É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto às características gráfi cas e/ou editoriais. A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art. 184 e Parágrafos, e Lei nº 6.895, de 17/12/1980) sujeitando-se à busca e apreensão e indenizações diversas (Lei nº 9.610/98). Todos os direitos desta Edição reservados à Universidade Federal do Paraná. Impresso no Brasil Printed in Brazil Depósito Legal na Biblioteca Nacional, conforme decreto n 1.825, de 20/12/1907 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) XXX Empreendedorismo com foco em negócios sociais / Ana Lúcia Jansen de Mello de Santana, Leandro Marins de Souza (Organizadores). – Curitiba : NITS UFPR, 2015. 172 p. ISBN 978-85-XXX-XXXX-X. 1. Negócios. 2. Empreendedorismo. I. Santana, Ana Lúcia J. M., org. II. Souza, Leandro Marins, org. CDU 614:658.3 Coordenação Editorial Ana Lúcia Jansen de Mello de Santana Leandro Marins de Souza Capa e projeto gráfico Luiz Gustavo Schmoekel Produção editorial expression|SGI Imagens gentilmente cedidas por YUNUS Brasil SUMÁRIO Apresentação Capítulo 1 Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais 1. Introdução 2. O estudo de mercado 2.1 As variáveis qualitativas: estudo do produto, sua identificação, taxa de reposição e ciclo de vida 2.2 As variáveis quantitativas 3. Os aspectos técnicos e financeiros do projeto 3.1 O orçamento operacional4 3.2 O orçamento de caixa5 3.3 O horizonte financeiro do projeto 3.3.1 Os investimentos: o emprego das ferramentas de engenharia econômica para tomada de decisão 3.3.2 O quadro do fluxo de caixa 4. Considerações finais Capítulo 2 Investidores em negócios de impacto 1. Introdução 2. Perfil e interesse dos investidores de impacto 3. Conclusão Capítulo 3 O modelo de negócios: propostas e avaliação de impacto 1. Introdução 2. O modelo de negócio 3. Avaliação de impacto do negócio social 4. Considerações finais Estruturação jurídica de um negócio social 3. Considerações finais Capítulo 6 Cases paranaenses de negócios sociais 1. Formas de investimentos em negócios sociais 5. Conclusão Capítulo 5 Empreendimentos sociais na conjuntura contemporânea das inovações tecnológicas 1.Capítulo 4 Aspectos jurídicos dos negócios sociais: noções gerais 1. Solidarium Capítulo 7 Negócios de impacto social no Brasil 1. Negócios sociais na era digital 5.1 Limites à distribuição dos lucros 4. Sociedades empresárias 3.2 Tecnologia 3.1 Inovação 2. Terra Nova 3. Introdução 2. Introdução 2. Obrigatoriedade de obediência à legislação trabalhista. Introdução 2. Negócios de impacto social . Tecnologia e inovação no contexto dos negócios sociais 4. Introdução 2. ambiental e tributária 6. Conceitos-chave 2. 2.2 O Case Grameen Veolia 2. Introdução 2.3.2 A solução 3.1 O problema social 3.2.3. Conclusão: uma nova geração de negócios Capítulo 8 Muhammad Yunus e os negócios sociais 1.3 O Case Etre Ayisye: Instituto de Empreendedorismo 3.3.1 Negócios de impacto social diminuem custos de transação oferecendo produtos e serviços que diminuam ou eliminem barreiras de acesso a bens e serviços essenciais 3.3 O modelo de negócio 3. Mais Vida 3.5 Metas para 2014 3.2.4 Impacto .3 O Case Eye Care Hospital 2.3.1 O Case Vitalius: Mais Nutrição.1 O problema social 3.4 O Case Grameen Shakti 2.2. Cases de Bangladesh 2.5 Negócios de impacto podem contribuir para o fortalecimento da cidadania por meio de produtos e serviços essenciais para uma qualidade de vida digna.4 Negócios de impacto podem promover oportunidades de desenvolvimento para que pessoas de baixa renda fortaleçam seu capital humano e social 3.1 O Case Grameen Danone 2.3 O modelo de negócio 3.1.3 Negócios de impacto ampliam possibilidades de aumento de renda quando atuam no aumento das oportunidades de emprego estável ou na melhoria das condições de trabalho do microempreendedor 3.2 O Case Ruralive: Turismo Que Constrói 3.2 A solução 3. Cases da America Latina 3.1.4 Impacto 3.2.3 O modelo de negócio 3.1 O problema social 3. Como negócios geram impacto social 3.1.2 Negócios de impacto social reduzem condições de vulnerabilidade quando oferecem produtos que facilitem a proteção de bens conquistados e a antecipação ou prevenção de riscos futuros 3.5 O Case Grammen Distribution Ltda 2.3.6 O Case Grammen Caledonian College Of Nurses 3.2 A solução 3. Introdução 2. Considerações finais Autores .4 Evolução Histórica das Publicações internacionais 4. Negócios sociais e negócios inclusivos 4.1 Procedimento para Coleta e Análise dos Dados 4.10 Evolução Histórica das Publicações Nacionais 4.3 Bases de Dados Internacionais 4.Capítulo 9 Empreendedorismo social e negócios sociais: Um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional 1.7 Autores mais Citados 4. Empreendedorismo Social e Empresa Social 3.9 Bases de Dados Nacionais 4.11 Autores e Métodos de Pesquisa nas Bases Nacionais 5. Metodologia 4.6 Identificação dos Autores 4.8 Outras Análises 4.5 Países de Origem 4.2 Análise e apresentação dos resultados 4. Ana Lucia Jansen de Mello de Santana .APRESENTAÇÃO Profa. na realidade dos empreendimentos. organizado a partir de uma proposta intencional de apresentar amplo espectro do tema central “Empreendedorismo focado em Negócios Sociais”. num país em desenvolvimento como o Brasil. As características do empreendedor brasileiro levado a empreender por oportunidade desafiam a criatividade. prestação de serviços e distribuição/comercialização. Os autores. No caso dos Negócios Sociais ainda outros componentes precisam ser planejados: a inclusão das pessoas de baixa renda nos processos de produção. subsidiar e lançar os leitores a uma reflexão sobre uma nova EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS maneira de fazer negócios. a busca por inovações tecnológicas e o aumento da produtividade. fomos também levados a nos permitir compreender.ESTE É UM livro de produção coletiva. a prestação de serviços e a sua comercialização para parcelas da sociedade com menor poder aquisitivo e com reduzida visibilidade para a maior parte das empresas de mercado. permitindo alcançar resultados finais com custo de venda muito baixo e qualidade compatível com as exigências do grande mercado de consumo. oportunidades imensas a novos empreendimentos voltados para as pessoas na base da pirâmide social estão aguardando serem buscadas. Estamos seguros de que. como tem sido realizar a produção de bens. propiciando renda do trabalho. ditas tradicionais. esclarecer. de formações diversas. com segurança social. com a tarefa de informar. 8 Fortemente inspirados na concepção precursora de Muhammad Yunus. testadas e viabilizadas. . foram convidados a escrever capítulos relacionados ao tema sobre os quais têm maior compreensão. saúde. dar sua contribuição ao ambiente em que vive e usufruir dos benefícios do desenvolvimento. Este Projeto contempla um conjunto maior de etapas em desenvolvimento. às empresas. Falta-lhes educação. segurança social. para além do seu papel de consumidor. aos empreendedores e aos investidores. Este livro é etapa indissociável do Projeto “Empreendedorismo com foco em Negócios Sociais”. da desesperança. a proposta do ensino em disciplinas próprias ou transversais ao tema e o Congresso Internacional Negócios Sociais e Empreendedorismo. qualificação para o trabalho. apresentado pela Universidade Federal do Paraná ao Edital de Educação Empreendedora do SEBRAE Nacional. Leandro Marins de Souza. como nos ensina Yunus. Este livro se destina a todos aqueles que querem conhecer os Negócios Sociais. mas porque o ambiente que lhe é permitido crescer é limitante. da injustiça socioeconômica e da desigualdade de oportunidades que torna os cidadãos que se encontram nesta condição comparáveis a “bonsais”. A quem interessa participar desta mudança em processo? À sociedade em geral.além de treinamento. como também podem social onde atuam. Não é um Manual dos Negócios Sociais. até porque o leitor encontrará vários Apresentação ser denominados estes empreendimentos que buscam provocar um elevado impacto “cases” inspiradores nestas páginas e poderá perceber a vastidão de soluções que podem ser buscadas para o enfrentamento da pobreza. as Empresas Inclusivas ou o Setor 2½. enfim tudo para ter uma vida digna e prosperar. processo educativo. 9 . ambiente em que o livro em plataforma digital está sendo lançado ao público. Yunus. A Coordenação do Projeto Editorial é de responsabilidade compartilhada entre a Profa. este livro. Não porque a semente não seja boa. Esta produção foi possível pela dedicação e motivação de um corpo técnico muito qualificado e do apoio do SEBRAE nacional e da UFPR. moradia decente. Esta mudança gera paz na sociedade pela redução da segregação. capacitação. rompendo com barreiras invisíveis que criam todo tipo de dificuldade para o ser humano se desenvolver. pela diminuição da violência e pela esperança que traz. todas com um objetivo-mestre: disseminar o conhecimento sobre Negócios Sociais e sobre Empreendedorismo tanto na UFPR como no ambiente acadêmico mais amplo e por meio de outros ambientes incluindo as redes sociais. ao poder público. o site do Projeto. em 2013. vivência da cidadania. Ana Lucia Jansen de Mello de Santana e o Dr. saneamento básico. as Empresas Sociais. com a palestra de Abertura a cargo do Prof. Cleverson Cunha. Lígia Leindorf Bartz Kraemer e Nicole Maccali. Participaram como convidados a Professora Graziella Comini. a Comunicadora Institucional Andressa Molina. o Advogado Felipe José Olivari do Carmo. Amanda Sawaya Novak. Os estagiários Rodrigo Locatelli. José Wladimir Freitas da Fonseca. a organização Artemisia e a empresa Yunus Negócios Sociais Brasil. Elenice Novak. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Os autores esperam e agradecem os comentários e contribuições dos leitores. Fernando Drevek e Daniel Rocha. em co-autoria com Gabriela Pelegrini Tiscoski e Talita Rosolen. Pedro Paulo de Oliveira.A equipe técnica do Projeto envolvida na produção dos diferentes capítulos compreende os Professores Adilson Antonio Volpi. formam o time de colaboradores que facilitaram e facilitam todas as etapas do Projeto. 10 . Cícero Aparecido Bezerra. a Geóloga Janaína Chudzik e o Economista Leonardo Jianoti. CAPÍTULO 1 ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DOS NEGÓCIOS SOCIAIS Ana Lúcia Jansen de Mello de Santana Adilson Antonio Volpi José Wladimir Freitas da Fonseca . a saber: a) como se manter nessa nova dinâmica onde. melhor e de forma mais barata vários produtos por meio dos quais o Brasil já esteve na liderança de mercado. Não haverá desenvolvimento continuado. No Brasil neste início do século XXI esse desafio está posto e é emergente. o que implica em grande esforço na educação básica e no ensino técnico-profissionalizante de importante parcela da sociedade. e c) de que forma investir em algo diante de um cenário onde as diferenças sociais tendem a se aprofundar. por exemplo. que nas palavras de Fridman (2005) incorporam pessoas e empresas das mais diversas regiões as quais estão adquirindo poder-conhecimento. a qualificação para as novas atividades laborativas. a China e a Índia conseguem produzir mais rápido. sustentável e com segurança. sem o en- . a economia brasileira se 12 defronta com pelo menos três grandes desafios. É possível acrescentar outros desafios aos acima indicados: a necessidade da inclusão social de indivíduos no mercado de consumo de bens e serviços. a sua inclusão nos processos produtivos (mercado de trabalho e renda).1. onde o mercado mundial torna-se mais competitivo. as quais estão podendo comunicar-se de formas instantâEMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS neas. b) até que ponto os novos empresários estão dispostos a investir em projetos de novas indústrias quando dificilmente se tem alguma certeza quanto ao movimento destas novas economias emergentes em solo brasileiro. Introdução NUMA ECONOMIA CADA vez mais planificada. investimentos e priorização de seus agentes públicos (federais. a firma e o mercado. seja conhecendo cada vez mais as variáveis do mercado no qual está inserido. sob condições de riscos. e o debate sobre o papel da produção de conhecimento e da tecnologia 1. mais do que nunca. a criatividade e capacidade de inovação e gestão de seus empreendedores. b) induzir e estimular novos negócios sustentáveis (lucrativos) voltados para este mercado latente. bem entendidos. considerados como variáveis essenciais na dinâmica das organizações produtivas e. há a necessidade de bem avaliar uma decisão de investimento antes de se lançar num mercado em constante mudança. seja do lado da própria empresa. e c). em tese.frentamento na forma e ênfase necessárias para a superação gradativa da exclusão socioeconômica que é marca da nossa sociedade atual. Deste quadro redefinido é possível constatar que. entendido aqui como uma viabilidade de produto/serviço ao alcance mesmo daqueles que estão bem distantes de qualquer poder de negociação neste cenário de globalização. se de um lado o empresário/ empreendedor está mais atento aos problemas e às especificidades do mercado. Isso se aplica evidentemente por meio das relações que se constroem entre o empresário. por sua vez em rotinas que possibilitem processos inovativos no seio desta e da indústria. com planejamento. 13 . para o desenvolvimento econômico. de outro as diferenças sociais que se aprofundam neste processo de planificação/globalização necessitam de novas soluções como a tentativa de viabilizar economicamente um projeto de investimento sob o ponto de vista social. estaduais e municipais). Uma das características mais marcantes no universo econômico do início do século XXI é a transformação das experiências da firma em conhecimento. usar. Nesta visão que.buscar parcerias e recursos (econômicos e fiEstas e outras questões nos remetem a ideia segundo a qual. Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais nanceiros) dispostos a se multiplicarem enquanto miram estas novas oportunidades. O Brasil deverá direcionar esforços inovadores e persistentes de forma a: a) reduzir o tamanho da base de sua pirâmide social. e com isso dificilmente expandirá sua empresa ou lançará novo produto se não tiver algumas “certezas”. se apoia de um lado sobre a teoria Schumpeteriana e de outro sobre a teoria Evolucionista. é verdade que as diferentes teorias da firma repousam sobre uma hipótese implícita na qual a mesma é concebida como um organismo cujo objetivo é resolver problemas de informação. Isto pode ser traduzido em capacidade gerencial mais técnica. 2. o que possibilitará ampliar a dimensão dos negócios sociais ao analisar sua viabilidade econômica. No que concerne à classificação durável e não durável. o capítulo está dividido em duas partes: na primeira procura-se compreender as principais especificidades de um estudo de mercado. sua identificação. bem de capital e intermediário. afim de que se possa ter uma ideia da dimensão deste mercado. significa identificá-lo como bem econômico durável ou não durável. psicológicas e sociais que indicam o grau de envolvimento do indivíduo com a demanda de um produto ou serviço. taxa de reposição e ciclo de vida Identificar o produto significa contextualizar o bem econômico. não perdendo de vista que o contexto é de uma economia cada vez mais dinâmica e que o sistema econômico imperante continuará sendo o capitalismo. procura identificar as variáveis biológicas.Assim sendo. 2. não se deve desprezar o preço do bem. é preciso estar atento. o preço dos bens substitutos e a renda como variáveis relevantes da análise EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS qualitativa.1 As variáveis qualitativas: estudo do produto. pois tal classificação está relacionada à taxa de reposição do bem econômico assim como seu ciclo de vida. ao mesmo tempo em que deve haver uma reflexão sobre o consumidor 14 como um ser “biopsicosocialespiritual”. e na segunda parte. o estudo quantitativo vai mensurar estes dados. Estes sinais muitas vezes são bem claros: as . bem de capital ou intermediário. a saber: um estudo qualitativo e um estudo quantitativo. É importante lembrar que. Enquanto o primeiro. O estudo de mercado O PRIMEIRO PASSO para a análise econômica de um projeto/empreendimento é necessariamente o estudo de mercado que pode ser dividido em duas grandes partes. o objetivo do presente capítulo é procurar compreender os principais fundamentos de um projeto de investimento/empreendimento sob a ótica de sua viabilidade econômica e social. significa conhecer sua taxa de reposição e o seu ciclo de vida. o qualitativo. Dito diferentemente. Para tanto. chega-se a um momento em que todos os sinais apontam para o aumento do “chão de fábrica”. se estudam os aspectos técnicos e financeiros de uma análise econômica. Durante o processo de desenvolvimento de uma empresa (ou na etapa de elaboração de um projeto). estes sinais indicam que possivelmente a economia está aquecida. mas não necessariamente que o produto em questão seguirá neste ciclo virtuoso. acessórios para automóveis. É importante notar. etc. que nem todos os produtos são evidentes quanto à taxa de reposição quando se trata de duráveis. Todavia há necessidade de se separar os bens de consumo duráveis dos não duráveis. os produtos de limpeza e higiene domésticos são bons exemplos para se conhecer a taxa de reposição. ela representa o período de tempo que o produto fica nas mãos do consumidor até o momento do próximo pedido. etc. eliminando mesmo. Na verdade. novas fontes de financiamento surgem com juros baixos. por exemplo. Um exemplo marcante é o telefone portátil. No que concerne aos não duráveis. pois estas é que vão dar o ritmo da taxa de reposição sinalizando. ainda nesta classificação. Quanto aos duráveis há necessidade de se fazer uma divisão em dois grupos: os que apresentam uma forte relação com o avanço tecnológico e os que apresentam uma fraca relação. os eletrodomésticos e os eletrônicos domésticos. é até onde estes sinais mais conhecidos pelo empresário são suficientes para se determinar com segurança um aumento no “chão de fábrica” que se traduz em expansão ou mesmo implantação. provocando um efeito conhecido como substituição tecnológica (aqui a importância das inovações radicais e incrementais). Pode-se. é preciso estar atualizado quanto ao surgimento das novas tecnologias e inovações em design. a possibilidade de uma expansão. a saber. A questão. como por exemplo. etc. por exemplo. Num prazo não superior a três anos a indústria de celulares conseguiu colocar no mercado mundial três gerações de celulares.encomendas (pedidos) aumentam. Este ciclo pode estar atrelado a uma bolha de consumo resultante das festas natalinas ou páscoa cristã. Neste caso. novo layout. nova política de crédito ao consumidor é editada. ou por uma questão de moda. e conhecer o período de tempo no qual uma barra de sabonete ou fralda para uso de bebês ou de uso geriátrico é consumida. Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais Neste sentido surge como variável a ser investigada a taxa de reposição. pois novas técnicas de produção.. fazer uma estimativa a partir do número de famílias e seus membros. Os produtos do primeiro grupo. são influenciados consideravelmente pelo surgimento de 1. Se a taxa de reposição é baixa significa que o produto será adquirido poucas vezes num determinado período de tempo (ele se esgota menos) desta forma o volume de produção é necessariamente menor do que um produto com uma taxa de reposição mais elevada (neste caso ele se esgota mais rapidamente). assim. um após o outro quase que descartando. Os duráveis do segundo grupo normalmente apresentam uma taxa de reposição baixa na medida 15 . a geração anterior. em que são influenciados pelo comportamento do consumidor quanto à preferência em uma determinada marca, um hábito adquirido ou a confiança no produto. Assim, conhecer a taxa de reposição do produto e suas implicações é condição mais do que necessária para se estabelecer uma estratégia de expansão da empresa ou o lançamento de um produto novo no mercado. Por outro lado, somente o conhecimento da taxa de reposição não garante certezas quanto à dimensão do mercado em face das características “biopsicosociaisespirituais” do consumidor. Dois casos interessantes revelam o problema: o caso da Procter & Gamble e o caso da Pepsi Co. Na década de 1980, a Procter & Gamble alcançou sucesso com um produto de higiene feminino chamado Always. Entre outras coisas, o produto era inovador, pois tinha um novo material que era mais absorvente e menos volumoso, e incluiu abas adesivas que prendiam o produto na roupa de baixo. Logo a marca Always se tornou líder de mercado entre as mulheres dos EUA e em outros países desenvolvidos. O sucesso foi tão grande que reforçou a ideia de que as mulheres menstruadas em Tijuana não eram diferentes das de Tallahasse e de New York. Esta ideia pareceu funcionar por um tempo, mas o primeiro mercado a sinalizar problemas foi o México onde as vendas foram caindo no final da década de 1990. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS A equipe de pesquisa da Procter & Gamble percebeu que o problema era que, embora a biologia feminina dos EUA fosse igual à biologia feminina do México, as mulheres do México enfrentavam as seguintes situações que as norte-americanas ou as francesas não enfrentavam: elas tinham de suportar longos trajetos para o trabalho, utilizando transporte público; tendo acesso limitado a banheiros públicos com sanitários higiênicos; costumam morar em casas ou apartamentos pequenos, onde têm pouca privacidade do tipo que as consumidoras em mercados desenvolvidos desfrutam, e não era incomum (durante a pesquisa) encontrar vários membros da família dormindo na mesma cama. As mulheres muitas vezes usavam seus absorventes por um período anormalmente longo o que levava ao desconforto, irritação na pele e odor. Além disso, o fato de viver muito perto dos seus familiares causava ansiedade de que os outros percebessem a sua situação naquele período do mês. Este caso nos fornece duas importantes variáveis qualitativas quanto à dimensão do mercado: a primeira é a de que os aspectos culturais, sociais e comportamentais do indivíduo representam a base nuclear para uma análise econômica; a segunda é a renda do indivíduo que não garante em absoluto a manutenção do produto na 16 etapa de maturidade quando pensamos no ciclo de vida de um produto, tal o caso do absorvente íntimo feminino. O segundo caso que chama a atenção é o ocorrido com a Pepsi Co. e sua estratégia de continuar produzindo durante a década de 1990 os mesmos petiscos fritos (da linha fritolay) para o resto do mundo. O problema é que quando a Pepsi Co. encontrou o mercado indiano, este já havia desenvolvido um petisco que não somente era “divertido”, mas também era mais saudável (assado ao invés de frito). Tratava-se de uma inovação cujo objetivo era reduzir o índice de obesidade da população. Perceber a saúde), assim como entender a dinâmica social de um grupo ou população é fator incontornável para uma análise de viabilidade econômica. Planejar investimento no setor produtivo de bens ou serviços para a população da base da pirâmide social constitui desafio também no conhecimento das especificidades culturais do público beneficiário, que podem ser diferentes daquele público para o qual as empresas de mercado normalmente estão focadas: as de classes de renda média e alta. Hábitos de consumo, hábitos familiares, idiossincrasias religiosas, tradição local, entre outros fatores, precisam ser identificados e suficientemente mapeados para fornecer elementos decisivos no processo de inovar e produzir para atender tais mercados. Os negócios sociais guardam a característica de procurar inserir parcelas significativas de colaboradores/empregados oriundos do próprio mercado de destino final, seja no processo produtivo ou na distribuição/venda do produto/serviço. Trata-se de um mecanismo de inclusão via consumo e geração de renda, simultaneamente. Outra importante característica dos negócios sociais é ter prioritariamente 1. Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais as mudanças de hábitos (neste caso, decorrentes de uma preocupação maior com escala local e não global. Esta distinção é fundamental quando o propósito é o da promoção do desenvolvimento sustentável, no qual os custos de posicionamento mercadológico e de logística de distribuição para o mercado de consumo devem ser minimizados (tender a zero). Assim, uma unidade de produção num empreendimento de impacto social deve se localizar o mais próximo possível de seu público consumidor e deve ser um modelo replicável em outras localidades de semelhantes características de mercado, de forma que mais indivíduos aptos para o trabalho possam ser inseridos na unidade produtiva ou na sua comercialização, ao mesmo tempo fazendo parte do mercado de consumo daquele bem ou serviço. A geração de lucro da atividade produtiva será um meio a ser buscado como 17 resultado da gestão eficiente dos recursos econômicos, de tal sorte que remunere todos os fatores de produção e o risco do empreendimento e, ainda, seja capaz de assegurar novos investimentos em novas unidades produtivas. Esse movimento deve ampliar a produção, o trabalho, a renda e a inovação técnica e tecnológica, numa espiral crescente de desenvolvimento econômico-social-ambiental sustentável. 2.2 As variáveis quantitativas A análise quantitativa tem no estudo da econometria e da estatística econômica as ferramentas para projetar as quantidades que serão demandadas e ofertadas no futuro. Todavia, é importante notar que somente o domínio destas ferramentas como, por exemplo, os modelos de regressão linear, exponencial, logarítmico e potencial bem como as correlações e a identificação dos erros padrões não são suficientes. Na verdade, tais modelos são ferramentas importantes para a análise econômica, mas devem ser considerados como pontos de chegada de um levantamento criterioso de dados. Entre o levantamento de uma série histórica e sua projeção (o uso das ferramentas supracitadas) existe um ponto conhecido como ponto de partida que é o levantaEMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS mento das variáveis que serão analisadas para se construir uma série. É preciso estar 18 atento, pois na maior parte dos produtos, não existe uma série histórica pronta para o emprego das ferramentas econométricas. Imagine um empresário que pretenda produzir um produto oriundo de uma inovação radical como, por exemplo, “o colar cervical para inibir o ronco/apneia durante o sono” ou o kit para identificar a causa da morte a partir da coloração do dente. Existe uma série histórica pronta com estes dados? A resposta é bem simples: não. Se este é o caso para a maior parte dos produtos, como projetar e, ainda, como chegar a uma proxy com um mínimo de certeza? Talvez esta seja a tarefa mais difícil diante de uma análise econômica que remete às variáveis da demanda em questão. É certo que não existe uma receita pronta para se reconhecer e construir uma série; por outro lado existem algumas técnicas, a maior parte delas ancoradas na heurística (heurística de ancoragem, heurística de representatividade e heurística de disponibilidade), que podem ajudar esta construção. Por uma questão de espaço acordado a este texto tentaremos apresentar uma técnica que nos parece razoável, mas exige intensa pesquisa. Retomemos o exemplo do colar cervical para o ronco e apneia do sono. Este mas não têm o transtorno do sono. Além disso. Esta pesquisa nos levou a uma proxy com mais de quinze variáveis que no final apresentaram um resultado surpreendente sobre a projeção da demanda por este produto inibidor de apneia e ronco. Se isto é um fato. Uma vez selecionado o melhor modelo (dentre os quatro abaixo relacionados) 19 . 2 = 2001 e assim sucessivamente) e Y (milhares de toneladas. estresse (percen- variáveis. tabagismo (percentual). tabagistas. deve-se. Uma vez conhecido isso o passo seguinte seria investigar as variáveis tual). uma variável importante aparece. Uma vez conhecidas as retas de regressão há necessidade de se conhecer a melhor correlação entre as variáveis X (período de tempo: 1 = 2000. pensar quais as variáveis que levam à demanda de tal produto. ainda. encontrar o menor erro padrão da série2. são apresentados quatro modelos econométricos e seus respectivos empregos na projeção da demanda e oferta1. tudo isso no período de tempo) e. Neste sentido. rever a pesquisa e os dados apresentados procurando de forma analítica questionar o emprego destas 1. sob o ponto de vista clínico. pesquisar qual a faixa etária e o sexo cuja incidência é maior para este transtorno. Neste momento. Diante disso foi necessário buscar e eliminar (filtro redutor da série) o número de pessoas que apresentam aquelas características. É importante notar que a investigação sobre a série histórica para a demanda e oferta de um determinado produto é condição central para se lançar numa projeção. ainda. kg. entre outros fazendo um levantamento de causas possíveis. Note que o mesmo serve para estimar a oferta do produto.. faturamento do setor. A orientação dada aos estudantes foi no sentido de verificar junto a um grupo de especialistas em transtornos do sono quais são as causas que levam ao ronco e à apneia. em seguida. como por exemplo: obesidade (percentual). fardos. ingestão de bebida alcoólica (percentual). O objetivo destes modelos é procurar encontrar a melhor relação que existe entre o período de tempo (no caso exemplo são anos) e a demanda pelo produto. qual seja: nem todos os obesos. em seguida. A seguir. alcoólatras e estressados sofrem com transtorno do sono. O primeiro passo neste caso é reconhecer que não existe tal série pronta e.produto surgiu nas aulas de elaboração e análise de projetos no curso de Ciências Econômicas da UFPR quando um grupo de alunos pretendia elaborar um projeto desta natureza. é necessário estar atento em procurar esgotar as variáveis que proporcionam uma série razoável.. Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais que levam ao ronco. foi necessário. faz-se necessário observar a melhor correlação forte e positiva com o menor erro encontrado.e^bX c) Modelo Logarítmico: Y = a + blnX d) Modelo Potencial: Y = a . neste sentido. a fim de confirmar ou recusar o tamanho do investimento. conhecido como orçamento operacional.1 O orçamento operacional4 Uma vez conhecido o processo e o programa de produção do empreendimento. As principais são: o orçamento operacional e de caixa. Isto ocorre. pode se tornar uma tarefa fácil de administrar. resta fazer seu rastreamento no programa. Equações dos Modelos3: a) Modelo linear: Y = a + bX b) Modelo Exponencial: Y = a .X^b Etapas da aplicação de um modelo: a) Primeira: Identificação das funções de regressão. e o horizonte financeiro do projeto com a demonstração do fluxo de caixa. o objetivo de se ter um orçamento operacional é obter uma visão antecipada dos resultados projetados. pode se multiplicar e aumentar de acordo com a . em tese todos os custos já foram identificados no planejamento do programa e. É importante avaliar o modelo selecionado com variáveis qualitativas que demonstrem que tal fenômeno de demanda ou oferta pode ocorrer. pois. Reconhecem-se no orçamento operacional nove etapas que. d) Quarta: Escolha do melhor modelo e projeção. 3. c) Terceira: Cálculo do erro padrão. Assim. de acordo com a estrutura do empreendimento. b) Segunda: Cálculo da correlação. 3. pois tais variáveis contribuem para esta tendência. Note que tal escolha não implica em selecionar tal modelo por conta disso. apropriá-los e classificá-los. o orçamento de custos e receitas. Os aspectos técnicos e financeiros do projeto EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS A segunda parte deste capítulo procura apresentar as principais variáveis 20 técnicas e financeiras de um projeto que auxiliam durante uma análise econômica. Deve-se resaltar que. Aqui surgem dois desafios: o primeiro é a quantidade e segundo o preço. a partir dos custos mais o markup (um índice ou percentual que irá adicionar-se ao custo direto de produção para se obter o preço de venda). no final do orçamento. pois não terá parâmetro das condições habituais de mercado de consumo para comparar.quantidade de informações necessárias para orçar. insumos. Na primeira etapa. o processo de precificação (preços de venda) nesta etapa. Isto quer dizer que as quantidades que são estimadas nesta etapa devem estar de acordo com o planejado. Uma empresa constituída como um negócio social. No que concerne à quantidade. c) estabelecerá planta de dimensão para o atendimento do mercado local de consumo e que contemple custos mínimos de logística tanto de formação de estoque quanto de movimentação de mercadorias entre a unidade produtora e a(s) unidade(s) consumidora(s). deve ser o de elevados custos de marketing do produto ou serviço. do ponto de vista econômico. voltada para atendimento do mercado comprador “fora para dentro”. Uma unidade produtora de bens ou serviços constituída como um negócio social terá que precificar “de dentro para fora” (a partir dos custos mais o markup). porém. doações e voluntariado. os negócios sociais devem primar pela sua sustentabilidade econômica/financeira (sua perenidade não pode ficar refém de patrocínio. Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais habitual. as despesas fixas. ou seja. as despesas variáveis de venda e os impostos. fazer-se os ajustes necessários para precificar de “dentro para fora”. que dispensem os 1. etc. Os preços devem ser definidos de forma a cobrir os custos. pós-venda. quer dizer. esta deve estar de acordo com o tamanho da planta industrial (ou de serviços) que foi definida a priori. cuja estrutura de produção do bem ou serviço considera inovação nos processos de produção de tal forma que: a) utilizará matérias primas. principalmente no início 21 . Numa empresa tradicional. d) a inclusão possível de pessoas da própria comunidade beneficiária como mão de obra tanto em etapas do processo produtivo quanto no processo de comercialização da produção ou da prestação do serviço. embalagens sob a ótica da apropriação de fatores de produção que reduzam o preço final do produto ou serviço. como não se conhece ainda a estrutura de custos dada pelo orçamento. b) empregará métodos não-tradicionais de venda ao mercado de consumo. o objetivo é ter uma ideia de receita a partir das vendas previstas e do preço estabelecido. como forma de potencializar ainda mais os seus resultados de impactos na sociedade. além de gerar lucro. estas sempre serão bem vindas.. a precificação deve ser aquela com base no mercado (um referencial inicial) para depois. Na segunda etapa realiza-se o orçamento da produção. A quinta etapa está relacionada aos custos indiretos de produção que podem ter um componente fixo e outro. que para a formação do CPV devem ser levados em conta os estoques iniciais. Assim. dado a dimensão deste nível de estoque. O custo do produto vendido (CPV) é orçado na etapa sete a partir dos dados encontrados nas etapas 3 até 6. 22 . na composição dos custos/despesas que servirão de base para a definição do preço de venda do produto/serviço (precificação). variável. 100% do fatores (trabalho. A produção é somente orçada após se ter definido as quantidades pretendidas a serem vendidas.) utilizados deverão ser computados. Tanto o orçamento de custos como o de compras é guiado pelo nível de produção informado na etapa dois e pelo estoque alvo-meta destes materiais. Isto ocorre na medida em que é possível haver a necessidade de estoque alvo-meta na produção para fazer face às sazonalidades do mercado. tomando como referência a remuneração/preço de mercado destes recursos. ou seja. A sexta etapa se subdivide em duas. etc.das atividades). capital. Na sexta etapa (A) orçam-se os custos unitários a partir das etapas 3. por exemplo) ou considerada fixa. É importante notar. considerando preços passados e estoque alvo-meta de materiais os custos orçados de materiais não serão iguais às compras orçadas destes materiais. Este estoque alvo-meta deve ser calculado com base nas variações do mercado e consoante o tamanho da planta industrial. insumos. equipamentos. A oitava etapa se ocupa das despesas operacionais e administrativas que podem ter uma componente variável e outra fixa. Ainda. A terceira etapa é subdividida em duas: orçamento de custos de materiais diretos (matéria-prima) e orçamento de compras destes materiais. mesmo que parte do trabalho ou dos recursos sejam incorporados de forma “cooperativa”. Desta forma. 4 e 5 enquanto na sexta etapa (B) orça-se o valor do estoque alvo-meta pela multiplicação dos custos unitários pelo saldo do estoque alvo-meta encontrado no último período da segunda etapa. é possível termos uma parte fixa e outra variável. ainda. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS A quarta etapa se preocupa em orçar a mão de obra direta que pode ser considerada variável para efeitos de orçamento (com base nas horas de mão de obra. caso se projete resultados sucessivos a partir do orçamento. a quantidade produzida pode ser maior ou menor do que a quantidade vendida. Na terceira rubrica obtém-se o total das entradas pela soma do saldo inicial com as entradas de caixa. de acordo com o tamanho do empreendimento. orça-se a Demonstração de Resultado de Exercício (DRE) onde se conhece o lucro ou o prejuízo do empreendimento. A oitava rubrica é destinada para investimentos fixos e que apresentam seus 23 . Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais orçamento de caixa fornece uma visão antecipada dos prazos das efetivas entrada e saída A quinta rubrica contempla os demais pagamentos referentes às etapas quatro. A quarta rubrica refere-se aos pagamentos dos materiais diretos orçados na terceira etapa (compras) do orçamento operacional. a bem da lisura do orçamento. na qual é lançado o valor do saldo final do período anterior que será realizado no caixa do exercício atual. fazer uma nota identificando a origem daquela receita. Quando subtraímos do total das entradas o total das saídas podemos encontrar excesso ou insuficiência de caixa que representa a sétima rubrica. pagamento de amortizações e de juros) devem ser previstas em orçamento. O mesmo ocorre para o caso de aplicações (que representam saída de caixa com entrada de juros e restituições). A sexta rubrica é destinada ao saldo mínimo de caixa que tem a função de indicar o mínimo necessário que se deve ter em caixa de acordo com o giro e o ciclo operacional. Quando isso ocorrer deve-se. As consequências de empréstimos (entrada de recursos. É importante notar que a partir deste resultado é possível voltarmos (na verdade devemos fazer isso) à primeira etapa e corrigir possíveis distorções de precificação.2 O orçamento de caixa5 Enquanto o orçamento operacional fornece uma visão antecipada de resultado. o dos recursos financeiros. cinco e oito do orçamento operacional.Por fim. Aqui se deve indicar se estas vendas são a vista e/ou a prazo e seu período de tempo. Neste “campo”. 1. A primeira rubrica é a do saldo inicial. também podem ser lançadas as contas de capital próprio e outras receitas não oriundas do orçamento operacional. Aqui se deve ter o cuidado de obedecer àquelas compras pagas a vista e aquelas a prazo. A segunda rubrica refere-se às entradas de caixa relacionadas à primeira etapa do orçamento operacional. É possível reconhecer dez rubricas principais nesse orçamento que. Em ambos os casos pode haver corrida ao banco para emprestar recursos ou aplicá-los. podem variar e aumentar. 3. que merece uma atenção especial.3. Na nona rubrica reapresentamos o saldo mínimo de caixa outra vez. o horizonte financeiro se reveste de especial importância e pode ser dividido em dois tópicos que obedecem a seguinte ordem: os EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS investimentos e sua projeção de resultados. os demais investimentos quando identificados precisam ser avaliados para se determinar sua 24 . Talvez esta seja a tarefa mais simples uma vez que a identificação dos investimentos pode ser realizada através da experiência do próprio empresário. Após a rubrica de excesso ou insuficiência. dada a característica de irreversibilidade que lhe é peculiar e bem entendido das consequências futuras que produz. 3. Neste sentido.desdobramentos. Aqui valem duas ressalvas no que concerne aos investimentos fixos e variáveis (custeio) e impostos. dos fabricantes e outros atores envolvidos.3 O horizonte financeiro do projeto Uma das decisões mais relevantes e sensíveis quando da elaboração de um empreendimento é a alocação de recursos (investimentos) na empresa. A décima e última rubrica se refere ao saldo final de caixa que é obtido pela soma do saldo mínimo pelo resultado anterior. obras civis. a viabilidade de um projeto. O primeiro passo nesta direção é a identificação dos investimentos que serão alocados no projeto (planejamento financeiro).1 Os investimentos: o emprego das ferramentas de engenharia econômica para tomada de decisão A identificação e avaliação/decisão dos investimentos (recursos que serão necessários) de um projeto merecem a atenção particular na medida em que estes determinam. projeto hidráulico e elétrico. todos os investimentos adquiridos devem ser alocados e distribuídas as suas formas de pagamentos ao longo do orçamento. Exceção feita ao capital de giro. máquinas e equipamentos. em última instância. veículos e capital de giro. Os principais investimentos de um projeto podem ser identificados da seguinte forma: aquisição ou locação do terreno. como o pagamento das amortizações e juros. mas agora somando aquela insuficiência ou excesso de caixa. assim como a rubrica “impostos” a serem recolhidos ao longo do exercício. 3. daquele que elabora o projeto. aos mais complexos aprendidos nos cursos de economia. usa-se como taxa de desconto a Taxa Mínima 25 . dentre outras denominações). ciências contábeis e engenharias. setor 2 e meio. administração. existe certa convergência entre a experiência do empresário e os métodos complexos cujo rigor conceitual redunda em sólidas orientações 1. pois elas têm um impacto decisivo no resultado final do projeto. O método do valor presente líquido (VPL) é o método mais conhecido e utilizado. todas as decisões de investimento terão que estar adaptadas à dimensão desse espaço.000 unidades/dia a um preço de R$100.000. Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais atenção do perito. que são uma das mais atraentes no contexto do projeto.00 ou comprar duas mais baratas com capacidade de 500 unidades cada? Estas e outras questões precisam estar contempladas no projeto e são tarefas que requerem Quando se trata de um empreendimento como um negócio social (negócio inclusivo. estes métodos são apresentados de forma simples deixando a cargo do leitor o aprofundamento destas questões. Estes métodos ou técnicas são usualmente conhecidos como: o método do valor presente líquido (VPL). que tenha uma planta inicial circunscrita ao atendimento de uma demanda local. Neste sentido se faz necessário o uso das ferramentas de engenharia econômica para a decisão. portanto a experiência do empresário.capacidade de retorno durante a vida da empresa. Existem inúmeros métodos de engenharia econômica para avaliar um determinado investimento. o método do valor presente líquido anualizado (VPLa) e o método da taxa interna de retorno (TIR). E. todas as informações devem ter um nível de detalhamento tal que sejam suficientes para análise de investimentos de investidores-anjo. coerentes. Mesmo que isso ocorra. Dado que o objetivo deste texto é antes de tudo destacar questões relevantes sobre a viabilidade econômica de um empreendimento e não fazer uma análise exaustiva da engenharia econômica. variando desde a intuição e. Na fase de tomada de decisão dos investimentos é preciso estar certo de que estas questões estejam resolvidas. Comprar ou alugar o terreno? Contratar uma empresa de engenharia civil para construir a edificação e acompanhar seu desenvolvimento ou comprar uma edificação pronta e depois apenas adaptá-la às suas necessidades? Comprar uma máquina com capacidade de produção de 1. capital venture ou outras modalidades de parceria. e caracteriza-se pela transferência/concentração de todos os valores esperados de um fluxo de caixa na data zero (para tal. Numa comparação entre duas alternativas de investimento com vidas úteis (horizonte de planejamento) iguais. descontados a taxa TMA. que tenham o menor custo financeiro e longo prazo de retorno.de Atratividade-TMA). Quanto ao emprego da taxa interna de retorno (TIR) de um projeto. em uma série uniforme. de forma a ter uma estrutura de custo sem desperdício. Dito diferentemente. ao mesmo tempo. Isto quer dizer que a taxa interna de retorno é aquela que torna nulo o valor presente 26 . inovadores e de baixo custo). começar a apresentar lucros consistentes (parte para reinvestimento no negócio social e parte para o retorno do capital aos investidores sociais). mantendo-se a TMA e o horizonte de planejamento. trata-se da taxa para a qual o valor presente das receitas iguala-se ao valor dos desembolsos. O método do valor presente líquido anualizado (VPLa). valor negativo. permitindo oferecer produtos/ serviços a preços compatíveis com o poder aquisitivo do público “foco” e. Neste ponto cabe destacar que um empreendimento com foco em negócios sociais (cujo propósito maior é gerar produtos e/ou serviços de qualidade. com uso deste método. após o empreendimento. que visa a melhoria do bem estar aos beneficiários (minimização de problemas sociais) e simultaneamente a recompensa de forma justa a seus colaboradores-fornecedores. também conhecido como Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE) nada mais é que a transformação do VPL. de forma parcelada e. todos os recebimentos e desembolsos esperados. calculado para o projeto. sem comprometer a continuidade/sustentabilidade do negócio. produzir margem de lucro superior a TMA de referência para o projeto. o que vai determinar a melhor alternativa será aquela que apresentar maior valor positivo no tempo zero. incluindo-se o capital de giro) sejam os menores possíveis. indica que o empreendimento não é capaz de geral o retorno esperado6. torna-se importantíssimo que: a) a gestão operacional e financeira do empreendimento negócio social. busque o máximo de eficiência e eficácia no uso dos recursos. É uma forma de facilitar a análise dos ganhos por período (ganhos anuais). trata-se de transportar para a data zero do diagrama de fluxo de caixa. O ideal é que estes recursos sejam obtidos junto aos “investidores sociais” e retornados a estes investidores sem qualquer remuneração (apenas o valor do principal). e EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS b) os investimentos iniciais (recursos financeiros destinados à implantação do empreendimento. um exemplo de fluxo de caixa. Desta forma pode-se avaliar que: TIR maior que a TMA indica existir maior possibilidade de ganho investindo-se no projeto do que se direcionando o recurso para a alternativa de investimento de baixo risco representada pela TMA (no exemplo uma rentabilidade que. O fluxo de caixa está dividido em duas grandes rubricas: as entradas de caixa (oriundas dos resultados projetados em orçamento e a depreciação que será recuperada) e as saídas de caixa (oriundas dos investimentos feitos por meio de capital próprio e as amortizações resultantes do capital de terceiros junto ao banco de fomento ou aos contratos de financiamento de fundos de investimento. obtida por meio do orçamento e a partir das informações de investimentos avaliadas anteriormente. Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais atratividade. capital venture ou investidores-anjo). 3. Esta taxa pode ser utilizada para se identificar o limite superior para a rentabilidade de um projeto. Para o emprego destes métodos é necessário se familiarizar com as fórmulas financeiras e dedicar uma atenção particular quanto à escolha da taxa mínima de de negócio.3.líquido do projeto. Abaixo. no mínimo. seja equivalente a da caderneta de poupança). 1. tendo em vista que cada projeto tem um determinado risco potencial Duas informações são necessárias para se bem compreender o fluxo de caixa operacional: uma se refere ao saldo de caixa e a outra se refere ao saldo acumulado. 27 .2 O quadro do fluxo de caixa O quadro do fluxo de caixa é o resultado das projeções encontradas na DRE. como habilitando-os a acessarem o consumo do bem/serviço. pois é exatamente nesta parte que o projeto se inicia. em suas diferentes etapas. tanto capacitando-os para atuarem produtivamente no empreendimento. 4. De uma forma mais intencional. . o empreendedor e os investidores do negócio social. deve-se ainda levar em conta a dimensão e os dados qualitativos da comunidade a ser atendida (como escolaridade média. capacidade laboral. que se traduzam em elevado impacto sócio-econômico e ambiental. dado o preço final adequado à realidade econômica que enfrentam. Verificou-se que é necessário conhecer amplamente um projeto de viabilidade para poder questionar e opinar sobre as variáveis chaves nele contidas. valendo-se informações e dados de organizações públicas e entidades sociais). com fortes elementos de inclusão sócio-econômica dos cidadãos. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS No estudo de mercado constatou-se que as variáveis quantitativas isolada- 28 mente não são determinantes em face da mudança de comportamento do consumidor. Em se tratando de um Negócio Social. Quanto ao saldo acumulado este é obtido pela soma do período anterior do saldo de caixa mais o período atual e é por meio deste que encontramos o tempo de recuperação do capital investido conhecido também por Pay Back. dentre outras variáveis) para elaborar o projeto de viabilidade do empreendimento. terão que pesquisar formas inovadoras de produção de bens e serviços a estas comunidades beneficiárias. Considerações finais Este capítulo procurou abordar os principais aspectos que um projeto de viabilidade deve conter e a análise que deve ser feita em face de um ambiente dinâmico e com incertezas. distribuição demográfica por sexo. Ficou destacado que um projeto de viabilidade deve começar pelo estudo de mercado (identificação de problemas sociais latentes. habilidades adquiridas. psicológicos e ambientais. este é obtido pela diferença entre as entradas e saídas de caixa e é por meio dele que obtemos a TIR (taxa interna de retorno) do negócio e que será comparada a TMA (taxa mínima de atratividade) encontrada no mercado (ou a definida pelo investidor).No que concerne ao saldo de caixa. Na verdade ambas as dimensões (qualitativa e quantitativa) se complementam. quando bem entendidos seus aspectos sociais. composição etária. 2008. R. de tal forma que a qualidade do bem/serviço seja equiparada aos bens/serviços produzidos para consumidores de faixas de renda mais elevadas é o desafio que se impõe ao empreendedor dedicado a provocar elevado impacto social e ambiental por meio de seu negócio. Para uma maior familiaridade sobre o processo de elaboração do Orçamento Operacional. Rio de Janeiro: Objetiva.. O lucro não é seu objetivo principal (embora fundamental-necessário). da etapa de cálculos de engenharia econômica. ou FONSECA. 2009 ou FONSECA. em SARTORIS (2003). sugere-se a leitura de FERNANDES. SOUZA. Taxa Mínima de Atratividade é sempre a melhor alternativa de aplicação. 29 . entre outros. próxima dos rendimentos da caderneta de poupança (6% ao ano mais TR) (SOUZA. no mínimo. 2005.F. J. 2012. entre outros. Para uma maior familiaridade sobre o processo de elaboração do Orçamento Operacional. Por fim cabe destacar ainda que o conhecimento das ferramentas de engenharia econômica é condição necessária para uma análise de um projeto na medida em que ele pode questionar a decisão do investimento e influenciar os resultados finais do projeto. A. No Brasil. na verdade tem sua base na estrutura orçamentária de custos e receitas a partir dos orçamentos operacional e de caixa. O mundo é plano: uma breve história do século XXI. NOTAS 1. 2012. novos produtos e novas formas de produzir. R. 2. novos empreendimentos de impacto. Deseja-se que com a aplicação destes modelos o empreendedor consiga estimar a demanda/oferta do seu produto/serviço. dos recursos disponíveis para investimento. F. M. 6. será perseguido como o meio que permitirá novos investimentos. sugere-se a leitura de FERNANDES. técnicas e aplicações. CLEMENTE. W. entre outros. 4.A persistência em buscar soluções econômicas no arranjo produtivo. Análise de viabilidade econômica dos negócios sociais Quanto ao horizonte financeiro ficou demonstrado que este se inicia muito antes 5. J. Note que existem vários modelos e cabe ao leitor decisão de se aprofundar ou não neste tema. REFERÊNCIAS FRIDMAN. T. A.. 3. Decisões financeiras e análise de investimentos: fundamentos. 2008). 1. Para maiores detalhes sugere-se a leitura de conteúdo básico de econometria. a um baixo grau de risco. Os modelos são apresentados apenas para o leitor se familiarizar com o seu emprego. esta taxa seria.W. novos mercados. São Paulo: Atlas. com obtenção de lucros. M. . CAPÍTULO 2 INVESTIDORES EM NEGÓCIOS DE IMPACTO Leonardo Jianoti . têm inspirado líderes de todo mundo em busca de soluções inovadoras. Suas contradições foram amplamente investigadas e diversas tentativas foram empreendidas no sentido de transformá-lo positivamente. Introdução HÁ VÁRIOS ANOS discutem-se formas de transformar o sistema capitalista.1. as soluções precisam ser escaláveis e replicáveis em dimensões globais. Além disso. deveria ser capaz de produzir transformações sociais e ambientais de dentro para fora. A baixa efetividade desses movimentos é EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS atribuída ao sentido de que: a grande maioria é desenvolvida de fora para dentro. Os negócios de impacto surgiram como resposta interna do sistema capitalista de transformação da economia real por meio de sua força empreendedora e meritocrática. . A condensação principal da nuvem de possibilidades compõe o universo dos investimentos de impacto. As desigualdades sociais e a destruição ambiental. Tendo o empreendedorismo como força motriz das iniciativas. O desafio recente tem sido o desenvolvimento de caminhos de transformação interna de toda essa realidade econômica. os negócios de impacto deram um (re) significado ao papel do lucro econômico e estão desafiando o modus operandi de se fazer negócios no novo milênio. sem 32 reconhecer (e utilizar) o próprio sistema capitalista como parte da solução. entre vários outros problemas. As problemáticas sociais e ambientais são tão emergentes e complexas que a solução deve ser composta por elementos da própria fonte geradora do problema. visto as escalas gigantescas que as situações tomaram. Se o mundo dos negócios foi capaz de impulsionar as maiores metamorfoses da sociedade. remonta aos embriões do capitalismo) a injeção de capital inicial para suportar os empreendimentos até que o movimento produçãovenda-lucro permita a geração dos recursos próprios pela ou para a empresa. seus objetivos. os negócios de impacto são criados e motivados não só pela lógica do retorno econômico-financeiro. 2. Neste momento. A entrada desse capital de suporte aos negócios não é novidade ao desenvolvimento do capitalismo. mas também de seus potenciais de geração de lucros futuros. Entretanto. Perfil e interesse dos investidores de impacto INVESTIR EM NEGÓCIOS é uma atividade tão antiga quanto o próprio capitalismo. Seu financiamento. os meios de produção utilizados para fornecê-lo/produzi-lo. Os diferentes meios de produção quando combinamos para produção de um 33 . capaz de gerar um fluxo de lucros constante e volumoso a ponto de remunerar financeiramente aquele capital investido. Ou seja. patrocínios e subvenções. depende do fluxo de capital econômico gerado pelo ou para o empreendimento. onde estariam recursos destinados para doações. assim como de qualquer negócio privado. Essa é a fonte primária de captação de recursos empresariais: a venda/compra. E esse efeito não é colateral. planos e interesses. está presente na própria natureza do negócio desenvolvido. os ciclos de desenvolvimento de um negócio muitas vezes demandam (e isso não é realidade recente. mas consideram primordial a geração de benefícios sociais e/ou ambientais. A principal fonte assim. Os tão aclamados investimentos fornecem o apoio necessário para o desenvolvimento pleno de um modelo de negócios. Entende-se que a investigação para essas fontes já está bastante desenvolvida e pode ser encontrada em textos confiáveis e acessíveis. e arrisca-se dizer que faz parte de sua própria lógica de expansão. Delimitou-se um painel de recursos que não se caracterizam como “fundo perdido”. Investidores em negócios de impacto de recursos para uma empresa é a venda de um produto ou serviço remunerando.Esses modelos de negócio existem para buscar uma solução a uma questão social/ambiental ou maximização de um impacto social/ambiental já produzido por uma determinada atividade econômica. O presente capítulo busca apresentar as principais fontes de recursos para investimento de impacto no Brasil atualmente. até que esse mesmo modelo seja 2. o foco recairá sobre recursos fornecidos por investidores profissionais que apoiam negócios de impacto em busca não somente do impacto em si. O papel do investidor é apoiar diferentes fases de desenvolvimento de um empreendimento. apresenta um excelente panorama sobre os investidores em negócios de impacto no Brasil. sociais e/ou ambientais. em suas análises. mas sempre acompanhado de conhecimentos aplicados. como se conhece normalmente. Desde apenas retornar o capital investido até buscar retornos de 40%1. e não fim. O foco está nos investidores que buscam ao menos que o capital retorne. A busca de impacto é primordial para os investidores. O excelente estudo publicado pela Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) em parceria com a LGT Venture Philanthropy. são variadas as demandas dos investidores. essa empresa investida valerá mais e poderá ser vendida por valores superiores aos iniciais. em maio de 2014. Além disso. a perspectiva dos investidores em negócios de impacto não poderia ser diferente. nos negócios de impacto. tendo o lucro em segundo plano para suportar a criação de EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS cada vez mais impacto com o decorrer das atividades. a empresa produzirá lucros durante sua vida econômica e distribuirá aos sócios que disponibilizaram seus meios de produção para o empreendimento. em termos de negócios de impacto. esse apoio é feito por meio de aportes financeiros. O estudo não incluiu. Toda sua atividade tem como objetivo fim o volume financeiro gerado ao final do processo. Quintessa Partners e a Universidade de St. Os investidores de impacto podem ter sido (ou ainda são) doadores sociais e filantropos em outras atividades. Nos negócios de impacto. Os critérios-filtro utilizados pelo estudo foram: 34 . contribuição na gestão da companhia e facilitação de contatos estratégicos para o negócio. O papel que o lucro possui nos negócios de impacto difere sensivelmente dos negócios tradicionais. o universo de fundações e organizações filantrópicas que não possuem expectativa de retorno sobre o capital investido. Uma empresa. Gallen. mas o retorno financeiro está presente nas análises. o objetivo principal é gerar resultado social/ambiental positivo. eles buscam também retornos financeiros. é a destinação dos lucros e as respectivas demandas por retorno. Na maioria das vezes.bem. Ou seja. não se trata de um aporte de capital desinteressado e necessariamente altruísta em sua essência. seus interesses e pretensões para os próximos anos. remunerado ou não. muitas vezes necessitam de suportes adicionais de capital para viabilizar todo processo. O que varia. nasceu para produzir lucros. humanos ou sociais). No futuro. remunerando assim os capitais investidos (sejam financeiros. porém. Mas. O lucro é meio. Logo. etc. ou 79% do universo. É uma indústria recente e em amadurecimento. b) 10% aceleradoras de negócios que realizam também investimentos financeiros durante o processo. incubadoras. O estudo aponta. Em 2012 eram apenas 7 investide 300%. aceleradoras.. e e) 35% distribuídos entre fundações internacionais. c) 10% de open-endedfunds: fundos de investimento abertos sem fim prédeterminado e com atividades contínuas de captação e aportes de capital.a) investem com objetivo de criar impacto social e ambiental positivo. apresentando um incrível crescimento poder aquisitivo. (Gráfico 1). O estudo conseguiu obter 22 respondentes deste público. d) 5% family offices: escritórios de gestão patrimonial para famílias com alto 2. Entre os 22 que responderam. bancos de desenvolvimento. Brasil – 2003-2013 Outros 35% Family Offices 5% Fundos Fechados 40% Aceleradoras 10% Fundos Abertos 10% Fonte: MAPA. ainda. De acordo com estes critérios. sendo que 11 são organizações internacionais e 9 nacionais. e c) expectativa de retorno dentro de um certo período de tempo. 20 deles já estão operando no Brasil. Gráfico 1 – Tipo se organizações investidoras em negócios sociais. Investidores em negócios de impacto dores ativos no país para atingir 28 em 2014. os tipos de organizações investidoras destacando: a) 40% são closed-endfunds: fundos de investimento fechados que tem vida pré-determinada e volume de capital captado antes da operação. existem ativamente no Brasil 28 investidores neste perfil.. b) investimento mínimo de 25 mil dólares por empresa. 2014 35 . também chamados de evergreen.. 2014 Os interesses dos investidores são bastante variados dentro das temáticas de investimento de impacto.. De acordo com o estudo.. 68% foi capital internacional aplicado no Brasil e 32% de fundos brasileiros. com os volumes captados e a captar. Eles pretendem captar US$ 150 milhões de dólares adicionais para novos investimentos de impacto. tendo sido a principal resposta dos investidores com 89%. seguida por educação (84%) e saúde (63%). desde 2003 só foram efetivados 68 negócios com total investido de US$ 76. 55% foram realizados por investidores EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS nacionais e 45% por internacionais (Gráfico 2). O percentual seria maior se fossem considerados os US$ 3 bilhões de dólares de fundos internacionais direcionados para o Brasil.. buscando a construção de um legado familiar através da geração de impacto social e ambiental.1 milhão. O volume é quase insignificante (0. . O Gráfico 3 apresenta o comparativo entre as áreas de investimento. O maior foco está em inclusão financeira. de acordo com os planos dos gestores desses fundos. Em termos de valor.4%) perto do total de US$ 46 bilhões de dólares identificados pelo Banco JP Morgan em estudo publicado no início de 2014.4 milhões de dólares. Dos 68 investimentos realizados.Os family offices demonstram grande interesse em expandir seus investimentos. Brasil – 2003-2013 Investidores Internacionais 32% Investidores Brasileiros 68% Fonte: MAPA. Do montante investido. O volume captado nos últimos dez anos pelos fundos brasileiros para atingir US$ 177 milhões de dólares tende a crescer significativamente entre 2014 e 2015. os oito fundos brasileiros administram um volume de US$ 177 milhões de dólares para investimento. 36 Gráfico 2 – Volume investido em negócios sociais. O ticket médio (valor investido por empresa) foi de aproximadamente R$1. segundo números de dezembro de 2013. mas não se esquecendo das questões tradicionais de gestão (Gráfico 4). os resultados da pesquisa conduzida pela ANDE apontam que o impacto social das iniciativas avaliadas é o item mais importante para os investidores.. Ge erg Ág Inc En lus s ão aç Ha vá no ia Re bit ve l e úd Sa aç uc Ed ão FIn an ce ira ão 0% Fonte: MAPA. 2014 Em relação aos critérios utilizados para seleção de investimento. 2014 37 . Os resultados ilustram bem os objetivos dos investidores aos buscarem negócios de impacto.Gráfico 3 – Foco dos investimentos em negócios sociais.. Investidores em negócios de impacto 20% dade financeira do empreendimento (55%).. Brasil – 2003-2013 120% 100% 100% 80% 60% 60% 55% 47% 40% 30% 20% 0% 10% Impacto Social Qualidade de Gestão Sustentabilidade Financeira Potencial de Escala Inovação Replicabilidade Fonte: MAPA. Na sequência vem a qualidade da equipe gestora (60%) e a sustentabili- 2. atingindo 100% das respostas. Brasil – 2003-2013 100% 89% 90% 84% 80% 70% 63% 60% 53% 50% 47% 47% 47% 42% 40% 32% 30% 26% 10% de ers ida tas Flo ua Bio div res ura ult ric nto ea an eS Ag me uo síd Re r.. priorizando o retorno social/ ambiental.. Gráfico 4 – Critérios para a seleção de investimentos.. como investimento-anjo ou recursos da família e amigos. Conclusão NÃO SE DISCUTE a relevância social e ambiental dos negócios de impacto. 3. Essa é uma discussão latente e válida neste cenário. só a experiência e boas práticas trarão o caminho crítico onde todos os participantes se sintam confortáveis. Os investidores de impacto estão num cenário intermediário entre os investimentos filantrópicos e os de capital de risco (venture capital). Como em toda indústria nascente. Seus objetivos congratulam tanto com os propósitos da filantropia de transformação social e melhoria ambiental. visto sua relevância socioambiental. No contexto dos negócios de impacto. não se pode negar que existe espaço para que doações e operações de créditos subsiEMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS diados possam suportar as empresas em seus estágios embrionários. os investidores no Brasil relataram a preferência por empresas já desenvolvidas e com seus modelos de negócios provados. Apenas 5% dos investidores entrevistados pela ANDE apresentaram direcionamento para ideias ou projetos na fase de desenvolvimento de plano de negócios. como com os focos do capital de risco de inovação e negócios de grande potencial. Os investidores podem se alinhar com as tendências (ou não) concretos. Os empreendedores que vislumbram que esse capital inovador pode ajudá-los a desenvolver seus negócios de impacto têm em mãos um guia inicial de adaptação de sua companhia aos interesses . aquele que apoia companhias em seus estágios pré-operacionais. Tampouco se contesta seus potenciais de geração de lucros econômicos justos e inclusivos capazes de atrair o capital necessário para seu desenvolvimento.Em termos de estágio de desenvolvimento da empresa. Existe certa controvérsia em relação ao uso desses lucros gerados por parte dos investidores. o que força empreendedores do setor a buscar fontes alternativas de recursos até que o modelo esteja atrativo para investidores de impacto. tampouco início de operação. porém ainda incipiente e de raros casos 38 desses investidores. Essa demanda é clara no mercado de investimento de impacto. Essa questão levanta uma necessidade explícita do cenário brasileiro de fornecer fontes de recursos para capital semente. O que o presente texto buscou evidenciar foram os perfis dos investidores em negócios de impacto e suas tendências de apoio. Disponível em: http://www. aumentando suas chances de encontrar um negócio que estão procurando.pdf 2. 1. igualitária e com meio ambiente mais equilibrado. 2014. Investidores em negócios de impacto NOTAS 39 .org/sites/default/files/content/upload/ImpactInvestingStudy_FINAL_VERSION_ PORTUGUES. fomentando assim que novos empreendedores se inspirem desde os bancos universitários e venham empreender em prol de uma sociedade mais justa. inicia-se uma aproximação saudável entre prática e teoria. Em termos de TIR (IRR em inglês).aspeninstitute.l. [S. REFERÊNCIAS MAPA do setor de investimento de impacto no Brasil: resumo das conclusões.e fomentar o crescimento de sua própria comunidade investidora.]. No âmbito do ensino e da pesquisa. CAPÍTULO 3 O MODELO DE NEGÓCIOS: PROPOSTAS E AVALIAÇÃO DE IMPACTO Nicole Maccali Cleverson Renan da Cunha 1. Introdução A IDEIA DE negócio social se origina a partir de alguns conceitos da economia capitalista em seu processo de implementação utilizando-se da literatura sobre negócios convencionais (YUNUS; MOINGEON; LEHMANN-ORTEGA, 2009). Dessa maneira, o modelo de negócio social não se diferencia em sua plenitude de um negócio tradicional, porém é orientado pelos princípios de concepção de um empreendimento com foco social. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Em sua estrutura organizacional, o negócio social é basicamente o mesmo de 42 uma organização tradicional. Segundo Yunus, Moingeon, Lehmann-Ortega (2009), o negócio social não é uma caridade e a mentalidade gerencial deve ser a mesma de um negócio tradicional, porém o objetivo é diferente de uma empresa que visa apenas a maximização dos lucros. Para os autores, os negócios sociais precisam recuperar seus custos de modo a atingir sua auto-sustentabilidade ao mesmo tempo em que buscam a realização de seus objetivos. Ideologicamente o conceito de negócio social é marcado por duas correntes que divergem principalmente no que se refere à distribuição de dividendos. Na primeira, de acordo com o pioneiro desse tipo de negócio, Muhamed Yunnus, as empresas oferecem intencionalmente soluções para problemas sociais da população de baixa renda, seus dividendos não são distribuídos entre os sócios e sim reinvestidos no próprio negócio, e apenas o que foi investido é recuperado pelos proprietários/investidores. A segunda corrente defende que os dividendos podem ser distribuídos entre os proprietários e o foco são problemas sociais como um todo. Porém, destaca-se que ambas as correntes enfatizam em seu conceito o propósito ao qual o negócio foi ou está sendo criado e sua capacidade de geração de impacto social. Assim, avaliar os impactos sociais faz-se fundamental para sustentar os negócios que afirmam serem capazes de gerar lucros e transformação social (BRANDÃO; CRUZ; ARIDA, 2013). O princípio norteador de um modelo de negócio será, então, o propósito pelo qual o negócio está sendo criado. Todas as ações e decisões tomadas e planejadas deverão estar alinhadas com o propósito definido. Um negócio social é muito mais direcionado por uma causa do que pelo lucro, porém o lucro faz parte do processo da continuidade do negócio e ampliação da sua capacidade de agir em prol de seu propósito (MAGRETTA, 2002). presentes na definição de um Modelo de Negócios com a introdução da avaliação do impacto social causado pelo empreendimento. Para tanto, serão apresentadas quatro propostas de estruturação de um Modelo de Negócios e perspectivas para avaliação do impacto de negócios com foco social. Ressalta-se a importância da elaboração de um modelo tanto para estruturação de um novo negócio que está surgindo como para direcionar as ações para o propósito ao qual o negócio está sendo criado. A elaboração do modelo possibilita, ainda aos empreendedores, definições prévias de indicadores para mensuração do impacto social que seu negócio está gerando. 2. O modelo de negócio Empresas e empreendedores têm visto as necessidades sociais como oportunidades para desenvolver ideias e servir novos mercados com propostas de soluções para problemas relevantes de determinadas comunidades (KANTER, 1999), sendo necessário o desenvolvimento de modelos de negócios que integrem esses 3. O modelo de negócios: propostas e avaliação de impacto Nesse contexto, o objetivo deste capítulo é ampliar a descrição dos fatores problemas e a obtenção de lucro. Apesar de não ser um assunto novo, o termo Modelo de Negócios ganhou relevância a partir do avanço das empresas estruturadas para o ambiente da Internet e do lançamento do livro Business Model Generation, de Alex Ostwalder e Yves Pigneur, em 2009. Como salientam Morris, Schindehutte e Allen (2005), não existe consenso sobre a definição desse conceito. Para Magretta (2002), a essência de um modelo de negócios são histórias que explicam como as empresas trabalham. Para Shafer, Smith e Linder (2005), o modelo de negócios é uma representação das escolhas lógicas e estratégicas centrais subjacentes de uma empresa para capturar valor dentro de uma rede de valores evidenciando a lógica central e a coerência interna das escolhas estratégicas. Para Morris (2014), o modelo de negócios é mais amplo do que o conceito do negócio, mas 43 menos detalhado do que um plano de negócios. Ele captura a essência de como o negócio irá funcionar baseado em uma proposição única de valor a ser oferecido a um determinado grupo de clientes. Apesar de estar fortemente relacionado ao conceito de estratégia, um modelo de negócio se diferencia desta por dar menos ênfase à competição entre os concorrentes (MAGRETTA, 2002), pois enfatiza o que o negócio irá oferecer ao cliente. Na concepção de Yunus, Moingeon, Lehmann-Ortega (2009), um modelo de negócio possui dois componentes principais: a proposta de valor (quem é o consumidor e o que será oferecido a ele que ele reconhece como importante) e a constelação de valor (como será feita a oferta dessa proposta de valor). Esses dois componentes em conjunto deverão gerar uma equação lucrativa, resultado da receita gerada pelas vendas menos os custos (bens, produtos, processo e capital) da constelação de valor. De uma forma mais ampla, Osterwalder e Pigneur (2011, p. 14), afirmam que o “modelo de negócio descreve a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma organização, descrevendo a interação entre os principais fatores que constituem uma organização”. Para esses autores, um modelo de negócios é composto de nove fatores: 1) proposta de valor: conjunto de produtos e/ou serviços oferecidos pela empresa para atender a necessidade ou resolver problemas de cada grupo EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS de consumidores atendidos; 2) segmentos de clientes: grupos de clientes que a empresa pretende atender; 3) canais de distribuição: formas que a empresa utiliza para se comunicar com seus clientes e entregar sua proposta de valor; 4) relacionamento com o cliente: tipos de relacionamento para conquista, retenção e ampliação de clientes; 5) receitas geradas pela proposta de valor: receitas obtidas pela empresa à partir de cada grupo de clientes/proposta de valor; 6) recursos-chave utilizados para viabilizar o modelo de negócio: recursos estratégicos necessários para entregar a proposta de valor pretendida, envolvendo recursos físicos, intelectuais, humanos e financeiros; 7) atividades-chave: ações e processos fundamentais para garantir o funcionamento do modelo de negócios proposto; 8) parceiros-chave: rede de valor utilizada para desenvolver o modelo de negócios que envolve parcerias estratégicas e os principais fornecedores; e 9) estrutura de custos: custos mais importantes envolvidos no modelo de negócio. 44 Essas informações são representadas ilustrativamente na Figura 1. A proposta da figura realizada pelos autores Osterwalder e Pigneur (2011) tem por objetivo sistematizar as informações e propiciar aos idealizadores do modelo de negócio uma visualização geral dos principais aspectos de seu negócio, seja ele um negócio já existente ou um novo negócio. Fonte: Osterwalder e Pigneur, 2011, p. 44 Osterwalder e Pigneur (2011) enfatizam que os aspectos representados na Figura 1 devem ser sempre revistos pelos empreendedores para garantir que estejam sendo efetivamente realizados e alcançados, pois, caso constatem que alguns aspectos não estão sendo desenvolvidos de maneira satisfatória, ações corretivas ou 3. O modelo de negócios: propostas e avaliação de impacto Figura 1 - Modelo de negócios Canvas novas ações podem ser efetivadas em busca dos resultados pretendidos. Ressalta-se a importância desse constante acompanhamento para os negócios sociais, para que se mensure se o propósito ao qual o negócio foi criado está sendo alcançado e qual o grau de impacto que está gerando. Com uma abordagem mais focada nas questões econômicas, Mullins e Komisar (2009, p. 9) defendem que um modelo de negócios precisa ter cinco elementos-chave: 1) modelo de receita: quem vai comprar? com qual frequência? quais serão os curtos? quanto será recebido por cada compra do consumidor? 2) modelo da margem bruta: diferença entre a receita da empresa e os custos operacionais; 3) modelo operacional: custos e esforços operacionais da empresa, além do custo dos bens ou serviços que tenham vendido; 45 Enquanto a proposta do modelo Canvas (OSTERWALDER. Smith e Linder. PIGNEUR. essa última perspectiva se orienta por uma análise econômica do negócio. os cinco blocos em conjunto apresentam as bases para os fundamentos financeiros que irão mensurar o resultado da empresa (MULLINS. distribuidores que ampliam os recursos da empresa para a criação e a captura de valor. 2009). 3) captura de valor: o que a empresa fará para receber recursos do ambiente. 2005. Smith e Linder (2005) propõem um modelo conciliador que aborda os principais fatores associados à construção de um modelo de negócio envolvendo a lógica para criar e capturar valor. parceiros. Figura 2 . e 5) modelo de investimento: recursos necessários para abrir a empresa e garantir seu funcionamento antes do início das receitas de suas operações. 2011) enfatiza a criação de valor. Os autores Shafer. 46 2) criação de valor: foco no processo de identificação de necessidades e sua conversão em produtos e serviços e lucratividade. Essa descrição envolve quatro temas centrais que definem a representação da lógica subjacente e as escolhas estratégicas da empresa para criar e capturar valor dentro da sua cadeia de valor: 1) escolha estratégica: principais fatores que orientam a escolha e a base da estratégia da empresa. ressaltando as relações de causa e efeito e a coerência EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS interna. Na Figura 2 os autores representam graficamente os componentes de sua proposta de modelo de negócio. ressaltando como a empresa irá capturar valor. 202 .4) modelo de capitalização: como e quando a empresa vai receber dos clientes? como ela pagará os fornecedores? destaca o capital necessário para manter a empresa. KOMISAR.Modelo de afinidade dos componentes de um modelo de negócios Escolha Estratégica Consumidor (mercado alvo. escopo) Proposição de valor Capacidades/competências Receita/precificação Competidores Ofertas (output) Estratégia Branding Diferenciação Missão Captura de Valor Rede de Valor Fornecedores Informações do consumidor Relacionamento com o consumidor Fluxos de informações Fluxos de produtos/serviços Custo Aspectos financeiros Lucratividade Criação de Valor Recursos/ativos Processos/atividades Fonte: Shafer. e 4) rede de valor: fornecedores. antes de alcançar seu ponto de equilíbrio. Assim. Esses autores elaboraram uma revisão da literatura sobre o tema e desenvolveram um diagrama de afinidade dos principais fatores utilizados para definir o modelo de negócio. p. alguma customização. distribuição. Schindehutte e Allen (2005) propõem os componentes na elaboração de um modelo de negócio (Quadro 1). O modelo de negócios: propostas e avaliação de impacto dos e como serão viabilizados para os clientes.Como a empresa criará valor? • Oferecendo: primariamente produtos. • Mercado: local. um modelo de negócio precisaria responder as seguintes questões: a) como a empresa criará valor? Natureza dos produtos e/ou serviços oferecib) para quem a empresa criará valor? Natureza e escopo do mercado como tipos de consumidores e dispersão geográfica. • Mercado: nicho. regional. terceirização. B2C (empresa – consumidor final). o próprio produto. • Oferecendo: produtos/serviços padronizados. Componente 2 – Para quem a empresa criará valor? • Tipo de consumidor: B2B (empresa – empresa). alta customização. • Oferecendo: grande amplitude de produtos/serviços. produto integrado com o produto/serviço de outras empresas. valor acrescentado à revenda. governo. média amplitude. Quadro 1 – Componentes principais de um modelo de negócios 3. institucional. e f) quais são as ambições de crescimento (escopo e tamanho) e em quanto tempo? Modelo de crescimento e expansão da empresa. internacional. pouca amplitude. provedor de serviços. Morris. c) qual é a fonte de vantagem interna ou competência central? Capacidade interna da organização que permite resultados superiores aos concorrentes. consumidor final. Para fundamentar cada questão. d) como a empresa vai se diferenciar das demais no mercado? Como a empresa irá alcançar vantagem competitiva frente às demais empresas presentes no mercado. arquitetura e aspectos econômicos do negócio irão contribuir para criar vantagem competitiva e sustentável nos mercados definidos.Uma das referências mais completas sobre o assunto foi proposta por Morris. ambos/ outros. Componente 1 . o modelo de negócio surge como uma representação concisa de como um conjunto inter-relacionado de decisões variáveis sobre estratégia. Schindehutte e Allen (2005) após analisarem uma série de artigos e livros sobre o tema. mix de produtos e serviços. primariamente serviços. 47 . • Onde está o consumidor na cadeia de valor: cadeia de suprimentos. atacado ou varejo. • Oferecendo: manufatura interna ou entrega de serviço. • Oferecendo: acesso ao produto. licenciamento. segmentado ou massa. e) como que o modelo de negócios vai gerar receitas? Lógica consistente para a geração de receitas e lucros. Nessa perspectiva. nacional. Para esses atores. Schindehutte e Allen. baixa.Quais são as ambições de crescimento (escopo e tamanho) e em quanto tempo? • Modelo de subsistência. • Modelo de crescimento. • Liderança em inovação. sistema operacional. garantir que o impacto esperado está sendo gerado. disponibilidade. média. baixo. • Alavancagem operacional: alta. Não existe uma proposta melhor e sim aquela mais adequada ao contexto do negócio em questão. • Qualidade do produto ou serviço. Componente 5 .Qual é a fonte de vantagem interna ou competência central? • Produção. o modelo de negócios tradicional e o com foco em negócios sociais têm estruturas semelhantes. consistência. . Componente 4 . marketing.Como que o modelo de negócio vai gerar receitas? • Precificação e fontes de receitas. • Transações financeiras. arbitragem. • Modelo especulativo. • Tecnologia. é fundamental que os negócios com foco social realizem avaliações de impacto para. No próximo tópico são apresentadas ferramentas de avaliação de impacto direcionadas aos negócios sociais. seleção. 2005 Estas propostas de modelo de negócios podem ser utilizadas conforme as necessidades de cada empreendedor. 48 Fonte: adaptado de Morris. principalmente na avaliação do impacto social e na solução de problemas sociais relevantes. baixa. • Margens: alta. média. • Vendas. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Componente 6 . • Gestão da cadeia de suprimentos. • Gestão da informação. como as receitas são capturadas: números de entradas diferentes. • Volumes: alto. Se. assim. recursos. em sua essência. Com base no exposto. capacidade criativa ou inovativa. • Redes e relacionamentos. seu conteúdo tende a ser diferente.Como a empresa vai se diferenciar das demais no mercado? • Imagem de excelência operacional. • Modelo de rendimentos. capacidade de alavancagem.Componente 3 . propriedade intelectual. médio. • Relacionamento íntimo com o cliente. experiência. pesquisa e desenvolvimento. credibilidade. a fase de avaliação do negócio. à temporalidade onde os impactos podem ser concebidos como um conjunto de resultados que se manifestam em um determinado período de tempo.. e. 2013). população ou território em uma relação causal entre a mudança e a variável. Cruz. 2008??) a avaliação de impacto refere-se às análises que medem as mudanças nos resultados (outcomes) de um grupo particular de pessoas. Arida. p. a avaliação do impacto social refere-se à ocorrência de mudanças em uma comunidade. que podem ser atribuídas a um programa específico usando as melhores metodologias disponíveis. 2013. ou seja. ou seja.. a mensuração do impacto e o monitoramento das mudanças ocorridas (Brandão. Referem-se.Atributos e naturezas da avaliação de impacto social 3. finalmente. Figura 3 . viáveis e apropriadas para responder a pergunta avaliativa investigada e ao contexto específico.. mudanças que são diretamente atribuídas às ações do negócio. Segundo Brandão. ou seja. Para os autores. apresentados na Figura 3. a definição do problema social que se deseja trabalhar. O modelo de negócios: propostas e avaliação de impacto negócio está cumprindo o propósito para o qual foi criado. Cruz e Arida.3. o conceito de impacto social deve se apoiar em aspectos metodológicos. Avaliação de impacto do negócio social A concepção de um negócio social passa por três fases: a fase de tese de mudança. Cruz e Arida (2013). 6 49 . ainda. temporais ou de território. MUDANÇAS ATRIBUTOS IMPACTO CAUSA E EFEITO TEMPO NATUREZAS TERRITÓRIO MÉTODO Fonte: Brandão. que define como o negócio social irá atingir seu ideal. Nesta fase de avaliação. os indicadores são uma importante ferramenta para verificação se o Para a Iniciativa Internacional de Avaliação de Impacto (INTERNATIONAL. a fase de estratégia para a mudança. sejam eles os proprietários ou não. desenhar sua tese de mudança com clara explicitação de outputs e outcomes Desenho de estratégias a serem utilizadas para conhecer o impacto do negócio Acompanhar e comunicar resultados Que resultados o negócio vai gerar? Quais desenhos metodológicos serão utilizados para conhecer o impacto? Que negócios melhor respondem ao desenho do meu portfólio? Como vai gerar estes resultados? Que premissas existem? Que informações serão coletadas? O que está acontecendo? Que resultados estão sendo produzidos? Avaliação Final Avaliação Ex-post Avaliar o negócio ao Acompanhar o final do ciclo de impacto após o investimento e encerramento comunicar os do investimento resultados Quais os resultados sociais gerados? O negócio é de fato capaz de gerar transformação social? Qual a perenidade dos resultados? O que se sustenta depoisde terminado o investimento? Quando? Fonte: Brandão. Impact…. Vale destacar que.. adaptado de Best e Harji (2013) As perguntas realizadas em cada uma das etapas devem ser respondidas na formulação do modelo de negócio e avaliadas conforme as atividades do novo negócio vão alcançando os resultados planejados.Brandão. o IRIS propõe uma forma padronizada de mensurar o impacto dos . Criado em 2009 pela Global Impact Investing Network – GIIN (GLOBAL. Os autores cruzaram neste quadro as fases e as perguntas para nortear a avaliação de cada objetivo delineado para as fases (Quadro 2). 2014). ao elaborar o modelo de seu negócio o empreendedor deve definir conjuntamente as avaliações que irá realizar e os indicadores que utilizará.. Cruz e Arida (2013) desenvolveram um quadro baseado na pesquisa dos autores Best e Harji (2013). pois a avaliação é uma estratégia essencial para o negócio social.. Definir resultados a serem alcançados Que valores devem orientar meu portfólio? Que resultados pretendemos alcançar com este portfólio? Due Diligence Tese de Mudança Plano de Avaliação de Impacto Monitoramento de Resultados Parciais Selecionar investimentos que articulem retorno – risco e impacto alinhados ao portfólio Com o investimento definido. Considerando a dificuldade de mensuração do impacto dos negócios sociais. 2014). duas iniciativas foram criadas: o Impact Reportingand Invesment Standards – IRIS (GLOBAL. onde estes propõem fases de um negócio social dentro da perspectiva dos investidores. 2014) e o Global Impact Investing Rating System – GIIRS (B-Lab.. Cruz e Avida (2013).. [Site]. Quadro 2 – Métricas no ciclo do negócio na perspectiva do investidor EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Perguntas Objetivo Definição de Valores do Investidor 50 Identificar metas de impacto e parâmetros para o investimento. 51 . abaixo. Consiste em um questionário com aproximadamente 160 questões que são respondidas pelas empresas e analisadas por um sistema. No Quadro 3. O relatório oferece aos empreendedores diversas métricas nas áreas social. Criado em 2010. 2014 O Relatório IRIS é gratuito as empresas que desejam utilizar suas métricas para mensurar seu impacto social. O IRIS disponibiliza: métricas financeiras. ambiental e financeira. métricas de desempenho social. que devem ser selecionadas conforme o propósito ao qual o negócio foi criado.negócios sociais. métricas que descrevem e quantificam o impacto do negócio no setor ao qual pertence. Destaca-se que a avaliação é focada nas boas práticas dos negócios e não necessariamente no impacto social. Quadro 3 – Objetivos sociais medidos pelo IRIS 3. o GIIRS é outra proposta para avaliação do impacto social dos negócios. que descrevem e quantificam o progresso do impacto social pretendido pelo negócio. métricas operacionais. que avaliam as políticas de governança. métricas referentes ao desempenho do produto ou serviço e os benefícios sociais alcançados. O modelo de negócios: propostas e avaliação de impacto belecidos indicadores tangíveis que auxiliam no processo de avaliação do impacto. entre outras. Para cada métrica são estabem como servem de subsídios para as tomadas de decisões dos empreendedores e/ou investidores. Fonte: GLOBAL… Impact…. com isso é necessária a análise do empreendedor na identificação dos impactos alcançados. são apresentados os objetivos sociais medidos pelo IRIS. No Quadro 4. abaixo. ressalta-se a importância do Modelo de Negócio cujo objetivo é descrever a lógica central de criação. se aplicando tanto aos negócios tradicionais. As diferenças estão relacionadas ao propósito ao qual o negócio está sendo criado e à avaliação do impacto das mudanças na sociedade impulsionadoras dos negócios sociais. o empreendedor poderá criar seus próprios indicadores sociais. quanto aos sociais. [2013?] 52 Na plataforma GIIRS é possível fazer comparações com outras empresas. o GIIRS não é gratuito. apresenta-se as áreas abordadas nas questões respondidas pelos negócios que desejam mensurar seu impacto através do questionário GIIRS. . Considerações finais Como ponto de partida na elaboração de um negócio social. pois tem como objetivo tornar-se sustentável. entrega e captura de valor. do mesmo setor ou não. Caso não deseje utilizar nenhuma das propostas citadas. 4. baseados em suas metas de impacto e no planejamento estratégico de seu negócio. Quadro 4 – Áreas de impacto e questões mensuradas pelo GIIRS EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Fonte: adaptado DEVELOPING…. Vale destacar que diferente do Relatório IRIS. ser utilizados pelos empreendedores e evidenciar a importância da avaliação do impacto causado pelo negócio que o configurará como um negócio com foco social. L. Toronto: Purpose Capital. ARIDA. 53 . New York. CRUZ. Evidencia-se que. somente com a comprovação das mudanças sociais realizadas.. HARJI. A. à competitividade no setor. para quem e quais são suas competências centrais?). Disponível em: http://b-analytics. Com base no exposto. Instituto de Cidadania Empresarial. Cruz e Arida (2013). os empreendedores podem ajustar suas estratégias e posicionamento em alinhamento com o propósito definido na concepção do seu negócio social. Global Impact investing Ratins System. permitindo que ao se identificar que o impacto gerado não está alinhado com o projetado ou o impacto social foi menor do que o esperado. Para Brandão. às questões econômicas e financeiras. 2014. Por meio das informações coletadas. A realização contÍnua das avaliações de impacto do negócio podem auxiliar os empreendedores no seu direcionamento. C.com/. H. faz-se necessário a avaliação do seu impacto. 2013. Social impact measurement use among Canadian impact investors. REFERÊNCIAS B-Lab.. os negócios sociais devem realizar avaliações que mensurem o real impacto que geram e com isso fortalecer sua identidade social (BRANDÃO. ARIDA. Para isso. CRUZ. para se constituir uma empresa com foco em negócios sociais. BEST. Acesso em: out.. São Paulo: MOVE. K. a principal diferença entre um negócio social e um negócio tradicional é que o lucro precisa vir acompanhado de impacto social positivo. Métricas em negócios de impacto social: fundamentos. torna-se necessário a ampliação do modelo de negócios tradicionais incluindo a avaliação do impacto social provocado por Em relação ao lucro. o campo dos negócios sociais conseguirá sustentar sua diferenciação em relação aos negócios tradicionais. buscou-se apresentar modelos de negócios que podem 3. e aos projetos de crescimento. 2013). adote-se ações corretivas. Nesse caso. percebe-se que os textos evidenciam a coerência interna e os aspectos relacionados: à criação de valor (como a empresa cria valor. O modelo de negócios: propostas e avaliação de impacto esse negócio.Dentre os principais referencias presentes na literatura sobre Modelo de Negócios. D. BRANDÃO. 2013. Harvard Business Review. OSTERWALDER. 3. [New York. KOMISAR.DEVELOPING and Implementing an Impact Measurement Curriculum for Small and Growing Businesses (SGBs): project findings and recommendations. 199-207. J.. Disponível em: http:// www. [Site]. p. From spare change to real change: the social sector as beta site for business innovation. Disponível em: http://giirs. J.org. 3. n. Why business models matter.. M. LEHMANN-ORTEGA. 2014. L. M. The power of business models.. 80.org. Disponível em: https://hbr. GLOBAL IMPACT INVESTING NETWORK. v. n. v. 122-132. New Delhi. LINDER. 48. Boston.com/storage/documents/Press/developing_and_implementing_an_impact_measurement_curriculum_b_lab_final_report. J. ALLEN. New York.thegiin. SCHINDEHUTTE. A. YUNUS. 2013?]. 2009. PIGNEUR. 2009. SMITH. Oxford. May-Jun. Disponível em: https://hbr. Business Horizons. n. The entrepreneur’s business model: toward a unified perspective. 6. J. KANTER. v. 2014. Rio EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS de Janeiro: Alta Vista. May 2002. 5. 726-735. 54 SHAFFER. 77. Acesso em: out.. Paris: HEC. 913). p. Y. R.pdf.nonprofitsoapbox. Boston. R. 2011. GLOBAL IMPACT INVESTING NETWORK. Disponível em: http://iris. M.. (Working Paper. Acesso em: out..3ieimpact. M.org/ MORRIS. INTERNATIONAL INICIATIVE FOR IMPACT EVALUATION. Harvard Business Review. 58. 86-92. Business model generation: inovação em modelos de negócios.org. MOINGEON. 2005. Impact Reportingand Invesment Standards – IRIS. . S. C..thegiin. Acesso em: out. 2014. B. New York. [Site]. May 1999. p. Boston: Harvard Business Press. p.org/ MAGRETTA. MULLINS. n. Getting to plan B: breaking through to a better business model. Disponível em: http://www. Building social business models: lessons from the Grameen experience. Indiana. M. vol. Journal of Business Research. J.. 2014. Acesso em: out. June 2005. CAPÍTULO 4 ASPECTOS JURÍDICOS DOS NEGÓCIOS SOCIAIS: NOÇÕES GERAIS Amanda Sawaya Novak Felipe José Olivari do Carmo Leandro Marins de Souza . Introdução É IMPRESCINDÍVEL QUE se traga a conhecimento quais caminhos podem ser trilhados. Em primeiro lugar. ou seja. 56 De início. 2. Estruturação jurídica de um negócio social O PRIMEIRO ASPECTO a ser levado em consideração na concepção de um negócio social diz respeito à sua estruturação jurídica. do ponto de vista jurídico. os empreendedores devem conhecer ao máximo as normas que norteiam as atividades EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS da sua empresa. evidencia-se a importância da escolha do melhor formato jurídico. aspectos societários e outros temas jurídicos. Esta definição é importante especialmente para distinguir os negócios sociais das instituições do Terceiro Setor. destaca-se que a natureza jurídica do negócio social é empresarial.1. ao formato jurídico a ser adotado pela empresa. por projetos cujo DNA empreendedor aponta para o impacto social. passando pela captação de recursos junto a investidores. que tragam na sua concepção a ideia compartilhada de busca pelos resultados financeiros aliados a impactos sociais. vale ressaltar que no Brasil não existe regime jurídico diferenciado ou benefício para empresas consideradas negócios sociais. . Considerando que a legislação brasileira aplicável aos negócios sociais é exatamente a mesma destinada aos negócios tradicionais. Da estruturação jurídica do negócio. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir. têm como características essenciais a finalidade social e a ausência de fins econômicos. bem como as obrigações sociais (VENOSA. do Código Civil. A escolha da forma empresarial a ser adotada dependerá do tipo de atividade a ser exercida. Assim. personalidades jurídicas que têm em comum a ausência de finalidade lucrativa como natureza. Os negócios sociais. a distribuição de lucros: “Art. Artigo 966. entre si. o que O conceito de empresário é expresso no Código Civil. com personalidade jurídica própria2. 57 . RODRIGUES. estas instituições do Terceiro Setor juridicamente adotam a estrutura de associações civis. dentre outros. que ultrapassam o âmbito restrito das suas aplicações empresariais”. com bens ou serviços. organizações religiosas. Aspectos jurídicos dos negócios sociais: noções gerais Por essência. cooperativas sociais. fundações privadas. pressupõe o exercício de atividade econômica e a partilha dos resultados.1 4. na maioria das vezes atendendo a demandas da base da pirâmide como os próprios negócios sociais. garantindo a separação dos respectivos patrimônios. do Código Civil3: as sociedades simples e as sociedades empresárias. ou seja. nos termos dos Artigos 982 e 44. para o exercício de atividade econômica e a partilha. O enquadramento jurídico do negócio social no Brasil acaba por obedecer duas categorias previstas em legislação de sociedades personificadas. portanto. Este ato determina não somente o início da personalidade jurídica do negócio social. nos Artigos 44 a 78. por sua vez. implica a impossibilidade de distribuição de eventual superávit ou patrimônio institucional a quem quer que seja. 981. como aquele que “exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. A Comissão Européia considera que “o espírito empresarial merece ser promovido na medida em que as competências e as atitudes necessárias à empresa constituem benefícios para a sociedade.O Terceiro Setor é formado por instituições que desenvolvem ações na área social. parte-se diretamente para o conceito de empresário. O regramento jurídico do Terceiro Setor é extenso e inicia-se no Código Civil. como também os limites e o alcance da relação entre sócios e perante terceiros. As organizações do Terceiro Setor. assumem feição empresarial que. o Terceiro Setor pressupõe a ausência de fins econômicos. ou seja. A criação do negócio exige um ato constitutivo. Porém. nos termos do Artigo 981. dos resultados”. Note-se que no Direito não há conceituação específica para empreendedor. especialmente por . p. É a certidão de nascimento e o mapa genético do negócio. entre os quais o acordo de quotistas. 1. que por ser registrado na Junta Comercial é de acesso público de qualquer interessado. A sociedade limitada é regida pelo contrato social. A sociedade limitada (regida pelos Art. Outros documentos podem ser produzidos no âmbito da sociedade limitada para reger o relacionamento entre os seus sócios. Já a sociedade anônima (regida pelo Art. que podem ser dispensadas se todos os sócios se declararem cientes do dia e hora da reunião ou for deliberada por escrito por todos os quotistas.2010. documento levado a registro perante a Junta Comercial do Estado da sede da empresa e que orienta seu funcionamento. Alerta-se. O capital social é o patrimônio inicial investido pelos sócios e que garante as atividades da empresa. Cada sócio será detentor das cotas do capital social da empresa de forma proporcional à sua contribuição. sendo nele previstas todas as condições de existência e regras de funcionamento da empresa. Sociedades empresárias PARA SER DOTADO da característica de sociedade empresária. formalidades de publicação de balanços anualmente e convocação de reunião de sócios. 1.039 e 1. o negócio social deve se constituir na forma de um dos tipos regulados nos dispositivos que se encontram entre os Artigos 1.052 e seguintes do Código Civil) é a figura jurídica empresarial mais utilizada. Especial atenção deve recair sobre a flexibilização da distribuição de lucros. especialmente no ambiente dos negócios sociais dadas as suas peculiaridades. Esta proporção reflete-se nas obrigações e nos direitos atribuídos a cada um. sua verdadeira lei interna. ser documento fundamental e merecedor de elaboração cuidadosa e técnica. por sua flexibilidade. o valor 58 de patrimônio que ingressou na criação da sociedade por contribuição dos sócios. Outro atributo próprio das sociedades limitadas é o fato de o quadro societário e diretivo constar no contrato social. também. simplicidade e pela responsabilidade limitada atribuída aos sócios. Os mais utilizados são a sociedade limitada e a sociedade anônima. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Elemento característico da sociedade limitada é o capital social. 93-94). portanto.º 6.404/76) possui estrutura jurídica também bastante utilizada. 3. congregando os sócios em torno do objeto social empresarial.089 do Código Civil e pela Lei n. ou seja. etc. É uma entidade de pessoas. o term sheet ou memorando de entendimentos.092 do Código Civil. Há. serviriam para retroalimentar a própria atividade empresarial. portanto. o term sheet ou memorando de entendimentos. Existem dois tipos de sociedades anônimas: as abertas e as fechadas. 4. neste caso. de contingência ou de retenção. a devolução do capital investido devidamente atualizado. etc. 3. a O quadro societário não consta do estatuto social e a transferência de ações e o número de ações que cada acionista possui são registradas em livros sociais que não ficam arquivados na Junta Comercial. senão aos sócios. as ações não são disponibilizadas ao público em geral. As ações adquiridas são em regra – salvo disposição estatutária em sentido contrário – livremente negociáveis pelos acionistas. Os lucros. mas somente na sede da companhia. denominado acionista. está no fato de que a distribuição dos lucros é tida comumente como 59 . As abertas são aquelas que podem negociar as suas ações na Bolsa de Valores. tão somente. ao contrário. Porém. Seria permitida.grupos empresariais de maior porte. A responsabilidade dos acionistas é limitada ao valor das ações por eles subscritas por meio de bens. a captação de capital social junto ao público em geral. As ações são os títulos negociáveis representativos do aporte feito por cada sócio. admitindo-se. Aspectos jurídicos dos negócios sociais: noções gerais estrutura é em muito semelhante à sociedade limitada. capitaneada por Muhammad Yunus. que diz respeito à criação de limites à distribuição dos lucros.1 Limites à distribuição dos lucros Apontadas as principais características destas duas figuras jurídicas empresariais. entre os quais o acordo de acionistas. A distribuição de lucros (ou dividendos) não pode ser desproporcional em relação à respectiva participação do acionista no capital social. A polêmica. portanto. é possível a criação de reservas estatutárias. de modo a resguardar recursos para investimento das sobras nas atividades da empresa. direitos ou em numerário. Isto porque os conceitos correntes de negócios sociais podem ser resumidos em duas linhas: Proibição de distribuição de lucros: há importante vertente conceitual no âmbito dos negócios sociais. no ambiente dos negócios sociais é importante destacar uma das principais dúvidas de sua configuração. Nas fechadas. A exemplo da sociedade limitada. que defende a impossibilidade de distribuição de lucros do negócio social aos sócios. além do estatuto outros documentos podem ser produzidos no âmbito da sociedade anônima para reger o relacionamento entre os seus sócios. No regime das sociedades anônimas há polêmica semelhante. Porém. Entendemos. no nosso entendimento. no entanto. menor o potencial de impacto social da empresa. de conhecimento e consentimento de todos os acionistas. de acordo e sujeitos à mesma regra. a lei estabelece que os dividendos obrigatórios estarão previstos no estatuto da empresa e caso seja omisso a lei estabelece valor mínimo a ser distribuído. Tais decisões. Da mesma forma. aplica-se subsidiariamente às sociedades limitadas. que proíbe a previsão contratual de exclusão da participação nos lucros ou perdas de qualquer sócio4. no âmbito jurídico há certa polêmica quanto ao tema.008. ou permitir somente para a devolução do investimento de cada acionista. desde que por decisão unânime7. que a proibição do dispositivo é que se crie regime de exceção a um ou mais sócios em relação aos demais sócios. não proíbe que a empresa seja constituída com a previsão de não distribuição de lucros. desde que todos os sócios estejam cientes. A polêmica aqui reside na definição dos limites de distribuição dos lucros. Permissão de distribuição de lucros: há também importante linha conceitual que defende a possibilidade de distribuição de lucros pelos negócios sociais sem descaracterizá-los. vinculando todos os sócios. a lei prevê a possibilidade de a assembléia-geral das sociedades anônimas fechadas estabelecer distribuição de dividendo inferior ao obrigatório. Embora referido dispositivo pertença ao capítulo das sociedades simples. como o acordo de quotistas. já que quanto mais lucros distribuídos. Estas regras da empresa podem estar previstas em documentos internos à própria empresa. mais uma vez. Em relação à corrente que defende a proibição da distribuição de lucros para caracterização do empreendimento como negócio social.elemento empresarial. é possível prever que somente serão distribuíEMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS dos lucros para devolver aos sócios o valor investido na empresa. Não há proibição de que esta decisão seja no sentido de proibir a distribuição de lucros. conforme previsão do Artigo 1. A redação do dispositivo legal. do Código Civil.053 do Código Civil5. entendemos que só se pode implantar esta espécie de limitação no decorrer da vida empresarial mediante a aprovação da unanimidade dos sócios. Em verdade. 60 . Diante do regime excepcional que esta regra cria. afastando a distribuição de lucros de alguns em benefício de outros. Este debate decorre do disposto no Artigo 1. já que a lei que rege esta figura empresarial prevê a distribuição de dividendos obrigatórios6. devem ser unânimes. tanto o acordo de quotistas quanto a reunião ou assembléia de sócios pode vir a definir os limites de distribuição de lucros e reinvestimento nas atividades da empresa. Daniel Izzo (2013. em especial em relação aos formatos jurídicos existentes e exigências legais daí decorrentes. 4. Considerando as inúmeras especificidades que a vida prática impõe. Como dito. Quanto maior a distribuição de lucros. sempre em observância às exigências legais. No regime das sociedades anônimas.Em relação à corrente que defende a possibilidade da distribuição de lucros para caracterização do empreendimento como negócio social. Passa-se. As formas mais comuns de recebimento de investimentos ou financiamentos 61 . Os atores. É um impasse que deve ser resolvido conceitualmente e repercutido juridicamente através dos documentos da empresa. caso se entenda pela possibilidade de distribuição de lucros o que se enfrenta é o aparente conflito entre o investimento no impacto das atividades e o retorno financeiro aos sócios. especialmente enquanto negócio social. os documentos sociais como o acordo de acionistas e a assembléia geral poderão definir os limites de distribuição de lucros. Em resumo. agora. evidentemente estas informações todas devem ser levadas ao crivo da realidade para a sua aplicação. podem ser distintos”. Formas de investimentos em negócios sociais ESTE ITEM SE propõe a indicar as formas jurídicas existentes – de modo exemplificativo – de recebimento de investimentos pelo negócio social. neste caso especialmente trabalhando as reservas permitidas legalmente. da mesma forma. menor o investimento nas atividades da empresa e menor o potencial de impacto do negócio. No regime das sociedades limitadas. a polêmica é menos jurídica do que conceitual. 4. sim. Aspectos jurídicos dos negócios sociais: noções gerais limites de distribuição que os sócios entenderem adequados à sustentabilidade da a abordar as possibilidades de investimento de pessoas interessadas em participar destes negócios sociais. p. foram aqui apresentados. que deverão definir os empresa. as principais questões jurídicas envolvidas na criação de um negócio social. ao tratar das fontes de investimento. servindo apenas como um apanhado geral das normas aplicáveis à maioria dos casos na teoria. afirma: “As principais fontes de financiamento de um negócio de impacto social não são muito diferentes dos oferecidos por uma empresa tradicional. 156). em negócios sociais são: dinheiro do Empreendedor/Empresário. neste caso. a consequente participação societária e os direitos e obrigações daí EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS decorrentes.). Apesar de não exigir contraprestação. ou ainda. Ao investir dinheiro próprio em um negócio. Partimos então para a descrição e a indicação dos caminhos e das consequências jurídicas de cada forma de recebimento de investimento ou financiamento. A doação representa instrumento de financiamento gratuito. sem a necessidade de devolução do recurso. como abordado no item anterior. Familiares e amigos. A integralização dos recursos próprios no negócio será regulamentada pelo Contrato Social ou Estatuto. Assim. estas últimas motivadas pelo impacto social a ser gerado pelo negócio.155-169). estando a empresa em fase de constituição ou já em funcionamento. Inicialmente. o qual será refletido em novas quotas ou ações e consequente participação societária. A decisão do investimento será precedida de reunião de sócios ou Assembléia. Outra possibilidade é realizar o investimento do recurso próprio na forma de empréstimo ou mútuo. correção monetária. podendo gravar a doação com aplicações específicas e definir encargos a serem cumpridos. é necessário que se revista de todos os requisitos legais para conferir maior segurança jurídica tanto ao doador quanto ao donatário. A doação é uma espécie de contrato a título gratuito. o qual irá prever o valor a ser investido. A segunda hipótese de investimento possível é a doação. expansão ou desenvolvimento do negócio social são reguladas pelo Direito. juros. que irá deliberar sobre o investimento e ficará registrado em respectiva Ata. vale esclarecer que se parte do pressuposto de o negócio social estar formalizado em uma das espécies de Sociedade Personificada (Subtítulo II do Código Civil). os recursos poderão ser integralizados na forma de capital social (inicial ou acréscimo). desde a utilização de dinheiro próprio à participação acionária. mútuos e participação acionária (IZZO. instrumentos de apoio financeiro de órgãos governamentais e multilaterais. o empreendedor ou empresário estará integralizando seu capital particular no negócio. etc. fundações ou instituições privadas de fomento podem fazer tal tipo de financiamento. que na forma do Artigo 541 do Código Civil. deve ser realizada por escritura pública ou instrumento particular. doações. o recurso é emprestado à empresa e contratualmente se estabelecem as condições de sua devolução (por exemplo: prazo. 2013. Todas as formas de acesso aos recursos necessários para abertura. as quotas correspondentes. p. 62 . empréstimos. como um efeito ou atuação social específica. 798/2006). como a aplicação destinada a uma ação específica. membro do 4. a Agência Brasileira de Inovação (FINEP) e os bancos regionais de fomento (por exemplo. se houver descumpri- Banco Mundial.973/2004 e Decreto 5. é permitido ao doador realizar exigências na forma de aplicação do recurso. trata-se de doação onerosa (também denominada doação modal ou com encargo). 154). em função da qual a parte beneficiada pelo contrato (donatário ou comodatário) deve dar. No cenário internacional com atuação no Brasil. sem que isso descaracterize juridicamente a ação entre as partes. Além das doações pelas instituições privadas. Para receber a subvenção. fazer ou não fazer algo para ter acesso ao benefício”. p. Os recursos são provenientes do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e administrados pela FINEP. o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul .563/2005) e a Lei do Bem (Lei 11. De acordo com Gagliano (2013. Tais modalidades possuem juros abaixo do mercado. juros zero ou recursos não reembolsáveis.Contudo. por exemplo. Já as subvenções econômicas são recursos não reembolsáveis aplicados em setores específicos de desenvolvimento. poderá o doador até mesmo revogar a doação. As instituições mais conhecidas de concessão de empréstimos subsidiados no Brasil são o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Como destaca Fabio Ulhoa Coelho (2014).196/2005 e Decreto 5. “o negócio jurídico gratuito pode conter disposição de vontade da parte liberal (doador ou comodante). a Lei de Inovação (Lei 10.BRDE). Atualmente. 553 do Código Civil. o desenvolvimento social. órgãos governamentais e multilaterais realizam apoio financeiro por meio de empréstimos subsidiados e subvenções econômicas. Aspectos jurídicos dos negócios sociais: noções gerais Art. Outros órgãos internacionais ofertantes de subsídios são a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Fundo Multilateral de Investimento (FUMIN) do Banco Intera- 63 . sendo para o caso em estudo. o negócio social deve se candidatar a seleção feita por Edital. onde é possível que o investidor estabeleça bases para o aporte dos recursos. na forma do mento do encargo. o qual irá prever todas as regras de apresentação do projeto. as mais conhecidas são o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a International Finance Corporation (IFC). Neste caso. Essas formas de investimento são ligadas a programas nacionais ou internacionais de fomento a políticas públicas relevantes. regulamentam a possibilidade de concessão de subvenções às empresas que desenvolvam projetos de inovação estratégica no país. o qual irá regular todas as condições do negócio. os juros aplicados. Todavia. mas apenas regras previamente impostas para candidatura e aprovação de crédito. bancos e instituições financeiras privadas também concedem empréstimos com juros diferenciados. Nesses casos. Seja qual for o valor. Como o objetivo do investidor é o desenvolvimento do negócio. aplicam-se no mercado formas específicas de viabilização jurídica do investimento. o prazo para pagamento. dentre outras obrigações das partes. a Yunus Business Center. Passam de meros empréstimos ou doações pessoais e não possuem as regras e sistemáticas de instituições financeiras ou públicas formais. Vale ressaltar que algumas linhas de crédito do BNDES não contam com editais de seleção prévia. aplica-se ao contrato a condicionante da possibilidade de conversão do mútuo em quotas ou 64 . o Microcrédito Produtivo Orientado. Em todas as opções o negócio social deverá assinar um instrumento jurídico específico. o qual irá regular todas as condições de utilização do recurso e obrigações das partes. Todavia. inserindo-se assim os negócios sociais no início de operação ou em desenvolvimento. No mercado empresarial. no mercado de negócios sociais a aplicação de recursos pelos fundos e investidores anjo vem crescendo a cada dia. O mútuo é o empréstimo de determinado recurso à empresa com condição de prazo para devolução. sem diferencial em razão do impacto social. dentre outros. Valores de maior vulto são oferecidos por meio de linhas de crédito comum. como por exemplo. como a Vox Capital. é realizado um contrato de empréstimo. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS À margem do mercado institucional público e privado e informal de amigos e familiares. No mercado de bancos privados. a Sitawi.mericano de Investimento (BID). sejam o valor emprestado. por se tratar de empréstimo com natureza de investimento no negócio da empresa. os bancos privados formalizam os empréstimos por meio de contrato. Inclusive existem fundos específicos de investimento em negócios sociais ou de impacto social. A primeira é a figura do Mútuo Conversível. com as cláusulas necessárias para tanto. aparecem os fundos de investimento e investidores anjo. os fundos de investimento são conhecidos e possuem uma grande atuação. as linhas de crédito são direcionadas a micro e pequenas empresas. normalmente. Esses atores buscam investimentos não institucionalizados. mas sem perder o profissionalismo. Além de empréstimos subsidiados por órgãos públicos ou instituições de fomento. quando há mais tranquilidade com relação aos riscos presentes. Mas. Os valores e número de quotas e/ou ações são previamente definidos no contrato. bem como os prazos e requisitos para conversão ou pagamento do mútuo. conhecidas também como start ups. conforme cláusulas contratuais estabelecidas. Além do que pode vir a optar pelo recebimento do recurso investido. O investidor celebra um contrato de mútuo com o negócio social. Mas. há liberdade das partes definirem as obrigações vinculadas ao investimento. o investidor afasta a possibilidade de responsabilização potencial. que em suas cláusulas estabelece que o investidor. Haja vista a participação societária. além dos investidores anjo. As formas mais comuns de participação acionária são o venture capital e o private equity. muitos fundos realizam investimentos de venture capital. Mas. quais sejam. o Mútuo Conversível se apresenta como uma forma mais segura de investimento quando não há segurança com o andamento e sucesso do negócio. é definido se haverá ou não participação gerencial no negócio e as obrigações com relação às questões extra financeiras. riscos de responsabilização em caso de falência. podendo vender sua participação societária por valor muito superior ao valor da aquisição. Essa modalidade é muito usada por investidores anjo que além do recurso financeiro. execuções trabalhistas. antes da efetiva alteração do Contrato Social. Neste ponto. Aspectos jurídicos dos negócios sociais: noções gerais não ser sócio da empresa. prevendo também situações de venda ou compra de novas quotas ou 65 . há a celebração de um contrato de compra e venda de quotas e reunião de sócios para análise e aprovação da proposta de investimento. ou convertido o mútuo. temos o investimento com a consequente Participação Acionária. estratégia de marketing. Por pelos elementos decorrentes da participação societária. a formalização jurídica do venture capital é realizada por meio da alteração do contrato social. Como muitas vezes não interessa ao negócio apenas o recurso financeiro. aportam conhecimento de gestão. poderá converter o mútuo em quotas ou ações da empresa.ações da empresa. a depender de determinadas circunstâncias. no contrato ou contrato social. Assim. O venture capital é direcionado para empresas em fase inicial. experiência no mercado. objetivando a valorização rápida e de grande 4. dentre outras comuns da legislação brasileira. normalmente. dentre outros benefícios adicionais focados no desenvolvimento do negócio. é com relação à fase da empresa a ser investida. Portanto. sendo assim com valores de maior monta e com o objetivo de expansão e consolidação. bem como todas as condições gerenciais e de resultados previstas em contrato a ser celebrado entre o investidor e a empresa investida. mas na mudança da realidade social. normalmente se assina um Termo de Entendimentos (Term Sheet). modelo de negócio. 165-166) enumera os seguintes critérios principais para escolha do negócio a ser investido: Equipe. com a inserção ou não na gestão do negócio. Da mesma forma. Ao final. Daniel Izzo (2013. Como anteriormente citado. Mas. Tanto na modalidade de venture capital como no private equity. sobre o direito de preferência na oferta e recusa (Right of First Offer e Right of First Refusal). 66 . guardada a condição mais favorável para seleção entre investidores e outras formas ligadas a políticas públicas em razão do impacto social. com a precedente formalização de contrato entre as partes e eventual ata de reunião de sócios para deliberação e aprovação do recebimento do investimento. a confidencialidade da operação. o qual regulará diversas questões da negociação. como por exemplo: o valor do investimento e a participação societária correspondente com base na avaliação (valuation). bem como toda e qualquer questão de gestão relacionada ao negócio. se haverá ou não direito a voto. direito de venda conjunta (Dragalong) pelo acionista majoritário. governança e. a existência ou não presente e futura de um acordo de quotistas/acionistas. as formalidades jurídicas impostas podem ser iguais às do venture capital. participação nos lucros e resultados. O private equity é voltado para investimentos em empresas com maior desenvolvimento. através da qual o investidor analisa todas as questões relevantes do negócio.ações. pois infelizmente não há um marco regulatório específico para tratar de empresas com fundamento não apenas no lucro. chamada de due diligence. as formalidades e procedimentos jurídicos são os vigentes na legislação e praticados no mercado. A diferença entre o private equity e o venture capital. bem como legislação aplicável e demais questões relevantes para o negócio. o investimento por private equity se dará por meio da alteração do contrato social ou documento regulador da sociedade. a seleção das empresas a serem investidas passa por uma análise criteriosa. p. a obtenção de investimento para negócios sociais é o mesmo de empresas tradicionais. o impacto social a ser gerado. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS para negócios Sociais. nos moldes do preconizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo ordenamento pátrio. ICMS. por não haver uma legislação específica para os negócios sociais e não se tratar do Terceiro Setor. Por fim.) e municipais 4. Obrigatoriedade de obediência à legislação trabalhista. PIS. ao empreendedor que envereda por este caminho é necessário o suporte jurídico para que a natureza do negócio social não se perca. a legislação tributária deve ser obedecida integralmente. COFINS. constituída e regida conforme a legislação brasileira vigente. o qual possui característica de ausência de finalidade lucrativa.305/10). etc. etc. Conclusão PELO EXPOSTO. A legislação deverá ser aplicada conforme a atividade desenvolvida. bem como poderá o negócio social se beneficiar de normas especiais. (Imposto de Renda Pessoa Jurídica. e o estabelecimento de critérios de governança jurídica para mitigar conflitos com fornecedores e consumidores são fundamentais para a caracterização do negócio como sendo social. O regime tributário aplicável ao negócio social vai depender de suas características. 6. como a Lei Complementar nº 123/2006 que trata do Simples Nacional. Diferentemente do Terceiro Setor. ambiental e tributária ALÉM DAS CARACTERÍSTICAS estruturais dos negócios sociais. Aspectos jurídicos dos negócios sociais: noções gerais Em sua operação. o negócio social reside na esfera empresarial. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido . a obediência a estes preceitos diminui riscos e passivos. a observância da cadeia produtiva em relação ao trabalho decente. IPTU. especialmente no tocante ao meio ambiente urbano. De igual forma deve-se atentar às normas ambientais vigentes. etc. o negócio precisa obedecer a legislação trabalhista. deverá cumprir com as normas federais relacionadas às empresas privadas. INSS. estaduais (IPVA. Ou seja. como correto descarte de resíduos (Lei nº 12. seja do ponto de vista constitutivo como de regulação jurídica. Além da (ISS.5. gênese do negócio comportar os conceitos de respeito e empoderamento. devendo cumprir com todas as obrigações por ela impostas. Além disso.CSLL. DO prisma jurídico o negócio social é uma empresa. 67 .).). e. 163-196.02. o qual terá como principal foco o impacto social. Conselho da União Européia. a cooperativa”. previsto no Artigo 5º. por suas peculiaridades não trataremos neste Artigo. “Art. diferimentos específicos para incentivo do impacto social em grande escala. as demais. M. considera-se empresária a sociedade por ações. a empresa social deverá se adequar e utilizar dos recursos presentes na legislação para seu desenvolvimento. 1. 68 3. Quando existente. Terceiro Setor: temas polêmicos 2. “Art. 967). Faz-se a ressalva porque há duas hipóteses de sociedades não personificada no Código Civil: i) sociedade em comum.008. simples. dentro dessa estrutura jurídica. EDUC 27. Espera-se que. pp. há possibilidade de criar. se este for omisso. em cada exercício. Embora seja possível a sua utilização no ambiente EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS dos negócios sociais. Terceiro setor e cooperativas sociais. a importância determinada de acordo com as seguintes normas”. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima”. São Paulo: Peirópolis. combinados com o Artigo 170 e incisos da Constituição Federal. 6365/02. (Org. 202. IV.). regulando questões como a possibilidade ou limites de divisão de lucros.053. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório. simples. desenvolver e gerar impacto social por meio do negócio social. 5. E. “Art. de 20. bem como liberdade jurídica para trabalhar além do modelo tradicional de empresa. Independentemente de seu objeto. In: SZAZI. 1. com o maior desenvolvimento dos negócios sociais no Brasil. considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (Art. . Este trabalho tratará das sociedades empresárias. 2005. 4. Parágrafo único. e. “Art. 2. Sobre as cooperativas sociais (sociedades simples com DNA social) confira: SOUZA. A sociedade limitada rege-se.2002. e ii) sociedade em conta de participação. seja criada uma legislação específica. NOTAS 1. a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou. imagina-se maior facilidade para o cumprimento efetivo do princípio da função social da empresa. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e perdas”. 6.Assim. Parágrafo único. L. nas omissões deste Capítulo. pelas normas da sociedade simples. Mas enquanto tal regulação específica seja criada. inciso XXIII e Artigo 1º. Salvo as exceções expressas. de. 982. (Org. 2013. et al. (. II . 8.. Direito Civil. Fontes de financiamento In: BARKI. 2005. São Paulo: Petrópolis. E.companhias fechadas. S. São Paulo: Saraiva. de.companhias abertas exclusivamente para a captação de recursos por debêntures não conversíveis em ações. deliberar a distribuição de dividendo inferior ao obrigatório. 163-196. 7. Terceiro setor e cooperativas sociais. Aspectos jurídicos dos negócios sociais: noções gerais COELHO. Ed. de S. nos termos deste Artigo. pp. U. Terceiro Setor: temas polêmicos 2. 3: Contratos. 69 .) § 3o Assembléia geral pode. IZZO. C.7.. 7. “Art. VitalBook file. RODRIGUES. 2013. v. E. VitalBook file. nas seguintes sociedades: I . S. (Org. 4. ou a retenção de todo o lucro líquido. Curso de direito civil. 4. desde que não haja oposição de qualquer acionista presente. São Paulo: Saraiva. ed. SOUZA. REFERÊNCIAS GAGLIANO. P. Direito empresarial. VENOSA. M. Novo curso de direito civil. v.). F. tomo II: Contratos em espécie. L. 202. V.). São Paulo: 2010. Negócios com impacto social no Brasil. In: SZAZI. 2014. São Paulo: Peirópolis.. exceto nas controladas por companhias abertas que não se enquadrem na condição prevista no inciso I”. D. . CAPÍTULO 5 EMPREENDIMENTOS SOCIAIS NA CONJUNTURA CONTEMPORÂNEA DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS Cícero Aparecido Bezerra Elenice Mara Matos Novak Janaína de Fátima Chudzik Lígia Leindor Bartz Kraemer . As ações decorrentes para sua manutenção e prosperidade exigem a execução de processos operacionais (técnicos e administrativos). dentre outros indicadores importantes. fatores críticos de sucesso. implicam na utilização de um conjunto de “ferramentas” técnicas e tecnológicas. os quais demandarão competências1 que. 72 Essas determinações adicionadas de contatos com a população-alvo fundamentam a criação e implantação do novo empreendimento. Neste contexto. e (2) como atuará diante de seu alvo. A partir das leituras ambiental. um empreendimento social pode ter seu negócio otimizado e seus resultados ampliados e alcançados em prazos mais curtos.1. emergenciais. a uma comunidade previamente estabelecida. ou seja. Para atender a grupos sociais que têm expectativas e necessidades diversas e. o empreendimento se orienta e potencializa recursos para que seus objetivos sejam alcançados. a lacuna ou necessidade a ser suprida. o problema a ser resolvido. E estes são. cada qual dentro de sua especificidade. táticos (gerenciais) e estratégicos (de médio e longo prazos). para serem desempenhadas. em muitas situações. Introdução CONFORME SE OBSERVA nas bases textuais deste livro. pois novas e diferentes demandas surgem a todo momento e em todos os ambientes da sociedade. observando a pertinente escala de EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS abrangência local. os negócios sociais são empreendimentos que nascem e se desenvolvem com objetivos de servirem. tecnicamente. regional ou global e os critérios temporais envolvidos. social e econômica desta comunidade o empreendedor define (1) o seu campo de ação. Assim. como em todos os setores produtivos. ao estabelecer investimentos estratégicos em inovação e tecnologia. os empreendedores devem se utilizar de recursos que tragam respostas ágeis permitindo o cumprimento . até mesmo. Com o objetivo de consolidar o entendimento do capítulo. se necessário. O objetivo principal é abordar pontos que se firmam pela integração e que possuem uma associação muito mais favorável ao negócio social do que poderia ser 2. 2005. Com essa interpretação. segundo Armbruster et al. a inovação pode ser consi- 5. principalmente para as pequenas e médias empresas. Os impactos dos investimentos em inovação e tecnologia refletem diretamente sobre todas as formas de organização e desencadeiam. De acordo com Bourque (2000). 2. nem tampouco apresentar casos de sucesso. derada como um complexo fenômeno que envolve aspectos técnicos (por exemplo: novos produtos e novos métodos de produção) e não técnicos (novos mercados e novas formas de organização). a inovação é a chave para a obtenção de vantagens competitivas sustentáveis. os empreendimentos e seu respectivo território podem ser chamados de “espaços intermediadores” uma vez que neles acontecem 73 . 644). 838). torna-se premente a conceituação de tais elementos.1 Inovação O termo “inovação” tem sido constantemente associado à competitividade das organizações. vii). p. não há como dissociar estes dois elementos (inovação e tecnologia) de negócios sociais e os mesmos podem estar presentes a partir da ideia que gera essa modalidade de negócio e permanecerem como ferramentas de sustentabilidade e sobrevivência. sem formato-padrão. Não se pretende aprofundar a discussão. p. (2008. Empreendimentos sociais na conjuntura contemporânea das inovações tecnológicas imaginado a partir de uma leitura superficial sobre o tema. (2008.de sua missão e. ganhos na qualidade de vida de cada cidadão. ou seja. p. xii) ou. GUIMARÃES. 2006. p. Conceitos-chave NÃO É RARO encontrar os termos “inovação” e “tecnologia” associados ao desenvolvimento social e econômico de uma localidade seja para aumentar a competitividade das empresas (MATTOS. Para Rejeb et al. Relacionando os dois elementos (inovação e tecnologia) com negócios sociais. Já. para impulsionar o próprio desenvolvimento da região (TIGRE. fazendo uso de procedimentos criativos. por consequência. este capítulo apresenta uma abordagem conceitual dos respectivos termos. para depois conectá-los a essa modalidade de negócio. a infraestrutura de comunicações e telecomunicações. no apoio à pesquisa básica. b) base de ciência e tecnologia: refere-se ao conhecimento científico acumulado e à capacidade em engenharia. 2005. no apoio à inovação em áreas de EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS difícil acesso às empresas... observatórios tecnológicos. a presença de instituições financeiras que possibilitem o acesso a capital de risco. para as organizações. e Desenvolvimento social e proteção. destacam que. Capacitação. Parolin e Oliveira (2010. investidores têm como prioridades projetos voltados para os seguintes setores dessa diensao abiental: Agricultura e recursos naturais. os contextos macroeconômico. Uma das referências mais comumente empregadas quando se trata de inovação é o Manual de Oslo (2005). Setor primário. 41-46): a) condições estruturais: referem-se às condições que envolvem e regem as organizações. Energia. Educação. redes de especialistas. Este manual considera que o processo de inovação ocorre quando sustentado por quatro pilares (MANUAL. 18-26). Exemplos: elos formais e informais entre as empresas. Depende de fatores como: as oportunidades tecnológicas apresentadas (e à capacidade da organização em reconhecer estas oportunidades). a capacitação da força de trabalho e a própria estrutura organizacional. p. Indústria e comércio. c) fatores de transferência: referem-se ao fluxo de informações que facilitam o processo de comunicação dentro e fora da organização. bem como os próprios fatores culturais e sociais que afetam este fluxo. a estrutura da indústria e o ambiente competitivo. Exemplos deste sustentáculo podem ser observados em: sistemas de treinamento técnico especializado. a acessibilidade ao mercado. Finanças. e d) dínamo da inovação: refere-se à própria capacidade da empresa em inovar.. acesso à P&D pública. em universidades. acesso ao conhecimento estabelecido em patentes. bem como àquelas criadas pela própria empresa. formação de empresas a partir da divisão. existem quatro tipos de inovações: 74 . imprensa especializada e publicações científicas. grau de mobilidade dos engenheiros e cientistas. em atividades estratégicas de pesquisa e desenvolvimento públicas e privadas e. Segundo dados do Asian Development Bank (2013). Baseando-se no Manual de Oslo. Tais condições podem ser exemplificadas com: o sistema educacional básico da população.ações e mudanças econômicas e sociais refletidas em uma dimensão ambiental. político e legal. p. Saúde. quando da presença da competitividade). 2. p. alterando muitas vezes seu significado e distanciando-se da conceituação tradicional”. Em um artigo anterior. no posicionamento. de forma crescente. a estruturação local e as relações de trabalho. p. e d) inovações de marketing: novos métodos na concepção. Qualquer instituição pode e deve inovar. nos componentes. O termo “tecnologia” deriva da junção das palavras gregas tekne. b) inovações de processos: novos métodos. 444). p. 18. 2). CALABRETTA PARMEGGIANI. a sociedade. se encontra associada a tecnologia (LICHTENTHALER. quanto internamente (o lado da oferta. tecnologia não significa unicamente um dispositivo. tem levado a usar a palavra em áreas que nada tem a ver com este campo” (SILVA.2 Tecnologia À inovação. Portanto. que significa “técnica” e logos. 50) percebe que a inovação pode ser motivada tanto pelo mercado (o lado de demanda. DURISIN. Veraszto et al. para muitas áreas do conhecimento. técnicas e dispositivos de produção ou distribuição. Empreendimentos sociais na conjuntura contemporânea das inovações tecnológicas na formação de preços e na promoção de produtos. p. nos materiais. Para Silva (2003. recorrentemente. 2002. ou a modernidade. p. 2011. inclusive as externas. c) inovações organizacionais: novos métodos para as práticas. 2010.. Logo. Tironi (2005. p. (2008. p. agregar a inovação aos hábitos de cada cidadão e de cada organização não deveria ser um exercício desafiador. serviço e/ou atividade para satisfazer alguma necessidade. CARRER et al. 2010. necessita ultrapassar seu simples papel de consumidora de produtos e serviços e. deve provocar inovações por meio de novos comportamentos para consolidar pesquisas e ampliar linhas de desenvolvimento das futuras gerações. 75. No sentido de explorar as várias nuances do termo. 52). este mesmo autor afirma que “o modismo. quando da presença de um novo conhecimento ou invenção). “a utilização da palavra ‘tecnologia’ tem sido ampliada 5. nas facilidades de acesso e uso ou na sua funcionalidade.a) inovações de produtos (bens e serviços): melhorias nas especificações técnicas. 67-72) apresentam algumas concepções empregadas: 75 . por sua vez. “conhecimento”. mas o conjunto de saberes aplicados às matérias-primas e ferramentas que resultam em um produto. 18). auto evolutiva. para estes autores. ‘técnica’ se refere à capacidade humana de produzir e inventar meios artificiais para a resolução de problemas. que segue o curso natural de seu desenvolvimento. g) universalidade: leva em consideração que concepção da tecnologia não necessita de contexto social. Álvaro Viera Pinto. é neutra. e) neutralidade: aborda a tecnologia como sendo isenta de interesses individuais tanto na concepção e desenvolvimento.] uma incessante exigência social de superação de obstáculos e busca de inovações”. d) instrumentalista: trata a tecnologia como ferramentas construídas para a realização de tarefas.182) apontam para associações indevidas entre os conceitos de técnica e tecnologia. p. e [. a tecnologia é uma força autônoma. p. enquanto que ‘tecnologia’. colocado de outra forma. tanto a atenção do empreendedor como do financiador da iniciativa deve estar voltada para a oferta local de meios que facilitem a aquisição e distribuição da produção. o objeto de estudo da tecnologia. Para estes autores. f) determinismo: nesta visão. p.a) intelectualista: trata da tecnologia como um conhecimento prático derivado diretamente do desenvolvimento do conhecimento científico teórico. “a tecnologia pode ser considerada a apreensão e a aplicação de um conjunto de conhecimentos 76 .. não vê relação com o processo empregado em sua elaboração – apenas o uso e a finalidade são levados em consideração.. empregando as mesmas lógicas e formas de concepção e produção. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Neste sentido. são os meios de atingir um objetivo final. de maneira profunda e sistemática. Na análise da obra O conceito de tecnologia. a política e a economia. como nos resultados finais. c) como sinônimo de Ciência: associa a tecnologia às ciências naturais e matemáticas. obtido por meio de processos evolutivos e acumulativos. b) utilitarista: por considerar tecnologia como técnica. visto que. Aquino et al. 691) apresentam uma visão mais humana da tecnologia. h) social: relaciona a tecnologia com a demanda social. a produção tecnológica. a partir de experiências seguras baseadas em princípios verdadeiros. Para Alves (2009. nem mesmo suas características de valor. embora os projetos mais audaciosos utilizem matérias primas ou materiais oriundos de outras regiões. “é a ciência da técnica [na qual] está o desenvolvimento científico. tecnologia é “a aplicação de conhecimentos científicos na resolução de problemas”. sendo fruto do desenvolvimento científico. Coronel e Silva (2010. (2010. 427). Para Musteen e Ahsan (2013. Tedeschi e Gallegati (2013. Vitali. Tecnologia e inovação no contexto dos negócios sociais CONSIDERANDO-SE OS TERMOS ‘inovação’ e ‘tecnologia’ associados à competitividade nas organizações. Tarba e Margalit (2014. com grande capacidade de adaptação às suas rotinas. Já para Drnevich e Croson (2001. Empreendimentos sociais na conjuntura contemporânea das inovações tecnológicas inovações. ampliar as perspectivas empreendedoras e promover a inclusão da população. rompendo barreiras humanas geográficas e temporais. descobertas e Resumidamente. verifica-se que alguns autores não hesitam em vinculá-los a sua lucratividade. (2012. como fator chave para obtenção de vantagem competitiva sustentável e lucratividade superior. Segundo Almor. p. 422). como forma de acesso às novas tecnologias. agir. uma estratégia para o aumento nos lucros das empresas globais 5. assim como às oportunidades. fica claro também que ela teve sua origem nos mais primórdios bens criados pelo homem das cavernas e evolui na medida de pesquisas. 3. somadas aos projetos e às metodologias de inovação (percepção criativa da qualidade) são ferramentas que dão suporte aos diferentes modelos de negócios. o aspecto tecnológico das organizações tem sido estudado quanto à sua capacidade de geração de lucros. a inovação tem sido encarada. p. refletir. 502). O resultado é o acesso instantâneo e remoto a qualquer base.e pressupostos que possibilitam aos indivíduos pensar. 185) argumentam que a lucratividade pode ser aumentada na medida em que estas organizações investem no propósito de inovar. especificamente. Mapeando a escala crescente da tecnologia diante de estudos sobre a evolução do homem. A análise destes conceitos nos leva a considerar que o despertar da consciência através do domínio de conhecimentos pode estimular os indivíduos para investimentos em negócios sociais. há muito tempo. a tecnologia é capaz de tornar-se um recurso que suporta estratégias de negócios inovadores e lucrativos. p. é a aquisição de micro e pequenas organizações. físicos e virtuais. p. para os mais sofisticados bens tecnológicos. p. Da mesma forma. complementando a flexibilidade inerente à plataforma tecnológica. tornando-os sujeitos de seu próprio processo de existência”. Colombo et al. tecnologias (artefatos que permitem a execução eficiente e eficaz de processos). 1078) evidenciaram que organizações que experimentam vários 77 . Quando associados. às empresas de porte reduzido. orientadas ao lucro. pois enfatizando as Ciências Sociais e Humanas como formadoras de uma sociedade. p. apresenta finalidades sociais. quanto a tecnologia (inclusive aquelas voltadas aos aspectos sociais) não se sustentam sem o adequado negócio que viabilize sua disseminação. fluxos de autoridade ou crenças do sistema social no qual a inovação ocorre. 78 Seja como for. uma vez que vários conceitos têm permanecido mal definidos. são também elementos que podem contribuir com o desenvolvimento social. há que se estabelecer definições que são recorrentemente associadas aos negócios sociais (2010. 3). Torna-se pertinente esclarecer que os negócios podem nascer tanto por iniciativa da população que compõe a base da pirâmide social e econômica. 233) é importante destacar que a expressão ‘tecnologia social’ ainda que. Tamosiunaité e Zaléniené (2013. Neste contexto. p. o autor alega que a inovação com elevado benefício social é um tipo específico de inovação ou. frequentemente. ao qual são oferecidos os produtos/serviços. Para Skarzauskiené. p. simplesmente. p. trata-se apenas da integração de outros objetivos mutuamente compatíveis. recursos. Neste contexto. o termo ‘tecnologia’ também vem sendo acrescido do aspecto social.períodos de lucratividade também são aquelas com elevados níveis tecnológicos. Para Westley e Antadze (2010. ainda que a inovação e a tecnologia estejam fortemente relacionadas à competitividade das empresas.278). uma inovação social não necessariamente envolve interesses comerciais (apesar de não prescindir destes) – o foco está nas mudanças em níveis sociais sistêmicos. Porém. Wagner (2010. Da mesma forma como o termo ‘inovação’. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS reconsideram que o foco da força tecnológica está nos atores humanos. Por sua vez. 2) definem inovação social como sendo um processo de introdução de novos produtos. empregada no contexto de mídias sociais. quanto pela atitude de empreendedores com alta lucratividade dispostos a disponibilizarem recursos que possam alavancar o primeiro grupo citado. processos ou programas que mudam profundamente rotinas básicas. . p. cujo mercado. 2): a) empresas sociais: empresas privadas. 584) alerta para o fato de o conceito de inovação ser pulverizado em função de sua aplicabilidade. p. trata-se de uma crescente preocupação das comunidades empresariais. Westley e Antadze (2010. e b) empreendedorismo social: centra-se nas características da pessoa que dá início a uma empresa social. tanto a inovação. De acordo com Blount e Nunley (2013. é muito mais do que isto. • Estruturas organizacionais que balanceiam diferenciação e integração são mais propensas a suportar lógicas que competem entre si. o que pode ser verificado no Quadro a seguir. • Práticas seletivas de cada lógica permitem às empresas sustentar ambas. manutenção e. podem promover tensões entre membros. Apesar da afirmativa. 2013. Empreendimentos sociais na conjuntura contemporânea das inovações tecnológicas Questões de pesquisa 79 . com valores e missão de empreendimentos sociais (SMITH. 408). Quadro – Agenda de pesquisa explorando negócios sociais TEORIA DOS STAKEHOLDERS IDENTIDADE ORGANIZACIONAL TEORIA INSTITUCIONAL • O que possibilita a criação. • Qual a natureza da identidade organizacional? • Como identidades organizacionais mudam? • Como gerenciar múltiplas identidades? • Para quem as empresas devem prestar contas de seus resultados? • Como os gerentes equilibram suas atividades entre os stakeholders e os shareholders? • Em quais stakeholders os gerentes devem focar? • A criação de uma identidade integradora em conjunto com subgrupos distintos pode mitigar conflitos e propiciar identidade positiva.As empresas (ou negócios) sociais devem combinar eficiência. • Promoção de membros pluralistas. enquanto tema de pesquisas. desenvolvendo soluções integrativas e introduzir aspectos sociais em procedimentos de trabalho. BESHAROV. GONIN. p. os mesmos autores registram tensões entre os aspectos “social” e “lucrativo”. • Quais condições podem fazer com que os stakeholders suportem o aspecto social do negócio? 5. • Como e quando as relações com stakeholders divergentes podem contribuir com o sucesso social da empresa? • O sucesso de um negócio social depende de colaboração de múltiplos stakeholders. inovação e recursos de organizações tradicionalmente voltadas ao lucro. Pesquisas futuras • Como instituições societárias impactam a capacidade das organizações em ganhar legitimidade e sustentar seus vieses sociais? • Como instituições societárias impactam as tensões que surgem em empresas sociais? • Qual deve ser o papel das agências que suportam as organizações em combinar bem estar social com a lógica de mercado? • Como instituições sociais podem gerenciar efetivamente suas múltiplas identidades? • Como as identidades das instituições sociais mudam ao longo do tempo e como isto impacta na gestão das tensões? • Empreendedores sociais devem manter juntos os stakeholders de divergentes expectativas e valores. destruição de instituições? • Como organizações sociais operacionalizam suas ações? • Como organizações com múltiplas lógicas institucionais obtém legitimidade? Conclusões encontradas • A socialização entre colaboradores que não se caracterizam por uma lógica social ou de mercado é mais efetiva do que a contratação de colaboradores que apresentam lógicas distintas. empreendedorismo. parte dele retorna à sociedade na forma de impostos pagos ao governo. Se uma empresa aumenta sua receita é porque seu produto/serviço tem sido mais requerido pelos clientes (sociedade). p. GONIN. BESHAROV. Mesmo na hipótese de que o aumento na lucratividade tenha se originado . revolução em ciências comportamentais. Na pior das hipóteses. demanda e consolidação das ciências gerenciais. Blount e Nunley (2013. a saber: revolução tecnológica. inovação. mudança climática e ambiental. é natural que o lucro (ou parte dele) seja investido na própria empresa. os mesmos não prescindem EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS das melhores práticas de todos os campos da área de gestão. é prudente verificar que as finalidades “social” e “lucrativa”. Porém. globalização. p. p. indiretamente. Este mesmo autor entende que. 296) acreditam que a dicotomia entre atividades econômicas e sociais não existe. promovido por empresas com fins lucrativos. ainda que os negócios sociais sejam veículos de transformação social por seus próprios méritos. como perpetua a crença de que o lucro é realizado a partir de perdas sociais. 2013. somente ocorre a partir de quatro elementos. não somente cria definições confusas. 80 Porém. marketing transformacional. enquanto objetivos de um negócio não são excludentes. • Quais tensões paradoxais são mais expressivas em negócios sociais? • Quais características organizacionais permitem aos negócios sociais abranger efetivamente as tensões? Fonte: adaptado de SMITH. sustentabilidade. educação. Já French (2013. ou na própria ampliação das operações cujo impacto é facilmente percebido sob a forma de contratação de pessoas. 415-416. é possível perceber que o lucro é obtido a partir de receitas e custos. através da aquisição de novos bens de capital (e. e colocar estas atividades em esferas separadas. bem-estar. Baker (2013. 301) assume que o conceito de negócio social passa por tópicos como responsabilidade social corporativa. gerando lucro para aqueles que os fornecem). • Como líderes e gerentes lidam com tensões paradoxais? • Tensões entre missões sociais e de negócios não somente são contraditórias como também se reforçam. organizações voluntárias e de caridade e. p. 287) acredita que o desenvolvimento social. • Sucesso organizacional de longo prazo depende mais de abranger os paradoxos do que de resolvê-los. Em um sentido mais reducionista. de forma geral. se este lucro não for revertido em investimento na própria empresa.TEORIA DOS PARADOXOS • Como surgem tensões paradoxais? • Líderes tomam empresas sociais como paradoxais. microcrédito e microfinança. caso a empresa intencione manter-se no mercado. investimentos e ajuda estrangeira. operacionais e gerenciais) como de suas atividades-fim (voltadas aos processos estratégicos. portanto. consequentemente. Ao desempenhar suas respectivas funções internas e externas em busca de objetivos predeterminados. a empresa cumpre. representando capacitação e modernização de linhas de produção. uma organização com objetivos exclusivamente voltados ao lucro ou ao aspecto socialnão sobrevive sem lucratividade e. a infraestrutura tecnológica de informação e comunicação disponível tem proporcionado integração e colaboração entre pessoas-pessoas. Estes dois elementos facilitam a inserção e manutenção dos empreendimentos no mercado socioeconômico e colaboram para uma sociedade economicamente ativa. Empreendimentos sociais na conjuntura contemporânea das inovações tecnológicas Inovação e tecnologia são. ainda assim. o que transformou a economia 5. ou automação de tarefas. chamada digital ou global. comerciais e financeiras através de dispositivos tecnológicos.na redução de custos envolvendo colaboradores. Sendo assim. ou seja. é possível visualizar que houve ganho social no sentido de que menos colaboradores estão efetuando tarefas que anteriormente necessitavam mais mão de obra (isto indica capacitação de pessoal). não basta que as organizações sobrevivam. realizando suas transações sociais. de mercados anteriormente limitados por algum fator (demográfico. neste sentido. Nessa economia digital. É preciso que informatizem seus processos. de renda etc. pois é à sociedade que ela está direcionada. as perdas dessa empresa são mais sentidas primeiramente junto às pessoas que nela colaboravam. E. 4. criem sistemas virtuais. como sua razão é gerar produtos e/ou serviços para oferecer e/ou atender à demanda das pessoas. é importante observar que a inclusão destas pessoas no mundo digital tem evoluído numa progressão suficientemente rápida a ponto de estarem hoje conectadas 24 horas diárias às diferentes redes. Negócios sociais na era digital TODA ORGANIZAÇÃO PARA se inserir economicamente no mercado necessita de uma estrutura mínima de recursos (bens patrimoniais e de consumoe recursos financeiros) e de pessoal (competências) que permitam a execução tanto de suas atividades-meio (voltadas aos processos administrativos. pessoas-organizações e organizações-organizações.) em uma nova economia. integrem redes e transitem pela Web. fatores intrínsecos ao mundo dos negócios. Ou seja. onde as transações ultrapassam qualquer barreira física pelo uso das redes de comunicação. utilizando tecnologias da informação e comunicação para cumprimento de 81 . Além disto. ao cerne de seu negócio). geográfico. sua função social. não há como separar o lucro do aspecto social. ou seja. Quanto maior o grau de maturidade digital. p. o serviço de atendimento ao cliente e a velocidade”. gerenciais e estratégicas. a existência de organizações que. ou seja.). visto mundialmente. todas as fases da maturidade de uma organização. no entanto. Estas conduzem a novos modelos de negócios que reduzem significativamente custos e aprimoram a qualidade. II. e VI. pesquisa de satisfação etc. podem vir a se tornar um e-business. documentos etc. criação de mercado por meio da criação de comunidades virtuais fazendo uso das redes eletrônicas e sociais (blog. imagens. criação de intranets para comunicação e fluxo de documentos.desenhos. De acordo com Turban et al. como planilhas de cálculo. Na definição de Turban (2010.. fotografias.47). parceiros etc. Há que se destacar. planejamentos etc. Com se pode verificar. automação de processos.). criação de sistemas de informação. através do qual possa ser identificado e localizado. mais dependência a organização tem das tecnologias da informação. (2010. IV. gráficos. “a economia digital é caracterizada pelo extenso uso da tecnologia da informação em geral e pela Internet em particular.sua missão. etc. em relação a sua adaptação à economia digital. venda. localizar e acessar pessoas. pode-se afirmar que a maturidade digital das organizações passa pelas seguintes fases: I. relatórios.. substituição do papel por documentos digitais (tanto textuais memorandos.). participação efetiva na Web executando transações com cliente (comunicação. dependem do uso de tecnologias da informação2. Baseando-se em Turban (2004) e observando como os negócios evoluíram ao longo dos últimos anos. matrizes. utilização da Web para buscar. Twitter etc. as quais desempenham o papel de suporte às áreas funcionais. inserção da representação do empreendimento na Web por meio de um site. enquanto outras podem já nascer nesta forma. incluindo negócios intraorganizacionais e interorganizacionais e comércio eletrônico”. instituições. p. imagens estáticas e dinâmicas . 82 . a definição mais ampla de comércio eletrônico. III. Facebook. ao atingirem o último nível de maturidade. identificar. oferta de serviços e melhoria dos negócios a partir da colaboração de clientes e parceiros. V. G4).) e outras organizações (fornecedoEMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS res. e-business é “uma empresa que realiza eletronicamente a maioria de suas funções de negócio. deve-se documentar os requisitos a serem exigidos dos sistemas. a implantação de uma infraestrutura tecnológica a partir de cinco passos (TURBAN et al. locação. Diante de todas as demandas sociais. definindo: os dados a serem inseridos. estudar os dados e as informações necessárias.A inserção de uma organização na economia digital exige. 613-615): I. criação de uma arquitetura de tecnologia da informação. os usuários a serem atendidos e os possíveis riscos de falha. os critérios de segurança. os marcos regulatórios e as parcerias a serem firmadas no tocante dinâmicas informacionais e de garantir sua inclusão social. 2010. o que poder advir das seguintes opções: desenvolvimento próprio. os recursos humanos. compra de terceiros. testes de integração entre os módulos. testes de usabilidade e testes de aceitação para. as informações a serem extraídas e os módulos operacionais e gerenciais dos sistemas. e V. e definir um cronograma de implantação. A estruturação e integração das tecnologias da informação e comunicação cumprem seus papéis indispensáveis para a dinâmica.. o que deve ser intermediado por meio de testes de unidade de cada módulo. p. planejamento de sistemas: alinhado ao planejamento do negócio. 83 . agilidade. aquisição dos programas/aplicativos. digital e econômica nos diversos espaços nacionais e internacionais. e os procedimentos para implantação e operação dos sistemas. eficiência e eficácia dos negócios. parceria na utilização. o que garante o uso ininterrupto dos sistemas. desenvolvimento terceirizado. fomentar a inovação e a tecnologia nos ambientes de negócios pode ser muito mais que uma condição básica de estrutura. e somente depois. pode levar os programas/ aplicativos à contínua manutenção ou a sua substituição. serem disponibilizados aos usuário finais para sua operação. III. os equipamentos e os programas/aplicativos nos quais os módulos serão executados. trata-se de permear as comunidades com a oportunidade de acesso às 5. Empreendimentos sociais na conjuntura contemporânea das inovações tecnológicas bilizado. manutenção e atualização. portanto e efetivamente. a avaliação do cumprimento de seus objetivos. II. ou combinação entre as opções. instalação e integração dos programas/aplicativos. o fluxo pretendido para as informações a serem extraídas. o orçamento a ser disponiao compartilhamento de bancos de dados. IV. distribuídos nas categorias de empreendedores. planejar com informações coletadas. também um empreendedor. problemas. Yunus (2010) demonstra em seu livro Building Social Business o poder transformador desses atores transformando vidas. certamente. diante de todos seus anseios. 84 sua inclusão e melhorias em suas expectativas e necessidades de vida. por meio do qual o cidadão alcançado pelo negócio obtém a oportunidade de aprender. geográficos e temporais é um procedimento que. o tratamento e a análise de dados e informações. Diante das incertezas do futuro de uma comunidade. tecnologias da informação e comunicação para prospectar um grupo social e identificar variáveis que dificultam melhores condições ou condições básicas de sobrevivência é imprescindível. valores e vocações e. se ancora em certezas nas tomadas de decisão. o empreendedorismo social tornou-se uma postura inspiradora utilizada tanto por empresas. Usar a tecnologia e. Considerações finais NEGÓCIOS SOCIAIS SÃO gerados e se sustentam por ideias. que já foi alvo de um negócio social e conseguiu superar as fragilidades. gerador de uma nova iniciativa em torno do bem comum. e como políticas públicas e ações corporativas devem se moldar à abertura de espaços para esse novo modelo potencializando o resgate das promessas do livre mercado. mas dar seguimento à reflexão sobre o tema lança-se um desafio aos empreendedores e àqueles que desejam empreender em negócios sociais: impulsionar o cidadão. o que menos se quer é planejar com alto risco de insucesso e a tecnologia deve ser utilizada para a obtenção. fazendo plena aplicação da tecnologia para gerar novas oportunidades a grupos que anseiam por . por sua natureza. os cenários mercadológicos orientados à prática daqueles que querem criar negócios sociais. Explicitando essas práticas. Ou seja.5. futuramente. avaliadas e suportadas em cenários ambientais. investidores e ativistas sociais. discutir. integrar-se a outros grupos. a essência da inclusão. independentemente de seu porte. como por indivíduos. Para finalizar. esse é o caminho de um EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS empreendimento. Muitas vezes. Outra forma de relação vem por uma palavra-chave: inclusão. a ser um empreendedor inovador em sua comunidade. neste caso. a missão de seus negócios sociais eles estabelecem. Quando empreendedores definem. empreendem motivados por desafios convergentes em seus objetivos: bem estar do cidadão e melhoria da qualidade de vida. intrinsecamente. Os elementos abordados neste capítulo são alguns dos aspectos relacionais que ajudam significativamente a dar amplas condições de um empreendedor a viabilizar um negócio social. conhecer. Nesse sentido. evoluir e ser. causas. 278-316. 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Issues in measuring innovation.. 2010. 71. The impact of classes of innovators on technology. Tecnologia da informação para a gestão: transformando os negócios na economia digital. 22. and economic growth. S. E. 60-85. 7. July 2010. YUNUS. The Innovation Journal.negócios na economia digital. Tecnologia: buscando uma definição para o conceito.. Making a difference: strategies for scaling social innovation for greater impact. VITALI. v. 15. WESTLEY. 3. 2007. 2008. p. p. 2004 TURBAN. Corporate social performance and innovation with high social benefits: a quantitative analysis. 4. M. Porto. N. ANTADZE. . CAPÍTULO 6 CASES PARANAENSES DE NEGÓCIOS SOCIAIS Ana Lucia Jansen de Mello de Santana Andressa de Fátima Molina . 1. e) remunera todos os fatores e recursos econômicos. Sustentados nos oito critérios acima explicitados e considerando ser este um modelo muito recente na sua aplicação. materiais. Para construir esse capítulo. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS b) tem como propósito a remoção de obstáculo(s) que impede(m) a inclusão 90 sócio-econômica de indivíduos. etc.). e h) o(s) investidor(es) recebe(m) de volta o capital investido no prazo pactuado com o empreendedor. produzindo lucro. Introdução COMO SE ENCONTRA a área de negócios sociais no Paraná? A partir da apresentação de cases paranaenses. empregabilidade. renda. g) o lucro se constitui o meio que permite realizar o propósito. este capítulo tem como finalidade expor o motivo pelo qual as instituições em questão se denominam negócios sociais e. após pesquisa de campo chegou-se a duas experiências que serão relatadas no presente capítulo. trabalhando com a ideia de que um negócio social possui as seguintes características: a) desenvolve uma atividade comercial. gerando emprego. direitos sociais. . a partir disso. c) adota inovações técnicas e tecnológicas. capacitação. demonstrar seus serviços e explanar como conseguem ter impacto positivo sobre a sociedade. f) adota escalas reduzidas de alcance local para a produção dos bens ou serviços e comercialização. d) potencializa os recursos econômicos locais (humanos. com possibilidades de replicação em outros ambientes. famílias e comunidades que se situam na base da pirâmide social. foram feitas entrevistas às empresas que trazem no âmbito institucional o modelo de negócios sociais. ) e.É possível que outros empreendimentos atuantes no Estado do Paraná já estejam em funcionamento e escaparam ao nosso conhecimento. mas que não basta para ser um negócio social. Todavia na aplicação de entrevista e questionário evidenciou-se a não aderência a um ou mais dos critérios acima elencados. c) o modelo de governança: as perguntas nesse tema envolveram questões sobre o modelo de governança da empresa. b) o produto/serviço: quais são os diferenciais do produto/serviço em relação às demais opções do mercado (introdução da inovação técnica/tecnoló- 6. É uma característica desejável em todo negócio tradicional. Outras. tendo sido fundadas entre 2001 e 2007. ou seja. Importante ressaltar que um número bem maior de empresas foram abordadas para este levantamento. etc. se e como a empresa distribui lucros ou resultados. capital do Estado do Paraná. bem como. A publicação desta obra certamente irá despertar empreendedores para colocar em maior evidência seus negócios sociais o que nos permitirá numa edição futura ampliar o escopo ainda modesto deste capítulo. principalmente. para as quais entrevistas foram aplicadas para obtenção de informações que complementassem as disponíveis em seu respectivo site. As empresas paranaenses constituídas como negócio social apresentadas neste capítulo estão sediadas em Curitiba. ainda. preço de venda. respectivamente Terra Nova e Solidarium. 91 . A entrevista obedeceu um roteiro pré-estabelecido e as perguntas formuladas questionaram: a) o institucional: origem do empreendimento. além da explicação de como são tomadas as decisões no modelo de governança atual. d) a gestão financeira: sobre fontes de recursos principais do empreendimento. São empresas tes ou com alto grau de cidadania corporativa. no uso de matérias-primas e insumos. organizações sem finalidades lucrativas. Cases paranaenses de negócios sociais comerciais constituídas como negócio tradicional com atributos sociais interessan- gica no processo de produção. missão institucional e enquadramento no conceito negócios sociais. na embalagem. afastando-as também do modelo negócio social. se já foi alcançada a sustentabilidade financeira ou quando e de que maneira a organização pretende alcançá-la. bem como os indicadores utilizados para mensurar esses dados. como esse produto/ serviço impacta em seu público-alvo. se revelaram como organizações do terceiro setor. Todas as partes se beneficiam evitando o conflito e a comunidade resulta pacificada. diz André (ALBUQUERQUE. a empresa busca o valor justo para as partes. na época. livro no qual defende a inserção da população de baixa renda nos países em desenvolvimento. Se a Terra Nova fosse chamada a atuar como mediadora em conflitos agrários. e emite os carnês de pagamento. a Terra Nova vem sendo procurada tanto por proprietários de terras ocupadas irregularmente como por ocupantes em busca de uma solução pacífica e também por construtoras de hidrelétricas dispostas a negociar o reassentamento dos afetados pela obra. Através de um programa. Filho de uma tradicional família de advogados paranaenses. Atuando no Paraná. Gostaria de ajudar a humanidade a se pacificar. era integrante da Secretaria de Habitação de um município do Paraná que tinha grandes problemas com ocupações irregulares. Ele. homologa um acordo. André Luís encontrou uma forma de conciliar sua formação em advocacia com a vocação na mediação de conflitos sociais. que . Para evitar a desocupação judicial. 2014) ressalta que nas cidades brasileiras há cerca de 12 milhões de domicílios precários. criador do Instituto de Liberdade e Democracia naquele país e autor de O 92 Mistério do Capital. Gosto de atuar em grandes conflitos. A Terra Nova Regularizações Fundiárias não depende de doações. Seu fundador se inspirou no economista e político peruano Hernando de Soto EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Polar. cuida do loteamento. Terra Nova A TERRA NOVA foi fundada em 2001. 2014). em São Paulo e em Rondônia. André (ALBUQUERQUE. São ativos imobilizados que poderiam estar sendo empregados como caução na tomada de empréstimos bancários para a realização de atividade econômica. dos quais 50% se situam em áreas particulares. agora detentoras do título de propriedade. por André Luis Cavalcanti de Albuquerque. como a Odebrecht fez na Usina de Santo Antônio. mediante a transformação do que chama de “ativos mortos” (terras ocupadas irregularmente) em “ativos econômicos produtivos”. provenientes de invasões de áreas particulares. para se chegar a um acordo de valor. você aceitaria? Sim. É hoje um case de sucesso e recebe investimentos na sua reestruturação e um plano de negócios ambicioso pela PriceWaterhouseCoopers e Mattos Filho. impulsionando as famílias de baixa renda. o município chamava para a “mesa” proprietários e ocupantes. as empresas concessionárias de água e energia locais. convoca a prefeitura.2. lariza mais de 2. 2014). ficando com uma parte da indenização devida aos proprietários Segundo seu site (TERRA NOVA. Foi quando teve a ideia de continuar esta atividade por meio de uma empresa privada. “Hoje. contribuindo para o desenvolvimento de diversas comunidades”. Curitiba. resolvendo. garantindo assim que a propriedade cumpra sua função social”. o Prefeito que o implementou fora derrotado nas eleições e a nova gestão decidiu encerrar qualquer atividade implementada pela anterior. sustentabilidade e trabalho em equipe”. que tem como missão "pacificar e melhorar a qualidade de vida de comunidades que vivem em assentamentos precários no Brasil e no mundo". de forma pacifica. Ainda. no Estado do Paraná. a Terra Nova promove acordos judiciais nas ações de reintegrações de posse que pairam sobre áreas ocupadas irregularmente (invasões).5 milhões de m² de áreas urbanas particulares. Quando o programa começava a prosperar. acesso ao título de propriedade dos lotes onde vivem. permitindo que as famílias envolvidas obtenham. e respeitando as diretrizes urbanísticas e ambientais ditadas pela legislação vigente e pelos órgãos competentes. promotor de transformação social e ambiental em todo o mundo" e os valores com que impregna sua ação são: “ética. que já tinha iniciado as negociações em algumas áreas irregulares. no Estado de São Paulo. Metodologicamente. Seus projetos podem ser observados nos municípios de Pinhais. os conflitos relacionados a posse/propriedade da terra”. viu seu projeto interrompido. o proprietário transferiria a propriedade ao ocupante (invasor) através de escritura pública de compra e venda.deveria ser pago a título de indenização pelos invasores aos proprietários. respaldado pelo Código Civil Brasileiro. 2014). respeito. presente em três estados brasileiros. “O proprietário é indenizado pelo imóvel que foi ocupado 93 . Paranaguá e Matinhos. “a Terra Nova é uma empresa social que trabalha com a mediação de conflitos humanos para a Regularização Fundiária Sustentável de áreas urbanas particulares ocupadas irregularmente”. transparência. Cases paranaenses de negócios sociais para poder custear a atividade. “através de um trabalho de mediação. segundo seu site (TERRA NOVA. Ferraz Vasconcelos e Casa Branca. é a única empresa brasileira especializada neste tipo de atividade”. a Terra Nova elaborou um modelo de intervenção que busca resolver conflitos de terra de forma pacífica. “por meio da mediação dos interesses entre proprietários e ocupantes. Dessa forma. Ao final do pagamento. “Pertencente ao setor dois e meio da economia. Adota a visão de "ser um agente multiplicador de ações sustentáveis. a organização regu- 6. por si mesmas. André. comprometimento. cada família recebe o título de propriedade do lote que ocupa. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Figura 1 – Metodologia de trabalho da Terra Nova 94 Fonte: Terra Nova. conta com um fundo de investimento em expansão de impacto para empresas de negócios sociais. André explica que essa prática. o poder público não precisa desapropriar a área e passa a regularizar os serviços públicos. “Com um staff técnico multidisciplinar formado por advogados. sem visar exclusivamente o lucro. a fonte de recurso são os próprios projetos. mas sem uma proibição de que . a distribuição de lucros ainda não acontece. competente e comprometida com os trabalhos diários que envolvem o processo de regularização” (TERRA NOVA. 2014). As decisões são tomadas pelo Conselho de Administração e executadas pela Diretoria da empresa. Atualmente. Como ainda está na fase de gerar impacto e expandir o alcance. arquitetos-urbanistas. mas nada impede. inclusive. economistas e comunicadores. após a conclusão do pagamento da respectiva indenização (Figura 1). por meio do pagamento dos beneficiários. A empresa funciona com sócios e diretores em seu quadro de gestão. que em outro momento a empresa possa fazê-lo. é um estimulo para que grandes investidores aportem em negócios sociais. 2014.irregularmente. Além disso. assistentes sociais. a empresa possui uma equipe completa. Depois da aprovação do parcelamento do imóvel. impacto social. declarou que o projeto premiado servisse de modelo para todo o mundo”. em parceria com as Nações Unidas à Terra Nova que ficou entre os 10 finalistas. Concorrendo com iniciativas semelhantes de todo o mundo. e se puder conciliar isso com algum retorno financeiro. Concedido pela Ashoka à André Albuquerque. excelente” (ALBUQUERQUE. destacam-se os listados no Quadro 1 abaixo. Tais premiações abriram novas oportunidades para a empresa Terra Nova que passa a ser requisitada para o relato de suas experiências e metodologia fora do Brasil. no ano de 2008 Empreendedor Social Destinado a iniciativas de inovação. que possibilita o acesso ao direito de propriedade a diversas famílias de baixa renda. “Afinal. Concedido pela Building and Social Housing Foundation (BSHF). Nome Observação René Frank Habitat Award “Destinado a projetos que propiciam a melhora das condições de habilidade das populações mais pobres do mundo. a Terra Nova foi considerada pelo júri internacional como a mais bem sucedida de todas elas e. Dignity & Opportunity Direcionado à iniciativa mais inovadora na área social. sustentabilidade. World Habitat Award Direcionado a projetos que apresentam soluções inovadoras para os problemas da habitação. 2014). A Terra Nova e o seu fundador André Albuquerque foram laureados com vários reconhecimentos públicos pela inovação metodológica. durante a cerimônia. Dentre os prêmios recebidos. 2014. Cases paranaenses de negócios sociais Quadro – Prêmios recebidos pela Terra Nova e/ou seu Diretor Fonte: Terra Nova.isso aconteça. Em junho de 2013 esteve presente no Fórum Mundial realizado pelo Banco 95 . Concedido pela Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) em parceria com o Jornal Estado de São Paulo em 2012 6. nos anos de 2007 e 2008. é melhor investir em um negócio que faça a diferença positiva na vida das pessoas. abrangência e efeito multiplicador. na Internationa Real Satate Federation (FIABCI). em 2005 Personalidades Empreendedoras do Paraná Destindo a empreendedores na área social. pelos resultados e pelo impacto social promovido. Ashoka Fellow Destinado a iniciativas que trazem soluções inivadoras a problenas de habitação. Concedido na cidade de Cannes. o presidente da FIABCI. Concedido pela Schwab Foundation em parceria com o jornal Folha de São Paulo ao diretor-presidente em 2008 Ashoka Changemakers & Omidyar Network – the Property Rights: Identity. em 2008. Concedido pela Ashoka à Terra Nova em 2010 Pensador de Cidades Luiz Antonio Pompéia Destinado a iniciativas que contribuam para a inclusão de cidadãos na comunidade. França. Concedido pela Assembléia Legislativa do Estado do Paraná. caso possível e sem desviar o foco principal. John Greig. design adequado. Logo percebeu que existia uma grande oportunidade de mercado. tendo sido beneficiadas 22 mil famílias. fazer parcerias. Tiago formou-se em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Paraná e conta que os primeiros cinco anos de empreendedor foram de muito aprendizado. com a colaboração de muitas pessoas que acreditaram no negócio. Assim nasce o propósito da Solidarium em contribuir com a inclusão digital desses artesãos e ampliar substancialmente suas vendas. A empresa foi fundada em 2007 por Tiago de Angeli Dalvi. e desta forma melhorar seu padrão de rendimentos e reduzir a desigualdade de rendas no país. diversos empreendedores sociais e organizações não governamentais foram convidados a apresentar suas ações em prol de um mundo mais justo e equilibrado. Assim. Tiago foi encontrando a melhor forma de conduzir a empresa.Interamericano de Desenvolvimento (BID). mas 96 tinham poucas informações e canais para vender suas peças. a empresa relaciona 21 acordos concretizados no Paraná. Solidarium AO OFERECER UMA solução de mercado focada em um problema social. hoje com credibilidade nacional e internacional. que também foi gestada entre alunos de Economia e Administração da Universidade Federal do Paraná. em Curitiba: quase faliram no primeiro ano. tinham um bom produto.5 milhões de metros quadrados de lotes próprios. Como resultados. A ideia surgiu quando identificaram que 80% dos 8. falta de conhecimentos. as experiências foram se acumulando e. de fracasso em fracasso. entender o mundo do artesanato. Tiago conta que foi “pegando na mão” destes artesãos e apresentando seus produtos para pequenas lojas em Curitiba. visto que não havia nenhuma empresa conectando estes dois mundos. No evento. que teve contato com empreendedores localizados em comunidades de baixa renda e notou que muitos EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS eram artesãos. preço competitivo. atualmente vivendo em 2. A Solidarium nasceu como parte da organização não governamental Aliança Empreendedora. Aprendizado com os próprios erros. No ano de 2007. C e D e que menos de 1% delas têm acesso a venda online. na Cidade de Medellin na Colômbia. em São Paulo e Rondônia. Faltavam bons produtos. Tiago e seus colaboradores abriram uma loja no Shopping Novo Batel. comunicar seu propósito. tornar-se acreditado.5 milhões de artesãos em atividade no Brasil são mulheres pertencentes às classes B. 3. a Solidarium classifica-se como modelo de negócio social disponibilizando uma plataforma como um canal de vendas para artesãos do Brasil inteiro. No começo. . despreparo. Não é cobrada taxa de cadastro. Outro diferencial é ser o único marketplace que disponibiliza telefone 0800. utilizando-se das importantes e úteis “dicas” colocadas á sua disposição para alcançar o comprador que deseja um produto feito à mão. Tok Stok. Foi preciso inovar: nasce a Solidarium. em menos de 5 minutos. Em 2008 a empresa conquistou seu primeiro acordo comercial e foi logo com a grande rede varejista mundial Walmart. fórum e suporte via email ao artesão. onde artesãos de todo o Brasil podem acessar. designers e artesãos de todo o Brasil. como também em grandes redes varejistas: Walmart. O site da Solidarium. etc.net. começam a vender para todo o Brasil. fornecendo ferramentas úteis para a apresentação adequada dos arte- 97 . Eram então 32 produtos artesanais diferentes e um total de 1. mas sim uma comissão de 15% quando a venda é realizada. mensalidade ou anuidade. atingir o comprador ao redor listar seus produtos e.600 unidades. A parceria artesão e Solidarium leva à participação nas maiores feiras de decoração e design do mundo como a Maison & Objet em Paris e a NY Now. Além de criar espaços de venda. franceses. ele pode encontrar produtos 100% feitos a mão por artistas. Tiago explica que o produto da Solidarium permite aos seus beneficiados acessarem novos canais de distribuição além de gerar renda. Mas o modelo de loja física mostrou-se não apropriado. dialoga com os artesãos e com o público que deseja conhecer e comprar os produtos ali expostos. a loja virtual dos artesãos nela cadastrados. colorida e interativa. Era preciso fazer diferente. Funciona como um marketplace online. Depois desta experiência vieram outras conquistas. com a qual é possível atingir o artesão de qualquer região do do mundo. Hoje o artesão cadastrado na Solidarium vende para consumidores norte-americanos. chat ao vivo. Do lado do consumidor. A missão da Solidarium é construir um melhor ambiente para esses artesãos e disponibilizar ferramentas para transformar a realidade desse setor. asiáticos.capital de giro e a marca não era conhecida do público frequentador do Shopping. o mercado de artesanato é muito disperso e precisa ter uma capilaridade muito grande. cadastrar-se. em Nova York. O principal diferencial é disponibilizar ferramentas para estarem lado a lado deste artesão no desenvolvimento do seu negócio e permitir que eles distribuam seus produtos não apenas pelo próprio site da Solidarium. 6. a Solidarium promove o artesão enquanto empreendedor. é muito criativa. Cases paranaenses de negócios sociais Brasil e ao colocar seus produtos na plataforma virtual. de qualidade e com preço justo. Também em 2011 Tiago foi eleito Empreendedor Social de Sucesso pela revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios.000 produtos. Disponível em: http://grupoterranova. André Luís Cavalcanti de. a meta é nos próximos quatro anos é conectar mais de 40. O resultado da empresa aponta para um cadastro de mais de 3. cooperativas. A Solidarium conta com investidores brasileiros e americano que apostam no crescimento deste mercado no Brasil e na América Latina.000 produtos listados. TERRA NOVA. O público-alvo participa da construção desta estratégia e pré-validação. em premiação concedida pela Ashoka e Fundação Ebay. Para além de ser mais um canal de vendas de artesanato. tendo conquistado acordos comerciais com os maiores varejistas do país. Curitiba.[Site]. a Solidarium deseja criar um verdadeiro movimento para promover o artesanato brasileiro. 2014.sanatos. Entrevista concedida a Ana Lucia Jansen de Mello de Santana e Andressa de Fátima Molina. Tendo iniciado com 12 artesãos em 2007.com. . 98 Em 2011 a Solidarium foi reconhecida como uma das cinco maiores inovações para o desenvolvimento econômico e social em todo o mundo. microempresas e artesãos individuais.500 associações. A aceleradora de negócios com sede nos Estados Unidos. com mais de 25. a exemplo de empresas como Walmart.000 artesãos e disponibilizar mais de 150. Como apoio na gestão da empresa e para validação das decisões estratégicas do negócio. há um conselho deliberativo formado pelos sócios e investidores. dicas de como produzir fotos que comuniquem o produto junto ao público consumidor. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE. Disponibiliza ao artesão um canal de vendas com garantia de receber em até 48 horas o valor da compra feita pelo cliente. a cultura. Tok Stok. a descrição detalhada. o EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS design e muita inovação. na medida em que as principais ideias vêm dos próprios artesãos. Curitiba.br/terranova/. Lojas Renner e muitas outras pequenas e médias lojas que revendem os produtos da sua rede de artesãos. Unreasonable Institute nomeou a Solidarium como Fellow. Por meio do site da Solidarium o mundo é o limite para as vendas do produto artesanal. CAPÍTULO 7 NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL NO BRASIL Artemisia . além de um alto índice de empreendedorismo. Introdução ESTE CAPÍTULO INTRODUZ o conceito de negócios de impacto social com base no conhecimento da Artemisia adquirido ao longo de dez anos apoiando a criação e crescimento de centenas de negócios sociais no Brasil. O capítulo não pretende ser um marco teórico. entre eles. Por outro lado. . A Artemisia foi pioneira na disseminação do conceito e no apoio a negócios sociais no Brasil e contribui para torná-lo mais conhecido ao longo desses anos. apoiamos o desenvolvimentode talentos e empreendedores na criação e desenvolvimento de negócios de impacto que ajudam a resolver os problemas sociais da população de baixa renda no Brasil. inovações e investimentos do mundo inteiro para (re)siginificar o verdadeiro papel que os negócios podem ter no desenvolvimento da sociedade.1. uma das mais altas taxas de desigualdade do mundo. características fundamentais para a criação de modelos de negócios inusitados. Aqui existem profissionais criativos e bem preparados. 100 O Brasil é a maior economia da América Latina e uma das maiores do mundo. Para a Artemisia. mas sim demonstrar na prática como os negócios podem gerar EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS impacto social. Desde 2004. atraindo talentos. quando a Artemisia foi fundada. é um país que ainda precisa superar grandes desafios sociais. essa aparente contradição representa uma oportunidade única: o Brasil tem todas as condições de se tornar um polo internacional de negócios sociais. videndos a acionistas. ou seja.1 Negócios de impacto social diminuem custos de transação oferecendo produtos e serviços que diminuam ou eliminem barreiras de acesso a bens e serviços essenciais O custo de transação pode ser definido como o custo em dinheiro e tempo gastos por um comprador no mercado. promovendo oportunidades de desenvolvimento e fortalecendo a cidadania e os direitos individuais. Negócios de impacto social PARA A ARTEMISIA. 3. As pessoas pobres são as que têm o maior custo de transação. ou pela disseminação de elementos inerentes ao negócio por outros empreendedores. soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda. não se trata de um projeto ou iniciativa separada do negócio. b) intencionalidade: possuem missão explícita de causar impacto social e são c) potencial de escala: podem ampliar seu alcance por meio da expansão do próprio negócio. porém. de sua replicação em outras regiões por outros atores. Como negócios geram impacto social OS NEGÓCIOS PODEM gerar impacto social em cinco principais dimensões: diminuindo custos de transação. ampliando possibilidades para o aumento de renda. A seguir. d) rentabilidade: possuem um modelo robusto que garante a rentabilidade e não depende de doações ou subsídios. um critério para definir negócios de impacto social. e sim de sua atividade principal. reduzindo condições de vulnerabilidade. e f) distribuição ou não de dividendos: um negócio pode ou não distribuir di- 7. apesar de parecer contraditório pessoas pobres pagam 101 . organizações e políticas públicas. Negócios de impacto social no brasil geridos por empreendedores éticos e responsáveis.2. negócios de impacto social são empresas que oferecem. ou seja. esse. e) impacto social relacionado à atividade principal: o produto ou serviço oferecido diretamente gera impacto social. de forma intencional. 3. Esses modelos de negócio possuem cinco características principais: a) foco na baixa renda: são desenhados de acordo com as necessidades e características da população de baixa renda. cada uma dessas dimensões é devidamente detalhada. não sendo. No segundo caso. No primeiro caso. ou seja. O que o empreendedor percebeu. é que o preço da consulta e dos exames oferecidos é muitas vezes menor que o custo de transação para obter uma consulta no serviço público (Preço da consulta < Custo de transação do serviço público). dignidade e solucionar ra- 102 pidamente o problema de saúde básico oferecendo um serviço de alta qualidade por um preço acessível. se a pessoa trabalha como autônoma (um pedreiro ou uma diarista).CONSULTA. Por exemplo. foi criado o Dr. O Quadro 1 abaixo explica quais são os principais diferenciais do negócio: . tornando o custo do atendimento inviável. o problema é que isso significa na prática um déficit de 789 milhões de consultas.mais caro pelos mesmos produtos e serviços. O Dr. Não apenas o preço da consulta é menor. Se a pessoa não conseguir acessar o sistema público por mais de um dia. Caso de sucesso: o Sistema Único de Saúde (SUS) é a única porta de entrada para os cuidados com saúde de 70% da população brasileira. se a pessoa usa o sistema público de saúde não significa que ela não tem custos com essa opção. 2014). Nesse contexto. hospitais e consultórios particulares são extremamente caros e inacessíveis a essa população. Consulta abriu a primeira clínica na favela de Paraisópolis. Esse efeito econômico é também conhecido como “ônus da pobreza”. Consulta (DR. 2014). as pessoas têm duas opções: esperar a ter conseguir agendar uma consulta em um hospital público ou recorrer a hospitais e/ou consultórios particulares. Mas.CONSULTA. ainda apresenta diversas deficiências que afetam a qualidade de vida do cidadão de baixa-renda. a maior favela de São Paulo direcionando os serviços para os moradores da classe C e D. esse custo se multiplica. Apesar de ser um programa referência em política pública. negócio EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS de impacto social que tem como missão oferecer acesso. mas a pessoa tem acesso a um serviço de alta qualidade por um preço muito inferior as consultas particulares. Nessa situação. 100 milhões de brasileiros não conseguem ter acesso a serviços de saúde todos os anos (DR. O mais importante é que a pessoa tem o problema resolvido. ao ir no hospital ela tem: custo de transação para obter uma consulta no serviço público: o dia de trabalho perdido (por passar o dia no hospital à espera do serviço) + custos de transporte + custo de tempo (ida e volta). o Dr. Após a consulta. Consulta Fonte: DR. totalizando cerca de 40 milhões de pessoas de baixa renda vivendo em condições precárias de moradia (LCA Consultores. os processos das clínicas são mapeados e padronizados. ventilação. doenças. A possibilidade de parcelamento no cartão de crédito também torna o serviço ainda mais acessível. Pessoas de baixa renda estão sujeitas a condições de vulnerabilidade com mais facilidade e frequência. A quarta etapa é a consulta médica. enchentes. A moradia é o maior patrimônio que a família possui e tem um impacto direto na qualidade de vida do morador. especialmente em situações de crise como perda de bens.00).2 Negócios de impacto social reduzem condições de vulnerabilidade quando oferecem produtos que facilitem a proteção de bens conquistados e a antecipação ou prevenção de riscos futuros A condição de vulnerabilidade refere-se à fragilidade a que uma pessoa fica exposta em situações de risco.00). falecimentos e gravidez não planejada. e permitindo que este seja atendido em qualquer uma das unidades da clínica.CONSULTA. com qualidade e atendimento humano. saneamento básico entre outros) da residência e 103 . O histórico médico do paciente é digitalizado. feito por médicos das melhores instituições de saúde a um preço condizente à renda dos pacientes atendidos. permitindo à equipe médica um atendimento contínuo e não episódico do paciente.Proposta de valor Trazer saúde com dignidade para pessoas de baixa renda. A terceira etapa é uma pré-consulta onde o paciente passa alguns dados médicos para uma enfermeira. Diferenciais Oferece a seus pacientes um atendimento de extrema qualidade. além de gerar impacto positivo. oferecendo tratamento barato. e têm dentro da empresa condições de progredir tecnicamente e economicamente.00). Negócios de impacto social no brasil Quadro 1 – Diferencial do negócio social Dr. A primeira é o agendamento. Consulta busca manter sua equipe satisfeita. luminosidade. Como funciona O atendimento é feito em quatro etapas. Hoje no país as principais doenças estão relacionadas com questões de salubridade (como. o paciente é procurado para saber se ele foi bem atendido. se está satisfeito. permitindo a integração dos serviços. rápido. Exame de Sangue (R$ 5. Especialista (R$ 80. e se possui algum tipo de dificuldade. Caso de sucesso: o Brasil possui um déficit qualitativo de cerca de 15. se conseguiu realizar os exames.00). 7. Para garantir um bom atendimento ao paciente.6 milhões de moradias. A segunda é o cadastro na clínica. Os preços são muito inferiores aos praticados pelos serviços privados de qualidade semelhante: Clínico Geral (R$ 60. 2012). 2014 3. Médicos qualificados são contratados. Ultrassonografia 3D (R$ 280. Além disso. que podem ser parcelados em até doze vezes. No entanto. No processo de criação da Vivenda. criado em 2013 para substituir a gambiarra mais conhecida do país: o “puxadinho”. O outro modelo são para famílias que recebem entre 0 e 1.esses problemas poderiam ser resolvidos com reformas simples de baixa complexidade.500 a R$4. mas quase não se fala em reforma. estéticas e. negócio de impacto social em habitação.. Por isso. Desta forma. que possuem moradias em condições insalubres. oferece dois diferentes modelos. O Quadro 2 abaixo explica quais são os principais diferenciais do negócio. Isso acontecia porque em um mês no qual sobra um pouco de dinheiro. por isso acabam recorrendo a soluções improvisadas. da mão de obra e da matéria prima. A redução drástica nos custos foi alcançada por meio da padronização do processo. como a autoconstrução. Os kits foram estruturados para diminuir o nível de insalubridade das moradias e aumentar sua qualidade estética.. São aquelas eternas reformas feitas por quem mora em favelas para tentar resolver questões funcionais. São entregues em quinze dias e custam de R$1.000. e sim cômodo 104 por cômodo. o mercado de construção no Brasil é focado no déficit quantitativo de casas. não conseguem adquirir esse serviço. Como funciona A Vivenda seleciona as reformas através do filtro de renda e analisando condições de saúde e de vulnerabilidade da família. sobra mais um pouco e ela compra mais um saco. Um deles para os clientes que recebem em torno de 2 a 3 salários mínimos que pagam toda a reforma em até 12 parcelas que podem girar em torno de R$200 a R$300 reais. A casa é uma prioridade na vida de ricos e de pobres. O cliente não compra uma reforma da casa inteira.. principalmente. 2014).5 salário mínimo e recebem a reforma subsidiada. O Programa Vivenda (PROGRAMA. . Aí vem a chuva e todo o material é perdido. A reforma vai ficando muito cara e demorada quando é feita em partes. Como isso é possível? A solução seria encomendar um projeto de reforma a profissionais e executá-lo. Em outro. Pessoas de baixa renda. pagando no máximo 10 parcelas de R$90 reais. Quadro 2 – Diferencial do negócio social Programa Vivenda Proposta de valor Prestação de serviços de reforma para as populações de baixa renda. dispondo dos 4 kits citados. no entanto. a pessoa compra um saco de cimento. A grande diferença é que uma pessoa privilegiada paga muito menos por uma reforma do que uma pessoa de baixa renda. a solução desenvolvida pela Vivenda foi estruturar os serviços de reforma em EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS kits padronizados. de saúde – o mofo é muito comum devido à falta de ventilação e de iluminação inadequada. Agenda-se uma visita na casa do cliente para analisar quais os principais problemas e mais urgentes. os empreendedores observaram que um morador de favela gastava três vezes mais que o necessário para realizar uma reforma. que contribui também para a redução de sua condição de vulnerabilidade. além da falta de dados concretos que evidenciem que o público jovem é bom pagador. milhões de brasileiros não tem acesso a serviços financeiros básicos. que queiram abrir ou ampliar o próprio negócio. O Quadro 3 abaixo explica quais são os principais diferenciais do Banco. e possibilidade de parcelamento em até 12 vezes. Mão de obra qualificada e capacitada: os trabalhadores de cada escritório são moradores locais contratados como CLT e que recebem capacitação. Mas como empreender sem acesso a crédito? Apesar do aumento de renda. Oferecer serviço de crédito com uma taxa de juro acessível promove a transformação social e a inclusão financeira. 2014 e a falta de acesso a serviços financeiros aumentam os custos e contribuem para que a população continue vulnerável e exposta ao mercado informal.. 105 . incluindo todo suporte de mão-de-obra qualificada. D e E não tem acesso a linhas de crédito para iniciar ou desenvolver o seu négocio em bancos e financeiras tradicionais. compra de material. com preço acessível. As reformas são geralmente de baixa complexidade. Esse jovem é o público alvo principal do Banco Pérola: jovens empreendedores das classes C. com o objetivo de fornecer linhas de microcrédito para jovens que quisessem começar um novo negócio. A exclusão 7.Diferenciais O principal diferencial da Vivenda é oferecer uma reforma rápida. 3. Caso de sucesso: 60% dos jovens no Brasil quer empreender (ENDEVOR. O público é considerado de risco devido à incapacidade do jovem em apresentar garantias ou ter o “nome sujo” no SPC. 2014). 2012). Jovens empreendedores provenientes das classes C.3 Negócios de impacto ampliam possibilidades de aumento de renda quando atuam no aumento das oportunidades de emprego estável ou na melhoria das condições de trabalho do microempreendedor O aumento de renda não deve ser entendido apenas como o aumento quantitativo de dinheiro. mas como a ampliação das possibilidades de escolha de um indivíduo de baixa renda. Negócios de impacto social no brasil Fonte: PROGRAMA VIVENDA.5 mil até 4 mil reais. em um curto prazo de tempo de entrega. inspirada pelo economista Muhammad Yunus e o seu caso de sucesso com o Grameen Bank. criou o Banco Pérola (BANCO.. Os 4 kits para a venda custam entre R$ 1. orçamento e planejamento da obra. de qualidade.D e E.. Alessandra França. O empreendedor que entrar em contato mostrando interesse é orientado sobre como acessar o crédito. Uma vez aprovado o crédito. Diferenciais Além de ser a primeira instituição financeira a trabalhar com o público jovem. que pode ser feito de duas maneiras: individualmente com avalista. Pesquisas demonstram que a forma mais eficaz de uma família romper o ciclo da pobreza é investindo na educação. o cliente recebe visitas periódicas de agentes da organização que têm como função avaliar o desempenho do negócio e oferecer auxílio na resolução de eventuais dificuldades.. de comunidade que possuem potencial e demanda. e a taxa de juros começa em 2% ao mês. e também é realizada uma consulta no SPC. A proporção com nível de conhecimento esperado pelo MEC.. é de apenas 10% (POTENCIA. o empreendedor deve ir à sede do Banco para assinar o contrato e receber o valor.000.. isto é. Quando um negócio oferece acesso a um serviço de alta qualidade na educação. ao se formar. primeira plataforma de ensino adaptativa do Brasil. entrega de panfleto e utilização de carros de som. O aumento de renda está relacionado diretamente com o nível de escolaridade dos chefes de família. No entanto.000. Para a realização do empréstimo é feita uma avaliação da viabilidade do negócio apresentado pelo empreendedor. sendo o primeiro empréstimo no valor máximo de R$ 5. pela equipe do Banco Pérola. O valor do empréstimo varia de R$ 300 até R$ 15. caso o cliente esteja com o nome inserido na lista. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Fonte: BANCO PEROLA. isso não significa que o recurso financeiro será negado. dicas e sugestões para a melhoria do negócio a cada visita. o que ele está fazendo é oferecer a oportunidade da pessoa romper um ciclo histórico de pobreza que perpetua na família.4 Negócios de impacto podem promover oportunidades de desenvolvimento para que pessoas de baixa renda fortaleçam seu capital humano e social Pessoas pobres são privadas de oportunidades que promovam o desenvolvimento de suas capacidades. a Geekie oferece soluções . ou em grupos solidários de no mínimo 3 pessoas. O pagamento do empréstimo pode ser feito em até 12 vezes. levando ferramentas. A divulgação sobre os serviços do banco é então feita através de contatos com liderança. além da capacidade de pagamento. o que as impede de utilizar seu pleno potencial. 2014 106 3. 2014). seu caráter e honestidade.Quadro 3 – Diferencial do negócio social Banco Pérola Proposta de valor Oferecer microcrédito orientado para jovens de baixa renda que querem empreender Como funciona O processo para a concessão de crédito começa com o levantamento. Nesse contexto foi criada a Geekie (GEEKIE. Partindo do pressuposto que duas pessoas não aprendem da mesma forma. o Banco Pérola trabalha com o microcrédito orientado. Caso de sucesso: apenas 52% dos brasileiros que começam o ensino médio chegam a concluí-lo. 2013). o negócio já beneficiou mais de 3 milhões de estudantes em todos os estados do Brasil. tornando-o mais rápido. A alternativa seria pagar um professor particular. O Geekie Lab é uma plataforma adaptativa. na qual. jogos ou resumos. o serviço é oferecido de graça para uma escola pública. após o Geekie Teste. Para o caso específico do ENEM. Quadro 3 – Diferencial do negócio social Geekie Proposta de valor Melhorar o aprendizado. Em uma escola pública. o Geekie Games consegue dizer que nota a aluno tiraria no ENEM. adequando o ensino ao perfil de cada aluno para que ele possa aprender da forma mais adequada às suas características. para quem quiser acessar em qualquer lugar do mundo. o professor não consegue dar apoio personalizado para cada um. Através dos seus produtos ela oferece indicadores do desempenho em tempo real. 7. e contando com diversos métodos de aprendizado. Diferenciais Desenvolveu uma metodologia própria baseada na teoria de resposta ao item. one-free”. necessidades e ritmo. o Geekie Teste e o Geekie Lab. mais eficiente e mais prazeroso. Fonte: GEEKIE. 107 . então é possível mensurar ao longo do tempo a melhora do aluno. Essas avaliações são comparáveis entre si. Em menos de três anos de operação.educacionais personalizadas. desde vídeos a resumos e jogos. seja através de vídeos. É a primeira plataforma adaptativa do Brasil. o que está fora do alcance da maior parte desses alunos. Além disso. ele consegue ver em quais faculdades ele entraria. com o que ele sabe hoje. O Geekie Teste é um produto de avaliação. e em que mais ele precisa se esforçar para alcançar a nota que precisa. A cada escola particular que compra o produto Geekie Teste/Geekie Lab. cada aluno tem dificuldades diferentes de aprendizado. 2014 3. sendo rápido identificar as dificuldades do aluno e quais as melhores formas de saná-las. O terceiro produto que a Geekie oferece é o Geekie Games que é a combinação do Geekie Teste com com o Geekie Lab. Negócios de impacto social no brasil O Quadro 4 abaixo explica quais são os principais diferenciais do negócio. Ela também identifica o nível de proficiência que cada estudante possui em cada tema e procura manter o interesse dele aprofundando um pouco mais. Dentro de uma sala de aula. e é a única certificada pelo MEC. A Geekie funciona no modelo “one-pay. um diagnóstico e um plano de estudos são gerados baseados na forma com que a aluno melhor aprende. inspirando assim cada indivíduo a realizar seu potencial e atingir seus sonhos e contribuindo para elevar o nível da educação no Brasil e no mundo. Como funciona A Geekie oferece basicamente dois produtos. no qual. sempre respeitando a individualidade e a liberdade de cada um na sua melhor forma de aprender. ele recebe em tempo real um diagnóstico sobre quais são as áreas onde tem maior dificuldade e onde precisa estudar um pouco mais. com 35 alunos na sala.5 Negócios de impacto podem contribuir para o fortalecimento da cidadania por meio de produtos e serviços essenciais para uma qualidade de vida digna. conforme o aluno faz o teste. Pessoas de baixa renda podem estar privadas de direitos individuais básicos de vida. As cartas dos não associados são devolvidas ao correio que as concentra em um caminhão e espera que os moradores as venham busca-las. liberdade e segurança. falta de saneamento básico. uso de serviços bancários. como o acesso à moradia digna e regularizada. Quadro 5 – Diferencial do negócio social Grupo Carteiro Amigo Proposta de valor Fornecer os moradores de áreas que não são logradouros públicos um de seus direitos básicos: o recebimento de sua correspondência com segurança e praticidade. Já as cartas dos associados são entregues por funcionários do Carteiro Amigo na casa dos moradores. os moradores também sofrem de um acesso básico: não tem um endereço reconhecido pelos serviços públicos e privados de correspondência. Conforme as correspondências chegam à sede do Carteiro Amigo. Além de todos os desafios que eles enfrentam todos os dias como insalubridade na residência. elas são separadas e organizadas de acordo com os associados e não associados. busca por emprego formal e até a compra de produtos pela internet. Eles desenvolveram uma inteligência inédita de mapeamento de ruas de favelas brasileiras. três empreendedores da favela da Rocinha criaram o Grupo Carteiro Amigo. O Quadro 5 abaixo explica 108 quais são os principais diferenciais do negócio do Grupo. Não ter como comprovar residência significa não conseguir muitas vezes até acesso a serviços ou benefícios públicos. em 2000. O que isso significa na prática? Acesso a um direito básico de cidadão. O Carteiro Amigo é um negócio que entrega correspondência e entregas aonde o Correrio não vai. . é realizado um trabalho de divulgação do serviço e posteriormente um cadastro dos moradores interessados em adquirir o serviço por uma mensalidade de R$ 10 ou R$ 16. que permite ao cliente receber qualquer tipo de encomenda. Para resolver esse problema. O grupo começou na Rocinha e hoje já está presente em mais de nove comunidades do Rio de Janeiro. é oferecido um serviço de entregas comunitárias em regiões que o serviço formal não atende. Foi a primeira franquia a sair de uma favela e hoje tem como impacto também estimular o empreendedorismo local. Caso de sucesso: milhões de brasileiros vivem em favelas e comunidades em todo o Brasil. Com uso desta inteligência. já que para abrir a EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS franquia um dos critérios é ser morador da comunidade. acesso precário a serviços de transporte público e altos índices de criminalidade e violência. Como funciona A partir do momento em que a comunidade recebe uma franquia do Grupo Carteiro Amigo. a inovação não é algo buscado como um fim. as pessoas com que trabalham os empreendedores não se limitam a poucas alternativas de ação. os empreendimentos começam com soluções que funcionem localmente em suas regiões. liderada por milhares de empreendedores ao redor do mundo. pode-se dizer que está acontecendo uma revolução silenciosa. É claro que esse processo aparentemente caótico também pode levá-los a decisões puramente oportunistas. A proximidade e o diálogo diários com os clientes abre espaço para o “acidente da inovação”. Nesse caso. como a favela da Rocinha. Por entender de diversos ângulos. independentemente da troca de equipe. porque não existem camadas políticas a serem consideradas na tomada de decisão. não as grandes. Este mapa permite que os entregadores da empresa se orientem pelas vielas e possam entregar todas as correspondências. Os principais casos de negócios sociais no 7. a missão social clara e focada dos negócios sociais serve como um guia de orientação para escolher 109 . 2014 Brasil e no mundo resultaram do trabalho pioneiro de empreendedores perspicazes. Por serem pequenos. a mudança ocorre de forma ágil. demonstrando que são as pequenas empresas. Corroborando com Kiyama (2013). Ou seja. Depois da constatação do erro. mas acaba acontecendo simplesmente porque as premissas iniciais não funcionaram como esperado. que detêm o conhecimento e a agilidade para desenvolver essas inovações. Estimula a criação de emprego local dentro da favela: somente pessoas de credibilidade e boa conduta na comunidade podem ser entregadores.Diferenciais O principal diferencial do Carteiro Amigo é a metodologia do desenvolvimento de um mapa de localização das comunidades que vivem em áreas que não são logradouros públicos. Conclusão: uma nova geração de negócios Os casos de sucesso apresentados1 são apenas alguns exemplos que nos mostram que o Brasil possui todas as características para se tornar um polo de negócios inovadores que atuam para resolver problemas sociais. uma vez que a entrega às vezes envolve informações e objetos de confiança. Essa interação com o ambiente e adaptação contínuas conduzem os empreendedores a inovações acidentais que geram valor real para as comunidades. Negócios de impacto social no brasil Fonte: GRUPO CARTEIRO AMIGO. beneficiam o seu negócio. [Site]. como Google. podendo tornar-se empresas de sucesso. ao contrário das iniciativas unilaterais. um desafio que vale a pena ser enfrentado. Disponível em: www. especialmente. que permitem com que milhares de empreendedores desenvolvam inovações locais. sabem que nunca conseguirão inovar na velocidade e escala necessárias comparadas ao conjunto de pessoas criativas espalhadas ao redor do mundo. O surgimento de modelos de negócios sociais com escala virá da parceria entre essas duas entidades. . As principais empresas de tecnologia. além do website da ARTEMISIA. Para saber mais.br.entre as alternativas que se apresentam. promovendo plataformas que alavancam as soluções desenvolvidas pelos empreendedores e.artemisia.br. marcas globalmente reconhecidas. força de penetração das suas estratégias de comunicação. Apple e Facebook. ao mesmo tempo.org. O olhar da colaboração. Porém. Disponível em: www. NOTAS 1. então é da natureza do negócio mudar a operação ou a estratégia constantemente e os dados aqui refletidos podem sofrer alterações. acompanhe os sites e as redes sociais dos negócios. desenvolveram “produtos plataformas”. propõe um desafio mais complexo. Acesso em: 2014. [Site]. Essa não é uma ideia nova. Grandes empresas podem facilitar esse processo. Os casos foram escolhidos por serem inovadores e por apresentarem um impacto social estruturante na vida da população de baixa renda no Brasil. Nesse sentido. "Os casos apresentados nesse capítulo estão em fase startup." REFERÊNCIAS ARTEMISIA. BANCO PEROLA. Para a construção de um setor forte de negócios de alto impacto social no EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Brasil é necessária a atuação das grandes empresas.org. Acesso em: 2014. dos empreendedo- 110 res e. Multinacionais de outros setores possuem ativos valiosos que podem servir como plataformas para empreendedores sociais: rede poderosa de distribuição. da colaboração entre esses dois atores.bancoperola. evitando assim a tomada de decisões reativas. geekie. 2013. Acesso em: 2014 KIYAMA. ENDEAVOR BRASIL. [S. Acesso em: 2014.drconsulta. POTENCIA VENTURES. 2012. Acesso em: 2014. Ideia Sustentável. Disponível em: 111 . LCA CONSULTORES.org. 7.com. [Site].com. 2012. endeavor.br.br.br. INSTITUTO INSPIRARE (Coord. São Paulo. R. São Paulo. Disponível em: www. Acesso em: 2014. jan. [Site].br/img/conhecimento/Estudo_Oportunidades_Negocios_em_Educacao.DR. [Site].]. GEEKIE. Disponível em: www. Disponível em: www.com.pdf PROGRAMA Vivenda. 2013. Disponível em: www. Negócios de impacto social no brasil Negócios Voltados para a População de Baixa Renda no Brasil.programavivenda. O olhar da colaboração. O empreendedorismo nas universidades.org. Oportunidades em Educação para http://artemisia.CONSULTA.). Estruturação do mercado de reformas no Brasil: diagnóstico e diretrizes.l. . CAPÍTULO 8 MUHAMMAD YUNUS E OS NEGÓCIOS SOCIAIS Yunus Brasil . vem trabalhando para a erradicação da pobreza. Uma vez em operação. Ele se diz totalmente convencido de que as pessoas da base da pirâmide têm as habilidades necessárias para se libertarem da pobreza. toda a receita excedente é reinvestida no Negócio Social para sua expansão e. Os sete princípios de um Negócio Social definidos pelo Professor Yunus são: 1) o objetivo do Negócio será redução da pobreza ou a solução de outros problemas (como educação. a disciplina de mercado. Muhammad Yunus. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Um bom Negócio Social combina esse foco inabalável na satisfação das neces- 114 sidades sociais com a energia empreendedora. Um Negócio Social gera empregos e renda à sua volta. mas em todo o mundo. não apenas em Bangladesh sua terra natal. parte-se da identificação do problema social a ser solucionado. Introdução HÁ QUASE 40 anos o Prof. e um grande potencial de replicação e ampliação de empreendimentos de sucesso. não a maximização dos lucros. simplesmente essas pessoas não prosperam porque a nossa sociedade não soube dar a elas as oportunidades para crescer. . depois de ter os seus custos cobertos.1. saúde. mas com objetivos diferentes. ele afirma que não há nada errado com as ‘sementes’. desde que tenham a oportunidade de fazê-lo. Com empreendedorismo e criatividade o plano de negócios é desenvolvido e implementado. Um Negócio Social tem semelhanças básicas com negócios tradicionais. Os Negócios Sociais nascem para atender questões sociais críticas ao passo que os negócios tradicionais são criados para gerar e distribuir lucros aos seus investidores. único economista a ganhar o Prêmio Nobel da Paz 2006. Comparando-as a bonsais. aumento do seu impacto social. ao mesmo tempo em que atua sobre o problema social que motivou a sua criação. Um Negócio Social é uma empresa criada com o único propósito de resolver um problema social de forma financeiramente auto-sustentável. acesso a tecnologia e meio ambiente) que ameaçam as pessoas e a sociedade. O modelo de Negócio Social foi pensado justamente para dar a elas essa oportunidade. portanto. Para estabelecer um Negócio Social. o professor Yunus criou ao longo dos últimos 30 anos mais de 40 empresas sociais em Bangladesh. 115 . Yunus cria o microcrédito em 1976. 4) depois que o investimento for devolvido. a ONU. E. como um líder pioneiro do movimento de negócios sociais. ONGs.nenhum dividendo é pago além do dinheiro investido. corporações multinacionais e instituições acadêmicas em geral reconhecem esse conceito. Figura 1 – Modelo de negócios Auto-Sustentávrel Financeiramente Negócios para Maximização de Lucros Negócios Valor Compartilhado Negócios Responsáveis Negócios Inclusivos Missão: Geração Dividendos Negócios Sociais 8. o lucro da empresa fica na empresa para ampliação e melhorias. e A Figura 1 abaixo ilustra como os diferentes modelos de negócios se situam em relação à intenção para qual o negócio foi criado (eixo horizontal) e sua sustentabilidade financeira (eixo vertical). Algumas delas estão entre as maiores empresas do país. em Bangladesh. a União Européia. 3) os investidores recebem de volta somente o valor investido . 6) colaboradores recebem valor de mercado com melhores condições de trabalho. Muhammad Yunus e os negócios sociais 7) fazer tudo isso com alegria! Missão: Impacto Social Organizações sem Fins Lucrativos Híbridas* Sustentado por Doações Organizações sem Fins Lucrativos *dependem parcialmente de doações Podemos dizer que a gênese desse modelo de Negócios Sociais ocorre quando o Prof. as agências de desenvolvimento. 5) ambientalmente consciente. Atualmente.2) deve ser financeira e economicamente sustentável. Tunísia e Uganda desde 2013 e México. Ao final de 2013 a YSB já contava com 20 Negócios Sociais em operação. e e) esforços para levar o conceito de Negócios Sociais para a gestão de recursos públicos. Hoje atua com cinco pilares principais: a) incubação e aceleração. iniciando suas operações em 2015.7 milhões investidos em Negócios Sociais. Índia e Colômbia desde 2011. c) educação.A Yunus Social Business – Global Initiatives (YSB) iniciou operações em 2010.1 O Case Grameen Danone . braço brasileiro das operações da YSB.000 beneficiários. fornecendo inclusive suporte pós-investimento. mais de 800 empregos gerados. foi lançada em março de 2013. mais de 200 empreendedores apoiados. A YSB opera através de aceleradoras sociais que incubam e financiam empreendedores sociais. A Yunus Negócios Sociais. 2. É uma empresa que nasceu para disseminar o conceito e impulsionar a criação de Negócios Sociais. Cases de Bangladesh OS CASES DE Bangladesh foram analisados e relatados no estudo “The Power of Social Business: lessons from corporate engagement with Grameen”. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS A seguir apresentaremos seis exemplos de Negócios Sociais criados em Ban- 116 gladesh e outros três em operação na América Latina. publicado em novembro de 2013 e assinado pela The Boston Consulting Group (BCG) e YSB. desde palestras e cursos até parcerias internacionais e programas de longa duração. Albânia desde 2012. 2. outros 14 estão sendo incubados neste momento. gerando impacto social positivo para mais de 10. A YSB opera hoje em oito países: Haiti desde 2010. d) consultoria. b) a criação de um Fundo de Investimentos em Negócios Socais. US$ 5. Brasil. Já foram incubados nove projetos no Brasil. Diversas atividades de educação estão em curso com importantes instituições de ensino. Para se ter uma ideia do tamanho do desafio. 2008). logo iniciavam a alimentação com base no arroz.000 consumido- 117 . o impacto social pretendido: combater a desnutrição em Bangladesh (YUNUS. fortalecendo assim a economia local. órgãos públicos de saúdes. a partir de uma perspectiva de desenvolvimento e fortalecimento do âmbito local é que se iniciou o desenvolvimento da primeira fábrica da Grameen Danone em Bogra1. ou seja. Franck Riboud. o que o Professor Yunus chamou de “uma fábrica tão pequena quanto tecnicamente possível e economicamente viável”. Diante disso. apenas cinco anos após sua criação. Em outubro do mesmo ano os dois realizam uma conversa em um restaurante parisiense chamado “La Fountaine Gaillion” e. 56% das crianças em idade pré-escolar apresentavam sinais de desnutrição em Bangladesh.Durante uma visita a Paris. Ele observava que as crianças de seu país. assim. Assim. em novembro de 2005. em 2005. o vice-presidente de operações da Danone na região Ásia-Pacifico. Emmanuel Faber. Porém. a Grameen Danone já havia atingido mais de 300. o Professor Muhamamad Yunus recebeu um convite para se encontrar com o CEO do grupo Danone. A ideia da parceria evoluiu no sentido de criar um Negócio Social que produziria e comercializaria um iogurte 8. o negócio seria replicado para outras cinquenta vilas expandindo. e sua equipe da Danone. o arroz não fornecia a fortificado para as crianças. optou-se pela instalação de uma pequena fábrica piloto para comercialização apenas na região. O resultado dessa parceria é que no ano de 2011. surgem os primeiros traços do que se tornaria a parceria entre o Grameen Bank e a Danone. Muhammad Yunus e os negócios sociais mães. realizam uma visita à Bangladesh para conhecer in loco a realidade que o Professor Yunus havia apresentado para Riboud. Dando certo. Riboud apresentou a Yunus sua vontade de criar uma empresa que causasse impacto social. Para que o produto fosse viável economicamente para a produção e tivesse um preço final acessível para o público-alvo – as famílias da base da pirâmide de Bangladesh – foi estruturado um “modelo de negócio de proximidade”. o Professor Yunus pensou em trabalhar com algum tipo de alimento que pudesse melhorar a nutrição das crianças de Bangladesh. Em uma primeira etapa. após passarem pelo período de amamentação junto às essas crianças todos os nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável. A operação teria como fornecedores de leite para a produção do iogurte os próprios aldeões da região. neste encontro. Depois de algumas semanas de visitas a comerciantes. cidade a pouco mais de 200 km de Daca. reuniões e pesquisas em Bangladesh. Portanto. Quadro 1 .000 copos consumidores vendidos por • Os primeiros dia resultados • Adaptação da de estudos estratégia de elaborados pela negócio Universidade • Lançamento de Johns Hopkins produtos não apontam impacto refrigerados positivo no desenvolvimento Panorama cognitivo e físico • Expectativa de • ~ 1.500 atingir o ponto empregos de equilíbrio gerados (e financeiro em oportunidades 2015 de geração de • O negócio renda) busca escalabilidade Adaptação da estratégia para grande escala Mais de 300.000 clientes beneficiados Fonte: VILLIS.res e. modelo de negócios e resultados da Grameen Danone no combate à desnutrição com iogurte fortificado EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Desafio 118 Modelo de Negócio Problema social Produto • 56% das crianças • Iogurte em idade pré escolar fortificado com estão desnutridas micronutrientes. o modelo de negócios e os resultados da Grameen Danone. Além disso. • Em casos graves.000 para • Mais de 300.000 87. Abaixo. BRUYSTEN.500 empregos. trazendo oportunidade de renda para as comunidades locais.10 em com stakeholders áreas urbanas • Aprender sobre a base da pirâmide Lugar • Criar uma experiência • Produzido em com significado para Bogra os funcionários • Dois canais de distribuição: (i) porta-a-porta nas áreas rurais de Bogra (Shokti Ladies) e (ii) pequenos varejos em algumas regiões Operação Dois parceiros • 50/50 joint venture • Grameen oferece o know-how local e social • Danone oferece o produto e o know-how técnico • Danone Communities Fund (fundo para negócios sociais) • Grameen Credito Agrícola (Fundação) Separação legal das entidades • Garantia de independência Promoção • Consumidores serão instruídos sobre os benefícios e uso adequado Vender iogurte Combater a desnutrição e Joint venture fortificado para a pobreza Grameen da Danone crianças Situação e Panorama Fundado em fevereiro de 2007 Impacto Situação financeira em 2011 • 1 milhão em receitas Situação • Vendas aumentaram Impacto social de 5. atender a má nutrição gera 30% das subdesenvolvimento necessidades econômico das crianças de vitamina A. 2013 . STRACK. alguns dos primeiros estudos realizados pela Universidade Johns Hopkins apontavam o impacto positivo no desenvolvimento físico e cognitivo dessas crianças que foram beneficiados pelo negócio. • Capaz de a longo prazo.Desafio. zinco e Os objetivos da Grameen iodo Danone • Combater a Preço desnutrição em • Diferenciado crianças entre as regiões • Reduzir a pobreza em função dos incluindo as custos logísticos comunidades no • €0.08 em modelo de negócios áreas rurais • Aprender a trabalhar • €0. YUNUS. o Quadro 1 resume o desafio. a Grameen Danone também gerou cerca 1. Pobreza ferro. Foi então que em 2007. Até mesmo o Banco Mundial e 8. Lesueur deu prosseguimento para o desenvolvimento do projeto. menos de € 0. o que causaria sérios riscos à saúde da população local. tubos com água potável vindo de fora de Bangladesh. Yunus lançou um desafio para Lesueur: se ele conseguisse produzir água potável para ser vendida ao preço de dez litros por um. Eric respondeu “Sim. Yunus achou que Lesueur não voltaria a entrar em contato. Antoine Frérot. A princípio o Professor Yunus descartou a ideia. foram realizadas várias iniciativas para tentar solucionar esta questão. Com esse aval. Muhammad Yunus e os negócios sociais 2. da companhia de água Veolia e o Professor Yunus conversaram sobre a possibilidade de fazerem uma parceria entre o Grameen e a Veolia para montarem um Negócio Social que fornecesse água limpa para as pessoas de Bangladesh. alguns dias mais tarde. Porém. visto que em seu país já possuíam empresas que forneciam esse tipo de serviço. um executivo Francês. coleta de água da chuva e etc. nasceu a parceria Grameen Veolia. chamado Eric Lesueur. mas nenhuma conseguiu ser bem-sucedida. mas. e apresentou uma proposta para o CEO.” E assim. Diante disso.Em 1993 os cientistas descobriram que a água que vinha do Himalaya para o solo de Bangladesh estava contaminada com arsênico. Porém nenhuma dessas propostas conseguiu resolver o problema ou se apresentou como viável.03. o qual adorou a ideia de construir um projeto em parceria com o Grameen para fornecer água limpa a baixo custo para a população pobre de Bangladesh. eles poderiam firmar uma parceria. mas principalmente aqueles que vivem nas áreas rurais do país. desde o tratamento da água. Eric Lesueur voltou para Paris. podendo gerar casos de câncer além de outros problemas de pele em mais de 100 mil pessoas.2 O Case Grameen Veolia a UNICEF tentaram outras iniciativas. eu posso fazer isso. 119 . cidade onde está a sede da empresa. utilizando um modelo de subsídio cruzado através da venda de jarras na região urbana de Daca. Atualmente cerca de 7.025 por 10 litros de água na vila2 • €0.80 por jarra em Daca Lugar • Distribuição nas vilas de Goalmari e Padua3 • Em Daca venda de jarras de água nos escritórios Promoção • Abordagem de educação para saúde pública nas áreas rurais • Conveniência para os clientes de Daca Operação Dois parceiros • 75/25 joint venture • Veolia (75%) oferece o knowhow • Grameen Health Care (25%) oferece o knowhow local e social Separação legal das entidades • Garantia de independência Mais de 600. o modelo de negócios e os resultados da Grameen Veolia.000 investidos para a construção da fábrica.000 já são clientes • Serviços públicos para que todos os segmentos tenham acesso à água • Reduzir o envenenamento por arsênico • Empregabilidade: 21 empregados.000 potenciais em Goalmari e Padua. Quadro 2 .Desafio.000 pessoas.000 investidos • 600.Em dezembro de 2007 foi formalizada a parceria entre o Grameen Health Care e a Veolia. viabilizada com subsídio cruzado da venda de água em jarras comercializadas em Daca Preço • €0.000 Impacto social em 2013 • Clientes: 40. além de gerar outros ganhos para a economia local. O Quadro 2 abaixo resume o desafio. durante uma visita de Yunus a Paris. Já em março de 2008. modelo de negócios e resultados da Grameen Veolia no combate ao envenenamento por arsênico através do provimento de água limpa e potável EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Desafio 120 Problema social • Entre 33 e 77 milhões de pessoas correm risco de envenenamento por arsênico • Em Golmari. o Grameen Veolia conseguiu promover a venda de água limpa mais barata nas áreas rurais.000 litros vendidos por mês • Utilização da fábrica: 5% Panorama • Desenvolvimento de novas formas de distribuição (por jarras) e novos mercados (Daca) para o subsídio cruzado • Desenvolver vendas rurais • Desenvolvimento de projeto para atingir o ponto de equilíbrio financeiro em 2015 Impacto Situação financeira em 2012 • Custo das operações: €70. Em 2013 o negócio social já beneficiava cerca de 7. sociológicas e antropológicas) • Contribuir com a situação da saúde pública e com as Metas de Desenvolvimento do Milênio Modelo de Negócio Produto • Entregar água potável através de uma rede de distribuição com torneiras.000 • Receitas: €40. encanamento. 2011). jarras e fábrica de jarras Situação e Panorama Fundado em março de 2008 Infraestrutura servindo 7. aonde as pessoas podem pagar. O resultado é que. Veolia lança o primeiro piloto do projeto em Goalmari (YUNUS. 83% dos poços tubulares estão contaminados • Arsênico tem consequências severas que podem levar a morte Os objetivos da Grameen Veolia • Desenvolver know-how para servir a base da pirâmide e testar novas abordagens (econômicas. gerando emprego e renda nos vilarejos. 45 guardadores de água e 10 distribuidores de jarra .000 pessoas e 250 clientes diretos em Daca (escritórios) Situação • 300. rede. Muhammad Yunus e os negócios sociais 2. 250 mil com ametropia e mais de 3 milhões têm outros problemas de visão e não têm acesso a um tratamento ou um oftalmologista.000 pessoas Fonte: VILLIS. STRACK. com o objetivo de fazer frente a essa questão a partir da criação de um Negócio Social que atendesse a base da pirâmide. Professor Yunus buscou parcerias com instituições.Combater o envenenamento por arsênio e melhorar o acesso à água para todos Prover água potável a baixo custo em áreas rurais Joint venture entre Grameen e Veolia Conduzir um plano de negócio adaptado Água limpa consumida por ~7. o modelo se propõe a oferecer tratamento e cirurgias para os olhos a 20% mais barato do que no mercado. Problemas de visão assolam o país: cerca de 750 mil pessoas estão cegas. YUNUS. com o objetivo de fornecer acesso cirurgias e tratamentos de baixo custo para a população de Bangladesh4. BRUYSTEN. 2013 O hospital de cuidado com os olhos do Grameen nasceu em 2007 a partir de uma parceria entre Yunus e a “The Green Children” constituindo assim o Grameen GC Eye Care Hospital. Diante disso. Assim. O resultado deste trabalho é que já no ano de 2013 o Grameen GC Eye Care Hospital havia tratado aproximadamente 545 mil pacientes e realizado uma média de 320 cirurgias por mês. O primeiro hospital atingiu o 121 .3 O Case Eye Care Hospital de maio de 2008. ou seja. justamente aqueles que não tinham acesso a qualquer tipo de tratamento ocular. O primeiro hospital fruto desta parceria é inaugurado em 12 8. empregando 237 pessoas. de forma subsidiada ou até mesmo completamente gratuita dependendo das condições econômicas de cada paciente. fundações e organizações internacionais que pudessem estabelecer colaborar com a Fundação Grameen. o segundo atingirá em 2015 e o terceiro já está em fase de construção. o modelo de negócios e os resultados da Grameen GC Eye Care Hospital. Grameen Shakti Fundado em 2007 Situação financeira em 2012 Preço • ~€40 a 320 por cirurgia5 • ~20% mais barato que os concorrentes • Podendo ser oferecido de forma subsidiada ou completamente gratuita se necessário Lugar e promoção • Bogra. Fonte: VILLIS. sendo que a expectativa é de chegar até 2020 com ao menos seis hospitais operando. BRUYSTEN.400 oftalmologistas em Bangladesh • A pobreza impede as pessoas de ter acesso a cirurgias ou tratamentos adequados para os olhos Modelo de Negócio Operação Situação e Panorama Impacto Produto Negócio social • Três hospitais oferecendo exames gerais para os olhos e cirurgias especiais • Operado pelo Grameen Health Care Services • A Fundação Seva arca com os custos e o treinamento dos médicos em Aravind na Índia • Fundo Lavelle e a Fundação Calvert oferecem os equipamentos • Concessões/ Doações: Fundação Green Children. a expectativa para o segundo hospital é 20157 Panorama • Objetivos para 2020. O Quadro 3 a seguir resume o desafio. YUNUS. • Tratar mais de 565 mil pacientes Ponto de equilíbrio financeiro alcançado e ganho de escala contínuo • Custo operacional ~€557 mil • Receitas: ~€542 mil • Os gastos maiores estão relacionados à abertura do terceiro novo hospital Impacto social • ~545 mil pessoas tratadas • Incluindo 20 mil cirurgias de cataratas • A perda média evitada em relação ao PIB de Bangladesh acumulada para o período é de 4. Acionistas do Grameen Health Care Service. Grameen Telecon Trust. Liga Internacional de Saúde da Mulher. Quadro 3 . Grameen Kalyan.Desafio. 2013 . STRACK. • Ter pelo menos seis hospitais com oftalmologistas disponíveis • Realizar ~60 mil cirurgias de cataratas.5 bilhões • Geração de ~237 empregos Perda evitada em relação ao PIB de ~ 4. modelo de negócios e resultados da Grameen GC Eye Care Hospital na oferta de tratamento para os olhos a baixo custo EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Desafio 122 Problema social • 750 mil pessoas cegas • 250 mil pessoas com ametropia (pouca visão) • 3 milhões de pessoas com outros problemas de visão • 600 pessoas com cegueira causada por cataratas • Apenas 1.equilíbrio financeiro em 2010. Barisal e Thakurgaon • Acampamentos de olhos para a base da pirâmide (BoP)6 ~€ 850 mil investidos • Fundação Green Children ~€650 mil • Fundação Calvert ~€200 mil • Liga Internacional da Saúde da Mulher ~€4 mil Falta de tratamento ocular para os mais pobres Tratamento de baixo custo ou subsidiado Negócio social autônomo Situação • ~545 mil pacientes tratados até setembro de 2013 • ~320 cirurgias realizadas por mês • 237 pessoas empregadas • O primeiro hospital atingiu seu ponto de equilíbrio financeiro em 2010.5 bilhões. tornando 8. Até dezembro de 2012. Atualmente Grameen Shakti é uma das maiores empresas que atende a área rural de Bangladesh e com maior crescimento no setor de energias renováveis. para o desenvolvimento econômico. Bangladesh é um país com um dos mais bem sucedidos programas de energia renovável no mundo. um dos programas de maior sucesso de mercado. Grameen Shakti já havia instalado mais de 1 milhão de Sistemas Solares em áreas rurais. Em Bangladesh. Além disso. principalmente nas áreas rurais..250 unidades.. em que a necessidades do mercado e as forças sociais foram utilizadas em conjunto para levar as modernas tecnologias para as populações rurais (GRAMEEN SHAKTI. atingindo uma taxa de instalação mensal de 22... objetivando popularizar os painéis solares residenciais. Apenas 12% tem acesso a energia ao longo de todo dia. Muhammad Yunus e os negócios sociais 2.4 O Case Grameen Shakti muito difícil para o restante da população trabalhar e estudar depois que escurece (GRAMEEN Shakti traz.O acesso a energia é premissa básica para o acesso a tecnologia e. para milhões de moradores rurais. incluindo outras tecnologias de energia renovável.. pois não existia um ambiente propício para a disseminação de tecnologias de energia renovável 123 . cerca de 60% da população (90 milhões de pessoas) não têm acesso à eletricidade. Muhammad Yunus desenvolveu a Grameen Shakti. 2014). por conseqüência. 2014). Esse sucesso foi o resultado de abordagem única. Os desafios enfrentados pela Grameen Shakti foram inúmeros.. About. as pessoas não conheciam as tecnologias. Assim. a maioria das famílias utilizava velas para iluminação ao anoitecer.em áreas rurais. energia verde e empregos verdes para áreas remotas de 124 Bangladesh. possibilitou a diminuição dos custos de empréstimos e conseguiu alcançar economia de escala. reduziu o valor dos parcelamentos. A Grameen Shakti nasceu para levar energia e melhorar a qualidade de vida das comunidades rurais. 2014). a Grameen Shakti iniciou o programa de biogás e modernização dos EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS fogões. obtiveram aumento da renda para suas famílias e agora. O Negócio Social precisava conquistar as populações das áreas rurais e para isso as mulheres locais. melhorando a qualidade de vida nas áreas rurais. a Grameen Shakti alcançou a fórmula do seu sucesso: levar eletricidade para quem não tem acesso.. levando renda. podem pagar os seus painéis solares em prestações mensais durante um período de dois a três anos. principalmente as mulheres que tornaram-se “engenheiras sociais”. Ao unir a tecnologia à capacitação local envolvendo e motivando a comunidade. saúde. havia falta de mão de obra especializada.. Em 2005. as “engenheiras sociais” treinadas e capacitadas. O Grameen Shakti contou muito com a experiência adquirida pelo Grameen Bank. . com um grande crescimento e adesão entre as populações rurais. gerando renda e possibilitando a fabricação e manutenção dos equipamentos localmente.. As "engenheiras sociais". garantindo assistência técnica após a compra. A Grameen Shakti incentivou a capacitação técnica das mães vinculando o treinamento ao oferecimento de bolsas escolares para os filhos. possuem energia elétrica para iluminá-las ao anoitecer. e os beneficiários podem pagar com taxas mensais. por meio da energia renovável de forma sustentável. os custos de instalação eram muito altos e não havia infraestrutura para suportar o negócio. foram capacitadas para a produção e manutenção dos equipamentos. O Negócio Social viabiliza a compra dos painéis solares residenciais. Grameen Shakti é um dos principais Negócios Sociais do mundo. Esse modelo permite ainda que os empresários locais criem novos negócios relacionados como centros móveis de energia solar e serviços de reparos eletrônicos (GRAMEEN Shakti traz. em substituição aos tradicionalmente utilizados que queimavam querosene. compatíveis com a renda familiar. a maioria mulheres preocupadas com o bem estar e estudo dos filhos. passavam de porta-em-porta para demonstrar as vantagens e eficácia da energia renovável. Os beneficiários do Grameen Shakti. modelo de negócios e resultados da Grameen Shaktil na oferta de energia limpa em áreas rurais • Mais de 12.7 milhões de produtos vendidos Panorama • Pequenas unidades de biogás Energia limpa para casas da zona rural Situação atual • Escalabilidade planejada Soluções de saúde e desenvolvimento ecológico Autonomia do negócio • Custo Operação: €71. 2013 125 .77 • Fumaça e poluição do ar: fogões abastecidos com querosene provocam alto risco de incêndio e a fumaça nas residências causa irritação nos olhos Produto • Sistemas residenciais de energia solar • Fogões mais modernos • Unidade de biogás (3. STRACK. BRUYSTEN.Desafio. o modelo de negócios e os resultados da Grameen Shakti.Abaixo.000 empregos criados Ponto de equilíbrio financeiro atingido Mais de 8 milhões em 2000 e de beneficiários escalabilidade planejada Fonte: VILLIS.000 toneladas de dióxido de carbono/ano com a substituição dos fogões tradicionais e utilização do biogás 8. Desafio Modelo de Negócio Operação Situação e Panorama Impacto Problema social Preço • Baixa qualidade de vida e ambiente insalubre • Sistema unifamiliar de painel solar (50watts): €290 • Um fogão novo com duas bocas: €9 Fundada em fevereiro de 1996 como negócio sem fins lucrativos Situação financeira em 2012 • Falta de eletricidade: 70% das casas nãos estão conectadas à rede de distribuição de energia elétrica Negócio autônomo formado em cooperação com: • Banco Mundial • Transformado em negócios social em 2010 • Receita: €72.4 Impacto social • 8 milhões de beneficiários (clientes.000 • USAID e outros Principal desafio • Administrar a redução gradual do número de trabalhadores • Ponto de equilíbrio financeiro alcançado no ano 2000 • Taxa composta anual de crescimento: 55% • Participação de mercado: de 50% do mercado de painéis solares • Mais de 1. YUNUS.2 m²): €400 Lugar e promoção • Prestação de Serviço e venda por meio de escritórios na zona rural • Treinamento técnico para usuários e serviços de manutenção oferecidos pela Grameen Technology Center • Companhia de Desenvolvimento e Infraestrutura (IDCOL) • Investimento inicial: €90. seus familiares e vizinhos) • Acesso a energia elétrica. Muhammad Yunus e os negócios sociais Quadro 4 . melhoria nas condições de saúde e redução do desmatamento • Redução da emissão de 800. o Quadro 4 resume o desafio. uma vez que são as próprias moradoras locais que vendem os produtos de consumo no sistema porta-a -porta.147).. “o desejo de ajudar a tornar o mundo um lugar melhor e melhorar a vida dos demais seres humanos é uma parte tão forte da natureza humana quanto a motivação para acumular lucros pessoais” (YUNUS. A falta de oportunidades de emprego e renda para as mulheres em Bangladesh também são o foco da empresa. a preços inferiores aos da concorrência. A Grameen Distribution nasceu em 2011 para suprir a falta de acesso a uma variedade de produtos especializados e essenciais que pudessem chegar até as populações de áreas remotas de Bangladesh com qualidade e preço justo. criando oportunidades de negócio sustentável e inovador para as populações carentes em áreas remotas. p. inclusive para os mais desfavorecidos. produtos de higiene e saúde e água potável (SOCIAL. 50).5 O Case Grammen Distribution Ltda Segundo o Prof Yunus. produtos de energia renovável (painéis solares e sistemas solares mini). o treinamento das mulheres locais. 2012. vestuário. a Grameen Distribution conseguiu criar um canal de distribuição de produtos essenciais e especializados. Fazer a economia funcionar para todos. 126 Ao considerar as necessidades locais e respeitar o poder de compra da população carente. 2010. que incluiu em seu modelo de negócio.2. Com parcerias e apoio de diversas empresas nacionais e multinacionais. por meio da Marketing Grameen Network (GMN). mosquiteiros.. p. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS que compõem a base da pirâmide é o principal objetivo da Grameen Distribution Ltda. a Grameen Distribution apresenta um amplo portfólio de produtos como aparelhos celulares e acessórios.. lâmpadas. visando aumento do alcance da rede de distribuição em áreas rurais. . Aproximadamente 9 milhões de famílias em áreas remotas foram beneficiadas com acesso a produtos de qualidade e preço acessível. tendo como principais beneficiárias.4 milhões 8.000 produtos vendidos em 2012 • Tetley ACI Tea €1. energia renovável e saúde Preço • Preço acessível aos mais carentes • Preço é 10% mais barato que o mercado Lugar e promoção • A distribuição e o marketing são feitos por meio de lojas e vendas porta-aporta feita por vendedores locais da Grammen Marketing Network • Square Consumer Products • Lal Teer Seed • ID Group • 568.Desafio.000 vendedores • Receita: €3. Abaixo.7 milhões • Johnson & Johnson • Atingiu o ponto de equilíbrio financeiro em 2011 • Bengaleses de áreas remotas não tem acesso a uma variedade de produtos de consumo diário de qualidade • Preços excessivos ultrapassam o poder de compra da população • Déficit de oportunidades de trabalho para as mulheres de Bangladesh • Variedade de produtos de telecomunicação. o modelo de negócios e os resultados da Grameen Distribution LTDA. o Quadro 5 resume o desafio.4 Milhões investidos em 2012 • Grameen Telecom Trust: 95% Panorama • Ampliar o impacto social dos produtos do portfólio Produtos de qualidade para a população rural Autonomia do negócio Impacto social • ~9 milhões de residências atendidas em áreas remotas • Fornece bens de consumo essenciais e não de essenciais de qualidade • Criou 9.000 empregos • Gera renda e empodera as mulheres • Grameen Kalyan: 5% A falta de produtos em áreas remotas • Custo Operação: €0. STRACK. as mulheres da áreas rurais e carentes. YUNUS. Desafio Modelo de Negócio Operação Situação e Panorama Impacto Problema social Produto Negócio autônomo formado em cooperação com: Fundada em março de 2011 como negócio social Situação financeira em 2012 • BASF Situação • Canadian Solar Technologies • 118 empregos ao redor do país • Custo dos produtos vendidos: €3. modelo de negócios e resultados da Grameen Distribution na venda de produtos essenciais em áreas remotas Piloto iniciado e ponto de equilíbrio financeiro atingido em 2011 9 milhões de residências em áreas remotas atendidas Fonte: VILLIS. 2013 127 . Muhammad Yunus e os negócios sociais Quadro 5 . BRUYSTEN.27 • Grameen Fabrics & Fashions • Mais de 9. além de toda a comunidade que se beneficia com produtos de qualidade levados até sua casa. Em 2009 firmou um acordo entre o Grameen Trust e Grameen Caledonian University (GCU) para estabelecer uma formação de alta qualidade para a educação de enfermeiras e parteiras em Daca. desenvolver padrões de enfermagem e obstetrícia em Bangladesh a nível internacional através da formação da mais alta qualidade e pesquisa. A Grammen Cale- ..6 O Case Grammen Caledonian College Of Nurses 128 Bangladesh conta com apenas 23 mil enfermeiros para a sua população de 145 milhões de pessoas (THE HISTORY. gera a carência na assistência à saúde materna.EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS 2. neonatal e infantil e nas comunidades rurais mais pobres.. 2014). Esse problema estimulou o Professor Yunus a buscar uma parceria com a School of Health and Life Sciences Department of Nursing and Community Health da Universidade Glasgow Caledonian. proporcionando padrão internacional de saúde para as comunidades mais pobres e a criação de oportunidades e formação acadêmica para as filhas dos mutuários do Banco Grameen em todo o país. tendo como objetivo. A falta de profissionais de saúde treinados. para iniciar um novo e promissor Negócio Social.. aumentando o número de profissionais na área da saúde e. Popi sempre foi boa aluna e felizmente. Pretende continuar seus estudos até o doutorado. deste modo. Ao chegar no Grameen College. A jovem Popi Rani Bhowmik nasceu em Palash. Narsingdi em uma família de baixa renda onde o único provedor... 2014). que seguia métodos de avaliação diferenciadas. estudar enfermagem no GCCN. não tinha condições de seguir arcando com as despesas educacionais de seus filhos. levando cuidados com a saúde materna e infantil à lugares que antes eram totalmente desprovidos destes serviços. ter excelência na profissão de enfermagem e no futuro utilizar seus conhecimentos para educar e implementar iniciativas para o desenvolvimento e melhora da qualidade de vida da população de Bangladesh (GRAMEEN CALEDONIAN. Ela trabalhou muito duro e com o incentivo e apoio contínuo de seus colegas e professores. Muhammad Yunus e os negócios sociais o gerente do Banco Grameen de sua região alertou a família sobre a oportunidade dela 129 .donian College of Nurses (GCCN) abriu suas portas para receber as primeiras alunas em 1º de março de 2010. A GCCN está transformando as vidas de jovens carentes. seu pai. ela se deparou com um ambiente diferente de ensino e aprendizagem.. se formou enfermeira. Seus principais desafios foram a dificuldade em se comunicar em inglês e aprender a usar o computador. 8. 300 pessoas • Proporção de enfermeiros que trabalham por médico: 1: 2 quando a média recomendado é: 3:1 EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS • Carência na assistência à saúde materna. STRACK. BRUYSTEN.700 no total (100/mês) • Empréstimos com juros baixos oferecidos pela Grameen Bank Lugar e Promoção • Faculdade em Daca • Dá preferência para estudantes filhas das mutuárias do Grameen Bank • Nike Foundation • Grameen Healthcare Trust Autorizações Legais • Aprovação pelo Conselho de enfermagem de Bangladesh para certificação do curso de enfermagem/ parteiras proposto • 180 candidatos para 50 vagas em 2012 • Receita: €90. neonatal e infantil é recorrente em Bangladesh • Falta de assistência à saúde nas comunidades rurais mais pobres Objetivos • Empoderamento de meninas jovens • Capacitar enfermeiras para alcançar padrões internacionais de qualidade de atendimento • Programa com certificação de formação em enfermagem para jovens nas áreas rurais Preço • €3.) €310. Quadro 6 .Desafio.O Quadro 6 abaixo resume o desafio.000 • 138 estudantes em formação • Empoderamento de jovens carentes Impacto social • 550 estudantes são esperados em 2015 • Aumento do número de profissionais de enfermagem para cada médico • Expansão para 70 estudantes por ano • Efeitos positivos na saúde materna e infantil Panorama • Início de novos programas (Bacharelado. 2013 . modelo de negócios e resultados da Grameen Caledonian College of Nursing no treino de jovens mulheres para o ofício da enfermagem Desafio Modelo de Negócio Operação Situação e Panorama Impacto Problema social Produto 3 Parceiros • Escola de enfermagem / parteiras para contribuir com o aumento desta mão de obra • School of Health and Life Sciences Department of Nursing and Community Health da Universidade Glasgow Caledonian Fundada em janeiro de 2010 Situação financeira em 2011 Situação atual • Custo operação: €180. YUNUS. o modelo de negócios e os resultados da GCCN. etc.000 de investimento inicial • Financiado pela Nike Foundation (e mensalidade dos alunos) • Formar líderes e agentes de mudança Reduzir a escassez de enfermeiras 130 Treinamento para jovens mulheres em atendimento de saúde Colaboração entre 3 parceiros Ganho de escala contínuo desde o lançamento Empoderamento das jovens por meio da qualificação em enfermagem Fonte: VILLIS.000 • Falta de profissionais de enfermagem: apenas 1 enfermeira para atender 6. Muhammad Yunus e os negócios sociais 3. da solução dada. 3. a desnutrição crônica observada foi de 13.1 O Case Vitalius: Mais Nutrição. a desnutrição de crianças menores de cinco anos chegou a 7. d) 6 milhões de colombianos não têm uma dieta adequada com ingestão de todos os micronutrientes necessários. do impacto causado e das metas almejadas. c) 50% das crianças menores de cinco anos não ingerem a quantidade necessária de zinco.4% e o risco de desnutrição atingiu 23. b) 25% das crianças com menos de quatro anos são anêmicas. No país como um todo.3%.9% em 2008 para 6. Os números abaixo apontam a gravidade da situação: a) na Colômbia. 13.3% em 2009. Mais Vida Nos últimos anos tem havido um aumento no risco de desnutrição entre a população de Caldas.7% em 2010. em alguns casos.2% e a insegurança alimentar das famílias atingiu 42.1.6% das crianças menores de quatro anos sofrem de desnutrição crônica. Cases da America Latina Três cases da América Latina são apresentados e estão descritos em termos do problema social identificado. cuja principal causa é a ausência de ferro. ao mesmo tempo. Indicadores como baixo peso ao nascer aumentaram de 5. levando a um atraso no desenvolvimento cognitivo das crianças. do modelo de negócio implantado e. essencial para o bom crescimento. 131 .1 O problema social 8.3. B3 (niacina). 3.A desnutrição é o primeiro passo de uma série de problemas sociais. zinco e ferro. O objetivo foi melhorar as condições de nutrição sem alterar sua dieta (desafio cultural) ou aumentar o preço que uma família teria que pagar para comprar a ‘panela’.1.1. Um piloto foi realizado com bons resultados 132 (70% de sucesso). c) os lucros são reinvestidos no desenvolvimento de novos produtos enriquecidos e outras atividades que maximizam o impacto social sobre a população-alvo. B12.3 O modelo de negócio Principais pontos do modelo: a) o micronutrientmix Vitalius foi desenvolvido pela Royal DSM. capaz de apoiar os "trapiches aliados" (moinhos de parceria) para produzir de forma mais eficiente.000. que e líder mundial em enriquecimento de alimentos. d) esse Negócio Social gera renda distribui seus produto usando dois canais: cozinhas comunitárias e lojas tradicionais nos bairros. a ‘panela’ (uma espécie de rapadura feita de cana de açúcar). respeitando as normas de saúde e de qualidade. B9 (ácido fólico). Esses recursos foram utilizados para o desenvolvimento e produção da ‘panela’ enriquecida com micronutrientes à base de leite. uma vez que leva à falta de concentração na escola. . 3. B2 (riboflavina). O Negócio Social Vitalius usou um tipo de alimento que já era massivamente consumido. A ‘panela’ fortificada contém sete micronutrientes que foram selecionados com base em recomendações feitas por especialistas da Royal DSM. uma empresa holandesa líder mundial na fortificação de alimentos. coaching. O fundo Yunus Social Business da Colômbia investiu US$ 93. Além disso. que já desenhou algumas pré- EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS misturas para o mercado colombiano. criando um "Alianza Productiva" (parceria produtiva) de treinamento. a fim de chegar até as pessoas mais vulneráveis levando os micronutrientes de que elas necessitam. contendo os seguintes micronutrientes: B1. b) os produtos fortificados são vendidos ao mesmo preço dos não fortificados. o Negócio Social apóia a cadeia de valor de produção tradicional da ‘panela’.2 A solução A fortificação de alimentos oferece uma solução eficaz para tratar problemas de desnutrição. utilizando um "pré-mix". à altas taxas de abandono escolar e à redução da produtividade no trabalho. sem um teto ou paredes que efetivamente protejam das intempéries ou sem uma área minimamente confortável que permita um convívio familiar saudável.2. Casas sem água potável. se tornem barreiras para a geração de renda. nutrição. Ou seja.1 O problema social Esse Negócio Social foi criado na Colômbia para oferecer soluções para as 8. chegando a pagar até 30% de juros. educação e comportamento. Habitação precária é uma das principais armadilhas que aprisionam pessoas na pobreza. sem acesso ao saneamento. é improvável que as famílias consigam economizar para investir na melhoria de suas casas.2 O Case Ruralive: Turismo Que Constrói precárias condições de moradia das famílias de baixa renda na área rural de Supía. Reduzir problemas de moradia é um dos pilares da redução da pobreza. sem renda regular garantida. o que força a população a apelar para métodos informais abusivos de agiotagem. reduz grandemente as chances de desenvolvimento econômico desta família.e) a Vitalius se propõe a ser uma marca líder de produtos alimentares enriquecidos com reconhecimento nacional e internacional. Essa situação também torna difícil obter financiamento de forma legal. onde o piloto deste Negócio Social foi implementado. habitação precária faz com que questões relacionadas à saúde. 3. 133 . Como consequencia da estrutura de trabalho informal. Muhammad Yunus e os negócios sociais 3. a renda familiar é instável. bem como o desenvolvimento físico e intelectual dos seus habitantes. Nestas condições. ao mesmo tempo. As receitas geradas durante a estadia dos turistas será utilizado para: a) garantir a sustentabilidade do Negócio Social.Abaixo.2. alguns dados que ajudam a ilustrar a amplitude do problema de moradia na Colômbia: a) 34% dos habitantes vivem na pobreza. A proposta de valor da Ruralive é conectar as famílias rurais que se dispõem a acolher turistas em suas casas com esses turistas. sendo que 1. . interessados em conhecer os hábitos destas famílias. Estes turistas podem ser mochileiros.5 milhões vivem em condições precárias..2 A solução Ruralive é um Negócio Social turístico que gera renda para as famílias mais vulneráveis das zonas rurais do departamento de Caldas. O objetivo social desta organização é gerar renda adicional para as famílias que hospedam turistas que lhes permitam enfrentar os seus problemas de habitabilidade atuais. b) o déficit habitacional é de 4 milhões. Eles podem ficar com as famílias por um EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS ou vários dias. Os turistas também podem experimentar o trabalho diário realizado por esses agricultores de perto. tendo a oportunidade de aprender sobre seus hábitos. 11% em situação de pobreza extrema e com problemas ligados à habitação. entre outros. que é formado pelos pagamentos feitos pelos turistas que se hospedam em suas casas. Ao desenvolver destinos turísticos diferenciados para os viajantes. b) compensar os custos incorridos pelas famílias ao acomodar os turistas.5 milhões não possuem casas e 2. A ideia é que as famílias rurais consigam melhorar a qualidade das suas moradias utilizando recursos de um fundo de reformas. costumes e os 134 desafios e as questões sociais que estão enfrentando. cafeicultura. 3. turistas internacionais ou estudantes de universidades da Colômbia. etc. e c) alimentar o fundo de reformas para melhoria das moradias das famílias participantes. para a produção de cana-de-açúcar exemplo. agricultura. a Ruralive alcança o seu objetivo de incentivar o desenvolvimento comunitário integral. que estão interessados em aprender mais sobre a vida no campo. viabilizam a melhoria das moradias destas famílias onde se hospedaram. pecuária. com o objetivo de melhorar as condições de moradia dessas famílias. 2. 65% do lucro vai direto para o fundo de reformas e 35% é usado para cobrir as despesas da família com a estadia dos turistas. alimentação e a oportunidade de conhecer as atividades tradicionais c) na distribuição de recursos.4 Impacto Fatos que comprovam o impacto do negócio: a) seis famílias (24 beneficiários) estão recebendo um fundo de habitação. 3. b) impactar 40 famílias participantes. b) 47 adultos receberam oficinas sobre construção.3 O modelo de negócio A Ruralive desenhou um modelo extremamente simples. Muhammad Yunus e os negócios sociais da região. c) mais de 70 turistas já viveram a experiência Ruralive.3. que inclui hospedagem. 135 . Uma média de US$ 111 por família. b) o turista paga uma taxa básica de US$ 35 por noite.5 Metas para 2014 Almejou-se para o ano de 2014: a) expandir a Ruralive para cinco novos destinos. c) alcançar um numero de vendas de superior a 300 noites. empreendedorismo e trabalhos manuais. com 160 beneficiários diretos. 3.2. abaixo listamos os principais pontos deste modelo: a) a Ruralive conecta os turistas com as famílias da comunidade local através de uma plataforma virtual. administração de negócios. 8.2. A economia informal no Haiti é responsável por cerca de 90% do PIB do país. . devido à sua grande presença e influência. perdesse a esperança de alcançar qualquer tipo de sucesso.3 O Case Etre Ayisye: Instituto de Empreendedorismo EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS 3.3. Tal dificuldade econômica fez com que a juventude. uma alternativa para a clássica filantropia e sem fins lucrativos conceitos.3.3. A YSB tenta levar uma nova visão para o desenvolvimento: crescimento através de Negócios Sociais. onde 47% da renda do país está nas mãos de 10% da população. que compõem mais de 51% da população. Elevando muito as taxas de evasão escolar. se diz que a maior indústria é o setor de organizações sem fins lucrativos. A desigualdade na renda do haitianos é muito grande. 54% da população vivendo com menos de US $ 1 por dia e uma economia severamente estagnada. 3. No Haiti.2 A solução O objetivo maior da Etre Ayisye é a criação de empregos através da educação empreendedora.1 O problema social 136 O Haiti é o país mais pobre das Américas. com uma taxa de desemprego elevadíssima. a fim de fomentar uma mentalidade mais empreendedora. c) metas para 2015: 3.3. O iogurte é produzido em uma microplanta a 230 km de Daca. Muhammad Yunus e os negócios sociais mais três cidades no Haiti. O investimento tem ajudado Etre Ayisyen educar mais de 450 profissionais que trabalham e aspirantes a empreendedores por ano.640 estudantes capacitados. d) pretende disseminar por todo o país a cultura empreendedora. Seu modelo de negócio baseia-se em alguns pilares: a) o Instituto de Empreendedorismo Etre Ayisyen funciona como um Negócio Social e se concentra em desenvolver habilidades empreendedoras dos haitianos jovens. O centro de treinamento está localizado em Port-au-Prince. 137 . Haiti e recebeu US$ 80mil do Fundo YSB. desenvolvendo habilidades necessárias adaptadas para as diferentes classes sociais.4 Impacto Os impactos causados foram: a) 3. Entre os ensinamentos difundidos estão: educação financeira. a força motriz para a revitalização econômica do Haiti. desenvolvimento pessoal e profissional. NOTAS 1. Etre Ayisyen já está gerando lucro. 8. b) seu objetivo é atuar como um instrumento de mudança social através do acesso à educação e tecnologia da informação para que a população jovem do Haiti a seja responsável pelo seu próprio crescimento. desenvolvido pela Kauffman Foundation e aprovado pela Network For Teaching Entrepreneurship (NFTE). desenvolvimento e planejamento de negócios. 3. e) esse acesso ao conhecimento e a informação vai elevar o espírito empreendedor. repagando seu empréstimo e planejando abrir novos centros em 3.3. c) utiliza currículo abrangente de renome mundial.3 O modelo de negócio Com o objetivo de formar os ‘criadores de emprego de amanhã’ nasceu o Instituto de Empreendedorismo Etre Ayisyen.123 alunos participaram dos cursos oferecidos pelo Instituto em 2012. b) 53 cursos em tempo integral e 11 em tempo parcial para funcionários.O Instituto de Empreendedorismo do Etre Ayisyen capacita os ‘criadores de emprego de amanhã’. M. Acesso em: 25 out. About us. São aqueles que se encontram abaixo da linha de US$ 2. Boston: The Boston Consulting Group. 5. Disponível em: http://www.. 138 YUNUS. A depreciação está inclusa no cálculo para 2014. Acesso em: 29 out.gShakti..gShakti.org/index. The power of social business: lessons from corporate engagements with Grameen. São Paulo: Ática. K. 2014. 7. Acesso em: 02 out.php/social-business/grameen-gc-eye-care-hospital. Disponível em: http://www.org/index. BRUYSTEN. Ver mais em http://www. 2013. 2014. M. YUNUS. REFERÊNCIAS GRAMEEN CALEDONIAN COLLEGE OF NURSINS. GRAMEEN SHAKTI. THE HYSTORY of Grameen Caledonian College of Nurses. Building social business: the new kind of capitalism that serves humanity's most pressing needs. . 2014.gShakti. Disponível em: http://www. Criando um negócio social. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS YUNUS.com/#!Grameen-Shakti/c12gx. 4.php. 3.2. SOCIAL Businesses in Bangladesh: 10 case studies. U. Public Affairs.php.yunusnegociossociais. 2014. 2012. gerando renda e empregos. GRAMEEN Shakti traz energia verde para área rural de Bangladesh. Vilas que estão localizadas a 100 km a leste de Daca. Preço aproximadamente 100 vezes mais barato que o preço de uma garrafa de água. Um mundo sem pobreza: a empresa social e o futuro do capitalismo.50 por dia (ajustado pela paridade do poder de compra).org/index. Disponível em: http://www.org/index. php. YUNUS. R. Munich. The story of Popi Rani Bhowmik.. M. O preço da cirurgia depende do tipo de lente utilizada (1 € = 100 Bangladesh taka (BDT)). 2010. 6. Acesso em: 29 out. M. Rio de Janeiro: Elsevier.muhammadyunus. 2008. 2011. STRACK. S. VILLIS.. WEBER. CAPÍTULO 9 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E NEGÓCIOS SOCIAIS: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO DA PUBLICAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL Talita Rosolen Gabriela Pelegrini Tiscoski Graziella Maria Comini . os negócios sociais também carecem de definições e consenso a respeito de uma terminologia única (COMINI. começam a surgir novos modelos de organizações. sociais e políticos de cada região. dados os contextos econômicos. O fenômeno começou com a disseminação do termo empreendedor social nos Estados Unidos e atividades de geração de renda em organizações da sociedade civil. BARKI.1. Entretanto. governo e sociedade civil. como novo campo de estudo. Introdução O SISTEMA ECONÔMICO vigente trouxe desafios de ordem social e ambiental que inicialmente eram ignorados ou subestimados. Ademais. surgem também concepções particulares ligadas à visão de cada setor sobre o conceito. As consequências provocadas pelo aumento das desigualdades sociais e do desgaste dos recursos naturais são alguns exemplos da abrangência dessas discusEMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS sões. A diversidade de nomenclaturas e conceitos ao redor do tema pode ser explicada principalmente pela variedade de realidades em que estes empreendimentos sociais se formam. mas que atualmente passam a ocupar cada vez mais espaço nas discussões e atuação de empresas. 2012). como 140 . AGUIAR. Na tentativa de prover respostas e soluções a esses desafios. Esses empreendimentos apresentam produtos e formatos inovadores para atender a uma demanda da sociedade. como o tema origina de diversos segmentos da sociedade. os quais têm como intuito a geração de valor social e/ou ambiental além do valor econômico. Entretanto. hoje. e sua organização pode variar entre o modelo privado e o do terceiro setor. apresenta maior complexidade e uma variedade de atores envolvidos. Stevenson e Wei -Skillern (2006) afirmam que. principalmente em países emergentes. o conceito de empreendedorismo social está pautado na criação de valor social e na introdução de inovações de metodologia. Este estudo propõe-se a realizar um mapeamento da produção científica dos últimos vinte anos sobre o tema. 2. limitações deste estudo e sugestão para pesquisas futuras. negócios sociais e negócios inclusive business). governos. em uma concepção mais ampla. bem como para o fortalecimento da discussão de empreendedorismo e negócios sociais no meio acadêmico. Assim. Por fim. Os principais aspectos analisados são a evolução da quantidade de publicações nos últimos anos. A primeira parte é composta por um referencial teórico sobre o tema e as diferentes terminologias utilizadas. as 9. EBSCO e Web of Science. Para tanto. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional inclusivos (em inglês: social entrepreneurship. Negócios sociais e negócios inclusivos são termos que também passaram a ser utilizados nesse contexto. consumidores. Desse modo. além desta introdução. são apresentadas as considerações finais.corporações. isso porque seu conceito compreende um contexto de atuação em diversos tipos de organização. O presente artigo foi estruturado em quatro partes. SciELO e EnANPAD. entre outros (YOUNG. serão descritos os procedimentos metodológicos utilizados e. organizações não-overnamentais (ONGs). utilizando diferentes terminologias diretamente vinculadas a esse campo de estudo. pretende-se contribuir para o entendimento da evolução do tema e das correntes teóricas existentes. investidores. social business e 141 . serviços ou produtos. podendo ocorrer no setor privado. social enterprise. bem como três bases nacionais: SPELL. Austin. quais sejam: empreendedorismo social. empresa social. o levantamento foi realizado em três bases científicas internacionais: Scopus. empreendedorismo social refere-se a uma atividade inovadora com um objetivo social. em terceiro lugar. 2008). a origem das publicações e os autores que se destacam tanto em número de publicações quanto de citações. Empreendedorismo Social e Empresa Social O EMPREENDEDORISMO SOCIAL pode ser entendido como a mais abrangente dentre as terminologias apresentadas neste estudo. tanto no âmbito nacional quanto internacional. no terceiro setor ou em organizações híbridas. Em seguida. está a apresentação e análise dos dados. Dees (1998) assinala que as empresas sociais se aproximam de uma orientação de mercado. Ainda na corrente norte-americana. a busca por fontes de financiamento mais sustentáveis (o desenvolvimento de atividades que geram renda parece ser mais confiável que as doações e subsídios). não há uma visão homogênea: em primeiro lugar. Como apontam Fischer e Comini (2012). surgem novos termos para caracterizar iniciativas que operam na lógica de mercado. alguns aspectos foram importados do ambiente corporativo e têm sido alvo de debates entre acadêmicos e profissionais. Esses debates têm sido causados pela falta de entendimento comum de um novo conceito que tenta reunir dois tipos de atividades. O termo empresa social começou a ser empregado nos Estados Unidos. tem como razões: o desenvolvimento do capitalismo e a crescente confiança no poder da concorrência e do lucro como promovedores da eficiência e da inovação. Empresas sociais podem ser definidas como empresas de duplo propósito e que adequam metas de lucro com objetivos sociais (híbridas). Esse movimento foi impulsionado pela escassez de recursos gerada pela retração do financiamento estatal. é notório o entendimento do termo como maneira de englobar organizações de diversos tipos envolvidas em atividades socialmente benéficas. quando as organizações não governamentais começaram a expandir suas atividades comerciais. as várias formas de avaliar o caráter inovador desse tipo de organização.quais gerariam uma transformação social. mudança no foco das instituições que destinam recursos às organizações não lucrativas. a promoção do bem estar social sem causar dependência aos beneficiados. as diferentes formas de definir o caráter socioambiental das empresas e. Nesse sentido. ou organizações sem fins lucrativos empenhadas em desenvolver atividades comerciais que ofereçam suporte à execução de sua missão (organizações com fins sociais). na visão norte-americana. Por ser recente a terminologia em empreendedorismo social. negócios sociais e negócios inclusivos. considerados. 2006). pois passaram a preferir 142 . iniciado no fim dos anos 1970 (KERLIN. como maneira de manterem sua atividade social e se tornarem menos dependentes de doações e subvenções e mais de honorários e contratos. Essa tendência. a priori. porém com objetivos de geração de valor social: empresas sociais. A inserção da dimensão econômica e da lógica de mercado abriu novas possibilidades para a atuação das organizações que até então contemplavam uma única dimensão (social ou econômica). segundo o autor. não conciliáveis: aqueles voltados para a realização de negócios e aqueles voltados para a redução de impactos negativos sociais e ambientais. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Para Kerlin (2006). segundo. Sobre a atuação das empresas sociais.fomentar empresas com abordagens mais comerciais. 2010). Ou seja. tais como educação. oferecendo suporte a grupos com alto risco de exclusão social. combate à fome. Fischer e Comini (2012) propõem que existem outras duas principais linhas de pensamento sobre o conceito de empreendimentos sociais. 9. BORZAGA. em um ambiente de mercado competitivo. Da mesma forma. a produção de bens e serviços está intimamente ligada à sua missão. resultantes da evolução profunda das sociedades europeias. Galera e Borzaga (2009) afirmam que o desenvolvimento de empresas sociais na Europa pode ser entendido em um contexto de novas formas de apoio do governo para as organizações do terceiro setor e atendimento às emergentes necessidades sociais. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional Além da perspectiva norte-americana. a atividade econômica é a entrega de tais serviços (DEFOURNY. como uma estratégia para apoiar a sua missão social. Apesar das diferenças entre os países da Europa. para a empresa social europeia. poluição ambiental. que enfatiza iniciativas de mercado que visam reduzir a pobreza e transformar as condições sociais dos indivíduos marginalizados ou excluídos. 2009). organizações do setor privado que operam de acordo com a lógica de mercado com foco em soluções viáveis aos problemas sociais. Assim. destaca as atividades de organizações da sociedade civil com funções públicas. a maioria das empresas sociais é fundada pela sociedade civil com o objetivo de promover serviços de interesse coletivo. moradia. a qual se refere a empresas sociais como 143 . como associações e cooperativas. nascida de uma tradição de economia social. Herranz. e ação de forças competitivas (empresas tradicionais e não lucrativas com orientação de mercado). se o objetivo é desenvolver serviços sociais. Council e McKay (2011) afirmam que um empreendimento social pode ser definido como uma organização sem fins lucrativos que fornece um produto comercial baseado em taxas ou serviço. A perspectiva europeia. cuidados médicos. Dees (1998) evidencia uma gama de serviços suportados por elas. Os autores definem empresa social como organizações que executam atividades comerciais com o objetivo de arrecadar fundos para financiar uma atividade social (GALERA. violência doméstica e uso de drogas. artes. E também a linha de pensamento predominante nos países em desenvolvimento. Ou seja. NYSSENS. segundo o autor. elas atuam em áreas onde o mercado por si só não irá suprir adequadamente as necessidades e/ou completando as atividades exercidas pelo governo. participando do conselho de administração da empresa. Assim. em sua 144 maioria. funcionários. empresas sociais são definidas como organizações que objetivam explicitamente beneficiar a comunidade. porém o termo empresa social não adquiriu tanta aceitação em regiões como a América Latina e Ásia. cujos membros são coletivamente responsáveis pelo cumprimento dos objetivos da empresa. . Isso faz com que algumas de suas práticas de gestão sejam diferenciadas do contexto norte-americano. Para a rede de pesquisadores EMES European Research Network (EMES. empreendedor social criador do Grameen Bank. 2012). Dessa maneira. entre outros).Uma característica fundamental das empresas sociais europeias para Galera e Borzaga (2009) é a dimensão coletiva. elas valorizam a independência e a diminuição de riscos econômicos relacionadas às atividades socioeconômicas. essa dimensão coletiva e participativa das empresas sociais reduz a probabilidade de comportamentos oportunistas de indivíduos isolados (GALERA. doadores. O modelo de governança é um dos pontos de maior importância na definição das empresas sociais europeias. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Essas organizações possuem perfil de prestação de serviços públicos e. mas surgiu também uma nova visão a respeito dos negócios sociais. surgiram novas nomenclaturas. ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006 e autor de artigos acadêmicos na área. voluntários. são. A empresa social é baseada em um dinamismo coletivo com diferentes stakeholders (beneficiários. Negócios sociais e negócios inclusivos O MOVIMENTO DO empreendedorismo social também foi intensamente disseminado nos países em desenvolvimento. criadas por um grupo de cidadãos e onde o retorno do investimento feito pelos investidores é sujeito a limites. 3. Foi utilizado não somente um novo termo. financiadas por recursos governamentais. autoridades públicas. derivada da forte tradição cooperativa. BORZAGA. No entendimento europeu. 2009). referência internacional no assunto. A lógica de processos de tomada de decisão participativos e transparentes é um pré-requisito para sua caracterização. a atuação do empreendedor social é vista como apoiada por um grupo. de fato. O termo negócios sociais passou a ganhar evidência com o destaque de Muhammed Yunus. Assim. como negócios sociais e negócios inclusivos. Porter e Kramer. Entretanto. vale destacar um termo que surgiu mais recentemente. há concordância com o entendimento de Kerlin (2006) de que tais organizações se situam em meio a dois extremos: empresas com fim de lucro e organizações sem fins lucrativos. Assim. MOINGEON. passam a ter acesso à economia de mercado pela primeira vez. Entre os principais autores vinculados a essa linha estão Prahalad e Hart. assim como a dos negócios sociais. 2010). por meio da utilização de mecanismos de mercado fez com que o termo negócio social ganhasse mais espaço na realidade dos países em desenvolvimento. A questão principal que essa corrente abrange é a oferta de produtos e serviços para a “base da pirâmide”. Os autores defendem que o proprietário de um negócio social não visa gerar lucro para si próprio. adquiriu mais espaço no contexto dos países em desenvolvimento. essa terminologia passa a ser mais frequente no Brasil e em outros países latino-americanos. Prahalad e Hart (2002) chamam a atenção para o crescente número de pessoas que. Moingeon e Lehmann-Ortega (2010) diferencia-se ao impor maior rigidez em relação à distribuição de dividendos. Também se distingue de organizações não governamentais por buscar a autossustentação de suas operações por meio da venda de produtos e serviços ao invés de doações ou outras formas de captação de recursos (YUNUS. 145 . custos e receitas. principalmente envolvendo a pobreza. Além das tipologias apresentadas. A importância atribuída à solução de problemas sociais. Sendo assim. Essa vertente. que está presente principalmente nos países em desenvolvimento. LEHMANN-ORTEGA. em última instância. serviços melhores e maior acessibilidade. se assim desejar. clientes.Nessa corrente teórica. O excedente econômico gerado deve ser reinvestido no negócio e. Os autores apresentam a abordagem do capitalismo inclusivo como um modelo a ser buscado 9. por conta da melhoria de condições econômicas de seu ambiente. nomenclatura utilizada para designar a parcela da população com menor poder aquisitivo. e Reficco. uma vez que coloca grande ênfase na inclusão social por meio do consumo. mas que também passa a ganhar relevância nesse campo de estudos: os negócios inclusivos. porém difere no seu propósito principal que é servir à sociedade e melhorar as condições de vida de populações de baixa renda. mercados. revertido aos beneficiários na forma de Os negócios sociais aproximam-se de negócios tradicionais em aspectos como produtos. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional redução de preços. mas tem direito a recuperar seu investimento inicial. a abordagem proposta por Yunus. além de outras variações como negócios com impacto social ou negócios socioambientais. serviços. abordando o debate conceitual dos principais termos utilizados para caracterizar iniciativas no campo social. Porter e Kramer (2011) propõem o princípio de criação de valor compartilhado. Os autores apontam três meios para as empresas atingirem esse objetivo: concepção de novos produtos e mercados. Em vista da crescente importância e disseminação desses novos formatos EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS de organização. É necessária uma nova postura das corporações. Reficco (2011) utiliza para abordar os novos modelos propostos por Prahalad e Hart (2002) e Porter e Kramer (2011). pois tem como objetivo descrever as características de uma determinada população. e possibilidade de desenvolvimento de clusters locais. p. HART. Sobre o termo negócios inclusivos. redefinição de produtividade na cadeia de valor. 2002. e reforça o vínculo do termo com a habilidade de grandes corporações em atuar na redução da pobreza incluindo a base da pirâmide em seu mercado de consumo e produção. O caráter teórico é representado pelo referencial exposto na seção anterior. Consiste na aplicação de técnicas es- . Nessa concepção.3). Propõem às grandes corporações o seguinte desafio: “vender para as populações mais pobres e ajudá-las a melhorar suas vidas por meio da produção e distribuição de produtos e serviços de maneira sensível à sua cultura. portanto. como a habilidade de cooperar entre si independente da finalidade ou não de lucro. de modo a oferecer uma visão global do desenvolvimento deste campo de estudo. ambientalmente sustentável e economicamente rentável” (PRAHALAD.pelas grandes corporações. Este estudo. ao mesmo tempo em que contribuem com a população de baixa renda. bem como a diversidade de nomenclaturas e conceitos utilizados no campo dos empreendimentos sociais. 4. E descritivo. torna-se essencial a sistematização dos 146 tatísticas e matemáticas para descrever aspectos da literatura e de outros meios de conhecimentos para o fortalecimento da área. A bibliometria é uma técnica quantitativa de medição dos índices de produção e disseminação do conhecimento científico. as empresas deparam-se com uma imensa oportunidade de expansão de seus negócios. Metodologia O PRESENTE ESTUDO tem um caráter teórico-descritivo. Dentro do contexto de modelos inovadores que agregam valor tanto às companhias quanto às populações em situação de vulnerabilidade social. propõe-se a mapear e analisar a produção científica nacional e internacional dos últimos quinze anos sobre o tema. crescimento e tendências de uma disciplina científica pode ser obtida por meio da abordagem matemática. utilizando as diferentes terminologias que podem estar diretamente vinculadas a este campo de estudo. sendo fundamental considerá-los na interpretação dos dados obtidos com sua aplicação. Complementa ainda Araújo (2006). Embora o uso da bibliometria apresente certas dificuldades. 147 . inicialmente voltada para a medida de livros (quantidade de edições e exemplares. por ter a maior abrangência sobre o tema e oferecer ferramentas bibliométricas úteis para a consolidação da pesquisa. negócio social e negócio inclusivo (em inglês: social entrepreneurship. onde o trabalho é conduzido com base em um plano previamente estabelecido e parâmetros de análise bem definidos e com o objetivo de medir e quantificar os resultados com maior precisão. Utilizou-se três bases de dados internacionais (Scopus. quais sejam: empreendedorismo social. Como se trata de um estudo predominantemente quantitativo. bem como em português em três bases nacionais: Scientific Periodicals Electronic Library (SPELL). Este artigo propõe-se a realizar um mapeamento da produção científica do período de 1995 a 2014 (publicados até setembro de 2014). espaço ocupado pelos livros nas bibliotecas. quantidade de palavras contidas nos livros. Inicialmente. SciELO e EnANPAD). a bibliometria aos poucos foi se voltando para o estudo de outros formatos de para depois trabalhar também a produtividade de autores e do estudo de citações. muita informação útil concernente à transmissão de ideias. EBSCO e Web of Science. social business e inclusive business). Após coleta de dados nas três bases internacionais. a pesquisa ocorreu em inglês em três bases científicas internacionais: Scopus. e três bases de dados nacionais de relevância (SPELL. como artigos de periódicos e outros tipos de documentos. a opção pela bibliometria parece um caminho lógico e natural para os propósitos da pesquisa. optou-se por aprofundar a pesquisa com a base Scopus. Para tanto. empresa social. foram estabelecidos os critérios de seleção das formações e bases de dados que fariam parte da análise. Scopus é um 9. social enterprise. A produção de indicadores bibliométricos apresenta limitações em seu uso. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional produção bibliográfica. minimizando as possíveis distorções na etapa de análise e interpretação dos dados e permitindo mais segurança nas inferências que serão realizadas. 2006). estatísticas relativas à indústria do livro). EBSCO e Web of Science) com alto impacto no campo da administração.comunicação (ARAÚJO. Scientific Electronic Library Online (SciELO) e o Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD). Iniciado em 2012. Ademais. inicialmente. A base de dados SPELL é um sistema de indexação. Abrange cerca de 22 mil títulos de mais de 5. e mais de 100 anos de dados. a pesquisa nas três bases nacionais foi realizada. os trabalhos apresentados geralmente se referem a temas de vanguarda e indicam tendências de futuras publicações. mensurar e colaborar nas ciências. níveis de pesquisa.1 Procedimento para Coleta e Análise dos Dados Nas bases de dados apresentadas.desde escolas. até hospitais.500 revistas peer-reviewed nos campos científico. Contabilidade e Turismo. empresas e agências governamentais. Thomson Reuters Web of Science é uma plataforma de pesquisa que provê acesso a conteúdos objetivos e poderosas ferramentas para pesquisar. a produção EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS científica das áreas de Administração. Com grande quantidade de trabalhos apresentados. incluindo pesquisas de referências citadas. sendo utilizados os seguintes termos de busca nos artigos publicados para a construção da amostra dessa pesquisa: (1) em português: empreendedo- . 4. Da mesma forma. acompanhar. artes e humanidades. A SciELO é o resultado de um projeto de pesquisa com o objetivo de desenvolvimento de uma metodologia comum para a preparação. técnico e de ciências médicas e sociais (incluindo as artes e humanidades).000 editoras internacionais.banco de dados de resumos e citações de artigos para jornais/revistas acadêmicos. e comunidades de usuários . com mais de 100 milhões de visitas diárias. sendo de amplo incentivo à produção científica. é considerado o maior evento do núcleo acadêmico e científico do Brasil. 148 A SciELO é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. ciências sociais. o SPELL concentra. armazenamento. como é um evento anual. Já o EnANPAD é um evento promovido anualmente pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração. disseminação e avaliação da produção científica em formato eletrônico. foi realizada a análise temporal no interstício de 1997 a 2012. EBSCOhost se destaca como um dos serviços de pesquisa mais usado em bibliotecas e outras instituições em todo. incluindo a cobertura de 16. O EBSCO oferece um conjunto de mais de 300 bases de dados de pesquisas secundárias e de texto completo que cobrem todas as áreas. bibliotecas públicas e universidades. Essa plataforma de pesquisa inteligente permite o acesso às principais bases de dados de citação do mundo. pesquisa e disponibilização gratuita da produção científica. Por esse motivo. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional agrupamento por categorias. EBSCO. pois o objetivo é realizar a pesquisa. Optou-se por separar as análises em publicações nacionais e publicações internacionais. os autores dos artigos e suas universidades. Utilizou-se o método de coleta documental e da busca manual nas bases de dados e do evento dentro do período especificado. uma vez que cada base possui diferentes ferramentas de busca e análise. inclusive business. empresa social. pela diferença de informações disponíveis nas ferramentas de busca das bases de dados. nas bases de dados. Já nas bases SPELL e EnANPAD a busca foi realizada por meio do campo ‘palavra-chave’. pode haver repetições de artigos nas diferentes bases de dados. os autores mais citados. Entretanto. social business.rismo social. portanto. e (2) em inglês: social entrepreneurship. O total de publicações encontradas é apresentado na Tabela 1. sendo analisadas as frequências de ocorrência. refinou-se somente artigos acadêmicos. constituintes da amostra desta pesquisa. foram analisadas bibliometricamente a evolução histórica. respeitando a abrangência e as particularidades de cada plataforma. A apresentação e análise das informações colhidas foram realizadas de forma separada por base de dados para não gerar inconsistências nos resultados. isso não interfere na credibilidade do trabalho. Nos artigos encontrados pelos termos de busca citados e. 149 . Web of Science e SciELO.Total de publicações Internacional Base Social Entrepreneurship Social Enterprise Social Business Inclusive Business Total sem repetições SCOPUS 1438 1599 354 64 2813 EBSCO 1383 1197 243 35 2676 WEB OS SCIENCE 375 272 109 22 727 9. 4. social enterprise. negócios inclusivos. Os resultados foram apresentados por meio do Como definições da pesquisa. os países de origem desses e idiomas. negócios sociais. Tabela 1 . nos anos entre 1995 e 2014 e com referidas palavras encontradas em qualquer campo da publicação para as bases Scopus. verificaram-se alguns importantes aspectos sobre as publicações de artigos que referem aos quatro termos pesquisados. de todas as áreas de atuação.2 Análise e apresentação dos resultados A partir da pesquisa realizada. o termo social enterprise ser mais frequente que os demais. são as que apresentam maior frequência de artigos. Chamou a atenção o fato de. . Seria necessária uma análise qualitativa e mais aprofundada para explicar essa divergência. As bases Scopus e EBSCO. frente aos complexos mecanismos internacionais. no Scopus.3 Bases de Dados Internacionais 150 O tema apresenta números expressivos de artigos acadêmicos. uma vez que foram os conceitos que surgiram inicialmente. Esse resultado corrobora o que foi encontrado no referencial teórico. principalmente com os termos social entrepreneurship e social enterprise. e também pelo desenvolvimento ainda inicial do campo no âmbito da academia brasileira. quanto em português nas bases nacionais. enquanto no EBSCO e Web of Science o termo principal ser social entrepreneurship. Vale destacar que as bases nacionais apresentaram quantidades extremamente baixas de publicações quando comparadas às bases internacionais. Essas poucas ocorrências podem ser justificadas por dois fatores: parte em decorrência da fragilidade dos sistemas de busca de publicações nacionais. por serem as que abrangem maior número de publicações. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS 4.4 Evolução Histórica das Publicações internacionais A evolução histórica das publicações internacionais pode ser vista nas Figuras 1 a 3.Nacional Base Empreendedorismo Social Empresa Social Negócios Sociais Negócios Inclusivos Total sem repetições SPELL 29 3 1 1 32 SCIELO 10 4 2 1 17 ENANPAD 13 1 3 0 16 Fonte: elaborada pelas autoras A pesquisa geral evidencia que os termos mais frequentes utilizados nos artigos são social entrepreneurship e social enterprise. tanto em inglês nas bases internacionais. 4. Evolução histórica de publicações internacionais na base EBSCO EBSCO 160 120 80 Social Entrepreneurship Social Enterprise Social Business Inclusive Business 40 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 0 Fonte: elaborada pelas autoras Figura 3 . Já os termos social business e inclusive business 9.Evolução histórica das publicações internacionais na base Scopus SCOPUS 250 200 150 100 Social Entrepreneurship Social Enterprise Social Business Inclusive Business 50 Fonte: elaborada pelas autoras Figura 2 . Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 0 151 .Figura 1 .Evolução histórica de publicações internacionais na base Web of Science Web of Science 120 100 80 60 Social Entrepreneurship Social Enterprise Social Business Inclusive Business 40 20 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 0 Fonte: elaborada pelas autoras Os gráficos de evolução anual das publicações evidenciam o crescimento do número de artigos principalmente a partir de 2006 para os termos social entrepreneurship e social enterprise. começam a ser utilizados em publicações a partir de 2005. 4. Tal evolução demonstra a crescente importância que o tema adquire na academia.País de origem das publicações EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS País de Origem 152 Social Entrepreneurship Social Enterprise Social Business Inclusive Business Estados Unidos 454 342 102 13 Reino Unido 264 465 51 11 Canadá 116 109 19 6 Austrália 101 119 21 Espanha 64 71 15 5 Alemanha 52 60 23 5 Holanda 52 44 10 6 Itália 40 77 7 Suécia 39 32 França 38 44 26 Suíça 35 25 14 Índia 32 30 12 4 Finlândia 27 23 7 3 Brasil 24 14 5 3 Dinamarca 24 16 5 Nova Zelândia 23 24 Bélgica 21 36 Malásia 21 China 19 26 Israel 19 14 África do Sul 16 9 8 11 Romênia 22 Taiwan 18 Hong Kong 17 Colômbia 4 4 Fonte: elaborada pelas autoras .5 Países de Origem Quanto à localização de origem dos artigos. os dados foram tabulados considerando os países com maior frequência para cada termo na base de dados Scopus. mas passam a ser mais frequentes de 2009 para frente. Tabela 2 . refletindo o que já ocorre no ambiente das organizações. Williams 16 The University of Sheffield. verifica-se que poucos autores 9. Smith. Van Tulder.Autores com maior número de publicações Tema Autor N. o que dificulta a aparição de publicações em outras línguas e de outros países. Tracey.M. Fergusson e P. R. J. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional pesquisar os termos mais utilizados. Colômbia Fonte: elaborada pelas autoras Em uma escala entre os dez autores que mais produziram artigos em seus temas. Williams publicou mais artigos. artigos Universidade Social entrepreneurship Colin C. seguido de J. o autor C. na sua temática e a sua universidade e origem. Para o termo empresa social. Com isso. Ziegler. Já na temática social business. Nicholls e R. Reino Unido Social business Wendy K. Em negócios inclusivos. Reficco. Flores. Reino Unido Social enterprise Colin C.C. Smith 4 University of Delaware.É possível identificar a grande concentração de publicações de países de língua inglesa. Lehmann -Ortega. Baron. seguidos por Espanha. Austin e J. Mair. Moingeon e A. A. para o termo empreendedorismo social. B. os autores W.E. por abordar dois ou mais termos na publicação. sendo os países de maior destaque os Estados Unidos e Reino Unido. EUA Inclusive business Ezequiel Reficco 3 Universidad de Los Andes. Williams.6 Identificação dos Autores A respeito dos três autores que redigiram mais artigos sobre os temas em questão na base de dados Scopus. apenas o autor C. M. O número total dos artigos por países não foi considerado. foram encontrados com maior número de publicações os autores E. Hudon. também com certo destaque. K. 4. Canadá e Austrália também apresentam número relevante de artigos sobre o tema. Williams 9 The University of Sheffield. Tabela 3 .C. Sendo assim. A Tabela 3 apresenta o autor que mais redigiu artigos. Roy foram os que mais redigiram sobre o tema. os autores mais encontrados foram: C.P. segundo a base Scopus.K. Williams produziu artigos com os temas empreendedorismo social e empresa social conjuntamente. 153 . L. pois o objetivo foi pode ser que um mesmo artigo tenha sido contabilizado em mais de uma coluna. e não a quantidade de artigos. Alemanha e Holanda. Uma limitação adicional desta análise é o fato de que o mecanismo de busca utilizado contém em sua maior parte bases norte-americanas e as pesquisas foram realizadas com o termo em inglês. D.C. -L. C. 53 Young. 52 Johannisson. J. na Tabela 4. 41 Morduch.7 Autores mais Citados Apresentam-se a seguir. dentre os quatro analisados.B.A. os autores mais citados e o número de artigos encontrados na base de dados Scopus. A. 71 Graham. 60 84 Borzaga. 33 Prahalad. 4. 26 Kauffman. 67 Laville.E.A. J.R. 65 Sen. S.K.R. C. M.A. D. 68 57 20 Nicholls.Autores mais citados nas publicações 154 Autores Social Entrepreneurship Social Enterprise Social Business Dees. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Tabela 4 . 51 Porter. M. 30 Karlan.M. 64 Wright. M. M.J. C. 66 116 Zahra. B.C. A. 52 Anderson. 68 Evers. R. M. 22 23 . S.K. 54 122 Hitt. R. Z. J. J. D. L. 75 Mair. 79 Anheier. 76 Williams.J. A. H. D. 49 11 18 22 Yunus. 76 Acs. 68 65 28 Defourny. 23 Morck. D. 63 Salamon. J.utilizam mais de um termo.G. 82 65 33 Audretsch. para identificar o seu artigo. A. 52 Shepherd. 50 Inclusive Business 93 31 Nyssens. 10 Fonte: elaborada pelas autoras Verifica-se que muitos autores são citados de acordo com o respectivo tema. M. referência em pesquisas sobre negócios sociais e precursor do termo social business. E. 16 Marquez. 11 Ram. M. na Bélgica. a busca realizada nas bases de dados para a realização da presente pesquisa não espelhou esse resultado. 20 Ebrahim 20 Hart. 20 Smith. na Universidade de Glasgow. frisando que há diferença entre conceitos e autores.22 Duflo. Entre a lista de autores mais citados. tendo os dois autores citações predominantemente em publicações com o tema social enterprise. 23 London. S. 19 Kolk.L.L. G. O autor está vinculado ao Yunus Centre for Social Business and Health. M. como o autor mais citado entre todos os temas. é também o mais citado no tema inclusive business. Com o termo social bussines. da Universidade de Liège. podem-se destacar alguns nomes.E. porém não aparece entre os que mais publicam artigos científicos. 20 Shleifer. J. 155 . Mohamed Yunus é o autor com maior número de citações. J. M. E. no Reino Unido. Já Ezequiel Reficco. mostrando poucas publicações desses autores em artigos científicos das bases de dados pesquisadas. é conhecido por sua atuação e pesquisa em empreendedorismo social e foi o autor mais referenciado 9. Interessante notar que. A. da Universidade de Trento. T. 12 Halme. seguido de Carlo Borgaza. O primeiro deles de é Jacques Defourny. 11 Karnani. P. na Itália. professor da Duke University.K. W. A. A. 14 Austin. apesar da grande quantidade de referências a Carlo Borgaza e a Jacques Defourny. que está entre os autores que mais artigos escreveu. 17 Viswanathan. 20 24 Reficco. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional Tushman. Estados Unidos. 13 Berger. Gregory Dees. aparecendo também com frequência nas publicações de social enterprise e social business. Para social enterprise. 4. é pesquisador na área de empreendedorismo e inovação e não especificamente de empreendedorismo social. Gallen. Open University. alemão e tcheco apenas para o termo social entreperneurship. Ainda nessa base de dados. mostrando assim. para o termo social entrepreneurship são americanas. grande parcela dos artigos retornados pela busca tinha como foco a teoria de responsabilidade social em empresas.nas buscas do termo social entrepreneurship. autor que sucede Dees no número de citações no termo social entrepreneurship. INCAE Business School/Nicarágua e Costa Rica. . Já David Bruce Audretsch. não há um país que se destaque pela quantidade de artigos de suas universidades. a preferência de termos por determinadas regiões. sobressaem-se os autores ligados à Universität St. na Suíça. Brunel University/Reino Unido. verifica-se a predominância de publicações na língua inglesa. romeno e croata paro o termo social enterprise e alemão para social business. para as três bases internacionais. seguido do espanhol. Estados Unidos. Distribuem-se de maneira equivalente entre Rotterdam School of Management/Holanda. como University of Birmingham. Imperial College London/UK. e à universidade inglesa Glasgow Caledonian University. Para a base Scopus. o segundo idioma mais frequente é o francês. University of Sheffield e University of Cambridge. University of Cambridge/Reino Unido. como Indiana University e Stanford University e inglesas como University of Cambridge e EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS University of Oxford. Novamente.8 Outras Análises Sobre o idioma. Em social business. 4. Já para o termo inclusive business. o idioma mais utilizado é o inglês.9 Bases de Dados Nacionais Observa-se que poucos artigos encontrados nas bases nacionais enquadramse perfeitamente no tema. surgiram trabalhos em português. A respeito da afiliação dos autores dos artigos. as universidades mais encontradas na fonte Scopus. Harvard Business School/Estados Unidos. novamente. predominam autores filiados a univer- 156 sidades do Reino Unido. professor da Universidade de Indiana. Instituto de Empresa/Espanha e Hanken School of Economics/Finlândia. Uma possível explicação é que os autores de empreendedorismo social utilizaram as bases do empreendedorismo de negócios para criar esse conceito. 10 no SciELO e 13 no EnANPAD. o termo empreendedorismo social apareceu em mais artigos. três na base SciELO e três no EnANPAD. que apontou os termos negócio social e negócios inclusivos como mais utilizados nos países da América Latina. quatro no SciELO e uma no EnANPAD.Evolução histórica de publicações na base SciELO SciELO 10 8 6 4 Empreendedorismo Social Empresa Social Negócios Sociais Negócios Inclusivos 2 0 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: elaborada pelas autoras 9. O termo empresa social. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional apenas três vezes no SPELL.Evolução histórica de publicações nacionais na base SPELL SPELL 8 6 4 Empreendedorismo Social Empresa Social Negócios Sociais Negócios Inclusivos 2 0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: elaborada pelas autoras Figura 5 .Contrapondo o referencial teórico. Seguindo a tendência internacional.10 Evolução Histórica das Publicações Nacionais A evolução histórica das publicações nacionais pode ser vista nas Figuras 4 a 6. Figura 4 . apareceu 4. a pesquisa bibliométrica encontrou apenas dois artigos com esses termos na base SPELL. 157 . por sua vez. sendo 29 publicações no SPELL. Figura 6 - Evolução histórica de publicações no evento EnANPAD EnANPAD 10 8 6 4 Empreendedorismo Social Empresa Social Negócios Sociais Negócios Inclusivos 2 0 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: elaborada pelas autoras Ao observar a evolução anual de publicações no tema, não se encontra uma evolução constante de publicações nesses temas, mas notam-se maiores quantidades a partir de 2009, com destaque para o termo empreendedorismo social. Já os termos negócios sociais e negócios inclusivos somente passam a ser utilizados nos artigos acadêmicos das bases pesquisadas a partir de 2012. O início tardio de publicações sobre empreendedorismo e empresa social EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS no Brasil (apenas a partir de 2004) demonstra a imaturidade do tema no âmbito acadêmico nacional e a oportunidade de crescimento de pesquisas na área. 4.11 Autores e Métodos de Pesquisa nas Bases Nacionais A Tabela 5 demonstra a distribuição dos autores nas diversas bases de dados nacionais. Tabela 5 - Autores com publicações nacionais SPELL Alexandra Esperança da Cunha Pimentel de Meira, Victor Meyer Jr., Lucilaine Pascuci Lucas Veiga Ávila, Lúcia Rejane da Rosa Gama Madruga, Vitor Francisco Schuch Júnior, Izabel Cristina Ferraz Barros Antonio dos Santos Silva, Henrique Cordeiro Martins, Antonio Carvalho Neto Mery Blanck, Raquel Janissek Muniz Anderson de Souza Sant’Anna, Reed Elliot Nelson Luis Miguel Luzio dos Santos, Bárbara Galleli Guillermo Cruz 158 Queila Regina Souza Matitz, Marcos Muller Schlemm James Austin, Howard Stevenson, Jane Wei-Skillem Claudio Travaglini Edileusa Godoi-de-Sousa, Rosa Maria Fischer Alexandre Meira de Vasconcelos, Alvaro Guillermo Rojas Lezana Teodoro Malta Campos, Cristina Dai Prá Martens, Marcelo Rosa de Resende, Viviane Celina Carmona, Edmilson Lima Magali Geovana Ramlow Campelli, Nelson Casarotto Filho, Myriam Eugênia Ramalho Prata Barbejat, Gilberto de Oliveira Moritz Fernando Gomes de Paiva Jr, José Roberto Ferreira Guerra Rivanda Meira Teixeira, Gregório Cerqueira Schettino, Alisson Pinheiro Rodrigues, José Erivaldo Mendes Luiz Cláudio Moura Santos, Vinícius Corrêa de Almeida, Valéria Fonseca Leite Lucila Maria Souza Campos, Ricardo Delfino Guimarães, Rodrigo Vieira, Denise Maestri Reis Ana Carolina Marion Santos, Celso Luiz Concheto Augusto José Vicente, Jair Antonio Brendalis, José Antônio Ferreira Alves Marcos Bidart Carneiro de Novaes, Antonio Carlos Gil. Débora Navar Holf, Erlaine Binotto, Ana Cláudia Machado Padilha Kerla Mattiello, Francisco Giovanni David Vieira, Isolde Terezinha Santos Previdelli José Elmar Feger, Augusto Fischer, Tânia Maria dos Santos Nodari, Dirceu Scaratti, Anacleto Angelo Ortigara Egidio Jose Garó, Simone Rossi Leite, Takeshy Tachizawa Luciano Rossoni, Érika Onozato, Rodrigo Rossi Horochovski, Simara M. de S. S. Greco, Joana Paula Machado, Paulo Alberto Bastos Junior Ezequiel Reficco, Roberto Gutiérrez, Diana Trujillo Walter Marinho de Oliveira, Francisco Vidal Barbosa Juliana Pereira, Luiz Moretto Neto, Ruth Zanini Armindo dos Santos de Souza Teodósio, Graziella Comini Graziella Comini, Edgard Barki, Luciana Trindade de Aguiar SciELO Armindo dos Santos de Sousa Teodósio; Graziella Comini Cassiano Ricardo Martines Bovo Graziella Comini; Edgard Barki; Luciana Trindade de Aguiar Marcos Bidart Carneiro De Novaes; Antonio Carlos Gil James Austin; Howard Stevenson; Jane Wei-Skillern Marcelo Tyszler Isabela Aparecida de Oliveira Lussi; Maria Alice Ornellas Pereira Jacob Carlos Lima Alexandre Meira de Vasconcelos; Álvaro Guillermo Rojas Lezana Dirce Stein Backes; Marli Stein Backes; Alacoque Lorenzini Erdmann 9. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional Érika Onozato, Rivanda Meira Teixeira 159 Dirce Stein Backes; Maristel Kasper Grando; Michelle da Silva Araújo Gracioli; Adriana Dall'asta Pereira; Juliana Silveira Colomé; Maria Helena Gehlen Deborah Moraes Zouain; Luciana Silva Torres Mery Blanck; Raquel Janissek-Muniz Carla Bronzo; Armindo dos Santos de Sousa Teodósio; Márcia Cristina Gomes da Rocha Nora M Cardona-Castro; Sandra Restrepo-Jaramillo; Myriam Gil de la Ossa; Patrick J Brennan Carlo Borzaga; Sara Depedri; Giulia Galera Claudio Travaglini EnANPAD Edileusa Godói de Sousa; João Bento de Oliveira Filho; André Francisco Alcântara Fagundes; Anamélia Borges Tannús Dami; José Eduardo Ribeiro de Lima Luciano Rossoni; Erika Onozato; Rodrigo Rossi Horochovski Paulo da Rocha Ferreira Borba Álvaro Guillermo Rojas Lezana; Janaína Renata Garcia; José Antonio Fares; Mariana Grapeggia; Paula da Costa Gargioni Marlon Dalmoro; Vanessa Rabelo Dutra; Monize Samara Visentini Antônio dos Santos Silva; Henrique Cordeiro Martins Cristina Clara Ribeiro Parente; Allan Claudius Queiroz Barbosa Maicon Nishimura; Graziela Dias Alperstedt; Simone Ghisi Feuershütte Rúbia Oliveira Corrêa; Rivanda Meira Teixeira Gabriela Pelegrini Tiscoski; Talita Rosolen; Graziella Maria Comini EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Luis Carlos Zucatto; Tania Nunes da Silva Antonia Lais Costa Araujo Leal; Ana Augusta Ferreira de Freitas; Emanuelle Soraya Coelho Lianna Karla Veras e Souza; Jose Lindenberg Julião Xavier Filho; Jefferson Lindberght de Sousa Mery Blanck; Raquel Janissek-Muniz Flavia d’Albergaria Freitas; Denise Lima Fleck Renato Seiki Kiyama; Graziella Maria Comini; Edison Quirino D Amario Fonte: elaborada pelas autoras Sobre as publicações nacionais, de acordo com as listas apresentadas acima, não há autores que se destacam por publicarem mais sobre o assunto. Nas publicações encontradas nas três bases de dados, há autores que são referência no tema empreendedorismo social, como os pesquisadores do Centro de Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor (CEATS), da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP). Também chama a atenção os autores que são referência internacional no tema: James Austin, Howard Stevenson e Jane Wei-Skillern; Carlo Borzaga, Sara Depedri e Giulia Galera; Ezequiel Reficco, Roberto Gutiérrez e Diana Trujillo, os quais publica- 160 o qual está em processo de construção e necessita de base conceitual e autores referenciados para que possa alcançar níveis superiores de contribuição para o desenvolvimento do estado da arte desse campo do conhecimento. por isso. Empreendedorismo social e negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional Este estudo pretendeu mapear a produção científica sobre empreendedorismo precisam ser preenchidas a fim de auxiliar no desenvolvimento desse novo campo 161 social e negócios sociais. a outras correntes. bem como cinco dos 32 artigos da base SPELL. É crescente o número de artigos sobre negócios sociais e negócios inclusivos. . na base de dados SciELO. o que explica o grande número de artigos nessas bases no ano de 2012. analisando de forma crítica e criteriosa os resultados de sua ação.ram em uma edição especial sobre empreendedorismo social do periódico brasileiro Revista de Administração da USP publicada em 2012. Diante dos resultados. tanto no país quanto no mundo. Além dos quatro termos pesquisados neste artigo. A partir disso. referentes a este tema. seis dos 17 artigos encontrados foram publicados nessa mesma edição especial da Revista de Administração da USP. o estudo foi composto também por uma análise documental e pesquisa quantitativa por meio de análise temporal em séries históricas e estudo bibliométrico. Nesse sentido. até mesmo. que também podem agregar a este campo de estudo e. apresenta algumas lacunas que 9. foi realizada uma explanação conceitual dos principais termos utilizados para caracterizar iniciativas no campo social. apontando os temas mais pesquisados no segmento e identificando os autores e centros de excelência que mais apresentaram trabalhos. foi possível conhecer a produção de artigos científicos sobre o tema. Também se constatou que o assunto é contemporâneo. como da economia solidária e gestão social. como benefit corporation. impact investments e sustentabilidade. Considerações finais mas a pesquisa sobre o tema é recente e. que se encontra em estágio de desenvolvimento e que existem diversas terminologias presentes nas discussões acadêmicas. foram pesquisadas as publicações referentes aos termos relacionados em periódicos de seis bases de dados no período de vinte anos. Vale destacar que. há outras terminologias relacionadas. 5. Vale ressaltar que o crescimento de fundos de investimentos voltados para esse tipo de empreendimento tem despertado o interesse de diversas reportagens na mídia. Em seguida. Inicialmente. a academia deveria acompanhar e analisar com mais profundidade a evolução desse tipo de iniciativas. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. A. REFERÊNCIAS ARAÚJO. A partir dos dados apresentados. G. 1./Feb. Em Questão. Como não há uniformidade nos resultados fornecidos. p. n.. v. STEVENSON. Assim.com/ps/i. 1. 1998. Journal of Social Entrepreneurship.. de modo a identificar as principais abordagens.do?id=GALE. 12.de estudo. sugere-se. não foi possível uma comparação mais precisa entre as publicações nacionais e internacionais. n. BARKI. por serem mais citados nas publicações científicas. Boston. Disponível em: http://go. . Particularmente. jan. v. Harvard Business Review. estudos como este. o cruzamento de outros dados e uma análise qualitativa. v.. p./set. 1. 47. o presente trabalho buscou contribuir com a evolução do conceito a partir de uma reflexão das abordagens mais desenvolvidas até o momento. 1-22. p. p. 2006. para o qual foi realizada apenas análise quantitativa. 32-53.. J. Conceptions of social enterprise and social entrepreneurship in Europe and the United States: convergences and divergences. 2010./jun. n. Outra limitação deste estudo é a diferença entre as informações apresentadas pelas diferentes bases de dados utilizadas no estudo. concluiu-se que os termos empreendedorismo social e empresa social são os mais disseminados no ambiente acadêmico. AUSTIN. 385-397. WEI-SKILLERN. Porto Alegre. DEES.galegroup. v. Revista de Administração da USP. 55+. J. EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS identificando quais conceitos e assuntos estão sendo abordados nas publicações 162 aqui apresentadas. J. H. Social and commercial entrepreneurship: same. DEFOURNY. A three-pronged approach to social business: a Brazilian multi-case analysis. COMINI. Assim. Esta é a primeira etapa de um estudo mais amplo. L. não se pode afirmar que esses termos tenham uma base conceitual formada e estruturada. NYSSENS. Entretanto. J. different. or both? Entrepreneurship Theory and Practice. Essa questão não pode ser respondida por meio desta pesquisa bibliométrica e demonstra uma limitação deste trabalho. 2012. 2012. uma pesquisa com enfoque qualitativo sobre os conceitos apresentados a partir dos autores identificados neste trabalho.. Acesso em: 09 jan. 30. 3. que pode prestigiar além de outras terminologias. n. Jan. E. jul. de alguma forma. uma vez que fornecem subsídios para tal. apresentam uma contribuição social. 76. p. São Paulo. C. 2006. para estudos futuros. 1. G. 11-32. AGUIAR. Enterprising nonprofits. v. M. COMINI G.emes.EMES. LEHMANN-ORTEGA. COUNCIL. 3... 2002. p. Building social business models: lessons from the Grameene experience. Non-market entrepreneurship: interdisciplinary approaches. n. v. R. L. p. In: Políticas Sociais: ideias e práticas. 26. P.php?id= 203... n. R. n./Feb. B. 2012. n. 2012.1007/ s11266-006-9016-2. PORTER. C. 18.. FISCHER. R. jul.). 3. p. GALERA. 5. L. 2009. Jan. Muhammad Yunus e os negócios sociais sagepub. G. The fortune at the bottom of the pyramid. p. Boston. 163 . A unified teory of social enterprise. v. M. YUNUS. B.. 1. M. 2011. K. Strategy + Business.doi. Acesso em: 07 dez. 2006. Disponível em: http://www. 43. MCKAY. Tri-value organization as a form of social enterprise. Disponível em: http://nvs. 3. J. Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly. 363-369. Voluntas: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations. Sustainable development: from responsibility to entrepreneurship. J. Revista de Administração da USP. R. 17.com/content/40/5/829. FRANK.net/index. São Paulo. As empresas na sociedade: os limites das boas intenções.. HART. v. E. BORZAGA. D. KERLIN.. p. KRAMER. YOUNG. Long Range Planning. Disponível em: http://dx.org/10. UK: Edward Elgar Pub. v. 308-325. (Ed. p. G. Acesso em: nov. Social Enterprise Journal. Social enterprise: an international overview of its conceptual eolution and legal implementation. v. 2011. 829-849./set. Cheltenham. São Paulo: Ed. Creating shared value. HERRANZ. REFICCO. 01 out. In: SHOCKLEY. E. 2008.. C. 2012. R.abstract.. 40. M. 246-262. v. 5. European Research Network. Moderna. PRAHALAD. STOUGH. Social enterprise in the United States and Europe: understanding and learning from the differences. MOINGEON. 8. M. 2010. Harvard Business Review.. S. 2011. 47. M. 164 EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS . AUTORES . Cícero Aparecido Bezerra Graduado em Informática pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Especialista em Gestão de Organizações Sociais – PUCPR. Tem a missão de inspirar. Gestão do Conhecimento e Análise de Dados. pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil. . Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Economia Empresarial-NUPEM da UFPR Amanda Sawaya Novak Advogada do escritório Gonçalves De Poli e Sawaya Novak Sociedade de Advogados. atuando principalmente nos seguintes temas: Sistemas de Informação. com ênfase em Sistemas de Informação. Gestão da Informação. Ana Lúcia Jansen de Mello de Santana Economista.Adilson Antonio Volpi Economista. Mestre em Desenvolvimento Econômico/ UFPR. Bacharel em Direito. Mestre em História do Brasil (História Econômica)/UFPR. capacitar e potencializar talentos e empreendedores para criar uma nova geração de negócios que rompam com os padrões precedentes e (re) signifiquem o verdadeiro papel que os negócios podem ter na construção de um país com iguais oportunidades para todos. é diretora da Pezzi Comunicação. Mestre em Organizações e Desenvolvimento (FAE). 166 ARTEMISIA Organização sem fins lucrativos. Professor Adjunto Nível IV da Universidade Federal do Paraná. Professora Adjunto IV do Departamento de Economia da UFPR. Coordenadora do Projeto Empreendedorismo com foco em Negócios Sociais/UFPR Andressa de Fátima Molina EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Jornalista e formada em Comunicação Institucional pela UTFPR. coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre o Terceiro Setor da UFPR (desde 2002). Tem experiência em Informática. Especialista em Planejamento Empresarial. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina e Estágio pós-doutoral em Gestão Estratégica da Informação e do Conhecimento pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Professor do Departamento de Economia da UFPR. UDESC. Núcleo de Qualidade e Produtividade. SEBRAE/ONU. Mestre em Administração pela UFPR. Atualmente. desempenhou funções ligadas aos cargos de Coordenadora de Planejamento Institucional (CPI/PROPLAN) da UFPR. Coordenou os projetos e implantou na UFPR: Curso de Especialização em Gestão da Qualidade. Administradora. bem como orienta trabalhos relacionados aos temas. Graduada em Psicologia pela Universidade do Vale do Itajaí. Especialista em Direito Administrativo pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar. educação empreendedora.Cleverson Renan da Cunha Doutor em Administração pela UFMG. Administrativamente. Participou do Programa de Empreendedorismo EMPRETEC. Áreas de interesse: Estratégia organizacional. Pré-Incubadora e Incubadora Tecnológica (NEMPS). gestão de micro e pequenas empresas. Administração de Empresas de Tecnologia da Informação. Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina. empreendedorismo. Coordenadora Administrativa do Núcleo de Educação a Distância (NEAD) da UFPR e Pró-Reitora de Extensão e Cultura (PROEC) da UFPR. UNIVALI e em Administração pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Graziella Maria Comini Economista. Coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS) e representante do Brasil no Social Enterprise Knowledge Network. Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC). Coordena o curso de especialização MBA em Gestão Estratégica da UFPR e o projeto de extensão Oficina de Empreendedorismo e Gestão. Docente do Departamento de Informática da UFPR. Especialista em Análise de Sistemas. UFSC. Mestre em Administração (Organizações e Estratégia) pela UFPR e Administrador pela UFES. Planejamento e Gestão de Projetos. Gabriela Pelegrini Tiscoski Doutoranda em Administração pela Universidade de São Paulo. 167 . Autores Elenice Novak Felipe José Olivari do Carmo Advogado do escritório Marins de Souza Advogados. Professora no Instituto Federal de Educação. exerce o cargo de Assessora de Relações Institucionais da UFPR. Professor do Departamento de Administração Geral e Aplicada da UFPR. professora de Administração da FEA/USP na área de Recursos Humanos. FEA/USP. onde leciona disciplinas vinculadas aos temas Empreendedorismo em Negócios de Alto Impacto. com mestrado e doutorado em Administração pela Faculdade de Economia. José Wladimir Freitas da Fonseca Economista. Mestre em Desenvolvimento Econômico/ UFPR. Sócio-fundador da CWB Capital. Professora do NITS – UFPR. Médio e Superior nas disciplinas de Geologia. pós graduado em Gestão de Assuntos Públicos pela PUC/PR e Columbia University. Climatologia e Geografia Humana. Presidiu a Associação dos Geógrafos Brasileiros -Seção Curitiba (AGB Curitiba) 2007-10. Especialista em Análise Ambiental (UFPR) e Geografia Humana – Geografia Agrária (UNESP). Especialista em Engenharia Econômica. fusões e aquisições e gestão de participações em novos negócios. representando o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (2014-16). Suas experiências estão concentradas em avaliações econômicas. Mestre em Direito e Econômico e Social pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Desde 1980 tem acumulado experiências técnicas como Bibliotecária em diversas entidades e docentes junto aos cursos de Bibliotecono- . Possui 13 anos de experiência em projetos de estratégia econômica desenvolvidos por todas as Américas e África. Doutor em Economia Industrial/ Université de Toulouse I – França. Professor do Departamento de Economia da UFPR Leandro Marins de Souza Advogado do escritório Marins de Souza Advogados. Como docente atuou nos níveis Fundamental (inclusive alfabetização). com Estágio de Doutorando na Università Degli Studi di Siena (Itália). EMPREENDEDORISMO COM FOCO EM NEGÓCIOS SOCIAIS Leonardo Jianoti 168 Economista formado pela UFPR. Lígia Leindorf Bartz Kraemer Professora aposentada da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com graduação em Biblioteconomia e Documentação pela UFPR (1979) e título de Mestrado em Tecnologia pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (2001). Presidente da Comissão de Direito do Terceiro Setor da OAB/PR (2011-2015). Atua como Professor convidado no Núcleo de Terceiro Setor da UFPR e em programas de pós graduação em universidades privadas em disciplinas de economia empresarial e gestão de projetos. Doutor em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP). valoração de empresas e estratégias de captação de recursos. casa de investimentos especializada em avaliação e venda de empresas.Janaina Chudzki Geógrafa. Atua como Conselheira no CREA-PR 2009-14 e no Conselho da Cidade de Curitiba – CONCITIBA. Atuou como consultor dedicado ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e para empresas e governos por toda América Latina. Empreendedor e investidor-anjo em diferentes companhias nascentes. e Mestre em Bioenergia pela UFPR. Havendo lucro. graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná. MBA em Gestão Financeira. Doutoranda em Estratégia e Análise Organizacional pela Universidade Federal do Paraná. ele é totalmente reinvestido no negócio. fundações e ONGs e promove também os negócios sociais no meio acadêmico por todo o Brasil.PET Administração FEA/USP. mestre em Administração. Yunus Brasil Negócios Sociais Grupo global que pesquisa que desenvolve e investe em negócios sociais de alto impacto através de seus próprios fundos de incubação. Autores Nicole Maccali Talita Rosolen Mestranda em Administração na Faculdade de Economia. Graduada em Administração na USP. Além disso. Professora nas áreas de administração e comunicação. não há distribuição de lucro ao acionista. atuou principalmente nos seguintes temas: organização e representação da informação. governos. maximizando o impacto social. Atua como consultora de micro e pequenas empresas. Co-fundada pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz Professor Yunus. 169 . Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo e bolsista CNPq. organização de eventos e terceiro setor. Experiência em gestão Administrativa/financeira. normalização documentária. sistemas de informação. ou seja. especialista em Gestão Empresarial. foi bolsista e coordenadora do Programa de Educação Tutorial . Atualmente é tutora de apoio na graduação em Administração Pública da UFPR e professora-tutora dos cursos de Gestão na Universidade Positivo. negócios sociais e formação do administrador. editoração e gestão arquivística. Participa do grupo de pesquisa de Processo Decisório do Programa de Pós Graduação em Administração da UFPR. Ela mesma funciona como um negócio social. Auditoria e Controladoria. Tem interesse em pesquisas sobre sustentabilidade corporativa. A Yunus Negócios Sociais Brasil tem assim como objetivo desenvolver negócios sociais pelo país através de seu fundo de investimentos e aceleradora para empreendedores. Lotada no Departamento de Ciência e Gestão da Informação. coaching de vida e carreira. a YSB cria e gerencia fundos de incubação para negócios sociais em países em desenvolvimento ao redor do mundo. oferece serviços de consultoria para empresas.mia e Gestão da Informação. elaboração de projetos.