descoberta do sofrimento como um vício. que essa atitude tão trágica perante a existência não é boa por que: “Sempre insatisfeita. nada ser. para alguns Tipos 4 tão sensíveis ao sofrimento e tão trágicos quanto os gregos da época de Eurípedes. nosso aluno teria questionado ao velho e sábio Sátiro. o melhor para ti é logo morrer. como nossa aluna.. Superando “o vício do sofrimento” A última parte do depoimento deste aluno me fez lembrar a resposta que o sábio Sileno8 deu ao poderoso Rei Midas. porém.9 um vício que ele reconhece ter superado após anos de grandes lutas internas. Vozes). foi o que finalmente o conduziu após os 30. segundo nos ensina o saudoso Prof.. Nietzsche comenta esta lenda. “auxiliado. morrer: “O melhor de tudo é para ti inteiramente inalcançável: não ter nascido. conveniente a todos nós humanos era. não ser.. Porém. agradáveis ou desagradáveis. revelando-lhe com desdém que o mais conveniente para ele. após um duro interrogatório com o qual o lendário rei “o obrigou a transmitir-lhe importantes ensinamentos”. Depois disso. simplesmente. um vício que faz com que os Tipos 4 percebam. essa dura resposta teria sido um bom motivo para afundar de vez no “vício do sofrimento” e ainda seria uma boa razão até para justificar o suicídio. Consegui finalmente contrariar minha máscara e abrir espaço para a entrada da felicidade em meu coração!” Sim. à descoberta dos primeiros frutos da equanimidade: “.. Sugiro a leitura do livro O nascimento da tragédia no qual F. Junito Brandão no seu Dicionário mítico-etimológico (Edit. pelos choques dados pela vida e pelos toques que recebi das pessoas mais próximas”. Os ideais nunca eram atingidos! A realidade era sempre castradora e esmagadora se não cruel e ameaçadora!” 8 O lendário “pai dos Sátiros” e “educador de Dioniso”.236 Khristian Paterhan C. não importa quanto tempo você demore para compreender que o sofrimento inconsciente é um VÍciO. como parte da espécie humana. e já cansado de tanto sofrimento inútil. Hoje a neurociência comprova o que Gurdjieff ensinava sobre o “sofrimento tolo”: o cérebro se “vicia” (emotional adiction) em emoções negativas ou positivas. 9 .” Com certeza. e portanto. duas direções.” Boa reflexão! . O sofrimento depende da sua posição. mudar de atitude é fundamental para conseguir vivenciar a virtude da equanimidade. Num momento uma gota está na superfície. aplicando o Princípio Hermético da Polaridade. Ou pode sofrer por ontem para preparar-se para o amanhã. Aqui opera a Lei de Retribuição. ele respondeu: “Existem duas classes de sofrimento: consciente e inconsciente. Somente um tolo sofre inconscientemente. porém não é verdade que a felicidade não possa existir nas nossas vidas. No primeiro rio. O sofrimento pode ser voluntário e somente o sofrimento voluntário tem valor. Paralelo a esse rio tem um outro. Não se deixe influenciar demais pelo “velho Sátiro” Sileno que nos lembra o trágico da nossa existência. Para o Cosmo o tempo não existe. a arte de viver neste Templo da vida cujo chão está formado de quantidades iguais de quadrados pretos e brancos. Espero que você reflita sobre ela e se lembre dela a cada dia. Quando alguém perguntou a Gurdjieff: “qual o papel do sofrimento no autodesenvolvimento?”. Sofrimento e felicidade são apenas o natural movimento do pêndulo existencial. porque se sente infeliz. sim. a lei é somente para o rio. Ficar à mesma distância dos extremos desse movimento é o segredo oculto nesse Arcano Maior do Tarô chamado por Aleister Crownley. Neste outro rio existe outra classe de sofrimento.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 237 Então. o sofrimento é completamente inútil. Repito. Cedo ou tarde tudo se paga. Na vida existem dois rios. “A Arte”. A gente pode sofrer simplesmente. A gota do primeiro rio tem a possibilidade de passar ao segundo. num outro momento está no fundo. No primeiro rio. conformando um harmonioso e belo Mosaico pelo qual devemos aprender a caminhar equânimes. Nós somos as gotas. somente o sofrimento voluntário tem valor. porque ele é acidental e inconsciente. Aplique o conselho de Gurdjieff Assim como no início deste capítulo citei uma resposta de Gurdjieff em relação ao tema do sofrimento. Hoje a gota sofre porque ontem não sofreu o suficiente. não para as gotas d’água. acho oportuno citar outra ao final. É verdade que o sofrimento existe. A gota também pode sofrer por antecipação. . Parte III 7 6 5 Centro Intelectual Tipos 5. 6 e 7 . . um cavalo (Centro Emocional) e uma carruagem (Centro do Movimento). de mudar alguma coisa.. Por essa razão devemos ensinar. Nosso mental é o cocheiro. O desejo deve estar no cavalo e a capacidade na carruagem.. a falta de relação entre nosso corpo (carruagem)... e a maioria das pessoas está tão deformada que não há mais linguagem comum entre uma parte e outra. de modo que só podemos falar do cocheiro.” . Não passa de uma ideia que têm na cabeça e cada um permanece o que era. mas do sentimento e do corpo. Mesmo aquele que trabalhasse mentalmente durante dez anos. quer dizer. não tem nenhuma utilidade. Todos os interesses que temos em relação à mudança e à transformação de nós mesmos pertencem apenas ao cocheiro. Naqueles que estão aqui. mesmo esse não realizaria nada útil ou real. a dificuldade é que. devido à má educação moderna. são unicamente de ordem mental. nosso sentimento (cavalo) e nosso mental (cocheiro) não foi reconhecida desde a infância. pois ele não está presente. se for pelo mental. um cocheiro (Centro Intelectual). não por meio do mental. Mas como já dissemos.. A transformação não se obtém pelo mental. E nada mudou ainda neles. Talvez vocês se lembrem do que dissemos do homem: nós o comparamos a uma atrelagem com um amo (o Ser). Não podemos nem falar do amo. e aprender.O Tipo 5 O eu que pensa Gurdjieff ensinava que “é impossível lembrar-se de si mesmo.. O que deve mudar é a disposição do cavalo.. E não podemos nos lembrar... Mas apenas no mental. que estudasse dia e noite.. que se lembrasse mentalmente e lutasse. porque mentalmente nada há para mudar. porque queremos viver unicamente pelo mental. aconteceu acidentalmente um desejo de chegar a algo. Cada um de vocês é deformado. Um homem pode possuir certo saber. Certa feita.. esse saber é inútil e pode até se revelar perigoso. Um desenvolvimento unilateral só pode ser prejudicial. Não há nenhuma conexão entre elas.. Gurdjieff disse: “Em cada um de vocês. pode saber tudo que deve fazer.. falando sobre a necessidade do desenvolvimento harmonioso dos três centros no ser humano (Físico. Emocional e Intelectual).” . Só se pode chamar homem sem aspas aquele em quem as três máquinas estão igualmente desenvolvidas. uma das máquinas internas que os constituem está mais desenvolvida do que as outras.242 Khristian Paterhan C.. . tive a oportunidade de conhecer os “fragmentos externos” da vida e obra daquele que. sim. teria sido muito difícil. (eu sei. Sim. Porém. na qual ninguém pensaria em construir.. você acertou: estou me referindo ao genial inventor de fama internacional Alberto Santos Dumont.. um homem .. Enfim. Claro! Ora bolas! Tenho certeza de que você tem que raciocinar sobre esta interessante tipologia antes de emitir qualquer opinião.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 243 Não... Os governos e as empreiteiras poupariam recursos e a gente pouparia grana.! Quando visitei Petrópolis (RJ) pela primeira vez. por favor. Santos Dumont tinha nessa casa até um observatório. com certeza. Gostava de ficar horas olhando as estrelas. na minha opinião... na qual até os degraus da escada que permitem chegar ao ninho desta brilhante “águia” foram pensados.. Ele fez por onde merecer essa nossa curiosidade. ele comprou barato esses metros quadrados de terra.. De outra maneira... sozinho.? E o chuveiro a álcool (dizem que é muito mais econômico que o elétrico ou a gás!)? E a mesa que de noite serve como cama? Porém... justamente. Como é que as pessoas não percebem que não vale a pena construir degraus completos numa escada já que pisamos em um de cada vez. como Leonardo da Vinci (outro 5 notável). ora com o esquerdo? Pensou na economia de material? Bom. encontrou no exercício da razão e da inteligência criativas um meio (para eles o mais importante) de comunicar-se com seus próximos. Conheci sua “racional” casa. Sua vida foi especial.) Com certeza... certo?.. você concordará comigo que esta ideia bem que poderia ser considerada. talvez em alguns casos as escadas tenham que continuar sendo do tipo que conhecemos.. O quê?. ora com o pé direito. certo? E que dizer do uso racional do espaço que você percebe nessa casa. Um Tipo 5 que. Eu nem sei se ele está gostando que turistas como eu invadam sua casa. Uma encosta íngreme. Amante das alturas.. você talvez pensasse. Quando seu pai. pelo inadequado que deve ter parecido a qualquer um construir ali qualquer coisa! Mas ele fez. não quero invadir sua privacidade com esta análise. foi o mais importante Tipo 5 brasileiro. o mais notável é o local que escolheu para mandar construir essa sua casa. Poderia ter dilapidado sua fortuna nos prazeres de um dolce far niente como um bon vivant na tentadora França da época. Mas agora que a América Latina está se unindo mais graças ao Mercosul. deixando claro que pode fazê-lo porque sua fortuna lhe possibilitará fazer o que quiser sem preocupações materiais. é valioso que todos saibamos como nestas terras têm nascido “elefantes de verdade” e não “apenas moscas” (este é o meu 8 fazendo comentários!).. Só Tipos 5 conseguiriam botar número em inventos que outros Tipos Eneagramáticos batizariam com nomes da amada. num claro e produtivo movimento ao melhor do Ponto 7 Eneagramático. foi uma chilena com a qual parece ter podido conciliar essa necessidade de solidão-liberdade com a discrição que muitos Tipos 5 procuram. Quando li em algumas enciclopédias sobre este grande homem. ele tinha um destino e seus frutos geniais nos fazem refletir sobre o que Gurdjieff chamava de nossa “dívida com a existência”. deram um jeito para que este brasileiro ilustre perdesse os créditos como “Pai da Aviação Mundial” para os famosos irmãos Wright. Bill Clinton. Nossos vizinhos americanos “mestres”.) Como latino-americano. segundo Gurdjieff... (Em viagem ao Brasil. 3.244 Khristian Paterhan C. rico.. até porque. quando estudei história no segundo grau. me enche de orgulho sua existência. “na arte de converter moscas em elefantes”. eu sei que você concorda com essa nomenclatura científica e racional. como todo 5.. o estimula a conhecer o mundo e a aperfeiçoar seus conhecimentos. reconheceu a primazia de Santos Dumont. da mitologia. dificuldades para relacionar-se. claro. a razão é simples: você é Cinco! . vejo nesse fato outra manifestação típica dos donos desta quinta máscara. percebi um outro aspecto de seu traço principal: ele numerava seus balões – balão número 1. tinha. Porém eu. Santos Dumont inicia uma vida de descobertas maravilhosas e úteis para todos. 3. como “velho” analista de tipos humanos. ninguém me falou de Santos Dumont no Chile... etc. Sua vida emocional foi complicada. 2. até o 14-bis! Você não deve estranhar. Porém. ou até da mãe! Os balões não se chamam “Vento do Norte” ou “Carlota I” e sim Dumont 1. até 14-bis! Sim. 2... Uma das mulheres que conheceu e com a qual manteve o que poderíamos chamar de “um romance”. o presidente do EUA. em 1997. realizará demonstrações públicas. em que “vê” o futuro da aviação como meio de transporte de massas e mercadorias.. ainda que não descartasse seu uso bélico. um dos quais tem o título de O que vi e o que veremos (aliás. claro! Mas Tipos 5 quando têm possibilidades ou necessidades de ir até o Ponto 7 (ou contra a seta do 8).! O movimento ao Ponto 7 é outro dos “detalhes” eneagramáticos notáveis neste homem. Suas clarividentes visões do futuro o fazem semelhante somente a um Julio Verne. um título tão próprio de Tipos 5. . Em Paris. altos pensamentos. esta maneira de manifestar-se externamente confirma que ele é o que Don Richard Riso qualifica como Tipo 5 “sadio”.. voos da águia livre que ele era.... voos que lhe permitiam isolar-se nas alturas como um novo Ícaro redimido e triunfante. Na França. um “visionário”.. Compare este tipo de movimento “sem censura” ao comentado no caso de Tipos 1... será até o dono de um carro vermelho! Um exagero. um chamado a ser livre de todas as censuras. talvez ele já fosse um daqueles Tipos 5 que não tinha mais fé nos seus irmãos da espécie. Veremos que essa conduta é típica em Tipos 5. Gostei muito de “descobrir” este brasileiro tão único e admirável. no sentido de refletir esse constante estado de observação do mundo e dos demais que os caracteriza). um “gênio”. Por outro lado. amava a liberdade dos céus nos quais com certeza achava-se à vontade. Sair do seu castelo é um chamado à aventura. Ele aos poucos se desiludiu com os homens. observando do alto seus semelhantes. Sempre planejando novas aventuras. ele será capaz de reunir-se às pessoas com o objetivo de mostrar seus inventos e máquinas. Também jamais pensou que alguns de seus compatriotas o esqueceriam em vida e lhe negariam até a construção de um Museu da Aeronáutica no Rio de Janeiro.. Enfim. ele se comportava como um bom 7 faria.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 245 O suicídio deste inventor extraordinário (até o relógio de pulso foi ideia dele) confirmou minha suspeita em relação à forte influência do Ponto 4 que se pode advertir na sua vida e nos textos por ele escritos. Escreveu dois livros. um “inovador”. Ele nunca pensou que seu invento fosse um dia ser usado de maneiras incrivelmente destrutivas.. “fugindo” da sua “ordem” para relaxar.. Quando a águia se refugia no seu ninho localizado num ponto íngreme da protegida e imperialmente isolada Petrópolis.. fazem cada coisa extravagante! Amava voar. “incompreensão alheia”. compensando a falta de uma tradição perseguida e prezada pelos demais. Sim. “reconciliar com o mundo e nele atuar”. a pedido nosso. tivemos a oportunidade de conhecer pessoas muito especiais. transmitimos para esse grupo de pessoas interessadas em trabalhar por uma cidadania mais ativa e pela revitalização da maravilhosa “Princesinha do Mar”. Destaco este depoimento porque esta pessoa é um homem da chamada “terceira idade” que. desenvolvida a partir da incompreensão alheia ao meu projeto de vida. nos entregou. O depoimento completo – quando digo completo. seu depoimento de como tinha descoberto sua máscara eneagramática. a mão. com relativo sucesso. escolhi a via autodidática que me permitia total discrição sobre o que. Consideração interna e o traço principal: a tendência ao isolamento (ou da sutileza da avareza) Quando ministramos o workshop do Eneagrama para mais de 70 voluntários do projeto Simplesmente Copacabana. daí resultando o ensimesmamento que favoreceu minha apreensão de conhecimentos julgados importantes ou oportunos àquele projeto. Ele é um homem ativo. mostrava-se sempre profundamente interessado por todos os conhecimentos que nós. numa adolescência pobre. à base dos conhecimentos adquiridos. todo um livro. nestas palavras temos as . com o passar dos anos. e como saber”. Para estudar inglês. veio me reconciliar com o mundo e nele atuar. conseguiu uma profunda compreensão de si mesmo. e outros instrutores convidados. Isso me deu uma confortadora sensação de realização pessoal que. estudioso. Tipo 5. que durante todas as ocasiões em que pudemos observá-lo. inteligente. no ano de 1996. quero insinuar algo que revelarei daqui a pouco – é este: “Descobri meu enquadramento neste tipo justamente por uma tendência ao isolamento. utilizando o verso de papel já servido. de certo modo. Uma delas. e como saber.” Sublinhei algumas partes deste depoimento por sua importância para a análise eneagramática: “tendência ao isolamento”. sob o patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro e do Banco Real.246 Khristian Paterhan C. Como natural consequência. ”discrição sobre o que. dispus-me a copiar. “ensimesmamento”. nessa “precisão” e “frieza”.” O depoimento de nosso querido Tipo 5 – no caso.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 247 chaves para conhecer um pouco deste Tipo Eneagramático. Devido a este fato. Foi interessante comprovar com os Tipos 5 como essa avareza é reforçada naqueles com influência do Ponto Nuclear 6. no modo de falarem de si mesmos por escrito revela-se o pecado ou Traço Principal deste tipo: a avareza. talvez para que somente “os que sabem” tenham acesso ao significado . preservando minha privacidade. até utilizando símbolos ou abreviaturas. Dados intelectuais considerados importantes são colocados em alguns desses trabalhos escritos. precisos. dissesse. Sem dúvida. provocadas pelo medo nuclear (Ponto 6 do Eneagrama) que afeta a este e aos outros Pontos Eneagramáticos relacionados aos chamados “Tipos do Centro Intelectual”. Talvez. Nesse “jeito breve de ser”. Uma avareza que possui expressões internas e externas. mentais. Sei que devo reconciliar-me com o mundo. Desta forma. Penso que por meio de meus conhecimentos consigo atuar nele com certo sucesso. alguns quase frios (outros eu diria que parecem “congelados” emocionalmente). Os Subtipos 5 com essa influência se descrevem por meio de listas – numeradas ou não – com curtas frases nas quais eles resumem ou sintetizam o que consideram “a única coisa importante para comunicar” de cada um deles. por exemplo: “Costumo ser uma pessoa capaz de um constante ensimesmamento. Porém. Ainda assim tento manter-me afastado dos demais. qualquer Tipo 5 poderia construir uma definição quase completa sobre si mesmo usando apenas elas. bastante “redimido” como costumam falar os especialistas cristãos desta tipologia – é breve. em razão da incompreensão alheia ao meu modo de enxergar a realidade e as pessoas. acho que esta capacidade de isolar-me me permite aprender e saber tudo aquilo que preciso para ser independente dos demais – objetivo pelo qual sempre luto com total discrição. porém retrata quase todos os possuidores desta máscara: eles sempre são breves. eu mesmo decido sobre o que e como saber. Os primeiros só conseguem dizer algo mais sobre si mesmos após um pedido expresso de nossa parte. sem recorrer a essa listagem. Somente aqueles com maior influência do Ponto 4 conseguem escrever mais sobre si mesmos. tenho tendência ao isolamento. . Era isto o que há pouco prometia insinuar. é o Ponto 4 o de maior influência. estou tentando fazer com que você não se leve muito a sério nesta análise e por isso contei este caso que me pareceu tão engraçado. Um dia. como se confirma o Tipo de 5 deste sujeito nesse breve depoimento.. Agora cansei. lacônica. Só para manter meu propósito de que podemos rir de nós mesmos. que escreveu (mais uma vez o depoimento se transcreve com­ pleto): “Um Nº 5. Prefiro falar pessoalmente para o grupo e contribuir com comunicação viva. é consciência de prioridades. e que notável a influência do Ponto 4! O tempo veio comprovar que esse aparente suicídio do 5 nunca se realizou. É melhor trocar energias que fazê-las girar em círculos dentro de si mesmo. orgânica. .” Sei que alguns especialistas em análise eneagramática ficariam pensando o mesmo que eu..248 Khristian Paterhan C. Tipos 5 são mais discretos e mais reservados nos seus depoimentos quanto mais forte a influência nuclear do Ponto 6. faria um detalhado e minucioso relatório. os depoimentos dos Tipos 5 são a expressão do Traço Principal que eles deverão vencer em diferentes níveis de manifestação.. pelo contrário. conversava com ele sobre a possibilidade de instruir a mais pessoas (ele é terapeuta corporal). Prefiro falar. Quando. secreto que essas abreviaturas e símbolos escondem. porém nunca tão veementes no emocional quanto seus românticos e trágicos vizinhos. E assim se deu o suicídio do 5. foi mais ou menos a seguinte: “Acho que não vou fazer isso. Talvez o depoimento mais relevante a respeito dessa avareza intrínseca foi o daquele ex-membro da escola. com certos movimentos conscientes que ele tinha aprendido num workshop recente. Eu já fiz muito isso. Sua resposta. Sim. o ouro é muito pouco para compartilhar com tantos” (estas últimas palavras foram ditas por Gurdjieff referindo-se ao valor do conhecimento que ele ministrava e nosso 5 achou oportuno citá-las naquele momento). vou contar-lhes como aconteceu a ressurreição da máscara deste seu semelhante. Não é preguiça. seus depoimentos são mais generosos. ou seja. dançar e cantar. escrever só quando indispensável. em geral. Foi incrível! O Nº 5 tinha sobrevivido ao “suicídio” e com grandes argumentos ainda por cima! Bom. Meus pais trabalhavam fora. Eu não tinha capacidade para entender o que havia acontecido. essa característica ou Traço Principal surge como resultado de uma percepção fortíssima de “parecer diferente dos outros” em razão de certas vivências infantis marcantes. a infância é o ponto crucial na construção da futura persona. ela escreve: “. É difícil para eles admiti-lo. Mais tarde vim a entender que ela tinha ido para a casa de uma tia solteirona. de ficar invisíveis num local com muita gente como um meio de poupar-se de pessoas que falam só abobrinhas.. e assim deixaria os meus pais . relativamente distante. Outros compreendem a profundidade desse aspecto imediatamente e reagem com uma certa felicidade por terem descoberto a razão de sua incapacidade para se relacionar com os outros. de maior poder aquisitivo. por uma percepção. Como surge o traço principal? O surgimento da avareza eneagramática se dá.. Éramos companheiras de brincadeiras durante o dia todo. Para outros. Então a minha mãe resolve mandar a minha irmã para outra cidade.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 249 A sutileza do pecado da avareza faz com que alguns Tipos 5 fiquem surpresos quando é mencionado este pecado capital da quinta máscara. Como acontece com todas as máscaras. Sob o título de “Caso de uma Nº 5”.eu tinha mais ou menos quatro anos de idade e a minha irmã era mais velha do que eu um ano e pouco. Eu só sentia que a mamãe havia ‘dado a minha irmã’ e a dor desta perda era muito grande. Alguns riem de si mesmos quando descobrem como a avareza se manifesta nessa incrível capacidade de escapar dos outros. de falta de privacidade. desde muito cedo. e este era mais um motivo para sermos unidas. às vezes. Este depoimento de Carla. ou por perdas (veja a influência do Ponto 4) inexplicáveis que geram temor e sensação de perigo. nos ajudará a compreender esta questão. Alguns decidem que devem aprimorar-se a nível emocional e admitem a dificuldade de expressar seus sentimentos. . Eu.” .. em querer evitar sofrer novamente a dor de uma separação..250 Khristian Paterhan C. para não correr o risco de sofrer novamente. era a mais vigiada... Odeio cobranças e ser pressionada. aonde venho tomando consciência desta e de outras coisas. Existe comigo uma forte asa 6 pois naquela época cresceu um enorme medo. Junto com os meus avós moravam três tias-avós solteironas. Os dias eram longos. aos 16 anos consegui ganhar a liberdade. eu já não queria mais me chegar até ela. por ser a menina.. Ficou um vazio com a partida dela. Acho que eles tinham razão em muita coisa. finalmente. Mas meus pais nunca suportaram e sempre reprovaram meu namoro. Evito me envolver com as pessoas. Mas sou teimosa. Sempre fui uma menina tranquila e geralmente obediente. Houve brigas por não cumprimento de horários ou por mentirinhas para conseguir escapar nos fins de semana. E se sentia no direito de interferir nas suas vidas. até ter começado a minha busca interna. A rebeldia só surgiu depois do primeiro namorado mais sério.. Morávamos numa casa vizinha ao sítio da minha avó. Este comportamento durou a minha vida toda praticamente. Eu não tinha mais com quem brincar. Então acho que daí nasce todo o comportamento do 5. com ajuda dos meus irmãos. Vovó era uma pessoa de personalidade muito forte. E. tipo assim: ‘será que a mamãe vai me deixar hoje na próxima esquina? ou será amanhã’.. Cada uma escolheu um dos netos como predileto. Ajudava bastante meus pais.. Existem cenas na minha memória de grande tristeza e solidão. Isso sempre me incomodou muito. Meio autoritária e dominadora.” Outra aluna revela como a intromissão dos adultos vai provocando essa necessidade de ocultar-se e poupar-se que vai gerando sua máscara desde muito cedo: “Filha do meio. única menina de uma família de três filhos. Inclusive quando mais tarde a minha irmã voltou.. O excesso de zelo só fez crescer quando comecei a ficar mocinha. mais folgados financeiramente. Lembro-me desta época sentindo muita saudade de minha irmã.. já que eu não sabia o que poderia acontecer comigo.. Essa excessiva cobrança leva a uma procura de defesa do que se possui. então. O Traço Principal está baseado numa reação ao que é tirado pelos outros. jogando vôlei. vivenciando experiências radicais e mostrando-se “rebelde”. isolar-se. eles pensarão que não há perigo para ela. provoca nos Tipos 5 a necessidade de viver situações e aventuras em segredo. brincando com os meninos. porque. à sua maneira”. No colégio era tímida e introvertida. Fui a última a sair do sítio. ela consegue não ser cobrada como menina. uma reação ao temor de perder algo. está sozinha. Compartilhar se torna difícil porque pode implicar perdas. afastar-se.. porquanto estará com seus dois irmãos. É um modo sutil de sumir para seus repressores. “confidencialmente”. como veremos mais adiante. como acontece com Tipos 1. procurarão um porão onde se esconder. será cobrada como menina. Piorou. E o fazia. Essa tremenda intromissão na sua vida provocou essa forma de avareza que chamamos poupar-se dos outros.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 251 Mais adiante.?’ Achava graça em presenciar a minha ausência. Ela não poderá brincar de boneca porque será observada. tinha um irmão mais velho repressor. E comecei a buscar o prazer que essa situação me oferecia. Ela. Depois da mudança para a cidade.” Será graças a um forte movimento ao Ponto 7 que ela conseguirá fugir da intromissão e repressão. Sempre me senti um peixe fora d’água. ‘Onde está a menina? Onde ela se meteu? Será que. Tipos 5 evitarão ser cobrados.. Lembro que no casarão existia um porão e eu gostava de me esconder e ouvir as minhas tias loucas atrás de mim. um dos quais é o “encarregado” dela.. Encarregado (coitado) de proteger a irmã. Quando nossa aluna brinca com meninos. nossa aluna lembra que durante a infância “e para complicar.. namorando “o menino mais popular da escola”. Ela não será totalmente aceita pelos meninos. . quando aos 11 anos fui morar com os meus pais em. Uma maneira “pensada” de conseguir “fugir da pressão” e que. Uma reação que ela explica assim: “Cedo conheci a solidão e o sentimento de abandono. Portanto. ainda fiquei quatro anos morando com meus avós. brincando com os meninos quando pequena (“sempre era muito mais interessante do que brincar de boneca”). Vamos analisar em seguida outras das manifestações próprias desta Quinta Máscara: as incríveis formas do apego. Como é bom amar por amar e viver sem se esconder. Sem desconfianças. É uma das razões pelas quais continuo na ‘Escola de Eneagrama’. Sinto ser possível. O Traço Principal iniciará a consolidação da quinta máscara: “É prazeroso estar sozinho e observar os outros de longe. justificá-los. Sua solidão e sentimento de abandono provocam uma necessidade de pensar: “que prazer poderá existir nesta minha solidão”? O primeiro virá. as manifestações do medo e os “argumentos” para justificá-los. será um processo lento. A “avareza” como reação à excessiva cobrança e intromissão. A Escola de Eneagrama e principalmente a minha grande vontade. como reconhece esta aluna no depoimento: “Existe em mim um desejo intenso de querer mudar. de Charles Dickens? Ele é um Tipo 5 tão triste na sua avareza! Serão os “espíritos” dos natais do passado. presente e futuro e o amor que surge nele por uma criança que o libertarão da sua solidão e da sua avareza. fruto de um intenso trabalho interior. O trabalho grupal permite este processo de abertura e você está convidado a participar nele. Sim. Para alguns dos Tipos 5 que trabalham no aprimoramento e conhecimento de si mesmo.” Quem não lembra do Sr.252 Khristian Paterhan C.” Temos certeza de que você refletirá a respeito de como a avareza vai se manifestar em você e sabemos que o Eneagrama se transformará num grande aliado na procura do autoconhecimento. de me livrar desses limites e poder viver intensamente. têm me dado bastante esperança. para Tipos 5 serão necessários fortes choques para destruir o muro que foi construído por eles para ocultar-se do mundo. esta é uma das razões pelas quais participam de nossos treinamentos.” Para nossa aluna aceitar essas situações. . compreender seus pais. Scrooge do famoso “Conto de Natal”. Novamente. ao comprovar que “achava graça em presenciar minha ausência”. Anseio desesperadamente por esse resgate. aqui é importante que os pais que leem este livro reflitam nas seguintes palavras com as quais nossa aluna termina: “Me lembro com saudade de um tempo (acho que até os cinco anos) que sentia mais alegria e amor pela vida e pelas pessoas. espontânea e autêntica. vale a pena refletir nas experiências que nossos associados descobrem graças à observação de si mesmos em relação a estes aspectos e aos que estão ligados de uma ou outra maneira. descreve os pontos negativos que consegue observar como expressões de seu traço principal da seguinte forma: “A desconfiança em demasia prejudica os relacionamentos.. é racionalizado. – As pessoas são constantemente testadas e após passarem por um crivo continuam sendo testadas. Leonardo. – O intelectual (refere-se ao Centro Intelectual) controla as emoções. – Dificuldade de compartilhar o espaço. portanto. – Por ser extremamente responsável e intolerante com os outros e até consigo mesmo. mais conveniente. Essa desconfiança e essa dificuldade para compartilhar são expressões do Traço Principal associado à avareza e à origem dela no medo nuclear do Ponto 6 Eneagramático e. – Dificuldade de dar e receber. emocionalmente falando.. Se houver decepção não tem perdão. tirando a naturalidade. a partir do Ponto 6. na medida em que poderão proporcionar-lhe certos insigths que podem libertá-lo ou provocar um dar-se conta de como a mentalização da realidade e dos relacionamentos pode deixá-lo fora dela e como esse ficar de fora irá ser racionalizado como aparentemente necessário.. uma confirmação da necessidade de isolar-se e até um argumento para justificar para si mesmo quão agradável é ficar sozinho. Desconfiança demais! Um aluno. Admitem ter desconfiança.” O medo que influencia os Tipos 5 e 7. de compartilhar. Vamos acompanhar esta questão mediante alguns depoimentos.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 253 O medo e as racionalizações (percebendo a dificuldade dos relacionamentos): como compartilhar meus sentimentos? Como me relacionar com os outros sem riscos? Em geral. . Tipos 5 admitem ter dificuldades para se relacionar com os outros. Essas observações serão importantes para você. afirmam que é difícil para eles compartilhar. Mediante uma reação mental à realidade Tipos 5 decidem isolar-se. se não é possível confiar nos outros. como observamos nos depoimentos deste capítulo. Allport define a racionalização assim: “A razão adequa os impulsos e crenças ao mundo da realidade. Então não se deve nem confiar nem depender dos outros. a racionalização adequa a concepção da realidade aos impulsos e crenças do indivíduo. É o momento de pensar um pouco mais no processo de racionalização. e. Durante a infância os adultos não explicaram seus atos e aparentemente não queriam saber o que é que esses atos provocavam nos seus filhos. achar que essa possibilidade de perda pode se repetir e decidir que. não sabem como fazê-lo. como no caso da aluna que lembra a dor de ver “sumir” a sua irmã e imaginar que ela também pode ser abandonada porque os pais não explicam o que aconteceu oportunamente. para conhecer. é necessário estar sozinho também. Portanto eles deverão encontrar também sozinhos as respostas. se as pessoas parecem querer invadir o meu espaço. Vale a pena lembrar que Gurdjieff se refere ao processo de enganar ou mentir a si mesmo como um dos principais fatores do Esquecimento de Si. G. porque desta maneira vou me proteger. a racionalização encontra boas razões para justificá-los. Tipos 7 decidem afastar-se. Só o que eu conhecer e dominar mentalmente será confiável. por essa “razão”. nunca mais deverá se envolver em demasia com alguém para não sofrer se esse alguém some. nem foram incentivados a isso. É uma reação mental. O raciocínio descobre as causas reais dos nossos atos.254 Khristian Paterhan C. percepção dos outros como ameaçadores ou capazes de realizar ações inexplicáveis.” . O medo levará os Tipos 5 a refletir mais ou menos assim: Se é difícil manter a privacidade. pelo contrário. O que provoca medo será pensado até que esse estar sozinho seja racionalizado como um “raro prazer”. essa realidade ameaçadora deverá ser compreendida. estudada. Sabemos que. enquanto os 6 decidem não confiar e esperar sempre o pior. e finalmente o que é pior. analisada. As razões para estas “reações”. psicologicamente falando. ao invés. porque não conseguem externalizar o que sentem. a racionalização é uma expressão do autoengano. podem ser várias: intromissão exagerada dos adultos durante a infância. não suportei aquele sentimento (que até hoje não sei identificar muito bem) e me retirei do salão. nos revela o modo como seus medos passam a expressar-se fisicamente (veremos esta tendência nos Tipos 6) e o modo como este medo é um obstáculo aos seus anseios de compartilhar (neste caso divertir-se e dançar) com os demais: “Eu me considero um (Tipo) 5 principalmente pela necessidade de isolar-me. E inconscientemente comecei a me calar e a me afastar das pessoas vendo-as sempre como se repentinamente elas pudessem me agredir de algum modo. eu acabava desmaiando nas festas que ia. fui autodidata para não ter que perguntar ao professor e assim sempre caminhei para a autossuficiência.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 255 Somatizando o medo: o desgaste do centro do movimento No depoimento abaixo veremos como o medo e a racionalização podem provocar reações psicossomáticas negativas. Tentava fazer tudo perfeito para não receber críticas. fui a um baile com algumas colegas e em vez de tentar aprender a dançar como sempre quis. mas nunca me convidavam. Sentia-me rejeitada. Não tinha amigos. Tornei-me uma observadora da natureza humana para aprender como me comportar em grupo e me aproximar das pessoas. para não ter que depender de ninguém. Embora eu desejasse ser mais extrovertida e me divertir como as outras pessoas da minha idade. Descobri que as pessoas se aproximavam de mim somente porque precisavam das coisas que eu fazia bem. Hoje sei que o isolamento não era uma opção desejada. Como não podia voltar só para casa. Nossa aluna Tipo 5 com forte influência dos Pontos 6 e 4 do Eneagrama. Desde criança e durante uma boa parte de minha vida sofri humilhações e injustiças (sociais). A solidão começou a incomodar muito e as fugas da realidade se tornaram cada vez mais frequentes e sofridas. passei a noite toda no banheiro . Certa vez. mas uma necessidade surgida de um medo insuportável de me expor ou de me relacionar com o mundo. do clube. Aprendi a reconhecer os sintomas e a me esconder no banheiro. voltei à casa. veremos como esta dificuldade de se relacionar com os outros pode ser racionalizada até o ponto de achar que. na primeira oportunidade. Uma vez fui a uma festa e depois de uns vinte minutos lá. pode ser uma “atuação correta”: “Assim que cheguei ao Rio. Mas como se não bastassem. Nas festas que eu não podia deixar de ir.. e sem ser notada voltei para o carro onde desmaiei e voltei a mim várias vezes seguidas. afastar-se dos demais ou evitá-los. provavelmente um 7. o que define como “um profundo desgaste”: “Embora perceba. sofria um profundo desgaste e muitas vezes adoecia após o término do trabalho. etc. normalmente saía sem ser notada ou então inventava uma desculpa para sair pouco depois. de onde saía de vez em quando para que as colegas me vissem. outro de nossos alunos Tipo 5. comecei a desmaiar em público. Há alguns anos atrás cada vez que eu trabalhava coordenando grupos. há uns oito anos. quando consigo vencer esta tendência e estabelecer contato me sinto renovado. uma resistência para estabelecer relações com pessoas. em algumas ocasiões. percebi que ia desmaiar. ministrando cursos. dividia meu apartamento com um colega de serviço. onde uma senhora assistia à televisão e fiquei ali por um tempo e. relata como o fato de ter que relacionarse com os outros em razão de seu trabalho lhe provocou. Foi um horror.” Num outro depoimento.” Talvez “sumir do mapa” seja o mais correto No seguinte depoimento. No dia de meu . em mim.256 Khristian Paterhan C. Assim que melhorei. mesmos os mais próximos”. fui ao toalete e retoquei a maquiagem. Encontrei uma sala vazia. inventei uma desculpa mirabolante para me retirar. Fiquei perita em inventar justificativas para me ausentar das festas. além de reconhecer sua “tendência ao isolamento” e de sentir-se “frequentemente desligado das pessoas e sem nenhum interesse pelos seus semelhantes. saí disfarçadamente. Fui tomado de um sentimento de ridículo.” Temos aqui uma prova contundente da definição de racionalização enunciada por Allport. vergonha. Observo . Logo percebi a movimentação da véspera e desconfiei de algo no ar. e não consigo alcançar os outros. no dia da festa. o que falar!’ Então. Mas acho difícil chegar até os outros. assisti a filmes que gostaria de ver e tentei esquecer o que se passava. Isto me entristece. ou não poder “alcançar os outros”. não havia me preparado com antecedência para isso. ‘sumi do mapa’. como agir. além de enfrentar uma situação inesperada. Fiquei desesperado ao imaginar: ‘uma festa para mim!. Analisei tudo e na época ainda ‘pintou’ um certo convencimento de que havia atuado corretamente. de alguma forma consegui me distrair. é muita exposição. fugi para bem longe.. ‘a baixa autoestima’ apareceu e me levou ‘pro fundo do poço’. existem pessoas que não gostaria de encontrar.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 257 aniversário. fazendo o que gostaria de fazer. pode se tornar uma causa de profunda tristeza: “Sinto muita solidão e sei também que é porque me isolo. porém ainda continuava ansioso. A tristeza de não poder sentir para não sofrer a tristeza de sentir A percepção de não ser capaz de estabelecer relações e de não poder “chegar até os outros”. ele e outros colegas de serviço planejaram uma festa surpresa para mim. Passei meu aniversário longe. gostaria de ser diferente. fiquei indignado por não ter sido cancelada a festa sem a presença da principal figura: eu. o que iriam pensar de mim? Havia pessoas que eu gostava e não queria magoá-las. Que situação!! Não sabia o que fazer. então resolvi voltar. Já era bem tarde da noite e ao chegar percebi que a festa ainda não havia terminado. em suma. entrei no apartamento e me tranquei no meu quarto. o aniversariante.. Após esperar que o último convidado saísse. Por isto tenho poucos amigos. . não sinto. como confiar novamente?” O perigo lógico desta racionalização é provocar uma limitação na visão dos relacionamentos. Esta confiança cresce muito lentamente. Estou sempre sondando para ver se descubro alguma coisa.” Uma boa desculpa: “antes só do que mal-acompanhado” Quando alguns Tipos 5 decidem que só terão poucos amigos uma nova racionalização virá à tona: “Antes só do que mal-acompanhado. é preciso que a pessoa tenha requisitos para poder passar pela portinha estreita das minhas exigências. me mostrar. Para que este espaço vazio diminua. Fico observando mais ou menos desconfiado. Não só não elimina a possibilidade de ser decepcionada (o). minha privacidade. sem necessidade de terem sido catalogados como confiáveis. Se me decepciono. sem terem passado no teste. demais as pessoas e crio um espaço vazio para mantê-las a distância. não tenho confiança em mim mesma.. pois necessito de segurança. me afasto e não quero mais ter contato. . Nesta hora me sinto capaz de desvendar estes mistérios. aqueles com os quais posso me abrir. Gosto de ter meu espaço próprio. Não quero sentir a dor da decepção novamente. me envolver e depois sentir a dor de uma decepção. Observo para obter confiança.258 Khristian Paterhan C. mas na maioria das vezes não acredito na minha capacidade.Antes só do que mal-acompanhado. como também limita suas possibilidades de conhecer pessoas que. porque já ganharam minha confiança (passaram no teste). Não me envolvo.” Vamos considerar o depoimento de uma aluna 5 a respeito: “. A pior coisa que pode acontecer é uma grande decepção com um amigo. Tenho medo de sentir. poderiam oferecer momentos agradáveis e descobertas preciosas. onde estou bem comigo mesma e recebo os poucos amigos íntimos. é como se algo ficasse irreversível. Tipos 5 se correspondem com o tipo de pensamento introvertido de Jung.. jamais pelo seu próprio valor. como agirei nessa festa?. as armadilhas que separam os Tipos 5 da realidade A dificuldade de relacionar-se com os outros frequentemente se reflete na dificuldade de relacionar-se consigo mesmo. e na descrição que faz deste tipo. certamente. este estado de constante julgamento.” No seu depoimento um dos alunos já citados nos revela. que é necessário pensar o que se passa neles quando expostos a confrontos ou escolhas. qual o melhor comportamento nessa inevitável reunião? É preciso respostas.. ainda que com frequência ao introvertido lhe agradaria fazer com que seu pensamento parecesse assim. O medo de errar ou de estar se manifestando equivocadamente é um motivo de grande atrito interno. que devo dizer?. suposição e autocrítica interna e como o fato de enfrentar uma situação imprevista lhe provoca um forte movimento contra a seta ao Ponto 8: .Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 259 Mentalizando a existência: pensando e supondo demais.) Não conduz de uma experiência concreta de volta ao objeto. Os fatos externos não são o objetivo e a origem do pensamento.) Os fatos são reunidos como evidência de uma teoria. Alguns Tipos 5 declaram que precisam ter clareza de seus sentimentos. mas sempre ao conteúdo subjetivo. em curtas frases. O Tipo 5 e o tipo de pensamento introvertido de Jung Logicamente. temos que ter em conta o conceito nuclear de “consideração interna” (Ponto 6 do Eneagrama) de Gurdjieff para compreendê-la em toda a sua extensão. (O pensamento) começa com o sujeito e conduz de volta ao sujeito (. por que realizar isto?. o que é que aconteceu exatamente hoje?. julgando-se demais. Antecipadas.. O autojulgamento é forte e se manifesta como uma espécie de questionamento que deverá ter respostas adequadas: Por que fiz aquilo?. Jung escreve: “O pensamento introvertido está fundamentalmente orientado pelo fator subjetivo (.. ” Há também os que concluem que: “Às vezes.260 Khristian Paterhan C. O pensamento substitui a ação. saber quem irá a tal reunião. tornar real alguma coisa.. a angústia. Frequentemente fico em estado de confusão e tomo as decisões erradas... “Muitas vezes. sondo o ambiente. tirando a naturalidade”. isto é..” Para alguns Tipos 5. Ao analisar seu tipo. Esse medo talvez me leve à hesitação na tomada de decisões e a ter grande dificuldade em fazer. ao mesmo tempo em que a percepção . Noêmia descobre como a influência do Ponto 6 gera nela dois processos indesejáveis: “. deslealdade. Por isso adoto a prudência. Mas as coisas nunca acontecem como a gente pensa.. São o medo e a racionalização tomando conta do mundo interno. gosto de me organizar para cursos. ensaiar mentalmente qual a resposta a ser dada em caso de uma pergunta constrangedora. Tenho a sensação de que algo atua dentro de mim e me perturba mental e emocionalmente. temor da hostilidade. Gostaria de me limpar internamente. temor de situações na qual não exista uma linha preestabelecida de comportamento. tenho a necessidade de saber o que pode acontecer (fazer uma elaboração mental de tudo) para planejar o que fazer ou falar. me previno. estou sempre com um pé atrás.imagino com maior frequência o que de ruim poderá acontecer e dedico pouca atenção e imaginação às coisas boas que porventura pudessem ocorrer. mesmo quando eles não são agradáveis. talvez pelo medo de errar. por insegurança. Uma aluna nos revela: “Desejo sempre saber de antemão o que está por acontecer. gosto da previsibilidade. a aflição do que poderá ocorrer..” Como muito bem o resumem duas alunas: “O intelectual controla as emoções. ter clareza de meus sentimentos e pensamentos. o conhecimento do Eneagrama permite compreender a razão destes processos mentais negativos. quando alguém me propõe fazer alguma coisa tenho necessidade de pensar sobre a proposta antes de decidir.” O fato de ter que “explicar” e “mentalizar” tudo o que se passa é uma das causas deste constante autojulgamento e autocrítica. Junto com o medo vem a ansiedade. em algumas situações me irrito com a indecisão. “perigosos”. de um sorriso ou de uma atenção especial. observando e imaginando muita coisa..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 261 clara de estar se ocultando “atrás de atitudes preparadas” acusa internamente que “falta a espontaneidade”. me isola. estou constantemente analisando. Quando tenho algum evento. “medíocres”. Até conhecer a si mesmo pode se transformar numa nova desculpa para ficar “acima” dos outros e do “medíocre” (lembro aqui a ideia de H. Deve-se observar mais que viver. sem dar chance que o outro mostre seu verdadeiro valor. Palmer de identificar o ego dos Tipos 5 como numa espécie de castelo no topo do qual e por meio de pequenas janelas observa ao redor e se esconde dos outros). e essa necessidade me faz querer descobrir o que se encontra por baixo de uma gentileza. adquirir conhecimentos. Quando permito a aproximação. não me limitando a um cotidiano medíocre. com tanto detalhe que fico cansada. preparada. os momentos e relacionamentos correm o risco de parecer “difíceis”. isso me distancia das pessoas. sou bastante observadora. a realidade.. na verdade. para sentir-me aprimorada. percebo o quanto fui parcial no meu julgamento. Além do mais. Enfim. Esta atitude interna reforça a ideia de que é necessário tomar cuidado com os outros e que é justo desconfiar. Vejamos mais este depoimento (Tipo 5 com influência do Ponto 4): “Quero aprender um pouco de tudo. então. perante aquilo que foi mentalizado e suposto. como se eu me colocasse numa posição superior. buscar algo elevado na vida. É a dificuldade de mostrar os sentimentos e emoções o que.. das experiências. de forma preconceituosa. julgo saber o que é melhor para mim e para os outros. Em parte do seu depoimento outra aluna confessa: “Quero estar sempre prevenida. Às vezes. de caráter puramente intelectual. Crítica. etc. e sei que a sabedoria maior está em conhecer a si mesmo e perceber o que está além das palavras e dos atos.. a existência.” Quando a mentalização constante da realidade e a suposição nos separam da existência real.” . dias antes planejo tudo. Mais bandeira do que isso.262 Khristian Paterhan C. Mentalmente aquelas “invasões” vividas na infância “gatilham” a sensação da possível perda devida ao compartilhar inesperado ou da obrigatoriedade de compartilhar algo que não se deseja compartilhar. revela de maneira flagrante o estado emocional que provoca a chegada de alguém não esperado. . impossível. Para um dos nossos alunos. quando se refere ao ato de “respeitar a privacidade dos outros”. Aos 15 anos. o encontro indesejado. essa possibilidade de ter que viver relacionamentos não desejados implicava uma sensação de opressão. ou não sou um 5?” A palavra invasão é resultado da suposição de que todo encontro com os outros é comprometedor.” Uma outra aluna (Tipo 5 com influência do Ponto 4) lembra no seu depoimento o seguinte: “Não vejo com frequência os meus amigos e parentes. Ante esta possível invasão. Sou. a conversa que não se quer. agressivo e perigoso. apesar de serem pessoas muito queridas. escrevi e nunca esqueci: Os meus olhos são portas fechadas De um imenso casarão Que logo se armam Contra uma possível invasão. respeito seus limites assim como quero ser respeitada. A mesma aluna diz em outra parte de seu depoimento: “Também não costumo invadir os outros. pode acarretar compromisso futuro e término não desejado da segurança que a privacidade outorga. O termo “invadir”. no auge do sofrimento adolescente. A perigosa invasão: um exemplo de mentalização negativa As racionalizações tomam variadas formas. Tipos 5 reclamam assim: “Não gosto de me comprometer com os outros pois isso gera uma obrigação que vai perturbar minha paz” ou “não gosto que haja problemas à minha volta”. durante uma crise existencial. Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 263 Escrever é melhor que falar o que sinto: outro exemplo Quando Tipos 5 têm que enfrentar situações imprevistas, sentem-se desorientados. A razão é simples: o fato de não ter tempo para pensar no assunto, para calcular seus possíveis resultados, para responder de acordo ao que consideram necessário, ou seja, não ter tido a possibilidade de mentalizar, de se preparar, etc. lhes provoca uma reação de tremenda vulnerabilidade: o risco de ser “invadido”, de ser surpreendido, comprometido, obrigado, é maior. Um dos alunos já citados confessa que “muitas vezes, quando me propõem fazer alguma coisa, tenho necessidade de pensar sobre a proposta antes de decidir, em algumas ocasiões me irrito com a indecisão”, depois repete: “fico irritado em algumas situações em que me cobram uma decisão”, acrescentando que “procuro me prevenir para não ter problemas....” Conheci um Tipo 5 que enquanto discutia qualquer assunto comigo jamais conseguia externar o que estava sentindo. Após alguns dias, eu encontrava na minha caixa postal uma carta em que ele fazia uma extensa análise do problema, deixando claro, inclusive, que aspectos da nossa discussão ele gostara ou não. Muitas vezes, nessas cartas, ele desabafava como nunca fizera cara a cara, e eu compreendia sua atitude. No próximo encontro eu, propositadamente, não falava sobre essa carta, nem ele, logicamente. A necessidade de pensar a realidade é significativamente mais importante que resolver questões reais. Se o assunto pode ser resolvido mentalmente, é como se não existisse necessidade da experiência real. Escrever se torna, então, uma espécie de “realidade virtual” na qual até conflitos podem ser de algum modo resolvidos, como se depreende do depoimento: “De outra feita, a dona da creche onde minha filha ficava criou uma questão comigo. Fracassei em todas as tentativas de diálogo. Fui tremendamente humilhada. Levei o caso para a Justiça e ganhei a causa. Durante todo o processo não mostrei nenhuma reação emocional. Mas depois de resolvida a questão, escrevi várias cartas para ela (que 264 Khristian Paterhan C. jamais enviei). Sempre que a lembrança do caso me trazia muita raiva, eu escrevia cartas para ela e quando tudo passou eu as joguei fora. Frequentemente procedo dessa forma.” Vamos ficar por aqui com as análises dos desdobramentos do Traço Principal. Há muito mais, claro, mas acho necessário que você (epa! quase escrevo “que você pense”) se atreva a viver e sentir essa imprevisibilidade da existência... Tá legal, concordo com você: às vezes é bom planejar, mas, só às vezes. Iniciando o processo de mudanças positivas; observando o negativo dos Pontos 4 e 6: que influências! Os Pontos 4 e 6 deverão ser observados com máxima atenção. Quando negativa, a influência do Ponto 4 leva Tipos 5 a estados de tremenda “mágoa”, que se expressam em uma espécie de denúncia constante, doentia e veemente das injustiças, erros e falta de consideração para com ele e que justificam seu distanciamento, isolamento e solidão. Não apenas os outros não parecem compreendê-lo, como também se cria uma série de pseudorrazões (racionalizações) para demonstrar a si mesmo que não é ele o culpado pelo isolamento e sim os outros. Já o Ponto 6, com sua influência, permite projeções tão perigosas que parece que nada do que existe é confiável. É como se, dentro de você, dois seres diferentes falassem constantemente: “Você nunca será compreendido pelos outros, devido à sua especial visão da realidade (4), então fique sempre com um pé atrás, você pode estar em perigo sem saber onde ele se oculta (6).” Um dos exemplos mais marcantes da influência negativa dos pontos 4 e 6 que já analisei foi: certa vez, um tipo 5, “quase paranoico”, quis atingir uma instituição da qual fora expulso por diversas e justas razões. Para isto, enviou um panfleto calunioso e muito extenso em nome de uma outra instituição internacional a membros da organização da qual fora afastado com o objetivo de desmoralizá-la perante seus líderes e diretores. Este sujeito, em cuja “presença geral”, como diria Gurdjieff, se tinham cristalizado os piores aspectos do seu Traço Principal, revelava Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 265 nesta carta uma influência do Ponto 4 Eneagramático, por meio de frases com as quais tentava demonstrar que não fora expulso e sim que decidira retirar-se voluntariamente em razão de pretensas “contradições”, de cunho “intelectual”, claro, disfarçando com diversos argumentos sua tremenda mágoa e desejo de vingança (movimento contra a seta ao Ponto 8 do Eneagrama) por ter sido afastado. Por outro lado, sua imaginação descontrolada (veja as características do Tipo 6) o levava a denunciar supostas “razões ocultas” (ele fazia isto em forma de perguntas que se iniciavam com a frase “qual será a razão oculta de...” isto ou aquilo) para diversas situações irreais que ele achava que devia “questionar”, como um modo de fortalecer suas críticas e provocar dúvidas nos integrantes da instituição ora atacada, em relação à idoneidade dos seus trabalhos. Somando à sua tremenda paranoia uma manifestação tipicamente contrafóbica (novamente uma clara expressão do Ponto 6, núcleo do “Medo” no Eneagrama), tentou ocultar o seu tremendo temor às possíveis e justas reações, botando embaixo da sua assinatura uma frase de efeito com a qual pretendia chamar a atenção sobre sua imaginária “coragem”. Por se sentir “protegido” (aqui temos um exemplo prático dessa falsa ideia de segurança que alguns Tipos 6 sentem quando são partes de um grupo ou organização que lhes agrada) pela organização que dizia representar, além de questionar a autoridade da instituição que lhe solicitara uma “renúncia voluntária” para não prejudicá-lo publicamente em relação ao seus trabalhos, decidiu desautorizar e criticar maldosamente seus líderes e diretores. Logicamente, após ser denunciada a sua conduta à instituição por ele invocada, o desafortunado autor dessa carta foi desautorizado totalmente além de ter-lhe sido solicitado que se desculpasse publicamente com a organização atacada, o que, até hoje, claro, nunca fez. Este caso mostra com muita crueza o que pode acontecer com um Tipo 5 quando “atacado” pelos aspectos mais sombrios de seus parceiros eneagramáticos. É importante observar como eles podem acabar aumentando seu “isolamento” da realidade tal qual ela é. Tente observar quando essas influências se tornam fatores de isolamento ou afastamento dos outros 266 Khristian Paterhan C. que no final são ou deveriam ser seus próximos. Não deixe que os perigos imaginários lhe provoquem a incapaci­ dade de ver claramente todo o bem que, com certeza, está a seu redor. Aproveite as influências positivas dos Pontos 4 e 6 – (ver figura na página 334) Quando positiva, a influência do Ponto 4 (Equanimidade) permite uma aceitação da realidade como algo “presente e concreto”, ou seja, uma percepção de que entre essa “presença” da realidade e você não pode existir algo mais: o que está acontecendo é real naquele instante e você deve estar ali e não no mundo mental que você tanto defende. Esse estar presente lhe dá a oportunidade ímpar de se abrir ao que está acontecendo, de não se poupar da experiência desse instante precioso no qual o passado e o futuro começam. Não pode se fechar diante desse “contato”. Ele se torna uma tremenda oportunidade de existir. Nesse instante não tem nada por acontecer. A coragem de sentir esse momento tal qual ele é, será o aspecto positivo da influência do Ponto 6. A imaginação negativa é detida. A suposição é detida. A ousadia e a coragem de viver o inesperado implícito ou explícito nesse “presente” acontecem. Você aceita o imprevisto e simplesmente está ali, vivenciando-o fora do castelo. Sugiro a leitura dos Tipos 4 e 6 para você aprofundar sua análise pessoal. Observando os movimentos do 5 ao 7 e do 5 ao 8 – (ver figura na página 334) O que permite uma observação mais apurada do quinto Traço Principal e suas “armadilhas” é a consideração dos movimentos do Ponto 5 para o 7 (a favor da seta) e para o 8 (contra a seta). No movimento para o 7, o desejo de ser livre e de não depender encontra seu “reforço”. Também, quando sair do isolamento se torna uma necessidade Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 267 imperiosa, o Ponto 7 influencia com sua parcela de gula. A saída é exagerada, sem limites e nela tudo pode acontecer sem restrições, sendo que essas escapadas, às vezes, são planejadas em todos os seus detalhes. O positivo deste movimento ao 7 se dá quando, compreendido o desapego, Tipos 5 conseguem sentir “equilíbrio” entre mundo interno e externo, quando conseguem ser espontâneos, autênticos e curtem a vida relaxadamente. No movimento contra a seta ao 8, duas questões deverão ser observadas. A primeira é a hostilidade para consigo mesmo (acusar-se internamente) e a desconfiança e sensação de perigo que provocam determinadas pessoas e eventos. Essa desconfiança não é apenas “medo de”; é também um preparar-se para um possível ataque ou desapontamento vindo do exterior. A agressividade e a luxúria do 8 se apresentam aqui como a procura de todas as defesas imagináveis que possam ser colocadas entre a realidade e o “meu mundo”; é preciso estar preparado. É o estado de sentir o isolamento como proteção contra os eventuais “perigos” e “inimigos” externos. No positivo, o movimento contra a seta do 8 resulta na capacidade de sentir e vivenciar momentos e experiências de uma forma “instintiva”, ficando sem defesas mentais, sentindo o “sabor da vida” sem prejulgamentos nem preconceitos. O movimento para o 8 também é uma forma de contrariar, positivamente falando, a excessiva teorização, o que diminui esse planejamento minucioso que muitas vezes impede a ação real (Influência do movimento do 7). Peço para você ler os Tipos 7 e 8, a fim de conhecer detalhes da dinâmica do seu mundo interno em relação a este ponto. Contatando a realidade tal qual ela é O processo de mudanças positivas inicia quando o contato com a realidade é total. Não se pede para parar de pensar, nem para se deter os processos intelectuais. O que se pede é que consiga sentir. O conhecimento real é o conhecimento fruto de sentir a vida a realidade “tal qual como ela é”, segundo dizia meu Mestre. É necessário aprender a linguagem “natural” do corpo, do sentimento, do instinto e dar-se conta que 268 Khristian Paterhan C. essa é uma linguagem que, quando intelectualizada demais, não se pode compreender. Como diz Gurdjieff, o risco é ter apenas “informação”, que se tornará inútil com o passar do tempo, porque não foi transformada em “vivência” ou nunca esteve “ligada” a uma vivência. O “saber real” incorpora todos os aspectos incluídos no ato de conhecer, aspectos que muitas vezes não poderão ser mensurados, calculados ou previstos. Existe um conhecimento que supera o conhecimento intelectual, não porque o elimine ou porque esteja acima ou “antes” do ato de conhecer, mas porque integra e conhece as outras formas e linguagens do processo de aprendizado. Nossos centros são três e não apenas um, somos criaturas tricerebrais e, sendo assim, não podemos apenas intelectualizar a vida. Osho ensinava: “A vida não é apenas racional. Pelo contrário, a maior parte da vida é irracional. A razão é apenas uma pequena ilha iluminada no vasto, escuro e misterioso mar da irracionalidade.” O grande desafio para você é iniciar um contato “sem interferências mentais” com a vida, as pessoas, os momentos e as experiências. Experimente chegar a um encontro sem se preparar e observe o que acontece. Deixe que os momentos aconteçam, sinta o sabor do imprevisto e perceba que nem sempre o imprevisto será algo ruim ou indesejado. Tente curtir situações “não pensadas”. Observe-se nelas sem julgar-se, sem querer ter controle. Vá a uma festa, internamente livre, e dance e sinta o gosto do movimento. Terapias corporais, trabalhos grupais e dinâmicas que impliquem a autodescoberta por meio de sensações, movimentos, danças e exteriorização de emoções e sentimentos poderão ajudar a resgatar esse contato real com a vida. Talvez nada demais possa acontecer ou tudo pode acontecer. Isso não importa. O que importa é que você “vive” aquele instante e não apenas o “pensa”. Não existe julgamento, nem plano, nem perigo. Atreve?... Pô! Já começou a pensar de novo! (Estou brincando.) Quando se consegue viver dessa maneira, é possível caminhar em direção ao que Gurdjieff chama de “a razão da compreensão”. Com palavras não conseguirá passar a você tudo o que isto significa para mim, até porque isso não é importante... Apenas saia um dia sem planos do seu castelo e, por exemplo, tente sentir um abraço, mergulhe nele e não se importe como o está fazendo, nem pense o que acontecerá sempre está aqui e quando compartilhado aumenta. Nem muito aberto. é preciso coragem. Talvez a chave para o desenvolvimento harmonioso dos Tipos 5 esteja na virtude a ser resgatada. Nada de exageros. Seu sinônimo cristão chama-se contentamento. que abrir-se não é ficar nu ou vulnerável e sim receptivo e acolhedor. Desapego implica. Reparou? Este conselho também não serve. a Equanimidade precisa ser compreendida. No desapego não existe temor de perder. não criar inimigos imaginários.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 269 depois. não diminui. Não vou me . que compartilhar não é deixar de ter. Desapego não é sofrer quando chega o momento de dar. Sim. Não existe qualquer coisa a ser esperada. Desapego implica abrir-se sem temores. Desapego é parar de pensar que algo pode ser perdido. Desapego é compreender que solidão não é isolamento. é descobrir que não precisa dar demais. Desapegarse não deve ser um exagero. O desapego é uma espécie de certeza de que o que se possui verdadeiramente nunca se perde. nem muito pé-atrás. Desapego é perceber que você nega a você vivências e satisfações que poderiam ser uma porta para sentir a vida real. você talvez consiga “sentir” quanto esconde esta palavra após a breve análise do Traço Principal e algumas de suas manifestações. O desapego é a compreensão de que muito da vida apenas acontece e que nem tudo pode ser controlado. para abrir-se e desapegar-se. nem muito generoso. No desapego nada se espera. não acautelar-se demais. em primeiro lugar. para contrariar qualquer das formas em que se manifesta sua avareza. As virtudes que acompanham o desapego são a coragem (Ponto 6) e a Equanimidade (Ponto 4). O desapego: a virtude de ficar entregue A esta altura. etc.. nem algo a proteger. Desapego é uma das virtudes principais na doutrina budista. Não supor demais. porque foi pensado. nem muito fechado.. que algo pode ser tirado de você. disposto (a) a viver a realidade tal qual ela é. “desprender-se” dessas defesas e preconceitos que o levam a sentir o contato com os outros como ameaçador. O desapego é a renúncia a mentalizar a existência e a decisão de vivê-la plenamente. à mera “intelectualização” da realidade. sem vivências reais) . vão ao extremo e vivem experiências “radicais” (movimento ao Ponto 7). nem num ir e vir nos extremos de dar ou reter. Pelo contrário. Uma reflexão necessária: a diferença entre conhecimento vivo e conhecimento morto Viver plenamente a existência significa obter o privilégio de conhecer um tipo de sabedoria e de conhecimento que não se esgotam jamais. estender nisto e peço para você refletir. parece que tenho pressa em me livrar da possibilidade de sentir vergonha. tudo que consegui com sacrifício durante meses. Esta atitude me provoca uma profunda vergonha. como se o fato de as dar me transformasse em um miserável paupérrimo. o sábio personagem principal ensina a seu neto Jassin a diferença entre o “conhecimento morto” (“saber comum”. em minutos. nos transformamos em seres capazes de “revitalizar” o saber. apenas para sentir que são capazes de viver determinadas experiências. não renunciamos ao saber.” Com muita frequência Tipos 5 se comportam de maneira semelhante no plano sentimental. No seguinte depoimento. Fechados demais. sentem-se incapazes de qualquer contato e se culpam por não conseguir se abrir com alguém. tudo com a maior facilidade. Quando renunciamos ao “conhecimento morto”. sem compreensão verdadeira ou apenas intelectual. está explícita a forma errada de interpretar o desapego a nível material: “Às vezes entrego. livro de Gurdjieff (ainda não traduzido ao português). em outro momento. recusando-me a dispensar pequenas coisas. então. nem sentimento de culpa. Acho que é para não sentir esta vergonha que entrego.270 Khristian Paterhan C. No desapego não existe angústia. Em outras ocasiões me conduzo de uma maneira mesquinha. Nos Relatos de Belzebu a seu neto. O importante aqui é compreender que superar a avareza em qualquer de suas expressões não implica uma violenta expressão contrária. Nada disso é desapego. nem temor. Quaisquer que sejam as mudanças de um ser e os resultados que geram a contemplação “eseral” (do ser.. a ‘razão do saber’. serem ‘refrescadas’ e ‘repetidas’.. fruto da compreensão e da vivência graças ao trabalho conjunto de sensação-emoção e pensamento).. pois na falta desta condição.. de uma forma mais precisa. Por isso. todos os novos dados percebidos e fixados neles desta maneira não contêm nenhum valor com respeito ao aproveitamento que eles poderiam tirar (desses dados) para sua existência futura. considero necessário lhe dizer. meu filho.. na presença dos seres tricerebrais que tão-somente possuem a ‘razão do saber’. Porém. para que compreenda melhor aquilo que estou lhe falando no momento... essas impressões anteriores se ‘evaporam’ para sempre da presença destes seres tricerebrais.” Belzebu agrega mais na frente: “. não fazem parte do ser senão apenas de maneira temporal..” . a qual possuíam os seres terrestres de épocas passadas.. Eis aqui a razão pela qual. com o ser e para o ser) do conjunto das informações anteriormente percebidas por essa mesma razão. como o ser humano) que povoam os demais planetas do nosso Megalocosmos. toda nova impressão que ela percebe..) toda informação percebida por essa razão transforma-se para sempre em parte indivisível deles mesmos. habitual na maioria dos teus favoritos (os seres humanos) contemporâneos. não podem aparecer neles senão em certas circunstâncias e ainda. sob a condição daquelas informações nas quais se alicerçam. e todo resultado intencional ou simplesmente automático das impressões anteriores. a diferença (. sempre formarão parte da sua essência. então. razão consciente própria de todos os seres tricerebrais (de três centros.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 271 e o “conhecimento vivo” (o “saber real”. da qual eles não tomam cons­ ciência alguma com o seu ser. tudo quanto acabam de aprender deposita-se e fica para sempre num estado de simples informação. mais uma vez. com as seguintes palavras: “Agora. vez por outra.) A ‘razão da compreensão’.) entre o ‘saber’ e a ‘compreensão’(. é algo que se funde com a presença geral (. paradoxalmente. Finalmente não esqueça a lição que esconde a historinha do geógrafo no Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry Quando “fechados” em nossos pensamentos. como.” Compreende a mensagem? Deixe “sua escrivaninha” do Centro Intelectual e torne-se um “explorador”..) O geógrafo é muito importante para estar passeando. o qual explicava que ele fazia seus mapas apenas segundo os relatos que os viajantes lhe traziam. no pior dos casos.. corremos o risco de acabar igual ao geógrafo do Pequeno Príncipe.) mas não sou explorador (. as montanhas.).. perdemos contato com a existência real e a interpretamos segundo nossas paixões. porém o teórico geógrafo responde a todas elas dizendo: “Como hei de saber?” O pequeno príncipe lhe diz. “paranoicas”). (. rios e cidades que existem nele.272 Khristian Paterhan C. Não deixa um instante a escrivaninha (.. temores e defesas “mentais” (e. o reconhece o próprio geógrafo dessa bela e sabia historinha: “Há uma falta absoluta de exploradores.” . sem nunca constatar in loco se eles eram verdadeiros ou falsos. O principezinho olhando o belo planeta do geógrafo lhe faz perguntas sobre o oceano. até porque.. surpreso: “Mas o senhor é geógrafo!” A desculpa do geógrafo é: “É claro.. ” .O Tipo 6 O eu que imagina O mestre Gurdjieff diz: “O homem. mas... às mesmas coisas desagradáveis que imagina. é o medo de situações embaraçosas. que voltam e tornam a voltar em relação ao mesmo objeto. As pessoas deixam de ver e ouvir o que realmente acontece.) As pessoas não suspeitam até que ponto estão em poder do medo. Às vezes o medo se torna quase uma obsessão maníaca. se alguém conseguir provar a elas. o medo do que o outro pode pensar. elas chegam a sentir certa decepção. Esses pressentimentos de aborrecimentos. às vezes. situações embaraçosas.. de fato não podem ocorrer.. e. num caso preciso. que seus pressentimentos e medos são infundados. perdas. e que não apenas não ocorrerão. se apoderam muitas vezes de um homem a tal ponto que assumem a forma de sonhos despertos. como se tivessem sido frustradas de uma perspectiva agradável (. Na maioria dos casos. se perde em pensamentos obsessivos. Esse medo não é fácil de definir. doença.) O medo inconsciente é um aspecto muito característico do sono (. aperto o seu punho e ela se transforma em bengala branca. o medo. E isto me . medo do desconhecido – medo de sentir medo.. profundo. Em caso de ataque. Como eu admiro os corajosos! E como eu tenho.. Então vêm me socorrer!!!” ou “Embora eu não tenha medo da morte. Tinha pavor de avião. medo de ir – medo de ficar. medo. um grande exemplo de um típico Tipo 6! Woody Allen é genial na forma de expresar seus medos! No livro Pequeno tratado das grandes virtudes. lembra algumas frases deste grande diretor do cinema americano. por medo e preguiça (movimento ao 9). Medo: o traço principal. desprezado os covardes. confessado de modos engraçados: “Sempre trago uma espada comigo para me defender. durante toda a minha vida. medo do sucesso – medo do fracasso. Nunca havia saído do Brasil. Eu dizia também que só iria entrar em um avião se me dopassem antes e.” ou ainda: “A única coisa que lamento é não ser outra pessoa.. um medo visceral.. ou como uma espada pode virar uma bengala branca.. sem dúvida. que revelam com clareza seu Traço Principal. medo. o professor de filosofia francês André Comte-Sponville. Medo. prefiro estar longe quando ela acontecer. Medo de ser feliz – medo de ser infeliz. não poderia acordar durante a viagem (teria que ser uma dose alta). com o estudo do Eneagrama.274 Khristian Paterhan C. com o qual iniciaremos a análise deste Tipo Eneagramático: “Medo. mas dizia: ‘Só quando construírem uma ponte entre a América do Sul e a Europa para eu ir de carro’. Chega! Não quero mais!!! Exemplo: Adoro viajar. mas viajei muito pouco na vida. no capítulo sobre o humor. Eu tinha muita vontade de ir a Portugal e à França. babaca! Como eu gostaria de não tê-lo. segundo Woody Allen O consagrado diretor de cinema Woody Allen é.. deprimente... conhecer o restante da minha família..” Esta última frase poderia resumir o depoimento de uma das minhas alunas Tipo 6. Até perceber que eu também tenho sido um deles. covarde. mas quero me curar. (Esta percepção ocorreu agora. medo de me expor – medo de me isolar.) Isso gera um problema de autoestima – não quero me desprezar por isto. medo da convivência – medo da solidão. mesmo assim.. Eureca!!!: não doeu. irracionais ou histéricas). ou eles se protegem desses perigos evitando o contato com a realidade (Influência do Ponto 5.. sem esperar que a lona esteja pronta (reações contrafóbicas. melhorei em relação aos medos. Muito pelo contrário. será que não é melhor jogar frescobol?!) Por meio da imaginação. li um desses interessantes e bem-humorados artigos do conhecido escritor e jornalista Millôr Fernandes no qual lembrava as “paradas” que topou como opositor da ditadura militar. como veremos agora: Ambivalência: extrema covardia ou extrema ousadia (no fim ainda o medo. reais ou imaginários. era tão simples! Por que eu não fui das outras duas vezes que meus pais haviam ido?! Quanto tempo perdido! Quanta bobagem! Quero mudar. Mas ainda há muito a trabalhar. Acho que o seguinte caso reflete bem essa ambivalência com que a realidade é enfrentada por um Tipo 6. ele escreve: . depois disso. porém profundo. tudo bem.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 275 impedia de concretizar um sonho lindo. Então. não dormi nada na noite anterior à viagem. fiquei muito tensa.. Puxa... nada de mal aconteceu.!” Quando a aluna escreve esta frase final. Engraçado. mas fui (com meus pais) peguei quatro aviões e. E acabara negando para todos e até para mim mesma que queria ir. Eu até evitava pensar nisso para não sofrer com meus limites enormes.. mesmo sem pegar em armas como os mais radicais fizeram. mas com esse ato confirma seu Tipo. que poderiam sofrer repentinamente. sentimentos de insegurança e inferioridade) ou os enfrentam com a urgência cega de quem pula apavorado da janela do sétimo andar (se imaginou um outro andar mais alto. adorei a viagem e noto que. quando me decidi. o intelecto dos Tipos 6 lhes adverte sobre possíveis perigos. já que o trabalho de descrever como se manifestava sua Máscara tinha como requisito ser anônimo.. Então. está se referindo ao fato de que vai revelar seu nome (o que faz) como uma maneira de contrariar sua personalidade. não? Sim. é só um modo de expressão) de um prédio em chamas. não morri. Certa vez.. vou começar por me expor.. Na parte final. No ano passado. e pede “correção monetária” por tudo o que topou na época. os atos contrafóbicos – aqueles nos quais foram obrigados a atuar com aparente coragem apesar de seus medos – quando lembrados. que pode levar a atitudes e condutas extremas.” Enfim. deve provocar nele algumas “longas pausas”. não estou criticando os que se mandaram. Medo é medo – quem tem orifício anal sabe disso. ele não quer ser nem perdedor. “. naquele mesmo dia na sua página. medo de ficar.) Mas teve gente que se mandou muito cedo. a lembrança das vezes em que este provável Tipo 6 (com forte movimento ao Ponto 9) sentiu seu “orifício anal” reagir diante do medo.. . Bom. Tão lembrados? Estão nada. para ser “contra”. não gosta de autoritarismo e apesar de nunca ter pegado em arma. lembram a típica ambivalência com que Tipos 6 enfrentam a realidade. ou seja. que ele é “um dos inventores do frescobol – o único esporte com espírito esportivo. Meu negócio é acabar com as forças armadas. Para Tipos 6. garotos.. portanto ninguém fica com medo de perder. eu não dei no pé não. ambivalência que os leva a temer tudo. em qualquer caso. como todo Tipo 6 “democrático”. que. Eu sou daqueles que não foram embora. medo de ir. para não deixar dúvidas sobre sua tendência à paz (movimento contra a seta ao 9) escreveu. No hay gobierno? Soy contra también. sentidas pelas “mensagens” do “orifício anal” do jornalista. como confessa o nosso jornalista. medo de me isolar. Até hoje ninguém inventou ganhadores. Nem sei onde é que fica o gatilho de um revólver. medo de ser infeliz. devem provocar as mesmas “longas pausas” que provocaram no nosso “valente” Millôr. Vou apoiar outra força armada? Mas na hora do pega pra capá. certo? As “longas pausas”. Ele não é “valente”. Trinta por cento de correção monetária pelas paradas que topei. “ousa” advertir que “meu negócio é acabar com as forças armadas” . para se expor ou para não se expor. (Longa pausa. nem foram assumidos por valentia. “naqueles dias”. como nos mostrou nossa aluna no depoimento: “Medo de ser feliz. Mas em armas eu não peguei não. Medo de me expor. etc. Ele revela que. correu grandes riscos. Porém esses riscos ele sabe que não foram “inteligentes”. Millôr. consciente ou inconscientemente. nesse jogo”. nem ganhador.” Com certeza. medo do medo. ou. Hay gobierno? Soy contra. Ninguém lembra porra nenhuma.276 Khristian Paterhan C. emoções opostas. Millon. inconstância. vacilam. Tipos 6 procuram. ou. não ter conflitos. então. rejeição ao conflito. Vive”. 244): “A ambivalência dos passivos-agressivos se intromete constantemente na sua vida cotidiana. não ter que escolher. numa atitude insolente atrever-se (custe o que custar e aceitando todas as “longas pausas”) a declarar que quer “acabar com as forças armadas”. amados amigos. ninguém ganha ou perde. foram muitas “longas pausas”! Os filhos do casal ambivalência-medo: indecisão.) Não ter que decidir. Sem dúvida. publicados na obra Disorders of personality (Desordens da personalidade. (Que família!) O Tipo 6 e o tipo de sentimento introvertido de Jung Tudo bem.” Em razão do medo nuclear e desta ambivalência. se são obedientemente dependentes dos demais ou insolentemente resistentes e independentes deles. Talvez pela ambivalência que caracteriza este tipo. movimentando-se primeiro numa direção e logo numa outra. Não podem decidir se aderem aos desejos dos demais como um meio de obter conforto e segurança. atitudes flutuantes. resultando em indecisão. O Tipo 6 corresponde ao tipo junguiano de sentimento introvertido. sem decidir jamais qual ‘fardo’ de palha é melhor. como ele mesmo reconhece. como nosso Millôr. atitudes flutuantes. vamos transcrever aqui os comentários sobre a ambivalência do psicólogo norte-americano T. para descrevê-lo “intelectualmente”: . (“Em volta de mim. esperando passivamente a liderança de outros. se tomar a iniciativa de governar seu mundo ou ficar ociosamente sentados por ali. condutas e emoções opostas e um generalizado devaneio e inconstância. apenas “acabar com as Forças Armadas” (!?). etc. ao qual deverá convencer de que ele não quer ganhadores nem perdedores.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 277 ele apenas quer jogar uma partida de frescobol contra um “time da pesada”. do mesmo modo que o asno proverbial. ou se dirigirem a eles mesmos para estes ganhos. Jung teve dificuldades. 278 Khristian Paterhan C. no final.” Mais adiante repete que sua “incapacidade de conviver com o conflito” é uma “característica forte”.. Outra aluna reconhece: “não gosto de competições e sempre me retiro de ambientes ou cursos ou qualquer atividade onde haja disputa. mas se não tiver jeito eu entro na briga. reconhecida por nossos alunos Tipo 6. Tenho medo de minha agressividade. confessa: “Detesto brigas e desarmonia.)” Nos nossos workshops do Eneagrama. que acabo tomando decisões (que aparecem como atos corajosos). Embora estes aprendizados sejam sempre muitos sofridos (pois me tiram da famosa zona de conforto onde tudo é conhecido e organizado) sinto que faço alguns progressos assim.” O fato de ter que tomar decisões se torna estressante. “É extremamente difícil oferecer uma relação intelectual do processo do sentimento introvertido (. o que acarreta dificuldades de iniciar e terminar qualquer coisa. Isto me faz sair da confusão e fazer alguma coisa. Não quero saber de problemas. mas com muito desgaste. os Tipos 6 às vezes descrevem este “processo” como “uma dificuldade de expor” o que acontece nos seus “mundos internos”. a não aceitar cargos de chefia. onde haveria possibilidade de algum rompimento ou desavença. Acho que sou capaz de matar num momento de muita raiva. Não gosto de lutar”. que inclui a dificuldade de definir quais são os sentimentos relativos a esses momentos. como confessa Sílvio.” Logicamente. e acrescenta: “Às vezes a tensão é tanta.. A ambivalência. é que é possível compreendê-lo em sua intensidade. produz diversas consequê­ ncias. só quando a gente “observa” esse estado “natural” nos Tipos 6. Outra escreve: “O medo de perder as pessoas me leva a evitar qualquer tipo de conflito. uma de nossas alunas. Jane. acabo realizando o que for necessário geralmente de modo bem mais satisfatório do que imaginava. Concordo com Jung.” Ele continua confirmando esse estado de ambivalência e revelando que: “Há uma particularidade no . Em parte do seu depoimento. o medo do que sua raiva pode gerar a faz acrescentar logo em seguida que tem “dificuldade de expressar raiva”. Sendo que. Só quero é ser feliz! Acho que busco a felicidade absoluta! Evito o atrito ao máximo..) embora a peculiar natureza desta classe de sentimento seja muito perceptível quando a gente se dá conta (.. um dos nossos alunos 6: “Não gosto de decidir. desisto porque tem pessoas morando e poderia haver problemas para desocupá-la. inventando desculpas como falta de tempo ou simplesmente de ânimo para agir (movimento para o 9). fico somente selecionando anúncios. achava que somente eu era assim!” A descoberta do Traço Principal é muito chocante sempre. Estas etapas se repetem várias vezes até que eu consiga realizar o que pretendo. para não me sentir rejeitado. o local é ruim. fiquei animada. decidir ou não decidir. mas também com um enorme desgaste. até que paro de procurar.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 279 meu comportamento. Então começaram as dúvidas: será que as pessoas são de confiança? E assim. etc. as melhores maneiras de fazer. Quando este estado de apatia começa a me incomodar. mediante o qual você possa obter os benefícios da fé e da coragem verdadeiras. Voltam as dúvidas e então nada me agrada: quando a casa é boa. Ajusto-me ao mundo (pessoas e situações) para me sentir em segurança. pois fico imaginando as possíveis consequên­ cias. Passam-se alguns dias ou semanas e começo achar que algo precisa ser feito. me deixo levar por opiniões de outras pessoas (volta para o 6). Recomeço a procurar então com mais confiança. sem ir ver as casas. presente ou futuro.” A esta altura. você deve estar pensando: “Incrível. fiz planos e comecei a procurar nos jornais. com mais empenho e disposição. que estou muito parada e que devo começar a agir. qual deveria ser a maneira correta. passo a me movimentar fazendo muitas coisas. sobre si mesmo. provoca o que muitos donos desta máscara chamam a “dificuldade de concretizar” (um típico movimento ao Ponto 9): “Sempre demoro a concretizar algo. A compra de minha casa vem se desenrolando desta maneira. . mas conhecer sua origem levará você a profundas reflexões que facilitarão qualquer trabalho. Começo a protelar e invento desculpas para não fazer as coisas. se me agradam o local e a casa. vendo várias casas durante a semana. aquilo de que tenho medo é justamente o que procuro fazer. Quando decidi comprá-la. adiando o máximo possível. durante o mês (movimento para o 3). Sinto-me dependente porque preciso da aprovação dos outros. A partir daí surgem as dúvidas e o desânimo.” No depoimento de outra aluna Tipo 6 podemos apreciar como esta luta interior entre fazer ou não fazer. preenchendo meu tempo com várias atividades. repreensão. Algumas palavras-chave são: crítica(s). bem-estar. Nos depoimentos de Tipos 6. perigosas. Neles temos palavras-chave que ajudarão você. a) sever (a-as-o-os-idade). Uma aluna nos revela a respeito o seguinte: “Lembro das críticas por parte de meus pais. o. odiosas. ameaça(s). Minha insegurança partiu desta primeira grande decepção.” Crianças Tipo 6 percebem que não se pode confiar nos adultos porque acontecem situações inesperadas e decepcionantes que as fazem sofrer e temer represálias imprevistas e dolorosas. primeiro individualmente e logo mediante terapias ou trabalhos grupais superar seus medos em virtude da constatação dos pontos comuns que lhe indicam como eles possuem origens similares.280 Khristian Paterhan C. a lembrança dos primeiros medos e do modo como estes alterariam o relacionamento com a realidade é frequente e. como Tipo 6. decepção. repulsivas. especialmente meu pai. por aprendizado ou por termos tido uma dolorosa experiência. que não podia admitir uma filha mais forte e corajosa que ele. castig (ar-o) Novamente peço aos pais e responsáveis pela educação das crianças e adolescentes que leiam esta obra para refletir profundamente sobre como surge esta sexta máscara e seu traço principal. às vezes. desconhecidas ou conhecidas. real ou imaginária. conforto e/ou prazer. com situações desagradáveis. a ter elementos de observação que lhe permitam. sempre observando minhas falhas. Certa aluna conta: . Quando criança ele me decepcionou muito. pela percepção de um perigo. Como surgiu o traço principal (Ou quando o que acontece não é o esperado) A que chamamos medo? Habitualmente o medo é a palavra que define uma série de “estados emocionais alterados” provocados por uma ameaça. objetiva ou subjetivamente. autoritari (a-o-ismo). Meu pai é um homem muito autoritário e perde o controle facilmente. confiança e/ou tranquilidade. in­ se­ gur (ança. forte. situações estas que nos fazem perder – temporal ou constantemente – nosso senso de segurança. aos poucos. real ou imaginário ou pela iminente ou súbita possibilidade de enfrentar uma situação que associamos. portanto. minha irmã soube se aproveitar bem dessa situação. quando podem confiar numa autoridade ou quando se coletivizam. e mais uma vez minha irmã. servir-lhe água quando estivesse com sede. Eu tinha medo até do que não era culpada. está alicerçada em parte nesta procura de não cometer erros. e um rapaz encarou-me e disse: ‘Se eu te pegar mais uma vez tocando a campainha da minha casa. quando fazem parte de um “nós”. Eu e minhas amigas do prédio em que morava. Um dia. se sentem menos inseguros quando conhecem as “regras do jogo”. ela ameaçava contar para minha mãe. . avisando-me. que nem pediria. por exemplo. Em razão da ambivalência que os caracteriza. na praia. estava no elevador com minha irmã. ao mesmo tempo em que rejeitam o autoritarismo. então o risco de sofrer o castigo fica “repartido” e. a não ser que eu fizesse algo para ela. porém. um velho me bulinou (graças a Deus saí correndo). de um coletivo. se caracterizam por suas contínuas apreensões. ainda que se sintam apreensivos e temerosos de não poder “cumprir” essas “normas” e/ou “regras do jogo” sempre. Tipos 6 temem o “deslize”. onde nós trabalhamos”. Qualquer traquinagem ingênua que eu aprontasse. Fiquei muito chocada e com medo que meus pais soubessem. ameaçou-me se eu não a obedecesse. Desta forma as possibilidades de “deslize” diminuem. apenas emitiria um som para eu saber que ela estava com sede. Se os erros são cometidos “no departamento. durante um bom tempo.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 281 “Como na minha infância eu tinha muito medo que meus pais me batessem. como afirma Claudio Naranjo. A razão pela qual Tipos 6 sentem-se melhor quando estão trabalhando em grupos.” Errar por medo do erro ou “por que estão me castigando?” Esta última afirmação (“eu tinha medo até do que não era culpada”) é muito importante. como. adorávamos ir de andar em andar apertando a campainha de apartamentos e depois esconder-nos. Mas o que me marcou foi quando um dia. vou te botar nua no elevador!’ Fiquei morta de medo e essa foi mais uma das chantagens da minha irmã. mas as tias.282 Khristian Paterhan C. Assim. Após os cinco anos. fui criado por uma tia (irmã de meu pai). que foi terrível. inclusive para me defender de todas estas ameaças externas. “seremos mais numerosos para nos defendermos das possíveis injustiças”. esta atitude leva os Tipos 6 a ter medo até de “errar por medo do erro”. Tive desde cedo que me virar sozinho. posso ou não fazer. Eles vêm da minha infância e principalmente da adolescência. principalmente com o próximo. o Traço Principal será consequência das primeiras experiências. rebeldes e contestadores”. então. Um aluno lembra: “A partir dos 5 anos. agora. Logicamente. a avó e todos os outros me repreendendo e me castigando.” Naturalmente. ou como diz um aluno: “tenho pavor de errar. sem razão.. Por isso mesmo. essa perda de confiança resulta numa atitude de rejeição ao controle ou obrigação real ou imaginária que um Tipo 6 possa sentir na atitude de outras pessoas. o medo passa a ser constante. inesperado. numa clara reação psicológica que no fundo quer dizer: “Fui injustamente castigado. Até então. Não aceito ser controlada ou obrigada a fazer coisa alguma. Eu não sabia de onde nem quando viriam os castigos e/ ou repreensões.. farei algo . até hoje não aceito quando alguém determina o que vou ou não.” Uma outra causa deste temor ao deslize está no fato de que para muitos Tipos 6 as causas dos castigos e repreensões nunca ficaram claras durante a infância. tive uma mãe muito severa e um pai muito ausente. Mostro meu erro antes que o outro perceba e fale. menos doloroso. Nunca sabia em quem e quando confiar.” Outra grave consequência das experiências injustas vividas na infância e na adolescência é que muitos Tipos 6 se tornam “problemáticos. também com uma criação muito severa. como nos revela este depoimento: “Hoje. portanto. começo também a entender os meus medos. só que aí já não era somente minha mãe. depois de começar a entender o significado de cada máscara. A necessidade de segurança é muito importante. Tipos 6 perdem a confiança nas pessoas e nas situações cotidianas. Esses medos e rejeições ainda hoje estão muito presentes em mim. Novamente. Como o castigo é um ato imprevisto. Desta vez. inicialmente exclusivos dos negros escravos e hoje praticados por negros e brancos que procuram neles força e proteção invisíveis. Eles imaginam que a causa das situações e/ ou vivências inesperadas e negativas possam ser “forças desconhecidas”. Sou bastante desconfiada (advogado do diabo) e sempre me toca aquela dúvida cruel: Será que posso confiar dessa vez ou será que vou quebrar a cara novamente?” Os Tipos 6 decidem que só existe uma pessoa na qual se pode confiar. O inexplicável precisa ser explicado.. As questões ditas “esotéricas” atraem e assustam este Tipo. Só que uma ajuda invisível e poderosa é sempre bem-vinda. com o que vulgarmente chamamos de “mundo oculto”. especialmente no Brasil.. Esta questão é muito interessante. “invisível”. ainda que com medo: eles próprios. “esotérico”. de enfrentar um mundo cheio de imprevistos desagradáveis e críticas e punições injustas faz com que este Tipo Eneagramático adquira a convicção de que não se pode confiar em ninguém: “Sinto uma grande desconfiança de outras pessoas e ambientes. o oculto. de não ser tratado com justiça. então me rebelava criando situações piores do que as que motivaram as punições. “protegidos”. o mundo das “magias” de todas as cores. “razões ocultas” que devem ser exorcizadas. O mundo oculto: motivo de rejeição e de atração (uma reflexão no Brasil “afro-brasileiro”) A imaginação negativa a que Gurdjieff se refere no texto transcrito no início deste capítulo provoca nos Tipos 6 uma outra manifestação ambivalente. Peço licença para fazer aqui uma breve reflexão sobre este assunto. Por um lado. desvendado e controlado. . ainda percebendo que criava um “círculo vicioso”. ele provocava propositadamente situações para ser punido: “Já que eu havia sido punido injustamente. onde os cultos afrobrasileiros. alguns Tipos 6 tentam “estar preparados”. “causas desconhecidas”.” A sensação de abandono.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 283 realmente ruim!” Um dos alunos já citados declara que. como sempre acontecem “coisas inesperadas”. gostam de “talismãs” e de “proteções” diversas. . os negros decidiram atuar contrafobicamente em todos os planos. mas talvez fosse neutralizável de outra forma. além da difícil alternativa da fuga. Voltando ao assunto. Ninguém ignora que os escravos viviam num ambiente autoritário e controlador. Os negros se protegiam. eles se protegem de uma sociedade que se diz culturalmente não racista.. Daí a ambivalência e desconfiança que sentem dos brancos. Os brancos possuíam as armas e o poder visíveis. os negros que vivem em países como o Brasil e os EUA contestam o “sistema estabelecido” como reação ao apartheid sorrateiro e disfarçado que sofrem há gerações. Eles têm sido agredidos. Exatamente como um Tipo 6. em que o castigo inesperado. os que sobrevivem majoritariamente nas favelas. da violência sem razão que mata muitos de seus filhos inocentes. Enfim. a grande maioria dos negros sente medo do inesperado. Por trás das manifestações atrevidamente contrafóbicas e chocantes. São eles os “suspeitos” que a polícia prefere. que só se encontra com e entre “aqueles que são iguais a nós”. mas que ainda o nega na prática. tradições e cultura. do mesmo modo que há milhares de anos seres humanos de diferentes raças procuram nas suas religiões e cultos um meio de enfrentar os perigos do invisível. onde todo mundo ouve desde a infância palavras tais como “mãe-de-santo”. Por trás da defesa enfática de seus cultos. O sucesso inicial da revista Raça foi uma prova dessa procura de segurança característica de Tipos 6. os discriminados nos trabalhos. Uma espécie de discriminação ao contrario. com a ajuda poderosa de seus Orixás. São a expressão coletiva da psique dos Tipos 6: o medo e a ambivalência são as características de seus modos de vida. contando com a ajuda do além. Num país de sincretismos como o Brasil. e se protegem ainda. E o poder invisível e mágico era a única ajuda e defesa possível. mortos e perseguidos sempre. do castigo injusto. por trás das expressões do “orgulho de ser negro”. aqui a gente tem “muito pano pra manga”.284 Khristian Paterhan C. certo? Fiz esta reflexão a título de observador estrangeiro e com o desejo de chamar a atenção sobre uma questão ainda não resolvida totalmente para os filhos que nascem neste “berço esplêndido”. a humilhação e a tortura eram o “pão de cada dia”. O domínio dos brancos não podia ser contestado diretamente. . Como os Tipos 6. Tipos 6 devem sentir que seus medos e seus modos de se proteger dos “inimigos invisíveis”.. Já em termos raciais. e acho que fiquei um tanto paranoica! Também sofri muito por causa de inveja. procurou ajuda para “fechar o corpo” ou para “abrir seus caminhos”.. e fico preocupada com isso para que não me atinja mais. do 3 ao 9 e do 9 ao 6 novamente. por meio do trabalho sobre si mesmos. ou de visitas a “clarividentes” como também a preocupar-se demais com “cargas negativas”. você poderá aprimorar a observação de si mesmo e descobrir quando é que atua sem medo e quando atua por medo. etc. e onde a maioria.” Os Tipos 6 devem procurar libertar-se desta classe de dependência paranoica e temores neuróticos e irracionais.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 285 “terreiro”. até físicos. recuperando a autoconfiança e desenvolvendo um maior controle imaginativo. Refletindo sobre este movimento. Numa parte do seu depoimento outra aluna nos revela: “Também sinto uma grande desconfiança de outras pessoas e ambientes. principalmente em relação a absorver as cargas negativas. alguma vez. dos “olhos grandes” e das “forças negativas”. etc. Descobrirá também quando atinge um estado de segurança autêntico e quando está apenas “fugindo” ou “ocultando-se” da aparente realidade. negros e brancos (além de outras cores) deveríamos fazer o mesmo. . “candomblé” ou “macumba”. Iniciando o processo de mudanças positivas – (ver figura na página 334) O movimento eneagramático do Tipo 6 é via em direção do 6 ao 3. não são tão anormais assim. Tive muitos problemas sérios. por absorver cargas negativas de lugares como hospitais. quando consegue fazer adequadamente e quando o faz motivado apenas por sua máscara. magia negra. certo? Movimento aos Pontos 3 e 9: descobrindo os modos de fugir e os modos errados de fazer. O medo leva Tipos 6 a não somente querer saber “o futuro” por meio do Tarô. “magia negra” e questões afins. O aspecto negativo do movimento ao Ponto 9 é a tendência a adiar decisões e/ou ações. reforça seus medos e os afasta da realidade. os Tipos 6 recuam ou se afastam sem querer experienciar o que.286 Khristian Paterhan C. amanhã começo de verdade. (Movimento da Coragem e da Fé. muitas delas valiosas para o seu crescimento e progresso. Tente observar seus movimentos contrafóbicos. O aspecto positivo do movimento ao Ponto 9 (contra a seta) se relaciona com a capacidade de evitar o ato contrafóbico. você sabe). Pergunte-se: por que estou imaginando esta situação desta maneira?. Observando seus parceiros eneagramáticos 5 e 7 Os Tipos 6 aprenderão muito por meio da análise das Máscaras 5 e 7 do Eneagrama. a Verdade do Ponto 3. Controle sua imaginação. procure perceber as imagens negativas que provocam a necessidade de protelar ações ou decisões. I. Nestes casos. O positivo desse movimento eneagramático está na possibilidade de realizar qualquer coisa sem temor e confiante em relação ao resultado. não poderia ser diferente? Ao se mover negativamente ao 9. aquilo que G. os momentos de falsa coragem. Assim. amanhã. o aspecto negativo do movimento do 3 é a mentira. que permitirá uma ação reflexiva e verdadeiramente corajosa (Do Ponto 9 ao 3). o fazer de conta que não tem medo. O mais positivo da influência do Ponto 5 é aprender a . agir contrafobicamente. A influência negativa do Ponto 5 reforça a ideia de perigo e desconfiança que situações ou pessoas podem provocar. amanhã me preocupo.) Quando Tipos 6 agem deste modo equilibrado.. Tanto com o que devem evitar quanto com o que devem adotar desses seus “parceiros”. naturalmente. A influência negativa do Ponto 7 se manifesta fundamentalmente nas atitudes ambivalentes e na incapacidade de concluir planos e/ou projetos. o que finalmente lhes permite sentir um estado de “segurança” real.. Gurdjieff chamou de “a doença do amanhã” (“amanhã eu faço.”. Essa observação deverá estar acompanhada da reflexão nos aspectos negativos e positivos de cada ponto. conseguem um verdadeiro descanso no Ponto 9 do Eneagrama. .” Fantástico. quando a gente percebe apenas uma ou duas dessas faces..Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 287 desenvolver a capacidade de reflexão e raciocínio como um modo de atingir o necessário controle imaginativo. Quando um ser humano inicia um processo de consciência imaginativa tem possibilidades de desenvolver . Nesse momento. PNL. O mais positivo do Ponto 7 é a capacidade de vivenciar novas experiências. potencialmente. acontece o inverso. não conseguimos VER cLARAMENTE. Imaginação consciente: percebendo as “78 faces” da realidade Gurdjieff afirmava: “O medo pode ser o órgão de uma futura clarividência. “criação mental”. curtindo o que está acontecendo de positivo sem se “projetar” ao futuro negativamente. etc. Essas técnicas estão alicerçadas na constatação de um fato simples. Desfrutar do corpo e ficar mais aberto ao momento presente. a gente pode modificar positivamente os acontecimentos existenciais. pode transformar-se num dos aliados mais poderosos do ser humano. Mais ainda: não conseguimos “VER” na “tela mental” mais que uma ou duas faces possíveis da realidade. é necessário lembrar que ainda existem 77 ou 76 por conhecer. sem julgar e/ou temer que algo esteja errado. viver e planejar situações prazerosas. Os antigos mestres herméticos ensinavam que a Verdade tem “78 faces” e que. claro! O que aprendemos dela é que sempre podemos imaginar mais de uma possibilidade para qualquer questão. Com certeza você ouviu falar das técnicas de “imaginação criativa”. Quando o medo nos controla. Esta afirmação de que a realidade ou a Verdade tem 78 faces é simbólica. de “visualização positiva”. fobias e temores. não é? Nossa maior conquista como seres humanos é desenvolver as potencialidades psicofísicas que estão adormecidas em nós. porém. Aprender a perceber o absurdo e irracional de determinadas imagens mentais e treinar a mente para modificar essas imagens. A imaginação. maravilhoso: com disciplina imaginativa. apagá-las ou refletir nas alternativas positivas. Nossa imaginação fornece as imagens que afirmam nossos medos. 288 Khristian Paterhan C. durante os treinamentos avançados de Eneagrama. observe-a e mude-a por outra diferente e positiva! A imaginação é uma de suas capacidades cerebrais mais valiosas. limpa de todas as ameaçadoras e irreais imagens internas. até 360! Comece a controlar sua imaginação..” Realizar é melhor que apenas imaginar realizar ou temer realizar. ele começasse a perceber 40. É como se. Devemos lembrar novamente que será o controle imaginativo que permitirá “agir com o coração” e não com a cabeça. não deixe que ela comande sua vida! Conquistando a virtude da coragem e desenvolvendo uma “fé consciente” As Virtudes a serem conquistadas pelos Tipos 6 são muito especiais. isto conduz a uma ação relaxada no plano físico. Quando a realidade é confrontada fisicamente. em vez de perceber apenas 25 graus da realidade. temos a possibilidade de voltar a ter segurança nas nossas capacidades e nos nossos atos. temos uma prática ao ar livre em que as pessoas ficam . o que permite essa visão clara da realidade. Aprenda a confiar e conhecer melhor seu Centro Físico. 60.. Ela deve estar ao seu serviço. uma “visão interior” mais ampla. se começarem a confrontar seus medos com a realidade. 90. 180 graus. um agir a partir de um Centro Emocional equilibrado (Ponto 3) e livre do temor (desidentificação ou desapego das imagens negativas fixadas pela ideia de uma ameaça sempre latente). Por isso. Quando nos atrevemos a agir sem temor. Naturalmente. desenvolvendo sua natural intuição. A “Coragem” implica literalmente um “agir com o coração”. Como já falei na análise de outras máscaras. De acordo com Helen Palmer: “A coragem depende da capacidade corporal de agir adequadamente a partir de um estado não pensante da mente. Quando uma cena mental aparecer para iniciar e/ou reforçar seu medo. ou seja. Os Tipos 6 podem conquistar uma tremenda capacidade de ver além das aparências. podemos descobrir que muitos “tigres são de papel”. Querer. não é querer e sim seu oposto: o ato contrafóbico. A autoconfiança só pode ser gerada a partir de “contatos” efetivos com a realidade e não apenas com atos contrafóbicos. Ou seja. outras que o bastão poderia atingir um olho. paralisam as emoções como se quisesse “ignorar” o que vai acontecer após sua irreflexiva execução. Não é ousadia.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 289 em pé formando um círculo e seus movimentos são deliberadamente limitados assim como suas reações emocionais. por meio dos quais passam a perceber que aquilo que temem. Enfim. não podem sair do seu lugar. não é real e não acontece. sobre os quais escrevi no meu primeiro livro. Saber e Calar). No centro. nem gritar ou pular fora do círculo. . o medo os paralisa de início e lhes impede a realização de movimentos com os quais seus Centros Físicos possam pegar o bastão sem que este lhes provoque nenhum dano. começam a perceber que não é “tão perigoso assim” e como é fácil receber o “ameaçador” bastão. simplesmente. temerosas de serem atingidas pelo bastão. Isto é fácil de comprovar quando pessoas que sofrem de fobias conseguem ser curadas mediante metódicos e pacientes processos de sensibilização e conscientização. é muito engraçado ouvir que as pessoas imaginaram muitas coisas em relação a essa prática milenar. os que devem ser mais vivenciados pelos Tipos 6 são os verbos “Ousar e Querer”. Os atos contrafóbicos surgem do Centro Intelectual e paralisam o “sentir”. Logo. Os resultados são excelentes. até que. o instrutor está com um bastão de madeira de um metro de comprimento (mais ou menos) e adverte que o bastão será lançado a qualquer um e a qualquer momento. sem prévio aviso. Ambos implicam ações concretas e ambos estão relacionados com profundos sentimentos e não apenas com pensamentos. Logo pede-se que eles aprendam a agir cotidianamente de acordo com o que compreendem e percebem nessa prática psicofísica. aos poucos. Entre os Quatro Verbos chamados “Mágicos” (Ousar. De início as pessoas ficam ansiosas. outras que sentiam que quase não podiam moverse. sem tensão e sem medo. Umas comentam que achavam que seriam golpeadas na cabeça. numa dinâmica de grupo. Eles percebem que o que temiam era apenas “imaginário”. a fé do sentimento é fraqueza. com plena capacidade. dada a sua profundidade e importância: “A Fé da consciência é liberdade. a fé do corpo é estupidez”. sua “fé” está fundamentada na sua fraqueza (“a fé do sentimento é fraqueza”) e sua reação corporal não vai estar guiada pela lucidez que acompanha qualquer ato consciente (“a fé do corpo é estupidez”). especialmente se o Traço Principal é o 6. que demonstra o que estou tentando expli­ car-lhe: “Frequentei a City University em Manhattan e usava o metrô para ir às aulas. Você ficou preso mentalmente à “certeza” de que o ruim imaginado com respeito a esse ato ou a essa situação “x” poderia realmente acontecer. positivo ou negativo. O resultado pode ser bom ou ruim. porém você não se importa com isso naquele momento. você se liberta dos limites que seus medos lhe impõem. Então seus Centro Emocional e Físico se comportam de acordo com o que realmente “sabem” fazer. O valor da fé consciente Em relação ao desenvolvimento do que Gurdjieff chamava de “Fé consciente”. e combinei com meu . Gurdjieff lembra esta questão importante com o seguinte aforismo que só comentarei em parte. Nunca me preocupava com as viagens de dia quando havia multidões.” mobiliza” inconscientemente seu “Centro do Movimento” e executa ou enfrenta a situação “sem consciência de si”. porém. Quando você “se atreve” a fazer algo ou a enfrentar uma situação contrafobicamente. Esta forma de reagir contrafóbica é a que é realmente perigosa e não a situação ou o ato em si mesmo. Quando eu tinha aula à noite e tinha de esperar sozinha na plataforma. Sua consciência fica livre. Helen Palmer cita na sua obra sobre o Eneagrama o seguinte depoimento de uma mulher Tipo 6. Quando você conse­ gue agir com verdadeira Fé. e eu podia ler meus textos todo o trajeto desde a estação da Rua Delancey.290 Khristian Paterhan C. primeiro é importante ter presente quais são os dois tipos de “fé” negativa que todos nós temos que aprender a reconhecer e superar. Nesses instantes. eu ficava muitas vezes apreensiva. poderíamos dizer que está agindo emocionalmente alterado (a). como não tem outra saída. acima da sua “máscara”. Ainda não consigo me lembrar do que eu disse. Aprenda a ter certezas positivas e compreenda que aquilo que ainda não aconteceu. e ninguém tinha coragem de olhar o rosto do louco. ao ver uma arma na mão dele. Uma noite. mas sei que. Quando encontrei meu namorado na Delancey. “a Fé da consciência é liberdade”! Veja como de novo é importante o controle da “imaginação” para que essa Fé consciente seja conhecida por você: “A fé é a certeza do que se espera. e eu ouvia minha voz falando com o sujeito sem saber o que eu devia dizer. em grande parte. que ainda “poderia acontecer” ou “acontecerá” depende. ele descobriu alguém no assento atrás de mim. Eu parecia estar repetindo os movimentos de algo que já tinha acontecido antes. a convicção do que não se vê.” Não é incrível este depoimento? Simplesmente. Não me surpreendi quando vi dois braços pegando-o pelas costas numa chave de cabeça nem quando arranquei a arma da mão dele quando ele apontou o meu rosto. eu estava tão impassível que ele teve dificuldade em acreditar que minha história fosse verdadeira. De repente. Havia pouca gente no metrô. . Meu corpo tinha se erguido. e então eu me vi bloqueando sua passagem. não tive medo algum. porque é no presente que criamos o futuro e é nele que fazemos nossas escolhas. apontou.”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 291 namorado de me encontrar na Delancey e a gente andar juntos até minha casa. praguejou e veio em nossa direção. Ele fazia caretas e cerrava os punhos e começou a dizer palavrões andando pelo corredor. um louco entrou no vagão. segundo a brilhante definição do Apóstolo Paulo na sua carta aos Hebreus. da sua total consciência do momento presente. . ‘exige’ que todo mundo o tome por alguém notável. sua originalidade e todas as suas outras qualidades. Essas ‘exigências’. mas a seriedade que significa determinação e persistência na busca. se estiverem num estado de relativa segurança material. o homem prossegue com sua tarefa principal. Mas a liberdade está aí? É somente uma questão de condições externas?” “O homem. . a quem todos deveriam constantemente testemunhar respeito. mesmo com pessoas de aparência muito modesta. estima e admiração pela sua inteligência. lábios fechados.. baseiam-se na noção completamente fantasiosa que as pessoas têm de si mesmas. anotadas por seus discípulos.O Tipo 7 O eu que projeta “Liberdade é seriedade. sem preocupação com o amanhã e se não dependerem de ninguém para sua subsistência ou para a escolha de suas condições de vida. gestos cuidadosamente medidos e palavras filtradas entre os dentes. seu humor. por sua vez. bem no seu íntimo. o que acontece com muita frequência. Não essa seriedade de sobrancelhas franzidas. sua presença de espírito. Façam a si mesmos a pergunta: São livres? Muitos serão tentados a responder que sim.” Os dois parágrafos acima reúnem palavras de Gurdjieff. sua habilidade. intensidade e constância. mesmo nos momentos de repouso. de modo que.. pela sua beleza. Globo um dos programas mais populares da TV brasileira. A alegre. nosso “gordo”. nem quando acha que deve falar algumas verdades que doem até para alguns dos seus convidados. Quanto ao ator. escritor. então. Refiro-me a Jô Soares e Miguel Falabella ou Miguel Falabella e Jô Soares. pensando bem e sem querer provocar um atrito diplomático internacional. Jô Soares. etc. maravilhosa e original turma dos Tipos 7! (faltou dizer algo mais?) Sem dúvida é um grande problema escolher só um exemplo brasileiro do Tipo 7. poliglota. para o bem e alegria de todos os brasileiros e de toda a humanidade! É verdade que o fato de ser um País Tipo 7 provocou certa vez o desabafo atribuído ao líder francês Charles De Gaulle. escritor de sucesso. porque Jô Soares não hesita quando se trata de defender causas nobres e populares. genial. O próprio Brasil é um precioso país Tipo 7 e.. deve continuar sendo esse paraíso que é. etc. esse nosso David Letterman em versão fat. é um clássico Tipo 7 com poderosa influência do Ponto 8 do Eneagrama. que não sei da importância da sua figura (nossa! Quanta puxação de saco!) etc. certo? Primeiro. muito queridos nesta terra. não porque faltem e sim porque não quero que alguém não citado fique achando que não o considerei. mas. dois exemplos públicos. diretor teatral. Tudo bem.294 Khristian Paterhan C. Destaquei dele o fato da forte influência do Ponto 8 Eneagramático. é fácil para . mas porque esse é um dos aspectos marcantes e positivos desta Máscara Eneagramática: a vida para Tipos 7 é uma constante procura de alegria e prazer. Mas como não tem jeito. A ordem dos fatores não altera o produto. que teria sentenciado que o Brasil era um país “pouco sério”. Quem vai pra cama sem ele? Comandando na TV. comediante. Miguel Falabella. a Igualdade e a Fraternidade à moda brasileira. tomei uma decisão e vou destacar. etc. não apenas porque ele é um humorista. apresentador. Ele possui essa capacidade de nos descontrair com suas entrevistas inteligentes. prefiro a Liberdade. etc. piadas e brincadeiras das quais a maior parte dos seus convidados não consegue fugir. dizia que era um grande problema escolher exemplos de Tipos 7 brasileiros. tirando os aspectos sociais negativos que necessitam ser mudados. de trabalhar muito.” Tudo não passava de uma “brincadeirinha”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 295 qualquer conhecedor profundo do Eneagrama perceber que é o Tipo 7 que decidiu transformar sua vida numa eterna brincadeira que lhe rende bons lucros.. babava pelo canto da boca (. joviais. o mundo seria sério demais sem a participação dos falantes. Falabella declarou: “Brincando de ser estrela. e John Lennon. eu não quero morrer!” Sua frase mais “7” foi: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. inteligentes e sempre criativos Tipos 7! (Gostou?) Para os que gostam de música. dois exemplos de Tipos 7 inesquecíveis: Mozart. que nos deixou essa maravilhosa canção Imagine. você também deve ter muitas anedotas semelhantes para contar. (..) Saí de lá à beira de um ataque de nervos. cuja letra perfeita é capaz de expressar numa bela síntese poética o anseio e a esperança que todos temos de viver num planeta melhor. multifacetados. um gosto mediante o qual consegue realizar-se e ser feliz. Tentei uma universidade séria. E que o digam seus amigos! Na reportagem de Veja. em síntese. do jornalista Alfredo Ribeiro. Tentei alfabetizar crianças. eu me transformei num fenômeno de público”.. Tentei salvar os índios. não consegui. Numa reportagem da revista Veja titulada “Rico faz rir à toa”. Ambos viveram existências marcadas pelos atos extravagantes e contra a corrente de seus tempos. que revolucionou sua época com seu estilo inimitável e com seu polêmico modo de se comportar numa época cheia de normas e limites. caixas de Lexotam por todo lado. não consegui. sem fronteiras e sem religiões.. Mas meus fracassos são minhas vitórias. com o Miguel às gargalhadas. e numa outra entrevista dada para a revista Caras. Com certeza.) Ele descobriu como ganhar dinheiro com as peças que aplicava nos amigos”. Detestaria estar no lugar de . lembrando o dia em que teve que invadir o apartamento do ator para salvá-lo do “suicídio”: (.. inquietos. um agrado.. ele afirma se sentir sempre como uma criança para a qual o trabalho é. não consegui. certo? Sem dúvida. Como esquecer o alegre Darcy Ribeiro? Ele dizia: “Viver é muito bom.)” deitado. a atriz Maria Padilha declara: “Nem ele sabe quando está fazendo um número ou falando sério. . Eles sempre têm algum bom programa. contraditório. Tipos 7 são únicos! Legal.. admiráveis! Porque. Maravilhoso. não convencionais ou inovadores. simplesmente. da arquitetura. o encontro dos Tipos 7 foi maravilhoso. do cinema. com quem participei do Projeto Simplesmente Copacabana junto a Liane Freire. fizeram a festa! O único inconveniente é que desde que dirijo workshops são sempre poucos os Tipos 7 participantes (Tudo bem. dos compositores de vanguarda. especialmente aqui neste belo pais!) e menos ainda os que entregam seus depoimentos escritos e completos.)” Um homem incrível.. dando palpite sobre todo. exibindo sua inteligência elétrica. da comédia. nos empreendimentos que poucos se atreveriam a sonhar e muito menos realizar. apaixonado. e.. com a participação de quase 400 pessoas. liderou a alegria contagiante desse grupo tão especial! Literalmente. é preciso não ter medo. Por isso tive que escolher somente três deles para utilizar neste capítulo. contando detalhes de suas preferências sexuais (. no Rio de Janeiro. chutando adoidado.. da Dialog. no Hotel Le Meridien. É preciso ser ousado! Acima de todas as coisas. simplesmente. o método e o rigor (. fantástico! Márcio Galvão. É fácil achá-los entre as pessoas que viajam pelo planeta à procura de aventuras.. sem compromisso com a razão. um criativo Tipo 7 assumido. se lhe perguntassem.296 Khristian Paterhan C. os Tipos 7 são ousados e corajosos! . malandro. não é verdade? É fácil encontrar Tipos 7 dispostos a criar e realizar projetos e negócios diferentes. maravilhoso! Como se sente após conhecer alguns dos membros da sua tribo? Na verdade. quem venceu. seriam muitos os destaques..) construiu uma fulgurante coleção de namoradas (. Enfim. não é? Num de nossos primeiros e mais bem-sucedidos workshops de Eneagrama realizados aqui no Brasil em 1996. no mundo dos criativos publicitários. tropicalista.. os Tipos 7 são.) exuberante.” Numa reportagem de Paulo Moreira Leite publicada na Veja se lê a seguinte descrição do Darcy Ribeiro: “Tinha a erudição eclética do autodidata e passou os últimos anos dando entrevistas com a frequência de uma estrela de rock.) separado (. eu sei que é uma chatice encerrar-se num fim de semana para estudar e vivenciar o Eneagrama. dos grandes entrevistadores. para ser diferente neste mundo. Tipos 7. tudo se pode viver... na máxima “Saber é Poder” está a resposta que exorcizará seus medos enquanto a procura do isolamento social se transformará no meio prático que consolidará a estrutura de segurança criada ao seu redor. com os quais se sentirão mais seguros e confiantes. que todas as causas que provocavam a perda da alegria tinham que ser destruídas e que nenhuma delas os privaria de serem felizes para sempre. Poder-se-ia dizer que os Tipos 5. a valorizar e procurar a união com pessoas de confiança. consequentemente. Um dos nossos alunos reconhece que: Pareço não ter medos. . o medo simplesmente deverá ser ignorado e/ou enfrentado vivendo-se sempre de uma maneira otimista. onde se ocultam e. e “planejando” de que maneira garantir um constante “prazer em tudo o que se faz”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 297 Está gostando do modo de iniciar a análise da sua máscara? Gostou do “banho no seu ego”? Está se sentindo à vontade? Acho que peguei você! Não percebe que já comecei a “pisar no seu calo”? Negando o medo como uma maneira de sentir liberdade Devemos lembrar que os Tipos 7 fazem parte da tríade centrada no mental do Eneagrama (o que Gurdjieff chamou Centro Intelectual) e que no Medo nuclear que comanda essa tríade se esconde a chave para compreendê-los. os grupos. descobrindo o “lado bom das coisas”. 6 e 7 percebem mentalmente as ameaças da existência e “imaginam” como deverão enfrentá-la: os Tipos 5. os Tipos 7 decidiram que enfrentariam o medo de perder a felicidade. tudo se pode solucionar. Já os Tipos 6 decidiram que seus medos devem ser enfrentados mediante um constante estado de alerta interior. as enfrentarão a partir de uma “construção mental de segurança”.) Em algum momento. um estado de prevenção que os leva a imaginar quais são esses perigos. Tudo se pode fazer. No caso dos Tipos 7. quando crianças. no qual o raciocínio e o conhecimento adquirido serão os grandes aliados. então. uma espécie de mundo próprio. ou eles estão tão ocultos que não dá para perceber (. os amigos. Para os Tipos 5. nem punidas. regulamentos e outras barreiras entre eles e o prazer. Só se lembrarão os melhores momentos da vida. obediência. percebem intuitivamente que o caminho é nunca se comportar como adultos. portanto. talvez esteja cheio de perigos. o ensinamento do Mestre Jesus Cristo. O mundo das crianças é “leve”. o medo nuclear da tríade 5-6-7 será ignorado. todos os limites. como veremos em seguida. A decisão de ser um “puer aeternus” (ou como se livrar do medo e ser feliz sempre) Quando Tipos 7 decidem inconscientemente não ter medo (inconscientemente porque é uma “decisão” tomada em algum momento da infância. Poderíamos dizer que Tipos 7 são capazes de compreender. Em algum momento. obrigações. deveres. O mundo dos adultos é distante. os outros serão literalmente “apagados”. nem aceitar o mundo dos adultos. Esta decisão tem suas vantagens e desvantagens. quando a personalidade estava sendo formada). afastado. porque por trás de cada um deles se escondem punições. Crianças são as únicas que podem transpor as barreiras sem serem cobradas por isso. da alegria e da liberdade. e aceitação muitas vezes do que vai contra nossos anseios de felicidade. nunca submeter-se a nada. que diz que “o Reino dos Céus é das criancinhas”. é vida “tranquila” é “jogo e lazer” e. castigos. Talvez seja um mundo demasiado “sério”. então. evitado. os Tipos 7 decidem não ter mais medos e ficar acima daquilo que os provoca ou fora do seu alcance.298 Khristian Paterhan C. proibições. um Tipo . Pelo contrário. O Mestre Osho. nunca deixar de brincar. Estes limites deverão ser enfrentados. Como conseguem fugir do medo? Como ficam acima dele ou longe do que o provoca? Simples: Nunca ser como os adultos. sendo e sentindo como criança se pode ser sempre “livre” e “feliz”. tudo é válido para atingir o ponto de segurança. nunca deixar de sonhar. abafado. regras e normas são percebidos como as causas que provocam a perda do prazer. Será a procura do “paraíso” na Terra o que vai motivar a existência deste Tipo. proibições e implicam submissão. Não é que se livrem deles. Portanto. de um modo pleno. Não que não tenham sido “bons pais” no sentido geral e subjetivo que damos a essas duas palavras. Para a maioria dos Tipos 7 a infância é lembrada com alegria. Ambos foram os responsáveis por uma infância. com 62 anos. e sim que certos prazeres infantis derivados do contato com os pais não foram satisfatórios. Na sua vida e obra. como muito bem o expressa Félix. sem agressividade física ou verbal. pode estar também associada. em outros. com sua filosofia da contínua “celebração”. dele guardando uma imagem de um ser especial que zelou por toda a minha infância. se pode apreciar até hoje a influência desse seu “sonho” de um mundo em que o prazer. Sobre este assunto. Essa capacidade de somente guardar as melhores lembranças da vida faz parte desta Máscara Eneagramática e acompanhará seus possuidores até o final dos seus dias. na Osho Multiversity de Poona. simbolizou. quando crianças. com um amor de um nível bastante superior. um de nossos alunos: “Guardo as melhores lembranças de minha infância. Meu pai seguia a filosofia de Allan Kardec. estimulando sempre a busca pela qualidade de vida tanto material como espiritual. a minha infância foi tranquila. sem violência. nos fornecendo a estrutura adequada ao desenvolvimento. a alegria e o bem-estar podem estar sempre presentes. ao fato de que. em certos casos. (. a decisão “inconsciente” de ser internamente uma “eterna criança”. feliz.” Por outro lado. reflitamos no depoimento em que Hilária. essa procura.. o que fazia com que agisse sempre com tranquilidade. Sou otimista. Índia. na nossa época. busco na vida espiritual um caminho seguro que me levará à autorrealização. a privações vividas na infância e.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 299 7 iluminado.” Um outro aluno lembra: “Durante o período de 4 a 10 anos. juventude e idade madura e agora. ao lado dos meus pais e mais três irmãos. Não me recordo de ter sido agredido por ele.) Minha mãe era muito exigente na nossa educação. sem atropelos. concretizada após muita perseguição.. muitos Tipos 7 reclamam de não ter tido muito amor dos pais ou de terem sido ignorados emocio­ nalmente ou tratados por eles da maneira que poderíamos chamar “aceitável”. lembra que aspectos da sua infância deram origem à sua Máscara 7: . uma das minhas alunas. “criando amigos imaginários” para garantir sua alegria. embora esse amor fosse sem aconchego. Lembro-me do grande prazer que sentia em contato com a natureza. No Brasil. Não sei bem. mais ou menos.300 Khristian Paterhan C. mas é possível que meus pais não conversassem muito comigo. no caso dela. poderíamos dizer que a famosa e popular “Lei de Gerson”. de abraços. e de beijos. “Aos dois anos de idade. no sentido de brincadeiras. em nossa época. Mas sempre me senti amada. devido aos afazeres de minha mãe. Lembro-me que criei amigos imaginários. havia algumas divergências entre meus pais. Creio que fui deixada um pouco só. que na Antiguidade estava relacionada apenas a um sistema filosófico que declarava que a obtenção do prazer era o objetivo mais importante da existência. ou em um pomar comendo frutas. Meu lar não era dos mais tranquilos. estava só e brincando com argila.” Destaquei as frases em que nossa aluna menciona a sensação de solidão. etc. Lembro-me de momentos felizes. Foram esses os aspectos que deram origem à minha máscara. num sinônimo daquelas pessoas que tentam obter “prazer” a qualquer custo e sempre. A imaginação se torna o meio pelo qual eles “planejarão” o modo de obter o prazer em tudo e de qualquer jeito. Também não pedia para meus desejos serem realizados. . nasceu o meu irmão. Este aspecto do uso positivo (em alguns casos até positivo demais) da imaginação é extremamente importante para a “vida feliz” que Tipos 7 almejam obter. me sentia sempre só. nesses momentos vejo-me sempre só. Nesta época morávamos afastados de outros familiares. Hedonismo ou como os Tipos 7 decidem não sofrer nunca (se possível) A palavra “hedonismo”. aceitava sempre. a palavra “hedonismo” ficou ligada a palavras como “excesso”. porém eu não decidia nada. Semanticamente. As lembranças que tenho da infância são agradáveis. se transformou. “permissividade” e “luxúria”. porque nelas está implícito o medo que deverá ser superado. Embora algumas vezes brincasse em grupos. . Hilária nos mostra este aspecto de sua máscara: “Adoro explorar territórios novos. está muito ligada à atitude “hedonista” típica: quanto mais vantagens eu possa tirar de todas as situações.) Também planejo fazer programas que eliminem o tédio e intensifiquem os prazeres da vida (. porque espero o melhor. Tenho um espírito aventureiro.. Concretizar esses e outros desejos é difícil. os Tipos 7 às vezes exageram tanto que até utilizam a trapaça para conseguir o que desejam. Em outra parte do seu depoimento.. culpa. é uma maneira de fugir do medo (Ponto 6) e uma clara influência do Ponto 8 do Eneagrama no que se refere à luxúria. Numa parte do seu depoimento.” Esta necessidade de “intensificar os prazeres da vida”.) Em alguns casos. procurando preencher suas vidas com o máximo de prazeres.” Os Tipos 7 mostram esta tendência hedonista quando adultos. Gostaria de poder voar ou de colocar uma mochila nas costas e sair viajando pelo mundo. Adio o sofrimento ao máximo. nunca: há sempre algo bom a se tirar das coisas difíceis. deveres ou a necessidade de fazer esforço – basta aproveitar. nosso aluno Tipo 7 descreve assim esta tendência: “(.). na qual o contentamento do indivíduo é apoiado por uma visão do mundo na qual não existe bem ou mal. não se deve sofrer por isso. . de estar sempre feliz. de preencher todos os instantes com uma hiperatividade. Se algo não pode ser obtido. de ter sempre mais “brinquedos de adultos”. Nessa procura pelo prazer. imposições. não importa. entendida aqui como a ilimitada procura de prazer.. maiores serão as garantias de obter sempre “meu” prazer. O medo da perda do prazer e a procura do máximo de prazer provocarão a consolidação da paixão do Traço Principal: a Gula.” Existe no Tipo 7 uma rejeição ao sofrimento. Esta atitude faz parte da Máscara 7.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 301 ou seja. podemos nos referir a uma ‘adequação cósmica’.. a atitude que leva um sujeito a querer tirar vantagem de tudo. Sofrer. Como escreve Claudio Naranjo referindo-se a este aspecto: “(. que cristaliza ainda mais essa atitude hedonista.. A chave da atitude do Tipo 7 na vida esta resumida numa das estrofes do hino em latim da Universidade Católica de Valparaíso.. e. tem também o sentido figurativo de “desejo veemente”.. comer pouco de várias coisas. Traduzida ao portu­ guês essa frase disse: “Alegremo-nos (portanto) enquanto somos jovens. porque a velhice é um estorvo e a juventude é fecunda. além de significar gula e guloseima.. “comer gulodices. Quero que você tenha em conta estes significados para a análise que realizarei a continuação.) O único critério de seu valor (do objeto) é a intensidade da sensação produzida pelas suas qualidades objetivas.” . escolhendo o melhor”.. Todo seu objetivo é o gozo concreto e sua moralidade se orienta de acordo com isto. no final. Nenhum outro tipo humano pode se igualar em realismo ao tipo de sensação extrovertida. Jung nos ajuda a compreender mais profundamente estas características dos Tipos 7 quando descreve na sua tipologia os tipos que ele chama de sensação extrovertida com estas palavras: “Como a sensação está fundamentalmente condicionada pelo objeto. É esta procura a que explica a “Gula e Intemperança”. Observando o traço principal: a gula e suas consequências o Tipo 7 e o tipo de sensação extrovertida de Jung Os Tipos 7 desejam obter prazer em tudo o que fazem.302 Khristian Paterhan C.) simplesmente a vida real vivida ao máximo.. todos transformaremonos no pó da terra.) A sensação é uma expressão concreta da vida (.) como um guia para sensações novas (. (. (.. gosto exagerado das boas iguarias.. de todas suas experiências e vivências. gulodice”.” A Gula é definida no Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa como “excesso na comida. O resultado é um forte vínculo sensual com o objeto.. glutonaria. aqueles objetos que estimulem as sensações mais intensas serão decisivos para a psicologia do indivíduo.... por sua vez. de bicar na comida. Chile. Também acho interessante destacar a palavra “gulosar” que significa.) O que experimenta serve (.. É interessante notar que a palavra “gulodice”... nada demais: Vamos celebrar que não é nada sério! Frequentemente. um trato por cima. porque “perdeu a graça”. desde que não impliquem demasiado envolvimento. já que. nem nos trabalhos nem nos relacionamentos. concluir. uma certa irresponsabilidade com respeito às próprias ações. Às vezes me comprometo além de minha capacidade. essas irresponsabilidades. desfrutar e alegrar-se sempre. pelos trabalhos que lhes proporcionem a oportunidade de criar. a gula não lhes permite finalizar.” Como diz mais francamente um Tipo 7 amigo meu: “Após um tempo abandono certos trabalhos e projetos porque perdem a graça. da liberdade e da felicidade é compulsiva e constante. o que leva a desistir facilmente de algumas destas atividades. Portanto. quase que sutilmente. a crítica e os atritos. podem correr o risco de “perder a liberdade”. se vão mais fundo. a procura do prazer. então é necessário viver “gulosando”. escolher entre todas as coisas as mais prazerosas. porque “ficou difícil demais”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 303 Este é o leitmotiv da eterna criança. não levar nada a sério. as melhores. outras vezes. com “a parte chata do assunto”. Seus atos serão até interpretados como “brincadeiras”. Isso herdei de meu pai. deixado de lado. A gula dos Tipos 7 é pelas experiências prazerosas. etc. fazer de tudo um pouco. substituo certas atividades por outras novas (que possam ser mais promissoras). parecerá até sem importância para os que rodeiam os Tipos 7 mais harmônicos. curtir. porque “cansei”.” Aqui é onde se esconde o problema: tudo pode “perder a graça”. os Tipos 7 tentarão transformar esses abandonos. abandonado. Pregar peças nos outros. O resto deve ser adiado. esse “deixar de lado”. ou seja. Existe uma certa superficialidade. a forma com a qual ele se transformará muitas vezes no lendário “vendedor de gato por lebre”. “passar a perna” de um jeito simpático. Busco a felicidade participando de muitas atividades na ânsia de obter gratificação sentimental e manter um alto astral. pelos projetos que lhes tragam alegria. negar-se à velhice. em situações sem importância. de ter que lidar com problemas. fazer e provar “mil coisas ao mesmo tempo”. do eterno Peter Pan que se esconde no mundo interior de cada Tipo 7: conseguir ser feliz ao máximo nesta existência. Aparece assim. Nosso já citado aluno reconhece: “Sou um pouco narcisista mas muito Peter Pan. “ir fundo”. Para evitar a punição. . alguns Tipos 7 perdem a capacidade de concluir coisas . com não compromisso. O mito conta que Zeus até gostou do jeito sem-vergonha do filho e lhe concedeu o que queria. com o “desespero” e com a angústia de querer preencher o que Naranjo chama de “vazio ôntico” deste Tipo Eneagramático. sem limites. Até o Mestre Jesus Cristo pregou que devíamos ser “astutos como serpentes e humildes como pombas”. Com certeza. fazer “de tudo um pouco”. A capacidade de obter o prazer e de sentir-se livre e com direito a todo o prazer não é negativa. com “direito a abandonar” sem dar explicações válidas. desconhece a possibilidade de “saborear” até o final uma única vivência porque sempre está querendo “desfrutar” uma outra. Os Tipos 7 desejam sentir-se sempre livres para realizar e conseguir o que querem de qualquer jeito. Apolo sempre caiu em todas as peças que Hermes lhe pregou. O resultado desta gula eneagramática é a intemperança. vocês. só que não se deve exagerar e nem sempre é bom ultrapassar certos limites. Uma mistura perigosa: gula e intemperança Pelo fato de querer sentir. e dessa forma Hermes sempre obteve tudo o que queria. Conta a lenda que para roubar as vacas de seu meio irmão sem deixar rastro. sem escolher. que roubou as vacas de Apolo apenas para ser conduzido ao Olimpo e solicitar a seu pai. frequentemente confundem liberdade com libertinagem. que o admitisse lá como um deus. Tipos 7 que estão lendo esta parte do livro vão ter um súbito desejo de conhecer um pouco mais este astuto Hermes. O negativo da situação tem a ver com a procura “desnorteada” do prazer. Hermes botou suas sandálias ao contrário para que suas pegadas confundissem ainda mais o sábio Apolo. viver. nessa busca desesperada do prazer. eles nos lembram o astuto Hermes. Por esta razão. que no final convence a seu ingênuo comprador de que gato é tão bom ou melhor que a própria lebre. Ele nunca consegue e. qual é o problema? De alguma maneira. sem ficar preso a nada e com a pressa que caracteriza a gula. Zeus. Sendo assim.304 Khristian Paterhan C. Há algo de semelhante entre a gula e a libertinagem. rejeitando o sofrimento e a dor que fazem parte da existência. apesar disso. seu inimigo final. A gula e o hedonismo oferecem apenas uma visão parcial e unilateral da existência. é inevitável (. Praticaríamos a moderação (. Por quê? Porque ficamos convictos de que seríamos judiciosos no uso do prazer. O grande risco é achar que desta forma poderão ser mais felizes. Isto equivale a dizer que os Tipos 7 não equilibrados se arriscam a viver num mundo ilusório. perdem a capacidade de “amadurecer”.. tal como um tabuleiro de doces para .) Uma vida dedicada à coleção de experiências agradáveis ou ‘interessantes’ é uma vida vazia.) O tédio.. Acho que os Tipos 7 deveriam examinar com cuidado este comentário filosófico: “Não é muito difícil observar por que a vida do hedonismo diverso é insatisfatória (. de viver certas situações até o final porque “perderam a graça”. Não é uma vida do espírito. Deixam de ver a profundidade de certos eventos e ignoram os limites. todos sabemos que aqueles que estão em condições de desfrutar as doces diversões da vida. Alguns Tipos 7 terminam “enjoados” quando não se permitem a possibilidade de controlar a “gula” e o “hedonismo”.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 305 importantes. com respeito àqueles que não estão nessa situação. Sabemos que aqueles que têm ficado entregues a uma vida de autoindulgência frequentemente se veem atormentados pelo vazio. Todos sabemos que. não estão dispostos a mudar. Mas. Do mesmo modo que os Tipos 4 precisam compreender o que é “sofrimento consciente”. Com nossas experiências pode acontecer o mesmo. de John Douglas Mullen. os Tipos 7 podem ficar presos à “gula”. os Tipos 7 devem descobrir que esse tipo de sofrimento pode também ser importante para se atingir a verdadeira felicidade. pode provocar graves problemas digestivos. e. pela nostalgia... mas uma na qual o espírito some na multidão de diversões.) Uma vida de diversões superficiais tem grande atrativo. No livro Kierkegaard’s. Do mesmo modo que os Tipos 4 só enxergam o sofrimento que existe nas suas vidas e ficam presos a ele. Philosophy (A filosofia de Kierkegaard). ainda que saibamos tudo isto. seríamos incapazes de renunciar.. de deixar passar a oportunidade de viver uma vida assim. muitas vezes. não estão em melhor posição. pela solidão. encontramos algo sobre isso. beliscar.. Ao pensar nisto. pelo ódio a si mesmos. de modo algum. comer de tudo. Outros menos conscientes são literalmente destruídos pela “gula” e a intemperança que se manifestam em suas experiências profissionais e/ou pessoais. uma criança. as realizações. A aluna já citada reconhece sua “gula” em relação às suas atividades e os problemas: “Procuro trabalhar muito. ou seja.306 Khristian Paterhan C. O mesmo ocorre conosco (. até mesmo me sobrecarregando. Quanto mais prazer exista. sabemos que é porque a criança não é séria com respeito a seus hábitos de alimentação. Pela ‘gula’.. maior eu sou. o que lhes permite transformar-se em bons gourmets. esqueço assuntos também relevantes. quando me dedico a algo.) Tenho sempre o que fazer.) Ficar entregue à indulgência é dizer: ‘Tudo o que eu sou é um potencial para o prazer. prazer e alegria verdadeiras. O ‘fazer’ excessivo leva-me muitas vezes a uma situação de conflito. fico muitas vezes sem discernir o que realmente é o mais importante no momento. O tempo e o espaço são problemáticos para mim.) Tenho pressa. Passar dos limites e correr muitos riscos é ficar aberto aos “acidentes” que bêbados costumam sofrer com frequência.. porque necessito desempenhar muitos papéis e muitas funções (.. e é por essa razão que uma vida assim está alicerçada no autoengano. Por isso há sempre afazeres pendentes. O Arcano Maior da Temperança no Tarô de Aleister Crowley esconde justamente esse antigo segredo que conseguimos conhecer quando emoções e pensamentos estão em equilibrada relação e . a nível concreto e abstrato. A questão dos limites é difícil. Neste último caso.” Alguns Tipos 7 percebem os riscos da gula e da intemperança bastante cedo.. seres humanos. enfim os afazeres (. Isto tem relação com uma dificuldade de priorizar os assuntos. devido a muitos interesses.. desfrutam o melhor da vida e “bebem dos seus melhores vinhos” com a moderação e o refinamento que lhes permitem obter sucesso. sermos conhecedores profundos da “Arte de Viver”.” Poderíamos dizer que os Tipos 7 podem beber do vinho da vida sem medida e terminar tão bêbados que a alegria inicial pode se transformar numa ressaca daquelas! Deve-se beber do vinho da existência com moderação.’ Com certeza. ninguém pode levar isto a sério.. julgo ser capaz de realizar tarefas além das minhas forças. Os Tipos 7 deveriam refletir num velho ensinamento hermético que recomenda a nós. como acontece com os Tipos 5 e 6. veja como este seu Traço Principal se manifesta em você e comece a observação de si que lhe trará a possibilidade de alcançar as Virtudes da Temperança e do Equilíbrio. mas reconhece: “Planejar me dá grande prazer. uma capacidade disponível. a imaginação joga um papel tão importante quanto para os Tipos 5 e 6 do Eneagrama. Tanto a gula quanto sua companheira eneagramática.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 307 descobrimos a preciosa Pedra Filosofal oculta no nosso mundo interior. nas quais se fundamentam sua verdadeira liberdade e seu contentamento pleno.” E nossa aluna celebra: “A minha imaginação sempre mostra o lado melhor dos acontecimentos”. como diz o ditado popular. A projeção para o futuro: os riscos do “sonhar acordado” Na vida dos Tipos 7.” A percepção do que nosso aluno chama de “imposições assustadoras da vida” tem vários significados e diversos níveis na vida deste Tipo . a imaginação não cria pesadelos. “os olhos são maiores que o estômago”. nos vencem porque. Peço para que você leia o que escrevi sobre este fato no final dos comentários ao Tipo 6. ou seja. devido às imposições assustadoras da vida. a “luxúria”. Porém ela se manifesta como um refúgio e/ou meio pelo qual o mundo é idealizado. de uma imaginação que. é uma maneira de fugir da realidade para mundos idealizados. É enxergado como se tudo estivesse ao seu favor sempre. em vez de ser uma aliada. como todos os mundos imaginários. Então. Pelo menos. para os Tipos 7. O aluno já citado anteriormente declara em relação a este respeito que: “Na infância. A imaginação. Novamente temos aqui o risco de uma imaginação não controlada. se transforma em um meio pelo qual a realidade não é enxergada como realmente é. executar nem sempre consigo. me refugiava na imaginação. Só que. para este Tipo Eneagramático. eles não resistem sempre aos confrontos com a realidade. Eneagramático. Nossa aluna reconhece que nem sempre “imaginar o lado melhor dos acontecimentos” é certo: “Este otimismo é positivo em alguns fatos da minha vida e profundamente negativo em outros. uma aventura. quase acaba com o equilíbrio financeiro de toda a família. Eu sei que o que fiz está errado. este 7 voltou a cometer os mesmos erros mais uma vez. uma viagem. Isto os torna reconhecidamente “sonhadores”. O planejar atribuído a eles tem um certo ar de soberba. desconhecendo os riscos. Sua atitude é simples demais e desconsidera a “seriedade” de seus atos: “Não adianta me julgar. As coisas devem acontecer como eles desejam. esta atitude de “sonhar acordados” sem considerar todos os aspectos de uma determinada situação. como eles planejaram.” Nos casos de Tipos 7 mais desequilibrados. tem a ver com a cobrança que . De alguma maneira. E daí? Agora já não adianta pensar nisso. Após pedir desesperadamente que alguns seus parentes e amigos solucionassem os problemas dele. quando seus sonhos não se realizam. de como realizar um projeto. eles desejam ser felizes a qualquer custo e.308 Khristian Paterhan C. Ficam sem limites e “fora da realidade”.” Iniciando o processo de mudanças positivas observando os movimentos a favor e contra a seta do 7 ao 1 e do 7 ao 5 – (ver figura na página 334) O movimento ao Ponto 1 do Eneagrama exige que os Tipos 7 alcancem o melhor de si mesmos. a influência do Ponto 8 e o movimento ao Ponto 1 do Eneagrama colaboram para deixá-los com muita raiva. assim como a inexistência do medo. A maioria dos Tipos 7 acha que a imaginação é um refúgio e um meio para fazer planos de como atuar. Também. Conheço um Tipo 7 que. Quando positivo. com suas atitudes. este movimento ajuda a que alcancem o máximo de satisfação naquilo que fazem graças à certeza de estar bem-feito. Do mesmo modo que uma criança quando não consegue os brinquedos dos seus sonhos fica zangada e cheia de considerações internas. os leva a uma total falta de autocontrole nos seus atos. os tipos 7 não aceitam facilmente o fato de não verem realizados seus desejos. por um dos nossos mais jovens alunos Tipo 7 no depoimento que.. Quando eu tenho um projeto ou uma meta. tentando desempenhar a virtude do movimento ao 1. que falta algo para sua execução. já que podemos indicar e perceber quando estamos agindo de forma automática. No meu caso específico. Este movimento ao Ponto 1 é muito forte em mim. ignorando nossas verdadeiras necessidades e na maioria das vezes nos causando problemas. e ele sabe que isso é o mais importante: “Para quem estuda o Eneagrama. o primeiro movimento que vai para o ‘1’ é muito forte e determinante no processo. No fundo. como isto é uma constante gera muita raiva por nunca considerar satisfatórias as circunstâncias e por me sentir incapaz ou muitas vezes julgar os outros incapazes. já que mostra esse instante especial no qual se descobrem as “limitações” às quais se está sujeito e se percebe como é difícil atingir uma verdadeira liberdade. tenho conseguido ‘contrariar a máscara’. que é a Serenidade. o que é fácil devido à minha capacidade de planejamento. “ir ao 1” é desistir de projetos ou de planos por acharem que estão incompletos. ou que as coisas ainda não são perfeitas (.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 309 muitos deles fazem a si mesmos em relação ao que pretendem alcançar. O estado de autocrítica é muito forte quando eles se direcionam até o Ponto 1 do Eneagrama e está explícito. como sou 7. porém. Às vezes implica um certo sentimento de culpa pelo fato de não poder atingir esse ponto de “perfeição” que poderia trazer a sonhada felicidade plena. e sim o fruto de minha personalidade. o fato de conhecer a personalidade pode ser uma vantagem. servirá a todos os que estão empenhados no autoconhecimento. Isto pode ser negativo em algumas ocasiões. com certeza. Para alguns Tipos 7. .) acabo adiando ou desistindo. medo por achar que nunca poderei superá-las e desespero porque começo a perceber que nem meus pensamentos são realmente meus. por conhecer isto.. achando que ainda não estou preparado. ‘asas’ e ‘movimentos’. e muito bem descrito. eu ‘naturalmente’ me detenho. me tornando um verdadeiro robô. Mas para mim também gera outras emoções: Raiva por eu perceber minhas limitações. este jovem aluno está iniciando o caminho do autoconhecimento. os quais sentirão desagrado e/ou tristeza perante essa sua incapacidade de ficar num mesmo nível. tendem a desprezar os que estão perto deles sem conseguir apreciar as suas virtudes e capacidades. o que lhes impede de “ficarem abertos” aos dados do mundo externo. concorda? Observe como se dá em você o movimento ao Ponto 1 e leia o capítulo referente a essa “Máscara” Eneagramática. achando que são os únicos a entender as coisas. que poderiam beneficiá-los. para maior compreensão.)” Acho desnecessário mais comentários a respeito. implica uma espécie de afastamento das pessoas e/ou ideias que signifiquem “compromisso” ou que pareçam implicar uma perda de liberdade. Esta atitude pode provocar uma natural rejeição por parte dos seus amigos. eu me sinto capaz (. colegas e parentes. Observe quando o Movimento ao Ponto 1 aumenta seu narcisismo e excesso de autoconfiança Um dos aspectos “negativos” do movimento ao Ponto 1. Também confirma a ideia narcisística de que só eles sabem como conseguir determinadas coisas. Quando os Tipos 7 se fixam na ideia de se sentir “superiores” e “melhores”. valorizando apenas seus erros e fraquezas. você não somente julga os outros como inferiores. um fantasma. Curiosamente.. como acredita piamente que é “superior” a todos. A necessidade de sentir-se “livre” e seus aspectos positivos e negativos Em relação ao movimento para o Ponto 5 do Eneagrama. se dá quando você se considera “o melhor” de todos. depois de cada etapa ‘vencida’ eu me sinto leve. como se tivesse vencido um demônio interno. muitos Tipos 7 encontram nele um positivo reforço à ideia de serem “livres”. Quando negativo.. Saber que mesmo as coisas não estando perfeitas podem ser realizadas.310 Khristian Paterhan C. A aluna citada diz a respeito: . Nessa atitude. Tem a ver só consigo mesmo. sem conseguir concentrar-se com firmeza naquelas questões mais importantes. ficar só para realizar as coisas das quais gosto. os Tipos 7 podem conseguir “DESiDENTificAR-SE” das múltiplas escolhas que o atraem e não o deixam “fixar-se” no que é mais importante em determinados momentos. Este interiorizar-se nada tem a ver com isolar-se ou ficar sozinho ou afastado dos demais. podem vencer a tendência à evasão mental. deve cultivar a virtude da Coragem. os Tipos 7 devem aprender a interiorizar-se. ainda bem no início. evite o medo que paralisa .” É importante notar que ela mesma admite no início do seu trabalho que: “Quando iniciei o estudo do Eneagrama. De positivo do movimento contra a seta ao Ponto 5. pensei ser o ego número 5”. controlando os “pulos de macaco” com os quais seu Centro Intelectual vai de um a outro assunto. especialmente no que diz respeito a assumir compromissos até o fim e a não abandonar seus projetos pela metade.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 311 “Gosto da solidão. Seus parceiros 6 e 8 (pegue só o melhor deles!) A análise detida destes seus parceiros eneagramáticos lhe será de grande proveito. Enfim. creio que me é mais interessante comunicar-me do que relacionar-me. Desta maneira. podem conseguir ser mais seletivos. deve aproveitar a firmeza com que esses Tipos decidem realizar seus planos.” Também fica muito claro o movimento ao 5 quando Tipos 7 declaram como Hilária: “Relação só admito com pessoas com as quais me sintonizo a nível espiritual e intelectual. Do Ponto 6. Do Ponto 6. o que muitos Tipos 7 também reconhecem como algo interessante quando iniciam a análise e observação de si mesmos. Do Ponto 8. Mediante a interiorização ou da atitude reflexiva que o filósofo espanhol José Ortega y Gasset chamava de ensimismamento. dispostos a passar por todos os obstáculos. Veja as características do Tipo 5 no capítulo correspondente e aprimore a observação de si mesmo. Controlando o sentimento de “inferioridade” Do Ponto 6. sem essa sensação de vazio que tanto perturba a Tipos 7. lhe permitirá desfrutar mais plenamente das coisas. Com forte influência negativa do Ponto 6. Num dos nossos workshops. a incapacidade de ficar contente querendo sempre mais e mais. nas dinâmicas de grupo. o que o fazia sentir-se irresponsável e desorientado. Observe como as Virtudes do Equilíbrio e da Temperança estão relacionadas à descoberta do que são as virtudes dos seus parceiros eneagramáticos: Alcançar a Fé (Virtude do Ponto 6 do Eneagrama) lhe permitirá ir a fundo em seus projetos. um jovem Tipo 7 nos revelou que ele sempre imaginara que seria incapaz de conseguir qualquer coisa na sua vida. que lhe provocava uma baixa autoestima. e deixar de sentir-se inseguro em relação às suas escolhas. Por sua vez. ou que podemos ter o justo sem deixar de senti-lo presente nas nossas vidas. trata-se de descobrir que podemos ter tudo e perder de vista o Ser. No fundo. compreendeu que ele tinha as mesmas possibilidades o que o fez recuperar sua autoconfiança. A partir desse instante. seus planos e do 8. deve-se evitar o sentimento de insegurança em relação a si mesmo. passam a imaginar que suas vidas não estão certas. Alguns Tipos 7 tendem a sentir-se “inferiores” quando acham que não estão conseguindo o que desejam e se comparam aos que aparentemente são bem-sucedidos. o controle da Luxúria por meio do Contentamento que Tipos 8 atingem após compreender que a maior conquista e o maior poder só existem no fundo de nós mesmos. Quando observou. que esta “ideia” de “inferioridade” tinha sido vivida por outros Tipos 7 que agora eram pessoas bem-sucedidas e felizes.312 Khristian Paterhan C. imaginava que nele o seu Traço Principal não tinha a menor chance de ser superado. . que são um fracasso e que talvez não consigam o que almejam. Isso acontece com mais intensidade. mas ficava muito feliz quando o expe­ diente se encerrava e levava meu serviço sem problemas (. Veja os riscos dessa atitude. ou seja.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 313 Os problemas com hierarquias e autoridades Atente para a colocação de um dos nossos alunos do Tipo 7 já citados aqui. Por exemplo.. Veja como estes conceitos o afetam e/ou como as situações relacionadas com eles lhe provocam tensão. frustração. medo. menosprezam e minimizam a importância e as consequências dos fatos e situações que desejam controlar ou provocar. aumentam ou diminuem suas “ideias”. raiva. e/ou rejeição. Veja como as relaciona com as ideias de “liberdade” e “responsabilidade” e procure refletir nas suas reações e preconceitos relativos a elas.. não fugia da responsabilidade. quando a influência negativa do Ponto 8 se faz presente com a força de um “rolo compressor”. temores e preconceitos em relação às palavras “autoridade(s)” e “hierarquia(s)”. Controlando a agressividade e a luxúria Tipos 7 devem perceber quando se tornam agressivos demais. observe quando rejeita posições de comando ou chefia nas organizações e/ou empresas nas quais trabalha. Aprenda a crescer com esta observação no dia-a-dia. .)” Observe de que modo os Pontos 6 e 8 interferem. reafirmando suas capacidades e mostrando-se “fortes” e “decididos” além da conta. Também observe como “gula” e “luxúria” se complementam não deixando que você se sinta satisfeito com o que tem no momento e fazendo com que perca a capacidade de “curtir” a vida como ela é. nas poucas vezes que substituí o chefe. e observe qual seria sua atitude em relação ao mesmo assunto: “Em mais de 30 anos de serviço nunca fui chefe e. quando os Tipos 7 sentem que as pessoas poderiam estar contra seus planos e desejos pessoais e/ou quando debocham. quais os “limites”. Conquistando a virtude do equilíbrio Já tratei desta virtude quando me referia aos riscos da “gula” e da “intempe­ rança”. Não exagere sua importância. de saber qual o “fiel da balança”.” O desequilíbrio dos Tipos 7 se dá quando estes exageram na “consideração interna” e em suas fantasias. mas nem tudo lhe é conveniente. No caso de Tipos 7. Fundamentalmente. vivências. a virtude do Equilíbrio tem a ver com as de temperança e sobriedade. O Equilíbrio que Tipos 7 devem conquistar está atrelado ao conceito de “Discernimento”. etc. Aqui a palavra limite não deve ser atrelada à ideia de perda da liberdade e sim à ideia de “temperança”. projetos. Também é interessante refletir que “equilíbrio” se define algumas vezes como “capacidade de aguentar uma situação difícil”. quando as doses de prazer almejadas são mentalmente exageradas. Frustração e Desmoralização. ou Círculo IFD. com o qual todo . Elas fazem parte da existência. A procura do máximo de prazer oferecido por todos os estimulantes externos (situações.314 Khristian Paterhan C. reflexiva e consciente de tudo e qualquer coisa. opções variadas.) é IDEALiZADA. gerando-se então um círculo vicioso semelhante ao que a psicologia moderna chama de Círculo da Insatisfação. É interessante notar que a palavra “equilíbrio” tem também uma relação estreita com as palavras “harmonia” e “igualdade”. o equilíbrio se perde quando você “perde o controle” de si mesmo e das suas escolhas e decisões. No Equilíbrio está implícita a ideia de “saber pesar”. que tanta influência exerce em Tipos 7. Tente observar como a procura de prazer sem medida o afasta da possibilidade de ir fundo em seus relacionamentos e responsabilidades. não fuja das situações difíceis e dolorosas. não as ignore. Todos estes “conselhos” apontam ao mesmo ponto: nunca exceder-se. o que gera uma fuga ao reino da fantasia e dos sonhos. Portanto. ou seja: permitir-se a escolha certa. O excesso está relacionado com a tendência à luxúria do Ponto 8 e guarda relação com a atitude agressiva que caracteriza este seu “companheiro” eneagramático. O segredo do equilíbrio está nessa frase bíblica que diz: “Tudo está permitido ao homem embaixo do sol. a vida é um maravilhoso presente e. O conceito de liberdade para eles está atrelado tanto ao fato de ter muitas opções e muitas atividades sempre. Relacionando liberdade e responsabilidade com o autoconhecimento Os Tipos 7 sempre reclamam para si a liberdade e a amam. As expectativas aumentam ilimitadamente junto com as possibilidades de achar insatisfatórios os resultados e/ou frutos dessas experiências. “Eu sou livre” é uma de suas frases prediletas. Vejamos como nossa aluna nos explica isto: “Tenho muitas atividades.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 315 o provável prazer futuro que virá como produto dessas experiências. estudo vários assuntos. na qual tudo pode ser expresso e tudo faz parte da harmonia que atribuem a uma existência sem cercas nem obstáculos de nenhuma espécie. Por esta razão. Sentem que a vida é inesgotável e “dá para todos” sem achar que correm o risco de perder sua parte dessa dádiva preciosa que é a existência. o que eu acho mais adequado neste caso. Não gosto de compromissos porque podem atrapalhar as minhas . é inflacionado. Praticam tudo. quanto à ideia de não ter “rótulos” nem limites. Esta provoca. porque no fundo só podiam existir fora da realidade. são entusiastas e muito falantes. Eles produzem ao seu redor uma atmosfera aberta. Quando se trata de sujeitos equilibrados. ou. As pessoas se sentem atraídas por esse jeito “generalista” que eles passam. permitem que tudo se manifeste plenamente e se surpreendem sempre com tudo o que de positivo ela oferece. Para eles. às vezes. de abatimento da moral e de desapontamento/decepção. sobrevém a FRUSTRAÇÃO. gera um processo de desilusão no sentido de que a fantasia e o sonho não se realizam. Sabem tudo. a sensação de que talvez faltou algo e gera um processo de DESMORALiZAÇÃO. cheios de ideias e soluções “criativas” para tudo. buscando sempre o novo. este senso de liberdade é positivo. conhecem tudo. como expressão de agradecimento. quando o “contato” com a realidade demonstra que o fruto dessas experiências não era tão “maravilhoso” assim. Então. Não gosto de combinar nada com antecedência. na . a serem escravos das exterioridades que procuram sem discernimento e sem limites... o que é mais grave. ficar só para realizar as coisas das quais gosto. Parece não implicar responsabilidades. quanto a ser religiosa ou mística.. por exemplo. Existe aqui um sutil movimento negativo ao Ponto 5 do Eneagrama: a liberdade só é válida para mim e seu gozo e benefícios serão só meus. Não aceito com facilidade a rotina. é claro. porque necessito desempenhar muitos papéis e muitas funções (. Como já mencionei anteriormente. pode provocar muitos problemas e.)” Porém quando se trata de Tipos 7 menos equilibrados. os outros apenas serão “utilizados” para eu atingir meus propósitos.. não para os outros. podem ser deixadas ou abandonadas. O narcisismo joga um papel importante nesta distorção do significado da própria liberdade. a nível espiritual e intelectual. Relação só admito com pessoas com as quais me sintonizo. experiências e coisas são desfrutadas. creio que me é mais interessante comunicar-me do que realmente relacionar-me. ou racional ou emocional porque creio ser um pouco de tudo (.. Com a mesma facilidade com que as pessoas. este “amor pela liberdade” pode ficar “torto” e até perigoso. o fizeram apenas com o objetivo de obter o melhor para eles e só para eles. quando me dedico a algo. só próximo à realização decido o que fazer (. alguns Tipos 7 se tornam odiados pelos que cativaram porque.316 Khristian Paterhan C. opções em algum momento. (. Enfim. A liberdade é válida somente para eles.) Tenho pressa. os Tipos 7 passam. Ao mesmo tempo e devido a ficarem objetivando apenas seu próprio benefício.. Quero ser livre. Como lembra a raposa ao principezinho no conto de SaintExupéry somos responsáveis pelo que cativamos o que Tipos 7 tendem a esquecer quando centrados demais em si mesmos. Gosto de solidão.. Alguns se tornam espertos na arte de fugir de qualquer situação ou relacionamento que os tenha entediado ou nos quais já não tenham mais interesse. O desfrutar da liberdade é um direito só deles. esqueço assuntos também relevantes. paradoxalmente.. situações.) Não admito que me rotulem. uma séria distorção da relação existente entre responsabilidade e liberdade.) A questão dos limites é difícil. Por esta razão. Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 317 ânsia de sentirem-se capazes de fazer tudo e viver tudo. A capacidade de discernir. desejos. porque chamamos de “minha vontade” apenas os nossos desejos mais fortes). Este é o momento mais paradoxal na vida de Tipos 7 desequilibrados. tomam conta dos Tipos 7 quando estes decidem que ninguém nem nada pode estar entre eles e os objetos de seus planos. para conhecer a Verdade que nos fará realmente livres. relacionamentos são um estorvo. então. e anarquizam os ambientes nos quais atuam. passando por cima de normas e regulamentos. só poderá ser satisfeito quando eles olhem . Talvez seja necessário aprender que a renúncia à nossa limitada vontade (às vezes inexistente. Acontece. Burlam a autoridade. quando acabam de discernir os “limites” e “perigos” que a pseudoliberdade e a pseudovontade escondem. ganhar a Vida”. etc. Estas atitudes não só lhes pode provocar graves problemas pessoais. também se perde. se perde. No começo deste capítulo. o que é mais conveniente e o que é menos conveniente. ou seja. Os excessos. Talvez seja esse o segredo para “perdendo a vida. seja o caminho para conhecer a verdadeira Vontade. Quando isto acontece. não respeitam as convenções. citei ensinamentos de Gurdjieff sobre questões relacionadas com este Tipo Eneagramático e seu Traço Principal. o risco de achar que as pessoas. O anseio que muitos Tipos 7 declaram sentir pelo conhecimento de si mesmos. e vontades. o casamento e outros relacionamentos. os trabalhos. então. se tornam odiosamente egocêntricos e passam a não enxergar as necessidades alheias. segundo alguns textos sagrados. o trabalho é abandonado. como também causar grandes prejuízos à(s) pessoa(s) com eles relacionadas profissional ou familiarmente. A liberdade. se tornam “rebeldes sem causa”. assim como os deveres que o viver em sociedade impõe sejam tidos como “prisões”. enxergar o que é mais útil ou o que é menos útil. No fundo. Talvez isso signifique renunciar ao que habitualmente chamamos de nossas liberdades. Em especial sobre os conceitos de liberdade e os erros de uma autoimagem inflacionada. Gostaria que você voltasse a ler essas citações agora. o matrimônio e os filhos parecem um empecilho. então. esteve sujeito a alguma vontade estranha e nunca tomou. Esse conhecimento de sua própria nulidade. e ao mesmo tempo duvidam quando chega o momento de decidir seguir um caminho objetivo e não fantasioso que conduza até o Ser (ou estão duvidando do seu “caminho” atualmente). nenhuma decisão por si mesmo. Por mais estranho que possa parecer. a suas concepções. pode acabar com o medo de submeter-se à vontade de outro. implica a decisão de confiar e percorrer o mundo interior com segurança e confiança absolutas (Ponto 8) nos sinais fiéis e mapas fidedignos que nos deixaram aqueles que conheceram a Liberdade Total do Ser. ao mesmo tempo. de fato. E é duro para ele renunciar a essa ilusão de que ele próprio dirige e organiza sua vida. e somente ele. Além disso. se não conseguiu dar-se conta previamente de que assim não sacrifica nem modifica realmente nada em sua vida. deve dar-se conta de que nada pode perder. Considera que tem o direito de escolher livremente. O homem tem medo de que o façam fazer coisas contrárias a seus princípios. um dos maiores obstáculos que um homem encontra no seu caminho. podem apresentar dificuldades insuperáveis para um homem. Como sei que muitos Tipos 7 desejam iniciar o caminho do autoconhecimento (ou estão trilhando algum para consegui-lo). porque nada tem a perder. enquanto as pessoas não se tiverem libertado dessa ilusão. deve dar-se conta de sua nulidade no sentido amplo do termo.318 Khristian Paterhan C. não existe trabalho possível sobre si. a submissão à vontade de outro. O homem deve dar-se conta de que não existe. esse medo é. verdadeiramente. além de seus espelhos narcisistas e decidam dar o “grande pulo” em direção à fonte na qual a Gula e o Desequilíbrio desaparecerão para sempre: o Ser. mas também para todos os que procuram níveis superiores de consciência: “A renúncia às suas próprias decisões. durante toda a sua vida. No entanto. Mas o homem não é consciente disso. a suas ideias. esse medo produz imediatamente nele a ilusão de que . Isso requer um ato Corajoso (Ponto 6) e. uma vez que. vou concluir esta parte solicitando a você que reflita nestes conselhos que Gurdjieff deixou não somente para Tipos 7. que nada pode superá-lo. O homem não compreende que a subordinação à vontade de outro .) Frequentemente o medo de submeter-se à vontade de outro é tal.. concepções e convicções que. nunca teve e seria incapaz de ter (...” .é o único caminho que pode conduzi-lo à aquisição de uma vontade própria.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 319 realmente tem princípios.. na realidade. . Palavras Finais O Eneagrama positivo e a possível evolução humana . . não vai ao dentista. porém.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 323 A importância da observação e da lembrança de si Gurdjieff ensinava que a evolução do ser humano podia ser compreendida como “o desenvolvimento nele de faculdades e poderes que nunca se desenvolvem por si mesmos”. Você não decide ir ao dentista. ou que está necessitando comer um pouco mais. fazer um check-up geral. ou que talvez seja necessário começar a praticar alguns exercícios porque está “perdendo a forma”. Enfim. ou para prevenir certas doenças. médicos e terapeutas corporais. . dos quais não menos de 50% afetam sua vida emocional e/ou intelectual. não inicia sua dieta. Você pode observar seu Centro Físico. difíceis de praticar: A “Observação e Lembrança” de nós mesmos e a prática da “Desidentificação (Não identificação) e da Consideração externa”. mas você pode adiar essa decisão até que a dor ou o problema ultrapassem certos limites toleráveis. você pode observar seu Centro Físico. com a ajuda de especialistas. Você pode também observar seu Centro Emocional. Ensinava que essas faculdades e poderes podiam ser desenvolvidos somente por meio de um constante trabalho sobre nós mesmos. também. É fácil perceber que podemos realizar um processo de auto-observação. ou para corrigir diversos problemas físicos. de que precisa perder alguns quilos. segundo importantes estudos e pesquisas. que usarão conhecimentos. técnicas e tecnologias avançadas para detectar alguma doença. Se você esquece o observado. ou esquecer a importância de uma “observação” constante. porém não é fácil lembrar dessa necessidade sempre e deliberadamente. você pode cuidar dele esteticamente e assim por diante. Tudo isto para garantir sua saúde. fundamentado em três processos aparentemente simples. Por exemplo: você “sabe” que deve ir ao dentista. sua dor “decide” quando você esquece. Porém você poderia esquecer aquilo que for observado. E graças a essa observação você até fica em condições de dar-se conta. A lembrança é necessária. não se lembra de praticar seus exercícios corporais e /ou de fazer exames médicos periódicos e necessários. então. Você pode observar seu corpo ou Centro Físico? Claro que pode. por exemplo. acha que não consegue conter certas reações emocionais “desagradáveis”. pelo fato de não se lembrar de si mesmo. você “esquece” de praticar o que esses especialistas e métodos lhe indicam e você volta a ter todas essas reações “emocionais” desagradáveis não conseguindo modificá-las. “gostaria de controlar minha mente” e assim por diante. psicoterapeutas e outros profissionais. e sabemos que o esquecimento de si mesmo é um dos fatores eneagramáticos nucleares. “acho que fui muito duro com meu filho”. Especialistas de áreas alternativas. seus “estados mentais”.324 Khristian Paterhan C. Às vezes. “gostaria de ter um pensamento mais positivo”. Mas você volta a pensar negativamente. ou. ou. observar seu Centro Intelectual. orientadores. Você esquece que pode modificar o que tinha observado. analistas. são difíceis de conquistar. porém. correspondente ao Ponto 9 do triângulo equilátero. Tanto esquecer observar quanto esquecer o que essas observações feitas no Centro Físico. Novamente existem apoios externos que podem lhe ajudar nessa procura do domínio mental: métodos diversos de controle mental. “gostaria de ser menos agressivo”. Nós nos damos conta de que é necessário mudar. certo? Às vezes você diz: “eu não gostaria de pensar essas coisas”. imaginação criativa. ou diz. ou com a ajuda dos profissionais e técnicas adequadas. podem ajudá-lo nessas observações relativas ao seu “Centro Emocional”. você pode. meditação. Emoções ruins que perturbam você ou seus seres queridos. Emocional e Mental implicam em termos de mudanças ou cuidados. memória. Práticas de autocontrole e autoajuda também são valiosas. que é o único Centro capaz de estar sempre “presente” e é somente no presente que . ou. amigos ou colegas. por si mesmo. “mudar alguns modos de pensar seria bom para mim”. Finalmente. volta a ser controlado por sua imaginação. psicólogos. às vezes. você acha que deveria fazer algumas mudanças “emocionais” e que isso seria muito bom. levam a um forte esquecimento de si mesmo. enfim. o qual se relaciona justamente com o Centro Físico ou Centro do Movimento. técnicas de desenvolvimento das suas faculdades de concentração. certo? Às vezes você diz: “eu não gostaria de ser tão sentimental”. Porém. etc. seus pensamentos. você percebe que está atuando emocionalmente de um modo inadequado. “por que imagino tantas besteiras?”. não lembramos disso no momento certo. na verdade. A maioria das pessoas “entende” que deve realizar mudanças em si mesmas. Um dia lê um artigo sobre os perigos do fumo.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 325 tudo aquilo que você quer e poderia modificar está acontecendo. etc. “com o cigarro consigo pensar melhor”. ou se torna um conhecimento morto. entende. Mas continua fumando. . mas não consegue compreender que “o cigarro é prejudicial à saúde”. Ele é uma pessoa inteligente. e se “identifica” com o cigarro dizendo coisas como: “o cigarro me acalma”. Aquilo que você não compreende. “acho que deveria parar de fumar”. é fácil de esquecer. Ele. Compreender é o processo que provoca as mudanças reais que fazem com que o observado seja lembrado. passa sem deixar rastro. Aquilo que você não ama não tem importância real para você. Compreender é ter atingido a lembrança de si mesmo. Somente a “compreensão” poderá modificar esse quadro. a consideração do que realmente acontece e não do que “achamos” ou “imaginamos” ou “supomos” (Ponto Nuclear 6 no Eneagrama). Compreender não nos permite mentir nem para nós mesmos nem para os outros. ou um repentino “choque” na sua saúde. Mas você não lembra de si mesmo. ele se arrependerá de não ter conseguido “amar a si mesmo”. ele se autoengana. Seu intelecto sabe. Porém. que isso são bobagens. Então ele não conseguirá “esquecer” que deve mudar. talvez o início de um câncer pulmonar. e lembrar-se de si mesmo tem a ver com o desenvolvimento dos seus Centros Intelectual e Emocional. ou seja. Vou dar um exemplo do que estou afirmando: um indivíduo fuma há muito tempo e ele começa um dia a observar que isso lhe faz mal. porque esquece o valor de seu corpo e não se ama. ele valorizará seu corpo. sem efeitos na sua vida. Você só pode lembrar aquilo que compreende e ama. é tarde demais para modificar os resultados de seus esquecimentos.. “nada como um cigarro para eliminar a tensão”. mas não compreende. ou seja. Ele concorda com os dados que nesse artigo aparecem. mas poucas o “compreendem”. Porém esquece e continua fumando. mas ele não consegue realizar o que de vez em quando lembra. “fumar é charmoso”. você esquece. Ele mente a si mesmo (Ponto Nuclear 3 do Eneagrama) e diz que nada vai acontecer. às vezes. atribuindo ao cigarro “virtudes” que não possui. apesar de essa frase aparecer em cada maço de cigarros que ele compra. Se você descobre que é um Tipo 9. ou seja. a supor que as pessoas podem querer “atacá-lo” sempre. deverá constatar como esse Traço Principal o leva a “considerar” pessoas e eventos “internamente”. prejulga. sem acomodá-las aos nossos “modos de ver as coisas”. sem julgá-las apressadamente. contudo é definitivo. Cada Tipo Eneagramático tem sua maneira de “esquecer”. os modos como você julga. que não é capaz de fixar prazos e datas para realizar seus planos. ver as coisas sem preconceitos. ou seja. se manifestam automaticamente em função desse seu Traço Principal. você conseguirá alcançar a capacidade de “considerar externamente”. é necessário cultivar a “consideração externa”. Sem lembrança não existe observação e sem observação não existem possibilidades de lembrança. Somente deste modo as mudanças positivas vão acontecer. enfim. Deverá se lembrar de fazer isto todas as vezes que for possível. verá como sua “consideração interna” o leva a criar inimigos que não existem. Este não é um processo rápido. Só é possível mudar e evoluir. as pessoas e as situações como elas são e não como você imagina que são. internamente nunca”. Quando sua capacidade de “observação” e “lembrança de si” aumentem. poderá ver as coisas. ou seja. Se você descobre que é um Tipo 8. você percebe que esquece suas próprias necessidades. Quando conseguir “isolar” seu Traço Eneagramático Principal.326 Khristian Paterhan C. Porém. quando aprendemos e compreendemos o valor da observação e lembrança de nós mesmos e quando aumenta nossa capacidade de “considerar externamente sempre. “considerar” e de se “identificar” negativamente. que você “adormece”. decide. para observar “corretamente”. É deste modo que conseguiremos vivenciar o Eneagrama Positivo por meio do qual é possível a evolução a níveis de consciência superiores. que sua agressividade é a forma como se “esquece de si mesmo”. É necessário apenas lembrar-se sempre e em todo momento de si mesmo e da sua relação com a existência. sem prejulgamentos. você terá que “observar” como ele se manifesta na sua existência. sem medos. A Lei Hermética de Polaridade explica o positivo que existe por trás de cada Traço/ou Defeito Principal. Ela diz: . reage. da Lembrança de Si e da Consideração Externa. para cada um desses aspectos negativos que devemos “modificar” mediante a Observação. e a Luxúria.” Aplicando esta Lei ao Eneagrama dos Traços Principais. relacionada com o Traço Principal dos Tipos 9. é que podemos amar o Ser em nós mesmos e o Ser presente em todos os nossos próximos e em toda a existência. O Medo. mas diferentes em grau. existe uma virtude. . Orgulho ou Vaidade. todos os paradoxos podem se reconciliar. descobrimos que.” Deus é o Ser Real e recuperar sua “glória” tem a ver com a necessária vivência do mandamento bíblico: “Ama a Deus acima de todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo. a “prática” de cada um deles provoca o “medo” de perder o Ser. os semelhantes e os antagônicos são o mesmo. tudo tem seu par de opostos.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 327 “Tudo é duplo. Conservei o nome das virtudes de acordo com as pesquisas de O. relacionada com o Traço Principal dos Tipos 8. de ficar fora do “Superior”. relacionada com o Traço Principal dos Tipos 4. Cada Traço produz afastamento do Ser Verdadeiro. os extremos se tocam. todas as verdades são semiverdades. Helen Palmer e outros autores. relacionada com o Traço Principal dos Tipos 7. Todos sabemos que os Sete Pecados Capitais são: A Indolência ou Preguiça. o leitor pode reler no final de cada análise das “máscaras eneagramáticas” neste livro e refletir. Acerca destes poderes ou virtudes. a Soberba. a Intemperança ou Gula. Como diz o apóstolo Paulo: “Porquanto todos pecamos e estamos destituídos da glória de Deus. Ichazo e como foram citadas na obra da Dra. e portanto. relacionada com o Traço Principal dos Tipos 2 e 3. o que ajudará a entender os seguintes e valiosos ensinamentos de Gurdjieff. a Avareza. a Inveja. a Ira ou Raiva relacionada com o Traço Principal dos Tipos 1. relacionado com o Traço Principal dos Tipos 6.” Somente quando amamos o Ser acima de todas as coisas. os opostos são idênticos em natureza. um poder potencial que podemos desenvolver mediante um trabalho deliberado e permanente de autoconhecimento. seria o resultado “mental” de “culpabilidade” que produzem a manifestação e os resultados dos Sete Pecados Capitais. relacionada com o Traço Principal dos Tipos 5. A fé do corpo é estupidez. com o Verdadeiro Amor (Reta Ação. Serenidade e Inocência). promovendo a “Coragem”. O amor do sentimento provoca o contrário. a partir desse momento. a Equanimidade (4). A esperança do sentimento é servidão. e também num dos já citados Aforismos: “A Fé (Ponto 6) da Consciência é Liberdade. Por acaso existem um Falso Amor. sim. A esperança do corpo é doença. e. transcrevo o que Gurdjieff diz sobre isso nos Relatos de Belzebu a seu Neto. com a Verdadeira Esperança (Humildade. uma Falsa Esperança e uma Falsa Fé? Segundo Gurdjieff. A fé do sentimento é fraqueza. quem consegue desenvolver esses poderes ou virtudes não pode ter mais medo. Fé e Esperança). virtude atrelada ao Ponto 6 do Eneagrama e que significa Agir desde e com o Coração. A Esperança (Ponto 3) da Consciência é Força. em Relatos de Belzebu a seu neto) . Veracidade e Honestidade (2 e 3). o qual é tido em todas as Tradições Sagradas da humanidade como o Templo do Ser. O Amor da Consciência (Ponto 9) provoca o mesmo em resposta. Estas virtudes estão relacionadas.” (Gurdjieff. Logicamente. Coragem e Equilíbrio). o Equilíbrio ou Temperança (7) e o Contentamento ou Inocência (8). O amor do corpo não depende senão do tipo e da polaridade. o Desapego (5). será ele quem vai atuar mediante a personalidade. O resultado dessa possível nova atitude consciente será o surgimento dos Poderes ou Virtudes: A Reta Ação (9).328 Khristian Paterhan C. E todo o nosso trabalho interior deve estar relacionado com a capacidade de distinguir entre as expressões verdadeiras e falsas daquilo que no Cristianismo é tido como as Virtudes Principais (Amor. O Ser pode ser sentido no coração. então. Veracidade e Equanimidade) e com a verdadeira Fé (Desapego. a Serenidade ou Paciência (1). Para que você reflita sobre este assunto e faça as relações correspondentes. a Humildade. 35 e 36 de Gurdjieff como aparecem no livro Gurdjieff fala com seus alunos). A esperança mesclada de temor é fraqueza.Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 329 “O Amor Consciente (9) provoca o mesmo em resposta. O amor emocional provoca o contrário. que se escondem por trás de cada Traço ou Defeito Principal. A fé mecânica é estupidez. A Fé Consciente (6) é liberdade. e a Esperança Consciente. relacionado com a Lembrança de si mesmo. A fé emocional é escravidão. relacionada com a Desidentificação. relacionada com a Consideração Externa.” (Aforismos 34. pesquisados por Ichazo e outros. a Fé Consciente. A Esperança (3) Inquebrantável é força. De autoria de Khristian Paterhan-1997 . Lembrança de si mesmo Amor Reta Ação / Paz Inocência / Sensibilidade Justiça / Poder interior / Não violência 9 8 1 Serenidade / Moral objetiva Perfeição verdadeira / Flexibilidade Equilíbrio / Liberdade Satisfação / Justo Meio / Plenitude / Perseverança 7 2 Humildade/ Doação consciente/ Fraternidade/ Colaboração/ Amizade desinteressada Fé / Coragem / Controle imaginativo / Ver a realidade tal qualela é Consideração externa 6 3 Desidentificação Esperança / Verdade / Autenticidade / Realização / Honestidade 5 Desapego / Compreensão Doação verdadeira / Tolerância / Mente Holística 4 Equanimidade / Sofrimento consciente Estar e sentir no “presente” / Contentamento Gráfico das Virtudes e Poderes. destacando os três que Gurdjieff ensinava como fundamentais: o Amor Consciente. O amor físico depende do tipo e da polaridade. A esperança mesclada de dúvida é covardia. 330 Khristian Paterhan C. e com o movimento no triângulo equilátero 9.3. devido à dinâmica e à inter-relação matemática existente no Eneagrama.. presente no movimento externo relacionado com a dízima periódica 0. quando iniciamos o processo de autoconhecimento.. Qualquer que seja seu Traço ou Defeito Principal.. todos os demais começam a ser superados..142857142857. isso significa que. trabalhando acima do nosso particular Traço Principal..6. 9. relacionada com seu Traço ou Defeito Principal.9. Ao mesmo tempo.6. . você perceberá que todos os seus demais defeitos se ordenam de acordo com ele.3. manifestando-se com maior ou menor força em relação a ele. Lembre que todos os Tipos e Traços estão presentes em você e que a sequência e o movimento eneagramático começam a partir da sua posição no Eneagrama. Referências Bibliográficas . . ____. 1997. Naranjo. 1987 Speeth. Don Richard. Helen. Rio de Janeiro: Objetiva. São Paulo: Pensamento. 1993.I. 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O Eneagrama: compreendendo a si mesmo e aos outros em sua vida. O Eneagrama no amor e no trabalho. Gurdjieff fala a seus alunos. 1994. .334 Khristian Paterhan C.
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